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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL ANTONIO DO NASCIMENTO SILVA JUNIOR UTILIZAÇÃO DA ANÁLISE MULTICRITÉRIO PARA ALOCAÇÃO DE ÁREA(S) DESTINADA(S) A ATERRO SANITÁRIO NO MUNICÍPIO DE SANTANA-AP MACAPÁ 2016

UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ PRÓ-REITORIA DE

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAP PR-REITORIA DE PESQUISA E PS-GRADUAO

    DEPARTAMENTO DE PS-GRADUAO PROGRAMA DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL

    ANTONIO DO NASCIMENTO SILVA JUNIOR

    UTILIZAO DA ANLISE MULTICRITRIO PARA ALOCAO DE REA(S) DESTINADA(S) A ATERRO SANITRIO NO MUNICPIO DE SANTANA-AP

    MACAP 2016

  • ANTONIO DO NASCIMENTO SILVA JUNIOR

    UTILIZAO DA ANLISE MULTICRITRIO PARA ALOCAO DE REA(S) DESTINADA(S) A ATERRO SANITRIO NO MUNICPIO DE SANTANA-AP

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao do Mestrado em Desenvolvimento Regional da Universidade Federal do Amap, como requisito cientfico para a obteno do ttulo de Mestre em Desenvolvimento Regional. Orientador: Prof. Dr. Valter Gama de Avelar Linha de Pesquisa: Meio Ambiente e Planejamento

    MACAP

    2016

  • Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP) Biblioteca Central da Universidade Federal do Amap

    373.246

    S586u Silva Junior, Antonio do Nascimento.

    Utilizao da anlise multicritrio para alocao de rea(s)

    destinada(s) a aterro sanitrio no municpio de Santana-AP / Antonio do

    Nascimento Silva Jnior; orientador, Valter Gama de Avelar. Macap,

    2016.

    207 f.

    Dissertao (mestrado) Fundao Universidade Federal do Amap, Programa de Ps-Graduao em Desenvolvimento Regional.

    1. Resduos slidos. 2. Aterro sanitrio. 3. Santana-AP. I. Avelar,

    Valter Gama de, orientador. II. Fundao Universidade Federal do

    Amap. IV. Ttulo.

  • ANTONIO DO NASCIMENTO SILVA JUNIOR

    UTILIZAO DA ANLISE MULTICRITRIO PARA ALOCAO DE REA(S) DESTINADA(S) A ATERRO SANITRIO NO MUNICPIO DE SANTANA-AP

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao do Mestrado em

    Desenvolvimento Regional da Universidade Federal do Amap, como requisito

    cientfico para a obteno do ttulo de Mestre em Desenvolvimento Regional.

    Data da Avaliao:

    Banca Examinadora:

    ______________________________

    Prof. Dr. Valter Gama de Avelar

    (Orientador PPGMDR/UNIFAP)

    _______________________________

    Prof.(a) Dr.(a) Jucilene Amorim Costa

    (Examinadora Interna PPGMDR/UNIFAP)

    _______________________________

    Prof. Dr. Lus Roberto Takiyama

    (Examinador Externo IEPA)

    MACAP 2016

  • AGRADECIMENTOS

    Agradeo a Deus por tudo que tem realizado em minha vida, por abenoar o

    meu caminho e me guiar nesta trajetria de fortalecimento e engrandecimento

    intelectual com serenidade, maturidade e sabedoria.

    Aos meus pais, Antonio e Lucidalva, por todos os ensinamentos de vida que

    contriburam para a construo dos valores morais que aliceram minha vida, pelos

    exemplos de dedicao e superao das dificuldades, pelo apoio e amor

    incondicional.

    Aos meus amados irmos, Michel e Andra, pelos exemplos de fora e

    superao, por todo apoio e carinho dedicado nossa famlia, pelos meus amados

    sobrinhos Pablo, Vincius e Murilo que so as minhas fontes de inspirao.

    A minha amada esposa, Angela, por todo carinho e companheirismo

    concedido ao longo de todos estes anos ao meu lado, durante todas as minhas

    andanas e mudanas por vrios estados por motivos profissionais, pela

    compreenso dos momentos de ausncia e por todo amor dedicado.

    Ao Prof. Dr. Valter Gama de Avelar, pelos ensinamentos prestados, pelo

    apoio e contribuio para a concretizao desta pesquisa, pela conduo desta

    jornada atravs do compartilhamento de sua vivncia acadmica e seu notrio saber

    cientfico.

    Ao Programa de Ps-graduao Mestrado em Desenvolvimento Regional

    PPGMDR, da Universidade Federal do Amap UNIFAP, pela oportunidade de

    insero no conhecimento cientfico e realizao da pesquisa.

    Aos amigos, Dr. Marcos Quadros, Dr. Jaime Scandolara e Msc. Ivan Arajo,

    pela amizade verdadeira e pelos exemplos de simplicidade, dedicao e sucesso.

    Aos meus amigos de mestrado pelo companheirismo e contribuies durante

    os discurses sobre as estratgias e perspectivas de desenvolvimento regional.

    A todos que contriburam para a realizao desta pesquisa.

  • O desenvolvimento essencialmente um

    processo de expanso das liberdades

    reais de que as pessoas desfrutam.

    Amartya Sen

  • RESUMO

    O municpio de Santana, localizado no Estado do Amap, enfrenta dificuldades para promover a destinao adequada dos resduos slidos urbanos-RSU, face a ausncia de alternativas locacionais para a implantao de um aterro sanitrio e a falta de polticas pblicas que poderiam viabilizar a soluo deste problema relacionado a destinao dos RSU. Por este motivo, a presente pesquisa investigou a existncia de reas potenciais para a alocao de aterro sanitrio no municpio de Santana atravs da utilizao da Anlise Multicritrio. Para tal, foram analisados 9 critrios tcnicos, aqui denominados de Fatores Ambientais Favorveis (Geologia FAF1, Geomorfologia FAF2, Pedologia FAF3, Vegetao FAF4) e de Fatores Ambientais Restritivos (Distncia dos Cursos Dgua FAR1, Distncia dos Centros Urbanos FAR2, reas Restritas FAR3, Distncia de Aeroportos FAR4 e Densidade Demogrfica FAR5) que foram submetidos aos processos de comparao par a par, suportados pela utilizao da Anlise Hierrquica de Processos (AHP) e a Combinao Linear Ponderada (WLC). A partir da anlise de vrios fatores (FAF e FAR) importantes do ponto de vista ambiental foi possvel construir novas unidades de anlise que resultaram na elaborao de um cenrio potencial, representado atravs de um mapa sntese de potencialidades, que pode ser utilizado como ferramenta de apoio no processo de tomada de deciso durante a seleo de reas para a instalao de aterro sanitrio no municpio de Santana. Os resultados obtidos indicam que as reas com maior potencial de aptido para instalao de aterro sanitrio no municpio de Santana localizam-se na regio central do municpio, em faixa territorial que se estende as regies nordeste e sudoeste, alm de parte de regio noroeste do municpio. As reas com menor potencial de aptido localizam-se na poro meridional da regio sudoeste, em faixa territorial distribuda as proximidades do Rio Vila Nova at o Distrito do Anauerapucu, alm de parte do extremo norte municipal. As reas que apresentaram condies de restrio total localizam-se na regio sudeste do municpio, em faixa que abrange a Macrozona Urbana Municipal, parte da Ilha de Santana e do Distrito do Anauerapucu. Assim, destaca-se as contribuies da presente pesquisa para o desenvolvimento regional, tendo em vista que a identificao de reas potenciais para alocao de aterro sanitrio facilitar o processo de tomada de deciso de equipes tcnicas e gestores municipais, sendo, portanto, um importante instrumento capaz de auxiliar nas aes de Planejamento Urbano Regional e no Zoneamento Ambiental, adequando o municpio de Santana as premissas estabelecidas pela Poltica Nacional de Resduos Slidos PNRS, no que tange o gerenciamento e a destinao final adequada dos resduos slidos urbanos.

    Palavras-Chave: rea de Disposio Final, Resduos Slidos Urbanos, Anlise Multicritrio, Aterro Sanitrio, Santana.

  • ABSTRACT

    The municipality of Santana, in the State of Amap, struggling to promote proper disposal of Municipal Solid Waste - MSW, given the lack of locational alternatives for the implementation of a landfill and the lack of public policies that could facilitate the solution of this problem related to disposal of MSW. For this reason, the present study investigated the existence of potential areas for the allocation of landfill in the municipality of Santana by using the Multicriteria Analysis. To do it was analyzed 9 technical criteria, here called Favourable Environmental Factors (Geology - FAF1, Geomorphology - FAF2, Pedology - FAF3 Vegetation - FAF4) and Restrictive Environmental Factors (Distance from Water Course - FAR1, Distance from Centers Urban - FAR2, Restricted Areas - FAR3, Distance from Airports - FAR4 and Population Density - FAR5) that were submitted to the pair comparison processes together, supported by the use of Analytic Hierarchy Process (AHP), and Weighted Linear Combination (WLC). From the analysis of various factors (FAF and FAR) was possible to build new units of analysis that resulted in the development of a potential scenario, represented by a synthesis map of capabilities that can be used as a tool support in the decision making process when selecting areas for landfill facility in the municipality of Santana. The results indicate that the areas with the greatest potential suitability for landfill facility in Santana are located in the central area of the municipality in territorial range that extends northeast and southwest regions, and part of the northwest region of the city. The areas with less potential are located in the southern portion of the southwest region, territorial range distributed the nearby Vila Nova River to the District Anauerapucu, and the extreme north municipality. The area locations that had total restriction conditions are located in the southeast of the city, covered by the Macrozone Urban, part of the island of Santana and Anauerapucu District. Thus, the contribution of this research for regional development, can be achieved with a view to identify potential areas for landfill allocation to facilitate the decision-making process of technical teams and municipal managers, therefore, an important tool able to assist the actions of Urban Regional Planning and Environmental Zoning, adjusting the Santana municipality of the premises established by the National Solid Waste Policy - NSWP, regarding the management and proper disposal of municipal solid waste.

    Keywords: Final Disposal Area, Municipal Solid Waste, Multicriteria Analysis, Landfill, Santana.

  • LISTA DE ILUSTRAES

    Figura 1 - Sntese de evoluo da classificao dos resduos slidos no Brasil, segundo Monteiro (2001), ABNT NBR (2004), IPT (2010) e PNRS (2010)...........

    46

    Figura 2 - Disposio de resduos slidos no lixo a cu aberto, destacando a presena de aves de rapina, bem como a sorte de resduos slidos....................

    48

    Figura 3 - Disposio inadequada de resduos slidos em lixo a cu aberto no municpio de Porto Velho RO com potencial de degradao ambiental e danos sade pblica............................................................................................

    49

    Figura 4 - Modelo de disposio de resduos slidos no lixo a cu aberto, com destaque para a poluio do ar, do solo e lenol fretico devido a percolao do chorume..................................................................................................................

    50

    Figura 5 - Disposio de resduos slidos em um aterro controlado no municpio de Maring PR, observa-se a forma de disposio em bancadas das clulas que aps receberem os resduos slidos so cobertos por aterro comum....................................................................................................................

    51

    Figura 6 - Disposio de resduos slidos em aterro controlado no municpio de Cuiab MT, destaca-se as bancadas com resduos slidos confinados e cobertos por aterro.................................................................................................

    52

    Figura 7 - Modelo de disposio de resduos slidos em aterro controlado. Constata-se que os impactos ambientais no meio atmosfrico e na superfcie so reduzidos quando comparados aos lixes. Contudo, em relao ao solo e subsolo as mesmas caractersticas potenciais de contaminao e poluio so observados, vide Fig. 4. (p.50)...............................................................................

    53

    Figura 8 - Disposio de resduos slidos em aterro sanitrio, em Osasco SP. Os degraus funcionam como curvas de nvel, seguindo a disposio do relevo. Destaca-se a ocupao urbana no entorno do aterro sanitrio.............................

    54

    Figura 9 - Modelo de aterro sanitrio construdo no municpio de Itaja SC, em conformidade com as normas tcnicas vigentes. Destaque para as estruturas existentes que orientam a sua construo e operao adequada.........................

    55

    Figura 10 - Estruturas de um aterro sanitrio, observa-se que tanto ar, quanto o subsolo encontra-se livre de poluio ou contaminao por gases ou chorume. Alm do reflorestamento das clulas em uso, o que melhora a qualidade do meio ambiente........................................................................................................

    56

    Figura 11 - Localizao geogrfica do municpio de Santana no contexto nacional e regional, com destaque para o centro urbano de Santana, poligonal em vermelho...........................................................................................................

    78

    Figura 12 - Delimitao do Macrozoneamento Rural e Urbano no municpio de Santana..................................................................................................................

    79

    Figura 13 - Zoneamento Urbano do municpio de Santana................................... 80

    Figura 14 - Distribuio espacial da populao amapaense, incluindo o municpio de Santana com 110.565 habitantes ou 14,72% da populao total.........................................................................................................................

    81

  • Figura 15 - Pirmide de faixa etria da populao do municpio de Santana....... 82

    Figura 16 - ndice de Desenvolvimento Humano Municipal registrados no municpio de Santana durante os anos de 1991, 2000 e 2010..............................

    83

    Figura 17 - ndice FIRJAN de Desenvolvimento Municipal e reas de Desenvolvimento do municpio de Santana...........................................................

    84

    Figura 18 - Aves de rapina na Lixeira pblica do municpio de Santana............... 88

    Figura 19 - Lixeira pblica do municpio de Santana............................................. 88

    Figura 20 - Acesso principal ao aterro semi-controlado de Macap..................... 90

    Figura 21 - Disposio de RSU realizada por caminho coletor........................... 90

    Figura 22 - RSU disposto de forma inadequada no aterro semi-controlado de Macap...................................................................................................................

    91

    Figura 23 - Disposio inadequada de RSU com a presena de aves de rapina. 91

    Figura 24 - Disposio inadequada de RSU no aterro semi-controlado............... 91

    Figura 25 - reas sem sinalizao adequada para disposio de RSU no aterro semi-controlado......................................................................................................

    91

    Figura 26 - Estratgias Metodolgicas, Materiais e Mtodo de Pesquisa, seguindo dispostos em diferentes autores (GIL, 2008; LAKATOS e MARCONI, 2008; KAUARK; MANHES; MEDEIROS, 2010)...................................................

    96

    Figura 27 - Estruturas de Suporte adotadas pela AMC para composio de processos de tomada de deciso...........................................................................

    97

    Figura 28 - Modelo de Avaliao Estruturado por Nvel Hierrquico de Anlise. Modificado de Ramos e Mendes (2001).................................................................

    98

    Figura 29 - Configurao geolgica global da Plataforma Sul-Americana (BIZZI et. al., 2003), destacando o Estado do Amap, na poro oriental do Escudo das Guianas...........................................................................................................

    110

    Figura 30 - Mapa simplificado de domnios tectnicos do continente sul-americano, com destaque para a Plataforma Sul-Americana e o Crton Amaznico (AVELAR, 2002)..................................................................................

    111

    Figura 31 - Mapa Geolgico Simplificado do Escudo das Guianas (segundo Gibbs & Barron, 1993). 1 Coberturas Mesozicas e Cenozicas, 2 Formaes sedimentares e vulcnicas Mesoproterozicas, 3 Granitides e Ortognaisses Paleoproterozicos, 4 Greenstone belts Paleoproterozicos, 5- Complexo Arqueano Imataca (Venezuela) e 6 Ortognaisses/ granulitos do Amap (AVELAR, 2002).........................................................................................

    112

    Figura 32 - Domnios Geotectnicos do Estado do Amap com destaque para a regio do municpio de Santana-AP, em domnios de sequncias sedimentares meso-cenozicas (IEPA, 2008)..............................................................................

    114

    Figura 33 - Geologia Simplificada do Estado do Amap, com destaque para o 116

  • municpio de Santana.............................................................................................

    Figura 34 - Mapa Geolgico Estrutural do Municpio de Santana, seguindo a classificao disponvel em Geobank (2015).........................................................

    117

    Figura 35 - Unidades Morfoestruturais do Estado do Amap, com destaque para o municpio de Santana-AP, cujas unidades morfoestruturais compreendem: Plancie Costeira, o Planalto Rebaixado do Amazonas e o Planalto Dissecado Araguar-Jar (SILVEIRA, 1998).............................................

    119

    Figura 36 - Mapa Geomorfolgico do Municpio de Santana-AP, seguindo a classificao de IBGE (2009).................................................................................

    121

    Figura 37 - Grupos de Solo do Estado do Amap, com destaque para o municpio de Santana, que integra os grupos de solos: Latossolos, Hidromrficos e Concrecionrios Laterticos (IEPA, 2008)....................................

    125

    Figura 38 - Mapa Pedolgico do Municpio de Santana-AP, seguindo a classificao de IBGE (2012).................................................................................

    127

    Figura 39 - Fitofisionomias Vegetais do Estado do Amap, com destaque para o municpio de Santana-AP, onde as principais formas fitofisionmicas incluem: Florestas de Vrzea Densa, Cerrado Arbreo/Arbustivo e Parque, e Campos de Vrzea Graminide (IEPA, 2008)...........................................................................

    129

    Figura 40 - Mapa de Fitofisionomias Vegetais do Municpio de Santana, seguindo a classificao de IBGE (2008)...............................................................

    131

    Figura 41 - Bacias Hidrogrficas do Estado do Amap. Destaque para o municpio de Santana onde insere-se as Bacias Hidrogrficas do Rio Vila Nova (6), Rio Matapi (12), Igarap da Fortaleza (31) e Ilha de Santana (37). Modificado de SEMA (2012)...................................................................................

    136

    Figura 42 - reas Protegidas do Estado do Amap, seguindo a descrio de DRUMMOND, DIAS E BRITO, (2008). Destaque para o municpio de Santana e a localizao da RPPN REVECOM. Modificado de DRUMMOND, DIAS E BRITO, (2008)........................................................................................................

    140

    Figura 43 - Mapa de reas Restritas no Municpio de Santana. Destaque para a localizao das comunidades quilombolas e da UC RPPN REVECOM.............

    142

    Figura 44 - Resultado do processo de normalizao do FAF1 Geologia utilizado na anlise multicritrio ( direita)............................................................................

    146

    Figura 45 - Resultado do processo de normalizao do FAF2 Geomorfologia utilizado na anlise multicritrio ( direita).............................................................

    148

    Figura 46 - Resultado do processo de normalizao do FAF3 Pedologia utilizado na anlise multicritrio ( direita).............................................................

    150

    Figura 47 - Resultado do processo de normalizao do FAF4 Vegetao utilizado na anlise multicritrio ( direita) ............................................................

    152

    Figura 48 - Resultado do processo de normalizao do FAR1 Distncia dos cursos dgua utilizada na anlise multicritrio ( direita)......................................

    154

    Figura 49 - Resultado do processo de normalizao do FAR2 Distncia dos centros urbanos utilizado na anlise multicritrio ( direita)...................................

    156

  • Figura 50 - Resultado do processo de normalizao do FAR3 reas Restritas utilizada na anlise multicritrio ( direita).............................................................

    157

    Figura 51 - Resultado do processo de normalizao do FAR4 Distncia de aeroportos utilizado na anlise multicritrio ( direita)...........................................

    160

    Figura 52 -Resultado do processo de normalizao do FAR5 Densidade Demogrfica utilizada na anlise multicritrio ( direita)........................................

    162

    Figura 53 - Composio da matriz de comparao pareada utilizada na AHP, constituda atravs do uso do mdulo WEIGHT do software IDRISI. Destaque para a distribuio de pesos de acordo com o grau de importncia de cada critrio utilizado durante a comparao dos subgrupos de Fatores (FAF) e Restries (FAR)....................................................................................................

    164

    Figura 54 - Resultado do processo de ponderao de FAF e FAR realizado para a anlise multicritrio. Destaque para os valores de peso calculados para cada critrio de anlise, alm do valor da Relao de Consistncia (0.05) considerada aceitvel para validao da anlise...................................................

    165

    Figura 55 - Sntese da aplicao utilizada na anlise multicritrio para a identificao de reas potenciais para a implantao de aterro sanitrio no municpio de Santana-AP.......................................................................................

    168

    Figura 56 - Resultado do processo de agregao do conjunto de FAF e FAR realizada atravs da aplicao da WLC. Destaque-se o produto final Mapa Sntese com a indicao das reas potenciais para a implantao de aterro sanitrio no municpio de Santana obtido atravs da anlise multicritrio (reas de aptido mxima em magenta)...........................................................................

    169

    Figura 57 - Mapa de reas Potenciais para a implantao de Aterro Sanitrio no municpio de Santana. Destaca-se que as reas em preto representam condies de restrio mxima, enquanto que as reas em magenta representam as reas de maior potencial de aptido e adequabilidade para a implantao de aterro sanitrio..............................................................................

    170

    Figura 58 - Registro de ocorrncia da unidade geolgica Formao Barreiras (ENb) em rea potencialmente favorvel no municpio de Santana..................................................................................................................

    178

    Figura 59 - Destaque para o FAF1 Geologia registrado pela ocorrncia do Grupo Barreiras (ENb) em rea de aptido potencialmente favorvel...................

    178

    Figura 60 - Registro de ocorrncia do FAF2 Geomorfologia Tabuleiros Costeiros do Amap em reas de maior potencial para a instalao de aterro sanitrio..................................................................................................................

    179

    Figura 61 - Registro do FAF2 Geomorfologia Tabuleiros Costeiros do Amap em reas de relevo aplainado com os menores valores de declividade................

    179

    Figura 62 - Registro de ocorrncia do FAF3 Pedologia (Lad) em reas com maior potencialidade no municpio da Santana......................................................

    180

    Figura 63 - Detalhe do FAF3 Pedologia (Lad) registrado em reas potenciais para a instalao de aterro sanitrio......................................................................

    180

    Figura 64 - Registro de ocorrncia de Vegetao do tipo Savana Parque em reas de maior potencialidade no municpio da Santana.......................................

    181

  • Figura 65 - Registro do FAF4 Vegetao do tipo Savana Parque em reas de maior potencial para a instalao de aterro sanitrio.............................................

    181

    Figura 66 - Registro do FAR1 Distncia dos cursos dgua realizado na margem direita do Rio Matap. Destaque para a existncia de rea de Preservao Permanente APP............................................................................

    182

    Figura 67 - Registro do FAR1 realizado na margem direita do Rio Vila Nova, limite territorial entre os municpios de Santana e Mazago..................................

    182

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 - Escala de comparao de pesos/valores atribudos aos critrios de anlise durante a aplicao da AHP....................................................................

    58

    Tabela 2 - Escala de Avaliao Contnua para comparao de critrios de acordo com a sua importncia adotada pela AHP...............................................

    58

    Tabela 3 - Exemplo de aplicao de matriz de comparao utilizando julgamentos. Neste caso, pretende-se determinar qual a bebida mais consumida nos EUA.............................................................................................

    61

    Tabela 4 - ndice de Consistncia Aleatria utilizado na AHP............................. 64

    Tabela 5 - Fatores Ambientais utilizados para a implantao de aterro sanitrio................................................................................................................

    102

    Tabela 6 - Valores de importncia utilizados para comparao de valores dos critrios de anlise...............................................................................................

    106

    Tabela 7 - Matriz de comparao hierrquica de critrios tcnicos utilizados para a implantao de aterro sanitrio.................................................................

    107

    Tabela 8 - Principais Bacias Hidrogrficas e suas reas de ocupao no Estado do Amap, com destaque para as bacias (6, 12, 31 e 37) que integram a rea do municpio de Santana..........................................................................

    134

    Tabela 9 - Unidades de Conservao do Estado do Amap. Destaque para o municpio de Santana-AP com uma UC do tipo Reserva Particular do Patrimnio Natural RPPN denominada REVECOM (9)....................................

    137

    Tabela 10 - Comunidades Quilombolas identificadas no municpio de Santana-AP.........................................................................................................................

    141

    Tabela 11 - Valores de peso atribudos ao fator geologia para a aplicao da anlise multicritrio...............................................................................................

    145

    Tabela 12 - Valores de peso atribudos ao fator geomorfologia para a aplicao da anlise multicritrio.........................................................................

    147

    Tabela 13 - Valores de peso atribudos ao fator pedologia para a aplicao da anlise multicritrio...............................................................................................

    149

    Tabela 14 - Valores de peso atribudos ao fator vegetao para a aplicao da anlise multicritrio...............................................................................................

    151

    Tabela 15 - Valores de peso atribudos a restrio distncia dos cursos dgua para a aplicao da anlise multicritrio..............................................................

    154

    Tabela 16 - Valores de peso atribudos a restrio distncia dos centros urbanos para a aplicao da anlise multicritrio................................................

    155

    Tabela 17 - Valores de peso atribudos a reas restritivas para a aplicao da anlise multicritrio...............................................................................................

    157

    Tabela 18 - Valores de peso atribudos a restrio distncia de aeroportos para a aplicao da anlise multicritrio..............................................................

    159

  • Tabela 19 - Densidade Demogrfica da Macrozona Urbana e Distritos Municipais de Santana.........................................................................................

    161

    Tabela 20 - Valores de peso atribudos a restrio densidade demogrfica para a aplicao da anlise multicritrio..............................................................

    162

    Tabela 21 - Resultado do processo de ponderao dos critrios utilizados na anlise multicritrio destacando os valores de peso ponderado e Relao de Consistncia da anlise.......................................................................................

    166

    Tabela 22 - Dimensionamento preliminar da rea necessria para a instalao do Aterro Sanitrio no municpio de Santana.......................................................

    172

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 - Comparao dos critrios tcnicos utilizados em pesquisas anteriores para identificao de reas para implantao de aterro sanitrio...........

    72

    Quadro 2 - Critrios tcnicos e especificaes utilizadas para a alocao de reas para implantao de aterro sanitrio..............................................................

    74

    Quadro 3 - Aspectos Jurdicos-Institucionais referentes a disposio de resduos slidos urbanos........................................................................................................

    75

  • LISTA DE SIGLAS

    ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas

    AGENDA 21 Instrumento de planejamento para a construo de cidades

    sustentveis

    AHP Anlise Hierrquica de Processos

    AMC Anlise Multicritrio

    ANA Agncia Nacional de guas

    ANVISA Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria

    ASA rea de Segurana Aeroporturia

    CF Critrios Favorveis

    CNEN Comisso Nacional de Energia Nuclear

    CONAMA Conselho Nacional de Meio Ambiente

    CPRM Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais

    CR Critrios Restritivos

    CETESB Companhia Ambiental do Estado de So Paulo

    ECO-92 Conferncia das Naes Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento

    FAF Fatores Ambientais Favorveis

    FAR Fatores Ambientais Restritivos

    FIRJAN Federao das Indstrias do Estado do Rio de Janeiro

    FUNAI Fundao Nacional do ndio

    GERCO Programa Estadual de Gerenciamento Costeiro

    GIRSU Gesto Integrada dos Resduos Slidos Urbanos

  • IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    IDHM ndice de Desenvolvimento Humano Municipal

    IEPA Instituto de Pesquisas Cientficas e Tecnolgicas do Estado do Amap

    IFDM ndice FIRJAN de Desenvolvimento Municipal

    IMAP Instituto do Meio Ambiente e Ordenamento Territorial do Estado do Amap

    INDE Infraestrutura Nacional de Dados Espaciais

    INFRAERO Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroporturia

    INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais

    IPT Instituto de Pesquisas Tecnolgicas do Estado de So Paulo

    MMA Ministrio do Meio Ambiente

    MPA Mtodo de Pesquisa Aplicada

    OWA Ordered Weighted Average

    PDPMS Plano Diretor Participativo do Municpio de Santana

    PET Politereftalato de Etileno

    PMGIRS Plano Municipal de Gesto Integrada de Resduos Slidos

    PNMA Poltica Nacional de Meio Ambiente

    PNRS Poltica Nacional de Resduos Slidos

    PNUD Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento

    RC Relao de Consistncia

    RCC Resduos da Construo Civil

    RDC Resoluo da Diretoria Colegiada

  • RPPN Reserva Particular do Patrimnio Natural

    RSS Resduos de Servios de Sade

    RSU Resduos Slidos Urbanos

    SANEBAVI Saneamento Bsico de Vinhedo SP

    SCN Sistema Cartogrfico Nacional

    SEMA Secretaria de Estado do Meio Ambiente

    SGB Sistema Geodsico Brasileiro

    SNVS Sistema Nacional de Vigilncia Sanitria

    SIG Sistema de Informaes Geogrficas

    SIRGAS Sistema de Referncia Geocntrico para as Amricas

    SISNAMA Sistema Nacional do Meio Ambiente

    SUASA Sistema Unificado de Ateno Sanidade Agropecuria

    UC Unidade de Conservao

    WCL Weighted Linear Combination

    ZEBD Zona Especial de Baixa Densidade

    ZEE Zoneamento Ecolgico-Econmico

    ZEIA Zona Especial de Interesse Ambiental

    ZEIO Zona Especial de Interesse Ocupacional

    ZEISA Zona Especial de Interesse Social e Ambiental

    ZII Zona de Interesse Industrial

    ZIP Zona de Interesse Porturio

  • ZMAD Zona Mista de Alta Densidade

    ZMBD Zona Mista de Baixa Densidade

    ZMICI Zona Mista de Interesse Comercial e Industrial

    ZMMD Zona Mista de Mdia Densidade

    ZRBD Zona Residencial de Baixa Densidade

  • SUMRIO

    1 INTRODUO....................................................................................... 22

    1.1 JUSTIFICATIVA......................................................................................

    26

    2 REFERENCIAL TERICO.................................................................... 30

    2.1 LIXO OU RESDUOS SLIDOS?.......................................................... 30

    2.2 CLASSIFICAO DOS RESDUOS SLIDOS NO BRASIL................ 33

    2.3 DISPOSIO FINAL DOS RESDUOS SLIDOS................................ 47

    2.3.1 Lixo...................................................................................................... 48

    2.3.2 Aterro controlado................................................................................. 51

    2.3.4 Aterro sanitrio.................................................................................... 53

    2.4 O MTODO AHP ANLISE HIERRQUICA DE PROCESSOS........ 56

    2.5. MTODO DE ANLISE MULTICRITRIO MAMC............................. 64

    2.6 DEFINIO DOS CRITRIOS RESTRITIVOS (CR) E FAVORVEIS (CF) PARA ALOCAO DE REA PARA ATERRO SANITRIO........

    69

    2.7 ASPECTOS JURDICO-INSTITUCIONAIS........................................... 73

    2.8 DIMENSIONAMENTO DE REA PRELIMINAR NECESSRIA PARA A INSTALAO DE UM ATERRO SANITRIO....................................

    75

    2.8.1 Clculo da populao municipal........................................................ 75

    2.8.2 Clculo da produo de RSU municipal............................................ 76

    2.8.3 Clculo do volume de RSU municipal............................................... 76

    2.8.4 Clculo da rea mnima para o aterro sanitrio municipal.............. 76

    3 REA DE ESTUDO............................................................................... 78

    3.1 DISPOSIO FINAL DOS RESDUOS SLIDOS NO MUNICPIO DE SANTANA........................................................................................

    85

    4 MATERIAIS E MTODOS DE PESQUISA........................................... 94

    4.1 QUANTO AO OBJETIVO....................................................................... 94

    4.2 QUANTO A ABORDAGEM.................................................................... 95

  • 4.3 ESTRATGIAS METODOLGICAS..................................................... 95

    4.4 QUANTO AO PROCEDIMENTO........................................................... 97

    4.4.1 Levantamento das bases cartogrficas existentes.......................... 100

    4.4.2 Ajustes de converso para compatibilidade cartogrfica............... 101

    4.4.3 Elaborao dos mapas temticos e aplicao dos critrios/fatores restritivos e favorveis para alocao de aterro sanitrio, considerando a aplicao da Anlise Multicritrio AMC e da Anlise Hierrquica de Processos AHP........................

    101

    4.4.3.1 Fatores Ambientais Favorveis (FAF)................................................... 102

    4.4.3.2 Fatores Ambientais Restritivos (FAR).................................................... 103

    4.4.3.3 Ponderao dos critrios....................................................................... 105

    4.4.3.4 Agregao dos resultados..................................................................... 108

    4.4.4 Integrao do mapeamento temtico e a composio de cenrios com a indicao das reas favorveis...............................

    108

    4.4.5 Elaborao do mapa sntese com as reas de aptido, potencialmente, favorveis para a implantao de um aterro sanitrio................................................................................................

    109

    5 CARACTERIZAO DOS ASPECTOS FISIOGRFICOS REGIONAIS E LOCAIS.........................................................................

    110

    5.1 GEOLOGIA............................................................................................ 110

    5.2 GEOMORFOLOGIA............................................................................... 118

    5.3 PEDOLOGIA.......................................................................................... 124

    5.4 VEGETAO......................................................................................... 128

    5.5 HIDROGRAFIA...................................................................................... 134

    5.6 REAS DE USO RESTRITO: UNIDADES DE CONSERVAO, TERRAS INDGENAS E COMUNIDADES QUILOMBOLAS.................

    137

    6 APLICAO DA ANLISE MULTICRITRIO PARA A ALOCAO DE REAS POTENCIAIS DESTINADAS A ATERRO SANITRIO NO MUNICPIO DE SANTANA.............................................................

    143

    6.1 SUBGRUPO I FATORES AMBIENTAIS FAVORVEIS (FAF1, FAF2, FAF3, FAF4)...............................................................................

    144

    6.1.1 Geologia (FAF1)................................................................................... 144

    6.1.2 Geomorfologia (FAF2)......................................................................... 146

  • 6.1.3 Pedologia (FAF3)................................................................................. 149

    6.1.4 Vegetao (FAF4)................................................................................. 151

    6.2 SUBGRUPO II FATORES AMBIENTAIS RESTRITIVOS (FAR1, FAR2, FAR3, FAR4, FAR5)...................................................................

    153

    6.2.1 Distncia dos cursos dgua (FAR1)................................................. 153

    6.2.2 Distncia dos centros urbanos (FAR2).............................................. 155

    6.2.3 reas restritas (FAR3)......................................................................... 157

    6.2.4 Distncia de aeroportos (FAR4)......................................................... 158

    6.2.5 Densidade demogrfica (FAR5).......................................................... 161

    6.3 PONDERAO DOS CRITRIOS........................................................ 163

    6.4 AGREGAO DOS RESULTADOS...................................................... 167

    6.5 DIMENSIONAMENTO DE REA PRELIMINAR NECESSRIA PARA A INSTALAO DE ATERRO SANITRIO NO MUNICPIO DE SANTANA..............................................................................................

    171

    7 DISCURSSES DOS RESULTADOS OBTIDOS................................. 174

    8 CONSIDERAES FINAIS.................................................................. 184

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS.................................................................... 188

    APNDICE A Mapa Geolgico do Municpio de Santana............................ 197

    APNCICE B Mapa Geomorfolgico do Municpio de Santana.................. 198

    APNDICE C Mapa Pedolgico do Municpio de Santana.......................... 199

    APNDICE D Mapa de Vegetao do Municpio de Santana...................... 200

    APNDICE E Mapa de Distncia dos Cursos dgua do Municpio de Santana...............................................................................................................

    201

    APNDICE F Mapa de Distncia dos Centros Urbanos do Municpio de Santana...............................................................................................................

    202

    APNDICE G Mapa de reas Restritas......................................................... 203

    APNDICE H Mapa de Distncia de Aeroportos.......................................... 204

    APNDICE I Mapa de Densidade Demogrfica do Municpio de Santana. 205

    APNDICE J Mapa de reas Potenciais para a Implantao de Aterro Sanitrio no Municpio de Santana...................................................................

    206

  • 22

    1 INTRODUO

    Desde o incio dos tempos, as populaes primitivas consomem e descartam

    produtos na natureza. Esta dinmica estava associada a diversidade de costumes

    culturais intrnsecos, relacionados ao comportamento destes grupos, bem como, as

    suas formas de consumo que determinavam o seu modo de vida.

    De acordo com Maluta (2004), durante sculos, a produo agrcola foi a

    principal atividade econmica desenvolvida pela sociedade, sendo que esta

    concentrava-se no campo, e os principais resduos gerados eram, provenientes,

    essencialmente, de restos de alimentos, facilmente assimilveis ao meio ambiente.

    No obstante, tudo era despejado principalmente nos rios.

    Esta dinmica inicial foi modificada de forma significativa, a partir do incio do

    sculo XVIII com o advento da Revoluo Industrial em 1729. Segundo Kataoka

    (2000), a Revoluo Industrial promoveu mudanas drsticas nos costumes da

    sociedade, sobretudo, nas formas de produo e consumo de produtos

    industrializados, a exemplo das transformaes nas relaes de trabalho, reduo

    da produo rural, baseada nos modelos tradicionais de produo artesanal e na

    agricultura de subsistncia, alm do crescimento do consumo de produtos

    manufaturados.

    Dentre o conjunto de mudanas promovidas nos costumes da sociedade,

    destaca-se que a principal delas foi a mudana de suas atividades, anteriormente

    baseadas, na produo agrcola e na vida simplista do campo, passando para uma

    nova dinmica, concentrada nos grandes centros urbanos e a dependncia cada vez

    maior de produtos industrializados e descartveis. Esta modificao trouxe como

    consequncia um aumento no volume e na variedade de resduos produzidos

    diariamente.

    Desde aquela poca, face o aumento da dinmica no consumo de produtos

    industrializados, e o crescente processo de urbanizao das grandes cidades, com

    consequente elevao dos nveis de produo de resduos, tornou-se necessrio

  • 23

    buscar alternativas para a destinao do lixo, aqui tratado como Resduos Slidos

    Urbanos - RSU1.

    Atualmente, o processo de expanso urbana nas cidades brasileiras tem

    contribudo para um acrscimo no volume de RSU gerados pela sociedade. Tal

    situao apresenta um novo desafio aquelas cidades; no apenas o de remover o

    lixo de logradouros e edificaes atravs da limpeza pblica, mas, alm disso,

    promover a destinao final adequada aos resduos coletados, atravs da

    implementao de processos como a reciclagem, reutilizao, incinerao e a

    disposio dos RSU em aterros sanitrios ou aterros controlados, cujas definies e

    caractersticas sero apontadas mais a diante.

    Neste contexto, as grandes cidades brasileiras, tais como So Paulo, Belo

    Horizonte, Rio de Janeiro, Belm, dentre outras, buscam alternativas para tentar

    equacionar a problemtica dos RSU, que envolve uma diversidade de aspectos

    ambientais, econmicos e sociais. De acordo com os dados da Associao Brasileira

    de Empresas de Limpeza Pblica - ABRELPE (2014), no ano de 2014 o Brasil

    produziu cerca de 78,6 milhes de toneladas de RSU. Em comparao com o ano

    de 2013, a produo de resduos slidos aumentou cerca de 2,9%, representando

    um ndice superior a taxa de crescimento populacional do pas no perodo, que

    corresponde a 0,9%. Estes dados demonstram claramente o crescimento da

    produo de resduos slidos no pas e reforam a necessidade de adoo de

    medidas adequadas de gerenciamento e destinao final por parte dos gestores de

    cada municpio brasileiro.

    Desta forma, importante salientar a necessidade de preservao dos

    recursos naturais, de modo a minimizar os impactos negativos provocados pela

    destinao inadequada dos resduos. Para isso, torna-se fundamental a implantao

    de processos de gerenciamento adequado dos resduos slidos, sobretudo, atravs

    1 Resduos Slidos Urbanos - (Vide Poltica Nacional de Resduos Slidos, Lei n12.305/2010) consiste em resduos slidos originrios de atividades domsticas em residncias urbanas (resduos domiciliares) e os originrios de varrio, limpeza de logradouros e vias pblicas e outros servios de limpeza urbana (resduos de limpeza urbana).

  • 24

    da aplicao de tcnicas adequadas e a proposio de alternativas tecnolgicas

    viveis para a proteo do meio ambiente.

    De acordo com a Companhia Ambiental do Estado de So Paulo - CETESB

    (1981), o processo de deteriorizao do meio ambiente resultante do processo de

    gerenciamento inadequado dos resduos slidos, aliada necessidade de proteo

    de reas de mananciais de abastecimento, impem a adoo de formas adequadas

    de disposio desses resduos no solo. Para tanto, torna-se necessrio a

    proposio de formas e reas adequadas de disposio de resduos.

    Assim, a presente dissertao pretende investigar a existncia de alternativas

    locacionais para a implantao de aterro sanitrio, utilizando a anlise de

    multicritrios, tendo como objeto de pesquisa o municpio de Santana, Estado do

    Amap.

    Considerando que na literatura atual os termos avaliao e anlise

    multicritrio apresentam o mesmo significado semntico, para melhor compreenso

    dos termos, esta pesquisa adotar o termo anlise multicritrio para conceituar a

    metodologia aplicada, conforme denominaes adotadas por Eastman (1998), Melo

    (2001), Calijuri, Melo e Lorentz, (2002) e Nascimento, (2012).

    A opo de se analisar as alternativas locacionais para implantao de aterro

    sanitrio, no municpio de Santana, decorre dos seguintes fatores:

    O municpio de Santana no dispe de alternativa locacional para

    disposio final ambientalmente adequada dos RSU. Atualmente, os

    RSU gerados no municpio so coletados pelo poder pblico municipal

    e destinados ao Aterro Controlado de Macap, municpio vizinho

    localizado a 17 km de distncia. Isto tornou-se vivel atravs da

    assinatura de um Termo de Compromisso para uso consorciado do

    aterro controlado de Macap firmado entre os dois municpios.

    Apesar da existncia do Plano Diretor Participativo do Municpio de

    Santana - PDPMS, e este ser o instrumento bsico da poltica de

    desenvolvimento urbano do municpio desde o ano de 2006, no h

  • 25

    previso no referido plano, de nenhuma indicao de alternativa para

    implantao de Aterro Sanitrio.

    A exigncia estabelecida pela Poltica Nacional de Resduos Slidos -

    PNRS, Lei n 12.305, de 02 de agosto de 2010, no que se refere

    elaborao dos Planos Municipais de Gesto Integrada de Resduos

    Slidos - PMGIRS que estabeleceu o prazo final at agosto de 2014,

    para a extino dos lixes a cu aberto, e a implantao de aterro

    sanitrio como forma de disposio ambientalmente adequada dos

    resduos slidos.

    A importncia da definio de reas adequadas para a implantao de

    aterro sanitrio no municpio de Santana, como soluo para

    problemas decorrentes da disposio inadequada dos resduos

    slidos, adequando-se a PNRS representa um avano para a

    qualidade de vida considerando a eliminao do passivo ambiental

    existente, bem como, problemas socioambientais, sanitrios e de

    sade pblica.

    Adicionalmente, deseja-se oferecer contribuies ao desenvolvimento

    regional decorrentes da identificao de reas para implantao de aterro sanitrio,

    como novas proposies de uso do territrio e o fomento das potencialidades

    econmicas da regio, alm da preservao dos recursos naturais.

    Para nortear a construo das ideias nesta pesquisa adotou-se as seguintes

    questes orientadoras: Porque o municpio de Santana ainda no dispe de um

    aterro sanitrio para a disposio final adequada dos RSU? Qual a contribuio da

    implantao de um aterro sanitrio no municpio de Santana para o planejamento

    estratgico do espao urbano e o desenvolvimento regional do estado do Amap?

    Considerando que a identificao de alternativas para a instalao de aterro

    sanitrio torna-se uma importante contribuio para a soluo de problemas

    relacionados a destinao final dos RSU no municpio de Santana-AP, esta pesquisa

    apresenta o tema: Alocao de reas(s) Destinada(s) Aterro Sanitrio utilizando a

    Anlise Multicritrio no Municpio de Santana, Estado do Amap.

  • 26

    Por sua vez, esta pesquisa foi motivada pela possibilidade de investigar

    alternativas para reduzir os problemas relacionados a destinao final inadequada

    dos resduos slidos urbanos no municpio de Santana, tendo como ponto inicial a

    seguinte questo: A disposio inadequada dos RSU ocorre em funo da

    inexistncia de rea adequada para a destinao final no municpio de Santana?

    Para orientao desta pesquisa admite-se como hiptese a seguinte

    proposio: Apesar da existncia do Plano Diretor do Municpio de Santana, no h

    neste, nenhuma indicao de alternativa para alocao de Aterro Sanitrio no

    municpio. Uma alternativa para a seleo de reas adequadas para a disposio

    dos RSU seria atravs da aplicao da Anlise Multicritrio. Desta forma pretende-

    se responder ao problema proposto atravs da identificao de reas potenciais

    para a implantao de aterro sanitrio no municpio de Santana utilizando-se o

    mtodo de Anlise Multicritrio.

    Quanto aos objetivos propostos, esta pesquisa tem como objetivo geral:

    Utilizar a Anlise Multicritrio (AMC) para definio de alternativas locacionais para

    implantao de aterro sanitrio no municpio de Santana, Estado do Amap, para a

    destinao adequada dos resduos slidos urbanos gerados pela populao daquele

    municpio.

    No que se refere aos objetivos especficos, esta pesquisa objetiva alcanar os

    seguintes resultados: I). Apresentar as caractersticas atuais da disposio final de

    resduos slidos no municpio de Santana; II). Definir rea(s) adequada(s) para

    implantao de aterro sanitrio no municpio de Santana utilizando a AMC.

    1.1 JUSTIFICATIVA

    Considerando, a formalizao do compromisso firmado pelo governo

    brasileiro durante a Conferncia das Naes Unidas sobre Meio Ambiente e

    Desenvolvimento2, denominada ECO-92, atravs da criao da Agenda 21, onde

    estabelece, dentre os seus objetivos, que, at o ano de 2025, o depsito de todos os

    2 Conferncia das Naes Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em 1992, onde foram discutidos temas globais relacionados aos perigos que ameaam a vida no planeta.

  • 27

    resduos slidos deve ser realizado em conformidade com as diretrizes nacionais ou

    internacionais de qualidade ambiental.

    Adiciona-se a este, o estabelecimento da Gesto Integrada dos Resduos

    Slidos Urbanos - GIRSU, com destaque para o desenvolvimento de critrios para

    seleo de reas para disposio de resduos, como uma das estratgias e aes

    propostas para Gesto dos Recursos Naturais pela Agenda 213 Brasileira.

    Considera-se ainda, a criao da Poltica Nacional de Resduos Slidos -

    PNRS, Lei n 12.305 de 02 de agosto de 2010, que dispe sobre os princpios,

    objetivos e instrumentos, bem como sobre as diretrizes relativas gesto integrada

    e o gerenciamento de resduos slidos, incluindo os perigosos, tais como produtos

    qumicos, pilhas e baterias, s responsabilidades dos geradores e do poder pblico

    e aos instrumentos econmicos aplicveis.

    Reforando o que preceitua a aplicao das diretrizes estabelecidas na

    PNRS, no que se refere elaborao dos Planos Municipais de Gesto Integrada de

    Resduos Slidos - PMGIRS que estabeleceu o prazo final at agosto de 2014, para

    a extino dos lixes a cu aberto, e a implantao de aterro sanitrio como forma

    de disposio ambientalmente adequada dos resduos slidos.

    Para normatizar as aes de gerenciamento adequado dos RSU, no ano de

    2010, foi instituda a Poltica Nacional de Resduos Slidos PNRS, Lei n 12.305

    de 02 de Agosto de 2010. Esta normativa previa que todos os municpios brasileiros,

    com mais de 20.000 habitantes, deveriam se adequar quanto a destinao final dos

    RSU em locais apropriados designados como Aterro Sanitrio4. O prazo inicial para

    implementao da PNRS foi at agosto de 2014. Contudo, na prtica isto no se

    aplicou para 59,86% dos municpios, ou seja, dos 5570 municpios brasileiros

    3 Agenda 21 pode ser definida como um instrumento de planejamento para a construo de cidades sustentveis. Atravs de sua construo foram estabelecidos um conjunto de aes de combate a degradao dos recursos naturais e metas de desenvolvimento para as prximas dcadas.

    4 Aterro Sanitrio Consiste em mtodo para disposio final dos resduos slidos sobre terreno natural, atravs de seu confinamento em camadas cobertas com material inerte, segundo normas operacionais especficas, de modo a evitar danos ao meio ambiente, a sade e segurana pblica (Monteiro, 2001).

  • 28

    apenas 2236 municpios realizam a destinao final dos RSU em aterro sanitrio,

    sendo estabelecida uma nova data para adequao PNRS, desta vez at outubro

    de 2019.

    Na Regio Norte, este percentual maior, visto que 79,34% dos municpios

    da regio no possuem aterro sanitrio, sendo que no universo de 450 municpios

    apenas 20,66% ou 93 municpios realizam a destinao final dos RSU em aterro

    sanitrio. No Estado do Amap, 93,75% dos municpios no possuem aterro

    sanitrio, uma vez que dos 16 municpios amapaenses, apenas o municpio de

    Macap, capital do Estado, possui um aterro sanitrio para a disposio dos RSU.

    Estes dados demonstram que apenas 6,25% dos municpios amapaenses dispem

    de aterro sanitrio para a disposio final adequada dos RSU.

    Os municpios que no possuem aterro sanitrio realizam a destinao final

    de seus RSU em aterros controlados ou lixes cu aberto. De acordo com

    ABRELPE (2014), 31,87% ou 1775 municpios brasileiros adotam o aterro controlado

    como forma de destinao final dos RSU e 27,99% ou 1559 municpios ainda

    utilizam o lixo para destinao final dos RSU. Estes municpios alegam, entre as

    dificuldades para no implementao das disposies da PNRS, que no possuem

    equipe tcnica qualificada para a realizao de estudos tcnicos necessrios para a

    construo de aterro sanitrio, bem como no conseguem executar aes de

    remediao dos lixes, em funo da falta de recursos financeiros e acesso a linhas

    de financiamento do governo federal. Em geral, este fato ocorre em funo da

    situao de inadimplncia dos municpios na prestao de contas com o governo

    federal.

    O municpio de Santana-AP enfrenta os mesmos problemas de

    gerenciamento e destinao final identificados no contexto nacional, tais como: a

    ausncia de alternativas locacionais para a destinao adequada dos resduos

    slidos, bem como dificuldades em promover a substituio dos lixes cu aberto

    pela construo de aterros sanitrios, problemas no servio de coleta domiciliar,

    transporte e destinao, dentre outros, apesar de apresentar particularidades, a

    exemplo do Plano Diretor Participativo Municipal PDPMS, no mbito poltico-

    administrativo, normativo e locacional que sero objeto de discusso.

  • 29

    Vale destacar que, apesar da existncia do Plano Diretor Participativo do

    Municpio de Santana - PDPMS, e este ser, o instrumento bsico da poltica de

    desenvolvimento urbano do municpio, no h previso, no referido plano, de

    nenhuma indicao de alternativa para implantao de Aterro Sanitrio.

    Ressalta-se que o Plano Municipal de Saneamento Bsico de Santana

    encontra-se em fase de elaborao, com prazo de concluso previsto para o final do

    ano de 2016. Este instrumento estabelecer as diretrizes necessrias para o

    gerenciamento adequado dos resduos slidos urbanos, incluindo as etapas de

    gerao, acondicionamento, transporte e destinao final.

    Seguindo as premissas da PNRS, esta pesquisa, busca alternativas

    locacionais para implantao de Aterro Sanitrio, o que constituir um importante

    instrumento de planejamento estratgico. Trata-se de instrumento utilizado para

    minimizar os impactos ambientais decorrentes da disposio inadequada de

    resduos slidos urbanos, sobretudo, pela reduo da disponibilidade de reas

    existentes nos grandes centros urbanos, devido aos crescentes processos de

    urbanizao.

    Destaca-se a contribuio desta pesquisa para o Desenvolvimento Regional,

    tendo em vista, que a implantao de um aterro sanitrio pode potencializar a

    instalao de outras atividades econmicas relacionadas ao processo de

    gerenciamento de resduos slidos, tais como: reciclagem, compostagem,

    incinerao, servios de coleta, transporte e triagem de resduos. Alm disso, deve-

    se considerar a minimizao dos impactos socioeconmicos, atravs da gerao de

    empregos e aumento da renda dos colaboradores, decorrentes da criao das

    cooperativas de catadores de resduos.

  • 30

    2 REFERENCIAL TERICO

    Neste item sero apresentados conceitos considerados fundamentais para o

    desenvolvimento deste trabalho, tais como: lixo; resduos slidos; classificao dos

    resduos slidos; formas de disposio dos resduos slidos; lixo; aterro controlado;

    aterro sanitrio; Anlise Hierrquica de Processos AHP; Anlise Multicritrio

    AMC; critrios restritivos e favorveis; adicionados aos aspectos jurdicos e

    institucionais utilizados para a construo de um aterro sanitrio. Ademais, sero

    caracterizados os aspectos fisiogrficos do ambiente (geologia, geomorfologia,

    hidrografia, pedologia, relevo, declividade, clima, cobertura vegetal, reas de

    proteo ambiental); aspectos populacionais; econmicos; sociais; expanso

    urbana; entre outros, (com nfase na gerao e destinao de resduos slidos

    urbanos).

    2.1 LIXO OU RESDUOS SLIDOS?

    A definio de resduos slidos, por muitas vezes, confundida com a

    conceituao dada a lixo. Durante muito tempo, o termo lixo foi utilizado de forma

    generalista para representar tudo que no poderia ser mais utilizado, sem serventia

    ou utilidade. Segundo Sisinno e Oliveira (2000) o termo lixo provem da palavra Lix

    originria do Latim, utilizada no perodo da idade Mdia, cujo significado representa

    a denominao de cinza. Este conceito sempre foi associado a todo material residual

    que no possui valor econmico.

    A partir da Revoluo Industrial5, em 1729, o termo lixo tambm foi utilizado

    para designar os resduos provenientes da produo industrial, e, mais

    recentemente, durante a revoluo tecnolgica, a partir da reduo do ciclo de vida

    dos produtos, com o consequente aumento da diversidade de resduos gerados

    provenientes de diferentes processos produtivos.

    5 A Revoluo Industrial foi o processo histrico que culminou com a substituio das ferramentas pelas mquinas, da energia humana pela energia motriz. Pode ser caracterizada por 3 fases: a primeira revoluo iniciada no sculo XVIII (1729) at meados do sculo XIX. A segunda revoluo inicia-se a partir do final do sculo XIX at meados do sculo XX. A terceira revoluo industrial, chamada de cientfica e tecnolgica, ocorre no incio da dcada de 1950 at os dias atuais.

  • 31

    SANEBAVI (2012) apresenta uma definio usual para o termo lixo, como

    sendo todo material slido descartvel, tais como: coisas inteis, imprestveis,

    velhas e sem valor. Neste trabalho SANEBAVI (op.cit) apresenta uma nova

    proposio, o termo lixo passou a ser substitudo pela expresso resduo slido, em

    funo de uma nova concepo de uso que fomenta a transformao de materiais,

    que antes eram descartados sem valor algum, em insumos para a construo de um

    novo produto ou processo passando este a ter valor agregado.

    De acordo com Rocha (1993), o termo resduo provem da palavra residuu,

    originria do Latim, cujo significado representa tudo aquilo que pode ser

    caracterizado como resto de qualquer substncia. Esta terminologia sempre foi

    utilizada pelos sanitaristas como significado de efluentes domsticos, porm, a partir

    de meados da dcada de 1960, a designao resduos slidos foi adotada

    tecnicamente como forma de diferenciar os resduos slidos dos efluentes lquidos

    provenientes das redes de esgoto domstico, bem como, das emisses gasosas.

    No mbito jurdico-institucional, a partir da criao da Poltica Nacional do

    Meio Ambiente - PNMA, Lei N 6.938 de 31 de agosto de 1981, em seu art.10, inciso

    III, a terminologia resduos slidos utilizada para conceituar os resduos

    provenientes de atividades potencialmente poluidoras ao meio ambiente.

    A Resoluo N 01, de 23 de janeiro de 1986 do Conselho Nacional do Meio

    Ambiente CONAMA, que dispe dos critrios bsicos e diretrizes gerais para a

    avaliao de impacto ambiental, em seu art. 2, inciso X, adota a termo resduos

    txicos e perigosos para conceituao aplicada.

    Cabe ressaltar que no Brasil, at o ano de 1986, no existia nenhuma

    conceituao oficial acerca da terminologia resduos slidos, este conceito foi

    estabelecido tecnicamente a partir de criao, no ano de 1987, da Normativa

    Tcnica N 10.004 da Associao Brasileira de Normas Tcnicas - ABNT,

    denominada ABNT NBR 10.004/19876. Esta norma apresenta a classificao dos

    resduos slidos quanto aos seus riscos potenciais ao meio ambiente e sade

    pblica. Segundo esta normativa, os resduos slidos so conceituados como:

    6 A Normativa Tcnica ABNT NBR 10.004/1987 encontra-se revogada pela ABNT NBR 10.004/2004

  • 32

    Resduos nos estados slido e semi-slido, que resultam das atividades da comunidade de origem: industrial, domstica, hospitalar, comercial, agrcola, de servios e de varrio. Ficam includos nesta definio os lodos provenientes de sistemas de tratamento gua, aqueles gerados em equipamentos e instalaes de controle de poluio, bem como determinados lquidos cujas particularidades tornem invivel o seu lanamento na rede pblica de esgotos ou corpos de gua, ou exijam para isso solues tcnicas e economicamente inviveis em face melhor tecnologia disponvel. (ABNT,1987, p.1).

    A partir desta considerao adota-se oficialmente a terminologia resduos

    slidos como forma de conceituar resduos provenientes de atividades urbanas,

    comerciais, industriais, entre outras. Entretanto, apesar do conceito estabelecido

    pela normativa oficial, usualmente identifica-se a utilizao do termo lixo aplicado de

    forma semelhante a resduos. Autores como Monteiro (2001) e SANEBAVI (2012)

    consideram que os termos lixo e resduos slidos possuem significados

    equivalentes.

    Esta equivalncia vlida, porm, adota-se a utilizao do termo lixo de

    forma usual e a terminologia resduo slido durante uma abordagem tcnica mais

    apropriada para a pesquisa.

    Segundo Monteiro (2001), resduo slido ou simplesmente lixo, todo o

    material slido ou semi-slido indesejvel e que necessita ser removido por ter sido

    considerado intil por quem o descarta, ou qualquer recipiente destinado a esse ato.

    De acordo com a Associao Brasileira de Normas Tcnicas ABNT NBR

    10.004/2004 (ABNT, 2004), lixo definido como os restos das atividades humanas,

    considerados pelos geradores como inteis, indesejveis ou descartveis, podendo

    se apresentar no estado slido, semi-slido ou lquido, desde que no seja passvel

    de tratamento convencional. A mesma normativa apresenta a definio de resduos

    slidos, sendo:

    Resduos no estado slido e semi-slido, que resultam das atividades de origem industrial, domstica, hospitalar, comercial, agrcola, de servios e de varrio. Ficam includos nesta definio os lodos provenientes de sistemas de tratamento de gua, aqueles gerados em equipamentos e instalaes de controle de poluio, bem como determinados lquidos cujas particularidades tornem invivel o seu lanamento na rede pblica de esgotos ou corpos de gua, ou exijam para isso solues tcnicas e economicamente inviveis em face melhor tecnologia disponvel. (ABNT, 2004, p.1).

  • 33

    Destaca-se que o conceito adotado pela ABNT NBR 10.004/2004, substitui o

    conceito apresentado pela ABNT NBR 10.004/1987, face a sua revogao. Desta

    forma, para as demais normativas existentes, especialmente as resolues do

    Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA, a terminologia adotada para

    resduos slidos a mesma adotada pela ABNT 10.004/2004.

    Durante um novo processo de atualizao, a Poltica Nacional de Resduos

    Slidos - PNRS, Lei n 12.305, de 02 de Agosto de 2010, em seu Art. 3, inciso XVI,

    d nova designao denominao lixo, passando a designar resduos slidos,

    todo:

    material, substncia, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja [cuja, grifo meu] destinao final se procede, se prope proceder ou se est obrigado a proceder, nos estados slidos ou semisslido, bem como gases contidos em recipientes lquidos cujas particularidades tornem invivel o seu lanamento na rede pblica de esgotos ou em corpos dgua, ou exijam para isso solues tcnicas ou economicamente inviveis em face da melhor tecnologia disponvel (BRASIL, 2010, p. 1).

    Diante dos conceitos apresentados sobre as terminologias lixo e resduos

    slidos infere-se que, apesar dos conceitos estabelecidos pela normativa tcnica

    oficial, as mesmas so utilizadas de forma equivalente, entretanto, cabe salientar

    que, na prtica, os resduos slidos so conceituados de acordo com a PNRS e

    classificados segundo a ABNT NBR 10.004/2004.

    Desta forma, destaca-se que no presente trabalho de pesquisa ser adotado

    o termo resduo slido seguindo o conceito atualizado estabelecido pela PNRS.

    2.2 CLASSIFICAO DOS RESDUOS SLIDOS NO BRASIL

    Para o melhor entendimento e compreenso das diversas formas de

    classificao de resduos slidos adotadas no Brasil apresenta-se as descries

    utilizadas por Monteiro (2001), ABNT NBR 10004/2004, IPT (2010), e, atualmente,

    pela PNRS.

    De acordo com Monteiro (2001), os resduos slidos so classificados

    segundo dois aspectos: quanto aos riscos potenciais de contaminao ao meio

    ambiente e quanto a sua natureza ou origem. Assim sendo:

  • 34

    I - Quanto aos riscos potenciais de contaminao ao meio ambiente, os

    resduos slidos encontram-se subdivididos em 3 classes: Classe I ou

    perigosos; Classe II ou no-inertes e Classe III ou inertes.

    Os resduos slidos Classe I ou perigosos so aqueles que em funo de

    suas caractersticas intrnsecas de inflamabilidade, corrosividade, reatividade,

    toxicidade ou patogenicidade, apresentam riscos sade pblica atravs do

    aumento da mortalidade ou da mobilidade, ou ainda provocam efeitos adversos ao

    meio ambiente quando manuseados ou dispostos de forma inadequada. Exemplos:

    combustveis produzidos a partir de derivados de petrleo (gasolina, diesel, leos

    lubrificantes), produtos qumicos, pesticidas, pneumticos, baterias, efluentes

    industriais, dentre outros.

    Os resduos Classe II ou no-inertes so aqueles que podem apresentar

    caractersticas de combustibilidade, biodegradabilidade ou solubilidade, com

    possibilidades de acarretar riscos sade ou ao meio ambiente, no se

    enquadrando nas classificaes de resduos Classe I ou III. Exemplos: materiais

    orgnicos, papel, lodo de sistemas de tratamento de gua, dentre outros.

    Os resduos Classe III ou inertes so aqueles que no oferecem riscos

    sade e ao meio ambiente, e que, quando amostrados de forma representativa,

    segundos as normas ABNT NBR 10007/1987 e 10006/1087, no apresentem

    nenhum de seus constituintes solubilizados a concentraes superiores aos padres

    de potabilidade da gua. Exemplos: sucatas metlicas, pallets7 de madeiras,

    resduos de poda de rvores e varrio.

    Cabe salientar que, conforme apresentado anteriormente (vide item 2.1, p.33),

    a Normativa Tcnica ABNT NBR 10004/1987 foi revogada e substituda pela ABNT

    NBR 10004/2004. Esta nova classificao ser apresentada no decorrer desta

    discusso.

    7 Pallets estrado de madeira, que tambm pode ser confeccionado em metal ou plstico e que tem a finalidade de servir na movimentao de cargas como elemento de otimizao logstica (ABNT 9193/2011).

  • 35

    II Quanto a sua natureza ou origem.

    Outro aspecto apresentado por Monteiro (2001) classifica os resduos quanto

    a sua natureza ou origem. Para esta classificao adota-se a similaridade dos

    termos lixo e resduos, segundo este critrio, os resduos podem ser agrupados em

    cinco classes, tais como: Classe 1 Lixo domstico ou residencial, Classe 2 Lixo

    comercial, Classe 3 Lixo pblico, Classe 4 Lixo domiciliar especial e Classe 5

    Lixo de fontes especiais.

    Define-se como Lixo domstico ou residencial os resduos gerados nas

    atividades intrnsecas s casas, apartamentos, condomnios e demais edificaes

    residenciais.

    Lixo comercial so todos os resduos gerados em estabelecimentos

    comerciais, cujas caractersticas dependem das atividades desenvolvidas. Por

    exemplo: caixas de papelo, plsticos e embalagens.

    Lixo pblico so todos os resduos presentes em logradouros pblicos, em

    geral, resultantes da natureza, tais como folhas, galhadas, poeiras, terras e areias, e

    tambm aqueles descartados de forma irregular e indevidamente pela populao,

    como entulho, bens inservveis, papis, restos de embalagens e alimentos.

    O Lixo domiciliar especial compreende os entulhos, restos de obras civis,

    pilhas e baterias, lmpadas fluorescentes e pneus.

    Finalmente, Lixo de fontes especiais so todos os resduos que, em funo de

    suas caractersticas peculiares, passam a merecer cuidados especiais em seu

    manuseio, acondicionamento, estocagem, transporte ou disposio final. Neste caso

    destacam-se lixos provenientes das atividades industriais, radioativas, porturias,

    aeroporturias, terminais rodovirios, ferrovirios, atividades agrcolas e resduos de

    servios de sade.

    A partir do ano de 2004, uma nova forma de classificao foi apresentada

    atravs da ABNT NBR 10004/2004. Esta normativa estabelece uma atualizao dos

    conceitos apresentados pela ABNT NBR 10004/1987, aplicada anteriormente,

    alterando a classificao dos resduos slidos.

  • 36

    Ainda segundo esta normativa, os resduos slidos so classificados de

    acordo com a sua periculosidade e as caractersticas de assimilao com outras

    substncias. Assim, de acordo com a ABNT NBR 10004/2004 os resduos slidos

    passaram a ser classificados: Quanto aos riscos potenciais ao meio ambiente,

    subdividindo-se em resduos Classe I perigosos e resduos Classe II no

    perigosos.

    Os resduos Classe I Perigosos so aqueles que apresentam

    periculosidade, em funo de suas propriedades fsicas, qumicas ou infecto-

    contagiosas, alm de caractersticas intrnsecas de inflamabilidade, corrosividade,

    reatividade, toxidade ou patogenicidade que podem apresentar riscos sade

    pblica e ao meio ambiente. Os resduos provenientes da indstria qumica,

    petrolfera, siderrgica, pesticidas, resduos hospitalares, e outros, constituem

    exemplos de resduos slidos pertencentes a esta classe.

    Os resduos Classe II so aqueles que no apresentam as caractersticas de

    periculosidade identificadas nos resduos Classe I, e, portanto, no apresentam

    riscos sade e ao meio ambiente. Estes resduos so classificados segundo uma

    nova tipologia apresentada, a saber: Classe II A No Inerte, e, Classe II B - Inerte.

    Os resduos Classe II A No Inerte so aqueles que no so enquadrados

    nas classificaes de resduos Classe I ou Classe II B e apresentam caractersticas

    de combustibilidade, biodegradabilidade ou solubilidade, com possibilidade de

    acarretar riscos sade e ao meio ambiente. Os materiais orgnicos, restos de

    alimentos, papel, papelo, constituem exemplos deste tipo de resduos slidos.

    Os resduos Classe II B Inerte so quaisquer resduos que, quando

    amostrados de uma forma representativa, conforme ABNT NBR 10007/2004, e

    submetidos a um contato dinmico ou esttico com gua destilada ou deionizada,

    temperatura ambiente, conforme ABNT NBR 10006/2004, no tiverem nenhum de

    seus constituintes solubilizados a concentraes superiores aos padres de

    potabilidade da gua, conforme Portaria do Ministrio da Sade N 2914, de 12 de

    dezembro de 2011, excetuando-se os padres de aspectos cor, turbidez e sabor.

    So exemplos desta classe a sucata metlica, os resduos de borracha, madeira,

    dentre outros.

  • 37

    Outra forma de classificao dos resduos slidos apresentada pelo Instituto

    de Pesquisa Tecnolgica IPT (2010). Segundo este Instituto os resduos slidos

    podem ser classificados: Quanto sua natureza; Quanto composio qumica;

    Quanto aos riscos potenciais ao meio ambiente; Quanto origem.

    I Quanto sua natureza fsica os resduos slidos so classificados em:

    resduos secos e resduos midos.

    Os resduos secos so aqueles que apresentam baixo teor de umidade,

    considerando que o teor de umidade a quantidade de gua presente no material,

    medida em percentual do seu peso. Segundo Monteiro (2001), este teor pode variar

    em torno de 40% a 60%, conforme o ndice pluviomtrico e a sazonalidade do

    perodo na regio. Os resduos secos so compostos por materiais potencialmente

    reciclveis. Constituem exemplos deste tipo de resduos: papel, plstico, metal,

    vidro, garrafas PET (Politereftalato de etileno).

    Os resduos midos so aqueles que apresentam teor de umidade

    representativo, compostos por resduos orgnicos e rejeitos. As sobras de alimentos,

    podas de rvores, resduos de banheiros, so exemplos disto.

    II Quanto composio qumica os resduos slidos classificam-se em:

    resduos orgnicos e em resduos inorgnicos.

    Os resduos orgnicos so aqueles que apresentam, em sua composio,

    predominncia de matria orgnica, quando submetidos a anlise da composio

    qumica, esta consiste na determinao dos teores de cinzas, matria orgnica,

    carbono (C), nitrognio (N), potssio (K), clcio (Ca), fsforo (P), resduo mineral

    total, resduo mineral solvel e gorduras. Os restos de alimentos, frutas, verduras,

    poda de rvores, so exemplos destes tipos de resduos slidos.

    Os resduos inorgnicos so aqueles que no apresentam em sua

    composio predominncia de matria orgnica, quando submetidos a anlise da

    composio qumica. Para SANEBAVI (2012), inclui-se nesta classificao todo

    material que no possuem origem biolgica. Exemplos: plsticos, metais, sucatas,

    vidros, resina, etc.

  • 38

    III Quanto aos riscos potenciais ao meio ambiente os resduos slidos

    classificam-se em: resduos Classe I perigosos e resduos Classe II no

    perigosos.

    Os critrios adotados para classificao dos resduos seguem as mesmas

    prerrogativas estabelecidas pela Normativa Tcnica ABNT NBR 10004/2004. Neste

    contexto inclui-se os conceitos, terminologias, definies e classificaes

    preconizadas por esta normativa. Esta classificao j foi apresentada em item

    anterior (vide p.36).

    IV Quanto origem os resduos slidos classificam-se: resduos

    domiciliares; resduos comerciais; resduos pblicos; resduos de servios de sade;

    resduos de fontes especiais.

    Os resduos domiciliares so aqueles gerados em decorrncia das

    aes/atividades realizadas diariamente nas residncias. Normalmente esto

    associadas execuo de tarefas comuns ao cotidiano das famlias. Segundo

    SANEBAVI (2012), apresentam composio orgnica de 50 % a 60%, constitudos,

    predominantemente, por restos de alimentos e embalagens em geral, alm de uma

    variedade de outros itens. As cascas de frutas, verduras, jornais, papel higinico,

    garrafas, latas, vidros, dentre outros, constituem bons exemplos destes resduos

    slidos.

    Os resduos comerciais so aqueles gerados por atividades de

    estabelecimentos comerciais e de servios, tais como supermercados, restaurantes,

    lojas, hotis. As garrafas, copos, sacolas, toalhas, plsticos, representam estes tipos

    de resduos slidos.

    Os resduos pblicos so aqueles originados dos servios de limpeza pblica

    urbana, tais como: limpeza de logradouros, praias, crregos, terrenos, poda de

    rvores, varrio. SANEBAVI (op. cit), destaca que, para este item, tambm podem

    ser considerados os resduos descartados de forma irregular pela populao, tais

    como: entulhos, papis, mveis usados e alimentos.

    Os resduos de servios de sade so aqueles proveniente das atividades de

    estabelecimento prestadores de servios de sade, tais como: hospitais, clinicas

  • 39

    mdicas, veterinrias, unidades de sade, laboratrios, so constitudos por

    resduos spticos com potencial representativo de contaminao por patognicos.

    As luvas descartveis, seringas, bolsas sanguneas, medicamentos, representam

    estes resduos slidos.

    Os resduos de fontes especiais so aqueles gerados por processos

    decorrentes de atividades industriais, portos, aeroportos, ferrovias e terminais

    rodovirios, alm de resduos da produo agrcola e radioativa. Os resduos das

    indstrias qumicas, metalrgica, petroqumica, efluentes qumicos industriais,

    cidos, borras, escrias, pesticidas, combustveis, entre outros constituem exemplos

    destes resduos slidos.

    Cabe salientar que, os resduos de servios de sade - RSS e os resduos da

    construo civil RCC, face as suas especificidades inerentes identificadas em

    funo de suas caractersticas de patogenicidade e periculosidade, so classificados

    especificamente, e de forma complementar a ABNT NBR 10004/2004, conforme

    preconiza as Resolues RDC (Resoluo da Diretoria Colegiada) n 306, de 07 de

    Dezembro de 2004, da Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria ANVISA, que

    dispe sobre o regulamento tcnico para o gerenciamento de resduos de servios

    de sade, e Resoluo CONAMA n 358, de 29 de Abril de 2005, que dispe sobre o

    tratamento e a disposio final dos resduos dos servios de sade, alm da

    Resoluo CONAMA n 307, de 05 de Julho de 2002, que estabelece diretrizes,

    critrios e procedimento para a gesto dos resduos da construo civil.

    Assim, de acordo com as Resolues RDC n 306/2004 da ANVISA e

    CONAMA n 358/2005, os RSS so classificados em 05 grupos especficos, a saber,

    Grupos A, B, C, D e E.

    I - Grupo A resduos com a possvel presena de agentes biolgicos8 que,

    por suas caractersticas de virulncia ou concentrao, podem apresentar riscos de

    infeco. Face a sua diversidade, os resduos pertencentes ao Grupo A classificam-

    se em 05 subgrupos especficos: A1, A2, A3, A4 e A5.

    8 Agentes Biolgicos Bactrias, fungos, vrus, clamdias, riqutsias, micoplasmas, prons, parasitas, linhagens celulares, outros organismos e toxinas (RDC n 306/2004).

  • 40

    a) A1 - resduos caracterizados como: culturas e estoques de

    microrganismos, resduos de fabricao de produtos biolgicos; exceto

    os hemoderivados; descarte de vacinas com microrganismos vivos ou

    atenuados; resduos resultantes da ateno sade de indivduos ou

    animais, com certeza ou suspeita de contaminao biolgica por

    agentes classe de risco 49, microrganismos com relevncia

    epidemiolgica e risco de disseminao ou causador de doena

    emergente, cujo mecanismo de transmisso seja desconhecido;

    resduos de laboratrio de manipulao gentica; sobras de amostras

    de laboratrio contendo sangue ou lquidos corpreos; bolsas

    transfusionais contendo sangue ou hemocomponentes, rejeitadas por

    contaminao ou por m conservao, com prazo de validade vencido.

    b) A2 - carcaas, peas anatmicas, vsceras e outros resduos

    provenientes de animais submetidos a processos de experimentao

    com inoculao de microrganismos, bem como suas forraes, e os

    cadveres de animais suspeitos de serem portadores de

    microrganismos de relevncia epidemiolgica e com risco de

    disseminao.

    c) A3 - peas anatmicas (membros) do ser humano; produto de

    fecundao sem sinais vitais, com peso menor que 500 gramas ou

    estatura menor que 25 centmetros ou idade gestacional menor que 20

    semanas, que no tenham valor cientfico ou legal e no tenha havido

    requisio pelo paciente ou familiares.

    d) A4 kits de linhas arteriais, endovenosas e dialisadores, quando

    descartados; filtros de ar e gases aspirados de rea contaminada;

    sobras de amostras de laboratrio e seus recipientes contendo fezes,

    urinas e secrees, provenientes de pacientes que no contenham e

    nem sejam suspeitos de agentes classe de risco 4, e nem apresentem

    relevncia epidemiolgica e risco de disseminao; resduo de tecido

    9 Agente de Classe de Risco 4 (elevado risco individual e elevado risco para a comunidade): patgeno que representa grande ameaa para o ser humano e para os animais, representando grande risco a quem o manipula e tendo grande poder de transmissibilidade de um indivduo a outro, no existindo medidas preventivas e de tratamento para esses agentes (CONAMA n 358/2005).

  • 41

    adiposo proveniente de lipoaspirao, lipoescultura ou outro

    procedimento de cirurgia plstica que gere este tipo de resduos;

    recipientes e materiais resultantes do processo de assistncia sade,

    que no contenham sangue ou lquidos corpreos na forma livre;

    bolsas transfuncionais vazias ou com volume residual ps-transfuso;

    peas anatmicas (rgos e tecidos) e outros resduos provenientes de

    procedimentos cirrgicos.

    e) A5 rgos, tecidos, fludos orgnicos, materiais perfurocortantes ou

    escarificantes e demais materiais resultantes da ateno sade de

    indivduos ou animais, com suspeita ou certeza de contaminao com

    prions10.

    II - Grupo B resduos contendo substncias qumicas que podem apresentar

    risco sade pblica ou ao meio ambiente, dependendo de suas caractersticas de

    inflamabilidade, corrosividade, reatividade e toxicidade. Exemplos: produtos

    hormonais e produtos antimicrobianos; citostticos; anti-retrovirais, quando

    descartados por servios de sade, farmcias, drogarias, distribuidores de

    medicamentos ou apreendidos e os resduos e insumos farmacuticos de

    medicamentos controlados; resduos de saneantes, desinfetantes, desinfestantes;

    resduos contendo metais pesados; reagentes para laboratrios, inclusive os

    recipientes contaminados por estes; efluentes de processadores de imagens

    (reveladores e fixadores); efluentes dos equipamentos automatizados utilizados em

    anlises clinicas.

    III Grupo C quaisquer materiais resultantes de atividades humanas que

    contenham radionucldeos em quantidades superiores aos limites de eliminao

    especificados nas normas da Comisso Nacional de Energia Nuclear CNEN e para

    quais a reutilizao imprpria ou no prevista. Exemplo: materiais resultantes de

    laboratrios de pesquisa e ensino na rea de sade, laboratrios de anlises clnicas

    e servios de medicina nuclear e radioterapia que contenham radionucldeos em

    quantidades superiores aos limites de eliminao.

    10 Prions estrutura protica alterada relacionada com agente etiolgico de diversas formas de encefalite espongiforme (vide CONAMA n 358/2005).

  • 42

    IV Grupo D resduos que no apresentam risco biolgico, qumico oo

    radiolgico sade ou ao meio ambiente, podendo ser equiparados aos resduos

    domiciliares. Exemplo: papel de uso sanitrio e fraldas; absorventes higinicos;

    peas descartveis de vesturio; material utilizado em anti-sepsia e hemostasia de

    venclises, equipo de soro e outros similares no classificados como A1; restos de

    alimentos; resduos provenientes das reas administrativas; resduos de varrio e

    poda; resduos de gesso provenientes de assistncia sade.

    V Grupo E composto por materiais perfurocortantes e escarificantes.

    Exemplo: lminas de barbear, agulhas, escalpes, ampolas de vidro, lminas de

    bisturi, tubos capilares, alm de todos os utenslios de vidros quebrados no

    laboratrio (pipetas, tubos de coleta sangunea e placas de Petri) e outros similares.

    Quanto aos resduos de construo civil RCC, de acordo com a Resoluo

    CONAMA n 307/2002 os resduos provenientes desta atividade so classificados da

    seguinte forma:

    I Classe A so os resduos considerados reutilizveis ou reciclveis como

    agregados11. Exemplo: resduos de construo, demolio, reformas e reparos de

    edificaes: componentes cermicos (tijolos, blocos, telhas, placas de revestimento,

    etc.), argamassa e concreto, reparos de pavimentao e de outras obras de

    infraestrutura, inclusive solos provenientes de terraplanagem; resduos dos

    processos de fabricao e/ou demolio de peas pr-moldadas em concreto

    (blocos, tubos, meio-fios, etc.) produzidas nos canteiros de obras.

    II Classe B - so os resduos reciclveis para outras destinaes. Exemplo:

    plstico, papel, papelo, metais, vidro, madeiras e gesso.

    III Classe C so os resduos para as quais no foram desenvolvidas

    tecnologias ou aplicaes economicamente viveis que permitam a sua reciclagem

    ou recuperao.

    11 Agregado reciclado - material granular proveniente do beneficiamento de resduos de construo que apresentem caractersticas tcnicas para a aplicao em obras de edificao, de infraestrutura, em aterros sanitrios ou outras obras de engenharia (CONAMA n358/2005).

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    IV Classe D so os resduos perigosos provenientes dos processos de

    construo. Exemplo: tintas, solventes, leos e outros ou aqueles contaminados ou

    prejudiciais sade oriundos de demolies, reformas e reparos de clnicas

    radiolgicas, instalaes industriais e outros, bem como telhas e demais objetos e

    materiais que contenham amianto ou outros produtos nocivos sade.

    No contexto atual, a Poltica Nacional de Resduos Slidos PNRS, Lei n

    12.305, de 02 de Agosto de 2010, estabelece uma nova classificao para os

    resduos slidos. De forma mais abrangente, considera todos os aspectos

    relacionados aos critrios de classificao utilizados pelas normativas e instrumentos

    anteriores. Para isso, classifica os resduos slidos sobre dois aspectos: I) quanto

    origem, e, II) quanto sua periculosidade.

    I Quanto origem os resduos slidos so classificados em: resduos