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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO BRASILEIRA ANTÔNIA BRUNA DA SILVA VARIÁVEIS SIGNIFICATIVAMENTE RELACIONADAS COM O DESEMPENHO DOS ALUNOS DO 5º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL PÚBLICO DO ESTADO DO CEARÁ NO TESTE DE LÍNGUA PORTUGUESA DA PROVA BRASIL/2011 FORTALEZA 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO BRASILEIRA

ANTÔNIA BRUNA DA SILVA

VARIÁVEIS SIGNIFICATIVAMENTE RELACIONADAS COM O DESEMPENHO

DOS ALUNOS DO 5º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL PÚBLICO DO ESTADO

DO CEARÁ NO TESTE DE LÍNGUA PORTUGUESA DA PROVA BRASIL/2011

FORTALEZA

2015

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ANTÔNIA BRUNA DA SILVA

VARIÁVEIS SIGNIFICATIVAMENTE RELACIONADAS COM O DESEMPENHO DOS

ALUNOS DO 5º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL PÚBLICO DO ESTADO DO

CEARÁ NO TESTE DE LÍNGUA PORTUGUESA DA PROVA BRASIL/2011

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

-Graduação em Educação Brasileira da

Universidade Federal do Ceará, como requisito

parcial para obtenção do título de Mestre em

Educação. Área de concentração: Educação.

Orientador: Prof. Dr. Claudio de Albuquerque

Marques.

Coorientador: Prof. Dr. Nicolino Trompieri Filho.

FORTALEZA

2015

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação

Universidade Federal do Ceará S586v Silva, Antônia Bruna da.

Variáveis significativamente relacionadas com o desempenho dos alunos do 5° ano do ensino

fundamental público do estado do Ceará no teste de língua portuguesa da prova Brasil/2011 /

Antônia Bruna da Silva. – 2015.

88 f. : il.color., enc. ; 30 cm.

Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Ceará, Faculdade de Educação, Programa de

Pós-Graduação em Educação Brasileira, Fortaleza, 2015.

Orientação: Prof. Dr. Claudio de Albuquerque Marques.

Coorientação: Prof. Dr. Nicolino Trompieri Filho.

1. Variáveis extraescolares. 2. Variáveis intraescolares. 3. Proficiência em Língua Portuguesa.

I. Marques, Claudio de Albuquerque (orient.). II. Universidade Federal do Ceará – Programa de

Pós-Graduação em Educação Brasileira. III. Título.

CDD 371.26

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ANTÔNIA BRUNA DA SILVA

VARIÁVEIS SIGNIFICATIVAMENTE RELACIONADAS COM O DESEMPENHO DOS

ALUNOS DO 5º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL PÚBLICO DO ESTADO DO

CEARÁ NO TESTE DE LÍNGUA PORTUGUESA DA PROVA BRASIL/2011

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Educação Brasileira da

Universidade Federal do Ceará, como requisito

parcial para obtenção do título de Mestre em

Educação. Área de concentração: Educação.

Aprovada em: 17 / 04 / 2015.

BANCA EXAMINADORA

________________________________________________

Prof. Dr. Claudio de Albuquerque Marques (Orientador)

Universidade Federal do Ceará (UFC)

________________________________________________

Prof. Dr. Nicolino Trompieri Filho (Coorientador)

Universidade Federal do Ceará (UFC)

________________________________________________

Prof. Dr. Liv. Doc. Raimundo Hélio Leite

Universidade Federal do Ceará (UFC)

________________________________________________

Prof. Dr. Basílio Rommel Almeida Fechine

Instituto Federal do Ceará (IFCE)

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Dedico este trabalho à minha família,

especialmente à minha mãe, Maria Josélia da

Silva, por compreender a minha ausência

durante esta caminhada e por todo investimento

imaterial e impalpável que fomentou a minha

educação.

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, Maria Josélia da Silva e Justino Soares da Silva, pelo exemplo de

fortaleza e por depositarem em mim seus sonhos.

Ao professor Claudio de Albuquerque Marques, pela contribuição no

desenvolvimento deste trabalho. Suas considerações acerca do estudo foram tecidas com maestria.

Ao professor Nicolino Trompieri Filho, pelos conhecimentos obtidos durante esta

trajetória e pelas horas de coorientação regadas por cafés e cigarros. Professor Nicolino é uma

referência que levarei por toda a minha vida.

Ao professor Raimundo Hélio Leite, pelos conhecimentos partilhados e pelo

empenho dispensado na condução do Núcleo de Avaliação Educacional (NAVE). Manifesto

aqui a minha gratidão a ele pela confiança em mim depositada.

Ao professor Basílio Rommel Almeida Fechine, pela disponibilidade em integrar

a Banca Examinadora.

Aos amigos, pelos momentos de reflexão e pelas parcerias estabelecidas.

A Pablo Carvalho, pelas horas compartilhadas no Laboratório de Pesquisa,

Avaliação e Medidas Psicopedagógicas (LabPAM) e pela ajuda inestimável na organização

dos dados do estudo.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pelo

incentivo à pesquisa.

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“Uma cabeça bem-feita vale mais do que uma

cabeça cheia.”

(Montaigne)

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RESUMO

Seguindo uma perspectiva de análise do desempenho escolar que considera a influência de

fatores intra e extraescolares, o estudo identificou as variáveis dos questionários contextuais

significativamente relacionadas com o rendimento dos alunos de 5º ano do Ensino Fundamental

da rede pública municipal do estado do Ceará no teste de Língua Portuguesa na quarta edição da

Prova Brasil. A partir disso, elaborou-se um modelo linear múltiplo que incorporou as variáveis

do aluno, do professor, do diretor e da escola para investigar a influência dessas variáveis na

Proficiência em Língua Portuguesa. Da população objeto de estudo – constituída pelos alunos

do 5º ano do Ensino Fundamental público municipal cearense e pelos respectivos professores de

Língua Portuguesa, diretores e escolas –, extraiu-se uma amostra aleatória composta por 486

alunos, 276 professores, 223 diretores e 223 escolas. Os resultados evidenciaram que 23,3% da

variabilidade da Proficiência em Língua Portuguesa está creditada a determinadas

características do aluno e do contexto escolar. Observando os coeficientes padronizados da

função de regressão linear múltipla (β), os fatores extraescolares que exercem efeito sobre o

desempenho do aluno são: (a) a reprovação e o abandono escolar (β = - 0,178); (b) o fato de o

aluno trabalhar (β = - 0,155); (c) os locais que o aluno costuma frequentar (β = - 0,155); (d) a

quantidade de pessoas que moram com o aluno (β = - 0,145); e (e) a participação dos pais nas

reuniões escolares e o incentivo fornecido aos filhos (β = 0,136). Quanto às variáveis preditoras

de ordem intraescolar, a pesquisa constatou que as seguintes variáveis desempenham influência,

positiva ou negativa, sobre os resultados escolares: (a) a falta de critério para a formação das

turmas de 1ª a 4ª séries (β = - 0,134); (b) o fato de o diretor ter assumido o cargo por meio de

indicação política (β = - 0,148); (c) o fato de o gestor ter se graduado em uma faculdade isolada

(β = 0,145); (d) as condições de acessibilidade das imediações externas da escola (β = 0,115);

(e) a quantidade dos conteúdos previstos desenvolvidos com os alunos (β = 0,101); (f) o tempo

(em anos) que o diretor exerce funções de direção (β = 0,100); (g) o tempo (em anos) que o

professor ministra aulas no 5º ano (β = 0,090); e (h) a formação do diretor em nível de pós-

graduação na área da Educação (β = 0,087). Entre os resultados obtidos, ficou claro que o

desempenho cognitivo do aluno em Língua Portuguesa é produto de variáveis de múltiplas

ordens que atuam com um efeito combinado sobre o educando. Logo, não pode ser atribuído a

um só agente ou a um só aspecto.

Palavras-chave: Variáveis extraescolares. Variáveis intraescolares. Proficiência em Língua

Portuguesa.

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ABSTRACT

Taking into consideration an analysis perspective of a school performance that considers the

influence of intra- and extra-school factors. This study, using the achievement of 5th grade

students of public elementary school in the state of Ceará in the fourth edition of Prova Brasil (a

Brazilian school evaluation) in Portuguese Language test, has identified the variables of the

contextual questionnaires significantly related to these student's performance. Based on that, we

have prepared a multiple linear model that incorporated the student, teacher, principal and

school's variables to investigate the influence of these variables on Portuguese Language

Proficiency. From the object of study – set up by 5th grade students of public elementary

Municipal school from Ceará and their Portuguese teachers, principals and schools – we have

extracted a random sample of 486 students, 276 teachers, 223 principals and 223 schools. The

results have shown 23.3% of the variability in Portuguese Proficiency is due to certain student's

characteristics and also due to certain characteristics of the school context. According to the

standardized coefficients of multiple linear regression function, the extra-school factors that

cause an effect on student's performance are (β): (a) the failure and school dropout (β = - 0.178);

(b) the fact that the student works (β = - 0.155); (c) the places that students are use to attending

(β = - 0.155); (d) the amount of people living with the student (β = - 0.145); and (e) parents

participation in school meetings and the encouragement given to the children (β = 0.136). In

relation to the intra-school order of predictor variables, the survey found out that the following

variables play positive or negative influence on the outcomes: (a) the lack of criteria to form the

1st to 4th degree groups (β = - 0.134); (b) the fact that the principal has been named by a

politician (β = - 0.148); (c) the fact that the manager has graduated in an isolated college (β =

0.145); (d) the conditions of accessibility of the school's external surroundings (β = 0.115); (e)

the amount of the expected content developed with students (β = 0.101); (f) the time (in years)

that the principal works as a principal (β = 0.100); (g) the time (in years) that the teacher

teaches the 5th grade (β = 0.100); and (h) the principal's major level – Specialization grade post-

graduation in educational realm (β = 0.087). Among the results, it became clear that the

student's cognitive performance in Portuguese proficiency is a consequence of multiple orders

variables acting with a combined effect on it. Therefore, it cannot be assigned to only one agent

or to a single point.

Keywords: Extra-school variables. Intra-school variables. Proficiency in Portuguese.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Sistema avaliativo da Educação Básica no Brasil .......................................... 21

Figura 2 – Modelo conceitual dos fatores intra e extraescolares associados ao

desempenho escolar ....................................................................................... 39

Figura 3 – Associação dos arquivos ............................................................................ 50

Figura 4 – Média da Proficiência em Língua Portuguesa na população ......................... 52

Figura 5 – Média da Proficiência em Língua Portuguesa na amostra ............................. 53

Figura 6 – Exemplo de histograma com normalidade satisfeita ..................................... 63

Figura 7 – Exemplos de diagramas de probabilidade normal ......................................... 64

Figura 8 – Exemplos de gráficos dos resíduos padronizados contra os valores

previstos padronizados ................................................................................... 65

Figura 9 – Histograma e diagrama P-P dos resíduos normalmente distribuídos............. 69

Figura 10 – Gráfico do ZRESID contra ZPRED ............................................................... 70

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Construtos privilegiados pelos questionários contextuais do Saeb................ 37

Quadro 2 – Descrição dos arquivos da pasta Dados ......................................................... 49

Quadro 3 – Correspondência entre arquivos ..................................................................... 50

Quadro 4 – Variáveis significativamente correlacionadas com a Proficiência em

Língua Portuguesa ......................................................................................... 56

Quadro 5 – Variáveis incluídas/removidasa ...................................................................... 66

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Níveis da Escala da Prova Brasil em Matemática ......................................... 25

Tabela 2 – Níveis da Escala da Prova Brasil em Língua Portuguesa .............................. 25

Tabela 3 – Metas nacionais projetadas pelo Ideb para os anos iniciais do Ensino

Fundamental ................................................................................................... 32

Tabela 4 – Estatística da distribuição da Proficiência em Língua Portuguesa na

população. ................................................................................................................ 52

Tabela 5 – Estatística da distribuição da Proficiência em Língua Portuguesa na

amostra.. ............................................................................................................. 52

Tabela 6 – Matriz dos coeficientes de correlação para a Proficiência em Língua

Portuguesa ...................................................................................................... 55

Tabela 7 – Resumo do modeloa ....................................................................................... 67

Tabela 8 – Análise de variância (ANOVA) ..................................................................... 68

Tabela 9 – Estatísticas de colinearidade .......................................................................... 70

Tabela 10 – Estatísticas dos resíduos ................................................................................. 71

Tabela 11 – Coeficientes do modelo de regressão linear múltiplaa ................................... 74

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANA Avaliação Nacional da Alfabetização

Aneb Avaliação Nacional de Educação Básica

ANOVA Análise de Variância

Anresc Avaliação Nacional do Rendimento Escolar

BIRD Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento

CAEd Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação

CAP Coordenação de Análises e Publicações

CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CVR Razão de Covariância

DAEB Diretoria de Avaliação da Educação Básica

EDURURAL Programa de Expansão e Melhoria da Educação no Meio Rural

Enem Exame Nacional do Ensino Médio

FCC Fundação Carlos Chagas

FCPC Fundação Cearense de Pesquisa e Cultura

FIV Fator de Inflação de Variância

Fundeb Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de

Valorização dos Profissionais da Educação

Ideb Índice de Desenvolvimento da Educação Básica

IFCE Instituto Federal de Educação, Ciência e Cultura do Ceará

IICA Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura

Inep Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira

Inse Indicador de Nível Socioeconômico das Escolas de Educação Básica

LabPAM Laboratório de Pesquisa, Avaliação e Medidas Psicopedagógicas

MEC Ministério da Educação

NAVE Núcleo de Avaliação Educacional

OCDE Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico

ONU Organização das Nações Unidas

PCN Parâmetros Curriculares Nacionais

PDDE Programa Dinheiro Direto na Escola

PDE Plano de Desenvolvimento da Educação

PISA Programme for International Student Assessment

PNAIC Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa

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Saeb Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica

SAEP Sistema de Avaliação do Ensino Público de Primeiro Grau

Saresp Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo

SEE/DF Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal

SENEB Secretaria Nacional de Educação Básica

SGBD Sistema Gerenciador de Bancos de Dados

SPAECE Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica do Ceará

SPSS Statistical Package for the Social Sciences

UECE Universidade Estadual do Ceará

UFC Universidade Federal do Ceará

VIF Variance Inflaction Factor

ZPRED Valores previstos padronizados

ZRESID Resíduos padronizados

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LISTA DE SÍMBOLOS

b Coeficiente de regressão não padronizado

β Coeficiente de regressão padronizado

d Teste de Durbin-Watson

ɛ Erro

F Razão F

gl Graus de liberdade

k Número de previsores do modelo de regressão

σ Desvio padrão

σ² Variância

µ Média de uma população de valores

n Tamanho da amostra

© Coeficiente de correlação de Pearson

R Coeficiente de correlação múltiplo

R² Coeficiente de determinação

R²ajustado Coeficiente ajustado de determinação

Sig. Nível de significância

t Teste de Student

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 16

2 O SISTEMA AVALIATIVO DA EDUCAÇÃO BÁSICA NO BRASIL ........ 19

2.1 Prova Brasil: Escala e Matrizes de Referência ................................................. 23

2.2 Impactos dos resultados da Prova Brasil na unidade escolar ......................... 27

3 VARIÁVEIS COM INTERFERÊNCIA SIGNIFICATIVA NO

DESEMPENHO ESCOLAR .............................................................................. 36

3.1 Variáveis intraescolares ...................................................................................... 39

3.2 Variáveis extraescolares...................................................................................... 43

4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ..................................................... 48

4.1 Organização dos microdados da Prova Brasil/2011 ......................................... 48

4.2 População ............................................................................................................. 51

4.3 Amostra ................................................................................................................ 51

4.4 Sumário das variáveis ......................................................................................... 53

4.5 Regressão linear múltipla ................................................................................... 58

4.5.1 Estatísticas ............................................................................................................ 59

4.5.2 Inexistência de multicolinearidade .................................................................... 61

4.5.3 Independência dos resíduos ................................................................................ 61

4.5.4 Normalidade dos resíduos................................................................................... 63

4.5.5 Homocedasticidade e linearidade....................................................................... 64

5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS .................................. 66

5.1 Poder de explicação do modelo do desempenho acadêmico em Língua

Portuguesa ........................................................................................................................... 67

5.2 Teste de ajuste do modelo ................................................................................... 68

5.3 Validação dos pressupostos do modelo do desempenho acadêmico em

Língua Portuguesa .............................................................................................. 68

5.4 Modelo explicativo do desempenho acadêmico em Língua Portuguesa de

alunos do 5º ano do Ensino Fundamental do estado do Ceará ....................... 72

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................. 78

REFERÊNCIAS .................................................................................................. 80

ANEXOS .............................................................................................................. 86

ANEXO A – DECLARAÇÕES EXPEDIDAS PELO REVISOR ................... 87

ANEXO B – DIPLOMA DO REVISOR ........................................................... 88

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1 INTRODUÇÃO

No âmbito das recentes políticas educacionais, é reconhecida a centralidade

atribuída à avaliação educacional e, em especial, à avaliação externa, que no Brasil ganhou

forma a partir da década de 1980. No território nacional, esse procedimento foi difundido por

meio de estudos e pesquisas educacionais e se materializou com a criação do Sistema

Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb). Sem diferir dos demais países que

largaram na frente e formularam seus sistemas avaliativos, a adoção do Saeb se relacionou

com a necessidade de se obter informações mais gerais sobre a educação no País, com vistas a

promover a qualidade da educação.

Desse modo, além dos testes do desempenho escolar em Língua Portuguesa e em

Matemática, a sistemática avaliativa supracitada é composta por uma diversidade instrumental

que coleta informações a respeito das variáveis relacionadas ao ensino e à aprendizagem, a

saber: questionário da escola, questionário do diretor, questionário do professor e questionário

do aluno. Em termos quantitativos, os referidos questionários são compostos por 72 itens

destinados à escola, 212 itens destinados ao diretor, 152 itens destinados ao professor e 54

itens destinados ao aluno.

Acredita-se que os construtos que compõem esses instrumentos possuem uma

relação muito estreita com a aprendizagem posta em xeque no Saeb. Contudo, os dados

colhidos pelos instrumentos utilizados não são devidamente aproveitados. Apenas os

resultados dos testes é que são considerados, não é estabelecida uma relação do desempenho

do educando nos testes com os dados (formação do professor, práticas pedagógicas, recursos

pedagógicos disponíveis, gestão escolar, histórico escolar, incentivo dos pais, etc.) obtidos

nos demais instrumentos.

Avaliações em larga escala como o Saeb geram dados e mais dados acerca da

dinâmica escolar, que se exaurem entre si sem estabelecer a articulação que, necessariamente,

atribui-lhe significação, produzindo, desse modo, um acúmulo de informações fragmentadas

resultantes do instrumental utilizado.

Atentando para a análise dos resultados coletados pelo Saeb, constatamos que o

tratamento dos dados é feito separadamente, sem aquela correlação – entre os fatores contextuais e o

desempenho acadêmico – anunciada nos objetivos do referido sistema avaliativo. Trocando em

miúdos, apesar de todo o trabalho empreendido na seleção de construtos para compor os

questionários contextuais e na coleta de dados feita pelos mesmos instrumentos, o que realmente

interessa são as médias das proficiências obtidas nos testes.

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17

Por entendermos que o aprendizado do aluno resulta das condições de escolarização e

das condições socioeconômicas, defendemos que o rendimento do educando não deve ser

interpretado isoladamente. Assim, o trabalho proposto se insere entre os estudos de cunho

internacional e nacional que partem em defesa do estabelecimento da relação entre o desempenho

escolar e as variáveis contextuais. Para o presente estudo, o tratamento articulado das proficiências

com os dados contextuais deve ser um procedimento a ser adotado pelo atual sistema de avaliação

da Educação Básica, já que fornece informações úteis para o alargamento da compreensão dos

problemas que permeiam o universo escolar.

Nesse sentido foi que se desenrolou a dissertação deste tema. Para tanto,

delimitamos a Avaliação Nacional do Rendimento Escolar (Anresc) – uma das avaliações que

compõem o Saeb, mais conhecida como Prova Brasil – como objeto de estudo. No percurso

metodológico que assumimos nesta investigação, dedicamos um grande rigor ao tratamento

dos dados.

Assim, a partir das variáveis referentes aos questionários contextuais destinados à

escola, ao diretor, ao professor e ao aluno, propusemo-nos a: 1) identificar as variáveis do

aluno, do professor, do diretor e da escola que se relacionam significativamente com o

rendimento dos discentes de 5º ano do Ensino Fundamental de escolas da rede pública

municipal do estado do Ceará no teste de Língua Portuguesa da Prova Brasil/2011; 2) elaborar

um modelo linear múltiplo com as variáveis do aprendiz, do docente, do diretor e da escola

como variáveis independentes que expliquem o desempenho dos estudantes no teste de

Língua Portuguesa na quarta edição da Prova Brasil. Para isso, recorremos à regressão linear

múltipla com o auxílio do software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) para

Windows, versão 20.0.

O desenvolvimento desta investigação reveste-se de grande relevância

educacional, em especial, para o grupo de estudos sobre eficácia escolar – movido pelo

interesse de identificar os fatores escolares associados ao desempenho dos alunos –, por fazer

apologia a uma visão diferenciada em torno dos resultados da Prova Brasil, em uma

perspectiva de análise do desempenho escolar (produto) que considera a influência de fatores

de diversas ordens (contexto, processo e insumos). Aliados a uma consistente teorização, os

achados deste trabalho contribuem para ampliar o entendimento acerca dos fatores com poder

de explicação do rendimento escolar.

As evidências deste estudo possuem acentuada relevância para os agentes

educacionais (professores, gestores e formuladores de políticas públicas educacionais), pois

apresentam informações mais detalhadas sobre as características e as práticas intra e

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18

extraescolares que produzem o desempenho da rede pública municipal cearense, sem se

limitarem a um determinado escore.

A pesquisa foi organizada em seis capítulos, incluindo esta Introdução.

No segundo capítulo, intitulado O sistema avaliativo da Educação Básica no

Brasil, relatamos um breve histórico que contempla as primeiras experiências avaliativas de

cunho nacional que corroboraram para a constituição do Saeb, estendendo-se até o ano de

2013. Nele, destinamos uma seção para o detalhamento da Prova Brasil, abrindo espaço para a

explicação da Escala e das Matrizes de Referência adotadas pela citada sistemática de

avaliação. Para aprofundar a discussão, abordamos também a relação existente entre a Prova

Brasil e o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), caracterizando o

encerramento do capítulo.

N o terceiro capítulo, denominado de Fatores com interferência significativa no

desempenho escolar, apresentamos contribuições de renomados estudiosos do campo de

avaliação educacional que atestam a influência dos fatores internos e externos ao contexto

escolar sobre o desempenho acadêmico. Ademais, apresentamos os resultados de alguns estudos

com abordagens, recortes e amostras específicos, mas que possuem a mesma finalidade:

investigar os fatores que produzem efeito no rendimento escolar.

No quarto capítulo, descrevemos os Procedimentos Metodológicos. Mais

precisamente, apresentamos a população do estudo, relatando os passos adotados para a

delimitação da amostra. Em seguida, citamos os instrumentos de medida adotados pelo

Saeb/Prova Brasil que viabilizaram a coleta de dados. A análise delineada no presente

estudo trabalhou com os microdados da Prova Brasil/2011, constituindo-se, portanto, em

dados secundários. Nesse capítulo, atribuímos especial atenção ao detalhamento da

organização dos referidos dados. Por fim, não poderíamos deixar de expor, minuciosamente,

o processo de análise dos dados realizado a partir do tratamento daqueles pertinentes ao

estado do Ceará. Para atingir esse fim, recorremos à regressão linear múltipla com o auxílio

do software SPSS.

No quinto capítulo, trazemos à baila a Apresentação e análise dos resultados.

Mais precisamente, apresentamos o modelo explicativo do desempenho acadêmico em Língua

Portuguesa dos alunos do 5º ano do Ensino Fundamental do estado do Ceará no ano de 2011.

Por oportuno, estabelecemos interlocução com pesquisas que corroboram com os resultados

encontrados.

Finalmente, no sexto capítulo, tecemos as Considerações finais a respeito deste

estudo.

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2 O SISTEMA AVALIATIVO DA EDUCAÇÃO BÁSICA NO BRASIL

No Brasil, a organização de um sistema de avaliação da Educação Básica ocorreu

de modo progressivo. De fato, sua concepção foi impulsionada na década de 1980, quando

fatores de ordem interna e externa convergiram para o interesse pela avaliação. A divulgação de

experiências de diversos países em avaliação, as recomendações acerca da melhoria da

qualidade do ensino promovidas pela Organização das Nações Unidas (ONU) e o aumento de

pesquisas relativas ao efeito e à eficácia escolar estão entre os fatores externos. No plano

interno, destacam-se a rápida expansão do ensino nos anos 1970, a demanda social pela

democratização da educação no processo de redemocratização da sociedade brasileira, o

desenvolvimento de projetos educacionais com financiamento externo e a formação de

profissionais especializados em avaliação educacional e de pesquisadores em educação

(FREITAS, 2013).

Nesse período – década de 1980 –, especiais contribuições foram dadas pela

Avaliação da Educação Rural Básica no Nordeste Brasileiro, a qual tinha como finalidade

estudar o impacto do Programa de Expansão e Melhoria da Educação no Meio Rural

(EDURURAL)1 em três estados do Nordeste (Ceará, Pernambuco e Piauí), nas dimensões de

acesso à escola, eficiência do processo educacional e qualidade da educação. Também era

intenção da referida avaliação treinar pessoal das Secretarias de Educação dos estados

participantes numa metodologia de avaliação que poderia ser utilizada em outros programas. A

avaliação foi realizada por meio do convênio entre a Secretaria de ensino de 1º e 2º graus do

Ministério da Educação (MEC), a Universidade Federal do Ceará (UFC) e a Fundação Cearense

de Pesquisa e Cultura (FCPC), com a participação da Fundação Carlos Chagas (FCC). De 1982

a 1986, a referida avaliação acompanhou a implementação e o desenvolvimento do projeto

EDURURAL2.

Por certo, a Avaliação da Educação Rural Básica no Nordeste teve repercussão

nacional e forneceu subsídios para a proposição de medir o sistema educacional, por meio do

Sistema de Avaliação do Ensino Público de Primeiro Grau (SAEP), criado pelo MEC em 1988

por intermédio da Secretaria Nacional de Educação Básica (SENEB). Nesse mesmo ano, realizou-

-se, nos estados do Paraná e do Rio Grande do Norte, o teste piloto da avaliação. Em 1990, a

1 O programa EDURURAL abrangeu escolas da área rural de todos os estados do Nordeste, para tanto seu

planejamento foi iniciado em 1977, contando com um financiamento resultante do acordo firmado entre o

Ministério da Educação (MEC) e o Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD). 2 Maiores informações estão disponíveis nos Relatórios Técnicos da Avaliação da Educação Rural Básica no

Nordeste Brasileiro.

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realização da avaliação contemplou todos os estados da federação, englobando alunos das então

chamadas 1ª, 3ª, 5ª e 7ª séries3 do Ensino Fundamental.

Por seu turno, o SAEP utilizou os recursos de um convênio firmado entre o Instituto

Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) e o MEC. Esse sistema pretendia ser um

mecanismo de avaliação da educação aplicado em todo o território nacional, ampliando-se, desse

modo, a abrangência da avaliação do Programa EDURURAL.

Mais tarde, em 1991, o SAEP passou a se chamar Sistema Nacional de Avaliação da

Educação Básica (Saeb), adequando-se à nomenclatura sancionada pela Constituição de 1988.

Inicialmente, o Saeb previa trabalhar com as medidas de desempenho e com os resultados das

variáveis contextuais de modo articulado, nestes termos,

O Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb) foi criado em 1990 e,

desde 1995, realiza seu ciclo de avaliação a cada dois anos. O Saeb foi criado tendo

por objetivo central promover uma avaliação externa e em larga escala da educação no

Brasil, visando construir dois tipos de medidas: a primeira refere-se à aprendizagem

dos estudantes e, a segunda, aos fatores de contexto correlacionados com o

desempenho escolar. A implementação da avaliação em larga escala se constituiu com

a intenção de subsidiar os formuladores e executores das ações governamentais na área

educacional em todos os níveis de governo. Com a avaliação pretende-se averiguar a

eficiência dos sistemas no processo de ensino-aprendizagem e, também, a eqüidade da

educação oferecida em todo o país. (INEP, 2006, p. 11).

O Saeb avalia, regularmente, a cada dois anos, os estudantes do ensino regular de

escolas públicas e privadas, urbanas e rurais, matriculados nos 5º e 9º anos do Ensino

Fundamental e no 3º ano do Ensino Médio em Língua Portuguesa e em Matemática. Além

dos testes, são aplicados questionários socioeconômicos aos alunos e a determinados

integrantes da comunidade escolar. O Saeb, com o objetivo proposto de promover a qualidade

da educação, foi alvo de críticas suscitadas por estudiosos da área avaliativa que corroboraram

para a expansão e o aperfeiçoamento desse sistema avaliativo. Como salienta Vianna (2002,

p. 136):

O grande problema do Saeb é que os seus resultados não chegam à escola e nem aos

professores, não gerando, por conseguinte, qualquer impacto no sistema de ensino.

Podem dar margem a pesquisas, muitas de grande sofisticação estatística, e

importantes do ponto de vista científico, cujos resultados não se traduzem em ações

pelos professores.

Em outra situação, Vianna (2003a) torna a analisá-lo e conclui que o sistema, após

anos de levantamento de dados acerca do sistema educacional, não instituiu uma educação de

qualidade no País. Uma das principais limitações do Saeb reside na divulgação das informações.

3 Com a ampliação do Ensino Fundamental para nove anos de duração, a 1ª, 3ª, 5ª e 7ª séries passaram a se

chamar 2º, 4º, 6º e 8º anos, respectivamente.

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Essa constatação é reforçada por Horta Neto (2006), o qual argumenta que a divulgação dos

resultados é uma das fraquezas do Saeb.

A partir de 2005, o Saeb passou a ser constituído pela Avaliação Nacional da

Educação Básica (Aneb) e pela Avaliação Nacional do Rendimento Escolar (Anresc). A Aneb

manteve as características do Saeb, enquanto a Anresc, tipicamente denominada de Prova

Brasil, assumiu novos objetivos. Nessa reestruturação foi conservada a periodicidade bianual.

A descrição da gênese e da evolução do sistema avaliativo da Educação Básica

brasileira, as quais se têm abordado, foi sintetizada por Freitas (2013, p. 72) mediante um

organograma que vai de 1981 a 2011 (figura 1).

Figura 1 – Sistema avaliativo da Educação Básica no Brasil (1981–2011)

Fonte: Extraída de Freitas (2013, p. 72).

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Em 2013, o Saeb foi novamente ampliado a partir da divulgação da Portaria n.º 482,

de 7 de junho de 2013, e passou a incorporar a Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA),

prevista no Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC). A ANA, de caráter

censitário e de realização anual, envolve alunos do 3º ano do Ensino Fundamental das escolas

públicas, com o objetivo de avaliar os níveis de alfabetização e de letramento em Língua

Portuguesa, alfabetização em Matemática e condições de oferta do Ciclo de Alfabetização das

redes públicas. Desse modo, atualmente, o Saeb é composto por três avaliações: a Aneb, a

Anresc/Prova Brasil e a ANA.

Em relação à Prova Brasil, seus objetivos gerais, determinados por meio da

Portaria Ministerial n.º 931, de 2005, no artigo 1º, § 2º, expressam a crescente preocupação

com a qualidade do ensino e com o estabelecimento de uma cultura de avaliação no sistema

educativo:

a) avaliar a qualidade do ensino ministrado nas escolas, de forma que cada

unidade escolar receba o resultado global;

b) contribuir para o desenvolvimento, em todos os níveis educativos, de uma

cultura avaliativa que estimule a melhoria dos padrões de qualidade e eqüidade da

educação brasileira e adequados controles sociais de seus resultados;

c) concorrer para a melhoria da qualidade de ensino, redução das desigualdades e

a democratização da gestão do ensino público nos estabelecimentos oficiais, em

consonância com as metas e políticas estabelecidas pelas diretrizes da educação

nacional. (BRASIL, 2005, p. 17).

A avaliação objeto de estudo tem o propósito de fornecer informações mais

precisas acerca do desempenho de cada escola. Estudo apresentado por Filho, Nuñez e

Ribeiro (2009) explica que a prova foi idealizada para produzir informações sobre o ensino

público oferecido em todos os estados do País. Para tanto, ela conta com a participação de

todas as escolas públicas com mais de 20 alunos matriculados na série avaliada.

Na população a ser avaliada, é utilizado o método censitário, assim, envolve toda

a população escolarizada nos 5º e 9º anos do Ensino Fundamental. Feito isso, é possível “[...]

gerar informações para subsidiar as escolas em seu trabalho pedagógico, além de permitir que

os gestores públicos conheçam a qualidade dos estabelecimentos de ensino que compõem sua

rede, [...] da qual participa todo o universo avaliado” (OLIVEIRA, 2011, p. 111). Quanto ao

objetivo da Prova Brasil, Vieira (2008, p. 116) acrescenta que

[...] é, principalmente, oferecer aos governos estaduais e prefeituras municipais uma

avaliação das escolas de suas redes para que, de posse de informações acerca de

cada uma delas, planejem e implementem políticas públicas e, ainda, possam aplicar

recursos com maior precisão.

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A Prova Brasil surgiu da necessidade de tornar o Sistema de Avaliação da

Educação Básica mais eficiente. Além do mais, o diagnóstico do desempenho do educando

aferido pela Prova Brasil soma-se aos dados do fluxo escolar avaliado pelo Educacenso para o

cálculo do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica)4.

Em tese, essa metodologia é capaz de viabilizar o estreitamento da relação entre

avaliação externa em larga escala e escola, por meio de uma melhor comunicação na

divulgação dos resultados. Tais resultados são passíveis de compreensão a partir da escala5

considerada na avaliação objeto de estudo.

2.1 Prova Brasil: Escala e Matrizes de Referência

Em avaliação educacional, os juízos de valor são expressos de três formas. Pode ser

referido ao critério, pode ser referido à norma e pode ser referido ao crescimento da

aprendizagem. No juízo de valor pertinente ao critério, a comparação é realizada a partir de

referências definidas previamente. Ele possibilita estabelecer diferentes níveis de desempenho

que indicam níveis de aprendizagem para cada aluno. Isso dá subsídio para a criação de uma

escala com níveis de aprendizagem distintos que definem o que se espera do discente em

diferentes fases da vida escolar. No juízo de valor atinente à norma, é realizada uma

comparação entre indivíduos ou instituições pertencentes a um mesmo grupo. Nesse caso em

que a referência é a norma, o juízo de valor produzido é relativo à classificação do indivíduo em

relação aos demais (HORTA NETO, 2010).

Por fim, no juízo de valor concernente ao crescimento da aprendizagem, analisa-

-se a variação do sujeito em relação a um determinado ponto de partida. Nesse caso, se as

referências que serão utilizadas forem definidas com antecedência, esse juízo é

caracterizado como criterial. Mas, se há uma preocupação com a posição relativa entre os

indivíduos, o juízo também pode ser normativo. Mais precisamente, essa última forma

objetiva comparar o desempenho do indivíduo em diversas fases, produzindo juízos de valor

que evidenciem as variações sofridas entre os diversos períodos da avaliação (HORTA

NETO, 2010).

4 O Ideb foi implantado nacionalmente por meio do Decreto n.º 6.094, de 24 de abril de 2007, que dispõe sobre

o Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação com vistas à mobilização social em prol da melhoria

da qualidade da Educação Básica. 5 Por escala entende-se a sequência de números (escalas quantitativas) ou categorias qualitativas (escalas

qualitativas) que indicam os vários graus da magnitude de um traço ou característica. Os escores de um teste

formam uma escala quantitativa.

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Na Prova Brasil, leva-se em consideração tanto o juízo de valor normativo como o

criterial, pois ela estabelece uma comparação dos sujeitos entre si e descreve as habilidades

dos aprendizes demonstradas através do teste, tais habilidades são contempladas na escala de

proficiência dessa avaliação.

A proficiência ou média de desempenho é uma medida teórica que demonstra as

habilidades desenvolvidas pelos discentes. A média de proficiência alcançada por uma

unidade escolar indica o desempenho dos estudantes nas habilidades avaliadas pelos itens6

da prova (INEP, 2011e). Essa média assinala uma posição na escala adotada pela Prova

Brasil. Dito de outro modo, os resultados da escala são apresentados por meio de uma média

de proficiência ou média de desempenho. Na construção dessa escala, não é feita uma

relação direta com a quantidade de acertos na prova, a lógica empregada leva em conta que:

a média de proficiência indica uma posição na escala, e esta posição é interpretada

pedagogicamente. Por meio desta interpretação dos níveis da escala e da localização

da média de desempenho, é possível saber quais competências e habilidades os

alunos já possuem, quais estão desenvolvendo e aquelas a serem alcançadas. (INEP,

2011e, p. 16).

A sistemática avaliativa estudada considera duas escalas, uma para Língua

Portuguesa e outra para Matemática, de modo que cada aluno recebe uma proficiência relativa

à Língua Portuguesa e outra relativa à Matemática. De acordo com as informações

disponibilizadas pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira

(Inep) (2011e, p. 16),

as escalas são compostas por níveis de desempenho, expressos em números que vão

de 0 a 500, e que variam de 25 em 25 pontos. Em cada nível da escala são

distribuídas as habilidades que os alunos demonstraram ter desenvolvido, sendo

ordenadas de acordo com o grau de complexidade.

Por intermédio da escala, é possível verificar o percentual de alunos que

construiu as competências e habilidades requeridas para cada uma das séries avaliadas e que

está em processo de construção do que seria adequado para a série e/ou que está acima do

nível. Com essas informações, a unidade escolar pode verificar se os aprendizes de cada

série desenvolveram as habilidades requeridas para a sua seriação e se existe alguma

porcentagem de educandos abaixo do que é esperado para a série (INEP, 2011e). A escala

“[...] é cumulativa no sentido de que, a cada nível novo, acrescentam-se novas habilidades

e/ou conhecimentos adquiridos pelos respondentes” (KLEIN, 2005, p. 129). Por manter uma

6 Segundo o Glossário de termos técnicos em medidas educacionais, item é a menor unidade independente

de um teste; questão, exercício ou problema de um teste (FUNDAÇÃO CARLOS CHAGAS).

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lógica cumulativa, os níveis das escalas de Matemática (tabela 1) e de Língua Portuguesa

(tabela 2) são considerados tanto no 5º quanto no 9º ano do Ensino Fundamental.

Tabela 1 – Níveis da Escala da Prova Brasil em Matemática

Nível Proficiência

Nível 0 0 a 125

Nível 1 125 a 150

Nível 2 150 a 175

Nível 3 175 a 200

Nível 4 200 a 225

Nível 5 225 a 250

Nível 6 250 a 275

Nível 7 275 a 300

Nível 8 300 a 325

Nível 9 325 a 350

Nível 10 350 a 375

Nível 11 375 a 400

Nível 12 Maior que 400

Fonte: Elaborada a partir dos dados do Inep (2011e).

Apesar de cada escala ser tomada como referência em ambas as séries avaliadas,

na descrição das habilidades correspondentes a cada um dos níveis, as habilidades exigidas

para os alunos do 9º ano são acrescidas.

Tabela 2 – Níveis da Escala da Prova Brasil em Língua Portuguesa

Nível Proficiência

Nível 0 0 a 125

Nível 1 125 a 150

Nível 2 150 a 175

Nível 3 175 a 200

Nível 4 200 a 225

Nível 5 225 a 250

Nível 6 250 a 275

Nível 7 275 a 300

Nível 8 300 a 325

Nível 9 Maior que 325

Fonte: Elaborada a partir dos dados do Inep (2011e).

Cada nível de desempenho dessas escalas corresponde a uma série de

habilidades que diferem de acordo com a disciplina avaliada. Nos documentos oficiais, os

níveis de desempenho da Prova Brasil são expressos em termos numéricos, como é possível

observar nas tabelas 1 e 2. Não obstante, na apresentação do Seminário Aprova Brasil ,

realizado em 2010 em algumas capitais brasileiras7, Francisco Soares (2010) fez referência

7 Belém, Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza, Goiânia, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador, São Luís e

São Paulo.

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a quatro níveis nominais baseados na proficiência obtida na Prova Brasil, a saber: avançado,

adequado, básico e abaixo do básico ou insuficiente.

O nível avançado abrange o aluno que domina a competência completamente e

sabe usá-la para a solução de problemas complexos. O nível adequado classifica o estudante

que demonstra conhecimento dos conteúdos e habilidades esperadas de seu estágio escolar;

assim, na concepção do autor supracitado, o aprendiz que se encontra nesse nível está apto a

continuar os estudos das etapas posteriores de ensino de modo satisfatório. O nível básico,

por sua vez, comporta aquele educando com um domínio parcial da competência. Por fim, o

nível abaixo do básico ou insuficiente é composto pelo discente com conhecimentos

rudimentares da competência, um aluno inadequado para o estágio escolar em que se

encontra e merecedor de atenção especial e imediata da escola, conforme argumenta Soares

(2010).

Os níveis da escala de Matemática, que vão do 0 ao 12, contam com diversas

habilidades, das mais simples, como a capacidade de resolução de problemas de cálculo de área,

baseando-se na contagem de unidades com o apoio de representações gráficas, às mais

complexas, como a capacidade de resolução de problemas envolvendo ângulos utilizando a Lei

Angular de Tales e aplicando o Teorema de Pitágoras.

Do mesmo modo, os níveis da escala de Língua Portuguesa são ordenados das

habilidades mais simples às mais complexas. Assim, o nível inicial, isto é, o nível de 0 a 125,

entre outras habilidades, faz alusão à capacidade de localizar em textos curtos (contos infantis,

histórias em quadrinhos e convites) informações explícitas que completam o enunciado da

questão. O nível mais avançado dessa escala, por sua vez, relaciona-se com as habilidades de

interpretar tabela a partir da comparação entre informações e de identificar informações

explícitas em texto dissertativo-argumentativo de alta complexidade linguística, por exemplo.

Os conhecimentos requeridos no teste da Prova Brasil são avaliados com base nas

Matrizes de Referência, que são compostas por um

[...] conjunto de competências e habilidades comuns para as séries e disciplinas

avaliadas em todo o território nacional e que podem ser medidas por meio dos

testes utilizados na Prova Brasil. É importante ressaltar que as Matrizes de

Referência não devem ser confundidas com as propostas curriculares das redes ou

das escolas, pois não englobam todo o currículo escolar. (INEP, 2011e, p. 7).

As Matrizes de Referência foram elaboradas pelo Inep a partir dos Parâmetros

Curriculares Nacionais (PCN), dos currículos das Secretarias Estaduais de Educação e de

algumas redes municipais para as séries e disciplinas avaliadas e da consulta aos livros didáticos

mais utilizados por professores das redes de ensino (INEP, 2011e, p. 7). Como o nome já

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pressupõe, elas têm o propósito de servir de referência para a formulação dos itens do teste.

Nessa direção,

[...] uma matriz de referência para a avaliação não pretende abranger todas as

experiências de aprendizagem e atividades promovidas pela escola para a

formação dos seus alunos e muito menos prescrever como elas devem ser

realizadas. Pretende, sim, fornecer indicações do que se pretende valorizar no

exame e servir de orientação para a elaboração dos itens de teste nas diferentes

áreas do conhecimento. (FONTANIVE, 2005, p. 142).

Ambas as matrizes, disponíveis para consulta no site do Inep, estão diretamente

vinculadas ao currículo escolar, na verdade, elas derivam dele e representam mais um dos

novos elementos que a Prova Brasil traz para o contexto escolar. A aplicação da Prova

Brasil em todo o território brasileiro tornou o sistema escolar sujeito a padrões externos de

julgamento, fato que provoca um determinado incômodo em todos aqueles que dele

participam.

Ao se pensar sobre a significação da palavra incomodação, nota-se que, no

contexto especificado, ela pode ter uma conotação positiva ou negativa. A configuração

positiva reside no fato de que a avaliação externa promove, ou deveria promover, no

ambiente escolar uma inquietação, uma saída da acomodação, um planejamento de ações a

partir das informações obtidas. Essa configuração corrobora a ideia de que os “resultados de

avaliação externa não podem ser ignorados pela escola. É preciso fazer com que eles gerem

respostas, que tenham influência direta nas ações que se realizam na sala de aula todos os

dias” (CAFIERO; ROCHA, 2008, p. 97). Por seu turno, a dimensão negativa desse termo

pode estar na formação de um clima tenso no interior da instituição educacional com

gestores, professores e alunos irritados com os resultados obtidos.

Com efeito, o tema é inquietante e merece um tratamento mais aprofundado, com

o propósito de saber os impactos dos resultados apresentados pela Prova Brasil na unidade

escolar, é o que analisamos na próxima subseção deste trabalho.

2.2 Impactos dos resultados da Prova Brasil na unidade escolar

No ramo da pesquisa científica, não é possível resolver um problema de pesquisa

sem obter as informações da realidade empírica. Na avaliação, não é diferente, pois não é

possível caracterizar o desempenho de um aluno sem levantar as informações necessárias para

tanto. Logo, a informação torna-se um elemento crucial tanto para a pesquisa quanto para a

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avaliação. Nas páginas iniciais de seu livro: Análise Multivariada de Dados, Hair et al. (2009,

p. 23) alegam que

[...] a informação disponível na tomada de decisões explodiu nos últimos anos e

irá continuar assim no futuro, provavelmente até mais rapidamente. Até

recentemente, muito dessa informação simplesmente desapareceria. Ou não era

coletada, ou era descartada. Hoje, essa informação está sendo coletada e

armazenada em bancos de dados e está disponível para ser feita a ‘garimpagem’

para fins de melhoria na tomada de decisões. Parte dessa informação pode ser

analisada e compreendida com estatística simples, mas uma grande porção

demanda técnicas estatísticas multivariadas mais complexas para converter tais

dados em conhecimento.

Em adendo às considerações de Hair et al. (2009), é valido esclarecer a

diferença entre informação e dado. Dados “são sinais que não foram processados,

correlacionados, integrados, avaliados ou interpretados de qualquer forma e, por sua vez,

representam a matéria-prima a ser utilizada na produção de informações” (RUSSO, 2010, p.

15). Dito de outro modo, eles consistem em “um conjunto de registros qualitativos ou

quantitativos conhecido que organizado, agrupado, categorizado e padronizado

adequadamente transforma-se em informação” (MIRANDA, 1999, p. 285).

Quando se transformam dados em um elemento decisório, eles se convertem em

informação. Desse modo, a partir da transformação de dados em informações, mediante

modelos matemáticos, é possível fazer inferências acerca do objeto estudado. Assim, a

noção de dado conduz ao entendimento do que representa informação. Para Miranda (1999),

as informações consistem em dados organizados significativamente, de modo a fornecer

subsídios para a tomada de decisão.

Logo, deduz-se que a finalidade das informações é fornecer base para a tomada

de decisões, última etapa da avaliação. Com efeito, para Ballester e Pitaluga (2003), a

avaliação é formada por três etapas sucessivas que se inicia com a coleta de dados, passa

pela análise e conclusão dessas informações e termina com a tomada de decisões a partir do

que foi constatado.

Desde a sua primeira edição, em 2005, a Prova Brasil tem gerado um acervo de

informações a respeito do ensino ministrado nas escolas brasileiras. A cada dois anos, são

investigadas em torno de 55.924 escolas públicas das redes estaduais, municipais e federais,

da área rural e urbana. A periodicidade cumprida por esse procedimento avaliativo parece

atender ao que foi proposto por Tyler na década de 1940. Para o referido autor, a avaliação

deve verificar a eficiência da escola, regularmente. Assim, é capaz de fornecer subsídios

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para a análise crítica do objeto avaliado – a escola – com base em dados empíricos

(TYLER, 1942).

Ora, que a Prova Brasil avalia de modo permanente e periódico não restam

dúvidas. Entretanto, resta saber se ela tem contribuído para a análise crítica e para o

aprimoramento do que está sendo avaliado; resta saber os impactos dos resultados da Prova

Brasil na unidade escolar.

Na verdade, os impactos dos resultados da Prova Brasil para a melhoria da

aprendizagem têm se revelado baixos, possibilitando o surgimento das mesmas críticas

feitas ao Saeb. Os gastos públicos para se obter essas informações não são compensados,

pois não promovem os devidos efeitos na escola. Nesse contexto, as informações coletadas

não representam elementos promotores de mudanças. Para Vianna (2000), uma avaliação

deve produzir impactos traduzidos por transformações no pensar, de tal forma que a

disseminação dos resultados e o impacto são aspectos intervenientes da qualidade da

avaliação. Com efeito,

os resultados das avaliações não devem ser usados única e exclusivamente para

traduzir um certo desempenho escolar. A sua utilização implica servir de forma

positiva na definição de novas políticas públicas, de projetos de implantação e

modificação de currículos, de programas de formação continuada dos docentes e,

de maneira decisiva, na definição de elementos para a tomada de decisões que

visem a provocar um impacto, ou seja, mudanças no pensar e no agir dos

integrantes do sistema. (VIANNA, 2003c, p. 26).

A utilidade reconhecida como um dos critérios norteadores de todo e qualquer

procedimento avaliativo é efetivada quando a avaliação fornece informações úteis para o

aprimoramento de algo, por exemplo, pode contribuir, de modo positivo, para a modificação

do currículo, como foi salientado por Vianna (2003c).

Contudo, em exames padronizados, como é o caso da Prova Brasil, não é bem

nesse sentido que a modificação do currículo ocorre. Mais precisamente, o que se dá é a

adequação do currículo à sistemática avaliativa. Dias Sobrinho (2010, p. 217) assinala que

“exames em larga escala e com importantes funções regulatórias, sempre que repetidos por

vários anos, consolidam um padrão curricular e acabam sendo tomados como modelos”.

Nessa esteira, o ajuste do currículo à Prova Brasil, do modo como foi constatado

no estudo de Oliveira (2011), soa como uma tomada de decisão equivocada. Não obstante, a

adequação do currículo ao teste não é um efeito exclusivo da Prova Brasil, mas é um efeito

colateral de exames externos relevantes para o meio escolar.

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É curioso citar que, na obra intitulada The Death and Life of the Great American

School System: how testing and choice are undermining education, Diane Ravitch (2010)

alega que o maior problema do exame padronizado consiste no fato de ele se tornar mais

importante do que o próprio currículo e de se tornar um fim em si mesmo.

A análise anterior faz alusão ao sistema escolar americano, todavia não é

diferente no sistema educacional brasileiro, uma vez que os procedimentos avaliativos

acabam determinando o currículo. Não raro, os conteúdos avaliados pela sistemática

avaliativa externa são visados pela escola de modo tão agressivo a ponto de conhecimentos

regionais de grande relevância para o entendimento do lugar onde o aluno vive serem

excluídos dos conteúdos escolares. A lógica preponderante indica que não faz sentido eles

continuarem ali, já que não são contemplados pela avaliação.

Considerando a relação entre currículo e avaliação, Bonamino e Sousa (2012)

distinguiram três gerações de Avaliação da Educação Básica no Brasil, de sorte que cada

uma delas possui determinadas consequências para o currículo. A primeira destaca a

avaliação de cunho diagnóstico da qualidade educacional, “sem atribuição de consequências

diretas para as escolas e para o currículo” (BONAMINO; SOUSA, 2012, p. 375). A segunda

é caracterizada por realizar a divulgação pública e a devolução dos resultados para as

escolas e a comunidade em geral. Por seu turno, a terceira geração faz alusão às avaliações

que referenciam políticas de responsabilização; em função dos resultados alcançados, são

geradas sanções ou recompensas.

Como é possível perceber, a segunda e terceira gerações promovem políticas de

responsabilização traduzidas por meio da atribuição de consequências aos agentes escolares.

Além disso, as autoras analisam que o desenho introduzido a partir da segunda geração

produz “indicadores capazes de fornecer informações a respeito dos componentes do

currículo que estão chegando aos alunos” (BONAMINO; SOUSA, 2012, p. 386). As

avaliações pertencentes à segunda geração, assim, “parecem estar reforçando o alinhamento,

nas escolas e secretarias de educação, entre o currículo ensinado e o currículo avaliado”

(BONAMINO; SOUSA, 2012, p. 386).

Em tese, avaliações em larga escala verificam aquele desempenho escolar resultante

dos processos educacionais – norteados pelo currículo – ocorridos ao longo do ano. Todavia,

vem ocorrendo uma reconfiguração desse ciclo. Mais precisamente, os processos educacionais

são pensados e executados considerando o que se é exigido nos exames externos, o que, por sua

vez, resulta no desempenho do aluno. Na prática, o currículo ensinado tenta entrar nos moldes

do currículo avaliado.

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A redução curricular pode ser observada ainda em estudos como o de Machado

(2012), que retrata a relação entre a avaliação externa e a gestão escolar no que se refere ao uso

dos resultados. Nesse estudo, também é possível observar a relação que se faz entre os resultados

adquiridos e as iniciativas que sugerem a redução do currículo, favorecendo as disciplinas e

conteúdos pertinentes às avaliações externas, a exemplo da Prova Brasil. Ao final desta subseção,

perceberemos facilmente que os resultados da Prova Brasil têm seus efeitos no meio escolar.

Difícil será chegar à conclusão de que tais efeitos, na maioria dos casos, não estão em prol da

melhoria da aprendizagem dos avaliados.

Outro trabalho desenvolvido com o objetivo de investigar os impactos dos

resultados da Prova Brasil na gestão do processo de ensino-aprendizagem de uma escola

municipal do estado da Bahia, entre 2007 e 2009, revelou a complexa relação entre as

proposições das novas políticas públicas e a respectiva materialização delas nos espaços

escolares. Os resultados da pesquisa realizada por Melo (2012) indicam que essa cultura

avaliativa tem provocado impactos nas questões pedagógicas e nas questões administrativas.

Uma das constatações é que se, de um lado, a avaliação externa gera informações para subsidiar

o trabalho pedagógico, de outro, instaura um clima de competição ao divulgar os resultados do

Ideb de cada escola. Outra evidência é que a avaliação supracitada amplia a possibilidade de

estabelecer o diálogo para a concretização do regime de colaboração entre os sistemas de

ensino.

Também chamam a atenção os apontamentos de uma pesquisa desenvolvida por

Oliveira (2011), com o propósito de investigar em que medida os resultados da segunda edição da

Prova Brasil auxiliaram a Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (SEE/DF) no

processo de regulação da rede de ensino, com vistas à melhoria da qualidade do ensino nos anos

iniciais do Ensino Fundamental. De acordo com os resultados obtidos nessa investigação, a

avaliação ainda não é um subsídio para a gestão realizada pela SEE/DF. A estratégia de

disseminação da Prova Brasil pelo Inep foi apontada como inadequada e insuficiente, pois

promove rankings e deixa gestores e educadores com dúvidas quanto à utilização das informações

produzidas pela Prova Brasil.

Nessa esteira, em virtude disso, nas atividades desenvolvidas no âmbito da

secretaria estudada, há o predomínio do controle das médias obtidas na referida avaliação e das

metas do Ideb, estimulando a competitividade entre as escolas e responsabilizando-as pela

melhoria da qualidade. Em face da pressão sentida, a equipe escolar tende a padronizar o

ensino, com o intuito de preparar os estudantes para o teste.

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Direta e indiretamente, ambas as pesquisas tratam dos impactos dos resultados

da Prova Brasil, que, como é possível perceber, nem sempre estão direcionadas para a

melhoria da aprendizagem. Outro ponto em comum é a referência feita ao Ideb, indicador

implantado no território nacional por meio do Decreto 6.094, de 24 de abril de 2007, que

dispõe sobre o Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação com vistas à

mobilização social em prol da melhoria da qualidade da Educação Básica. Nos termos do

art. 3º do mencionado decreto,

a qualidade da educação básica será aferida, objetivamente, com base no IDEB,

calculado e divulgado periodicamente pelo INEP, a partir dos dados sobre

rendimento escolar, combinados com o desempenho dos alunos, constantes do censo

escolar e do Sistema de Avaliação da Educação Básica – SAEB, composto pela

Avaliação Nacional da Educação Básica – ANEB e a Avaliação Nacional do

Rendimento Escolar (Prova Brasil). (BRASIL, 2007a).

Conforme o site oficial do Inep (2011c), a ideia do Ideb de reunir os conceitos

de médias de desempenho nas avaliações e de fluxo escolar em um indicador representa

uma iniciativa pioneira no cenário educacional brasileiro. A série histórica de resultados

do Ideb se inicia em 2005, a partir de onde foram estabelecidas metas bienais de qualidade

a serem atingidas por escolas, municípios e unidades da federação (tabela 3).

Tabela 3 – Metas nacionais projetadas pelo Ideb para os anos iniciais do

Ensino Fundamental

Ano Ideb observado Metas nacionais do Ideb

2005 3,8 -

2007 4,2 3,9

2009 4,6 4,2

2011 5,0 4,6

2013 - 4,9

2021 - 6,0

Fonte: Elaborada a partir dos dados do Inep/Ideb (2005-2021).

Cientes dessas metas, cada instância deve evoluir de forma a contribuir para que

o Brasil atinja o patamar educacional da média dos países da Organização para Cooperação

e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Isso significa progredir da média nacional (3,8)

que foi registrada em 2005, na primeira fase do Ensino Fundamental, para uma média igual

a 6,0 em 2021.

Dada a sua relevância como indicador de qualidade na Educação Básica, o Ideb

está entre uma das ações integrantes do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE). Esse

plano é constituído por 30 ações que aparecem no site do MEC de forma individualizada,

encontrando-se justapostas, sem nenhum critério de agrupamento. No que se refere aos níveis

escolares, a Educação Básica está contemplada com 17 ações, sendo 12 em caráter global e 5

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de ordem específica aos níveis de ensino. Das ações que incidem globalmente sobre a

Educação Básica, situam-se o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da

Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) e o Plano de

Metas do PDE–Ideb (SAVIANI, 2007).

Nessa direção, o livro intitulado O plano de desenvolvimento da educação:

razões, princípios e programas, elaborado pelo MEC em 2007, cita a preocupação que

conduziu a criação do Ideb. De acordo com esse material,

são graves os dados relativos à aprendizagem, mas não se pode esquecer que são

igualmente preocupantes as altas taxas de evasão e repetência. A divulgação, por

escola, dos dados relativos ao desempenho médio dos alunos poderia ensejar um

movimento de retenção, visando à melhoria do indicador de qualidade relativo ao

desempenho, o que prejudicaria ainda mais o fluxo. A avaliação poderia, no

limite, produzir efeitos contrários aos pretendidos. O PDE partiu do diagnóstico de

que a ‘indústria da aprovação automática’ é tão perniciosa quanto a ‘indústria da

repetência’. Dessa preocupação nasceu a idéia de combinar os resultados de

rendimento escolar (fluxo apurado pelo censo escolar) num único indicador de

qualidade: o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB). (BRASIL,

2007b, p. 20-21).

Nesse sentido, o indicador sobre o qual ora discorremos foi pensado de modo a

equilibrar a aprendizagem traduzida no desempenho dos alunos (em Língua Portuguesa e

em Matemática) e o fluxo escolar, também denominado de rendimento escolar. Na

verdade, ele é calculado a partir das seguintes informações: taxa de aprovação e médias de

desempenho em Língua Portuguesa e em Matemática. Os dados sobre aprovação escolar

são obtidos no Censo Escolar8, já as médias de desempenho são obtidas por meio das

avaliações realizadas pelo Inep a cada dois anos: o Saeb e a Prova Brasil.

Mais precisamente, a forma geral do Ideb é dada por:

IDEBji = Nji Pji

Onde:

i = ano do exame (Saeb e Prova Brasil) e do Censo Escolar;

8 O Censo Escolar é um levantamento de dados estatístico-educacionais de âmbito nacional realizado

anualmente sob a coordenação do Inep. Conta com a colaboração das secretarias estaduais e municipais de

Educação e com a participação de todas as escolas públicas e privadas do País. Trata-se do principal

instrumento de coleta de informações da Educação Básica. Coleta dados sobre estabelecimentos,

matrículas, funções docentes, movimento e rendimento escolar. Essas informações são utilizadas para

traçar um panorama nacional da Educação Básica e servem de referência para a formulação de políticas

públicas e execução de programas na área da educação, incluindo os de transferência de recursos públicos,

como merenda e transporte escolar, distribuição de livros e uniformes, implantação de bibliotecas,

instalação de energia elétrica, Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) e Fundo de Manutenção e

Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb). Além

disso, os resultados obtidos no Censo Escolar sobre o rendimento (aprovação e reprovação) e movimento

(abandono) escolar dos alunos do Ensino Fundamental e Médio são utilizados para o cálculo do Ideb

(INEP, 2011a).

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Nji = média da Proficiência em Língua Portuguesa e em Matemática, padronizada

para um indicador entre 0 e 10, dos alunos da unidade j, obtida em determinada

edição do exame realizado ao final da etapa de ensino;

Pji = indicador de rendimento baseado na taxa de aprovação da etapa de

ensino dos educandos da unidade (FERNANDES, 2007).

Em função do exposto, é possível afirmar que o índice supracitado representa um

avanço importante, pois combina os dados do rendimento do aprendiz com os dados da evasão e

da repetência e possibilita aferir, por um padrão comum nacional, os resultados da

aprendizagem de cada estudante, em cada unidade de ensino (SAVIANI, 2007). Em que pese à

relevância desse indicador para a qualidade da Educação Básica, como observa Villas Boas

(2008, p. 19), “avaliar é necessário. Ter indicadores de avaliação que apontem a situação de

cada aluno, de cada escola e de cada município é fundamental. Mas o principal objetivo disso é

ter como foco a aprendizagem”.

De todo modo, é preciso atentar para as implicações desse índice para a

educação. Uma das implicações pode ser encontrada em Villas Boas (2008, p. 19):

[...] a partir da criação do Ideb, tanto em nível federal quanto nos estados e

municípios têm sido criados mecanismos para evitar a repetência. Mas o que se

observa é o uso insistente das palavras ‘repetência’ e ‘reprovação’, dando a

impressão de que, se os alunos obtiverem nota que garanta sua aprovação, tudo

estará resolvido. Não se têm observado ações voltadas para a ‘aprendizagem’.

Parece estar mantida a concepção tradicional de avaliação, atrelada à aprovação e

à reprovação dos alunos.

A tentativa de driblar a repetência que atua negativamente na

operacionalização do Ideb desponta como um efeito colateral desse indicador. Como não é

de se estranhar, a especulação da mídia em torno desse índice é intensa, de modo

semelhante ao que ocorre com os resultados do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem)

e do Programme for International Student Assessment (Pisa).

Como nos mostra Villas Boas (2008), os primeiros resultados do Ideb

produziram um ranqueamento das escolas, elogiando as primeiras colocadas e

desqualificando as últimas. A respeito do Ideb, cabe mencionar que é uma avaliação

somativa que tem a finalidade de realizar o balanço das aprendizagens em um determinado

período de tempo. Entretanto, a autora enfatiza que é preciso pensar o que deve ser feito

com os resultados obtidos. Se houver uma combinação de tais indicadores com aqueles da

avaliação conduzida diariamente na escola, os resultados do Ideb podem contribuir para

que a avaliação formativa seja mais significativa (VILLAS BOAS, 2008).

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Apesar de reconhecer a sua relevância para o monitoramento da qualidade da

educação, Vidal e Vieira (2011) salientam que a simples existência do Ideb não assegura a

utilização desse indicador, nem muito menos o compromisso de melhorias. Sobre isso, é

interessante notar ainda que o Decreto 6.094, de 24 de abril de 2007, que instituiu o Ideb no

território nacional, expressa claramente a intenção de aferir a qualidade da Educação Básica.

Não obstante, apesar de expressar, por diversas vezes, a preocupação em promover a melhoria

da qualidade da Educação Básica, em nenhum momento o referido documento explicita o que

vem a ser essa tão propalada qualidade.

Ao relacionar Ideb e qualidade da educação, Oliveira (2007, p. 33) aponta uma

deficiência ao afirmar “que, se passamos a considerar como um indicador de qualidade da

educação apenas resultados de produto, difundimos uma idéia de que os processos educativos

não são importantes”. Some-se à análise de Oliveira as considerações de Minhoto (2013, p.

140), que atenta para a complexidade dos fatores associados à definição da qualidade da

educação:

[...] é possível colocar em xeque a racionalidade de recentes intervenções públicas

que buscam induzir e incrementar a qualidade da educação, bem como

responsabilizar seus agentes, por meio do estabelecimento de metas e da

elaboração e divulgação de indicadores educacionais extremamente simples, que

relacionam tão somente os resultados das provas externas ao fluxo escolar. O

Estado brasileiro tem insistido em utilizar tecnologias que apontam

exclusivamente para um ‘quantum’ abstrato e simplista de qualidade, mostrando

apenas parte da realidade e tomando-a pelo todo.

Nesse sentido, faz-se necessário repor o conceito de avaliação como relação entre

fatores, e não como aferição de um único fator, o desempenho do aluno. Em resumo, é preciso

criar a cultura de avaliar a qualidade dos sistemas de ensino, levando em consideração um

número maior de variáveis, sem se limitar àquela gerada pela boa aferição do que os discentes

sabem e são capazes de fazer (MINHOTO, 2013).

Em virtude disso foi que se escolheu a Prova Brasil como objeto de estudo em

uma perspectiva de análise do desempenho escolar (produto) que considera a influência de

fatores de diversas ordens (contexto, processo e insumos). Desse modo, desenvolvemos a

dissertação desse tema, pois, além do aprendizado do educando em Língua Portuguesa e

em Matemática, o instrumental utilizado na Prova Brasil investiga as condições de

qualidade da escolarização e as condições extraescolares intervenientes na aprendizagem

que corroboram para o sucesso e para o fracasso escolar.

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3 VARIÁVEIS COM INTERFERÊNCIA SIGNIFICATIVA NO DESEMPENHO

ESCOLAR

Tomando como base os documentos publicados na década de 1990 relativos ao

Saeb, Gatti (2014) sinaliza que o Saeb é formado por dois eixos. Um dos eixos está

relacionado ao acesso ao ensino básico, mais precisamente, refere-se ao atendimento à

demanda (taxas de acesso e de escolarização) e à eficiência (taxas de produtividade, de

transição e de eficiência interna). O outro eixo é referente à qualidade atinente ao produto, ao

contexto, ao processo e aos insumos9.

Nessa direção, a dimensão do produto representa o desempenho do aluno na

aprendizagem de conteúdos e no desenvolvimento de habilidades e competências. O contexto

diz respeito ao nível socioeconômico dos discentes, aos hábitos de estudo, ao perfil e

condições de trabalho dos docentes e diretores, ao tipo de escola, ao grau de autonomia da

unidade escolar e à matriz organizacional dessa instituição. A dimensão do processo engloba

o planejamento do ensino e da escola, o projeto pedagógico, a utilização do tempo escolar e as

estratégias de ensino. E os insumos compreendem a infraestrutura, o espaço físico, as

instalações, os equipamentos, os recursos e os materiais didáticos (GATTI, 2014).

Na coleta de dados desse sistema avaliativo, são utilizados questionários

destinados a quatro públicos (alunos, professores, diretores e escolas). Conforme Locatelli

(2002, p. 11), no instrumento do educando, privilegiou-se “[...] a caracterização

sociodemográfica, o capital cultural, o capital social, a motivação e autoestima, as práticas de

estudos e a trajetória escolar”.

Nos instrumentos direcionados ao docente, coletam-se informações acerca da “[...]

caracterização sociodemográfica dos professores, a formação, a experiência profissional, as

condições de trabalho, o estilo pedagógico e a expectativa destes em relação aos alunos”

(LOCATELLI, 2002, p. 10).

Nos questionários da escola, do diretor e do professor, abordam-se os aspectos

relativos ao contexto escolar, são eles: caracterização sociodemográfica do diretor; formação,

experiência e liderança do diretor; condições de trabalho do diretor e da equipe; trabalho

colaborativo; organização do ensino e políticas de promoção; clima acadêmico; clima

disciplinar; recursos pedagógicos; situação das instalações e equipamentos e atividades

extracurriculares (INEP, 2001).

9 A ideia da avaliação do contexto, dos insumos, do processo e do produto foi formulada por Guba, Hammond,

Provus, Stufflebeam, entre outros.

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Certamente, os dados levantados por meio desses questionários representam um

verdadeiro acervo de informações que podem servir de subsídios para a avaliação das políticas

educacionais. Dito de outro modo, além do desempenho escolar, o Saeb “[...] verifica outras

variáveis que se associam e condicionam o rendimento escolar” (VIANNA, 1990, p. 99).

A partir da análise das variáveis que atualmente compõem os instrumentos

contextuais aplicados pelos Saeb, adaptamos o quadro apresentado por Locatelli em 2001, no

Seminário Experiências em Sistemas Estaduais de Avaliação10

(quadro 1).

Quadro 1 – Construtos privilegiados pelos questionários contextuais do Saeb

Questionário Construtos

Aluno

Caracterização socioeconômica (indicadores de renda familiar, educação dos pais

ou responsáveis)

Caracterização demográfica (idade, etnia, tamanho da família e condições de

moradia)

Capital cultural

Apoio familiar à escolarização (capital social mobilizado pela família)

Motivação e autoestima

Hábitos de estudo

Trajetória escolar (distorção idade–série, repetência, abandono da escola,

conciliação trabalho e estudo)

Professor

Caracterização socioeconômica do professor

Caracterização demográfica do professor (idade, etnia)

Formação do professor (inicial e continuada)

Experiência do professor

Condições de trabalho e satisfação profissional do professor

Clima disciplinar

Clima acadêmico

Estilo pedagógico

Expectativas do professor em relação ao aluno

Trabalho colaborativo do corpo docente

Duração da jornada de trabalho

Diretor

Caracterização socioeconômica do diretor

Caracterização demográfica do diretor (idade, etnia)

Experiência do diretor

Estilo de gestão

Liderança da direção

Clima disciplinar

Clima acadêmico

Duração da jornada de trabalho

Escola

Relação escola–família

Política de avaliação da escola

Porte da escola

Conservação das instalações físicas

Equipamentos pedagógicos

Recursos financeiros

Recursos e materiais didáticos

Condições ambientais

Condições de acessibilidade

Fonte: Adaptado de Locatelli (2001).

10

O Seminário Experiências em Sistemas Estaduais de Avaliação, realizado em 2001 na cidade de Recife (PE), foi

promovido pela Secretaria de Educação e Cultura do Estado de Pernambuco e UNESCO, com o apoio da Diretoria

de Avaliação da Educação Básica, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais – DAEB/INEP.

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38

A utilização desses questionários foi adotada logo no primeiro ciclo do Saeb, ou

seja, em 1990. As variáveis externas ao âmbito escolar passaram a integrar tais instrumentos a

partir do terceiro ciclo do Saeb, isto é, desde a edição de 1995. Em uma entrevista concedida à

Coordenação de Análises e Publicações (CAP) do Centro de Políticas Públicas e Avaliação da

Educação (CAEd), a pesquisadora Alicia Bonamino (2014) descreveu com maestria o que a

referida adoção representou:

[...] no terceiro ciclo do Saeb foram utilizados questionários contextuais

destinados aos estudantes, o que representa um avanço já que os ciclos

anteriores tendiam a valorizar apenas o papel das variáveis escolares,

subestimando, portanto, a importância da dimensão socioeconômica e cultural

da vida do aluno e sua relação com o desempenho escolar. O Saeb 1995

produziu uma ruptura positiva com os ciclos anteriores ao voltar sua atenção

para os fatores externos que influenciam o desempenho escolar, e manteve a

ênfase na importância dos processos internos da escola sobre os resultados dos

alunos.

Isso posto, autores como Locatelli (2001) consideram que o Saeb está bem

organizado para responder questões acerca do desempenho, assim como para auxiliar na

construção de modelos explicativos da relação entre desempenho acadêmico e contexto

escolar e familiar do aluno. Considerando o posicionamento de Bonamino (2014) e de

Locatelli (2001), a configuração do Saeb – em termos ideais – está de acordo com o que foi

expresso por Vianna (1990, p. 99):

O desempenho dos estudantes, em pesquisas da qualidade da educação é melhor

compreendido e interpretado quando se levantam informações sobre o tipo de ensino

que recebem, os procedimentos que vivenciam em sala de aula e no colégio, e ainda

sobre as características ambientais da família, que determinam o seu

comportamento.

No que atine às avaliações nacionais em larga escala, é válido considerar o

argumento citado por Vianna (1990), que demonstra a inter-relação dos elementos

constituintes do processo de ensino e de aprendizagem. Nessa linha, a análise do desempenho

escolar deve considerar a influência de fatores intra e extraescolares.

No contexto educacional brasileiro, o campo de estudo relativo aos fatores intra e

extraescolares associados ao desempenho escolar tem recebido as contribuições de diversos

pesquisadores. Entre esses aportes, encontramos o modelo conceitual dos fatores intra e

extraescolares vinculados ao rendimento escolar elaborado por Soares (2004), conforme se

pode visualizar na figura adiante.

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39

Figura 2 – Modelo conceitual dos fatores intra e extraescolares associados ao desempenho escolar

Fonte: Extraída de Soares (2004, p. 85).

No modelo, as variáveis relativas ao aluno e à família dele estão situadas no

primeiro plano. O segundo plano é constituído pelas variáveis escolares e o último pelas

variáveis relativas às estruturas sociais que estão no entorno da escola. Apesar da apresentação

em três planos, para Soares (2004, p. 85), “a divisão dos fatores em blocos [...] não deve ser

vista como evidência de que se trata de áreas estanques ou dotadas de grande homogeneidade.

Como é freqüente em educação, os construtos se inter-relacionam em sua definição e

ocorrência”.

O reconhecimento da interferência das variáveis internas e externas ao contexto

escolar no desempenho acadêmico tem fomentado o desenvolvimento de uma variedade de

estudos com abordagens, recortes e amostras específicos, a despeito de possuírem o propósito

comum de desvelar quais são esses fatores. A identificação desses fatores permite que os

agentes educacionais tenham mais elementos para avançar na busca da melhoria dos

resultados escolares.

3.1 Variáveis intraescolares

Uma das vantagens advindas da cristalização dos sistemas avaliativos trata-se

da obtenção de inúmeros dados concernentes às redes de ensino e ao público atendido. O

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40

acesso a esses dados tem possibilitado ao pesquisador obter – por meio de métodos

quantitativos – as evidências necessárias de que o rendimento escolar resulta da influência

de diversas variáveis. Tais evidências são úteis para validar os postulados dos estudiosos

que defendem essa tese, como é o caso de Parlett e Hamilton (1982, p. 40), para eles,

o meio de aprendizagem representa um complexo de variáveis culturais, sociais,

institucionais e psicológicas. Estas interagem de forma complicada, produzindo em

cada sala de aula ou em cada curso um arranjo único de circunstâncias, pressões,

hábitos, opiniões e estilos de trabalho, o qual influencia o ensino e a aprendizagem

que lá se realizam.

Considerar o meio de aprendizagem é uma das preocupações da avaliação

iluminativa, esse conceito “[...] é necessário para analisar a interdependência entre a

aprendizagem e o ensino e para relacionar a organização e as práticas instrucionais com o

desempenho dos alunos a curto e longo prazo” (PARLETT; HAMILTON, 1982, p. 41). A

perspectiva ora defendida insere-se na proposta inovadora da avaliação iluminativa, que está

atenta a um complexo conjunto de questões de modo a englobar o todo.

Nesse entendimento, o desenvolvimento intelectual do aprendiz não pode ser

compreendido de modo isolado, mas dentro do contexto escolar (PARLETT;

HAMILTON, 1982). Não foi à toa que Ferrão et al. (2001) preocuparam-se em identificar

os fatores associados ao desempenho escolar e à eficiência educacional. Para tanto, os

pesquisadores aplicaram modelos de regressão multinível aos dados do quinto ciclo de

avaliação do Saeb relativos ao ano de 1999. Na seleção das variáveis explicativas, além

das variáveis relativas ao aluno, à escola/turma e ao professor, recorreram ao estudo de

Sammons, Hillman e Mortimore (1995), que trata de onze fatores-chave relacionados ao

sucesso escolar. Os autores chegaram a esses fatores a partir de uma revisão de

publicações na área.

Como conclui Sammons (2008), a descrição desses fatores tem o propósito de

fornecer um background aos interessados na promoção da eficácia e do melhoramento

escolar. São eles:

1. Liderança profissional;

2. Objetivos e visões compartilhados;

3. Ambiente de aprendizagem;

4. Concentração no ensino e na aprendizagem;

5. Ensino e objetivos claros;

6. Altas expectativas;

7. Incentivo positivo;

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41

8. Monitoramento do progresso;

9. Direitos e responsabilidades do aluno;

10. Parceria casa–escola;

11. Organização orientada à aprendizagem.

Estudos dessa ordem são conduzidos por dois grandes objetivos, o primeiro é

estimar a magnitude dos efeitos escolares, analisando suas propriedades científicas; já o

segundo é identificar os fatores da sala de aula, da escola e do contexto, que fazem com que

uma escola seja eficaz (TORRECILLA, 2003). Em linhas gerais, tais investigações fazem

parte do campo da pesquisa em eficácia escolar, catalisador do interesse de pesquisadores

estrangeiros e brasileiros. Sobre isso, como refere Torrecilla (2008), o segundo objetivo

ganha mais ênfase entre pesquisadores ibero-americanos. Nesse sentido, ao pressupor a

existência de efeitos escolares, os estudiosos concentram suas forças na determinação dos

fatores associados.

A literatura especializada sobre eficácia escolar desenvolvida na América Ibérica

agrupa-se em quatro grupos de trabalho, a saber: 1) estudos sobre a eficácia escolar, com o

propósito de identificar os fatores escolares associados ao desempenho dos alunos; 2) estudos

que procuram encontrar a relação entre determinados fatores e desempenho, a fim de analisar

a relação entre o rendimento escolar e um dos seguintes grupos de fatores: eficácia docente,

clima escolar, recursos econômicos, pré-escolarização, nutrição/desnutrição e educação

bilíngue; 3) avaliações de programas de melhoria, com a intenção de obter resultados a

respeito da eficácia escolar; 4) estudos etnográficos sobre a escola, com a finalidade de

investigar aspectos vinculados à docência e à gestão escolar (TORRECILLA, 2008).

O escopo desta dissertação insere-se no primeiro grupo de estudos sobre eficácia

escolar. Ao nos aprofundarmos um pouco mais nesse grupo, verificamos que,

Dentro desse grande leque de pesquisas, podemos distinguir duas linhas claramente

diferenciadas: de um lado, os estudos cujo projeto e coleta de dados foi realizado ad

hoc, com o objetivo de conhecer os fatores de eficácia escolar; de outro, os trabalhos

que realizaram uma exploração secundária de dados recolhidos com outros

propósitos, fundamentalmente explorações secundárias de avaliações do sistema

educativo. (TORRECILLA, 2008, p. 472).

O percurso metodológico assumido pela presente pesquisa – delineado a partir da

exploração secundária dos microdados da Prova Brasil/2011 – adere-se à segunda linha

supracitada.

A partir da análise da literatura brasileira que se detém ao estudo dos fatores

associados à eficácia escolar, Alves e Franco (2008) os organizaram em cinco categorias: 1)

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recursos escolares – os equipamentos e a conservação deles e do prédio escolar contribuem de

modo positivo no contexto educacional brasileiro, porém eles só são eficazes se efetivamente

usados; 2) organização e gestão da escola – marcada pela liderança do diretor e pelo

comprometimento coletivo dos docentes com o aprendizado do aluno; 3) clima acadêmico –

delineado pela primazia do ensino e da aprendizagem; 4) formação e salário docente – com

interferência relativamente pequena; e 5) ênfase pedagógica – métodos ativos de ensino

promovem desdobramentos eficazes.

De modo geral, os estudos que se empenham em demonstrar os efeitos da escola

no desempenho do discente recorrem ao controle do impacto das variáveis socioeconômicas,

pois, em boa parte dos casos, elas possuem elevado poder de explicação. Ressalte-se, por

oportuno, a pesquisa de Jesus e Laros (2004), que teve como finalidade propor um modelo

explicativo para o desempenho dos alunos da 8ª série, atual 9º ano do Ensino Fundamental,

em Língua Portuguesa com base nos resultados do Saeb 2001.

No controle do impacto da composição socioeconômica, os pesquisadores

consideraram dois níveis de agregação, nível socioeconômico individual do educando (nível

1) e composição socioeconômica média da escola (nível 2). No nível 1, eles evidenciaram que

o atraso escolar (- 0,19 σ), o dever de casa (0,08 σ) e o fato de o discente trabalhar (- 0,04 σ)

são aspectos de interferência significativa no rendimento acadêmico.

Quanto à escola, os aspectos dela oriundos que contribuíram para a elevação do

rendimento do aprendiz em Língua Portuguesa e que constituíram o modelo explicativo

foram: a existência e a manutenção de recursos técnico-pedagógicos; professor que adere ao

dever de casa e que o corrige; instalações físicas em bom estado de conservação; docente

comprometido com a melhoria da escola, das aulas, dos resultados dos estudantes e da

aprendizagem; educador com altas expectativas em relação ao desempenho do aluno; e pai

que apoia o filho por meio da ajuda na lição de casa, do incentivo para tirar boas notas e da

conversa.

Entender que o aproveitamento escolar relativo aos conteúdos estudados resulta

dos processos desenvolvidos pela e na escola é um passo importante quando se pretende

aprofundar a compreensão em torno do desempenho cognitivo, tomando-o como fruto de

múltiplas determinações.

Com vistas a avançar ainda mais nesse entendimento, torna-se necessário captar

até que ponto os aspectos não oriundos da escola pesam nos resultados escolares.

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3.2 Variáveis extraescolares

Análises empíricas adeptas ao discurso que apregoa o condicionamento do

rendimento acadêmico, além das variáveis restritas ao âmbito interno da escola, incluem

as variáveis externas à instituição educacional vinculadas ao aluno e à sua família.

Especial protagonismo das variáveis dessa natureza foi verificado no estudo Equality of

educational opportunity (Igualdade de Oportunidades Educacionais), concebido por

Coleman, Campbell, Hobson, McPartland, Mood, Weinfeld e York entre as décadas de

1950 e 1960.

A publicação desse trabalho contribuiu significativamente para os debates em

torno do tema e para o desenvolvimento de outras investigações movidas com o mesmo

propósito, de tal modo que os pesquisadores que dissertam acerca da temática – na maioria

dos casos – fazem referência ao estudo conhecido como Relatório Coleman. Mais

precisamente, ao relacionar mais de 400 variáveis com as medidas dos resultados escolares, o

Relatório Coleman evidenciou que os efeitos provenientes das características da família do

educando contribuíram em maior grau para a variância total do desempenho escolar do que os

efeitos das características da escola.

Resultado compatível com as evidências do Relatório Coleman foi apresentado

pelo estudo de Albernaz, Ferreira e Franco (2002), que revelou que cerca de 80% da

variância em desempenho médio entre as escolas relaciona-se com as diferenças na

composição socioeconômica dos alunos. O referido trabalho foi realizado com base nos

dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) para a então chamada 8ª série do

Ensino Fundamental em 1999, utilizando modelos hierárquicos lineares.

Nessa linha, o histórico escolar revelou-se como um dos fatores individuais com

efeitos estatisticamente relevantes sobre o desempenho escolar. Os resultados da pesquisa

indicaram que, enquanto os alunos com um ano de repetência apresentam, em média,

desempenho inferior em -16 pontos, os discentes com dois anos de repetência apresentam um

desempenho médio ainda mais inferior, de -20.0 pontos, assim como os educandos que

repetiram três e quatro vezes, -21.0 e -22.8, respectivamente.

Não é preciso muito esforço para encontrar investigações caracterizadas pelo

acentuado rigor metodológico no tratamento de dados e por constatações que em muito se

assemelham às evidências dos estudos mencionados anteriormente.

Isso posto, antes de controlar as variáveis relativas à seletividade e à composição

escolar, os resultados da pesquisa de Jesus e Laros (2004) – citada na seção anterior e

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desenvolvida tomando como base os dados do Saeb relativos ao 9º ano do Ensino

Fundamental – indicaram que as variáveis que fazem alusão à caracterização socioeconômica

da escola e ao status socioeconômico do aluno são responsáveis por 79% da variância entre as

escolas no desempenho em Língua Portuguesa.

Com efeito, não há como negar a influência dos fatores externos ao contexto

escolar em seu desempenho acadêmico. Autores como Vianna (2003b, p. 47) destacam a

interferência dos fatores externos no desempenho estudantil do aprendiz:

Fatores externos à escola [...] também têm importante papel no sucesso escolar,

sendo suficiente citar alguns poucos como, entre outros, a equivalência

idade/série; horas de estudo no lar e a participação efetiva da família no

acompanhamento das atividades escolares. O fracasso ou o baixo desempenho

numa avaliação, portanto, nem sempre está relacionado ao professor, que, muitas

vezes, por si, não tem condições de atuar visando à eliminação desses fatores.

O autor endossa as constatações das investigações relatadas e, na conclusão de sua

tese, defende um julgamento atento às múltiplas variáveis, incluindo as variáveis sociais,

econômicas e culturais, com o poder de invalidar as ações ulteriores ao trabalho avaliativo

(VIANNA, 2003c).

Em virtude da pertinência e da capacidade de germinar efeitos positivos para a

escola, o tema tem povoado a cabeça de estudiosos contemporâneos que partem da

prerrogativa de que

os fatores que determinam o desempenho cognitivo do aluno pertencem a três

grandes categorias: a estrutura escolar, a família e características do próprio aluno.

Nesse campo de pesquisa educacional as melhores análises incorporam todos esses

fatores ao invés de se apoiar em apenas uma área. Ou seja, nem os fatores extra-

escolares conseguem sozinhos explicar o desempenho cognitivo, nem a escola faz

toda a diferença. (SOARES; ARAÚJO, 2006, p. 109).

Compartilhar desse pensamento implica superar a ideia de que o produto – aqui

entendido como o desempenho cognitivo do aluno – não está passível de mudança, que ele é

desenhado pelas condições socioeconômicas do estudante. Implica também superar a ideia

de que o produto resulta exclusivamente dos processos pedagógicos aos quais ele esteve

exposto.

Outro estudo empreendido no Brasil analisou os fatores que mais afetam o

desempenho escolar. A pesquisa foi realizada por Filho, Nuñez e Ribeiro (2009) a partir

dos dados da Prova Brasil de 2007 e do Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do

Estado de São Paulo (Saresp) de 2008. Os resultados obtidos indicaram o ingresso do

educando na pré-escola, a idade do aluno, o nível educacional da mãe, a existência de

computador em casa, a experiência do diretor, o tempo no cargo de diretor, o vínculo

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empregatício estável do professor, a ocorrência de faltas por parte do corpo docente, a

cobertura do programa didático, a distribuição do livro didático e a ocorrência de roubos

e de violência na escola como fatores que afetam significativamente o desempenho

escolar.

À semelhança de Vianna (2003b) e de Soares e Araújo (2006), Horta Neto (2010,

p. 98), ao dissertar acerca da avaliação externa de escolas e sistemas, concorda que “os

resultados educacionais dos estudantes são o produto de um complexo conjunto de fatores

(que inclui o próprio esforço individual do estudante para aprender)”. Não obstante, ele

observa que

[...] esses fatores levantados pelos questionários não estabelecem uma relação de

causalidade entre o fator levantado e o desempenho do aluno, mas podem indicar

quais as áreas que deveriam ser prioritárias para a intervenção dos governos e quais

as iniciativas políticas que deveriam ser tomadas, com o objetivo de promover

melhorias no ensino. (HORTA NETO, 2010, p. 87).

Em adendo à observação de Horta Neto (2010), convém citar a recente criação do

Indicador de Nível Socioeconômico das Escolas de Educação Básica (Inse) pelo Inep. O

objetivo desse indicador é contextualizar o desempenho das escolas nos testes realizados pelo

Inep, pois os processos de ensino e de aprendizagem, em parte, são condicionados pelo padrão

de vida do alunado atendido pela unidade de ensino. Em outros termos, o Inse pretende

evidenciar um dos principais condicionantes do ensino e da aprendizagem, o nível

socioeconômico dos alunos (BRASIL, 2015).

O indicador é calculado com base nas informações fornecidas pelos alunos no

questionário contextual do Saeb e do Enem. Norteados por um levantamento teórico, a

partir dos referidos instrumentos, foram extraídas 17 questões que passaram a compor o

Inse. Em linhas gerais, as questões referem-se à renda familiar, à posse de bens, à

contratação de empregada doméstica e ao nível de escolaridade dos pais ou dos

responsáveis.

No Inse é possível verificar a média do nível socioeconômico dos alunos de cada

escola classificada em um dos sete níveis da escala do Inse que levam em conta os elementos

citados no parágrafo anterior. Além do Inse, foram criados mais três indicadores formulados

com base nas informações prestadas pelas escolas ao Censo Escolar, são eles: indicador para

mensurar a complexidade da gestão nas escolas a partir dos dados do Censo Escolar da

Educação Básica; indicador de adequação da formação do docente da Educação Básica; e

indicador de esforço docente.

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Os novos indicadores atendem à prescrição do Plano Nacional de Educação (Lei

n.º 13.005/2014) ao Saeb, traduzida por meio da produção de indicadores de avaliação

institucional relativos ao perfil dos discentes e dos docentes, à infraestrutura escolar, aos

recursos pedagógicos e aos processos da gestão.

O empreendimento envolvido na formulação de novos indicadores representa um

grande avanço no tratamento dos dados contextuais coletados via questionários do Saeb e do

Enem e via Censo Escolar, porém há muito que se fazer para que o objetivo proposto pelo

Saeb de construir um tipo de medida referente aos fatores de contexto correlacionados com o

desempenho escolar seja efetivado. Não basta apresentar as características relativas a cada

elemento que compõe a unidade de ensino, é preciso aferir o que cada característica agrega à

aprendizagem do alunado.

De certo modo, a obtenção do Inse por meio dos dados coletados pelo questionário

discente aplicado pelo Saeb/Prova Brasil soa como algo de bom-tom para as discussões

relativas ao assunto. Acredita-se que os dados obtidos mediante os questionários discriminados

por unidade de ensino, aliados ao desempenho do educando demonstrado nos testes,

representam verdadeiros subsídios para a compreensão do rendimento acadêmico do aprendiz e

para o desenvolvimento da intervenção pedagógica.

Nesse sentido, como refere Vieira (2008), a produção de informações por unidade

escolar feita pela Prova Brasil pretende contribuir para o desenvolvimento de uma cultura

avaliativa, pois estimula a melhoria da qualidade da educação nacional e conduz a adequados

controles sociais dos resultados.

Ainda em relação a esse assunto, deve-se considerar o que Pestana (2013, p.

125) exprimiu em seu texto, numa visão deliberadamente provocativa:

Hoje o sistema de avaliação SAEB pode ser definido como uma avaliação restrita

ao rendimento dos alunos. Há pouca ou nenhuma referência às informações

obtidas com os questionários de contexto e de fatores intraescolares e somente os

dados da proficiência são divulgados. À população não é dado conhecer os

resultados sobre a situação das escolas, dos alunos ou dos professores. A

mensagem trazida por este tipo de tratamento da informação é a de que o

desempenho dos alunos é aspecto independente, autônomo, não condicionado por

fatores materiais, subjetivos, históricos.

Nesse ponto, relacionamos a presente discussão com o que Montaigne

defendeu em meados do século XVI, para ele, ao ensino compete a formação da cabeça

bem feita em detrimento da cabeça cheia. A ideia do filósofo francês é compartilhada por

Morin (2003, p. 21): “[...] mais vale uma cabeça bem-feita que bem cheia”. O significado

da cabeça bem cheia, na interpretação de Morin (2003), faz alusão a uma cabeça na qual o

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saber é acumulado, empilhado, sem dispor de uma seleção e/ou organização que lhe dê

sentido. Não obstante, a cabeça bem feita é constituída pela busca de colocar e tratar os

problemas, orientada por um princípio organizador para ligar os saberes e lhes dar sentido.

Passar da cabeça bem cheia para a cabeça bem feita representa um desafio para o

ensino, que também se faz presente no sistema avaliativo, na medida em que a avaliação em larga

escala gera dados e mais dados acerca da dinâmica escolar, que se exaurem entre si, sem

estabelecer a articulação que, necessariamente, atribui-lhe significação. Logo, na avaliação

externa, a cabeça cheia é representada pelo acúmulo de informações fragmentadas resultantes do

instrumental utilizado.

Assim, na análise dos dados coletados pelo referido sistema de avaliação, adota-

-se um tratamento desagrupado, enfatizando, apenas, a média da proficiência obtida nos

testes. Por seu turno, a cabeça bem feita é constituída a partir da articulação das variáveis,

percebendo as relações existentes, o que possibilita compreender que o rendimento escolar

não pode ser visto como uma entidade independente, como se ele não resultasse de fatores

intra e extraescolares.

Nesses termos, desenvolvemos esta investigação com o propósito de identificar as

variáveis do aluno, do professor, do diretor e da escola que se relacionam significativamente

com o rendimento dos discentes de 5º ano do Ensino Fundamental do estado do Ceará no teste

de Língua Portuguesa na quarta edição da Prova Brasil/2011. A partir disso, elaboramos um

modelo linear múltiplo com as variáveis do educando, do professor, do diretor e da escola

como variáveis independentes que expliquem a Proficiência em Língua Portuguesa obtida

pelos aprendizes. Para tanto, adotamos os procedimentos metodológicos descritos no próximo

capítulo.

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4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A partir da discussão suscitada anteriormente, retomamos a preocupação central do

estudo, traduzida por meio do objetivo de elaborar um modelo linear múltiplo com as variáveis

do aluno, do professor, do diretor e da escola como variáveis independentes que expliquem o

desempenho dos discentes no teste de Língua Portuguesa. Tendo em vista o escopo aventado,

recorremos ao estudo explicativo transversal de abordagem quantitativa, utilizando os dados

secundários da Prova Brasil/2011.

O acesso aos arquivos da Prova Brasil/2011 nos possibilitou a obtenção dos dados

utilizados nesta investigação, disponíveis na página eletrônica do Inep. O referido instituto

disponibiliza os microdados da Prova Brasil em seu site oficial, na seção intitulada

Informações Estatísticas (INEP, 2011f), de onde se pode descarregar os muitos arquivos ali

dispostos pertinentes aos microdados das edições de 2007, 2009 e 2011 da Prova Brasil. Para

esta pesquisa, interessaram-nos apenas os microdados de 2011.

Além das proficiências em Língua Portuguesa obtidas pelos alunos do 5º ano do

Ensino Fundamental do estado do Ceará na Prova Brasil/2011, utilizamos nesta investigação

os dados obtidos por meio dos seguintes questionários contextuais, elaborados e aplicados

pelo Inep:

Questionário da escola (composto por 72 itens);

Questionário do diretor (composto por 212 itens);

Questionário do professor de Língua Portuguesa da turma de 5º ano do Ensino

Fundamental (composto por 152 itens);

Questionário do aluno (composto por 54 itens).

Os instrumentos supracitados integram os microdados da Prova Brasil/2011, mais

bem discriminados na próxima subseção deste estudo.

4.1 Organização dos microdados da Prova Brasil/2011

Na edição de 2011, a Prova Brasil avaliou 55.924 escolas públicas das redes

estaduais, municipais e federais, de área rural e urbana, com a condição de que a instituição

possuísse em cada série avaliada no mínimo a quantidade de 20 alunos regularmente

matriculados (INEP, 2011d).

Os microdados referentes à Prova Brasil de 2011 consistem em uma compilação

de dados desagregados, os quais são constituídos por seis pastas (Manual do Usuário,

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Dicionário, Escalas de Desempenho, Matrizes de Referência, Questionários Socioeconômicos

e Dados).

A pasta Manual do Usuário contém um documento que traz esclarecimentos

acerca do Saeb, da Prova Brasil/2011 e dos Microdados da Prova Brasil/2011. A pasta

Dicionário, por sua vez, além da descrição dos códigos utilizados (ID_UF,

ID_LOCALIZACAO, ID_SERIE, ID_DESCRITOR, etc.), apresenta um detalhamento dos

itens e das opções de resposta de cada questionário contextual. Nos microdados, são

destinadas duas pastas, uma para as Escalas de Desempenho em Língua Portuguesa e em

Matemática para os 5º e os 9º anos do Ensino Fundamental e outra para as Matrizes de

Referência de ambas as séries. Na pasta Questionários Socioeconômicos, estão disponíveis o

questionário da escola, o questionário do diretor, o questionário do professor por disciplina

(Língua Portuguesa ou Matemática) e por turma e o questionário do aluno. Finalmente, a

pasta Dados é composta por dez arquivos em formato Excel (quadro 2).

Quadro 2 – Descrição dos arquivos da pasta Dados

Arquivo Descrição

TS_ITEM

Constituído pelo código do descritor (1 ao 37) e pelo gabarito (A,

B, C, D) de cada um dos itens que compuseram os testes de

Língua Portuguesa e de Matemática destinados aos 5º e aos 9º

anos do Ensino Fundamental.

TS_RESPOSTA_ALUNO

Constituído pelo código e pelas respostas de cada aluno nos testes

de Língua Portuguesa e de Matemática destinados aos 5º e aos 9º

anos do Ensino Fundamental.

TS_RESULTADO_ALUNO

Constituído pela proficiência na escala (0 ; 500) obtida por cada

discente avaliado pela Prova Brasil/2011 nos testes de Língua

Portuguesa e de Matemática.

TS_PESOS Constituído pelo número de participantes por estado, por

município, por escola, por turma e por série.

TS_RESULTADO_ESCOLA Constituído pela taxa de participação, pela média da Proficiência

em Língua Portuguesa e em Matemática de cada escola.

TS_RESULTADO_MUNICIPIO Constituído pela taxa de participação, pela média da Proficiência

em Língua Portuguesa e em Matemática de cada município.

TS_QUEST_ALUNO Constituído pelas respostas (A, B, C, D, E, F, G, H, I, J, K, L)

relativas ao questionário aplicado ao aluno de cada série avaliada.

TS_QUEST_PROFESSOR

Constituído pelas respostas (A, B, C, D, E, F, G, H, I) relativas ao

questionário aplicado ao docente de cada disciplina de cada série

avaliada.

TS_QUEST_DIRETOR Constituído pelas respostas (A, B, C, D, E, F, G, H, I, J) relativas

ao questionário aplicado ao diretor de cada escola.

TS_QUEST_ESCOLA Constituído pelas respostas (A, B, C, D) relativas ao questionário da

escola.

Fonte: Dados adaptados de Inep (2011b).

Dentre esses dez arquivos, cinco foram essenciais para a organização dos dados

do estudo (quadro 3).

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50

Quadro 3 – Correspondência entre arquivos

Arquivo Prova Brasil – Estados da federação Arquivo Prova Brasil – Estado do Ceará

TS_QUEST_ALUNO e TS_RESULTADO_ALUNO Arquivo Aluno

TS_QUEST_PROFESSOR Arquivo Professor

TS_QUEST_DIRETOR Arquivo Diretor

TS_QUEST_ESCOLA Arquivo Escola

Fonte: Elaborado pela pesquisadora (2015).

Os cinco arquivos possuem dados de todos os estados da federação, com isso,

foram extraídos cinco bancos de dados apenas com as informações pertinentes ao estado do

Ceará. Nesse processo, o arquivo TS_QUEST_ALUNO foi facilmente associado ao arquivo

TS_RESULTADO_ALUNO por meio do código de identificação do aprendiz. Nesse

sentido, além das respostas de cada discente relativas ao questionário contextual, o Arquivo

Aluno possui as proficiências obtidas por cada estudante no teste de Língua Portuguesa.

Com isso, passamos a trabalhar com quatro arquivos.

No Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) para Windows, versão 20.0,

as variáveis dos quatro arquivos foram dispostas a partir dos itens dos questionários

contextuais e das opções de resposta contidas neles. Depois de ordenados, os quatros arquivos

foram agrupados em um só banco de dados. Para tanto, contamos com o auxílio do Sistema

Gerenciador de Bancos de Dados (SGBD), chamado Microsoft SQL Server versão 2005. A

associação dos arquivos foi feita através do código de identificação da escola (ID_Escola) e

do código de identificação da turma (ID_Turma), códigos comuns entre os quatro arquivos

(figura 3).

Figura 3 – Associação dos arquivos

Fonte: Elaborada pela pesquisadora com o auxílio do Microsoft SQL Server versão 2005 (2015).

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51

Depois de reunidos, os dados foram novamente exportados para o SPSS, que

viabilizou a análise.

4.2 População

A população objeto de estudo foi constituída pelos alunos do 5º ano do Ensino

Fundamental de escolas da rede pública municipal do estado do Ceará e pelos respectivos

professores de Língua Portuguesa, diretores e escolas.

Assim, do universo avaliado pela Prova Brasil, analisamos nesta investigação

apenas os dados do estado do Ceará para o 5º ano do Ensino Fundamental. O banco,

composto por 2.754 unidades de ensino, 2.754 diretores, 13.262 professores e 106.632 alunos,

caracterizou-se por um elevado número de itens sem resposta (Missing), com o poder de

invalidar o tipo de análise pretendida pela dissertação.

Desse modo, a partir da frequência simples de cada variável, eliminamos os

casos não respondidos, resultando em um banco composto por 396 unidades de ensino,

396 diretores, 530 professores de Língua Portuguesa e 13.846 alunos do 5º ano do Ensino

Fundamental do estado do Ceará.

4.3 Amostra

A partir do banco constituído por 396 escolas, 396 diretores, 530 docentes e

13.834 educandos, selecionamos uma amostra constituída por 486 discentes, 276 professores,

223 diretores e 223 unidades de ensino, tomados aleatoriamente. Para tanto, contamos com o

auxílio do SPSS, recorrendo aos seguintes comandos: Data – Select Cases – Select – Random

Sample of Cases – Sample (Clicar) – Sample Size – Exactly (Valor: 486) – Cases from the

first (13.846) Cases – Continue – Ok.

A amostra foi calculada para uma confiança de 99% e erro igual a 0,05 na escala

de proporção, supondo a distribuição na população de uma variável medida dicotomicamente

apresentando variância máxima (σ² = 0,25)11

. Além desse critério, atentamos para a

recomendação de Field (2009), que sugere que a amostra possua pelo menos 15 participantes

por previsor.

11

Isso ocorre quando a variável apresenta medida em uma escala com duas categorias de medida, por exemplo,

a variável sexo, que só pode assumir masculino ou feminino como medida. A variância máxima ocorre

quando cada uma dessas categorias apresenta 50% da frequência total.

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52

Tabela 4 – Estatística da distribuição da Proficiência em Língua

Portuguesa na população

Proficiência em Língua Portuguesa Estatística

N 13.728

Missing 106

Mínimo 77,2033

Máximo 335,5774

Média 182,592000

Desvio padrão 44,2134414

Variância 1954,828

Assimetria 0,457

Fonte: Elaborada pela pesquisadora (2015).

Algumas das informações contidas na tabela 4 foram apresentadas graficamente

na figura adiante.

Figura 4 – Média da Proficiência em Língua

Portuguesa na população

Fonte: Elaborada pela pesquisadora (2015).

Por seu turno, a amostra selecionada aleatoriamente apresentou as estatísticas da

Proficiência em Língua Portuguesa obtida pelos alunos do 5º ano do Ensino Fundamental da

rede pública municipal cearense, conforme a tabela a seguir.

Tabela 5 – Estatística da distribuição da Proficiência em Língua Portuguesa na amostra

Proficiência em Língua Portuguesa Estatística

N 486

Mínimo 88,7064

Máximo 322,4122

Média 186,935499

Desvio padrão 46,6524862

Variância 2176,454

Assimetria 0,415

Intervalo de confiança para a média (99%) Limite inferior 181,462998

Limite superior 192,408001

Fonte: Elaborada pela pesquisadora (2015).

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53

Além da tabela, verificamos como os dados da Proficiência em Língua Portuguesa

se comportam graficamente na amostra estudada (figura 5).

Figura 5 – Média da Proficiência em Língua

Portuguesa na amostra

Fonte: Elaborada pela pesquisadora (2015).

A média da proficiência na população (µ = 182,592000) situou-se nos respectivos

intervalos de confiança para a média na amostra. Ademais, podemos observar que as demais

medidas na amostra situam-se muito próximas das medidas verificadas na população. Assim,

podemos concluir que a amostra possui uma boa representação da população.

4.4 Sumário das variáveis

Em relação aos tipos de variáveis a serem tratadas na análise de regressão linear

múltipla, Field (2009) observa que as variáveis independentes devem ser quantitativas ou

categóricas. Já as variáveis dependentes devem ser caracterizadas como quantitativas e

contínuas. A Proficiência em Língua Portuguesa, variável dependente do estudo, atende aos

critérios supracitados, pois a proficiência obtida por cada aluno é representada por valores que

vão de 0 inclusive a 500 inclusive.

Autores como Hair et al. (2009) impõem que, para aplicar a análise de

regressão múltipla, os dados devem ser métricos12

(quantitativos) ou não métricos13

(qualitativos). Quanto aos dados não métricos, recomenda-se que eles sejam

adequadamente transformados.

12

“Medidas de dados métricos são feitas de modo que os indivíduos podem ser identificados como diferenciados em

quantia ou grau. Variáveis metricamente medidas refletem quantidade relativa ou grau” (HAIR et al., 2009, p. 27). 13

“Dados não-métricos são atributos, características ou propriedades categóricas que identificam ou

descrevem um objeto. Descrevem diferenças em tipo ou espécie, indicando a presença ou a ausência de

uma característica ou propriedade” (HAIR et al., 2011, p. 27).

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Assim, nos casos de variáveis não métricas, medidas com categorias qualitativas, as

categorias de resposta foram transformadas em variáveis mudas (dummy). Tomemos como exemplo

a questão 2 do questionário do aluno, que originalmente estava disposta da seguinte forma:

Questão 2 – Como você se considera?

(a) Branco. (d) Amarelo.

(b) Pardo. (e) Indígena

(c) Preto. (f) Não sei.

Por ser não métrica, criou-se no banco de dados uma variável para cada uma

das categorias da questão 2, assumindo valor 0 (ausência) ou valor 1 (presença):

Questão 2.1 – Você se considera Branco? (0) Não (1) Sim

Questão 2.2 – Você se considera Pardo? (0) Não (1) Sim

Questão 2.3 – Você se considera Preto? (0) Não (1) Sim

Questão 2.4 – Você se considera Amarelo? (0) Não (1) Sim

Questão 2.5 – Você se considera Indígena? (0) Não (1) Sim

Questão 2.6 – Você não sabe como se considera? (0) Não (1) Sim

Nesse sentido, todas as variáveis do tipo não métricas do conjunto de variáveis

independentes foram convertidas em variáveis mudas, resultando em um banco de dados

composto por 200 variáveis referentes à escola, 445 variáveis referentes ao diretor, 520

variáveis referentes ao professor e 173 variáveis referentes ao aluno.

Dependendo da natureza das variáveis, foi possível agrupar algumas delas em uma

só. Como exemplo, podemos descrever os passos adotados na formulação da variável intitulada

Avaliação da existência de computadores e das condições de uso para alunos, professores e

pessoal administrativo, com escala de resposta que varia de 0 a 15 (EQ31_35.esc).

Para agrupar um conjunto de variáveis em uma só, utilizamos dois critérios: (1) As

variáveis tratam do mesmo assunto; (2) As variáveis possuem as mesmas opções de resposta.

Assim, a variável EQ31_35.esc reuniu as variáveis a seguir: EQ31 – Computadores para uso dos

alunos; EQ32 – Acesso à Internet para uso dos alunos; EQ33 – Computadores para uso dos

professores; EQ34 – Acesso à Internet para uso dos professores; e EQ35 – Computadores

exclusivamente para uso administrativo. Notadamente, tais variáveis tratam do mesmo assunto,

possuindo as mesmas opções de resposta: (0) Inexistente; (1) Ruim; (2) Regular; e (3) Bom. Assim:

EQ31_35.esc = EQ31 + EQ32 + EQ33 + EQ34 + EQ35

Como as opções de resposta de cada uma dessas variáveis varia de 0 a 3, com a soma

das respostas, a variável EQ31_35.esc foi constituída por um escore que varia de 0 a 15.

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Realizado o agrupamento, para cada nova variável (em escores), criamos uma segunda variável,

na qual transformamos o escore obtido em nota de 0 a 10. Os passos relativos ao referido

agrupamento foram realizados por meio dos comandos Transform >> Compute Variable,

disponíveis na barra de ferramentas do SPSS.

Logo em seguida, recorremos ao coeficiente de correlação de Pearson © com o

intuito de identificar as variáveis com correlação significativa com a Proficiência em Língua

Portuguesa. O coeficiente de correlação de Pearson © representa um dos conceitos fundamentais

em uma análise de regressão, o conceito de associação. Por intermédio desse coeficiente, pode-se

descrever a relação entre duas variáveis. Se verificarmos na análise da relação entre duas variáveis

que as mudanças em uma delas são associadas às alterações ocorridas na outra, concluímos que as

duas variáveis são correlacionadas (HAIR et al., 2009).

A título de ilustração, apresentamos uma parte da matriz dos coeficientes de

correlação entre as variáveis previsoras (independentes) e a variável prevista (dependente), que

no caso é a Proficiência em Língua Portuguesa (tabela 6).

Tabela 6 – Matriz dos coeficientes de correlação para a Proficiência em Língua Portuguesa

Proficiência em Língua Portuguesa

Proficiência em Língua

Portuguesa

Correlação de Pearson ©

Significância (Sig.)

Tamanho da amostra

1

0,000

486

DQ17 – Há quantos anos você

trabalha em Educação?

Correlação de Pearson ©

Significância (Sig.)

Tamanho da amostra

0,076

0,096

486

DQ18 – Há quantos anos você

exerce funções de direção?

Correlação de Pearson ©

Significância (Sig.)

Tamanho da amostra

0,096*

0,036

482

DQ19 – Há quantos anos você

é diretor desta escola?

Correlação de Pearson ©

Significância (Sig.)

Tamanho da amostra

0,040

0,380

486

Fonte: Elaborada pela pesquisadora (2015).

*A correlação é significativa ao nível de 0,05.

Das três variáveis previsoras apresentadas na tabela 6, a Proficiência em Língua

Portuguesa relaciona-se, positivamente, apenas com a variável que se refere ao tempo (anos) que o

diretor exerce funções de direção, com um coeficiente r = 0,096, sendo que há uma probabilidade de

0,036, isto é, menor que 0,05, que esse coeficiente de correlação tenha ocorrido por acaso numa

amostra de 486 sujeitos. Convencionalmente, um valor de probabilidade abaixo de 0,05 é

considerado como estatisticamente significativo. Em outros termos, à medida que o tempo na

função de direção aumenta, a Proficiência em Língua Portuguesa obtida pelo aluno também cresce.

A partir desse critério, o número de variáveis incluído na regressão foi

substancialmente reduzido. Assim, para a regressão que adotou como variável prevista a

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Proficiência em Língua Portuguesa, consideramos apenas as variáveis significativamente

(Sig. ≤ 0,05) correlacionadas com a proficiência, conforme se pode observar no quadro adiante.

Quadro 4 – Variáveis significativamente correlacionadas com a Proficiência em Língua Portuguesa

Questio-

nário Código da variável Variável Opções de resposta

DQ7.2 Natureza dessa instituição: Faculdade

isolada.

(0) Não

(1) Sim

Diretor

DQ10_3

Área temática do curso de pós-graduação de

mais alta titulação que você possui:

Educação (área pedagógica).

(0) Não

(1) Sim

DQ11 Participou de formação continuada nos

últimos dois anos?

(0) Não

(1) Sim

DQ18

Há quantos anos você exerce funções de

direção?

(1) Menos de um ano

(2) De 1 a menos de 2 anos

(3) De 2 a menos de 5 anos

(4) De 5 a menos de 7 anos

(5) De 7 a menos de 10 anos

(6) De 10 a menos de 15 anos

(7) De 15 a menos de 20 anos

(8) 20 anos ou mais

DQ21_1 Assumiu a direção desta escola por:

seleção.

(0) Não

(1) Sim

DQ21_5 Assumiu a direção desta escola por:

indicação de políticos.

(0) Não

(1) Sim

DQ29

Neste ano, quantas vezes o conselho de

classe se reuniu?

(1) Nenhuma vez

(2) Uma vez

(3) Duas vezes

(4) Três vezes ou mais

DQ31_1

Qual é o critério para a admissão de

alunos nesta escola? Não existe critério

preestabelecido.

(0) Não

(1) Sim

DQ31_5

Qual é o critério para a admissão de

alunos nesta escola? Prioridade por

ordem de chegada.

(0) Não

(1) Sim

DQ34_1

Critério mais importante para a

atribuição das turmas de 1ª a 4ª séries14

:

não houve critério preestabelecido.

(0) Não

(1) Sim

DQ69_78.nota

Nota da avaliação das condições de

acessibilidade das imediações externas da

escola.

Escala [0 ; 10]

Professor

PQ19

Há quantos anos você ministra aulas

para alunos da série desta turma?

(1) Menos de 2 anos

(2) De 2 a menos de 4 anos

(3) De 4 a menos de 6 anos

(4) De 6 a menos de 8 anos

(5) 8 anos ou mais

PQ46_52.nota

Para o professor, os problemas de

aprendizagem do aluno decorrem da

infraestrutura física e/ou pedagógica, da

insegurança física da escola, do

conteúdo curricular, da sobrecarga e da

baixa remuneração do professor.

Escala [0 ; 10]

(Continua)

14

O questionário destinado ao diretor ainda utiliza as antigas nomenclaturas referentes ao 2º e 5º anos do

Ensino Fundamental, respectivamente.

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57

(Continuação)

Questio-

nário Código da variável Variável Opções de resposta

Professor

PQ121

Quanto dos conteúdos previstos você

conseguiu desenvolver com os alunos

desta turma, neste ano?

(1) Menos de 40%

(2) Entre 40% e 60%

(3) Entre 60% e 80%

(4) Mais de 80%

PQ130

Na escolha do livro didático utilizado

nesta turma em que você leciona, foi

consultado o Guia de livros didáticos da

SEB/MEC?

(0) Não

(1) Sim

PQ131_7

Para a disciplina que você ministra, como

foi escolhido o livro didático para

utilização nesta turma? Escolhi junto com

outros professores.

(0) Não

(1) Sim

PQ142_152.nota

(Professor de Matemática) Nota da

frequência que desenvolve as práticas

pedagógicas (exercícios para fixar

procedimentos, situações-problema de

raciocínios complexos, interpretar

resultados numéricos, diferentes modos de

resolver problemas.

Escala [0 ; 10]

Aluno

AQ1

Sexo. (1) Masculino

(2) Feminino

AQ2_3

Você se considera preto? (0) Não

(1) Sim

AQ4.3

Qual a sua idade? 10 anos. (0) Não

(1) Sim

AQ4.4

Qual a sua idade? 11 anos. (0) Não

(1) Sim

AQ4.5

Qual a sua idade? 12 anos. (0) Não

(1) Sim

AQ4.6

Qual a sua idade? 13 anos. (0) Não

(1) Sim

AQ4.7

Qual a sua idade? 14 anos. (0) Não

(1) Sim

AQ17

Quantas pessoas moram com você?

(1) Moro sozinho(a) ou com mais

1 pessoa

(2) Moro com mais 2 pessoas

(3) Moro com mais 3 pessoas

(4) Moro com mais 4 ou 5 pessoas

(5) Moro com mais 6 ou 7 pessoas

(6) Moro com mais de 7 pessoas

A20_21_24_25.nota Nota do hábito de leitura. Escala [0 ; 10]

AQ26_31.nota Nota da participação na reunião de pais e

do incentivo dos pais ao aluno.

Escala [0 ; 10]

AQ38_42.nota

Nota dos locais que costuma frequentar:

bibliotecas, cinema, museu, apresentações

teatrais, musicais ou de dança.

Escala [0 ; 10]

AQ45

Você trabalha fora de casa? (0) Não

(1) Sim

AQ46_4 Quando você entrou na escola? Depois

da 1ª série.

(0) Não

(1) Sim

AQ48_49.nota Nota da reprovação e do abandono escolar.

Escala [0 ; 10].

Fonte: Elaborado pela pesquisadora (2015).

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Em outros termos, a regressão, tomando como variável prevista a Proficiência em

Língua Portuguesa, contou com 11 variáveis referentes ao diretor, 6 variáveis concernentes ao

professor e 14 variáveis atinentes ao aluno. Por não se correlacionarem de modo significativo

com a Proficiência em Língua Portuguesa, as variáveis extraídas do questionário da escola

não foram utilizadas na regressão.

4.5 Regressão linear múltipla

Com vistas a elaborar um modelo linear múltiplo com as variáveis do aluno, do

professor, do diretor e da escola como variáveis independentes que expliquem o

desempenho dos discentes no teste de Língua Portuguesa, recorremos à regressão linear

múltipla com o auxílio do software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) para

Windows, versão 20.0.

Em termos estatísticos, regressão “define um conjunto vasto de técnicas

estatísticas usadas para modelar relações entre variáveis e predizer o valor de uma variável

dependente (ou de resposta) a partir de um conjunto de variáveis independentes (ou

preditoras)” (MARÔCO, 2011, p. 673). Deve-se destacar que a relação entre as variáveis

analisadas por meio da regressão não é do tipo causa e efeito.

Ademais, a regressão múltipla foi definida por Hair et al. (2009) como uma

técnica estatística geral de dependência usada para analisar a relação entre uma única variável

dependente (critério) e diversas variáveis independentes (preditoras), possuindo a formulação

básica:

Y1 = X1 + X2..... + X3

(métrica) (métricas)

Com isso, podemos afirmar que a regressão linear múltipla faz aderência ao

objetivo proposto pelo estudo. Por se constituir em um campo vasto, no tratamento relativo à

regressão linear múltipla, adotamos uma série de cuidados, norteando-nos pelas

recomendações de Field (2009), Hair et al. (2009) e Marôco (2011).

Desse modo, na seleção dos previsores para o modelo explicativo do

desempenho acadêmico em Língua Portuguesa, optamos pelo método stepwise. Mais

precisamente, a estimação stepwise trata-se de um método de seleção de variáveis que,

inicialmente, seleciona o melhor preditor da variável dependente. Logo em seguida,

variáveis independentes adicionais são selecionadas de acordo com o poder explicativo

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incremental acrescentado ao modelo de regressão. As variáveis independentes só são

acrescentadas se possuírem coeficientes de correlação parcial significantes. Nesse processo,

uma variável independente também pode ser eliminada se seu poder preditivo cair para um

nível não significante quando uma outra variável independente for acrescentada ao modelo

(HAIR et al., 2009).

Utilizando o método stepwise, decidimos por manter o critério padrão de uma

probabilidade de 0,05 para a inclusão e de 0,10 para a remoção de uma variável do modelo.

Em seguida, selecionamos a opção “excluir casos em uma base de pares” (Exclude cases

pairwise) como o método para tratar com dados faltosos (missing). Essa opção “significa que

se o participante tem um escore desconhecido para uma variável em particular, seus dados

serão excluídos da análise somente em cálculos envolvendo a variável para a qual ele não

apresenta valor” (FIELD, 2009, p. 191).

4.5.1 Estatísticas

Em relação às estatísticas, no software SPSS, foram solicitadas as estimativas que

nos fornecem os coeficientes estimados do modelo de regressão (valores b). Além disso, o

teste t de Student e a significância de cada coeficiente de regressão são fornecidos (FIELD,

2009).

As estimativas dos valores b indicam a contribuição individual de cada

variável previsora para o modelo. Tais valores “nos informam em que grau cada previsor

afeta a saída se todos os demais previsores forem mantidos constantes” (FIELD, 2009, p.

197, grifo do autor). Por seu turno, o teste t consiste em uma medida útil para informar se

a variável preditora está contribuindo significativamente para o modelo. Nessas

condições, se o teste t, associado com um valor b, é significativo (Sig. ≤ 0,05), a variável

preditora a qual um determinado valor b se refere contribui para o modelo de modo

significativo (FIELD, 2009).

Os valores b, tipicamente conhecidos como coeficientes não padronizados, e

suas significâncias são importantes para quaisquer modelos de regressão, porém

coeficientes de regressão padronizados (β) que apresentam as versões padronizadas dos

valores b são mais fáceis de interpretar (FIELD, 2009). Em virtude da padronização, tais

coeficientes eliminam o problema de lidar com diferentes unidades de medida, conforme

pontuam Hair et al. (2009). Assim, os valores β “fornecem uma ideia melhor da

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‘importância’ de um previsor para o modelo (FIELD, 2009, p. 199). Os coeficientes β

também são fornecidos pelo SPSS.

Em uma regressão linear múltipla que considera vários previsores, interessa

saber os valores assumidos pelo Coeficiente de determinação (R²) e pelo Coeficiente

ajustado de determinação (R² ajustado). Ambos, R² e R²ajustado, são essenciais em uma análise

de regressão múltipla, pois expressam o nível de precisão de previsão. Com isso, a opção

Model fit, relativa à aderência do modelo, foi selecionada no SPSS. Ela fornece um teste

estatístico da habilidade de o modelo prever a variável da saída, os valores de R² e

R²ajustado.

Como refere Field (2009, p. 180), “o R² informa quanta variância de Y pode ser

creditada ao modelo de regressão amostral, e o valor ajustado nos informa quanta variância de

Y pode ser creditada ao modelo se ele tiver sido derivado da população de onde a amostra foi

retirada”.

De modo geral, o R²ajustado é usado como um estimador da qualidade do

ajustamento e da dimensão do efeito. Ele é também uma estimativa da variância da

variável dependente explicada se o modelo tivesse sido obtido na população. Dito de outro

modo, ele é interpretável como uma medida da capacidade de generalização do modelo

para outras amostras da mesma população (MARÔCO, 2011). Assim, R²ajustado é dado por:

R²ajustado =

Onde:

n = número de casos;

k = número de previsores no modelo;

R² = valor não ajustado (FIELD, 2009).

Por oportuno, solicitamos as alterações no R² por meio de opção R squared

change, disponível no SPSS para a regressão linear múltipla. Esse procedimento apresenta

as alterações no R² em função da inclusão de uma nova variável preditora, o que significa

que “essa medida é uma maneira útil de avaliar a contribuição do novo previsor (ou

conjunto de previsores) na explicação da variância das saídas” (FIELD, 2009, p. 187).

Efetuada a estimação dos coeficientes de regressão, é necessário validar os

pressupostos relativos à análise de regressão linear múltipla, a saber: (1) Inexistência de

multicolinearidade; (2) Independência dos resíduos; (3) Normalidade dos resíduos; (4)

Homocedasticidade e linearidade.

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4.5.2 Inexistência de multicolinearidade

Em um modelo de regressão, a multicolinearidade, isto é, a correlação entre três

ou mais variáveis independentes, não deve existir. Em outros termos, “não deve existir

relacionamento linear perfeito entre dois ou mais previsores. Assim, as variáveis previsoras

não devem apresentar correlações muito altas” (FIELD, 2009, p. 178). Dito de outro modo, a

presença de multicolinearidade entre as variáveis independentes diminui o poder preditivo de

uma variável independente na medida em que ela se associa a outras dessas variáveis. O

aumento da colinearidade reduz a variância explicada por cada variável preditora, enquanto o

percentual da previsão compartilhada aumenta. O ideal é que as variáveis independentes

possuam baixa multicolinearidade entre si e alta correlação com a variável dependente (HAIR

et al., 2009).

Nesse sentido, a opção Collinearity diagnostics, selecionada no comando da

regressão, foi útil para que obtivéssemos as estatísticas de colinearidade, a saber: Tolerância e

Fator de Inflação de Variância (FIV)15

.

A Tolerância, definida como T = 1 – R²ᵢ,, onde R²ᵢ é o coeficiente de determinação

para previsão da variável dependente i pelas variáveis independentes. Trata-se de um

diagnóstico de multicolinearidade. De modo geral, valores altos da tolerância indicam pouca

colinearidade. Um valor abaixo de 0,10 é motivo de preocupação, pois indica que o preditor é

quase totalmente explicado pelos demais preditores (HAIR et al., 2009).

Por sua vez, o FIV, definido por 1 / (1 – R²ᵢ), é outra medida usual no diagnóstico de

multicolinearidade. Em outros termos, FIV = 1 / T. Assim, “por definição, variáveis com baixa

tolerância têm valores elevados de VIF e vice-versa” (MARÔCO, 2011, p. 714). Como regra

convencionalmente aceita, valores de FIV superiores a 5 denotam multicolinearidade entre as

variáveis preditoras incluídas no modelo de regressão.

4.5.3 Independência dos resíduos

Em primeiro lugar, é preciso esclarecer o que são resíduos e o que eles representam

para uma análise de regressão múltipla. Conforme Field (2009, p. 173, grifo do autor), “as

diferenças entre os valores previstos pelo modelo e os valores observados na amostra são

conhecidos como resíduos. Esses resíduos representam o erro que está presente no modelo”.

15

Tradução de Variance Inflaction Factor (VIF).

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62

Dessa forma, validar o pressuposto de independência dos resíduos é o mesmo

que dizer que “a magnitude de um resíduo não influencia a magnitude do resíduo seguinte”

(HAIR et al., 2009, p. 698). Quando essa suposição é violada, os erros-padrão dos

coeficientes de regressão tendem a ser subestimados ou sobre-estimados (FIELD, 2009).

Com vistas a verificar a suposição de independência dos erros, selecionamos o teste

de Durbin-Watson (d) no SPSS. Mais precisamente, essa ferramenta “testa se resíduos

adjacentes são correlacionados” (FIELD, 2009, p. 179). Convencionalmente, valores menores

do que 1 ou maiores do que 3 são preocupantes, a não autocorrelação entre os resíduos é

evidenciada quando d ≈ 2.

Encerrando os comandos relativos às estatísticas, solicitamos os diagnósticos por

casos – Casewise diagnostics –, que apresentam “os valores observados da saída, os valores de

saída previstos, a diferença entre esses valores (os resíduos) e essa diferença padronizada”

(FIELD, 2009, p. 188). Esses valores são listados apenas para casos nos quais o resíduo

padronizado é maior do que 3. Associada a esse comando, uma tabela resumo de estatísticas

residuais é gerada contendo o mínimo, o máximo, a média e o desvio padrão para os valores

previstos pelo modelo e para os resíduos. O resumo das estatísticas dos resíduos informa o

mínimo, o máximo, a média e o desvio padrão para os valores das distâncias de Mahalanobis,

da distância de Cook e da influência leverage. Essas estatísticas são úteis para indicar

possíveis casos influentes com poder sobre os parâmetros do modelo, valores atípicos. Elas

ajudam a determinar se o modelo é estável por toda a amostra ou se é influenciado somente

por poucos casos (FIELD, 2009).

As distâncias de Mahalanobis “medem os afastamentos dos valores a partir das

médias das variáveis previsoras” (FIELD, 2009, p. 175). Em grandes amostras, valores de

Mahalanobis superiores a 25 são problemáticos. A distância de Cook, por sua vez, consiste

em uma medida de influência global de um único caso sobre o modelo. Recomenda-se que

os valores assumidos por essa medida não devem ser superiores a 1. Por fim, a influência

leverage mensura o quanto um valor observado influencia o valor previsto da variável

dependente. Os valores de leverage podem variar entre 0 e 1, em que 0 indica que o caso

não exerce influência alguma sobre a previsão e 1 indica que o caso exerce total influência .

De todo modo, quando nenhum caso desempenha acentuada influência sobre o modelo, os

valores de leverage situam-se próximos do valor médio ([k + 1]/n), onde k é número de

previsores do modelo e n é o número de participantes (FIELD, 2009).

Além das distâncias de Mahalanobis, da distância de Cook e da influência

leverage, recorremos à razão de covariância (CVR), uma medida que informa quanto um

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63

determinado caso atua sobre a variância dos parâmetros do modelo. Convencionalmente, se a

razão está próxima de 1, significa dizer que o caso tem pouca influência nas variâncias dos

parâmetros de regressão (FIELD, 2009).

4.5.4 Normalidade dos resíduos

Seguindo as recomendações de Field (2009), Hair et al. (2009) e Marôco (2011),

solicitamos um histograma e um diagrama das probabilidades normais dos resíduos (Normal

Probability Plot). O histograma e o diagrama das probabilidades normais dos resíduos são

úteis no teste da normalidade dos resíduos. Para satisfazer a normalidade dos termos de erro, a

distribuição do histograma dos resíduos deve se aproximar da normal. Para que uma

distribuição seja caracterizada como normal, a média (µ) deve assumir valor de 0 e o desvio

padrão (σ) valor de 1 (figura 6).

Figura 6 – Exemplo de histograma com

normalidade satisfeita

Fonte: Extraída de Field (2009, p. 249).

Em regra, qualquer desvio da curva traçada no histograma pode ser

interpretado como um sinal de não normalidade. Validar o pressuposto de normalidade

equivale a dizer que as diferenças entre o modelo e os dados observados são

frequentemente iguais ou muito próximos de zero, daí a sua importância para um modelo

de regressão (FIELD, 2009).

O pressuposto da distribuição normal dos erros também pode ser evidenciado

por meio do diagrama de probabilidades normais. No diagrama, “a distribuição normal

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64

forma uma reta diagonal, e os resíduos graficamente representados são comparados com a

diagonal. Se uma distribuição for normal, a reta residual se aproximará da diagonal” (HAIR

et al., 2009, p. 155).

Na figura a seguir, podemos notar que, no diagrama do lado esquerdo, a

normalidade dos erros foi decididamente satisfeita. O mesmo não foi evidenciado no

diagrama situado no lado direito.

Figura 7 – Exemplos de diagramas de probabilidade normal

Fonte: Extraída de Field (2009, p. 249).

4.5.5 Homocedasticidade e linearidade

Na análise, o gráfico ZPRED (valores previstos padronizados) contra ZRESID

(resíduos padronizados) nos foi de grande valia para determinarmos se as suposições de

homocedasticidade e de linearidade foram atendidas.

Em uma regressão linear múltipla, atender à condição de homocedasticidade é

fundamental. Field (2009) explica que, atendendo a essa condição, os resíduos possuem a

mesma constante a cada nível dos previsores. De modo geral, espera-se que 95% dos casos

tenham resíduos padronizados dentro de ± 2.

Por sua vez, a linearidade da relação existente entre as variáveis independentes e a

variável dependente consiste no grau em que a variação na variável é associada com a

independente (HAIR et al., 2009). Quanto a essa suposição,

deve-se esperar que a relação entre as variáveis independentes e a variável

dependente possa ser representada por uma função linear. Quanto mais a relação se

distanciar de uma função linear, menor é a aplicabilidade da forma funcional de

mínimos quadrados para ajustar o modelo. Em outras palavras cresce a diferença

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entre os parâmetros estimados e os observados (FIGUEIREDO FILHO et al.,

2011, p. 52-53).

De modo geral, o modelo de regressão linear não será válido se a análise de

resíduos demonstrar relações de tipo não linear (MARÔCO, 2011). Como já mencionado, os

pressupostos de homocedasticidade e de linearidade são validados mediante a análise do

gráfico ZPRED contra ZRESID. Field (2009) apresentou alguns exemplos desse gráfico que

são úteis para diagnosticar as situações em que os referidos pressupostos são violados

(figura 8).

Figura 8 – Exemplos de gráficos dos resíduos padronizados contra os valores

previstos padronizados

Fonte: Extraída de Field (2009, p. 248).

Os gráficos marcados com a linha vermelha violam as suposições de

homocedasticidade e de linearidade. O diagrama (b) indica um crescimento da variância nos

resíduos, fugindo da homocedasticidade. No diagrama (c), não se verifica um relacionamento

linear entre previsores e variável dependente. Os dados do diagrama (a) e (d) indicam

situações opostas. O diagrama (a), por possuir pontos aleatoriamente dispersos pelo

quadrante, atende aos pressupostos de homocedasticidade e de linearidade. Por sua vez, o

diagrama (d) ilustra uma situação em que os dados não satisfazem os dois pressupostos

analisados (FIELD, 2009).

Em resumo, os procedimentos adotados descritos ao longo deste capítulo

buscaram atender às típicas recomendações da regressão linear clássica. Com isso, é possível

avançar para a apresentação e análise dos resultados.

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66

5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

Para a elaboração do modelo de regressão linear múltiplo, consideramos as 31

variáveis significativamente correlacionadas com a Proficiência em Língua Portuguesa

descritas no sumário das variáveis.

Com o critério padrão de uma probabilidade de 0,05 para a inclusão e de 0,10

para a remoção de uma variável no modelo, mediante o método de seleção de variáveis

stepwise, o modelo explicativo do desempenho acadêmico em Língua Portuguesa dos

alunos do 5º ano do Ensino Fundamental do estado do Ceará incluiu 13 variáveis

independentes (quadro 5).

Quadro 5 – Variáveis incluídas/removidas

a

Modelo Variáveis incluídas Variáveis

removidas

Método

1 AQ48_49.nota – Nota da reprovação e do abandono

escolar. Escala [0 ; 10] .

Stepwise (Criteria:

Probability-of-F-

to-enter

<= 0 ,050,

Probability-of-F-

to-remove

>= 0,100).

2 AQ17 – Quantas pessoas moram com você? .

3 AQ45 – Você trabalha fora de casa? .

4 AQ26_31.nota – Nota da participação na reunião de pais

e do incentivo dos pais ao aluno. Escala [0 ; 10] .

5

AQ38_42.nota – Nota dos locais que costuma frequentar:

bibliotecas, cinema, museu, apresentações teatrais,

musicais ou de dança. Escala [0 ; 10]

.

6

DQ69_78.nota – Nota da avaliação das condições de

acessibilidade às imediações externas da escola. Escala

[0 ; 10]

.

7 DQ34.1 – Critério mais importante para a atribuição das

turmas de 1ª a 4ª séries: não houve critério preestabelecido .

8 DQ7.2 – Natureza dessa instituição: faculdade isolada .

9 DQ21.5 – Assumiu a direção desta escola por: indicação

de políticos .

10 PQ121 – Quanto dos conteúdos previstos você conseguiu

desenvolver com os alunos desta turma, neste ano? .

11 PQ19 – Há quantos anos você ministra aulas para alunos

da série desta turma? .

12 DQ18 – Há quantos anos você exerce funções de direção? . Stepwise (Criteria:

Probability-of-F-to-

enter <=0 ,050,

Probability-of-F-to-

remove >= 0,100).

13

DQ10.3 – Área temática do curso de pós-graduação de

mais alta titulação que você possui: Educação (área

pedagógica)

.

Fonte: Elaborado pela pesquisadora (2015). a Variável dependente: Proficiência em Língua Portuguesa.

No método stepwise, cada vez que um previsor é adicionado no modelo, é feito

um teste para verificar a existência de algum previsor redundante, se evidenciado, ele é

removido da equação (FIELD, 2009). O quadro 5 apresenta as variáveis de acordo com a

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ordem em que elas foram incluídas na seleção das variáveis através do método supracitado,

também conhecido como “passo a passo”.

Por meio desse método, atendemos a um dos objetivos do estudo, qual seja:

identificar as variáveis do aluno, do professor, do diretor e da escola que se relacionam

significativamente com o rendimento dos alunos de 5º ano do Ensino Fundamental de escolas

da rede pública municipal do estado do Ceará no teste de Língua Portuguesa da Prova

Brasil/2011.

5.1 Poder de explicação do modelo do desempenho acadêmico em Língua Portuguesa

Na tabela a seguir, convém analisar os valores assumidos por R² que

representam as alterações no coeficiente de determinação em função da inclusão de uma

nova variável preditora na regressão. Assim, para o primeiro modelo, que incluiu apenas a

nota da reprovação e do abandono escolar, o valor de R² é 0,071, o que equivale a dizer que

essa variável é responsável por 7,1% da variação da Proficiência em Língua Portuguesa.

Com a inserção de mais uma variável preditora, o valor de R² salta para 0,102 (modelo 2).

Essa lógica se mantém até o método stepwise chegar ao modelo final, que foi precedido por

12 modelos (tabela 7).

Tabela 7 – Resumo do modelo

a

Modelo R R² R²ajustado Erro padrão da estimativa Durbin-Watson

1 0,266 0,071 0,069 45,0134213 –

2 0,319 0,102 0,098 44,3057708 –

3 0,357 0,127 0,122 43,7171916 –

4 0,382 0,146 0,139 43,2892186 –

5 0,408 0,167 0,158 42,8073016 –

6 0,425 0,181 0,170 42,4911498 –

7 0,438 0,192 0,180 42,2466527 –

8 0,453 0,205 0,192 41,9380191 –

9 0,470 0,221 0,206 41,5698541 –

10 0,479 0,229 0,213 41,3820428 –

11 0,488 0,238 0,220 41,1926325 –

12 0,496 0,246 0,227 41,0163685 –

13 0,503 0,253 0,233 40,8628286 1,940

Fonte: Elaborada pela pesquisadora (2015). a Variável dependente: Proficiência em Língua Portuguesa.

O modelo final obteve R²ajustado = 0,233, o que nos respalda para afirmarmos que

23,3% da variabilidade da Proficiência em Língua Portuguesa dos educandos do 5º do Ensino

Fundamental do estado do Ceará são explicadas pelas variáveis independentes do modelo

ajustado.

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À medida que o valor assumido pelo R² diz respeito à qualidade do ajuste para a

amostra, o R²ajustado refere-se à qualidade do ajuste para a população. Assim, para Marôco

(2011), o R²ajustado é uma medida da capacidade de generalização do modelo de regressão para

a população de onde a amostra foi extraída.

5.2 Teste de ajuste do modelo

O teste da significância da regressão foi realizado por meio da análise de variância

(ANOVA), que apresentou nível de significância (Sig.) de 0,000, atestando que há um bom

ajuste do modelo. Nesses termos, o modelo é altamente significativo, podendo ser

generalizado para a população origem da amostra (tabela 8).

Tabela 8 – Análise de variância (ANOVA)

Modelo Soma dos Quadrados

SQ

Graus de liberdade

gl

Quadrado Médio

QM F Sig.

Regressão 267448,617 13 20572,971 12,321 0,000

Residual 788131,799 472 1669,771 - -

Total 1055580,416 485 - - -

Fonte: Elaborada pela pesquisadora (2015).

A verificação da qualidade do ajuste do modelo de regressão, isto é, a análise de

variância (ANOVA), baseia-se na soma dos quadrados das diferenças das observações em

relação ao seu valor médio:

SQtotal = SQresidual + SQregressão

Onde:

SQresidual = soma dos quadrados explicada pelo modelo de regressão;

SQregressão = soma dos quadrados dos resíduos não explicada pelo modelo de

regressão.

Além de serem relevantes no cálculo da análise de variância, os resíduos são

essenciais no processo de validação dos pressupostos de uma regressão linear múltipla.

5.3 Validação dos pressupostos do modelo do desempenho acadêmico em Língua

Portuguesa

O modelo adequou-se aos pressupostos estatísticos de uma análise de regressão.

Inicialmente, o teste de Durbin-Watson foi solicitado para verificar a existência de

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autocorrelação (dependência) nos resíduos (erros) da regressão. Como já foi relatado, valores

menores do que 1 ou maiores do que 3 são preocupantes, o ideal é que o valor do teste seja

próximo ou igual a 2. Para esses dados, o valor foi de 1,940, assim, a hipótese de independência

dos erros foi satisfeita.

Em seguida, com vistas a verificar a validade dos pressupostos, procedemos a

análise gráfica dos resíduos da regressão, que viabilizou a verificação da normalidade dos

termos de erro (figura 9).

Figura 9 – Histograma e diagrama P-P dos resíduos normalmente distribuídos

Fonte: Elaborada pela pesquisadora (2015).

O histograma dos resíduos dá uma ideia da distribuição normal, já que o valor da

média µ = 3,18x10-15

é, para efeitos práticos, 0. Além disso, o desvio padrão observado é muito

próximo de 1 (σ = 0,987). No diagrama, a linha reta representa a distribuição normal e os pontos

representam os resíduos observados já padronizados. Em um conjunto de dados normal, todos

os pontos situam-se bem próximos da linha (FIELD, 2009).

Na análise gráfica do diagrama, podemos afirmar que o modelo tem um bom

ajustamento aos dados, atendendo às recomendações propostas por Field (2009, p. 173): “Se o

modelo se ajusta bem aos dados da amostra, todos os resíduos devem ser pequenos (se o

modelo aderir perfeitamente aos dados da amostra, todos os pontos estarão sobre a linha de

regressão e todos os resíduos serão iguais a zero)”.

Posteriormente, verificamos o pressuposto de homocedasticidade por meio da

análise dos resíduos da regressão dispostos no gráfico do ZRESID contra ZPRED. De acordo

com Field (2009), o ideal é que o gráfico se assemelhe a um conjunto aleatório de pontos

dispersos em torno de 0. A disposição dos pontos, para o modelo explicativo do desempenho

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acadêmico em Língua Portuguesa, possibilita-nos afirmar que a linearidade e a

homocedasticidade foram satisfeitas (figura 10).

Figura 10 – Gráfico do ZRESID contra ZPRED

Fonte: Elaborada pela pesquisadora (2015).

Além da validação da homocedasticidade, da linearidade, da independência e da

normalidade dos resíduos, em uma análise de regressão, é necessário validar o pressuposto de

inexistência de multicolinearidade. Como já mencionado, a multicolinearidade consiste em uma alta

correlação entre as variáveis previsoras. Assim, a fim de verificar a imperfeição da

multicolinearidade entre as variáveis previsoras, analisamos os valores da Tolerância e do Fator de

Inflação de Variância (FIV) de cada coeficiente (tabela 9).

Tabela 9 – Estatísticas de colinearidade

Fonte: Elaborada pela pesquisadora (2015). a

Variável dependente: Proficiência em Língua Portuguesa.

* Estatísticas de colinearidade.

Coeficientesa Tolerância* FIV*

AQ48_49.nota - Nota da reprovação e do abandono escolar. Escala [0 ; 10] 0,884 1,131

AQ17 - Quantas pessoas moram com você? 0,927 1,078

AQ45 - Você trabalha fora de casa? 0,922 1,085

AQ26_31.nota - Nota da participação na reunião de pais e do incentivo dos

pais ao aluno. Escala [0 ; 10] 0,957 1,045

AQ38_42.nota - Nota dos locais que costuma frequentar: bibliotecas, cinema,

museu, apresentações teatrais, musicais ou de dança. Escala [0 ; 10] 0,958 1,044

DQ69_78.nota - Nota da avaliação das condições de acessibilidade às

imediações externas da escola. Escala [0 ; 10] 0,963 1,038

DQ34.1 - Critério mais importante para a atribuição das turmas de 1ª a

4ª séries: não houve critério preestabelecido 0,896 1,115

DQ7.2 - Natureza dessa instituição: faculdade isolada 0,917 1,090

DQ21.5 - Assumiu a direção desta escola por: indicação de políticos 0,929 1,076

PQ121 - Quanto dos conteúdos previstos você conseguiu desenvolver

com os alunos desta turma, neste ano? 0,954 1,048

PQ19 - Há quantos anos você ministra aulas para alunos da série desta turma? 0,920 1,087

DQ18 - Há quantos anos você exerce funções de direção? 0,978 1,022

DQ10.3 - Área temática do curso de pós-graduação de mais alta

titulação que você possui: Educação (área pedagógica) 0,953 1,050

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Para o modelo atual, não existe problemas de multicolinearidade. Os valores do

FIV indicam baixa intercorrelação entre as variáveis previsoras, já que são inferiores a 5 e os

valores da tolerância foram iguais ou superiores a 0,896. Para Hair et al. (2009, p. 179), “uma

alta tolerância indica pouca colinearidade, e valores de tolerância próximos de zero indicam

que a variável é quase totalmente explicada pelas outras variáveis”. Decididamente, não há

evidência da existência de multicolinearidade na regressão, como indicado pelas estatísticas

da tolerância e do FIV.

Outra precaução consiste em averiguar se o modelo é estável por toda a amostra

ou se é influenciado por determinados casos influentes (FIELD, 2009). Tais casos podem

ser identificados por meio da análise das distâncias de Mahalanobis, da distância de Cook e

da influência leverage (tabela 10).

Tabela 10 – Estatísticas dos resíduos

a

Mínimo Máximo Média Desvio padrão N

Valor previsto 115,876091 248,792557 186,935499 23,4827692 486

Valor previsto padronizado -3,026 2,634 0,000 1,000 486

Erro padrão do valor

previsto 3,271 13,261 6,761 1,547 486

Valor previsto ajustado 114,457001 249,544067 186,934803 23,5591809 486

Resíduo -133,5957947 124,6605225 0E-7 40,3114626 486

Resíduo padronizado -3,269 3,051 0,000 0,987 486

Resíduo studentizado -3,338 3,082 0,000 1,001 486

Resíduo deletado padronizado -139,2997894 127,1944046 0,0006966 41,4777017 486

Resíduo deletado studentizado -3,375 3,110 0,000 1,003 486

Distância de Mahalanobis 2,109 50,083 12,973 6,617 486

Distância de Cook 0,000 0,034 0,002 0,003 486

Valor leverage 0,004 0,103 0,027 0,014 486

Fonte: Elaborada pela pesquisadora (2015). a Variável dependente: Proficiência em Língua Portuguesa.

Convencionalmente, valores de Mahalanobis superiores a 25 são motivos de

preocupação (FIELD, 2009). Conforme as estatísticas dos resíduos, o valor máximo

assumido pelas distâncias de Mahalanobis foi de 50,083, o que denuncia uma situação

de caso(s) influente(s) sobre os parâmetros da regressão. Porém, essas distâncias

obtiveram µ = 12,973, o que significa dizer que o referido valor máximo consiste em um

caso que se distancia dos demais valores, não foi à toa que o desvio padrão dessa

estatística foi de 6,617. Porém, os valores relativos às distâncias de Cook foram

extremamente baixos, o valor máximo foi de 0,034, portanto, inferior ao limite

recomendado, que é 1.

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Além disso, 0,103 faz referência ao valor máximo atingido pela influência

leverage, medida que varia entre 0 (sem influência) e 1 (total influência). De acordo com

Field (2009), quando os valores da influência leverage ficam em torno do valor médio

([k + 1]/n), pode-se afirmar que nenhum caso influencia o modelo. Assim, o valor médio

relativo ao modelo foi de 0,028, valor muito próximo da média dos valores de leverage

obtida na regressão, que foi de 0,027. Com isso, essa medida não identificou casos

influentes.

Por seu turno, o valor mínimo e máximo atingidos pela razão de covariância

(CVR) foram 0,77 e 1,14, respectivamente. A média dessa medida foi de 1,03, resultado

satisfatório, pois o fato de a razão estar próxima de 1 evidencia que o caso tem pouca

influência nas variâncias dos parâmetros de regressão (FIELD, 2009).

Desse modo, em virtude dos valores apresentados nas demais medidas, não nos

foi necessário recorrer à remoção do(s) caso(s) identificado(s) pelas distâncias de

Mahalanobis.

5.4 Modelo explicativo do desempenho acadêmico em Língua Portuguesa de alunos do

5º ano do Ensino Fundamental do estado do Ceará

Por meio da regressão linear múltipla, identificamos as variáveis explicativas da

Proficiência em Língua Portuguesa. Além da identificação, diagnosticamos a magnitude da

influência exercida por cada uma das variáveis preditoras no modelo de regressão. Mais

precisamente, a variável dependente foi explicada da seguinte forma:

Y = b0 + b1 · X1 + b2 · X2 + b3 · X3+ b4 · X4 + b5 · X5 + b6 · X6 + b7 · X7 + b8 · X8+ b9 · X9+ b10 ·

X10 + b11· X11 + b12· X12 + b13 · X13 + ɛ

Em que cada elemento representa:

Y = Proficiência em Língua Portuguesa (0 - 500);

b0 = Número constante da Proficiência em Língua Portuguesa na equação

de regressão;

b1, b2, b3 ... b13 = Coeficientes de regressão não padronizados;

X = Variável “AQ48_49.nota - Nota da reprovação e do abandono

escolar”;

X2 = Variável “AQ17 - Quantas pessoas moram com você?”;

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X3 = Variável “AQ45 - Você trabalha fora de casa?”;

X4 = Variável “AQ26_31.nota - Nota da participação na reunião de pais e

do incentivo dos pais ao aluno”;

X5 = Variável “AQ38_42.nota - Nota dos locais que costuma frequentar:

bibliotecas, cinema, museu, apresentações teatrais, musicais ou de

dança”;

X6 = Variável “DQ69_78.nota - Nota da avaliação das condições de

acessibilidade às imediações externas da escola”;

X7 = Variável “DQ34.1 - Critério mais importante para a atribuição das

turmas de 1ª a 4ª séries: não houve critério preestabelecido”;

X8 = Variável “DQ7.2 - Natureza da instituição que você fez o curso superior:

faculdade isolada”;

X9 = Variável “DQ21.5 - Assumiu a direção desta escola por: indicação de

políticos”;

X10 = Variável “PQ121 - Quanto dos conteúdos previstos você conseguiu

desenvolver com os alunos desta turma, neste ano?”;

X11 = Variável “PQ19 - Há quantos anos você ministra aulas para alunos da série

desta turma?”;

X12 = Variável “DQ18 - Há quantos anos você exerce funções de direção?”;

X13 = Variável “DQ10.3 - Área temática do curso de pós-graduação de

mais alta titulação que você possui: Educação (área pedagógica)”;

ε – Erro experimental, diferença entre o valor previsto e o observado de Y.

Nesses termos, o modelo é dado por:

ProficiênciaLP = 148,154 + (- 4,566 · AQ48_49.nota) + (- 5,701 · AQ17) + (- 22,649 · AQ45) +

(4,234 · AQ26_31.nota) + (-3,680 · AQ38_42.nota) + (2,986 · DQ69_78.nota) + (- 16,680 ·

DQ34.1) + (26,102 · DQ7.2) + (- 14,263 · DQ21.5) + (5,994 · PQ121) + (2,967 · PQ19) +

(2,695 · DQ18) + (9,257 · DQ10.3) + 16,906

Os coeficientes não padronizados (b) utilizados na equação indicam a

contribuição individual de cada variável previsora para o modelo. Essas estimativas

apresentam valores negativos e positivos que denotam o tipo de relação mantida entre as

variáveis independentes e a variável dependente. A tabela a seguir exibe os parâmetros do

modelo e a significância deles de modo mais detalhado.

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Tabela 11 – Coeficientes do modelo de regressão linear múltiplaª

Modelo

Coeficientes

não padronizados

Coeficientes

padronizados t Sig.

b Erro padrão β

(Constante) 148,154 16,906 - 8,763 0,000

AQ48_49.nota - Nota da reprovação e

do abandono escolar. Escala [0 ; 10] -4,566 1,084 -0,178 -4,214 0,000

AQ17 - Quantas pessoas moram com

você? -5,701 1,621 -0,145 -3,518 0,000

AQ45 - Você trabalha fora de casa? -22,649 6,060 -0,155 -3,738 0,000

AQ26_31.nota - Nota da participação na

reunião de pais e do incentivo dos pais

ao aluno. Escala [0 ; 10]

4,234 1,267 0,136 3,342 0,001

AQ38_42.nota - Nota dos locais que

costuma frequentar: bibliotecas, cinema,

museu, apresentações teatrais, musicais

ou de dança. Escala [0 ; 10]

-3,680 0,966 -0,155 -3,808 0,000

DQ69_78.nota - Nota da avaliação

das condições de acessibilidade às

imediações externas da escola.

Escala [0 ; 10]

2,986 1,054 0,115 2,834 0,005

DQ34.1 - Critério mais importante para a

atribuição das turmas de 1ª a 4ª séries: não

houve critério preestabelecido

-16,680 5,230 -0,134 -3,190 0,002

DQ7.2 - Natureza da instituição que você

fez o curso superior: faculdade isolada 26,102 7,487 0,145 3,486 0,001

DQ21.5 - Assumiu a direção desta

escola por: indicação de políticos -14,263 3,987 -0,148 -3,577 0,000

PQ121 - Quanto dos conteúdos previstos

você conseguiu desenvolver com os

alunos desta turma, neste ano?

5,994 2,421 0,101 2,476 0,014

PQ19 - Há quantos anos você ministra

aulas para alunos da série desta turma? 2,967 1,373 0,090 2,161 0,031

DQ18 - Há quantos anos você exerce

funções de direção? 2,695 1,086 0,100 2,483 0,013

DQ10.3 - Área temática do curso de pós-

-graduação de mais alta titulação que

você possui: Educação (área pedagógica)

9,257 4,334 0,087 2,136 0,033

Fonte: Elaborada pela pesquisadora (2015).

ª Variável dependente: Proficiência em Língua Portuguesa.

Como já foi mencionado no capítulo 4, através do teste t, é possível averiguar se uma

variável preditora contribui significativamente para um modelo de regressão. Para a variável

colaborar de modo significativo para o modelo, o teste t, associado ao seu respectivo valor b, deve

ser significativo (Sig. ≤ 0,05). Conforme a tabela 11, no modelo, o valor máximo assumido pelos

valores rotulados como Sig. foi de 0,03, o que quer dizer que as 13 variáveis preditoras

apresentam coeficientes significantes para a regressão.

Quanto menor for o valor de Sig. e maior o valor de t, maior será a contribuição

do previsor para o modelo (FIELD, 2009). A partir da magnitude do valor de t, evidencia-se

que o histórico escolar do aluno relativo à reprovação e ao abandono escolar é a variável

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independente com maior impacto sobre o desempenho em Língua Portuguesa (t = - 4,214,

Sig. = 0,000).

Em consonância com a estatística t, está o valor beta padronizado (coeficiente β),

que se revela útil para estabelecer uma comparação direta entre os coeficientes e seus poderes

relativos de explicação da variável dependente. O uso do coeficiente β torna-se mais

recomendado devido ao fato de esse coeficiente eliminar o problema de tratar com diferentes

unidades de medida (HAIR et al., 2009). Na verdade, os coeficientes β são mensurados em

termos de unidades de desvio padrão (FIELD, 2009).

Na análise dos coeficientes β, a variável relativa à reprovação e ao abandono

escolar revelou-se como o fator de maior influência sobre o desempenho (β = - 0,178),

concordando, desse modo, com a estatística t. Em adendo a essa constatação, os resultados

obtidos nas pesquisas de Albernaz, Ferreira e Franco (2002) e de Jesus e Laros (2004)

também indicaram a reprovação e o abandono escolar como fatores que afetam

significativamente o desempenho escolar.

Desse modo, a influência negativa da reprovação e do abandono escolar exercida

sobre o desempenho acadêmico “confirma a importância de tentarmos controlar para o

estoque de capital humano com o qual o aluno chega ao teste, de forma a não atribuirmos

erroneamente ao ensino recente, problemas advindos de trajetórias passadas” (ALBERNAZ;

FERREIRA; FRANCO, 2002, p. 465-466). Por ter sido extraído do questionário do aluno e

por se referir a uma característica do discente, não significa dizer que os fenômenos da

reprovação e do abandono escolar sejam totalmente desarticulados do contexto intraescolar.

Pelo contrário, eles resultam da interação entre o meio social e o escolar.

Semelhante ao primeiro fator, o segundo fator de maior contribuição para o

modelo também está vinculado ao questionário do aluno, pois diz respeito ao fato de o

educando trabalhar fora de casa (β = - 0,155). Tal resultado é consistente com os valores

achados pelo estudo realizado por Jesus e Laros (2004) com base nos dados do Saeb.

Além do preditor relativo ao fato de o aprendiz trabalhar, mais dois preditores

vinculam-se ao nível socioeconômico dos estudantes, a saber: locais que o aluno costuma

frequentar: bibliotecas, cinema, museu, apresentações teatrais, musicais ou de dança

(β = - 0,155); quantidade de pessoas que moram com o aluno (β = - 0,145). A relação

evidenciada entre o desempenho escolar e a variável relativa aos locais frequentados pelo aluno

é justificável, pois as escolas que constituíram a amostra do estudo pertencem a municípios

situados na capital, na região metropolitana e no interior do estado do Ceará. Nessa perspectiva,

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com exceção da capital do estado, os alunos matriculados nas escolas localizadas no interior e

na região metropolitana dificilmente possuem acesso à maioria dos locais investigados.

No modelo, a participação dos pais nas reuniões escolares e o incentivo dado aos

filhos é um fator que produz um aumento na Proficiência em Língua Portuguesa (β = 0,136). A

evidência de que o incentivo paterno ao estudante produz efeito positivo no rendimento escolar

também foi constatada por Jesus e Laros (2004). Isso demonstra que a devida atuação da família

na escolarização dos filhos resulta em melhor desempenho.

É interessante verificar que, das cinco variáveis relativas ao aluno incluídas no modelo,

quatro produzem um representativo decréscimo na Proficiência em Língua Portuguesa e apenas

uma possui efeito positivo. Os preditores supracitados fazem parte do rol de duas categorias de

fatores que determinam o desempenho escolar elencadas por Soares e Araújo (2006), as quais fazem

alusão à família e às características do próprio aprendiz.

Por outro lado, evidenciamos que a maioria das variáveis derivadas do contexto

escolar incorporadas no modelo de regressão desempenha influência positiva sobre a variável

prevista. Especiais contribuições ao modelo foram dadas por duas das variáveis vinculadas ao

questionário do docente, as quais se referem à quantidade dos conteúdos previstos

desenvolvidos com os alunos (β = 0,101) e ao tempo (em anos) que o professor ministra aulas

para alunos do 5º ano (β = 0,090). A cobertura do programa didático já foi qualificada como

uma influência benéfica para os resultados escolares no trabalho desenvolvido por Filho,

Nuñez e Ribeiro (2009), o qual também analisou os dados da Prova Brasil referentes ao ano

de 2007.

O desempenho cognitivo evidenciado na Prova Brasil também foi explicado pela

formação do diretor. Ele relaciona-se com a caracterização da instituição que o diretor fez o curso

superior. Em termos práticos, o fato de o gestor ter se graduado em uma faculdade isolada

interfere no desempenho de modo positivo (β = 0,145), não foi mensurar a contribuição das

universidades federais e dos centros universitários, pois as variáveis que medeiam esses atributos

não se correlacionaram com a variável prevista. O desempenho escolar também está relacionado

com a área em que o diretor realizou o curso de pós-graduação. Constatamos que a formação do

diretor em nível de pós-graduação na área da Educação contribui, positivamente, para os

resultados escolares (β = 0,087).

Em contrapartida, o fato de o diretor ter assumido o cargo por indicação política

revelou-se como uma variável que influencia os resultados escolares negativamente

(β = - 0,148). Essa variável nada mais é do que uma expressão de clientelismo político ainda

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presente no contexto educacional cearense. Sobre essa temática, Souza (2007, p. 166)

argumenta que

indicar política ou tecnicamente o dirigente escolar pressupõe compreender a

direção da escola pública não como uma função a ser desempenhada por um

especialista da carreira do magistério, mas como um cargo político de confiança do

governante municipal ou estadual ou como instrumento de compensação no jogo

político-eleitoral.

Além disso, averiguamos, com base na regressão, que o tempo (em anos) que o

diretor exerce funções de direção atua positivamente na explicação do rendimento escolar em

Língua Portuguesa (β = 0,100). Esse resultado ratifica os achados apresentados na pesquisa de

Filho, Nuñez e Ribeiro (2009), que também indicaram o tempo no cargo de diretor como um

fator de efeito positivo para o rendimento escolar. O tempo no exercício do cargo de diretor

também foi apontado pela investigação de Bonamino, Aguiar e Correa (2012, p. 16) como um

fator de atuação contra a repetência, os quais asseveram: “alunos que estudam em escolas cujos

diretores estão há mais de 10 anos no cargo têm aproximadamente menos 48% de chances de

repetir”.

Bonamino, Aguiar e Correa (2012) citam também o critério para formação das

turmas como um fator interveniente na reprovação. Assim, turmas heterogêneas quanto à idade

têm mais chances de reprovar do que as turmas heterogêneas quanto ao rendimento. À

semelhança do estudo supracitado, a falta de estabelecimento de um critério para a atribuição

das turmas de 1ª a 4ª séries resultou em um efeito negativo (β = - 0,134) sobre o desempenho

cognitivo dos alunos cearenses matriculados no 5º ano do Ensino Fundamental.

As variáveis que faziam alusão à conservação das instalações físicas, aos

equipamentos pedagógicos, aos recursos financeiros e didáticos, às condições ambientais e

outras diretamente associadas à escola não foram consideradas na regressão, em virtude do fato

de não se correlacionarem com a Proficiência em Língua Portuguesa de modo significativo.

Contudo, a variável preditora extraída do questionário do diretor, relacionada às condições de

acessibilidade às imediações externas da escola incluída no modelo, indica uma influência

oriunda da unidade escolar (β = 0,115).

A perspectiva de análise que seguimos neste estudo levou em consideração a

influência que as variáveis intra e extraescolares exercem sobre o desempenho cognitivo, o

que equivale a dizer que “nem os fatores extraescolares conseguem sozinhos explicar o

desempenho cognitivo, nem a escola faz toda a diferença” (SOARES; ARAÚJO, 2006, p.

109).

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nosso escopo nesta investigação, ao analisarmos o desempenho escolar em

função da influência exercida pelas variáveis intra e extraescolares, adere-se ao campo de

estudos relativos aos fatores associados ao desempenho escolar que têm se cristalizado na

América Ibérica.

Nessa direção, com vistas a contribuir com o conhecimento sobre os fatores que

relacionam significativamente com o desempenho escolar, aplicamos um modelo de regressão

linear múltipla, com base nos microdados da quarta edição da Prova Brasil/2011,

incorporando as variáveis do aluno, do professor, do diretor e da escola para investigar o

efeito dessas variáveis na Proficiência em Língua Portuguesa obtida pelos discentes do 5º ano

do Ensino Fundamental da rede pública municipal cearense.

A primeira conclusão que extraímos dos resultados é o fato de a reprovação,

adicionada ao abandono escolar, ser a variável independente com maior impacto sobre o

desempenho escolar em Língua Portuguesa. Os resultados refletem a realidade do contexto

social cearense, em que não raro se prioriza o trabalho em detrimento da educação,

culminando na reprovação ou, até mesmo, no abandono escolar. Somam-se a isso os

ambientes que o aluno costuma frequentar e a quantidade de pessoas que moram com ele, fato

que nos fez constatar que tais aspectos prejudicam o bom desempenho cognitivo.

Em oposição a essa situação, verificamos que a participação dos pais nas reuniões

escolares, combinada ao incentivo fornecido aos filhos, atua na promoção de um rendimento

estudantil mais satisfatório.

As conclusões a que chegamos expressam, ainda, a realidade do contexto

educacional do estado do Ceará, no qual, por exemplo, ainda persiste a tradição do

clientelismo político, mantida por meio da indicação política do dirigente escolar, o que

transmite uma má influência sobre o desempenho cognitivo do seu alunado. Na verdade,

dever-se-ia adotar como critério a qualificação do profissional para assumir essa função, já

que, como foi aqui constatado, a qualificação do diretor em nível de pós-graduação na área

pedagógica produz efeitos benéficos sobre o rendimento escolar.

No mesmo contexto, averiguamos a contribuição negativa que a falta de um

critério preestabelecido para a atribuição das turmas de 1ª a 4ª séries agrega ao desempenho

acadêmico. Em contrapartida, significativas e positivas contribuições estão relacionadas à

quantidade dos conteúdos previstos desenvolvidos com os alunos, ao tempo do gestor no

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exercício do cargo de diretor, ao tempo que o professor ministra aulas na instituição e às

condições de acessibilidade às imediações externas da escola.

Entre os resultados obtidos, é visível que as variáveis extraescolares interferem no

rendimento estudantil de uma forma mais negativa do que as variáveis intraescolares. Na

mesma proporção, as variáveis intraescolares influenciam o rendimento escolar de uma forma

mais positiva do que as variáveis extraescolares.

Em função disso, levando em conta a proposta deste estudo, podemos afirmar que

o desempenho cognitivo do aluno em Língua Portuguesa é produto de variáveis de múltiplas

ordens que atuam com um efeito combinado sobre o discente. Nessa perspectiva, a culpa do

baixo rendimento presente em boa parte das escolas públicas brasileiras, constatado pelas

avaliações e exames nacionais e internacionais, não pode ser atribuída a um só agente ou a um

só aspecto.

Analisar resultados escolares, dessa forma, conduz a uma visão que não se

limita a um viés determinista, que, por enfatizar apenas as características socioeconômicas

dos educandos, invalida qualquer esforço desencadeado pela escola no sentido de

promover a aprendizagem de seu alunado. Pelo contrário, evidenciamos que o trabalho

promovido pela escola concorre para a obtenção de melhores resultados educacionais.

Por fim, é válido sublinhar duas considerações em torno dos dados coletados

pelo atual sistema nacional de avaliação da Educação Básica: 1) quanto às variáveis dos

questionários contextuais, verificamos que muitas das variáveis contidas nesses

instrumentos são medidas por meio de escalas ordinais, o que dificulta a análise estatística.

Nesse caso, seria mais adequado mensurá-las mediante escala intervalar ou de razão. Além

da forma como são medidas, é preciso estudar melhor quais variáveis devem ser incluídas

no corpo desses instrumentos; 2) quanto à completude dos dados, vale ressaltar que os

questionários referentes ao diretor e ao professor foram os que apresentaram maior

quantidade de dados não fornecidos.

Assim, destacamos a necessidade imperiosa de conduzir o processo de coleta de

dados de uma forma mais eficaz, garantindo que as informações solicitadas nos

questionários contextuais sejam devidamente fornecidas, de modo a servirem como matéria-

-prima para o desenvolvimento de estudos de outras magnitudes, afinal, os dados levantados

não podem ser, conforme Vianna (2003c, p. 31), “condenados ao silêncio de um arquivo

morto”.

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ANEXOS

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ANEXO A – DECLARAÇÕES EXPEDIDAS PELO REVISOR

DECLARAÇÃO DE CORREÇÃO DE PORTUGUÊS

Declara-se, para constituir prova junto aos órgãos interessados, que, por

intermédio do profissional infra-assinado, foi procedida a correção gramatical e estilística da

dissertação intitulada Variáveis significativamente relacionadas com o desempenho dos

alunos do 5º ano do Ensino Fundamental público do estado do Ceará no teste de Língua

Portuguesa da Prova Brasil/2011, razão por que se firma a presente declaração, a fim de que

surta os efeitos legais, nos termos do novo Acordo Ortográfico Lusófono, vigente desde 1º de

janeiro de 2009.

Fortaleza-CE, 22 de abril de 2015.

_______________________________

Felipe Aragão de Freitas Carneiro

DECLARAÇÃO DE NORMALIZAÇÃO

Declara-se, para constituir prova junto aos órgãos interessados, que, por

intermédio do profissional infra-assinado, foi procedida a normalização da dissertação

intitulada Variáveis significativamente relacionadas com o desempenho dos alunos do 5º

ano do Ensino Fundamental público do estado do Ceará no teste de Língua Portuguesa

da Prova Brasil/2011, razão por que se firma a presente declaração, a fim de que surta os

efeitos legais, nos termos das normas vigentes decretadas pela Associação Brasileira de

Normas Técnicas (ABNT).

Fortaleza-CE, 22 de abril de 2015.

_________________________________

Felipe Aragão de Freitas Carneiro

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ANEXO B – DIPLOMA DO REVISOR