64
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE TRANSPORTES CURSO DE ENGENHARIA CIVIL WILLIAN WEBER DE MELO ANÁLISE DE DIFERENTES ENSAIOS DE PERMEABILIDADE EM CONCRETOS POROSOS Santa Maria, RS 2017

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA …coral.ufsm.br/engcivil/images/PDF/2_2017/TCC... · Palavras–chave: Pavimentos Permeáveis; Concreto Poroso; Permeabilidade . LISTA DE FIGURAS

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA …coral.ufsm.br/engcivil/images/PDF/2_2017/TCC... · Palavras–chave: Pavimentos Permeáveis; Concreto Poroso; Permeabilidade . LISTA DE FIGURAS

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE TECNOLOGIA

DEPARTAMENTO DE TRANSPORTES

CURSO DE ENGENHARIA CIVIL

WILLIAN WEBER DE MELO

ANÁLISE DE DIFERENTES ENSAIOS DE PERMEABILIDADE

EM CONCRETOS POROSOS

Santa Maria, RS

2017

Page 2: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA …coral.ufsm.br/engcivil/images/PDF/2_2017/TCC... · Palavras–chave: Pavimentos Permeáveis; Concreto Poroso; Permeabilidade . LISTA DE FIGURAS

Willian Weber de Melo

ANÁLISE DE DIFERENTES ENSAIOS DE PERMEABILIDADE EM

CONCRETOS POROSOS

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado ao Curso de Engenharia Civil,

da Universidade Federal de Santa Maria

(UFSM, RS), como requisito parcial para

obtenção do título de Engenheiro Civil.

Orientadora: Prof.a Dr.aTatiana Cureau Cervo

Santa Maria, RS

2017

Page 3: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA …coral.ufsm.br/engcivil/images/PDF/2_2017/TCC... · Palavras–chave: Pavimentos Permeáveis; Concreto Poroso; Permeabilidade . LISTA DE FIGURAS

Willian Weber de Melo

ANÁLISE DE DIFERENTES ENSAIOS DE PERMEABILIDADE EM

CONCRETOS POROSOS

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado ao Curso de Engenharia Civil,

da Universidade Federal de Santa Maria

(UFSM, RS), como requisito parcial para

obtenção do título de Engenheiro Civil.

Aprovado em 27 de Novembro de 2017.

Tatiana Cureau Cervo, Dra. (UFSM)

(Orientadora)

___________________________________________________________________

Daniel Gustavo Allasia Piccilli, Dr. (UFSM)

Lucas Alves Lamberti, M. Sc. (UFSM)

Santa Maria, RS

2017

Page 4: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA …coral.ufsm.br/engcivil/images/PDF/2_2017/TCC... · Palavras–chave: Pavimentos Permeáveis; Concreto Poroso; Permeabilidade . LISTA DE FIGURAS

RESUMO

ANÁLISE DE DIFERENTES ENSAIOS DE PERMEABILIDADE EM

CONCRETOS DRENANTES

Nas últimas décadas, o aumento da população urbana no Brasil tem exigido

um aumento da infraestrutura das cidades, o que resulta em ampliação das vias, do

sistema de saneamento básico, aumento do número de residências, entre diversas

outras obras. Estas, muitas vezes, resultam na redução da área de solo permeável, o

que modifica o escoamento que passa por esta bacia hidrográfica. A

impermeabilização de grandes áreas resulta na redução da infiltração da água no solo,

o que, consequentemente, aumenta o escoamento superficial que ocorre durante

eventos de precipitação, de modo que ocorram maiores vazões de pico e aumentando

a probabilidade de ocorrência de grandes inundações, que gera inúmeras perdas

econômicas, materiais e humanas quando atinge os centros urbanos. Uma possível

solução para reduzir a ocorrência deste evento é o uso de pavimentos permeáveis,

que possuem a capacidade de armazenamento da água e gradual liberação desta,

reduzindo a possibilidade de ocorrência de enchentes. Em vista disso, este trabalho

analisa a permeabilidade de três traços de concretos drenantes, o primeiro composto

por agregado natural e cimento, o segundo com 15% da massa do agregado

substituído por fresado asfáltico e o terceiro com a substituição de 30% da massa de

agregado por fresado asfáltico. Foram realizados ensaios de resistência à tração na

flexão, conforme a NBR 12142 (2010) e ensaios de permeabilidade conforme as

normas ASTM C1701 (2009), NBR 13292 (1995) e NBR 14545(2000).Após a análise

dos resultados, foi possível concluir que todos os traços apresentaram resistência

superior a exigida pela norma e permeabilidade satisfatória.

AUTOR: Willian Weber de Melo

ORIENTADORA: Prof.a Dr.aTatiana Cureau Cervo

Palavras–chave: Pavimentos Permeáveis; Concreto Poroso; Permeabilidade

Page 5: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA …coral.ufsm.br/engcivil/images/PDF/2_2017/TCC... · Palavras–chave: Pavimentos Permeáveis; Concreto Poroso; Permeabilidade . LISTA DE FIGURAS

LISTA DE FIGURAS

Figura 2-1 – Medidas para controle de inundações .................................................. 15

Figura 2-2 – Hidogramas de bacia urbana e bacia rural ........................................... 16 Figura 2-3 – Valores de permeabilidade de solos ..................................................... 17 Figura 2-4 – Permeâmetro de carga constante. ........................................................ 18 Figura 2-5 – Permeâmetro de carga variável. ........................................................... 19 Figura 2-6 – Evolução do perfil de umidade em um solo. ......................................... 20

Figura 2-7 – Camadas de um pavimento permeável com concreto poroso. ............. 22 Figura 2-8 – Camadas de um pavimento de blocos vazados intertravados de concreto. .................................................................................................................................. 23 Figura 2-9 – Determinação do volume máximo de armazenamento. ........................ 30 Figura 3-1 – Curva granulométrica da brita utilizada ................................................. 37

Figura 3-2 – Moldes de PVC ..................................................................................... 39 Figura 3-3 – Moldes prismáticos ............................................................................... 40

Figura 3-4 – Consistência do concreto poroso antes da adição de 10% da água. .... 41 Figura 3-5 – Consistência do concreto poroso após a adição de 10% da água. ....... 41 Figura 3-6 – Corpos de prova na câmara úmida. ...................................................... 42 Figura 3-7 – Ensaio de infiltração utilizando plástico anexado ao molde de PVC. .... 43

Figura 3-8 – Segundo método utilizado para determinação da taxa de infiltração. ... 44 Figura 3-9 – Permeâmetro de carga variável ............................................................ 45 Figura 3-10 – Permeâmetro de carga constante. ...................................................... 46

Figura 3-11 – Representação do ensaio de resistência à tração na flexão. .............. 47 Figura 3-12 – Ensaio de resistência à tração na flexão. ............................................ 47

Figura 3-13 – Pesagem dos CPs para determinação do índice de vazios ................ 48 Figura 4-1 – Comparação da taxa de infiltração do traço com e sem fresado. ......... 50

Figura 4-2 – Comparação da taxa de infiltração entre os traços T0, T15 e T30. ...... 52 Figura 4-3 – Comparação entre ensaios de carga constante e variável. .................. 54

Figura 4-4 – Taxa de infiltração do traço com brita 0 ................................................ 55 Figura 4-5 – Resultados do ensaio de carga constante. ........................................... 56 Figura 4-6 – Resultados do ensaio de carga variável. .............................................. 56

Figura 4-7 – Comparação entre ensaios de permeabilidade – Traço B0. ................. 57 Figura 4-8 – Resultado do ensaio de tração na flexão, traço com e sem fresado. .... 58

Figura 4-9 – Resultado do ensaio de tração na flexão, traço T0, T15 e T30. ............ 59 Figura 4-10 – Resultado do ensaio de tração na flexão, traço com brita 0 ............... 60 Figura 4-11 – Relação entre índice de vazios x resistência à tração na flexão dos traços T0, T15 e T30. ................................................................................................ 61 Figura 4-12 – Relação entre taxa de infiltração e índice de vazios dos traços T0, T15 e T30. ........................................................................................................................ 62

Figura 4-13 – Relação índice de vazios x resistência para traço com brita 0. ........... 62

Figura 4-14 – Resultados médios dos traços T0, T15, T30 e B0. ............................. 63

Page 6: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA …coral.ufsm.br/engcivil/images/PDF/2_2017/TCC... · Palavras–chave: Pavimentos Permeáveis; Concreto Poroso; Permeabilidade . LISTA DE FIGURAS

LISTA DE TABELAS

Tabela 2-1 – Resultado dos ensaios de permeabilidade de BATEZINI (2013) ......... 26

Tabela 2-2 – Resultados do ensaio de permeabilidade de Sales (2008) .................. 27 Tabela 2-3 – Resultados obtidos por Höltz (2011) utilizando mesa vibratória. .......... 27 Tabela 2-4 – Resultados do ensaio de resistência à tração na flexão ...................... 28 Tabela 2-5- Coeficientes de segurança para taxa de infiltração................................ 31 Tabela 2-6 – Absortância da radiação solar, emissividade, condutância térmica e calor específico de pavimento de concreto e asfáltico. ...................................................... 32 Tabela 2-7 – Pressão sonora em diferentes revestimentos. ..................................... 33 Tabela 2-8 – Resultados de condutividade hidráulica (cm/s). ................................... 34 Tabela 3-1- Distribuição granulométrica do traço 1. .................................................. 35 Tabela 3-2 – Caracterização da Brita 0 ..................................................................... 36

Tabela 3-3 – Resultados do ensaio de Rotarex. ....................................................... 37 Tabela 3-4 – Caracterização do cimento ................................................................... 38

Tabela 3-5 – Resumo dos traços utilizados............................................................... 38 Tabela 4-1 – Resultados do ensaio de permeabilidade no traço sem fresado .......... 49 Tabela 4-2 – Resultados do ensaio de permeabilidade no traço com 15% de fresado. .................................................................................................................................. 49

Tabela 4-3 – Resultados do segundo ensaio de permeabilidade .............................. 51 Tabela 4-4 – Resultados do ensaio com permeâmetro de carga constante nos traços T0, T15 e T30. ........................................................................................................... 53

Tabela 4-5 – Resultado do ensaio com permeâmetro de carga variável nos traços T0, T15 e T30. ................................................................................................................. 53

Tabela 4-6- Determinação da taxa de infiltração conforme o 2º método. .................. 54 Tabela 4-7 – Ensaio de carga constante. .................................................................. 55

Tabela 4-8 – Resultado do ensaio de carga variável ................................................ 56 Tabela 4-9 – Resultados de resistência dos CPs ...................................................... 58

Tabela 4-10 – Resultados dos traços T0, T15 e T30 ................................................ 59 Tabela 4-11 – Resultado do traço com brita 0........................................................... 60

Page 7: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA …coral.ufsm.br/engcivil/images/PDF/2_2017/TCC... · Palavras–chave: Pavimentos Permeáveis; Concreto Poroso; Permeabilidade . LISTA DE FIGURAS

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 12 1.1 OBJETIVO GERAL ............................................................................................ 12 1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ................................................................................ 13

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .............................................................................. 14 2.1 CARACTERÍSTICAS DA DRENAGEM URBANA ........................................................ 14 2.2 EFEITOS DA URBANIZAÇÃO SOBRE A DRENAGEM ................................................ 14 2.3 FLUXO DA ÁGUA NOS SOLOS E FATORES QUE O INFLUENCIAM. ............................. 16

2.3.1 Determinação do coeficiente de permeabilidade ...................... 18

2.4 INFILTRAÇÃO .................................................................................................. 19 2.4.1 Equacionamento geral da infiltração .......................................... 21

2.5 ESCOAMENTO SUPERFICIAL ............................................................................. 21 2.6 PAVIMENTOS PERMEÁVEIS .............................................................................. 21

2.6.1 Camada de Base ........................................................................... 24

2.6.2 Interface entre as camadas ......................................................... 24

2.7 CONCRETO POROSO ....................................................................................... 24 2.7.1 Características no estado fresco ................................................ 25

2.7.2 Características no estado endurecido ....................................... 25

2.7.3 Ensaios de permeabilidade ......................................................... 26

2.7.4 Ensaios de resistência à tração na flexão.................................. 28

2.7.5 Determinação do índice de vazios .............................................. 28

2.8 DIMENSIONAMENTO HIDRÁULICO ...................................................................... 28 2.9 BENEFÍCIOS AMBIENTAIS .................................................................................. 32

2.9.1 Qualidade da água na infiltração ................................................ 32

2.9.2 Redução da temperatura ............................................................. 32

2.9.3 Redução de poluição sonora ...................................................... 33

2.9.4 Uso de agregados reciclados ...................................................... 33

3 METODOLOGIA ................................................................................................. 35 3.1 DETERMINAÇÃO DO TRAÇO .............................................................................. 35 3.2 MATERIAIS UTILIZADOS .................................................................................... 36

3.2.1 Agregado graúdo ......................................................................... 36

3.2.2 Fresado Asfáltico Reciclado ....................................................... 37

3.2.3 Aglomerante ................................................................................. 38

3.3 MOLDAGEM DOS CORPOS DE PROVA ................................................................. 39 3.3.1 Quantidade de corpos de prova .................................................. 42

3.4 ENSAIOS REALIZADOS ..................................................................................... 42 3.4.1 Ensaio de Permeabilidade ........................................................... 42

3.4.2 Ensaio de Resistência à Tração na Flexão ................................ 46

3.4.3 Determinação do Índice de Vazios ............................................. 48

4 RESULTADOS E ANÁLISE ............................................................................... 49

Page 8: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA …coral.ufsm.br/engcivil/images/PDF/2_2017/TCC... · Palavras–chave: Pavimentos Permeáveis; Concreto Poroso; Permeabilidade . LISTA DE FIGURAS

4.1 ENSAIO DE PERMEABILIDADE ........................................................................... 49 4.2 ENSAIO DE RESISTÊNCIA À TRAÇÃO NA FLEXÃO ................................................ 58 4.3 ÍNDICE DE VAZIOS ........................................................................................... 61 4.4 COMPARAÇÃO ENTRE OS TRAÇOS. ................................................................... 63

5 CONCLUSÕES .................................................................................................. 64 6 REFERÊNCIAS .................................................................................................. 65

Page 9: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA …coral.ufsm.br/engcivil/images/PDF/2_2017/TCC... · Palavras–chave: Pavimentos Permeáveis; Concreto Poroso; Permeabilidade . LISTA DE FIGURAS

12

1. INTRODUÇÃO

O acúmulo de água na superfície de pavimentos vem sendo um problema

recorrente nas cidades brasileiras, afetando desde grandes metrópoles até cidades

do interior do país. Isso ocorre devido à impermeabilização do solo que, como

consequência, reduzem a área onde as águas pluviais poderiam se infiltrar, gerando

escoamento superficial nos eventos de chuva.

Esse escoamento superficial produzido é responsável pelos pontos de

alagamento gerados nas cidades, devendo ser retirado das vias pelo sistema público

de drenagem. Contudo, a drenagem pluvial tem se mostrado ineficiente, não

conseguindo captar o escoamento gerado por precipitações que produzem volumes

inferiores ao seu volume de projeto. Isso se deve, principalmente, ao fato desses

sistemas de drenagem pluvial simplesmente retirarem a água de um ponto de cota

mais elevada e transportarem para cotas mais baixas da bacia, resolvendo o problema

à montante, porém sobrecarregando a drenagem à jusante. Essa água não drenada

é responsável por acidentes ocasionados por aquaplanagem, além de reduzir a vida

útil de pavimentos devido à entrada de água na estrutura, devendo então ser

devidamente destinada para locais adequados.

Em vista disso, este trabalho abordará a capacidade de drenagem de concretos

porosos, também conhecido por concreto sem finos, concreto drenante ou concreto

permeável, através da comparação de diferentes métodos para a determinação do

coeficiente de permeabilidade do material, além de analisar a possibilidade do uso

deste em vias públicas de tráfego leve, estacionamentos e calçadas, visando reduzir

os impactos gerados pela deposição da água da chuva em lugares impróprios.

1.1 Objetivo Geral

Determinar as propriedades hidráulicas de concretos drenantes, visando

estabelecer uma relação entre a permeabilidade do material com suas características

físicas, além de verificar sua possível utilização em pavimentos destinados à tráfego

leve.

Page 10: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA …coral.ufsm.br/engcivil/images/PDF/2_2017/TCC... · Palavras–chave: Pavimentos Permeáveis; Concreto Poroso; Permeabilidade . LISTA DE FIGURAS

13

1.2 Objetivos Específicos

• Moldar amostras de concreto drenante, visando determinar suas

características hidráulicas, a fim de garantir que o material apresente permeabilidade

satisfatória.

• Verificar o comportamento da permeabilidade do material ao substituir parte

do agregado utilizado por fresado asfáltico.

• Determinar características mecânicas do material, para certificar que este

atenda à norma NBR 16416: Pavimentos Permeáveis de Concreto - Requisitos e

Procedimentos.

• Comparar dois processos distintos de ensaios de permeabilidade, o ensaio de

taxa de infiltração, adaptado da norma ASTM C-1701 (2017), com os ensaios de

permeabilidade de carga constante, conforme a NBR 13292 (1995) e de carga

variável, conforme a NBR 14545 (2000).

Page 11: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA …coral.ufsm.br/engcivil/images/PDF/2_2017/TCC... · Palavras–chave: Pavimentos Permeáveis; Concreto Poroso; Permeabilidade . LISTA DE FIGURAS

14

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Esta seção do trabalho abordará características de concretos porosos e

conceitos utilizados para justificar a utilização do material, além de apresentar estudos

deste material realizados por outros autores.

2.1 Características da drenagem urbana

TUCCI(1993, p.822) define drenagem urbana da seguinte maneira:

“A drenagem urbana inicia-se em edificações com os coletores pluviais

ligados à rede pública, na drenagem superficial das sarjetas que recebe a

parcela superficial das ruas, calçadas, pátios e outras áreas impermeáveis ou

permeáveis que geraram escoamento superficial. O escoamento proveniente

das sarjetas, que entra na rede através dos bueiros, e o proveniente dos

coletores residenciais são drenados pelos condutos pluviais que alimentam

os condutos secundários até os principais sistemas compostos de pequenos

rios (arroios, riachos ou ribeirões) que compõem a macrodrenagem urbana.

De acordo com Tucci (1993), o dimensionamento da drenagem urbana é

realizado em dois níveis. A macrodrenagem, que são os escoamentos em fundos de

vale, responsáveis por coletar as águas de áreas providas de sistemas de micro

drenagem, que é onde o escoamento natural não é bem definido, sendo determinado

pela ocupação do solo, como o traçado das ruas, por exemplo.

2.2 Efeitos da urbanização sobre a drenagem

O crescimento das cidades brasileiras tem gerado impactos significativos nas

bacias hidrográficas. O aumento da área impermeável do solo faz com que haja uma

redução da parcela de precipitação que se infiltra no solo, reduzindo o tempo de

concentração da bacia e aumentando o escoamento superficial nessas áreas. Esse

escoamento é o responsável pelo aumento do risco de enchentes, que, quando

acontecem perto de centros urbanos, danifica a infraestrutura destes e acelera a

deterioração dos pavimentos e edificações, gerando inúmeras perdas econômicas e

sociais.

Um dos fatores que origina este problema é o formato em que as cidades

brasileiras se desenvolveram. Conforme Tucci (2005), “a falta de planejamento,

controle do uso do solo e a ocupação das áreas de risco, aliados a um sistema de

drenagem ineficiente contribuem para a ocorrência de enchentes”.

Assim, de acordo com Tucci (2005), torna-se necessária a adoção de medidas

de controle de enchente, como a não transferência da vazão para jusante em zonas

Page 12: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA …coral.ufsm.br/engcivil/images/PDF/2_2017/TCC... · Palavras–chave: Pavimentos Permeáveis; Concreto Poroso; Permeabilidade . LISTA DE FIGURAS

15

urbanizadas, recuperação da infiltração natural nas bacias hidrográficas e utilização

de medidas não estruturais.

Conforme REZENDE(2010), medidas de controle estruturais consistem de

intervenções diretamente nas calhas dos rios ou na paisagem urbana, como

canalizações, barragens, reservatórios e diques. Tais medidas são necessárias para

ações corretivas. Por sua vez, medidas não estruturais consistem de ações indiretas

como zoneamento urbano através da identificação de áreas alagáveis e restrições na

legislação, preservação das várzeas, educação ambiental, sistemas de alerta de

enchentes. Este tipo de medida é complementar às medidas estruturais, e visa a

prevenção de inundações. A Figura 2-1 caracteriza as medidas estruturais e não

estruturais. Conforme Tucci (1993), esse conjunto de medidas serve apenas para

minimizar as consequências de uma inundação, não são capazes de controlá-la

totalmente.

Figura 2-1 – Medidas para controle de inundações

Fonte: REZENDE(2010, p. 19).

De acordo com Tucci (1993), durante muito tempo, o objetivo principal da

drenagem urbana tem sido remover as águas pluviais em excesso da forma mais

eficiente possível, afim de evitar prejuízos e riscos de inundações. A Figura 2-2 mostra

a diferença entre um hidrograma de uma bacia rural e uma urbanizada. Nota-se que

o pico da bacia urbana não só ocorre em um tempo menor, como resulta em um

volume também maior se comparado ao pico da bacia rural.

Page 13: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA …coral.ufsm.br/engcivil/images/PDF/2_2017/TCC... · Palavras–chave: Pavimentos Permeáveis; Concreto Poroso; Permeabilidade . LISTA DE FIGURAS

16

Figura 2-2 – Hidogramas de bacia urbana e bacia rural

Fonte: TUCCI (2008, p.106)

Conforme Tucci (2008), à medida que uma bacia se urbaniza, ocorre:

• Aumento das vazões máximas em virtude do aumento da capacidade de

escoamento devido à impermeabilização da superfície e do sistema de

drenagem.

• Redução da qualidade da água superficial e subterrânea, devido à

lavagem das ruas, transporte de materiais sólidos e ligações

clandestinas de esgoto e pluvial.

• Desorganizada expansão da infraestrutura urbana, com obstrução de

escoamentos por taludes, redução da seção de calhas de rios por

aterros de pontes, entre outros.

2.3 Fluxo da água nos solos e fatores que o influenciam.

O fluxo de água que percola um concreto poroso segue os mesmos princípios

do escoamento da água através de um solo. O fluxo de água nos solos é influenciado

por sua permeabilidade, que, por sua vez, depende de características do solo, como

a granulometria, índice de vazios, composição mineralógica, macroestrutura do solo

e pelo grau de saturação. Além disso, a temperatura influência o escoamento em solos

devido à influência desta na viscosidade da água.

O tamanho das partículas influencia diretamente a permeabilidade do solo, e

consequentemente o fluxo de água que o percola. Solos com grãos de diâmetros

maiores possuem maior permeabilidade do que solos com partículas mais finas.

A granulometria afeta diretamente o índice de vazios do solo. Quanto mais

uniforme for o diâmetro das partículas, maiores serão os vazios neste e mais

permeável será o solo. Curvas granulométricas bem graduadas resultam em solos

Page 14: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA …coral.ufsm.br/engcivil/images/PDF/2_2017/TCC... · Palavras–chave: Pavimentos Permeáveis; Concreto Poroso; Permeabilidade . LISTA DE FIGURAS

17

menos permeáveis, pois as partículas menores ocupam os vazios deixados entre as

partículas maiores, diminuindo assim o índice de vazios e a permeabilidade.

A variação de temperatura afeta diretamente a viscosidade da água.

Temperaturas mais altas diminuem a viscosidade dos fluídos, facilitando a passagem

da água pelos poros do solo.

As propriedades citadas afetam diretamente o coeficiente de permeabilidade,

que foi obtido experimentalmente pelo engenheiro francês Darcy, que estudou a

variação da vazão de água em solos, através de tubos permeâmetros, definindo assim

a Lei de Darcy, que define a relação entre o gradiente hidráulico, a permeabilidade do

solo e a velocidade de escoamento, conforme a equação (2-1).

v = k ∙ i (2-1)

Sendo: v = velocidade de escoamento (m/s)

K = coeficiente de permeabilidade (m/s)

I = gradiente hidráulico (adimensional)

Pereira (1984) ressalta que esta equação é válida apenas para escoamentos

laminares, onde a perda de carga varia linearmente com a velocidade do escoamento.

Para determinar o tipo de escoamento, utiliza-se o índice de Reynolds para meios

porosos (equação (2-2)) que, se este for menor que 2000, o escoamento é laminar,

entre 2000 e 4000, o escoamento é de transição e se for superior a 4000, o

escoamento é turbulento.

Re =q∙d50

μ (2-2)

Sendo: μ = viscosidade cinemática (L²/T);

q = velocidade aparente de fluxo (L/T);

d50 = diâmetro médio dos grãos (L).

Os intervalos de variação do coeficiente de permeabilidade conforme o tipo de

solo está presente na Figura 2-3.

Figura 2-3 – Valores de permeabilidade de solos

Fonte: adaptado de CAPUTO(1988, p.71)

Page 15: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA …coral.ufsm.br/engcivil/images/PDF/2_2017/TCC... · Palavras–chave: Pavimentos Permeáveis; Concreto Poroso; Permeabilidade . LISTA DE FIGURAS

18

2.3.1 Determinação do coeficiente de permeabilidade

Conforme Caputo (1988), a determinação da permeabilidade pode ser obtida

por equações que relacionam com a granulometria, através do uso de permeâmetros

em laboratório.

Para solos granulares, recomenda-se a utilização de permeâmetros de nível

constante, conforme a Figura 2-4. A permeabilidade, conforme Caputo(1988), é

determinada medindo-se a quantidade de água, mantida a nível constante, que

atravessa em um determinado tempo em uma amostra de solo de dimensões

conhecidas.

Figura 2-4 – Permeâmetro de carga constante.

Fonte: adaptado de Caputo (1988, p. 72)

Assim, através da equação (2-3), determina-se a permeabilidade do material.

K =Q∙L

A∙h∙t (2-3)

Sendo: K = coeficiente de permeabilidade (cm/s)

Q = quantidade de água medida no intervalo de tempo t (cm³)

t = intervalo de tempo para encher o recipiente (s)

A = área da seção transversal da amostra (cm²)

h = desnível entre a superfície de entrada da água e superfície de saída (cm)

L = comprimento da amostra (cm)

Em solos mais finos, deve-se utilizar permeâmetros de carga variável, pois este

tipo de solo apresenta baixa permeabilidade, levando muito tempo, caso seja possível,

determinar a permeabilidade através de permeâmetros de nível constante. A

Page 16: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA …coral.ufsm.br/engcivil/images/PDF/2_2017/TCC... · Palavras–chave: Pavimentos Permeáveis; Concreto Poroso; Permeabilidade . LISTA DE FIGURAS

19

quantidade de água é medida através de uma bureta graduada e, com essa,

determina-se a vazão, conforme mostra a Figura 2-5.

Figura 2-5 – Permeâmetro de carga variável.

Fonte: adaptado de Caputo (1988, p. 72)

Durante um pequeno intervalo de tempo dt, a altura da bureta de área a

decresce um valor dh, devido a variação da vazão Q, portanto:

dQ = −a ∙ dh (2-4)

O sinal negativo indica que a altura decresce conforme o tempo cresce. Já, na

amostra de solo, têm-se que a vazão é dada por:

dQ = k ∙h

L∙ A ∙ dt (2-5)

Como a vazão na bureta é igual à que percola pelo solo, é possível igualar as

equações, resultando em:

−a ∙ dh = k ∙h

L∙ A ∙ dt (2-6)

Integrando a equação 2-6 com limites convenientes e isolando o coeficiente de

permeabilidade, têm-se a equação (2-7), utilizada para determinar o coeficiente de

permeabilidade em permeâmetros de carga variável.

k = 2,3 ∙L∙a

A∙t∙ log

h1

h2 (2-7)

2.4 Infiltração

Infiltração é o fenômeno de penetração da água nas camadas do solo próxima

a superfície do terreno. Conforme TUCCI (2007), este processo depende da

quantidade de água disponível para infiltrar, do tipo do solo, do estado em sua

superfície e do grau de saturação do solo.

Page 17: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA …coral.ufsm.br/engcivil/images/PDF/2_2017/TCC... · Palavras–chave: Pavimentos Permeáveis; Concreto Poroso; Permeabilidade . LISTA DE FIGURAS

20

À medida que a água infiltra pela superfície, as camadas superiores do solo

vão se umedecendo de cima para baixo, alterando gradativamente o perfil de

umidade. Enquanto há aporte de água, o perfil de umidade tende à saturação

em toda a profundidade, sendo a superfície, naturalmente, o primeiro perfil a

saturar. Normalmente, a infiltração decorrente de precipitações naturais não

é capaz de saturar todo o solo, restringindo-se a saturar, quando consegue,

apenas as camadas próximas à superfície, conformando um perfil típico onde

o teor de umidade decresce com a profundidade (TUCCI, 2007, p. 335).

Quando há um intervalo na disponibilidade de água, o perfil de umidade do solo

se redistribui para um perfil de umidade inverso, com teores mais altos conforme maior

a profundidade. À medida que a umidade atinge camadas mais profundas, o solo vai

se tornando mais seco, recuperando sua capacidade de infiltração. A Figura 2-6

mostra o perfil de umidade em um solo natural sujeito à infiltração.

Figura 2-6 – Evolução do perfil de umidade em um solo.

Fonte: RODRIGUES BARBOSA JÚNIOR, [s.d.])

Se uma precipitação atingir o solo com uma intensidade menor que a

capacidade de infiltração, toda água penetra no solo, provocando uma

progressiva diminuição da própria capacidade de infiltração [...]. Se a

precipitação continuar, pode ocorrer, dependendo da sua intensidade, um

momento que a capacidade de infiltração se iguala à de precipitação. A partir

deste momento, mantendo-se a precipitação, a infiltração real se processa

nas mesmas taxas da curva da capacidade de infiltração, [...] tendendo a um

valor mínimo. A parcela não infiltrada da precipitação forma filetes, que

Page 18: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA …coral.ufsm.br/engcivil/images/PDF/2_2017/TCC... · Palavras–chave: Pavimentos Permeáveis; Concreto Poroso; Permeabilidade . LISTA DE FIGURAS

21

escoam superficialmente para áreas mais baixas, podendo infiltrar

novamente, se houver condições (TUCCI, 2007, p. 336).

Desta maneira, torna-se evidente a importância da manutenção da capacidade

de infiltração dos solos, evitando grandes áreas impermeáveis. Quanto maior for a

capacidade de infiltração de um solo, menor será o escoamento superficial

ocasionado por uma precipitação.

2.4.1 Equacionamento geral da infiltração

Conforme TUCCI (1993, p. 337), “o equacionamento geral da infiltração é feito

a partir da representação matemática do movimento da água em solos não saturados”.

O movimento da água no solo obedece a lei de Darcy (equação 2-1) que a

deduzindo para solos saturadores, resulta na equação (2-8).

q = −k

μ∙ (

∂p

∂z− ρ ∙ g) (2-8)

Onde: q = velocidade de Darcy (m/s)

k = permeabilidade intrínseca do solo (m/s)

μ = viscosidade dinâmica da água (Pa s)

p = pressão da água no interior do solo (m)

ρ = massa específica da água (kg/m³)

g = aceleração da gravidade (m/s²)

z = profundidade (m)

Tucci (1993) afirma que a permeabilidade intrínseca k depende das dimensões,

geometria e organização interna dos poros do solo, e relaciona-se com a

condutividade hidráulica K a partir da equação (2-9).

K = k ∙ρ∙g

μ (2-9)

2.5 Escoamento superficial

Conforme R. Barbosa Júnior [s.d., p. 92], ‘’escoamento superficial é o segmento

do ciclo hidrológico caracterizado pelo deslocamento da água na superfície da terra e

nos cursos de água naturais. Este processo é originado a partir da interação entre

precipitações com os processos de infiltração, evaporação e interceptação.

2.6 Pavimentos Permeáveis

Conforme Araújo (2000), o uso de pavimentos impermeáveis provoca um

aumento no coeficiente de escoamento superficial de 44% se comparado com solo

Page 19: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA …coral.ufsm.br/engcivil/images/PDF/2_2017/TCC... · Palavras–chave: Pavimentos Permeáveis; Concreto Poroso; Permeabilidade . LISTA DE FIGURAS

22

compactado. Isso demonstra que a crescente impermeabilização dos solos tende a

provocar um aumento nas cheias urbanas.

Comparando com pavimentos permeáveis, os estudos de Araújo (2000)

indicaram que praticamente não houve a formação de escoamento superficial neste

tipo de superfície. COSTA, A. R. et al.(2007, p.97) define pavimento permeável da

seguinte maneira:

Pavimentos permeáveis são superfícies drenantes que promovem infiltração,

armazenamento e percolação de parte ou totalidade da água provinda do

escoamento superficial para dentro de uma camada de armazenamento

temporária no terreno, que é absorvida gradualmente pelo solo

A redução no escoamento superficial produzida por esses tipos de pavimentos

e a sua capacidade de armazenamento resultam em um aumento no tempo de

concentração de uma bacia hidrográfica, tornando menores os riscos de enchentes.

Esse tipo de pavimento é, em geral, composto por um revestimento poroso

sobre uma camada de material granular que possui a função de filtro, seguida de outra

camada de material granular com função de reservatório. Entre o subleito e o

pavimento, recomenda-se utilizar um filtro geotêxtil para evitar o carreamento de finos

e a colmatação dos poros do pavimento. A Figura 2-7 mostra um exemplo das

camadas de um pavimento permeável com concreto poroso.

Figura 2-7 – Camadas de um pavimento permeável com concreto poroso.

Fonte: Urbonas e Stahre.(1993, apud COSTA, A. R. et al, 2007)

Conforme ACIOLI (2005), a camada superficial deve permitir a infiltração da

água da chuva e resistir às solicitações produzidas pelo tráfego. O tipo de agregado a

ser utilizado varia de acordo com a espessura de projeto da camada, disponibilidade

do material perto do local da obra e com o custo.

Page 20: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA …coral.ufsm.br/engcivil/images/PDF/2_2017/TCC... · Palavras–chave: Pavimentos Permeáveis; Concreto Poroso; Permeabilidade . LISTA DE FIGURAS

23

Conforme TUCCI (2005), recomenda-se que pavimentos de concreto poroso

sejam adensados com vibração por curtos períodos de tempo, para evitar a

segregação da pasta de cimento. Além disso, deve-se evitar o uso de soquetes, pois

pode resultar em massas específicas localizadas elevadas.

Além do pavimento com concreto poroso, utiliza-se também diversos tipos de

pavimentos permeáveis, entre eles destacam-se o asfalto poroso e o pavimento de

blocos vazados intertravados de concreto.

O asfalto poroso é produzido de maneira análoga ao concreto poroso, através

da retirada ou diminuição do material fino da composição da mistura. A diferença entre

estes é que, no caso do concreto poroso, o ligante utilizado é o cimento Portland e no

asfalto poroso é utilizado cimento asfáltico de petróleo (CAP).

Pavimento de blocos vazados intertravados de concreto são pré-fabricados

com aberturas em sua estrutura que permite a infiltração da água para as camadas

inferiores do pavimento. Os blocos devem ser assentados de maneira similar ao

pavimento intertravado convencional e as aberturas devem ser preenchidas com

material granular ou grama para que haja a infiltração da água. Conforme UDFCD

(2010), os blocos devem possuir pelo menos 20% de sua área superficial em vazios.

Tucci(2005) recomenda que o subleito deste tipo de pavimento não seja compactado,

para não reduzir a capacidade de infiltração do solo. Assim como nos pavimentos de

concreto poroso, neste deve-se colocar um filtro geotêxtil na base do pavimento, afim

de evitar a migração de solo para o reservatório. A

Figura 2-8mostra um exemplo das camadas de um pavimento com blocos

vazados.

Figura 2-8 – Camadas de um pavimento de blocos vazados intertravados de

concreto.

Fonte: Urbonas e Stahre(1993 apud COSTA, A. R. et al; 2007).

Page 21: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA …coral.ufsm.br/engcivil/images/PDF/2_2017/TCC... · Palavras–chave: Pavimentos Permeáveis; Concreto Poroso; Permeabilidade . LISTA DE FIGURAS

24

2.6.1 Camada de Base

A camada de base de pavimentos permeáveis deve transmitir os esforços

aplicados na camada de revestimento para as camadas inferiores da estrutura, assim

como nos pavimentos convencionais, e ainda deve possuir a função de reservatório,

armazenando a água da chuva e permitindo a sua infiltração no solo.

A porosidade da camada de base deve ser de no mínimo 0,3 para permitir o

armazenamento da água. A resistência do material utilizado deve ser suficiente para

suportar as solicitações e deve possuir dureza suficiente para resistir ao atrito e à

fragmentação, que levaria à compactação da camada e colmatação dos poros.

Recomenda-se o usa de brita com diâmetro superior a 10 mm, com a quantidade de

material siltoso inferior a 3% e material argiloso inferior a 1% (KNAPTON 2002).

2.6.2 Interface entre as camadas

Conforme Acioli (2005) deve-se utilizar uma geomembrana ou um filtro geotêxtil

para impedir a migração de material entre camadas.

Na interface do reservatório e a camada de revestimento, deve ser utilizado um

filtro geotêxtil, que servirá para conter os finos do revestimento nessa camada e

permitir que a água infiltre para dentro do reservatório (ACIOLI, 2005, p. 24)

Na interface entre o reservatório e o subleito, o material a ser utilizado dependerá da

função do pavimento. Segundo Azzout (1994 apud Acioli 2005, p. 24),

Se este possuir função de armazenamento, deverá ser utilizada uma

geomembrana ou um geotêxtil rebocado com material betuminoso, que

servirá para garantir estanqueidade do reservatório. No caso em que o

pavimento seja do tipo infiltrante, deve ser utilizado filtro geotêxtil para impedir

a penetração da brita no solo, e do solo na brita, e proporcionar

permeabilidade ao mesmo.

2.7 Concreto Poroso

Concreto poroso, drenante ou permeável é produzido de maneira semelhante

ao concreto convencional, porém com pouco ou nenhum material fino, sendo

composto basicamente por brita e cimento. A ausência de areia é a responsável por

garantir um alto índice de vazios e, consequentemente, a alta capacidade drenante

deste tipo de concreto. Por outro lado, este também é o motivo deste concreto possuir

Page 22: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA …coral.ufsm.br/engcivil/images/PDF/2_2017/TCC... · Palavras–chave: Pavimentos Permeáveis; Concreto Poroso; Permeabilidade . LISTA DE FIGURAS

25

resistência inferior se comparado à concretos convencionais, principalmente relativo

à resistência à abrasão.

2.7.1 Características no estado fresco

Concretos sem finos possuem trabalhabilidade muito baixa, não sendo possível

realizar o ensaio de slump para mensurá-la. O tempo de trabalho deste também é

reduzido, recomendando-se em torno de 1 hora entre a mistura e a execução (TENNIS

et al, 2004).

2.7.2 Características no estado endurecido

O peso específico e a porosidade dependem do traço e do tipo de material a

ser utilizado, além do método de compactação adotado (TENNIS et al, 2004).A NBR

16416 (2015) define como peso específico mínimo para este tipo de concreto de 1600

kg/m³. O índice de vazios deste material, conforme Höltz (2011, p. 43), varia de 15 a

25%.

A retração neste tipo de concreto é muito pequena, devido aos vazios que

permitem variações volumétricas sem produzir trincas, não necessitando de juntas de

expansão para evitar fissuração.

Conforme TENNIS et al. (2004), a resistência à compressão deste tipo de

material, varia de 3,5 MPa até 28 MPa e a resistência à tração na flexão varia de 1MPa

até 3,8 MPa, valores que tornam possível utilizar este material em várias situações,

desde estacionamentos de supermercados até avenidas com trânsito pesado.

Contudo, a NBR 16416 (2015) exige que concretos porosos apresentem resistência

mínima à tração na flexão de 2,0 MPa para serem utilizados em pavimentos.

Em relação à durabilidade, concretos permeáveis apresentam boa resistência

ao congelamento, uma vez que o dano causado nesta situação depende,

principalmente, do grau de saturação dos poros do material. Já que os poros

existentes neste tipo de concreto são grandes, a saturação destes é de difícil

ocorrência. Por outro lado, essa estrutura aberta presente em concretos drenantes faz

com que o material seja suscetível a ataques por sulfatos.

Por fim, conforme TENNIS et al. (2004), devido à estrutura aberta e superfície

áspera deste tipo de material, a resistência à abrasão não é muito elevada.

Pavimentos de concreto drenante apresentam agregados soltos nas primeiras

semanas após a execução, que são retiradas nas primeiras semanas depois da

Page 23: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA …coral.ufsm.br/engcivil/images/PDF/2_2017/TCC... · Palavras–chave: Pavimentos Permeáveis; Concreto Poroso; Permeabilidade . LISTA DE FIGURAS

26

abertura para o tráfego. Após este período, a taxa de perda de material diminui e o

pavimento se estabiliza. De acordo com TENNIS et al. (2004), compactação e cura

adequadas reduzem a perda de material neste período inicial.

2.7.3 Ensaios de permeabilidade

Conforme já abordado no item 2.3.1, o ensaio de permeabilidade pode ser de

carga constante ou carga variável. Por ser um material com alta porosidade,

recomenda-se a utilização de permeâmetros de carga constante para concretos

drenantes.

BATEZINI (2013, p. 91)apresentou resultados do ensaio de permeabilidade em

um permeâmetro de carga constante, para 3 diferentes traços, utilizando agregado

basáltico com diâmetro variando entre 4,8mm e 12,5mm, relação cimento/agregado

de 1:4,44 e relação água e cimento a/c = 0,30, variando a porcentagem de brita de

determinada faixa de diâmetro utilizada. O consumo de cimento do trabalho foi de 374

kg/m³. Os resultados deste trabalho estão dispostos na Tabela 2-1.

Tabela 2-1 – Resultado dos ensaios de permeabilidade de BATEZINI (2013)

Fonte: Batezini (2013, p. 91)

O trabalho de SALES (2008) estudou a permeabilidade em concretos porosos

com diâmetro máximo do agregado de 9,52 mm. A quantidade de cimento utilizada foi

de 15% em relação ao peso total de agregados somado ao peso correspondente de

agregado passante na peneira de abertura 0,074 mm, mantendo fixa a relação a/c =

0,33. Os resultados estão dispostos na Tabela 2-2.

Page 24: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA …coral.ufsm.br/engcivil/images/PDF/2_2017/TCC... · Palavras–chave: Pavimentos Permeáveis; Concreto Poroso; Permeabilidade . LISTA DE FIGURAS

27

Tabela 2-2 – Resultados do ensaio de permeabilidade de Sales (2008)

Fonte: Sales (2008, p. 91)

A grande diferença nos resultados encontrados por BATEZINI(2013) e SALES

(2008) pode ser explicada pelo método de ensaio utilizado por cada um para avaliar a

condutividade hidráulica do material. O primeiro utilizou um permeâmetro de carga

constante, enquanto o segundo um permeâmetro de carga variável.

HÖLTZ (2011) realizou a moldagem de corpos de prova com brita 1, utilizando

traço 1:4 com 7% de areia, variando o tempo e o método de vibração utilizados. Seus

resultados estão dispostos na Tabela 2-3.

É possível verificar neste trabalho que a condutividade hidráulica nos corpos

de prova que foram adensados com vibrador tipo agulha foram muito superiores às

condutividades obtidas nas amostras adensadas na mesa vibratória. Isso deve-se ao

fato da mesa vibratória adensar de maneira mais homogênea o material, o que reduz

os vazios comunicantes da amostra que por sua vez reduzem o coeficiente de

permeabilidade do material.

Tabela 2-3 – Resultados obtidos por Höltz (2011) utilizando mesa vibratória.

Fonte: adaptado de HÖLTZ(2011, p. 96)

TraçoForma de

Vibração

K

(cm/s)

Fluxo

(l/min./m²)

Fluxo

Médio

(l/min./m²)

0,5757 338

0,2442 143

0,1849 108

0,9068 544

0,8071 484

0,7759 465

Brita 1

com 7%

de Areia

Mesa

Vibratória (10

segundos em

cada camada)

196

Brita 1

com 7%

de Areia

Vibrador do

tipo agulha c/

diâmetro de

25mm

497

Page 25: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA …coral.ufsm.br/engcivil/images/PDF/2_2017/TCC... · Palavras–chave: Pavimentos Permeáveis; Concreto Poroso; Permeabilidade . LISTA DE FIGURAS

28

2.7.4 Ensaios de resistência à tração na flexão

No trabalho de Batezini (2013) foram realizados ensaios de resistência à tração

na flexão, cujos resultados estão disponíveis na Tabela 2-4, onde μ é o valor médio

obtido no ensaio. Destaca-se que, para as três misturas estudadas neste trabalho, os

resultados médios encontrados foram muito próximos, o que pode ser explicado pelo

índice de vazios das três misturas serem praticamente o mesmo.

Tabela 2-4 – Resultados do ensaio de resistência à tração na flexão

Dados

Resistência à tração na Flexão (MPa)

M1 M2 M3

n 9 9 9

µ 2,16 2,03 2,22

σ 0,27 0,20 0,27

cv (%) 12,44 9,71 12,03

Fonte: Batezini (2013, p. 95)

OLEK et al. (2003, p. 39)relata sobre o uso de concretos porosos com

resistências de3 MPa, com porosidade média de 25%, utilizando agregados de

diâmetro máximo de 10 mm e mínimo de 6mm.

2.7.5 Determinação do índice de vazios

Conforme CAPUTO(1988), índice de vazios é a relação entre o volume de

vazios e o volume da parte sólida do material. Esta relação pode ser determinada em

laboratório através da obtenção do peso seco e do peso submerso das amostras,

utilizando a equação (2-10).

Vv = (1 −Ws−Wsub

ρw∙V) (2-10)

Sendo: Vv = volume de vazios

Ws = peso seco da amostra (kg)

Wsub= peso submerso da amostra (kg)

ρw= massa específica da água (kg/m³)

V = volume da amostra (m³)

2.8 Dimensionamento hidráulico

Conforme Acioli (2005), este dimensionamento tem como objetivo determinar a

espessura do reservatório necessária para armazenar o volume de água resultante

de uma precipitação com determinado tempo de retorno, menos o volume de água

Page 26: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA …coral.ufsm.br/engcivil/images/PDF/2_2017/TCC... · Palavras–chave: Pavimentos Permeáveis; Concreto Poroso; Permeabilidade . LISTA DE FIGURAS

29

que infiltra no solo ou é drenado para a rede. Essa espessura deve ser comparada

com a obtida no dimensionamento mecânico, adotando-se a maior delas.

A chuva de projeto deve ser obtida a partir da curva IDF do local do projeto,

para o tempo de retorno e duração da chuva conforme o projeto. CEDERGREN (1980

apud Correa, 2009) sugere utilizar uma precipitação com tempo de concentração de

uma hora e período de retorno de 1 a 2 anos para os dispositivos de drenagem

subsuperficial. Por outro lado, Tucci (2005) recomenda o uso de um tempo de retorno

de 10 anos para estruturas de controle na fonte. A NBR 16416/2015 recomenda a

utilização de um tempo de retorno mínimo de 10 anos, e duração mínima da

precipitação de uma hora.

De acordo com Correa (2009), a espessura do reservatório de camadas

granulares é calculada a partir da equação (2-11).

H =Vr

η (2-11)

Sendo: H = espessura do reservatório de material granular (m)

η = porosidade do material

Vr = altura total precipitada, correspondente à duração e período de retorno de

projeto, em milímetros (m).

A porosidade do material é definida a partir da equação (2-12).

η = 1 − γd

Gs∙γw (2-12)

Sendo: 𝛾𝑑 = peso específico seco do material (KN/m³);

Gs = densidade real dos grãos;

𝛾𝑤= peso específico da água (KN/m³)

Esse método para o dimensionamento do reservatório é proposto por Silveira

(2003) conhecido como Rain Envelope Method ou método da Curva Envelope. Este

consiste em determinar o armazenamento máximo a partir da diferença entre as

curvas de volume acumulado de entrada (He) e de saída (Hs) da estrutura de controle,

obtidas a partir da derivação da equação da continuidade concentrada. A Figura 2-9

exemplifica como é determinado o volume máximo de armazenamento.

Page 27: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA …coral.ufsm.br/engcivil/images/PDF/2_2017/TCC... · Palavras–chave: Pavimentos Permeáveis; Concreto Poroso; Permeabilidade . LISTA DE FIGURAS

30

Figura 2-9 – Determinação do volume máximo de armazenamento.

Fonte: Urbonas e Stahre (1993, apud Acioli 2005, p. 26)

Esse método associa a chuva de projeto utilizada a um balanço hídrico

simplificado, visando determinar o volume de armazenamento necessário decorrente

das dimensões mínimas dos dispositivos de controle. A equação (2-13) é utilizada por

este método para determinar a espessura do reservatório.

Hs = γ ∙ H ∙ qs ∙t

60 (2-13)

Sendo: H = profundidade média do volume de acumulação (mm)

γ = razão entre a área de percolação e a área do dispositivo

qs = vazão de saída do dispositivo (mm/s)

t = duração (minutos)

A duração crítica da chuva de projeto é obtida a partir da máxima diferença

entre Hs e He. O que, conforme Silveira (2003, apud Acioli 2005), resulta na equação

(2-14).

t = √β∙c∙a∙Tb

γ∙H∙qs− c (2-14)

Sendo: a, b e c = parâmetros da curva IDF da região

β = produto do coeficiente de escoamento pela razão entre a área contribuinte

do dispositivo;

T = tempo de retorno da chuva de projeto (anos);

t = duração da chuva de projeto

Page 28: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA …coral.ufsm.br/engcivil/images/PDF/2_2017/TCC... · Palavras–chave: Pavimentos Permeáveis; Concreto Poroso; Permeabilidade . LISTA DE FIGURAS

31

Conforme ACIOLI (2005), o termo da vazão de saída do dispositivo (qs) é, para

pavimentos permeáveis com infiltração total, a taxa de infiltração do solo saturado.

Contudo, como a capacidade de infiltração do pavimento tende a reduzir com o passar

do tempo, recomenda-se utilizar um coeficiente de segurança de minoração da vazão

de saída. A Tabela 2-5 mostra os coeficientes de segurança indicados, de acordo com

a área de drenagem e a consequência da falha do sistema.

Tabela 2-5- Coeficientes de segurança para taxa de infiltração.

Fonte: CIRIA (1996, apud Acioli 2005, p. 27)

O volume máximo para a duração crítica da chuva é determinado a partir da

equação (2-15).

Vmax = (√a

60∙ √β ∙ T

b

2 − √c

60∙ √qs)

2

(2-15)

Com este volume calculado, utiliza-se a equação (2-11) para determinar a

espessura do reservatório, considerando declividade nula.

Por fim, deve-se verificar o tempo de esvaziamento do reservatório que,

conforme SHUELER (1987, apud Acioli 2005), deve ser inferior a 72 horas, afim de

garantir a manutenção das condições aeróbias no solo e certificar-se que o

reservatório e o solo estejam aptos a receber novas precipitações. Essa verificação é

feita a partir da equação (2-16).

𝑡𝑒𝑠𝑣 = 𝐻

𝑞𝑠 (2-16)

Conforme ACIOLI (2005), caso o tempo de esvaziamento seja superior as 72

horas, pode-se aumentar a área do reservatório para diminuir a sua altura ou a

instalação de drenos com registro no fundo do reservatório, que permita o

esvaziamento em caso de permanência da água por tempo prolongado.

Page 29: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA …coral.ufsm.br/engcivil/images/PDF/2_2017/TCC... · Palavras–chave: Pavimentos Permeáveis; Concreto Poroso; Permeabilidade . LISTA DE FIGURAS

32

2.9 Benefícios ambientais

Pavimentos permeáveis atuam reduzindo o escoamento superficial provocado

por precipitações, aumentando o tempo de concentração da bacia hidrográfica e,

consequentemente, diminuindo a vazão máxima ocasionada, conforme já citado. Além

disso, esse tipo de pavimento auxilia na redução de poluentes da água, tem melhores

qualidades acústicas e ajuda a reduzir a temperatura na superfície dos pavimentos,

conforme será descrito a seguir.

2.9.1 Qualidade da água na infiltração

Conforme COLLINS et al. (2008), o uso de pavimentos permeáveis reduziu as

taxas de NH4-N e aumentou a concentração de NO2-3-N, no escoamento superficial

se comparado com pavimento asfáltico, o que deve-se à provável nitrificação NH4.

2.9.2 Redução da temperatura

O trabalho de MASCARÓ (2012) comparou o comportamento térmico entre

pavimento asfáltico convencional e pavimento de concreto convencional conforme a

Tabela 2-6. Nota-se que em todos os itens analisados, o pavimento de concreto

demonstrou comportamento superior ao asfáltico.

Tabela 2-6 – Absortância da radiação solar, emissividade, condutância térmica e calor específico de pavimento de concreto e asfáltico.

Fonte: adaptado de Mascaró (2012, p. 0965)

De acordo com a United States Environmental Protection Agency (EPA, 2008,

p. 8), pavimentos permeáveis estão surgindo como possíveis ‘’pavimentos frios’’.

Estes pavimentos, que incluem, além de concreto poroso, CPA, pavimentos

intertravados de concreto de blocos vazados, são responsáveis por reduzir as ilhas

de calor formadas sob áreas urbanas.

Ainda conforme EPA (2008), estes pavimentos, quando molhados, reduzem a

temperatura superficial do pavimento através da evaporação da água contida nos

vazios. Quando secos estes vazios servem como limitantes para a transferência de

calor, reduzindo a quantidade de energia absorvida.

Page 30: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA …coral.ufsm.br/engcivil/images/PDF/2_2017/TCC... · Palavras–chave: Pavimentos Permeáveis; Concreto Poroso; Permeabilidade . LISTA DE FIGURAS

33

2.9.3 Redução de poluição sonora

Conforme SPECHT (2009), o tipo de revestimento e a velocidade de tráfego

influenciam diretamente na intensidade do ruído produzido pelo veículo. A Tabela 2-7

mostra os resultados obtidos neste trabalho.

Tabela 2-7 – Pressão sonora em diferentes revestimentos.

Fonte: adaptado de Specht (2009)

Nota-se que na pressão sonora, o melhor resultado foi obtido no CPA (concreto

asfáltico poroso). O índice de vazios do material auxilia na redução do ruído produzido

pelos veículos, semelhante ao que acontece em pavimentos de concreto poroso.

O trabalho de OLEK et al. (2003) afirma que, quando a camada superficial de

um pavimento é porosa, a diferença entre o comprimento da onda sonora e a onda

refletida são grandes, o que provoca interferência destrutiva no intervalo de frequência

de 250 a 1000 Hz, diminuindo a intensidade do som que chega a um observador.

2.9.4 Uso de agregados reciclados

Estudos mostram que é possível reciclar matérias e utilizá-los como agregado

não só em concretos convencionais, como também em concretos permeáveis.

Quadrelli (2015) executou seis traços de concreto permeável, um de referência

com relação a/c = 0,3, 3 traços mantendo essa relação e com substituição do

agregado natural por fresado asfáltico nas proporções de 10%, 20% e 40%. Além

desses, também foi moldado um traço com relação a/c = 0,5 apenas com agregado

Page 31: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA …coral.ufsm.br/engcivil/images/PDF/2_2017/TCC... · Palavras–chave: Pavimentos Permeáveis; Concreto Poroso; Permeabilidade . LISTA DE FIGURAS

34

natural e outro com a mesma relação, mas com 10% de substituição do agregado por

fresado. Seus resultados de condutividade hidráulica estão disponíveis na Tabela 2-8.

Tabela 2-8 – Resultados de condutividade hidráulica (cm/s).

Fonte: Quadrelli (2015, p. 5)

Onde: C1: Composição de referência para relação a/c = 0,30;

C2 c/ RFA: Composição com 10% de substituição de agregado natural por

resíduo de fresado asfáltico;

C3 c/ RFA: Composição com 20% de substituição do agregado natural;

C4 c/ RFA: Composição com 40% de substituição do agregado natural;

C5: Composição de referência para relação a/c = 0,50;

C6 c/ RFA: Composição com 10% de substituição de agregado natural.

Page 32: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA …coral.ufsm.br/engcivil/images/PDF/2_2017/TCC... · Palavras–chave: Pavimentos Permeáveis; Concreto Poroso; Permeabilidade . LISTA DE FIGURAS

35

3 Metodologia

A metodologia deste trabalho consistiu em moldar corpos de prova a partir de

quatro diferentes traços. O primeiro traço era composto por brita peneirada nas

frações pré-definidas, o segundo possuía brita com substituição de 15% da massa da

brita por fresado asfáltico. Após os ensaios destas amostras, foi realizado o terceiro

traço que possuía apenas brita lavada e peneirada, o quarto traço possuía substituição

de 15% da massa da brita por fresado asfáltico e o quinto possuía substituição de 30%

de brita por fresado asfáltico. Por fim, foi realizada a moldagem do sexto traço, que

possuía apenas brita 0 lavada. Em todas as misturas foi utilizado cimento CP V – ARI.

A repetição dos traços com brita peneirada e lavada e com substituição de 15%

de brita por fresado ocorreu devido à problemas no ensaio de permeabilidade,

conforme será abordado na seção 4.1.

Após, foram moldadas três amostras para cada ensaio a ser realizado (ensaio

de resistência à tração na flexão e permeabilidade) e foi feita a caracterização dos

corpos de prova.

Ressalta-se que este trabalho de conclusão de curso é derivado de um estudo

que gerou outros dois trabalhos, realizados por Santos (2017) e Porte (2017).

3.1 Determinação do traço

Para este trabalho, foi adotado o traço semelhante ao utilizado por

Batezini(2013) sendo este traço 1:3, composto por cimento e brita. As proporções de

cada fração da brita utilizada estão dispostas na Tabela 3-1. A relação água/cimento

(a/c) utilizada foi de 0,33.

Tabela 3-1- Distribuição granulométrica do traço 1.

Tamanho (mm)

4,75 6,30 9,75

% retida 30 50 20

Em um segundo momento, foi realizada uma moldagem onde 15% da massa

do agregado utilizado foi substituída por fresado, obedecendo a mesma proporção do

utilizada no primeiro traço. Após isso, foi realizada uma terceira moldagem,

substituindo novamente parte da massa do agregado natural por fresado asfáltico

reciclado, nas proporções de 15% e 30%. Por fim, foram moldadas amostras utilizando

apenas brita 0, a fim de verificar a viabilidade do uso de concreto poroso sem a

Page 33: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA …coral.ufsm.br/engcivil/images/PDF/2_2017/TCC... · Palavras–chave: Pavimentos Permeáveis; Concreto Poroso; Permeabilidade . LISTA DE FIGURAS

36

necessidade da segregação de cada fração de brita, o que reduz custos e tempo de

serviço caso o material seja utilizado em grande escala.

3.2 Materiais utilizados

Para que o concreto fique poroso, deve-se evitar a utilização de materiais finos,

que preenchem os vazios entre os agregados graúdos. Desta maneira, para a

moldagem das amostras, a brita utilizada foi lavada, e o fresado asfáltico foi peneirado,

visando retirar o excesso de partículas finas da mistura.

3.2.1 Agregado graúdo

O agregado graúdo utilizado foi proveniente da pedreira da Brita Pinhal,

localizada no município de Itaara, Rio Grande do Sul, próximo à cidade de Santa

Maria. A caracterização do material está disponível na Tabela 3-2 e a curva

granulométrica do material está disponível na Figura 3.1. Os ensaios de

caracterização do material estão conforme a NBR 7211 (2005).

Tabela 3-2 – Caracterização da Brita 0

Material Brita 0

Módulo de finura 5,75

Diâmetro Máximo Característico (mm)

9,5

Massa Específica (g/cm³)

2,44

Massa unitária (g/cm³)

1,36

Perda por abrasão Los Angeles (%)

11,04

Absorção de água (%)

3,16

Page 34: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA …coral.ufsm.br/engcivil/images/PDF/2_2017/TCC... · Palavras–chave: Pavimentos Permeáveis; Concreto Poroso; Permeabilidade . LISTA DE FIGURAS

37

Figura 3-1 – Curva granulométrica da brita utilizada

O agregado foi peneirado em um peneirador eletromecânico para a obtenção

da massa necessária de cada fração, com exceção no traço onde foi utilizado apenas

brita 0. O agregado foi lavado após o peneiramento e seco em estufa por 24 horas.

3.2.2 Fresado Asfáltico Reciclado

O fresado utilizado como agregado foi proveniente da BR 158, no trecho entre

as cidades de Santa Maria e Itaara. Foi realizado a moldagem de um traço com

substituição de 15% do agregado natural por fresado e outro substituindo 30%. Seu

teor de betume foi obtido a partir do ensaio de Rotarex, conforme a norma DNER-ME

053/94 e o resultado está disponível na Tabela 3-3.

Tabela 3-3 – Resultados do ensaio de Rotarex.

Ensaio Rotarex

Parâmetro Amostra 1 Amostra 2

Peso Inicial 600 600,22

Peso Final 563 562,86

Peso de Betume 37 37,36

Teor de Betume 6,17% 6,22%

Média 6,20%

Por ser um material com alto teor de finos, foi necessário peneirar o material

para evitar o comprometimento da permeabilidade dos corpos de prova. O fresado foi

Page 35: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA …coral.ufsm.br/engcivil/images/PDF/2_2017/TCC... · Palavras–chave: Pavimentos Permeáveis; Concreto Poroso; Permeabilidade . LISTA DE FIGURAS

38

peneirado utilizando o que ficou retido entre as peneiras de abertura 4,75 mm e 9,5

mm.

3.2.3 Aglomerante

O aglomerante utilizado foi o cimento Portland (CP) V – ARI, da marca Itambé.

Foi escolhido este CP devido à facilidade de acesso deste na região de Santa Maria,

além de sua característica de alta resistência inicial ser interessante pois, por ser um

concreto com alta porosidade, havia dúvidas se os corpos de prova possuiriam

consistência suficiente para suportar o próprio peso sem os moldes.

A caracterização do cimento está disponível na Tabela 3-4.

Tabela 3-4 – Caracterização do cimento

Fonte: adaptada de Cimento Itambé (2017)

Por fim, a Tabela 3-5 apresenta um resumo dos traços utilizados neste trabalho.

Tabela 3-5 – Resumo dos traços utilizados.

Traço Brita utilizada Porcentagem de

substituição de agregado po fresado #9,75 mm #6,30 mm #4,75 mm

Ref 1 20% 50% 30% 0

F15 - 1 20% 50% 30% 15%

T0 20% 50% 30% 0%

T15 20% 50% 30% 15%

T30 20% 50% 30% 30%

B0 Conforme curva granulométrica 0%

Onde: Ref 1: traço de referência para a primeira moldagem.

Page 36: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA …coral.ufsm.br/engcivil/images/PDF/2_2017/TCC... · Palavras–chave: Pavimentos Permeáveis; Concreto Poroso; Permeabilidade . LISTA DE FIGURAS

39

F15 – 1: traço utilizado com substituição de 15% da massa de brita por fresado

asfáltico.

T0: traço de referência para a segunda moldagem.

T15 – 2: traço com 15% de substituição de brita por fresado.

T30 -2: traço com substituição de 30% de brita por fresado.

B0: traço composto por brita 0 lavada.

3.3 Moldagem dos corpos de prova

Para garantir a estanqueidade dos corpos de prova, foram moldadas amostras

em PVC, a fim de evitar a percolação de água pelas laterais do corpo de prova durante

o ensaio de permeabilidade. A Figura 3-2 mostra os moldes dos corpos de prova (CPs)

destinados ao ensaio de permeabilidade e a Figura 3-3 os moldes prismáticos

utilizados.

Figura 3-2 – Moldes de PVC

Page 37: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA …coral.ufsm.br/engcivil/images/PDF/2_2017/TCC... · Palavras–chave: Pavimentos Permeáveis; Concreto Poroso; Permeabilidade . LISTA DE FIGURAS

40

Figura 3-3 – Moldes prismáticos

Os corpos de prova foram moldados de maneira análoga à realizada por

Batezini (2013), descrita a seguir:

• Colocar todo o agregado junto com 5% da quantidade total de cimento.

Misturar por 1 minuto.

• Colocar o restante do cimento junto com 90% da quantidade total de

água, sendo o equivalente a uma relação a/c de 0,3. Misturar por 3

minutos.

• Adicionar 10% da água, caso a consistência não esteja adequada.

Deixar a mistura em repouso por 3 minutos

• Misturar por 2 minutos.

Antes de adicionar os 10% de água restante, é realizada uma verificação visual

da consistência do concreto. Para tal, comprime-se uma amostra do concreto na mão

e este deve apresentar uma determinada coesão. Caso não possua, deve-se

adicionar os 10% de água restantes. Em todos os traços, o concreto apresentou falta

de coesão, sendo necessário a colocação de toda a água do traço, resultando na

relação a/c de 0,33. A Figura 3-4 e a Figura 3-5mostram a consistência do concreto

poroso antes e depois da adição da água.

Page 38: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA …coral.ufsm.br/engcivil/images/PDF/2_2017/TCC... · Palavras–chave: Pavimentos Permeáveis; Concreto Poroso; Permeabilidade . LISTA DE FIGURAS

41

Figura 3-4 – Consistência do concreto poroso antes da adição de 10% da água.

Figura 3-5 – Consistência do concreto poroso após a adição de 10% da água.

Os corpos de prova prismáticos foram moldados em 2 camadas, aplicando-se

25 golpes em cada camada. Os cilíndricos foram moldados em 3 camadas, aplicando-

se 15 golpes em cada. Após isso, os CPs foram colocados por 7 segundos em mesa

vibratória.

Page 39: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA …coral.ufsm.br/engcivil/images/PDF/2_2017/TCC... · Palavras–chave: Pavimentos Permeáveis; Concreto Poroso; Permeabilidade . LISTA DE FIGURAS

42

Após a moldagem, as amostras foram levadas nos moldes para câmara úmida

até a data dos ensaios. A desmoldagem dos CPs ocorreu aos 7 dias. A Figura 3-6

mostra os corpos de prova na câmara úmida, após desmoldagem.

Figura 3-6 – Corpos de prova na câmara úmida.

3.3.1 Quantidade de corpos de prova

Os corpos de prova prismáticos possuíam dimensões 10x10x40 centímetros.

Foram moldadas 6 amostras para cada traço realizado, sendo 3 ensaiadas aos 14

dias de idade e as outras 3 aos 28 dias de idade.

Os corpos de prova cilíndricos possuíam dimensões 10x20 centímetros. Foram

moldados 3 corpos de prova por traço. O ensaio de permeabilidade realizado nestes

CPs foi realizado aos 14 dias e 28 dias, com repetição dos corpos de prova, dado que

a permeabilidade é uma propriedade que não varia com a idade do corpo de prova.

3.4 Ensaios realizados

Nesta seção, será abordado sobre a metodologia utilizada em cada ensaio,

bem como normas consideradas e detalhes sobre a realização destes.

3.4.1 Ensaio de Permeabilidade

Como o laboratório não possuía um permeâmetro adequado para os corpos de

prova moldados, foi necessária a elaboração de um permeâmetro que possibilitasse

a realização do ensaio.

Page 40: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA …coral.ufsm.br/engcivil/images/PDF/2_2017/TCC... · Palavras–chave: Pavimentos Permeáveis; Concreto Poroso; Permeabilidade . LISTA DE FIGURAS

43

Primeiramente, o ensaio foi realizado através da colocação de um plástico

sobre o corpo de prova, preso ao molde de PVC por fita plástica. O ensaio consistia

em colocar uma massa de água conhecida sobre o corpo de prova, e cronometrar o

tempo necessário para que a película de água penetrasse no CP. A partir destes

dados, era calculada a taxa de infiltração que percolava o corpo de prova, através da

equação (3-1). Cada corpo de prova foi ensaiado 4 vezes, utilizando 1 kg de água

duas vezes e 2 kg de água nas outras duas vezes.

𝐼 =𝐾∙𝑀

𝑡∙𝐷² (3-1)

Sendo: I = taxa de infiltração (mm/h)

K = constante para conversão de unidades = 4583666000

M = massa de água percolada (kg)

t = tempo necessário para a infiltração da massa M de água (segundos)

D = diâmetro do corpo de prova (mm)

Destaca-se que não houve fuga de água no contato entre o molde e o plástico,

não afetando os resultados. A Figura 3-7 mostra como era o aspecto do molde com o

plástico anexado.

Figura 3-7 – Ensaio de infiltração utilizando plástico anexado ao molde de PVC.

Page 41: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA …coral.ufsm.br/engcivil/images/PDF/2_2017/TCC... · Palavras–chave: Pavimentos Permeáveis; Concreto Poroso; Permeabilidade . LISTA DE FIGURAS

44

O segundo método testado foi de maneira análoga, porém com uma maior

massa de água utilizada. O aumento na quantidade de água utilizada visava reduzir

os erros na medição do tempo durante o ensaio, minimizando a influência da

marcação deste na taxa de infiltração calculada. Para isso, foi necessário utilizar uma

luva de PVC anexa ao molde do corpo de prova, com uma extensão de 20 cm de cano

de PVC. Anexo ao cano foi colocada uma caixa de isopor que possuía a função de

reservatório. A ligação entre o PVC e o isopor foi realizada utilizando silicone, não

ocorrendo percolação lateral de água durante o ensaio. O ensaio consistia no mesmo

procedimento do ensaio anterior, porém, desta vez, era utilizado 5 kg e 10 kg de água

para cada medição. A taxa de infiltração foi calculada pela equação (3-1). O

equipamento utilizado está na Figura 3-8. Cabe ressaltar que estes dois métodos são

baseados na norma americana ASTM C1701– Standard Test Methods for Infiltration

Rate of in Place Pervious Concrete (ASTM, 2009).

Figura 3-8 – Segundo método utilizado para determinação da taxa de infiltração.

Por fim, foi possível a elaboração de dois permeâmetros, um de carga

constante, de acordo com a NBR 13292 (1995) e outro de carga variável, de acordo

com a NBR 14545(2000), porém estes métodos foram utilizados apenas nos corpos

Page 42: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA …coral.ufsm.br/engcivil/images/PDF/2_2017/TCC... · Palavras–chave: Pavimentos Permeáveis; Concreto Poroso; Permeabilidade . LISTA DE FIGURAS

45

de prova moldados com brita 0. O ensaio com permeâmetro de carga variável

consistia em cronometrar o tempo necessário para que a água descesse da marca de

290 mm até 70 mm. A Figura 3-9 mostra o ensaio sendo realizado em um corpo de

prova.

Figura 3-9 – Permeâmetro de carga variável

O ensaio com permeâmetro de carga constante (Figura 3-10) consistia em, com

um tempo pré-determinado, determinar a quantidade de água que percolava através

do corpo de prova durante esse tempo. O aparelho consistia de um reservatório com

um ladrão na parte superior, para manter o nível de água constante, e uma saída de

fundo, aonde o corpo de prova era anexado. Após o CP, havia uma mangueira que

servia para direcionar a água para dentro dos baldes, que era apoiada na borda de

um balde, cuja diferença de cota desta borda para o nível de água de ensaio era

previamente determinada.

Page 43: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA …coral.ufsm.br/engcivil/images/PDF/2_2017/TCC... · Palavras–chave: Pavimentos Permeáveis; Concreto Poroso; Permeabilidade . LISTA DE FIGURAS

46

Figura 3-10 – Permeâmetro de carga constante.

O coeficiente de permeabilidade para o permeâmetro de carga variável é

determinado pela equação (2-7) e para o permeâmetro de carga constante utiliza-se

a equação (2-3).

3.4.2 Ensaio de Resistência à Tração na Flexão

O ensaio de resistência à tração na flexão foi realizado em uma prensa

hidráulica, conforme a NBR 12142 (2010). O ensaio consiste em aplicar uma carga no

corpo de prova conforme a Figura 3-11.

Page 44: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA …coral.ufsm.br/engcivil/images/PDF/2_2017/TCC... · Palavras–chave: Pavimentos Permeáveis; Concreto Poroso; Permeabilidade . LISTA DE FIGURAS

47

Figura 3-11 – Representação do ensaio de resistência à tração na flexão.

Fonte: NBR 12142/2010

A resistência do material é determinada através da equação (3-2).

𝑓𝑐𝑡,𝑓 =𝐹∙𝑙

𝑏∙𝑑² (3-2)

Onde: fct,f= resistência à tração na flexão (MPa)

F = força máxima aplicada pela prensa no momento da ruptura do CP (N)

l = dimensão do vão entre apoios (mm)

b = largura média do CP (mm)

d = altura média do CP (mm)

A Figura 3-12 mostra um corpo de prova durante o ensaio de ruptura.

Figura 3-12 – Ensaio de resistência à tração na flexão.

Page 45: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA …coral.ufsm.br/engcivil/images/PDF/2_2017/TCC... · Palavras–chave: Pavimentos Permeáveis; Concreto Poroso; Permeabilidade . LISTA DE FIGURAS

48

3.4.3 Determinação do Índice de Vazios

A determinação do índice de vazios foi realizada através da determinação do

volume da amostra, da massa seca e da massa submersa do material, através da

equação (2-13). A Figura 3-13 mostra a balança utilizada para a determinação do

volume de vazios.

Figura 3-13 – Pesagem dos CPs para determinação do índice de vazios

Page 46: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA …coral.ufsm.br/engcivil/images/PDF/2_2017/TCC... · Palavras–chave: Pavimentos Permeáveis; Concreto Poroso; Permeabilidade . LISTA DE FIGURAS

49

4 Resultados e análise

4.1 Ensaio de Permeabilidade

O primeiro ensaio de permeabilidade realizado comparou um traço com apenas

agregado natural com um traço que houve a substituição de 15% do agregado natural

por fresado asfáltico. Nestes traços, foi realizado o primeiro ensaio de permeabilidade

descrito na metodologia, onde era determinada a taxa de infiltração que percolava

pelos corpos de prova. Os resultados do ensaio realizado no traço sem fresado está

disponível na Tabela 4-1, e os resultados do ensaio no traço com fresado está

disponível na Tabela 4-2.

Tabela 4-1 – Resultados do ensaio de permeabilidade no traço sem fresado

I (cm/s) Média (cm/s)

Desvio Padrão (cm/s)

Coeficiente de Variação

(%) Agua (kg)

CP 1 CP 2 CP 3

1 1,339 2,252 1,702 1,765 0,362 20,522

2 1,381 2,225 1,690

Traço sem fresado

Tabela 4-2 – Resultados do ensaio de permeabilidade no traço com 15% de fresado.

I (cm/s) Média (cm/s)

Desvio Padrão (cm/s)

Coeficiente de Variação

(%) Agua (kg)

CP 1 CP 2 CP 3

1 2,464 2,072 2,063 2,314 0,212 9,170

2 2,668 2,323 2,296

Traço com fresado

Nota-se que, estes primeiros resultados mostraram o aumento da taxa de

infiltração no traço que possui fresado. Isso deve-se ao fato dos agregados presentes

no fresado estarem revestidos de ligante asfáltico, diminuindo a rugosidade destes e,

consequentemente, diminuindo a perda de carga que ocorre durante a percolação da

água. Foi possível observar também que, para o traço com fresado, houve pouca

diferença no resultado para 1 kg e 2 kg de água. Além disso, os resultados obtidos

foram muito elevados, conforme os resultados obtidos em outros trabalhos. A

comparação entre os dois traços e os valores obtidos no ensaio estão disponíveis na

Figura 4-1.

Page 47: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA …coral.ufsm.br/engcivil/images/PDF/2_2017/TCC... · Palavras–chave: Pavimentos Permeáveis; Concreto Poroso; Permeabilidade . LISTA DE FIGURAS

50

Figura 4-1 – Comparação da taxa de infiltração do traço com e sem fresado.

Assim, para a segunda etapa do trabalho, o ensaio de permeabilidade foi

repensado, já que este não apresentou sensibilidade suficiente para apontar diferença

na taxa de infiltração conforme a variação de líquido percolado.

O segundo ensaio de permeabilidade foi realizado comparando um traço de

referência sem fresado com um traço que houve, novamente, 15% de substituição do

agregado por fresado asfáltico e outro que houve a substituição de 30%. Os resultados

obtidos neste ensaio estão disponíveis na Tabela 4.3. Foi denominado o T0 como o

traço de referência com 0% de fresado, T15 possui 15% de fresado e T30 possui 30%.

Page 48: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA …coral.ufsm.br/engcivil/images/PDF/2_2017/TCC... · Palavras–chave: Pavimentos Permeáveis; Concreto Poroso; Permeabilidade . LISTA DE FIGURAS

51

Tabela 4-3 – Resultados do segundo ensaio de permeabilidade

Traço CP Água (kg)

Tempo (segundos)

Taxa de Infiltração

(cm/s)

Média (cm/s)

Desvio Padrão (cm/s)

Coeficiente de Variação

(%)

T 0

1 5 101,84 0,666

1,048 0,276 26,301

10 187 0,725

2 5 56,499 1,181

10 105,84 1,261

3 5 55,815 1,194

10 105,733 1,260

T 15

1 5 50,423 1,308

1,256 0,125 9,980

10 94,037 1,413

2 5 62,499 1,067

10 113,581 1,170

3 5 53,927 1,237

10 99,231 1,344

T 30

1 5 43,1 1,573

1,244 0,299 24,067

10 81,1 1,672

2 5 63,824 1,046

10 116,692 1,144

3 5 68,341 0,975

10 126,111 1,057

Verificou-se nestes resultados uma diminuição da taxa de infiltração se

comparada ao primeiro ensaio, aproximando-se de valores encontrados por outros

trabalhos. Isso ocorreu pois, como o volume utilizado nesta era maior, foi possível

minimizar os possíveis erros na medição do tempo de infiltração. Notou-se novamente

que os traços com fresado apresentaram uma taxa de infiltração média maior que o

traço de referência, porém a diferença não é significativa o suficiente para afirmar que

o fresado influenciou a maior taxa. A comparação entre os 3 traços, bem como o

resultado para cada amostra, está disponível na Figura 4-2.

Page 49: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA …coral.ufsm.br/engcivil/images/PDF/2_2017/TCC... · Palavras–chave: Pavimentos Permeáveis; Concreto Poroso; Permeabilidade . LISTA DE FIGURAS

52

Figura 4-2 – Comparação da taxa de infiltração entre os traços T0, T15 e T30.

Além disso, os ensaios dos permeâmetros de carga constante e carga variável

foram realizados nos corpos de prova destes traços. O ensaio de carga constante

consistiu em determinar a massa de água que percola através das amostras em um

tempo de 30 segundos. O de carga variável, por sua vez, consistiu em determinar o

tempo em que a lâmina de água sobre o material leva para variar entre duas alturas

pré-determinadas.

Os resultados do ensaio de carga constante estão disponíveis na Tabela 4-4.

A ausência de dados do CP número 2 do traço T30 é explicada devido à fissuração

do molde de PVC que continha a amostra, tornando inviável a análise do ensaio

devido à saída de água através do molde. Os resultados do ensaio de carga variável

nestes traços estão disponíveis na Tabela 4-5.

Page 50: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA …coral.ufsm.br/engcivil/images/PDF/2_2017/TCC... · Palavras–chave: Pavimentos Permeáveis; Concreto Poroso; Permeabilidade . LISTA DE FIGURAS

53

Tabela 4-4 – Resultados do ensaio com permeâmetro de carga constante nos traços T0, T15 e T30.

Tabela 4-5 – Resultado do ensaio com permeâmetro de carga variável nos traços T0, T15 e T30.

A Figura 4-3 compara os três ensaios realizados. Considerando o ensaio de

carga constante, que é recomendado para medir o coeficiente de permeabilidade de

materiais porosos, nota-se que houve um aumento deste coeficiente nos traços que

possuíam fresado. Isso pode ser explicado pela película de ligante asfáltico que

envolve os agregados, que reduz o atrito entre a água e a brita, aumentando a

permeabilidade do material. Por outro lado, ao avaliar o ensaio de carga variável, nota-

se pouca diferença entre os resultados. Isso pode ser explicado pelo fato de que este

permeâmetro é recomendado para materiais menos permeáveis, o que implica em

resultados imprecisos quando utilizado em materiais permeáveis.

Traço CPh1

(cm)

h2

(cm)V1 (cm³) V2 (cm³)

K1

(cm/s)

k2

(cm/s)

Média

amostras

(cm/s)

Média

geral

(cm/s)

Desvio

Padrão

(cm/s)

Coeficiente

de

Variação

(%)

1 28,10 9,50 1308,70 764,70 0,422 0,730 0,576

2 28,10 9,50 1883,80 1295,80 0,597 1,215 0,906

3 28,10 9,50 997,70 666,60 0,317 0,627 0,472

1 28,10 9,50 2002,60 1161,10 0,624 1,071 0,847

2 28,10 9,50 1784,10 878,80 0,562 0,819 0,691

3 28,10 9,50 1191,80 961,90 0,378 0,904 0,641

1 28,10 9,50 1941,10 1518,90 0,625 1,446 1,035

2

3 28,10 9,50 1871,20 1029,70 0,589 0,959 0,774

0,651

0,726

0,905

28,4200,185

0,088

0,130

T0

T15

T30

12,107

14,416

Traço CP L (cm) t1 (s) t2 (s)K1

(cm/s)

K2

(cm/s)

Média

amostras

(cm/s)

Média

geral

(cm/s)

Desvio

Padrão

(cm/s)

Coeficiente

de Variação

(%)

1 20 10,650 10,540 0,631 0,638 0,634

2 20 8,190 8,130 0,821 0,827 0,824

3 20 7,620 7,660 0,882 0,878 0,880

1 20 7,560 7,590 0,889 0,886 0,887

2 20 10,250 10,210 0,656 0,658 0,657

3 20 8,470 8,430 0,794 0,797 0,795

1 20 10,280 10,090 0,654 0,666 0,660

2 20 11,120 11,090 0,604 0,606 0,605

3 20 6,900 6,870 0,974 0,978 0,976

T0

T15

T30

0,779

0,780

0,747

0,129 16,498

14,863

26,804

0,116

0,200

Page 51: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA …coral.ufsm.br/engcivil/images/PDF/2_2017/TCC... · Palavras–chave: Pavimentos Permeáveis; Concreto Poroso; Permeabilidade . LISTA DE FIGURAS

54

Figura 4-3 – Comparação entre ensaios de carga constante e variável.

Ao comparar os resultados obtidos nestes traços com o de Sales (2008),

observa-se que o valor encontrado de Sales (2008) foi muito próximo aos valores

encontrados no ensaio de carga variável.

Por fim, foi realizado o ensaio de permeabilidade nos corpos de prova cujo traço

era composto por brita 0. Primeiramente foi realizado o ensaio conforme o segundo

método apresentado neste trabalho. Os resultados estão disponíveis na Tabela 4-6 e

na Figura 4-4.

Tabela 4-6- Determinação da taxa de infiltração conforme o 2º método.

Traço CP Água (kg)

Tempo médio (s)

Taxa de Infiltração

(cm/s)

Média da amostra (cm/s)

Média geral

(cm/s)

Desvio Padrão (cm/s)

Coeficiente de Variação

(%)

B0

1 5 63,560 1,055

1,097

1,055 0,080 7,588

10 117,685 1,139

2 5 63,420 1,056

1,099 10 117,250 1,142

3 5 71,940 0,933

0,969 10 133,655 1,005

Page 52: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA …coral.ufsm.br/engcivil/images/PDF/2_2017/TCC... · Palavras–chave: Pavimentos Permeáveis; Concreto Poroso; Permeabilidade . LISTA DE FIGURAS

55

Figura 4-4 – Taxa de infiltração do traço com brita 0

Além desse ensaio, foi realizado nestes mesmos corpos de prova o ensaio de

permeabilidade através dos permeâmetros de carga constante e carga variável.

Para o ensaio de carga constante, foi adotado um tempo de 30 segundos como

referência para mensurar o volume de água que passaria pelo CP, para cada altura

de ensaio. Os resultados obtidos neste ensaio estão disponíveis na Tabela 4-7.

Tabela 4-7 – Ensaio de carga constante.

Sendo: hi= diferença de cota entre nível da água na entrada e saída;

Vi = volume de água mensurado após o ensaio, para cada altura;

Ki = condutividade hidráulica calculada para cada altura hi.

A Figura 4-5 mostra os resultados obtidos para cada amostra do ensaio e para

cada diferença de cota.

CPh1

(cm)

h2

(cm)V1 (cm³)

V2

(cm³)

K1

(cm/s)

k2

(cm/s)

Média

amostras

(cm/s)

Média

geral

(cm/s)

Desvio

Padrão

(cm/s)

Coeficiente

de Variação

(%)

1 19,60 10,60 1542,40 948,70 0,703 0,800 0,752

2 19,60 10,60 1567,40 990,60 0,714 0,835 0,774

3 19,60 10,60 1267,50 843,40 0,579 0,712 0,646

7,7460,724 0,056

Page 53: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA …coral.ufsm.br/engcivil/images/PDF/2_2017/TCC... · Palavras–chave: Pavimentos Permeáveis; Concreto Poroso; Permeabilidade . LISTA DE FIGURAS

56

Figura 4-5 – Resultados do ensaio de carga constante.

O ensaio de carga variável consistiu em determinar o tempo necessário para

que a água descesse por um tubo graduado da marca inicial até a final adotada. Os

resultados estão disponíveis na Tabela 4-8 e na Figura 4-6.

Tabela 4-8 – Resultado do ensaio de carga variável

CP t1 (s) t2 (s) K1

(cm/s) K2

(cm/s)

Média amostras

(cm/s)

Média Geral (cm/s)

Desvio Padrão (cm/s)

Coeficiente de Variação

(%)

1 36,195 35,505 0,785 0,800 0,792

0,7351 0,0411 5,594 2 40,000 39,535 0,710 0,718 0,714

3 40,785 40,445 0,696 0,702 0,699

Figura 4-6 – Resultados do ensaio de carga variável.

0,703 0,714

0,579

0,8000,835

0,712

0,00

0,20

0,40

0,60

0,80

1,00

CP 1 CP 2 CP 3

Co

efic

ien

te d

e P

erm

eab

ilid

ade

(cm

/s)

Ensaio de carga constante - Traço B0

K1 K2

0,7850,710 0,696

0,800

0,718 0,702

0,00

0,20

0,40

0,60

0,80

1,00

CP 1 CP 2 CP 3Co

efic

ien

te d

e P

erm

eab

ilid

ade

(cm

/s)

Ensaio de carga variável - Traço B0

K1 K2

Page 54: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA …coral.ufsm.br/engcivil/images/PDF/2_2017/TCC... · Palavras–chave: Pavimentos Permeáveis; Concreto Poroso; Permeabilidade . LISTA DE FIGURAS

57

Ao comparar os três ensaios, verifica-se que os ensaios realizados com os

permeâmetros apresentaram médias muito próximas, além de valores próximos ao

encontrado nos ensaios dos traços utilizando fresado asfáltico. Essa comparação é

feita na Figura 4-7. Ao comparar os métodos de ensaio, nota-se que o resultado obtido

por BATEZINI (2013) foi muito inferior ao encontrado no permeâmetro de carga

constante, por outro lado, o valor encontrado por SALES(2008) foi próximo ao valor

do ensaio de carga variável.

Figura 4-7 – Comparação entre ensaios de permeabilidade – Traço B0.

Assim, é possível afirmar que os ensaios realizados com permeâmetro

apresentaram resultados mais plausíveis, se comparado aos ensaios utilizados para

determinar a taxa de infiltração. Ao comparar os métodos (condutividade hidráulica x

taxa de infiltração), verifica-se que os valores calculados para o coeficiente de

permeabilidade foram cerca de 30% menores. Isso deve-se ao fato de que, o ensaio

utilizado para determinar a taxa de infiltração, foi uma adaptação de um ensaio de

campo. O fluxo de água que passava pelo corpo de prova durante o procedimento em

laboratório era praticamente unidirecional, diferente do que acontece em campo, onde

há um fluxo tridimensional.

0,724 0,735

1,055

0,140

0,790

0,00

0,20

0,40

0,60

0,80

1,00

1,20

CargaConstante

CargaVariável

Taxa deInfiltração

Batezini(2013)

Sales(2008)

Coe

ficie

nte

de

Pe

rme

ab

ilida

de

(cm

/s)

Ensaios

Coeficiente de Permeabilidade (cm/s)

Page 55: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA …coral.ufsm.br/engcivil/images/PDF/2_2017/TCC... · Palavras–chave: Pavimentos Permeáveis; Concreto Poroso; Permeabilidade . LISTA DE FIGURAS

58

Além disso, é possível concluir, ao comparar o resultado obtido nos traços T0,

T15, T30 e B0, que o uso de fresado resultou em economia de material pétreo, uma

vez que a permeabilidade do material pouco variou, em ambos casos.

4.2 Ensaio de Resistência à Tração na Flexão

Os corpos de prova utilizado neste ensaio foram rompidos aos 28 dias de idade.

Os resultados do ensaio de tração na flexão realizado nos primeiros traços (sem

fresado e com fresado) está disponível na Tabela 4-9 e na Figura 4-8.

Tabela 4-9 – Resultados de resistência dos CPs

traço Cp F (Kgf) Fct

(MPa) Média (MPa)

Desvio Padrão (MPa)

Coeficiente de Variação

(%)

sem fresado

1 800 2,562

2,537 0,041 1,629 2 780 2,571

3 760 2,479

com fresado

1 920 3,131

2,815 0,429 15,233 2 960 3,105

3 680 2,208

Figura 4-8 – Resultado do ensaio de tração na flexão, traço com e sem fresado.

Através destes dados, foi possível verificar que os corpos de prova sem fresado

apresentaram resistência cerca de 10% menor que os CPs com fresado. Essa

2,562 2,571 2,479

3,131 3,105

2,208

2,0

0,00

0,50

1,00

1,50

2,00

2,50

3,00

3,50

CP 1 CP 2 CP 3 CP 1 CP 2 CP 3

sem fresado com fresado

Resis

tên

cia

à T

raçã

o n

a F

lexã

o (

MP

a)

Corpos de Prova

Resistência à tração na flexão

Resistência à tração na flexão (MPa) NBR 16416

Page 56: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA …coral.ufsm.br/engcivil/images/PDF/2_2017/TCC... · Palavras–chave: Pavimentos Permeáveis; Concreto Poroso; Permeabilidade . LISTA DE FIGURAS

59

diferença não é significativa o suficiente para afirmar que o fresado melhorou a

resistência do concreto poroso. Nota-se que todos os corpos de prova apresentaram

resistência superior à exigida pela NBR 16416 (2015).

Os resultados dos ensaios realizados na 2ª etapa estão disponíveis na Tabela

4-10 e na Figura 4-9.

Tabela 4-10 – Resultados dos traços T0, T15 e T30

Traço CP F (kgf) Fct

(MPa) Média (MPa)

Desvio Padrão (MPa)

Coeficiente de Variação

(%)

T 0

1 880 2,993

3,136 0,111 3,551 2 960 3,264

3 930 3,151

T 15

1 600 2,072

2,577 0,359 13,922 2 830 2,788

3 840 2,871

T 30

1 800 2,798

2,798 0,180 6,431 2 880 3,018

3 770 2,577

Figura 4-9 – Resultado do ensaio de tração na flexão, traço T0, T15 e T30.

Neste caso, a resistência dos traços que possuíam percentual de fresado foi

inferior ao traço de referência (T0), sendo as resistências obtidas pelo traço com 15%

2,9933,264 3,151

2,072

2,788 2,871 2,7983,018

2,577

2,0

0,00

0,50

1,00

1,50

2,00

2,50

3,00

3,50

4,00

CP 1 CP 2 CP 3 CP 1 CP 2 CP 3 CP 1 CP 2 CP 3

T0 T15 T30

Re

sis

tên

cia

à T

raçã

o n

a F

lexã

o (

MP

a)

Resistência à tração na flexão

Resistência à tração na flexão (MPa) NBR 16416

Page 57: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA …coral.ufsm.br/engcivil/images/PDF/2_2017/TCC... · Palavras–chave: Pavimentos Permeáveis; Concreto Poroso; Permeabilidade . LISTA DE FIGURAS

60

de substituição e 30% muito parecidas. Considerando que a NBR 16416 (2015) exige

que um pavimento permeável apresente pelo menos 2 MPa de resistência à tração na

flexão, é possível afirmar que o uso de fresado é viável, já que este pouco modificou

a resistência do concreto. O principal benefício dessa substituição de brita por fresado

asfáltico é a redução do impacto ambiental produzido na produção do concreto, não

necessitando de tanta matéria prima virgem.

Por fim, foi realizado este ensaio para o traço composto por brita 0, cujos

resultados estão disponíveis na Tabela 4-11 e na Figura 4-10.

Tabela 4-11 – Resultado do traço com brita 0.

Cp F

(kgf) Fct

(MPa) Média (MPa)

Desvio Padrão (MPa)

Coeficiente de Variação (%)

1 960 3,223

3,503 0,450 12,848 2 1060 3,264

3 1200 4,022

Figura 4-10 – Resultado do ensaio de tração na flexão, traço com brita 0

Observa-se que o traço composto por brita 0 foi o que apresentou maior

resistência, atingindo uma média de 3,5 MPa aos 28 dias. Isso deve-se ao fato de,

como não houve o peneiramento do material antes da moldagem, a granulometria do

traço ser melhor graduada que a dos outros traços, havendo o preenchimento dos

vazios existentes entre as partículas maiores do material pelas partículas menores.

3,223 3,264

4,022

2,0

0,00

0,50

1,00

1,50

2,00

2,50

3,00

3,50

4,00

4,50

CP 1 CP 2 CP 3

Resis

tên

cia

à T

raçã

o n

a F

lexã

o

(MP

a)

Corpos de Prova

Resistência à Tração na Flexão

Resistência à tração na flexão NBR 16416

Page 58: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA …coral.ufsm.br/engcivil/images/PDF/2_2017/TCC... · Palavras–chave: Pavimentos Permeáveis; Concreto Poroso; Permeabilidade . LISTA DE FIGURAS

61

4.3 Índice de Vazios

A relação do índice de vazios foi determinada para os traços realizados a partir

da 2ª etapa do trabalho.

A relação do índice de vazios médio com a resistência à tração na flexão média

dos traços T0, T15 e T30 estão disponíveis na Figura 4-11.

Figura 4-11 – Relação entre índice de vazios x resistência à tração na flexão dos traços T0, T15 e T30.

É possível observar que, conforme esperado, o traço que possuiu maior índice

de vazios apresentou também a menor resistência. No entanto, a taxa de infiltração

apresentado pelo T15 foi a maior,

Comparando a relação entre taxa de infiltração e índice de vazios, o traço T15

apresentou maior taxa de infiltração, devido ao maior volume de vazios. Para os traços

T0 e T30, é possível observar que seus volumes de vazios são muito próximos. No

entanto, a taxa de infiltração obtida no T30 foi cerca de 18% maior. Isso deve-se aos

agregados revestidos por ligante asfáltico provenientes do fresado que, por estarem

com sua superfície envolta de CAP, apresentam menor rugosidade, o que provocou

uma menor perda de carga durante o ensaio. Estes resultados estão disponíveis na

Figura 4-12.

3,136

2,577

2,798

0,165 0,239 0,180

0,00

0,50

1,00

1,50

2,00

2,50

3,00

3,50

T0 T15 T30

Relação Índice de Vazios x Resistência à Tração na Flexão

Resistência à tração na flexão (MPa) Índice de Vazios

Page 59: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA …coral.ufsm.br/engcivil/images/PDF/2_2017/TCC... · Palavras–chave: Pavimentos Permeáveis; Concreto Poroso; Permeabilidade . LISTA DE FIGURAS

62

Figura 4-12 – Relação entre taxa de infiltração e índice de vazios dos traços T0, T15 e T30.

A Figura 4-13 mostra o índice de vazios dos corpos de prova prismáticos junto

com a resistência obtida nestes para o traço com brita 0. Verificou-se que o CP com

menor volume de vazios apresentou a maior resistência, conforme esperado.

Figura 4-13 – Relação índice de vazios x resistência para traço com brita 0.

1,048

1,256 1,244

0,1650,239

0,180

0,00

0,20

0,40

0,60

0,80

1,00

1,20

1,40

T0 T15 T30

Relação Índice de Vazios x Taxa de Infiltração

Taxa de Infiltração (cm/s) Índice de Vazios

3,223 3,264

4,022

0,210 0,181 0,165

0,00

0,50

1,00

1,50

2,00

2,50

3,00

3,50

4,00

4,50

CP 1 CP 2 CP 3

Relação Índice de Vazios x Resistência à Tração na Flexão

Resistência à Tração na Flexão (MPa) Índice de Vazios

Page 60: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA …coral.ufsm.br/engcivil/images/PDF/2_2017/TCC... · Palavras–chave: Pavimentos Permeáveis; Concreto Poroso; Permeabilidade . LISTA DE FIGURAS

63

4.4 Comparação entre os traços.

Por fim, os resultados dos traços T0, T15, T30 e B0 foram comparados, o que

está disponível na Figura 4-14.

Figura 4-14 – Resultados médios dos traços T0, T15, T30 e B0.

Assim, é possível verificar que o traço estudado que apresentou maior

resistência foi o composto por apenas brita 0. Contudo, a ideia de utilização de fresado

nesse tipo de material deve ser considerada, uma vez que a resistência obtida foi

superior à mínima exigida pela norma e a permeabilidade do material pouco variou,

ao analisar os resultados dos ensaios de carga constante e variável.

3,136

2,5772,798

3,503

0,651 0,726

0,905

0,7240,779

0,780

0,7470,735

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

3,0

3,5

4,0

T0 T15 T30 B0Traços

Resultados médios dos ensaios realizados nos traços T0, T15, T30 e B0

Resistência à tração na flexão (MPa)

Carga Constante (cm/s)

Carga Variável (cm/s)

Page 61: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA …coral.ufsm.br/engcivil/images/PDF/2_2017/TCC... · Palavras–chave: Pavimentos Permeáveis; Concreto Poroso; Permeabilidade . LISTA DE FIGURAS

64

5 Conclusões

A partir dos resultados obtidos, é possível concluir que:

• É possível utilizar a adaptação dos permeâmetros de carga constante e

variável utilizados em solos para determinar o coeficiente de permeabilidade

de concretos permeáveis, mesmo este sendo um material muito permeável.

O resultado obtido em ambos ensaios foi parecido, portanto, o permeâmetro

de carga variável, que é recomendado para determinar a condutividade

hidráulica de solos pouco permeáveis, pode ser utilizado neste material.

• Os resultados dos ensaios de taxa de infiltração apresentaram valores

elevados, ao comparar com resultados de outros autores.

• O índice de vazios do material afetou diretamente tanto a resistência como

a permeabilidade do material.

• É possível utilizar concreto poroso não só em vias de tráfego leve, como

também em ruas que exijam maior resistência do pavimento, desde que a

estrutura do pavimento (base e sub-base) seja dimensionada para este tipo

de revestimento. No traço com brita 0, por exemplo, foi obtida uma

resistência média de 3,50 MPa, superior aos 2 MPa que a NBR 16416 exige

para pavimentos permeáveis.

• Não foi possível determinar com precisão a influência do fresado na

resistência e na permeabilidade, devido à heterogeneidade desse tipo de

material. Contudo, os resultados obtidos dos traços com e sem resíduo

pouco divergiram, sendo possível a utilização de fresado visando reduzir o

impacto ambiental causado na produção do concreto, através da redução

do uso de matéria prima virgem.

• O uso de brita 0, sem peneirar, apresentou resultados satisfatórios tanto no

quesito mecânico quanto hidráulico. Este resultado serve como incentivo

para a indústria a começar a utilizar este tipo de pavimento em áreas

urbanas, já que é possível executar este tipo de revestimento com um

material comercial.

Page 62: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA …coral.ufsm.br/engcivil/images/PDF/2_2017/TCC... · Palavras–chave: Pavimentos Permeáveis; Concreto Poroso; Permeabilidade . LISTA DE FIGURAS

65

6 Referências

ACIOLI, L. Estudo experimental de pavimentos permeáveis para o controle

do escoamento superficial na fonte. [Dissertação de Mestrado] Universidade

Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS, 2005.

ARAÚJO, P. DE; TUCCI, C.; GOLDENFUM, J. Avaliação da eficiência dos

pavimentos permeáveis na redução de escoamento superficial. Revista Brasileira de

Recursos Hídricos, v. 5, p. 21–29, 2000.

ASTM C1701 / C1701M-17a, Standard Test Method for Infiltration Rate of In

Place Pervious Concrete, ASTM International, West Conshohocken, PA, 2017

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNIAS. NBR 13292:

Determinação do Coeficiente de Permeabilidade de Solos Granulares à Carga

Constante.Rio de Janeiro - RJ, 1995.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNIAS. NBR 14545 -

Determinação do Coeficiente de Permeabilidade de Solos Argilosos à Carga

Variável.Rio de Janeiro - RJ, 2000.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNIAS. NBR 7211 - Agregados

para Concreto - Especificação.Rio de Janeiro - RJ, 2005.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNIAS. NBR 12142: Concreto

- Determinação da resistência à tração na flexão de corpos de prova

prismáticos.Rio de Janeiro - RJ, 2010.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNIAS. NBR 16416:

Pavimentos Permeáveis de Concreto - Requisitos e Procedimentos.Rio de

Janeiro - RJ, 2015.

BATEZINI, R. Estudo Preliminar De Concretos Permeáveis Como

Revestimentos de Pavimentos para Áreas de Veículos Leves. [s.l.] Escola

Politécnica da Universidade de São Paulo, 2013.

CAPUTO, H. P. Mecânica dos solos e suas aplicações -. 1. ed. Rio de

Janeiro - RJ: LTC, 1988.

CIMENTO ITAMBÉ. Balsa Nova, 2017, disponível em:

http://www.cimentoitambe.com.br/ , acesso em 09 fev. 2017.

COLLINS, K. A.; HUNT, W. F.; HATHAWAY, J. M. Hydrologic and Water Quality

Evaluation of Four Permeable Pavements in North Carolina, USA. Journal of

Hydrologic Engineering, v. 13, p. 1146–1157, 2008.

Page 63: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA …coral.ufsm.br/engcivil/images/PDF/2_2017/TCC... · Palavras–chave: Pavimentos Permeáveis; Concreto Poroso; Permeabilidade . LISTA DE FIGURAS

66

CORREA, A. L. Procedimentos de Projeto e Execução de Pavimentos

Permeáveis Visando Retenção e Amortecimento de Picos de Cheias. Ecological

Engineering, v. 37, n. 3, p. 1–191, 2009.

COSTA, A. R.; SIQUEIRA, E. Q.; MENEZES FILHO, F. C. M. Águas Pluviais

Urbanas - Curso Básico de Hidrologia Urbana. Guia do profissional em treinamento

- Recesa- Brasília, p. 1–133, 2007.

DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS DE RODAGEM (DNER).

DNER-ME053-94: Misturas betuminosas - percentagem de betume. . 1994, p. 5.

EPA, U. S. Reducing Urban Heat Islands: Compendium of Strategies. Heat

Island Reduction Activities, p. 1–23, 2008.

HÖLTZ, F. DA C. Uso de concreto permeável na drenagem urbana: análise da

viabilidade técnica e do impacto ambiental. p. 118, 2011.

KNAPTON, J. A New Design Method for Permeable Pavements Surfaced with

Pavers. Highway Engineer, 2002.

MASCARÓ, J. J. a Infraestrutura Verde Como Estratégia de Sustentabilidade

Urbana. Encontro Nacional de Tecnologia e Ambiente Construído, n. 1, p. 962–

969, 2012.

OLEK, J. et al. Development of Quiet and Durable Porous Portland Cement

Concrete Paving Materials. Department of Transportation, Washington, DC.

University Transportation Centers Program. Report: SQDH-2003-5, p. 181-, 2003.

PEREIRA, E. Joint World Congress on Groundwater 1. n. 85, p. 1–17, 1984.

PORTE, C. S. Utilização de fresado asfáltico na produção de concreto

drenante. Trabalho de Conclusão de Curso, Universidade Federal de Santa Maria,

2017. 66 p.

QUADRELLI, A. C. Desenvolvimento de Composição de Concreto Permeável

com Agregados Oriundos de Fresados Asfálticos. Anais do V Encontro de Iniciação

em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420, 2015.

R. Baborsa Júnior, A. Elementos de Hidrologia Aplicada. p. 56–64, [s.d.].

R. Barbosa Júnior, A. Escoamento Superficial. p. 92–155, [s.d.].

REZENDE, O. M. Manejo sustentável de águas pluviais: uso de paisagens

multifuncionais em drenagem urbana para controle das inundações. p. 1–104, 2010.

SALES, T. L. DE. Pavimento permeável com superfície em blocos de concreto

de alta porosidade. p. 173, 2008.

Page 64: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA …coral.ufsm.br/engcivil/images/PDF/2_2017/TCC... · Palavras–chave: Pavimentos Permeáveis; Concreto Poroso; Permeabilidade . LISTA DE FIGURAS

67

SANTOS, J. R. Determinação do traço e caracterização da resistência de

um concreto drenante. Trabalho de Conclusão de Curso, Universidade Federal de

Santa Maria, 2017, 79 p.

SILVEIRA, A. L. L. Pré-Dimensionamento Hidrológico de Pavimentos

Permeáveis e Trincheiras de Infiltração. n. November, p. 11, 2003.

SPECHT, L. P.; KOHLER, R. Avaliação do ruído através do SPBI ( Statistical

Pass-By Index ) em diferentes pavimentos. 2009.

TENNIS, P. D.; LEMING, M. L.; AKERS, D. J. Pervious Concrete Pavements.

[s.l: s.n.].

TUCCI, C. Hidrologia - Ciência e Aplicação. 4. ed. [s.l: s.n.].

TUCCI, C. Plano Diretor De Drenagem Urbana De Campo Grande. v. VI, p. 1–

39, 2005.

TUCCI, C. E. M. Águas Urbanas. Estudos Avançados, v. 22, n. 63, p. 97–112,

2008.

UDFCD, U. D. AND F. C. D. Urban 3 storm drainage. [s.l: s.n.].