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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS SECRETARIA-GERAL DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA PROGRAMA DE FORMAÇÃO DE CONSELHEIROS NACIONAIS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM DEMOCRACIA PARTICIPATIVA REPÚBLICA E MOVIMENTOS SOCIAIS O SINDSEP DE QUIXADÁ E REGIÃO (CEARÁ) E A EQUIDADE DE GÊNERO E REMUNERAÇÃO MARIA DAS GRAÇAS COSTA 2010

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

SECRETARIA-GERAL DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA

PROGRAMA DE FORMAÇÃO DE CONSELHEIROS NACIONAIS

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM DEMOCRACIA

PARTICIPATIVA REPÚBLICA E MOVIMENTOS SOCIAIS

O SINDSEP DE QUIXADÁ E REGIÃO (CEARÁ) E A EQUIDADE

DE GÊNERO E REMUNERAÇÃO

MARIA DAS GRAÇAS COSTA

2010

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MARIA DAS GRAÇAS COSTA

O SINDSEP DE QUIXADÁ E REGIÃO (CEARÁ) E A EQUIDADE

DE GÊNERO E REMUNERAÇÃO

2010

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MARIA DAS GRAÇAS COSTA

O SINDSEP DE QUIXADÁ E REGIÃO (CEARÁ) E A EQUIDADE

DE GÊNERO E REMUNERAÇÃO

Monografia apresentada ao Programa de Formação de

Conselheiros Nacionais em Democracia Participativa,

República e Movimentos Sociais (Especialização) da

Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da

Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito

parcial à obtenção do título de Especialista em

Democracia Participativa, República e Movimentos

Sociais.

Área de Concentração: Democracia Participativa

Orientadora: Profª Ms. Danusa Marques

2010

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AGRADECIMENTOS

Aos/As Dirigentes do SINDSEP, pela disponibilidade das informações e pela

contribuição para se ver materializado direitos e conquistas dos servidores e

servidoras.

A ISP nas pessoas de Jocélio Drummond, Mônica Valen te e Junéia

Batista, pelas oportunidades, pela confiança e pelo compromisso com o

Serviço Público de qualidade no mundo e, principalmente, pela realização da

campanha Igualdade de Remuneração Já.

Aos/Às entrevistados/as Luciene de Oliveira Alves, Francisca Neiva

Esteves da Silveira, Sheila Maria Gonçalves da Silv a, Izaltina de Oliveira

Gonzaga Rodrigues, Raimundo Eluceno de Castro Abreu , Francisco

Cristiano Maciel de Goes, Gardênia Moreira Menezes e Eunice Léa de

Moraes, por aceitarem contribuir na construção desse trabalho e pelas suas

histórias se cruzarem com tema da equidade.

Aos membros do Comitê de Equidade de Gênero e Remun eração de

Quixadá, que desafiam seus limites, derrubam barreiras e persistem na defesa

da mulher e da igualdade.

À Haline Cordeiro, por aceitar o desafio de aprofundar o conhecimento sobre

equidade e adotá-lo como um princípio no seu trabalho.

À FETAMCE , que desde o primeiro momento abraçou a idéia de realizar a

campanha no Ceará. E nesse momento, pela compreensão e apoio nas muitas

ausências às atividades no estado.

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Ao funcionário do SINDSEP Alexandre Félix, que se dispôs a me ajudar

como apoio técnico e pela paciência de ouvir os meus suspiros de cansaço.

À Danusa, minha orientadora, que me levou a reflexões profundas sobre

questões já sedimentadas no meu discurso.

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DEDICATÓRIA

À Dora e Joãozinho (meus pais), pelas

mais de oito décadas de vida exercitando

a honestidade e, por aquela determinação

em mandar para a escola seus treze

filhos/as.

À Grenda Lisley e Gêrda Lívia (minhas

filhas), onde encontro sinais de vida se

revolucionando.

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“Não é o desafio com que nos deparamos

que determina quem somos e o que

estamos nos tornando, mas a maneira com

que respondemos ao desafio. Somos

combatentes, idealistas, mas plenamente

conscientes, porque o ter consciência não

nos obriga a ter teoria sobre as coisas: só

nos obriga sermos conscientes. Problemas

para vencer, liberdade para provar. E,

enquanto acreditarmos no nosso sonho,

nada é por acaso.”

Henfil

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MARIA DAS GRAÇAS COSTA

O SINDSEP DE QUIXADÁ E REGIÃO (CEARÁ) E A EQUIDADE

DE GÊNERO E REMUNERAÇÃO

Monografia apresentada ao Programa de Formação de Conselheiros Nacionais em Democracia Participativa, República e Movimentos Sociais (Especialização) da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial à obtenção do título de Especialista em Democracia Participativa, República e Movimentos Sociais. Linha de Pesquisa: Democracia Participativa

Aprovada em 29 de abril de 2010.

Banca Examinadora

______________________________________________________ Profª. Ms. Danusa Marques

Orientadora

______________________________________________________ Marlise Miriam Matos de Almeida

Profª. Dra. (UFMG)

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RESUMO

O presente trabalho investigou como o SINDSEP de Quixadá e Região (Ceará) busca efetivar em seu cotidiano sindical ações de democracia participativa. Nisso, analisa-se a experiência do programa de equidade de gênero e remuneração como um processo de participação social em curso. A problemática se justifica ainda pela existência da experiência da promoção da Equidade de Gênero e Remuneração no Serviço Público Municipal de Quixadá, que está buscando consolidar a participação democrática de todos e, e principalmente de todas, nos diversos segmentos da Sociedade Contemporânea, sendo exemplo de efetivação das trabalhadoras nos organismos democráticos. Ao longo dos cinco capítulos ficou patente que a busca pela igualdade entre homens e mulheres passa pela proposição de estratégias sobre as questões de gênero que atinjam dimensões referentes a saúde, violência, educação, trabalho, pobreza, flutuações econômicas e redes de proteção social. Quanto às questões ligadas ao trabalho, o Brasil precisa tratar das diferenças salariais persistentes relacionadas a gênero. Há, portanto, que se considerar que o princípio da igualdade que vem sendo desenvolvido pelas principais entidades sindicais envolvidos no processo como a CUT, ISP, CONFETAM e o SINDSEP de Quixadá e Região continua distante de sua aplicação no mercado de trabalho e nas relações existentes em vários níveis institucionais, ademais, quando observado em relação às mulheres trabalhadoras. Mesmo reconhecendo todos os avanços que tivemos nestes aspectos para a inclusão das mulheres nos espaços públicos enquanto sujeito social e político, a distância entre o desejo e a vida real ainda é muito grande. Reconhece-se o desafio de que tratar as questões referentes à igualdade não é um problema exclusivo das mulheres, mas, uma questão muito mais ampla, pois tem suas vertentes no diálogo social e político. Afirma-se que para propor políticas é fundamental a análise de fatores, diagnósticos e instrumentos de acompanhamento, não bastando ter uma legislação com elementos que sirvam para retrair a discriminação, pois, são necessários elementos que de fato façam cumprir tais orientações. As desigualdades de gênero constituem em um obstáculo para a conquista de resultados positivos nas políticas que visam a igualdade. As mulheres não têm as mesmas possibilidades de acesso ao mercado que os homens e, geralmente, estão excluídas dos negócios tradicionais ou das redes sociais onde se dão os intercâmbios de informação que são vitais para tomar decisões e aproveitar oportunidades.

Palavras-Chaves: Equidade. Gênero. Remuneração. Igualdade.

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LISTA DE SIGLAS

CUT – Central Única dos Trabalhadores CEB – Comunidade Eclesial de Base CONFETAM – Confederação dos/as Trabalhadores/as no Serviço Público Municipal do Brasil FETAMCE – Federação dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal do Estado do Ceará ISP – Internacional dos Serviços Públicos IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada INAPE - Instituto Nacional de Assessoria, Projetos e Eventos LGBT – Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transsexuais MTE – Ministério do Trabalho e Emprego OIT – Organização Internacional do Trabalho PT – Partido dos Trabalhadores PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio PPA – Plano Plurianual PAISM - Programa de Atenção Integral à Saúde da Mulher RAIS – Relatório Anual de Informações Sociais SINDSEP – Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Quixadá, Ibaretama, Banabuiu, Choró e Ibicuitinga SPM – Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres UNI – União Global

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 – Diferencial de Remuneração na Esfera Municipal TABELA 2 – Diferencial de Remuneração nos Estados Brasileiros TABELA 3 – Fatores/Critérios de Avaliação de Postos de Trabalho - ISP

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 – PERFIL DOS/DAS ENTREVISTADOS/AS QUADRO 2 – PERCEPÇÃO E CONCEPÇÃO SOBRE GÊNERO QUADRO 3.1 – AMADURECIMENTO DA DEMOCRACIA DO BRASIL QUADRO 3.2 – DEMOCRACIA E PARTICIPAÇÃO SOCIAL QUADRO 3.3 – ENTRAVES À DEMOCRACIA PARTICIPATIVA QUADRO 3.4 – NÍVEL DE PARTICIPAÇÃO SOCIAL EM QUIXADÁ QUADRO 3.5 – GOVERNO MUNICIPAL E PARTICIPAÇÃO POPULAR QUADRO 4 – A ATUAÇÃO DO SINDSEP DE QUIXADÁ E REGIÃO QUADRO 5 – A MISSÃO DA INSTITUIÇÃO QUADRO 6.1 – POLÍTICAS PÚBLICAS E PARTICIPAÇÃO SOCIAL QUADRO 6.2 – COMITÊ DE EQUIDADE DE GÊNERO E REMUNERAÇÃO

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..................................................................................................................................... 15

Capítulo 1 – Contextualizando o Problema da Pesquisa

1.1. Elementos geradores da problemática: perspectivando o Estudo................................................ 18

Capítulo 2 – Reengenharia do Disc urso Sindical

2.1. Os Dilemas da Democracia e da Participação Social no Brasil Contemporâneo.......................... 25

2.2. O Discurso Sindical Cutista....................................................................................................... 26

2.3. Desenvolvendo a Política de Gênero da CUT............................................................................... 29

Capítulo 3 - O Movimento Sindical e as Estratégias de Efetivação

da Participação Social do/a Trabalhador/a

3.1. O Sindicalismo Contemporâneo e o Cânone Democrático da Práxis Sindical............................. 32

3.2. SINDSEP de Quixadá e Região: Ampliando o Horizonte de Atuação.......................................... 34

Capítulo 4

Gênero e Remuneração: Implicações Conceituais

4.1. Políticas de Gênero: uma proposta sindical................................................................................... 44

4.2. Equidade de Gênero..................................................................................................................... 50

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Capítulo 5

Análise da Experiência de Equidade de Gênero e Remu neração

5.1. Cenário gerador das discussões.................................................................................................... 56

5.2 Governo, Servidores/as e Sociedade e a Equidade de Remuneração no Serviço Público

Municipal: caminhos percorridos...........................................................................................................

61

5.3 Ferramentas para a Igualdade........................................................................................................ 64

5.4 O Olhar Analítico de quem Protagoniza a Equidade de Gênero e Remuneração.......................... 74

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................. 92

BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................................... 98

ANEXO

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INTRODUÇÃO

As transformações necessárias à nova dinâmica da democracia

brasileira passam pela academia do país. A realização de um Programa de

Formação de Conselheiros Nacionais, em um esforço conjunto entre a

Secretaria-Geral da Presidência da República e a Universidade Federal de

Minas Gerais, no oferecimento de um Curso de Especialização em Democracia

Participativa, República e Movimentos Sociais provoca nos conselheiros

nacionais que estão participando do Curso, maior senso de responsabilidade a

fim de que em suas instituições possam fortalecer o processo de efetivação da

democracia participativa.

A estrutura do Curso, através de um modelo modular, permitiu ao

longo do desenvolvimento das seis disciplinas obrigatórias além das optativas,

que nós, enquanto conselheiros e conselheiras nacionais, nos mantivéssemos

atualizados diante das demandas cada vez mais complexas e conscientes

diante das realidades em que nos vemos desafiando e desafiados.

A instrumentalização da minha práxis enquanto dirigente nacional

obteve ousadia e maior preparo ao sermos confrontados com os cânones da

teoria democrática contemporânea. É assim que, ao publicar este trabalho,

estamos colocando em evidência não apenas o resultado exitoso de um

processo de formação em nível de Pós-Graduação, estamos prestando contas

para com toda a sociedade da constância, da veracidade, da dinamicidade e da

autenticidade do nosso discurso enquanto fazedores/as de política

democrática, inclusiva e determinante da participação social.

A mencionada democracia que está esboçada nas páginas deste

trabalho não faz parte de um esforço menor de tentar entender a complexidade

que envolve o conjunto de conceituações no cerne da teoria democrática.

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Entender a democracia de maneira descritiva e procedimental não é suficiente

para se pensar a realidade de maneira complexa. PATEMAN (1992) que nos

informa que a formulação de sistemas políticos dentro dos vieses dessa

democracia implica que esses sistemas deveriam ser valorizados e nisso,

incluindo uma série de padrões ou critérios pelos quais um sistema político

pode ser considerado democrático.

O presente trabalho, portanto, analisa um desses processos que

busca a efetivação da participação social que ainda está em curso, tendo em

vista o presente momento de formação de suas bases epistemológicas para

uma grande mudança no Serviço Público Municipal de Quixadá, a partir do

poder interventivo do Sindicato, que lança mão das estratégias de equidade de

gênero e de remuneração através de normas para o estabelecimento da

igualdade entre trabalhadores e trabalhadoras na estrutura da Gestão Pública.

Detivemo-nos em compreender, a partir da experiência de

“Equidade de Gênero e Remuneração”, campanha da Internacional dos

Serviços Públicos (ISP), que desde 2002 está em desenvolvimento no Brasil,

na cidade de Quixadá-CE, e como o SINDSEP de Quixadá e Região

desenvolve estratégias de intervenção na Prefeitura Municipal, com vistas à

participação social dos servidores e servidoras municipais na promoção da

cidadania.

No capítulo 1, apresentam-se os elementos da atualidade que

geram a problemática da busca do SINDSEP de Quixadá e Região (Ceará)

pela efetivação da democracia participativa e perspectivam seu estudo pela

academia brasileira, justificando-se a relevância da abordagem da temática.

No capítulo 2, dialoga-se com abordagens da Teoria Democrática

frente às mudanças necessárias de paradigmas. Tendo em vista que o

SINDSEP de Quixadá e Região possui uma identidade classista ligada à

Central Única dos Trabalhadores (CUT), a maior da América Latina e a quarta

maior central representativa da Classe Trabalhadora do mundo, faz-se

oportuno evidenciar o discurso sindical cutista como uma necessidade de

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exemplificação de políticas que extrapolam o viés trabalhista e atingem de

forma multidirecional a vida do/a trabalhador/a.

No capítulo 3, apresentam-se as diretrizes e as estratégias do

Movimento Sindical para a efetivação da participação social dos/as

trabalhadores/as.

No capítulo 4, tem-se um aporte teórico onde diretrizes

conceituais sobre a equidade de gênero e remuneração são apresentadas a

fim de redirecionar tais conceitos em um tratamento de política sindical de

gênero.

No capítulo 5, analisa-se a experiência do programa de Equidade

de Gênero e Remuneração na cidade de Quixadá, estado do Ceará, julgando-

se que este estudo de caso assevera um entendimento prático sobre a

importância do Sindicato na efetivação da participação social do/a servidor/a

público/a municipal na Gestão Pública, através de mecanismos de

acessibilidade a serviços e a direitos fundamentais para os trabalhadores e

trabalhadoras. Neste capítulo apresentam-se as avaliações de personalidades

da esfera sindical da cidade e da Prefeitura de Quixadá e ainda de pessoas

envolvidas com a experiência de forma indireta com suas elaborações de

impressão, visão e juízo de valor sobre resultados práticos de todo o processo

que envolve o objeto de nosso estudo.

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Capítulo 1

Contextualizando o Problema da Pesquisa

1.1. Elementos geradores da problemática

Este trabalho analisa o processo de implementação da política de

equidade de gênero e remuneração no Serviço Público de Quixadá, buscando

entender as soluções que tal processo traz para a vida dos servidores e

servidoras municipais e, com extensão, para toda a comunidade.

Cada movimento individual é na verdade uma intenção clara,

ainda que veladas as reais nuanças, de que deseja encontrar-se no coletivo. É

assim que se instaura a ambiência da contemporaneidade: marcada pelas

múltiplas referências que fazem o indivíduo demarcando sua existência num

determinado contexto.

Supervalorizar a ampliação de reivindicações e chamar o

momento atual de Novo Sindicalismo é incorrer num “romantismo caótico” (grifo

nosso). Não são necessárias novas terminologias.

A vida do trabalhador e da trabalhadora mudou e, por isso, como

os sindicatos são feitos “por gente que luta” também precisou acompanhar

essa inevitável reestruturação nesse cerne que aparecem temáticas como

gênero, equidade e remuneração.

Não foi o Sindicato que procurou desenvolver outras lutas que

não apenas aquela que busca melhores e maiores salários. Foram os sócios e

sócias do Sindicato que trouxeram essa demanda para a entidade.

A participação das mulheres no mercado de trabalho aumentou

entre as décadas de 1970 e 1980, e juntamente com esse crescimento houve

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também um aumento significativo do protagonismo sindical das mulheres.

Nisso, o primeiro ponto a se considerar diz respeito à renovação na prática

sindical que se deu a partir de meados de 1970.

Segundo ponto determinante desse protagonismo foram os

movimentos de mulheres, muitos dos quais surgidos por volta de 1975,

considerado pela ONU como Ano Internacional da Mulher. Entre eles podemos

citar o Movimento das Mulheres pela Anistia, movimentos de lutas por

berçários e creches, grupos de mães, movimentos de bairros, grupos de

mulheres organizados pela Igreja através das Comunidades Eclesiais de Base

(CEBs) e demais grupos que levantaram a problemática dos direitos das

mulheres. Além disso, os serviços de assistência prestados pelos sindicatos

também podem ter influenciado na sindicalização das mulheres, principalmente

no período anterior a 1978, quando o sindicalismo brasileiro passou por uma

séria transformação nas práticas de atuação. BONI (2004, p. 293)

No período de 1970 a 1980, as trabalhadoras tiveram importante

participação nas lutas sindicais, que vão desde as diferentes formas de

resistência interna nas fábricas até as mobilizações e greves, mas a

participação na vida sindical não avançou muito, mesmo no chamado ‘novo

sindicalismo’.

No final dos anos 70 e início dos anos 80, o sindicalismo no Brasil

passou por intensas transformações tornando-se mais fortemente classista,

autêntico e combativo. Isso contribuiu intensamente na criação do Partido dos

Trabalhadores (PT), em 1980, e na criação da Central Única dos

Trabalhadores (CUT), em 1983.

A consolidação do novo sindicalismo enquanto ator coletivo nos

anos 80 além dos movimentos feministas e de mulheres que também atuavam

à época, é que as questões de gênero passaram a ter importância no

movimento sindical. Movimentos unos, que sempre haviam buscado igualdade,

nesse momento precisaram ressaltar também as diferenças que existem entre

seus membros.

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BONI (2004, p. 293) nos informa que, segundo Joan Scott, classe

e gênero são construções e representações. Assim, se levarmos em conta que

as mulheres fazem parte da classe trabalhadora, classe e gênero andariam

juntos.

Mas na história das idéias essas duas representações se

excluem, uma vez que o universo do trabalho e os direitos trabalhistas trazem

em suas origens iluministas uma visão masculina de mundo na qual as

mulheres aparecem como subordinadas. O próprio conceito de classe

trabalhadora enquanto categoria universal traz consigo essa discriminação. Ali

a concepção de gênero se subordina à de classe, uma vez que as

trabalhadoras são vistas como um exemplo específico do fenômeno geral das

classes sociais nessa visão.

Ainda de acordo com Joan Scott (op. cit.) há uma separação

inevitável quando se fala em gênero. A autora separa o conceito de sexo

biológico do conceito de gênero e, sendo este último uma construção social, a

cada mudança na organização do poder ocorre também uma mudança na

representação do poder. As sindicalistas buscam essa representação do poder

no espaço público, procurando ocupar espaços historicamente ocupados pelos

homens.

SCOTT apud BONI (2004, p. 294) lembra que “é necessário

“desconstruir” o caráter da oposição masculino–feminino. Essa oposição

binária dos gêneros masculino e feminino faz surgir outros conceitos

dicotômicos derivados deste. Essa lógica torna possível naturalizar e tornar fixo

um lugar para cada gênero. A idéia de desconstrução trabalha contra essa

lógica dicotômica na medida em que mostra que a oposição é construída e não

inerente e fixa.”

Buscando entender as desigualdades de classe e gênero,

simultaneamente, DEIS SIQUEIRA (1992, p. 57-89) nos apresenta idéias

diferentes sobre essa questão. Segundo a estudiosa, classe e gênero não se

opõem, mas se complementam. Segundo ela, gênero e classe social

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encontram-se entrelaçadas, uma vez que o “gênero se realiza numa sociedade

de classes”.

Assim, não importa se a discussão de gênero se configura nas

questões de maternidade ou por questões salariais, por exemplo, pois ambas

chegarão, em sua continuidade, ao entrelaçamento dos lugares sociais

simultânea e historicamente definidos tanto pela classe social quanto pelo

gênero.

Segundo ABRAMOVAY e SILVA (2000, p. 347-366), gênero é

uma categoria social que possibilita a análise de papéis que ocorrem de

maneiras distintas para homens e mulheres. Isso é resultado de duas

suposições. A primeira é a de “gênero como um elemento constitutivo das

relações sociais baseadas nas diferenças percebidas entre os sexos”, ou seja,

como a sociedade, baseada no sexo biológico, constrói as diferenças. E a

segunda é a de “gênero como forma de dar significado às relações de poder”.

Gênero e poder não podem ser dissociados; para se analisar um, deve-se levar

em conta o outro.

BOURDIEU (1995, p. 133-184) afirma que, nas sociedades onde

predomina a dominação masculina, mudar esse quadro não é tão fácil, porque

uma ruptura supõe mudança de consciência não apenas dos dominados, mas

também dos dominantes.

A divisão sexual, que assegura a dominação masculina, está

fortemente presente nas práticas cotidianas, na ocupação e divisão do espaço,

na organização do tempo. A naturalidade com que é construída a divisão social

entre os sexos a torna legítima. A diferença biológica entre masculino e

feminino aparece para justificar a diferença socialmente construída entre os

sexos.

BOURDIEU (op. cit.) justifica que esse sexismo é um

essencialismo que, como no caso de etnia ou de classe, serve para atribuir

diferenças sociais a características naturais e biológicas, funcionando como

essência de onde se justificam os atos da existência. Esse essencialismo é

muito difícil de desarraigar, considerando-se todo um trabalho milenar de

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socialização do biológico e de biologização do social que faz uma construção

social naturalizada aparecer como a justificação natural da representação

arbitrária da natureza que está no princípio da realidade e da representação da

realidade.

Ao assumirmos gênero como uma categoria de construção

histórica, poderemos compreender mais e melhor, o universo das mulheres

quanto à participação delas nos movimentos sociais.

A capacidade de mobilizar pessoas em torno de um projeto de

emancipação política, habilitando e instrumentalizando para a assunção de

espaços no objetivo claro de garantir direitos e intervir nos diálogos das

instituições sociais, entre elas, o governo municipal, efetivando a participação

dos servidores e servidoras municipais na plenificação da cidadania: é uma

estratégia do SINDSEP de Quixadá e Região e a vivência de sua realidade na

organização de seus sócios e sócias.

Essa realidade encontra respaldo no fundamento de que “os

movimentos sociais têm dialogado com os valores orientadores da

modernidade, numa tentativa de coadunar “permanência” e “mudança”, face

aos conflitos sociais e contradições que os atingem.” (SCHERER-WARREN,

2009, p. 1).

Segundo a autora (op. cit., p. 1), “existe todo um aparato

ideológico advindo de uma formação cultural de identidade do Sindicato com a

vida em suas generalidades que o torna detentor de um poder de decisão junto

à base e que o faz persuasivo junto aos poderes de deliberação político-

governamental”.

A mesma diz ainda que essa formação com base nas teorias

culturalistas e identitárias dos movimentos sociais, também denominadas de

“teorias dos novos movimentos sociais” em que a organização sindical está

inclusa, tiveram o mérito de buscar a complexidade simbólica e de orientação

política dos agrupamentos coletivos formadores de movimentos sociais,

segundo o princípio da diversidade sociocultural. Transita-se assim do

pensamento universalista acerca de um sujeito único e central da

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transformação social para as interpretações sobre a descentralização das lutas,

da multiplicidade e contingência das identidades, de acordo com os

pressupostos das teorias pós-modernas.

A busca pela igualdade entre homens e mulheres passa pela

proposição de estratégias sobre as questões de gênero que atinjam dimensões

referentes à saúde, violência, educação, trabalho, pobreza, flutuações

econômicas e redes de proteção social. Quanto às questões ligadas ao

trabalho, é preciso tratar as diferenças salariais persistentes relacionadas a

gênero. A mudança paradigmática das relações de gênero na estrutura familiar

e no mundo do trabalho está posta como um grande desafio para os

organismos sociais.

Essa pesquisa consistiu em perceber o processo de intervenção

do SINDSEP de Quixadá e Região nos espaços do Poder Público local através

de sua missão representativa de servidores e servidoras, levando os/as

servidora ao ideário político, ao protagonismo popular e à apropriação de

direitos e posições nas instâncias governamentais e não-governamentais,

buscando a efetivar a participação de todos os sócios e sócias do Sindicato.

Para isso, elegemos como procedimentos metodológicos os seguintes

instrumentais: Pesquisa qualitativa com aplicação de questionário de respostas

abertas; análise documental de atas, estatutos, regimentos internos e

documentos da plataforma sindical de gênero; análise de leis, jornais, e

publicações sobre o tema específico da monografia.

Todos os entrevistados e entrevistadas concordaram em que sua

identidade fosse revelada, o que de fato só enriquece a apresentação dos

dados levando-se em conta quem são os atores envolvidos e a missão social

que cada um desempenha nessa experiência.

Para isso, estabelecemos como objetivo geral da temática

analisar a intervenção do SINDSEP de Quixadá e Região no Serviço Público

da cidade através da instrumentalidade da campanha da ISP (Internacional dos

Serviços Públicos) Equidade de Gênero e Remuneração na busca pela

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efetivação da participação social dos servidores e servidoras municipais nas

instituições sociais.

Tentando-se se aproximar cada vez mais da temática, foram

analisadas as ações do Movimento Sindical e suas estratégias de efetivação da

participação social do servidor e da servidora municipal, observando a práxis

sindical bem como sua concepção acerca de temáticas da contemporaneidade

como o discurso estratégico sobre equidade de gênero e remuneração.

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26

Capítulo 2

Reengenharia do Discurso Sindical

2.1. Os Dilemas da Democracia e da Participação Soc ial no Brasil

Contemporâneo

Atualmente é possível observar o empenho da sociedade em

democratizar o país, de modo que a participação política não seja apenas

formal, apesar de várias características tradicionais antidemocráticas da

realidade política brasileira.

Sobre essas questões iniciais acerca dos dilemas da Democracia

assevera MACPHERSON (1978, p. 1) que: “O principal problema quanto à

democracia é como atingi-la”. Aponta ainda como um dos requisitos para a

consecução de tal tarefa, a mudança da consciência do povo, ou seja, passar

de essencialmente consumidor a ser um executador e desfrutador dessa

execução, devendo, ainda, existir um sentimento comunitário mais forte. Vale

salientar que Macpherson é um teórico que defende a Democracia Participativa

como um modelo possível de constituição das relações políticas em sociedade.

O modelo de Democracia Participativa proposto por Macpherson

é aquele que se configura num sistema piramidal com democracia direta na

base e por delegação em cada nível depois dessa base. O autor (op. cit., p. 2)

diz ainda que: “o fator mais importante é a existência de partidos políticos e que a

combinação de um aparelho democrático piramidal direto e indireto com a continuação

de um sistema partidário parece essencial.”

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Os parâmetros políticos apresentados neste modelo1 proposto por

Macpherson vão orientar as tentativas de democratização participativa nas

últimas décadas do século XX onde as bases de formação do cerne das

sociedades estão voltadas para uma postura democrática das instituições e

das pessoas como o Brasil, por exemplo.

2.2. O Discurso Sindical Cutista

“Um discurso não é uma linguagem nem um texto, mas uma

estrutura histórica, social e institucionalmente específica, de enunciados,

termos, categorias e crenças”, diz SCOTT (1988, p. 205-206). Este autor

reforça esse fato ao dizer que os terrenos discursivos se sobrepõem, se

influenciam, e competem entre si; fazem apelos a suas respectivas “verdades”

em busca de autoridade e legitimação e tais discursos passam a ser modelos e

desse modo, passa-se a apresentar um discurso de entidades por se concordar

com ela ou se proteger nela.

Para o SINDSEP de Quixadá e Região, que é uma entidade

filiada a CUT, a quarta maior central sindical representativa dos trabalhadores e

trabalhadoras do mundo, receber influências das diretrizes da CUT é um ato de

legitimidade de sua própria agenda de lutas.

O discurso orientador da CUT para suas entidades filiadas aponta

que a construção de um futuro de conquistas de direitos, de consolidação da

democracia e, sobretudo de desenvolvimento sustentável e soberano para

todos e todas, deve se configurar no enfrentamento da crise econômica

mundial, organizando a transição para um modelo de desenvolvimento com a

defesa imediata dos empregos, da renda e dos direitos e a consolidação de um

Estado democrático e na atualização e fortalecimento do projeto sindical

cutista, com ampliação da base de representação para disputa de hegemonia

na sociedade.

1 Destaca-se ainda outra autora muito importante da vertente participacionista que é Carole Pateman.

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Segundo a CUT2 (2010, p. 76) para avançar na estratégia de

difusão de suas políticas, é preciso atualizar a concepção sindical,

considerando o contexto do aumento da fragmentação sindical,

limitações estruturais para a construção da identidade de classe e as

dificuldades em organizar mobilizações de massa. E acrescenta:

A identificação das conquistas, dos avanços e

recuos, dos limites e contradições derivadas

da coexistência do projeto político-

organizativo da Central com a estrutura oficial

são pontos que vêm sendo pautados nas

instâncias decisórias da CUT, nas suas

instâncias e sindicatos, ao longo dos anos; e

que, hoje, para além da reafirmação de

princípios, demandam a atualização de

compromissos em torno de uma estratégia

que assegure maior organicidade das ações e

da estrutura organizativa. O sindicato é um

dos instrumentos fundamentais para a

construção de outra hegemonia baseada e

amparada na luta dos trabalhadores e

trabalhadoras. Para tanto, requer

engajamento na disputa social por ampliação

de direitos da classe, mas também na disputa

ideológica, no combate aos pilares do

sistema, elevando a consciência e identidade

de classe.

Segundo a CUT (2009), o contexto econômico, social, cultural e

político em que estamos inseridos/as hoje está mais propício para os avanços

necessários que a Classe Trabalhadora precisa promover. Nisso, torna-se

necessário atualizar princípios cutistas em que a militância reafirma-se num

sindicalismo combativo inaugurado pela militância. Nessa conjuntura devemos

2 CUT – Central Única dos Trabalhadores. Resoluções do 10º Congresso. (São Paulo/2009)

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ter muito clara a necessidade de formalização da situação dos/as

trabalhadores/as quanto ao trabalho. Devemos nos certificar ainda acerca do

lugar da luta das mulheres para a construção de um mundo de igualdade bem

como o combate a todas as formas de discriminação.

O processo de flexibilização das relações de emprego no Brasil foi

muito profundo. Hoje temos metade da classe trabalhadora no mercado

informal; ou seja, sem direitos e sem acesso à proteção social. (CUT, 2010). O

processo de exclusão social que daí decorre atinge centralmente a população

negra, as mulheres e a juventude.

Já a concepção de Estado, de acordo com a CUT, deve estar

vinculada a um projeto alternativo de sociedade. Ou seja, um Estado

Democrático, com caráter público, cuja gestão esteja sustentada na

participação ativa da sociedade civil. Se a ampliação da intervenção do Estado

for combinada com o controle social de suas atividades, os cidadãos e cidadãs

ganharão mais poder de decisão sobre as próprias condições de vida. Ou seja,

a classe trabalhadora só será politicamente hegemônica revolucionando a

estrutura do Estado. Portanto, fortalecer o Estado e ampliar os espaços de

participação social nas diversas instâncias decisórias é fundamental para que

seja implementado um projeto legítimo de desenvolvimento democrático

participativo para o país. (CUT, 2010)

Assim, o SINDSEP de Quixadá e Região, orientado por esse

discurso cutista, passa a desenvolver a política do chamado sindicato cidadão,

onde além da luta econômica e a defesa dos direitos trabalhistas, busca intervir

de forma efetiva no controle social participando dos Conselhos Municipais.

Nessa ação, por exemplo, o SINDSEP de Quixadá e Região

apresenta aos governos municipais reivindicações que contemplam as

necessidades mais básicas dos/das trabalhadores/as, com especial atenção às

reivindicações que buscam minorar a desigualdade de gênero e isto, com

ênfase mais forte, nas questões de remuneração.

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2.3. Desenvolvendo a Política de Gênero da CUT

De acordo com as Resoluções da CUT, as mulheres são 51% da

população brasileira, constituem, aproximadamente, 46% do mercado de

trabalho e são responsáveis pelo sustento de um terço das famílias no Brasil.

Todavia, elas também são as mais atingidas pelo desemprego, pela

precarização do trabalho, têm presença expressiva no segmento informal e

desprotegido do mercado de trabalho e vivem de forma ainda mais grave a

pobreza. Entre as que estão inseridas no mercado de trabalho formal, se

concentram nos postos de trabalho menos qualificados, nas funções de menor

prestígio social e com menor remuneração. (CUT, 2010).

Mesmo com o grande crescimento da participação das mulheres

no mercado de trabalho, o aumento de sua importância econômica (também na

responsabilidade pelo sustento da família) e o seu destaque profissional em

vários setores, a sociedade brasileira ainda revela fortes traços do modelo

patriarcal. Não são raras as situações de discriminação e de opressão às

mulheres, como a violência, inclusive doméstica, além do assédio sexual e do

assédio moral no local de trabalho.

A esfera do trabalho, ao mesmo tempo em que reflete valores

sociais que atribuem um papel secundário às mulheres, contribui para a

reprodução desses valores, o que pode ser observado através da divisão

sexual do trabalho, da segmentação ocupacional, das barreiras ao acesso, à

permanência e à promoção no emprego, das menores possibilidades de

acesso à qualificação profissional e de ascensão aos postos mais elevados nas

empresas. No que se refere às trabalhadoras rurais, a exploração e a

discriminação se revelam também na falta de acesso à posse da terra –

mesmo quando esta é garantida na lei.

Uma das conseqüências da divisão sexual do trabalho é que as

mulheres trabalhadoras continuam sendo as principais responsáveis pela

esfera doméstica, o que reafirma a persistência da dupla jornada e da sua

quase exclusiva responsabilidade no cuidado dos filhos(as), idosos(as) e

doentes. É preciso encarar o desafio de que o conceito de trabalho seja

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ampliado, abrangendo também o trabalho reprodutivo e reconhecendo o

trabalho doméstico como “trabalho”.

A compreensão de que as mudanças no trabalho e a pobreza

afetam de forma diferenciada as mulheres, de que a precarização as tem

atingido de forma ainda mais aguda e de que o atual padrão de acumulação

utiliza-se da divisão sexual do trabalho e das relações de gênero gera um forte

debate e influencia a formulação de políticas dirigidas à promoção da igualdade

e à ampliação dos direitos sociais das mulheres. Isso deve se refletir na

organização das campanhas salariais, nas campanhas de sindicalização, nas

campanhas temáticas e na intervenção das disputas gerais na sociedade em

torno da mudança do modelo de desenvolvimento.

A opressão machista impõe-se a todas as mulheres, contudo,

para algumas, essa opressão é vivida de forma mais intensa, combinada com

uma série de outras discriminações e preconceitos, caso, por exemplo, das

jovens, negras, deficientes, lésbicas, quilombolas, ribeirinhas, agricultoras,

indígenas e pescadoras. (CUT, 2010).

A CUT (2010) se coloca como mais um instrumento para a luta

do conjunto de todas as mulheres trabalhadoras, reconhecendo e respeitando

esta diversidade existente entre as mulheres. É fundamental que política de

gênero seja transversal e esteja presente nas ações de todas as Secretarias da

CUT, e isto é de fato uma diretriz que orienta a política do SINDSEP.

Assim, o debate sobre a organização das mulheres na CUT –

além de incorporar a realidade das diferentes categorias profissionais e a

diversidade existente na organização das próprias instâncias e entidades

filiadas à CUT – deve colocar com centralidade a questão de como responder a

esses desafios. É prioritário estabelecer estratégias para que as necessidades

das trabalhadoras sejam consideradas na formulação do conjunto das políticas

e da intervenção sindical.

Em suas diretrizes, a CUT afirma que busca atuar de forma

decisiva para que a especificidade da situação vivida pelas mulheres

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trabalhadoras seja incorporada enquanto uma luta de toda a classe

trabalhadora.

A diferença salarial entre homens e mulheres é um fator concreto

de discriminação das mulheres que precisa ser enfrentado. Mulheres recebem

salários menores do que os homens, mesmo quando desempenham as

mesmas funções.

Para reverter esse quadro são necessárias políticas de elevação

da renda, a exemplo da política de valorização do salário mínimo, e políticas de

combate à diferenciação do trabalho por sexo, o que pode ser visto na ação do

SINDSEP de Quixadá e Região quando do desenvolvimento da Campanha de

Equidade de Gênero e Remuneração.

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Capítulo 3

O Movimento Sindical e as Estratégias de Efetivação

da Participação Social do/a Trabalhador/a

3.1. O Sindicalismo Contemporâneo e o Cânone Democr ático da Práxis

Sindical

O capitalismo e o sindicalismo não se restringiram à Inglaterra. O

desenvolvimento industrial, no século XIX, dava-se na França, na Alemanha,

nos Estados Unidos da América e em outros países, fazendo emergir um

proletariado cada vez mais forte, quantitativa e qualitativamente, e fazendo com

que o movimento sindical se expandisse. Os contatos entre os operários tanto

dos países industriais avançados como dos países pouco industrializados,

aumentavam. Em 1866, foi realizado o Congresso da Associação Internacional

dos Trabalhadores que reuniu representantes operários de vários países. No

Congresso, foi reafirmada a importância dos sindicatos, definida como uma das

tarefas primordiais do proletariado.

Assim, "O proletariado iniciou um processo de luta,

desencadeando desde reivindicações puramente econômicas até movimentos

propriamente políticos, como o Cartismo na Inglaterra, as Revoluções de 1848

na França e a célebre Comuna de Paris de 1871. Em todos estes eventos a

participação da classe operária foi decisiva". (ANTUNES, 1982, p. 22)

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No entanto, a tendência das uniões sindicais inglesas, o trade-

unionismo, que aspirava reivindicações predominantemente econômicas, já

não era a única tendência. E, apresentar outras concepções do movimento

sindical, construídas nos séculos XIX e XX, parece-nos importante para melhor

compreendermos, posteriormente, o movimento sindical no Brasil.

As transformações ocorridas nas formas de organização dos

trabalhadores e trabalhadoras no Brasil acompanham, como não poderia deixar

de ser, as mudanças estruturais na economia e na política nacional. Além

disso, envolvem todos os fatores produtivos, incluindo a força de trabalho e,

conseqüentemente, as maneiras como estes trabalhadores e trabalhadoras

organizam suas lutas e desenvolvem suas estratégias e táticas.

As manifestações dos trabalhadores e trabalhadoras que se

avolumam no final da década de 70 no Brasil, e que tem o ABC paulista como

palco inicial, estão ligadas não só à resistência política contra a ditadura, mas

também, se contrapõem às investidas político-econômicas do capital que

arrochavam os salários e aumentavam a exploração do trabalho.

O Partido dos Trabalhadores - PT surge como uma importante

organização em nível nacional articulando-se a outras formas de luta

organizada como os sindicatos e demais associações populares, sendo a

participação dos sindicalistas, o elemento fundamental para a formação e a

caracterização do partido.

Segundo Ozai da Silva (2000), essa afirmação pode ser feita com

base na análise da formação da primeira Comissão Nacional Provisória, de

1979, que era composta por 12 dirigentes sindicais, dos 16 membros que a

compunham.

O contexto de formação do Partido dos Trabalhadores, no

começo dos anos 80, tem como pano de fundo o crescimento dos movimentos

sociais organizados no Brasil e as intensas lutas dos operários do ABC

paulista, que colocavam em questão o regime de governo autoritário dos

militares. O PT levanta bandeiras que extrapolavam as questões salariais e que

visavam transformações políticas e sociais bastante profundas, demarcando

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fortemente, nesse período, uma tendência ideológica socialista que se

baseava, de forma clara, em um projeto político anticapitalista.

Já a CUT - Central Única dos Trabalhadores, criada em 1983,

ainda no regime militar, aglutinava as correntes sindicais mais ativas, fazendo

frente às políticas de degradação das condições de vida da classe

trabalhadora, estabelecendo-se, nesse período, como uma importante

organização política e social.

A ascensão da CUT, nos anos 80, assim como o crescimento do

PT na esfera da política institucional, é impulsionada pelo momento histórico-

político de grandes transformações, com o fim da ditadura e com a crise do

Estado e da economia hiper-inflacionada.

Nesse período, de acordo com ABRAMOVAY (2000), o

sindicalismo brasileiro caminha na contramão dos sindicatos no resto do

mundo, inclusive em relação a alguns países na América Latina como a

Argentina. Enquanto nesses países, os sindicatos entravam em depressão por

falta de participação e por perder poder político, no Brasil, viviam o que se

denominou a década de explosão do sindicalismo.

3.2. SINDSEP de Quixadá e Região: Ampliando o Horiz onte de Atuação

Com a promulgação da nova Constituição de 1988, os/as

servidores/as públicos/as conquistaram o direito de se organizarem em

sindicatos. Fazendo uso desse direito, iniciou-se a fundação dos Sindicatos

dos Servidores Municipais do Ceará.

Desse modo, no dia 06 de janeiro de 1989 era fundado o

SINDSEP – Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Quixadá,

Ibaretama, Banabuíu, Choró e Ibicuitinga, resultado de várias lutas.

As finalidades do Sindicato foram ampliando-se ao longo dos

vinte anos de fundação. No começo eram: representar os associados;

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congregar e defender prerrogativas, direitos e interesses dos associados;

promover atividades visando o aprimoramento técnico, político e organizativo

dos associados; patrocinar estudos; promover as reivindicações; dar

assistência aos seus associados e aos integrantes da categoria nos

interesses jurídicos funcionais; promover o intercâmbio e a solidariedade;

instaurar dissídio.

Hoje, ampliou essa defesa aos interesses coletivos da categoria:

representar a categoria em congressos, conferências; defender junto com

outras entidades sindicais a construção de uma sociedade justa, solidária e

democrática; tratar das negociações coletivas; filiar-se a entidades sindicais

de âmbito estadual, nacional e internacional; a luta contra todas as formas de

opressão e exploração e a solidariedade à luta dos trabalhadores do mundo

inteiro; organizar a categoria por local de trabalho. Isso dá uma outra

dimensão ao Sindicato, pois, nesse momento o Sindicato deixa de ser “apaga-

fogo”, ou seja, deixa de defender os associados quando necessário apenas e

passa a fortalecer a consciência e a organização sindical.

Fazer sindicalismo hoje significa de fato assumir um discurso

plural em que o servidor e a servidora sejam contemplados não apenas por sua

postura de servidor público. Isso quer dizer que não é apenas por salário que o

Sindicato tem que lutar e nem mesmo somente essa luta que o sócio e a sócia

esperam de sua entidade representativa. Os sócios e sócias esperam que o

Sindicato os enxergue de forma global e transforme essa percepção em política

sindical.

Com tudo isso, o Sindicato deixa de ser uma entidade que

empreende apenas lutas economicistas para se tornar um sindicato com

perspectiva de discussão da luta da classe trabalhadora num sentido mais

amplo, trazendo pro seu cotidiano temáticas como gênero, raça, direitos LGBT

e solidariedade internacional, assuntos de forte apelo na sociedade

contemporânea.

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Tal estrutura que proporciona acesso à participação dos sócios e

sócias nos debates e decisões contribui de fato para fortalecer a luta da

categoria e o envolvimento de todos/as facilita as conquistas.

O SINDSEP tem entre suas finalidades a de “promover todos os

tipos de reivindicações ligadas ao vínculo funcional de seus sindicalizados e dos

integrantes da categoria profissional representada” SINDSEP (2002)

Ao analisar o Estatuto Social da entidade percebe-se o

desenvolvimento de instrumentos políticos e de organização estrutural

carregados de simbolismo democrático visando sempre a participação efetiva

dos dirigentes da entidade e dos próprios associados e associadas em níveis

elevados quando se pratica democracia.

Essa postura democrática quanto ao movimento dos

trabalhadores e trabalhadoras traz uma complexidade que pode ser vista na

forma como organizam sua estrutura administrativa:

São instâncias do SINDSEP, por ordem

hierárquica:

I- Instâncias Gerais do SINDSEP:

a) Assembléia Geral;

b) Congresso de Delegados;

c) Conselho Deliberativo;

d) Diretoria Executiva;

e) Conselho Fiscal;

II- Instâncias Municipais do SINDSEP:

f) Assembléia Geral Municipal;

g) Assembléia do Setor de Trabalho;

h) Coordenação Municipal;

i) Comissões Sindicais de Base.

(Estatuto do SINDSEP, Cap. 3, Art. 11, p. 6)

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Normalmente encontramos no estatuto de um sindicato, no

tocante à organização interna, a realização de assembléia geral anual onde se

decide as principais questões. As demais decisões são tomadas em reunião de

diretoria do Sindicato que em geral acontece mensalmente. Cabe a quem

preside o Sindicato a tomada de decisão de assuntos do cotidiano.

O que se verifica no SINDSEP de Quixadá e Região é um

estatuto que garante uma dinâmica diferenciada dos demais sindicatos. Além

da assembléia anual que faz prestação de contas, previsão orçamentária,

delibera sobre a campanha salarial, reunindo associados/as dos cinco

municípios que compõem a base, há uma assembléia eleitoral a cada quatro

anos, ao mesmo tempo em que cada município realiza assembléias municipais,

reunindo associados/as daquela base. Há ainda assembléia por setor de

trabalho, podendo reunir categoria específica da Educação, Saúde, Agentes de

Trânsito que discute e delibera sobre questões específicas. Essa assembléia

de setor também elege representantes para compor chapa no processo

eleitoral: são as comissões sindicais de base.

Com essa estrutura, durante o ano o Sindicato realiza mais de

uma dúzia de assembléias, discutindo com os/as servidores/as os problemas e

decidindo com a base as estratégias de atuação.

Entre a Diretoria Executiva e Assembléia existe o Conselho

Deliberativo que se reúne trimestralmente, de forma ordinária. Este é composto

pela diretoria (efetivos e suplentes) e as comissões sindicais de base. No

mandato atual 2008-2012 essa composição soma 86 pessoas.

As decisões tomadas nessa instância são transmitidas nos locais

de trabalho pelos próprios representantes, responsáveis de fazerem a ponte

entre a base e a diretoria executiva.

O que se pode observar é que esse sindicato busca ser

instrumento onde se exerce a democracia e isso fortalece a prática de um

sindicato cutista pautado nos princípios democráticos, de massa, autônomo e

independente, o que é muito diferente da prática de um sindicato “pelego” e

puramente cartorial.

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O SINDSEP se diferencia, inclusive, de muitos sindicatos cutistas,

principalmente, no tocante aos representantes por local de trabalho. Essa

forma de organização normalmente não encontramos no Serviço Público,

podendo evidenciar sua existência no ABC Paulista que, por sua vez, vem a

ser o precursor desse tipo de dinâmica organizativa de entidade sindical.

Como o Sindicato representa servidores/as de cinco municípios, é

eleita uma Coordenação por Município (Presidente, Tesoureira e Secretário

Geral), para coordenar a luta municipal, descentralizando o poder.

Conforme o Estatuto, o modelo praticado leva a categoria a

participar ativamente das decisões. Mantendo a categoria mobilizada,

discutindo seus problemas e apontando soluções.

O processo eleitoral do SINDSEP de Quixadá e Região resguarda

também um espaço democrático no processo de composição de chapas. Essa

abertura democrática se dá na realização da eleição dos/das representantes

das Comissões Sindicais Municipais: 12 (03 por cada município); Comissões

Sindicais dos 13 distritos de Quixadá, totalizando 26 (02 por distritos) e as

Comissões Sindicais de Base que são dois representantes nos locais acima de

dez servidores/as e um representante naqueles com menos de dez

servidores/as, 34 na atual diretoria, totalizando 86 componentes, sendo 19

homens e 67 mulheres. Nisto, incluí-se a diretoria executiva: 14 efetivos e oito

suplentes; Conselho Fiscal: três efetivos e três suplentes.

Para concretizar essa eleição de representantes são realizadas

assembléias nos locais de trabalho. E assim, na última eleição foram 41

assembléias envolvendo 543 servidores e servidoras.

A indicação de nomes para ocuparem cargos da Diretoria

Executiva e Conselho Fiscal se deu em plenária desses representantes.

Após inscritas todas as chapas, o pleito acontece no mesmo

formato das eleições municipais: urnas itinerantes percorrem sob a

coordenação de um/a presidente de mesa e de um/a secretário/a as

localidades rurais e urbanas de cada uma das cinco cidades, resguardando o

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voto secreto, obedecendo a duração do dia de votação que vai das 8hs da

manhã até às 20h.

Com relação ao processo negocial, tudo começa na assembléia

com a categoria, onde os servidores e servidoras municipais tomam as

decisões e apontam encaminhamentos no que tange às reivindicações. Em

seguida, a Diretoria do SINDSEP pauta essas decisões e apresenta documento

junto à Prefeitura, valendo-se do direito à negociação coletiva permanente

garantida em Lei Municipal nº 2.311, de 16 de novembro de 2007.

Podemos visualizar, sinteticamente, a tentativa de

democratização das ações do SINDSEP de Quixadá e Região no

estabelecimento de sua política sindical no seguinte organograma:

Para esse novo momento nas relações com o Poder Executivo

em que imperam as discussões em torno do empoderamento das mulheres,

os/as dirigentes do SINDSEP de Quixadá e Região compreendem que não

serão apenas ações isoladas no que tange à promoção dos direitos da mulher,

especialmente a mulher trabalhadora, que vão efetivar mudanças de postura e

abertura política para elas.

SINDICATO

Processo Participativo Interno Inclusivo

Participação através da negociação com a Prefeitura

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Entende-se que é um conjunto de ações políticas integradas entre

todas as instituições que compõem a estrutura administrativa de Quixadá

aliada aos organismos sociais que somarão esforços suficientes para as

rupturas e reconstruções necessárias para a desconstrução dos preconceitos e

injustiças históricas cometidas contra as mulheres.

Pensando em como estruturar essas reivindicações num

documento oficial, o Conselho Diretor do SINDSEP de Quixadá e Região

discutiu e deliberou por apresentar, em 2008, à Prefeitura de Quixadá a

Plataforma Sindical de Gênero3, diretrizes estas descritas a seguir neste

trabalho.

1. Participação das Mulheres na Administração Munic ipal

• Estimular a participação e o controle social pelas mulheres

nas políticas públicas municipais.

• Ampliar a participação das mulheres nos cargos decisórios do

Poder Executivo e do Legislativo Municipal.

• Elaborar e implementar o Plano Municipal de Políticas para as

Mulheres, tendo como referência o II Plano Nacional de

Políticas para as Mulheres.

2. Autonomia econômica e igualdade no Serviço Públi co Municipal

• Combater as discriminações de sexo, raça e etnia, idade e

orientação sexual nos locais de trabalho da Prefeitura.

• Desenvolver no município programas de incentivo ao primeiro

emprego para as mulheres jovens, com compatibilidade entre

o estudo e o trabalho.

3. Educação inclusiva e não discriminatória

3 Documento com diretrizes sindicais quanto às questões de gênero que são reivindicações do Sindicato à Prefeitura.

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• Aprimorar o tratamento de gênero, raça/etnia, orientação

sexual e direitos humanos nas orientações curriculares em

todos os níveis da Educação Básica.

• Implementar a Lei nº. 10.639, de 09 de janeiro de 2003 , que

estabelece as diretrizes e bases da Educação nacional, para

incluir no currículo oficial da rede municipal de ensino a

obrigatoriedade das temáticas de história e cultura afro-

brasileira.

• Promover a formação continuada de gestores/as e

profissionais de Educação sobre relações de gênero,

enfrentamento da violência de gênero e orientação sexual,

considerando as questões étnico-raciais, geracionais e a

situação das pessoas com deficiência na rede municipal de

Educação.

• Formar educadores/as e alunos/as, elaborar e distribuir

material pedagógico referente aos temas relacionados à

promoção da saúde e dos direitos sexuais e direitos

reprodutivos de jovens e adolescentes e prevenção das

DST/AIDS, alcoolismo e drogas, em sua interface com as

questões de gênero, raça/etnia e geração.

• Desenvolver atividades para discussão das interfaces entre a

violência doméstica contra as mulheres e a violência contra

crianças, jovens e adolescentes.

• Promover discussões acerca dos livros didáticos adotados nas

escolas municipais a fim de que seja garantido o uso de livros

que promovam a igualdade de gênero e de raça.

• Garantir acesso e permanência de crianças, adolescentes,

jovens e mulheres com deficiência na Educação Básica.

• Implantar no município cursos de inclusão digital para as

mulheres.

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4. Saúde das Mulheres, Direitos sexuais e Direitos reprodutivos

• Consolidar no município a implementação da Política Nacional

de Atenção Integral à Saúde da Mulher.

• Implementar no município o Plano Integrado de Enfrentamento

à Feminização da AIDS e outras DSTs.

• Implementar no município a Política Nacional de Atenção

Integral da Mulher no âmbito do Sistema Penitenciário.

• Implantar no município a Política Nacional de Saúde da

População Negra.

• Implementar no município a Política Nacional de Lésbicas,

Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais.

• Promover campanhas pelo parto normal e redução de

cesáreas desnecessárias.

• Implementar no âmbito do município a Lei nº. 11.634, de 27 de

dezembro de 2007, que “dispõe sobre o direito da gestante ao

conhecimento e à vinculação à maternidade onde receberá

assistência no âmbito do Sistema Único de Saúde.”

• Implementar no âmbito do município a Lei nº. 11.108/2005, de

07 de abril de 2005, que garante às parturientes o direito à

presença de acompanhantes durante o trabalho de parto e

pós-parto imediato, no âmbito do Sistema Único de Saúde.

• Promover a assistência obstétrica qualificada e humanizada

ao abortamento, parto, nascimento e às urgências e

emergências, de forma a reduzir a morbimortalidade materna.

• Promover e ampliar o acesso e diagnóstico das mulheres ao

SUS para a prevenção, diagnóstico precoce e redução da

morbimortalidade por câncer cérvico-uterino e a mortalidade

por câncer de mama na população feminina.

• Promover a implantação de um modelo de atenção à saúde

mental das mulheres na perspectiva de gênero, combatendo o

racismo.

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• Promover no município campanhas educativas sobre gravidez

na adolescência e paternidade responsável.

5. Enfrentamento à Violência contra as Mulheres

• Garantir a implementação da Lei nº. 11.340, de 07 de agosto

de 2006, intitulada “Lei Maria da Penha”, que coíbe a violência

doméstica contra a mulher, assegurando os recursos do

orçamento municipal para sua efetivação.

• Implementar no município o Pacto Nacional de Enfrentamento

à Violência Contra às Mulheres, que visa o enfrentamento a

todas as formas de violência contra as mulheres, com atenção

às mulheres negras e indígenas e tem como objetivo a

promoção dos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres, o

enfrentamento à feminização da AIDS e outras DSTs, o

combate à exploração sexual e ao tráfico de mulheres e a

promoção dos direitos humanos das mulheres em situação de

prisão.

6. Direito à moradia digna e infra-estrutura social

• Ampliar o acesso das mulheres à moradia digna com infra-

estrutura social adequada.

• Promover o direito das mulheres à vida com qualidade na

cidade, respeitando as especificidades e garantindo o acesso

a bens, equipamentos e serviços públicos.

• Ampliar a rede de iluminação pública, prioritariamente, em

áreas consideradas de risco.

7. Cultura e mídias não-discriminatórias

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• Implantar Pontos de Cultura, especificamente voltados para a

questão de gênero, considerando as especificidades étnico-

raciais, de geração e de orientação sexual.

• Estimular e garantir que os programas de fomento, produção e

difusão cultural valorizem a expressão das mulheres e sua

contribuição social, política e econômica.

• Incentivar comportamentos e atitudes que não reproduzam

conteúdos discriminatórios e que valorizem as mulheres em toda

a sua diversidade, nos veículos de comunicação.

• Promover a produção de peças publicitárias e outras, para serem

veiculadas nas diferentes mídias, para diferentes setores da

sociedade, que combatam as discriminações e promovam novas

relações sociais de gênero.

• Estimular programas de fomentos as mulheres jovens produtoras

de cultura, de expressões culturais, musicais e esportivas com

perspectivas não sexistas, não racistas e não lesbofóbica.

• Promover campanhas educativas municipais disseminando o

compartilhamento das responsabilidades pela educação e

cuidado dos/as filhos/as entre mulheres e homens, comunidades

e Prefeitura.

8. Instâncias Municipais de Gênero

• Assegurar na estrutura administrativa municipal o pleno

desenvolvimento das instâncias de promoção de Gênero, inclusive

prevendo no Orçamento Público Municipal, o financiamento das políticas

públicas de tais organismos, a saber:

1. Conselho Municipal dos Direitos da Mulher.

2. Centro de Referência Mulher e Cidadania.

3. Coordenadoria Municipal da Mulher

4. Comitê de Eqüidade de Gênero e Remuneração

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A necessidade de uma Plataforma de Gênero dos/as Municipais

de Quixadá é ao mesmo tempo uma resposta e uma persistência na

permanência de um diálogo qualificado e propositivo do Sindicato de Quixadá e

Região nas Políticas Públicas desenvolvidas pela Prefeitura.

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Capítulo 4

Gênero e Remuneração: Implicações Conceituais

4.1. Políticas de Gênero: uma proposta sindical

Neste trabalho, ao passo que se está tentando registrar o

processo da experiência de equidade de gênero e remuneração, incorre-se em

muitos obstáculos em termos metodológicos tendo em vista as ações do

processo em desenvolvimento.

Existe uma complexidade própria da discussão sobre gênero

principalmente, pela incidência de tendências na atualidade que inclui na

agenda das mulheres, vieses políticos que requerem um posicionamento delas

que não é muito fácil de conjecturar. Segundo ROSSANDA apud AGUIRRE et

al (1999, p. 192), essa complexidade não se resolve mesmo quando se define

o caminho teórico a trabalhar. Completa autora:

Para mim basta e sobra o perfil social da

divisão dos sexos, e o problema teórico que

me traz: como se sobrepõe e se separam as

atuais contradições de classe, as dos

poderes desiguais em economia e em

política, e uma contradição que transpassa o

capitalismo e suas formas, a cultura e suas

formas, afina-se e desaparece, e é a

contradição entre o masculino e o feminino.

AGUIRRE et al (1999, p. 192)

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É essa definição clássica, ou seja, a que se conhece quase que

como um autômato, uma conceituação hereditária, que justamente vai implicar

em questões de significados que tanto se discute neste trabalho.

Diante desse aparente impasse epistemológico, um fator que não

pode ser desconsiderado nesse registro é a questão da formulação de

conceitos. Não se pode falar em equidade, em remuneração e em gênero nos

termos clássicos da etimologia dos vocábulos. Há que se fazer uma re-

significação.

Nessa re-significação, os conceitos da teoria feminista são

utilizados para o desenvolvimento de uma prática feminista dentro do campo

sindical o que é uma meta do próprio feminismo – a atuação no mundo real, e

não só no mundo das idéias -, ao mesmo tempo em que se articula com os

movimentos sociais.

Existe no registro da experiência uma decisão política por parte

do SINDSEP de Quixadá e Região em fomentar para os seus sócios e sócias o

estabelecimento de uma revolução no comportamento de homens e mulheres

para com a equidade de gênero e remuneração.

O desenvolvimento da campanha de Equidade de Remuneração

perpassa, fundamentalmente, pelas discussões do movimento feminista e no

movimento sindical internacional dos servidores públicos impulsionado pela

abertura do Governo Lula ao criar a Secretaria Especial de Políticas para as

Mulheres - SPM.

É importante sublinhar que a SPM encaminhou a construção do

primeiro e segundo Plano de Políticas Públicas para as Mulheres através de

conferência nacional, contendo o projeto Pró-Equidade de Gênero.

Sobre esse ideário do universo das mulheres, OLIVEIRA (2008)

relata que o feminismo como um campo de estudo que trafega

indubitavelmente entre o macro e o micro nas dimensões do cotidiano das

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mulheres vem resgatar a arte do diálogo para processamento da construção e

desconstrução do conhecimento. Para tanto, diz ela:

Utilizo como referência a noção de Pierre

Bourdieu sobre o campo como algo que [...] é

em certo sentido, uma Estenografia

conceptual de um modo de construção do

objeto que vai comandar “ou orientar todas as

opções práticas da pesquisa”, que funciona

como um sinal sempre em vermelho

apontando para a não fixidez do objeto, pois

esse nunca está sozinho nem fixo, está num

conjunto de relações. OLIVEIRA (2008)

Segundo OLIVEIRA (2008, p. 3), os fenômenos configuram como

realidades para os/as pesquisadores/as a partir do momento em que se tornam

problematizadores. É assim que se considera opção metodológica feminista

que privilegia o cotidiano está ancorada nas abordagens teóricas que reforçam

a necessidade da reflexão hermenêutica crítica como uma estratégia analítica

para transformar a ciência de um objeto estranho, distante de nossa vida, em

algo familiar e próximo, com a capacidade de nos comunicar suas falências e

limites. Acrescenta:

Assim, os estudos feministas, ancorados na

prática política, têm mostrado que o

conhecimento é falível e a verdade é sempre

aproximada e provisória, provocando uma das

mais importantes crises de paradigmas do

século XXI quando colocam no âmbito do

conhecimento que as múltiplas

inteligibilidades do real são impulsionadas por

práticas sociais externas. Os estudos de

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gênero ilustram essa posição, pois foram

gerados no campo da rebelião contra a

subordinação das mulheres, rebelião que teve

sua marca inicial nos anos 70 com a

disseminação das práticas feministas.

OLIVEIRA (2008, p. 8)

Segundo OLIVEIRA (2008) Joan Scott afirma que “o gênero é o

sexo socialmente construído, trata-se de uma forma primordial de significar as

relações de poder, ou melhor, é um campo no seio do qual ou por meio do qual

o poder é articulado. E é bom registrar que ao falar em sexo o diferencio de

sexualidade, pois esta incorpora as relações entre sexo, gênero e

subjetividade.”

OLIVEIRA (op. cit. p. 9) corrobora as palavras de Scott ao

afirmar que um dos desdobramentos da definição desta autora é o de que ela

nos informa que as mudanças nas relações sociais correspondem sempre às

mudanças nas representações de poder e a sua direção não segue sempre um

sentido único, percorre atalhos da vida cotidiana, permitindo uma aproximação

relacional dos fenômenos estudados.

Já a visão de Gayle Rubin apud OLIVEIRA (2008) diz que

gênero é um conceito de maior generalidade e compreensão já que deixa

aberta a possibilidade de existirem formas distintas de relação entre mulheres e

homens, entre feminino e masculino, dominação masculina, dominação

feminina ou relações igualitárias.

A igualdade entre as relações é o princípio básico que, para o

movimento sindical, vai determinar o estabelecimento de políticas públicas que

promovam o protagonismo de todos os trabalhadores, especialmente, das

trabalhadoras tendo em vista um histórico secular de injustiças cometidas

contra elas.

Diante disso, se pergunta se é possível falar, então, sobre apenas

uma teoria sobre gênero. De fato, não é interessante a eleição de uma diretriz

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conceitual sobre a questão. Parece ser mais democrático verificar todas as

possibilidades teóricas. MATOS (2008, p. 4) diz que:

O “conceito” de gênero foi aos poucos sendo

incorporado por afiliações teóricas nas

ciências humanas e sociais. Algumas dessas

teorias o abordam como um conceito

iluminador de questões, mas não o tendo

como um elemento central de suas

considerações (...), tais teorias estariam

operando com “teorias e gênero”. MATOS

(2008, p. 4)

Depreende-se das palavras da autora de que quem não articula

gênero à teoria, mas só trabalha o conceito como isolado entre outras questões

não está fazendo teorias de gênero, mas teorias e gênero, ou seja, teorias

quaisquer que apenas tangenciam, mas não tratam a questão como elemento

principal.

A plataforma de ação definida na Conferência Mundial sobre a

Mulher, realizada em Beijing, em 1995, e na trajetória do movimento de

mulheres no Brasil constituiu-se no país uma agenda especial para a questão

de gênero. Nesta, são definidas políticas públicas que, sinteticamente, se

configuram em diferentes áreas:

Violência – criação de programas que

atentam mulheres vítimas de violência

doméstica e sexual; Saúde – implantação

efetiva do Programa de Atenção Integral à

Saúde da Mulher (PAISM) com o

desenvolvimento de ações de atenção à

saúde em todas as etapas da vida da mulher,

incluindo cuidados com a saúde mental e

ocupacional; Meninas e Adolescentes –

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programas de atenção integral; Geração de

Emprego e Renda – apoio a projetos

produtivos voltados à capacitação e

organização das mulheres; Educação –

garantia de acesso, reformulação de livros

didáticos e de conteúdos programáticos, de

forma a eliminar a referência discriminatória à

mulher e propiciar o aumento da consciência

acerca dos direitos das mulheres; Trabalho –

garantia de direitos trabalhistas e combate à

discriminação nos diversos níveis da

administração pública. Reconhecimento do

valor do trabalho não-remunerado e

minimização de sua carga sobre a mulher, por

meio da criação de equipamentos sociais.

Criação de programas de capacitação

profissional (...) A plataforma inclui ainda as

demandas em Infra-estrutura urbana e

Habitação com a construção de

equipamentos urbanos priorizados por

mulheres, como creches e outros

equipamentos e serviços urbanos como

postos de saúde, habitação e saneamento

básico; Questão Agrária com o

reconhecimento de direitos relativos às

mulheres da zona rural, nas políticas de

distribuição de terra; Incorporação da

Perspectiva de Gênero por toda Política

Pública e Acesso ao Poder Político na

abertura de espaços de decisão à

participação das mulheres, de modo a

garantir que estas interfiram de maneira ativa

na formulação e na implementação de

políticas públicas.

(FARAH, 1998, p. 57-58)

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Ao verificar a Política de Gênero desenvolvida pelo SINDSEP,

encontra-se proposta na organização e na ação sindical. No que se refere à

estrutura tem a Secretaria da Mulher Trabalhadora com o objetivo de organizar

as mulheres; orçamento específico para Secretaria da Mulher;

Desenvolvimento de atividades formativas na temática de gênero e

remuneração.

Vale lembrar que em 2009 o SINDSEP realizou campanha de

sindicalização específica para as mulheres denominada “MAIS SERVIDORAS

SINDICALIZADAS = MAIS FORÇA PARA CONQUISTAR”. A campanha

resultou na filiação de 70 servidoras ampliando a presença feminina no quadro

de sócios. Hoje são 1710 servidoras filiadas. Já os servidores filiados são 1640.

Outro documento importante também foi produzido pelo

SINDSEP de Quixadá e Região, a Plataforma de Gênero que foi incluído no

Plano Plurianual do Município de Quixadá, a fim de garantir recursos para

aplicação de políticas para as mulheres e para desenvolvimento do Plano de

Trabalho do Comitê de Equidade de Gênero e Remuneração.

4.2. Equidade de Gênero

Uma das desigualdades mais arraigadas que permanece e muitas

vezes se agrava com as mudanças econômico-histórico-sociais, é a

desigualdade de gênero.

De acordo com relatório da União Global - UNI (2009), para

desenvolver políticas que promovam o trabalho decente deve-se ter em conta

como a globalização da economia modificou o mercado de trabalho,

absorvendo mais mão de obra feminina, mas em trabalhos fora de um contexto

trabalhista legal e fora do sistema de seguridade social, com salários inferiores

aos de seus companheiros homens e em setores menos protegidos da

economia.

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Diante desta situação é necessário tomar atitudes e criar políticas

tendo em vista a questão de gênero, isto é, deve-se agir no sentido de acabar

com as estruturas de desigualdade que perpetuam a desvalorização do

trabalho feminino.

Deve-se, estrategicamente, treinar e preparar mais mulheres

trabalhadoras, discutir e reclamar igualdade no que diz respeito às atividades

domésticas e familiares com os homens, levar em consideração as

necessidades das mulheres no momento de negociar coletivamente as

condições de trabalho; aumentar a participação das mulheres em todos os

âmbitos, em especial nos postos com poder de decisão sindicais, políticos e

empresariais e divulgar as normas e direitos que protegem e regulamentam o

trabalho feminino, brindando as ferramentas para que as mulheres

trabalhadoras possam defender aquilo que lhes corresponde.

Um dos maiores obstáculos que enfrentam os/as trabalhadores/as

no momento de exercer seus direitos é o desconhecimento sobre os mesmos.

Por este motivo, a divulgação de informação e a formação neste tipo de

assunto é também uma maneira de promover o trabalho decente.

As normas internacionais de trabalho são uma das principais vias

de ação da OIT para promover melhores condições de trabalho e de vida a

mulheres e homens em todo o mundo. Estas normas são aplicáveis a todos

trabalhadores, sem distinção de gênero, entretanto há algumas que dizem

respeito somente às trabalhadoras mulheres.

Apesar das mudanças sofridas nas últimas décadas e dos

avanços obtidos em relação à situação das mulheres, a responsabilidade do

trabalho familiar (tarefas domésticas, cuidado dos filhos e das pessoas idosas)

continua sendo adjudicada somente às mulheres, como se fosse seu âmbito

natural de atuação. Isto ocorre apesar do significativo aumento da mão de

obra feminina no mercado de trabalho. O que duplica os trabalhos femininos.

O trabalho doméstico não remunerado e, em

muitas sociedades, desvalorizado, afeta o

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acesso das mulheres aos trabalhos

remunerados. Os homens, socialmente

definidos como provedores, realizam uma

parte muito limitada destas tarefas. Por isso

as mulheres são mais propensas a buscar

trabalhos de meio período, informais ou

mesmo que possam ser realizados em casa,

com menor exigência, já que devem dividir

seu tempo entre o trabalho remunerado e o

não remunerado. Os homens, por outro lado,

têm mais oportunidades de desenvolver-se

profissionalmente, já que não dividem seu

tempo com as responsabilidades domésticas.

UNI4 (2009, p. 28)

O Movimento Sindical tem feito nestes últimos anos um esforço

para a incorporação da temática de gênero na sua agenda sindical, buscando

garantir a presença das mulheres nos organismos de decisão, de gestão, e nos

processos de negociação coletiva. Mesmo assim ainda é muito forte a luta

interna no movimento sindical.

Os mecanismos e estratégias para as medidas afirmativas ainda

não são suficientes para alcançar a igualdade para as mulheres em relação

aos homens no combate à opressão de gênero.

O princípio da igualdade que vem sendo consagrado pelo

Movimento Sindical - e aqui são citadas como principais entidades sindicais

envolvidas no processo a CUT, ISP, CONFETAM e o SINDSEP de Quixadá e

Região - continua distante de sua aplicação no mercado de trabalho e nas

relações existentes em vários níveis institucionais, ademais, quando observado

em relação às mulheres trabalhadoras. Mesmo reconhecendo todos os

avanços que tivemos nestes aspectos para a inclusão das mulheres nos

4 UNI es la organización del sindicato global de capacidades y servicios. Representamos a 900 sindicatos y 20 millones de miembros sindicales en el Mundo.

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espaços públicos enquanto sujeito social e político, a distância entre o desejo e

a vida real ainda é muito grande.

Reconhece-se o desafio de que tratar as questões referentes à

igualdade não é um problema exclusivo das mulheres,mas uma questão muito

mais ampla, pois tem suas vertentes no diálogo social e político. Para se propor

políticas é fundamental a análise de fatores, diagnósticos e instrumentos de

acompanhamento, não bastando ter uma legislação com elementos que sirvam

para retrair a discriminação, pois, são necessários elementos que de fato

façam cumprir tais orientações.

As desigualdades de gênero constituem em um obstáculo para a

conquista de resultados positivos nas políticas que visam promover a igualdade

de oportunidades. As mulheres não têm as mesmas possibilidades de acesso

ao mercado que os homens e, geralmente, estão excluídas dos negócios

tradicionais ou das redes sociais onde se dão os intercâmbios de informação

que são vitais para tomar decisões e aproveitar oportunidades.

A situação particular das mulheres deve ser considerada em

diversas dimensões, tanto em relação à necessidade de se implementarem

iniciativas especiais para assegurar seu acesso ao debate, como em relação

ao objetivo de reduzir desigualdades.

No Serviço Público Municipal, o debate sobre a igualdade de

oportunidades é claramente um instrumento de inclusão social: é impossível

criar, ampliar e assegurar direitos, mesmo considerando que estes se apliquem

a toda a categoria de servidores/as. Exemplos destas finalidades são as

Cláusulas de Gênero5 – propostas pelo SINDSEP de Quixadá e Região - que

transformadas na Lei de Eqüidade precisam ser objeto de busca pelo gozo

pleno dos benefícios equiparando patamares de direito e de condições de vida

e trabalho com seus reflexos nas Relações de Gênero.

Estabelecem-se, assim, mecanismos de eqüidade de

remuneração para todos e todas, os acordos e convenções coletivas que

precisam barrar os intentos de diferenciação entre os trabalhadores e

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trabalhadoras, baseados em critérios, na maior parte das vezes não explícitos,

como sexo e cor. É importante ressaltar que as mulheres negras costumam ser

submetidas a discriminações cruzadas. Além disso, negros e, em especial,

mulheres negras, quase sempre ocupam cargos menos valorizados

hierarquicamente.

A remuneração, conforme ZIMPECK (1990, p.346.),deveria ser

considerada racional, adequada e correta, estabelecida em razão de níveis de

mercado, qualificações pessoais, capacidade técnica, condições interferentes

na política de salários de determinadas regiões, setores e ramos de atividade e

maior ou menor regulamentação do trabalho existentes em cada país.

Existe desigualdade de remuneração entre homens e mulheres

em todo o mundo. De acordo com a pesquisa realizada pela Internacional dos

Serviços Públicos (ISP), 50 anos depois da edição da Convenção nº 100 da

Organização Internacional do Trabalho (OIT), nenhum país alcançou eqüidade

salarial, e as mulheres recebem entre 50% e 80% do salário dos homens. No

Brasil, essa situação não é diferente. Ainda que a legislação garanta, ao menos

em tese, direitos iguais para homens e mulheres, os dados revelam a

manutenção de profundas desigualdades de gênero na estrutura do mercado

de trabalho, na qualidade dos empregos ofertados às mulheres e na

distribuição do rendimento. (ISP 2004)

Segundo a ISP (2006) “eqüidade salarial é a remuneração justa

pelo trabalho, ou seja, condições plausíveis e igualitárias entre homens e

mulheres. Este conceito reconhece ainda que existe discriminação de gênero

na remuneração e nas condições de trabalho das mulheres. A equidade salarial

vai além da igualdade salarial pelo mesmo trabalho e exige que se pague um

salário igual por um trabalho de igual valor.”

Deste modo, não deve existir diferenças no pagamento entre

pessoas que realizam o mesmo trabalho no serviço público municipal, ou seja,

deve ser recebido um salário igual para um trabalho igual.

5 Reivindicações específicas na temática de gênero defendidas pelo SINDSEP para promoção da igualdade.

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O conceito apresentado pela ISP é mais profundo do que essa

definição. Este conceito integra a necessidade de um processo de eliminação

de estereótipos baseados no sexo, na valorização dos trabalhos de

predominância masculina e feminina dentro do local de trabalho.

Quando os trabalhos requerem o mesmo nível de capacitação e

as mesmas tarefas, devem receber o mesmo salário e iguais condições de

trabalho. E estes não têm que se parecer para serem considerados de igual

valor. Deve-se pagar o mesmo salário por trabalhos diferentes porque têm o

mesmo nível de requisitos em termos de competências, responsabilidades e

esforço, concretizando um salário igual para um trabalho de igual valor. (ISP

2006)

Um conjunto de medidas afirmativas para equiparação da

remuneração entre homens e mulheres implica num processo social, político e

cultural cujo objetivo é reconhecer, superar e reparar a discriminação que

enfrentam determinados sujeitos como as mulheres, os/as

afrodescendentes/as, os/as indígenas, os/as LGBTs e as pessoas com

deficiência. Por isso, somente com a promoção da igualdade entre essas

minorias, positivando seus salários e nos postos de trabalho, é que essas

barreiras serão eliminadas na esfera do trabalho.

Em Quixadá está sendo adotada a metodologia defendida pela

ISP para avaliar os postos de trabalho sem viés de gênero visando a

valorização e valoração do trabalho feminino.

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Capítulo 5

Análise da Experiência de Equidade de Gênero e Remu neração

5.1. Cenário gerador das discussões

As desigualdades entre homens e mulheres não são

determinadas pela diferença biológica entre os sexos. As relações de

desigualdade são uma construção social.

De acordo com a CUT (2009) os seres humanos são educados

de acordo com o que a sociedade considera apropriado para uns e para outros.

Assim, por exemplo, dar bola de futebol para os meninos e

boneca para as meninas reforçando o papel diferenciado de homem e mulher

na sociedade. Concretamente, a desigualdade de gênero é um processo

cultural e não natural.

A diferenciação entre o papel masculino e

feminino foi determinada pela própria

sociedade. Não é, portanto, uma condição

imposta pela natureza e que, por isso, não

pode ser alterada. Para demarcar bem esta

fronteira, a sociedade capitalista precisou

criar uma rígida divisão sexual do trabalho.

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Aquela visão ainda predominante de que

“produção é trabalho de homem” e

“reprodução é trabalho de mulher”. Mas

sabemos muito bem que, na vida real, as

coisas não acontecem deste jeito. Tanto a

mulher faz serviços considerados “de homem”

quanto os homens executam tarefas

consideradas “de mulher”. O problema é que,

no caso das mulheres, o trabalho realizado

fora do espaço doméstico continua sendo

considerado uma extensão do seu papel de

dona-de-casa.

CUT (2009, p. 11)

Segundo o Almanaque da CUT Nacional é nesse cenário que se

descreve a seguir que nasce aquilo que se pode denominar de “panorama da

desigualdade” (grifo nosso), onde as disparidades remunerativas entre homens

e mulheres se sustentam, como os índices verificados na experiência de

Quixadá.

1. No Brasil, as mulheres são 43,8% (PNAD-2006) da força de trabalho;

ocupam 40% dos cargos de gerência no serviço público e apenas 30%

na iniciativa privada (MTE/RAIS 2007).

2. 31% das mulheres brasileiras ganham até um salário mínimo. No

Nordeste, este percentual é superior a 50% das trabalhadoras.

3. Em 2001, 30% das mulheres trabalhadoras (PEA) tinham 40 anos ou

mais, 40% entre 25 e 39 anos, 23% de 18 a 24 anos e 5% eram jovens

de 15 a 17 anos.

4. As diferenças de oportunidades entre homens e mulheres começam

desde cedo, no núcleo familiar. Em 2006, do total de jovens entre 5 e 17

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anos que realizavam afazeres domésticos, 62,4% eram meninas

(PNAD).

5. Outra peculiaridade que acompanha a mulher é a sua “terceira jornada”.

Em 2005, somente 51,1% dos homens pesquisados realizavam trabalho

doméstico. Entre as mulheres esse percentual saltava para 90,6%

(PNAD). Em média, os homens dedicam 9,8 horas semanais para a

execução de tarefas domésticas, contra 25,2 horas gastas pelas

mulheres.

Corroboram todas essas implicações os dados da ISP ao afirmar

que a desigualdade entre homens e mulheres na esfera do trabalho têm

múltiplas raízes, entre elas: a histórica subvalorização do trabalho das

mulheres, a falta de acesso de muitas mulheres, a oportunidades de educação,

formação profissional e oportunidades de promoção; atitudes sexistas

enraizadas na sociedade que limitam as opções ocupacionais das mulheres;

níveis desproporcionais de responsabilidade pela manutenção do lar e o

cuidado de familiares que não é compartilhado eqüitativamente com os

homens.

Em 2003, a ISP realizou pesquisa que geraria dados para

fundamentar a realização da campanha no Brasil respondendo a seguinte

pergunta: como é possível existir diferença de remuneração no Serviço Público

se o acesso é por Concurso Público? A pesquisa pública em 2004 revelou o

tamanho da problemática que envolve a iniqüidade de remuneração.

Nos setores de serviços públicos pesquisados pelo Comitê de

Mulheres da ISP, o Brasil contava com 4,5 milhões de funcionários públicos,

dos quais, aproximadamente 2,8 milhões eram mulheres. É equivocada a tese

de que nos serviços públicos não haveria diferenças de remuneração entre

homens e mulheres, tanto no acesso quanto na progressão de carreira.

Na pesquisa analisando dados de 1995 e 2002, a maior diferença

salarial ocorreu no setor de saúde - as mulheres ganham menos de 33% do

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que os homens na saúde privada e menos 27% do que os homens na saúde

pública.

Em seguida vieram os setores de previdência social e de energia,

onde as mulheres ganhavam, respectivamente, 20% e 19% a menos que os

homens. No caso do Serviço Público Municipal no Brasil, a diferença de

remuneração era de 3% a favor do homem.

Tabela 1

Salário médio por hora em 2002 e diferencial de rem uneração entre 1995 e 2002 na esfera municipal do setor da administração do estado

Masculino (2002)

R$ 4,97

Feminino (2002)

R$ 4,83

Total

R$ 4,89

Diferencial (%) em 2002

-3,0

Diferencial (%) em 1995

-14,0

Fonte: Cartilha “Mulheres e homens: diferenciais de remuneração nos serviços públicos”, p. 69, ISP, 2004

As diferenças salariais crescem ainda mais quando a observação

se dá, por exemplo, no âmbito da Região Nordeste como detentora da segunda

pior distribuição salarial, onde o estado do Ceará lidera o ranking, detectando-

se um dos maiores diferenciais de remuneração entre mulheres e homens, da

ordem de 34% e uma das maiores proporções de mulheres recebendo menos

de um salário mínimo (37%). (ISP, 2004).

Esse quadro foi, então, importante para que o estado do Ceará

tivesse especial atenção da campanha internacional, tendo em vista as

disparidades remunerativas entre homens e mulheres.

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Tabela 2

Fonte: Cartilha “Mulheres e homens: diferenciais de remuneração nos serviços públicos”, p. 70, ISP, 2004

Outra revelação significativa foi a existência de trabalhadores no

setor público municipal com rendimentos inferiores a um salário mínimo, o que,

no Brasil, é proibido pela Constituição Federal.

Diante do cenário apresentado pela pesquisa é que a ISP

formulou novos passos da campanha organizando o processo de formação de

100 mulheres multiplicadoras representando as entidades filiadas e vários

estados brasileiros.

Salário médio por h ora em 2002 e diferencial de remuneração entre 1995 e 2002 na esfera municipal do setor da administraç ão do

estado

Estados Masc. (2002) R$ Fem. (2002) R$ Total (2002) R$ Diferencial em 1995 Diferencial em 2002

Rondônia 3,95 3,39 3,62 -12,8 -14,2

Acre 4,48 3,80 4,09 -20,8 -15,1

Amazonas 3,63 2,95 3,2.6 -10,3 -18,6

Roraima 12,53 5,66 8,63 -9,1 -54,8

Pará 3,62 3,41 3,49 -12,5 -5,8

Amapá 3,87 3,91 3,89 -21,9 1,1

Tocantins 3,52 2,80 3,08 -22,6 -20,3

Maranhão 2,41 2,31 2,34 -22,2 -4,2

Piauí 3,06 2,83 2,90 -29,1 -7,3

Ceará 3,75 2,47 3,01 -32,6 -34,2

Rio Grande do Norte 3,09 2,64 2,80 -28,1 -14,8

Paraíba 2,21 2,66 2,54 -35,2 -20,2

Pernambuco 3,30 3,07 3,14 -10,2 -6,8

Alagoas 2,94 3,04 3,00 -29,5 3,2

Sergipe 3,05 3,04 3,05 1,9 -0,4

Bahia 2,83 2,75 2,77 -11,1 -3,0

Minas Gerais 4,30 4,62 4,48 -14,4 7,5

Espírito Santo 4,51 4,77 4,66 -12,9 5,8

Rio de Janeiro 5,77 6,11 5,98 -13,0 5,9

São Paulo 7,15 7,43 7,31 1,0 4,0

Paraná 5,16 5,19 5,18 -4,7 0,6

Santa Catarina 5,55 5,03 5,26 -11,5 -9,3

Rio Grande do Sul 6,22 7,44 6,91 9,8 19,6

Mato Grosso do Sul 4,97 4,78 4,86 -2,7 -3,8

Mato Grosso 4,81 4,13 4,42 -2,7 -14,2

Goiás 3,66 3,78 3,74 -1,3 3,3

Total 4,97 4,83 4,89 -14,0 -2,7

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Ao iniciar o debate em Quixadá buscou-se conhecer a

composição da estrutura administrativa. A Prefeitura tem 1494 servidores/as

efetivos/as com 75% de mulheres.

Os cargos ocupados com maior número de servidores/as são:

auxiliar de serviços gerais (374) e professor/a (540). Encontramos 15 cargos

encontrados com variação de 10 a 40 servidores/as e 52 cargos de 1 a 7

servidores/as. E onde estão as mulheres? E onde estão os homens? E qual a

relação de salários nas ocupações consideradas masculinas e femininas?

A essas inquietações, é possível afirmar, por exemplo, que o

cargo de médico, que tem o maior salário, é ocupado por 77% de homens. Já o

cargo de auxiliar de serviços gerais, que tem uma remuneração mais baixa,

apresenta 2% de mulheres.

O cargo de professor/a tem 85% de mulheres (cargo “feminino”)

comparado com o cargo de motorista (cargo “masculino”), 100% ocupado por

homens. Porque não existe uma única mulher como motorista? Somente

nesses dois comparativos, é possível detectar as disparidades existentes no

quadro de pessoal da Prefeitura. E se perguntarmos onde estão os homens e

as mulheres negras? Na Prefeitura de Quixadá, em uma rápida observação,

tem-se a impressão de que estão ocupando cargos de auxiliar de serviços

gerais e gari, em sua maioria. O Sindicato e a Prefeitura decidem discutir e

enfrentar essas questões na busca de correções.

5.2 Governo, Servidores/as e Sociedade e a Equidade de

Remuneração no Serviço Público Municipal: caminhos

percorridos

Ao realizar práticas de equidade de gênero e remuneração em

Quixadá através dos programas governamentais, pretendeu-se ir além da

identificação de políticas e programas com finalidades de destacar temáticas

ligadas às mulheres. É muito mais amplo o ideário político que se imagina

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quando do desenvolvimento da campanha de equidade de gênero e

remuneração.

O que se tem como meta na verdade é chamar a atenção da

Prefeitura de Quixadá para a construção histórica da mulher quixadaense,

especialmente a servidora municipal, buscando o equilíbrio desta mulher em

suas relações sociais com a comunidade, família e trabalho.

A participação do SINDSEP de Quixadá e Região desde o início

do processo, através da FETAMCE (Federação dos Trabalhadores no Serviço

Público Municipal) possibilitou que o Sindicato rapidamente se apoderasse dos

princípios da campanha internacional e apresentasse a reivindicação à

Prefeitura de Quixadá.

A tradição na conquista de direitos para os servidores e

servidoras municipais ganhou um capítulo especial, através da tomada de

atitude do Sindicato em ampliar a pauta para temáticas até então submersas

na agenda de lutas gerais. Hoje, estranhar a inclusão das relações de gênero é

ignorar o histórico do Movimento Social organizado – no qual está o Sindicato –

na sua contribuição universal à melhoria da vida pelo trabalho.

Diante do chamamento a uma nova postura de ser e estar no

mundo, os organismos sociais estão obrigados a promover a igualdade onde

uma das principais ferramentas para concretizar tudo isso é a equidade.

Segundo FARAH (1998), política pública pode ser entendida

como um curso de ação do Estado, orientado por determinados objetivos,

refletindo ou traduzindo um jogo de interesses. Um programa governamental,

por sua vez, consiste em uma ação de menor abrangência em que se desdobra

uma política pública.

FARAH (p. cit., p 63) realizou pesquisa de destaque nacional

sobre incorporação da questão de gênero pelas políticas públicas na esfera

local de governo, no oferecimento de programas de crédito. Quixadá foi uma

das cidades contempladas pelo estudo.

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O resultado da pesquisa mostra que programas de geração de

emprego lançados tiveram uma forte adesão das mulheres, levando em alguns

casos a mudança do projeto, transformando-o numa ação voltada para elas.

De fato há uma tradição de lutas e presença das mulheres em

movimentos sociais em Quixadá que não é objeto de discussão nesta

monografia, mas que ajuda a entender que já havia um ambiente propício para

desenvolvimento dessa experiência.

O primeiro passo foi sensibilizar a categoria em ato organizado

pelo SINDSEP com expressiva participação que lançou a campanha em nível

municipal no ano de 2004. Em seguida, passou-se ao convencimento da

Administração Municipal.

As reuniões de discussão da pauta entre a Prefeitura de Quixadá

e o Sindicato sobre problemas de salários atrasados e outros direitos básicos

negados no passado cederam espaço à discussão da desigualdade salarial

entre homens e mulheres no Serviço Público Municipal propiciando o

nascimento da discussão sobre uma possível nova relação de trabalho.

No ano de 2005 a Prefeitura de Quixadá, através da Portaria nº

084/2005, criou a Comissão Permanente de Negociação Coletiva formada por

representantes do Poder Executivo e do Sindicato dos Servidores e Servidoras

Municipais. Em 29 de julho do mesmo ano, foi criado através da Portaria nº 085

o Comitê de Eqüidade de Remuneração de Quixadá, o primeiro da América

Latina.

A partir daí, seminários, cursos e reuniões foram realizados com o

intuito de apoderar-se dos princípios da Eqüidade de Remuneração no Serviço

Público, a saber, “salário igual para um trabalho igual” e “salário igual para um

trabalho de igual valor”, observando-se nisso atitudes sem viés de gênero.

(ISP, 2006, p. 9).

Desse momento em diante, o objetivo de realizar mudanças

estruturais, bem como a transformação de paradigmas, passaram a guiar

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ações para uma mudança de cultura tanto no Poder Executivo como entre

trabalhadoras e trabalhadores.

O que se segue é o registro do processo onde a equidade de

gênero e remuneração está esboçando aquilo que em objetivo de ser uma

revolução no Serviço Público Municipal de Quixadá.

5.3 Ferramentas para a Igualdade

• Convenções da OIT

As principais preocupações da OIT acerca de direitos humanos

foram consolidadas na Declaração de Princípios e Direitos Fundamentais no

Trabalho, e em seus instrumentos de acompanhamento (informe global e

informe anual), de 1998. Ela prevê uma obrigação genérica inclusive para os

Estados que não tenham ratificado as Convenções fundamentais da OIT sobre

liberdade de associação e negociação coletiva, abolição do trabalho forçado,

trabalho infantil e discriminação, a respeitar seus princípios básicos, enquanto

se trabalha para obter a ratificação.

A Declaração faz referência específica à Convenção sobre

Igualdade de Remuneração nº 100 (ratificada no Brasil em 25.04.1957) e à

Convenção sobre Discriminação nº 111 (ratificada no Brasil em 26.11.1965).

No campo da igualdade de direitos, há duas

Convenções da OIT que servem de parâmetro. A

primeira é a Convenção sobre Igualdade de

Remuneração (nº 100), de 1951, atualmente

ratificada por 148 países. Ela torna operacional a

previsão do Estatuto da OIT que propugna pela

igualdade de remuneração para homens e

mulheres trabalhadoras quando se tratar de

trabalho de mesmo valor – um conceito que vai

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muito além da mera igualdade de remuneração

para trabalho igual. A outra é a que, no âmbito

da OIT, figura como carro chefe sobre o assunto

– a Convenção sobre Discriminação no Emprego

e na Ocupação (nº 111), de 1958, que propõe a

promoção da igualdade em todos os aspectos

relativos ao emprego e também ao trabalho fora

da relação empregatícia. Nela se proíbe a

discriminação quanto a vários aspectos,

abrangendo raça, cor, sexo, religião,

nacionalidade, opinião política e origem social,

com a possibilidade de que o país ratificante

adicione novos assuntos, que se submeterão às

mesmas regras. Embora não seja considerada

central em questões de trabalho, a Convenção

sobre os Trabalhadores com Responsabilidades

Familiares (nº 156) – que exige que, tanto

quanto possível, sejam oferecidos aos homens e

mulheres com responsabilidades familiares o

mesmo tratamento e as mesmas oportunidades

dados àqueles que não as têm – é também

essencial para que se conquiste a igualdade

substantiva entre homens e mulheres.

(ISP, 2002)

Encontramos na Cartilha da ISP (op. cit. p. 6) a seguinte

afirmação:

A diferenciação salarial entre homens e

mulheres varia de país para país e, no interior

de um mesmo país, entre os setores públicos

e privado e entre diferentes setores da

economia. A Comissão de Especialistas da

OIT tem constatado a grande extensão desta

diferenciação. Internacionalmente, em média,

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as mulheres recebem dois terços dos salários

recebidos pelos homens.

Hoje se reconhece que as causas das diferenças de remuneração

são encontradas tanto no interior do mercado quanto fora dele. Muitas das

dificuldades existentes para que se atinja a equidade de remuneração estão

estreitamente relacionadas ao status das mulheres no emprego e na própria

sociedade.

De modo a viabilizar condições que favoreçam a aplicação do

princípio da Equidade de remuneração, três dimensões da estrutura de

remuneração foram identificadas pela ISP (2002, p. 7-8):

1. a extensão e a classificação das diferenças de remuneração por indústria e por ocupação;

2. o sistema de classificação ou avaliação de empregos;

3. a forma pela qual os planos de carreira freqüentemente estabelecem

objetivos de variação salarial além dos previstos no sistema básico de

classificação de empregos – tais como horas-extras, antigüidade, mérito,

que podem camuflar reais diferenças nos totais pagos.

O estabelecimento de padrões mínimos centralizados, pouca

dispersão e transparência de estruturas de pagamento foram identificados

como fatores que podem chamar a atenção para as diferenças de remuneração

e ajudar a reduzir a defasagem salarial entre homens e mulheres. Os valores

menores pagos às mulheres têm sido atribuídos, em alguns casos, ao fato de

que os custos para empregar mulheres são maiores do que os dos homens.

O termo igual remuneração para trabalhadores homens e

mulheres para trabalho de igual valor se refere a taxas de remuneração

estabelecidas sem discriminação baseada no sexo. Valor, embora não seja

definido especificamente na Convenção da OIT ou na legislação européia, se

refere ao valor relativo do emprego, para o fim de cálculo da remuneração.

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A Convenção da OIT não limita a aplicação do conceito de igual

valor à sua implementação por meio da metodologia de valor comparável, mas,

para efeitos práticos na determinação de políticas de enfrentamento à

discriminação com base em gênero no trabalho, foi necessário estabelecer um

critério de que algo além das forças de mercado fosse considerado.

Como detalhado na seqüência, tal critério sugere que a avaliação

de empregos pode ser utilizada para determinar este valor. Embora os

sistemas de avaliação de empregos sejam ainda uma forma comum de fixação

de salários, outras bases para o seu cálculo – incluindo pisos salariais,

pagamento de produtividade, e novos sistemas salariais baseados na

competência – estão abrangidos pelo princípio.

A Internacional de Serviços Públicos (ISP) propõe uma

metodologia de avaliação de postos de trabalho que adota como premissa a

eqüidade de remuneração, esta concretizada em termos de igual remuneração

por trabalho igual ou equivalente, igual remuneração por trabalho de igual valor

ou de valor comparável. O modelo acolhe os critérios da Comissão de Direitos

Humanos do Canadá e os assume como próprios. (ISP BRASIL, 2006)

Recentemente, a OIT lançou o Guia Passo a Passo para Avaliação de Postos

de Trabalho nessa mesma linha. Essa iniciativa faz parte do acompanhamento

do plano de ação para eliminação da discriminação da OIT, que gerou o

relatório global “A Hora da Igualdade no Trabalho”.

• Comitê de Equidade de Gênero e Remuneração

Este foi criado pela Portaria Nº 085, de 29 de julho de 2005 e

alterado pela portaria 120/06. É um órgão paritário de deliberação coletiva,

vinculado à Secretaria de Administração da Prefeitura Municipal de Quixadá,

com autonomia político-administrativa, tendo por objetivos principais: discutir o

melhoramento das condições de trabalho do/a servidor/a; adotar políticas que

visem a discussão sobre as questões de gênero; aprimoramento de ações que

vislumbrem a equidade na Administração Municipal e avaliar os postos de

trabalho.

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No início do processo o Comitê de Equidade de Remuneração de

Quixadá tinha objetivo específico de discutir e implementar os passos para

avaliação dos postos de trabalho. O aprimoramento de sua missão constitui-se

num instrumento de relevância na administração ampliando suas funções, tem

hoje plano de trabalho próprio e atua em três frentes: avaliação de postos de

trabalho enfrentando assim a questão salarial, sendo a mais complexa;

programa de eliminação de barreiras; e monitoramento das políticas públicas

do município.

• Lei da Equidade

Da mesa de negociação coletiva formada pela Prefeitura de Quixadá

e a Diretoria do SINDSEP nasceu a Lei nº 2.280, datada de 16 de fevereiro de

2007. De acordo com Daina Green6 “é uma lei municipal muito inovadora e bem

concebida, expandindo os direitos das mulheres trabalhadoras para um tratamento

equitativo na força de trabalho municipal”. Essa Lei, que vem a ser primeira da

América Latina, regula sobre:

• A proteção à maternidade: com licença maternidade de 180 dias, estabilidade

no emprego para servidoras contratadas até o fim da licença; ainda neste

tema são tratadas a adoção e a garantia de direitos aos pais adotantes;

trabalhos compatíveis durante a gravidez e liberação para exames médicos.

• Redução da jornada de trabalho para pais com filhos com algum tipo de

deficiência.

• Qualificação e treinamento que a Prefeitura deve se comprometer com

percentagem de vagas para cada sexo e organizar proteção à saúde do /a

trabalhador/a

• Remuneração de igual valor, do combate ao assédio sexual e moral no local

de trabalho; combate à violência psicológica, moral, física ética e de privação

de direitos; Implantação de política de igualdade sem discriminação por cor,

raça, etnia, religião, gênero e orientação sexual.

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• Sistema de Avaliação de Postos de Trabalho sem Viés

Discriminatório de Gênero

A experiência de Avaliação de Postos da ISP na construção de

um novo sistema de remuneração sem viés discriminatório de gênero constitui-

se em um desafio maior quanto aos procedimentos metodológicos em face do

seu processo se encontrar em curso. Todavia, o registro de dados dessa

construção já permite que se faça um resgate dos primeiros passos de

processamento das informações. No desenvolvimento de políticas públicas há

sempre desajustes. No caso dos sistemas de remuneração acontece o mesmo.

A remuneração diferenciada é um desajuste e isso contribui para a

desigualdade entre homens e mulheres.

Sob a ótica da ISP, a avaliação de postos é uma medição do valor

dos mesmos. Conseqüentemente, “o conjunto de fatores que são utilizados

deve produzir uma representação de todos os aspectos importantes de cada

trabalho, ou seja, tudo o que atrai valor”. (ISP, 2006, p. 29) O modelo de

avaliação de postos proposto pela ISP é concebido a partir de quatro

fatores/critérios:

Tabela 3

Fatores/Critérios de Avaliação de Postos de Trabalho ISP (Fonte: Adaptado ISP (2006)

6 Daina Z. Green, Especialista em equidade salarial do SEIU – Canadá. Fala proferida durante Curso de Qualificação em Equidade de Gênero para a Revalorização do Trabalho das Mulheres e para o Fortalecimento dos Comitês de Equidade de Quixadá (CE) e São Luís (MA), em 2007.

CRITÉRIOS (FATORES)

SUBFATORES

Competências

Educação e Experiência Competências Interpessoais Capacidades de Raciocínio e Análise Destreza Física

Esforço

Esforço Físico Esforço Mental

Responsabilidades

Responsabilidade pela Coordenação e Planejamento Responsabilidade por Outras Pessoas Responsabilidade pela Informação e Finanças Responsabilidade Pelos Recursos Materiais Programáticos

Condições de Trabalho

Condições Psicológicas Condições Físicas Desagradáveis Risco de Lesão ou Doença Ocupacional

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O quadro acima permite perceber que cada um dos

fatores/critérios fundamentais possui subfatores a eles relacionados. O modelo

ISP justifica tal configuração em razão de problema freqüentemente enfrentado

pelas instituições que tentam medir trabalhos e que incluem demasiados

elementos de um trabalho num único fator.

No caso ideal, por exemplo, o mesmo fator não mensuraria os

riscos no trabalho, a sujeira, o espaço de trabalho pequeno demais e as

viagens exigidas pelo trabalho.

A instituição deve saber o que está medindo em cada caso e

manter os fatores sob controle. A combinação de várias questões num mesmo

fator poderia causar confusão. Mais ainda, impede o reconhecimento das

repercussões acumulativas desses elementos num trabalho, o que significa

que a alguns trabalhos não lhes são atribuídos os pontos que receberiam se os

elementos fossem medidos em escalas separadas.

Com o resultado das avaliações procede-se a determinação de

correspondência entre estas e faixas salariais, a fim de estabelecer a nova

estrutura de remuneração da organização.

O novo sistema propõe uma metodologia que permite

implementar programa de avaliação de postos, com o objetivo de revalorizar os

trabalhos das mulheres nas Secretarias, Fundações e Autarquias da cidade de

Quixadá sem o viés de gênero. Sobre isso devemos entender:

A - A relação entre o valor de um trabalho e a compensação/remuneração que corresponde a esse trabalho;

B - Causas e efeitos da segregação sexual da maioria das ocupações sobre os níveis de remuneração entre homens e mulheres;

C – Como os atuais sistemas de valorização dos postos de trabalho tendem a minimizar e invisibilizar o valor do trabalho historicamente realizado pelas mulheres;

D – Os passos que devem ser seguidos para selecionar ou elaborar um sistema de avaliação de postos, livre de preconceitos sexistas e adequado ao local de trabalho onde será aplicado.

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E – O papel do sindicato no desenvolvimento e implementação de um sistema novo.

O novo modelo de avaliação de postos em Quixadá busca a

equiparação salarial, ou seja, salário igual para trabalho de igual valor,

valorizando tarefas tradicionalmente realizadas por mulheres, isto é, aos postos

de trabalhos feminizados.

Quando os trabalhos requerem o mesmo nível de capacitação e

demandam as mesmas tarefas, devem receber o mesmo salário e iguais

condições de trabalho, segundo os critérios desenvolvidos pelo modelo ISP.

Os trabalhos não têm que se parecer para serem considerados de

igual valor. Deve-se pagar o mesmo por trabalhos diferentes porque eles têm o

mesmo nível de requisitos. Avaliados os postos de trabalho o resultado será

aplicado nos planos de carreira das categorias.

• Linguagem não Discriminatória em Termos de Gênero

Segundo SCOTT apud AGUIRRE et al (1999, p. 205), linguagem

não se entende como uma representação idéias que ou produzem relações

materiais ou são o produto dessas relações. O ajuste da administração

municipal, em termos de linguagem, tornou-se inevitável no sentido de que

cada vez mais instrumentos legais deveriam ser adaptados para a promoção

da igualdade.

Exemplos disso são o Estatuto do/as Servidor/a e o Plano de

Cargos, Carreira e Remuneração do Magistério que foram reformulados com

observação à linguagem não discriminatória em termos de gênero bem como

no citado Estatuto houve ampliação de direitos. O Edital do concurso público

também foi adaptado à nova linguagem.

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• Instâncias de Gênero

Com a finalidade de reparar injustiças históricas cometidas contra

as mulheres, especialmente as trabalhadoras, importantes instâncias

municipais foram criadas. Tais segmentos – reivindicações do SINDSEP –

buscam oferecer atenção especial às mulheres:

a. Coordenadoria Municipal das Mulheres

b. Centro de Referência Mulher e Cidadania de Quixadá

c. Conselho Municipal dos Direitos da Mulher

d. Comitê de Equidade de Gênero e Remuneração

e. Casa Abrigo

• Programa Pró-Equidade de Gênero do Governo Federal

O Governo Federal, através da Secretaria Especial de Políticas

para as Mulheres, instituiu o Programa Pró-Equidade de Gênero que busca

promover a cidadania e a dignidade das mulheres através de boas práticas

focando diretrizes de gestão de pessoas e cultura organizacional.

A premiação das melhores experiências, que envolve empresas

em geral e Prefeituras, se dá através da concessão do Selo de Equidade. A

Prefeitura de Quixadá aderiu ao programa e a partir daí construiu um plano de

ação, recebendo o selo referente a etapa 2008-2009.

• O Plano de Trabalho anual do Comitê aprovado no PPA

O Plano Plurianual que todos os municípios constroem

estabelecem diretrizes orçamentárias que financiam as ações governamentais.

O Comitê de Equidade de Gênero e Remuneração de Quixadá,

buscando a visibilidade na sociedade e os devidos investimentos quanto às

ações de promoção da cidadania da mulher, apresentou plano de trabalho no

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Seminário de construção do PPA a fim de que a Prefeitura determinasse

verbas para o desenvolvimento das atividades do Comitê. Todo o plano de

trabalho foi aprovado e as ações já se encontram em desenvolvimento.

Vale salientar que foi aprovado, inclusive, a realização da I

Jornada de Equidade de Quixadá a ser realizada ainda no ano de 2010.

• A criação da Secretaria da Juventude no âmbito da Administração

Na busca por um Serviço Público de qualidade e inclusivo e

respaldado na campanha Conexão Jovem: Ninguém Conquista Sozinho da

ISP, que objetiva a valorização de jovens e a inclusão dos mesmos no Serviço

Público Municipal, o SINDSEP iniciou debate desse assunto. Existem nessa

ação intenções positivas de dar oportunidade a homens e mulheres de até 35

anos entrarem no Serviço Público no sentido de potencializar e renovar o

quadro.

A ISP com isso insere-se na tendência global de valorização da

juventude como sendo um importante grupo potencialmente mais aberto à

discussão de temáticas como gênero, raça e questões LGBT.

Desse modo, o SINDSEP reivindica que a Prefeitura de Quixadá

apresente política de valorização da juventude. Com isso, o município criou a

Secretaria da Juventude que vem justamente promover ações para o

protagonismo jovem.

• A Inclusão da temática de gênero nos cursos de form ação de servidores/as

A abordagem sobre as questões de gênero traz para os servidores e

servidoras o contato com conceitos que nem sempre estão muito claros, quer

seja, pela novidade em si da evidência do tema, quer seja, pelo entendimento

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epistemológico dos fundamentos que formulam os significados do que é

gênero.

Há, portanto, uma tarefa para todos os sindicatos de fazerem um

investimento na formação da categoria sobre a discussão de gênero que, já se

tornou quase que um “autômato” entre os militantes, mas que requer a

realização de atividades formativas a fim de se construir um conhecimento

sobre gênero adequado e viável.

Junta-se a tudo isso a Lei Municipal da Negociação Coletiva7, que

vem a ser “um achado”, no sentido de ser um mecanismo inovador,

considerando que no Brasil os servidores públicos não têm esse direito

garantido na legislação nacional, pois ainda encontra-se tramitando no

Congresso Nacional a Convenção 151 da OIT8 que, sendo aprovada, garantirá

esse direito.

Ressalta-se também a Lei da Previdência Municipal que foi

reformulada garantindo direitos previdenciários às relações homoafetivas.

Já a Lei Municipal do Dia da Consciência Negra (20 de

novembro), abre a possibilidade de discussão sobre a discriminação racial no

Brasil, impulsionando ações afirmativas específicas no âmbito municipal.

5.4 O Olhar Analítico de quem Protagoniza a Equidad e de

Gênero e Remuneração

O presente trabalho provocou uma reflexão sobre o processo

vivenciado pelo SINDSEP de Quixadá e Região na sua busca pela efetivação

da equidade de gênero que, pelo nosso entendimento, caminhou em duas

direções, no alcance de dois grupos que estão interrelacionados por aspectos

7 A lei garante a Negociação Coletiva entre o SINDSEP e a Prefeitura de Quixadá de forma permanente. 8 Regula sobre a Negociação Coletiva no Serviço Público.

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socioculturais e espaço-temporais, a saber: a categoria de sócios e sócias e,

conseqüentemente, os servidores e servidoras municipais.

Este Sindicato está buscando ultrapassar seus limites estatutários

no que tange às obrigações de representação de sua classe e se coloca frente

à sociedade quixadaense como um interlocutor da problemática social. Essa

postura transcendente ao universo sindical como papel da entidade foi

evidenciada nas respostas das pessoas entrevistadas neste trabalho.

Após análise dos registros da experiência vivenciada pelo

SINDSEP observou-se que esta entidade possui uma política de gênero com

suas diretrizes sindicais e que dentro de um processo de negociação iniciado

com a Prefeitura de Quixadá, passou a pautar questões sindicais de interesse

da categoria de sócios/as na busca de que tais reivindicações influenciassem

as políticas públicas do governo municipal.

Dessa forma, a pesquisa realizada a partir do levantamento de

dados junto ao sindicato, reunindo registros de toda ordem, buscou-se verificar

se este sindicato de fato concretiza a efetivação da participação social usando

como exemplo recente, a experiência de equidade de gênero e remuneração.

Construiu-se um questionário objetivando obter uma visão geral

de todo o processo já desenvolvido para ser aplicado a sujeitos envolvidos

diretamente com a temática na perspectiva do olhar desses atores sociais

envolvidos. Por se tratar de uma problemática social que tangencia aspectos

quanto aos atos democráticos, buscou-se registrar depoimentos de sujeitos

tanto da parte do sindicato como do governo.

O questionário foi constituído das seguintes partes: Identificação;

Percepção e Concepção sobre Gênero; Democracia e Participação Social; o

SINDSEP de Quixadá e Região; a Missão da Instituição do/a Entrevistado/a e

Equidade de Gênero e Remuneração.

É importante esclarecer que a inclusão do tópico “a Missão da

Instituição do/a Entrevistado/a” se justifica pelo fato de que a abordagem do

questionário se deu justamente junto a sujeitos que coordenam instâncias de

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gênero que são resultado do processo instaurado pelo sindicato e Prefeitura.

Daí, torna-se válido saber em que nível essa instituição é importante para a

efetivação da participação social.

No quadro 1, tem-se então, um perfil mínimo que buscou

conhecer aspectos individuais dos/as entrevistados/as. Importante ainda foi

conhecer o nível de formação e tempo de experiência de todos/as no exercício

do cargo, o que é um denominador político relevante para o entendimento do

processo que se está registrando.

QUADRO 1 PERFIL DOS/DAS ENTREVISTADOS/AS

Luciene de Oliveira Alves , Solteira, Católica. Sexo Feminino. Heterossexual, Nível Superior em Pedagogia em curso. Professora há 23 anos. Exerce o cargo de Presidente do SINDSEP há 6 anos. Filiada ao PT por acreditar na filosofia da sigla.

Raimundo Eluceno de Castro Araújo , Casado, Católico, Sexo Masculino, Heterossexual, Pós-graduação, Professor há 23 anos. Não exerce nenhum cargo diretivo. Não é filiado a nenhum partido político.

Francisca Neiva Esteves da Silveira , Casada, Católica, Sexo Feminino, Heterossexual, Especialista em Psicopedagogia, Professora há 23 anos. Presidente do Conselho da Mulher de Quixadá representando o SINDSEP. Filiada ao PT.

Eunice Lea de Moraes , Solteira, Católica, Sexo Feminino, Heterossexual, Nível Superior, Socióloga – Professora Universitária há 38 anos, Gerente de Projetos da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres há 2 anos. Filiada a ao PT por opção ideológica e política para colaborar com a transformação da sociedade.

Francisco Cristiano Maciel de Goes , Solteiro, Católico, Sexo Masculino, Heterossexual, nível superior em História e Direito, empresário há 14 anos.

Gardênia Moreira Menezes , Solteira, Católica, Sexo Feminino, Heterossexual, Nível Superior em Direito. Pós-Graduação, Advogada, há 12 anos. Secretária de Administração de Quixadá há 1 ano.

Sheila Maria Gonçalves da Silva , Solteira, Sexo Feminino, Heterossexual, Professora há 11 anos. Coordenadora de Políticas para as Mulheres há 2 anos. Filiada ao PT por acreditar nesse tipo de organização, por identidade, filosofia e princípios do partido. Acha importante participar do partido para compreensão da conjuntura política e de tomada de decisão a partir da concepção política.

Izaltina de Oliveira Gonzaga Rodrigues , Casada, Católica, Sexo Feminino, Heterossexual, Graduada em Ciências da Religião, Professora há 12 anos. Coordenadora do Centro de Referência Mulher e Cidadania há 1 ano e 2 meses. Filiada ao PT por acreditar na ideologia de um mundo novo.

Observa-se, nesse quadro que todos e todas se declaram

heterossexuais e que a visão que cada um, cada uma, apresenta, quando

filiado/a a algum partido, está comprometida com a transformação da

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sociedade, delegando à natureza do partido uma missão articulada com

ideologia, corrente filosófica com os problemas sociais existentes. Nem todos e

todas informaram a que partido são filiados/as. É preciso, portanto, admitir que

o questionário não permitiu a precisão da informação do partido.

Uma questão crucial que se tentou entender ao longo do trabalho

foi a conceituação sobre gênero, o que mesmo no final do trabalho não permite

uma clareza e nem tranqüilidade quanto a afirmação substancial que se possa

fazer quanto ao significado tradicional de gênero na perspectiva da discussão

do Movimento Sindical. Perguntados/as sobre qual é a sua definição sobre

gênero, a maioria dos/as respondentes apresentou uma definição baseada em

conceito meramente biológico.

QUADRO 2 PERCEPÇÃO E CONCEPÇÃO SOBRE GÊNERO

Qual sua definição sobre Gênero?

L. O. A.

“Gênero se refere às diferenças entre homens e mulheres ainda que gênero seja usado como sinônimo de sexo. Nas Ciências Sociais refere-se às diferenças sociais. Já nas Ciências biológicas é conhecido como papel de gênero.”

R. E. C. A

“Agrupamento de indivíduos que possuem características próprias de vida, seja social, cultural e, principalmente, sexual.”

F. N. E. S.

“Modo como se classifica os seres humanos em masculino e feminino.”

E. L. M. “Para definirmos gênero é preciso compreender que este conceito é dinâmico, variando entre raças, culturas, classes, entre outros fatores sócio-culturais. Os comportamentos e papéis determinado a cada individuo, mudam com o tempo, com as condições sócio-históricas. Assim, o conceito de gênero é um instrumento político que serve para a análise das relações que são construídas socialmente entre homens e mulheres. Gênero deve ser entendido enquanto uma construção social de identidades plurais, múltiplas, dos sujeitos, que são dinâmicas, elas se transformam de acordo com o contexto social e cultural de cada sociedade e de cada povo.”

F. C. M. G.

“Sou defensor das politicas de gênero, como uma forma de erradicar a chaga do preconceito e exploração que tantos séculos fez da mulher apenas um mero instrumento negocial ou de satisfação do homem. A máxima de que é preciso tratar os iguais igualmente e os desiguais desigualmente nunca esteve tão compreendida pela sociedade. As políticas de gênero visam corrigir distorções apontando para um novo caminho de igualdade.”

S. M. G. S.

“São as relações entre mulheres e homens constituídas cultural e socialmente respeitando os direitos e as diferenças.”

I. O. G. R.

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“Termo usado para ressaltar as diferenças socioculturais que existem entre homens e mulheres mostrando toda relação de poder, discriminação e opressão existente contra a mulher.”

Vale destacar a definição de um dos entrevistados quanto à

definição de gênero, que é a conjectura que mais se aproxima daquilo que

sempre foi a tônica, segundo dados levantados junto ao SINDSEP, das

negociações sobre equidade, no sentido de que essa discussão de gênero

sirva especialmente para corrigir as injustiças cometidas, secularmente, contra

as mulheres.

Abordamos também os/as entrevistados/as quanto a Democracia

e Participação Social. Indagados/as se achavam que o Brasil está

amadurecendo continuamente em seus pilares democráticos, cinco afirmaram

que o país está amadurecendo. Já três fizeram ponderações importantes

afirmando que para o estabelecimento da desejada Democracia falta maior

equilíbrio entre os Poderes do Estado. Vejamos, então, essas respostas no

Quadro 3.1.

QUADRO 3.1 AMADURECIMENTO DA DEMOCRACIA DO BRASIL

Você acha que o Brasil está amadurecendo continuame nte em seus pilares democráticos? Justifique.

L. O. A.

“Falta maior equilíbrio entre os poderes do Estado.”

R. E. C. A.

“Sim, hoje as pessoas conversam e debatem os problemas sociais em todos os setores da sociedade, seja na família, nas comunidades e até mesmo em uma instituição maior.”

F. N. E. S.

“Sim. Isso nós podemos comprovar nas conferências municipais, estaduais ou nacional que o Brasil avançou um pouco na Democracia, o que nos incomoda é o cumprimento da efetivação das políticas públicas.”

E. L. M.

“Sim, o governo federal atual, governa com a participação popular, via conselhos, conferências, reuniões participativas entre governo e sociedade civil organizada, e a inversão das prioridades, os menos favorecidos tem sido o foco das políticas sociais de geração de renda. Um exemplo disso é o bolsa família, o programa Minha Casa, Minha Vida e as milhões de pessoas que saíram da miséria e o aumento da classe média.”

F. C. M. G.

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Com certeza está amadurecendo. se olharmos para a história brasileira veremos que foram poucos períodos democráticos. Tivemos sete/oito constituições. Entre elas algumas outorgadas. Estamos vivenciando o 22º ano da constituição cidadã. Neste período tivemos impeachement de um presidente e a sucessão de FHC/LULA em que um adversário sucede ao adversário sem maiores problemas. a democracia vem avançando no país com um papel cada vez mais importante das instituções democráticas. Vejamos o exemplo da atuação do ministério público, das eleições brasileiras que algum tempo atrás eram cheias de ações espúrias e que possibilitavam a fraude. Não somos uma democracia perfeita, mas que tem avançado bastante.

G. M. M.

“Sim. Atualmente temos um cenário político estável concomitantemente a redução da pobreza e da exclusão social. Temos ainda uma melhor urbanização, educação e crescimento econômico.”

S. M. G. S.

“Em tese sim, ou seja, todos os instrumentos de democracia participativa (conselhos, orçamento participativo, conferências, congressos). São excelentes canais de participação e aparentemente democrática, porém, muitas vezes os resultados são anti-democráticos. Por exemplo, orçamento participativo. Tem Prefeitura que libera apenas 75 do orçamento para a população opinar (espaço democrático) e os 93% ficam na mão do poder (centralizado) e no discurso é Orçamento Participativo.”

I. O. G. R.

“Sim, por estar abrindo e fortalecendo o leque de d iscussões dos menos favorecidos; encaminhando e viabilizando mais qualidade e melhor ia de vida do povo.”

A história da Democracia no Brasil é carregada de polêmicas e de

dificuldades no sentido de organização dos limites dos atos democráticos. As

dificuldades de vivência desta Democracia se dão na constatação de que o

modelo vigente parece exigir uma separação entre governantes e governados,

formação de uma elite pequena com muitos privilégios distanciada de uma

massa popular gigante com mínimos direitos.

Uma das entrevistadas salienta que na atualidade, mesmo em

meio a realidades distintas, há uma abertura às discussões que buscam corrigir

injustiças sociais. No Quadro 3.2, os/as entrevistados/as arriscaram descrever

sobre como se dá essa democracia que se pretende participativa.

QUADRO 3.2 DEMOCRACIA E PARTICIPAÇÃO SOCIAL

L. O. A.

Como a Democracia Participativa acontece?

“A democracia participativa é um regime onde se pretende que existam efetivos mecanismos de controle da sociedade civil.”

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R. E. C. A.

“Quando os problemas são discutidos nas bases que são os pilares de sustentação de uma nação.”

F. N. E. S.

“Com a participação da sociedade nas conferências, nos conselhos municipais, estaduais e as associais, enfim, instâncias que fortaleçam a participação popular.”

E. L. M.

“Via a participação popular nas decisões de poder dos governos.”

F. C. M. G.

“Acontece com a participação da sociedade em todos os instrumentos de participação. Nos conselhos comunitários, nas associações de bairro, na reivindicação de seus direitos, na fiscalização do uso dos recursos públicos, na cobrança às autoridades por melhorias. Não podemos vislumbrar uma democracia participativa apenas participando das eleições de dois em dois anos. É preciso que nosso povo participe antes e depois das eleições, ou seja, sempre.”

G. M. M.

“Através do Plebiscito, do Referendo e de projetos de lei de iniciativa popular e do orçamento participativo, dos conselhos municipais.”

S. M. G. S.

“Quando de fato os beneficiados e beneficiadas participarem do processo, ou seja, não basta ouvi-los é preciso respeitar suas necessidades. Que controle social seja de fato controle de contas públicas.”

I. O. G. R.

“Acontece a partir da escuta e do debate direto, dos anseios, das idéias e sonhos do povo.”

É interessante perceber no Quadro 3.2 que quase todas as

respostas se basearam em percepções de ampliação da democracia ainda na

esfera das instituições políticas formais do Estado. Verificamos ainda junto

aos/às entrevistados/as o que consideravam ser o principal entrave para a

consolidação da Democracia Participativa nos espaços sociais.

QUADRO 3.3 ENTRAVES À DEMOCRACIA PARTICIPATIVA

Qual o principal entrave para a consolidação da Dem ocracia Participativa nos espaços sociais?

L. O. A.

“O maior entrave para a consolidação da democracia é a falta de participação dos cidadãos nos espaços públicos, ou seja, a repressão dos poderes para calar a voz dos movimentos sociais.”

R. E. C. A.

“A falta de conscientização popular para buscar os direitos, fazendo valer tudo que as leis lhe garante.”

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F. N. E. S.

“Com a participação da sociedade nas conferências, nos conselhos municipais, estaduais e as associações, enfim, instâncias que fortaleçam a participação popular.”

E. L. M.

“Via a participação popular nas decisões de poder dos governos.”

F. C. M. G.

“O principal entrave é o sentimento das pessoas de que participam das atividades, mas os benefícios acabam não acontecendo. Há uma descrença no tocante a isso. Outra questão é que parte das pessoas que participam dos movimentos acham que estão ali para conquistar objetivos pessoais e não coletivos. Daí a necessidade de sempre debater-se sobre os objetivos e princípios de qualquer entidade ou associação. Faz-se necessário formar, capacitar os participantes dos movimentos sociais.”

G. M. M.

“A falta de educação para a democracia.”

S. M. G. S.

“Poder centralizado apesar do discurso de descentralização; Medo de dividir poder, acomodação.”

I. O. G. R.

“O principal entrave estar no não encaminhamento das decisões tomadas, além do poder, que alguns retêm para si mesmo, estando vivenciando uma “Democracia Participativa”.”

Como se pode confirmar no quadro acima, a maioria admite que a

consolidação de um modelo de Democracia onde a participação social venha a

ser efetivada encontra percalços de definição e de identificação justamente

pelo fato de não haver clareza sobre a acessibilidade a meios e organismos

políticos que favorecem o exercício da cidadania nos termos democráticos e de

fato populares. Uma entrevistada é mais contundente e diz que falta “educação

para a Democracia”.

Solicitamos que os/as entrevistados/as analisassem o nível de

participação dos cidadãos e cidadãs de Quixadá nos espaços públicos. Apenas

uma pessoa afirma que a participação dos cidadãos de Quixadá é alta e

recorrente.

Os demais entrevistados afirmam que essa participação é restrita

e ainda precisa se fortalecer muito. (Quadro 3.4)

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QUADRO 3.4 NÍVEL DE PARTICIPAÇÃO SOCIAL EM QUIXADÁ

Como você analisa o nível de participação social do s cidadãos e cidadãs deste município no tocante aos espaços públicos

R. E. C. A.

“De forma passiva quando reivindica seus direitos mais atuantes no período eleitoral e preso em questões partidárias.”

F. N. E. S.

“Avançou um pouco nas organizações sociais como associações, conselhos, mas há muito o que ser feito. As pessoas precisam reivindicar melhor os seus direitos e cumprir com propriedade os seus deveres.”

F. C. M. G.

“Os cidadãos quixadaenses sempre foram chamados a opinar e debater sobre os rumos de sua cidade. Primeiramente através do Programa Prefeitura com Você, dos Conselhos de saúde e assistência social, e mais recentemente do chamado “Congresso da Cidadania”. A cidade sempre teve muitos movimentos ativos seja no meio rural, seja na área urbana. Acho que somos uma cidade de ampla participação.”

G. M. M.

“No nível de cultura política atingida por eles e elas atingida, ou seja, apesar dos avanços ocorridos na última década ainda deixam muito a desejar.”

S. M. G. S.

“A grosso modo, boa mas não vejo mudança ou ampliação de novos atores no processo, acabamos nos repetindo em diversos lugares. E ainda muitos ausentes e desmotivados (descrentes) para participarem e ser co-responsáveis pelo desenvolvimento de seu município.”

I. O. G. R.

“A história política do povo quixadaense favorece a sua participação nos espaços públicos, porém, faz-se necessário, formatar ainda mais, a participação do cidadão e cidadã, a partir de uma visão coletiva, igualitária e humana.”

Como última verificação no tópico concernente à Democracia e a

Participação Social, buscou-se conhecer a opinião dos respondentes quanto a

atuação do governo municipal de Quixadá em relação à participação social.

Alguns dos/as entrevistados/as disseram que o Governo não favorece a

participação, pois consideram os/as cidadãos/ãs passivos/as e outros/as

disseram que há limitações.

QUADRO 3.5 GOVERNO MUNICIPAL E PARTICIPAÇÃO POPULAR

Na sua opinião, o Governo Municipal favorece à part icipação popular? Justifique.

R. E. C. A.

“Sim. Não tenho conhecimento que os quixadaenses sofram algum tipo de censura. O sindicato ao qual sou filiado discute os problemas dos servidores de uma forma aberta e democrática.”

F. N. E. S.

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“Sim. Até porque o nível de organização melhorou, ou seja, há um condicionamento de interesses comuns na população, onde as pessoas vêem a necessidade de se agruparem para ter seus direitos garantidos.”

F. C. M. G.

“Até 2008, tivemos uma administração municipal que trabalhou a participação popular de uma forma bem emblemática. O debate no Congresso da Cidadania fez com que a população se sentisse parte ativa do que acontecesse, através de sua opinião, da sua palavra, do seu voto. Espero que este sentimento de participação não se perca.”

G. M. M.

“Sim. Por se encontrar mais próximo do povo.”

S. M. G. S.

“Sim, através da constituição de conselhos de garantia de direito; comitê de mobilização nas comunidades com a participação de lideranças comunitárias e os serviços públicos; congressos de cidadania; conferências, eventos de massa de formação/informação e outros.”

I. O. G. R.

“A prática partidária do governo desse município é de favorecimento da participação popular, porém, a vivência dessa prática, ainda se dá de forma inibida, com escolha e atores.”

Isso é curioso e aponta para o reconhecimento de que as

instituições políticas municipais são preocupadas com a participação, mas a

população mesmo assim não está se engajando. Isso sugere que não basta o

incentivo de “cima para baixo” no campo da participação política.

Também se questionou sobre as ações do SINDSEP de Quixadá

e Região, objetivando compreender a visão de alguns atores centrais na

participação política de Quixadá sobre as ações do SINDSEP e a efetividade

da influência de seus/as sócios/as nas políticas públicas do município.

QUADRO 4 A ATUAÇÃO DO SINDSEP DE QUIXADÁ E REGIÃO

Descreva sobre o nível das conquistas antes e depoi s da intervenção do SINDSEP de Quixadá e Região

L. O. A.

“Antes de 1988 os servidores não tinham nenhum direito garantido. O salário mínimo era apenas 30% do que é atualmente.”

R. E. C. A.

“De forma positiva já que as vitórias superam as derrotas e nos dá uma perspectiva otimista de futuro.”

F. N. E. S.

“Eu considero a história de organização deste sindicato como exemplo de luta e conquista de esforços adquirido pelas mulheres, já que o mesmo surgiu da inquietação de um grupo de professoras na busca dos seus direitos. Com isso, a entidade cresceu porque quem estava e está a frente da entidade dá o seu sangue por uma sociedade digna, justa e igualitária.”

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F. C. M. G.

“O SINDSEP tem uma história muito bonita de enfrentamento na luta sindical. Começou com uma associação de defesa dos interesses das professoras municipais e depois foi expandindo suas ações em diversos municípios. Um fato importante é a formação de quadros sindicais. Ao longo dos anos de sua existência formou diversos quadros para bem representar os interesses da classe sindical. Após grandes embates em termos salariais, o SINDSEP tornou-se uma referência de luta pelos direitos dos trabalhadores. A trajetória é da mais positivas e representativas.”

G. M. M.

“Analiso como uma trajetória árdua, difícil mas de grandes conquistas.”

S. M. G. S.

“É uma instituição muito importante pra categoria no Serviço Público Municipal pelo seu compromisso, luta. As companheiras são articuladas levando assim a experiência para outros lugares, o que fortalece a luta e a caminhada. É um Sindicato que defende o direito dos/as trabalhadores/as, sendo firme e coerente com os princípios da luta sindical.”

I. O. G. R.

“Forte e eficaz, pois sempre teve e tem como foco principal a garantia dos direitos e a conscientização dos municionais, haja vista que, a luta se fez e se faz não só pela diretoria mas com todos e todas que buscam direta ou indiretamente o SINDSEP.”

Todos os respondentes são categóricos ao afirmar que o nível

das conquistas para os/as servidores/as de Quixadá alcançou um importante

patamar a partir do trabalho sindical que, na fala dos/as entrevistados/as,

conseguiu trazer os direitos mais elementares para um/a trabalhador/a e

ampliaram-se esses direitos para as questões de equidade de gênero e

remuneração, por exemplo.

Ressalta-se o depoimento de Izaltina Oliveira Gonzaga

Rodrigues, afirmando que o SINDSEP realizou uma ampliação da agenda de

lutas quando a entidade passou das reivindicações de direitos trabalhistas

básicos e assumiu uma discussão mais ampla como a equidade de gênero.

A entrevistada evidencia o nível de participação promovido pela

entidade quando a tomada de decisão não se dá apenas na diretoria, mas

também na categoria de sócios/as, que também intervém nessa construção de

direitos e não apenas se comporta como receptora dos mesmos.

A questão do quadro 5 serviu para verificar se de fato o SINDSEP

desempenha esse papel de protagonista das propagadas transformações.

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QUADRO 5 A MISSÃO DA INSTITUIÇÃO

Em que o trabalho desta instituição influencia posi tivamente na vida do/a servidor/a municipal?

L. O. A.

“Influencia na clareza dos direitos na consciência política e na formação sindical.”

R. E. C. A.

“O trabalho do SINDSEP soa como uma referência no cotidiano do professor pois esta nos dá um pouco de segurança e nos leva a refletir sobre o que não tínhamos, o pouco que temos, o muito que ainda teremos de conquistar apesar das dificuldades.”

F. N. E. S.

“No empoderamento das mulheres nos setores de trabalho, na proteção dos direitos das mulheres quanto á licença-maternidade, no combate á violência psicológica ou assédio moral no setor de trabalho.”

E. L. M. “A SPM tem um plano Nacional de Políticas para as Mulheres que envolve diretrizes, princípios e ações nas diversas áreas e diversos ministérios.”

G. M. M.

“Através da criação e elaboração de leis e espaços que possibilite aos servidores exercerem plenamente seus direitos e sua cidadania.”

S. M. G. S.

“No debate das políticas públicas para as mulheres; na reflexão de ações proativas no enfrentamento à violência contra a mulher, seja no âmbito doméstico e familiar, seja institucional. Temos muito a preocupação de prestar um serviço de qualidade quando esses/essas nos procuram. Nosso principal trabalho é articular, propor, captar políticas públicas para as mulheres do nosso município. Estamos fazendo coisas miúdas (mudanças estruturantes na cultura organizacional) monitorando as políticas existentes no município. Estamos presentes na política do território da cidadania do Sertão Central; temos representação no Comitê de Equidade de Gênero e Remuneração; contribuímos no debate do PPA 2010-2013 e estamos no Comitê de Monitoramento do PPA. Acreditamos que está presente nos diversos espaços do Governo ou dos Movimentos Sociais levando reflexão, o debate e propondo mudanças estamos contribuindo para a qualidade de vida das pessoas.”

I. O. G. R.

“É mais um instrumento de conscientização e apoio ao servidor e a servidora que deste serviço precisar. Além disso questiona e convoca para novos posicionamentos sociais a partir do núcleo familiar.”

Para os/as entrevistados/as as políticas sindicais de gênero

influenciaram na transformação da vida dos servidores, especialmente, na vida

das servidoras.

De acordo com os testemunhos, são resultados das

reivindicações do SINDSEP, a criação do Centro de Referência Mulher e

Cidadania, a criação da Coordenadoria Municipal da Mulher e do Comitê de

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Equidade de Gênero e Remuneração. Este último órgão está desenvolvendo o

trabalho de criar na estrutura administrativa da Prefeitura de Quixadá um novo

Sistema de Avaliação de Postos de Trabalho no modelo ISP, ou seja, sem viés

de gênero.

Já no Quadro 6.1 temos as respostas quanto à seguinte questão:

você acha que as mudanças de postura do Governo Municipal no tocante à

criação de espaços de empoderamento da mulher como o Centro de

Referência Mulher e Cidadania, Coordenadoria de Políticas para as Mulheres,

Conselho da Mulher além de dispositivos importantes como a Lei da Equidade,

realmente efetiva a participação social de todos e todas?

QUADRO 6.1 POLÍTICAS PÚBLICAS E PARTICIPAÇÃO SOCIAL

Você acha que as mudanças de postura do Governo Mun icipal no tocante à criação de espaços de empoderamento da mulher como o Centro de Referência Mulher e Cidadania, Coordenadoria de Políticas Públicas, Conselho da Mu lher além de dispositivos importantes como a Lei da Equidade, realmente efeti va a participação social de todos e todas? Justifique.

L. O. A.

“Sim. Considero que o empoderamento das mulheres está acontecendo através desses mecanismos.”

R. E. C. A.

“Acho importantes essas referências e os incentivos dados pelo município, no entanto, é necessário, políticas que leve o cidadão a buscar seus direitos de forma ativa e participativa.”

F. N. E. S.

“O governo municipal da gestão anterior reconheceu que as mulheres adentrando estes espaços só fortaleciam seu governo, porque tinha uma experiência política bem mais preparada.”

E. L. M.

“Com certeza, são iniciativas importantes para este processo de equidade.”

F. C. M. G.

“Se não efetiva em sua totalidade, dá uma grande contribuição. Não dá para negar o grande avanço em que se constituiu a criação da Coordenadoria de Políticas para as Mulheres, o Centro de Referência da Mulher, a Lei da Equidade. Claro que há muito por avançar ainda. Não dá para esquecer que os homens exerceram um papel preponderante e muitas vezes autoritário na história recente. Isto de certa forma ainda acontece de uma maneira muito forte. Não dá para mudar uma cultura da noite para o dia, mas dá para começar a quebrar as algemas do preconceito e avançar na busca do ideal de igualdade real.”

G. M. M.

“Sim. Acho que a criação desses espaços desencadearam uma série de ações que concretamente resultam em um elevado número de atendimentos onde pessoas são beneficiadas pela lei da equidade, o que vem a demonstrar a eficácia dos citados espaços e da própria lei.”

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S. M. G. S.

“Sim, mas precisamos avançar mais, ampliando atuação desses espaços, os quais sejam reconhecidos pela população como instrumentos importantes no enfrentamento da violência contra a mulher e no empoderamento das mulheres, seja no setor econômico como nos espaços de poder bem como aconteça mudança cultural.”

I. O. G. R.

“Em parte, pois ainda é duro e provocador. É preciso reconhecer uma realidade onde as mulheres são apresentadas em pé de igualdade junto aos homens.Na verdade essa situação é difícil de ser vivenciada até mesmo por algumas mulheres, tornando-se um entrave na efetiva participação social de todas e todos.”

Entre as justificativas apresentadas, vemos que uma delas toca

num ponto fundamental de toda essa discussão: a questão da sustentabilidade

de todas as ações já realizadas dentro desse processo de equidade de gênero

e remuneração.

É importante dizer que o trabalho do SINDSEP é de provocador,

motivador ou propositor junto ao Governo Municipal e que não tem poder de

deliberação.

Entre as respostas menciona-se que as ações já concretizadas

funcionam como pontos de partida para as ações governamentais que

realmente interessam à comunidade, onde uma série de atividades que serão

desenvolvidas é que vão dizer se de fato a democracia e a participação estão

presentes no Serviço Público de Quixadá, como tanto objetiva o SINDSEP.

Os objetivos de efetivação da democracia e da participação social

por parte do SINDSEP no âmbito municipal apenas se posicionam como uma

voz organizada reivindicante da sua categoria.

O importante é dizer que é papel do SINDSEP participar como

representante da categoria, mas isso é apenas uma face de todo o processo

participativo, que é muito mais complexo.

Vale ressaltar ainda que quase todos/as os/as entrevistados/as

reconhecem o potencial do programa de equidade de gênero e remuneração,

mas também admitem que este não basta como única ação para incrementar a

participação política de todos os cidadãos e cidadãs em Quixadá.

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E, por último, sabe-se que a que criação do Comitê de Equidade

de Gênero e Remuneração trouxe para o Serviço Público Municipal a política

que busca a igualdade entre homens e mulheres nos aspectos da valorização

do trabalho da mulher, da equiparação salarial e da avaliação de postos de

trabalho sem viés de gênero. Perguntados/as sobre o que isso contribui para a

democratização das relações de trabalho e melhoria da qualidade do Serviço

Público, temos o seguinte quadro de respostas.

QUADRO 6.2 COMITÊ DE EQUIDADE DE GÊNERO E REMUNERAÇÃO

A criação do Comitê de Equidade de Gênero e Remuner ação trouxe para o Serviço Público Municipal a política que busca a igualdade entre homens e mulheres nos aspectos da valorização do trabalho da mulher, da e quiparação salarial e avaliação de postos de trabalho sem viés de gênero. O que isso c ontribui para a democratização das relações de trabalho e melhoria da qualidade do Ser viço Público?

L. O. A.

“O Comitê de Equidade é a maior conquista das mulheres em todas essas mudanças que estão ocorrendo em Quixadá.”

R. E. C. A.

“Contribui porque numa repartição as mulheres passaram a ser mais respeitadas pelo sexo oposto diminui o índice de desgaste moral e, conseqüentemente, ela passa a produzir melhor no trabalho.”

F. N. E. S.

“Reconhecer a importância do trabalho das mulheres no serviço público ou passado significa valorizar a luta histórica de todas por uma sociedade justa, igualitária, menos machista e com mais qualidade de vida entre os indivíduos.”

E. L. M.

“Maior produtividade, melhor atendimento ao público e melhores relações de trabalho.”

F. C. M. G.

“Contribui nas mais diversas formas. Seja em mostrar para conjunto dos servidores de que eles possuem os mesmos direitos e que as diferenças existentes são para fortalecer a igualdade, seja para conscientizá-los dos princípios da equidade. A princípio, os servidores não demonstraram muito entusiasmo para as propostas; todavia depois de ver as “coisas” acontecendo, passaram a se interessar cada vez mais e compreender a necessidade de uma política de gênero ser implementada.”

G. M. M.

“Possibilitou um novo olhar da Administração Pública Municipal que através da elaboração de leis busca efetivamente valorizar o trabalho da mulher e a equiparação salarial melhorando assim a qualidade do Serviço Público Municipal.”

S. M. G. S.

“A médio e a longo prazo contribuirá na organização cultural e gerencial do Serviço Público de maneira que seja percebida mais claramente as relações de equidade. A curto prazo já podemos perceber o esforço interno de mudança comportamental; a disposição para o debate e algumas atitudes positivas que dão base para as mudanças estruturantes que consistirá em metas a médio e a longo prazo. Hoje sentimos que estamos no rumo certo e não podemos dar

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passos para trás. Nosso foco/meta é de fato contribuir com um Serviço Público que zele pela equidade de oportunidades respeitando as diferenças entre mulheres e homens. Solidificando internamente, precisamos avançar o debate para a sociedade.”

I. O. G. R.

“Contribui diretamente para a sinalização de um mundo novo, no entanto, é preciso dentro do espaço privado.”

É ponto comum nos depoimentos acima o fato de que o Comitê

de Equidade de Gênero e Remuneração de Quixadá tem entre suas finalidades

corrigir injustiças cometidas contra as mulheres trabalhadoras em termos de

remuneração e contribui diretamente para a realização dessas correções.

É interessante dizer que o Comitê tratará das questões

remunerativas tantos dos servidores como das servidoras, todavia, é ponto

pacífico entre os/as entrevistados/as que há um olhar especial dispensado às

servidoras pois elas é que foram historicamente injustiçadas e que os/as

mesmos/as observam que das ações que estão sendo implementadas são as

mulheres as mais beneficiadas.

É importante registrar que, atualmente, o Comitê está dedicado a

formatar o novo Sistema de Avaliação de Postos de Trabalho no modelo ISP,

como já foi mencionado neste trabalho. Para desenvolver isso foi contratada a

técnica Haline Cordeiro9 que, segundo relatos colhidos junto aos membros do

Comitê, é a única técnica no Brasil treinada pela ISP na nova metodologia de

avaliação de postos de trabalho. Ainda de acordo com os membros do Comitê,

o processo realmente ainda está em estágio inicial.

O desenvolvimento da campanha internacional de equidade de

remuneração trouxe, de acordo com os depoimentos, a perspectiva de gênero

para a vida política do município, inserindo servidores e servidoras em um

conjunto de relações compartilhadas proporcionando a igualdade, tencionando-

se com isso, o oferecimento de condições de aceso e permanência dos/as

trabalhadores/as, em especial, a uma plataforma de oportunidades na vida e no

trabalho.

9 Haline Cordeiro. Administradora, Professora Universitária e Diretora e Técnica do Instituto Nacional de Assessoria, Projetos e Eventos (INAPE).

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No Serviço Público Municipal de Quixadá, o debate sobre a

equidade é evidentemente um instrumento de inclusão social: é impossível

criar, ampliar e assegurar direitos, mesmo considerando que estes se apliquem

a toda a categoria de servidores.

Exemplos destas finalidades são as Cláusulas de Gênero que

transformadas na Lei de eqüidade precisam ser objeto de busca pelo gozo

pleno dos benefícios equiparando patamares de direito e de condições de vida

e trabalho com seus reflexos nas relações de gênero.

Estabeleceram-se, assim, mecanismos de eqüidade de

remuneração para todos e todas, como acordos firmados na Mesa Permanente

de Negociação Coletiva entre o SINDSEP e a Prefeitura de Quixadá.

Percebeu-se ainda nas informações dos dados do Quadro 4 o consenso entre

os/as entrevistados/as de que o SINDSEP ampliou sua agenda de lutas

justamente pela busca dos direitos trabalhistas e daqueles que extrapolam os

vieses do mundo do trabalho. Isso evidencia que as instituições sociais como

as sindicais estão voltadas para a formação de um indivíduo capaz de lidar

com questões mais profundas demandadas por uma sociedade cada vez mais

complexa em suas relações e construções políticas.

Constata-se também uma percepção dos envolvidos/as no

processo que o SINDSEP constitui-se como uma referência na construção

desse novo momento vivenciado em Quixadá. Seja do ponto de vista de

favorecer o debate nas suas instâncias onde, conforme posição de

entrevistada, não se decide só na diretoria, mas com a participação de todos e

todas. Estaria aqui nesse ponto a oportunidade de construir um modelo de

democracia influenciada pelo que defende MACPHERSON (1978)? Mesmo o

sindicato fazendo parte da estrutura sindical que inclui-se na democracia

representativa, é na assembléia de base que se concretizam suas decisões, ou

seja, os próprios trabalhadores/as com poder.

Apoiada aqui por SCHERER-WARREN (2009), que analisa o

Sindicato como um instrumento de poder persuasivo junto aos poderes de

deliberação, podemos sentir nos depoimentos que ao longo dos anos o

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SINDSEP vem exercendo seu papel e aos poucos o/a servidor/a melhora sua

condição, principalmente a financeira.

Quando verificamos o conteúdo das respostas relacionadas ao

tema de gênero, aos resultados dessa experiência iniciada em Quixadá, a

discriminação, as ferramentas já definidas e em execução, vamos concluindo

que as pessoas entrevistadas percebem os primeiros passos como de forte

conteúdo vitorioso, porque sabem conscientemente do que estamos falando:

de mudança cultura, de quebra de preconceitos, como fala BOURDIEU (1995)

do desafio de mudar esse quadro onde predomina a dominação masculina.

No contexto analisado, há uma cidade cravada no sertão do

Ceará, estado de construção histórica fundamentada em governos com

posturas extremamente machistas e onde a política se desenvolve ainda com

práticas tradicionais e anti-sindicais. É também um cenário onde se identifica

aumento da violência contra a mulher, apesar da Lei Maria da Penha em vigor.

É nessa realidade que, em Quixadá, é criado um ambiente que

vislumbra caminhos para a Equidade que mostra ser possível abrir novas

possibilidades para construir uma administração pública com igualdade.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Consideramos que, mediante o conjunto de reflexões realizadas,

o possível leitor deste trabalho terá uma visão geral do processo que está

sendo vivenciado pelo SINDSEP de Quixadá, Ibaretama, Banabuiu, Choró e

Ibicuitinga, estado do Ceará, no que se refere a sua política sindical como

ponto de partida para a busca da efetivação da participação social da categoria

por esta entidade representada.

É preciso levar em conta que as ações já desenvolvidas

necessitam de verificação no que tange a sustentabilidade do que todas e

todos esperam do processo iniciado entre o SINDSEP e a Prefeitura de

Quixadá.

Todavia, o depoimento dos/as entrevistados/as para este

trabalho, sinalizam que, na cidade de Quixadá, o Serviço Público Municipal já

não é o mesmo desde o momento em que se iniciou toda uma reestruturação

na Administração Municipal para admitir as políticas de gênero propostas pelo

SINDSEP dentro dos programas das políticas públicas.

O caminho percorrido até aqui na cidade de Quixadá no

desenvolvimento desta temática aponta para uma consolidação de ações do

Governo Municipal que tenciona ser modelo de efetivação de uma cultura de

equidade de gênero e remuneração. Se isto se afirmar como uma política

pública, na cidade de Quixadá, teremos, por exemplo, uma legislação municipal

cada vez mais influenciada pelas políticas de equidade de gênero e

remuneração, o que tornará esses dispositivos legais democráticos e

inclusivos.

O impacto nas relações entre Governo Municipal e Sociedade tem

sido extremamente positivo no que tange ao estabelecimento de mecanismos

como leis e criação de instâncias de gênero, o que só será possível verificar

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sua efetividade ao passo que o Governo Municipal garanta a execução das

ações, e o mais importante, se a própria sociedade se der conta dessa nova

realidade da qual ela já pode usufruir. Isto porque as reivindicações do

SINDSEP, como já dissemos, extrapolaram a esfera sindical, e da negociação

com a prefeitura, o que resultou na criação de instrumentos que atendem não

só as servidoras, mas todas as cidadãs dos municípios da região, como

exemplo está o Centro de Referência e Cidadania da Mulher.

A experiência com equidade de gênero e remuneração de

Quixadá vem obtendo reconhecimento nacional e internacional. A participação

do SINDSEP de Quixadá e Região no Congresso da ISP na Áustria,

representando as mulheres do continente Sul-americano, foi muito positivo

para que a própria ISP pudesse verificar o êxito de sua campanha internacional

no Brasil.

Participou-se ainda do Encontro Latino-Americano de

Trabalhadores e Trabalhadoras Municipais (Novembro de 2009/São Paulo),

promovido pela ISP; Seminário Internacional “Experiência de Promoção da

Igualdade de Remuneração entre Homens e Mulheres” promovido pela

CUT/Nacional (Novembro de 2009/São Paulo), além do Seminário “Igualdade

Salarial entre Homens e Mulheres – Perspectivas Européias e Latino-

Americanas” (Turim/Itália), em junho de 2009, promovido pela OIT. Neste

mesmo ano, a Prefeitura de Quixadá recebeu o Selo Pró-Equidade de Gênero

2007-2008, o que marca fortemente a posição do município como precursor na

promoção da equidade de gênero e remuneração no Brasil.

A igualdade salarial é parte da luta contra a pobreza. É distribuir

renda. É ao mesmo tempo a resolução de um problema econômico e também

cultural. Elevar salários das mulheres é tocar na questão das relações de poder

e isso torna essa luta mais desafiadora. Sendo esse assunto discutido no

âmbito do Serviço Público Municipal de fato encontraram-se muitas barreiras

para a construção dessa valorização e valoração do trabalho feminino.

No Brasil, corrobora toda essa evidência a decisão da Secretaria

Especial de Políticas para as Mulheres, que ganhou status de ministério no

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Governo Lula, o reconhecimento da experiência de Quixadá, aprofundando o

debate sobre a necessidade do Brasil avançar na construção de legislação

sobre Equidade e lança em 2010 a Lei Nacional da Equidade. Essa é uma

atitude governamental e um marco histórico sem precedentes na vida

brasileira.

Outro elemento importante é analisar os resultados desse

processo de negociação ocorrido nos últimos cinco anos na cidade de Quixadá

à luz da legislação internacional.

A OIT (Organização Internacional do Trabalho) defende o

Trabalho Decente e orienta aos países-membros a aplicação das suas

Convenções para alcançá-lo. Em 2008 lançou a campanha “A Igualdade de

Gênero no Coração do Trabalho Decente”. Considera-se ainda como

ferramentas eficazes para o estabelecimento da Igualdade as seguintes

Convenções, as quais têm seus princípios aplicados na legislação de Quixadá:

• Convenção sobre a igualdade de remuneração, 1951 (N º 100) – Lei

de Equidade e Estatuto do/a Servidor/a.

Consagra o direito de vencimento igual para trabalho de igual

valor independente do sexo.

• Convenção sobre a discriminação (emprego e ocupação ), 1958 (Nº

111) - Lei de Equidade e Estatuto do/a Servidor/a

Proteção ao trabalho da mulher, mediante incentivos específicos,

na forma da lei, como no caso das mulheres de contrato temporário a

garantia de estabilidade da gestante até seis meses após o parto, como

também a proibição de discriminação na admissão. São proibidas

diferenças remuneratórias de exercício de cargos e de critérios admissão,

por motivo de cor, idade, sexo ou estado civil.

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• Convenção sobre os trabalhadores com responsabilida des

familiares, 1981 (Nº 156) - Lei de Equidade e Estat uto do/a

Servidor/a

As duas leis estabelecem o direito de horário especial ao servidor

e a servidora para o cuidado com filhos com deficiência.

• Convenção sobre a revisão da Convenção sobre a prot eção à

maternidade, 2000 (Nº 183) – Lei da Equidade

A lei municipal garante licença maternidade de 180 dias, inclusive,

para servidoras de contrato temporário.

• Convenção sobre o direito de sindicalização e negoc iação coletiva,

1949 (Nº 98) – Estatuto do/a Servidor/a Público/a Municipal

Nesse ponto o nível de avanço é considerado grande, pois,

enquanto no Brasil convenção 151 que garante a negociação coletiva no

serviço público está em discussão no congresso nacional, em Quixadá a

sindicalização e a negociação é fato

• Convenção sobre a liberdade sindical e proteção do direito de

sindicalização, 1948 (Nº 87) – Estatuto do Servidor Público

Municipal

Mesmo ainda não tendo sido ratificada no Brasil, na legislação de

Quixadá já podemos encontrar elementos próprios da Convenção 87 que

estão em pleno vigor. É o caso da liberdade de sindicalização, bem como a

garantia aos dirigentes de exercerem mandato classista sem prejuízos

salariais e ao sindicato a garantia da liberdade de atuação.

Concretamente, o SINDSEP conseguiu que a Plataforma de Gênero,

construída a partir das discussões da própria categoria, fosse incorporada no

Plano Plurianual da Prefeitura de Quixadá, onde ações de fomento à equidade

de gênero e remuneração serão financiadas com recursos do Governo

Municipal.

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Outro importante fato a se considerar é que no ano de 2009 o

Plano de Cargos, Carreira e Remuneração do Magistério do município de

Quixadá foi reformulado incluindo a implantação da Lei do Piso Nacional do

Magistério. Essa ação beneficiou diretamente as servidoras pelo fato de que

83% dos profissionais do Magistério são mulheres, o que vem a ser uma meta

de empoderamento remunerativo importante.

Tudo isso, contudo, ainda é muito pouco para as diretrizes

estabelecidas pelo SINDSEP em seus objetivos, mas não se pode negar que

mesmo em nível inicial já se pode vislumbrar as políticas públicas voltadas à

promoção da equidade de gênero e remuneração em Quixadá, devendo,

obviamente, a aplicação dos instrumentos acontecer ao longo do processo de

amadurecimento e aperfeiçoamento do próprio Serviço Público Municipal.

O depoimento dos/as entrevistados/as, entre eles/as, gestores/as

e dirigentes sindicais, todos/as diretamente ligados com o desenvolvimento e

monitoramento das atividades, constata a importância da campanha na cidade

de Quixadá, ressaltando entre os pontos positivos, a disposição para o debate

possibilitando base para as mudanças estruturantes que consiste em metas a

médio e a longo prazo.

Os respondentes consideram ainda que existe por parte da

Administração Pública Municipal um novo olhar e isso se verifica através da

elaboração de leis que buscam valorizar o trabalho da mulher e a equiparação

salarial.

No plano de trabalho do Comitê há ações formativas para os

gestores e gestoras. Isso se apresenta como uma boa iniciativa, pois quem

assume cargo político na administração, em geral, tem permanência

temporária, sendo necessário um processo de convencimento e

conscientização permanente, como também, um curso de preparação para os

novos/as servidores/as advindos/as dos concursos públicos. Isso pretende, os

poucos, nivelar o conhecimento sobre o tema, mas o mais importante é o

SINDSEP se manter em constante movimentação, pois estamos falando de

uma experiência em curso numa prefeitura que muda de gestor/a de quatro em

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quatro anos, podendo mudar totalmente o curso por uma decisão política de

quem assume o poder, pois é corriqueira a descontinuidade de programas e

projetos na administração pública.

De fato, o cuidado dos atores, sindicato e prefeitura, consagrarem

em lei o que se negocia é uma estratégia importante, porém, o processo de

conscientização é o que garantirá a permanência dessa política como Política

de Estado.

Ressalta-se dos depoimentos o posicionamento de todos/as os/as

entrevistados/as quanto à questão da efetivação da participação social, ao

afirmarem que é preciso cautela no que tange à afirmação dessa participação.

Segundo eles/as, o debate foi lançado, os diálogos entre os

atores-chaves – SINDSEP e Prefeitura – vêm acontecendo, a estrutura da

administração vem se adequando e leis vêm sendo criadas e/ou reformuladas

para ampliar direitos e reformular dispositivos a fim de garantir a realidade da

equidade de gênero e remuneração, que é o foco de toda essa campanha

internacional e que encontrou em Quixadá, parece-nos, um lugar propício a

essa igualdade que tanto se busca entre homens e mulheres.

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2009.

SINDSEP. (Quixadá) Estatuto do SINDSEP de Quixadá e Região. 2002.

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103

UNI, União Global. MANUAL DE EQUIDADE. Departamento de Oportunidades

Iguais, Março de 2009.

ZIMPECK, Beverly Glen. Administração de salários. 7. ed. São Paulo: Atlas,

1990.

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ANEXO

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS SECRETARIA-GERAL DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA

PROGRAMA DE FORMAÇÃO DE CONSELHEIROS NACIONAIS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM DEMOCRACIA

PARTICIPATIVA REPÚBLICA E MOVIMENTOS SOCIAIS

I – IDENTIFICAÇÃO

NOME________________________________________________________________

ESTADO CIVIL_________________________________________________________

ENDEREÇO___________________________________________________________

RELIGIÃO____________________________________________________________

SEXO_______________________________________________________________

ORIENTAÇÃO SEXUAL_________________________________________________

FORMAÇÃO:__________________________________________________________

PROFISSÃO___________________________________________________________

TEMPO DE EXERCÍCIO DA PROFISSÃO____________________________________

EXERCE CARGO DIRETIVO ATUALMENTE? SE SIM, QUAL?___________________

______________________________________________________________________

TEMPO DE EXERCÍCIO DO CARGO ATUAL_________________________________

FILIADO/A A ALGUM PARTIDO POLÍTICO? SIM ( ) NÃO ( )

POR QUE? ____________________________________________________________

II – PERCEPÇÃO E CONCEPÇÃO SOBRE GÊNERO

1 – Qual sua definição sobre Gênero?

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____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

2 - O que concretiza a Democracia Participativa, em sua opinião?

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

3 – As sociedades modernas estão debatendo fortemente a temática de gênero. Na sua

opinião, porque isto está tão em evidência?

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

4 – Pra você, é possível existir equidade entre homens e mulheres? Como isso se dá?

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

5 – Debate-se muito sobre empoderamento das mulheres. Qual sua percepção sobre isso?

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

III – DEMOCRACIA E PARTICIPAÇÃO SOCIAL

6 – Você acha que o Brasil está amadurecendo continuamente em seus pilares democráticos?

Justifique.

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

7 – Como a Democracia Participativa acontece?

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

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8 – Qual o principal entrave para a consolidação da Democracia Participativa nos espaços

sociais?

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

9 – Como você analisa o nível de participação social dos cidadãos e cidadãs deste município

no tocante aos espaços públicos?

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

10 – Na sua opinião, o Governo Municipal favorece à participação popular? Justifique.

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

IV – O SINDSEP DE QUIXADÁ E REGIÃO

11 – Como você analisa a trajetória do SINDSEP de Quixadá e região em sua tradição de luta

pelos direitos dos Municipais que representa?

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

12 – Descreva sobre o nível das conquistas antes e depois da intervenção do SINDSEP de

Quixadá e Região?

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

13 – O SINDSEP de Quixadá e Região como um Movimento Social Organizado faz realmente a

diferença na vida dos servidores e servidoras municipais? De que forma?

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

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V – A MISSÃO DA INSTITUIÇÃO DO/A ENTREVISTADO/A

14 – Como foi o processo que resultou na criação da instituição que você representa?

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

15 – Em que o trabalho desta instituição influencia positivamente na vida do/a servidor/a

municipal?

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

16 – Que ações e/ou investimentos do Governo Municipal são necessários para que o trabalho

desta instituição efetive a participação social do cidadão e da cidadã?

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

VI – EQUIDADE DE GÊNERO E REMUNERAÇÃO

17 – Com o lançamento da campanha da Internacional dos Serviços Públicos no Brasil, o

SINDSEP trouxe para a cidade de Quixadá uma verdadeira cultura da Equidade de gênero e

remuneração no Serviço Público Municipal. Como você analisa esse processo?

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

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18 – Você acha que as mudanças de postura do Governo Municipal no tocante á criação de

espaços de empoderamento da mulher como o Centro de Referência Mulher e Cidadania,

Coordenadoria de Políticas Públicas, Conselho da Mulher além de dispositivos importantes

como a Lei da Equidade, realmente efetiva a participação social de todos e todas? Justifique.

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

19 – A criação do Comitê de Equidade de Gênero e Remuneração trouxe para o Serviço

Público Municipal a política que busca a igualdade entre homens e mulheres nos aspectos da

valorização do trabalho da mulher, da equiparação salarial e avaliação de postos de trabalho

sem viés de gênero. O que isso contribui para a democratização das relações de trabalho e

melhoria da qualidade do Serviço Público?

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____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

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