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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO EM AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS ALINE FREITAS DIAS PINHEIRO AVALIAÇÃO DA ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL: POSSIBILIDADES E LIMITES DE UMA POLÍTICA PÚBLICA EDUCACIONAL FORTALEZA 2015

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ PRÓ -REITORIA DE … · É uma linda canção de amor. Abre os teus braços e canta A última esperança, A esperança divina De amar em paz. Se todos

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

MESTRADO EM AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS

ALINE FREITAS DIAS PINHEIRO

AVALIAÇÃO DA ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL: POSSIBILIDADES E LIMITES DE

UMA POLÍTICA PÚBLICA EDUCACIONAL

FORTALEZA

2015

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ALINE FREITAS DIAS PINHEIRO

AVALIAÇÃO DA ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL: POSSIBILIDADES E LIMITES DE

UMA POLÍTICA PÚBLICA EDUCACIONAL

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado

Profissional em Avaliação de Políticas

Públicas pela Universidade Federal do Ceará,

como requisito parcial à obtenção do grau de

Mestre em Avaliação de Políticas Públicas.

Orientadora: Profª. Drª. Gema Galgani Silveira

Leite Esmeraldo.

FORTALEZA

2015

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação

Universidade Federal do Ceará

Biblioteca de Ciências Humanas

P718a Pinheiro, Aline Freitas Dias.

Avaliação da assistência estudantil: possibilidades e limites de uma política pública

educacional / Aline Freitas Dias Pinheiro. – 2015.

140 f. : il., enc. ; 30 cm.

Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Ceará. Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação,

Curso de Mestrado Profissional em Avaliação de Políticas Públicas, Fortaleza (CE), 2015.

Orientação: Profa. Dra. Gema Galgani Silveira Leite Esmeraldo.

1. Políticas públicas. 2. Estudantes – Auxílio financeiro – Política governamental – Fortaleza

(CE). I. Título.

CDD 378.198

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ALINE FREITAS DIAS PINHEIRO

AVALIAÇÃO DA ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL: POSSIBILIDADES E LIMITES DE

UMA POLÍTICA PÚBLICA EDUCACIONAL

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado

Profissional em Avaliação de Políticas

Públicas pela Universidade Federal do Ceará,

como requisito parcial à obtenção do grau de

Mestre em Avaliação de Políticas Públicas.

Aprovada em: ___/___/___.

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________________________

Profª. Drª. Gema Galgani Silveira Leite Esmeraldo (Orientadora)

Universidade Federal do Ceará (UFC)

_________________________________________________________________

Profª. Drª. Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos

Universidade Federal do Ceará (UFC)

________________________________________________________________

Profª. Drª. Francisca Rejane Bezerra Andrade

Universidade Estadual do Ceará (Uece)

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“Vai, tua vida,

Teu caminho, é de paz e amor,

A tua vida

É uma linda canção de amor.

Abre os teus braços e canta

A última esperança,

A esperança divina

De amar em paz.

Se todos fossem

Iguais a você,

Que maravilha viver

Uma canção pelo ar,

Uma mulher a cantar,

Uma cidade a cantar, a sorrir, a cantar, a pedir

A beleza de amar

Como o sol, como a flor, como a luz,

Amar sem mentir, nem sofrer.

Existiria a verdade,

Verdade que ninguém vê,

Se todos fossem no mundo iguais a você!”

À minha avó materna Adosina, a quem devo o

melhor de mim, o meu amor, a minha gratidão.

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AGRADECIMENTOS

Há muitas pessoas às quais gostaria de dedicar meus sinceros agradecimentos, que

colaboraram com um pedacinho de si para que esse trabalho fosse possível.

Acima de tudo, gostaria de agradecer a Deus, por ter me dado coragem e força para

realizar os meus sonhos, fazendo-me chegar até aqui, quando achava que já não podia mais,

devido ao cansaço e às incertezas, fazendo-me acreditar que eu poderia ir muito além do que

imaginava.

À minha querida mãe, Rosimêre Freitas Dias, por sempre me colocar em suas orações

e torcer pelo meu êxito.

Ao meu amado pai, José Sigefredo Pinheiro Filho, que sempre acreditou que eu

poderia conquistar tudo aquilo que almejasse, que nunca poupou nenhum esforço para me ver

crescer, ser feliz.

À minha amada avó, Adosina Rosa Dias de Freitas, a quem devo toda admiração,

respeito e carinho e que me impulsionou a continuar este trabalho quando, em certos

momentos, as forças me faltaram.

À minha tia e madrinha, Maria de Fátima Freitas Brandão, pela torcida constante pela

minha felicidade.

Ao meu amado esposo Thiago do Amaral Ferreira, pelo seu amor incondicional e por

fazer minha vida mais feliz, mais bela e com mais sentido, por ter me dado ânimo e força

quando o cansaço tomava conta de mim para concluir este trabalho. Te amo infinito.

Aos meus queridos amigos que sempre estiveram ao meu lado, apoiando-me nos

momentos mais importantes da minha vida: Aline Venâncio Machado, Ana Kelle Nascimento

da Silva, Ana Virgínia Fonseca, David Queiroz, Ellen Gomes Xavier, Érica Mayara Natalense

Melo, Francisco Aguiar Dias, Josiana Matias, Kelly Maria Gomes Menezes, Larissa Adélia

Oliveira Gaspar, Marcela Silva Sousa, Priscila Nottingham de Lima, Renata de Almeida

Cavalcante, Silvana Maria Pereira Cavalcante (grande inspiradora do sonho de fazer o

Mestrado em Avaliação de Políticas Públicas), Socorro Aquino Caboclo, Soraya Aquino

Caboclo, Thiara do Amaral Ferreira e Thiara Isabel Nepomuceno Soares Paz.

Ao Mestrado em Avaliação de Políticas Públicas (MAPP), da Universidade Federal do

Ceará (UFC), por ter me dado a oportunidade única e maravilhosa de realizar o grande sonho

de ser mestre.

Aos estimados colegas do MAPP, Camilla Paiva, Coeli Girão, Corcyra Sabóia,

Daniela Cambraia, Diana Simões, Genézio Alves, Gutemberg Frota e Pablo Rodrigo da Silva,

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pela amizade, companheirismo, força e apoio dados, um ao outro, durante toda a caminhada

no mestrado.

À minha estimada instituição de trabalho, Instituto Federal de Educação, Ciência e

Tecnologia do Ceará, pelo financiamento do mestrado e, consequentemente, pela

oportunidade de realizá-lo.

Aos meus maravilhosos colegas da Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas do IFCE, pelas

risadas, amizade, incentivo, ajuda e torcida para conclusão do mestrado: Adriana Farias

Bonfim, Débora Regina Diniz Soares, Elane Cristina Rodrigues, Helda de Queiroz Pontes,

Josimary Horta Araújo, João Araújo da Silva, Juliana Nunes Caminha, Ivam Holanda de

Souza, Márcio Oliveira Albuquerque, Maria Alice Cruz Alencastro, Maria Guaraciara

Taguaraci, Mayara Martins Costa, Rosângela Maria Ferreira Gomes, Samara Tauil Vitorino e

Vera Lúcia Vieira de Queiroz.

Ao presidente da Associação dos Servidores do IFCE (Assetece), Edilson Viana Oriá,

e sua funcionária Rosângela Maria da Silveira Pereira Figueiredo Santos, por não terem se

negado, em nenhum momento, mesmo sem me conheceram, a realizar o contrato necessário

com a Associação Cearense de Pesquisa (ACEP) para o curso do mestrado. Muito obrigada a

vocês! Serei sempre grata pelo que fizeram por mim.

À assistente social do IFCE, Reitoria, Patrícia Fernandes de Freitas, pela sua valiosa

ajuda para compor o perfil do meu trabalho, ao ceder livros que me ajudaram a aprofundar os

meus estudos e pelo apoio dado ao me dirigir palavras de ânimo quando o cansaço para

terminar o trabalho já se fazia presente.

Às assistentes sociais da Coordenação de Serviço Social do IFCE, campus Fortaleza,

Ana Maria Nóbrega Cavalcanti, Andréa Pinto Graça Parente, Eva Gomes da Silva, Ívia Eline

Farias Dias, pela gentileza, presteza, atenção que dispensaram a mim, não poupando esforços

para ajudar na coleta de dados para meu trabalho.

Aos servidores do IFCE, campus Fortaleza, Adriano Monteiro da Silva, Ana Valéria

Monteiro da Silva, Dulcimar Soares Ferreira, José de Arimatéa Ferreira Quintiliano e Maria

do Socorro Teles Félix, que foram muito prestativos e solícitos ao me fornecerem dados

quantitativos sobre a assistência estudantil, que enriqueceram meu trabalho.

À minha orientadora Gema Galgani Silveira Leite Esmeraldo, pelo olhar experiente e

pela calma que muito me foi necessária ao conduzir, de forma coerente, o aperfeiçoamento

deste trabalho.

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À professora Francisca Rejane Bezerra Andrade, querida professora da época da

graduação, na Uece, por ter me dado a honra de tê-la como avaliadora da banca e pelas

significativas sugestões que engrandeceram meu trabalho.

À professora Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos, pela solicitude e gentileza ao

aceitar participar da banca avaliadora, sendo essenciais suas recomendações e seu olhar

apurado de assistente social da área de assuntos estudantis para melhoria da dissertação.

Às diretoras de orçamento e gestão e assuntos estudantis, pela disponibilidade e

gentileza ao deixarem tomar um pouco do seu tempo para meu trabalho.

Aos meus queridos alunos entrevistados, que muito contribuíram para que eu sentisse

o que era, de fato, a assistência estudantil para o aluno do ensino superior. Obrigada pela

atenção, gentileza, amabilidade e presteza! Vocês simplesmente se doaram totalmente ao meu

trabalho, como se este fosse também de vocês. E, na verdade, é! Vocês são o centro dessa

dissertação, e ela não teria valido tanto a pena caso vocês não tivessem se doado tanto, de

corpo e alma.

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“Quando o homem compreende a sua

realidade, pode levantar hipóteses sobre o

desafio dessa realidade e procurar soluções.

Assim, pode transformá-la e o seu trabalho

pode criar um mundo próprio, seu Eu e as suas

circunstâncias.” (Paulo Freire)

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RESUMO

O presente trabalho realizou uma avaliação de impacto no Instituto Federal de Educação,

Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), campus Fortaleza, da política de assistência estudantil.

Com o intuito de compreender como essa política vem se desenvolvendo junto aos discentes

que a ela recorrem para permanecer na referida instituição de ensino, esta pesquisa objetivou

conhecer se tal política vem se afirmando como um direito do aluno, possibilitando que este

conclua seus estudos, e como os atores sociais que estão envolvidos com assistência estudantil

(estudantes, assistentes sociais da Coordenação de Serviço Social, diretora de assuntos

estudantis e diretora de gestão orçamentária) veem-na, conduzem-na e que significados

possuem dessa política, para identificar suas potencialidades e limites. Para tanto, este

trabalho apresenta algumas discussões sobre o contexto em que nasceu a assistência estudantil

no Brasil, o entendimento desta como política pública educacional voltada para a manutenção

do aluno nas instituições federais de ensino e, especificamente, sua implantação no IFCE,

campus Fortaleza. Para chegar aos objetivos propostos, foram realizadas entrevistas

semiestruturadas, bem como observação participante e registros em diário de campo.

Palavras-chave: Avaliação de políticas públicas. Assistência estudantil. Políticas públicas.

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ABSTRACT

The present work made an impact evaluation at Instituto Federal de Educação, Ciência e

Tecnologia do Ceará (IFCE), Fortaleza campus, of students’ politics and assistance. As an

aim to understand how this politics have been developing along with the learners that fall

back upon it to remain in the referred learning institution, this research aimed to know if this

politics has been reaffirming itself as a student’s right, enabling them to complete their

studies, and also how social actors, that are involved with students assistance (students, social

assistants of Social Services Coordination, director of students matters and financial

management directory), see it, lead it and what meanings they have about this politics to

identify its potentialities and limits. For this purpose, this work shows some discussions

about the context where students’ assistance has risen, the understanding of it as educational

public politics turned to the maintenance of the students in the learning federal institutions,

and specifically its implantation in IFCE, Fortaleza campus. Some semi-structured interviews

have been conducted in order to get to the proposed aims, as well as participant observations

and daily field records.

Keywords: Evaluation of public politics. Students’ assistance. Public politics.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 11

2 DEFINIÇÃO DA POLÍTICA EM ESTUDO 14

2.1 Delineamento do objeto avaliativo: a assistência estudantil e seus

desdobramentos

26

3 TECENDO DISCUSSÕES TEÓRICAS SOBRE AVALIAÇÃO 31

3.1 Contribuições teóricas sobre assistência estudantil, educação e

políticas públicas

40

4 O CAMINHO METODOLÓGICO: REALIZANDO A

DESCOBERTA DOS SUJEITOS DA POLÍTICA

49

4.1 Primeiros contatos com os sujeitos da pesquisa 53

4.2 Como os alunos avaliam a política de assistência estudantil no IFCE,

campus Fortaleza

58

4.3 A organização política dos discentes frente às problemáticas da

assistência estudantil

73

4.4 Discussões da institucionalidade: quando o compromisso com a

política supera obstáculos

81

4.5 Limites e possibilidades na gestão da política de assistência

estudantil

94

CONSIDERAÇÕES FINAIS 100

REFERÊNCIAS 105

APÊNDICES 109

ANEXOS 120

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1 INTRODUÇÃO

Este trabalho visa a realizar uma avaliação de impacto da política de assistência

estudantil no IFCE, campus Fortaleza. Nosso objetivo central é compreender como se

desenvolve a política de assistência estudantil junto aos alunos que são beneficiados por ela.

Sendo assim, desenvolvemos discussões sobre as categorias que envolvem a questão da

assistência estudantil, como: alunos financeiramente hipossuficientes que entraram nas

instituições federais de ensino superior através de cotas; contexto de expansão das vagas

nessas instituições, que propiciaram o campo para a implantação da assistência estudantil; e a

luta para que a política de assistência estudantil fosse vista como direito do aluno do ensino

superior, indo além da ideia de que aquela estava somente a favor dos interesses dos

organismos multilaterais (NASCIMENTO, 2011).

Segundo Nascimento (2011), no Governo Lula (2003-2010), a assistência estudantil

teve “uma notória expansão” (NASCIMENTO, 2012, p. 10), a qual foi possível graças à

entrada de alunos de classes menos abastadas da sociedade, através do Programa de Expansão

e Reestruturação das Universidades Federais (Reuni). Aquela, respaldada pelo Decreto nº

7.234, de 19 de julho de 2010, institui o Programa Nacional de Assistência Estudantil

(PNAES), que fornece, a esses alunos, através de ações voltadas para a alimentação,

transporte, saúde, moradia, dentre outros, a possibilidade de se manterem no ensino superior

e, consequentemente, concluírem seus estudos.

Podemos dizer ainda que o estabelecimento de cotas sociais nas universidades também

ajudou na entrada de discentes das classes médias e baixas nas universidades brasileiras,

corroborando, mais uma vez, a urgência de uma política educacional que estivesse voltada

para as necessidades desses alunos, sejam elas de alimentação, transporte, de compra de

matéria escolar etc. A adoção de cotas, segundo Menin et al. (2008), foi iniciada há pouco

tempo, mais precisamente em 2001, na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e na

Universidade Nacional de Brasília (UnB). O referido autor ressalta ainda que, em 2008, isso

já era realidade em mais de 20 universidades de várias regiões do Brasil e, desde 2012,

também se faz presente no IFCE.

Todavia, há discussões sobre a que realmente a assistência se propõe. Seria mesmo ela

considerada um direito do aluno que se encontra no ensino superior? Um caminho para

atenuar os problemas referentes à renda e a outras questões sociais, que influenciam a

permanência e o término dos estudos no ensino superior? Ela vem se desenvolvendo, no

IFCE, como tal? Ou seria apenas uma ação focalizada do governo, que não possibilita, de

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fato, como prega o próprio PNAES, “contribuir para a promoção da inclusão social pela

educação”?

Sendo assim, refletimos sobre o que seria, de fato, a assistência estudantil. Já que é um

direito social, seria considerada, porventura, uma política social compensatória? Segundo

Horta (2010),

para muitos, [...] os direitos sociais são algo como “políticas sociais compensatórias”

[...]; sociais, por dirigirem-se aos menos favorecidos da plebe, que com seus parcos

recursos dificilmente poderiam obter o acesso às condições desfrutadas pela elite; e

compensatórias, porque visam exatamente apresentar uma reparação do dano

causado a tais parcelas sociais excluídas das benesses da propriedade (HORTA,

2010, p. 220).

Como política pública social, admitimos que a assistência estudantil possui um viés

compensatório, pois surgiu para apoiar aqueles alunos que não possuem meios de se manter

estudando nas instituições federais de ensino superior. Todavia, concordamos com Silva

(2008) quando fala que é contra a

percepção da política pública como mero recurso de legitimação política ou de uma

intervenção estatal subordinada tão somente à lógica da acumulação capitalista. A

política pública é uma resposta decorrente de pressões sociais a partir de ações de

diferentes sujeitos [...] que sustentam interesses diversificados. Portanto, serve a

interesses também contraditórios, que ora se situam no campo do capital, ora no

campo do trabalho. Recuso, portanto, qualquer raciocínio linear e consensual, pois

falar de política é falar de diversidade e contradição (SILVA, 2008, p. 90).

Sendo assim, não podemos nos limitar a apenas enxergar esse perfil compensatório da

assistência estudantil, o seu “lado ruim”. Precisamos notar, também, suas potencialidades, a

importância da sua concretização através da luta dos alunos do movimento estudantil,

professores e entidades ligadas à defesa dessa política pública educacional, como o Fórum

Nacional de Pró-Reitores de Assuntos Comunitários e Estudantis (Fonaprace) e a Associação

Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), que

possibilitaram, ao discente, a oportunidade de concluir o ensino superior.

Para tanto, tivemos como cenário da nossa pesquisa qualitativa o IFCE, campus

Fortaleza, no qual realizamos entrevistas semiestruturadas e questionário com perguntas

fechadas com os estudantes que estão inseridos na assistência estudantil, através do

recebimento dos auxílios transporte e alimentação. Outrossim, também realizamos entrevistas

semiestruturadas com os alunos pertencentes ao movimento estudantil do IFCE, campus

Fortaleza, com os assistentes sociais que estão à frente da execução de tal política e as

diretoras de assistência estudantil e de gestão orçamentária.

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A importância da avaliação que realizamos está na forma como a assistência estudantil

interfere na vida dos alunos que nela estão inseridos, percebendo mudanças referentes à

permanência do alunato no IFCE a partir do momento que se iniciou o recebimento dos

auxílios por este.

Desse modo, a dissertação ora apresentada está estruturada em quatro capítulos: no

primeiro capítulo, intitulado “Definição da política em estudo”, relatamos um pouco sobre a

história da assistência estudantil no Brasil, sobre o contexto no qual nasceu, as entidades que a

defendem como política educacional capaz de manter o aluno na instituição de ensino

superior, bem como seu desenvolvimento no IFCE, campus Fortaleza, a partir da década de

1960 até o cenário atual.

No segundo capítulo, “Tecendo discussões teóricas sobre avaliação”, expomos

algumas discussões sobre as categorias avaliação, assistência estudantil, educação e políticas

públicas, necessárias para o esclarecimento do contexto em que está a assistência estudantil, à

luz de autores que possuem reflexões condizentes com a pesquisa que nos propomos a

construir.

No terceiro capítulo, intitulado “O caminho metodológico: realizando a descoberta dos

sujeitos da pesquisa”, relatamos sobre o tipo de pesquisa que realizamos (neste caso,

qualitativa), as técnicas e fontes utilizadas para obtermos os dados necessários para o

desenvolvimento da pesquisa, bem como os critérios escolhidos para a seleção dos atores

sociais entrevistados com o intuito de melhor avaliar a assistência estudantil no IFCE, campus

Fortaleza.

Outrossim, tal capítulo refere-se à exposição das entrevistas realizadas com os alunos,

assistentes sociais e diretoras de assistência estudantil e de gestão orçamentária, delineamento

do perfil dos alunos que recebem auxílios da assistência estudantil, impressões do corpo

discente e profissionais acerca da referida política pública, bem como à análise pública dos

dados quanti-qualitativos colhidos.

Finalmente, nas considerações finais, os resultados obtidos são explanados e

discutidos quanto à avaliação da assistência estudantil, destacando-se que foram pertinentes

para desvendar se, de fato, a assistência estudantil atende às necessidades dos discentes do

IFCE, campus Fortaleza.

Enfim, como servidora do IFCE, campus Fortaleza, que teve contato com essa política

quando trabalhou, outrora, no IFCE do campus de Aracati, objetiva-se avaliar de que forma a

assistência estudantil vem se desdobrando nessa instituição de ensino e quais seus impactos

na vida escolar daqueles a quem se destina: os alunos do ensino superior.

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2 DEFINIÇÃO DA POLÍTICA EM ESTUDO

No Governo Lula (2003-2010), surgiu a Portaria n° 39, de 12 de dezembro de 2007,

que instituiu o Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAES), o qual,

posteriormente, se transformou no Decreto nº 7.234, de 19 de julho de 2010. Segundo

Nascimento (2012), o Governo Lula traduz a essência autocrática burguesa do Estado

brasileiro e a continuação do tipo de política que o Brasil vinha sofrendo no governo de FHC,

mesmo aquele tendo sido considerado, pela população brasileira, como a mudança que

suscitaria um novo sistema político.

Ainda segundo a autora, o que ocorreu, de fato, no Governo Lula foi a manutenção das

alianças entre o Estado e o grande capital, alianças estas que já eram uma marca do Governo

de FHC. Sendo assim, para a referida autora, o então presidente Lula fez não mais do que

trilhar o mesmo caminho percorrido por seu antecessor.

Nascimento (2012) afirma ainda que, pelo fato de o Estado ser um Estado autocrático

burguês, a composição do Governo Lula (embora houvesse, no discurso do presidente, o

intuito de colocar, acima de tudo, os anseios da classe trabalhadora) era feita de grandes

empresários representantes da oligarquia agroindustrial brasileira que, por sua vez, estavam

totalmente atrelados aos desejos dos organismos multilaterais. Sendo assim, era evidente que

tais empresários eram o motivo para o Governo Lula se inclinar aos ditames dos referidos

organismos.

Desse modo, Nascimento (2012) faz algumas indagações ligadas à questão da política

de assistência estudantil: “como se constituem as Políticas Educacionais nestes Estados

nacionais de formação social autocrática? Quais os desafios postos a estas políticas?”

(NASCIMENTO, 2012, p. 18).

Porém, não podemos esquecer que foi no Governo Lula que ocorreu a expansão da

rede federal de educação profissional, científica e tecnológica. De 2005 até 2010,1 foram

construídas 214 novas escolas. Através do Reuni, foi possível também a construção de 126

novos campi e unidades universitárias. Em 2002, existiam 148 campi e, em 2010, esse

número passou pra 274, já em funcionamento.

De 1909 a 2002, existiam 140 escolas técnicas federais. Em 2010, o número de escolas

aumentou, passando para 342. A quantidade de matrículas realizadas na rede federal de ensino

1Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=16096: presidente-

lula entrega-campi-de-universidades-e-institutos-federais&catid=212&Itemid=86. Acesso em: 30 jan. 2015.

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também aumentou: no período de 2003 a 2010, foi identificado um aumento de 148%. Em

2004, havia 140 mil alunos matriculados; já em 2010, havia 348 mil alunos matriculados.

Segundo Cislaghi e Silva (2012), o Programa Nacional de Assistência Estudantil,

instituído pela Portaria Normativa nº 39/2007, do MEC, a ser implementado em 2008

(passando a ser regulado, posteriormente, pelo Decreto nº 7.234/10), nasce dentro do contexto

do Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), que foi

instituído em 24 de abril de 2007, pelo Governo Lula, através do Decreto nº 6.096/97.

O objetivo do Reuni seria o desenvolvimento de ações que garantissem a ampliação, o

acesso e a permanência dos estudantes no ensino superior pelo melhor aproveitamento da

estrutura física e de recursos humanos existentes nas universidades federais (grifo dos

autores). Segundo os autores, tal objetivo apresenta uma nítida perspectiva racionalizadora,

estando em consonância com o pensamento do Banco Mundial quando este afirma que há

subaproveitamento nas universidades federais, “fato” que foi diagnosticado pelo referido

organismo multilateral nos anos 1990, ao fazer uma análise da educação brasileira.

As diretrizes I e V do programa Reuni, de acordo com o artigo 2° do decreto que o

implementa, falam, respectivamente, sobre a redução das taxas de evasão (grifo nosso),

ocupação de vagas ociosas e aumento das vagas, em particular no período noturno, e

ampliação de políticas de inclusão e assistência estudantil (grifo nosso). Isso mostra que o

PNAES vem subsidiar as ações que o Reuni propunha desenvolver. Além disso, Cislaghi e

Silva (2012, p. 498) acreditam que “a expansão de vagas e de assistência estudantil, ainda que

focalizada, vai servir à coesão social e às ideologias de ascensão social via educação, num

período de agudização das expressões da questão social, do desemprego estrutural e da

desigualdade”.

De acordo com Cislaghi e Silva (2011), o PNAES, embora tenha se gestado no

Governo Lula com um papel bastante relevante, referente à manutenção do discente no ensino

superior, ainda sofria com a inexistência de uma rubrica específica no orçamento para o Plano

de Assistência Estudantil. Porém, houve um expressivo aumento em relação às verbas

destinadas à assistência estudantil dentro das Ifes, comparando os anos de 2002 (Governo

Fernando Henrique Cardoso) e o ano de 2009 (Governo Lula). Enquanto naquele foram

reservados 50 milhões para o referido programa, neste foram reservados 150 milhões. Além

disso, em 2010, foram autorizados mais de 300 milhões para serem rateados entre todas as

Ifes do Brasil. Mas “o fato de o governo ter apresentado um plano de assistência estudantil e a

importância que tem sido dada ao tema, na carona do Reuni, não significa que se torna menos

necessária uma análise crítica do PNAES” (CISLAGHI; SILVA, 2012, p. 505).

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Todavia, para Cardoso Júnior (2010), essa diferença entre o Governo Lula e o

Governo FHC, em relação aos gastos realizados na assistência estudantil, mostra a nítida

diferença entre tais governos em relação às políticas sociais, pois o petista acreditou que a

política social não deveria ser impactada pelos problemas da crise econômica e, desta forma,

ampliou os gastos sociais, sendo contrário tal fato à realidade que imperou no governo de

FHC, já que aqueles aumentavam ou diminuíam de acordo com o estado da economia. Expõe

ainda que,

em particular, o destaque da política social foi o fato de que governo federal optou

por priorizar as camadas mais vulneráveis entre aquelas a serem protegidas. Isso

ficou evidente pela orientação de manter, ao longo do ano de 2009, a trajetória de

crescimento do gasto social, na forma de transferência de rendas às famílias,

ampliação do seguro-desemprego e gastos na educação (CARDOSO JÚNIOR, 2010,

p. XXIV).

Nascimento (2012) explana que, atualmente, as políticas educacionais são pautadas na

lógica do discurso neodesenvolvimentista, discurso este que impera nos governos dos países

periféricos desde os anos 1990. Sobre esse discurso, Mota, Amaral e Peruzzo (2010, p. 39)

expõem que

as discussões sobre o desenvolvimento econômico e social são orientadas pelas

reformas estruturais na economia, especialmente pela política de privatização dos

serviços públicos, reforma do Estado e focalização de programas sociais para os

segmentos mais vulneráveis da sociedade.

Mota et al. (2010 apud NASCIMENTO, 2012, p. 20), em relação ao posicionamento

tomado pelos organismos multilaterais, com o intuito de absorver os problemas que

ocorreriam na América Latina devido às reformas neoliberais, relata que, para o Banco

Mundial,

a noção de desenvolvimento requisita necessariamente que sejam removidas as

principais fontes de privação da liberdade, tais como: pobreza, carência de

oportunidades econômicas e destituição social sistemática, negligência dos serviços

públicos e intolerância ou interferência excessiva do Estado.

O discurso do novo desenvolvimentismo faz com que as reformas sociais sejam

transformadas, reconstruídas de acordo com a lógica da economia externa, e é justamente em

tal lógica que se insere a reforma da educação, principalmente a educação superior, já que

suas políticas vão ao encontro dos interesses dos organismos multilaterais, como o Banco

Mundial. Assim,

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17

os adeptos desse novo-desenvolvimentismo consideram que algumas políticas e

ações são fundamentais para repor na agenda dos países da região os mecanismos de

distribuição de recursos, de modo a enfrentar a questão da desigualdade, agora com

foco na discussão de oportunidade (MOTA et al. apud NASCIMENTO, 2012, p.

21).

Segundo Nascimento (2012), é justamente nessa discussão sobre “oportunidade” que

surge a implementação da política de assistência estudantil nas Instituições Federais de

Ensino Superior (Ifes), através do Decreto nº 7.234/2010, que institui o Programa Nacional de

Assistência Estudantil (PNAES). Tal programa está inserido na agenda de discussão sobre a

ampliação do acesso e permanência dos estudantes hipossuficientes no ensino superior, e

define que as Ifes desenvolvam ações as quais permitam tal permanência. O parágrafo único

do referido decreto dispõe que

as ações de assistência estudantil devem considerar a necessidade de viabilizar a

igualdade de oportunidades, contribuir para a melhoria do desempenho acadêmico e

agir, preventivamente, nas situações de retenção e evasão decorrentes da

insuficiência de condições financeiras.

Nascimento, mais uma vez, faz algumas indagações:

A análise crítica da materialização deste Programa nas Ifes supõe questionamentos

sobre a quem serve o discurso da oportunidade de permanência do estudante no

ensino superior? O que está por trás de sua institucionalização? Qual o

direcionamento dado a materialização destas políticas nas Ifes? Central para refletir

sobre tais questões é pensar que, como discutimos anteriormente, as decisões

políticas no Brasil historicamente estiveram em consonância com as requisições

feitas ao país pelos grandes organismos responsáveis pela movimentação da

economia externa (2012, p. 21).

Desse modo, pode-se inferir que o que tem sido feito pela educação (destacando, aqui,

a insurgência da assistência estudantil) está também ligado a algo maior: ao intuito de fazer do

Brasil uma potência emergente, havendo necessidade, para tanto, da forte interferência dos

organismos multilaterais nas políticas sociais. A reforma na educação, que hoje se faz

presente, está inserida dentro do contexto de

adequação do sistema de educação às necessidades de resposta do capital à sua crise

contemporânea e se desenrola por dentro da contrarreforma do Estado, no contexto

neoliberal iniciado na América Latina, nos anos de 1970, e no Brasil, na década de

1990 (KOIKE apud NASCIMENTO, 2012, p. 22).

Dalmau et al. (2010), assim como Cislaghi e Silva (2012), ao falar sobre o contexto da

política de assistência estudantil, cita o surgimento do Reuni como imprescindível para a

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expansão da educação superior brasileira, já que havia indicadores que mostravam que estava

acontecendo um acesso maior das pessoas a tal ensino.

O supracitado autor explana ainda que, “com o Reuni, o governo busca criar condições

para aumentar quantitativa e qualitativamente os cursos de graduação, sendo que uma das

suas diretrizes é ampliar as políticas públicas de assistência estudantil” (DALMAU et al.,

2010, p. 1). Em tal programa, a assistência estudantil, que possui um caráter inclusivo, sendo,

portanto, uma política inclusiva, dando subsídios e apoio à permanência de jovens que estão

em vulnerabilidade social nas Ifes, tem o intuito de ofertar ações voltadas para alimentação,

moradia, acompanhamento psicossocial, prevenção e atenção à saúde mental, bolsas, acesso à

informática e oferta de cursos de língua estrangeira.

Ainda segundo o referido autor, o Reuni é uma das ações do Plano de

Desenvolvimento da Educação (PDE) que, por sua vez, é um desdobramento do Plano

Nacional de Educação (PNE). O objetivo do Reuni é ampliar o acesso e a permanência na

educação superior, contribuindo para que o provimento da oferta nessa modalidade de ensino

seja de pelo menos 30% dos jovens entre 18 e 24 anos até o final dessa década (2007-2010).

Para alcançar seu objetivo, o Reuni possui, por meta geral, aumentar a taxa de

conclusão média dos cursos de graduação presenciais para 90%, bem como aumentar a

relação de alunos de graduação em cursos presenciais por professor para 18, o que deve

acontecer ao final de cinco anos a contar do início de cada plano. Com a instituição do

PNAES, que também objetiva combater a evasão escolar, proporcionando ações necessárias

para esse fim, há um maior subsídio ao Reuni para que sua meta seja concluída.

Alves (2010), ao falar sobre o histórico da assistência estudantil nas universidades

brasileiras, relata que, em 1987, houve a criação do Fórum Nacional de Pró-Reitores de

Assuntos Comunitários e Estudantis (Fonaprace), sendo a Associação Nacional dos

Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes)2 responsável por tal criação,

com o intuito de fortalecer as políticas de assistência nas Instituições Federais de Ensino

Superior (Ifes).

As principais finalidades do Fonaprace são: prestar assessoria à Andifes e efetuar a

formulação de políticas e diretrizes básicas que permitam a articulação e o fornecimento das

ações comuns na área de assuntos comunitários e estudantis (grifo nosso) em nível regional e

nacional (BRASIL, 2011 apud GARRIDO, 2012).

2 A Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), criada em 23 de

maio de 1989, é a representante oficial das universidades federais na interlocução com o governo federal, com as

associações de professores, de técnico-administrativos, de estudantes e com a sociedade em geral.

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19

Sendo assim,

entende-se que a busca da redução das desigualdades sociais faz parte do processo

de democratização da Universidade e da própria sociedade brasileira, e isto não pode

se efetivar somente através do acesso à educação superior gratuita. Torna-se

necessária a criação de mecanismos que garantam a permanência dos alunos que

ingressam na Universidade, reduzindo, assim, os efeitos das desigualdades

apresentadas pelo conjunto de estudantes comprovadamente desfavorecidos e que

apresentam dificuldades concretas para prosseguirem sua vida acadêmica com

sucesso (GATTI; SANGOI, 2000).

Garrido (2012) relata ainda que o Fonaprace é uma representação que possui um

vínculo muito estreito com a política de assistência estudantil, sendo contra as ações que

favoreçam as privatizações das Ifes e que sejam coniventes com o fim dos programas de

assistência estudantil, como a residência universitária e o restaurante universitário

(BARRETO, 2003 apud GARRIDO, 2012).

Ainda segundo Alves (2010, p. 80),

O Fonaprace, desde 1998, por meio de reuniões, debates, documentos produzidos,

levantamento do perfil socioeconômico e atuação junto aos órgãos parlamentares,

iniciou a estruturação de uma Proposta para um Plano Nacional de Assistência aos

Estudantes de Graduação das Ifes, cuja versão preliminar foi aprovada em abril de

2001, num encontro nacional em Recife, Pernambuco.

O Fonaprace, no final do ano de 1999, pediu a inserção da assistência estudantil no

primeiro Plano Nacional de Educação (PNE). Tal pedido foi aceito pelo então deputado

federal Nelson Marchezan, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), relator do

PNE.

O projeto de lei que instituiu o segundo Plano Nacional de Educação (PNE), o qual se

efetivaria no período de 2011 a 2020, foi remetido ao Congresso Nacional pelo Governo

Federal em 15 de dezembro de 2010. Esse projeto possuía dez diretrizes objetivas e 20 metas

que desembocam em ações que atendem às “minorias”, como discentes com deficiência, que

estão em regime de liberdade assistida, que moram na área rural e quilombolas. A

universalização do ensino, bem como o acesso a este em cada nível educacional, é uma das

metas do referido projeto. Uma das estratégias do PNE (em relação à assistência estudantil)

para assegurar a meta de “duplicar as matrículas da educação profissional técnica de nível

médio, assegurando a qualidade da oferta” é

elevar gradualmente a taxa de conclusão média dos cursos técnicos de nível médio

na rede federal de educação profissional, científica e tecnológica para 90% (noventa

por cento) e elevar, nos cursos presenciais, a relação de alunos por professor para 20

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(vinte), com base no incremento de programas de assistência estudantil e

mecanismos de mobilidade acadêmica.

Outra estratégia do PNE, também vinculada à assistência estudantil, para atingir a

meta de “elevar a taxa bruta de matrícula na educação superior para 50% e a taxa líquida para

33% da população de 18 a 24 anos, assegurando a qualidade da oferta”, é

ampliar, por meio de programas especiais, as políticas de inclusão e de assistência

estudantil nas instituições públicas de educação superior, de modo a ampliar as taxas

de acesso à educação superior de estudantes egressos da escola pública, apoiando

seu sucesso acadêmico.

Observamos que o PNE vê a assistência estudantil como um instrumento que

possibilitará o aumento da escolaridade dos alunos, bem como a permanência destes nas

instituições federais de ensino superior, evitando, desse modo, a evasão escolar.

Havia, ainda, outro projeto de lei referente à assistência estudantil: o Projeto n° 1.018,

de 1999, do então deputado federal Nelson Pellegrino, do Partido dos Trabalhadores (PT), que

tramitava no congresso naquela época. Esse projeto de lei, que trata da Política Nacional de

Moradia Estudantil e resgata o Projeto n° 4633/94 do então deputado federal Koyu Iha,

membro do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), dava ao Ministério da

Educação, Cultura e Desporto a responsabilidade de garantir recursos específicos para a

aquisição, construção e manutenção de casas e residências estudantis.

Alves (2010) relata ainda que, de acordo com os dados do Fonaprace (2000), a política

de assistência estudantil estava sendo atingida pelo sucumbimento de seus programas básicos,

como: alimentação, delineada pelos restaurantes universitários, e moradia (nesse caso,

delineada pelas casas de estudante), desembocando, tal situação, no sucateamento das

universidades. Sendo assim, segundo Sposati (2000 apud ALVES, 2010), com a permanente

derrocada da política de assistência estudantil, havia um grande empecilho para a

permanência dos estudantes hipossuficientes no ensino superior, além de atingir, também, o

desenvolvimento acadêmico e profissional do qual tanto dependiam.

Assim, devido às pressões do Fonaprace e das entidades relacionadas aos movimentos

estudantis das universidades públicas, e também devido ao surgimento do Reuni, que citava a

assistência estudantil para os discentes hipossuficientes, houve, no Governo Lula, a

implementação do PNAES, através da Portaria n° 39, de 12 de dezembro de 2007. Em tal

portaria, a assistência estudantil é vista como uma estratégia para sanar as desigualdades

sociais e regionais, além de ser um instrumento de extrema relevância para o maior acesso e

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permanência dos alunos no ensino superior. Desse modo, o PNAES, de acordo com a

supracitada portaria, objetiva “ações de assistência estudantil vinculadas ao desenvolvimento

de atividades de ensino, pesquisa e extensão, e destina-se aos estudantes matriculados em

cursos de graduação presencial das Instituições Federais de Ensino Superior”. A autora

ressalta ainda no seu artigo 3º, parágrafo primeiro, que

as ações de assistência estudantil devem considerar a necessidade de viabilizar a

igualdade de oportunidades, contribuir para a melhoria do desempenho acadêmico e

agir, preventivamente, nas situações de repetência e evasão decorrentes da

insuficiência de condições financeiras.

A referida portaria não impõe às universidades a maneira como deverão conduzir o

programa de assistência estudantil, pois cada uma possui autonomia para delinear a melhor

forma de dirigir tal programa. Todavia, expõe as áreas básicas nas quais deverão incidir as

realizações da assistência estudantil, como: moradia estudantil, alimentação, transporte,

assistência à saúde, inclusão digital, cultura e esporte.

De acordo com os dados de 2009 do Instituto de Pesquisas Avançadas em Educação

(IPAE), o PNAES possuía um orçamento de 200 milhões, que era direcionado às

universidades públicas para as despesas com assistência aos discentes de baixa renda,

despesas estas relacionadas a moradia, alimentação e transporte. De acordo ainda com o

IPAE, o Ministério da Educação (MEC) pretendia aumentar, no ano de 2010 (ano em que,

vale ressaltar, a Portaria Normativa n° 39 foi regulamentada pelo Decreto nº 7.234/10), para

R$ 400 milhões o orçamento da assistência estudantil, viabilizando, assim, “dar mais

condições para que os jovens de baixa renda ingressem na universidade”.

O PNAES tem o Ministério da Educação, que “trabalha pela ampliação e

democratização do acesso ao ensino superior” (BRASIL, 2013a, p. 4), como um dos autores

que estão envolvidos com sua implementação, já que no seu artigo 1° está expresso,

claramente, que será executado no âmbito do Ministério da Educação (MEC). Além disso,

segundo o artigo 6° do supracitado decreto, as instituições federais de ensino superior deverão

fornecer ao MEC todas as informações referentes à implementação do PNAES que aquele

solicitar.

O artigo 8° relata ainda que “as despesas do PNAES correrão à conta das dotações

orçamentárias anualmente consignadas ao Ministério da Educação ou às instituições federais

de ensino superior, devendo o Poder Executivo compatibilizar a quantidade de beneficiários

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com as dotações orçamentárias existentes, observados os limites estipulados na forma da

legislação orçamentária e financeira vigente”.

Segundo o Portal do MEC (BRASIL, 2013b),

a Secretaria de Educação Superior (Sesu) é a unidade do Ministério da Educação

responsável por planejar, orientar, coordenar e supervisionar o processo de

formulação e implementação da Política Nacional de Educação Superior. A

manutenção, supervisão e desenvolvimento das instituições públicas federais de

ensino superior (Ifes) e a supervisão das instituições privadas de educação superior,

conforme a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), também são de

responsabilidade da Sesu.

Um dos programas da Sesu é justamente o Programa Nacional de Assistência

Estudantil, programa este que é executado pelas Ifes e, dentre elas, está o Instituto Federal de

Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), campus Fortaleza, que tem o Setor de

Serviço Social como seu operacionalizador. Ressaltamos, ainda, que o Decreto nº 7.234/10,

no seu artigo 3°, parágrafo 2°, dá autonomia às Ifes, respeitando os limites impostos pela

Sesu, em relação ao modo como será desenvolvida a assistência estudantil.

As áreas nas quais a assistência estudantil deverá incidir, segundo o artigo 3°,

parágrafo 1°, do PNAES, são:

I - moradia estudantil; II - alimentação; III - transporte; IV - atenção à saúde; V -

inclusão digital; VI - cultura; VII - esporte; VIII - creche; IX - apoio pedagógico; e

X - acesso, participação e aprendizagem de estudantes com deficiência, transtornos

globais do desenvolvimento e altas habilidades e superdotação.

Aquele possui ainda os seguintes objetivos, segundo seu artigo 2°:

I – democratizar as condições de permanência dos jovens na educação superior

pública federal;

II - minimizar os efeitos das desigualdades sociais e regionais na permanência e

conclusão da educação superior;

III - reduzir as taxas de retenção e evasão; e

IV - contribuir para a promoção da inclusão social pela educação.

Assim como o PNAES, outras legislações do Brasil, anteriores a ele, também

ressaltam a necessidade da permanência do aluno na instituição de ensino. A Constituição

Federal de 1988, por exemplo, no seu artigo 206, inciso I, expõe que “o ensino será

ministrado com base nos seguintes princípios: I - igualdade de condições para o acesso e

permanência na escola (grifo nosso) [...]”, estando em consonância com os incisos I e II do

referido programa. Na visão do legislador, o Poder Executivo não só tem a obrigação

primordial de ofertar a educação, como também de garantir o acesso à educação, bem como a

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permanência dos discentes nas instituições de ensino, sendo a assistência estudantil, no caso

do ensino superior, o aval para tal permanência.

Ademais, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nº 9.394/1996, também

está em consonância com o que prega a referida Constituição, pois, em seu artigo 3º, inciso I,

aquela repete o mesmo princípio desta, ao expor que “o ensino será ministrado com base nos

seguintes princípios: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola [...]”.

Em relação à assistência estudantil no IFCE, seu primeiro Regulamento de Auxílio ao

Discente, de 2011, que dispõe sobre os auxílios que compõem a referida assistência do IFCE,

nasceu do pedido do Ofício Circular n° 42/2011/GAB/SETEC/MEC, remetido por Brasília,

em 3 de maio de 2010, o qual recomendava

a aprovação pelos Conselhos Superiores de uma regulamentação específica para a

assistência estudantil, envolvendo os setores da assistência social, coordenação

pedagógica, psicologia, com critérios claros de acesso dos estudantes de origem

popular, especialmente os vinculados ao Proeja Médio e FIC, aos trabalhadores da

rede Certific, aos estudantes atendidos pelos NAPNES, às mulheres vinculadas ao

Programa Mulheres Mil, ao atendimento da mobilidade estudantil nacional e

internacional (grifo nosso).

Tais auxílios (auxílio-alimentação, transporte, moradia, óculos etc., que serão mais

bem detalhados posteriormente) são operacionalizados pelo Serviço Social, que se iniciou em

1998 com a criação da Coordenadoria de Serviço Social, passando a integrar, na época, a

Diretoria de Relações Empresariais e Comunitárias (Direc).

A equipe que está à frente da assistência estudantil é formada por seis assistentes

sociais. Na última seleção para a assistência estudantil do IFCE, campus Fortaleza, de 2014.1,

foram atendidos 2.067 alunos (em tal número, estão inclusos tanto os alunos do ensino

superior como do ensino técnico), sendo os auxílios transporte e alimentação os mais

requisitados.

A seleção para assistência estudantil é anunciada através de cartazes que são expostos

por toda instituição, nos quais há ainda as datas das entrevistas, bem como o site da instituição

para que os discentes saibam quais são os documentos necessários para sua realização. O

período para se inscrever para a seleção também é divulgado no referido site. Sendo assim, os

alunos já chegam ao Serviço Social, para marcar a entrevista, com os documentos exigidos e

com o questionário social respondido, estando também este disponível no site. A entrevista

consiste na confirmação dos dados fornecidos pelo aluno mediante o questionário social.

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Em relação à discussão que é feita sobre a assistência estudantil nos organismos da

sociedade civil, a União Nacional dos Estudantes (UNE)3 acredita que a inserção dos

discentes na universidade está acontecendo de forma mais ampla e democrática graças às leis

de cotas, ampliação das universidades federais e programas de bolsas em universidades

privadas, como o Prouni. Todavia, a UNE defende que é preciso um investimento mais

contundente nas políticas de assistência estudantil, pois se faz necessário garantir a

permanência desses jovens no ensino superior, nesse contexto de ampliação do número de

discentes que até então não podiam ingressar em uma universidade.

No período de 8 a 10 de março de 2013, aconteceu o 61º Conselho Nacional de

Entidades Gerais (Coneg) na Universidade Paulista, campus Paraíso, em São Paulo, com o

intuito de discutir a relevância da assistência estudantil nas universidades brasileiras.

Compareceram ao Coneg para debater tal tema o reitor da Universidade Federal de Ouro

Preto (UFOP), o professor João Luis, o professor da Universidade Federal do Recôncavo da

Bahia (UFRB) e o Coordenador do Fórum Nacional de Pró-Reitores de Assuntos

Comunitários e Estudantis (Fonaprace), Ronaldo Crispim.

As principais exigências do movimento estudantil, atualmente, são as políticas de

assistência estudantil e permanência do estudante na universidade. A necessidade de

construção das Casas do Estudante, restaurantes universitários, infraestrutura adequada,

possibilidade de acúmulo de bolsas e passe livre são bandeiras de luta históricas.

Segundo Garrido (2012), um dos segmentos que têm apoiado de forma propositiva a

política de assistência estudantil é o movimento estudantil que vem se organizando a partir de

vários núcleos de luta, dentre eles a União Nacional dos Estudantes (UNE). Esta defende a

criação de Pró-Reitorias de Assistência Estudantil em todas as universidades, bem como

recursos específicos para que isso seja possível. Ademais, defende a construção e ampliação

de programas que forneçam a alimentação tanto dos estudantes que se encontram nas

instituições públicas como daqueles que estão nas privadas, mediante “bandejões” e bolsas de

auxílio-alimentação.

Em agosto de 2011, a UNE, juntamente com a União Brasileira dos Estudantes

Secundaristas (Ubes) e com a Associação Nacional dos Pós-Graduandos (ANPG), remeteu

um documento à Presidente da República, Dilma Rousseff (2011-2014), o qual exigia, dentre

outras coisas, a destinação de 15% do orçamento de cada Instituição de Ensino Superior (IES)

3

Disponível em: http://www.une.org.br/2013/03/61%C2%BA-coneg-assistencia-estudantil-em-foco/. Acesso

em: 25 nov. 2013.

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25

para a assistência estudantil, bem como o investimento, ainda no orçamento de 2012, de R$ 1

bilhão de reais para tal política.

Para a diretora da UNE,4 Camila Moreno, garantir políticas de assistência estudantis

efetivas é um trabalho árduo, pois, apesar da maior abertura das instituições em relação à

entrada dos estudantes, a permanência do discente ainda é um desafio a ser enfrentado, pois

tal permanência não tem sido garantida de forma ampla. Sendo assim, ela afirma que se faz

necessário haver uma discussão em conjunto para que soluções possam ser construídas com o

intuito de sanar o problema da evasão nas universidades.

Nos últimos anos, além da UNE, outras representações estudantis se fizeram notar. A

população discente atual, principalmente os estudantes que se encontram em moradias

estudantis e que se reconhecem como discentes de origem popular, além de outros,

organizaram seus próprios movimentos que possuem extensão nacional, regional e estadual,

sendo a Secretaria Nacional de Casas de Estudantes (Sence) um desses movimentos. Esta

possui estreitos laços com o Fonaprace e tem suscitado propostas para a política de assistência

estudantil.

Frequentemente, os componentes do Sence promovem encontros e atividades com o

intuito de debaterem sobre a assistência estudantil, principalmente sobre a questão das

moradias estudantis brasileiras. Tal secretaria também objetiva instigar o diálogo entre os

discentes que se encontram nas referidas moradias de várias regiões do Brasil.

Garrido (2012) refere ainda sobre a existência de outro movimento estudantil: o Fórum

de Estudantes de Origem Popular (Feop), o qual atua no ingresso e permanência de tais

estudantes nas universidades. Seus componentes são favoráveis a políticas públicas de ações

afirmativas, como a assistência estudantil e a luta contra o racismo.

Em 2012, o Plano Nacional de Assistência Estudantil (PNAES) recebia 500 milhões

de reais do governo federal. Em agosto do mesmo ano, o então presidente da UNE, Daniel

Iliescu,5 em reunião com a presidente Dilma Rousseff, expôs a ideia de ser destinado ao

PNAES o valor de R$ 1,5 bilhão de reais. Daniel Iliescu acreditava que tal montante é

imprescindível para que a política de assistência estudantil se torne uma política mais sólida.

Além disso, afirmava que, no cerne das discussões do novo Plano Nacional de Educação

(PNE), este é o momento de alargamento de direitos com a destinação de 10% do PIB e 50%

dos royalties e do Fundo Social do Pré-Sal para a educação.

4

Disponível em: http://www.une.org.br/2013/03/61%C2%BA-coneg-assistencia-estudantil-em-foco/. Acesso

em: 28 abr. 2013. 5

Disponível em: http://www.une.org.br/2013/03/61%C2%BA-coneg-assistencia-estudantil-em-foco/. Acesso

em: 28 abr. 2013.

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26

2.1 Delineamento do objeto avaliativo: a assistência estudantil e seus desdobramentos

Com o intuito de fornecer uma formação integral aos seus discentes, o Instituto

Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) delineou o início da assistência

estudantil mediante o Programa Especial de Bolsa de Trabalho (Pebe), que foi implementado

pelo Decreto nº 57.870, de 25 de fevereiro de 1966. Esse programa ofertava ensino aos

trabalhadores que eram sindicalizados, empregados de entidades sindicais de todos os graus e

categorias, bem como a seus filhos e dependentes. Esses alunos se mantinham estudando

porque recebiam bolsas de estudos ou outro tipo de ajuda pecuniária que fosse mais adequada.

Em tal época, também eram ofertados aos alunos serviços médicos e odontológicos, além de

merenda escolar e fardamento, de acordo com o Boletim de Serviço do Cefet-CE de 2000.

O IFCE, até a década de 1980, trabalhava apenas com a bolsa ofertada aos discentes,

subsidiada com verbas do Ministério do Trabalho. Nessa mesma época, foi criado o Programa

Bolsa de Trabalho, que consistia no trabalho de alunos em oficinas e laboratórios em troca do

recebimento de bolsa. Nesse ínterim, também foram implementados, pela referida instituição,

auxílios voltados para os alunos que estivessem em situação de vulnerabilidade social, como

transporte, medicamentos, óculos e material didático.

Em 1991, foi criado o Serviço Social, que era subordinado ao Serviço de Orientação

Educacional, passando a ser o responsável pela organização das atividades sociais que antes

vinham sendo realizadas por diversos setores.

Desse modo, as ações referentes à assistência estudantil passaram a ser

operacionalizadas pela equipe do Serviço Social, que se submetia às diretrizes institucionais e

ao plano de trabalho do Serviço Social (Plano de Implantação do Serviço Social, 1991). No

ano de 1994, nasceu o Departamento de Apoio e Extensão, sendo subordinado a este o

Serviço de Apoio ao Discente, que ofertava aos alunos atendimento psicológico, médico,

odontológico, bolsa de trabalho e auxílios.

Com a necessidade de se ampliar a assistência estudantil no IFCE, que possuía vasta

demanda, foi implementada, em 1998, a Coordenação de Serviço Social, a qual era submetida

à Diretoria de Relações Empresariais e Comunitárias (Direc) do campus Fortaleza.

Tal coordenação desenvolveu a assistência estudantil com verbas da Ação 2994 –

Assistência ao Educando do Sistema Integrado de Monitoramento da Educação (Simec), que

possui como intuito prover alimentação, atendimento médico-odontológico, moradia e

transporte, bem como outras ações referentes à assistência social ao discente, dentre elas,

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27

todas as atividades que são realizadas no Programa de Assistência Estudantil (PAE) do IFCE.

Hoje, o Serviço Social é subordinado à Diretoria de Extensão (Direx)6e possui como

objetivos:

prestar assistência social aos alunos e seus familiares; pesquisar a realidade

estudantil para conhecimento dos problemas que afetam o rendimento escolar;

realizar pesquisas de caráter socioeconômico com a finalidade de conhecer o perfil

do corpo discente, de modo a subsidiar ações e projetos; elaborar, desenvolver,

implementar, executar e avaliar programas e projetos em área social, que objetivem

favorecer o acesso e a permanência do aluno na escola e o desenvolvimento

comunitário-institucional; participar de equipe multidisciplinar, da elaboração e do

desenvolvimento de programas de prevenção à violência, ao uso de drogas e

alcoolismo; realizar visitas sociais visando ao maior conhecimento da realidade

vivenciada pelo aluno e sua família, além de possibilitar a devida assistência e

encaminhamentos adequados.

Sendo assim, com o surgimento do Programa Nacional de Assistência Estudantil

(Decreto nº 7.234/10), foi necessária uma ampla discussão para o delineamento de diretrizes

para a política de assistência estudantil. Para tanto, nos dias 6 e 7 de dezembro de 2010,

ocorreu, em Fortaleza, Ceará, o I Seminário Construção de Diretrizes para as Políticas de

Assistência Estudantil da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica

(EPCT), tema estabelecido pelo Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de

Educação Profissional, Científica e Tecnológica (Conif), mediante o Fórum de Dirigentes de

Ensino e Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (Setec/MEC).

Após esse seminário, em janeiro e fevereiro de 2011, com o intuito de dar

continuidade aos trabalhos realizados durante o referido seminário, foi formado um grupo de

trabalho composto por dez membros, com dois participantes de cada região do Brasil, sendo

um gestor e um profissional que atuava na área de assistência estudantil.

O documento elaborado por tal grupo relata que

a assistência estudantil é entendida numa perspectiva da educação como direito em

compromisso com a formação integral do sujeito. Configura-se como uma política

que estabelece um conjunto de ações que buscam reduzir as desigualdades

socioeconômicas e promover a justiça social no percurso formativo dos estudantes

(DIRETRIZES NACIONAIS PARA A ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL, 2011).

Tal documento ainda relata que a assistência estudantil é voltada para aqueles alunos

que se encontram em vulnerabilidade social, concebida como “processos de exclusão,

discriminação ou enfraquecimento dos grupos sociais e sua capacidade de reação, como

situação decorrente da pobreza, privação e/ ou fragilização de vínculos afetivo-relacionais e

6 Disponível em: http://www.fortaleza.ifce.edu.br/index.php/extensao35/servico-social. Acesso em: 10 jan. 2015.

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de pertencimento social e territorial” (DIRETRIZES NACIONAIS PARA A ASSISTÊNCIA

ESTUDANTIL, 2011).

Aquele refere ainda que, em cada campus do IFCE, deve haver uma equipe

multiprofissional básica para a assistência estudantil, formada por psicólogo, pedagogo e

assistente social, ressaltando, ainda, que outros profissionais poderão ser incluídos para que

possam contribuir com a mencionada política educacional, como médicos, enfermeiros,

odontólogos, professores e outros.

Ainda em 2011, foi aprovada, pelo Conselho Superior (Consup) do IFCE, a Resolução

nº 23, de 20 de junho de 2011, que trata do primeiro Regulamento de Auxílio ao Discente do

IFCE. Os auxílios existentes7 na assistência estudantil do IFCE, segundo aquele regulamento,

são: auxílio-moradia (valor: R$ 150,00), auxílio-alimentação (R$ 88,00), auxílio-transporte

(R$ 50,00 para residentes em Fortaleza e R$ 70,00 para residentes na região metropolitana),

auxílio-óculos, auxílio-EJA (Educação de Jovens e Adultos), auxílio-visitas e viagens

técnicas, auxílio acadêmico, auxílio-didático-pedagógico, auxílio para discentes mães/pais

(R$ 226,00) e bolsa de trabalho (R$ 371,00).

Tais auxílios são operacionalizados pelo Serviço Social do IFCE. O auxílio-transporte

possui uma demanda expressiva, havendo, assim, grande dificuldade em atender a todos os

estudantes que o solicitam. Outra dificuldade que se apresenta ao Serviço Social é o fato de o

valor do auxílio ser pouco, como mostram os valores da tabela 1, não podendo atender,

também, à necessidade de alimentação dos discentes. Os assistentes sociais procuram, ainda,

através da acolhida e escuta ativa, identificar o motivo pelo qual o aluno quer se inserir na

assistência estudantil, bem como analisar o contexto familiar em que se encontra o discente

que está em situação de evasão escolar ou reprovação.

7 Auxílio-moradia: destinado a subsidiar despesas com habitação para locação/sublocação de imóveis ou acordos

informais, pelo período de seis meses, podendo ser renovado; auxílio-alimentação: destinado a subsidiar

despesas com alimentação durante o semestre letivo; auxílio-óculos: destinado a subsidiar aquisição de óculos ou

de lentes corretivas de deficiências oculares, respeitando-se a periodicidade mínima de doze meses para nova

solicitação; auxílio-EJA: destinado a subsidiar despesas com deslocamentos e outras despesas dos discentes dos

programas inseridos na modalidade de ensino de jovens e adultos, durante os meses letivos; auxílio-visitas e

viagens técnicas: destinado a subsidiar alimentação e hospedagem, em visitas e viagens técnicas programadas

pelos cursos; auxílio-acadêmico: destinado a subsidiar despesas em eventos, tais como inscrição, locomoção,

alimentação e hospedagem, podendo ser concedido duas vezes ao ano para a participação do discente no

processo ensino-aprendizagem nos eventos a) científicos e/ou tecnológicos; b) de extensão; c) socioestudantis,

fóruns, seminários e congressos; auxílio-didático-pedagógico: destinado a subsidiar material indispensável ao

processo ensino-aprendizagem, podendo ser concedido uma vez por semestre; auxílio para discentes mães/pais:

destinado a subsidiar despesas com filho(s) sob sua guarda, durante os meses letivos (Resolução nº 023, de 2011,

Regulamento de Auxílio aos Discentes).

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Tabela 1 – Valores dos auxílios aos discentes

Auxílios ao Discente (Resolução nº 23/11 – Regulamento de Auxílio ao Discente)

Auxílio Valor (R$)

Auxílio-moradia 150,00

Auxílio-alimentação 88,00

Auxílio-transporte 50,00 (Fortaleza)

70,00 (Região Metropolitana)

Auxílio-óculos Calculado com base no valor do menor

orçamento apresentado, sendo pago no

máximo 50% do salário-mínimo vigente.

Auxílio-EJA Até 20% do salário-mínimo vigente.

Auxílio para visitas e viagens

técnicas

Concedido como ajuda de custo, sendo seu

valor calculado, tendo-se por base 1/22 (um

vinte e dois avos) do salário-mínimo vigente

por dia com pernoite

Auxílio-didático-pedagógico -

Auxílio para discentes mães/pais 226,00

Bolsa de trabalho 371,00

Fonte: Resolução da Assistência Estudantil do IFCE de 2011 e Coordenação de Serviço Social, campus

Fortaleza.

O IFCE vem travando várias discussões acerca das legislações e diretrizes nacionais

pertinentes a essa política pública para construir sua própria forma de realizar a assistência

estudantil. Sendo assim, busca, com a ajuda da equipe multidisciplinar que está à frente de tal

política pública, visitar todos os campi da instituição e conversar com os alunos para que

todas as dúvidas sobre a assistência estudantil sejam esclarecidas, bem como nortear a forma

como devem ser gastos os recursos destinados à assistência estudantil. Dando andamento a

tais discussões, em fevereiro de 2012, aconteceu, no IFCE, campus Fortaleza, o I Encontro de

Profissionais da Assistência Estudantil, que permitiu a participação dos representantes

estudantis de cada campus. Nesse encontro, nasceram as diretrizes para a reformulação do

atual Regulamento de Assistência Estudantil, que foi acatado pela Resolução n° 23/2011-

Consup.

Desse modo, inferimos que o desnudamento do contexto da assistência estudantil no

IFCE, campus Fortaleza, nos possibilita obter uma compreensão da forma como se

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desenvolve tal política, enxergar suas potencialidades e limites e propor sugestões para

melhoria dessa política pública educacional.

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3 TECENDO DISCUSSÕES TEÓRICAS SOBRE AVALIAÇÃO

Certas perguntas norteadoras foram importantes para definirmos nossa perspectiva de

avaliação: a política de assistência estudantil constitui-se mesmo em um caminho para a

permanência dos alunos e conclusão dos seus estudos no Instituto Federal do Ceará? A

assistência estudantil, entendida como uma política pública social, está tendo um caráter

universal, inverso à fragmentação, entendida de acordo com o contexto em que aqueles que a

ela recorrem estão inseridos?

Sendo assim, com tais perguntas norteadoras, realizamos uma avaliação aprofundada,

compreendendo a forma como vem se delineando o Programa de Assistência Estudantil no

local supramencionado, pois, assim como Rodrigues (2011, p. 48), acreditamos na “avaliação

como compreensão. Avalia-se para conhecer e desta forma tal perspectiva retira o foco da

avaliação dos atendimentos aos objetivos da política e centra-se no processo de sua

concretização, ou seja, a vivência da política”.

Ainda sob a ótica da referida autora em relação à avaliação aprofundada, utilizamos

vários instrumentos de pesquisa (como entrevistas semiestruturadas, observações de campo,

diário de campo) que puderam ser condizentes com uma pesquisa que busca uma atitude

multidisciplinar, ou até mesmo interdisciplinar (RODRIGUES, 2011, p. 48).

Tais instrumentos foram aplicados aos discentes do ensino superior que estão

inseridos, há pelo menos um ano, na assistência estudantil. Ressaltamos, ainda, que

realizamos o perfil socioeconômico desses alunos que são apoiados pela assistência

estudantil, soubemos a quantidade total de alunos atendidos pelo programa e descobrimos que

os auxílios mais requeridos pelos alunos são os auxílios alimentação e transporte, utilizando

questionários com perguntas “fechadas”; realizamos entrevistas semiestruturadas com os

profissionais do Setor de Serviço Social que operacionalizam tal programa, com a Diretoria

de Gestão Orçamentária e com a Diretoria de Assuntos Estudantis, criada com o intuito de

atender as questões que envolvem a assistência estudantil no IFCE.

O objetivo da nossa avaliação, em relação a esse contato com os referidos atores

sociais que estão envolvidos no programa a ser analisado (com foco especial nos alunos

atendidos pela assistência estudantil, apreendendo, principalmente, o contexto social,

econômico, cultural e familiar em que estes estão inseridos), é perceber de que forma tal

programa é percebido por cada um desses atores e o que, porventura, o seu discurso

apresentará em relação aos problemas e potencialidades da assistência estudantil.

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Como parte do processo da avaliação em profundidade que realizamos, recorremos à

análise de conteúdo de políticas e programas para melhor conhecermos o programa estudado.

Segundo Rodrigues (2011, p. 48), tal análise envolve três aspectos:

Formulação: objetivos, critérios, dinâmica de implantação, acompanhamento e

avaliação; bases conceituais: paradigmas orientadores concepções e valores

expressos, bem como conceitos e noções centrais que sustentam essas políticas;

coerência interna: não contradição entre as bases conceituais, a forma de

implementação, os critérios estabelecidos para o seu acompanhamento,

monitoramento e avaliação.

Tais aspectos são referentes “à análise do material institucional na forma de leis,

portarias, documentos internos, projetos, relatórios, atas de reunião, fichas de

acompanhamento, dados estatísticos e outros” (RODRIGUES, 2011, p. 48).

Também se fez necessário realizar a análise do contexto da formulação da política de

assistência estudantil e, para tanto, foi indispensável focarmos em certos pontos: o período

político, econômico e social em que se gestou a política; a análise de outras políticas que

deram suporte para que a assistência estudantil se afirmasse e articulação do marco legal ao

contexto.

A trajetória institucional do programa, que também faz parte do processo da avaliação

densa, corresponde ao caminho que a política faz pelas vias institucionais, desde o “patamar”

onde foi criada até onde está sendo operacionalizada. Tal trajetória tem o intuito de averiguar

a coerência e/ou dispersão da política/programa no mencionado caminho que realiza

(RODRIGUES, 2011, p. 49).

Já que o programa de assistência estudantil advém da esfera federal, ele,

para ser avaliado, necessita a reconstituição de sua trajetória, de forma que o

pesquisador possa aferir as mudanças nos sentidos dados aos objetivos do programa e

à sua dinâmica conforme vai adentrando espaços diferenciados e, ao mesmo tempo,

descendo nas hierarquias institucionais até chegar à base, que corresponde ao contato

direto entre agentes institucionais e sujeitos receptores da política (RODRIGUES,

2011, p. 49).

Desse modo, acreditamos que a trajetória institucional, a qual nos fez perceber como

foi se dando o programa de assistência estudantil desde sua implementação na esfera federal

até sua concretização por aqueles profissionais que lidam diretamente com ela, foi

consolidada na nossa pesquisa através das entrevistas semiestruturadas que realizamos com os

atores sociais já mencionados.

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Outro aspecto, também importante para o tipo de avaliação que desenvolvemos, é

quanto

ao espectro temporal e territorial que conforma a política ou programa. A

importância está no fato de que a apreensão da configuração temporal e territorial do

percurso da política estudada diz respeito às especificidades locais e suas

historicidades (RODRIGUES, 2011, p. 50).

Essa faceta da avaliação em profundidade nos permite “avaliar as políticas a partir de

dados que comportem a visão de mundo dos sujeitos nelas envolvidos” (RODRIGUES, 2011,

p. 52), fazendo-nos com que apreendamos o olhar particular que os sujeitos envolvidos com o

programa de assistência estudantil possuem sobre esta. Acreditamos que tal faceta expressa

bem o que aqueles que são contrários ao paradigma científico pregam: a não adesão à

“exagerada dependência em relação à mensuração quantitativa formal” (GUBA; LINCOLN,

2011, p. 45).

Em relação ao paradigma científico, ressaltamos que este não direcionará nossa

pesquisa devido a alguns impasses que apresenta, como: a recusa de se utilizar outros meios

de pensar o objeto de estudo que não seja a ciência; o fato de acreditar que a ciência é imune

aos valores, tendo apenas como objetivo descrever aquilo que a natureza está mostrando e,

consequentemente, excluindo o avaliador de qualquer responsabilidade em relação àquilo que

a avaliação vai expor, por exemplo (GUBA; LINCOLN, 2011, p. 46).

Os alicerces do paradigma construtivista (que faz contraponto ao paradigma científico

e no qual acreditamos como o mais adequado para a construção da metodologia da nossa

avaliação) se encontram no paradigma de investigação (GUBA; LINCOLN, 2011, p. 47).

Expõem ainda que o paradigma construtivista

em nada se parece com a ciência, em particular no que tange às suas suposições

básicas, que são praticamente contrárias às da ciência. Porque, ontologicamente, ele

nega a existência de uma realidade objetiva, afirmando, em vez disso, que as

realidades são construções sociais mentais e que existem em número tantas

construções quanto existem indivíduos (embora, sem dúvida, muitas construções

venham a ser compartilhadas). Defendemos que a própria ciência é uma dessas

construções; podemos admitir isso livremente ao panteão de construções somente se

não formos solicitados a aceitar a ciência como construção certa ou verdadeira. E

enfatizamos que, se as realidades são construções, então não é possível haver, exceto

por imputação mental, leis naturais que governam as construções, como leis de

causa e efeito. Epistemologicamente, o paradigma construtivista nega a

possibilidade do dualismo sujeito-objeto, propondo, em vez disso, que os resultados

de um estudo existem precisamente porque existe uma interação entre o observador

e o observado que cria exatamente o que provém dessas investigações (GUBA;

LINCOLN, 2011, p. 52-53).

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Portanto, seguindo o paradigma construtivista, nossa avaliação primou pelo enlace

entre o objeto de estudo e a pesquisadora, já que esta não é a única detentora de

conhecimento, havendo, também, por parte daquele objeto, um conhecimento essencial que

permitirá, ao entrar em contato com as ideias da estudiosa, a criação de “uma realidade

construída que seja, tanto quanto possível, fundamentada e esclarecida em um determinado

momento” (GUBA; LINCOLN, 2011, p. 53).

A partir da metodologia construtivista, avaliamos nosso objeto de estudo a partir de

algumas considerações determinadas por aquela, e que se mostram como as mais adequadas

para direcionar a forma como realizamos nossa avaliação, podendo ser delineadas como

contraponto aos ditames da investigação científica.

Eis algumas dessas considerações: os fenômenos só podem ser bem compreendidos

dentro do contexto no qual se encontram, não sendo possível inferir, por exemplo, que as

conclusões às quais o pesquisador chegou, em relação a um contexto específico, servem para

outro contexto adverso daquele de onde elas surgiram (o que apreendermos em relação à

assistência estudantil no IFCE, campus Fortaleza, possivelmente não se adequará com a

realidade do programa de assistência estudantil da Universidade Federal do Ceará, por

exemplo); as interferências, que são realizadas em certo contexto, acabam sendo

“persuadidas” por este e vice-versa (a postura da pesquisadora, sua presença no espaço onde

se dá o referido programa, seus anseios etc., podem interferir nas falas, no modo de pensar

dos sujeitos pesquisados, podendo a estudiosa também ser acometida por esses fatos); e, por

fim, “os dados da avaliação provenientes de uma investigação não têm nenhum prestígio nem

legitimação; eles simplesmente representam outra construção a ser levada em conta no

processo em direção ao consenso” (GUBA; LINCOLN, 2011, p. 54).

A avaliação que se obteve sobre a assistência estudantil não foi “fechada”, “blindada”,

ou seja, não é uma verdade única, posto que a realidade está sempre em constante mudança.

Poderá haver outros enfoques, outras respostas, outros tipos de avaliação que terão um viés

diferente do nosso e, é claro, não menos importante e válido.

Enfim, ainda de acordo com os referidos autores, as respostas que obtivemos com a

nossa investigação não são respostas indubitáveis, absolutas, “já que nunca é possível saber

como as coisas ‘realmente’ são”, pois “a construção que se faz sobre como as coisas são na

verdade é criada pela própria investigação e não é determinada por certa ‘natureza’

misteriosa” (GUBA; LINCOLN, 2011, p. 58).

Como já citado anteriormente, elegemos o paradigma construtivista como o mais

indicado para direcionar nossa pesquisa. Refutamos o paradigma positivista porque, segundo

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Minayo (2012), para os positivistas, o método quantitativo é a “chave” para se desnudar a

realidade social, já que fornece a objetividade tão aclamada e defendida por aqueles. A análise

da realidade é válida e objetiva quando esta pode ser “mensurada” através de instrumentos

que seguem um determinado padrão e que são “neutros”. Eles acreditam também que somente

as técnicas estatísticas mais avançadas podem fornecer uma explicação objetiva para a

realidade. Todavia, “não faz parte da teoria a consideração de que a construção de técnicas

passa pela subjetividade dos pesquisadores e que as proposições e construções que as

constituem introjetam interesses dos mais diferentes matizes” (MINAYO, 2012, p. 23).

Lejano (2012) acredita que o positivismo cerceia os estudos sobre políticas públicas, já

que seus modelos de análise não conseguem abranger totalmente a realidade de tais políticas.

Explana ainda que os métodos positivistas, ao trabalharem com métodos que apenas têm

interesse em mensurar o objeto, trabalhando com hipóteses, na ânsia de confirmá-las, não

proporcionam uma efetiva compreensão e aprendizagem, já que a averiguação de tal objeto é

predeterminada, não sendo possível perceber a política da forma como ela realmente é.

Ainda segundo o referido autor, para ir além desse tipo de método, faz-se necessário

ressaltar as várias facetas da experiência e do entendimento, apreendendo a complexidade do

objeto analisado. Tal apreensão só será possível através da concretização desse objeto na

prática. Sendo assim, percebemos como a experiência possui relevância para Lejano (2012).

Ele relata ainda que, caso precisemos entender as qualidades e defeitos de instituições e

políticas, precisamos primeiro apreender qual a verdadeira essência destas, e não a “casca”

que elas apresentam para nós.

Silva (2008), ao falar sobre a avaliação de políticas e programas, expõe que esta é

composta por duas dimensões: a dimensão técnica e a política; aquela comporta os processos

científicos, que lhe dão o poder de produzir conhecimento, e esta comporta as

intencionalidades que se tem ao realizar o estudo de determinado objeto.

A autora acredita que

sendo a avaliação de políticas e programas sociais um movimento do processo das

políticas públicas, [...] toda política pública é uma forma de regulação ou

intervenção na sociedade. Trata-se de um processo que articula diferentes sujeitos,

que apresentam interesses e expectativas diversas. Representa um conjunto de ações

ou omissões do Estado, decorrente de decisões e não-decisões, constituída por jogos

de interesses, tendo como limites e condicionamentos os processos econômicos,

políticos, sociais e culturais de uma sociedade historicamente determinada (SILVA,

2008, p. 90).

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Portanto, inferimos que a política de assistência estudantil do IFCE, campus Fortaleza,

possui vários atores sociais envolvidos: os estudantes inseridos nesse programa, os

profissionais que o executam e o governo federal. Cada um desses atores sociais possui uma

ideia acerca da assistência estudantil, podendo haver, portanto, um possível embate entre tais

atores para se decidir a quem cabe o maior controle sobre a forma de se conduzir a assistência

estudantil na instituição.

Toda política pública possui uma contradição: a contradição de servir a sociedade que

tanto pressionou para a implementação desta política e de também atender aos interesses

particulares do Estado – mas nem por isso devemos “endemonizá-la”, pois

a política pública é uma resposta decorrente de pressões sociais a partir de ações de

diferentes sujeitos, como já indicado, que sustentam interesses diversificados.

Portanto, serve a interesses também contraditórios, que ora se situam no campo do

capital, ora no campo do trabalho. Recuso, portanto, qualquer raciocínio linear e

consensual, pois falar de política é falar de diversidade e de contradição (SILVA,

2008, p. 90).

Silva (2008) relata que, na visão da avaliação, as políticas públicas são determinações

governamentais que proporcionam um impacto que modifica as condições de vida das

pessoas, podendo, também, modificar pensamentos, atitudes e comportamentos. Todavia, a

autora critica a forma como a pesquisa avaliativa vem sendo desenvolvida, já que possui o

intuito de se analisar o cumprimento de objetivos de políticas/programas, baseando-se nos

critérios de eficácia, eficiência e efetividade (situação esta que se opõe à avaliação em

profundidade que utilizaremos). Sendo assim, esses tipos de pesquisa

apresentam dificuldades, ambiguidades, além da falta de tradição e das resistências

identificadas, merecendo três críticas recorrentes na literatura: fragilidade

metodológica, que pode comprometer sua validade e credibilidade; irrelevância, na

medida em que seus resultados não são significativos ou não influenciam as decisões

ou não são disseminados e, quando divulgados, não são utilizados (BROWNW;

WILDAVSKY, 1984 apud SILVA, 2008, p. 111).

Com essas reflexões, Silva (2008) acredita que a avaliação deve ser utilizada como um

instrumento que permitirá tornar mais rígida a forma de a sociedade organizada pressionar o

Estado por direitos sociais, já que aquela tem o poder de disseminar informações sobre

políticas e programas sociais.

Ela afirma ainda que ocorrem alterações na vida das pessoas a partir das políticas e

programas sociais. Tal questão faz parte da nossa intenção de pesquisar sobre a assistência

estudantil: saber que mudanças ocorrem na vida dos alunos atendidos por ela. Haverá

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mudanças significativas? A autora explana ainda que a pesquisa avaliativa não é neutra em

relação às relações de poder. Possui, ao mesmo tempo, o ato técnico e político; “não é

desinteressado, mas exige objetivação e independência e fundamenta-se em valores e no

conhecimento da realidade” (SILVA, 2008, p. 114).

Silva (2008) relata que a pesquisa avaliativa prima pela realização da crítica da política

ou programa que está sob avaliação. Nesse sentido, pretendemos desenvolver olhar crítico

para que a avaliação da assistência estudantil seja a mais fidedigna possível com a realidade

que tentaremos compreender em determinado momento através do conhecimento das teorias,

conceitos que norteiam a política ou programa; pelo reconhecimento dos sujeitos que estão

inseridos em tal política ou programa; por se direcionar pelas ideias, valores que os sujeitos

(demandantes, avaliadores, beneficiários e informantes) participantes desse processo de

avaliação possuem da realidade social; e pela negação da existência da neutralidade, “não

percorrendo um único caminho” (SILVA, 2008, p. 114).

De acordo com a autora, o resultado que uma avaliação apresentar pode ser

questionado, já que “é um julgamento passível de questionamentos, como toda teoria sobre o

social o é. Não tem, por conseguinte, o poder de uma verdade inquestionável, até porque todo

saber científico sobre a sociedade é uma interpretação histórica, parcial e relativa” (SILVA,

2008, p. 114).

Admitimos que as conclusões às quais chegamos sobre a assistência estudantil no

IFCE poderão ser rebatidas e questionadas por outras pesquisas que a tenham como objeto de

estudo, havendo, certamente, olhares, reflexões e críticas diferentes da nossa.

Sobrinho (2004), assim como Rodrigues (2011), acredita que a avaliação não deve

seguir apenas um tipo de vertente de discurso para ser bem delineada. Também como Silva

(2008), o autor defende que a avaliação de uma política ou de um programa pode ser

questionada, pois “dizer que a avaliação não é monorreferencial é admiti-la mergulhada em

ambiguidades e tensões e assumir que ela não pode produzir certezas ou respostas finais”

(SOBRINHO, 2004, p. 8).

O autor explica que, quando a avaliação é analisada após sua concretização, deve

sempre ressaltar os anseios, pensamentos, intenções dos atores sociais que participaram da

construção dessa avaliação e que foram atingidos por esta. Assim, considerar como cerne da

nossa pesquisa aqueles sujeitos sociais mais atingidos – e, possivelmente, mais interessados

pelos desdobramentos da assistência estudantil no IFCE –, os alunos atendidos por esse

programa, é central nessa pesquisa.

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Deve-se ainda levar em consideração a intencionalidade da pesquisa, que é beneficiar

e respaldar os alunos para que possam, de maneira mais sólida, lutar pelas melhorias da

assistência estudantil no IFCE, campus Fortaleza. Nosso objeto de estudo pode ser bem

apreendido “pelos seus efeitos e pelos sentidos de seus usos, ou seja, sua função”

(SOBRINHO, 2004, p. 10) – função esta que remete ao desejo de nossa avaliação ser “um

instrumento a elevar a consciência dos problemas, potencializar os sentidos dos fenômenos e

projetar novas possibilidades de construção. Contribua para a emancipação, portanto”

(SOBRINHO, 2004, p. 11).

Ressaltamos que nossa avaliação refuta o pressuposto da avaliação objetivista que

analisa apenas se os resultados alcançados estão de acordo com os objetivos estipulados pela

política/programa, esquecendo “os sentidos dos processos e produtos” (SOBRINHO, 2004, p.

12).

Concordamos com Sobrinho quando afirma que a avaliação “busca construir

socialmente a interpretação e a compreensão de conjunto da realidade e se orienta pela

intenção da transformação. Neste caso, a avaliação também produz novos conhecimentos e

submete ao debate público os valores da comunidade onde se realiza” (SOBRINHO, 2004, p.

15).

Para uma boa pesquisa (BOURDIEU, 1989), é necessário que ofereçamos “a cara a

tapa”, ou seja, que se apresente sua realidade por inteiro. O mais importante é o “fazer do

objeto”, sua construção. É ter um olhar diferenciado sobre o objeto (dar atenção, por exemplo,

àquele que não é visto com bons olhos, ou então estudar de outro ângulo, totalmente diferente,

algum objeto que é tido como o mais importante).

Bourdieu (1989) explana ainda que

só se pode dirigir uma pesquisa – pois é disso que se trata – com a condição de a

fazer verdadeiramente com aquele que tem a responsabilidade direta dela: o que

implica que se trabalhe na preparação do questionário, na leitura dos quadros

estatísticos ou na interpretação dos documentos, que se sugiram hipóteses quando

for caso disso, etc. – é claro que não se pode, nestas condições, dirigir

verdadeiramente senão um pequeno número de trabalhos, e aqueles que declaram

“dirigir” um grande número deles não fazem verdadeiramente o que dizem

(BOURDIEU, 1989, p. 21).

A pesquisa, de acordo com o referido autor, é muito séria e extremamente árdua para

se ater somente a determinados recursos para explicá-la, trocando o “rigor” pela “rigidez”.

Mas quando o autor fala sobre isso, não ignora o cuidado na maneira como as técnicas serão

utilizadas, sua consonância com o objeto de estudo e o contexto em que serão lançadas.

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A construção do objeto não acontece de uma hora para outra. Ela é feita de forma

processual, com erros, com retoques destes, que acabam levando a decidir até mesmo por

elementos que poderiam ser considerados supérfluos, mas que são imprescindíveis, pois

podem minar a ideia de que os conceitos e as teorias são suficientes, não havendo a

necessidade de se “colocá-los para funcionar”, ou seja, de pô-los em prática.

O autor defende que a noção de campo irá desvendar aquilo que é preciso ser feito e

conhecido; fazer perceber, enfim, que o objeto de estudo não está sozinho, que está dentro de

uma lógica de relações que permitirão delinear sua essência. É preciso ligar o objeto de estudo

a outros fatores e contextos para melhor explicá-lo.

Não é conveniente nos inclinarmos na noção do objeto pré-construído, já que o que

está em jogo é o objeto que nós escolhemos, pelo qual temos afinidade, mas que não sabemos

ao certo o porquê de tal afinidade. Será mesmo que escolhemos tal objeto porque realmente

queremos? Analisamo-lo de forma que haja aprofundamento do conhecimento sobre ele

dentro da realidade em que está, ou estamos “presos” ao pouco que conhecemos desse objeto?

A conclusão à qual chegamos a respeito dele porventura não estará relacionada a interesses

maiores? Enfim, são perguntas que devem ser feitas e analisadas.

Como propomo-nos a analisar as mudanças que ocorreram na vida dos alunos que

estão inseridos na assistência estudantil do IFCE, campus Fortaleza, optamos pela avaliação

de impacto que, segundo Silva (2001, p. 85), “tem-se como foco central as mudanças

quantitativas e qualitativas decorrentes de determinadas ações governamentais

(política/programa) sobre as condições de vida de uma população, tendo, portanto, como

critério a efetividade”.

Segundo a autora, para se definir o que seja impacto, faz-se necessário dar uma

definição de um efeito, que é um comportamento ou acontecimento que foi atingido por

determinado objetivo de um programa. Impacto, para a estudiosa, “é o resultado dos efeitos de

um programa” (SILVA, 2001, p. 85). Para delineá-lo, é preciso levar em conta dois

momentos: a situação antes e depois de algum programa ser implementado, devendo

acontecer o controle das variáveis que não são relativas ao programa.

Todavia, a realidade é um sistema aberto, não sendo possível, portanto, cercear

aquelas variáveis que podem nela interferir,

não se pode afirmar categoricamente que um determinado efeito (impacto) decorreu

exatamente da implementação de um determinado programa. Portanto, o

entendimento é de que qualquer avaliação de impacto apenas identifica a mudança e

sua dimensão ocorrida numa situação ocorrida conhecida previamente, mas não

pode afirmar, categoricamente, que a mudança resultou, diretamente, desta ou

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daquela variável, entre elas, do próprio programa social, tomado como variável

independente. Por outro lado, à medida que a avaliação de impacto implica em

relação de causalidade entre o programa e as alterações nas condições sociais

requer-se objetivos claros; critérios de sucesso e medidas de aferição de sucesso

(SILVA, 2001, p. 85-86).

Ainda sobre a avaliação de impacto, Holanda (2006, p. 114) explana que tal avaliação

preocupa-se em saber se a interferência do governo “provocou a desejada mudança social de

curto (produto ou efeito) ou longo prazo (impacto)”. Essa avaliação também se preocupa em

averiguar a ocorrência de efeitos positivos e negativos que não eram esperados.

Consideramos a avaliação de impacto importante para nosso trabalho por estar de

acordo com o que avaliamos: a incidência da assistência estudantil na vida dos discentes e,

consequentemente, as alterações que estão nela ocasionando, descobrindo e destacando os

principais detalhes desse programa que provocam as mudanças nas condições sociais dos

alunos.

3.1 Contribuições teóricas sobre assistência estudantil, educação e políticas públicas

Como a assistência estudantil é uma política educacional, faz-se necessário discutir

sobre educação. Esta, segundo Martins, “envolve diversos espaços: o próprio sujeito, a

família, a política, as organizações de cultura e, dentre elas, a ‘escola’, no sentido amplo que

este termo encerra. Educação é um processo social vivenciado no âmbito da sociedade civil e

protagonizado por diversos sujeitos” (2012, p. 34).

A autora explana ainda que a educação é um instrumento estratégico para o Estado,

pois, segundo Gramsci (1999 apud MARTINS, 2012), para fazer com que a sociedade se

mantenha sob controle, o Estado não faz uso apenas da violência, seja ela política ou

econômica. Ele também se utiliza da coerção ideológica, que faz com que todos aceitem e

tenham, como senso comum, a cultura hegemônica burguesa. Para tanto, “utiliza-se a escola,

instituição que visa, em última instância, a transmissão dos conhecimentos acumulados

historicamente pela sociedade e a formação de valores” (MARTINS, 2012, p. 34).

A educação é muito importante para as massas para que estas possam obter o

conhecimento e o domínio dos mecanismos de reprodução global da formação econômico-

social que são propensos a mudanças (GRAMSCI, 2006 apud MARTINS, 2012). Desse

modo, a educação, segundo Martins (2012), é um instrumento que permite tanto as camadas

populares formarem uma cultura contra-hegemônica para serem contrárias à opressão e à

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alienação advindas da sociedade capitalista como também a perpetuação do ideário

dominante.

Ao analisar a trajetória da política de educação brasileira, a autora percebe que, apesar

de a política de educação ser defendida desde o início do século XX, sua concretização

sempre foi delineada pela exclusão, que pode ser notada

nos dados estatísticos e, principalmente, nas notícias e relatos que flagram as

dificuldades de acesso e permanência na escola em decorrência de fatores

relacionados à própria condição da operacionalização desta política (infraestrutura,

adequada, déficit na formação profissional dos educadores, baixos salários,

programas e projetos educacionais desarticulados ou descolados da realidade, etc.) e,

ainda, pelas sequelas da questão social que invadem o cotidiano escolar,

considerando as mudanças no perfil dos alunos/famílias, usuários da escola pública,

geralmente provenientes da classe trabalhadora (MARTINS, 2012, p. 41).

Em relação à mudança no perfil dos alunos e das famílias que estão na instituição

pública, a autora relata ainda que tal mudança, ao permitir o acesso de mais pessoas ao ensino

público, permitiu, também, a inserção de estudantes de classes menos abastadas, “que

expressam as marcas da desigualdade social que vivenciam e que fazem parte do processo

histórico da sociedade brasileira” (MARTINS, 2012, p. 44). Portanto, Martins (2012) refere

que o espaço escolar é permeado pelas consequências do fortalecimento da questão social, as

quais são postas à comunidade escolar, que não sabe como agir com o perfil de um aluno, de

uma família, a qual até então não fazia parte do ambiente educacional. Ela acredita que

resvalam deste bojo as alterações nas relações interpessoais, impregnadas da

influência da ideologia dominante, sob o ideário neoliberal, apresentando um

individualismo exacerbado, competitividade, preconceitos, fragmentação do real,

que reforçam o “o modo capitalista de pensar” e provocam conflitos nas instituições

escolares e em seu entorno (MARTINS, 2012, p. 44).

David e Gazottto (2012), corroborando a fala de Martins (2012) sobre a entrada de

jovens hipossuficientes no ensino superior, relatam que, com a abertura das Ifes, o número de

discentes advindos de escolas públicas aumentou. Os autores corroboram, também, a

importância do PNAES na vida estudantil desses discentes. Com a verificação desse perfil de

jovem dentro da universidade, “em seus primeiros períodos de graduação, constata-se um

elevado índice de defasagem de ensino, lazer, cultura e até mesmo condições baixas de saúde,

moradia, alimentação e outras expressões da questão social” (DAVID; GAZOTTO, 2012, p.

182).

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A assistência estudantil, como uma política pública educacional, é uma “resposta a

necessidades sociais que têm origem na sociedade e são incorporadas e processadas pelo

Estado em suas diferentes esferas do poder (federal, estadual e municipal)” (RAICHELIS,

2000, p. 1). Concordamos com o pensamento dessa autora porque o surgimento da assistência

estudantil, direito exigido pelos professores, alunos e movimentos sociais, veio para apoiar a

inserção dos filhos da classe trabalhadora no cenário do ensino superior mediante a definição

de auxílios (transporte, moradia, alimentação etc.) que dessem as condições necessárias de se

manterem na instituição de ensino superior.

É intrínseca à assistência estudantil a marca de ter sido gerada devido às desigualdades

sociais que imperam na nossa sociedade, pois faz parte do rol das políticas sociais que são

“desdobramentos e até mesmo respostas e formas de enfrentamento – em geral setorializadas

e fragmentadas – às expressões multifacetadas da questão social do capitalismo, cujo

fundamento se encontra nas relações de exploração do capital sobre o trabalho” (BEHRING;

BOSCHETTI, 2006, p. 51).

A avaliação da assistência estudantil como política pública torna-se necessária “para o

fortalecimento da pressão social sobre o Estado no sentido de conquista de direitos sociais,

haja vista as informações de que a avaliação pode gerar e publicizar sobre políticas e

programas sociais” (SILVA, 2001, p. 48), além de fortalecer sua efetivação.

Ao falar sobre as políticas sociais, Raichelis (2000) acredita que a importância de sua

discussão vem das rápidas transformações que vem sofrendo a sociedade capitalista

contemporânea, fazendo suscitar conversações sobre tal categoria entre aqueles que estão

inseridos na responsabilidade pública.

De acordo com Raichelis (2000), com a queda do Welfare State, na década de 1970 (o

qual buscava compensar as desigualdades sociais advindas do capitalismo com a

redistribuição da riqueza social), ruíram as conquistas sociais garantidas após a Segunda

Guerra Mundial e houve a ascensão do neoliberalismo, que pregava a não participação do

Estado na fomentação de direitos e cidadania.

Raichelis expõe ainda que “este quadro societário atualiza os dilemas frente à questão

social e as novas configurações que assume na sociedade capitalista atual, em decorrência da

imposição de uma agenda de ajustes econômicos aos requisitos ditados pela globalização dos

mercados em nível planetário” (2000, p. 3).

Concordamos com Silva (2001, p. 41) quando ela afirma que há vários interesses em

jogo quando se trata de políticas públicas (no nosso caso, a assistência estudantil), “fazendo

do desenvolvimento das políticas públicas um processo contraditório e não linear”. Portanto,

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consideramos que é preciso levar em conta, principalmente, os interesses daqueles que são o

foco da assistência estudantil: os estudantes.

Como pretendemos conhecer como se desenvolve a assistência estudantil no IFCE

através dessa avaliação e, consequentemente, vislumbrar mudanças que possam ajudar a

melhorar tal política, concordamos com Silva (2001, p. 51-52) quando expõe que a avaliação

possui “o compromisso com valores éticos e com a não neutralidade, o que reafirma a

perspectiva de mudança da política, com alteração da prática imediata dos programas sociais

na direção desejada, tendo como referência as demandas sociais”.

Sobrinho (2004) está em consonância com Silva (2008) ao dizer que a avaliação

possui intencionalidades e são elas que permitem que a avaliação tenha uma função. Tendo

uma função, a avaliação fará com que compreendamos melhor o nosso objeto de estudo.

Essa afirmação do autor nos é importante porque, de fato, a avaliação que

pretendemos realizar sobre a assistência estudantil no IFCE possui uma intencionalidade: a de

ser subsídio que possibilite aos estudantes inseridos na assistência estudantil exigir melhorias

nesta, bem como permitir aos profissionais, que trabalham com a referida política, de

avaliarem o próprio trabalho e tentarem solucionar possíveis problemas.

Em relação às políticas sociais, Sposati (2010) acredita que não se deve “deixar para

trás” suas particularidades, mas trabalhar, junto a tais particularidades, outras que possam

romper com sua fragmentação. Portanto, em consonância com o pensamento dessa autora,

acreditamos que devemos levar em conta as características (forma de seleção dos alunos para

a referida assistência, valor dos auxílios pagos aos alunos, forma de participação destes na

condução da política etc.) que atualmente formam a assistência estudantil no IFCE, não as

menosprezando. Todavia, não devemos deixar de ressaltar outros detalhes que podem

melhorar a condução da assistência estudantil, como atenção a outros critérios, que não sejam

só os econômicos, para a seleção daqueles alunos e participação mais ativa e incisiva deles no

que diz respeito ao desenvolvimento da assistência estudantil.

De acordo com Cislaghi e Silva (2011), uma das metas do Programa Reestruturação e

Expansão das Universidades Federais (Reuni) é a contenção da evasão nos cursos de

graduação. Com a Portaria n° 39/2007 do MEC, surge o Programa Nacional de Assistência

Estudantil (PNAES) – que seria efetivado em 2008 – como uma solução para o problema

supracitado.

A política de cotas para alunos financeiramente hipossuficientes, iniciada pelo

Governo Federal em 2001, em universidades do Sudeste e Centro-Oeste, também foi um

terreno fértil para a criação do PNAES. Menin et al. (2008), através de uma pesquisa realizada

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em 2006 com estudantes de uma universidade pública de São Paulo, constatou que tais cotas

para discentes hipossuficientes são bem aceitas se comparadas com as cotas raciais, pois

acreditam que os discentes oriundos de escolas públicas realmente sofrem “um

desfavorecimento real” (MENIN et al., 2008, p. 258), sendo estes, portanto, o público-alvo do

PNAES.

Veloso (2006, p. 88) explana que a

implementação de cotas se insere no âmbito das Ações Afirmativas e coloca em

discussão a questão da identidade étnica, cultural e social da população brasileira,

Na contemporaneidade, o debate tem assumido contornos distintos em diferentes

espaços e instâncias sociais, sobretudo, nos meios acadêmicos – onde as cotas têm

sido ponto de debates e polêmicas, defesa, e, também, resistência.

O autor relata ainda que as cotas podem promover mobilidade na estrutura social,

fazendo com que o poder passe para outras pessoas, semeando condições propícias para que

certas camadas sociais, que antes eram excluídas daquela mobilidade, possam ascender, e é

justamente o PNAES que vem assegurar essa oportunidade, pois seria um meio através do

qual as desigualdades sociais e regionais seriam enfrentadas. A assistência estudantil

compreenderia ações voltadas para moradia, transporte, creche, alimentação, apoio

pedagógico, saúde, inclusão digital e esporte. Os recursos necessários para o programa seriam

administrados pelo Ministério da Educação.

Essas ações, fornecidas pelo PNAES, permitem que alunos em vulnerabilidade social

do ensino público tenham as mesmas chances de crescer, dentro da instituição de ensino

superior, que os alunos advindos da escola particular, pois, “ao tomar indivíduos e grupos

desigualmente fortalecidos e preparados e colocá-los em situação de competição, o resultado e

a reprodução é a acentuação das desigualdades, da exclusão e das hierarquias” (VELOSO,

2006, p. 92).

É essencial a gratuidade do ensino. Todavia, só isso não basta para que os alunos que

se encontram em vulnerabilidade social possam frequentar a universidade e possam

corresponder, de forma satisfatória, às exigências acadêmicas com o intuito de promover uma

educação superior de qualidade (ARAÚJO; BEZERRA, 2007).

Posteriormente, em 19 de julho de 2010, o PNAES se transformou no Decreto nº

7.234/2010. Cislaghi e Silva (2011) expõem que há uma diferença interessante entre o

PNAES e o decreto: enquanto aquele determinava que os alunos que seriam contemplados

pela assistência estudantil deveriam ser escolhidos devido a fatores socioeconômicos (art. 4°),

este afirma, claramente, que os discentes escolhidos seriam aqueles que estivessem na rede

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pública de educação básica ou que possuíssem uma renda per capita de até um salário-

mínimo e meio (artigo 5°). Enfim, infere-se, segundo as autoras, que “o governo aparenta

garantir autonomia às Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes), mas determina critérios

focalizados extremamente rebaixados para o acesso às ações de Assistência Estudantil”

(CISLAGHI; SILVA, 2011, p. 11).

Com a criação do referido Decreto nº 7.234/2010, realizou-se a organização da

assistência estudantil, que possui os seguintes objetivos:

I – democratizar as condições de permanência dos jovens na educação superior

pública federal;

II – minimizar os efeitos das desigualdades sociais e regionais na permanência e

conclusão da educação superior;

III – reduzir as taxas de retenção e evasão; e

IV – contribuir para a promoção da inclusão social pela educação.

Podemos perceber que esses objetivos são condizentes com o artigo 3° da Constituição

Federal, que fala “que são objetivos da República garantir o desenvolvimento nacional,

erradicar a miséria, eliminar as desigualdades regionais e sociais, construir uma sociedade

livre, justa e solidária”. Sendo assim, acabar com os problemas citados não são intuitos

recentes, e a assistência estudantil seria, então, um caminho a mais para agir frente às

disparidades sociais do País. Além disso, segundo Bacelar (2000), se fizermos uma análise da

nossa história, veremos que as políticas sociais nunca estiveram no centro das atenções das

políticas públicas, pois era de forma compensatória a maneira como aquelas eram traçadas,

não havendo uma mudança efetiva onde eram lançadas. O que importava, em primeiro lugar,

era a industrialização, sendo mais valorizadas as políticas econômicas.

Segundo ainda a referida autora, a “vida” das políticas sociais se torna mais

complicada pelo fato de elas serem decididas de forma centralizada, setorial, pois os que as

implementam acreditam que o que é bom para uma área, certamente será para outra, não

havendo, dessa forma, a participação daqueles que serão contemplados pela política. Isso

acontece na assistência estudantil do IFCE, pois não há um diálogo mais apurado com os

alunos para se saber de que forma a assistência estudantil poderia ser aplicada para que as

reais necessidades dos discentes sejam atendidas. O movimento estudantil do IFCE, campus

Fortaleza, promoveu, no ano de 2012, reunião e passeata para que a referida assistência fosse

discutida com eles, e tais ações serviram para se abrir o “espaço da proposta, da parceria, da

fiscalização e da avaliação” (BACELAR, 2000, p. 282).

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Nascimento (2011) explicita que é inegável que a política de assistência estudantil foi

um ganho para a educação superior. Porém, ela está condicionada aos interesses dos grandes

organismos multilaterais (uma das exigências do Banco Mundial, por exemplo, é o aumento

da escolaridade dos alunos pertencentes aos países periféricos), já que aquela se propõe a

combater a evasão escolar e a retenção universitária, estando em consonância com tal

exigência do Banco Mundial (BM), que quer formar mais técnicos em determinadas áreas

para que possam suprir a carência de mão de obra qualificada em áreas estratégicas da

economia. Infere-se que a preocupação do Estado vai além da melhoria da educação, pois,

para este, “o essencial das políticas públicas estava voltado para promover o crescimento

econômico, acelerando o processo de industrialização” (BACELAR, 2000, p. 262). Ainda

segundo Bacelar (2000, p. 270),

cresce a importância das externalidades. Mão-de-obra qualificada, infra-estrutura, e

serviços eficientes são requisitos fundamentais para o novo padrão produtivo. E as

políticas públicas, hoje, vêm patrocinar isso. Não patrocinam mais a acumulação

direta nas indústrias; patrocinam a oferta das externalidades.

A assistência estudantil do IFCE, considerada como uma política pública educacional

voltada para a manutenção do discente no instituto, deve evitar as desigualdades sociais, bem

como a evasão escolar, objetivos estes explicitados no Programa Nacional de Assistência

Estudantil (PNAES) – mas também está subsidiando a oferta dessa mão de obra para o mundo

capitalista.

Segundo os autores Shiroma, Moraes e Evangelista (2000), a preocupação do Banco

Mundial com problemáticas educacionais, de acordo com o documento “Prioridades y

Estratégias para La Educación”, de 1995, no qual detalha o estudo que realizou sobre a

educação no mundo desde 1980, se deve ao fato de a educação ter uma forte incidência na

diminuição da miséria e no alavancamento econômico.

Essa ideia vem confirmar o pensamento de Bacelar (2000) sobre a necessidade de o

país se industrializar e de ter mão de obra, tendo a assistência estudantil como pano de fundo

para realização dessas necessidades.

Tal documento relata ainda que a educação,

por outro lado, reafirma o lugar comum que a evolução da tecnologia e das reformas

econômicas estão provocando mudanças na estrutura das economias, indústrias e

mercados de trabalho em todo o mundo. Assim, a velocidade com que se adquire

novos conhecimentos enquanto outros se tornam obsoletos tenderia a tornar as

mudanças de emprego algo mais freqüente na vida das pessoas, circunstâncias que

determinariam uma das prioridades fundamentais para a educação: formar

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trabalhadores adaptáveis, capazes de adquirir novos conhecimentos sem

dificuldades, atendendo à demanda da economia (SHIROMA; MORAES;

EVANGELISTA, 2000, p. 74).

Para o Banco Mundial, por causa dos motivos supracitados, todos os governos em

geral, e não só os ministérios de educação, deveriam focar suas atenções na educação.

Enfim, pode-se perceber, através desse recorte do referido documento, as mudanças

pelas quais a educação brasileira (e também dos países latinos) passou nos anos 1990 (e que

repercutem até hoje). Em tal década, o Brasil, seguindo fielmente o que preconizava o Banco

Mundial, não poupou esforços para instigar vários setores da sociedade, principalmente

trabalhadores e empresários, que gostariam de interferir nas políticas educativas.

Afinal, os organismos internacionais já haviam prevenido que o êxito dessa política

dependeria de um processo de negociações e de persuasão dos interessados dentro e

fora do sistema, posto que uma ruptura entre eles poderia conduzir à supressão das

condições de efetivação das reformas (SHIROMA; MORAES; EVANGELISTA,

2000, p. 75).

Nascimento (2011, p. 32), ainda sobre a assistência estudantil, relata que o

problema é que sendo orientada pelo discurso do neo-desenvolvimentismo, a forma

como o PNAES é implementada nas Ifes aproxima a Política da lógica dos mínimos

sociais, sob o argumento de ampliação do número de usuários mas que acontece de

forma desarticulada da qualidade dos serviços prestados. Sem contar o fato de que

suas ações preveem maiores resultados à custa de menores investimentos e a forma

como a política se estrutura caminha na lógica das políticas pobres para os pobres!

A compreensão de tal política se inicia a partir do período da ditadura (1964-1969),

em que a política de educação foi adequada em consonância com os interesses da autocracia

burguesa da época, e é justamente no interior dessa situação que nascem as formas de entrada

e permanência do discente no ensino superior (NASCIMENTO, 2011). Nesse período, com o

advento do Estado de Bem-Estar Social nos países industrializados e a crescente

industrialização dos países periféricos, haverá uma propensão aos estudos das políticas

públicas (FLEXOR; LEITE, 2000). Os autores falam ainda que “esses processos políticos,

sociais e econômicos que acompanharam a transformação do Estado a partir da segunda

metade do século XX resultaram na emergência de um novo campo de investigação social que

podemos denominar de análise das políticas públicas” (FLEXOR; LEITE, 2000, p. 199).

No Governo Dilma (2011-2014), houve uma análise sobre as prioridades da

presidente, e chegou-se à conclusão de que sua atenção era voltada para educação e

assistência social. Todavia, mesmo tal governo tendo a educação como foco, a União

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Nacional dos Estudantes (UNE) acredita que precisa haver um aumento significativo nas

verbas destinadas ao Plano Nacional de Assistência Estudantil (PNAES), e que determine

também outras fontes para o financiamento dos restaurantes universitários, moradias, creches

para as mães estudantes, auxílio com transporte, material escolar e o que mais for necessário.

Baseando-se no que foi supracitado, podemos dizer, então, que houve uma ampliação

do Estado – assim definida por Gramsci, segundo Coutinho (1994) –, com a socialização da

política, pois os estudantes, organizados na UNE, podem lutar pelos direitos deles, inserindo

esses direitos dentro desse Estado. E é justamente esse tipo de organização que vai fazer a

diferença, para Gramsci, na formação desse Estado ampliado, já que considera que tal

formação se desvenda mediante a sociedade política e a sociedade civil. O grande mérito do

autor é que vai considerar a sociedade civil como superestrutura e não infraestrutura, como

consideravam Marx e Engels. Estes a viam como “o conjunto das relações econômicas

capitalistas”, ou seja, infraestrutura. Já para Gramsci, sociedade civil é a superestrutura, como

falado anteriormente. A superestrutura

designa, mais precisamente, o conjunto das instituições responsáveis pela

representação dos interesses de diferentes grupos sociais, bem como pela elaboração

e/ou difusão de valores simbólicos e ideologias; ela compreende assim o sistema

escolar, as Igrejas, os partidos políticos, as organizações profissionais, os meios de

comunicação, as instituições de caráter científico e artístico etc. (COUTINHO, 1994,

p. 54).

A sociedade civil e a sociedade política se diferem devido à função que desempenham

em relação à organização social e, principalmente, no que diz respeito à articulação para a

reprodução das relações de poder, relata Coutinho (1994), com base nos estudos de Gramsci.

Ainda sob a visão de Gramsci, podemos dizer que o embate entre governo e os

estudantes, que lutam pela melhoria da assistência estudantil, se passa dentro do Estado

ampliado, já que tal embate é possível, não havendo um cerceamento tão incisivo das forças

estudantis. Dessa forma, possuímos uma formação social ocidental, na qual a relação entre

sociedade civil e sociedade política acontece no mesmo nível. Enfim, no Estado ampliado, a

luta de classe baseia-se na “guerra de posição”, ou seja, numa captação processual de espaços

no seio e através da sociedade (COUTINHO, 1994).

Por fim, concluímos que as bases teóricas aqui discutidas proporcionaram um maior

conhecimento e esclarecimento sobre nosso objeto de estudo, possibilitando-nos, assim,

confirmar ou refutar certas ideias sobre a política de assistência estudantil no IFCE, campus

Fortaleza.

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4 O CAMINHO METODOLÓGICO: REALIZANDO A DESCOBERTA DOS

SUJEITOS DA POLÍTICA

O método utilizado para nossa pesquisa foi o método dialético que, segundo Barbosa

(2001, p. 159),

concebe o processo racional como dialético no qual a contradição não é considerada

como ilógica, mas como o verdadeiro motor do pensamento que se realiza. O

pensamento não é mais estático, mas procede por considerações superadas, da tese

(afirmação), da antítese (negação) e da síntese (conciliação) que supera ambas e

assim sucessivamente. Uma proposição (tese) não existe sem oposição a outra

proposição (antítese). A primeira oposição será modificada nesse processo de

oposição e surgirá uma nova. A antítese está contida na própria tese que é, por isso,

contraditória. A conciliação existente na síntese é provisória, na medida em que se

transforma na própria tese. Foi a partir desse sentido que Marx desenvolveu o

conceito de materialismo dialético.

Temos a tese de que a assistência estudantil não consegue garantir a permanência de

estudantes em condição de hipossuficiência. A antítese seria a defesa, pelo Governo Federal,

de que, realmente, o Programa de Assistência Estudantil consegue manter os discentes na

instituição. A busca pelo real, a ida à realidade onde se desenrola a problemática estudada,

será a síntese que não se mostrará nem totalmente de acordo com nossa tese, nem com a

antítese.

Segundo Minayo (2002, p. 83-84), a dialética “é desenvolvida por meio de termos que

articulam as ideias de crítica, de negação, de oposição, de mudança, de processo, de

contradição, de movimento e de transformação da natureza e da realidade social”.

Sendo assim, corroboramos, mais uma vez, a adequação da escolha do método

dialético para nossa pesquisa, devido a levarmos em consideração todos os impasses,

problemáticas e potencialidades que estão no contexto da política de assistência estudantil,

que, como realidade mutável, é remodelada de acordo com os interesses dos atores sociais que

nela estão inseridos (alunos, assistentes sociais, diretoria de assuntos estudantis etc.).

Lakatos e Marconi (1992, p. 106), sobre o método dialético, relatam que ele “penetra o

mundo dos fenômenos, através da sua ação recíproca, da contradição inerente ao fenômeno e

da mudança dialética que ocorre na natureza e na sociedade”. Como Minayo (2002), que trata

do método dialético baseado em Marx, elas consideram que contradições e mudanças fazem

parte do contexto no qual estamos inseridos.

A pesquisa realizou-se no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do

Ceará (IFCE), campus Fortaleza. Para delimitar o universo da pesquisa, definimos os

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seguintes critérios para o objeto de estudo: alunos pertencentes ao ensino superior do IFCE,

campus Fortaleza; alunos que estão inseridos na assistência estudantil por um período mínimo

de um ano; e alunos que recebem os auxílios transporte e alimentação.

Embora a assistência estudantil do IFCE, campus Fortaleza, atenda também a alunos

do ensino técnico (alunos que estão em cursos que garantem tanto o ensino médio como a

formação técnico profissional), esta pesquisa envolve apenas alunos do ensino superior, por

serem esses os beneficiários do PNAES, objeto de estudo desta pesquisa.

A escolha do segundo critério deve-se à intenção de envolver os estudantes com maior

vivência sobre a assistência estudantil e também para identificar possíveis mudanças na sua

vida acadêmica após a inserção na referida política.

A escolha do último critério deve-se ao fato de os auxílios transporte e alimentação

serem os mais requisitados pelos alunos do IFCE.

Escolhemos o estudo de caso como nossa estratégia de pesquisa por ele ser adequado

àquelas pesquisas que possuem questões do tipo como e por quê, quando o pesquisador tem

pouco controle sobre os acontecimentos e quando o foco se encontra em fenômenos

contemporâneos inseridos em algum contexto da vida real (YIN, 2005, p. 19).

O referido autor explana ainda que

o estudo de caso conta com muitas das técnicas utilizadas pelas pesquisas históricas,

mas acrescenta duas fontes de evidências que usualmente não são incluídas no

repertório de um historiador: observação direta dos acontecimentos que estão sendo

estudados e entrevistas das pessoas neles envolvidas (YIN, 2005, p. 26).

Tal afirmação corrobora, mais uma vez, a adequação do estudo de caso na nossa

pesquisa, pois realizamos observação direta e entrevista, como será exposto posteriormente.

Ele também nos foi favorável por permitir utilizar vários instrumentos (documentos,

observação, entrevistas) que puderam ajudar no entendimento do objeto de estudo (YIN,

2005, p. 27).

Holanda (2006), assim como Yin (2005), considera que o estudo de caso “utiliza

múltiplas fontes de informações (o que se define como triangulação) e uma variedade de

processos de investigação (pesquisa documental, entrevista formais e informais etc.)”

(HOLANDA, 2006, p. 285). Para o autor, o estudo de caso proporciona uma visão geral e

busca descobrir as relações existentes entre fatores técnicos, organizacionais e culturais que

desvendam a maneira como se desenvolve determinado sistema.

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Uma das características do estudo é seu “enfoque heurístico” (HOLANDA, 2006, p.

286), ao permitir que novas descobertas possam vir à tona para melhorarem nosso

conhecimento sobre o objeto de estudo. Sendo assim, tal característica nos instigou a sermos

atenciosos às novas descobertas que fizemos quando realizamos nossa pesquisa, pois foram

elas que nos fizeram compreender, de forma mais clara, como realmente se dá a assistência

estudantil no IFCE.

Como perspectiva para realização de avaliação em profundidade, defendida por

Rodrigues (2011), utilizamos as seguintes técnicas de pesquisa: entrevistas semiestruturadas

(para os alunos, profissionais da assistência estudantil e diretoras de gestão orçamentária e

assuntos estudantis), observações de campo, diário de campo, questionários com perguntas

fechadas (para os discentes que estão inseridos na assistência estudantil) que são condizentes

com pesquisas que buscam uma atitude multidisciplinar e, preferencialmente, interdisciplinar

(RODRIGUES, 2011, p. 48). A análise do tipo de pesquisa e das técnicas utilizadas deve ser

ressaltada por sua importância para desnudar nosso objeto de estudo.

Esta pesquisa é de caráter qualitativo, o que, para Martinelli (1999), possibilita que os

pesquisadores conheçam, de forma mais profunda, aqueles sujeitos com os quais mantêm um

diálogo. A pesquisa qualitativa permite a busca de significados, de interpretações, dos sujeitos

e suas histórias.

Tal modalidade de pesquisa foi importante para a avaliação da política de assistência

estudantil porque permitiu maior contato com os estudantes e profissionais que estão ligados à

referida política. Possibilitou, ainda, saber como eles concebem a assistência estudantil e a

importância de seus impactos na vida universitária daqueles que nela estão inseridos, bem

como descobrir limites e possibilidades na execução desse programa.

As pesquisas bibliográfica e documental também foram necessárias para nosso estudo.

A pesquisa bibliográfica implica a realização de um levantamento bibliográfico a fim de

conhecer, em profundidade, as discussões já existentes sobre a assistência estudantil, nos

permitindo identificar as questões mais pertinentes que a envolvem.

Para a pesquisa documental, analisaram-se materiais institucionais na sua forma

original, como: documentos da Coordenação de Saúde do IFCE, campus Fortaleza, com o

número de atendimentos médicos e odontológicos aos alunos desde 2010; documentos da

Diretoria de Planejamento, Orçamento e Gestão com os valores disponíveis à assistência

estudantil do IFCE desde 2010, ano de implementação do PNAES; e listagem de alunos que

abandonaram seus cursos (evadidos), fornecida pela Coordenação de Controle Acadêmico

(CCA) do IFCE, campus Fortaleza.

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Mattos (2001, p. 40), ao falar sobre tais pesquisas, expõe que a pesquisa bibliográfica

“é realizada a partir de um levantamento de material com dados já analisados, e publicados

por meios escritos e eletrônicos, como livros, artigos, científicos, página da web, sites, sobre o

tema que desejamos conhecer”.

Ainda sob a visão de Mattos (2001, p. 40-41), a pesquisa documental significa que

“trabalhamos com dados que ainda não receberam tratamento analítico e nem foram

publicados. Encontram-se ainda em seu estado original e por isso podem ser reelaborados de

acordo com a finalidade da pesquisa e criatividade do pesquisador”.

Uma das técnicas utilizadas foi a observação, que nos permitiu o contato, in loco

(nesse caso, o Setor de Serviço Social), com os alunos da assistência estudantil e com os

assistentes sociais que dirigem a assistência estudantil.

A observação permitiu conhecermos a dinâmica da assistência estudantil e

apreendermos, com nossa presença nesses espaços, aquilo que porventura não nos foi dito

pelos atores sociais que estão envolvidos com a problemática em estudo.

Para coletar os dados necessários à pesquisa qualitativa, utilizamos a técnica entrevista

semiestruturada, pois, segundo Barbosa (2001), ela permite ao pesquisador um maior contato

com o entrevistado, podendo ainda aquele “[...] registrar as reações do entrevistado diante das

perguntas que são feitas, bem como a expressão não-verbal” (BARBOSA, 2001, p. 255).

A entrevista semiestruturada, voltada para os estudantes do IFCE, campus Fortaleza,

foi importante porque proporcionou ao entrevistado uma maior liberdade para expressar seus

pensamentos sobre o que é a referida assistência, os impactos na sua vida estudantil, além de

permitir que viessem à tona fatos que antes não tinham sido considerados pelo pesquisador e

que poderiam ser de extrema relevância. Os questionários com perguntas fechadas, que foram

aplicados somente aos alunos, permitiram realizar seu perfil socioeconômico.

Ressaltamos que a entrevista semiestruturada também foi aplicada às quatro

assistentes sociais,8 à diretora de assuntos estudantis e à diretora de gestão orçamentária, que

estão ligados diretamente a tal política. Ao se voltar para tais profissionais, a entrevista

semiestruturada tem outra importância, outro intuito: a de sabermos como eles avaliam seu

trabalho na assistência estudantil e o que eles definem como potencialidades e limites dessa

política educacional.

8 Ressaltamos que o Serviço Social do IFCE, campus Fortaleza, é formado, atualmente, por seis assistentes

sociais. Todavia, não entrevistamos todas as seis porque, na época da realização das entrevistas com as

profissionais, duas delas haviam chegado recentemente de outros campi da instituição, no segundo semestre de

2014, mediante concurso de remoção do IFCE. Como ainda não conheciam o funcionamento da assistência

estudantil do campus Fortaleza, não nos seria útil entrevistá-las naquele momento.

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Sendo assim, esse desenho metodológico nos consentiu compreender o contexto em

que se desenvolve a assistência estudantil, as possíveis contradições que a permeiam, os

sujeitos sociais inseridos em tal contexto e os resultados vislumbrados por eles.

4.1 Primeiros contatos com os sujeitos da pesquisa

Permanecemos no Setor de Serviço Social por dois dias (24 e 26 de julho de 2013, a

partir das 14h30min), no período da tarde, para observarmos a seleção que estava sendo

realizada (posteriormente, falaremos mais sobre ela) junto aos discentes do IFCE que

requeriam os auxílios alimentação e transporte. Essa seleção, que se iniciou no dia 15 de julho

de 2013, estava voltada somente para esses dois auxílios. Ressaltamos ainda que a citada

observação foi previamente marcada com a assistente social que trabalha no Setor de Serviço

Social. A pesquisadora acredita que a facilidade com que se deu sua entrada nesse campo foi

devido à relação profissional que as duas mantinham na época em que trabalhava no IFCE do

campus Aracati.

Tentamos elencar alguns aspectos que consideramos importantes para realizarmos

nossa observação, quais sejam: tentar identificar quais os critérios que definiam a escolha

daqueles alunos que receberiam os auxílios, ou seja, que seriam inseridos na assistência

estudantil; descobrir se os assistentes sociais eram os únicos profissionais que atuavam na

escolha de tais discentes (psicólogos e pedagogos, porventura, também ajudavam nesse

processo de seleção?); e desvendar o porquê da procura dos auxílios pelos estudantes.

Sabíamos que tentar apreender como se dava a seleção para a escolha dos alunos que fariam

parte da assistência estudantil não seria fácil, pois

a percepção etnográfica não é, por sua vez, da ordem do imediatamente visto, do

conhecimento fulgurante da intuição, mas da visão (e consequentemente do

conhecimento) mediada, distanciada, diferenciada, reavaliada, instrumentalizada

(caneta, gravador, câmera fotográfica ou de vídeo...) e, em todos os casos,

retrabalhada pela escrita (FIRTH, 2004, p. 17).

No dia 24 de julho de 2013, chegamos ao Setor de Serviço Social às 14h22min,

conforme horário combinado com a assistente social com a qual faláramos. Nesse dia,

ocorreriam as entrevistas com os alunos que estavam interessados em receber os auxílios

transporte e alimentação (como já dito anteriormente, a seleção era voltada somente para

esses dois auxílios). A seleção é anunciada através de cartazes que são expostos por toda a

instituição, nos quais há ainda as datas das entrevistas, bem como o site da instituição para

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que os discentes saibam quais são os documentos necessários para a sua realização. O período

para se inscrever para a seleção também é divulgado no referido site. Sendo assim, os alunos

já chegam ao Serviço Social, para marcar a entrevista, com os documentos exigidos e com o

questionário social respondido, estando este também disponível no site.

Ao entrar na sala, logo começamos a “puxar papo” com a estagiária de serviço social.

Soubemos, através dela, que a marcação das entrevistas era realizada com ela. Ela também

disse que realizava algumas entrevistas, mas somente na presença de uma técnica do serviço

social. Percebemos que ela estava muito à vontade com nossa presença, sendo muito solícita e

gentil ao dizer que poderíamos nos pronunciar caso surgisse alguma dúvida. Assim como

aconteceu entre a autora Gaspar e uma de suas informantes, na pesquisa que aquela realizava

com as garotas de programa, houve, entre mim e a estagiária, uma simpatia mútua (GASPAR,

1988, p. 45), tanto pelo fato de aquela ver esta como uma colega de profissão como também

por ter interesse em relatar sobre como se dava a seleção da assistência estudantil.

Ao chamar certo aluno para marcar a data da entrevista, ela perguntou qual turno ele

preferiria para ser entrevistado. Ele disse que gostaria que fosse à tarde e, assim, é marcada

para as 16 horas do dia seguinte (anteriormente, antes de entrarmos na sala do Serviço Social,

nos encontramos com esse mesmo aluno, que aguardava sua vez para marcar a entrevista, e

conversamos um pouco. Ele relatou que já possuía o auxílio-alimentação e agora estava

tentando o transporte, pois cada aluno pode ter, no máximo, dois auxílios diferentes). Aquela

confere se os alunos trouxeram a documentação exigida, esclarece algumas dúvidas que estes

têm em relação à referida documentação, bem como sobre o questionário social que precisam

responder. Ressaltamos que esse questionário serve de subsídio para a assistente social

conduzir a entrevista com o aluno interessado nos auxílios.

A estagiária nos contou que nesse semestre não vão ofertar os auxílios pai/mãe

discentes e moradia devido à pouca verba. Informou ainda que as entrevistas que ocorreriam

naquele dia eram destinadas àqueles discentes que estavam solicitando, pela primeira vez, os

auxílios transporte e alimentação. Eis alguns documentos necessários para que o aluno seja

inserido na assistência estudantil, segundo a estagiária: identidade, Cadastro de Pessoa Física

(CPF), autodeclaração de que não possui renda (caso não a tenha), declaração de renda de

cada membro familiar (por exemplo: contracheque do pai, mãe, irmão, carteira de trabalho).

Confirmamos a necessidade desses documentos mediante o site do IFCE, que informava os

documentos necessários para a seleção da assistência estudantil.

Caso o familiar seja autônomo, há uma declaração de renda específica; boletim,

histórico escolar, horário de aula (os profissionais exigem tal horário porque tem prioridade,

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em relação aos auxílios, o aluno que passa o dia inteiro na instituição, que faz o curso

integrado, por exemplo), extrato do Bolsa Família (caso o aluno e sua família sejam

contemplados por tal benefício) e conta bancária que esteja no nome deste (já que o dinheiro

não pode ir para terceiros).

Soubemos ainda, pela supracitada estagiária, que se porventura o aluno possui gastos

com remédios e aluguel, isso é levado em conta ao se fazer a análise da renda familiar

daquele, já que tais gastos são um dispêndio enorme para sua família.

Após ter colhido essas informações com a estagiária, a assistente social chega e pede

para que esperemos por ela em outra sala, dentro do próprio setor, que é onde ocorrerão as

entrevistas. Perguntamos a ela quantos profissionais estão “ligados” diretamente à assistência

estudantil e ela responde que três assistentes sociais são responsáveis por toda a demanda,

sendo estas responsáveis pelos pareceres sociais dos auxílios e pelas bolsas de trabalho.

Mesmo estando familiarizados com o ambiente da pesquisa e os atores sociais que lá estavam,

nos sentimos um pouco apreensivos na realização de nossa pesquisa – afinal, os estranhos ali

éramos nós e, sendo assim, não sabíamos qual seria “a reação do outro à nossa presença”

(FIRTH, 2004, p. 27).

Entrou na sala onde estávamos o primeiro aluno a ser entrevistado (ele requeria o

auxílio-transporte). A assistente social disse que, caso tivéssemos alguma dúvida, poderíamos

nos pronunciar.

Iniciando a entrevista, tendo em mãos o questionário social desse aluno (estudante de

gestão desportiva), ela se apresenta, expõe o motivo de nossa presença na sala das entrevistas

e pergunta ao rapaz se ele aceita que realizemos nossa pesquisa. Ele concorda, e a servidora

dá início à entrevista ao confirmar alguns dados que ele informou no questionário social,

como endereço e dados da conta corrente. A profissional pergunta ainda, ao discente, se ele

está recebendo o Bolsa Família. Ele disse que não, já que o benefício está bloqueado. A

servidora do IFCE diz que, sendo assim, ele precisa comparecer à Secretaria de Assistência

Social para desbloqueá-lo.

O questionário social contempla algumas questões sobre a saúde da família do

discente, como a necessidade de comprar remédios. Ela pergunta sobre isso ao aluno e indaga

se ele pode receber tais remédios no posto de saúde. Depois de tal pergunta, ela verifica os

documentos que faltam para o aluno entregar, como a xérox do cartão da conta corrente no

nome do estudante e o cartão do Bolsa Família, bem como o extrato deste, mas somente

quando estiver desbloqueado.

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Após essa entrevista, pedimos alguns esclarecimentos sobre o porquê de se pedir o

histórico escolar e o boletim do aluno. A profissional nos disse que esses documentos

ratificavam a matrícula do aluno na instituição – um dos critérios para receber o auxílio-

transporte. Já para o auxílio-alimentação, o histórico escolar e o horário individual do aluno

são documentos essenciais para saber se o estudante passa o dia todo no IFCE (lembrando que

esse é um requisito para que o auxílio-alimentação seja concedido).

Dando continuidade à seleção, entra na sala uma aluna. A assistente social realizou a

mesma apresentação que fez anteriormente, também perguntando à estudante se ela permitia

nossa presença ali. Ela disse que poderíamos ficar e, assim, iniciou-se a nova entrevista.

As mesmas perguntas são feitas: sobre o recebimento do Bolsa Família, declaração de

renda dos familiares, falta de alguns documentos etc. Em certo momento da entrevista, a

profissional pergunta à aluna se possui alguma dúvida e ela indaga sobre o auxílio-óculos. A

profissional esclarece que, entre um pedido e outro desse auxílio, é preciso ter o intervalo de

um ano; que era preciso esperar “abrir” o período para solicitar tal auxílio, o que aconteceria

somente em agosto, pois a demanda era enorme.

Depois de esclarecida a dúvida da jovem, já finalizando a entrevista, a servidora pede

a ela que não se esqueça de trazer, no dia 26 de julho de 2013, os documentos que ela não

entregou e que são necessários para a análise do processo de seleção dos candidatos aos

auxílios.

Após uma breve pausa, entra outro aluno, estudante de artes cênicas, que requeria o

auxílio-alimentação. Mais uma vez, a profissional relata ao discente que fará perguntas sobre

sua “estrutura sociofamiliar” (expressão dela), o que abrange as questões de renda familiar,

número de parentes que moram com o aluno, se paga aluguel ou não etc. Aqui, nessa

entrevista, decidimos escrever um pouco menos sobre as ações dos atores sociais e prestar

mais atenção naquele momento.

Logo soubemos que ele terminou o ensino médio na escola pública e que morava de

aluguel com alguns amigos (sendo que um deles não ficava na casa constantemente, já que

estudava medicina em Juazeiro do Norte). O aluno relatou que desembolsava, todo mês, R$

250,00 para ajudar no aluguel. O dinheiro advinha dos “bicos” que realizava como ator (ela

realizava oficinas, “contação” de histórias etc.). Notamos que, tanto na entrevista anterior

como nessa que agora descrevemos, a profissional se muniu de um “documento extra”,

chamado Ficha de Complementação de Entrevista Social, para completar as informações

fornecidas pelo aluno através do questionário social que fora preenchido.

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No outro dia, em 26 de julho de 2013, chegamos por volta das 14h30min. Enquanto

aguardávamos nossa entrada na sala do Serviço Social, vimos que dois alunos esperavam ser

chamados, pela estagiária ou pela assistente social, para marcarem a data de suas entrevistas.

Mais uma vez, tentamos iniciar uma conversa9 com um aluno que aguardava ser chamado

para ser entrevistado.

Assim como Silva (2001, p. 89) tentara “entender de onde vieram, o que pensam” os

meninos de rua, nós também tentávamos apreender essas questões com os alunos que

procuravam a assistência estudantil. O estudante contou que desejava conseguir os auxílios

transporte e alimentação (lembramos que cada aluno pode ter, no máximo, até dois auxílios),

pois gastos com comida e passagens de ônibus eram um “peso muito grande” (palavras dele)

no orçamento familiar; e foi justamente a entrevista desse aluno, estudante do primeiro

semestre do curso de música, que presenciamos.

Como no dia anterior, a assistente social se apresentou ao aluno e nos apresentou,

dizendo quem éramos e o porquê de estarmos ali, pedindo a permissão do discente para

permanecermos na sala durante a entrevista. Ele consentiu e a entrevista seguiu normalmente,

praticamente com as mesmas perguntas feitas anteriormente aos outros candidatos.

Como o aluno requeria os dois auxílios supracitados, a profissional explanou que

talvez só fosse possível ser concedido um, por causa do baixo orçamento que estava

direcionado para a assistência estudantil no IFCE. Nesse caso, o auxílio concedido seria

aquele que fosse prioridade, mas, mesmo assim, também devido ao ínfimo orçamento, nem

sempre se podia atender a prioridade.

A servidora continuou sua fala dizendo que existem alunos que não são atendidos em

suas demandas, e que os profissionais que lidavam com a assistência estudantil realizavam a

análise socioeconômica, bem como a situação acadêmica do aluno (por exemplo, ele ficava o

dia todo no IFCE? Se sim, era um forte candidato a receber o auxílio-alimentação, ao

contrário daqueles alunos que ficavam somente meio período na instituição).

Retornando às perguntas do questionário, a servidora pergunta ao discente sobre a

condição socioeconômica da sua família, que é do interior do estado do Ceará. Ele responde a

tal pergunta e, posteriormente, acrescenta que trabalha com música e no teatro. A família o

ajuda, quando pode, com alimentação, sendo o aluguel por conta do aluno, que trabalha há

cerca de um ano como músico, e é justamente desse trabalho que advém o dinheiro para o

pagamento do aluguel.

9 Essa conversa foi informal e rápida. Esse aluno, com o qual conversei, não se incluiu nos estudantes

selecionados aleatoriamente para as entrevistas.

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Depois desse relato, a assistente social pediu que o aluno trouxesse os documentos que

faltavam para ajudar na análise da entrevista (comprovante de renda do aluno, documento

para pagamento da Coelce e contrato do aluguel que explicite que o valor, gasto com energia,

já está incluso no aluguel, de acordo com o que informou o aluno).

A servidora disse ainda que o auxílio-alimentação já estava indeferido para ele, já que

estudava somente pela manhã, não passando o dia inteiro no IFCE.

Após o fim da entrevista, quando a assistente social sai, o aluno reclama, para nós,

sobre a falta do auxílio-moradia (este, segundo a profissional, só será ofertado no segundo

semestre, devido ao ínfimo orçamento).

Na última entrevista, realizada com um aluno do curso de mecânica industrial, a

assistente social o cumprimenta e se apresenta, dando início à entrevista como das outras

vezes.

Ele requer auxílio-transporte. O resultado, com os nomes daqueles alunos que serão

inseridos na assistência estudantil, sairá no dia 14 de agosto de 2013. A assistente social relata

que, quando o aluno pede os dois auxílios, pergunta qual auxílio é prioridade para ele; ambos

são concedidos caso haja dinheiro, todavia, naquele semestre, segundo a servidora, o

orçamento “está apertado”. A servidora, já no final da entrevista, ainda diz que, dependendo

da situação do aluno, serão concedidos os dois auxílios.

4.2 Como os alunos avaliam a política de assistência estudantil no IFCE, campus

Fortaleza

Sendo o método dialético definido como método para a realização da nossa pesquisa, e

estabelecidos os critérios condizentes com ela, realizamos dez entrevistas com os alunos que

recebiam auxílio-transporte e alimentação, três entrevistas com alunos do movimento

estudantil e com as quatro assistentes sociais que estão à frente da assistência estudantil do

IFCE, campus Fortaleza.

Mediante a metodologia escolhida, entrevistamos os dez discentes que recebiam os

auxílios transporte e alimentação, como já exposto anteriormente, e três estudantes do

movimento estudantil do IFCE, campus Fortaleza.

As pesquisas bibliográfica, documental e de campo, bem como a entrevista

semiestruturada e o questionário, com perguntas fechadas, direcionado aos discentes, já

citadas anteriormente, compõem a metodologia utilizada para se chegar aos resultados. Com

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os profissionais ligados à assistência estudantil, foram utilizadas somente entrevistas

semiestruturadas.

Com o questionário aplicado junto aos dez alunos beneficiários dos auxílios transporte

e alimentação do IFCE, tentamos traçar um perfil desses discentes que estão na assistência

estudantil do campus de Fortaleza. Com a aplicação de tal questionário, procuramos saber: a

renda familiar desses alunos; se seus pais possuíam grau de instrução elevado; se, mesmo

sendo considerados jovens hipossuficientes, conseguiam ter algum lazer; se o auxílio ajudava

a suprir alguma necessidade que porventura surgisse (como ajudar em alguma despesa da

casa, a comprar comida etc.).

Tabela 2 – Perfil social dos alunos da assistência estudantil

Perfil dos Alunos Entrevistados – Assistência Estudantil

Aluno

Faixa etária

Sexo

Grau de escolaridades

dos pais

Residência

Tipo de

moradia

Composição

familiar

Aluno 01

19 a 28 anos

M

Ensino Médio Completo

Conjunto Ceará

Própria

1 a 3 membros

Aluno 02

19 a 28 anos

M

Ensino Médio Completo

Mondubim

Própria

1 a 3 membros

Aluno 03

19 a 28 anos

F

Ensino Médio Completo

Parque Dois Irmãos

Alugada

1 a 3 membros

Aluno 04

19 a 28 anos

M

Ensino Médio Completo

Antônio Bezerra

Própria

1 a 3 membros

Aluno 05

19 a 28 anos

F

Ensino Médio Completo

Conj. Jereissati II

Própria

1 a 3 membros

Aluno 06

19 a 28 anos

F

Ensino Médio Completo

Cascavel - Módulo

Esportivo

Própria

1 a 3 membros

Aluno 07

19 a 28 anos

M

Ensino Médio Completo

Barra do Ceará

Própria

1 a 3 membros

Aluno 08

19 a 28 anos

M

Ensino Médio Completo

Praia do Futuro

Própria

1 a 3 membros

Aluno 09

19 a 28 anos

M

Ensino Médio Completo

Passaré

Própria

1 a 3 membros

Aluno 10

19 a 28 anos

M

Ensino Médio Completo

Pici

Própria

1 a 3 membros

Fonte: Questionário com perguntas fechados aplicado aos alunos pela pesquisadora.

Os alunos são jovens de 19 a 28 anos, moram em bairros da periferia da cidade e estão

no ensino superior do IFCE, estando matriculados nos cursos superiores de engenharia de

telecomunicações, estradas, gestão ambiental, gestão desportiva, matemática, mecatrônica

industrial, processos químicos, saneamento básico, teatro, turismo, e a maioria mora com os

pais. Os pais possuem ensino médio completo e trabalham como promotor de vendas,

contador, assistente administrativo. As mães possuem o ensino médio completo, exercendo a

profissão de contadora, autônoma, bancária, dona de casa.

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As famílias, compostas por um a três membros, moram em casa própria e metade delas

possui uma renda de dois a três salários-mínimos. Os jovens não precisam trabalhar para

ajudar com as despesas da família. Eles costumam ter lazer, frequentando cinema, praia,

assistindo televisão e lendo livros. Parte dos alunos não utiliza o auxílio para outros fins

(como comprar comida, pagar contas da família, comprar material escolar etc.).

Tabela 3 – Perfil econômico dos alunos da assistência estudantil

Perfil dos Alunos Entrevistados - Assistência Estudantil

Aluno Renda per capita

(incluindo o aluno)

Exercício de

atividade

remunerada

(auxílio nas

despesas

familiares)

Utilização dos

auxílios para

atividades de lazer

Utilização dos

auxílios para outros

fins

Aluno 01 2 a 3 salários-mínimos Sim Sim Sim

Aluno 02 2 a 3 salários-mínimos Não Sim Não

Aluno 03 2 a 3 salários-mínimos Não Sim Sim

Aluno 04 1 salário-mínimo Não Sim Sim

Aluno 05 2 a 3 salários-mínimos Não Sim Não

Aluno 06 2 a 3 salários-mínimos Não Sim Sim

Aluno 07 1 salário-mínimo Não Sim Não

Aluno 08 4 a 5 salários-mínimos Sim Sim Não

Aluno 09 2 a 3 salários-mínimos Não Sim Não

Aluno 10 1 salário-mínimo Sim Sim Não

Fonte: Questionário com perguntas fechados aplicado aos alunos pela pesquisadora.

Ressaltamos que utilizamos nomes fictícios com o intuito de preservar a identidade

dos nossos entrevistados. Tais nomes fictícios não tiveram nenhum critério definido, sendo

escolhidos aleatoriamente.

Em relação à entrevista com os alunos, ela se iniciou abordando como o discente

percebia a assistência estudantil. Muitos deles se referiram à assistência estudantil como um

complemento para as despesas que tinham com o transporte e a alimentação, despesas estas

necessárias para estarem no IFCE, campus Fortaleza, e que não poderiam ser supridas pela

família.

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É uma forma de ajudar alguns alunos a se manter, porque muitos também não têm

total... não conseguem se manter, até pela família, não têm total condição, aí é uma

maneira de ajudar um pouco esses alunos a custear tudo o que precisa, da

alimentação, xérox, o transporte, porque muitos têm que vir todo dia (para o IFCE).

Enfim, é isso aí (Júlia, 24 anos, recebe auxílio-transporte).

A assistência estudantil é um auxílio, uma assistência, como o nome já diz, para que

eu possa vir pra cá fazer o meu estudo, a minha pesquisa, pra eu poder me deslocar

de casa pra cá, é um... como o nome já diz, é uma assistência, um auxílio... é

basicamente isso. A assistência estudantil me permite, contribui pra que eu esteja

aqui, já que eu não tenho uma renda própria, eu não trabalho, quem me ajuda é

minha mãe, então, a partir dessa ajuda, eu posso me deslocar, eu possa estar aqui, no

instituto (João, 28 anos, recebe auxílio-transporte).

A assistência estudantil é uma forma de ajudar o aluno a poder frequentar melhor a

instituição, uma forma de ele poder se estimular mais a vir, ajuda, porque tem muita

gente que não pode tá aqui todo dia, todo momento, aí, com esse auxílio, ele pode

estar aqui, por exemplo, manhã e noite, como é o meu caso, vai facilitar a minha

verba, porque ficaria complicado eu tá indo almoçar todo dia, indo pra casa, e voltar,

e com esse auxílio, eu não preciso me deslocar pra casa, pra voltar aqui de novo, pra

poder me alimentar. Facilitou bastante. Pra mim, o auxílio facilitou bastante. A

assistência estudantil, pra mim, é isso, uma forma de auxílio mesmo, é um auxílio

pra ajudar quem realmente tá precisando de dinheiro (Miguel, 20 anos, recebe

auxílio-transporte).

Percebe-se que, na visão desses alunos, a assistência estudantil possui, sim,

importância, pois o auxílio é necessário para sua permanência no IFCE, campus Fortaleza,

principalmente para aqueles alunos que precisam passar o dia todo na instituição ou que

necessitam pegar o transporte público para se deslocar de casa até o IFCE e vice-versa, não

podendo sua família suprir tais despesas. É considerado um “auxílio”, como os próprios

discentes relataram, já que o valor recebido é ínfimo e não pode arcar com todas as despesas

que porventura possam surgir.

Nas falas dos entrevistados, há uma concordância com o que prega o Programa Nacional

de Assistência Estudantil (PNAES). Quando os alunos dizem que “a assistência estudantil

ajuda o aluno a se manter, porque a família não tem total condição, é uma forma de o aluno

frequentar melhor a instituição”, está reproduzindo dois dos quatro objetivos da PNAES,

segundo seu artigo 2°: “minimizar os efeitos das desigualdades sociais e regionais na

permanência e conclusão da educação superior” (grifo nosso); e democratizar as condições

de permanência dos jovens na educação superior pública federal.

Pensamos também que essa fala talvez tenha suscitado a partir daquilo que os assistentes

sociais falam, para eles, sobre o que é a assistência estudantil, baseando-se no Decreto nº

7.234/10, que dispõe sobre o PNAES.

Notamos ainda que, dos dez entrevistados, apenas dois expuseram que a assistência

estudantil era um direito, e não um mero favor.

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Fui até o Serviço Social, eles me comunicaram que estava... que tinha saído o edital,

entrei no site do IFCE e através disso eu me inscrevi, preenchi o formulário,

entreguei os documentos lá na recepção e em chamaram, lançaram o edital e

comprovação que eu tinha o direito de receber esse auxílio-transporte [...] (Vera, 20

anos, recebe auxílio-transporte).

Indagamos sobre quais as potencialidades e os limites da assistência estudantil para os

alunos entrevistados e alguns destes se referiram ao atraso do recebimento dos auxílios como

um limite da referida assistência.

[...] É muito bem divulgado, é muito bem explicado, o processo é bem feito, assim,

tem a entrevista e tal, eu acho isso importante. Os limites, eu acho que seria, por

exemplo, assim, o atraso. É que às vezes atrasa, e tudo mais, o dinheiro (Gabriela,

23 anos, recebe o auxílio-transporte).

Eu vejo que tá conseguindo abranger praticamente a todos, pelo o que eu vejo,

porque a lista (com os nomes dos alunos que irão receber os auxílios) que sai, que eu

vejo, é grande. [...] Assim, às vezes, a data do dinheiro sair. A gente não sabe, né?

[...] Não tem a data definida, às vezes, eles dizem: “não, vai sair mês tal” (Júlia, 24

anos, recebe auxílio-transporte).

Ele10

é muito bom, com relação à qualidade, ele tá bom, ele só tem um problema

com relação ao pagamento, porque ele atrasa muito. Ele não segue o cronograma,

porque o cronograma é pra pagar em um mês, todo mês, e a gente não recebe

mensalmente. Esse é o que considero o maior problema dele, mas a potencialidade é

muito boa [...], porque ajuda. [...] (Miguel, 20 anos, recebe auxílio-transporte).

A potencialidade é que, tipo, eles conseguem abarcar o máximo de pessoas

possíveis, né? Aí, o ponto negativo, que eu vejo, é que demora muito, entendeu?

Tipo, eu sou um que não necessita tanto, dá pra eu conseguir vir de ônibus pra cá,

mas têm pessoas que já não conseguem. Aí, eles já vão entregar agora, no final do

semestre, o auxílio. [...] Pra ser aprovado, já demora. Era pra entregar... era pra,

assim, já começou o semestre, tá começando a aprovação e já começou a entregar,

entendeu? Aí, eles já entregam no final do semestre o dinheiro. Aí, esse, acho que é

um ponto negativo [...] (Mateus, 20 anos, recebe auxílio-transporte).

A fala dos alunos, ao tratarem sobre o atraso dos auxílios da assistência estudantil

(limite), remete-nos à questão do recurso ofertado a essa política. O dinheiro da assistência

estudantil vem diretamente do Ministério da Educação (MEC) e é rateado entre todas as ações

relativas à assistência ao aluno (serviço de saúde, serviço pedagógico, viagens técnicas etc.).

Posteriormente, falaremos o porquê do atraso dos auxílios.

Já em relação às potencialidades, boa parte dos entrevistados acredita que a assistência

estudantil é tratada de forma clara, há transparência nas informações sobre como os alunos

deverão agir para terem acesso à assistência estudantil, e que todo processo é bem organizado.

10

O aluno se refere ao auxílio recebido.

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Acreditam, também, que a quantidade de alunos que são contemplados por essa

política é considerável. Todavia, os discentes expressaram que há a necessidade de um

acompanhamento mais próximo da assistência estudantil, junto a eles, para se ter um

diagnóstico preciso da maneira como ela está se desenvolvendo no cotidiano daqueles que

nela estão inseridos, bem como ir ao encontro dos alunos que porventura poderiam se

interessar pela assistência, divulgando, mais ainda, sua finalidade e os serviços que oferece.

[...] Como eu disse, ele ajuda, incentiva o pessoal a vir, a não ter que ficar fazendo

deslocamento desnecessário, e ele ainda poderia ser melhor [...], procurando saber

como é que tá o aluno, fazendo uma entrevista com o aluno [...], saber como é que tá,

se tá precisando de melhor ajuda, se tá funcionando mesmo, se esse dinheiro tá sendo

para outra coisa. Eu acho que dá pra melhorar nessa parte (Miguel, 20 anos, recebe

auxílio-transporte).

[...] Não tem esse acolhimento, não faz esse acolhimento, não vai em busca dos

alunos, os alunos que vêm atrás dessa assistência, então, na minha opinião, o ponto

fraco é esse, eles deviam procurar mais os alunos, deveriam divulgar mais suas

atividades em si, e justamente os alunos se interessarem mais ainda, e não só os alunos

vir à busca da assistência. A assistência ir à busca desses alunos também (Vera, 20

anos, recebe auxílio-transporte).

O acompanhamento da política de assistência estudantil ainda não se dá de forma

integral devido ao quadro insuficiente de profissionais que integram a equipe do Serviço

Social do IFCE, campus Fortaleza (seis assistentes sociais, sendo duas recém-chegadas ao

setor, no meio do ano de 2014, mediante concurso de remoção da instituição), bem como o

não envolvimento de outros profissionais, de forma mais assídua, como professores,

pedagogos, psicólogos etc., que poderiam contribuir, com suas competências específicas, nas

problemáticas que não envolvem apenas a vulnerabilidade social/econômica do aluno,

fornecendo, assim, um acompanhamento contínuo e integral aos discentes que estão na

assistência estudantil.

O professor, como profissional que se encontra “na linha de frente”, seria o

identificador dos primeiros problemas que poderiam estar fazendo com que o aluno não

permanecesse em sala de aula; o assistente social, que trabalharia as questões referentes à

vulnerabilidade social que o discente poderia estar sofrendo; o pedagogo atuaria nas questões

referentes à dificuldade de aprendizado; o psicólogo ajudaria nas questões emocionais que

porventura estivessem afetando o discente, dentre outras atuações de outros profissionais que

seriam importantes para compor a equipe multidisciplinar da assistência estudantil.

Ao perguntamos aos discentes sobre como eles se inseriram na assistência estudantil,

todos relataram que passaram pelo processo de seleção que é conduzido pelo Serviço Social

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do IFCE. Percebemos, mediante os relatos dos alunos, que tal processo é muito publicizado,

sendo também divulgado pelos próprios alunos, que informam uns aos outros sobre a

existência dos auxílios discentes.

Pelo cadastro, a gente se cadastra aqui. É porque lá em casa, eu já tava precisando,

minha mãe saiu do emprego, e eu já fiquei precisando, então, é só cadastrar aqui (no

Serviço Social, do IFCE, campus Fortaleza), preencher a ficha, entregar as coisas

que é necessário e pronto, e aí aguardar. Eu soube pelos outros alunos que eles

recebiam, e eu, “que é isso?” Eles, “não, é um negócio que eles dão aqui”, e eu, ah,

então, pronto. Aí, a gente pega lá na frente,11

na portaria, o papel e pronto (Mateus,

20 anos, recebe auxílio-transporte).

Através dos colegas, me falaram dessa assistência e eu vim à busca, eu vim em

busca desse auxílio-transporte, no caso. [...] Fui até o Serviço Social, eles me

comunicaram que estava... que tinha saído o edital, entrei no site do IFCE e através

disso eu me inscrevi, preenchi o formulário, entreguei os documentos lá na recepção

e me chamaram, lançaram o edital e comprovação que eu tinha o direito de receber

esse auxílio-transporte e eles me chamaram para comprovar isso realmente [...]

(Vera, 20 anos, recebe auxílio-transporte).

Olha, alguns amigos me indicaram, disseram que havia o auxílio e logo me

interessei, porque é uma ajuda a mais e é bem simples, eles pedem uma lista de

documentos, você consegue, dá entrada, é bem simples. Na maioria dos semestres,

tem entrevista pra você adquirir [...], se inscrever no auxílio, mas, no semestre que

eu entrei, não precisou e, nos semestres seguintes, para você renovar, você precisa

dessa entrevista, então, eu nunca fiz a entrevista com os assistentes sociais, mas eu

sempre ganho o auxílio (Victor, 20 anos, recebe auxílio-transporte).

Eu vi a chamada. Quando eu entrei, eu nem sabia que tinha auxílio, acho que muita

gente não sabe, mas como eu gosto de passear e ver os lugares, eu vi nos

flanelógrafos que podia ter o auxílio-óculos, o auxílio-transporte, o auxílio-

alimentação, e aí fiquei ligado nas datas assim que eu entrei, no primeiro semestre e

aí, a partir do segundo, eu já trouxe a documentação. Foi, talvez, pela minha origem

mesmo, pela minha condição social, por isso que eu acho que é importante, eles...

dão realmente a quem precisa. Então, a partir do momento que você segue as regras,

as normas de avaliação, você se insere, e como eu tenho o perfil de um aluno que

precisa do auxílio, eu fiquei inserido e me mantenho lá, sempre eu recebo (João, 28

anos, recebe auxílio-transporte).

Enfim, verificamos que a seleção para assistência estudantil no IFCE, campus

Fortaleza, é transparente, sendo seu edital, bem como os documentos necessários para

participação, dispostos no site e nos flanelógrafos da instituição. A equipe do Serviço Social

também informa aos discentes, no cotidiano do seu trabalho, sobre o funcionamento da

referida seleção para a assistência estudantil.

Ao perguntarmos sobre o que os discentes achavam da seleção realizada pelo Serviço

Social, para a escolha daqueles alunos que seriam inseridos na assistência estudantil do IFCE,

11

O aluno está se referindo à recepção do IFCE, local onde está disponível o questionário socioeconômico.

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campus Fortaleza, todos foram unânimes em dizer que achavam que a seleção era organizada,

clara, tentando contemplar todos aqueles que necessitavam da referida assistência.

Acho que é uma seleção bem justa. [...] É como eu falei, né, eles procuram primeiro

quem é que tá mais necessitado, por isso que eles pedem comprovante de renda,

tudo eles pedem... conta de energia ou é da água, aí, eles vê quem precisa, pelas

coisas dadas, eles vê mais quem precisa mais e [...] quem não precisa tanto. Aí, eu

acho que desse jeito, tá ótimo, não precisa, nesse ponto, não precisa melhorar

(Mateus, 20 anos, recebe auxílio-transporte).

Eu acho boa, eu acho que é uma seleção boa porque eles entrevistam, eles fazem

perguntas que é de acordo com, no caso do auxílio-transporte, a “médica”12

que me

atendeu, ela realmente soube fazer perguntas corretamente, eu respondi, e fazia uma

entrevista baseada de acordo com o auxílio que você está recorrendo. No meu caso,

ela fez as perguntas de onde eu moro, o quanto eu gasto por mês, essas coisas, assim

(Vera, 20 anos, recebe auxílio-transporte).

Acho que é necessário pra... você tá ali, não só apenas com o RG do aluno, mas tá

frente a frente com ele, sentar e conversar pra saber qual realmente a situação dele,

como é que ele tá em casa... acho que é mais assim, esse envolvimento de você tá

frente a frente com o aluno, não somente escolher esse, esse, esse, aleatoriamente,

mas, sentar... acho que o diferencial é esse, você sentar, conversar, com o aluno, e

saber o que é que tá acontecendo, precisa melhorar... só isso (Eduardo, 19 anos,

recebe auxílio-transporte e alimentação).

Eu acho muito boa, assim, porque ele não é só uma coisa, ah, um questionário e tal,

tem que colocar documentos pra comprovar aqueles dados que você tá colocando e

também tem a entrevista... então, é... eu acho uma avaliação, assim, legal, né, que

ele, tipo, você coloca os dados e você tem que documentar aqueles dados, né,

através de comprovante de renda de seus pais e tudo mais. É isso, eu acho que é bem

feito, assim, o negócio (Gabriela, 20 anos, recebe auxílio-transporte).

Com essa pergunta, tentamos confirmar a hipótese de que os alunos considerariam

importantes outros critérios (por exemplo, o aluno não pode ir até o IFCE porque o pai não

quer que ele estude e, sendo assim, não fornece o dinheiro para o transporte) para a escolha

daqueles que participariam da assistência estudantil (além daqueles relacionados a fatores

econômicos).

Aqui, tentamos descobrir algum episódio em que nos fosse relatada a inserção de um

dos entrevistados por quaisquer outros motivos que não fosse o fator socioeconômico

(discriminação, violência etc.), já que o próprio Serviço Social do IFCE não considera

vulnerabilidade social apenas a parca condição econômica de um aluno, fato expressado num

documento sobre a assistência estudantil elaborado pelos assistentes sociais de todos os

campi, em 2011. Nenhum deles citou outros critérios que poderiam ser considerados.

Interessante notar, mediante a fala do aluno João, que a entrevista, realizada para

concessão do auxílio, necessita de certos detalhes da sua vida pessoal (chegando a deixá-lo até

12

A aluna, na verdade, quis dizer que a profissional que a entrevistou foi a psicóloga.

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um pouco desconfortável com tal situação, mas, por necessitar daquele auxílio, ele se dispõe a

relatar fatos mais íntimos da sua vida), com o intuito de a equipe tentar avaliar, da forma mais

correta possível, quem realmente precisa ser beneficiado pela assistência estudantil, já que o

número de solicitações é enorme e o recurso ainda não abrange a todos os alunos. Todavia, o

constrangimento para se conseguir o auxílio é notório, não podendo o estudante fugir disso

porque precisa do dinheiro.

Acho que é democrático. Eles conseguem... acho que é democrático porque eles não

iriam dar o auxílio pra quem realmente não precisa. Eles fazem perguntas pessoais

que acho que... uma coisa que eu sempre penso quando eu vou pedir o auxílio: eu

estar me submetendo àquela avaliação, quanto sua mãe ganha, quanto seu pai ganha,

quanto é a divisão da renda, sua mãe tem problemas de saúde, todos esses

questionamentos são tão íntimos, são tão pessoais, que se eu não precisasse do

dinheiro, eu não ia nem responder. Eu só respondo porque realmente eu tenho que

me submeter a isso para poder receber o auxílio (João, 28 anos, recebe auxílio-

transporte).

Quando indagamos sobre como os discentes descreveriam sua vida escolar antes e

depois de sua inserção na assistência estudantil, alguns relataram que houve pouca ou

nenhuma mudança. Eles consideram o auxílio recebido importante, mas não essencial, a ponto

de impedir sua presença no IFCE caso chegasse a faltar. Já outros avaliam como muito

importante sua inserção, pois se sentem tranquilos por terem o dinheiro para se alimentarem,

bem como se deslocarem de casa até o IFCE.

Não tem nenhuma diferença, não... é uma contribuição [...], é um auxílio, porque

ainda é pouco, mas claro que é porque talvez não tenha uma verba para manter o

aluno, não sei, eu não entendo, deve ser uma coisa política mesmo, entendeu? Eu

não sei se poderia ser mais, mas o auxílio, pra mim, é um auxílio, uma

contribuição... eu poderia vir pra cá sem ele, de outra forma, com a contribuição da

minha mãe, do meu pai, mas, já que ele existe, e é um direito meu, porque o auxílio

é um direito meu, o Serviço Social não tá me prestando nenhum favor, né, eu me

submeto a isso porque também é um dever do governo estar dando esse auxílio, não

somente pra mim, , mas pra... porque eu sei, eu tenho consciência de que têm outros

alunos que, com certeza, necessitam muito mais do que eu, têm uma história de vida,

né, enfim... então, é política, né? (João, 28 anos, recebe auxílio-transporte).

Antes eu não tinha esse [...] porto seguro do auxílio-transporte. E nós, estudantes

universitários, todos necessitamos desse auxílio. Então, antes era bem difícil, porque

eu moro longe, eu tenho que recorrer à minha mãe, que ela é aposentada, então, esse

é o único recurso que eu tinha com segurança, agora não, agora, através desse

auxílio, eu tenho um porto seguro, que me auxilia realmente, e é bem importante na

minha vida, bastante (Vera, 20 anos, recebe auxílio-transporte).

[...] Como eu trabalho pela manhã, e estudo pela tarde, [...] como eu tenho agora

esse benefício, já ajuda porque eu tenho mais comodidade de vir para cá, ter o

dinheiro para almoçar bem, descansar aqui... não tenho cansaço com viagem, ir em

casa, almoçar em casa, voltar e também a liberdade de ficar por aqui, e ter aquele

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dinheiro para comer por aqui mesmo, ficar por aqui, descansar e não ter tanto

desgaste físico (Eduardo, 19 anos, recebe auxílio-transporte e alimentação).

Mesmo o auxílio não tendo modificado tanto a vida dos alunos, como relatado por

alguns discentes, eles se sentem mais amparados para estudarem, pois têm a segurança de que

aquele “porto seguro”, como falou a aluna Vera, garantirá o dinheiro do transporte,

contribuindo para ser uma despesa familiar a menos. O fato de não precisar voltar para casa

somente para almoçar, por outrora não possuir o dinheiro para se alimentar na instituição,

também ajuda muito, pois o aluno, como foi relatado por Eduardo, ficando na instituição,

podendo lá almoçar, pode descansar um pouco mais, repor as energias para enfrentar um

longo dia de estudo.

Apesar de o dinheiro do auxílio atrasar, ele contribui para que o aluno não se sinta tão

dependente da ajuda financeira da família e tenha “algo seu”, tenha autonomia, como relata o

aluno Mateus.

Não mudou muito, né? Porque [...] eles entregam só lá no final (do semestre). Aí,

eles... já demora, então, não muda muito, não, não muda. Dá pra eu vir sem esse

auxílio. Esse auxílio mesmo era só pra me ajudar, a não ter que ficar dependendo

muito da minha mãe, meu pai, né? [...] é só mais por causa de ter já uma coisa

minha, entendeu? Já não [...] preciso pedir dinheiro pra pegar meu ônibus, eu posso

pagar, só pra isso mesmo (Mateus, 20 anos, recebe auxílio-transporte).

Ao perguntarmos aos alunos se eles conheciam o Programa Nacional de Assistência

Estudantil (PNAES), todos foram unânimes em responder que não. Apenas um aluno disse

que leu alguma coisa sobre o programa, em um livro.

Não, não ouvi falar, não muito. Eu só... eu vi o nome, eu só vi o nome, eu não ouvi

nada a falar, não. Eu vi por causa que, como eu faço literatura, eu vejo muitas coisas

que a escola tem, entendeu? [...] Eu vejo no meu livro de didática (Mateus, 20 anos,

recebe o auxílio-transporte).

Apesar de os alunos estarem dentro do contexto do Programa Nacional de Assistência

Estudantil, sendo atendidos nas áreas de alimentação, transporte, desconhecem o Decreto nº

7.234/10, que trata sobre as questões pertinentes à manutenção do aluno nas Ifes. Nota-se que

é preciso um esclarecimento maior sobre o que é essa política para os alunos, para que não se

perpetue a ideia de que os auxílios recebidos pelos discentes é apenas uma ajuda pecuniária.

Vai além disso: é um direito do aluno para se manter estudando na instituição e que é

garantido por lei.

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Perguntamos, ainda, que outros serviços a assistência estudantil do IFCE, campus

Fortaleza, poderia ofertar, além da ajuda financeira.

Além da ajuda financeira? Xérox, livros, algum... é, acho que pode ser livro. Sei lá,

dar um notebook pra cada aluno. [...] Pode ser uma ajuda de material didático. [...]

Eu acho que poderia ter o auxílio didático mesmo, assim, de alguma coisa de

material didático, bônus pra comprar livro. A gente usa muito notebook para digitar

trabalho, então, o notebook, um computador, seria ótimo. Na minha cabeça, só vem

isso, agora (João, 28 anos, recebe o auxílio-transporte).

Não suporta, não suporta, não tá qualificado (o serviço médico do IFCE), pra mim,

no meu caso, não tá qualificado. Não dá assistência. Eu já procurei uma vez e não

obtive resultado suficiente. Demorou muito para ser atendido e, aí, já não precisava

mais. Quando eu fui atendido, já não precisava mais. [...] Eu acho que poderia ser

melhor ou então aumentar a quantidade de médicos [...] (Miguel, 20 anos, recebe o

auxílio-transporte).

Acho que um acompanhamento familiar, eu acho, acho que sim, porque nunca se

sabe o que se passa na casa de um aluno, um ambiente familiar, isso influencia, eu

acho, no escolar, no acadêmico (Eduardo, 19 anos, recebe o auxílio-transporte e

alimentação).

Uma forma de unir as empresas pra facilitar o aluno com... ser uma espécie de

intermediário, o Instituto, com as empresas pra facilitar que os alunos consigam

estágio, porque eu acho que tá faltando isso aqui, no meu curso, principalmente.

Tem vários estágios pra estradas, pra edificações, mas pro meu curso, assim, mais

especificamente, não tem (seu curso é saneamento ambiental) (Cristiano, 24 anos,

recebe o auxílio-transporte).

Bom, eles já ofertam todas as áreas: moradia, transporte, refeição, aí óculos, né, o

que eles poderiam tá fazendo era o RU (restaurante universitária) que, como tem na

UFC, era pra ter aqui, aqui também tem muita gente que fica o dia todo, Aí,

dependendo só do auxílio-refeição, não dá certo, não. Tem que ter o almoço aqui pra

gente (Mateus, 20 anos, recebe o auxílio-transporte).

Acho que eles já têm várias formas de auxílios, eu sei que também tem que ir além

do financeiro, mas, assim, às vezes, não tem médico lá, entendeu? Quando a gente

precisa. Teve até um caso que teve um probleminha, uma amiga minha teve um

probleminha, [...] o médico não tava presente. Muitas vezes, quando gente chega lá,

[...] eles não tão presentes, eu sinto um pouco receio disso, de algum dia precisar,

porque, laboratório, assim, não tem como ter auxílio nele, ter o auxílio médico lá

(Gabriela, 23 anos, recebe o auxílio-transporte).

A Coordenação de Saúde do IFCE, campus Fortaleza, composta por quatro médicos,

cinco dentistas, um enfermeiro, um auxiliar de enfermagem e dois auxiliares de saúde bucal

terceirizados, tem como intuito atender os servidores e os alunos. Todavia, nota-se, pelo

depoimento dos estudantes, a dificuldade que sentem ao necessitarem de atendimento médico.

Com os dados fornecidos pela referida coordenação, fizemos um levantamento da quantidade

de alunos atendidos pelos médicos desde o ano de 2010, ano em que surgiu o PNAES, e

percebemos um aumento, a cada ano, de tais atendimentos. Mas é fato que a instituição possui

muitos alunos (7.000 alunos) para poucos profissionais de saúde.

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No ano de 2010, foram 2.095 alunos atendidos pelo serviço médico e de enfermagem;

em 2011, foram 2.163 atendimentos; em 2012, os atendimentos aos alunos foram de 6.301,

somando com o atendimento odontológico. Em relação ao ano de 2012, não foi possível à

Coordenação de Saúde oferecer os atendimentos médicos separados dos atendimentos

odontológicos, pois somente foi encontrado o documento que continha o somatório desses

dois atendimentos. Isso aconteceu também em 2013: os atendimentos médico e odontológico,

juntos, contabilizaram 6.686 atendimentos. Em 2014, ocorreram 3.482 atendimentos médicos

e de enfermagem junto aos alunos. Em 2014, a odontologia atendeu 1.681 alunos.

O restaurante estudantil, necessidade citada por um dos alunos entrevistados e

exigência há longa data dos discentes do IFCE, campus Fortaleza, iniciou sua construção no

ano de 2013. O restaurante, que possuirá um espaço de quase 1.000 m², prevê comportar 188

estudantes sentados, com funcionamento de segunda a sexta, promovendo o fornecimento de

2.000 refeições por dia, acompanhado por nutricionistas, com o objetivo de ofertar comida

saudável e balanceada. Outrossim, o local disporá de cozinha, banheiros, vestiários, dentre

outras coisas.13

Indagamos que outras necessidades precisariam ser atendidas para se manterem no

IFCE, campus Fortaleza, como estudantes.

Eu acho que o auxílio já ajuda, o auxílio-transporte para eu vir, que para vir que é

mais complicado, por causa do translado, de passagem de ônibus, e o auxílio-

alimentação também já ajuda, porque pra vir e para estar, né, pra ter a grana pra

ficara aqui, o dia todo, pra comer, pra alimentar bem. Eu acho que o auxílio é bom,

né, porque age nesse sentido. Poderia ser maior, não sei, o valor maior, talvez, não

sei. Que como eu já falei da outra vez, o auxílio é, realmente, um auxílio. Então, é

uma ajuda, uma ajuda de custos. Eu acho que já dá pra, no meu caso, né, não sei de

outros alunos, pra vir, pra estar aqui, a passagem de ônibus, e o alimentação (João,

28 anos, recebe o auxílio-transporte).

Acho que não tem nenhuma a mais não [...], acho que do jeito que eu tô indo no

curso, dá pra me manter no curso normalmente, frequentando (Inácio, 19 anos,

recebe auxílio-transporte).

Não, não precisa nada, não, só o transporte e refeição mesmo, porque eu passo o dia

todinho aqui, pronto (Mateus, 20 anos, recebe auxílio-transporte).

Eu acho que poderia melhorar o sistema de estágio. Porque, aqui, nessa instituição,

tá muito fraco. A gente procura e sempre diz que não existe, que é difícil. A gente

vai no site, tem até um cadastro que você faz pra você receber oferta de estágio e

nunca apareceu, tô aqui há 2 anos e meio e até hoje nunca recebi uma oferta de

estágio pela instituição, nunca recebi, já recebi por fora. [...] Aqui, do IFCE, nunca

apareceu. De fora aparece, mas, daqui mesmo, já fui lá pedir, diz que não existe, que

13

Disponível em: http://www.fortaleza.ifce.edu.br/index.php/3-noticias/outras-noticias/1277-concluido-projeto-

para-construcao-do-re-restaurante-estudantil-sera-instalado-nas-dependencias-do-campus-de-fortaleza. Acesso

em: 5 jan. 2015.

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é difícil, e eu acho que dá para melhorar isso (Miguel, 20 anos, recebe o auxílio-

transporte).

Os alunos acreditam que suas necessidades básicas (transporte e alimentação) são

contempladas pelos auxílios ofertados pela assistência estudantil. Esses dois auxílios são os

mais requisitados pelos alunos, pois, além de o IFCE tentar sempre garantir verba para eles,

são essenciais, segundo a diretora de gestão orçamentária do IFCE, para a permanência dos

discentes na instituição. Há semestres em que não é possível a oferta dos auxílios moradia e

óculos, por exemplo, mas o IFCE, campus Fortaleza, nunca deixa de ofertar esses dois

auxílios.

Quando perguntados se, porventura, conheciam algum aluno que perdeu o auxílio da

assistência estudantil, tendo, assim, de sair da instituição e consequentemente não concluir o

curso, a maioria respondeu que não, sendo apenas dois alunos que tiveram respostas

diferentes.

Não... tinha um aluno do meu curso, ele saiu, mas eu acho que ele não tava mais

recebendo o auxílio, foi cancelado... eu acho que nem tinha sido aprovado, eu acho.

Saiu, ele não tá mais. Teve que trabalhar e expediente o dia todo, não tá indo mais

(Eduardo, 19 anos, recebe o auxílio-transporte e alimentação).

Não, não, eu não conheço, realmente, eu não conheço. Eu conheço um que tem o

auxílio pais e mães, mas ele vem frequentando, acho que ele... não é querendo falar

mal dele não, acho que ele tá vindo só pra receber o auxílio. Porque vem [...] só o

necessário pra passar numa cadeira, que ele tá fazendo só uma cadeira por semestre,

ele vem só pra fazer e pronto, ganha o dinheiro, porque tá vindo. Porque, se você for

reprovado, você perde o auxílio. Aí, eu acho, eu não tô... [...] mas acho que essa

pessoa tá praticando dessa forma. Eu acho que ela tá vindo só pra receber o auxílio

(Miguel, 20 anos, recebe o auxílio-transporte).

Desse modo, pudemos perceber, pela fala dos alunos, que poucos alunos são privados

dos auxílios ofertados pela assistência estudantil do IFCE, campus Fortaleza. Enfim, é

pequeno o número de alunos que fica sem os auxílios da assistência estudantil, mesmo a

demanda sendo maior do que a verba ofertada para esta política. Pudemos confirmar tal

suposição conforme dados abaixo obtidos do Serviço Social do IFCE, campus Fortaleza.

No ano de 2014, houve 1.206 alunos do ensino superior requerentes dos auxílios

transporte, alimentação, moradia, óculos e discentes pais e mães, sendo 1.182 discentes

atendidos. Ou seja, apenas 24 alunos do ensino superior do IFCE, campus Fortaleza, não

foram contemplados, ou por não estarem dentro dos critérios para inserção na assistência

estudantil, pela ausência de documentos exigidos para a seleção ou pela falta de verba.

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As despesas com a assistência estudantil também aumentaram. Com dados obtidos

pelo Departamento de Planejamento, Orçamento e Gestão (DPOG) do IFCE, soubemos que,

no período de 2010 a 2014 (tendo o ano de 2010, ano de implementação do PNAES, como

partida para sabermos se houve um aumento significativo com a assistência estudantil na

instituição), foram gastos R$ 990.952,88 com a assistência estudantil no campus Fortaleza,

sendo R$ 972.989,32 voltados para o auxílio financeiro aos estudantes (auxílio-óculos,

transporte, alimentação, bolsas etc.) e R$ 17.963,56 com merenda escolar, que é ofertada pelo

IFCE, campus Fortaleza, todos os dias, nos três turnos.

Em 2011, foram gastos R$ 1.890.575,67 com auxílio financeiro aos estudantes e R$

51.570,96 com merenda escolar, totalizando R$ 1.942.146,63.

Em 2012, também houve um crescimento bem expressivo, inclusive em outras áreas

voltadas para atender o estudante: R$ 2.461.543,63 foram gastos com auxílio financeiro a

estudantes; R$ 7.520,80 com merenda escolar; R$ 31.320,00 com monitoria e R$ 8.850,00

com material de consumo, totalizando R$ 2.509.234,43.

Em 2013, foram gastos R$ 3.006.670,45 com auxílio financeiro aos estudantes, R$

48.914,53 com merenda escolar; R$ 41.027,00 com monitoria, sendo um total de R$

3.096.611,98 (vide anexos).

Em 2014, os valores gastos com a assistência estudantil do IFCE foram de R$

3.158.750,22.

Por fim, indagamos aos discentes se eles achavam que o auxílio que recebiam hoje

garantiria o término de seus estudos no IFCE, campus Fortaleza.

Não, como eu falei da outra vez, eu tenho ajuda da família, da minha mãe,

principalmente, e o auxílio é só um auxílio. Eu não vim pra cá esperando que ele

possa garantir a minha permanência ou a minha vinda. Eu não estou aqui, no

Instituto, pensando que o auxílio vai garantir que eu permaneça até o fim, não. Não,

não vai impedir, porque eu tenho outros meios. [...] Pra mim, pra mim pessoalmente,

eu tenho ajuda dos meus irmãos, dos meus tios, aí eu posso estar aqui, sem ter o

auxílio. O auxílio me auxilia realmente, é só uma ajuda. Não é uma garantia, eu não

venho pra cá, eu não penso que eu só venho se tiver o auxílio, não, eu posso vir de

outra forma (João, 28 anos, recebe o auxílio-transporte).

Sim, com relação, eu tenho, porque eu sei que... ele é seguro, embora ele seja

demorado, ele me ajuda bastante com a questão, questão de alimentação, eu sei que

ele me ajuda. Não é... eu já lhe falei, tô lhe falando agora, ele não é periódico, é

assim, acontece, passa 3 meses sem dar, e, quando vem, vem o retrógrado de todos

os 3 meses, mas ele ajuda, ele ajuda. Eu sei que ele vai me ajudar bastante até o final

do meu curso (Miguel, 20 anos, recebe o auxílio-transporte).

É, dá para ajudar, né, não é essas coisas todas, mas, também, não é nada, entendeu?

Ele ajuda em alguma coisa. O ruim mesmo é porque demora. Demora, porque, tipo,

agora saiu o nosso tudinho, de uma vez. [...] Aí, é meio ruim, é meio chato isso, a

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gente não sabe como é que vai vir, quanto vai vir, entendeu? (Mateus, 20 anos,

recebe o auxílio-transporte).

Se eu dependesse do auxílio, se eu dependesse somente do auxílio pra poder vir

aqui, eu acho que não, porque, no caso, o aluno só recebe, se eu não me engano, de

dois em dois meses, você não recebe, assim, por mês e mês, você tem que ficar

esperando sair. Então, eu acho que isso é uma falha, né? (Cristiano, 24 anos, recebe

o auxílio-transporte).

O auxílio garante que eles permaneçam na instituição até à conclusão do curso –

todavia, ele passaria uma segurança maior ao discente caso fosse pago em dia. Na entrevista

que realizamos com a diretora de assuntos estudantis e com a diretora de gestão e orçamento,

chegamos a perguntar o porquê do atraso na entrega do dinheiro. Uma delas respondeu que

era devido a uma mudança, que estava acontecendo desde outubro de 2013, no repasse

financeiro do governo federal.

Segundo a diretora de gestão e orçamento, até outubro do referido ano, o repasse era

realizado todas as terças e sextas-feiras. Posteriormente, passou a ser uma vez por semana;

depois, de 15 em 15 dias e, finalmente, de janeiro de 2014 até hoje, uma vez por mês, sendo

prioridade o pagamento de servidores para garantir a continuação dos serviços prestados.

Logo após o pagamento do salário dos servidores, acontece o pagamento dos alunos que estão

inseridos na assistência estudantil.

Outra situação que pode ter contribuído para o atraso do dinheiro dos auxílios, de

acordo com referida diretora, seria a não chegada de todo o dinheiro do Governo Federal para

atender os discentes da assistência estudantil. Para entendermos isso, ela nos deu o seguinte

exemplo: o IFCE necessitava de 100 mil reais para atender todos os alunos bolsistas; todavia,

era feito o repasse de apenas 80 mil reais. Então, sendo assim, cada campus decide quais

serviços da assistência estudantil serão prioridade. Se somente é possível ofertar alguns

auxílios para moradia, hipoteticamente, isso gera um problema para o campus. Então, ou se

paga todos os pedidos de auxílio-moradia, por exemplo, ou se atende às bolsas de trabalho.

Sendo assim, como não havia vindo verba suficiente para atender toda a demanda,

definem-se quais auxílios são prioridade. Para ela, é imprescindível, para o IFCE, campus

Fortaleza, manter a merenda escolar e o auxílio-transporte, já que a finalidade da assistência

estudantil é permitir o acesso do aluno à instituição e garantir sua frequência. Então, auxílios

como o auxílio-transporte e a merenda escolar, para ela, são essenciais, podendo os outros

aguardarem o momento em que haverá mais verbas para serem posteriormente garantidos.

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4.3 A organização política dos discentes frente às problemáticas da assistência estudantil

Na entrevista que realizamos com os três alunos que pertencem ao movimento

estudantil do IFCE, campus Fortaleza, perguntamos se tal movimento procurou saber o

porquê dos atrasos do pagamento dos auxílios da assistência estudantil.

A gente procurou, a gente conversou com os estudantes, né, passamos em sala,

conversamos e perguntamos, também, por quais as dificuldades que eles estavam

passando devido a esses atrasos, né? Porque, assim, estudante, aqui, no IFCE, hoje,

por dia, ele gasta, em média, de 10 reais por dia, né? Pra pagar almoço, tem gente

que vem de Maracanaú, e a assistência, ela serve basicamente pra isso, não supre,

geralmente, toda essa demanda, né? [...] Aí, hoje é... hoje, a assistência estudantil

ajuda, mas não supre todas as necessidades do estudante (Tibério, 17 anos).

Sim, houve uma reunião [...] com algumas pessoas do DCE, juntamente com o

pessoal do Serviço Social pra ter esclarecimento, e eu participei também. É, foi

proveitoso, até porque, assim, por exemplo, eu estudo aqui há dez anos, [...], mas,

assim, nunca vi, nunca tinha visto um diálogo aberto, tanto que foi um diálogo que

não foi uma coisa totalmente fechada, não foi uma coisa fechada no sentido de

burocratizar, tipo, num espaço, num território, não, foi divulgado, né, e no pátio

mesmo, foi bem resolvido, às claras, entendeu? Foi bem tranquilo (Leandro, 25

anos).

Desde o primeiro momento, né, que a gente soube que os auxílios estavam

atrasados, nesse primeiro mês, porque, teoricamente, o auxílio sempre sai,

principalmente, no começo do ano [...]. Mas esse semestre, especificamente, atrasou

bastante, a gente foi várias vezes ao Serviço Social, conversou com a Coordenação

de Assuntos Estudantis, né, que é a CAE, e ninguém sabia explicar por quê. Diziam

que o problema era no repasse do governo federal, mas essa discussão não avançava,

não sabia exatamente quando esse repasse seria feito, né, então, desde o início, a

gente sabia, tinha essas informações que tava atrasado (Daniele, 20 anos).

O movimento estudantil do IFCE, campus Fortaleza, procura se manter informado

para atender às indagações dos alunos sobre os problemas referentes à assistência estudantil.

O diálogo com o Serviço Social, que é o setor que está na “ponta”, atendendo aos alunos, é

aberto, mas as informações que chegam a eles são limitadas, incertas, devido o problema de

não ter sido relatado de forma correta, ao Serviço Social, o que realmente estava acontecendo

em relação ao atraso dos auxílios.

Mediante conversa com uma das diretoras ligadas à assistência estudantil, soubemos

que o problema não era devido ao atraso em si do dinheiro, mas sim à mudança que ocorrera

nas datas de repasse de verba do governo para o IFCE.

A segunda pergunta foi referente à pressão que o movimento estudantil vem fazendo

sobre assistência estudantil.

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A gente tem uma relação bem (com o Serviço Social), geralmente amigável, né, a

gente tenta dialogar com ambas as partes, mas, a partir do momento que os

estudantes entram com essa problemática, a gente tenta o máximo possível dialogar,

né? Não, vamo fazer uma nota, buscar o Serviço Social para pegar dados, construir

essa nota pra passar pros estudantes. A partir do momento que a gente convoca uma

plenária, os estudantes decidem, ah, não, vamo marcar uma reunião pra pressionar

mesmo, pra que a assistência (o dinheiro dos auxílios) seja depositada. [...] Tudo

depende muito do que os estudantes querem (Tibério, 17 anos).

Pelo menos, eu vejo sempre a galerinha do DCE indo atrás de comunicar, ver quem

é o responsável, quais são os tipos de auxílios, tanto que, nessa reunião, foram

esclarecidos, porque alguns alunos já sabiam, mas a maioria ainda não sabe, foram

esclarecidos, tipo, a existência de onze auxílios, né? Que muitos não são entregues,

não são proporcionados aos estudantes, porque o argumento é de que faltam

recursos. Então, assim, a pressão é ir atrás, tentar esclarecer e tentar divulgar, né,

porque nem todo mundo sabe sobre a existência dos auxílios. A pressão é pela

divulgação (Leandro, 25 anos).

Assim, a gente, a priori, né, convidou os bolsistas pra uma conversa, né, que

trabalham cotidianamente. Eles têm sofrido mais esse impacto de quando atrasa os

auxílios. A gente convidou para conversar, mas foi exatamente na semana passada,

em que a primeira parcela da bolsa saiu. Então, isso esfriou um pouco, mas a gente

procurou conversar com os bolsistas pra tentar entender o que estavam achando, o

que a gente poderia fazer junto em relação a esse atraso, né? E, posteriormente, a

gente fez uma plenária também (26/05/14), com os estudantes, pra discutir o atraso

dos auxílios, até o Serviço Social também pra esclarecer um pouco, saber por que

esse auxílio demorou tanto pra sair, né? (Daniele, 20 anos).

A pressão realizada pelo movimento estudantil se concretiza mediante conversas com

o Serviço Social, pedidos de reuniões para que possam esclarecer aos estudantes o porquê do

atraso dos auxílios, das bolsas, a quantidade de auxílios existentes (que não se resume

somente aos auxílios de transporte e alimentação) e sobre como está o andamento dos

auxílios, se foram ofertados, em determinado semestre, poucos ou muitos auxílios etc. Enfim,

o movimento estudantil procura se fazer presente munindo-se de informações sobre como

anda a assistência estudantil do IFCE, campus Fortaleza, para que possa se organizar com os

outros estudantes da instituição e propor melhorias para a assistência estudantil.

Indagamos, ainda, quais as discussões sobre a assistência estudantil que o movimento

estudantil traz à tona, nesses quatro anos de implementação do PNAES.

[...] A gente vê que os estudantes, eles veem que houve uma mudança, mas que essa

mudança não supre as necessidades deles. Como eu te disse, que a assistência

estudantil não supre a carência deles, né? [...] Teve um certo avanço, houve, os

estudantes até reconhecem, a gente, enquanto entidade, reconhece, mas ainda falta

bastante. Hoje, a gente tem onze modalidades, estatutariamente, de assistência

estudantil, mas só são ofertadas, no máximo, [...] só cinco, que é alimentação,

transporte, moradia, discentes pais e mães e óculos. E, ainda assim, não supre a

carência (Tibério, 17 anos).

É porque, assim, [...] existia uma cultura de ter, por parte da direção, quando os

alunos ingressavam aqui dentro, existia a divulgação da assistência médica, da

questão do dentista, era muito bem divulgado e eu acho que, com o tempo, após esse

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critério de expansão, de modificação pra Instituto Federal, isso não é tão divulgado,

também, quanto antes. Parece que a instituição perdeu o interesse de divulgar o que

os alunos têm direito, né? Então, assim, é muito fácil você divulgar pros alunos a

questão de que eles vão receber um certo dinheiro e não tem interesse, que também

[...] é prioridade [...], como saúde, como a questão dentária, e aqui, praticamente, as

pessoas não tão procurando mais quanto antes. A gente chega ali no setor médico,

praticamente, não tem ninguém sendo atendido [...] (Leandro, 25 anos).

[...] Pra gente, o gargalo, hoje, da assistência estudantil, dentro do IFCE, é porque

não tem políticas específicas, né? Por exemplo, não tem residência, não tem

restaurante, uma coisa que facilitaria muito, porque são bens que se mantêm. Mesmo

com a assistência estudantil, quando ela se reduz, esses bens se mantêm, porque o

prédio, especificamente, já está lá, o gasto com, nos casos, os restaurantes, com

alimentação, é menor, porque você não paga o almoço pro estudante, você paga pra

toda a comunidade acadêmica, né, com valor específico, já tendo prédio, já tendo

estrutura física, já tendo trabalhadores lá. Então, pra gente, são coisas que, assim, na

instituição, estão faltando, né, então, a gente acha que o PNAES, ele consegue

favorecer algumas, mas a instituição não consegue implementar a política de

assistência estudantil de forma tão ampla como nós gostaríamos (Daniele, 20 anos).

Pelas falas apresentadas, vemos que os discentes questionam o fato de o IFCE

apresentar onze modalidades de auxílios ao estudante, como: auxílio-transporte, auxílio-

alimentação, auxílio-moradia, auxílio-óculos, auxílio-EJA, auxílio-acadêmico, auxílio para

visitas e viagens técnicas, auxilio-didático-pedagógico, auxílio para discentes mães/pais,

auxílio-apoio à cultura e auxílio-embarque internacional (sendo estes dois últimos inclusos

pelo novo Regulamento da Assistência Estudantil do IFCE, Resolução nº 008, de março de

2014), e não conseguir ofertar todos eles.

Os valores atualizados dos auxílios da assistência estudantil, estabelecidos de acordo

com a nova resolução, são apontados, a seguir, na tabela 4:

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Tabela 4 – Valores dos auxílios para discentes de acordo com a nova Resolução da

Assistência Estudantil do IFCE, de março de 2014.

Fonte: Dados gentilmente cedidos pela assistente social do campus Aracati, Flávia Régia Holanda.

A incidência maior dos auxílios moradia, alimentação, transporte e óculos está ligada à

procura maior dos alunos por esses auxílios, já que eles permitirão que o aluno permaneça na

instituição. A própria diretora de gestão orçamentária relatou que, para a assistência

estudantil, os auxílios transporte e alimentação são os mais importantes, que garantirão, de

fato, que o aluno conclua seus estudos. Os serviços médicos e odontológicos também são

considerados importantes, pelo aluno Leandro, para que a assistência estudantil seja completa,

não devendo apenas os auxílios ganharem atenção do IFCE em detrimento desses serviços.

Tais serviços não deixam de ser ofertados e a busca por eles é contínua, aumentando a

cada ano, como mostrado anteriormente – mas, para que todos os alunos pudessem ser

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atendidos, o IFCE, campus Fortaleza, deveria ampliar o número de profissionais da saúde,

como médicos, odontólogos, enfermeiros. Hoje, a Coordenação de Saúde conta uma equipe

pequena para atender cerca de 7.000 alunos.

Se porventura fosse aumentado o número de profissionais da Coordenação de Saúde,

consequentemente o espaço onde trabalham também precisaria ser reestruturado, que

apresenta o mesmo problema do Serviço Social: espaço físico reduzido para o trabalho. Está

aí, talvez, o fato de a instituição focar mais nos auxílios da assistência estudantil: não há

profissionais suficientes para atender toda a demanda.

Em relação ao restaurante universitário – uma das exigências do movimento estudantil

que há muito tempo é solicitada –, ele já está sendo construído pelo campus Fortaleza.

Todavia, com a construção do restaurante, segundo o diretor de extensão e relações

empresariais, Gilmar Lopes Ribeiro, no I Encontro de Assistência Estudantil do IFCE,

realizado no campus Fortaleza em fevereiro de 2011, os três lanches ofertados por dia aos

alunos, na instituição, iriam acabar. Ainda não há previsão de término na construção desse

restaurante, mas consideramos que foi um grande ganho para a assistência estudantil, já que

atenderão não somente os alunos do ensino superior, mas toda a comunidade acadêmica.

Outrossim, perguntamos se havia um diálogo entre o movimento estudantil e os

profissionais que estão à frente da assistência estudantil.

Pronto, assim, existir, existe, mas, geralmente, o que a gente leva dos estudantes,

eles (os profissionais que estão à frente da assistência estudantil) não põem muito

em prática, né? [...] Acho assim que, às vezes, eles nos escutam, mas eles não põem

em prática hoje em dia, na atual conjuntura. Porque a gente já deu várias propostas,

né, de como [...] colocar critérios pra assistência estudantil, eles não colocam. [...] A

gente vê, tem aluno que vem pra cá, gasta o dinheiro da passagem, do almoço para

pagar passagem e não almoça. É como eu já vi vários casos, até mesmo na minha

turma. Por isso, é complicado, a gente tenta dar essas ideias, mas a instituição não

escuta, às vezes, na maioria das vezes (Tibério, 17 anos).

A única vez, em 10 anos, como estudante da casa, vi apenas uma oportunidade de

diálogo que ocorreu após os problemas de atraso nos auxílios ocorrido no semestre

2013.2, onde o DCE entrou em contato com o Serviço Social para que fosse feita

uma roda de conversa aberta aos estudantes, no pátio do IFCE, que também

participei, para saber quais as justificativas do atraso. Além dessa temática, a

conversa tomou-se outros rumos, como as novas modalidades de auxílios, a reflexão

do como poderíamos resolver os problemas, a nova abordagem do Serviço Social

para melhorar a assistência. [...] Para que haja uma maior frequência do diálogo,

deveria existir uma espécie de pesquisa feita pelo Serviço Social sobre o que

acontece (Leandro, 25 anos).

[...] No final de 2012, houve um grande encontro do Serviço Social junto com o

movimento estudantil para construir uma proposta de regulamento interno sobre a

assistência estudantil, inclusive, na época, a gente participou na construção [...] .

Infelizmente, a proposta de regulamento que nós construímos não foi aprovada da

maneira como foi construída inicialmente. [...] Então, assim, a gente tem um bom

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diálogo, um excelente diálogo, eu diria, com as assistentes sociais, com o Serviço

Social dos campi (Daniele, 20 anos).

O movimento estudantil do IFCE, campus Fortaleza, tem conseguido ser um canal

muito importante de diálogo entre os estudantes que estão na assistência estudantil e os

profissionais que estão à frente dessa política, principalmente o Serviço Social, que é quem

tem se mostrado mais próximo e familiarizado aos problemas levantados pelo DCE.

Quando se fala a quem os discentes recorrem para conversar sobre os impasses da

assistência estudantil, as profissionais do Serviço Social logo são citadas. Elas, inclusive,

constroem, juntamente com o movimento estudantil, espaços de debates que estão indo além

do campus da capital, atingindo também alunos que são da assistência estudantil dos campi do

interior, mediante o Fórum da Assistência Estudantil, sendo o primeiro fórum interno no

campus Aracati, no dia 4 de junho de 2014. O DCE se fez presente em uma das mesas e

discutiu sobre assistência estudantil e luta por direitos.

Enfim, há entre os alunos do movimento estudantil e o Serviço Social uma boa

interação que permite que canais de diálogos sejam construídos para que possam ser

discutidas melhorias para a assistência estudantil, ainda que haja opiniões divergentes, como a

do aluno Tibério, que acredita que “eles escutam as opiniões, mas não as põem em prática”.

Para Tibério, seria relevante, para a assistência estudantil do campus, a utilização de

outros critérios para a escolha dos alunos que farão parte da assistência estudantil, como o

aumento do valor do auxílio daqueles alunos que moram na Região Metropolitana de

Fortaleza (os quais teriam prioridade na assistência estudantil, segundo Tibério) e que os pais

não tivessem condições econômicas suficientes para mantê-los estudando.

Mas, apesar de algumas falhas na assistência estudantil, como a não implementação

das onze modalidades de auxílio no campus, devido à ênfase que é dada àquelas modalidades

de auxílios que são mais procuradas pelos estudantes (como auxílio-transporte e alimentação),

aconteceram melhorias na condução da assistência estudantil, pois, mediante os relatos de

Daniele, soubemos que os alunos participaram da construção do novo regulamento da

assistência estudantil; os valores dos auxílios foram reajustados de acordo com o salário-

mínimo; o aluno, que possui Bolsa Formação e tem aula o dia todo, por exemplo, caso não

possa trabalhar as 16 horas semanais, poderá trabalhar 12 horas e, mesmo que não consiga

contribuir com essas 12 horas semanais de trabalho, poderá trabalhar a quantidade de horas

que dispuser.

Por fim, perguntamos quais eram as exigências que o DCE possui em relação à

assistência estudantil e se elas estavam sendo atendidas.

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O ápice mesmo, que a gente cobra, é que os alunos sejam respeitados, né, que a

instituição respeite, digamos, que o campus respeite mesmo o compromisso que ele

assumiu com os estudantes, né? Porque, assim, esse semestre, a gente viu que a

gente teve um atraso inaceitável [...]. Então, nosso ápice mesmo é que a instituição

honre o compromisso com os estudantes, porque, se não fossem os estudantes, o

campus não seria campus, não seria instituição de ensino. Eu acho que é

basicamente isso, no geral (Tibério, 17 anos).

Que os auxílios, realmente, eles sejam entregues, sejam divulgados e entregues,

porque é um direito dos estudantes. [...] As exigências estão sendo atendidas em

parte, né, vamo dar a César o que é de César, em parte, em relação que, como eu

falei no começo, que eles julgam ser prioridade, né, como alimentação, transporte,

óculos, quem é mãe, quem tem moradia, mora no interior, mas, assim, é importante,

também, que o que seja de direito seja divulgado, [...] tem que intensificar mais,

acho que devia ter um plano estratégico de divulgação, porque eu acho que é onde

peca, entendeu? (Leandro, 25 anos).

Sem dúvida, o restaurante, porque aqui, é o maior campus, tem maior número de

estudantes, então são 6.000 estudantes e, com o restaurante, com certeza, a gente

conseguiria contemplar muito mais do que o auxílio-alimentação contempla hoje.

Então, é uma das grandes lutas, né, é o restaurante. [...] Precisaria ter profissionais,

também, que conseguissem conversar com esses estudantes, né? Psicólogo. Tanto

que, hoje, estudantes ficam na fila pra tentar uma consulta com a psicóloga e não

consegue, que a demanda é muito grande e não tem profissionais suficientes. Eu

acho que o número de profissionais pra garantir o atendimento a esses estudantes,

pra que o Serviço Social não se torne apenas um espaço pra dizer se dá ou não o

auxílio, mas seja um espaço completo, que os estudantes possam, realmente,

conversar com os profissionais, ter um atendimento mesmo, porque aqui tem muito

adolescente, né, precisa de acompanhamento psicológico, psicopedagógico, e a

questão do restaurante para gente, também, é central (Daniele, 20 anos).

Em relação aos atendimentos da psicologia do IFCE, campus Fortaleza, estes são

poucos em relação ao universo de alunos da instituição (7.000 alunos), devido à existência de

apenas dois psicólogos para atender toda a demanda. O psicólogo é um profissional

importante na assistência estudantil, como citado por Daniele, pela aluna Vera e pela

assistente social Débora, pois são muitos os alunos que procuram esse profissional, os quais,

muitas vezes, não conseguem ser atendidos, conforme relatado pro Daniele.

De acordo com Coordenação de Psicologia do IFCE, campus Fortaleza, de 2010 (ano

de surgimento do PNAES) até 2014, foi realizado um total de 898 atendimentos psicológicos,

dentre outras ações voltadas para os alunos e as suas famílias, bem como ações

interdisciplinares voltadas para evitar evasão e exclusão social. Em 2010, especificamente,

foram realizados 158 atendimentos; em 2011, 240 atendimentos psicológicos e uma visita

domiciliar; em 2012, 236 atendimentos psicológicos, uma mediação de conflitos; em 2013,

232 atendimentos psicológicos, quatro mediações de conflitos, quatro encaminhamentos,

facilitação de grupo de orientação profissional e 18 visitas domiciliares; e, finalmente, em

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2014, 272 atendimentos psicológicos, duas mediações de conflito, sete encaminhamentos e

duas visitas domiciliares (vide anexos).

Percebemos que é um número pequeno de atendimentos psicológicos comparado ao

grande universo de alunos da instituição. Tal problema só seria sanado com mais profissionais

da psicologia voltados para o atendimento aos alunos, porém, assim como o serviço social do

campus, a psicologia também enfrenta o problema de funcionar num espaço pequeno, sendo

impossível, dessa forma, dispor de mais profissionais dessa área.

Nota-se que os atendimentos médicos, odontológicos e psicológicos são voltados a

todos os alunos do IFCE, campus Fortaleza; ou seja, eles não precisam estar de acordo com

critérios pré-estabelecidos pra terem acesso a esses serviços. Nessa situação, a política de

assistência estudantil da instituição possui um caráter universal. “Do ponto de vista ético,

defensores de políticas universais argumentam que tais políticas nos reuniriam, a todos, numa

mesma comunidade de iguais em termos de direitos sociais de cidadania [...]”

(KERSTENETZKY, 2006, p. 576).

Considerando os auxílios, que são direcionados a determinados alunos, àqueles que

estão em vulnerabilidade social e que, portanto, precisam do suporte financeiro para

permanecer estudando, tem-se uma ação focalizadora da política de assistência estudantil, no

sentido de

ação reparatória, necessária para restituir a grupos sociais o acesso efetivo a direitos

universais formalmente iguais – acesso que teria sido perdido como resultado de

injustiças passadas, em virtude, por exemplo, de desiguais oportunidades de

realização de gerações passadas que se transmitiram às presentes na perpetuação da

desigualdade de recursos e capacidades. Sem a ação/política/programa, focalizados

nesses grupos, aqueles direitos são letra morta ou se cumprirão apenas em um

horizonte temporal muito distante. Em certo sentido, essas ações complementariam

políticas públicas universais justificadas por uma noção de direitos sociais, como,

por exemplo, educação e saúde universais, afeiçoando-se à sua lógica, na medida em

que diminuiriam as distâncias que normalmente tornam irrealizável a noção de

igualdade de oportunidades embutida nesses direitos (KERSTENETZKY, 2006, p.

576).

Portanto, aqui, duas facetas da assistência estudantil do IFCE, campus Fortaleza:

universalização da assistência estudantil, no sentido de abranger a todos os alunos da

instituição, mediante a merenda escolar e os atendimentos médicos, odontológicos,

psicológicos e de enfermagem; e a focalização dos auxílios discentes para o universo de

alunos que precisam desses auxílios para continuar estudando.

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4.4 Discussões da institucionalidade: quando o compromisso com a política supera

obstáculos

Na entrevista que realizamos com as quatro assistentes sociais do Serviço Social do

IFCE, campus Fortaleza, também utilizamos nomes fictícios, escolhidos aleatoriamente, para

preservar a identidade das profissionais. A primeira pergunta foi referente às ações que eram

realizadas, atualmente, pela assistência estudantil do IFCE, campus Fortaleza.

A Coordenadoria de Serviço Social [...] desenvolve diretamente alguns programas,

né, vinculados à assistência estudantil, que é o Programa Bolsa de Trabalho. [...] O

Serviço Social acompanha os auxílios... não só acompanhar, desenvolve tudo em

relação aos auxílios. Auxílios, quais são os auxílios? Auxílio-transporte, auxílio-

alimentação, auxílio discente pai e mãe, auxílio-moradia e auxílio-óculos. [...]

Então, o Serviço Social atua com esses auxílios, mas o IFCE, campus Fortaleza, tem

outros auxílios que são desenvolvidos pela Direx14

(Assistente Social Fernanda).

Campus Fortaleza envolve todas as ações relacionadas ao atendimento ao usuário,

para que o aluno seja beneficiado através dos auxílios para permanência do mesmo

no IFCE e seu desenvolvimento integral (Assistente Social Débora).

[...] Nós temos a parte de auxílios, bolsas, né, basicamente. Aqui, no Serviço Social,

é operacionalizado os auxílios alimentação, moradia, discente (pai e mãe) e a Bolsa

Formação e a Bolsa Permanência. Os demais auxílios que dizem respeito às viagens

técnicas, apoio didático-pedagógico não são operacionalizados pelo Serviço Social,

bem como a parte de projetos sociais (Assistente Social Cecília).

Soubemos, mediante os relatos das profissionais, que o Serviço Social não é o único

responsável pela assistência estudantil e que esta não se resume somente

à oferta de auxílios. Os auxílios discentes pais/mães, transporte, alimentação, moradia e

óculos estão sob a responsabilidade de tal setor; todavia, os auxílios para visitas e viagens

técnicas, auxílio-acadêmico (ajuda financeira para aluno apresentar trabalho em eventos

científicos) e auxílio-didático-pedagógico (ajuda financeira para a compra de material

necessário ao ensino-aprendizagem) são de responsabilidade da Diretoria de Extensão.

Descobrimos, ainda, mediante entrevistas com as profissionais, o novo regulamento da

assistência estudantil (que foi aprovado pelo Consup e Coldir) e que, com ele, a Bolsa

Trabalho recebeu outra nomeação, passando a se chamar Bolsa Formação. O aluno,

anteriormente, trabalhava 20 horas semanais. A partir do novo regulamento, o discente

trabalha 16 horas semanais, sendo lotado em locais condizentes com seus cursos, havendo um

dia de folga para que possa estudar e realizar suas pesquisas. Para que o aluno possa receber a

Bolsa Formação, precisa ter uma frequência regular e boas notas.

14

Diretoria de Extensão.

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Há, ainda, outra bolsa pertencente à assistência estudantil: a Bolsa Permanência. É um

programa novo, do Governo Federal, voltado para alunos da rede pública federal, que sejam

quilombolas ou que se encontrem em situação de vulnerabilidade socioeconômica. O valor da

bolsa é de R$ 400,00, porém, no IFCE, campus Fortaleza, é destinada a apenas dois cursos da

graduação: mecânica industrial e telemática.

De acordo com uma das assistentes sociais entrevistadas, essa bolsa é ofertada

somente a esses cursos devido à sua carga horária extensa (cinco horas diárias), não sendo,

portanto, outros cursos contemplados, causando muita revolta entre os alunos. A questão do

orçamento não foi ligada à problemática de somente dois cursos oferecerem a Bolsa

Permanência.

Fomos informados, ainda, que o recurso advindo do MEC, para assistência estudantil,

é voltado também para a merenda escolar, inclusive para a Coordenação de Saúde, bem como

para os grupos de teatro, folclore, música (violão, flauta etc.) e coral, sendo as ações de tais

grupos desenvolvidas pela Diretoria de Extensão, da qual o Serviço Social faz parte.

Quando perguntadas sobre os desafios que a assistência estudantil do IFCE, campus

Fortaleza, enfrenta, todas foram unânimes em dizer que os recursos insuficientes ofertados à

referida assistência eram um empecilho para que esta se desenvolvesse melhor.

[...] A questão orçamentária, né, porque, toda política, ela tá muito ligada à

disponibilidade do orçamento. Então, de acordo com o orçamento anual, nós

podemos intensificar ou não as ações (Assistente Social Cecília).

Os desafios são grandes, porque o campus cresceu muito, a demanda é enorme e os

recursos provenientes da assistência estudantil, né, eles não são suficientes para

atender a essa demanda. Então, o assistente social tem que dar seu jeito, [...] para

desenvolver as ações, atendendo aqueles alunos em condições mais vulnerável

possível. Então, o aluno em vulnerabilidade social são os beneficiados, depois a

gente atende as necessidades por renda per capita, mas a necessidade seria maior se

os alunos todos recebessem esse auxílio, porque a maioria necessita (Assistente

Social Débora).

[...] Outro desafio que eu vejo é a questão do recurso [...] da assistência estudantil

que, muitas vezes, não acompanha a demanda. É pouco, a cada semestre aumenta a

demanda e não dá para atender o número de pedidos e o orçamento [...], às vezes,

não acompanha [...]. É o seguinte: o Decreto diz uma coisa, que é um salário-

mínimo e meio per capita, então, em tese, todos, realmente, pra nossa realidade,

realmente, um salário-mínimo e meio, [...] realidade Ceará, é muita gente, contempla

muita gente. Então, o que é que acontece: o aluno, ele cumpre todas as regras, está

dentro dos critérios e ele acaba não contemplado por causa dos recursos. [...]

Quando a gente tem esse cenário de pouco recurso, a gente pega, realmente, as per

capita mais baixas até as mais altas. Então, acaba muita gente de fora, isso gera

problemas com a permanência do estudante [...] (Assistente Social Fernanda).

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Notamos, pelo diálogo das profissionais, que os recursos para a assistência estudantil

ainda são escassos, estando elas obrigadas a selecionarem os alunos “mais necessitados dos

necessitados”. Ainda assim, muitos alunos são contemplados, mas ainda restam aqueles que

não são incluídos na assistência estudantil por uma questão orçamentária. O que porventura

acontece com esses alunos que ficam “de fora” da assistência? Conseguem se manter na

instituição, recorrendo ao trabalho ou à ajuda, mesmo que mínima, da família, ou

simplesmente abandonam os estudos?

Para tentar responder esse questionamento, fomos até a Coordenação de Controle

Acadêmico do IFCE (CCA), campus Fortaleza. Falamos com a coordenadora Maria do

Socorro Teles Félix, e ela nos passou os dados sobre a evasão no IFCE, campus Fortaleza.

Em 2010, 743 alunos não permaneceram na instituição; em 2011, 697 alunos; em

2012, 697 alunos também deixaram o IFCE; em 2013, 609 alunos; e, finalmente, em 2014,

727 alunos. A coordenadora nos relatou que não era possível saber o porquê dessas

desistências, pois não havia o controle, pela CCA, do IFCE, campus Fortaleza, dessas

situações. As causas poderiam ser as mais variadas, segundo a servidora: o aluno poderia ter

passado em outra instituição de ensino superior, poderia ter abandonado o curso etc.

Outros desafios, como a insuficiência de profissionais à frente da assistência estudantil

do IFCE, campus Fortaleza, bem como o pequeno espaço em que encontram para atender os

alunos, foram percebidos por nós anteriormente e citados por aquelas. O baixo valor dos

auxílios e a necessidade da informatização dos dados dos alunos também foram citados como

desafios da supramencionada assistência.

O grande problema que eu vejo é a carência de recursos humanos, o ser humano ele

faz a diferença, [...] outro desafio é os valores que são dados de auxílio, um exemplo,

o auxílio-moradia, quando há carência de recurso, a gente só pode... semestre passado,

só pôde conceder um valor de R$ 150,00 por estudante, então, assim, a gente sabe que

não contempla. [...] O maior desafio da assistência estudantil é a informatização dos

processos, porque, num cenário de carência de recursos humanos, os processos do

Instituto Tecnológico ainda são [...] bem arcaico, ainda muito no papel, se mexe muito

em papel, controle há, mas no computador, no Word, Excel, não existe ainda um

sistema. Porque precisa de um banco de dados, que facilitaria bastante o nosso

trabalho e a qualidade do atendimento, [...] o sistema já tá sendo pensado, mas

demanda tempo (Assistente Social Fernanda).

A carência de profissionais afeta a qualidade da assistência estudantil, pois não é

possível ter um acompanhamento adequado dos alunos que estão inseridos naquela, com o

intuito de verificarem, de forma mais profícua, o porquê de o aluno ter requerido o auxílio, o

que pode estar contribuindo para seu parco rendimento escolar (se for o caso) etc. Enfim, não

é possível ter um conhecimento mais integral e minucioso desse discente, pois existem apenas

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seis assistentes sociais, que se encontram sobrecarregadas com o trabalho, para atender mais

de 2.000 alunos que são assistidos pela assistência estudantil (nesse número de discentes,

estão inclusos os alunos do ensino médio que também são assistidos pela referida assistência).

A interação dos assistentes sociais com outros profissionais, como o psicólogo, dentro

da assistência estudantil, já foi realizada, mas em momentos pontuais, quando os assistentes

sociais pediam a participação deste nos momentos de trabalho mais intenso ainda. Vale

ressaltar que, de acordo com o documento Diretrizes Nacionais para a Assistência Estudantil,

de 2011, a assistência estudantil do IFCE deve primar pela equipe mínima (assistente social,

psicólogo e pedagogo) para atender a demanda da assistência estudantil. Esses outros

profissionais contribuiriam na solução de outros problemas, que não são da competência do

assistente social, para garantir a permanência do aluno na instituição (problemas de ordem

emocional, psicológica, de aprendizagem etc.).

A informatização, ainda, de todos os processos referentes aos alunos da assistência

estudantil, facilitaria o acesso das profissionais e dos estudantes a eles, bem como facilitaria o

levantamento de dados quantitativos, como número total de alunos atendidos pela assistência

estudantil, quantidade de alunos assistidos por cada auxílio, valores gastos na assistência etc.

Perguntamos, ainda, como o trabalho do assistente social poderia contribuir para que a

assistência estudantil pudesse ser vista como política pública, um direito do aluno.

Eu acho que, principalmente, dando visibilidade às ações e visibilidade ao que é a

política de assistência estudantil. O IFCE fez um processo muito rico, né, desde a

aprovação do PNAES, nós tivemos encontros com os profissionais, com os alunos,

tanto com a parte dos dirigentes, pra que a gente desse ampla divulgação desta

política de assistência estudantil. [...] Então, quanto mais seja discutida, dando

visibilidade a essa política de assistência estudantil, junto aos alunos, eu acredito que

o profissional que operacionaliza essa assistência é uma forma de ele fazer com que

ela se concretize no dia-a-dia (Assistente Social Cecília).

O assistente social tem como ferramenta de trabalho a linguagem, então, realmente,

eu acho que o Serviço Social, ele tem uma posição estratégica, que ele tem acesso

aos estudantes, os estudantes têm fácil acesso ao Serviço Social, o atendimento é

direto, né, ininterrupto, eles vêm, são atendidos, então, nós temos essa posição

estratégica, nós podemos, né, por meio da... porque o Serviço Social, ele tem que

trabalhar na perspectiva do direito, [...], da conscientização, da informação. Creio eu

que, promovendo reuniões, participando, também, o Serviço Social de reuniões,

tentando romper com essa lógica, muitos ainda acham que, ah, é um favor, muito

obrigada, e a gente tem que tá tentando romper com isso (Assistente Social

Fernanda).

De acordo com as falas das assistentes sociais, pudemos notar que é através da

divulgação ampla, do processo de seleção da assistência estudantil, que é estabelecida a ideia

de que a política de assistência estudantil “não é para poucos”, e sim “para todos” os alunos

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do IFCE (desde que estejam de acordo com os requisitados solicitados pelo processo de

seleção da assistência estudantil do campus de Fortaleza).

De fato, percebemos que há visibilidade e publicização sobre o processo de seleção da

assistência estudantil, pois todos os alunos entrevistados foram unânimes em dizer que sabiam

como era feito todo o processo, e que este era bem feito e claro.

O contato diário do Serviço Social com o aluno possibilita que aquele, mediante a

informação prestada no dia a dia, tenha um novo olhar sobre a assistência estudantil, olhar

este que remete à perspectiva do direito do aluno de manter-se na instituição. Todavia, a ideia

da assistência estudantil como direito ainda é fraca, pois, como já dito anteriormente, apenas

dois alunos, de dez entrevistados, citaram-na como um direito que possuem, ainda sendo

muito forte, como relatou a assistente social Fernanda, a ideia de que o auxílio que recebem

não passa de um “favor”, de algo focalizado.

Se houvesse reuniões entre estudantes e profissionais, como citado pela referida

assistente social, explicitando o que é a assistência estudantil e suas ações (que não se limitam

apenas aos auxílios), isso também proporcionaria que a assistência estudantil fosse percebida

como política pública, como algo voltado para todos. Mas, admitimos que esse fato se

concretizaria se de fato fosse voltada para todos os discentes, sem distinção.

Indagamos, também, sobre a existência de uma avaliação, por parte da equipe que está

à frente da assistência estudantil no IFCE, campus Fortaleza, sobre o modo como está

desenvolvendo tal política junto aos alunos.

[...] Nós temos encontros periódicos, inclusive aconteceu um, agora, dia 24 e 25 (de

março), que é o 5° Encontro de Profissionais de Assistência Estudantil, então, nós

estamos sempre avaliando essas ações da política estudantil. E entenda-se não só as

assistentes sociais, mas todos os profissionais envolvidos: pedagogos, psicólogos,

né, todos os profissionais que sociabilizam a política de assistência estudantil dentro

do Instituto. [...] Quanto aos profissionais, [...] têm encontros periódicos onde nós

estamos colocando nossos resultados, vendo o que a gente avançou, vendo o que a

gente pode melhorar (Assistente Social Cecília).

As assistentes sociais do IFCE, campus Fortaleza, fazem, a cada semestre, uma

avaliação do seu trabalho, com atenção às ações que deram certo e que precisam ser

melhoradas. Encontros promovidos pelo próprio IFCE, com participação de outros

profissionais, que estão ligados à assistência estudantil, também foram citados, sendo estes

importantes para o compartilhamento de experiências, entre os outros campi, no que se refere

à assistência estudantil. Como encontros, podemos citar o I Encontro de Assistência

Estudantil, realizado em 2011, no IFCE, campus Fortaleza; o II Encontro de Assistentes

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Sociais do IFCE, em 2012; e o 5° Encontro de Profissionais das Diretorias e Coordenadorias

de Assistência Estudantil, realizado no ano de 2014, no IFCE, campus de Juazeiro do Norte.

Outrossim, perguntamos sobre o que poderia melhorar na assistência estudantil do

IFCE, campus Fortaleza.

[...] O que poderia ser melhorado pra desenvolver até mais ações, que já está sendo

providenciado, é o aumento na equipe de Serviço Social, que nós vamos, agora,

receber duas novas assistentes sociais, em virtude do concurso de remoção, né? E

sempre o que pode ser melhorado [...] não depende diretamente da gente, mas, aí, é

de Brasília, que é a questão orçamentária (Assistente Social Cecília).

[...] Aumentar o valor do orçamento, né, pros próximos anos, e a gente gostaria de

rever, em vez de auxílios diversificados, unir. Ter um único auxílio. Auxílio tal

atendia todas as necessidades do aluno, daquela necessidade, certo? Porque a gente

não atendia separado: auxílio-óculos, auxílio-alimentação, auxílio-transporte,

auxílio-moradia, auxílio pais e mães, fica quebrando este auxílio e, realmente, no

fundo, no fundo, dá muito trabalho, não tem condição da gente tá avaliando se

aquele aluno, realmente, tá necessitando só daquele auxílio. Muitas vezes, ele é

cortado de um auxílio pra atender noutro auxílio, e o bom seria que todo aluno que

tivesse o perfil, recebesse o auxílio único (Assistente Social Débora).

Primeiramente, bem, ter uma atenção maior na questão do espaço físico, do

atendimento, porque nós lidamos com estudante, no atendimento, então, precisa ter

um atendimento de qualidade [...]. Poderíamos ter um espaço maior. [...] É

inadmissível uma instituição com quase 7.000 mil alunos com apenas, até bem

pouco tempo, éramos duas assistentes sociais, sem nenhum profissional

administrativo [...] (Assistente Social Fernanda).

A questão do valor dos auxílios seria algo a se tratar. De acordo com uma das

profissionais entrevistadas, o universo de alunos que requerem a assistência estudantil é

considerável, não sendo possível atender a todos, necessitando a equipe fazer várias análises

para se chegar a um acordo de quem “realmente precisa receber o auxílio”.

A transformação de todos os auxílios em um único, de acordo com a assistente social

Débora, seria mais vantajosa para o aluno, pois esse auxílio (que teria um valor mais

significativo) atenderia todas as necessidades, já que, devido à equipe ser pequena para

atender a tantos alunos, não é possível acompanhar a realidade de cada um de forma mais

próxima, identificando outras necessidades.

O aumento da equipe, já citado anteriormente, seria algo a acrescentar. Com a chegada

de mais duas profissionais no Serviço Social, no segundo semestre de 2014, o trabalho ficou,

a priori, para a equipe, menos sobrecarregado. Porém, não atende ainda o universo da

assistência estudantil, composta por mais de 2.000 alunos, como relatado anteriormente. O

pouco espaço contribui para que se tenham poucos profissionais, o que demandaria a remoção

delas para um espaço maior, onde os atendimentos possam ser realizados satisfatoriamente.

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Além disso, poucos profissionais frente à assistência, que se veem ocupados com toda

a demanda da assistência estudantil (análise de questionários socioeconômicos, entrevistas,

atendimento diário à demanda, bem como incorporação de tarefas que poderiam ser realizadas

por um profissional administrativo), acabam permitindo que a assistência estudantil fique

apenas na ação de “entrega de auxílios”.

Perguntamos, às profissionais, sobre qual a importância da assistência estudantil para

o estudante que nela se insere.

Olha, tem total importância, porque, pra muitos, eu não digo para todos, para muitos

deles, sem esses auxílios, muitas vezes, pode parecer pouco 50 reais por mês pra

simplesmente custear o transporte, [...] mas a gente acompanha realmente só

famílias altamente vulneráveis e aqueles 50 reais, ali, tá tirando realmente da cesta

básica, tá tirando da alimentação. [...] Como a assistência estudantil também prepara

para a questão do acompanhamento pedagógico, então, o acompanhamento

pedagógico é muito importante, reduz a retenção, evasão, têm muitos alunos que

vêm com deficiência de conteúdo, né, principalmente que aqui é um Instituto

Tecnológico, então, um curso na área de exatas, né, a maior parte, boa parte tem

dificuldade em física, química, matemática. Como muitos vêm da escola pública,

então, realmente, eles têm dificuldade. Monitoria, por exemplo, o Programa de

Monitoria, ele realmente é assistência estudantil, porque os monitores, eles vão

auxiliar esses alunos com dificuldade, vinculado à Diretoria de Ensino (Assistente

Social Fernanda).

Eu acho de suma importância. Por que... qual a finalidade do nosso no dia a dia? É

que a gente viabiliza essa política? Por quê? Porque a finalidade dessa política é a

formação, é garantir a formação do estudante, sua permanência no Instituto e uma

permanência de qualidade, né? Pra que o aluno, ele conclua o seu curso com

qualidade, no tempo determinado, e que aqueles, porventura, fatores, né, digamos,

assim, materiais, que estavam impedindo que ocorresse isso, sejam minimizados,

né? E, além disso, assim, que a gente contribua diretamente com a educação de

qualidade, de uma formação de um cidadão completo (Assistente Social Cecília).

Pra o aluno, é importantíssima a assistência estudantil, porque o aluno, hoje, dá

muito depoimento, ah, vou deixar o meu trabalho pra concluir o curso, porque eu

recebi o auxílio Bolsa Permanência. Outro diz: eu vou deixar meu trabalho, porque

eu tô engajado no Programa Bolsa Formação. Então, notamos que, com essa

assistência estudantil mínima que é dada para eles, eles conseguem ainda se manter

e terminar o curso e contribuir para o desenvolvimento do País, ingressando no

mercado de trabalho com qualificação [...] (Assistente Social Débora).

Percebemos, mediante as falas das entrevistadas, que, mesmo com seus problemas,

suas contradições, a assistência estudantil é, sim, importante para o aluno, servindo até de

incentivo, como um dos discentes entrevistados relatou, para continuar na instituição. O

dinheiro do auxílio ainda é pouco – todavia, é necessário para pagar o transporte, a

alimentação, principalmente quando o aluno vem de uma família de poucos recursos

financeiros.

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Outra faceta da assistência estudantil no IFCE, campus Fortaleza, é o Programa de

Monitoria, relatado pela assistente social Fernanda. Tal programa, ao propiciar, mediante os

monitores, o ensino àqueles alunos que estão com dificuldades em determinadas matérias do

seu curso, está contribuindo, também, para a permanência destes na instituição, pois, ao

ofertarem esse apoio escolar, fazem com que esses discentes se sintam encorajados a terminar

seus cursos, evitando, assim, a evasão.

Perguntamos se havia a participação dos alunos na condução da assistência estudantil

no IFCE, campus Fortaleza.

[...] O regulamento foi construído com a participação desses estudantes, foram

mobilizados, nós que fizemos a assembleia, eles foram sugerindo [...], quem quis

vir, veio. Esse regulamento, ele já faz um bom tempo que ele tá pronto, só esperando

a aprovação no Coldir e no Consup. A assembleia foi em 2013, foi logo quando tava

sendo construído o regulamento. Como não tem como levar todos os alunos, foram

eleitos representantes, né, de cada campus (dois alunos de cada campus). E dali foi

tirado um quantitativo menor de representantes pra reuniões com diretor (de

campus). Ainda não tivemos oportunidade (do próprio Serviço Social, do campus

Fortaleza, ter esse tipo de contato com os alunos que estão inseridos na assistência

estudantil), pelo tempo, mas, pra mim, já foi um avanço em ter chamado os alunos

pra participar. Nunca ocorreu isso aqui, pelo menos eu nunca tinha visto de

mobilizar os estudantes, o regulamento que tá lá teve a participação deles [...] eles

foram ouvidos, muitas coisas que eles concordavam foram colocadas [...],

dependendo da viabilidade (Assistente Social Fernanda).

A participação dos alunos, de acordo com as profissionais, se deu na formulação do

novo Regulamento da Assistência Estudantil do IFCE, de março de 2014, que foi aprovado

pelo Conselho Superior (Consup) e pelo Colégio de Dirigentes (Coldir) do IFCE.

Supomos que essa participação mais efetiva aconteceu somente na construção desse

novo regulamento devido, mais uma vez, ao quadro insuficiente de profissionais, que estão

sobrecarregados com uma demanda expressiva da assistência estudantil no IFCE, campus

Fortaleza, e que se vê impossibilitada de ir em busca desses alunos, marcando reuniões

periódicas com eles para discutir, cotidianamente, as questões referentes à assistência

estudantil na referida instituição.

Tal regulamento, dentre os outros auxílios já existentes (auxílio-transporte,

alimentação, moradia etc.), elenca mais dois novos auxílios: auxílio de apoio ao desporto e à

cultura, que “é o auxílio destinado, prioritariamente, aos discentes integrantes de grupos

culturais e desportivos do IFCE que participarão de eventos desta natureza, desde que o

promotor do evento não subsidie o deslocamento, a refeição e a hospedagem” (Regulamento

da Assistência Estudantil do IFCE, 2014); e o auxílio pré-embarque internacional, que

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será concedido aos discentes que integram programa de intercâmbio internacional,

em parceria ou não com o IFCE e que visa a subsidiar despesas: pagamento de taxas

e tirada de passaporte, solicitação de vistos em consulados ou embaixadas fora do

estado do Ceará, atestados médicos específicos, postagem de documentação

(REGULAMENTO DA ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL DO IFCE, 2014).

O novo regulamento da assistência não faz referência à renda per capita de até um

salário-mínimo e meio que o aluno deve possuir como um dos critérios para se ter acesso à

assistência estudantil. Aquele ressalta como critérios a entrega dos seguintes documentos:

requerimento padrão; comprovante de renda mensal familiar; cópias da conta de energia

elétrica, do documento de identificação com foto, reconhecido por legislação federal e do

Cadastro de Pessoa Física (CPF); formulário socioeconômico fornecido pelo Serviço Social;

histórico escolar com autenticação eletrônica ou visto do servidor responsável pela

Coordenação de Controle Acadêmico (CCA).

Dependendo do auxílio requerido, outros documentos são exigidos, como no caso do

auxílio-óculos, em que há a necessidade de apresentar a prescrição médica-oftalmológica,

com validade de até seis meses e dois orçamentos emitidos por ópticas distintas.

Outra novidade que esse novo regulamento traz consigo é um modelo de edital,

servindo de parâmetro para os outros Institutos Federais do Ceará, que deve ser lançado por

todos os campi do IFCE, quando anunciarem, aos alunos, a seleção para a assistência

estudantil.

Dando continuidade à entrevista, perguntamos qual a avaliação que o assistente social

faz da seleção que é realizada para inclusão dos alunos na assistência estudantil.

Bom, é uma avaliação, realmente, muito criteriosa, a gente segue, realmente, as

orientações do Programa (Nacional de Assistência Estudantil), que a avaliação é

socioeconômica e documental. [...] Então, assim, eu acredito que seja uma avaliação

de muita qualidade, porque é feito, realmente, esse estudo socioeconômico, é feita a

questão da renda per capita familiar, considerando o limite de um salário-mínimo e

meio [...], então, assim, essa parte é bem criteriosa, e ela é muito bem feita, os

profissionais, realmente, têm muito cuidado, porque, você excluir um aluno, pode ter

um peso pro resto da vida, né, dele. É um trabalho que é muito, muito bem feito

aqui, pelo Serviço Social [...] (Assistente Social Caroline).

A avaliação, que eu faço, ela é uma seleção objetiva, porque o PNAES, ele tem seu

critério, o critério principal é a questão da renda per capita, um salário-mínimo e

meio per capita e é pautada, também, no Regulamento da Assistência Estudantil.

Então, é uma seleção tal qual está sendo solicitada, realmente, pelo menos a gente

segue aquilo que a legislação [...] pede, né? E, aí, a avaliação da seleção, [...], nós

seguimos o que é pedido. Só que, geralmente, por falta de recursos, né, a legislação

pede uma coisa, ou seja, teoricamente, todos aqueles alunos que solicitaram, que

estão dentro daquele perfil, ali, receberiam. Então, teoricamente, eles todos teriam

direito, mas acabam muitos por ficar de fora, por conta da falta de recurso. É isso

(Assistente Social Fernanda).

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Notamos, pela fala das assistentes sociais, que a avaliação é considerada satisfatória a

partir do momento em que são analisados os dados econômicos dos alunos, já que esse é o

critério principal para se ter direito à assistência estudantil do IFCE, campus Fortaleza. Se

porventura os alunos avaliados se adequarem ao perfil de um salário-mínimo e meio, é

concedido a ele o benefício. Outras questões, como discriminação, violência doméstica,

dentre outras, não foram levantadas como critérios que poderiam ser utilizados para avaliar

tais discentes. Ressaltamos que, para se ter direito à assistência estudantil do IFCE, campus

Fortaleza, o documento Diretrizes Nacionais para a Assistência Estudantil, de 2011, expõe

que a assistência estudantil é voltada para aqueles alunos que estão em vulnerabilidade social,

concebida como “processos de exclusão, discriminação ou enfraquecimento dos grupos

sociais e sua capacidade de reação, como situação decorrente da pobreza, privação e/ ou

fragilização de vínculos afetivo-relacionais e de pertencimento social e territorial”

(DIRETRIZES NACIONAIS PARA A ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL, 2011).

Porém, como o critério máximo para a inserção na assistência estudantil é o fator

econômico, há, aqui, o empecilho do recurso que não consegue atender todos os alunos.

Questionamos, ainda, sobre as expectativas que as profissionais tinham sobre a

assistência estudantil do IFCE, campus Fortaleza.

Bem, como eu falei anteriormente, [...] na primeira entrevista, nós estamos tendo

alguns encontros da assistência estudantil, estamos formatando a assistência

estudantil dentro do IFCE e tem algumas propostas de a gente fazer fóruns com os

próprios profissionais, né, de todos os campi, e a formatação da própria política. [...]

E eu acredito que dentro dessa política, né, que vai ter os princípios, as ações, nós

teremos a ação da formação mesmo, né, não só a questão da execução, mas do

planejamento de outras ações que envolvam a assistência estudantil. [...] Nós

poderíamos estar analisando como essas ações estão se efetivando na vida desses

alunos [...] conforme passo na vida familiar, na vida acadêmica desses alunos, até

pra que a gente tenha material propositivo pra novas ações (Assistente Social

Cecília).

Olha, eu acredito que esse vínculo, com o aluno, mais próximo, [...] que não seja só

o momento de se inscrever (para a seleção dos auxílios), receber as parcelas e só

comparecer ao Serviço Social, ah, teve um problema na minha conta, caiu o recurso

ou não, [...], o vínculo, ele poderia ser, realmente, bem trabalhado. [...] Então, assim,

de repente, tá é... não vou dizer mensalmente, semestralmente, organizando grupos,

de repente, tá orientando como elaborar um currículo, como me preparar para uma

entrevista no mercado de trabalho, entendeu? Assim, um grupo de alunos do

Programa de Auxílio Formação, a gente já tá pensando em fazer isso. Aí, com a

questão dos outros meninos, a gente poderia trabalhar nessa linha também

(Assistente Social Caroline).

Muitas atividades, desde que o instituto ou então qualquer órgão federal tenha

recurso humano disponível para trabalhar em equipe interdisciplinar, a gente pode

trabalhar com diversas áreas. Então, precisa trabalhar outros projetos na área da

cidadania, de acompanhamento familiar, para que o aluno possa, realmente, estar

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engajado nesse contexto que é muito importante para sua formação intelectual

(Assistente Social Débora).

Na fala da assistente social Cecília, percebemos que há a preocupação, por parte dos

profissionais que compõem a assistência estudantil do IFCE, campus Fortaleza (sejam eles

médicos, enfermeiros, assistentes sociais, psicólogos etc.), em organizar melhor as ações da

assistência estudantil no que se refere ao planejamento a partir da análise de como aquelas

ações estão interferindo no dia a dia dos alunos, não se limitando somente à análise de

documentos entregues por estes.

A necessidade de se dar atenção a outros aspectos que a assistência estudantil poderia

abordar é relatada por duas profissionais, ao falarem da importância de ofertar, aos discentes,

preparação para o mercado de trabalho, no quesito como se portar numa entrevista de

emprego etc., além de palestras com assuntos pertinentes à comunidade acadêmica.

Importante frisar que há a preocupação, por parte dos profissionais, de se realizar

outros trabalhos que alcancem todo o contexto em que vive o aluno e que pode, porventura,

estar afetando sua vida acadêmica, necessitando, assim, recorrer à assistência estudantil

(contexto familiar, por exemplo). O acompanhamento familiar seria relevante para se analisar

e realizar as devidas providências no que concerne aos problemas do aluno de se manter na

instituição. Todavia, tal ação esbarra, mais uma vez, no número limitado de profissionais que

conduz a assistência estudantil.

Ademais, perguntamos que outros profissionais poderiam participar da assistência

estudantil e qual seria o papel de cada um. Todas concordaram que a participação do

professor seria imprescindível para identificar, antecipadamente, as principais demandas dos

alunos dentro do Instituto Federal do Ceará, campus Fortaleza, já que é o primeiro

profissional a entrar em contato com os discentes. Porém, ainda está em fase de maturação

essa participação mais efetiva do docente, pois há certa resistência deste em aderir à equipe de

assistência estudantil por achar que já possui “trabalho demais”, de acordo com a fala da

assistente social Débora.

Bem, é necessário uma equipe multidisciplinar formada por professores, que é o

ponto maior. O professor é muito ausente no processo de assistência estudantil.

Quando a gente faz uma reunião com os professores, coordenadores dos

laboratórios, eles acham que têm muitas atividades. [...] Ele está no contato direto

aluno-sala de aula. E ele é responsável em detectar os problemas que afetam o

ensino-aprendizagem (Assistente Social Débora).

Primeiro, o que é importantíssimo, pedagogo. [...] Porque, assim, a assistência

estudantil, ela lida diretamente com o combate aos índices de evasão, né? Evasão,

retenção. Então, realmente, nós sentimos muito falta desse profissional atuando

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diretamente, se nós tivéssemos um exclusivo (pedagogo) pra assistência estudantil,

seria muito bom, porque, aí, ele ia colaborar mais efetivamente nessa parte mesmo

desse acompanhamento, acompanhamento desses estudantes que possuem

dificuldades de passar em determinadas disciplina, né, várias vezes e trabalhar

juntamente com esses alunos e até, também, identificando, trabalhando juntamente

com os alunos, e identificando, digamos, quais são as disciplinas que possuem esse

maior problema, né? (Assistente Social Fernanda).

Bom, olha, pra que o trabalho da assistência estudantil, realmente, [...] possa dar um

resultado bem bacana, tenha um impacto bem positivo, seria através de uma equipe

multidisciplinar, né? Pedagogo, psicólogo e, principalmente, professores na linha de

frente. Por quê? A questão: um aluno tá faltando, faltando, faltando, recebe auxílio e

tal, e o que é que tá acontecendo, o que é que tá motivando aquilo dali? Aí, a equipe,

bem antenada, ela se reorganiza. Agora, quem pode indicar pra gente se o aluno tá

faltando? Professor. [...] Quem trabalha pra combater a evasão? O Serviço Social.

Então, tá, encaminha pra gente. Aí, o Serviço Social vai tomar as providências pra

saber qual o motivo da evasão. [...] Daí, a partir dessa primeira triagem do Serviço

Social, poderia se passar o trabalho ou para um psicólogo ou então para um

pedagogo nas dificuldades de aprendizagem (Assistente Social Caroline).

Além do professor, outros profissionais foram citados, como psicólogos e pedagogos,

para a condução da assistência estudantil. Percebemos que cada uma concebe, de forma bem

definida, o papel desses profissionais na assistência estudantil, e delas próprias. O psicólogo

atenderia as questões referentes aos problemas de ordem emocional, e o pedagogo ajudaria

nas dificuldades de aprendizagem apresentadas pelos alunos. Os médicos e enfermeiros não

foram citados como possíveis colaboradores da assistência estudantil.

Acreditamos que os profissionais da saúde seriam importantes para a realização de

alguns projetos citados pela assistente social Fernanda, no que concerne a palestras, voltadas

para os discentes, sobre drogas ilícitas, doenças sexualmente transmissíveis etc., além de

fazerem um levantamento sobre as doenças que mais afetam os discentes no IFCE, campus

Fortaleza, e alertá-los sobre a maneira como deveriam cuidar de tais enfermidades. Sabemos

que é realizado um trabalho sobre a conscientização do uso do preservativo pela Coordenação

de Saúde, dando-se ênfase a tal trabalho, principalmente, no período do carnaval, através do

Projeto Saúde e Prevenção nas Escolas. Ao longo do ano, fica à disposição dos alunos, na

referida coordenação, preservativos masculinos.

Indagamos sobre a opinião das assistentes sociais em relação à equipe multidisciplinar

na condução da assistência estudantil. Analisando as falas das profissionais, todas são a favor

da participação de vários profissionais para ajudar a melhorar a assistência estudantil.

Eu acho de suma importância. Porque a assistência estudantil só vai se formatar, de

forma eficiente e eficaz, quando todos esses profissionais, né, esteja munidos com a

compreensão ampla que a assistência estudantil, ela vai além dos auxílios, né?

Quando nós temos uma ação que visa a formação e permanência dos alunos, então,

ela tem que estar sendo feita no dia a dia do acompanhamento dos alunos, daquele

momento que o professor recebe o aluno na sala de aula, tem que ter essa visão do

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que o instituto oferece, quando ele vem ao Serviço Social buscar quais são as ações

que o instituto oferece para sua permanência, né? (Assistente Social Cecília).

Em reuniões de todo IFCE, já foi debatida a necessidade, pelo menos, de uma

equipe mínima, né? Porque, assim, a nossa formação é limitado, eu tenho formação

de assistente social, o outro tem formação de psicólogo, o outro tem formação de

pedagogia, então, é cada um na sua área e, assim, pode interagir também, né? Então

[...] a gente falava muito nessa equipe mínima. Seria o assistente social, o pedagogo

e o psicólogo. [...] Na realidade, se a gente for prestar atenção, digamos, um serviço

de saúde é assistência estudantil, né? [...] Então, realmente, é muito importante o

papel de cada profissional nessa equipe multidisciplinar (Assistente Social

Fernanda).

É de relevância total, né? Se o objetivo é executar um trabalho de qualidade que

possa ter resultado, deve haver essa integração, assim, permanente, bem alinhada,

em todas as etapas, desde a hora lá que o professor identifica que o aluno não tá

frequentando, que passa pro Serviço Social identificar a questão, porque pode ser

uma causa social, né? (Assistente Social Caroline).

A colaboração de outros profissionais é relevante porque vários problemas levam o

aluno à assistência estudantil: falta de dinheiro para ir à instituição, para lá se alimentar,

problemas familiares, problemas relacionados à saúde etc.

O Serviço Social não está apto a atender demandas que não sejam referentes à questão

social. Se a assistência estudantil está voltada para a permanência desses alunos que a ela

recorre, é preciso ter um acompanhamento integral, cotidianamente, para que a evasão seja

evitada.

Todavia, essa integração ainda precisa se concretizar, havendo a necessidade de uma

articulação entre esses profissionais, com papéis e ações bem definidas. O correto seria todos

esses profissionais ficarem em um mesmo espaço do IFCE, campus Fortaleza, onde pudessem

atender todas as demandas referentes à assistência estudantil, encaminhando cada problema

ao respectivo profissional apto a tratá-lo.

O documento Diretrizes Nacionais para a Política de Assistência Estudantil, de 2011,

explicita sobre a presença de uma equipe mínima, composta por assistente social, psicólogo e

pedagogo e outros profissionais, que se fizerem necessários, para que a assistência estudantil

do campus seja mais bem assistida.

Necessidade de constituição de equipe multiprofissional básica em cada campus,

com a presença dos seguintes profissionais: psicólogo, pedagogo e assistente social,

numa perspectiva de trabalho integrado. Podendo sempre que necessário, a

participação e inclusão de outros profissionais como enfermeiros, médicos,

odontólogos, professores, entre outros. Considerando as atribuições regulamentadas

por cada categoria (DIRETRIZES NACIONAIS PARA A POLÍTICA DE

ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL, 2011).

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4.5 Limites e possibilidades na gestão da política de assistência estudantil

Ao iniciarmos a entrevista com as diretoras de gestão orçamentária e com a diretora de

assuntos estudantis do IFCE, campus Fortaleza, perguntamos quanto o Ministério da

Educação (MEC) destina à assistência estudantil do IFCE, campus Fortaleza, e se, porventura,

havia uma contribuição da própria instituição para a referida assistência.

Olha, o MEC destina um valor baseado no número de alunos matriculados, certo e o

IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) de cada município. Se esse valor

definido pelo MEC, ao longo do ano, não for suficiente para atender, certo, às

assistências sociais de cada campus, a gente pode estar complementando com a

arrecadação da instituição, certo? Porque a assistência que vem, o recurso que vem

do MEC, ele vem na fonte de recurso 100. E nós vamos poder estar, né,

complementando com a arrecadação, que é na fonte 250 (Diretora de Gestão

Orçamentária).

O orçamento autorizado em 2014, que é o que a gente tá executando agora,

atualmente, a gente tem R$ 16 milhões, 465 mil e 562 reais destinados a esta ação.

Se a instituição contribui com a assistência, mediante recurso próprio, no meu

conhecimento, a gente trabalha especificamente com o que já vem carimbado nessa

Ação 2994, que é a Assistência ao Educando. No meu conhecimento, a gente

trabalha exclusivamente com ela. É uma ação (Ação 2994) que visa a contribuir com

a questão da merenda escolar, então, ela já especifica que tipo de apoio pode ser

dado ao estudante, em termos de recurso financeiro, então, ela especifica, né, pra

merenda escolar e outras atividades necessárias ao apoio ao estudante (Diretora de

Assuntos Estudantis).

A fonte, segundo a diretora de gestão orçamentária, é uma codificação feita pelo MEC

para identificar cada ação orçamentária do governo. Sendo assim, a fonte 100 é uma ação do

orçamento, do MEC, destinada à assistência estudantil.

A Ação 2994 (Assistência ao Educando da Educação Profissional e Tecnológica),

segundo o Ministério do Planejamento, no documento sobre as Ações Orçamentárias

Integrantes da Lei Orçamentária para 2013, é o

fornecimento de alimentação, atendimento médico-odontológico, alojamento e

transporte, dentre outras iniciativas típicas de assistência social ao educando, cuja

concessão seja pertinente sob o aspecto legal e contribua para o bom desempenho do

aluno na escola. Suprir as necessidades básicas do educando, proporcionando

condições para sua permanência e melhor desempenho escolar (2013, p. 4).

Enfim, é dessa ação que vêm os recursos destinados exclusivamente àqueles serviços

que atendam o aluno dentro da instituição de educação profissional e tecnológica.

Segundo dados disponibilizados pela diretoria de gestão orçamentária do IFCE, no ano

de 2014, a Ação 2994 autorizou, ao IFCE, campus Fortaleza, um orçamento de R$

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4.042.014,00 para assistência estudantil. No ano anterior, foram disponibilizados R$

3.051.125,00. Já em 2012, o investimento na assistência ao discente foi de R$ 3.114.653,00,

havendo um aumento, em 2014, nos valores fornecidos ao IFCE, campus Fortaleza.

Ressaltamos que esse recurso não é destinado apenas aos auxílios da assistência

estudantil, mas também à merenda escolar, que é distribuída aos alunos três vezes por dia,

bem como às bolsas de trabalho destinadas aos alunos, que hoje são chamadas de Bolsa

Formação.

Perguntamos ainda às entrevistadas se a inexistência de uma rubrica específica para a

assistência estudantil atrapalharia a definição de recursos para tal política.

Olha, aqui, no instituto, não. Nós não temos, assim, essa questão de uma rubrica

específica, isso não existe. Nós temos, no orçamento da instituição, um valor

específico, uma ação orçamentária específica pra assistência, certo, e, dentro dessa

ação orçamentária, temos rubricas que são chamadas de natureza de despesa.

Natureza de despesa voltada especificamente pra assistência estudantil que é

material de distribuição gratuita e auxílio ao estudante (Diretora de Gestão

Orçamentária).

Bom, a rubrica, como eu disse, é geral, [...] é rateada em função do número de

alunos de cada campus e distribuída pra cada campus. Cada campus tem autonomia

para decidir qual o tipo de auxílio, qual a destinação específica pro seu campus, né?

Então, assim, em linhas gerais, a gente dá essa autonomia aos campi e [...] você

pode encontrar realidades diferentes em termos de oferta desse auxílio, desse

orçamento [...] conforme os auxílios previstos no nosso regulamento (Diretora de

Assuntos Estudantis).

Realizamos essa pergunta devido às autoras Cislaghi e Silva (2011) afirmarem que o

PNAES não possuía uma rubrica específica no orçamento para o Plano de Assistência

Estudantil. Porém, mediante a entrevista realizada com as diretoras, soubemos que existe um

recurso voltado para a assistência estudantil, que seria fornecido mediante a Ação 2994, mas

que não é estipulado um valor definido para a referida assistência, já que tal valor pode

aumentar ou diminuir a cada ano.

Em 2012, essa ação é vinculada ao Programa 2031 – Educação Profissional e

Tecnológica, em documento da Pró-Reitoria de Administração do IFRN, de 2012, que se

define pela “construção, modernização, ampliação e reforma de imóveis; aquisição e locação

de imóveis, veículos, máquinas, equipamentos, mobiliários, laboratórios para as Instituições

Federais de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, com vistas a expandir a oferta de

vagas”.

Sobre o material de distribuição gratuita citado pela diretora de gestão orçamentária,

esta expôs que ele possui uma codificação específica e, com ele, o IFCE pode comprar

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gêneros alimentícios, remédio, ofertar o auxílio-óculos, e que isso não gerou nenhum impacto

para o desenvolvimento da assistência estudantil, pelo contrário: com o uso da criatividade em

relação ao orçamento, sobre o que poderia ser feito, dentro da legalidade, era possível atender

as necessidades do aluno.

Indagamos, ainda, como o IFCE lida com os alunos que não são atendidos pela

assistência estudantil e o que propõe para sanar tal situação.

Eu acho assim: a demanda sempre é bem maior do que o orçamento. O orçamento é

um fator limitador, certo, mas nós temos buscado sempre atender todos aqueles

auxílios que [...] passam por uma avaliação da assistente social, que identifica,

realmente, se há aquela necessidade. E o que a gente precisa ter em mente é que a

assistência estudantil para os alunos da educação profissional, ele tem a finalidade

de quê? De atender as necessidades básicas para que o aluno venha à escola, né?

(Diretora de Gestão Orçamentária)

No âmbito da Diretoria de Assuntos Estudantis, não temos, ainda, o conhecimento

de relatório, vindo dos campi, apontando essa demanda dos alunos que não pode ser

atendida, né? [...] A gente tem conhecimento de depoimentos, em reuniões, em

algumas situações ocorre isso, mas, assim, formalmente, a gente não tem, ainda, um

dimensionamento de quanto é essa demanda [...] e o que o instituto faz em relação a

isso quando ela é escrita em documento do campus para Reitoria (Diretora de

Assuntos Estudantis).

A assistência estudantil do IFCE, campus Fortaleza, mantém a obrigação de fornecer

aqueles auxílios que são elementares para a permanência do aluno na instituição. Então, para

a diretora de gestão orçamentária, a escassez de recursos faz com que a instituição acabe

priorizando aqueles auxílios que são os que garantem a vinda e a permanência dela no IFCE –

neste caso, os auxílios óculos, transporte e alimentação. Caso o aluno tenha outras carências

que ultrapassem o que a assistência estudantil pode ofertar, como, por exemplo, necessidade

de um tratamento médico mais sério, isso não é responsabilidade da instituição, segundo a

supracitada diretora.

A diretora de assuntos estudantis não sabe, ao certo, o que ocorre com aqueles alunos

que não puderam ser atendidos pelos auxílios. Todavia, é imprescindível que, de fato, a gestão

da assistência estudantil do IFCE tome conhecimento da situação daqueles alunos que não são

contemplados pela assistência estudantil, procurando outras medidas que façam com que essa

assistência alcance-os.

A diretora de assuntos estudantis nos relatou, ainda, a intenção de realizar estudos e

pesquisas para delinear a real situação de cada campus, inclusive Fortaleza, no que concerne à

assistência estudantil, com o intuito de identificar a maneira como está sendo usado o recurso

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da assistência estudantil, bem como moldar a assistência estudantil de acordo com as reais

necessidades dos discentes.

Para tanto, segundo a diretora de assuntos estudantis, foi formada uma comissão

formada por odontólogo, assistente social, pedagogo, nutricionista, psicólogo, assistente de

aluno, dentre outros profissionais, para construírem a própria política de assistência estudantil

mediante o compartilhamento de experiências junto à assistência estudantil nos campi,

focando no trabalho multidisciplinar.

Perguntamos se, com a implementação do PNAES, houve um aumento nos gastos com

a assistência estudantil.

Com o decreto do PNAES, ficou mais claro quais os tipos de auxílios que poderiam

ser concedidos ao aluno. O decreto, ele veio normatizar mais a assistência, né? E,

com esse decreto, o instituto fez a Resolução 23, onde a gente definiu quais seriam

os auxílios que seriam concedidos pela instituição. Então, quando isso ficou

legalmente claro, claro que houve a demanda. Some-se a isso a um crescimento,

certo, da assistência estudantil. De 2010 para cá, com a aplicação do decreto, isso

gerou, para o governo, um compromisso maior para o atendimento da assistência,

né? Porque antes não tinha claro isso, a gente, a instituição, abdicava do seu

orçamento, funcionamento, para atender o aluno. Quando ele passou a ser

regulamentado, então, já veio um orçamento (Diretora de Gestão Orçamentária).

Bom, pelo o que mostra [...] os formulários que a gente tem, houve um crescimento,

até porque essa distribuição é feita em relação ao número de alunos, e o campus

Fortaleza, né, um campus que vem crescendo com o seu número de alunos, e

implica, em aumento, no ano seguinte, desse orçamento. Então, assim, ocorreu em

todos os campi (Diretora de Assuntos Estudantis).

De fato, houve um crescimento nos gastos referentes à assistência do estudantil do

IFCE, campus Fortaleza. Como já mencionado anteriormente, os documentos

disponibilizados pelo Departamento de Planejamento, Orçamento e Gestão (DPOG) do IFCE,

campus Fortaleza, revelam um aumento significativo nos gastos para com a assistência

estudantil.

Em 2010, ano de implementação do PNAES, foram gastos R$ 990.952,88, sendo R$

972.989,32 gastos com auxílios financeiros a estudantes e R$ 17.963,56 com merenda. Já em

2011, os valores foram maiores que o ano anterior, pois foram gastos R$ 1.942.146,63, sendo

R$ 1.890.575,67 com auxílio financeiro a estudantes e R$ 51.570,96 com merenda escolar.

Em 2012, foram gastos um total de R$ 2.509.234,43, sendo R$ 2.461.543,63 com

auxílio financeiro a estudantes, R$ 7.520,80 com merenda escolar, R$ 31.320,00 com

monitoria e R$ 8.850,00 com material de consumo.

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Em 2013, foram gastos R$ 3.096.611,98 com a assistência estudantil; desse total,

foram gastos R$ 3.006.670,45 com auxílio financeiro a estudantes; R$ 48.914,53 com

merenda escolar e R$ 41.027,00 para monitoria.

Em 2014, foram gastos R$ 3.158.750,22, sendo R$ 3.018.739,03 voltados para auxílio

financeiro a estudantes, R$ 12.533,67 para merenda escolar, R$ 122.021,52 para monitoria e

R$ 5.456,00 para material de consumo.

Quadro 1 – Gastos do IFCE com assistência estudantil

Perguntamos se achavam que os valores são suficientes para atender às necessidades

do aluno.

Depende, né? Depende da necessidade do aluno. Eu acho que nós já tivemos um

crescimento bem significativo, desde que definido o auxílio baseado no IDH de cada

município e o número de alunos. Claro que, pra isso, esse recurso subir, aumentar,

nós temos que captar alunos para nossa instituição, né? [...] O auxílio-transporte,

esse, é tranquilo. O óculos, o auxílio-óculos, é uma ajuda. [...] Então, [...] em

algumas situações, ele é bem suficiente. Em outras, aí vai depender da condição do

aluno, né? Eu acho que já teve um crescimento, quando a gente definia baseado no

salário-mínimo o valor do auxílio e, agora, nós fazemos pelo valor per capita, né?

(Diretora de Gestão Orçamentária)

No momento, a gente não tem, concretamente, identificadas essas necessidades pra

que a gente possa fazer essa avaliação se ele atende plenamente ou não, né? Então, a

nossa ideia, exatamente, a gente tem, a partir, como eu falei anteriormente, da fala

de assistentes sociais em alguns encontros que a gente tem, nós realizamos dois

encontros a cada ano, com as diretorias e coordenadorias de assuntos estudantis,

onde participam todos os profissionais, são convidados psicólogos, assistente social,

pessoal da área de saúde, e lá, assim, esporadicamente, é relatada essa insuficiência

dos recursos pra atender essas demandas, né? Mas a gente não tem, efetivamente,

essa análise pra eu te dizer, nesse momento, se ele é suficiente ou insuficiente.

(Diretora de Assuntos Estudantis)

O artigo 20 do atual Regulamento da Assistência Estudantil do IFCE, aprovado pela

Resolução nº 008, de 10 de março de 2014, tem como base o valor per capita do discente do

IFCE, bem como o percentual de cada auxílio. Para a diretora de gestão orçamentária, essa

mudança foi positiva, pois permitiu haver um aumento nos valores dos auxílios.

2010 2011 2012 2013 2014

R$ 972.989,32 R$ 1.890.575,67 R$ 2.461.543,63 R$ 3.006.670,45 R$ 3.018.739,03

R$ 17.963,56 R$ 51.570,96 R$ 7.520,80 R$ 48.914,53 R$ 12.533,67

- - R$ 31.320,00 R$ 41.027,00 R$ 122.021,52

- - R$ 8.850,00 - R$ 5.456,00

R$ 990.952,88 R$ 1.942.146,63 R$ 2.509.234,43 R$ 3.096.611,98 R$ 3.158.750,22

INSTITUTO FEDERAL DO CEARÁ - IFCE - CAMPUS FORTALEZA

Fonte: Sistema de Administração Financeira do Governo Federal (SIAFI, 2015)

Valores Pagos

TOTAIS

AUXÍLIO FINANCEIRO A ESTUDANTES

NATUREZA DA DESPESA

MERENDA ESCOLAR

MONITORIA

MATERIAL DE CONSUMO

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Para o cálculo do valor de cada auxílio, serão considerados o valor per capita do

discente do IFCE e o percentual correspondente a cada auxílio. Parágrafo único: O

valor per capita a ser calculado anualmente será obtido pela divisão entre o total do

orçamento da assistência ao educando e o número de alunos assistidos pelo IFCE, no

ano em vigor.

Na última pergunta, indagamos como o IFCE, campus Fortaleza, define os valores dos

auxílios ofertados aos alunos.

Anteriormente, de 2011, quando saiu a Resolução nº 23, até 2014, agora, que saiu a

outra Resolução nº 08, era baseado no salário-mínimo, né? Então, era um percentual

do salário-mínimo para cada assistência, pra cada tipo de auxílio, com exceção da

merenda escolar, porque a merenda era comprar o gênero e fabricar as porções,

elaborar as porções. E agora, em 2014, com essa nova resolução, ela passou a ser

calculada de forma per capita. Como é que é essa fórmula? É o valor, do montante

geral, destinado à assistência, naquele exercício, dividido pelo número de alunos

matriculados, independente se o aluno recebeu um auxílio específico. Se considera

todos como alunos atendidos por causa do acesso à merenda escolar (Diretora de

Gestão Orçamentária).

Em cima do montante definido pelo MEC, né, como falei anteriormente, nós

rateamos aos campi considerando o seu número de alunos. Também alguns

indicadores, alguns índices de vulnerabilidade dos habitantes daquela região, não é?

Então, a gente considera alguns índices, por exemplo, o próprio IDH é considerado

para verificar a situação mesmo dessa região, do contexto onde ela se insere. Então,

[...] não somente a questão do número de alunos (do IFCE), mas essa ponderação

também é realizada, é considerada (Diretora de Assuntos Estudantis).

Como já falado anteriormente, os valores, além de levarem em conta o Índice de

Desenvolvimento Humano e a vulnerabilidade em que se encontram os alunos na região onde

vivem, segundo a diretora de assuntos estudantis do IFCE, o novo Regulamento de

Assistência Estudantil traz uma nova forma de se delimitar os valores dos auxílios, que

passam a ser baseados de forma per capita, como explicado pela diretora de gestão

orçamentária.

Essa nova maneira de estabelecer os valores dos auxílios da assistência estudantil foi

um ganho para os alunos da instituição, de acordo com a aluna do movimento estudantil do

IFCE, campus Fortaleza, já que aqueles se encontravam defasados já há um certo tempo.

Todavia, ainda haveria necessidade de serem revistos, pois, segundo Tibério, também outro

integrante do movimento estudantil que foi entrevistado, alguns alunos, devido receberem

apenas um auxílio (o auxílio-alimentação, por exemplo) e por seu valor ser irrisório, acabam

deixando de almoçar para pagar o transporte. Caso não façam assim, esses alunos não

conseguem se deslocar de suas casas até a instituição.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Mediante alguns aspectos que consideramos importantes para realizarmos nossa

pesquisa, quais sejam: identificar quais os critérios que definiam a escolha daqueles alunos

que receberiam os auxílios, ou seja, quem seria inserido na assistência estudantil; descobrir se

os assistentes sociais eram os únicos profissionais que atuavam na assistência estudantil; e

desvendar o porquê da procura pelos auxílios por parte dos estudantes, concluímos que

conseguimos saber sobre tais aspectos.

Vimos que aqueles alunos que estavam de acordo com a renda per capita de um

salário-mínimo e meio, delineada pelo primeiro Regulamento da Assistência Estudantil do

IFCE, de 2011, para inserção na assistência estudantil mediante seleção realizada pelos

assistentes sociais, eram os que possuíam prioridade no atendimento de suas demandas.

Ainda em relação a essa questão de mais profissionais envolvidos na assistência

estudantil, concluímos que os assistentes sociais veem a necessidade de participação de outros

profissionais para haver uma visão mais integral do aluno que está na assistência estudantil,

mas o intenso trabalho desses outros profissionais e sua quantidade tornam-se um empecilho

para que se tenha, de fato, uma equipe multidisciplinar.

Percebemos, ainda, que o aluno interessado nos auxílios é aquele aluno que quer

consegui-los para ajudar a “desafogar” o orçamento familiar. Não foram poucos os

comentários de que era “pesado” para sua família arcar com despesas de alimentação e

transporte. Porém, mesmo conseguindo esses auxílios, eles precisavam trabalhar, ter ainda a

ajuda dos pais, tios, irmãos etc., pois havia outras demandas (o aluguel para pagar, por

exemplo) que não podiam ser atendidas, naquele momento, pela assistência estudantil, devido

ao parco orçamento. Enfim, trabalhavam e estudavam com o intuito de melhorar sua condição

socioeconômica, não dando, a referida política, a opção de somente estudarem; mesmo com

os auxílios, percebemos que ainda era necessário, ao estudante, o trabalho, pois havia outras

necessidades, além da alimentação e transporte, que precisavam ser supridas.

É irrefutável que assistência estudantil, política pública educacional que vem sendo

debatida desde a década de 1980, no Brasil, tendo como dois grandes apoiadores o Fonaprace

e a Andifes, ganhou destaque maior com o Decreto nº 7.234/2010, que dispõe sobre o

Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAES) e organiza, enfim, as ações de tal

assistência. Com a implementação desse programa, o IFCE, campus Fortaleza, em 2011, pôde

construir seu primeiro regulamento de assistência estudantil, elencando os auxílios ofertados

aos alunos, os critérios e o valor daqueles.

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Ressaltamos que a instituição já desenvolvia ações de atenção ao estudante antes

mesmo de o decreto ser instituído. Auxílios como transporte, alimentação, óculos, bolsas de

trabalho e pesquisa, viagens técnicas já eram ofertados e, com a chegada do decreto, melhorou

o desenvolvimento da assistência estudantil no IFCE, pois ficou mais nítido como deveria ser

usado o recurso advindo do MEC.

A assistência estudantil do IFCE, mediante os auxílios ofertados e a merenda escolar,

vem dando subsídios àqueles alunos que precisam de uma renda para continuar estudando.

Pela fala deles, pudemos constatar que essa assistência é importante, sim, pois lhes dá

autonomia, através do dinheiro que recebem, para decidir como será gasto aquele dinheiro:

com alimentação, necessária para se manter o dia todo na instituição, com o transporte, para

que possam se deslocar até o IFCE, campus Fortaleza, ou para qualquer outra necessidade que

precisa ser suprida.

O constante contato entre alunos do movimento estudantil do IFCE, campus Fortaleza,

e assistentes sociais para a discussão da melhoria dessa política, bem como para tratar de

empecilhos que não estão contribuindo para sua plenitude, é uma potencialidade da

assistência estudantil que merece ser destacada. O bom diálogo existente entre assistentes

sociais e alunos, não só aqueles pertencentes ao movimento estudantil, mas de toda a

comunidade acadêmica do IFCE, campus Fortaleza, contribui para que sejam colocados em

pauta todos os anseios dos discentes em relação à assistência estudantil e, consequentemente,

a procura do atendimento a tais anseios.

O fato é que as reivindicações dos alunos não devem ser expostas apenas aos

profissionais que estão “na ponta” da assistência estudantil, mas também àqueles que estão

em cargos mais elevados da assistência estudantil, pois as diretoras de assuntos estudantis e

gestão orçamentária relataram que ainda não sabem ao certo quais são os percalços mais

incidentes da assistência, a forma como vem sendo feito o acompanhamento dos alunos

dentro da política, e se, de fato, os valores dos auxílios ofertados aos discentes estão

atendendo suas necessidades para se manter na instituição etc.

Enfim, é preciso que os profissionais que estão executando a assistência estudantil

informem seus superiores sobre os problemas que estão ocorrendo dentro da assistência

estudantil para que não sejam considerados fictícios ou não adequados com a realidade

vivenciada.

Alguns percalços são visualizados nessa política: os valores dos auxílios ofertados aos

discentes ainda se mostram insuficientes e, com a implementação efetiva da nova resolução

da assistência estudantil, alunos e profissionais da assistência estudantil esperam que esses

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valores melhorem, já que serão baseados no valor per capita, segundo parágrafo único, artigo

20 dessa resolução da assistência estudantil do IFCE, a Resolução nº 008 (“o valor per capita

a ser calculado anualmente será obtido pela divisão entre o total do orçamento da assistência

ao educando e o número de alunos assistidos pelo IFCE, no ano em vigor”); ainda não há

profissionais suficientes nas áreas médica e psicológica, ficando muitos alunos à espera desses

atendimentos.

Outro limite a ser analisado nessa política de assistência estudantil são os valores que

não são entregues no prazo devido, pois o Governo Federal faz o repasse da verba apenas uma

vez por mês, havendo, ainda, a problemática de não chegar todo o dinheiro esperado para a

assistência estudantil, conforme relatos da diretora de gestão orçamentária e da diretora de

assuntos estudantis. Os auxílios, como pudemos notar pela fala dos discentes, é uma

complementação à renda do aluno que precisa daquele dinheiro, mas que necessita, também,

de “outras vias” para se manter estudando, como a ajuda financeira dos pais e do trabalho que

porventura exerça. Enfim, muitos ainda veem a assistência estudantil como uma “ajuda”,

poucos a percebem como direito.

Outrossim, os alunos sentem falta de um acompanhamento constante dos profissionais

que estão à frente da assistência estudantil, junto a eles, sendo tal contato essencial para que

possam saber o que está levando aquele discente a procurar a referida assistência, além de

saberem se a assistência estudantil está garantindo a permanência e evitando a evasão.

Infelizmente, devido à quantidade ínfima de profissionais que acompanham a assistência

estudantil (assistentes sociais) e à parca participação de outros profissionais (psicólogos,

professores, pedagogos, médicos etc.) contribuindo com suas competências específicas para

que a assistência estudantil dê o suporte integral ao aluno, seja na questão do aprendizado, de

vulnerabilidade social, de problemas relacionados à família, à saúde, de problemas

interpessoais etc., ainda não há um acompanhamento sistemático dos alunos que estão

inseridos na assistência estudantil para saber se há outros problemas que os levam a procurá-

la, além da necessidade do dinheiro para continuar estudando.

Com um número considerável de profissionais, haveria uma aproximação mais estreita

entre profissional que conduz a assistência estudantil e discente. De fato, a falta de

profissionais contribui de forma significativa para que isso não ocorra, já que os assistentes

estão muito ocupados com as atividades referentes à assistência estudantil. A colaboração de

outros profissionais (psicólogos, pedagogo, professores, que estão também no dia a dia com o

aluno etc.) poderia concorrer para que a assistência estudantil no campus tivesse um alcance e

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contato maiores, um conhecimento mais profundo, enfim, da vivência do aluno dentro dessa

política.

A participação de tais profissionais na condução da referida assistência para tratar de

perspectivas que fogem à competência do assistente social seria bem-vinda, e todos os

assistentes sociais concordam que assim deveria ser, pois ajudaria na construção de uma visão

mais holística do aluno, das necessidades que o levam a procurar a assistência estudantil, bem

como ajudariam a fazer com que o trabalho se desenvolvesse mais rápido e melhor.

A participação dos discentes na assistência estudantil poderia ser mais incisiva com o

diálogo mais apurado com estes, instigando-os a também decidirem como deve ser conduzida

a assistência estudantil mediante sugestões de outros possíveis critérios para a seleção dos

alunos que participarão da referida assistência, não esquecendo que tal política sempre deve

ser vista como direito e não como “ajuda aos discentes finaceiramente hipossuficientes”.

Em relação à questão de a assistência estudantil ainda ser notada como “ajuda

pecuniária aos estudantes hipossuficientes”, uma ampla discussão seria necessária entre os

profissionais que a ela estão ligados diretamente, para que analisassem a forma como essa

política educacional está sendo desenvolvida atualmente, tendo como critério principal, para

seu acesso, a condição econômica do aluno e parca atenção a outras questões (violência,

discriminação, vínculos familiares rompidos etc.) que porventura podem estar levando o

discente a procurar a assistência estudantil.

O próprio documento de Diretrizes Nacionais para a Assistência Estudantil relata,

como já citado anteriormente, outros fatos que podem contribuir para inserção do aluno na

assistência estudantil, que não sejam referentes ao fator econômico.

Algumas causas que suscitam o problema podem ser elencadas, como: ínfima equipe à

frente ao programa de assistência estudantil, composta por apenas seis assistentes sociais,

havendo, dessa forma, pouca colaboração de outros profissionais na condução da referida

política (o número de atendimentos psicológicos àqueles alunos que deles precisam é

insuficiente, visto a grandiosa demanda para apenas dois servidores que trabalham na

Coordenação de Psicologia); número expressivo de alunos que estão inseridos na assistência

estudantil (mais de 2.000 alunos atendidos). Tal situação dificulta, para uma equipe pouco

numerosa que precisa dar respostas efetivas a um público tão extenso, elencar outros critérios,

além da vulnerabilidade econômica, para escolha desses alunos.

Percebemos, desse modo, que o contexto em que se encontra a assistência estudantil

no IFCE, campus Fortaleza, não está em consonância com o que prega o documento de

Diretrizes Nacionais para a Assistência Estudantil, que defende a equipe multiprofissional

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para a supracitada assistência.

Não podemos negar, por fim, que a política de assistência estudantil do IFCE, campus

Fortaleza, mesmo com todas as contradições que são intrínsecas às políticas públicas, possui

sua relevância na vida escolar dos discentes. É o “porto seguro” (expressão utilizada por um

dos alunos entrevistados) quando não há outro recurso ao qual recorrer; é um “incentivo”

(expressão também utilizada por outro aluno) para que o discente sinta vontade de permanecer

na instituição e, consequentemente, terminar seus estudos. É o recurso que impede o aluno de

se sentir tão cansado ao ser obrigado a voltar para casa, mesmo necessitando estar no IFCE

em um horário posterior, com o intuito de almoçar, já que não possui dinheiro para se

alimentar; é notada como um direito que deveria ser estendido a todos, que foi conseguido

pela luta de todos aqueles que acreditam que a assistência estudantil, mesmo com todas as

vicissitudes existentes, é um dos caminhos para que a educação pública e de boa qualidade

esteja ao alcance de todos os indivíduos.

Esse trabalho de maneira nenhuma encerra as discussões sobre a assistência estudantil

do IFCE, campus Fortaleza. Esperamos que ele seja mais um caminho, mais um olhar ávido

pela busca da melhoria dessa política, que se faz tão essencial para todos os alunos do ensino

superior, ajudando-a a se tornar mais crítica, democrática e transparente. Enfim, que outros

estudos possam complementar o que porventura não foi analisado nesta pesquisa.

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APÊNDICE A – MEMORIAL ACADÊMICO

Ao iniciar este memorial acadêmico, ficamos imaginando quantas coisas foram

aprendidas e quantas ideias equivocadas que tínhamos a respeito de avaliação, políticas

públicas, pesquisa social e da relação pesquisador e pesquisado foram desconstruídas ao longo

das disciplinas com as quais tivemos contato no Mestrado em Avaliação de Políticas Públicas

(MAPP). Estas deram lugar a novos modos de pensar a realidade, tão flexível e mutável.

Aqui, pretendemos falar um pouco sobre como certos pensamentos estudados

contribuíram para que melhor pensássemos nosso objeto de estudo, no caso, a assistência

estudantil no IFCE, campus Fortaleza.

Foram de grande importância, para a análise do nosso objeto, as discussões realizadas

na disciplina de políticas públicas no Brasil sobre o porquê do nascimento das políticas

públicas. Estas, basicamente, serviam para “promover o crescimento econômico, acelerando o

processo de industrialização” (BACELAR, 2000, p. 262) que vinha se afirmando, no Brasil,

desde os anos 1940. Já o Estado tinha o papel de fornecer subsídios para que a acumulação

privada se propagasse.

Com isso, inferimos que tal lógica das políticas públicas em geral, de impulsionarem o

crescimento econômico do País, também pertence ao contexto da política de assistência

estudantil, já que esta, além de minorar as desigualdades sociais, bem como a evasão escolar,

também reforça a questão da oferta de mão de obra qualificada, principalmente naquelas áreas

onde os profissionais são poucos (como telemática, mecatrônica), para propulsionar o

crescimento econômico.

Soubemos, ainda na referida disciplina, mediante os estudos realizados com Bacelar

(2000), que as políticas sociais não receberam a devida atenção das políticas públicas, sendo

aquelas essencialmente compensatórias. Tal consideração nos fez pensar no porquê do caráter

compensatório, e não de uma política pública de direito, que possui a assistência estudantil, já

que esta é compreendida como “ajuda aos discentes mais pobres”, noção totalmente contrária

à ideia da política pública como direito universal.

Ao falar sobre a universalização das políticas públicas, concordamos com Sposati,

autora também estudada na supracitada disciplina, quando ela explana que aquela

não é só igualdade de acesso (a dita porta de entrada), mas, também, a igualdade da

qualidade do padrão de atenção (a porta de saída). A universalização supõe a

aceitação da diversidade na entrada e o alcance da equidade de respostas

(SPOSATI, 2010, p. 35, grifo nosso).

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Tal afirmativa corrobora nosso pensamento quanto a quem a política de assistência

estudantil deve atender. Nesse caso, deve atender a todos os alunos que dela precisarem, não

devendo tal política ser direcionada apenas pelo critério “aluno que possui renda mais

ínfima”, mas também por outros critérios que não levem em conta somente a questão

econômica dos discentes, analisando também o contexto social, cultural no qual se encontram

tais alunos.

Foi-nos esclarecido, ainda, que a concretização das políticas públicas se dá com

A identificação de um problema e a construção de uma agenda. Nesse sentido, a

tomada de decisão não representa o ponto de partida das políticas públicas. Ela é

precedida de ações e processos que constroem o campo e o tema dessa política [...]

(FLEXOR; LEITE, 2007, p. 205, grifo nosso).

Assim, pudemos ver que a expansão do Programa de Reestruturação e Expansão das

Universidades Federais (Reuni) e a entrada de alunos oriundos de classes sociais menos

abastadas foram os “terrenos”, o processo de onde germinou a necessidade da criação do

Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAES), Decreto nº 7.234, de 19 de julho de

2010, não sendo tal programa idealizado à toa, com uma finalidade encerrada em si mesmo.

Na disciplina de fundamentos do trabalho científico, ficamos surpreendidos e ao

mesmo tempo encantados por termos deixado para trás certa ideia que tínhamos como correta,

ideia esta formada através de leituras realizadas na graduação: a de que o pesquisador devia se

manter neutro em relação ao seu objeto de estudo para que este não fosse maculado com suas

suposições; graças às leituras realizadas em tal disciplina, descobrimos que é preciso, sim, ter

uma interação entre sujeito-pesquisador e sujeito-pesquisado, já que “a própria realidade

social é ideológica, porque é produto histórico no contexto da unidade de contrários, em parte

feita por atores políticos, que não poderiam – mesmo que o quisessem – ser neutros” (DEMO,

2011, p. 19).

Enfim, foi-nos oportuno saber desse pressuposto porque ele traz consigo a obrigação

de possuirmos um posicionamento político e ético quanto à finalidade da nossa pesquisa,

quanto ao compromisso que possuímos com os atores sociais pesquisados (alunos que estão

inseridos na política de assistência estudantil do IFCE, campus Fortaleza) que precisam do

nosso estudo para melhor conhecer a realidade em que estão inseridos e, consequentemente,

terem uma maior participação e entendimento da política voltada para eles.

Também na supramencionada disciplina, pudemos saber da importância de haver um

“estranhamento” em relação àquilo que estamos pesquisando, pois nossa “familiaridade” com

algo que sempre esteve à nossa volta pode fazer com que deixemos passar fatos e verdades

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que compõem a realidade estudada simplesmente por acharmos tudo “muito natural”.

Achamos que isso não ocorrerá na realização de nossa pesquisa, já que não trabalhamos

diretamente com os sujeitos implicados na questão da assistência estudantil no IFCE, campus

Fortaleza. Todavia, achamos necessário ter esse “aviso” em mente para não perdermos o foco

de “estranhar” todos os elementos que formam nosso objeto de estudo, tendo, assim, um olhar

mais apurado sobre as questões contraditórias (ou não) que o rodeiam.

O contato que tivemos com o texto “De que lado estamos?”, de Howard Becker

(1977), na disciplina de fundamentos do trabalho científico, nos chamou a atenção quando o

autor falou sobre a simpatia que porventura poderíamos ter em relação aos sujeitos que

estávamos estudando e como essa simpatia poderia prejudicar nossa pesquisa se refutássemos,

por exemplo, certos estereótipos que foram confirmados, na pesquisa, daqueles sujeitos

estudados.

Daí, ficamos a pensar: temos uma grande simpatia por determinados sujeitos da nossa

pesquisa (os alunos que estão na assistência estudantil), inclusive chegamos a deixar, bem

claro, em uma entrevista com um deles, sobre a empatia que tínhamos por esse segmento, mas

respiramos aliviados ao chegar à conclusão de que não teríamos coragem de ‘esconder’ certas

descobertas sobre os discentes que poderiam nos decepcionar, pois acreditamos que é aí que

está a beleza da pesquisa: descobrir que certos fatos sobre nossos sujeitos de estudo, que

achávamos que não poderiam de nenhuma forma acontecer, aconteciam sim (ainda bem!),

para nosso espanto e encanto. O que seria da pesquisa se não fossem esses “imprevistos”? Na

nossa opinião, são exatamente eles que dão uma maior importância aos resultados que aquela

trará.

Outra contribuição de grande valia tivemos com as leituras que realizamos na

disciplina de métodos qualitativos. O texto “Meninos de rua: registros de uma etnografia”, de

Hélio Silva (2001), nos mostraram as “surpresas” que a nossa pesquisa poderia conter e com

as quais precisávamos saber lidar. O referido autor descobriu, ao adentrar o local onde seus

sujeitos de estudo (os meninos de rua) se encontravam, que a rua era um local “seguro” para

aquelas crianças, já que, em casa, a violência e a extrema pobreza não deixavam que lá

permanecessem. Mais uma vez, foi-nos ratificado que nosso objeto de estudo pode ser uma

“caixinha de surpresas”, não nos apresentando aquilo que parecia ser tão óbvio.

Ainda em tal disciplina, através da leitura do texto “Uma incursão pelo lado ‘não

respeitável’ da pesquisa de campo”, de Caldeira (1981), tivemos conhecimento sobre a

relação pesquisador-pesquisado. Tal relação, segundo a autora, seria uma

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“relação de poder”: relação em que um requer um depoimento e o outro se vê na

contingência de responder; em que um pede que tudo seja dito nos mínimos

detalhes, e o outro se esforce por dizer a verdade que, no entanto, só o primeiro

poderá revelar (CALDEIRA, 1981, p. 334).

Essa situação, segundo a autora, é aceita devido o pesquisador ser o “detentor” do

saber científico, sendo tudo justificável “pelo bem da ciência”. Sendo assim, o pesquisado

acaba ficando numa posição subordinada em relação àquele. Porém, acreditamos que tanto o

pesquisador como o pesquisado são importantes e ambos possuem informações válidas que

ajudarão a definir os resultados de uma pesquisa. Também acreditamos que eles possuem,

igualmente, o conhecimento necessário para que a realidade seja desnudada. Portanto, o

contato com a referida autora nos foi relevante para corroborarmos o pensamento que

tínhamos em relação aos nossos atores sociais que serão pesquisados (discentes atendidos pela

assistência estudantil e profissionais que operacionalizam tal política): que estes são tão

necessários (ou até mais) quanto nós para que a pesquisa seja possível.

O texto de Alba Zaluar, “A aventura etnográfica: atravessando barreiras, driblando

mentiras”, de 1984, também estudado na disciplina de métodos qualitativos, nos deixou muito

pensativos ao expor certa situação que poderia acontecer na nossa pesquisa, mas que, em

nenhum momento, tínhamos cogitado a possibilidade de acontecer conosco: mentiras que

poderiam ser contadas pelo ator social pesquisado, durante uma entrevista. Zaluar (1984)

passou por isso e só soube que tinha obtido mentiras na sua entrevista porque um dos seus

assistentes lhe disse que o entrevistado havia mentido o tempo todo.

Sendo assim, ficamos a indagar: caso algum dos nossos entrevistados minta, como

vamos saber? Não teremos nenhum assistente conosco como a referida autora, então,

pensamos que a situação poderia se complicar muito para nós; todavia, para nos preparar

perante esse empecilho, faz-se necessário ter em mente que “[...] as entrevistas eram discursos

sobre significados, cujo sentido eu deveria buscar fora do dito [...]” (ZALUAR, 1984, p. 9).

Portanto, aqui caberia a nossa capacidade de captar o que havia nas entrelinhas daquilo que

nos era dito, não aceitando como suma verdade tudo o que nos afirmavam. Enfim, era preciso

ir além das palavras; era preciso saber seu significado dentro de determinado contexto. Há

também a possibilidade de fazer o confronto com documentos, relatórios etc.

Sobre a avaliação de políticas públicas (a alma do nosso estudo, acreditamos), muito

aprendemos no decorrer da disciplina de planejamento e avaliação de políticas públicas. Ao

estudarmos os vários tipos de avaliação, pudemos chegar à conclusão de que nossa avaliação

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será a de impacto, já que pretendemos avaliar de que forma a assistência estudantil está

incidindo sobre a vida dos discentes por ela atendidos e se houve uma mudança social.

Pudemos perceber que a avaliação possui uma dimensão muito maior do que

imaginávamos. Aquela não é apenas definida como um instrumento que vai dizer se um

projeto é bom ou ruim. Ela vai tentar compreender, de forma ampla, aquela realidade

específica em determinado momento, tentando delinear os interesses em jogo, o dito e o não

dito pelos atores sociais inseridos nessa realidade e surtir mudanças nesta. Aprendemos ainda

que a avaliação não pode ser vista como algo simples, possuindo apenas um caminho para que

seja bem feita, ela é permeada por contradições, por incertezas.

A avaliação de políticas e programas está embasada em duas dimensões (a técnica e a

política), sendo um importante instrumento que possibilita aos sujeitos sociais o controle

social das políticas públicas. É exatamente tal fato que nos ajudou a encontrar um motivo

forte para fazermos a avaliação da assistência estudantil no IFCE, campus Fortaleza, pois

desejamos, com a avaliação desse programa, tornar os sujeitos sociais que estão ligados a tal

programa (alunos inseridos na assistência estudantil, assistentes sociais que operacionalizam

essa política) conhecedores da forma como vem se desenvolvendo o programa e como ele

poderia melhorar, expondo-lhes as potencialidades e deficiências da referida política naquele

espaço onde se concretiza.

No MAPP, através da disciplina planejamento e avaliação de políticas públicas e das

leituras que realizamos para realizarmos a seleção do mencionado mestrado, pudemos

conhecer a avaliação em profundidade, que considera a avaliação não “como julgamento de

valor, mas como compreensão” (RODRIGUES, 2011, p. 48). Sendo assim, segundo a autora,

essa avaliação não está interessada se os objetivos de determinada política pública foram

atendidos, mas prima, essencialmente, pela compreensão, pela vivência dessa política. Isso é

muito importante para a realização da nossa pesquisa, pois faz com que fiquemos atentos a

todas as facetas que compõem a política de assistência estudantil, ou seja, a reconstituição da

trajetória dessa política, o contato com todos os atores sociais que nela estão envolvidos, o

perfil dos alunos que estão inseridos na assistência estudantil etc.

Já que precisaremos saber tais facetas para termos uma compreensão ampla da

assistência estudantil no IFCE, campus Fortaleza, precisaremos, certamente, de várias

técnicas de pesquisa, e é justamente isso que a avaliação em profundidade defende,

corroborando, assim, mais uma vez, a utilidade que tal avaliação terá para nossa pesquisa.

A disciplina de seminário de trabalho discente final foi imprescindível para melhorar

nossa discussão acerca da assistência estudantil. Trabalhar as questões educação e cotas para

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alunos hipossuficientes nas instituições federais foi essencial para que pudéssemos ter ideias

mais claras sobre o porquê da necessidade da assistência estudantil.

Enfim, todo o caminho trilhado no MAPP possibilitará a construção de uma avaliação

que permita um bom conhecimento sobre o objeto de estudo escolhido, não havendo, é claro,

a ideia de que “tudo será descoberto”, de que nosso estudo esgotou todas as discussões que

porventura possam suscitar sobre a assistência estudantil no IFCE, campus Fortaleza. Pelo

contrário, desejamos que nosso trabalho possibilite outras reflexões acerca da problemática

levantada e que tais reflexões possam contribuir, mais ainda, para que assistência estudantil

seja ratificada como direito do discente dessa instituição de ensino e fortalecida nas suas

ações através de uma avaliação organizada, que dê notoriedade a todos aqueles que estejam

nela envolvidos.

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APÊNDICE B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Eu, _________________________________________________________________,

informo que sou voluntário(a) no fornecimento de informações à pesquisadora Aline Freitas

Dias Pinheiro, discente do Mestrado em Avaliação de Políticas Públicas da Universidade

Federal do Ceará (UFC), que está realizando a pesquisa denominada: “Avaliação da

Assistência Estudantil: possibilidades e limites de uma política pública educacional”, a qual

tem por objetivo avaliar os impacto da assistência estudantil, campus Fortaleza, sobre a vida

escolar dos alunos que nela estão inseridos. Vale ressaltar que a pesquisa poderá trazer uma

contribuição importante para a compreensão da assistência estudantil no IFCE, campus

Fortaleza. Ela se dará por meio de entrevista e preenchimento de questionário, assegurando

privacidade ao(à) entrevistado(a).

Estou ciente de que terei os direitos abaixo assegurados:

Estou sabendo que as minhas informações serão gravadas;

As informações ditas por mim durante a entrevista serão utilizadas somente para

objetivos da pesquisa;

As informações ficarão em segredo e eu não serei identificado(a);

Tenho a liberdade de abandonar a qualquer momento a pesquisa;

Em nenhum momento serei prejudicado(a) no que se refere à minha inclusão na

assistência estudantil do IFCE, campus Fortaleza;

A aluna pesquisadora fica à disposição para qualquer esclarecimento, a qualquer

momento, durante o andamento da pesquisa;

Informo que entendi o que me foi explicado pela pesquisadora, e concordo em

participar da pesquisa.

Fortaleza, _____ de _______________ de 2014.

_________________________________ ______

Participante da Pesquisa

Nome: __________________________________ RG:_________________________

Telefone para contato:___________________________________

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APÊNDICE C – ROTEIRO DE ENTREVISTA UTILIZADO COM OS ESTUDANTES

ATENDIDOS PELA ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL

Nome: _________________________________________________________________

Idade: _________________________________________________________________

Curso/Semestre: _________________________________________________________

Auxílio(s) recebido(s) da assistência estudantil: _______________________________

1. Para você, o que é a assistência estudantil?

2. Para você, quais as potencialidades e limites da assistência estudantil no IFCE?

3. Como você se inseriu na assistência estudantil?

4. Fale-me sobre a seleção que é realizada pelo Serviço Social para a escolha dos alunos

que participarão da assistência estudantil. O que você acha dessa seleção?

5. Como você descreveria sua vida escolar antes de sua inserção na assistência

estudantil? E depois?

6. Você conhece o PNAES?

7. Que outros serviços a assistência estudantil do IFCE, campus Fortaleza, poderia

ofertar, além da ajuda financeira?

8. Quais seriam as suas outras necessidades que precisam ser atendidas para você se

manter no IFCE?

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APÊNDICE D - QUESTIONÁRIO APLICADO AOS ALUNOS QUE ESTÃO

INSERIDOS NA ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL DO IFCE, CAMPUS FORTALEZA

Nome: _____________________________________________________________

Idade: ______________________________________________________________

Curso: ______________________ Semestre: ____________________________

Auxílio-discente que recebe: ____________ Valor do auxílio-discente: __________

Localidade em que mora (bairro): ________________________________________

Quantos familiares moram com você? ( ) 1 a 3 ( ) 4 a 6 ( ) Mais de 6

Renda familiar (incluindo você): ( ) 1 salário-mínimo ( ) 2 a 3 salários-mínimos ( ) 4 a 5

salários-mínimos ( ) Mais de 5 salários-mínimos

Mora com os pais? ( ) Sim ( ) Não

Senão, com quem mora? ( ) Amigos ( ) Outros parentes (tios, primos, avós etc.)

Grau de escolaridade do pai: ( ) Ensino fundamental incompleto ( ) Ensino fundamental

completo ( ) Ensino médio incompleto ( ) Ensino médio completo ( ) Ensino Superior

incompleto ( ) Ensino Superior completo

Profissão do pai: _________________________________________

Grau de escolaridade da mãe: ( ) Ensino fundamental incompleto ( ) Ensino fundamental

completo ( ) Ensino médio incompleto ( ) Ensino médio completo ( ) Ensino superior

incompleto ( ) Ensino superior completo

Profissão da mãe: __________________________________________

A família paga aluguel? ( ) Sim ( ) Não

Você trabalha para ajudar com as despesas familiares? ( ) Sim ( ) Não

Se sim, em que trabalha?______________

Você possui lazer ( ) Sim ( ) Não

Se sim, qual? ( ) Cinema ( )Televisão ( ) Praia ( ) Ler livros ( ) Passear no shopping ( )

Outros:________________________

Você utiliza o auxílio-discente para outros fins? ( ) Sim ( ) Não

Em caso afirmativo, indique um destes itens: ( ) Comprar comida ( ) Comprar material escolar

( ) Pagar água, luz, aluguel etc. ( ) Comprar roupas ( ) Outros:___________________

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APÊNDICE E – ROTEIRO DE ENTREVISTA UTILIZADO COM OS

PROFISSIONAIS QUE TRABALHAM COM A ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL

Nome: ________________________________________________________________

Cargo:_________________________________________________________________

Tempo em que trabalha no IFCE:____________________________________________

1. Quais são as ações que são desenvolvidas, atualmente, pela assistência estudantil?

2. Quais os desafios enfrentados hoje pela assistência estudantil?

3. Como profissional que operacionaliza a assistência estudantil no IFCE, campus

Fortaleza, como seu trabalho pode colaborar para que aquela seja reconhecida como

política pública, um direito do aluno?

4. Há uma avaliação, pela equipe que está à frente da política de assistência estudantil,

sobre a maneira como está se desenvolvendo tal política junto aos alunos?

5. O que poderia melhorar na assistência estudantil do IFCE, campus Fortaleza?

6. Na sua opinião, qual a importância da assistência estudantil para o estudante que nela

se insere?

7. Há a participação dos alunos na condução da assistência estudantil? Se sim, como

você a avalia?

8. Qual avaliação que você faz da seleção que é realizada pelo Serviço Social para a

inserção dos alunos na assistência estudantil?

9. Quais expectativas você tem sobre a assistência estudantil do IFCE, campus

Fortaleza?

10. Que outros profissionais poderiam participar da assistência estudantil do IFCE,

campus Fortaleza, e qual seria o papel de cada um?

11. O que você acha da equipe multidisciplinar na condução da assistência estudantil?

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APÊNDICE F – ROTEIRO DE ENTREVISTA UTILIZADO COM A DIRETORA DE

ASSUNTOS ESTUDANTIS E A DIRETORA DE GESTÃO ORÇAMENTÁRIA DO

IFCE

Nome: _________________________________________________________________

Cargo: _________________________________________________________________

Tempo em que trabalha no IFCE: ____________________________________________

1. Quanto o MEC destina à assistência estudantil do IFCE? A instituição também

contribui com a referida assistência mediante recurso próprio?

2. A inexistência de uma rubrica específica no orçamento para o Plano de Assistência

Estudantil atrapalha a definição de recursos para a assistência estudantil do IFCE?

3. Há uma demanda de alunos que não pode ser atendida pela assistência estudantil pela

escassez de recursos. Como o IFCE lida com tal situação e o que propõe para saná-la?

4. Houve um aumento nos gastos com a assistência estudantil do IFCE, campus

Fortaleza, desde o ano de 2010, quando surgiu o Programa Nacional de Assistência

Estudantil?

5. Em relação aos valores dos auxílios da assistência estudantil, ofertados aos alunos,

você acha que eles são suficientes para atendê-los em suas necessidades?

6. Como o IFCE define os valores dos auxílios ofertados aos alunos?

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ANEXO A – DADOS DE ATENDIMENTO DO SETOR DE PSICOLOGIA DO IFCE,

CAMPUS FORTALEZA – 2010 A 2014

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ANEXO B – DADOS DE ATENDIMENTO MÉDICO E DE ENFERMAGEM AO

ALUNO – 2010

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ANEXO C – DADOS DE ATENDIMENTO MÉDICO E DE ENFERMAGEM AO

ALUNO – 2011

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ANEXO D – DADOS DE ATENDIMENTO MÉDICO E ODONTOLÓGICO AO

ALUNO – 2012

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ANEXO E – DADOS DE ATENDIMENTO MÉDICO E ODONTOLÓGICO AO

ALUNO – 2013

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ANEXO F – DADOS DE ATENDIMENTO MÉDICO E DE ENFERMAGEM AO

ALUNO – 2014

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ANEXO G – ATENDIMENTO ODONTOLÓGICO – 2014

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ANEXO H – GASTOS COM ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL – 2010 A 2014

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ANEXO I – ASSISTÊNCIA AO EDUCANDO – 2013 A 2014