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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE GENÉTICA E BIOQUÍMICA PÓS-GRADUAÇÃO EM GENÉTICA E BIOQUÍMICA SELEÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE PEPTÍDEOS RECOMBINANTES MIMÉTICOS DE ANTÍGENOS DO VÍRUS DA DENGUE POR “PHAGE DISPLAY” Aluna: Paula de Souza Santos Orientador: Dr. Luiz Ricardo Goulart Filho UBERLÂNDIA - MG 2006

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE GENÉTICA E BIOQUÍMICA

PÓS-GRADUAÇÃO EM GENÉTICA E BIOQUÍMICA

SELEÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE PEPTÍDEOS

RECOMBINANTES MIMÉTICOS DE ANTÍGENOS DO VÍRUS DA DENGUE POR “PHAGE DISPLAY”

Aluna: Paula de Souza Santos Orientador: Dr. Luiz Ricardo Goulart Filho

UBERLÂNDIA - MG 2006

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE GENÉTICA E BIOQUÍMICA

PÓS-GRADUAÇÃO EM GENÉTICA E BIOQUÍMICA

SELEÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE PEPTÍDEOS

RECOMBINANTES MIMÉTICOS DE ANTÍGENOS DO VÍRUS DA DENGUE POR “PHAGE DISPLAY”

Aluna: Paula de Souza Santos Orientador: Dr. Luiz Ricardo Goulart Filho

Dissertação apresentada à Universidade Federal de Uberlândia como parte dos requisitos para obtenção do Título de Mestre em Genética e Bioquímica (Área Genética)

UBERLÂNDIA - MG 2006

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE GENÉTICA E BIOQUÍMICA

PÓS-GRADUAÇÃO EM GENÉTICA E BIOQUÍMICA

SELEÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE PEPTÍDEOS RECOMBINANTES MIMÉTICOS DE ANTÍGENOS DO VÍRUS DA

DENGUE POR “PHAGE DISPLAY” Aluna: Paula de Souza Santos

COMISSÃO EXAMINADORA Presidente: Dr. Luiz Ricardo Goulart (Orientador) Examinadores: Dra. Andréa Thompsom da Poian Dr. Guilherme Oliveira Data da Defesa: 18 / 04 / 2006 As sugestões da Comissão Examinadora e as Normas PGGB para o formato da Dissertação foram contempladas

_____________________________ Dr. Luiz Ricardo Goulart

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“Pensar apenas ou desejar simplesmente, nunca levou ninguém a lugar nenhum. É

necessário também ação. Não há mal que sempre dure, nem bem que nunca termine.

Lamentar uma dor passada no presente é criar outro sofrimento novamente”

Antônio Carlos dos Santos

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Dedico essa dissertação ao meu

querido pai, Antônio Carlos, pelo

amor e incentivo a mim sempre dados.

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, Antônio Carlos e Marlene, que iluminaram o caminho de minha

vida, e pela sólida formação que me foi dada, proporcionando a continuidade nos estudos

até a chegada a este mestrado.

À minha filha, Isabela, que traz tanta luz e gosto para minha vida, um amor

especial. Você é a lição mais profunda que vivi de amor...

Ao meu companheiro, Christian, pelo carinho e amor dedicados em todos os

momentos.

Às minhas irmãs, Carla e Roberta, pelo convívio afetivo.

Ao Luiz Ricardo, na qualidade de amigo e orientador, por sua disponibilidade,

ensinamentos e apoio, bem como o imenso carinho nos momentos de dificuldade e de dor.

Aos amigos do grupo Phage, Ana Paula, Juliana, Andréa, Renata, Guilherme,

Carlos, Rone e Fausto, que ajudaram com importantes trocas de informações, e também

nos cuidados com os animais utilizados no estudo. Em especial, à Ana Paula, Juliana, pela

amizade sempre presente.

Às amigas do laboratório, Paula e Karla, por estarem sempre ao meu lado em

momentos de dificuldades.

À todos os colegas do laboratório, que tornaram o ambiente de trabalho mais

agradável.

À professora Divina do Departamento de Virologia, pela ajuda na obtenção de

amostras e também nas informações sobre o assunto.

Ao Conselho Nacional de Pesquisa, CNPq, pelo apoio financeiro durante a

realização deste trabalho.

E a todos que me incentivaram e, de alguma forma, contribuíram para realização

deste trabalho.

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ÍNDICE

Lista de Abreviaturas...............................................................................................ix

Lista de Abreviaturas dos Aminoácidos..................................................................xii

Lista de Tabelas.....................................................................................................xiii

Lista de Figuras......................................................................................................xiv

Resumo Geral...........................................................................................................1

Introdução Geral.......................................................................................................2

• Dengue..........................................................................................................3

- Epidemiologia..............................................................................................3

- Aspecto clínico e diagnóstico da doença.....................................................6

- Controle do vetor.........................................................................................8

- Caracterização estrutural e molecular do vírus...........................................9

- Caracterização antigênica do vírus............................................................15

• “Phage Display” ..........................................................................................18

Objetivos.................................................................................................................23

Referências Bibliográficas......................................................................................24

Capítulo Único........................................................................................................33

Resumo..................................................................................................................34

Abstract...................................................................................................................35

Introdução...............................................................................................................36

Material e Métodos.................................................................................................38

• Antígenos.....................................................................................................38

• Aves.............................................................................................................38

• Imunização...................................................................................................38

• Purificação e concentração dos anticorpos.................................................39

• Teste ELISA para confirmar a especificidade de IgY..................................40

• Biopannig – Seleção de peptídeos..............................................................40

• Amplificação de colônias de fagos em Deepwell.........................................42

• ELISA Pré-Sequenciamento........................................................................42

• Extração de DNA.........................................................................................43

• Seqüenciamento de DNA............................................................................44

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• Análise dos dados por bioinformática..........................................................44

• Teste ELISA dos clones contra soro humano específico............................45

Resultados e Discussão.........................................................................................47

• Antígenos.....................................................................................................47

• Aves.............................................................................................................47

• Purificação e concentração dos anticorpos.................................................47

• Teste ELISA para confirmar a especificidade de IgY..................................49

• Biopannig – Seleção de peptídeos..............................................................49

• ELISA Pré-Sequenciamento........................................................................51

• Seqüenciamento de DNA e Bioinformática..................................................51

• Teste ELISA dos clones contra soro humano específico............................65

Conclusões.............................................................................................................67

Referências Bibliográficas......................................................................................68

Anexo 1...................................................................................................................75

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LISTA DE ABREVIATURAS

Å Angstrom

°C Graus Celsius

� Número provável de clones independentes na biblioteca

µg Microgramas

µL Microlitros

aa Aminoácido

AT Amplitude taxonômica

BSA Soroalbumina bovina

C Proteína estrutural do capsídeo

cryoEM Cryo-eletromicroscopia

DC Dengue clássica

DENV Vírus da dengue

DENV-1 Vírus da dengue tipo 1

DENV-2 Vírus da dengue tipo 2

DENV-3 Vírus da dengue tipo 3

DENV-4 Vírus da dengue tipo 4

DH Dengue hemorrágica

DNA Ácido Desoribonucleico

E Proteína estrutural do envelope

EDTA Etileno diamino tetra acetato

ELISA Enzyme-linked immunosorbent assay

ER2537 E. coli Cepa ER2537

FE Probabilidade da Seqüência Randômica

FD Febre da dengue

FHD Febre hemorrágica da dengue

FO Freqüência observada

g Grama

IE Índice ELISA

IgG Imunoglobulina G

IgM Imunoglobulina M

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x

IgY Imunoglobulina Y

IL Interleucina

I(m) Grau de informação

IPTG Isopropil α-D-tiogalactosise

kDa Quilodalton

L Litro

M Molar

M Proteína estrutural de membrana

mg Miligrama

mL Mililitro

mM Milimolar

M13 Vetor de clonagem de bacteriófagos filamentosos

Ng Nanogramas

nm Nanômetro

NS1 Proteína não estrutural 1

NS2a Proteína não estrutural 2ª

NS2b Proteína não estrutural 2b

NS3 Proteína não estrutural 3

NS4a Proteína não estrutural 4ª

NS4b Proteína não estrutural 4b

NS5 Proteína não estrutural 5

OD Densidade ótica

OMS Organização Mundial de Saúde

OPD O- Phenylenediamine dihydrochrloide

P Probabilidade de ocorrência randômica

PAGE Eletroforese em gel de poliacrilamida

PBS-T Fosfato de sódio com tween 20 0.5%

PCR Reação em cadeia da polimerase

PEG Polietileno glycol

Pfu Unidades formadoras de colônias

Ph Potencial Hidrogeniônico

Ph.D Bibliotecas de Phage display New England Biolabs

Ph.D- 7mer Biblioteca contendo 7 peptídeos randômicos

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PrM proteína estrutural precursora de membrana

PIII Proteína III capsídica de bacteriófagos filamentosos

PVIII Proteína VIII capsídica de bacteriófagos filamentosos

RELIC Contatos Ligantes de Receptores

RNA Ácido ribonucléico

rpm Rotações por minuto

SI Sítio de identificação

SDS Dodecil Sulfato de Sódio

sNS1 Forma secretada da proteína não estrutural 1

T CD4+ Linfócitos T CD4+

T CD8+ Linfócitos T CD8+

TNF Fator necrosante de tumores

V Volts

X-gal 5-Bromo-4-cloro-3indolil- α-D-galactosideo

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LISTA DE ABREVIATURA DE AMINOÁCIDOS

A Alanina

C Cisteína

D Ácido aspártico

E Ácido glutâmico

F Fenilalanina

G Glicina

H Histidina

I Isoleucina

K Lisina

L Leucina

M Metionina

N Asparagina

P Prolina

Q Glutamina

R Arginina

S Serina

T Treonina

V Valina

W Triptofano

Y Tirosina

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LISTA DE TABELAS

Capítulo Único

Tabela 1: Absorbância e quantificação dos anticorpos obtidos após a

concentração e diálise....................................................................................Pág 48

Tabela 2: Títulos (em pfc: unidades formadoras de colônias) obtidos nos quatro

ciclos de seleção. ..........................................................................................Pág 50

Tabela 3: ELISA para teste de imunorreatividade dos clones selecionados contra

o anticorpo purificado obtido de galinhas imunizadas com proteína total do vírus

da dengue tipo 3.............................................................................................Pág 51

Tabela 4: Seqüências de aminoácidos, freqüências observada e esperada, e

amplificação dos peptídeos............................................................................Pág 53

Tabela 5: Freqüência de aminoácidos dos clones seqüenciados. Em vermelho

estão os aminoácidos que apresentam maior freqüência..............................Pág 54

Tabela 6: Alinhamento entre os peptídeos selecionados e proteínas de

DENV..............................................................................................................Pág 58

Tabela 7: Provável sítio de alinhamento dos motivos VxRN e LRN (em destaque)

na seqüência alvo do capsídeo dos tipos DENV-1, 2, 3 e

4......................................................................................................................Pág 63

Tabela 8: Peptídeos que apresentaram similaridades com proteínas de

comunidades biológicas previamente conhecidas.........................................Pág 63

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LISTA DE FIGURAS

Introdução Geral

Figura 1: Estágios de desenvolvimento do Aedes aegypti: (1) larva, (2) pupa, (3)

indivíduo adulto [(1) http://www.arbovirus.health.nsw.gov.au/areas/arbovirus

/mosquit/photos; (2) http://fmel.ifas.ufl.edu/Key/aegyptipupa.htm; (3) http://www.

angelfire.com/electronic/bodhidharma/death.html].......................................... Pág 4

Figura 2: Sorotipos circulantes do vírus da dengue por Estado, Brasil, 2005

(Ministério da Saúde, 2005)............................................................................. Pág 5

Figura 3: Distribuição mundial da dengue no ano de 2005. Em amarelo,

encontram-se áreas infestadas com Aedes aegypti; em vermelho, áreas com

Aedes aegypt e atividade epidêmica da dengue

(http://www.cdc.gov/ncidod/dvbid/dengue/map-distribution-2005.htm)........... Pág 6

Figura 4: Esquema das proteínas virais arranjadas na poliproteína codificada pela

cadeia simples de RNA................................................................................. Pág 10

Figura 5: Representação de um corte central no vírus da dengue: 1- Proteína do

envelope; 2- ectodomínios da proteína M e hastes da glicoproteína E; 3-

bicamada lipídica; 4 e 5- Nucleocapsídeo ; 5- Ácido ribonucléico (RNA) (Kuhn et

al. 2002)..........................................................................................................Pág 11

Figura 6: Estrutura do vírus da dengue inteiro, mostrando cada monômero com

os domínios I, II e III em vermelho, amarelo e azul, respectivamente. A fusão dos

peptídeos é mostrada em verde (Kuhn et al. 2002)...................................... Pág 11

Figura 7: Diagrama do ectodomínio do vírus da dengue e proteínas do domínio

transmembrana: ectodomínio de um monômero E, em rosa (domínio I), amarelo

(domínio II) e lilás (domínio III); a alça e hélice de E e M estão em azul e laranja,

respectivamente (Zhang et al., 2003)............................................................ Pág 13

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Figura 8: Estrutura do fago M13 (http://www.theses.ulaval.ca/2003/21058

/ch01.html)..................................................................................................... Pág 19

Figura 9: Ciclo do “Biopannig” em placa. Em cada ciclo, os fagos reativos com o

alvo são selecionados por lavagens sucessivas, sendo os demais descartados.

Os fagos remanescentes são então amplificados e seguem um novo ciclo para a

maturação da afinidade de ligação ao alvo específico.................................. Pág 20

Capítulo Único

Figura 10: Perfil eletroforético (SDS-PAGE 16%) de IgYs purificadas de soros de

galinhas imunizadas com proteínas virais totais de dengue do tipo 3 (Canaleta 1 –

soro total; 2-8 – soro purificado; M – marcador de peso molecular)............. Pág 48

Figura 11 ELISA para teste de imunorreatividade do anticorpo purificado obtido

de galinhas imunizadas com proteína total do vírus da dengue tipo 3 contra

proteínas virais de dengue 1, 2 e 3............................................................... Pág 49

Figura 12: Exemplo de placas resultantes da titulação. As colônias azuis

representam a infecção de bactérias E.coli (ER2738) com fagos M13 carregando

o gene lacZ da β–galactosidase....................................................................Pág 50

Figura 13: Perfil eletroforético das amostras de DNA extraídas dos clones obtidos

no processo de seleção. M - marcador de peso molecular............................Pág 52

Figura 14: Alinhamento dos 14 peptídeos selecionados pelo programa Clustal W

18.1.................................................................................................................Pág 55

Figura 15: Índices de antigenicidade preditas para os peptídeos selecionados

gerados pelo programa Protean 4.0. Os números 1 a 7 representam a seqüência

de aminoácidos dos peptídeos mencionados à esquerda. Em destaque, os

peptídeos com domínios selecionados...........................................................Pág 57

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Figura 16: Identificação dos prováveis motivos VxRN e LRN na estrutura terciária

da proteína do capsídeo de DENV-2, feito pelo programa Cn3D. Em amarelo, os

domínios encontram-se expostos na estrutura conformacional.....................Pág 62

Figura 17: Teste de imunorreatividade dos clones com soro de pacientes

contaminados com DENV-1 e 3, e com proteínas totais de DENV-1, 2 e

3......................................................................................................................Pág 66

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1

RESUMO GERAL

SELEÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE PEPTÍDEOS RECOMBINANTES

MIMÉTICOS DE ANTÍGENOS DO VÍRUS DA DENGUE POR “PHAGE

DISPLAY”

A dengue é uma doença infecciosa febril aguda, transmitida de uma

pessoa doente a uma pessoa sadia pela picada da fêmea contaminada de um

mosquito Aedes aegypti. A doença é causada por um arbovírus, membro da

família Flaviviridae e do gênero flavivirus. Existem quatro tipos de vírus da

dengue: Dengue 1, Dengue 2, Dengue 3 e Dengue 4, e há um grande espectro de

manifestações clínicas da doença, sendo as duas principais, a dengue clássica e

a dengue hemorrágica. O diagnóstico geralmente é baseado em sintomas, e

laboratorialmente é tardio, no entanto vários testes específicos para cada

sorotipo.

A tecnologia do “Phage Display” (exposição de biomoléculas em fagos) tem

sido amplamente utilizada no mapeamento de epítopos de diversos antígenos,

constituintes de vários agentes causadores de doenças.

Com o objetivo de selecionar peptídeos recombinantes expressos no

capsídeo de bacteriófagos produziu-se soro policlonal em galinhas previamente

sensibilizadas com proteínas totais do vírus da dengue tipo 3. Após 4 ciclos de

seleção de uma biblioteca de fagos com peptídeos recombinantes lineares de 7

resíduos contra a IgY policlonal, 14 fagos imunorreativos foram selecionados e

suas seqüências de ácidos nucléicos foram posteriormente analisadas por

bioinformática. Foi possível identificar domínios protéicos comuns entre os

peptídeos, sendo que o principal domínio mapeado foi VLRN.

Testes subseqüentes se fazem necessários para a melhor caracterização

destes peptídeos, incluindo possíveis aplicações diagnósticas e vacinais dos

peptídeos selecionados.

PALAVRAS-CHAVE: Dengue, “Phage Display”, anticorpo monoclonal.

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INTRODUÇÃO GERAL

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DENGUE

Epidemiologia

A dengue é uma doença febril aguda causada por um arbovírus, membro

da família Flaviviridae e do gênero flavivirus. A doença apresenta evolução

benigna, na forma clássica, e grave na forma hemorrágica. A dengue é hoje a

mais importante arbovirose que afeta o homem e constitui um sério problema de

saúde pública no mundo, especialmente nos países de clima tropical, onde as

condições do meio ambiente favorecem o desenvolvimento e a proliferação do

Aedes aegypti, principal transmissor da doença (Marques et al., 2004).

Quatro sorotipos antigenicamente semelhantes designados dengue vírus

tipo 1 (DENV-1), dengue vírus tipo 2 (DENV-2), dengue vírus tipo 3 (DENV-3) e

dengue vírus tipo 4 (DENV-4), foram descritos (Ligon, 2004). Os quatro sorotipos

do vírus do dengue têm antígenos muito similares, mas são suficientemente

diferentes para provocar proteção parcial contra os outros após infecção por um

deles. Após um período de incubação de 4-6 dias (mínimo de 3, máximo de 10), o

vírus está presente no sangue dos pacientes durante a fase aguda da doença

(WHO, 1997).

Os vetores são mosquitos do gênero Aedes, popularmente conhecido

como pernilongo da dengue. Ae. aegypti é um dos mosquitos vetores mais

eficientes para a transmissão de arboviroses porque é altamente antropológico e

vive nas proximidades de humanos. A transmissão da dengue tem também

outros vetores Ae. Albopictus, Ae polynesiensis e muitas espécies do complexo

Ae scutelleris. Cada uma dessas espécies tem uma distribuição geográfica

particular, no entanto, elas têm baixa eficiência epidêmica, quando comparada ao

Ae. aegypti (WHO, 1997).

O ciclo ovo-ovo pode durar cerca de 10 dias. Quando a larva do mosquito

nasce, ela passa por quatro estágios de crescimento, que podem durar oito dias

no total. Depois ela se transforma em pupa, estágio que dura dois dias,

aproximadamente. Depois de sair da pupa, o mosquito adulto já pode se

reproduzir e botar ovos, quando o ciclo se reinicia (Figura 1).

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A fêmea do mosquito, suscetível, infecta-se com o vírus da dengue quando

se alimenta de um indivíduo infectante (no período de viremia). Após o período de

incubação extrínseca, que vai desde a ingestão do sangue infectado até o

momento em que é capaz de transmitir o vírus pela sua replicação nas glândulas

salivares, o mosquito permanece infectante até a sua morte. Este período pode

variar de 7 a 10 dias. Quando um mosquito infectante injeta o vírus da dengue no

hospedeiro suscetível durante o repasto sanguíneo, após um período de

incubação que varia, em média, de 4 a 6 dias (mínimo de 3 e máximo de 10 dias),

a dengue pode evoluir para forma assintomática, forma clássica com febre,

mialgias e artralgias, e para forma grave, conhecida como “dengue hemorrágica”,

que cursa com distúrbios da coagulação e choque, podendo levar à morte. A

duração dos sintomas varia usualmente de 3 a 7 dias e o período infeccioso

(viremia) dura apenas alguns dias, variando também de 3 a 7 dias.

Posteriormente, o indivíduo desenvolve imunidade específica de longa duração

(Yang, 2003).

(1) (2) (3)

Figura 1: Estágios de desenvolvimento do Aedes aegypti: (1) larva, (2) pupa, (3) indivíduo adulto [(1) http://www.arbovirus.health.nsw.gov.au/ areas/arbovirus/mosquit/photos; (2) http://fmel.ifas.ufl.edu/Key/aegyptipupa. htm; (3) http://www. angelfire.com/electronic/bodhidharma/death.html].

Durante as duas últimas décadas, a incidência da infecção pela dengue

tem crescido consideravelmente em áreas endêmicas, particularmente na região

as Américas, onde o vírus da dengue tem mostrado uma característica de

hiperendemicidade como resultado da circulação de múltiplos sorotipos em

muitos países do continente (de Simone et al., 2003).

Nas Américas, o vírus da dengue tem sido relatado há mais de 200 anos, e

no Brasil, há referências de epidemias em 1916, em São Paulo, e em 1923, em

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Niterói, sem diagnóstico laboratorial. A primeira epidemia documentada clínica e

laboratorialmente ocorreu em 1981-1982, em Boa Vista – Roraima. A partir de

1986, foram registradas epidemias em diversos estados (http://portal.saude.gov.br/

portal/svs/visualizar_texto.cfm?idtxt=22207). Atualmente, a circulação dos

sorotipos 1, 2 e 3 do vírus foi identificada em 24 unidades federadas (Figura 2),

com mais de 200.000 casos notificados em 2005 (Ministério da Saúde, 2005).

Figura 2: Sorotipos circulantes do vírus da dengue por Estado, Brasil, 2005 (Ministério da Saúde, 2005).

Em 2005, a dengue foi considerada a mais importante doença transmitida

por mosquitos afetando humanos. Sua distribuição global é comparável à da

malária, e é estimado que 2,5 bilhões de pessoas vivam em áreas de risco para a

transmissão endêmica (Figura 3).

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), dois quintos da

população mundial corre o risco de ser infectada pela doença, e mais de cem

países foram atingidos por epidemias de dengue ou dengue hemorrágica. A OMS

estima que, anualmente, ocorrem mais de 50 milhões de casos de contágio de

dengue e dengue hemorrágica, dos quais meio milhão de são hospitalizados, com

cerca de 20 mil mortes (http://www.who.int/csr/disease/dengue/impact/en

/index.html).

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Figura 3: Distribuição mundial da dengue no ano de 2005. Em amarelo, encontram-se áreas infestadas com Aedes aegypti; em vermelho, áreas com Aedes aegypt e atividade epidêmica da dengue (http://www.cdc.gov/ ncidod/dvbid/dengue/map-distribution-2005.htm).

Aspecto clínico e diagnóstico da doença

O processo infeccioso desencadeado pelo vírus da dengue possui um amplo

quadro clínico, podendo variar desde uma simples infecção inaparente

(assintomática), até quadros mais graves, nos quais se verificam hemorragias,

abrupto aumento da permeabilidade vascular e desenvolvimento de choque

hipovolêmico. A doença se manifesta clinicamente sob duas formas: dengue

clássica (DC), também descrita como febre da dengue (FD) e a dengue

hemorrágica (DH) ou febre hemorrágica da dengue (FHD) (Morais, 1998).

Segundo Simmons e colaboradores (2005), uma infecção primária com qualquer

um dos quatro sorotipos do vírus da dengue, tipicamente, resulta em alguma

doença assintomática ou então na febre do dengue. Estudos epidemiológicos

sugerem que indivíduos que foram infectados uma segunda vez com um diferente

sorotipo, o risco de desenvolver a febre da dengue hemorrágica é

significantemente maior.

As características clínicas do dengue freqüentemente dependem da idade

do paciente. Os lactentes e as crianças pequenas podem sofrer de febre não

diferenciada com erupção maculopapular. As crianças maiores e os adultos têm

uma síndrome de febre benigna ou a doença clássica incapacitante com início

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abrupto e febre alta, cefaléia severa, dor retro-orbital, dores musculares e

articulares. A taxa de mortalidade de casos é extremamente baixa (Guzmán e

Kourí, 2002). Segundo os autores, muitas epidemias de dengue são

acompanhadas por complicações que envolvem sangramento, tais como

epistaxe, sangramento gengival, sangramento gastrointestinal, hematúria e

hipermenorrea. Em alguns casos, um sangramento singularmente severo pode

levar o paciente a óbito.

O tratamento para os sintomas da dengue clássica não é específico. A

medicação é apenas sintomática, com analgésicos e antitérmicos (paracetamol e

dipirona). Devem ser evitados os salicilatos (analgésicos a base de ácido acetil

salicílico), já que seu uso pode favorecer o aparecimento de manifestações

hemorrágicas e acidose (http://www.cdc.gov/ncidod/dvbid/dengue/resources/

DengueFactSheet.pdf).

Os casos típicos de Dengue Hemorrágico são caracterizados por quatro

manifestações clínicas principais: febre alta, fenômenos hemorrágicos,

hepatomegalia e, freqüentemente, insuficiência circulatória (Guzmán e Kourí,

2002). As autópsias de casos de dengue hemorrágica, em ordem de freqüência,

constatam-se hemorragias na pele e nos tecidos subcutâneos, nas mucosas do

trato gastrointestinal, e no coração e fígado. De maneira geral, é pouco freqüente

a ocorrência de hemorragias subaracnoidais ou cerebrais. O volume

hemorrágico, entretanto, não é excessivo. Efusão de soro com alto teor protéico

(principalmente albumina) é comum nas cavidades pleural e abdominal (WHO,

1997).

A OMS definiu um critério de classificação das formas de Febre

Hemorrágica do Dengue em 4 categorias, de acordo com o grau de gravidade

(WHO, 1997).

Grau 1 - febre acompanhada de sintomas inespecíficos, em que a única

manifestação hemorrágica é a prova do laço positiva.

Grau 2 - além das manifestações constantes do grau 1, somam-se hemorragias

espontâneas leves (sangramento de pele, epistaxe, gengivorragia e outros).

Grau 3 - colapso circulatório com pulso fraco e rápido, estreitamento da pressão

arterial ou hipotensão, pele pegajosa e fria e inquietação.

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Grau 4 - choque profundo com ausência da pressão arterial e pressão de pulso

imperceptível.

Na ocorrência de febre hemorrágica da dengue, os pacientes devem ser

observados cuidadosamente para identificação dos primeiros sinais de choque. O

período crítico será durante a transição da fase febril para a afebril, que

geralmente ocorre após o terceiro dia da doença. Em casos menos graves,

quando os vômitos ameaçarem causar desidratação ou acidose, ou não houver

sinais de hemoconcentração, a reidratação do paciente pode ser feita em nível

ambulatorial (WHO, 1997).

Os quatro vírus da dengue são capazes de produzir casos de FDH, sendo

que DENV-2 e DENV-3 são mais freqüentemente associados à severa doença

(Guzmán e Kourí, 2002).

Os métodos comumente usados para confirmar a infecção pela dengue,

envolvem o isolamento do vírus, a detecção do antígeno ou RNA do vírus no

plasma ou soro ou tecidos, e a presença de anticorpos vírus-específicos no soro e

outros fluídos. Recentemente, várias técnicas têm sido desenvolvidas para um

diagnóstico laboratorial rápido do vírus da dengue: a amplificação para um

aumento na taxa de vírus isolado; o método de citometria de escoamento para

uma rápida detecção de vírus; detecção de ácido nucléico viral por PCR-

NESTED, RT-PCR, sequenciamento baseado na amplificação de ácido nucléico,

e PCR em tempo real, detectando antígenos virais livres, imunoglobulina M (IgM)

anti-vírus da dengue ou anticorpos IgG por ELISA (Enzyme Linked

Immunosorbent Assay); diferenciação de uma infecção primária ou secundária

pelo vírus (Kao et al., 2005).

Controle do vetor

A OMS considera o controle e a prevenção da dengue uma das suas

prioridades. Atualmente, não existe uma vacina licenciada para o uso humano,

apesar de intensa pesquisa nesse campo nos últimos 30 anos (Silveira, 2002). O

controle dessa e de outras doenças causadas pelo Aedes aegypti baseia-se

principalmente no controle do vetor (Severson et al., 2004). Para isto, a

participação da comunidade é extremamente importante na erradicação dos

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locais com água que sirvam como criadouros do mosquito: pneus velhos, pratos

ou vasos de plantas, garrafas, caixas d´água destampadas, e outros item que

acumulem água (Ligon, 2004). O uso de malathion a ultra baixo volume é indicado

para borrifação ambiental perifocal nos locais onde foram identificados casos de

dengue e/ou o vetor. Porém o inseticida somente age nas formas aladas do

mosquito e há relato de resistência nas Américas. Melhoria das condições

higiênico-sanitárias das habitações, coleta apropriada do lixo e fornecimento de

água encanada são medidas também importantes no controle do dengue. São,

portanto, necessárias campanhas de esclarecimento dos vários segmentos da

população, utilizando para isso os meios de comunicação existentes,

coordenados pelas autoridades sanitárias da região (http://www.who.int

/mediacentre/factsheets/fs117/en/).

Torna-se relevante o incremento da investigação da epidemiologia do

dengue e seus vetores por parte de grupos de pesquisa já constituídos, além do

incentivo à pesquisa operacional para responder de forma ágil questões

específicas dos programas de controle e avaliar o impacto dessas ações

(Donalísio e Glasser, 2002).

Caracterização estrutural e molecular do vírus

A microscopia eletrônica tem sido usada para visualizar toda a estrutura de

alguns flavivirus, até os vários estágios de seus ciclos de vida (Mukhopadhyay,

2005). A estrutura do vírus da dengue foi recentemente descrita pelo uso de cryo-

eletromicroscopia (cryoEM), que permite a visualização de certos componentes

da proteína viral (Kuhn et al. 2002).

O vírus da dengue é esférico com uma superfície relativamente lisa, exceto

nas regiões em que as moléculas de glicoproteína se associam. Apresenta um

diâmetro de aproximadamente 500 Å, e um capsídeo icosaédrico coberto por um

envelope lipídico. O RNA é de cadeia simples, com aproximadamente 10.700

nucleotídeos. O genoma tem 11 Kb e codifica 3 proteínas estruturais [Capsídeo

(C, 100 aminoácidos), Membrana (M, 75 aminoácidos) e Envelope (E, 495

aminoácidos)], sendo que as duas últimas estão na superfície do vírus. Além

disso, codifica também 7 proteínas não estruturais (NS1, NS2a, NS2b, NS3,

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NS4a, NS4b, NS5) (Guzmán e Kouri, 2002; Kuhn et al. 2002). As regiões não

codificantes 3´ e 5´são importantes para a regulação da replicação viral. As

principais propriedades biológicas do vírus relacionam-se à proteína E, do

envelope: a ligação aos receptores, a aglutinação de eritrócitos, a indução de

anticorpos neutralizantes e a resposta imune protetora estão, todas relacionadas

à estrutura desta proteína (Guzmán e Kouri, 2002; Zhang et al., 2004).

Durante a replicação do vírus, a cadeia senso positiva do RNA genômico

viral é traduzida como uma poliproteína na ordem 5’-C-prM(M)-E-NS1-NS2a-

NS2b-NS3-NS4a-NS4b-NS5-3’, como mostra a Figura 4. A prM representa a

proteína precursora de membrana (Wu et al., 2003; Chua et al., 2004).

Figura 4: Esquema das proteínas virais arranjadas na poliproteína codificada pela cadeia simples de RNA.

Uma distribuição radial do vírus observada por crioeletromicroscopia,

mostrou que a densidade deste pode ser dividida em uma série de camadas

concêntricas, como apresentado na Figura 5. No envelope estão inseridas as

proteínas de envelope (E) e a de membrana (M). A densidade mais alta ocorre no

escudo exterior, entre os raios de 220 e 245 Å, e representa a glicoproteína E. O

próximo escudo, entre os raios de 185 e 220 Å, representa os ectodomínios da

proteína M (38 aminoácidos) e hastes da glicoproteína E (52 aminoácidos).

Imediatamente abaixo, entre os raios de 140 e 185 Å, estão duas camadas

concêntricas, as bicamadas lipídicas. Internamente, encontra-se o nucleocapsídeo,

entre os raios de105 e 135 Å. A densidade do escudo no nucleocapsídeo tem

características globulares distintas representando as subunidades da proteína C.

Entre 105 e 135 Å, corresponde a região do nucleocapsídeo, e dentro de um raio

de 105 Å, a região do RNA do núcleo (Kuhn et al. 2002).

C prM E NS1 2a 2b NS3 4a 4b NS5 COOH NH2

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Figura 5: Representação de um corte central no vírus da dengue: 1- Proteína do envelope; 2- ectodomínios da proteína M e hastes da glicoproteína E; 3- bicamada lipídica; 4 e 5- Nucleocapsídeo ; 5- Ácido ribonucléico (RNA) (Kuhn et al. 2002).

A estrutura do vírus da dengue (Figura 6) possui jogos de três dímeros,

quase paralelos, que dão forma a uma associação dominante, substituindo assim,

as interações entre monômeros individuais na partícula icosaédrica montada

(Kuhn et al. 2002).

Figura 6: Estrutura do vírus da dengue inteiro, mostrando cada monômero com os domínios I, II e III em vermelho, amarelo e azul, respectivamente. A fusão dos peptídeos é mostrada em verde (Kuhn et al. 2002).

A proteína E possuí peso molecular de 53 kDa, e contêm importantes

determinantes antigênicos. Os anticorpos, principalmente os que se ligam a

1

2 3

4

5

105 245 220 185 140

1 2 3 4 5

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epítopos da proteína E, promovem lise do envelope ou bloqueio de seus

receptores, com conseqüente neutralização viral. A proteína E, localizada nas

espículas do envelope dos vírus do dengue é fundamental para a ligação viral ao

receptor de membrana e possui os mais importantes domínios antigênicos destes

microorganismos. Os epítopos de E definem a produção de anticorpos específicos

para o tipo viral e para o gênero dengue (Figueiredo, 1999). A estrutura da

proteína E consiste de três domínios: domínio I (DI), o domínio N-terminal, e

estruturalmente central; domínio II (DII), o domínio de fusão (ou dimerização)

contendo o peptídeo hidrofóbico de fusão (Alisson et al., 2001); e domínio III

(DIII), o suposto domínio ligante ao receptor (Bhardwaj et al., 2001).

O vírus da dengue entra na célula hospedeira quando a glicoproteína viral

do envelope E liga ao receptor e responde com rearranjo conformacional à

redução do pH. A mudança conformacional induz a fusão das membranas virais e

da célula do hospedeiro (Modis et al., 2004; Bressanelli et al., 2004). A

determinação da disposição de proteínas transmembrana mostra que o núcleo do

nucleocapsídeo e as proteínas do envelope não têm uma interação direta no vírus

maduro (Zhang et al., 2003).

Videa e colaboradores (2005) misturaram os quatro polipetídeos

recombinantes do vírus da dengue correspondendo a região N-terminal da

proteína do envelope de todos os sorotipos, fizeram um teste ELISA , e

encontraram 100% de concordância entre esses polipeptídeos, tornando-os

reagentes úteis e acessíveis para o diagnóstico sorológico da dengue em países

endêmicos.

As seqüências dos aminoácidos das proteínas E do DENV-2 e DENV-3 são

68% idênticas (Modis et al., 2004).

As regiões α -helicoidais da haste das moléculas de E, assim como a

porção N-terminal das proteínas de M, são enterradas no folheto exterior da

membrana viral. As regiões “âncora” das proteínas E e M, cada uma forma uma

α-hélice transmembrana antiparalela E-E e M-M, deixando a porção C-terminal no

exterior da membrana viral (Figura 7) (Zhang et al., 2003).

A proteína M é produzida pela clivagem da sua precursora, a glicoproteína

pre-M, durante a fase final de maturação viral (Kuhn et al., 2002 e Holbrook et al.,

2001). A proteína prM é clivada antes da liberação do vírus da célula, deixando a

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pequena proteína estrutural M ancorada no envelope viral, e liberando o

segmento “pr” no meio extra celular (Westaway, 1987)

Figura 7: Diagrama do ectodomínio do vírus da dengue e proteínas do domínio transmembrana: ectodomínio de um monômero E, em rosa (domínio I), amarelo (domínio II) e azul (domínio III); a alça e hélice de E e M estão em azul e laranja, respectivamente (Zhang et al., 2003).

A proteína do capsídeo do vírus da dengue é essencial para a

encapsidação específica do RNA genômico, mas há pouca informação sobre ela.

O mecanismo de encapsidação não é compreendido, mas pode requerer a

participação de proteínas virais não estruturais como também da proteína C (Ma et

al., 2004).

A descrição da estrutura da proteína C da dengue revela uma dobra

alternada, e esta região sugere a interação com outros componentes virais na

partícula do vírus. Além disso, o modelo comprova a associação da porção C-

terminal da proteína do capsídeo com o RNA (Ma et al., 2004).

A proteína NS1 do vírus da dengue maduro contém 352 resíduos de

aminoácidos, em um polipeptídeo 40 kDa. Contém também 12 resíduos de

cisteína que são absolutamente conservados em todas as proteínas NS1 de

flavivirus, indicando a sua importância à estrutura e função (Wallis et al., 2004). A

NS1 é expressa em células de mamíferos infectados sob três formas diferentes:

intracelular, associada à membrana, essencial para a replicação viral; associada à

superfície da célula, envolvida na transdução do sinal; sob uma forma secretada

(sNS1), com propriedades biológicas ainda não elucidadas (Alcon-LePoder et al.,

2005). Os autores fizeram um estudo em camundongos adultos para determinar a

distribuição da proteína in vivo, e esta foi predominantemente encontrada

III I II

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associada ao fígado, sendo que os hepatócitos eram as principais células-alvo. Em

humanos, NS1 foi eficientemente endocitada pelos hepatócitos in vitro. O estudo

demonstra também que o acúmulo de sNS1 no último compartimento endossomal

dos hepatócitos potencializa uma subseqüente infecção pelo vírus in vitro,

aumentando a possibilidade de que sNS1 possa contribuir para a propagação viral

in vivo.

Relacionada com o processamento da proteína NS1, a proteína NS2a é a

primeira de quatro pequenas proteínas hidrofóbicas. As proteínas NS2b, NS4a e

NS4b são pequenas tal como a NS2a e são pouco conservadas entre flavivirus.

Estas proteínas podem formar componentes de membrana nos complexos de

replicação viral e podem estar envolvidas na localização de membranas das

proteínas NS3 e NS5 via interação proteína-proteína (Chambers et al.1990;

Mackow et al., 1987; Lindenbach e Rice, 1999).

A proteína NS3 é a segunda maior (68-70 kDa) e também a segunda mais

altamente conservada proteína viral entre os flavivirus. Esta proteína não contém

longos trechos de aminoácidos hidrofóbicos, mas tem associação com a

membrana. (Chua et al., 2004). A proteína NS3 tem um papel crítico na

maturação e replicação da poliproteína, e sua ausência impede essas atividades

(Katzenmeier, 2004). A proteína NS3 é composta de 618 aminoácidos, sendo que

um terço da porção N-terminal (167 resíduos de aminoácidos) tem o domínio

serina protease que requer NS2b - proteína ativadora - para catalizar o

processamento das poliproteínas virais NS2a-NS2b, NS2b-NS3, NS3-NS4a e

NS4b-NS5. O NS3 restante da proteína forma sítio de ligação a nucleotídeos

trifosfatase (NTPase) e o sítio de ligação ao RNA. Previamente, um fragmento de

50 kDa truncado da região amino terminal de NS3 (designado NS3’) com um

potencial sítio de clivagem localizado no domínio helicase, foi encontrado em

células de mamíferos infectados com flavivirus, mas não em células infectadas de

mosquitos (Chao et al., 2005).

NS5, a maior das dez proteínas e a mais altamente conservada, com 104

kDa (900 resíduos de aminoácidos), é uma proteína de multidomínios, com pelo

menos dois domínios que contenham atividade enzimática que são cruciais para o

ciclo replicativo do vírus. A região N-terminal está associada com a reação de

encapsulação do RNA que coloca uma estrutura cap1 (7MeG5’-ppp5’-NMe) no

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RNA de cadeia positiva do genoma. O sítio C-terminal contém oito motivos

altamente conservados (I a VIII) que têm sido reconhecidos em muitas RNA

polimerases RNA-dependendentes e inclui o tripeptídeo “GDD” encontrado em

todas as polimerases. Interessantemente, a atividade de encapsulação envolve

três passos enzimáticos envolvendo a RNA trifosfatase 5’-terminal, a

guanililtransferase, e a RNA metiltransferase (Baleotti et al., 2003 e Chao et al.,

2005).

Caracterização antigênica do vírus

Durante a infecção primária, o indivíduo desenvolve IgM após 5-6 dias e IgG

após 7-10 dias. Durante a infecção secundária, altos níveis de IgG são detectáveis

enquanto durar a fase aguda e aumentam consideravelmente até as próximas

duas semanas. Os níveis de IgM diminuem, e em alguns casos, é indetectável

durante a infecção secundária. Anticorpos IgM sugerem uma recente infecção, no

entanto, eles permanecem por 2-3 meses. Altos títulos de IgG são características

de infecção secundária (Guzmán e Kourí, 2002 e Chanama, 2004).

A glicoproteína E é um importante alvo de anticorpos contra DENV, e tem

sido mostrado que anticorpos contra E inibem a ligação viral às células, e

neutraliza a infectividade viral in vitro (Rothman, 2004). O domínio III da proteína E

é particularmente importante para o desenvolvimento de vacinas para sorotipos

específicos, pois a proteína possui múltiplas conformações que são sorotipo-

dependentes (Jaiswal, 2004).

A proteína NS1 é também um importante alvo de anticorpos contra DENV.

Anticorpos contra NS1 lisam células infectadas com o vírus in vitro e tem mostrado

proteção contra o DENV em camundongos. Um anticorpo monoclonal direcionado

contra a proteína prM também tem mostrado proteção contra o DENV em

camundongos (Rothman, 2004).

A proteína NS3 parece ser particularmente imunogênica, com uma

preponderância de epítopos de células T identificados. Essas células T

reconhecem os diferentes sorotipos do DENV, dependendo do grau de homologia

ao epítopo dado. No entanto, epítopos originários da proteína NS5, que é

altamente conservada entre sorotipos, podem apresentar reatividade cruzada,

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comportamento contrário da proteína NS3, que reconhece sorotipos específicos de

DENV (Rothman, 2004). A proteína NS3 parece ser o principal alvo para células T

CD4+ e CD8+, no entanto, alguns epítopos de células T têm sido reconhecidos em

outras proteínas tais como envelope e capsídeo (Guzmán e Kourí, 2002).

Tem sido demonstrado que linfócitos T de memória respondem após a

infecção primária, e há a possibilidade de que durante a infecção secundária,

células T se tornem ativadas devido a iterações com monócitos infectados. A

rápida liberação de citocinas causada pela ativação de células T, e pela lise de

monócitos infectados mediada por linfócitos citotóxicos pode resultar no

extravasamento do plasma e hemorragia, como ocorre na FDH (WHO, 1997).

Citocinas que induzem o extravasamento plasmático, tais como as interferon γ,

interleucina (IL) 2 e fator necrosante de tumores (TNF) α são aumentadas nos

casos de FDH. Outras citocinas tais como IL-6, IL-8 e IL-10 também aumentam

(Guzmán e Kourí, 2002).

Antígenos da dengue têm sido detectados em células de Kuffer, macrófagos

alveolares, fagócitos mononucleares na pele e circulantes nos monócitos. O vírus

tem sido isolado ou detectado em órgãos como os linfonóides, fígado, baço, rim e

cérebro. Células imune efetoras, como monócitos e linfócitos T e células não-

imune, como hepatócitos, células endoteliais e células do cérebro, têm sido

noticiadas como potenciais hospedeiros (Guzmán e Kourí, 2002).

Uma infecção natural com o vírus da dengue induz uma imunidade protetora

somente ao mesmo sorotipo (homóloga), e uma proteção por curto período de

tempo (meses) contra um outro sorotipo (Rothman, 2004).

Uma vacina efetiva precisa proteger contra todos os quatro sorotipos da

dengue, ou seja, ser tetravalente (Rothman, 2004). Além disso, precisa ser segura

para uso humano, e ser economicamente viável (Halstead e Deen 2002). Para

esse objetivo uma série de técnicas vem sendo estudadas, incluindo vacinas com

vírus atenuados e vírus recombinantes, vacinas de subunidades recombinantes, e

vacinas de DNA (OMS, 2005). As vacinas tetravalentes contendo vírus vivos

atenuados parecem ser as mais adequadas para prevenir a doença, devido à

possibilidade de proteção para todos os sorotipos e por longos períodos de tempo.

As vacinas vivas têm a vantagem de estimular tanto a imunidade humoral (altos

títulos de anticorposneutralizantes), como a resposta celular (Bricks, 2004).

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As proteínas NS1 e NS3 não estão associadas a partículas virais livres, e

não parecem induzir a formação de anticorpos facilitadores da infecção. Por esses

motivos são promissoras para o desenvolvimento de vacinas contra a dengue

(Bricks, 2004).

Enquanto se aguarda a vacina, a melhor medida para controlar a doença é

esclarecer a população sobre a forma de combate à proliferação dos mosquitos.

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PHAGE DISPLAY

A metodologia do Phage Display, exposição de biomoléculas em fagos, foi

desenvolvida por Smith (1985), ao conseguir a expressão da enzima de restrição

EcoRI através da fusão com a proteína três (pIII) do capsídeo do fago.

Phage display permite a seleção de peptídeos e proteínas, incluindo

anticorpos, com alta afinidade e especificidade para vários alvos. A vantagem

crucial dessa tecnologia está na ligação direta que existe entre o fenótipo

experimental e o genótipo encapsulado, mostrando a evolução dos ligantes

selecionados até moléculas otimizadas (Azzazy e Highsmith, 2002).

Bacteriófagos, ou simplesmente fagos, são vírus que infectam uma

variedade de bactérias Gram-negativas usando o pilus sexual como receptor. As

partículas de fagos filamentosos (linhagens M13, f1 e fd) que infectam E. coli via

pilus F, consiste em uma fita simples de DNA que é envolta em uma cápsula

protéica. Um fago viável expressa aproximadamente 2.700 cópias da proteína

gene 8 (g8 ou pVIII, uma proteína de 50 resíduos de aminoácidos) e 3 a 5 cópias

do gene III (p3p ou pIII, proteína de 406 aminoácidos) (Russel, 1991).

A partícula viral esquematizada na Figura 8 é composta por cinco proteínas

estruturais, presentes no capsídeo: pIII, pVI, pVIII, pVII e pIX. A pVIII forma o corpo

cilíndrico do capsídeo. Nas extremidades desse capsídeo encontram-se de três a

cinco cópias das demais proteínas estruturais. A extremidade distal contém as

proteínas pVII e pIX, enquanto que a proximal é composta pelas proteínas

codificadas pelo gene 3 (pIII) e pela própria pVI. A incorporação de proteínas

exógenas na superfície dos fagos filamentosos faz-se fusionando esses peptídeos

a proteínas estruturais das partículas virais. As duas principais proteínas utilizadas

para esse fim são a proteína pVII e a pIII. A proteína 3, a maior das proteínas

estruturais, com cerca de 42 KDa, também é responsável pela adesão da

partícula viral ao pilus sexual (Brígido e Maranhão, 2002).

Foram identificados sítios potenciais para a inserção de peptídeos externos

na proteína principal de revestimento (pVIII) do M13. Todos sítios de inserção, que

foram usados com sucesso, ficam situados a 5 aminoácidos da porção N-terminal.

Já os virions com inserções maiores do que aproximadamente 6 aminoácidos, não

são incorporados ao mutante (Makowski, 1993).

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Figura 8: Estrutura do fago M13 (http://www.theses. ulaval.ca/2003/21058/ch01.html)

O sistema phage display foi criado para a exposição de bibliotecas de

pequenos peptídeos (no máximo 30 aminoácidos). Isto porque o tamanho da

proteína inserida no vetor deve ser limitado, pois grandes proteínas interferem nas

funções das proteínas do capsídeo, tornando o fago pouco infectivo (Phizicky e

Fields, 1995).

Phage display tem provado ser uma técnica muito poderosa na obtenção de

bibliotecas contendo milhões ou até mesmo bilhões de diferentes peptídeos ou

proteínas. A metodologia de bibliotecas mais amplamente utilizada é baseada no

uso de fagos filamentosos (Smith 1985). As seqüências de DNA de interesse são

inseridas em uma localização no genoma de bacteriófagos filamentosos, de modo

que a proteína codificada é expressa na superfície do fago filamentoso como um

produto de fusão a uma das proteínas da superfície do fago (Azzay e Highsmith,

2002)

O peptídeo ou proteína expresso na superfície do fago possibilita a seleção

de seqüências baseada na afinidade de ligação para uma molécula alvo por um

processo de seleção in vitro denominado biopanning (Parmley e Smith, 1988).

DNA de fita simples (~6500 nucleotídeos)

pVII (~5 / 3,5 KDa)

pIX (~5 / 3,5 KDa)

Proteína de interesse fusionada à pIII

pIII (~ 5 / 42 Kda)

pVI (~5 / 12 Kda)

pVIII (~ 2700 / 5 Kda)

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A seleção, ou biopanning, é realizada pela incubação da biblioteca de

peptídeos expostos em fagos contra o alvo. O alvo é imobilizado em um suporte

sólido tais como placas de ELISA, beads, resinas e membranas. Os fagos não

ligantes ao alvo são eliminados por lavagens sucessivas, e os fagos específicos

permanecem ligados para posterior eluição. O pool de fagos específicos é

amplificado para os ciclos posteriores de seleção biológica (ciclos de ligação,

eluição e amplificação) para o enriquecimento do conjunto de fagos com

seqüências específicas contra o alvo. Após três ou quatro passagens, os clones

individuais são caracterizados por seqüenciamento de DNA, western blotting ou

ELISA (Smith 1985), conforme mostrado na Figura 9.

Biblioteca de fagos

Amplificação

Seleção por

afinidade

Figura 9: Ciclo do “Biopannig” em placa. Em cada ciclo, os fagos reativos com o alvo são selecionados por lavagens sucessivas, sendo os demais descartados. Os fagos remanescentes são então amplificados e seguem um novo ciclo para a maturação da afinidade de ligação ao alvo específico.

Infectar E. coli

Lavar e eluir os

Fagos associados

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Peptídeos selecionados contra um alvo particular que tem seqüência similar

têm um papel na identificação do motivo necessário para ligação (Stephen e Lane,

1992). Nos casos em que os peptídeos selecionados não se assemelham ao

peptídeo ligante natural, foram denominados mimotopos (Geysen, et al., 1986;

Smith e Scott, 1993).

Peptídeos que neutralizam imunoglobulinas podem ser empregados como

reagentes diagnósticos ou usados como agentes terapêuticos controlando

doenças auto-imunes (Blank et al., 1999). Bibliotecas de peptídeos randômicos

podem ser usadas para mapear epítopos de anticorpos policlonais e monoclonais,

identificando peptídeos ligantes, e desenvolvendo fagos que definem sítios para

diferentes enzimas (Mattheus e Wells, 1993; Ohkubo et al., 2001).

Apesar da técnica de phage display ter sido primeiramente introduzida há

aproximadamente 15 anos, as aplicações e desenvolvimento desta tecnologia

estão apenas começando a ser exploradas. Essa exploração da tecnologia de

phage display irá levar à produção de uma enorme gama de ligantes, incluindo

anticorpos recombinantes e peptídeos, com especificidades predefinidas. Além

disso, tecnologias emergentes baseadas em phage display irão beneficiar

diagnósticos através da produção de moléculas impossíveis de se obter por

métodos tradicionais. Especificamente, anticorpos recombinantes contra

antígenos tóxicos ou seqüências conservadas e carboidratos podem ser isolados

(Soderlind et al., 2000).

Os trabalhos com o uso da técnica phage display abrangem diversos

estudos a respeito de enfermidades humanas como a tuberculose (Jeong et al.,

2006), diabetes (Baltrusch et al., 2005), hepatite A (Kim et al., 2004), hepatite B

(Lu et al., 2004; Zhang et al., 2004) hepaptite C (Ferrieu-Weisbuch et al., 2006),

hepatite E (Gu et al, 2004), hanseníase (Yang et al., 2005), AIDS (Sticht et al.,

2005), mal de Parkinson (Gearhart et al., 2002), câncer (Zhang et al., 2005;

Dantas-Barbosa et al., 2005; Sharon et al., 2005), Dengue (Wu et al., 2001),

dentre outros.

Uma das grandes vantagens apresentadas pela técnica de Phage display

diz respeito a sua direta aplicação prática em teste de imunogenicidade. Fagos

são comumente utilizados como partículas imunogênicas para a geração de

anticorpos contra os peptídeos recombinantes expressos nas regiões N-terminais

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de proteínas de superfícies e reagir cruzadamente com o alvo original, indicando

que mimotopos expressos poderiam ser utilizados como candidatos a

subunidades vacinais (Yang e Shiuan, 2003).

Durante os últimos 10 anos, exposição de anticorpos/antígenos em fagos

(phage display) tem se transformado em uma técnica bem aceita e, num pequeno

espaço de tempo tem gerado moléculas de altíssima qualidade.

Anticorpos/antígenos derivados por phage display têm provado sua segurança e

eficácia em testes clínicos. Processos de seleção adaptados à técnica, em

combinação com anticorpos/antígenos de fácil montagem, abrem amplamente as

portas para desenvolvimento sofisticado de anticorpos como medicamentos. Em

adição, estes anticorpos/antígenos selecionados por phage display oferecem

maiores vantagens em termos de velocidade e rendimento para pesquisa e

identificação/validação de alvos. Phage display já é parte de uma moderna forma

de descoberta de novas drogas (Kretzschmar e von Ruden, 2002).

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OBJETIVOS

Os objetivos principais do presente trabalho foram:

1. Isolar peptídeos reativos com o soro anti-dengue a partir de bibliotecas de

peptídeos recombinantes (phage display).

2. Confirmar a imunorreatividade dos fagos recombinantes selecionados por

métodos imunoenzimáticos e caracterizá-los por sequenciamento e

bioinformática, determinando os prováveis epítopos funcionais das

proteínas virais.

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CAPÍTULO ÚNICO

SELEÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE PEPTÍDEOS RECOMBINANTES

MIMÉTICOS DE ANTÍGENOS DO VÍRUS DA DENGUE POR “PHAGE

DISPLAY”

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RESUMO

A dengue é causada por um arbovírus da família Flaviridae, transmitido de uma

pessoa à outra através de um hospedeiro intermediário, o mosquito Aedes

aegypti. É uma doença infecciosa tropical e subtropical caracterizada por febre e

dor intensa nas articulações, além de sangramentos intensos quando na sua

forma hemorrágica. Neste trabalho utilizou-se da tecnologia de exposição de

peptídeos randômicos em fagos, phage display, no intuito de identificar peptídeos

recombinantes com afinidade a anticorpos policlonais (IgY) gerados em galinhas

imunizadas com proteínas totais do vírus da dengue tipo 3. As IgYs dos animais

foram purificadas em coluna HiTrap e concentradas por diálise. As IgYs foram

imunorreativas contra todas as culturas de DENV, mas não foram tipo específico.

Os clones foram selecionados de uma biblioteca de fagos randômicos (PhD-7) por

quatro ciclos de seleção contra as IgYs. Os fagos selecionados foram

amplificados em placas deepwell e submetidos a testes ELISA. Clones

imunorreativos contra IgY foram seqüenciados, traduzidos e analisados por

bioinformática. Quatorze clones distintos foram selecionados e alinhados contra a

seqüência de dados do proteoma viral e entre todos eles. Três seqüências

consenso entre os clones foram detectadas: VLRN, APP e LPP. A procura por

prováveis seqüências protéicas do vírus da dengue no BLAST mostrou

similaridade a diversos sítios protéicos virais: poliproteína, envelope e as

proteínas não-estruturais NS1, NS2a, NS3 e NS5. Todas elas se alinharam com

as seqüências dos tipos DENV-1, -2, -3, e/ou -4, corroborando com a falta de

especificidade das IgYs. Considerando o motivo VLRN, as análises dos índices de

antigenicidade dos peptídeos similares demonstraram que estes índices são

altamente influenciados pelos resíduos vizinhos. Análise 3-D da proteína do

capsídeo viral do tipo DENV-2, com superposição do motivo VLRN, identificou

duas seqüências alvos, NRVSTVQQL e EIGRMLNILNRR, que estavam presentes

na poliproteína dos quatro tipos virais, os quais podem conter dois prováveis

domínios, VxRN e LRN, respectivamente. Domínios de fosforilação e glicosilação,

encontrados em vírus eucarióticos, foram similares às seqüências presentes em

cinco fagos recombinantes selecionados, o que não implica que estes motivos

sejam fisiologicamente ativos no vírus da dengue. Finalmente, os peptídeos foram

usados para detectar IgG e IgM humana. Testes ELISA foram realizados em dois

pacientes com infecções isoladas de DENV-1 ou DENV-3. A reatividade dos 14

clones foi superior àquela observada para antígenos totais obtidos das culturas,

embora não tenha sido específica.

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ABSTRACT

Dengue fever is caused by an arbovirus of the Flaviridae family, transmitted from

person to another through an intermediate fly vector, Aedes aegypti. It is a tropical

and subtropical infectious disease characterized by fever and strong pain in joints,

which could also lead to bleeding in its hemorrhagic form. In this investigation,

Phage Display technology was used to identify recombinant peptides with affinity

to polyclonal antibodies (IgY) raised in immunized chickens with total proteins of

the DENV-3 culture. Animal sera was purified in a HiTrap column and

concentrated through dialysis. The IgY’s were immunoreactive against DENV

cultures, but were not type specific. Phage clones were selected from a random

peptide library (PhD-7) in four cycles of biopanning against IgY. Selected phages

were amplified in deepwell microtiter plates and submitted to ELISA tests.

Immunoreactive clones against IgY were sequenced, translated and analysed

through bioinformatics. Fourteen distinct clones were selected and aligned against

viral proteome sequences and among themselves. Three consensus sequences

among phage clones were detected: VLRN, APP and LPP. The peptide search in

BLASTp showed similarity to the following viral proteins: polyprotein, envelop, and

the nonstructural proteins NS1, NS2a, NS3 and NS5. All of them have matched

with DENV-1, -2, -3, and/or -4 sequences, corroborating with the lack of type

specificity of the raised IgY. Considering the VLRN motif, the analyses of

antigenicity indexes of similar peptides demonstrated that its antigenicity is highly

influenced by neighboring residues. Three-dimensional analysis of the DENV-2

capsid protein, with the alignment of the VLRN motif, have identified two target

sequences, NRVSTVQQL and EIGRMLNILNRR, that are present in the

polyprotein of all four viral types, which may contain the two possible domains

VxRN and LRN, respectively. Six selected phages have presented known protein

domains, and five of them presented specific phosphorylation and glycosylation

sites, similar to known eukaryotic viruses; however, they may not be

physiologically active sites in the dengue virus. Finally, the peptides were used to

detect human IgG and IgM. ELISA tests were performed in two patients with

isolated infections of DENV-1 or DENV-3. The reactivity of the 14 clones was

superior to total antigens obtained from cultures, but they were not type specific.

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INTRODUÇÃO

A dengue é uma doença febril aguda transmitida pelo Aedes aegypti e

causada por um arbovírus, membro da família Flaviviridae e do gênero flavivirus

(Marques, et al., 2004). Quando um mosquito infectante injeta o vírus da dengue

no hospedeiro suscetível durante o repasto sanguíneo, a dengue pode apresentar

uma evolução benigna (forma clássica) ou grave (forma hemorrágica) (Yang,

2003).

O vírus da dengue é icosaédrico com um diâmetro de aproximadamente

500 Å, apresentando RNA de cadeia simples. O genoma codifica 3 proteínas

estruturais (Capsídeo, Membrana e Envelope), além de 7 proteínas não

estruturais (NS1, NS2a, NS2b, NS3, NS4a, NS4b, NS5) (Guzmán e Kouri, 2002;

Kuhn et al. 2002).

A metodologia do Phage Display, desenvolvida por Smith (1985), tem sido

amplamente usada desde sua descrição. É uma forma de seleção em que uma

biblioteca de peptídeos ou proteínas com as seqüências randomizadas são

expressas no exterior da partícula viral, enquanto o material genético encontra-se

no genoma viral (Parmley e Smith, 1988). Bibliotecas de peptídeos fusionadas

em fagos têm despertado o interesse como fonte de grande número de epítopos e

têm sido vastamente utilizadas em estudo de interações de ligação entre

antígeno-anticorpo (Cortese, 1995). Phage Display é uma metodologia eficaz para

análise de epítopos lineares e conformacionais ou mimotopos, que geralmente

são difíceis de ser caracterizados (Thullier et al., 2001).

Na superfície viral foram expressos anticorpos (Barbas et al.,1992; Rader

et al., 1997), peptídeos (Noren e Noren, 2001), enzimas (Soumillion et al., 1994),

receptores de superfície celular (Robertson, 1993), entre outras estruturas. Por

um processo in vitro denominado biopanning (Parmley e Smith, 1988), o peptídeo

ou proteína expresso na superfície do fago é selecionado através da afinidade de

ligação com a molécula alvo.

Nosso grupo tem utilizado estas bibliotecas de fagos para a seleção de

peptídeos na identificação de epítopos imunorreativos contra: imunoglobulinas Y

anti-proteínas totais do vírus da Doença Infecciosa da Bursa de Fabrício (IBDV)

(Capparelli, 2005), imunoglobulinas G provenientes de soros de pacientes com

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leishmaniose visceral (Almeida, 2005), imunoglobulinas Y anti-proteínas totais de

larvas de Boophilus microplus (Prudêncio et al., 2003), soro policlonal anti-

neuwiedase da peçonha bruta de Bothrops neuwiedi pauloensis em camundongos

(Cardoso, 2004) e na construção de biblioteca combinatorial de anticorpos (Lino

et al., 2003).

O presente trabalho consiste na aplicação da técnica de phage display para

a identificação e seleção de peptídeos específicos com o vírus da dengue,

determinando os prováveis epítopos funcionais das proteínas virais.

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MATERIAL E MÉTODOS

Antígenos

Antígenos inativados do sorotipo DENV-3, produzidos em cérebros de

camundongos e extraídos pelo método sucrose–acetona foram cedidos pelo Setor

de Arboviroses do Instituto Evandro Chagas (Laboratório de Referência para

Dengue).

A dosagem de proteínas das amostras foi realizada pelo método descrito

por Bradford (1976). A partir daí foi feita uma curva de calibração da massa

molecular em relação à leitura espectrofotométrica, e determinou-se a quantidade

de antígeno a ser usada nas imunizações.

Aves

Utilizou-se de 4 galinhas da raça White Leghorn de três semanas de idade,

cedidas pela Granja Rezende de Uberlândia-MG.

Imunização

Antes do inicio da imunização, coletou-se o sangue dos animais para que

funcionasse como controle pré-imune.

O esquema de imunização foi o descrito por Barbas et al. (2001), com

algumas modificações. Seis aplicações intramusculares de proteínas virais totais

emulsionadas em adjuvante foram realizadas, sendo que na primeira imunização

a quantidade de proteína era de aproximadamente 200 µg, e as demais de 100

µg, com intervalos de 15 dias entre cada uma das imunizações. Na primeira dose

foi usado um adjuvante completo de Freund (Sigma Chemical Co, USA) e nas

doses subseqüentes o adjuvante incompleto de Freund (Sigma), sendo que em

ambas correspondiam a 50% do volume total da solução. Além do adjuvante,

também foi acrescido PBS (NaCl 137 mM, KCl 2,7 mM, Na2HPO4 12 mM, KH2PO4

1,2 mM, pH 7.4) para tamponar a solução. Foram imunizadas duas galinhas e

outras duas mantidas como controle (imunizadas somente com adjuvante e PBS).

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Após 3 meses coletou-se o sangue, e o título de anticorpos específicos foi

monitorado por testes ELISA. O cut-off foi calculado pela soma das médias dos

animais controles mais 2 vezes o desvio padrão, e o índice ELISA pelo valor

obtido em cada diluição dividido pelo cut-off. Após a constatação do título

apropriado, os animais foram sacrificados por punção cardíaca.

Armazenou-se o sangue coletado em estufa à 37oC por 1 hora e, logo

após, em câmara fria à 4oC overnight, para obtenção do soro a ser purificado.

Purificação e concentração dos anticorpos

A purificação de IgY foi realizada com o uso da coluna HiTrap IgY

Purification HP, 5 mL (Amersham Biosciences). A bomba peristáltica foi

preenchida com tampão de eluição (Na2HPO4 20 mM, pH 7.5), e então conectada

à coluna. A coluna foi lavada com 5 volumes (25 mL) de cada tampão: ligação

(Na2HPO4 20 mM, K2SO4 0,5 M, pH 7.5), eluição e limpeza (Na2HPO4 20 mM, 30%

volume/volume de isopropanol, pH 7,5). Em seguida a coluna foi equilibrada com

5 volumes de tampão de ligação, e foi aplicada amostra (6 mL de soro). A coluna

foi lavada com 10 volumes da mesma (50 mL) de tampão de ligação. As IgY

foram então eluídas com 10 volumes da coluna de tampão de eluição, sendo

coletadas amostras de 1 mL que foram quantificadas no espectrofotômetro (280

nm). A coluna foi regenerada com 8 volumes (40 mL) de tampão de limpeza, e

reequilibrada com 5 volumes de tampão de ligação. À medida que as amostras

eram filtradas na coluna de purificação, as leituras ópticas das alíquotas (OD

280nm) eram obtidas.

Para diálise das amostras obtidas foi utilizada uma membrana de celulose

Fisherbrand (regenerated cellulose-DYALYSIS tubing). As amostras do soro

purificado foram colocadas em tubos de diálise (tubos 1 a 8), concentradas em

sacarose por 1 hora a 4ºC e em seguida dialisadas em PBS por 12 horas a 4ºC.

As amostras foram quantificadas no espectrofotômetro à 280nm.

A visualização das amostras foi realizada por SDS PAGE 16% (Anexo 1),

como descrito por Laemmli (1970). Para coloração do gel foi necessária uma

solução de Coomassie-blue R-250 como corante de proteínas, e solução

descorante logo após.

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Teste ELISA para confirmar a especificidade de IgY

Após a obtenção do anticorpo purificado, foi necessário confirmar a

especificidade das IgY em relação aos demais tipos virais.

Foi sensibilizada uma placa de alta afinidade (NUNC) com 20 µg/mL de

proteínas totais de cada tipo viral, diluídos em 100 µL/poço de tampão carbonato

(NaHCO3 60 mM, pH 9,6) e incubada por 12 horas, sob agitação, à 4ºC.

Após 3 lavagens com PBS-T 0,05% (PBS + 0,05% volume/volume de

Tween 20), foram adicionados 250 µL de tampão de bloqueio (PBS-T 0,05% -

BSA 3%), sendo a placa incubada por 1 hora à temperatura ambiente. A placa foi

então lavada por mais 3 vezes e adicionados 100 µL de solução contendo soro

das galinhas imunizadas na concentração de 1:600, mais 50 µL de bloqueio (um

clone em cada poço). Após a incubação por 1 hora à 37ºC, realizou-se mais 6

lavagens. Foi adicionado o anticorpo Anti-IgY conjugado marcado com peroxidase

(Amersham Biosciences, 1:5000) diluído em solução de bloqueio, com incubação

por 1 hora à 37ºC. Em seguida, a placa foi lavada por mais 6 vezes, e então

revelada com 100 µL/poço de uma solução contendo OPD (O- Phenylenediamine

dihydrochrloide – Sigma Chemical), H2O2, e tampão citrato (0,1 M). A reação foi

interrompida pela adição de 10 µL de H2SO4 4 M. A leitura da absorbância foi feita

em leitor Multiscan Plus versão 2.03, com filtro 492nm.

Biopanning – Seleção de peptídeos

Para a seleção dos peptídeos (expressos na proteína III do capsídeo de

fagos filamentosos), reativos com os anticorpos acima descritos, utilizou-se uma

biblioteca randômica de peptídeos de 7 aminoácidos (“Ph.D -7 mer - New England

Biolabs”).

Foi adsorvido no poço de uma placa de microtitulação de 96 poços

(Maxisorp - NUNC) 150 µL de IgY purificada em coluna específica para IgY (100

µg/mL em NaHCO3 0,1 M, pH 8,6) e incubada overnight a 4°C em um recipiente

contendo papel toalha umidificado. A placa foi bloqueada com 150 µL de um

tampão de bloqueio (NaHCO3 0.1 M, pH 8,6, 5 mg/mL BSA) por 1h sob agitação a

4°C, e lavada seis vezes com TBST (TBS (Tris-HCl 50 mM pH 7,5, NaCl 150 mM,

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água, 0,1% volume/volume de Tween 20). Foram acrescentados na placa 10 µL

da biblioteca de peptídeos diluída em 100 µL de TBST, e a placa foi mantida sob

agitação por 1 h a temperatura ambiente. Fagos não ligantes foram removidos

pela lavagem da placa por dez vezes com TBST. Os fagos ligantes foram eluídos

com 100 µL do tampão de eluição (glicina-HCl 0,2 M, pH 2,2, contendo 1 mg/mL

BSA) por 10 min à temperatura ambiente e imediatamente neutralizados com 15

µL do tampão de neutralização (Tris-HCl 1 M, pH 8,0). Alíquotas dos fagos

eluídos foram utilizadas para a determinação do título.

Uma pequena amostra deste eluato (10 µL) foi titulada e o tratante foi

utilizado para reamplificação, realizada em 20 mL de cultura de E. coli (ER2537)

em fase inicial de crescimento (OD600≤0,3), contendo tetraciclina, incubando-se a

cultura por 4-5 horas em agitador com temperatura a 37ºC, antes do

procedimento de precipitação dos fagos e posterior titulação.

A cultura foi transferida para um tubo Oakridge (Hitachi, 50 mL) e

centrifugada (10 min, 10.000 rpm). As células residuais foram descartadas e o

sobrenadante transferido para um tubo limpo e re-centrifugado. Foi pipetado 80%

do sobrenadante para um tubo esterilizado onde foi adicionado 20% do volume de

PEG/NaCl (20% peso/volume de Polietileno glicol-8000, NaCl 2,5M, água), e a

mistura permaneceu em repouso por 12 horas a 4oC.

No dia seguinte, a precipitação foi centrifugada 15 minutos a 10.000 rpm à

4oC. O sobrenadante foi descartado e o tubo foi centrifugado brevemente, para

que o sobrenadante residual pudesse ser removido. O precipitado foi

ressuspendido em 1 mL de TBS, transferido para um microtubo e centrifugado por

5 minutos, 10.000 rpm à 4oC para precipitar os resíduos celulares. O

sobrenadante foi transferido para um novo microtubo para a adição de PEG/NaCl

(1/6 do volume). A mistura foi incubada em gelo por 1 hora e então centrifugada

(10 min, 14.000 rpm, 4oC). O sobrenadante foi descartado, e a centrifugação foi

repetida para remoção de sobrenadante residual. O precipitado foi ressuspendido

em 200 µL de TBS, obtendo-se então o eluato amplificado, pronto para a

titulação.

Os fagos reamplificados a partir do primeiro ciclo de seleção foram

utilizados em um segundo ciclo e assim subseqüentemente, por um total de

quatro ciclos, sendo que a partir do segundo ciclo a estringência do tampão de

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lavagem foi aumentada de 0,1% para 0,5% de Tween-20 em todas as lavagens.

Para todas as titulações foram utilizados 10 µL dos fagos, diluídos em 90

µL de meio de cultura LB. As diluições (10-1 a 10-4, para eluato não amplificado e

de 10-8 a 10-11, para fagos amplificados) foram incubadas com 200 µL de E. coli

(ER2738) em fase de crescimento inicial por 5 minutos e plaqueadas em meio LB

contendo IPTG (0,5 mM) e X-gal (40 µg/mL), juntamente com 3 mL de Agarose

Top (10 g de Bacto-Triptona, 5g de extrato de levedura, 5g de NaCl, 1 g de MgCl2

. 6H2O / litro).

Após a incubação em estufa por toda a noite à 37ºC, as colônias azuis

foram contadas para a obtenção dos títulos de entrada e saída para todos os

ciclos de seleção (número de colônias azuis x fator de diluição).

Amplificação de colônias de fagos em Deepwell

As colônias que apresentaram coloração azul, demonstrando a quebra do

substrato X-Gal e a expressão do gene da β-galactosidase dos fagos pelas

bactérias ER2738, foram reamplificadas separadamente em placas Deepwell para

o armazenamento dos clones selecionados. Para isso, cada colônia isolada obtida

do 4º ciclo não amplificado foi dispensada em um poço da Deepwell contendo 1

mL de meio de cultura com E. coli em fase de crescimento inicial. A placa foi

incubada por 12 horas à 37oC, sob agitação. A placa Deepwell foi centrifugada por

60 minutos a 3.700 rpm, para a retirada do sobrenadante da cultura. Seu

conteúdo foi transferido para uma outra placa Deepwell e então foi adicionado 1/6

do volume de PEG/NaCl (20% de polietileno glicol-8000, NaCl 2,5 M) incubando-a

por 12 horas à 4ºC. A placa foi centrifugada por 1 hora a 3.700 rpm, o

sobrenadante descartado, e o precipitado suspenso em 200 µL de PBS.

ELISA Pré-Sequenciamento

Testes de ELISA foram realizados para determinar a reatividade dos

peptídeos recombinantes (expressos nos fagos selecionados), contra os

anticorpos presentes no soro das galinhas imunizadas com proteínas virais totais

da dengue do tipo 3.

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O procedimento seguiu, em linhas gerais, os mesmos parâmetros

mencionados para o ensaio anterior, com algumas modificações. A sensibilização

da placa foi feita com 1 µg/poço do anticorpo policlonal purificado IgY anti-dengue

diluído em bicarbonato de sódio. Após o bloqueio foram adicionados 100 µL de

solução contendo 50 µL do fago mais 50 µL de bloqueio (um fago em cada poço).

Para a detecção, utilizou-se o anticorpo conjugado anti-M13 marcado com

peroxidase (1:500).

O cut-off foi calculado pela soma das médias do controle negativo (fago

selvagem) mais 2 vezes o desvio padrão, e o índice ELISA pelo valor obtido em

cada diluição dividido pelo cut-off. Os clones selecionados foram aqueles que

apresentaram índice ELISA maior que 1.

Extração de DNA

Para a obtenção de DNA dos fagos, 10 µL dos fagos purificados em placa

Deepwell foram adicionados a 1 mL de cultura de ER2738 em fase de

crescimento inicial em tubos FALCON de 15 mL, onde permaneceram sob

agitação vigorosa por 6 horas à 37ºC. Após o crescimento, as culturas foram

transferidas para microtubos para a sedimentação das bactérias que foram

centrifugadas por 10 minutos a 4.000 rpm. 500 µL do sobrenadante foram

transferidos para outro tubo, e acrescidos a este, 200 µL de PEG-NaCl, incubando

o tubo em seguida à temperatura ambiente por 10 minutos. Após centrifugar por

10 minutos a 14.000 rpm, foi descartado o sobrenadante, e o precipitado foi

ressuspenso com em 100 µL de Tampão Iodeto (Tris-HCl 10 mM, EDTA 1 mM,

NaI 4 M), e então foi adicionados 250 µL de etanol absoluto, incubando o tubo

por 10-20 minutos à temperatura ambiente. O tubo foi centrifugado por 10 minutos

a 14.000 rpm, descartando o sobrenadante, e em seguida, foi lavado o precipitado

com 500 µl de etanol 70%, centrifugando mais uma vez por 10 minutos a 14.000

rpm. O sobrenadante foi desprezado e o precipitado suspenso em 20 µl de água

ultra pura estéril.

A qualidade do DNA presente nas amostras foi verificada pela corrida

eletroforética em gel de agarose 0,8%.

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Sequenciamento de DNA

O seqüenciamento foi realizado utilizando o Kit Big Dye Terminator

(Amersham Biosciences) e um seqüenciador automático MegaBace 1000

(Amersham Biosciences) do Laboratório de Genética Molecular (UFU). Para a

reação do seqüenciamento, foi utilizado o primer – 96 M13 – (5´-

HOCCCTCATAGTTAGCGTAACG –3´- Amersham Biosciences), que amplifica a

região dos aminoácidos codificantes dos peptídeos randômicos fusionados nos

fagos M13 recombinantes.

A análise das seqüências de DNA provenientes do seqüenciador

automático foram processadas em software do próprio equipamento (Sequence

Analyser, BASE CALLER, Cimarron 3.12, Phred 15). Logo após esta pré-análise,

as seqüências dos vetores foram retiradas e somente aqueles insertos com 14

resíduos perfeitos foram então traduzidas.

Análise dos dados por bioinformática

As seqüências de DNA geradas pelo seqüenciamento foram analisadas

utilizando-se programas de bioinformática disponíveis on-line.

A tradução das seqüências de aminoácidos obtidas no seqüenciamento se

deu pelo programa DNA2PRO7. Este programa é designado para tradução de

seqüências de insertos tanto de bibliotecas da New England Biolabs (Ph.D.-7TM or

Ph.D.-C7CTM) quanto de outras bibliotecas de interesse que contiverem as

seqüências inicial e final do vetor (http://relic.bio.anl.gov/dna2pro7.aspx).

O cálculo da freqüência e da medida de informação de cada um dos

peptídeos dentro da biblioteca original de fagos foi feito pelo programa INFO

(https://relic.bio.anl.gov/info.aspx).

Realizou-se o cálculo da freqüência de aminoácidos dentro da população

de peptídeos pelo programa AAFREQ (http://relic.bio.anl.go v/aafreqs.aspx ).

Para análise do pareamento entre os peptídeos recombinantes

selecionados, foi utilizado o programa ClustalW versão 18.1

(www.ebi.ac.uk/clustalw/).

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Os motivos protéicos gerados foram analisados quanto às homologias com

proteínas de dengue depositadas no “GENBANK” pelo programa BLAST – Basic

Local Alignment Search Tool (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/BLAST).

Para análise do índice de antigenicidade de cada peptídeo, fez-se uso do

programa DNASTAR 4.0 – Lasergene, subprograma PROTEAN.

A identificação motivos na estrutura terciária da proteína foi feito pelo

programa Cn3D versão 4.1 (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/structure/CN3D

/cn3d.shtml).

Para encontrar os padrões protéicos e a linhagem taxonômica referindo-se

às famílias de proteínas e domínios comuns em espécies, gêneros ou táxons a

qual os peptídeos pertencem, foi utilizado o programa PROSCAN (PROSITE

SCAN). Este programa examina os peptídeos contra o PROSITE, um banco de

dados de famílias de proteínas e domínios que consiste de locais biologicamente

significantes, padrões e perfis que ajudam a identificar confiantemente a família

conhecida da proteína, caso exista uma (http://npsa-pbil.ibcp.fr/cgi-

bin/npsa_automat.pl?page=npsa_prosite.html).

Teste ELISA dos clones contra soro humano específico

Para confirmar a especificidade dos clones obtidos, realizou-se o teste

ELISA com soro de 2 pacientes contaminados individualmente com DENV-1 e

DENV-3. Esses soros foram previamente tipados por PCR e gentilmente cedidos

pelo Departamento de Doenças Infecciosas e Parasitarias, USP, São Paulo-SP.

Como controle negativo foi utilizado um poço sem fago e sem soro, e os controle

positivos foram os antígenos totais das culturas específicas para os tipos DENV-1,

-2, e -3.

Foram feitos 4 testes ELISA, sendo que em 2 foram utilizados soros humanos

com DENV-1, e nos outros 2, soros humanos com DENV-3. Em ambos tipos

virais, foi aplicado anticorpo anti-IgG em uma das placas, conjugado com

peroxidase e na outra, anticorpo anti- IgM, também conjugado com peroxidase.

No controle negativo utilizado, não foram colocados os fagos e o soro testado.

A sensibilização das placas foi feita com fagos, na concentração de 5x109, e

também com proteínas totais de DENV-1 e DENV-3, na concentração de 20

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µg/mL, ambos diluídos em bicarbonato de sódio. Esta foi incubada por 12 horas,

sob agitação, à 4ºC.

Após 3 lavagens com PBS-T 0,05% (PBS + 0,05% volume/volume de Tween

20), foram adicionados 250 µL de tampão de bloqueio (PBS-T 0,05% - BSA 3%),

sendo a placa incubada por 1 hora à temperatura ambiente. As placas foram

então lavadas por mais 3 vezes e foram adicionados soros de pacientes

infectados com DENV-1 e DENV-3. Nas placas em que seriam aplicados anti-IgG,

conjugado com peroxidase, a concentração do soro foi de 1:500, e nas placas em

que seriam aplicados anti-IgM, conjugado com peroxidase, a concentração do

soro foi de 1:50. Após a incubação por 1 hora à 37ºC, realizou-se mais 6

lavagens. Foram adicionados os anticorpos Anti-IgG e Anti-IgM conjugados,

marcados com peroxidase (Amersham Biosciences, 1:5000) diluídos em solução

de bloqueio, com incubação por 1 hora à 37ºC. Em seguida, a placa foi lavada por

mais 6 vezes, e então revelada com 100µL/poço de uma solução contendo OPD

(O- Phenylenediamine dihydrochrloide – Sigma Chemical), H2O2, e tampão citrato

(0,1M). A reação foi interrompida pela adição de 10 µL de H2SO4 4 M. A leitura da

absorbância foi feita em leitor Multiscan Plus versão 2.03, com filtro 492nm.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Antígenos

A leitura no espectrofotômetro do antígeno foi de 0,255 numa diluição de

2% (2 µl de antígeno : 98 µl de água). A concentração obtida do antígeno foi

estimada em 5,115 µg/ml, obtida através da equação y = 0,0286x – 0,0376 (onde

“y” representa a concentração protéica final estimada, e “x” representa a leitura

espectrofotométrica em densidade ótica à 595 nm), com qui-quadrado de 0,9774.

Aves

Ainda é pequeno o conhecimento da resposta humoral em galinhas para

antígenos da dengue. Segundo Lemamy e colaboradores (1999), aves têm

capacidade de produzirem anticorpos com alto título e grande persistência da

resposta imune para proteínas de bactérias e mamíferos. Além disso, os

anticorpos produzidos em galinhas possuem vantagens bioquímicas como

resistência a pH extremo (Lee et al.,2002), resistência à temperatura elevada

(Jensenius et al.,1988), grande afinidade (Ikemori et al.,1993) e avidez (Stuart et

al.,1988), motivo pela qual, têm sido usadas eficientemente em análises

imunológicas (Schade et al.,1996). Estas foram características essenciais para a

escolha de galinhas no desenvolvimento da resposta imune contra o vírus da

dengue.

Purificação e concentração dos anticorpos

Após a sexta imunização, o título encontrado foi de 1:1800, valor

considerado satisfatório para obtenção de anticorpos.

A purificação dos anticorpos foi considerada eficiente, pois houve uma

limpeza das amostras na coluna de purificação após a incubação do soro,

mostrado pelo decréscimo da densidade ótica (OD) nas frações coletadas. As

amostras que apresentaram OD semelhantes foram reunidas em um único tubo,

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obtendo um total de 7 amostras. Os rendimentos protéicos das frações após a

concentração e diálise podem ser observados na Tabela 1.

Tabela 1: Absorbância e quantificação dos anticorpos obtidos após a concentração e diálise.

Amostra Absorbância (280 nm)

Quantificação (mg/mL)

1 0,420 3 2 0,366 2,6 3 0,445 3,18 4 1,290 9,2 5 1,000 7,14 6 0,220 1,57 7 0,186 1,33

As frações coletadas foram analisadas quanto ao perfil eletroforético (SDS-

PAGE 16%) demonstrando estar parcialmente livre de impurezas que pudessem

prejudicar o procedimento de seleção de peptídeos recombinantes, como mostra

a Figura 10. As bandas de IgY obtidas contém as seguintes massas moleculares:

~ 180 kDa (IgY inteira); ~ 66kDa (cadeia pesada) e ~ 25 kDa (cadeia leve). A

fração usada no biopanning é a da canaleta 4.

Figura 10: Perfil eletroforético (SDS-PAGE 16%) de IgYs purificadas de soros de galinhas imunizadas com proteínas virais totais de dengue do tipo 3 (Canaleta 1 – soro total; 2-8 – soro purificado; M – marcador de peso molecular

1 2 3 4 5 6 7 8 M 205 kDa

116 kDa 97,4 kDa 66 kDa

45 kDa

29 kDa

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Teste ELISA para confirmar a especificidade de IgY

Foram testados soros de galinhas anteriormente imunizadas com proteínas

totais do vírus da dengue tipo 3, além de galinhas mantidas como controle,

imunizadas somente com adjuvante. Estes soros foram confrontados com

proteínas totais do vírus da dengue tipos 1, 2 e 3.

Como pode ser observado na Figura 11, não houve diferença significativa

entre os índices ELISA encontrados para os diferentes tipos virais, demonstrando

que o IgY obtido não foi específico para o dengue tipo 3.

Figura 11 ELISA para teste de imunorreatividade do anticorpo purificado obtido de galinhas imunizadas com proteína total do vírus da dengue tipo 3 contra proteínas virais de dengue 1, 2 e 3.

Biopanning – Seleção de peptídeos

As titulações realizadas foram eficientes em todos os ciclos de seleção de

peptídeos. As colônias apresentaram coloração azulada, demonstrando a quebra

do substrato X-Gal, e a expressão do gene da β-galactosidase dos fagos pelas

bactérias ER27308 (Barbas, 2001), como mostrado na Figura 12. Colônias

brancas não eram esperadas neste processo, pois somente a azuis sobrevivem

ao antibiótico. A presença de colônias brancas indicaria a contaminação do

experimento com fagos de origem selvagem.

0

0,05

0,1

0,15

0,2

0,25

0,3

0,35

EL

ISA

DENV-1 DENV-2 DENV-3

Tipos Virais

IgY imune

IgY controle

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Contava-se o rendimento das placas que apresentavam aproximadamente

100 colônias, para calcular a quantidade de eluato a utilizar nas etapas

subseqüentes. Os valores das titulações mostraram enriquecimento dos fagos

específicos, que ficavam retidos na placa, durante os processos de seleção

(Tabela 2).

Figura 12: Exemplo de placas resultantes da titulação. As colônias azuis representam a infecção de bactérias E.coli (ER2738) com fagos M13 carregando o gene lacZ da β–galactosidase.

Tabela 2: Títulos (em pfc: unidades formadoras de colônias) obtidos nos quatro ciclos de seleção.

Número de partículas de fagos Ciclo

Eluato não amplificado Eluato amplificado

Primeiro 1,3 x 103 4,2 x 107

Segundo 4,9 x 103 9,9 x 109

Terceiro 1,6 x 104 5,0 x 1010

Quarto 1,3 x 105 5,4 x 1010

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51

ELISA Pré-Sequenciamento

Com a realização do teste de ELISA, foi possível observar que 51,61% dos

clones apresentaram reatividade acima do Índice ELISA (IE) calculado (Tabela 3).

A Tabela mostra em vermelho os clones positivos (IE ≥ 1), que foram utilizados no

sequenciamento, e em azul os controles negativos (fagos selvagem), que não

foram seqüenciados. Os clones marcados em preto também não foram

seqüenciados, por terem apresentado baixa reatividade.

Tabela 3: ELISA para teste de imunorreatividade* dos clones selecionados contra o anticorpo purificado obtido de galinhas imunizadas com proteína total do vírus da dengue tipo 3. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

A 0,064 0,064 0,208 0,131 0,065 0,112 0,060 0,06 0,071 0,066 0,063 0,062 B 0,080 0,131 0,084 0,166 0,180 0,072 0,076 0,078 0,173 0,071 0,079 0,076 C 0,112 0,210 0,108 0,169 0,108 0,099 0,129 0,098 0,077 0,081 0,181 0,100 D 0,072 0,072 0,069 0,070 0,063 0,067 0,066 0,130 0,069 0,065 0,072 0,090 E 0,099 0,075 0,072 0,152 0,071 0,068 0,071 0,065 0,132 0,071 0,070 0,072 F 0,079 0,122 0,073 0,077 0,071 0,069 0,070 0,064 0,066 0,113 0,072 0,071 G 0,150 0,071 0,136 0,071 0,079 0,070 0,148 0,104 0,111 0,055 0,062 0,070 H 0,056 0,054 0,102 0,054 0,099 0,093 0,060 0,069 0,076 0,080 0,084 0,072

*Números em vermelho significam índice ELISA significantes. Os números em azul são os controles negativos (fago selvagem).

Sequenciamento de DNA e Bioinformática

A análise eletroforética do DNA obtido mostrou a ausência de degradação

ou de contaminantes, tais como RNA bacteriano (Figura 13).

As seqüências de DNA geradas foram visualizadas pelo programa

Sequence Analyser (MegaBace, Amersham Biosciences), para análise de sua

qualidade. A tradução destas seqüências de DNA em aminoácidos foi feita pelo

programa DNA2PRO7 (RELIC Softwares), específico para bibliotecas de 7

peptídeos da “New England Biolabs”. Este software gerou 25 seqüências de

aminoácidos, sendo 14 distintas entre si. A seqüência YQDSAKT repetiu-se por

12 vezes.

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Figura 13: Perfil eletroforético das amostras de DNA extraídas dos clones obtidos no processo de seleção. M - marcador de peso molecular

A Tabela 4 apresenta diversos parâmetros para a indicação do sucesso de

seleção de cada peptídeo, conforme Rodi et al. (2002). Os seguintes parâmetros

são mostrados: seqüências de aminoácidos obtidas, juntamente com a freqüência

dos peptídeos expressos nos fagos selecionados a partir do quarto ciclo de

seleção. Além disso, a Tabela também mostra a amplificação dos peptídeos

decorrentes do processo de seleção em relação à freqüência esperada (FE) dos

peptídeos na biblioteca original. Na mesma Tabela, o grau de informação de cada

peptídeo foi calculado utilizando o log neperiano da probabilidade de ocorrência

ao acaso do fago na biblioteca, sendo que quanto maior o grau de informação,

melhor o peptídeo, ou seja, a seleção foi mais efetiva e, mais raro ele é na

biblioteca. Outro dado apresentado, foi o número provável de clones

independentes dentro da biblioteca (λ)

O peptídeo YQDSAKT foi o mais freqüente na seleção e o quarto com o

maior índice de informação, tornando-se um dos principais mimotopos

selecionados, especialmente quando se considera o número de clones

independentes previstos na biblioteca com esta mesma seqüência, ou seja, neste

caso espera-se somente um único clone. Contudo, o peptídeo com o maior índice

de informação foi o VLRNVHN, o qual apresenta o principal motivo protéico

VLRN. Peptídeos que exibem alto grau de informação são menos prováveis de

ocorrer ao acaso do que aqueles que possuem baixo nível de informação (Rodi et

al., 2002).

Os aminoácidos arginina e cisteína nas seqüências de peptídeos

randômicos atuam na secreção de Proteína III e podem interferir na infectividade

M

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dos fagos. Conseqüentemente, clones com peptídeos contendo estes

aminoácidos podem ser menos freqüentes durante a seleção (Noren e Noren,

2001). De acordo com os resultados obtidos, nenhum peptídeo apresenta

cisteína (C), enquanto que 10 possuem arginina (R), demonstrando não só sua

importância nos motivos protéicos, quanto a sua baixa interferência na freqüência

de peptídeos com este aminoácido. Observou-se, ainda, que houve um grande

enriquecimento de todos os peptídeos selecionados em relação às suas

freqüências esperadas na biblioteca de fagos, sugerindo que os fagos são

específicos para dengue.

Tabela 4: Seqüências de aminoácidos, freqüências observada e esperada, e amplificação dos peptídeos e grau de informação.

Peptídeos Freqüência Observada

(FO)

Probabilidade da Seqüência Randômica (FE)*

Amplificação(FO/FE) I(m)** λ***

YQDSAKT 12/25 (48%) 5,72 x 10-10 8,39 x 109 21,282 1 ALYPARI 1/25 (4%) 2,13 x 10-9 1,87 x 108 19,966 4 TYKLPPP 1/25 (4%) 4,03 x 10-9 9,92 x 107 19,329 8 LLRNAST 1/25 (4%) 2,24 x 10-8 1,78 x 107 17,611 44 VLRNAPP 1/25 (4%) 7,12 x 10-9 5,61 x 107 18,759 14 VLRNSPT 1/25 (4%) 5,61 x 10-9 7,13 x 107 18,998 11 VLRNVHN 1/25 (4%) 2,62 x 10-11 1,54 x 1010 24,366 0,05 KLWNISS 1/25 (4%) 2,88 x 10-9 1,39 x 108 19,665 5 ALRNLGP 1/25 (4%) 5,30 x 10-10 7,55 x 108 21,358 1 VLRNMNP 1/25 (4%) 1,06 x 10-9 3,77 x 108 20,665 2 MLRNLPP 1/25 (4%) 4,86 x 10-9 8,23 x 109 19,142 9 ALRNYTS 1/25 (4%) 4,80 x 10-10 8,33 x 108 21,457 0,9 QLRNAPP 1/25 (4%) 7,12 x 10-9 5,62 x 107 18,759 14 KLFNANP 1/25 (4%) 1,06 x 10-7 3,77 x 106 16,051 212 *Probabilidade de sequência randômica = freqüência esperada na biblioteca (FE) **I(m) = grau de informação = -ln (probabilidade de seqüência randômica) ***λ = número provável de clones independentes na biblioteca = complexidade x

FE, onde: complexidade da biblioteca = ~ 2 x 109.

A freqüência de cada aminoácido dos clones seqüenciados foi apresentada

pelo programa AAFREQ. Os aminoácidos mais freqüentes foram L (16), N (14) e

P (14), como mostra a Tabela 5. O fato das bibliotecas serem de peptídeos

randômicos permite que vários clones possam compartilhar os mesmos motivos,

mas com resíduos em posições diferentes do peptídeo, fazendo com que certos

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aminoácidos sejam mais freqüentes após a seleção e sequenciamento. Assim,

aqueles presentes resíduos mais freqüentes nas sete posições esperadas da

biblioteca, são alinhados e anotados como prováveis motivos. Logo, a alta

freqüência desses aminoácidos, nas referidas posições do peptídeo

recombinante, pode indicar um provável motivo não apresentado nos clones

selecionados, mas descoberto pela combinação de várias seqüências.

Nesta mesma tabela foi possível identificar o peptídeo consenso

(VLRNAPP) através dos aminoácidos que apresentaram maior freqüência. Pode-

se notar que o peptídeo consenso foi um dos peptídeos selecionados, no entanto

não se trata de um peptídeo com alto grau de informação, tornando-se mais

comum a sua ocorrência ao acaso.

Tabela 5: Freqüência de aminoácidos dos clones seqüenciados. Em vermelho estão os aminoácidos que apresentam maior freqüência.

AA 1 2 3 4 5 6 7 Total Freqüência A 3 0 0 0 6 0 0 9 0,0918 C 0 0 0 0 0 0 0 0 0,0000 D 0 0 1 0 0 0 0 1 0,0102 E 0 0 0 0 0 0 0 0 0,0000 F 0 0 1 0 0 0 0 1 0,0102 G 0 0 0 0 0 1 0 1 0,0102 H 0 0 0 0 0 1 0 1 0,0102 I 0 0 0 0 1 0 1 2 0,0204 K 2 0 1 0 0 1 0 4 0,0408 L 1 12 0 1 2 0 0 16 0,1633 M 1 0 0 0 1 0 0 2 0,0204 N 0 0 0 11 0 2 1 14 0,1429 P 0 0 0 1 1 5 7 14 0,1429 Q 1 1 0 0 0 0 0 2 0,0204 R 0 0 9 0 0 1 0 10 0,1020 S 0 0 0 1 1 2 2 6 0,0612 T 1 0 0 0 0 1 3 5 0,0510 V 4 0 0 0 1 0 0 5 0,0510 W 0 0 1 0 0 0 0 1 0,0102 X 0 0 0 0 0 0 0 0 0,0000 Y 1 1 1 0 1 0 0 4 0,0408 98

Consenso V L R N A P P

A Figura 14, gerada pelo programa ClustalW 18.1, mostra o alinhamento

dos 14 clones selecionados, permitindo notar a presença de seqüências de

aminoácidos comuns. Nota-se a presença do motivo protéico VLRN repetido entre

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os clones selecionados, mostrado em vermelho, sendo 4 clones com homologia

total, e 7 clones com homologia parcial. Os motivos APP e LPP, mostrados em

verde e cinza, respectivamente, compartilham os resíduos PP e apresentam 2

clones cada com homologia total, contudo o APP possui 4 clones parciais,

enquanto que o LPP possui 2 clones com homologia parcial.

O peptídeo consenso, obtido pela freqüência do aminoácido que mais

ocorreu, foi alinhado pelo programa Blast com as seqüências completas das

proteínas específicas para Dengue, depositadas em banco de dados (GeneBank),

com o objetivo de obter seqüências comuns entre ambos O resultado deste

alinhamento demonstrou que este peptídeo apresenta similaridades com o

precursor de poliproteína de DENV-4 (gi|11096033|gb|AAG30148.1|), pelo motivo

VLRN. Pode-se concluir, portanto, que o motivo consenso não é específico para

DENV-3.

seq1 KLWNISS-7 seq2 KLFNANP-7 seq9 LLRNAST-7 seq5 VLRNAPP-7 seq13 QLRNAPP-7 seq6 VLRNVHN-7 seq8 VLRNSPT-7 seq7 VLRNMNP-7 seq10 ALRNLGP-7 seq11 MLRNLPP-7 seq12 ALRNYTS-7 seq4 TYKLPPP-7

seq14 ALYPARI—7 seq3 YQDSAKT-7

Figura 14: Alinhamento dos 14 peptídeos selecionados pelo programa ClustalW 18.1.

O índice de antigenicidade foi calculado para cada um dos peptídeos pelo

programa Protean 4.0, gerando a Figura 15, onde se podem observar índices que

variam de 1,7 à –1,7, para os maiores e menores índices de antigenicidade,

respectivamente. Os números de 1 a 7 representam a seqüência de aminoácidos

dos peptídeos mencionados à esquerda. A antigenicidade dos peptídeos foi

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predita para verificação da ocorrência de reconhecimento pelas imunoglobulinas.

Ainda, epítopos ausentes de homologias, assim como epítopos conformacionais,

poderiam ser relacionados como um provável alvo em função da observação dos

valores antigênicos.

O índice de antigenicidade de Jameson-Wolf (Jameson e Wolf, 1988) prediz

determinantes antigênicos potenciais combinando métodos de predição estrutural

de proteínas. Os resultados são mostrados com picos – determinantes antigênicos

potenciais. O algorítimo pode ser usado para predizer as características

topológicas da proteína, diretamente a partir da seqüência primária dos

aminoácidos. O programa gera valores para parâmetros de acessibilidade,

combina os valores obtidos para regiões flexíveis e prediz a estrutura secundária,

criando um perfil linear do contorno da proteína. A maioria dos picos antigênicos

das proteínas está localizada nas suas regiões expostas, sendo que o programa

oferece meios de predizer determinantes antigênicos potenciais.

Nota-se que a presença do motivo principal VLRN nos peptídeos, destacada

em vermelho, não determina o índice de antigenicidade, exceto para os clones 8 e

13, que apresentaram valores positivos apenas para o motivo parcial LRN. Estes

índices positivos são altamente influenciados por alguns resíduos vizinhos, pois

peptídeos semelhantes como as seqüências dos clones 5 e 13, mudam em

apenas um único resíduo (V x Q) determinando um comportamento totalmente

diferente quanto ao índice de antigenicidade. Os peptídeos contendo o motivo

LPP, destacado em cinza, apresentam índices de antigenicidade razoavelmente

altos na região correspondente à estes aminoácidos, assim como aqueles que

contêm o motivo APP, destacado em verde. Clones individuais, que não

apresentam homologia com outros fagos, também apresentaram altos índices,

como o de seqüência 3, e devem ser investigados quanto a sua especificidade e

localização protéica.

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Peptídeos 1 2 3 4 5 6 7

Seq 1 KLWNISS

Seq 2 KLFNANP

Seq 3 YQDSAKT

Seq 4 TYKLPPP

Seq 5

VLRNAPP Seq 6

VLRNVHN Seq 7

VLRNMNP Seq 8

VLRNSPT Seq 9

LLRNAST Seq 10

ALRNLGP Seq 11

MLRNLPP

Seq 12 ALRNYTS

Seq 13 QLRNAPP

Seq 14

ALYPARI

Figura 15: Índices de antigenicidade preditas para os peptídeos selecionados gerados pelo programa Protean 4.0. Os números 1 a 7 representam a seqüência de aminoácidos dos peptídeos mencionados à esquerda. Em destaque, os peptídeos com domínios selecionados.

Os peptídeos obtidos no processo de seleção foram alinhados pelo

programa Blast com as seqüências completas das proteínas específicas para

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Dengue, depositadas em banco de dados (GeneBank), com o propósito de avaliar

o grau de similaridade entre as seqüências (Tabela 6).

Tabela 6: Alinhamento entre os peptídeos selecionados e proteínas de DENV.

Peptídeo IE Proteínas Motivo KLWNISS 1,78 gi|26245725|gb|AAN77510.1| NS5 [DENV-2] WxxSS

KLFNANP 1,09 gi|33914246|gb|AAL99210.1| Proteína do envelope [DENV-3] LFxANP

YQDSAKT 1,08 gi|37545165|gb|AAM51546.1| Poliproteína [DENV-3] DSAK TYKLPPP 1,67 gi|22384959|gb|AAM96029.1| Poliproteína [DENV-2] YKxPP

VLRNAPP 2,27 gi|11096033|gb|AAG30148.1| Precursor de poliproteína [DENV-4] VLRN

VLRNVHN 2,47 gi|11096033|gb|AAG30148.1| Precursor de poliproteína [DENV-4] VLRN

gi|11096033|gb|AAG30148.1| Precursor de poliproteína [DENV-4] VLRN

gi|75706485|gb|ABA25791.1| Proteína do envelope [DENV-3] LRxM

gi|31376239|gb|AAN73071.1| Poliproteína [DENV-3] LRxM

VLRNMNP 2,37

gi|81301435|gb|ABB70563.1| Poliproteína [DENV-1] VLxxMN gi|11096033|gb|AAG30148.1| Precursor de poliproteína [DENV-4]

VLRN VLxxxPT

gi|18378364|gb|AAL68559.1| Proteína do envelope [DENV-2]

RNxPT

gi|40643331|emb|CAD31751.1| Poliproteína [DENV-2] LRxxPT

VLRNSPT 2,08

gi|38327270|gb|AAR17682.1| NS1 [DENV-2] LRxxPT

gi|37543958|gb|AAM51538.1| Poliproteína [DENV-3] LLRN LRxAS LLRNAST 2,85

gi|25992096|gb|AAN77049.1| NS2b [DENV-3] LLRN gi|30523272|gb|AAP31664.1| Anticorpo anti-DENV NLPP gi|40643331|emb|CAD31751.1| Poliproteína [DENV-2] LRxLP gi|14269098|gb|AAK58017.1| Precursor de poliproteína [DENV-4] LRxLP

gi|254054|gb|AAB22972.1| NS3 [DENV-1] LRxLP

MLRNLPP 1,55

gi|1407811|gb|AAB03620.1| NS3 [DENV-2] LRxLP

gi|58044290|gb|AAW64434.1| Poliproteína [DENV-1] ALRxxxxxxNL ALxNL

gi|4337013|gb|AAD18036.1| Poliproteína [DENV-2] LRxLG ALxNL

gi|54401699|gb|AAV34603.1| Poliproteína [DENV-3] ALxNL gi|57544910|gb|AAW51420.1| Poliproteína [DENV- 4] LRxLG gi|14269098|gb|AAK58017.1| Precursor de poliproteína [DENV-4]

LRxLG

gi|38327274|gb|AAR17684.1| NS1 [DENV-4] LRxLG

ALRNLGP 1,42

gi|27368030|gb|AAN03445.3| Glicoproteína do envelope [DENV-1]

ALxNL

gi|40643331|emb|CAD31751.1| Poliproteína [DENV-2] LRxxTS gi|37543958|gb|AAM51538.1| Poliproteína [DENV-3] LRxxTS gi|28171513|gb|AAN38633.1| NS2a [DENV-4] LRxxTS ALRNYTS 1,09 gi|14269098|gb|AAK58017.1| Precursor de poliproteína [DENV-4] LRxxTS

QLRNAPP 2,48 gi|37545165|gb|AAM51546.1| Poliproteína [DENV-3] QLxNA

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Assim como ocorreu com o peptídeo consenso, o resultado destes

alinhamentos demonstrou que estes peptídeos apresentam similaridades com

proteínas relacionadas à dengue previamente depositadas em banco de dados, no

entanto, não é específica para DENV-3, sendo encontrados também em proteínas

dos demais tipos virais. O peptídeo ALYPARI não obteve nenhuma semelhança

significante com DENV, embora possua o motivo LxP, homólogo parcial ao LPP.

As seqüências obtidas alinharam com algumas proteínas do DENV. Em

virtude da representação conservada em determinadas regiões ao longo dos

peptídeos, os motivos poderiam representar importantes epítopos contínuos ou

descontínuos dos antígenos (Cortese et al.,1995; Yang e Shiuan, 2003).

Observando os resultados obtidos, nota-se a similaridade de alguns clones

com poliproteínas de DENV: VLRNMNP (DENV-1), TYKLPPP, MLRNLPP,

ALRNYTS (DENV-2), YQDSAKT, VLRNMNP, LLRNAST, ALRNLGP, ALRNYTS,

QLRNAPP (DENV-3) e ALRNLGP (DENV-4), pelas seqüências VLxxMN, YKxPP,

LRxLP, LRxxTS, DSAK, LRxM, LLRN (seqüência do peptídeo LLRNAST), LRxAS

(seqüência do peptídeo LLRNAST), ALxNL, LRxxTS e QLxNA, respectivamente.

Essas poliproteínas são codificadas pelo genoma do vírus e são processadas em

10 polipeptídeos, sendo 3 estruturais e 7 não estruturais.

Os peptídeos, com seus respectivos motivos, VLRNAPP (VLRN),

VLRNVHN (VLRN), VLRNMNP (VLRN), VLRNSPT (VLRN e VLxxxPT),

MLRNLPP (LRxLP), ALRNLGP (LRxLG) e ALRNYTS (LRxxTS) apresentam

similaridades com o precursor de poliproteína para DENV-4. Todas as proteínas

do vírus derivam de uma poliproteína precursora de grande tamanho, por

processamento proteolítico co-traducional e pós-traducional (Tibaire Montes,

2001), daí a importância dos peptídeos serem similares a esta poliproteína.

Os clones que apresentam similaridade com proteínas do envelope (E) de

diferentes tipos virais são: ALRNLGP (AlxNL), para glicoproteína do envelope do

DENV-1; VLRNSPT (RNxPT), para proteína do envelope do DENV-2; e KLFNANP

(LFxANP) e VLRNMNP (LRxM), para proteína do envelope do DENV-3. A proteína

E possui 53 kDa, e contêm importantes determinantes antigênicos (Alisson et al.,

2001). Provavelmente os peptídeos estão compartilhando similaridades

antigênicas, entre os motivos e talvez entre as proteínas. Thullier e colaboradores

(2001), usando um anticorpo monoclonal que neutraliza todos os sorotipos do

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dengue, ligante à glicoproteína do envelope, identificaram o clone WSLFLNHAE

similar à seqüência da proteína. Segundo os autores, este é um segmento crítico

para a infectividade de todos os quatro sorotipos. Interessante observar que essa

seqüência crítica possui algumas similaridades em relação aos peptídeos

selecionados que se alinharam com a proteína do envelope, especificamente

considerando os motivos LN ou LF.

A proteína NS1 tem identidade com os peptídeos VLRNSPT (DENV-2) e

ALRNLGP (DENV-4), que têm motivos LRxxPT e LRxLG, respectivamente. A NS1,

com 40 KDa, possui atividade na maturação viral e é encontrada na superfície,

ligada à membrana da célula infectada, podendo também ser secretada. Essa

proteína tem capacidade imunizante, sendo que os anticorpos atuam como

mediadores de fenômenos de citotoxidade por linfócitos, através de seus

receptores para a porção Fc de imunoglobulinas (Figueiredo, 1999). Wu et al.

(2001), usando um anticorpo monoclonal sorotipo-específico de DENV-1,

identificaram um epítopo (célula B) de peptídeo randômico expresso em fago, com

motivo consenso HxYxW, que mimetiza a seqüência HKYSWK da proteína NS1 do

mesmo tipo viral. Em outro trabalho, os mesmos autores (2003), usando a mesma

metodologia com enfoque em DENV-2, confirmaram que o motivo HRL foi crucial

para a ligação peptídeo-anticorpo. Interessantemente, este motivo apresenta

identidade parcial às seqüências lineares LR observadas nos diversos clones

selecionados por nosso grupo.

O peptídeo ALRNYTS apresenta similaridade com a proteína NS2a de

DENV-4 apresentando o motivo LRxxTS. Já o clone LLRNAST, com o provável

motivo LLRN, apresenta similaridade com a proteína NS2b de DENV-3. Ambas

são proteínas pouco conhecidas no ponto de vista imunológico em DENV,

sugerindo mais estudos com estas proteínas.

O peptídeo MLRNLPP apresenta similaridade com proteína NS3 de DENV-

1 e DENV-2 através do motivo LRxLP. Esta proteína, com 69 kDa, é uma enzima

bifuncional, nucleotídea, trifosfatase/helicase viral. A NS3 que se apresenta em

contato com a superfície celular ou é secretada, possui capacidade imunizante. A

presença de NS3 estimula a destruição das células infectadas por linfócitos T

citóxicos (Figueiredo, 1999).

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61

O peptídeo KLWNISS apresentou similaridade com a proteína NS5 de

DENV-2 pelo motivo WxxSS. Essa proteína é a maior das dez proteínas e a mais

altamente conservada, com 104 kDa. É uma proteína que possui domínios que

contêm atividade enzimática que são cruciais para o ciclo replicativo do vírus

(Chao et al., 2005). A similaridade deste peptídeo à proteína NS5 pode justificar a

ocorrência de reatividade cruzada dos demais peptídeos aos múltiplos sorotipos

virais (Rothman, 2004).

Os peptídeos VLRNSPT e ALRNLGP, similares a NS1; e MLRNLPP, similar

a NS3, podem se tornar importantes alvos vacinais, por serem altamente

imunogênicas e importantes alvos de anticorpos contra a dengue.

Epítopos podem ser classificados como conformacionais (seqüências

descontínuas) ou não conformacionais (seqüências lineares). Epítopos lineares

são curtos estiramentos da estrutura da proteína primária, composta de resíduos

contínuos de aminoácidos da seqüência primária. Epítopos conformacionais

consistem em muitos resíduos de aminoácidos, discretos na seqüência primária,

que montam determinantes antigênicos na forma da estrutura terciária das

proteínas (Barlow et al., 1986). Seqüências consenso podem não mostrar

nenhuma similaridade com a seqüência do antígeno natural (Felici et al., 1993).

Nesse caso, epítopos podem mimetizar epítopos naturais (mimotopos) ou

epítopos conformacionais. Essa pode ser a justificativa para que os prováveis

motivos não tenham sido encontrados na seqüência linear da proteína do

capsídeo.

Como os motivos VxRN e LRN não se alinharam na estrutura linear da

proteína do capsídeo, a busca motivos foi feita diretamente na estrutura terciária

da proteína, por superposição, pelo programa Cn3D (Figura 16).

Ma e colaboradores (2004) apresentaram a estrutura 3D da proteína do

capsídeo, de DENV-2 e encontraram uma dobra alternativa na proteína e esta

região sugere a interação com outros componentes virais na partícula do vírus.

Segundo eles, proteínas C de outros flavivirus podem ter uma dobra similar,

devido à sua seqüência ser conservada.

A proteína C apresenta duas seqüências alvo prováveis, NRVSTVQQL

(porção N-terminal em contato com a membrana viral) e EIGRMLNILNRR (porção

C-terminal em contato com o RNA viral), que possuem respectivamente os motivos

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VxRN e LRN, ambos conformacionais e não lineares no fago. Todos os sorotipos

do vírus da dengue possuem as seqüências conservadas nas regiões alvo, como

mostra a Tabela 7.

A proteína C de DENV-2 é um dímero simétrico com quatro hélices (dois

pares antiparalelos) (Jones, 2003). Cada dímero possui uma das seqüências alvo

analisadas. Pode-se observar que ambos os motivos estão localizados na porção

mais externa da molécula, propiciando um maior contato de superfície, portanto

tornando-se uma região candidata para a localização de epítopos.

Figura 16: Identificação dos prováveis motivos VxRN e LRN na estrutura terciária da proteína do capsídeo de DENV-2, feito pelo programa Cn3D. Em amarelo, os domínios encontram-se expostos na estrutura conformacional.

N

R V

N R V

L N R

R N L

N R L

R

N L

N

R V

V

N

R

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Tabela 7: Provável sítio de alinhamento dos motivos VxRN e LRN (em destaque) na seqüência alvo do capsídeo dos tipos DENV-1, 2, 3 e 4.

Seqüência Alvo Proteína Similaridade gi|53680707|gb|AAU89544.1| Poliproteína [DENV-1] EIxxMLNI+NRR gi|2909793|gb|AAC40836.1| Poliproteína [DENV-2] EIGRMLNILNRR gi|51850387|dbj|BAD42421.1| Poliproteína [DENV-3] EIxxML+I+NRR gi|53653753|gb|AAU89380.1| Poliproteína [DENV-4] EIGRMLNILNRR

EIGRMLNILNRR

gi|28171515|gb|AAN38635.1| Precursor de poliproteína [DENV-4] EIGRMLNILNxR

gi|37963458|gb|AAR05860.1| Poliproteína [DENV-1] NRVSTVxQL gi|21070437|gb|AAM34299.1| Poliproteína [DENV-2] NRVSTVQQL gi|37545169|gb|AAM51547.1| Poliproteína [DENV-3] NRVSTxxQL gi|61652905|gb|AAX48017.1| Poliproteína [DENV-4] NRVSTxQxL

NRVSTVQQL

gi|28171470|gb|AAN38615.1| Precursor de poliproteína [DENV-4]

NRVSTxQL

Dos 14 peptídeos selecionados, 6 apresentaram similaridades com

proteínas de comunidades biológicas previamente conhecidas e com

probabilidades de ocorrência ao acaso muito baixa (Tabela 8), sugerindo que os

fagos foram selecionados especificamente para os sítios alvos.

Tabela 8: Peptídeos que apresentaram similaridades com proteínas de comunidades biológicas previamente conhecidas.

Peptídeo SI* Função Padrão AT** P*** Acesso

YQDSAKT SAK

TYKLPPP TYK

Sítio de fosforilação

da proteína Kinase C

[ST]-x-[RK]

Vírus

eucarióticos 1,423 x 10-2 PS00005

ALRNYTS NYTS

LLRNAST NAST

KLWNISS NISS

Sítio de N-

glicosilação

N-{P}-[ST]-

{P}.

Vírus

eucarióticos 5,138 x 10-3 PS00001

ALYPARI ARI Alvo sinal C-terminal

de microcorpos

[STAGCN]-

[RKH]-

[LIVMAFY]

Eucariotos 1,733 x 10-2 PS00342

*SI: Sítio de identificação **AT: Amplitude taxonômica ***P: Probabilidade de ocorrência randômica

Os peptídeos YQDSAKT e TYKLPPP apresentam similaridades com o sítio

de fosforilação da proteína kinase C de vírus eucarióticos, através dos sítios de

identificação SAK e TYK, respectivamente, sendo S ou T o sítio de fosforilação. A

proteína kinase C, está envolvida em processos celulares incluindo secreção,

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exocitose, expressão gênica, modulação da condução iônica, proliferação celular

e down-regulation de receptores extracelulares (Kapczinski et al., 2004). In vivo, a

proteína Kinase C exibe uma preferência pela fosforilação de resíduos de serina

ou de treonina, encontrados próximos a um resíduo básico C-terminal (Kishimoto

et al., 1985). A presença de resíduos básicos adicionais ao N ou C-terminal do

aminoácido alvo, aumenta a velocidade da reação de fosforilação.

Os peptídeos ALRNYTS, LLRNAST e KLWNISS apresentam similaridades

com o sítio de N-glicosilação dos vírus eucarióticos, através dos sítios de

identificação NYTS, NAST e NISS, respectivamente, sendo N o sítio de

glicosilação. A N-glicosilação é uma das principais modificações pós-traducionais,

sendo responsável por alterações na conformação, estabilidade e

conseqüentemente, na funcionalidade de proteínas em eucariotos (Maia e Leite,

2001). A seqüência de N-glicosilação foi determinada como sendo NxS/T (Asp-x-

Ser/Tre), onde x pode ser qualquer aminoácido, exceto prolina. Esse tripeptídeo,

em geral, faz parte de uma estrutura de folha pregueada (Miletti, 1997).

O peptídeo ALYPARI apresenta similaridade com o alvo sinal C-terminal de

microcorpos de eucariotos, através do sítio de identificação ARI. Microcorpos são

uma classe de organelas citoplasmáticas, a qual pertencem os peroxissomos e

glioxissomos. Proteínas de microcorpos são sintetizadas em polissomos livres e

importadas até as organelas (de Hoop e Ab, 1992). Tem sido experimentalmente

mostrado que, em algumas proteínas peroxissomais, o alvo sinal reside nos

últimos três aminoácidos do sítio C-terminal (Gould et al., 1988; Gould et al.,

1989; Gould et al., 1990). Esta seqüência consenso é conhecida como SKL (Ser-

Lis-Leu), no entanto, algumas variações são possíveis em todas as três posições.

A presença de domínios conhecidos de vírus eucarióticos/eurcariotos

sugere que os peptídeos selecionados possuem similaridade com o vírus da

dengue e podem estar associados ao processo de modulação do vírus no

hospedeiro. Aqueles peptídeos que não apresentaram semelhança com nenhuma

comunidade biológica previamente descrita podem estar associados a novos

sítios biológicos e que devem ser investigados posteriormente.

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Testes ELISA para os clones contra soro humano específico

O teste ELISA (Figura 17) comprovou que os peptídeos não foram

específicos para DENV-3, uma vez que os clones deveriam reagir apenas com o

soro dos pacientes contaminados com esse tipo viral, bem como com a cultura

específica. Reatividade inesperada também foi observada com os antígenos

específicos para DENV-1, -2, e -3, com positividade significativa apenas para IgG

de DENV-2, embora os soros dos pacientes haviam sido identificados previamente

como IgM positivos, específicos para os tipos 1 e 3, conforme tipagem realizada

por RT-PCR. Portanto, a única explicação plausível para este resultado é que

ocorreu soroconversão dos pacientes de IgM para IgG e que provavelmente houve

erro na tipagem das amostras.

Com relação aos peptídeos selecionados, o ensaio demonstrou que os

clones também apresentaram reação cruzada com soro de pacientes

contaminados com DENV-1. Os peptídeos recombinantes foram superiores em

imunorreatividade em relação aos IE obtidos das proteínas totais da dengue.

Soros de pacientes com DENV-2 e DENV-4 e cultura do tipo 4 não foram

analisados nesse estudo. O fago de seqüência MLRNLPP (Seq 11) também não

foi analisado, por não ter sido previamente amplificado. Estes resultados

corroboram os testes ELISA prévios com IgY e culturas, bem como com os

resultados de bioinformática.

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0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

4

4,5

IE

Soro DENV-1 com clones e anti IgG

0

2

4

6

8

10

12

14

16

IE

Soro DENV-1 com clones e anti IgM

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

4

IE

Soro DENV-3 com clones e anti IgG

0

1

2

3

4

5

6

IE

Soro DENV-3 com clones e anti IgM

Figura 17: Teste de imunorreatividade dos clones com soro de pacientes contaminados com DENV-1 e 3, e com proteínas totais de DENV-1, 2 e 3.

Seq 1

Seq 2

Seq 3

Seq 4

Seq 5

Seq 6

Seq 7

Seq 8

Seq 9

Seq 10

Seq 12

Seq 13

Seq 14

DENV-1

DENV-2

DENV-3

Controle

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67

CONCLUSÕES

• Embora as galinhas da raça White Leghorn tenham sido imunizadas com

antígenos totais do vírus da dengue tipo 3, a resposta imunológica foi

inespecífica para tipo viral, mas com alta sensibilidade ao vírus da

dengue, devendo ser testada contra os outros Flavivirus para determinar

sua especificidade.

• Dentre os 14 fagos recombinantes selecionados em 4 ciclos de seleção

por “Phage Display”, o motivo comum mais freqüente foi o VLRN,

apresentando alto índice de imunorreatividade, com reação cruzada entre

os tipos virais 1 e 3, conforme sorologia específica de indivíduos

infectados com DENV-1 e DENV-3

• Domínios de fosforilação e glicosilação, encontrados em vírus

eucarióticos, foram similares às seqüências presentes em cinco fagos

recombinantes selecionados, resultado este que suporta os outros

achados por sorologia e bioinformática, demonstrando que a seleção de

peptídeos reativos contra anticorpos anti-dengue foi relativamente eficaz,

o que não implica que estes motivos sejam fisiologicamente ativos no

vírus da dengue

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Anexo 1:

Reagentes para realização de gel SDS-PAGE (16%)

Soluções Reagentes Gel de separação: Tris-HCl 0,375 M pH 8,8 SDS 0,1% EDTA 2 mM Acrilamida/bis (29/1%) TEMED 0,125% Persulfato de Amônio 0,125% Gel de empilhamento: Tris-HCl 0,125 M pH 6,8 SDS 0,1%

EDTA 2mM Acrilamida/bis (29/1%) TEMED 0,125% Persulfato de Amônio 0,125% H2O Tampão Catodo: Tris 0,1 M Glicina 0,1 M SDS 0,1% H2O Tampão Anodo (pH 8,9): Tris-HCl 0,2 M Tampão da amostra: Tris-HCl 0,1 M pH 6,8 SDS 4% Glicerol 20% Azul de bromofenol 0,2% H2O Solução de Coomassie-blue 0,1% (coloração do gel)

Solução descorante Álcool Etílico 30% Acido Acético 10% H2O 60%