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Universidade Federal de Sergipe Centro de Ciências Sociais e Aplicadas Departamento de Administração Disciplina: 302196 Turma: A0 Discriminação Racial no Mercado de Trabalho Aluna Jéssica Fabíola Santos da Cruz

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Universidade Federal de SergipeCentro de Ciências Sociais e Aplicadas

Departamento de AdministraçãoDisciplina: 302196 Turma: A0

Discriminação Racial no Mercado de Trabalho

AlunaJéssica Fabíola Santos da Cruz

São Cristóvão2010

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SUMÁRIO

Introdução.........................................................................................................................3

A Dificuldade de acesso ao mercado de trabalho..........................................................4

Dados Estatísticos.............................................................................................................5

Discriminação racial e de gênero....................................................................................6

O Racismo e a Constituição Federal..............................................................................7

Leis sobre Descriminação contidas na CLT – Consolidação das Leis Trabalhistas.........8

Conclusão.........................................................................................................................11

Referências.......................................................................................................................12

Anexos..............................................................................................................................13

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Discriminação Racial no Mercado de Trabalho

Introdução

O racismo e a discriminação são tão antigos quanto à humanidade e embora um

provenha do outro, são conceitos diferentes. O racista crê que existe relação entre

características raciais e culturais e que algumas raças são superiores a outras. A atitude

discriminatória provém desta crença, levando uma pessoa a tratar outra de forma

desfavorável, com base em tais conceitos. Tais práticas persistem até nossos dias,

existindo desde o início da humanidade.

Falar sobre o mercado de trabalho no Brasil, a partir da Segunda metade do século

XIX, é nos reportarmos ao longo processo de constituição da ideologia racial

implementado por intelectuais e pelas classes dominantes a partir deste período.

O Brasil sofreu influência direta do preconceito e discriminação racial

desenvolvido, principalmente, na Europa. Desde o século XVI, se praticava no país o

racismo contra indígenas, negros, mestiços e cristãos-novos, sob a alegação de que

pertenciam a raças impuras, cujo sangue se encontrava manchado. Os índios, chamados

de “negros da terra”, foram escravizados, aculturados e aldeias inteiras foram dizimadas

pelas doenças trazidas pelo homem branco e as guerras também contribuíram para

reduzir sua população. Como os índios se tornaram mão-de-obra escassa, os mercadores

trouxeram os negros africanos para trabalhar nas lavouras e minas. Todo o trabalho

realizado na colônia era feito pelos escravos. Trabalhavam até à exaustão, em jornadas

de quinze a dezesseis horas, e os que ficavam doentes eram sacrificados ou abandonados

à morte, pois o escravo era “mercadoria” na qual não valia a pena investir.

A primeira lei referente à escravidão foi a Lei Eusébio de Queiróz, de 1850, que

proibiu o tráfico de escravos para o país. A Lei Áurea de 1888 libertou os negros que

ainda viviam na condição de escravos, apenas legalizando uma situação de fato, pois as

revoltas, fugas de escravos e alforrias concedidas pelos senhores para livrar-se da

responsabilidade devido à iminência da abolição. A liberdade, porém, não trouxe o fim

da marginalização dos negros, pois o processo abolicionista não lhes garantiu meios de

subsistência, acesso à escolarização ou ao aperfeiçoamento para o mercado de trabalho e

as leis em vigor ainda consideravam-nos como inferiores.

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A Dificuldade de acesso ao mercado de trabalho

O Brasil, a partir da segunda metade do século XIX, pós-1850, e, principalmente,

início do século XX, até meados dos anos 40, teve a formação do mercado de trabalho

com base na exclusão dos negros e descendentes. Esse mercado de trabalho, estruturado

pelo poder estatal, privilegiava os indivíduos brancos e dificultava o acesso de outros

grupos raciais tendo em vista a crença na superioridade dos brancos. Essa ideologia

racial irá, evidentemente, dificultar a inserção dos negros no nascente mercado de

trabalho tendo em vista sua suposta inferioridade e a discriminação racial será, então,

uma das marcas visíveis que o negro encontrará na busca por trabalho.

Nesse sentido, uma das características marcantes do mercado de trabalho brasileiro

até hoje é a desigualdade de oportunidades entre os grupos raciais. As estatísticas

revelam um quadro aterrador acerca da maneira como brancos e negros estão

distribuídos na estrutura ocupacional.

Podemos, com certeza, afirmar a existência de uma reserva de mercado em

determinadas profissões que privilegia alguns indivíduos em função da cor da pele. Ë o

que podemos constatar em amplos setores profissionais na sociedade capitalista

brasileira. Enquanto algumas ocupações são preenchidas por brancos, onde estão

situados os maiores rendimentos e as melhores oportunidades, outras abrigam aqueles

indivíduos com menores possibilidades escolares e profissionais, como é o caso dos

negros, auferindo rendimentos inferiores.

Estas desigualdades estão presentes no interior do processo educacional e

observamos isto na baixa escolaridade alcançada por negros em comparação com os

brancos. Isto terá efeitos consideráveis quanto aos rendimentos de brancos e negros.

Assim, podemos relacionar educação, trabalho e renda e teremos uma dimensão exata da

forma como está organizada a estrutura ocupacional no Brasil, observando a influência

entre esses fatores que tem sua base na inserção do negro na estrutura de classes da

sociedade brasileira. Acrescentando a isto a questão da discriminação e da ideologia

raciais.

Práticas discriminatórias presentes no cotidiano indicam a permanência do

racismo. A sociedade brasileira preserva profundas desigualdades raciais, de

rendimentos, educacionais e ocupacionais.

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O racismo, a discriminação racial tem seus efeitos sobre homens e mulheres

negras, sendo que estas sofrem duplamente o preconceito e a discriminação raciais, que

procuram caminhos para burlar as portas fechadas no mercado de trabalho. A forma

como isso ocorre pode ser notada na crescente formação de grupos anti-racistas e pela

valorização da cultura negra, bem como pelo surgimento de movimentos negros voltados

para a tentativa de exigir do Estado políticas públicas que venham a beneficiar as

populações historicamente discriminadas.

Dados Estatísticos

A Constituição Federal de 1988, dentre as garantias relativas ao trabalho, dispostas

no artigo 7º diz que: “Artigo 7º - São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de

outros que visem à melhoria de sua condição social: (...) XXX - proibição de diferenças

de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade,

cor ou estado civil;...” Mas o dia-a-dia dos negros no mercado de trabalho contraria o

que diz a legislação.

A variável a ser usada como régua para medir a discriminação é a renda de todos

os trabalhos, padronizada pelo número de horas trabalhadas em todos os tipos de

trabalho, isso porque, ainda que existam dificuldades de mensuração, não há

ambigüidade sobre a desejabilidade da renda.

Em 2006, a Coordenação de Trabalho e Rendimento do Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE) através de uma pesquisa, divulgou dados estatísticos

coletados em cinco capitais brasileiras (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte,

Salvador, Recife e Porto Alegre) que demonstram que a população declaradamente negra

e parda que se encontra em situação inferior à dos brancos, seja em relação à

qualificação, aos postos de trabalho ocupados, aos rendimentos recebidos ou à taxa de

desocupação. Os brasileiros declaradamente pretos e pardos perfazem 42,8% da

população com 10 anos ou mais de idade nas seis capitais investigadas (39,8 milhões de

pessoas), sendo que 9,6% são pretos e 33,2% são pardos. De acordo com dados da

pesquisa em relação aos rendimentos habituais, destacou-se que os negros recebiam, em

média, R$ 660,45. Esse valor representava 51,1% do rendimento auferido pelos brancos

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(R$ 1.292,19). Em todas as regiões, os negros possuíam rendimentos inferiores aos dos

brancos, mas em Salvador as diferenças foram maiores: ali, os negros recebiam pouco

mais de 1/3 do que recebiam os brancos. Já Porto Alegre registrou a menor diferença nos

rendimentos recebidos. Vale lembrar que uma mulher negra recebe um salário

correspondente a 30% do salário de um homem branco, mesmo tendo idêntico grau de

escolaridade e experiência profissional que ele.

Em todas as capitais do Brasil, o negro entra mais cedo no mercado de trabalho e é

o último a sair (entre as crianças que trabalham, 62% são negras). Além disso, a jornada

de trabalho dos negros é de até duas horas mais longa do que a dos brancos em todo o

país. Todos estes dados demonstram que os estereótipos da inferioridade e

desqualificação da pessoa negra para o trabalho persistem no imaginário da população,

mantendo o negro num circulo vicioso: inserção precoce no mercado de trabalho,

prejuízo no rendimento escolar, baixa qualificação para o mercado, dificuldades de

inserção pela baixa qualificação e pelas dificuldades causadas pela discriminação,

dificuldade de mobilidade ou ascensão no trabalho, permanência na condição social em

que se encontra transmissão dessa condição aos filhos.

Quando se fala em políticas públicas, esses resultados apontam para a

possibilidade de políticas de ação afirmativa (nas linhas de políticas de quotas) para

negros serem úteis no combate à discriminação. Se a sociedade está restringindo o acesso

dos negros à boa educação ou aos bons postos de trabalho, então cabe ao poder público

garantir esse acesso, principalmente em termos educacionais. A justiça social, a

igualdade de oportunidades, a cidadania plena, as condições propiciadoras da mesma

possibilidade a todos de obter seu sustento e a realização de suas capacidades passam,

necessariamente, pela construção da igualdade racial no Brasil.

Discriminação racial e de gênero

As mulheres negras sofrem ainda mais que os homens da mesma cor, porque, além

da discriminação de cor, existe a discriminação de gênero. A situação da mulher negra

no país em que vivemos hoje manifesta um prolongamento da realidade vivida no

período de escravidão com poucas mudanças, pois ela continua em último lugar na

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escala social e é aquela que mais carrega as desvantagens do sistema injusto e racista do

país.

Pesquisas feitas nos últimos anos mostram que a mulher negra apresenta menor nível de escolaridade, trabalha mais, tem rendimento menor, e as poucas que conseguem romper as barreiras do preconceito e da discriminação racial e ascender socialmente têm menos possibilidade de encontrar companheiros no mercado matrimonial. Embora o contexto adverso, algumas mulheres negras vivem a experiência da mobilidade social em “ritmo lento”, pois além da origem escrava, ser negra no Brasil constitui um empecilho na trajetória da busca da cidadania e da  ascensão social.

Mulheres negras que conquistam melhores cargos no mercado de trabalho despendem uma força muito maior que outros setores da sociedade, sendo que algumas provavelmente pagam um preço alto pela conquista, muitas vezes, abdicando do lazer, da realização da maternidade, do namoro ou casamento. Pois, além da necessidade de comprovar a competência profissional, têm de lidar com o preconceito e a discriminação que exige maiores esforços para a conquista do ideal pretendido. A questão de gênero é, em si, um complicador, mas, quando somada à da raça, significa maiores dificuldades.

O Racismo e a Constituição Federal

Um exame perfunctório da Constituição Federal permite captar a aparente sinonímia com que as expressões discriminação lato sensu (arts. 3º, IV, e 227), discriminação stricto sensu (arts. 5º, XLI, e 7º, XXXI), distinção entre pessoas (arts. 5º, caput, 7º, XXXII, e 12, § 2º), diferença de tratamento (art. 7º, XXX), tratamento desigual (art. 150, II) e prática do racismo (art. 5º, XLII), são utilizadas resguardada a ênfase conferida pelo constituinte à prática do racismo comparativamente a outras possíveis modalidades de discriminação, senão porque a criminaliza, atribuindo-lhe os gravosos estatutos da inafiançabilidade e da imprescritibilidade, também porque sujeita o infrator à mais severa das penas privativas de liberdade – a reclusão. Assim, o Preâmbulo da Constituição Federal consigna o repúdio ao preconceito; o art. 3º, IV, proíbe o preconceito e qualquer outra forma de discriminação (de onde se poderia inferir que preconceito seria espécie do gênero discriminação); o art. 4º, VIII, assinala a repulsa ao racismo no âmbito das relações internacionais; o art. 5º, XLI, prescreve que a lei punirá qualquer forma de discriminação atentatória aos direitos e garantias fundamentais; o mesmo art. 5º, XLII, criminaliza a prática do racismo; o art. 7º, XXX, proíbe a diferença de salários e de critério de admissão por motivo de cor, entre outras motivações, e finalmente o art. 227, que atribui ao Estado o dever de colocar a criança a salvo de toda forma de discriminação e repudia o preconceito contra portadores de deficiência. (HÉDIO SILVA JÚNIOR, 2002, p. 13)

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Mais que proteger uma raça, a Constituição de 1988 reconheceu o caráter multirracial da população brasileira, mesmo na definição de brasileiro:

Art. 12. São brasileiros: II – naturalizados: a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos originários de países de língua portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral.

Outras disposições demonstram que o constituinte não mais se prendeu a uma falaciosa necessidade de europeização da sociedade brasileira, respeitando a pluralidade étnica que caracteriza o povo brasileiro:

Art. 215. §1º O Estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional. § 2º A lei disporá sobre a fixação de datas comemorativas de alta significação para os diferentes segmentos étnicos nacionais.

A Constituição de 1988 também foi inovadora ao dar tratamento mais rigoroso aos entraves decorrentes da discriminação racial, pois até então o preconceito racial era tratado como contravenção penal, e não como crime. Embora não haja diferença de natureza entre contravenção e crime, a contravenção é considerada de menor potencial ofensivo.

É evidente a limitação do Direito Penal, ou do Direito Civil, como instrumentos capazes de coibir o racismo e a discriminação racial. No Brasil, tem-se utilizado o Direito Penal indevida e desnecessariamente, porquanto este não pode conter elementos para suprimir a grande deficiência das condições de concorrência, a escassez das oportunidades de educação e de emprego, sendo a maioria dos afro-brasileiros as principais vítimas.

Uma das causas da ineficácia da legislação brasileira antidiscriminatória é o citado mito da democracia racial, que “imposto” como ideologia oficial contribuiu para impedir, por quase um século, que as práticas da discriminação racial fossem criminalizadas. Muitos doutrinadores brasileiros foram influenciados por esta construção ideológica que parece estar sedimentada no imaginário coletivo brasileiro.  Outro fator muito importante, que também contribui para a ineficácia de qualquer legislação no Brasil é a cultura da impunidade.

Leis sobre Descriminação contidas na CLT – Consolidação das Leis Trabalhistas

O artigo 7º, inciso XXX da Constituição Federal proíbe a diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado

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civil. Neste inciso constitucional vigora o princípio da igualdade, que deve ser observado, quer nas relações do trabalho, ou nos períodos pré-contratuais.  DISCRIMINAÇÃO PELO SEXO A CLT em seus artigos 5º e 461, "caput", já trouxe a proibição da discriminação por motivo de sexo: "Art. 5º - A todo trabalho de igual valor corresponderá salário igual, sem distinção de sexo. (grifo nosso) Art. “461 - Sendo idêntica a função, a todo trabalho de igual valor, prestado ao mesmo empregador, na mesma localidade, corresponderá igual salário, sem distinção de sexo, nacionalidade ou idade.” (grifo nosso)Como já citado anteriormente, o inciso XXX do artigo 7º da Constituição Federal proíbe, também, a diferença de salários, de exercício de funções e de critérios de admissão, por motivo de sexo.

Caracteriza-se ato discriminatório vedado constitucionalmente as restrições ao trabalho da mulher, ou do homem, tanto no período admissional (pré-contratação), na relação de emprego, ou ainda na rescisão contratual. Trabalho da Mulher 

No que se refere ao trabalho da mulher, a Lei nº 9.029/95 previu como crime as seguintes práticas discriminatórias: "Art. 2º - Constitui crime as seguintes práticas discriminatórias:I - a exigência de teste, exame, perícia, laudo, atestado, declaração ou qualquer outro procedimento relativo à esterilização ou a atestado de gravidez;II - a adoção de quaisquer medidas, de iniciativa do empregador, que configurem:a) indução ou instigamento à esterilização genética;b) “promoção do controle de natalidade, assim considerado o oferecimento de serviços e de aconselhamento ou planejamento familiar, realizadas através de instituições públicas ou privadas, submetidas às normas do Sistema Único de Saúde - SUS.” DISCRIMINAÇÃO DE RAÇA OU COR 

A Constituição Federal em seu artigo 5º, incisos XLI e XLII, dispõem: "XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentatória aos direitos e liberdades fundamentais;XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da Lei." 

O artigo 7º, inciso XXX da Constituição Federal assegura aos trabalhadores em geral a proibição de ato discriminatório por motivo de cor. 

A Lei nº 7.716/89 define os crimes resultantes de preconceitos de raça ou de cor. No que tange às relações do trabalho, o artigo 4º da lei mencionada prevê pena de

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reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, na hipótese em que em empresa privada se negue ou obste emprego por preconceito de raça ou de cor. 

Conclui-se que, nos casos de discriminação por raça ou cor, tanto no período de pré-contratação (recrutamento e seleção), durante a relação de emprego, ou ainda na rescisão contratual, o empregador correrá risco, se tal discriminação for comprovada, de responder por danos morais, como também criminalmente. DISCRIMINAÇÃO POR MOTIVO DE IDADE 

O artigo 7º, inciso XXX da Constituição Federal proíbe a diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de idade. Entretanto, as não-contratações por capacidade física insuficiente para determinados cargos, poderão não ser caracterizados como ato discriminatório.

Assim sendo, os argumentos pela recusa na contratação ou até mesmo dispensa ou remanejamentos do cargo em razão da capacidade física deverão ser acompanhados de avaliação decorrente de testes aplicados, não fundamentando, pelo critério de idade. 

DISCRIMINAÇÃO PELO ESTADO CIVIL Estado Civil da Mulher 

O artigo 7º, inciso III da Constituição Federal/88 determina que a discriminação pelo estado civil é violação ao preceito constitucional, sendo a mulher uma das maiores vítimas desse preconceito, uma vez que ela, quando casada, tem maiores possibilidades para a maternidade. Não só por este motivo, mas alguns empregadores quando o matrimônio ocorre durante a vigência do contrato, consideram motivo impeditivo para a manutenção da relação de emprego.

A CLT em seu artigo 391, estabelece que não constitui justo motivo para a rescisão do contrato de trabalho, dentre outros, o fato de a mesma haver contraído matrimônio. Do exposto, a previsão constitucional e a previsão celetista são argumentos suficientes para a caracterização do ato discriminatório. Estado Civil do Homem 

O estado civil do homem muitas vezes é considerado para tomada de decisões por parte dos empregadores. Um exemplo disso ocorre nas situações de dispensas coletivas de empregados por dificuldades financeiras da empresa, em que um dos critérios adotados, muitas vezes, é o fato de o empregador ser casado ou solteiro. O homem casado é considerado o esteio familiar e, portanto, nas referidas dispensas poderá ser poupado, enquanto que o homem solteiro tradicionalmente não traça esse perfil, podendo vir a ser dispensado. Tal critério pode ser equivocado, pois muitas vezes, o salário do homem, ainda que solteiro, pode ser fundamental no orçamento familiar. PORTADORES DE DEFICIÊNCIA FÍSICA 

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O artigo 7º, inciso XXXI da Constituição Federal trouxe a proibição de qualquer ato discriminatório no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador portador de deficiência. Nos casos de funções intelectuais, a deficiência física não poderá ser argumento para a não contratação, caracterizando assim a discriminação.

Por último, quando a deficiência física não dificulta o exercício da função, deverá ser respeitado o preceito previsto no § 1º do art. 461 da CLT, dispõe que o trabalho de igual valor será o que for feito com igual produtividade e com a mesma perfeição técnica, entre pessoas cuja diferença de tempo de serviço não for superior a dois anos. RESPONSABILIDADE DO EMPREGADOR 

Como os atos discriminatórios podem causar prejuízos morais, a fim de responsabilizar civilmente o empregador, a pessoa poderá ingressar com ação perante a Justiça Comum objetivando a reparação do dano. Nos casos de discriminação do trabalho da mulher ou ainda por motivo de raça ou cor, além da responsabilidade civil, o empregador poderá ser responsabilizado penalmente.

Conclusão

O maior argumento sobre a discriminação racial no mercado de trabalho no Brasil

reside na afirmação da impossibilidade de determinar quem é branco e quem é negro, por

isso mesmo torna – se inviável a implementação de políticas públicas direcionadas à

negritude. Isso em razão de a identidade brasileira ter sido formada a partir de da mistura

das raças.

Essa indefinição, no entanto, é apenas aparente, porque quem é negro sabe o que é

ser discriminado e preterido por causa da sua cor de pele. No Brasil trata-se de uma

questão de pele, pois é notório que qualquer brasileiro pode ter ancestrais negros, porém,

o preconceito será proporcional à cor da pele. Quanto mais escura maior discriminação

será enfrentada pela pessoa. Existe a visão do que seja o lugar do negro na sociedade,

que é o de exercer um trabalho manual, sem fortes requisitos de qualificação em setores

industriais pouco dinâmicos. Se o negro ficar no lugar a ele alocado, sofrerá pouca

discriminação.

O ingresso do negro no mercado de trabalho ainda criança e a submissão a salários

baixos reforçam o estigma da inferioridade em que muitos negros vivem. Mesmo assim,

não podemos deixar de considerar que esse horizonte não é absoluto e ainda com toda a

barbárie do racismo há uma parcela de negros que conseguiram vencer as adversidades e

chegar ao sucesso profissional.

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REFERÊNCIAS

1. http://www.espacoacademico.com.br 2. http://desafios.ipea.gov.br 3. http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034-

71402004000200003&script=sci_arttext 4. http://legislacao.planalto.gov.br 5. http://www.achegas.net/numero/zero/l_fernando.htm 6. http://www.direitonet.com.br 7. ABREU, Sergio. Os descaminhos da tolerância: o afro-brasileiro e o princípio

da isonomia e da igualdade no Direito Constitucional. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 1999.

8. GOMES, Joaquim B. Barbosa. Ação afirmativa & princípio constitucional da igualdade: o direito como instrumento de transformação social. A experiência dos EUA. Rio de Janeiro: Renovar, 2001.

9. CARNEIRO, Maria Luiza Tucci. O Racismo na História do Brasil: mito e realidade. São Paulo: Ática, 2002.

10. CONSTITUIÇÃO da República Federativa do Brasil, 7ª Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002.

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Anexos

LEI Nº 7.716, DE 5 DE JANEIRO DE 1989____________________________________________________________________________

Define os crimesResultantes de preconceitos de raça ou de cor.

c Publicada no DOU de 6-1-1989.

Art. 1º Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Artigo com a redação dada pela Lei nº 9.459, de 13-5-1997.

Art. 2º VETADO.

Art. 3º Impedir ou obstar o acesso de alguém, devidamente habilitado, a qualquer cargo da Administração Direta ou Indireta, bem como das concessionárias de serviços públicos:Pena – reclusão de dois a cinco anos.Art. 4º Negar ou obstar emprego em empresa privada:Pena – reclusão de dois a cinco anos.

Art. 5º Recusar ou impedir acesso a estabelecimento comercial, negando-se a servir, atender ou receber cliente ou comprador:Pena – reclusão de um a três anos.

Art. 6º Recusar, negar ou impedir a inscrição ou ingresso de aluno em estabelecimento de ensino público ou privado de qualquer grau:Pena – reclusão de três a cinco anos.

Parágrafo único. Se o crime for praticado contra menor de dezoito anos a pena é agravada de um terço.

Art. 7º Impedir o acesso ou recusar hospedagem em hotel, pensão, estalagem, ou qualquer estabelecimento similar:Pena – reclusão de três a cinco anos.

Art. 8º Impedir o acesso ou recusar atendimento em restaurantes, bares, confeitarias, ou locais semelhantes abertos ao público:Pena – reclusão de um a três anos.

Art. 9º Impedir o acesso ou recusar atendimento em estabelecimentos esportivos, casas de diversões, ou clubes sociais abertos ao público:Pena – reclusão de um a três anos.

Art. 10. Impedir o acesso ou recusar atendimento em salões de cabeleireiros, barbearias,termas ou casas de massagem ou estabelecimentos com as mesmas finalidades:Pena – reclusão de um a três anos.

Art. 11. Impedir o acesso às entradas sociais em edifícios públicos ou residenciais e elevadores ou escada de acesso aos mesmos:Pena – reclusão de um a três anos.

Art. 12. Impedir o acesso ou uso de transportes públicos, como aviões, navios, barcas, barcos, ônibus, trens, metrô ou qualquer outro meio de transporte concedido:Pena – reclusão de um a três anos.

Art. 13. Impedir ou obstar o acesso de alguém ao serviço em qualquer ramo das Forças Armadas:

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Pena – reclusão de dois a quatro anos.

Art. 14. Impedir ou obstar, por qualquer meio ou forma, o casamento ou convivência familiar e social:Pena – reclusão de dois a quatro anos.

Art. 15. VETADO.

Art. 16. Constitui efeito da condenação a perda do cargo ou função pública, para o servidor público, e a suspensão do funcionamento do estabelecimento particular por prazo não superior a três meses.

Art. 17. VETADO.

Art. 18. Os efeitos de que tratam os artigos 16 e 17 desta Lei não são automáticos, devendo ser motivadamente declarados na sentença.

Art. 19. VETADO.

Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional:Pena – reclusão de um a três anos e multa.

§ 1º Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo.Pena – reclusão de dois a cinco anos e multa.

§ 2º Se qualquer dos crimes previstos no caput é cometido por intermédio dos meios de comunicação social ou publicação de qualquer natureza:Pena – reclusão de dois a cinco anos e multa.

§ 3º No caso do parágrafo anterior, o Juiz poderá determinar, ouvido o Ministério Público ou a pedido deste, ainda antes do inquérito policial, sob pena de desobediência:I – o recolhimento imediato ou a busca e apreensão dos exemplares do material respectivo;II – a cessação das respectivas transmissões radiofônicas ou televisivas.§ 4º Na hipótese do § 2º, constitui efeito da condenação, após o trânsito em julgado da decisão, a destruição do material apreendido.

Art. 20 com a redação dada pela Lei nº 9.459, de 13-5-1997.

Art. 21. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 22. Revogam-se as disposições em contrário.

Brasília, 5 de janeiro de 1989;168º da Independência e

101º da República.José Sarney

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Presidência da RepúblicaCasa Civil

Subchefia para Assuntos Jurídicos

LEI Nº 9.459, DE   13 DE   MAIO DE 1997.

Altera os arts. 1º e 20 da Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989, que define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor, e acrescenta parágrafo ao art. 140 do Decreto-lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940.

        O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço  saber  que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

        Art. 1º Os arts. 1º e 20 da Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989, passam a vigorar com a seguinte redação:

"Art. 1º Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional."

"Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.

Pena: reclusão de um a três anos e multa.

§ 1º Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo.

Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.

§ 2º Se qualquer dos crimes previstos no caput é cometido por intermédio dos meios de comunicação social ou publicação de qualquer natureza:

Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.

§ 3º No caso do parágrafo anterior, o juiz poderá determinar, ouvido o Ministério Público ou a pedido deste, ainda antes do inquérito policial, sob pena de desobediência:

I - o recolhimento imediato ou a busca e apreensão dos exemplares do material respectivo;

II - a cessação das respectivas transmissões radiofônicas ou televisivas.

§ 4º Na hipótese do § 2º, constitui efeito da condenação, após o trânsito em julgado da decisão, a destruição do material apreendido."

        Art. 2º O art. 140 do Código Penal fica acrescido do seguinte parágrafo:

"Art. 140....................................................................

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...................................................................................

§ 3º Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião ou origem:

Pena: reclusão de um a três anos e multa."

        Art. 3º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

        Art. 4º Revogam-se as disposições em contrário, especialmente o art. 1º da Lei nº 8.081, de 21 de setembro de 1990, e a Lei nº 8.882, de 3 de junho de 1994.

        Brasília, 13 de maio de 1997; 176º da Independência e 109º da República.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSOMilton Seligman

(Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 14.5.1997)

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