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Jos Luiz Francisco Alves
VALORIZAO DE RESDUOS AGROINDUSTRIAIS DE
MAMONA E DE ALGAROBA
POR MEIO DO PROCESSO DE PIRLISE
Dissertao submetida ao Programa de
Ps-Graduao em Engenharia Qumica da Universidade Federal de
Santa Catarina como parte dos
requisitos para a obteno do Grau de Mestre em Engenharia Qumica.
Orientador: Prof. Dr. rer. nat. Humberto Jorge Jos.
Coorientador: Prof. Dr. Rnnio Felix
de Sena.
Florianpolis 2016
Jos Luiz Francisco Alves
VALORIZAO DE RESDUOS AGROINDUSTRIAIS DE
MAMONA E DE ALGAROBA
POR MEIO DO PROCESSO DE PIRLISE
Esta Dissertao foi julgada adequada para obteno do Ttulo de
Mestre em Engenharia Qumica, rea de Concentrao Engenharia de Reaes Qumicas e Desenvolvimento de Materiais, e aprovada em sua
forma final pelo Programa de Ps-Graduao em Engenharia Qumica da Universidade Federal de Santa Catarina.
Florianpolis, 31 de agosto 2016.
_________________________________________
Prof. Dr. Cntia Soares Coordenadora do Curso
____________________________________
Prof. Dr. Humberto Jorge Jos
Orientador
_________________________________________
Prof. Dr. Rnnio Felix de Sena Coorientador
Banca Examinadora:
_________________________________________ Prof. Dr. Regina de Ftima Peralta Muniz Moreira
_____________________________________
Prof. Dr. Mara Gabriela Novy Quadri
____________________________
Prof. Dr. Alexsandra Valrio
Este trabalho dedicado minha famlia e a Deus.
AGRADECIMENTOS
Deus, pela vida, por todas as oportunidades e desafios, e por estar sempre presente me iluminando e me guiando frente as adversidades.
Aos meus pais Maria Letcia e Joo e meu irmo Ricardo, por toda pacincia, compreenso e pelo apoio incondicional em mais esta etapa da minha vida.
Ao Professor Humberto, pela orientao, disponibilidade, confiana no meu trabalho e apoio.
Ao Professor Rnnio, pela coorientao, apoio recebido sempre que precisei e pelas contribuies na realizao desta dissertao.
Professora Regina por sempre estar disponvel a ajudar.
Universidade Federal de Santa Catarina e ao Programa de Ps-Graduao em Engenharia Qumica.
Aos professores que me honraram com suas participaes na
banca, pela disponibilidade, dedicao e contribuio na melhoria do presente trabalho.
Raquel Cardoso e sua querida me Rosangela Cardoso por terem me ajudado sempre que precisei e por serem parte dessa etapa da minha vida.
Aos ilustrssimos colegas do LEMA: Andrei, Camila, Michele, Luciane e Yenny pela companhia, trocas de experincia e risadas. Em especial, agradeo as doutorandas Tatiana, Sulen e Rosangela e a ps-
doutoranda Diniara e aos pesquisadores Maria Fernanda e Jos Vtor, apelo auxlio e disponibilidade na realizao dos experimentos.
Alex do LEMA/UFSC pelas anlises de GC/MS.
Ao meu scio Rafael, minha grande parceira Luana e aos meus amigos Seldis, Marcos e Marcelo por serem uma segunda famlia para
mim. Aos professores e amigos da UFPB que fizeram parte de uma
etapa muito importante pra mim e ajudaram a construir minhas bases
acadmicas e pessoais. Em especial Prof Vivian, e aos meus amigos Flvio, Emmely, Simone, Evanice, Elisangela, Alexandre, Erivone e Gabriela.
todos os amigos que fiz durante essa etapa importante da minha vida.
Jean Constantino Gomes da Silva e Kaline do Nascimento Ferreira do Laboratrio Carvo Ativado (LCA) da UFPB e a Antonio
Silvio do Egito Vasconcelos da Embrapa Caprinos e Ovinos (CNPC)
pelo fornecimento das biomassas utilizadas nesse estudo. Amrico Cruz e ao Laboratrio Central de Microscopia
Eletrnica da UFSC pelas anlises de MEV/EDS. Daniela Bresolin do Laboratrio de Controle de Processos
(LCP) e Leandro Guarezi da Central de Anlises, ambos do EQA/UFSC
pelas anlises de FTIR. Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior
(CAPES) pela concesso da bolsa de estudo.
todos que, direta ou indiretamente, contriburam para a realizao deste trabalho.
RESUMO
A valorizao de resduos agroindustriais via converso trmica tem se
mostrado promissora em relao gerao de biocombustveis. A pirlise um processo de converso termoqumica para gerao de energia renovvel, atuando ao mesmo tempo como soluo para a
disposio final dos resduos agroindustriais. Neste contexto, o objetivo principal deste estudo foi valorizar a torta da mamona e o bagao das vagens de algaroba, ambos resduos agroindustriais, para obteno de
bio-leo e biochar. Os ensaios de pirlise foram realizados presso atmosfrica, com um fluxo de N2 de 400 mLmin
-1, em duas diferentes
condies: a 700 C com taxa mdia de mdia de aquecimento 160 Cmin
-1; e a 900 C com taxa mdia de mdia de aquecimento
224 Cmin-1
, ambas com tempo de residncia de 5 min na temperatura
final. Os produtos da pirlise (bio-leo, biochar e gases no condensveis) foram caracterizados. Alm disso, o biochar produzido foi aplicado como adsorvente na captura de CO2 e em reaes de
gaseificao com CO2. Um carvo ativado comercial foi utilizado como base de comparao nos ensaios de adsoro. Os gases formados na
pirlise foram o H2, CO, CO2 e CH4. Nos bio-leos produzidos foram identificados aproximadamente 180 compostos divididos em compostos oxigenados (cidos, steres, cetonas, aldedos, fenis, lcoois, teres e
furanos), hidrocarbonetos, compostos nitrogenados e compostos sulfurados. Os biochars produzidos apresentaram potencial para serem utilizados em processo de produo de energia por possurem poder
calorfico comparveis a alguns combustveis fsseis e de outras biomassas. Em relao capacidade de captura de CO2 na temperatura de 25 C o carvo ativado adsorveu maior quantidade de CO2 (105,24
mgCOgCA-1
) que os biochars do bagao das vagens de algaroba (40,09-
65,14 mgCOgbiochar-1
) que por sua vez capturou mais CO2 do que os
biochars da torta de mamona (11,38-39,48 mgCOgbiochar-1
). Em termos
de reatividade com CO2 nas temperaturas na faixa de 760-920 C os biochars produzidos do bagao das vagens de algaroba foram mais reativos que os biochars advindos da torta da mamona, e os valores para
energia de ativao referentes gaseificao dos biochars com CO2 ficaram em torno de 185-238 kJmol
-1.
Palavras-chave: Valorizao; Pirlise; Resduos Agroindustriais; Bio-leo; Gases, Biochar.
ABSTRACT
The valorization of biomass agro-industrial waste via thermal
conversion has shown promise in relation to the generation of biofuels. Pyrolysis is a thermochemical conversion process for renewable energy generation, which work at the same time as a solution for the final
disposal of these wastes. In this context, this study aims to valorize the castor bean cake and mesquite pods bagasse, both agro-industrial waste, through the pyrolysis process. The pyrolysis tests were carried under
atmospheric pressure with N2 gas flow of 400 mlmin-1
at two conditions, the first at 700 C with average heating rate of 160 C min
-1
and the second at 900 C with an average heating rate of 224 C min-1
, both with 5 min of residence time at the final temperature. The pyrolysis products (bio-oil, biochar and non-condensable gases) were
characterized. Furthermore, the biochar produced was applied as an adsorbent, for CO2 capture, and CO2 gasification reactions. An commercial activated carbon was used as a comparison basis for the
adsorption process. The pyrolysis gases H2, CO, CO2 and CH4 were found during the pyrolysis process. In the bio-oils produced were
identified little more than 180 compounds divided between oxygenated compounds (acids, esters, ketones, aldehydes, phenols, alcohols, furans and ethers), hydrocarbons, nitrogenous compounds and sulfur
compounds. The biochars produced show a potential to be used in power production process due its calorific value comparable to some fossil fuels and other biomass. In relation to CO2 capture capacity at 25 C, the
activated carbon adsorbed more CO2 (105,24 mgCOgCA-1
) than biochars produced by mesquite pods bagasse (40,09-65,14 mgCOgbiochar
-1), which in
turn captured more CO2 than biochars produced the castor bean cake
(11,38-39,48 mgCOgbiochar-1
). In terms of reactivity with CO2 in the temperature range of 760-920 C, the biochars produced from mesquite
pods bagasse were more reactive than biochars arising from the castor bean cake and the activation energy values related to biochars gasification were around 187-238 kJmol
-1.
Keywords: Valorization; Pyrolysis; Agro-industrial waste; Bio-oil; Gases; Biochar.
LISTA DE FIGURAS
Figura 2-1 Representao das etapas da pirlise: secagem, pirlise primria e
pirlise secundria. ........................................................................................... 37 Figura 3-1 Fluxograma com o planejamento das atividades deste estudo...... 45 Figura 3-2 Esquema geral do sistema experimental utilizado para pirlise das biomassas. ......................................................................................................... 50 Figura 3-3 Comportamento das temperaturas das amostras durante os ensaios
de pirlise. ........................................................................................................ 51 Figura 3-4 Esquema representativo do funcionamento do analisador
termogravimtrico. ............................................................................................ 56 Figura 4-1 Comparao da composio imediata mdia de diferentes tipos combustveis slidos e das amostras estudadas, porcentagem em massa.......... 64 Figura 4-2 Microscopia eletrnica de varredura em 200X e 1000X da amostra CA-NORIT. ...................................................................................................... 65 Figura 4-3 Microscopia eletrnica de varredura em 200X e 1000X das
amostras (a) VA, (b) biochar VA-700 e (c) biochar VA-900. .......................... 66 Figura 4-4 Microscopia eletrnica de varredura em 200X e 1000X das
amostras (a) TM, (b) biochar TM-700 e (c) biochar TM-900. ......................... 67 Figura 4-5 Espectros de FTIR para as amostras TM, biochar TM 900, VA, biochar VA 900 e CA-NORIT sob a faixa de 4000 cm
-1 400 cm
-1. ............... 68
Figura 4-6 Distribuio dos produtos energticos nos ensaios de pirlise das biomassas. ......................................................................................................... 69 Figura 4-7 Produo de gs nos ensaios de pirlise das biomassas. .............. 84 Figura 4-8 Comparao das curvas de converso em funo do tempo e de reatividade em funo da converso para os biochars produzidos (a) do VA e
(b) da TM. ......................................................................................................... 85 Figura 4-9 Curvas de converso em funo do tempo e de reatividade em
funo da converso em diferentes temperaturas para os biochars (a) VA 700,
(b) VA 900. ....................................................................................................... 86 Figura 4-10 Curvas de converso em funo do tempo e de reatividade em
funo da converso em diferentes temperaturas para os biochars (a) TM 700 e
(b) TM 900........................................................................................................ 87 Figura 4-11 Ajustes do modelo homogneo (MH), modelo do ncleo no
reagido (MNNR) e modelo de poros randmicos (MPR) aos dados experimentais de converso para os biochars (a) VA 700, (b) VA 900, (c) TM
700 e (d) TM 900. ............................................................................................. 89 Figura 4-12 Cintica de adsoro de CO2 nas temperaturas de 25 C, 50 C e 100 C para as amostras (a) biochar VA 700, (b) biochar VA 900, (c) biochar
TM 700 e (d) CA-NORIT. ................................................................................ 92 Figura 4-13 Ciclos de adsoro/dessoro de CO2 para o biochar VA 700 na temperatura de 50 C. ........................................................................................ 96
Figura 4-14 Ajuste do modelo de pseudo segunda ordem (PSO) aos dados
experimentais de adsoro de CO2 para as amostras biochar VA 700, biochar
VA 900, biochar TM 700 e CA-NORIT nas temperaturas de (a) 25 C, (b) 50 C e (c) 100 C. ....................................................................................................... 97 Figura 4-15 Balano de massa da pirlise para todos os biochars produzidos.
........................................................................................................................... 99
LISTA DE TABELAS
Tabela 3-1 Programao utilizada no analisador termogravimtrico para anlise imediata no DTG-60 da Shimadzu ........................................................ 47 Tabela 3-2 Condies experimentais utilizadas nos ensaios de pirlise para as biomassas. ......................................................................................................... 50 Tabela 3-3 Taxa de aquecimento real dos ensaios de pirlise. ....................... 52 Tabela 3-4 Condies cromatogrficas para anlise no cromatgrafo gasoso acoplado espectroscopia de massas. ............................................................... 53 Tabela 3-5 Condies cromatogrficas de anlise no cromatgrafo gs da
Shimadzu. ......................................................................................................... 54 Tabela 3-6 Condies operacionais utilizadas para anlise dos produtos
gasosos no cromatgrafo gasoso (TCD/FID). ................................................... 54 Tabela 3-7 Concentrao dos padres analticos. .......................................... 55 Tabela 3-8 Caractersticas do TGA modelo DTG-60/60H, Shimadzu. .......... 56 Tabela 3-9 Modelos cinticos. ........................................................................ 59 Tabela 3-10 Resumo das etapas envolvidas no processo de adsoro de
dixido de carbono. .......................................................................................... 60 Tabela 3-11 Modelos cinticos e suas equaes linearizadas. ....................... 61 Tabela 4-1 Resultados da anlise imediata e anlise elementar. .................... 63 Tabela 4-2 Composio dos bio-leos por meio GC-MS. ............................. 71 Tabela 4-3 Composio percentual dos gases no condensveis livre de N2
dos ensaios de pirlise das biomassas. .............................................................. 83 Tabela 4-4 Coeficientes de determinao ajustados para os modelos MH, MNNR e MPR para os biochars produzidos. ................................................... 88 Tabela 4-5 Parmetros cinticos e coeficiente de determinao obtidos pelos modelo cinticos tericos aplicados aos biochars em estudo. .......................... 90 Tabela 4-6 Dados de parmetros cinticos de gasificao de biomassas
publicados. ........................................................................................................ 91 Tabela 4-7 Capacidade e parmetros cinticos da adsoro de CO2 utilizando
as amostras estudadas. ...................................................................................... 94 Tabela 4-8 Parmetros cinticos e coeficiente de determinao obtidos pela Equao de Arrhenius para as amostras em estudo. .......................................... 98 Tabela 4-9 Dados da capacidade de adsoro de CO2 em adsorventes carbonceos encontrados na literatura. ............................................................. 99
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SMBOLOS
(qe)cal Capacidade de adsoro de equilbrio calculada
pelo modelo, mgg-1
(qe)exp Capacidade de adsoro de equilbrio obtida
experimentalmente, mgg-1
ANP Agncia Nacional do Petrleo, Gs Natural e
Biocombustveis
b.s. Base seca
Biochar TM 700 Biochar de torta de mamona produzido a 700 C
Biochar TM 900 Biochar de torta de mamona produzido a 900 C
Biochar VA 700 Biochar de bagao das vagens de algaroba
produzido a 700 C
Biochar VA 900 Biochar de bagao das vagens de algaroba
produzido a 900 C
C Frao de carbono na amostra, % em massa
CF Frao de carbono fixo, % em massa
CN Torta de mamona in natura
CT Torta da mamona tratada termicamente
MG Malachite Green
TP Tropaeolin
FWO Flynn-Wall-Ozawa
KAS Kissenger-Akahira-Sunose
COVs Compostos orgnicos volteis
HPA Hidrocarbonetos aromticos policclicos
Cid Espessura da camada de contato, mgg-1
CNPC Embrapa Caprinos e Ovinos
CONAB Companhia Nacional de Abastecimento
CZ Frao de cinzas, % em massa
DCFC Clula combustvel de carbono direto
DIP Modelo de difuso intrapartcula
dp Tamanho da partcula, m
dx/dt Taxa da reao, min-1
EA Energia de ativao, Kjmol-1
ELO Modelo de Elovich
F Fluxo, Mlmin-1
FAO Organizao das Naes Unidas para a
Alimentao e a Agricultura
FAOSTAT Diviso de Estatstica da Organizao das Naes
Unidas para a Alimentao e a Agricultura
FTIR Espectroscopia no infravermelho com
transformada de Fourier
H Frao de hidrognio na amostra, % em massa
hg Calor latente do vapor, kcalkg-1
IDT Instituto de Engenharia e Tecnologia
k(T) Constante da taxa, min-1
k0 Fator pr-exponencial, min-1
k1 Constante de pseudo primeira ordem, gmg-1
min-1
k2 Constante de pseudo segunda ordem, gmg-1
min-1
kid Constante da taxa de difuso intrapartcula,
mgg-1
min-1/2
kMH Constante da taxa para MH, min-1
kMNNR Constante da taxa para MNNR, min-1
kMPR Constante da taxa para MPR, min-1
l.u.c. Base livre de umidade e cinzas
LabValora Laboratrio de Valorao de Resduos
LCME Laboratrio Central de Microscopia Eletrnica
LEMA Laboratrio de Energia e Meio Ambiente
LPFD Laboratrio de Produtos e Fermentos Destilados
m0 Massa inicial, mg
m Massa no final da gaseificao, mg
MH Modelo Homogneo
MMA Ministrio do Meio Ambiente
MNNR Modelo do Ncleo No Reagido
MPR Modelo de Poros Randmicos
mt Massa no instante t, mg
MV Frao de matria voltil, % em massa
O Frao de oxignio na amostra, % em massa
OCDE Organizao para a Cooperao e
Desenvolvimento Econmico
OIE Oferta Interna de Energia
PCI Poder calorfico inferior, kcalkg-1
PCO2 Presso parcial de CO2, Pa
PCS Poder calorfico superior, kcalkg-1
PPO Modelo de pseudo primeira ordem
PSO Modelo de pseudo segunda ordem
qt Capacidade de adsoro no tempo t, mgg-
r Taxa da reao, ou reatividade, min-1
R Constante dos gases, JK-1
mol-1
R2 Coeficiente de determinao
S Frao de enxofre na amostra, % em massa
T Temperatura, K
t Tempo, min
TGA Analisador termogravimtrico
TM Torta de mamona
Txaq Taxa de aquecimento, Cmin-1
U Frao de umidade, % em massa
UFPB Universidade Federal da Paraba
UFSC Universidade Federal de Santa Catarina
UNESC Universidade do Extremo Sul Catarinense
VA Bagao das vagens de algaroba
X Grau de converso, %
Taxa inicial de adsoro, mgg-1
min-1
Constante de dessoro, gmg-1
Parmetro estrutural do MPR
SUMRIO
1 INTRODUO ................................................................................. 23
1.1 OBJETIVOS .................................................................................... 24 1.1.1 Objetivo Geral ............................................................................... 24
1.1.2 Objetivos Especficos .................................................................... 24
2 REVISO BIBLIOGRFICA ......................................................... 27
2.1 BIOMASSA ..................................................................................... 27 2.1.1 Torta da mamona .......................................................................... 30
2.1.2 Vagem de algaroba........................................................................ 33
2.2 PROCESSOS DE CONVERSO TERMOQUMICA ......................... 35
2.3 PIRLISE ........................................................................................ 36 2.3.1 Bio-leo .......................................................................................... 37
2.3.2 Gases no condensveis ................................................................ 40 2.3.3 Biochar ........................................................................................... 40
2.3.4 Adsoro de dixido de carbono em biochars ............................. 41 2.3.5 Gaseificao de biochars com CO2 ............................................... 43
3 MATERIAIS E MTODOS............................................................. 45 3.1 PREPARO DAS BIOMASSAS ......................................................... 45
3.2 CARACTERIZAO ....................................................................... 46 3.2.1 Anlise imediata ............................................................................ 46
3.2.2 Anlise elementar .......................................................................... 47 3.2.3 Poder Calorfico ............................................................................ 47
3.2.4 rea superficial e volume de poros .............................................. 48
3.2.5 MEV ............................................................................................... 48 3.2.6 Anlise por espectroscopia na regio do infravermelho ............ 49
3.3 PIRLISE ........................................................................................ 49 3.3.1 Equipamentos ................................................................................ 49
3.3.2 Procedimento ................................................................................. 50 3.3.3 Anlise dos bio-leos ..................................................................... 52
3.3.4 Anlise dos produtos gasosos da pirlise ..................................... 53
3.4 ANLISES TERMOGRAVIMTRICAS........................................... 55 3.4.1 Gaseificao isotrmica ................................................................ 57
3.4.1.1 Procedimento experimental .......................................................... 57 3.4.1.2 Cintica de gaseificao ............................................................... 57
3.4.2 Adsoro de CO2 ........................................................................... 59
3.4.2.1 Procedimento experimental .......................................................... 59 3.4.2.2 Cintica de adsoro .................................................................... 60
3.4.2.3 Teste para avaliar a reversibilidade das reaes de adsoro/dessoro .................................................................................. 61
4 RESULTADOS E DISCUSSO ...................................................... 63 4.1 CARACTERIZAO DAS AMOSTRAS...............................................63
4.2 DISTRIBUIO DOS PRODUTOS DA PIRLISE ..............................69
4.3 ANLISE DO BIO-LEO ...................................................................... 70
4.4 ANLISE DOS GASES NO CONDENSVEIS.................................. 83
4.5 GASEIFICAO EM CO2 ...................................................................... 85 4.6 ADSORO DE CO2 .............................................................................. 91
5 CONCLUSES ................................................................................101
6 SUGESTES PARA TRABALHOS FUTUROS .........................103
7 REFERNCIAS ...............................................................................105
1 INTRODUO
A converso trmica de biomassa tem se mostrado promissora em
relao gerao de biocombustveis. A utilizao desse recurso renovvel vem ao encontro da atual preocupao com o esgotamento de fontes no renovveis de energia e os impactos ambientais relacionados
ao uso desenfreado desses combustveis. Alm de ser uma forma de reduo das emisses de gases de efeito estufa, este tipo de material possui a vantagem de estar disponvel em todas as partes do planeta,
diferentemente do carvo ou gs natural. Dentre as biomassas, os resduos agroindustriais merecem
destaque como fonte para produo de energia, pois so gerados na ordem de milhes de toneladas por ano. A torta da mamona um subproduto no processo de extrao do leo das sementes da mamona. A
eficincia mdia para extrao de leo de 47% em massa; logo, a produo de 1 tonelada de leo da mamona gera aproximadamente 1,13 toneladas de torta (LIMA et al., 2011). A expectativa para a safra
2015/2016 no Brasil produo de aproximadamente 40 mil toneladas de torta da mamona.
Estima-se que no Nordeste do Brasil, a algaroba ocupe mais de 500 mil hectares (GOMES e MIRANDA, 2016), gerando em torno de 1 a 4 milhes de toneladas de vagens somente nesta regio. O bagao das
vagens de algaroba surge como resduo slido do processo de extrao do caldo das vagens que utilizado para a produo de etanol.
O descarte indevido de resduos agroindustriais diretamente em
solos pode causar vrios problemas ambientais, como o comprometimento da qualidade solo. Alm disso, os produtos lquidos resultantes da decomposio deste resduo podem percolar no solo e
contaminar as guas superficiais e sub superficiais. Recentemente foi aprovada a Lei N 12.305/2010 regulamentando
a Poltica Nacional de Resduos Slidos. A referida lei trata do aproveitamento energtico destes resduos:
Captulo II, Art. 3 - Para os efeitos desta Lei, entende-se por:
VII - destinao final ambientalmente adequada:
destinao de resduos que inclui a reutilizao, a reciclagem, a compostagem, a recuperao e o
aproveitamento energtico ou outras destinaes admitidas pelos rgos competentes do Sisnama,
do SNVS e do Suasa, entre elas a disposio final,
observando normas operacionais especficas de
modo a evitar danos ou riscos sade pblica e
segurana e a minimizar os impactos ambientais adversos; reciclagem; disposio em aterro
sanitrio; fonte de energia.
O aproveitamento de resduos agroindustriais por meio de
processos de converso termoqumica uma forma de valorizao desse
tipo de biomassa. As principais rotas de converso so combusto, gaseificao e pirlise. A grande vantagem da pirlise a no gerao de resduos, pois todos os seus produtos (bio-leo, biochar e gases)
podem ser aplicados em processos para obteno de energia. Alm de aplicaes energticas, o biochar amplamente empregado como
remediador do solo e para remoo de poluentes, como o CO2. Neste contexto, com o intuito de diminuir problemas relacionados
disposio inadequada, e buscando valorizar estes resduos
agroindustriais, o objetivo principal desta dissertao foi o aproveitamento energtico da torta da mamona e do bagao das vagens da algaroba por meio da pirlise.
1.1 OBJETIVOS
1.1.1 Objetivo Geral
O objetivo deste estudo foi valorizar os resduos agroindustriais
torta de mamona e bagao das vagens de algaroba por meio do processo de pirlise. Como etapa completar, os biochars produzidos foram aplicados como adsorventes na captura de CO2 e em reaes de
gaseificao com CO2.
1.1.2 Objetivos Especficos
Caracterizar as propriedades fsico-qumicas, das amostras brutas da torta da mamona e do bagao das vagens da algaroba e dos respectivos biochars;
Analisar e quantificar os produtos gasosos produzidos durante a pirlise das biomassas residuais;
24
Determinar, qualitativamente, a composio dos bio-leos produzidos;
Avaliar potencial de adsoro de CO2 dos biochars produzidos;
Determinar a reatividade dos biochars com CO2.
25
2 REVISO BIBLIOGRFICA
2.1 BIOMASSA
Segundo dados da Resenha Energtica Brasileira de 2015
referente ao ano de 2014, a participao de fontes de energias renovveis na Matriz Energtica Brasileira manteve-se entre as mais
elevadas do mundo. A parcela destas energias renovveis na Oferta Interna de Energia (OIE) foi de 39,4%. Enquanto que a mdia mundial foi de 13,8% e a mdia dos pases da Organizao para a Cooperao e
Desenvolvimento Econmico (OCDE) foi de apenas 9,8%. No cenrio nacional, dentre as fontes de energia renovveis, a parcela correspondente biomassa de 27,9%, esta proveniente da soma dos
produtos derivados da cana-de-acar (15,7%), da lenha e carvo vegetal (8,1%) e outras fontes renovveis (4,1%).
Dentre as vrias fontes renovveis disponveis, a biomassa se destaca sendo essa uma alternativa sustentvel. Sendo uma matria-prima de baixo custo e com vrias rotas de converso para seu
aproveitamento. Podendo ser definida como qualquer material que possui carbono, hidrognio, oxignio, baixos teores de enxofre e de nitrognio em sua constituio. Essa definio engloba vrios materiais
naturais e derivados, tais como espcies lenhosas e herbceas, resduos agrcolas, industriais e urbanos, biosslidos, plantas aquticas, entre outros. As biomassas lignocelulsicas representam o recurso orgnico
renovvel mais abundante na Terra (SAIDUR et al., 2011), sendo constitudas, principalmente, por celulose, hemicelulose e a lignina.
Alm disso, em menores quantidades existem substncias de baixo peso molecular: os extrativos orgnicos e as cinzas. Os extrativos so substncias orgnicas como terpenos, taninos, cidos graxos e resinas
(ORFO; ANTUNES; FIGUEIREDO, 1999). A utilizao de biomassa diminui significativamente as emisses
de gases prejudicais ao meio ambiente como o SOX, NOX e fuligem por
possurem baixas quantidades de enxofre, nitrognio e cinzas quando comparada aos combustveis fsseis. Outro fator importante que a
emisso lquida de CO2 neutra, pois o mesmo pode ser reciclado atravs da fotossntese das plantas (ZHANG et al., 2007). Alm disso, a utilizao de biomassa proporciona vrias vantagens do ponto de vista
social, como a gerao de empregos diretos e indiretos, reduo do xodo rural e o fortalecimento da indstria local. Segundo Heidenreich e
Foscolo (2015), uma grande vantagem da biomassa a alta
disponibilidade ao redor do mundo, diferentemente do carvo ou gs natural.
Por ser um dos maiores produtores agrcolas do mundo, o Brasil gera quantidades significativas de resduos de biomassa, sendo os resduos agroindustriais resultado do processamento industrial da
biomassa (PORTUGAL-PEREIRA et al., 2015). O descarte de resduos agroindustriais na agricultura ou em aterros sanitrios pode causar vrios problemas ambientais, no s ao solo e sua microbiota natural,
como tambm aos lenois freticos. A Organizao das Naes Unidas indicou que as culturas
alimentares no podem ser utilizados como matria-prima para produo de biocombustveis de maneira a evitar o comprometimento do abastecimento alimentar (CHEN et al., 2014). Logo, a utilizao de
biomassas no comestveis de lignocelulose evita a concorrncia com o suprimento de alimentos e evita o uso de terras destinadas ao plantio de culturas alimentares (SINGH; NIGAM; MURPHY, 2011).
A produo de energia por meio de tecnologias utilizadas para converso energtica de biomassas residuais contribui para a
diversificao da produo de energia e a mitigao de gases do efeito estufa. Segundo Sharma, Pareek e Zhang (2015), a biomassa pode ser convertida em biocombustvel por meio de processos fsicos (usam
tcnicas de densificao incluindo esmagamento, aplicaes de calor e presso para a converso de biomassa em biocombustveis), bioqumicos (aplicam enzimas e microrganismos para converter
biomassa em produtos energticos desejveis) e termoqumicos (empregam a energia do calor e catalisadores qumicos para a decomposio de biomassa em produtos de elevado valor energtico).
Dentro deste contexto, o grupo de pesquisa do Laboratrio de Energia e Meio Ambiente (LEMA) da Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC) vem trabalhando, ao longo dos anos, na rea de reaproveitamento de biomassas residuais, mais precisamente por meio da converso termoqumica para gerao de energia. As tecnologias
mais estudadas so pirlise, gaseificao e combusto. Alguns estudos dos pesquisadores do LEMA utilizando biomassas residuais so brevemente expostas a seguir.
A combusto de biomassas oriundas do tratamento de efluentes txteis (FLORIANI, 2007; FLORIANI, 2010), de indstrias de
alimentos (FLORIANI, 2010), do tratamento de efluentes lquidos de frigorficos (DE SENA et al, 2009), lodo biolgico do tratamento de esgoto sanitrio (BORK, 2011) mostraram que possvel, em condies
28
controladas, recuperar energia dessas biomassas, e as emisses gasosas
de poluentes podem se adequar aos padres da legislao vigente. Neto (2011) realizou a pirlise de dois tipos de lodo sanitrio
obtidos dos processos de tratamento biolgico anaerbio e aerbio. Os resultados obtidos neste trabalho mostraram que a pirlise uma boa opo como pr-tratamento trmico, visando a reduo nas emisses de
SO2 e NOx durante o processo de converso trmica. Virmond (2011) determinou as propriedades termoqumicas de
resduos agroindustriais e misturas desses com serragem de madeira em
diferentes propores mssicas. Resduos da indstria como suco de ma e de suco de laranja, bagao de cana-de-acar, caroo de aa,
casca de castanha de caju e casca de arroz foram analisados. Foi avaliada ainda a composio das emisses atmosfricas originadas de um combustor ciclnico piloto. Como etapa complementar, determinou-
se o potencial de gaseificao da casca de arroz. Consuegra (2013) estudou a cintica da gaseificao em CO2 dos
resduos carbonos da pirlise (char) do bagao de laranja, serragem de
madeira e suas misturas, visando a valorizao destes resduos agroindustriais. A pirlise como etapa inicial permitiu a obteno de
slidos com maiores reas superficiais e teores de carbono. De maneira similar, dando continuidade a este estudo, Pacioni (2013) focou na cintica de gaseificao de biochars de borra de caf e bagao de ma
em CO2. Silva Filho (2014) avaliou os gases emitidos no processo de
pirlise e ps-combusto de uma mistura de resduo slido urbano e
cavaco de madeira em reator piloto. Os valores encontrados ficaram abaixo dos limites de emisso permitidos, segundo legislaes existentes.
Languer (2015) produziu bio-leo a partir da pirlise de um lodo anaerbio e outro aerbio, em escala laboratorial, em um reator tubular
de quartzo. De forma geral, o processo de pirlise dos lodos sanitrios mostrou-se eficiente na formao de bio-leo, o que um resultado muito atraente, pois esse produto tem grande valor econmico.
Batistella (2015) estudou as emisses de gases gerados durante a combusto de lodos de esgoto sanitrio aerbio e anaerbio em escala piloto por meio de um combustor de leito mvel. Como etapa
complementar foi estudada a carbonizao hidrotrmica de lodos de esgoto aerbio e anaerbio. Mostrando o potencial deste combustvel na
gerao de energia renovvel. O histrico de pesquisas realizadas no LEMA mostra a
importncia do tema do reaproveitamento de resduos atuando como
29
soluo para disposio final desses rejeitos. Deste modo, o presente
estudo avaliou o potencial de dois resduos agrcolas especificamente para aproveitamento energtico por meio do processo de pirlise: a torta
de mamona e o bagao das vagens de algaroba.
2.1.1 Torta de mamona
Atualmente, estudos na rea de energias renovveis se mostram
indispensveis a fim de garantir um futuro em que a matriz energtica mundial no seja dependente da utilizao de recursos no renovveis. Logo, o biodiesel merece destaque no cenrio nacional devido
existncia de uma grande diversidade de plantas oleaginosas disponveis e processos de produo industrial bem desenvolvidos (ABDALLA et
al. 2008). Segundo a Agncia Nacional do Petrleo, Gs Natural e
Biocombustveis (ANP), o Brasil est entre os maiores produtores e
consumidores de biodiesel do mundo, a produo anual em 2015 foi de aproximadamente 3,97 bilhes de litros. Grande parcela da produo nacional de biodiesel dependente do leo vegetal. Dentre as vrias
espcies vegetais presentes no Brasil que podem ser usadas na produo do biodiesel, merecem destaque a soja, dend, girassol, babau,
amendoim, mamona e pinho-manso. O maior produtor mundial de mamona atualmente a ndia, com
uma produo de quase 1,73 milhes de toneladas de mamona em 2014,
de acordo com dados da Diviso de Estatstica da Organizao das Naes Unidas para a Alimentao e a Agricultura (FAOSTAT), bem acima da produo brasileira, que atingiu pouco mais que 37 mil
toneladas de mamona em 2014. Algumas aes do governo brasileiro vm criando estmulos para
aumento da cultura da mamona (Ricinus communis L.) no Nordeste do
Brasil, principalmente na regio de clima semirido, deixando de ser uma atividade de pequenos produtores e criando condies para o
desenvolvimento da regio (MELO et al., 2008). Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) o maior produtor nacional o estado da Bahia seguido do estado do Cear. Segundo o 7
Levantamento de Avaliao da Safra 2015/16, a produo total de mamona no Brasil estimada em abril de 2016 de 76,3 mil toneladas (CONAB, 2016).
A torta surge como subproduto no processo de extrao do leo das sementes da mamona e possui elevado teor de protena e
macronutrientes, sendo um excelente alimento para animais. No entanto,
30
contm algumas substncias e alrgenos altamente txicos, tais como a
ricina glicoprotena, a ricinina alcalide e o complexo alrgeno CB-1A, restrigindo a utilizao da torta como rao animal. Alm disso, no h
tecnologias economicamente viveis at o momento, em escala industrial, para o processamento desse resduo (SILVA et al., 2014). Logo a tentativa de agregar valor a essa biomassa atrves do seu
reaproveitamento pode ser um fator motivador ou inibidor durante a anlise da viabilidade econmica da produo de biodiesel. Pois o tema custo de produo (custo agronmico e custo ambiental) muito
importante. Na literatura recente o aproveitamento da torta da mamona em
processos de converso termoqumica tem sido pouco explorado. Este resduo tradicionalmente dispensado no solo como adubo orgnico sem nenhum tipo de tratamento, alm disso atua como controlador de
nematoides no solo (CANGEMI; SANTOS; NETO, 2010). Pesquisas apontam como opo a utilizao deste resduo na produo de bioetanol e como matria-prima na indstria de rao aps tratamento
adequado para a destoxificao (MELO et al., 2008). Cao et al. (2016a) investigaram as caractersticas e a cintica da
pirlise de misturas produzidas a partir da madeira de cnfora torrificada e da TM. A anlise cintica foi determinada por termogravimtria atravs dos mtodos de Kissenger-Akahira-Sunose (KAS) e Coats-
Redferm, essas informaes so utis pois podem conduzir aplicao da torrefao e co-peletizao para aumento de escala e processos industriais.
Santos et al. (2015) examinaram os efeitos da temperatura e da taxa de aquecimento nos parmetros cinticos da pirlise da torta de mamona atravs de anlise termogravimtrica. Os parmetros cinticos,
tais como energia de ativao e o fator pr-exponencial, foram obtidos por meios dos modelos propostos por Flynn-Wall-Ozawa (FWO), KAS
e Kissinger. Lacerda et al. (2014) avaliaram os parmetros envolvidos no
processo de extrao de protenas dessa biomassa residual por
solubilizao em meio alcalino tendo em vista que essas protenas podem ser interessantes para a produo de materiais biodegradveis. Por sua vez, Oliveira et al. (2015) desenvolveram filmes reforados com
fibras de celulose baseados em protenas extradas da torta para uso na agricultura, como sacos para o plantio de mudas. Makishi et al. (2013) e
Bittante et al. (2014) relataram que a torta de mamona pode ser uma alternativa vivel para o desenvolvimento de pelculas biodegradveis,
31
contribuindo para o sucesso da cadeia produtiva do biodiesel obtido
atravs do leo da mamona. Magriotis et al. (2014) estudaram a utilizao da torta de mamona
in natura (CN) e tratada termicamente (CT) como adsorventes de baixo custo na adsoro dos corantes malachite green (MG) e tropaeolin (TP), obtendo adsoro mxima de 55,98 mgg
-1 e 37,10 mgg
-1 nos sistemas
MG/CN e TP/CT, respectivamente. A cintica de adsoro encontrada foi a pseudo segunda ordem e os autores chegaram concluso de que a torta de mamona um adsorvente de baixo custo alternativo para a
remoo de corantes em solues aquosas, visto que eficaz e est disponvel em grande quantidade.
De Castro, Castilho e Freire (2016) caracterizaram, em termos de suas propriedades fsicas, trmicas e qumicas, quatro diferentes tortas de diferentes processos industriais dentre elas a torta de mamona, de
maneira utilizar essas matrias primas em processos de fermentao. Alm disso, essas informaes podem ser utis para uma gama de aplicaes envolvendo o uso de biomassas.
Doumer et al. (2015) exploraram a viabilidade da produo de biochars e de bio-leos de pirlise lenta de biomassas residuais
brasileiras. Eles relataram que as fontes de biomassa estudadas (inclusive a mamona) produziram quantidades razoveis de bio-leo, e poderia competir como matrias-primas adequadas para a produo de
biocombustveis. E os biochars tambm poderiam ser utilizados como condicionadores do solo, devido sua estabilidade qumica e composio.
Mesmo aps o processo de prensagem para extrao de leo das sementes de mamona, a torta ainda contm uma quantidade significativa de leo residual. Chen et al. (2014) propuseram a pirlise como o
melhor meio de recuperao do leo. Por intermdio do mtodo Tahuchi procuraram maximizar o rendimento do leo pirolitico a partir da torta
de mamona. A produo de bio-leo a partir da pirlise da torta de mamona tambm foi estudada por Silva et al. (2014) que determinou sua composio por meio de cromatografia gasosa acoplado a
espectrometria de massa. O bio-leo obtido apresentou poder calorifco semelhante a combustveis derivados do petrleo e maior que bio-leos derivados de madeiras brutas tpicas, possuindo potencial para ser
utilizado na produo de produtos qumicos e de energia. A valorizao desse resduo agroindustrial por meio de processos
termoqumicos pode ser uma alternativa promissora pois permitiria a correta eliminao deste resduo, minimizando o impacto ambiental que poderia ser causado pela disposio inadequada do mesmo, agregando
32
valor a essa biomassa e tambm diminuindo o custo do processo de
produo do biodiesel.
2.1.2 Vagem de algaroba
A algarobeira (Prosopis juliflora (Sw.) DC.) uma leguminosa arbrea da famlia Fabaceae (leguminosae), subfamlia Mimosodae, espcie xerfita, nativa de zonas tropicais ridas (NETO; OLIVEIRA;
VALENA, 2015). A partir de 1942, a P. juliflora foi introduzida na regio nordeste
do Brasil (RIET-CORREA et al., 2012), regio que concentra as
maiores reas com plantaes de P. juliflora. A produo da P. juliflora foi incentivada por agentes estatais e tcnicos com o objetivo de
recuperar reas degradadas atravs do reflorestamento, alm de servir como uma opo de alimentao para os animais e opo econmica atravs dos vrios usos da madeira (GOMES e MIRANDA, 2016).
uma espcie invasiva e altamente fixadora de nitrognio que pode crescer em regies ridas e semi-ridas, mesmo sob condies ambientais adversas, tal como solos salinos (SURIAPPARAO;
PRADEEP; VINU, 2015). Segundo Gopal et al. (2014), P. juliflora invadiu milhes de hectares de terra ridas e semi-ridas nos continentes
da sia, frica, Austrlia e Amrica. O Ministrio do Meio Ambiente (MMA) alerta que as espcies exticas invasoras representam uma das grandes ameaas ao meio ambiente, com enormes impactos negativos
economia, biodiversidade e aos ecossistemas naturais, alm dos riscos sade humana. Sendo consideradas a segunda maior causa de diminuio de biodiversidade, aps as perda e degradao de habitats.
Outros impactos negativos relacionados a invaso da P. juliflora so citados pela literatura como o esgotamento dos recursos hdricos (SCOTT et al., 2006), a degradao e diminuio de pastagens
(ZIMMERMANN et al., 2006). A P. juliflora consome menos gua e utiliza relativamente
maiores quantidades de CO2 da atmosfera, o que a torna uma fonte neutra em carbono e rica em energia em comparao com outras biomassas lignocelulsicas (SURIAPPARAO; PRADEEP; VINU,
2015). Diante do atual cenrio das crescentes demandas de energia e
debates sobre o aquecimento global, um meio de controle e
aproveitamento dessa espcie invasiva o aproveitamento desta madeira como fonte de biomassa em processos de converso termoqumica. A
madeira da P. juliflora j foi utilizada no processo de gaseificao
33
(BHOI et al., 2006; KALBANDE; DESHMUKH; WAKUDKAR, 2010;
PANWAR; SALVI; REDDY, 2011), na pirlise para produo de bio-leo (BERTERO; DE LA PUENTE; SEDRAN, 2012; SURIAPPARAO;
PRADEEP; VINU, 2015) e de biochar (GOKILA; BASKAR, 2015; HINDI, 2012). Outras formas de aproveitamento da madeira para extrao de fibras naturais que podem ser utilizadas na produo de
compsitos polimricos (SARAVANAKUMAR et al., 2013), produo de etanol celulsico (GUPTA; SHARMA; KUHAD, 2009) e produo de carvo ativado (KAILAPPAN; GOTHANDAPANI;
VISWANATHAN, 2000). Na contramo da madeira da P. Juliflora que pode ser
aproveitada em uma gama de aplicaes, dentre elas o aproveitamento energtico, a P. Juliflora produz vagens com cerca de 20 cm de comprimento, atingindo uma produo de 2 a 8 toneladas por hectare
nas pocas de estiagem (NETO; OLIVEIRA; VALENA, 2015), porm at ento h poucos registros da utilizao da vagem da P. Juliflora em processos de converso trmica de biomassa. Estima-se que no
Nordeste, a P. Juliflora ocupe mais de 500 mil hectares (GOMES e MIRANDA, 2016), gerando em torno de 1 a 4 milhes de toneladas de
vagens na regio. Encontra-se na literatura estudos que buscam uma utilizao
alternativa para as vagens de P. Juliflora, como, por exemplo, obteno
de aguardente (SILVA et al., 2003), obteno de farinha para uso na indstria de panificao (DE GUSMO et al., 2016) e a produo da goma LBG e Guar, que so extradas das sementes da P. Juliflora, sendo
importantes matrias primas agroindustriais utilizadas na indstria alimentcia (DA SILVA et al., 2012).
Apesar de as vagens de P. Juliflora servirem como alimento para
o ser humano, o seu consumo torna-se difcil pois no se constitui em um hbito alimentar. Alm disso, nos perodos de ndice pluviomtrico
normal, esta biomassa pouco utilizada, existindo expressiva quantidade disponvel e sem aproveitamento industrial (SILVA et al., 2003). Alm disso, a P. Juliflora possui tanino que forma um complexo
com a protena diettica e enzimas endgenas, reduzindo o suprimento de nitrognio nos animais (NETO; OLIVEIRA; VALENA, 2015).
Tabosa et al. (2006) e Admasu (2008) relataram o efeito txico
causado pela alta ingesto da semente da P. Juliflora causando mortalidade e diminuio da sade dos animais. Gomes e Miranda
(2016) citam o mal da cara torta e a actinobacilose como doenas causadas pela ingesto excessiva das vagens de P. Juliflora nos rebanhos bovinos. Vrios outros autores citam problemas relacionados
34
ingesto destas vagens pelos animais (ASSIS et al., 2009; CMARA et
al., 2009; SILVA et al., 2006; TABOSA et al., 2000). Gopal et al. (2014) sintetizaram um carvo ativado a partir de
sementes de Prosopis juliflora e o revestiram em uma matriz de polianilina. O adsorvente produzido foi utilizado para remoo do corante Direct Red 23 em solues aquosas. A cintica de adsoro
segue o modelo pseudo segunda ordem, porm o modelo de difuso intra-partcula tambm desempenha um papel importante no processo de adsoro estudado. A energia de ativao obtida nesse estudo foi
18,05 kJmol-1
, indicando que adsoro se d por foras de atrao fracas.
Outra alternativa a produo de etanol por meio da fermentao de substrato lignocelulsico obtido das vagens de algaroba. Muniz (2009) estudou a produo de etanol por meio da fermentao alcolica
utilizando-se do caldo extrado das vagens de algaroba, sendo gerada uma frao slida (bagao), do processamento da extrao do caldo das vagens de algaroba.
Na literatura recente, a utilizao das vagens como fonte de biomassa em processos de converso termoqumica tem sido pouco
explorada. A utilizao do bagao destas vagens como material alternativo e sustentvel para desenvolvimento de novos produtos se torna uma alternativa para essa biomassa. Uma potencial opo seria
aproveitamento energtico dessa biomassa atravs de processos termoqumicos. Do ponto de vista social e econmico, a gerao de novos produtos a partir desse resduo pode propiciar o desenvolvimento
no Semirido do Brasil e agregar valor a essa biomassa residual. 2.2 PROCESSOS DE CONVERSO TERMOQUMICA
As tecnologias de converso trmica de biomassa podem agregar
valor e se tornar uma excelente alternativa para valorizao de resduos agroindustriais pois transformam a energia qumica acumulada dentro da
biomassa slida em produtos energticos atravs do calor. Processos de converso termoqumica de resduos agroindustriais tm sido alvo de vrias pesquisas e estudos. Os principais processos so a combusto,
gaseificao e a pirlise. A combusto pode ser definida como fenmeno de oxidao de
completa da biomassa com a finalidade de desprendimento de calor pois
a mesma uma reao qumica de carter exotrmica e irreversvel. Geralmente oxignio puro ou ar atmosfrico utilizado na oxidao
completa da biomassa gerando dixido de carbono e gua. O calor
35
produzido pode ser utilizado para aplicao direta ou para gerao de
potncia. um processo aplicado industrialmente, porm dependendo das propriedades do combustvel e dos parmetros de operao
possvel gerar formar poluentes como NOx, compostos orgnicos volteis (COVs), hidrocarbonetos aromticos policclicos (HPA) e material particulado (BIGNAL; LANGRIDGE; ZHOU, 2008).
O processo de gaseificao caracteriza-se pela oxidao parcial do carbono presente nos combustveis a altas temperaturas na presena de um oxidante, que geralmente pode ser ar, dixido de carbono,
oxignio puro ou vapor de gua, em razo estequiomtrica menor que a necessria para que ocorra a combusto completa. Neste processo
formado o chamado gs de sntese (H2 e CO), alm de CH4 e CO2. Existe uma gama de aplicaes para a utilizao do gs de sntese produzido a partir de biomassa e por possuir caractersticas fsicas e
qumicas semelhantes a gs de sntese derivado de combustveis fosseis permite a integrao de conceitos de biorefinaria base de gaseificao em instalaes convencionais baseadas na utilizao gs de sntese de
origem fssil (ARVIDSSON; MORANDIN; HARVEY, 2015). A pirlise a decomposio trmica de materiais na ausncia de
oxignio, ar ou qualquer outro agente oxidante. Nestas circunstncias ocorrem reaes complexas de transformaes fsicas e qumicas e por meio delas so produzidos combustveis slidos (biochar), lquidos (bio-
leo) e gases. A grande vantagem da pirlise a no gerao de resduos, pois seus produtos podem ser aplicados em processos para obteno de energia. A pirlise tambm pode atuar como passo inicial
para outros processos como a gaseificao e a combusto. O foco do presente estudo est na pirlise, logo a seguir ser
apresentada uma breve descrio deste processo enaltecendo os aspectos
mais relevantes e recentes desta tecnologia.
2.3 PIRLISE As propores de lignina, celulose, hemicelulose, extrativos
orgnicos e cinzas so diferentes para cada tipo de biomassa isso favorece a complexidade do processo de pirlise, j que vrias reaes acontencem paralelamente e em srie. Em suma a pirlise pode ser
dividida em trs etapas, conforme representado na Figura 2-1. Sendo a primeira a etapa de secagem na qual ocorre a perda de umidade presente
na biomassa seguida da pirlise primria e a secundria.
36
Figura 2-1 Representao das etapas da pirlise: secagem, pirlise
primria e pirlise secundria.
Fonte: Modificado de Neves et al. (2011) apud Pacioni (2013).
A biomassa lignocelulsica quando submetida a um aumento de
temperatura na ausncia de um agente oxidante, pode gerar diferentes
componentes qumicos, mais leves que sua composio original, sendo os condensveis o alcatro 1 e a gua 1, o produto slido rico em carbono char 1 e dos produtos gasosos gases permanentes 1. Essa
etapa chamada pirlise 1 e fica condicionada a temperaturas em torno de 500 C. Seguindo com o incremento de temperatura vrias reaes ocorrem no sistema como craqueamento, desidratao, reforma,
condensao, polimerizao, oxidao e gaseificao. Esse conjunto de reaes chamado de pirlise secundria. Os produtos gasosos so
constitudos de gases combustveis (H2, CO, CH4 e outros hidrocarbonetos leves no condensveis) e no-combustveis como o CO2. A frao dos compostos orgnicos condensveis chamado
genericamente de alcatro ou bio-leo e o resduo slido de char ou biochar.
2.3.1 Bio-leo
Na pirlise de biomassas, o bio-leo obtido por resfriamento rpido e condensao dos gases volteis gerados. O bio-leo um combustvel renovvel e pode ser uma alternativa aos combustveis
derivados do petrleo. Alm disso geralmente o bio-leo apresenta
37
capacidade de lubrificao e so menos txicos e mais biodegradveis
do que os combustveis de petrleo (LU; LI; ZHU, 2009). O bio-leo um liquido de cor escura e com odor de fumaa,
sendo uma mistura complexa de diferentes espcies qumicas derivadas da despolimerizao e da fragmentao dos principais componentes da biomassa que so a celulose, hemicelulose e a lignina. Em geral o bio-
leo contm grande quantidade de oxignio em vrios grupos funcionais, tornando-o termicamente instvel e no podem ser fracionados por meio de tcnicas convencionais tais como a destilao
(BERTERO; DE LA PUENTE; SEDRAN, 2012). A composio qumica do bio-leo depende de vrios fatores
como tipo de biomassa, condies de preparo da biomassa, condies de pirlise e do mtodo de condensao para obteno do bio-leo. Logo, o mesmo apresenta uma grande gama de compostos qumicos tornando-se
muito atrativo para mltiplas aplicaes. Em geral no bio-leo so encontrados compostos orgnicos como cidos, lcool, teres, cetonas, aldedos, fenis, steres, acares, furanos, compostos nitrogendos,
entre outros. O bio-leo pode ser utilizado combustvel ao ser misturado ao
diesel (JIANG; ELLIS, 2010), pode ser refinado para obteno de produtos de maior valor agregado (EFFENDI; GERHAUSER; BRIDGWATER, 2008; XIU; SHAHBAZI, 2012), como precursores
para a produo de hidrocarbonetos em unidades de reao cataltica (GAYUBO et al., 2010; VALLE et al., 2010), submetido a reforma a vapor para a obteno de hidrognio (REMIRO et al., 2013; VALLE et
al., 2013; WU; WILLIAMS, 2010) ou utilizados em caldeiras, fornos e turbinas para produo de energia (BRIDGWATER, 2006).
Todavia, o bio-leo possui algumas propriedades indesejveis
que limitam seu uso direto em processos de combusto, como elevado teor de gua, cinzas e oxignio (baixo valor de aquecimento), alta
viscosidade e tenso superficial, , instabilidade qumica e trmica, alta corrosividade (acidez) e baixas propriedades de ignio e combusto (LU; LI; ZHU, 2009). Essas propriedades fsicas e qumicas resultam da
composio qumica do bio-leo, que uma mistura complexa de vrias centenas de compostos orgnicos, incluindo principalmente cidos, lcoois, aldedos, steres, cetonas, fenis e oligmeros derivados da
lignina. Alguns destes compostos esto diretamente relacionados com as propriedades indesejveis do bio-leo (XIU; SHAHBAZI, 2012).
Com o intuito de minimizar algumas dessas propriedades indesejadas, processos de melhoramento (upgrade) so utilizados visando a utilizao do bio-leo como combutvel lquido ou matria-
38
prima qumica para biorrefinaria para extrao de produtos qumicos de
alto valor agregado. O objetivo desses processos em geral a converso de compostos oxigenados em hidrocarbonetos que so encontrados em
combustveis derivados do petrleo e cumprem as especificaes rigorosas que so necessrias para sua utilizao como biocombustvel.
Na literatura so reportadas vrias tecnologias para upgrade do
bio-leo como craqueamento cataltico utilizando zolitas, hidrodesoxigenao, reforma a vapor, esterificao, extrao de fluidos supercrticos, adio de solventes, emulsificao e a extrao de
compostos. Porm a tecnologia que tem maior potencial futuro a hidrodesoxigenao ou hidrotratamento, pois um processo que j est
bem estabelecido por ser utilizado em refinarias de petrleo tornando-o economicamente vivel, com os preos de produo equivalente ao petrleo bruto convencional porm existem problemas com a
formulao ideal dos catalisadores utilizados e problemas com desativao. Alm disso, os mecanismos de reao e a qumica dentro da hidrodesoxigenao no so claramente conhecidos (GOLLAKOTA
et al., 2016; SABER; NAKHSHINIEV; YOSHIKAWA, 2016). Segundo Xu et al. (2009) a respeito das principais tecnologias
empregadas para upgrade do bio-leo, a adio de solvente parece ser o mtodo mais prtico devido sua simplicidade, ao baixo custo de alguns solventes e aos seus efeitos benficos sobre as propriedades do leo. No
entanto, nenhuma destas tcnicas de upgrade do bio-leo foi comercializado devido baixa eficincia do biocombustvel e de suas limitaes.
Em geral, para identificao dos compostos qumicos presentes no bio-leo realizada cromatografia gasosa acoplada a espectrometria de massas (GC/MS). Doumer et al. (2015) investigaram a composio
do bio-leo produzido na pirlise lenta da torta de mamona utilizando esse mtodo. Os principais compostos encontrados foram substncias
oxigenada como fenis resultantes da pirlise da lignina e cido graxos saturados que provavelmente permaneceram aps a extrao do leo das sementes da mamona para produo de biodiesel.
Silva et al. (2014) pesquisaram a composio do bio-leo obtido na pirlise lenta da torta de mamona por meio da cromatografia gasosa bidimensional abrangente acoplada a espectrometria de massas por
tempo de voo (GCGC-TOFMS). Foram identificadas diferentes classes de substncias: hidrocarbonetos (parafinas, olefinas e aromticos),
substncias nitrogenadas (nitrilos, anilinas, quinolinas, indoles, piridina, pirazinas, pirroles, carbazoles, acridina), substncias oxigenadas (fenis,
39
cidos, cetonas, steres, furanos, indenol) e substncias que contm
enxofre (dissulfureto, tiofenos). Na literatura no foram encontrados trabalhos que reportam a
composio do bio-leo obtido da pirlise das vagens da algaroba. Bertero, De La Puente e Sedran (2012) avaliaram a composio do bio-leo obtido da pirlise da serragem da madeira da P. Juliflora em um
GC/MS e encontraram vrios tipos qumicos como cidos, steres, aldedos lineares e cetonas, cetonas cclicas, furanos, lcoois, acares, fenis, e outros compostos oxigenados cclicos, hidrocarbonetos, teres
e compostos nitrogenados. Suriapparao, Pradeep e Vinu (2015) estudaram a produo do
bio-leo por meio da pirlise em micro-ondas de ramos da madeira da P. Juliflora. Os compostos foram identificados por meio da cromatografia gasosa bidimensional acoplada a espectrometria de
massas (2D-GC/MS). Os compostos identificados foram classificados em sete grupos principais: guaiacis, seringis, fenis simples, hidrocarbonetos aromticos, cetonas, cidos e lcoois, derivados de
furano e ciclopentanonas.
2.3.2 Gases no condensveis
A decomposio trmica da biomassa por meio da pirlise gera gases com baixo peso molecular, como CO, CO2, CH4, H2 e
hidrocarbonetos com cadeias pequenas como C2HX (FAGBEMI; KHEZAMI; CAPART, 2001). O gs piroltico um combustvel com alto valor energtico podendo abastecer metade da energia mxima
demandada durante a pirlise (NINGBO et al., 2015). A cromatografia gasosa uma tcnica bem estabelecida para a
caracterizao dos produtos gasosos. WATANABE et al. (2014)
coletaram uma poro do gs efluente da pirlise a vapor de uma biomassa residual oriunda da extrao de leo de uma microalga em uma seringa e analisaram o gs piroltico por cromatografia gasosa
(GC). As concentraes de CO, CO2 e CH4 foram determinados por GC-FID com um metanador acoplado e a concentrao de H2 foi
determinada por GC-TCD.
2.3.3 Biochar
Alm da pirlise, o biochar tambm pode ser produzido na forma slida atravs da carbonizao a seco ou gaseificao de biomassas ou na forma de lama em meio aquoso por meio da
40
carbonizao hidrotrmica de biomassa sob presso (AHMAD et al.,
2014). Do ponto de vista ambiental cabe destacar que o biochar largamente utilizado para melhoria do solo (BERA et al., 2016; CAO et
al., 2016b; GB et al., 2016; KOOKANA et al., 2011; METE et al., 2015; MOHAMED et al., 2016; MOLNR et al., 2015).
Alm disso, por ser um slido carbonceo poroso o biochar
tambm tem sido amplamente aplicado na remoo de vrios poluentes como a atrazina (CAO; HARRIS, 2010); metais pesados e fenol (HAN et al., 2013); tricloroetileno (AHMAD et al., 2012); pentaclorofenol
(DEVI; SAROHA, 2015); sulfeto de hidrognio (SHANG et al., 2013); carbofuran (VITHANAGE et al., 2016). Com o intuito de se utilizar o
biochar no processo adsoro necessrio compreender seus principais parmetros fsico-qumicos como rea de superfcie, porosidade, umidade e teor de cinzas, funcionalidade da superfcie e composio
elementar. Do ponto de vista energtico, o biochar pode ser utilizado em
processos como combusto (LIU et al., 2014; ZHU et al., 2015b) ou
gaseificao. Ou ainda aplicado em clula combustvel de carbono direto (DCFC), que converte o combustvel carbonceo slido
diretamente em energia eltrica (KACPRZAK et al., 2014).
2.3.4 Adsoro de dixido de carbono em biochars
Vrios adsorventes a base de carbono oriundos so utilizados para captura de CO2. Em geral eles so oriundos de biomassas residuais pois alternativas para seu aproveitamento so de grande interesse. Vrios
trabalhos utilizam carvo ativado, principalmente oriundos de biomassas residuais, como adsorvente na captura de CO2, como: a serragem da Paulina (ZHU et al., 2014); caroos de azeitona (GONZLEZ et al.,
2013; PLAZA et al., 2014); cascas de amndoas (GONZLEZ et al., 2013); haste do milho (SONG et al., 2015); misturas de quatro
diferentes biomassa residuais: cortes de grama, esterco de cavalo, resduos orgnicos da produo de cerveja e bio-lamas provenientes de uma estao de tratamento de guas residuais de uma empresa de papel
e celulose (HAO et al., 2013); e casca do coco (ELLO et al., 2013; RASHIDI et al., 2014).
A anlise termogravimtrica amplamente reportada na literatura
para determinao das curvas de adsoro e dessoro de CO2, pois ela permite a medio da variao da massa da amostra em estudo em
funo do tempo em temperatura constante (mtodo isotrmico) ou em funo da temperatura (mtodo no isotrmico). Shafeeyan et al. (2011)
41
mostraram que o carvo ativado a base de casca de palma captura de
CO2 em torno de 48 mgg-1
em um analisador termogravimtrico (TGA).
Rashidi, Yusup e Hameed (2013) utilizaram vrios tipos de resduos agrcolas para produo de carvo ativado para adsoro de CO2 num TGA. Os carves ativados preparados a partir da fibra e da
casca do coco a 900 C apresentaram capacidades de captura na temperatura de 25 C de 60 e 79 mgg
-1, respectivamente. A cintica de
adsoro foi modelada atravs dos modelos de pseudo primeira ordem,
pseudo segunda ordem, Elovich e difuso intrapartcula. A partir do coeficiente de correlao, os autores verificaram que o modelo de
pseudo-segunda ordem se ajustou bem aos dados cinticos. Alm disso, a energia de ativao abaixo de 42 kJmol
-1 confirmou que o processo de
adsoro um processo fsico.
Porm, o biochar, por possuir baixo custo, abundncia relativa e habilidades adsorventes comparativas ao carvo ativado, se torna um potencial substituto do mesmo em processos de remediao ambiental e
tratamento de poluentes (KEARNS et al., 2014). Alm disso, por no ter sofrido nenhuma modificao ou ativao em sua superfcie para
melhorar suas propriedades adsorventes, seu custo relativamente menor que o custo de produo dos carves ativados. No geral, os principais custos da produo do biochar esto inseridos no processo de
coleta e preparo da biomassa e da operao de pirlise (ROBERTS et al., 2010). O custo estimado para o biochar de US$ 246 por tonelada enquanto que o do carvo ativado de US$ 1500 por tonelada
(AHMAD et al., 2012), destacando o quanto o biochar uma alternativa de baixo custo para ser utilizado como adsorvente.
Ghani et al. (2013) pirolisaram a serragem da seringueira para
produo de biochar nas temperaturas de 450, 550, 650, 750 e 850 C e utilizaram para adsoro de CO2. Os autores constataram que a
quantidade adsorvida aumentou entre os produzidos de 450 a 650 C, mas depois diminui com o aumento da temperatura de pirlise. Eles chegaram a concluso de que o biochar produzido representa um
material alternativo potencial para captura de CO2. Creamer, Gao e Zhang (2014) estudaram a adsoro de CO2 em
biochars produzidos a partir da pirlise em 300, 450 e 600 C de duas
biomassas residuais: o bagao de cana e a madeira de nogueira. A cintica de adsoro de CO2 foi determinada em um TGA a 25 e 75 C.
O modelo cintico de pseudo segunda ordem foi o que melhor se ajustou aos dados experimentais e os biochars produzidos a 600C tiveram melhor desempenho captura de CO2 (73,55 mg.g
-1 a 25 C para o
42
biochar de bagao de cana). Os resultados experimentais sugeriram que
o CO2 fracamente ligado superfcie do biochar atravs de adsoro fsica e que a estrutura porosa e a presena de grupos nitrogendos na
superficie do biochar tiveram papeis importantes na adsoro de CO2. Huang et al. (2015) produziram biochar por pirlise em micro-
ondas da palha de arroz e estudaram o potencial de captura de CO2 em
um TGA. Os autores conseguiram uma capacidade mxima de adsoro de CO2 de 80 mgg
-1 a 20 C. Alm disso, a capacidade de adsoro de
CO2 foi altamente correlacionada com a rea de superfcie especfica de
biochar e a baixa energia de ativao encontrada evendencia que a adsoro de CO2 sobre o biochar deve ser um processo fsico. O modelo
cintico de pseudo segunda ordem se ajustou bem aos dados experimentais.
2.3.5 Gaseificao de biochars com CO2 Como visto anteriormente, a pirlise pode atuar como passo
inicial na reao de gaseificao, pois ela remove os volteis na forma de gases CO, CO2, H2, hidrocarbonetos leves e alcatro. Nesse contexto,
a produo de biochars oriundo de biomassas residuais visando sua utilizao em reaes de gaseificao vem sendo realizado pelo grupo de pesquisa do LEMA/UFSC (VIRMOND, 2011; CONSUEGRA, 2013;
PACIONI, 2013). Alm desses, vrios outros trabalhos so reportados na literatura para essa aplicao utilizando uma gama de biomassas como precursores na produo de biochars para posterior gaseificao,
como casca de arroz (FU et al., 2012); madeiras (ASADULLAH et al., 2010; DUPONT et al., 2011); cascas de sementes de pinheiro (SENNECA, 2007); lodo de esgoto (GIL-LALAGUNA et al., 2014);
bagao de cana-de-aucar (EDREIS; YAO, 2016). Seo et al. (2010) utilizaram o char produzido por meio da pirlise
da biomassa Pinus densiflora para gaseificao isotrmica com CO2. Os modelos homogneo, modelo do ncleo no reagido e o modelo de poros randmicos foram utilizados para ajuste dos dados experimentais
da cintica de gaseificao, sendo o melhor ajuste encontrado para o modelo de poros randmicos. Pela linearizao da Equao de Arrhenius foram encontrados a energia de ativao (Ea) e o fator pr-
exponencial (k0) para os trs modelos. Bouraoui et al. (2015) avaliaram a gaseificao em CO2 de vrios chars produzidos por meio da pirlise
de diferentes biomassas lignocelulsicas. Para determinao da cintica da gaseificao, a anlise
termogravimtrica uma tecnica bastante utilizada na literatura, pois ela
43
permite o monitoramento da reao heterognea gs-slido por meio dos
dados de variao da massa ao decorrrer do tempo so coletados pelo equipamento. Tangsathitkulchai, Junpirom e Katesa (2013) e Wang et
al. (2013) estudaram a gaseificao de chars produzidos da casca do coco e de madeira e resduo florestal, respectivamente, em CO2 utilizando um TGA. Lpez-Gonzlez et al. (2014) avaliaram a cintica e
a produo de gs durante a reao de gaseificao de chars produzidos da pirlise de trs biomassas lignocelulsicas por meio de um TG-MS. Min et al. (2011) pirolisou dois tipos de resduos agrcolas (palha de milho e palha de trigo) e estudou a gaseificao com CO2 do chars produzido em TGA.
44
3 MATERIAIS E MTODOS De forma a facilitar o acompanhamento das atividades
realizadas, os dados expostos nos Captulo 3 e 4 seguiro a mesma ordem mostrada neste fluxograma. Na Figura 3-1 mostra o fluxograma do planejamento das atividades adotado nesta dissertao.
Figura 3-1 Fluxograma com o planejamento das atividades deste estudo.
3.1 PREPARO DAS BIOMASSAS Os resduos agroindustriais avaliados neste estudo foram a torta
da mamona (TM) e o bagao das vagens da algaroba (VA), resduos gerados na produo de biodiesel e na produo de etanol,
respectivamente. A torta da mamona foi cedida por Antonio Silvio do Egito Vasconcelos da Embrapa Caprinos e Ovinos CNPC sendo oriunda da OLVEQ - INDSTRIA E COMRCIO DE LEOS
VEGETAIS LTDA. O bagao das vagens de algaroba foi cedido pelo
Laboratrio de Produtos e Fermentos Destilados (LPFD) do Centro de Tecnologia da Universidade Federal da Paraba (UFPB).
Ambas as amostras foram repassadas para o Laboratrio de Energia e Meio Ambiente, do Departamento de Engenharia Qumica e Engenharia de Alimentos da Universidade Federal de Santa Catarina
(LEMA/UFSC). As biomassas utilizadas neste trabalho foram previamente
modas com auxlio do moinho IKA A11 Basic e peneiradas at um tamanho de partcula inferior a 300 m, posteriormente acondicionados em frascos vedados at o momento da aplicao. Antes de cada
experimento, as amostras foram secas na temperatura de 105 C, utilizando-se o equipamento Moisture Analyser modelo MX-50.
3.2 CARACTERIZAO
As amostras estudadas foram caracterizadas atravs da anlise
imediata (umidade, cinzas, matria voltil, carbono fixo), anlise elementar (C, H, N, S e O por diferena), microscopia eletrnica de
varredura acoplado com espectroscopia por disperso de energia de raios-X (MEV/EDS), espectroscopia no infravermelho com transformada de Fourier (FTIR) e propriedades texturais. Antes de cada
anlise de caracterizao, todas as amostras em estudo foram fragmentadas e peneiradas para um tamanho menor que 106 m.
3.2.1 Anlise imediata A anlise imediata das amostras estudadas foi realizada no
Laboratrio de Energia e Meio Ambiente (LEMA/UFSC), segundo a metodologia ASTM E-1131 (ASTM, 2003), em um TGA modelo DTG-
60 da marca Shimadzu. Foram determinados os teores de umidade (U), cinzas (CZ), matria voltil (MV) e carbono fixo (CF) das amostras slidas estudadas. O procedimento consistiu na utilizao de
aproximadamente 40 mg de amostra com tamanho de partcula menor do que 106 m e vazo de nitrognio (99,996% de pureza mnima) e ar sinttico (99,999% de pureza mnima) de 100 mLmin
-1. Os testes foram
feitos em duplicata. Diferentes nveis de temperatura foram utilizados como descrito na Tabela 3-1, onde o primeiro segmento representa a
etapa de purga da cmara de reao do analisador termogravimtrico. Os demais segmentos foram utilizados para determinar as fraes de
46
umidade (at 110 C com N2), matria voltil (950 C com N2), carbono fixo (800 C com ar sinttico) e cinzas. Tabela 3-1 Programao utilizada no analisador termogravimtrico para
anlise imediata no DTG-60 da Shimadzu.
Segmento
Taxa de
aquecimento
(Cmin-1
)
Temperatura
(C)
Tempo
(min) Gs de arraste
1 10 35 60
N2
2 50 50 5 N2
3 50 110 5 N2
4 90 950 15 N2
5 -90 800 0 N2
6 0,10 800 At massa
constante Ar sinttico
3.2.2 Anlise elementar
A anlise elementar das biomassas brutas e dos respectivos biochars foi realizada no Laboratrio de Valorao de Resduos (LabValora) do Instituto de Engenharia e Tecnologia (IDT), localizado
na Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC) em um equipamento da marca Perkin Elmer modelo 2400 Series II CHNS/O Elemental Analysis. O procedimento analtico baseado no mtodo
clssico de Pregl-Dumas, quando amostras so queimadas em um ambiente de oxignio ultrapuro, com os gases resultantes da combusto sendo medidos por cromatografia frontal aps as etapas de combusto,
reduo, mistura, separao e deteco. Na tcnica de cromatografia frontal os gases so analisados por um detector de condutividade
trmica. O resultado expresso em percentual. O teor de oxignio foi calculado por diferena entre o somatrio dos teores de C, H, N, S e cinzas.
3.2.3 Poder Calorfico
Tendo como base a anlise imediata foram realizadas estimativas tericas para o poder calorfico superior (PCS) atravs da
47
Equao (3-1), uma correlao desenvolvida (PARIKH; CHANNIWALA; GHOSAL, 2005) e do poder calorfico inferior (PCI)
dos slidos estudados.
(
3-1)
Sendo o PCS dado em kJkg
-1, e CF, MV e CZ a frao mssica
de carbono fixo, matria voltil e o teor cinzas na amostra,
respectivamente. O valor do PCI encontrado descontando a energia retida pela gua na forma de vapor, formada pela combusto do
hidrognio e a umidade presente na amostra do PCS, conforme a Equao (3-2).
(
) (3-2)
Onde hg o calor latente de vaporizao da gua, H a frao
mssica de hidrognio no slido e U a frao de umidade no slido.
3.2.4 rea superficial e volume de poros Com o objetivo de determinar a rea superficial e o volume de
poros, as amostras estudadas foram caracterizadas por adsoro de N2 a 77 K, utilizando o instrumento da Quantachrome Instruments, modelo Nova 1200e Surface Area and Pore Size Analizer, disponvel no
Laboratrio de Valorao de Resduos (LabValora) do Instituto de Engenharia e Tecnologia (IDT), localizado na Universidade do Extremo
Sul Catarinense (UNESC). O mtodo fundamenta-se na teoria de BET.
3.2.5 MEV A morfologia superficial das amostras estudadas foi obtida por
microscopia eletrnica de varredura (MEV), em um aparelho JEOL
JSM-6390LV Scanning Electron Microscope, no Laboratrio Central de Microscopia Eletrnica (LCME) da UFSC. As amostras foram montadas
sobre uma plataforma metlica, utilizando-se fita de carbono dupla face e em seguida, coberta com uma fina camada de ouro. As condies
48
analticas utilizadas na anlise foram: resoluo nominal de 1000 x e 3000 x e voltagem de acelerao do feixe 15 kV.
3.2.6 Anlise por espectroscopia na regio do infravermelho
A Espectroscopia de Infravermelho com Transformada de Fourier (Fourier Transform Infrared Spectroscopy - FTIR) foi utilizada
para identificar os tipos de grupos funcionais qumicos presentes nas amostras estudadas. O equipamento utilizado foi um espectrofotmetro (modelo Cary 600 Series FTIR Spectrometer, Agilent Technologies) da
Central de Anlises do Departamento de Engenharia Qumica e Engenharia de Alimentos da UFSC. A amostra seca foi preparada na forma de pastilha por prensagem com uma poro de Brometo de
potssio (KBr) de grau analtico sob vcuo.
3.3 PIRLISE Os ensaios de pirlise para as duas biomassas residuais foram
conduzidos no Laboratrio de Energia e Meio Ambiente (LEMA/UFSC), em escala de bancada tornando necessria uma srie de bateladas em cada condio experimental, at a obteno de quantidade
suficiente de produtos para a caracterizao e anlises posteriores.
3.3.1 Equipamentos O sistema utilizado foi um reator de leito fixo de quartzo
aquecido, dentro do qual a amostra de biomassa posicionada, inserido em um forno eltrico tubular (modelo MOD DI-600RP, DIST) com potncia de 2300 W com temperatura mxima de operao de 1150 C
acoplado a um controlador de temperatura digital microprocessado com autossintonia PID. A Figura 3-2 mostra o esquema geral do sistema experimental que ainda inclui o sistema de gs de arraste que utiliza
nitrognio (pureza de 99,996%, White Martins), uma vlvula agulha e um rotmetro para controlar o fluxo, um termopar tipo K (Ecil) inserido
no reator e ligado a um multmetro digital Minipa (modelo MT-525) para monitorar a temperatura da amostra ao longo da pirlise, alm de um condensador de ao inox em srie com tubulao de sada de gs e
produtos, acomodado dentro de uma armadilha fria. Para coleta dos gases no condensveis da pirlise foi utilizado armadilha fria a -20 C formada pela mistura entre etanol (pureza de 96 GL, Synth) e gua
49
destilada. Para recuperao do bio-leo foi utilizado um banho criognico com nitrognio lquido.
Figura 3-2 Esquema geral do sistema experimental utilizado para pirlise das
biomassas.
Legenda: 1 Cilindro de Nitrognio; 2 Vlvula agulha; 3 Rotmetro; 4 Reator de
quartzo; 5 Forno tubular; 6 Medidor e controlador de temperatura do forno;
7 Condensador de ao inox; 8 Medidor de temperatura da amostra. Fonte: Pacioni (2013).
A Tabela 3-2 apresenta as condies experimentais que foram
utilizadas nos experimentos para as duas biomassas. Em todos os casos, a vazo do gs de arraste foi de 400 mL
.min
-1, a presso do sistema foi
de 1 atm e as partculas foram utilizadas com tamanho menor do que 300 m.
Tabela 3-2 Condies experimentais utilizadas nos ensaios de pirlise para as biomassas.
Amostra Gs Vazo
(mLmin-1
)
Temperatura
(C)
Presso
(atm)
TM 700
N2 400
700
1 TM 900 900
VA 700 700
VA 900 900
3.3.2 Procedimento As etapas seguidas para a realizao da pirlise foram:
50
1. Determinao da massa da amostra entre 1,0 e 1,1 g e secagem da amostra na balana de umidade (modelo MX-50, Moisture
Analyser); 2. Posicionamento da amostra no tubo interno do reator e encaixe das
peas do reator e das tubulaes de entrada e sada de gs;
3. Purga com nitrognio (400 mLmin-1
) em temperatura ambiente por 15 minutos;
4. Insero do reator no forno previamente pr-aquecido nas temperaturas finais e tempo de residncia no reator de 5 min;
5. Retirada do reator de dentro do forno, mantendo a passagem do gs de arraste at a amostra atingir temperatura ambiente;
6. Coleta dos produtos: a. Produtos slidos: pesagem da massa final e
acondicionamento dos biochars. b. Produtos lquidos: coleta em um condensador de ao inox
com tubo de ensaio em seu interior para coleta do bio-leo. c. Produtos gasosos: coleta em sacos de amostragem (Tedlar
bags) com volume de 2 L.
A temperatura da amostra tambm foi monitorada em intervalos de 1 minuto. A Figura 3-3 mostra o comportamento mdio da temperatura em funo do tempo durante a pirlise.
Figura 3-3 Comportamento das temperaturas das amostras durante os ensaios
de pirlise.
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
1000
0 2 4 6 8 10
Tem
per
atura
(C
)
Tempo (min)
TM 900
TM 700
VA 900
VA 700
51
As taxas de aquecimento, (Cmin-1
), foram calculadas a
partir da Equao (3-3).
(3-3)
Onde, t1 e t2 so os tempos inicial e final do aquecimento, e T1 e T2 so as temperaturas em t1 e t2, respectivamente. A Tabela 3-3 mostra
as taxas mdias obtidas:
Tabela 3-3 Taxa de aquecimento real dos ensaios de pirlise.
Biochar
TM 700
Biochar
TM 900
Biochar
VA 700
Biochar
VA 900
(Cmin-1
) 161,38 225,36 158,57 222,23
3.3.3 Anlise dos bio-leos Foram utlizados 5 mL de acetona (pureza mnima de 99,5 %,
Lafan) como solvente para recuperao do bio-leo. A composio relativa dos bio-leos coletados foi analisada qualitativamente por cromatografia gasosa (equipamento modelo GC 2010, Shimadzu)
acoplada espectroscopia de massas (modelo QP 2010, Shimadzu), no Laboratrio de Energia e Meio Ambiente (LEMA/UFSC). Hlio 5.0
analtico (pureza mnima de 99,999%, White Martins) foi utilizado como gs de purga com vazo de purga de 3 mLmin
-1 e como gs de
arraste com vazo constante na coluna de 1,15 mLmin-1
. O volume
injetado foi de 4,0 L para todas as anlises no modo Split, sendo efetuadas por injetor automtico do equipamento (modelo AOC-20i, Shimadzu).
No cromatgrafo foi utilizada uma coluna capilar de slica fundida (RTX-5MS, Restek) composta por 5% difenil 95%
dimetilpolissiloxano como fase estacionria, medindo 30 m de comprimento, 0,25 mm de dimetro e 0,25 m de espessura de filme.
Conforme apresentado na Tabela 3-4, o programa de
temperatura comeou a 40 C durante 5 min, em sequncia foi aumentada com taxa de 2 Cmin
-1 at 180 C e mantida nessa
temperatura por 1 min. Por ltimo, foi aplicada uma taxa de
aquecimento de 15 Cmin-1
at 300 C permanecendo nessa temperatura
52
por 1 min. O tempo total de anlise foi de 85 min. O espectrmetro de massas foi operado em modo de ionizao por impacto de eltrons (EI),
com uma energia de ionizao de 70 V, em modo de varredura de ons totais (full scan). A voltagem da multiplicadora de eltrons foi mantida conforme autotunning e com corte de solvente (acetona) de 5,0
min e a aquisio de dados de 5 85,0 min.
Tabela 3-4 Condies cromatogrficas para anlise no cromatgrafo
gasoso acoplado espectroscopia de massas.
Cromatgrafo Gasoso
Modo de Injeo Split (1:20)
Tinjetor (C) 250 FHe (mLmin
-1) 1,15
Rampa de Aquecimento
Patamar 1 Patamar 2 Patamar 3
(C.min-1
) - 2 15
Tcoluna (C) 40 180 300
(min) 5 1 1
Espectrometro de massas
Tfonte de ons (C) 250 Modo de varredura Full scan
Monitoramento ons (m/z) 35-600
Fonte: Adaptado de Languer (2015).
3.3.4 Anlise dos produtos gasosos da pirlise
Os produtos gasosos produzidos durante a pirlise das biomassas
residuais foram identificados e quantificados num cromatgrafo gs GC-TCD/FID (modelo GC-2014ATFSPL, Shimadzu) com um metanador acoplado (MTN-1, Shimadzu). Para tanto foi utilizada uma
coluna empacotada CarboxenTM 1000 60/80 mesh, 151/8 SS (dimetro interno de 2,1 mm). O metanador adaptado em linha permitiu
a converso dos gases CO e CO2 para CH4, possibilitando quantificar a presena destes gases no FID em baixas concentraes. Os gases analisados foram o H2, CO, CO2 e CH4. Na Tabela 3-5 so apresentadas
as principais caractersticas do cromatgrafo e de seus componentes.
53
Tabela 3-5 Condies cromatogrficas de anlise no cromatgrafo gasoso da Shimadzu.
Cromatgrafo Gasoso
Temperatura 10-400 C Taxa de aquecimento 7-30 Cmin
-1
Taxa de resfriamento < 6 min (de 300 C para 50 C)
Presso 0-970 kPa Unidade de injeo de amostra Injetor duplo e capilar (Split/splitless)
Coluna Packed analysis e Capillary analysis - MDQ
Detector TCD e FID
Controlador de fluxo de gs de arraste
AFC
Fluxo 0-1200 mLmin-1
Metanador MTN-1
Temperatura 100-450 C
Catalisador Shimalite-Ni
Fonte: Di Domenico (2013).
A etapa inicial de anlise consistiu na calibrao do equipamento
utilizando misturas gasosas padro de CO, CH4, CO2 e H2 diludas em Argnio (99,999% de pureza mnima) que foi utilizado como gs de arraste a uma vazo de 30 mLmin
-1. As condies experimentais
utilizadas para anlise so apresentadas na Tabela 3-6.
Tabela 3-6 Condies operacionais utilizadas para anlise dos produtos gasosos no cromatgrafo gasoso (TCD/FID).
FAr (mLmin-1
) 30
Tinjetor (C) 210 Tdetector (C) 220
Corrente TCD (mA) 45 Tmetanador (C) 400
Rampa de aquecimento
Patamar 1 Patamar 2 Taxa aq. (Cmin
-1) - 20
Tcoluna (C) 180 210
(min) 1 2,5
Fonte: Adaptado de Languer (2015).
As curvas de calibrao foram feitas por meio de injees manuais de 0,2, 0,5 e 1,0 mL dos padres analticos 1 (CO, CO2 e CH4)
54
e 2 (H2), fornecidos pela White Martins. Na Tabela 3-7 so apresentadas as concentraes iniciais dos padres utilizados.
Tabela 3-7 Concentrao dos padres analticos.
Padro 1 Padro 2
CO CH4 CO2 H2
Concentrao (% molmol
-1)
4,010 4,039 4,000 4,015
A identificao dos gases da pirlise foi realizada atravs da injeo manual de 1,0 mL dos gases por meio da comparao dos
tempos de reteno dos picos da amostra injetada com os picos dos padres analticos. A quantificao foi obtida por meio da curva de calibrao, onde foi calculada a concentrao (% molmol
-1) em base
livre de gs inerte (N2) para cada composto.
3.4 ANLISES TERMOGRAVIMTRICAS
Os ensaios de gaseificao com CO2 e de adsoro de CO2 foram
realizados no Laboratrio de Energia e Meio Ambiente (LEMA/UFSC), em um analisador termogravimtrico (modelo DTG-60/60H, Shimadzu,)
pelo mtodo isotrmico. Foram estudadas as cinticas de gaseificao com CO2 dos quatro biochars obtidos no processo de pirlise: biochars da torta da mamona (TM 700 e TM 900) e biochars do bagao das
vagens de algaroba (VA 700 e VA 900). Para estudo das cinticas de adsoro de CO2 aos quatros biochars obtidos da pirlise foi adicionado uma amostra de carvo ativado comercial (NORIT GCN 8X30) que foi
utilizado como padro de comparao. Este um carvo ativado granular produzido a partir cascas de coco triturada de 8x30 mesh.
A Figura 3-4 apresenta um esquema interno do equipamento
utilizado que composto por uma balana cujo sistema de equilbrio (mecanismo Roberval) permite alta preciso das medidas, prevenindo
mudanas na sensibilidade que poderiam ser ocasionadas por fatores como expanso trmica. O software do equipamento (Shimadzu Thermal Analysis Software TA-60WS) permite o controle automtico da
temperatura e da atmosfera.
55
Figura 3-4 Esquema representativo do funcionamento do analisador
termogravimtrico.
Fonte: Modificado de Shimadzu (2013).
A Tabela 3-8 contm as especificaes tcnicas do TGA
utilizado.
Tabela 3-8 Caractersticas do TGA modelo DTG-60/60H, Shimadzu.