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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE AGRONOMIA, MEDICINA VETERINÁRIA E ZOOTECNIA CURSO DE ZOOTECNIA Jessica Rosa Assunção PROTOCOLOS DE ADAPTAÇÃO DE BOVINOS DE CORTE À DIETAS COM ELEVADA PROPORÇÃO DE CONCENTRADO EM CONFINAMENTO CUIABÁ 2015

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE … · As amigas; Clarissa, Larissa, Marcela, Evelyn e Nathália por todas as ... melhores preços no pico desta entressafra (QUADROS,

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

FACULDADE DE AGRONOMIA, MEDICINA VETERINÁRIA E ZOOTECNIA CURSO DE ZOOTECNIA

Jessica Rosa Assunção

PROTOCOLOS DE ADAPTAÇÃO DE BOVINOS DE CORTE À DIETAS COM ELEVADA PROPORÇÃO DE CONCENTRADO EM CONFINAMENTO

CUIABÁ 2015

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Jessica Rosa Assunção

PROTOCOLOS DE ADAPTAÇÃO DE BOVINOS DE CORTE A DIETAS COM ELEVADA PROPORÇÃO DE CONCENTRADO EM CONFINAMENTO

Trabalho de Conclusão do Curso de Gradação em Zootecnia da Universidade Federal de Mato Grosso, apresentado como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Zootecnia. Orientador: Prof. Dr. Nelcino F. de Paula

CUIABÁ 2015

A minha avó Francisca e meu avô Vicente (in memorian)

Dedico.

AGRADECIMENTOS

A Deus, por sua presença permanente em minha vida, pela sabedoria dele

recebida, pela fé e coragem durante toda essa longa caminhada.

Aos meus pais Nilza e Carlos, por terem me mostrado quão difícil é a vida

sem os estudos, pela força, coragem, educação e perseverança.

A minha amada avó Francisca, por todo o seu amor e cuidado, por me apoiar

e me auxiliar a sua maneira.

Ao meu amado avô Vicente de Paula Rosa (in memorian), pela determinação,

força e por sempre ter acreditado em mim. O respeito e amor a todos os animais

agradeço a ti, sei que aonde quer que o senhor esteja, está cheio de orgulho de sua

neta. A saudade é imensa!

A Leandro Félix Domingos, pessoa cоm quem аmо partilhar а vida. Obrigado

por sua persistência, pelo carinho, paciência, e companheirismo е pоr sua

capacidade dе me trazer pаz nа correria dе cada semestre, sempre com suas

palavras incentivadoras e amorosas. Obrigado por não desistir. Te amo!!

Ao meu melhor amigo, meu gato; Júnior, por todo o seu amor, carinho e

alegrias compartilhadas.

Aos queridos cachorros; Nego e Bob por suas demonstrações de alegrias e

afeto na minha chegada.

As amigas; Clarissa, Larissa, Marcela, Evelyn e Nathália por todas as

alegrias, tristezas e dores compartilhadas. Pelas trocas de ensinamento e

aprendizado no decorrer do curso. Cоm vocês, аs pausas entre υm parágrafo е

outro dе produção melhora tudo о qυе tenho produzido nа vida.

Ao meu orientador Prof. Nelcino de Paula, por sua orientação e incentivo.

Sem seus conhecimentos não seria possível a realização desse trabalho. Saiba que

é uma honra tê-lo como orientador.

Aos prof. Welton Cabral e Luciano Cabral por toda colaboração e empenho.

A empresa Novanis e seus colaboradores.

A Fabio Miquilin, por toda sua colaboração, paciência e aprendizado.

A Eduardo Catuta, por todo apoio e contribuição.

A todos оs professores do curso de Zootecnia por todo o ensinamento qυе

foram tãо importantes no decorrer da vida acadêmica.

A Universidade Federal de Mato Grosso, fazer parte de sua história é um

imenso orgulho.

A Fazenda Maringá 3, e a todos os funcionários pela oportunidade de um

excelente estágio de muito aprendizado em um ambiente acolhedor. Obrigado pela

oportunidade.

A Fazenda São Marcelo e toda sua equipe.

A Raquel de Sousa Fonseca, pela oportunidade de estágio na Fazenda

Mathovy, e sua contribuição para com esse trabalho.

A Daniela Prado, por todo o convívio e aprendizado.

Á PRAE por todo o auxílio recebido durante a graduação e pela

compreensão. Saibam que são de fundamental importância, vocês têm participação

ativa na conclusão desse curso.

A todos aqueles qυе dе alguma forma estiveram е estão próximos a mim, e

que contribuíram para a minha formação.

‘’A persistência é o caminho do êxito. ’’

Charles Chaplin

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1-Listagem de tratos. (Fonte: Arquivo Pessoal). ............................................ 11

Figura 2 - Animais lambendo o cocho (escore zero) (Fonte: Arquivo Pessoal). ........ 17

Figura 3 - Cocho quebrado na linha. (Fonte: Arquivo Pessoal) ................................. 26

Figura 4 - Bebedouro com difícil acesso aos animais (Fonte: Arquivo Pessoal). ...... 27

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Dieta Maringá 07 de abril de 2015 ........................................................... 13

Tabela 2 - Dieta Maringá 22 de abril de 2015 ........................................................... 13

Tabela 3 - Composição da Dieta de Adaptação (Adap1). ......................................... 22

Tabela 4 - Composição da Dieta de Adaptação (Adap2). ......................................... 22

Tabela 5 - Composição da Dieta de Adaptação (Adap3). ......................................... 23

LISTA DE ABREVIATURAS

@ - Arroba(s)

Adap - Adaptação

DDG - Distillers Dried Grain (Grão seco por destilação)

FDN - Fibra em detergente neutro

GPD - Ganho médio de peso diário

ha - Hectare

kg - quiilograma

Ltda - Limitada

m² - Metros quadrado

MO - Matéria Original

MS - Matéria seca

PV - Peso vivo

RAS - Rede de Agricultura Sustentável

S - Latitude

TGC - Tecnologia e Gestão de Confinamento

W – Longitude

FDN – Fibra em Detergente Neutro

Sumário 1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 1

2. OBJETIVOS ........................................................................................................... 3

3. REVISÃO DE LITERATURA .................................................................................. 4

4. RELATÓRIO DE ESTÁGIO ................................................................................... 8

4.1. Fazenda Maringá III ............................................................................................................ 8

4.1.1 Equipe do Confinamento ................................................................................................... 9

4.2 Fazenda Tamboril ................................................................................................................. 9 4.3 Fazenda Mathovy ................................................................................................................. 9 4.3.1. Fábrica de Ração ............................................................................................................ 10

5. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS E DISCUSSÃO ............................................... 11

5.1 Fazenda Maringá III ........................................................................................................... 11 5.1.1 Fornecimento de Ração ................................................................................................... 11

5.1.2 Dieta ................................................................................................................................ 12 5.1.3 Atualização de dados no programa TGC ......................................................................... 13 5.1.4 Qualidade da ração .......................................................................................................... 14

5.1.5 ´´Check-list`` do Confinamento ....................................................................................... 14 5.1.6 Leitura de Cocho ............................................................................................................. 16

5.1.7 Manejo no Curral (trocar a localização) .......................................................................... 17 5.1.8 Capacitação dos Funcionários ......................................................................................... 18

5.2 Fazenda Tamboril ............................................................................................................... 19 5.3 Fazenda Mathovy ............................................................................................................... 20

5.3.1 Manejo alimentar ............................................................................................................ 20 5.3.2 Ajuste diário no Fornecimento de Ração ........................................................................ 20 5.3.3 Dieta ................................................................................................................................ 21

5.3.4 Ajuste da Matéria Seca (MS)........................................................................................... 23 5.3.5 Consumo da Dieta ........................................................................................................... 24

5.3.6 Leitura de Cocho ............................................................................................................. 24 5.3.7 ´´Check-list`` do Confinamento e da Fábrica de Ração .................................................. 25 5.3.8 Avaliação dos Animais .................................................................................................... 25

5.3.9 Limpeza dos Cochos ........................................................................................................ 26 5.4 Cocho quebrado ou desalinhado ......................................................................................... 26 5.4.1 Limpeza e Acesso aos Bebedouros. ................................................................................ 26 5.4.2 Fábrica de Ração ............................................................................................................. 27

5.4.3 Manejo no Curral ............................................................................................................. 28

6. CONCLUSÕES .................................................................................................... 30

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 32

RESUMO

O Brasil vem alcançando posições de destaque no cenário mundial do mercado da

carne bovina. Sendo assim, a criação de bovinos confinados surge como uma

alternativa para produção de carne, pois agrega valor ao produto final, fornece

animais para o abate na entressafra, além de produzir carne de boa qualidade e

maciez. Tamanha intensificação do sistema requer maior utilização de dietas com

elevados teores de concentrado, o que pode acarretar entre outros fatores,

distúrbios nutricionais nos animais confinados. Para minimizar tais impactos se faz

necessária a adoção de estratégias de alimentação a partir dos protocolos de

adaptação. O estágio foi realizado em três propriedades; Fazenda Maringá III,

Fazenda Tamboril e Fazenda Mathovy, localizadas no estado do Mato Grosso, com

o objetivo de realizar o acompanhamento da rotina dos confinamentos, e a produção

de silagem de grão úmido de milho e a efetuação controle de dados. Tanto na

Fazenda Maringá III e na Fazenda Mathovy a adaptação dos animais é efetuada

utilizando protocolo de dietas múltiplas (step-up diets). Conclui-se que a inserção do

profissional zootecnista é de fundamental importância, uma vez que as propriedades

preconizam e investem em controle de dados e gestão nas propriedades, buscando

otimizar sua produção. A realização do estágio permitiu além de grandes

experiências, desenvolver uma visão técnica e crítica.

Palavras-chaves: bovinos, confinar, nutrição

1

1. INTRODUÇÃO

De maneira geral, confinamento consiste na criação de bovinos em

lotes com área de acesso restrito aos animais, onde é feito o fornecimento de água

limpa e alimento em cochos.

Esta prática ocorre normalmente no Brasil, nas épocas secas do

ano, ou seja, durante a entressafra da produção de carne, visando alcançar

melhores preços no pico desta entressafra (QUADROS, 2012).

No Brasil central, bovinos terminados a pasto apresentam bom

desenvolvimento na estação das chuvas, com ganhos de peso médio na ordem de

0,5 kg/animal/dia, e menor desempenho na época seca do ano, quando mantém ou

até mesmo perdem peso, devido à baixa produção e qualidade da forragem. Esta

sequência de bons e maus desempenhos é conhecida no meio rural como “Boi

Sanfona” o que acarreta em abates com aproximadamente 54 meses de idade e

com um peso médio de 525 kg (QUADROS, 2012).

Quando se realiza a terminação de bovinos em confinamento,

vantagens como aumento da eficiência produtiva do rebanho, por meio da redução

da idade ao abate e melhor aproveitamento do animal produzido, são observadas,

assim como liberação de áreas de pastagens para outras categorias animais,

flexibilidade de produção e uso mais eficiente de mão de obra, maquinários e

insumos, elevar a produção de adubo orgânico (esterco), acelerar o retorno

econômico do capital investido, e reduzir a ociosidade dos frigoríficos na entressafra.

O confinamento de bovinos fornece animais com boas

características de carcaça, carne de boa aparência e maciez. Mas o êxito dessa

atividade depende dos custos de produção, e a alimentação é o principal deles.

LEME et al., (2007) citando PRESTON (1998), observa que, uso de

elevada proporção de concentrados em dietas de confinamento implica em digestão

ruminal de grande quantidade de amido, o que pode ocasionar problemas de ordem

digestiva, acompanhados de diminuição do consumo, baixo ganho de peso,

prejuízos ao epitélio do rúmen e retículo, redução da função hepática e

aparecimento de abscessos no fígado.

Independente disso há necessidade de intensificar a produção,

abater animais jovens, em geral inteiros, confinados com dietas com elevado teor de

energia para que as carcaças tenham o grau de acabamento que o mercado exige

(LEME et al., 2007).

2

Para que as ocorrências de distúrbios nutricionais sejam limitadas de

forma a reduzir o impacto da fermentação excessiva dos carboidratos no rúmen,

algumas estratégias de manejo alimentar dos animais podem ser adotadas, tal como

a adoção de protocolos de adaptação gradual à dieta (CERVIERI et al., 2009).

O fornecimento de múltiplas dietas consiste na variação da relação

volumoso: concentrado com incrementos na quantidade de concentrado de forma

gradual. O objetivo da adoção de protocolos de adaptação é fazer uma adaptação

do ambiente ruminal, que anteriormente faziam a degradação de um alimento rico

em fibra e que, no confinamento terão consumo elevado de uma dieta rica em

concentrado (carboidrato não estrutural).

O estabelecimento do consumo de MS (matéria seca) e, portanto,

calórico, é um dos aspectos mais importantes do período de adaptação.

O estágio final de conclusão de curso foi realizado em três grandes

propriedades: Fazenda Maringá III, Fazenda Tamboril e Fazenda Mathovy, todas

localizadas no Estado de Mato Grosso.

3

2. OBJETIVOS

Acompanhar a rotina de produção dos confinamentos, efetuando o

controle de dados e serviços nas propriedades trabalhadas, tais como o

acompanhamento do manejo de entrada dos animais no confinamento adaptação

dos mesmos as dietas trabalhadas e suas respostas, observação quanto à

ocorrência de distúrbios oriundos da dieta e realização de avaliações referentes

ao funcionamento do sistema assim como observações diárias dos animais,

permitiu-se ainda realizar o acompanhamento da produção de silagem de grão

úmido de milho, muito utilizado na composição de dietas em confinamento.

4

3. REVISÃO DE LITERATURA

A produção de ruminantes no Brasil tem como base o uso de pastagens naturais

ou cultivadas, porém é conhecida a descontinuidade da produção forrageira de

gramíneas tropicais durante o ano (ANDRADE,1995), principalmente no período

seco no ano, na qual as plantas passam por processo de senescência, resultando

em produção de massa verde composta de paredes celulares mais resistentes a

degradação ruminal, reduzindo o desempenho animal.

O Brasil vem alcançando posições de destaque no cenário mundial do

mercado da carne bovina, e novas alternativas devem ser pensadas para o

incremento da produtividade (COSTA et al., 2007). Neste cenário a produção de

bovinos confinados surge como alternativa, pois agrega valor ao produto final, e

produz carne de boa qualidade e maciez.

Com a intensificação do sistema de produção de carne, tem-se a necessidade

de maior inclusão de alimentos concentrados, elevando a concentração de energia

das dietas. Dietas com maior participação de concentrado permitem obter altas taxas

de ganho de peso, melhor eficiência alimentar, culminando com custo de ganho de

carcaça (R$/@) bastante competitivos. Além disso, a maior inclusão de forragens,

quando minimizada, permite obter melhor eficiência operacional nas etapas de

mistura e distribuição da dieta, estimulando a minimização de seu uso em dietas de

confinamento de maior porte (BROWN et al., 2006).

Em sua pesquisa realizada com nutricionistas brasileiros, MILLEN et al.,

(2009) constataram que a inclusão de volumoso nas dietas utilizadas no Brasil é de

28,8%, com destaque para cana-de-açúcar in natura, silagens de milho, sorgo e

bagaço de cana cru. Em média, 71,2 % da matéria seca total das dietas são

compostas por alimentos concentrados, sejam grãos, farelos, co-produtos ou

subprodutos, núcleos minerais-vitamínicos e aditivos (MILLEN et al., 2009). Entre

esses alimentos, o autor destaca o uso de subprodutos não amiláceos como; casca

de soja, polpa cítrica e caroço de algodão, que contém em sua composição FDN de

alta degradabilidade (Pectina) e fibra com boa efetividade, causando menor impacto

sobre a saúde ruminal.

Os animais que chegam aos confinamentos no Brasil são oriundos de

sistemas de produção a pasto, e com isso a maioria desses recebeu apenas

suplementação mineral, sem a presença de ingredientes energéticos, durante a

recria. E uma mudança abrupta para dietas com alta inclusão de concentrado pode

5

acarretar em desordens metabólicas que irão comprometer o desempenho animal,

podendo causar a morte desses.

Uma das principais mudanças que ocorrem com o animal ruminante, que

antes recebia dieta rica em fibra e que posteriormente é submetido à dieta rica em

concentrado, é a alteração no microbioma ruminal (PAULINO et al., 2010).

FERNANDO et al., (2010), trabalhando com dietas múltiplas de adaptação,

variando a relação volumoso : concentrado de 80:20 na dieta 1, 60:40 na dieta 2,

40:60 na dieta 3 e 20:80 na dieta 4, verificaram que não houve mudanças quando os

animais receberam as dietas 1 e 2, mas, ao receberem as dietas 3 e 4 ocorreram

mudança na estrutura da população microbiana. Os autores atribuíram tais

mudanças ao aumento de substrato fermentáveis presente na dieta, favorecendo o

crescimento de espécies amilolíticas.

FERNANDES et al., (2011) citando FERNANDO et al., (2010) verificaram aumentos

significativos na população de Megasphaera elsdenii, Streptococcus bovis,

Selenomonas ruminantium e Prevotella bryantii durante a adaptação à dieta de alto

teor de concentrado, enquanto que as populações de Butyrivibrio fibrisolvens e

Fibrobacter succinogenes diminuíram gradualmente quando os animais foram

adaptados à dieta de alto concentrado.

Uma estratégia alimentar que vem sendo utilizada nos confinamentos são os

aditivos alimentares, que podem auxiliar na transição de uma dieta rica em alimentos

volumosos, para uma dieta rica em alimentos concentrados. Os ionóforos mais

utilizados no Brasil são a monensina, lasalocida, salinomicina (SALMAN. et al 2006).

Essas substâncias permitem que se atinjam melhores índices de crescimento e de

conversão alimentar e/ou produção (PALERMO NETO,1998).

Existem diversos manejos alimentares que podem ser adotados com o

objetivo de preparar o ambiente ruminal para o recebimento de grandes quantidades

de carboidratos não fibrosos. As principais estratégias de adaptação citadas na

literatura são a utilização de múltiplas dietas ou protocolo de escada, a utilização da

dieta final limitada pela quantidade ou adaptação por restrição e a utilização de uma

única dieta com menor teor de energia (TORQUATO et al., 2012).

Na grande maioria dos confinamentos brasileiros o tempo que os animais

permanecem em alimentação é relativamente curto, considerando-se todo o ciclo

produtivo. Tipicamente, somente a fase de terminação é realizada dentro do

confinamento, tendo uma duração aproximada de 75-100 dias, dependendo do peso

6

de entrada e do peso de abate previamente estabelecido. Assim, há grande

interesse de todos os envolvidos com engorda intensiva em adaptar os animais a

dietas de alto concentrado no menor tempo possível, sob o argumento de que como

o período total de engorda é pequeno, não se deveria estender demasiadamente a

adaptação, o que representaria menor oportunidade de obter desempenho ótimo dos

animais (PAULINO et al., 2010).

Segundo COUNETTE e PRIND (1981), adaptação pode ser definida como o

tempo em que um conjunto de ações de manejo nutricional é tomado até o ponto em

que o animal possa ser alimentado com uma determinada dieta, sem apresentar

efeitos adversos, em um nível de consumo que causaria acidose em um animal não

adaptado.

O período de adaptação dos animais antecede o fornecimento da dieta final

em quantidade que se atinja o consumo esperado, visando preparar o ambiente

ruminal para recebimento de grande quantidade de carboidratos não fibrosos.

No Brasil, de acordo com pesquisa realizada por MILLEN et al., (2009), junto

a nutricionistas brasileiros, constatou-se que quase a metade dos profissionais (48,8

%) utilizam dietas múltiplas (step-up diets) na adaptação dos animais, 19,4%

recomendam o uso da dieta final limitada quantitativamente, 9,7% empregam

apenas uma dieta contendo menos energia que a dieta final, 6,5% usam o sistema

de mistura de 2 dietas, enquanto apenas 3,2% empregam alguma opção combinada

das estratégias acima descritas.

O fornecimento de dietas múltiplas possui variação na relação volumoso:

concentrado, com incremento gradual na quantidade de concentrado. O tempo de

fornecimento destas dietas ocorre em função da resposta animal e dependerá do

número de dietas que serão fornecidas (TORQUATO et al., 2012). Como no Brasil

os animais utilizados nos confinamentos são oriundos de sistema a pasto, o que

requer a necessidade de se realizar de forma eficiente e gradativa a fase de

adaptação por um período de tempo, dependendo do tipo de dieta final a qual os

animais serão expostos. Segundo BROWN et al., (2006), para dietas múltiplas, são

utilizadas três dietas durante o período de adaptação, que tem duração limite de até

17 dias, de acordo com a resposta animal. Desta forma o tempo de adaptação em

cada dieta é de 5 a 6 dias.

Na primeira dieta, prioriza-se o fornecimento de proteína, minerais e pequena

quantidade de carboidratos não fibrosos. A segunda dieta terá duração variável,

7

dependendo do peso de entrada dos animais no confinamento. Animais mais leves e

jovens recebem por um período maior a segunda dieta, a fim de promover o

crescimento animal (PAULINO et al., 2010).

A desvantagem desse tipo de adaptação é o manejo operacional, que exige a

fabricação de várias dietas e posterior distribuição para diferentes lotes. Além disso,

há a necessidade de maior estoque de forragens, ingrediente limitante em grandes

projetos de confinamento.

Outra forma de se obter múltiplas dietas tem sido adotada recentemente,

(KRENHBIEL et al., 2010); duas dietas (uma inicial e uma final), que são fornecidas

com aumento gradual da relação dieta final:dieta inicial por um tempo estabelecido

(TORQUATO et al., 2012).

BUHMAN (1999) esclarece que o grande desafio durante a adaptação é o

baixo consumo voluntário. Com base na energia média das dietas comumente

usadas nos confinamentos brasileiros, consumos menores que 1,4% do peso vivo

(PV) estarão abaixo das exigências de mantença, ou seja, animais que se

encontrarem nesse patamar de consumo irão perder peso na primeira semana

(PAULINO et al., 2010).

Durante a adaptação dos animais, alguns lotes poderão apresentar consumo

muito baixo, enquanto outros apresentarão consumos surpreendentemente altos.

Consumo baixo não supre à necessidade de mantença, assim como consumo muito

elevado pode resultar em distúrbios nutricionais. Diante dessa essa grande

instabilidade, cada confinamento deve estabelecer, para sua condição própria, para

o tipo de gado que recebe o tempo necessário e pretendido até que se atinja o

consumo alvo após a adaptação (PAULINO et al., 2010).

O consumo desejado pode ser definido como aquele em que o animal ingere

quantidades de dieta suficiente para obter o ganho de peso planejado, de acordo

com as metas, previamente estabelecidas (PAULINO et al., 2010).

É necessário tomar medidas que reduzam o estresse sofrido pelos animais,

para que tão logo se estabeleça o comportamento ingestivo normais dos mesmos,

sendo sempre monitorados por ferramentas auxiliares, como manejo de cocho e

observação dos escores das fezes, a fim de se evidenciar se o período de

adaptação está sendo conduzido de forma condizente com o planejado (PAULINO et

al., 2010).

8

4. RELATÓRIO DE ESTÁGIO

4.1. Fazenda Maringá III

A Fazenda Maringá III está localizada no município de Vila Bela da

Santíssima Trindade-MT (distrito de Aguapeí). O estágio na propriedade teve início

no dia 9 de abril de 2015, e se estendeu até o dia 2 de maio de 2015. O estágio foi

intermediado pela empresa de nutrição animal Novanis Animal Ltda. A empresa atua

nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. A NOVANIS produz rações,

suplementos proteicos e energéticos, sais minerais, núcleos minerais e matérias-

primas para produção de rações para bovinos e outras espécies de não ruminantes.

O confinamento na fazenda Maringá III conta com 80 funcionários distribuídos

entre os setores de agricultura e pecuária. A fazenda possui ainda dois retiros e um

arrendamento, que trabalha com cria e recria de animais bovinos. A fazenda possui

6355 ha de pastagens, 40 ha pertencentes ao confinamento, fábrica de ração e

silos. A fazenda Maringá III trabalha com sistema de integração lavoura-pecuária, a

fim de aumentar a eficiência e renda, produzindo forragens e grãos de boa qualidade

necessários a produção de carne.

A fazenda conta com o auxílio de dois zootecnistas responsáveis pelo

gerenciamento do confinamento e dois técnicos agrícolas responsáveis pela

agricultura, além do gerente geral, responsável pelas tomadas de decisões na

fazenda e capatazes que respondem pelo manejo do gado. O confinamento conta

ainda com consultoria técnica da empresa Novanis.

Os animais que chegam ao confinamento são animais de recria da fazenda, e

de outras fazendas da família, que estão localizadas na mesma região, esses são

chamados de criolos, e animais de compra, sendo os mesmos das raças Nelore e

animais cruzados de origem leiteira. Os animais confinados são animais inteiros, de

tamanho corporal médio, o peso médio inicial dos lotes variando de 299 kg (sendo

esses lotes de animais mais leves), a 480 kg, (lote de animais mais pesados), com

média aproximadamente de 360 kg.

O confinamento possui quatro linhas, denominadas linhas A, B, C e D,

totalizando 45 piquetes. Durante o estágio apenas as linhas A e B do confinamento

estavam sendo ocupadas, com lotes de 120 animais por piquete. PARANHOS DA

COSTA e PASCOAL (2010), destacam que lotes formados por mais de 120 animais

9

o estabelecimento da hierarquia de dominância entre os animais é mais demorada

ou nem ocorre, acentuando a competição entre os animais ocasionando transtornos

no desenvolvimento individual.

Toda a infraestrutura do confinamento como cercas, bebedouros, aspersores

são supervisionadas e realizadas as manutenções necessárias por uma equipe

responsável pelo serviço.

4.1.1 Equipe do Confinamento

A equipe de trabalho do confinamento é formada por três funcionários, sendo

um tratorista e dois ajudantes responsáveis pela limpeza dos bebedouros, cochos e

abastecimento do vagão.

Para o fornecimento dos tratos diários, o confinamento possui um trator e um

vagão, com capacidade de 4000 kg. As atividades no confinamento iniciam-se as

06h00min com término as 17h30min.

O vagão é equipado com uma balança e o visor que inicialmente ficava fora

da cabine do trator e que posteriormente foi posta dentro da cabine do trator junto ao

tratorista.

4.2 Fazenda Tamboril

A fazenda está localizada no município de Pontes e Lacerda, MT. O estágio

teve duração de nove dias, iniciado no dia 04 de maio até o dia 13 do mesmo mês.

O objetivo do estágio na fazenda foi realizar o acompanhamento e

participação da produção de silagem de grão úmido posteriormente destinado aos

animais do confinamento.

4.3 Fazenda Mathovy

A fazenda Mathovy pertence ao grupo de Fazendas São Marcelo, juntamente

com outras duas grandes propriedades, Juba e Sepotuba, ambas no município de

Tangará da Serra, Mato Grosso. As Fazendas São Marcelo pertencem ao grupo JD.

Estas três propriedades apresentam uma área de 6.000 ha, distribuídas em

áreas de pastagem, floresta e área aberta, onde são desenvolvidas atividades

relacionadas à bovinocultura de corte.

10

O estágio ocorreu no confinamento da Fazenda Mathovy, e teve duração de

10 dias. Do dia 15 de maio ao dia 25 do mesmo mês. A empresa concedente do

estágio foi a Novanis Nutrição Animal LTDA.

A fazenda Mathovy está “localizada a 14º47’48,09” S e 57º55’16,80” W, e

apresenta uma área total de 1.128,99 ha, sendo 990,55 ha de pastagem e 138, 44

ha de reserva legal.

O número de animais confinados na fazenda Mathovy, no período do estágio era

de 8.980 cabeças, divididos em 100 piquetes. A fazenda possui dois confinamentos,

sendo um com linha de cocho coberta, e outro no sistema convencional.

O confinamento na fazenda é todo arborizado, e a presença de sombra gera

bem-estar aos animais durante períodos de alta incidência de raios solares, devido

sob essa sombra haver a diminuição da temperatura do ambiente o que,

consequentemente, diminui também a temperatura do animal que estiver sob ela, o

que ocasiona um aumento na ingestão de alimentos e água pelos bovinos, porque

não precisarão diminuir o consumo para diminuir a produção de calor pelo

organismo (HEAD, 1995). Tais características auxiliam no processo de adaptação

dos animais confinados, e no rápido estabelecimento do consumo dos animais.

Os animais chegam ao confinamento com peso entre 11@ e 12@ e saem com

18 a 20@, com média de ganho de 7@ durante o período de confinamento.

O GPD (ganho de peso médio diário), para o confinamento é de 1,45 kg de PV

(peso vivo) animal, o GPD será calculado após o embarque dos animais. O

confinamento conta com a supervisão de três zootecnistas além de consultoria do Dr

Celso Boin.

4.3.1. Fábrica de Ração

A fabricação da dieta começava logo após a leitura de cocho, as 06h00min os

funcionários, cada um encarregado de uma função na fabricação, que era feita por

batidas de acordo com a capacidade do vagão distribuidor da dieta. Na fábrica de

ração trabalham quatro funcionários, sendo que, um funcionário é responsável pelo

carregamento do volumoso até o vagão e o outro responsável pelo carregamento do

concentrado. Os outros dois funcionários são os responsáveis pelas anotações em

planilhas e verificação da pesagem dos ingredientes.

Para a distribuição da dieta o confinamento possui quatro tratores cada um

equipado com um vagão e um visor.

11

5. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS E DISCUSSÃO

5.1 Fazenda Maringá III

As atividades realizadas durante o estágio foram em torno das atividades

rotineiras do confinamento, que compreende o manejo de entrada dos animais, o

acompanhamento da rotina de alimentação dos mesmos, check-list do confinamento

e atualização de dados no programa de Tecnologia e Gestão de Confinamento

(TGC). O estágio na fazenda Maringá III teve duração de vinte e três dias.

Abaixo a descrição das atividades desenvolvidas:

5.1.1 Fornecimento de Ração

O fornecimento da ração, ou trato aos animais iniciava-se as 06h00min, o

carregamento era feito no barracão onde estavam estocados os ingredientes da

dieta.

Na dieta final a silagem de sorgo representava 24, 3% na MS da dieta. Após

a “batida” da dieta, o tratorista anotava em uma planilha as quantidades de todos os

ingredientes utilizados na dieta e o peso do vagão, o que permitia maior controle da

quantidade de ingredientes que estavam sendo disponibilizados na dieta (Figura 1).

O tratador fazia o arraçoamento e anotava em uma planilha as quantidades

distribuídas por linha.

Figura 1-Listagem de tratos. (Fonte: Arquivo Pessoal).

12

Durante o estágio foi possível acompanhar os ajustes necessários que

ocorreram na dieta dos animais confinados.

Foram utilizadas três dietas de adaptação. Ao entrar no confinamento os

animais recebiam a ração de adaptação 1 conhecida como “Adap1”, fornecida nos 5

primeiros dias de confinamento, a ração intermediária; “Adap2”, fornecida por mais 5

dias e a “Adap3”, esta foi estendida para 7 dias, tendo em vista elevar o consumo

dos animais que se encontrava muito abaixo do esperado e a fim de não causar

grandes transtornos na fase final da adaptação. Perfazendo, portanto, dezessete

dias de adaptação.

A duração do fornecimento das dietas de adaptação podem ser feitas por um

período pré-determinado ou de acordo com a resposta animal, e dependerá do

número de dietas que serão fornecidas (TORQUATO et al., 2012). Vale ressaltar,

que as decisões referentes ao protocolo de adaptação são altamente dependentes

do histórico nutricional dos animais sendo necessário discernimento do técnico para

realizar os ajustes necessários.

A silagem utilizada pela manhã era deixada armazenada no barracão, em

quantidades suficientes apenas para os dois primeiros tratos do dia seguinte, a fim

de não haver atrasos no trato da manhã, uma vez que estaria apenas o tratador no

barracão para fazer o carregamento dos ingredientes da dieta no vagão.

5.1.2 Dieta

A dieta produzida na propriedade é composta por volumoso e concentrado.

Como volumoso utiliza-se a silagem de sorgo. Como fonte de concentrado; silagem

de grão úmido, DDG (produto derivado do milho), caroço de algodão, uréia de

liberação controlada (ULC) ou nitrogênio não proteico de liberação controlada, que

proporciona melhor sincronismo com a liberação de energia da dieta, tornando mais

eficiente a conversão do nitrogênio em proteína microbiana (AKAY et al., 2004).

Núcleo Corte Novanis que contém em sua formulação Virginamicina, (ROGERS,

1995) que propicia melhor eficiência alimentar e ganho de peso com pouca ou

nenhuma alteração no consumo de MS. E Sal Recria 66 Novanis.

Durante os dias de estágio houveram mudanças na composição da dieta

fornecida aos animais, como mostra a tabela abaixo.

13

Tabela 1 - Dieta Maringá 07 de abril de 2015

Ingrediente Adap 1 Adap 2 Adap 3 Final

Silagem de sorgo 70,0% 55,0% 35,0% 23,0%

Milho grão úmido 10,7% 23,5% 42,1% 55,0%

Caroço de algodão 10,0% 12,0% 14,0% 14,0%

DDG 6,0% 6,0% 5,0% 4,4%

Ureia Proteiga 0,5% 0,5% 0,5% 0,5%

Novanis Recria 66 0,7% 0,5% 0,3% -----

Novanis Núcleo Corte + VM 2,1% 2,5% 3,1% 3,1%

Tabela 2 - Dieta Maringá 22 de abril de 2015

Ingrediente Adap 1 Adap 2 Adap 3 Final

Silagem de sorgo 70,0% 55,0% 34,0% 15,0%

Milho grão úmido 10,7% 23,5% 42,1% 52,0%

Milho grão moído --- --- --- 10,0%

Caroço de algodão 10,0% 12,0% 14,0% 14,5%

Farelo de girassol 6,0% 6,0% 6,0% 5,0%

Ureia Protegida 0,5% 0,5% 0,5% 0,5%

Novanis Recria 66 0,5% 0,5% 0,3% ---

Novanis Núcleo Corte + VM 2,5% 2,5% 3,1% 3,0%

5.1.3 Atualização de dados no programa TGC

Depois de realizada a leitura de cocho e o acompanhamento do fornecimento

do trato, era realizada a digitalização de dados no TGC, também eram realizados

controle de dados nas planilhas da fazenda, como consumo dos animais (Excel),

atualização da entrada dos animais e estoque de alimentos. No TGC inicialmente,

com a chegada de animais e formação dos lotes no confinamento, eram feitas as

atualizações dos lotes no sistema com número dos respectivos lotes e quantidade

de animais, notas das leituras de cocho para cada lote, soma da quantidade de cada

alimento utilizada no trato do dia anterior e controle de estoque.

14

5.1.4 Qualidade da ração

O teor de umidade do volumoso era avaliada e ajustada por meio da aferição

da MS, duas vezes por semana, com a coleta de sub-amostras do material

armazenado no barracão, formando uma amostra composta de 100 gramas, que era

pesada em uma balança, e colocada sobre o equipamento Koster. Após 40 minutos

da amostra no aparelho, realizava-se a pesagem do material, para observação da

secagem do volumoso, em seguida, a cada 10 minutos realizava-se nova pesagem

do material, até a obtenção de peso estável, com um total de 3 a 4 pesagens. A

seguir realiza-se o cálculo para estimar a MS do volumoso:

Peso final da amostra (kg) – Peso do Recipiente (kg) / Peso Inicial da amostra

(g) x 100.

Conforme o resultado obtido da MS da amostra, eram executados ajustes na

dieta. Com o objetivo de seguir a formulação adequada, ajustes no carregamento

dos ingredientes no vagão eram feitos, exigindo assim maior atenção pelos

operadores durante as pesagens no carregamento dos ingredientes.

As perdas referentes ao fornecimento nos cochos eram mínimas, pois a “bica”

do vagão era corretamente regulada e ajustada à linha de cocho no momento do

arraçoamento conforme a necessidade. As ocorrências de perdas, geralmente

estavam relacionadas a fatores climáticos como a chuva, que, quando em grande

quantidade comprometia a qualidade da ração e a mesma era descartada, havia

também perdas de ração em cochos que estavam desalinhados.

O controle de qualidade dos produtos adquiridos para a fábrica, como avaliação das

impurezas, umidade, carunchos, entre outros fatores não eram realizados, o que

ocasionou certa vez na aquisição do produto DDG com baixa qualidade onde o

produto apresentava aspecto e odor de queimado. A alta temperatura à que o

material foi exposto pode trazer prejuízos ao produto por conferir complexidade da

proteína, tornando-se indisponível a degradação ruminal.

5.1.5 ´´Check-list`` do Confinamento

Estava sendo implantado no confinamento a prática de efetuar e registrar

informações relevantes ao sistema e seu funcionamento, o que compreende a

execução do ´´Check-List``.

15

Aspectos como a qualidade da água e limpeza dos bebedouros foram avaliados.

Na propriedade em questão, os bebedouros são limpos a cada dois dias, pelos

funcionários do confinamento. Abaixo segue algumas avaliações realizadas:

Manutenção de cercas, bebedouros e aspersores: onde foi registrada a

quebra de um aspersor ocasionando perda de água e formação de lama

dentro do lote dos animais reduzindo a área de descanso dos mesmos. A

presença de lama nos piquetes é um causador de estresse aos animais,

podendo ocasionar redução no desempenho animal e até mesmo

processo de laminite.

Adaptação dos animais a dieta, ocorrência de distúrbios metabólicos como

laminite, acidose e timpanismo, são aspectos importantes a serem

observados dentro do confinamento.

Presença de materiais estranho no confinamento como pedaços de

arame, pedaços de lonas plásticas, luvas, entre outros foram encontradas

durante a execução do ´´Check-List`` nos piquetes do confinamento.

Outros problemas que podem acometer os bovinos confinados são a

papilomatose, diarreia, enterotoxemia, tuberculose, cisticercose,

helmintoses, sarna, entre outras. A reticulite se desenvolve após a

ingestão acidental de pedaços de arame, pregos ou materiais semelhantes

que venham a perfurar o retículo (QUADROS, 2012). Consistência das

fezes: foi possível observar fezes moles, fezes duras, e fezes com

presença de muco, durante o período de adaptação. Fezes moles ou com

presença de muco pode indicar transtorno digestíveis como acidose. Tais

fatores contribuíram para tomada de decisão de estender o período de

adaptação a dieta.

Animais que apresentavam alguma lesão ou machucados, animais

´´refugo de cocho`` ou seja, muito magros e que não estavam se

adaptando ao consumo da ração no cocho, eram retirados do

confinamento e conduzidos para uma baia enfermaria com acesso a

pasto.

16

5.1.6 Leitura de Cocho

A leitura de cocho é uma análise primordial em confinamentos e tem por

objetivo maximizar o consumo de matéria seca (MS) de forma que se mantenha

constante, sem oscilação, para que não prejudique o desempenho animal,

minimizando desperdícios de ração, potencializando o operacional da fábrica de

ração e estimando a programação adequada de trato.

Todos os dias, antes de serem realizados o arraçoamento, era realizada a

leitura de cocho, com uma escala de notas variando de 0 a 3, a fim de se controlar o

consumo dos animais evitar desperdícios e possíveis distúrbios metabólicos nos

mesmos. A leitura era realizada por baia e feita uma média por linha, pois o controle

por baia ainda não era realizado, projetando assim o consumo do dia.

A leitura de cocho abrangia as seguintes notas:

Nota 0 - Sem alimento, subnutrição dos animais. Com essa leitura os animais

frequentemente estavam lambendo o cocho, o que demonstra que o arraçoamento

do dia anterior não havia sido suficiente, a repetição dessa leitura é que irá nortear

sobre o aumento no fornecimento da dieta (Figura 2).

Nota 1 - Fina camada de alimento. Neste caso não há alterações no

fornecimento.

Nota 2 - Cocho com sobras acima de 5% do último trato. Redução de 5% no

fornecimento.

Nota 3 - Sobra de 50% do último trato. Caracteriza erro de manejo. Nestas

condições, faz-se redução de 10% no fornecimento.

17

Figura 2 - Animais lambendo o cocho (escore zero) (Fonte: Arquivo Pessoal).

Para obtenção de uma dieta homogênea, respeitava-se o tempo mínimo de

mistura no vagão de quatro minutos, evitando, a seleção de alimentos no cocho

pelos animais.

Durante a leitura realizavam-se ainda observações dos animais, tais como: se

os animais estavam ou não consumindo a dieta, presença de animais debilitados ou

que apresentavam alguma lesão, e por último, observava-se o comportamento dos

mesmos durante o arraçoamento.

5.1.7 Manejo no Curral (trocar a localização)

Durante o estágio foi possível acompanhar o manejo de pesagem e vacinação

dos animais que chegavam ao confinamento.

Ao chegarem à fazenda, os animais são encaminhados para o confinamento

onde recebem ração de adaptação e tem acesso a água, o que permitia aos

mesmos descansar do estresse da viagem. Posteriormente os animais eram

encaminhados para o manejo no curral, onde eram pesados e seu respectivo peso

registrado, juntamente com a identificação do número do SISBOV, e subsequente

18

realização do protocolo de vacinação, onde são vacinados contra raiva e

clostridiose, e são vermifugados e tratados contra ectoparasitas.

Na propriedade é realizado ainda o manejo de corte das pontas de chifres

muito pontiagudos que pudessem causar lesões em outros animais do lote.

Os animais que apresentavam peso inferior a 294 kg eram separados e

formavam um lote de animais refugos, ou seja, era formado um lote separado dos

demais animais, onde tal lote requeria maiores cuidados e constante observação do

consumo de ração dos mesmos.

No escritório era feita a separação dos lotes por peso em uma planilha que

era repassada ao responsável. Os animais retornavam a seringa do curral e de

acordo com os dados registrados na planilha era realizada a formação dos lotes e

marcação a fogo dos animais do lote correspondente.

A formação de lotes para o confinamento é uma etapa muito importante, e

que deve ser realizada com cautela sob pena de mantermos certos animais em

estresse social constante, dificultando a execução das atividades, ocasionando na

redução do consumo de alimentos influindo negativamente no desenvolvimento

durante o confinamento.

O curral de manejo é um lugar onde irá ocorrer marcação a fogo, vacinação,

castração entre outras ações de fundamental importância para o bom funcionamento

do sistema, mas que, realizadas de forma correta ou menos agressiva, evitando

elevação da voz, uso de ferrões, e a condução com pancadas pode reduzir as

perdas causadas por danos na carcaça como hematomas, reduzir o estresse sofrido

pelos animais durante o processo e ainda ser realizado de forma prática e segura

para as pessoas envolvidas.

5.1.8 Capacitação dos Funcionários

Os responsáveis pela administração da fazenda entendem que uma equipe

bem treinada gera maiores lucros, além de melhoria na qualidade de vida, por isso,

promove e participa de cursos de treinamento e capacitação aos funcionários.

Durante o estágio, foi possível participar de dois cursos de capacitação dos

funcionários.

Curso de Manejo Racional de Bovinos: onde temas como bem-estar de

animais de produção, conhecimentos acerca do comportamento dos

19

bovinos necessários para seu manejo, contenção como manejo racional,

manejo no tronco de contenção, segurança alimentar, entre outros temas

de suma importância para a boa produção foram tratados.

Boas Práticas na Vacinação: foram discutidas técnicas de vacinação,

materiais necessários e seu correto uso, cuidados com as vacinas e suas

funções, além de danos causados na carcaça quando essa prática ocorre

de forma incorreta.

5.2 Fazenda Tamboril

Na fazenda foi feito o acompanhamento da produção da silagem de grão

úmido de milho, que é um processo de ensilagem onde estoca-se somente os grãos

da planta do milho. As atividades realizadas incluíram o monitoramento da produção,

como o volume de água utilizada, tamanho das partículas, e aferição da umidade do

grão moído, além de cuidados com a higiene no processamento a fim de que a

fermentação ocorresse de forma adequada por meio uso do inoculante e não por

bactérias contaminantes.

A umidade do grão inteiro da fazenda Tamboril estava em torno de 12% a

13% de umidade. A umidade do grão compactado os valores obtidos variavam de

40% a 36,6% de umidade. O volume de água que estava sendo utilizada para a

produção no silo trincheira era de 190 litros/ tonelada já no grão que estava sendo

moído no armazém e transportado até o silo para compactação era de 230 litros/

tonelada. Durante o estágio produziu-se 20 mil sacos de silagem de grão úmido de

milho.

A orientação passada aos funcionários era sobre cuidados com a limpeza do

local uma vez que o material produzido, posteriormente seria fornecido aos animais

no confinamento.

Segundo a NUMMER (2001), a silagem de grão úmido é uma ótima opção

para armazenar grãos de milho por longo período, com baixo custo e,

principalmente, mantendo o valor nutricional.

Algumas vantagens na produção de silagem de grão úmido de milho é que a

colheita é antecipada, não existe descontos quanto as impurezas, umidade e grãos

ardidos, possui maior digestibilidade e, consequentemente, melhora o desempenho

20

animal, ocorrem menores perdas por ataque de fungos, ratos, carunchos e traças,

possui alta concentração de energia, para balancear com alimentos proteicos para

bovinos de corte ou de leite, ovinos e caprinos, pode-se quebrar os grãos em

partículas maiores, ou seja, é suficiente quebrar os grãos em 3 ou 4 pedaços,

podendo ter até 10 a 15% de grãos inteiros. Quanto mais úmido os grãos de milho,

maior pode ser a granulometria e, à medida que há uma redução no conteúdo de

umidade, devemos reduzir o tamanho das partículas, evitando possíveis efeitos

negativos na compactação, fermentação e consequentemente no produto final

(NUMMER, 2001).

5.3 Fazenda Mathovy

Durante o estágio foi realizado o acompanhamento da rotina do confinamento

e das atividades da fábrica de ração. As principais atividades foram;

acompanhamento do manejo alimentar, rotina operacional da fábrica de ração,

Check-list do confinamento, atualização e tabulação de dados no programa TGC. Na

propriedade o estágio teve duração de dez dias.

Segue o detalhamento das atividades realizadas.

5.3.1 Manejo alimentar

O manejo iniciava-se pela manhã com a leitura de cocho as 05h00min, logo

após, as notas de leitura eram passadas para o TGC, que realizava o cálculo de

fornecimento de ração do dia para cada piquete onde os valores eram analisados e

havendo a necessidade era realizado os ajustes. A planilha de trato era impressa e

entregue ao tratador responsável e às 06h00min da manhã deveria começar a

fabricação da dieta. Ao final de cada dia os tratos eram computados no programa

TGC para verificar a quantidade de ração diária fornecida por piquete.

5.3.2 Ajuste diário no Fornecimento de Ração

A dieta fornecida aos animais era distribuída de acordo com o consumo e a

fase do lote dentro do confinamento.

O protocolo de dieta de adaptação adotado no confinamento era a dieta

múltipla, ou dieta em escada.

Ao entrar no confinamento os animais recebem a dieta de adaptação, e

permanecem em cada fase por cinco dias. Portanto, a primeira dieta é chamada de

21

´´adap 1``, seguida da dieta intermediária ´´ adap 2`` e por fim a ´´adap 3``

totalizando 15 dias de dieta de adaptação. Após o período de adaptação os animais

recebem a dieta final e consomem até sua saída do confinamento para o abate.

A correta adaptação de bovinos confinados que irão receber dieta final com

alta proporção de concentrado permite um maior desempenho dos animais, além de

reduzir a ocorrência de acidose, (BEVANS et al., 2005).

Todavia, existem variações entre indivíduos do mesmo lote no confinamento,

em relação à capacidade de adaptação as dietas ricas em concentrado, e essa

variação pode estar relacionada com a composição da microbiota ruminal de cada

animal, fazendo com que mesmo com a adoção de protocolos de adaptação, alguns

animais podem apresentar transtornos como acidose (BEVANS et al., 2005)

Para o fornecimento da dieta, o programa TGC realiza o cálculo da

distribuição diária da dieta por fornecimento e por lote. São quatro tratos diários

divididos nas porcentagens de 30%, 20%, 20% e 30%.

De acordo com DULPHY e FAVERDIN (1987) o padrão de procura de

alimento por animais em confinamento é bem característico, com dois momentos

principais (início da manhã e final da tarde), que são momentos onde a temperatura

é mais amena, já nos horários mais quentes do dia é importante que se tenha pouco

fornecimento da dieta ou poucas sobras da mesma no cocho, permitindo que ocorra,

pelo efeito da radiação solar, eliminação de ovos de larvas e parasitas.

5.3.3 Dieta

Os ingredientes utilizados na dieta fornecida aos animais foram: silagem de

milho e bagaço de cana cru como alimentos volumosos, e como alimentos

concentrados, milho triturado, farelo de soja, caroço de algodão, além de Núcleo

Corte Novanis, uréia pecuária, Prote-N e melaço de soja. A relação volumoso:

concentrado variou de dieta para dieta, devido as diferentes fases de adaptação e

até mesmo em função do manejo alimentar.

A formulação das dietas utilizadas no confinamento eram realizadas por

consultoria do Dr Celso Boin, e reformuladas em casos de falta de ingredientes. As

dietas eram impressas e entregues à fábrica de ração.

Abaixo segue as dietas de adaptação formuladas para o confinamento

Mathovy.

22

Tabela 3 - Composição da Dieta de Adaptação (Adap1).

Ingredientes Teor de MS (%) %na Dieta

Bagaço de Cana 57,00 21,25

Silagem de Milho 32,50 37,27

Caroço de Algodão 90,00 5,38

Milho Grão Seco 88,00 23,95

Farelo de Soja 90,00 6,73

Melaço de Soja 70,00 3,46

Núcleo Corte Novanis 99,00 1,11

Uréia Pecuária 99,00 0,62

Prote-N 99,00 0,35

Sal Mineral Recria 66 99,00 0,37

TOTAL - 100,00

Tabela 4 - Composição da Dieta de Adaptação (Adap2).

Ingredientes Teor de MS (%) % na Dieta

Bagaço de Cana Cru 57,00 24,04

Silagem de Milho 32,50 21,08

Caroço de Algodão 90,00 7,61

Milho Grão Seco 88,00 33,94

Farelo de Soja 90,00 6,09

Melaço de Soja 70,00 4,89

Núcleo Corte Novanis 99,00 1,46

Uréia Pecuária 99,00 0,63

Prote-N 99,00 0,35

Sal Mineral Recria 66 99,00 0,28

TOTAL - 100,00

23

Tabela 5 - Composição da Dieta de Adaptação (Adap3).

Ingredientes Teor MS (%) % na Dieta

Bagaço de Cana Cru 57,00 14,50

Silagem de Milho 32,50 25,43

Caroço de Algodão 90,00 7,65

Milho Grão Seco 88,00 38,73

Farelo de Soja 90,00 5,36

Melaço de Soja 70,00 5,90

Núcleo Corte Novanis 99,00 1,46

Uréia Pecuária 99,00 0,63

Prote-N 99,00 0,35

TOTAL - 100,00

5.3.4 Ajuste da Matéria Seca (MS)

O ajuste da MS do volumoso era realizado duas vezes por semana, devido o

consumo dos bovinos ser estimado em base de matéria seca, que varia muito nos

alimentos volumosos úmidos, como a silagem de milho.

Devido o bagaço de cana cru, na propriedade estar sendo armazenado ao ar

livre sem proteção contra as intempéries climáticas, no período chuvoso são

realizadas três análises semanais de ajuste de MS. O armazenamento do materia ao

ar livre submete o mesmo a perdas na sua qualidade e contaminação carreada pela

água da chuva.

É realizado ainda, análise da MS do bagaço de cana cru e da MS da dieta de

terminação.

As análises realizadas foram similares as análises de MS realizadas na

fazenda Maringá III.

24

5.3.5 Consumo da Dieta

O consumo da dieta variou de acordo com as fases de adaptação no

confinamento, sendo que para a dieta final o consumo estimado foi de 2,4% do PV

do animal.

O consumo foi estimado através do programa de gestão TGC, calculado com

base nas exigências nutricionais dos animais confinados.

5.3.6 Leitura de Cocho

Antes do primeiro trato, realizava-se a leitura de cocho, onde era feito a

observação dos cochos de cada piquete e atribuído notas para os mesmos com o

objetivo de avaliar a satisfação dos animais em relação à disponibilidade de ração

do trato do dia anterior, além de reduzir oscilação no consumo prejudicando o

desempenho dos animais, evitando desperdício de ração e permitindo programação

adequada do trato.

As notas atribuídas para a leitura de cocho na propriedade são as seguintes:

Nota 3 - Esta nota é atribuída ao cocho que apresenta sobra de 50% ou mais

do último trato do dia anterior. Esta nota caracteriza erro de manejo e nestas

situações reduz-se 10%.

Nota 2 - Esta nota é atribuída ao cocho que apresenta sobra de 25% ou mais

do último trato do dia anterior. Reduz-se 10% de acordo com a freqüência com que

ocorre essa leitura.

Nota 1,5 – Esta nota é atribuída ao cocho que apresenta sobra de 15% ou

mais do último trato do dia anterior. Reduzi- se 0,7%.

Nota 1 – Esta nota é atribuída ao cocho que apresenta poucas sobras e

cocho parcialmente visível referente ao último trato do dia anterior. Manter a

quantidade de ração fornecida no dia anterior.

Nota 0,5 - Esta nota é atribuída ao cocho que apresenta apenas farelo como

sobra do último trato do dia anterior. Recomenda-se aumentar 5%.

Nota 0 – Esta nota é atribuída ao cocho totalmente sem sobras de ração do

último trato do dia anterior e aparenta marcas de lambidas dos animais.

Recomenda-se aumentar 7%.

Por ocasião da atribuição de notas ao cocho é importante também observar o

comportamento dos animais, analisando a real necessidade de fazer ajustes em

cada piquete avaliado.

25

Os ajustes necessários feitos na quantidade de ração eram sobre a matéria

original (MO) da dieta fornecida no dia anterior.

5.3.7 ´´Check-list`` do Confinamento e da Fábrica de Ração

Durante os dias do estágio foi realizado apenas um check-list do

confinamento e outro da fábrica de ração. Semanalmente essas avaliações são

executadas na propriedade. A seguir algumas das avaliações realizadas.

5.3.8 Avaliação dos Animais

Todos os dias os animais são observados por uma equipe responsável, sendo

um processo rotineiro do confinamento conhecido como ´´ronda``. O objetivo é

avaliar nos piquetes a presença de animais doentes, machucados, ocorrência de

sodomia, ou animais que apresentem algum distúrbio nutricional. Tais pontos

também foram observados durante a execução do Check-List.

As observações feitas eram passadas para os superiores responsáveis e para

a equipe responsável pelo manejo dos mesmos, que identificavam o animal doente,

medicavam e se necessário faziam a retirada do animal do lote e o conduziam ao

lote enfermaria. Na enfermaria o animal consumia uma dieta com maior proporção

de volumoso, a dieta de adaptação 1, além de ter acesso a pasto no piquete

enfermaria. Tanto os animais doentes como os animais refugos formavam um único

lote dentro da enfermaria (medida provisória) que eram observados todos os dias, e

assim que estivessem recuperados, eles retornavam para o confinamento formando

novo lote.

Na avaliação dos animais observava-se:

Animais que apresentam flanco vazio (vazio fundo);

Olhos afundados na órbita;

Focinho com crostas ou catarros;

Tosse, corrimento nasal e respiração acelerada;

Animal claudicante (mancando) ou exibindo locomoção anormal,

(arrastando dígitos, por exemplo.);

Sangramentos, entre outras observações.

26

5.3.9 Limpeza dos Cochos

Todos os dias pela manhã é realizado a limpeza dos cochos da linha do

confinamento, onde sobra de ração nos cochos são retiradas, desde que não

houvesse excesso de sobras. Se houvesse quantidade excessiva de ração no

cocho, e estivesse boa para o consumo, a recomendação era para somente efetuar

a mexida da ração, a fim de estimular o consumo.

5.4 Cocho quebrado ou desalinhado

Observaram-se no confinamento diversos cochos quebrados ou

desalinhados, o que acarretava em desperdício de ração produzida, e menor

consumo pelos animais (figura 3).

Figura 3 - Cocho quebrado na linha. (Fonte: Arquivo Pessoal)

5.4.1 Limpeza e Acesso aos Bebedouros.

No confinamento é realizada a limpeza dos bebedouros duas vezes por

semana, onde os mesmos são completamente secos e lavados. Em alguns piquetes,

os bebedouros estavam com os acessos dificultados pela formação de lama, onde

dois animais quebraram a pata (Figura 4).

27

Figura 4 - Bebedouro com difícil acesso aos animais (Fonte: Arquivo Pessoal).

Água limpa e em abundância é essencial para o bom desempenho dos

animais em confinamento. Os animais consomem em média, de 30 a 35 litros de

água por dia. Porém esta média varia em função da quantidade de água presente na

ração.

Restrição na ingestão de água reduz o consumo de ração ( UTLEY et al . ,

1970) , o que resulta na produção inferior .

5.4.2 Fábrica de Ração

A cada produção de ração, o funcionário deveria anotar na planilha a

quantidade de cada ingrediente utilizado, assim, ao final de cada dia eram

contabilizadas as quantidades utilizadas e verificava-se se a fabricação seguiu a

formulação. Após a fabricação da ração, era realizada a distribuição da mesma nos

cochos dos piquetes.

Ordem de carregamento: durante a execução do Check-List, foi

observado que os funcionários da fábrica de ração não estavam

seguindo a ordem de carregamento vinda do escritório. Tal situação

poderia comprometer a homogeneidade da dieta produzida, permitindo

28

que ocorre-se seletividade da dieta, comprometendo a saúde dos

animais.

Tempo da batida: no confinamento o ideal é que o tempo da batida

ocorra em 4 minutos para melhor homogeneidade da dieta.

Tempo de carregamento: a partir do Check-List realizado, foi

constatado que a duração do carregamento é de 9 minutos.

Durante a execução do Check-List, foi possível observar alguns pontos

críticos dentro do sistema. Todas as observações realizadas referentes ao

funcionamento do confinamento foram repassadas aos responsáveis e anotadas em

uma pasta, com a descrição da ocorrência, data do ocorrido e data da notificação ao

responsável. A data para solução dos problemas era de três dias depois da

notificação. Casos como: cano estourado, cercas frouxas, bebedouros sujos e

cochos quebrados foram observados durante a execução do Check-List e

informados aos superiores e responsáveis pela manutenção. Algumas situações

foram logo solucionadas e outras não, por problemas operacionais. Assim como

observações referentes aos animais e seu comportamento.

5.4.3 Manejo no Curral

Na fazenda Mathovy é realizado o manejo de entrada dos animais no

confinamento, a fazenda trabalha com rastreabilidade, portanto os animais são

pesados, recebem brincos de SISBOV e passam por protocolo de manejo sanitário.

A fazenda trabalha com dois tipos de animais: animais oriundos de outras

fazendas do grupo São Marcelo (Juba ou Sepotuba e arrendamentos) que são

chamados na fazenda de crioulos, de criação própria e animais comprados de

fazendas no estado de Mato Grosso e animais de parceria.

A fazenda possui entre outras certificações a Certificação Socioambiental da

Rede de Agricultura Sustentável (RAS), estando autorizada a usar o selo Rainforest

Alliance Certified que indica a qualidade e compromisso na aplicação de práticas

sustentáveis e de conservação. Com essa certificação os animais confinados devem

cumprir 180 dias na propriedade, ou serem de origem de fazendas que possuam a

mesma certificação, como é o caso de outras fazendas do grupo que realizam a cria

ou recria. Portanto, no confinamento da fazenda Mathovy os animais crioulos, vindos

das fazendas certificadas são abatidos com 90 dias (noventena) e recebem o selo

29

Rainforest. Já os animais de parceria não recebem o selo RAS, pois ficam entre 90 e

110 dias no confinamento.

Todos os dados coletados na entrada dos animais, como idade, peso e

número do registro no SISBOV eram lançados no software DATA COLLECTION

PRODUTOR.

Os animais eram apartados para serem agrupados nos piquetes do

confinamento primeiramente por critério de peso, o segundo critério são os padrões

raciais, Nelore ou cruzado. Após o término do manejo os animais são conduzidos

para seus respectivos piquetes e recebiam a dieta de adaptação.

30

6. CONCLUSÕES

Tamanho crescimento e demanda por produtos cárneos de qualidade, trouxe

a necessidade de se adotar protocolos de adaptação, a fim de se evitar ou reduzir

transtornos nutricionais e consequentemente prejuízos econômicos para o sistema.

No Brasil o protocolo em escada ou dietas múltiplas, é o mais utilizado por

nutricionistas, o que confere com o vivenciado nas propriedades durante o período

de estágio. Ambas as propriedades trabalhadas adotam o protocolo de adaptação

de dietas múltiplas, e seu tempo de utilização é determinado conforme a resposta

animal a adaptação, uma vez que seus animais são oriundos de sistema a pasto e

requerem que tal processo seja adotado de forma gradativa e eficiente a fim de

reduzir os transtornos nutricionais e rápido estabelecimento no consumo dos

animais.

É importante não só a adoção de protocolos de adaptação eficientes, mas

também a junção de um adequado manejo que reduza ao máximo qualquer estresse

sofrido pelos animais.

31

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estágio final de conclusão de curso permitiu exercer um olhar técnico e

crítico sobre todas as atividades vivenciadas nas propriedades citadas, além de

aprendizagem sobre diferentes sistemas de confinamento que são adotados em

cada propriedade, ampliando assim a visão e conhecimento.

As experiências vividas em cada propriedade contribuíram grandemente para

a formação profissional, e permitiu ainda mudanças em relação à visão da

sistemática de grandes propriedades, além de mudanças em relação as pessoas

envolvidas.

Ficou evidenciada a necessidade de conhecimento em relação a todos os

aspectos que envolvem o sistema de confinamento, principalmente na identificação

de doenças e seus tratamentos.

Em ambas as propriedades a questão de bem-estar animal e toda sua

implicação é amplamente discutida e adotada de acordo com a funcionalidade de

cada sistema, fato esse de grande espanto e contentamento. Pois se pode afirmar

que bem-estar é abordado de forma superficial e dissolvido nas disciplinas, o que

deixa subentendido sua importância, não dada a devida atenção.

Apesar de nenhuma experiência profissional na área, o conhecimento

adquirido em sala de aula permitiu, durante o estágio, a identificação de

contratempos, e contribuição para o bom funcionamento do sistema.

32

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