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Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade Tropical Mestrado e Doutorado UNIFAP / EMBRAPA-AP / IEPA / CI-Brasil ISAI JORGE DE CASTRO EFEITO DA EXPLORAÇÃO MADEIREIRA E DO MANEJO DE AÇAIZAIS (Euterpe oleracea) SOBRE ASSEMBLEIAS DE MORCEGOS (MAMMALIA: CHIROPTERA) EM FLORESTAS TROPICAIS MACAPÁ, AP 2015

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Universidade Federal do Amapá

Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação

Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade Tropical

Mestrado e Doutorado

UNIFAP / EMBRAPA-AP / IEPA / CI-Brasil

ISAI JORGE DE CASTRO

EFEITO DA EXPLORAÇÃO MADEIREIRA E DO MANEJO DE AÇAIZAIS

(Euterpe oleracea) SOBRE ASSEMBLEIAS DE MORCEGOS (MAMMALIA:

CHIROPTERA) EM FLORESTAS TROPICAIS

MACAPÁ, AP

2015

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ISAI JORGE DE CASTRO

EFEITO DA EXPLORAÇÃO MADEIREIRA E DO MANEJO DE AÇAIZAIS (Euterpe

oleracea) SOBRE ASSEMBLEIAS DE MORCEGOS (MAMMALIA: CHIROPTERA)

EM FLORESTAS TROPICAIS

Tese apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Biodiversidade Tropical

da Universidade Federal do Amapá,

como requisito parcial à obtenção do

título de Doutor em Biodiversidade

Tropical.

Orientador: Dra. Fernanda Michalski

MACAPÁ, AP

2015

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Biblioteca Central da Universidade Federal do Amapá

599.4

C355e Castro, Isai Jorge de.

Efeito da exploração madeireira e do manejo de açaizais (Euterpe oleracea) sobre

assembleias de morcegos (MAMMALIA: CHIROPTERA) em florestas tropicais / Isai

Jorge de Castro; orientador, Fernanda Michalski. – Macapá, 2015.

105 f.

Tese (doutorado) – Fundação Universidade Federal do Amapá, Programa de Pós-

Graduação em Biodiversidade Tropical.

1. Biodiversidade - Chiroptera. 2. Floresta de várzea - Amazônia. I. Michalski,

Fernanda, orientador. II. Fundação Universidade Federal do Amapá. III. Título.

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ISAI JORGE DE CASTRO

EFEITO DA EXPLORAÇÃO MADEIREIRA E DO MANEJO DE AÇAIZAIS (Euterpe

oleracea) SOBRE ASSEMBLEIAS DE MORCEGOS (MAMMALIA: CHIROPTERA)

EM FLORESTAS TROPICAIS

_________________________________________

Dra. Fernanda Michalski

Universidade Federal do Amapá (UNIFAP)

_________________________________________

Dr. Marcelino Carneiro Guedes

Embrapa Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA)

____________________________________________

Dr. Darren Norris

Universidade Federal do Amapá (UNIFAP)

____________________________________________

Dr. Silas Mochiutti

Embrapa Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA)

____________________________________________

Dr. Paulo Estefano Dineli Bobrowiec

Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA)

Aprovada em 7 de Dezembro de 2015, Macapá, AP, Brasil

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Dedico ao meu pai Mundico Jorge e

ao meu tio Bias (In memoriam), que

partiram cedo e deixaram boas

lembranças. A minha mãe Lair

Trindade, que sempre lutou para dar

uma educação digna para seus filhos

e, aos meus dez irmãos. E a Gabriel,

que está chegando.

Page 6: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

AGRADECIMENTOS

Este trabalho teria sido impossível de ser realizado sem o apoio imprescindível de

inúmeros amigos, colegas e instituições que de diversas maneiras contribuíram para o bom

andamento e finalização do mesmo.

Primeiramente agradeço a Deus por iluminar meu caminho e trazer tranquilidade na

solução de problemas pessoais em momentos difíceis.

À Universidade Federal do Amapá – UNIFAP e ao Programa de Pós-Graduação em

Biodiversidade Tropical – PPGBio, por me proporcionarem cursar uma pós-graduação

stricto senso em um país com enormes desigualdades sociais.

À Embrapa Amapá, que por meio do Projeto Florestam, proporcionou toda a

logística necessária para a efetivação deste projeto.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES, pela

concessão da bolsa de doutorado.

À Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado do Amapá-FAPEAP, pelo

financiamento de parte desta pesquisa através do processo Nº 250.203.055/2013-custeio

tese.

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico-CNPq Edital

MCT/CNPq/FNDCT/CT-Ação Transversal/CT-Amazônia/CT-Biotec nº 66/2009 –

BIONORTE, que financiou as primeiras idas a campo deste projeto.

Ao Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá-IEPA,

pelo empréstimo de equipamentos e materiais para amostragem de morcegos e pelo apoio

concedido.

À minha orientadora, Dra. Fernanda Michalski, por aceitar me orientar; pelos

conselhos, discussões e valiosas contribuições na elaboração desta tese.

Ao Dr. Marcelino Guedes, por abrir as portas da Embrapa-Amapá e por articular

todo apoio logístico necessário para as coletas de dados em campo no estuário amazônico;

Ao Dr. Darren, que gentilmente fez inúmeras sugestões úteis em dois capítulos

desta tese, durante as oficinas de publicações do PPGBIO.

Aos moradores da foz do Mazagão Velho, Foz do rio Maracá e Foz do Rio Ajuruxi,

por nos receber em suas casas e pela autorização de coletar dados em suas propriedades.

Em especial agradeço aos Senhores Valdenor, Juraci, Celestino, Lenoi e Sérgio, pela

hospedagem em suas residências e pelo açaí grátis.

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Ao Dr. Luis Reginaldo Rodrigues, pela ajuda nas coletas de Campo.

Aos queridos amigos do LECoV, aos que já passaram Cintia Togura, Isabel

Oliveira, Juliana Laufer, Lincoln Michalski, Lia Nahomi, Ozias e Karen Mustin, aos que

continuam Águeda Lourenço, Celeste Salinero, Victor, Omar, Yuri e Elis, pelo

companheirismo, troca de experiências e discussões.

Aos meus amigos e colegas de trabalho do IEPA, Claudia Silva, Jéssica,

Tchutchuca e Thainan por me ajudarem nos momentos que precisei.

Aos amigos de sempre Claudinha Funi, Dani, Paulito, Cassandra e Ana Martins que

quando precisei sempre estiveram dispostos a me ajudar.

Aos motoristas da Embrapa, Carlão, Luís, seu Manoel, pelo apoio na condução da

equipe para coletas.

Ao apoio da minha família durante todo este doutorado, minha mãe mesmo estando

distante sempre me inclui nas suas orações, pedindo proteção e saúde; as minhas irmãs

Jamile e Ida que sempre lavaram os sacos dos morcegos no meu retorno do campo, no

geral todos os meus dez irmãos contribuíram de alguma forma e gostaria de agradecê-los.

Não poderia de deixar de agradecer a minha companheira Elane e a Gabriel que

está chegando, pela compreensão da minha ausência nos momentos finais da elaboração

desta tese.

Quero terminar agradecendo muito, à equipe que me acompanhou durante as

coletas de dados: O Adjalma, que além de ser nosso piloto e assistente de campo, sempre

foi cuidadoso com a segurança da equipe; ao seu Adjard, que é um dos mais experientes

parataxônomo de plantas da floresta de várzea do estuário amazônico, além de ser um

piloto dedicado, ao Jonas pelo apoio nas pilotagens. Ao seu Ramos, fiel assistente de

campo que me acompanha nas amostragens de morcegos pelo estado do Amapá, é um dos

mais ―tarimbados mateiro‖ que já conheci. A Dani Rodrigues que sempre foi solicita em

ajudar nas compras, como assistente de campo e como cozinheira durante as viagens. Aos

colegas ―morcegueiros‖ Eddeivid, Welligton e Ednei, sem a ajuda de vocês seria

impossível este trabalho ser realizado em pouco tempo. Aos amigos e colegas Anderson,

Edglei, Jonas, Ezaquiel, Flávia, Breno, Jadson (que ainda não superou seu trauma de

infância, apesar do esforço imenso que fizemos para ajudá-lo), pela assistência na captura

de morcegos e das variáveis ambientais.

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RESUMO

Castro, Isai Jorge. Efeito da exploração madeireira e do manejo de Açaizais (Euterpe

oleracea) sobre assembleias de morcegos (Mammalia: Chiroptera) em florestas tropicais.

Macapá, 2015. Tese (Doutorado em Biodiversidade Tropical) – Programa de Pós-

graduação em Biodiversidade Tropical – Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação -

Universidade Federal do Amapá.

As florestas tropicais cada vez mais são alvos de exploração devido o aumento da demanda

por recursos como madeira, alimentos, lenha e conversão para agricultura e pastagens.

Neste estudo nos propomos: 1 - revisar o efeito da exploração madeireira sobre as

assembleias de morcegos nas florestas tropicais apresentando uma revisão do

conhecimento sobre os estudos realizados nas últimas três décadas; 2 - apresentar uma lista

de espécies de morcegos para as florestas de várzea do estuário amazônico; 3 - investigar o

efeito do manejo dos açaizais sobre morcegos filostomídeos nas florestas de várzea. Entre

abril e maio de 2013 realizamos pesquisa bibliográfica de estudos que avaliaram o efeito

da exploração madeireira sobre a fauna de morcegos em florestas tropicais, utilizando as

bases ISI Web of Knowledge, Google Scholar e Scopus com diferentes combinações de

palavras-chave. Com base na revisão de literatura encontramos 22 estudos relativos a

exploração madeireira, concentrados na América latina e no sudeste asiático. Grande parte

dos estudos (81,8%) apenas comparou dados de riqueza e abundância de morcegos entre as

áreas com exploração e sem exploração. Encontraram que morcegos frugívoros

responderam positivamente a exploração, enquanto os morcegos animalívoros catadores

responderam negativamente. Poucos estudos (18%) utilizaram dados de variáveis

ambientais como as alterações sofridas na estrutura da vegetação para verificar de forma

específica como essas mudanças afetam a diversidade de morcegos. No estudo feito nas

florestas de várzea capturamos 1252 morcegos pertencentes a 46 espécies e cinco famílias.

Os morcegos filostomídeos corresponderam a 1213 capturas, pertencentes a 36 espécies. A

riqueza variou de 31 a 34 espécies respectivamente entre áreas manejadas e controle, não

havendo diferença significativa (U=411,5; p=0,570). O número de morcegos capturados

foi maior nas áreas de açaizais manejados quando comparados à área controle. Distância

do rio e número de estipes de açaí foram as variáveis que tiveram maior influência na

abundância das espécies e sobre as guildas alimentares. Em síntese ressaltamos que futuros

estudos com o objetivo de investigar os efeitos da exploração madeireira sobre morcegos

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devem levar em consideração a utilização de mais de um método de amostragem a fim de

abranger um número maior de famílias de morcegos nas análises. Também deve ser

considerado um melhor planejamento para evitar a presença de pseudo-réplicas nos

desenhos amostrais e sugerimos que seja dado enfoque em regiões pouco estudadas e que

possuem intensa atividade madeireira como a floresta amazônica e as florestas da África. O

manejo de açaizais realizado em floresta de várzea no estuário do rio Amazonas altera a

abundância de algumas espécies de morcegos, mas não afeta a riqueza de espécies de

morcegos filostomídeos, indicando que não há perdas da diversidade de morcegos nas

áreas manejadas.

Palavras-chave: Biodiversidade; Chiroptera; extração de madeira; Floresta de Várzea;

Fragmentação; Uso sustentável; Palmeiras.

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ABSTRACT

Castro, Isai Jorge. Effects of logging and management of açai (Euterpe oleracea) on

assemblages bats (Mammalia: Chiroptera) in Tropical forests. Macapá, 2015. Tese

(Doutorado em Biodiversidade Tropical) – Programa de Pós-graduação em Biodiversidade

Tropical – Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação - Universidade Federal do Amapá.

Tropical forests are increasingly the focus of extractive activities owing to the increase in

demand for resources such as wood, food, and conversion to agriculture and pastures. In

this study we propose: 1- Investigate the effect of logging on bat assemblage in tropical

forests, presenting a revision of knowledge based on studies carried out in last three

decades, 2- present a list of bat species in the várzea forests of the Amazon estuary; 3-

investigate the effects of management of açaí stands on bats of Phyllostomidae family in

the várzea forests of the Amazon estuary. Between April and May 2013 we conducted

literature search of studies which analyses the effect of logging on bats in Tropical forests.

We used the databases ISI Web of Knowledge, Google Scholar and Scopus with different

combinations of keywords. Following the literature review we found 22 studies focused to

logging in Latin America and Southeast Asia. The majority of the studies (81.8%) only

compare wealth of data and abundance of bats among the areas with exploration and

without exploitation, where frugivorous bats responded positively to exploration, while the

gleaning animalivorous bats responded negatively. Few studies (18%) used environmental

variables data as the changes suffered in vegetation structure to check specifically how

these changes affect the diversity of bats. In the study conducted in várzea forests we

captured 1252 bats belonging to 46 species and five families. Phyllostomid bats correspond

to 1213 catches, belonging to 36 species. The wealth varied between 31 and 34 species

respectively between managed areas and control, with no significant difference (U = 411.5;

p = 0.570). The number of captured bats was higher in the areas of managed açai when

compared to the control areas. Distance to the river and number of stems from açai were

the variables that had the greatest influence on the abundance of species and on feeding

guilds. In synthesis we emphasize for further research in order to evaluate the effects of

logging on bats should consider the use of more than one sampling to cover a larger

number of bats families in the analyzes. A better planning should also be considered to

avoid the presence of pseudo-replicates in sample designs and suggest to be given focus on

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little studied regions and have intense logging as the Amazon rainforest and the forests of

Africa. Management of açai carried out in the Várzea forest of the Amazon estuary, alters

the abundance of some bats species, but does not affect the species richness of

phyllostomid bats, indicating that diversity of bats is not reduced in the managed areas.

Keywords: Açai; Biodiversity; Chiroptera; Logging; Várzea forest; fragmentation;

Sustainable use; Palms.

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PREFÁCIO

As florestas tropicais abrigam cerca de metade da biodiversidade terrestre, e estão

cada vez mais ameaçadas por atividades antrópicas, que visam à exploração de seus

recursos naturais. Compreender, como a biodiversidade reage às mudanças na floresta,

ocasionadas por essas atividades antrópicas, e propor medidas que minimizem seus

impactos, tem sido alvo de estudos pela comunidade científica, nas últimas décadas. Esta

tese visa investigar os efeitos da exploração madeireira e do manejo de açaizais sobre

morcegos, que é um grupo de mamíferos, importante para as florestas tropicais, pois são

dispersores e polinizadores de inúmeras espécies de plantas. A tese está dividida em três

capítulos. No Primeiro capítulo, intitulado ―Efeitos da exploração madeireira sobre

morcegos em florestas tropicais” é apresentada uma revisão do conhecimento atual sobre

o efeito da exploração madeireira na fauna de morcegos em florestas tropicais mundiais

nas últimas três décadas, verificando lacunas de conhecimento e quais pontos podem ser

melhorados. No segundo capítulo, intitulado “Morcegos de floresta de várzea no

estuário do Rio Amazonas, Estado do Amapá, Norte do Brasil” é apresentada uma lista

de espécies de morcegos de três localidades em floresta de várzea no estuário do rio

Amazonas, preenchendo assim uma lacuna do conhecimento sobre a quiropterofauna desta

região. No terceiro e último capítulo intitulado ―Efeitos do manejo de açaizais sobre

morcegos da família Phyllostomidae no estuário do rio Amazonas, Brasil‖ é

apresentado informações sobre riqueza, abundância e guildas de morcegos em áreas de

açaizais manejados e florestas sem manejo de açaí, além do efeito da estrutura da

vegetação sobre estes animais nessas áreas.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO GERAL .............................................................................................. 12

1.1 A ORDEM CHIROPTERA .............................................................................................. 13

1.2 EFEITOS DA EXPLORAÇÃO MADEIREIRA SOBRE AS COMUNIDADES VEGETAIS E

ANIMAIS EM FLORESTAS TROPICAIS ............................................................................... 14

1. 3 O MANEJO DO AÇAÍ NO ESTUÁRIO DO RIO AMAZONAS ............................................. 18

2. HIPÓTESES................................................................................................................... 22

3. OBJETIVOS .................................................................................................................. 23

3.1 GERAL ....................................................................................................................... 23

3.2 ESPECÍFICOS .............................................................................................................. 23

4. REFERÊNCIAS............................................................................................................. 24

CAPÍTULO 1 – EFEITOS DA EXPLORAÇÃO MADEIREIRA SOBRE

MORCEGOS EM FLORESTAS TROPICAIS .............................................................. 30

RESUMO ............................................................................................................................ 32

ABSTRACT ....................................................................................................................... 33

INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 34

MATERIAL E MÉTODOS .............................................................................................. 36

RESULTADOS .................................................................................................................. 38

DISCUSSÃO ...................................................................................................................... 46

REFERENCIAS................................................................................................................. 49

CAPÍTULO 2 – MORCEGOS DE FLORESTA DE VÁRZEA NO ESTUÁRIO DO

RIO AMAZONAS, ESTADO DO AMAPÁ, NORTE DO BRASIL ............................. 54

RESUMO ............................................................................................................................ 56

ABSTRACT ....................................................................................................................... 57

INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 58

MATERIAL E MÉTODOS .............................................................................................. 59

Page 14: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

RESULTADOS .................................................................................................................. 63

DISCUSSÃO ...................................................................................................................... 67

REFERENCIAS................................................................................................................. 71

CAPÍTULO 3 – EFEITOS DO MANEJO DE AÇAIZAIS (EUTERPE OLERACEA)

SOBRE MORCEGOS DA FAMÍLIA PHYLLOSTOMIDAE NO ESTUÁRIO DO

RIO AMAZONAS, BRASIL ............................................................................................ 78

RESUMO ............................................................................................................................ 80

ABSTRACT ....................................................................................................................... 81

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 83

2.MATERIAL E MÉTODOS ........................................................................................... 86

2.1ÁREA DE ESTUDO ........................................................................................................ 86

2.2 AMOSTRAGEM DE MORCEGOS .................................................................................. 87

2.3. OBTENÇÃO DE VARIÁVEIS AMBIENTAIS ................................................................. 88

2.4 ANÁLISE DOS DADOS.................................................................................................. 90

3 RESULTADOS ............................................................................................................... 92

3.1 MORCEGOS FILOSTOMIDEOS EM ÁREAS DE AÇAIZAIS MANEJADOS E CONTROLE... 92

3.2 RELAÇÃO ENTRE VARIÁVEIS AMBIENTAIS E RIQUEZA, CAPTURA TOTAL DE

MORCEGOS FILOSTOMÍDEOS E EIXOS DO NMDS. .......................................................... 95

3.3 RELAÇÃO ENTRE VARIÁVEIS AMBIENTAIS E AS NOVE ESPÉCIES DE MORCEGOS

FILOSTOMÍDEOS MAIS ABUNDANTES. .............................................................................. 98

4. DISCUSSÃO ................................................................................................................ 100

5. IMPLICAÇÕES PARA O MANEJO DE AÇAIZAIS E CONSERVAÇÃO DA

BIODIVERSIDADE ........................................................................................................ 103

6. CONCLUSÃO .............................................................................................................. 104

REFERENCIAS............................................................................................................... 105

MATERIAL SUPLEMENTAR...................................................................................... 114

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 123

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12

1. INTRODUÇÃO GERAL

As florestas tropicais ocupam cerca de 7% da superfície terrestre e abrigam cerca

de 50% do total de espécies da biodiversidade terrestre (Myers et al. 2000, Dirzo e Raven

2003). Essas florestas exercem um papel importante na manutenção do clima global, pois

através da ciclagem de carbono e da evapotranspiração influenciam a temperatura e o

regime de chuvas na terra (Devaraju et al. 2015, Lawrence e Vandecar 2015). Também

desempenham um papel crucial nos meios de subsistência das populações rurais,

fornecendo emprego, energia, alimentos nutritivos e uma vasta gama de outros produtos e

serviços do ecossistema (FAO 2014).

Atualmente as florestas tropicais estão cada vez mais ameaçadas pela intensificação

de atividades antropogênicas e pelo aumento da população humana (Lewis et al. 2015).

Segundo relatório da Organização das Nações Unidas – ―Perspectivas da População

Mundial: A Revisão de 2015" há previsão de aumento da população nas próximas décadas,

chegando a 8,5 bilhões de humanos até 2030, e a 11,2 bilhões até o ano de 2100, um

crescimento de 53% em relação ao presente que é de aproximadamente 7,3 bilhões(UN

2015). Isso significa que aumentará a demanda por recursos naturais, e possivelmente mais

áreas de florestas tropicais serão exploradas, fato que deve acelarar as mudanças no uso da

terra e as pressões associadas que podem reduzir fortemente a biodiversidade terrestre local

(Newbold et al. 2015).

Há um crescente esforço da comunidade científica em compreender como espécies

de organismos-chave, como os morcegos reagem às mudanças que ocorrem nas florestas

tropicais, devido a atividades impactantes (ex. exploração madeireira, agricultura), e

propor medidas que visem o uso racional destas florestas, a fim de manter a biodiversidade

e seus serviços ecossistêmicos viáveis. Assim, este estudo visa investigar os efeitos do

manejo de açaizais (Euterpe oleracea) realizado por populações ribeirinhas nas florestas

inundáveis do estúario do rio Amazonas sobre as assembleias de morcegos. E, também,

revisar a literatura em relação aos efeitos da exploração madeireira, sobre a fauna de

morcegos em florestas tropicais mundiais nas últimas três décadas, identificando lacunas

de conhecimento e pontos que podem ser melhorados.

Page 16: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

13

1.1 A Ordem Chiroptera

Morcegos são mamíferos pertencentes à ordem Chiroptera, e os únicos a apresentar

estruturas especializadas que permitem um voo verdadeiro (Nowak 1994). Atualmente,

existem 20 famílias e cerca de 1300 espécies, distribuídas nos mais diversificados biomas e

em todos os continentes, exceto nas regiões polares e algumas ilhas oceânicas isoladas

(Fenton e Simmons 2014). A maior diversidade de espécies encontra-se na região

neotropical, com 83 gêneros e 288 espécies registradas (Simmons 2005). No Brasil são

encontradas 178 espécies, distribuídas em nove famílias: Emballonuridae (17 espécies),

Phyllostomidae (92 espécies), Furipteridae (uma espécie), Molossidae (29 espécies),

Mormoopidae (três espécies), Natalidade (uma espécie), Noctilionidae (duas espécies),

Thyropteridae (cinco espécies) e Vespertilionidae (28 espécies) (Nogueira et al. 2014).

Para a Amazônia brasileira são encontradas nove famílias com 147 espécies (Bernard et al.

2011, Castro et al. 2012).

Os morcegos possuem uma dieta variada e, dependendo da espécie, podem

alimentar-se de frutos, flores, artrópodes, pequenos vertebrados e sangue de vertebrados

endotérmicos (Nowak 1994, Kunz e Fenton 2003). Assim, os morcegos estabelecem

relações ecológicas mutualísticas indispensáveis para a manutenção da diversidade das

florestas, sendo responsáveis pela dispersão de sementes de mais de 500 espécies de

plantas (Muscarella e Fleming 2007), polinização de angiospermas, além do controle de

populações de insetos (García et al. 2000, Kunz et al. 2011).

Pela sua alta importância ecológica, os morcegos podem ser considerados

excelentes objetos de estudo para caracterização de hábitats e indicador ambiental, pois são

relativamente estáveis taxonomicamente, são fáceis de amostrar, possuem uma variedade

de hábitos alimentares e tem ampla distribuição mundial (Jones et al. 2009). Algumas

espécies, como Lophostoma silvicolum e Chrotopterus auritus (família Phyllostomidae)

são sensíveis às alterações e servem como referências importantes de qualidade ambiental

de áreas florestas, pois, suas presenças representam à integridade do ambiente (Fenton et

al. 1992, Medellín et al. 2000).

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14

1.2 Efeitos da exploração madeireira sobre as comunidades vegetais e animais em

florestas tropicais

A exploração madeireira é uma das principais atividades causadoras da perda da

biodiversidade nas florestas tropicais. Essa perda ocorre principalmente pela simplificação

ambiental, que leva a destruição de abrigos e fontes de recursos alimentares para a fauna

(Pereira et al. 2010, Foster et al. 2011, Abood et al. 2015, Lewis et al. 2015). Isso pode

trazer sérios danos na estruturação das comunidades animais e vegetais uma vez que

serviços ecossistêmicos com a polinização de flores por animais, dispersão de sementes e

ciclagem de nutrientes podem ser perdidos (Lewis et al. 2015).

Segundo a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação

(FAO 2015) a demanda por produtos das florestas tropicais como a madeira teve um

aumento de 35 % entre os anos de 1990 e 2015 e há uma tendência de crescimento nos

próximos anos principalmente na região Ásia-Pacífico (Sloan e Sayer 2015). Isso significa

que a perda da biodiversidade, irá aumentar se práticas responsáveis de manejo florestal

não forem adotadas. Tendo em vista, que mais de metade da madeira colhida nos países

produtores de madeira como o Brasil, Camarões, Gana, Indonésia e Malásia ainda é

extraída ilegalmente (Rands et al. 2010).

Nas comunidades vegetais a exploração madeireira implica, no aumento na taxa de

mortalidade de árvores e danos a vegetação remanescente (ex. desenraizamentos,

ferimentos nos caules e na casca) (Jackson et al. 2002), na perda da cobertura do dossel, na

compactação do solo, em efeitos de bordas deletérios causados pela formação de trilhas e

pela queda de árvores (Laurance et al. 2002, Asner et al. 2009). Também ocorre o aumento

da probabilidade de incêndios florestais, devido ao acúmulo de resíduos lenhosos e

ressecamento, causado pela diminuição da cobertura do dossel (Laurance et al. 2002).

Essas atividades, também provocam alterações nos ciclos biogeoquímicos como o do

carbono e nas propriedades biofísicas da superfície da terra (Lawrence e Vandecar 2015,

Lewis et al. 2015). Contudo, esses danos podem ser reduzidos entre 25% a 50% com a

adoção de boas práticas de manejo, como a exploração madeireira de impacto reduzido

(RIL, sigla em inglês) (Sist 2000, Putz et al. 2008).

Page 18: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

15

Entretanto, os impactos das atividades antrópicas, como a exploração madeireira

sobre a biodiversidade, podem variar consideravelmente por região geográfica, grupo

taxonômico, métrica ecológica, tipo perturbação, intensidade, tempo de corte e técnicas de

colheita (Asner et al. 2009, Gibson et al. 2011, Bicknell et al. 2014, Burivalova et al. 2014,

Bicknell et al. 2015). Estes fatores combinados com características ecológicas intrínsecas e

de história de vida das espécies animais (ex. tamanho corporal, estratégia alimentar,

especialização na dieta, mobilidade e preferência por abrigos), podem influenciar as

espécies terem respostas negativas ou positivas as atividades antrópicas na floresta e

devem ser considerados, na adoção de políticas de conservação (Mouillot et al. 2013).

Em uma meta-analise (Burivalova et al. 2014) investigaram os efeitos da

exploração seletiva de madeira em florestas tropicais sobre mamíferos, aves, anfíbios e

invertebrados. Eles descobriram que o volume de madeira extraída é um dos mais

importantes preditores que pode influenciar a perda de espécies. A maioria dos grupos

analisados foi resistente aos impactos, com a intensidade de exploração inferior a 10 m³ ha-

1. Enquanto, mamíferos e anfíbios foram os grupos mais sensíveis à intensidade da

exploração, pois sofreram redução da riqueza de espécies em 50%, com volume extraído

de 38 m³ ha-1

e 63 m³ ha-1, respectivamente. Para anfíbios eles atribuíram à perda de

espécies, as mudanças microclimáticas ocasionadas pela atividade madeireira e também

pela morte de espécies durante as atividades de exploração. No que diz respeito a

mamíferos as mudanças foram relacionadas em parte pelas atividades de caça, que

geralmente aumenta com a intensidade da exploração madeireira, devido à criação de

estradas não oficiais.

Na Amazônia peruana (Mayor et al. 2015) investigaram os efeitos do corte seletivo

de madeira feito por indígenas sobre grandes mamíferos em áreas remotas, com baixa

densidade populacional de humanos. Usando dados de registro de caça para estimar a

biomassa mensal e anual consumida durante as operações e censo em transectos lineares

feitos antes e após a exploração madeireira para estimar a densidade. Entre 2012 e 2014

foram caçados 1389 animais e extraída 27459 kg de biomassa de mamíferos por ano.

Ungulados foi o grupo que sofreu maior redução na densidade da população, por exemplo,

Pecari tajacu e Tayassu pecari tiveram a densidade reduzida de 8,54 para 1,65 ind/km²; e

14,59 para 3,16 ind/km² respectivamente, em comparação aos censos antes e depois da

exploração. Os ungulados também foi o grupo mais caçado com 45,4% de indivíduos e

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16

78,9% de biomassa extraída durante as atividades de exploração madeireira. Roedores

tiveram um aumento na população, embora este sendo o segundo grupo mais caçado, com

33% de indivíduos e biomassa 12,9%. Quanto a primatas, não foi observado mudanças nas

populações, nos censos feitos antes e após as atividades de exploração madeireira, fato que

pode ser explicado, pela baixa preferência de consumo deste grupo pelos indígenas

envolvidos na exploração madeireira.

Na Floresta de Iwokrama, república da Guiana, Bicknell et al.(20015) investigaram

o efeito da exploração madeireira de impacto reduzido-RIL, com volume explorado de 6,9

m3ha

-1, sobre a comunidade de vertebrados (morcegos, grandes mamíferos e aves). Não

foram encontradas mudanças nas assembleias desses grupos que pudessem ser associadas

ao impacto da exploração madeireira reduzida. As mudanças que ocorreram em guildas de

aves frugívoros e morcegos foram associadas a fatores temporais, tendo em vista, que

também houve alteração na abundância desses grupos na área controle. Esse resultado

indica que com a adoção de boas práticas, como o RIL é possível explorar recursos

naturais como a madeira impactando minimamente a biodiversidade, mantendo processos

ecossistêmicos essências como dispersão de sementes e polinização, e gerar ganhos

econômicos (Bicknell et al. 2015).

Especificamente, sobre respostas de morcegos à exploração madeireira os avanços

nos estudos foram poucos, apesar da importância ecológica que estes animais

desempenham. A maioria dos estudos ocorreu na região Neotropical, em áreas de florestas

com planos de manejos, dentro de áreas protegidas. Como exemplo, temos os estudos

feitos na Floresta Nacional do Tapajós na Amazônia brasileira (Saldanha 2000, Castro-

Arellano et al. 2007, Presley et al. 2008, Castro-Arellano et al. 2009, Presley et al. 2009),

que estudaram os efeitos da exploração de impacto reduzido (RIL) sobre a comunidade de

morcegos. Eles verificaram que na população de morcegos, assim como nas guildas existe

um pequeno impacto pelo menos em um curto prazo. Geralmente foi observado que nas

áreas com exploração madeireira, ocorre um aumento na abundância de morcegos

frugívoros de sub-bosque como os do gênero Carollia e uma diminuição de morcegos da

subfamília phyllostominae. Entretanto esses estudos realizados na Floresta Nacional do

Tapajós, não correlacionaram dados de riqueza e abundância com variáveis de perturbação,

como as alterações sofridas na estrutura da vegetação, o que poderia levar a conclusões

mais precisas.

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17

Em outro estudo realizado na Amazônia brasileira, na terra indígena Kayapó, no

Pará (Peters et al. 2006), estudaram o efeito do corte seletivo de madeira em áreas

exploradas há dez anos, encontraram alterações na composição da fauna de morcegos,

sugerindo que o corte seletivo de madeira não possui um alto valor para fins de

conservação. Entre as 49 espécies amostradas, 24 foram verificadas em ambos os sítios, 11

somente nas áreas de corte seletivo e 14 nas áreas de florestas não submetidas ao corte

seletivo. No estudo de Peters et al. (2006) ao contrário dos realizados na Floresta Nacional

do Tapajós foram feito associações com variáveis do habitat (Área basal, diâmetro médio

de árvores com DAP>10 cm e densidade de folhagem em seis diferentes alturas). Das

variáveis medidas, há indícios de que as alterações na densidade da folhagem ocorridas

durante a exploração da madeira influenciam nas estratégias de forageamento e

ecolocalização de algumas espécies de morcegos, principalmente as que usam o sub-

bosque.

Em Trinidad (Clarke et al. 2005) avaliaram os efeitos dos sistemas de exploração de

madeira Open-range (OR) e Blocos Periódicos sobre a assembleia de morcegos. O Open-

range (OR) é um sistema de colheita continua e sem critérios ecológicos. O sistema de

blocos periódicos é um sistema policíclico baseados em critérios ecológicos visando à

manutenção da biodiversidade. A fauna de morcegos no sistema de blocos periódicos foi

similar a de uma floresta primária, indicando que o sistema é compatível com a

manutenção da diversidade de morcegos.

Em Itamaca, na Venezuela (Ochoa 2000) avaliou o feito da exploração madeireira

sobre morcegos em áreas de florestas manejadas ele encontrou um efeito significativo na

estruturação da assembleia de morcegos local. Nas áreas exploradas foi observado uma

diminuição de morcegos carnívoros e insetívoros de sub-bosque e um aumento na

abundância de morcegos frugívoros como Carollia perspicillata e Sturnira lilium

associados com plantas típicas de inicio de sucessão. Houve também um aumento na

aparição de morcegos insetívoros de estratos superiores como os do gênero Molossus, que

pode estar associado ao aumenta da abertura do dossel.

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18

1. 3 O manejo do açaí no estuário do rio Amazonas

O Açaizeiro (Euterpe oleracea) é uma planta pertencente à família Arecaceae,

nativo do leste da Amazônia, com a maior ocorrência no estuário do rio Amazonas

(estados do Pará e Amapá), onde ocupa a maior parte da floresta de várzea da região (Kahn

and Granville 1992, Smith 2015). Também, pode ser encontrado nos estados brasileiros do

Amazonas, Maranhão e Tocantins, bem como em países vizinhos como a Colômbia, Peru,

Guiana, Guiana Francesa e Venezuela (Smith 2015).

O açaizeiro tem grande importância econômica na vida da população ribeirinha do

estuário amazônico, pois todos os seus componentes, raízes, estipe, folhas, inflorescência e

fruto são usados (Kahn and Granville 1992, Smith 2015). Atualmente o açaí está sendo

anunciado como uma "super fruta" com propriedades anti-inflamatória, antioxidante e com

efeitos anticancerígenos (Kuskoski et al. 2006, Poulose et al. 2012, Yamaguchi et al.

2015). Por conta disso, a demanda por açaí está em expansão em todo o mundo, o que tem

trazido grandes ganhos econômicos para a população ribeirinha.

A valorização econômica do fruto do açaizeiro tem levado à intensificação da

exploração e a expansão da espécie, o que elevou nos últimos anos para mais de 80 mil

hectares manejados para a produção de frutos, somente na área estuarina do estado do Pará

(Homma 2012). Essa expansão dos açaizais nas áreas de florestas de várzea pode levar a

transformação deste ecossistema em bosque homogêneos de açaizais, trazendo riscos

ambientais para a fauna e flora (Pinedo-Vasquez e Sears 2011, Homma 2012) fato esse,

que tem sido pouco avaliado pela comunidade cientifica.

Os tipos de manejos existentes realizados pelos ribeirinhos visam aumentar a

produtividade de frutos nos açaizais, basicamente consiste: 1- No raleamento da mata,

quando são derrubadas árvores que têm pouco valor econômico e de uso ou que estão

fazendo sombreamento; 2-Enriquecimento com mudas novas de açaizeiros ou de outra

planta que tem valor comercial; 3- Periodicamente é realizada a roçagem, quando são

eliminadas lianas, cipós e outras árvores de pequeno porte; 4-Desbastes das touceiras de

açaizeiros, onde são eliminados os estipes com baixa produção, ou muito altos que

dificultam a realização da colheita do fruto (Jardim e Anderson 1987, Anderson e Ioris

1992, Queiroz e Mochiutti 2001). Geralmente, as áreas manejadas são constituídas de 400

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a 500 plantas adultas de açaizeiro, 100 a 150 plantas de espécies frutíferas, e 50 a 60

árvores de outras árvores, além de outras palmeiras por hectare (Jardim e Anderson 1987,

Anderson and Ioris 1992, Queiroz e Mochiutti 2001).

Em um Assentamento Agroextrativista com 640 famílias, na Ilha Mamangais no

município de Igarapé-Miri/PA, região de maior produção de açaí no estúario Amazônico,

Aráujo e Navegantes-Alves (2015) classificaram os tipos de manejo dos açaízais existentes

em três categorias: leve, moderado e intensivo: O manejo leve foi utlizado por 3% dos

pesquisados. Neste tipo de manejo, a intervenção nos açaizais é mínima, sendo apenas feito

abertura de trilhas que da o acesso ao açaizal e os frutos são utilizados apenas para

consumo próprio do morador. O manejo moderado foi utilizado por 87% dos moradores

pesquisados. O tamanho médio da propriedade é 7,3 ha e são produzidos em média 250 kg

de açai por hectare em cada safra. Neste tipo de manejo, a intervenção na floresta é

moderado, há raleamento da mata, limpeza duas vez por ano e enriquecimento com mudas

novas. O cultivo do açaí é feito em consórcio com outras espécies de plantas, e parte da

vegetação nativa da propriedade é mantida. O manejo intensivo foi utilizado por 10 %

moradores pesquisados. Neste tipo de manejo o tamanho médio da propriedade é 24 ha em

média, e são produzidos cerca de 400 kg de açai por hectare em cada safra. No manejo

intensivo, todas as outras árvores são eliminadas, ficando somente açaizeiros,

caracterizando-se como um monocultivo (Araújo e Navegantes-Alves 2015).

Estudos que avaliam os impactos do manejo de açaizais sobre a biodiversidade, nas

florestas de várzea do estúario amazônico são poucos e têm priorizado a flora. Por

exemplo, (Weinstein and Moegenburg 2004) avaliaram o efeito do adensamento dos

açaizais, em cinco localidades no estuário amazônico (Ilha Combú, Igarapé Miri,

Abaetetuba, Oeiras do Pará e Breves) e encontraram alterações marcantes tanto na

estrutura como na composição da vegetação. Nas áreas sem manejo, havia quatro vezes

mais árvores pequenas (<10 cm de DAP), cinco vezes mais trepadeiras, 84 vezes mais

lianas, e a altura do dossel foi seis vezes maior e nove vezes mais fechado que em áreas

manejadas. Outros estudos relatam que as limpezas realizadas nos açaizais, para o

adensamento populacional, têm causado a diminuição da riqueza florística nas áreas de

floresta de várzea do estuário (Dubois et al. 1996, Farias 2012, Freitas et al. 2015).

Page 23: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

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As mudanças na estrutura da vegetação das florestas de várzea, ocasionadas pelo

manejo de açaizais, leva a simplificação da floresta, diminuindo a quantidade e diversidade

de recursos disponíveis (abrigos e recursos alimentares) para a fauna. Esse é um tema que,

ainda precisa de investigação, uma vez que essas alterações antrópicas na floresta pode

levar a extinção de espécies e perdas de serviços ecossistêmicos, como a polinização,

dispersão de sementes, ciclagem de nutrientes.

As respostas das espécies animais, as atividades antrópicas, dependem de vários

fatores como, grupo taxonômico, métrica ecológica, tipo perturbação e intensidade (Gibson

et al. 2011). Estudos realizados em culturas semelhantes aos açaizais manejados, em que

existe contato ou proximidade com a floresta primária, são capazes de manter a riqueza de

diferentes grupos animais semelhantes à floresta primaria. Por exemplo, os agrossistemas

de café sombreados no México, tem um impacto mínimo sobre a fauna e podem abrigar

uma riqueza de aves, morcegos (Pineda et al. 2005), répteis e artrópodes. (Moguel e

Toledo 1999), semelhantes à floresta primária. Na Malásia os plantios tradicionais de

dendê (Elaeis guineenses) feito em pequenas propriedades, mantêm uma alta ocorrência de

espécies de grandes mamíferos herbívoros e carnívoros, quando comparadas a grandes

plantios (Azhar et al. 2014). A alta abundância de grandes mamíferos foi influenciada

principalmente pelo tamanho da cobertura de floresta natural, dentro dos limites das

plantações de dendê (E.guineenses).

Os grupos de animais também podem reagir de forma diferente às perturbações

ocorridas. Em Vera Cruz no México, Saldaña-Vázquez et al. (2010) avaliaram a resposta

de morcegos Stenodermatinae dos gêneros Artibeus e Sturnira, a plantios de café.

Morcegos pequenos do gênero Sturnira foram afetados negativamente, diminuindo suas

abundâncias. Uma das possíveis explicações seria a eliminação de abrigos e de plantas

pioneiras que são fonte de alimento, e que foram eliminados do sub-bosque durante o

processo de limpeza. Já os grandes morcegos sternodermatinae do gênero Artibeus não

sofreram impactos na população, devidos estes ter uma maior plasticidade na busca de

alimento e por se alimentarem de frutos que ficam no dossel (Saldaña-Vázquez et al.

2010).

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21

O entendimento sobre os efeitos do manejo dos açaizais, sobre a Fauna da floresta

de várzea é importante para a adoção ou aprimoramento de práticas que visem o uso

sustentável da biodiversidade. Visando, contribuir com este tema um estudo, utilizando

morcegos como grupo alvo será feito. Tendo em vista, que este grupo, pode ser usado

como biondicador (Jones et al. 2009)

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2. HIPÓTESES

A riqueza de morcegos filostomideos nas áreas açaizais manejadas por ribeirinhos

não difere da floresta de várzea primária, pelo fato de serem contínuas ou muito

próximas. Porém, ocorrem alterações na abundância das espécies.

As características ambientais, relacionadas ao manejo dos açaizais, como as

mudanças na estrutura da vegetação, tem influência nas abundâncias dos morcegos

filostomídeos, no estuário do rio Amazonas.

Page 26: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

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3. OBJETIVOS

3.1 Geral

Avaliar os efeitos da exploração madeireira e do manejo de açaizais (Euterpe

oleracea) por ribeirinhos sobre as assembleias de morcegos em florestas tropicais.

3.2 Específicos

Revisar a bibliografia publicada, que avaliou os efeitos da exploração madeireira

sobre as assembleias de morcegos;

Identificar quais são as lacunas de conhecimento existentes em estudos sobre

efeitos da exploração madeireira sobre morcegos nas florestas tropicais;

Inventariar a fauna de morcegos de floresta de várzea, em três localidades no

estuário do rio Amazonas;

Investigar o efeito do manejo dos açaizais sobre morcegos filostomídeos em

florestas de várzea do estuário do rio Amazonas;

Investigar como as guildas alimentares de morcegos filostomídeos responde ao

manejo de açaizais no estuário do rio Amazonas;

Identificar variáveis ambientais relacionadas ao manejo dos açaizais que podem

influenciar as alterações na abundância de morcegos filostomídeos.

Page 27: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

24

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Page 33: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

30

CAPÍTULO 1 – EFEITOS DA EXPLORAÇÃO MADEIREIRA SOBRE

MORCEGOS EM FLORESTAS TROPICAIS

Artigo publicado no periódico Natureza & Conservação

Volume12, Edição (2), Pág. 99-105

Doi: 10.1016/j.ncon.2014.09.001

Page 34: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

31

Seção: Ensaios & Perspectivas

EFEITOS DA EXPLORAÇÃO MADEIREIRA SOBRE MORCEGOS EM

FLORESTAS TROPICAIS

Isai J. Castro¹* & Fernanda Michalski¹, 2

1 Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade Tropical, Universidade Federal do

Amapá, Rodovia Juscelino Kubitschek, km 02, Macapá, AP, 68902-280, Brazil.

2 Instituto Pró-Carnívoros, C.P. 10, Atibaia, SP, 12940-970, Brazil.

* Autor correspondente: E-mail: [email protected]

TOTAL DE PALAVRAS: 4962

TITULO CURTO: Efeitos da exploração madeireira em morcegos

Page 35: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

32

RESUMO: A exploração madeireira é uma das principais causas da perda de

biodiversidade nas florestas tropicais. Nas últimas décadas houve um aumento no número

de estudos que investigam o efeito da exploração madeireira sobre a biodiversidade, mas

especificamente para morcegos os avanços foram poucos, apesar da sua importância

ecológica. Apresentamos uma revisão de estudos sobre efeitos da exploração madeireira

em morcegos nas florestas tropicais no mundo, realizados nas ultimas três décadas.

Direcionamos nossa pesquisa para responder as seguintes perguntas: O que se sabe sobre

efeitos da exploração madeireira sobre a fauna de morcegos em florestas tropicais? Quais

são as lacunas de conhecimento que devem ser preenchidos? As pesquisas foram feitas

nas bases ISI Web of Knowledge, Google Scholar e Scopus, utilizando diferentes

combinações de palavras-chave. Encontramos 22 estudos relativos a esse tema, sendo que

a maioria concentrados na América latina e no sudeste asiático. Grande parte dos estudos

(81,8%) apenas comparou dados de riqueza e abundância de morcegos entre as áreas com e

sem exploração madeireira. Poucos estudos (18%) utilizaram dados de variáveis

ambientais, como as mudanças na estrutura da vegetação, afetam a diversidade de

morcegos. Ressaltamos que futuros estudos com o objetivo de verificar os efeitos da

exploração madeireira sobre morcegos devem levar em consideração a utilização de mais

de um método de amostragem a fim de obter amostras mais representativas. O

planeamento deve ser feito com mais cuidado, a fim de evitar pseudoreplicação e obter

resultados mais sólidos. Sugerimos que seja dado enfoque em regiões pouco estudas e que

possuem intensa atividade madeireira como a floresta amazônica e as florestas tropicais da

África.

PALAVRAS-CHAVE: Biodiversidade, Chiroptera, Delineamento amostral, Exploração

seletiva de madeira, Extração madeireira.

Page 36: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

33

ABSTRACT: Logging is one of the main causes of biodiversity loss in tropical forests. In

the past decades there was an increase in the number of studies on the effects of logging on

biodiversity, but there has been little advancement for bats, despite their ecological

importance. We present a review of studies on the effects of logging on bats in tropical

forests worldwide carried out in the past three decades. We aimed at answering the

following questions: What is known about the effects of logging on the bat fauna of

tropical forests? What are the gaps of knowledge that can be filled? We conducted a

literature search of studies on the effect of logging on the bat fauna in tropical forests in the

past decades. We surveyed the databases Web of Science, Google Scholar, and Scopus

with different keyword combinations: ―Bats OR Chiroptera‖, ―Logging‖, ―Selective

logging‖, ―Timber extraction‖, ―Tropic‖, ―Forest‖, and ―Tropical Forest‖. We found 22

studies focused on Latin America and Southeast Asia. Most studies (81.8%) only

compared bat richness and abundance between logged and unlogged areas, where

frugivorous bats responded positively to logging, whereas gleaning animalivores bats

responded negatively. Few studies (18%) tried to understand how environmental variables,

such as changes in vegetation structure, affect bat diversity. We emphasize that future

studies aimed at checking the effects of logging on bats should use more than one sampling

method in order to obtain more representative samples. Planning should be done with more

caution, in order to avoid pseudoreplication and obtain more solid results. Poorly studied

regions that have intensive logging, such as the Amazon and the tropical forests of Africa,

should receive more attention.

KEYWORDS: Biodiversity, Chiroptera, Sampling design, Selective logging, Timber

extraction.

Page 37: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

34

INTRODUÇÃO

Até o ano 2050 a demanda global por madeira deve triplicar devido ao crescimento

da população humana e ao aumento do uso da bioenergia, que utiliza a biomassa como

fonte (WWF, 2011). Dessa forma, mais áreas de florestas tropicais serão exploradas

gerando potenciais danos para a biodiversidade. A exploração madeireira é uma das

principais causas da perda da biodiversidade nas florestas tropicais (Laurance, 2007)

devido a impactos como a alteração na estrutura da floresta, a perturbação, o

desalojamento de animais dos seus habitats, a abertura de clareiras, a perda de fonte de

alimento entre outros efeitos negativos (Lagan et al., 2007).

Nas últimas décadas, tem se verificado um aumento nos estudos, que visam

investigar o efeito da exploração madeireira, sobre a biodiversidade nas florestas tropicais,

incluindo vários taxa, como mamíferos, aves, besouros e peixes (Edwards et al., 2012;

Politi et al., 2012). Entretanto, os resultados da maior parte destes estudos têm sido

questionados por não apresentarem resultados confiáveis e consistentes, sendo que isso se

deve principalmente a uma falha metodológica nos desenhos amostrais como o uso

exagerado de pseudo-réplicas (Ramage et al., 2013). Outros questionamentos se devem à

falta de padronização e a forma incompleta da disponibilização das informações básicas

sobre as áreas estudadas, como tipo de manejo e tempo de exploração madeireira (Laufer

et al., 2013).

Especificamente para os morcegos, houve pouco avanço em estudos voltados para

investigar o efeito da exploração madeireira, apesar da importância ecológica destes

mamíferos. Morcegos são conhecidos por serem importantes indicadores do estado de um

determinado habitat. Sua qualidade como bioindicadores, resultado em parte de sua

Page 38: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

35

história de vida, que é uma das mais diversificadas entre os mamíferos (Barclay e Harder,

2003; Jones et al., 2009). Além disso, os morcegos são importantes agentes de dispersão de

sementes e polinização, processos que são vitais para o sucesso reprodutivo de plantas,

bem como para a manutenção de florestas tropicais, podendo ajudar a recuperar áreas

degradadas (Fleming e Heithaus, 1981; Fleming e Sosa, 1994; García et al., 2000;

Muscarella e Fleming, 2007) e supressão de artrópodes (Kunz et al., 2011; Williams-

Guillen et al., 2008).

Embora, estudos apontem que os efeitos negativos da exploração madeireira sobre

morcegos nas florestas tropicais, com algum tipo de manejo sejam mínimos (Castro-

Arellano et al., 2007, 2009;. Clarke et al., 2005a;. Presley et al., 2008, 2009), algumas

guildas alimentares foram afetadas, principalmente na América Latina. Frequentemente,

após a exploração, tem havido um aumento no número de pequenos morcegos frugívoros

de sub-bosque e uma diminuição no número de morcegos animalívoros catadores,

omnívoros e morcegos carnívoros (Clarke et al., 2005b; Peters et al., 2006). No entanto,

estudos que relataram impactos da exploração madeireira sobre morcegos precisam de

melhor planejamento e de amostragem; a maioria deles não usou dados sobre alterações na

estrutura da vegetação devido à exploração madeireira e eles não testaram como essas

mudanças afetam a composição das assembleias de morcegos (Castro-Arellano et al.,

2009; Presley et al., 2008, 2009).

No presente estudo, foi realizada uma revisão do conhecimento sobre o efeito da

exploração madeireira na fauna de morcegos em florestas tropicais mundiais nas últimas

três décadas. Direcionamos nossa pesquisa para responder as seguintes perguntas: O que se

sabe sobre efeitos da exploração madeireira sobre a fauna de morcegos em florestas

tropicais? Quais são as lacunas de conhecimento que devem ser preenchidos?

Page 39: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

36

MATERIAL E MÉTODOS

Entre 27 de abril e 14 de maio de 2013 realizamos pesquisa bibliográfica de

estudos, publicados nas últimas três décadas (1988 – 2012), que avaliaram o efeito da

exploração madeireira sobre riqueza e abundância de morcegos em florestas tropicais. As

buscas foram feitas nas bases ISI Web of Knowledge, Google Scholar e Scopus, utilizando

diferentes combinações de palavras-chave '' Bats OR Chiroptera'', '' Logging'', ―Selective

logging‖, ―Timber extraction‖, ''Tropic'', ―Forest‖ e ―Tropical Forest‖.

Utilizamos os seguintes critérios para determinar se a referência era apropriada para

esta avaliação: (1) estudos realizados entre as latitudes 23 N e 23 S; (2) estudos que

avaliaram os efeitos da exploração madeireira em morcegos, comparando áreas submetidas

a algum tipo de manejo, como corte seletivo, corte seletivo de impacto reduzido (RIL),

corte seletivo policíclico e corte seletivo continuo, com áreas de controle. Também

consideramos artigos que tiveram sítios de coletas em áreas de exploração madeireira que

foram citados na descrição da área de estudo, mas que o objetivo não era analisar

especificamente os efeitos do corte seletivo.

Nas buscas, encontramos 118 estudos potenciais, no entanto, apenas 22 foram

enquadrados nos critérios utilizados para a seleção destes. Extraímos dos artigos as

seguintes informações: ano da publicação , título, localização do estudo (ex. coordenada

geográfica, país), tipo de manejo (ex. reserva, corte seletivo, corte seletivo de impacto

reduzido (RIL), corte seletivo policíclico, agricultura e outros tipos de manejo), área (ha)

do estudo quando fornecido, tempo de exploração (anos) desde o primeiro corte, volume

de madeira extraída (m³ ha-¹), métodos de amostragem de morcegos (rede de neblina,

harpas, busca ativa em abrigos, detector de ultrassom), número de indivíduos coletados por

Page 40: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

37

sítio, riqueza (número de espécies), guildas alimentares (frugívoros, nectarívoros,

animalívoros catadores, insetívoros aéreos, onívoros, carnívoros e hematófagos), dados de

variáveis ambientais e de perturbação, quando fornecido, e esforço amostral. Como nossos

dados foram distribuídos normalmente (testado com o teste de Shapiro-Wilk) e a variação

nas populações eram iguais (homocedasticidade) e independentes (Zar, 1996) uma análise

de variância (ANOVA) foi utilizada para testar as diferenças entre o número de métodos de

captura utilizados e a riqueza de espécies.

Usamos o teste - U de Mann-Whitney, para comparar as guildas de morcegos mais

abundantes (frugívoros, nectarívoros, insetívoros aéreos e animalívoros catadores) entre

florestas com exploração madeireira e florestas sem exploração (controle) (Zar, 1996).

Somente dados de abundância de morcegos capturados com redes de neblina foram

incluídos nesta análise. As abundâncias foram obtidas: dividindo-se o número de

indivíduos capturados para cada guilda trófica, pelo esforço de amostragem para cada

estudo, com dados disponíveis. Os esforços amostrais de rede de neblina obtidos nos

estudos (Tabela 1) foram padronizados em m2. rede. h (sensu Straube e Bianconi, 2002).

Utilizamos o ArcGis 9.3 (ESRI, 2009) para confecção do mapa de distribuição dos

sítios onde foram realizados os estudos (Fig. 1). Para gerar o mapa, utilizamos as

coordenadas geográficas fornecidas em cada estudo, quando essa informação não foi

fornecida, utilizamos o software Google Earth para obter coordenadas aproximadas das

áreas de estudo, usando como referência características facilmente visíveis e identificadas

nas imagens como rios, áreas protegidas, cidades e estradas que foram citadas nos artigos.

Page 41: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

38

Fig. 1: Distribuição geográfica dos estudos que avaliaram o efeito da exploração

madeireira sobre morcegos em florestas tropicais.

RESULTADOS

Encontramos 22 publicações, relacionadas ao efeito da exploração madeireira,

sobre morcegos nas florestas tropicais, publicados nas últimas três décadas. A maioria está

localizada em países da América Latina (Brasil = 27%, México = 9%, Venezuela = 9%,

Trinidad = 9%, Guatemala = 5%,) e do sudeste asiático (Malásia = 23%, Indonésia = 9%).

Nós encontramos somente um estudo para as florestas tropicais da África e um para as

florestas da Oceania (Tabela 1 e Fig. 1). Em uma análise temporal considerando as últimas

três décadas houve um crescimento ascendente de publicações e o período entre 2005 a

2010 foi o mais produtivo (Fig. 2), entretanto, no período entre 2002 a 2004 não foram

encontradas publicações com o tema (Tabela 1).

Page 42: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

39

Tabela 1. Estudos revisados que examinaram o efeito da exploração madeireira sobre a fauna de morcegos em florestas tropicais.

Estudo País Método de amostragem

Variáveis

ambientais

amostradas

Habitats comparados

com áreas de exploração

madeireira

Tempo de

exploração

desde o

primeiro

corte (Ano)

Volume

de

madeira

extraída

(m³-/-

ha)

(Crome e Richards,

1988) Austrália Detector de ultrassom _ _ _ _

(Zubaid, 1993) Malásia Rede de neblina;

Harpa _ Floresta primária >20 _

(Danielsen e Heegaard,

1995) Indonésia Rede de neblina _

Floresta primária, Plantio de

seringueira e Plantio de dendê 12-15 _

(Ochoa, 1997) Venezuela Rede de neblina,

Busca ativa em abrigo _

_

(Ochoa, 2000) Venezuela Rede de neblina,

Busca ativa em abrigo _ Floresta primária 6,7 7,1

(Schulze et al., 2000) Guatemala Rede de neblina _ Floresta primária, Agricultura _ _

(Saldanha, 2000) Brasil Rede de neblina,

Busca ativa em abrigos _ Floresta primária 2-3 18,5

Page 43: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

40

(Clarke et al., 2005b) Trinidad

Rede de neblina no sub-

bosque e no sub-dossel;

Harpa

a Floresta primária 10 -33 5,3 – 6,4

(Clarke et al., 2005a) Trinidad

Rede de neblina no sub-

bosque e no subdossel;

Harpa

a

10-15 5,1 – 6,6

(Peters et al., 2006) Brasil

Rede de neblina

no dossel e no sub-

bosque

b, c, d, e, f, g Floresta primária 10 _

(Castro-Arellano et al., 2007) Brasil Rede de neblina _ Floresta primária 2-3 _

(Castro-Luna et al., 2007) México Rede de neblina a, h, i, j, k, l, m Floresta primária, Agricultura. _ _

(Suyanto e Struebig, 2007) Indonésia Rede de neblina, Harpa _ Floresta primária _ _

(Presley et al., 2008) Brasil Rede de neblina _

2-3 18,5

(Presley et al., 2009) Brasil Rede de neblina _ Floresta primária 2-3 18,5

(Castro-arellano et al., 2009) Brasil Rede de neblina - Floresta primária 2-3 18,5

(Monadjem et al., 2010) Uganda Detector de ultrassom n, o, p, q Floresta primária _ 17,5

(Saldaña-Vázquez et al.,

2010) México Rede de neblina _

Plantio de café sombreado,

Floresta primária _ _

(Shafie et al., 2011) Malásia Rede de neblina _ Plantio de dênde 20 _

Page 44: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

41

(Joann et al., 2011) Malásia Harpa _ _ _ _

(Turner, 2011)

Malásia Harpa a,f,h,r

Plantio de dênde, Floresta

primária e secundária,

Fragmento de floresta, Floresta

ripária

_ _

Kumaran et al., 2011 Malásia Rede de neblina, Harpa _ Floresta primária e secundária e

plantio de banana _ _

a= Abertura do dossel (%); b= Diâmetro médio de árvores; c= Área basal; d= Coeficiente de variação da densidade de folhas no sub-bosque; e

= Coeficiente de variação da densidade de folhas no dossel; f= Densidade da folhagem no sub-bosque (<5 m); g= Densidade de folhagem no

dossel (5-40 m); h= Altura do dossel (m); i= Cobertura de herbáceas (%), j= Cobertura de lenhosas (%), k= Diversidade de plantas (H'); l=

Distância para a borda da floresta(m); m= Distância para cavernas (m); n= Cobertura da vegetação (0–5) no sub-bosque; o= Cobertura da

vegetação (0–5) no médio dossel; p= Cobertura da vegetação (0–5) no dossel; q= Temperatura (ºC), r=número de corpos d‘água.

Page 45: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

42

Figura 2: Número anual de estudos sobre efeitos da exploração madeireira em morcegos

publicados de 1985 a 2012 em florestas tropicais. A largura da linha é proporcional ao

número de métodos utilizados em cada estudo.

A maioria dos estudos (81,8%), apenas comparou dados de riqueza e abundância

entre as áreas exploradas e não exploradas. Na América latina 40% dos estudos

compararam áreas exploradas com algum tipo de manejo, principalmente de impacto

reduzido (RIL), com áreas não exploradas, como os estudos realizados na Amazônia

brasileira (Saldanha, 2000; Castro-Arellano et al., 2007; Presley et al., 2008; Castro-

Arellano et al., 2009; Presley et al., 2009). Apenas um estudo em Trinidad (Clarke et al.,

2005a) avaliou efeito de dois sistemas de exploração de madeira sobre a assembleia de

morcegos: 1) O corte contínuo e sem critérios ecológicos; 2) O Sistema de blocos

periódicos (PB), baseado em critérios ecológicos visando a manutenção da biodiversidade.

Page 46: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

43

No sudeste asiático, apesar da atividade madeireira ser intensa, apenas dois estudos

investigaram efetivamente o efeito da exploração madeireira sobre morcegos (Danielsen e

Heegaard, 1995; Turner, 2011). Os demais estudos feitos no sudeste asiático apenas

mencionam que o estudo foi feito em sítios de exploração madeireira sem demonstrar

nenhuma análise.

Foram poucos os estudos, que usaram variáveis ambientais, como as alterações

sofridas na estrutura da vegetação e de perturbação para interpretar o efeito da exploração

madeireira sobre a fauna de morcegos. Isso poderia levar a conclusões mais precisas, dos

22 estudos encontrados, apenas quatro (18%) utilizaram estas variáveis (Tabela 1). Dois

trabalhos apenas mediram abertura de dossel, mas não reportaram como essa variável

afetaria a fauna de morcegos em Trinidad (Clarke et al., 2005a, 2005b).

Apenas oito estudos (36%) forneceram dados sobre o volume de madeira explorada

por hectare (m3

ha-1

), com valores variando de 5.1 para 18,5 m3 ha

-1 (Tabela 1 e Fig. 3).

Dois estudos forneceram o número de árvores removidas por hectare (Danielsen e

Heegaard, 1995; Peters et al., 2006). O período de exploração (anos) desde o primeiro

corte foi fornecido por mais de 50% dos estudos (Tabela 1 e Fig. 3). O tamanho da área de

estudo (ha) foi fornecido por 68% dos estudos. Dezesseis estudos (72%) informaram dados

sobre a abundância morcegos (Fig. 3).

Page 47: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

44

Fig. 3 - Proporção do número de estudos de acordo com dados apresentados. VA=

Variáveis ambientais medidas; VE= Volume de madeira extraída (m3 ha

-1); PE=Período de

exploração desde o primeiro corte (anos); AB=abundância de morcegos em estudos em

florestas tropicais publicados de 1985 a 2012. Em vermelho: Porcentagem dos estudos que

reportaram dados. Em azul: porcentagem de estudos que não relataram dados.

Sobre os métodos de amostragem de morcegos, metade dos estudos (11 estudos)

reportou que utilizaram rede de neblina. Dois estudos usaram detectores de ultrassom, dois

estudos usaram armadilhas harpa, e sete estudos utilizaram dois ou mais métodos

combinados (Tabela 1). Considerando o número de espécies capturadas (riqueza) com cada

método de amostragem, houve uma diferença significativa (F = 7,35; p <0,012). Em

estudos que utilizaram um único método de amostragem, o número de espécies capturadas

variou de 3 a 35. Com dois métodos a variação foi mais ampla: de 2 a 78 espécies. Nos

estudos que utilizaram três métodos, foi observada a menor variação, de 18 a 30 espécies.

Encontramos diferentes maneiras de descrever o esforço de amostragem. Por exemplo,

Clarke et al. (2005a) descreveu como redes. horas; Presley et al. (2009) como redes.metros.

Page 48: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

45

horas, e Kumaran et al.(2011) como redes × noite. Essa falta de padronização dificulta

comparações entre estudos.

Considerando-se o número de indivíduos capturados por guilda trófica em estudos

que utilizaram redes de neblina para capturar morcegos, encontramos uma tendência de

aumento na abundância de morcegos frugívoros e uma diminuição dos morcegos

animalívoros catadores em florestas exploradas. No entanto, esta tendência foi apenas

marginalmente significativa para animalívoros catadores (U = 95,5; p = 0,050), e não foi

significativa para nectarívoros (U = 80,5; p = 0,520), frugívoros (U = 146,0; p = 0,245) e

insetívoros aéreos (U = 64,0; p = 0,207) quando comparada, florestas exploradas e não

exploradas (Fig. 4).

Fig. 4 - Diferenças na abundância de morcegos em florestas tropicais com

exploração e sem exploração madeireira. AIN=insetívoro aéreo; CAR=carnívoro;

FRU=frugívoro; NEC=nectarívoros; GLE= Animalivoro catador; OMN= onívoro;

SAN=sanguívoro.

Page 49: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

46

DISCUSSÃO

Morcegos têm sido negligenciados na avaliação do efeito da exploração madeireira

nas florestas tropicais em todo o mundo. No entanto, encontramos que houve um aumento

em estudos com esse grupo nas últimas décadas. Dentre os poucos estudos encontrados na

literatura, a maioria foi realizada na região Neotropical, em florestas de terra firme e em

áreas com algum regime de manejo com a extração muito baixa de madeira (Castro-

Arellano et al., 2007, 2009; Clarke et al., 2005a, 2005b; Ochoa, 2000;. Peters et al., 2006;

Presley et al., 2008, 2009;. Saldanha, 2000). As florestas tropicais da África e Oceania

foram as que apresentaram menor número de estudos. Esta tendência cria um déficit em

nossa compreensão das respostas dos morcegos para exploração madeireira, considerando

que a fragmentação causada por tal atividade pode alterar a organização trófica das

comunidades (Hill et al., 2011).

Descobrimos que a maioria dos estudos avaliaram apenas diferenças de riqueza,

abundância, e guildas alimentares entre áreas exploradas e não exploradas. Por exemplo,

eles não incluem dados sobre alterações ambientais causados pela exploração madeireira,

como as mudanças na estrutura da floresta. Um dos poucos estudos que consideraram as

mudanças na estrutura da vegetação foi realizado na Amazônia brasileira (Peters et al.,

2006), onde o efeito de exploração seletiva de madeira em áreas exploradas por dez anos

foi analisado. Os autores observaram que as mudanças na abertura do dossel e densidade

de folhas no sub-bosque causada pela extração madeireira leva a alterações na composição

e estrutura trófica da fauna de morcegos. Isto pode sugerir que o corte seletivo não tem um

alto valor de conservação. No entanto, o estudo acima mencionado tem falhas

metodológicas, como pseudoreplicação, o que pode levar a resultados exagerados em

estudos sobre efeitos do corte seletivo sobre a biodiversidade (Ramage et al., 2013).

Page 50: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

47

Estudos sobre os efeitos da exploração madeireira sobre morcegos tem priorizado o

uso da rede de neblina como método principal, talvez por uma questão logística, pois são

relativamente acessíveis, de baixo custo, de fácil transporte em campo e relativamente

eficientes na captura de morcegos (Kunz et al., 2011). Entretando, nos Neotropicos a rede

de neblina favorece a captura de morcegos filostomídeos, que é endêmica dessa região,

deixando outras famílias de morcegos sub-amostradas e subavaliadas sobre o efeito da

exploração madeireira nas florestas tropicais (Presley et al., 2008, 2009). A utilização de

métodos complementares, como busca ativa de abrigos, um método eficiente e não muito

caro, poderia resolver este problema metodológico (Ochoa, 2000). Detectores de ultra-som

(Cunto e Bernard, 2012) para amostragem de morcegos que forrageiam no dossel como os

verpertilionideos, tambem podem complementar a a amostragem, além disso, a revisão de

literatura das últimas três décadas demonstra que houve um incremento no número de

métodos utilizados nos anos de 2004-2006, mas que não se mantiveram nos anos

subsequentes.

Apesar de termos encontrado, apenas uma diminuição marginalmente significativa

para morcegos animalívoros catadores nas florestas exploradas, nossos dados sugerem que

houve um aumento na abundância de morcegos frugívoros. O efeito positivo sobre os

morcegos frugívoros provavelmente resulta da utilização de recurso alimentar fornecida

por plantas pioneiras que florescem em resposta a mudanças causadas pela exploração

madeireira (Clarke et al., 2005b;. Fleming, 1988; Presley et al, 2008;. Soriano e Ochoa,

2001). Por outro lado, o efeito negativo sobre os morcegos animalívoros, que são morcegos

que se alimentam de invertebrados e pequenos vertebrados recolhidos a partir do substrato,

está provavelmente relacionado com um decréscimo na abundância de presas e uma

diminuição no número de abrigos (Presley et al., 2008 ; Soriano e Ochoa, 2001). Além

Page 51: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

48

disso, em alguns casos, estes morcegos dependem de tipos abrigos específicos que são

destruídos pela exploração madeireira (Kalko, 1998). Nossos dados também apresentam

uma grande variação na abundância de morcegos frugívoros em florestas exploradas, o que

provavelmente diluiu o efeito da exploração madeireira neste grupo trófico. Assim, uma

análise mais detalhada, considerando-se uma visão geral em nível de espécie,

provavelmente, mostrará que algumas espécies podem responder mais positivamente do

que outro, dentro desta guilda especifica.

Assim, podemos concluir que os efeitos da exploração madeireira sobre morcegos

em florestas tropicais exigem mais pesquisas, para melhor compreensão. No entanto, os

resultados da literatura sugerem que para morcegos frugívoros os efeitos tendem a ser

positivos, enquanto que para os morcegos animalívoros catadores, os efeitos tendem a ser

negativos.

Em síntese, afim de melhor compreender as respostas dos morcegos aos efeitos da

exploração madeireira nas florestas tropicais, considerando a importância ecológica que

estes desempenham (Kunz et al., 2011), estudos futuros devem investir em um melhor

planejamento. Sugerimos algumas diretrizes para a sua melhoria, tais como a padronização

do plano de amostragem, a fim de evitar pseudoreplicação, o que pode comprometer os

resultados e conclusões. A adoção de mais de um método de amostragem de morcegos

como, redes de neblina e busca ativa, redes de neblina e detector de ultrassom, ou redes de

neblina, busca ativa e detector de ultrassom. Nós também sugerimos a inclusão de

variáveis ambientais e de perturbação na análise das mudanças que afetam a riqueza e

abundância de espécies ou guildas de morcegos. Por fim, para estudos futuros, sugerimos

mais atenção a regiões pouco estudadas com atividade madeireira intensiva, como a

Amazônia e as florestas tropicais da África.

Page 52: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

49

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54

CAPÍTULO 2 – MORCEGOS DE FLORESTA DE VÁRZEA NO ESTUÁRIO DO RIO

AMAZONAS, ESTADO DO AMAPÁ, NORTE DO BRASIL

Artigo publicado no periódico Biota Neotropical

Volume 15, Edição (2), Pág. 1-8

Doi: http://dx.doi.org/10.1590/1676-06032015016814

Page 58: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

55

Morcegos de floresta de várzea no estuário do Rio Amazonas, Estado do Amapá,

Norte do Brasil

Isai Jorge de Castro¹, 2,4

& Fernanda Michalski¹, 3

1 Programa de Pós Graduação em Biodiversidade Tropical, Universidade Federal do

Amapá, Rodovia Juscelino Kubitschek, km 02, CEP 68902-280, Macapá, AP, Brasil.

2 Laboratório de Mamíferos, Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado

do Amapá, Rodovia JK, Km 10, s/n, bairro Fazendinha, CEP 68912-250, Macapá, Amapá,

Brasil,

3 Instituto Pró-Carnívoros, C.P. 10, CEP 12940-970, Atibaia, SP, Brasil.

4 Corresponding author: Isai Jorge de Castro, e-mail: [email protected]

Page 59: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

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Resumo

As florestas de várzea do estuário do rio Amazonas ocupam uma extensão 25. 000 km²,

abrangendo os estados do Pará e Amapá. Os mamíferos dessas florestas especificamente

morcegos, ainda são pouco conhecidos. Este estudo visa apresentar uma lista de espécies

de morcegos de três localidades em floresta de várzea no estuário do Rio Amazonas,

contribuindo assim, com o conhecimento da quiropterofauna desta fitofisionomia. Entre

novembro e dezembro de 2013, foram selecionados 18 sítios de amostragens, na foz de três

rios tributários do Rio Amazonas: Rio Ajuruxí, Rio Maracá e Rio Mazagão. Com o uso de

dez redes de neblina (12 x 3 m) armadas ao longo de um transecto linear de 150 metros em

cada sitio de coleta, totalizando um esforço amostral de 38,888 m². h-1

, capturamos 403

indivíduos distribuídos em 40 espécies e cinco famílias. As famílias registradas foram

Phyllostomidae (n=31 espécies), Emballonuridae (n=6 espécies), Moormopidae (n=1

espécie), Vespertilionidae (n=1 espécie) e Thyropteridae (n=1 espécie). Carollia

perspicillata, Artibeus planirostris e Carollia brevicauda representam compreenderam 45

% dos registros. Nós documentamos o primeiro registro de Glyphonycteris daviesi para o

estado do Amapá. Registramos também espécies raras como Dicludurus albus e

Macrophyllum macrophylum. Os dados obtidos neste estudo revelam que as florestas de

várzea do estuário do rio Amazonas, abrigam uma alta riqueza e diversidade de morcegos e

que políticas de conservação devem ser consideradas para a manutenção desta diversidade.

Tais politicas devem ser focadas no incentivo para o manejo responsável do cultivo do

açaizeiro (Euterpe oleracea) e da exploração da madeira, além da redução da exploração

madeireira ilegal que causa prejuízos a fauna e flora dessas florestas ricas em

biodiversidade.

Palavras-chave: Chiroptera, conservação, biodiversidade, floresta inundável.

Page 60: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

57

Abstract

The várzea forests of the estuary of the Amazon River cover 25,000 km² within the states

of Pará and Amapá. The mammals of those forests, especially bats, are still poorly known.

Hence, the present study aimed at inventorying the bat species from three localities of a

várzea forest in the estuary of the Amazon River. Between November and December 2013,

we selected 18 sampling sites in the mouths of three tributaries of the Amazon River: the

rivers Ajuruxí, Maracá, and Mazagão. We set up ten mist nets (12 x 3 m) along a 150-m

linear transect in each sampling site, in a total sampling effort of 38,888 m².h. We captured

403 individual bats of 40 species and five families. We recorded the families:

Phyllostomidae (n = 31 species), Emballonuridae (n = 6 species), Moormopidae (n = 1

species), Vespertilionidae (n = 1 species), and Thyropteridae (n = 1 species). Carollia

perspicillata, Artibeus planirostris, and Carollia brevicauda comprised 45% of the

records. We also made the first record of Glyphonycteris daviesi for Amapá state, and

captured rare species, such as Dicludurus albus and Macrophyllum macrophyllum. Our

results show that the várzea forest of the estuary of the Amazon River harbors high bat

diversity, and, hence, conservation policies should be considered for the region. Those

policies should encourage the responsible management of açaí palm (Euterpe oleracea)

and timber. They should also fight illegal timber exploitation that threatens the fauna and

flora of those biodiverse forests.

Keywords: Chiroptera, conservation, biodiversity, floodable forest.

Page 61: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

58

Introdução

As florestas de várzea são áreas sujeitas à inundação pelo aumento dos níveis dos

rios de águas brancas, com pH neutro, e que conduzem elevada sedimentação e nutrientes,

como os rios Amazonas, Purus e Juruá (Prance 1979, Sioli 1984). Elas abrangem uma área

que pode chegar a 200. 000 km2 na bacia amazônica (Junk 1984, Wittmann et al. 2010).

No estuário do Rio Amazonas, as florestas de várzea ocupam uma área de

aproximadamente 25,000 km², abrangendo os estados do Pará e Amapá na Amazônia

oriental (Lima et al. 2001). Nessa região da Amazônia, grandes áreas estão sendo alteradas

devido à crescente demanda da exploração madeireira e do manejo do açaí (Euterpe

oleracea), que na atualidade estão entre os produtos de maior importância econômica

oriundos das várzeas do estuário amazônico (Muñiz-Miret et al. 1996, Queiroz &

Mochiutti 2001, Brondízio et al. 2002, Weinstein & Moegenburg 2004, Homma 2012).

Neste contexto, a manutenção da biodiversidade das florestas de várzea, dependem em

grande parte do conhecimento e da conservação de espécies existentes nesse ambiente.

Morcegos são mamíferos, diversificados e abundantes, que dependendo da região

podem representar cerca de até 60% da fauna local (Simmons & Voss 1998). Eles

desempenham inúmeros papéis na regulação dos ecossistemas tropicais, sendo

responsáveis pela dispersão de sementes de mais de 500 espécies de plantas, pela

polinização de angiospermas, além do controle de populações de insetos, inclusive dos

insetos danosos à agricultura e vetores de doenças (Medellín et al. 2000, Jones et al. 2009,

Kunz et al. 2011). A fauna de morcegos no Brasil é bastante expressiva. Das 690 espécies

de mamíferos atualmente conhecidos no país (Paglia et al. 2012), pelo menos 175 são

morcegos (Reis et al. 2013). Na Amazônia brasileira, já foram registradas 147 espécies,

pertencentes a nove famílias (Bernard et al. 2011, Castro et al. 2012). No Amapá, os

inventários realizados já documentaram 86 espécies de oito famílias (Martins et al. 2006,

Martins et al. 2011, Silva et al. 2013), sendo que a maioria dos inventários foi concentrado

em florestas de terra firme.

Nos últimos dez anos estudos com morcegos em florestas inundadas na Amazônia

brasileira tiveram um aumento considerável, especificamente sobre aspectos ecológicos,

mas estes são concentrados na Amazônia central, no Estado do Amazonas (Ramos Pereira

et al. 2009, Ramos Pereira et al. 2010a, Ramos Pereira et al. 2010b, Marques et al. 2012,

Page 62: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

59

Bobrowiec et al. 2014). Entretanto, as florestas de várzea do estuário do Rio Amazonas, na

Amazônia oriental são áreas que ainda apresentam uma lacuna de conhecimento sobre a

riqueza de espécies de morcegos. Apenas dois estudos foram realizados nessa porção da

Amazônia, sendo um na região do Marajó, no Rio Anajás (Marques-Aguiar et al. 2002) e

outro nas proximidades de Belém (Kalko & Handley Jr. 2001), ambos no estado do Pará. O

inventário da fauna silvestre visa contribuir com informações sobre a riqueza de um

determinado grupo da biodiversidade local, sendo uma importante ferramenta na tomada

de decisões sobre manejo de áreas naturais (Silveira et al. 2010). Levando em consideração

a carência de estudos com a fauna de morcegos em florestas de várzea, esse estudo visa

apresentar uma lista de espécies de morcegos de três localidades em floresta de várzea no

estuário do Rio Amazonas, preenchendo assim uma lacuna do conhecimento acerca da

quiropterofauna nesta região.

Material e Métodos

A área de estudo localiza-se no município de Mazagão, sudeste do estado do

Amapá, norte do Brasil. Essa região está incluída no estuário do Rio Amazonas. A

vegetação é classificada como Floresta Ombrófila Densa Aluvial (IBGE 2004), que é

popularmente conhecida como floresta de várzea (Figura 1). Essas florestas no estuário do

Rio Amazonas possuem um aspecto peculiar. Devido à proximidade com o Oceano

Atlântico os picos de inundação são regulados pelos regimes de marés e são inundados

duas vezes diariamente. O clima na região é o equatorial úmido e a temperatura média é de

26ºC, com precipitação anual em torno de 2,000 mm³ (SUDAM 1984).

Page 63: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

60

Figura 1. Localização da área de estudo. Pontos em amarelo são os sítios de coleta, sendo

Foz do Rio Ajuruxi (MA1, MA2, MA3, CA1, CA2, CA3), Foz do Rio Maracá (MMR1,

MMR2, MMR3, CRM1, CRM2, CRM3) e Foz do Rio Mazagão (MMZ1, MMZ2, MMZ3,

CMZ1, CMZ2, CMZ3).

Foram selecionados 18 sítios de coletas (Figura 1, Tabela1) localizados na foz de

três rios tributários do Rio Amazonas: Rio Ajuruxí, Rio Maracá e Rio Mazagão. Em cada

região foram selecionados seis sítios de coleta, com distância mínima de 1 km entre eles.

Na área de estudo as atividades econômicas são centradas no extrativismo vegetal,

Page 64: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

61

principalmente o manejo do açaí (Euterpe oleracea), com áreas manejadas variando de 1 a

20 hectares por família ribeirinha. Também existe a exploração de madeira, onde o

beneficiamento ocorre em serrarias familiares locais, para abastecer as próprias

comunidades e os municípios de Macapá e Santana, no Estado do Amapá.

Tabela 1. Sítios de coleta, coordenadas geográficas, número espécies de morcegos e de

indivíduos amostrados em floresta de várzea no estuário do Rio Amazonas. Em cada sítio

foram usadas 10 redes de neblina com um esforço amostral de 2160 m2.h por sítio.

Sítio Rio Latitude Longitude Espécies Indivíduos.

CA1 Ajuruxi -0.550726 -51.563764 5 5

CA2 Ajuruxi -0.514091 -51.553349 15 44

CA3 Ajuruxi -0.519318 -51.541283 11 18

MA1 Ajuruxi -0.536379 -51.54919 16 38

MA2 Ajuruxi -0.546935 -51.589648 8 13

MA3 Ajuruxi -0.535683 -51.532811 8 15

MMR1 Maracá -0.447744 -51.461611 15 34

MMR2 Maracá -0.413852 -51.437795 12 28

MMR3 Maracá -0.446273 -51.488222 11 32

CMR1 Maracá -0.460856 -51.488209 10 20

CMR2 Maracá -0.429111 -51.453823 5 9

Page 65: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

62

CMR3 Maracá -0.445328 -51.470813 7 10

CMZ1 Mazagão -0.25096 -51.351336 11 31

CMZ2 Mazagão -0.245761 -51.383893 8 20

CMZ3 Mazagão -0.2622 -51.415517 12 18

MMZ1 Mazagão -0.244296 -51.399837 10 27

MMZ2 Mazagão -0.241649 -51.411261 12 18

MMZ3 Mazagão -0.253874 -51.369926 11 23

Os morcegos foram capturados com redes de neblina (mist nets) armadas ao longo

de um transecto linear de 150 metros em cada sitio de coleta entre novembro e dezembro

de 2013. Em cada noite de coleta, foram utilizadas 10 redes (12 x 3 m) que foram abertas

ao entardecer, revisadas em intervalos de 20-30 minutos, e fechadas após seis horas de

exposição. A identificação das espécies foi feita por meio de uma chave para morcegos da

sub-região da Guiana (Lim & Engstrom 2001) e das chaves de identificação para morcegos

da América do Sul (Gardner 2008). Foram obtidas medidas biométricas como peso,

medida do antebraço, além da verificação de sexo, idade e estágio reprodutivo. Para as

medidas biométricas foram utilizadas balanças tipo dinamômetro e paquímetro digital. A

nomenclatura das espécies seguiu (Nogueira et al. 2014), exceto para o reconhecimento de

Pteronotus rubiginosus ao invés de Pteronotus parnellii para a Guiana Francesa e Amapá

no Brasil (Thoisy et al. 2014). Morcegos foram classificados em amplas guildas de

forrageamento baseada em hábitos alimentares, seguindo Gardner (1977) para

Phyllostomidae e Willig (1986) para todas as outras famílias. Até seis exemplares

testemunhos das espécies registradas foram coletados de acordo com a licença SISBIO

40774-1, fixados em formol a 10%, preservados em álcool 70% e depositados na Coleção

de Fauna do Amapá, sediada no Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do

Amapá (IEPA), em Macapá sobe os números IEPA 3926 e IEPA 3953-4013.

Page 66: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

63

O esforço amostral foi calculado pela área de cada rede, multiplicado pelo tempo de

exposição, número de noites, e número de redes seguindo (Straube & Bianconi 2002).

Curvas de rarefação foram construídas baseadas no número de indivíduos e de espécies

para verificar a suficiência do esforço amostral (Gotelli & Colwell 2001). Para estimar a

riqueza de morcegos da área estudada foi utilizado o estimador não paramétrico Jackknife I

que tem como base as espécies únicas das amostras (Magurran 2004). A diversidade de

espécies foi determinada a partir do índice de Shannon (H´). Este índice é considerado

como uma medida principalmente de dominância, sendo que proporciona maior peso às

espécies comuns (Magurran 2004). As curvas de rarefação, assim como cálculo do

Jackknife I e o índice de Shannon (H´) foram calculados utilizando-se o software R

programe 3.0.1 (R Development Core Team 2013).

Resultados

Com um esforço amostral de 38,888 m2. h capturamos 403 indivíduos distribuídos

em 40 espécies e cinco famílias, considerando toda área de estudo. As famílias registradas

foram Phyllostomidae (n=31 espécies), Emballonuridae (n=6 espécies), Moormopidae

(n=1 espécie), Vespertilionidae (n=1 espécie) e Thyropteridae (n=1 espécie) (Tabela 2). Do

total de espécies, nove foram capturadas exclusivamente na foz do Rio Ajuruxi, seis

espécies na foz do rio Maracá e apenas três espécies foram exclusivas da foz do rio

Mazagão (Tabela 2). Todas as espécies foram classificadas como Pouco preocupante pela

IUCN (2014), exceto Platyrrhinus fusciventris e P. incarum, que ainda não tiveram seus

status avaliados.

Tabela 2: Lista de espécies, número de capturas e guilda trófica de morcegos das espécies

de morcegos capturadas em três localidades de floresta de várzea no estuário do rio

Amazonas. Para guilda trófica (AI = insetívoro aéreo, FR = frugívoro, GA = animalívoro

catador, NE = nectarívoro, SAN= Sanguivoro).

Ajuruxi Maracá Mazagão Total

Guilda

trófica

Families/Species

Emballonuridae

Cormura brevirostris (J. A. Wagner, 0 1 0 1 AI

Page 67: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

64

1843)

Diclidurus albus (wied-Neuwied,

1820) 0 1 0 1 AI

Saccopteryx bilineata (Temminck,

1838) 3 0 4 7 AI

Saccopteryx leptura (Schreber,

1774) 0 1 2 3 AI

Peropteryx leucoptera W. Peters,

1967 0 0 1 1 AI

Peropteryx macrotis (J. A. Wagner,

1843) 1 0 0 1 AI

Momoopidae

Pteronotus rubiginosus (Wagner,

1843) 0 0 1 1 AI

Phyllostomidae

Artibeus lituratus (Olfers, 1818) 2 0 0 2 FR

Artibeus obscurus (Schinz, 1821) 8 4 5 17 FR

Artibeus planirostris (Leach, 1821) 11 20 16 47 FR

Carollia brevicauda (Schinz, 1821) 14 11 14 39 FR

Carollia perspicillata (Linnaeus,

1758) 35 29 32 96 FR

Chrotopterus auritus (W. Peters,

1856) 2 0 0 2 GA

Choeroniscus minor (W. Peters,

1868) 2 2 8 12 NE

Dermanura cinerea Gervais, 1856 5 3 2 10 FR

Dermanura gnoma (Handley, 1987) 1 0 0 1 FR

Desmodus rotundus (É. Geoffroy

St.-Hilaire, 1810) 3 6 10 19 SAN

Glyphonycteris daviesi (Hill, 1965) 2 0 0 2 GA

Glossophaga soricina (Pallas, 1766) 4 3 4 11 NE

Lampronycteris brachyotis (Dobson,

1879) 1 0 0 1 GA

Page 68: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

65

Lonchophylla thomasi J. A. Allen,

1904 6 3 2 11 NE

Lophostoma silvicolum d‘Orbigny,

1836 4 6 3 13 GA

Macrophyllum macrophyllum

(Schinz, 1821) 0 1 0 1 GA

Micronycteris hirsuta Peters, 1869 5 0 0 5 GA

Micronycteris megalotis (Gray,

1842) 0 3 1 4 GA

Micronycteris minuta (P. Gervais,

1856) 0 3 0 3 GA

Micronycteris schmidtorum

(Sanborn, 1935) 1 0 0 1 GA

Phyllostomus elongatus (É Geoffroy

St.-Hilaire, 1810) 4 4 3 11 GA

Platyrrhinus brachycephalus (Rouk

& Carter, 1972) 0 2 3 5 FR

Plathyrrhinus fusciventris Velazco,

Gardner & Patterson 2010 0 3 4 7 FR

Plathyrrhinus incarum (Thomas,

1912) 0 2 0 2 FR

Rhynophilla pumilio (Peters, 1865) 7 0 1 8 FR

Tonatia saurophila (Koopman &

Williams, 1951 4 1 2 7 GA

Trachops cirrhosus (Spix,1823) 1 9 1 11 GA

Trinycteris nicefori Sanborn, 1949 0 8 1 9 GA

Uroderma bilobatum Peters, 1866 4 4 13 21 FR

Vampyriscus bidens (Dobson, 1878) 2 0 3 5 FR

Vampyrodes caraccioli (Thomas,

1889) 0 2 0 2 FR

Thyropteridae

Thyroptera tricolor Spix, 1823 0 1 1 2 AI

Vespertilionidae

Page 69: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

66

Myotis nigricans (Schinz, 1821) 1 0 0 1 AI

Número de indivíduos 133 133 137 403

Número de espécies 26 26 25 40

Indice de Shannon (H‘) 2.73 2.75 2.66 2.91

A família Phyllostomidae foi amplamente dominante, respondendo por 76,92 % das

espécies e 95% dos indivíduos coletados. Os espécimes de Carollia perspicillata (96

indivíduos), Artibeus planirostris (47 indivíduos) e Carollia brevicauda (39 indivíduos)

foram responsáveis por 45 % dos registros. Emballonuridae foi à segunda família com o

maior número de espécies (15%) e de indivíduos (3,5%), incluindo espécies raras como

Peropteryx leucoptera, coletado na foz do Rio Mazagão Velho, Diclidurus albus e

Cormura brevirostris, amostrados na Foz do Rio Maracá (Tabela 2).

Com base nas 40 espécies registradas, o estimador de riqueza Jacknife 1 indica que,

aproximadamente 53 espécies de morcegos podem ocorrer na área de estudo. Portanto, nós

provavelmente já registramos cerca de 75% da riqueza local de espécies esperada. As

curvas de rarefação ainda não apresentaram sinais de estabilização, indicando que mais

espécies devem ser acrescentadas a lista para as florestas de várzea (Figura 2).

Page 70: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

67

Figura 2. Curvas de rarefação para a região de estudo. A: curva para todo o inventário;

B=Rio Ajuruxi, C=Rio Maracá, D =Foz do Rio Mazagão.

Neste estudo registramos a primeira ocorrência de Glyphonycteris daviesi (número

de acesso a coleção IEPA-3962) para o Estado do Amapá. O registro de G. daviesi ocorreu

às 19h do dia 27 de novembro de 2013, na foz do Rio Ajuruxi, Resex Cajari, na localidade

de Vila Maranata. O ambiente em que G. daviesi foi coletado é uma área de açaizal

manejado (Euterpe oleracea), com o sub-bosque sem obstrução e com arvores de grande

porte ocas, com predominância de Pracuúba (Mora paraensis), que provavelmente possa

servir de abrigo para essa espécie.

A estrutura trófica da assembleia de morcegos das três localidades estudadas no

estuário do Rio Amazonas foi composta de frugívoros, insetívoros aéreos, nectarívoros,

animalívoros catadores e hematófagos. Morcegos frugívoros tiveram uma

representatividade maior nas três localidades variando de 61% a 69% (Tabela 2). Os

morcegos animalívoros catadores foi à segunda guilda alimentar melhor representada na

foz do Rio Maracá e foz do Rio Ajuruxi com 26% e 17% das capturas respectivamente,

provavelmente devido à maior oferta de habitats e alimentos e melhor conservação dos

habitats (Tabela 2). O morcego hematófago Desmodus rotundus foi capturado nas três

regiões, no entanto houve maior percentual de captura na foz do Rio Mazagão. Os

morcegos nectarívoros e insetívoros aéreos também foram mais abundantes na região da

foz do rio Mazagão (Tabela 2).

O índice de diversidade de Shannon (H ') para a região do estuário do Rio

Amazonas como um todo foi H '= 2,91. A região da foz do Rio Maracá apresentou a maior

diversidade (H '= 2,75), enquanto que o índice para Foz do Rio Ajuruxi foi H '= 2,73 e a

região da foz do rio Mazagão apresentou o menor índice (H‘=2,66).

Discussão

A riqueza de espécies de morcegos e o número de indivíduos capturados nas

florestas de várzea do estuário do rio Amazonas, no Amapá (40 espécies e 403 indivíduos),

foram semelhantes ao encontrado em outros estudos realizados na Amazônia brasileira

(Por exemplo, Martins et al . 2006, 39 espécies e 470 capturas no Parque Nacional

Page 71: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

68

Montanhas do Tumucumaque;. Ramos Pereira et al 2009, 43 espécies e 520 capturas no

Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã, considerando-se apenas os registros de

floresta de várzea;. Bobrowiec et al. 2014, 41 espécies e 1.069 indivíduo capturado no lago

Uauaçú na região do baixo rio Purus, considerando os registros de florestas de várzea e

terra firme). As espécies de morcegos registradas no presente estudo representam cerca de

46% das espécies conhecidas atualmente para Amapá (Silva et al. 2013), 27% das espécies

conhecidas para a Amazônia brasileira (Bernard et al. 2011, Castro et al. 2012) e 22,5%

das espécies conhecidas para o Brasil (Nogueira et al. 2014). Assim, esta fisionomia de

floresta é muito importante para a manutenção da diversidade de morcegos na Amazônia,

realçando que atividades econômicas, extrativistas pouco impactantes neste ambiente

devem ser priorizadas.

A alta diversidade da fauna de morcegos nas florestas de várzea foi evidente a partir

das curvas de rarefação, que não alcançaram uma assíntota. Isto sugere que o esforço de

amostragem de 38.888 m2. h deve ser aumentado para se obter um inventário mais

completo das espécies na floresta de várzea do estuário amazônico. O esforço de

amostragem utilizado em nosso estudo foi moderado em comparação com outros estudos

realizados na Amazônia que usaram maiores esforços (por exemplo, Ramos Pereira et al.,

2009 usou um esforço de amostragem de 54.648 m².h em floresta de várzea na Reserva de

Desenvolvimento Sustentável Amanã, e Bobrowiec et al. 2014 empregaram um esforço

total de 72.000 m2.h em florestas de várzea e terra firme no lago Uauaçú na região do

baixo rio Purus). O resultado obtido pelos modelos de estimativa Jacknife I (53 espécies)

indicam que o esforço amostral atingiu 75 % das espécies de morcegos nas florestas de

várzea. Provavelmente, os morcegos não amostrados devam pertencer às famílias

Molossidae e Vespertilionidae, que são mais difíceis de serem capturadas, porque eles

forrageiam em alturas elevadas (Voss & Emmoss 1996, Bernard & Fenton 2003), muitas

vezes mais elevadas do que as redes de neblina. Espécies destas famílias são mais

frequentemente capturadas quando redes de neblina são armadas no dossel, quando as

colônias são descobertas em residências ou árvores ocas, ou quando descem para beber

água a partir de rios, lagos ou poças ao longo de bordas da vegetação (Voss & Emmoss,

1996).

Uma novidade que vale ressaltar foi o registro de uma nova ocorrência de espécie

de morcego para o Estado do Amapá, Glyphonycteris daviesi, que foi capturado em uma

Page 72: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

69

área de açaizal manejado (Euterpe oleracea) na foz do Rio Ajuruxi, Resex Cajari. Deste

modo, a lista de espécies de morcegos no Amapá, eleva-se de 86 para 87 espécies (Martins

et al. 2006, Martins & Bernard 2008, Silva et al. 2013). G. daviesi é uma espécie de

morcego rara com poucos exemplares em museus (Gregorin & Rossi 2005). No Brasil era

conhecida apenas nos estados do Pará, Amazonas, Rondônia e Bahia (Willians &

Genoways 2008). Embora pela lista da IUCN 2014 essa espécie esteja classificada como

pouco preocupante, em países vizinhos como a Bolívia ela é classificada como vulnerável,

principalmente por causa das ameaças das florestas montanhosas e áreas de planícies

inundáveis onde G. daviesi ocorre (Ochoa & Velazco 2008). Portanto no Amapá G. daviesi

merece atenção em futuras revisões de lista de espécies ameaçadas, tendo em vista que até

o momento, no Estado só foi amostrada em floresta de várzea, mesmo após o grande

esforço de coleta que já foi realizado no Amapá (Martins et al. 2006, Martins & Bernard

2008, Martins et al. 2011, Silva et al. 2013).

Neste estudo obtivemos uma alta abundância de morcegos filostomídeos o que de

certa forma já era esperada, principalmente para os frugívoros como Artibeus planirostris,

que apresenta uma biomassa maior neste tipo de floresta quando comparados a de terra

firme e igapó (Ramos Pereira et al. 2010a, Marques et al. 2012). Alguns fatores como, a

alta fertilidade do solo na floresta de várzea permite que um grande número de árvores

produza frutos durante o ano todo (Ayres 2006, Haugaasen & Peres 2006) o que poderia

explicar a alta abundância e biomassa dessas espécies de morcegos frugívoros neste tipo de

floresta.

Os morcegos animalívoros catadores foram mais representativos, tanto em riqueza

quando em abundância, na foz do Rio Maracá e na foz do Rio Ajuruxi. Na literatura há um

consenso que essas espécies são sensíveis a alterações ambientais e que podem ser

bioindicadoras da integridade do ambiente (Medellín et al. 2000, Soriano and Ochoa 2001,

Presley et al. 2008). Essas espécies se alimentam de artrópodes e pequenos vertebrados na

superfície das folhagens e em alguns casos esses morcegos dependem de abrigos

específicos como cupinzeiros (Kalko et al. 1999, Soriano and Ochoa 2001, Presley et al.

2008) e qualquer alteração antrópica pode diminuir a oferta de nicho. Portanto, com base

na quiropterofauna, é possível inferir que as regiões dos rios Maracá e Ajuruxi são áreas

que apresentam uma boa integridade do ambiente.

Page 73: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

70

O morcego hematófago D. rotundus foi registrado nas três regiões estudadas, mas

com maior abundância na foz do Rio Mazagão. Alguns autores relacionam a ocorrência da

espécie à proximidade de grandes rios, que supostamente favorecem a existência de um

maior número de abrigos (Lord 1988, Tadei et al.1991). Mas, outros autores relacionam a

maior probabilidade de ocorrência de D. rotundus com a maior oferta de alimento, como a

proximidade de criação de bovinos, equinos, e suínos (Wilkinson 1985, Aguiar 2007). A

foz do Rio Mazagão conta com as duas possibilidades, é próxima de grandes rios como o

Amazonas, e de criações de suínos pelos ribeirinhos. É comum ouvir de alguns moradores

que a criação de galináceos e suínos na região são limitados devido ao ataque de morcegos

hematófagos (Castro, I. J., pers. comm.). Fato que pode ser resolvido com a adoção de

medidas simples como a utilização de abrigos com proteção de telas e do controle da

população de Desmodus feito pelos órgãos de defesa sanitária.

Os morcegos insetívoros encontrados neste estudo pertencem em maior número a

família Emballonuridae e foram frequentes nas três regiões estudadas. Estes morcegos têm

uma preferência por abrigos iluminados, como troncos de árvores próximos a corpos

d‘água (Kunz & Lumsdem 2003), comuns na floresta de várzea, e que deve favorecer a

ocorrência dos morcegos dessa família. Dois espécimes de morcegos insetívoros

(Thyroptera tricolor) pertencentes à família Thyropteridae foram capturados, sendo um na

foz do Rio Mazagão no sítio MMZ2 e outro na foz do Rio Maracá no sitio MMR3, onde

existe presença de plantas do gênero Heliconia em grande quantidade. Os morcegos da

família Thyropteridae possuem discos adesivos nos pés e nos polegares, o que os auxilia na

fixação dos abrigos, como folhas de bananeira (Musa sp.) e Heliconia sp, na qual tem

grande preferência (Kunz & Lumsdem 2003).

Os dados obtidos neste estudo revelam que as florestas de várzea do estuário do rio

Amazonas abrigam uma alta riqueza e diversidade de morcegos e que políticas de

conservação devem ser consideradas para a manutenção da diversidade de morcegos nestes

locais. Tais politicas devem ser focadas no incentivo para o manejo responsável do cultivo

do açaizeiro (Euterpe oleracea) e da exploração da madeira, além do combate da atividade

de exploração madeireira ilegal que pode provocar prejuízos a fauna e flora dessas

florestas ricas em biodiversidade.

Page 74: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

71

Agradecimentos

A EMBRAPA–Amapá pelo apoio logístico necessário para realização deste estudo; Ao Dr

Marcelino Carneiro, por viabilizar o apoio junto a EMBRAPA; Ao professor Darren Norris

pelas sugestões no manuscrito. Aos amigos do FLORESTAM e do IEPA (Dani, Flavia,

Adjalma, Adjard, Jonas, Edglei, Ezaquiel, Ramos, Luis Reginaldo, Jadson, Anderson e

Claudia Silva) pelo apoio nas atividades de campo; à FAPEAP-Custeio tese nº

250.203.55/2013-SETEC e CNPQ pelo financiamento de parte do estudo; à CAPES pela

concessão de bolsa de doutorado para I. J. Castro.

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Page 81: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

78

CAPÍTULO 3 – EFEITOS DO MANEJO DE AÇAIZAIS (Euterpe oleracea) SOBRE

MORCEGOS DA FAMÍLIA PHYLLOSTOMIDAE NO ESTUÁRIO DO RIO

AMAZONAS, BRASIL

Este artigo será submetido ao periódico Forest Ecology and Management (Qualis A2). O

documento segue o formato de submissão da referida revista.

Page 82: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

79

Efeitos do manejo de açaizais sobre morcegos da família Phyllostomidae no estuário

do rio Amazonas, Brasil

Isai Jorge de Castro¹, 2

& Fernanda Michalski¹, 3

*

1 Programa de Pós Graduação em Biodiversidade Tropical, Universidade Federal do

Amapá, Rodovia Juscelino Kubitschek, km 02, Macapá, AP,CEP: 68902-280, Brasil.

2 Laboratório de Mamíferos, Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado

do Amapá (IEPA), Rodovia JK, Km 10, Macapá, AP, CEP 68912-250, Brasil.

3 Instituto Pró-Carnívoros, C.P. 10, Atibaia, SP, 12940-970, Brasil.

* Corresponding author: [email protected]

Page 83: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

80

Resumo

Nos últimos anos ocorreu uma intensificação da exploração e expansão de áreas de cultivo

de açaizais manejados no estuário do rio Amazonas. Esta prática pode levar a

transformação deste ecossistema em bosques homogêneos de açaizais. Neste estudo

propomos investigar o efeito do manejo dos açaizais realizado por ribeirinhos sobre

morcegos da família Phyllostomidae, a mais diversa em número de espécies e hábitos

alimentares. O estudo foi realizado entre novembro de 2013 a dezembro de 2014 na foz

dos rios Ajuruxi, Maracá e Mazagão Velho. Para amostragem de morcegos e de variáveis

ambientais foram selecionados 30 sítios de coletas em áreas com açaizais manejados e 30

sítios em área controle. Com um esforço amostral de 129600 m².h foram capturados 1213

morcegos filostomídeos, pertencentes a 36 espécies. A riqueza variou de 31 a 34 espécies

respectivamente entre áreas manejadas e controle, não havendo diferença significativa

(U=411,5; p=0,570). Mas o número de morcegos capturados foi maior nas áreas de

açaizais manejados (733 capturas) quando comparados à área controle (480 capturas)

(U=256,5; p=0,004). As espécies L. brachyotis, M. macrophyllum, M. schmidtorum, P.

guianensis e P. incarun foram exclusivas em área controle, enquanto que Anoura caudifer

e Phyllostomus hastatus em áreas manejadas. A análise de ordenação (NMDS) indica uma

separação fraca, entre áreas de açaizais manejados e áreas controle. As áreas manejadas

apresentam um aumento nas abundâncias de morcegos frugívoros, nectarívoros e

hematófagos. Já para morcegos animalívoros catadores houve diminuição na abundância

em relação à área controle. Distância do rio e número de estipes foram as variáveis que

mais tiveram influência na abundância das espécies e sobre as guildas alimentares.

Embora, o manejo de açaizais realizado pelos ribeirinhos em floresta de várzea no estuário

do rio Amazonas cause alteração na abundância de algumas espécies ele não afeta a

Page 84: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

81

composição de espécies de morcegos filostomídeos, indicando que não há perdas da

diversidade de morcegos nas áreas manejadas.

Palavras-Chave: Biodiversidade, Chiroptera, Floresta de Várzea, Fragmentação, Uso

sustentável, Palmeiras.

Abstract

In recent years there has been an intensification and expansion of areas with açai

management in the Amazon River estuary. This practice can lead to transformation of the

ecosystem in to homogeneous forests of palm. Here we propose to investigate the effects

of açai management by riverine communities on bats of the Phyllostomidae family, the

most diverse in terms of both number of species and feeding habits in the Neotropics.

Between November 2013 and December 2014 data were collected from 30 sites in areas

with management of açaí and 30 control sites in three areas of the Amazon estuary: in the

estuaries of the Ajuruxi, Maracá and Mazagão Velho rivers. Phyllostomidae bats

represented 1213 of the captures, belonging to 36 species. The richness varied between 31

and 34 species, between managed and control areas respectively, a difference which was

not significant (U=411.5; p=0.570). The number of bats captured was higher in the areas

with management of açaí (733 captures) compared to the control area (480 captures) (U =

256.5, p = 0.004). L. brachyotis, M. macrophyllum, M. schmidtorum, P. guianensis and P.

incarun were found only in control areas, whereas A. caudifer and P.hastatus were found

only in areas with management of açaí. An ordination analysis (NMDS) indicated a weak

separation between the managed and control areas. Distance to the river and number of

stands of açaí were the variables which had most influence over the abundance of the

species and feeding guilds. Management of açaí carried out in the floodplain forest of the

Amazon estuary alters the abundance of some bat species, but does not affect the species

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82

composition of bats in the Phyllostomidae family, indicating that diversity of bats is not

reduced in the managed areas.

Keywords: Biodiversity; Chiroptera; logging; Várzea; floodplain forest; fragmentation;

sustainable use; palms.

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83

1. Introdução

O estuário amazônico é abundante em recursos naturais, que desde o período da

colonização europeia no século XVII, passou por vários ciclos de exploração, como a

exploração madeireira e borracha (Vogt et al., 2015). Atualmente o cultivo do açaí

(Euterpe oleracea) é uma das principais atividades econômicas das florestas de várzea da

região (Muñiz-Miret et al., 1996; Queiroz e Mochiutti, 2001; Brondizio et al., 2002;

Weinstein e Moegenburg, 2004; Pinedo-Vasquez e Sears, 2011; Fortini e Carter, 2014;

Vogt et al., 2015). O fruto do açaí está sendo comercializado como uma "super fruta" com

propriedades anti-inflamatória, antioxidante e com efeitos anticancerígenos (Kuskoski et

al., 2006; Poulose et al., 2012; Yamaguchi et al., 2015) e por esse motivo a demanda por

esse fruto está em expansão em todo o mundo, o que tem levado à intensificação da

exploração e a expansão da área cultivada nas florestas de várzea do estuário amazônico, e

nos últimos anos a área manejada chegou a mais de 80 mil hectares, somente na área

estuarina do estado do Pará (Homma, 2012).

Uma das preocupações é que expansão dos açaizais, nas áreas de florestas de várzea

do estuário amazônico, possa levar à transformação deste ecossistema em bosques

homogêneos de palmeiras, trazendo riscos ambientais para a biodiversidade local (Pinedo-

Vasquez e Sears, 2011; Homma, 2012). As principais consequências para a biodiversidade,

seria a extinção de espécies animais e vegetais, devido a perda e fragmentação do habitat,

e consequentemente, perda de processos ecológicos importantes, como a ciclagem de

nutrientes, polinização e dispersão de sementes(Jórdan,2009).

Os estudos que avaliam os impactos do manejo dos açaizais sobre a comunidade

vegetal têm encontrado alterações marcantes, tanto na estrutura, como na composição da

vegetação, devido às atividades do manejo, como o raleamento da mata, que inclui a

Page 87: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

84

eliminação do sub-bosque, árvores grandes, lianas e cipós (Weinstein e Moegenburg, 2004;

Homma et al., 2006). Freitas et al.( 2015) encontraram uma perda de 50 % da diversidade

das espécies de árvores e uma redução de 63% no número de espécies pioneiras, levando

ao empobrecimento da flora em florestas de várzea na Amazônia sob o manejo de açaizais.

Outros trabalhos também relataram que em locais onde a coleta de frutos de açaí é a

atividade principal, as limpezas de sub-bosque realizadas nos açaizais para o adensamento

das plantas tem causado a diminuição da riqueza florística nas áreas de várzea do estuário

(Dubois et al., 1996; Farias, 2012).

Como a fauna local, reage às alterações na floresta de várzea do estuário,

ocasionadas pelo manejo dos açaizais, ainda é um tema que necessita de investigação

(Freitas et al., 2015). A resposta das espécies animais a atividades antrópicas depende de

vários fatores como, região, grupo taxonômico, métrica ecológica, tipo perturbação e

intensidade (Gibson et al., 2011). O contexto da paisagem em que a maioria dos açaizais

manejados do estuário amazônico esta inserido, pode favorecer a manutenção da fauna

local, tendo em vista que estes estão em contato com a floresta primária (Steward, 2013),

que pode favorecer o fluxo de espécies entre as áreas.

Estudos realizados em culturas semelhantes aos açaizais manejados, em que existe

contato ou proximidade com a floresta primária, são capazes de manter a riqueza de

diferentes grupos animais semelhantes à floresta primária. Por exemplo, os agrossistemas

de café sombreados no México, tem um impacto mínimo sobre a fauna e podem abrigar

uma riqueza de aves, mamíferos (Cruz-Lara et al., 2004; Pineda et al., 2005) répteis e

artrópodes (Moguel e Toledo, 1999) semelhantes à floresta primária. Na Malásia os

plantios tradicionais de dendê (Elaeis guineenses) feito em pequenas propriedades,

Page 88: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

85

mantêm uma alta ocorrência de espécies de grandes mamíferos herbívoros e carnívoros,

quando comparadas a grandes plantios (Azhar et al., 2014).

Neste estudo, propomos avaliar o impacto do manejo dos açaizais sobre a fauna,

utilizando morcegos como modelo. Este grupo animal tem sido reconhecido como ideal

para estudar os efeitos da fragmentação e transformação das florestas tropicais (Meyer et

al.,2010). Focamos em morcegos da família Phyllostomidae, que possui um grande

número de espécies na região Neotropical (cerca de160 espécies) (Simmons, 2005). Estes

morcegos são fáceis de amostrar com o uso de rede de neblina, têm uma grande variedade

de estratégias alimentares (Kunz e Fenton, 2003) e são eficazes dispersores de sementes de

plantas pioneiras e polinizadores (Muscarella e Fleming, 2007; Jones et al., 2009) e são

considerados indicadores ambientais (Jones et al., 2009). Também incluiremos na análise

características ambientais e relacionadas ao manejo do dos açaizais, como as medidas da

estrutura da vegetação, distância do rio, limpeza dos açaizais, uma vez que elas podem

influenciar a riqueza e abundância dos morcegos entre os sítios de amostragem, criando

ambientes diferentes. Segundo, Ruggiero e Kitzberger (2004) a heterogeneidade ambiental

é um dos fatores ambientais que mais influenciam a riqueza e abundância de morcegos.

Este trabalho propõe um melhor conhecimento do efeito do manejo de açaizais

sobre as assembleias de morcegos filostomídeos em floresta de várzea do estuário

amazônico. Especificamente, nós pretendemos responder às seguintes perguntas: 1- Como

varia a riqueza e abundância e guildas de morcegos filostomídeos entre as áreas de açaizais

manejados e área controle no estuário amazônico? Como determinadas caracteristicas

ambientais, realacionadas ao manejo de açaizais (ex.mudanças sofridas na estrutura da

vegetação) influenciam a assembleia de morcegos filostomideos?

Page 89: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

86

Nós hipotetizamos que: 1- A riqueza de morcegos filostomideos nas áreas de

açaizais manejadas por ribeirinhos não difere da floresta de várzea primaria, pelo fato de

serem contínuas ou muito próximas. Porém, ocorrem alterações na abundância das

espécies; 2- As características ambientais, relacionadas ao manejo dos açaizais, como as

mudanças na estrutura da vegetação, tem influência nas abundâncias dos morcegos

filostomídeos. Acreditamos que este estudo contribuirá em um cenário de baixo

conhecimento dos efeitos antrópicos sobre a fauna de morcegos em áreas de florestas

inundáveis na Amazônia.

2.Material e Métodos

2.1Área de estudo

O estudo foi realizado na foz de três rios tributários do rio Amazonas, localizados

na sua margem esquerda: rio Ajuruxi, Maracá e Mazagão Velho, no município de

Mazagão, sudeste do estado do Amapá, Brasil. Essa região está inclusa no estuário do rio

Amazonas. A vegetação é classificada como Floresta Ombrófila Densa Aluvial (IBGE,

2004) que é conhecida localmente como floresta de várzea. Devido à proximidade com o

oceano Atlântico os picos de inundação são regulados pelos regimes de marés e a floresta é

inundada duas vezes diariamente. O clima na região é o equatorial úmido e a temperatura

média é de 26ºC, com precipitação anual aproximadamente de 2000 mm(SUDAM, 1984).

A economia na região é baseada no extrativismo vegetal e nas últimas duas

décadas, a produção do fruto do açaizeiro (Euterpe oleracea) tem sido atividade principal

pelos ribeirinhos (Steward, 2013;Vogt et al., 2015). O manejo dos açaizais é realizado em

pequena escala, geralmente ocupam uma pequena parte da propriedade, variando de 2 a 13

hectares.

Page 90: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

87

Fig.1. Área de estudo em açaizais manejados e controle no estuário do rio Amazonas.

2.2 Amostragem de morcegos

A captura dos morcegos ocorreu nos meses de novembro e dezembro de 2013 e

julho a dezembro de 2014, durante a estação seca. Foram selecionados dez sítios de coletas

em áreas com açaizais manejados e dez sítios em áreas controles em cada região,

totalizando 30 sítios em áreas manejadas e 30 controles. Cada sítio foi amostrado uma

única vez. A distância mínima entre cada sitio foi de 1 km.

O estudo foi feito somente em açaizais que são manejados por pequenos

agricultores que geralmente, implica na eliminação das árvores de grande porte para

Page 91: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

88

facilitar a penetração da luz e diminuir a competição com os açaizeiros nativos sem a

queima (Homma et al., 2006). Áreas controle foram consideradas áreas de florestas de

várzea sem ou com pouca perturbação, uma vez que essas áreas podem ter sofrido algum

tipo de perturbação no passado devido à região ter passado por vários ciclos econômicos

como a exploração de madeira e látex (Vogt et al., 2015). No entanto, nos últimos 30 anos,

não foram identificadas atividades antrópicas nas áreas controle, de acordo com entrevistas

feita, com moradores mais antigos.

Os morcegos foram capturados com o uso redes de neblina (mist nets) armadas ao

longo de um transecto linear de 150 metros em cada sitio de coleta. Em cada noite de

coleta, foram utilizadas 10 redes (12 x 3 m) abertas ao entardecer e fechadas após seis

horas de exposição (horário: 18h a 00h). Para a identificação das espécies foi usada às

chaves de Lim e Engstrom( 2001) e Gardner (2008). Como método complementar usamos

sequências do gene mitocondrial citocromo b para confirmar a identificação de indivíduos

dos gêneros Carollia, Dermanura e Plathyrrinus. Morcegos foram classificados em amplas

guildas de forrageamento baseada em hábitos alimentares e estratégia de forrageio

seguindo Gardner (1977) para Phyllostomidae e Willig (1986) para todas as outras

famílias. Espécies foram coletadas e depositadas na Coleção de Fauna do Amapá, sediada

no Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Amapá (IEPA) (Número de tombo:

IEPA 3926, IEPA 3953-4080).

2.3. Obtenção de Variáveis Ambientais

As seguintes variáveis ambientais foram medidas nos mesmos transectos onde

foram realizadas as amostragens de morcegos filostomídeos: 1- Riqueza vegetal; 2-DAP

(Diâmetro a Altura do Peito); 3-Área Basal; 4-Altura do dossel, 5- Abertura do dossel, 6-

Page 92: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

89

Número de touceiras de açaí, 7-Número de estipes de açaí, 8- Número de limpeza por ano

realizados nos açaizais; e 8-Distância do rio principal.

Em cada transecto foram estabelecidos três parcelas de 25 x 10 m(750 m²) e onde

foram medidas todas as árvores de DAP ≥5 cm. Riqueza de espécies vegetais:

Considerou-se o número total de espécies de plantas dentro das parcelas identificadas por

um parataxonomo com vasta experiência na identificação vegetal em florestas inundadas

do estuário amazônico. Altura do dossel: valor médio da altura da copa das árvores, para o

sítio amostral, obtido com o uso de Hipsômetro, a partir de 10 pontos equidistantes, ao

longo do transecto linear de 150 metros, em cada sitio de coleta. Abertura do dossel:

valor médio obtido a partir de 10 pontos equidistantes a cada 15 metros (quatro leituras em

cada ponto) tomadas com o uso de um densiômetro esférico ao longo do transecto linear de

150 metros em cada sitio de coleta onde foram amostrados os morcegos. Área basal: A

área basal foi obtida pela soma do valor da área basal métrica de cada árvore individual,

nas parcelas, seguindo a fórmula AB = 0,00007854 x DAP 2 (Área basal em m

2/ ha).

Distância do rio principal: A distância entre o rio Amazonas e a de cada sitio de

amostragem em quilômetros foi aferida manualmente com o auxilio da ferramenta

Measure do software Arcgis 9.3 (ESRI, 2009), usando de base uma imagem Landsat 5

(ano 2006, orbita ponto 225-060, composição multispectral 5R4G3B). Número de estipes:

Considerou-se a número total de caules de açai presentes nas três parcelas. Número de

touceiras: considerou-se o total de touceiras de açai presentes nas três parcelas. Número

de limpeza do açaizal por ano: Foi obtido através de entrevistas com o ribeirinho dono do

açaizal pesquisado (ver Tabela S1 no material suplementar) .

Page 93: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

90

2.4 Análise dos dados

O esforço amostral total foi calculado multiplicando a área de cada rede pelo tempo

de exposição, número de noites e número de redes (Straube e Bianconi, 2002). Foram

construídas curvas de rarefação da riqueza de espécies de morcegos filostomídeos para

analisar se o esforço amostral utilizado foi representativo nas áreas de açaizais manejados,

áreas controle e todo o estudo. As curvas foram construídas com o auxílio da função

specaccum do pacote vegan (Oksanen et al., 2015), no Programa R (R Development Core

Team, 2015). Foi utilizado o teste - U de Mann-Whitney para comparar a riqueza,

abundância de morcegos filostomídeos entre áreas manejadas e controle.

Foi feita uma ordenação dos sítios amostrais baseada na composição das espécies

de morcegos filostomídeos por meio do Escalonamento Multidimensional Não-Métrico

(NMDS). O NMDS é uma técnica de ordenação não linear considerado como um método

efetivo para analisar dados ecológicos da comunidade (McCune e Grace, 2002).

Utilizamos dados de abundância (quantitativos) nas ordenações das unidades amostrais e o

índice de Bray-Curtis foi usado como a medida de dissimilaridade. A ordenação foi feita

com os pacotes vegan (Oksanen et al., 2015) e BiodiversityR (Kindt e Coe, 2005). Para

verificar se existem diferenças na composição de espécies entre os dois tipos de habitat

foram avaliados através de uma análise de similaridades - ANOSIM (Clarke, 1993).

A autocorrelação espacial pode ser um problema sério em ecologia, pois pode

alterar as estimativas dos parâmetros e probabilidades de erros o que pode levar a Erro tipo

I (Dormann et al., 2007; Kühn, 2007). Dessa forma, utilizamos o teste de Mantel para

avaliar se existe autocorreção espacial entre as amostras de morcegos filostomídeos e as

distâncias geográficas (Legendre, 1993) nos sítios amostrados. O teste indicou que nossos

dados não foram autocorrelacionados espacialmente (Mantel r=0,052; p=0,090).

Page 94: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

91

Nós avaliamos a correlação entre as variáveis ambientais (Fig. S1) a fim de evitar

efeitos de multicolinearidade nas análises com o auxílio da função pairs. panels e do pacote

psych (Revelle, 2015), no software R (R Development Core Team, 2015). Excluímos as

variáveis que produziram valores de correlação ≥ 0,70 (coeficiente de Spearman). As

variáveis selecionadas foram: A distância do rio principal; Número de estipes de

açaizeiros, Área basal e Altura do dossel.

Modelos lineares generalizados mistos (GLMM) com distribuição de erro Poisson e

função de ligação log (Bolker et al., 2010) foram usados para avaliar os efeitos das

variáveis ambientais, sobre o número total de espécies (Riqueza), número total de

morcegos capturados, número total de morcegos frugívoros, nectarívoros, sanguívoros e

animalívoros catadores, usando como variável aleatória, o tipo de manejo e local da

captura. Usamos também GLMM para avaliar o efeito das variáveis sobre as nove espécies

mais abundantes (Carollia perspicillata; Carollia brevicauda; Artibeus planirostris;

Artibeus obscurus, Choeroniscus minor, Lophostoma silvicolum, Phyllostomus elongatus,

Trinicteris nicefori, Uroderma bilobatum). O GLMM foi realizado usando a função glmer

do pacote lme4 (Bates et al., 2015). O modelo linear generalizado-GLM foi usado para

avaliar o efeito das variáveis sobre os eixos do NMDS, usando distribuição gaussiana e

função de ligação identity (McCullagh e Nelder, 1989).Todas as análises estatísticas foram

realizadas no software R (R Development Core Team, 2015).

Page 95: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

92

3 Resultados

3.1 Morcegos filostomideos em áreas de açaizais manejados e controle

Com um esforço amostral de 129.600 m². h, capturamos 1213 morcegos

filostomídeos, pertencentes a 36 espécies, sendo 31 espécies em áreas de açaizais

manejados e 34 em área controle (Tabela S2). As curvas de rarefação apresentaram sinais

de estabilização, indicando que o esforço amostral foi adequado no inventário da

assembleia de morcegos filostomídeos da área de estudo e poucas espécies devem ser

acrescentadas à lista de espécies (Figura S1).

O número de espécies de morcegos filostomídeos capturados não diferiu entre a

área de açaizais manejada e área controle (U=411,5; p=0,570), variando de 2 a 14

(8,8±2,71) espécies, entre os sítios de área controle, e 3 a 16 (8±2,76) espécies nos sítios de

açaizais manejados. Já em relação ao número de indivíduos capturados, a maioria 60%

(733 indivíduos) ocorreu em áreas manejadas, e 40% (480 indivíduos) nas áreas controle.

O número de capturas variou de 4 a 46 (16,5±9,4) entre os sítios de área controle e de 8 a

56 (25±12.4) nas áreas manejadas, havendo diferença significativa entre os dois ambientes

(U=256,5; p=0,004).

Nas áreas de açaizais manejados, seis espécies representaram 66% do total de

capturas. As mais abundantes foram Carollia perspicillata (25%=186), seguido por

Artibeus planirostris (15%=110), Carollia brevicauda (8%=63), Desmodus rotundus

(7%=53), Choeroniscus minor (6%=44) e Uroderma bilobatum (5%=40). Na área controle

as seis espécies mais abundantes foram Carollia perspicillata (18%=90), seguido por

Artibeus planirostris (16%=76), Lophostoma silvicolum (6%=33), Artibeus obscurus e

Carollia brevicauda (ambos com 5%=26) e Choeroniscus minor (5%=25) que

representaram 55% do total de capturas.

Page 96: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

93

Em relação à guildas alimentares, capturamos 15 espécies frugívoras, 16

animalívoras catadoras, quatro nectarívoras e uma espécie sanguívora (Tabela S2). Cinco

espécies ocorreram exclusivamente em áreas controle, sendo três animalívoras catadores

(Lampronycteris brachyotis, Macrophyllum macrophyllum, Micronycteris schmidtorum) e

duas frugívoras (Platyrrhinus guianensis e Platyrrhinus incarun). Enquanto, que duas

espécies foram capturadas exclusivamente em áreas manejadas, uma nectarívora (Anoura

caudifer) e uma animalívora catadora (Phyllostomus hastatus), as demais espécies foram

comuns aos dois ambientes. Quanto à abundância, os morcegos frugívoros, nectarívoros e

sanguívoros tiveram maior percentual de capturas em açaizais manejados, enquanto, para

os animalívoros catadores o percentual foi maior em área controle (Fig.2).

Page 97: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

94

Fig. 2. Percentual de capturas de acordo com abundância de guildas alimentares de

morcegos filostomídeos em açaizais manejados e área controle no estuário do rio

Amazonas.

Na ordenação realizada, usando o NMDS, baseado na abundância de espécies, e

usando o índice de Bray-Curtis é possível distinguir um padrão de separação nas

assembleias de morcegos filostomídeos entre áreas de açaizais manejados e área controle

(Fig.3). A analise de similaridade (ANOSIM), baseada na abundância de espécies, também

evidência uma separação significativa entre as assembleias de filostomídeos dos dois

ambientes (R=0,179; p=0,001).

Fig. 3. Ordenação dos sítios amostrais através do Escalonamento multidimensional não

métrico (NMDS) stress=0,180, em áreas de açaizais e controle nos 30 sítios amostrados no

estuário amazônico no período de novembro de 2013 a dezembro de 2014.

Page 98: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

95

3.2 Relação entre variáveis ambientais e riqueza, captura total de morcegos filostomídeos

e eixos do NMDS.

As características das variáveis ambientais aferidas, sobretudo da estrutura da

vegetação variaram entre áreas de açaizais manejados e área controle. Na área controle

foram registradas em média 21 ± 2,63 espécies árvores com DAP ≥ 5 cm em cada sitio

amostral, enquanto que nas áreas manejadas foram encontradas 13,8 ± 2,6 espécies. A área

basal, a altura e abertura do dossel, e número de árvores também foram maiores na área

controle (ver tabela S1 e S2). A densidade de açaizeiros foi em média 9,6 ± 6,67 estipes de

açaí por 750m² em área controle e 82,43 ± 24,19 estipes por 750 m² em áreas manejadas

(ver tabela S2).

O número total de indivíduos de morcegos filostomídeos foi associado

positivamente com a densidade de estipes (Z=2,704; p=0,007). Para riqueza total, não

encontramos nenhuma associação com as variáveis analisadas (Fig.4, tabela 1).

Page 99: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

96

Fig.4. Relação entre número total espécies (a) e número de indivíduos capturados (b) de

morcegos filostomídeos em relação à densidade de açaizeiros nos 30 sítios amostrais do

estuário amazônico.

Em relação à abundância de guildas alimentares os frugívoros, sanguívoros e

nectarívoros apresentaram associação positiva com a densidade de açaizeiros (Tabela 1,

Fig. 5). Já os animalívoros catadores tiveram uma relação negativa com distância do rio

principal (rio Amazonas). Em relação aos eixos do NMDS, o eixo 1, teve somente

associação positiva com a densidade de açaizeiros (GLM t=2,86; p=0,005), enquanto que

o eixo 2 foi associado positivamente à área basal (t=2,7; p=0,007).

Tabela1. Resultado de GLMM realizada para Número total de morcegos capturados

(N_indiv), Riqueza de morcegos filostomídeos e guildas alimentares. DR = Distância do

Rio Amazonas (Km); Estipes/750m²= Estipes de açaí/750m²; ALD= Altura do dossel(m).

VD AIC Preditor Estimativa E. Padrão Z Pr (>|z|)

(Intercept) 2,375

0,512 4,634

0,0001

***

DR (Km) -0,009 0,032 -0,288 0,773

N_indiv 454,8 Estipes/750m² 0,006 0,002 2,704 0,007 **

Área Basal -0,006 0,0622 -0,096 0,923

ALD (m) 0,013 0,0192 0,677 0,498

(Intercept) 1,747

0,326 5,356

0,0001

***

Riqueza 306,7 DR (Km) -0,026 0,020 -1,292 0,196

Estipes.750m² 0,002 0,001 1,607 0,108

Área Basal 0,008 0,040 0,219 0,826

ALD (m) 0,018 0,012 1,463 0,143

(Intercept) 1,688 0,609 2,768 0,006 **

DR (Km) -0,002 0,038 -0,045 0,964

Frugívoro 414 Estipes/750m² 0,008 0,003 3035 0,002 **

Área Basal -0,074 0,077 -0,969 0,333

ALD (m) 0,025 0,024 1,062 0,288

(Intercept) 0,048 0,555 0,087 0,9309

DR (Km) 0,046 0,057 0,81 0,4177

Page 100: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

97

Nectarívoro 256,2 Estipes/750m² 0,007 0,004 1,984 0,0472 *

Área Basal 0,034 0,115 0,298 0,766

ALD (m) -0,019 0,0379 -0,512 0,609

(Intercept) 1,183 0,541 2,185 0,0289 *

DR (Km) -0,083 0,035 -2,342 0,0192 *

Animalívoro 289 Estipes/750m² -0,004 0,002 -1,459 0,1446

Área Basal 0,026 0,067 0,389 0,6972

ALD (m) 0,015 0,021 0,736 0,4616

(Intercept) -0,906 1,386 -0,654 0,5133

Sanguívoro 188,9 DR (Km) -0,033 0,086 -0,389 0,697

Estipes/750m² 0,013 0,006 2,079 0,037 *

Área Basal 0,081 0,161 0,503 0,615

ALD (m) -0,006 0,052 -0,122 0,902

***p<0,0001; **p<0,001; *p<0,05

Page 101: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

98

Fig. 5 Relação entre abundância de guildas alimentares de morcegos filostomídeos com a

densidade de açaizeiros no estuário amazônico. A faixa cinza-escura significa o intervalo

de confiança.

3.3 Relação entre variáveis ambientais e as nove espécies de morcegos filostomídeos mais

abundantes.

A densidade de açaizeiros teve uma associação positiva com Carollia perspicillata

(z=-2,812; p=0,005) e Artibeus obscurus (Z=2,337; p=0,019). A Distância do rio

Amazonas foi associada negativamente com L.silvicolum (Z=1,912; p=0,05). A altura do

dossel teve associação positiva com Carollia brevicauda (Z=2,36; p=0,018) e Uroderma

bilobatum (Z=2,33; p=0,025). Enquanto, que a área basal foi associada negativamente com

U.bilobatum (Z=-2,218; p=0,036). Para as demais espécies não foram encontradas

nenhuma associação, com as variáveis ambientais utilizadas (Ver tabela 2).

Tabela 2. Resultado de GLMM realizada para as nove espécies mais abundantes: C.pers:

Carollia perspicillata; C. brev=Carollia brevicauda; A.obscurus=Artibeus obscurus; A.

plan=Artibeus planirostris; C. minor=Choeroniscus minor; L. silv=Lophostoma

silvicolum; P. elon=Phyllostomus elongatus; T.nic=Trinycteris nicefori; U. bil=Uroderma

bilobatum. DR = Distância do Rio Amazonas (Km); Estipes/750m²= Estipes de

açaí/750m²; ALD= Altura do dossel(m).

Espécies AIC Preditor Estimativa E.Padrão Z Pr(>|z|)

(Intercept) 1,143 0,764 1,497 0,134

DR (Km) 0,049 0,046 1,07 0,284

C.pers 307,8 Estipes/750m² 0,007 0,003 2,337 0,019 *

Área Basal -0,006 0,093 -0,072 0,942

ALD (m) -0,016 0,029 -0,56 0,576

(Intercept) -1,729 1,302 -1,327 0,184

DR -0,017 0,067 -0,254 0,799

Page 102: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

99

C. brev 205,4 Estipes/750m² -0,004 0,009 -0,432 0,665

Área Basal -0,211 0,182 -1,156 0,2476

ALD(m) 0,115 0,048 2,369 0,018 *

(Intercept) 0,043 1,237 0,035 0,972

DR(Km) -0,075 0,078 -0,955 0,34

A. plan 280,9 Estipes/750m² 0,002 0,005 0,522 0,602

Área Basal -0,134 0,175 -0,764 0,445

ALD(m) 0,048 0,049 0,97 0,332

(Intercept) -3,145 1,501 -2,095 0,036 *

DR (Km) -0,005 0,094 -0,056 0,955

A.obscurus 175,5 Estipes/750m² 0,012 0,006 1,912 0,056 .

Área Basal 0,050 0,193 0,263 0,792

ALD(m) 0,084 0,056 1499 0,134

(Intercept) -1,781 1,741 -1,022 0,307

DR (Km) 0,098 0,103 0,957 0,339

C. minor 182,2 Estipes/750m² 0,009 0,008 1,201 0,23

Área Basal 0,207 0,198 1,048 0,294

ALD (m) -0,011 0,064 -0,184 0,854

(Intercept) -1,607 1,162 -1,384 0,1664

DR (Km) -0,235 0,084 -2,812 0,005 **

L. silv 130,5 Estipes/750m² -0,007 0,006 -1,223 0,221

Área Basal 0,146 0,151 0,967 0,333

ALD(m) 0,073 0,044 1,674 0,094

(Intercept) -0,882 1,689 -0,522 0,601

DR (Km) -0,137 0,104 -1,32 0,187

P. elon 134,5 Estipes/750m² -0,002 0,007 -0,273 0,785

Área Basal 0,214 0,165 1,299 0,194

ALD (m) -0,004 0,061 -0,077 0,939

(Intercept) -1,48 2,987 -0,497 0,619

DR (Km) 0,126 0,178 0,708 0,479

T. nic 114,3 Estipes/750m² -0,009 0,013 -0,704 0,481

Área Basal -0,573 0,488 -1,174 0,24

ALD (m) 0,039 0,123 0,32 0,749

(Intercept) -3,270 1,786 -1,831 0,067.

DR (Km) -0,006 0,104 -0,058 0,953

U. bil 158,2 Estipes/750m² 0,0117 0,007 1,47 0,141

Área Basal -0,684 0,324 -2,108 0,030*

ALD (m) 0,171 0,076 2,233 0,025 *

***p<0,0001; **p<0,001; *p<0,05

Page 103: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

100

4. Discussão

O estudo revela que as áreas de açaizais manejados no estuário amazônico, ainda

mantém uma riqueza de morcegos filostomídeos similar à da floresta de várzea primária.

Por exemplo, registramos nas áreas manejadas, 13 espécies de morcegos da subfamília

phyllostominae (Chrotopterus auritus, Glyphonycteris daviesi, Lophostoma silvicolum,

Micronycteris hirsuta, Micronycteris megalotis, Micronycteris microtis, Micronycteris

minuta, Mimon crenulatum, Phyllostomus elongatus, Phyllostomus hastatus, Tonatia

saurophila, Trachops cirrhosus, Trinycteris nicefori) que são reconhecidos como sensíveis

às alterações do ambiente e indicadores da qualidade ambiental (Fenton et al., 1992;

Medellín et al., 2000). Uma possível explicação para alta riqueza de morcegos

filostomídeos nessas áreas é o fato dos açaizais manejados, serem contínuos com a floresta

primária, fato que facilita o fluxo de morcegos que podem utilizar os açaizais como um

corredor de deslocamento em busca de alimento (Bernard e Fenton, 2003; Bobrowiec e

Gribel, 2010; Freudmann et al., 2015; Heer et al., 2015).

Apesar das áreas de açaizais manejados, apresentarem riqueza de morcegos

filostomídeos, semelhante à floresta de várzea primária, foi observado diferenças no

padrão da abundância dos morcegos entre as duas áreas. Morcegos frugívoros, nectarívoros

e sanguívoros foram mais abundantes em áreas manejadas, enquanto, os animalívoros em

área controle. Essas mudanças na composição das assembleias de morcegos são

comumente observadas em resposta à perturbação do habitat na região neotropical (Fenton

et al., 1992; Medellín et al., 2000; Freudmann et al., 2015). Provavelmente, relacionadas

às alterações na estrutura da vegetação, uma vez que o eixo 1 do NMDS foi associado

positivamente com a densidade de açaizeiros, e o eixo 2 do NMDS com a área basal. A

associação do eixo 2 com a área basal pode indicar que espécies de morcegos como os da

subfamília Phyllostominae, tem preferência por árvores maiores, para abrigo e que

Page 104: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

101

provavelmente estão em áreas de florestas sem perturbação (Kalko et al., 1999; Peña-

Cuellar et al., 2015).

O morcego sanguívoro, Desmodus rotundus, demonstrou uma associação positiva

com a densidade de açaizeiros, sendo mais abundante em áreas manejadas quando

comparado a áreas controle. Estudos apontam que essa espécie é afetada positivamente

pela fragmentação, tal como os nectarívoros e os frugívoros (Sampaio, 2000) e que a

espécie está associada à disponibilidade de alimentos (Estrada e Coates-Estrada, 2002;

Galindo-González, 2004; Aguiar, 2007; Ávila-Gómez et al., 2015). Uma possível

explicação para essa associação com densidade de açaizeiros é o fato dos ribeirinhos

residirem próximo dos açaizais, e possuírem comumente suínos e galinhas que servem de

atrativo para Desmodus rotundus. Estas criações podem estar servindo de alimentos para

estes morcegos e açaizais sendo usados apenas como um corredor em busca de alimento.

A abundância dos morcegos animalívoros catadores foi maior em área controle do

que em área de açaizais manejados. A espécie Lophostoma silvicolum foi associada

negativamente com a distância do rio Amazonas, ocorrendo em maior abundância em

sítios mais próximos deste rio. De modo geral, esses morcegos são associados a ambientes

sem alteração e tendem a diminuir, suas abundâncias quando ocorrem mudanças na

estrutura da vegetação (Fenton et al., 1992; Medellín et al., 2000; Klingbeil e Willig,

2009). Uma possível explicação, para associação negativa com o rio principal, seria que, as

áreas mais próximas do rio Amazonas são pouco utilizadas para atividades de manejo e,

portanto, mantem a estrutura da vegetação preservada. O efeito da maré que inunda essas

áreas, também pode ser uma explicação, pois facilita que pressas que servem de alimento

para esses morcegos, como pequenos vertebrados e artrópodes vão para superfície mais

facilmente, onde são capturados por esses morcegos (Klingbeil e Willig, 2009; Bobrowiec

et al., 2014).

Page 105: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

102

Para morcegos frugívoros, de modo geral, houve uma associação positiva com a

densidade de açaizeiros. Estes morcegos geralmente aumentam suas abundâncias em áreas

alteradas e bordas da floresta, onde alimentam-se de frutos de plantas de sucessão

secundária que são abundantes nestes locais (Muscarella e Fleming, 2007). O fato, do sub-

bosque dos açaizais manejados ser limpo anualmente, quando são eliminadas as plantas

pioneiras que servem de alimentos para esses morcegos, não justificaria esses açaizais

suportar alta abundância de morcegos, principalmente pequenos frugívoros. As possíveis

explicações para alta abundância destes morcegos seriam: as bordas dos açaizais e as

áreas de roças de milho e mandioca abandonados que ficam proxímos aos açaizais, uma

vez que elas contém alta densidade de plantas pioneiras que servem de alimento,

principalmente para pequenos morcegos frugívoros como, Carollia perspicillata que foi a

espécie mais abundante (Meyer e Kalko, 2008; Heer et al., 2015). Outra possível

explicação seria a presença de plantas frutíferas dos pomares dos ribeirinhos que ficam

próximas ou dentro dos açaizais, que podem servir de alimento para os morcegos (Castro-

Luna e Galindo-González, 2012).

Os nectarívoros também ocorreram em maior abundância em áreas de açaizais

manejados e também tiveram relação positiva com a densidade de açaizeiros. Estudos

apontam que estes morcegos, assim como, os frugívoros também aumentam suas

abundâncias em ambientes moderadamente alterados como os açaizais (Presley et al.,

2009). De certa forma esses morcegos podem estar relacionados com a polinização das

flores de plantas em consorcio com os açaizeiros, ou supostamente polinizando o açaizeiro

o que pode ser potencialmente um fator positivo para a produção de açaí nos locais

amostrados. Estes morcegos também se alimentam de frutos de plantas pioneiras, o que

também poderia justificar a abundância elevada destes morcegos, ou ainda as plantas dos

Page 106: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

103

pomares dos ribeirinhos como bananeiras ( Musa sp.) que também são fonte de alimento

(Castro-Luna e Galindo-González, 2012).

5. Implicações para o manejo de açaizais e conservação da biodiversidade

No estudo atual, a riqueza de morcegos filostomídeos foi similar, entre áreas de

açaizais manejados e áreas controle. Porém, houve um aumento na abundância de

morcegos frugívoros, nectarívoros, e hematófagos e diminuição de animalívoros catadores

nas áreas manejadas. Esse fato demonstra que a manutenção de áreas de floresta contínua

em contato com as áreas de açaizais manejados como observado na região deste estudo é

capaz de manter uma assembleia de morcegos diversificada e consequentemente a

manutenção de serviços ambientais prestados pelos morcegos como a dispersão de

sementes, polinização e controle da população de pequenos vertebrados e artrópodes.

Entretanto, como a demanda do açaí continua aumentando no mercado local e

mundial, provavelmente mais áreas serão manejadas no estuário do rio Amazonas. Há

estudos que já indicam que está ocorrendo uma simplificação da floresta com a diminuição

da riqueza vegetal em áreas manejadas (Weinstein e Moegenburg, 2004; Farias, 2012;

Freitas et al., 2015). Entretanto, ainda faltam estudos que calculem, o quanto de áreas de

floresta de várzea foi convertida em açaizais manejados. É imprescindível que seja

realizado o zoneamento ecológico econômico das florestas de várzea do estuário

amazônico para que seja garantindo a manutenção da biodiversidade e seus serviços

ecossistêmicos e afim de que o estuário não se torne bosques homogêneos de açaizais. É

importante salientar que o estado do Amapá, já possui uma legislação moderna que dispõe

sobre procedimentos para limpeza de açaizais nativos sob práticas de manejo que é a

Instrução Normativa 003 de 12 de Novembro de 2009 e o decreto nº 3325 de 17 de junho

de 2013. A Instrução Normativa determina que 20% da área da propriedade seja

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104

convertida em açaizais manejados, e também prevê deixar no máximo 400 touceiras por

hectare. Entretanto, segundo Farias (2012) os ribeirinhos relataram que encontram

dificuldades em atender principalmente a apresentação de Plano de Limpeza de Açaizal

(PLA), sendo este obrigatório.

6. Conclusão

O manejo de açaizais quando feito em pequena escala, e em contato com a floresta

primária, ainda mantém um a alta riqueza de morcegos filostomídeos, indicando que não

há perdas da diversidade de morcegos nas áreas manejadas. No entanto, nas áreas

manejadas encontramos uma maior abundância de morcegos frugívoros, nectarívoros e

sanguívoros, e uma diminuição na abundância de animalívoros catadores. A densidade de

açaizeiros, a distância do rio Amazonas e área basal foram as variáveis que mais

influenciaram na variação da abundância das espécies nas áreas de açaizais manejados no

estuário amazônico.

Agradecimentos

A Embrapa Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA-Amapá) que nos

forneceu apoio logístico para a realização deste estudo; ao Dr. Marcelino Guedes nos

ajudou a obter o apoio da EMBRAPA. Ao Dr. Darren Norris que deu sugestão de valor

inestimável para este manuscrito. Nossos amigos do FLORESTAM, IEPA e UFOPA

(Dani, Flávia, Adjalma, Adjard, Jonas, Edglei, Ezaquiel, Ramos, Luis Reginaldo, Jadson,

Anderson, Edeivid, Welligton, Ednei e Claudia Silva) nos ajudaram no campo. Aos

moradores da foz dos rios Mazagão Velho, Maracá e Ajuruxi por nos permitirem coletar

dados para este estudo em suas propriedades. A FAPEAP- e CNPq financiaram parte do

estudo. CAPES pela bolsa de doutorado concedida a I. J.Castro.

Page 108: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

105

Referencias

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Material suplementar

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115

Tabela S1. Informações coletadas em áreas de açaizais manejados e controle no estuário do rio Amazonas. Lat.=Latitude; Long.=Longitude; S=Número espécies de

morcegos filostomídeos; N=Número de indivíduos capturados; RV=Riqueza vegetal, DAP=Diâmetro acima do peito para plantas ≥ 5cm, AB=Área basal em m², ALD=

Altura do dossel em metros; AD=Abertura do dossel, DR=Distância do Rio Amazonas em quilômetros; NA/750m²=Número de árvores; Est/750m²=Número de estipes de

açaí; Tou/750m²=Número de touceiras de açaí, LA= Número de limpezas por ano realizadas nos açaizais.

Sítio Manejo Região Lat. Long. S N RV DAP AB

ALD

(m) AD (%) DR (Km) NA/750m² Est/750m² Tou/750m² LA

CA1 Controle Ajuruxi -0,550726 -51,56376 5 5 18 17,8 2,4 21,33 14,72 1,8 54 6 3 0

CA2 Controle Ajuruxi -0,514091 -51,55335 15 43 16 21,55 4,46 29 7 4,27 52 4 4 0

CA3 Controle Ajuruxi -0,519318 -51,54128 11 18 20 23 4,2 24,9 15,76 2,43 65 3 2 0

CA4 Controle Ajuruxi -0,556798 -51,59146 9 17 25 29,98 5,1 28,9 6,2 3,23 72 23 5 0

CA5 Controle Ajuruxi -0,544441 -51,54467 9 21 20 21,4 4,3 26,7 9,24 0,57 71 12 3 0

CA6 Controle Ajuruxi -0,50809 -51,57046 14 15 26 32,2 5,23 28,7 10,3 5,28 47 28 13 0

CA7 Controle Ajuruxi -0,529155 -51,56132 8 12 22 26,78 4,21 22,2 8,21 3,12 68 8 3 0

CA8 Controle Ajuruxi -0,52977 -51,58372 9 14 25 27,56 4,32 25,2 6,43 4,69 59 12 5 0

CA9 Controle Ajuruxi -0,528523 -51,51825 8 10 18 22 3,23 21,54 10,42 0,51 55 5 2 0

CA10 Controle Ajuruxi -0,537628 -51,60023 9 16 20 21,53 4,1 24,48 12,4 5,49 47 17 7 0

CMR1 Controle Maracá -0,460856 -51,48821 10 19 18 21,96 3,03 23,3 12,3 4,5 48 0 0 0

CMR2 Controle Maracá -0,429111 -51,45382 5 9 22 13,45 3,5 20,77 11,6 1,9 67 21 10 0

CMR3 Controle Maracá -0.445328 -51,47081 7 10 20 21 3,2 21,4 12 3,6 65 6 3 0

CMR4 Controle Maracá -0,434684 -51,49036 10 18 22 22,47 2,68 29,9 8,2 6,2 55 3 2 0

CMR5 Controle Maracá -0,408386 -51,44966 11 16 25 23,89 4,57 25,8 14,5 1,9 72 12 5 0

CMR6 Controle Maracá -0,471524 -51,45996 9 17 20 22,41 4,32 24,87 18,4 0,78 52 4 4 0

CMR7 Controle Maracá -0,452389 -51,48376 4 6 21 21,9 3,98 23,81 14,2 4,17 55 6 2 0

CMR8 Controle Maracá -0,444382 -51,441329 12 13 24 23,21 4,8 22,56 10,4 0,44 54 10 6 0

CMR9 Controle Maracá -0,459454 -51,476823 6 8 23 24 4,67 25,6 8,2 3,14 72 8 2 0

CMR10 Controle Maracá -0,420699 -51,447671 8 11 19 25,4 4,12 28 6,2 1,76 81 7 2 0

CMZ1 Controle Mazagão -0,25096 -51,35134 11 33 20 18,64 4,87 30,83 6,45 1,4 74 17 6 0

CMZ2 Controle Mazagão -0,245761 -51,38389 8 17 19 20 3,5 26,25 15,57 4,94 54 6 3 0

Page 119: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

116

CMZ3 Controle Mazagão -0,2622 -51,41552 12 16 21 15,45 4,3 31,31 8,74 7,41 82 13 5 0

CMZ4 Controle Mazagão -0,24753 -51,37692 7 11 20 28,31 3,57 25,01 12,21 4,15 51 0 0 0

CMZ5 Controle Mazagão -0,218453 -51,398785 2 4 25 33,26 4,89 32,07 10,2 7,7 64 14 7 0

CMZ6 Controle Mazagão -0,240775 -51,38226 12 47 22 23,51 4,52 33,54 8,2 5,2 60 10 5 0

CMZ7 Controle Mazagão -0,269525 -51,36624 12 18 19 26,8 3,99 25,78 11,42 1,77 68 8 2 0

CMZ8 Controle Mazagão -0,273043 -51,37965 9 13 18 32,41 4,01 34,76 18,2 3,6 72 14 6 0

CMZ9 Controle Mazagão -0,233169 -51,399310 7 11 21 35 3,72 26,01 14,43 6,93 54 10 5 0

CMZ10 Controle Mazagão -0,242518 -51,424751 6 12 25 22,31 3,01 25,9 6,1 8,9 48 3 1 0

MA1 Manejo Ajuruxi -0,536379 -51,54919 16 37 15 12,4 2,05 17,5 28,3 0,93 52 85 30 2

MA2 Manejo Ajuruxi -0,546935 -51,58965 8 10 19 25,78 1,63 16,74 44,1 3,85 72 55 23 1

MA3 Manejo Ajuruxi -0,535683 -51,53281 8 15 13 11,84 1,78 20,2 27,14 0,1 50 116 35 1

MA4 Manejo Ajuruxi -0,526552 -51,60159 5 13 14 19,32 1,51 17,3 22,34 6,32 49 82 24 1

MA5 Manejo Ajuruxi -0,520911 -51,58682 7 14 22 21,36 3,37 22,53 13,47 5,73 55 63 29 1

MA6 Manejo Ajuruxi -0,539362 -51,55781 4 15 12 13,21 2,34 18,92 16,35 1,9 61 80 26 1

MA7 Manejo Ajuruxi -0,513242 -51,56212 7 11 14 15,5 1,93 18,9 31,9 4,33 60 90 33 1

MA8 Manejo Ajuruxi -0,497832 -51,54745 10 35 13 17,4 2,2 17,9 26,4 5,8 81 85 36 2

MA9 Manejo Ajuruxi -0,529719 -51,54328 8 33 15 14,54 1,98 15,4 31,09 1,73 76 87 33 1

MA10 Manejo Ajuruxi -0,548977 -51,54436 7 11 17 25,9 2,67 21,02 32,1 0,92 85 92 38 1

MMR1 Manejo Maracá -0,447744 -51,46161 15 34 11 14,5 1,83 22,5 76,1 2,6 39 60 21 1

MMR2 Manejo Maracá -0,413852 -51,4378 12 28 13 14,3 1,13 19,3 44,75 0,45 67 55 23 1

MMR3 Manejo Maracá -0,446273 -51,48822 11 29 14 14,2 2,74 22,56 25,3 5,42 52 72 23 1

MMR4 Manejo Maracá -0,432803 -51,45212 6 14 14 15,21 1,98 17,93 24,21 2,3 46 56 33 1

MMR5 Manejo Maracá -0,448733 -51,47311 10 49 11 14,34 2,01 20,1 20,91 3,1 57 56 29 1

MMR6 Manejo Maracá -0,457377 -51,467632 9 33 15 14,24 2,2 22,4 14,2 2,5 78 106 44 1

MMR7 Manejo Maracá -0,466217 -51,4717 12 29 14 15,65 2,21 15,4 34,21 2,18 77 76 39 1

MMR8 Manejo Maracá -0,421345 -51,43722 8 6 12 12,35 1,44 21,4 30,2 0,83 70 98 46 1

MMR9 Manejo Maracá -0,441952 -51,456341 10 17 13 16,31 1,22 18,9 21,45 2,2 44 54 19 1

MMR10 Manejo Maracá -0,469838 -51,48136 9 18 15 15,71 2,89 19,12 20,37 2,83 51 75 23 2

Page 120: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

117

MMZ1 Manejo Mazagão -0,244296 -51,39984 10 26 12 13,24 2,47 24,3 26,23 6,4 56 111 34 1

MMZ2 Manejo Mazagão -0,241649 -51,41126 12 16 12 13,7 1,78 25,4 44,19 7,63 72 87 29 1

MMZ3 Manejo Mazagão -0,253874 -51,36993 11 22 11 13,22 2,02 26 35,21 2,89 65 77 29 1

MMZ4 Manejo Mazagão -0,228032 -51,39334 5 9 10 14 1,55 18 38,2 6,58 40 61 21 1

MMZ5 Manejo Mazagão -0,261179 -51,38224 9 18 11 12,34 2,31 19,9 31,26 3,81 61 116 31 1

MMZ6 Manejo Mazagão -0,21138 -51,36807 9 24 16 14,3 1,87 18,3 22,34 5,9 44 128 40 1

MMZ7 Manejo Mazagão -0,236051 -51,339944 12 32 14 15,6 2,1 20,21 24,21 1,6 28 44 17 2

MMZ8 Manejo Mazagão -0,239516 -51,365247 10 31 15 18,4 1,99 19,54 28,5 3,88 58 72 38 1

MMZ9 Manejo Mazagão -0,256344 -51,3714 12 48 18 19,2 2,31 13,4 30,32 2,96 71 145 49 1

MMZ10 Manejo Mazagão -0,212763 -51,39179 12 56 10 12,3 1,22 15,2 34,56 7,7 77 89 35 1

Page 121: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

118

Tabela S2: Lista de espécies, número de capturas e guilda trófica de morcegos das espécies de morcegos

capturadas em áreas de açaizais manejados (M) e controle (C) em três localidades de floresta de várzea no

estuário do rio Amazonas. Para guilda trófica (AI = insetívoros aéreos, FR = frugívoro, GA = Animalívoro

catador, NE = nectarívoro, SAN= Sanguívoro).

Rio Ajuruxi

Rio Maraca

Rio Mazagão

Guilda trófica Familia/Espécies C M

C M

C M Total

Emballonuridae

Cormura brevirostris 1 1

0 1

0 0 3 AI

Diclidurus albus 0 0

2 0

0 0 2 AI

Saccopteryx bilineata 1 3

1 0

3 1 9 AI

Saccopteryx leptura 2 1

1 2

2 2 10 AI

Peropteryx leucoptera 0 0

0 0

2 0 2 AI

Peropteryx macrotis 1 0

0 0

0 0 1 AI

Momoopidae

Pteronotus rubiginosus 0 0

0 0

1 2 3 AI

Phyllostomidae

Anoura caudifer 0 0

0 0

0 1 1 NE

Dermanura cinerea 5 9

2 10

2 4 32 FR

Dermanura gnoma 3 2

0 6

1 1 13 FR

Artibeus lituratus 5 2

0 1

1 2 11 FR

Artibeus obscurus 9 6

3 13

14 15 60 FR

Artibeus planirostris 14 8

24 46

38 56 186 FR

Carollia brevicauda 13 19

5 29

8 15 89 FR

Carollia perspicillata 39 69

18 55

33 62 276 FR

Chrotopterus auritus 3 2

0 0

0 0 5 GA

Choeroniscus minor 4 18

6 6

15 20 69 NE

Desmodus rotundus 7 10

7 23

7 20 74 SAN

Glyphonycteris daviesi 2 2

0 0

0 0 4 GA

Glossophaga soricina 7 8

4 4

3 2 28 NE

Lampronycteris brachyotis 1 0

0 0

0 0 1 GA

Lonchophylla thomasi 7 12

2 7

5 4 37 GA

Lophostoma silvicolum 11 3

12 4

10 2 42 GA

Macrophyllum macrophyllum 0 0

1 0

0 0 1 GA

Micronycteris hirsuta 5 1

0 0

0 0 6 GA

Micronycteris megalotis 3 0

8 3

0 1 15 GA

Micronycteris microtis 1 1

0 0

0 0 2 GA

Micronycteris minuta 0 0

0 3

2 0 5 GA

Page 122: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

119

Micronycteris schmidtorum 1 0

0 0

0 0 1 GA

Mimon crenulatum 0 0

0 1

1 2 4 GA

Phyllostomus elongatus 10 3

7 3

7 6 36 GA

Phyllostomus hastatus 0 0

0 0

0 3 3 GA

Platyrrhinus brachycephalus 0 1

0 6

3 4 14 FR

Platyrrhinus guianensis 0 0 1 0 0 0 1 FR

Plathyrrhinus fusciventris 2 2

3 1

9 10 27 FR

Plathyrrhinus incarum 0 0

3 0

0 0 3 FR

Rhynophilla pumilio 3 7

0 6

4 8 28 FR

Tonatia saurophila 3 1

0 3

7 5 19 GA

Trachops cirrhosus 5 3

12 5

0 2 27 GA

Trinycteris nicefori 2 0

5 12

3 6 28 GA

Uroderma bilobatum 5 4

2 8

9 28 56 FR

Vampyriscus bidens 1 1

0 0

0 3 5 FR

Vampyrodes caraccioli 0 0

2 2

0 0 4 FR

Thyropteridae

Thyroptera tricolor 0 0

0 1

1 0 2 AI

Thyroptera lavali 0 0

0 0

0 2 2 AI

Vespertilionidae

Myotis nigricans 1 1

0 0

0 1 3 AI

Myotis riparius 1 0

0 1

0 0 2 AI

Número de espécies 33 28

23 28

26 30 47

Número de capturas 178 200

131 262

191 290 1252

Page 123: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

120

Tabela S3. Média e desvio padrão de variáveis ambientais aferidas em área controle e

açaizais manejados no estuário do rio Amazonas.

Controle Manejado

Riqueza vegetal 21,13±2,6

13,83±2,69

DAP (cm) 24 ±5,07

15,67±3,58

Área basal (m²) 4,03±0,8

1,94±0,44

Altura do dossel(m) 26,35±3,70

19,54±2,98

Abertura do dossel (%) 10,94±3,59

30±11,87

Distância do Rio (Km) 3,726±2,27

3,51±2,2

Nº_árvores/750m² 61,27±10,28

29,8±14,22

Estipes de açaí/750m² 9,67±6,67

82,43±24,2

Touceiras de açaí/750m² 4,1±2,79

31±8,1

Limpeza p/ Ano 0 1.2±0,35

Page 124: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

121

Figura S1: Correlação entre as variáveis ambientais aferidas, em áreas de açaizais manejados e controle no estuário do rio Amazonas.

RV=Riqueza vegetal; DAP=Diâmetro à altura do peito (1,30 m) de plantas > 5 cm; AB=Área basal; ALD=Altura do dossel(m);

ABD=Abertura do dossel (%); DR=Distância do rio Amazonas (km); Est. 750 m²= Estipes de açaí/750m²; Tou. 759m²=Touceiras de Açaí/

750 m²; LA=Número de limpeza no açaizal por ano.

RV

15 25 35

0.77 0.73

15 25 35

0.57 -0.71

0 2 4 6 8

0.10 0.10

0 50 100

-0.70 -0.69

0.0 1.0 2.0

10

20

-0.7415

30 DAP

0.69 0.57 -0.51 0.15 0.10 -0.64 -0.62 -0.64

AB

0.66 -0.60 -0.03 0.17 -0.68 -0.69

14

7

-0.72

15

30 ALD

-0.53 0.22 0.10 -0.65 -0.67 -0.68

ABD...

-0.07 -0.06 0.62 0.62

1050

0.64

04

8 DR

-0.12 -0.02 -0.06 -0.08

NA.750m²

0.07 0.13

3060

-0.12

0100 Est.750m²

0.96 0.80Tou.750m²

030

0.81

10 15 20 25

0.0

1.5

1 3 5 7 10 40 70 30 50 70 0 20 40

LA

Page 125: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

122

Fig. S2. Curvas de rarefação para riqueza de morcegos da família Phyllostomidae para área

de estudo no estuário amazônico. A=considerando todo o estudo; B=considerando

somente áreas controle; C=considerando somente áreas de açaizais manejados.

Page 126: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

123

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nosso estudo enfocou aspectos sobre a riqueza e diversidade de espécies de morcegos

e os efeitos do uso das florestas tropicais sobre as assembleias destes pequenos mamíferos

voadores. Verificamos que a floresta de várzea do estuário do rio Amazonas possui papel

importante para a manutenção da diversidade de morcegos, pois apresenta elevada riqueza

e diversidade de morcegos que inclui espécies raras como Diclidurus albus, Micronycteris

hirsuta, Glyphonycteris daviesi e Macrophyllum macrophyllum Portanto políticas de

conservação devem ser consideradas para a manutenção da diversidade de morcegos nestes

locais. Tais políticas devem ser focadas no incentivo para o manejo responsável do cultivo

do açaizeiro (Euterpe oleracea) e da exploração da madeira, além do combate da atividade

de exploração madeireira ilegal que pode provocar prejuízos à fauna e flora dessas

florestas ricas em biodiversidade.

Através de uma análise detalhada de estudos realizados em florestas tropicais

verificamos que os dados analisados disponíveis na literatura ainda não permitem ter uma

resposta clara em relação aos efeitos da exploração madeireira sobre morcegos nas

florestas tropicais. No entanto, nossos resultados sugerem que os efeitos para os morcegos

frugívoros tendem a ser positivos enquanto que para animalívoros catadores, os efeitos

tendem a ser negativos. A fim de compreender melhor as respostas dos morcegos sobre a

exploração madeireira nas florestas tropicais, considerando a importância ecológica desses

animais (Kunz et al., 2011), faz-se necessário que os estudos futuros invistam em um

melhor planejamento: Sugerimos algumas diretrizes para a sua melhoria, tais como, a

padronização do plano de amostragem, utilizando o delineamento amostral BACI (antes-

depois-controle-impacto) (Bicknell et al. 2015), a fim de evitar pseudoreplicação, que pode

comprometer os resultados e conclusões. Mais de um métodos de amostragem devem ser

Page 127: Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós

124

utilizados, tais como rede de neblina e busca ativa em abrigos, rede de neblina e detectores

de ultrassom, ou redes de neblina, busca ativa e detector de ultrassom. Também, sugerimos

a inclusão de variáveis ambientais e de perturbação, nas análises das mudanças que afetam

a riqueza, abundância de espécies e guildas de morcegos. Por fim, para estudos futuros,

sugerimos mais atenção a regiões pouco estudadas com atividade madeireira intensiva,

como a Amazônia e as florestas tropicais da África.

Investigando o manejo de açaizais em pequena escala encontramos que a densidade

de açaizeiros, a distância do rio Amazonas e a área basal foram as variáveis que mais

influenciaram na variação da abundância das espécies de morcegos nas áreas de açaizais

manejados. O manejo de açaizais quando feito em pequena escala, e em contato com a

floresta primária não afeta a riqueza de morcegos filostomídeos, mas altera a abundância

de algumas espécies, indicando que não há perdas da diversidade nas áreas manejadas.