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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
MESTRADO EM AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS
ALINE FREITAS DIAS PINHEIRO
AVALIAÇÃO DA ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL: POSSIBILIDADES E LIMITES DE
UMA POLÍTICA PÚBLICA EDUCACIONAL
FORTALEZA
2015
ALINE FREITAS DIAS PINHEIRO
AVALIAÇÃO DA ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL: POSSIBILIDADES E LIMITES DE
UMA POLÍTICA PÚBLICA EDUCACIONAL
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado
Profissional em Avaliação de Políticas
Públicas pela Universidade Federal do Ceará,
como requisito parcial à obtenção do grau de
Mestre em Avaliação de Políticas Públicas.
Orientadora: Profª. Drª. Gema Galgani Silveira
Leite Esmeraldo.
FORTALEZA
2015
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
Universidade Federal do Ceará
Biblioteca de Ciências Humanas
P718a Pinheiro, Aline Freitas Dias.
Avaliação da assistência estudantil: possibilidades e limites de uma política pública
educacional / Aline Freitas Dias Pinheiro. – 2015.
140 f. : il., enc. ; 30 cm.
Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Ceará. Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação,
Curso de Mestrado Profissional em Avaliação de Políticas Públicas, Fortaleza (CE), 2015.
Orientação: Profa. Dra. Gema Galgani Silveira Leite Esmeraldo.
1. Políticas públicas. 2. Estudantes – Auxílio financeiro – Política governamental – Fortaleza
(CE). I. Título.
CDD 378.198
ALINE FREITAS DIAS PINHEIRO
AVALIAÇÃO DA ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL: POSSIBILIDADES E LIMITES DE
UMA POLÍTICA PÚBLICA EDUCACIONAL
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado
Profissional em Avaliação de Políticas
Públicas pela Universidade Federal do Ceará,
como requisito parcial à obtenção do grau de
Mestre em Avaliação de Políticas Públicas.
Aprovada em: ___/___/___.
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________________________________
Profª. Drª. Gema Galgani Silveira Leite Esmeraldo (Orientadora)
Universidade Federal do Ceará (UFC)
_________________________________________________________________
Profª. Drª. Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos
Universidade Federal do Ceará (UFC)
________________________________________________________________
Profª. Drª. Francisca Rejane Bezerra Andrade
Universidade Estadual do Ceará (Uece)
“Vai, tua vida,
Teu caminho, é de paz e amor,
A tua vida
É uma linda canção de amor.
Abre os teus braços e canta
A última esperança,
A esperança divina
De amar em paz.
Se todos fossem
Iguais a você,
Que maravilha viver
Uma canção pelo ar,
Uma mulher a cantar,
Uma cidade a cantar, a sorrir, a cantar, a pedir
A beleza de amar
Como o sol, como a flor, como a luz,
Amar sem mentir, nem sofrer.
Existiria a verdade,
Verdade que ninguém vê,
Se todos fossem no mundo iguais a você!”
À minha avó materna Adosina, a quem devo o
melhor de mim, o meu amor, a minha gratidão.
AGRADECIMENTOS
Há muitas pessoas às quais gostaria de dedicar meus sinceros agradecimentos, que
colaboraram com um pedacinho de si para que esse trabalho fosse possível.
Acima de tudo, gostaria de agradecer a Deus, por ter me dado coragem e força para
realizar os meus sonhos, fazendo-me chegar até aqui, quando achava que já não podia mais,
devido ao cansaço e às incertezas, fazendo-me acreditar que eu poderia ir muito além do que
imaginava.
À minha querida mãe, Rosimêre Freitas Dias, por sempre me colocar em suas orações
e torcer pelo meu êxito.
Ao meu amado pai, José Sigefredo Pinheiro Filho, que sempre acreditou que eu
poderia conquistar tudo aquilo que almejasse, que nunca poupou nenhum esforço para me ver
crescer, ser feliz.
À minha amada avó, Adosina Rosa Dias de Freitas, a quem devo toda admiração,
respeito e carinho e que me impulsionou a continuar este trabalho quando, em certos
momentos, as forças me faltaram.
À minha tia e madrinha, Maria de Fátima Freitas Brandão, pela torcida constante pela
minha felicidade.
Ao meu amado esposo Thiago do Amaral Ferreira, pelo seu amor incondicional e por
fazer minha vida mais feliz, mais bela e com mais sentido, por ter me dado ânimo e força
quando o cansaço tomava conta de mim para concluir este trabalho. Te amo infinito.
Aos meus queridos amigos que sempre estiveram ao meu lado, apoiando-me nos
momentos mais importantes da minha vida: Aline Venâncio Machado, Ana Kelle Nascimento
da Silva, Ana Virgínia Fonseca, David Queiroz, Ellen Gomes Xavier, Érica Mayara Natalense
Melo, Francisco Aguiar Dias, Josiana Matias, Kelly Maria Gomes Menezes, Larissa Adélia
Oliveira Gaspar, Marcela Silva Sousa, Priscila Nottingham de Lima, Renata de Almeida
Cavalcante, Silvana Maria Pereira Cavalcante (grande inspiradora do sonho de fazer o
Mestrado em Avaliação de Políticas Públicas), Socorro Aquino Caboclo, Soraya Aquino
Caboclo, Thiara do Amaral Ferreira e Thiara Isabel Nepomuceno Soares Paz.
Ao Mestrado em Avaliação de Políticas Públicas (MAPP), da Universidade Federal do
Ceará (UFC), por ter me dado a oportunidade única e maravilhosa de realizar o grande sonho
de ser mestre.
Aos estimados colegas do MAPP, Camilla Paiva, Coeli Girão, Corcyra Sabóia,
Daniela Cambraia, Diana Simões, Genézio Alves, Gutemberg Frota e Pablo Rodrigo da Silva,
pela amizade, companheirismo, força e apoio dados, um ao outro, durante toda a caminhada
no mestrado.
À minha estimada instituição de trabalho, Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Ceará, pelo financiamento do mestrado e, consequentemente, pela
oportunidade de realizá-lo.
Aos meus maravilhosos colegas da Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas do IFCE, pelas
risadas, amizade, incentivo, ajuda e torcida para conclusão do mestrado: Adriana Farias
Bonfim, Débora Regina Diniz Soares, Elane Cristina Rodrigues, Helda de Queiroz Pontes,
Josimary Horta Araújo, João Araújo da Silva, Juliana Nunes Caminha, Ivam Holanda de
Souza, Márcio Oliveira Albuquerque, Maria Alice Cruz Alencastro, Maria Guaraciara
Taguaraci, Mayara Martins Costa, Rosângela Maria Ferreira Gomes, Samara Tauil Vitorino e
Vera Lúcia Vieira de Queiroz.
Ao presidente da Associação dos Servidores do IFCE (Assetece), Edilson Viana Oriá,
e sua funcionária Rosângela Maria da Silveira Pereira Figueiredo Santos, por não terem se
negado, em nenhum momento, mesmo sem me conheceram, a realizar o contrato necessário
com a Associação Cearense de Pesquisa (ACEP) para o curso do mestrado. Muito obrigada a
vocês! Serei sempre grata pelo que fizeram por mim.
À assistente social do IFCE, Reitoria, Patrícia Fernandes de Freitas, pela sua valiosa
ajuda para compor o perfil do meu trabalho, ao ceder livros que me ajudaram a aprofundar os
meus estudos e pelo apoio dado ao me dirigir palavras de ânimo quando o cansaço para
terminar o trabalho já se fazia presente.
Às assistentes sociais da Coordenação de Serviço Social do IFCE, campus Fortaleza,
Ana Maria Nóbrega Cavalcanti, Andréa Pinto Graça Parente, Eva Gomes da Silva, Ívia Eline
Farias Dias, pela gentileza, presteza, atenção que dispensaram a mim, não poupando esforços
para ajudar na coleta de dados para meu trabalho.
Aos servidores do IFCE, campus Fortaleza, Adriano Monteiro da Silva, Ana Valéria
Monteiro da Silva, Dulcimar Soares Ferreira, José de Arimatéa Ferreira Quintiliano e Maria
do Socorro Teles Félix, que foram muito prestativos e solícitos ao me fornecerem dados
quantitativos sobre a assistência estudantil, que enriqueceram meu trabalho.
À minha orientadora Gema Galgani Silveira Leite Esmeraldo, pelo olhar experiente e
pela calma que muito me foi necessária ao conduzir, de forma coerente, o aperfeiçoamento
deste trabalho.
À professora Francisca Rejane Bezerra Andrade, querida professora da época da
graduação, na Uece, por ter me dado a honra de tê-la como avaliadora da banca e pelas
significativas sugestões que engrandeceram meu trabalho.
À professora Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos, pela solicitude e gentileza ao
aceitar participar da banca avaliadora, sendo essenciais suas recomendações e seu olhar
apurado de assistente social da área de assuntos estudantis para melhoria da dissertação.
Às diretoras de orçamento e gestão e assuntos estudantis, pela disponibilidade e
gentileza ao deixarem tomar um pouco do seu tempo para meu trabalho.
Aos meus queridos alunos entrevistados, que muito contribuíram para que eu sentisse
o que era, de fato, a assistência estudantil para o aluno do ensino superior. Obrigada pela
atenção, gentileza, amabilidade e presteza! Vocês simplesmente se doaram totalmente ao meu
trabalho, como se este fosse também de vocês. E, na verdade, é! Vocês são o centro dessa
dissertação, e ela não teria valido tanto a pena caso vocês não tivessem se doado tanto, de
corpo e alma.
“Quando o homem compreende a sua
realidade, pode levantar hipóteses sobre o
desafio dessa realidade e procurar soluções.
Assim, pode transformá-la e o seu trabalho
pode criar um mundo próprio, seu Eu e as suas
circunstâncias.” (Paulo Freire)
RESUMO
O presente trabalho realizou uma avaliação de impacto no Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), campus Fortaleza, da política de assistência estudantil.
Com o intuito de compreender como essa política vem se desenvolvendo junto aos discentes
que a ela recorrem para permanecer na referida instituição de ensino, esta pesquisa objetivou
conhecer se tal política vem se afirmando como um direito do aluno, possibilitando que este
conclua seus estudos, e como os atores sociais que estão envolvidos com assistência estudantil
(estudantes, assistentes sociais da Coordenação de Serviço Social, diretora de assuntos
estudantis e diretora de gestão orçamentária) veem-na, conduzem-na e que significados
possuem dessa política, para identificar suas potencialidades e limites. Para tanto, este
trabalho apresenta algumas discussões sobre o contexto em que nasceu a assistência estudantil
no Brasil, o entendimento desta como política pública educacional voltada para a manutenção
do aluno nas instituições federais de ensino e, especificamente, sua implantação no IFCE,
campus Fortaleza. Para chegar aos objetivos propostos, foram realizadas entrevistas
semiestruturadas, bem como observação participante e registros em diário de campo.
Palavras-chave: Avaliação de políticas públicas. Assistência estudantil. Políticas públicas.
ABSTRACT
The present work made an impact evaluation at Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Ceará (IFCE), Fortaleza campus, of students’ politics and assistance. As an
aim to understand how this politics have been developing along with the learners that fall
back upon it to remain in the referred learning institution, this research aimed to know if this
politics has been reaffirming itself as a student’s right, enabling them to complete their
studies, and also how social actors, that are involved with students assistance (students, social
assistants of Social Services Coordination, director of students matters and financial
management directory), see it, lead it and what meanings they have about this politics to
identify its potentialities and limits. For this purpose, this work shows some discussions
about the context where students’ assistance has risen, the understanding of it as educational
public politics turned to the maintenance of the students in the learning federal institutions,
and specifically its implantation in IFCE, Fortaleza campus. Some semi-structured interviews
have been conducted in order to get to the proposed aims, as well as participant observations
and daily field records.
Keywords: Evaluation of public politics. Students’ assistance. Public politics.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 11
2 DEFINIÇÃO DA POLÍTICA EM ESTUDO 14
2.1 Delineamento do objeto avaliativo: a assistência estudantil e seus
desdobramentos
26
3 TECENDO DISCUSSÕES TEÓRICAS SOBRE AVALIAÇÃO 31
3.1 Contribuições teóricas sobre assistência estudantil, educação e
políticas públicas
40
4 O CAMINHO METODOLÓGICO: REALIZANDO A
DESCOBERTA DOS SUJEITOS DA POLÍTICA
49
4.1 Primeiros contatos com os sujeitos da pesquisa 53
4.2 Como os alunos avaliam a política de assistência estudantil no IFCE,
campus Fortaleza
58
4.3 A organização política dos discentes frente às problemáticas da
assistência estudantil
73
4.4 Discussões da institucionalidade: quando o compromisso com a
política supera obstáculos
81
4.5 Limites e possibilidades na gestão da política de assistência
estudantil
94
CONSIDERAÇÕES FINAIS 100
REFERÊNCIAS 105
APÊNDICES 109
ANEXOS 120
11
1 INTRODUÇÃO
Este trabalho visa a realizar uma avaliação de impacto da política de assistência
estudantil no IFCE, campus Fortaleza. Nosso objetivo central é compreender como se
desenvolve a política de assistência estudantil junto aos alunos que são beneficiados por ela.
Sendo assim, desenvolvemos discussões sobre as categorias que envolvem a questão da
assistência estudantil, como: alunos financeiramente hipossuficientes que entraram nas
instituições federais de ensino superior através de cotas; contexto de expansão das vagas
nessas instituições, que propiciaram o campo para a implantação da assistência estudantil; e a
luta para que a política de assistência estudantil fosse vista como direito do aluno do ensino
superior, indo além da ideia de que aquela estava somente a favor dos interesses dos
organismos multilaterais (NASCIMENTO, 2011).
Segundo Nascimento (2011), no Governo Lula (2003-2010), a assistência estudantil
teve “uma notória expansão” (NASCIMENTO, 2012, p. 10), a qual foi possível graças à
entrada de alunos de classes menos abastadas da sociedade, através do Programa de Expansão
e Reestruturação das Universidades Federais (Reuni). Aquela, respaldada pelo Decreto nº
7.234, de 19 de julho de 2010, institui o Programa Nacional de Assistência Estudantil
(PNAES), que fornece, a esses alunos, através de ações voltadas para a alimentação,
transporte, saúde, moradia, dentre outros, a possibilidade de se manterem no ensino superior
e, consequentemente, concluírem seus estudos.
Podemos dizer ainda que o estabelecimento de cotas sociais nas universidades também
ajudou na entrada de discentes das classes médias e baixas nas universidades brasileiras,
corroborando, mais uma vez, a urgência de uma política educacional que estivesse voltada
para as necessidades desses alunos, sejam elas de alimentação, transporte, de compra de
matéria escolar etc. A adoção de cotas, segundo Menin et al. (2008), foi iniciada há pouco
tempo, mais precisamente em 2001, na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e na
Universidade Nacional de Brasília (UnB). O referido autor ressalta ainda que, em 2008, isso
já era realidade em mais de 20 universidades de várias regiões do Brasil e, desde 2012,
também se faz presente no IFCE.
Todavia, há discussões sobre a que realmente a assistência se propõe. Seria mesmo ela
considerada um direito do aluno que se encontra no ensino superior? Um caminho para
atenuar os problemas referentes à renda e a outras questões sociais, que influenciam a
permanência e o término dos estudos no ensino superior? Ela vem se desenvolvendo, no
IFCE, como tal? Ou seria apenas uma ação focalizada do governo, que não possibilita, de
12
fato, como prega o próprio PNAES, “contribuir para a promoção da inclusão social pela
educação”?
Sendo assim, refletimos sobre o que seria, de fato, a assistência estudantil. Já que é um
direito social, seria considerada, porventura, uma política social compensatória? Segundo
Horta (2010),
para muitos, [...] os direitos sociais são algo como “políticas sociais compensatórias”
[...]; sociais, por dirigirem-se aos menos favorecidos da plebe, que com seus parcos
recursos dificilmente poderiam obter o acesso às condições desfrutadas pela elite; e
compensatórias, porque visam exatamente apresentar uma reparação do dano
causado a tais parcelas sociais excluídas das benesses da propriedade (HORTA,
2010, p. 220).
Como política pública social, admitimos que a assistência estudantil possui um viés
compensatório, pois surgiu para apoiar aqueles alunos que não possuem meios de se manter
estudando nas instituições federais de ensino superior. Todavia, concordamos com Silva
(2008) quando fala que é contra a
percepção da política pública como mero recurso de legitimação política ou de uma
intervenção estatal subordinada tão somente à lógica da acumulação capitalista. A
política pública é uma resposta decorrente de pressões sociais a partir de ações de
diferentes sujeitos [...] que sustentam interesses diversificados. Portanto, serve a
interesses também contraditórios, que ora se situam no campo do capital, ora no
campo do trabalho. Recuso, portanto, qualquer raciocínio linear e consensual, pois
falar de política é falar de diversidade e contradição (SILVA, 2008, p. 90).
Sendo assim, não podemos nos limitar a apenas enxergar esse perfil compensatório da
assistência estudantil, o seu “lado ruim”. Precisamos notar, também, suas potencialidades, a
importância da sua concretização através da luta dos alunos do movimento estudantil,
professores e entidades ligadas à defesa dessa política pública educacional, como o Fórum
Nacional de Pró-Reitores de Assuntos Comunitários e Estudantis (Fonaprace) e a Associação
Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), que
possibilitaram, ao discente, a oportunidade de concluir o ensino superior.
Para tanto, tivemos como cenário da nossa pesquisa qualitativa o IFCE, campus
Fortaleza, no qual realizamos entrevistas semiestruturadas e questionário com perguntas
fechadas com os estudantes que estão inseridos na assistência estudantil, através do
recebimento dos auxílios transporte e alimentação. Outrossim, também realizamos entrevistas
semiestruturadas com os alunos pertencentes ao movimento estudantil do IFCE, campus
Fortaleza, com os assistentes sociais que estão à frente da execução de tal política e as
diretoras de assistência estudantil e de gestão orçamentária.
13
A importância da avaliação que realizamos está na forma como a assistência estudantil
interfere na vida dos alunos que nela estão inseridos, percebendo mudanças referentes à
permanência do alunato no IFCE a partir do momento que se iniciou o recebimento dos
auxílios por este.
Desse modo, a dissertação ora apresentada está estruturada em quatro capítulos: no
primeiro capítulo, intitulado “Definição da política em estudo”, relatamos um pouco sobre a
história da assistência estudantil no Brasil, sobre o contexto no qual nasceu, as entidades que a
defendem como política educacional capaz de manter o aluno na instituição de ensino
superior, bem como seu desenvolvimento no IFCE, campus Fortaleza, a partir da década de
1960 até o cenário atual.
No segundo capítulo, “Tecendo discussões teóricas sobre avaliação”, expomos
algumas discussões sobre as categorias avaliação, assistência estudantil, educação e políticas
públicas, necessárias para o esclarecimento do contexto em que está a assistência estudantil, à
luz de autores que possuem reflexões condizentes com a pesquisa que nos propomos a
construir.
No terceiro capítulo, intitulado “O caminho metodológico: realizando a descoberta dos
sujeitos da pesquisa”, relatamos sobre o tipo de pesquisa que realizamos (neste caso,
qualitativa), as técnicas e fontes utilizadas para obtermos os dados necessários para o
desenvolvimento da pesquisa, bem como os critérios escolhidos para a seleção dos atores
sociais entrevistados com o intuito de melhor avaliar a assistência estudantil no IFCE, campus
Fortaleza.
Outrossim, tal capítulo refere-se à exposição das entrevistas realizadas com os alunos,
assistentes sociais e diretoras de assistência estudantil e de gestão orçamentária, delineamento
do perfil dos alunos que recebem auxílios da assistência estudantil, impressões do corpo
discente e profissionais acerca da referida política pública, bem como à análise pública dos
dados quanti-qualitativos colhidos.
Finalmente, nas considerações finais, os resultados obtidos são explanados e
discutidos quanto à avaliação da assistência estudantil, destacando-se que foram pertinentes
para desvendar se, de fato, a assistência estudantil atende às necessidades dos discentes do
IFCE, campus Fortaleza.
Enfim, como servidora do IFCE, campus Fortaleza, que teve contato com essa política
quando trabalhou, outrora, no IFCE do campus de Aracati, objetiva-se avaliar de que forma a
assistência estudantil vem se desdobrando nessa instituição de ensino e quais seus impactos
na vida escolar daqueles a quem se destina: os alunos do ensino superior.
14
2 DEFINIÇÃO DA POLÍTICA EM ESTUDO
No Governo Lula (2003-2010), surgiu a Portaria n° 39, de 12 de dezembro de 2007,
que instituiu o Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAES), o qual,
posteriormente, se transformou no Decreto nº 7.234, de 19 de julho de 2010. Segundo
Nascimento (2012), o Governo Lula traduz a essência autocrática burguesa do Estado
brasileiro e a continuação do tipo de política que o Brasil vinha sofrendo no governo de FHC,
mesmo aquele tendo sido considerado, pela população brasileira, como a mudança que
suscitaria um novo sistema político.
Ainda segundo a autora, o que ocorreu, de fato, no Governo Lula foi a manutenção das
alianças entre o Estado e o grande capital, alianças estas que já eram uma marca do Governo
de FHC. Sendo assim, para a referida autora, o então presidente Lula fez não mais do que
trilhar o mesmo caminho percorrido por seu antecessor.
Nascimento (2012) afirma ainda que, pelo fato de o Estado ser um Estado autocrático
burguês, a composição do Governo Lula (embora houvesse, no discurso do presidente, o
intuito de colocar, acima de tudo, os anseios da classe trabalhadora) era feita de grandes
empresários representantes da oligarquia agroindustrial brasileira que, por sua vez, estavam
totalmente atrelados aos desejos dos organismos multilaterais. Sendo assim, era evidente que
tais empresários eram o motivo para o Governo Lula se inclinar aos ditames dos referidos
organismos.
Desse modo, Nascimento (2012) faz algumas indagações ligadas à questão da política
de assistência estudantil: “como se constituem as Políticas Educacionais nestes Estados
nacionais de formação social autocrática? Quais os desafios postos a estas políticas?”
(NASCIMENTO, 2012, p. 18).
Porém, não podemos esquecer que foi no Governo Lula que ocorreu a expansão da
rede federal de educação profissional, científica e tecnológica. De 2005 até 2010,1 foram
construídas 214 novas escolas. Através do Reuni, foi possível também a construção de 126
novos campi e unidades universitárias. Em 2002, existiam 148 campi e, em 2010, esse
número passou pra 274, já em funcionamento.
De 1909 a 2002, existiam 140 escolas técnicas federais. Em 2010, o número de escolas
aumentou, passando para 342. A quantidade de matrículas realizadas na rede federal de ensino
1Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=16096: presidente-
lula entrega-campi-de-universidades-e-institutos-federais&catid=212&Itemid=86. Acesso em: 30 jan. 2015.
15
também aumentou: no período de 2003 a 2010, foi identificado um aumento de 148%. Em
2004, havia 140 mil alunos matriculados; já em 2010, havia 348 mil alunos matriculados.
Segundo Cislaghi e Silva (2012), o Programa Nacional de Assistência Estudantil,
instituído pela Portaria Normativa nº 39/2007, do MEC, a ser implementado em 2008
(passando a ser regulado, posteriormente, pelo Decreto nº 7.234/10), nasce dentro do contexto
do Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), que foi
instituído em 24 de abril de 2007, pelo Governo Lula, através do Decreto nº 6.096/97.
O objetivo do Reuni seria o desenvolvimento de ações que garantissem a ampliação, o
acesso e a permanência dos estudantes no ensino superior pelo melhor aproveitamento da
estrutura física e de recursos humanos existentes nas universidades federais (grifo dos
autores). Segundo os autores, tal objetivo apresenta uma nítida perspectiva racionalizadora,
estando em consonância com o pensamento do Banco Mundial quando este afirma que há
subaproveitamento nas universidades federais, “fato” que foi diagnosticado pelo referido
organismo multilateral nos anos 1990, ao fazer uma análise da educação brasileira.
As diretrizes I e V do programa Reuni, de acordo com o artigo 2° do decreto que o
implementa, falam, respectivamente, sobre a redução das taxas de evasão (grifo nosso),
ocupação de vagas ociosas e aumento das vagas, em particular no período noturno, e
ampliação de políticas de inclusão e assistência estudantil (grifo nosso). Isso mostra que o
PNAES vem subsidiar as ações que o Reuni propunha desenvolver. Além disso, Cislaghi e
Silva (2012, p. 498) acreditam que “a expansão de vagas e de assistência estudantil, ainda que
focalizada, vai servir à coesão social e às ideologias de ascensão social via educação, num
período de agudização das expressões da questão social, do desemprego estrutural e da
desigualdade”.
De acordo com Cislaghi e Silva (2011), o PNAES, embora tenha se gestado no
Governo Lula com um papel bastante relevante, referente à manutenção do discente no ensino
superior, ainda sofria com a inexistência de uma rubrica específica no orçamento para o Plano
de Assistência Estudantil. Porém, houve um expressivo aumento em relação às verbas
destinadas à assistência estudantil dentro das Ifes, comparando os anos de 2002 (Governo
Fernando Henrique Cardoso) e o ano de 2009 (Governo Lula). Enquanto naquele foram
reservados 50 milhões para o referido programa, neste foram reservados 150 milhões. Além
disso, em 2010, foram autorizados mais de 300 milhões para serem rateados entre todas as
Ifes do Brasil. Mas “o fato de o governo ter apresentado um plano de assistência estudantil e a
importância que tem sido dada ao tema, na carona do Reuni, não significa que se torna menos
necessária uma análise crítica do PNAES” (CISLAGHI; SILVA, 2012, p. 505).
16
Todavia, para Cardoso Júnior (2010), essa diferença entre o Governo Lula e o
Governo FHC, em relação aos gastos realizados na assistência estudantil, mostra a nítida
diferença entre tais governos em relação às políticas sociais, pois o petista acreditou que a
política social não deveria ser impactada pelos problemas da crise econômica e, desta forma,
ampliou os gastos sociais, sendo contrário tal fato à realidade que imperou no governo de
FHC, já que aqueles aumentavam ou diminuíam de acordo com o estado da economia. Expõe
ainda que,
em particular, o destaque da política social foi o fato de que governo federal optou
por priorizar as camadas mais vulneráveis entre aquelas a serem protegidas. Isso
ficou evidente pela orientação de manter, ao longo do ano de 2009, a trajetória de
crescimento do gasto social, na forma de transferência de rendas às famílias,
ampliação do seguro-desemprego e gastos na educação (CARDOSO JÚNIOR, 2010,
p. XXIV).
Nascimento (2012) explana que, atualmente, as políticas educacionais são pautadas na
lógica do discurso neodesenvolvimentista, discurso este que impera nos governos dos países
periféricos desde os anos 1990. Sobre esse discurso, Mota, Amaral e Peruzzo (2010, p. 39)
expõem que
as discussões sobre o desenvolvimento econômico e social são orientadas pelas
reformas estruturais na economia, especialmente pela política de privatização dos
serviços públicos, reforma do Estado e focalização de programas sociais para os
segmentos mais vulneráveis da sociedade.
Mota et al. (2010 apud NASCIMENTO, 2012, p. 20), em relação ao posicionamento
tomado pelos organismos multilaterais, com o intuito de absorver os problemas que
ocorreriam na América Latina devido às reformas neoliberais, relata que, para o Banco
Mundial,
a noção de desenvolvimento requisita necessariamente que sejam removidas as
principais fontes de privação da liberdade, tais como: pobreza, carência de
oportunidades econômicas e destituição social sistemática, negligência dos serviços
públicos e intolerância ou interferência excessiva do Estado.
O discurso do novo desenvolvimentismo faz com que as reformas sociais sejam
transformadas, reconstruídas de acordo com a lógica da economia externa, e é justamente em
tal lógica que se insere a reforma da educação, principalmente a educação superior, já que
suas políticas vão ao encontro dos interesses dos organismos multilaterais, como o Banco
Mundial. Assim,
17
os adeptos desse novo-desenvolvimentismo consideram que algumas políticas e
ações são fundamentais para repor na agenda dos países da região os mecanismos de
distribuição de recursos, de modo a enfrentar a questão da desigualdade, agora com
foco na discussão de oportunidade (MOTA et al. apud NASCIMENTO, 2012, p.
21).
Segundo Nascimento (2012), é justamente nessa discussão sobre “oportunidade” que
surge a implementação da política de assistência estudantil nas Instituições Federais de
Ensino Superior (Ifes), através do Decreto nº 7.234/2010, que institui o Programa Nacional de
Assistência Estudantil (PNAES). Tal programa está inserido na agenda de discussão sobre a
ampliação do acesso e permanência dos estudantes hipossuficientes no ensino superior, e
define que as Ifes desenvolvam ações as quais permitam tal permanência. O parágrafo único
do referido decreto dispõe que
as ações de assistência estudantil devem considerar a necessidade de viabilizar a
igualdade de oportunidades, contribuir para a melhoria do desempenho acadêmico e
agir, preventivamente, nas situações de retenção e evasão decorrentes da
insuficiência de condições financeiras.
Nascimento, mais uma vez, faz algumas indagações:
A análise crítica da materialização deste Programa nas Ifes supõe questionamentos
sobre a quem serve o discurso da oportunidade de permanência do estudante no
ensino superior? O que está por trás de sua institucionalização? Qual o
direcionamento dado a materialização destas políticas nas Ifes? Central para refletir
sobre tais questões é pensar que, como discutimos anteriormente, as decisões
políticas no Brasil historicamente estiveram em consonância com as requisições
feitas ao país pelos grandes organismos responsáveis pela movimentação da
economia externa (2012, p. 21).
Desse modo, pode-se inferir que o que tem sido feito pela educação (destacando, aqui,
a insurgência da assistência estudantil) está também ligado a algo maior: ao intuito de fazer do
Brasil uma potência emergente, havendo necessidade, para tanto, da forte interferência dos
organismos multilaterais nas políticas sociais. A reforma na educação, que hoje se faz
presente, está inserida dentro do contexto de
adequação do sistema de educação às necessidades de resposta do capital à sua crise
contemporânea e se desenrola por dentro da contrarreforma do Estado, no contexto
neoliberal iniciado na América Latina, nos anos de 1970, e no Brasil, na década de
1990 (KOIKE apud NASCIMENTO, 2012, p. 22).
Dalmau et al. (2010), assim como Cislaghi e Silva (2012), ao falar sobre o contexto da
política de assistência estudantil, cita o surgimento do Reuni como imprescindível para a
18
expansão da educação superior brasileira, já que havia indicadores que mostravam que estava
acontecendo um acesso maior das pessoas a tal ensino.
O supracitado autor explana ainda que, “com o Reuni, o governo busca criar condições
para aumentar quantitativa e qualitativamente os cursos de graduação, sendo que uma das
suas diretrizes é ampliar as políticas públicas de assistência estudantil” (DALMAU et al.,
2010, p. 1). Em tal programa, a assistência estudantil, que possui um caráter inclusivo, sendo,
portanto, uma política inclusiva, dando subsídios e apoio à permanência de jovens que estão
em vulnerabilidade social nas Ifes, tem o intuito de ofertar ações voltadas para alimentação,
moradia, acompanhamento psicossocial, prevenção e atenção à saúde mental, bolsas, acesso à
informática e oferta de cursos de língua estrangeira.
Ainda segundo o referido autor, o Reuni é uma das ações do Plano de
Desenvolvimento da Educação (PDE) que, por sua vez, é um desdobramento do Plano
Nacional de Educação (PNE). O objetivo do Reuni é ampliar o acesso e a permanência na
educação superior, contribuindo para que o provimento da oferta nessa modalidade de ensino
seja de pelo menos 30% dos jovens entre 18 e 24 anos até o final dessa década (2007-2010).
Para alcançar seu objetivo, o Reuni possui, por meta geral, aumentar a taxa de
conclusão média dos cursos de graduação presenciais para 90%, bem como aumentar a
relação de alunos de graduação em cursos presenciais por professor para 18, o que deve
acontecer ao final de cinco anos a contar do início de cada plano. Com a instituição do
PNAES, que também objetiva combater a evasão escolar, proporcionando ações necessárias
para esse fim, há um maior subsídio ao Reuni para que sua meta seja concluída.
Alves (2010), ao falar sobre o histórico da assistência estudantil nas universidades
brasileiras, relata que, em 1987, houve a criação do Fórum Nacional de Pró-Reitores de
Assuntos Comunitários e Estudantis (Fonaprace), sendo a Associação Nacional dos
Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes)2 responsável por tal criação,
com o intuito de fortalecer as políticas de assistência nas Instituições Federais de Ensino
Superior (Ifes).
As principais finalidades do Fonaprace são: prestar assessoria à Andifes e efetuar a
formulação de políticas e diretrizes básicas que permitam a articulação e o fornecimento das
ações comuns na área de assuntos comunitários e estudantis (grifo nosso) em nível regional e
nacional (BRASIL, 2011 apud GARRIDO, 2012).
2 A Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), criada em 23 de
maio de 1989, é a representante oficial das universidades federais na interlocução com o governo federal, com as
associações de professores, de técnico-administrativos, de estudantes e com a sociedade em geral.
19
Sendo assim,
entende-se que a busca da redução das desigualdades sociais faz parte do processo
de democratização da Universidade e da própria sociedade brasileira, e isto não pode
se efetivar somente através do acesso à educação superior gratuita. Torna-se
necessária a criação de mecanismos que garantam a permanência dos alunos que
ingressam na Universidade, reduzindo, assim, os efeitos das desigualdades
apresentadas pelo conjunto de estudantes comprovadamente desfavorecidos e que
apresentam dificuldades concretas para prosseguirem sua vida acadêmica com
sucesso (GATTI; SANGOI, 2000).
Garrido (2012) relata ainda que o Fonaprace é uma representação que possui um
vínculo muito estreito com a política de assistência estudantil, sendo contra as ações que
favoreçam as privatizações das Ifes e que sejam coniventes com o fim dos programas de
assistência estudantil, como a residência universitária e o restaurante universitário
(BARRETO, 2003 apud GARRIDO, 2012).
Ainda segundo Alves (2010, p. 80),
O Fonaprace, desde 1998, por meio de reuniões, debates, documentos produzidos,
levantamento do perfil socioeconômico e atuação junto aos órgãos parlamentares,
iniciou a estruturação de uma Proposta para um Plano Nacional de Assistência aos
Estudantes de Graduação das Ifes, cuja versão preliminar foi aprovada em abril de
2001, num encontro nacional em Recife, Pernambuco.
O Fonaprace, no final do ano de 1999, pediu a inserção da assistência estudantil no
primeiro Plano Nacional de Educação (PNE). Tal pedido foi aceito pelo então deputado
federal Nelson Marchezan, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), relator do
PNE.
O projeto de lei que instituiu o segundo Plano Nacional de Educação (PNE), o qual se
efetivaria no período de 2011 a 2020, foi remetido ao Congresso Nacional pelo Governo
Federal em 15 de dezembro de 2010. Esse projeto possuía dez diretrizes objetivas e 20 metas
que desembocam em ações que atendem às “minorias”, como discentes com deficiência, que
estão em regime de liberdade assistida, que moram na área rural e quilombolas. A
universalização do ensino, bem como o acesso a este em cada nível educacional, é uma das
metas do referido projeto. Uma das estratégias do PNE (em relação à assistência estudantil)
para assegurar a meta de “duplicar as matrículas da educação profissional técnica de nível
médio, assegurando a qualidade da oferta” é
elevar gradualmente a taxa de conclusão média dos cursos técnicos de nível médio
na rede federal de educação profissional, científica e tecnológica para 90% (noventa
por cento) e elevar, nos cursos presenciais, a relação de alunos por professor para 20
20
(vinte), com base no incremento de programas de assistência estudantil e
mecanismos de mobilidade acadêmica.
Outra estratégia do PNE, também vinculada à assistência estudantil, para atingir a
meta de “elevar a taxa bruta de matrícula na educação superior para 50% e a taxa líquida para
33% da população de 18 a 24 anos, assegurando a qualidade da oferta”, é
ampliar, por meio de programas especiais, as políticas de inclusão e de assistência
estudantil nas instituições públicas de educação superior, de modo a ampliar as taxas
de acesso à educação superior de estudantes egressos da escola pública, apoiando
seu sucesso acadêmico.
Observamos que o PNE vê a assistência estudantil como um instrumento que
possibilitará o aumento da escolaridade dos alunos, bem como a permanência destes nas
instituições federais de ensino superior, evitando, desse modo, a evasão escolar.
Havia, ainda, outro projeto de lei referente à assistência estudantil: o Projeto n° 1.018,
de 1999, do então deputado federal Nelson Pellegrino, do Partido dos Trabalhadores (PT), que
tramitava no congresso naquela época. Esse projeto de lei, que trata da Política Nacional de
Moradia Estudantil e resgata o Projeto n° 4633/94 do então deputado federal Koyu Iha,
membro do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), dava ao Ministério da
Educação, Cultura e Desporto a responsabilidade de garantir recursos específicos para a
aquisição, construção e manutenção de casas e residências estudantis.
Alves (2010) relata ainda que, de acordo com os dados do Fonaprace (2000), a política
de assistência estudantil estava sendo atingida pelo sucumbimento de seus programas básicos,
como: alimentação, delineada pelos restaurantes universitários, e moradia (nesse caso,
delineada pelas casas de estudante), desembocando, tal situação, no sucateamento das
universidades. Sendo assim, segundo Sposati (2000 apud ALVES, 2010), com a permanente
derrocada da política de assistência estudantil, havia um grande empecilho para a
permanência dos estudantes hipossuficientes no ensino superior, além de atingir, também, o
desenvolvimento acadêmico e profissional do qual tanto dependiam.
Assim, devido às pressões do Fonaprace e das entidades relacionadas aos movimentos
estudantis das universidades públicas, e também devido ao surgimento do Reuni, que citava a
assistência estudantil para os discentes hipossuficientes, houve, no Governo Lula, a
implementação do PNAES, através da Portaria n° 39, de 12 de dezembro de 2007. Em tal
portaria, a assistência estudantil é vista como uma estratégia para sanar as desigualdades
sociais e regionais, além de ser um instrumento de extrema relevância para o maior acesso e
21
permanência dos alunos no ensino superior. Desse modo, o PNAES, de acordo com a
supracitada portaria, objetiva “ações de assistência estudantil vinculadas ao desenvolvimento
de atividades de ensino, pesquisa e extensão, e destina-se aos estudantes matriculados em
cursos de graduação presencial das Instituições Federais de Ensino Superior”. A autora
ressalta ainda no seu artigo 3º, parágrafo primeiro, que
as ações de assistência estudantil devem considerar a necessidade de viabilizar a
igualdade de oportunidades, contribuir para a melhoria do desempenho acadêmico e
agir, preventivamente, nas situações de repetência e evasão decorrentes da
insuficiência de condições financeiras.
A referida portaria não impõe às universidades a maneira como deverão conduzir o
programa de assistência estudantil, pois cada uma possui autonomia para delinear a melhor
forma de dirigir tal programa. Todavia, expõe as áreas básicas nas quais deverão incidir as
realizações da assistência estudantil, como: moradia estudantil, alimentação, transporte,
assistência à saúde, inclusão digital, cultura e esporte.
De acordo com os dados de 2009 do Instituto de Pesquisas Avançadas em Educação
(IPAE), o PNAES possuía um orçamento de 200 milhões, que era direcionado às
universidades públicas para as despesas com assistência aos discentes de baixa renda,
despesas estas relacionadas a moradia, alimentação e transporte. De acordo ainda com o
IPAE, o Ministério da Educação (MEC) pretendia aumentar, no ano de 2010 (ano em que,
vale ressaltar, a Portaria Normativa n° 39 foi regulamentada pelo Decreto nº 7.234/10), para
R$ 400 milhões o orçamento da assistência estudantil, viabilizando, assim, “dar mais
condições para que os jovens de baixa renda ingressem na universidade”.
O PNAES tem o Ministério da Educação, que “trabalha pela ampliação e
democratização do acesso ao ensino superior” (BRASIL, 2013a, p. 4), como um dos autores
que estão envolvidos com sua implementação, já que no seu artigo 1° está expresso,
claramente, que será executado no âmbito do Ministério da Educação (MEC). Além disso,
segundo o artigo 6° do supracitado decreto, as instituições federais de ensino superior deverão
fornecer ao MEC todas as informações referentes à implementação do PNAES que aquele
solicitar.
O artigo 8° relata ainda que “as despesas do PNAES correrão à conta das dotações
orçamentárias anualmente consignadas ao Ministério da Educação ou às instituições federais
de ensino superior, devendo o Poder Executivo compatibilizar a quantidade de beneficiários
22
com as dotações orçamentárias existentes, observados os limites estipulados na forma da
legislação orçamentária e financeira vigente”.
Segundo o Portal do MEC (BRASIL, 2013b),
a Secretaria de Educação Superior (Sesu) é a unidade do Ministério da Educação
responsável por planejar, orientar, coordenar e supervisionar o processo de
formulação e implementação da Política Nacional de Educação Superior. A
manutenção, supervisão e desenvolvimento das instituições públicas federais de
ensino superior (Ifes) e a supervisão das instituições privadas de educação superior,
conforme a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), também são de
responsabilidade da Sesu.
Um dos programas da Sesu é justamente o Programa Nacional de Assistência
Estudantil, programa este que é executado pelas Ifes e, dentre elas, está o Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), campus Fortaleza, que tem o Setor de
Serviço Social como seu operacionalizador. Ressaltamos, ainda, que o Decreto nº 7.234/10,
no seu artigo 3°, parágrafo 2°, dá autonomia às Ifes, respeitando os limites impostos pela
Sesu, em relação ao modo como será desenvolvida a assistência estudantil.
As áreas nas quais a assistência estudantil deverá incidir, segundo o artigo 3°,
parágrafo 1°, do PNAES, são:
I - moradia estudantil; II - alimentação; III - transporte; IV - atenção à saúde; V -
inclusão digital; VI - cultura; VII - esporte; VIII - creche; IX - apoio pedagógico; e
X - acesso, participação e aprendizagem de estudantes com deficiência, transtornos
globais do desenvolvimento e altas habilidades e superdotação.
Aquele possui ainda os seguintes objetivos, segundo seu artigo 2°:
I – democratizar as condições de permanência dos jovens na educação superior
pública federal;
II - minimizar os efeitos das desigualdades sociais e regionais na permanência e
conclusão da educação superior;
III - reduzir as taxas de retenção e evasão; e
IV - contribuir para a promoção da inclusão social pela educação.
Assim como o PNAES, outras legislações do Brasil, anteriores a ele, também
ressaltam a necessidade da permanência do aluno na instituição de ensino. A Constituição
Federal de 1988, por exemplo, no seu artigo 206, inciso I, expõe que “o ensino será
ministrado com base nos seguintes princípios: I - igualdade de condições para o acesso e
permanência na escola (grifo nosso) [...]”, estando em consonância com os incisos I e II do
referido programa. Na visão do legislador, o Poder Executivo não só tem a obrigação
primordial de ofertar a educação, como também de garantir o acesso à educação, bem como a
23
permanência dos discentes nas instituições de ensino, sendo a assistência estudantil, no caso
do ensino superior, o aval para tal permanência.
Ademais, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nº 9.394/1996, também
está em consonância com o que prega a referida Constituição, pois, em seu artigo 3º, inciso I,
aquela repete o mesmo princípio desta, ao expor que “o ensino será ministrado com base nos
seguintes princípios: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola [...]”.
Em relação à assistência estudantil no IFCE, seu primeiro Regulamento de Auxílio ao
Discente, de 2011, que dispõe sobre os auxílios que compõem a referida assistência do IFCE,
nasceu do pedido do Ofício Circular n° 42/2011/GAB/SETEC/MEC, remetido por Brasília,
em 3 de maio de 2010, o qual recomendava
a aprovação pelos Conselhos Superiores de uma regulamentação específica para a
assistência estudantil, envolvendo os setores da assistência social, coordenação
pedagógica, psicologia, com critérios claros de acesso dos estudantes de origem
popular, especialmente os vinculados ao Proeja Médio e FIC, aos trabalhadores da
rede Certific, aos estudantes atendidos pelos NAPNES, às mulheres vinculadas ao
Programa Mulheres Mil, ao atendimento da mobilidade estudantil nacional e
internacional (grifo nosso).
Tais auxílios (auxílio-alimentação, transporte, moradia, óculos etc., que serão mais
bem detalhados posteriormente) são operacionalizados pelo Serviço Social, que se iniciou em
1998 com a criação da Coordenadoria de Serviço Social, passando a integrar, na época, a
Diretoria de Relações Empresariais e Comunitárias (Direc).
A equipe que está à frente da assistência estudantil é formada por seis assistentes
sociais. Na última seleção para a assistência estudantil do IFCE, campus Fortaleza, de 2014.1,
foram atendidos 2.067 alunos (em tal número, estão inclusos tanto os alunos do ensino
superior como do ensino técnico), sendo os auxílios transporte e alimentação os mais
requisitados.
A seleção para assistência estudantil é anunciada através de cartazes que são expostos
por toda instituição, nos quais há ainda as datas das entrevistas, bem como o site da instituição
para que os discentes saibam quais são os documentos necessários para sua realização. O
período para se inscrever para a seleção também é divulgado no referido site. Sendo assim, os
alunos já chegam ao Serviço Social, para marcar a entrevista, com os documentos exigidos e
com o questionário social respondido, estando também este disponível no site. A entrevista
consiste na confirmação dos dados fornecidos pelo aluno mediante o questionário social.
24
Em relação à discussão que é feita sobre a assistência estudantil nos organismos da
sociedade civil, a União Nacional dos Estudantes (UNE)3 acredita que a inserção dos
discentes na universidade está acontecendo de forma mais ampla e democrática graças às leis
de cotas, ampliação das universidades federais e programas de bolsas em universidades
privadas, como o Prouni. Todavia, a UNE defende que é preciso um investimento mais
contundente nas políticas de assistência estudantil, pois se faz necessário garantir a
permanência desses jovens no ensino superior, nesse contexto de ampliação do número de
discentes que até então não podiam ingressar em uma universidade.
No período de 8 a 10 de março de 2013, aconteceu o 61º Conselho Nacional de
Entidades Gerais (Coneg) na Universidade Paulista, campus Paraíso, em São Paulo, com o
intuito de discutir a relevância da assistência estudantil nas universidades brasileiras.
Compareceram ao Coneg para debater tal tema o reitor da Universidade Federal de Ouro
Preto (UFOP), o professor João Luis, o professor da Universidade Federal do Recôncavo da
Bahia (UFRB) e o Coordenador do Fórum Nacional de Pró-Reitores de Assuntos
Comunitários e Estudantis (Fonaprace), Ronaldo Crispim.
As principais exigências do movimento estudantil, atualmente, são as políticas de
assistência estudantil e permanência do estudante na universidade. A necessidade de
construção das Casas do Estudante, restaurantes universitários, infraestrutura adequada,
possibilidade de acúmulo de bolsas e passe livre são bandeiras de luta históricas.
Segundo Garrido (2012), um dos segmentos que têm apoiado de forma propositiva a
política de assistência estudantil é o movimento estudantil que vem se organizando a partir de
vários núcleos de luta, dentre eles a União Nacional dos Estudantes (UNE). Esta defende a
criação de Pró-Reitorias de Assistência Estudantil em todas as universidades, bem como
recursos específicos para que isso seja possível. Ademais, defende a construção e ampliação
de programas que forneçam a alimentação tanto dos estudantes que se encontram nas
instituições públicas como daqueles que estão nas privadas, mediante “bandejões” e bolsas de
auxílio-alimentação.
Em agosto de 2011, a UNE, juntamente com a União Brasileira dos Estudantes
Secundaristas (Ubes) e com a Associação Nacional dos Pós-Graduandos (ANPG), remeteu
um documento à Presidente da República, Dilma Rousseff (2011-2014), o qual exigia, dentre
outras coisas, a destinação de 15% do orçamento de cada Instituição de Ensino Superior (IES)
3
Disponível em: http://www.une.org.br/2013/03/61%C2%BA-coneg-assistencia-estudantil-em-foco/. Acesso
em: 25 nov. 2013.
25
para a assistência estudantil, bem como o investimento, ainda no orçamento de 2012, de R$ 1
bilhão de reais para tal política.
Para a diretora da UNE,4 Camila Moreno, garantir políticas de assistência estudantis
efetivas é um trabalho árduo, pois, apesar da maior abertura das instituições em relação à
entrada dos estudantes, a permanência do discente ainda é um desafio a ser enfrentado, pois
tal permanência não tem sido garantida de forma ampla. Sendo assim, ela afirma que se faz
necessário haver uma discussão em conjunto para que soluções possam ser construídas com o
intuito de sanar o problema da evasão nas universidades.
Nos últimos anos, além da UNE, outras representações estudantis se fizeram notar. A
população discente atual, principalmente os estudantes que se encontram em moradias
estudantis e que se reconhecem como discentes de origem popular, além de outros,
organizaram seus próprios movimentos que possuem extensão nacional, regional e estadual,
sendo a Secretaria Nacional de Casas de Estudantes (Sence) um desses movimentos. Esta
possui estreitos laços com o Fonaprace e tem suscitado propostas para a política de assistência
estudantil.
Frequentemente, os componentes do Sence promovem encontros e atividades com o
intuito de debaterem sobre a assistência estudantil, principalmente sobre a questão das
moradias estudantis brasileiras. Tal secretaria também objetiva instigar o diálogo entre os
discentes que se encontram nas referidas moradias de várias regiões do Brasil.
Garrido (2012) refere ainda sobre a existência de outro movimento estudantil: o Fórum
de Estudantes de Origem Popular (Feop), o qual atua no ingresso e permanência de tais
estudantes nas universidades. Seus componentes são favoráveis a políticas públicas de ações
afirmativas, como a assistência estudantil e a luta contra o racismo.
Em 2012, o Plano Nacional de Assistência Estudantil (PNAES) recebia 500 milhões
de reais do governo federal. Em agosto do mesmo ano, o então presidente da UNE, Daniel
Iliescu,5 em reunião com a presidente Dilma Rousseff, expôs a ideia de ser destinado ao
PNAES o valor de R$ 1,5 bilhão de reais. Daniel Iliescu acreditava que tal montante é
imprescindível para que a política de assistência estudantil se torne uma política mais sólida.
Além disso, afirmava que, no cerne das discussões do novo Plano Nacional de Educação
(PNE), este é o momento de alargamento de direitos com a destinação de 10% do PIB e 50%
dos royalties e do Fundo Social do Pré-Sal para a educação.
4
Disponível em: http://www.une.org.br/2013/03/61%C2%BA-coneg-assistencia-estudantil-em-foco/. Acesso
em: 28 abr. 2013. 5
Disponível em: http://www.une.org.br/2013/03/61%C2%BA-coneg-assistencia-estudantil-em-foco/. Acesso
em: 28 abr. 2013.
26
2.1 Delineamento do objeto avaliativo: a assistência estudantil e seus desdobramentos
Com o intuito de fornecer uma formação integral aos seus discentes, o Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) delineou o início da assistência
estudantil mediante o Programa Especial de Bolsa de Trabalho (Pebe), que foi implementado
pelo Decreto nº 57.870, de 25 de fevereiro de 1966. Esse programa ofertava ensino aos
trabalhadores que eram sindicalizados, empregados de entidades sindicais de todos os graus e
categorias, bem como a seus filhos e dependentes. Esses alunos se mantinham estudando
porque recebiam bolsas de estudos ou outro tipo de ajuda pecuniária que fosse mais adequada.
Em tal época, também eram ofertados aos alunos serviços médicos e odontológicos, além de
merenda escolar e fardamento, de acordo com o Boletim de Serviço do Cefet-CE de 2000.
O IFCE, até a década de 1980, trabalhava apenas com a bolsa ofertada aos discentes,
subsidiada com verbas do Ministério do Trabalho. Nessa mesma época, foi criado o Programa
Bolsa de Trabalho, que consistia no trabalho de alunos em oficinas e laboratórios em troca do
recebimento de bolsa. Nesse ínterim, também foram implementados, pela referida instituição,
auxílios voltados para os alunos que estivessem em situação de vulnerabilidade social, como
transporte, medicamentos, óculos e material didático.
Em 1991, foi criado o Serviço Social, que era subordinado ao Serviço de Orientação
Educacional, passando a ser o responsável pela organização das atividades sociais que antes
vinham sendo realizadas por diversos setores.
Desse modo, as ações referentes à assistência estudantil passaram a ser
operacionalizadas pela equipe do Serviço Social, que se submetia às diretrizes institucionais e
ao plano de trabalho do Serviço Social (Plano de Implantação do Serviço Social, 1991). No
ano de 1994, nasceu o Departamento de Apoio e Extensão, sendo subordinado a este o
Serviço de Apoio ao Discente, que ofertava aos alunos atendimento psicológico, médico,
odontológico, bolsa de trabalho e auxílios.
Com a necessidade de se ampliar a assistência estudantil no IFCE, que possuía vasta
demanda, foi implementada, em 1998, a Coordenação de Serviço Social, a qual era submetida
à Diretoria de Relações Empresariais e Comunitárias (Direc) do campus Fortaleza.
Tal coordenação desenvolveu a assistência estudantil com verbas da Ação 2994 –
Assistência ao Educando do Sistema Integrado de Monitoramento da Educação (Simec), que
possui como intuito prover alimentação, atendimento médico-odontológico, moradia e
transporte, bem como outras ações referentes à assistência social ao discente, dentre elas,
27
todas as atividades que são realizadas no Programa de Assistência Estudantil (PAE) do IFCE.
Hoje, o Serviço Social é subordinado à Diretoria de Extensão (Direx)6e possui como
objetivos:
prestar assistência social aos alunos e seus familiares; pesquisar a realidade
estudantil para conhecimento dos problemas que afetam o rendimento escolar;
realizar pesquisas de caráter socioeconômico com a finalidade de conhecer o perfil
do corpo discente, de modo a subsidiar ações e projetos; elaborar, desenvolver,
implementar, executar e avaliar programas e projetos em área social, que objetivem
favorecer o acesso e a permanência do aluno na escola e o desenvolvimento
comunitário-institucional; participar de equipe multidisciplinar, da elaboração e do
desenvolvimento de programas de prevenção à violência, ao uso de drogas e
alcoolismo; realizar visitas sociais visando ao maior conhecimento da realidade
vivenciada pelo aluno e sua família, além de possibilitar a devida assistência e
encaminhamentos adequados.
Sendo assim, com o surgimento do Programa Nacional de Assistência Estudantil
(Decreto nº 7.234/10), foi necessária uma ampla discussão para o delineamento de diretrizes
para a política de assistência estudantil. Para tanto, nos dias 6 e 7 de dezembro de 2010,
ocorreu, em Fortaleza, Ceará, o I Seminário Construção de Diretrizes para as Políticas de
Assistência Estudantil da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica
(EPCT), tema estabelecido pelo Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de
Educação Profissional, Científica e Tecnológica (Conif), mediante o Fórum de Dirigentes de
Ensino e Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (Setec/MEC).
Após esse seminário, em janeiro e fevereiro de 2011, com o intuito de dar
continuidade aos trabalhos realizados durante o referido seminário, foi formado um grupo de
trabalho composto por dez membros, com dois participantes de cada região do Brasil, sendo
um gestor e um profissional que atuava na área de assistência estudantil.
O documento elaborado por tal grupo relata que
a assistência estudantil é entendida numa perspectiva da educação como direito em
compromisso com a formação integral do sujeito. Configura-se como uma política
que estabelece um conjunto de ações que buscam reduzir as desigualdades
socioeconômicas e promover a justiça social no percurso formativo dos estudantes
(DIRETRIZES NACIONAIS PARA A ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL, 2011).
Tal documento ainda relata que a assistência estudantil é voltada para aqueles alunos
que se encontram em vulnerabilidade social, concebida como “processos de exclusão,
discriminação ou enfraquecimento dos grupos sociais e sua capacidade de reação, como
situação decorrente da pobreza, privação e/ ou fragilização de vínculos afetivo-relacionais e
6 Disponível em: http://www.fortaleza.ifce.edu.br/index.php/extensao35/servico-social. Acesso em: 10 jan. 2015.
28
de pertencimento social e territorial” (DIRETRIZES NACIONAIS PARA A ASSISTÊNCIA
ESTUDANTIL, 2011).
Aquele refere ainda que, em cada campus do IFCE, deve haver uma equipe
multiprofissional básica para a assistência estudantil, formada por psicólogo, pedagogo e
assistente social, ressaltando, ainda, que outros profissionais poderão ser incluídos para que
possam contribuir com a mencionada política educacional, como médicos, enfermeiros,
odontólogos, professores e outros.
Ainda em 2011, foi aprovada, pelo Conselho Superior (Consup) do IFCE, a Resolução
nº 23, de 20 de junho de 2011, que trata do primeiro Regulamento de Auxílio ao Discente do
IFCE. Os auxílios existentes7 na assistência estudantil do IFCE, segundo aquele regulamento,
são: auxílio-moradia (valor: R$ 150,00), auxílio-alimentação (R$ 88,00), auxílio-transporte
(R$ 50,00 para residentes em Fortaleza e R$ 70,00 para residentes na região metropolitana),
auxílio-óculos, auxílio-EJA (Educação de Jovens e Adultos), auxílio-visitas e viagens
técnicas, auxílio acadêmico, auxílio-didático-pedagógico, auxílio para discentes mães/pais
(R$ 226,00) e bolsa de trabalho (R$ 371,00).
Tais auxílios são operacionalizados pelo Serviço Social do IFCE. O auxílio-transporte
possui uma demanda expressiva, havendo, assim, grande dificuldade em atender a todos os
estudantes que o solicitam. Outra dificuldade que se apresenta ao Serviço Social é o fato de o
valor do auxílio ser pouco, como mostram os valores da tabela 1, não podendo atender,
também, à necessidade de alimentação dos discentes. Os assistentes sociais procuram, ainda,
através da acolhida e escuta ativa, identificar o motivo pelo qual o aluno quer se inserir na
assistência estudantil, bem como analisar o contexto familiar em que se encontra o discente
que está em situação de evasão escolar ou reprovação.
7 Auxílio-moradia: destinado a subsidiar despesas com habitação para locação/sublocação de imóveis ou acordos
informais, pelo período de seis meses, podendo ser renovado; auxílio-alimentação: destinado a subsidiar
despesas com alimentação durante o semestre letivo; auxílio-óculos: destinado a subsidiar aquisição de óculos ou
de lentes corretivas de deficiências oculares, respeitando-se a periodicidade mínima de doze meses para nova
solicitação; auxílio-EJA: destinado a subsidiar despesas com deslocamentos e outras despesas dos discentes dos
programas inseridos na modalidade de ensino de jovens e adultos, durante os meses letivos; auxílio-visitas e
viagens técnicas: destinado a subsidiar alimentação e hospedagem, em visitas e viagens técnicas programadas
pelos cursos; auxílio-acadêmico: destinado a subsidiar despesas em eventos, tais como inscrição, locomoção,
alimentação e hospedagem, podendo ser concedido duas vezes ao ano para a participação do discente no
processo ensino-aprendizagem nos eventos a) científicos e/ou tecnológicos; b) de extensão; c) socioestudantis,
fóruns, seminários e congressos; auxílio-didático-pedagógico: destinado a subsidiar material indispensável ao
processo ensino-aprendizagem, podendo ser concedido uma vez por semestre; auxílio para discentes mães/pais:
destinado a subsidiar despesas com filho(s) sob sua guarda, durante os meses letivos (Resolução nº 023, de 2011,
Regulamento de Auxílio aos Discentes).
29
Tabela 1 – Valores dos auxílios aos discentes
Auxílios ao Discente (Resolução nº 23/11 – Regulamento de Auxílio ao Discente)
Auxílio Valor (R$)
Auxílio-moradia 150,00
Auxílio-alimentação 88,00
Auxílio-transporte 50,00 (Fortaleza)
70,00 (Região Metropolitana)
Auxílio-óculos Calculado com base no valor do menor
orçamento apresentado, sendo pago no
máximo 50% do salário-mínimo vigente.
Auxílio-EJA Até 20% do salário-mínimo vigente.
Auxílio para visitas e viagens
técnicas
Concedido como ajuda de custo, sendo seu
valor calculado, tendo-se por base 1/22 (um
vinte e dois avos) do salário-mínimo vigente
por dia com pernoite
Auxílio-didático-pedagógico -
Auxílio para discentes mães/pais 226,00
Bolsa de trabalho 371,00
Fonte: Resolução da Assistência Estudantil do IFCE de 2011 e Coordenação de Serviço Social, campus
Fortaleza.
O IFCE vem travando várias discussões acerca das legislações e diretrizes nacionais
pertinentes a essa política pública para construir sua própria forma de realizar a assistência
estudantil. Sendo assim, busca, com a ajuda da equipe multidisciplinar que está à frente de tal
política pública, visitar todos os campi da instituição e conversar com os alunos para que
todas as dúvidas sobre a assistência estudantil sejam esclarecidas, bem como nortear a forma
como devem ser gastos os recursos destinados à assistência estudantil. Dando andamento a
tais discussões, em fevereiro de 2012, aconteceu, no IFCE, campus Fortaleza, o I Encontro de
Profissionais da Assistência Estudantil, que permitiu a participação dos representantes
estudantis de cada campus. Nesse encontro, nasceram as diretrizes para a reformulação do
atual Regulamento de Assistência Estudantil, que foi acatado pela Resolução n° 23/2011-
Consup.
Desse modo, inferimos que o desnudamento do contexto da assistência estudantil no
IFCE, campus Fortaleza, nos possibilita obter uma compreensão da forma como se
30
desenvolve tal política, enxergar suas potencialidades e limites e propor sugestões para
melhoria dessa política pública educacional.
31
3 TECENDO DISCUSSÕES TEÓRICAS SOBRE AVALIAÇÃO
Certas perguntas norteadoras foram importantes para definirmos nossa perspectiva de
avaliação: a política de assistência estudantil constitui-se mesmo em um caminho para a
permanência dos alunos e conclusão dos seus estudos no Instituto Federal do Ceará? A
assistência estudantil, entendida como uma política pública social, está tendo um caráter
universal, inverso à fragmentação, entendida de acordo com o contexto em que aqueles que a
ela recorrem estão inseridos?
Sendo assim, com tais perguntas norteadoras, realizamos uma avaliação aprofundada,
compreendendo a forma como vem se delineando o Programa de Assistência Estudantil no
local supramencionado, pois, assim como Rodrigues (2011, p. 48), acreditamos na “avaliação
como compreensão. Avalia-se para conhecer e desta forma tal perspectiva retira o foco da
avaliação dos atendimentos aos objetivos da política e centra-se no processo de sua
concretização, ou seja, a vivência da política”.
Ainda sob a ótica da referida autora em relação à avaliação aprofundada, utilizamos
vários instrumentos de pesquisa (como entrevistas semiestruturadas, observações de campo,
diário de campo) que puderam ser condizentes com uma pesquisa que busca uma atitude
multidisciplinar, ou até mesmo interdisciplinar (RODRIGUES, 2011, p. 48).
Tais instrumentos foram aplicados aos discentes do ensino superior que estão
inseridos, há pelo menos um ano, na assistência estudantil. Ressaltamos, ainda, que
realizamos o perfil socioeconômico desses alunos que são apoiados pela assistência
estudantil, soubemos a quantidade total de alunos atendidos pelo programa e descobrimos que
os auxílios mais requeridos pelos alunos são os auxílios alimentação e transporte, utilizando
questionários com perguntas “fechadas”; realizamos entrevistas semiestruturadas com os
profissionais do Setor de Serviço Social que operacionalizam tal programa, com a Diretoria
de Gestão Orçamentária e com a Diretoria de Assuntos Estudantis, criada com o intuito de
atender as questões que envolvem a assistência estudantil no IFCE.
O objetivo da nossa avaliação, em relação a esse contato com os referidos atores
sociais que estão envolvidos no programa a ser analisado (com foco especial nos alunos
atendidos pela assistência estudantil, apreendendo, principalmente, o contexto social,
econômico, cultural e familiar em que estes estão inseridos), é perceber de que forma tal
programa é percebido por cada um desses atores e o que, porventura, o seu discurso
apresentará em relação aos problemas e potencialidades da assistência estudantil.
32
Como parte do processo da avaliação em profundidade que realizamos, recorremos à
análise de conteúdo de políticas e programas para melhor conhecermos o programa estudado.
Segundo Rodrigues (2011, p. 48), tal análise envolve três aspectos:
Formulação: objetivos, critérios, dinâmica de implantação, acompanhamento e
avaliação; bases conceituais: paradigmas orientadores concepções e valores
expressos, bem como conceitos e noções centrais que sustentam essas políticas;
coerência interna: não contradição entre as bases conceituais, a forma de
implementação, os critérios estabelecidos para o seu acompanhamento,
monitoramento e avaliação.
Tais aspectos são referentes “à análise do material institucional na forma de leis,
portarias, documentos internos, projetos, relatórios, atas de reunião, fichas de
acompanhamento, dados estatísticos e outros” (RODRIGUES, 2011, p. 48).
Também se fez necessário realizar a análise do contexto da formulação da política de
assistência estudantil e, para tanto, foi indispensável focarmos em certos pontos: o período
político, econômico e social em que se gestou a política; a análise de outras políticas que
deram suporte para que a assistência estudantil se afirmasse e articulação do marco legal ao
contexto.
A trajetória institucional do programa, que também faz parte do processo da avaliação
densa, corresponde ao caminho que a política faz pelas vias institucionais, desde o “patamar”
onde foi criada até onde está sendo operacionalizada. Tal trajetória tem o intuito de averiguar
a coerência e/ou dispersão da política/programa no mencionado caminho que realiza
(RODRIGUES, 2011, p. 49).
Já que o programa de assistência estudantil advém da esfera federal, ele,
para ser avaliado, necessita a reconstituição de sua trajetória, de forma que o
pesquisador possa aferir as mudanças nos sentidos dados aos objetivos do programa e
à sua dinâmica conforme vai adentrando espaços diferenciados e, ao mesmo tempo,
descendo nas hierarquias institucionais até chegar à base, que corresponde ao contato
direto entre agentes institucionais e sujeitos receptores da política (RODRIGUES,
2011, p. 49).
Desse modo, acreditamos que a trajetória institucional, a qual nos fez perceber como
foi se dando o programa de assistência estudantil desde sua implementação na esfera federal
até sua concretização por aqueles profissionais que lidam diretamente com ela, foi
consolidada na nossa pesquisa através das entrevistas semiestruturadas que realizamos com os
atores sociais já mencionados.
33
Outro aspecto, também importante para o tipo de avaliação que desenvolvemos, é
quanto
ao espectro temporal e territorial que conforma a política ou programa. A
importância está no fato de que a apreensão da configuração temporal e territorial do
percurso da política estudada diz respeito às especificidades locais e suas
historicidades (RODRIGUES, 2011, p. 50).
Essa faceta da avaliação em profundidade nos permite “avaliar as políticas a partir de
dados que comportem a visão de mundo dos sujeitos nelas envolvidos” (RODRIGUES, 2011,
p. 52), fazendo-nos com que apreendamos o olhar particular que os sujeitos envolvidos com o
programa de assistência estudantil possuem sobre esta. Acreditamos que tal faceta expressa
bem o que aqueles que são contrários ao paradigma científico pregam: a não adesão à
“exagerada dependência em relação à mensuração quantitativa formal” (GUBA; LINCOLN,
2011, p. 45).
Em relação ao paradigma científico, ressaltamos que este não direcionará nossa
pesquisa devido a alguns impasses que apresenta, como: a recusa de se utilizar outros meios
de pensar o objeto de estudo que não seja a ciência; o fato de acreditar que a ciência é imune
aos valores, tendo apenas como objetivo descrever aquilo que a natureza está mostrando e,
consequentemente, excluindo o avaliador de qualquer responsabilidade em relação àquilo que
a avaliação vai expor, por exemplo (GUBA; LINCOLN, 2011, p. 46).
Os alicerces do paradigma construtivista (que faz contraponto ao paradigma científico
e no qual acreditamos como o mais adequado para a construção da metodologia da nossa
avaliação) se encontram no paradigma de investigação (GUBA; LINCOLN, 2011, p. 47).
Expõem ainda que o paradigma construtivista
em nada se parece com a ciência, em particular no que tange às suas suposições
básicas, que são praticamente contrárias às da ciência. Porque, ontologicamente, ele
nega a existência de uma realidade objetiva, afirmando, em vez disso, que as
realidades são construções sociais mentais e que existem em número tantas
construções quanto existem indivíduos (embora, sem dúvida, muitas construções
venham a ser compartilhadas). Defendemos que a própria ciência é uma dessas
construções; podemos admitir isso livremente ao panteão de construções somente se
não formos solicitados a aceitar a ciência como construção certa ou verdadeira. E
enfatizamos que, se as realidades são construções, então não é possível haver, exceto
por imputação mental, leis naturais que governam as construções, como leis de
causa e efeito. Epistemologicamente, o paradigma construtivista nega a
possibilidade do dualismo sujeito-objeto, propondo, em vez disso, que os resultados
de um estudo existem precisamente porque existe uma interação entre o observador
e o observado que cria exatamente o que provém dessas investigações (GUBA;
LINCOLN, 2011, p. 52-53).
34
Portanto, seguindo o paradigma construtivista, nossa avaliação primou pelo enlace
entre o objeto de estudo e a pesquisadora, já que esta não é a única detentora de
conhecimento, havendo, também, por parte daquele objeto, um conhecimento essencial que
permitirá, ao entrar em contato com as ideias da estudiosa, a criação de “uma realidade
construída que seja, tanto quanto possível, fundamentada e esclarecida em um determinado
momento” (GUBA; LINCOLN, 2011, p. 53).
A partir da metodologia construtivista, avaliamos nosso objeto de estudo a partir de
algumas considerações determinadas por aquela, e que se mostram como as mais adequadas
para direcionar a forma como realizamos nossa avaliação, podendo ser delineadas como
contraponto aos ditames da investigação científica.
Eis algumas dessas considerações: os fenômenos só podem ser bem compreendidos
dentro do contexto no qual se encontram, não sendo possível inferir, por exemplo, que as
conclusões às quais o pesquisador chegou, em relação a um contexto específico, servem para
outro contexto adverso daquele de onde elas surgiram (o que apreendermos em relação à
assistência estudantil no IFCE, campus Fortaleza, possivelmente não se adequará com a
realidade do programa de assistência estudantil da Universidade Federal do Ceará, por
exemplo); as interferências, que são realizadas em certo contexto, acabam sendo
“persuadidas” por este e vice-versa (a postura da pesquisadora, sua presença no espaço onde
se dá o referido programa, seus anseios etc., podem interferir nas falas, no modo de pensar
dos sujeitos pesquisados, podendo a estudiosa também ser acometida por esses fatos); e, por
fim, “os dados da avaliação provenientes de uma investigação não têm nenhum prestígio nem
legitimação; eles simplesmente representam outra construção a ser levada em conta no
processo em direção ao consenso” (GUBA; LINCOLN, 2011, p. 54).
A avaliação que se obteve sobre a assistência estudantil não foi “fechada”, “blindada”,
ou seja, não é uma verdade única, posto que a realidade está sempre em constante mudança.
Poderá haver outros enfoques, outras respostas, outros tipos de avaliação que terão um viés
diferente do nosso e, é claro, não menos importante e válido.
Enfim, ainda de acordo com os referidos autores, as respostas que obtivemos com a
nossa investigação não são respostas indubitáveis, absolutas, “já que nunca é possível saber
como as coisas ‘realmente’ são”, pois “a construção que se faz sobre como as coisas são na
verdade é criada pela própria investigação e não é determinada por certa ‘natureza’
misteriosa” (GUBA; LINCOLN, 2011, p. 58).
Como já citado anteriormente, elegemos o paradigma construtivista como o mais
indicado para direcionar nossa pesquisa. Refutamos o paradigma positivista porque, segundo
35
Minayo (2012), para os positivistas, o método quantitativo é a “chave” para se desnudar a
realidade social, já que fornece a objetividade tão aclamada e defendida por aqueles. A análise
da realidade é válida e objetiva quando esta pode ser “mensurada” através de instrumentos
que seguem um determinado padrão e que são “neutros”. Eles acreditam também que somente
as técnicas estatísticas mais avançadas podem fornecer uma explicação objetiva para a
realidade. Todavia, “não faz parte da teoria a consideração de que a construção de técnicas
passa pela subjetividade dos pesquisadores e que as proposições e construções que as
constituem introjetam interesses dos mais diferentes matizes” (MINAYO, 2012, p. 23).
Lejano (2012) acredita que o positivismo cerceia os estudos sobre políticas públicas, já
que seus modelos de análise não conseguem abranger totalmente a realidade de tais políticas.
Explana ainda que os métodos positivistas, ao trabalharem com métodos que apenas têm
interesse em mensurar o objeto, trabalhando com hipóteses, na ânsia de confirmá-las, não
proporcionam uma efetiva compreensão e aprendizagem, já que a averiguação de tal objeto é
predeterminada, não sendo possível perceber a política da forma como ela realmente é.
Ainda segundo o referido autor, para ir além desse tipo de método, faz-se necessário
ressaltar as várias facetas da experiência e do entendimento, apreendendo a complexidade do
objeto analisado. Tal apreensão só será possível através da concretização desse objeto na
prática. Sendo assim, percebemos como a experiência possui relevância para Lejano (2012).
Ele relata ainda que, caso precisemos entender as qualidades e defeitos de instituições e
políticas, precisamos primeiro apreender qual a verdadeira essência destas, e não a “casca”
que elas apresentam para nós.
Silva (2008), ao falar sobre a avaliação de políticas e programas, expõe que esta é
composta por duas dimensões: a dimensão técnica e a política; aquela comporta os processos
científicos, que lhe dão o poder de produzir conhecimento, e esta comporta as
intencionalidades que se tem ao realizar o estudo de determinado objeto.
A autora acredita que
sendo a avaliação de políticas e programas sociais um movimento do processo das
políticas públicas, [...] toda política pública é uma forma de regulação ou
intervenção na sociedade. Trata-se de um processo que articula diferentes sujeitos,
que apresentam interesses e expectativas diversas. Representa um conjunto de ações
ou omissões do Estado, decorrente de decisões e não-decisões, constituída por jogos
de interesses, tendo como limites e condicionamentos os processos econômicos,
políticos, sociais e culturais de uma sociedade historicamente determinada (SILVA,
2008, p. 90).
36
Portanto, inferimos que a política de assistência estudantil do IFCE, campus Fortaleza,
possui vários atores sociais envolvidos: os estudantes inseridos nesse programa, os
profissionais que o executam e o governo federal. Cada um desses atores sociais possui uma
ideia acerca da assistência estudantil, podendo haver, portanto, um possível embate entre tais
atores para se decidir a quem cabe o maior controle sobre a forma de se conduzir a assistência
estudantil na instituição.
Toda política pública possui uma contradição: a contradição de servir a sociedade que
tanto pressionou para a implementação desta política e de também atender aos interesses
particulares do Estado – mas nem por isso devemos “endemonizá-la”, pois
a política pública é uma resposta decorrente de pressões sociais a partir de ações de
diferentes sujeitos, como já indicado, que sustentam interesses diversificados.
Portanto, serve a interesses também contraditórios, que ora se situam no campo do
capital, ora no campo do trabalho. Recuso, portanto, qualquer raciocínio linear e
consensual, pois falar de política é falar de diversidade e de contradição (SILVA,
2008, p. 90).
Silva (2008) relata que, na visão da avaliação, as políticas públicas são determinações
governamentais que proporcionam um impacto que modifica as condições de vida das
pessoas, podendo, também, modificar pensamentos, atitudes e comportamentos. Todavia, a
autora critica a forma como a pesquisa avaliativa vem sendo desenvolvida, já que possui o
intuito de se analisar o cumprimento de objetivos de políticas/programas, baseando-se nos
critérios de eficácia, eficiência e efetividade (situação esta que se opõe à avaliação em
profundidade que utilizaremos). Sendo assim, esses tipos de pesquisa
apresentam dificuldades, ambiguidades, além da falta de tradição e das resistências
identificadas, merecendo três críticas recorrentes na literatura: fragilidade
metodológica, que pode comprometer sua validade e credibilidade; irrelevância, na
medida em que seus resultados não são significativos ou não influenciam as decisões
ou não são disseminados e, quando divulgados, não são utilizados (BROWNW;
WILDAVSKY, 1984 apud SILVA, 2008, p. 111).
Com essas reflexões, Silva (2008) acredita que a avaliação deve ser utilizada como um
instrumento que permitirá tornar mais rígida a forma de a sociedade organizada pressionar o
Estado por direitos sociais, já que aquela tem o poder de disseminar informações sobre
políticas e programas sociais.
Ela afirma ainda que ocorrem alterações na vida das pessoas a partir das políticas e
programas sociais. Tal questão faz parte da nossa intenção de pesquisar sobre a assistência
estudantil: saber que mudanças ocorrem na vida dos alunos atendidos por ela. Haverá
37
mudanças significativas? A autora explana ainda que a pesquisa avaliativa não é neutra em
relação às relações de poder. Possui, ao mesmo tempo, o ato técnico e político; “não é
desinteressado, mas exige objetivação e independência e fundamenta-se em valores e no
conhecimento da realidade” (SILVA, 2008, p. 114).
Silva (2008) relata que a pesquisa avaliativa prima pela realização da crítica da política
ou programa que está sob avaliação. Nesse sentido, pretendemos desenvolver olhar crítico
para que a avaliação da assistência estudantil seja a mais fidedigna possível com a realidade
que tentaremos compreender em determinado momento através do conhecimento das teorias,
conceitos que norteiam a política ou programa; pelo reconhecimento dos sujeitos que estão
inseridos em tal política ou programa; por se direcionar pelas ideias, valores que os sujeitos
(demandantes, avaliadores, beneficiários e informantes) participantes desse processo de
avaliação possuem da realidade social; e pela negação da existência da neutralidade, “não
percorrendo um único caminho” (SILVA, 2008, p. 114).
De acordo com a autora, o resultado que uma avaliação apresentar pode ser
questionado, já que “é um julgamento passível de questionamentos, como toda teoria sobre o
social o é. Não tem, por conseguinte, o poder de uma verdade inquestionável, até porque todo
saber científico sobre a sociedade é uma interpretação histórica, parcial e relativa” (SILVA,
2008, p. 114).
Admitimos que as conclusões às quais chegamos sobre a assistência estudantil no
IFCE poderão ser rebatidas e questionadas por outras pesquisas que a tenham como objeto de
estudo, havendo, certamente, olhares, reflexões e críticas diferentes da nossa.
Sobrinho (2004), assim como Rodrigues (2011), acredita que a avaliação não deve
seguir apenas um tipo de vertente de discurso para ser bem delineada. Também como Silva
(2008), o autor defende que a avaliação de uma política ou de um programa pode ser
questionada, pois “dizer que a avaliação não é monorreferencial é admiti-la mergulhada em
ambiguidades e tensões e assumir que ela não pode produzir certezas ou respostas finais”
(SOBRINHO, 2004, p. 8).
O autor explica que, quando a avaliação é analisada após sua concretização, deve
sempre ressaltar os anseios, pensamentos, intenções dos atores sociais que participaram da
construção dessa avaliação e que foram atingidos por esta. Assim, considerar como cerne da
nossa pesquisa aqueles sujeitos sociais mais atingidos – e, possivelmente, mais interessados
pelos desdobramentos da assistência estudantil no IFCE –, os alunos atendidos por esse
programa, é central nessa pesquisa.
38
Deve-se ainda levar em consideração a intencionalidade da pesquisa, que é beneficiar
e respaldar os alunos para que possam, de maneira mais sólida, lutar pelas melhorias da
assistência estudantil no IFCE, campus Fortaleza. Nosso objeto de estudo pode ser bem
apreendido “pelos seus efeitos e pelos sentidos de seus usos, ou seja, sua função”
(SOBRINHO, 2004, p. 10) – função esta que remete ao desejo de nossa avaliação ser “um
instrumento a elevar a consciência dos problemas, potencializar os sentidos dos fenômenos e
projetar novas possibilidades de construção. Contribua para a emancipação, portanto”
(SOBRINHO, 2004, p. 11).
Ressaltamos que nossa avaliação refuta o pressuposto da avaliação objetivista que
analisa apenas se os resultados alcançados estão de acordo com os objetivos estipulados pela
política/programa, esquecendo “os sentidos dos processos e produtos” (SOBRINHO, 2004, p.
12).
Concordamos com Sobrinho quando afirma que a avaliação “busca construir
socialmente a interpretação e a compreensão de conjunto da realidade e se orienta pela
intenção da transformação. Neste caso, a avaliação também produz novos conhecimentos e
submete ao debate público os valores da comunidade onde se realiza” (SOBRINHO, 2004, p.
15).
Para uma boa pesquisa (BOURDIEU, 1989), é necessário que ofereçamos “a cara a
tapa”, ou seja, que se apresente sua realidade por inteiro. O mais importante é o “fazer do
objeto”, sua construção. É ter um olhar diferenciado sobre o objeto (dar atenção, por exemplo,
àquele que não é visto com bons olhos, ou então estudar de outro ângulo, totalmente diferente,
algum objeto que é tido como o mais importante).
Bourdieu (1989) explana ainda que
só se pode dirigir uma pesquisa – pois é disso que se trata – com a condição de a
fazer verdadeiramente com aquele que tem a responsabilidade direta dela: o que
implica que se trabalhe na preparação do questionário, na leitura dos quadros
estatísticos ou na interpretação dos documentos, que se sugiram hipóteses quando
for caso disso, etc. – é claro que não se pode, nestas condições, dirigir
verdadeiramente senão um pequeno número de trabalhos, e aqueles que declaram
“dirigir” um grande número deles não fazem verdadeiramente o que dizem
(BOURDIEU, 1989, p. 21).
A pesquisa, de acordo com o referido autor, é muito séria e extremamente árdua para
se ater somente a determinados recursos para explicá-la, trocando o “rigor” pela “rigidez”.
Mas quando o autor fala sobre isso, não ignora o cuidado na maneira como as técnicas serão
utilizadas, sua consonância com o objeto de estudo e o contexto em que serão lançadas.
39
A construção do objeto não acontece de uma hora para outra. Ela é feita de forma
processual, com erros, com retoques destes, que acabam levando a decidir até mesmo por
elementos que poderiam ser considerados supérfluos, mas que são imprescindíveis, pois
podem minar a ideia de que os conceitos e as teorias são suficientes, não havendo a
necessidade de se “colocá-los para funcionar”, ou seja, de pô-los em prática.
O autor defende que a noção de campo irá desvendar aquilo que é preciso ser feito e
conhecido; fazer perceber, enfim, que o objeto de estudo não está sozinho, que está dentro de
uma lógica de relações que permitirão delinear sua essência. É preciso ligar o objeto de estudo
a outros fatores e contextos para melhor explicá-lo.
Não é conveniente nos inclinarmos na noção do objeto pré-construído, já que o que
está em jogo é o objeto que nós escolhemos, pelo qual temos afinidade, mas que não sabemos
ao certo o porquê de tal afinidade. Será mesmo que escolhemos tal objeto porque realmente
queremos? Analisamo-lo de forma que haja aprofundamento do conhecimento sobre ele
dentro da realidade em que está, ou estamos “presos” ao pouco que conhecemos desse objeto?
A conclusão à qual chegamos a respeito dele porventura não estará relacionada a interesses
maiores? Enfim, são perguntas que devem ser feitas e analisadas.
Como propomo-nos a analisar as mudanças que ocorreram na vida dos alunos que
estão inseridos na assistência estudantil do IFCE, campus Fortaleza, optamos pela avaliação
de impacto que, segundo Silva (2001, p. 85), “tem-se como foco central as mudanças
quantitativas e qualitativas decorrentes de determinadas ações governamentais
(política/programa) sobre as condições de vida de uma população, tendo, portanto, como
critério a efetividade”.
Segundo a autora, para se definir o que seja impacto, faz-se necessário dar uma
definição de um efeito, que é um comportamento ou acontecimento que foi atingido por
determinado objetivo de um programa. Impacto, para a estudiosa, “é o resultado dos efeitos de
um programa” (SILVA, 2001, p. 85). Para delineá-lo, é preciso levar em conta dois
momentos: a situação antes e depois de algum programa ser implementado, devendo
acontecer o controle das variáveis que não são relativas ao programa.
Todavia, a realidade é um sistema aberto, não sendo possível, portanto, cercear
aquelas variáveis que podem nela interferir,
não se pode afirmar categoricamente que um determinado efeito (impacto) decorreu
exatamente da implementação de um determinado programa. Portanto, o
entendimento é de que qualquer avaliação de impacto apenas identifica a mudança e
sua dimensão ocorrida numa situação ocorrida conhecida previamente, mas não
pode afirmar, categoricamente, que a mudança resultou, diretamente, desta ou
40
daquela variável, entre elas, do próprio programa social, tomado como variável
independente. Por outro lado, à medida que a avaliação de impacto implica em
relação de causalidade entre o programa e as alterações nas condições sociais
requer-se objetivos claros; critérios de sucesso e medidas de aferição de sucesso
(SILVA, 2001, p. 85-86).
Ainda sobre a avaliação de impacto, Holanda (2006, p. 114) explana que tal avaliação
preocupa-se em saber se a interferência do governo “provocou a desejada mudança social de
curto (produto ou efeito) ou longo prazo (impacto)”. Essa avaliação também se preocupa em
averiguar a ocorrência de efeitos positivos e negativos que não eram esperados.
Consideramos a avaliação de impacto importante para nosso trabalho por estar de
acordo com o que avaliamos: a incidência da assistência estudantil na vida dos discentes e,
consequentemente, as alterações que estão nela ocasionando, descobrindo e destacando os
principais detalhes desse programa que provocam as mudanças nas condições sociais dos
alunos.
3.1 Contribuições teóricas sobre assistência estudantil, educação e políticas públicas
Como a assistência estudantil é uma política educacional, faz-se necessário discutir
sobre educação. Esta, segundo Martins, “envolve diversos espaços: o próprio sujeito, a
família, a política, as organizações de cultura e, dentre elas, a ‘escola’, no sentido amplo que
este termo encerra. Educação é um processo social vivenciado no âmbito da sociedade civil e
protagonizado por diversos sujeitos” (2012, p. 34).
A autora explana ainda que a educação é um instrumento estratégico para o Estado,
pois, segundo Gramsci (1999 apud MARTINS, 2012), para fazer com que a sociedade se
mantenha sob controle, o Estado não faz uso apenas da violência, seja ela política ou
econômica. Ele também se utiliza da coerção ideológica, que faz com que todos aceitem e
tenham, como senso comum, a cultura hegemônica burguesa. Para tanto, “utiliza-se a escola,
instituição que visa, em última instância, a transmissão dos conhecimentos acumulados
historicamente pela sociedade e a formação de valores” (MARTINS, 2012, p. 34).
A educação é muito importante para as massas para que estas possam obter o
conhecimento e o domínio dos mecanismos de reprodução global da formação econômico-
social que são propensos a mudanças (GRAMSCI, 2006 apud MARTINS, 2012). Desse
modo, a educação, segundo Martins (2012), é um instrumento que permite tanto as camadas
populares formarem uma cultura contra-hegemônica para serem contrárias à opressão e à
41
alienação advindas da sociedade capitalista como também a perpetuação do ideário
dominante.
Ao analisar a trajetória da política de educação brasileira, a autora percebe que, apesar
de a política de educação ser defendida desde o início do século XX, sua concretização
sempre foi delineada pela exclusão, que pode ser notada
nos dados estatísticos e, principalmente, nas notícias e relatos que flagram as
dificuldades de acesso e permanência na escola em decorrência de fatores
relacionados à própria condição da operacionalização desta política (infraestrutura,
adequada, déficit na formação profissional dos educadores, baixos salários,
programas e projetos educacionais desarticulados ou descolados da realidade, etc.) e,
ainda, pelas sequelas da questão social que invadem o cotidiano escolar,
considerando as mudanças no perfil dos alunos/famílias, usuários da escola pública,
geralmente provenientes da classe trabalhadora (MARTINS, 2012, p. 41).
Em relação à mudança no perfil dos alunos e das famílias que estão na instituição
pública, a autora relata ainda que tal mudança, ao permitir o acesso de mais pessoas ao ensino
público, permitiu, também, a inserção de estudantes de classes menos abastadas, “que
expressam as marcas da desigualdade social que vivenciam e que fazem parte do processo
histórico da sociedade brasileira” (MARTINS, 2012, p. 44). Portanto, Martins (2012) refere
que o espaço escolar é permeado pelas consequências do fortalecimento da questão social, as
quais são postas à comunidade escolar, que não sabe como agir com o perfil de um aluno, de
uma família, a qual até então não fazia parte do ambiente educacional. Ela acredita que
resvalam deste bojo as alterações nas relações interpessoais, impregnadas da
influência da ideologia dominante, sob o ideário neoliberal, apresentando um
individualismo exacerbado, competitividade, preconceitos, fragmentação do real,
que reforçam o “o modo capitalista de pensar” e provocam conflitos nas instituições
escolares e em seu entorno (MARTINS, 2012, p. 44).
David e Gazottto (2012), corroborando a fala de Martins (2012) sobre a entrada de
jovens hipossuficientes no ensino superior, relatam que, com a abertura das Ifes, o número de
discentes advindos de escolas públicas aumentou. Os autores corroboram, também, a
importância do PNAES na vida estudantil desses discentes. Com a verificação desse perfil de
jovem dentro da universidade, “em seus primeiros períodos de graduação, constata-se um
elevado índice de defasagem de ensino, lazer, cultura e até mesmo condições baixas de saúde,
moradia, alimentação e outras expressões da questão social” (DAVID; GAZOTTO, 2012, p.
182).
42
A assistência estudantil, como uma política pública educacional, é uma “resposta a
necessidades sociais que têm origem na sociedade e são incorporadas e processadas pelo
Estado em suas diferentes esferas do poder (federal, estadual e municipal)” (RAICHELIS,
2000, p. 1). Concordamos com o pensamento dessa autora porque o surgimento da assistência
estudantil, direito exigido pelos professores, alunos e movimentos sociais, veio para apoiar a
inserção dos filhos da classe trabalhadora no cenário do ensino superior mediante a definição
de auxílios (transporte, moradia, alimentação etc.) que dessem as condições necessárias de se
manterem na instituição de ensino superior.
É intrínseca à assistência estudantil a marca de ter sido gerada devido às desigualdades
sociais que imperam na nossa sociedade, pois faz parte do rol das políticas sociais que são
“desdobramentos e até mesmo respostas e formas de enfrentamento – em geral setorializadas
e fragmentadas – às expressões multifacetadas da questão social do capitalismo, cujo
fundamento se encontra nas relações de exploração do capital sobre o trabalho” (BEHRING;
BOSCHETTI, 2006, p. 51).
A avaliação da assistência estudantil como política pública torna-se necessária “para o
fortalecimento da pressão social sobre o Estado no sentido de conquista de direitos sociais,
haja vista as informações de que a avaliação pode gerar e publicizar sobre políticas e
programas sociais” (SILVA, 2001, p. 48), além de fortalecer sua efetivação.
Ao falar sobre as políticas sociais, Raichelis (2000) acredita que a importância de sua
discussão vem das rápidas transformações que vem sofrendo a sociedade capitalista
contemporânea, fazendo suscitar conversações sobre tal categoria entre aqueles que estão
inseridos na responsabilidade pública.
De acordo com Raichelis (2000), com a queda do Welfare State, na década de 1970 (o
qual buscava compensar as desigualdades sociais advindas do capitalismo com a
redistribuição da riqueza social), ruíram as conquistas sociais garantidas após a Segunda
Guerra Mundial e houve a ascensão do neoliberalismo, que pregava a não participação do
Estado na fomentação de direitos e cidadania.
Raichelis expõe ainda que “este quadro societário atualiza os dilemas frente à questão
social e as novas configurações que assume na sociedade capitalista atual, em decorrência da
imposição de uma agenda de ajustes econômicos aos requisitos ditados pela globalização dos
mercados em nível planetário” (2000, p. 3).
Concordamos com Silva (2001, p. 41) quando ela afirma que há vários interesses em
jogo quando se trata de políticas públicas (no nosso caso, a assistência estudantil), “fazendo
do desenvolvimento das políticas públicas um processo contraditório e não linear”. Portanto,
43
consideramos que é preciso levar em conta, principalmente, os interesses daqueles que são o
foco da assistência estudantil: os estudantes.
Como pretendemos conhecer como se desenvolve a assistência estudantil no IFCE
através dessa avaliação e, consequentemente, vislumbrar mudanças que possam ajudar a
melhorar tal política, concordamos com Silva (2001, p. 51-52) quando expõe que a avaliação
possui “o compromisso com valores éticos e com a não neutralidade, o que reafirma a
perspectiva de mudança da política, com alteração da prática imediata dos programas sociais
na direção desejada, tendo como referência as demandas sociais”.
Sobrinho (2004) está em consonância com Silva (2008) ao dizer que a avaliação
possui intencionalidades e são elas que permitem que a avaliação tenha uma função. Tendo
uma função, a avaliação fará com que compreendamos melhor o nosso objeto de estudo.
Essa afirmação do autor nos é importante porque, de fato, a avaliação que
pretendemos realizar sobre a assistência estudantil no IFCE possui uma intencionalidade: a de
ser subsídio que possibilite aos estudantes inseridos na assistência estudantil exigir melhorias
nesta, bem como permitir aos profissionais, que trabalham com a referida política, de
avaliarem o próprio trabalho e tentarem solucionar possíveis problemas.
Em relação às políticas sociais, Sposati (2010) acredita que não se deve “deixar para
trás” suas particularidades, mas trabalhar, junto a tais particularidades, outras que possam
romper com sua fragmentação. Portanto, em consonância com o pensamento dessa autora,
acreditamos que devemos levar em conta as características (forma de seleção dos alunos para
a referida assistência, valor dos auxílios pagos aos alunos, forma de participação destes na
condução da política etc.) que atualmente formam a assistência estudantil no IFCE, não as
menosprezando. Todavia, não devemos deixar de ressaltar outros detalhes que podem
melhorar a condução da assistência estudantil, como atenção a outros critérios, que não sejam
só os econômicos, para a seleção daqueles alunos e participação mais ativa e incisiva deles no
que diz respeito ao desenvolvimento da assistência estudantil.
De acordo com Cislaghi e Silva (2011), uma das metas do Programa Reestruturação e
Expansão das Universidades Federais (Reuni) é a contenção da evasão nos cursos de
graduação. Com a Portaria n° 39/2007 do MEC, surge o Programa Nacional de Assistência
Estudantil (PNAES) – que seria efetivado em 2008 – como uma solução para o problema
supracitado.
A política de cotas para alunos financeiramente hipossuficientes, iniciada pelo
Governo Federal em 2001, em universidades do Sudeste e Centro-Oeste, também foi um
terreno fértil para a criação do PNAES. Menin et al. (2008), através de uma pesquisa realizada
44
em 2006 com estudantes de uma universidade pública de São Paulo, constatou que tais cotas
para discentes hipossuficientes são bem aceitas se comparadas com as cotas raciais, pois
acreditam que os discentes oriundos de escolas públicas realmente sofrem “um
desfavorecimento real” (MENIN et al., 2008, p. 258), sendo estes, portanto, o público-alvo do
PNAES.
Veloso (2006, p. 88) explana que a
implementação de cotas se insere no âmbito das Ações Afirmativas e coloca em
discussão a questão da identidade étnica, cultural e social da população brasileira,
Na contemporaneidade, o debate tem assumido contornos distintos em diferentes
espaços e instâncias sociais, sobretudo, nos meios acadêmicos – onde as cotas têm
sido ponto de debates e polêmicas, defesa, e, também, resistência.
O autor relata ainda que as cotas podem promover mobilidade na estrutura social,
fazendo com que o poder passe para outras pessoas, semeando condições propícias para que
certas camadas sociais, que antes eram excluídas daquela mobilidade, possam ascender, e é
justamente o PNAES que vem assegurar essa oportunidade, pois seria um meio através do
qual as desigualdades sociais e regionais seriam enfrentadas. A assistência estudantil
compreenderia ações voltadas para moradia, transporte, creche, alimentação, apoio
pedagógico, saúde, inclusão digital e esporte. Os recursos necessários para o programa seriam
administrados pelo Ministério da Educação.
Essas ações, fornecidas pelo PNAES, permitem que alunos em vulnerabilidade social
do ensino público tenham as mesmas chances de crescer, dentro da instituição de ensino
superior, que os alunos advindos da escola particular, pois, “ao tomar indivíduos e grupos
desigualmente fortalecidos e preparados e colocá-los em situação de competição, o resultado e
a reprodução é a acentuação das desigualdades, da exclusão e das hierarquias” (VELOSO,
2006, p. 92).
É essencial a gratuidade do ensino. Todavia, só isso não basta para que os alunos que
se encontram em vulnerabilidade social possam frequentar a universidade e possam
corresponder, de forma satisfatória, às exigências acadêmicas com o intuito de promover uma
educação superior de qualidade (ARAÚJO; BEZERRA, 2007).
Posteriormente, em 19 de julho de 2010, o PNAES se transformou no Decreto nº
7.234/2010. Cislaghi e Silva (2011) expõem que há uma diferença interessante entre o
PNAES e o decreto: enquanto aquele determinava que os alunos que seriam contemplados
pela assistência estudantil deveriam ser escolhidos devido a fatores socioeconômicos (art. 4°),
este afirma, claramente, que os discentes escolhidos seriam aqueles que estivessem na rede
45
pública de educação básica ou que possuíssem uma renda per capita de até um salário-
mínimo e meio (artigo 5°). Enfim, infere-se, segundo as autoras, que “o governo aparenta
garantir autonomia às Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes), mas determina critérios
focalizados extremamente rebaixados para o acesso às ações de Assistência Estudantil”
(CISLAGHI; SILVA, 2011, p. 11).
Com a criação do referido Decreto nº 7.234/2010, realizou-se a organização da
assistência estudantil, que possui os seguintes objetivos:
I – democratizar as condições de permanência dos jovens na educação superior
pública federal;
II – minimizar os efeitos das desigualdades sociais e regionais na permanência e
conclusão da educação superior;
III – reduzir as taxas de retenção e evasão; e
IV – contribuir para a promoção da inclusão social pela educação.
Podemos perceber que esses objetivos são condizentes com o artigo 3° da Constituição
Federal, que fala “que são objetivos da República garantir o desenvolvimento nacional,
erradicar a miséria, eliminar as desigualdades regionais e sociais, construir uma sociedade
livre, justa e solidária”. Sendo assim, acabar com os problemas citados não são intuitos
recentes, e a assistência estudantil seria, então, um caminho a mais para agir frente às
disparidades sociais do País. Além disso, segundo Bacelar (2000), se fizermos uma análise da
nossa história, veremos que as políticas sociais nunca estiveram no centro das atenções das
políticas públicas, pois era de forma compensatória a maneira como aquelas eram traçadas,
não havendo uma mudança efetiva onde eram lançadas. O que importava, em primeiro lugar,
era a industrialização, sendo mais valorizadas as políticas econômicas.
Segundo ainda a referida autora, a “vida” das políticas sociais se torna mais
complicada pelo fato de elas serem decididas de forma centralizada, setorial, pois os que as
implementam acreditam que o que é bom para uma área, certamente será para outra, não
havendo, dessa forma, a participação daqueles que serão contemplados pela política. Isso
acontece na assistência estudantil do IFCE, pois não há um diálogo mais apurado com os
alunos para se saber de que forma a assistência estudantil poderia ser aplicada para que as
reais necessidades dos discentes sejam atendidas. O movimento estudantil do IFCE, campus
Fortaleza, promoveu, no ano de 2012, reunião e passeata para que a referida assistência fosse
discutida com eles, e tais ações serviram para se abrir o “espaço da proposta, da parceria, da
fiscalização e da avaliação” (BACELAR, 2000, p. 282).
46
Nascimento (2011) explicita que é inegável que a política de assistência estudantil foi
um ganho para a educação superior. Porém, ela está condicionada aos interesses dos grandes
organismos multilaterais (uma das exigências do Banco Mundial, por exemplo, é o aumento
da escolaridade dos alunos pertencentes aos países periféricos), já que aquela se propõe a
combater a evasão escolar e a retenção universitária, estando em consonância com tal
exigência do Banco Mundial (BM), que quer formar mais técnicos em determinadas áreas
para que possam suprir a carência de mão de obra qualificada em áreas estratégicas da
economia. Infere-se que a preocupação do Estado vai além da melhoria da educação, pois,
para este, “o essencial das políticas públicas estava voltado para promover o crescimento
econômico, acelerando o processo de industrialização” (BACELAR, 2000, p. 262). Ainda
segundo Bacelar (2000, p. 270),
cresce a importância das externalidades. Mão-de-obra qualificada, infra-estrutura, e
serviços eficientes são requisitos fundamentais para o novo padrão produtivo. E as
políticas públicas, hoje, vêm patrocinar isso. Não patrocinam mais a acumulação
direta nas indústrias; patrocinam a oferta das externalidades.
A assistência estudantil do IFCE, considerada como uma política pública educacional
voltada para a manutenção do discente no instituto, deve evitar as desigualdades sociais, bem
como a evasão escolar, objetivos estes explicitados no Programa Nacional de Assistência
Estudantil (PNAES) – mas também está subsidiando a oferta dessa mão de obra para o mundo
capitalista.
Segundo os autores Shiroma, Moraes e Evangelista (2000), a preocupação do Banco
Mundial com problemáticas educacionais, de acordo com o documento “Prioridades y
Estratégias para La Educación”, de 1995, no qual detalha o estudo que realizou sobre a
educação no mundo desde 1980, se deve ao fato de a educação ter uma forte incidência na
diminuição da miséria e no alavancamento econômico.
Essa ideia vem confirmar o pensamento de Bacelar (2000) sobre a necessidade de o
país se industrializar e de ter mão de obra, tendo a assistência estudantil como pano de fundo
para realização dessas necessidades.
Tal documento relata ainda que a educação,
por outro lado, reafirma o lugar comum que a evolução da tecnologia e das reformas
econômicas estão provocando mudanças na estrutura das economias, indústrias e
mercados de trabalho em todo o mundo. Assim, a velocidade com que se adquire
novos conhecimentos enquanto outros se tornam obsoletos tenderia a tornar as
mudanças de emprego algo mais freqüente na vida das pessoas, circunstâncias que
determinariam uma das prioridades fundamentais para a educação: formar
47
trabalhadores adaptáveis, capazes de adquirir novos conhecimentos sem
dificuldades, atendendo à demanda da economia (SHIROMA; MORAES;
EVANGELISTA, 2000, p. 74).
Para o Banco Mundial, por causa dos motivos supracitados, todos os governos em
geral, e não só os ministérios de educação, deveriam focar suas atenções na educação.
Enfim, pode-se perceber, através desse recorte do referido documento, as mudanças
pelas quais a educação brasileira (e também dos países latinos) passou nos anos 1990 (e que
repercutem até hoje). Em tal década, o Brasil, seguindo fielmente o que preconizava o Banco
Mundial, não poupou esforços para instigar vários setores da sociedade, principalmente
trabalhadores e empresários, que gostariam de interferir nas políticas educativas.
Afinal, os organismos internacionais já haviam prevenido que o êxito dessa política
dependeria de um processo de negociações e de persuasão dos interessados dentro e
fora do sistema, posto que uma ruptura entre eles poderia conduzir à supressão das
condições de efetivação das reformas (SHIROMA; MORAES; EVANGELISTA,
2000, p. 75).
Nascimento (2011, p. 32), ainda sobre a assistência estudantil, relata que o
problema é que sendo orientada pelo discurso do neo-desenvolvimentismo, a forma
como o PNAES é implementada nas Ifes aproxima a Política da lógica dos mínimos
sociais, sob o argumento de ampliação do número de usuários mas que acontece de
forma desarticulada da qualidade dos serviços prestados. Sem contar o fato de que
suas ações preveem maiores resultados à custa de menores investimentos e a forma
como a política se estrutura caminha na lógica das políticas pobres para os pobres!
A compreensão de tal política se inicia a partir do período da ditadura (1964-1969),
em que a política de educação foi adequada em consonância com os interesses da autocracia
burguesa da época, e é justamente no interior dessa situação que nascem as formas de entrada
e permanência do discente no ensino superior (NASCIMENTO, 2011). Nesse período, com o
advento do Estado de Bem-Estar Social nos países industrializados e a crescente
industrialização dos países periféricos, haverá uma propensão aos estudos das políticas
públicas (FLEXOR; LEITE, 2000). Os autores falam ainda que “esses processos políticos,
sociais e econômicos que acompanharam a transformação do Estado a partir da segunda
metade do século XX resultaram na emergência de um novo campo de investigação social que
podemos denominar de análise das políticas públicas” (FLEXOR; LEITE, 2000, p. 199).
No Governo Dilma (2011-2014), houve uma análise sobre as prioridades da
presidente, e chegou-se à conclusão de que sua atenção era voltada para educação e
assistência social. Todavia, mesmo tal governo tendo a educação como foco, a União
48
Nacional dos Estudantes (UNE) acredita que precisa haver um aumento significativo nas
verbas destinadas ao Plano Nacional de Assistência Estudantil (PNAES), e que determine
também outras fontes para o financiamento dos restaurantes universitários, moradias, creches
para as mães estudantes, auxílio com transporte, material escolar e o que mais for necessário.
Baseando-se no que foi supracitado, podemos dizer, então, que houve uma ampliação
do Estado – assim definida por Gramsci, segundo Coutinho (1994) –, com a socialização da
política, pois os estudantes, organizados na UNE, podem lutar pelos direitos deles, inserindo
esses direitos dentro desse Estado. E é justamente esse tipo de organização que vai fazer a
diferença, para Gramsci, na formação desse Estado ampliado, já que considera que tal
formação se desvenda mediante a sociedade política e a sociedade civil. O grande mérito do
autor é que vai considerar a sociedade civil como superestrutura e não infraestrutura, como
consideravam Marx e Engels. Estes a viam como “o conjunto das relações econômicas
capitalistas”, ou seja, infraestrutura. Já para Gramsci, sociedade civil é a superestrutura, como
falado anteriormente. A superestrutura
designa, mais precisamente, o conjunto das instituições responsáveis pela
representação dos interesses de diferentes grupos sociais, bem como pela elaboração
e/ou difusão de valores simbólicos e ideologias; ela compreende assim o sistema
escolar, as Igrejas, os partidos políticos, as organizações profissionais, os meios de
comunicação, as instituições de caráter científico e artístico etc. (COUTINHO, 1994,
p. 54).
A sociedade civil e a sociedade política se diferem devido à função que desempenham
em relação à organização social e, principalmente, no que diz respeito à articulação para a
reprodução das relações de poder, relata Coutinho (1994), com base nos estudos de Gramsci.
Ainda sob a visão de Gramsci, podemos dizer que o embate entre governo e os
estudantes, que lutam pela melhoria da assistência estudantil, se passa dentro do Estado
ampliado, já que tal embate é possível, não havendo um cerceamento tão incisivo das forças
estudantis. Dessa forma, possuímos uma formação social ocidental, na qual a relação entre
sociedade civil e sociedade política acontece no mesmo nível. Enfim, no Estado ampliado, a
luta de classe baseia-se na “guerra de posição”, ou seja, numa captação processual de espaços
no seio e através da sociedade (COUTINHO, 1994).
Por fim, concluímos que as bases teóricas aqui discutidas proporcionaram um maior
conhecimento e esclarecimento sobre nosso objeto de estudo, possibilitando-nos, assim,
confirmar ou refutar certas ideias sobre a política de assistência estudantil no IFCE, campus
Fortaleza.
49
4 O CAMINHO METODOLÓGICO: REALIZANDO A DESCOBERTA DOS
SUJEITOS DA POLÍTICA
O método utilizado para nossa pesquisa foi o método dialético que, segundo Barbosa
(2001, p. 159),
concebe o processo racional como dialético no qual a contradição não é considerada
como ilógica, mas como o verdadeiro motor do pensamento que se realiza. O
pensamento não é mais estático, mas procede por considerações superadas, da tese
(afirmação), da antítese (negação) e da síntese (conciliação) que supera ambas e
assim sucessivamente. Uma proposição (tese) não existe sem oposição a outra
proposição (antítese). A primeira oposição será modificada nesse processo de
oposição e surgirá uma nova. A antítese está contida na própria tese que é, por isso,
contraditória. A conciliação existente na síntese é provisória, na medida em que se
transforma na própria tese. Foi a partir desse sentido que Marx desenvolveu o
conceito de materialismo dialético.
Temos a tese de que a assistência estudantil não consegue garantir a permanência de
estudantes em condição de hipossuficiência. A antítese seria a defesa, pelo Governo Federal,
de que, realmente, o Programa de Assistência Estudantil consegue manter os discentes na
instituição. A busca pelo real, a ida à realidade onde se desenrola a problemática estudada,
será a síntese que não se mostrará nem totalmente de acordo com nossa tese, nem com a
antítese.
Segundo Minayo (2002, p. 83-84), a dialética “é desenvolvida por meio de termos que
articulam as ideias de crítica, de negação, de oposição, de mudança, de processo, de
contradição, de movimento e de transformação da natureza e da realidade social”.
Sendo assim, corroboramos, mais uma vez, a adequação da escolha do método
dialético para nossa pesquisa, devido a levarmos em consideração todos os impasses,
problemáticas e potencialidades que estão no contexto da política de assistência estudantil,
que, como realidade mutável, é remodelada de acordo com os interesses dos atores sociais que
nela estão inseridos (alunos, assistentes sociais, diretoria de assuntos estudantis etc.).
Lakatos e Marconi (1992, p. 106), sobre o método dialético, relatam que ele “penetra o
mundo dos fenômenos, através da sua ação recíproca, da contradição inerente ao fenômeno e
da mudança dialética que ocorre na natureza e na sociedade”. Como Minayo (2002), que trata
do método dialético baseado em Marx, elas consideram que contradições e mudanças fazem
parte do contexto no qual estamos inseridos.
A pesquisa realizou-se no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do
Ceará (IFCE), campus Fortaleza. Para delimitar o universo da pesquisa, definimos os
50
seguintes critérios para o objeto de estudo: alunos pertencentes ao ensino superior do IFCE,
campus Fortaleza; alunos que estão inseridos na assistência estudantil por um período mínimo
de um ano; e alunos que recebem os auxílios transporte e alimentação.
Embora a assistência estudantil do IFCE, campus Fortaleza, atenda também a alunos
do ensino técnico (alunos que estão em cursos que garantem tanto o ensino médio como a
formação técnico profissional), esta pesquisa envolve apenas alunos do ensino superior, por
serem esses os beneficiários do PNAES, objeto de estudo desta pesquisa.
A escolha do segundo critério deve-se à intenção de envolver os estudantes com maior
vivência sobre a assistência estudantil e também para identificar possíveis mudanças na sua
vida acadêmica após a inserção na referida política.
A escolha do último critério deve-se ao fato de os auxílios transporte e alimentação
serem os mais requisitados pelos alunos do IFCE.
Escolhemos o estudo de caso como nossa estratégia de pesquisa por ele ser adequado
àquelas pesquisas que possuem questões do tipo como e por quê, quando o pesquisador tem
pouco controle sobre os acontecimentos e quando o foco se encontra em fenômenos
contemporâneos inseridos em algum contexto da vida real (YIN, 2005, p. 19).
O referido autor explana ainda que
o estudo de caso conta com muitas das técnicas utilizadas pelas pesquisas históricas,
mas acrescenta duas fontes de evidências que usualmente não são incluídas no
repertório de um historiador: observação direta dos acontecimentos que estão sendo
estudados e entrevistas das pessoas neles envolvidas (YIN, 2005, p. 26).
Tal afirmação corrobora, mais uma vez, a adequação do estudo de caso na nossa
pesquisa, pois realizamos observação direta e entrevista, como será exposto posteriormente.
Ele também nos foi favorável por permitir utilizar vários instrumentos (documentos,
observação, entrevistas) que puderam ajudar no entendimento do objeto de estudo (YIN,
2005, p. 27).
Holanda (2006), assim como Yin (2005), considera que o estudo de caso “utiliza
múltiplas fontes de informações (o que se define como triangulação) e uma variedade de
processos de investigação (pesquisa documental, entrevista formais e informais etc.)”
(HOLANDA, 2006, p. 285). Para o autor, o estudo de caso proporciona uma visão geral e
busca descobrir as relações existentes entre fatores técnicos, organizacionais e culturais que
desvendam a maneira como se desenvolve determinado sistema.
51
Uma das características do estudo é seu “enfoque heurístico” (HOLANDA, 2006, p.
286), ao permitir que novas descobertas possam vir à tona para melhorarem nosso
conhecimento sobre o objeto de estudo. Sendo assim, tal característica nos instigou a sermos
atenciosos às novas descobertas que fizemos quando realizamos nossa pesquisa, pois foram
elas que nos fizeram compreender, de forma mais clara, como realmente se dá a assistência
estudantil no IFCE.
Como perspectiva para realização de avaliação em profundidade, defendida por
Rodrigues (2011), utilizamos as seguintes técnicas de pesquisa: entrevistas semiestruturadas
(para os alunos, profissionais da assistência estudantil e diretoras de gestão orçamentária e
assuntos estudantis), observações de campo, diário de campo, questionários com perguntas
fechadas (para os discentes que estão inseridos na assistência estudantil) que são condizentes
com pesquisas que buscam uma atitude multidisciplinar e, preferencialmente, interdisciplinar
(RODRIGUES, 2011, p. 48). A análise do tipo de pesquisa e das técnicas utilizadas deve ser
ressaltada por sua importância para desnudar nosso objeto de estudo.
Esta pesquisa é de caráter qualitativo, o que, para Martinelli (1999), possibilita que os
pesquisadores conheçam, de forma mais profunda, aqueles sujeitos com os quais mantêm um
diálogo. A pesquisa qualitativa permite a busca de significados, de interpretações, dos sujeitos
e suas histórias.
Tal modalidade de pesquisa foi importante para a avaliação da política de assistência
estudantil porque permitiu maior contato com os estudantes e profissionais que estão ligados à
referida política. Possibilitou, ainda, saber como eles concebem a assistência estudantil e a
importância de seus impactos na vida universitária daqueles que nela estão inseridos, bem
como descobrir limites e possibilidades na execução desse programa.
As pesquisas bibliográfica e documental também foram necessárias para nosso estudo.
A pesquisa bibliográfica implica a realização de um levantamento bibliográfico a fim de
conhecer, em profundidade, as discussões já existentes sobre a assistência estudantil, nos
permitindo identificar as questões mais pertinentes que a envolvem.
Para a pesquisa documental, analisaram-se materiais institucionais na sua forma
original, como: documentos da Coordenação de Saúde do IFCE, campus Fortaleza, com o
número de atendimentos médicos e odontológicos aos alunos desde 2010; documentos da
Diretoria de Planejamento, Orçamento e Gestão com os valores disponíveis à assistência
estudantil do IFCE desde 2010, ano de implementação do PNAES; e listagem de alunos que
abandonaram seus cursos (evadidos), fornecida pela Coordenação de Controle Acadêmico
(CCA) do IFCE, campus Fortaleza.
52
Mattos (2001, p. 40), ao falar sobre tais pesquisas, expõe que a pesquisa bibliográfica
“é realizada a partir de um levantamento de material com dados já analisados, e publicados
por meios escritos e eletrônicos, como livros, artigos, científicos, página da web, sites, sobre o
tema que desejamos conhecer”.
Ainda sob a visão de Mattos (2001, p. 40-41), a pesquisa documental significa que
“trabalhamos com dados que ainda não receberam tratamento analítico e nem foram
publicados. Encontram-se ainda em seu estado original e por isso podem ser reelaborados de
acordo com a finalidade da pesquisa e criatividade do pesquisador”.
Uma das técnicas utilizadas foi a observação, que nos permitiu o contato, in loco
(nesse caso, o Setor de Serviço Social), com os alunos da assistência estudantil e com os
assistentes sociais que dirigem a assistência estudantil.
A observação permitiu conhecermos a dinâmica da assistência estudantil e
apreendermos, com nossa presença nesses espaços, aquilo que porventura não nos foi dito
pelos atores sociais que estão envolvidos com a problemática em estudo.
Para coletar os dados necessários à pesquisa qualitativa, utilizamos a técnica entrevista
semiestruturada, pois, segundo Barbosa (2001), ela permite ao pesquisador um maior contato
com o entrevistado, podendo ainda aquele “[...] registrar as reações do entrevistado diante das
perguntas que são feitas, bem como a expressão não-verbal” (BARBOSA, 2001, p. 255).
A entrevista semiestruturada, voltada para os estudantes do IFCE, campus Fortaleza,
foi importante porque proporcionou ao entrevistado uma maior liberdade para expressar seus
pensamentos sobre o que é a referida assistência, os impactos na sua vida estudantil, além de
permitir que viessem à tona fatos que antes não tinham sido considerados pelo pesquisador e
que poderiam ser de extrema relevância. Os questionários com perguntas fechadas, que foram
aplicados somente aos alunos, permitiram realizar seu perfil socioeconômico.
Ressaltamos que a entrevista semiestruturada também foi aplicada às quatro
assistentes sociais,8 à diretora de assuntos estudantis e à diretora de gestão orçamentária, que
estão ligados diretamente a tal política. Ao se voltar para tais profissionais, a entrevista
semiestruturada tem outra importância, outro intuito: a de sabermos como eles avaliam seu
trabalho na assistência estudantil e o que eles definem como potencialidades e limites dessa
política educacional.
8 Ressaltamos que o Serviço Social do IFCE, campus Fortaleza, é formado, atualmente, por seis assistentes
sociais. Todavia, não entrevistamos todas as seis porque, na época da realização das entrevistas com as
profissionais, duas delas haviam chegado recentemente de outros campi da instituição, no segundo semestre de
2014, mediante concurso de remoção do IFCE. Como ainda não conheciam o funcionamento da assistência
estudantil do campus Fortaleza, não nos seria útil entrevistá-las naquele momento.
53
Sendo assim, esse desenho metodológico nos consentiu compreender o contexto em
que se desenvolve a assistência estudantil, as possíveis contradições que a permeiam, os
sujeitos sociais inseridos em tal contexto e os resultados vislumbrados por eles.
4.1 Primeiros contatos com os sujeitos da pesquisa
Permanecemos no Setor de Serviço Social por dois dias (24 e 26 de julho de 2013, a
partir das 14h30min), no período da tarde, para observarmos a seleção que estava sendo
realizada (posteriormente, falaremos mais sobre ela) junto aos discentes do IFCE que
requeriam os auxílios alimentação e transporte. Essa seleção, que se iniciou no dia 15 de julho
de 2013, estava voltada somente para esses dois auxílios. Ressaltamos ainda que a citada
observação foi previamente marcada com a assistente social que trabalha no Setor de Serviço
Social. A pesquisadora acredita que a facilidade com que se deu sua entrada nesse campo foi
devido à relação profissional que as duas mantinham na época em que trabalhava no IFCE do
campus Aracati.
Tentamos elencar alguns aspectos que consideramos importantes para realizarmos
nossa observação, quais sejam: tentar identificar quais os critérios que definiam a escolha
daqueles alunos que receberiam os auxílios, ou seja, que seriam inseridos na assistência
estudantil; descobrir se os assistentes sociais eram os únicos profissionais que atuavam na
escolha de tais discentes (psicólogos e pedagogos, porventura, também ajudavam nesse
processo de seleção?); e desvendar o porquê da procura dos auxílios pelos estudantes.
Sabíamos que tentar apreender como se dava a seleção para a escolha dos alunos que fariam
parte da assistência estudantil não seria fácil, pois
a percepção etnográfica não é, por sua vez, da ordem do imediatamente visto, do
conhecimento fulgurante da intuição, mas da visão (e consequentemente do
conhecimento) mediada, distanciada, diferenciada, reavaliada, instrumentalizada
(caneta, gravador, câmera fotográfica ou de vídeo...) e, em todos os casos,
retrabalhada pela escrita (FIRTH, 2004, p. 17).
No dia 24 de julho de 2013, chegamos ao Setor de Serviço Social às 14h22min,
conforme horário combinado com a assistente social com a qual faláramos. Nesse dia,
ocorreriam as entrevistas com os alunos que estavam interessados em receber os auxílios
transporte e alimentação (como já dito anteriormente, a seleção era voltada somente para
esses dois auxílios). A seleção é anunciada através de cartazes que são expostos por toda a
instituição, nos quais há ainda as datas das entrevistas, bem como o site da instituição para
54
que os discentes saibam quais são os documentos necessários para a sua realização. O período
para se inscrever para a seleção também é divulgado no referido site. Sendo assim, os alunos
já chegam ao Serviço Social, para marcar a entrevista, com os documentos exigidos e com o
questionário social respondido, estando este também disponível no site.
Ao entrar na sala, logo começamos a “puxar papo” com a estagiária de serviço social.
Soubemos, através dela, que a marcação das entrevistas era realizada com ela. Ela também
disse que realizava algumas entrevistas, mas somente na presença de uma técnica do serviço
social. Percebemos que ela estava muito à vontade com nossa presença, sendo muito solícita e
gentil ao dizer que poderíamos nos pronunciar caso surgisse alguma dúvida. Assim como
aconteceu entre a autora Gaspar e uma de suas informantes, na pesquisa que aquela realizava
com as garotas de programa, houve, entre mim e a estagiária, uma simpatia mútua (GASPAR,
1988, p. 45), tanto pelo fato de aquela ver esta como uma colega de profissão como também
por ter interesse em relatar sobre como se dava a seleção da assistência estudantil.
Ao chamar certo aluno para marcar a data da entrevista, ela perguntou qual turno ele
preferiria para ser entrevistado. Ele disse que gostaria que fosse à tarde e, assim, é marcada
para as 16 horas do dia seguinte (anteriormente, antes de entrarmos na sala do Serviço Social,
nos encontramos com esse mesmo aluno, que aguardava sua vez para marcar a entrevista, e
conversamos um pouco. Ele relatou que já possuía o auxílio-alimentação e agora estava
tentando o transporte, pois cada aluno pode ter, no máximo, dois auxílios diferentes). Aquela
confere se os alunos trouxeram a documentação exigida, esclarece algumas dúvidas que estes
têm em relação à referida documentação, bem como sobre o questionário social que precisam
responder. Ressaltamos que esse questionário serve de subsídio para a assistente social
conduzir a entrevista com o aluno interessado nos auxílios.
A estagiária nos contou que nesse semestre não vão ofertar os auxílios pai/mãe
discentes e moradia devido à pouca verba. Informou ainda que as entrevistas que ocorreriam
naquele dia eram destinadas àqueles discentes que estavam solicitando, pela primeira vez, os
auxílios transporte e alimentação. Eis alguns documentos necessários para que o aluno seja
inserido na assistência estudantil, segundo a estagiária: identidade, Cadastro de Pessoa Física
(CPF), autodeclaração de que não possui renda (caso não a tenha), declaração de renda de
cada membro familiar (por exemplo: contracheque do pai, mãe, irmão, carteira de trabalho).
Confirmamos a necessidade desses documentos mediante o site do IFCE, que informava os
documentos necessários para a seleção da assistência estudantil.
Caso o familiar seja autônomo, há uma declaração de renda específica; boletim,
histórico escolar, horário de aula (os profissionais exigem tal horário porque tem prioridade,
55
em relação aos auxílios, o aluno que passa o dia inteiro na instituição, que faz o curso
integrado, por exemplo), extrato do Bolsa Família (caso o aluno e sua família sejam
contemplados por tal benefício) e conta bancária que esteja no nome deste (já que o dinheiro
não pode ir para terceiros).
Soubemos ainda, pela supracitada estagiária, que se porventura o aluno possui gastos
com remédios e aluguel, isso é levado em conta ao se fazer a análise da renda familiar
daquele, já que tais gastos são um dispêndio enorme para sua família.
Após ter colhido essas informações com a estagiária, a assistente social chega e pede
para que esperemos por ela em outra sala, dentro do próprio setor, que é onde ocorrerão as
entrevistas. Perguntamos a ela quantos profissionais estão “ligados” diretamente à assistência
estudantil e ela responde que três assistentes sociais são responsáveis por toda a demanda,
sendo estas responsáveis pelos pareceres sociais dos auxílios e pelas bolsas de trabalho.
Mesmo estando familiarizados com o ambiente da pesquisa e os atores sociais que lá estavam,
nos sentimos um pouco apreensivos na realização de nossa pesquisa – afinal, os estranhos ali
éramos nós e, sendo assim, não sabíamos qual seria “a reação do outro à nossa presença”
(FIRTH, 2004, p. 27).
Entrou na sala onde estávamos o primeiro aluno a ser entrevistado (ele requeria o
auxílio-transporte). A assistente social disse que, caso tivéssemos alguma dúvida, poderíamos
nos pronunciar.
Iniciando a entrevista, tendo em mãos o questionário social desse aluno (estudante de
gestão desportiva), ela se apresenta, expõe o motivo de nossa presença na sala das entrevistas
e pergunta ao rapaz se ele aceita que realizemos nossa pesquisa. Ele concorda, e a servidora
dá início à entrevista ao confirmar alguns dados que ele informou no questionário social,
como endereço e dados da conta corrente. A profissional pergunta ainda, ao discente, se ele
está recebendo o Bolsa Família. Ele disse que não, já que o benefício está bloqueado. A
servidora do IFCE diz que, sendo assim, ele precisa comparecer à Secretaria de Assistência
Social para desbloqueá-lo.
O questionário social contempla algumas questões sobre a saúde da família do
discente, como a necessidade de comprar remédios. Ela pergunta sobre isso ao aluno e indaga
se ele pode receber tais remédios no posto de saúde. Depois de tal pergunta, ela verifica os
documentos que faltam para o aluno entregar, como a xérox do cartão da conta corrente no
nome do estudante e o cartão do Bolsa Família, bem como o extrato deste, mas somente
quando estiver desbloqueado.
56
Após essa entrevista, pedimos alguns esclarecimentos sobre o porquê de se pedir o
histórico escolar e o boletim do aluno. A profissional nos disse que esses documentos
ratificavam a matrícula do aluno na instituição – um dos critérios para receber o auxílio-
transporte. Já para o auxílio-alimentação, o histórico escolar e o horário individual do aluno
são documentos essenciais para saber se o estudante passa o dia todo no IFCE (lembrando que
esse é um requisito para que o auxílio-alimentação seja concedido).
Dando continuidade à seleção, entra na sala uma aluna. A assistente social realizou a
mesma apresentação que fez anteriormente, também perguntando à estudante se ela permitia
nossa presença ali. Ela disse que poderíamos ficar e, assim, iniciou-se a nova entrevista.
As mesmas perguntas são feitas: sobre o recebimento do Bolsa Família, declaração de
renda dos familiares, falta de alguns documentos etc. Em certo momento da entrevista, a
profissional pergunta à aluna se possui alguma dúvida e ela indaga sobre o auxílio-óculos. A
profissional esclarece que, entre um pedido e outro desse auxílio, é preciso ter o intervalo de
um ano; que era preciso esperar “abrir” o período para solicitar tal auxílio, o que aconteceria
somente em agosto, pois a demanda era enorme.
Depois de esclarecida a dúvida da jovem, já finalizando a entrevista, a servidora pede
a ela que não se esqueça de trazer, no dia 26 de julho de 2013, os documentos que ela não
entregou e que são necessários para a análise do processo de seleção dos candidatos aos
auxílios.
Após uma breve pausa, entra outro aluno, estudante de artes cênicas, que requeria o
auxílio-alimentação. Mais uma vez, a profissional relata ao discente que fará perguntas sobre
sua “estrutura sociofamiliar” (expressão dela), o que abrange as questões de renda familiar,
número de parentes que moram com o aluno, se paga aluguel ou não etc. Aqui, nessa
entrevista, decidimos escrever um pouco menos sobre as ações dos atores sociais e prestar
mais atenção naquele momento.
Logo soubemos que ele terminou o ensino médio na escola pública e que morava de
aluguel com alguns amigos (sendo que um deles não ficava na casa constantemente, já que
estudava medicina em Juazeiro do Norte). O aluno relatou que desembolsava, todo mês, R$
250,00 para ajudar no aluguel. O dinheiro advinha dos “bicos” que realizava como ator (ela
realizava oficinas, “contação” de histórias etc.). Notamos que, tanto na entrevista anterior
como nessa que agora descrevemos, a profissional se muniu de um “documento extra”,
chamado Ficha de Complementação de Entrevista Social, para completar as informações
fornecidas pelo aluno através do questionário social que fora preenchido.
57
No outro dia, em 26 de julho de 2013, chegamos por volta das 14h30min. Enquanto
aguardávamos nossa entrada na sala do Serviço Social, vimos que dois alunos esperavam ser
chamados, pela estagiária ou pela assistente social, para marcarem a data de suas entrevistas.
Mais uma vez, tentamos iniciar uma conversa9 com um aluno que aguardava ser chamado
para ser entrevistado.
Assim como Silva (2001, p. 89) tentara “entender de onde vieram, o que pensam” os
meninos de rua, nós também tentávamos apreender essas questões com os alunos que
procuravam a assistência estudantil. O estudante contou que desejava conseguir os auxílios
transporte e alimentação (lembramos que cada aluno pode ter, no máximo, até dois auxílios),
pois gastos com comida e passagens de ônibus eram um “peso muito grande” (palavras dele)
no orçamento familiar; e foi justamente a entrevista desse aluno, estudante do primeiro
semestre do curso de música, que presenciamos.
Como no dia anterior, a assistente social se apresentou ao aluno e nos apresentou,
dizendo quem éramos e o porquê de estarmos ali, pedindo a permissão do discente para
permanecermos na sala durante a entrevista. Ele consentiu e a entrevista seguiu normalmente,
praticamente com as mesmas perguntas feitas anteriormente aos outros candidatos.
Como o aluno requeria os dois auxílios supracitados, a profissional explanou que
talvez só fosse possível ser concedido um, por causa do baixo orçamento que estava
direcionado para a assistência estudantil no IFCE. Nesse caso, o auxílio concedido seria
aquele que fosse prioridade, mas, mesmo assim, também devido ao ínfimo orçamento, nem
sempre se podia atender a prioridade.
A servidora continuou sua fala dizendo que existem alunos que não são atendidos em
suas demandas, e que os profissionais que lidavam com a assistência estudantil realizavam a
análise socioeconômica, bem como a situação acadêmica do aluno (por exemplo, ele ficava o
dia todo no IFCE? Se sim, era um forte candidato a receber o auxílio-alimentação, ao
contrário daqueles alunos que ficavam somente meio período na instituição).
Retornando às perguntas do questionário, a servidora pergunta ao discente sobre a
condição socioeconômica da sua família, que é do interior do estado do Ceará. Ele responde a
tal pergunta e, posteriormente, acrescenta que trabalha com música e no teatro. A família o
ajuda, quando pode, com alimentação, sendo o aluguel por conta do aluno, que trabalha há
cerca de um ano como músico, e é justamente desse trabalho que advém o dinheiro para o
pagamento do aluguel.
9 Essa conversa foi informal e rápida. Esse aluno, com o qual conversei, não se incluiu nos estudantes
selecionados aleatoriamente para as entrevistas.
58
Depois desse relato, a assistente social pediu que o aluno trouxesse os documentos que
faltavam para ajudar na análise da entrevista (comprovante de renda do aluno, documento
para pagamento da Coelce e contrato do aluguel que explicite que o valor, gasto com energia,
já está incluso no aluguel, de acordo com o que informou o aluno).
A servidora disse ainda que o auxílio-alimentação já estava indeferido para ele, já que
estudava somente pela manhã, não passando o dia inteiro no IFCE.
Após o fim da entrevista, quando a assistente social sai, o aluno reclama, para nós,
sobre a falta do auxílio-moradia (este, segundo a profissional, só será ofertado no segundo
semestre, devido ao ínfimo orçamento).
Na última entrevista, realizada com um aluno do curso de mecânica industrial, a
assistente social o cumprimenta e se apresenta, dando início à entrevista como das outras
vezes.
Ele requer auxílio-transporte. O resultado, com os nomes daqueles alunos que serão
inseridos na assistência estudantil, sairá no dia 14 de agosto de 2013. A assistente social relata
que, quando o aluno pede os dois auxílios, pergunta qual auxílio é prioridade para ele; ambos
são concedidos caso haja dinheiro, todavia, naquele semestre, segundo a servidora, o
orçamento “está apertado”. A servidora, já no final da entrevista, ainda diz que, dependendo
da situação do aluno, serão concedidos os dois auxílios.
4.2 Como os alunos avaliam a política de assistência estudantil no IFCE, campus
Fortaleza
Sendo o método dialético definido como método para a realização da nossa pesquisa, e
estabelecidos os critérios condizentes com ela, realizamos dez entrevistas com os alunos que
recebiam auxílio-transporte e alimentação, três entrevistas com alunos do movimento
estudantil e com as quatro assistentes sociais que estão à frente da assistência estudantil do
IFCE, campus Fortaleza.
Mediante a metodologia escolhida, entrevistamos os dez discentes que recebiam os
auxílios transporte e alimentação, como já exposto anteriormente, e três estudantes do
movimento estudantil do IFCE, campus Fortaleza.
As pesquisas bibliográfica, documental e de campo, bem como a entrevista
semiestruturada e o questionário, com perguntas fechadas, direcionado aos discentes, já
citadas anteriormente, compõem a metodologia utilizada para se chegar aos resultados. Com
59
os profissionais ligados à assistência estudantil, foram utilizadas somente entrevistas
semiestruturadas.
Com o questionário aplicado junto aos dez alunos beneficiários dos auxílios transporte
e alimentação do IFCE, tentamos traçar um perfil desses discentes que estão na assistência
estudantil do campus de Fortaleza. Com a aplicação de tal questionário, procuramos saber: a
renda familiar desses alunos; se seus pais possuíam grau de instrução elevado; se, mesmo
sendo considerados jovens hipossuficientes, conseguiam ter algum lazer; se o auxílio ajudava
a suprir alguma necessidade que porventura surgisse (como ajudar em alguma despesa da
casa, a comprar comida etc.).
Tabela 2 – Perfil social dos alunos da assistência estudantil
Perfil dos Alunos Entrevistados – Assistência Estudantil
Aluno
Faixa etária
Sexo
Grau de escolaridades
dos pais
Residência
Tipo de
moradia
Composição
familiar
Aluno 01
19 a 28 anos
M
Ensino Médio Completo
Conjunto Ceará
Própria
1 a 3 membros
Aluno 02
19 a 28 anos
M
Ensino Médio Completo
Mondubim
Própria
1 a 3 membros
Aluno 03
19 a 28 anos
F
Ensino Médio Completo
Parque Dois Irmãos
Alugada
1 a 3 membros
Aluno 04
19 a 28 anos
M
Ensino Médio Completo
Antônio Bezerra
Própria
1 a 3 membros
Aluno 05
19 a 28 anos
F
Ensino Médio Completo
Conj. Jereissati II
Própria
1 a 3 membros
Aluno 06
19 a 28 anos
F
Ensino Médio Completo
Cascavel - Módulo
Esportivo
Própria
1 a 3 membros
Aluno 07
19 a 28 anos
M
Ensino Médio Completo
Barra do Ceará
Própria
1 a 3 membros
Aluno 08
19 a 28 anos
M
Ensino Médio Completo
Praia do Futuro
Própria
1 a 3 membros
Aluno 09
19 a 28 anos
M
Ensino Médio Completo
Passaré
Própria
1 a 3 membros
Aluno 10
19 a 28 anos
M
Ensino Médio Completo
Pici
Própria
1 a 3 membros
Fonte: Questionário com perguntas fechados aplicado aos alunos pela pesquisadora.
Os alunos são jovens de 19 a 28 anos, moram em bairros da periferia da cidade e estão
no ensino superior do IFCE, estando matriculados nos cursos superiores de engenharia de
telecomunicações, estradas, gestão ambiental, gestão desportiva, matemática, mecatrônica
industrial, processos químicos, saneamento básico, teatro, turismo, e a maioria mora com os
pais. Os pais possuem ensino médio completo e trabalham como promotor de vendas,
contador, assistente administrativo. As mães possuem o ensino médio completo, exercendo a
profissão de contadora, autônoma, bancária, dona de casa.
60
As famílias, compostas por um a três membros, moram em casa própria e metade delas
possui uma renda de dois a três salários-mínimos. Os jovens não precisam trabalhar para
ajudar com as despesas da família. Eles costumam ter lazer, frequentando cinema, praia,
assistindo televisão e lendo livros. Parte dos alunos não utiliza o auxílio para outros fins
(como comprar comida, pagar contas da família, comprar material escolar etc.).
Tabela 3 – Perfil econômico dos alunos da assistência estudantil
Perfil dos Alunos Entrevistados - Assistência Estudantil
Aluno Renda per capita
(incluindo o aluno)
Exercício de
atividade
remunerada
(auxílio nas
despesas
familiares)
Utilização dos
auxílios para
atividades de lazer
Utilização dos
auxílios para outros
fins
Aluno 01 2 a 3 salários-mínimos Sim Sim Sim
Aluno 02 2 a 3 salários-mínimos Não Sim Não
Aluno 03 2 a 3 salários-mínimos Não Sim Sim
Aluno 04 1 salário-mínimo Não Sim Sim
Aluno 05 2 a 3 salários-mínimos Não Sim Não
Aluno 06 2 a 3 salários-mínimos Não Sim Sim
Aluno 07 1 salário-mínimo Não Sim Não
Aluno 08 4 a 5 salários-mínimos Sim Sim Não
Aluno 09 2 a 3 salários-mínimos Não Sim Não
Aluno 10 1 salário-mínimo Sim Sim Não
Fonte: Questionário com perguntas fechados aplicado aos alunos pela pesquisadora.
Ressaltamos que utilizamos nomes fictícios com o intuito de preservar a identidade
dos nossos entrevistados. Tais nomes fictícios não tiveram nenhum critério definido, sendo
escolhidos aleatoriamente.
Em relação à entrevista com os alunos, ela se iniciou abordando como o discente
percebia a assistência estudantil. Muitos deles se referiram à assistência estudantil como um
complemento para as despesas que tinham com o transporte e a alimentação, despesas estas
necessárias para estarem no IFCE, campus Fortaleza, e que não poderiam ser supridas pela
família.
61
É uma forma de ajudar alguns alunos a se manter, porque muitos também não têm
total... não conseguem se manter, até pela família, não têm total condição, aí é uma
maneira de ajudar um pouco esses alunos a custear tudo o que precisa, da
alimentação, xérox, o transporte, porque muitos têm que vir todo dia (para o IFCE).
Enfim, é isso aí (Júlia, 24 anos, recebe auxílio-transporte).
A assistência estudantil é um auxílio, uma assistência, como o nome já diz, para que
eu possa vir pra cá fazer o meu estudo, a minha pesquisa, pra eu poder me deslocar
de casa pra cá, é um... como o nome já diz, é uma assistência, um auxílio... é
basicamente isso. A assistência estudantil me permite, contribui pra que eu esteja
aqui, já que eu não tenho uma renda própria, eu não trabalho, quem me ajuda é
minha mãe, então, a partir dessa ajuda, eu posso me deslocar, eu possa estar aqui, no
instituto (João, 28 anos, recebe auxílio-transporte).
A assistência estudantil é uma forma de ajudar o aluno a poder frequentar melhor a
instituição, uma forma de ele poder se estimular mais a vir, ajuda, porque tem muita
gente que não pode tá aqui todo dia, todo momento, aí, com esse auxílio, ele pode
estar aqui, por exemplo, manhã e noite, como é o meu caso, vai facilitar a minha
verba, porque ficaria complicado eu tá indo almoçar todo dia, indo pra casa, e voltar,
e com esse auxílio, eu não preciso me deslocar pra casa, pra voltar aqui de novo, pra
poder me alimentar. Facilitou bastante. Pra mim, o auxílio facilitou bastante. A
assistência estudantil, pra mim, é isso, uma forma de auxílio mesmo, é um auxílio
pra ajudar quem realmente tá precisando de dinheiro (Miguel, 20 anos, recebe
auxílio-transporte).
Percebe-se que, na visão desses alunos, a assistência estudantil possui, sim,
importância, pois o auxílio é necessário para sua permanência no IFCE, campus Fortaleza,
principalmente para aqueles alunos que precisam passar o dia todo na instituição ou que
necessitam pegar o transporte público para se deslocar de casa até o IFCE e vice-versa, não
podendo sua família suprir tais despesas. É considerado um “auxílio”, como os próprios
discentes relataram, já que o valor recebido é ínfimo e não pode arcar com todas as despesas
que porventura possam surgir.
Nas falas dos entrevistados, há uma concordância com o que prega o Programa Nacional
de Assistência Estudantil (PNAES). Quando os alunos dizem que “a assistência estudantil
ajuda o aluno a se manter, porque a família não tem total condição, é uma forma de o aluno
frequentar melhor a instituição”, está reproduzindo dois dos quatro objetivos da PNAES,
segundo seu artigo 2°: “minimizar os efeitos das desigualdades sociais e regionais na
permanência e conclusão da educação superior” (grifo nosso); e democratizar as condições
de permanência dos jovens na educação superior pública federal.
Pensamos também que essa fala talvez tenha suscitado a partir daquilo que os assistentes
sociais falam, para eles, sobre o que é a assistência estudantil, baseando-se no Decreto nº
7.234/10, que dispõe sobre o PNAES.
Notamos ainda que, dos dez entrevistados, apenas dois expuseram que a assistência
estudantil era um direito, e não um mero favor.
62
Fui até o Serviço Social, eles me comunicaram que estava... que tinha saído o edital,
entrei no site do IFCE e através disso eu me inscrevi, preenchi o formulário,
entreguei os documentos lá na recepção e em chamaram, lançaram o edital e
comprovação que eu tinha o direito de receber esse auxílio-transporte [...] (Vera, 20
anos, recebe auxílio-transporte).
Indagamos sobre quais as potencialidades e os limites da assistência estudantil para os
alunos entrevistados e alguns destes se referiram ao atraso do recebimento dos auxílios como
um limite da referida assistência.
[...] É muito bem divulgado, é muito bem explicado, o processo é bem feito, assim,
tem a entrevista e tal, eu acho isso importante. Os limites, eu acho que seria, por
exemplo, assim, o atraso. É que às vezes atrasa, e tudo mais, o dinheiro (Gabriela,
23 anos, recebe o auxílio-transporte).
Eu vejo que tá conseguindo abranger praticamente a todos, pelo o que eu vejo,
porque a lista (com os nomes dos alunos que irão receber os auxílios) que sai, que eu
vejo, é grande. [...] Assim, às vezes, a data do dinheiro sair. A gente não sabe, né?
[...] Não tem a data definida, às vezes, eles dizem: “não, vai sair mês tal” (Júlia, 24
anos, recebe auxílio-transporte).
Ele10
é muito bom, com relação à qualidade, ele tá bom, ele só tem um problema
com relação ao pagamento, porque ele atrasa muito. Ele não segue o cronograma,
porque o cronograma é pra pagar em um mês, todo mês, e a gente não recebe
mensalmente. Esse é o que considero o maior problema dele, mas a potencialidade é
muito boa [...], porque ajuda. [...] (Miguel, 20 anos, recebe auxílio-transporte).
A potencialidade é que, tipo, eles conseguem abarcar o máximo de pessoas
possíveis, né? Aí, o ponto negativo, que eu vejo, é que demora muito, entendeu?
Tipo, eu sou um que não necessita tanto, dá pra eu conseguir vir de ônibus pra cá,
mas têm pessoas que já não conseguem. Aí, eles já vão entregar agora, no final do
semestre, o auxílio. [...] Pra ser aprovado, já demora. Era pra entregar... era pra,
assim, já começou o semestre, tá começando a aprovação e já começou a entregar,
entendeu? Aí, eles já entregam no final do semestre o dinheiro. Aí, esse, acho que é
um ponto negativo [...] (Mateus, 20 anos, recebe auxílio-transporte).
A fala dos alunos, ao tratarem sobre o atraso dos auxílios da assistência estudantil
(limite), remete-nos à questão do recurso ofertado a essa política. O dinheiro da assistência
estudantil vem diretamente do Ministério da Educação (MEC) e é rateado entre todas as ações
relativas à assistência ao aluno (serviço de saúde, serviço pedagógico, viagens técnicas etc.).
Posteriormente, falaremos o porquê do atraso dos auxílios.
Já em relação às potencialidades, boa parte dos entrevistados acredita que a assistência
estudantil é tratada de forma clara, há transparência nas informações sobre como os alunos
deverão agir para terem acesso à assistência estudantil, e que todo processo é bem organizado.
10
O aluno se refere ao auxílio recebido.
63
Acreditam, também, que a quantidade de alunos que são contemplados por essa
política é considerável. Todavia, os discentes expressaram que há a necessidade de um
acompanhamento mais próximo da assistência estudantil, junto a eles, para se ter um
diagnóstico preciso da maneira como ela está se desenvolvendo no cotidiano daqueles que
nela estão inseridos, bem como ir ao encontro dos alunos que porventura poderiam se
interessar pela assistência, divulgando, mais ainda, sua finalidade e os serviços que oferece.
[...] Como eu disse, ele ajuda, incentiva o pessoal a vir, a não ter que ficar fazendo
deslocamento desnecessário, e ele ainda poderia ser melhor [...], procurando saber
como é que tá o aluno, fazendo uma entrevista com o aluno [...], saber como é que tá,
se tá precisando de melhor ajuda, se tá funcionando mesmo, se esse dinheiro tá sendo
para outra coisa. Eu acho que dá pra melhorar nessa parte (Miguel, 20 anos, recebe
auxílio-transporte).
[...] Não tem esse acolhimento, não faz esse acolhimento, não vai em busca dos
alunos, os alunos que vêm atrás dessa assistência, então, na minha opinião, o ponto
fraco é esse, eles deviam procurar mais os alunos, deveriam divulgar mais suas
atividades em si, e justamente os alunos se interessarem mais ainda, e não só os alunos
vir à busca da assistência. A assistência ir à busca desses alunos também (Vera, 20
anos, recebe auxílio-transporte).
O acompanhamento da política de assistência estudantil ainda não se dá de forma
integral devido ao quadro insuficiente de profissionais que integram a equipe do Serviço
Social do IFCE, campus Fortaleza (seis assistentes sociais, sendo duas recém-chegadas ao
setor, no meio do ano de 2014, mediante concurso de remoção da instituição), bem como o
não envolvimento de outros profissionais, de forma mais assídua, como professores,
pedagogos, psicólogos etc., que poderiam contribuir, com suas competências específicas, nas
problemáticas que não envolvem apenas a vulnerabilidade social/econômica do aluno,
fornecendo, assim, um acompanhamento contínuo e integral aos discentes que estão na
assistência estudantil.
O professor, como profissional que se encontra “na linha de frente”, seria o
identificador dos primeiros problemas que poderiam estar fazendo com que o aluno não
permanecesse em sala de aula; o assistente social, que trabalharia as questões referentes à
vulnerabilidade social que o discente poderia estar sofrendo; o pedagogo atuaria nas questões
referentes à dificuldade de aprendizado; o psicólogo ajudaria nas questões emocionais que
porventura estivessem afetando o discente, dentre outras atuações de outros profissionais que
seriam importantes para compor a equipe multidisciplinar da assistência estudantil.
Ao perguntamos aos discentes sobre como eles se inseriram na assistência estudantil,
todos relataram que passaram pelo processo de seleção que é conduzido pelo Serviço Social
64
do IFCE. Percebemos, mediante os relatos dos alunos, que tal processo é muito publicizado,
sendo também divulgado pelos próprios alunos, que informam uns aos outros sobre a
existência dos auxílios discentes.
Pelo cadastro, a gente se cadastra aqui. É porque lá em casa, eu já tava precisando,
minha mãe saiu do emprego, e eu já fiquei precisando, então, é só cadastrar aqui (no
Serviço Social, do IFCE, campus Fortaleza), preencher a ficha, entregar as coisas
que é necessário e pronto, e aí aguardar. Eu soube pelos outros alunos que eles
recebiam, e eu, “que é isso?” Eles, “não, é um negócio que eles dão aqui”, e eu, ah,
então, pronto. Aí, a gente pega lá na frente,11
na portaria, o papel e pronto (Mateus,
20 anos, recebe auxílio-transporte).
Através dos colegas, me falaram dessa assistência e eu vim à busca, eu vim em
busca desse auxílio-transporte, no caso. [...] Fui até o Serviço Social, eles me
comunicaram que estava... que tinha saído o edital, entrei no site do IFCE e através
disso eu me inscrevi, preenchi o formulário, entreguei os documentos lá na recepção
e me chamaram, lançaram o edital e comprovação que eu tinha o direito de receber
esse auxílio-transporte e eles me chamaram para comprovar isso realmente [...]
(Vera, 20 anos, recebe auxílio-transporte).
Olha, alguns amigos me indicaram, disseram que havia o auxílio e logo me
interessei, porque é uma ajuda a mais e é bem simples, eles pedem uma lista de
documentos, você consegue, dá entrada, é bem simples. Na maioria dos semestres,
tem entrevista pra você adquirir [...], se inscrever no auxílio, mas, no semestre que
eu entrei, não precisou e, nos semestres seguintes, para você renovar, você precisa
dessa entrevista, então, eu nunca fiz a entrevista com os assistentes sociais, mas eu
sempre ganho o auxílio (Victor, 20 anos, recebe auxílio-transporte).
Eu vi a chamada. Quando eu entrei, eu nem sabia que tinha auxílio, acho que muita
gente não sabe, mas como eu gosto de passear e ver os lugares, eu vi nos
flanelógrafos que podia ter o auxílio-óculos, o auxílio-transporte, o auxílio-
alimentação, e aí fiquei ligado nas datas assim que eu entrei, no primeiro semestre e
aí, a partir do segundo, eu já trouxe a documentação. Foi, talvez, pela minha origem
mesmo, pela minha condição social, por isso que eu acho que é importante, eles...
dão realmente a quem precisa. Então, a partir do momento que você segue as regras,
as normas de avaliação, você se insere, e como eu tenho o perfil de um aluno que
precisa do auxílio, eu fiquei inserido e me mantenho lá, sempre eu recebo (João, 28
anos, recebe auxílio-transporte).
Enfim, verificamos que a seleção para assistência estudantil no IFCE, campus
Fortaleza, é transparente, sendo seu edital, bem como os documentos necessários para
participação, dispostos no site e nos flanelógrafos da instituição. A equipe do Serviço Social
também informa aos discentes, no cotidiano do seu trabalho, sobre o funcionamento da
referida seleção para a assistência estudantil.
Ao perguntarmos sobre o que os discentes achavam da seleção realizada pelo Serviço
Social, para a escolha daqueles alunos que seriam inseridos na assistência estudantil do IFCE,
11
O aluno está se referindo à recepção do IFCE, local onde está disponível o questionário socioeconômico.
65
campus Fortaleza, todos foram unânimes em dizer que achavam que a seleção era organizada,
clara, tentando contemplar todos aqueles que necessitavam da referida assistência.
Acho que é uma seleção bem justa. [...] É como eu falei, né, eles procuram primeiro
quem é que tá mais necessitado, por isso que eles pedem comprovante de renda,
tudo eles pedem... conta de energia ou é da água, aí, eles vê quem precisa, pelas
coisas dadas, eles vê mais quem precisa mais e [...] quem não precisa tanto. Aí, eu
acho que desse jeito, tá ótimo, não precisa, nesse ponto, não precisa melhorar
(Mateus, 20 anos, recebe auxílio-transporte).
Eu acho boa, eu acho que é uma seleção boa porque eles entrevistam, eles fazem
perguntas que é de acordo com, no caso do auxílio-transporte, a “médica”12
que me
atendeu, ela realmente soube fazer perguntas corretamente, eu respondi, e fazia uma
entrevista baseada de acordo com o auxílio que você está recorrendo. No meu caso,
ela fez as perguntas de onde eu moro, o quanto eu gasto por mês, essas coisas, assim
(Vera, 20 anos, recebe auxílio-transporte).
Acho que é necessário pra... você tá ali, não só apenas com o RG do aluno, mas tá
frente a frente com ele, sentar e conversar pra saber qual realmente a situação dele,
como é que ele tá em casa... acho que é mais assim, esse envolvimento de você tá
frente a frente com o aluno, não somente escolher esse, esse, esse, aleatoriamente,
mas, sentar... acho que o diferencial é esse, você sentar, conversar, com o aluno, e
saber o que é que tá acontecendo, precisa melhorar... só isso (Eduardo, 19 anos,
recebe auxílio-transporte e alimentação).
Eu acho muito boa, assim, porque ele não é só uma coisa, ah, um questionário e tal,
tem que colocar documentos pra comprovar aqueles dados que você tá colocando e
também tem a entrevista... então, é... eu acho uma avaliação, assim, legal, né, que
ele, tipo, você coloca os dados e você tem que documentar aqueles dados, né,
através de comprovante de renda de seus pais e tudo mais. É isso, eu acho que é bem
feito, assim, o negócio (Gabriela, 20 anos, recebe auxílio-transporte).
Com essa pergunta, tentamos confirmar a hipótese de que os alunos considerariam
importantes outros critérios (por exemplo, o aluno não pode ir até o IFCE porque o pai não
quer que ele estude e, sendo assim, não fornece o dinheiro para o transporte) para a escolha
daqueles que participariam da assistência estudantil (além daqueles relacionados a fatores
econômicos).
Aqui, tentamos descobrir algum episódio em que nos fosse relatada a inserção de um
dos entrevistados por quaisquer outros motivos que não fosse o fator socioeconômico
(discriminação, violência etc.), já que o próprio Serviço Social do IFCE não considera
vulnerabilidade social apenas a parca condição econômica de um aluno, fato expressado num
documento sobre a assistência estudantil elaborado pelos assistentes sociais de todos os
campi, em 2011. Nenhum deles citou outros critérios que poderiam ser considerados.
Interessante notar, mediante a fala do aluno João, que a entrevista, realizada para
concessão do auxílio, necessita de certos detalhes da sua vida pessoal (chegando a deixá-lo até
12
A aluna, na verdade, quis dizer que a profissional que a entrevistou foi a psicóloga.
66
um pouco desconfortável com tal situação, mas, por necessitar daquele auxílio, ele se dispõe a
relatar fatos mais íntimos da sua vida), com o intuito de a equipe tentar avaliar, da forma mais
correta possível, quem realmente precisa ser beneficiado pela assistência estudantil, já que o
número de solicitações é enorme e o recurso ainda não abrange a todos os alunos. Todavia, o
constrangimento para se conseguir o auxílio é notório, não podendo o estudante fugir disso
porque precisa do dinheiro.
Acho que é democrático. Eles conseguem... acho que é democrático porque eles não
iriam dar o auxílio pra quem realmente não precisa. Eles fazem perguntas pessoais
que acho que... uma coisa que eu sempre penso quando eu vou pedir o auxílio: eu
estar me submetendo àquela avaliação, quanto sua mãe ganha, quanto seu pai ganha,
quanto é a divisão da renda, sua mãe tem problemas de saúde, todos esses
questionamentos são tão íntimos, são tão pessoais, que se eu não precisasse do
dinheiro, eu não ia nem responder. Eu só respondo porque realmente eu tenho que
me submeter a isso para poder receber o auxílio (João, 28 anos, recebe auxílio-
transporte).
Quando indagamos sobre como os discentes descreveriam sua vida escolar antes e
depois de sua inserção na assistência estudantil, alguns relataram que houve pouca ou
nenhuma mudança. Eles consideram o auxílio recebido importante, mas não essencial, a ponto
de impedir sua presença no IFCE caso chegasse a faltar. Já outros avaliam como muito
importante sua inserção, pois se sentem tranquilos por terem o dinheiro para se alimentarem,
bem como se deslocarem de casa até o IFCE.
Não tem nenhuma diferença, não... é uma contribuição [...], é um auxílio, porque
ainda é pouco, mas claro que é porque talvez não tenha uma verba para manter o
aluno, não sei, eu não entendo, deve ser uma coisa política mesmo, entendeu? Eu
não sei se poderia ser mais, mas o auxílio, pra mim, é um auxílio, uma
contribuição... eu poderia vir pra cá sem ele, de outra forma, com a contribuição da
minha mãe, do meu pai, mas, já que ele existe, e é um direito meu, porque o auxílio
é um direito meu, o Serviço Social não tá me prestando nenhum favor, né, eu me
submeto a isso porque também é um dever do governo estar dando esse auxílio, não
somente pra mim, , mas pra... porque eu sei, eu tenho consciência de que têm outros
alunos que, com certeza, necessitam muito mais do que eu, têm uma história de vida,
né, enfim... então, é política, né? (João, 28 anos, recebe auxílio-transporte).
Antes eu não tinha esse [...] porto seguro do auxílio-transporte. E nós, estudantes
universitários, todos necessitamos desse auxílio. Então, antes era bem difícil, porque
eu moro longe, eu tenho que recorrer à minha mãe, que ela é aposentada, então, esse
é o único recurso que eu tinha com segurança, agora não, agora, através desse
auxílio, eu tenho um porto seguro, que me auxilia realmente, e é bem importante na
minha vida, bastante (Vera, 20 anos, recebe auxílio-transporte).
[...] Como eu trabalho pela manhã, e estudo pela tarde, [...] como eu tenho agora
esse benefício, já ajuda porque eu tenho mais comodidade de vir para cá, ter o
dinheiro para almoçar bem, descansar aqui... não tenho cansaço com viagem, ir em
casa, almoçar em casa, voltar e também a liberdade de ficar por aqui, e ter aquele
67
dinheiro para comer por aqui mesmo, ficar por aqui, descansar e não ter tanto
desgaste físico (Eduardo, 19 anos, recebe auxílio-transporte e alimentação).
Mesmo o auxílio não tendo modificado tanto a vida dos alunos, como relatado por
alguns discentes, eles se sentem mais amparados para estudarem, pois têm a segurança de que
aquele “porto seguro”, como falou a aluna Vera, garantirá o dinheiro do transporte,
contribuindo para ser uma despesa familiar a menos. O fato de não precisar voltar para casa
somente para almoçar, por outrora não possuir o dinheiro para se alimentar na instituição,
também ajuda muito, pois o aluno, como foi relatado por Eduardo, ficando na instituição,
podendo lá almoçar, pode descansar um pouco mais, repor as energias para enfrentar um
longo dia de estudo.
Apesar de o dinheiro do auxílio atrasar, ele contribui para que o aluno não se sinta tão
dependente da ajuda financeira da família e tenha “algo seu”, tenha autonomia, como relata o
aluno Mateus.
Não mudou muito, né? Porque [...] eles entregam só lá no final (do semestre). Aí,
eles... já demora, então, não muda muito, não, não muda. Dá pra eu vir sem esse
auxílio. Esse auxílio mesmo era só pra me ajudar, a não ter que ficar dependendo
muito da minha mãe, meu pai, né? [...] é só mais por causa de ter já uma coisa
minha, entendeu? Já não [...] preciso pedir dinheiro pra pegar meu ônibus, eu posso
pagar, só pra isso mesmo (Mateus, 20 anos, recebe auxílio-transporte).
Ao perguntarmos aos alunos se eles conheciam o Programa Nacional de Assistência
Estudantil (PNAES), todos foram unânimes em responder que não. Apenas um aluno disse
que leu alguma coisa sobre o programa, em um livro.
Não, não ouvi falar, não muito. Eu só... eu vi o nome, eu só vi o nome, eu não ouvi
nada a falar, não. Eu vi por causa que, como eu faço literatura, eu vejo muitas coisas
que a escola tem, entendeu? [...] Eu vejo no meu livro de didática (Mateus, 20 anos,
recebe o auxílio-transporte).
Apesar de os alunos estarem dentro do contexto do Programa Nacional de Assistência
Estudantil, sendo atendidos nas áreas de alimentação, transporte, desconhecem o Decreto nº
7.234/10, que trata sobre as questões pertinentes à manutenção do aluno nas Ifes. Nota-se que
é preciso um esclarecimento maior sobre o que é essa política para os alunos, para que não se
perpetue a ideia de que os auxílios recebidos pelos discentes é apenas uma ajuda pecuniária.
Vai além disso: é um direito do aluno para se manter estudando na instituição e que é
garantido por lei.
68
Perguntamos, ainda, que outros serviços a assistência estudantil do IFCE, campus
Fortaleza, poderia ofertar, além da ajuda financeira.
Além da ajuda financeira? Xérox, livros, algum... é, acho que pode ser livro. Sei lá,
dar um notebook pra cada aluno. [...] Pode ser uma ajuda de material didático. [...]
Eu acho que poderia ter o auxílio didático mesmo, assim, de alguma coisa de
material didático, bônus pra comprar livro. A gente usa muito notebook para digitar
trabalho, então, o notebook, um computador, seria ótimo. Na minha cabeça, só vem
isso, agora (João, 28 anos, recebe o auxílio-transporte).
Não suporta, não suporta, não tá qualificado (o serviço médico do IFCE), pra mim,
no meu caso, não tá qualificado. Não dá assistência. Eu já procurei uma vez e não
obtive resultado suficiente. Demorou muito para ser atendido e, aí, já não precisava
mais. Quando eu fui atendido, já não precisava mais. [...] Eu acho que poderia ser
melhor ou então aumentar a quantidade de médicos [...] (Miguel, 20 anos, recebe o
auxílio-transporte).
Acho que um acompanhamento familiar, eu acho, acho que sim, porque nunca se
sabe o que se passa na casa de um aluno, um ambiente familiar, isso influencia, eu
acho, no escolar, no acadêmico (Eduardo, 19 anos, recebe o auxílio-transporte e
alimentação).
Uma forma de unir as empresas pra facilitar o aluno com... ser uma espécie de
intermediário, o Instituto, com as empresas pra facilitar que os alunos consigam
estágio, porque eu acho que tá faltando isso aqui, no meu curso, principalmente.
Tem vários estágios pra estradas, pra edificações, mas pro meu curso, assim, mais
especificamente, não tem (seu curso é saneamento ambiental) (Cristiano, 24 anos,
recebe o auxílio-transporte).
Bom, eles já ofertam todas as áreas: moradia, transporte, refeição, aí óculos, né, o
que eles poderiam tá fazendo era o RU (restaurante universitária) que, como tem na
UFC, era pra ter aqui, aqui também tem muita gente que fica o dia todo, Aí,
dependendo só do auxílio-refeição, não dá certo, não. Tem que ter o almoço aqui pra
gente (Mateus, 20 anos, recebe o auxílio-transporte).
Acho que eles já têm várias formas de auxílios, eu sei que também tem que ir além
do financeiro, mas, assim, às vezes, não tem médico lá, entendeu? Quando a gente
precisa. Teve até um caso que teve um probleminha, uma amiga minha teve um
probleminha, [...] o médico não tava presente. Muitas vezes, quando gente chega lá,
[...] eles não tão presentes, eu sinto um pouco receio disso, de algum dia precisar,
porque, laboratório, assim, não tem como ter auxílio nele, ter o auxílio médico lá
(Gabriela, 23 anos, recebe o auxílio-transporte).
A Coordenação de Saúde do IFCE, campus Fortaleza, composta por quatro médicos,
cinco dentistas, um enfermeiro, um auxiliar de enfermagem e dois auxiliares de saúde bucal
terceirizados, tem como intuito atender os servidores e os alunos. Todavia, nota-se, pelo
depoimento dos estudantes, a dificuldade que sentem ao necessitarem de atendimento médico.
Com os dados fornecidos pela referida coordenação, fizemos um levantamento da quantidade
de alunos atendidos pelos médicos desde o ano de 2010, ano em que surgiu o PNAES, e
percebemos um aumento, a cada ano, de tais atendimentos. Mas é fato que a instituição possui
muitos alunos (7.000 alunos) para poucos profissionais de saúde.
69
No ano de 2010, foram 2.095 alunos atendidos pelo serviço médico e de enfermagem;
em 2011, foram 2.163 atendimentos; em 2012, os atendimentos aos alunos foram de 6.301,
somando com o atendimento odontológico. Em relação ao ano de 2012, não foi possível à
Coordenação de Saúde oferecer os atendimentos médicos separados dos atendimentos
odontológicos, pois somente foi encontrado o documento que continha o somatório desses
dois atendimentos. Isso aconteceu também em 2013: os atendimentos médico e odontológico,
juntos, contabilizaram 6.686 atendimentos. Em 2014, ocorreram 3.482 atendimentos médicos
e de enfermagem junto aos alunos. Em 2014, a odontologia atendeu 1.681 alunos.
O restaurante estudantil, necessidade citada por um dos alunos entrevistados e
exigência há longa data dos discentes do IFCE, campus Fortaleza, iniciou sua construção no
ano de 2013. O restaurante, que possuirá um espaço de quase 1.000 m², prevê comportar 188
estudantes sentados, com funcionamento de segunda a sexta, promovendo o fornecimento de
2.000 refeições por dia, acompanhado por nutricionistas, com o objetivo de ofertar comida
saudável e balanceada. Outrossim, o local disporá de cozinha, banheiros, vestiários, dentre
outras coisas.13
Indagamos que outras necessidades precisariam ser atendidas para se manterem no
IFCE, campus Fortaleza, como estudantes.
Eu acho que o auxílio já ajuda, o auxílio-transporte para eu vir, que para vir que é
mais complicado, por causa do translado, de passagem de ônibus, e o auxílio-
alimentação também já ajuda, porque pra vir e para estar, né, pra ter a grana pra
ficara aqui, o dia todo, pra comer, pra alimentar bem. Eu acho que o auxílio é bom,
né, porque age nesse sentido. Poderia ser maior, não sei, o valor maior, talvez, não
sei. Que como eu já falei da outra vez, o auxílio é, realmente, um auxílio. Então, é
uma ajuda, uma ajuda de custos. Eu acho que já dá pra, no meu caso, né, não sei de
outros alunos, pra vir, pra estar aqui, a passagem de ônibus, e o alimentação (João,
28 anos, recebe o auxílio-transporte).
Acho que não tem nenhuma a mais não [...], acho que do jeito que eu tô indo no
curso, dá pra me manter no curso normalmente, frequentando (Inácio, 19 anos,
recebe auxílio-transporte).
Não, não precisa nada, não, só o transporte e refeição mesmo, porque eu passo o dia
todinho aqui, pronto (Mateus, 20 anos, recebe auxílio-transporte).
Eu acho que poderia melhorar o sistema de estágio. Porque, aqui, nessa instituição,
tá muito fraco. A gente procura e sempre diz que não existe, que é difícil. A gente
vai no site, tem até um cadastro que você faz pra você receber oferta de estágio e
nunca apareceu, tô aqui há 2 anos e meio e até hoje nunca recebi uma oferta de
estágio pela instituição, nunca recebi, já recebi por fora. [...] Aqui, do IFCE, nunca
apareceu. De fora aparece, mas, daqui mesmo, já fui lá pedir, diz que não existe, que
13
Disponível em: http://www.fortaleza.ifce.edu.br/index.php/3-noticias/outras-noticias/1277-concluido-projeto-
para-construcao-do-re-restaurante-estudantil-sera-instalado-nas-dependencias-do-campus-de-fortaleza. Acesso
em: 5 jan. 2015.
70
é difícil, e eu acho que dá para melhorar isso (Miguel, 20 anos, recebe o auxílio-
transporte).
Os alunos acreditam que suas necessidades básicas (transporte e alimentação) são
contempladas pelos auxílios ofertados pela assistência estudantil. Esses dois auxílios são os
mais requisitados pelos alunos, pois, além de o IFCE tentar sempre garantir verba para eles,
são essenciais, segundo a diretora de gestão orçamentária do IFCE, para a permanência dos
discentes na instituição. Há semestres em que não é possível a oferta dos auxílios moradia e
óculos, por exemplo, mas o IFCE, campus Fortaleza, nunca deixa de ofertar esses dois
auxílios.
Quando perguntados se, porventura, conheciam algum aluno que perdeu o auxílio da
assistência estudantil, tendo, assim, de sair da instituição e consequentemente não concluir o
curso, a maioria respondeu que não, sendo apenas dois alunos que tiveram respostas
diferentes.
Não... tinha um aluno do meu curso, ele saiu, mas eu acho que ele não tava mais
recebendo o auxílio, foi cancelado... eu acho que nem tinha sido aprovado, eu acho.
Saiu, ele não tá mais. Teve que trabalhar e expediente o dia todo, não tá indo mais
(Eduardo, 19 anos, recebe o auxílio-transporte e alimentação).
Não, não, eu não conheço, realmente, eu não conheço. Eu conheço um que tem o
auxílio pais e mães, mas ele vem frequentando, acho que ele... não é querendo falar
mal dele não, acho que ele tá vindo só pra receber o auxílio. Porque vem [...] só o
necessário pra passar numa cadeira, que ele tá fazendo só uma cadeira por semestre,
ele vem só pra fazer e pronto, ganha o dinheiro, porque tá vindo. Porque, se você for
reprovado, você perde o auxílio. Aí, eu acho, eu não tô... [...] mas acho que essa
pessoa tá praticando dessa forma. Eu acho que ela tá vindo só pra receber o auxílio
(Miguel, 20 anos, recebe o auxílio-transporte).
Desse modo, pudemos perceber, pela fala dos alunos, que poucos alunos são privados
dos auxílios ofertados pela assistência estudantil do IFCE, campus Fortaleza. Enfim, é
pequeno o número de alunos que fica sem os auxílios da assistência estudantil, mesmo a
demanda sendo maior do que a verba ofertada para esta política. Pudemos confirmar tal
suposição conforme dados abaixo obtidos do Serviço Social do IFCE, campus Fortaleza.
No ano de 2014, houve 1.206 alunos do ensino superior requerentes dos auxílios
transporte, alimentação, moradia, óculos e discentes pais e mães, sendo 1.182 discentes
atendidos. Ou seja, apenas 24 alunos do ensino superior do IFCE, campus Fortaleza, não
foram contemplados, ou por não estarem dentro dos critérios para inserção na assistência
estudantil, pela ausência de documentos exigidos para a seleção ou pela falta de verba.
71
As despesas com a assistência estudantil também aumentaram. Com dados obtidos
pelo Departamento de Planejamento, Orçamento e Gestão (DPOG) do IFCE, soubemos que,
no período de 2010 a 2014 (tendo o ano de 2010, ano de implementação do PNAES, como
partida para sabermos se houve um aumento significativo com a assistência estudantil na
instituição), foram gastos R$ 990.952,88 com a assistência estudantil no campus Fortaleza,
sendo R$ 972.989,32 voltados para o auxílio financeiro aos estudantes (auxílio-óculos,
transporte, alimentação, bolsas etc.) e R$ 17.963,56 com merenda escolar, que é ofertada pelo
IFCE, campus Fortaleza, todos os dias, nos três turnos.
Em 2011, foram gastos R$ 1.890.575,67 com auxílio financeiro aos estudantes e R$
51.570,96 com merenda escolar, totalizando R$ 1.942.146,63.
Em 2012, também houve um crescimento bem expressivo, inclusive em outras áreas
voltadas para atender o estudante: R$ 2.461.543,63 foram gastos com auxílio financeiro a
estudantes; R$ 7.520,80 com merenda escolar; R$ 31.320,00 com monitoria e R$ 8.850,00
com material de consumo, totalizando R$ 2.509.234,43.
Em 2013, foram gastos R$ 3.006.670,45 com auxílio financeiro aos estudantes, R$
48.914,53 com merenda escolar; R$ 41.027,00 com monitoria, sendo um total de R$
3.096.611,98 (vide anexos).
Em 2014, os valores gastos com a assistência estudantil do IFCE foram de R$
3.158.750,22.
Por fim, indagamos aos discentes se eles achavam que o auxílio que recebiam hoje
garantiria o término de seus estudos no IFCE, campus Fortaleza.
Não, como eu falei da outra vez, eu tenho ajuda da família, da minha mãe,
principalmente, e o auxílio é só um auxílio. Eu não vim pra cá esperando que ele
possa garantir a minha permanência ou a minha vinda. Eu não estou aqui, no
Instituto, pensando que o auxílio vai garantir que eu permaneça até o fim, não. Não,
não vai impedir, porque eu tenho outros meios. [...] Pra mim, pra mim pessoalmente,
eu tenho ajuda dos meus irmãos, dos meus tios, aí eu posso estar aqui, sem ter o
auxílio. O auxílio me auxilia realmente, é só uma ajuda. Não é uma garantia, eu não
venho pra cá, eu não penso que eu só venho se tiver o auxílio, não, eu posso vir de
outra forma (João, 28 anos, recebe o auxílio-transporte).
Sim, com relação, eu tenho, porque eu sei que... ele é seguro, embora ele seja
demorado, ele me ajuda bastante com a questão, questão de alimentação, eu sei que
ele me ajuda. Não é... eu já lhe falei, tô lhe falando agora, ele não é periódico, é
assim, acontece, passa 3 meses sem dar, e, quando vem, vem o retrógrado de todos
os 3 meses, mas ele ajuda, ele ajuda. Eu sei que ele vai me ajudar bastante até o final
do meu curso (Miguel, 20 anos, recebe o auxílio-transporte).
É, dá para ajudar, né, não é essas coisas todas, mas, também, não é nada, entendeu?
Ele ajuda em alguma coisa. O ruim mesmo é porque demora. Demora, porque, tipo,
agora saiu o nosso tudinho, de uma vez. [...] Aí, é meio ruim, é meio chato isso, a
72
gente não sabe como é que vai vir, quanto vai vir, entendeu? (Mateus, 20 anos,
recebe o auxílio-transporte).
Se eu dependesse do auxílio, se eu dependesse somente do auxílio pra poder vir
aqui, eu acho que não, porque, no caso, o aluno só recebe, se eu não me engano, de
dois em dois meses, você não recebe, assim, por mês e mês, você tem que ficar
esperando sair. Então, eu acho que isso é uma falha, né? (Cristiano, 24 anos, recebe
o auxílio-transporte).
O auxílio garante que eles permaneçam na instituição até à conclusão do curso –
todavia, ele passaria uma segurança maior ao discente caso fosse pago em dia. Na entrevista
que realizamos com a diretora de assuntos estudantis e com a diretora de gestão e orçamento,
chegamos a perguntar o porquê do atraso na entrega do dinheiro. Uma delas respondeu que
era devido a uma mudança, que estava acontecendo desde outubro de 2013, no repasse
financeiro do governo federal.
Segundo a diretora de gestão e orçamento, até outubro do referido ano, o repasse era
realizado todas as terças e sextas-feiras. Posteriormente, passou a ser uma vez por semana;
depois, de 15 em 15 dias e, finalmente, de janeiro de 2014 até hoje, uma vez por mês, sendo
prioridade o pagamento de servidores para garantir a continuação dos serviços prestados.
Logo após o pagamento do salário dos servidores, acontece o pagamento dos alunos que estão
inseridos na assistência estudantil.
Outra situação que pode ter contribuído para o atraso do dinheiro dos auxílios, de
acordo com referida diretora, seria a não chegada de todo o dinheiro do Governo Federal para
atender os discentes da assistência estudantil. Para entendermos isso, ela nos deu o seguinte
exemplo: o IFCE necessitava de 100 mil reais para atender todos os alunos bolsistas; todavia,
era feito o repasse de apenas 80 mil reais. Então, sendo assim, cada campus decide quais
serviços da assistência estudantil serão prioridade. Se somente é possível ofertar alguns
auxílios para moradia, hipoteticamente, isso gera um problema para o campus. Então, ou se
paga todos os pedidos de auxílio-moradia, por exemplo, ou se atende às bolsas de trabalho.
Sendo assim, como não havia vindo verba suficiente para atender toda a demanda,
definem-se quais auxílios são prioridade. Para ela, é imprescindível, para o IFCE, campus
Fortaleza, manter a merenda escolar e o auxílio-transporte, já que a finalidade da assistência
estudantil é permitir o acesso do aluno à instituição e garantir sua frequência. Então, auxílios
como o auxílio-transporte e a merenda escolar, para ela, são essenciais, podendo os outros
aguardarem o momento em que haverá mais verbas para serem posteriormente garantidos.
73
4.3 A organização política dos discentes frente às problemáticas da assistência estudantil
Na entrevista que realizamos com os três alunos que pertencem ao movimento
estudantil do IFCE, campus Fortaleza, perguntamos se tal movimento procurou saber o
porquê dos atrasos do pagamento dos auxílios da assistência estudantil.
A gente procurou, a gente conversou com os estudantes, né, passamos em sala,
conversamos e perguntamos, também, por quais as dificuldades que eles estavam
passando devido a esses atrasos, né? Porque, assim, estudante, aqui, no IFCE, hoje,
por dia, ele gasta, em média, de 10 reais por dia, né? Pra pagar almoço, tem gente
que vem de Maracanaú, e a assistência, ela serve basicamente pra isso, não supre,
geralmente, toda essa demanda, né? [...] Aí, hoje é... hoje, a assistência estudantil
ajuda, mas não supre todas as necessidades do estudante (Tibério, 17 anos).
Sim, houve uma reunião [...] com algumas pessoas do DCE, juntamente com o
pessoal do Serviço Social pra ter esclarecimento, e eu participei também. É, foi
proveitoso, até porque, assim, por exemplo, eu estudo aqui há dez anos, [...], mas,
assim, nunca vi, nunca tinha visto um diálogo aberto, tanto que foi um diálogo que
não foi uma coisa totalmente fechada, não foi uma coisa fechada no sentido de
burocratizar, tipo, num espaço, num território, não, foi divulgado, né, e no pátio
mesmo, foi bem resolvido, às claras, entendeu? Foi bem tranquilo (Leandro, 25
anos).
Desde o primeiro momento, né, que a gente soube que os auxílios estavam
atrasados, nesse primeiro mês, porque, teoricamente, o auxílio sempre sai,
principalmente, no começo do ano [...]. Mas esse semestre, especificamente, atrasou
bastante, a gente foi várias vezes ao Serviço Social, conversou com a Coordenação
de Assuntos Estudantis, né, que é a CAE, e ninguém sabia explicar por quê. Diziam
que o problema era no repasse do governo federal, mas essa discussão não avançava,
não sabia exatamente quando esse repasse seria feito, né, então, desde o início, a
gente sabia, tinha essas informações que tava atrasado (Daniele, 20 anos).
O movimento estudantil do IFCE, campus Fortaleza, procura se manter informado
para atender às indagações dos alunos sobre os problemas referentes à assistência estudantil.
O diálogo com o Serviço Social, que é o setor que está na “ponta”, atendendo aos alunos, é
aberto, mas as informações que chegam a eles são limitadas, incertas, devido o problema de
não ter sido relatado de forma correta, ao Serviço Social, o que realmente estava acontecendo
em relação ao atraso dos auxílios.
Mediante conversa com uma das diretoras ligadas à assistência estudantil, soubemos
que o problema não era devido ao atraso em si do dinheiro, mas sim à mudança que ocorrera
nas datas de repasse de verba do governo para o IFCE.
A segunda pergunta foi referente à pressão que o movimento estudantil vem fazendo
sobre assistência estudantil.
74
A gente tem uma relação bem (com o Serviço Social), geralmente amigável, né, a
gente tenta dialogar com ambas as partes, mas, a partir do momento que os
estudantes entram com essa problemática, a gente tenta o máximo possível dialogar,
né? Não, vamo fazer uma nota, buscar o Serviço Social para pegar dados, construir
essa nota pra passar pros estudantes. A partir do momento que a gente convoca uma
plenária, os estudantes decidem, ah, não, vamo marcar uma reunião pra pressionar
mesmo, pra que a assistência (o dinheiro dos auxílios) seja depositada. [...] Tudo
depende muito do que os estudantes querem (Tibério, 17 anos).
Pelo menos, eu vejo sempre a galerinha do DCE indo atrás de comunicar, ver quem
é o responsável, quais são os tipos de auxílios, tanto que, nessa reunião, foram
esclarecidos, porque alguns alunos já sabiam, mas a maioria ainda não sabe, foram
esclarecidos, tipo, a existência de onze auxílios, né? Que muitos não são entregues,
não são proporcionados aos estudantes, porque o argumento é de que faltam
recursos. Então, assim, a pressão é ir atrás, tentar esclarecer e tentar divulgar, né,
porque nem todo mundo sabe sobre a existência dos auxílios. A pressão é pela
divulgação (Leandro, 25 anos).
Assim, a gente, a priori, né, convidou os bolsistas pra uma conversa, né, que
trabalham cotidianamente. Eles têm sofrido mais esse impacto de quando atrasa os
auxílios. A gente convidou para conversar, mas foi exatamente na semana passada,
em que a primeira parcela da bolsa saiu. Então, isso esfriou um pouco, mas a gente
procurou conversar com os bolsistas pra tentar entender o que estavam achando, o
que a gente poderia fazer junto em relação a esse atraso, né? E, posteriormente, a
gente fez uma plenária também (26/05/14), com os estudantes, pra discutir o atraso
dos auxílios, até o Serviço Social também pra esclarecer um pouco, saber por que
esse auxílio demorou tanto pra sair, né? (Daniele, 20 anos).
A pressão realizada pelo movimento estudantil se concretiza mediante conversas com
o Serviço Social, pedidos de reuniões para que possam esclarecer aos estudantes o porquê do
atraso dos auxílios, das bolsas, a quantidade de auxílios existentes (que não se resume
somente aos auxílios de transporte e alimentação) e sobre como está o andamento dos
auxílios, se foram ofertados, em determinado semestre, poucos ou muitos auxílios etc. Enfim,
o movimento estudantil procura se fazer presente munindo-se de informações sobre como
anda a assistência estudantil do IFCE, campus Fortaleza, para que possa se organizar com os
outros estudantes da instituição e propor melhorias para a assistência estudantil.
Indagamos, ainda, quais as discussões sobre a assistência estudantil que o movimento
estudantil traz à tona, nesses quatro anos de implementação do PNAES.
[...] A gente vê que os estudantes, eles veem que houve uma mudança, mas que essa
mudança não supre as necessidades deles. Como eu te disse, que a assistência
estudantil não supre a carência deles, né? [...] Teve um certo avanço, houve, os
estudantes até reconhecem, a gente, enquanto entidade, reconhece, mas ainda falta
bastante. Hoje, a gente tem onze modalidades, estatutariamente, de assistência
estudantil, mas só são ofertadas, no máximo, [...] só cinco, que é alimentação,
transporte, moradia, discentes pais e mães e óculos. E, ainda assim, não supre a
carência (Tibério, 17 anos).
É porque, assim, [...] existia uma cultura de ter, por parte da direção, quando os
alunos ingressavam aqui dentro, existia a divulgação da assistência médica, da
questão do dentista, era muito bem divulgado e eu acho que, com o tempo, após esse
75
critério de expansão, de modificação pra Instituto Federal, isso não é tão divulgado,
também, quanto antes. Parece que a instituição perdeu o interesse de divulgar o que
os alunos têm direito, né? Então, assim, é muito fácil você divulgar pros alunos a
questão de que eles vão receber um certo dinheiro e não tem interesse, que também
[...] é prioridade [...], como saúde, como a questão dentária, e aqui, praticamente, as
pessoas não tão procurando mais quanto antes. A gente chega ali no setor médico,
praticamente, não tem ninguém sendo atendido [...] (Leandro, 25 anos).
[...] Pra gente, o gargalo, hoje, da assistência estudantil, dentro do IFCE, é porque
não tem políticas específicas, né? Por exemplo, não tem residência, não tem
restaurante, uma coisa que facilitaria muito, porque são bens que se mantêm. Mesmo
com a assistência estudantil, quando ela se reduz, esses bens se mantêm, porque o
prédio, especificamente, já está lá, o gasto com, nos casos, os restaurantes, com
alimentação, é menor, porque você não paga o almoço pro estudante, você paga pra
toda a comunidade acadêmica, né, com valor específico, já tendo prédio, já tendo
estrutura física, já tendo trabalhadores lá. Então, pra gente, são coisas que, assim, na
instituição, estão faltando, né, então, a gente acha que o PNAES, ele consegue
favorecer algumas, mas a instituição não consegue implementar a política de
assistência estudantil de forma tão ampla como nós gostaríamos (Daniele, 20 anos).
Pelas falas apresentadas, vemos que os discentes questionam o fato de o IFCE
apresentar onze modalidades de auxílios ao estudante, como: auxílio-transporte, auxílio-
alimentação, auxílio-moradia, auxílio-óculos, auxílio-EJA, auxílio-acadêmico, auxílio para
visitas e viagens técnicas, auxilio-didático-pedagógico, auxílio para discentes mães/pais,
auxílio-apoio à cultura e auxílio-embarque internacional (sendo estes dois últimos inclusos
pelo novo Regulamento da Assistência Estudantil do IFCE, Resolução nº 008, de março de
2014), e não conseguir ofertar todos eles.
Os valores atualizados dos auxílios da assistência estudantil, estabelecidos de acordo
com a nova resolução, são apontados, a seguir, na tabela 4:
76
Tabela 4 – Valores dos auxílios para discentes de acordo com a nova Resolução da
Assistência Estudantil do IFCE, de março de 2014.
Fonte: Dados gentilmente cedidos pela assistente social do campus Aracati, Flávia Régia Holanda.
A incidência maior dos auxílios moradia, alimentação, transporte e óculos está ligada à
procura maior dos alunos por esses auxílios, já que eles permitirão que o aluno permaneça na
instituição. A própria diretora de gestão orçamentária relatou que, para a assistência
estudantil, os auxílios transporte e alimentação são os mais importantes, que garantirão, de
fato, que o aluno conclua seus estudos. Os serviços médicos e odontológicos também são
considerados importantes, pelo aluno Leandro, para que a assistência estudantil seja completa,
não devendo apenas os auxílios ganharem atenção do IFCE em detrimento desses serviços.
Tais serviços não deixam de ser ofertados e a busca por eles é contínua, aumentando a
cada ano, como mostrado anteriormente – mas, para que todos os alunos pudessem ser
77
atendidos, o IFCE, campus Fortaleza, deveria ampliar o número de profissionais da saúde,
como médicos, odontólogos, enfermeiros. Hoje, a Coordenação de Saúde conta uma equipe
pequena para atender cerca de 7.000 alunos.
Se porventura fosse aumentado o número de profissionais da Coordenação de Saúde,
consequentemente o espaço onde trabalham também precisaria ser reestruturado, que
apresenta o mesmo problema do Serviço Social: espaço físico reduzido para o trabalho. Está
aí, talvez, o fato de a instituição focar mais nos auxílios da assistência estudantil: não há
profissionais suficientes para atender toda a demanda.
Em relação ao restaurante universitário – uma das exigências do movimento estudantil
que há muito tempo é solicitada –, ele já está sendo construído pelo campus Fortaleza.
Todavia, com a construção do restaurante, segundo o diretor de extensão e relações
empresariais, Gilmar Lopes Ribeiro, no I Encontro de Assistência Estudantil do IFCE,
realizado no campus Fortaleza em fevereiro de 2011, os três lanches ofertados por dia aos
alunos, na instituição, iriam acabar. Ainda não há previsão de término na construção desse
restaurante, mas consideramos que foi um grande ganho para a assistência estudantil, já que
atenderão não somente os alunos do ensino superior, mas toda a comunidade acadêmica.
Outrossim, perguntamos se havia um diálogo entre o movimento estudantil e os
profissionais que estão à frente da assistência estudantil.
Pronto, assim, existir, existe, mas, geralmente, o que a gente leva dos estudantes,
eles (os profissionais que estão à frente da assistência estudantil) não põem muito
em prática, né? [...] Acho assim que, às vezes, eles nos escutam, mas eles não põem
em prática hoje em dia, na atual conjuntura. Porque a gente já deu várias propostas,
né, de como [...] colocar critérios pra assistência estudantil, eles não colocam. [...] A
gente vê, tem aluno que vem pra cá, gasta o dinheiro da passagem, do almoço para
pagar passagem e não almoça. É como eu já vi vários casos, até mesmo na minha
turma. Por isso, é complicado, a gente tenta dar essas ideias, mas a instituição não
escuta, às vezes, na maioria das vezes (Tibério, 17 anos).
A única vez, em 10 anos, como estudante da casa, vi apenas uma oportunidade de
diálogo que ocorreu após os problemas de atraso nos auxílios ocorrido no semestre
2013.2, onde o DCE entrou em contato com o Serviço Social para que fosse feita
uma roda de conversa aberta aos estudantes, no pátio do IFCE, que também
participei, para saber quais as justificativas do atraso. Além dessa temática, a
conversa tomou-se outros rumos, como as novas modalidades de auxílios, a reflexão
do como poderíamos resolver os problemas, a nova abordagem do Serviço Social
para melhorar a assistência. [...] Para que haja uma maior frequência do diálogo,
deveria existir uma espécie de pesquisa feita pelo Serviço Social sobre o que
acontece (Leandro, 25 anos).
[...] No final de 2012, houve um grande encontro do Serviço Social junto com o
movimento estudantil para construir uma proposta de regulamento interno sobre a
assistência estudantil, inclusive, na época, a gente participou na construção [...] .
Infelizmente, a proposta de regulamento que nós construímos não foi aprovada da
maneira como foi construída inicialmente. [...] Então, assim, a gente tem um bom
78
diálogo, um excelente diálogo, eu diria, com as assistentes sociais, com o Serviço
Social dos campi (Daniele, 20 anos).
O movimento estudantil do IFCE, campus Fortaleza, tem conseguido ser um canal
muito importante de diálogo entre os estudantes que estão na assistência estudantil e os
profissionais que estão à frente dessa política, principalmente o Serviço Social, que é quem
tem se mostrado mais próximo e familiarizado aos problemas levantados pelo DCE.
Quando se fala a quem os discentes recorrem para conversar sobre os impasses da
assistência estudantil, as profissionais do Serviço Social logo são citadas. Elas, inclusive,
constroem, juntamente com o movimento estudantil, espaços de debates que estão indo além
do campus da capital, atingindo também alunos que são da assistência estudantil dos campi do
interior, mediante o Fórum da Assistência Estudantil, sendo o primeiro fórum interno no
campus Aracati, no dia 4 de junho de 2014. O DCE se fez presente em uma das mesas e
discutiu sobre assistência estudantil e luta por direitos.
Enfim, há entre os alunos do movimento estudantil e o Serviço Social uma boa
interação que permite que canais de diálogos sejam construídos para que possam ser
discutidas melhorias para a assistência estudantil, ainda que haja opiniões divergentes, como a
do aluno Tibério, que acredita que “eles escutam as opiniões, mas não as põem em prática”.
Para Tibério, seria relevante, para a assistência estudantil do campus, a utilização de
outros critérios para a escolha dos alunos que farão parte da assistência estudantil, como o
aumento do valor do auxílio daqueles alunos que moram na Região Metropolitana de
Fortaleza (os quais teriam prioridade na assistência estudantil, segundo Tibério) e que os pais
não tivessem condições econômicas suficientes para mantê-los estudando.
Mas, apesar de algumas falhas na assistência estudantil, como a não implementação
das onze modalidades de auxílio no campus, devido à ênfase que é dada àquelas modalidades
de auxílios que são mais procuradas pelos estudantes (como auxílio-transporte e alimentação),
aconteceram melhorias na condução da assistência estudantil, pois, mediante os relatos de
Daniele, soubemos que os alunos participaram da construção do novo regulamento da
assistência estudantil; os valores dos auxílios foram reajustados de acordo com o salário-
mínimo; o aluno, que possui Bolsa Formação e tem aula o dia todo, por exemplo, caso não
possa trabalhar as 16 horas semanais, poderá trabalhar 12 horas e, mesmo que não consiga
contribuir com essas 12 horas semanais de trabalho, poderá trabalhar a quantidade de horas
que dispuser.
Por fim, perguntamos quais eram as exigências que o DCE possui em relação à
assistência estudantil e se elas estavam sendo atendidas.
79
O ápice mesmo, que a gente cobra, é que os alunos sejam respeitados, né, que a
instituição respeite, digamos, que o campus respeite mesmo o compromisso que ele
assumiu com os estudantes, né? Porque, assim, esse semestre, a gente viu que a
gente teve um atraso inaceitável [...]. Então, nosso ápice mesmo é que a instituição
honre o compromisso com os estudantes, porque, se não fossem os estudantes, o
campus não seria campus, não seria instituição de ensino. Eu acho que é
basicamente isso, no geral (Tibério, 17 anos).
Que os auxílios, realmente, eles sejam entregues, sejam divulgados e entregues,
porque é um direito dos estudantes. [...] As exigências estão sendo atendidas em
parte, né, vamo dar a César o que é de César, em parte, em relação que, como eu
falei no começo, que eles julgam ser prioridade, né, como alimentação, transporte,
óculos, quem é mãe, quem tem moradia, mora no interior, mas, assim, é importante,
também, que o que seja de direito seja divulgado, [...] tem que intensificar mais,
acho que devia ter um plano estratégico de divulgação, porque eu acho que é onde
peca, entendeu? (Leandro, 25 anos).
Sem dúvida, o restaurante, porque aqui, é o maior campus, tem maior número de
estudantes, então são 6.000 estudantes e, com o restaurante, com certeza, a gente
conseguiria contemplar muito mais do que o auxílio-alimentação contempla hoje.
Então, é uma das grandes lutas, né, é o restaurante. [...] Precisaria ter profissionais,
também, que conseguissem conversar com esses estudantes, né? Psicólogo. Tanto
que, hoje, estudantes ficam na fila pra tentar uma consulta com a psicóloga e não
consegue, que a demanda é muito grande e não tem profissionais suficientes. Eu
acho que o número de profissionais pra garantir o atendimento a esses estudantes,
pra que o Serviço Social não se torne apenas um espaço pra dizer se dá ou não o
auxílio, mas seja um espaço completo, que os estudantes possam, realmente,
conversar com os profissionais, ter um atendimento mesmo, porque aqui tem muito
adolescente, né, precisa de acompanhamento psicológico, psicopedagógico, e a
questão do restaurante para gente, também, é central (Daniele, 20 anos).
Em relação aos atendimentos da psicologia do IFCE, campus Fortaleza, estes são
poucos em relação ao universo de alunos da instituição (7.000 alunos), devido à existência de
apenas dois psicólogos para atender toda a demanda. O psicólogo é um profissional
importante na assistência estudantil, como citado por Daniele, pela aluna Vera e pela
assistente social Débora, pois são muitos os alunos que procuram esse profissional, os quais,
muitas vezes, não conseguem ser atendidos, conforme relatado pro Daniele.
De acordo com Coordenação de Psicologia do IFCE, campus Fortaleza, de 2010 (ano
de surgimento do PNAES) até 2014, foi realizado um total de 898 atendimentos psicológicos,
dentre outras ações voltadas para os alunos e as suas famílias, bem como ações
interdisciplinares voltadas para evitar evasão e exclusão social. Em 2010, especificamente,
foram realizados 158 atendimentos; em 2011, 240 atendimentos psicológicos e uma visita
domiciliar; em 2012, 236 atendimentos psicológicos, uma mediação de conflitos; em 2013,
232 atendimentos psicológicos, quatro mediações de conflitos, quatro encaminhamentos,
facilitação de grupo de orientação profissional e 18 visitas domiciliares; e, finalmente, em
80
2014, 272 atendimentos psicológicos, duas mediações de conflito, sete encaminhamentos e
duas visitas domiciliares (vide anexos).
Percebemos que é um número pequeno de atendimentos psicológicos comparado ao
grande universo de alunos da instituição. Tal problema só seria sanado com mais profissionais
da psicologia voltados para o atendimento aos alunos, porém, assim como o serviço social do
campus, a psicologia também enfrenta o problema de funcionar num espaço pequeno, sendo
impossível, dessa forma, dispor de mais profissionais dessa área.
Nota-se que os atendimentos médicos, odontológicos e psicológicos são voltados a
todos os alunos do IFCE, campus Fortaleza; ou seja, eles não precisam estar de acordo com
critérios pré-estabelecidos pra terem acesso a esses serviços. Nessa situação, a política de
assistência estudantil da instituição possui um caráter universal. “Do ponto de vista ético,
defensores de políticas universais argumentam que tais políticas nos reuniriam, a todos, numa
mesma comunidade de iguais em termos de direitos sociais de cidadania [...]”
(KERSTENETZKY, 2006, p. 576).
Considerando os auxílios, que são direcionados a determinados alunos, àqueles que
estão em vulnerabilidade social e que, portanto, precisam do suporte financeiro para
permanecer estudando, tem-se uma ação focalizadora da política de assistência estudantil, no
sentido de
ação reparatória, necessária para restituir a grupos sociais o acesso efetivo a direitos
universais formalmente iguais – acesso que teria sido perdido como resultado de
injustiças passadas, em virtude, por exemplo, de desiguais oportunidades de
realização de gerações passadas que se transmitiram às presentes na perpetuação da
desigualdade de recursos e capacidades. Sem a ação/política/programa, focalizados
nesses grupos, aqueles direitos são letra morta ou se cumprirão apenas em um
horizonte temporal muito distante. Em certo sentido, essas ações complementariam
políticas públicas universais justificadas por uma noção de direitos sociais, como,
por exemplo, educação e saúde universais, afeiçoando-se à sua lógica, na medida em
que diminuiriam as distâncias que normalmente tornam irrealizável a noção de
igualdade de oportunidades embutida nesses direitos (KERSTENETZKY, 2006, p.
576).
Portanto, aqui, duas facetas da assistência estudantil do IFCE, campus Fortaleza:
universalização da assistência estudantil, no sentido de abranger a todos os alunos da
instituição, mediante a merenda escolar e os atendimentos médicos, odontológicos,
psicológicos e de enfermagem; e a focalização dos auxílios discentes para o universo de
alunos que precisam desses auxílios para continuar estudando.
81
4.4 Discussões da institucionalidade: quando o compromisso com a política supera
obstáculos
Na entrevista que realizamos com as quatro assistentes sociais do Serviço Social do
IFCE, campus Fortaleza, também utilizamos nomes fictícios, escolhidos aleatoriamente, para
preservar a identidade das profissionais. A primeira pergunta foi referente às ações que eram
realizadas, atualmente, pela assistência estudantil do IFCE, campus Fortaleza.
A Coordenadoria de Serviço Social [...] desenvolve diretamente alguns programas,
né, vinculados à assistência estudantil, que é o Programa Bolsa de Trabalho. [...] O
Serviço Social acompanha os auxílios... não só acompanhar, desenvolve tudo em
relação aos auxílios. Auxílios, quais são os auxílios? Auxílio-transporte, auxílio-
alimentação, auxílio discente pai e mãe, auxílio-moradia e auxílio-óculos. [...]
Então, o Serviço Social atua com esses auxílios, mas o IFCE, campus Fortaleza, tem
outros auxílios que são desenvolvidos pela Direx14
(Assistente Social Fernanda).
Campus Fortaleza envolve todas as ações relacionadas ao atendimento ao usuário,
para que o aluno seja beneficiado através dos auxílios para permanência do mesmo
no IFCE e seu desenvolvimento integral (Assistente Social Débora).
[...] Nós temos a parte de auxílios, bolsas, né, basicamente. Aqui, no Serviço Social,
é operacionalizado os auxílios alimentação, moradia, discente (pai e mãe) e a Bolsa
Formação e a Bolsa Permanência. Os demais auxílios que dizem respeito às viagens
técnicas, apoio didático-pedagógico não são operacionalizados pelo Serviço Social,
bem como a parte de projetos sociais (Assistente Social Cecília).
Soubemos, mediante os relatos das profissionais, que o Serviço Social não é o único
responsável pela assistência estudantil e que esta não se resume somente
à oferta de auxílios. Os auxílios discentes pais/mães, transporte, alimentação, moradia e
óculos estão sob a responsabilidade de tal setor; todavia, os auxílios para visitas e viagens
técnicas, auxílio-acadêmico (ajuda financeira para aluno apresentar trabalho em eventos
científicos) e auxílio-didático-pedagógico (ajuda financeira para a compra de material
necessário ao ensino-aprendizagem) são de responsabilidade da Diretoria de Extensão.
Descobrimos, ainda, mediante entrevistas com as profissionais, o novo regulamento da
assistência estudantil (que foi aprovado pelo Consup e Coldir) e que, com ele, a Bolsa
Trabalho recebeu outra nomeação, passando a se chamar Bolsa Formação. O aluno,
anteriormente, trabalhava 20 horas semanais. A partir do novo regulamento, o discente
trabalha 16 horas semanais, sendo lotado em locais condizentes com seus cursos, havendo um
dia de folga para que possa estudar e realizar suas pesquisas. Para que o aluno possa receber a
Bolsa Formação, precisa ter uma frequência regular e boas notas.
14
Diretoria de Extensão.
82
Há, ainda, outra bolsa pertencente à assistência estudantil: a Bolsa Permanência. É um
programa novo, do Governo Federal, voltado para alunos da rede pública federal, que sejam
quilombolas ou que se encontrem em situação de vulnerabilidade socioeconômica. O valor da
bolsa é de R$ 400,00, porém, no IFCE, campus Fortaleza, é destinada a apenas dois cursos da
graduação: mecânica industrial e telemática.
De acordo com uma das assistentes sociais entrevistadas, essa bolsa é ofertada
somente a esses cursos devido à sua carga horária extensa (cinco horas diárias), não sendo,
portanto, outros cursos contemplados, causando muita revolta entre os alunos. A questão do
orçamento não foi ligada à problemática de somente dois cursos oferecerem a Bolsa
Permanência.
Fomos informados, ainda, que o recurso advindo do MEC, para assistência estudantil,
é voltado também para a merenda escolar, inclusive para a Coordenação de Saúde, bem como
para os grupos de teatro, folclore, música (violão, flauta etc.) e coral, sendo as ações de tais
grupos desenvolvidas pela Diretoria de Extensão, da qual o Serviço Social faz parte.
Quando perguntadas sobre os desafios que a assistência estudantil do IFCE, campus
Fortaleza, enfrenta, todas foram unânimes em dizer que os recursos insuficientes ofertados à
referida assistência eram um empecilho para que esta se desenvolvesse melhor.
[...] A questão orçamentária, né, porque, toda política, ela tá muito ligada à
disponibilidade do orçamento. Então, de acordo com o orçamento anual, nós
podemos intensificar ou não as ações (Assistente Social Cecília).
Os desafios são grandes, porque o campus cresceu muito, a demanda é enorme e os
recursos provenientes da assistência estudantil, né, eles não são suficientes para
atender a essa demanda. Então, o assistente social tem que dar seu jeito, [...] para
desenvolver as ações, atendendo aqueles alunos em condições mais vulnerável
possível. Então, o aluno em vulnerabilidade social são os beneficiados, depois a
gente atende as necessidades por renda per capita, mas a necessidade seria maior se
os alunos todos recebessem esse auxílio, porque a maioria necessita (Assistente
Social Débora).
[...] Outro desafio que eu vejo é a questão do recurso [...] da assistência estudantil
que, muitas vezes, não acompanha a demanda. É pouco, a cada semestre aumenta a
demanda e não dá para atender o número de pedidos e o orçamento [...], às vezes,
não acompanha [...]. É o seguinte: o Decreto diz uma coisa, que é um salário-
mínimo e meio per capita, então, em tese, todos, realmente, pra nossa realidade,
realmente, um salário-mínimo e meio, [...] realidade Ceará, é muita gente, contempla
muita gente. Então, o que é que acontece: o aluno, ele cumpre todas as regras, está
dentro dos critérios e ele acaba não contemplado por causa dos recursos. [...]
Quando a gente tem esse cenário de pouco recurso, a gente pega, realmente, as per
capita mais baixas até as mais altas. Então, acaba muita gente de fora, isso gera
problemas com a permanência do estudante [...] (Assistente Social Fernanda).
83
Notamos, pelo diálogo das profissionais, que os recursos para a assistência estudantil
ainda são escassos, estando elas obrigadas a selecionarem os alunos “mais necessitados dos
necessitados”. Ainda assim, muitos alunos são contemplados, mas ainda restam aqueles que
não são incluídos na assistência estudantil por uma questão orçamentária. O que porventura
acontece com esses alunos que ficam “de fora” da assistência? Conseguem se manter na
instituição, recorrendo ao trabalho ou à ajuda, mesmo que mínima, da família, ou
simplesmente abandonam os estudos?
Para tentar responder esse questionamento, fomos até a Coordenação de Controle
Acadêmico do IFCE (CCA), campus Fortaleza. Falamos com a coordenadora Maria do
Socorro Teles Félix, e ela nos passou os dados sobre a evasão no IFCE, campus Fortaleza.
Em 2010, 743 alunos não permaneceram na instituição; em 2011, 697 alunos; em
2012, 697 alunos também deixaram o IFCE; em 2013, 609 alunos; e, finalmente, em 2014,
727 alunos. A coordenadora nos relatou que não era possível saber o porquê dessas
desistências, pois não havia o controle, pela CCA, do IFCE, campus Fortaleza, dessas
situações. As causas poderiam ser as mais variadas, segundo a servidora: o aluno poderia ter
passado em outra instituição de ensino superior, poderia ter abandonado o curso etc.
Outros desafios, como a insuficiência de profissionais à frente da assistência estudantil
do IFCE, campus Fortaleza, bem como o pequeno espaço em que encontram para atender os
alunos, foram percebidos por nós anteriormente e citados por aquelas. O baixo valor dos
auxílios e a necessidade da informatização dos dados dos alunos também foram citados como
desafios da supramencionada assistência.
O grande problema que eu vejo é a carência de recursos humanos, o ser humano ele
faz a diferença, [...] outro desafio é os valores que são dados de auxílio, um exemplo,
o auxílio-moradia, quando há carência de recurso, a gente só pode... semestre passado,
só pôde conceder um valor de R$ 150,00 por estudante, então, assim, a gente sabe que
não contempla. [...] O maior desafio da assistência estudantil é a informatização dos
processos, porque, num cenário de carência de recursos humanos, os processos do
Instituto Tecnológico ainda são [...] bem arcaico, ainda muito no papel, se mexe muito
em papel, controle há, mas no computador, no Word, Excel, não existe ainda um
sistema. Porque precisa de um banco de dados, que facilitaria bastante o nosso
trabalho e a qualidade do atendimento, [...] o sistema já tá sendo pensado, mas
demanda tempo (Assistente Social Fernanda).
A carência de profissionais afeta a qualidade da assistência estudantil, pois não é
possível ter um acompanhamento adequado dos alunos que estão inseridos naquela, com o
intuito de verificarem, de forma mais profícua, o porquê de o aluno ter requerido o auxílio, o
que pode estar contribuindo para seu parco rendimento escolar (se for o caso) etc. Enfim, não
é possível ter um conhecimento mais integral e minucioso desse discente, pois existem apenas
84
seis assistentes sociais, que se encontram sobrecarregadas com o trabalho, para atender mais
de 2.000 alunos que são assistidos pela assistência estudantil (nesse número de discentes,
estão inclusos os alunos do ensino médio que também são assistidos pela referida assistência).
A interação dos assistentes sociais com outros profissionais, como o psicólogo, dentro
da assistência estudantil, já foi realizada, mas em momentos pontuais, quando os assistentes
sociais pediam a participação deste nos momentos de trabalho mais intenso ainda. Vale
ressaltar que, de acordo com o documento Diretrizes Nacionais para a Assistência Estudantil,
de 2011, a assistência estudantil do IFCE deve primar pela equipe mínima (assistente social,
psicólogo e pedagogo) para atender a demanda da assistência estudantil. Esses outros
profissionais contribuiriam na solução de outros problemas, que não são da competência do
assistente social, para garantir a permanência do aluno na instituição (problemas de ordem
emocional, psicológica, de aprendizagem etc.).
A informatização, ainda, de todos os processos referentes aos alunos da assistência
estudantil, facilitaria o acesso das profissionais e dos estudantes a eles, bem como facilitaria o
levantamento de dados quantitativos, como número total de alunos atendidos pela assistência
estudantil, quantidade de alunos assistidos por cada auxílio, valores gastos na assistência etc.
Perguntamos, ainda, como o trabalho do assistente social poderia contribuir para que a
assistência estudantil pudesse ser vista como política pública, um direito do aluno.
Eu acho que, principalmente, dando visibilidade às ações e visibilidade ao que é a
política de assistência estudantil. O IFCE fez um processo muito rico, né, desde a
aprovação do PNAES, nós tivemos encontros com os profissionais, com os alunos,
tanto com a parte dos dirigentes, pra que a gente desse ampla divulgação desta
política de assistência estudantil. [...] Então, quanto mais seja discutida, dando
visibilidade a essa política de assistência estudantil, junto aos alunos, eu acredito que
o profissional que operacionaliza essa assistência é uma forma de ele fazer com que
ela se concretize no dia-a-dia (Assistente Social Cecília).
O assistente social tem como ferramenta de trabalho a linguagem, então, realmente,
eu acho que o Serviço Social, ele tem uma posição estratégica, que ele tem acesso
aos estudantes, os estudantes têm fácil acesso ao Serviço Social, o atendimento é
direto, né, ininterrupto, eles vêm, são atendidos, então, nós temos essa posição
estratégica, nós podemos, né, por meio da... porque o Serviço Social, ele tem que
trabalhar na perspectiva do direito, [...], da conscientização, da informação. Creio eu
que, promovendo reuniões, participando, também, o Serviço Social de reuniões,
tentando romper com essa lógica, muitos ainda acham que, ah, é um favor, muito
obrigada, e a gente tem que tá tentando romper com isso (Assistente Social
Fernanda).
De acordo com as falas das assistentes sociais, pudemos notar que é através da
divulgação ampla, do processo de seleção da assistência estudantil, que é estabelecida a ideia
de que a política de assistência estudantil “não é para poucos”, e sim “para todos” os alunos
85
do IFCE (desde que estejam de acordo com os requisitados solicitados pelo processo de
seleção da assistência estudantil do campus de Fortaleza).
De fato, percebemos que há visibilidade e publicização sobre o processo de seleção da
assistência estudantil, pois todos os alunos entrevistados foram unânimes em dizer que sabiam
como era feito todo o processo, e que este era bem feito e claro.
O contato diário do Serviço Social com o aluno possibilita que aquele, mediante a
informação prestada no dia a dia, tenha um novo olhar sobre a assistência estudantil, olhar
este que remete à perspectiva do direito do aluno de manter-se na instituição. Todavia, a ideia
da assistência estudantil como direito ainda é fraca, pois, como já dito anteriormente, apenas
dois alunos, de dez entrevistados, citaram-na como um direito que possuem, ainda sendo
muito forte, como relatou a assistente social Fernanda, a ideia de que o auxílio que recebem
não passa de um “favor”, de algo focalizado.
Se houvesse reuniões entre estudantes e profissionais, como citado pela referida
assistente social, explicitando o que é a assistência estudantil e suas ações (que não se limitam
apenas aos auxílios), isso também proporcionaria que a assistência estudantil fosse percebida
como política pública, como algo voltado para todos. Mas, admitimos que esse fato se
concretizaria se de fato fosse voltada para todos os discentes, sem distinção.
Indagamos, também, sobre a existência de uma avaliação, por parte da equipe que está
à frente da assistência estudantil no IFCE, campus Fortaleza, sobre o modo como está
desenvolvendo tal política junto aos alunos.
[...] Nós temos encontros periódicos, inclusive aconteceu um, agora, dia 24 e 25 (de
março), que é o 5° Encontro de Profissionais de Assistência Estudantil, então, nós
estamos sempre avaliando essas ações da política estudantil. E entenda-se não só as
assistentes sociais, mas todos os profissionais envolvidos: pedagogos, psicólogos,
né, todos os profissionais que sociabilizam a política de assistência estudantil dentro
do Instituto. [...] Quanto aos profissionais, [...] têm encontros periódicos onde nós
estamos colocando nossos resultados, vendo o que a gente avançou, vendo o que a
gente pode melhorar (Assistente Social Cecília).
As assistentes sociais do IFCE, campus Fortaleza, fazem, a cada semestre, uma
avaliação do seu trabalho, com atenção às ações que deram certo e que precisam ser
melhoradas. Encontros promovidos pelo próprio IFCE, com participação de outros
profissionais, que estão ligados à assistência estudantil, também foram citados, sendo estes
importantes para o compartilhamento de experiências, entre os outros campi, no que se refere
à assistência estudantil. Como encontros, podemos citar o I Encontro de Assistência
Estudantil, realizado em 2011, no IFCE, campus Fortaleza; o II Encontro de Assistentes
86
Sociais do IFCE, em 2012; e o 5° Encontro de Profissionais das Diretorias e Coordenadorias
de Assistência Estudantil, realizado no ano de 2014, no IFCE, campus de Juazeiro do Norte.
Outrossim, perguntamos sobre o que poderia melhorar na assistência estudantil do
IFCE, campus Fortaleza.
[...] O que poderia ser melhorado pra desenvolver até mais ações, que já está sendo
providenciado, é o aumento na equipe de Serviço Social, que nós vamos, agora,
receber duas novas assistentes sociais, em virtude do concurso de remoção, né? E
sempre o que pode ser melhorado [...] não depende diretamente da gente, mas, aí, é
de Brasília, que é a questão orçamentária (Assistente Social Cecília).
[...] Aumentar o valor do orçamento, né, pros próximos anos, e a gente gostaria de
rever, em vez de auxílios diversificados, unir. Ter um único auxílio. Auxílio tal
atendia todas as necessidades do aluno, daquela necessidade, certo? Porque a gente
não atendia separado: auxílio-óculos, auxílio-alimentação, auxílio-transporte,
auxílio-moradia, auxílio pais e mães, fica quebrando este auxílio e, realmente, no
fundo, no fundo, dá muito trabalho, não tem condição da gente tá avaliando se
aquele aluno, realmente, tá necessitando só daquele auxílio. Muitas vezes, ele é
cortado de um auxílio pra atender noutro auxílio, e o bom seria que todo aluno que
tivesse o perfil, recebesse o auxílio único (Assistente Social Débora).
Primeiramente, bem, ter uma atenção maior na questão do espaço físico, do
atendimento, porque nós lidamos com estudante, no atendimento, então, precisa ter
um atendimento de qualidade [...]. Poderíamos ter um espaço maior. [...] É
inadmissível uma instituição com quase 7.000 mil alunos com apenas, até bem
pouco tempo, éramos duas assistentes sociais, sem nenhum profissional
administrativo [...] (Assistente Social Fernanda).
A questão do valor dos auxílios seria algo a se tratar. De acordo com uma das
profissionais entrevistadas, o universo de alunos que requerem a assistência estudantil é
considerável, não sendo possível atender a todos, necessitando a equipe fazer várias análises
para se chegar a um acordo de quem “realmente precisa receber o auxílio”.
A transformação de todos os auxílios em um único, de acordo com a assistente social
Débora, seria mais vantajosa para o aluno, pois esse auxílio (que teria um valor mais
significativo) atenderia todas as necessidades, já que, devido à equipe ser pequena para
atender a tantos alunos, não é possível acompanhar a realidade de cada um de forma mais
próxima, identificando outras necessidades.
O aumento da equipe, já citado anteriormente, seria algo a acrescentar. Com a chegada
de mais duas profissionais no Serviço Social, no segundo semestre de 2014, o trabalho ficou,
a priori, para a equipe, menos sobrecarregado. Porém, não atende ainda o universo da
assistência estudantil, composta por mais de 2.000 alunos, como relatado anteriormente. O
pouco espaço contribui para que se tenham poucos profissionais, o que demandaria a remoção
delas para um espaço maior, onde os atendimentos possam ser realizados satisfatoriamente.
87
Além disso, poucos profissionais frente à assistência, que se veem ocupados com toda
a demanda da assistência estudantil (análise de questionários socioeconômicos, entrevistas,
atendimento diário à demanda, bem como incorporação de tarefas que poderiam ser realizadas
por um profissional administrativo), acabam permitindo que a assistência estudantil fique
apenas na ação de “entrega de auxílios”.
Perguntamos, às profissionais, sobre qual a importância da assistência estudantil para
o estudante que nela se insere.
Olha, tem total importância, porque, pra muitos, eu não digo para todos, para muitos
deles, sem esses auxílios, muitas vezes, pode parecer pouco 50 reais por mês pra
simplesmente custear o transporte, [...] mas a gente acompanha realmente só
famílias altamente vulneráveis e aqueles 50 reais, ali, tá tirando realmente da cesta
básica, tá tirando da alimentação. [...] Como a assistência estudantil também prepara
para a questão do acompanhamento pedagógico, então, o acompanhamento
pedagógico é muito importante, reduz a retenção, evasão, têm muitos alunos que
vêm com deficiência de conteúdo, né, principalmente que aqui é um Instituto
Tecnológico, então, um curso na área de exatas, né, a maior parte, boa parte tem
dificuldade em física, química, matemática. Como muitos vêm da escola pública,
então, realmente, eles têm dificuldade. Monitoria, por exemplo, o Programa de
Monitoria, ele realmente é assistência estudantil, porque os monitores, eles vão
auxiliar esses alunos com dificuldade, vinculado à Diretoria de Ensino (Assistente
Social Fernanda).
Eu acho de suma importância. Por que... qual a finalidade do nosso no dia a dia? É
que a gente viabiliza essa política? Por quê? Porque a finalidade dessa política é a
formação, é garantir a formação do estudante, sua permanência no Instituto e uma
permanência de qualidade, né? Pra que o aluno, ele conclua o seu curso com
qualidade, no tempo determinado, e que aqueles, porventura, fatores, né, digamos,
assim, materiais, que estavam impedindo que ocorresse isso, sejam minimizados,
né? E, além disso, assim, que a gente contribua diretamente com a educação de
qualidade, de uma formação de um cidadão completo (Assistente Social Cecília).
Pra o aluno, é importantíssima a assistência estudantil, porque o aluno, hoje, dá
muito depoimento, ah, vou deixar o meu trabalho pra concluir o curso, porque eu
recebi o auxílio Bolsa Permanência. Outro diz: eu vou deixar meu trabalho, porque
eu tô engajado no Programa Bolsa Formação. Então, notamos que, com essa
assistência estudantil mínima que é dada para eles, eles conseguem ainda se manter
e terminar o curso e contribuir para o desenvolvimento do País, ingressando no
mercado de trabalho com qualificação [...] (Assistente Social Débora).
Percebemos, mediante as falas das entrevistadas, que, mesmo com seus problemas,
suas contradições, a assistência estudantil é, sim, importante para o aluno, servindo até de
incentivo, como um dos discentes entrevistados relatou, para continuar na instituição. O
dinheiro do auxílio ainda é pouco – todavia, é necessário para pagar o transporte, a
alimentação, principalmente quando o aluno vem de uma família de poucos recursos
financeiros.
88
Outra faceta da assistência estudantil no IFCE, campus Fortaleza, é o Programa de
Monitoria, relatado pela assistente social Fernanda. Tal programa, ao propiciar, mediante os
monitores, o ensino àqueles alunos que estão com dificuldades em determinadas matérias do
seu curso, está contribuindo, também, para a permanência destes na instituição, pois, ao
ofertarem esse apoio escolar, fazem com que esses discentes se sintam encorajados a terminar
seus cursos, evitando, assim, a evasão.
Perguntamos se havia a participação dos alunos na condução da assistência estudantil
no IFCE, campus Fortaleza.
[...] O regulamento foi construído com a participação desses estudantes, foram
mobilizados, nós que fizemos a assembleia, eles foram sugerindo [...], quem quis
vir, veio. Esse regulamento, ele já faz um bom tempo que ele tá pronto, só esperando
a aprovação no Coldir e no Consup. A assembleia foi em 2013, foi logo quando tava
sendo construído o regulamento. Como não tem como levar todos os alunos, foram
eleitos representantes, né, de cada campus (dois alunos de cada campus). E dali foi
tirado um quantitativo menor de representantes pra reuniões com diretor (de
campus). Ainda não tivemos oportunidade (do próprio Serviço Social, do campus
Fortaleza, ter esse tipo de contato com os alunos que estão inseridos na assistência
estudantil), pelo tempo, mas, pra mim, já foi um avanço em ter chamado os alunos
pra participar. Nunca ocorreu isso aqui, pelo menos eu nunca tinha visto de
mobilizar os estudantes, o regulamento que tá lá teve a participação deles [...] eles
foram ouvidos, muitas coisas que eles concordavam foram colocadas [...],
dependendo da viabilidade (Assistente Social Fernanda).
A participação dos alunos, de acordo com as profissionais, se deu na formulação do
novo Regulamento da Assistência Estudantil do IFCE, de março de 2014, que foi aprovado
pelo Conselho Superior (Consup) e pelo Colégio de Dirigentes (Coldir) do IFCE.
Supomos que essa participação mais efetiva aconteceu somente na construção desse
novo regulamento devido, mais uma vez, ao quadro insuficiente de profissionais, que estão
sobrecarregados com uma demanda expressiva da assistência estudantil no IFCE, campus
Fortaleza, e que se vê impossibilitada de ir em busca desses alunos, marcando reuniões
periódicas com eles para discutir, cotidianamente, as questões referentes à assistência
estudantil na referida instituição.
Tal regulamento, dentre os outros auxílios já existentes (auxílio-transporte,
alimentação, moradia etc.), elenca mais dois novos auxílios: auxílio de apoio ao desporto e à
cultura, que “é o auxílio destinado, prioritariamente, aos discentes integrantes de grupos
culturais e desportivos do IFCE que participarão de eventos desta natureza, desde que o
promotor do evento não subsidie o deslocamento, a refeição e a hospedagem” (Regulamento
da Assistência Estudantil do IFCE, 2014); e o auxílio pré-embarque internacional, que
89
será concedido aos discentes que integram programa de intercâmbio internacional,
em parceria ou não com o IFCE e que visa a subsidiar despesas: pagamento de taxas
e tirada de passaporte, solicitação de vistos em consulados ou embaixadas fora do
estado do Ceará, atestados médicos específicos, postagem de documentação
(REGULAMENTO DA ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL DO IFCE, 2014).
O novo regulamento da assistência não faz referência à renda per capita de até um
salário-mínimo e meio que o aluno deve possuir como um dos critérios para se ter acesso à
assistência estudantil. Aquele ressalta como critérios a entrega dos seguintes documentos:
requerimento padrão; comprovante de renda mensal familiar; cópias da conta de energia
elétrica, do documento de identificação com foto, reconhecido por legislação federal e do
Cadastro de Pessoa Física (CPF); formulário socioeconômico fornecido pelo Serviço Social;
histórico escolar com autenticação eletrônica ou visto do servidor responsável pela
Coordenação de Controle Acadêmico (CCA).
Dependendo do auxílio requerido, outros documentos são exigidos, como no caso do
auxílio-óculos, em que há a necessidade de apresentar a prescrição médica-oftalmológica,
com validade de até seis meses e dois orçamentos emitidos por ópticas distintas.
Outra novidade que esse novo regulamento traz consigo é um modelo de edital,
servindo de parâmetro para os outros Institutos Federais do Ceará, que deve ser lançado por
todos os campi do IFCE, quando anunciarem, aos alunos, a seleção para a assistência
estudantil.
Dando continuidade à entrevista, perguntamos qual a avaliação que o assistente social
faz da seleção que é realizada para inclusão dos alunos na assistência estudantil.
Bom, é uma avaliação, realmente, muito criteriosa, a gente segue, realmente, as
orientações do Programa (Nacional de Assistência Estudantil), que a avaliação é
socioeconômica e documental. [...] Então, assim, eu acredito que seja uma avaliação
de muita qualidade, porque é feito, realmente, esse estudo socioeconômico, é feita a
questão da renda per capita familiar, considerando o limite de um salário-mínimo e
meio [...], então, assim, essa parte é bem criteriosa, e ela é muito bem feita, os
profissionais, realmente, têm muito cuidado, porque, você excluir um aluno, pode ter
um peso pro resto da vida, né, dele. É um trabalho que é muito, muito bem feito
aqui, pelo Serviço Social [...] (Assistente Social Caroline).
A avaliação, que eu faço, ela é uma seleção objetiva, porque o PNAES, ele tem seu
critério, o critério principal é a questão da renda per capita, um salário-mínimo e
meio per capita e é pautada, também, no Regulamento da Assistência Estudantil.
Então, é uma seleção tal qual está sendo solicitada, realmente, pelo menos a gente
segue aquilo que a legislação [...] pede, né? E, aí, a avaliação da seleção, [...], nós
seguimos o que é pedido. Só que, geralmente, por falta de recursos, né, a legislação
pede uma coisa, ou seja, teoricamente, todos aqueles alunos que solicitaram, que
estão dentro daquele perfil, ali, receberiam. Então, teoricamente, eles todos teriam
direito, mas acabam muitos por ficar de fora, por conta da falta de recurso. É isso
(Assistente Social Fernanda).
90
Notamos, pela fala das assistentes sociais, que a avaliação é considerada satisfatória a
partir do momento em que são analisados os dados econômicos dos alunos, já que esse é o
critério principal para se ter direito à assistência estudantil do IFCE, campus Fortaleza. Se
porventura os alunos avaliados se adequarem ao perfil de um salário-mínimo e meio, é
concedido a ele o benefício. Outras questões, como discriminação, violência doméstica,
dentre outras, não foram levantadas como critérios que poderiam ser utilizados para avaliar
tais discentes. Ressaltamos que, para se ter direito à assistência estudantil do IFCE, campus
Fortaleza, o documento Diretrizes Nacionais para a Assistência Estudantil, de 2011, expõe
que a assistência estudantil é voltada para aqueles alunos que estão em vulnerabilidade social,
concebida como “processos de exclusão, discriminação ou enfraquecimento dos grupos
sociais e sua capacidade de reação, como situação decorrente da pobreza, privação e/ ou
fragilização de vínculos afetivo-relacionais e de pertencimento social e territorial”
(DIRETRIZES NACIONAIS PARA A ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL, 2011).
Porém, como o critério máximo para a inserção na assistência estudantil é o fator
econômico, há, aqui, o empecilho do recurso que não consegue atender todos os alunos.
Questionamos, ainda, sobre as expectativas que as profissionais tinham sobre a
assistência estudantil do IFCE, campus Fortaleza.
Bem, como eu falei anteriormente, [...] na primeira entrevista, nós estamos tendo
alguns encontros da assistência estudantil, estamos formatando a assistência
estudantil dentro do IFCE e tem algumas propostas de a gente fazer fóruns com os
próprios profissionais, né, de todos os campi, e a formatação da própria política. [...]
E eu acredito que dentro dessa política, né, que vai ter os princípios, as ações, nós
teremos a ação da formação mesmo, né, não só a questão da execução, mas do
planejamento de outras ações que envolvam a assistência estudantil. [...] Nós
poderíamos estar analisando como essas ações estão se efetivando na vida desses
alunos [...] conforme passo na vida familiar, na vida acadêmica desses alunos, até
pra que a gente tenha material propositivo pra novas ações (Assistente Social
Cecília).
Olha, eu acredito que esse vínculo, com o aluno, mais próximo, [...] que não seja só
o momento de se inscrever (para a seleção dos auxílios), receber as parcelas e só
comparecer ao Serviço Social, ah, teve um problema na minha conta, caiu o recurso
ou não, [...], o vínculo, ele poderia ser, realmente, bem trabalhado. [...] Então, assim,
de repente, tá é... não vou dizer mensalmente, semestralmente, organizando grupos,
de repente, tá orientando como elaborar um currículo, como me preparar para uma
entrevista no mercado de trabalho, entendeu? Assim, um grupo de alunos do
Programa de Auxílio Formação, a gente já tá pensando em fazer isso. Aí, com a
questão dos outros meninos, a gente poderia trabalhar nessa linha também
(Assistente Social Caroline).
Muitas atividades, desde que o instituto ou então qualquer órgão federal tenha
recurso humano disponível para trabalhar em equipe interdisciplinar, a gente pode
trabalhar com diversas áreas. Então, precisa trabalhar outros projetos na área da
cidadania, de acompanhamento familiar, para que o aluno possa, realmente, estar
91
engajado nesse contexto que é muito importante para sua formação intelectual
(Assistente Social Débora).
Na fala da assistente social Cecília, percebemos que há a preocupação, por parte dos
profissionais que compõem a assistência estudantil do IFCE, campus Fortaleza (sejam eles
médicos, enfermeiros, assistentes sociais, psicólogos etc.), em organizar melhor as ações da
assistência estudantil no que se refere ao planejamento a partir da análise de como aquelas
ações estão interferindo no dia a dia dos alunos, não se limitando somente à análise de
documentos entregues por estes.
A necessidade de se dar atenção a outros aspectos que a assistência estudantil poderia
abordar é relatada por duas profissionais, ao falarem da importância de ofertar, aos discentes,
preparação para o mercado de trabalho, no quesito como se portar numa entrevista de
emprego etc., além de palestras com assuntos pertinentes à comunidade acadêmica.
Importante frisar que há a preocupação, por parte dos profissionais, de se realizar
outros trabalhos que alcancem todo o contexto em que vive o aluno e que pode, porventura,
estar afetando sua vida acadêmica, necessitando, assim, recorrer à assistência estudantil
(contexto familiar, por exemplo). O acompanhamento familiar seria relevante para se analisar
e realizar as devidas providências no que concerne aos problemas do aluno de se manter na
instituição. Todavia, tal ação esbarra, mais uma vez, no número limitado de profissionais que
conduz a assistência estudantil.
Ademais, perguntamos que outros profissionais poderiam participar da assistência
estudantil e qual seria o papel de cada um. Todas concordaram que a participação do
professor seria imprescindível para identificar, antecipadamente, as principais demandas dos
alunos dentro do Instituto Federal do Ceará, campus Fortaleza, já que é o primeiro
profissional a entrar em contato com os discentes. Porém, ainda está em fase de maturação
essa participação mais efetiva do docente, pois há certa resistência deste em aderir à equipe de
assistência estudantil por achar que já possui “trabalho demais”, de acordo com a fala da
assistente social Débora.
Bem, é necessário uma equipe multidisciplinar formada por professores, que é o
ponto maior. O professor é muito ausente no processo de assistência estudantil.
Quando a gente faz uma reunião com os professores, coordenadores dos
laboratórios, eles acham que têm muitas atividades. [...] Ele está no contato direto
aluno-sala de aula. E ele é responsável em detectar os problemas que afetam o
ensino-aprendizagem (Assistente Social Débora).
Primeiro, o que é importantíssimo, pedagogo. [...] Porque, assim, a assistência
estudantil, ela lida diretamente com o combate aos índices de evasão, né? Evasão,
retenção. Então, realmente, nós sentimos muito falta desse profissional atuando
92
diretamente, se nós tivéssemos um exclusivo (pedagogo) pra assistência estudantil,
seria muito bom, porque, aí, ele ia colaborar mais efetivamente nessa parte mesmo
desse acompanhamento, acompanhamento desses estudantes que possuem
dificuldades de passar em determinadas disciplina, né, várias vezes e trabalhar
juntamente com esses alunos e até, também, identificando, trabalhando juntamente
com os alunos, e identificando, digamos, quais são as disciplinas que possuem esse
maior problema, né? (Assistente Social Fernanda).
Bom, olha, pra que o trabalho da assistência estudantil, realmente, [...] possa dar um
resultado bem bacana, tenha um impacto bem positivo, seria através de uma equipe
multidisciplinar, né? Pedagogo, psicólogo e, principalmente, professores na linha de
frente. Por quê? A questão: um aluno tá faltando, faltando, faltando, recebe auxílio e
tal, e o que é que tá acontecendo, o que é que tá motivando aquilo dali? Aí, a equipe,
bem antenada, ela se reorganiza. Agora, quem pode indicar pra gente se o aluno tá
faltando? Professor. [...] Quem trabalha pra combater a evasão? O Serviço Social.
Então, tá, encaminha pra gente. Aí, o Serviço Social vai tomar as providências pra
saber qual o motivo da evasão. [...] Daí, a partir dessa primeira triagem do Serviço
Social, poderia se passar o trabalho ou para um psicólogo ou então para um
pedagogo nas dificuldades de aprendizagem (Assistente Social Caroline).
Além do professor, outros profissionais foram citados, como psicólogos e pedagogos,
para a condução da assistência estudantil. Percebemos que cada uma concebe, de forma bem
definida, o papel desses profissionais na assistência estudantil, e delas próprias. O psicólogo
atenderia as questões referentes aos problemas de ordem emocional, e o pedagogo ajudaria
nas dificuldades de aprendizagem apresentadas pelos alunos. Os médicos e enfermeiros não
foram citados como possíveis colaboradores da assistência estudantil.
Acreditamos que os profissionais da saúde seriam importantes para a realização de
alguns projetos citados pela assistente social Fernanda, no que concerne a palestras, voltadas
para os discentes, sobre drogas ilícitas, doenças sexualmente transmissíveis etc., além de
fazerem um levantamento sobre as doenças que mais afetam os discentes no IFCE, campus
Fortaleza, e alertá-los sobre a maneira como deveriam cuidar de tais enfermidades. Sabemos
que é realizado um trabalho sobre a conscientização do uso do preservativo pela Coordenação
de Saúde, dando-se ênfase a tal trabalho, principalmente, no período do carnaval, através do
Projeto Saúde e Prevenção nas Escolas. Ao longo do ano, fica à disposição dos alunos, na
referida coordenação, preservativos masculinos.
Indagamos sobre a opinião das assistentes sociais em relação à equipe multidisciplinar
na condução da assistência estudantil. Analisando as falas das profissionais, todas são a favor
da participação de vários profissionais para ajudar a melhorar a assistência estudantil.
Eu acho de suma importância. Porque a assistência estudantil só vai se formatar, de
forma eficiente e eficaz, quando todos esses profissionais, né, esteja munidos com a
compreensão ampla que a assistência estudantil, ela vai além dos auxílios, né?
Quando nós temos uma ação que visa a formação e permanência dos alunos, então,
ela tem que estar sendo feita no dia a dia do acompanhamento dos alunos, daquele
momento que o professor recebe o aluno na sala de aula, tem que ter essa visão do
93
que o instituto oferece, quando ele vem ao Serviço Social buscar quais são as ações
que o instituto oferece para sua permanência, né? (Assistente Social Cecília).
Em reuniões de todo IFCE, já foi debatida a necessidade, pelo menos, de uma
equipe mínima, né? Porque, assim, a nossa formação é limitado, eu tenho formação
de assistente social, o outro tem formação de psicólogo, o outro tem formação de
pedagogia, então, é cada um na sua área e, assim, pode interagir também, né? Então
[...] a gente falava muito nessa equipe mínima. Seria o assistente social, o pedagogo
e o psicólogo. [...] Na realidade, se a gente for prestar atenção, digamos, um serviço
de saúde é assistência estudantil, né? [...] Então, realmente, é muito importante o
papel de cada profissional nessa equipe multidisciplinar (Assistente Social
Fernanda).
É de relevância total, né? Se o objetivo é executar um trabalho de qualidade que
possa ter resultado, deve haver essa integração, assim, permanente, bem alinhada,
em todas as etapas, desde a hora lá que o professor identifica que o aluno não tá
frequentando, que passa pro Serviço Social identificar a questão, porque pode ser
uma causa social, né? (Assistente Social Caroline).
A colaboração de outros profissionais é relevante porque vários problemas levam o
aluno à assistência estudantil: falta de dinheiro para ir à instituição, para lá se alimentar,
problemas familiares, problemas relacionados à saúde etc.
O Serviço Social não está apto a atender demandas que não sejam referentes à questão
social. Se a assistência estudantil está voltada para a permanência desses alunos que a ela
recorre, é preciso ter um acompanhamento integral, cotidianamente, para que a evasão seja
evitada.
Todavia, essa integração ainda precisa se concretizar, havendo a necessidade de uma
articulação entre esses profissionais, com papéis e ações bem definidas. O correto seria todos
esses profissionais ficarem em um mesmo espaço do IFCE, campus Fortaleza, onde pudessem
atender todas as demandas referentes à assistência estudantil, encaminhando cada problema
ao respectivo profissional apto a tratá-lo.
O documento Diretrizes Nacionais para a Política de Assistência Estudantil, de 2011,
explicita sobre a presença de uma equipe mínima, composta por assistente social, psicólogo e
pedagogo e outros profissionais, que se fizerem necessários, para que a assistência estudantil
do campus seja mais bem assistida.
Necessidade de constituição de equipe multiprofissional básica em cada campus,
com a presença dos seguintes profissionais: psicólogo, pedagogo e assistente social,
numa perspectiva de trabalho integrado. Podendo sempre que necessário, a
participação e inclusão de outros profissionais como enfermeiros, médicos,
odontólogos, professores, entre outros. Considerando as atribuições regulamentadas
por cada categoria (DIRETRIZES NACIONAIS PARA A POLÍTICA DE
ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL, 2011).
94
4.5 Limites e possibilidades na gestão da política de assistência estudantil
Ao iniciarmos a entrevista com as diretoras de gestão orçamentária e com a diretora de
assuntos estudantis do IFCE, campus Fortaleza, perguntamos quanto o Ministério da
Educação (MEC) destina à assistência estudantil do IFCE, campus Fortaleza, e se, porventura,
havia uma contribuição da própria instituição para a referida assistência.
Olha, o MEC destina um valor baseado no número de alunos matriculados, certo e o
IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) de cada município. Se esse valor
definido pelo MEC, ao longo do ano, não for suficiente para atender, certo, às
assistências sociais de cada campus, a gente pode estar complementando com a
arrecadação da instituição, certo? Porque a assistência que vem, o recurso que vem
do MEC, ele vem na fonte de recurso 100. E nós vamos poder estar, né,
complementando com a arrecadação, que é na fonte 250 (Diretora de Gestão
Orçamentária).
O orçamento autorizado em 2014, que é o que a gente tá executando agora,
atualmente, a gente tem R$ 16 milhões, 465 mil e 562 reais destinados a esta ação.
Se a instituição contribui com a assistência, mediante recurso próprio, no meu
conhecimento, a gente trabalha especificamente com o que já vem carimbado nessa
Ação 2994, que é a Assistência ao Educando. No meu conhecimento, a gente
trabalha exclusivamente com ela. É uma ação (Ação 2994) que visa a contribuir com
a questão da merenda escolar, então, ela já especifica que tipo de apoio pode ser
dado ao estudante, em termos de recurso financeiro, então, ela especifica, né, pra
merenda escolar e outras atividades necessárias ao apoio ao estudante (Diretora de
Assuntos Estudantis).
A fonte, segundo a diretora de gestão orçamentária, é uma codificação feita pelo MEC
para identificar cada ação orçamentária do governo. Sendo assim, a fonte 100 é uma ação do
orçamento, do MEC, destinada à assistência estudantil.
A Ação 2994 (Assistência ao Educando da Educação Profissional e Tecnológica),
segundo o Ministério do Planejamento, no documento sobre as Ações Orçamentárias
Integrantes da Lei Orçamentária para 2013, é o
fornecimento de alimentação, atendimento médico-odontológico, alojamento e
transporte, dentre outras iniciativas típicas de assistência social ao educando, cuja
concessão seja pertinente sob o aspecto legal e contribua para o bom desempenho do
aluno na escola. Suprir as necessidades básicas do educando, proporcionando
condições para sua permanência e melhor desempenho escolar (2013, p. 4).
Enfim, é dessa ação que vêm os recursos destinados exclusivamente àqueles serviços
que atendam o aluno dentro da instituição de educação profissional e tecnológica.
Segundo dados disponibilizados pela diretoria de gestão orçamentária do IFCE, no ano
de 2014, a Ação 2994 autorizou, ao IFCE, campus Fortaleza, um orçamento de R$
95
4.042.014,00 para assistência estudantil. No ano anterior, foram disponibilizados R$
3.051.125,00. Já em 2012, o investimento na assistência ao discente foi de R$ 3.114.653,00,
havendo um aumento, em 2014, nos valores fornecidos ao IFCE, campus Fortaleza.
Ressaltamos que esse recurso não é destinado apenas aos auxílios da assistência
estudantil, mas também à merenda escolar, que é distribuída aos alunos três vezes por dia,
bem como às bolsas de trabalho destinadas aos alunos, que hoje são chamadas de Bolsa
Formação.
Perguntamos ainda às entrevistadas se a inexistência de uma rubrica específica para a
assistência estudantil atrapalharia a definição de recursos para tal política.
Olha, aqui, no instituto, não. Nós não temos, assim, essa questão de uma rubrica
específica, isso não existe. Nós temos, no orçamento da instituição, um valor
específico, uma ação orçamentária específica pra assistência, certo, e, dentro dessa
ação orçamentária, temos rubricas que são chamadas de natureza de despesa.
Natureza de despesa voltada especificamente pra assistência estudantil que é
material de distribuição gratuita e auxílio ao estudante (Diretora de Gestão
Orçamentária).
Bom, a rubrica, como eu disse, é geral, [...] é rateada em função do número de
alunos de cada campus e distribuída pra cada campus. Cada campus tem autonomia
para decidir qual o tipo de auxílio, qual a destinação específica pro seu campus, né?
Então, assim, em linhas gerais, a gente dá essa autonomia aos campi e [...] você
pode encontrar realidades diferentes em termos de oferta desse auxílio, desse
orçamento [...] conforme os auxílios previstos no nosso regulamento (Diretora de
Assuntos Estudantis).
Realizamos essa pergunta devido às autoras Cislaghi e Silva (2011) afirmarem que o
PNAES não possuía uma rubrica específica no orçamento para o Plano de Assistência
Estudantil. Porém, mediante a entrevista realizada com as diretoras, soubemos que existe um
recurso voltado para a assistência estudantil, que seria fornecido mediante a Ação 2994, mas
que não é estipulado um valor definido para a referida assistência, já que tal valor pode
aumentar ou diminuir a cada ano.
Em 2012, essa ação é vinculada ao Programa 2031 – Educação Profissional e
Tecnológica, em documento da Pró-Reitoria de Administração do IFRN, de 2012, que se
define pela “construção, modernização, ampliação e reforma de imóveis; aquisição e locação
de imóveis, veículos, máquinas, equipamentos, mobiliários, laboratórios para as Instituições
Federais de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, com vistas a expandir a oferta de
vagas”.
Sobre o material de distribuição gratuita citado pela diretora de gestão orçamentária,
esta expôs que ele possui uma codificação específica e, com ele, o IFCE pode comprar
96
gêneros alimentícios, remédio, ofertar o auxílio-óculos, e que isso não gerou nenhum impacto
para o desenvolvimento da assistência estudantil, pelo contrário: com o uso da criatividade em
relação ao orçamento, sobre o que poderia ser feito, dentro da legalidade, era possível atender
as necessidades do aluno.
Indagamos, ainda, como o IFCE lida com os alunos que não são atendidos pela
assistência estudantil e o que propõe para sanar tal situação.
Eu acho assim: a demanda sempre é bem maior do que o orçamento. O orçamento é
um fator limitador, certo, mas nós temos buscado sempre atender todos aqueles
auxílios que [...] passam por uma avaliação da assistente social, que identifica,
realmente, se há aquela necessidade. E o que a gente precisa ter em mente é que a
assistência estudantil para os alunos da educação profissional, ele tem a finalidade
de quê? De atender as necessidades básicas para que o aluno venha à escola, né?
(Diretora de Gestão Orçamentária)
No âmbito da Diretoria de Assuntos Estudantis, não temos, ainda, o conhecimento
de relatório, vindo dos campi, apontando essa demanda dos alunos que não pode ser
atendida, né? [...] A gente tem conhecimento de depoimentos, em reuniões, em
algumas situações ocorre isso, mas, assim, formalmente, a gente não tem, ainda, um
dimensionamento de quanto é essa demanda [...] e o que o instituto faz em relação a
isso quando ela é escrita em documento do campus para Reitoria (Diretora de
Assuntos Estudantis).
A assistência estudantil do IFCE, campus Fortaleza, mantém a obrigação de fornecer
aqueles auxílios que são elementares para a permanência do aluno na instituição. Então, para
a diretora de gestão orçamentária, a escassez de recursos faz com que a instituição acabe
priorizando aqueles auxílios que são os que garantem a vinda e a permanência dela no IFCE –
neste caso, os auxílios óculos, transporte e alimentação. Caso o aluno tenha outras carências
que ultrapassem o que a assistência estudantil pode ofertar, como, por exemplo, necessidade
de um tratamento médico mais sério, isso não é responsabilidade da instituição, segundo a
supracitada diretora.
A diretora de assuntos estudantis não sabe, ao certo, o que ocorre com aqueles alunos
que não puderam ser atendidos pelos auxílios. Todavia, é imprescindível que, de fato, a gestão
da assistência estudantil do IFCE tome conhecimento da situação daqueles alunos que não são
contemplados pela assistência estudantil, procurando outras medidas que façam com que essa
assistência alcance-os.
A diretora de assuntos estudantis nos relatou, ainda, a intenção de realizar estudos e
pesquisas para delinear a real situação de cada campus, inclusive Fortaleza, no que concerne à
assistência estudantil, com o intuito de identificar a maneira como está sendo usado o recurso
97
da assistência estudantil, bem como moldar a assistência estudantil de acordo com as reais
necessidades dos discentes.
Para tanto, segundo a diretora de assuntos estudantis, foi formada uma comissão
formada por odontólogo, assistente social, pedagogo, nutricionista, psicólogo, assistente de
aluno, dentre outros profissionais, para construírem a própria política de assistência estudantil
mediante o compartilhamento de experiências junto à assistência estudantil nos campi,
focando no trabalho multidisciplinar.
Perguntamos se, com a implementação do PNAES, houve um aumento nos gastos com
a assistência estudantil.
Com o decreto do PNAES, ficou mais claro quais os tipos de auxílios que poderiam
ser concedidos ao aluno. O decreto, ele veio normatizar mais a assistência, né? E,
com esse decreto, o instituto fez a Resolução 23, onde a gente definiu quais seriam
os auxílios que seriam concedidos pela instituição. Então, quando isso ficou
legalmente claro, claro que houve a demanda. Some-se a isso a um crescimento,
certo, da assistência estudantil. De 2010 para cá, com a aplicação do decreto, isso
gerou, para o governo, um compromisso maior para o atendimento da assistência,
né? Porque antes não tinha claro isso, a gente, a instituição, abdicava do seu
orçamento, funcionamento, para atender o aluno. Quando ele passou a ser
regulamentado, então, já veio um orçamento (Diretora de Gestão Orçamentária).
Bom, pelo o que mostra [...] os formulários que a gente tem, houve um crescimento,
até porque essa distribuição é feita em relação ao número de alunos, e o campus
Fortaleza, né, um campus que vem crescendo com o seu número de alunos, e
implica, em aumento, no ano seguinte, desse orçamento. Então, assim, ocorreu em
todos os campi (Diretora de Assuntos Estudantis).
De fato, houve um crescimento nos gastos referentes à assistência do estudantil do
IFCE, campus Fortaleza. Como já mencionado anteriormente, os documentos
disponibilizados pelo Departamento de Planejamento, Orçamento e Gestão (DPOG) do IFCE,
campus Fortaleza, revelam um aumento significativo nos gastos para com a assistência
estudantil.
Em 2010, ano de implementação do PNAES, foram gastos R$ 990.952,88, sendo R$
972.989,32 gastos com auxílios financeiros a estudantes e R$ 17.963,56 com merenda. Já em
2011, os valores foram maiores que o ano anterior, pois foram gastos R$ 1.942.146,63, sendo
R$ 1.890.575,67 com auxílio financeiro a estudantes e R$ 51.570,96 com merenda escolar.
Em 2012, foram gastos um total de R$ 2.509.234,43, sendo R$ 2.461.543,63 com
auxílio financeiro a estudantes, R$ 7.520,80 com merenda escolar, R$ 31.320,00 com
monitoria e R$ 8.850,00 com material de consumo.
98
Em 2013, foram gastos R$ 3.096.611,98 com a assistência estudantil; desse total,
foram gastos R$ 3.006.670,45 com auxílio financeiro a estudantes; R$ 48.914,53 com
merenda escolar e R$ 41.027,00 para monitoria.
Em 2014, foram gastos R$ 3.158.750,22, sendo R$ 3.018.739,03 voltados para auxílio
financeiro a estudantes, R$ 12.533,67 para merenda escolar, R$ 122.021,52 para monitoria e
R$ 5.456,00 para material de consumo.
Quadro 1 – Gastos do IFCE com assistência estudantil
Perguntamos se achavam que os valores são suficientes para atender às necessidades
do aluno.
Depende, né? Depende da necessidade do aluno. Eu acho que nós já tivemos um
crescimento bem significativo, desde que definido o auxílio baseado no IDH de cada
município e o número de alunos. Claro que, pra isso, esse recurso subir, aumentar,
nós temos que captar alunos para nossa instituição, né? [...] O auxílio-transporte,
esse, é tranquilo. O óculos, o auxílio-óculos, é uma ajuda. [...] Então, [...] em
algumas situações, ele é bem suficiente. Em outras, aí vai depender da condição do
aluno, né? Eu acho que já teve um crescimento, quando a gente definia baseado no
salário-mínimo o valor do auxílio e, agora, nós fazemos pelo valor per capita, né?
(Diretora de Gestão Orçamentária)
No momento, a gente não tem, concretamente, identificadas essas necessidades pra
que a gente possa fazer essa avaliação se ele atende plenamente ou não, né? Então, a
nossa ideia, exatamente, a gente tem, a partir, como eu falei anteriormente, da fala
de assistentes sociais em alguns encontros que a gente tem, nós realizamos dois
encontros a cada ano, com as diretorias e coordenadorias de assuntos estudantis,
onde participam todos os profissionais, são convidados psicólogos, assistente social,
pessoal da área de saúde, e lá, assim, esporadicamente, é relatada essa insuficiência
dos recursos pra atender essas demandas, né? Mas a gente não tem, efetivamente,
essa análise pra eu te dizer, nesse momento, se ele é suficiente ou insuficiente.
(Diretora de Assuntos Estudantis)
O artigo 20 do atual Regulamento da Assistência Estudantil do IFCE, aprovado pela
Resolução nº 008, de 10 de março de 2014, tem como base o valor per capita do discente do
IFCE, bem como o percentual de cada auxílio. Para a diretora de gestão orçamentária, essa
mudança foi positiva, pois permitiu haver um aumento nos valores dos auxílios.
2010 2011 2012 2013 2014
R$ 972.989,32 R$ 1.890.575,67 R$ 2.461.543,63 R$ 3.006.670,45 R$ 3.018.739,03
R$ 17.963,56 R$ 51.570,96 R$ 7.520,80 R$ 48.914,53 R$ 12.533,67
- - R$ 31.320,00 R$ 41.027,00 R$ 122.021,52
- - R$ 8.850,00 - R$ 5.456,00
R$ 990.952,88 R$ 1.942.146,63 R$ 2.509.234,43 R$ 3.096.611,98 R$ 3.158.750,22
INSTITUTO FEDERAL DO CEARÁ - IFCE - CAMPUS FORTALEZA
Fonte: Sistema de Administração Financeira do Governo Federal (SIAFI, 2015)
Valores Pagos
TOTAIS
AUXÍLIO FINANCEIRO A ESTUDANTES
NATUREZA DA DESPESA
MERENDA ESCOLAR
MONITORIA
MATERIAL DE CONSUMO
99
Para o cálculo do valor de cada auxílio, serão considerados o valor per capita do
discente do IFCE e o percentual correspondente a cada auxílio. Parágrafo único: O
valor per capita a ser calculado anualmente será obtido pela divisão entre o total do
orçamento da assistência ao educando e o número de alunos assistidos pelo IFCE, no
ano em vigor.
Na última pergunta, indagamos como o IFCE, campus Fortaleza, define os valores dos
auxílios ofertados aos alunos.
Anteriormente, de 2011, quando saiu a Resolução nº 23, até 2014, agora, que saiu a
outra Resolução nº 08, era baseado no salário-mínimo, né? Então, era um percentual
do salário-mínimo para cada assistência, pra cada tipo de auxílio, com exceção da
merenda escolar, porque a merenda era comprar o gênero e fabricar as porções,
elaborar as porções. E agora, em 2014, com essa nova resolução, ela passou a ser
calculada de forma per capita. Como é que é essa fórmula? É o valor, do montante
geral, destinado à assistência, naquele exercício, dividido pelo número de alunos
matriculados, independente se o aluno recebeu um auxílio específico. Se considera
todos como alunos atendidos por causa do acesso à merenda escolar (Diretora de
Gestão Orçamentária).
Em cima do montante definido pelo MEC, né, como falei anteriormente, nós
rateamos aos campi considerando o seu número de alunos. Também alguns
indicadores, alguns índices de vulnerabilidade dos habitantes daquela região, não é?
Então, a gente considera alguns índices, por exemplo, o próprio IDH é considerado
para verificar a situação mesmo dessa região, do contexto onde ela se insere. Então,
[...] não somente a questão do número de alunos (do IFCE), mas essa ponderação
também é realizada, é considerada (Diretora de Assuntos Estudantis).
Como já falado anteriormente, os valores, além de levarem em conta o Índice de
Desenvolvimento Humano e a vulnerabilidade em que se encontram os alunos na região onde
vivem, segundo a diretora de assuntos estudantis do IFCE, o novo Regulamento de
Assistência Estudantil traz uma nova forma de se delimitar os valores dos auxílios, que
passam a ser baseados de forma per capita, como explicado pela diretora de gestão
orçamentária.
Essa nova maneira de estabelecer os valores dos auxílios da assistência estudantil foi
um ganho para os alunos da instituição, de acordo com a aluna do movimento estudantil do
IFCE, campus Fortaleza, já que aqueles se encontravam defasados já há um certo tempo.
Todavia, ainda haveria necessidade de serem revistos, pois, segundo Tibério, também outro
integrante do movimento estudantil que foi entrevistado, alguns alunos, devido receberem
apenas um auxílio (o auxílio-alimentação, por exemplo) e por seu valor ser irrisório, acabam
deixando de almoçar para pagar o transporte. Caso não façam assim, esses alunos não
conseguem se deslocar de suas casas até a instituição.
100
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Mediante alguns aspectos que consideramos importantes para realizarmos nossa
pesquisa, quais sejam: identificar quais os critérios que definiam a escolha daqueles alunos
que receberiam os auxílios, ou seja, quem seria inserido na assistência estudantil; descobrir se
os assistentes sociais eram os únicos profissionais que atuavam na assistência estudantil; e
desvendar o porquê da procura pelos auxílios por parte dos estudantes, concluímos que
conseguimos saber sobre tais aspectos.
Vimos que aqueles alunos que estavam de acordo com a renda per capita de um
salário-mínimo e meio, delineada pelo primeiro Regulamento da Assistência Estudantil do
IFCE, de 2011, para inserção na assistência estudantil mediante seleção realizada pelos
assistentes sociais, eram os que possuíam prioridade no atendimento de suas demandas.
Ainda em relação a essa questão de mais profissionais envolvidos na assistência
estudantil, concluímos que os assistentes sociais veem a necessidade de participação de outros
profissionais para haver uma visão mais integral do aluno que está na assistência estudantil,
mas o intenso trabalho desses outros profissionais e sua quantidade tornam-se um empecilho
para que se tenha, de fato, uma equipe multidisciplinar.
Percebemos, ainda, que o aluno interessado nos auxílios é aquele aluno que quer
consegui-los para ajudar a “desafogar” o orçamento familiar. Não foram poucos os
comentários de que era “pesado” para sua família arcar com despesas de alimentação e
transporte. Porém, mesmo conseguindo esses auxílios, eles precisavam trabalhar, ter ainda a
ajuda dos pais, tios, irmãos etc., pois havia outras demandas (o aluguel para pagar, por
exemplo) que não podiam ser atendidas, naquele momento, pela assistência estudantil, devido
ao parco orçamento. Enfim, trabalhavam e estudavam com o intuito de melhorar sua condição
socioeconômica, não dando, a referida política, a opção de somente estudarem; mesmo com
os auxílios, percebemos que ainda era necessário, ao estudante, o trabalho, pois havia outras
necessidades, além da alimentação e transporte, que precisavam ser supridas.
É irrefutável que assistência estudantil, política pública educacional que vem sendo
debatida desde a década de 1980, no Brasil, tendo como dois grandes apoiadores o Fonaprace
e a Andifes, ganhou destaque maior com o Decreto nº 7.234/2010, que dispõe sobre o
Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAES) e organiza, enfim, as ações de tal
assistência. Com a implementação desse programa, o IFCE, campus Fortaleza, em 2011, pôde
construir seu primeiro regulamento de assistência estudantil, elencando os auxílios ofertados
aos alunos, os critérios e o valor daqueles.
101
Ressaltamos que a instituição já desenvolvia ações de atenção ao estudante antes
mesmo de o decreto ser instituído. Auxílios como transporte, alimentação, óculos, bolsas de
trabalho e pesquisa, viagens técnicas já eram ofertados e, com a chegada do decreto, melhorou
o desenvolvimento da assistência estudantil no IFCE, pois ficou mais nítido como deveria ser
usado o recurso advindo do MEC.
A assistência estudantil do IFCE, mediante os auxílios ofertados e a merenda escolar,
vem dando subsídios àqueles alunos que precisam de uma renda para continuar estudando.
Pela fala deles, pudemos constatar que essa assistência é importante, sim, pois lhes dá
autonomia, através do dinheiro que recebem, para decidir como será gasto aquele dinheiro:
com alimentação, necessária para se manter o dia todo na instituição, com o transporte, para
que possam se deslocar até o IFCE, campus Fortaleza, ou para qualquer outra necessidade que
precisa ser suprida.
O constante contato entre alunos do movimento estudantil do IFCE, campus Fortaleza,
e assistentes sociais para a discussão da melhoria dessa política, bem como para tratar de
empecilhos que não estão contribuindo para sua plenitude, é uma potencialidade da
assistência estudantil que merece ser destacada. O bom diálogo existente entre assistentes
sociais e alunos, não só aqueles pertencentes ao movimento estudantil, mas de toda a
comunidade acadêmica do IFCE, campus Fortaleza, contribui para que sejam colocados em
pauta todos os anseios dos discentes em relação à assistência estudantil e, consequentemente,
a procura do atendimento a tais anseios.
O fato é que as reivindicações dos alunos não devem ser expostas apenas aos
profissionais que estão “na ponta” da assistência estudantil, mas também àqueles que estão
em cargos mais elevados da assistência estudantil, pois as diretoras de assuntos estudantis e
gestão orçamentária relataram que ainda não sabem ao certo quais são os percalços mais
incidentes da assistência, a forma como vem sendo feito o acompanhamento dos alunos
dentro da política, e se, de fato, os valores dos auxílios ofertados aos discentes estão
atendendo suas necessidades para se manter na instituição etc.
Enfim, é preciso que os profissionais que estão executando a assistência estudantil
informem seus superiores sobre os problemas que estão ocorrendo dentro da assistência
estudantil para que não sejam considerados fictícios ou não adequados com a realidade
vivenciada.
Alguns percalços são visualizados nessa política: os valores dos auxílios ofertados aos
discentes ainda se mostram insuficientes e, com a implementação efetiva da nova resolução
da assistência estudantil, alunos e profissionais da assistência estudantil esperam que esses
102
valores melhorem, já que serão baseados no valor per capita, segundo parágrafo único, artigo
20 dessa resolução da assistência estudantil do IFCE, a Resolução nº 008 (“o valor per capita
a ser calculado anualmente será obtido pela divisão entre o total do orçamento da assistência
ao educando e o número de alunos assistidos pelo IFCE, no ano em vigor”); ainda não há
profissionais suficientes nas áreas médica e psicológica, ficando muitos alunos à espera desses
atendimentos.
Outro limite a ser analisado nessa política de assistência estudantil são os valores que
não são entregues no prazo devido, pois o Governo Federal faz o repasse da verba apenas uma
vez por mês, havendo, ainda, a problemática de não chegar todo o dinheiro esperado para a
assistência estudantil, conforme relatos da diretora de gestão orçamentária e da diretora de
assuntos estudantis. Os auxílios, como pudemos notar pela fala dos discentes, é uma
complementação à renda do aluno que precisa daquele dinheiro, mas que necessita, também,
de “outras vias” para se manter estudando, como a ajuda financeira dos pais e do trabalho que
porventura exerça. Enfim, muitos ainda veem a assistência estudantil como uma “ajuda”,
poucos a percebem como direito.
Outrossim, os alunos sentem falta de um acompanhamento constante dos profissionais
que estão à frente da assistência estudantil, junto a eles, sendo tal contato essencial para que
possam saber o que está levando aquele discente a procurar a referida assistência, além de
saberem se a assistência estudantil está garantindo a permanência e evitando a evasão.
Infelizmente, devido à quantidade ínfima de profissionais que acompanham a assistência
estudantil (assistentes sociais) e à parca participação de outros profissionais (psicólogos,
professores, pedagogos, médicos etc.) contribuindo com suas competências específicas para
que a assistência estudantil dê o suporte integral ao aluno, seja na questão do aprendizado, de
vulnerabilidade social, de problemas relacionados à família, à saúde, de problemas
interpessoais etc., ainda não há um acompanhamento sistemático dos alunos que estão
inseridos na assistência estudantil para saber se há outros problemas que os levam a procurá-
la, além da necessidade do dinheiro para continuar estudando.
Com um número considerável de profissionais, haveria uma aproximação mais estreita
entre profissional que conduz a assistência estudantil e discente. De fato, a falta de
profissionais contribui de forma significativa para que isso não ocorra, já que os assistentes
estão muito ocupados com as atividades referentes à assistência estudantil. A colaboração de
outros profissionais (psicólogos, pedagogo, professores, que estão também no dia a dia com o
aluno etc.) poderia concorrer para que a assistência estudantil no campus tivesse um alcance e
103
contato maiores, um conhecimento mais profundo, enfim, da vivência do aluno dentro dessa
política.
A participação de tais profissionais na condução da referida assistência para tratar de
perspectivas que fogem à competência do assistente social seria bem-vinda, e todos os
assistentes sociais concordam que assim deveria ser, pois ajudaria na construção de uma visão
mais holística do aluno, das necessidades que o levam a procurar a assistência estudantil, bem
como ajudariam a fazer com que o trabalho se desenvolvesse mais rápido e melhor.
A participação dos discentes na assistência estudantil poderia ser mais incisiva com o
diálogo mais apurado com estes, instigando-os a também decidirem como deve ser conduzida
a assistência estudantil mediante sugestões de outros possíveis critérios para a seleção dos
alunos que participarão da referida assistência, não esquecendo que tal política sempre deve
ser vista como direito e não como “ajuda aos discentes finaceiramente hipossuficientes”.
Em relação à questão de a assistência estudantil ainda ser notada como “ajuda
pecuniária aos estudantes hipossuficientes”, uma ampla discussão seria necessária entre os
profissionais que a ela estão ligados diretamente, para que analisassem a forma como essa
política educacional está sendo desenvolvida atualmente, tendo como critério principal, para
seu acesso, a condição econômica do aluno e parca atenção a outras questões (violência,
discriminação, vínculos familiares rompidos etc.) que porventura podem estar levando o
discente a procurar a assistência estudantil.
O próprio documento de Diretrizes Nacionais para a Assistência Estudantil relata,
como já citado anteriormente, outros fatos que podem contribuir para inserção do aluno na
assistência estudantil, que não sejam referentes ao fator econômico.
Algumas causas que suscitam o problema podem ser elencadas, como: ínfima equipe à
frente ao programa de assistência estudantil, composta por apenas seis assistentes sociais,
havendo, dessa forma, pouca colaboração de outros profissionais na condução da referida
política (o número de atendimentos psicológicos àqueles alunos que deles precisam é
insuficiente, visto a grandiosa demanda para apenas dois servidores que trabalham na
Coordenação de Psicologia); número expressivo de alunos que estão inseridos na assistência
estudantil (mais de 2.000 alunos atendidos). Tal situação dificulta, para uma equipe pouco
numerosa que precisa dar respostas efetivas a um público tão extenso, elencar outros critérios,
além da vulnerabilidade econômica, para escolha desses alunos.
Percebemos, desse modo, que o contexto em que se encontra a assistência estudantil
no IFCE, campus Fortaleza, não está em consonância com o que prega o documento de
Diretrizes Nacionais para a Assistência Estudantil, que defende a equipe multiprofissional
104
para a supracitada assistência.
Não podemos negar, por fim, que a política de assistência estudantil do IFCE, campus
Fortaleza, mesmo com todas as contradições que são intrínsecas às políticas públicas, possui
sua relevância na vida escolar dos discentes. É o “porto seguro” (expressão utilizada por um
dos alunos entrevistados) quando não há outro recurso ao qual recorrer; é um “incentivo”
(expressão também utilizada por outro aluno) para que o discente sinta vontade de permanecer
na instituição e, consequentemente, terminar seus estudos. É o recurso que impede o aluno de
se sentir tão cansado ao ser obrigado a voltar para casa, mesmo necessitando estar no IFCE
em um horário posterior, com o intuito de almoçar, já que não possui dinheiro para se
alimentar; é notada como um direito que deveria ser estendido a todos, que foi conseguido
pela luta de todos aqueles que acreditam que a assistência estudantil, mesmo com todas as
vicissitudes existentes, é um dos caminhos para que a educação pública e de boa qualidade
esteja ao alcance de todos os indivíduos.
Esse trabalho de maneira nenhuma encerra as discussões sobre a assistência estudantil
do IFCE, campus Fortaleza. Esperamos que ele seja mais um caminho, mais um olhar ávido
pela busca da melhoria dessa política, que se faz tão essencial para todos os alunos do ensino
superior, ajudando-a a se tornar mais crítica, democrática e transparente. Enfim, que outros
estudos possam complementar o que porventura não foi analisado nesta pesquisa.
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Federal do RGS, 1995. p. 85-92.
109
APÊNDICE A – MEMORIAL ACADÊMICO
Ao iniciar este memorial acadêmico, ficamos imaginando quantas coisas foram
aprendidas e quantas ideias equivocadas que tínhamos a respeito de avaliação, políticas
públicas, pesquisa social e da relação pesquisador e pesquisado foram desconstruídas ao longo
das disciplinas com as quais tivemos contato no Mestrado em Avaliação de Políticas Públicas
(MAPP). Estas deram lugar a novos modos de pensar a realidade, tão flexível e mutável.
Aqui, pretendemos falar um pouco sobre como certos pensamentos estudados
contribuíram para que melhor pensássemos nosso objeto de estudo, no caso, a assistência
estudantil no IFCE, campus Fortaleza.
Foram de grande importância, para a análise do nosso objeto, as discussões realizadas
na disciplina de políticas públicas no Brasil sobre o porquê do nascimento das políticas
públicas. Estas, basicamente, serviam para “promover o crescimento econômico, acelerando o
processo de industrialização” (BACELAR, 2000, p. 262) que vinha se afirmando, no Brasil,
desde os anos 1940. Já o Estado tinha o papel de fornecer subsídios para que a acumulação
privada se propagasse.
Com isso, inferimos que tal lógica das políticas públicas em geral, de impulsionarem o
crescimento econômico do País, também pertence ao contexto da política de assistência
estudantil, já que esta, além de minorar as desigualdades sociais, bem como a evasão escolar,
também reforça a questão da oferta de mão de obra qualificada, principalmente naquelas áreas
onde os profissionais são poucos (como telemática, mecatrônica), para propulsionar o
crescimento econômico.
Soubemos, ainda na referida disciplina, mediante os estudos realizados com Bacelar
(2000), que as políticas sociais não receberam a devida atenção das políticas públicas, sendo
aquelas essencialmente compensatórias. Tal consideração nos fez pensar no porquê do caráter
compensatório, e não de uma política pública de direito, que possui a assistência estudantil, já
que esta é compreendida como “ajuda aos discentes mais pobres”, noção totalmente contrária
à ideia da política pública como direito universal.
Ao falar sobre a universalização das políticas públicas, concordamos com Sposati,
autora também estudada na supracitada disciplina, quando ela explana que aquela
não é só igualdade de acesso (a dita porta de entrada), mas, também, a igualdade da
qualidade do padrão de atenção (a porta de saída). A universalização supõe a
aceitação da diversidade na entrada e o alcance da equidade de respostas
(SPOSATI, 2010, p. 35, grifo nosso).
110
Tal afirmativa corrobora nosso pensamento quanto a quem a política de assistência
estudantil deve atender. Nesse caso, deve atender a todos os alunos que dela precisarem, não
devendo tal política ser direcionada apenas pelo critério “aluno que possui renda mais
ínfima”, mas também por outros critérios que não levem em conta somente a questão
econômica dos discentes, analisando também o contexto social, cultural no qual se encontram
tais alunos.
Foi-nos esclarecido, ainda, que a concretização das políticas públicas se dá com
A identificação de um problema e a construção de uma agenda. Nesse sentido, a
tomada de decisão não representa o ponto de partida das políticas públicas. Ela é
precedida de ações e processos que constroem o campo e o tema dessa política [...]
(FLEXOR; LEITE, 2007, p. 205, grifo nosso).
Assim, pudemos ver que a expansão do Programa de Reestruturação e Expansão das
Universidades Federais (Reuni) e a entrada de alunos oriundos de classes sociais menos
abastadas foram os “terrenos”, o processo de onde germinou a necessidade da criação do
Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAES), Decreto nº 7.234, de 19 de julho de
2010, não sendo tal programa idealizado à toa, com uma finalidade encerrada em si mesmo.
Na disciplina de fundamentos do trabalho científico, ficamos surpreendidos e ao
mesmo tempo encantados por termos deixado para trás certa ideia que tínhamos como correta,
ideia esta formada através de leituras realizadas na graduação: a de que o pesquisador devia se
manter neutro em relação ao seu objeto de estudo para que este não fosse maculado com suas
suposições; graças às leituras realizadas em tal disciplina, descobrimos que é preciso, sim, ter
uma interação entre sujeito-pesquisador e sujeito-pesquisado, já que “a própria realidade
social é ideológica, porque é produto histórico no contexto da unidade de contrários, em parte
feita por atores políticos, que não poderiam – mesmo que o quisessem – ser neutros” (DEMO,
2011, p. 19).
Enfim, foi-nos oportuno saber desse pressuposto porque ele traz consigo a obrigação
de possuirmos um posicionamento político e ético quanto à finalidade da nossa pesquisa,
quanto ao compromisso que possuímos com os atores sociais pesquisados (alunos que estão
inseridos na política de assistência estudantil do IFCE, campus Fortaleza) que precisam do
nosso estudo para melhor conhecer a realidade em que estão inseridos e, consequentemente,
terem uma maior participação e entendimento da política voltada para eles.
Também na supramencionada disciplina, pudemos saber da importância de haver um
“estranhamento” em relação àquilo que estamos pesquisando, pois nossa “familiaridade” com
algo que sempre esteve à nossa volta pode fazer com que deixemos passar fatos e verdades
111
que compõem a realidade estudada simplesmente por acharmos tudo “muito natural”.
Achamos que isso não ocorrerá na realização de nossa pesquisa, já que não trabalhamos
diretamente com os sujeitos implicados na questão da assistência estudantil no IFCE, campus
Fortaleza. Todavia, achamos necessário ter esse “aviso” em mente para não perdermos o foco
de “estranhar” todos os elementos que formam nosso objeto de estudo, tendo, assim, um olhar
mais apurado sobre as questões contraditórias (ou não) que o rodeiam.
O contato que tivemos com o texto “De que lado estamos?”, de Howard Becker
(1977), na disciplina de fundamentos do trabalho científico, nos chamou a atenção quando o
autor falou sobre a simpatia que porventura poderíamos ter em relação aos sujeitos que
estávamos estudando e como essa simpatia poderia prejudicar nossa pesquisa se refutássemos,
por exemplo, certos estereótipos que foram confirmados, na pesquisa, daqueles sujeitos
estudados.
Daí, ficamos a pensar: temos uma grande simpatia por determinados sujeitos da nossa
pesquisa (os alunos que estão na assistência estudantil), inclusive chegamos a deixar, bem
claro, em uma entrevista com um deles, sobre a empatia que tínhamos por esse segmento, mas
respiramos aliviados ao chegar à conclusão de que não teríamos coragem de ‘esconder’ certas
descobertas sobre os discentes que poderiam nos decepcionar, pois acreditamos que é aí que
está a beleza da pesquisa: descobrir que certos fatos sobre nossos sujeitos de estudo, que
achávamos que não poderiam de nenhuma forma acontecer, aconteciam sim (ainda bem!),
para nosso espanto e encanto. O que seria da pesquisa se não fossem esses “imprevistos”? Na
nossa opinião, são exatamente eles que dão uma maior importância aos resultados que aquela
trará.
Outra contribuição de grande valia tivemos com as leituras que realizamos na
disciplina de métodos qualitativos. O texto “Meninos de rua: registros de uma etnografia”, de
Hélio Silva (2001), nos mostraram as “surpresas” que a nossa pesquisa poderia conter e com
as quais precisávamos saber lidar. O referido autor descobriu, ao adentrar o local onde seus
sujeitos de estudo (os meninos de rua) se encontravam, que a rua era um local “seguro” para
aquelas crianças, já que, em casa, a violência e a extrema pobreza não deixavam que lá
permanecessem. Mais uma vez, foi-nos ratificado que nosso objeto de estudo pode ser uma
“caixinha de surpresas”, não nos apresentando aquilo que parecia ser tão óbvio.
Ainda em tal disciplina, através da leitura do texto “Uma incursão pelo lado ‘não
respeitável’ da pesquisa de campo”, de Caldeira (1981), tivemos conhecimento sobre a
relação pesquisador-pesquisado. Tal relação, segundo a autora, seria uma
112
“relação de poder”: relação em que um requer um depoimento e o outro se vê na
contingência de responder; em que um pede que tudo seja dito nos mínimos
detalhes, e o outro se esforce por dizer a verdade que, no entanto, só o primeiro
poderá revelar (CALDEIRA, 1981, p. 334).
Essa situação, segundo a autora, é aceita devido o pesquisador ser o “detentor” do
saber científico, sendo tudo justificável “pelo bem da ciência”. Sendo assim, o pesquisado
acaba ficando numa posição subordinada em relação àquele. Porém, acreditamos que tanto o
pesquisador como o pesquisado são importantes e ambos possuem informações válidas que
ajudarão a definir os resultados de uma pesquisa. Também acreditamos que eles possuem,
igualmente, o conhecimento necessário para que a realidade seja desnudada. Portanto, o
contato com a referida autora nos foi relevante para corroborarmos o pensamento que
tínhamos em relação aos nossos atores sociais que serão pesquisados (discentes atendidos pela
assistência estudantil e profissionais que operacionalizam tal política): que estes são tão
necessários (ou até mais) quanto nós para que a pesquisa seja possível.
O texto de Alba Zaluar, “A aventura etnográfica: atravessando barreiras, driblando
mentiras”, de 1984, também estudado na disciplina de métodos qualitativos, nos deixou muito
pensativos ao expor certa situação que poderia acontecer na nossa pesquisa, mas que, em
nenhum momento, tínhamos cogitado a possibilidade de acontecer conosco: mentiras que
poderiam ser contadas pelo ator social pesquisado, durante uma entrevista. Zaluar (1984)
passou por isso e só soube que tinha obtido mentiras na sua entrevista porque um dos seus
assistentes lhe disse que o entrevistado havia mentido o tempo todo.
Sendo assim, ficamos a indagar: caso algum dos nossos entrevistados minta, como
vamos saber? Não teremos nenhum assistente conosco como a referida autora, então,
pensamos que a situação poderia se complicar muito para nós; todavia, para nos preparar
perante esse empecilho, faz-se necessário ter em mente que “[...] as entrevistas eram discursos
sobre significados, cujo sentido eu deveria buscar fora do dito [...]” (ZALUAR, 1984, p. 9).
Portanto, aqui caberia a nossa capacidade de captar o que havia nas entrelinhas daquilo que
nos era dito, não aceitando como suma verdade tudo o que nos afirmavam. Enfim, era preciso
ir além das palavras; era preciso saber seu significado dentro de determinado contexto. Há
também a possibilidade de fazer o confronto com documentos, relatórios etc.
Sobre a avaliação de políticas públicas (a alma do nosso estudo, acreditamos), muito
aprendemos no decorrer da disciplina de planejamento e avaliação de políticas públicas. Ao
estudarmos os vários tipos de avaliação, pudemos chegar à conclusão de que nossa avaliação
113
será a de impacto, já que pretendemos avaliar de que forma a assistência estudantil está
incidindo sobre a vida dos discentes por ela atendidos e se houve uma mudança social.
Pudemos perceber que a avaliação possui uma dimensão muito maior do que
imaginávamos. Aquela não é apenas definida como um instrumento que vai dizer se um
projeto é bom ou ruim. Ela vai tentar compreender, de forma ampla, aquela realidade
específica em determinado momento, tentando delinear os interesses em jogo, o dito e o não
dito pelos atores sociais inseridos nessa realidade e surtir mudanças nesta. Aprendemos ainda
que a avaliação não pode ser vista como algo simples, possuindo apenas um caminho para que
seja bem feita, ela é permeada por contradições, por incertezas.
A avaliação de políticas e programas está embasada em duas dimensões (a técnica e a
política), sendo um importante instrumento que possibilita aos sujeitos sociais o controle
social das políticas públicas. É exatamente tal fato que nos ajudou a encontrar um motivo
forte para fazermos a avaliação da assistência estudantil no IFCE, campus Fortaleza, pois
desejamos, com a avaliação desse programa, tornar os sujeitos sociais que estão ligados a tal
programa (alunos inseridos na assistência estudantil, assistentes sociais que operacionalizam
essa política) conhecedores da forma como vem se desenvolvendo o programa e como ele
poderia melhorar, expondo-lhes as potencialidades e deficiências da referida política naquele
espaço onde se concretiza.
No MAPP, através da disciplina planejamento e avaliação de políticas públicas e das
leituras que realizamos para realizarmos a seleção do mencionado mestrado, pudemos
conhecer a avaliação em profundidade, que considera a avaliação não “como julgamento de
valor, mas como compreensão” (RODRIGUES, 2011, p. 48). Sendo assim, segundo a autora,
essa avaliação não está interessada se os objetivos de determinada política pública foram
atendidos, mas prima, essencialmente, pela compreensão, pela vivência dessa política. Isso é
muito importante para a realização da nossa pesquisa, pois faz com que fiquemos atentos a
todas as facetas que compõem a política de assistência estudantil, ou seja, a reconstituição da
trajetória dessa política, o contato com todos os atores sociais que nela estão envolvidos, o
perfil dos alunos que estão inseridos na assistência estudantil etc.
Já que precisaremos saber tais facetas para termos uma compreensão ampla da
assistência estudantil no IFCE, campus Fortaleza, precisaremos, certamente, de várias
técnicas de pesquisa, e é justamente isso que a avaliação em profundidade defende,
corroborando, assim, mais uma vez, a utilidade que tal avaliação terá para nossa pesquisa.
A disciplina de seminário de trabalho discente final foi imprescindível para melhorar
nossa discussão acerca da assistência estudantil. Trabalhar as questões educação e cotas para
114
alunos hipossuficientes nas instituições federais foi essencial para que pudéssemos ter ideias
mais claras sobre o porquê da necessidade da assistência estudantil.
Enfim, todo o caminho trilhado no MAPP possibilitará a construção de uma avaliação
que permita um bom conhecimento sobre o objeto de estudo escolhido, não havendo, é claro,
a ideia de que “tudo será descoberto”, de que nosso estudo esgotou todas as discussões que
porventura possam suscitar sobre a assistência estudantil no IFCE, campus Fortaleza. Pelo
contrário, desejamos que nosso trabalho possibilite outras reflexões acerca da problemática
levantada e que tais reflexões possam contribuir, mais ainda, para que assistência estudantil
seja ratificada como direito do discente dessa instituição de ensino e fortalecida nas suas
ações através de uma avaliação organizada, que dê notoriedade a todos aqueles que estejam
nela envolvidos.
115
APÊNDICE B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Eu, _________________________________________________________________,
informo que sou voluntário(a) no fornecimento de informações à pesquisadora Aline Freitas
Dias Pinheiro, discente do Mestrado em Avaliação de Políticas Públicas da Universidade
Federal do Ceará (UFC), que está realizando a pesquisa denominada: “Avaliação da
Assistência Estudantil: possibilidades e limites de uma política pública educacional”, a qual
tem por objetivo avaliar os impacto da assistência estudantil, campus Fortaleza, sobre a vida
escolar dos alunos que nela estão inseridos. Vale ressaltar que a pesquisa poderá trazer uma
contribuição importante para a compreensão da assistência estudantil no IFCE, campus
Fortaleza. Ela se dará por meio de entrevista e preenchimento de questionário, assegurando
privacidade ao(à) entrevistado(a).
Estou ciente de que terei os direitos abaixo assegurados:
Estou sabendo que as minhas informações serão gravadas;
As informações ditas por mim durante a entrevista serão utilizadas somente para
objetivos da pesquisa;
As informações ficarão em segredo e eu não serei identificado(a);
Tenho a liberdade de abandonar a qualquer momento a pesquisa;
Em nenhum momento serei prejudicado(a) no que se refere à minha inclusão na
assistência estudantil do IFCE, campus Fortaleza;
A aluna pesquisadora fica à disposição para qualquer esclarecimento, a qualquer
momento, durante o andamento da pesquisa;
Informo que entendi o que me foi explicado pela pesquisadora, e concordo em
participar da pesquisa.
Fortaleza, _____ de _______________ de 2014.
_________________________________ ______
Participante da Pesquisa
Nome: __________________________________ RG:_________________________
Telefone para contato:___________________________________
116
APÊNDICE C – ROTEIRO DE ENTREVISTA UTILIZADO COM OS ESTUDANTES
ATENDIDOS PELA ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL
Nome: _________________________________________________________________
Idade: _________________________________________________________________
Curso/Semestre: _________________________________________________________
Auxílio(s) recebido(s) da assistência estudantil: _______________________________
1. Para você, o que é a assistência estudantil?
2. Para você, quais as potencialidades e limites da assistência estudantil no IFCE?
3. Como você se inseriu na assistência estudantil?
4. Fale-me sobre a seleção que é realizada pelo Serviço Social para a escolha dos alunos
que participarão da assistência estudantil. O que você acha dessa seleção?
5. Como você descreveria sua vida escolar antes de sua inserção na assistência
estudantil? E depois?
6. Você conhece o PNAES?
7. Que outros serviços a assistência estudantil do IFCE, campus Fortaleza, poderia
ofertar, além da ajuda financeira?
8. Quais seriam as suas outras necessidades que precisam ser atendidas para você se
manter no IFCE?
117
APÊNDICE D - QUESTIONÁRIO APLICADO AOS ALUNOS QUE ESTÃO
INSERIDOS NA ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL DO IFCE, CAMPUS FORTALEZA
Nome: _____________________________________________________________
Idade: ______________________________________________________________
Curso: ______________________ Semestre: ____________________________
Auxílio-discente que recebe: ____________ Valor do auxílio-discente: __________
Localidade em que mora (bairro): ________________________________________
Quantos familiares moram com você? ( ) 1 a 3 ( ) 4 a 6 ( ) Mais de 6
Renda familiar (incluindo você): ( ) 1 salário-mínimo ( ) 2 a 3 salários-mínimos ( ) 4 a 5
salários-mínimos ( ) Mais de 5 salários-mínimos
Mora com os pais? ( ) Sim ( ) Não
Senão, com quem mora? ( ) Amigos ( ) Outros parentes (tios, primos, avós etc.)
Grau de escolaridade do pai: ( ) Ensino fundamental incompleto ( ) Ensino fundamental
completo ( ) Ensino médio incompleto ( ) Ensino médio completo ( ) Ensino Superior
incompleto ( ) Ensino Superior completo
Profissão do pai: _________________________________________
Grau de escolaridade da mãe: ( ) Ensino fundamental incompleto ( ) Ensino fundamental
completo ( ) Ensino médio incompleto ( ) Ensino médio completo ( ) Ensino superior
incompleto ( ) Ensino superior completo
Profissão da mãe: __________________________________________
A família paga aluguel? ( ) Sim ( ) Não
Você trabalha para ajudar com as despesas familiares? ( ) Sim ( ) Não
Se sim, em que trabalha?______________
Você possui lazer ( ) Sim ( ) Não
Se sim, qual? ( ) Cinema ( )Televisão ( ) Praia ( ) Ler livros ( ) Passear no shopping ( )
Outros:________________________
Você utiliza o auxílio-discente para outros fins? ( ) Sim ( ) Não
Em caso afirmativo, indique um destes itens: ( ) Comprar comida ( ) Comprar material escolar
( ) Pagar água, luz, aluguel etc. ( ) Comprar roupas ( ) Outros:___________________
118
APÊNDICE E – ROTEIRO DE ENTREVISTA UTILIZADO COM OS
PROFISSIONAIS QUE TRABALHAM COM A ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL
Nome: ________________________________________________________________
Cargo:_________________________________________________________________
Tempo em que trabalha no IFCE:____________________________________________
1. Quais são as ações que são desenvolvidas, atualmente, pela assistência estudantil?
2. Quais os desafios enfrentados hoje pela assistência estudantil?
3. Como profissional que operacionaliza a assistência estudantil no IFCE, campus
Fortaleza, como seu trabalho pode colaborar para que aquela seja reconhecida como
política pública, um direito do aluno?
4. Há uma avaliação, pela equipe que está à frente da política de assistência estudantil,
sobre a maneira como está se desenvolvendo tal política junto aos alunos?
5. O que poderia melhorar na assistência estudantil do IFCE, campus Fortaleza?
6. Na sua opinião, qual a importância da assistência estudantil para o estudante que nela
se insere?
7. Há a participação dos alunos na condução da assistência estudantil? Se sim, como
você a avalia?
8. Qual avaliação que você faz da seleção que é realizada pelo Serviço Social para a
inserção dos alunos na assistência estudantil?
9. Quais expectativas você tem sobre a assistência estudantil do IFCE, campus
Fortaleza?
10. Que outros profissionais poderiam participar da assistência estudantil do IFCE,
campus Fortaleza, e qual seria o papel de cada um?
11. O que você acha da equipe multidisciplinar na condução da assistência estudantil?
119
APÊNDICE F – ROTEIRO DE ENTREVISTA UTILIZADO COM A DIRETORA DE
ASSUNTOS ESTUDANTIS E A DIRETORA DE GESTÃO ORÇAMENTÁRIA DO
IFCE
Nome: _________________________________________________________________
Cargo: _________________________________________________________________
Tempo em que trabalha no IFCE: ____________________________________________
1. Quanto o MEC destina à assistência estudantil do IFCE? A instituição também
contribui com a referida assistência mediante recurso próprio?
2. A inexistência de uma rubrica específica no orçamento para o Plano de Assistência
Estudantil atrapalha a definição de recursos para a assistência estudantil do IFCE?
3. Há uma demanda de alunos que não pode ser atendida pela assistência estudantil pela
escassez de recursos. Como o IFCE lida com tal situação e o que propõe para saná-la?
4. Houve um aumento nos gastos com a assistência estudantil do IFCE, campus
Fortaleza, desde o ano de 2010, quando surgiu o Programa Nacional de Assistência
Estudantil?
5. Em relação aos valores dos auxílios da assistência estudantil, ofertados aos alunos,
você acha que eles são suficientes para atendê-los em suas necessidades?
6. Como o IFCE define os valores dos auxílios ofertados aos alunos?
120
ANEXO A – DADOS DE ATENDIMENTO DO SETOR DE PSICOLOGIA DO IFCE,
CAMPUS FORTALEZA – 2010 A 2014
121
122
ANEXO B – DADOS DE ATENDIMENTO MÉDICO E DE ENFERMAGEM AO
ALUNO – 2010
123
ANEXO C – DADOS DE ATENDIMENTO MÉDICO E DE ENFERMAGEM AO
ALUNO – 2011
124
125
126
127
128
129
130
131
132
133
134
135
ANEXO D – DADOS DE ATENDIMENTO MÉDICO E ODONTOLÓGICO AO
ALUNO – 2012
136
ANEXO E – DADOS DE ATENDIMENTO MÉDICO E ODONTOLÓGICO AO
ALUNO – 2013
137
ANEXO F – DADOS DE ATENDIMENTO MÉDICO E DE ENFERMAGEM AO
ALUNO – 2014
138
ANEXO G – ATENDIMENTO ODONTOLÓGICO – 2014
139
ANEXO H – GASTOS COM ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL – 2010 A 2014
140
ANEXO I – ASSISTÊNCIA AO EDUCANDO – 2013 A 2014