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Universidade de Brasília JUREMA TEREZINHA SONEGO MORGENTAL AS CONTRIBUIÇÕES DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPO PARA OS SEUS COORDENADORES NA CIDADE DE SANTA MARIA (RS): UM ESTUDO DE CASO FENOMENOLÓGICO Santa Maria 2007

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Universidade de Brasília

JUREMA TEREZINHA SONEGO MORGENTAL

AS CONTRIBUIÇÕES DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPO PARA OS

SEUS COORDENADORES NA CIDADE DE SANTA MARIA (RS): UM

ESTUDO DE CASO FENOMENOLÓGICO

Santa Maria

2007

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JUREMA TEREZINHA SONEGO MORGENTAL

AS CONTRIBUIÇÕES DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPO PARA OS SEUS COORDENADORES NA CIDADE DE SANTA MARIA (RS):

UM ESTUDO DE CASO FENOMENOLÓGICO

Monografia de Especialização Em Esporte Escolar Para a obtenção do título de Especialista em Esporte Escolar Universidade de Brasília Centro de Educação a Distância

Orientador: Prof. Dr. HUGO NORBERTO KRUG

Santa Maria 2007

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

CENTRO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

ESPECIALIZAÇÃO EM ESPORTE ESCOLAR

A COMISSÃO EXAMINADORA, ABAIXO ASSINADA, APROVA A MONOGRAFIA

AS CONTRIBUIÇÕES DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPO PARA OS SEUS COORDENADORES NA CIDADE DE SANTA MARIA (RS):

UM ESTUDO DE CASO FENOMENOLÓGICO

ELABORADA POR:

JUREMA TEREZINHA SONEGO MORGENTAL

COMO REQUISITO PARCIAL PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE ESPECIALISTA

EM ESPORTE ESCOLAR

COMISSÃO EXAMINADORA:

_____________________________________________ Prof. Dr. Hugo Norberto Krug – Orientador - UFSM

____________________________________________

____________________________________________

Santa Maria, 5 de abril de 2007.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus familiares, especialmente aos meus pais, ao meu

esposo Cláudio pela compreensão, pela colaboração nos momentos difíceis, aos meus filhos

Marcos e Caroline pela paciência e carinho que tiveram durante este tempo de estudos e pelos

momentos em que estive ausente.

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AGRADECIMENTOS

À Deus, fonte de inspiração e sabedoria.

Aos meus colegas de curso, pelo apoio, motivação e incentivo nos momentos

difíceis.

À direção, alunos e colegas da Escola Estadual Irmão Otão, aos coordenadores

do Programa Segundo Tempo.

Ao Ministério dos Esportes, aos professores, tutores do CEAD, pela

oportunidade de realizar o curso de especialização à distancia.

Ao prof. Dr. Hugo Norberto Krug, meu orientador, e a todas as pessoas que

muito contribuíram para a realização deste trabalho.

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RESUMO

AS CONTRIBUIÇÕES DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPO PARA OS SEUS COORDENADORES NA CIDADE DE SANTA MARIA (RS):

UM ESTUDO DE CASO FENOMENOLÓGICO

Autora:

Orientador: Prof. Dr. Hugo Norberto Krug

A presente investigação teve como objetivo Analisar as contribuições positivas e negativas do

Programa Segundo Tempo (PST) para os seus coordenadores na cidade de Santa Maria (RS)

deixou para as escolas, os professores e os alunos participantes. Participaram da investigação

os dois coordenadores do PST na cidade de Santa Maria (RS). O instrumento utilizado para a

coleta de informações foi uma entrevista semi-estruturada. Através da análise fenomenológica

foi possível verificar que o Programa Segundo Tempo trouxe muitos pontos positivos para as

escolas, para os professores e para os alunos, contribuindo de maneira significativa para o

crescimento e o entendimento das relações entre professores, alunos, direção, estagiários e

pais. Desta forma, o Programa Segundo Tempo, ao ter um cunho social, contribuiu para o

crescimento integral do aluno, de forma inclusiva, com acesso a todos, estimulando a

participação e a integração dos mesmos no contexto escolar, onde trouxe grandes benefícios

para a escola e para a comunidade.

Palavras-chave: Programa Segundo Tempo; Contribuições; Esporte Escolar.

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SUMÁRIO

O PONTO DE PARTIDA DA INVESTIGAÇÃO....................................................... 9

1- CONTEXTUALIZAÇÃO DO PROBLEMA............................................................... 9

2- OBJETIVOS DO ESTUDO......................................................................................... 11

2.1- Objetivo geral......................................................................................................... 11

2.2- Objetivos específicos.............................................................................................. 11

3- JUSTIFICATIVA......................................................................................................... 12

AS BASES TEÓRICAS DA INVESTIGAÇÃO........................................................... 13

1- O ESPORTE ESCOLAR: UMA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA.................... 13

2- O ESPORTE NA CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA................................................ 18

3- O JOGO UTILIZADO COMO ELEMENTO EDUCATIVO...................................... 22

4- UMA VISÃO SOBRE O ESPORTE E A ESTÉTICA NA MÍDIA............................. 26

A FENOMENOLOGIA COMO CAMINHO DA INVESTIGAÇÃO........................ 29

1- VISÃO DA SÍNTESE DO PROCEDIMENTO METODOLÓGICO.......................... 29

1.1- A corrente do pensamento: Fenomenologia........................................................... 29

1.2- Abordagem da pesquisa: Qualitativa...................................................................... 30

1.3- Forma assumida (tipo): Estudo de caso.................................................................. 31

1.4- Coleta de informações: Pesquisa bibliográfica e entrevista.................................... 31

1.5- Interpretando as informações: Análise fenomenológica......................................... 33

2- ABRANGÊNCIA DA INVESTIGAÇÃO: PARTICIPANTES................................... 34

OS ACHADOS DA INVESTIGAÇÃO: A INTERPRETAÇÃO DOS

SIGNIFICADOS..............................................................................................................35

1- AS ESSÊNCIAS DAS CONTRIBUIÇÕES POSITIVAS DO PROGRAMA

SEGUNDO TEMPO PARA OS DISCENTES.................................................................

35

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2- AS ESSÊNCIAS DAS CONTRIBUIÇÕES NEGATIVAS DO PROGRAMA

SEGUNDO TEMPO PARA OS DISCENTES................................................................. 40

O TEMA DA INVESTIGAÇÃO DESVELADO: QUANDO ENTENDEMOS OS

PONTOS POSITIVOS E NEGATIVOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPO

PARA OS DISCENTES....................................................................................................

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REFERÊNCIAS.............................................................................................................. 45

ANEXOS.......................................................................................................................... 49

ANEXO A......................................................................................................................... 50

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O PONTO DE PARTIDA DA INVESTIGAÇÃO

1- CONTEXTUALIZAÇÃO DO PROBLEMA

Uma educação democrática, comprometida com a promoção do ser humano na

integridade, constitui-se em um dos principais mecanismos de transformação de um povo,

pois possibilitará a formação de valores e comportamentos que respeitem as diferenças e as

características próprias de cada um.

As instituições formadoras ainda pautam seus conhecimentos em diferentes

teorias e áreas de conhecimento, que muitas vezes não tem ligação com a realidade cotidiana

do professor. Entretanto, acredito ser necessário uma formação que parta das realidades

produzidas no contexto escolar, facilitando ao professor fazer as relações entre os

conhecimentos que possuem em educação e a realidade com a qual se convive na escola, e

estes devem ser reconstruídos e questionados através de uma atitude reflexiva na sua ação

docente.

A Educação Física escolar vive há muito à busca de rumos e objetivos mais

claros. A história mostra que ela passou por várias tendências, sofreu várias crises, e que a

partir da década de noventa novas concepções começaram a surgir, caracterizado pela

consolidação e implementação de muitas propostas e projetos nas diferentes concepções

pedagógicas dentro do cenário nacional.

O conteúdo da Educação Física não muda, está inserida no jogo, esporte,

ginástica, na luta, dança, o que se pode chamar de cultura corporal de movimento. O que

muda são as formas de concebê-la e ensiná-la, onde ainda encontramos muitos professores

desenvolvendo seu trabalho de forma tradicional.

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A Educação Física como prática educativa deve estar inserida dentro de todo

um contexto escolar, como disciplina que tem grande relevância na vida e na formação do

aluno. Por isso, através da nossa prática pedagógica devemos nos preocupar com o

desenvolvimento global dos nossos alunos, buscando integrá-los ao meio físico e social,

portanto, a criança precisa vivenciar diferentes práticas corporais. Devemos ainda planejar

nossas ações de acordo com as fases de desenvolvimento e a faixa etária dos alunos, como

também a realidade da escola, o seu contexto social, a sua cultura, valorizando as suas

experiências, preparando-os para agir de forma consciente, reflexiva e crítica, levando em

consideração os aspectos do movimento, do pensamento e do sentimento, proporcionando

uma prática prazerosa, descontraída e alegre, com isso estaremos promovendo uma melhoria

da qualidade de vida, das habilidades, formação de valores éticos e de comportamento que

irão levar para o resto da vida.

Durante o desenvolvimento das atividades do Programa Segundo Tempo,

estimulamos a cooperação, a criatividade, a participação, a convivência, enfim, a socialização

de uma maneira em geral, possibilitando a formação de cidadãos responsáveis, críticos e

capazes de atuar conscientes na sociedade.

O esporte deve ser tratado como facilitador do processo educacional e pode ser

aplicado privilegiando o seu caráter lúdico.

A Educação Física visa melhorar a educação em geral, porque sabemos que

através dos jogos, das brincadeiras e da cultura corporal de movimento os alunos

desenvolvem a capacidade de raciocinar, de tomar decisões, de desenvolver competências

para o agir coletivo, desde que sejam utilizados os procedimentos didáticos adequados e a

orientação certa que sirva como forma de educar.

Como a Educação Física deve estar inserida na contexto social, cultural e

humano, devemos buscar compreender que valores buscamos e queremos para os nossos

alunos, considerando que estamos perante uma sociedade em que há uma crise de valores

morais e sociais, onde os jovens possuem muitas incertezas e inseguranças, acredito que

através do Programa Segundo tempo, onde os alunos participaram de diferentes práticas

esportivas, no turno inverso das suas aulas, participaram de festivais envolvendo outras

escolas, se relacionaram com outras pessoas, eles tenham passado por momentos de

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valorização e de inclusão social, fazendo com que haja uma melhoria da sua auto-estima coma

construção de novos valores e vivências indispensáveis à formação humana.

Baseado nestas premissas surgiu a questão problemática norteadora deste

estudo: Quais são as contribuições positivas e negativas que o Programa Segundo Tempo na

visão dos seus coordenadores, trouxe para os alunos, professores e escolas participantes?

2- OBJETIVOS DO ESTUDO

2.1- Objetivo geral

Analisar as contribuições positivas e negativas do Programa Segundo Tempo

para os seus coordenadores na cidade de Santa Maria (RS) deixou para as escolas, os

professores e os alunos participantes.

2.2- Objetivos específicos

Para facilitar o cumprimento do objetivo geral este foi desmembrado nos

seguintes objetivos específicos:

1) Identificar as contribuições positivas do Programa Segundo Tempo para os seus

coordenadores na cidade de Santa Maria (RS) deixou para as escolas, os professores e os

alunos participantes.

2) Identificar as contribuições negativas do Programa Segundo Tempo para os seus

coordenadores na cidade de Santa Maria (RS) deixou para as escolas, os professores e os

alunos participantes.

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3- JUSTIFICATIVA

A importância desta pesquisa está na contribuição que as atividades

desenvolvidas durante o Programa Segundo Tempo trouxe tanto para os alunos como para a

comunidade escolar. Podemos constatar que através das atividades recreativas, desportivas,

lúdicas e da cultura corporal, houve uma participação mais efetiva dos alunos nas aulas,

proporcionando o desenvolvimento da criatividade, da cooperação, da socialização,

promovendo novas relações, melhorando sua auto-estima, sendo de fundamental importância

para um harmonioso convívio social.

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AS BASES TEÓRICAS DA INVESTIGAÇÃO

1- O ESPORTE ESCOLAR: UMA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA

O esporte escolar se realiza com ênfase no processo educativo, como forma do

homem se fazer e se entender no mundo. A partir da década de 80, começaram a haver

algumas transformações do ensino dos esportes na escola, onde alguns professores de

Educação Física começaram a questionar e repensar a respeito da sua metodologia, tendo em

vista a realização de ações que possam favorecer os alunos, procurando meios para que

através do esporte possam construir conhecimentos, interpretar e interagir no contexto no qual

se encontram.

Tendo em vista a importância que o esporte assume como conteúdo nas aulas,

o professor de Educação Física precisa refletir dia a dia sobre sua prática docente.

Segundo Carmo (1985, p.39):

(...) cabe ao professor engajado na luta mais ampla que excede o âmbito escolar, e do sistema de ensino, escolher entre fazer da sua ação pedagógica um instrumento que apenas reproduza as vivências educacionais, ou torna-lo uma poderosa arma de negação da caótica situação.

É justamente por isso, que o professor deve estar atento ao que acontece no dia

a dia, visto que nos últimos tempos o esporte tem assumido uma dimensão bastante

significativa, despertando interesses em todo o mundo. Cabe ao professor de Educação Física

questionar e criticar que conteúdo dos esportes é mais significativo para seus alunos, tendo a

consciência do tipo de homem que queremos formar e do tipo de sociedade que queremos ter,

e saber quais os valores essenciais que estão sendo trabalhados e reforçados no ensino dos

esportes na escola.

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Para o Ministério dos Esportes (2004, p.11):

A pedagogia do esporte deve assumir definitivamente como área responsável por organizar conscientemente e de forma comprometida, todo o processo de ensino-aprendizagem dos esportes, quer num ambiente de educação formal, quer num não formal.

O esporte será educativo se for tratado além de um contexto, que deve ir além

da aquisição de habilidades, de condutas éticas e sociais, devem estimular sentimentos de

cooperação, de solidariedade, de criatividade, sendo agente transformador do seu tempo,

formando cidadãos conscientes capazes de conviver em sociedade com responsabilidade e

autonomia.

O esporte é um fenômeno social que atingiu níveis muito complexos de

desenvolvimento nas diversas sociedades (TUBINO, 2001, p.57).

No âmbito social, o esporte tem função pedagógica no processo de

transformação do indivíduo, ressaltando a solidariedade, o espírito de equipe e outros fatores

essenciais ao desenvolvimento humano.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) recomendam uma educação

física que extrapole suas atividades curriculares, visando a construção de uma escola

comprometida com a transformação social, permitindo o conhecimento crítico da realidade,

onde a educação para a cidadania possibilitará que questões sociais sejam apresentadas para

maior reflexão, com isso, o currículo passará ser mais flexível e aberto (BRASIL, 1998).

Desta forma, vê-se o papel importante que a Educação Física tem para os

alunos, principalmente se seus professores estiverem comprometidos através de sua ação

pedagógica, valorizando os alunos em todos os sentidos: físicos, morais, sociais, etc, assim

estará promovendo questões fundamentais para os alunos tanto dentro como fora da escola.

Em geral, o propósito da educação é a de ajudar cada criança a desenvolver seu

potencial da melhor maneira e possível. Segundo Guiselini (1984) o movimento bem

orientado é visto e comparado como de importância fundamental para o desenvolvimento de

todas as potencialidades da criança num todo integrado.

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Sabemos da importância do papel educativo através do ensino dos esportes,

por isso devemos destacar também a diversidade de conhecimento que podemos oferecer no

processo de ensino e aprendizagem, visto como um meio formativo de grande valia para

crianças e adolescentes.

Garganta (1995, p.11) coloca que: “(...) na medida em que a prática, quando

corretamente orientada, induz o desenvolvimento de competências em vários planos, dentre os

quais nos permitimos salientar o tático-cognitivo, o técnico e o sócio-afetivo”.

Oferecendo aos alunos oportunidades de vivenciar experiências diversificadas

de movimentos e que este procedimento pedagógico trará futuramente vantagens motoras,

psicológicas, técnicas e táticas, sempre tendo o cuidado em não expor o aluno a um processo

que pode acarretar problemas na sua formação.

O esporte no contexto formador deve ter tratamento pedagógico que: (a)

instrumentalize o aluno a conviver com o fenômeno esporte; (b) não privilegie a

especialização precoce; (c) tenha como princípio à participação; (d) paute-se pela

diversificação de modalidades; (e) usar o jogo como recurso pedagógico importante; e, (f)

leve em conta as múltiplas possibilidades do esporte, compreendendo seus diferentes

significados.

Concordo com Freire quando ele diz que a alegria na escola não é só

necessária, mas possível.

Necessária porque, gerando-se numa alegria maior- a alegria de viver- a alegria na escola fortalece e estimula a alegria de viver. Se o tempo da escola é um tempo de enfado em que o educador e educadora vivem os segundos, os minutos, os quartos de hora a espera de que a monotonia termine a fim de que partam risonhos para a vida lá fora, a tristeza da escola termina por deteriorar a alegria de viver. É necessário ainda porque viver plenamente a alegria na escola significa muda-la, significa lutar para incrementar, melhorar, aprofundar as mudanças. Para tanto essa reviravolta indispensável é preciso deixar bem longe de nós a distorção mecanicista, é necessário encarnar um pensar dinâmico, dialético. O tampo que levamos dizendo que para ver a alegria na escola é preciso primeiro mudar radicalmente o mundo é o tempo que perdemos para começar a inventar e viver a alegria. Além do mais lutar pela alegria na escola é uma forma de lutar pela mudança no mundo” (FREIRE, 1996. p.9-10).

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Em vista disso, se o professor estimular aos seus alunos um ambiente de

participação, de motivação através dos jogos em geral, das brincadeiras e dos esportes,

proporcionando momentos de alegria e de prazer em participar das atividades, de

compreender que o importante, é descobrir juntos, o prazer em jogar, pois tudo o que se

aprende brincando jamais se esquece, tornando grandes momentos de felicidade e de

convivência em grupo, tão importante na vida dos nossos jovens. Se o professor conseguir

desempenhar este papel de proporcionar aos seus alunos a alegria de ir para a escola num

ambiente saudável, este sentir-se-á parte importante do contexto elevando assim a sua auto-

estima tão importante para qualquer pessoa.

Daiuto (1979), dizia que para o homem praticar esportes durante a vida, é

necessário que a infância tenha adquirido o hábito, o prazer de praticá-lo.

Snyders (1993) afirma a existência possível de uma escola alegre, afirma a

possibilidade da alegria como sentimento que floresce do ato de conhecer. Não na simples

alegria de fazer o que gosta, por isto sentir alegre. Falo a alegria da descoberta, da alegria de

se aproximar do que é mais elaborado, do que é mais difícil, daquilo que não seria possível

sem o professor e sem a escola. Assim para a escola os saberes científicos, técnicos, estéticos

e a escola como algo diferente da vida corrente e, exatamente por isto, desafiador.

O prazer e a alegria não são finalidades da escola, mas são sentimentos

presentes no caminho da criança e do jovem que vão ao encontro de um determinado tipo de

saber ou que deveria ir. A escola é um momento na vida de quem está em seu interior e não

apenas uma preparação para o futuro.

O papel da escola, da metodologia, do planejamento, do professor, é organizar

criativamente o conhecimento a ser tratado, é produzir desafios com o desconhecido, é

arrancar a alegria a cada desafio.

Para Tubino (2001) o esporte não deve ser considerado um fim a si mesmo,

mas pode servir de meio de formação e libertação dos seus praticantes. Considerando sua

manifestação educacional este exige um conteúdo fundamentalmente educativo, vinculando-

se as três áreas de atuação pedagógica: a integração social, a de desenvolvimento psicomotor

e a das atividades físicas educativas. Como forma de participação ativa, o esporte além da

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perspectiva de lazer, deve formar cidadãos, melhorando a sua compreensão como sujeito

enquanto totalidade corporal constitui uma prática social de grande valia para seus praticantes.

Sadi (2004, p.35) coloca que no esporte, há oportunidades de formação, de

educação e difusão dos valores sociais, conhecimentos e pensamentos voltados para o senso

crítico.

É de fundamental importância para nossos alunos a nossa orientação sobre os

valores e a cultura. As crianças e os jovens sofrem influências do meio onde vivem e dos

meios de comunicação.

à medida que a criança se relaciona com outras pessoas, passa a ver nelas aspectos que lhe despertam interesses. Ela descobre, também o prazer dos jogos em grupos. Para usufruir essas vantagens, no entanto tem de chegar a acordos que pressupõem reivindicar certos interesses e abrir mão de outros. Ela precisa aprender a julgar valores de certo e errado, de bem e mal e assim por diante (FREIRE; SCAGLIA, p.21).

A orientação do professor é de suma importância para o aluno na sua

formação, onde elas deverão saber discernir e entender os pontos positivos e os negativos do

que lhe é apresentado, e ver o que é melhor para si e sua vida.

O professor em sua prática pedagógica deve se preocupar com o

desenvolvimento integral dos seus alunos, transmitindo muito mais do que gestos técnicos,

deve proporcionar um processo de ensino e aprendizagem que venha possibilitar um

aprendizado dos esportes, mas que este aprendizado não tenha um fim em si mesmo, ou seja,

este processo deve estar envolvido em todo um contexto vivido pelo aluno.

Conforme Tubino (2001), o esporte está deixando de perspectivas apenas de

rendimento para incorporar o novo paradigma onde são ressaltados os sentidos educativos e o

bem estar social, que uma prática prazerosa pode proporcionar.

O esporte só tem sentido educativo quando tem por finalidade passar o

conhecimento para o aluno, tanto no nível técnico, quanto em valores culturais, que levarão ao

desenvolvimento global.

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Portanto, é necessário que o esporte seja encarado como esporte educação e

que a passagem dos alunos pelo mesmo durante a vida escolar seja satisfatória e prazerosa,

promovendo ainda através dele a inclusão, a participação, a convivência, a cooperação, o

espírito de equipe e o aprimoramento dos valores que levarão para o resto da vida.

2- O ESPORTE NA CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA

Uma educação democrática, comprometida com a promoção do ser humano na

sua integralidade, constitui-se um dos principais mecanismos de transformação de um povo,

pois possibilitará a formação de valores e comportamentos que respeitem as diferenças e as

características próprias e de grupos.

Educar para a cidadania continua sendo um desafio que traz para a discussão

questões de valores subjacentes a essa formação.

Através do esporte é possível criar ambiente rico em relações de cooperação,

de oportunidades, de lutas por um espaço, enfim, o esporte oferece situações de direitos e

deveres que contribuem para a construção da cidadania.

A era da informação e a tecnologia tem promovido mudanças na

conscientização social e nas aspirações individuais, não apenas redefinindo a noção da

cidadania, mas agregando-lhe valores, o direito individual , o coletivo, que está cada vez mais

abrangente (DE LUCCA, 2002, p.1).

Por isso, a prática dos esportes seja na escola, ou fora do seu contexto, faz as

pessoas fugir do sedentarismo, proporcionando momentos de lazer, como meio de aliviar as

tensões do dia a dia, melhorando seu estado físico e mental, e ainda fazendo a interação com

outras pessoas.

Segundo Coletivo de Autores (1993, p.56) “(...) não é o esporte que faz o

homem, mas o homem que faz o esporte (...)”.

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O esporte na escola deve ser sinônimo de educação, de garantir a criança e o

adolescente à prática do esporte como instrumento de desenvolvimento integral e de formação

para a cidadania.

Gonçalves (1994, p.160-161) coloca que:

Dentro da perspectiva transformadora, a prática do esporte na âmbito escolar fugindo de uma prática de competição exacerbada, elitizante e agressiva, oferece amplas oportunidades ao professor de educação física para proporcionar aos alunos autênticas experiências corporais e, ao mesmo tempo, a possibilidade de vivenciar concretamente princípios democráticos.

Para nós, é importante em nossas aulas é ver a socialização ultrapassando os

limites do esporte de rendimento, para que todos os alunos possam participar das atividades,

ampliando e valorizando a cultura do brincar e do jogar, proporcionando a existência de um

clima agradável de cooperação e de companheirismo.

Para Gadotti (1997, p.46): “a idéia de autonomia é intrínseca a idéia de

democracia e cidadania. Cidadão é aquele que participa (...) e só pode participar (...) da

tomada de decisões quem tiver poder e liberdade e autonomia para exercê-lo”.

Já Kunz (1994, p.31) destaca que:

O aluno enquanto sujeito do processo de ensino deve ser capacitado para a sua vida social, cultural e esportiva, o que significa não somente a aquisição de uma capacidade de conhecer, reconhecer e problematizar sentidos e significados nesta vida através da reflexão crítica.

Sendo assim, o professor deve em suas aulas desenvolver a capacidade do

aluno de questionar e criticar de uma maneira consciente os assuntos abordados em aula.

Para Oliveira (1983, p.87) “(...) a Educação Física apesar de ser uma atividade

essencialmente prática pode oferecer oportunidade para a formação do homem consciente,

crítico e sensível a realidade que o envolve”.

Já De Marco (1995, p.18) diz que:

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Volto-me para as escolas e percebo a importância de se declarar a educação motora como uma atividade prazerosa que se mostra como um fenômeno cultural com propostas educacionais. Que não privilegie apenas a competição, mas que não se limite a conteúdos pré-determinados, mas que atenda os anseios e as necessidades do homem. Que não comprometa em adestrar movimentos, mas que se preocupe com a corporeidade do corpo-sujeito. Que não se fundamente uma concepção dualista, mas que saiba caminhar em direção a novos paradigmas. Que não vise ao puro rendimento motor, mas que descortine possibilidades ilimitadas de movimentos.

A escola é o local onde o aluno se constrói corporalmente através do processo

de ensino e aprendizagem, é preciso incorpora-lo aos diferentes movimentos, associados a sua

cultura, a serem reflexivos e conscientes no que o professor lhe propuser.

O professor deve educar para a vida, onde o ser humano está inserido num

contexto histórico cultural, que sua vida só faz sentido quando há um convívio harmonioso

com outras pessoas.

De acordo com Libâneo (1991, p.47):

O sinal mais indicativo da responsabilidade profissional do professor é seu permanente empenho na instrução e educação dos seus alunos, dirigindo o ensino e as atividades de estudo de modo que estes dominem os conhecimentos básicos e as habilidades, e desenvolvam suas forças, capacidades físicas e intelectuais, tendo em vista equipa-los para enfrentar os desafios de vida prática no trabalho e nas lutas de classes sociais pela democratização do ensino.

O processo de formação da criança e do adolescente, sua intelectualidade, sua

personalidade, sua formação motora, referem-se ao ser humano que vive em um mundo social

composto por diferentes elementos: família, escola, comunidade etc, cada um destes

elementos é parte fundamental para o sucesso do desenvolvimento dos mesmos. As

transformações sociais se consolidam através das ações do cotidiano, a educação pelo esporte

deve direcionar as ações no sentido de valorização da ética, da criatividade, da criticidade, e

seus valores nos indivíduos como ser social, bem como os valores aliados ao esporte.

Os PCNs tem como função primordial subsidiar a elaboração curricular,

incentivando a discussão pedagógica, a elaboração de propostas educativas, assim como servir

de material de reflexão para prática do professor, ou seja, uma reflexão para todo o país,

permitindo aos nossos jovens ter acesso ao conjunto de conhecimentos socialmente

elaborados e reconhecidos como necessário ao exercício de sua cidadania.

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Os PCNs da Educação Física trazem uma proposta que procura democratizar,

humanizar e diversificar a prática pedagógica da área, buscando ampliar, de uma visão apenas

biológica, para um trabalho que incorpore as dimensões afetivas, cognitivas e sócio-cultural

dos alunos. Incorpora de forma organizada as principais questões que o professor deve

considerar no desenvolvimento do seu trabalho, subsidiando as discussões, os planejamentos

da prática da Educação Física.

Também os PCNs, que servem de apoio as discussões e ao desenvolvimento

dos projetos educativos da escola, reforçam a necessidade de se construir uma educação

básica que adote o eixo estrutural o princípio da exclusão, apontando para uma perspectiva

metodológica de ensino-aprendizagem que busque a cooperação e a igualdade de direitos.

Para que essas idéias e esses valores se tornem realidade na educação escolar

não basta incluí-los nas leis e nos PCNs, é necessário entender que quanto mais o pensamento

e a prática educacionais se situam no campo dos direitos mais inevitável se torna encarar a

escola como um dos espaços instituídos da integração e da diversidade. E como diz Arroyo

(1996), é preciso também situar a escola na constituição de um projeto político e cultural por

um ideal democrático que reflita, ao mesmo tempo, a complexa diversidade de grupos, etnias,

gêneros, demarcado não só por relações de perda, de exclusão, de preconceitos e

discriminações, mas também por processos de afirmação de identidade, valores, vivencias e

cultura.

São necessárias formulações de políticas públicas que apóiam a população a

melhorar e manter o bem estar físico, mental, social e espiritual para a promoção da saúde. É

fundamental destacar que fatores como: alimentação, moradia, trabalho adequado,

transporte,lazer e bem estar determinam e favorecem a vida saudável (MINISTÉRIO DOS

ESPORTES, 1996).

Para Barreto; Lira (2003) a saúde não é assegurada apenas pelo setor da saúde.

É importante desenvolver estratégias de trabalhos intersetoriais a fim de estimular o

desenvolvimento de iniciativas aos espaços saudáveis.

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Promover atividade físicas de lazer, de cultura, através de programas e projetos

para as comunidades, para todas as idades, facilitam as pessoas estarem mais ativas,

convivendo em grupos, é uma estratégia que visa a promoção da saúde.

De acordo com Murray (1990), os programas esportivos devem estimular para

a busca de satisfação na família, na comunidade e na profissão. Assim a ação do Estado, neste

sentido, pode compreender programas relacionados à educação, garantida pela igualdade de

acesso para todas as pessoas.

O programa segundo tempo visa oferecer as crianças e aos jovens, diversas

atividades que possibilitam a formação integral, além do reforço alimentar oferecidos no turno

inverso das suas aulas, tirando-as das ruas, do ócio, criando eficiente meio de prevenir a

violência e a marginalização.

A Educação Física escolar, voltada para a cidadania deve considerar a pratica

esportiva enfocando todos os princípios do esporte educação. É preciso ter em mente que o

acesso ao esporte, ao lazer, a disponibilidade de espaços para atividade física é um direito de

todos os cidadãos, e que sua prática se manifestará no exercício da cidadania.

Os alunos devem compreender que os esportes e as demais atividades

corporais não devem ser privilégio apenas dos esportistas. Dar valor à essas atividades e

reivindicar acessos a elas para todos é um posicionamento que pode ser adotado a partir dos

conhecimentos adquiridos nas aulas de Educação Física.

O esporte educacional se insere no elenco dos direitos sociais, que devem ser

disponibilizados dentro e fora da escola, para todos.

3- O JOGO UTILIZADO COMO ELEMENTO EDUCATIVO

Para Escobar (1990, p.11) “o jogo é uma invenção do homem, um ato em que

sua intencionalidade e curiosidade resultam num processo criativo para modificar

imaginariamente a realidade e o presente”.

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Historicamente o jogo é encontrado em todas as atividades humanas e pode ser

analisado numa perspectiva cultural. Conforme as diferentes manifestações culturais, os jogos

apresentam expressões e características próprias.

A formação cultural tem um caráter lúdico e o conceito de jogo deve estar

integrado ao conceito de cultura. O jogo é um fenômeno cultural tendo um grau de

importância na formação do ser humano.

Para Huizinga (1996, p.11) “a criança joga e brinca dentro da mais perfeita

seriedade, que a justo título podemos considerar sagrado”.

O tipo de jogo usado na educação vai contribuir para o êxito ou o fracasso dos

objetivos do professor.

Se o professor optar por jogo de competição valoriza-se a busca dos resultados

em relação ao oponente, prevalecendo a rivalidade jogando um contra o outro. A competição

não une as pessoas apenas separa mais.

Para Leonard (apud BROTTO, 1999, p.33) “a maneira com que se joga pode

tornar o jogo mais importante do que a imaginamos, pois significa nada menos que a maneira

como estamos no mundo”. Nos jogos, ao interagirem com os adversários, os alunos podem

desenvolver o respeito mútuo, buscando participar de forma leal e não violenta. Nos jogos em

que é fundamental que se trabalhe em equipe, a solidariedade pode ser exercida e valorizada.

Segundo Escobar (1990, p.11) “o jogo é uma invenção do homem, um ato em

que sua intencionalidade e curiosidade resultam num processo criativo para modificar

imaginariamente a realidade e o presente”.

O Coletivo de Autores (1992, p.66) traz que “(...) o jogo satisfaz as

necessidades das crianças, especialmente a necessidade de ação. Para entender o avanço da

criança no seu desenvolvimento o professor deve conhecer quais as motivações, as tendências

e incentivos a colocam em ação”.

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Assim sendo, não podemos negar aos educandos a possibilidade de ir além de

uma idéia fechada de Educação Física escolar que busca descobrir novos talentos para o

esporte, mas sim proporcionar a vivência de situações que promovem a reflexão para a

solução de uma reflexão crítica sobre a prática.

O inusitado que reveste o jogo é uma das possibilidades de desenvolvimento

de formas bastante originais de inteligência, a inteligência diante do inusitado, a inteligência

que leva o sujeito pelo caminho que nunca trilhou antes. “O grande jogador não repete

caminhos” (FREIRE, 2002, p.99).

O jogo propicia o aluno a criar novas ações, novas soluções para os problemas

que surgirem, quem joga tem responsabilidade de tomar decisões a partir de situações

causadas pela imprevisibilidade, que lhe serão úteis para a vida, pois lhe proporcionarão

desenvolver a iniciativa, a criatividade, a liberdade, contribuindo assim para a sua formação

como ser humano.

Freire (2002, p.106) destaca que:

(...) sendo exercida predominantemente na esfera subjetiva, o jogo orienta o sujeito na direção de si mesmo, para reconhecer-se como autor da própria ação. O que equivale a dizer que o sujeito, se puder dispor entre uma miríade de possíveis entre os quais escolher, fará, por fim, a única escolha que, de fato, interessa à sua formação: a escolha por ele mesmo, condição indispensável para que , de posse da autonomia que tal condição confere, possa estar com o outro.

Dentro desta concepção, nas diferentes situações de jogo, o aluno terá que

tomar decisão na forma mais correta de agir que ele encontrar no momento que for solicitado

para interferir no jogo, tendo o poder de decisão, participando do seu auto-conhecimento ele

estará contribuindo para a sua formação como também estará disponível para entender e

compreender o outro.

O jogo em si não possui caráter limitado, ao contrário possibilita ao jogador a

exploração da liberdade pessoal necessária no ato de jogar, manifestando-se muitas vezes não

somente na reprodução, mas sim na recriação de experiências vivenciadas pela criança. O

professor deve valorizar o conhecimento do aluno, frutos estes de suas experiências de vida,

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demonstrando que é possível abrir caminhos à criatividade, espontaneidade, criticidade e

amorosidade dentro do espaço escolar.

O jogo está no pensamento, da descoberta em si mesmo, possibilidade de

experimentar e de transformar o mundo.

Através do jogo as crianças exploram os objetos que o cercam, melhoram sua

agilidade, experimentam seus sentidos e desenvolvem o seu pensamento. Aprendem a se

conhecerem e a conviver em grupo.

Betti (1991) afirma ser o jogo um dos elementos da cultura corporal ou cultura

física e cita Cslkszentmlhalyl considerando-o de grande importância para o indivíduo pois,

“(...) ao jogar, o homem está relativamente livre da tirania dos necessitados (p.165). Portanto,

livre de pressões ambientais, já que jogar é um ato relativamente espontâneo do organismo

além de que as pessoas são mais livres e criativas quando jogam.

O jogo traz possibilidade de vivenciarmos diferentes sentimentos e

experiências como, por exemplo: sensações e sentimentos que o jogo proporciona, como a

alegria, ciúme, inveja, a possibilidade de interação, a competição, o estímulo, a astúcia, entre

outros. Os jogos nos permitem lidar com os sentimentos bons e também ruins.

Considerando a escola um meio social de inter-relações, ambiente no qual os

alunos permanecem grande parte do dia, a realização de atividades prazerosas irão solidificar

suas estruturas.

O jogo deve ser aplicado na escola com fins pedagógicos, auxiliando no

processo educacional, permitindo um desenvolvimento integral do aluno.

Se a nossa proposta enquanto educador é proporcionar meios para que nossos

alunos tenham autonomia ao refletirem sua ação, que criem ou usufruam, partilham,

produzam, reproduzam e transformem as formas culturais e de atividade física, o jogo pode

ser um dos importantes caminhos a ser seguido (BETTI, 1992).

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4- UMA VISÃO SOBRE O ESPORTE E A ESTÉTICA NA MÍDIA

Vivemos num mundo crescentemente informado, somos bombardeados

diariamente por muitas imagens, palavras e sons produzidos pela mídia cada vez mais

integrada ao nosso cotidiano interferindo em nosso processo de formação da subjetividade o

individualismo, a competição, o consumismo, são informados por um conjunto de estímulos

que forjam a nossa relação.

Em nossa prática pedagógica devemos ter o cuidado com os processos que

geram vazio, agressividade, exclusão, etc., devemos despertar aquilo que é positivo no ser

humano, a solidariedade, o bom convívio, e o compromisso ético com a vida.

De Lorenzi (2002, p.87) coloca que a cultura é influenciada pela mídia, que

explora através dos seus meios de comunicação, gera no ser humano um sentimento de

supervalorização da perfeição física e estética. Nesse sentido, vale observar a cultura

narsizista fartamente difundida na sociedade administrada a partir da substituição dos

significados emancipatórios nas produções do espírito, pela valorização mistificadora da

imagem que determina a busca em referenciar-se a qualquer custo, em parâmetros

pressupostos para a beleza física.

O professor de Educação Física deve levar o seu aluno a ter uma postura crítica

em relação ao que a mídia divulga sobre padrões de beleza, valorizando cada um como ele é,

e saber discernir que o que a mídia valoriza, nem sempre é que é o melhor para si, e que cada

pessoa tem suas qualidades, sejam elas físicas ou intelectuais, sabendo valorizar o que cada

um possui, e o que é melhor para ele em relação ao seu corpo.

O processo de transformação do esporte em espetáculo no mundo inteiro,

atinge agora uma etapa aguda, em que sua reprodução social é proporcionada

preferencialmente, pelos meios de comunicação de massa (DE LORENZI, 2002, p.91).

Em vista disso, os meios de comunicação divulgam os esportes com mais

freqüência, a indústria utiliza suas mercadorias num determinado esporte para faturar,

transformando o esporte em espetáculo e num empreendimento com fins lucrativos. Um dos

principais esportes em evidência no Brasil é o futebol, onde muitas vezes nossos alunos vêem

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nele perspectivas de enriquecimento fácil, e de um futuro promissor, devemos então, em

nossas aulas dar prioridades a participação, a socialização, a ludicidade em detrimento a

execução técnica do movimento, a repetição do gesto técnico, enfim, ao rendimento.

Segundo Yushklavltshus (2000) o que os jovens vêem na televisão pode não

ter sido inteira e voluntariamente absorvido por seus pais, que foram criados sem a presença,

ou pelo menos com uma presença muito menor, de acordo com códigos estritos de

comportamento.

A televisão faz parte do cotidiano dos nossos alunos, para muitos é a principal

fonte de lazer, por isso ela tem uma grande participação na informação e na comunicação da

sociedade, onde a forma de transmissão das informações com interesse em audiência

enfatizam os recordes, as conquistas, a vitória, etc. Portanto, cabe a nós professores de

Educação Física levar os nossos alunos a pensar em analisar criticamente o que é transmitido

na televisão, e entender quais os benefícios e os problemas que podem surgir com o que lhe é

assimilado, tendo uma nova visão, uma nova percepção da realidade que poderá ser

transformada a partir desta análise crítica.

A sociedade moderna valoriza muito a competitividade, o individualismo, etc.,

por outro lado, a mídia impõe padrões pelo ideal de beleza, do culto ao corpo, valoriza a

aparência, manipulando em nossa sociedade esses anseios e esteriótipos.

Com uma estética única sendo confundida, gera-se um mecanismo de pressão

para os adolescentes o que muitas vezes constitui-se em obsessão pelo alcance de uma beleza

idealizada, um problema nunca satisfatório, sanável, um motivo potencial de infelicidade

(MINISTÉRIO DOS ESPORTES, 2004).

É nosso papel de professor levar os nossos alunos a fazer uma reflexão, sobre

essa imposição da mídia pelo ideal de beleza, gerando preconceitos que muitas vezes levam a

infelicidade como também a frustrações. Devemos então, orientar nossos alunos a conhecer e

valorizar o seu corpo em todas as dimensões, como também o do colega, acreditando que a

dismistificação destas atitudes e uma relação harmoniosa com a mente, haverá a possibilidade

da beleza cada vez mais aparecer e ser percebida. Que não é tão importante o ter, o vencer, a

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competição, mas, o que importa mesmo é o bom convívio, a solidariedade, a cooperação, etc,

assim, teremos uma sociedade mais fraterna.

Toro (2001) diz que todo ato educativo por sua vez tem componentes

comunicativos, mas, nem todo ato comunicativo tem propósitos educativos.

Um dos canais de comunicação para o aluno é sem dúvida o professor, que em

sua prática pedagógica desenvolvida dentro do processo ensino e aprendizagem, deve levar

em conta o aluno, seu contexto, inserindo e interagindo com que o aluno já sabe,

possibilitando a construção de outros conhecimentos, dando-lhes condições de participar, de

entender, e de se posicionarem criticamente em relação ao espetáculo esportivo, através de

discussões , de diálogos, das mensagens que a mídia produz, envolvendo-os com o processo

de ensino capazes de uma nova formação do agir pedagógico, transformando nossos alunos

em seres mais críticos, mais conscientes,menos alienados, deixando de ser meros

espectadores.

A compreensão deste processo é de importante utilidade no desenvolvimento e

aperfeiçoamento de uma pedagogia esportiva preocupada em fazer com que o aluno

desenvolva de forma crítica sua visão sobre o esporte na mídia, sobre a imposição pelo ideal

de beleza e aparência, presente no cotidiano, através de elementos pedagógicos

disponibilizados e integrados com a realidade social do acesso aos meios e as informações.

Com a presença significativa da televisão no cotidiano dos alunos, o professor

deve se inserir na realidade trazida por eles, a fim de compreender e de interferir dando-lhes

condições de participar e entender o fenômeno esportivo, suas dimensões e possibilidades.

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A FENOMENOLOGIA COMO CAMINHO DA INVESTIGAÇÃO

1- VISÃO DA SÍNTESE DO PROCEDIMENTO METODOLÓGICO

Esta pesquisa constituiu-se de uma investigação fenomenológica, no qual se

realizou um estudo de caso com abordagem qualitativa, com as informações coletadas na

bibliografia existente e com entrevistas semi-estruturadas, gravadas e transcritas pela própria

autora, tendo sua interpretação seguida pela análise fenomenológica.

● Corrente do pensamento: Fenomenologia.

● Abordagem da pesquisa: Qualitativa.

● Forma assumida (tipo): Estudo de caso.

● Coleta de informações: Bibliográfica, entrevista.

● Interpretação das informações: Análise fenomenológica.

1.1- A corrente do pensamento: Fenomenologia

Os enfoques fenomenológicos na pesquisa começaram, em geral, nos últimos

anos da década de 70. Esta corrente de pensamento contemporâneo tem suas raízes em vários

pensadores que nos dizem que fazer fenomenologia não é utilizar um método previamente

considerado, mas limitar-se às regras formais dirigidas, especialmente, a partir do fenômeno

(fenômeno aqui entendido como aquilo que está presente como é ou está em si mesmo).

Segundo Koogan; Larousse (1990, p.37), em si, “a fenomenologia é o estudo

descritivo de um conjunto de fenômenos”.

A intenção da fenomenologia é de não separar o homem e o mundo, mas reuni-

los na estrutura da experiência intencional. Rezende (1995), nos coloca uma questão,

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propondo-nos encarar o fenômeno como uma estrutura, reunindo, dialeticamente, na

intencionalidade, o homem e o mundo, o sujeito e o objeto, a existência e a significação.

1.2- Abordagem da pesquisa: Qualitativa

Segundo Gamboa (1995, p.61) a pesquisa qualitativa proporciona a “busca de

novas alternativas para o conhecimento de uma realidade tão dinâmica e polifacética como a

problemática estudada”.

Conforme Triviños (1987, p.125): “a pesquisa qualitativa de natureza

fenomenológica surge como forte reação contrária ao enfoque positivista, privilegiando a

consciência do sujeito e entendendo a realidade social como uma construção humana”.

O autor explica que, para a realização de uma pesquisa qualitativa do tipo

fenomenológico não é necessário, por exemplo, a elaboração de hipóteses empiricamente

testadas, de testes estatísticos, tampouco de esquemas rígidos de trabalho, determinados

aprioristicamente. Antes, sim, é importante que o pesquisador desenvolva uma certa dose de

flexibilidade, no sentido de re-elaborar, substituir, ou mesmo suprimir formulações, de acordo

com as evidências e resultados que vai obtendo ao longo da pesquisa.

Na concepção fenomenológica da pesquisa qualitativa, a preocupação

fundamental é com a caracterização do fenômeno, com as formas que apresenta e com as

variações, já que o seu principal objetivo é a descrição.

Para Joel Martins (apud FAZENDA, 1989, p.58) “a descrição não se

fundamenta em idealizações, imaginações, desejos e nem num trabalho que se realiza na

subestrutura dos objetos descritos; é, sim, um trabalho descritivo de situações, pessoas ou

acontecimentos em que todos os aspectos da realidade são considerados importantes”.

Interessa á descrição fornecer informações suficientes e relevantes, ser

completa e precisa tanto quanto possível.

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1.3- Forma assumida (tipo): Estudo de caso

Na concepção de Lüdke; André (1986, p.18), o estudo de caso enfatiza a

“interpretação em contexto”. Segundo as autoras, “um princípio básico deste tipo de estudo é

que, para uma apreensão mais completa do objeto, é preciso levar em conta o contexto em que

se situa”.

Godoy (1995, p.35) coloca que:

o estudo de caso tem se tornado a estratégia preferida quando os pesquisadores procuram responder às questões “como” e “por que” certos fenômenos ocorrem, quando há pouca possibilidade de controle sobre os eventos estudados e quando o foco de interesse é sobre fenômenos atuais, que só poderão ser analisados dentro de um contexto de vida real.

Já segundo Goode; Hatt (1968, p.17): “o caso se destaca por se constituir numa

unidade dentro de um sistema mais amplo”. O interesse incide naquilo que ele tem de único,

de particular, mesmo que posteriormente fiquem evidentes certas semelhanças com outros

casos ou situações.

1.4- Coleta de informações: Pesquisa bibliográfica e entrevista

Para esta investigação foi significativo usar, para a coleta de informações, a

pesquisa bibliográfica e a entrevista. A primeira foi à base do referencial teórico elaborado, a

partir dos conceitos e posicionamentos emitidos pelos autores que abordam a temática

proposta, servindo como fundamentação deste estudo. Foi importante este momento porque

possibilitou ampliar conhecimentos e discussões sobre o assunto em foco.

Carvalho (1987, p.110) diz que: “A pesquisa bibliográfica é a atividade de

localização e consulta de fontes diversas de informações escritas, para coletas dados gerais e

específicos a respeito de determinado tema”.

Um dos pontos ressaltados é o de que toda pesquisa realizada em documentos

escritos ser denominada de pesquisa bibliográfica. Ela também é a base imprescindível para

qualquer tipo de pesquisa, pois não pode existir investigação científica, sem antes haver um

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conhecimento das contribuições teóricas existentes em textos que já abordaram com maior ou

menor incidência o assunto a ser estudado.

Sendo assim é importante citar um conceito de pesquisa bibliográfica que se

define como (AYALA; LAMEIRA, 1989, p.100-101):

é a atividade de localização e consulta de fontes diversas de informação escrita, para coletar dados gerais ou específicos a respeito de determinado tema. A etimologia da palavra BIBLIOGRAFIA (biblio=livro; grafia=descrição escrita) sugere que se trata de um estudo de texto impresso. Assim, pesquisar no campo bibliográfico é procurar no âmbito dos livros e documentos escritos as informações necessárias para progredir no estudo de um tema de interesse. Do ponto de vista prático, divide-se a PESQUISA BIBLIOGRÁFICA em três momentos ou fases: identificação das fontes seguras; localização dessas fontes; e a compilação das informações (documentação).

Foi também utilizada, na coleta de informações, a técnica de entrevista semi-

estruturada.

A entrevista semi-estruturada é aquela que segundo Triviños (1987, p.146):

... parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses, que interessam á pesquisa, e que, em seguida, oferecem amplo campo de interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo, à medida que se recebem as respostas do informante. Desta maneira, o informante, seguindo espontaneamente a linha de seu pensamento e de suas experiências dentro do foco principal colocado pelo investigador, começa a participar na elaboração do conteúdo da pesquisa.

A utilização desta técnica foi de grande valia porque este instrumento permitiu

a criação de um clima de interação recíproca entre entrevistador e entrevistado fazendo,

assim, fluir naturalmente as informações.

As questões norteadoras que comporão a entrevista semi-estruturada foram as

seguintes:

1) No seu ponto de vista, quais foram às contribuições positivas do Programa Segundo Tempo

para as escolas, os professores e os alunos participantes?

2) No seu ponto de vista, quais foram às contribuições negativas do Programa Segundo

Tempo para as escolas, os professores e os alunos participantes?

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1.5- Interpretando as informações: Análise fenomenológica

A interpretação das informações seguiu a metodologia de análise

fenomenológica proposta por Giorgi (1986) que cita quatro procedimentos na análise. São

eles:

1) O sentido do todo - equivale à etapa da "descrição do fenômeno". A descrição é um modo

de acesso à situação conforme vivida pelo sujeito e o pesquisador está presente na situação,

através do meio oferecido pela linguagem. Esta linguagem pode ser de forma oral, através de

entrevistas gravadas e depois, transcritas em forma escrita através de documentos;

2) As unidades de significado - a partir do sentido do todo, obtido pela descrição do

fenômeno, processa-se a "redução fenomenológica". Esta é também tomada como

instrumento metodológico que fornece à pessoa a possibilidade de descrever a experiência

sem os pressupostos metafísicos do senso comum, na atitude natural. Capta-se o sentido do

todo e, então, volta-se ao início para discriminar as unidades de significado, conforme uma

determinada perspectiva e com o foco no fenômeno que está sendo investigado;

3) Transformações das unidades de significado - para a fenomenologia toda realidade é tida

como significativa, pois só o que tem sentido é real. O mundo é aquilo que percebemos. Ao

atingirmos a essência do fenômeno ele se mostra em toda a sua significação. Retomamos

todas as unidades, reescrevendo-as em função do fenômeno que está sendo investigado, ou

seja, fazendo uma transformação das unidades de significado em linguagem educacional; e

4) Síntese das estruturas de significado - partindo-se da valorização da verdade como critério

fenomenológico que está presente na essência do fenômeno, elabora-se uma descrição

harmoniosa e consistente que equivale à própria estrutura da experiência vivida pela pessoa.

Transformar as unidades de significado em unidades estruturais de modo mais geral do que as

do sujeito, de tal modo que respeitando sua experiência, possa transmitir o fenômeno como

objeto de análise. Realiza-se, então a síntese de todas as unidades transformadas em uma

perspectiva consistente.

Também consideramos aqui, como um quinto procedimento, o que Comiotto

(apud ODORIZZI, 1996) propõe, que é que a partir do sentido unitário e básico do fenômeno

surjam dimensões fenomenológicas, nas quais as essências se mostram.

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2- ABRANGÊNCIA DA INVESTIGAÇÃO: PARTICIPANTES

Os atores que tornaram-se membros do estudo se caracterizaram por serem os

dois coordenadores do PST na cidade de Santa Maria (RS).

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OS ACHADOS DA INVESTIGAÇÃO: A INTERPRETAÇÃO DOS SIGNIFICADOS

1- AS ESSÊNCIAS DAS CONTRIBUIÇÕES POSITIVAS DO PROGRAMA

SEGUNDO TEMPO PARA OS SEUS COORDENADORES

Primeira essência: possibilitou ações interdisciplinares nas escolas.

Uma das essências das contribuições positivas do PST na visão de seus

coordenadores foi que “possibilitou ações interdisciplinares nas escolas”. Os depoimentos

foram: “o programa teve muitos pontos positivos, teve tudo para dar certo. Para a escola foi

bom porque começou a mexer com as questões interdisciplinares (...)” (Coordenador 1);

“propiciou ao aluno, através de diferentes atividades propostas, além das esportivas, o

acesso tão discutido nos bancos escolares, interdisciplinaridade (...)” (Coordenador 2).

Asensio (apud HERNANDES, 1987) diz que a interdisciplinaridade se entende

fundamentalmente como a tentativa voluntária de integração de diferentes ciências com o

objetivo de conhecimento comum. A integração pode produzir-se entre disciplinas próximas

em seu método e nos objetivos que abordam, ou entre saberes distantes, frente aos quais se faz

necessário um considerável espaço entre seus modos de ver a realidade e entre seus

conteúdos.

Segunda essência: valorizou a Educação Física e seus professores na s escolas.

Uma outra essência das contribuições positivas facilmente identificada nos

depoimentos dos coordenadores do PST foi que “valorizou a Educação Física e seus

professores na escola”. Os coordenadores disseram o seguinte: “(...) valorizando a nossa área

dentro da escola” (Coordenador 1); “(...) crescimento individual, pois torna-se o professor

um orientador e responsável pelas ações coletivas (...)” (Coordenador 2). Segundo Rosadas

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(1991) a Educação Física já à algum tempo vem solidificando-se e ganhando definitivamente

o seu espaço como uma ciência que tem como um dos objetivos mais importantes o ajuste e o

equilíbrio biopsicosocial do homem. Essa evolução do sistema e método do ensino da

educação física abriu um leque de opções e a importância da especialização tornou-se uma

realidade no contexto desta prática.

Terceira essência: ofertou a ampliação do atendimento aos alunos nas escolas.

Outra essência das contribuições positivas do PST na visão dos seus

coordenadores foi que “ofertou a ampliação do atendimento dos alunos nas escolas”. A fala

do Coordenador 2 foi a seguinte: “propiciou a escola a efetivação do discurso diretamente a

realização, ou seja, a proposição de uma escola inclusiva de forma integral (contra-turno

escolar), diretamente vinculadas à atividade física ( modalidades esportivas )”. Um dos

principais objetivos do Programa é contribuir para a ampliação da atividade educacional,

visando oferecer educação permanente e integral por meio do esporte (MANUAL DE

DIRETRIZES E ORIENTAÇÕES DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPO, p.7). Segundo

Gadotti (2004, p.32) o aluno é estimulado, através de atividades esportivas ou assistido, a

permanecer na escola em tempo integral para garantir um melhor desempenho.

Quarta essência: ofertou atividades físicas e esportivas.

Facilmente podemos desvelar nas falas dos coordenadores que a “oferta das

atividades físicas e esportivas” foi mais uma essência das contribuições positivas do PST. As

falas dos coordenadores foram as seguintes: “para além das atividades extracurriculares

onde os alunos tinham atividades esportivas (...)” (Coordenador 1); “proporcionou ao aluno,

(...) atividades esportivas (...)” (Coordenador 2 ). Falkenbach (2002) ressalta que os jogos

com um sentido recreativo e cooperativo são os que mais se adaptam ao espaço físico e as

finalidades educacionais.

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Quinta essência: valorizou a escola.

Outra essência das contribuições positivas do PST identificada no depoimento

do Coordenador 2 foi “a valorização da escola”. O depoimento foi: “a escola torna-se um

ponto importante de apoio à comunidade escolar, onde todos indissociavelmente se

complementam” (Coordenador 2). Rechia et al. (2004) afirma que por meio das experiências

proporcionadas no âmbito do esporte, pode-se conquistar um novo tipo de relação entre

espaço-lugar, aluno-escola, a qual poderá produzir um novo modo de viver, ver e perceber a

escola.

Sexta essência: possibilitou o crescimento integral do aluno.

Uma outra essência das contribuições positivas do PST facilmente identificada

no depoimento do Coordenador 2 foi que “possibilitou o crescimento integral do aluno”. O

depoimento foi: “(...) contribui para o crescimento integral do aluno, de forma inclusiva, com

acesso para todos, estimulando a participação e integração dos mesmos no contexto

escolar”. Paes (2001) e Bento (1999), demonstram um olhar ainda mais amplo sobre o

esporte. Preocupam-se em atribuir ao fenômeno uma função educativa visando o

desenvolvimento integral do ser humano.

Sétima essência: ofertou o curso de especialização a distancia para os professores.

Também uma das essências das contribuições positivas do PST na visão do

Coordenador 1 foi que “ofertou o curso de especialização a distância para os professores”. O

depoimento foi: “eu achei importantíssimo o curso de especialização, para a carreira,

questão pessoal, fator motivacional, principalmente em trabalhar com ensino a distância”.

Segundo Marques (1992) todas as instituições responsáveis pela Educação devem estar

envolvidas nos processos da formação continuada dos professores. Já Nogueira (1993) coloca

que os professores de Educação Física estão cientes de que o conhecimento, a experiência e a

vivência de sucesso produzem a sensação de competência. Assim, para manter a competência

profissional, Matos (1994) destaca que, há necessidade de fazer reciclagens, e a formação

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continuada deve ser potencializada face às necessidades sentidas pelos diretamente

interessados.

Sétima essência: contribui para a melhoria da qualidade de ensino.

Outra essência das contribuições positivas do PST na visão do Coordenador 2

foi que “contribui para a melhoria da qualidade de ensino”. A fala do coordenador foi a

seguinte: “contribui eficazmente para a melhoria do ensino, através de uma educação de

qualidade, tendo como objetivo a formação integral do aluno”. De Rose (1980), argumenta

que o esporte na escola é importante por promover a cooperação, participação, convivência,

emancipação e educação, quando direcionado para os objetivos multidisciplinares,

características do processo ensino-aprendizagem atualmente proposto e visando um

desenvolvimento das potencialidades, bem como a integração na vida em sociedade.

Oitava essência: propiciou o maior entrosamento entre professores de Educação Física,

diretores e estagiários.

Facilmente podemos encontrar nas falas dos coordenadores que “o

entrosamento entre professores de Educação Física, diretores e estagiários”, foi uma essência

das contribuições positivas do PST. As falas dos coordenadores foram as seguintes: “(...)

através das atividades proporcionadas e realizadas de forma global e proposta por todos,

direção, professores e estagiários, caracterizando os anseios e desejos de toda a

comunidade” (Coordenador 2); “com exigência do planejamento das aulas, das atividades

houve mais entrosamento entre direção, professores e estagiários” (Coordenador 1). Para

Nóvoa (1992) a troca de experiências e a partilha de saberes consolidam espaços de formação

mútua.

Nona essência: houve uma maior participação dos pais na escola.

Uma outra essência das contribuições positivas do PST na visão do

Coordenador 1 foi que “houve uma maior participação dos pais na escola”. A fala do

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coordenador foi a seguinte: “os pais começaram a se envolver mais porque eram atividades

extra-classe”. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997, p.208) “o

aprendizado dos alunos e dos professores, o seu contínuo aperfeiçoamento, deve ser uma

construção coletiva, num espaço de diálogo propiciado pelo sistema escolar e com a

participação da comunidade”.

Décima essência: propiciou a integração das escolas nos festivais de jogos.

Outra essência das contribuições positivas do PST facilmente identificada na

fala do Coordenador 1 foi que “propiciou a integração das escolas nos festivais de jogos”. A

fala foi a seguinte: “fiquei muito feliz em poder realizar o festival de jogos (...), o esporte faz

o aluno criar responsabilidade (...)”. Bento (apud KLINE, 2004, p.31) coloca o seguinte:

A escola deveria ser a melhor festa da cidade. É preciso renovar a escola, de recriar, e tornar mais atraentes as formas de realizar a educação e isto não dispensa o contributo da atividade esportiva. Com efeito a escola carece de riso, de entusiasmo, de dinamismo, de palmas, de alegria e animação; precisa que se goste dela. Ora o desporto é um meio primordial de renovar a educação, de lhe emprestar uma cara de festa e de convivialidade, de quebrar a rotina escolar com competições internas e externas. Trata-se de consumar o desiderato de desportivizar a escola e escolarizar o desporto.

Também, segundo Mesquita (2000), o querer ganhar é legítimo e deve ser

incentivado desde de que o jovem esteja preparado para responder as situações-problemas

apresentadas por cada prática esportiva. Acrescenta a autora que o “clima” criado em torno da

competição influencia, decisivamente, a forma como o jovem praticante a encara. Neste

sentido, deve ser proporcionado um “clima” competitivo facilitador da aplicação das

aprendizagens realizadas pelos praticantes (minimizar o estresse competitivo, permitir ao

atleta o erro deixando-o experimentar diferentes opções).

Décima primeira essência: oferta de merenda aos alunos.

Facilmente podemos desvelar nas fala do Coordenador 1 que a “oferta da

merenda aos alunos” foi uma essência das contribuições positivas do PST. A fala do

coordenador foi: “(...) tinha a alimentação, que era muito importante para eles (...)”. Para

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Teixeira (1996) a alimentação adequada, sono suficiente e treinamento são as condições

indispensáveis para um bom desempenho físico.

Décima segunda essência: possibilitou a existência de dois estagiários por escola.

Outra essência das contribuições positivas do PST na visão do Coordenador 1

foi que “possibilitou a existência de dois estagiários por escola”. O depoimento confirma esta

essência quase que com as palavras iguais: “possibilitou também a existência de dois

estagiários para cada escola, para desenvolver as atividades”. Segundo Pereira (1996) o

estágio prático é essencial à formação do futuro professor, pois lhe propicia um momento

específico de aprendizagem sobre a sua função profissional.

Décima terceira essência: ofertou material esportivo para as aulas.

Uma outra essência das contribuições positivas do PST facilmente

identificadas no depoimento do Coordenador 1 foi que “ofertou material esportivo para a

escola”. O coordenador disse o seguinte: “o material esportivo foi importante para as

escolas”. Segundo Siedentop (1994) o material torna-se essencial no que se refere à qualidade

de vivências que o aluno poderá experimentar. Mesmo que o professor possa improvisar, não

substitui de nenhuma forma a aprendizagem e ampliação das habilidades motoras quando se

utiliza o material adequado. Para Fernandes (1990) através de boas instalações e materiais

adequados a escola estará proporcionando oportunidades para o crescimento integral de seus

alunos, tornando-se importante sua manutenção e zelo.

2- AS ESSÊNCIAS DAS CONTRIBUIÇÕES NEGATIVAS DO PROGRAMA

SEGUNDO TEMPO PARA OS SEUS COORDENADORES

Primeira essência: nenhuma

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Uma essência identificada na fala do Coordenador 2 foi que não havia

“nenhuma” contribuição negativa do PST em sua opinião. O depoimento foi: “eu acho que o

Programa Segundo Tempo não teve nenhuma contribuição negativa para os envolvidos”.

Segundo Krug (1996) os professores de Educação Física na escola não costumam refletir

sobre a sua profissão e sobre a sua prática pedagógica.

Segunda essência: ocorrência de problemas na distribuição da merenda.

Uma essência das contribuições negativas do PST facilmente identificada na

fala do Coordenador 1 foi a “ocorrência de problemas na distribuição da merenda”. A fala foi

a seguinte: “(...) porque houve problema na distribuição da merenda, por questões

burocráticas e administrativas”. Para Teixeira (1996) a alimentação adequada, sono

suficiente e treinamento são as condições indispensáveis para um bom desempenho físico.

Terceira essência: término do programa.

Facilmente podemos desvelar na fala do Coordenador 1 que o “término do

programa” foi uma das essências das contribuições negativas do PST. A fala deste

coordenador foi a seguinte: “primeiramente porque não houve continuidade do programa,

porque as crianças pedem o retorno do mesmo (...)”. O Estatuto da Criança e do adolescente,

no capítulo IV, art.59, legitima –“Os Municípios, com apoio dos Estados e da União,

estimularão e facilitarão a destinação de recursos e espaços para programações culturais,

esportivas e de lazer voltadas para a infância e juventude”. A Lei de Diretrizes e Bases

(9.394/96), que normatiza a educação nacional, também valoriza em seus princípios as

atividades extra-curriculares, dentre elas o Esporte, como fator imprescindível ao

desenvolvimento escolar infanto-juvenil (MANUAL DE DIRETRIZES E ORIENTAÇÕES

DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPO, p.4).

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O TEMA DA INVESTIGAÇÃO DESVELADO: QUANDO ENTENDEMOS OS

PONTOS POSITIVOS E NEGATIVOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPO PARA

OS SEUS COORDENADORES

Esta investigação objetivou investigar as contribuições positivas e negativas do

Programa Segundo Tempo, na visão dos seus coordenadores, para a escola, professores e os

alunos das escolas públicas de Santa Maria (RS).

Após o desvelamento de todos os depoimentos dos coordenadores, foi possível

verificar que o Programa Segundo Tempo trouxe muitos pontos positivos para as escolas, para

os professores e para os alunos, contribuindo de maneira significativa para o crescimento e o

entendimento das relações entre professores, alunos, direção, estagiários e pais. Desta forma,

o Programa Segundo Tempo, ao ter um cunho social, contribuiu para o crescimento integral

do aluno, de forma inclusiva, com acesso a todos, estimulando a participação e a integração

dos mesmos no contexto escolar, onde trouxe grandes benefícios para a escola e para a

comunidade.

Assim, o Programa Segundo Tempo sendo voltado para toda a comunidade

escolar e principalmente para os alunos do ensino fundamental e médio, matriculados nas

escolas públicas, teve grande importância na vida dos alunos. As atividades foram

desenvolvidas numa ação pedagógica voltada para o desenvolvimento do aluno em todas as

suas dimensões, com intuito de oferecer atividades físicas em horário contrário ao das aulas,

promovendo ações que melhoram a sua auto-estima, o convívio com os colegas, com outras

pessoas, a cooperação, a solidariedade, o respeito ao próximo, trazendo benefícios como

pessoa, como também para a coletividade.

Através do esporte é possível transformar as pessoas, dependendo das ações

desencadeadas pelo professor, desde que não seja trabalhado visando resultados, utilizando

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como metodologia educacional o esporte deve proporcionar oportunidades a todos,

fornecendo os ensinamentos dos valores sociais e morais, aumentando a auto-estima pela

vida, proporcionando situações prazerosas e marcantes, contribuindo para a aquisição do

gosto pelo esporte e pela atividade física que poderá levar para o resto da vida.

Cabe ao professor criar condições objetivas para que uma educação

democrática seja possível, procurar ações pedagógicas que visa superar o individualismo e a

competição, preocupando-se com o fortalecimento de valores sociais e morais, formando

cidadãos mais preparados, mais solidários e conscientes de que é possível fazer da escola um

espaço de construção coletiva do conhecimento, um espaço de encontros, enfim, um espaço

de crescimento para professores e alunos.

Conforme o pensamento de Edgar Morin (2007, p.10):

(...) a missão de ensinar é preparar as mentes para enfrentar as incertezas que não param de aumentar, levando-as não somente a descobrirem a historia incerta e aleatória do universo, da vida, da humanidade, mas também promovendo nelas as inteligências estratégicas e a aposta em um mundo melhor.

Por outro lado, foram observados nas entrevistas dos coordenadores apenas

dois pontos negativos, isto na visão do Coordenador 1, sendo que a principal delas foi a não

continuidade do Programa, e a outra foi relativa a distribuição da merenda, que no inicio foi

deficiente, mas depois foi normalizada. Na visão do Coordenador 2 o Programa Segundo

Tempo teve somente pontos positivos, trouxe tantos benefícios para as escolas, professores e

alunos.

Resta então fazer uma indagação, se o Programa Segundo Tempo teve tantos

pontos positivos, porque não teve a sua continuidade nas nossas escolas?

Cabe então, a nós professores, aos pais, aos alunos, aos coordenadores, criar

possibilidades, nos mobilizar perante as autoridades ligadas ao Programa Segundo Tempo,

para que o mesmo retorne na nossa cidade, devido à importância que teve para toda a nossa

comunidade, visto que os nossos alunos, possuem uma carência de atividades para realizarem

em horários extra-classe, como também pela dificuldade dos nossos alunos em relação a

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alimentação, a merenda oferecida pelo PST, que tornou-se um atrativo a mais para incentivá-

los a participarem.

Acreditamos que se conseguirmos fazer com que nossos alunos cresçam

envolvidos na descoberta de suas importâncias como seres humanos, unidos por uma prática

esportiva voltada para a discussão das questões sociais, unidos na reflexão sobre o mundo que

os cercam, valorizando o conhecimento, à convivência em grupo, pautada em valores éticos e

humanos, estaremos cumprindo em grande parte a nossa missão como educadores.

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ANEXOS

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ANEXO A

ROTEIRO DA ENTREVISTA

1-Na sua opinião, quais foram às contribuições positivas do PST para as escolas, os

professores e os alunos?

2-Na sua opinião, quais foram às contribuições negativas do PST para as escolas, os

professores e os alunos?