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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
A IMPORTÂNCIA DO PRINCÍPIO PROTETOR - RECEBEDOR PAR A
O DESENVOLVIMENTO AMBIENTALMENTE SUSTENTÁVEL:
O CASO DO CEARÁ
WILCA BARBOSA HEMPEL
FORTALEZA - CE 2006
ii
WILCA BARBOSA HEMPEL
A IMPORTÂNCIA DO PRINCÍPIO PROTETOR - RECEBEDOR PAR A
O DESENVOLVIMENTO AMBIENTALMENTE SUSTENTÁVEL:
O CASO DO CEARÁ
Dissertação submetida à Coordenação do Curso de Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente, no Programa Regional de Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente - PRODEMA, da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente. Orientadora: Profa. Dra. Maria Irles de Oliveira Mayorga
FORTALEZA - CE 2006
iii
H428i Hempel , Wilca Barbosa
A Importância do princípio protetor recebedor para o desenvolvimento ambientalmente sustentável: o caso do Ceará / Wilca Barbosa Hempel. 146f. : il.
Orientador : Profa. Dra. Maria Irles de Oliveira Mayorga Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente) – PRODEMA - Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2006.
1.Denvolvimento Sustentável 2. Principio Protetor Recebedor 3.Programa Selo Municipio Verde (PSMV) 4. ICMS Ecológico I.Título
CDD 363.7 CDU 504
iv
TERMO DE APROVAÇÃO
WILCA BARBOSA HEMPEL
A IMPORTÂNCIA DO PRINCÍPIO PROTETOR – RECEBEDOR PAR A O DESENVOLVIMENTO AMBIENTALMENTE SUSTENTÁVEL:
O CASO DO CEARÁ Dissertação submetida à Coordenação do Curso de Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente, no Programa Regional de Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente - PRODEMA, da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente.
Aprovada com Louvor em 31 / 03 / 2006
BANCA EXAMINADORA
___________________________________________________ Profa. Dra. Maria Irles de Oliveira Mayorga (Orientadora)
Universidade Federal do Ceará-UFC
___________________________________________________ Profa. Dra. Marizete Dantas de Aquino Universidade Federal do Ceará-UFC
___________________________________________________ Profa. Dra. Nájila Rejanne Alencar Julião Cabral
Centro Federal de Educação Tecnológica do Ceará - CEFETCE
v
DEDICATÓRIA
Dedico esta dissertação às gerações
futuras, com a esperança de ter
contribuído para a melhoria da
qualidade de suas vidas. Sem
representantes para defendê-los hoje,
serão os julgadores deste trabalho,
amanhã.
vi
AGRADECIMENTOS
A Deus, pai,
todo proteção e amor,
pela força e coragem de lutar pela concretização deste trabalho.
À Ady, mãe,
o começo de tudo,
pelo apoio, preocupação e carinho a mim dispensados, de imensurável importância.
Aos meus filhos: Déborah, Maria Júlia e Álisson,
que iluminam a minha vida e que toleraram, pacientemente, a minha presença tão ausente,
nestes últimos dois anos.
Ao Humberto, pelo amor e resignação.
Por encorajar, apoiar, estimular e incentivar a realização deste sonho, mesmo ciente do
desconforto que isso causaria, em decorrência das ausências necessárias.
Aos meus irmãos William, Wilma, Willston, Wilkson e Wilder, com suas respectivas
famílias, torcedores constantes em minha vida.
Aos Professores Dr. José Gerardo Bezerra de Oliveira e Dr. José Joaquim Neto Cisne, pelo
incentivo e apoio ao retorno à vida acadêmica.
À Profa. Dra. Maria Irles de Oliveira Mayorga, pela amizade, dedicação, empenho,
comprometimento, incentivo e receptividade com que conduziu a orientação da minha
dissertação de Mestrado.
Ao Prof. Dr. Rogério César Pereira de Araújo pela preciosa colaboração prestada.
Às Professoras Dra. Marisete Dantas de Aquino e Dra. Nájila Rejanne Alencar Julião Cabral,
pelos ensinamentos e pelas participações na fase de defesa da dissertação, contribuindo com
críticas e sugestões valiosas.
vii
A todos que fazem a Coordenação do PRODEMA, representada pela Profa. Vládia Pinto
Vidal de Oliveira, pelo apoio necessário e imprescindível à realização deste curso.
Aos Professores do PRODEMA, Drs. Edson Vicente da Silva, Francisca Soares de Araújo,
Francisco Casimiro Filho, George Satander de Sá Freire, José Carlos de Araújo, José César
Vieira Pinheiro, José Levi Furtado Sampaio, Kelma Socorro Lopes de Matos, Luiz Botelho de
Albuquerque, Patrícia Verônica Pinheiro Sales e Ruben Dario Mayorga, e aos Professores
convidados Drs. Carlos Américo Leite Moreira e Prudente Pereira de Almeida Neto, que
direta ou indiretamente, de uma forma mais sutil ou mais presente, transmitiram ensinamentos
valiosos sem os quais este trabalho não teria sido possível.
Aos colegas do Curso de Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente, em especial ao
Evandro (in memorian), também fazendário e grande incentivador dos nossos trabalhos.
À colaboração de diversas instituições, entre elas: Associação dos Municípios e Prefeitos do
Estado do Ceará (APRECE), Assembléia Legislativa do Estado do Ceará e sua Comissão do
Meio Ambiente, Associação Caatinga, Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (IBAMA), Secretaria da Fazenda (SEFAZ), Secretaria da Ouvidoria Geral e do
Meio Ambiente (SOMA), Secretaria do Desenvolvimento Local e Regional (SDLR),
Superintendência Estadual do Meio Ambiente (SEMACE), Universidade Estadual do Ceará
(UECE) – Laboratório de Geoprocessamento, e Universidade Federal do Ceará (UFC).
À Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUNCAP)
pela concessão de apoio financeiro necessário à realização deste Curso de Mestrado.
Especialmente aos poucos, mas verdadeiros e grandes amigos, que com certeza se
identificarão ao ler este trabalho.
viii
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS .................................................................................... x
LISTA DE TABELAS ................................................................................... xi
LISTA DE SIGLAS ....................................................................................... xii
RESUMO....................................................................................................... xiv
ABSTRACT ................................................................................................... xv
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 16
1.1 O Problema e sua Importância.................................................................... 19
1.2 Hipótese........................................................................................................... 20
1.3 Objetivos.......................................................................................................... 21
1.3.1 Objetivo Geral.................................................................................................. 21
1.3.2 Objetivos Específicos....................................................................................... 21
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ...................................................................... 22
2.1 Políticas Públicas............................................................................................ 22
2.1.1 Princípios e Instrumentos de Política Ambiental Pública no Brasil................ 22
2.1.2 O Processo de Implementação de Políticas Públicas e os Conselhos
Municipais....................................................................................................... 29
2.2 Fundamentação Conceitual e Teórica do Desenvolvimento Sustentável.. 33
2.2.1 Fundamentação Conceitual do Desenvolvimento Sustentável......................... 33
2.2.2 Fundamentação Teórica do Desenvolvimento Sustentável.............................. 42
2.2.2.1 Economicamente Viável.................................................................................. 42
2.2.2.2 Socialmente Justo............................................................................................. 43
2.2.2.3 Ambientalmente Sustentável............................................................................ 45
3 MATERIAL E MÉTODOS .......................................................................... 54
3.1 Área Geográfica de Estudo........................................................................... 54
3.2 Técnicas de Pesquisa...................................................................................... 61
3.2.1 Pesquisa Bibliográfica..................................................................................... 62
3.2.2 Pesquisa Documental....................................................................................... 63
3.2.3 Procedimento Metodológico da Pesquisa........................................................ 63
3.3 O Estudo de Caso........................................................................................... 65
4 ANÁLISE E DISCUSSÃO............................................................................. 69
4.1 Programa Selo MunicípioVerde – Aspectos Legais, Objetivos e
Metodologia..................................................................................................... 69
4.2 ICMS Ecológico - Histórico, Características e Aspectos Legais................ 80
4.3 Proposta de Modelo de Desenvolvimento Ambientalmente Sustentável... 95
4.3.1 O Processo Dinâmico do PSMV...................................................................... 100
4.3.2 Proposta da Minuta de Projeto de Lei nº XXX de XXXXXX de 2006........... 104
ix
5 CONCLUSÕES E SUGESTÕES.................................................................. 106
5.1 Conclusões....................................................................................................... 106
5.2 Sugestões.......................................................................................................... 109
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................... 111
APÊNDICES................................................................................................... 120
Apêndice A – Programa Selo Município Verde: Comparação do
desempenho de municípios em 2004 e 2005............................ 121
Apêndice B – Certificação PSMV- 2004........................................................ 128
Apêndice C – Certificação PSMV- 2005........................................................ 129
Apêndice D – Áreas Protegidas e Certificação PSMV- 2005......................... 130
Apêndice E – Áreas Protegidas do Estado do Ceará....................................... 131
Apêndice F – Mapa das Áreas Protegidas do Ceará....................................... 138
Apêndice G – Convite para o Seminário ICMS Ecológico do Ceará............. 139
Apêndice H – Folder do Seminário ICMS Ecológico do Ceará...................... 140
ANEXOS.......................................................................................................... 144
Anexo A – Desenvolvimento Radial............................................................... 145
Anexo B – Desenvolvimento Axial................................................................. 146
x
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 01 - A população humana aumentou rapidamente com o
desenvolvimento da tecnologia......................................................... 17
FIGURA 02 - Matriz de Herman Daly.................................................................... 35
FIGURA 03 - Principais Movimentos Ambientalistas............................................ 36
FIGURA 04 - Curva de Possibilidade de Produção Eficiente (CPP)....................... 46
FIGURA 05 - Posição Geográfica, Dimensões e Limites do Estado do Ceará....... 55
FIGURA 06 - Mapa das Mesorregiões Geográficas do Estado do Ceará................ 58
FIGURA 07 - Fluxograma do Procedimento Metodológico.................................... 64
FIGURA 08 - Curva de Crescimento dos COMDEMAs......................................... 77
FIGURA 09 - Municípios inscritos no PSMV em 2004 e 2005.............................. 79
FIGURA 10 - Municípios Certificados no PSMV em 2004 e 2005........................ 79
FIGURA 11 - Evolução da Arrecadação do ICMS no Estado do Ceará (1998 a
2004)................................................................................................. 85
FIGURA 12 - Transdisciplinaridade e Interinstitucionalidade do PSMV............... 98
FIGURA 13 - Fluxograma do MODAS................................................................... 100
FIGURA 14 - Ciclo PDCA de Controle de Processos............................................ 102
xi
LISTA DE TABELAS
TABELA 01 - Regionalização do Estado do Ceará – Mesorregiões,
Microrregiões e Municípios – 2002.................................................. 59
TABELA 02 - Mesorregiões Cearenses – Área, População e Densidade
demográfica....................................................................................... 60
TABELA 03 - Mesorregiões Geográficas do Ceará – Certificação PSMV 2004 e
2005................................................................................................... 78
TABELA 04 - Arrecadação Total do ICMS no Ceará, de 1998 a 2004................... 84
TABELA 05 - ICMS Ecológico nos Estados Brasileiros e os Critérios de
Redistribuição................................................................................... 89
xii
LISTA DE SIGLAS
ABDC Associação Brasileira de Defesa do Contribuinte ADA Avaliação por Desempenho Ambiental AGA Avaliação por Gestão Ambiental AMA Avaliação por Mobilização Ambiental AP Área Protegida APA Área de Proteção Ambiental APRECE Associação dos Municípios e Prefeitos do Estado do Ceará ASSUMA Associação Serras Úmidas do Estado do Ceará BID Banco Interamericano de Desenvolvimento BIRD Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento BNB Banco do Nordeste do Brasil CAGECE Companhia de Água e Esgoto do Ceará CEFET-CE Centro Federal de Educação Tecnológica do Ceará CMMAD Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento CNUMAD Conferencia das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento CODEVASF Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba COEMA Conselho Estadual do Meio Ambiente COMDEMA Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente CPP Curva de Possibilidade de Produção Eficiente CTN Código Tributário Nacional DAP Disposição a Pagar DARP Disposição a Receber Pagamento DAS Desenvolvimento Ambientalmente Sustentável DS Desenvolvimento Sustentável DVD Digital Video Disc FAO Food and Agriculture Organization of the United Nations FENAFISCO Federação Nacional do Fisco Estadual FIEC Federação das Indústrias do Estado do Ceará FLONA Floresta Nacional FPM Fundo de Participação dos Municípios GIA Grupo de Interêsse Ambiental (ONG) GQT Gerenciamento pela Qualidade Total GT Grupo de Trabalho IAA Instituto Ambiental Amanhã IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis IBDT Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário IBGE Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ICID Impacts of Climatic Variations and Sust. Develop. in Semi-arid Regions ICM Imposto sobre a Circulação de Mercadorias ICMS Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prest.
de Serviços de Transp. Interest. e Intermunicipal e de Comunicação IDA Índice de Desempenho Ambiental IDH Índice de Desenvolvimento Humano IDM Índice de Desenvolvimento Municipal IE Instrumento Econômico IGA Índice de Gestão Ambiental IMA Índice de Mobilização Ambiental IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada IPECE Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará
xiii
IPI Imposto sobre Produtos Industrializados IPTU Imposto Predial e Territorial Urbano IPVA Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores ISS Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza ITR Imposto Territorial Rural MODAS Modelo Operacional de Desenvolvimento Ambientalmente Sustentável MDDA Monitoração das Doenças Diarréicas Agudas MDVH Monitoração das Doenças de Veiculação Hídrica MIT Massachusetts Institute of Technology MMA Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal OAB-CE Ordem dos Advogados do Brasil - Ceará ONG Organização Não Governamental ONU Organização das Nações Unidas PARNA Parque Nacional PDCA Plan, Do, Check, Action (Método de Melhorias) PDDR Plano Diretor de Desenvolvimento Rural PDDU Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento PNUMA Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente PPP Princípio do Poluidor-Pagador PPR Princípio do Protetor-Recebedor PRODEMA Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente PSMV Programa Selo Município Verde REP Reserva Ecológica Particular RPPN Reserva Particular do Patrimônio Natural SDLR Secretaria de Desenvolvimento Local e Regional SEBRAE-CE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Ceará SEDUC Secretaria de Educação SEFAZ Secretaria da Fazenda SEINFRA Secretaria de Infra-estrutura SEMACE Superintendência Estadual do Meio Ambiente – Ceará SEPLAN Secretaria de Planejamento e Coordenação SESA Secretaria de Saúde SETUR Secretaria de Turismo SNUC Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza SOMA Secretaria da Ouvidoria Geral e do Meio Ambiente SRH Secretaria de Recursos Hídricos TDA Taxa de Desconto Ambiental UC Unidade de Conservação UECE Universidade Estadual do Ceará UFC Universidade Federal do Ceará UNIFOR Universidade de Fortaleza URCA Universidade Regional do Cariri US EPA United States Environmental Protection Agency USP Universidade de São Paulo UVA Universidade Vale do Acaraú VAF Valor Adicionado Fiscal VHS Video Home System
xiv
RESUMO
A presente dissertação tem como objetivo principal propor um Modelo Operacional de Desenvolvimento Ambientalmente Sustentável para o Estado do Ceará, utilizando o Programa Selo Município Verde como ferramenta de avaliação das políticas municipais e o ICMS Ecológico como mecanismo de compensação financeira, alicerçado no Princípio Protetor-Recebedor. Pesquisas científicas desenvolvidas e aplicadas no século dezessete fizeram com que a taxa de mortalidade humana declinasse de forma abrupta, sendo mantida constante a taxa de natalidade; isso provocou um crescimento sem precedentes na população mundial. O desenvolvimento da ciência e da tecnologia, aliado ao processo de industrialização, foi responsável pelo surgimento de mudanças na vida dos seres humanos e nas suas relações com o mundo natural. Esse crescimento continuado, vem provocando aumento no nível de estresse da biosfera e uma degradação ambiental cada vez mais preocupante, com conseqüências desastrosas. O século vinte testemunhou o início de mais um grande evento de extinção na história da vida na Terra e o causador, desta vez, é o próprio Homem. A emergência e a gravidade dos problemas ambientais fizeram com que inúmeros cientistas e estudiosos começassem a discutir e a pensar um novo tipo de desenvolvimento, capaz de fomentar o progresso humano em todo o planeta e por tempo indeterminado. O Desenvolvimento Sustentável surge tendo como um dos seus alicerces o Princípio Protetor-Recebedor, que compensa financeiramente, como incentivo pelo serviço prestado, aquele que protege um bem natural, representando um símbolo de justiça econômica. Foram utilizadas ferramentas de análise, espacial e temporal, de maneira a favorecer, por meio dos resultados da análise qualitativa, a proposição de Modelo de Desenvolvimento Sustentável, com a consideração das especificidades regionais e locais. O ICMS Ecológico, resultante de uma redistribuição do ICMS arrecadado pelo Estado, para os municípios, sem aumento da carga tributária, adapta-se aos instrumentos econômicos já existentes, representando uma das mais convenientes opções de financiamento das políticas ambientais no contexto atual. O Programa Selo Município Verde (PSMV) foi criado pelo Governo do Estado do Ceará para incentivar a implementação das normas que regulamentam a questão ambiental. O “Selo Município Verde” é um distintivo que identifica os municípios que implementam políticas públicas que salvaguardam o meio ambiente e proporcionam melhor qualidade de vida para as presentes e futuras gerações. Assim sendo, apresenta-se um Modelo Operacional de Desenvolvimento Ambientalmente Sustentável, tendo como mecanismos de apoio o Programa Selo Município Verde em conjunto com o instrumento econômico ICMS Ecológico, para o Estado do Ceará, que, se adotado, deve se constituir em um importante instrumento a ser utilizado pelo governo, como incentivo ao crescimento econômico com sustentabilidade ambiental.
Palavras-chave: Desenvolvimento Sustentável, Princípio Protetor-Recebedor, Programa Selo Município Verde (PSMV) e ICMS Ecológico.
xv
ABSTRACT
The present dissertation is aimed at proposing an operational model for the environmentally sustainable development of the state of Ceará using the “Green Municipality Certification Program” as a tool for the evaluation of local environmental policies combined with the Ecological “ICMS” as a financial compensation mechanism, based on the Protector-Receiver principle. The development of science in the 17-th century contributed to the rapid decline of human mortality and the maintenance of high birth rates, provoking an unseen growth in the world population. The development of science and technology allied to the process of industrialization, was responsible for major changes in the lives of human beings and its relations to the natural world. This ongoing growth is leading to an increase in the level of stress towards the biosphere contributing to environmental destruction with disastrous consequences. The 20-th century witnessed the beginning of another cycle of mass extinction in the history of life on earth caused by men. The rapid growth of environmental problems lead many scientists to think of and to discuss a new type of development, that should promote long-term human progress on the planet. One of the pillars of sustainable development is the Protector-Receiver principle, which compensates financially, as an incentive for services produced, those who protect natural resources, representing a symbol of economic justice. Analysis tools where used, to favor through results of quality analysis, the proposal of a model for sustainable development, including local and regional specificities. The “Ecological ICMS”, the result of redistribution of the “ICMS” to the municipalities by the State, without increasing taxes, can be adjusted to the already existing economic instruments, representing one of the most convenient options to finance environmental policies within the current context. The “Green Municipality Certification Program” was established by the state Government of Ceará and is aimed at promoting the implementation of environmental policies by the municipalities. The “Green Municipality Program” certifies the municipalities that implement public policies that contribute to environmental protection and to the increase of the quality of life of present and future generations. An operating model for the environmentally sustainable development is presented, based on the “Green Municipality Certification Program” and the Ecological “ICMS” applied to the state of Ceará, and if taken on board, will be able to establish itself as an important tool to be used by the Government, as an incentive to environmentally sustainable economic growth.
Key words: Sustainable Development, Protector-Receiver Principle, Green Municipality Certification Program and Ecological “ICMS”.
16
1 INTRODUÇÃO
O período Neolítico caracterizou-se pelo estabelecimento da sedentarização dos
principais grupos humanos e com a multiplicação das aldeias, que garantiam assim uma maior
segurança aos seus habitantes. O progresso das técnicas agrícolas tornou as colheitas mais
abundantes, favorecendo o aumento populacional. Este período pré-histórico, também
chamado de Idade da Pedra Polida, iniciou-se aproximadamente em 10000 a.C. e prolongou-
se até 4000 a.C.. As grandes transformações que ocorreram nesse período, reformularam
profundamente a forma de viver dos grupos humanos, tanto com o desenvolvimento da
agricultura como com a domesticação de animais (VICENTINO, 2002).
Raven; Evert; Eichhorn (2001) entendem que em decorrência do desenvolvimento
da agricultura, no início da era cristã, o número de seres humanos havia crescido até
aproximadamente 130 milhões, distribuídos por todo o mundo. Um período de cerca de 8.000
anos representou um aumento de aproximadamente 25 vezes no tamanho da população. Por
volta de 1650 a população mundial era de 500 milhões, já com muita gente vivendo em
centros urbanos. A partir do século dezessete, a taxa de natalidade humana permaneceu
praticamente imutável, porém, a taxa de mortalidade declinou de forma abrupta, ensejando
um crescimento sem precedentes na população mundial. A população humana atingiu o nível
de 1 bilhão de pessoas em 1850, o que significou a duplicação de seu contingente em 200
anos. Havia começado o desenvolvimento da ciência e da tecnologia que aliado ao processo
de industrialização fizeram emergir marcantes mudanças nas vidas dos seres humanos bem
como nas suas relações com o mundo natural. Ainda segundo (RAVEN; EVERT;
EICHHORN, 2001),
Para o planeta como um todo, a população está crescendo aproximadamente 1,5% ao ano. Isso significa que mais ou menos 165 pessoas são adicionadas à população mundial a cada minuto – mais do que 240.000 por dia, ou cerca de 88 milhões a cada ano – mais ou menos igual à população da Alemanha ou México.
Segundo o economista clássico Thomas Robert Malthus (1766-1834), apud
ARAÚJO; ARANHA (2006)
“pode-se seguramente declarar que, se não for a população contida por freio algum, irá ela dobrando de 25 em 25 anos, ou crescerá em progressão geométrica (1,2,4,8,16,32,64,128,256,512,...). Pode-se afirmar, dadas as atuais condições médias da terra, que os meios de subsistência, nas mais favoráveis circunstâncias, só poderiam aumentar, no máximo, em progressão aritmética (1,2,3,4,5,6,7,8,9,10). [...] o poder da população é tão superior ao poder do planeta de fornecer subsistência ao homem que, de uma maneira ou de outra, a morte prematura acaba visitando a raça humana”.
17
De acordo com Ricklefs (2003, p. 250) o crescimento continuado da população
humana, como mostra a Figura 1, “estressará ainda mais a biosfera e levará a uma
degradação adicional de muitos ambientes”.
Fonte: Ricklefs (2003, p. 251). Segundo W. K. Purves, G. H. Orians, H. C. Heller e D. Sadava, Life: The Science of Biology (5th ed.), Sinauer Associates, Sunderlan, MA, 1998). FIGURA 1 - A população humana aumentou rapidamente com o desenvolvimento da tecnologia.
Raven; Evert; Eichhorn (2001) consideram que a população humana está
crescendo muito rapidamente e mais de 95% desse crescimento ocorre em países em
desenvolvimento. Aproximadamente 25% da população mundial vive na miséria absoluta.
Esse rápido crescimento da população humana acarreta muitas e variadas conseqüências,
dentre elas: enorme consumo de combustíveis fósseis não-renováveis, a poluição resultante
tanto da queima dos combustíveis quanto do derramamento de óleo durante o seu transporte,
desnutrição, fome, contínua vulnerabilidade a doenças infecciosas e a perda de habitat.
Sobre esse aspecto, Ricklefs (2003) entende que a taxa intrínseca de crescimento
populacional é contrabalançada por fatores extrínsecos, ou seja, quando a população se torna
numerosa demais, há menos alimentos para cada um; menos recursos significam que menos
pessoas sobrevivem. Populações comprimidas também agravam a vida social, promovendo a
eclosão de doenças. Alguns desses fatores podem agir juntos no sentido de desacelerar e até
mesmo parar o crescimento.
18
Para Ricklefs (2003, p. 262), o biologista e naturalista Charles Darwin (1809 -
1882) teve uma visão essencialmente moderna da regulação de populações a partir de
observações sobre a imensa capacidade delas crescerem, e ecoou esta visão em A Origem das
Espécies (1859), da seguinte forma:
Conforme são produzidos mais indivíduos do que os que podem possivelmente sobreviver, deve haver em todos os casos uma luta pela existência, ou de um indivíduo contra o outro da mesma espécie, ou com os indivíduos de espécies distintas, ou com as condições físicas da vida. É a doutrina de Malthus aplicada com força redobrada para todos os reinos animal e vegetal; pois neste caso não pode haver aumento artificial de alimentos e nenhuma restrição prudente ao casamento. Embora algumas espécies possam estar agora crescendo mais ou menos rapidamente em números, todos não podem fazer isso, porque o mundo não os conteria.
As espécies estão se extinguindo em um ritmo alarmante. As atividades humanas
têm levado a um incremento de mil vezes a velocidade de extinção em escala mundial, de tal
modo que, para cada nova espécie que surge por evolução, mais de 1.000 desaparecem.
Mesmo após o recente reconhecimento do problema, esse ritmo continua em escalada
crescente. Ao final do século vinte e um, a não ser que haja urgente e profunda mudança no
comportamento humano, nada menos do que três quartos de todas as espécies que vivem em
ambiente terrestre se extinguirão ou estarão em vias de extinção (RAVEN; EVERT;
EICHHORN, 2001).
Segundo os referidos autores, existiram somente cinco grandes eventos de
extinção nos mais de 3,5 bilhões de anos da história da vida na Terra, todos aparentemente
causados por cataclismos ambientais, como colisões de asteróides. O século vinte
testemunhou o início do sexto grande evento, mas este é causado por atividades de uma única
espécie, o ser humano.
O crescimento populacional tem tido profundas conseqüências ecológicas. Foram
perdidos com a erosão cerca de um quarto da superfície das camadas externas do solo da
Terra e perto de um quinto da terra cultivável, devido à combinação de práticas agrícolas
inadequadas e abuso de áreas agrícolas marginais. A composição atmosférica foi alterada
substancialmente. Derrubou-se sem reposição cerca de um terço das florestas que existiam em
1950. Quase 50% do total da produtividade fotossintética líquida da Terra - a produção de
quase metade de todas as plantas terrestres do mundo – é direta ou indiretamente consumida,
gasta ou redirecionada pelo homem (RAVEN; EVERT; EICHHORN, 2001).
De acordo com o National Research Council (1993, apud Camargo A. L., 2003, p.
23), “os modelos matemáticos dos processos globais demonstram que, em certas condições,
pequenas perturbações no meio ambiente podem ter grandes efeitos”. É assim que pequenas
19
mudanças nas ações desenvolvidas pelo Homem podem produzir efeitos globais ainda que,
em algumas situações, grandes mudanças possam não fazer nenhuma diferença.
Esta dissertação procura propor um modelo operacional de desenvolvimento
ambientalmente sustentável que contribua para a redução da degradação ambiental no estado
do Ceará, apresentando:
a) Fundamentação Teórica alicerçada nos conceitos que constituem a base do
Desenvolvimento Sustentável;
b) No que se refere a Material e Métodos, uma rápida descrição da área geográfica
considerada, um método de análise tomando por base o princípio protetor-
recebedor, as técnicas de pesquisas e comentário sobre estudo de caso;
c) Análise dos resultados do Programa Selo Município Verde (PSMV) e do ICMS
Ecológico; e
d) A última etapa consiste na interpretação e análise propriamente dita, para
favorecer a consolidação de concisa proposta de um novo modelo de
desenvolvimento ambientalmente sustentável para o Estado do Ceará.
Desse modo, é de se esperar que os municípios cearenses não se enquadrem no
lugar comum citado por Camargo A. L. (2003, p. 14), que assim se expressa: [...] “embora já
tenhamos começado a enfocar os principais desafios globais de nossa época, freqüentemente
temos conseguido apenas atrasar as tendências destrutivas, em vez de revertê-las”.
1.1 O Problema e sua Importância
A emergência e a gravidade dos problemas ambientais aliados à conseqüente
mobilização e organização social e institucional em torno da problemática ambiental, assim
como a intensificação e a preocupação crescentes com os efeitos globais dos riscos
ambientais, têm feito com que a expressão desenvolvimento sustentável tenha se tornado
extremamente usada no Brasil, com os mais diversos sentidos, e pelos mais diversos tipos de
indivíduos, setores ou instituições.
Passadas mais de duas décadas da instituição da Política Nacional do Meio
Ambiente (Lei nº 6938 de 31/08/1981), avalia-se que sua eficiência ainda é questionável, pois
as ações degradadoras da qualidade ambiental são vistas com freqüência em quase todo o
país, possivelmente como decorrência da fragilidade das estruturas de controle que têm
20
permitido, por ineficiência, incompetência ou falta de estrutura, a ocorrência dessas ações
lesivas. Torna-se, portanto, de vital urgência a busca de alternativas que possam superar essas
deficiências.
Segundo Camargo A. L. (2003), a Rio-92, também conhecida como Eco-92,
Cúpula da Terra ou Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento (CNUMAD), foi considerada o mais promissor e importante encontro do
século XX. Esse encontro teve como desafio criar um novo modelo de desenvolvimento,
capaz de fomentar o progresso humano, não apenas em alguns lugares e por alguns anos, mas
em todo o planeta e por tempo indeterminado.
A necessidade de incentivar os municípios que desenvolvam ações de proteção ao
meio ambiente proporcionando melhorias na qualidade de vida das suas gerações presentes e
futuras, e a escassez de recursos financeiros para o gerenciamento dessas ações, mostram a
necessidade do Estado, em razão do seu dever institucional de incentivar as municipalidades a
adotarem políticas ambientais para esse fim, de criar um mecanismo financeiro, que
efetivamente estimule as ações ambientais.
É dentro desse novo paradigma cearense de desenvolvimento ambientalmente
sustentável que se sugere aliar ao Programa Selo Município Verde, em vigor desde 2004, a
implementação do ICMS Ecológico no Estado do Ceará, a fim de favorecer a internalização
do viés ambiental, definitivamente, nas políticas públicas e nas ações municipais.
1.2 Hipótese
É possível traçar um modelo operacional de desenvolvimento sustentável para o
Estado que seja ao mesmo tempo economicamente viável, ambientalmente sustentável e
socialmente justo.
21
1.3 Objetivos
1.3.1 Objetivo Geral
Propor um Modelo Operacional de Desenvolvimento Ambientalmente Sustentável
para o Estado do Ceará fundamentado no Princípio Protetor Recebedor, tendo como alicerces
o Programa Selo Município Verde e o ICMS Ecológico.
1.3.2 Objetivos Específicos
a) Analisar o Programa Selo Município Verde (PSMV) como instrumento
identificador dos municípios que atendam a critérios pré-estabelecidos de conservação da
biodiversidade.
b) Analisar a importância do ICMS Ecológico como instrumento de compensação
financeira aos municípios que protejam o meio ambiente.
c) Propor um Modelo Operacional de Desenvolvimento Ambientalmente Sustentável
para o Estado do Ceará, com maior participação política e descentralização do planejamento e
do poder de decisão.
22
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 Políticas Públicas
2.1.1 Princípios e Instrumentos de Política Ambiental Pública no Brasil
A Constituição de 1988, na visão de Nalini (2003), é um marco a partir do qual o
direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado passou a ser um direito fundamental de
todos os brasileiros e como direito fundamental, dele não se pode abrir mão. O mesmo autor
cita Mirra (1994), juiz e ambientalista, no trecho em que diz:
estabeleceu-se, por via de conseqüência, um dever não apenas moral, como também jurídico e de natureza constitucional, para as gerações atuais de transmitir esse patrimônio ambiental às gerações que nos sucederem e nas melhores condições do ponto de vista do equilíbrio ecológico.
Ainda segundo Nalini (2003), no que se refere à natureza, “o governo não tem
mera discricionariedade. Ou seja, não lhe é dado optar entre defender ou não o ambiente: a
Constituição lhe impõe essa obrigatória política pública”. Ao cidadão compete o direito de
acionar o estado para cumprir essa obrigação tendo o dever, no entanto, de cumprir a sua parte
no tocante à proteção ambiental.
Já Camargo A. (2003, p. 318) lembra que é fundamental atentar para o que
considera como a mais importante das lições que a ecologia e a sociologia nos oferecem a
partir do apogeu da sociedade industrial e do seu consumismo “sem medida e desenfreado”:
na Natureza como na sociedade existe uma teia visível e invisível de interdependências e relacionamentos através dos quais mudanças em uma determinada área se propagam às demais, provocando reações em cadeia de conseqüências imprevisíveis.
Assim, para que se possa reverter distorções graves que impliquem em “uso
abusivo e sem reposição dos recursos naturais e à degradação física e social do meio
ambiente”, Camargo A. (2003, p. 318) orienta no sentido de que sejam imaginadas “soluções
articuladas no espaço de um mesmo território, que possam corrigir estas disfunções
mobilizando todos os recursos econômicos e de infra-estrutura, além dos recursos humanos e
sociais disponíveis”.
Daí sobressai o conceito de Governança, tal como citado por Camargo A. (2003, p.
307):
Governança refere-se a atividades apoiadas em objetivos comuns e partilhados que abrangem tanto as instituições governamentais quanto mecanismos informais, de caráter não-governamental, mas que só funcionam se forem aceitos pela maioria ou, mais precisamente, pelos principais atores1 de um determinado processo.
23
1Leia-se o termo consagrado em inglês, major actors.
Governança é um fenômeno mais amplo do que governo; é o que sugere Camargo
A. (2003, p. 307) quando faz referência a Rosenau e Czempiel (2000) e Falk (1995), ao
afirmar que: “Governo sugere uma autoridade formal, dotada de poder de polícia, que garante
a implementação de políticas instituídas”. Em casos extremos, lembram, pode haver
“governança sem governo e governo sem governança”.
A busca de governança tornou-se urgente conforme nos ensina Camargo A.
(2003), na procura por um novo modelo de cooperação e de parceria entre o governo e a
sociedade, onde o Estado “burocrático patrimonial e corporativo” absorva novas formas de
gestão e de participação que imprimam maior transparência às decisões do governo.
A Constituição de 1988 foi a primeira Constituição Federal Brasileira a inserir em
seu bojo, a questão ambiental, reservando para isso um capítulo específico (Capítulo VI)
contido no Título VIII, “Da Ordem Social”.
Segundo Figueiredo (2005), inúmeros princípios ambientais, expressos ou
implícitos, estão incluídos no texto constitucional. O autor cita os seguintes:
1) Princípio do direito humano fundamental: segundo o qual o direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado é um direito relacionado diretamente à vida
e ao seu exercício pleno;
2) Princípio da supremacia do interesse público na proteção do meio ambiente em
relação aos interesses privados: mostra que o Poder Público está em situação de
autoridade e comando sobre os particulares, como condição indispensável para que
possa gerir os interesses públicos. Nesse caso, a autoridade pública deve cuidar,
zelar, curar e defender o bem ambiental, bem da coletividade, da sociedade, da
comunidade;
3) Princípio da indisponibilidade do interesse público na proteção de meio ambiente:
indica o dever do Estado e dos particulares de não só preservar o meio ambiente,
mas de compreender a sua característica de indisponibilidade;
4) Princípio da obrigatoriedade da intervenção estatal: é o principio operacional que
garante a enunciada proteção constitucional, sem a qual, o ambiente ficaria
totalmente fragilizado;
5) Princípio da prevenção ou precaução: por seu intermédio, devem ser utilizados
todos os instrumentos jurídicos aptos à defesa e preservação do meio ambiente;
24
6) Princípio do desenvolvimento sustentado: por meio do qual, quer-se preservar os
recursos naturais de forma que sua exploração atenda à necessidade presente sem
que sejam exauridos ou que fiquem comprometidos, para as gerações futuras.
Para Figueiredo (2005), há ainda quem identifique a existência de vários outros
princípios tais como: o princípio da proteção da biodiversidade, o princípio da defesa do meio
ambiente, o princípio da responsabilização pelo dano ambiental, e tantos outros.
“Os princípios do direito ambiental têm como finalidade genérica a proteção à vida
e a garantia de um padrão de existência decente e digno, para a presente geração e para as
futuras” (ARAÚJO et al, 2003, p. 75).
De acordo com os mesmos autores, os princípios da Política Nacional do Meio
Ambiente são a implementação dos princípios referentes à Política Global do Meio Ambiente,
formulados na Conferência de Estocolmo de 1972 e ampliados na Eco-92, e que são
adaptados à realidade cultural e social de cada país.
Ainda para Araújo et al (2003), na Constituição Federal os princípios da política
global estão inseridos no Art. 225 e são: princípio do desenvolvimento sustentável, princípio
da prevenção, princípio da participação, princípio da ubiqüidade e princípio do poluidor-
pagador.
O Princípio do Poluidor Pagador (PPP) nasceu como princípio econômico na
década de 70 e com o decorrer do tempo passou a princípio jurídico, tornando-se um
princípio geral do direito ambiental reconhecido, inclusive, como princípio geral no âmbito
do direito internacional em 1992 na Convenção de Helsinque (RIBAS, 2005).
Ribas (2005) acrescenta que a aplicação do PPP significa que o Estado cobra do
poluidor em razão de sua atividade poluidora, de forma a que ele assuma financeiramente, o
equivalente aos custos dos serviços públicos necessários à preservação e recuperação dos
ambientes que ele poluiu.
Na opinião do mencionado autor, ainda não existe uma definição precisa do
princípio, por falta de uma clara determinação dos custos ambientais e a definição de quem
sejam efetivamente os poluidores.
Merico (2002) considera que os instrumentos de política ambiental pública no
Brasil classificam-se em: instrumentos de comando e controle, instrumentos voluntários,
gastos governamentais e instrumentos econômicos. Sobre eles o autor assim se manifesta:
a) Instrumentos de comando e controle: envolvem basicamente a aplicação da
legislação ambiental (comando) e a fiscalização e monitoramento (controle) da
qualidade ambiental. É a maneira mais tradicional de implementar a política
25
ambiental e pode ter suas atividades potencializadas através de ação conjunta com
o Ministério Público.
b) Instrumentos voluntários: são utilizados pelo Poder Público para induzir processos
de transformação da sociedade através de mudanças comportamentais e de
mercado, fortalecimento da sociedade civil e mudanças produtivas. Um
interessante mecanismo voluntário é a certificação ambiental: o poder público, em
parceria com outras instituições, pode contribuir muito na estruturação de
programas com estes objetivos. A Agenda 21 é também um instrumento
voluntário. Nela devem ser fixados, pela própria sociedade, quais as principais
ações que o poder público, a sociedade civil e as empresas deverão adotar para
aproximar a cidade de padrões sustentáveis.
c) Gastos Governamentais: envolvem as atividades que o governo estabelece como
importantes e prioritárias para canalizar seus esforços e recursos. Pode-se citar:
criação de unidades de conservação, programas de manejo sustentável de recursos
florestais e o controle da poluição em suas diversas formas.
d) Instrumentos Econômicos: a aplicação de mecanismos econômicos na gestão
ambiental é algo promissor e está relacionado à internalização de custos
ambientais. Tanto pode ser baseado na adoção do princípio protetor-recebedor,
como incentivos para detentores de áreas preservadas, como no princípio do
poluidor-pagador, como a taxação de atividades com fortes impactos ambientais.
Já na opinião de João (2004), a política ambiental nacional e a internacional vêm
utilizando diversos instrumentos tais como: regulamentações para utilização de recursos
naturais e para emissões, taxações das emissões, taxação de produtos que utilizam poluentes,
permissões de poluição, bolhas de poluição, permissões de extração e manejo, pagamentos
pela redução de emissões, pagamentos pelo direito de poluir, rótulos “verdes”, educação
ambiental, dentre inúmeros outros, com o objetivo de alcançar a sustentabilidade. Para João
(2004), a literatura agrupa esses instrumentos em duas classes distintas: o sistema regulatório
e o sistema de incentivos.
a) sistema regulatório – também conhecido como instrumento de Comando e
Controle (CEC). “São os mais difundidos no planeta e se caracterizam pela regulação direta
da utilização de recursos naturais, tendo como objetivo principal induzir uma mudança de
comportamento individual” (JOÃO, 2004, p. 62).
26
Estes instrumentos têm como característica principal tratar o sujeito da ação como
alguém potencialmente capaz de cometer delitos e a eles são submetidas regras que, se não
cumpridas, implicam em multas e processos judiciais.
b) sistema de incentivos – é caracterizado por induzir mudanças de comportamento
dos agentes em relação ao meio ambiente. Na visão da Economia Ecológica, esses
instrumentos são responsáveis por corrigirem falhas de mercado e seguem o princípio da
precaução. Os mais comuns são as taxas, os subsídios, o sistema de depósito reembolso e a
criação de mercados.
Segundo João (2004), os instrumentos econômicos apresentam características que
bem os diferenciam dos instrumentos regulatórios:
a) existência de estímulo financeiro;
b) possibilidade de ação voluntária e
c) intenção de, direta ou indiretamente, melhorar a qualidade ambiental.
Para Fraguío (1995), os instrumentos econômicos para a proteção do meio
ambiente podem ser caracterizados como aqueles instrumentos que proporcionam incentivos
monetários ou financeiros para a ação “voluntária” dos agentes responsáveis, com o propósito
de melhorar a qualidade ambiental.
Sob o ponto de vista de Motta e Young (1997), os instrumentos econômicos
podem ser considerados como alternativas eficientes e ambientalmente eficazes, utilizadas
para complementarem as abordagens estritas do “comando e controle”. Os custos sociais de
controle ambiental podem ser reduzidos, em razão dos incentivos fornecidos para o controle
da poluição ou de outros danos ambientais. Os governos locais passam a ter mais receitas
fiscais, porém os custos administrativos podem ser aumentados, em razão de atividades tais
como fiscalização ou monitoramento, que implicam em esforços adicionais da administração.
Para Yoshida (2005, p. 560),
As políticas ambientais devem se valer mais incisivamente dos instrumentos tributários e econômico-financeiros, com o objetivo primordial de incentivar a observância de seus princípios e preceitos, e preferencialmente no âmbito da prevenção. Não basta, para a efetiva reversão do preocupante quadro de degradação ambiental em escala global, perfilhar a lógica do princípio poluidor-pagador, baseada na imposição de pesados ônus ao poluidor e ao degradador como forma de desestímulo. .......................................................................................................................................... Embora a legislação ambiental brasileira tenha um cunho marcantemente protetivo-repressivo, devem ser introduzidas cada vez mais técnicas de estímulo (facilitação ou atribuição de incentivos), privilegiando-se o controle ativo, que se preocupa em favorecer as ações vantajosas mais do que desfavorecer as ações nocivas ao meio ambiente. Os estímulos e incentivos tributários e econômicos em geral são anteriores ou concomitantes à degradação ambiental e, desse modo, são menos onerosos que corrigi-la posteriormente.
27
Observa-se que na política ambiental do Brasil, há uma propensão à utilização de
instrumentos econômicos como uma abordagem complementar e mais eficiente do que os
tradicionais instrumentos de comando e controle, aplicados no mundo inteiro. Afinal, em
situações em que prevalece a escassez de recursos financeiros, a disposição a receber é mais
alta do que a disposição a pagar.
O Princípio do Protetor Recebedor, que será utilizado como ferramenta de apoio
do Modelo Operacional de Desenvolvimento Ambientalmente Sustentável, defende que o
agente público ou privado que de alguma forma protege um bem natural que reverte em
benefício da comunidade, deve receber uma compensação financeira como incentivo pelo
serviço prestado. Esse Princípio serve de incentivo econômico a quem protege áreas e
representa um símbolo de justiça econômica no momento que valoriza os serviços ambientais
prestados, remunerando esse serviço; parte do pressuposto que se tem valor econômico, é
justo que se receba por ele (RIBEIRO, 1998).
Conforme defendido por Túlio Rosembuj (apud Tupiassu 2004, p. 503),
Um corolário lógico e necessário do princípio do poluidor-pagador é seu exato inverso: todos os que criam, por sua conduta, específicas situações de conservação ambiental, beneficiando a todos, devem receber uma justa compensação, devendo-se reconhecer as externalidades positivas daqueles cujo comportamento ambiental reduz os gastos públicos e traz proveitos para toda a coletividade.
Dentre alguns exemplos de aplicação do Princípio Protetor-Recebedor ou
Princípio do Protetor-Beneficiário, pode-se citar o IPTU, como valioso aliado na conservação
e preservação do patrimônio cultural e da paisagem urbana do país, por meio da concessão de
isenções e incentivos aos proprietários de imóveis protegidos. Cita-se também a isenção do
ITR para as áreas de floresta nativa e outras consideradas de preservação permanente e para
os proprietários de Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs); isenta-se também
desse imposto a chamada reserva legal, onde o corte de árvores é proibido. (ARAÚJO et al.,
2003).
Ainda com relação a possíveis aplicações do Princípio Protetor-Recebedor,
Araújo et al. (2003) lembram que o IPVA pode ser utilizado como instrumento de incentivo à
proteção ambiental, com a concessão de isenções e redução de alíquotas, beneficiando os
proprietários de veículos “ecologicamente corretos”. O IPI, por sua vez, é outro tributo que
pode ser utilizado para proteger o meio ambiente; basta apenas que as alíquotas sejam
graduadas de acordo com as melhorias introduzidas e os benefícios ambientais promovidos
pelas empresas fabricantes. Essa redução das alíquotas poderá influenciar na decisão do
consumidor não somente pelo atrativo financeiro, mas também pelo conceito positivo da
preocupação ambiental da empresa.
28
A filosofia do ICMS Ecológico está pautada no Princípio do Protetor-Recebedor.
Segundo Ribeiro (1998, p. 2),
Aqueles que limpam, recebem, aqueles que permanecem sujando o ambiente, perdem dinheiro para os que limpam. As municipalidades que não investem em saneamento não recebem o recurso: trata-se do Princípio Poluidor-Não-Recebedor.
A gestão ambiental nos países em que existe abundância de recursos aplica o Princípio Usuário-Poluidor-Pagador, que ainda não é usual em países com escassez financeira. Em situações de pobreza, é preciso virar pelo avesso aquele conceito e aplicar os princípios Protetor-Recebedor e Não-Poluidor-Recebedor, que fundamentam esse tipo de incentivo e mostram-se eficazes na realidade concreta de sociedades que precisam resolver as carências de infra-estrutura de saneamento.
O uso de instrumentos econômicos na gestão ambiental pode mitigar fatores
indutores de perdas de biodiversidade.
Tupiassu (2004) lembra que o fornecimento de compensação financeira em
contrapartida à não degradação é também uma das maneiras de se utilizar instrumentos
econômicos com finalidade ambiental, suprindo a demanda de recursos para o
desenvolvimento sustentável e incentivando as políticas preservacionistas.
Sob o ponto de vista da citada autora, no que se refere à conformidade com os
princípios informadores do sistema financeiro e tributário nacional, a adequação dos
instrumentos econômicos já existentes, sem aumentar a carga tributária a que é submetida a
população, representa uma das mais convenientes opções de financiamento das políticas
ambientais no contexto atual.
Apesar de tanto o prêmio como a punição conduzirem à reação a uma determinada
conduta, a possibilidade de obtenção de um prêmio produz maior motivação no acatamento da
norma do que a intimidação produzida pela ameaça de uma penalidade.
Para Motta e Young (1997, p. 5), o uso de instrumentos econômicos (IEs) na
gestão ambiental “requer esforços em três áreas: coerência macroeconômica, adequação legal
e capacidade técnica. Estas três áreas dependem, contudo, da capacidade institucional do setor
de gestão ambiental. É neste contexto que o uso de IEs tem que ser desenvolvido”.
Para os supramencionados autores, a adoção de instrumentos econômicos em um
novo cenário, onde o Estado está tendo seu papel reformulado, parece que foi rapidamente
aceita. O uso dos instrumentos econômicos é, agora, de alta prioridade na gestão ambiental
em todo o Brasil, aonde a consciência ambiental vem aumentando em razão da
democratização, da pressão internacional e das conseqüências ambientais da rápida
industrialização e urbanização.
29
2.1.2 O Processo de Implementação de Políticas Públicas e os Conselhos Municipais
De acordo com Silva e Melo (2000 p.3),
“as vicissitudes da implementação de programas governamentais têm sido entendidas como uma das dimensões cruciais – senão a variável central – para a explicação do insucesso dos governos em atingir os objetivos estabelecidos no desenho das políticas públicas. A implementação revelou-se, portanto, o “elo perdido” nas discussões sobre a eficiência e eficácia da ação governamental”.
As avaliações de políticas públicas, programas e projetos, devem focar de forma
privilegiada o processo de implementação. Como “processo”, o monitoramento e a avaliação
das políticas devem ser considerados como instrumentos que permitam correções de rota,
dando lugar a constantes reformulações. Silva e Melo (2000) consideram que as vicissitudes,
obstáculos e problemas encontrados na fase de implementação de um processo podem estar
associados a problemas diversos tais como: capacidade institucional dos agentes
implementadores, problemas de natureza política e a resistência observada em grupos ou
setores negativamente afetados pela política, que em muitos casos, compõem a própria
máquina administrativa estatal.
Até o final da década de 1970, o modelo de gestão pública no Brasil baseava-se
“na concentração do poder decisório e executivo no nível do governo federal, definindo-se
atribuições e competências residuais para o nível estadual e atribuições de interesse local para
os municípios” (JACOBI, 2002, p. 23).
Até a promulgação da Carta Magna de 1988, os municípios não eram relacionados
como entes de federação sendo extremamente limitados quanto às suas possibilidades de
atuação na administração municipal. A partir dela, os municípios não só foram inseridos na
relação de entes federados, como também passaram a ter garantidas mais autonomia política,
administrativa e financeira (ROCCO, 2004).
De acordo com o mencionado autor, na consolidação das competências previstas
na Constituição Federal, ficou estabelecida a composição dos orçamentos municipais, tanto
pela tributação direta como por meio dos repasses de tributos arrecadados pelos Estados e pela
União. Essa definição permitiu ao administrador ter ciência de quais ações deva estimular
“para que seu orçamento seja mantido ou aumentado, com vistas ao planejamento das ações
viáveis dentro do quadro das obrigações constitucionais”.
Lamentavelmente lembra ainda o mesmo autor, que:
[...] muitos administradores contagiam-se com a miopia política que se limita a enxergar apenas o lapso temporal de seus quatro anos de governo, adotando medidas que podem repercutir negativamente em dez anos ou mais, pois não estará no poder para arcar com as responsabilidades de suas ações. Sob esse prisma, a questão
30
ambiental passa ao largo das políticas aplicadas – até porque os investimentos ambientais costumam apresentar resultados positivos a médio e longo prazos (ROCCO, 2004 p. 245).
O sistema de gestão das políticas públicas no Brasil, descentralizado e
participativo, vem evoluindo a partir da Constituição de 1988, que deu início a um processo
de descentralização que impulsiona mudanças na dinâmica de participação, notadamente em
nível local, obedecendo, em linhas gerais, a um desenho básico formado pela criação de
conselhos gestores, que representam mecanismos institucionalizados de participação em todas
as três esferas de governo, caracterizando-se como formuladores de políticas setoriais.
De acordo com Jacobi (2002, p. 30), “a concepção conciliar ganha terreno no
Brasil com a legitimação do papel inovador dos diversos tipos de conselhos enquanto
facilitadores da presença da sociedade civil na gestão pública”. É através desses conselhos
que os setores que têm interesse em uma determinada política pública podem discutir os seus
objetivos com base em regras claras e transparentes, o que indica um avanço no exercício
efetivo de uma cidadania ativa.
A Constituição do Estado do Ceará, (1989), reza em seu Capítulo VIII, Art. 259,
que “o meio ambiente equilibrado e uma sadia qualidade de vida são direitos inalienáveis do
povo, impondo-se ao Estado e à comunidade o dever de preservá-los e defendê-los.”
Para assegurar a efetividade desse direito, a mesma Constituição legisla sobre o
Conselho Estadual do Meio Ambiente (COEMA), órgão subordinado diretamente ao
Governador do Estado, em que é garantida a participação da comunidade através das
entidades representativas de classe de profissionais de nível superior das áreas de engenharia,
arquitetura, agronomia, biologia, medicina e direito (Art. 264, § 1º ).
O COEMA foi criado como órgão colegiado nos termos da Lei nº 11.411, de 28 de
dezembro de 1987 e integra o Sistema do Meio Ambiente, tendo por finalidade assessorar o
Chefe do Poder Executivo em assuntos de política de proteção ambiental.
No âmbito municipal, os conselhos representam instância de gestão local, onde se
reúnem paritariamente os representantes do Estado e da sociedade civil, com o objetivo de
formular estratégias e controlar a execução das políticas municipais. A sociedade é vista,
então, como parceira do Estado na formulação e controle das políticas públicas.
Segundo Carvalho (2000) compete ao nível municipal de governo a criação de
conselhos municipais setoriais, o que representa um dos procedimentos autônomos do
município no sentido de favorecer à população o direito que lhe é garantido pela Constituição,
de participar efetivamente da política pública do seu município.
31
Carvalho (2000) relaciona as atribuições que competem aos conselhos municipais
setoriais: fiscalizar e auxiliar a administração pública no processo de gestão para melhoria do
serviço público; restaurar a influência direta do cidadão nos negócios da cidade; participar da
decisão do que fazer com as verbas destinadas às políticas sociais; colaborar na elaboração de
políticas, leis e programas de interesse público; controlar a execução das políticas municipais;
funcionar como fóruns participativos de formulação das políticas locais de orientação do
processo de municipalização e não apenas como meros executores ou instrumentos de
captação de recursos financeiros e por último, desenvolver atividade permanente e paralela na
elaboração de diretrizes, ações e decisões, funcionando como instrumento de apoio às
administrações municipais no planejamento do desenvolvimento do município.
No que se refere à forma de organização, os conselhos devem se constituir como
instâncias paritárias, deliberativas e autônomas. Na visão de Carvalho (2000) devem ser
independentes, ou seja, não devem fazer parte do complexo institucional da prefeitura, mas
devem ter peso e voz como elemento político externo à administração municipal.
A pesquisa desenvolvida por Carvalho (2000) mostrou que os conselhos, apesar de
serem instituídos como mecanismos de participação, sofrem de distorções e de dificuldades
em sua atuação como efetivos instrumentos de acompanhamento e controle da execução das
políticas sociais, em razão de apresentarem capacidade apenas formal de deliberação,
possuírem vinculação direta à estrutura político-administrativa do município, apresentarem
desequilíbrios de qualificação entre os membros dos conselhos e por mostrarem uma atuação
inexpressiva.
Para Carvalho (2000) os conselhos municipais hoje existentes, em sua grande
maioria têm sido criados por iniciativa dos governos municipais, com o objetivo apenas de
atender as pressões das esferas federal e estadual, ficando os mesmos atrelados à
administração municipal, transformando-se em meras estruturas formais e inoperantes.
Eles não devem ser usados com o intuito de apenas revestir os governos de uma
aparência democrática, o que ocorre quando há desinteresse da população demonstrado pela
falta de pessoas efetivamente dispostas a participar, desconhecimento do papel e da
importância dos conselhos pela maioria da população e até mesmo por conta do interesse de
prefeitos em manter pessoas de sua confiança nos conselhos de modo a preservar os interesses
da administração municipal.
Apesar de ainda serem pouco atuantes, Carvalho (2000) defende que a criação dos
conselhos representa um primeiro passo no sentido de organizar a sociedade civil,
introduzindo-a nas questões mais amplas que envolvem a administração pública.
32
Os Conselhos constituem conquistas de espaços de participação da sociedade e
representam instrumentos de controle social das políticas públicas em desenvolvimento no
âmbito da gestão ambiental.
Com relação ao Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente – COMDEMA,
a sua importância na gestão ambiental é diretamente proporcional à participação comunitária
e à internalização desta prática na administração pública, visto que é através dessa estrutura
que a comunidade irá participar efetivamente na preservação, conservação, no uso sustentável
e na melhoria da qualidade de vida no município.
O Manual de Orientação para Formação dos Comdemas (SOMA-CE) considera
COMDEMA como sendo uma unidade colegiada, de caráter consultivo (terá que ser
consultado toda vez que alguma atividade possa vir a alterar o ambiente local), deliberativo
(decide sobre todos os temas e problemas a ele apresentados), recursal (sendo o último
recurso administrativo do infrator para a apresentação de defesa) e de assessoramento do
Poder Público Municipal em questões concernentes ao equilíbrio ambiental e à melhoria da
qualidade de vida local.
Os principais objetivos do Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente são:
a) conscientizar e sensibilizar os administradores e demais lideranças dos municípios
da importância do planejamento, da preservação, do controle, da gestão, do
monitoramento e avaliação dos assuntos relacionados ao meio ambiente local;
b) habilitar e garantir a participação do município na execução da Política Estadual do
Meio Ambiente;
c) propiciar a integração das ações de conservação e uso sustentável do meio
ambiente nos três níveis de governo: federal, estadual e municipal;
d) assessorar o Chefe do Poder Executivo Local na gestão de meios técnicos e
administrativos adequados à fiscalização de atividades de impacto local e o
respectivo licenciamento ambiental;
e) estabelecer normas, critérios e padrões relativos ao controle, recuperação e a
manutenção da qualidade ambiental do município, respeitando-se a legislação
federal e estadual pertinentes;
e) influenciar diretamente o dinâmico procedimento de revisão e atualização da
legislação ambiental do município.
33
2.2 Fundamentação Conceitual e Teórica do Desenvolvimento Sustentável
2.2.1 Fundamentação Conceitual do Desenvolvimento Sustentável
O desenvolvimento sustentável, no entendimento de Leff (2001), teve o seu
discurso legitimado, oficializado e difundido após a Conferência das Nações Unidas sobre o
Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD), realizada no Rio de Janeiro, em 1992.
Mas, segundo o referido autor, foi o livro a Primavera Silenciosa da bióloga Rachel Carson o
responsável pelo despertar da consciência ambiental nos anos 60, e que se expandiu nos anos
70, depois da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, Estocolmo,
1972. “Naquele momento é que foram assinalados os limites da racionalidade econômica e os
desafios da degradação ambiental ao projeto civilizatório da modernidade” (LEFF, 2001, p.
16).
Outro marco importante dos anos 60 foi a criação do Clube de Roma, em 1968.
Tratava-se de uma organização não-governamental formada por 30 indivíduos de 10 países,
entre eles cientistas, economistas, humanistas, industriais, pedagogos e funcionários públicos
nacionais e internacionais que se reuniam para debater a crise e o futuro da humanidade.
Meadows et al. (1972) publicaram o estudo Limites do Crescimento, cujas conclusões básicas,
segundo Pestel (2006) são as seguintes:
a) se as atuais tendências de crescimento da população mundial –
industrialização, poluição, produção de alimentos e diminuição de recursos
naturais – continuarem imutáveis, os limites de crescimento neste planeta serão
alcançados dentro dos próximos cem anos;
b) é possível modificar estas tendências de crescimento para formar uma condição
de estabilidade ecológica econômica que se possa manter até um futuro remoto. O
estudo de equilíbrio global poderá ser planejado de tal modo que as necessidades
matériais básicas de cada pessoa tenham igual oportunidade de realizar seu
potencial humano individual;
c) se a população do mundo decidir empenhar-se em obter este segundo resultado,
em vez de lutar pelo primeiro, quanto mais cedo ela começar a trabalhar para
alcançá-lo, maiores serão suas possibilidades de êxito.
Segundo Odum (1985) apud Camargo, A. L. (2003, p. 47), “o Clube de Roma foi
pioneiro no caminho para a consciência internacional dos graves problemas mundiais”.
34
A Comissão Mundial sobre Meio Ambiente foi criada pela Organização das
Nações Unidas (ONU) em 1984, para avaliar os avanços dos processos de degradação
ambiental e a eficácia das políticas ambientais necessárias e suficientes para enfrentar os
problemas decorrentes desses processos. Após três anos de estudos, deliberações e audiências
públicas, o documento intitulado Nosso Futuro Comum, também conhecido como Informe ou
Relatório Brundtland, foi publicado (LEFF, 2001).
Presidida pela então Primeira-Ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland, a
comissão reafirmou uma visão crítica do modelo de desenvolvimento adotado pelos países
industrializados, reproduzido pelas nações em desenvolvimento, ressaltando os riscos do uso
excessivo dos recursos naturais sem levar em consideração a capacidade de suporte dos
ecossistemas.
Esse relatório, em seu segundo Capítulo, define o desenvolvimento sustentável
como sendo “aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade
de as gerações futuras atenderem a suas próprias necessidades”. A referida Comissão propôs
em seu relatório que o progresso econômico fosse integrado à questão ambiental. A idéia se
difundiu com a Rio-92, que lançou as principais diretrizes desse novo desenvolvimento,
assumindo, cada país, o compromisso de elaborar uma Agenda 21, onde estariam
contempladas as bases conceituais de um processo de desenvolvimento economicamente
viável, socialmente justo e ambientalmente sustentável. Desse mesmo processo resultaram
quatro outros acordos: a Declaração do Rio, a Declaração de Princípios sobre o Uso das
Florestas, a Convenção sobre a Diversidade Biológica e a Convenção sobre Mudanças
Climáticas.
A Agenda 21, por sua vez, seria um programa de ação para ser adotado global,
nacional e localmente, em todas as áreas do meio ambiente passíveis de serem impactadas
pela ação humana. Baseado num documento de 40 capítulos, que constitui a mais ousada e
abrangente tentativa já realizada de promover, em escala planetária, um novo padrão de
desenvolvimento para o século XXI, concilia métodos de proteção ambiental, justiça social e
eficiência econômica (BRASIL, 2006).
Daly (1991) considera que de um modo geral os conceitos de desenvolvimento
sustentável são politicamente populares, mas analiticamente confusos. O mencionado autor
optou por uma definição mais formal de desenvolvimento sustentável na perspectiva da
economia ecológica, onde deixa claro que para haver desenvolvimento sustentável é preciso
que a escala da economia esteja dentro da capacidade de sustentação do ecossistema total o
35
que em outras palavras quer dizer que o desenvolvimento sustentável é uma melhoria
qualitativa e que o mesmo não implica em um aumento quantitativo maior do que o aceitável
pela capacidade de suporte, ou seja, a capacidade do ambiente de regenerar os inputs de
matéria-prima e absorver os outputs residuais.
Politicamente, no entendimento de Daly (1991), tornar a definição de
desenvolvimento sustentável confusa é mais conveniente do que ter que encarar medidas que
signifiquem redistribuição de riqueza, controle populacional e ausência de crescimento, sem o
que o desenvolvimento sustentável não passará de uma simples especulação burocrática.
O referido autor procura tornar claros o sentido e a abordagem da economia
ecológica, em relação à economia e à ecologia convencionais, assim como também à
economia dos recursos naturais e à economia do meio ambiente, que ele chamou de
“subdisciplinas híbridas”. Através dessa visão holística, pretende obter um tratamento mais
operacional do conceito de desenvolvimento sustentável, do que os existentes à época.
De\Para
Humano Não-humano
Humano I - Economia (Convencional) IV - Economia d o Meio Ambiente
Não-humano III - Economia dos Recursos Naturais II - Ecologia (Convencional)
Fonte: Daly (1991, p. 2) FIGURA 2 – Matriz de Herman Daly
Com base na Matriz de Herman Daly, Figura 2 pode-se dizer que:
I – Economia: representa a produção do setor humano para o próprio setor
humano; é o domínio da economia tradicional. Neste caso, o input primário é o trabalho
humano e o output final é o consumo doméstico.
II – Ecologia: produção do setor não-humano para o não-humano; é o domínio
tradicional da ecologia. Como exemplo cita-se: transformadores bióticos (plantas, animais e
bactérias) e transformadores abióticos (hidrosfera, atmosfera e litosfera).
36
III – Economia dos Recursos Naturais: inputs do setor não-humano para o
humano; é a disciplina que estuda a extração e a exaustão dos recursos naturais não-
renováveis e o manejo dos renováveis.
IV – Economia do Meio Ambiente: inputs do setor humano para o não-humano;
estuda basicamente a poluição resultante da injeção, na natureza, de produtos residuais da
economia.
A Economia Ecológica abrange a matriz na sua totalidade, envolvendo as quatro
divisões; ao tempo em que consegue incorporar características da economia neoclássica
convencional, consegue ser mais questionadora que ela (DALY, 1991).
O pensamento ecológico é enriquecido por inúmeras correntes ideológicas.
Observa-se que o discurso biocêntrico e a ética antropocêntrica representam as vertentes
radicais, a partir das quais partem as idéias e visões dos movimentos ambientalistas. Na
Figura 3, que mostra os principais movimentos ambientalistas, observa-se que a Economia
Ecológica busca o equilíbrio entre essas correntes.
Fonte: Notas de aula da disciplina Sociedade, Natureza e Desenvolvimento: Fundamentos1
FIGURA 3 – Principais Movimentos Ambientalistas
1 Disciplina ministrada pela Profa. Maria Irles de Oliveira Mayorga, no Curso de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA/UFC, no 1º semestre de 2004.
37
O Biocentrismo é o conceito segundo o qual o Homem está inserido na natureza
como qualquer ser vivo, e todas as espécies vivas têm o mesmo valor. Dentro desta corrente, a
política ambiental praticada é no sentido de priorizar o isolamento da natureza, mantendo-a
protegida da ação devastadora do Homem. As gerações atuais ficam limitadas a um uso
restrito dos recursos naturais existentes, ficando quase tudo “guardado” para as gerações
futuras. Essa corrente também é conhecida como preservacionista, por defender a proteção à
natureza com um fim em si mesmo.
Em outro extremo, o Antropocentrismo atribui à pessoa humana o valor absoluto
do sistema; pressupõe o direito de controle e posse do Homem sobre a natureza, o que lhe dá
o direito de explorar infinitamente todos os recursos naturais, com a finalidade de satisfazer
suas crescentes necessidades. A degradação ambiental é uma conseqüência natural deste
relacionamento. A corrente desenvolvimentista entende que a natureza se recuperará sozinha
ou poderá ser recuperada no futuro, pelos seres humanos.
Hauwermeirer (1998) afirma que a maioria dos autores que lidam com a economia
ecológica concorda em defini-la como a ciência da gestão da “sustentabilidade”. Para ela “a
Economia Ecológica é também a ciência que estuda as relações entre os sistemas econômicos
e os ecossistemas, a partir de uma crítica ecológica da economia convencional”
(HAUWERMEIRER, 1998, p.7).
Segundo a referida autora, a economia ecológica adota uma visão de longo prazo,
sistêmica e transdisciplinar, que transcende a perspectiva do paradigma econômico
predominante na atualidade. Uma economia ecológica é uma economia que reconhece que a
racionalidade econômica e a racionalidade ecológica sozinhas não são suficientes para
alcançar decisões corretas acerca dos problemas ecológicos e econômicos contemporâneos.
Vale lembrar que o Ceará, com o pioneirismo que lhe é característico, não poderia
estar fora de todo esse processo da Rio-92. O Jornal O Povo, em seu Caderno de Economia
(28/julho/1991) demonstra isso, ao apresentar para os seus leitores um artigo com a manchete
“Conferência internacional discutirá semi-árido” e que diz:
Um evento preparatório da Rio-92, a Conferência Internacional sobre Impactos de Variações Climáticas e Desenvolvimento Sustentável em Regiões Semi-Áridas (ICID) reúne, de 27 de janeiro a 1º de fevereiro, em Fortaleza, 150 cientistas do Exterior e 160 brasileiros.
[...] A região semi-árida tem um ecossistema frágil, adota um padrão de desenvolvimento insustentável e é vulnerável ao crescimento econômico e populacional, que provocam maior instabilidade e maior migração [...]
[...] Maurice Strong, secretário da Rio-92, em carta aos organizadores da ICID, disse que aguarda, com expectativa, os resultados da reunião do Ceará para inclusão na última conferência preparatória da Eco-92 [...].
38
Para que esse evento obtivesse o sucesso esperado, a organização da ICID
realizou, como parte do seu processo preparatório, nos dias 23 a 25 de setembro de 1991, o
Seminário Internacional sobre Desenvolvimento Sustentável: Conceito, Teoria e Implicações
para o Planejamento. Esse seminário contou com a participação de acadêmicos de várias
universidades brasileiras2 e estrangeiras, inclusive a USP, Harvard, MIT e policy-makers de
agências governamentais e internacionais como a FAO, PNUD, PNUMA, BIRD, BID, US
EPA, IPEA, Esquel Foundation. O principal objetivo desse seminário foi discutir os conceitos
e aspectos teóricos do desenvolvimento sustentável.
Ciro Ferreira Gomes, Governador do Estado do Ceará à época e Presidente da
ICID, considerou que a realização daquela Conferência Internacional foi um momento
altamente significativo para as regiões semi-áridas do planeta, e também de grande relevância
para a Rio-92. Para ele,
Esta Conferência, com certeza, põe um passo adiante na direção de conformar um modelo de desenvolvimento sustentável calcado em bases técnico-científicas seguras. O eixo central deste modelo deve ser a erradicação da miséria, com todas as suas conseqüências enxovalhantes para as elites irresponsáveis e manipuladoras. É necessário ampliar a discussão em torno dessa formulação. A questão ambiental deixou de ser restrita ao interesse de alguns poucos exóticos verdes “ecoxiitas” para ser hoje uma questão central da preocupação do gênero humano em todo o planeta. Há uma necessidade de se conviver harmoniosamente com o meio ambiente. É falsa a disjuntiva entre desenvolvimento e desenvolvimento sustentável, meio ambiente preservado e meio ambiente usado de forma racional e justa (In MAGALHÃES, 1992, p. 92).
De acordo com Magalhães (1992), a ICID contou com cerca de 600 participantes
representando 45 países que formaram uma equipe interdisciplinar de cientistas, políticos,
formuladores de decisão, representantes da sociedade civil, trabalhadores urbanos e rurais,
membros de organizações governamentais, não-governamentais e de entidades internacionais.
Além dos trabalhos em plenário, foi preparada a Declaração de Fortaleza, documento de
natureza científica e política que objetivou oferecer sugestões concretas à Rio-92, aos
governos e à sociedade em geral.
Os dez grupos de trabalho formados por ocasião da Conferência Internacional
sobre Impactos de Variações Climáticas e Desenvolvimento Sustentável em Regiões Semi-
Áridas realizada em Fortaleza, Ceará, resumiram os debates e recomendações no documento
chamado “Subsídios dos Grupos de Trabalho” e com relação às estratégias de adaptação
sustentável definiram que os componentes básicos do desenvolvimento sustentável incluem:
2 Inclusive da Profa. Irles Mayorga, do Departamento de Economia Agrícola da Universidade Federal do Ceará, orientadora desta dissertação de mestrado, como painelista da sessão relativa a “Aplicabilidade das Estratégias de Desenvolvimento Sustentável a Regiões Semi-Áridas”.
39
a) um novo sistema de contabilidade econômica e social,
b) maior uso de tecnologias apropriadas,
c) uma distribuição de renda mais eqüitativa e conseqüente melhoria da qualidade de
vida,
d) maior participação política e
e) descentralização do planejamento e do poder de decisão.
Para os participantes da ICID, a implementação do desenvolvimento sustentável é
difícil em qualquer que seja a condição ecológica, porém se agrava em regiões pobres, onde
os recursos se encontram exauridos. Eles deixaram claro que as dificuldades são grandes, mas
os benefícios potenciais justificam, pois o desenvolvimento sustentável pode ser a única
resposta à sobrevivência, especialmente no semi-árido (MAGALHÃES, 1992).
Baroni (1992, p. 16) transcreve uma série de definições dadas ao termo
desenvolvimento sustentável, “que exemplificam a diversidade de idéias e refletem a falta de
precisão na conceituação corrente do termo”. Para ela, muitos autores se propõem definir
desenvolvimento sustentável, mas apresentam propostas genéricas e setoriais demais, além do
que, a palavra sustentável leva a interpretações contraditórias, como reconhecido pelo próprio
relatório Caring for the Earth – a strategy for sustainable living que assim se posiciona:
A confusão do termo surgiu porque desenvolvimento sustentável, crescimento sustentável, uso sustentável têm sido usados como termos intercambiáveis, como se tivessem o mesmo significado, mas não têm. Crescimento sustentável é uma contradição em si mesmo: nada do que é físico pode crescer indefinidamente. Uso sustentável aplica-se somente a recursos renováveis: significa o uso desses recursos em quantidades compatíveis com sua capacidade de renovação. Desenvolvimento sustentável é empregado nessa estratégia como significado de melhorar a qualidade de vida humana dentro dos limites da capacidade de suporte dos ecossistemas (BARONI, 1992. p. 22).
A discussão sobre desenvolvimento sustentável, de alguma maneira, serviu para
abrir as portas a novas idéias porque, no entendimento de Baroni (1992, p. 23), “ao discutir a
necessidade e a capacidade das futuras gerações terem acesso aos bens ambientais finitos, em
termos de igualdade de condições com a geração atual, permitiu também a discussão da
equidade social dentro de uma mesma geração”.
Em 1997, também no Rio de Janeiro, foi realizado o encontro denominado Rio+5,
coordenado pelo canadense Maurice Strong, o mesmo que coordenou a Eco-92. De acordo
com Moura (2000) apud Camargo A. L. (2003), a Rio+5 foi um encontro não-oficial que teve
como propósito avaliar o efetivo andamento das decisões da Agenda 21 e que concluiu que
muito pouca coisa havia sido feita nos 5 anos que o antecederam.
40
Segundo Kalaw (1997), diretor-executivo do Conselho da Terra, a ONG que teve a
iniciativa de convocar e organizar o evento, para a Rio+5 foram convidados os chefes de
Estado dos 190 países que participaram da Rio-92, os ministros do Planejamento e Meio
Ambiente e os presidentes dos Conselhos de Desenvolvimento Sustentável. De acordo com o
mencionado autor, nos cinco anos que separam a Rio+5 da Conferência do Rio, verifica-se
que a maior parte dos problemas da Humanidade tem se agravado; o cenário não permite
muito otimismo.
Nove anos depois da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento, o Rio de Janeiro voltou a sediar outros importantes eventos de porte
internacional, ligados à ecologia: a XIII Reunião do Fórum de Ministros do Meio Ambiente
da América Latina e do Caribe e a Conferência Regional Preparatória para a Cúpula Mundial
sobre Desenvolvimento Sustentável. Reuniram-se representantes de 36 países, entre eles 17
ministros, além de observadores dos Estados Unidos e do Canadá, que reafirmaram os
princípios firmados na Rio-92, cobrando o compromisso assumido pelos países desenvolvidos
(NEIVA, 2001)
Na opinião desses dirigentes, segundo Neiva (2001), a instabilidade econômica, a
exclusão social e o esgotamento dos recursos naturais representam alguns dos efeitos
negativos da globalização, tornando-se necessário fortalecer as políticas para facilitar o
desenvolvimento econômico com equidade, “mediante a incorporação de fatores sociais e a
proteção dos recursos naturais para benefício das gerações presentes e futuras”. Acrescentam
ainda que “é preciso velar pela existência de um vínculo sustentável entre a humanidade e a
natureza”.
“Dez anos depois da Rio 92, é preciso reconhecer que quase nada mudou e que
avançou-se muito pouco no rumo de uma verdadeira instabilidade. Pior ainda, em muitos
aspectos estamos observando um profundo retrocesso [...]”, esta é a visão das ONGs que
constituem o Fórum Brasileiro de Organizações Não Governamentais e Movimentos Sociais
para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, expressa no documento BRASIL (2002), a
Sustentabilidade que Queremos.
Para essas Organizações Não Governamentais,
No caso do Brasil, por exemplo, é preciso considerar que a construção da sustentabilidade não pode ser realizada por meio de medidas pontuais e fragmentadas. Ela requer uma mudança profunda no modelo de desenvolvimento dominante no país. Esse modelo apresenta cinco traços marcantes que, de uma maneira ou de outra, caminham na contra-mão da justiça e da sustentabilidade: desigualdade, degradação do meio ambiente, dependência externa, reestruturação produtiva subordinada, enfraquecimento da democracia (BRASIL, 2002, p. 3).
41
Batista (2003, p. 14) afirma que as propostas sugeridas na Rio 92 para enfrentar a
crise ambiental planetária não se efetivaram até os dias de hoje, no seu sentido mais amplo.
Isso acontece em função do modelo capitalista que se apropria indevidamente e cada vez
mais, dos recursos naturais, “fomentando uma lógica que não satisfaz as reais necessidades
humanas e um modelo de produção e consumo insustentáveis que fortalece as imposições do
mercado, notadamente das grandes empresas multinacionais e transnacionais”. O autor
também destaca o papel das mídias que, no seu entender, encontram-se cada vez mais
“desprovidas de sentido ético” e que funcionam como “reforço fundamental do atual sistema”.
A médica, especialista em saúde pública e ex-primeira ministra da Noruega,
responsável pelo Relatório Nosso Futuro Comum publicado em 1987, Gro Marlen
Brundtland, em entrevista ao Programa Roda Viva, da TV Cultura, gravado em 11 nov. 2005
assim se manifestou: “o conceito de desenvolvimento sustentável já foi compreendido no
mundo todo, mas as práticas para que se chegue a ele avançam de forma muito lenta”. Para
ela, “houve a conscientização dos problemas que enfrentamos, mas a capacidade para fazer o
necessário para as mudanças imprescindíveis, não está no mesmo nível”. Por onde passa,
Brundtland alerta que é preciso “casar” economia com proteção ambiental e que “o mundo
precisa compreender que o problema de um é problema de todos”.
Gro Brundtland lembra que as decisões que levam ao desenvolvimento sustentável
devem ser tomadas em bases científicas e que as instituições precisam ser competentes para
geri-las, devendo as mesmas serem acompanhadas e fiscalizadas; todo compromisso deve ter
um mecanismo de controle. Segundo a cientista, o planeta vai depender do que fizer a
humanidade hoje, atribuindo a responsabilidade maior desse futuro à mídia, aos intelectuais e
às universidades.
Küster (2003, p. 12), referindo-se à Eco-92, diz que atualmente se tem acesso a um
farto material e um grande número de dados que “documentam as proporções ameaçadoras
assumidas pela degradação ambiental e pelo desequilíbrio social em nosso planeta”. Apesar
disso, segundo a mesma autora, “não se viram grandes avanços no debate acerca de
alternativas ao modelo de desenvolvimento adotado pelos países industrializados”.
42
2.2.2 Fundamentação Teórica do Desenvolvimento Sustentável
Qualquer modelo de desenvolvimento sustentável deve promover geração de
riqueza sustentável, buscar a justiça social e ter uma atuação ambientalmente responsável;
esses são os três pilares em que se fundamenta teoricamente o desenvolvimento sustentável: o
econômico, o social e o ambiental.
2.2.2.1 Economicamente Viável
De acordo com Caporali (1995), a crítica à irresponsabilidade com que a teoria
econômica encarava os problemas de ordem ambiental, onde os elementos naturais utilizados
e os efluentes gerados ficavam inteiramente à margem da economia, começou a surgir no final
dos anos 60. Segundo o referido autor, cientistas de alto prestígio, estudiosos da natureza,
assinaram um manifesto com o título Blueprints for survival que fez eclodir o debate,
chamando a atenção para o fato de que o futuro da humanidade estava em questão. Esse
documento antecedeu o Limites do Crescimento, do Clube de Roma.
A partir daí, segundo Caporali (1995), o conceito de desenvolvimento econômico
passou a sofrer um intenso processo de revisão, mais ou menos crítico ou cauteloso
dependendo do ambiente intelectual e profissional onde se dava o debate, para iniciar a
exploração do conceito mais amplo de desenvolvimento sustentável.
A escassez, alicerce da teoria e prática econômica, converteu-se numa escassez global que já não se resolve mediante o progresso técnico, pela substituição de recursos escassos por outros mais abundantes ou pelo aproveitamento de espaços não saturados para o depósito dos rejeitos gerados pelo crescimento desenfreado da produção (LEFF, 2001, p. 16)
Segundo Leff (2001), os fundamentos da racionalidade econômica são colocados
em questão pela crise ambiental; para o autor, “a economia fundada nos princípios da
mecânica desterrou a vida e a natureza do campo da produção, minando as condições de
sustentabilidade ecológica do desenvolvimento” (LEFF, 2001, p. 42).
A economia ecológica está construindo um novo paradigma teórico através de
interdisciplinaridades (ecologia, demografia, tecnologia, termodinâmica, antropologia, teoria
de sistemas), para valorizar e incorporar as condições ecológicas do desenvolvimento. A
partir de uma visão ecossistêmica da produção, a economia reordena-se dentro da ecologia,
43
procurando sujeitar as trocas econômicas às condições do metabolismo geral da natureza.
(LEFF, 2001).
Para Merico (2002), o desenvolvimento sustentável implica em uma discussão
sobre a permanência ou durabilidade da estrutura de funcionamento de todo o processo
produtivo, questionando-se o horizonte de tempo desta sustentabilidade. Segundo ele, muitos
autores ainda associam a palavra “desenvolvimento” à idéia de crescimento econômico, no
contexto do atual modelo, adotado no mundo inteiro de forma generalizada, e que se encontra
absolutamente esgotado. Nessa visão, desenvolvimento sustentável seria impossível de existir.
Dentro desse contexto, verifica-se que o atual modelo de desenvolvimento
econômico é insustentável, sendo imprescindível incorporar os limites sociais e ambientais à
racionalidade econômica objetivando que ela seja profundamente alterada, com a conseqüente
incorporação dos limites sociais e ambientais (MERICO, 2002).
Nesse sentido Merico (2002) entende que:
Para a adoção desta reorientação, entretanto, é necessário primeiro o reconhecimento de que algo está errado: que as presentes políticas econômicas não mais respondem aos desafios deste novo momento histórico, no qual os limites da biosfera foram encontrados e, em vários casos, ultrapassados, provocando rupturas. As evidências econômicas e ecológicas desses fatos precisam ser consideradas em profundidade, nas tomadas de decisões.
De acordo com Mota (2002, p. 170), “o uso de um ativo natural superior à sua
capacidade, além de gerar conflito, não resguarda o direito de uso das futuras gerações”.
Ainda para Mota, o capital natural tem função estratégica para os países, desempenhando
serviços relevantes para o equilíbrio dos ecossistemas, assegurando a diversidade biológica,
mantendo o fluxo de matérias para as atividades econômicas e antrópicas além de fornecer,
também, informações preciosas à ciência, de um modo geral.
Na produção econômica, as políticas governamentais devem estar direcionadas a
induzir a redução dos processos de degradação através do direcionamento dos planos e ações
na busca do reaproveitamento de resíduos e otimização de matérias-primas. Se o recurso
natural não-renovável for convenientemente reciclado, a economia obtida possibilitará a
dilatação do prazo de existência desse recurso na natureza.
2.2.2.2 Socialmente Justo
Segundo Cavalcanti (1995), o processo de desenvolvimento não pode ser
entendido de forma dissociada da proteção do ambiente; esta proteção é parte integrante do
44
processo e é isso que conduz ao desenvolvimento sustentável. A distinção entre crescimento e
desenvolvimento deve ser levada em consideração até porque crescimento somente considera
a acumulação de riquezas, não levando em consideração nenhum outro aspecto da qualidade
de vida que induza à igualdade nem à justiça social. O desenvolvimento, por sua vez, além da
preocupação com a riqueza, objetiva distribuí-la, buscando melhorar a qualidade de vida da
população e a conseqüente qualidade ambiental do planeta no todo.
De acordo com os autores Mayorga, Arenas e Mayorga (2000), o mundo atual se
apresenta como uma realidade composta de sistemas culturais, sociais, políticos, econômicos
e naturais altamente desintegrados comparativamente à sua origem e com sérios conflitos de
diferentes espécies. A presença do meio ambiente no cenário internacional tem trazido uma
discussão sobre o conceito de desenvolvimento sustentável e a renovação do debate ético e
filosófico.
Mayorga, Arenas e Mayorga (2000, p. 6) entendem que
[...] se no modelo industrial, o conceito de desenvolvimento está relacionado com incrementos quantitativos em indicadores econômicos, na nova sociedade, estabelece-se a magnitude ou medida do desenvolvimento pelo bem-estar social e a participação das comunidades na gestão de suas decisões.
A justiça social prescreve que a organização da sociedade crie estruturas que
garantam a todos os cidadãos a oportunidade de desenvolver suas capacidades e de evoluir em
suas condições históricas (MAYORGA, ARENAS e MAYORGA, 2000).
Para os citados autores, o conceito de desenvolvimento está relacionado com bem
estar e qualidade de vida das populações e coloca a participação na tomada de decisões como
uma questão essencial. Nesta ordem, o desenvolvimento sustentável só é possível sobre o
patamar da justiça social.
Na visão de Leff (2001, p. 57):
O desenvolvimento sustentável é um projeto social e político que aponta para o ordenamento ecológico e a descentralização territorial da produção, assim como para a diversificação dos tipos de desenvolvimento e dos modos de vida das populações que habitam o planeta. Neste sentido, oferece novos princípios aos processos de democratização da sociedade que induzem à participação direta das comunidades na apropriação e transformação de seus recursos ambientais.
De acordo com Mandarino (2002), vários são os estudiosos da questão ambiental
que defendem o estabelecimento de uma sociedade sustentável que junte o uso racional e
criterioso dos recursos naturais a uma melhoria da qualidade de vida. Isso implica em uma
redefinição das relações homem-natureza, impondo um reconhecimento dos limites à
intervenção econômica e a adoção de uma conduta mais equilibrada com relação à natureza.
45
Ainda para Mandarino (2002, p. 223), “além da dimensão tecnológica, econômica
e legal, as práticas sustentáveis têm também dimensão cultural, política e pessoal, na medida
em que a mudança no nível de consciência individual é decisiva para a implementação das
mudanças que se requer”.
Os indivíduos ou as unidades familiares, são os melhores juízes quanto às causas
que contribuem ou não para o seu bem-estar, que poderá ser crescente ou decrescente, de
acordo como avaliam os impactos que os afetam (LEFTWICH, 1983). De acordo com o autor
citado, como não existem meios de medir e comparar o ganho de uma pessoa ou de um grupo
de pessoas em relação a outros, aceita-se o conceito de bem-estar grupal conhecido como
Ótimo de Pareto ou Pareto optimum (criado no início do século vinte pelo economista italiano
Vilfredo Pareto).
O ótimo de Pareto é tido como existente quando nenhum evento pode aumentar o bem-estar de uma pessoa sem diminuir o bem-estar de alguma outra. Se considerarmos de outra forma, um ótimo de Pareto não existe se uma ou mais pessoas podem estar em melhor situação sem deixar ninguém em pior situação. Se um ótimo de Pareto não existir, um movimento nesta direção – deixando pelo menos uma pessoa em melhor situação sem ficar ninguém pior – irá aumentar o bem-estar grupal (LEFTWICH, 1983, p. 11).
Ainda segundo Leftwich (1983), “haverá muito que se afirmar sobre as condições
de eficiência econômica para uma dada distribuição de renda, mas não haverá muito para
dizer se uma distribuição de renda é mais eficiente que outra”.
2.2.2.3 Ambientalmente Sustentável
A Economia Ecológica procura fazer um “balanceamento de valores”, analisando
todos os elementos que estiverem em jogo, buscando a solução mais equilibrada, que seja
compatível ao mesmo tempo com as exigências essenciais à vida e ao desenvolvimento
econômico. A defesa do meio ambiente deve ser vista como uma função protetora da
sociedade e não como forma de entrave ao desenvolvimento econômico. É também conhecida
como ecodesenvolvimentista (SACHS, 1986).
Sachs (1986) já defendia a minimização da dilapidação dos recursos não
renováveis e a orientação para o aproveitamento dos recursos renováveis, estabelecendo uma
estratégia de desenvolvimento sócio-econômico ecologicamente consciente e de longo prazo.
46
B
A
C
TDA
CPP
GeraçãoAtual
GeraçõesFuturas
B
A
C
TDA
CPP
GeraçãoAtual
GeraçõesFuturas
Fonte: Notas de aula da Disciplina: Análise de Custo e Benefício Social3
FIGURA 4 – Curva de Possibilidade de Produção Eficiente (CPP)
A Figura 4 representa a Curva de Possibilidade de Produção Eficiente onde se
consideram as gerações atuais e as futuras. Observa-se que quanto mais recursos forem
utilizados pelas gerações atuais, menos sobrará para as gerações futuras (Ponto A =
Antropocentrismo). A excessiva preocupação com as futuras gerações anularia a possibilidade
das gerações atuais usufruírem o meio ambiente (Ponto B = Biocentrismo). O Ponto C
representa a busca de atividades que funcionem em harmonia com a natureza e promovam,
acima de tudo, a melhoria da qualidade de vida de toda a sociedade.
De acordo com Motta (2002, p. 2),
o valor econômico dos recursos ambientais geralmente não é observável no mercado através de preços que reflitam seu custo de oportunidade. Entretanto, eles têm atributos de consumo associados ao seu uso e à sua existência que afetam tanto a produção de bens e serviços privados como diretamente o consumo dos indivíduos.
Por outro lado, ainda segundo o mencionado autor, o valor de não-uso está
dissociado do uso e “deriva-se de uma posição moral, cultural, ética ou altruísta em relação
aos direitos de existência de espécies não-humanas ou preservação de outras riquezas naturais,
mesmo que estas não representem uso atual ou futuro para o indivíduo” (Motta, 2002, p. 2).
Nesse sentido o referido autor entende que o exercício de valoração é quase
sempre uma ação limitada e o seu grau de validade depende do objetivo da valoração, das
3 Disciplina ministrada pela Profa. Maria Irles de Oliveira Mayorga, no Curso de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA/UFC, no 2º semestre de 2004.
47
hipóteses assumidas, da disponibilidade de dados e do conhecimento da dinâmica ecológica
do objeto sob avaliação.
Com relação à Taxa de Desconto Ambiental (TDA), os economistas envolvidos
com a avaliação dos ativos ambientais apresentam grandes divergências, que dificultam a
obtenção de consenso quanto à valoração dos impactos ambientais (D’ARGE, 1993, apud
LEMME, 2000).
Os impactos ambientais podem ser estimados por diversas técnicas de mensuração.
O Método de Valoração Contingente representa uma dessas técnicas, que se caracteriza por
estimar o valor econômico de “bens e serviços” ambientais que não apresentam um valor de
mercado. Este método consiste basicamente no estabelecimento de um mercado hipotético,
onde as pessoas são questionadas sobre as suas preferências; busca-se encontrar para o
indivíduo afetado, sua disposição a pagar (DAP) para evitar ou reduzir um impacto ambiental
negativo, ou a sua disposição a receber pagamento (DARP) como compensação pelo aumento
ou decréscimo na qualidade ou quantidade de um “bem ou serviço” ambiental ofertado.
Para Hauwermeirer (1998), a taxa de desconto é um percentual que se aplica aos
valores de custos e benefícios que se manifestarão no futuro, convertendo esses valores
futuros em valores atualizados, e será tanto menor quanto mais distante for o tempo
considerado. A discriminação às gerações futuras é observada no momento em que se atribui
um peso distinto aos custos e benefícios, que vai se tornando cada vez menor, a cada geração
que se sucede.
No momento em que alguns recursos naturais tornam-se escassos e as ameaças à
biodiversidade crescem assustadoramente, trazendo grandes impactos negativos ao meio
ambiente, estudos retratam a importância do ambiente natural para a perpetuação de todas as
espécies, assim como mostram os danos causados à natureza, principalmente pela atividade
humana que a explora de forma predatória e inconseqüente, com a finalidade única de
satisfação de suas necessidades.
Nesse sentido Merico (2002) lembra que o desenvolvimento sustentável implica
em equidade intrageracional no uso dos estoques de capital natural e na distribuição de renda,
problemas que podem ser analisados sob vários aspectos: o primeiro diz respeito ao consenso
de que as populações empobrecidas são mais afetadas pela degradação ambiental visto que
elas ocupam áreas com maior risco ambiental, além de sofrerem com a carência de
saneamento, limpeza urbana, exposição à poluição, etc.; o segundo aspecto relaciona-se com
as diferenças nos níveis de consumo entre os povos e por último a crescente exclusão social,
48
que é resultante de um modelo econômico que induz o crescimento sem que as necessidades
humanas básicas sejam atendidas, gerando inclusive profundas injustiças sociais.
Outro elemento importante da sustentabilidade, também observado pelo autor, é a
equidade intergeracional. A própria definição do Relatório Brundtland ressalta o respeito às
gerações futuras, sem descuidar das gerações presentes.
O desenvolvimento sustentável depende de atos políticos capazes de superar as
práticas de políticas clientelistas, as negociatas, as alianças espúrias (ALMEIDA JR., 2000).
Um dos direitos do cidadão é o de não ser vítima da corrupção, por ser ela um dos
grandes males que afetam o poder público. A corrupção corroi a dignidade do cidadão,
deteriora o convívio social, arruína os serviços públicos e compromete a vida das gerações
atuais e futuras. A corrupção subtrai verbas da educação, da saúde e de muitos outros setores,
condenando a nação a um subdesenvolvimento econômico crônico, que não condiz com o
desenvolvimento econômico sustentável tão almejado pela sociedade organizada
(OLIVEROS, 2004).
Ainda segundo Oliveros (2004), a corrupção não se encontra presente em um local
específico da administração pública, motivo pelo qual as estratégias anticorrupção têm que ser
multidimensionais e multisetoriais. Para que sejam realmente efetivas, as estratégias devem
basear-se em cinco elementos chave: aumento da responsabilidade política; fortalecimento da
participação da sociedade civil; criação de um setor privado competitivo; desenvolvimento de
mecanismos institucionais de controle do poder e melhora da gestão do setor público.
Cabral; Souza (2002, p. 22) defendem que “alguns pontos essenciais dentro da
política de proteção ambiental são o envolvimento dos cidadãos, a participação efetiva da
sociedade no processo de desenvolvimento econômico e a proteção dos recursos naturais”. Os
referidos autores citam Marsiglia Neto (1998, apud Cabral; Souza, 2002, pg. 22) que defende
a tese de que “a sociedade é a única capaz de tocar os sentidos da classe política”. Segundo o
referido autor, “ela é a principal aliada para atingir os objetivos da criação de um arcabouço
político-institucional com as políticas nacionais de saúde pública, desenvolvimento urbano,
meio ambiente e recursos hídricos”.
No Brasil, a participação em processos decisórios políticos foi institucionalizada
em 1988, através da Constituição Federal, onde a descentralização por meio de uma
redistribuição das competências para os governos estaduais e para os municipais passou a ter
grande destaque. De acordo com Küster (2003), o Estado não é mais capaz de assumir, nesta
complexa sociedade atual, todas as funções, fazendo-se necessário delegar e redistribuir
competências. A mesma autora lembra que são os moradores quem melhor conhecem seus
49
próprios problemas e também são eles que assumem, por iniciativa própria, a
responsabilidade pela manutenção dos projetos, sendo assim capazes de realizar as tarefas
com maior eficiência do que pessoas ligadas a instâncias administrativas distantes deles.
A Constituição Federal já previa a implantação de Conselhos municipais em áreas de política social, e o Governo do Estado do Ceará, através de seu modelo participativo, deu um passo além das disposições constitucionais. Os fóruns populares deveriam contribuir para a integração dos diversos setores, visando ao planejamento do desenvolvimento sustentável. Este modelo de gestão inovadora também deveria contribuir para um aumento da produtividade da administração pública e para o emprego mais eficaz dos recursos disponíveis, seguindo o lema “fazer mais com menos” (KÜSTER , 2003, p. 152).
Na visão de Cabral; Souza (2002, p. 7),
O processo decisório concernente à política de preservação e conservação dos recursos naturais, apoiado nos preceitos do desenvolvimento sustentável, implica a consideração das diferenciações regionais e locais, por meio da elaboração de planejamento como norteador de uma gestão ambiental dinâmica capaz de responder aos desafios advindos dos conflitos socioambientais.
Segundo Cisne (2002, p. 181), o Estado do Ceará “tem procurado, com maior
ênfase, a partir de 1987, adequar sua estrutura administrativa de modo a tornar mais ágeis suas
ações e tomadas de decisão, com a preocupação maior de prestar serviços de qualidade à sua
população”. Na opinião do referido autor, mudanças administrativas realizadas repercutiram
internamente e já se percebe maior dinâmica das atividades do Estado, inclusive em âmbito
internacional.
“Os primeiros passos dessa construção coletiva (1987 – 1990) foram muito
difíceis. Era a hora e vez de romper com a velha cultura que impedia as mudanças, adotando-
se novas práticas, valores e crenças, de modo que se estabelecesse uma ponte para o futuro”
(CEARÁ, 1995).
Como decorrência dos avanços alcançados, o Ceará passou a se caracterizar pelos
seguintes aspectos (CEARÁ, 1995, p. 9):
a) Conscientização da preservação ecológica, materializada na montagem de um
aparato institucional e regulatório das questões ambientais;
b) Ampliação e/ou aprimoramento da infra-estrutura básica de transportes, energia,
comunicações e saneamento;
c) Reordenamento do espaço e início da reversão da macrocefalia urbana, por meio
de programas estruturantes nas áreas de recursos hídricos e de desenvolvimento
urbano;
d) Melhoria nas condições gerais de educação, saúde e saneamento básico;
f) Substituição da velha economia rural por outra, apoiada na irrigação e na
agroindústria e respaldada em relações e processos de produção modernos;
50
g) Dinamismo e diversificação da indústria, com desconcentração espacial no sentido
da interiorização;
h) Expansão e modernização do comércio interno e externo;
i) Progresso na área científico-tecnológica, com a consolidação de um sistema
público de ciência & tecnologia;
j) Mudança cultural e afirmação de novos valores e mentalidades e
k) Avanços na gestão pública e modernização das práticas políticas.
O desenvolvimento sustentável tem sido perseguido como meta maior do Governo
do Estado do Ceará, afirma Cisne (2002). Esse modelo de desenvolvimento pressupõe uma
visão de longo prazo e um processo participativo, subtendendo o atendimento simultâneo de
requisitos econômicos, sociais, políticos e ambientais, que implicam na equidade social, intra
e entre gerações e no desenvolvimento endógeno.
O Governo do Estado do Ceará, com o propósito de implementar um estilo moderno de administrar e cumprindo os preceitos de modelo da administração gerencial, tem procurado encontrar na sociedade o suporte de sua gestão. A gestão participativa estadual conta com diversos conselhos por meio dos quais a sociedade pode manifestar seus anseios e lutar por seus direitos e, por outro lado, dar ao Governo a certeza do direcionamento de suas ações, com base no feedback do sentimento da população (CISNE, 2002, p. 190-191).
Nesse sentido, Silva (1997) entende que a ação participativa e reivindicatória da
comunidade permite que as ações conjuntas conduzam à contemplação de suas ansiedades e
necessidades de cunho sócio-ambiental, proporcionando assim a concretização das estratégias
e planos de desenvolvimento sustentável.
“A visão de longo prazo não significa planejar o que vai ser feito no futuro, mas,
fundamentalmente, identificar o que deve ser feito hoje para que a sociedade não perca a
trilha do desenvolvimento atual e futuro” (CEARÁ, 2000).
A sociedade sustentável pode ser uma utopia do ponto de vista político-econômico
convencional. Contudo, Almeida Jr. (2000, p. 17) lembra que “o estado crítico do planeta,
tanto nos aspectos ambientais como sócio-econômicos, faz da sociedade sustentável uma
utopia desejável e necessária, se se pretende que a Terra sobreviva à crise atual”. Para ele,
O desenvolvimento sustentável [...] busca, portanto, alcançar o ideal do planeta harmônico (uso sustentado dos recursos naturais, com reparo e reposição) e da cidadania plena (paz e ausência de marginalidade psicológica, sócio-econômica e cultural), tanto no contexto das presentes como das futuras gerações, reparando, nos limites do possível, os danos de toda ordem causados no passado. Em resumo, almeja a promoção humana integral, a equidade social, a paz e o ambiente saudável e ecologicamente equilibrado – bases da sociedade sustentável (ALMEIDA JR., 2000, p. 16).
51
Costa (2000), comentando Enrique Leff no seu trabalho “Sociologia y Ambiente:
sobre el concepto de racionalidad ambiental y las transformações del conocimiento”, diz que
“o desenvolvimento sustentável exige mudança cultural”.
Para Leff (2000), não é fácil constituir uma racionalidade ambiental e um estilo
alternativo de desenvolvimento. Os valores do ambiente precisam ser incorporados à ética
pessoal, aos direitos humanos e à norma jurídica; o acesso e apropriação da natureza não
podem continuar restritos a poucos e o Estado precisa ser reformado para favorecer a gestão
participativa dos recursos naturais. Para que o desenvolvimento sustentável aconteça é
necessário que as instituições sofram profundas alterações e a produção do conhecimento e a
formação profissional sejam reorientadas com destaque para a vertente transdisciplinar.
Leff (2000) entende que somente da pluralidade política e da diversidade cultural
poderá nascer um sistema produtivo que leve ao desenvolvimento sustentável.
Os critérios que atendem a um modelo de desenvolvimento sustentável podem
admitir várias interpretações, dependendo das visões e dos interesses dos atores envolvidos.
Para Sachs (2002), esses critérios podem ser distribuídos obedecendo aos seguintes aspectos:
1) Social: alcance de um patamar razoável de homogeneidade social, distribuição de
renda justa, emprego pleno e/ou autônomo com qualidade de vida decente e
igualdade no acesso aos recursos e serviços sociais;
2) Cultural: mudanças no interior da continuidade (equilíbrio entre respeito à tradição
e inovação), capacidade de autonomia para elaboração de um projeto nacional
integrado e endógeno (em oposição às cópias servis dos modelos alienígenas) e
autoconfiança combinada com abertura para o mundo;
3) Ecológico: preservação do potencial do capital natureza na sua produção de
recursos renováveis e limitar o uso dos recursos não-renováveis;
4) Ambiental: respeitar e realçar a capacidade de autodepuração dos ecossistemas
naturais;
5) Territorial: configurações urbanas e rurais balanceadas (eliminação das inclinações
urbanas nas alocações do investimento público), melhoria do ambiente urbano,
superação das disparidades inter-regionais e estratégias de desenvolvimento
ambientalmente seguras para áreas ecologicamente frágeis (conservação da
biodiversidade pelo ecodesenvolvimento);
6) Econômico: desenvolvimento econômico intersetorial equilibrado, segurança
alimentar, capacidade de modernização contínua dos instrumentos de produção,
52
razoável nível de autonomia na pesquisa científica e tecnológica e inserção
soberana na economia internacional;
7) Político (nacional): democracia definida em termos de apropriação universal dos
direitos humanos, desenvolvimento da capacidade do Estado para implementar o
projeto nacional, em parceria com todos os empreendedores e um nível razoável de
coesão social;
8) Político (internacional): eficácia do sistema de prevenção de guerras da ONU, na
garantia da paz e na promoção da cooperação internacional, um pacote Norte-Sul
de co-desenvolvimento, baseado no princípio de igualdade (regras do jogo e
compartilhamento da responsabilidade de favorecimento do parceiro mais fraco),
controle institucional efetivo do sistema internacional financeiro e de negócios,
controle institucional efetivo da aplicação do Princípio da Precaução na gestão do
meio ambiente e dos recursos naturais, prevenção das mudanças globais negativas,
proteção da diversidade biológica (e cultural), gestão do patrimônio global, como
herança comum da humanidade e sistema efetivo de cooperação científica e
tecnológica internacional e eliminação parcial do caráter de commodity da ciência
e tecnologia, também como propriedade da herança comum da humanidade.
Todos estes critérios são fundamentais e a sustentabilidade avança na medida em
que eles evoluem conjuntamente. A ênfase maior a um ou outro critério, dependerá do
contexto analisado.
Num país em desenvolvimento como o Brasil, os autores Barradas; Galante;
Mayorga (1999) entendem que a educação, a conscientização e a organização populares, a
criação de sindicatos, associações, cooperativas, comunidades eclesiais de base, organizações
não-governamentais e movimentos populares democráticos, são condições e instrumentos
indispensáveis para um tipo de desenvolvimento que seja sustentável econômica, social,
política, ecológica, cultural, ética e espiritualmente.
Os instrumentos teóricos procuram oferecer aos tomadores de decisão, alternativas
que privilegiem a conservação da biodiversidade, indicando instrumentos econômicos que
tornem viáveis essas decisões. A meta agora é transformar a conservação da biodiversidade
considerada por uns como um modismo, por outros como um problema, em uma questão
técnica, política e social de importância vital para o desenvolvimento sustentável do estado do
Ceará.
Essa consciência não pode ser somente de âmbito e responsabilidade do meio
científico e governamental. Cada indivíduo deve internalizar a preocupação e o dever no
53
esforço da conservação e uso sustentado da biodiversidade, compartilhando responsabilidades
e benefícios na manutenção das nossas riquezas (RIGDEN; CAVALCANTI, 2002).
54
3 MATERIAL E MÉTODOS
3.1 Área Geográfica de Estudo
O Estado do Ceará, localizado na Região Nordeste do Brasil, entre os paralelos de
2º47’ e 7º51’30” de latitude Sul e os meridianos de 37o15’11” e 41o26’10” de longitude
Oeste, está totalmente inserido na Zona Tropical, com temperaturas elevadas, chuvas
irregulares e forte insolação durante a maior parte do ano; possui uma área de 148.825,60 km2
(Figura 5) correspondendo a 1,74% da área do Brasil e 9,57% da nordestina. Em termos de
extensão, ocupa a 17ª posição dentre os estados brasileiros e a 4ª posição em relação aos
estados do Nordeste. Seu território está dividido em 184 municípios interligados por uma
densa malha rodoviária.
O Ceará possui um litoral com extensão de 573 km, que o torna atrativo ao
turismo. Ao sul do Estado, na divisa com Paraíba, Pernambuco e Piauí, situa-se a Floresta
Nacional do Araripe, onde está a maior concentração mundial de fósseis do Período Cretáceo
(entre 140 milhões e 65 milhões de anos atrás). Seu território estabelece fronteiras ao Norte
com o Oceano Atlântico, ao Sul com Pernambuco, a Leste com o Rio Grande do Norte e a
Paraíba e a Oeste com o Piauí. O Ceará ocupa uma posição geográfica estratégica para a
comunicação com a Europa, a América do Norte e com o Continente Africano, o que propicia
uma vantagem competitiva para o desenvolvimento do comércio exterior.
Segundo Nogueira (2004), o Estado do Ceará apresentava, em 1992, uma
população de 6.482.404 habitantes, representando 14,5% da população do Nordeste e 4,4%
da população do Brasil. Já em 2002 a população cearense chegou a 7.679.646 habitantes, o
que representa um crescimento acumulado de 18,47% no período. Quanto à participação
relativa no Nordeste e no Brasil, elas são respectivamente iguais a 15,7% e 4,5%, ou seja, no
período de 1992 a 2002, a população do Ceará cresceu mais rápido que a do Nordeste e a do
Brasil. A população cearense cresceu em média, 1,71% a.a. e a brasileira 1,63 a.a. durante o
período considerado.
Ainda de acordo com informação de Nogueira (2004), o Ceará apresentou uma
expressiva redução de sua população rural em termos relativos, passando de 3.429.599
pessoas em 1992, para 1.913.683, em 2002. Este processo refletiu-se no grau de urbanização
do Estado, que passou de 62,5% em 1992, para 75,1% em 2002.
55
Fonte: IPECE FIGURA 5 - Posição Geográfica, Dimensões e Limites do Estado do Ceará
56
O Ceará tem 93% de seu território encravado na região do semi-árido nordestino,
que o torna vulnerável a ocorrência de seca, um dos obstáculos para o desenvolvimento
regional dada a irregularidade e escassez de precipitações pluviométricas, que oscilam entre
500 a 850 mm. No entanto, em razão de fatores geográficos locais, tais como a altitude e a
proximidade do oceano, “apresenta áreas úmidas e sub-úmidas que condicionam, dentro do
espaço cearense, grandes contrastes em termos de paisagens naturais, marcadas por
diversificadas formas de uso e ocupação do solo” (SILVA; CAVALCANTE, 2004. pg. 13).
Sua vegetação predominante é a Caatinga, típica do semi-árido, existindo também
outras como a Mata Úmida, a Mata Seca, a Mata Ciliar, a Vegetação de Tabuleiros e
Complexo Vegetacional da zona litorânea.
De acordo com o IBAMA (2005), a evolução das condições naturais do território
cearense tem caminhado na direção de um aumento da aridez, como conseqüência da imensa
erosão observada nas camadas superficiais dos solos e pelas perdas nas espécies da flora e da
fauna. Ações antrópicas aceleram esses processos e as conseqüências são sentidas na
desertificação de consideráveis áreas do Estado, representadas por seqüência de modificações
regressivas do solo, da vegetação e do regime hídrico, conduzindo à deterioração biológica
dos ecossistemas.
“No Estado do Ceará evidenciam-se áreas enquadradas como semi-áridas, com
sinais de degradação ambiental inequivocamente preocupantes, com 14% de sua área
considerada susceptível a processos de desertificação...” IBAMA (2005). Ainda segundo o
mesmo Órgão, as áreas mais afetadas situam-se no município de Irauçuba e nas regiões dos
Inhamuns e Médio Jaguaribe, onde foram constatadas, com maior intensidade, a grande
devastação da cobertura vegetal nativa e a severidade dos fenômenos erosivos.
Em 10 de março de 2005, o Ministério da Integração Nacional (MI) expediu a
Portaria que instituiu a nova delimitação do semi-árido brasileiro. Para essa nova delimitação,
três critérios técnicos foram considerados:
� Precipitação pluviométrica média anual inferior a 800 milímetros;
� Índice de aridez de até 0,5 calculado pelo balanço hídrico que relaciona as
precipitações e a evapotranspiração potencial, no período entre 1961 e 1990 e
� Risco de seca maior que 60%, tomando-se por base o período entre 1970 e 1990.
Além dos 1.031 municípios já incorporados, passam a fazer parte do semi-árido
outros 102 novos municípios enquadrados em pelo menos um dos três critérios utilizados.
Com essa atualização, a área classificada oficialmente aumentou de 892.309,4 km2 para
969.589,4 km2, um acréscimo de 8,66%.
57
A relativa elevada densidade populacional do semi-árido nordestino, a ocupação pela agricultura de subsistência e, de maiores áreas ainda, pela criação de bovinos, ovinos e caprinos, sem nenhuma preocupação com a conservação do solo e da água, formam um quadro de insustentabilidade. (GEO Brasil 2002, p. 302).
Historicamente, o aumento da população humana e do desmatamento crescem
juntos. No semi-árido nordestino, ainda existe uma agravante, que é a miséria do sertanejo,
que tenta sobreviver às custas dos recursos da fauna e da vegetação. Durante as secas, quando
não existe trabalho nem condições para o desenvolvimento das atividades agrícolas, grande
parcela da imensa população sertaneja tenta sobreviver por meio da caça, da pesca, da coleta
de mel e da coleta de madeira, especialmente, para cerca, construção civil, lenha e carvão. É
comum, verificar-se a derrubada de árvores, às vezes centenárias, para vender sua madeira ou
carvão a preços insignificantes. Muitas vezes, uma árvore que demorou dezenas de anos para
alcançar o porte adulto, quando cortada e comercializados os seus produtos, não rende o
suficiente para comprar um almoço para uma família. Quanto maiores forem a população e a
pobreza, maior será a pressão sobre os recursos naturais (MENDES, 1997).
Silva e Cavalcante (2004) nos ensinam que: “para se conhecer melhor os lugares e
orientar as ações públicas ou privadas, torna-se necessário fazer recortes espaciais, a fim de
melhor caracterizá-los e delimitá-los”. Logo, delimitar regiões implica em estabelecer
“recortes” onde as características comuns são identificadas, em função dos critérios utilizados
e dos objetivos que se pretende alcançar. Os critérios, segundo os mesmos autores, “podem
levar em conta, por exemplo, os caracteres naturais, as atividades produtivas, as relações
econômicas existentes entre os lugares, a cultura, enfim, elementos os mais diversos, que
possibilitem identificar semelhanças capazes de distinguir um lugar de outros lugares
próximos”. Já os objetivos podem ser definidos com o fim de orientar as políticas de
planejamento e gestão, tanto no nível global quanto no local.
Tendo em vista a gestão do seu território, o Ceará foi dividido pelo IBGE em sete
mesorregiões (Figura 6), segundo os seguintes critérios: organização produtiva, relações
existentes entre as cidades e condicionamentos naturais ligados ao relevo, clima, hidrografia e
vegetação. Essas mesorregiões, por sua vez, foram divididas em pequenas unidades regionais
do ponto de vista da estrutura produtiva e das relações econômicas e sociais, compondo assim
as trinta e três microrregiões geográficas do estado, onde estão localizados seus 184
municípios, conforme descrito na Tabela 1.
58
Fonte: IBGE, In SILVA, J. B. e CAVALCANTE, T. C., 2004. FIGURA 6 - Mapa das Mesorregiões Geográficas do Estado do Ceará
59
TABELA 1 - Regionalização do Estado do Ceará - Mesorregiões, Microrregiões e Municípios-2002 Mesorregiões Microrregiões Municípios geográficas geográficas
Noroeste Litoral de Camocim Acaraú, Barroquinha, Bela Cruz, Camocim, Chaval, Cruz, Granja, e Acaraú Itarema, Jijoca de Jericoacoara, Marco, Martinópole e Morrinhos. Ibiapaba Carnaubal, Croatá, Guaraciaba do Norte, Ibiapina, São Benedito, Tianguá, Ubajara e Viçosa do Ceará. Coreaú Coreaú, Frecheirinha, Moraújo e Uruoca. Meruoca Alcântaras e Meruoca. Sobral Cariré, Forquilha, Graça, Groaíras, Irauçuba, Massapê, Miraíma, Mucambo, Pacujá, Santana do Acaraú, Senador Sá e Sobral. Ipu Ipu, Ipueiras, Pires Ferreira, Poranga, Reriutaba e Varjota. Santa Quitéria Catunda, Hidrolândia e Santa Quitéria. Norte Itapipoca Amontada, Itapipoca e Trairi. Baixo Curu Paracuru, Paraipaba e São Gonçalo do Amarante. Uruburetama Itapajé, Tururu, Umirim e Uruburetama. Médio Curu Apuiarés, General Sampaio, Pentecoste, São Luís do Curu e Tejuçuoca. Canindé Canindé, Caridade, Itatira e Paramoti. Baturité Acarape, Aracoiaba, Aratuba, Baturité, Capistrano, Guaramiranga, Itapiúna, Mulungu, Pacoti, Palmácia e Redenção. Chorozinho Barreira, Chorozinho e Ocara. Cascavel Beberibe, Cascavel e Pindoretama. Metropolitana Fortaleza Aquiraz, Caucaia, Eusébio, Fortaleza, Guaiúba, Itaitinga, Maracanaú, Maranguape e Pacatuba. Pacajus Horizonte e Pacajus. Sertões Sertão de Crateús Ararendá, Crateús, Independência, Ipaporanga, Monsenhor Tabosa, Nova Russas, Novo Oriente, Quiterianópolis e Tamboril. Sertão de Quixera- Banabuiú, Boa Viagem, Choró, Ibaretama, Madalena, Quixadá e mobim Quixeramobim. Sertão de Inhamuns Aiuaba, Arneiroz, Catarina, Parambu, Saboeiro e Tauá Sertão de Senador Acopiara, Dep. Irapuan Pinheiro, Milhã, Mombaça, Pedra Branca, Pompeu Piquet Carneiro, Senador Pompeu e Solonópole. Jaguaribe Litoral de Aracati Aracati, Fortim, Icapuí e Itaiçaba. Baixo Jaguaribe Alto Santo, Ibicuitinga, Jaguaruana, Limoeiro do Norte, Morada Nova, Palhano, Quixeré, Russas, São João do Jaguaribe e Tabuleiro do Norte. Médio Jaguaribe Jaguaretama, Jaguaribara e Jaguaribe. Serra do Pereiro Ererê, Iracema, Pereiro e Potiretama. Centro-Sul Iguatu Cedro, Icó, Iguatu, Orós e Quixelô. Várzea Alegre Antonina do Norte, Cariús, Jucás, Tarrafas e Várzea Alegre.
Lavras da Mangabeira Baixio, Ipaumirim, Lavras da Mangabeira e Umari.
Sul Cearense Chapada do Araripe Araripe, Assaré, Campos Sales, Potengi e Salitre. Caririaçu Altaneira, Caririaçu, Farias Brito e Granjeiro. Barro Aurora, Barro e Mauriti. Cariri Barbalha, Crato, Jardim, Juazeiro do Norte, Missão Velha, Nova Olinda, Porteiras e Santana do Cariri. Brejo Santo Abaiara, Brejo Santo, Jati, Milagres e Penaforte. Fonte: Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – IPECE Ceará em Números - 2003
60
O Censo Demográfico realizado pelo IBGE em 2000, apresentou as seguintes
informações quanto às Mesorregiões Cearenses (Tabela 2):
TABELA 2 - Mesorregiões Cearenses - Área, População e Densidade demográfica Mesorregião Área % População % Dens.demogr.
km² hab/km² Metropolitana de Fortaleza 3.805,00 2,61 2.984.689 39,88 784,41 Norte Cearense 20.995,50 14,41 876.403 11,71 41,74 Noroeste Cearense 32.214,30 22,11 1.178.307 15,74 36,58 Sertões Cearenses 46.033,40 31,59 814.125 10,88 17,68 Jaguaribe 18.236,70 12,52 484.830 6,48 26,58 Centro-Sul Cearense 9.965,20 6,84 357.360 4,77 35,86 Sul Cearense 14.461,80 9,92 789.262 10,54 54,58 Totais 145.711,90 100,00 7.484.976 100,00 51,37 Fonte: IBGE, 2000
A informação da Área Total do Estado do Ceará constante na Figura 5 (Posição
Geográfica, Dimensões e Limites do Estado do Ceará) diverge da soma das áreas por
Mesorregiões inserida na Tabela 2; a diferença é devida à área de litígio do Ceará com o Piauí
que é de aproximadamente 3.000 km², de acordo com informação da Companhia de
Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (CODEVASF)4.
A mesorregião Metropolitana de Fortaleza, comporta 11 municípios e possui a
menor área territorial, sendo, no entanto, responsável por cerca de 40% de toda a população
do estado. A mesorregião Sertões Cearenses abrange 30 municípios, tem a maior área e
possui 10,88% da população do estado (ver Tabelas 1 e 2).
Apesar do clima semi-árido, “o Ceará é hoje um Estado importante nos cenários
regional e nacional”. Essa declaração, de Silva e Cavalcante (2004), é justificada em razão de
vir o estado cearense assumindo significativa expressão quanto ao tamanho de sua população,
dinâmica de suas atividades econômicas, importância de suas cidades, bem como pelas ricas
manifestações culturais, pela intensa procura de suas praias e pela grande diversidade de belas
paisagens, presentes tanto no litoral como no sertão e nas serras.
Shachar (2002, p. 73), em um cenário de política de crescimento para o estado do
Ceará, alerta que “nenhum processo de desenvolvimento é difundido aleatoriamente sobre um
território estadual”; segundo ele, um padrão muito comum de crescimento é o organizado ao
longo de eixos de transporte, convergindo para as regiões mais desenvolvidas. No Ceará,
existem dois eixos fortes de desenvolvimento: o Eixo Norte (ao longo da linha de Fortaleza a
4 Informação disponível no site: www.codevasf.gov.br/menu/os_vales/planap. Acesso em 17 abr 2006.
61
Sobral) e o Eixo Sul (ao longo da linha de Aracati a Juazeiro do Norte) ligando, ao longo
desse eixo, as cidades chamadas secundárias.
As condições para que as cidades sejam selecionadas como “secundárias” exigem
que as mesmas atendam a critérios pré-fixados tais como: a) um tamanho mínimo de
população; b) um elevado nível de urbanização; c) uma taxa de crescimento que supere o
valor mínimo fixado e d) que possuam uma classificação elevada quanto ao seu Índice de
Desenvolvimento Municipal (IDM). O nível de desenvolvimento elevado, segundo Shachar
(2002), oferece uma garantia de que os investimentos públicos e privados terão efeitos
multiplicadores.
Shachar (2002) acredita no impulso ao crescimento espalhado da cidade central
para a sua vizinhança, de uma forma radial (Anexo A). Assim, quanto maior a população ao
redor de uma “cidade secundária”, maior a possibilidade de que os impulsos de crescimento
alcancem uma grande população.
Fortalecendo-se a estrutura axial de desenvolvimento, o crescimento será
impulsionado, com o movimento ao longo dos eixos de desenvolvimento (Anexo B),
permitindo ao mesmo tempo uma especialização e uma complementaridade entre as cidades
secundárias (SHACHAR, 2002).
De acordo com Bar-El et al. (2002, p. 149), “a extrema pobreza do interior do
Ceará pode ser reduzida pelo uso de medidas compensatórias”. Segundo os mesmos autores, o
Interior é considerado como alta prioridade pela política estadual, representando um
componente importante para o desenvolvimento econômico do Ceará.
3.2 Técnicas de Pesquisa
A metodologia aplicada para o desenvolvimento desta pesquisa fundamentou-se
essencialmente na busca de um modelo de desenvolvimento ambientalmente sustentável para
o estado do Ceará. Esse modelo pretende contemplar as peculiaridades locais, esperando
contar com a participação dos atores sociais direta ou indiretamente envolvidos.
Salomon (2001, p. 157) considera que “mais importante do que a classificação das
pesquisas científicas, em função da classificação das ciências (pesquisa biológica, médica,
física, química, histórica, pedagógica, social, etc.) é a graduação dos tipos de pesquisa
científica.” Para o autor, isso ajuda o pesquisador a definir seu trabalho, evitando desperdícios
62
de energia, tempo e gastos. Dessa forma, as pesquisas científicas são graduadas em pesquisas
exploratórias e descritivas, pesquisas aplicadas e pesquisas puras ou teóricas.
A presente pesquisa pode ser classificada como:
• pesquisa descritiva, que tem por objetivo “definir melhor o problema,
proporcionar as chamadas intuições de solução, descrever comportamentos de
fenômenos, definir e classificar fatos e variáveis” (SALOMON, 2001, p. 158).
• pesquisa aplicada, já que se destina a “aplicar leis, teorias e modelos, na solução
de problemas que exigem ação e/ou diagnóstico de uma realidade (geográfica,
social, econômica, política, etc.)” (SALOMON, 2001, p. 158).
O levantamento de dados necessário à realização deste trabalho constou de
pesquisa bibliográfica e documental, tendo sido utilizados somente dados secundários.
3.2.1 Pesquisa Bibliográfica
Foram acessadas as bibliotecas da Universidade Federal do Ceará (UFC) -
Campus do Pici, Centro de Tecnologia, Departamento de Economia Agrícola e Curso de
Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Estadual do Ceará (UECE) e da Universidade de
Fortaleza (UNIFOR), além de terem sido realizadas leituras em livros de acervo bibliográfico
particular.
Teses e dissertações sobre o tema abordado, também foram alvo de pesquisas. Por
meio da rede mundial de computadores (Internet), teve-se acesso a Diário Oficial e a arquivos
de órgãos públicos de diversos estados da federação, onde foram conseguidas as legislações
específicas, referentes ao ICMS Ecológico.
Além das leituras efetuadas, foi possível assistir ao DVD da gravação da
entrevista realizada pela TV Cultura com a ex-primeira ministra da Noruega Gro Harlen
Brundtland, realizada em 11 de novembro de 2005 e das Fitas VHS resultantes do Seminário
sobre o ICMS Ecológico do Ceará, realizado também, no mês de novembro de 2005 (dias 10
e 11), no Auditório da Secretaria da Fazenda do Estado do Ceará.
O levantamento no que diz respeito a trabalhos anteriormente publicados e as
diversas formas de abordagem do problema em estudo garantiram o caráter explicativo do
tema sob análise.
63
3.2.2 Pesquisa Documental
Pesquisas foram desenvolvidas junto ao Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (IBAMA), Secretaria da Ouvidoria Geral e do Meio Ambiente (SOMA) e sua
vinculada Superintendência Estadual do Meio Ambiente (SEMACE), Secretaria da Fazenda
do Estado do Ceará (SEFAZ), Secretaria de Planejamento e Coordenação (SEPLAN),
Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (IPECE) e à ONG Associação
Caatinga.
3.2.3 Procedimento Metodológico da Pesquisa
A Figura 7, a seguir, mostra o procedimento metodológico da pesquisa.
64
Fonte: Elaboração própria. FIGURA 7 - Fluxograma do Procedimento Metodológico
Embasamento Conceitual
Pesquisa Bibliográfica
Pesquisa Documental
Analise Integrada Conceitos
Fundamentais de DAS
Demanda social, ambiental,
política, econômica e ecológica
Formulação de subsídios
Necessidade de redistribuição do ICMS, com viés
ambiental
Critérios: PPR - Princípio Protetor-Recebedor PSMV – identifica o Protetor ICMS Ecológico – premiação.
Proposição de reformulação Projeto de lei do ICMS
Resultado da
Dissertação
Modelo Operacional de Desenvolvimento
Ambientalmente Sustentável (MODAS)
Tomada de decisões
Subsídio: Seminário ICMS do Ceará - GT
Técnico-Jurídico
Competência do Poder Público Estadual e Assembléia Legislativa
65
3.3 O Estudo de Caso
O Estudo de Caso é a melhor forma de pesquisa quando as questões são do tipo
“como” e “por que”, e o pesquisador não tem controle sobre os eventos e as variáveis em
questão. Normalmente o objetivo é estudar e compreender fenômenos sociais complexos,
considerando as características holísticas dos eventos da vida real.
Estudos de caso podem ser utilizados para apresentar “boas práticas” que estão acontecendo nos âmbitos local e nacional. Estas boas práticas podem ocorrer em um programa, projeto ou organização. O objetivo de escrever uma boa prática em forma de estudo de caso é mostrar as suas conquistas e compartilha-las com outras pessoas, para que possam aprender com o exemplo e talvez replicá-lo, de acordo com o seu contexto. Uma boa prática permite que lições sejam aprendidas e que se analise por que e como algum procedimento não obteve sucesso. Conseqüentemente estudos de caso são ferramentas importantes! (ONU, 2004, p. 15)
Ainda segundo a ONU (2004, p. 15), os critérios para “boas práticas” incluem:
a) Ética: não quebrar os princípios do trabalho de desenvolvimento social (ex:
equidade, justiça distributiva e tolerância);
b) Efetividade: sucesso em produzir os resultados desejados e atingir os objetivos
estabelecidos;
c) Relevância: responder a questões particulares em um determinado contexto
(incluir fatores culturais, sociais e políticos);
d) Eficiência: produzir os objetivos/efeitos desejados com os mínimos recursos
(financeiros e humanos);
e) Inovação: conter características únicas que o diferencia dos trabalhos anteriores;
f) Sustentabilidade: demonstrar a habilidade de continuar a ser efetivo/relevante à
médio e longo prazos.
Com a finalidade de estudar e compreender, de forma prática, a elaboração de um
Modelo Operacional de Desenvolvimento Ambientalmente Sustentável (MODAS), objetivo
desta pesquisa, foram realizados os seguintes eventos:
a) Seminário ICMS Ecológico do Ceará - A conservação da natureza nos
municípios.
O Seminário sobre o ICMS Ecológico do Ceará teve como objetivos:
1) apresentar o instrumento do ICMS Ecológico
2) buscar apoio e compromisso para a criação do ICMS Ecológico no Ceará e
66
3) iniciar o processo de construção do instrumento no Ceará.
Vale lembrar, por oportuno, que tramitou na Assembléia Legislativa do Estado do
Ceará em 1997, o anteprojeto de Lei nº 33/97 que trata do ICMS Ecológico, tendo sido essa a
primeira tentativa de implementação desse critério de redistribuição do ICMS, no Ceará.
A Associação Caatinga, desde 2004, vem tentando sensibilizar tomadores de
decisão do Estado para a importância do ICMS Ecológico para o Ceará. O conhecimento da
existência desta pesquisa acadêmica, fez surgir a idéia de se articular o Seminário sobre o
ICMS Ecológico.
Com o apoio do Governo do Estado através da SOMA, SEFAZ, SDLR, SEPLAN
e SEMACE, e da APRECE, UFC, Assembléia Legislativa do Ceará, Fundação Brasil
Cidadão, Ministério Público do Ceará, Procuradoria Geral de Justiça, The Nature
Conservance, Fundação AVINA, Promosell e da Halley Gráfica e Editora, a Associação
Caatinga, representada pelo seu Secretário Executivo Sr. Rodrigo Castro, juntamente com o
PRODEMA, representado pela mestranda Wilca Hempel, foram responsáveis diretos pela
organização do Seminário, realizado nos dias 10 e 11 de novembro de 2005, no Auditório da
Secretaria da Fazenda do Estado do Ceará (ver Apêndices G e H).
No dia 10/nov aconteceu o Seminário público onde foram divulgados os
fundamentos e conceitos sobre o tema, e apresentados exemplos práticos da implantação do
ICMS Ecológico no Paraná e do Programa Selo Município Verde no Ceará, conforme
programação prevista no Apêndice H. Contou com a participação de 150 pessoas e incluiu
entidades públicas e privadas, formadores de opinião, lideranças, associações, políticos,
representantes de prefeituras do Ceará e público em geral.
No Seminário Técnico, ocorrido em 11/nov, foram criados dois grupos de
trabalho (GTs) com o objetivo de conduzir as discussões visando a implantação do ICMS
Ecológico no Ceará: a) GT de Articulação com o objetivo de divulgar o ICMS Ecológico e de
sensibilizar as entidades estratégicas para a importância do instrumento e b) GT Técnico-
Jurídico com o objetivo de avançar na definição de critérios e aspectos jurídicos referentes à
lei do ICMS Ecológico para o Ceará.
Para o GT de Articulação, sob a Coordenação da SOMA, inscreveram-se:
Procuradoria Geral da Justiça, Grupo de Interesse Ambiental – GIA, Comissão do Meio
Ambiente da Assembléia Legislativa, Federação das Indústrias do Estado do Ceará – FIEC,
SEDUC, SEMACE, SRH, APRECE, PRODEMA, Associação Caatinga e representantes das
Prefeituras de Groaíras, Crateús, General Sampaio, Campos Sales, Russas, Acarape e
67
Limoeiro do Norte. No GT Técnico Jurídico, sob a Coordenação da Procuradoria Geral de
Justiça/Ministério Público, foram inscritos: SEMACE, SDLR, Comissão do Meio Ambiente
da Assembléia Legislativa, OAB-CE, Fundação Bernardo Feitosa, SEFAZ, SRH, SEMAM,
IBAMA, IAA, IBGE, FIEC, APRECE, SOMA, Procuradoria Geral do Estado, SEPLAN,
UFC, CEFET-CE, PRODEMA, Associação Caatinga e representantes das Prefeituras de
Acarape, Pacatuba, General Sampaio, Russas, Limoeiro do Norte, Pentecoste e Sobral.
O GT Técnico-Jurídico após 19 (dezenove) reuniões ocorridas na sala da
Comissão do Meio Ambiente da Assembléia Legislativa do Estado, elaborou minuta de
Projeto de Lei alterando a repartição da receita do ICMS para os municípios. Ao mesmo
tempo, o referido GT elaborou minuta de Decreto regulamentando a participação de cada
município na repartição do ICMS, considerando principalmente, a necessidade de incentivar a
preservação e conservação do meio ambiente, garantindo a melhoria da qualidade de vida da
população cearense.
b) Divulgação da proposta do ICMS Ecológico para o Estado do Ceará:
• Entrevistas através da Rádio Universitária com palestrantes do Seminário sobre
ICMS Ecológico;
• Debate na Rádio D. Bosco – FM 96,1. Participantes: representante da Comissão do
Meio Ambiente da OAB-CE, Flávia Magalhães, Associação Caatinga representada
por Rodrigo Castro e PRODEMA, representado por Wilca Hempel;
• Entrevista para a Revista Eletrônica da UFC – Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-
Graduação, com Wilca Hempel;
• Apresentação, por Wilca Hempel, da palestra com o título “ICMS Ecológico: Uma
Avaliação dos seus Potenciais Impactos no Estado do Ceará” para deputados
estaduais, na Comissão do Meio Ambiente da Assembléia Legislativa;
• Publicação de informações sobre o ICMS Ecológico, de responsabilidade da
Associação Caatinga, no Jornal Diário do Nordeste - Caderno de Gestão
Ambiental. Na mesma página foi publicado o Artigo “Critérios ambientais na
distribuição do ICMS”, assinado pela representante do PRODEMA, Wilca
Hempel.
Com esses procedimentos, tenta-se seguir as recomendações de Kuhn (2001, p.
210), quando defende que “o cientista precisa estar preocupado com a resolução de problemas
68
relativos ao comportamento da natureza”, e que, além disso, “embora essa preocupação possa
ter uma amplitude global, os problemas nos quais trabalha devem ser problemas de detalhe”.
O autor enfatiza também que “as soluções que o satisfazem não podem ser meramente
pessoais, mas devem ser aceitas por muitos”, lembrando que “o grupo que as partilha não
pode ser extraído ao acaso da sociedade global”.
69
4 ANÁLISE E DISCUSSÃO
Como forma de homogeneizar o conhecimento empírico, os itens a seguir trazem os
embasamentos conceituais dos critérios utilizados para a formulação dos subsídios
necessários à elaboração da proposta de modelo operacional de desenvolvimento
ambientalmente sustentável para o Ceará.
4.1 Programa Selo Município Verde – Aspectos Legais, Objetivos e Metodologia
A quantidade de normas que regulamentam a questão ambiental no Brasil e no
Estado do Ceará, já é bastante significativa, porém os órgãos envolvidos com essa questão em
nosso Estado, identificaram a necessidade da criação de um programa que incentivasse a
implementação dessas leis, e que as transformassem de obrigação legal em ação efetiva.
Nesse sentido, o Estado do Ceará estabeleceu o Programa Selo Município Verde
como mecanismo de legitimação do compromisso com a temática ambiental.
A Lei nº 13.304 de 19 de maio de 2003 (D.O. de 20.05.03), que dispõe sobre a
criação e implementação do “Selo Município Verde” e do “Prêmio Sensibilidade Ambiental”,
estabelece:
Art. 1º. Fica criado o “Selo Município Verde”, distintivo que identificará os municípios cearenses que desenvolvam ações protetivas do meio ambiente com melhores resultados positivos na salvaguarda ambiental, proporcionando melhor qualidade de vida para as presentes e futuras gerações, a ser entregue anualmente na última sexta-feira do mês de novembro.
...
Art. 3º. Fica criado o “Prêmio Sensibilidade Ambiental” que será conferido ao Município cearense, dentre os credenciados com o “Selo Município Verde”, que melhor desempenho apresente nos moldes do Art. 1º desta Lei.
O Programa Selo Município Verde (PSMV), regulamentado pelos Decretos nº
27.073 e 27.074 de 2003 “tem a expectativa de contribuir para a efetiva implementação das
políticas públicas ambientais em nível local, bem como para a internalização das questões
ambientais em programas, planos e projetos que visem o desenvolvimento cultural, social,
econômico, político e ecológico dos municípios cearenses” (COMITÊ GESTOR, 2003).
Esse Programa pretende, além de incentivar as municipalidades a implementarem
políticas ambientais, servir de canal por onde escoarão os anseios de participação da
sociedade nas definições de suas necessidades e no estabelecimento de suas prioridades (os
70
conceitos aqui expressos foram extraídos da Cartilha do Município Verde, de documentos e
informações cedidas pela Secretaria da Ouvidoria Geral e do Meio Ambiente – SOMA e dos
dispositivos legais que normatizam o Programa).
O PSMV tem como objetivo geral: incentivar as municipalidades na
implementação de políticas públicas ambientais, visando a sustentabilidade e a qualidade de
vida da população, e como objetivos específicos:
a) identificar e avaliar a situação real do meio ambiente nos municípios, através da
criação de um banco de dados com todas as informações colhidas nas oficinas e
nas avaliações periódicas dos municípios;
b) mobilizar e conscientizar a população acerca dos problemas ambientais locais,
com ações, programas e projetos de proteção, conservação e uso sustentável;
c) incentivar a criação e implementação dos Conselhos Municipais de Defesa do
Meio Ambiente (COMDEMAs), utilizando a estratégia de reuniões periódicas de
mobilização e orientação quanto à metodologia a ser utilizada;
d) incentivar a implementação das leis, através da elaboração de relatórios técnicos
ambientais, com sugestões e propostas que serão entregues às prefeituras e aos
seus COMDEMAs respectivos;
e) nortear as ações municipais na área ambiental, com base nos mesmos relatórios
técnicos já mencionados;
f) estimular a criação de programas, projetos e ações ambientais, por meio de
oficinas, com base no Projeto de Educação Ambiental.
Para garantir credibilidade e transparência, o programa é acompanhado por um
Comitê Gestor e por uma Comissão Técnica, de caráter interinstitucional, formados por
representantes de entidades públicas, privadas e da sociedade civil organizada, com notória
atuação na área ambiental, a quem compete a responsabilidade de avaliar os municípios
participantes.
O Comitê Gestor do PSMV é integrado pelos seguintes órgãos e entidades:
• do poder público: Secretaria da Ouvidoria-Geral e do Meio Ambiente (SOMA)
que o coordena, Superintendência Estadual do Meio Ambiente (SEMACE),
Secretaria de Infra-estrutura (SEINFRA), Secretaria de Turismo (SETUR),
Secretaria de Recursos Hídricos (SRH), Companhia de Água e Esgoto do Ceará
(CAGECE), Ministério Público Estadual, Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e
Recursos Renováveis (IBAMA), Secretaria de Saúde (SESA);
71
• das Universidades: Universidade Federal do Ceará (UFC), Universidade Estadual
do Ceará (UECE), Universidade Regional do Cariri (URCA), Universidade
Estadual do Vale do Acaraú (UVA);
• de outros segmentos da sociedade: Associação Caatinga, Ordem dos Advogados
do Brasil – Ceará (OAB-CE), Associação Serras Úmidas do Estado do Ceará
(ASSUMA), Banco do Nordeste do Brasil (BNB), Centro Federal de Educação
Tecnológica do Ceará (CEFET-CE), Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas do Ceará (SEBRAE-CE) e Associação dos Municípios e
Prefeitos do Estado do Ceará (APRECE).
À Comissão Técnica, composta por quadros técnicos de referência nas suas
respectivas áreas, todos integrantes das instituições que compõem o Comitê Gestor, compete,
além de outras atribuições legais estabelecidas em Decreto, receber dos COMDEMAs
municipais, dados e questionários para análise. Segue-se após, a elaboração de parecer técnico
e recomendações que são encaminhadas ao Comitê Gestor. Este, por sua vez, aprecia e aprova
o parecer e as recomendações da Comissão Técnica, solicitando aos COMDEMAs, se
necessário, esclarecimentos adicionais.
O parecer técnico diz respeito à avaliação ambiental conclusiva do município,
considerando os seguintes itens analisados:
a) Legislação ambiental municipal;
b) Coleta e disposição final adequada de resíduos sólidos (domiciliares, industriais,
saúde e especiais);
c) Redução, reutilização e reciclagem de resíduos sólidos;
d) Política de recursos hídricos (recuperação, conservação, monitoramento e gestão
dos recursos pesqueiros);
e) Infra-estrutura (abastecimento básico e esgotamento sanitário);
f) Esgotamento sanitário (expansão e melhoramento);
g) Políticas de uso e ocupação do solo urbano (Plano Diretor de Desenvolvimento
Urbano - PDDU, arborização, Unidades de Conservação - UCs);
h) Políticas de uso e ocupação do solo rural (Plano Diretor de Desenvolvimento Rural
- PDDR, redução de queimadas, redução de desmatamento, reflorestamento, venda
e uso de agrotóxico e agricultura orgânica);
i) Educação ambiental (resíduos sólidos, recursos hídricos, patrimônio histórico e
cultural, ecossistemas locais e uso adequado de agrotóxicos);
72
j) Saúde pública (Monitorização das Doenças Diarréicas Agudas - MDDA e
Monitorização das Doenças de Veiculação Hídrica - MDVH) e
l) Utilização de fonte de energia alternativa.
O requisito indispensável para os municípios concorrerem às premiações é que os
mesmos possuam, institucionalizado, o Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente
(COMDEMA), como principal ator intermediário e responsável pelos dados enviados ao
Programa, bem como pela mobilização e articulação social da comunidade municipal.
Como o grau de mobilização da sociedade afeta de forma direta a performance das
políticas públicas municipais, parte-se do pressuposto que os municípios que tiverem maior
índice de mobilização terão também maior eficiência, eficácia e efetividade no que diz
respeito aos seus índices de gestão e de desempenho.
Os gestores não devem ficar esperando melhoria no cenário macroeconômico para
desenvolverem ações em seus municípios e irem em busca de parcerias. O inconformismo
com a situação atual deverá ser a mola propulsora para a implementação de ações
permanentes, contando com o envolvimento da comunidade organizada.
No primeiro ano de implantação do Programa (2004), somente foram avaliados os
aspectos ligados a: Resíduos Sólidos, Recursos Hídricos, Uso e Ocupação do Solo, Educação,
Saúde e Infra-estrutura, que correspondem à Avaliação por Gestão Ambiental. Naquela
oportunidade, os municípios foram estimulados a criar a sua própria Política de Meio
Ambiente, compatível com as suas potencialidades e pontos fortes, definindo o seu
compromisso com a Natureza.
Em 2005, os COMDEMAs tiveram a responsabilidade de responder a outro
questionário que avaliava as iniciativas do município no que se refere ao funcionamento dos
conselhos municipais e entidades civis organizadas, as audiências públicas, eventos e ações
voltadas às questões do meio ambiente, que serviram de base para a Avaliação por
Mobilização Ambiental.
O processo de certificação, em sua totalidade, abrange três sistemas de avaliação:
• Avaliação por Gestão Ambiental (AGA)
• Avaliação por Desempenho Ambiental (ADA)
• Avaliação por Mobilização Ambiental (AMA).
A Avaliação por Gestão Ambiental analisa as iniciativas do poder público na
implementação de políticas ambientais, tendo como princípio básico o cumprimento da
legislação ambiental, os instrumentos de gestão adotados, questões relacionadas à infra-
73
estrutura, saúde, biodiversidade e educação ambiental. O instrumento utilizado é um
questionário, baseado em critérios de gestão, enviado aos COMDEMAs, respeitando o padrão
mínimo que os municípios devem alcançar nos indicadores pré-estabelecidos. As iniciativas
municipais na implementação das políticas do meio ambiente, tendo como princípio o
cumprimento da legislação ambiental, definem o seu compromisso ou não com a Natureza, e
possibilitam acompanhar a evolução dos municípios na questão ambiental e assim, consolidar
a formação de indicadores ambientais.
A Avaliação por Desempenho Ambiental estabelece critérios mensuráveis,
relacionados à qualidade de vida e à qualidade ambiental a serem alcançados por todos os
municípios que foram “aprovados” na avaliação por gestão ambiental. Os municípios devem
alcançar um padrão mínimo nos indicadores pré-estabelecidos, com base em dados
secundários disponíveis em órgãos e instituições governamentais, dentre os quais SESA,
IBAMA, CAGECE e SEMACE, quanto às variáveis: educação ambiental, biodiversidade,
saúde, infra-estrutura e resíduos sólidos. Esses itens são considerados como primordiais para a
melhoria da qualidade de vida da população, bem como para o desenvolvimento da qualidade
ambiental, além de serem áreas presentes e primordiais nas políticas públicas de todas as
prefeituras.
A Avaliação por Mobilização Ambiental, também dependente da aprovação no
critério de avaliação por gestão ambiental, implica na análise dos projetos implementados
pelos municípios e inscritos no Programa, por meio de avaliação da implantação dos mesmos
e dos resultados obtidos, que devem ser constantes, para que garantam a permanência do
município dentro do Programa. Os projetos apresentados devem obedecer a, no mínimo,
quatro critérios básicos: ter o envolvimento efetivo da comunidade local, atender à legislação
ambiental vigente, ser passível de monitoramento constante e apresentar resultados efetivos
durante o período de certificação.
De acordo com a Metodologia de Avaliação do Programa Selo Município Verde, o
método utilizado para analisar o município nas três avaliações (por gestão ambiental, por
mobilização e por desempenho) foi o método “Forest Service of the United States Agriculture
Development” por intermédio do “Range Project Efetiveness Procedure Handbook”, 1986,
modificado, usado para transformar as variáveis qualitativas em quantitativas através de
valores numéricos e pesos, chegando ao índice de significância das diversas variáveis de cada
tipo de avaliação ambiental.
Cada variável analisada em qualquer uma das três formas de avaliação, recebe
grau de significância compreendido no intervalo de 0 a 3, inclusive, que espelha o nível de
74
compatibilidade e compromisso da variável com a construção do processo de
sustentabilidade. Em adição a esse processo, cada variável recebe um peso, também expresso
no intervalo de 0 a 3, que representa sua importância em comparação com as outras variáveis
(CABRAL, 2005).
Os índices de gestão ambiental (IGA), de desempenho ambiental (IDA) e de
mobilização ambiental (IMA) resultantes das avaliações de gestão ambiental (AGA), de
desempenho ambiental (ADA) e de mobilização ambiental (AMA), respectivamente, são
obtidos a partir dos cálculos da média ponderada do produto da significância pelo peso, de
cada variável.
Para cada índice de avaliação, a Comissão Técnica do PSMV estabelece um limite
mínimo, denominado nota de corte, abaixo do qual o município é desclassificado. Para o ano
de 2004, a nota de corte considerada foi de 1,1 para o IGA, enquanto que para o exercício de
2005, o valor mínimo considerado foi de 1,2.
A avaliação final do município é feita a partir da somatória das avaliações por
gestão, desempenho e mobilização, sendo atribuído a cada uma delas um peso específico. À
gestão ambiental é atribuído peso 5, ao desempenho ambiental, 3 e à mobilização ambiental,
atribui-se peso 2. Para que o município seja certificado, terá que ter pontuação geral igual ou
superior 5 pontos, tendo que obter pelo menos 1 ponto na avaliação por desempenho, 3
pontos na avaliação por gestão e o mínimo de 1 ponto na avaliação por mobilização, ou seja, o
município não pode ter pontuação zero em nenhuma das avaliações.
Assim são classificados os municípios, após avaliação da Comissão Técnica e
aprovação do Comitê Gestor do PSMV:
Categoria A – o município está comprometido com a sustentabilidade ambiental
Categoria B – o município está num estágio intermediário com a sustentabilidade
ambiental
Categoria C – o município tem pouco compromisso com a sustentabilidade
ambiental e
Desclassificado – o município ainda não tem condições de receber uma
certificação ambiental.
O Prêmio Sensibilidade Ambiental é conferido ao município que melhor índice
obtiver nas três esferas de avaliação: gestão, desempenho e mobilização, dentro dos critérios
preestabelecidos, levando-se em consideração a evolução dos índices avaliados. Em caso de
coincidência na pontuação, o Art. 27 inciso I do Decreto nº 27.074/03 prioriza, como critério
75
de desempate, a participação percentual de área protegida no município; a existência de
COMDEMA e o maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) são os critérios
subseqüentes.
Segundo Cabral (2005), o método utilizado para as avaliações do PSMV possui
dinamismo, por se constituir em um processo contínuo, e está passível de revisão em suas
significâncias e pesos a cada ano, pois pressupõe constante atualização de dados e
informações sociais, culturais, econômicas, políticas e ecológicas.
Dentre as várias atribuições da Comissão Técnica, ressalta-se a responsabilidade
de emissão de parecer individualizado, para cada município que chegar à classificação final
independentemente da categoria atingida, com as indicações das variáveis que mais
necessitam de mobilização ambiental por parte da sociedade civil organizada, juntamente com
o poder público.
O Apêndice A – Programa Selo Município Verde – Comparação do desempenho
de municípios em 2004 e 2005 apresenta a relação dos 184 municípios cearenses, estando
coloridos de vermelho os que foram qualificados e classificados na Categoria C e de amarelo,
os da Categoria B (observa-se que nos dois anos de Certificação do Programa Selo Município
Verde, 2004 e 2005, nenhum município conseguiu atingir a classificação relativa à Categoria
A). Mostra-se em seguida, a situação política dos municípios que já foram certificados,
segundo informações da APRECE, em que se identificam quais os municípios que tiveram
seus prefeitos reeleitos (R), quais os que fizeram sucessor (FS), os que não conseguiram ser
reeleitos (NR) e os que não elegeram sucessor (NES). Na mesma tabela indica-se os
municípios que têm Áreas Protegidas (APs) e a situação dos municípios com relação a
existência de Conselhos Municipais de Defesa do Meio Ambiente, até 2003, criados em 2004
e criados em 2005.
Com relação ao processo de certificação, registra-se, para os exercícios de 2004 e
2005, os municípios que participaram dos Seminários (2004, 1º e 2º seminários e 2005
somente um seminário), os municípios pré-inscritos no processo, quais os que responderam ao
questionário para avaliação por gestão, o IGA inicial decorrente das respostas ao questionário
e o IGA calculado após visita da Comissão Técnica ao município participante.
No mesmo anexo, para 2005, já se observa os valores relativos ao índice de
desempenho ambiental (IDA) e ao índice de mobilização ambiental (IMA).
76
Com relação aos Apêndices A, B, C e D, pode-se observar:
• Dos 184 municípios do Estado do Ceará, 77 possuem áreas protegidas, ou seja,
42% aproximadamente;
• Dos 77 municípios que possuem áreas protegidas, 22 foram inscritos no PSMV em
2004 e 49 em 2005, representando um aumento da ordem de 123%;
• Dos municípios com áreas protegidas, 13 foram qualificados em 2004 e 17 em
2005, representando um acréscimo aproximado de 31%;
• Em relação à qualificação total, verifica-se que em 2004, para 16 municípios
qualificados, 13 possuíam áreas protegidas, ou seja, 81,2%, enquanto que em
2005, para 22 municípios qualificados, apenas 17 possuíam áreas protegidas, ou
seja, 77,3%. Proporcionalmente, portanto, houve uma queda de 4,8% de 2004 para
2005;
• No entanto, nota-se que 6 municípios que foram qualificados em 2004 e que
possuem áreas protegidas, a saber: Aratuba, Canindé, Fortaleza, Horizonte, Icapui
e Pacoti, não foram qualificados em 2005. Observa-se, porém, que Aratuba,
Canindé, Fortaleza e Horizonte apenas se inscreveram no Programa em 2005, mas
não participaram das etapas posteriores; Icapuí se inscreveu, respondeu ao
questionário, mas não foi pré-qualificado e Pacoti participou de todas as etapas,
mas foi desclassificado por ter obtido nota zero no Índice de Mobilização
Ambiental.
• Não se consegue vislumbrar motivos de ordem política nesse comportamento, pois
2 municípios Aratuba e Pacoti fizeram sucessor, outros 2, Canindé e Horizonte
tiveram seus prefeitos reeleitos e com relação a Fortaleza e Icapui, os prefeitos
existentes à época, não elegeram seus substitutos;
• Por outro lado, dos 13 municípios que participaram pela primeira vez do processo
em 2005 e foram qualificados, 2 (Nova Russas e Tianguá) tiveram seus prefeitos
reeleitos, 2 (Baturité e Campos Sales) não foram reeleitos, 4 (Croatá, General
Sampaio, Guaramiranga e Quixeramobim) fizeram sucessor e 5 (Crateús, Itaitinga,
Maracanaú, Missão Velha e Ocara), não elegeram sucessor. Esses resultados
demonstram que a situação política relacionada à manutenção ou não de prefeitos
77
ou a permanência de determinado partido, não significou interferência direta no
processo do PSMV;
• Com relação aos Conselhos Municipais de Defesa do Meio Ambiente, entende-se
que o objetivo do Programa Selo Município Verde está sendo atingido. Observa-se
a curva de crescimento da criação dos COMDEMAs: em 2003 existiam 33
COMDEMAs regulamentados; em 2004 foram criados 7 e em 2005 aumentou
significativamente o número de conselhos atuantes nos diversos municípios, com o
acréscimo de mais 19 conselhos, como se verifica na Figura 8 seguinte:
33
40
59
0
10
20
30
40
50
60
70
2003 2004 2005
Ano
CO
MD
EM
A
Fonte: Elaboração própria a partir de dados obtidos na SOMA, 2006. FIGURA 8 – Curva de Crescimento dos COMDEMAs
• A sensibilização dos municípios para a participação nos seminários promovidos
pelos gestores do PSMV tem aumentado, passando de 89 municípios presentes aos
dois seminários que ocorreram em 2004 para 128 em 2005, que teve somente um
seminário de sensibilização. Em termos percentuais, representou um acréscimo de
45% no número de participantes;
• O PSMV utiliza um mecanismo chamado “repescagem” que objetiva aumentar o
número de municípios participantes do seminário de sensibilização; em 2005
aumentou de 128 para 148 esse número.
78
• A quantidade de municípios inscritos para a pré-avaliação no PSMV aumentou em
170% comparando-se 2005 (92 municípios) a 2004 (34 municípios). No entanto, a
proporção de municípios pré-qualificados através do Índice de Gestão Ambiental
(IGA) teve aumento da ordem de apenas 35% (de 20 municípios em 2004 para 27
em 2005).
• No que se refere ao IGA, no entanto, a média aritmética dos dois anos não
apresenta diferença significativa, sendo 1,59 em 2004 e 1,57 em 2005. Se
considerarmos o valor máximo para o IGA de 2,64 que equivale a 5 pontos,
verifica-se que os valores obtidos chegam a representar algo em torno de 60% do
que seria considerado o ideal.
• Com relação à quantidade de municípios qualificados nos dois anos de Programa
Selo Município Verde, verifica-se um acréscimo da ordem de 37,5% representado
pela variação de 16 municípios certificados em 2004 para 22 municípios em 2005;
• O IDA de 2005 apresenta uma média aritmética de 2,44. Considerando-se que a
pontuação máxima para a Avaliação por Desempenho Ambiental é 2,84, verifica-
se que o valor obtido representa 86% do valor máximo.
• O IMA médio de 2005 é de 1,75. Para a Avaliação por Mobilização Ambiental é
atribuída a nota máxima em pontuação de 2,74, representando assim o valor
obtido, o equivalente a 64% da pontuação máxima possível.
• Com relação às Mesorregiões cearenses, os municípios certificados estão
distribuídos de acordo com a Tabela 3 seguinte:
TABELA 3 - Mesorregiões Geográficas do Ceará - Cer tificação PSMV 2004 e 2005 Mesorregião Municípios 2004 2005
(quantidade) Inscritos Certificados Inscritos Certificados Metropolitana Fortaleza 11 5 4 10 4 Norte Cearense 36 7 4 18 4 Noroeste Cearense 47 11 4 22 6 Sertões Cearense 30 3 1 16 4 Jaguaribe 21 5 2 13 1 Centro-Sul Cearense 14 0 0 3 0 Sul Cearense 25 3 1 10 3 Totais 184 34 16 92 22
Fonte: Elaboração própria a partir de dados obtidos na SOMA, 2006
79
A Figura 9 mostra a quantidade de municípios inscritos no PSMV, em 2004 e
2005
57
11
35
03
10
1822
1613
3
10
0
5
10
15
20
25
Met
ropo
litana
For
talez
a
Norte
Cea
rens
e
Noroe
ste C
eare
nse
Jagu
aribe
Centro
-Sul
Ceare
nse
Sul Cea
rens
e
Mesorregiões
Qua
ntid
ade
de M
unic
ípio
s
2004
2005
Fonte: Elaboração própria a partir de dados coletados na SOMA, 2006 FIGURA 9 – Municípios inscritos no PSMV em 2004 e 2005.
A Figura 10 mostra a quantidade de municípios Certificados no PSMV em 2004 e
2005.
4 4 4
12
01
4 4
6
4
10
3
01234567
Met
ropo
litana
For
talez
a
Norte
Cea
rens
e
Noroe
ste C
eare
nse
Jagu
aribe
Centro
-Sul
Ceare
nse
Sul Cea
rens
e
Mesorregiões
Qua
ntid
ade
de M
unic
ípio
s
2004
2005
Fonte: Elaboração própria a partir de dados coletados na SOMA, 2006 FIGURA 10 – Municípios Certificados no PSMV em 2004 e 2005.
80
4.2 ICMS Ecológico - Histórico, Características e Aspectos Legais
No Brasil, a história dos tributos teve início em 1500, com a chegada dos
portugueses. No entanto, a cobrança na forma de impostos somente ocorreu depois que o
Brasil foi dividido em Capitanias Hereditárias, entre 1534 e 1536, quando a Coroa portuguesa
fez as doações a pequenos fidalgos, a soldados que se haviam destacado ou a funcionários
ligados à administração colonial. A Coroa ficaria com o monopólio do comércio do pau-
brasil, das especiarias e das chamadas drogas do sertão, assim também com o “quinto” dos
metais e pedras preciosas que fossem encontrados, enquanto à Igreja caberia o dízimo de
todos os produtos. Ao governo local seria entregue a vigésima parte dos rendimentos da
exploração do pau-brasil e da pesca (SILVA et al, 2000).
Quando nas décadas iniciais do século XVIII as primeiras grandes descobertas de
jazidas auríferas se processaram na colônia, o governo português criou pela primeira vez
regulamentações fiscais, com a finalidade precípua de dirigir a mineração, fiscalizá-la e
cobrar tributo, através da Intendência de Minas. O “quinto” como assim foi denominado este
tributo, correspondia à 5ª parte de todo o ouro extraído, que deveria ir para os cofres da coroa
portuguesa. Mas os descaminhos tornaram-se evidentes, forçando a Fazenda Real a tomar
outras providências com o intuito de proteger seus interesses. Procedeu-se então à “derrama”,
medida coercitiva onde toda a população, mineradora ou não, contribuía de alguma forma
para suprir as deficiências na arrecadação do quinto estipulado, decorrentes da sonegação.
Criavam-se impostos especiais sobre o comércio, escravos, casas de negócio, trânsito pelas
estradas, etc. De acordo com Barbosa (2003), a “derrama” foi a causa imediata da
Inconfidência Mineira de 1789.
Passaram-se os anos, e os cidadãos continuam cada vez mais sujeitos às constantes “derramas”. O Governo necessita de eficácia na arrecadação tributária para fazer face às despesas orçamentárias e assim promover o bem-estar da população por meio da execução de programas sociais e de aceleração do desenvolvimento econômico. Por outro lado, a sonegação continua existindo, em menor escala para uns e em maior escala para outros. Resultado: uma carga tributária sem equivalente na história é imposta a todos, indiscriminadamente, tal como na histórica “derrama”, para suprir as necessidades da política monetária e fiscal (HEMPEL, 1984).
Impostos sobre venda ou sobre a circulação de mercadorias em feiras, mercados,
vias de transportes etc. existem desde muitos séculos, mas a implantação moderna no Brasil
somente ocorreu após a vigência da Lei nº 4.625 de 31 de dezembro de 1922, que criou o
Imposto sobre Vendas Mercantis (BALEEIRO, 1970).
81
O movimento revolucionário de 1930 provocou profundas transformações no
Estado, tendo surgido então a “Nova República”. Para Aragão (1993), àquela época tudo o
que era considerado antigo “exalava odores de corrupção”, dos procedimentos individuais ou
particulares aos diversos setores da administração pública, urgindo mudanças de caráter
estrutural.
A Constituição de 1934 aumentou a abrangência do Imposto sobre Vendas
Mercantis, que deixou de ser apenas para as “vendas mercantis” e passou a ser também para
as “consignações”, estendendo-se aos produtores em geral, inclusive os agrícolas. O Imposto
de Vendas e Consignações só entrou em execução a partir de 1936, quando passou a
representar a receita fundamental dos Estados-membros (BALEEIRO, 1970).
No governo do Presidente Castelo Branco (1964 – 1967) reformulou-se o Sistema
Tributário Nacional e criou-se o Imposto sobre a Circulação de Mercadorias – ICM. Segundo
Mello; Toledo; Mello (1993), esta mudança foi considerada avançada para sua época, pois
introduzia o imposto sobre valor adicionado no Brasil, ao mesmo tempo em que ele era
adotado, também, nos países europeus.
Na reforma tributária implementada pela Constituição de 1988, elaborada por
uma Assembléia Constituinte e promulgada no governo José Sarney, o ICM foi transformado
em Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestação de
Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação – ICMS. Para
Mello; Toledo; Mello (1993), o ICMS passou a ser o “resultado da fusão do ICM de
competência estadual com cinco impostos, anteriormente de competência federal, ampliando
portanto a base de cálculo do antigo ICM e passando por várias alterações de ordem jurídica”.
No Ceará, esse imposto teve como ponto de apoio a Lei nº 11.350, sancionada em
27 de janeiro de 1989, e o seu Regulamento, consubstanciado no Decreto nº 21.219 de 18 de
janeiro de 1991 (ARAGÃO, 1993).
Para atingir sua finalidade de promover o bem comum, o Estado exerce funções
para cujo custeio precisa de recursos financeiros ou receitas. As receitas do Estado provêm de
atividades econômico-privadas dos entes públicos, de monopólios, de empréstimos, e
principalmente da imposição tributária (NOGUEIRA, 1989).
Ainda segundo o mesmo autor, o direito de tributar decorre do poder de império
do Estado, pelo qual pode fazer “derivar” para seus cofres uma parcela do patrimônio das
pessoas sujeitas à sua jurisdição e que são chamadas “receitas derivadas” ou tributos,
divididos em impostos, taxas e contribuições.
82
Imposto é o tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma situação
independente de qualquer atividade estatal específica, relativa ao contribuinte. Essa é a
definição do Art. 16 do Código Tributário Nacional - CTN. Logo, o Estado não precisa criar
nenhum serviço nem dispor de qualquer atividade especial para oferecer ao contribuinte em
troca do que este irá pagar, pois não há, no imposto, a contrapartida.
Para Baleeiro (1970, p. 117), essa definição encerra um conceito puramente
jurídico, mas que coincide com a noção teórica, que considera o imposto como uma:
[...] prestação de dinheiro que, para fins de interesse coletivo, uma Pessoa Jurídica de Direito Público, por lei, exige coativamente de quantos lhe estão sujeitos e têm capacidade contributiva, sem que lhes assegure qualquer vantagem ou serviço específico em retribuição desse pagamento.
No entanto, não se pode deixar de citar Maurice Duverger (1960, apud Nogueira,
1989, p. 188) no trecho retirado de seu livro Institutions financières, que diz:
[...] para este Estado moderno, as finanças públicas não são apenas um meio de assegurar a cobertura de suas despesas de administração; mas também, e sobretudo, constituem um meio de intervir na vida social, de exercer uma pressão sobre os cidadãos, para organizar o conjunto da nação.
Dentro do sistema tributário, atribui-se relevância à distinção usual entre imposto
direto e imposto indireto. O imposto direto gradua diretamente a soma devida por um
contribuinte, de conformidade com sua capacidade contributiva tendo como exemplo típico o
Imposto de Renda. Já o imposto indireto, diferentemente, associa o ônus tributário a um
evento jurídico ou material e não dispõe de um parâmetro direto para apurar a capacidade
econômica do contribuinte; o Imposto sobre os Produtos Industrializados – IPI, é um exemplo
(NOGUEIRA, 1989).
O Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e sobre
Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação
(ICMS) é um imposto indireto, de grande relevância, por ser o tributo que mais gera
arrecadação para os Estados e Distrito Federal, além de ser responsável por parte significativa
da receita tributária de muitos municípios brasileiros. Segundo a Federação Nacional do
Fisco Estadual (FENAFISCO), o ICMS representa mais de 90% da receita própria dos
Estados.
No ICMS, o valor a ser pago resulta de uma porcentagem fixada em lei, para ser
aplicada sobre o valor da operação a ser tributada, integrando o preço da mercadoria. É,
portanto o consumidor final, quem paga efetivamente o tributo. A grande maioria da
população desconhece o tributo que é pago, embutido no preço das mercadorias e na
83
aquisição de serviços, e, muitas vezes, se ilude achando que são os empresários e prestadores
de serviços os que arcam com a onerosa carga tributária.
O ICMS é regido por 27 leis e possui regras próprias em cada unidade da
federação (BARBOSA, 2003). Representa o principal tributo estadual e seu recolhimento, na
maioria dos Estados, é responsável pela parcela majoritária da formação da receita com a
qual se suprem as necessidades administrativas, de investimentos e de pagamentos de
financiamentos auferidos. De forma bastante simplista, pode-se dizer que a forma de
aplicação do ICMS acompanha o fluxo de formação de bens ou de serviços no seio da
sociedade, isto é, incide sobre o valor agregado de cada produto presente em uma linha
contínua de produção industrial ou de execução de um determinado serviço ou de uma
atividade comercial, até completar-se este fluxo, no momento em que ocorre a venda do
produto ao consumidor final ou finda a prestação do serviço.
As políticas adotadas pelos Estados vêm ocasionando aumentos nas alíquotas dos
produtos e serviços essenciais ao consumo, tais como combustível, telecomunicação e
energia elétrica (BARBOSA, 2003). As alíquotas do ICMS em vigor no estado do Ceará à
data da elaboração do presente trabalho, de acordo com o Art. 55 do Decreto nº 24.569 de 31
de julho de 1997 – que “Consolida e regulamenta a legislação do Imposto sobre Operações
relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transporte
Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação (ICMS), e dá outras providências”, são:
I – nas operações internas:
a) 25% (vinte e cinco por cento), para bebida alcoólica, arma e munições, fogos de artifício, fumo, cigarro e demais artigos de tabacaria, energia elétrica, jóia, ultraleve e asa-delta, gasolina, querosene para aeronave, óleo diesel, álcool anidro e hidratado para fins combustíveis;
b) 17% (dezessete por cento) para as demais mercadorias;
c) 12% (doze por cento), para os produtos de informática de que trata o artigo 641, contadores de líquido e medidor digital de vazão.
II – nas prestações internas:
a) 25% (vinte e cinco por cento), para serviços de comunicação;
b) 17% (dezessete por cento), para serviço de transporte intermunicipal;
c) 12% (doze por cento), para a prestação de serviço de transporte aéreo.
III – na operação e prestação interestadual:
a) 4% (quatro por cento), na prestação de serviço de transporte aéreo;
b) 12% (doze por cento), nas demais operações e prestações.
Barbosa (2003) lembra que os contribuintes de direito - comerciantes, banqueiros,
industriais, profissionais liberais - na realidade repassam o ônus tributário ao contribuinte-
consumidor final da mercadoria ou serviço, desonerando-se do tributo. É o que se chama de
84
repercussão ou translação do tributo. São esses contribuintes de direito, repassadores da carga
tributária, os maiores queixosos do gravame que é descarregado sobre a sua clientela.
Segundo estudos realizados pelo Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário
(IBDT) e pela Associação Brasileira de Defesa do Contribuinte (ABDC), a carga tributária
imposta às empresas e aos cidadãos do nosso país é a 3ª maior do mundo (35,45% do PIB),
perdendo apenas para a Suécia (47%) e para a Alemanha (36,7%). O ICMS é hoje o tributo
de maior arrecadação individual, seguido do INSS e Imposto de Renda (IBPT, 2004).
Atualmente o ICMS do Estado do Ceará encontra seu respaldo jurídico desde sua
fonte constitucional, ou seja, o Sistema Tributário Nacional (CF – Constituição Federal de
1988, arts. 145 a 156), às normas gerais de Direito Tributário (CTN – Código Tributário
Nacional), à Lei Complementar 87/86, que disciplina normas gerais do ICMS, chegando à
Lei Ordinária Estadual nº 12.670/96, que dispõe sobre este tributo no Ceará e, finalmente, o
Regulamento do ICMS (Decreto nº 24.569/97), que consolidou, num só texto, todos os
decretos relativos ao Imposto no estado do Ceará, até julho de 1997. Inúmeros dispositivos ali
constantes foram modificados ou derrogados até os dias de hoje, sem que o ICMS, no
entanto, tenha perdido a sua essência básica.
No Ceará, tem havido variação positiva na arrecadação do ICMS, no período de
1998 a 2004, conforme expressam a Tabela 4 e a Figura 11 seguintes:
TABELA 4 – Arrecadação Total do ICMS no Ceará, de 1998 a 2004 Ano Valor (R$) 1998 1.347.680.940,98 1999 1.527.714.348,86 2000 1.867.769.374,74 2001 2.121.415.826,30 2002 2.423.268.265,99 2003 2.633.552.518,11 2004 2.994.507.835,79
Fonte: Elaboração própria a partir de dados obtidos na SEFAZ, 2006
85
0
500.000
1.000.000
1.500.000
2.000.000
2.500.000
3.000.000
3.500.000
1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004
Ano
Val
ores
em
mil
reai
s
Fonte: Elaboração própria a partir de dados coletados junto à SEFAZ, 2006 FIGURA 11 – Evolução da Arrecadação do ICMS no Estado do Ceará (1998 a 2004)
Para Mendes5, “nossa obstinação, da equipe e da organização, está apontada para
um desempenho positivo sempre crescente, convencidos de que o futuro almejado tem as
raízes solidamente fincadas no presente que construímos”.
A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 158, determina que da arrecadação
do ICMS:
• ¾ (75%) no mínimo, sejam destinados ao Estado para sua manutenção e
investimentos;
• ¼ (25%) sejam distribuídos entre os municípios.
Transformando estes 25% que são distribuídos aos municípios em 100%, tem-se:
• ¾ (75%), no mínimo, devem ser distribuídos de acordo com um índice
denominado VAF (Valor Adicionado Fiscal).De maneira simplificada, VAF
corresponde, para cada município, a média do valor das mercadorias saídas,
acrescido do valor das prestações de serviços, deduzido o valor das mercadorias
entradas, em cada ano civil;
• ¼ (25%) devem ser distribuídos de acordo com critérios fixados por Lei Estadual.
Essa prerrogativa permite que o Estado exerça influência nas prioridades dos
municípios, incentivando certas atividades e desencorajando outras. É relevante, sendo
5 José Maria Martins Mendes é Secretário Estadual da Fazenda. Equilíbrio sem retórica. Sefaz Novo Tempo, Fortaleza – Ceará. Dezembro/2005 a Janeiro/2006. Ano XII – nº 77 e 78.
86
utilizado inclusive como fundamentação para a criação e instituição do chamado ICMS
Ecológico, que será abordado mais adiante.
A regra, no que se refere ao comprometimento dos ¾ dos recursos de acordo com
o critério do valor adicionado (se um município isoladamente é responsável por 10% da
arrecadação do ICMS no Estado, ele terá direito a 10% do volume de recursos repassados) “é
concentradora de renda, pois prioriza o repasse dos recursos para os municípios mais ricos, o
que faz aumentar sua concentração de riquezas e a distância entre municípios ricos e pobres”
(ROCCO, 2004, p. 271).
Nesse sentido, Scaff e Tupiassu (2005, p. 734) assim se posicionam:
[...] os municípios que se dedicam ao desenvolvimento econômico em detrimento da preservação ambiental são aquilatados com maior quantidade de repasses financeiros, pois têm mais possibilidade de gerar receitas em função da circulação de mercadorias. Por outro lado, aqueles que arcam com a responsabilidade de preservar o bem natural, trazendo externalidades positivas que beneficiam a todos, têm restrições em sua capacidade de desenvolvimento econômico e, conseqüentemente, recebem menos repasses financeiros por contarem com uma menor circulação de mercadorias e serviços. Esta lógica necessariamente deve ser alterada, pois não dá conta da dinâmica da realidade e, principalmente, não se conforma com a proteção constitucional conferida ao meio ambiente [...].
No Ceará, a Lei n.º 12.612 de 07 de agosto de 1996 define os critérios para
distribuição da parcela de receita do produto da arrecadação do ICMS pertencente aos
Municípios, sendo:
• 75% (setenta e cinco por cento) distribuídos com referencia ao Valor Adicionado
Fiscal;
• 5% (cinco por cento) conforme relação existente entre a população do Município e
a população total do Estado;
• 12,5% (doze e meio por cento) relacionado às despesas realizadas pelo Município
na manutenção e desenvolvimento do ensino;
• 7,5% (sete e meio por cento) a ser distribuído eqüitativamente para todos os
Municípios.
87
Como funciona a distribuição do ICMS no Estado do Ceará, hoje:
Total arrecadado pelo estado: 75% ficam com o estado
25% vão para os municípios
75%
25%
Total repassado ao município: 75% segundo a arrecadação do município e
25% de acordo com a Lei nº 12.612/96
12,5%
7,5%
5,0%
75%
Como órgão arrecadador e fiscalizador, à Secretaria da Fazenda do Estado do
Ceará é atribuída a missão institucional de captar recursos financeiros para atender às
demandas da sociedade. A ela compete:
• auxiliar diretamente e indiretamente o Governador na formulação da política
econômico-tributária do Estado;
• realizar a administração fazendária pública ;
• dirigir, superintender, orientar e coordenar as atividades de arrecadação,
tributação, fiscalização e controle dos tributos e demais rendas do erário ;
• gerenciar o sistema da Dívida Pública Estadual;
• elaborar, em conjunto com a Secretaria de Planejamento e Coordenação, o
planejamento financeiro do Estado;
• administrar o fluxo de caixa de todos os recursos do Estado e desembolso dos
pagamentos;
• gerenciar o sistema de execução orçamentária financeira e contábil-patrimonial
dos Órgãos e Entidades da Administração Estadual;
• superintender e coordenar a execução de atividades correlatas na Administração
Direta e Indireta;
• exercer outras atribuições necessárias ao cumprimento de suas finalidades nos
termos do Regulamento.
Se o mundo hoje se encontra em momento tão difícil de sustentabilidade
ambiental, e se buscam formas alternativas para o seu amparo e proteção, por que não fazer
88
do próprio ICMS uma das suas bases de sustentabilidade? Tudo é apenas uma questão de
redistribuição, sem nenhum acréscimo à carga tributária hoje existente.
Na visão de Araújo et al (2003), o ICMS Ecológico foi criado a partir da
necessidade das administrações públicas de encontrarem alternativas para o desenvolvimento
de atividades econômicas clássicas, em decorrência das regras de proteção ambiental que
impõem significativas restrições ao uso de áreas consideradas protegidas.
Ao ICMS Ecológico são atribuídas duas funções primordiais: a compensatória e a
incentivadora (BENSUSAN, 2002).
A Função Compensatória beneficia os municípios que sofrem limitações quanto
ao gerenciamento de seus territórios, em função da existência de Unidades de Conservação
ou áreas com restrições de uso. Esses municípios geralmente recebem menos dinheiro
quando da repartição feita pelo estado, pois normalmente têm menos atividades geradoras de
arrecadação do ICMS (comércio, indústria e serviços).
A Função Incentivadora atua como incentivo aos municípios, despertando o
interesse em criar ou ampliar áreas de conservação ou outros critérios relevantes para o ICMS
Ecológico, inclusive quanto aos aspectos qualitativos.
De acordo com Loureiro (2002, p. 53), o ICMS Ecológico “nascido sob a égide da
compensação” evoluiu, “transformando-se em mecanismo de incentivo à conservação
ambiental, o que mais o caracteriza, representando uma promissora alternativa na composição
dos instrumentos de política pública para a conservação ambiental no Brasil”.
A conservação ambiental é o critério mais utilizado na repartição dos recursos
financeiros a que os municípios têm direito, a partir do redimensionamento do ICMS e da
conseqüente criação do ICMS Ecológico.
A expressão ICMS Ecológico por Biodiversidade ou na Biodiversidade tem sido
utilizada, “considerando que as unidades de conservação consistem no mais eficaz
depositário da biodiversidade e que, no caso paranaense, o ICMS Ecológico leva em conta,
além destas, os espaços protegidos que visam facilitar a sua conexão” (LOUREIRO, 2002, p.
55).
A Tabela 5 a seguir mostra os diversos critérios utilizados pelos estados que já
implementaram o ICMS Ecológico, o ano de aprovação da lei e os respectivos percentuais
considerados, que variam em função das peculiaridades de cada região.
89
Tabela 5 – ICMS Ecológico nos Estados Brasileiros e os Critérios de Redistribuição
Destinação do ICMS Ecológico
Estado Ano Critério Participação
Paraná 1991 Unidades de Conservação Ambiental 2,5%
Mananciais de abastecimento público de águas 2,5%
São Paulo 1993 Unidades de Conservação Ambiental 0,5%
Reservatórios de água destinados à geração de en. elétrica 0,5%
Minas Gerais 1995 Unidades de Conservação Ambiental 0,5%
Sistema de tratamento de lixo e/ou esgoto sanitário 0,5%
Rondônia 1996 Unidades de Conservação Ambiental 5,0%
Amapá 1996 Unidades de Conservação Ambiental 1,4%
Rio Grande 1998 Unidades de Conservação Ambiental e 7,0%
do Sul Áreas inundadas por barragens
Mato Grosso 2001 Unidades de Conservação Ambiental e Terras Indígenas 5,0%
MatoGrosso 2001 Unidades de Conservação Ambiental, 5,0%
do Sul Áreas de Terras Indígenas e
Mananciais de abastecimento público
Pernambuco 2001 Unidades de Conservação Ambiental 1,0%
Unidade de Compostagem ou Aterro Sanitário 5,0%
Tocantins 2002 Unidades de Conservação Ambiental e Terras Indígenas 2,0%
Política Municipal de Meio Ambiente 1,5%
Controle e combate a queimadas 1,5%
Conservação dos solos 1,5%
Saneamento básico e conservação da água 2,0%
Fonte: Elaboração própria a partir das informações obtidas nas legislações estaduais específicas.
90
A iniciativa paranaense foi vitoriosa pelo seu efeito positivo e multiplicador,
servindo de alavanca para a criação e implementação do mecanismo em outros estados.
Unidades de conservação e mananciais de abastecimento são os critérios adotados
pelo Paraná, estado que se notabilizou pelo pioneirismo na implantação do ICMS Ecológico,
tendo sido inclusive reconhecido internacionalmente, com a conquista do prêmio Henry Ford
de Conservação Ambiental na categoria “Negócios em Conservação” concedido pela
Organização das Nações Unidas (ONU), em 1997. A Lei do ICMS Ecológico foi considerada
um dos 10 melhores projetos do mundo na área de ecologia, por seu aspecto inovador e por
sua capacidade multiplicadora. O Paraná recebeu também o prêmio Inovadores da Mata
Atlântica, já em 2005, concedido pela Fundação S.O.S. Mata Atlântica, por ter sido o
primeiro estado brasileiro a implantar o sistema. (Decreto nº 2.791 de 27.12.96, Lei
Complementar nº 59 de 01.10.91 e ambientebrasil, 2005).
De acordo com Loureiro (2002), no período compreendido entre 1992 e 2000,
ocorreu um acréscimo na participação do número de municípios contemplados pelo ICMS
Ecológico no Paraná, equivalente a 97% ; aumentou de 112 para 221 a quantidade de
municípios beneficiados por esse repasse de ICMS, desde a sua implantação (o estado é
formado por 399 municípios).
Ainda segundo o referido autor, verificou-se incrementos superiores a 50% no
total do ICMS repassado aos 10 municípios que tiveram maior impacto financeiro positivo
nas suas finanças, representando, para alguns deles, a possibilidade de alterarem seus perfis
econômicos, saindo de atividades puramente agropecuárias para atividades de turismo.
O município de São Jorge do Patrocínio é um exemplo. Localizado na região
noroeste do estado do Paraná, na divisa com o estado do Mato Grosso do Sul, distante 691
km da capital, foi o quarto maior recebedor do ICMS Ecológico no ano de 2000, tendo uma
receita de R$ 1.380.713,14 correspondente a 28,83% das receitas totais do município (e que
representou 74,49% do valor do ICMS recebido efetivamente pelo município naquele ano).
O município apresentou um acumulado de R$ 5.694.676,53, desde o início do recebimento
deste recurso, a partir do ano de 1995. (WITZEL, 2003).
Segundo administradores do município, entrevistados por Witzel (2003), o ICMS
Ecológico ocupou papel fundamental para o desenvolvimento recente da municipalidade.
São Paulo foi o primeiro estado a seguir o exemplo do Paraná, destinando 0,5%
dos recursos financeiros aos municípios que possuem unidades de conservação e outros 0,5%
aos municípios que possuem “reservatórios de água destinados à geração de energia elétrica”.
Não utiliza processo de avaliação qualitativa das unidades de conservação para efeito de
91
composição do índice e considera somente as unidades de conservação protegidas pelo
Estado (Leis nº 9.146 de 09.03.95, nº 8.510 de 29.12.93 e nº 3.201 de 23.12.81).
O ICMS Ecológico beneficiou 169 municípios paulistas em 2002, dez a mais do
que no ano anterior, num total de R$ 39,6 milhões. O repasse, calculado em função dos
espaços legalmente protegidos nos municípios em relação ao total existente no Estado (cerca
de 3% do território estadual), pode não ser significante para uma cidade como São Paulo, mas
é de fundamental importância para uma região como o Vale do Ribeira, a mais pobre do
Estado.6 Em 2001 os municípios do Vale receberam 37,12% do ICMS Ecológico. Em relação
ao ICMS recebido por cada município, o Ecológico representou 62% do repasse de Barra do
Turvo, 49% de Iguape, 59% de Cananéia, 59% de Eldorado, e 77% de Iporanga. No total da
receita municipal (a soma do IPTU, ISS, FPM e ICMS), o ICMS Ecológico representou
38,5% de Barra do Turvo, 24,68% de Cananéia, 20% de Iguape e 45% de Iporanga.
Minas Gerais tem seu ICMS Ecológico conhecido como “Lei Robin Hood”, por
estar calcado no princípio “tirar pouco de poucos, para dar muito a muitos” (JOÃO, 2004, p.
98). Inclui, além dos critérios relativos a Unidades de Conservação outros como tratamento
ou disposição final do lixo ou de esgoto sanitário e patrimônio cultural. A maior inovação diz
respeito ao grau da implementação, em que os percentuais aumentam ano a ano, causando
menos impactos aos municípios, que tinham sua receita basicamente decorrente do valor
adicionado fiscal; considera os aspectos quantitativos e qualitativos para os cálculos relativos
à distribuição do imposto (Lei nº 13.803 de 27.12.00).
Grieg-Gran (2000), em sua pesquisa, mostra que houve um ganho substancial na
arrecadação dos municípios mais pobres, tendo as perdas resultantes da redistribuição se
concentrado nos 20 mais ricos municípios do estado.
Segundo João (2004), o ICMS Ecológico em Minas Gerais trouxe um
significativo aumento no número de unidades de conservação naquele estado. Em 1995, este
número era de 67; em 1997 passou para 81; no ano de 1998 chegou a 135 e atingiu a marca
de 233 UCs cadastradas em 2001. Quanto ao número de municípios beneficiados, evoluiu de
101 em 1996 para 193 em 2001 chegando a 294 em 2002.
Em Rondônia, o único critério utilizado é o das unidades de conservação e outros
espaços especialmente protegidos. A inserção desse critério provocou redução de 5% no
índice igualitário que era 19% e passou para 14% (o percentual designado para o valor
adicionado fiscal já se encontrava no mínimo constitucionalmente previsto, ou seja, 75%).
6 Informação disponível no site http://www2.noolhar.com/servlet/opovo/event. Acesso em 28 abr 2003.
92
A legislação de Rondônia destaca-se por impor redução do ICMS Ecológico aos
municípios cujas unidades de conservação sofram invasões, explorações ilegais ou outros
tipos de agressões, sendo o montante reduzido repartido entre os municípios que estejam em
acordo com a legislação ambiental do Estado (Decreto nº 9.787 de 20.12.01, Lei
Complementar nº 147 de 15.01.96 e Lei Complementar nº 115 de 14.06.94).
O ICMS Ecológico de Rondônia tem um caráter marcadamente compensatório,
mais do que em qualquer estado onde o instrumento se encontre implantado, pelo fato de
aproximadamente 30% da área total do estado ser considerada como área protegida.
Segundo pesquisa desenvolvida por Grieg-Gran (2000), dos 48 municípios
existentes no estado à época do estudo (hoje são 52 municípios), 22 tiveram aumento na sua
arrecadação, no primeiro ano de implantação do modelo, contra 26 cujo índice consolidado
foi reduzido.
No que se refere ao incentivo gerado pelo instrumento, a pesquisa mostrou que
para 28 municípios rondonienses, com pequena movimentação econômica e baixa
produtividade do setor primário, a existência de Unidades de Conservação é mais atraente
que a participação na distribuição do ICMS com base no Valor Adicionado Fiscal do
município.
O Amapá adota como critério único para a redistribuição do ICMS Ecológico
entre os municípios, a existência de unidades de conservação. São analisados os critérios
quantitativos e qualitativos, seguindo o modelo de cálculo do estado do Paraná (Lei nº 322 de
23.12.96).
No Rio Grande do Sul, o critério utilizado é o de unidades de conservação, cuja
operacionalização foi facilitada pela regulamentação do Sistema Estadual de Unidades de
Conservação. A característica diferenciadora desse Estado é que as áreas sob proteção
ambiental e aquelas inundadas por barragens têm seus valores multiplicados por 3 (três) antes
de ser efetuada a relação percentual cujo divisor é a área total do Estado. Considera somente
os aspectos quantitativos, sendo que os efeitos financeiros devem ser implantados
gradativamente, à razão de 1/3 (um terço) das alterações a cada ano, durante três anos (Leis
estaduais nº 11.038 de 14.11.97, nº 10.012 de 15.12.93 e nº 7.531 de 03.09.81).
Segundo João (2004), a Lei nº 11.038/97 que deveria ter entrado em vigor a partir
de 1º de janeiro de 1998 não foi devidamente regulamentada, o que impede a sua
implementação. A referida autora entende que, a “falta de participação das municipalidades
riograndenses no processo de sua criação seja o fator preponderantemente responsável pela
93
não-implementação do instrumento, fazendo com que a sociedade gaúcha ainda não possa ter
o seu ICMS-Ecológico”.
Mato Grosso utiliza diversos critérios, tendo iniciado o processo com a
verificação dos aspectos apenas quantitativos e em fase posterior, incluído os aspectos
qualitativos também. Foi marcante a atuação do Estado que criou em 2001 o Programa
Estadual do ICMS Ecológico, com objetivos fundamentais de aumentar a superfície de áreas
protegidas, melhorar a qualidade da sua conservação e aplicar a justiça fiscal, implantando
um Programa de apoio às ações dos municípios para conservação da biodiversidade (Lei
Complementar nº 157 de 20.01.04, Decreto nº 2.758 de 16.07.01 e Lei Complementar nº 73
de 07.12.00).
De acordo com João (2004), o ICMS Ecológico no Mato Grosso beneficiou 78
municípios, mais da metade dos 139 existentes, logo no primeiro ano de implantação.
O modelo do estado de Mato Grosso do Sul apresenta grande semelhança ao
anterior, tendo sido feita a implementação também de forma gradual, sendo no primeiro
momento utilizado o critério apenas quantitativo, evoluindo para o qualitativo em etapa
posterior. O Estado também criou em 2001 o Programa Estadual do ICMS Ecológico, com
objetivos idênticos aos do Estado do Mato Grosso (Decreto nº 10.478 de 31.08.01, Lei nº
2.259 de 09.07.01, Lei nº 2.193 de 18.12.00).
A implementação teve o caráter da gradualidade, tendo a parcela da receita do
ICMS pertencente aos municípios sido rateada, ficando o ICMS Ecológico responsável pela
fatia de 2,0% em 2002, 3,5% em 2003 e finalmente, 5% em 2004. Tal fato se deu, segundo
João (2004, p. 105), “principalmente, em função das perdas potenciais dos municípios que
sobrevivem quase que exclusivamente em função da cota fixa do ICMS e que não possuem
unidades de conservação em seus territórios”.
A proposta de Pernambuco é considerada abrangente passando a ser chamada de
“ICMS Sócio-Ambiental”, por incluir tanto critérios ecológicos de rateio-destino de resíduos
sólidos e unidades de conservação, quanto critérios sociais – saúde e educação. Destina 12%
do seu ICMS para aspectos sócio-ambientais; destes, 1% é para os municípios que possuem
unidades de conservação e 5% são distribuídos igualitariamente, entre os municípios que
detêm unidade de compostagem ou aterro sanitário. No que se refere às unidades de
conservação, são consideradas variáveis de caráter quantitativo e variáveis de caráter
qualitativo.
A implementação do ICMS Ecológico apresentou característica marcante: nos
dois primeiros anos (2002 e 2003) foi fixado um limite máximo de 10% (dez por cento) para
94
a participação relativa dos municípios, e sempre que essa participação relativa ultrapassasse
esse limite pré-fixado, o excedente seria distribuído entre todos os municípios que
possuíssem unidades de conservação (Decreto nº 25.574 de 25.06.03, Lei nº 12.206 de
20.05.02 e Lei nº 11.899 de 21.12.00).
Tocantins é o mais novo Estado a adotar o ICMS Ecológico, e ousou nos
critérios: são todos ligados à busca de soluções para problemas ambientais, tratando-se da
conservação da biodiversidade, do apoio às nações indígenas, do controle de queimadas, da
conservação da água, da disponibilização da água potável, do tratamento de esgoto, da coleta
e destinação final de lixo, da estruturação de políticas municipais de meio ambiente e da
dotação orçamentária para o atendimento a demandas ambientais da população local. A
implementação está se dando de forma gradual e progressiva de modo a que todos os
municípios possam, no período de 5 (cinco) anos, se engajar nas ações ambientais, ajustando
suas finanças públicas e minimizando qualquer impacto que possa vir a surgir durante a fase
de implementação. O aumento percentual gradativo da participação do ICMS Ecológico na
receita do Estado prevê 8,5% em 2005, 12% em 2006, chegando a 13% em 2007 (Lei nº
1.323 de 04.04.02 e Decreto nº 1.666 de 26.12.02).
De acordo com Bensusan (2002, p. 82), o Paraná não implantou o ICMS
Ecológico de forma gradual, porém os parâmetros de qualidade foram sendo implementados
e aperfeiçoados aos poucos. Para ele, os estados que estão implantando o ICMS Ecológico
têm um longo caminho a percorrer, “tanto no sentido de evitar que um incentivo ambiental
tenha efeitos sociais negativos, como visando a realização completa de sua função
incentivadora”. O autor demonstra a preocupação quando sugere que sejam agregados
“parâmetros de qualidade de modo a ensejar não apenas o estabelecimento de novas áreas
protegidas mas, outrossim, que se invista em sua manutenção e conservação”.
Araújo et al (2003, p. 47) entendem que “o conceito trazido pelo ICMS Ecológico
é ousado e inovador”, fugindo do já tão propalado “princípio do poluidor-pagador” passando
a estimular e incentivar os municípios a zelarem pelo seu meio ambiente, mediante a
aplicação do princípio da prevenção e da compensação financeira, ao invés da aplicação de
repressões e punições.
Nesse sentido, Scaff e Tupiassu (2005, p. 746) assim se posicionam:
A transferência, segundo critérios ecológicos, da parcela do ICMS pertencente aos municípios representa um verdadeiro redimensionamento de valores, nos dois sentidos que o termo pode adquirir. De um lado, porque tal política realmente altera o montante de verbas orçamentárias a ser recebido por cada município, beneficiando os que contribuem com a melhoria da qualidade de vida da população. Por outro lado, e principalmente, porque a implementação de tal política resulta, naturalmente, numa
95
nova forma de compreender os valores que pautam o desenvolvimento local. Doravante, não apenas a implementação de indústrias poluentes traz ganhos financeiros para os municípios; a preservação de áreas verdes, a construção de redes de esgoto, escolas e hospitais também passam a ser sinônimo de aumento da receita e desenvolvimento.
Não se pode esquecer que o ICMS Ecológico é um meio e não um fim. Não
representa uma panacéia que, por si só, resolva todos os problemas ambientais dos estados
que o implementarem. A discussão do tema, envolvendo os mais diversos atores sociais, é
importante para preservar o caráter participativo e democrático do instrumento.
4.3 Proposta de Modelo Operacional de Desenvolvimento Ambientalmente Sustentável
A conciliação entre crescimento econômico e desenvolvimento sustentável parece
remota, no entanto, enxergar e ter a compreensão do caminho percorrido pode ser importante
para a formulação de políticas públicas que objetivem incentivar formas sustentáveis de
desenvolvimento. A elaboração de políticas públicas numa visão abrangente da
sustentabilidade integrada a uma perspectiva de longo prazo de gestão ambiental é
indispensável a um futuro comum promissor.
Sob o ponto de vista de Vecchiatti (2004, p. 95), “à medida que as políticas
públicas contemplarem propostas que articulem o meio ambiente, a sociedade e a
subjetividade humana, o abismo que separa o crescimento econômico do desenvolvimento
poderá não parecer tão grande e a sustentabilidade, não tão distante”.
O Brasil é detentor de uma legislação ambiental bastante avançada no contexto dos
países em desenvolvimento, o que traduz uma preocupação com o meio ambiente e a certeza
de que o crescimento futuro dependerá da conservação da biodiversidade atual.
De acordo com Merico (2002, p. 115),
A gestão ambiental pública depende de três elementos fundamentais para a sua existência e eficácia. É necessário um arcabouço jurídico/legal em nível federal, estadual ou municipal, para permitir o desenvolvimento de ações que conduzam à sustentabilidade, dado que a própria Constituição define que “ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer senão em virtude da lei”. A aplicação deste arcabouço jurídico/legal depende de uma estrutura administrativa capaz de motivar, em todos os sentidos, a sociedade a adotar padrões de produção, consumo e comportamento mais sustentáveis. Finalmente precisa-se de programas e projetos que constituam, em seu conjunto, políticas ambientais que interfiram na sociedade e na atividade econômica, criando as condições para sua evolução.
Crescer economicamente, mas com sustentabilidade ambiental, é o que se deseja
para o Ceará. Para que isso ocorra, o modelo operacional de desenvolvimento ambientalmente
sustentável baseado no princípio protetor-recebedor, utilizando como ferramentas o Programa
96
Selo Município Verde, que identifica o protetor, e o ICMS Ecológico que o premia, será um
instrumento importante a ser utilizado pelos administradores deste estado, tão promissor.
Para isso, listamos algumas das condições necessárias e suficientes, para que se
atinja a eficiência, eficácia e efetividade destas políticas públicas no estado do Ceará:
As condições necessárias, isto é, as condições legais são:
• Lei nº 13.304 de 19.05.03 (D. O. de 20.05.03) – Dispõe sobre a criação e
implementação do “Selo Município Verde” e do “Prêmio Sensibilidade
Ambiental”, e dá outras providências.
• Decreto nº 27.073 de 02.06.03 (D. O. de 05.06.03) – Dispõe sobre a criação do
Comitê Gestor do Selo Município Verde e dá outras providências.
• Decreto nº 27.074 de 02.06.03 (D. O. de 05.06.03) – Dispõe sobre a aprovação do
regulamento do Comitê Gestor do Selo Município Verde e do Prêmio
Sensibilidade Ambiental.
• Minuta de Projeto de Lei s/nº e data – Disciplina a repartição da receita do ICMS
para os municípios, a título de incentivo à proteção e conservação do meio
ambiente, alterando a Lei nº 12.612, de 07 de agosto de 1996, da forma prevista
nesta Lei.
• Minuta de Decreto s/nº e data – Regulamenta o inciso V do Art. 1º da Lei nº
12.612, de 07 de agosto de 1995 e dá outras providências.
O Decreto nº 27.074 de 02 de junho de 2003, que “dispõe sobre a aprovação do
regulamento do comitê gestor do selo município verde e do prêmio sensibilidade ambiental”
justifica a necessidade de se ter as informações das áreas correspondentes às Unidades de
Conservação/Áreas Protegidas do Ceará, definidas por município, em razão do seu Art. 27
que prevê, para o caso de coincidência na pontuação de candidatos à Certificação do Prêmio
Sensibilidade Ambiental, que o primeiro critério de desempate a ser adotado seja “o maior
percentual de área protegida em forma de Unidades de Conservação da Natureza proporcional
à área do Município”. As áreas protegidas dos municípios também são utilizadas como
indicadores de gestão ambiental, no item Biodiversidade, da Avaliação por Desempenho.
Em razão do seu dinamismo, torna-se necessária a atualização constante do banco
de dados dos órgãos que lidam com as áreas protegidas do Ceará, com vistas às informações
oficiais dessas áreas, por município. Nos Apêndices E e F encontram-se as informações
relativas às Áreas Protegidas do Ceará, atualizadas até abril de 2005.
97
As condições suficientes são:
a) estrutura administrativa: Secretaria da Ouvidoria Geral e do Meio Ambiente
(SOMA), Superintendência Estadual do Meio Ambiente (SEMACE), Secretaria
da Fazenda (SEFAZ) e Secretaria do Planejamento (SEPLAN).
b) programas e projetos: Programa Selo Município Verde e o ICMS Ecológico.
O Programa Selo Município Verde é exemplo de transdisciplinaridade, observável
de imediato, pela constatação da diversidade de instituições que o compõem e pelos objetivos
que unem a todos, resumidos na busca contínua da melhoria da qualidade de vida para as
presentes e futuras gerações.
Para o seu funcionamento, conforme ilustra a Figura 12, o PSMV conta com a
interinstitucionalidade decorrente da interseção do conhecimento técnico e do conhecimento
científico oriundos das instituições que compõem o seu Comitê Gestor e sua Comissão
Técnica (páginas 71 e 72), onde estão o know how mesclado à capacidade de saber qualificar
e quantificar os problemas da área ambiental, e a ferramenta metodológica para a análise dos
problemas apresentados.
A fundamentação do PSMV se completa com a participação da sociedade civil,
representada pelos Conselhos Municipais de Defesa do Meio Ambiente (COMDEMAs),
detentores do conhecimento popular, que identifica o mundo real, na forma como ele é.
O sucesso do Programa Selo Município Verde está condicionado à efetividade do
Poder Institucional, que deve ter estrutura para acompanhar todas as mudanças decorrentes do
caráter altamente dinâmico do PSMV e do ICMS Ecológico, de forma simultânea e do Poder
Judiciário, que deverá exercer ações de fiscalização constantes, para garantir a perfeita
execução do processo.
98
Fonte: Elaboração Própria FIGURA 12 – Trandisciplinaridade e Interinstitucionalidade do PSMV
Com base no Princípio Protetor Recebedor, sugere-se que o ICMS Ecológico seja
distribuído aos municípios, de acordo com a classificação obtida na aplicação do Programa
Selo Município Verde.
O ICMS é tributo de grande relevância, por ser o que gera a maior receita
tributária dos estados. A utilização de parte desses recursos em benefício do meio ambiente
representa um poderoso instrumento, que se aplicado e fiscalizado corretamente no sentido de
se inibir as distorções e possíveis desvios da sua finalidade, trará resultados positivos aos
municípios cearenses.
Propõe-se a implantação do ICMS Ecológico de forma gradual e progressiva, para
que os municípios possam ajustar suas finanças públicas, minimizando quaisquer impactos
que porventura venham a surgir durante sua fase de implementação.
Com relação à implementação do ICMS Ecológico como política ambiental,
Tupiassu (2004, p. 504) assim se manifesta:
A expectativa é de que, seguindo a lógica proposta, os municípios detentores de maiores áreas de conservação e maiores investimentos na qualidade de vida da população serão agraciados com um superior repasse de receitas. Deste modo, buscando conseguir uma quantidade mais vultosa de recursos, os municípios tentarão sempre investir na preservação e melhoria das condições da população, dando início a uma guerra fiscal benéfica.
O desenvolvimento de políticas públicas aliadas à implementação do ICMS
Ecológico, com respaldo no Princípio Protetor-Recebedor, reflete para Tupiassu (2004, p.
504), a concretização da idéia de que a preocupação com o meio ambiente não se restringe
99
apenas a manutenção das áreas verdes, mas, principalmente, a elevação da qualidade de vida
da população que com ele interage, que necessita de saúde, educação, higiene, saneamento e,
acima de tudo, cidadania, obtida por meio da real efetivação do princípio da dignidade da
pessoa humana.
Reconhece-se que governar é tarefa extremamente árdua e difícil, tanto pela
multiplicidade de problemas a serem encarados e resolvidos, como pela suas características. O
governante nem sempre tem tempo de amadurecer as reflexões; premido pela exigüidade de
tempo, muitas vezes é forçado a tomar decisões que vão de encontro aos seus próprios
pensamentos ou pontos de vista.
Com a adoção do modelo de desenvolvimento ambientalmente sustentável
proposto, fundamentado no Princípio Protetor-Recebedor, tendo como alicerces o Programa
Selo Município Verde e o ICMS Ecológico, espera-se que os desafios da gestão dos recursos
naturais e da proteção da biodiversidade dos municípios cearenses sejam transpostos de forma
tecnicamente correta quanto aos princípios modernos da administração gerencial
ecologicamente adequada e socialmente integrada, face à concreta implantação de um
processo participativo da sociedade.
A proposta do Modelo Operacional de Desenvolvimento Sustentável, resultado
final desta dissertação pode ser facilmente visualizada através do seguinte Fluxograma
(Figura 13):
100
Fonte: Elaboração própria FIGURA 13 – Fluxograma do MODAS
O PSMV alimenta o ICMS Ecológico por meio de suas ferramentas e sua
abrangência técnico-científica, em horizonte espacial e temporal, com base no PPR.
4.3.1 O Processo Dinâmico do PSMV
O Modelo de Desenvolvimento Ambientalmente Sustentável para o Estado do
Ceará, deve ser estruturado no Princípio Protetor-Recebedor, tendo no Programa Selo
Município Verde (PSMV) o instrumento identificador do município protetor do meio
ambiente e no ICMS Ecológico a compensação financeira que irá premiar os municípios que
se destacarem na avaliação ambiental realizada pelo PSMV.
A Certificação decorrente do Programa Selo Município Verde tem a validade de
um ano. Para que ela seja revalidada, o município deve atender a todos os critérios
anteriormente citados. É, portanto necessário que seja mantida a sensibilidade, a consciência
• PSMV: Conhecimento Técnico Conhecimento Científico Conhecimento Popular
• Princ. Protetor-Recebedor
MODAS
• Economicamente viável • Socialmente justo • Ambientalmente
sustentável
Instrumento de Operacionalização: ICMS Ecológico
101
e a crítica para a garantia deste instrumento, permitindo que ele possa realmente refletir a
verdade de cada município cearense.
Segundo CABRAL (2005),
O método utilizado para as três avaliações do programa de certificação ambiental do estado do Ceará possui dinamismo, uma vez que se constitui em um processo contínuo, passível de revisão em suas significâncias e pesos, em cada edição (anual), pois este instrumento (certificação) pressupõe constante atualização de dados e informações sociais, culturais, econômicas, políticas e ecológicas.
O Programa Selo Município Verde é um processo, e como tal, a sociedade deve
acompanhar sua implementação, de forma participativa. O Governo do Estado espera que esse
instrumento de política ambiental fortaleça e promova “maior integração entre os diversos
segmentos da sociedade, em âmbito municipal, para a promoção da gestão ambiental, por
meio do estímulo à descentralização das ações e à participação conjunta da sociedade civil”.
O planejamento estratégico é parte integrante do processo de gestão e permite a
construção do futuro que se deseja, partindo-se de objetivos viáveis e realistas. O Programa
Selo Município Verde – PSMV necessita ser revisto e ajustado periodicamente, de acordo
com o cenário atual e as necessidades dos participantes, dentro do pensamento estratégico que
implica em inovação, criatividade e ousadia para explorar novas idéias, caminhos e métodos.
A capacidade de sonhar e de assumir riscos em busca da realização desses sonhos promoverá
o sucesso cada vez maior do Programa.
O “gerenciamento da rotina” e a “melhoria contínua dos processos” representam
métodos de gerenciamento de processos ou de sistemas, que auxiliam na gestão de políticas,
projetos e diretrizes, e que encontram no Ciclo PDCA (Plan, Do, Check e Action), a sua base
de aplicabilidade.
O Método de Melhorias conhecido atualmente pela sigla PDCA foi desenvolvido
na década de trinta, pelo estatístico americano Walter A. Shewhart, como sendo um “ciclo de
controle estatístico do processo, que pode ser repetido continuamente sobre qualquer processo
ou problema”. No entanto, a popularização desse método só ocorreu na década de cinqüenta,
quando o especialista em qualidade W. Edwards Deming refinou o trabalho de Shewhart
aprimorando o ciclo que passou a ser conhecido como o ciclo de Deming e que viria a ser
bastante difundido em todo o mundo através do GQT - Gerenciamento pela Qualidade Total
(ANDRADE, 2003, pg. 5). Esse método tornou-se uma espécie de modelo padrão de gestão e
passou a ser utilizado para implementar qualquer melhoria de modo sistemático e contínuo.
A metodologia PDCA, que contribui para a obtenção de um constante
aperfeiçoamento do sistema e conseqüentemente do processo de tomada de decisões, não
102
pode existir se não houver a definição de uma meta a ser atingida, que representa o primeiro
passo do processo.
A Figura 14 mostra o Ciclo PDCA, composto pelas quatro fases básicas do
controle: planejar, executar, verificar e atuar corretivamente.
Fonte: Falconi. TQC – Controle da Qualidade Total FIGURA 14 – Ciclo PDCA de Controle de Processos
O Planejamento (P) é tido como a fase mais importante do ciclo, pois é onde se dá
o desencadeamento de todo o processo relativo ao PDCA. É nessa fase que se detecta um
problema ou a possibilidade de melhoria de um processo.
Para Babiru (1993, apud Andrade, 2003, p. 19) “a eficácia futura do ciclo estará
baseada em um planejamento bem elaborado e minucioso, o qual proverá dados e
informações a todas as etapas restantes do método”. Para o autor citado, nessa fase deverão
ser discutidas questões que envolvem todo um planejamento minucioso e detalhado do
processo a ser executado tais como: qual o objetivo específico (meta) a ser alcançado; quais
pessoas devem ser envolvidas no processo; qual o prazo para a elaboração do plano de ação;
quais recursos serão utilizados e quais dados serão coletados durante o processo.
A Execução (D) é a fase cujo sucesso depende estritamente da etapa anterior,
considerando-se que a eliminação de algum erro no processo, detectado ainda na etapa de
103
planejamento, tem um custo menor do que a eliminação deste mesmo erro já na etapa de
execução.
Segundo Campos (1992, p. 29) a eficiência desejada neste módulo, está
condicionada à “execução das tarefas exatamente como prevista no plano e coleta de dados
para verificação do processo. Nesta etapa é essencial o treinamento no trabalho decorrente da
fase de planejamento”.
A Verificação (C) é a terceira fase do ciclo PDCA. Para Campos (1992, p. 29), “a
partir dos dados coletados na execução, compara-se o resultado alcançado com a meta
planejada”. É nessa fase, segundo Badiru (1993, apud Andrade, 2003), que algumas questões
devem ser levantadas a fim de serem analisadas criticamente as ações tomadas na fase
anterior. Essas questões podem ser: qual a eficácia das ações frente aos objetivos iniciais; qual
o grau de desvio das ações estipuladas inicialmente, e se os mesmos foram aceitáveis para se
atingir os objetivos; os problemas detectados podem ser superados; e se as ações tomadas
foram suficientemente eficazes para o estabelecimento de um padrão.
O último módulo do PDCA refere-se à ação de agir ou atuar corretivamente (A);
“esta é a etapa onde o usuário detectou desvios e atuará no sentido de fazer correções
definitivas, de tal modo que o problema nunca volte a ocorrer” CAMPOS (1992, p. 29).
Este módulo concluirá sobre a necessidade de ações corretivas (se foi detectado
algum problema), preventivas (se não foi constatado nenhum problema, mas há a
possibilidade de ocorrer algum) ou de padronização (se tudo ocorreu como planejado e uma
nova maneira de executar o processo foi descoberta). Esta fase dará origem à primeira etapa
do próximo PDCA, sendo esta a base da melhoria contínua. A essa conexão entre a última e a
primeira fase (Agir – Planejar) denomina-se Circularidade do PDCA.
O PDCA é um modelo dinâmico que auxilia na resolução de problemas e como
conseqüência, na tomada de decisões de maneira organizada; a conclusão de uma volta do
ciclo implicará no começo do próximo ciclo, e assim sucessivamente. O processo pode ser
sempre reanalisado e um novo processo de mudança poderá ser iniciado, e é essa natureza
repetitiva e cíclica, que representa a melhoria da qualidade contínua. O último ponto sobre o
ciclo PDCA se torna o mais importante, porque é onde se assume um novo começo.
O desempenho administrativo do Programa Selo Município Verde deve ser
medido pela potencialidade de atrair e manter os municípios interessados em participarem do
mesmo. Para Deming (1990), “um compromisso de longo prazo com um novo aprendizado e
com uma nova filosofia é requisito para qualquer administração que busque a transformação.
104
Os tímidos e hesitantes, bem como os que desejam resultados imediatos, estão fadados ao
desencanto”.
De acordo com CABRAL (2005, p. 6), o modelo cearense de certificação
ambiental dos municípios, o Programa Selo Município Verde, “permite aferir legitimidade à
busca da sustentabilidade em âmbito municipal, incorporando-se a necessidade da
manutenção ou da melhoria das condições ambientais locais”.
O passo em direção a um modelo de desenvolvimento participativo e democrático,
com a consolidação e construção de uma sociedade mais cidadã, que busca a equidade sócio
ambiental, foi dado. Há de se buscar uma forma de incentivar os municípios que efetivamente
demonstrem preocupação com o meio ambiente, acrescentando recursos financeiros
resultantes do ICMS Ecológico, ao importante certificado “Selo Município Verde”.
4.3.2 Proposta da Minuta de Projeto de Lei nº xxx de xxxxxxxxxx de 2006
Dispõe sobre a repartição do ICMS para os municípios, a título de incentivo à proteção e conservação ambiental, modificando a Lei nº 12.612 de 07 de agosto de 1996, da forma prevista nesta Lei.
O GOVERNADOR DO ESTADO DO CEARÁ,
Faço saber que a Assembléia Legislativa decretou e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1º Fica alterado o art. 1º, inciso IV da Lei estadual nº 12.612, de 07 de agosto de 1996, que passará a vigorar com a seguinte redação:
“IV – a quota a ser distribuída eqüitativamente para todos os municípios será estabelecida de forma gradual e progressiva (a partir de 2007), conforme dispõe o Anexo Único a esta Lei”.
Art. 2º Insere-se o inciso V ao art. 1º da Lei nº 12.612, de 07 de agosto de 1996, com a seguinte redação:
“V – a título de incentivo à proteção e conservação do meio ambiente, a partir de 2007 será distribuída aos municípios, de forma gradual e progressiva, uma quota na conformidade do que dispõe o Anexo Único à presente Lei”.
Art. 3º As modificações contidas nos arts. 1º e 2º só produzirão efeitos após 01 (um) ano, contado da vigência desta Lei, para adaptação das políticas sócio-ambientais dos municípios e ajustes de suas finanças públicas.
105
Art. 4º A participação de cada município na repartição do ICMS, prevista no art. 2º desta Lei, será determinada de acordo com os critérios estabelecidos pelo Programa Selo Município Verde, criado pela Lei nº 13.304 de 19 de maio de 2003.
Art. 5º Esta Lei entrará em vigor no primeiro dia útil do exercício seguinte à data de sua publicação e deverá ser regulamentada no prazo máximo de 60 (sessenta) dias.
Art. 6º Revogam-se as disposições em contrário.
PALÁCIO DE GOVERNO DO ESTADO DO CEARÁ, em Fortaleza, aos XX de XXXXXXXX de 2006.
Lúcio Gonçalo de Alcântara
GOVERNADOR DO ESTADO DO CEARÁ
ANEXO ÚNICO À LEI Nº XXXX DE XXXXXXXX DE 2006 ANO DE IMPLANTAÇÃO CRITÉRIOS ÍNDICES DE CÁLCULOS (%) 2007 2008 2009 2010 2011 Quota igual 6,5 5,5 4,5 3,5 2,5 Incentivo à proteção e conservação do meio 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 ambiente TOTAL 7,5 7,5 7,5 7,5 7,5
106
5 CONCLUSÕES E SUGESTÕES
5.1 Conclusões
As atenções atuais se voltam para gerar instrumentos técnico-científicos capazes
de produzir conhecimentos necessários para a adoção de um planejamento territorial que seja
socialmente justo, ecologicamente sustentável e economicamente viável. Nesse contexto
surge, evolui e se consolida o conceito de Desenvolvimento Sustentável, que busca o ponto de
equilíbrio na relação Homem-Natureza, a partir de um enfoque sistêmico e holístico. Assim é
alcançado o modelo operacional de desenvolvimento sustentável.
A hipótese levantada no começo desta dissertação é aceita, haja vista que hoje se
tem um acervo muito rico sobre o tema do Desenvolvimento Sustentável. As pessoas estão
mais conscientes, mais bem informadas sobre o meio ambiente e mais sensíveis a esse tipo de
contribuição.
A transparência que é indispensável ao Programa Selo Município Verde tem seu
reforço e amparo legal mais fortemente explicitada no Art. 17 do Decreto nº 27074/03 e seu
Parágrafo único a saber:
Art. 17 – Poderão participar das reuniões plenárias pessoas físicas ou jurídicas, que se identifiquem com os interesses do Comitê.
Parágrafo único – Aos participantes das reuniões que não sejam membros do Colegiado, não caberá direito de voto, tendo porém abertura para expor suas idéias, críticas e sugestões, conforme ordenamento do uso da palavra pelo Presidente.
Como o grau de mobilização da sociedade afeta de forma direta a performance
das políticas públicas municipais, parte-se do pressuposto que os municípios que tiverem
maior índice de mobilização terão também maior eficiência, eficácia e efetividade no que
refere aos seus índices de gestão e de desempenho ambiental.
De acordo com Bacha (1992),
Uma lagoa, uma área de mangues, uma parte do oceano, uma área com floresta densa, uma área com dunas de areia, uma área pantanosa, uma área com grutas ou cavernas ou uma área com construções históricas podem se tornar uma Unidade de Conservação. O que é necessário é existir em alguma dessas áreas pelo menos um ecossistema que deva ser preservado, ou uma beleza natural, histórica ou cultural, um banco genético, ou um recurso natural ameaçado em sua constituição.
107
A transdisciplinaridade do PSMV é observável a partir da composição do seu
Comitê Gestor, onde o Poder Público (conhecimento técnico), a Universidade (conhecimento
científico) e segmentos da Sociedade representados pelos COMDEMAs (conhecimento
popular) se reúnem e discutem ações ambientais.
Uma maior rigidez nos critérios de avaliação por parte da Comissão Técnica pode
ter sido responsável pelo pequeno percentual de aumento na quantidade de municípios pré-
qualificados em 2005.
Dado ao caráter dinâmico que pressupõe alterações nas significâncias e pesos a
cada ano, fica difícil uma comparação, no que se refere ao IGA, entre as médias aritméticas
dos valores obtidos em 2004 (1,59) e 2005 (1,57).
Na Avaliação por Desempenho Ambiental o resultado obtido pode ser considerado
muito bom, por corresponder a 86% do valor máximo possível.
O Estado do Ceará possui 58 Áreas Protegidas sendo 7 de Proteção Integral e 51
de Uso Sustentável, distribuídas em 77 municípios. Desses, somente 22 se inscreveram para o
PSMV em 2004. Em 2005 foram 47 os municípios que se inscreveram para o Programa,
representando 61% do total de municípios com áreas protegidas. Observa-se que houve um
crescimento da ordem de 114% quanto ao índice de participação dos municípios com áreas
protegidas, no PSMV.
Por outro lado, a arrecadação do ICMS no Ceará demonstra um crescimento
positivo no período compreendido entre 1998 e 2004 (Figura 10). Essa tendência transmite a
tranqüilidade de que, se implementado o ICMS Ecológico no Ceará, os municípios que
atenderem às condições necessárias terão rendimentos também crescentes.
A Constituição Federal ao permitir que 25% da arrecadação do ICMS que é
distribuído aos municípios dependa de critérios fixados em lei estadual, possibilitou a criação
e instituição do ICMS Ecológico por cada estado da Federação, na forma que mais lhes
convier.
Vários são os critérios adotados pelos estados que já implementaram o ICMS
Ecológico, dentre eles cita-se: unidades de conservação, áreas de terras indígenas, reservas
florestais, áreas de preservação permanente, mananciais de abastecimento, instalação de
conselhos municipais de meio ambiente e outros.
Verifica-se que o critério de Unidades de Conservação Ambiental é o único
comum a todos os estados que já implementaram o ICMS Ecológico.
108
A Lei do ICMS Ecológico é conhecida também em Minas Gerais, como “Lei
Robin Hood” e se caracteriza por redistribuir o ICMS de forma a fazer com que poucos
municípios percam o que pra eles pode ser considerado como pouco, mas que para muitos,
esse valor representa muito.
Para a conservação da biodiversidade o ICMS Ecológico tem tido grande poder,
quando se verifica a quantidade de UCs criadas nos estados que já o adotaram.
Verifica-se que alguns estados utilizam apenas o critério quantitativo para o ICMS
Ecológico. Acredita-se que a evolução para o qualitativo não deva retardar.
Entende-se que uma grande quantidade de itens de controle para o rateio do ICMS
Ecológico pode gerar uma dificuldade grande de controle e acompanhamento.
O princípio da prevenção e da compensação financeira sobrepuja a aplicação de
repressões e punições e o ICMS Ecológico mostra o seu caráter participativo e democrático.
Após as análises realizadas, é possível concluir que o Estado do Ceará reúne os
elementos essenciais para a efetiva implementação do Modelo Operacional de
Desenvolvimento Ambientalmente Sustentável (MODAS), por meio do instrumento ICMS
Ecológico.
É possível inferir, também, que a consolidação deste MODAS já se fez presente,
na medida em que a ferramenta PSMV está em vigor desde 2004, já com palpáveis resultados
em direção ao ambientalmente desejável.
Infere-se, ainda, que o MODAS traz em si conceitos fundamentais preconizados
nas diversas reuniões da CMMAD e está fundamentado no PPR, o que lhe confere
legitimidade na sua concepção e efetiva implementação.
Ademais, infere-se que o compromisso firmado entre os participantes (atores) dos
instrumentos confere ao Modelo Operacional de Desenvolvimento Ambientalmente
Sustentável, sua real possibilidade de mudança em direção à equidade social com prudência
ecológica.
109
5.2 Sugestões
Como tanto o prêmio como a punição conduzem à reação a uma determinada
conduta, e o princípio protetor-recebedor prevê um incentivo a quem protege um bem natural,
que reverte em benefício da comunidade, sugere-se, então, a utilização deste princípio como
fundamento para a aplicação do ICMS Ecológico no Ceará.
Observa-se que o Programa Selo Município Verde é pouco divulgado. Considera-
se necessária uma maior divulgação na mídia, o que indiscutivelmente terá o seu retorno na
quantidade de municípios inscritos no PSMV, atingindo assim a um dos objetivos propostos
pelo modelo.
Acredita-se que o investimento necessário para o desenvolvimento da
“repescagem” poderia ser dispensado e substituído por um esforço maior de divulgação do
Programa.
Sugere-se que uma pesquisa específica deva ser procedida nos municípios de
Aratuba, Canindé, Fortaleza, Horizonte, Icapuí e Pacoti, que foram Certificados em 2004, e
não o foram em 2005, buscando saber o que efetivamente aconteceu com cada um deles.
Espera-se que a Certificação dos municípios, induzida pela compensação
financeira através do ICMS Ecológico, siga o modelo de crescimento econômico do Ceará
sugerido por Shachar (2002), obedecendo à estrutura axial (Anexo B), a partir dos municípios
sede das 20 Regiões Administrativas consideradas pela SOMA, para efeito de Sensibilização.
Acredita-se que o aporte financeiro que os municípios cearenses irão receber, caso
o ICMS Ecológico venha a ser implementado, possibilite a modificação de seus perfis
econômicos, saindo de atividades estritamente agropecuárias para outras, inclusive o turismo,
como aconteceu no Paraná.
Com base no princípio protetor-recebedor, sugere-se que o ICMS Ecológico seja
distribuído aos municípios de acordo com a classificação obtida na aplicação do PSMV.
Sugere-se, ainda, que a implementação do ICMS Ecológico seja feita de forma
gradual e progressiva de modo a que todos os municípios possam no período de 5 anos, se
engajar às ações ambientais, ajustando suas finanças públicas e minimizando quaisquer
impactos que possam vir a surgir na fase de implementação.
Da mesma forma como existe o Índice de Desempenho Municipal – IDM que
classifica os municípios segundo suas capacidades econômicas, sociais e organizacionais,
110
espera-se que o IDA, o IGA e o IMA juntos possam vir a classificar os municípios segundo
suas ações ambientais, através de um possível “Índice de Sustentabilidade Ambiental – ISA”.
111
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120
APÊNDICES
121
APÊNDICE A - Programa Selo Município Verde - Compar ação do desempenho de municípios em 2004 e 2005 Sit. 2004 2005
Municípios Política APs COMDEMA 1º 2º Ins- Resp. Pré- Quali- Municípios COMDE Semi- Ins- Resp. Pré- Quali-
2004/05 até em Semi- Semi- critos Quest. Qualif. ficados MA em nário critos Quest. Qualif. ficados IDA IMA
2003 2004 nário nário IGA 2005 IGA
Abaiara X Abaiara
Acarape X X Acarape X X
Acaraú X Acaraú X X 1,02 Não
Acopiara X X Acopiara
Aiuaba X Aiuaba
Alcantaras X X Alcantaras X
Altaneira X X Altaneira X X
Alto Santo X X Alto Santo X 0,89 Não
Amontada X Amontada X
Antonina do Norte Antonina do Norte
Apuiarés Apuiarés X
Aquiraz X X Aquiraz X X
Aracati X X X Aracati X
Aracoiaba NR X X X 1,45 1,29 C Aracoiaba
Ararenda Ararenda X X
Araripe FS X X X 1,50 2,05 B Araripe X X X 1,76 1,50 C 2,32 1,46
Aratuba FS X X X X 1,50 1,59 B Aratuba X X
Arneiroz Arneiroz X X X
Assaré X Assaré X
Aurora X X Aurora X X
Baixio Baixio
Banabuiú X X 0,77 Não Banabuiú
Barbalha X X X X 1,11 1,06 Descl. Barbalha X X
Barreira X Barreira X
Barro Barro X X
Barroquinha X X Barroquinha X X 0,57 Não
Baturité NR X X X X Baturité X X 1,50 1,33 B 2,60 2,41
Beberibe X X Beberibe X X 1,01 Não
Bela Cruz R X X X 1,16 1,28 C Bela Cruz X X 1,50 1,55 C 2,36 1,21
Boa Viagem Boa Viagem
122
APÊNDICE A - Programa Selo Município Verde - Compar ação do desempenho de municípios em 2004 e 2005 Sit. 2004 2005
Municípios Política APs COMDEMA 1º 2º Ins- Resp. Pré- Quali- Municípios COMDE Semi- Ins- Resp. Pré- Quali-
2004/05 até em Semi- Semi- critos Quest. Qualif. ficados MA em nário critos Quest. Qualif. ficados IDA IMA
2003 2004 nário nário IGA 2005 IGA
Brejo Santo X X X X 0,77 Não Brejo Santo X
Camocim X X X Camocim X X 1,05 Não
Campos Sales NR X X X Campos Sales X X X 1,61 1,38 B 2,48 1,95
Canindé R X X X X 1,15 1,34 B Canindé X X
Capistrano X Capistrano
Caridade X Caridade
Cariré Cariré
Caririaçu Caririaçu X X 0,78 Não
Cariús Cariús
Carnaubal X X X 0,75 Não Carnaubal X
Cascavel X X X 1,45 0,86 Descl. Cascavel X X
Catarina Catarina X
Catunda Catunda X X
Caucaia FS X X X X X 1,57 1,18 C Caucaia X X 2,14 1,92 B 2,76 2,23
Cedro Cedro X
Chaval X Chaval X
Choró Choró X
Chorozinho Chorozinho X
Coreaú X Coreaú X
Crateús NES X Crateús X X 1,87 1,71 C 2,44 1,38
Crato X X Crato X
Croatá FS X X X 0,84 Não Croatá X X 1,39 1,47 C 2,28 1,67
Cruz FS X X X X 1,59 1,66 C Cruz X X 1,87 1,88 B 2,48 2,08
Dep.Irapuan Pinheiro Dep.Irapuan Pinheiro X X X 0,59 Não
Ererê X X 1,03 Não Ererê X X
Eusébio X X Eusébio X X 1,00 Não
Farias Brito X Farias Brito
Forquilha Forquilha X
Fortaleza NES X X X X 2,00 1,83 C Fortaleza X X
Fortim Fortim X
123
APÊNDICE A - Programa Selo Município Verde - Compar ação do desempenho de municípios em 2004 e 2005 Sit. 2004 2005
Municípios Política APs COMDEMA 1º 2º Ins- Resp. Pré- Quali- Municípios COMDE Semi- Ins- Resp. Pré- Quali-
2004/05 até em Semi- Semi- critos Quest. Qualif. ficados MA em nário critos Quest. Qualif. ficados IDA IMA
2003 2004 nário nário IGA 2005 IGA
Frecheirinha Frecheirinha X
General Sampaio FS X General Sampaio X X 1,37 1,45 B 2,60 2,28
Graça Graça X
Granja X Granja
Granjeiro Granjeiro
Groaíras Groaíras X X
Guaiúba X Guaiúba X X 1,05 Não
Guaraciaba Guaraciaba
Guaramiranga FS X Guaramiranga X X X 1,34 1,30 B 2,44 2,25
Hidrolândia Hidrolândia X
Horizonte R X X X 1,18 1,18 C Horizonte X X X
Ibaretama Ibaretama X
Ibiapina Ibiapina X
Ibicuitinga Ibicuitinga
Icapuí NES X X X X 1,82 1,87 B Icapuí X X 1,09 Não
Icó X X Icó X X 1,21 0,39 Descl. não aval. não aval.
Iguatu X Iguatu X X
Independência Independência X X
Ipaporanga Ipaporanga X
Ipaumirim Ipaumirim
Ipú X Ipú X X X
Ipueiras Ipueiras X
Iracema X Iracema
Irauçuba Irauçuba X
Itaiçaba X X 0,11 Não Itaiçaba X X 0,38 Não
Itaitinga NES X X X X 0,81 Não Itaitinga X X 1,12 1,48 C 2,44 1,44
Itapagé Itapagé X X 0,76 Não
Itapipoca X X Itapipoca X X
Itapiúna Itapiúna
Itarema Itarema X X X
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APÊNDICE A - Programa Selo Município Verde - Compar ação do desempenho de municípios em 2004 e 2005 Sit. 2004 2005
Municípios Política APs COMDEMA 1º 2º Ins- Resp. Pré- Quali- Municípios COMDE Semi- Ins- Resp. Pré- Quali-
2004/05 até em Semi- Semi- critos Quest. Qualif. ficados MA em nário critos Quest. Qualif. ficados IDA IMA
2003 2004 nário nário IGA 2005 IGA
Itatira Itatira X
Jaguaretama Jaguaretama X X X
Jaguaribara FS X X X X 1,48 1,15 B Jaguaribara X X 1,21 1,24 B 2,68 1,87
Jaguaribe X X Jaguaribe X X
Jaguaruana X Jaguaruana
Jardim X Jardim
Jati X Jati
Jijoca de Jericoacoara X X X 0,50 Não Jijoca de Jericoacoara X
Juazeiro do Norte X X X X Juazeiro do Norte X X 1,55 0,88 Descl. não aval. não aval.
Jucás Jucás X
Lavras da Mangabeira Lavras da Mangabeira
Limoeiro do Norte X X Limoeiro do Norte X X 0,79 Não
Madalena Madalena
Maracanaú NES X X X Maracanaú X X 1,49 1,40 B 2,68 2,21
Maranguape R X X X X 1,88 2,08 B Maranguape X X 1,78 1,98 B 2,36 1,90
Marco X Marco X
Martinópole Martinópole
Massape Massape X X X 0,80 Não
Mauriti Mauriti
Meruoca X X Meruoca X X X
Milagres Milagres X
Milhã Milhã X X
Miraíma X Miraíma X
Missão Velha NES X X Missão Velha X X 1,35 1,36 C 2,40 1,38
Mombaça Mombaça X
Monsenhor Tabosa Monsenhor Tabosa X
Morada Nova X X Morada Nova X X 1,05 Não
Moraújo X X Moraújo X
Morrinhos Morrinhos X
Mucambu Mucambu X
125
APÊNDICE A - Programa Selo Município Verde - Compar ação do desempenho de municípios em 2004 e 2005 Sit. 2004 2005
Municípios Política APs COMDEMA 1º 2º Ins- Resp. Pré- Quali- Municípios COMDE Semi- Ins- Resp. Pré- Quali-
2004/05 até em Semi- Semi- critos Quest. Qualif. ficados MA em nário critos Quest. Qualif. ficados IDA IMA
2003 2004 nário nário IGA 2005 IGA
Mulungu X Mulungu X X
Nova Olinda X Nova Olinda X
Nova Russas R Nova Russas X X 1,53 1,32 C 1,88 2,49
Novo Oriente Novo Oriente X X
Ocara NES X Ocara X X 1,32 1,34 B 2,20 2,41
Orós X X Orós
Pacajús X Pacajús X
Pacatuba X X Pacatuba X X X
Pacoti FS X X X X X 1,44 1,58 B Pacoti X X 1,41 1,20 Descl. 2,60 0,00
Pacujá X X X 0,85 Não Pacujá
Palhano X X 0,49 Não Palhano X
Palmácia X Palmácia
Paracuru X X X 0,71 Não Paracuru X
Paraipaba X Paraipaba X
Parambu X Parambu X X X 0,88 Não
Paramoti X X X Paramoti X X 0,77 Não
Pedra Branca Pedra Branca X
Penaforte X Penaforte
Pentecoste Pentecoste X
Pereiro X X Pereiro
Pindoretama X X Pindoretama X
Piquet Carneiro X Piquet Carneiro X X X 0,92 Não
Pires Ferreira Pires Ferreira
Poranga X Poranga X X
Porteiras X Porteiras
Potengi X Potengi X
Potiretama Potiretama X X 0,34 Não
Quiterianópolis Quiterianópolis X X X 0,86 Não
Quixadá X Quixadá X X 1,30 1,73 Descl. 2,44 0,67
Quixelô Quixelô X
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APÊNDICE A - Programa Selo Município Verde - Compar ação do desempenho de municípios em 2004 e 2005 Sit. 2004 2005
Municípios Política APs COMDEMA 1º 2º Ins- Resp. Pré- Quali- Municípios COMDE Semi- Ins- Resp. Pré- Quali-
2004/05 até em Semi- Semi- critos Quest. Qualif. ficados MA em nário critos Quest. Qualif. ficados IDA IMA
2003 2004 nário nário IGA 2005 IGA
Quixeramobim FS X X X X 0,94 Não Quixeramobim X X 1,64 2,01 C 2,00 1,46
Quixeré X Quixeré X
Redenção X Redenção
Reriutaba Reriutaba
Russas X X X Russas X X
Saboeiro Saboeiro
Salitre X Salitre X 0,95 Não
Santa Quitéria Santa Quitéria X
Santana do Acaraú X X X 1,50 1,08 Descl. Santana do Acaraú X X
Santana do Cariri X Santana do Cariri X
São Benedito São Benedito X X 1,50 0,68 Descl. não aval. não aval.
São G.do Amarante X X X São G.do Amarante X
São João Jaguaribe São João Jaguaribe X
São Luís do Curu São Luís do Curu X X
Senador Pompeu Senador Pompeu X
Senador Sá Senador Sá X
Sobral FS X X X X 1,48 1,41 B Sobral X X 2,03 2,00 B 2,56 1,85
Solonópole Solonópole X X 0,63 Não
Tabuleiro do Norte X X X Tabuleiro do Norte X X
Tamboril Tamboril
Tarrafas Tarrafas
Tauá R X X X 1,60 2,26 B Tauá X X 1,87 1,78 B 2,68 2,54
Tejuçuoca X Tejuçuoca X X
Tianguá R X X X X 1,09 Não Tianguá X X 1,51 1,46 C 2,60 1,67
Trairi X X Trairi X
Tururu Tururu X
Ubajara X X X X X 0,65 Não Ubajara X
Umari Umari X
Umirim Umirim X
Uruburetama X X 1,14 0,38 Descl. Uruburetama X
Uruoca X Uruoca
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APÊNDICE A - Programa Selo Município Verde - Compar ação do desempenho de municípios em 2004 e 2005 Sit. 2004 2005
Municípios Política APs COMDEMA 1º 2º Ins- Resp. Pré- Quali- Municípios COMDE Semi- Ins- Resp. Pré- Quali-
2004/05 até em Semi- Semi- critos Quest. Qualif. ficados MA em nário critos Quest. Qualif. ficados IDA IMA
2003 2004 nário nário IGA 2005 IGA
Varjota Varjota
Várzea Alegre Várzea Alegre X
Viçosa do Ceará FS X X X X 1,33 1,75 B Viçosa do Ceará X X 1,84 1,79 B 2,40 1,28
TOTAIS 77 33 7 68 21 34 34 20 16 TOTAIS 19 128 92 49 27 22 24 24
FONTE: SOMA, SEMACE, IBAMA, APRECE Legenda da Situação Política, quanto ao Prefeito do Município: FS - fez sucessor; NES - não elegeu sucessor; NR - não reeleito e R - reeleito.
128
129
130
131
APÊNDICE E - ÁREAS PROTEGIDAS DO ESTADO DO CEARÁ
Área (ha) Área (ha) Áreas Protegidas Adm. Dispositivo Legal Aproximada Município (UECE) Ecossistema Observação
1 APA da Chapada do Araripe Fed. Dec.s/nº de 04.08.97 1.063.000,00 Missão Velha 24.857,56 Biorregião do Envolve 33 municípios CE=617.302,12 Abaiara 3.596,30 Complexo do sendo 15-CE, 11-PE e Brejo Santo 6.612,06 Araripe 7-PI. Porteira 16.041,01 Jardim 54.767,17 Jati 3.812,56 Penaforte 1.764,52 Barbalha 41.322,16 Crato 59.682,43 Nova Olinda 15.511,59 Santana do Cariri 73.137,92 Araripe 125.969,01 Potengi 27.285,41 Campos Sales 34.596,56 Salitre 115.563,64 Assaré ** 10.601,66 Altaneira ** 1.955,40 Farias Brito ** 225,16 2 APA Delta do Parnaíba Fed. Dec.s/nº de 28.08.96 313.809,00 Chaval 5.480,95 Costeiro/ Envolve 7 municípios: CE = 18.052,68 Barroquinha 12.571,73 Manguezal 2-MA, 3-PI e 2-CE 3 APA de Jericoacoara Fed. Dec.nº 90.379 de 29.10.84 109,39 J.de Jericoacoara Costeiro Área informada em e Dec.s/nº de 04.02.02 25.10.05 - IDACE 4 APA da Serra da Ibiapaba Fed. Dec.s/nº de 26.11.96 1.592.550,00 Tianguá 63.855,81 Biorregião do No Complexo da Serra CE=379.528,45 Viçosa do Ceará 137.490,47 Complexo da Grande envolvendo Moraújo 3.813,36 Ibiapaba 15 municípios sendo Chaval 14.219,43 10-PI e 5-CE Granja 148.877,43 Coreaú ** 1.189,24 Ubajara ** 288,61 Uruoca ** 9.794,10
132
APÊNDICE E - ÁREAS PROTEGIDAS DO ESTADO DO CEARÁ
Área (ha) Área (ha) Áreas Protegidas Adm. Dispositivo Legal Aproximada Município (UECE) Ecossistema Observação
5 FLONA do Araripe Fed. Dec. 9.226 de 02.05.46 38.262,32 Santana do Cariri 426,58* Serra Úmida Na Chapada do Araripe 38.459,89 Crato 20.938,87* Barbalha 15.914,59* Jardim ** 257,07* Missão Velha ** 915,12* Nova Olinda ** 7,66* 6 FLONA de Sobral Fed. Dec.nº 62.007 de 22.12.67 598,00 Sobral Bacia Hidro- Açude Aires de Souza e Portaria 358 de 27.09.01 gráfica
7 PARNA de Ubajara Fed. Dec.nº 45.954 de 30.04.59, 6.288,00 Ubajara Serra Úmida É o menor Parque Dec nº 72.144 de 26.04.73 Nacional administrado e Dec.s/nº de 13.12.02 8 PARNA de Jericoacoara Fed. Dec.s/nº de 04.02.02 8.416,08 J.de Jericoacoara 1.319,58 Costeiro Recategorização da 6.353,49 Cruz 5.033,91 APA de Jericoacoara
9 Estação Ecológica de Aiuaba Fed. Dec.nº 81.218 de 16.02.78 11.525,34 Aiuaba Caatinga e Dec.s/nº de 06.02.01
10 Estação Ecológica do Fed. Dec.s/nº de 27.09.01 12.579,20 Jaguaribe (Jaguaribara**) 7.742,72 Caatinga Castanhão 9.866,48 Alto Santo 225,21 Iracema ** 1.898,55
11 Reserva Extrativista do Fed. Dec.s/nº de 05.06.03 601,05 Aquiraz Complexo Área em estudo: Batoque Vegetacional criação de novas Litorâneo Reservas Extrativistas.
12 Parque Ecológico do Cocó Est. Dec.nº 20.253 de 05.09.89 1.155,20 Fortaleza Manguezal Em processo de e Dec.nº 22.587 de 08.06.93 adequação ao SNUC
13 Parque Estadual Marinho da Est. Lei nº 12.717 de 05.09.97 3.320,00 Fortaleza Marinho É a única UC Marinha Pedra da Risca do Meio (Recifal) do Estado.
14 Estação Ecológica do Pecém Est. Dec.nº 25.708 de 17.12.99 956,04 Caucaia 622,83 Dunas Faz parte do Plano 978,36 S.G.do Amarante 355,53 Diretor do CIPP.
15 Monumento Natural Est. Dec.nº 26.805 de 25.10.02 28.759,56 Quixadá Caatinga Em processo de Monólitos de Quixadá revisão pela SEMACE
133
APÊNDICE E - ÁREAS PROTEGIDAS DO ESTADO DO CEARÁ
Área (ha) Área (ha) Áreas Protegidas Adm. Dispositivo Legal Aproximada Município (UECE) Ecossistema Observação
16 Corredor Ecológico do Est. Dec.nº 25.777 de 15.02.00 19.405,00 Aquiraz Costeiro, Matas ciliares remanes- Rio Pacoti Itaitinga Complexo centes da Mata Pacatuba Vegetacional Atlântica. Em revisão Horizonte Litorâneo e para adequação ao Pacajus Caatinga SNUC. Liga a APA do Acarape Rio Pacoti à APA da Redenção Serra de Baturité.
17 Parque Botânico do Ceará Est. Dec.nº 24.216 de 09/09/96 190,00 Caucaia Complexo Em processo de Vegetacional adequação ao SNUC. Litorâneo
18 Monumento Natural das Est. Dec.nº 27.461 de 04.06.04 31,29 Beberibe Falésias Falésias de Beberibe
19 APA da Serra de Baturité Est. Dec.nº 20.956 de 18.09.90 2.6903,00 Baturité 1.841,03 Serra Úmida Primeira e mais extensa 30.239,77 Pacotí 5.826,01 APA estadual. Guaramiranga 5.495,74 Mulungu 10.199,92 Redenção 165,04 Palmácia 122,67 Aratuba 6.421,92 Capistrano 113,27 Caridade ** 29,92 Canindé ** 24,25
20 APA da Serra de Aratanha Est. Dec.nº 24.959 de 05/06/98 6.448,29 Guaiúba 1.698,18 Serra Úmida Floresta pluvionebular, 6.453,35 Maranguape 2.485,45 remanescente da Pacatuba 1.737,96 Mata Atlântica. Maracanaú ** 531,76
21 APA do Lagamar do Cauipe Est. Dec.nº 24.957 de 05.06.98 1.884,46 Caucaia Lacustre e Área do CIPP. Complexo Vegetacional Litorâneo
134
APÊNDICE E - ÁREAS PROTEGIDAS DO ESTADO DO CEARÁ
Área (ha) Área (ha) Áreas Protegidas Adm. Dispositivo Legal Aproximada Município (UECE) Ecossistema Observação
22 APA do Pecém Est. Dec.nº 24.957 de 05.06.98 122,79 S.G.do Amarante Lacustre e Área do CIPP. Complexo Vegetacional Litorâneo
23 APA da Lagoa do Uruaú Est. Dec.nº 25.355 de 26.01.99 2.672,58 Beberibe Lacustre e Refúgio biológico de Complexo grande valor. Vegetacional Litorâneo
24 APA da Bica do Ipu Est. Dec.nº 25.354 de 26.01.99 3.484,66 Ipu Serra Úmida
25 APA do Estuário do Rio Curu Est. Dec.nº 25.416 de 29.03.99 881,94 Paracuru 492,40 Manguezal 951,17 Paraipaba 458,76
26 APA do Estuário do Rio Ceará Est. Dec.nº 25.413 de 29.03.99 2.744,89 Fortaleza 449,58 Manguezal 2.524,01 Caucaia 2.074,43
27 APA do Estuário do Est. Dec.nº 25.414 de 29.03.99 1.596,37 Itapipoca 379,01 Manguezal Rio Mundaú 1.556,10 Trairi 1.177,09
28 APA das Dunas de Paracuru Est. Dec.nº 25.418 de 29.03.99 3.909,60 Paracuru Dunas
29 APA das Dunas da Lagoinha Est. Dec.nº 25.417 de 29.03.99 523,49 Paraipaba Dunas 30 APA do Rio Pacoti Est. Dec.nº 25.778 de 15.02.00 2.914,93 Fortaleza 357,50 Costeiro Manguezal, cordão de 2.884,07 Eusébio 446,35 dunas, mata de tabu- Aquiraz 2.080,22 leiro e mata ciliar.
31 APA da Lagoa de Jijoca Est. Dec.nº 25.975 de 10.08.00 3.995,61 J. de Jericoacoara 2.471,42 Lacustre 3.683,51 Cruz 1.212,08
32 APA de Balbino Munic. Lei nº 479 de 21.09.88 250,00 Cascavel Costeiro e Complexo Vegetacional Litorâneo
33 Parque Ecológico da Lagoa da Munic. Dec.nº 21.303 de 11.03.91 19,00 Sobral Lacustre Fazenda
34 Parque Ecológico da Lagoa da Munic. Dec.nº 21.349 de 03.05.91 31,00 Fortaleza Lacustre Maraponga
135
APÊNDICE E - ÁREAS PROTEGIDAS DO ESTADO DO CEARÁ
Área (ha) Área (ha) Áreas Protegidas Adm. Dispositivo Legal Aproximada Município (UECE) Ecossistema Observação
35 APA da Lagoa da Bastiana Munic. Lei nº 170 de 01.10.91 - Iguatu Lacustre
36 APA de Maranguape Munic. Lei nº 1.168 de 08.07.93 A partir da Maranguape Serra úmida cota 100 m
37 APA de Tatajuba Munic. Lei nº 559 de 26.12.94 3.775,00 Camocim Costeiro e Complexo Vegetacional Litorâneo
38 Parque Ecológico das Munic. Dec.nº 1.083 de 23.03.95 634,50 Juazeiro do Norte Timbaúbas
39 APA da Praia de Maceió Munic. Lei nº 629 de 19.12.97 1.374,10 Camocim Costeiro e Complexo Vegetacional Litorâneo
40 APA da Praia de Munic. Lei nº 002 de 17.02.98 558,67 Icapuí Costeiro e Ponta Grossa Complexo Vegetacional Litorâneo
41 Parque Ecológico de Acaraú Munic. Lei nº 877 de 06.03.98 - Acaraú Costeiro e Complexo Vegetacional Litorâneo
42 APA de Canoa Quebrada Munic. Lei nº 040 de 20.03.98 4.000,00 Aracati Costeiro e Complexo Vegetacional Litorâneo
43 APA do Manguezal da Barra Munic. Lei nº 298 de 12.05.00 1.260,31 Icapuí Litoral e Grande Manguezal
44 Jardim Botânico de Munic. Dec.nº 799 de 08.03.03 19,80 S.G.do Amarante Lacustre e São Gonçalo Compl.Veget. Litorâneo
136
APÊNDICE E - ÁREAS PROTEGIDAS DO ESTADO DO CEARÁ
Área (ha) Área (ha) Áreas Protegidas Adm. Dispositivo Legal Aproximada Município (UECE) Ecossistema Observação
45 RPPN Fazenda Olho d'Água Inic.Priv. Port.nº 719 de 26.03.91 2.610,00 Parambu Caatinga Joaquim A.Feitosa do Urucu IBAMA Sobrinho
46 RPPN Mercês Sabiaguaba e Inic.Priv. Port.nº 113 de 25.10.93 50,00 Amontada Complexo Antonio Júlio e Yvone Nazário IBAMA Vegetacional C.de Jesus Trindade Litorâneo
47 RPPN Sítio Ameixas-Poço Inic.Priv. Port.nº 007 de 28.01.94 464,33 Amontada Complexo Antonio Júlio e Yvone Velho IBAMA Vegetacional C.de Jesus Trindade Litorâneo
48 RPPN Arajara Park Inic.Priv. Port.nº 024 de 29.02.99 27,81 Barbalha Mata Úmida Antonio Saraiva IBAMA
49 RPPN Fazenda Não Me Inic.Priv. Port.nº 148 de 05.11.98 300,00 Quixadá Caatinga Raquel de Queiroz Deixes IBAMA
50 RPPN Ambientalista Francy Inic.Priv. Port.nº 054 de 08.09.00 200,00 General Sampaio Caatinga e Francisco Pereira Nunes IBAMA Arbórea Nunes
51 RPPN Serra das Almas I Inic.Priv. Port.nº 051 de 08.09.00 4.749,58 Crateús Caatinga Associação Caatinga IBAMA
52 RPPN Serra das Almas II Inic.Priv. Port.nº 117 de 09.09.02 494,50 Crateús Caatinga Associação Caatinga IBAMA
53 RPPN Monte Alegre Inic.Priv. Port.nº 151 de 25.10.01 263,17 Pacatuba Serra Úmida Miguel Cunha Filho IBAMA
54 RPPN Rio Bonito Inic.Priv. Port.nº 174 de 21.11.01 441,00 Quixeramobim Serra Úmida Agropecuária Menino IBAMA Jesus Ltda.
55 REP Lagoa da Sapiranga Inic.Priv. Port.nº 031 de 03.02.97 58,76 Fortaleza Costeiro e Fundação Maria Nilva SEMACE Complexo Alves Soares Vegetacional Litorâneo
56 REP do Sítio Olho d'Água Inic.Priv. Port.nº 222 de 17.10.00 383,34 Baturité Serra Úmida Centro de Educação SEMACE Técnica e Cultural
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APÊNDICE E - ÁREAS PROTEGIDAS DO ESTADO DO CEARÁ
Área (ha) Área (ha) Áreas Protegidas Adm. Dispositivo Legal Aproximada Município (UECE) Ecossistema Observação
57 REP Jandaíra Inic.Priv. Port.nº 234 de 06.12.02 54,53 Trairí Complexo Jambo Indústria, Com. SEMACE Vegetacional e Exportação Ltda. Litorâneo
58 REP Mata Fresca Inic.Priv. Port.nº 092 de 01.10.04 107,90 Meruoca Caatinga e SEMACE Mata Úmida
Observações relativas ao Apêndice E:
a) As Áreas Aproximadas são as constantes no Dispositivo Legal;
b) Quando a Área Protegida envolve áreas de municípios de outros estados, na Área Aproximada, encontra-se assinalado, também, o
valor correspondente às áreas envolvidas nos municípios cearenses;
c) Quando a Área Protegida envolve áreas pertencentes a mais de um município, a área indicada em cada um deles foi calculada pelo
Laboratório de Geoprocessamento da UECE tendo como base o limite digital do IPECE e o total é indicado abaixo da Área
Aproximada;
d) Quando ocorrem áreas superpostas, somente uma é considerada, sendo assinalada com um asterisco (*);
e) Algumas unidades não possuem suas informações de áreas, definidas pelos órgãos responsáveis por sua administração;
f) Municípios assinalados com dois asteriscos (**) foram acrescidos pela UECE, mas não constam no dispositivo legal.
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RPPN Rio Bonito
RPPN Arajara Park
RPPN Monte Alegre
RPPN Serra das Almas I
RPPN Serra das Almas II
RPPN Fazenda Não me deixes
RPPN Mercês Sabiaguaba e Nazário
RPPN Ambientali sta Francy Nunes
REP Fazenda Santa Rosa
REB Fazenda Cacimba Nova
REP Lagoa da Sapiranga
RPPN Fazenda Olho D'água do Uruçu
Reser Ecol Par do Sitio Olho D
APA do Rio Curú
APA do Pecém
APA Rio Ceará
APA do Rio Pacotí
APA das Dunas de Paracuru
APA da Bica do Ipu
APA da Lagoa do Uruaú
APA da Lagoa de Jijoca
APA do Lagamar do Cauípe
APA da Serra da Aratanha
APA da Serra de Baturité
Parque Botânico de Ceará
Estação Ecológica do Pecém
Monumento Natuarl Monólitos de Qui xadá
Parque Ecológi co de Rio Cocó
Parque Estadual Marinho da Pedra Risca do Meio
Corredor Ecológico do Rio Pacotí
Monumento Natural das Falesias de Beberibe
APA de Jericoacoara
APA da Serra de Ibiapaba
APA do Delta do Parnaíba
APA da Chapada do Araripe
Parque Nacional de Ubajará
Estação Ecol ógica de Aiuaba
Floresta Nacional de Sobral
Floresta Nacional do Araripe
Reserva Estrativista do Batoque
Estação Ecol ógica do Açude Castanhão
Parque Nacional de Jericoacoara
APA de Balbino
APA da Tatajuba
APA de Canoa Quebrada
APA da Praia de Maceió
APA da Lagoa da Bastiana
APA da Serra de Maranguape
Parque Ecológi co de Acaraú
APA da Praia de Ponta Grossa
APA Manguezal da Barra Grande
Parque Ecológico das Tibaúbas
Jardim Botânico de São Gonçalo
Parque Ecológi co Lagoa da Fazenda
Parque Ecológico Lagoa da Maraponga
REP Jandaíra
RPPN Síti o Ameixas-Poço VelhoAPA Rio Mundaú
APA das Dunas de Lagoinha
Unidade Particular de Conservação$
Unidade Estadual de Conservação $
Unidade Federal de Conservação$
Unidade Municipal de Conservação$
Limites municipais
LegendaMapa d as Un id ad es d e Co ns er vação -UC d o Cear á
30 0 30 60 90 120 150 Km
Datum Horizontal - SAD69
Fonte: Laborátorio de Geoprocessamento da Universidade Estadual do Ceará
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APÊNDICE F – Mapa das Áreas Protegidas do Ceará
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APÊNDICE G – Convite para o Seminário ICMS Ecológico do Ceará
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APÊNDICE H – Folder do Seminário ICMS Ecológico do Ceará
141
APÊNDICE H – Folder do Seminário ICMS Ecológico do Ceará
142
APÊNDICE H – Folder do Seminário ICMS Ecológico do Ceará
143
APÊNDICE H – Folder do Seminário ICMS Ecológico do Ceará
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ANEXOS
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