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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE NÚCLEO DE TECNOLOGIA EDUCACIONAL PARA A SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E SAÚDE PAULA RAMOS AMBIENTE VIRTUAL VIVÊNCIAS: análise do processo de desenvolvimento na perspectiva da pesquisa baseada em design RIO DE JANEIRO 2010

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO … · Nessa perspectiva, o processo de desenvolvimento pode ser compreendido com base em quatro fases apontadas ... inasmuch as they are built

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

NÚCLEO DE TECNOLOGIA EDUCACIONAL PARA A SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E SAÚDE

PAULA RAMOS

AMBIENTE VIRTUAL VIVÊNCIAS: análise do processo de desenvolvimento na perspectiva da pesquisa baseada em design

RIO DE JANEIRO 2010

Paula Ramos

AMBIENTE VIRTUAL VIVÊNCIAS: análise do processo de desenvolvimento na perspectiva da pesquisa baseada em design

Tese de doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação Educação em Ciências e Saúde, Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como requisito parcial à obtenção do Título de Doutor em Educação em Ciências e Saúde.

Orientadora: Miriam Struchiner

RIO DE JANEIRO 2010

FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA

Ramos, Paula. Ambiente virtual vivências: análise do processo de

desenvolvimento nas perspectiva da pesquisa baseada em design / Paula Ramos. – Rio de Janeiro: UFRJ / NUTES, 2010.

238 f.: il. ; 31 cm. Orientador: Miriam Struchiner

Tese (doutorado) -- UFRJ, NUTES, Programa de Pós-graduação em Educação em Ciências e Saúde, 2010.

Referências bibliográficas: f. 198-211. 1. Educação em Ciências da Saúde. 2. Realidade virtual. 3. Medicina – Estudo e ensino. 4. Tecnologia educacional - Tese. I. Struchiner, Miriam. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, NUTES, Programa de Pós-graduação em Educação em Ciências e Saúde. III. Título.

Paula Ramos

AMBIENTE VIRTUAL VIVÊNCIAS: análise do processo de desenvolvimento na perspectiva da pesquisa baseada em design

Tese de doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação Educação em Ciências e Saúde, Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como requisito parcial à obtenção do Título de Doutor em Educação em Ciências e Saúde.

Aprovada em 30 de Abril de 2010.

____________________________________________ Prof a. Dra. Miriam Struchiner (Núcleo de Tecnologia Educacional para Saúde/ UFRJ)

______________________________________________ Prof. Dra. Virgínia Torres Schall (Centro de Pesquisas René Rachou/ Fiocruz-MG)

______________________________________________

Prof a. Dra. Carla de Meis (Departamento de Psiquiatria/UFRJ)

_______________________________________________ Prof a. Dra. Isabel Gomes Rodrigues Martins (Núcleo de Tecnologia Educacional para Saúde/

UFRJ)

_______________________________________________ Prof. Dr. Luiz Augusto Coimbra de Rezende Filho (Núcleo de Tecnologia Educacional para

Saúde/ UFRJ)

Dedico esse trabalho à Clarice e ao Dequinho, meus amores, pelo prazer de enfrentarmos juntos o desafio de viver sem perder o brilho nos olhos e a capacidade de sonhar.

AGRADECIMENTOS Sonho que se sonha sozinho é só um sonho, sonho que se sonha junto é realidade

Obrigada a todos que sonharam junto comigo e tornaram possível transformar esse sonho em realidade:

À minha orientadora, Miriam Struchiner, com quem, desde o mestrado, tenho o prazer de aprender e me aperfeiçoar a cada dia.

À toda a equipe do LTC: Edite Moret, Elison, Diego, Vinícius e Rosi - amigos com quem tive a oportunidade de conviver e pelo enorme apoio e carinho em todos os momentos. Em especial a: Silvia Duarte e Patrícia, pelo lindo trabalho no Vivências e por serem tão queridas e me ajudarem com tanto carinho.

Às professoras Virgínia Schall e Isabel Martins que participaram da qualificação, pelas grandes contribuições com o desenvolvimento deste trabalho.

Aos professores Octávio, Erotildes, Alícia e Nelson - professores apaixonados e comprometidos - por terem participado e contribuído tanto com o Projeto Vivências e com quem aprendi muito durante todo esse tempo.

Aos amigos do grupo de pesquisa: Guilherme, Leonel, Luciana, Fábio, Tais e Marina. Pelas trocas, apoio mútuo e por terem tornado esse período muito mais divertido.

À Lucia e ao Ricardo pela eficiência e dedicação, com quem sempre pude contar para ajudar a resolver todos os abacaxis.

À minha querida amiga Marina Bazzo, por ter sido um dos grandes presentes que ganhei durante o doutorado... Parceira, com quem me identifiquei e tive o prazer de compartilhar cada momento desse percurso. Não sei o que teria sido sem a sua amizade!

À minha grande amiga e parceira, Tais Giannella, como sempre, tão presente e tão importante na minha vida... com quem, desde os 17 anos, tenho o prazer de aprender e conviver intensamente. Mais uma vez: não sei o que teria sido sem a sua amizade!

À Mari, querida, pelo apoio indispensável em nossas vidas, que cuidou tão bem da Cla para que eu pudesse me dedicar ao trabalho.

Ao meu avô, por ter me oferecido generosamente um espaço incrível de trabalho, permitindo que me tornasse “sócia” do seu escritório e me proporcionando condições para que esse trabalho se desenvolvesse. À minha vozinha querida, por todo o carinho e apoio durante nossas vidas.

À família do Dequinho, minha família, pelo grande apoio e torcida. Especialmente, à Vera, minha sogra, cujo apoio, horas de discussão e conselhos foram fundamentais, como sempre.

À minha família, meus cúmplices, pelo apoio incondicional e por sempre acreditarem em mim, mesmo nos momentos em que isso parecia impossível... À minha mãe, minha grande amiga, meu exemplo, por todo o amor e admiração, com quem tenho o prazer de compartilhar todos os momentos da minha vida. Ao Luiz Rodolfo, pai que ganhei de presente, por todos os mimos e carinhos, por todas as revisões e por ser o melhor avô do mundo! À minha irmã e meu cunhado: melhores amigos, companheiros, compadres... que mesmo estando tão longe conseguem se fazer presentes em cada momento de nossas vidas... E viva a pequena Sofia que daqui a pouco estará aqui conosco! Ao André e Tainá pela torcida e carinho.

Aos amores da minha vida:

Cla Cla, minha borboletinha... Amor incondicional... por ser essa pessoa maravilhosa que me ensina a cada dia e me devolveu a vontade de mudar o mundo!

Ao Dequinho, meu grande amor, co-autor de todos os meus projetos, pela vida que construímos juntos e por sempre me apoiar e incentivar a crescer... por quem quero continuar apaixonada como nesses 15 anos!

RESUMO

RAMOS, Paula. Ambiente virtual vivências: análise do processo de desenvolvimento na perspectiva da pesquisa baseada em design. Rio de Janeiro, 2010. Tese (Doutorado em Educação em Ciências e Saúde) – Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2010. O presente trabalho teve como objetivo analisar o processo de design de um ambiente virtual de aprendizagem para o ensino da medicina e da psicologia – Ambiente Vivências – a partir da metodologia da Pesquisa baseada em Design (PBD). O Vivências foi desenvolvido no contexto de uma equipe multidisciplinar, que contou com a parceria de professores do Instituto de Psiquiatria e da Faculdade de Medicina da UFRJ, e teve como foco desenvolver estratégias pedagógicas para superar o problema educativo do ensino tecnicista da saúde que prioriza a transmissão de grande quantidade de conteúdos, não valorizando a dimensão subjetiva do paciente. A PBD é uma metodologia que vem se consolidando no campo da educação, tendo como fundamento a integração entre pesquisa e práticas educacionais (DBRC, 2003; WANG e HANNAFIN, 2005). Nessa perspectiva, o processo de desenvolvimento pode ser compreendido com base em quatro fases apontadas por Reeves (2000): análise do problema educativo, desenvolvimento do artefato pedagógico, realização da intervenção pedagógica e reflexão para produzir princípios de design. Essas fases, embora não ocorram de forma linear, conferem particularidades ao processo, na medida em que são realizadas a partir de diferentes focos, atividades dos sujeitos e objetivos. Na análise, buscamos compreender essas fases, em suas particularidades, especificamente, no que diz respeito à dinâmica do trabalho da equipe, aos fatores que influenciaram esse processo e as conclusões alcançadas a partir dos achados de cada fase. Utilizamos como fonte principal as transcrições das gravações em áudio das reuniões da equipe, além de fontes complementares como observações de campo, emails e materiais produzidos pelos sujeitos. A partir da abordagem das práticas discursivas (SPINK, 2000), identificamos e analisamos os fatores que influenciaram o processo de decisão da equipe, buscando compreender como se articularam para a concretização das fases. Como resultados, verificamos que na fase de análise do problema, as diferentes crenças dos professores e saberes docentes influenciaram a negociação e compreensão compartilhada do problema educativo. Na fase de desenvolvimento do artefato, as diferentes expertises, contribuíram de forma complementar e interdependente para a concretização do Vivências. Na experiência pedagógica com o uso do ambiente, o professor vivenciou um processo de adaptação, se dando conta dos desafios práticos para a incorporação da tecnologia em seu contexto. Embora os achados da pesquisa sejam relacionados a um contexto particular, a análise desse processo, oferece subsídios para a investigação em outras experiências. Dessa forma, este trabalho pode contribuir tanto para a pesquisa e desenvolvimento de ambientes virtuais para a área das ciências e da saúde quanto para a metodologia da Pesquisa baseada em Design. PALAVRAS-CHAVE: AMBIENTE VIRTUAL DE APRENDIZAGEM. PESQUISA BASEADA EM DESIGN. ENSINO DA SAÚDE

ABSTRACT

RAMOS, Paula. Ambiente virtual vivências: análise do processo de desenvolvimento na perspectiva da pesquisa baseada em design. Rio de Janeiro, 2010. Tese (Doutorado em Educação em Ciências e Saúde) – Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2010. This study aimed to analyze the process of designing a virtual learning environment devoted to the teaching of medicine and psychology – Ambiente Vivências –, relying on the Design-based Research (DBR) methodology. The Vivências was developed in the context of a multidisciplinary team, with the collaboration of professors at the Institute of Psychiatry and at the Medical School at UFRJ, and focused on developing educational strategies to overcome the problem of overly technical approaches to health education, which gives priority to the transmission of large amounts of content and does not value the subjective dimension of the patient. The DBR is a methodology that has been gaining importance in academic research and has been consolidating itself in the field of education, having as its basis the integration between research and educational practices (DBRC, 2003; WANG and HANNAFIN, 2005). From this perspective, the process of development can be understood based on four stages outlined by Reeves (2000): analysis of the educational problem, development of the pedagogical artifact, accomplishment of the educational intervention, and considerations to give rise to design principles. These stages, though not linear, bestow special features on the process, inasmuch as they are built from different foci, subjects' activities and objectives to be achieved. These stages guided our analysis, since we sought to understand them in their particularities, specifically with regard to the dynamics of teamwork, the factors that influenced this process, and the conclusions from the findings of each stage. For the analysis, we used as our primary source the transcripts of audio recordings of team meetings, in addition to sources such as field observations, emails, and materials produced by the subjects. From the approach of discursive practices (SPINK, 2000), based on data and literature, we identified and analyzed the factors that influenced the decision-making process of the team, seeking to ascertain how they articulated to achieve the implementation of such stages. As a result, we found that at the stage of problem analysis, the different beliefs of the professors and teacher’s knowledge influenced the negotiation and shared understanding of the educational problem. During the development stage of the artifact, the various expertise of the team contributed in a complementary and interdependent capacity to the achievement of Vivências. Regarding the pedagogical experience with the use of the environment, the professor experienced a process of adaptation to Vivências, realizing the practical challenges for the incorporation of technology within his context. From the retrospective analysis of all these stages, we discussed the assumptions of DBR based on the design process of Vivências. Although the research findings are related to a particular context, the analysis of this process provides insights for research in other experiments. Thus, this work can contribute both to the research and development of virtual environments for the sciences and health, and to the methodology of Design-based Research.

KEYWORDS: VIRTUAL LEARNING ENVIRONMENT. DESIGN BASED RESEARCH. HEALTH EDUCATION.

LISTA DE QUADROS

Quadro 3.1 Artigos selecionados para análise 50

Quadro 3.2

Caracterização dos artigos de acordo com os problemas educativos abordados

51

Quadro 3.3 Caracterização dos artigos de acordo com os princípios norteadores adotados

54

Quadro 3.4 Caracterização dos artigos de acordo com os objetivos do uso das TICs na intervenção

57

Quadro 3.5 Caracterização dos artigos de acordo com os tipos de conhecimentos construídos a partir da intervenção e os resultados relacionados

60

Quadro 4.1

Panorama dos eventos do Projeto Vivências organizados por fase da pesquisa

83

Quadro 4.2 Síntese dos materiais analisados organizados pelas fases do processo de pesquisa

85

Quadro 4.3 Síntese da análise realizada com o detalhamento de cada fase do processo

94

Quadro 5.1 síntese dos saberes docentes e crenças dos professores compartilhados durante a fase de análise do problema.

120

Quadro 6.1 Síntese das diferentes expertises dos sujeitos e suas funções no desenvolvimento dos princípios do ambiente

150

LISTA DE FIGURAS Figura 2.1 Fases do processo iterativo da Pesquisa baseada em Design 28 Figura 2.1 Fatores internos e externos que influenciam na resolução de problemas 31 Figura 2.2 Construção de conhecimento em equipes multidisciplinares 36 Figura 2.3 Princípios incorporados no design situado de AVAs 39 Figura 2.5 Modelo do Design da ação complementar 41 Figura 6.1 Primeiro mapa de navegação desenvolvido – modelo de um banco de

depoimentos - representando um espaço aberto, de acesso livre na web, em que a participação dos pacientes estaria limitada aos depoimentos gravados (em áudio e vídeo) e a experiência de aprendizagem, restrita a professores e alunos, seria realizada na Constructore.

130

Figura 6.2 Mapa de navegação representando um modelo de um ambiente simples. Perfis de participação diferenciados (login profressor, login aluno e login paciente), com acesso ao banco de experiências, contendo diferentes recursos pedagógicos, mas sem flexibilidade de gerenciamento pelo professor.

131

Figura 6.3 Mapa de navegação representando uma opção intermediária, em que seriam utilizados dois ambientes em paralelo: a Constructore e o Vivências

132

Figura 6.4 Pagina do banco de experiências, onde ficam disponibilizados os depoimentos de pacientes em diferentes formatos.

134

Figura 6.5 Telas dos fóruns (à direita), com a diversas possibilidades de interação e telas do chat (à esquerda), em que se visualiza a conversa e tem a possibilidade de ver o usuário online.

136

Figura 6.6 Página de criação do blog 137 Figura 6.7 Tela principal da sala de reunião, que reúne as explicações e

possibilidades de acesso aos quatro recursos. 138

Figura 6.8 Opções de cores para o Vivências: à esquerda, cores quentes e à direita cores frias.

140

Figura 6.9 Apresentação gráfica atual do Ambiente Vivências - página de entrada 140 Figura 6.10 Apresentação gráfica atual do Ambiente Vivências – página principal 140 Figura 6.11 Dinâmica da equipe para a construção das conjecturas incorporadas do

Vivências 152

Figura 7.1 Total de downloads dos recursos pedagógicos por dia na disciplina de Psicopatologia Geral

164

Figura 7.2 Total de downloads dos recursos pedagógicos por dia na disciplina de Psicopatologia Geral

167

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 14

2 A PESQUISA BASEADA EM DESIGN COMO CONTRIBUIÇÃO PARA A PESQUISA EDUCACIONAL

19

2.1 CARACTERIZANDO A PESQUISA BASEADA EM DESIGN 19

2.1.1 Base teórica da Pesquisa baseada em Design 22

2.1.2 Fundamentando o uso da Pesquisa baseada em Design 23

2.1.3 A produção científica no campo 25

2.2 PROCESSO DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO DE INTERVENÇÕES MEDIADAS PELAS TICS APOIADO NA PBD

27

2.2.1 Análise do problema educativo 29

2.2.2 Análise do desenvolvimento do artefato pedagógico 37

2.2.3 Análise da intervenção pedagógica 43

2.3 CONSIDERAÇÕES 47

3 A PESQUISA BASEADA EM DESIGN NA PRODUÇÃO ACADÊMICA DO CAMPO DO ENSINO DE CIÊNCIAS E OS PROBLEMAS EDUCATIVOS DO ENSINO DA SAÚDE

48

3.1 A PBD EM ARTIGOS SOBRE O USO DE AMBIENTES DE APRENDIZAGEM MEDIADOS PELAS TICS NO ENSINO DE CIÊNCIAS

48

3.1.1 Problemas educativos 50

3.1.2 Teorias e princípios norteadores da intervenção 54

3.1.3 Intervenções 56

3.1.4 Conhecimentos construídos 60

3.1.5 Contribuição da PBD para o campo da pesquisa em ensino de ciências

62

3.2 PROBLEMAS EDUCATIVOS DO ENSINO DA SAÚDE 64

3.2.1 Integralidade como eixo norteador das propostas de educação 66

3.2.2 Educação permanente 67

3.2.3 Aproximação entre teoria e prática e diversificação dos cenários de prática

67

3.2.4 Implementação de metodologias ativas de aprendizagem 68

3.2.5 Trabalho em equipes multiprofissionais 69

3.3 O PROBLEMA EDUCATIVO DO VIVÊNCIAS: NECESSIDADE DE HUMANIZAÇÃO DA RELAÇÃO MÉDICO- PACIENTE

69

3.3.1 Teorias da Aprendizagem Situada e Corporificada como potenciais para a humanização na formação

71

3.4 CONSIDERAÇÕES 73

4 METODOLOGIA 74

4.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE A PBD E O DESENHO DO ESTUDO 74

4.2 CONTEXTO E SUJEITOS ENVOLVIDOS NA PESQUISA 75

4.2.1 Contexto educativo: a disciplina de Psicopatologia 78

4.2.2 Contexto educativo: a disciplina de Psicologia Médica 80

4.3 O PAPEL DO PESQUISADOR NA PESQUISA QUALITATIVA 80

4.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 82

4.4.1 Materiais de análise 82

4.4.2 Métodos de análise dos dados 87

4.4.2.1 Análise da fase 1: análise do problema educativo do Vivências 89

4.4.2.2 Análise da fase 2: desenvolvimento do artefato pedagógico 91

4.4.2.3 Análise da fase 3: Intervenção pedagógica 93

5 ANÁLISE DO PROBLEMA EDUCATIVO DO AMBIENTE VIVÊNCIAS: CONSTITUINDO UMA EQUIPE DE TRABALHO

96

5.1 DESCRIÇÃO DO PROCESSO DE ANÁLISE DO PROBLEMA EDUCATIVO

96

5.1.1 Identificação do problema educativo 97

5.1.2 Definição dos objetivos da intervenção 99

5.1.3 Análise teórica do problema educativo 100

5.2 ANÁLISE DO PROCESSO DE ANÁLISE DO PROBLEMA EDUCATIVO

102

5.2.1 Crenças dos professores 103

5.2.1.1 Crenças educacionais 103

5.2.1.2 Crenças sobre saúde 106

5.2.1.3 Crenças sobre tecnologia educacional 107

5.2.2 Saberes docentes da equipe 109

5.2.2.1 Saberes experienciais 109

5.2.2.2 Saberes disciplinares 113

5.3 CONCLUSÕES SOBRE O PROCESSO DE ANÁLISE DO PROBLEMA

117

6 DESENVOLVIMENTO DO AMBIENTE VIVÊNCIAS: CONSTRUÍNDO UMA PROPOSTA PEDAGÓGICA PARA O ENSINO DA SAÚDE

124

6.1 DESCRIÇÃO DO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DO PROTÓTIPO

124

6.1.1 Familiarização com as práticas pedagógicas dos professores 125

6.1.2 Planejamento e desenvolvimento do Vivências 129

6.1.2.1 Definição do modelo conceitual do ambiente 129

6.1.2.2 Definições sobre os recursos pedagógicos e funcionalidades do Vivências

133

6.1.2.3 Definição do layout do ambiente 139

6.1.3 Programação e testagem do protótipo 141

6.2 ANÁLISE DO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DO VIVÊNCIAS

141

6.2.1 Expertises dos professores 141

6.2.2 Expertises dos programadores 144

6.2.3 Expertises dos pesquisadores 147

6.3 CONCLUSÕES SOBRE O PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DO VIVÊNCIAS

151

7 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO COM APOIO DO VIVÊNCIAS: REALIZANDO UMA EXPERIÊNCIA PEDAGÓGICA NAS DISCIPLINAS DE PSICOPATOLOGIA

156

7.1 DESCRIÇÃO DO PROCESSO DE INTERVENÇÃO 157

7.1.1 Planejamento da intervenção pedagógica 157

7.1.1.1 O contexto das disciplinas de psicopatologia na formação de psicologia 158

7.1.1.2 Reflexões iniciais sobre o uso do Vivências nas disciplinas 160

7.1.2 A realização da intervenção pedagógica 162

7.1.2.1 As disciplinas de psicopatologia com o uso do Vivências 162

7.1.2.2 Reflexão sobre a intervenção pedagógica com uso do Vivências 168

7.2 ANÁLISE DO PROCESSO DE INTERVENÇÃO 169

7.2.1 Reflexão do professor sobre os desafios da intervenção 169

7.2.1.1 Falta de familiarização com o uso do Vivências 169

7.2.1.2 Impossibilidade de uso de depoimentos dos pacientes gravados em vídeo ou áudio nas disciplinas

171

7.2.1.3 Sobrecarga de trabalho 172

7.2.1.4 Falta de acesso à Internet e de capacitação dos pacientes para o uso do computador

174

7.2.2 Reflexões do professor sobre o refinamento da intervenção 175

7.3 CONCLUSÕES SOBRE O PROCESSO DA INTERVENÇÃO 179

8 ANÁLISE RETROSPECTIVA DO PROCESSO DE DESIGN DO AMBIENTE VIVÊNCIAS: TECENDO CONSIDERAÇÕES SOBRE A PBD

182

8.1 A PARCERIA COM PROFESSORES: CONSTRUINDO UMA DINÂMICA PARTICULAR DE DESIGN

183

8.1.1 Oportunidades do trabalho interdisciplinar 183

8.1.1.1 Característica da equipe: identificação entre os sujeitos e convergência de crenças

183

8.1.1.2 O papel de coordenação da equipe 184

8.1.1.3 Construção de uma base comum entre os sujeitos 185

8.1.1.4 O Ambiente construído 186

8.1.1.5 Reflexão dos professores sobre sua prática 187

8.1.2 Desafios do trabalho interdisciplinar 188

8.1.2.1 Equilibrar as demandas dos professores e a viabilidade prática de concretização do projeto

188

8.1.2.2 Lidar com o caráter complexo e dinâmico do contexto de pesquisa 189

8.2 O CARÁTER FLEXÍVEL E ITERATIVO DA PESQUISA E DESENVOLVIMENTO DE INTERVENÇÕES

190

9 CONCLUSÕES 192

REFERÊNCIAS

198

ANEXOS 212

14

1. INTRODUÇÃO

O campo da pesquisa educacional vem passando por um período de questionamentos,

no sentido de buscar maior articulação com a prática educativa e, assim, contribuir com a

melhoria dos processos de ensino-aprendizagem, ampliando sua relevância social (REEVES,

2000; DISESSA e COBB, 2004). Nesse cenário, a Pesquisa baseada em Design (PBD) é uma

metodologia que vem ganhando importância na produção acadêmica educacional – sobretudo

nos últimos dez anos – assumindo como fundamento a natureza aplicada da pesquisa e o

desenvolvimento de intervenções em contextos reais de aprendizagem (DBRC, 2003;

KELLY, 2004; VAN DEN AKKER et al, 2006). Essa metodologia se caracteriza não apenas

pelo desenvolvimento de intervenções, mas por sua característica peculiar de que estas

intervenções incorporam reivindicações teóricas específicas sobre ensinar e aprender, e reflete

um compromisso de estabelecer as relações entre teoria, artefatos projetados e a prática

educativa (DBRC, 2003; STRUCHINER, 2006).

Em linhas gerais, a PBD assume como pressupostos o foco em problemas educativos

complexos situados nos contextos de ensino-aprendizagem; pelo desenvolvimento de

experiências/intervenções educativas, em que se incluem, também, aquelas com o uso das

TICs para contribuir na solução desses problemas; pela integração de teorias educacionais

(teorias norteadoras), tanto para compreender os problemas, quanto para desenvolver a

experiência pedagógica; pelo desenvolvimento de intervenções a partir de um processo cíclico

de análise, desenvolvimento, avaliação e (re)design e pela construção de conhecimentos a

respeito dos processos de desenvolvimento e de ensino-aprendizagem proporcionado pela

intervenção (WANG e HANNAFIN, 2005).

Alinhando-se a esse referencial metodológico, o presente estudo se situa no campo da

tecnologia educacional e se insere em uma linha de investigação voltada para o

desenvolvimento e avaliação de ambientes de aprendizagem mediados pelas tecnologias da

informação e da comunicação (TICs), com base na parceria com professores do ensino

superior das áreas de ensino de ciências e da saúde.

Dentro desta perspectiva, desde 2007, vem sendo desenvolvido o “Projeto Vivências”,

realizado por uma equipe multidisciplinar formada por pesquisadores dos Laboratórios de

Tecnologias Cognitivas e de Vídeo Educativo do NUTES/UFRJ, professores do Instituto de

Psiquiatria (IPUB) e da Faculdade de Medicina da UFRJ além de alunos de pós-graduação em

tecnologia educacional, webdesigner e alunos de graduação de informática, de medicina e de

biologia. O desenvolvimento do projeto teve como ponto de partida o problema educativo do

15

ensino tecnicista da formação em saúde que prioriza a transmissão de grande quantidade de

conteúdos e procedimentos, não valorizando a reflexão sobre a experiência de adoecimento do

paciente. Buscando criar possibilidades de superar esse desafio, a equipe se envolveu na

pesquisa e desenvolvimento de um ambiente virtual de aprendizagem (AVA), Ambiente

Vivências, cujo objetivo consiste em ampliar o espaço de reflexão dos alunos sobre a

dimensão subjetiva envolvida nos processos de adoecimento e tratamento. Assim, assumiu-se

como o foco potencializar práticas humanizadas de saúde, que compreendem os indivíduos de

forma global - incluindo suas dimensões biológicas, psicológicas e afetivas (ZUSMAN, 1998;

STRUCHINER, 2008).

O processo de pesquisa e desenvolvimento do Vivências assume os pressupostos da

PBD e, nessa perspectiva, pode ser compreendido com base em quatro fases apontadas por

Reeves (2000): análise do problema educativo, desenvolvimento do artefato pedagógico,

realização da intervenção e reflexão para produzir princípios de design. Essas fases, embora

não ocorram de forma linear e estanque, conferem particularidades ao processo, na medida em

que apresentam especificidades em termos das atividades dos sujeitos e objetivos a serem

alcançados.

Segundo Edelson (2002), a pesquisa e o desenvimento de intervenções são processos

complexos e indissociáveis que envolvem sequências de tomadas de decisão na equipe para

equilibrar os objetivos e as limitações dos contextos. Essas decisões, normalmente, não são

tomadas de forma explícita, consciente ou formalmente articulada. Dessa forma, o autor

aponta que a análise do processo de desenvolvimento, tornando essas decisões explícitas e

refletidas pelos sujeitos, oferece oportunidades de aprendizagem sobre o próprio processo.

Com isso, permite o refinamento das atividades da equipe em futuras experiências, além de

contribuir com a construção de conhecimentos generalizáveis para contextos semelhantes de

pesquisa.

Assim, o presente trabalho propõe-se a analisar o processo de pesquisa e

desenvolvimento do Ambiente Vivências, apoiado na PBD, no contexto de uma equipe

multidisciplinar. A PBD, assim, assume um papel duplo na pesquisa: por um lado, constitui a

metodologia utilizada no desenvolvimento do Vivências e, por outro, oferece uma lente com

a qual analisamos esse processo. Com isso, pretende-se que os resultados obtidos com este

estudo contribuam para o refinamento do AVA, além de possibilitar a construção do

conhecimento sobre o processo de design pautado na PBD.

Especificamente, os objetivos deste trabalho foram:

16

- Caracterizar a pesquisa e o desenvolvimento do AVA, a partir de cada fase do

processo;

- Analisar os principais fatores que influenciaram os sujeitos na atividade de

negociação e tomada de decisão em cada fase do processo;

- Analisar como os pressupostos da PBD contribuíram para a pesquisa e

desenvolvimento do AVA;

- Apontar princípios de design sobre o processo de pesquisa e desenvolvimento do

AVA com base nos achados da análise de cada fase.

Com esse foco, o presente trabalho está organizado da seguinte forma:

No capítulo 1, A Pesquisa baseada em Design como contribuição para a pesquisa

educacional, contextualizamos o presente trabalho em relação à abordagem metodológica

abordada, referente aos processos de pesquisa e de desenvolvimento de intervenções

educacionais, especificamente, com o uso das TICs. Com esse foco, primeiramente, buscamos

delinear as principais características e compromissos de pesquisa da PBD. Em seguida,

discutimos o processo de design a partir desse referencial, aprofundando os conhecimentos

sobre cada fase desse processo.

No capítulo 2, A pesquisa baseada em design na produção acadêmica do campo do

ensino de ciências e os problemas educativos do ensino da saúde, discutimos como a

Pesquisa baseada em Design vem sendo utilizada como abordagem metodológica em

pesquisas sobre o desenvolvimento de intervenções com o uso das TICs para o ensino de

ciências. Utilizamos a área de ensino de ciências como foco de discussão, já que não

encontramos trabalhos voltados especificamente para o ensino da saúde que adotassem a

PBD. Na revisão de artigos da área de ensino de ciências, analisamos como as fases apontadas

por Reeves (2000) se concretizam nos trabalhos que se apóiam na PBD para pesquisa e

desenvolvimento de ambientes mediados pelas TICs, buscando compreender (1) os problemas

educativos abordados; (2) as teorias de aprendizagem eleitas para nortear o desenvolvimento

das intervenções pedagógicas; (3) as características das intervenções e (4) os conhecimentos

construídos a partir das pesquisas (RAMOS et al., no prelo).

Visando aprofundar, também, os problemas educativos da área da saúde, apresentamos

uma discussão sobre a questão da humanização da saúde, que é central no desenvolvimento

do Vivências e apresentaremos as teorias construtivistas da aprendizagem situada e da

aprendizagem corporificada como aportes relevantes para lidar com esses desafios.

17

No capítulo 3, Metodologia, apresentamos o referencial metodológico que orientou o

presente estudo, tendo como ponto de partida a fundamentação da metodologia da Pesquisa

baseada em Design. Primeiramente, apresentamos algumas considerações sobre a relação do

objetivo e desenho do estudo com a PBD. Isto porque, pelo fato de esta metodologia assumir

um papel central neste estudo, consideramos importante delimitar a concepção geral que nos

orientou a partir desse referencial. Em seguida, apresentamos o contexto e os sujeitos

envolvidos na pesquisa. Posteriormente, discutimos o papel do pesquisador na pesquisa

qualitativa, especificamente, no que concerne o presente trabalho. Finalmente, apresentamos

os procedimentos metodológicos, em que detalhamos os materiais e métodos utilizados para

desenvolver as análises.

No capítulo 4, Análise do problema educativo do Ambiente Vivências:

constituindo uma equipe de trabalho, apresentamos a análise do processo de análise do

problema educativo, realizado na equipe multidisciplinar envolvida no desenvolvimento do

Vivências. O capítulo é organizado de modo que, inicialmente, descrevemos o processo de

pesquisa realizado pela equipe, destacando os diferentes momentos desse trabalho. Em

seguida, apresentamos a análise dos fatores internos (JONASSEN, 2000) que influenciaram o

processo de negociação dos sujeitos, especificamente, os saberes docentes (TARDIF, 2002) e

as crenças dos professores (PAJARES, 1992). Finalmente, apresentamos conclusões a que

pudemos chegar a partir dessa análise.

No capítulo 5, Desenvolvimento do Ambiente Vivências: construindo uma

proposta pedagógica para o ensino da saúde, apresentamos a análise do processo de

desenvolvimento do Vivências, realizada pela equipe multidisciplinar. Para tal,

primeiramente, descrevemos o processo de desenvolvimento com objetivo de apresentar o

contexto da pesquisa; em seguida, apresentamos a análise das experiências dos sujeitos da

equipe e como essas são compartilhadas para com concretizar esse processo; por último,

apresentamos as conclusões a que pudemos chegar a partir dessa análise.

No capítulo 6, Análise da intervenção com o apoio do Ambiente Vivências:

realizando uma experiência pedagógica nas disciplinas de psicopatologia, apresentamos a

análise do processo de intervenção realizado por um dos professores que participaram do

processo de desenvolvimento do Vivências. Essa fase da intervenção apresenta algumas

particularidades em relação às outras duas, uma vez que envolve um processo individual de

decisão, em que o professor se depara com os desafios de seu contexto de ensino. Seguindo a

organização dos outros capítulos de análise, descrevemos o processo da intervenção, por meio

da articulação de diferentes dados referentes às características das disciplinas, do ambiente do

18

curso desenvolvido pelo professor e da utilização do ambiente pelos alunos. Em seguida,

apresentamos a análise dos desafios e das possibilidades de aprimoramento apontadas pelo

professor. Finalmente, apresentamos as conclusões a que pudemos chegar a partir dessa

análise.

No capítulo 7, Análise retrospectiva do processo de design do Ambiente Vivências:

tecendo considerações sobre a PBD, mesmo tendo discutido cada fase individualmente,

buscamos analisar retrospectivamente o processo incluindo todas as fases, com o objetivo

tanto de caracterizar as fases do processo, com base na análise realizada quanto de discutir

algumas contribuições que o presente estudo oferece para a construção do conhecimento

sobre o desenvolvimento de intervenções apoiado na PBD.

No capítulo 8, Conclusões, apresentamos as principais conclusões a que pudemos

chegar a partir da análise do processo de desenvolvimento do Vivências, buscando sintetizar

os principais achados em princípios de design que possam contribuir com pesquisas em

contextos semelhantes.

19

2. A PESQUISA BASEADA EM DESIGN COMO CONTRIBUIÇÃO PARA A

PESQUISA EDUCACIONAL

A Pesquisa baseada em Design (PBD) é uma metodologia que vem se consolidando no

campo da educação, com base em críticas a modelos tradicionais que promovem a ruptura

entre pesquisa e práticas educacionais (DBRC, 2003; WANG e HANNAFIN, 2005). Essa

metodologia é relativamente recente e vem sendo explorada de forma crescente na pesquisa

em educação, principalmente, no âmbito internacional. Pelo fato de a PBD constituir a

metodologia utilizada no desenvolvimento do Ambiente Vivências e oferecer uma lente para a

análise do seu processo de desenvolvimento, nesse capítulo, apresentamos uma revisão

teórica sobre essa metodologia. Com esse foco, primeiramente, buscamos delinear as

principais características e compromissos de pesquisa apoiada na PBD. Em seguida,

discutimos o processo de design a partir desse referencial, aprofundando os conhecimentos

sobre cada fase desse processo.

2.1 CARACTERIZANDO A PESQUISA BASEADA EM DESIGN

A Pesquisa baseada em Design foi, inicialmente, introduzida na educação por Brown

(1992) e Collins (1992) e, desde então, vem ganhando espaço na produção acadêmica. Na

literatura, essa metodologia vem sendo abordada por diversos grupos de pesquisa, sendo

designada por uma variedade de termos4, tais como: design experiment (BROWN, 1992),

developmental research (RICHEY et al., 2004); user-design research (CARR-CHELLMAN e

SAVOY, 2004), design research (EDELSON, 2002) e design-based research (DESIGN-

BASED RESEARCH COLLECTIVE - DBRC, 2003; BELL, 2004).

Embora essas diferentes terminologias representem variações em termos do foco de

pesquisa, elas consistem em

uma série de abordagens, com a intenção de produzir novas teorias, artefatos, e práticas que visam potencialmente impactar o ensino e aprendizagem em cenários reais (BARAB e SQUIRE, 2004, p. 3).

Nesse trabalho, utilizamos a terminologia “Pesquisa baseada em Design” para nos

referirmos a esse conjunto de abordagens que assumem como compromisso aliar pesquisa e

desenvolvimento de intervenções pedagógicas em contextos reais de aprendizagem, com o

objetivo tanto de promover a melhoria das práticas educativas quanto de produzir

4 Para maiores informações, ver Juuiti e Lavonen (2006)

20

conhecimentos sobre o processo de ensino-aprendizagem. Wang e Hannafin (2005) definem

design-based research como

Uma metodologia sistemática, mas flexível, que tem como objetivo enriquecer as práticas educacionais por meio de um processo iterativo de análise, design, desenvolvimento e implementação, baseada na colaboração entre pesquisadores e praticantes em cenários do mundo real, conduzindo ao design contextualizado de princípios e teorias (WANG e HANNAFIN, 2005, p.6).

A PBD surgiu como campo de pesquisa na educação, por meio da apropriação de

metáforas e métodos das áreas de engenharia e de design industrial (KELLY, 2003). Essa

apropriação aconteceu devido, principalmente, a uma insatisfação generalizada do campo

educacional quanto à dissociação entre a produção acadêmica e as práticas educativas

(KELLY, 2003). DiSessa e Cobb (2004) reforçam as críticas aos modelos tradicionais de

pesquisa educacional e defendem a necessidade premente do desenvolvimento de um corpo

teórico para apoiar as pesquisas em educação, que possa contribuir com as decisões práticas

relacionadas à atividade educativa.

Para aprofundar a discussão sobre a PBD na educação, primeiramente, é preciso ter

clareza do significado do conceito de “design” nesse campo. Em Inglês, essa palavra assume

tanto o significado de substantivo (projeto, desenho ou modelo) como o de verbo (projetar,

modelar ou desenhar). Nota-se que, em ambos os casos, precisa-se de um complemento para a

palavra design adquirir significado. Da mesma forma, o design na educação está

intrinsecamente relacionado ao desenvolvimento de um artefato pedagógico (KELLY, 2004).

É preciso ressaltar que os artefatos não são necessariamente concretos, como materiais

pedagógicos e ambientes de aprendizagem, mas incluem também processos, como atividades,

currículos e teorias (VAN DEN AKKER, 1999).

Sendo assim, a PBD se refere à pesquisa e ao desenvolvimento de intervenções nas

práticas educacionais, a partir da construção de artefatos pedagógicos, possibilitando o

delineamento de conhecimentos sobre os processos de desenvolvimento e de aprendizagem.

Wang e Hannafin (2005) descrevem a metodologia, por meio de cinco características básicas

que dizem respeito a sua natureza pragmática/intervencionista, situada, interativa, iterativa e

flexível, integrativa e contextual. Essas características são compreendidas da seguinte forma:

1) Pragmática/intervencionista – uma vez que a pesquisa é intimamente ligada à

prática educacional e tem como pressuposto propor intervenções para lidar com desafios

presentes no cotidiano.

21

2) Situada – visto que é realizada em cenários reais de pesquisa e de aprendizagem,

possibilitando que os participantes interajam e sejam influenciados pelo contexto. Dessa

forma, não se pretende isolar as variáveis em cenários de laboratório, mas compreendê-las em

sua complexidade.

3) Interativa, iterativa e flexível - É interativa, já que os pesquisadores trabalham em

parceria com as pessoas envolvidas na prática de ensino-aprendizagem, para que estas

participem do processo de definição do problema pedagógico, identificando abordagens e

desenvolvendo princípios para as intervenções pedagógicas. É iterativa, porque a pesquisa é

caracterizada por ciclos intermitentes de design, realização ou implementação, análise e

redesign. Isto significa que os resultados de cada ciclo oferecem arcabouço teórico para

pesquisas subseqüentes. É flexível, uma vez que os produtos educacionais desenvolvidos

devem comportar mudanças ao longo do processo de pesquisa, enriquecendo o planejamento

inicial de acordo com os resultados de cada implementação.

4) Integrativa – uma vez que a pesquisa é realizada a partir de uma variedade de

abordagens e métodos (tais como entrevistas, painel de especialistas, estudo de caso,

avaliação etc.), permitindo que diferentes abordagens de pesquisa sejam integradas para a

compreensão do contexto e da resolução do problema pedagógico.

5) Contextual – já que os resultados da pesquisa, embora estejam relacionados a um

contexto específico, eles não se limitam a prescrever atividades a serem seguidas pelos

educadores, transcendendo, assim, aos problemas específicos dos cenários de pesquisa para

orientar o desenvolvimento de teorias e a geração de novos resultados.

Assim, a PBD se caracteriza pelo foco em problemas educativos complexos

situados nos contextos de ensino-aprendizagem; pelo desenvolvimento de

experiências/intervenções educativas, em que se incluem, também, aquelas com o uso das

TICs para contribuir na solução desses problemas; pela integração de teorias educacionais

(teorias norteadoras), tanto para compreender os problemas, quanto para desenvolver a

experiência pedagógica; pelo desenvolvimento de intervenções a partir de um processo

cíclico de análise, desenvolvimento, avaliação e (re)design e pela construção de

conhecimentos a respeito dos processos de desenvolvimento e de ensino-aprendizagem

proporcionado pela intervenção (WANG e HANNAFIN, 2005).

22

2.1.1 Base teórica da Pesquisa baseada em Design

A PBD consiste em uma metodologia que agrega pressupostos e compromissos que

orientam uma variedade de abordagens teóricas para a pesquisa e desenvolvimento de

intervenções educacionais. Bell (2004) ressalta que essa diversidade teórica, apresentando

diferentes “modos” de realizar a pesquisa, de acordo com as abordagens assumidas: “PBD da

psicologia do desenvolvimento”, “PBD da ciência cognitiva”, “PBD da psicologia cultural”,

“PBD da antropologia cognitiva ou cultural”.

Para o autor, a PBD da psicologia do desenvolvimento busca analisar os efeitos

educacionais, tendo o objetivo de melhor compreender o desenvolvimento cognitivo e as

condições sob as quais este pode ser promovido. Nesse modo, o foco é nas consequências do

processo de ensino-aprendizagem, considerando o caráter disciplinar e específico de cada

campo de conhecimento. Envolvendo, por exemplo, temas como: aumento da compreensão

conceitual como resultado de um ensino baseado em experimentação e desenvolvimento da

competência representacional e compreensão conceitual através da atividade construtiva e

criativa.

A “PBD da ciência cognitiva” tem como foco o indivíduo e a relação entre a natureza

do conhecimento e os processos cognitivos que envolvem aspectos mentais – tais como

percepção, argumentação analógica e esquemática, tomada de decisão e resolução de

problemas. Nesse modo, os trabalhos envolvem temas como: o aumento do conhecimento

conceitual do aluno sobre física e o papel da metacognição na mudança conceitual.

A “PBD da psicologia cultural” assume como pressuposto que a aprendizagem ocorre

na interação entre os indivíduos e os artefatos, de modo que o foco da análise é a “micro-

cultura” na qual ocorre essa interação. Com a atenção voltada para a variabilidade local, os

pesquisadores buscam compreender os fenômenos educacionais (incluindo o desenvolvimento

cognitivo) como indissociáveis desses contextos. Os trabalhos, em geral, envolvem temas

como, por exemplo: construção de formas específicas de resolver problemas matemáticos e

desenvolvimento de capacidades metacognitivas.

A “PBD da antropologia cognitiva ou cultural” busca compreender a natureza das

mudanças introduzidas e suas consequências a partir da perspectiva dos participantes. Dessa

forma, a partir da influencia da etnografia, os pesquisadores oferecem espaço para que os

sujeitos adequem as mudanças de acordo com seus contextos. Nessa tendência, enfatiza-se a

natureza localizada das práticas e normas dos grupos sociais investigados e como estas

ocorrem nos cenários específicos. Essa maneira de trabalhar exige observação cuidadosa e

documentação das práticas cotidianas dos participantes nos cenários da prática. Os temas

23

abordados são variados, envolvendo questões como a realização das atividades humanas e as

normas institucionais associadas a cada contexto.

Essa diversidade teórica é decorrência da questão de estudo, se relacionando com o

problema educativo analisado e a teoria norteadora adotada. É possível observar que, mesmo

apresentando especificidades, esses modos têm em comum o foco em pesquisa,

desenvolvimento e análise de intervenções pedagógicas para produzir conhecimentos sobre o

processo de ensino-aprendizagem. Embora Bell (2004) não aprofunde a discussão de como

essas abordagens se expressam em termos do processo de intervenção e do artefato produzido,

apresenta um panorama da diversidade teórica que permite compreender a PBD a partir de um

espectro teórico mais amplo.

2.1.2 Fundamentando o uso da Pesquisa baseada em Design

Nesta seção, buscamos delinear as particularidades da Pesquisa baseada em Design,

suas características e contribuições, diferenciando-a de outras abordagens de pesquisa

educacional.

Para diferenciar a PBD da pesquisa tradicional de educação, Collins et al. (2004)

apontam algumas características, dentre as quais destaca-se o fato de que a PBD assume que o

contexto é indissociável do processo de ensino-aprendizagem, devendo ser abordado na

pesquisa em sua diversidade de variáveis. Na pesquisa tradicional, por sua vez, busca-se

controlar as variáveis do contexto para analisar o fenômeno, de forma isolada, com o mínimo

de interferências. Partindo dessas premissas, as duas abordagens apresentam diferenças

fundamentais quanto ao processo de investigação como, por exemplo, em relação, ao papel

dos participantes e aos objetivos da pesquisa.

Em relação à pesquisa etnográfica, Collins et al (2004) consideram que ambas as

abordagens ocorram em cenários naturais de aprendizagem, apresentando algumas

características comuns no encaminhamento da pesquisa. Porém, a etnografia visa

compreender esses contextos, analisando como se estabelecem as relações entre os sujeitos e

entre os sujeitos e seu meio e não assume como compromisso de pesquisa transformar as

práticas educativas (intervenções pedagógicas) como ocorre na PBD.

Wang e Hannafin (2005) destacam semelhanças entre a Pesquisa baseada em Design

com a Pesquisa-ação. Para os autores, ambas envolvem a colaboração entre pesquisadores e

participantes, se apóiam em práticas locais para a teorização sistemática e melhoram tanto a

teoria quanto a prática. Contudo, consideram que a Pesquisa-Ação deriva da pesquisa dos

próprios participantes, que é facilitada pelos pesquisadores. Já na PBD, a pesquisa deriva dos

24

pesquisadores e é concretizada na parceria com os sujeitos envolvidos nos contextos

educativos.

Barab e Squire (2004) aproximam a PBD da metodologia de avaliação formativa, na

medida em que ambas possuem diversas características em comum: são realizadas em

cenários naturais, orientadas pelo processo, iterativas e envolvem a criação de uma

intervenção em cenários sociais complexos. O processo da avaliação formativa – articular

objetivos, operacionalizar medidas, examinar um fenômeno e compreender as conseqüências

de seu uso – é bastante similar a muitos estudos com base na PBD. No entanto, uma

característica que diferencia significativamente essas abordagens, diz respeito ao

compromisso teórico da PBD. Nesse sentido, a PBD busca não apenas gerar conhecimentos

sobre as intervenções, mas construir modelos generalizáveis com base na abordagem teórica

que a fundamenta, podendo inclusive gerar novas teorias (não apenas testar as existentes), as

metodologias de avaliação formativa assumem como foco o aprimoramento de um

determinado artefato modelado (BARAB e SQUIRE, 2004; REIGHLUT e FRICK, 1999).

Como ressaltam Barab e Squire (2004)

Um componente crítico do Design-based Research é que o design é realizado não apenas para enfrentar necessidades locais, mas para avançar a agenda cultural, para descobrir, explorar e confirmar relações teóricas (BARAB e SQUIRE, 2004, p.5)

Van den Akker et al (2006) apontam as contribuições da PBD para as pesquisas

educacionais, ressaltando o fato de que as intervenções são desenvolvidas por meio da

parceria de pesquisadores e participantes, o que permite articular os princípios teóricos com as

especificidades da prática. Barab e Squire (2004) reforçam esse argumento e discutem a

relevância dos cenários das práticas educativas nas pesquisas, já que estes incluem a

complexidade e a “desordem” do mundo real, oferecendo maior potencial de influenciar os

processos de ensino-aprendizagem nesses contextos. Isto porque, para os professores

integrarem um novo artefato em suas práticas é preciso que compreendam e concordem com

os objetivos e com a qualidade deste, caso contrário, pode cair em desuso.

Em relação à pesquisa e ao desenvolvimento de ambientes de aprendizagem

enriquecidos por tecnologia (technology-enhanced learning environment- TELE), Wang e

Hannafin (2005) consideram a PBD um aporte relevante, visto o esforço de conferir coerência

entre teoria e prática. Isto é especialmente importante nesses contextos, uma vez que essas

pesquisas, freqüentemente, apresentam pressupostos teóricos e epistemológicos divergentes

25

ou contraditórios. Os autores ressaltam lacunas evidentes entre o que é discutido na teoria e

como é utilizado na prática (WANG e HANNAFIN, 2005), tornando necessário o

alinhamento entre os ambientes de aprendizagem e seus pressupostos5.

Os autores discorrem sobre três principais contribuições dessa metodologia para a

pesquisa e desenvolvimento das TELEs: (1) encorajar o processo contínuo da pesquisa – não

havendo uma divisão entre a pesquisa e desenvolvimento, esses dois processos se

complementam, contribuindo continuamente com o refinamento da intervenção; (2) refinar as

teorias das TELEs – possibilitando propor princípios de design sobre o processo de

desenvolvimento, a partir do conhecimento e investigação sobre o contexto específico e (3)

encorajar a investigação e a prática socialmente responsável – refletindo as perspectivas dos

professores participantes e, portanto, facilitando a compreensão das implicações das TELEs

na aprendizagem dos estudantes.

2.1.3 A Produção científica no campo

Richey et al. (2004) produziram uma ampla revisão da literatura sobre a pesquisa

baseada em desenvolvimento (developmental research) – uma das variações do termo

Metodologia de Pesquisa baseada em Design. Os autores caracterizaram o campo, definiram

conceitos e analisaram a produção científica da área. Essa análise resultou na categorização

dos estudos de acordo com a natureza dos conhecimentos produzidos.

A maioria das pesquisas, classificada como “tipo 1”, envolve situações específicas em

que o processo de desenvolvimento do produto educacional, em um contexto particular, é

descrito, analisado e o produto final avaliado. Embora os resultados produzidos nestes estudos

sejam mais específicos a um produto e a um contexto, podem ser discutidos em contextos

similares. Para van den Akker (1999), esse enfoque é conhecido como pesquisa formativa

(formative research) e caracteriza-se por envolver

Atividades de pesquisa realizadas durante o processo completo de desenvolvimento de uma intervenção específica (...) tem como objetivo a otimização da qualidade da intervenção assim como a especificação de princípios de design (VAN DEN AKKER, 1999, p.6).

A segunda categoria, classificada por Richey et al (2004) como pesquisa do “tipo 2”, é

orientada para análise do processo global do design, desenvolvimento ou avaliação e tem

como objetivo final a produção de conhecimentos teóricos para o campo, gerando,

5 Discutimos a questão da coerência entre o aporte teórico e o desenvolvimento de materiais pedagógicos com o

26

frequentemente, novos modelos sobre o processo de desenvolvimento. Para Van den Akker

(1999), esse tipo de produção é conhecido como estudos reconstrutivos (reconstructive

studies), assumindo um compromisso teórico com o campo, gerando resultados que podem

ser generalizáveis a outros contextos e contribuindo para a compreensão da natureza da

tomada de decisão pelo educador.

Sendo assim, as principais diferenças entre essas duas categorias de pesquisa são o

enfoque e o compromisso teórico. Desse modo, em geral, as pesquisa do tipo 1 assumem

como foco o estudo de um produto específico ou o desenvolvimento de programa e/ou

projetos de avaliação, produzindo conhecimentos que, embora específicos a um contexto,

buscam apontar contribuições para o campo educacional. Já as pesquisas do tipo 2, enfatizam

o estudo dos processos de design, desenvolvimento e/ou avaliação de intervenções e ocorrem,

normalmente, de forma retrospectiva. Como conhecimentos construídos, identificam padrões,

sugerem novos procedimentos ou modelos de design, desenvolvimento e avaliação,

apontando condições favoráveis a esses processos.

Essa classificação é uma forma de caracterizar a produção na área, sendo importante

ressaltar que não constituem categorias rígidas e, muitas vezes, as pesquisas assumem

características de ambos os tipos. Com base na análise dos trabalhos produzidos no campo,

nota-se um descompasso entre a produção nacional e internacional. Embora a PBD venha

sendo crescentemente desenvolvida na produção acadêmica internacional, no Brasil, ainda

encontramos poucos trabalhos no campo. Com objetivo de caracterizar as pesquisas

brasileiras, ao realizarmos um levantamento sobre essa temática, por exemplo, encontramos

poucos trabalhos em que os autores adotaram o termo “Pesquisa baseada em Design”

(DRISOSTES, 2005; ARAÚJO, 2007; GIANELLA, 2007; LEME, 2007; RAMOS e

STRUCHINER, 2008; RAMOS et al., 2009). Além dos trabalhos desenvolvidos no grupo de

pesquisa em que se insere o presente estudo, encontramos apenas três referências de trabalhos

apoiados nessa metodologia (DRISOSTES, 2005; ARAÚJO, 2007; LEME, 2007) realizados

no Programa de Educação Matemática da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

(PUC-SP).

Drisostes (2005) desenvolveu e analisou o processo de desenvolvimento de dois

micromundos para o ensino de matemática, com a participação de professores da área

envolvidos na pesquisa. O autor se apoiou na PBD para analisar a experiência em termos

tanto da incorporação do artefato ao ambiente de ensino como das interações dos professores.

apoio das TICs em RAMOS e STRUCHINER (2009).

27

Dentre suas conclusões, o pesquisador constatou que a possibilidade de participar dessa

atividade favoreceu que os professores assumissem novas relações com o computador como

ferramenta de ensino e desenvolvessem novos significados para conceitos matemáticos e para

o ensino.

Leme (2007) analisou a contribuição do construtivismo e da ferramenta de planilhas

eletrônicas para a aprendizagem de matemática financeira. Para tal, com base na Metodologia

de Pesquisa baseada em Design, o pesquisador comparou dois grupos (um grupo controle e

outros que havia vivenciado a intervenção construtivista com o uso de planilhas eletrônicas).

Os resultados da aprendizagem dos dois grupos foram comparados e o autor apontou

refinamentos à intervenção, indicando não ter sido possível mensurar o impacto da

metodologia construtivista, embora tenha percebido manifestações de satisfação pelos alunos.

O trabalho de Araújo (2007) analisa a contribuição de um software voltado ao ensino

de Geometria, com alunos do ensino fundamental, para o desenvolvimento da argumentação

matemática dos alunos, especificamente, no que diz respeito à produção de provas

matemáticas. O autor estabeleceu três conjuntos de atividades como apoio do software, com

diferentes objetivos (um deles tinha como objetivo a produção de provas), concluindo que a

intervenção influenciou o tipo de construção realizada pelos alunos, mas não a produção de

provas. Com isso, apontou alguns desafios encontrados na pesquisa e possibilidades de

aprimoramento da intervenção.

Tendo em vista a classificação de Richey et al (2004), nota-se que, os três trabalhos

brasileiros se caracterizam, essencialmente, como pesquisas do tipo 1, na medida em que o

foco está orientado para a avaliação de uma experiência pedagógica com o uso das TICs,

indicando possibilidades de aprimoramento da intervenção. Verifica-se que é uma abordagem

metodológica em consolidação não só em outros contextos, mas também no Brasil. Sua

produção acadêmica ainda precisa se desenvolver e ser reconhecida como um campo de

pesquisa em educação e, especificamente, em tecnologia educacional.

A seguir, discutimos como o processo de pesquisa e desenvolvimento ocorre com o

apoio da PBD.

2.2 PROCESSO DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO DE INTERVENÇÕES

MEDIADAS PELAS TICS APOIADO NA PBD

Em relação às intervenções mediadas pelas TICs, o processo de desenvolvimento vem

sendo amplamente discutido na literatura, com base em diferentes abordagens. Na PBD, o

processo de pesquisa deriva da abordagem sistêmica que considera um papel de destaque à

28

complexidade do contexto e se baseia no princípio de “reflexão na ação” (SCHON, 1983;

EDELSON, 2002). Nesse sentido, os meios e os fins são estabelecidos a partir da reflexão e

da decisão dos sujeitos envolvidos no contexto da pesquisa, assumindo como pressuposto

básico a análise de diferentes fatores contextuais que influenciam os cenários das práticas

educativas. Sendo assim, na PBD, considera-se que o contexto é indissociável da pesquisa,

constituindo um elemento chave desse processo, devendo ser levado em conta para permitir

uma compreensão e construção de conhecimento sobre as intervenções em situações práticas

(DBRC, 2003; DISESSA e COBB, 2004). Alguns autores buscam descrever o processo de

pesquisa apoiado na PBD (REEVES, 2000; MCKENNEY, 2001; WADEMAN, 2005), dentre

os quais Reeves (2000) se destaca por oferecer o panorama de um processo cíclico,

influenciado pelo contexto e organizado em fases que se influenciam mutuamente.

Figura 2.1: Fases do processo iterativo da Pesquisa baseada em Design (REEVES, 2000)

Com visto no esquema de Reeves (2000), é possível compreender o processo da PBD

com base em quatro fases de pesquisa, de modo que, a investigação parte de problemas

educativos analisados com os sujeitos envolvidos nas práticas pedagógicas; o artefato

pedagógico é desenvolvido a partir da teoria norteadora, levando-se em conta as

especificidades dos contextos; a intervenção é considerada uma forma de compreender e

avaliar como o artefato desenvolvido contribuiu na prática para a solução do problema

educativo; a partir da avaliação da intervenção, princípios de design são desenvolvidos sobre

o processo de aprendizagem potencializado pelo artefato, permitindo revisitar cada fase do

processo e refinar a intervenção.

No presente estudo, ao mesmo tempo em que a PBD é o aporte metodológico utilizado

no desenvolvimento do Vivências, objeto de pesquisa, é também o eixo norteador da análise

do processo. Dessa forma, para organizar a análise, nos baseamos nas fases do processo de

desenvolvimento de intervenções com o uso das TICs apontadas por Reeves (2000): fase 1 -

29

análise do problema educativo; fase 2 - desenvolvimento do artefato pedagógico; fase 3 -

intervenção e fase 4 - análise retrospectiva para produzir princípios de design. Embora essas

fases não se apresentem de forma linear, elas auxiliam a compreensão e a análise do processo

de desenvolvimento, demarcando características comuns e especificidades no curso de uma

pesquisa.

Para orientar a análise do design do Vivências, aprofundamos o referencial sobre as

fases da pesquisa, a fim de compreender as principais características de cada uma, assim

como os principais fatores que influenciam seu desenvolvimento. A quarta fase é composta

pela reflexão e produção acadêmica sobre o processo de pesquisa, sendo, portanto,

consequência das atividades desenvolvidas nas outras fases e dos compromissos

metodológicos assumidos pela PBD (abordados anteriormente). Assim, a seguir apresentamos

uma revisão da literatura relacionada às três primeiras fases do processo de pesquisa e

desenvolvimento de intervenções pedagógicas com o uso das TICs, apontando os principais

fatores que influenciam cada uma, buscando uma aproximação com o contexto desse estudo.

2.2.1 Análise do problema educativo

Para Jonassen (2000), um problema é “uma entidade desconhecida resultante de

qualquer situação em que uma pessoa busca satisfazer uma necessidade ou atingir um

objetivo” (JONASSEN, 2000, p.65). Para a PBD, os problemas educativos envolvem os

desafios encontrados nas práticas pedagógicas e identificados pelos sujeitos nelas envolvidos

(WANG e HANNAFIN, 2005; VAN DEN AKKER, 1999; EDELSON, 2002; JUUTI e

LAVONEN, 2006). Nessa perspectiva, os problemas educativos constituem o ponto de

partida da pesquisa educacional e consistem em problematizar dialogicamente com os

envolvidos a situação-problema que está sendo vivida e se deseja transformar (KOZMA,

2000).

Sobre isso, Angulo (1990) considera que, refletindo sobre suas ações, os professores

têm a possibilidade de analisar criticamente sua realidade e problematizá-la. Para o autor, os

questionamentos podem envolver: a prática educativa, com foco em alguma “situação limite”

educacional; a compreensão que os participantes têm dessa prática, relacionada ao

conhecimento alternativo, intuitivo ou do senso comum e à percepção que têm da situação

social em que atuam. Ressalta, ainda, que essas formulações não podem ser consideradas

como dados objetivos, visto que são ideologizadas e dependentes da percepção interpretativa

do professor e de suas concepções de educação e ensino-aprendizagem (ANGULO, 1990).

Nesse sentido, a análise do problema educativo é uma construção, que segundo

30

Edelson (2002), caracteriza-se como um processo de tomada de decisão em que os sujeitos

envolvidos buscam equilibrar objetivos, necessidades ou oportunidades com desafios e

limitações encontrados nos contextos pedagógicos. Esse processo de análise é uma atividade

importante na investigação de problemas complexos. DeTombe (2002), ao analisar o processo

de resolução de problemas sociais complexos, aponta que há uma tendência de os

“solucionadores” demandarem pouco tempo para a análise do problema, ocasionando

superficialidade e falta de consciência da complexidade do problema a ser enfrentado.

Na PBD, esse processo de análise é compreendido por Juuti e Lavonen (2006) como

essencialmente dialógico, já que pesquisadores e professores se envolvem em uma atividade

comunicativa, buscando (a) identificar o problema educativo, isto é, negociar sobre qual é a

mudança desejada e quais são as oportunidades e limitações dos contextos de ensino-

aprendizagem; (b) definir os objetivos da intervenção e (c) realizar a “análise teórica do

problema” (theoretical problem analysis), que consiste em buscar as teorias de aprendizagem

norteadoras para fundamentar a compreensão dos problemas e orientar a concepção, a

construção e a pesquisa de intervenções pedagógicas.

Na literatura, essa análise teórica é apontada como uma das características diferenciais

da PBD. A definição da teoria norteadora (theoretical framework – WANG e HANNAFIN,

2005) é um aspecto relevante da PBD, caracterizando a natureza situada da pesquisa - não

apenas nas práticas educativas, mas também nas teorias de ensino-aprendizagem. A teoria,

assim, oferece uma “lente” para analisar o problema e orientar o desenvolvimento de

intervenções, além de oferecer elementos e conceitos que são revistos ao longo da pesquisa e

permitem construir novos conhecimentos teóricos (VAN DEN AKKER, 1999; WANG e

HANNAFIN, 2005; EDELSON, 2002; DBRC, 2003). Em síntese, é possível compreender o

processo de análise do problema, por meio das atividades de: identificação do problema,

definição dos objetivos e da teoria norteadora.

Jonassen (1997, 2000) caracteriza diferentes problemas (bem estruturados – well-

structured, mal estruturados – ill-structured e quebra-cabeça - puzzle) e constrói um esquema

em que busca articular os seus atributos e os dos sujeitos envolvidos na sua solução. Esse

modelo, apresentado na figura 2.2, oferece um aporte teórico pertinente para compreender a

análise do problema educativo

31

Figura 2.2: Fatores internos e externos que influenciam a resolução de problemas (adaptação de Jonassen, 1997, p. 66).

Para Jonassen (2000), as variações do problema se revelam em suas características

específicas, relacionadas à estrutura (ex. bem ou mal estuturados), à complexidade (ex.

simples ou complexos) e à abstração (abstratos ou concretos). As representações dos

problemas variam de acordo com o contexto e com a forma como são tratados pelos sujeitos

(ex. problemas em contextos profissionais exigem que os sujeitos se baseiem em habilidades e

linguagem específicas). O autor considera as variações e representações como fatores

externos, uma vez que estão relacionados, sobretudo, às características do problema. Já as

diferenças individuais são relacionadas às características, percepções e habilidades, daqueles

que se envolvem na busca por soluções. Isto porque, para lidar com as diferentes

características dos problemas, os sujeitos precisam acessar habilidades ou diferenças

individuais específicas.

Os problemas educativos não envolvem uma única resposta, correta ou melhor, mas

muitas possíveis, dependendo do contexto. Além disso, um ou mais elementos para sua

resolução não são conhecidos, exigindo a interpretação dos sujeitos e a análise de diferentes

aspectos (ex. problemas éticos e ambientais). Dessa forma, são compreendidos por sua

natureza complexa e “mal estruturada” (ill-structured) (Jonassen, 1997) e representam

dilemas específicos e inseparáveis do contexto em que se inserem. Na análise desses

problemas, um aspecto fundamental é a comunicação e interação entre os pesquisadores e os

envolvidos nas práticas educativas, para a construção de uma compreensão compartilhada

sobre ele (JUUTI e LAVONEN, 2006; BEERS, 2005). Beers (2005) argumenta que para lidar

com problemas complexos, é importante realizar uma conceituação aprofundada dos mesmos,

Variações do problema � Estrutura � Complexidade � Abstração/

contextualização

Representação � Contextos social,

histórico e cultural � Modalidade de

indício/sugestão

Diferenças individuais � Familiaridade � Conhecimento do campo

e estrutural � Controle cognitivo � Metacognição � Crenças epistemológicas � Aspectos afetivos � Habilidades de resolução

de problemas gerais

Resolução de problemas

Fatores externos Fatores internos

→ → →

32

sendo, frequentemente, necessária uma abordagem multidisciplinar.

Nesse contexto, Jonassen (2000) considera que a compreensão dos problemas mal-

estruturados depende fortemente das crenças epistemológicas dos sujeitos, uma vez que exige

que estes considerem as diferentes perspectivas em relação ao problema para construir uma

compreensão sobre ele. O autor define essas crenças como concepções individuais sobre “o

conhecimento e como ele é construído” (JONASSEN, 2000, p. 71). Ressalta que, embora a

relação entre crenças epistemológicas e resolução de problemas seja evidente, esta não tem

sido pesquisada e merece, portanto, maior atenção.

Outro fator que Jonassen (2000) aponta como relevante é o “conhecimento do campo”,

que diz respeito ao repertório de conhecimentos que os indivíduos constróem sobre os campos

envolvidos no problema e são essenciais para a sua compreensão e desenvolvimento de

soluções integradas às especificidades do contexto.

Em seu modelo, Jonassen (2000) tem como foco principal a análise de problemas

realizada por alunos durante o processo de ensino-aprendizagem. No Projeto Vivências, trata-

se de uma equipe multidisciplinar coordenada por professores universitários, sendo assim,

buscamos compreender e situar os conceitos de conhecimentos do campo e crenças

epistemológicas relacionados especificamente à atividade docente.

As crenças epistemológicas correspondem às concepções dos sujeitos sobre a natureza

do conhecimento e sobre ensino e aprendizagem (PAJARES, 1992; SCHOMMER-AIKINS,

2004; HASHWEH, 1996). Schommer-aikins (2004), a partir de uma síntese da literatura,

considera que as crenças epistemológicas são constituídas por crenças sobre a: a) estabilidade

do conhecimento - variando de conhecimento imutável a conhecimento experimental; b)

estrutura do conhecimento – variando de fragmentos isolados a conceitos integrados; c) fonte

do conhecimento – variando de autoridade onisciente a razão e evidência empírica; d)

velocidade da aprendizagem – variando de rápido a gradual; e) habilidade para aprender –

variando de adquirida desde o nascimento a improvável. Essas crenças orientam os alunos no

processo de aprendizagem e os professores no processo de ensino.

Alguns autores apontam uma falta de clareza sobre o conceito de crenças

epistemológicas, sendo, muitas vezes tratado como sinônimo de atitudes, teorias e filosofias,

perspectivas, conhecimentos etc (PAJARES, 1992; LUFT e ROEHRING, 2007). Sendo

assim, Pajares (1992) aprofunda a análise sobre as crenças dos professores diferenciando,

principalmente, do conceito de conhecimento. O autor argumenta que os sujeitos têm crenças

sobre todas as temáticas, tais como sobre aborto, arte, política etc. Contudo, ao analisar as

33

crenças dos professores, em geral, os pesquisadores se referem às concepções sobre a

escolarização, ensino, aprendizagem. Além disso, os professores também possuem crenças

sobre os seus campos de conhecimento (ex: saúde, arquitetura, língua estrangeira), o que

influencia sua prática, mas não estão diretamente relacionadas ao processo de aprendizagem.

Segundo o autor, devido à abrangência das crenças dos professores, é necessário

definir o que se entende por esse conceito. Pajares (1992) considera as crenças dos

professores podem ser abordadas, como na maioria das pesquisas, de uma forma mais restrita,

se atendo às crenças educacionais: sobre a natureza do conhecimento (crença epistemológica),

sobre o papel do professor e dos alunos, sobre a atividade educativa etc. Contudo, as crenças

dos professores também podem ser abordadas de forma mais ampla, incluindo as crenças

educacionais e as crenças sobre os conteúdos de suas práticas.

Em relação aos conhecimentos do campo, os autores que discutem aqueles construídos

pelos professores, utilizam o conceito de “saberes docentes” para se referir a todos os

conhecimentos construídos ao longo da vida profissional docente (TARDIF, 2002; NUNES,

2001; BORGES, 2001). Tardif (2002), voltado para análise do trabalho docente, situa a

questão do saber profissional dos professores em um contexto ampliado, em que incorpora

sua história, sua inserção no cotidiano pedagógico e na sociedade. Dessa forma, considera o

saber não como uma categoria autônoma e separada de outras realidades sociais, mas como

uma construção imbricada no contexto social em que se insere. Sendo assim, afirma que

O saber dos professores (...) está relacionado com a pessoa e a identidade deles, com a sua experiência de vida e com a sua história profissional, com suas relações com os alunos, em sala de aula e com outros atores. (TARDIF, 2002, p. 11)

O autor ressalta a necessidade de situar o saber do professor na interface entre o social

e o individual. Segundo ele, este saber é essencialmente social, uma vez que é partilhado por

um grupo de agentes, é sustentado por um sistema social que garante sua legitimidade (escola,

universidade, ministérios etc), pelo fato de que seus “objetos” são também objetos sociais ou

práticas sociais, porque os conteúdos ensinados também se transformam com as mudanças

sociais e pelo fato de que é adquirido no contexto de uma socialização profissional, onde é

incorporado, modificado, adaptado, em função dos momentos e das fases da carreira. Por

outro lado, o professor também possui um conhecimento que é individual e regido pelas suas

próprias experiências. Com isso, considera que

34

Pode-se definir o saber docente como um saber plural, formado pelo amálgama mais ou menos coerente, de saberes oriundos da formação profissional e de saberes disciplinares, curriculares e experienciais. (TARDIF, 2002, p. 11)

Como o autor tem como foco principal o professor de ensino fundamental e médio,

define os saberes como: saberes da formação profissional – oriundos da formação e

relacionados aos conteúdos sobre educação e ideologia pedagógica (no caso dos professores

universitários, deve-se fazer uma ressalva, pois não existe uma preparação formal para a

prática de ensino, exceto no caso da formação em educação); saberes disciplinares – saberes

teóricos selecionados e definidos pela instituição universitária, relacionados aos campos de

conhecimento; saberes experienciais – saberes construídos no exercício de suas funções e na

prática de sua profissão, baseados em seu trabalho cotidiano e no saber-fazer; saberes

curriculares – referentes aos discursos, objetivos e métodos relacionados ao desenvolvimento

dos programas curriculares.

No caso do Vivências, por tratar-se de professores universitários, consideramos os

saberes disciplinares e experienciais como os mais significativos para análise, uma vez que a

atividade profissional privilegia a interface entre pesquisa e ensino, isto é conhecimentos

teóricos e práticos. É importante ressaltar que, embora haja uma relação intrínseca entre

crenças e saberes, uma vez que os saberes são construídos com base nas crenças dos sujeitos,

neste estudo, optamos por tratá-los separadamente como uma forma de organizar a análise e

não por compreendê-los como aspectos isolados.

Identificamos a diferença entre as crenças e os saberes, com base na racionalidade

presente nas interações. Segundo Avila (2005), na Modernidade, a discussão sobre o

conhecimento, ganha centralidade no debate filosófico, sendo relacionado às noções de

verdade e de realidade. Contudo, ao longo do século XX, essa visão passou a ser questionada,

disseminando-se uma concepção, baseada no realismo crítico, que leva em conta a

fragmentação do real e a verdade como construção humana, relegando o conhecimento “a

uma crença socialmente justificada, legitimada na cultura” (AVILA, 2005, p.1).

Sendo assim, todo o conhecimento ou saber possui um componente cognitivo, mas

pauta-se por uma visão de mundo e carrega em si uma crença sobre a realidade. Assim, nos

saberes disciplinares, a justificativa é por meio da teoria, legitimada no campo de

conhecimento e nos saberes experienciais, as justificativas são através dos fatos e

acontecimentos vivenciados pelos sujeitos.

35

As crenças, por outro lado, são concepções individuais profundas, influenciadas por

componentes afetivos e existenciais, que dificilmente são transformadas e existem além dos

conhecimentos e controle individual (PAJARES, 1992). Dessa forma, as crenças são

marcadas por elementos subjetivos e indicam opiniões, convicções, juízo de valor e

sentimentos dos sujeitos em relação a diversos temas.

No Vivências, as crenças e os saberes interagem no contexto de uma equipe

multidisciplinar. Para compreender essa interação, Beers (2005) assume como foco de sua

investigação, a análise sobre a construção coletiva de conhecimento em equipes

multidisciplinares envolvidas na análise de problemas complexos. O autor considera que,

nesse contexto, os sujeitos trazem diferentes perspectivas sobre o problema, resultando em

múltiplas representações dentro da equipe. Essas perspectivas, quando coordenadas, podem

oferecer uma ampla compreensão do problema, contribuindo para soluções inovadoras.

Contudo, não havendo coordenação, também podem trazer desentendimentos e obstáculos

para o processo de tomada de decisão.

O autor se baseia na teoria da interdisciplinaridade cognitiva de Bromme (2000), que

se fundamenta no conceito de base comum (common ground) como uma condição importante

para a integração do conhecimento. Isto porque, os membros de um grupo possuem um

conjunto de conhecimentos e fazem uso de uma linguagem, nem sempre compreendida ou

com significados diferentes em outros campos de conhecimento. O autor considera que o

ponto de partida desse processo é quando um conhecimento individual, restrito a um sujeito, é

externalizado, se tornando um conhecimento explícito compartilhado pelo grupo. Essa

externalização pode ocorrer por meio da expressão oral, escrita, simbólica, gráfica etc. A

partir disso, todos da equipe buscam internalizar aquele conhecimento a partir de suas

perspectivas, até que a equipe alcance um conhecimento construído, como apresentado na

figura 3.

36

Figura 2.4: Construção de conhecimento em equipes multidisciplinares (BEERS, 2005)

Ao internalizar os conhecimentos externos, relacionados a outros campos, os sujeitos

são influenciados por seus próprios conhecimentos e por suas crenças, dessa forma, a

internalização não significa uma mesma compreensão sobre um conhecimento. Beers (2005)

considera que a negociação da base comum é um conceito que inclui duas direções:

negociação de sentidos (negotiation of meaning) e negociação de posições (negotiation of

positions).

Para o autor, a negociação de sentidos se refere à construção do conhecimento e

vislumbra um acordo sobre o significado e compreensão de uma contribuição. Essa

negociação consiste no processo em que os sujeitos expõem a sua compreensão sobre

conhecimentos (externalização) e, paralelamente, buscam verificar em que extensão a sua

compreensão sobre um conhecimento externalizado (internalização) é diferente daquilo que

esperam que ele compreenda.

Em relação à negociação de posições, o autor considera que é o processo em que os

sujeitos compartilham suas opiniões e crenças. Nesse processo, os sujeitos explicitam suas

crenças individuais e confirmam se suas próprias posições estão claras aos outros e vice-

versa.

Assim, nesses dois processos, de forma geral, um sujeito (A) internaliza, a partir de

suas próprias perspectivas, os conhecimentos/ as crenças externalizados por outro sujeito (B)

e oferece feedback (através de palavras ou ações) sobre sua compreensão desses

conhecimentos internalizados. Esse feedback possibilita que B verifique a compreensão de A.

Dessa forma, os sujeitos concordam, discordam, esclarecem e aprofundam questões

relevantes para a análise do problema, de modo que a base comum nunca é absoluta ou

37

completa, sendo um processo interativo em que as crenças e conhecimentos mútuos são

acumulados e atualizados na equipe.

Em síntese, na literatura, as crenças dos professores e os saberes docentes são

apontados como fatores que assumem um papel de destaque no processo de análise do

problema educativo.

2.2.2 Análise do desenvolvimento do artefato pedagógico

A realização de intervenções educacionais em contextos reais de aprendizagem é um

pressuposto da PBD. Essas intervenções têm como objetivo enfrentar problemas complexos

das práticas educativas, por meio da integração de materiais pedagógicos, em que se incluem

não apenas produtos, tais como materiais e ambientes de aprendizagem, mas também

processos, tais como atividades, currículos e teorias (VAN DEN AKKER, 1999). Com esse

enfoque, o desenvolvimento dos materiais pedagógicos ocorre a partir de um processo cíclico

de planejamento, implementação, análise e (re)design, em que cada ciclo é considerado uma

oportunidade de construção de conhecimento tanto para refinar o artefato desenvolvido, como

para compreender o processo de desenvolvimento e de aprendizagem (EDELSON, 2002).

Especificamente em relação às intervenções mediadas pelas TICs, o processo de

desenvolvimento vem sendo amplamente discutido na literatura, com base em diferentes

abordagens. Na PBD, diversos autores vêm buscando ressaltar o papel do contexto, seja por

meio das narrativas de design que valorizam os aspectos contextuais do processo de

desenvolvimento (GRAVEMEIJER e COBB, 2006; BARAB et al, 2005; YUXIN e

HARMON, 2009), seja por meio de modelos de desenvolvimento, que incluem não apenas a

“tradução” dos princípios teóricos, mas também os aspectos contextuais que influenciam essa

atividade (EDELSON, 2002; HANNAFIN e LAND, 1997; HANNAFIN et al, 1997;

BIELACZYC, 2006; GOODYEAR, 2005).

Considerando alguns estudos que expõem narrativas de design sobre o

desenvolvimento de artefatos pedagógicos, é possível verificar uma grande diversidade em

relação às atividades descritas nesse processo (GRAVEMEIJER e COOB, 2006; BARAB et

al, 2005; MCKENNEY e VAN DEN AKKER, 2005). Embora não seja possível traçar um

padrão entre as atividades que compõem os processos de desenvolvimento descritos nesses

trabalhos, uma característica comum dessa fase é o empenho em construir um material

concreto que seja compatível tanto com as intenções pedagógicas e teorias de aprendizagem

como com as práticas dos contextos de aprendizagem, concretizando-se no material

desenvolvido.

38

Para Sandoval (2004), esse empenho de concretização se traduz no conceito de

conjecturas incorporadas (embodied conjecture), que consiste nas projeções dos sujeitos, a

partir das práticas, sobre como a tecnologia poderia contribuir com os contextos pedagógicos.

Dessa forma, essas conjecturas se baseiam tanto nos pressupostos da teoria norteadora quanto

nas expectativas dos sujeitos sobre a integração das TICs com a prática, o que se concretiza

nas características das ferramentas, recursos, materiais e estrutura de aprendizagem. Sandoval

(2004) ressalta algumas características principais dessas conjecturas: 1) são incorporadas de

forma múltipla – cada conjectura é materializada em recursos particulares, materiais e

estruturas de atividade, de forma que incorpora as hipóteses e pressupostos sobre seu papel na

aprendizagem; 2) predizem interações com seus contextos de uso - uma vez que ao

materializar essas conjecturas, os sujeitos fazem projeções sobre como será a interação com o

contexto de ensino. Em síntese, as características dos materiais (materiais, recursos e

atividades) consistem em “conjecturas incorporadas” sobre a aprendizagem, que envolvem

tanto os pressupostos teóricos quanto as projeções sobre a interação do material com o

contexto.

Considerando o desenvolvimento de materiais como uma atividade socio-técnica que

se concretiza por meio da interação de diversos atores, Engestron (1999) propõe a teoria da

aprendizagem expansiva para analisar esse processo. De acordo com os pressupostos dessa

teoria, uma nova ideia ou conceito teórico é inicialmente produzido de forma simples e

abstrata e essa abstração inicial é enriquecida progressivamente e transformada em um

sistema concreto de múltiplas manifestações constantemente desenvolvidas. Cada ciclo de

aprendizagem expansiva, portanto, constitui o processo pelo qual uma ideia inicial simples é

transformada em um objeto complexo ou uma nova forma de prática, ao mesmo tempo em

que produz novos conceitos teóricos e práticas teoricamente apreendidas.

Sendo assim, o processo de aprendizagem expansiva deve ser compreendido como a

“construção e resolução de tensões e contradições evoluindo em um sistema complexo que

inclui o objeto ou objetos, ferramentas e as perspectivas dos participantes” (ENGESTROM,

1999, p.381). Dessa forma, essa construção compartilhada de conhecimento é compreendida

como um processo em forma de espiral do abstrato ao concreto, em que as ferramentas

mediadoras da atividade e as perspectivas dos sujeitos envolvidos são cruciais para o

desenvolvimento do objeto.

O autor chama atenção para o fato de que a construção de objetos mediada por

“ferramentas”, não acontece de maneira solitária e necessariamente harmoniosa. Em vez

disso, por ser uma atividade colaborativa e dialógica, diferentes perspectivas e vozes se

39

encontram, colidem e emergem. Isto, porque, as perspectivas dos sujeitos são enraizadas em

diferentes comunidades, campos e práticas que continuam a coexistir no contexto da atividade

coletiva. O objeto, assim, é desenvolvido pelos sujeitos a partir de formas e conteúdos

específicos ao contexto, por meio de um processo de decisão orientado pela concretização do

planejado.

Esse processo de negociação e decisão dos sujeitos é influenciado pela integração

das diferentes perspectivas envolvidas no contexto. De forma ampla, Hannafin e Land (1997)

consideram as diferentes perspectivas dos sujeitos, por meio da abordagem do design situado

(grounded design). De forma específica, Lingnau et al (2007) representa essas perspectivas a

partir das diferentes expertises dos sujeitos da equipe – professores, programadores e

pesquisadores.

Nesse sentido, assumindo como desafio construir uma visão integrada do contexto de

desenvolvimento de ambientes virtuais de aprendizagem, Hannafin e Land (1997) e Hannafin

et al. (1997) introduzem o conceito de design situado, de acordo com o qual caracterizam o

processo de desenvolvimento de AVAs, a partir da integração de cinco princípios, Hannafin e

Land (1997): psicológico, pedagógico, tecnológico, cultural e pragmático.

Figura 2.4: Princípios incorporados no design situado de AVAs (HANNAFIN e LAND, 1997; HANNAFIN

et al, 1997)

O princípio cultural se refere à influência das crenças predominantes sobre educação,

valores e os papéis dos indivíduos presentes em um determinado contexto. O princípio

psicológico envolve as crenças dos sujeitos sobre o conhecimento e como ele é aprendido

pelos indivíduos, isto é, como ele é adquirido, organizado, empregado e como os indivíduos

pensam e aprendem. O princípio pedagógico tem como foco as atividades e estratégias

pedagógicas oferecidas nos contextos de ensino, assim como os métodos e estruturas do

ambiente de aprendizagem. Dessa forma, ao mesmo tempo em que é compatível com o

40

princípio psicológico, se direciona para as estratégias a serem utilizadas para viabilizá-lo na

prática. O princípio tecnológico inclui os recursos para dar suporte e potencializar a

aprendizagem. O princípio pragmático representa as preocupações e limitações práticas

presentes no contexto, que estabelecem um limite do que realmente pode ser realizado (p.ex.

custo, recursos disponíveis, tempo etc). Nota-se que os dois primeiros princípios se

relacionam a questões não diretamente vinculadas com o desenvolvimento do material:

enquanto o princípio cultural se aproxima do problema educativo do contexto pedagógico, o

princípio psicológico se relaciona com a teoria norteadora. Dessa forma, no desenvolvimento,

as diferentes perspectivas se manifestam por meio dos princípios pedagógicos, tecnológicos e

pragmáticos.

Na literatura, muitos autores discutem a articulação das diferentes perspectivas na

equipe de desenvolvimento assim como o papel das ferramentas desenvolvidas para a

construção do objeto (CHIN et al, 1997; ERSKINE et al., 1997; ASARO, 200; HUGGES e

HAY, 2001; PENUEL et al, 2007; ROSCHELLE et al, 2009). Em geral, as perspectivas são

discutidas e representadas por meio das diversas expertises dos sujeitos de diferentes campos

que se complementam para o desenvolvimento do material pedagógico.

Haythormthwaite et al (2006) observam que as expertises dos especialistas são

profundamente enraizadas e enculturadas em um campo de conhecimento disciplinar, de

modo que os experts incorporam determinadas ideologias, atitudes, pressupostos e linguagens

que se situam nas práticas de seus campos. O autor ressalta que, muitas vezes, a cultura

disciplinar é invisível para os sujeitos, uma vez que não se dão conta de como as utiliza no

trabalho cotidiano, influenciando a forma como interagem com o mundo e com os experts de

outros campos do conhecimento.

Para Pozo (1992), as expertises dos sujeitos contribuem com funções interpretativas

dos contextos - uma vez que a partir das situações se elaboram explicações causais, baseadas

nos postulados teóricos; funções prescritivas - permitindo estabelecer projeções sobre

situações futuras; funções operacionais - incluindo rotinas operativas sobre o modo de atuar.

Nesse sentido, Fry (2006) considera que as expertises se manifestam em atividades e estilos

cognitivos da comunidade, influenciando a forma de resolução de problemas e se refletem

também em materiais produzidos, tais como produtos, técnicas, descobertas e explicações.

Procurando aprofundar as diferentes expertises que integram uma equipe de

desenvolvimento de ambientes de aprendizagem mediados pelas TICs, Lingnau et al (2007)

propõem e descrevem o processo de “design da ação complementar” (complementary action

design). Consideram que a equipe é formada por expertises diferentes e complementares de

41

professores, programadores e pesquisadores, como apresentado na figura 6, destacando-se o

papel principal dos professores no processo de desenvolvimento.

Figura 2.5: Modelo do Design da ação complementar (LINGNAU et al., 2007)

A figura 1.5 indica que cada sujeito possui expertises complementares relacionadas ao

seu campo de atuação. Segundo Lingnau et al (2007), as ideias e oportunidades de utilizar as

TICs partem dos professores e dos conhecimentos que possuem sobre suas próprias práticas.

O núcleo representa as experiências comuns a todos os participantes, de acordo com as quais

a definição conceitual do artefato é negociada por todos os participantes do processo.

As áreas marcadas por letras representam as interseções entre os conhecimentos dos

sujeitos. Dessa forma, a área A representa a compatibilidade das expertises dos pesquisadores

e programadores – como estes compõem o grupo de TE esse conhecimento se refere à

pesquisa e desenvolvimento de processos e artefatos pedagógicos. A área B representa a

interseção entre as expertises dos professores e programadores e diz respeito à participação

direta dos professores no desenvolvimento dos artefatos desenvolvidos. A área C se refere à

integração dos saberes dos professores com os pesquisadores e diz respeito ao

desenvolvimento da pesquisa e formulação de questões de pesquisa relevantes ao contexto

educativo. Contudo, os autores ressaltam que os papéis dos sujeitos assim como as áreas de

interseções são variáveis de acordo com a conformação e o contexto da equipe; por exemplo,

em alguns casos, o pesquisador é a mesma pessoa que desenvolve. Dessa forma, a expertise

complementar se incorpora como uma característica peculiar de cada equipe.

Tendo em vista que o desenvolvimento de materiais pedagógicos se baseia na

incorporação de conjecturas dos sujeitos sobre a aprendizagem (SANDOVAL, 2004), os

professores desempenham papel de destaque, uma vez que são os sujeitos que possuem

conhecimentos das experiências cotidianas, permitindo que vislumbrem as possibilidades e

42

desafios de utilização de um material pedagógico em seus contextos de sala de aula

(LINGNAU et al, 1007).

Para Carrol e Rosson (1992) um dos principais desafios do trabalho em equipe

consiste em tornar públicos os conhecimentos advindos da prática, uma vez que,

normalmente, são experiências difíceis de transformar em palavras, números ou

procedimentos. Em geral, nos estudos que abordam o desenvolvimento de materiais

pedagógicos em equipes multidisciplinares, ressalta-se a necessidade de desenvolver

ferramentas mediadoras que auxiliem a explicitação dessas experiências. Essas ferramentas

mediadoras consistem em formas de representação das atividades humanas, que buscam

salientar aspectos do contexto e oferecem meios de ilustrá-las, por meio de instrumentos,

signos, linguagens e máquinas (NARDI, 1995; ENGENSTROM, 1999; CONOLE, 2008).

Conole (2008) considera que essas ferramentas podem ser de naturezas diferenciadas de

acordo com a finalidade, podendo ser utilizados como: 1) meios para representar a prática,

tornando-a mais palpável (tais como narrativas sobre as práticas, modelos, diagramas etc); 2)

meios para apoiar o processo de desenvolvimento da prática (tais como guidelines, mapas

mentais, representações gráficas etc).

Alguns autores sugerem que as expertises dos professores, que se manifestam em seus

conhecimentos práticos sobre o cotidiano em sala de aula - incluindo as atividades, normas,

conteúdo, papel do aluno e desafios da integração das TICs no contexto de trabalho - podem

ser compartilhados, por meio do desenvolvimento de diferentes ferramentas, tais como

cenários (scenarios), em que eles escrevem narrativas detalhadas sobre o contexto, os

objetivos do uso de determinados recursos e o uso potencial, incluindo os aspectos favoráveis

e os desafiadores do contexto de aprendizagem (CARROL e ROSSON, 1992; ERSKINE et

al., 1997; CHIN et al, 1997). Outros autores sugerem a realização de worshops e reuniões

(PENUEL et al., 2009; PETERS e SLOTTA, 2007; ROSCHELLE et al, 2006; PEQUENO et

al., 2002), construção de páginas wiki para os professores compartilharem seus conhecimentos

e observação em sala de aula (PETERS e SLOTTA, 2007) e desenvolvimento de mapas

conceituais (HUGHES e HAY, 2001).

Dessa forma, a teoria da aprendizagem expansiva (ENGESTROM, 1999) contribui

para compreender o processo de desenvolvimento das conjecturas incorporadas

(SANDOVAL, 2004) no material pedagógico. Para Engestrom (1999), o processo de

transformar idéias abstratas em materiais pedagógicos é progressivo e depende das diferentes

perspectivas dos sujeitos, ferramentas mediadoras e objeto. Essas perspectivas podem ser

compreendidas a partir das diferentes expertises dos sujeitos – professores, pesquisadores e

43

programadores (LINGNAU et al., 2007) – que incorporam princípios pedagógicos,

tecnológicos e pragmáticos (HANNAFIN e LAND, 1997).

2.2.3 Análise da intervenção pedagógica

As intervenções pedagógicas em contextos naturais de aprendizagem constituem um

pressuposto básico do PBD uma vez que, a partir de sua análise, estuda-se como as

conjecturas incorporadas na fase de desenvolvimento podem ser refinadas com base no

contexto (SANDOVAL, 2004). Dessa forma, na PBD, são consideradas oportunidades de

compreender a relação entre teoria educacional, artefato desenvolvido e a prática educativa

(DBRC, 2003). Na literatura pautada na PBD, são encontrados diferentes entendimentos sobre

o conceito de intervenção. Alguns autores assumem que a intervenção consiste em produtos -

tais como materiais e ambientes de aprendizagem - e em processos - tais como atividades,

currículos e teorias (VAN DEN AKKER, 1999; PLOMP, 2005). Se considerada dessa forma,

a intervenção consiste no artefato desenvolvido para enfrentar os problemas educativos.

Para DBRC (2003), no entanto, o conceito de intervenção deve ser considerado de

forma mais abrangente, estando relacionado com o objetivo de compreender como esta ocorre

em um contexto particular. Sendo assim, contexto e artefato se tornam indissociáveis, na

medida em que não é possível compreender apenas o artefato pedagógico sem levar em conta

o contexto em que se insere. Nesse sentido, os autores consideram ser necessário

compreender profundamente a relação que estabelecem, partindo de uma abordagem holística

do conceito de intervenção, em que é considerada não apenas como o artefato desenvolvido,

mas como “a interação entre materiais, professores e alunos” (DBRC, 2003, p.5). Dessa

forma, assume-se que a intervenção constitui a decorrência do contexto em que ocorre.

Na presente pesquisa, assumimos o conceito holístico de intervenção (DBRC, 2003),

considerando que esta ocorre de fato no momento da implementação de uma inovação, em

que as questões práticas e teóricas planejadas são colocadas em ação no contexto educativo

(EDELSON, 2002). Embora, a intervenção culmine no momento da implementação, ela tem

início e é planejada desde o início da pesquisa, ainda na análise do problema educativo. Com

esse enfoque, as intervenções são realizadas a partir de um processo cíclico de planejamento,

de implementação, de análise e de (re)design, em que cada ciclo é considerado uma

oportunidade de construção de conhecimento tanto para refinar a experiência desenvolvida

como para compreender o processo de aprendizagem (EDELSON, 2002).

44

Os ciclos são avaliados formativamente, junto aos sujeitos envolvidos nos contextos

de ensino-aprendizagem, podendo combinar uma variedade de métodos de coleta de dados

(tais como surveys, estudo de caso, entrevista, observação etc) (VAN DEN AKKER, 1999).

Na PBD, para incorporar a complexidade do contexto, é frequente a triangulação de dados a

partir de abordagens qualitativas e quantitativas, constituindo o que Wang e Hannafin (2005)

consideram a natureza integrativa da pesquisa. Os métodos de coleta e análise de dados não

necessariamente são planejados previamente, podendo também variar ao longo da pesquisa,

de acordo com as necessidades emergentes do próprio contexto (DISESSA e COBB, 2004;

WANG e HANNAFIN, 2005).

A análise dos dados coletados ao longo do processo tem como foco alcançar os dois

principais objetivos da pesquisa: a) oferecer idéias (sugestões e direções) para otimizar a

qualidade da intervenção – refinamento progressivo – e b) gerar, articular e testar princípios

de design (design principles) (VAN DEN AKKER, 1999; COLLINS et al, 2004). O

compromisso com a construção de conhecimento no que concerne ao processo de

desenvolvimento de intervenções é uma das características que diferenciam a PBD de outras

metodologias (VAN DEN AKKER, 1999; WANG e HANNAFIN, 2005).

A respeito disso, Bannan-Ritland (2003) considera que os conhecimentos construídos

ao longo da PBD têm como foco tanto possibilitar o “impacto local” (local impact), uma vez

que permitem avaliar e refinar a intervenção desenvolvida, quanto o “impacto amplo”

(broader impact), na medida em que oferecem conhecimentos sobre o processo de

aprendizagem que contribuem com pesquisas em contextos semelhantes. Assim, Plomp

(2007) sintetiza que a PBD busca como resultados: o desenvolvimento da intervenção em um

determinado contexto, a construção de conhecimento sobre seu refinamento e a construção de

princípios de design (VAN DEN AKKER, 1999; EDELSON, 2002; REEVES, 2006).

Segundo Van den Akker (1999), os princípios de design são conhecimentos construídos a

partir da intervenção e consistem em generalizações que indicam possíveis estratégias para

intervenções em outros contextos, assumindo a forma de afirmações heurísticas.

Edelson (2002) auxilia no entendimento sobre os princípios de design, aos quais se

refere como “teorias de design”. Para o autor, o desenvolvimento de intervenções é composto

por inúmeras decisões da equipe que, em geral, permanecem implícitas ao processo. Essas

decisões, quando reveladas na pesquisa, oferecem oportunidades de aprendizagem sobre o

processo de desenvolvimento, auxiliando os pesquisadores a tomarem decisões em contextos

semelhantes. Um dos desafios da pesquisa consiste, então, em tornar explícitas as decisões

45

tomadas ao longo do processo, transformando-as em princípios e orientações para enfrentar

problemas educativos (PLOMP, 2007; EDELSON, 2002). Nesse sentido, o autor aponta três

principais “teorias” que podem ser desenvolvidas a partir do processo de pesquisa e

desenvolvimento de intervenções educacionais, especialmente, aquelas voltadas para a

construção de ambientes de aprendizagem enriquecidos por tecnologias: teorias do campo

(domain theories), abordagem de design (design framework) e metodologia de design (design

methodologies).

Para o autor, a teoria do campo é a generalização da análise do problema, podendo

abordar aspectos relacionados aos alunos e como aprendem, aos professores e como ensinam

e aos ambientes de aprendizagem e como influenciam o ensino e a aprendizagem. Essa teoria

é de natureza descritiva e não se restringe ao design, relacionando-se com os contextos

educativos em que as intervenções ocorrem. A estrutura de design oferece conhecimentos

prescritivos sobre as características que a intervenção deve assumir para alcançar objetivos

específicos em determinados contextos. Van den Akker (1999) considera que esses

conhecimentos constituem os princípios substantivos de design. Dessa forma, na PBD,

compreende-se que o desenvolvimento de ambientes de aprendizagem incorpora conjecturas

sobre ensino e aprendizagem que são avaliadas empiricamente no contexto de uso,

acarretando o refinamento dessas conjecturas (SANDOVAL, 2004).

A metodologia de design é a generalização dos procedimentos de design e, assim como

a estrutura de design oferece conhecimentos prescritivos sobre o desenvolvimento de

intervenções (EDELSON, 2002). Contudo, uma diferença é que esse conhecimento é voltado

para orientações sobre o processo de design e não sobre o produto desenvolvido, abordando

aspectos relacionados ao processo para alcançar uma determinada intervenção, à expertise

necessária para o desenvolvimento e aos papéis a serem desempenhados pelos indivíduos para

o desenvolvimento do processo de pesquisa e desenvolvimento. Para Van den Akker, esses

conhecimentos constituem princípios procedimentais de design.

Sendo assim, a reflexão sistemática e a análise dos dados coletados durante o processo

cíclico de pesquisa permitem compreender e construir orientações de “como e porque” uma

intervenção ocorre em determinado contexto (DBRC, 2003; PLOMP, 2007). Nesse sentido, o

conhecimento substantivo é aquele sobre as características essenciais de uma intervenção e os

conhecimentos procedimentais são aqueles que se referem ao conjunto de atividades de

design que são consideradas relevantes na realização de uma intervenção (PLOMP, 2007).

Com base em uma revisão de artigos de ensino de ciências que se apóiam na PBD para

o desenvolvimento de intervenções com o uso das TICs (RAMOS et al, 2009) verificamos

46

que, em relação aos achados de pesquisa, os estudos analisados contribuem com

conhecimentos relacionados ao refinamento da intervenção (impacto local) – no que diz

respeito: a) à solução do problema educativo, identificando aspectos positivos e negativos do

contexto que influenciam a aprendizagem e, b) ao processo de pesquisa, apontando aspectos

positivos e negativos que influenciam as decisões da equipe. Além disso, contribuíram com

conhecimentos sobre o processo de aprendizagem (impacto amplo) – no que se refere aos

conhecimentos: a) sobre o potencial dos ambientes de aprendizagem mediados pelas TICs

para o ensino de ciências, explorando características tecnológicas e pedagógicas dos materiais

e b) sobre as teorias de aprendizagem, em que oferecem contribuições às teorias existentes.

A construção desses conhecimentos é um dos compromissos da PBD, contudo, alguns

estudos apontam que em pesquisas baseadas na parceria com o professor para a realização de

intervenções pedagógicas com o uso das TICs, muitas vezes, o primeiro ciclo de

implementação não é suficiente para avaliação da aprendizagem, sendo necessário o

desenvolvimento de novos ciclos (PETERS et al., 2009; TAASOOBSHIRAZI et al., 2006).

Em relação a isso, Hoadley (2004) considera que é necessário tempo para se avaliar uma

intervenção, já que, devido à complexidade do contexto educativo, existe um processo de

adaptação entre os indivíduos, suas práticas e as novas ferramentas. A cada ciclo, novos

conhecimentos são produzidos sobre o processo, possibilitando o aprimoramento contínuo da

intervenção.

Peters et al (2009), por exemplo, se apoiaram na PBD para planejar, junto com

professores de ciências do ensino médio, a utilização de um ambiente baseado em wiki para

oferecer atividades de investigação para aprendizagem de conteúdos científicos. Realizaram

dois ciclos de intervenção, contudo, no primeiro, não foi possível avaliar o processo de

ensino-aprendizagem dos alunos, uma vez que enfrentaram como desafio o fato de a atividade

pedagógica ter sido muito curta e não ter estimulado os alunos a acessarem o ambiente. Como

recomendações para intervenções seguintes, os autores apontam a necessidade de relacionar

mais diretamente a utilização do ambiente com a solução do caso apresentado. Diversos

estudos também apontam desafios e necessidades de aprimoramento no processo de pesquisa,

dentre os quais, destacamos: familiarização do professor com a proposta da intervenção, tanto

que diz respeito aos aspectos tecnológicos (LIM et al, 2006; BARNETT et al, 2002) quanto

aos aspectos pedagógicos (TAASOOBSHIRAZI et al., 2006), adequação das estratégias

pedagógicas para alcançar os objetivos de aprendizagem (BARAB et al, 2007) e apoio

institucional (LIM et al, 2006).

47

Esse processo de refinamento progressivo é documentado e discutido de forma

aprofundada no estudo de Hoadley (2004). Nesse estudo, o autor analisa uma intervenção

pautada na aprendizagem baseada em investigação em que, para ensinar os conceitos de

equilíbrio térmico, calor e energia luminosa, os professores solicitaram que os alunos

construíssem um projeto de uma casa no deserto, com o apoio de dois programas de

computador. Em seu trabalho, o autor analisa quatro ciclos da intervenção, onde em cada

ciclo, aponta os desafios e propostas de aprimoramento para o seguinte. Nesse processo,

considera que a identificação dos desafios auxilia tanto o aprimoramento da intervenção

quanto o desenvolvimento de pesquisas em contextos semelhantes.

No contexto do presente estudo, analisamos o primeiro ciclo com o uso do Ambiente

Vivências. Nesse primeiro momento, diferentes fatores influenciaram o processo de

intervenção e desafiaram o professor na tarefa de construir uma experiência pedagógica

compatível com os princípios da aprendizagem corporificada que orientaram o

desenvolvimento do ambiente (EMIG, 2001; KERKA, 2002). Mesmo a teoria norteadora não

tendo sido incorporada à intervenção, essa primeira experiência foi fundamental para o

processo de desenvolvimento, uma vez que representou um momento de apropriação da

tecnologia e de reflexão sobre possibilidades de aprimoramento da intervenção. Assim,

compreendemos esse momento, como uma fase importante da pesquisa devendo, portanto, ser

analisada.

2.3 CONSIDERAÇÕES

Nesse capítulo, apresentamos uma revisão teórica da PBD, apontando as principais

características discutidas na literatura, assim como as suas especificidades em relação a outras

abordagens. Tendo abordado o tema de forma ampla, aprofundamos a discussão sobre o

processo de pesquisa apoiado pela PBD, foco deste estudo, caracterizando cada fase apontada

por Reeves (2000). Esse referencial oferece subsídios para compreender o processo de

desenvolvimento do Vivências, bem como dos principais fatores envolvidos na realização de

cada fase, orientando nossa análise. Com o objetivo de aprofundar a compreensão sobre as

contribuições da PBD para a pesquisa educacional, no capítulo 2, abordaremos uma análise de

como essa metodologia vem sendo utilizada na produção acadêmica do campo do ensino de

ciências e da saúde.

48

3. A PESQUISA BASEADA EM DESIGN NA PRODUÇÃO ACADÊMICA DO

CAMPO DO ENSINO DE CIÊNCIAS E OS PROBLEMAS EDUCATIV OS DO

ENSINO DA SAÚDE

Neste capítulo, discutimos como a Pesquisa baseada em Design vem sendo utilizada

como abordagem metodológica em pesquisas sobre o desenvolvimento de intervenções com o

uso das TICs para o ensino de ciências. Utilizamos a área de ensino de ciências como foco de

discussão, já que não encontramos trabalhos voltados especificamente para o ensino da saúde

que adotassem a PBD. Na revisão de artigos da área de ensino de ciências, analisamos como

as fases apontadas por Reeves (2000) se concretizam nos trabalhos que se apóiam na PBD

para pesquisa e desenvolvimento de ambientes mediados pelas TICs, buscando compreender

(1) os problemas educativos abordados; (2) as teorias de aprendizagem eleitas para nortear o

desenvolvimento das intervenções pedagógicas; (3) as características das intervenções e (4) os

conhecimentos construídos a partir das pesquisas (RAMOS et al., no prelo)6.

Visando aprofundar, também, os problemas educativos da área da saúde, apresentamos

uma discussão sobre a questão da humanização da saúde, que é central no desenvolvimento

do Vivências e apresentaremos as teorias construtivistas da aprendizagem situada e da

aprendizagem corporificada como aportes relevantes para lidar com esses desafios.

3.1 A PBD EM ARTIGOS SOBRE O USO DE AMBIENTES DE APRENDIZAGEM

MEDIADOS PELAS TICS NO ENSINO DE CIÊNCIAS

Ao realizarmos um levantamento na produção brasileira, na base Scielo e nas revistas

científicas indicadas no site da Associação Brasileira de Pesquisa em Ensino de Ciências

(ABRAPEC), não encontramos nenhum artigo do campo de ensino de ciências que assumisse,

no desenvolvimento de sua investigação, a pesquisa baseada em design como metodologia de

pesquisa. Dessa forma, este capítulo concentra-se na análise da produção internacional e tem

como objetivo também apoiar a difusão desta abordagem na comunidade nacional.

Os artigos analisados foram selecionados a partir de um levantamento na literatura

internacional sobre pesquisa em ensino de ciências, com foco nas ciências naturais (Ciências,

Biologia, Química, Física), disponível no Portal de Periódicos da Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

6 A análise detalhada desta revisão pode ser encontrada no artigo A Pesquisa Baseada em Design em Artigos Científicos sobre o Uso de Ambientes de Aprendizagem Mediados pelas TICs no Ensino de Ciências aceito para publicação na Revista Alexandria.

49

Foram pesquisadas as bases dos editores Springer, Wilson e Science Direct, utilizando

as seguintes palavras-chave: a) “science education” ou “science teaching”: embora o enfoque

estivesse voltado para as ciências naturais, este recorte foi feito durante a triagem; b) “design-

based research” ou “design experiment” ou “developmental research”: estes são os termos

mais utilizados no âmbito da metodologia em questão e c) “virtual” ou “online”: estes termos

foram utilizados para contemplar a maior gama de trabalhos voltados para o desenvolvimento

e/ou uso de ambientes de aprendizagem mediados pelas TICs.

Com base nessa busca e na leitura do material coletado, foram selecionados 14 artigos

que utilizavam explicitamente os conceitos “design-based research” (n=12) ou “design

experiment” (n=2) para pesquisa e desenvolvimento de intervenções com o uso das TICs,

para o ensino de ciências naturais, como apresenta o quadro 3.1. Como é possível verificar no

quadro 3.1, os artigos são recentes, concentrando-se principalmente no período entre 2002 e

2009, havendo apenas um trabalho publicado em ano anterior a 2006 (A2) (2002), o que

indica que a PBD é uma metodologia relativamente nova no campo de ensino de ciências.

Além disso, evidencia-se uma concentração em relação aos periódicos, uma vez que a metade

dos artigos foi publicada no Journal of Science Education and Technology.

Como os trabalhos selecionados se concentraram, principalmente, na fase 3

(intervenção), não detalharam suficientemente o processo de desenvolvimento do artefato

pedagógico, impossibilitando a análise da fase 2 (desenvolvimento). Sendo assim,

organizamos nossa análise, contemplando os seguintes elementos da PBD: problema

educativo, teorias norteadoras, intervenções e conhecimentos construídos. Vale ressaltar que,

embora esses elementos se encontrem indissociáveis no processo de pesquisa, na análise, os

abordamos separadamente, como uma forma sistemática de compreender como a metodologia

vem sendo adotada nesses estudos.

50

Referências Cód. BARAB, S.A.; SADLER, T.D.; HEISELT, C.; HICKEY, D.; ZUIKER, S. Relating narrative, inquiry, and inscriptions: supporting consequential play. Journal of Science Education and Technology, v. 16, n. 1, p. 59-81, 2007.

A1

BARNETT, M.; KEATING, T.; HARWOOD, W.; SAAM, J. Using emerging technologies to help bridge the gap between university theory and classroom practice: challenges and successes. School Science and Mathematics, v. 102, n. 6, p. 299-312, 2002.

A2

BODZIN, A.M. Integrating instructional technologies in a local watershed investigation with urban elementary learners. The Journal of Environmental Education, v. 39, n. 2, p.47-57, 2008.

A3

COTNER, S.H.; FALL, B.A,; WICK, S.M.; WALKER, J.D; BAEPLER, P.M. Rapid Feedback assessment methods: can we improve engagement and preparation for exams in large-enrollment courses? Journal of Science Education and Technology, v. 17, p. 437-43, 2008.

A4

DUNLEAVY, M.; DEDE, C; MITCHELL, R. Affordances and limitations of immersive participatory augmented reality simulations for teaching and learning. Journal of Science Education and Technology, v. 18, n. 1, p.7-22, 2008.

A5

ENYEDY, N.; HOADLEY, C.M. From dialogue to monologue and back: middle spaces in computer-mediated learning. Computer-supported collaborative learning, v. 1, p. 413-39, 2006.

A6

HOULE, M., E.; BARNETT, M.G. Studentes conceptions of sound waves resulting from enactment of a new technology-enhanced inquiry-based curriculum onn urban bird communication. Journal of Science Education and Technology, v. 17, p. 242-51, 2008.

A7

KONG, S.C.; YEUNG, Y.Y.; WU, X.Q. An experience of teaching for learning by observation: remote-controlled experiments on electrical circuits. Computers & Education, v. 52, p. 702-17, 2009.

A8

KLOPFER, E.; SQUIRE, K. Environmental detectives-the development of na augmented reality plataform for environmental simulations. Educational Technology Research and Development, v. 56, p. 203-28, 2008.

A9

LIM, C.P.; NONIS, D.; HEDBERG, J. Gaming in a 3D multiuser virtual environment: engaging students in science lessons. British Journal of Educacion Technology, v. 37, n. 2, p. 211-31, 2006.

A10

SQUIRE, K.D.; JAN, M. Mad City Mystery: developing scientific argumentation skills with a place-based augmented reality game on handheld computers. Journal of Science Education and Technology, v. 16, n. 1, p. 5-29, 2007.

A11

TAASOOBSHIRAZI, G.; ZUITER, S.J.; ANDERSON, K.T.; HICKEY, D.T. Enhancing Inquiry, understanding and achievement in a astronomy multimedia learning environment. Journal of Science Education and Technology, v. 15, n. 5, p. 383-95, 2006.

A12

WANG, S.K; REEVES, T.C. The effects of a web-based learning environment on the student motivation in a high school earth science course. Education Technology Research and Development, v. 55, p. 169-92, 2007.

A13

YARNALL, L.; SHECHTMAN, N.; PENUEL, W. Using handheld computers to support improved classroom assessment in science: results from a field trial. Journal of Science Education and Technology, v. 15, n. 2, p.142-158, 2006.

A14

Quadro 3.1: Artigos selecionados para análise 3.1.1 Problemas educativos

Cinco categorias de problemas educativos são identificadas nos trabalhos examinados,

trazendo diferentes focos de problematização, como exposto no quadro 3.2.

Nos artigos analisados, o problema da “descontextualização dos conteúdos científicos”

é abordado a partir da dificuldade de os alunos se apropriarem dos conhecimentos científicos

trabalhados na escola. Essa questão é problematizada com base: na falta de contextualização

do conteúdo no cotidiano dos alunos (A3, A7, A9), na falta de contextualização social dos

conteúdos escolares (A1, A11) e na dificuldade de representar os conceitos científicos

abstratos (A8).

51

Problema Foco Artigos

Descontextualização dos conteúdos científicos (n=6)

Falta de contextualização dos conteúdos escolares ao cotidiano dos alunos

A3, A7, A9

Falta de contextualização social dos conteúdos escolares A1, A11

Dificuldade de compreensão dos conceitos científicos abstratos A8

Desmotivação para a aprendizagem de ciências (n=4)

Descompasso entre o avanço das TICs na sociedade e o modelo de ensino adotado na escola

A5, A10, A13

Dificuldade de acompanhamento e de avaliação da aprendizagem em turmas com grande quantidade de alunos

A4

Discrepâncias entre estratégias de ensino e métodos de avaliação (n=2)

Carência de instrumentos ou de estratégias avaliativas compatíveis com atividades voltadas à aprendizagem por investigação

A12, A14

Precariedade da formação de professores (n=1)

Falta de espaço para reflexão e discussão sobre metodologias inovadoras que enfoquem o ensino de ciências

A2

Fragmentação entre os processos de reflexão e de interação na aprendizagem (n=1)

Carência de ambientes de aprendizagem mediados pelas TICs que conciliem estratégias para promover a reflexão e a interação

A6

Quadro 3.2: Caracterização dos artigos de acordo com os problemas educativos abordados Os três trabalhos que problematizam a “falta de contextualização dos conteúdos

escolares ao cotidiano dos alunos”, propõem a exploração dos recursos naturais disponíveis

no entorno da escola com o objetivo de apoiar os alunos na compreensão das inter-relações

existentes entre os conceitos científicos e o ambiente em que vivem. No estudo de Houle e

Barnett (2006) (A7), por exemplo, o problema da descontextualização tem como argumento o

fato de que grande parte das experiências de aprendizagem se desenvolve na sala de aula, sem

valorizar os ambientes externos (outdoor environments) para a promoção das investigações

científicas. O trabalho aponta a necessidade de engajar os alunos em atividades práticas,

relacionadas especificamente à ecologia urbana, de modo a estudarem “problemas localmente

relevantes” (HOULE e BARNETT, 2006, p.242).

Já os estudos que analisam a “falta de contextualização social dos conteúdos

escolares”, fundamentam-se na perspectiva do Movimento Ciência Tecnologia e Sociedade

(CTS) para discutir o processo de alfabetização científico-tecnológica dos alunos,

possibilitando a compreensão das questões sociais de forma crítica. O trabalho de Barab et al.

(2007) (A1), por exemplo, aponta que problemas tais como o aumento de mortalidade de

peixes em um parque ambiental, poderiam ser trabalhados na escola por meio da articulação

de habilidades e de conhecimentos não apenas científicos, mas também políticos, sociais e

econômicos, com a finalidade de os alunos desenvolverem uma concepção crítica e integrada

sobre o mundo.

52

Ao analisar a “dificuldade de compreensão dos conceitos científicos abstratos”, como

é o caso da aprendizagem de “circuitos elétricos”, o estudo de Kong et al. (2009) (A8) discute

o fato de o ensino desse tema exigir a transmissão de conhecimentos procedimentais e

conceituais, que são difíceis de serem compreendidos por crianças do ensino fundamental,

pois ainda estão desenvolvendo habilidades de abstração. Aponta, assim, o desafio de ensinar

promovendo sua contextualização por meio de estratégias que permitam a visualização desses

conceitos.

Outro problema identificado nos artigos é a “desmotivação para a aprendizagem de

ciências”. Este tema é abordado com base na crítica a modelos baseados na transmissão do

conhecimento, que colocam os alunos como agentes passivos do processo de aprendizagem.

Alguns trabalhos problematizam o descompasso entre o avanço das TICs na sociedade e o

modelo de ensino adotado na escola (A5, A10, A13), enquanto um deles (A4) enfatiza a

dificuldade de comunicação com o professor e de autoavaliação da aprendizagem em turmas

numerosas.

O “descompasso entre o avanço das TICs na sociedade e o modelo de ensino adotado

na escola” baseia-se no fato de que a escola continua adotando as mesmas estratégias

tradicionais e pouco motivadoras para os alunos, quando a evolução das TICs já vem

oferecendo recursos pedagógicos que podem contribuir para despertar o interesse e engajar os

estudantes na aprendizagem de conceitos científicos. Esses artigos ressaltam que como as

TICs fazem parte da vida dos alunos, permeando suas atividades cotidianas (lazer,

comunicação etc), o fato de as escolas não incorporarem estas ferramentas pode fragilizar a

criação de vinculo e de identidade dos alunos com as atividades escolares, desmotivando-os

para o estudo e a aprendizagem.

Wang e Reeves (2007) (A13), por exemplo, apontam que as escolas reservam pouco

espaço para atividades que despertem a motivação intrínseca dos alunos, em especial, no que

diz respeito à aprendizagem de conceitos científicos sobre fossilização. O trabalho discute o

desafio de se explorar o potencial pedagógico das TICs na criação de possibilidades de

interações para apoiar os alunos na aprendizagem de ciências.

A “dificuldade de acompanhamento e de avaliação da aprendizagem em turmas com

grande quantidade de alunos” é investigada a partir da constatação de que, nesses contextos,

devido à dificuldade de comunicação com os professores e à falta de feedback sobre a

aprendizagem, os alunos se sentem desestimulados (COTNER et al., 2008) (A4). O trabalho

aponta o desafio de o professor adotar estratégias para garantir acompanhamento mais

próximo do processo de aprendizagem dos alunos. Esse descompasso aponta para uma

53

situação cada vez mais frequente no cenário nacional e internacional, tendo em vista o

crescimento do ensino superior. Assim, o aumento do número de alunos em sala, aliado a

fatores de natureza pedagógica, apontam para a necessidade de uma reconfiguração das

práticas de acompanhamento e avaliação da aprendizagem.

Os dois artigos que abordam a problemática da “discrepância entre estratégias de

ensino e métodos de avaliação” (A12, A14) discutem dilemas relacionados à avaliação em

experiências inovadoras de ensino-aprendizagem. Pelo fato de compreenderem que a

avaliação é parte do processo ensino-aprendizagem, argumentam que novas práticas

educativas exigem novas formas de avaliar. Taasoobshirazi et al. (2006) (A12), por exemplo,

identificam a dificuldade de desenvolver estratégias para avaliar os alunos no que diz respeito

não só à aquisição de conceitos científicos relacionados à astronomia, mas, também, ao

desenvolvimento de habilidades de investigação e de argumentação científica. Com isso, o

trabalho aponta o desafio de se refinar estratégias de avaliação compatíveis com as atividades

de investigação.

O problema da “precariedade da formação de professores” é abordado no estudo de

Barnett et al. (2002) (A2), que problematiza a falta de oportunidade de esses profissionais

confrontarem suas crenças sobre o ensino de ciências em seus processos de formação inicial,

cristalizando, assim, concepções e atitudes centradas no conteúdo. O trabalho discute o

desafio de se investir na formação reflexiva sobre a prática pedagógica e aponta a necessidade

de se criar espaços de interação e de reflexão acerca das crenças pedagógicas e das

experiências de ensino.

Partindo do princípio de que a aprendizagem ocorre por meio da relação entre o

pensamento e a linguagem, ou seja, entre internalização e externalização, Enyedy e Hoadley

(2006) (A6) assumem “a fragmentação entre os processos de reflexão e interação na

aprendizagem” como problema de estudo, apontando a falta de ambientes de aprendizagem

mediados pelas TICs que integrem esses dois processos. O trabalho argumenta que a

internalização é potencializada em ambientes que facilitem a organização da informação,

auxiliando o aluno em seu processo cognitivo; já o processo de externalização é oportunizado

em ambientes que possibilitem a interação entre os sujeitos. Como esses dois processos são

indissociáveis, Enyedy e Hoadley (2006) destacam a carência de ambientes que integrem

essas funções para o ensino de ciências.

54

3.1.2 Teorias e princípios norteadores da intervenção

Os trabalhos analisados assumem o construtivismo como teoria norteadora das

intervenções. Com base nessa matriz epistemológica, os pesquisadores adotam diferentes

princípios norteadores, utilizados com diversos enfoques e referências teóricas, como

apresentado no quadro 3.3.

Princípios norteadores

Enfoque Principais referências teóricas adotadas*

Artigos

Aprendizagem baseada em investigação (n=7)

Investigação científica autêntica

Haury (1993); Tinker e Krajcik (2001); Chinn e Malhotra (2002); Lee e Sobger (2003); McGee et al. (2003)

A9, A10, A11, A12, A14

Investigação sociocientífica

Yager (1996); Linn et al. (1999); Patronis et al. (1999); Pedretti, (1999); Kolsto (2000); Zohar e Nemet (2002)

A1

Investigação guiada

White e Gunstone (1992); Martin-Hansen (2002); Kearney (2003)

A8

Aprendizagem situada (n=3)

Aprendizagem em contextos naturais

Brown et al. (1989); Cognition and Technology Group at Valderbilt (1993); Cobb e Bowers (1999)

A3, A5, A7

Aprendizagem baseada em aspectos sociocognitivos (n=3)

Metacognição Chickering e Gamson (1987) A4

Motivação intrínseca

Malone e Lepper (1987) A13

Discurso progressivo

Cole (1996) e Wertsch (1985) A6

Aprendizagem colaborativa (n=1)

Comunidade de aprendizagem

Blumenfeld et al. (1996) A2

Quadro 3.3: Caracterização dos artigos de acordo com os princípios norteadores adotados *Esses referenciais não foram aprofundados, servindo como contextualização dos princípios adotados nos trabalhos analisados.

Os artigos que apresentam os princípios norteadores da “aprendizagem baseada em

investigação” adotam essa abordagem como um dos possíveis caminhos para colocar os

alunos em um papel ativo diante do conhecimento científico e do processo de aprendizagem.

Diferentes enfoques são aí identificados: investigação autêntica (A9, A10, A11, A12, A14),

investigação sociocientífica (A1) e investigação guiada (A8).

O enfoque da “investigação autêntica” assume que a aprendizagem deve apoiar os

alunos na atividade de “fazer ciência” e pensar cientificamente de acordo com as etapas da

pesquisa, oferecendo desafios e atividades que motivem os alunos a colocarem “a mão na

massa” (hands on), a fazerem perguntas, a construírem soluções e a testarem resultados,

aprendendo, com isso, não apenas o conteúdo, mas também a estrutura do pensamento

científico. O artigo de Squire e Jan (2007) (A11), por exemplo, se baseia no “modelo de

investigação autêntica” para argumentar que os alunos, para aprenderem o conteúdo sobre

qualidade da água, deveriam: (1) gerar uma questão de pesquisa, (2) desenhar um estudo para

investigar essa questão, (3) fazer observações para responder essa questão, (4) desenvolver

55

métodos, ferramentas e argumentação para explicar os resultados, (5) desenvolver teorias e

evidências e (6) pesquisar outros trabalhos.

Para discutir a “investigação socio-científica”, Barab et al. (2007) (A1) apontam a

necessidade de promover o “fazer ciência” de forma ativa, contudo enfatizam que o papel

central do ensino de ciências deve ser o desenvolvimento da alfabetização científica e

tecnológica dos alunos por meio da resolução de questões socialmente relevantes. O estudo se

baseia no “modelo de investigação socio-científica” desenvolvido por eles, segundo o qual a

aprendizagem científica busca integrar três aspectos básicos: engajamento em uma narrativa

(contexto), construção/desconstrução de fontes (fontes de informação) e realização de

investigação científica (prática).

O estudo de Kong et al. (2009) (A8) assume a “investigação guiada” como enfoque, na

qual o professor ocupa um lugar chave na condução do processo investigativo, devendo

propor questões, prover materiais e oferecer sugestões aos alunos sobre o que observar. Os

autores consideram que, em razão da faixa etária dos alunos de ensino fundamental, o papel

do professor como orientador das atividades experimentais é ainda mais importante para

proporcionar a aprendizagem efetiva dos conceitos científicos.

O princípio norteador da “aprendizagem situada” é adotado em pesquisas que

valorizam a aprendizagem em contextos reais, por meio do trabalho de campo dos alunos (A3,

A5, A7), assumindo que o contexto é um elemento indissociável do processo de

aprendizagem, devendo ser articulado às práticas pedagógicas. O trabalho de Bodzin (2008),

por exemplo, busca situar o conteúdo de qualidade da água, explorando a bacia hidrográfica

localizada no entorno da escola. Segundo os autores, o trabalho de campo favorece não

apenas a aprendizagem dos conceitos como a consciência ambiental dos alunos.

A “aprendizagem baseada em aspectos socio-cognitivos” como princípio norteador

pressupõe que a aprendizagem, para ocorrer de forma efetiva, deve propiciar a interação, a

atividade e o engajamento dos alunos. Nesses artigos, verifica-se a existência de diferentes

enfoques, nos quais se assume, como objetivo da aprendizagem, desenvolver a

“metacognição” (A4), a “motivação intrínseca” (A13) e o “discurso progressivo” dos alunos

(A6).

Cotner et al. (2008) (A4) baseiam-se em estratégias para promover a metacognição e

consideram que os alunos precisam adquirir consciência do seu processo de aprendizagem por

meio da realização de atividades e da comunicação e feedback do professor. Nesse sentido, o

trabalho defende que o papel do processo de ensino-aprendizagem é desenvolver a

56

“compreensão metacognitiva” do aluno, permitindo que este se autoavalie, acompanhando o

que já sabe e o que precisa aprender.

Wang e Reeves (2006) (A13) abordam o desenvolvimento da “motivação intrínseca”,

argumentando que a aprendizagem deve apoiar o engajamento ativo dos alunos a partir do

oferecimento de estratégias que desafiem e despertem a sua curiosidade. Para tal,

fundamentam-se nas estratégias de “motivação intrínseca” para argumentar sobre a

importância de a aprendizagem científica promover: desafio (nível de dificuldade da

atividade), curiosidade (incerteza nos resultados), controle (possibilidade de escolha) e

fantasia (contextualização).

O desenvolvimento do “discurso progressivo” é tratado por Enyedy e Hoadley (2006)

(A6) como forma de potencializar a aprendizagem de ciências por meio de um movimento

iterativo de reflexão e de interação para a construção progressiva do conhecimento científico.

O trabalho se baseia na perspectiva sociocultural e defende que, para aprender, os alunos

deveriam participar de um processo dialético entre a interação com outros ou externalização

(diálogo) e a reflexão ou internalização dos conceitos (monólogo).

O artigo de Barnett et al. (2002) (A2) fundamenta-se nos princípios da “aprendizagem

colaborativa” para aprofundar a discussão do papel da interação e da colaboração dos

indivíduos na construção de uma comunidade de prática baseada na compreensão

compartilhada acerca dos conteúdos científicos, tendo por base a articulação das crenças dos

professores. O trabalho propõe a criação de uma comunidade de aprendizagem, pautado no

fato de que a formação dos professores deveria incorporar estratégias que favorecessem o

compartilhamento e a reflexão sobre métodos inovadores no ensino de ciências, de modo a

potencializar o desenvolvimento de práticas baseadas em investigação.

3.1.3 Intervenções

Como apresentado no quadro 3.4, é possível caracterizar as intervenções

desenvolvidas com base nos seguintes aspectos: objetivo do uso das TICs, recurso

tecnológico utilizado, contexto / nível de ensino e conteúdo trabalhado.

57

Quadro 3.4: Caracterização dos artigos de acordo com os objetivos do uso das TICs na intervenção

Os artigos que utilizam as TICs com objetivo de “apoiar a aprendizagem científica

contextualizada”, baseiam-se nas potencialidades das tecnologias para criar ambientes

narrativos capazes de contribuir à compreensão contextualizada dos conceitos científicos.

Nesses trabalhos, os ambientes de aprendizagem utilizados são principalmente Ambientes

Virtuais Multi-usuário (Multi-User Virtual Environment - MUVE) (A1, A10), Jogos de

Realidade Aumentada (A5, A9, A11) e softwares para exploração do ambiente (A7, A3).

Os MUVEs são mundos virtuais em que o aluno é representado graficamente por um

personagem (avatar) no próprio contexto do sistema e interage com outros participantes e

Objetivo do uso das TICs

Recurso tecnológico

Contexto / Nível de ensino

Conteúdo trabalhado Artigos

Apoiar a aprendizagem científica contextualizada (n=7)

Ambiente Virtual Multi-usuário (Multi-user virtual environment)

Sala de aula / Ensino Fundamental e Médio

Qualidade da água A1

Sala de aula / Ensino Fundamental e Mé dio

Qualidade da água A10

Jogo de Realidade Aumentada

Atividade de campo / Ensino Fundamental e Médio

Qualidade da água A11

Atividade de campo/ Ensino Fundamental e Médio

Energia A5

Sala de aula / Ensino Superior, Ensino Fundamental e Formação de Professores

Ciência Ambiental A9

Software para exploração do ambiente (captura de som e localização espacial)

Atividade de campo / Ensino Fundamental

Ondas sonoras A7

Atividade de campo / Ensino Fundamental

Ecossistemas de lagoas A3

Apoiar a formação dos professores e o desenvolvimento de atividades educativas inovadoras (n=4)

Software para apoiar o professor no desenvolvimento de atividades pedagógicas

Professores de Ensino Fundamental e Médio

Desenvolvimento de materiais de avaliação

A14

Sala de aula / Ensino Superior

Desenvolvimento de materiais de avaliação

A4

Sala de aula/ Ensino Superior

Astronomia A12

Fórum de discussão Sala de aula / Formação de professores

Metodologias inovadoras para o ensino de ciências

A2

Facilitar a aprendizagem de conceitos e/ou fenômenos de difícil visualização (n=2)

Software ou Ambiente Virtual de Aprendizagem para simulação

Sala de aula / Ensino fundamental

Eletricidade A8

Sala de aula / Ensino Médio

Fossilização A13

Promover o processo de interação reflexiva (n=1)

Softwares para organização da informação e interação entre os alunos

Sala de aula / Ensino Fundamental

Energia A6

58

objetos (DUNLEAVY et al, 2008). Os jogos de realidade aumentada são atividades em que os

alunos exploram um contexto natural (p.ex. entorno de determinadas escolas, parques etc.),

utilizando artefatos digitais (celulares, GPS, palmtops etc.) para investigar desafios que

misturam elementos reais com elementos virtuais. Algumas ações dos participantes são

capturadas nos computadores portáteis, tais como o caminho percorrido e os dados coletados,

de modo que a investigação incorpora todos esses elementos (DUNLEAVY et al, 2008).

Nesse contexto, há uma superposição, simultânea, do mundo real e de dispositivos

computacionais, oferecendo oportunidades, por exemplo, para que materiais concretos (ex.

desenhos em papel, material coletado) e ações (caminhadas) sejam reconhecidos por artefatos

digitais (ex. exemplo webcam, GPS, palmtops) criando elementos virtuais (ex. personagens,

trajetos etc). Desse modo, a investigação incorpora todos esses elementos de uma forma

dinâmica (DUNLEAVY et al, 2008).

Os trabalhos que recorrem aos MUVEs assumem como objetivo com objetivo de criar

ambientes de imersão a serem explorados nas atividades de sala de aula, em que o aluno é

apresentado a um desafio. Barab et al. (2007) (A1), por exemplo, para investigar o problema

da descontextualização dos conceitos de qualidade da água em uma turma de ensino

fundamental, realizam uma intervenção em sala de aula, na qual utilizam um MUVE (Quest

Atlantis) desenvolvido a partir do modelo de investigação sociocientífica, visando desafiar os

alunos a resolverem o caso de um parque que enfrenta um problema relacionado ao declínio

do número de peixes nos lagos. Nesta situação, os alunos são apresentados a uma narrativa

que os coloca diante de uma polêmica e, para solucioná-la, precisam equilibrar questões

científicas com questões econômicas e políticas.

Os estudos que empregam os “Jogos de Realidade Aumentada” buscam promover

estratégias em que os alunos são desafiados a resolver investigações mediante a exploração de

contextos do mundo real. Squire e Jan (2007) (A11), por exemplo, também voltados para o

problema da descontextualização dos conceitos de qualidade da água, desenvolvem uma

intervenção apoiados no Modelo de Investigação Autêntica. Utilizam um jogo (Mad City

Mistery) - que é realizado no campus de uma universidade, ao ar livre - com grupos de alunos

do ensino fundamental e médio, os quais usam palmtops como ferramentas para solucionar

um “mistério” sobre a causa da morte de um personagem, sabendo-se que um dos fatores teria

sido o consumo de peixes de águas contaminadas. Para isso, os alunos coletam amostras de

peixes, entrevistam personagens virtuais e examinam documentos do governo.

Os estudos que desenvolvem intervenções com o uso de softwares para exploração do

ambiente, buscam oferecer estratégias de exploração do meio em atividades de campo. Houle

59

e Barnett (2008) (A7), por exemplo, relatam a utilização de softwares de captura e de

visualização de som com alunos de ensino fundamental, tendo por objetivo promover a

contextualização dos conceitos de ondas sonoras em saídas de campo. Os alunos são

desafiados a estudar os conceitos relacionados à bioacústica de pássaros a partir da

investigação de como esses animais adaptam suas formas de comunicação em contextos

urbanos com muita poluição sonora. Com esse objetivo, as TICs são utilizadas tanto para

gravar o som dos pássaros quanto para visualizá-los, de modo a trazer informações do meio

ambiente para serem investigadas dentro da sala de aula.

Os trabalhos que utilizam as TICs para “apoiar a formação dos professores e o

desenvolvimento de atividades educativas inovadoras” baseiam-se nas potencialidades de

construção e de colaboração oferecidas por essas tecnologias para auxiliar os professores no

desenvolvimento de suas práticas. O trabalho de Yarnall et al. (2006) (A14), por exemplo,

propõe o uso de quatro softwares de autoria para apoiar professores na construção de

estratégias de avaliação que contemplem a natureza investigativa da ciência. Já o artigo de

Barnett et al. (2002) (A2) trata da pesquisa e do desenvolvimento de um fórum de discussão

online sobre aprendizagem baseada em investigação em um curso de formação de professores.

O objetivo desse fórum é instigar a discussão e a reflexão dos alunos, permitindo que revejam

suas concepções de ensino.

Os trabalhos que utilizam as TICs com a finalidade de “facilitar a aprendizagem de

conceitos ou fenômenos de difícil visualização”, exploram as potencialidades de visualização

e de simulação para representar os conteúdos por meio de modelos simplificados, permitindo

a compreensão dos alunos sobre a relação entre as variáveis que influenciam o fenômeno

estudado. Wang e Reeves (2006) (A13), por exemplo, utilizam um ambiente virtual de

aprendizagem (AVA) para potencializar a visualização e a aprendizagem dos conceitos

envolvidos na fossilização. Segundo os autores, esse fenômeno resulta da combinação de

muitas variáveis ambientais abstratas. O ambiente, então, permitiria que os alunos

selecionassem as variáveis e, a partir disso, simulassem os diferentes cenários de fossilização.

Enyedy e Hoadley (2006) (A6) utilizam as TICs para “promover a interação reflexiva

dos alunos” e, para isso, exploram as potencialidades das tecnologias relacionadas à

organização da informação e à comunicação, de modo a possibilitar um processo integrado de

diálogo entre alunos e internalização de conceitos. O trabalho propõe a integração de dois

softwares: um, com objetivo de proporcionar a organização da informação (Sense Maker) e

outro, para proporcionar o diálogo entre alunos (Speakeasy). Esses recursos são utilizados em

60

uma atividade educativa para trabalhar conceitos de calor com um grupo de alunos do ensino

fundamental. Os alunos, em duplas, são desafiados a planejar uma casa que mantenha a

temperatura confortável tanto nos dias quentes quanto nas noites frias do deserto. As duplas

são encorajadas a discutir com outros alunos sobre os conceitos científicos necessários ao

desenvolvimento da atividade (por meio do Speakeasy) e, depois, a organizar esse

conhecimento compartilhado (no SenseMaker).

3.1.4 Conhecimentos construídos

Como apresentado no quadro 3.5, é possível identificar conhecimentos construídos

a partir dos resultados das intervenções.

Conhecimentos construídos Resultados relacionados Artigos Sobre o impacto da intervenção mediada pelas TICs na solução do problema educativo (n=14)

Aspectos positivos e negativos do contexto que influenciaram o resultado obtido

Todos os artigos

Sobre o potencial dos ambientes virtuais mediados pelas TICs para o ensino de ciências (n=11)

Características tecnológicas dos ambientes virtuais

A1, A2, A4, A5, A6, A7, A8, A9, A11, A14

Características pedagógicas dos ambientes virtuais

A1, A5, A7, A9, A11, A13

Sobre o processo de pesquisa (n=10)

Aspectos positivos e negativos que influenciaram o processo de pesquisa

A1, A2, A3, A5, A6, A8, A9, A10, A11, A13

Sobre teorias de aprendizagem (n=2)

Contribuições para as teorias existentes A2, A12

Quadro 3.5: Caracterização dos artigos de acordo com os tipos de conhecimentos construídos a partir da intervenção e os resultados relacionados

Todos os artigos examinados oferecem, como achados de pesquisa, conhecimentos

“sobre o impacto da intervenção mediada pelas TICs na solução do problema educativo”.

Estes apontam não apenas a contribuição da intervenção para o contexto de aprendizagem,

mas também os aspectos desse contexto que influenciam os resultados obtidos, permitindo o

refinamento da experiência pedagógica. O trabalho de Taasoobshirazi et al. (2006) (A12), por

apresentar dois ciclos de intervenção, coloca em prática e ilustra esse processo de

refinamento. O objetivo do trabalho é o de desenvolver estratégias de avaliação para

enriquecer simultaneamente as atividades de aprendizagem baseada em investigação e a

aquisição de conteúdos científicos. Para isso, em uma turma do ensino médio, os

pesquisadores desenvolvem uma intervenção com o uso de um software multimídia com

atividades de investigação sobre o sistema solar. No primeiro ciclo, verificam que a

experiência não contribui de modo significativo para o desenvolvimento da argumentação

61

científica devido, principalmente, à falta de familiaridade do professor com as atividades de

investigação. Tal fato possibilita que, no segundo ciclo, implementem estratégias para apoiar

o professor na atividade, melhorando o seu desempenho e a contribuição para a solução do

problema educativo. Dessa forma, concluem que, para atingir os objetivos pedagógicos

desejados, é necessário não apenas planejar a atividade educativa, mas também preparar o

professor para desempenhá-la.

Os conhecimentos “sobre o potencial dos ambientes virtuais mediados pelas TICs para

o campo do ensino de ciências” são elaborados nos artigos tanto como contribuições sobre as

características tecnológicas (A1, A2, A4, A5, A6, A7, A8, A9, A11, A14) quanto sobre as

características pedagógicas das intervenções para o campo do ensino de ciências (A1, A5, A7,

A9, A11, A13). Squire e Jan (2007) (A11), por exemplo, ressaltam que os Jogos de Realidade

Aumentada, em virtude de suas características tecnológicas e do interesse que despertam,

constituem ferramentas promissoras para o desenvolvimento da alfabetização científica e

tecnológica e das habilidades de linguagem oral dos alunos. Já o trabalho de Wang e Reeves

(2007) (A13) enfatiza a contribuição das características pedagógicas do ambiente virtual de

aprendizagem (AVA) sobre fossilização com base nos seguintes princípios: curiosidade,

desafio, fantasia e controle. A partir dos resultados, os autores concluem que esses princípios

contribuem para o desenvolvimento de atividades que busquem motivar os alunos para a

aprendizagem de ciências em geral.

Os conhecimentos “sobre o processo de pesquisa” (A1, A2, A3, A5, A6, A8 a A11,

A13) são construídos a partir da análise retrospectiva da intervenção, buscando ressaltar os

aspectos procedimentais positivos ou negativos que influenciam o desenvolvimento da

investigação, tais como os métodos utilizados e a atividade do pesquisador. Esses achados

apontam a possibilidade de realizar o refinamento da intervenção, além de oferecerem

conhecimentos que podem contribuir para o desenvolvimento de pesquisas em contextos

semelhantes. Bodzin (2008) (A3), por exemplo, conclui, a partir da análise da intervenção,

que a parceria entre o pesquisador e o professor, envolvidos no contexto, possibilita o

desenvolvimento de materiais adaptados às necessidades dos alunos.

Os trabalhos que propiciam conhecimentos “sobre teorias de aprendizagem” (A2,

A12) para o campo de ensino de ciências, aprofundam o desenvolvimento de modelos

teóricos a partir da intervenção realizada, contribuindo principalmente com o âmbito

acadêmico. Barab et al. (2007) (A1), por exemplo, assumem como um dos objetivos da

pesquisa contribuir com a evolução do “modelo de investigação socio-científica”. Os autores

62

se baseiam nesse modelo que continha inicialmente três princípios – narrativa, fontes e

investigação – para desenvolver e avaliar a intervenção. Com base nos resultados, os autores

identificam quatro princípios adicionais – fontes externas, facilitação do professor,

negociação social e experiência prévia – que influenciam significativamente a intervenção,

sendo incorporados ao modelo e acarretando, portanto, seu refinamento.

3.1.5 Contribuição da PBD para o campo da pesquisa em ensino de ciências

A análise desenvolvida nessa revisão permite discutir algumas contribuições que a

PBD oferece para a pesquisa de intervenções mediadas pelas TICs para o ensino de ciências.

Nesta metodologia, o problema educativo assume papel importante no processo de

investigação, norteando a adoção das teorias norteadoras e o desenho das intervenções (VAN

DEN AKKER, 1999; WANG e HANNAFIN, 2005). Nas pesquisas analisadas, verifica-se

que, em geral, os pesquisadores definem os problemas educativos relacionados às suas

práticas pedagógicas e estes motivam a pesquisa e o desenvolvimento das intervenções.

Como aponta a PBD, as teorias e os respectivos princípios norteadores constituem

“lentes” com as quais os pesquisadores olham o problema e desenvolvem a intervenção (VAN

DEN AKKER, 1999). Na análise realizada foi possível constatar essa relação. Por exemplo,

os estudos que assumem como problema a “descontextualização dos conteúdos científicos”

(BARAB et al., 2007; SQUIRE e JAN, 2007; BODZIN, 2008; HOULE e BARNETT, 2008;

KLOPFER e SQUIRE, 2008; KONG et al., 2009) fundamentam-se nos princípios da

aprendizagem baseada em investigação e na aprendizagem situada para o desenvolvimento

das intervenções. Reeves et al (2005) ressaltam que analisar problemas educativos, integrando

as especificidades dos contextos com teorias de aprendizagem, é elemento-chave de pesquisas

que pretendem assumir relevância social, contribuindo para a melhoria das práticas

educativas.

A intervenção, na PBD, é considerada uma oportunidade de construção de

conhecimento tanto para refinar a experiência desenvolvida como para compreender o

processo de aprendizagem (EDELSON, 2002; DBRC, 2003). Isto revela a coerência entre os

elementos da pesquisa e a relação indissociável entre teoria e prática da pesquisa e

desenvolvimento de intervenções educativas (DBRC, 2003). Essa característica da PBD é

identificada nos trabalhos, uma vez que se verifica que o uso das TICs esteve relacionado

tanto com os problemas e contextos educativos quanto com os princípios norteadores

adotados. Por exemplo, os trabalhos voltados para o problema educativo da

63

descontextualização dos conteúdos científicos que se apóiam nos princípios da aprendizagem

situada (BODZIN, 2008; HOULE e BARNETT, 2008), utilizam as TICs para dar suporte à

exploração do meio ambiente em atividades de campo (softwares para captura de som e para

localização espacial).

Em geral, a escolha dos recursos também é influenciada nos estudos pelo foco do

problema educativo abordado. Por exemplo, os artigos de Barab et al. (2007) (A1) e Squire e

Jan (2007) (A11) definem como problema educativo a descontextualização dos conceitos

científicos relacionados à qualidade da água para alunos de ensino fundamental e médio. O

foco do problema de Barab et al (2007) situa-se em relação à contextualização social dos

conteúdos escolares, enquanto o foco de Squire e Jan (2007) diz respeito à contextualização

do conteúdo no cotidiano dos alunos. Desse modo, Squire e Jan (2007) propõem uma

intervenção com o uso de um Jogo de Realidade Aumentada, que inclui atividade de campo

no entorno da escola dos alunos, incentivando o conhecimento sobre o ambiente local;

enquanto que Barab et al. (2007) utilizam um MUVE, que explora virtualmente uma narrativa

mediante a qual os alunos se defrontam com um dilema que envolve aspectos científicos e

sociais. Com isso, é possível verificar que o uso das TICs nesses estudos não constitui um fim

em si mesmo, mas um meio para buscar a solução de problemas educativos. Essa

característica alinha tais pesquisas com a teoria crítica da tecnologia (FEENBERG, 2003),

segundo a qual a tecnologia não é neutra e integra valores aos processos em que é utilizada,

embora esses valores não sejam absolutos, mas construídos durante o uso.

Segundo a PBD, os resultados obtidos nas pesquisas são considerados oportunidades

de aprendizagem sobre o próprio processo de desenvolvimento de intervenções. Há um

esforço de que os achados de pesquisa sejam mais do que conhecimentos prescritivos a serem

seguidos por outros pesquisadores, buscando-se oferecer princípios práticos que auxiliem o

processo de decisão em contextos semelhantes (EDELSON, 2002; DISESSA e COBB, 2004).

Os artigos analisados oferecem conhecimentos acerca da própria intervenção e de sua

interação com o contexto de aprendizagem, contribuindo para a melhoria da intervenção,

permitindo o seu “refinamento progressivo” (COLLINS et al., 2004). Verifica-se também

que, em geral, esses estudos não adotam como foco apenas o desenvolvimento da intervenção,

valorizando também a oportunidade que esta oferece para o avanço do conhecimento sobre o

processo de pesquisa e de desenvolvimento e sobre a aprendizagem de ciências. O

compromisso da pesquisa com o avanço do conhecimento é uma das principais características

da PBD, que busca contribuir com a realização de pesquisas em contextos semelhantes

(DBRC, 2003; WANG e HANNAFIN, 2005).

64

Com base na análise dos artigos, pode-se concluir que, em geral, os estudos apoiados

na PBD, que propõem intervenções mediadas pelas TICs para o ensino de ciências se engajam

em problemas, teorias e modelos de estudo compatíveis com as principais tendências no

campo. Nesse sentido, buscam melhorar a qualidade do ensino científico, a partir da

compreensão de que este não deve se limitar à transmissão de fatos científicos, mas incentivar

os alunos a refletir, a se questionar e a construir conhecimentos não apenas no que se refere

aos conteúdos, mas também ao pensamento científico (KRASILCHIC, 1992, 2000;

ANGOTTI e AUTH, 2001). Nesse sentido, verifica-se que as TICs podem ser utilizadas, de

diversas maneiras, como elemento de mudança das práticas educativas em contextos reais do

ensino de ciências.

Além disso, esses estudos são orientados para a solução de problemas educativos

complexos do campo de ensino de ciências e demonstram a preocupação em aliar

desenvolvimento e pesquisa, na medida em que integram, ao longo do processo, a teoria

educacional, a intervenção desenvolvida e a prática educativa. A PBD, assim, constitui um

aporte metodológico que pode contribuir para a construção de conhecimento no campo do

ensino de ciências. Isto porque é fundamental integrar a prática educativa e as teorias de

aprendizagem não apenas para propiciar a compreensão sobre a intervenção, mas, sobretudo,

para contribuir com o desenvolvimento teórico sobre o ensino e a aprendizagem (DBRC,

2003).

Mesmo a análise tendo sido voltada para a área de ensino de ciências, discute

características da PBD que a posicionam como um possível caminho a ser explorado para

integrar pesquisa e prática no ensino de outras áreas, como a do ensino da saúde. Assim,

como verificado nesses estudos, os problemas educativos assumem um papel central,

constituindo o ponto de partida para a pesquisa e o desenvolvimento de ambientes de

aprendizagem mediados pelas TICs. Mesmo apresentando questões em comum com o ensino

de ciências, o ensino da saúde tem as suas especificidades. Assim, para situar os problemas

educativos do ensino da saúde, a seguir, apresentamos uma revisão das principais questões

apontadas na literatura, aprofundando, especificamente, o problema educativo e as teorias

norteadoras do Vivências.

3.2 PROBLEMAS EDUCATIVOS DO ENSINO DA SAÚDE

Embora a formação profissional seja crucial para as mudanças das práticas em saúde,

Ceccim e Feuerwerker (2004a) afirmam que esta é, ainda hoje, uma das áreas menos

65

problematizadas pelo SUS. Para realizar a transformação necessária na formação, é preciso

que haja mudança tanto no campo da educação quanto no da saúde. O acelerado

desenvolvimento científico e tecnológico vem reconfigurando a relação com o ensino e com o

trabalho. Para se ter uma idéia, atualmente a taxa de mudança tecnológica é de

aproximadamente 50% a cada 10 anos, isto significa que metade dos bens de serviço que

existirão daqui a uma década ainda não foi inventada (SANTANA e CHRISTÓFARO, 2002a,

p.3). Isto acarreta conseqüências importantes para a relação com o conhecimento, tais como:

a) a aproximação entre trabalho e aprendizagem, já que se torna fundamental que o

profissional assuma uma atitude de constante aprendizagem ao longo da vida e b) o aumento

da complexidade dos problemas a serem resolvidos, exigindo que profissionais ampliem sua

capacidade de análise e ação (FEUERWERKER, 2003).

Sendo assim, entra em crise o modelo tradicional de universidade, que ainda domina a

formação profissional em saúde. Surge a necessidade de as universidades ampliarem sua

relevância social, buscando ocupar um novo espaço na sociedade e superar a especialização, a

fragmentação e os interesses econômicos que torna limitada a potência das respostas a

problemas contemporâneos (CECCIM e FEURWERKER, 2004 a). Nesse sentido,

Feuerwerkwer (2003) afirma que

As propostas de mudança na formação dos profissionais de saúde orientadas pelas novas diretrizes curriculares e apoiadas pelo MS apontam para a busca de profissionais críticos, capazes de aprender a aprender, de trabalhar em equipe, de levar em conta a realidade social para prestar atenção humana e de qualidade. Pretende-se que a universidade esteja aberta às demandas sociais e seja capaz de produzir conhecimento relevante e útil para a construção do sistema de saúde. (FEUEWERKER, 2003)

Outros fatores que também vêm exigindo mudanças no processo de formação em

saúde estão relacionados com as novas conformações das relações com o trabalho. O antigo

modelo fordista/taylorista foi substituído pela chamada “flexibilização produtiva”, que se

caracteriza por assumir “novas prática de emprego, adaptação da jornada de trabalho a

conjunturas específicas, trabalho em tempo parcial, contrato de duração determinada e a

terceirização” (RIBEIRO e MOTTA, 1996). A produção de serviços não mais se constitui

tendo o emprego fixo como prioridade. Além disso, Ribeiro e Motta (1996) ressaltam a

existência de um movimento de deslocamento do exercício liberal autônomo, individual e

independente para formas de organização do trabalho assalariado em equipe, organizações e

redes.

66

Na medida em que as relações de trabalho assumem essas características, surgem

novas demandas para a formação. Em um mercado competitivo e em constante mudança, não

é suficiente que os profissionais sejam capazes de “aprender a fazer”, é necessário que sejam

críticos, capazes de “aprender a aprender e compreender”, de trabalhar em equipe e de levar

em conta a realidade social para prestar atenção humanizada e de qualidade (SANTANA e

CHRISTÓFARO, 2002a; FEUERWERKER, 2003).

Sordi e Bagnato (1998) sugerem que para o ensino em saúde dar um salto qualitativo,

é necessário que sejam promovidas rupturas em dois níveis: a) alteração nas concepções

dominantes entre os docentes da área em relação a homem, mundo, sociedade e educação,

criando-se, assim, novos paradigmas sobre o que se entende por ciência e sua vinculação com

a práxis e b) reorganização do trabalho pedagógico visando acelerar as transformações teórica

e filosoficamente pensadas, dando-lhes concretude e visibilidade prática, aproximando

discurso e ação.

Diversos autores defendem que para reorganizar o trabalho pedagógico é preciso

implementar uma política pública de mudança na graduação para que sejam colocadas em

prática as diretrizes constitucionais do SUS e as diretrizes curriculares nacionais (CECCIM e

FEUERWERKER, 2004a; CAMPOS e BELISÁRIO, 2001; CIUFFO e RIBEIRO, 2008).

Contudo, Ciuffo e Ribeiro (2008) ressaltam que, embora haja uma extensa discussão sobre as

mudanças paradigmáticas, ainda não há clareza de como as práticas pedagógicas podem

seguir essas mudanças.

Sendo assim, não nos ocuparemos de buscar respostas, mas de discutir questões e

desafios, encontrados na literatura, para a formação em saúde.

3.2.1 Integralidade como eixo norteador das propostas de educação

Diversos autores defendem que o conceito de Integralidade, uma das diretrizes do

SUS, deve ser considerado eixo norteador tanto para as práticas como para o ensino em saúde

(LOPES et al., 2007; CECCIM e FEUERWERKER, 2004b; CIUFFO e RIBEIRO, 2008).

Kell [ca.2006] aponta que o conceito de Integralidade assume diferentes sentidos,

dentre os quais destacamos: a) Integralidade como crítica à atitude médica fragmentária –

busca não reduzir o paciente a um conjunto de órgãos ou sistema biológico, integrando as

outras dimensões do sujeito, ou seja, considera a integralidade na compreensão do ser

humano: dimensão biológica x dimensão biológica somada às dimensões psicológica, social e

cultural; b) Integralidade como crítica às práticas dos profissionais de saúde - buscando

ampliar a assistência para além da atenção individual curativa, incorporação de ações de

67

promoção e prevenção na atenção à saúde; c) Integralidade como crítica ao conceito

reducionista de saúde - compreende o conceito de saúde não apenas como ausência de doença,

mas como qualidade de vida sendo, portanto, necessário articular diversos espaços para a

busca de intervenções de saúde, incluindo, por exemplo, alimentação, transporte, lazer e

renda.

3.2.2 Educação permanente

A educação permanente apresenta-se como uma das principais estratégias da política

em saúde para transformar o trabalho na área (CECCIM, 2005; CECCIM e

FEUERWERKER, 2004b) e pode ser definida como

o encontro entre o mundo da formação e o do trabalho, no qual o aprender e o ensinar incorporam-se ao cotidiano das organizações (...) e desenvolve-se a partir dos problemas diários que ocorrem no lócus da atuação profissional, levando em consideração os conhecimentos e as experiências pré-existentes da equipe (LOPES et al, 2007, p.148).

Esta estratégia tem como premissa o reconhecimento da formação profissional como

um fim e não como atividade meio da prática profissional e visa, sobretudo, à transformação

das práticas em equipes de saúde (CECCIM e FEUERWERKER, 2004a; LOPES et al, 2007).

Sobre isso, Ribeiro e Motta (1996) consideram que

profissionais de saúde têm diferentes concepções sobre o mundo e sobre o trabalho e que as práticas que desenvolvem são coerentes com essa visão. Transformá-las requer, portanto, a abertura de espaços para o reconhecimento dessas diferenças e em que medida elas dificultam a concretização das mudanças desejadas (RIBEIRO e MOTTA, 1996, p. 5)

3.2.3 Aproximação entre teoria e prática e diversificação dos cenários de prática

De forma geral, a formação na área da saúde baseia-se em uma organização disciplinar

que separa a teoria da prática, como se houvesse dois momentos distintos.

No primeiro espaço, onde se permitem elucubrações, cabe a reflexão política. No segundo momento, a hora de praticar a profissão, congela-se a política e o que importa é o exercício da prática profissional, nos moldes do ensino tradicional, asséptico, porém competente para os fins a que, dissimuladamente, se propõe (SORDI e BAGNATO, 1998, p. 84)

Essa dicotomia produz como resultado uma formação insuficiente no que diz respeito

a questões sociais. Desse modo, forma profissionais despreparados para lidar com as situações

68

complexas e multifacetadas do mundo. Por isso, é necessário diminuir o abismo entre o que é

ensinado na universidade e o que o profissional se confronta na realidade, buscando

aproximar pensar e fazer; geral e específico (NAMEM et al, 2007; FILHO, 2004). Além

disso, Feuerwerker (2003) argumenta que é fundamental a diversificação dos cenários de

prática (que pressupõe a participação de docentes, discentes e profissionais dos serviços nos

vários campos do exercício profissional) para possibilitar que os estudantes aprendam e

trabalhem em todos os espaços da atenção básica.

Para viabilizar essa proposta, a política em saúde deve buscar a aproximação entre

ensino e serviços, regulamentando os serviços públicos que integram o SUS, como “campo de

prática para ensino e pesquisa, mediante normas específicas, elaboradas conjuntamente com o

sistema educacional” (BRASIL, 1990). Essa proposta tem como fundamento tomar os

problemas da realidade como objetos de aprendizagem. Contudo, essa proposta precisa estar

de acordo com uma visão ampliada de saúde para não incorrer no erro que Ribeiro (2000)

descreve como

De forma pretensamente neutra, defende-se que a prática no ambiente hospitalar permite a exposição dos alunos aos melhores recursos de que a ciência dispõe para oferecer às pessoas, aí reduzidas, muitas vezes, a objetos de aprendizagem de alunos que nelas não reconhecem seus futuros pacientes. (RIBEIRO, 2000, p.139)

3.2.4 Implementação de metodologias ativas de aprendizagem

Também com o objetivo de aproximar teoria e prática, reivindica-se no campo da

saúde a utilização de metodologias pedagógicas ativas em que o aluno seja instigado a refletir

e produzir conhecimento a partir de situações que acontecem na prática. Dentre as

metodologias mais difundidas, destacam-se a Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP) e

Problematização. Para caracterizá-las, Berbel (1998) assume que

As duas propostas, que se desenvolvem a partir de visões teóricas distintas, têm pontos comuns e pontos diferentes. Nas duas propostas, o ensino e a aprendizagem ocorrem a partir de problemas. Na Metodologia da Problematização, enquanto alternativa de metodologia de ensino, os problemas são extraídos da realidade pela observação realizada pelos alunos. Na Aprendizagem Baseada em Problemas, enquanto proposta curricular, os problemas de ensino são elaborados por uma equipe de especialistas para cobrir todos os conhecimentos essenciais do currículo. (BERBEL, 1998, p. 139)

Esses métodos valorizam experiências concretas e problematizadoras, estimulando os

alunos a integrarem conhecimentos de diferentes naturezas e disciplinas, assim como

69

conteúdos básicos e profissionalizantes, para buscarem soluções criativas. Nessa perspectiva,

há a preocupação com a possibilidade de os alunos “aprenderem a aprender”, uma vez que o

professor não está preocupado só com o "que", mas, essencialmente, com o "por que" e o

"como" o estudante aprende (BERBEL, 1998; CYRINO e PEREIRA, 2004;

FEUERWERKER, 2003).

3.2.5 Trabalho em equipes multiprofissionais

O trabalho em equipe, compreendido como “uma modalidade de trabalho coletivo que

se configura na relação recíproca entre as intervenções técnicas e a interação dos agentes”

(PEDUZZI, 2001), tornou-se uma exigência para lidarmos com a complexidade em que nos

encontramos. Esta forma de organizar o trabalho se contrapõe ao intenso processo de

especialização pelo qual a saúde, tradicionalmente, vem passando e se torna condição

fundamental para o exercício da integralidade (CECCIM e FEUERWERKER, 2004b;

VILELA e MENDES, 2003). Quanto a isso, Almeida e Mishima (2001) concluem que

O núcleo de competência de cada profissional, isoladamente, não dá conta da complexidade do atendimento das necessidades de saúde, portanto é necessário flexibilidade nos limites das competências para proporcionar uma ação integral. (ALMEIDA e MISHIMA, 2001, p.152)

Sendo assim, busca-se que os profissionais de saúde desenvolvam competências para

trabalhar em grupo e, nesse sentido, a formação (tanto inicial quanto permanente) tem um

papel crucial.

Tendo em vista o panorama da área de ensino de saúde e os desafios pedagógicos

enfrentados no Brasil, aprofundaremos a questão pedagógica relacionada à presente pesquisa,

buscando discutir as possíveis estratégias pedagógicas e a contribuição das TICs para lidar

com essas questões.

3.3 O PROBLEMA EDUCATIVO DO VIVÊNCIAS: NECESSIDADE DE

HUMANIZAÇÃO DA RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE

Como abordado, um dos problemas pedagógicos que atingem a área da saúde é o fato

de a formação ter ainda uma forte influência do modelo flexneriano, valorizando

demasiadamente o ensino técnico que restringe o paciente a um conjunto de sinais e sintomas

70

a serem detectados e tratados, desconsiderando todas as outras dimensões envolvidas no

processo de adoecimento e tratamento (SERPA JR. et al, 2007).

A questão do ensino tecnicista tem sido amplamente discutida e criticada na área do

ensino da saúde. Para diversos autores, solucionar esse desafio implica assumir a

integralidade, uma das diretrizes do SUS, como eixo norteador tanto para as práticas como

para o ensino em saúde (LOPES et al., 2007; CECCIM e FEUERWERKER, 2004b; CIUFFO

e RIBEIRO, 2008).

Como uma possibilidade de caminho para assumir a integralidade nas práticas de

saúde, o conceito de “humanização do cuidado”, embora ainda não tenha uma definição clara,

vem sendo amplamente empregado como base para um conjunto de iniciativas que tem como

foco valorizar “a qualidade do cuidado do ponto de vista técnico, associada ao

reconhecimento dos direitos do paciente, de sua subjetividade e referências culturais”

(DESLANDES, 2004, p.8).

Em outras palavras, Zusman (1998) afirma que

a humanização admite o reconhecimento da realidade interna, implica a aquisição de valores que levam ao refinamento da consciência moral, da sensibilidade ao sofrimento alheio, da compaixão, da capacidade empática, da tolerância ao sentimento de culpa e à consciência da finitude e fragilidade humanas (ZUSMAN, 1998, p.1345).

Essa perspectiva implica uma mudança radical na relação entre profissional de saúde e

paciente, que enfrenta desafios como a) valorizar a escuta da dimensão vivencial da

experiência do paciente, já que esta revela as condições subjetivas e informa sobre as

expectativas do sujeito; b) ampliar a dimensão do cuidado, permitindo que os profissionais

tornem-se mais responsáveis pelos resultados das ações de saúde e mais capazes de incluir

outras dimensões do processo saúde-doença não inscritos no âmbito biológico e c) ampliar os

referenciais de compreensão e ação dos profissionais, questionando o potencial da ação

uniprofissional para suprir as necessidades de saúde e colocando o trabalho interdisciplinar e

multiprofissional como necessidade fundamental (CECCIM e FEUERWERKER, 2004a).

Na formação em saúde, para que isso aconteça, é necessário que os currículos

valorizem também a dimensão subjetiva dos pacientes para que os futuros profissionais

estejam preparados para uma prática que não descarte a subjetividade, mas, em vez disso, faça

desta o seu interesse primeiro (ZAHAVI, 2001; SERPA JR., 2006).

Nesse sentido, na medicina, a narrativa dos pacientes vem sendo valorizada na

discussão de aspectos éticos e epistemológicos do método clínico e sua transmissão na

71

formação médica. Sob a denominação de medicina baseada na narrativa, Greenhalgh (1999)

enfatiza que o método clínico deve se referir à interpretação contextualizada de uma história e

evidências pertinentes. Nessa perspectiva, a experiência de adoecimento e tratamento é trazida

como elemento fundamental do método clínico e o paciente é visto de forma ampla,

compreendendo seus aspectos semiológicos e subjetivos (SERPA JR et al, 2007).

Atualmente, tem sido enfatizada a necessidade de estimular que os alunos

desenvolvam a “competência narrativa” na formação em saúde, ou seja, a capacidade de

adotar outras perspectivas, de seguir o encadeamento de histórias complexas, por vezes

caóticas, tolerar ambigüidade e reconhecer os múltiplos significados, muitas vezes

contraditórios, dos acontecimentos vivenciados pelas pessoas. Através do desenvolvimento

da competência narrativa pretende-se aumentar a tolerância à incerteza da prática clínica e

propiciar a atenção empática a pacientes (HUNTER et al., 1995).

No âmbito da educação, para enfrentar esses desafios, é necessário adotar teorias

educacionais que valorizem não apenas a dimensão cognitiva na aprendizagem, mas

também aspectos subjetivos. Esses pressupostos estão presentes na abordagem educacional

da Teoria Situada (Situated Learning Theory), especificamente na Teoria da Aprendizagem

Corporificada (Embodied Learning Theory), apresentadas a seguir.

3.3.1 Teorias da Aprendizagem Situada e Corporificada como potenciais para a

humanização na formação

A Teoria da Aprendizagem Situada tem como princípio a construção do

conhecimento, valorizando a aprendizagem ativa dos alunos e o uso planejado desses saberes

de acordo com determinados contextos. Essa teoria não envolve o uso de conhecimentos

abstratos e descontextualizados que reduzem ou eliminam as dificuldades encontradas em

uma situação real. Em vez disso, prioriza a solução de problemas (CLANCEY, 1995; LAVE e

WENGER, 1991). Assim,

a Teoria da Aprendizagem Situada não considera o conhecimento como algo desinteressado, objetivo, apolítico, não–social, não-histórico, independente e descontextualizado que está pronto para ser adquirido por mentes individuais dentro das instituições do sistema educacional forma. Em vez disso, a Teoria da Aprendizagem Situada vê o processo de aprendizagem como um processo gerador de produção de conhecimento indissociável do encontro social, do contexto, da situação com as informações da vida cotidiana. (FOX, 1997, pp. 732)

72

Nessa perspectiva, o contexto é fundamental e indissociável do processo de

aprendizagem que nele se realiza, uma vez que tem o poder de interferir nas atitudes, nas

posturas e nas ações dos alunos, influenciando de maneira significativa a construção do

conhecimento (THERRIEN e LOIOLA, 2001; BILLETT, 1996). Sendo assim, considera-se

que toda aprendizagem é sempre “situada” no contexto e na relação que cada aluno assume

com este contexto.

Teoria da Aprendizagem Situada não problematiza o processo de aprendizagem como um processo de aquisição mental. Ela não vê a “mente” como um recipiente esperando para ser preenchido, mas ela vê a mente em ação (mind-in-action) no mundo cotidiano, criando conhecimento e aprendendo simultaneamente na interação com os aspectos sociais e materiais da vida cotidiana. (FOX, 1997, pp. 732)

Em síntese, essa teoria assume que a aprendizagem é um processo social que leva ao

engajamento e a participação dos alunos na realização das atividades, levando-os a

compreender seu lugar no processo educativo e construir conhecimentos significativos

(CLANCEY, 1995; LAVE e WENGER, 1991).

Partindo dos mesmos pressupostos da Teoria da Aprendizagem Situada, a Teoria da

Aprendizagem Corporificada considera que, para a aprendizagem ocorrer de forma

satisfatória, é importante levar em conta que a cognição envolve, além dos aspectos mentais,

os aspectos físicos, emocionais e afetivos (KERKA, 2002). Segundo, Mckenzie et al (2006),

tal reconhecimento favorece uma aprendizagem “corporificada”, já que neste caso não existe

uma separação entre mente/corpo durante o processo de aprendizagem (CHAPMAN, 1998).

Nessa abordagem, a aprendizagem é compreendida como um processo que engloba

não só aspectos intelectuais, mas também simbólicos e afetivos. As estratégias pedagógicas

levam em conta a integração corpo-mente, buscando um maior envolvimento e participação

dos alunos. As práticas educativas “corporificadas”, geralmente, levam a uma transformação

individual do aluno que contribui para uma participação mais ativa e comprometida com as

transformações sociais (BARLAS, 2001; CHAPMAN, 1998; KERKA, 2002). Segundo Emig

(2001)

A sala de aula “corporificada” é um terreno onde os estudantes são solicitados a reconhecer a complexidade humana, situações ambíguas, discutindo, até mesmo, questões sem solução sobre eles mesmos e a sociedade [...] A sala de aula corporificada nos pede que evitemos a violência física e verbal em favor da racionalidade e razão [...] A sala de aula corporificada nos solicita a introduzir os hábitos e costumes tradicionais de

73

colaboração e de comunidade [...] A sala de aula corporificada convida os estudantes a conhecerem a si mesmos (EMIG, 2001, p. 279-280)

Essa teoria traz para o centro da situação de ensino-aprendizagem não apenas o saber-

fazer, tão valorizado na educação, mas também o saber-ser (DALL’ALBA e BARNACLE,

2005). Os autores citam como exemplo alguns programas de formação médica que, não

obstante o reconhecimento da importância do conhecimento técnico, vêm planejando formas

apropriadas para o desenvolvimento de habilidades relacionadas ao ser/agir com relação a

outros profissionais da área da saúde, aos pacientes e seus familiares.

3.4 CONSIDERAÇÕES

Nesse capítulo, apresentamos uma revisão dos trabalhos de ensino de ciências que

adotam a PBD para pesquisa e desenvolvimento de intervenções apoiadas pelas TICs. Nessa

revisão, verificamos uma variedade de problemas educativos, teorias norteadoras,

intervenções e conhecimentos construídos, contudo, foi possível observar que existe uma

estreita relação entre esses elementos. Como discutido, em geral, esses estudos são orientados

para a solução de problemas educativos complexos e demonstram a preocupação em aliar

desenvolvimento e pesquisa, na medida em que integram, ao longo do processo, a teoria

educacional, a intervenção desenvolvida e a prática educativa.

Partindo do princípio de que a PBD tem uma contribuição importante para as

pesquisas de intervenções em processos de formação em saúde, situamos os problemas

educativos deste campo, buscando caracterizar os desafios específicos que constituem

possíveis focos de intervenções. Nesse cenário, discutimos especificamente o problema

educativo do Vivências que é a necessidade de humanização na formação em saúde e as

teorias norteadoras que orientam o seu desenvolvimento, quais sejam, aprendizagem situada e

corporificada.

Tendo apresentado o cenário no qual se situa a presente pesquisa, no próximo capítulo,

abordamos a metodologia de pesquisa que nos orientou no desenvolvimento do estudo.

74

4. METODOLOGIA

Nesse capítulo, apresentamos, primeiramente, o referencial metodológico que orientou

o presente estudo. Tendo como ponto de partida a fundamentação da metodologia da Pesquisa

baseada em Design, apresentados no capítulo 1, tecemos algumas considerações sobre a

relação dos objetivos e desenho do trabalho com este aporte teórico. A metodologia da PBD

assume um papel central neste estudo - constituindo tanto o processo pelo qual o ambiente foi

desenvolvido, quanto a “lente” com a qual analisamos esse processo. Em seguida,

apresentamos o contexto e os sujeitos envolvidos na pesquisa e discutimos o papel do

pesquisador na pesquisa qualitativa, especificamente, no desenvolvimento deste trabalho.

Finalmente, apresentamos os procedimentos metodológicos, em que detalhamos os materiais

e métodos utilizados para desenvolver as análises a que o estudo se propõe.

4.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE A PBD E O DESENHO DO ESTUDO

Este estudo se situa no contexto do Projeto Vivências, que envolve uma equipe

multidisciplinar na atividade de pesquisa e desenvolvimento de um ambiente virtual de

aprendizagem para o ensino da saúde (Ambiente Vivências). O processo de desenvolvimento

do Vivências se alinha aos pressupostos da PBD, uma vez que valoriza a parceria com os

sujeitos das prática, é orientado para superação de problemas educativos identificados pelos

envolvidos e encara a pesquisa como um processo iterativo e flexível. Como abordado no

capítulo 1, em vez de apresentar procedimentos metodológicos rígidos, a PBD oferece um

conjunto de pressupostos que orienta a pesquisa, o papel dos sujeitos e a relação com a prática

pedagógica. Com isso, dependendo do referencial teórico, a PBD pode ser adotada a partir de

diferentes abordagens sobre o problema educativo (BELL, 2004).

O Projeto Vivências, então, representa um “modelo” de uma pesquisa apoiada na

PBD, já que assume uma abordagem teórica para conduzir a pesquisa a partir de suas próprias

características e da formulação do seu problema central das variedades possíveis. Este estudo

se situa no contexto do Projeto Vivências e assume como objetivo geral compreender como o

processo de pesquisa e desenvolvimento de um ambiente virtual de aprendizagem, apoiado na

PBD, acontece em seu contexto, integrando uma equipe multidisciplinar em uma

universidade. Para compreender o processo de pesquisa e desenvolvimento de intervenções

apoiados na PBD, nos baseamos em autores que buscam compreender as diferentes fases

pelas quais a PBD se desenvolve (REEVES, 2000; GRAVEMEIJER e COBB, 2006). Reeves

(2000) identifica quatro fases que se diferenciam em termos de características, atividades e

75

objetivos de pesquisa, são elas: análise do problema educativo, desenvolvimento do artefato

pedagógico, intervenção em contextos reais de aprendizagem e análise retrospectiva para

construir princípios de design.

Assim, buscamos compreender como cada uma dessas fases se concretizou no

processo de desenvolvimento realizado por uma equipe multidisciplinar. Edelson (2002)

ressalta a complexidade desse processo, que envolve uma sequência de decisões tomadas

pelos sujeitos para equilibrar oportunidades e limitações para se alcançar os objetivos

estabelecidos. Em geral, essas decisões permanecem implícitas e, para o autor, torná-las

explícitas oferece oportunidades de aprendizagem sobre o processo, permitindo aprimorá-lo e

construir conhecimentos que contribuem com cenários semelhantes. Nesse sentido,

considerando que cada fase tem um objetivo específico, buscamos compreender como

ocorreram no contexto do Projeto Vivências, tendo como lente as interações da equipe e os

fatores que se sobressaíram na negociação.

Na PBD, pelo fato de a pesquisa valorizar a natureza sistêmica da educação e a

complexidade do contexto, não é possível prever todos os aspectos que emergem da situação

em estudo. Dessa forma, a flexibilidade e abertura para incorporar esses aspectos ao longo da

pesquisa é um pressuposto da PBD, que a torna complexa ao pesquisador (BELL et al., 2004).

Nesse contexto, diferente da visão ciência, os conhecimentos construídos na pesquisa não são

considerados achados universais, mas assumem o caráter de “teorias e achados localmente

situados” (BELL et al, 2004) ou princípios de design (VAN DEN AKKER, 1999) que possam

contribuir com o trabalho de outros pesquisadores e contextos.

Para comunicar os achados de pesquisa para a comunidade acadêmica de uma forma que

possa contribuir para outros contextos, os pesquisadores do campo se baseiam na “narrativa

de design” (design narrative), em que descrevem detalhadamente o processo de pesquisa,

apontando os principais atores, eventos e resultados (BELL et al., 2004). As narrativas de

design podem contribuir para tornar explícitos os conhecimentos implícitos dos sujeitos

envolvidos na pesquisa, além de oferecer uma compreensão das questões culturais e da

evolução dos acontecimentos ao longo do tempo.

4.2 CONTEXTO E SUJEITOS ENVOLVIDOS NA PESQUISA

A ideia de desenvolver uma intervenção com o uso das TICs para potencializar o

ensino de saúde baseado na experiência surgiu em setembro de 2007, quando três professores

da UFRJ (dois do Instituto de Psiquiatria e uma do departamento de Medicina), procuraram

dois pesquisadores do Núcleo de Tecnologia Educacional para Saúde/ UFRJ (do Laboratório

76

de Vídeo Educativo e do Laboratório de Tecnologias Cognitivas), com a intenção de criar um

site com depoimentos de pacientes com câncer de mama e com alucinações auditivas verbais,

sobre suas experiências de adoecimento e de tratamento.

Esses professores integravam um grupo de estudo sobre medicina baseada em

narrativa em que traduziam e validavam um método de entrevista para captar narrativas de

pacientes acerca do processo de adoecimento, de sua significação subjetiva, e do processo

terapêutico (McGill Illness Narrative Interview - MINI). Ao conhecerem um site inglês que

disponibiliza na Internet diversos depoimentos de pacientes com diferentes patologias7, os

professores constataram a carência de acesso a materiais brasileiros dessa natureza.

Dessa forma, procuraram o NUTES motivados a criar um banco com depoimentos de

pacientes, nos moldes do site inglês, que ficaria disponível na Internet, como um material,

destinado à população em geral, para consulta e para troca de informação.

Os pesquisadores do NUTES, envolvidos em suas pesquisas com a questão específica

do ensino de ciências e da saúde, identificaram o potencial pedagógico desta proposta e se

interessaram em dar continuidade às discussões, buscando aprofundar as questões relativas à

educação e às formas de potencializar o ensino na área da saúde. Os professores se

interessaram em refletir sobre o ensino na saúde e em suas disciplinas, questionando sobre

como um material com depoimentos de pacientes poderia contribuir qualitativamente para o

processo de ensino-aprendizagem. Dessa forma, logo nos primeiros encontros da equipe, o

foco da questão foi reorientado para o ensino.

Seguindo a dinâmica de trabalho do LTC, a pesquisadora de tecnologia educacional

sugeriu formar uma equipe que se encontrasse regularmente para que as decisões sobre o

ambiente fossem tomadas em conjunto. A partir do quarto encontro, somaram-se a essa

equipe uma web designer (do NUTES), alunos de graduação e pós-graduação em tecnologia

educacional, ensino de ciências, informática, medicina e psicologia.

Em abril de 2008, a equipe finalizou um projeto de pesquisa para ser submetido à

FAPERJ para receber apoio à pesquisa e desenvolvimento de um ambiente virtual de

aprendizagem para o ensino nas faculdades de Psicologia e Medicina, respectivamente nas

disciplinas de Psicopatologia e Psicologia Médica, ministradas pelos três professores. O

projeto foi aprovado em maio de 2008, com um prazo de um ano, a partir da data da entrada

dos recursos. A equipe trabalhou para desenvolver, em conjunto, o ambiente virtual Vivências

7 http://www.healthtalkonline.org/

77

e, no período de agosto a dezembro de 2009, ele foi implementado nas disciplinas

Psicopatologia Geral e Psicopatologia Especial I.

Ao longo do processo, a equipe passou por algumas mudanças em relação a sua

composição. Por exemplo, alguns alunos de graduação de medicina que integraram a equipe,

durante a análise do problema, deixaram de participar das reuniões. Um dos professores de

Psicopatologia começou a participar da equipe a partir da construção do projeto, não estando

presente nas primeiras reuniões. Essas mudanças trouxeram particularidades para a equipe em

cada fase do processo. Contudo, incluindo todos os sujeitos que participaram de qualquer

episódio da equipe caracterizamos a equipe da seguinte forma:

� Grupo da saúde - quatro alunos de graduação de medicina, três professores-

pesquisadores das disciplinas de Psicopatologia Geral e Especial (oferecidas na

faculdade de Psicologia da UFRJ) e uma professora pesquisadora da disciplina de

Psicologia Médica (oferecida na faculdade de Medicina da UFRJ), uma estagiária

de Psicopatologia.

� Grupo de Tecnologia Educacional - uma pesquisadora de Tecnologia

Educacional, um pesquisador de Vídeo Educativo, um aluno de mestrado e uma

aluna de doutorado em Tecnologia Educacional em Ciências e Saúde, duas alunas

de graduação em Ciências da Computação, uma aluna de graduação em

Licenciatura em Ciências Biológicas e uma web designer.

Ao longo da tese, para nos referirmos aos integrantes da equipe e discutir os dados, os

representamos da seguinte forma: a primeira letra se refere à relação com o campo de

conhecimento em questão (pesquisador, professor, mestrando, doutorando), a(s) letra(s)

seguinte(s) são relacionadas ao campo de conhecimento ao qual se dedica o sujeito

(tecnologia educacional, psicologia médica e psicopatologia) e, se havendo mais de um

indivíduo com a mesma relação em um único campo, eles são identificados por números.

Embora todos os sujeitos do grupo da saúde fossem professores-pesquisadores do ensino

superior, nos referimos a eles como professores, para caracterizá-los, na equipe, por seus

saberes sobre a prática pedagógica. Já os professores-pesquisadores da TE, nos referimos

como pesquisadores, na medida em que estes possuem os saberes sobre a metodologia e o

encaminhamento do processo de pesquisa.

Para faciltar a comunicação representamos os sujeitos da equipe da seguinte maneira:

- Grupo da saúde

Professora de Psicologia Médica: PPM;

78

Professores de Psicopatologia: PPT1 (professor-coordenador da Psicopatologia);

PPT2 (professora de um módulo prático de Psicopatologia - CAD) e PPT3

(professor de um módulo prático de Psicopatologia - Vídeo)

Os alunos de graduação de medicina: AM1, AM2, AM3, AM4.

- Grupo de Tecnologia Educacional

Professores-Pesquisadores: PTE (Pesquisadora em Tecnologia Educacional) e

PVE (Pesquisador em Vídeo Educativo)

Pesquisadores - Alunos de mestrado e doutorado: DTE (Doutoranda em

Tecnologia Educacional) e MTE (Mestrando em Tecnologia Educacional)

Web designer: W

Alunos de graduação (foram representados A e a inicial da área de ensino): AB

(aluna de graduação em Ciências Biológicas, aluna de iniciação científica do

LTC); AI1, AI2, AI3 (alunos de Ciências da Computação - Informática)

4.2.1 Contexto educativo: a disciplina de Psicopatologia

A Psicopatologia é uma disciplina oferecida, a partir do sexto período, pelo

departamento de medicina aos alunos de graduação em psicologia da UFRJ. Atualmente, ela

se subdivide em Psicopatologia Geral (sexto período) e Psicopatologia Especial I (sétimo

período), cada uma com 60h (duas aulas por semana) e uma média de 60 alunos, em cada

turma, por semestre. As disciplinas apresentam algumas particularidades, uma vez que a

Psicopatologia Geral é pré-requisito da Psicopatologia Especial I e tem como objetivo

oferecer um conhecimento básico sobre alterações psíquicas. Já na Psicopatologia Especial I,

os alunos aprendem, de forma mais aprofundada, sobre todos os transtornos psíquicos tais

como esquizofrenia, transtornos alimentares etc. Em ambas as disciplinas, os professores

combinam aulas teóricas e práticas, com diferentes objetivos.

Na Psicopatologia Geral, inicialmente, o professor-coordenador (PPT1) trabalha

conteúdos teóricos, por meio de aulas expositivas, relacionados a alterações psíquicas e,

depois, propõe dois tipos de atividades práticas: vinhetas clínicas (pequenos casos envolvendo

as alterações psíquicas trabalhadas), que acontece no meio do curso, e seminários clínicos

(leitura e discussão de relatos escritos por pacientes), que acontece no final do curso. Nessas

aulas práticas, os alunos são organizados em grupos para lerem e discutirem os casos,

orientados por um roteiro, e identificam as alterações psíquicas trabalhadas teoricamente.

79

Após um momento de discussão em grupo, o professor promove um debate aberto com toda a

turma.

Na Psicopatologia Especial I, o professor (PPT1) ministra aulas teóricas expositivas,

em que aborda os diferentes transtornos psíquicos, alternando com aulas práticas. Para as

aulas práticas, a turma é dividida em seis grupos de sete a 10 estudantes, que passam em um

esquema de rodízio por quatro práticas com diferentes professores, organizadas da seguinte

maneira:

Aula de vídeo

São realizadas três aulas por semestre para cada grupo (ministradas pelo PPT3), em

que se organizam discussões a partir de vídeos com entrevistas gravadas por pacientes do

IPUB e, eventualmente, documentários sobre doença mental. Três grupos de alunos

participam de cada aula, totalizando, em média, 30 alunos por encontro.

Aula de literatura

São realizadas duas aulas por semestre para cada grupo, em que se lê com a turma

(formada por dois grupos, totalizando em média 20 alunos) textos literários cuja narrativa se

relaciona com o tema de psicopatologia.

Aula de enfermaria

São aulas em que se convida um paciente internado na enfermaria para uma conversa

orientada pelo professor. Por ser um paciente em estado crítico, é oferecida uma aula a cada

semestre para cada grupo de alunos.

Aula do Centro de Atenção Diária (CAD)

Os pacientes, que estão em estado estabilizado da doença e frequentam o hospital-dia

do IPUB, são convidados a participarem voluntariamente de um grupo com os alunos em que

são discutidos temas relacionados às suas experiências. A partir de uma lista com 14 temas

definidos junto aos pacientes (tais com preconceito, família, diagnóstico etc), os alunos

escolhem previamente o tema a ser discutido no dia da aula. De uma forma não dirigida, isto

é, sem interferência do professor, os pacientes contam suas experiências aos alunos.

80

4.2.2 Contexto educativo: a disciplina de Psicologia Médica

A disciplina Psicologia Médica é ministrada aos alunos de graduação em Medicina,

como disciplina obrigatória do 6º período. Nesse momento da formação, os alunos, pela

primeira vez, compõem uma equipe de saúde e assumem seus primeiros pacientes internados

no hospital, a quem devem acompanhar diariamente em seu leito. A carga horária da

disciplina é de 88 horas/semestre (uma vez por semana), e tem como foco o estudo dos

aspectos básicos da estrutura e da dinâmica da relação médico-paciente inserida no contexto

social. A reflexão sobre as vicissitudes do aluno em sua primeira experiência de relação

continuada com pacientes é desenvolvida ao longo de todo o semestre e, portanto, é um

momento privilegiado para a aprendizagem da experiência de adoecimento e tratamento.

Na organização da disciplina, a turma de 100 alunos é dividida em dois grupos de 50

(turma A e B) e cada um tem aula em um dia diferente da semana. Em cada dia, a turma de 50

alunos assiste a uma aula teórica, que pode ser ministrada tanto por um dos professores da

disciplina quanto por outro especialista convidado, sobre um tema. Após a aula teórica, a

turma de 50 alunos é novamente dividida em dois (grupo A1 e A2, B1 e B2) e cada grupo de

25 alunos assiste à aula com um professor diferente, na qual compartilham suas experiências

vividas com seus pacientes. Dessa forma, são quatro professores que dividem a disciplina e a

PPM é responsável por uma turma de 25 alunos a cada semestre. Em sua turma, a PPM

ministra aulas com discussões sobre temas que surgem a partir das colocações dos próprios,

em relação aos seus pacientes. Como trabalho final, cada grupo de 25 se organiza em equipes

de quatro alunos e, cada uma, escolhe um tema de interesse, de modo que ao final existam

seis temas a serem apresentados e discutidos. A partir do tema escolhido, a professora pede

que os alunos desenvolvam um trabalho, apresentando como a literatura científica aborda o

tema, como a cultura trata o tema e o que a clínica informa sobre o tema. Esses trabalhos são

apresentados à turma, gerando debates e, normalmente, os alunos têm a iniciativa de produzir

vídeos, nos quais entrevistam pacientes ou selecionam partes de programas de televisão para

serem apresentados à turma.

4.3 O PAPEL DO PESQUISADOR NA PESQUISA QUALITATIVA

Diferente das pesquisas quantitativas, cujo foco reside em assegurar a validade de uma

generalização, amparada por frequências estatísticas, as abordagens de pesquisa qualitativa

são aquelas “capazes de incorporar a questão do significado e da intencionalidade como

inerentes aos atos, às relações e às estruturas sociais”, considerando que as questões sociais

compreendem um processo complexo de construção humana (MINAYO, 2008, p.22).

81

Segundo Minayo (2008), as metodologias qualitativas assumem como foco compreender esse

processo de construção, no que diz respeito, por exemplo: à lógica interna de grupos,

instituições e atores; aos valores culturais e representações sobre temas específicos; às

relações entre indivíduos, instituições e movimentos sociais; processos históricos, sociais e de

implementação de políticas públicas e sociais. Chizzotti (2003) ressalta que o termo

qualitativo implica uma partilha densa com pessoas, fatos e locais que constituem objetos de

pesquisa para extrair desse convívio os significados visíveis e latentes, por meio da percepção

e construção do pesquisador.

Nesse sentido, é possível destacar alguns aspectos que diferenciam a pesquisa em

Ciências sociais das pesquisas físico-naturais e biológicas. Em primeiro lugar, nas Ciências

Sociais, como se lida com seres humanos, existe uma identidade comum entre o sujeito e

objetivo da investigação, tornando o investigador e o investigado solidariamente imbricados e

comprometidos (MINAYO, 2008; AMORIM, 2004). Além disso, as Ciências sociais são

intrínseca e extrinsecamente ideológicas, uma vez que sua construção e desenvolvimento

dependem da subjetividade dos sujeitos e por seus interesses diversos. Dessa forma, é preciso

considerar que não é o campo que cria o chamado “dado”, uma vez que a informação que de

lá emerge já traz em seu interior uma construção de indagações e respostas, de modo que o

processo de investigação implica um trabalho de negociação entre o pesquisador e o

pesquisado (MINAYO, 2008; AMORIM, 2004).

Spink e Mengon (2004) consideram que em pesquisas com influência do positivismo,

assume-se como objetivo superar o “abismo” entre as nossas representações e a realidade. Um

dos aspectos relacionados a esse abismo consiste na questão da reflexividade, que se refere à

espiral de interpretação e aos efeitos da presença do pesquisador nos resultados da pesquisa.

Já na perspectiva construcionista, procura-se chegar o mais próximo possível do relato

objetivo do fenômeno em questão, explorando-se as maneiras pelas quais a subjetividade do

pesquisador estruturou a forma como o fenômeno foi definido.

No presente estudo, a pesquisadora participou da equipe durante todo o processo de

pesquisa, trabalhando no desenvolvimento do Vivências e sendo reconhecida pelos sujeitos

como membro do grupo. Assim, além de participar das decisões em relação ao

desenvolvimento do Vivências, também coletava e analisava os dados para construir uma

compreensão sobre esse processo. Essa participação foi importante para compreender a

cultura da equipe e construir uma visão ampliada sobre o processo de desenvolvimento,

possibilitando abordar os dados de uma forma diferenciada do que se fosse utilizado somente

os dados das interações sem ter vivenciado o processo. Por outro lado, o equilíbrio entre a

82

aproximação e o distanciamento necessários para o desenvolvimento do trabalho foi um

desafio, em que muitas vezes era difícil separar o Projeto Vivências da pesquisa de tese. Por

essa razão, os dados eram coletados e pré-analisados durante o processo, contudo, a

compreensão sobre a cada fase só era possível quando esta terminava, quando ocorria o

necessário distanciamento para analisar o processo do início ao fim, identificando quais as

interações foram decisivas para se chegar ao produto ou processo final de cada fase.

Sendo assim, conscientes da responsabilidade do pesquisador durante todo o processo

e não apenas na apresentação de um produto, assumimos o desenvolvimento deste estudo

como resultado de escolhas de pesquisa na busca de manejar e construir instrumentos capazes

de promover a aproximação com a diversidade que é a vida dos seres humanos.

4.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

4.4.1 Materiais de análise

Para compreender o processo de pesquisa e desenvolvimento do Ambiente Vivências,

na perspectiva da PBD, tendo como foco analisar os aspectos que influenciaram a negociação

dos sujeitos na construção em cada fase, coletamos diferentes materiais de acordo com as suas

especificidades. Pelo fato de a PBD valorizar a compreensão dos aspectos do contexto que

influenciam a pesquisa, a coleta e análise de diferentes materiais é uma tendência dos estudos

que se apóiam nessa metodologia, relacionando-se com sua natureza integrativa (WANG e

HANNAFIN, 2005).

As fases 1 e 2 foram marcadas por discussão em grupo para reflexão e negociação

sobre o problema educativo e o ambiente a ser desenvolvido, portanto, os espaços

privilegiados de interação foram as reuniões. Sendo assim, o corpus principal de análise

dessas duas fases foram as transcrições das gravações em áudio das reuniões da equipe. Essas

reuniões aconteciam sem periodicidade definida, de acordo com as necessidades do projeto e

a disponibilidade de os professores conciliarem suas atribuições na universidade além da

pesquisa e do ensino com as atividades do projeto. Sendo assim, durante o desenvolvimento,

as reuniões foram bastante espaçadas, de modo que o tempo de realização do projeto não

condiz com a quantidade de reuniões. Além disso, durante essa fase, realizou-se, com

frequência, trabalhos internos à equipe de de TE

Devido a natureza dessa atividade, a equipe se engajou em uma série de atividades e,

por isso, a análise incluiu não apenas as transcrições das reuniões, mas também os emails

trocados na equipe, os produtos intermediários desenvolvidos (mapas de navegação e layouts

construídos pela webdesigner) e observações dos contextos educativos dos professores

83

ligados ao projeto (reuniões da PPT2 com os pacientes colaboradores das disciplinas. Os

emails contribuíram para enriquecer a compreensão sobre a negociação da equipe e os mapas

e layouts ofereceram uma visão progressiva do processo de decisão coletivo da equipe,

materializado pela webdesigner. Além disso, as observações das experiências dos professores

possibilitou um maior entendimento sobre suas práticas, o que influenciou no processo de

desenvolvimento do ambiente.

Na fase 3, o professor PPT1 integrou o Vivências em suas duas disciplinas

(Psicopatologia Geral e Psicopatologia Especial). Diferente das outras fases que envolviam

decisões da equipe, o locus privilegiado em que se manifestavam as decisões do professor era

a sala de aula. Por se referir à implementação do ambiente nas disciplinas, os materiais de

análise foram aqueles relacionados às práticas educativas dos professores e às suas percepções

sobre o processo de intervenção: (1) reuniões com os professores para compreender o

planejamento da intervenção e oferecer novas idéias sobre o uso do ambiente na disciplina;

(2) acompanhamento da utilização do ambiente na disciplina, analisando o ambiente

construído peloprofessor e a participação dos alunos; (3) observações de algumas aulas; (4)

trocas de emails entre os sujeitos da equipe; (5) além disso, também utilizamos como material

de análise as transcrições das reuniões da equipe, para analisar as percepções do professor e

da equipe sobre a utilização do ambiente.

Na fase 4, reunimos todos os material coletados ao longo do processo de

desenvolvimento e todas as análises realizadas, além da produção acadêmica voltada para a

PBD.

O Projeto Vivências teve a duração de dois anos. O quadro 4.1 oferece uma visão

geral do projeto, indicando, em cada fase, a quantidade e a natureza dos eventos (E) - reuniões

e observações - que as compõem, com uma breve descrição de cada um. Para contextualizar a

presente pesquisa no contexto do Projeto Vivências, marcamos com asterisco todos os

eventos em que coletamos dados para análise.

Fases Cód. Descrição Fase 1 Análise do problema educativo

E1 Reunião dos professores PPT1, PPT2 e PPM com os pesquisadores PTE e PVE para conversar sobre a possibilidade de construir uma equipe de trabalho.

E2 Reunião dos professores PPT1, PPT2 e PPM com os pesquisadores PTE e PVE para conversar sobre a possibilidade de construir uma equipe de trabalho.

E3 Reunião dos professores PPT1, PPT2 e PPM com os pesquisadores PTE e PVE para conversar sobre a possibilidade de construir uma equipe de trabalho.

E4* Reunião da equipe, incluindo outros integrantes, para a discussão sobre uma proposta conjunta de trabalho.

84

E5* Reunião da equipe, incluindo outros integrantes, para a discussão sobre uma proposta conjunta de trabalho.

E6* Reunião da equipe, incluindo outros integrantes, para a discussão sobre uma proposta conjunta de trabalho.

E7* Reunião da equipe, incluindo outros integrantes, para a discussão sobre uma proposta conjunta de trabalho.

E8 Reunião da equipe, incluindo outros integrantes, para a discussão sobre uma proposta conjunta de trabalho.

E9

Reunião da equipe para a escrita do projeto a ser submetido à FAPERJ

E10 E11 E12 E13 E14 E15

Fase 2 Desenvolvimento de artefatos pedagógicos

E16* Reunião da equipe no LTC, já com o projeto aprovado, para discussão sobre a construção do Ambiente e da pesquisa

E17* Observação da reunião da PPT2 com os pacientes colaboradores da disciplina

E18 Reunião entre W, DTE, MTE com PPM para discutir sobre a dinâmica da disciplina

E19* Reunião da equipe para discutir sobre o desenvolvimento do ambiente

E20* Reunião da equipe para discutir sobre o desenvolvimento do ambiente

E21* Reunião da equipe para discutir sobre o desenvolvimento do ambiente

E22* Reunião da equipe para discutir sobre o desenvolvimento do ambiente

E23* Reunião da equipe para discutir sobre o desenvolvimento do ambiente

E24* Reunião da equipe para discutir sobre o desenvolvimento do ambiente

E25* Reunião da equipe para discutir sobre o desenvolvimento do ambiente

E26* Reunião da equipe para discutir sobre o desenvolvimento do ambiente

E27* Reunião da equipe para testagem do ambiente E28* Reunião da equipe para discutir sobre a intervenção e

continuidade da pesquisa Fase 3 Intervenção

E29* Reunião com PPT1sobre a disciplina E30* Reunião com PPT1 e PPT3 sobre o planejamento do curso no

Vivências E31* Reunião da equipe para avaliação do desenvolvimento do

ambiente do curso E32* Apresentação do Vivências na primeira aula de Psicopatologia

Especial E33* Apresentação do Vivências na primeira aula de Psicopatologia

Especial E34* Reunião da equipe para avaliação da utilização do ambiente na

disciplina E35* Observação de Psicopatologia Geral E36* Observação de Psicopatologia Especial E37* Observação de Psicopatologia Geral E38* Observação de Psicopatologia Especial E39* Observação de Psicopatologia Geral E40 Reunião da equipe para avaliação da intervenção

85

Fase 4 Análise retrospectiva do processo

Todos os materiais coletados e análises realizadas

Quadro 4.2. Panorama dos eventos do Projeto Vivências organizados por fase da pesquisa.

Os eventos, foram registrados em aúdio, exceto:

- E1 a E3, pois foram reuniões só entre os pesquisadores, antes de começar

efetivamento o projeto;

- E7 e E8 e E18, por causa de problemas técnicos no momento da gravação, casos em

que nos baseamos nas anotações de campo;

- E9 a E15, uma vez que foram reuniões para escrita do projeto de pesquisa a ser

submetido ao edital da FAPERJ. Embora tenha sido um momento importante do qual a

pesquisadora (DTE) participou, teve como foco uma discussão mais pragmática em relação à

concretização do que havia sido discutido nas reuniões anteriores e a adequação ao edital.

Os eventos relacionados a observação e participação (apresentação do ambiente aos

alunos) das práticas pedagógicas dos professores foram registradas em diários de campo.

No quadro a seguir, apresentamos uma síntese dos materiais utilizados para análise,

organizados segundo cada fase do processo de design, e os respectivos códigos com os quais

nos referiremos aos dados de transcrição das reuniões.

86

Fases/ materiais

Transcrições das reuniões da equipe Anotações de campo Outros materiais Dados da participação dos alunos no AVA

Fase 1 Análise do problema educativo

R1 – Discussão sobre os problemas do ensino da saúde e as possibilidades de explorar as TICs

R2 - Discussão sobre a natureza teórica do problema educativo R3 - Discussão do primeiro mapa de navegação e escolha da aprendizagem situada e corporificada como teorias norteadoras

Fase 2 Desenvolvimento dos artefatos pedagógicos

R4 – Discussão sobre a execução do projeto de pesquisa e do trabalho da equipe

layouts e mapas de navegação produzidos pela webdesigner

R5 e R6- Reunião da PPT2 com os pacientes colaboradores da disciplina de Psicopatologia

R7 – Discussão sobre as disciplinas/ sobre questões relacionadas ao desenvolvimento da pesquisa e sobre as características do ambiente R8 – Discussão sobre o mapa de navegação e sobre a dinâmica da disciplina de Psicopatologia R9 – Discussão sobre as possibilidades de utilização do AVA na disciplina de Psicopatologia R10, R11 e R12 - Discussão sobre as características do ambiente

Emails trocados pela equipe R13 – Discussão sobre as características do ambiente - últimos acertos

antes da programação R14 – Testagem do protótipo R15 – Discussão sobre o planejamento da intervenção

Fase 3 Intervenção pedagógica

R16 – Discussão com PPT1 sobre a organização das disciplinas Primeiras aulas teóricas das disciplinas de Psicopatologia

Emails trocados pela equipe/

Perfil de utilização dos alunos – número de downloads ao longo do curso

R17 – Discussão com PPT1 e PPT3 sobre possibilidades de explorar o Vivências nas disciplinas R18 - Avaliação da construção do curso pelo professor (antes da intervenção)

Duas aulas práticas de Psicopatologia Especial com os pacientes R19 - Avaliação da utilização do ambiente na disciplina (durante a

intervenção) R20 - Avaliação da intervenção (após a intervenção) Uma aula teórica de

Psicopatologia Especial AVA construído pelo PPT1nas disciplinas

Materiais produzidos pelos alunos

Três aulas práticas de Psicopatologia Geral

Fase 4 Análise retrospectiva do processo

- Todos os materiais coletados - Todas as análises realizadas - Literatura sobre a metodologia da PBD

Quadro 4.2: Síntese dos materiais analisados organizados pelas fases do processo de pesquisa

87

Como observado no quadro, selecionamos para a análise de cada fase diversos

materiais que se mostraram relavantes durante o processo para compreender a

negociação e a decisão da equipe. Assim, embora as transcrições das reuniões tenham

sido o material central da análise, outros dados também precisaram ser incorporados

para possibilitar uma compreensão do processo de negociação construído.

4.4.2 Métodos de análise dos dados

Tendo em vista que as reuniões do grupo constituíram a fonte principal de

análise, já que foi nesse espaço que os participantes tomaram decisões em conjunto e

expuseram suas impressões sobre o processo. Nesse contexto, buscamos compreender o

processo de pesquisa e desenvolvimento apoiado na PBD, a partir da negociação dos

sujeitos, compreendendo os aspectos que influenciaram as decisões tomadas em cada

uma das fases.

Sendo assim, a linguagem e construção de sentidos na equipe assumiram um

papel central na análise. De acordo com Spink e Medrado (2000),

sentido é uma construção social, um empreendimento coletivo, mais precisamente interativo, por meio do qual, as pessoas – na dinâmica das relações sociais historicamente datadas e culturalmente localizadas – constróem os termos a partir dos quais compreendem e lidam com as situações e fenômenos a sua volta (SPINK e MEDRADO, 2000, p.41)

Como a interação entre os sujeitos foi a via em que nos pautamos para

compreender o processo da PBD, neste estudo, nos baseamos na análise das práticas

discursivas proposta por Spink (2000). Segundo a autora, o conceito de “práticas

discursivas” se diferencia do de “discurso”. O discurso remete “às regularidades

linguísticas” e ao uso institucionalizado da linguagem e de marcas do tipo linguístico,

havendo, portanto, “a tendência à permanência no tempo, embora o contexto histórico

possa mudar radicalmente os discursos” (SPINK e MEDRADO, 2000, p. 43). Já as

práticas discursivas remetem aos momentos de ressignificação e diversidade, sendo,

portanto, compreendido como “linguagem em ação, isto é, as maneiras a partir das quais

as pessoas produzem sentidos e se posicionam em relações sociais cotidianas” (SPINK

e MEDRADO, 2000, p. 45). Dessa forma, enquanto a análise do discurso busca a

interpretação de regularidades, a análise das práticas discursivas busca a dinâmica e a

diversidade.

O estudo das práticas discursivas e da produção de sentidos parte da perspectiva

construcionista, segundo a qual “os termos em que o mundo é compreendido são

88

artefatos sociais, produtos das trocas historicamente situadas entre as pessoas” (SPINK

e MENEGON, 2000, p.76). Nessa perspectiva, o foco da investigação é compreender os

processos pelos quais as pessoas descrevem, explicam ou contabilizam o mundo em que

vivem, o que inclui a si mesmas.

Em termos procedimentais, na análise das práticas discursivas, os autores

sugerem que esta se inicie com uma imersão profunda no conjunto de dados coletados

ao longo do processo de pesquisa, procurando deixar emergir os sentidos, sem

aprisionar os dados em categorias, classificações e ou tematizações definidas a priori. É

importante ressaltar que embora essas categorias prévias, não sejam definidas como

uma “imposição”, de alguma forma, fazem parte do processo, uma vez que o

pesquisador não está isento de crenças e saberes que orientam seu olhar sobre os dados.

Dessa forma, ocorre um confronto entre os sentidos construídos no processo de pesquisa

e de interpretação e aqueles decorrentes do conhecimento teórico prévio com o campo

(SPINK e LIMA, 2000, p.106). A partir dessa imersão nos dados, buscando os sentidos

das interações, os autores indicam o uso de categorias como uma importante estratégia

linguística, uma vez que estas estão presentes na própria constituição da linguagem,

tendo em vista que “utilizamos categorias para organizar, classificar e explicar o

mundo” (SPINK e MEDRADO, 2000, p. 78).

É importante ressaltar que, embora na análise do conteúdo, especificamente na

análise temática, a categorização também assuma um papel central, esta tem como

objetivo a interpretação dos núcleos de sentido que constituem um enunciado

(MINAYO, 1994). Já na abordagem discursiva, a categorização é tratada como uma

construção de duplo sentido: a) como construções culturais, que estão disponíveis para

dar sentido à experiência e b) como construções situadas, utilizadas para a realização de

ações, tais como persuasão, culpabilização, negação, refutação e acusação. Se basear

nessa perspectiva, implica “tanto entender que determinadas categorias foram

socialmente construídas, como entender os usos a que se prestam nos processos

dialógicos de comunicação” (SPINK e MENEGON, 2000, p. 81). Segundo os autores, a

descrição de categorias oferece a possibilidade de expor o posicionamento do emissor

da fala e de dar visibilidade às consequências interacionais daí decorrentes.

No presente estudo, as categorias de análise se referem aos aspectos que

influenciaram as negociações da equipe para a concretização das fases da pesquisa. Na

literatura apoiada na PBD, não encontramos muitos trabalhos que discutissem o

processo de desenvolvimento de uma intervenção com base na análise das interações da

89

equipe. Engestrom (1999), inclusive, indica que, de forma geral, existe uma carência de

trabalhos que se dediquem a analisar as interações dos sujeitos durante uma atividade

em equipe. Dessa forma, na definição das categorias, para cada fase, realizamos um

processo cíclico: a) primeiramente, fazíamos uma imersão nos dados, por meio da

escuta das gravações e leitura das transcrições, buscando compreender o processo de

negociação da equipe para alcançar os objetivos de cada fase. Nesse processo,

identificávamos as decisões tomadas e as interações relevantes para se chegar à decisão;

b) tendo identificado essas interações, buscávamos identificar os fatores ou elementos

que se sobressaíam nesse processo de negociação e, assim, elencávamos características

que nos pareciam relevantes; c) tendo identificado os aspectos relevantes nos dados,

realizávamos revisões na literatura (buscando referências compatíveis, mas não restritas

ao campo da PBD), com o objetivo de construir um referencial que apoiasse a análise de

cada fase, apresentado no capítulo 1; d) Finalmente, voltávamos às transcrições para

selecionar as falas que expressavam cada categoria, com os respectivos recortes,

respeitando a seqüência das falas, para permitir uma análise processual.

A seguir, detalharemos os desdobramentos dessas categorias em termos de

indicadores para a análise.

4.4.2.1 Análise da fase 1: análise do problema educativo do Vivências

Com objetivo de analisar o processo de análise do problema educativo, na

equipe do Ambiente Vivências, buscamos compreender quais fatores internos

(JONASSEN, 2000), especificamente saberes docentes e crenças dos professores,

influenciaram a negociação da equipe e como estes se articularam, ao longo do

processo, para delinear o problema educativo. As crenças e os saberes da equipe se

sobressaíram no material analisado, além de serem apontados na literatura como fatores

que influenciam significativamente os sujeitos na análise de problemas mal estruturados

(ill-structured).

Como apresentado no capítulo 1, as crenças são concepções individuais

profundas, influenciadas por componentes afetivos e existenciais, que dificilmente são

transformadas, sendo, em certa medida, independentes dos conhecimentos e do controle

individual (PAJARES, 1992). Em relação às crenças dos professores, assumimos uma

abordagem ampla, cujo foco consiste na análise das crenças educacionais e das crenças

sobre os conteúdos de suas práticas, isto é, saúde e tecnologia educacional. Isto porque,

a forma como os sujeitos ensinam uma disciplina é fortemente influenciada pela

90

concepção que têm do conteúdo (PAJARES, 1992; VAN DRIEL, 2007).

Por outro lado, tendo em vista que o conhecimento/saber é uma construção

humana ou “uma crença socialmente justificada, legitimada na cultura” (AVILA, 2005),

o que diferencia a crença do saber é a “justificativa social” ou a racionalidade envolvida

no conhecimento (PAJARES, 1992).

Em relação aos conhecimentos construídos pelos professores, ou saberes

docentes, Tardif (2002) considera que estes são plurais e oriundos da formação

profissional, das disciplinas, dos currículos e das experiências. Os saberes experienciais

consistem em conhecimentos essencialmente práticos, baseados no trabalho cotidiano

na sala de aula e no conhecimento de seu meio. Estes saberes incorporam-se à

experiência individual e coletiva, na forma de habitus e de habilidades de saber-fazer e

saber-ser (TARDIF, 2002). Os saberes disciplinares são os conhecimentos teóricos em

relação ao campo de atuação dos sujeitos, adquiridos ao longo da formação inicial ou

continuada (TARDIF, 2002). Dessa forma, assumimos como foco a análise dos saberes

experienciais e disciplinares, pelo fato de este estudo envolver professores

universitários, cujas atividades se baseiam na relação intrínseca entre ensino e pesquisa,

envolvendo, portanto, a integração constante entre conhecimentos práticos e teóricos de

seus campos de atuação.

Nas interações da equipe, embora as crenças e os saberes, muitas vezes,

encontrem-se imbricados nas falas, identificamos as crenças por meio de indicadores de

subjetividade, que segundo Pajares (1992) se expressam nas opiniões, convicções,

juízos de valor e sentimentos dos sujeitos em relação a diversos temas. Sendo assim,

para identificar os trechos das interações a serem analisados, utilizamos como

descritores verbos que expressassem opinião e convicção (p.ex. achar, considerar,

acreditar, etc), assim como expressões que indicassem julgamento de valor (p.ex. “isso é

um problema”, “isso é bom”) e sentimento (p.ex.“eu fiquei impressionada”, “eu me

senti assim” etc).

Para análise dos saberes docentes, selecionamos interações que expressassem

componentes de racionalidade, em que os sujeitos buscavam um respaldo externo às

suas contribuições: nos fatos e acontecimentos (saberes experienciais) ou na teoria

(saberes disciplinares). Na análise dos saberes experienciais, utilizamos como

indicadores as interações da equipe que narravam fatos e acontecimentos vividos em

salas de aula ou outros contextos de trabalho, por exemplo: “Então, eu vou buscar

algum link em algum texto”. Em geral, os trechos selecionados para análise contêm

91

verbos de ação (p.ex. “ir”, “fazer”, “trazer”) relacionados ao contexto de prática

(formação em medicina, disciplina ministrada etc). Os saberes experienciais do grupo

de TE, relacionados à educação e ao uso pedagógico das TICs, foram identificados, por

meio de falas em que os pesquisadores buscavam apontar seus discutir o potencial das

TICs para enriquecer o contexto da formação médica apontado pelos professores, por

exemplo “o aluno pode ter espaço de voz também” [no Vivências] O exemplo não está

bom. Nessas interações, em geral, os pesquisadores apresentavam conjecturas sobre o

uso das TICs para lidar com algum aspecto do contexto de ensino.

Os saberes disciplinares, por sua vez, referem-se aos saberes teóricos dos

diversos campos de conhecimento, que são transmitidos na formação inicial ou

continuada. Para análise, como critério de recorte, selecionamos interações cujo foco era

contribuir com definições e explicações de conceitos teóricos sobre os campos de

conhecimento. Portanto, os indicadores utilizados foram os próprios conceitos, por

exemplo: “No problem-based a gente coloca o aluno no centro do processo”.

4.4.2.2 Análise da fase 2: desenvolvimento do artefato pedagógico

Para analisar o processo pelo qual os sujeitos negociaram e construíram o

Ambiente Vivências, buscamos compreender como as diferentes expertises se

manifestaram e se combinaram nessa atividade. Como apresentado no capítulo 1,

Haythormthwaite et al (2006) observam que as expertises são profundamente enraizadas

e enculturadas em um campo de conhecimento disciplinar e se manifestam em termos

de ideologias, atitudes, pressupostos e linguagens que se situam nas práticas de seus

campos. Procurando aprofundar as diferentes expertises que integram uma equipe de

desenvolvimento de ambientes de aprendizagem mediados pelas TICs, Lingnau et al

(2007) propõem e descrevem o processo de design da ação complementar

(complementary action design), que pressupõe que a atividade de desenvolvimento

ocorre por meio de expertises complementares de professores, programadores e

pesquisadores na equipe de desenvolvimento.

Para identificar as expertises dos sujeitos envolvidas no processo de

desenvolvimento da equipe, nos baseamos em Pozo (1992) que assume que estas se

contribuem com:

- funções interpretativas dos contextos, uma vez que permitem que se elabore

explicações causais para situações contextuais. Para identificar esse aspecto, nas falas,

selecionamos narrativas sobre os contextos da prática ou do campo.

92

- funções prescritivas, permitindo estabelecer projeções sobre situações futuras.

Na análise, selecionamos falas dos sujeitos que expressassem conjecturas sobre

situações futuras.

- funções operacionais, influenciando a forma de resolução de problemas e

incluindo rotinas operativas sobre o modo de atuar. Nas interações dos sujeitos,

selecionamos falas que explicitassem atividades e formas de fazer ou atuar específicas

do seu campo.

Além disso, consideramos que as expertises se refletem também em materiais

produzidos, tais como produtos, técnicas, descobertas e explicações (FRY, 2006). Na

análise, verificamos que, devido à natureza pragmática dessa fase, as expertises dos

sujeitos se revelaram de diferentes maneiras, por exemplo, as dos programadores se

revelaram não só em falas, mas também em ferramentas mediadoras (mapas de

navegação, layouts, versões do protótipo). Sendo assim, esses materiais assumiram um

papel de destaque na análise retrospectiva do processo, permitindo acompanhar a

dinâmica da interação dos sujeitos.

De forma geral, para selecionar as falas dos participantes sobre os seus

conhecimentos, primeiramente, partimos das decisões tomadas para, então,

selecionarmos todas as interações, respeitando a sequência com a qual ocorreram. Por

exemplo, para compreender a dinâmica das negociações que levaram à decisão sobre os

recursos pedagógicos do ambiente, selecionamos, em cada reunião, as falas que foram

significativas para se chegar ao resultado alcançado. A partir disso, buscamos

compreender a expertise de cada sujeito, com o foco na compreensão de como estas se

articularam e qual papel desempenharam no desenvolvimento do ambiente.

As expertises dos programadores se sobressaíram nos produtos desenvolvidos e

nas interações em que revelavam suas habilidades e experiências sobre o processo de

modelagem e programação de ambientes virtuais de aprendizagem, como por exemplo,

“isso que eu estou pensando em relação ao banco [de vídeos] faz diferença na hora de

construir”.

As expertises dos professores dos professores que se sobressaíram foram aqueles

relacionados às suas disciplinas, sobre o uso das tecnologias, sobre as atividades dos

alunos e todos os aspectos relacionados às suas práticas, em termos tantos de

interpretação como de prescrição (POZO, 1992), como por exemplo: “na disciplina, eles

sentam em roda, os alunos e os usuários todos e eles discutem um tema”.

93

As expertises dos pesquisadores que se sobressaíram foram aqueles relacionados

tanto ao desenvolvimento do ambiente, quando tentavam relacionar as práticas dos

professores com o uso das TICs, como, por exemplo, “Você acha que seria interessante,

por exemplo, um espaço de escrita de textos coletivo?”, quanto em relação ao processo

de pesquisa e ensino com as TICs, como por exemplo, “Temos que tomar uma decisão

interna ao sistema”.

4.4.2.3 Análise da fase 3: Intervenção pedagógica

Para analisar o processo de intervenção com o uso do Vivências, realizado pelo

PPT1, analisamos dados de diferentes naturezas que nos permitiram compreender a

forma como o Vivências foi utilizado e como se inseriu na dinâmica, em uma

experiência piloto, da disciplina (ambiente construído, perfil de uso dos alunos,

observações em sala de aula etc).

Em nossa análise, além de compreender o contexto da experiência pedagógica,

buscamos compreender os desafios do professor durante a intervenção e as

possibilidades de refinamento. No que diz respeito aos desafios, selecionamos

falas dos professores que incluíssem expressões, tais como “problema” e “dificuldade”,

como ilustram os exemplos a seguir: “Bom, aqui a gente está com essa dificuldade de

usar também material mais vivo” ou “eu já estou aqui pensando, por que até isso a

direção vai criar problemas”.

No que diz respeito à reflexão sobre as possibilidades de refinamento da

intervenção, selecionamos fragmentos que incluíssem opiniões sobre possibilidades

futuras de utilização do Vivências, tanto em relação ao desenvolvimento do Vivências

em si, como por exemplo “eu acho que poderia ter aquilo [funcionalidade do ambiente]

que quando entra uma coisa nova todo mundo é automaticamente avisado...”, quanto em

relação ao planejamento da disciplina com seu uso, como por exemplo “Espero que no

semestre que vem (...) eu consiga partir para estes vôos maiores [com o uso do

Vivências]”.

Para apresentação da análise, organizamos os achados das quatro fases do

processo em diferentes capítulos (capítulos 4, 5, 6 e 7). Em cada um dos três primeiros

capítulos, buscamos manter uma organização coerente, de modo que: primeiro,

descrevemos o processo desenvolvido pelos sujeitos para concretização da fase, por

meio da narrativa de design (BELL, 2004); em segundo lugar, analisamos o processo,

especificamente, no que diz respeito aos fatores que influenciaram a equipe na

94

concretização da fase; e por último, apresentamos as conclusões a que pudemos chegar

com a análise realizada. Essa organização dos capítulos tem como objetivo detalhar o

processo e a análise realizada, mantendo uma unidade entre eles. Embora a fase 4 do

processo, análise retrospectiva do processo e os princípios de design (REEVES, 2000),

tenha se refletido no conjunto da tese, isto é, em todos os capítulos de análise, buscamos

concentrar, no capítulo 7, uma análise do processo como um todo aprofundando os

conhecimentos sobre a metodologia que a análise nos permitiu construir.

Fases Materiais Questões de pesquisa/ aspectos

analisados

Produtos e processos gerados

Fase 1 – Análise do problemas educativo (REEVES, 2000)

De análise: - Gravações de reuniões do grupo

Como ocorreu a análise do problema educativo na equipe e quais fatores influenciaram? Crenças dos professores (PAJARES, 1992) Saberes docentes (TARDIF, 2002)

Problema Educativo

Complementares: - Materiais desenvolvidos pelo grupo e disponibilizados como apresentações em Power point e artigos científicos - Projeto desenvolvido pelo grupo

Fase 2 – Desenvolvimento de artefatos pedagógicos (REEVES, 2000)

De análise: - Gravações de reuniões do grupo - Observação do encontro com os pacientes

Como ocorreu o desenvolvimento do protótipo na equipe e quais fatores influenciaram? Conhecimentos dos sujeitos - Pesquisadores, professores e programadores (LINGNAU et al., 2007)

Protótipo do Vivências Complementares:

- Mapas de navegação desenvolvidos ao longo do processo - Protótipo do ambiente

Fase 3 – Intervenção e avaliação (REEVES, 2000)

De análise: - Gravações das reuniões do grupo

Quais os aspectos influenciaram o professor no processo de desenvolvimento da intervenção? Quais os conhecimentos foram gerados para o aprimoramento da intervenção? Desafios Aprimoramento da intervenção

Experiência de uso com o Vivências

Complementares: - Materiais produzidos no ambiente - Histórico de navegação dos alunos - ambiente construído pelo professor - Emails trocados com o professor - observações em sala de aula

95

Fase 4 - Documentação e reflexão para produzir princípios de design (REEVES, 2000)

Todos os materiais produzidos ao longo do processo Literatura sobre PBD

Considerando o processo do Vivências, como a PBD pode contribuir com a pesquisa e desenvolvimento de um AVA? Quais os princípios de design podem ser construídos a partir desse processo? Pressupostos da PBD (WANG e HANNAFIN, 2005; VAN DEN AKKER, 1999)

Princípios de design

Quadro 4.3: Síntese da análise realizada com o detalhamento de cada fase do processo. A partir do detalhamento da análise realizada em cada fase, nos próximos quatro

capítulos apresentamos os achados da pesquisa.

96

5. ANÁLISE DO PROBLEMA EDUCATIVO DO AMBIENTE VIVÊNCIAS :

CONSTITUINDO UMA EQUIPE DE TRABALHO

A análise do problema educativo constitui a primeira fase do processo de

desenvolvimento de intervenções norteado pela PBD (REEVES, 2000; EDELSON,

2002; JUUTI e LAVONEN, 2006). Como aprofundado no capítulo 1, essa fase é o

ponto de partida da pesquisa educacional e consiste na problematização dialógica entre

os envolvidos sobre a situação-problema que está sendo vivida e se deseja transformar

(KOZMA, 2000).

No desenvolvimento do Ambiente Vivências, esse processo de problematização

ocorreu a partir de negociações entre professores, pesquisadores de TE e alunos de

graduação e pós-graduação. Neste capítulo, apresentamos a análise dos dados referentes

à fase 1, tendo como objetivo compreender o processo de análise do problema,

especificamente, no que diz respeito aos fatores internos (JONASSEN, 2000) que

influenciaram a negociação da equipe.

Com base no referencial teórico-metodológico, as transcrições das gravações em

áudio de três reuniões da equipe (R1- R3) foram analisadas. A partir da escuta das

reuniões e da leitura das transcrições, primeiramente, descrevemos essa fase, de acordo

com os elementos da análise do problema descritas por Juuti e Lavonen (2005):

identificação do problema educativo, definição dos objetivos da intervenção e análise

teórica do problema.

Em seguida, com base em Jonassen (2000), discutimos os fatores internos à

equipe, especialmente, aqueles relacionados aos conhecimentos do campo ou saberes

docentes (TARDIF, 2002) e as crenças epistemológicas ou crenças dos professores

(PAJARES, 1992). Tendo como objetivo contribuir com conhecimentos sobre o

processo de análise do problema educativo, apoiado na PBD, em uma equipe

multidisciplinar, finalmente, discutimos as conclusão a que pudemos chegar com a

análise realizada.

5.1 DESCRIÇÃO DO PROCESSO DE ANÁLISE DO PROBLEMA EDUCATIVO

Nessa primeira fase, participaram da equipe os professores da faculdade de

medicina da UFRJ (PPM, PPT1, PPT2), pesquisadores de TE (PTE e PVE), alunos de

graduação de medicina (A1, A2, A3), alunos de pós-graduação em TE (DTE e MTE),

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uma webdesigner (W) e uma aluna de graduação em Biologia, bolsista de Iniciação

científica (AB). O professor PPT3 começou a participar da equipe, a partir da décima

reunião, por isso, não esteve presente no período analisado.

Seguindo a orientação da dinâmica de trabalho da pesquisadora de TE, a equipe

se reunia para discutir a possibilidade de construção de um projeto de pesquisa comum.

Os pesquisadores apresentaram seus trabalhos e seus interesses e, com isso, começou a

se delinear uma possibilidade de intervenção. A equipe discutiu questões teóricas e

práticas envolvidas no processo e debateu sobre as diversas possibilidades de explorar

as TICs.

A seguir, detalhamos o processo de análise do problema educativo realizado pela

equipe, em função dos elementos constitutivos da análise do problema, definidas por

Juuti e Lavonen (2005): identificação do problema pedagógico; definição dos objetivos

da intervenção e análise teórica do problema educativo (EDELSON, 2002; JUUTI e

LAVONEN, 2006).

5.1.1 Identificação do problema educativo

A proposta de desenvolvimento do Projeto Vivências teve início quando três

professores das disciplinas Psicologia Médica e Psicopatologia de um curso de

Medicina, envolvidos em um grupo de pesquisa sobre medicina baseada em narrativas5,

procuraram a parceria de pesquisadores da área de Tecnologia Educacional em Saúde,

com o objetivo de construir um site com depoimentos sobre experiências de

adoecimento e de tratamento de pacientes com transtornos mentais e doenças

neoplásicas. Inicialmente, não havia um problema educativo estruturado e o interesse

não era especificamente no ensino, mas na difusão de conhecimentos sobre os aspectos

subjetivos das patologias para a comunidade em geral: profissionais de saúde, pacientes,

familiares, alunos e pesquisadores.

A tarefa de problematizar o ensino e definir o problema educativo foi

5 A “medicina baseada em narrativas” propõe uma forma de pensar a prática médica, alternativa à “medicina baseada em evidências”, buscando contemplar a sua complexidade. Nesse enfoque, entende-se que a narrativa provê sentido, contexto e perspectiva para os problemas do paciente, de modo que colher a história do paciente, contemplando todos os seus aspectos, volta a ser uma dimensão crucial da prática clínica, “tornando a tarefa do médico, numa certa medida, comparável a de historiadores, biógrafos ou etnógrafos”. Essa postura é compreendida como indispensável para a mediação entre o mundo do doente, povoado por receios, dores, incapacidades, e o mundo dos profissionais de saúde, ao qual são atribuídas a capacidade de decifrar a origem dos padecimentos e de prover o seu alívio (SERPA JR., 1999).

98

desempenhada desde o primeiro encontro. Neste momento, os pesquisadores de

tecnologia educacional, envolvidos em suas pesquisas sobre formação em saúde e uso

de tecnologias de informação e comunicação, buscaram orientar a discussão para o

potencial pedagógico do material e aprofundar as questões relativas à educação,

especialmente, ao caso da graduação em medicina.

Os professores se interessaram em refletir sobre o problema educativo de suas

áreas, questionando sobre como um material com depoimentos poderia contribuir para a

formação médica. Dessa forma, logo nos primeiros encontros entre os pesquisadores, o

foco da questão foi redirecionado para o ensino na saúde. Nas falas a seguir, a PPM

narrou ao grupo qual era o objetivo inicial e como ele foi sendo reformulado, sobretudo,

com base na intervenção da PTE:

PPM: (...) tudo começou porque nós resolvemos fazer um site com experiências de adoecimento e tratamento (...) As experiências dos doentes estariam disponíveis, como um banco de dados, onde as pessoas falam (ou filmadas ou gravadas) e aí os alunos, os professores, podem usar desde exemplarmente, como também podem fazer pesquisa. Aí, a PTE criou o seguinte: “não, mas eu quero mais. Eu quero que haja um espaço para formação, para o aprendizado da experiência”. (Reunião 1)

A partir dessa problematização, uma série de questões pedagógicas foi sendo,

aos poucos, evidenciada pela equipe, apontando necessidades específicas do ensino da

medicina, relacionadas, principalmente, à desvalorização da dimensão subjetiva do

paciente na formação, como apresentado a seguir:

PPM: (...) o problema é que todo o ensino médico, seja, pelo problem-based, seja pelo método tradicional, o paciente, a experiência do paciente é um mero exemplar (...) a dimensão experiencial sempre fica de fora (...). É aquele subjetivo que ninguém dá conta e sempre fica no limbo. (Reunião 2)

AM1: Arquivo mnemônico – base de dados AM1: 4º período, fazendo anamnese, esta mesma situação: o paciente de saco cheio e vários grupos fazendo a mesma coisa, perguntando a história dele... Eu estava conversando com colegas e falei “gente, vamos maneirar... Dá para entender porque ele está de saco cheio”. Aí, uma colega minha responde: “não, mas se está aqui é para isso mesmo. A gente infelizmente tem que usar”. Ele está usando a gente e a gente usa ele. (Reunião 1)

Os questionamentos centraram-se, principalmente, no desequilíbrio existente

entre a abordagem técnica das patologias e a dimensão subjetiva envolvida no processo

de adoecimento. Sem desconsiderar o papel do conhecimento técnico-científico na

formação, ressaltaram a necessidade de valorizar as narrativas dos pacientes para

transformar e humanizar a relação médico-paciente.

99

É importante ressaltar a transformação pela qual passou o objetivo inicial dos

professores até a definição do problema educativo. Nesse processo, destacou-se o papel

dos pesquisadores em tecnologia educacional, no sentido de problematizar e aprofundar

as questões trazidas pelos professores e delinear desafios educativos a serem

considerados no desenvolvimento da intervenção.

5.1.2 Definição dos objetivos da intervenção

Os objetivos do Ambiente Vivências foram sendo definidos em conjunto pelo

grupo. Ao longo das reuniões, o grupo compartilhou conceitos teóricos e práticos,

possibilitando definir os problemas educativos e os objetivos do ambiente de

aprendizagem. Nesse processo, o grupo de TE buscou articular os desafios do contexto

educativo com as possibilidades de uso das TICs, sugerindo aos professores

possibilidades de enriquecer a experiência pedagógica.

PTE: (...) o eixo central é uma base de informações, de vídeos com entrevistas dos pacientes que ele pode acessar. Só que a nossa intenção não é só criar uma base de informação (...) em vez de ficar só a base de dados (...), a gente queria construir outras oportunidades de aprendizagem e interação (...) É isso que eu acho que é o nosso objetivo. (Reunião 1)

Definiu-se que o ambiente seria restrito a professores, alunos e pacientes

envolvidos nas disciplinas de Psicologia Médica e Psicopatologia. Devido às

especificidades de cada disciplina, foi decidido que o ambiente teria como foco tanto a

experiência do paciente sobre o adoecimento e tratamento, quanto à do aluno que se

depara com o desafio e responsabilidade de lidar com a vida humana.

PTE: (...) a gente está pensando que os professores vão usar nas disciplinas. A idéia é que o PPT1 passe a usar com os alunos dele, a PPM passa a usar... E aí, isso vai sendo divulgado. (Reunião 2)

PPT2: Eu acho, PTE, que você está falando duas coisas que são fundamentais, que são as duas dimensões da experiência que no nosso trabalho a gente não pode deixar de fora: a experiência do aluno e do paciente. (Reunião 2)

Concluiu-se, então, que o ambiente teria como objetivo oferecer aos estudantes a

possibilidade de entrar em contato com experiências de pacientes no adoecimento e

tratamento, por meio de uma diversidade de depoimentos em vídeo, áudio, texto e

outros recursos da Web 2.0 (tais como blogs, wiki e comunidades), possibilitando, ainda,

que as impressões sobre estas experiências fossem compartilhadas.

100

PPT1: É, mas a idéia é justamente... não ser um texto e poder ter acesso às narrativas e os pacientes falando sobre o que é a experiência. Para o aluno poder conhecer, não como geralmente conhece, a partir de uma lista de sintomas e não entender como é isso encarnado. (Reunião 2)

Como pode ser observado nas falas dos participantes, os objetivos do ambiente

virtual de aprendizagem (AVA), nessa primeira fase, ainda eram bastante gerais.

Definiu-se que este possibilitaria não apenas a disponibilização de relatos de pacientes,

mas também um espaço de aprendizagem e troca entre os alunos das disciplinas dos

professores. Dessa forma, teria como foco incorporar a experiência dos pacientes e dos

alunos.

5.1.3 Análise teórica do problema educativo

Para definir a teoria norteadora, na medida em que as discussões apontavam

questões pedagógicas críticas, a equipe de TE pesquisava o referencial teórico que

pudesse fundamentar a análise do problema. Esse referencial era discutido nas reuniões

e orientavam novas buscas. Esse processo foi iterativo, até que se chegou a um

consenso sobre a teoria de aprendizagem norteadora do Vivências. Acompanhando o

processo, foram identificados três principais momentos de construção coletiva:

1º momento - Discussão sobre a valorização da experiência e vivência do aluno

As primeiras discussões conceituais ressaltaram a importância de se valorizar a

experiência do aluno como um aspecto fundamental da aprendizagem.

PPT2: Engraçado, o que me chamou atenção, é que no início eu achei que a palavra experiência resolvia. PTE: Não resolve, não. Eu também, a primeira coisa que eu fiz foi buscar a palavra “experiencial”. PPT2: Porque você pode ter a experiência na perspectiva da terceira pessoa... PTE: É isso que a gente está buscando, mas ainda não chegou. E isso é muito importante porque, para mim pelo menos, para ter uma fundamentação que me ajude a orientar a construção desse modelo. PTE: Do ponto de vista educacional, a maior contribuição desse projeto, em termos de inovação educacional, é que a gente sai do problem-based, que é a aprendizagem baseada em problema para a questão do experiential-based. Que o cara vai vivenciar, ele não vai estudar um caso e pegar um caso para distrinchar. Ele vai vivenciar o sofrimento afetivo... (Reunião 2)

O eixo norteador foi a compreensão do aluno como centro do processo de ensino-

101

aprendizagem, que constrói conhecimentos a partir da interação com o meio e com

outros indivíduos. Esta discussão apontou a necessidade de buscar um referencial que

valorizasse não apenas a dimensão cognitiva no processo de aprendizagem, o que levou

a equipe de TE a buscar um referencial sobre: aprendizagem experiencial, afetiva e

situada.

2º momento - Discussão sobre os princípios da aprendizagem experiencial

(experiential learning), afetiva (affective learning) e situada (situated learning)

A equipe discutiu a necessidade de considerar as dimensões cognitiva e afetiva de

forma integrada:

PPT2: É, mas esses autores que o PPT1 está trazendo, trazem uma dimensão corporal da empatia (...) Não é só pelo cognitivo. Eu acho que isso que é interessante da empatia, que tem uma dimensão que é física. PPT2: (...) essa exposição pode se dar do ponto de vista do sujeito no aprendizado na perspectiva da terceira pessoa e não da primeira. E, na verdade, o que a gente estava querendo ressaltar era a exposição do aluno à experiência em si. (Reunião 2)

PPT1: Você falou de situated... Situated e embodied, eu pensei agora.... Porque no campo de discussão da ciência cognitiva, o tipo de abordagem próxima ao que a gente tenta trazer para a Psicopatologia, tem sido chamada de embodied ou situated cognition. PTE: Eu vou procurar embodied também. PPM: A psicanálise que fala muito dessa questão da terceirização... Ela não fala de aprendizagem exatamente, mas quem fala de transmissão pela experiência é a psicanálise. PTE: A gente pode ver “Freud e educação” se tem. A gente pode dar uma olhada. Mas a gente não entende nada de psicanálise. (Reunião 2)

Essa discussão motivou a busca pelo referencial da aprendizagem corporificada

(embodied learning), da “psicanálise e educação”.

3º momento - Discussão sobre aprendizagem corporificada (embodied learning)

A partir dessa busca, a equipe de TE identificou a aprendizagem situada e

corporificada como sendo as teorias norteadoras do Vivências (BILLET, 1994;

DALL’ALBA e BERNACLE, 2005). Essas abordagens foram levadas para discussão

no grupo e foram definidas como as teorias norteadoras do Vivências:

PTE: (...) quando você aprende embodied você tem uma transformação de você integral, não é só do compartimento intelectual. Você não constrói só um

102

conhecimento, você constrói uma ética (...) O que eu achei muito adequado para essa questão que a gente está discutindo da problemática da relação médico-paciente (...) Da escuta, do entendimento do que é o sofrimento (...) Isso aqui foi uma direção fundamental, que de uma certa maneira isso não estava tão explícito... Hoje, a gente fala: “nós vamos trabalhar com embodied learning”. (Reunião 3)

O Construtivismo foi, portanto, a matriz teórica que orientou as opções da

equipe na seleção da teoria norteadora para fundamentar o design e análise desta

intervenção. A abordagem construtivista de aprendizagem considera que o

conhecimento não é algo acabado e objetivo, mas construído pelo sujeito através de suas

interações no mundo, mediadas por artefatos culturais (COLE e WETSCH, 1996;

ROGOFF, 2003). Essa filiação evidenciou-se, desde o primeiro momento, na fala da

pesquisadora de TE sobre o papel dos alunos ao vivenciarem o processo de

aprendizagem.

Na aprendizagem situada, abordada no capítulo 2 deste trabalho, o contexto é

considerado fundamental e indissociável do processo de aprendizagem que nele se

realiza, uma vez que tem o poder de interferir nas atitudes, nas posturas e nas ações dos

alunos, influenciando de maneira significativa a construção do conhecimento

(BILLETT, 1996; THERRIEN e LOIOLA, 2001).

A aprendizagem corporificada considera que a cognição envolve, além dos

aspectos mentais, os aspectos físicos, emocionais e afetivos (KERKA, 2002). Segundo

Mckenzie et al, (2006), tal reconhecimento favorece uma aprendizagem “corporificada”,

já que neste caso não existe uma separação entre mente/corpo durante o processo de

aprendizagem (CHAPMAN, 1998). Nota-se que essa abordagem vai além da

aprendizagem afetiva, já que insere também os aspectos físicos e emocionais no

processo de aprendizagem.

Na análise teórica do problema, foi fundamental a contribuição dos

conhecimentos dos sujeitos sobre seus próprios campos de conhecimento,

principalmente, os conhecimentos teóricos. A dinâmica adotada permitiu que a equipe,

em conjunto, buscasse compreender os princípios pedagógicos que norteariam o

desenvolvimento do Ambiente Vivências.

5.2 ANÁLISE DO PROCESSO DE ANÁLISE DO PROBLEMA EDUCATIVO

Como apresentado anteriormente, no capítulo 3, para compreender o processo de

análise do problema educativo adotamos como foco a análise dos fatores internos da

equipe (JONASSEN, 2000), especificamente, no que diz respeito às crenças dos

103

professores (PAJARES, 1992) e saberes docentes (TARDIF, 2002).

5.2.1 Crenças dos professores

As crenças são concepções individuais profundas, influenciadas por

componentes afetivos e existenciais, que dificilmente são transformadas, sendo, em

certa medida, independentes dos conhecimentos e do controle individual (PAJARES,

1992). Em relação às crenças dos professores, assumimos uma abordagem ampla, cujo

foco consiste na análise das crenças educacionais e das crenças sobre os conteúdos de

suas práticas, isto é, saúde e tecnologia educacional. Isto porque, a forma como os

sujeitos ensinam uma disciplina é fortemente influenciada pela concepção que têm do

conteúdo (PAJARES, 1992; VAN DRIEL, 2007).

5.2.1.1 Crenças educacionais

Nas discussões da equipe, foi possível identificar as crenças educacionais a

partir das crenças epistemológicas, das crenças sobre o papel do paciente e sobre o

papel do aluno. Em relação às crenças epistemológicas, que se referem às convicções

sobre a natureza do conhecimento e como ele é aprendido (PAJARES, 1992;

JONASSEN, 2000), foi possível identificar uma compreensão compatível com o

construtivismo:

PTE: para mim também não tem separação... PPT1: porque tem uma cisão tradicionalmente estabelecida entre cognição e afeto... Para não parecer que a gente está do outro lado. PTE: Nós também temos, vamos dizer, um preconceito em relação a isso. Porque a gente também entende que não existe saber sem sentir. Dentro de uma perspectiva construtivista, essa separação é inexistente... (Reunião 2)

No diálogo, os professores expressaram suas convicções de que o conhecimento

é uma construção humana e, portanto, a aprendizagem depende de aspectos cognitivos e

afetivos. Dessa forma, consideraram que o conhecimento não é um dado externo ao

indivíduo, adquiro de forma direta através da transmissão, mas um processo que

envolve também a dimensão afetiva. Como apontado pela PTE, essa crença é

compatível com o construtivismo e foi compartilhada por todos os participantes, como

evidenciado no trecho: “a gente também entende que não existe saber sem sentir”.

Com essa perspectiva norteadora, a equipe revelou crenças sobre o papel do

paciente na formação médica, como pode ser visto a seguir:

104

PPT1: Só que a gente considera que esse tipo de modelo não trabalha com a experiência. Você pode pegar, levar um paciente, entrevistar esse paciente e depois isso não tem a menor importância, porque você trata daquilo como se fossem conceitos. Você imediatamente formaliza aquilo... Tem um artigo6 nosso que acabou de ser publicado na revista Interface, que a gente fala justamente de uma modificação de um ensino prático. PTE: Porque eu acho que é uma outra vivência. Que eu acho até que os alunos têm essa vivência mais ou menos, mas ela não é aproveitada ou ela não é pensada durante o processo. AM1: E muitas vezes ela é chutada. PTE: Porque quando vocês estão lá na enfermaria, vocês não são levados a prestar atenção nas pessoas. Se vocês estão na enfermaria vendo um cara que teve um AVC, vocês não estão nem aí para o sofrimento, estão preocupados com a parte do cérebro que está lesada. É verdade, é isso que está preocupando. Se o braço está não sei o que... Agora, como é que o cara está encarando o problema dele porque ele está paralisado, não estão nem aí, né? AM1: Essa abordagem é trazida mais para o sujeito. Lembrar que são pessoas, né? PPM: Exatamente, o que é difícil é colocar essa dimensão experiencial não só visível, como discutível, como reflexível, como valorizada etc e tal (...) Porque ele tem o cenário da vida, a intimidade no fundo que é o que não está posto para discussão, para reflexão etc. (Reunião 1)

PPM: Veja bem, o problema é dar lugar à experiência como um lugar de valor, entende? E utilizar isso do ponto de vista pedagógico. Que como disse bem o PPT1. Não é que ela não exista no cenário pedagógico, ela até existe, mas ela é rapidamente substituída. PTE: Ela é vivenciada de uma outra maneira. Ela é terceirizada... PPM: Gostei dessa classificação... Isso é coisa de paciente... A terceirização é isso. Os médicos e os alunos não precisam se preocupar... Ou melhor, não precisam se deixar afetar. (Reunião 2)

Os dois diálogos expressaram críticas em relação ao modelo tradicional de

formação em medicina, que enfatiza o ensino de técnicas e não trata da relação médico-

paciente. Tanto o PPT1 quanto a PPM revelaram convicções de que os pacientes devem

ser incluídos na formação, não como um “objeto de estudo”, que fornecem casos,

conceitos e conhecimentos sobre as doenças para o estudo da clínica; mas como sujeitos

que têm sentimentos que devem ser levados em conta no cuidado. Nos dois diálogos,

nota-se que as crenças explicitadas pela PTE foram compatíveis com a dos professores,

observando-se a concordância entre eles.

Essa crença sobre o papel do paciente está implícita no movimento de

humanização da saúde, segundo o qual a prática e a formação profissional devem

valorizar a experiência subjetiva dos pacientes compreendendo que os sujeitos não são

reduzidos a um conjunto de órgãos e sistemas, mas em sua totalidade (CECCIM e

6 SERPA JUNIOR, O.D.; LEAL, E.M.; LOUZADA, R.C.R.; SILVA FILHO, J.F. A inclusão da subjetividade no ensino da Psicopatologia. Interface (Botucatu) [online], vol.11, n.22, pp. 207-222, 2007.

105

FUERWERKER, 2004; SUCUPIRA, 2007; LOPES et al., 2007).

As crenças sobre o papel dos alunos se expressaram nas discussões, tal como

ilustrado a seguir:

PPM: Concordo, o aluno tem que interagir com o paciente e o paciente com o aluno. (Reunião 1)

PTE: Eu sinto que a vivência do aluno é mais importante do que a experiência que você vai oferecer para ele, organizar para ele... Porque ele vive isso no cotidiano dele, ele vai para a enfermaria e ele vive isso, de uma certa forma... E a gente quer é tentar potencializar e trazer essa vivência, de uma certa maneira, para dentro de um contexto. (Reunião 2)

PPM: Em termos ideais, o bom é, em última análise, ensinar ao aluno que o afeto dele importa para conduzir o caso. (Reunião 1)

É possível observar que os professores e a pesquisadora, em suas falas,

valorizaram o papel ativo dos alunos, como centro do processo de ensino-aprendizagem,

devendo ser levados a interagir com os pacientes e refletir sobre essa experiência. Em

sua fala, a PTE demonstrou a convicção de que, embora a experiência do aluno com o

paciente seja proporcionada na graduação, a reflexão sobre essa experiência, elemento

crucial para a formação médica, não é valorizada.

Em seu relato, o aluno de medicina (AM) abordou essa carência de reflexão no

ensino médico, expondo as consequências disso em sua vida, o que corrobora as

questões colocadas pelos professores:

AM: (...) a gente vira uma ameba. Eu me senti um gênio quando eu entrei na faculdade, cabeça funcionando, refletindo, filosofava muito... à medida que o tempo vai passando, a gente vai atrofiando muito, a gente não reflete mais... Agora no M9, então, é med curso, é DIP, o que eu preciso ler, roteiros, protocolos. [obs: med curso e DIP são disciplinas do 9° período de medicina] (Reunião 1)

Em síntese, foi possível verificar que os sujeitos acreditam em uma formação

médica que valorize: a) a construção do conhecimento pelo aluno, levando em conta não

apenas os aspectos cognitivos da aprendizagem, mas também os afetivos; b) a

experiência do paciente, em seus aspectos subjetivos, como uma forma de abordar na

formação a relação médico-paciente; c) o aluno como centro do processo de ensino-

aprendizagem, devendo ser estimulado não só a interagir com os pacientes, mas refletir

sobre essa interação e sobre os aspectos afetivos que emergem dessa interação.

106

5.2.1.2 Crenças sobre saúde

As crenças sobre saúde se expressaram na forma como os sujeitos julgaram as

questões relacionadas à saúde humana. Na análise, foi possível destacar crenças sobre o

serviço de saúde e a articulação entre ensino e serviço, como apresentado a seguir:

PPM: (...) O ensino médico da universidade, por exemplo, qual é a moldura que nós temos que ter no sentido de fazer limites do que é aceitável? (...) O aluno só faz determinadas coisas, porque sabe que pode fazer. Agora, quando (...) acabam a residência e vão trabalhar na rede privada, lá ouvem todos os pacientes. Por quê? Porque é um valor de mercado. Vai não ouvir na rede privada para você ver. PPT1: Mas o valor não é ouvir o paciente, o valor é sua posição no mercado. PPM: Então, é esse o valor que vai nos reger? É o valor do mercado? (...) PVE: Mesmo na rede privada? Será que realmente escuta o paciente? PPM: (...) Mas escuta muito mais, porque a rede privada é infiltrada pela universidade, e eu fiquei 11 dias internada e fiquei impressionada, porque eu vi. Assim como vi a força dos protocolos, da rotina, da burocracia (...). Agora ali no HU se permite umas tantas coisas. PTE: Como se não pagasse caro por aquilo, imposto... (Reunião 1)

Os sujeitos apontaram crenças de que o paciente deve assumir um papel central

no serviço de saúde, devendo ser considerado pelos médicos, não apenas em sua

dimensão biológica, mas também em sua dimensão pessoal, social etc. PPT1 e PPM se

mostraram convictos de que os médicos devem considerar a narrativa dos pacientes

como um aspecto crítico do cuidado em saúde e questionaram os valores éticos dos

serviços de saúde, uma vez que os médicos assumem posturas diferenciadas no serviço

público e no privado, indicando certa discriminação de acordo com a classe social. A

PPM sugeriu que o ensino na universidade reforça essa mentalidade, apontando a

necessidade de repensar seu papel: “é esse o valor que vai nos reger? É o valor do

mercado?”.

Dessa forma, as crenças sobre saúde também foram compatíveis com o conceito

da integralidade, segundo o qual o paciente é compreendido como o “centro e o objeto

da atenção”, considerado em todas as suas dimensões: biológica, social, histórica etc.

(SUCUPIRA, 2007, p.626). Dessa forma, os pesquisadores e professores demonstraram

acreditar que a humanização do cuidado deve nortear a relação médico-paciente,

devendo ser um valor incentivado desde a formação.

Esses princípios foram compartilhados por todos os sujeitos, como evidenciado

no diálogo, em que a participação dos pesquisadores de TE (PVE e PTE) reforçaram os

argumentos dos professores (PPM e PPT1).

107

Essa convergência de crenças sobre saúde também se evidenciou, quando a PPM

demonstrou entusiasmo ao perceber que a PTE considerava a experiência do paciente

como algo importante de ser tratado no ensino, como apresentado na fala a seguir:

PPM: A gente não pode deixar de registrar que quando alguém que não é psiquiatra como a gente, porque também não é qualquer psiquiatra, se entusiasma com a experiência de adoecimento, a gente fica feliz. PTE: porque eu acho que é uma outra vivência. (Reunião 1)

Em suma, foi possível verificar que os sujeitos da equipe acreditam que o

paciente é o centro dos serviços de saúde, devendo ser respeitado, em todas as suas

dimensões, independente da classe social. Além disso, julgaram que esses valores

devem ser trabalhados desde a formação.

5.2.1.3 Crenças sobre tecnologia educacional

As crenças sobre tecnologia educacional foram analisadas de acordo com as

percepções dos sujeitos sobre o potencial e as limitações da utilização da tecnologia no

ensino. Com base na análise, foi possível perceber uma preocupação de que as TICs

enriquecessem o papel dos pacientes, dos alunos e dos professores no processo de

ensino aprendizagem.

Em relação aos alunos, julgaram que a tecnologia deveria potencializar seu papel

ativo no processo de aprendizagem:

PPM: E tem que fazer isso, não só em registro em um banco de dados estático (...). PTE: Mas nós temos que promover experiências. PPM: Promover experiências de interação que produzam o acontecimento, não é isso? O aluno tem que interagir com aquele site para produzir um acontecimento, produzir uma experiência pedagógica, que vai ser colhida no site (...). Mas não é isso que está se querendo? (Reunião 1)

PTE: A gente tem que buscar formas de que os alunos tenham outra função (...) Que instrumentos a web pode oferecer para que a gente parta do aluno? Da experiência do aluno, da experiência do paciente. (Reunião 2)

PPT1: Antes de chegar aí, estávamos falando da questão dos valores. Como se transmite valor? A gente transmite conhecimento, unidade cognitiva e valores a gente pouco transmite. Esse tipo de instrumento, pode ser uma maneira de transmitir valor. (Reunião 1)

PPM: Mas vem cá, o aluno está na enfermaria, porque ele vai ao site? (...) PPT1: Daqui a pouco o aluno vai estar no computador e se comunicando com o a paciente na enfermaria... (Reunião 1)

108

Os professores e pesquisadores consideraram que o potencial da tecnologia

deveria ser utilizado no sentido de promover experiências pedagógicas e valores éticos

aos alunos, possibilitando que os alunos assumam um papel ativo no processo de

aprendizagem. Na fala da PTE e no último questionamento da PPM, nota-se uma

preocupação de que a tecnologia não seja utilizada como um fim em si mesmo, mas que

permita uma mudança qualitativa no papel do aluno.

Em relação aos pacientes, a equipe apontou o potencial das TICs de possibilitar

um papel ativo aos pacientes no processo de ensino-aprendizagem:

PPT1: Eu estava pensando no paciente não hospitalizado; o paciente que está na consulta de ambulatório, que tem um acompanhamento. Acho que pode ser também. Como seria? Sei lá um grupo de paciente que tem um diagnóstico “x” ou um problema somático “y”, que faz um acompanhamento médico, fazem um acompanhamento desse tipo também, em que eles vão e se reúnem e fazem uso desse tipo de ferramenta. Inclusive, para a clientela que nos procura, essas coisas são meio extraordinárias também. Acesso a Internet... Acho que tem esse ganho também. PTE: tem um ganho social enorme. PPT1: É um ganho social que está para além... Acho que seria pensável isso. PTE: olha, muito importante. PPT1: Com esse caráter mesmo, terapêutico. (Reunião 1)

O professor PPT1 expressou sua convicção de que o acesso à Internet

possibilitaria ao paciente não apenas participar da disciplina, mas contribuiria também

para o tratamento e a inclusão social.

Além disso, a equipe também discutiu o papel do professor diante da tecnologia,

como apresentado a seguir:

PTE: E a gente colocou um outro espacinho que era um módulo de capacitação dos professores, para discussão pedagógica, formação para imagem, uso de tecnologias de informação para educação. Que a gente achou que era interessante para os professores que aderem a esse projeto poderem discutir essas questões sobre o processo. Assim como, vocês também podem querer colocar alguma coisa sobre Psiquiatria, Psicologia médica, etc, etc. Essa é a nossa sugestão: discutir o papel da tecnologia. (Reunião 3)

Ao sugerir um espaço no ambiente para o professor, em que se oferecesse

materiais que estimulassem a reflexão pedagógica, percebe-se a preocupação de que

este não seja um mero usuário da tecnologia, mas que possa refletir sobre seu uso e

utilizá-la de acordo com suas necessidades.

Sendo assim, os sujeitos se posicionaram criticamente em relação à tecnologia,

109

uma vez que, em suas falas, verificou-se uma preocupação de que o uso das TICs

possibilitasse não apenas maior eficiência ao processo de ensino, mas oferecesse outros

valores aos sujeitos como autonomia, interação, ética e inserção social. Verificou-se,

ainda, a preocupação de que os sujeitos se apropriassem das TICs, não sendo apenas

seus usuários passivos.

O posicionamento da equipe foi compatível com a Teoria Crítica da Tecnologia

(FEENBERG, 2003), segundo a qual a tecnologia: a) não é neutra e sim carregada de

valor, isto é, oferece não apenas efeciência, mas também valores substantivos aos

processos em que é incluída e b) é humanamente controlada, de modo que esse valor

não é determinado por uma essência da tecnologia, mas pela forma como é utilizada.

Em relação à tecnologia educacional, esta visão de tecnologia tem como pressuposto

que as TICs são meios que viabilizam intenções pedagógicas e que seu valor é

determinado a partir do seu uso no contexto educacional.

Também em relação às crenças sobre tecnologia educacional foi possível

perceber uma convergência entre os sujeitos da equipe, no sentido de compreender as

TICs como uma potencial ferramenta de mudança da formação em medicina.

Em síntese, foi possível observar que a equipe se referiu à tecnologia não como

o centro do processo educativo, mas como uma ferramenta para enriquecê-lo e

transformá-lo. Os sujeitos julgaram importante que alunos, pacientes e professores se

apropriassem da tecnologia, assumindo papéis ativos na formação em medicina.

5.2.2 Saberes docentes da equipe

Assumindo que o conhecimento/saber é uma construção humana ou “uma crença

socialmente justificada, legitimada na cultura ou na política” (AVILA, 2005), o que

diferencia a crença do saber é a “justificativa social” ou a racionalidade envolvida no

conhecimento (PAJARES, 1992). Dessa forma, na análise, como indicadores dos

saberes docentes selecionamos interações que expressassem componentes de

racionalidade, em que os sujeitos buscaram fundamentações às suas contribuições: nos

fatos e acontecimentos (saberes experienciais) ou na teoria (saberes disciplinares).

5.2.2.1 Saberes experienciais

As discussões da equipe foram permeadas por reflexões sobre as práticas dos

professores e dos pesquisadores. Na análise das interações relacionadas a esse tópico,

110

foi possível verificar que os professores contribuíram com conhecimentos relacionados

ao foco de suas disciplinas e às estratégias educativas utilizadas.

Nas falas a seguir, a PPM apresentou ao grupo o contexto da disciplina de

Psicologia Médica:

PPM: Qual é o barato do M67? (...) ele está no vão central da ponte Rio-Niterói. Ele está no meio do paciente e do médico. Ele está no meio do caminho diante de toda aquela ventania. Ele vive um drama de pela primeira vez atender um paciente. E o paciente tem o drama dele. É desse encontro de dramas que saem as histórias mais ricas... (Reunião 2)

PPM: Agora, a gente faz uma coisa diferente, porque eu mantive a mesma dinâmica que eu tinha anteriormente, quando aluno discutia o caso clínico com o clínico. O aluno traz a questão através da angústia dele, entende? Então, ele tem de fato no HU um paciente com câncer de testículo, um paciente jovem, etc e tal. Então, eu vou buscar ou algum link em algum texto... Eu tematizo a partir da experiência vivida pelos alunos. (Reunião 2)

Ao falar de sua disciplina, a PPM ressaltou os desafios dos alunos no início do

acompanhamento do seu primeiro paciente no leito hospitalar e apontou as estratégias

pedagógicas que utiliza para trazer à tona essa reflexão, partindo da experiência do

aluno e incorporando elementos da literatura e do cinema para suscitar as discussões.

Nessa reflexão sobre sua prática, a professora expôs seus objetivos na disciplina e os

meios que utiliza para alcançá-los. Verificamos que sua prática é compatível com a

crença sobre o papel ativo do aluno no ensino, discutido anteriormente.

A professora PPT2 também explicou à equipe sobre o módulo prático da

disciplina de Psicopatologia, ministrado por ela:

PPT2: Eu acho que você já me viu falando do grupo... Os pacientes contam para os alunos o que é a experiência de ter um problema psiquiátrico. Com temáticas que eles escolheram (eles os pacientes). Então, eles escolhem as temáticas e contam para os alunos o que é isso. PTE: Quer dizer, vocês não têm nenhuma ingerência sobre o que o paciente vai falar? PPT2: Não. Nenhuma. Mas por outro lado (...) obviamente, esses pacientes que estão trabalhando comigo há dois anos, não são mais os mesmos pacientes... PTE: É claro. Não é mais um depoimento cru. Eles já têm uma bagagem... (Reunião 2)

PPT2: (...) quando os pacientes saem, eu recolho o que foi a experiência do aluno de participar desse grupo com pacientes, que vão dizer que ouvir vozes é assim ou assado. (Reunião 2)

7 O M6 é o 6º período da Faculdade de Medicina, quando os alunos entram em contato, pela primeira vez, com pacientes internados, como parte integrante da equipe de saúde.

111

Já o foco da Psicopatologia é a experiência dos pacientes que vivenciam o

processo de adoecimento psiquiátrico. Em sua fala, a professora abordou o papel central

que os pacientes desempenham na sua disciplina e, ao narrar a dinâmica pedagógica, a

PPT2 refletiu sobre o papel que essa experiência assume não só para a formação dos

alunos, mas também para a transformação dos próprios pacientes: “obviamente, esses

pacientes que estão trabalhando comigo há dois anos, não são mais os mesmos

pacientes”. É possível verificar que embora, em sua prática, a professora também trate

da experiência do aluno no contato com o paciente, o foco da disciplina é a experiência

de adoecimento dos pacientes. Assim, a partir de sua narrativa, verificamos que a

prática da professora também é compatível com a crença sobre o papel ativo do paciente

na formação em saúde.

A partir destas falas, foi possível verificar que, mesmo compartilhando

abordagens comuns, os professores envolvidos neste projeto problematizaram diferentes

experiências, marcadas pelos contextos que desenvolvem suas disciplinas, tanto em

relação ao foco e objetivos como em relação às estratégias adotadas. Algumas

diferenças e semelhanças foram expostas nas falas da PPM:

PPM: O que eu acho muito interessante, que vocês têm na Psiquiatria, através dessa experiência que nós não temos na medicina é o seguinte: que nós tradicionalmente, e aí é que é o grande problema da Psicologia Médica. A gente trabalha com a experiência do aluno. O drama do aluno. (Reunião 2)

PPT2: É isso que eu estava achando que era um ponto que a gente vai ter que ver. PPM: Então, o que acontece conosco? A gente também começa a aula sem script. Da mesma maneira que você não tem controle sobre o que os pacientes vão apresentar, nós não temos controle sobre o que os alunos vão apresentar. Mas é lógico, que tem uma expectativa que os alunos construíram do que é suposto que um aluno possa falar, que o paciente possa falar... Você não está no vazio completamente. (Reunião 2)

A professora destacou os diferentes focos assumidos por cada disciplina: a

Psicologia Médica na experiência do aluno e a Psicopatologia na experiência do

paciente. Contudo, apontou como semelhança, o fato de ambas as disciplinas terem

como ponto de partida a experiência dos sujeitos, não prevendo um roteiro fechado das

aulas, mas promovendo a reflexão a partir da participação dos alunos e dos pacientes.

A partir da interação, os professores começaram a integrar e sistematizar os

conhecimentos discutidos pelo grupo, auxiliando a reflexão e a teorização sobre sua

própria prática.

112

PPM: Gente, mas isso tudo agora eu me dei conta... Olha as coisas se juntando... Toda a questão da literatura em medicina e cinema e medicina. Porque toda a literatura surgiu por causa disso, por ser mais universal, talvez pudesse afetar mais as pessoas, com literatura e cinema do que a experiência que a psicanálise poderia gerar no caso pedagógico. PVE: Não é por acaso que o Gatarri fala que o cinema é o divã do pobre. PTE: Gostei. PPM: E o que se tinha acesso antigamente. Então, porque a gente passa um filme na Psicologia Médica, como, por exemplo, “Um Golpe do Destino” em que o médico adoece? Para que o aluno possa vivenciar, experimentar... A experiência de um médico doente, que é uma coisa que não só ele não tem ali disponível como também ele cria uma resistência, né? Porque, normalmente, você não vai imaginar o médico doente. A arte tem esse recurso de promover a experiência. (Reunião 2)

Esses saberes experienciais, desenvolvidos nas práticas vivenciadas nos

contextos da formação e do serviço de saúde, foram o ponto de partida para a equipe

construir uma visão integrada do problema educativo e das oportunidades de explorar

pedagogicamente as tecnologias nos contextos das disciplinas. Na medida em que o

problema educativo e o contexto das disciplinas foram ficando claros, o grupo de TE foi

adquirindo maior possibilidade de contribuir com saberes práticos relacionados ao uso

pedagógico das TICs.

PTE: (...) vamos pensar na realidade: vocês dão aula, de tanto em tanto tempo, para um grupo x de alunos, vocês dividem a turma em três, trazem os pacientes, os pacientes apresentam o seu depoimento. Os alunos perguntam para ele? (...) o que eu estou fazendo é vendo as situações que eles já vivenciam. Não que a tecnologia vá substituir, mas que pode enriquecer... PPM: O problema é que eu não dou aula com pacientes, eles estão nas enfermarias. (...) os alunos falam sobre seus pacientes da enfermaria (...). PTE: Então, o aluno pode ter espaço de voz também... Ele trazer os casos, as vivências. PPT1: Acho que é isso, a gente pode incluir a experiência do aluno. PTE: Então, o que seria uma atividade didática relacionada com isso? Seriam experiências onde o aluno, ele não só olharia isso, mas ele vivenciaria isso de diferentes maneiras. Então, usando quais recursos da tecnologia para vivenciar isso? (Reunião 1)

Assim, esta foi a dinâmica do trabalho na equipe: o ponto de partida era o

problema e os contextos educativos dos professores, para se apontar as possibilidades de

utilizar as TICs. Nos dois diálogos, a PTE integrou seus conhecimentos práticos sobre

as TICs aos conhecimentos dos professores sobre suas disciplinas. Na análise, foi

possível observar que os saberes experienciais foram integrados para delinear as

necessidades dos contextos educativos e planejar os objetivos do ambiente: os

professores contribuíram com saberes sobre o contexto da formação em medicina, de

suas disciplinas e suas estratégias pedagógicas e os pesquisadores de TE contribuíram

113

com saberes experienciais sobre educação e uso pedagógico das TICs para delinear os

objetivos do ambiente respeitando as especificidades de cada contexto.

A análise dos contextos educativos tem um papel importante na PBD, uma vez

que as intervenções têm como objetivo promover a melhoria das práticas pedagógicas

(VAN DEN AKKER, 1999; EDELSON, 2002; WANG e HANNAFIN, 2005). Sendo

assim, a reflexão dos professores sobre suas práticas educativas, apontando os desafios

e as mudanças desejadas, oferece elementos para planejar intervenções que busquem

possíveis caminhos para promover inovações no ensino. De forma compatível, Mion e

Angotti (2005) consideram fundamental aprofundar a discussão com os professores

sobre a prática educativa (e a situação social em que esta se realiza), as mudanças

desejáveis e os caminhos para transformar essa prática.

5.2.2.2 Saberes disciplinares

Durante a fase de análise do problema, foi bastante frequente os sujeitos

compartilharem e articularem conceitos teóricos relacionados às suas áreas de atuação

com os outros participantes da equipe. Como os conceitos podem adquirir uma

diversidade de sentidos, dependendo do sujeito que deles se aproprie (VON

GLASERFELD, 1998), foi possível verificar um empenho na equipe para negociar e

construir sentidos compartilhados. Na análise, verificamos que essa negociação

aconteceu de forma tanto direta quanto indireta.

Na negociação direta, os sujeitos “combinavam” de forma explícita os sentidos

dos conceitos e as terminologias que seriam utilizadas pela equipe para se referir a algo,

como por exemplo:

PPM: Na experiência de doença. PTE: É como ele experimenta isso. PPM: Vamos falar assim, né? A experiência de doença PTE: É bom. [PP1 repete “experiência de doença” anotando o termo] PPM: Ou do adoecimento? PPT1: Do adoecimento. PTE: É melhor. PPM: Eu também acho. Experiência do adoecimento. E pode pôr também e tratamento. (...) PPM: Geralmente, é a experiência do adoecimento e do tratamento. Porque é bom que envolve a dimensão do profissional de saúde. PVE: No caso dos transplantados seria o que? PPM: Adoecimento e tratamento. Por que o transplante é uma etapa do tratamento. (Reunião 1)

114

PPT2: A gente não usa a palavra afetiva e emocional no nosso trabalho, a gente não tem usado essa palavra. A gente não tem falado dessa dimensão afetiva... Engraçado, a gente não tem usado esse vocabulário... PTE: Não? PPT2: Também a gente tem que pensar porque que não usa. PTE: Mas o que vocês usam? Até para a gente ter esse vocabulário para procurar. PPM: Por que a gente não quer separar cognição de afeto? A gente vai ter que pensar... PTE: Para mim também não tem separação... (Reunião 2)

Nesses diálogos, a equipe buscou estabelecer o significado de alguns conceitos

importantes para o desenvolvimento do trabalho. Primeiramente, a equipe, em conjunto,

definiu o termo “experiência de adoecimento e tratamento” ao qual iria se referir para

mencionar a experiência subjetiva dos pacientes. Esse termo passou a ser utilizado por

todos os participantes, compondo, posteriormente, o título do ambiente de

aprendizagem desenvolvido. Na literatura, a busca de uma linguagem comum é

apontada como um elemento indispensável para a realização de trabalho em equipes

interdisciplinares (ZANONI, 2000; WEIGERT et al., 2005; BEERS, 2005). Zanoni

(2000, p. 125) indica que em trabalhos em grupos interdisciplinares, um desafio é a

comunicação entre os sujeitos, já que “termos aparentemente idênticos, utilizados como

se tivessem o mesmo sentido, surpreendem pelas diferentes significações e até mesmo

pelos contra-sensos”. O autor, então, considera como condição para viabilizar o

trabalho, o estabelecimento de formas de comunicação que busquem correspondências

entre palavras, conceitos e definições. Essa linguagem comum, assim, não se refere

apenas à terminologia utilizada, mas uma compreensão conceitual e cultural

compartilhadas, que se reflete na linguagem.

Consideramos como negociação indireta, o processo de compartilhar os

conceitos dos campos de conhecimento com o obejtivo de aprofundar teoricamente a

compreensão do problema educativo. Nesses casos, ao explicar um conceito específico

de sua área, o sujeito compartilha um conhecimento individual, que é ressignificado por

outros indivíduos, contribuindo para a construção de uma base comum de trabalho.

Nesse sentido, uma discussão importante foi sobre o conceito de “experiência”

analisado na equipe, com base em ambos os campos de conhecimento. A pesquisadora

de TE abordou o conceito de experiência, a partir de seus conhecimentos sobre as

abordagens pedagógicas:

PTE: No problem-based a gente coloca o aluno no centro do processo, o aluno está diante de um problema, mas ele está todo organizado (...). A diferença da

115

experiência que eles vivenciam na Psiquiatria é exatamente essa: trazem o paciente para falar o que o paciente sente. E não para ter um estudo de caso (...). É isso que eu acho que é inédito. (Reunião 2)

PTE: A gente trabalha com modelos de aprendizagem construtivistas. Que são estruturados. São problemas muito estruturados (...). Problem based é um modelo muito estruturado (...). O que eu vejo como o maior contraste com esses modelos que a gente vem trabalhando e experimentando é que a gente rompe, vamos dizer, com essa hiperestruturação, na medida em que a gente não está colocando o aluno no centro do processo, mas o aluno é o próprio processo. É uma diferença nesse sentido... (Reunião 2)

Nas falas, a PTE faz um contraponto entre as abordagens da aprendizagem

baseada em problema e da aprendizagem baseada “na experiência”. Ela considera que

ambas têm como pressuposto a experiência ativa do aluno no processo de ensino-

aprendizagem, mas na aprendizagem baseada em problemas (ABP), a experiência do

aluno é principalmente cognitiva e, por isso, o problema está “todo organizado”. Na

ABP, a aprendizagem é alcançada por meio da resolução de problemas e da reflexão

sobre suas experiências (HMELO-SILVER, 2004), ou seja, prioriza-se a dimensão

cognitiva do conhecimento. Na sua fala, a pesquisadora reconhece o valor da

experiência na ABP e aponta a necessidade de buscar uma abordagem que

transcendesse a valorização da experiência, não apenas em sua dimensão cognitiva, mas

também em outras dimensões (p.ex. afetiva, ética, cultural e social), desenvolvida

quando o aluno entra em contato direto com o sofrimento do paciente.

Já os professores PPT1 e PPT2 conceituaram “experiência”, comparando as

diferentes formas de lidar com ela. Eles diferenciaram a experiência na primeira e na

terceira pessoas e mencionaram diferentes abordagens da cognição social na

esquizofrenia:

PPT1: Você pode falar da experiência de fora (...) tem artigos que tratam da experiência e que valorizam a perspectiva da primeira e da segunda pessoa, ou seja, trata disso a partir de relato, valoriza os relatos. O relato de quem ouve vozes é uma peça fundamental ou não. Ou simplesmente você pode dizer “pessoas ouvem vozes e eu falo dessa experiência na terceira pessoa”. (...) você pode abordar essa experiência de fora, sem trazer para o centro da cena a experiência. (Reunião 2)

PPT1: Tem algumas teorias concorrentes. Eu andei revendo isso um pouco por causa da cognição social na esquizofrenia. A gente pode identificar pelo menos três teorias. A gente pode identificar duas mais cognitivas que justamente perdem essa dimensão experiencial e uma que seria mais corporificada (...) essa perspectiva mais fenomenológica e corporificada (...) se chama teoria da interação. Que isso é dado de forma imediata no próprio sentido... Intermodalidade sensorial se dá na relação intercorporal que você pode ter acesso, o que não significa que sinta o que

116

o outro sente, mas pela sua perspectiva de ser dotado de consciência e corporificado... Acho que a questão da corporificação (...) a gente pode tomar como central também aqui. (Reunião 2)

Segundo o PPT1, o conceito de “primeira pessoa” baseia-se no relato, na

perspectiva do sujeito que vive a experiência, expondo questões subjetivas nela

envolvidas. A “terceira pessoa”, por sua vez, trata da experiência de fora, como um

observador, sem ter acesso aos aspectos subjetivos envolvidos na situação. Além disso,

o professor busca relacionar essas perspectivas com teorias que regem as diferentes

práticas educativas no seu campo e ressalta o conceito de “corporificação” como

importante de ser explorado no Vivências. Esse conceito, discutido pelo professor e

adotado em sua linha de pesquisa, foi fundamental na seleção da aprendizagem

corporificada, identificada como a fundamentação teórica do problema educativo e do

desenvolvimento do ambiente.

Foi possível observar um esforço de criação de uma base comum, na medida em

que os sujeitos buscaram relacionar os conhecimentos dos dois campos, para construir

um conhecimento compartilhado:

PPT2: A gente pode dizer que o problem based, (...) trata a experiência do aluno como uma questão também. PPT1: De repente o problem based poderia, por analogia, ser comparado ao modelo conexionista... Você tem os pontos, os nós da rede seriam os campos de conhecimento e o que emerge, de acordo com o problema, seria o aprendizado e o outro seria o corporificado, situado enativo8. PTE: Deixa só eu fazer uma pergunta... É que a partir da vivência do aluno e dessa possibilidade de refletir sobre a sua vivência, dele mesmo emirja aquele conhecimento, né? Uma coisa que ele está vivenciando e que ele mesmo consiga formular. É como se a gente não estruturasse a experiência, você está entendendo? Eu não sei se eu consigo me expressar... É isso? É igual psicanálise? Não é assim que a gente faz com a psicanálise? Dá a régua e o compasso? (Reunião 2)

Foi com base nessa negociação de sentidos sobre o conceito de experiência, que

a equipe chegou à abordagem da aprendizagem corporificada como teoria norteadora do

Vivências. Essa era uma abordagem, até então, desconhecida por ambos os grupos,

tendo sido identificada no processo de negociação da equipe.

8 Segundo Sancovschi e Kastrup (2008), a abordagem enativa surgiu como um contraponto à psicologia cognitiva e destacam o caráter construtivo e inventivo da cognição, já que “o conhecimento passa a ser entendido como um processo de co-engendramento do sujeito e o objeto”. Para maiores informações: Sancovschi, B. e Kastrup, V. Algumas ressonâncias entre a abordagem enativa e a psicologia histórico-cultural. Fractal – Revista de Psicologia, v.20, n.1, p.165-182, 2008.

117

Nesse processo, os professores abordaram conceitos de seus campos, tais como:

empatia, corporificação, experiência na primeira e na terceira pessoas; e os

pesquisadores de TE negociaram conceitos, como: experiência do aluno, aprendizagem

construtivista, aprendizagem baseada em problema. Beers (2005) caracteriza esse

processo como “negociação de sentidos”, em que os sujeitos externalizam

conhecimentos individuais e internalizam os conhecimentos compartilhados até a

construção de uma base comum. A partir da análise, foi possível verificar que esse

processo de externalização teve como função principal “negociar sentidos” dos

conceitos utilizados pelo grupo, contribuindo para um entendimento compartilhado

sobre o problema educativo (BEERS, 2005).

Sendo assim, foi possível observar que os sujeitos, a partir de seus diferentes

campos de pesquisa, assumiram referenciais teóricos compatíveis, seja em relação ao

posicionamento do paciente no processo de ensino-aprendizagem, seja quanto ao papel

do aluno nesse processo.

5.3 CONCLUSÕES SOBRE O PROCESSO DE ANÁLISE DO PROBLEMA

Nesse capítulo, discutimos o processo de análise do problema educativo na

equipe multidisciplinar do Vivências. Para analisar como a equipe realizou esse

processo, que envolve: a identificação do problema educativo, a definição dos objetivos

do ambiente e a análise teórica do problema (JUUTI e LAVONEN, 2006), assumimos,

como foco, a análise dos fatores internos ao problema (JONASSEN, 2000),

especificamente, as crenças epistemológicas e os conhecimentos do campo. Esses

fatores são apontados por Jonassen (2000) como essenciais na análise de problemas

complexos e mal-estruturados. Embora os saberes e as crenças estabeleçam uma relação

intrínseca entre si (PAJARES, 1992), foram analisados separadamente como uma forma

sistemática de análise. Pelo fato de o estudo envolver professores universitários,

abordamos esses conceitos com base nas crenças dos professores (PAJARES, 1992) e

nos saberes docentes (TARDIF, 2000).

A análise das crenças e dos saberes da equipe ofereceu subsídios para situar e

aprofundar a compreensão do problema educativo no contexto da saúde, assim como

discutir algumas contribuições que o aporte da PBD oferece à análise do problema

educativo.

As crenças educacionais reveladas pelos sujeitos apontaram para a valorização do

aluno como centro do processo de ensino-aprendizagem, devendo ser estimulado não só

118

a interagir com os pacientes, mas refletir sobre essa interação e sobre todos os aspectos

que dela emergem. Em relação à saúde, os sujeitos acreditam que o paciente é o centro

dos serviços, devendo ser respeitado, em todas as suas dimensões, independente da

classe social. Em relação à tecnologia educacional, a equipe manifestou a convicção de

que as TICs têm potencial de inovação no ensino, devendo ser apropriada por

professores, alunos e pacientes.

Com essas crenças, a equipe assumiu uma postura crítica em relação ao ensino

médico tradicional e assumiu como problema educativo o ensino tecnicista da saúde,

que prioriza a transmissão de grande quantidade de conteúdos técnicos em detrimento

da reflexão sobre as experiências subjetivas envolvidas no adoecimento e no tratamento

dos pacientes. Essa postura é compatível com os movimentos de reforma da saúde, que

pressupõe uma revisão do modelo da assistência e da formação profissional, pautados

pelo eixo da integralidade (CECCIM e FUERWERKER, 2004b; LOPES et al., 2007;

CIUFFO e RIBEIRO, 2008). Dessa forma, o foco das discussões foi a necessidade de

promover a formação para a “humanização do cuidado”, possibilitando que os alunos se

envolvam com as experiências subjetivas de adoecimento e tratamento e adquiram

valores que permitam o desenvolvendo de outra relação com seus pacientes (ZUSMAN,

1998).

É importante ressaltar que a definição dessa questão como um problema educativo

está intimamente atrelada às crenças educacionais e às crenças sobre saúde dos sujeitos.

Ou seja, na medida em que acreditam em uma aprendizagem construtivista,

especificamente relacionada à aprendizagem corporificada - em que não existe uma

separação entre corpo e mente no processo de aprendizagem – os professores

identificam o ensino tradicional como um problema. Por outro lado, pelo fato de

acreditarem na saúde, a partir do conceito amplo da integralidade, em que o sujeito não

é relegado a mero objeto de estudo, os professores consideram que é necessário preparar

os alunos para lidar com esses sentimentos. Isto envolve, portanto, valorizar a dimensão

experiencial do adoecimento e do tratamento.

Os saberes docentes foram fundamentais para a caracterização desse problema, a

partir de um contexto real de ensino-aprendizagem, e para buscar uma fundamentação

teórica para analisar o problema educativo e buscar soluções. Os saberes experienciais

foram compartilhados para a construção de uma visão integrada do problema educativo,

do ponto de vista da prática pedagógica, assim como das potencialidades das TICs para

enriquecer essas práticas. Os professores compartilharam seus conhecimentos sobre o

119

contexto da formação médica e de suas disciplinas, apontando os objetivos e estratégias

educacionais utilizadas, o que possibilitou que a equipe compreendesse as

especificidades de cada disciplina, para planejar os objetivos educacionais do ambiente

virtual. Tendo em vista essas especificidades e orientados por suas crenças sobre

tecnologia educacional, foi possível que os pesquisadores de TE contribuíssem com

saberes sobre as potencialidades pedagógicas das TICs para contribuir com os

contextos. Dessa forma, é possível concluir que os saberes experienciais, orientados

pelas crenças sobre tecnologia educacional, influenciaram decisivamente na definição

dos objetivos do Vivências.

Já os saberes disciplinares contribuíram para a análise teórica do problema de

forma integrada, articulando conceitos de ambas as áreas, possibilitando que os sujeitos

construíssem uma base comum e juntos definissem a aprendizagem corporificada como

teoria norteadora.

Dessa forma, foi possível identificar, em cada atividade da análise do problema, a

predominância de determinadas crenças e saberes dos sujeitos, de modo que: a) a

identificação do problema foi influenciada, principalmente, pelas crenças educacionais e

de saúde; b) a definição dos objetivos do ambiente foi influenciada, sobretudo, pelos

saberes experienciais dos professores e pesquisadores e as crenças sobre tecnologia

educacional; c) a análise teórica do problema foi influenciada, principalmente, pelos

saberes disciplinares dos sujeitos. O quadro a seguir busca sintetizar e detalhar esses

achados:

120

Quadro 5.1: síntese dos saberes docentes e crenças dos professores compartilhados durante a fase de análise do problema.

Em relação à PBD, verificou-se que a parceria entre professores e pesquisadores

foi a base do processo de análise do problema, possibilitando um intenso

compartilhamento de crenças e saberes. Dessa forma, todas as atividades dessa fase

foram negociadas na equipe, baseando-se em uma relação horizontal, sem divisões de

tarefas, como é comum em projetos com o uso das TICs (CARROL et al., 2000). Com

base em Shear et al (2004), a parceria realizada no Vivências é compatível com o

“modelo de parceria de benefício mútuo” (mutual-benefit partnership). Os autores

consideram que existe uma variedade de modelos de parceria: em modelos tradicionais,

por exemplo, esta diz respeito ao trabalho conjunto entre pesquisadores e professores,

sendo que apenas os primeiros são considerados experts e os segundo recipientes da

inovação. Baseados no aporte da PBD, os autores defendem o “modelo da parceria de

benefício mútuo”, em que se respeita a expertise de cada membro, considerando que

Atividades de análise do problema

Fatores internos que influenciaram

Identificação do problema educativo: - Ensino tecnicista da medicina, que prioriza a transmissão de grande quantidade de conteúdo, não valorizando a reflexão sobre a experiência com o paciente.

Crenças educacionais - Aluno: necessidade de ser considerado o centro do processo de ensino-aprendizagem, devendo desempenhar um papel ativo na construção do conhecimento; - Aprendizagem: envolve um processo de construção do conhecimento que depende de aspectos cognitivos e afetivos. - Formação médica: necessidade de promover a experiência do aluno com o paciente e oferecer um espaço para a reflexão sobre essa experiência; - Paciente: necessidade de ser valorizado na formação, não como objeto de estudo, mas como um sujeito considerado em todas as suas dimensões. Crenças sobre saúde - Paciente: necessidade de ser considerado como o centro dos serviços de saúde; - Médico: necessidade de levar em conta, na tomada de decisão, os relatos dos pacientes e os aspectos subjetivos ligados ao adoecimento.

Definição dos objetivos do AVA: - Potencializar a vivência dos alunos com a dimensão subjetiva dos processos de adoecimento e tratamento, por meio não apenas de um banco de relatos dos pacientes, mas também oferecendo oportunidades de interação e colaboração.

Saberes experienciais - Professores: saberes sobre a formação em medicina, sobre o contexto de suas disciplinas, especificamente, no que diz respeito ao foco e objetivos e às estratégias pedagógicas; - Pesquisadores de TE: saberes sobre educação e sobre o uso pedagógico das TICs, articulados às especificidades dos contextos dos professores. Crenças sobre tecnologia educacional - potencial pedagógico das TICs - convicção de que as TICs têm potencial de inovação no ensino, devendo ser apropriada por professores, alunos e pacientes.

Análise teórica do problema: Aprendizagem situada e corporificada

Saberes disciplinares - Professores: empatia, corporificação, experiência na primeira e terceira pessoas. - Pesquisadores de TE: construtivismo, aprendizagem baseada em problemas, experiência de aprendizagem do aluno.

121

cada um tem algo a contribuir e algo a ganhar. Este modelo se relaciona com o conceito

de interdisciplinaridade, uma vez que este considera um “esforço de comunicação e de

procura de um ponto em comum, em que muitas vezes pode resultar em um novo corpo

disciplinar” (AUDY, 2007, p.32). Essa relação é fundamental em projetos educativos na

universidade, constituindo um possível caminho para enfrentar a profunda

especialização e promover a aprendizagem de conhecimentos complexos (AUDY,

2007).

Shear et al (2004) consideram que, na PBD, a parceria é um mecanismo

importante de integrar teoria e prática, na medida em que possibilita que pesquisadores

e professores estabeleçam uma base comum (common ground), diminuindo a distância

entre o planejamento curricular e a prática real em sala de aula. A negociação de uma

“base comum” é concebida por Beers (2005) como um mecanismo de suporte do

processo de tomada de decisão, envolvendo equipes multidisciplinares na análise de

problemas complexos. Pelo fato de os sujeitos possuírem diferentes pontos de vista e

conhecimentos sobre o problema a ser analisado, é preciso negociar crenças e saberes

para o desenvolvimento de uma proposta comum. Segundo o autor, a base comum é

construída por meio de dois processos: a negociação de posições (sobre as opiniões e

crenças sobre o problema) e a negociação de sentidos (sobre os conhecimentos) dos

sujeitos.

Essa negociação de uma base comum esteve presente ao longo do processo de

análise do problema e foi fundamental para a compreensão de um problema complexo,

como o do ensino da saúde, a partir de suas especificidades e de situações reais da

formação.

Na negociação de posições, foi possível verificar que houve uma convergência

de crenças dos sujeitos em relação à educação, à saúde e à tecnologia educacional,

contribuindo para que houvesse uma forte identificação entre os sujeitos da equipe e

para o desenvolvimento de um processo equilibrado de negociação. Esta característica

contribuiu para o desenvolvimento de um trabalho marcado pelo consenso, facilitando a

compreensão do problema e a construção da identidade coletiva indispensável para o

trabalho em equipe em projetos dessa natureza (FAZENDA, 1995). Essa convergência

foi uma característica peculiar deste grupo e nem sempre ocorre em trabalhos em

equipe, tornando-se necessário o enfrentamento dos conflitos para viabilizar um projeto

comum (PINHO, 2006).

Na negociação de sentidos, o compartilhamento de saberes (BEERS, 2005) foi

122

constante na equipe. Segundo o autor, esse processo ocorre por meio da externalização

de um conhecimento individual, internalização do conhecimento externo, negociação de

um conhecimento compartilhado, integração de uma base comum e formulação de um

conhecimento construído. Com base nesse processo, a integração dos saberes

experienciais e disciplinares possibilitou que a análise do problema incluísse suas

diferentes dimensões, relacionadas às práticas na formação e no serviço de saúde, às

estratégias pedagógicas adotadas nas disciplinas, às potencialidades das TICs para

solucionar o problema e aos conceitos teóricos sobre educação, saúde e relação médico-

paciente.

Os diferentes saberes teóricos e práticos se complementaram, configurando,

assim, um trabalho interdisciplinar (BEERS, 2005; WINTERS e MOR, 2008). Em

relação aos saberes disciplinares, isso ficou claro na definição da teoria norteadora, em

que a equipe de TE não impôs um modelo pré-definido. A aprendizagem corporificada

não era conhecida pelos participantes e foi selecionada por ser adequada ao projeto e

compatível com a abordagem narrada pelos professores da área médica sobre suas

pesquisas e práticas, além de não se afastar das crenças dos pesquisadores de TE. Em

relação aos saberes experienciais, o trabalho interdisciplinar se destacou nos objetivos

do ambiente virtual, já que estes foram definidos a partir da integração dos

conhecimentos sobre o uso pedagógico das TICs e aqueles relacionados ao contexto das

disciplinas, incluindo as diferentes estratégias utilizadas pelos professores: valorizar o

papel ativo dos pacientes psiquiátricos na interação com os alunos e valorizar a reflexão

dos alunos sobre suas experiências diante de pacientes com doenças neoplásicas no leito

hospitalar.

Nesse processo de negociação, um aspecto que se destacou foi o papel da

pesquisadora de TE que orientou as discussões e organizou o trabalho em equipe. A

pesquisadora buscou escutar os participantes, sintetizando saberes, problematizando o

ensino e propondo caminhos compatíveis com as necessidades pedagógicas do contexto.

Esse papel é sintetizado na fala da PPM, ao se referir à postura da PTE ao longo

das reuniões:

PPM: você está aqui há algumas reuniões ouvindo para ver a partir da sua perspectiva de educadora e, mais de umas tantas coisas, como você engendra algo... Quer dizer, você cria um hipertexto aqui, né? (Reunião 2)

Barab et al (2005) consideram que essa postura colaborativa do pesquisador de

123

TE, privilegiando a escuta e a compreensão do problema educativo, é indispensável para

construir intervenções ancoradas nas necessidades sentidas na prática e pertinentes para

o estabelecimento de uma relação de parceria e troca.

Conclui-se, portanto, que na análise de problemas complexos, a parceria é

essencial para o desenvolvimento de intervenções pedagógicas inovadoras. Isso porque,

os sujeitos envolvidos na prática educativa, especificamente os professores, vivenciam o

contexto da formação, podendo, portanto, problematizá-lo. Por outro lado, os

pesquisadores de TE contribuem para instigar a reflexão sobre ensino e aprendizagem e

sugerir possibilidades de intervenção adequadas às necessidades do contexto

educacional. Dessa forma, esse compartilhamento de crenças e saberes possibilita o

estabelecimento de uma base comum entre os participantes da equipe, o que permite

uma análise multifacetada do problema (BEERS, 2005).

Com isso, essa fase se destaca no processo de desenvolvimento de um ambiente

virtual, visto que quanto mais o problema educativo for compreendido em sua

complexidade, maiores as possibilidades de superá-lo (MION e ANGOTTI, 2005).

124

6. DESENVOLVIMENTO DO AMBIENTE VIVÊNCIAS: CONSTRUINDO UMA

PROPOSTA PEDAGÓGICA PARA O ENSINO DA SAÚDE

O desenvolvimento de artefatos educacionais para a realização de intervenções

em contextos reais de aprendizagem é um pressuposto da PBD e constitui a segunda

fase do processo de design (REEVES, 2000; EDELSON, 2002). Como aprofundado no

capítulo 1, essa fase refere-se ao desenvolvimento não apenas de produtos pedagógicos

(materiais e ambientes de aprendizagem), mas também de processos, tais como

atividades, currículos e teorias (VAN DEN AKKER, 1999). Nesse processo, os sujeitos

formulam conjecturas sobre práticas educativas e a aprendizagem dos alunos no

contexto educativo, incorporando-as nos materiais pedagógicos apoiados nas TICs

(SANDOVAL, 2004). No Ambiente Virtual Vivências, o processo de desenvolvimento

ocorreu por meio de um trabalho interdisciplinar realizado por professores,

pesquisadores e programadores.

No presente capítulo, analisamos o desenvolvimento do Vivências para

compreender como um processo realizado com base na PBD ocorre na prática. Isto é,

como os sujeitos da equipe as formularam e materializaram as conjecturas incorporadas

no ambiente virtual de aprendizagem. Utilizamos, para análise, a transcrição de doze

reuniões da equipe (R4-R15), além dos materiais produzidos e emails trocados pelos

sujeitos, com o objetivo de compreender como os sujeitos integram suas diferentes

expertises para a construção das conjecturas incorporadas que resultaram no

desenvolvimento do Ambiente Vivências.

Para apresentar a análise, organizamos o capítulo da seguinte forma:

primeiramente, com o objetivo de apresentar o contexto da pesquisa, descrevemos o

processo de desenvolvimento, por meio da narrativa de design (BELL et al, 2004); em

seguida, apresentamos a análise das expertises dos sujeitos da equipe; e, por último,

buscamos discutir os conhecimentos construídos a partir dessa análise.

6.1 DESCRIÇÃO DO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DO PROTÓTIPO

Nessa fase de desenvolvimento do protótipo, integraram a equipe os professores

da disciplina de Psicopatologia (PPT1, PPT2 e PPT3), a professora de Psicologia

Médica (PPM) – na maior parte do tempo por meio do Skype, os pesquisadores de TE

(PTE e PVE), doutoranda de TE (DTE), autora da presente tese, a web designer (W),

uma aluna de licenciatura em biologia, bolsista de iniciação científica (AB) e duas

125

alunas de iniciação científica de informática (AI1 e AI2). Nota-se que a composição da

equipe sofreu algumas alterações em relação à fase anterior, uma vez que entraram:

mais um professor da disciplina de Psicopatologia, as alunas de informática e, por outro

lado, os alunos da graduação de medicina deixaram de participar.

As reuniões aconteceram, sem periodicidade definida, na medida em que havia

avanços para serem compartilhados e discutidos na equipe. O Laboratório de

Tecnologias Cognitivas (LTC) foi o local escolhido pela equipe devido ao seu papel

central na coordenação e execução do projeto e às condições de infraestrutura para

responder à necessidade de utilizar computador e projetor multimídia. Durante as

discussões, a equipe negociou questões relacionadas tanto ao desenvolvimento da

pesquisa e ao processo de trabalho, quanto ao desenvolvimento do ambiente

propriamente dito.

A seguir, detalhamos o processo de desenvolvimento do Vivências, com base em

diferentes eventos do trabalho em equipe: a) familiarização com as práticas pedagógicas

dos professores; b) planejamento do protótipo e c) programação e testagem do

protótipo. Esses eventos não ocorreram de forma linear, mas foram definidos em função

das características predominantes, diferenciadas em termos das atividades e das

decisões tomadas pelos sujeitos. Nesse sentido, por exemplo, a familiarização com as

práticas pedagógicas dos professores ocorreu ao longo de todo o processo, não sendo

localizada anteriormente aos outros dois eventos.

6.1.1 Familiarização com as práticas pedagógicas dos professores

Logo no início do planejamento e desenvolvimento do AVA, o grupo de TE

reconheceu a importância de se aproximar e compreender de forma aprofundada as

práticas dos professores. Embora, na fase de análise do problema, algumas

características das disciplinas já tivessem sido abordadas na equipe, havia a necessidade

de se familiarizar com a dinâmica, objetivos e estratégias pedagógicas em sala de aula.

Essa familiarização ocorreu, ao longo de todo o processo de desenvolvimento, a partir

de diferentes estratégias, e foi fundamental para a equipe de TE poder planejar, junto

com os professores, as características do ambiente a ser desenvolvido (modelo

conceitual, layout, recursos pedagógicos e funcionalidades).

Uma estratégia recorrente para compreender as práticas foi por meio das

reuniões da equipe, em que os professores ofereciam exemplos concretos da dinâmica

da disciplina.

126

PPT2: (...) nesse primeiro tempo, os alunos discutem com os pacientes os temas que estão na ferramenta, escolhem o tema antes... Isso tudo sugestão deles [pacientes]. Porque, na verdade, a dinâmica é assim: os alunos chegam... os pacientes, primeiro, falam como é o hospital-dia... Contam como que é a dinâmica da aula. (Reunião 5)

Além dessa forma de conhecer a disciplina, por meio do relato dos professores, o

grupo de TE sentiu necessidade de observaras práticas relatadas para compreender de

forma mais concreta, sugeriu ir à campo para observar algumas aulas das disciplinas de

Psicopatologia e Psicologia Médica.

Como estava em período de férias, os professores ofereceram outras

oportunidades de visualização e compreensão de suas práticas. A PPT2 ministra um

módulo prático na Psicopatologia (prática do Centro de Atenção Diária – CAD), em que

convida um grupo de pacientes (colaboradores da disciplina) para conversar com os

alunos sobre suas questões relacionadas ao processo de adoecimento e tratamento. A

professora abriu a possibilidade de acompanhamento de duas reuniões dela com os

pacientes para avaliação da disciplina. Sobre a Psicologia Médica, a PPM se dispôs a

apresentar a dinâmica de sua disciplina, levando alguns vídeos produzidos por seus

alunos como trabalho de final de curso.

As duas reuniões com os pacientes aconteceram em uma sala de aula do IPUB.

Na primeira, a PPT2 apresentou os pesquisadores de TE aos pacientes e abriu espaço

para que eles contassem sobre a experiência de participar da disciplina. Essa reunião foi

importante para compreender o papel ativo dos pacientes na disciplina, uma vez que

eles não participavam apenas da execução, mas também do planejamento e avaliação da

disciplina, propondo mudanças e adequações:

PPT2 – A organização da disciplina, a gente vem fazendo junto. Eles vêm criticando... Uma vez – eu não sei se vocês lembram – o Paciente 3 chegou para mim e falou assim: “Professora, você é muito legal, a escola é muito legal, mas eu não aguento mais estar aqui ouvindo todo dia as mesmas coisas”. Aí, a gente fez uma mudança dos temas... Então, a gente vem fazendo uma adequação ao longo do tempo. (Reunião 5)

Os pacientes se mostraram críticos e conscientes da importância do papel que

desempenham na formação dos profissionais de saúde. Uma paciente, inclusive,

expressou isto, dizendo: “a PPT2 está muito bem cercada por nós, porque nós temos

problemas mentais, mas somos dotados de inteligência”. Também foi possível observar

uma relação de confiança e parceria entre a PPT2 e os pacientes, em que a professora

127

buscava ressaltar constantemente a importância do conhecimento deles para sua própria

aprendizagem e para a dos alunos:

PPT2 – Essa coisa do debate de conflito é muito legal, porque, às vezes, por exemplo, eu tenho opiniões divergentes sobre um tema. E é muito interessante quando isso acontece. A gente já teve algumas vezes essa experiência... Sobre a revelação de um diagnóstico. Foi um debate quentíssimo: se devia revelar, se não devia revelar; a quem revelar, como revelar (...) Isso, pra mim, foi um aprendizado, porque eu venho de uma composição fechada... Primeiro, eu achava que a gente não devia dizer o diagnóstico, porque o diagnóstico criava estigma, criava preconceito. Depois, não. Eu acho que... A Paciente 4 foi uma que me ensinou isso. Ela tem um relato sobre isso em áudio, muito legal que diz: Como é que eu posso me tratar 10 anos num lugar e não saber o que é que eu tenho? ... Eu comecei a pensar que a gente tinha que pensar diferente. (Reunião 5)

Em relação à disciplina, eles demonstraram prazer em participar do grupo, mas

criticaram o fato de os alunos ficarem tímidos e fazerem poucas perguntas durante os

encontros. Além disso, demonstraram receio de os depoimentos deles, disponibilizados

no ambiente virtual em desenvolvimento, serem utilizados de forma inadequada e

desrespeitosa pelos alunos. A partir da observação dessa reunião, foi possível observar

que as experiências dos pacientes são o foco principal desse módulo e que havia a

possibilidade, indicada pela PPT2, de eles serem mais ativos também no contexto do

ambiente.

PPT2: Agora, eu gostaria mesmo é que tivéssemos um fórum. Um fórum com pacientes, para que eles pudessem trocar com os alunos. (Reunião 6)

Na segunda reunião com os pacientes colaboradores da Psicopatologia, a

professora apresentou uma ferramenta de autoria de atividades educativas online

(Constructore)9 que vinha sendo utilizada na disciplina, havia um semestre, como

suporte às aulas presenciais.

Na disciplina, a professora utilizava a Constructore para disponibilizar relatos

escritos por pacientes aos alunos, uma lista com temas para discussão (desenvolvida

pelos pacientes) em que os grupos de alunos deveriam escolher previamente o tópico de

discussão da aula e instruções para a realização da prática. A PPT2, na reunião, fez uma

9 A Constructore (http://ltc.nutes.ufrj.br/constructore) é uma ferramenta de autoria desenvolvida no Laboratório de Tecnologias Cognitivas (LTC)/NUTES e objeto de pesquisa do grupo de TE. Essa ferramenta tem como objetivo apoiar os professores no desenvolvimento, publicação e acompanhamento de atividades educativas semi-presenciais ou a distância, sem a necessidade de conhecimentos de programação na web. Nela, os professores têm a possibilidade de inserir objetos de aprendizagem (textos, imagens, vídeos etc), atividades, formulários e utilizar recursos de consulta (glossário, links úteis e bibliografia) e de comunicação (avisos, fóruns, emails, perguntas e respostas).

128

apresentação geral da ferramenta e mostrou os materiais e os recursos utilizados com os

alunos. Essa reunião foi importante para que os pacientes pudessem se aproximar da

experiência que vinha sendo desenvolvida com as tecnologias, apontando o desejo de

participar como usuários do ambiente. Além disso, para o grupo de TE, essa

apresentação foi importante para compreender a forma como a professora já utilizava as

TICs e os materiais que os pacientes produziam para compor a disciplina.

Na reunião com a PPM, que ocorreu no LTC, a professora apresentou a

dinâmica da disciplina Psicologia Médica e também levou alguns vídeos produzidos

pelos alunos como trabalho final. A Psicologia Médica é obrigatória para os alunos do

terceiro ano do curso de Medicina, momento da formação, em que pela primeira vez se

vêm responsáveis por um paciente, que acompanham todos os dias em seu leito. Como

trabalho final da disciplina, os alunos se reúnem em grupos de quatro e escolhem um

tema de acordo com seus interesses. Dessa forma, são desenvolvidos seis temas por

turma a partir de uma orientação geral semelhante. A PPM pede aos alunos que

abordem a temática escolhida, a partir de três vertentes: o que a literatura científica

oferece, como a cultura encara - considerando todas as formas de expressão - e o que a

clínica informa sobre o tema – a experiência e o relato de pacientes, familiares e/ou

profissionais da equipe de saúde.

A PPM apresentou dois vídeos produzidos por seus alunos como trabalho final.

Em um vídeo, os alunos gravaram uma entrevista com mães de crianças internadas no

hospital para compreender a experiência de acompanhar o adoecimento e o tratamento

dos filhos. No outro vídeo, fizeram uma edição com episódios do seriado “House”10,

para abordar a questão da ética médica na perspectiva da cultura. Essa produção dos

alunos é bastante valorizada pela professora, uma vez que se trata de uma iniciativa dos

próprios deles próprios, a partir de seus interesses. Conhecer a dinâmica da disciplina,

fez com que a equipe de TE pensasse em formas de oportunizar, no ambiente, um

espaço de reflexão dos alunos sobre suas experiências e a possibilidade de

disponibilizarem os vídeos produzidos como trabalho final – compondo um “banco”

produzido por eles.

Dessa forma, essa familiarização com as disciplinas – por meio das reuniões da

equipe, observação das disciplinas e conhecimento do material produzido na

Constructore – foi uma estratégia importante que a equipe utilizou para tornar mais

10 “House” é um seriado americano em que o enredo se passa em uma equipe médica diante de diferentes problemas de saúde dos pacientes.

129

“concretas” as práticas dos professores. A partir disso, a W e a DTE produziram

relatórios com o detalhamento das observações, apresentando as dinâmicas das

disciplinas para que toda a equipe pudesse compartilhar essas experiências.

6.1.2 Planejamento e desenvolvimento do Vivências

A partir da análise do problema educativo, das teorias e princípios norteadores e

com base nas experiências pedagógicas nas disciplinas, o grupo de TE começou a

delinear as características iniciais do ambiente para serem discutidas na equipe. Na

medida em que as práticas dos professores e as possibilidades de explorar as TICs

ficavam mais claras para a equipe, a web designer buscava concretizar as ideias

discutidas por meio de mapas de navegação – em que esquematizava a organização e os

recursos do ambiente – e layouts com propostas relativas à apresentação visual do

AVA. Esses mapas constituíram importantes artefatos mediadores (ENGENSTROM,

1999) utilizadas no processo de negociação, possibilitando que os sujeitos

“materializassem”, isto é, tornassem menos abstratas as decisões sobre o ambiente.

Esses artefatos produzidos eram discutidos e aprimorados, até se chegar a um consenso

sobre o ambiente “final”. Alguns desses mapas e layouts eram discutidos,

primeiramente, no grupo de TE para depois serem levados à reunião. Outros eram

compartilhados, por email, com toda a equipe.

Ao longo do processo, foram desenvolvidos 16 mapas e 10 layouts, que

retratavam as negociações realizadas. De forma geral, essas ferramentas eram

elaboradas com base nas reflexões sobre suas práticas educativas e em conjecturas sobre

sua virtualização. Estas eram discutidas e problematizadas na equipe e “traduzidas” em

representações sobre as características do ambiente, isto é em “conjecturas

incorporadas” (modelo conceitual, estrutura, recursos etc). Dessa forma, nessa etapa de

planejamento e desenvolvimento do ambiente Vivências, os mapas e layouts assumiram

papel central no suporte ao trabalho da equipe, de modo que, a seguir, descreveremos

essa etapa apresentando algumas destas ferramentas produzidas.

6.1.2.1 Definição do modelo conceitual do ambiente

O modelo conceitual do Vivências foi gerado a partir de decisões da equipe

sobre: (1) o nível de complexidade que o AVA deveria atingir, em função da

flexibilidade oferecida ao professor para construir seu próprio curso e (2) sobre o papel

dos sujeitos (alunos, pacientes e professores) no ambiente.

130

Inicialmente, planejou-se que o ambiente seria composto por duas áreas. Na

primeira, dirigida a profissionais e pesquisadores na área da saúde, seriam

disponibilizados os relatos dos pacientes (em áudio, texto, vídeo) e as informações

sobre o projeto e sobre as patologias, seguindo o modelo original do banco de

depoimentos do DIPEX. A segunda área do ambiente, destinada a atividades

educativas/disciplinas, seria um link para a ferramenta Constructore, em que teriam

acesso os alunos e os professores das disciplinas, como apresentado no mapa a seguir:

Figura 6.1: Primeiro mapa de navegação desenvolvido – modelo de um banco de depoimentos - representando um espaço aberto, de acesso livre na web, em que a participação dos pacientes estaria limitada aos depoimentos gravados (em áudio e vídeo) e a experiência de aprendizagem, restrita a professores e alunos, seria realizada na Constructore.

É importante observar que, neste modelo, a inserção da experiência dos

pacientes se limitaria à disponibilização de depoimentos em vídeo, áudio e texto. A

partir da maior familiarização com as disciplinas e considerando o papel ativo dos

pacientes, a equipe de TE sugeriu que eles participassem como usuários do ambiente.

Em um primeiro momento, discutiu-se a possibilidade de criar um ambiente

simples, que permitisse a participação dos pacientes e integrasse todos os recursos

pedagógicos e materiais selecionados pelos professores do projeto Vivências. Nesse

caso, o ambiente teria as disciplinas, suas atividades e recursos programadas no

ambiente, configurando um ambiente fechado no sentido de que todas as alterações de

forma ou conteúdo só poderiam ser feitas pelo pessoal de informática. Essa opção,

apresentada na figura 6.2, ofereceria um modelo específico para os professores,

contemplado suas necessidades e objetivos pedagógicos, sem exigir grande

complexidade de programação de banco de dados etc.

131

Figura 6.2: Mapa de navegação representando um modelo de um ambiente simples. Perfis de participação diferenciados (login profressor, login aluno e login paciente), com acesso ao banco de experiências, contendo diferentes recursos pedagógicos, mas sem flexibilidade de gerenciamento pelo professor.

Como visto no mapa, os logins diferenciados permitiriam diferentes perfis de

participação, representados em três “modos” (gerenciamento, aprendizagem e paciente):

o professor, no gerenciamento, teria acesso aos três modos; o aluno teria acesso a dois

deles – aprendizagem e paciente – e os pacientes teriam acesso somente ao modo

paciente. Ao professor seria permitida a possibilidade de gerenciar alunos (cadastrar,

incluir notas, disponibilizar boletim e exercícios) e pacientes (cadastrar, incluir relatos).

Este modelo foi descartado pelo grupo, pois este produziria uma estrutura fechada que

inviabilizaria a iniciativa de outros professores da Faculdade de Medicina, não

participantes desta pesquisa, a integrarem o uso do ambiente Vivências em suas

disciplinas.

PPM: Uma previsão para o futuro: essa experiência que nós estamos construindo, ela vai para além da disciplina da psicologia médica, porque ela vai entrar no currículo das disciplinas clinicas (...) Então, a minha grande preocupação é que a nossa pesquisa deve se estender para que eles aceitem. Eu acho que eles vão aceitar... (Reunião 7)

Assim é que foi definida a necessidade de uma ferramenta de autoria de

atividades educativas na WEB, associada ao Banco de Experiências sobre Adoecimento

e Tratamento (banco de depoimentos). Para isso, a ferramenta Constructore foi pensada

como uma opção para que os professores ganhassem a flexibilidade e a autonomia

necessária para criar e gerenciar online suas disciplinas, além de oferecer abertura para a

integração de novos professores usuários. A Constructore apoiaria o desenvolvimento

de toda a disciplina com a disponibilização dos materiais e atividades para os alunos

132

(como eles já utilizavam em outros semestres) e o Vivências seria utilizado,

pontualmente, para realizar as aulas que incluíssem a participação dos pacientes.

Figura 6.3: Mapa de navegação representando uma opção intermediária, em que seriam utilizados dois ambientes em paralelo: a Constructore e o Vivências.

A principal limitação deste modelo estava no fato de que os professores

deveriam gerenciar dois ambientes na disciplina, o que eles mesmos consideraram que

tornaria o ambiente muito complexo.

PPT1: a gente teria como fazer o Vivências dialogar, imediatamente, com a Constructore? Estou pensando numa situação em que você acabe duplicando o trabalho, que complique para o aluno (...) Do ponto de vista da psicopatologia, eu tinha pensado, a partir do que discutimos, montar a disciplina no ambiente (...) poder usar só uma ferramenta. (Reunião 12)

Decidiu-se, finalmente, que o Vivências seria construído com características de

uma ferramenta de autoria, específica para professores da saúde interessados em

trabalhar com narrativas de pacientes na perspectiva da aprendizagem situada e

corporificada. Embora já existisse a Constructore, que é uma ferramenta de autoria para

qualquer campo, decidiu-se que o Vivências seria um ambiente com todos os recursos

que lhe oferecessem flexibilidade e autonomia e comportaria os seguintes elementos: a)

três perfis de participação (professor, aluno e paciente), permitindo que os pacientes

participassem com um espaço exclusivo, diferente do espaço de aprendizagem, b)

recursos de comunicação e colaboração ampliados (apresentados em detalhes a seguir),

possibilitando que todos os participantes se comunicassem e interagissem e c) banco de

depoimentos, em que os professores pudessem inserir vídeos com narrativas dos

pacientes para utilizar com seus alunos.

Esse modelo conceitual do Vivências foi sintetizado na fala da PTE

133

PTE: (...) Eu estou olhando essa estrutura, estou ouvindo você falar: “Ah! O aluno vai poder criar um fórum sozinho com os alunos, vai poder criar um blog, vamos ter a possibilidade de construir um glossário e os textos pelos pacientes...” Aí, eu fiquei pensando assim: isso daqui está virando um “instituto de vivências” (...) é um espaço mesmo, um “Instituto Virtual de Vivências” e que eu acho bacana. Eu acho que é isso mesmo. A sensação que eu tenho quando eu olho isso aqui é que avançou muito, entendeu? Eu acho que a perspectiva do projeto, ela se ampliou muito mais do que era aquela proposta, nem a inicial do banco de dados, nem só a de uma experiência pedagógica, mas de um ambiente mesmo. E eu acho que é um ambiente poderoso, não é isso? (Reunião 11)

Em síntese, o modelo conceitual do Vivências passou por algumas mudanças ao

longo do processo de desenvolvimento, evoluindo de um banco de vídeos com

depoimentos de pacientes disponibilizado na Web, em que o paciente não teria

participação efetiva, para uma ferramenta de autoria que prevê espaço de interação e

colaboração entre todos participantes. Essa evolução se deu a partir das práticas

pedagógicas dos professores em suas disciplinas e do compartilhamento de experiências

entre os sujeitos da equipe. Esse modelo conceitual foi consenso na equipe, sendo

incorporado ao título do ambiente “Vivências: experiências do processo de adoecimento

e tratamento”.

6.1.2.2 Definições sobre os recursos pedagógicos e funcionalidades do Vivências

As decisões sobre os recursos pedagógicos e as funcionalidades do Vivências

assumiram os pressupostos do construtivismo, especificamente da aprendizagem situada

e corporificada, que consideram a aprendizagem como um processo que engloba não só

aspectos intelectuais, mas também simbólicos e afetivos. As estratégias compatíveis

com essas abordagens levam em conta a integração corpo-mente, buscando um maior

envolvimento e participação dos alunos com as questões abordadas (BARLAS, 2001;

CHAPMAN, 1998). Dessa forma, os princípios teóricos do ambiente - valorização da

experiência do aluno e do paciente e interação entre os participantes - aliados às

necessidades e interesses dos professores em seus contextos de ensino, foram

negociados na equipe para planejar os recursos pedagógicos a serem oferecidos no site.

O Vivências é organizado em oito áreas distintas, observadas no menu: 1)

Principal, 2) Conteúdo, 3) Ferramentas de Trabalho, 4) Banco de Experiências, 5)

Comunicação, 6) Espaço Pessoal, 7) Informações, e 8) Gerenciamento. As áreas 1 a 7

do curso podem ser visualizadas por todos os participantes, exceto se o professor

restringir a permissão dos alunos em relação a certos recursos. A área 8, no entanto,

aparece apenas para os professores e administradores do curso.

134

Desde o início, quando os professores procuraram os pesquisadores de TE, a

ideia era desenvolver um banco de depoimentos de pacientes sobre suas experiências de

adoecimento e tratamento. Portanto, este foi um recurso definido desde o início do

processo e tem como objetivo colocar os alunos em contato com uma diversidade de

experiências dos pacientes, permitindo aproximá-los da dimensão subjetiva implicada

nos processos de adoecimento. A partir das negociações, o “Banco de Experiências” do

Vivências foi desenvolvido de modo que o professor possa incluir os depoimentos (em

áudio, vídeo, foto ou texto). Sua gerência é feita pelo professor de modo que há um

“acervo geral” em que ficam disponíveis o conjunto dos depoimentos e um “acervo do

curso corrente”, em que o professor seleciona os depoimentos que serão

disponibilizados aos participantes.

Figura 6.4: Página do banco de experiências, onde ficam disponibilizados os depoimentos de pacientes em diferentes formatos.

Além do banco, outros recursos de aprendizagem foram negociados na equipe.

A Constructore foi o ponto de partida dessas negociações, isto é, o modelo a partir do

qual as ideias foram se desenvolvendo, uma vez que era uma ferramenta conhecida e já

utilizada pela maior parte dos sujeitos, inclusive por dois professores da equipe. Dessa

forma, as discussões voltaram-se para os recursos que precisariam ser criados,

possibilitando que os pressupostos teóricos fossem materializados de forma compatível

com a prática dos professores. Tendo como foco as especificidades do Vivências,

apresentaremos o processo de decisão da equipe, abordando além do “Banco de

Experiências”, os recursos de comunicação e colaboração específicos, contidos nas

áreas “Ferramentas de Trabalho” e “Comunicação” (a descrição detalhada do

Vivências, encontra-se no anexo 1).

135

Uma das questões discutidas na equipe foi quanto à necessidade de ampliar as

possibilidades de interação entre os participantes, especialmente, entre alunos e

pacientes. A primeira ideia foi a criação de um fórum que reunisse alunos e pacientes,

como o objetivo de ampliar o espaço de interação proporcionado nos encontros

presenciais. Ao longo do desenvolvimento, essa ideia evoluiu para o oferecimento de

possibilidades de interação entre todos os participantes, viabilizado por meio da

combinação de diferentes fóruns.

PPT1: Na comunicação, eu pensei que, talvez, fosse interessante a gente ter as três possibilidades de combinação de fórum. Então, digamos, no login professor, poderia ter um fórum professor-professor (no caso de um curso com três professores) (...) Fórum aluno-aluno no login aluno e um fórum aluno-aluno em que o professor não “bisbilhotasse”, que os alunos pudessem, enfim, que não precisasse ser autorizado pelo professor e, no login paciente, fórum paciente-paciente, que eu acho que é uma coisa que, embora fuja um pouco, talvez, da proposta pedagógica, seria muito interessante essa ferramenta para os pacientes... E também, fora de qualquer vigilância de professor ou aluno. Um outro espaço para troca de experiências... PTE: Um espaço de vivências mesmo que você está propondo. (Reunião 11)

Dessa forma, no ambiente, foi disponibilizada a possibilidade de criação de

diversos fóruns entre os participantes, sem que necessariamente o professor fosse o

mediador dessas interações. Na área “Comunicação”, encontram-se recursos como

fóruns, correio, avisos e chat. Os fóruns são organizados de maneira que o fórum

denominado “principal” é destinado a professores e alunos e os outros são

individualizados por participantes (entre alunos, entre professores, entre todos:

professores, alunos e pacientes). Em relação à comunicação, um recurso que também

foi planejado especificamente para o Vivências foi o chat, cuja característica de

comunicação síncrona, viabiliza interações dinâmicas.

136

Figura 6.5: Telas dos fóruns (à direita), com a diversas possibilidades de interação e telas do chat (à esquerda), em que se visualiza a conversa e tem a possibilidade de ver o usuário online.

Seguindo a teoria norteadora da “aprendizagem corporificada” e as já correntes

práticas docentes, a equipe discutiu a necessidade de proporcionar um espaço para que

os sujeitos pudessem compartilhar suas experiências subjetivas. No caso da Psicologia

Médica, o foco era nas reflexões subjetivas dos alunos sobre suas experiências na

formação médica, no contato com os pacientes, nas angústias e nas dúvidas decorrentes

dessas experiências. No caso da Psicopatologia, o foco era nas experiências de

adoecimento e tratamento vivenciadas pelos pacientes. Com esse objetivo, considerou-

se que o recurso de blog teria um papel importante na participação de alunos e

pacientes, como uma forma de compartilhar suas experiências. Um aspecto que

reforçou a decisão de oferecer esses espaços no ambiente foi um levantamento na

Internet de blogs de pacientes psiquiátricos, realizado por um mestrando de TE. Ele

selecionou diversos blogs, a partir de palavras-chave11, sugeridas pelos professores.

Dentre os blogs selecionados, alguns foram levados pelo grupo de TE para a reunião da

equipe, reforçando a percepção sobre a importância desses materiais como recursos de

aprendizagem.

PTE: Agora, o que eu comentei é que, nos blogs, tem os comentários das pessoas. Pessoas que também são esquizofrênicas, pessoas que têm familiares esquizofrênicos, amigos... Olha, é impressionante! Eu fiquei impressionada com duas coisas: uma, eu tive a certeza de que o ambiente “Vivências”, ele tem que ser mais do que, simplesmente, o depoimento em vídeo. Outra coisa que também

11 As palavras-chave para a busca foram: Doença Mental, Esquizofrenia, Fobia, Psicose, Psiquiatria, Saúde Mental, Síndrome do Pânico, Transtorno Bipolar e Transtorno Mental.

137

comentei com o PPT3, eu falei: “Olha, o Vivências tem tudo a ver”. Tudo a ver, porque, trazer isso para o ensino é muito importante (...) já estamos atrasados. Essa coisa da vivência, da narrativa, já está colocada... (Reunião 12)

Para manter a privacidade dos participantes, como visto na figura 6.6, cada

sujeito pode alterar a permissão de visualização do seu blog, incluindo alunos, pacientes

e/ou visitantes. No ambiente, os blogs podem ser acessados tanto na área “Ferramentas

de Trabalho” (lista com os blogs criados por todos participantes) quanto na área

“Espaço pessoal” (acesso individual ao blog de cada participante).

Figura 6.6: Página de criação do blog

Outro aspecto discutido foi a necessidade de promover possibilidades de

colaboração entre os participantes. Isto, porque, a abordagem colaborativa, além de ser

um dos pressupostos do construtivismo, teoria norteadora do desenvolvimento deste

projeto, foi observada na prática de ambas as disciplinas, onde os professores

utilizavam o trabalho em grupo como estratégia de aprendizagem. A equipe de TE

sugeriu alguns recursos que pudessem facilitar esse trabalho. Além disso, os professores

de Psicopatologia apontaram o desejo de oferecer aos pacientes a possibilidade de

colaborarem entre si e também com professores, para poderem desenvolver os materiais

para a disciplina. Estas observações e demandas levaram à definição de diferentes

recursos para colaboração, organizados na Área “Ferramentas de Trabalho”: sala de

reunião, wiki, glossário e blogs12.

12 Embora o blog seja um recurso que também permita interação, possui a especificidade de oferecer um espaço para compartilhamento das experiências – fundamental nesse ambiente. Dessa forma, foi abordado separadamente para ressaltar o objetivo pedagógico que motivou a decisão de integrá-lo ao Vivências.

138

A Sala de Reunião incorpora um conjunto de ferramentas que permite que

grupos de alunos discutam a resolução dos exercícios/casos online. Cada grupo tem

uma sala de reunião própria, acessível apenas a seus integrantes, aos tutores e

professores. Esse espaço possui quatro recursos para apoiar o trabalho em grupo:

Atividades, Fórum, Visualizar Versões, e Arquivos.

Figura 6.7: Tela principal da sala de reunião, que reúne as explicações e possibilidades de acesso aos quatro recursos.

Na sala de reunião, os alunos visualizam o conjunto de atividades propostas pelo

professor ao longo do curso (Atividades), utilizam fóruns privados, o que permite que

discutam sobre o desenvolvimento das atividades propostas (Fórum), armazenam

arquivos – como tabelas, gráficos, ilustrações, gráficos, etc - para compartilhamento

entre o grupo (Arquivos) e acessam os rascunhos das respostas de cada integrante de

seu grupo (Visualizar Versões).

O wiki é um recurso que permite a escrita colaborativa de textos. Ao criar uma

página wiki, é possível determinar se este será um espaço de construção de texto em

conjunto apenas para um grupo específico, selecionando o grupo respectivo, ou para

todos os participantes do curso, indicando um título para a página. A cada inserção de

texto, o nome do autor e a data da edição são armazenados e se tornam visíveis para

todos.

139

Outro recurso de colaboração definido foi o Glossário, que é um espaço coletivo

para a construção e disponibilização de definições importantes à disciplina. Esse

recurso permite aos participantes inserir e modificar definições incorporadas por outros

participantes e possibilita aos professores desenvolver diferentes atividades com alunos

e pacientes.

Em síntese, o Ambiente Vivências incorpora os pressupostos teóricos da

aprendizagem situada e corporificada de forma compatível com as práticas educativas e

expectativas de uso dos professores. Partindo da experiência com a Constructore, esses

pressupostos foram concretizados em recursos de aprendizagem que permitem o

compartilhamento de experiências subjetivas de alunos e pacientes e a ampliação da

interação e colaboração entre os participantes. Essa perspectiva se reflete na fala da

PTE:

PTE - essa ferramenta [Vivências] tem muito da Constructore, a lógica geral como uma ferramenta para cursos, ela é muito dentro dessa lógica quer dizer, ampliada (...) muito com a orientação do pessoal do IPUB, a gente já inseriu coisas que na conversa com eles, eles acharam que é importante ter (...) Então você tem desde as opções mais básicas e também novos recursos que a gente pretende inserir mais interativos, de chats... (Reunião 15)

6.1.2.3 Definição do layout do ambiente

Ao longo do processo de desenvolvimento do protótipo, a webdesigner construía

layouts que eram levados às reuniões, discutidos pelos sujeitos e reformulados pela até

se atingir um consenso. Já ao final do processo, tendo definido a estrutura e navegação

do ambiente, a webdesigner desenvolveu dois layouts com cores diferenciadas (figura

6.8) para que a equipe em conjunto pudesse definir a apresentação gráfica do ambiente,

como pode ser visto no email a seguir:

Eleições: Peço que me ajudem a definir as cores do Vivências. Apesar de gostar muitíssimo das cores quentes, neste projeto especificamente, sinto a necessidade de oferecer uma certa suavidade que as cores quentes não possuem. Por isso, o meu voto vai para as cores frias. Por favor, votem até amanhã. Obrigada!(email enviado pela W em 13/11/08)

140

Figura 6.8: Opções de cores para o Vivências: à esquerda, cores quentes e à direita cores frias.

A equipe optou pela apresentação gráfica do ambiente com cores frias,

apresentada à direita (figura 5.8), de modo que a versão final foi desenvolvida com a

seguinte aparência:

Figura 6.9: Apresentação gráfica atual do Ambiente Vivências - página de entrada

Figura 6.10: Apresentação gráfica atual do Ambiente Vivências – página principal

141

6.1.3 Programação e testagem do protótipo

Tendo definido com a equipe todas as características do ambiente, foi iniciado o

processo de modelagem e programação do mesmo. A webdesigner desenhou as telas e

as alunas de informática começaram o processo de programação. Dessa forma, foi

iniciado o processo iterativo de programação e sucessivas testagens do protótipo, com o

objetivo de aprimorá-lo até ficar pronto para o uso nas disciplinas. Esse momento foi

desempenhado, principalmente, pelas alunas de informática e a equipe de TE. Nesse

período, houve duas reuniões com a equipe, para discutir questões relacionadas à

realização da intervenção e à testagem coletiva do ambiente - em que os participantes

testaram simultaneamente o ambiente para detectar problemas na programação, como

ilustrado no diálogo a seguir:

W – É porque na realidade a gente já deu uma passada no site todo nas outras reuniões, e aí o que eu precisava era que vocês [professores] navegassem, assim, preenchendo, como se estivessem mesmo conhecendo o curso, construindo um curso, usando o site, do que já tem disponível para ser usado. E para ver o que está funcionando, porque nem tudo ainda está funcionando, não é? Se tem alguma coisa problemática... (Reunião 14)

A partir de cada teste, os sujeitos ofereciam feedback às bolsistas de informática,

com uma lista dos problemas e dificuldades encontradas, para que elas pudessem rever a

modelagem e aprimorar o protótipo.

6.2 ANÁLISE DO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DO VIVÊNCIAS

Para compreender os fatores que influenciaram o processo de desenvolvimento

do Vivências, analisamos as diferentes expertises da equipe, isto é, as expertises dos

professores, dos programadores e dos pesquisadores (LINGNAU et al., 2007). Com

isso, buscamos compreender como estas se integraram e qual a função exerceram

(POZO, 1992) na concretização dos princípios do design de ambientes virtuais,

apontados por Hannafin e Land (1997).

6.2.3 Expertises dos professores

As expertises dos professores, em seus campos do conhecimento, se

expressaram em uma visão de Psiquiatria, em que valorizavam a participação dos

pacientes nas disciplinas, tanto como uma forma de terapêutica quanto como uma

oportunidade para a formação dos alunos. Expressaram sua forma de compreender o

142

ensino de suas áreas contribuindo para oferecer à equipe um conhecimento sobre suas

atividades cotidianas em seus contextos de prática. Essa expertise foi manifestada nas

narrativas sobre suas atividades de ensino, descrevendo e concretizando seus “modos de

fazer” em seus campos de atuação, especificamente, no que diz respeito ao papel dos

pacientes e dos alunos no processo de ensino-aprendizagem:

PPM: os alunos de psicologia médica, eles estão produzindo, a partir de demanda dos professores de trabalhos de grupo, eles estão produzindo vídeos de entrevistas com pacientes ou com responsáveis, no caso da pediatria (...) eles, espontaneamente, fizeram a gravação de vídeo e isso vem evoluindo de uma forma importante. (Reunião 4)

PPT2 – São todos eles [pacientes]. Eles sentam em roda, os alunos e os usuários todos e eles discutem um tema. Tipo, o que é a experiência de medo. Aí, o sujeito vai dizer o que é a experiência de medo para ele, o outro vai dizer... A Paciente 1 diz uma coisa, o Paciente 2 diz outra... A experiência de preconceito, a dificuldade de inserção social... Cada um dá o seu depoimento e discute com os alunos. (Reunião 5)

Essas narrativas sobre os contextos educativos foram bastante frequentes,

assumindo uma função operacional do trabalho na equipe (POZO, 1992), na medida em

que ofereciam subsídios sobre os modos de fazer em sala de aula, possibilitando que a

equipe “concretizasse” essas experiências, sugerindo formas de utilização das TICs. A

expertise dos professores no ensino da Psiquiatria contribuiu, assim, para o

desenvolvimento dos princípios pedagógicos do ambiente, apontados por Hannafin e

Land (1997), uma vez que ofereceram subsídios para compreender a dinâmica do

contexto, sendo o ponto de partida para se planejar as possibilidades pedagógicas

mediadas pelas TICs.

Além das expertises com o ensino dos seus campos de atuação, os professores

também possuíam experiências com o uso das TICs em sala de aula (uso da

Constructore), o que contribuiu para que construíssem conhecimentos práticos sobre o

uso pedagógico das tecnologias, de modo a aproximá-los das expertises do grupo de TE.

Esse conhecimento alterou significativamente a participação dos professores na equipe,

visto que puderam “concretizar” com mais facilidades as sugestões do grupo de TE

sobre possibilidades de incorporação das TICs, construindo conjecturas sobre como

estes recursos poderiam enriquecer o contexto educativo. Dessa forma, a expertise dos

professores assumiu função prescritiva (POZO, 1992) para a concretização dos

princípios tecnológicos (HANNAFIN e LAND, 1997) do AVA.

143

PPM: eu imagino que se tudo der certo, o aluno pode fazer no seu blog o relato da experiência, por exemplo, do primeiro paciente que ele teve no M6... De cirurgia mais complexa... (Reunião 10)

Nessa equipe, a experiência prévia dos professores com as TICs foi um

diferencial, na medida em que permitiu que eles contribuíssem de forma efetiva com o

desenvolvimento do princípio tecnológico (HANNAFIN e LAND, 1997) do Vivências,

oferecendo conhecimentos concretos sobre as possibilidades de desenvolvimento

tecnológico em função de suas práticas. Além disso, essas experiências contribuíram

para que fizessem conjecturas sobre os desafios que representaria o uso das TICs em

seus contextos, que se manifestaram em narrativas sobre suas preocupações com o uso.

PPT2: Para o modo aprendizagem, uma coisa que eu queria que vocês pensassem é o seguinte: se eu dou um formulário para o sujeito responder... não tem um jeito de depois isso aparecer marcado para mim como já lido? Por exemplo, uma vez eu dei um exercício para 70 alunos. Eu tive que anotar tudo do lado para saber quem que eu já tinha lido, entende? (Reunião 10)

Com isso, percebe-se que as expertises dos professores também permitiram que

atuassem na concretização do princípio pragmático (HANNAFIN e LAND, 1997) do

desenvolvimento, apontando as limitações reais impostas pelas suas práticas. A

principal preocupação apontada pelos professores foi em relação à sobrecarga de

trabalho, já presente em seu cotidiano na universidade, e o possível aumento na

demanda de trabalho a partir da incorporação das TICs. Alguns autores apontam essa

como uma das principais preocupações dos professores em relação ao uso das TICs,

uma vez que esse processo acarreta mudança nas práticas já estabelecidas, exigindo um

esforço extra para os professores (HEW e BRUSH, 2007; LIM e KHINE, 2006).

PPT1 – Eu já externei essa preocupação aqui da última vez e volto a dizer: eu acho que a grande vantagem de usar a tecnologia é na mesma unidade de tempo, a gente poder fazer muito mais coisa. Mas, a minha preocupação é que isso se inverta, a mesma coisa a gente fazer em muito mais tempo. Ou seja, ao invés de dar um curso em que a gente prepare, dá aula e tem as atividades... De repente, a gente passa o dia inteiro para ficar, sei lá, sendo o responsável por esses diálogos todos possíveis com os alunos (...) A preocupação que eu tenho é que a gente comece, além do que a gente já faz, inicialmente, a fazer muitíssimo mais. (Reunião 9)

Além de apoiar a participação dos professores, a utilização da Constructore criou

uma “base comum” entre as experiências dos sujeitos, facilitando a comunicação e

negociação da equipe. Para discutir sobre recursos pedagógicos e características do

144

Vivências, por exemplo, os sujeitos frequentemente recorriam a associações e

comparações com a Constructore.

PPT2 – Aqui [no Vivências] tem uma dimensão do ensino que a Constructore não dá conta como ferramenta. (Reunião 9)

W: Então, acabamos fazendo assim: o modo aprendizagem a Constructore, uma pequena Constructore, que vocês poderiam montar, como já montam hoje em dia... (Reunião 10)

Em síntese, as expertises dos professores assumiram uma função operacional e

prescritiva em relação ao processo de desenvolvimento, na medida em que ofereceram

subsídios para compreender os cenários pedagógicos e fazer conjecturas sobre a

utilização das TICs em seus contextos. Dessa forma, foram o ponto de partida para se

planejar o ambiente de modo compatível com a prática educativa.

6.2.4 Expertises dos programadores

No desenvolvimento do Vivências, a equipe de programadores foi composta

pela webdesigner do projeto e as duas bolsistas de iniciação científica de Informática.

Elas trabalharam em estreita parceria, contribuindo com diferentes expertises técnicas

para o desenvolvimento da infraestrutura do ambiente.

As bolsistas de informática, a partir de suas expertises relacionadas à

programação de sistemas contribuíram tanto com o processo de tomada de decisão da

equipe quanto com o desenvolvimento propriamente dito do sistema operacional do

AVA. No processo de planejamento, em alguns momentos, as experiências das bolsistas

foram fundamentais para decidir quais seriam as possibilidades reais, em termos

técnicos, de desenvolvimento do modelo planejado, como, por exemplo, na definição

conceitual do ambiente:

PTE: Mas, o que é que significa isso? Construir uma Constructore ou aproveitar o que já está na Constructore? eu gostaria de saber se é possível, do ponto de vista da programação (...) vocês não vão precisar fazer programação de ferramenta para o Vivências? AI1: Não. A gente vai adaptar [os recursos da Constructore]. PTE: Se isso é possível fazer isso rapidamente, não tem problema nenhum. (Reunião 12)

145

Dessa forma, as bolsistas participaram do desenvolvimento, com conhecimentos

operacionais (POZO, 1992) que auxiliaram a tomada de decisão, apontando princípios

pragmáticos (HANNAFIN e LAND, 1997) a serem incorporados no processo.

A partir do planejamento do Vivências, as bolsistas foram responsáveis pela

programação do sistema operacional do ambiente. Assim, a partir das conjecturas

incorporadas definidas e planejadas, elas “materializaram” de fato essas conjecturas no

AVA desenvolvido.

Os testes são essenciais, só com eles que descobrimos os erros e sabemos se o pensamento que tivemos sobre o comportamento do sistema está correto (email enviado pela AI1 em 2 de Junho de 2009).

Conforme, elas realizavam a programação, o grupo de TE testava o

funcionamento do ambiente, apontando possíveis problemas. Sendo assim, suas

expertises assumiriam uma função operacional (POZO, 1992) para o desenvolvimento

de princípios tecnológicos (HANNAFIN e LAND, 1997) do Vivências, no que diz

respeito ao seu funcionamento.

Durante a programação, a expertise técnica das bolsistas também contribuiu com

decisões sobre a organização dos recursos pedagógicos no ambiente, como visto na fala

a seguir:

PTE – Em relação aos Fóruns, tem uma questão assim de conceito de Fórum que está sendo discutido. Porque para as bolsistas “Fórum” é uma plataforma que elas inserem dentro do sistema. E dentro de um Fórum você pode ter vários temas. A gente costuma criar vários fóruns, mas eu achei que seria interessante adotar o sistema delas, quando eu estava conversando com elas. (Reunião 14)

Em relação à expertise da webdesigner, foi possível verificar que esta se

expressou tanto em suas interações na equipe quanto nas ferramentas mediadoras

(ENGENSTROM, 1999) construídas por ela.

As ferramentas mediadoras auxiliavam a concretização das discussões, e eram

compostas por: mapas de navegação, em que representava graficamente a estrutura do

ambiente; layouts, em que apresentava visualmente o AVA e HTMLs, em que

disponibilizava uma sequência de telas, organizadas visualmente, permitindo que os

sujeitos avaliassem a navegabilidade planejada. No Vivências, essas ferramentas foram

fundamentais para a negociação na equipe durante todo o processo de planejamento e

desenvolvimento, uma vez que, por um lado, ofereciam uma organização concreta para

146

que os professores pudessem visualizar o ambiente e tomar decisões. Por outro, criavam

uma “base comum” (BEERS, 2005) para os sujeitos, a partir da qual negociavam e

decidiam novas mudanças até atingir o produto final, como pode ser visto no diálogo a

seguir:

PPT1 – Olhando para o mapa, eu estou me perguntando... Aqui na coluna mais da direita, Modos Vivência - Banco de Experiência (...) Estou me perguntando, se a gente já colocou aqui, também, um recorte temático no banco de vídeo (...) W – Agora eu te confesso que estou com uma dúvida. Os alunos, assim como coloquei [no mapa], todo mundo tem acesso a esse material, mas eu acho que não é assim, né? (Reunião 9)

Dessa forma, as expertises dos programadores assumiram uma função

operacional (POZO, 1992) no desenvolvimento dos princípios tecnológicos e

pragmáticos (HANNAFIN e LAND, 1997) do ambiente e se sobressaíram

principalmente na concretização das conjecturas incorporadas (SANDOVAL, 2004).

No Vivências, além de a webdesigner contribuir com o desenvolvimento

técnico, sua experiência prévia com projetos de desenvolvimento de AVAs para a área

da saúde, contribuiu para que assumisse um papel de destaque na negociação da

estrutura pedagógica do ambiente, sugerindo recursos pedagógicos compatíveis com as

práticas dos professores e planejando a organização do ambiente.

W – Em outros ambientes daqui do laboratório, nós temos a maneira de avaliar o fórum, que é a participação. Como se chama? São as estatísticas... Você tem as estatísticas de participação... Quantas participações cada aluno teve. (Reunião 7)

W – No caso da PPT2, os alunos são divididos em vários grupos. Em um grupo, os pacientes vão falar sobre um tema e no outro grupo vão falar sobre outro tema. Então, o aluno de um grupo não vivenciou a experiência do outro grupo e vice- versa. E ambos podem ter interesses trocados... Então, eu imaginei poder gravar os depoimentos e aí disponibilizar no Vivências, porque assim todos os alunos vão ter acesso a todos os trabalhos. (Reunião 7)

A expertise da webdesigner, assim, assumiu uma função prescritiva (POZO,

1992) na concretização do princípio pedagógico (HANNAFIN e LAND, 1997), uma

vez que possibilitou que atuasse no processo de decisão sobre o potencial pedagógico

das TICs e a estrutura do ambiente de aprendizagem de acordo com o contexto dos

professores. Dessa forma, a webdesigner contribuiu para o desenvolvimento das

conjecturas incorporadas (SANDOVAL, 2004), especificamente, no que diz respeito à

adequação entre as práticas desenvolvidas e os meios para enriquecê-las. Pollard e Duke

147

(2003) discutem que a experiência dos programadores com trabalhos no campo de

conhecimento dos professores é um aspecto importante na atividade do design, caso

contrário, os programadores não conseguem auxiliar na seleção dos recursos

pedagógicos, nem desenvolver conjecturas, precisando de um tempo maior de

familiarização com o campo.

Em síntese, a partir da análise foi possível verificar que a expertise dos

programadores contribuiu com o desenvolvimento da infra-estrutura do AVA,

assumindo um papel importante na “tradução” das decisões dos sujeitos em ferramentas

mediadoras que auxiliaram a negociação, até alcançar o consenso da equipe em torno de

uma proposta pedagógica. O fato de a webdesigner ter atuado em outros projetos

relacionados ao ensino da saúde facilitou sua compreensão das questões colocadas pelos

professores e o planejamento de recursos pedagógicos do ambiente. Dessa forma,

participou do desenvolvimento de conjecturas incorporadas no que diz respeito tanto à

sua concretização (em ferramentas mediadoras e na interface gráfica do ambiente

propriamente dito), quanto ao planejamento das potencialidades pedagógicas exploradas

no ambiente.

6.2.3 Expertises dos pesquisadores

Os pesquisadores a partir de suas expertises teóricas e metodológicas

relacionadas à pesquisa e ao desenvolvimento de intervenções pedagógicas apoiadas

pelas TICs, assumiram um papel tanto em relação ao desenvolvimento do ambiente, no

sentido de buscar construir conjecturas incorporadas, quanto em relação ao processo da

pesquisa, orientando a equipe e coordenando as atividades dos sujeitos.

Em relação ao desenvolvimento do ambiente, as expertises dos pesquisadores

contribuíram para a construção de conjecturas incorporadas que fossem compatíveis

com as experiências dos professores em suas práticas. Dessa forma, procuravam

compreender as dinâmicas das disciplinas para apontar recursos pedagógicos que

pudessem enriquecê-las.

DTE - Vocês costumam fazer trabalho de grupo? PPT2 - Sim (...) DTE – Você acha que seria interessante, por exemplo, um espaço de escrita de textos coletivo? Um espaço para eles se reunirem, tipo uma sala de reunião onde só o grupo teria acesso? PPT2 – Seria ótimo. Porque por exemplo (...) Sempre que passa trabalho em grupo eles reclamam... Professora, a gente tem muita coisa para fazer (...) Não dá para se

148

reunir para ficar fazendo esse trabalho em casa... porque na verdade eles têm, que se reunir realmente... (Reunião 8)

Além de fazer questionamentos aos professores que contribuíssem para construir

um ambiente com recursos compatíveis com suas práticas, os pesquisadores

demonstravam uma preocupação teórica de que o ambiente influenciasse nas práticas de

forma a garantir os pressupostos da teoria norteadora (aprendizagem situada e

corporificada).

PTE – Mas, vamos por parte: vocês têm a oportunidade de ter um blog, vocês têm a possibilidade de ter vídeo... quando forem dar a aula de vocês, já vão parar para pensar como vão inserir isso tudo na aula ou no processo de ensino de uma maneira geral. Vamos dizer: o blog é para eles fazerem em casa? mas você não pode fazer em casa e não usar isso na sala de aula quando você estiver, presencialmente, com eles, entendeu? Como é que a gente vai organizar o ambiente de maneira que possa coordenar com as coisas que vocês estão fazendo. (Reunião 8)

Como observado, as expertises dos pesquisadores contribuíram não apenas com

as características do AVA, mas também com a problematização sobre as formas de uso

para que essas características refletissem os compromissos com a teoria norteadora. Na

fala, por exemplo, a PTE aponta colocar o recurso blog no ambiente, não garante a

incorporação dos pressupostos da aprendizagem corporificada na prática, uma vez que

isso depende da forma como ele é utilizado pelos professores.

Dessa forma, as expertises dos pesquisadores assumiram função prescritiva

(POZO, 1992) para o desenvolvimento do princípio pedagógico (HANNAFIN e LAND,

1997), na medida em que apontaram conjecturas incorporadas, no que diz respeito à

compatibilidade com a prática, assim como à compatibilidade com a teoria norteadora.

Na PBD, ressalta-se o papel do pesquisador de orientar a equipe no desenvolvimento de

ferramentas e modelos pedagógicos consistentes com os compromissos teóricos

(DISESSA e COBB, 2004; BARAB e SQUIRE, 2004).

Ainda em relação às características do ambiente, as experiências prévias com

outros projetos de pesquisa e desenvolvimento de AVAs para o ensino da saúde

possibilitaram que os pesquisadores acumulassem conhecimentos sobre possíveis

caminhos para enfrentar os desafios colocados pelos professores, muitas vezes, os

“traduzindo” em termos de funcionalidades técnicas do AVA.

149

PPT2 – Olha, eu estou usando a Constructore e é muito difícil avaliar, por exemplo, perguntas do fórum. (...) porque a gente trabalha com sessenta alunos. Então, avaliar é enlouquecedor... PTE – (...) você já está colocando um problema para ferramenta Constructore, muito bom. Teve uma vez que a gente construiu um fórum para Associação Latino Americana de Saúde Pública e existiam milhões de formas de você ler o fórum (...) O que você quer é o seguinte: tem 60 alunos. Então, o que a gente precisaria era fazer um filtro para as mensagens de diferentes formas. É esse tipo de coisa que a gente precisa saber... Se o fórum vai ser uma forma de avaliar, a gente pode tentar implementar. (Reunião 8)

Esse diálogo demonstra que a expertise da PTE em pesquisa e desenvolvimento

de AVAs para a saúde permitiu que assumisse função prescritiva (POZO, 1992),

apontando projeções que contribuíram com o desenvolvimento do princípio tecnológico

(HANNAFIN e LAND, 1997) do Vivências.

Em relação ao processo de pesquisa, ao longo do desenvolvimento do Vivências,

sobressaiu-se o papel de coordenação do trabalho da equipe desempenhado pela PTE. A

expertise com pesquisa e desenvolvimento de AVAs, especificamente no ensino da

saúde, permitiram que a pesquisadora tivesse uma visão global do processo, orientando

de forma objetiva, a negociação e a decisão da equipe.

PTE – O nosso objetivo agora não mexer com a disciplina inteira... O nosso objetivo agora é colher informações de vocês para gente poder tomar uma decisão, entendeu? Quer dizer, como vocês vêem o projeto? se vai avançar ou não? é por isso que estou fazendo essas perguntas. (Reunião 8)

Na medida em que apontava caminhos, conduzindo a negociação da equipe, a

pesquisadora também avaliava o processo realizado, dando um retorno para os sujeitos

do encaminhamento do trabalho e das decisões tomadas ao longo do processo.

Eu tenho preocupação com o tempo, mas precisamos discutir e amadurecer decisões. É muito importante levar em conta as características e expectativas de uso que os professores das disciplinas nestas definições (ou seja, as suas). Nosso papel é ouvi-los mais, entender a natureza de suas propostas de uso e explorá-las ao máximo. Isto é inovação. Não há padrão standard de inovação, aprendi isto trabalhando com os professores de diferentes áreas. (email enviado pela PTE em 27/11/08)

Esse papel de coordenação é apontado na literatura, como uma condição crucial

do trabalho em equipes multidisciplinares, uma vez que, pelo fato de os sujeitos terem

expertises e perspectivas muito diferenciadas, é importante que alguém no grupo possua

uma visão ampla do processo, orientando os sujeitos e apontando caminhos (ZANONI,

150

2000). Segundo Hughes e Hay (2001), esse modelo horizontal de coordenação, embora

não seja o mais frequente, possibilita incluir uma riqueza de perspectivas ao design e

desenvolver uma compreensão compartilhada do material pedagógico desenvolvido.

Dessa forma, a expertise da PTE assumiu função operacional (POZO, 1992) na equipe

no desenvolvimento do princípio pragmático (HANNAFIN e LAND, 1997) do

Vivências.

Em síntese, os pesquisadores com suas expertises em pesquisa e desenvolvimento

de intervenções mediadas pelas TICs atuaram na construção das conjecturas

incorporadas do ambiente, refletidas nos recursos pedagógicos, buscando uma coerência

entre as práticas educativas e as teorias norteadoras. Além disso, a PTE assumiu um

papel de coordenadora do trabalho em equipe, orientando e avaliando formativamente o

processo de pesquisa e tomada de decisão.

A partir da análise, sintetizamos as expertises dos sujeitos (Quadro 5.1),

buscando compreender quais funções (POZO, 1992) assumiram na concretização dos

princípios do design, apontadas por Hannafin e Land (1997).

Princípio pedagógico Princípio tecnológico Princípio pragmático

Expertises dos Professores

Visão da Psiquiatria – importância da participação do paciente na formação. Conhecimentos sobre as atividades pedagógicas, objetivos, papel do aluno e do paciente Função operacional

Conjecturas sobre como as TICs poderiam ser utilizadas em seus contextos Conjecturas sobre as características do Ambiente Função prescritiva

Conjecturas sobre as limitações de utilizar as TICs em seus contextos Função prescritiva

Expertises dos Programadores

A partir das experiências dos professores, os programadores contribuíram com conjecturas incorporadas buscando a coerência com as práticas Função prescritiva

Ferramentas mediadoras do trabalho em equipe. Desenvolvimento operacional do ambiente. Função operacional

Conhecimento sobre as limitações técnicas relacionadas ao que vinha sendo planejado. Função operacional

Expertises dos pesquisadores

A partir das experiências dos professores, os programadores contribuíram com conjecturas incorporadas buscando a coerência com as práticas Conjecturas incorporadas, buscando a coerência com a teoria norteadora. Função prescritiva

Conhecimento sobre o uso das TICs em contextos da área da saúde, auxiliando “traduções” das necessidades dos professores em termos de recursos do ambiente. Função prescritiva

Conhecimento sobre a metodologia e processo de pesquisa, orientando a equipe no processo de tomada de decisão. Função operacional

Quadro 6.3: Síntese das diferentes expertises dos sujeitos e suas funções no desenvolvimento dos princípios do ambiente (HANNAFIN e LAND, 1997).

151

6.3 CONCLUSÕES SOBRE O PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DO

VIVÊNCIAS

Neste capítulo, buscamos compreender o processo de desenvolvimento do

Ambiente Vivências, partindo da perspectiva da Pesquisa baseada em Design. O

processo de concretização do artefato é analisado por Sandoval (2004), com base no

conceito de conjecturas incorporadas, que consiste no desenvolvimento de projeções

dos sujeitos sobre a utilização das TICs em um determinado contexto, baseadas tanto

nos conhecimentos das práticas quanto da teoria norteadora. Lingnau et al. (2007)

apontam que esse processo de concretização ocorre a partir da integração das diferentes

expertises dos sujeitos na equipe de desenvolvimento, isto é, professores,

programadores e professores.

A análise das expertises da equipe ofereceu subsídios para situar o

desenvolvimento do Ambiente Vivências, compreendendo a dinâmica do processo de

construção das conjecturas incorporadas, além de apontar algumas contribuições que o

aporte da PBD oferece ao desenvolvimento do artefato pedagógico.

Em síntese, como pode ser visto no quadro 5.1, os sujeitos da equipe, apoiados

em suas expertises, assumiram diferentes papéis na construção de conjecturas

incorporadas (SANDOVAL, 2004), contribuindo de forma interdependente e

complementar, assim como propõem Lingnau et al. (2007) no modelo da ação

complementar. Com a análise das expertises, foi possível compreender a dinâmica de

construção das conjecturas incorporadas, partindo de conhecimentos abstratos, que

progressivamente se tornavam concretos, como aponta a teoria da aprendizagem

expansiva (ENGESTROM, 1999).

Nesse sentido, as expertises dos professores sobre seus campos se

manifestaram em suas formas de compreender e atuar no ensino da saúde, oferecendo

uma visão sobre o contexto prático das disciplinas e sua cultura. Esse foi o ponto de

partida para o planejamento do Vivências. A partir das atividades práticas dos

professores, o grupo de TE buscava sugerir meios e recursos pedagógicos para compor

o AVA que pudessem apoiá-los em suas disciplinas, de modo a sugerir conjecturas

incorporadas. Essas conjecturas eram analisadas pelos professores, que faziam

conjecturas sobre o uso de TICs em suas práticas e avaliavam a adequação aos seus

contextos, para possibilitar a tomada de decisão. Os programadores desenvolviam

ferramentas mediadoras que “concretizavam” essas negociações e auxiliavam a equipe

152

nesse processo de decisão. Assim, como aponta a teoria da aprendizagem expansiva

(ENGESTROM, 1999), esse processo aconteceu por meio de uma espiral progressiva

no sentido da concretização do AVA, de forma a contemplar as necessidades dos

contextos educativos. O processo de construção das conjecturas incorporadas é

esquematizado na figura a seguir:

Figura 6.11: Dinâmica da equipe para a construção das conjecturas incorporadas do Vivências.

Nesse esquema, buscamos representar, de forma simplificada, a dinâmica que

se sobressaiu no processo de desenvolvimento do Vivências. No entanto, é importante

ressaltar que, embora essa tenha sido a dinâmica principal das decisões na equipe, não

foi a única. Pelo fato de os professores possuírem experiências com as TICs em seus

contextos de ensino, em alguns momentos, por exemplo, também contribuíram com

sugestões de funcionalidades e características dos ambientes. Esse processo se repetiu

até o planejamento final do Ambiente Vivências, quando os programadores puderam

concretizar a proposta. Essa integração das expertises para o desenvolvimento do

Vivências, foi sintetizada na fala da PTE:

A webdesigner e as bolsistas de informática estão trabalhando a mil, com muita criatividade (...) Acho muito importante registrar este momento e a ótima integração desta equipe em torno da proposta do ambiente. Vocês não podem imaginar como isto é um desafio: contar com esta integração da equipe de desenvolvimento (...) em torno da proposta do VIVÊNCIAS, cada qual com sua expertise, compreendendo e fazendo as traduções necessárias a proposta para a

Professores

Expertises sobre o ensino

em seus campos Atividades pedagógicas,

objetivos, papel do aluno e

paciente Contexto

Programadores e Pesquisadores

Expertise sobre pesquisa e

desenvolvimento de AVA para o

ensino da saúde

Recursos pedagógicos e meios a

compatíveis com as atividades dos

professores

Conjecturas incorporadas

1.

Programadores Expertise técnica Ferramentas mediadoras Concretização das conjecturas

incorporadas

Professores

Expertises sobre o ensino

em seus campos Adequação dos recursos à

sua prática

Conjecturas sobre o uso das

TICsnas disciplinas

2.

3.

4 .

153

realização de nossas intenções, aprimorando-as e concretizando-as. (email enviado pela PTE em 20/12/08)

Em relação à PBD, verificou-se que a parceria entre professores, pesquisadores

e programadores foi a base do processo de desenvolvimento, possibilitando que as

diferentes expertises se articulassem na construção de uma proposta comum,

materializada no conceito do ambiente e em seus recursos pedagógicos. Essa parceria

possibilitou que o artefato fosse construído com base nas características dos contextos

educativos e nas necessidades dos professores, de modo a garantir que o ambiente

assumisse relevância social (REEVES, 2000), sendo orientado para a resolução dos

problemas educativos das práticas. Dessa forma, as conjecturas incorporadas,

materializadas nos recursos pedagógicos do ambiente, foram resultantes tanto das

teorias norteadoras – integradas ao desenvolvimento pelos pesquisadores de TE, quanto

das práticas dos professores.

O trabalho em parceria compõe a dinâmica de trabalho da pesquisadora de TE

e se difere do que é desenvolvido tradicionalmente no campo de pesquisa da TE. Nesse

sentido, Visscher-Voerman e Gustafson (2004), ao realizarem uma análise do processo

de design de diversos pesquisadores de TE, constataram que, embora a maioria dos

pesquisadores reconheça a importância da clara comunicação na equipe, muito pouco é

colocado em prática como abordagem de trabalho, devido à complexidade envolvida.

Na dinâmica de parceria, os professores são co-designers do artefato e assumem um

papel central no processo de desenvolvimento, para que este incorpore suas

necessidades.

O trabalho colaborativo em equipes multidisciplinares para a resolução de

problemas complexos exige, como compromisso principal, estabelecer uma

comunicação que permita a todas as partes assumirem voz ativa no processo (BARAB

et al., 2002; 2005). Pelo fato de os sujeitos serem de diferentes campos, muitas vezes

fazem uso de uma linguagem que nem sempre é compreendida por aqueles de outras

áreas de conhecimento (BEERS, 2005). Durante o processo de desenvolvimento, para

facilitar o processo de negociação e auxiliar a “concretização” das ideias, a equipe

buscou ferramentas mediadoras (ENGENSTRON, 1999) que tornassem as expertises

dos sujeitos mais palpáveis.

A necessidade de criação de ferramentas e estratégias para potencializar o

trabalho em equipes multidisciplinares é uma questão bastante discutida na literatura

(KENSING e BLOMBERG, 1998; MIDDLETON, 2005; BEERS, 2005; PETERS e

154

SLOTTA, 2007; HUGHES e HAY, 2001). Esses trabalhos abordam a importância de a

equipe multidisciplinar criar ferramentas para auxiliar a comunicação, podendo assumir

diferentes formas, tais como mapas mentais, diagramas e palavras ou qualquer outra

maneira de representação do conhecimento (BEERS, 2005; MIDDLETON, 2005).

Conole (2008) considera que essas ferramentas podem ser de naturezas

diferenciadas de acordo com a finalidade, podendo ser utilizados como: 1) meios para

representar a prática, tornando-a mais palpável (tais como narrativas sobre as práticas,

modelos, diagramas etc); e 2) meios para apoiar o processo de desenvolvimento da

prática (tais como guidelines, mapas mentais, representações gráficas etc). No

desenvolvimento do Vivências, foi possível identificar esses dois tipos de ferramentas

mediadoras.

Como meio para representar a prática, a equipe se baseou nas narrativas dos

professores sobre seus contextos de ensino, que ofereceram uma compreensão do

cenário pedagógico e suas particularidades. Essas narrativas eram solicitadas, muitas

vezes pelo grupo de TE, para que pudessem “concretizar” a compreensão do contexto,

para refletir sobre os possíveis meios e recursos pedagógicos para enriquecer a prática.

Conole (2008) argumenta que essa é uma importante ferramenta, na medida em que

oferecem uma rica compreensão de uma cultura particular.

Como meio para apoiar o processo de desenvolvimento da prática, a equipe se

pautou em duas ferramentas: a construção de mapas, layouts e HTML e a experiência de

todos os sujeitos com a Constructore.

A construção de layouts, mapas de navegação e HTML ofereceu à equipe a

concretização das negociações da equipe, contribuindo para a visualização das

conjecturas incorporadas, permitindo aos sujeitos que visualizassem o processo de

decisão, refletissem e aprimorassem o que vinha sendo desenvolvido. Dessa forma,

esses materiais possibilitaram a construção de uma “linguagem comum”, para

potencializar o processo de negociação das diferentes expertises. Para Conole (2008),

essas ferramentas consistem em modelos, que oferecem uma visão simplificada que

ajuda a compreender o que não pode ser visto ou experimentado diretamente. Lee e

Reigeluth (1994) salientam a importância dessas ferramentas no empoderamento dos

professores na equipe, como uma forma de possibilitar sua participação efetiva no

processo de decisão. Isto porque, a experiência com as TICs faz parte da expertise do

grupo de TE, contudo, para que os professores possam participar ativamente do

processo de design, é preciso que eles “concretizem” o que está sendo proposto.

155

Outro aspecto que se sobressaiu significativamente como uma ferramenta

mediadora do trabalho da equipe foi a experiência compartilhada com a Constructore. O

fato de os professores de Psicopatologia terem utilizado a ferramenta em suas

disciplinas, possibilitou que eles partissem dessa experiência para refletir sobre o

Vivências, tornando a conjectura sobre o uso das TICs no contexto de ensino mais

concreta. Dessa forma, além de ter sido a base para a participação efetiva dos

professores, oportunizou uma linguagem comum entre os sujeitos da equipe, na medida

em que muitas vezes os sujeitos faziam analogias e comparações com a Constructore, a

fim de tornar os conhecimentos mais palpáveis para comunicar a equipe sobre ideias

para o Vivências.

Assim, com a análise das expertises, foi possível compreender o processo

complexo e não-linear de desenvolvimento do Vivências, em sua dinâmica particular de

trabalho, composta pelas diferentes perspectivas dos sujeitos e ferramentas mediadoras.

156

7 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO COM O APOIO DO AMBIENTE VIVÊNCIAS: REALIZANDO UMA EXPERIÊNCIA PEDAGÓGICA NA S DISCIPLINAS DE PSICOPATOLOGIA

Na PBD, as intervenções pedagógicas constituem a terceira fase do processo de

design (REEVES, 2000; VAN DEN AKKER, 1999; DBRC, 2003). Como apresentado

no capítulo 1, assumimos o conceito holístico de intervenção, segundo o qual contexto,

prática e artefato pedagógico são considerados indissociáveis, de modo que a

intervenção diz respeito à interação entre o material desenvolvido, professores e alunos

(DBRC, 2003).

No Projeto Vivências, analisamos a primeira experiência pedagógica com o uso

do Vivências nas duas disciplinas do professor PPT1: Psicopatologia Geral e

Psicopatologia Especial. Inicialmente, havia a expectativa de que, nesse ciclo, fosse

possível avaliar a intervenção de acordo com a teoria norteadora, compreendendo como

seus princípios incorporados ao ambiente, contribuíram para potencializar uma

aprendizagem que incluísse a dimensão experiencial envolvida nos processos de

adoecimento. No entanto, nesse primeiro ciclo, o professor vivenciou um processo de

apropriação do ambiente, no qual se deparou com diversos desafios para integrar o

ambiente compatível com os princípios da aprendizagem corporificada.

Esse processo de apropriação se mostrou relevante e necessário para um uso

mais efetivo do ambiente em outras oportunidades, de modo que consideramos

relevante compreendê-lo mais profundamente. Portanto, não assumimos como foco a

análise da aprendizagem dos alunos, uma vez que o ambiente não foi utilizado de

acordo com a teoria norteadora. Sendo assim, na análise dos dados referentes à fase 3,

nosso objetivo foi compreender como o ambiente foi utilizado nesta experiência

preliminar do professor, bem como os desafios enfrentados e reflexões sobre os

possíveis aprimoramentos da intervenção.

Essa terceira fase exibe algumas particularidades em relação às outras duas, uma

vez que não diz respeito a um processo de decisão da equipe, mas do próprio professor

diante de sua experiência de ensino. Dessa forma, por mais que a experiência

pedagógica tenha sido acompanhada e discutida pela equipe, consiste em um processo

individual de decisão, em que participaram principalmente o professor PPT1 e o grupo

de TE (no suporte e no acompanhamento).

Para compreender esse processo, buscamos nos aproximar da experiência

pedagógica, por meio de diferentes formas: analisamos as transcrições de três reuniões

157

da equipe, de duas reuniões da pesquisadora (DTE) com o PPT1, além de dados de

navegação dos alunos no ambiente, de observações em sala de aula, de materiais

desenvolvidos pelos alunos no ambiente e de emails de diferentes membros da equipe.

Na análise dos desafios e das indicações de aprimoramento da intervenção pelo

professor, nos baseamos, principalmente, nas transcrições das reuniões da equipe em

que se analisou a intervenção junto ao professor. Contudo, os outros dados foram

utilizados para compor o contexto da intervenção, além de complementar e corroborar

aspectos apontados pelo professor durante sua análise.

Com base no acompanhamento do processo e na análise desses dados,

descrevemos essa fase por meio da narrativa de design (BELL et al., 2004), a partir de

dois momentos identificados nas atividades realizadas pelo professor: planejamento da

intervenção e a realização da intervenção. Em seguida, analisamos os desafios e as

sugestões de aprimoramento do professor e, finalmente, buscamos discutir as

conclusões a que pudemos chegar a partir da análise.

7.1 DESCRIÇÃO DO PROCESSO DE INTERVENÇÃO

O início da intervenção coincidiu com o final do desenvolvimento, no final da

testagem do ambiente, no início de 2009, quando se começou a planejar de fato a

experiência na disciplina. Nessa fase, a pesquisadora (DTE) buscou ter contato

constante com o professor, através de emails e reuniões no Instituto de Psiquiatria, para

melhor compreender as características das disciplinas e auxiliá-lo, oferecendo sugestões

e tirando dúvidas sobre o funcionamento do ambiente. O grupo de TE participou no

suporte técnico (AI1) e pedagógico do professor (DTE, W, PTE).

Essa fase foi marcada pelo acompanhamento das atividades do professor,

durante o todo o segundo semestre de 2009.

7.1.1 Planejamento da intervenção pedagógica

Nesse processo de planejamento, foram realizadas: uma reunião da pesquisadora

(DTE) com o PPT1 para compreender mais detalhadamente o contexto da disciplina;

uma reunião da pesquisadora com PPT1 e PPT3 para discutir ideias para o planejamento

do ambiente virtual e uma reunião da equipe para analisar a experiência de construção

do ambiente virtual do curso.

158

O processo de planejamento da intervenção é descrito com base na apresentação

do contexto das disciplinas de psicopatologia na formação de psicologia e as reflexões

iniciais sobre o processo de implementação do ambiente.

7.1.1.1 O contexto das disciplinas de psicopatologia na formação de psicologia

O professor PPT1 oferece duas disciplinas por semestre: Psicopatologia Geral

(sexto período) e psicopatologia especial 1 (sétimo período), sendo que a primeira é pré-

requisito da segunda. Ambas as disciplinas são vinculadas à Faculdade de Medicina e

oferecidas no Departamento de Psicologia. Em relação ao problema educativo do ensino

da Medicina, discutido inicialmente pela equipe, a formação em Psicologia apresenta

algumas particularidades. De acordo com o PPT1, essas particularidades se relacionam,

principalmente, às seguintes questões: a) menor relação com a clínica – na psicologia,

pelo fato de a clínica não ser a única especialidade, esta não é enfatizada, de modo que a

formação assume um caráter bastante teórico; b) maior abertura para discussão de

aspectos subjetivos dos pacientes – devido ao objeto de estudo da psicologia, essa

discussão é mais bem aceita pelos alunos desse contexto.

PPT1 – E isso eu acho que marca uma diferença importante para a medicina, que a medicina mesmo tendo conteúdo teórico, o menino desde o sexto período já vive, a aula já é no hospital ele vive já no hospital (...) Ele é obrigado a conviver com a realidade (...) Não tem como ele se refugiar disso. (Reunião 16)

PPT1 – E a psicologia também tem muitas formas de você trabalhar que não são clínicas, você pode trabalhar com pesquisa, com empresas, escola. Em medicina você também pode trabalhar com pesquisa, mas é uma parcela menor (...) então, a formação, ela é muito mais relacionada com a vivência prática do que na psicologia. Eu acho que na psicologia você pode buscar isso meio que por sua conta. (Reunião 16)

PPT1 – (...) obviamente, esse tipo de perspectiva [subjetiva] é muito mais bem acolhida por um aluno de Psicologia, do que é por um aluno de medicina. Não tenho a menor dúvida (...) Essa proposta é mais sintônica com a proposta ou com a identidade ou com o ambiente intelectual do aluno da psicologia, do que para o aluno de medicina... (Reunião 16)

Durante o curso de psicologia, as disciplinas de psicopatologia constituem as

únicas oportunidades de os alunos se aproximarem e refletirem sobre a relação com os

pacientes de uma forma prática. Nesse contexto, como discutido nas fases de análise do

problema e de desenvolvimento do ambiente, os professores buscam ensinar sobre as

psicopatologias integrando a teoria com a prática, possibilitando aos alunos

159

compreenderem como as questões teóricas estudadas se manifestam no mundo real.

Tendo esse objetivo geral comum, as duas disciplinas acontecem duas vezes por semana

e se diferenciam em termos de foco e estratégias adotadas pelo professor.

Na Psicologia Geral, o professor aborda questões amplas sobre as alterações

psíquicas e como se dá a experiência dessas alterações:

PPT1 – (...) ela não vai tratar ainda de categorias diagnósticas, ela trata de alteração nas funções psíquicas, e o objetivo é mais, pelo menos desde que a gente tem tomado conta da disciplina, é mais uma coisa de tentar colocar o aluno em contato com o que pode ser a experiência dessas transformações, as experiências subjetivas de um problema de memória, de inteligência, de humor e menos uma coisa que é tradicional nesse tipo de ensino, apresentar uma lista de nomes enorme em que as pessoas têm que decorar e saem querendo aplicar aquilo de qualquer maneira. Embora este aspecto mais técnico não tenha deixado de existir, mas a gente procura fazer com que ele exista neste contexto mais abrangente. (Reunião 16)

Como estratégias pedagógicas, o professor inclui aulas teóricas expositivas e

realização de exercícios (vinhetas clínicas e seminários clínicos). Nas aulas teóricas,

outros professores participam de um ou mais temas. Nas práticas, os alunos discutem,

em grupos, casos e relatos de pacientes com objetivo de identificar como as questões

teóricas aparecem na prática:

PPT1 – Pois é, a [psicopatologia] geral não tem prática nesse sentido de encontro com o pacientes. A geral são aulas teóricas com a turma toda. As turmas têm estado em torno, entre 50 e 60 alunos, alguma coisa nessa faixa. E as aulas acontecem num auditório grande (...) aí quando tem exercícios, aí a turma se divide em dois grupos, quer dizer, continua uma turma grande, só que um pouquinho menor, e aí são fragmentos de casos clínicos, pequenas passagens para eles poderem, em cima desses fragmentos, identificarem as alterações que foram estudadas nas aulas anteriores e aí discutem com o professor (...) esse curso, basicamente, todo ele é isso, e no final tem esses seminários clínicos, que aí se pegam textos maiores de relato ou de auto-relato ou apresentação, tipo um texto do Oliver Sacks, para discutir com a turma também, dividindo em dois grupos. (Reunião 16)

A disciplina, então, se organiza em duas partes teóricas intercaladas com

algumas aulas para realização de exercícios. Na parte 1, o professor aborda temas gerais

como: cérebro, corpo, subjetividade, narrativa etc. Na parte 2, mais extensa, o professor

aborda as alterações psíquicas (memória, inteligência, consciência etc) e intercala com

aulas de debate e de exercícios (uma aula com vídeo, três aulas com vinhetas clínicas e

cinco aulas com seminários clínicos). Ao longo do semestre, além dos exercícios, duas

avaliações são realizadas.

160

Na Psicopatologia Especial I, o professor tem como foco preparar os alunos para

identificar as psicopatologias e reconhecer diagnósticos.

PPT1: E na psicopatologia especial I, a gente já entra nas categorias diagnósticas, a gente apresenta primeiro o sistema de classificações da Psiquiatria e depois, em cada aula, vai tratar de uma grande categoria diagnóstica: esquizofrenia, transtorno de humor etc. Sempre procurando enfatizar esse aspecto, de que são modalidades particulares das formas de experiência de si, do outro e do mundo, mas aí já mais bem delimitado, usando o conhecimento adquirido na disciplina anterior. (Reunião 16)

O PPT1 intercala aulas teóricas expositivas com aulas práticas, em que os alunos

têm a oportunidade de compreender, a partir de diferentes abordagens, como aquelas

psicopatologias se manifestam nos pacientes:

PPT1 – São quatro aulas práticas. Então, é vídeo, que geralmente são vídeos de entrevistas, eventualmente, um documentário, mas na maioria vídeo de entrevista gravado aqui (...) ela [professora] lê com a turma um texto literário que cuja narrativa tem a ver com o tema de psicopatologia. Então o vídeo tem três encontros no semestre, literatura tem dois encontros, sendo que os dois encontros de literatura são seguidos (...) CAD são dois encontros, que era o que a PPT2 fazia e que agora que a PPT2 não está quem vai fazer sou eu, são dois encontros, mas não são seguidos e enfermaria que o Júlio faz, é enfermaria porque é um paciente que está internado, mas não é na enfermaria é na sala dele. (Reunião 16)

Em suma, são quatro práticas (vídeo, literatura, enfermaria e Centro de Atenção

Diária – CAD) ministradas por diferentes professores. A turma é dividida em grupos e

os alunos, em esquema de rodízio, assistem cerca de duas aulas de cada prática,

totalizando oito aulas.

7.1.1.2 Reflexões iniciais sobre o uso do Vivências nas disciplinas

No início do planejamento da intervenção, pelo fato de o PPT1 já ter utilizado

uma ferramenta de autoria de cursos na web (Constructore) em outros semestres e ter

participado de todo o processo de construção do Vivências, ele não esperava encontrar

tantos desafios para incorporar o ambiente na disciplina.

PPT1: [a experiência pedagógica] não está toda delineada, mas para a gente não é complicado porque a gente já vem nesse trabalho com a Constructore há mais de um ano. Quer dizer, tanto a gente como uma das turmas (...) já tem uma certa familiaridade. Então, já guarda uma continuidade de experiência (...) As condições adversas da psicopatologia vão virar favoráveis, porque eu estou coordenando as duas disciplinas e dando a maioria das aulas das duas disciplinas, então, também eu

161

vou estar ativamente participando dessa experiência (...) Quer dizer, vou depender menos da colaboração de professores. (Reunião 15)

Ao longo do processo de planejamento das disciplinas com o uso do Vivências,

o professor começou a se deparar com algumas dificuldades e, diante dessa percepção, a

pesquisadora (DTE) se colocou à disposição para acompanhar e dar suporte à atividade,

oferecendo sugestões e tirando dúvidas. Com o intuito de discutir possíveis estratégias

para alcançar os objetivos pedagógicos com o uso das TICs, realizou-se uma reunião da

pesquisadora com PPT1 e PPT3.

DTE – Eu já estava pensando naquela questão que você tinha falado, do fórum não dar ainda mais trabalho. De repente (...) depois da apresentação de cada grupo, os alunos do grupo podem inserir uma questão no fórum e, durante uma semana, serem responsáveis por mediar uma discussão com o resto da turma (...) tem formas de fazer, que não precise ser o professor que esteja ali o tempo todo. (Reunião 17)

Desde o início das discussões, o professor deixou claro suas preocupações com

as questões práticas para inserção do ambiente na disciplina, se dando conta de alguns

obstáculos para colocar em ação as ideias que haviam surgido durante o

desenvolvimento do Vivências.

DTE: Só para eu entender, que eu estou querendo acompanhar também a experiência de vocês, como vai ser trabalhado isso? Por que a Constructore é auxiliar, tinha os textos, as atividades, e agora como é que vocês estão pensando? PPT1: Olha, DTE, para te falar a verdade, eu não pensei em nada muito diferente disso não, como proposta geral. Uma coisa que eu acho que poderia ser bacana, mas eu não sei se nesse primeiro semestre vai funcionar, seria, sobretudo, nessa parte aqui de ferramentas de trabalho: sala de reunião... mas, não sei até que ponto a gente vai ter adesão para isso... (Reunião 18)

Em relação a isso, por exemplo, o professor, que durante o desenvolvimento

tinha apoiado a construção de diversos recursos de comunicação no ambiente, no

momento do planejamento, começou a se dar conta das dificuldades práticas que

encontraria, por exemplo, para incluir a narrativa dos pacientes e certos recursos, como

a sala de reunião e o fórum, no Vivências:

DTE: Mas, e essa questão assim da narrativa, como você vai trabalhar em sala de aula? PPT1: Seria a partir dos vídeos, dos encontros com os usuários, tem essa possibilidade dos fóruns de pacientes... DTE: Pois é. Mas tem essa possibilidade?

162

PPT1: a dificuldade para isso é em relação a equipamento (...) Eu já lancei essa possibilidade para alguns usuários, alguns se interessaram, outros nem tanto. E aí, eu teria que ver se eu organizo uns horários na minha sala. (Reunião 18)

DTE: A sala de reunião, você disse que não sabe se vai usar, né? PPT1: É porque tem algumas atividades em sala de aula que a gente pede que eles tenham trabalhado antes de vir pra sala. Então, essa seria uma possibilidade de usar a sala de reunião, que serviria para esse trabalho prévio. Mas o que acontece é que normalmente eles vêm para a sala de aula sem ter feito... Não creio que a sala de reunião vá tornar isso mais factível pra os alunos fazerem esse trabalho prévio. (Reunião 18)

PPT1 – Uma coisa que a PPT2 usou no semestre passado, nessa disciplina, que eu devo usar, mas eu até conversei com ela... Tinha uma pessoa que trabalhava aqui com a gente que estava ajudando ela na disciplina, que também já me falou que teria uma certa dificuldade com (...) o dispositivo de fórum. Mas eu devo usar, mas sem o compromisso de acompanhar, é tipo, abrir a oportunidade deles estarem discutindo, mas sem que isso implique que eu deva estar acompanhando e mediando esta discussão, porque é uma coisa que eu volta e meia falo nas reuniões: o ambiente para mim é para fazer o tempo render mais e não para dar mais trabalho. (Reunião 16)

Sendo assim, o planejamento do ambiente ocorreu por meio de um processo

dinâmico, em que o professor começou a analisar suas possibilidades reais de

desenvolver o que havia planejado, se deparando com os desafios práticos dessa tarefa.

Na medida em que iniciou o processo de construção do ambiente da disciplina, surgiram

algumas dúvidas e sugestões para o aprimoramento do protótipo:

PPT1: Mas aí, tem aquilo que eu estava comentando com você da relação do módulo com o recurso. Por que na Constructore, o recurso era referido ao módulo, agora [no Vivências] tem todos os recursos em massa e os módulos. Aí, eu pensei que uma solução seria aqui em “conteúdo” eu explicar isso, dizer quais são os recursos, que pudesse ter um link, que facilitaria para o aluno. Para o aluno não ficar perdido... (Reunião 18)

De forma geral, assim como ilustrado nessa fala, o professor recorreu a sua

experiência anterior de uso da Constructore para identificar aspectos que poderiam ser

aprimorados no Vivências.

7.1.2 A realização da intervenção pedagógica

7.1.2.1 As disciplinas de psicopatologia com o uso do Vivências

O professor utilizou o Ambiente Vivências para a construção de suas duas

disciplinas. Logo no início do semestre, disponibilizou todos os materiais e atividades

163

referentes ao curso e os deixou disponíveis para os alunos ao longo de todo o período.

Na primeira aula, das duas disciplinas, a pesquisadora (DTE) foi convidada pelo

professor para apresentar o Projeto e o Ambiente Vivências para a turma e a pesquisa de

tese:

PPT1: (...) eu acho que a minha apresentação [do ambiente] vai ficar muito melhor, até com a sua presença e aí você pode falar também da sua tese... Essa turma de psicopatologia especial é uma turma que já me conhece, então, bem ou mal, já tenho um vínculo eu acho que adeririam na boa a esse tipo de colaboração com a sua pesquisa. A psicopatologia geral é gente que não me conhece, pode aderir ou não (...) Eu acho que você indo é uma outra maneira das pessoas se envolverem. (Reunião 18)

Na disciplina de Psicopatologia Geral, o professor construiu seis módulos em

que agrupou as aulas, separando as teóricas das práticas da seguinte forma: programa do

curso, aulas teóricas – parte 1, aulas teóricas – parte 2, vinhetas clínicas, seminários

clínicos e notas.

Nos três primeiros módulos, os alunos encontravam os slides apresentados nas

aulas, além de recursos como textos e gráficos. No módulo “programa do curso”, o

professor disponibilizou além de slide (n=1), gráfico (n=1) com o cronograma do curso.

No módulo “aulas teóricas – parte 1”, o professor agrupou quatro aulas, em que

disponibilizou slides (n=4) e textos (n=3). No módulo “aulas teóricas – parte 2”, o

professor agrupou dez aulas, em que disponibilizou os slides (n=9) apresentados na

disciplina.

No módulo “vinhetas clínicas”, o professor agrupou as quatro aulas de

exercícios e disponibilizou as orientações e o material para o trabalho: casos (n=3),

gráfico contendo a divisão dos grupos (n=1) e exercício (n=1). Para execução do

trabalho, a turma foi dividida em grupos, que deveriam fazer download dos casos,

trabalhar previamente e discuti-los com o restante da turma em sala de aula. O professor

solicitou que os alunos acessassem o ambiente, após a aula, para enviar a resposta dos

casos.

No módulo “seminários clínicos”, o professor agrupou as cinco aulas

correspondentes ao tema e disponibilizou como material: casos (n=4) e exercícios

(n=5). Para execução dos seminários, a turma foi dividida em grupos (os mesmos das

vinhetas clínicas), devendo fazer download dos relatos de pacientes para discutir

previamente com o grupo, a partir de um roteiro disponibilizado pelo professor. No dia

das aulas, o professor disponibilizava um tempo para os grupos discutirem e, depois,

164

solicitava que alguns grupos apresentassem à turma suas discussões. Após as aulas, o

restante dos grupos deveria postar no ambiente a resposta do roteiro.

Dessa forma, o ambiente foi utilizado para facilitar o acesso ao material teórico

da disciplina (14 slides e 3 textos), o acesso ao material das aulas práticas (7 casos) e o

envio de seis exercícios.

Em relação aos recursos de comunicação, foram utilizados os avisos (n=9), em

que o PPT1 comunicou à turma questões gerenciais, como, por exemplo, prazos e

transferência da data da prova. Além disso, foram abertos dois fóruns de discussão: em

um o professor PPT3, que ministrou algumas aulas teóricas propôs um debate sem uma

questão específica, solicitando à turma “aprimorar o que começamos presencialmente”.

Nesse fórum, duas alunas não participaram do debate, mas postaram dúvidas sobre a

execução dos exercícios. O outro fórum, com três contribuições, foi iniciado pelos

alunos, para compartilhar dificuldades técnicas em relação ao envio do exercício para o

professor.

Com o objetivo de compreender como esse ambiente foi utilizado na disciplina,

assim como a dinâmica de uso, analisamos os dados de navegação ao longo da

disciplina, no que diz respeito ao número de downloads realizados pelos alunos, como

apresentado no gráfico 7.1 a seguir:

Figura 7.5: Total de downloads dos recursos pedagógicos por dia na disciplina de Psicopatologia Geral

165

Os dados acima indicam que os períodos de maior utilização do ambiente,

distribuídos ao longo do curso, coincidiram com as épocas de provas e de realização de

exercício.

Na disciplina de Psicopatologia Especial, o professor construiu oito módulos, em

que agrupou as aulas por temas: programa, apresentação do curso, aulas teóricas, aulas

práticas, aulas práticas CAD (Centro de Atenção Diária), notas, avaliação do curso,

casos clínicos.

Nos dois primeiros módulos, “Programa” e “Apresentação do curso”, o

professor disponibilizou slide com a organização do curso (n=1) e gráfico com o

cronograma (n=1). No módulo “aulas teóricas”, foram agrupadas 14 aulas, em que ele

disponibilizou os slides apresentados presencialmente (n=12), além de textos (n=1) e

links (n=1). No módulo “aulas práticas”, referentes às oito aulas práticas do período, o

professor indicou a organização dessas aulas, disponibilizou gráficos (n=2) com a

organização dos grupos e com as datas das aulas e inseriu exercícios (n=3), em que

solicitou que os alunos produzissem relatos, em que expusessem o que as três atividades

práticas (vídeo, CAD e enfermaria) contribuíram para o ensino de psicopatologia. Os

relatos dos alunos foram avaliados pelos professores e a média entre eles constituiu a

nota das aulas práticas. Ele ofereceu a possibilidade de que os alunos respondessem no

blog ou por exercício, contudo, todos preferiram enviar como exercício no final da

disciplina.

O módulo “aulas práticas – CAD” (Aula com os pacientes do Centro de Atenção

Diária) é voltado, especificamente, à prática com a participação dos pacientes

colaboradores da disciplina que frequentam o hospital-dia. O professor disponibilizou

textos (n=7), contendo: lista de temas indicados pelos pacientes, relatos escritos por

pacientes, textos explicativos sobre a dinâmica da disciplina (também escritos por

pacientes). Para essas aulas práticas, o professor solicitou que os alunos realizassem

atividades prévias, envolvendo o download e leitura dos seguintes materiais: histórico e

organização da atividade; um relato escrito por pacientes sobre o hospital-dia;

apresentação da dinâmica das aulas práticas relatadas por dois pacientes; lista com 18

temas propostos pelos pacientes para as aulas práticas. Após a leitura desses arquivos,

os alunos deveriam enviar para o professor, por meio de “exercícios”, com até um dia

de antecedência, o tema que gostariam de discutir. O tema mais votado pelo grupo seria

o discutido com os pacientes no dia da aula. Além disso, o professor disponibilizou dois

166

relatos escritos pelos pacientes, sobre os temas “família” e “diagnóstico” para leitura

complementar.

No módulo “notas”, o professor disponibilizou um gráfico com as notas das três

avaliações (duas teóricas e uma prática). No módulo “avaliação do curso”, o professor

disponibilizou gráficos (n=3) para os alunos avaliarem as aulas teóricas e práticas, em

termos de qualidade, pontualidade, relevância etc. No módulo “casos clínicos”, o

professor disponibilizou cinco casos complementares ao ensino da disciplina para os

alunos que se interessassem.

Em relação à comunicação, o professor utilizou o recurso “avisos” (n=6) para

comunicar questões gerenciais, como a disponibilização das notas, data de reposição de

aula etc. Em “correio”, as duas mensagens enviadas por alunos, compartilhavam

problemas técnicos no envio das atividades. Observando os dados de utilização do

ambiente, em relação ao número de downloads realizados pelos alunos, é possível

verificar a dinâmica da disciplina como apresentado no gráfico a seguir:

Figura 7.6: Total de downloads dos recursos pedagógicos por dia na disciplina de Psicopatologia Geral. Essa dinâmica indicou que os períodos de maior utilização do ambiente, ao

longo do curso, coincidiram com as épocas de provas. Embora as aulas práticas CAD

exigissem um trabalho prévio dos alunos, elas estimularam uma quantidade de

download um pouco maior que a média, de forma similar a alguns temas teóricos como

esquizofrenia e transtornos alimentares.

167

Para compreender como o ambiente se inseriu no contexto das práticas, a

pesquisadora (DTE) participou como observadora de cinco aulas. Na Psicopatologia

Geral, foram observadas três aulas de seminários clínicos (25/11, 30/11 e 7/12) e na

Psicopatologia Especial foram observadas duas aulas práticas CAD (30/11 e 7/12).

A partir dessas observações, foi possível perceber que o Vivências, em ambas as

disciplinas, foi parte integrante do contexto, tendo sido mencionado constantemente

como um ambiente de suporte para o acesso aos materiais e para o envio de atividades

para o professor. Nas aulas de Psicopatologia Geral, o professor se referiu diversas

vezes ao ambiente para perguntar se os alunos haviam lido o material disponibilizado,

indicar que a data das provas estava disponível no ambiente; para indicar que o roteiro

das aulas para orientar as discussões havia sido disponibilizado e solicitar que os alunos

enviassem as respostas dos exercícios pelo Vivências. Os alunos falaram sobre o

ambiente com o professor para perguntar se o material da aula estava disponível, se

certificar se a data da prova colocada no Vivências estava correta e tirar dúvida sobre o

envio dos exercícios pelo Vivências. Os alunos também mencionaram o Vivências entre

si, para tirar dúvidas sobre o arquivo que deveria ser baixado para aula. Uma aluna, por

exemplo, ao ser perguntada se estava com o caso para a aula, respondeu que estava

confusa, pois no ambiente o arquivo estava com o número errado. Dessa forma, o

Vivências fazia parte da disciplina, sendo mencionado com naturalidade pelos sujeitos,

como um ambiente de apoio para acessar materiais e enviar exercícios para o professor.

Nas aulas de Psicopatologia Geral (prática CAD), os alunos conversavam com

os pacientes sobre os temas selecionados no Vivências. Nessas aulas, os pacientes se

sentiam à vontade para falar da sua experiência como quisessem, com poucas

intervenções do PPT1, que deixava que os alunos e os pacientes interagissem. Quando

os pacientes saíam, o professor conversava com os alunos, buscando compreender suas

percepções, problematizando o estigma em relação aos pacientes e estimulando a

relativização da ciência e da verdade. Nos dois dias observados, o Vivências foi

mencionado com alunos no final da aula: em um dia, o PPT1 falou que as notas haviam

sido colocadas no ambiente na semana anterior e que as avaliações das aulas práticas

estavam disponibilizadas e deveriam ser respondidas. Ele explicou que, por sua

inexperiência com o uso do ambiente, tinha feito uma confusão: colocou três perguntas

de avaliação das práticas em um mesmo exercício, o que impediria que os alunos

enviassem a resposta de cada uma em tempos diferentes. Explicou, então, que havia

colocado as perguntas separadamente para permitir essa flexibilidade. Na outra aula, o

168

Vivências foi mencionado quando o PPT1 comentou com a turma de que poucos alunos

tinham utilizado o ambiente para escolher os temas da prática, citando, como exemplo,

o fato de eles terem precisado tomar um tempo de discussão com os pacientes para

definir o tema que seria discutido. Além disso, avisou à turma que as notas das aulas

práticas seriam dadas em função das avaliações das aulas práticas, que os alunos

deveriam colocar no ambiente.

A observação das aulas contribuiu para compreender a inserção do Vivências na

disciplina como um ambiente de suporte a questões gerenciais (acesso aos materiais e

envio de exercícios). A dimensão da narrativa dos pacientes esteve presente no

ambiente, por meio de casos e relatos escritos por pacientes (Psicopatologia Geral) e por

meio de textos e relatos produzidos pelos pacientes colaboradores da disciplina

(Psicologia Especial). Durante as aulas, o PPT1 demonstrou ter uma preocupação com

seu papel de formador, procurando estimular que os alunos questionassem e refletissem

sobre seu papel e sobre as experiências dos pacientes. Aproveitava as questões

apontadas pelos alunos, para aprofundá-las e respaldá-las tanto com conhecimentos

teóricos quanto práticos (exemplos de pacientes e casos acompanhados por ele). Dessa

forma, embora a dimensão da experiência tenha aparecido pontualmente no ambiente,

foi possível verificar que, ao longo das aulas práticas, esta era a questão central

discutida pelo professor e os alunos.

7.1.2.2 Reflexão sobre a intervenção pedagógica com uso do Vivências

Durante o processo de planejamento e realização da intervenção, o professor, aos

poucos, foi se dando conta dos desafios que precisaria enfrentar para utilizar o

Vivências como havia planejado. No início da intervenção, quando começou a planejar

as disciplinas com o uso do Vivências, o PPT1 já tinha percebido que, por conta do

aumento do trabalho, não seria possível utilizar os recursos de comunicação que havia

sugerido durante o desenvolvimento. No entanto, ainda esperava desenvolver

possibilidades de ampliar o contato dos alunos com a questão da narrativa. Ao longo do

processo, contudo, o PPT1 foi percebendo que não seria possível atingir esse objetivo.

Esse processo de tomar consciência das limitações e impossibilidades reais, ficou

explícito em um dos emails do professor trocados com a pesquisadora (DTE):

Eu vi as tuas sugestões, obrigado por mandá-las. Algumas delas eu já tinha pensado em implementar, provavelmente a partir do próximo semestre (...) Sei que ainda

169

falta explorar muita coisa do potencial da ferramenta, mas fazer isto com duas turmas enormes, ao mesmo tempo em que eu mesmo tenho que me familiarizar com o seu uso, o que só acontece com o uso à vera, durante o curso de verdade acontecendo, vai me exigir pelo menos este semestre de adaptação. (e-mail enviado pelo PPT1 em 15/10/09)

O processo de adaptação vivenciado pelo professor foi sintetizado na fala da

PTE, durante uma reunião na equipe:

PTE: O que está sendo mais ou menos feito é uma transposição do que era feito na Constructore antes, para o ambiente do Vivências. Então, na verdade, não houve nenhum caso especifico ou alguma questão especifica que fosse explorada de uma maneira especial por ser o Vivências, entendeu? (...) Agora, olha só, por que está sendo assim? Eu acho que agora, no momento, eles ainda estão, também, se adaptando a ferramenta, é muita coisa junta (...) então, eles estão trabalhando com as práticas que eles já conhecem, entendeu? (...) talvez a gente nem consiga avaliar o impacto do processo pedagógico, por que é um processo de adaptação que a gente está vivenciando, e tudo isso é importante para o processo pedagógico é isso que tem que ser levado em conta. (Reunião 19)

Dessa forma, na intervenção, o professor avaliou os fatores que influenciaram

suas decisões tomadas ao longo do processo, conforme apresentado a seguir, ofereceu

ideias para superar os desafios e refinar futuras intervenções.

7.2 ANÁLISE DO PROCESSO DE INTERVENÇÃO

Tendo em vista que esta foi a primeira experiência pedagógica com o uso das

TICs, assumimos como foco compreender as percepções do professor sobre o processo

de intervenção, especificamente, no que diz respeito aos desafios encontrados na

integração do Vivências às disciplinas e às possibilidades de refinamento da

intervenção.

7.2.1 Reflexão do professor sobre os desafios da intervenção

7.2.1.1 Falta de familiarização com o uso do Vivências

Durante a realização da intervenção, o professor demonstrou certo desconforto

com o uso do Vivências, devido ao fato de ser sua primeira aproximação com o

ambiente e, com isso, ainda não se sentir seguro com sua utilização.

170

PPT1: Na verdade, a gente só começa a descobrir as coisas quando usa [o ambiente] para valer. Eu fiz aquelas simulações, parecia tudo muito simples, depois que comecei a usar eu comecei a ver. PPM: é igual a qualquer pessoa nova... Hoje, não, porque a pessoa já nasce e já vai para o computador, mas quem começa a usar computador é a mesma coisa: ou você usa mesmo por que precisa e descobre e bate a cabeça... PTE: Para resolver um problema real... PPM: Exato! Para incorporar a tecnologia. (Reunião 20)

Mesmo já tendo utilizado as tecnologias em seu contexto de ensino, o PPT1

apontou a necessidade de compreender o funcionamento específico do Vivências,

mencionando à equipe alguns problemas que enfrentou nesse processo de

familiarização:

DTE: O que você está achando da experiência? PPT1: Não, agora eu estou mais familiarizado... PTE: É difícil ficar familiarizado, mesmo tendo sido um dos conceptores? PPT1: É. As mancadas que eu dei, tipos de exercícios em que eu acabei criando problemas... Fiz um exercício e botei três perguntas, só que eram perguntas que eles poderiam responder em tempos diferentes, aí alguns responderam uma pergunta e mandaram e não tiveram como mandar de novo... Eu fui descobrir isso depois, ou seja, eu criei um problema enorme lá pra eles. Ou seja, são coisinhas que você nem supõem que sejam assim, você vai descobrindo... (Reunião 20)

Quando o professor explicou esse problema para a turma de psicopatologia

especial, também o atribuiu a sua inexperiência com o uso do ambiente. Dessa forma,

sua falta de experiência foi percebida pelo professor como um desafio importante a ser

superado para a utilização do ambiente nas disciplinas.

PPT1: A gente vai descobrindo como usar todas essas possibilidades, às vezes de forma mais pontual ou de uma maneira que você também não fique sobrecarregado com isso... (Reunião 20)

Alguns autores argumentam que, mesmo aqueles professores que participam da

equipe de desenvolvimento do artefato, no momento de implementá-lo no contexto de

ensino, passam por um processo de adaptação até se sentirem seguros para realizar suas

práticas com o uso de novas ferramentas (REISER et al, 2000; HOADLEY, 2004). Esse

aspecto também é analisado no trabalho de West et al (2007), segundo o qual os

professores, inicialmente, vivenciam um processo de familiarização com a tecnologia

utilizando apenas alguns recursos da plataforma e, conforme se familiarizam tornam-se

mais confiantes e começam a utilizar novas potencialidades, sendo capazes de driblar

certas limitações.

171

7.2.1.2 Impossibilidade de uso de depoimentos dos pacientes gravados em vídeo ou

áudio nas disciplinas

Devido ao fato de o Projeto Vivências abranger diferentes institutos, precisou

ser aprovado em dois Comitês de Ética na Pesquisa (CEP). Um dos comitês aprovou o

projeto, o que permitiu que os vídeos da disciplina de Psicologia Médica (pacientes com

câncer de mama) fossem gravados. No entanto, o outro comitê – do Instituto de

Psiquiatria - não aprovou o projeto, por conta de uma postura da direção atual da

instituição que não aprova a gravação de depoimentos em áudio e/ou vídeo de seus

pacientes.

Essa restrição tinha sido definida ainda no desenvolvimento do protótipo e foi

proposto, na equipe, a possibilidade de utilizar blogs de pacientes, disponibilizados na

rede, para superar esse desafio. Os professores definiram as palavras de busca para a

pesquisa de dissertação de um aluno de mestrado relacionado ao Projeto Vivências e foi,

então, disponibilizado para a equipe um levantamento de blogs de pacientes como

transtornos psiquiátricos. Contudo, o professor considerou que, embora úteis, os relatos

escritos não teriam o mesmo impacto que os relatos em vídeos e áudio:

DTE – você acha que o ambiente vai estender esse contato [dos alunos com as narrativas dos pacientes]. PPT1 – Olha, eu não sei, eu acho que pode ser sim. Bom, aqui a gente está com essa dificuldade de usar também material mais vivo, que eu acho que poderia ser um elemento que ajudasse, mas como a gente está com este impedimento a gente vai continuar lidando com o material escrito ou de outro site que eu acho que sempre ajuda um pouquinho, mas não é a mesma coisa. (Reunião 16)

O professor e a pesquisadora (DTE) fizeram algumas buscas no youtube para

encontrar depoimentos em vídeo de pacientes “ouvidores de vozes”, mas não foram

encontrados relatos dos próprios pacientes sobre suas experiências de adoecimento e de

tratamento.

Na disciplina de psicopatologia geral, os alunos não têm contato com

pacientes, mas durante as aulas práticas de seminários clínicos, lêem diversos

depoimentos escritos por pacientes sobre suas patologias. Nesse sentido, a inclusão dos

relatos em áudio e em vídeo representaria uma diversidade de formas de contato com a

experiência dos pacientes, além dos depoimentos escritos. Na disciplina de

psicopatologia especial, os alunos convivem com pacientes nas aulas práticas CAD e a

172

possibilidade de oferecer outros relatos em vídeo ampliaria e diversificaria o contato dos

alunos com esse material.

A importância desse contato com os pacientes, e não apenas com seus relatos

escritos, foi considerada positiva por muitos alunos que participaram das aulas práticas

CAD em psicopatologia especial, como ilustrado na avaliação da prática, escrita por

uma aluna e extraída do Vivências:

Acho que a aula foi importante para me fazer enxergar na prática o que eu havia visto apenas em forma de relatos escritos. E é diferente, pois prestamos atenção não apenas no que é dito, mas na forma que é dito, na aparência do paciente, trejeitos etc. O que parecia puramente didático se torna um ser humano. (Avaliação de uma aluno sobre a prática CAD, disponibilizado no Vivências)

7.2.1.3 Sobrecarga de trabalho

Durante o processo de desenvolvimento do protótipo, o professor demonstrou

preocupação com a sobrecarga de trabalho em seu cotidiano de trabalho e um aumento

representado pela integração do ambiente nesse contexto. Para ele, essa questão foi

muito relevante, tendo sido abordada diversas vezes ao longo do processo da

intervenção. O professor analisou a complexidade de sua prática na universidade,

destacando os desafios de integrar o ensino e a pesquisa, uma vez que o primeiro ocupa

boa parte do tempo. Nesse sentido, apontou o desafio de coordenar sozinho duas turmas

de graduação, com uma grande quantidade de alunos.

PTE: Só você que vai usar o ambiente, PPT1? Ou o PPT3 também vai? PPT1: Só eu. Quem usa isso maciçamente é o coordenador da disciplina. Eu que vou usar. PTE: A PPT2 também estava, né? PPT1: Porque ela estava coordenando uma das disciplinas, agora eu fiquei com as duas. As duas eram relacionadas... com a saída dela eu fiquei com as duas. (Reunião 18)

Com isso, para o professor, que já havia se deparado com um acréscimo de

trabalho no ensino, a inclusão do ambiente seria mais um fator a aumentar a carga de

trabalho:

DTE: Mas olha só, PPT1, só para eu entender, que eu estou querendo acompanhar também a experiência de vocês, como vai ser trabalhado isso? Por que a

173

Constructore é auxiliar, tinha os textos, as atividades, e agora como é que vocês estão pensando? PPT1: Olha, DTE, para te falar a verdade, eu não pensei em nada muito diferente disso não, como proposta geral (...) até para a gente poder se habituar um pouco mais, e saber o que é que a gente faz com isso, por que eu também estou sozinho nas duas disciplinas, então, eu não vou poder ter um ritmo (...) Tem outros professores que vão lá dão uma aula, ou dão algumas aulas, mas que não vão usar (...) Olha, somando as duas deve dar uns 140 alunos. Nessa primeira fase, foi um inferno... foi meu primeiro semestre com as duas, com aquelas pilhas e pilhas de provas para corrigir foi absolutamente infernal. Esse semestre até reduzi as avaliações, o que é uma coisa ruim, por que as avaliações eram avaliações muito mais finas, mas, eu também não tinha condição de dar conta, então, algumas avaliações que poderiam ser feitas a partir daqui [do ambiente] eu sei que eu não vou dar conta... (Reunião 18)

Tendo em vista a preocupação com a sobrecarga de trabalho, o professor

considerou mais difícil a utilização de alguns recursos de comunicação, tais como

fóruns e blogs, uma vez que esses recursos requerem o acompanhamento e mediação

dos professores:

PPT1 – Uma coisa que a PPT2 usou no semestre passado, nessa disciplina, que eu devo usar, mas eu até conversei com ela... tinha uma pessoa que trabalha aqui com a gente que estava ajudando na disciplina, que também já me falou que teria uma certa dificuldade com isso, que seria o dispositivo de fórum. Eu devo usar, mas sem o compromisso de acompanhar, é tipo: abrir a oportunidade de eles estarem discutindo, mas sem que isso implique que eu deva estar acompanhando e mediando esta discussão, porque é uma coisa que eu volta e meia falo nas reuniões: o ambiente para mim é para fazer o tempo render mais (...) Porque já é tanta coisa, se eu ainda tiver que ficar acompanhando a discussão. E essa professora, que até continua colaborando, e que estava colaborando no ano passado com a PPT2, falou também que é uma coisa muito cansativa que ela não está com nenhuma disponibilidade este ano para fazer este acompanhamento. (Reunião 16)

A idéia do blog onde os alunos fossem postando as suas impressões sobre o aprendizado me parece interessante, mas vejo dificuldades práticas na sua implementação. Se for uma atividade voluntária, tenho a impressão que a adesão vai ser muito baixa. Os alunos já se queixam de sobrecarga de tarefas, não só nesta disciplina, mas no conjunto das disciplinas cursadas (...) Por outro lado, se eu tornar esta atividade obrigatória, valendo nota, eu me acrescento a tarefa de ler e eventualmente comentar 65 a 70 blogs por disciplina por semestre, além das outras atividades. (e-mail enviado pelo PPT1 em 15/10/09)

Como visto na falas, o professor vivenciou impasses e desafios para adotar o

Vivências naquele momento. A preocupação de professores com o aumento da carga de

trabalho gerada pela integração das TICs é frequentemente documentada na literatura

(REISER et al, 2000; TABATA e JOHNSRUD, 2008; FINGER e HOUGUET, 2009).

Reiser et al (2000), ao analisarem um processo de desenvolvimento e implementação de

174

um ambiente virtual para ensino de ciências, em parceria com professores, identificaram

algumas preocupações recorrentes dos professores. Dentre essas preocupações, os

autores destacam as “considerações de ensino”, que dizem respeito à demanda de tempo

e aumento do trabalho para o professor no sentido de gerenciar as TICs em suas

práticas.

7.2.1.4 Falta de acesso à Internet e de capacitação dos pacientes para o uso do

computador

Durante a fase do desenvolvimento do Vivências, os professores de

Psicopatologia haviam mencionado a possibilidade de ampliar a interação entre os

pacientes e os alunos, por meio de disponibilização de fóruns e criação de blogs.

Segundo eles, essa seria uma forma de que os alunos se sentissem mais a vontade para

interagir com os pacientes, uma vez que os encontros presenciais não eram suficientes

para promover esse sentimento.

PPT1: (...) os alunos encontram este grupo, atualmente, duas vezes no semestre, então, para os alunos não chega a haver, digamos, aquela quebra do gelo, que permite colocar-se a vontade e tal. Então, tem um certo descompasso entre o grupo de usuários que está lá toda semana (...) eles já estão mais ou menos a vontade naquele espaço, entre eles, e com o fato de estarem recebendo os alunos. Entre os alunos não chegam a haver essa passagem de uma situação de absoluta novidade com uma coisa já familiarizada. (Reunião 16)

Quando iniciou o planejamento do uso do Vivências na disciplina, o professor

se deu conta da dificuldade que encontraria em termos do acesso dos pacientes a

computadores. Segundo o professor, não era permitido que eles utilizassem os

computadores no Instituto de Psiquiatria o que dificultaria a participação no ambiente,

tendo em vista que a grande maioria não possuía computador em casa.

Além da restrição de acesso a computadores, o professor também apontou a falta

de capacitação dos pacientes em relação à informática, inviabilizando a participação

deles no ambiente virtual. Durante uma reunião da pesquisadora (DTE) com PPT1, essa

questão foi discutida, inclusive, com a participação de uma paciente (funcionária do

laboratório do PPT1):

DTE – (...) eu estava sugerindo, não sei se vai ser legal, se vocês pudessem participar de um fórum com os alunos na Internet.

175

Paciente 1 – Eu acho legal, porque inclusive a PPT2, já tinha conversado com a gente sobre isso... PPT1 – O pessoal [pacientes] usa computador? Tem muita gente que usa? Paciente 1 – Tem pouca gente, só eu e outro paciente. (...) PPT1 – Então, depende de uma capacitação e equipamento também (...) Mas, enfim, fica como uma coisa a ser resolvida oportunamente quando as condições melhorarem e forem mais favoráveis. (Reunião 17)

Esta questão foi apontada, em outros momentos, como um desafio importante a

ser superado, como ilustrado no email enviado pelo PPT1 à W:

As coisas que você sugere de fazer eu confesso que me sinto sem pernas neste semestre. Para que alguns pacientes fizessem blog, participassem de chat, eu precisaria de dispor não só de equipamento para isso, como de tempo para acompanhá-los inicialmente neste trabalho, porque a quase totalidade, se não a totalidade, não dispõe de computador em casa e não está familiarizado a este ponto com o seu uso. (e-mail enviado pelo PPT1 em 20/09/09)

Em síntese, foi possível verificar, com a análise, que o PPT1 enfrentou uma

série de desafios nesta primeira experiência pedagógica com o Vivências, sendo eles: a

impossibilidade de uso de depoimentos dos pacientes gravados em vídeo ou áudio nas

disciplinas, a falta de acesso à Internet e de capacitação dos pacientes para o uso do

computador, a necessidade de familiarização com o uso do Vivência e a sobrecarga de

trabalho representada pela integração das TICs. Os dois primeiros desafios são

específicos do conteúdo da disciplina e interferiram de forma crucial para a ausência das

narrativas dos pacientes – e dos princípios teóricos – no ambiente.

Já os desafios relacionados à necessidade de familiarização com o ambiente e à

preocupação com a sobrecarga de trabalho acarretada pela integração das TICs, são

aspectos mais amplos, geralmente, enfrentados por professores. Isto porque, esse

processo de integração das TICs exige mudanças nas práticas educativas, acarretando

questionamentos e inseguranças nos professores (WEST et al., 2007; HANSEN e

SALTER, 2001; FINGER e HOUGUET, 2009).

7.2.2 Reflexões do professor sobre o refinamento da intervenção

Na análise retrospectiva da equipe sobre a intervenção, o PPT1 apontou o desejo

de continuar utilizando o Vivências em suas disciplinas, refletindo sobre os desafios e

os possíveis caminhos para superá-los. As ideias para superar esses desafios e aprimorar

a intervenção foram discutidas na equipe em termos de desdobramentos do projeto

176

Vivências. Para lidar com o desafio da falta de acesso à Internet e de capacitação dos

pacientes para o uso do computador, foi discutida a possibilidade de comprar, com

recursos do projeto, laptops para os pacientes utilizarem:

PPT1: (...) eu acho mais interessante a gente ter alguma coisa que pudesse fazer uma espécie de inclusão digital dos usuários para participação no ambiente. PPT2: Acho que uma sala para isso ia ser ótimo. PPT1: Acho que não precisa ser nem uma sala. Acho que uma sala com um laptop, se a gente pegasse uma sala que estivesse vazia (...) Acho que economizaria aborrecimentos de negociação com a direção... (Reunião 20)

Além disso, a equipe discutiu a possibilidade de desenvolver um projeto de

extensão, em que os alunos bolsistas de informática do LTC oferecessem uma

capacitação aos pacientes:

PPT1: Eu estava aqui pensando, nem sei se valia a pena e nem sei se tem verba para isso, era pagar alguém que fizesse uma espécie de capacitação dos usuários, tem verba para pagar isso? PTE: (...) A gente combina de fazer um workshop... eu acho até que para os bolsistas de iniciação científica é uma atividade boa... Pedir para eles ajudarem as pessoas, para quem eles estão programando, sabe como é que é? A gente já teve outras experiências em outros projetos que foi muito importante para eles. A gente pode até fazer um projeto de extensão da UFRJ... (Reunião 20)

Em relação à necessidade de familiarização com o Vivências, o professor

demonstrou sentir-se mais seguro após a intervenção, indicando a possibilidade de

ampliar uso em experiências futuras. Para superar os desafios da sobrecarga de trabalho

relacionada ao desenvolvimento e ao acompanhamento das atividades online, o

professor sugeriu a possibilidade de incluir monitores na disciplina, para que pudessem

contribuir na mediação das atividades:

PPM: Espero que no semestre que vem, com os aspectos mais básicos do uso da ferramenta bem assimilados, eu consiga, especialmente, se conseguir também algum tipo de auxilio de monitor - estou negociando isto no departamento - partir para estes vôos maiores. (Reunião 20) PTE: Quer dizer, o que eu também entendi que você falou é que a utilização de vários recursos não foi possível por que tem que ter pernas para... PPT1: É. PTE: Apesar de ter todas as possibilidades que a gente colocou... PPT1: A gente vai descobrindo como usar todas essas possibilidades, às vezes de forma mais pontual ou de uma maneira que você também não fique sobrecarregado com isso... PTE: Afinal de contas a tecnologia acaba dando mais trabalho para o professor do que a maneira habitual de fazer isso...

177

PPT1: É. Mas se você tem uma equipe com bolsista e tal eu acho que dinamiza... (Reunião 20)

Ao mesmo tempo em que abordou a necessidade de incluir monitores na

disciplina para auxiliar no trabalho online, o professor também apontou as dificuldades

práticas que envolvem essa função:

PPT1: O que eu pensei, mas aí também dependeria... Eu até estava falando para a DTE... porque eu não tenho como conseguir monitor bolsista, porque essas disciplinas são do departamento de Psiquiatria da faculdade de medicina oferecidas na faculdade de psicologia. Então a faculdade de medicina não me dá bolsa porque o curso é do instituto de psicologia e o instituto de psicologia não me dá bolsa porque é uma disciplina da faculdade de medicina... (Reunião 20)

A partir dessas ideias para superar os desafios, o professor indicou

possibilidades de refinar a intervenção, tanto no que diz respeito à realização da sua

disciplina quanto ao desenvolvimento do ambiente virtual. Em relação à disciplina, o

professor indicou a possibilidade de incorporar, nos semestres seguintes, alguns

recursos de comunicação. Contudo, condicionou essa ampliação à resolução de

desafios, principalmente, relacionado ao aumento da carga de trabalho:

PPT1: Eu acho assim, que a experiência, como eu já tinha falado da outra vez, foi uma espécie de tomar pé da situação, eu acho que já vai dar para fazer um negócio bem mais bacana no semestre que vem... E em algumas coisas eu comecei a me dar conta que talvez sejam meio complicadas sem eu recorrer a outras coisas (...) Eu fico pensando que esse negócio de blog (...) Eu acho que se o curso oficialmente, no caso o coordenador do curso, não criar um blog eu acho que vai ser difícil que os alunos façam isso também. (...) Então, o que eu pensei para blog, que poderia ter um blog do curso que pudesse ser assim também tipo um lugar onde as pessoas encontram informações, por exemplo, mostras de filmes sobre a loucura... Aí tem isso lá... Mas que não tivesse que eu ter que ficar fazendo isso, mas tivesse um grupo de monitores... (Reunião 20)

PPT1: E outra coisa que eu acho que vai dar para usar com a sala de reunião é o glossário... A gente pode colocar como uma atividade de avaliação valendo nota, cada grupo, a cada semestre, colocar um termo. Porque esse glossário vai sendo construído ao longo do semestre (...) cada turma contribui com algumas definições... Acho que isso a gente já pode fazer semestre que vem... (Reunião 20)

O professor também indicou a possibilidade de utilizar o ambiente para

disponibilizar um acervo de materiais correlacionados com a disciplina:

PPT1: Uma coisa que eu acho que o site pode ser utilizado, embora seja uma coisa que eu diria quase como uma reserva virtual. Eu não sei se todo mundo vai usar, porque os alunos fazem várias disciplinas ao mesmo tempo. Mas eu fiquei pensando

178

naquela parte ali de links... Então, nesse semestre, eu recebi uma coisa que o ministério da saúde (...) Teve um que era uma mulher falando sobre a experiência de depressão, e eu coloquei lá o link e anunciei que eu tinha colocado o link, não sei se as pessoas foram olhar, mas eu acho que o site pouco a pouco pode virar uma espécie de acervo para esse tipo de coisa e o aluno que quiser consultar... (Reunião 20)

Dessa forma, com essa experiência o professor pode vislumbrar outras formas de

uso do Vivências em suas disciplinas, indicando atividades que dessem conta dos

desafios encontrados, não acarretando, por exemplo, a sua sobrecarga - por meio da

participação de monitores (uso dos blogs) e da autonomia dos alunos no ambiente (uso

da sala de reunião e glossário). Segundo West et al (2007), uma das dificuldades

comuns, apontadas pelos professores, é aprender como utilizar os recursos de interação

e colaboração sem exigir uma quantidade excessiva de trabalho. Isto porque, em geral,

os professores sabem como funcionam as ferramentas de comunicação, contudo, sua

utilização no ensino exige uma mudança na conformação das práticas realizadas. Com

isso, o professor precisa desenvolver conhecimentos sobre moderar fóruns e propor

atividades diferentes do que está acostumado, exigindo dele maior tempo.

Em relação ao ambiente, após o uso, o professor indicou como aspectos que

poderiam ser refinados: a) a criação de uma lista de atualizações automáticas, que fosse

enviada por email a todos os participantes do curso, a cada recurso inserido no

ambiente; b) a possibilidade de incluir, de uma vez, todos os recursos no ambiente e ir

disponibilizando gradualmente ao longo da disciplina.

PPT1: Pensando em uma coisa mais dinâmica, interativa... Na medida em que eu for ficando mais familiarizado, eu possa passar essa familiaridade para os alunos e os alunos possam estar também inserindo coisas. Tem alguma coisa assim? Eu não sei como é que chama isso... Aquilo que quando entra uma coisa nova todo mundo é avisado... W: Automático que você está falando? PPT1: Isso. (Reunião 20)

PPT1: Por que uma coisa que eu percebi, mas isso também foi uma falha minha. Quase todos os slides, eu coloquei logo de cara no semestre, no curso. O que faz com que muita gente pegue logo no começo do semestre os slides todos do curso e aí talvez visite menos frequentemente o ambiente, e aí aquela história dos avisos que aparecem no curso... que é muito bacana, que aparecem logo na página de entrada, eu acho que muita gente não via porque também não estava o tempo todo entrando... Por outro lado, é muito mais prático fazer isso de uma vez só do que ficar fazendo a cada aula... PTE: Mas olha só, a gente já fez isso em outros cursos (...) Em um outro curso, por exemplo, a gente montou o curso inteiro e fechou, então o professor dizia quando queria abrir a próxima parte. (Reunião 20)

179

Assim, com a intervenção, o PPT1 conseguiu detectar aspectos práticos que

deveriam ser levados em conta em experiências posteriores. A possibilidade de

refinamento da intervenção diz respeito ao processo interativo da Pesquisa baseada em

Design e é crucial para que, progressivamente, esta se torne adequada às necessidades

dos sujeitos envolvidos nas práticas pedagógicas (WANG e HANNAFIN, 2005; VAN

DEN AKKER, 1999; COBB et al., 2004).

7.3 CONCLUSÕES SOBRE O PROCESSO DA INTERVENÇÃO

Nesse capítulo, analisamos a primeira experiência do PPT1 na integração do

Vivências em suas disciplinas, tendo como foco compreender quais as percepções do

professor sobre esse processo, especificamente, sobre os desafios encontrados e as

possibilidades de refinamento da intervenção. A análise dessas percepções oferece

subsídios para compreender como um professor, que participou de todo o processo de

desenvolvimento do Vivências, integra o ambiente em sua prática. Além de permitir

aprofundar a discussão sobre o processo de intervenção, na perspectiva da PBD.

Na análise do processo de integração do Vivências pelo PPT1, evidencia-se a

complexidade do trabalho docente na universidade, organizado sobre o tripé ensino-

pesquisa-extensão (BAZZO, 2007). Nesse contexto, os professores precisam conciliar

as atividades de ensino, que demandam tempo de planejamento e execução das aulas e

avaliação dos alunos, com uma elevada demanda para a produção intelectual e

acadêmica (STRUCHINER e GIANNELLA, 2005; CUNHA, 2008). Muitas vezes,

pressionados pelas exigências acadêmicas, foco da universidade, a atividade docente

fica sem espaço de reflexão na prática docente (ISAÍA e BOLZAN, 2007). Assim,

mesmo o PPT1 sendo um professor dedicado ao ensino - que inclusive se disponibilizou

a participar durante dois anos do processo de desenvolvimento desse ambiente - seu

cotidiano complexo na universidade, incluindo todas as questões que precisa conciliar,

dificulta o processo de integração das TICs, uma vez que esta representa algo a mais a

ser aprendido e gerenciado.

Nesse contexto, ao iniciar o processo de planejamento da intervenção, o PPT1 se

deu conta dos desafios que teria que enfrentar para incluir o Vivências e as narrativas

dos pacientes em sua prática docente. Especificamente, os desafios encontrados pelo

professor foram: a impossibilidade de uso de depoimentos dos pacientes gravados em

vídeo ou áudio nas disciplinas; a falta de acesso a Internet e de capacitação dos

180

pacientes para o uso de computador e preocupação com sobrecarga de trabalho devido

ao uso das TICs no ensino.

Embora esses desafios já tivessem se apresentado desde a fase de

desenvolvimento do Vivências, não foram determinantes no processo, uma vez que

existiam em termos de conjecturas dos professores (SANDOVAL, 2004). Durante o

desenvolvimento, o professor já havia identificado alguns dos desafios que encontraria

na prática, como por exemplo, a impossibilidades de uso do depoimento dos pacientes,

tendo inclusive pensado em algumas alternativas.

Na medida em que o professor começou a planejar a intervenção, esses desafios

se tornaram palpáveis e ele se deu conta que eram mais difíceis de superá-los do que

supunha. Nesse sentido, Pollard e Duke (2003) desenvolveram um estudo sobre a

parceria de professores e pesquisadores no desenvolvimento e implementação de um

ambiente virtual para o ensino da matemática. Os autores ressaltaram que, no momento

da implementação, quando o professor se depara com sua prática, surgem desafios que

não haviam sido antecipados, exigindo um replanejamento.

Outro aspecto que se sobressaiu nesse processo de intervenção foi a necessidade

de familiarização do PPT1 com o Vivências. Além de o professor ter participado de

todas as decisões sobre as características do ambiente, ele já havia tido, em outros

semestres, experiência com o uso das TICs no ensino. Ainda assim, o PPT1 sentiu a

necessidade de se familiarizar com o Vivências e com seu funcionamento para se sentir

seguro em utilizá-lo de maneira ampliada na disciplina. Alguns estudos que abordam a

parceria entre pesquisadores e professores no desenvolvimento e implementação de

ambientes virtuais, destacam o processo de adaptação pelo qual o professor passa para

incorporar as TICs em suas práticas (REISER et al, 2000; HOADLEY, 2004). Essa

adaptação envolve um processo reflexivo, em que precisa desenvolver habilidades e

criar contextos para a utilização das TICs, envolvendo mudanças sociais, institucionais

e individuais, suscitando questionamentos sobre suas práticas (SHULDMAN, 2004;

WATSON, 2006). Conforme destaca West et al. (2007), os primeiros usos de TICs no

ensino tendem a refletir as práticas tradicionais sedimentadas e, conforme o professor

vai se familiarizando com as ferramentas, começa a perceber e utilizar novas

potencialidades. Dessa forma, através de ciclos de experimentação e reflexão os

professores re-significam as tecnologias dentro de seu contexto criando oportunidades

de inovação na sua prática pedagógica (BANNAN-RITLAND, 2008).

181

Em relação à realização de intervenções na perspectiva da PBD, a partir da

análise, foi possível ressaltar o caráter iterativo e processual da pesquisa. Esta primeira

experiência com o uso do Vivências foi uma fundamental para que o professor pudesse

se sentir seguro e vislumbrar como utilizar o ambiente em sua disciplina. Ao contrário

do que acontece em projetos cujo papel do professor é de “recipiente de inovações”

(SHEAR et al, 2004), nesse processo de pesquisa, em que o professor foi agente central

do seu desenvolvimento, foi importante que ele se apropriasse das TICs de uma forma

significativa para sua prática. Sendo assim, nesse primeiro momento, o professor

buscou replicar práticas anteriores para se familiarizar e se sentir mais seguro com o

Vivências. A partir dessa utilização inicial, o professor detectou os desafios para

ampliar o uso, possibilidades de superar os desafios e apontou possibilidades de refinar

a intervenção, tanto em relação às estratégias pedagógicas utilizadas quanto ao ambiente

propriamente dito.

Dessa forma, é possível concluir que a integração das TICs pelo professor exige

um processo de apropriação inicial, em que ele se depara com os desafios de suas

práticas, exigindo que reflita sobre elas e construa conhecimentos sobre o processo de

integração das TICs em seu contexto de ensino. Mesmo o professor tendo participado

de todo o processo de desenvolvimento, ele passa por um processo de adaptação inicial,

que é fundamental para novos conhecimentos sejam construídos e implementados em

ciclos posteriores. Essa questão se reflete em um email que o PPT1 enviou a PPM, a

encorajando ao uso e utilizando como exemplo sua experiência com o ambiente:

Eu já estou usando a plataforma a todo vapor nas duas psicopatologias, depois de um período de aclimatação no segundo semestre do ano passado. Este ano teremos como novidade a participação e utilização da plataforma pelos usuários do CAD que participam das aulas práticas. Sugiro que você comece a usar a plataforma, que as questões sobre o tipo de uso que você pode fazer nas aulas logo começarão a ganhar corpo. (email enviado pelo PPT1 em 23/03/10)

Desse modo, na medida em que os sujeitos vão utilizando as TICs em suas

práticas, conhecimentos são construídos e contribuem para um processo de refinamento

progressivo das intervenções (COLLINS et al, 2004), uma vez que a aproxima

sucessivamente das necessidades dos sujeitos envolvidos no contexto de ensino,

contribuindo para a integração da pesquisa educacional com a prática pedagógica.

182

8 ANÁLISE RETROSPECTIVA DO PROCESSO DE DESIGN DO

AMBIENTE VIVÊNCIAS: TECENDO CONSIDERAÇÕES SOBRE A P BD

No presente estudo, analisamos as três fases do processo de pesquisa e

desenvolvimento do Ambiente Vivências: análise do problema educativo,

desenvolvimento do protótipo e a intervenção pedagógica. Ao mesmo tempo em que

essas fases compõem o processo de pesquisa, apresentando, portanto, características

comuns, também exibem particularidades de acordo com as atividades e decisões

tomadas pelos participantes do processo. Sendo assim, embora tenhamos discutido cada

fase individualmente, aprofundando os principais fatores que influenciaram o processo

de design do Vivências, neste capítulo, buscamos analisar o processo como um todo,

destacando algumas contribuições que o presente estudo oferece para a construção do

conhecimento sobre o desenvolvimento de intervenções apoiadas na PBD.

Para isso, nos pautamos em três características da PBD (WANG e HANNAFIN,

2005) - interatividade, iteratividade e flexibilidade - para discutir o processo de

desenvolvimento do Vivências, destacando os conhecimentos produzidos em relação a

metodologia. No processo, a interatividade se refletiu em uma estreita parceria entre a

equipe que repercutiu de forma decisiva no design. A seguir, esses três princípios foram

aprofundados.

8.1 A PARCERIA COM PROFESSORES: CONSTRUINDO UMA DINÂMICA

PARTICULAR DE DESIGN

Na PBD, a parceria com os sujeitos envolvidos nos processos educativos é uma

característica básica da pesquisa, permitindo integrar a teoria e a prática educativas

(WANG e HANNAFIN, 2005; VAN DEN AKKER, 2002). Entretanto, ao analisar

estudos que se apóiam nessa metodologia para pesquisa e desenvolvimento de

ambientes mediados pelas TICs para o ensino de ciências, observamos que o nível em

que se estabelece a parceria é muito variável. Nesse sentido, verificamos que, em alguns

casos, o pesquisador também era o professor da intervenção (BARNETT et al., 2002).

Em outros estudos, o professor participou do processo de planejamento e

desenvolvimento da intervenção (BODZIN, 2008; WANG e REEVES, 2007), contudo,

na maioria dos trabalhos, não se estabeleceu um trabalho conjunto com o professor, uma

vez que os pesquisadores planejavam e os professores realizavam a intervenção (KONG

183

et al., 2009; LIM et al., 2006; YARNALL et al., 2006; DUNLEAVY et al., 2008;

SQUIRE e JAN, 2007; COTNER et al., 2008; HOULE e BARNETT, 2008; BARAB et

al., 2007; TAASOOBSHIRAZI et al., 2006; KLOPFER e SQUIRE, 2008). Com isso,

nota-se que embora a parceria seja um pressuposto da PBD, esta vem sendo

compreendida pelo campo e articulada à pesquisa de forma bastante variável.

No desenvolvimento do Vivências, a parceria com os professores foi a base

do processo, buscando-se o consenso a cada decisão tomada. Dessa forma, embora

cada sujeito tivesse uma expertise, podendo contribuir com diferentes saberes para o

projeto, o trabalho interdisciplinar foi a marca desse processo e destacou-se,

sobretudo, nas fases de análise do problema e de desenvolvimento do protótipo. Em

relação à interdisciplinaridade, Zanoni (2000) ressalta que esta

é muito mais um ponto de partida que um ponto de chegada e ela não é dada de antemão, através de fórmulas ou regras, mas se constrói, em um processo criativo, a múltiplas mãos, necessitando para isso de um tempo e de uma dinâmica de trabalho bastante distintos de um processo de pesquisa disciplinar (ZANONI, 2000, p.)

A partir da análise retrospectiva do processo de negociação na equipe, foi

possível destacar algumas oportunidades e desafios encontrados nessa forma de

trabalho:

8.1.1 Oportunidades do trabalho interdisciplinar

8.1.1.1 Característica da equipe: identificação entre os sujeitos e convergência de

crenças

Desde o início do trabalho em equipe, observou-se o reconhecimento e

identificação entre os participantes, que se revelou tanto no entusiasmo em trabalhar em

conjunto, quanto no processo de negociação equilibrado. Foi possível verificar que

houve uma convergência de crenças dos sujeitos em relação à educação, à saúde e à

tecnologia educacional, contribuindo para que houvesse uma forte identificação entre os

sujeitos da equipe e para o desenvolvimento de um processo equilibrado de negociação.

Em alguns momentos, essa identificação entre os sujeitos foi manifestada

diretamente, como pode ser visto na troca de emails a seguir:

PTE, os seus argumentos sobre os problemas relacionados à identificação dos pacientes reavivaram a minha alegria de estarmos trabalhando juntos! Concordo com eles e, ao contrário do que supôs, me pareceram precisos, agudos (Email enviado pela PPT2 ao grupo em 26/01/09)

184

primeiro, obrigada PPT2... estou muito orgulhosa do seu comentário. Acho que compartilhamos a mesma base filosófica em nossas atividades, por isso é possível refletir junto com vocês sobre o projeto. Eu também gosto muito de trabalhar com vocês e aprendo muito (Email enviado pela PTE ao grupo em 26/01/09).

Esta característica contribuiu para a construção da identidade coletiva

indispensável para o trabalho em equipe em projetos dessa natureza (FAZENDA, 1995).

Essa convergência foi uma característica peculiar deste grupo e nem sempre ocorre em

trabalhos em equipe, tornando-se, muitas vezes, necessário o enfrentamento dos

conflitos para viabilizar um projeto comum (PINHO, 2006).

8.1.1.2 O papel de coordenação da equipe

Nesse processo de negociação, um aspecto que se destacou foi o papel da

pesquisadora de TE na coordenação da equipe, orientando as discussões e organizando

o trabalho. Zanoni (2000) ressalta que um desafio importante a ser enfrentado no

trabalho em equipe é a coordenação do grupo, segundo o qual este deve ser reconhecido

pelos outros membros da equipe e dispor de qualidades individuais que permitam

intervir auxiliando a ultrapassagem de contradições entre as disciplinas, estar apto a

desencadear questionamentos, estimular o diálogo e produzir sínteses.

No desenvolvimento do Vivências, esse papel foi reconhecidamente

desempenhado pela pesquisadora de TE e assumiu diferentes características ao longo do

processo. Durante a análise do problema, em que se buscava uma compreensão

compartilhada do problema educativo, a coordenação foi mais “analítica”, tendo como

objetivo problematizar as questões de ensino, questionar os participantes, sintetizar

conhecimentos e apontar possibilidades de explorar as TICs. No desenvolvimento do

protótipo, em que se tinha o objetivo de construir uma proposta comum, estando,

portanto, a equipe voltada para a ação, a coordenação da pesquisadora foi mais

“pragmática”, esclarecendo à equipe os diferentes caminhos a serem tomados e

alertando para oportunidades e desafios das possíveis escolhas. Durante a intervenção, a

PTE também atuou de forma mais analítica, buscando junto ao professor avaliar a

experiência pedagógica e compreender as práticas educativas que influenciaram sua

forma de utilizar o Vivências.

De forma geral, foi possível destacar como característica comum desse processo

de coordenação uma postura colaborativa e dialógica, priorizando a escuta dos

professores. Nesse sentido, Barab et al (2005) ressaltam que essa postura colaborativa é

185

indispensável para construir intervenções ancoradas nas necessidades sentidas na prática

e pertinentes para o estabelecimento de uma relação de parceria e troca.

8.1.1.3 Construção de uma base comum entre os sujeitos

O trabalho colaborativo em equipes multidisciplinares para a resolução de

problemas complexos exige, como compromisso principal, estabelecer uma

comunicação que permita a todas as partes assumirem voz ativa no processo (BARAB

et al., 2002; 2005). Pelo fato de os sujeitos serem de diferentes campos, possuindo

diversas expertises, muitas vezes, fazem uso de uma linguagem que nem sempre é

compreendida por aqueles de outras áreas de conhecimento ou com diferentes

significados em outros campo (BEERS, 2005). O autor alerta para o fato de que se a

falta de compreensão permanece não detectada e a equipe continua a trabalhar,

múltiplas representações podem virar “múltiplas ignorâncias”, acarretando uma

compreensão equivocada ou parcial do problema.

Beers (2005) argumenta que o estabelecimento de uma base comum é uma

condição fundamental para viabilizar o trabalho entre sujeitos com diferentes

perspectivas. No Vivências, a negociação de uma base comum ocupou um espaço

importante na relação do grupo, uma vez que se buscava, constantemente, uma

compreensão compartilhada sobre os aspectos envolvidos para que cada decisão fosse

tomada a partir do consenso entre os sujeitos. Principalmente, nas duas primeiras fases,

em que as decisões foram coletivas, foi possível identificar a busca de uma base comum

por meio de diferentes estratégias.

Na fase de análise do problema, em que o foco era a compreensão e formulação

do problema educativo da saúde, a construção de uma base comum se deu por meio do

compartilhamento de crenças e saberes, o que permitiu que a equipe realizasse uma

negociação de posições e sentidos, possibilitando uma compreensão compartilhada

sobre o problema educativo, além da constituição de uma equipe de trabalho. Nesse

processo, a externalização foi realizada oralmente pelos sujeitos, que buscavam

explicitar aos outros os saberes disciplinares e experienciais e as crenças sobre saúde,

educação e tecnologia educacional. Zanoni (2000) ressalta que a fase inicial de

exercício do diálogo entre pesquisadores das diferentes disciplinas é, em geral,

subestimada, contudo, o período de reflexão coletiva tem uma influência direta sobre a

prática interdisciplinar e o êxito dos resultados. Dessa forma, foi estabelecida uma

186

linguagem comum permitindo um trabalho em equipe produtivo. Um exemplo do

potencial dessa estratégia foi a definição da teoria norteadora: a aprendizagem situada e

corporificada (BARLAS, 2001; CHAPMAN, 1998; KERKA, 2002) não era conhecida

por nenhum dos sujeitos e foi sendo construída a partir do compartilhamento de saberes

disciplinares dos sujeitos envolvidos.

Na fase de desenvolvimento do protótipo, cujo foco era o desenvolvimento,

negociado, de um ambiente virtual, a construção de uma base comum se deu por meio

de diferentes ferramentas mediadoras da negociação entre os sujeitos (narrativas dos

professores sobre suas práticas, layouts, mapas de navegação e HTML). No processo de

negociação, a construção e a discussão coletivas com base nessas ferramentas

permitiram que a equipe visualizasse o resultado das negociações, refletisse sobre elas e

buscasse aprimoramentos.

Sendo assim, corroborando as argumentações de Beers (2005), o fato de a

equipe estar aberta a compartilhar crenças, saberes e expertises para construir uma base

comum foi uma característica que facilitou o trabalho de desenvolvimento do Vivências.

8.1.1.4 O Ambiente construído

Na PBD, o artefato pedagógico construído em parceria com os sujeitos incorpora

reivindicações sobre ensinar e aprender e possibilita compreender a relação entre teoria

educacional, artefato desenvolvido e prática (DBRC, 2003). Com a análise do

desenvolvimento do Vivências, foi possível verificar que a teoria e a prática

educacionais caminharam juntas durante todo o processo. Na análise do problema, a

teoria se fez presente, principalmente, no compartilhamento dos saberes disciplinares e

na construção da teoria norteadora, delineando teoricamente o problema educativo. A

prática esteve presente nos saberes experienciais dos sujeitos. No desenvolvimento do

artefato, a teoria se fez presente, a partir da expertise dos pesquisadores, no

desenvolvimento das conjecturas incorporadas (SANDOVAL, 2004), compatíveis com

os princípios da teoria norteadora, relacionados com as crenças educacionais dos

sujeitos. Além disso, a expertise dos professores em seus campos de conhecimento

integrou ao processo a dimensão das práticas educativas, apontando as especificidades e

necessidades dos sujeitos.

A partir dessa dinâmica de trabalho, o Vivências foi fruto não apenas de

187

conhecimentos teóricos, mas principalmente das crenças, saberes e expertises dos

sujeitos, refletindo as interações e conjecturas incorporadas relacionadas àquele

contexto. Com isso, ao mesmo tempo em que é situado e incorpora diretamente as

necessidades e oportunidades apontadas por esses professores; por ser um ambiente

“flexivelmente adaptável” (SCHWARTZ et al., 1999), pretende atender às necessidades

de outros professores que vivenciam contextos similares e enfrentam necessidades

próximas. Segundo Barab et al (2002), um artefato para ser “flexivelmente adaptável”,

deve ser originado por meio de processo que permita o equilíbrio entre o controle

completo do grupo de TE e a fácil reconfiguração por professores e outros sujeitos que

utilizarão o produto.

Para compreender a extensão em que o Vivências atende a outros sujeitos em

contextos semelhantes, faz-se necessário a análise de intervenções realizadas por

diferentes professores em outros cenários. A partir da análise dessa experiência, pode-se

indicar o potencial pedagógico de ambientes virtuais que incorporam a teoria e a prática

em sua essência.

8.1.1.5 Reflexão dos professores sobre sua prática

A participação dos professores na equipe possibilitou que eles refletissem e

repensassem suas práticas, incorporando novos conhecimentos que contribuíram para

mudanças na prática, como por exemplo, o conhecimento de alguns recursos de

pacientes na web (blogs), que foram consideradas oportunidades para a aprendizagem

dos alunos. Essa questão foi abordada pelo professor em um email em que ressaltou o

papel formador de participar de uma equipe multidisciplinar.

Participar de uma equipe multidisciplinar foi muito importante em termos do meu aprendizado de questões referentes tanto na parte técnica da construção de um ambiente virtual (aquilo que para o usuário é tão simples quanto um click do mouse pode ser extremamente complicado em termos de implementação) quanto à possibilidade de conhecer melhor o debate interno no campo da educação. Algumas questões que surgiram no percurso da pesquisa foram formadoras para mim: o debate ético sobre o uso de imagens de portadores de saúde mental; a exploração do potencial da web 2.0 no ensino, especialmente no enfoque da experiência (do paciente, mas também do aluno e professor); conhecer os usos já existentes no campo da saúde mental dos recursos da web (redes sociais, sites etc). Foi um todo um universo do qual eu era um usuário incipiente e que se abriu para mim com muito mais clareza e encanto. (email enviado pelo PPT1 em 03/03/10)

188

Dessa forma, é possível concluir que a intervenção pedagógica compreende não

apenas o momento da experiência em sala de aula, mas inclui o processo como um todo.

Isto porque, desde o primeiro momento, quando começam a participar da equipe, os

professores vivenciam um processo de reflexão e mudança que de alguma forma se

reflete em suas práticas.

8.1.2 Desafios do trabalho interdisciplinar

8.1.2.1 Equilibrar as demandas dos professores e a viabilidade prática de concretização do projeto

No Vivências, os professores procuraram o grupo de TE para construção de um

site aberto à sociedade com relatos de pacientes sobre seus processos de adoecimento e

tratamento. Dessa forma, não tinham um problema educativo relacionado às suas

disciplinas, nem uma demanda educativa prévia. Ao longo do processo, o problema

educativo e as características do Vivências foram sendo delineados pela equipe.

Os professores que participaram do processo de desenvolvimento são

comprometidos com o ensino e incluem, em suas práticas, propostas inovadoras em que

oferecem espaço para a reflexão e discussão sobre a dimensão da experiência de alunos

e pacientes. Para planejar o Vivências, os professores se pautaram em suas crenças

educacionais e no potencial que a tecnologia poderia oferecer às suas práticas,

apontando diversas demandas em relação à flexibilidade do ambiente e ao potencial de

comunicação e colaboração entre todos os sujeitos (alunos, pacientes e professores). Ao

mesmo tempo essas demandas acrescentavam complexidade ao ambiente, exigindo

maior esforço e tempo de programação. Este processo incluía questões práticas que

precisavam ser equilibradas como o tempo disponível do projeto e a construção do

ambiente da disciplina.

Sendo assim, o processo de negociação representa a busca de um equilíbrio entre

a flexibilidade para criação do professor e os limites necessários para viabilizar o

desenvolvimento do ambiente. Em relação a isso, McKenney e Van den Akker (2005)

discutem a necessidade de modelar o ambiente em função das limitações do contexto da

pesquisa, incorporando, para isso, características que permitam sua viabilidade real.

189

8.1.2.2 Lidar com o caráter complexo e dinâmico do contexto de pesquisa

O processo de desenvolvimento de intervenções com o uso de TICs apoiado na

PBD constitui um trabalho que envolve tempo, investimento e contribuições intelectuais

de todos os sujeitos envolvidos (BARAB et al, 2002). Zanoni (2000) ressalta que uma

condição do trabalho multidisciplinar é o tempo exigido para sua realização. Sendo

assim, seja na fase preparatória, seja na construção de instrumentos ou na discussão dos

resultados, o trabalho em equipes multidisciplinares acontece a longo prazo, exigindo

um tempo relativamente maior do que em processos disciplinares.

Dessa forma, por ser uma atividade de longo prazo, é natural que mudanças

ocorram no contexto de pesquisa e interfiram de maneira decisiva no planejamento

inicial. Essas mudanças representam desafios, uma vez que precisam ser acomodadas

para viabilizar a realização do projeto. Em relação a isso, Kelly (2004) argumenta que

pelo fato de a pesquisa ocorrer em cenário real, o material da pesquisa é

“inescapavelmente contingente”, uma vez que os pesquisadores devem lidar com as

“vicissitudes dos atores, seus comportamentos e a complexidade do contexto” (KELLY,

2004, p. 125). Essas mudanças, em geral, acarretam a necessidade de adaptação da

metodologia inicialmente estabelecida.

No desenvolvimento do Vivências, ocorreram alguns acontecimentos que

dificultaram a concretização do que havia sido planejado, dentre os quais destacamos,

principalmente: o afastamento da PPM no início do desenvolvimento do protótipo e a

impossibilidade de utilizar depoimentos em áudio ou vídeo dos pacientes.

Assim que o projeto Vivências foi aprovado pela FAPERJ e a equipe iniciou o

processo de desenvolvimento do ambiente, a PPM comunicou ao grupo que precisaria

se afastar por um ano para realizar seu pós-doutorado no exterior. Isso significava que o

desenvolvimento da intervenção na disciplina de Psicologia Médica, como havia sido

planejado no projeto, estaria comprometido, caso não entrasse na equipe outro professor

da disciplina.

Outro aspecto que influenciou o trabalho na equipe foi a impossibilidade de

utilizar os depoimentos dos pacientes. Desde o início, o banco de depoimentos era o

cerne do projeto, constituindo uma fonte importante para os alunos terem acesso à

dimensão subjetiva envolvida nos processos de adoecimento. Essa impossibilidade

gerou uma frustração no professor, explicitada em seu e-mail de avaliação da

experiência:

190

Saio com uma sensação de frustração por termos sido impedidos de explorar o recurso do vídeo. Eu tinha a expectativa de sair melhor capacitado para o emprego deste tipo de recurso no ensino. (e-mail enviado pelo PPT1 em 3/03/10)

Esses desafios que não haviam sido previstos, precisaram ser acomodados no

trabalho, alterando a dinâmica prevista do trabalho na equipe.

8.2 O CARÁTER FLEXÍVEL E ITERATIVO DA PESQUISA E

DESENVOLVIMENTO DE INTERVENÇÕES

Na análise, acompanhamos um ciclo do processo de design, que culminou com a

integração do Vivências nas disciplinas de psicopatologia. Ao iniciar o planejamento da

intervenção, o professor, aos poucos, foi se dando conta dos desafios que precisaria

enfrentar para utilizar o ambiente da forma como tinha sido planejado inicialmente -

para potencializar o contato dos alunos com as experiências dos pacientes. Tendo em

vista os desafios, o professor realizou a intervenção, reproduzindo suas experiências

anteriores com o uso da Constructore.

Isso nos colocou diante da flexibilidade necessária para realizar pesquisas que

incorporam o contexto. Partindo dos pressupostos da PBD, definimos, inicialmente, que

na fase 3, o foco da pesquisa seria analisar a intervenção, buscando compreender como

um ambiente construído com os princípios da aprendizagem corporificada contribuiria

para a aprendizagem baseada em narrativas dos alunos. Segundo a literatura, a avaliação

da intervenção permitiria alcançar os dois objetivos finais da pesquisa: refinar a própria

intervenção e construir conhecimentos sobre o processo de aprendizagem mediado pelo

material pedagógico (VAN DEN AKKER, 1999; EDELSON, 2002; WANG e

HANNAFIN, 2005; BARAB e SQUIRE, 2004). O foco inicial do presente estudo era

realizar uma análise nesses dois sentidos, contudo, o professor passou por um processo

de familiarização com o ambiente, que se mostrou bastante importante para o processo

de intervenção, na medida em que possibilitou que vislumbrasse formas de aprimorar

sua prática com o uso das TICs.

Com esse foco de análise, foi possível compreender as questões práticas que

permeiam o cotidiano do professor e o desafiam nesse processo de integração das TICs,

além de acompanhar o movimento processual e não-linear pelo qual a tecnologia foi

sendo incorporada nas práticas educativas. Essa dinâmica precisa ser entendida como

um movimento natural de familiarização do professor com uma inovação. No

191

Vivências, a intervenção foi uma oportunidade de o professor se familiarizar com o

ambiente e vislumbrar mais concretamente os desafios e potencialidades da integração

na sua prática pedagógica. Ao mesmo tempo, foi um momento de avaliação para o

refinamento da intervenção em experiências futuras. Esse processo de reflexão e

familiarização do professor foi importante para que, nesse primeiro semestre de 2010,

pudesse ampliar a utilização do ambiente na disciplina, convidando os pacientes a

participarem do uso do ambiente:

Pessoal do Vivências, esta semana tivemos uma primeira reunião com os usuários do Hospital-dia que tem participado das aulas práticas de Psicopatologia nos últimos anos e quem vai participar a partir deste semestre também como usuários do Vivências. Eles demonstraram muito entusiasmo e interesse e, como era de se esperar, surgiram questões inesperadas sobre o uso do Vivências provocadas pelo modo de inserção deles no trabalho. Suas perguntas foram articuladas com a preocupação deles com a preservação da confidencialidade do que eles vierem a colocar como depoimento pessoal. Uma pergunta é sobre o termo de compromisso do aluno, que existe em Ferramentas-Regimento (...) seria possível que o termo de compromisso viesse como uma parte do processo de cadastramento de modo que ou o processo só seguisse adiante se o aluno tiver assinado o termo de compromisso? (email enviado pelo PPT1 em 10/03/10)

Como é possível verificar no email do PPT1, o segundo ciclo de utilização do

ambiente, já prevê a participação dos pacientes e, consequentemente, a incorporação dos

pressupostos da teoria norteadora no uso do Vivências. Conforme o professor vai se

sentindo mais seguro, vai ampliando a utilização do ambiente e, com isso, novas

necessidades de aprimoramento vão sendo delineadas.

Em síntese, partindo dos pressupostos da PBD, foi possível, com a análise

realizada, salientar as particularidades do processo de desenvolvimento do apontar as

oportunidades e desafios de desenvolver um trabalho com base nessa perspectiva. Dessa

forma, embora os conhecimentos sobre o processo sejam localizados em um contexto

específico, apontam contribuições para pesquisas em contextos semelhantes.

192

9 CONCLUSÕES

Iniciamos nossas conclusões por uma retomada do percurso da pesquisa, que

inclui as análises realizadas e as possibilidades de construção de conhecimento a partir

de estudos com esse enfoque, buscando compreender o processo desenvolvido e

oferecer conhecimentos para pesquisas em contextos semelhantes.

Foi fundamental, para o enfoque que desejávamos neste trabalho, ter

aprofundado o conhecimento teórico sobre cada fase do processo de design (REEVES,

2000), buscando compreender as especificidades de cada momento do trabalho na

equipe. Esse mergulho na literatura nos apontou uma orientação necessária para auxiliar

na compreensão e análise dos dados, permitindo traçar alguns contornos do contexto,

tão importante para estudos educacionais que pretendem articular teoria e prática

educativas. Dessa forma, procuramos compreender o processo de pesquisa e

desenvolvimento do Vivências, a partir de uma perspectiva da PBD, respeitando as

especificidades de cada fase dessa metodologia.

A partir da análise, foi possível verificar que o processo de decisão da equipe foi

influenciado por diferentes fatores, que interferiram para a concretização de cada fase.

Nesse sentido, na análise do problema educativo (fase 1), em que as atividades e as

decisões da equipe eram de natureza analítica, sobressaiu-se a negociação das crenças e

dos saberes dos sujeitos no sentido de construir uma compreensão comum do problema

sob foco. No desenvolvimento do artefato pedagógico (fase 2), em que as atividades e

decisões eram de natureza pragmática, foram negociadas na equipe as expertises dos

sujeitos para concretização das conjecturas incorporadas no ambiente. Já na fase de

intervenção (fase 3), em que o professor se vê diante de inúmeras questões práticas,

sobressaíram-se os desafios para a integração do Vivências ao seu contexto de ensino. É

importante ressaltar, que os fatores analisados estão longe de ser os únicos presentes em

cada fase. Além disso, por mais que tenhamos atrelado, por exemplo, as crenças e os

saberes à fase de análise do problema, sabemos que estes permeiam todo o processo.

Observando que esses fatores analisados assumiram um papel crucial no

desenvolvimento do processo de pesquisa, com base nos achados das análises de cada

fase, buscamos extrair princípios de design sobre o processo de pesquisa e

desenvolvimento de intervenções apoiadas pelas TICs, que possam contribuir com

pesquisas em contextos semelhantes:

193

1) Na análise do problema educativo, a abertura para ouvir e negociar crenças e

saberes com professores permitiu uma compreensão mútua sobre o problema em

sua complexidade.

Em processos de pesquisas que visam assumir relevância social e contribuição

prática, a análise do problema é uma fase importante, em que é possível delinear os

desafios encontrados nas práticas, assim como os possíveis caminhos para superá-lo.

Existe uma variedade de formas de se alcançar a compreensão desses problemas,

tradicionalmente, considerada como “avaliação de necessidades”, que em geral

incorporam questionários, entrevistas ou outros instrumentos que possam revelar os

desafios dos contextos. Nesses processos, existe uma separação clara do papel dos

sujeitos, na medida em que os professores, por exemplo, fornecem elementos para que

os pesquisadores desenvolvam a pesquisa, sendo recipientes das inovações

desenvolvidas (SHEAR et al., 2004).

No Vivências, a abertura para escutar os professores, oferecendo um papel de

destaque para suas crenças e saberes, possibilitou que a equipe integrasse diferentes

perspectivas, da prática e da teoria, na construção compartilhada do problema em sua

complexidade. Esse foi um processo profícuo de trabalho, que permitiu que os sujeitos

construíssem novos conhecimentos a partir das diferentes perspectivas sobre o

problema. Um exemplo dessa construção foi a definição da teoria norteadora, que não

era conhecida por nenhum sujeito e foi definida por meio de um processo de trocas

constantes a partir da integração dos diferentes. Essa teoria (abordagem da

aprendizagem corporificada) fundamentou a compreensão do problema e a busca de

caminhos para superá-lo, de modo a ter contribuído decisivamente para o processo de

desenvolvimento do Vivências.

Sendo assim, a partir dos nossos achados, recomenda-se que essa fase de análise

do problema seja valorizada na pesquisa e se concretize de forma não

compartimentalizada. Para isso, é fundamental reconhecer o papel de destaque dos

professores para se compreender o problema educativo, por meio da escuta e da troca

entre os sujeitos em um processo de aprendizagem mútua.

2) No desenvolvimento do ambiente virtual de aprendizagem, a experiência prévia

dos professores com as tecnologias trouxe mudanças qualitativas ao processo, uma

vez que facilitou que contribuíssem efetivamente na construção de conjecturas

sobre o uso de TICs em suas práticas.

194

Na fase de desenvolvimento, em que os sujeitos se envolvem na atividade de

concretização do artefato pedagógico, existe uma diferenciação maior dos papéis dos

sujeitos da equipe, de acordo com as diferentes expertises. Em geral, em abordagens

tradicionais, o desenvolvimento de artefatos segue uma sequência linear de

procedimentos, realizada pelos sujeitos de forma delimitada e os professores participam,

principalmente, da avaliação do artefato desenvolvido. No Vivências, os professores

assumiram uma participação ativa no processo de tomada de decisão sobre o ambiente

que foi facilitada pelo fato de eles possuírem experiências prévias com o uso das TICs

em seus contextos de ensino. Essas experiências aproximaram as expertises entre

professores e pesquisadores, facilitando que os professores “concretizassem” as

sugestões dos pesquisadores em relação às conjecturas incorporadas no ambiente. Além

disso, essa experiência foi o ponto de partida para que pudessem oferecer sugestões

concretas em relação à construção do ambiente, possibilitando que este incorporasse as

necessidades de uso na prática. Nesse sentido, por exemplo, diferentes funcionalidades

foram incorporadas no ambiente por sugestões dos professores, a partir das dificuldades

encontradas com o uso das TICs em suas disciplinas. Essas conjecturas dos professores

alteraram significativamente a construção do ambiente.

A partir dos nossos achados, recomenda-se que em processos de

desenvolvimento, seja reconhecida a relevância da participação dos professores para

que o ambiente incorpore as conjecturas e oportunidades compatíveis com a prática.

Para isso, uma possível estratégia é oferecer ferramentas de fácil apropriação pelo

professor, para que ele possa se familiarizar com o uso das TICs em seus contextos e

construir conjecturas para a construção do ambiente ancoradas na prática.

3) No desenvolvimento do ambiente virtual de aprendizagem, as ferramentas

mediadoras do processo de negociação da equipe facilitaram a participação dos

professores nas decisões tomadas, possibilitando que o ambiente refletisse suas

necessidades e expectativas.

Nesse processo de materialização das conjecturas incorporadas, peculiar da fase

de desenvolvimento, as ferramentas mediadoras construídas foram fundamentais para

aproximar as expertises da equipe. Durante esse processo, foi possível perceber um

esforço dos sujeitos em se aproximarem das diversas expertises, na busca de subsídios

para construir suas próprias conjecturas.

195

No Vivências, os pesquisadores e programadores buscaram se aproximar das

expertises dos professores para compreender como suas visões sobre a Psiquiatria se

refletia em suas práticas educativas. Para isso, além da observação direta das práticas

(reuniões com alunos, por exemplo), estabeleceram ferramentas mediadoras para

compreendê-las, por meio das narrativas dos professores sobre seus contextos de ensino.

Essas ferramentas ofereceram elementos para que os pesquisadores e professores

“concretizassem” as práticas, propondo conjecturas incorporadas compatíveis com elas.

Os professores, por sua vez, buscaram se aproximar das expertises dos

pesquisadores e programadores para compreender o potencial pedagógico das TICs,

fazendo conjecturas sobre as possibilidades de utilizá-lo em seus contextos de ensino.

Nesse sentido, a equipe estabeleceu ferramentas para materialização das conjecturas

incorporadas que auxiliavam os professores a concretizarem as negociações realizadas,

podendo intervir de forma ativa no processo de decisão sobre o desenvolvimento do

ambiente. Dessa forma, essas ferramentas foram essenciais para a construção de uma

base comum entre os sujeitos permitindo que concretizassem questões relacionadas a

expertises diversas e possibilitando um processo de negociação compartilhado. Assim, a

construção de ferramentas mediadoras constituiu uma importante estratégia para

permitir que os professores atuassem, de forma ativa, como co-designers do Vivências.

Partindo dos nossos achados, recomenda-se que, em processos de pesquisa e

desenvolvimento de AVAs, a equipe busque materializar as conjecturas incorporadas,

construindo materiais que auxiliem os professores a visualizarem as decisões tomadas,

por meio de mapas de navegação, layouts, HTMLs, exemplos de ambientes etc.

4) As intervenções pedagógicas não acontecem de forma linear e assumem diversas

configurações de acordo com o contexto em que são realizadas, dessa forma, para

analisá-las, é importante compreender os ciclos em suas especificidades.

A intervenção nas práticas pedagógicas é permeada por uma realidade complexa

da atividade do professor na universidade, sendo, portanto, mutável devido a uma série

de contingências. Dessa forma, para analisar essas intervenções não é possível

estabelecer padrões a priori, sendo necessário compreender o contexto em que esta se

realiza, como parte da realidade do professor.

No Vivências, nesse primeiro ciclo de experiência, o professor vivenciou um

processo de apropriação e familiarização com o ambiente. Por um lado, ao longo do

projeto, ele vivenciou algumas mudanças em seu contexto de ensino, como por

196

exemplo, o afastamento da PPT2, que acarretou em um acúmulo de trabalho não

previsto no início do processo de pesquisa. Por outro lado, a integração das TICs no

ensino acarretou um processo de reflexão sobre as práticas e a necessidade de

aprendizagem relacionada a mudanças em suas atividades pedagógicas já estabelecidas.

Sendo assim, nesse primeiro momento, o professor se deparou com os desafios práticos

que precisaria enfrentar, principalmente, para se sentir seguro com o uso do ambiente

para que pudesse vislumbrar possibilidades futuras de uso.

Embora não tenhamos encontrado trabalhos na literatura sobre a PBD que

aprofundassem a análise desse processo de familiarização, a partir da análise realizada,

esse momento se mostrou necessário e fundamental para a realização da intervenção, o

que nos indicou a necessidade de nos aprofundarmos nessa análise. Essa primeira

experiência possibilitou que ele identificasse os desafios encontrados e refletisse sobre

formas de superá-los em experiências futuras. Sendo assim, percebe-se um movimento

cíclico em que cada ciclo possibilita aprendizagens que levam a aprimoramentos futuros

e assim sucessivamente.

Em processos de pesquisa que assumem o papel central do professor, o

considerando como principal agente de inovações no ensino é importante permitir que

ele se aproprie ao seu modo dos artefatos pedagógicos, buscando formas de utilizá-lo

compatíveis com seus contextos.

Embora a relevância da realização de pesquisas baseadas em contextos reais se

sobreponha as possíveis limitações e dificuldades encontradas ao longo do percurso,

estas devem ser levadas em consideração como forma de aprimorar os processos de

investigação. Um desafio da PBD, freqüentemente, abordado na literatura referente à

PBD se refere ao manejo dos dados (WANG e HANNAFIN, 2005; COLLINS et al.,

2004). Os autores apontam que pelo fato de a pesquisa se desenvolver em cenários reais,

tendo como objetivo compreender como e porque uma intervenção ocorre em

determinado contexto, em geral, os pesquisadores coletam uma quantidade enorme de

dados para compreender as diversas variáveis que afetam o processo. Como ressalta

Collins et al (2004), frequentemente, o tempo e os recursos disponíveis para avaliar a

quantidade de dados não são suficientes. Esse foi um desafio que encontramos na

presente pesquisa, já que, ao final do processo, tínhamos recolhido uma grande

quantidade de gravações das reuniões da equipe, observações das práticas educativas,

emails trocados entre os sujeitos e dados sobre a utilização do ambiente. Ao mesmo

tempo em que esses dados ofereceram a possibilidade de analisar a riqueza do contexto

197

da pesquisa, também nos desafiou na tarefa de dar sentido e analisar o processo.

Por termos desenvolvido uma análise do processo como um todo, identificamos

e analisamos os fatores que influenciaram, apontando a forma como atuaram no

contexto da pesquisa. Contudo, uma análise de cada fase em outros contextos é

necessária para aprofundar os conhecimentos apontados no presente estudo.

O presente trabalho se situa no primeiro ciclo do Projeto Vivências,

constituindo, portanto, um recorte de um processo cíclico e complexo que tem

continuidade. Sendo assim, por um lado, a análise realizada contribui com a pesquisa e

o desenvolvimento de intervenções mediadas pelas TICs em contextos semelhantes,

constituindo uma oportunidade de construir conhecimentos sobre a produção de um

modelo baseado no trabalho interdisciplinar, apontando os fatores que influenciaram as

decisões tomadas na equipe. Por outro lado, o acompanhamento das próximas

experiências, dará seguimento ao aprimoramento do processo de pesquisa do Vivências

e, nesse sentido, o presente estudo contribuiu revelando os fatores envolvidos no

desenvolvimento e permitindo que a análise das intervenções futuras possa recuperar

esse processo para compreender as conjecturas, crenças e saberes implícitos no

Vivências.

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212

ANEXOS

213

ANEXO 1 – AMBIENTE VIVÊNCIAS: UM PANORAMA

O Ambiente Vivências é um espaço virtual de aprendizagem, onde se dá o curso

propriamente dito. Ele é dividido em 8 áreas distintas, observadas no menu vertical da

figura 1: 1) Principal, 2) Conteúdo, 3) Ferramentas de Trabalho, 4) Banco de

Experiências, 5) Comunicação, 6) Espaço Pessoal, 7) Informações, e 8) Gerenciamento.

As áreas 1 a 7 do curso são visualizadas pelo professor e pelos alunos da mesma

maneira, exceto se o professo restringir a permissão dos alunos em relação a certos

recursos. A área 8, no entanto, aparece apenas para os professores e administradores do

curso. Todas as áreas são divididas em um menu horizontal, havendo sempre um menu

superior principal (primeira linha) e, quando pertinente, um menu superior secundário

(segunda linha). A área de trabalho aparece sempre centralizada entre as faixas do menu

vertical.

Figura 1. Página principal do Vivências com o menu vertical que dá acesso as

diferentes áreas do ambiente.

A seguir, cada uma das áreas do Ambiente do Curso é descrita, assim como as

possibilidades de construção oferecidas ao professor.

1.1 – Principal

Ao entrar no ambiente, o usuário é remetido para a Página Principal, em que são

apresentadas as informações gerais e atualizadas da disciplina. A idéia dessa área é

214

organizar, em um só lugar, um conjunto das informações mais relevantes e permitir o

fácil alcance do usuário a elas, através de links individualizados. A Página Principal

(figura 1) oferece, portanto, um panorama geral da disciplina e de suas atualizações

recentes. Além do nome do usuário e da data e hora do seu último acesso ao curso, essa

área oferece as seguintes seções: Quadro de avisos; Correio; Chat; Sala de Reunião;

Blogs; e Participantes. O Quadro de Avisos exibe os três últimos avisos enviados pelos

professores e coordenadores do curso, permitindo que o usuário tenha conhecimento

deles assim que faça o login no curso. A seção do Correio mostra ao usuário quantas

mensagens novas lhe foram enviadas, e oferece a ele um link direto à sua caixa de

mensagens recebidas. A seção do Chat, por sua vez, aponta se há atividade no chat

naquele momento, e deixa ao alcance do usuário um link direto para esta parte do

ambiente. O mesmo se dá na seção Sala de Reunião, em que se pode saber se a sala de

reunião está ativa, i.e. se alunos do mesmo grupo do usuário estão utilizando esse

recurso. A seção Participantes lista os nomes dos participantes inscritos e as suas datas

de entrada mais recentes. Por fim, blogs recentes são listados por ordem cronológica

decrescente na seção Blogs.

1.2 – Conteúdo

Essa é a área em que o professor insere o conteúdo propriamente dito do curso,

coloca recursos à disposição dos alunos e oferece atividades em formato de exercícios

durante cada módulo. Ela se divide em três seções: Módulos/tópicos, Exercícios e

Recursos (Figura 2).

Figura 2. Página da área de conteúdo, com detalhe do menu dos módulos.

215

Em Conteúdo, o assunto a ser estudado é apresentado, sendo ele dividido em

tópicos chamados Áreas, Módulos, Temas, ou Aulas de acordo com a nomenclatura

escolhida pelo professor na área de Gerenciamento. Essas Áreas consistem em uma

composição dos exercícios e recursos inseridos pelo professor nas outras seções da parte

de Conteúdo de acordo com um determinado assunto proposto (Figura 3). O professor

pode inserir inúmeras Áreas, organizando o conteúdo do curso por quantos temas, aulas

ou módulos considerar mais produtivo ao aprendizado. Além de incluir Áreas, o

professor também pode revisá-las.

Figura 3. Página da área de conteúdo com o quadro de recursos associados pelo

professor.

A seção de Exercícios é o espaço em que o professor cria as atividades

relacionadas à disciplina, podendo para isso utilizar uma variedade de formatos (Figura

4). O professor pode optar por fazer diversos blocos de perguntas com várias questões

em cada um deles, ou apenas uma pergunta por bloco. Para criar os exercícios, o

professor cria um novo bloco de perguntas, dá-lhe um nome e define se ele estará

sujeito a avaliação. Na criação de exercícios, o professor constrói as perguntas, e

determina ainda o formato da resposta que será disponibilizado ao aluno – isto é: se esta

será objetiva de seleção única; objetiva de múltipla seleção; objetiva de sim ou não;

discursiva longa ou discursiva curta. Em caso de objetiva de múltipla seleção ou seleção

216

única, o professor, em seguida, incorpora as alternativas com os termos que aparecerão

nas opções de resposta.

Figura 4. Página da área de conteúdo com o detalhe dos exercícios e seus passos de

criação.

Em Recursos são oferecidos materiais de apoio ao curso, que o enriquecem e o

complementam (Figura 5). Nessa seção, são propostos os seguintes subgrupos: a) Links:

aqui são colocados à disposição dos alunos diversos links externos contendo material

pertinente ao curso; b) Bibliografias: nesse subgrupo são listados itens de consulta

relevante da literatura abordada pelo curso; c) Slides, d) Gráficos, e) Imagens e f) Casos:

nesses quatro componentes são oferecidos arquivos para download contendo materias

selecionados pelo professor, sendo eles situados em um ou outro subgrupo dependendo

do formato como esse conteúdo está apresentado; g) Textos e h) Vídeos: nesses

componentes é possível oferecer tanto arquivos para download quanto link externo

contendo material complementar.

217

Figura 5. Página dos recursos da área de conteúdo.

1.3 – Ferramentas de Trabalho

A área relativa às Ferramentas de Trabalho é um espaço de construção coletiva,

que pretende favorecer o desenvolvimento de trabalhos em grupo e permitir que os

alunos interajam e trabalhem juntos. Há 4 recursos pedagógicos: Sala de Reunião, Wiki,

Glossário e Blogs (Figura 6).

Figura 6. Página da Sala de Reunião da área Ferramentas de Trabalho.

218

A seção de Sala de Reunião incorpora um conjunto de ferramentas que permite

que grupos de alunos discutam a resolução dos exercícios on-line. Cada grupo tem uma

sala de reunião própria, acessível apenas a seus integrantes, aos tutores e professores; é

nesse espaço que se pode discutir a resolução de cada atividade, seja em grupo ou

individual, ou qualquer outro assunto pertinente ao curso. A seção é dividida em 4

componentes, que formam o menu secundário: Atividades, Fórum, Visualizar Versões,

e Arquivos (Figura 7).

Figura 7. Página da Sala de Reunião com o detalhe do menu secundário:

Atividades, Fórum, Visualizar Versões, e Arquivos.

Em Atividades, é possível visualizar o conjunto de atividades propostas pelo

professor ao longo do curso. Essas atividades são elaboradas em arquivos externos ao

ambiente (DOC, TXT, RTF), e depois enviados para este espaço. Em Fórum, por sua

vez, o aluno tem à sua disposição um sistema de troca de mensagens assíncrona,

permitindo que ele envie comentários sobre as atividades propostas sempre que desejar.

É possível também armazenar arquivos – como tabelas, gráficos, ilustrações,

gráficos, etc –, para compartilhamento entre o grupo na área Arquivos. Esta área oferece

um espaço reservado para os alunos apresentarem, em seus grupos, arquivos, com no

219

máximo 500Kb, que possam ser úteis na resolução dos exercícios do curso que ficam

armazenados até o final do curso.

Os alunos podem ainda ter acesso aos rascunhos das respostas de cada integrante

de seu grupo na área Visualizar Versões. Esta seção é válida apenas para exercícios em

grupo, e tem como objetivo organizar em um mesmo espaço todas as versões

armazenadas pelos integrantes que, durante a resolução de um exercício, optarem por

salvar suas respostas individuais na Sala de Reunião. Desta maneira, o grupo pode

compartilhar as respostas de cada membro para o mesmo exercício e, a partir daí, trocar

idéias e discutir a versão final da resposta a ser apresentada ao professor.

Esses comentários, arquivos e rascunhos podem ser separados por módulo ou

simplesmente ordenados por data de forma decrescente independente do módulo a qual

se referem. Assim, para cada etapa do curso, os grupos podem utilizar suas respectivas

salas de reunião para gerar um conjunto de comentários, arquivos com conteúdos

pertinentes e respostas. Com base nestas informações, espera-se que os alunos cheguem

a um consenso, na forma de respostas aos questionamentos dos exercícios, a ser enviado

ao professor por um dos integrantes do grupo a partir de formulário de resposta

específico.

A segunda seção da área de Ferramentas de Trabalho é a que disponibiliza o

recurso pedagógico para criação de páginas Wiki (Figura 8). Esta seção permite aos

alunos partilhar um espaço de escrita colaborativa, o que ajuda no trabalho e

aprendizado em conjunto. Ao criar uma página wiki, é possível determinar se este será

um espaço de construção de texto em conjunto apenas para um grupo específico,

selecionando o grupo respectivo, ou para todos os participantes do curso, indicando um

título para a página. A cada inserção de texto, o nome do autor e a data da edição são

armazenados e se tornam visíveis para todos.

220

Figura 8. Página da Wiki da área Ferramentas de Trabalho.

Um Glossário e uma seção de Blogs representam outras duas seções em

Ferramentas de Trabalho (Figuras 9 e 10). O Glossário é um espaço dinâmico, pensado

para ser criado coletivamente pelos participantes. É possível não só inserir termos como

modificar definições incorporadas por outros participantes. Aqui, também, cada

inserção de conteúdo gera uma anotação visível a todos do nome do autor e da data da

inclusão.

Figura 9. Página do glossário da área Ferramentas de Trabalho.

221

Já a seção de Blogs funciona como um diário online, permitindo a escrita de

textos, em ordem cronológica inversa, sobre um tema específico. Este espaço envolve as

pessoas na partilha de conhecimento, reflexão e debate; convida os alunos a relatarem

suas experiências com os pacientes e os pacientes a recontarem suas vivências de

adoecimento e tratamento.

A página de Blogs contém uma listagem com aqueles já criados; esta é a mesma

listagem que aparece na página principal do curso. Além de criar novos Blogs, é

possível também ativar as permissões de acesso. Pode-se ainda enviar novas entradas de

texto (isto é, posts) dentro de um mesmo blog, inserindo título, texto, foto, legenda para

foto e link, se necessário, ou mesmo editar posts já existentes.

Figura 10. Página do Blog da área Ferramentas de Trabalho.

1.4 – Banco de Experiências

O Banco de Experiências consiste em um sistema que permite aos professores

indexar/cadastrar, disponibilizar e consultar relatos de experiências de pacientes para

compartilhar com seus alunos, pacientes e/ou outros professores (Figura 11). Este

espaço representa uma característica peculiar do Ambiente Vivências, pois permite que

se inclua no ensino de ciências e saúde a dimensão subjetiva envolvida nos processos de

adoecimento e tratamento. Esta área possui uma listagem de categorias, que pode ser

divididas em subcategorias. Os depoimentos contidos no Banco integram diferentes

categorias e podem ser armazenadas em vídeo, áudio ou texto. É possível, ainda, obter

os detalhes de cada relato, acessando as informações e ficha técnica relativas a cada um

deles.

222

Figura 11. Página da área Banco de Experiências.

Esta seção permite visualizar somente os depoimentos disponíveis no curso em

questão. Para incluir novos depoimentos no Banco ou conhecer todos os depoimentos

que o integram, incluindo os de outros cursos, é preciso acessar a opção relativa ao

Banco na seção de Gerenciamento.

1.5 – Comunicação

A área de Comunicação é o espaço do diálogo, e portanto da interação entre os

participantes, integrado por 5 seções: Fórum, Correio, Avisos, FAQ, e Chat.

A primeira seção da área de Comunicação abrange diversos tipos de Fórum, que

são definidos de acordo com o seu conteúdo ou suas categorias de acesso: principal (de

conteúdo), ‘professores e professores’, ‘professores e pacientes’, ‘professores, alunos e

pacientes’, ‘alunos e alunos’ (o professor não tem acesso a este fórum), e ‘pacientes e

pacientes’. Apesar de haver vários tipos de fóruns, o participante só pode visualizar

aqueles para os quais tem acesso a sua categoria (aluno, professor ou paciente). Para

facilitar essa distinção, cada tipo de fórum é caracterizado por uma cor, indicada no

quadro da Figura 12 a seguir.

223

Figura 12a

Figura 12b

Figura 12. Página do fórum do ambiente de comunicação. Detalhe do quadro de indicação das permissões (12a) e do espaço de criação de um novo tópico (12b).

É possível criar fóruns no momento de criação do curso, ou posteriormente,

através da área de Gerenciamento. O participante pode selecionar o fórum de que deseja

participar e ter acesso a uma lista dos tópicos já criados dentro dele, assim como a um

quadro que possibilita a criação de novos tópicos. Cada comentário enviado é

incorporado a uma ordenação cronológica decrescente. O participante pode ainda optar

pela frequência com que novos comentários serão mostrados em sua tela, definindo se

deseja que o fórum seja atualizado imediatamente, a cada 40 segundos ou se não deseja

atualizá-lo durante a digitação de seus comentários.

As perguntas sobre problemas técnicos relacionados a algum recurso ou

ferramenta não são tratados dentro dos fóruns, mas enviadas pelo correio interno a

224

Administradores. Embora o administrador não acompanhe a discussão de conteúdo

pode, caso considere importante, introduzir a pergunta e a resposta no fórum da etapa

em andamento para que todos os participantes tomem conhecimento.

A segunda seção da área de Comunicação compreende o Correio e é destinada à

comunicação de caráter pessoal entre quaisquer participantes do curso (Figura 13). Ele

funciona como um correio eletrônico convencional, e permite o envio de mensagens

para participantes específicos ou para grupos de participantes (“todos”, “coordenação”,

“administração”, “tutores” e “grupos de alunos”). As mensagens enviadas pelo correio

interno do curso só podem ser visualizadas no próprio ambiente; o participante, porém,

recebe um aviso em seu correio externo de que há uma mensagem em sua caixa do

curso.

Figura 13a

225

Figura 13b Figura 13. Correio eletrônico da área de comunicação, com detalhe da lista de

mensagens recebidas (13a) e do espaço para escrever e enviar mensagens (13b).

Ao acessar a área de Correio, o participante é direcionado para a página de

Mensagens Recebidas, em que é apresentado um quadro indicando quem enviou a

mensagem, qual o seu assunto e a data do recebimento. O participante pode, então,

selecionar a mensagem cuja íntegra ele deseja visualizar, sendo-lhe apresentados não só

o texto referente a ela, como as opções de apagá-las e respondê-la. É possível, ainda,

acessar as Mensagens Enviadas, espaço que contém um quadro semelhante ao de

mensagens recebidas, e tem os mesmos procedimentos disponíveis.

O último componente da seção de Correios é o que compreende a opção de

Enviar Mensagem. Aqui, o participante pode escolher os destinatários dentre os nomes

contidos na barra de rolagem apropriada (“Selecione o destinatário”), pode encaminhar

uma mesma mensagem para todos os participantes simultaneamente (escolhendo a

opção “Todos”), ou pode enviá-la para apenas um grupo específico (selecionando

“Administradores”, “Tutores” ou “Alunos”). Caso o participante deseje, ele pode anexar

arquivos à mensagem.

Em Avisos, a terceira seção dentro de Comunicação, encontra-se um espaço para

os professores transmitirem comunicados importantes e urgentes a todos os

participantes do curso (Figura 14). Ele pressupõe o uso ativo para professores e passivo

para outros usuários. Além da opção de enviar avisos, com assunto e mensagem

correspondentes, permitida apenas aos professores, uma compilação por ordem

226

cronológica decrescente de todos os avisos é oferecida ao conjunto de participantes do

curso. Os três avisos mais recentes ficam disponíveis tanto como parte dessa

compilação geral da parte de Avisos da área de Comunicação quanto como componente

da Página Principal na entrada do curso.

Figura 14. Página de Avisos da área de Comunicação.

A seção de FAQ permite ao professor selecionar as perguntas mais frequentes

dos participantes ou de maior relevância para o curso e destacá-las neste espaço, junto

com as suas respectivas respostas. Essa seleção não só é colocada à disposição de todos

os alunos, como é armazenada para as turmas seguintes, podendo ser excluídas ou

complementadas com itens novos pelo coordenador.

Por fim, a área de Comunicação estabelece uma seção de Chat, que permite uma

comunicação de forma síncrona entre todos os participantes do curso (Figura 15). Nesse

caso, um mesmo horário é agendado entre os participantes, de modo que todos acessem

esse recurso ao mesmo tempo. Feito o acesso à seção de Chat, é possível ingressar no

chat propriamente dito, e também verificar quais participantes estão conectados ao bate-

papo naquele momento. Os comentários enviados aparecem em ordem decrescente e

podem ser visualizados por meio da barra de rolagem.

227

Figura 15. Página do chat da área de Comunicação.

Embora esta sala de bate-papo virtual tenha como função principal a sua

utilização pelos participantes para conversar com seus colegas em tempo real, ela pode

ser utilizada também a registrar mensagens a serem lidas posteriormente, já que todas as

mensagens enviadas para o chat ficam armazenadas para que o grupo possa recapitular

a discussão sempre que desejar. Caso o participante assim deseje, a janela do chat pode

ainda ficar aberta enquanto se navega pelo curso, facilitando o acesso imediato a

qualquer mensagem nova que venha a ser enviada pelos demais participantes.

1.6 – Espaço Pessoal

A área de Espaço Pessoal é dividida em 2 seções: Participantes e Página Pessoal

(Figura 16). Em Participantes, há uma relação de todas as pessoas que participam do

curso: alunos, professores, tutores, coordenadores, pacientes e administradores. Cada

nome contido nessa listagem, quando selecionado, apresenta um conjunto de

informações sobre o participante em questão, tais como e-mail, formação, área de

atuação, apresentação, foto, etc. Qualquer participante pode modificar os dados a seu

respeito que aparecem nessa seção; para isso, basta que sejam atualizadas as

informações contidas em Página Pessoal, a outra seção da área de Espaço Pessoal.

228

Em Página Pessoal, o participante tem acesso a toda a sua produção no curso,

versões de respostas, exercícios, execução de atividades, notas totais e parciais, e ainda,

estatísticas de participações em fórum, de envio de mensagens, downloads realizados e

freqüência. Este espaço é importante para os alunos, pois lhes proporciona uma visão

geral sobre o seu desenvolvimento dentro do ambiente. É nesse contexto, por exemplo,

que toda vez que o aluno envia um exercício para o professor tanto a resposta enviada

quanto a nota emitida vão para este espaço pessoal. Ao acessar este espaço cada aluno

visualiza apenas os seus trabalhos, com suas respectivas notas e comentários do

professor.

Figura 16a

Figura 16b Figura 16. Página de Participantes (16a) e página pessoal (16b).

229

1.7 – Informações

A área de Informações procura oferecer ao participante um conjunto de dados e

materiais relevantes e/ou complementares para o seguimento do curso. Ela é dividida

em 5 seções: Apresentação, Regimento, Contato, Créditos e Cronograma (Figura 17).

Figura 17. Página inicial da área de Informações, com detalhe do menu

secundário.

Em Apresentação, é possível ter acesso a um relatório com o andamento do

desenvolvimento da plataforma Vivências etapa por etapa. Em Regimento, o

participante encontra o Termo de Compromisso necessário à realização da disciplina.

Ao submeter sua assinatura online a este termo, o aluno indica estar ciente de que os

relatos das pessoas em vídeo, áudio e/ou texto, disponibilizados no Ambiente

Vivências, destinam-se exclusivamente às atividades de aprendizagem nesta disciplina.

O aluno se compromete, ainda, a não utilizá-los para qualquer outro fim e nem a

repassá-los para qualquer outra pessoa que não participe dessa atividade, assegurando a

confidencialidade dos relatos. Além de assinar o termo, o aluno visualiza uma listagem

com os nomes de todos aqueles que também já o fizeram.

A seção de Contato, parte integrante da área de Informações, permite acesso

rápido e fácil aos participantes, contendo um catálogo com todos os nomes, seus

respectivos e-mails e formações profissionais. Em Créditos são exibidos os nomes, as

funções e as qualificações e títulos de cada membro de equipe de elaboração do

Ambiente Vivências.

Por fim, em Cronograma, o participante encontra o cronograma de atividades

estabelecido para o seguimento do curso.

230

1.8 – Gerenciamento

A última área do Vivências é dedicada ao gerenciamento do ambiente, e por isso

permanece restrita apenas aos professores e aos tutores. Ela tem por objetivo facilitar a

construção do curso e oferecer ferramentas para a definição, acompanhamento e

avaliação do processo de ensino-aprendizagem. É nesse espaço, portanto, que o

professor determina o formato do seu curso, comunicando-se através desta interface

com o servidor de banco de dados. O professor pode também inserir participantes e

depoimentos, obter relatórios sobre a atuação dos alunos e estatísticas de uso do

ambiente, além de poder modificar quaisquer definições que tenham sido feitas durante

a criação do curso. Para isso, essa área é dividida em 5 seções: Cadastro, Banco,

Relatórios, Correções, e Definições Iniciais.

Na seção de Cadastro, é feito o registro dos participantes do curso, tanto pela

inclusão de participantes pelo professor/tutor, quanto pela aceitação de cadastros feitos

pelos próprios participantes (Figura 18). Ela é dividida em 6 componentes: Inserir

Participante, Alunos, Pacientes, Tutores, Professores, e Visitantes. Em Inserir

Participante é possível cadastrar qualquer tipo de novo participante, escolhendo para

isso o tipo de acesso que ele terá – se aluno, professor/tutor, paciente ou visitante. Feito

isso, é preciso registrar as informações pessoais do participante, incluindo: nome, curso,

instituição de que faz parte, período que está cursando, nascimento, sexo, endereço

completo, dados para contato, foto, e nome do curso em que será inscrito. Terminado

esse processo, o participante estará registrado e seu cadastro estará ativo dentro do

curso.

231

Figura 18. Página de cadastro da área de gerenciamento.

Em Alunos, é oferecida uma listagem com os nomes dos alunos participantes do

curso em questão. Aqui, é possível visualizar os nomes dos alunos cujos cadastros

foram feitos pelos próprios (e que portanto se encontram pendentes até a aprovação pelo

professor/tutor), bem como aceitar esses cadastros. Quanto aos alunos ativos, o

professor pode determinar a quantidade de grupos em que eles serão organizados, e

apontar de que grupo específico cada um deles fará parte. Os demais espaços, referentes

respectivamente a Pacientes, Tutores, Professores, e Visitantes são semelhantes. Neles,

o professor/tutor pode obter duas listagens: uma com os nomes dos participantes

daquela categoria cuja aceitação de cadastro está pendente, e outra com os que estão

com cadastro ativo. A aceitação desses cadatros pendentes de particiantes também pode

ser feita no espaço correspondente à sua categoria.

A seção Banco da área de Gerenciamento permite a administração e inserção de

conteúdo relativo à area do Banco de Experiências, já descrita em no item 1.4. Neste

espaço, o professor/tutor encontra o acervo de depoimentos do curso corrente; acessa o

acervo geral, com todos os depoimentos inseridos pelos professores de todos os cursos

dentro do Ambiente Vivências, organizados por ordem alfabética; ou gerencia

permissões de uso de seus próprios arquivos de depoimentos solicitadas por outros

professores (Figura 19).

232

Figura 19. Página do Banco da área de Gerenciamento.

Dentro do acervo do curso corrente, o professor/tutor pode, ainda, incluir novos

depoimentos, criar novas categorias para organizá-los e obter acesso a uma listagem

com todos os depoimentos já disponíveis no curso, além de informações detalhadas

sobre cada um deles (Figura 20). Desses detalhes constam: o nome e a categoria do

depoimento, o tipo de mídia, a idade do paciente no depoimento e quando do

diagnóstico, o sexo, comentários relevantes, qual o nome do responsável, quais as

permissões de acesso e a ficha técnica, com a permissão do paciente, o local da

gravação, a data da gravação, quem atuou na direção, câmera, o entrevistador, o

tamanho do arquivo, o tamanho do arquivo original, e a autoria. Há, por fim, a opção de

se enviar pedido de autorização para uso do depoimento em questão ao professor

responsável.

233

Figura 20a

Figura 20b

Figura 20c

Figura 20. Página do Banco com detalhe da criação de uma nova categoria (20a), da inserção de um novo depoimento (20b) e da ficha técnica (20c).

234

Outro recurso disponível ao professor/tutor é a inclusão de novos depoimentos.

Para isso, ele preenche um formulário que conta com todos os dados acima

mencionados, que ficarão então disponíveis na opção correspondente aos detalhes de

cada depoimento, na listagem geral oferecida na seção Bancos.

Em Relatórios, outra seção da área de Gerenciamento, há uma listagem de

relatórios e uma listagem de estatísticas que permitem ao professor/tutor ter um

panorama da situação e da atuação de cada aluno no curso (Figura 21). Na listagem de

relatórios, pode-se encontrar dados sobre: i) frequência dos alunos, com o número de

vezes que cada uma deles acessou o curso; ii ) notas totais dos alunos, com as notas

finais de cada aluno por atividade; iii ), exercícios dos alunos, com uma relação de todos

os exercícios executados, hora da execução e nota correspondentes por exercício; iv)

blogs dos alunos, com os nomes de cada aluno e a indicação de quais deles possui blog

ativo, bem como a data da última atualização; e v) relatório completo individualizado,

com todas as informações por aluno, incluindo as mencionadas nos outros relatórios,

como frequência, exercícios, notas totais, execução de atividades, participação em

fórum, envio de mensagens, downloads realizados e frequência. Já no catálogo de

estatísticas, as opções compreendem: downloads realizados por aluno com suas

respectivas datas, participação em fórum por aluno, e envio de mensagens por aluno.

Figura 21. Listagem de relatórios da área de Gerenciamento.

Na seção de Correções, o professor/tutor tem acesso às correções das atividades

e à inserção de notas nas diversas atividades oferecidas aos alunos em diferentes áreas

do ambiente (Figura 21). O primeiro componente dessa seção é dedicada aos Exercícios.

235

Eles são organizados em blocos de perguntas; cada bloco contém uma lista com os

nomes de todos os alunos. O professor/tutor pode, então, selecionar um aluno específico

para visualizar seu exercício, e em seguida determinar sua nota correspondente. Os

outros componentes dessa seção permitem que o professor/tutor, além de corrigir

exercícios, possa avaliar blogs, participar da sala de reunião, contribuir na construção de

páginas wiki e do glossário, e ainda incluir avaliações qualitativas dos alunos.

Figura 22. Página de Correções da área de Gerenciamento.

Por último, a área de Gerenciamento oferece uma seção de Definições Iniciais,

subdividida em 5 componentes: Comunicação, Conteúdo, Atividades, Datas e outras

(Figura 23). Dentro de Comunicação, o professor/tutor pode ativar ou desativar os

recursos comunicacionais de Fórum, Avisos, Blogs, Chat, Perguntas e Respostas, e

Correio. Em relação aos fóruns, o professor/tutor, além de ativar ou desativar cada um

dos fóruns, pode determinar nomes personalizados para cada um deles.

Em Conteúdo, o professor pode definir ou alterar o formato de apresentação do

conteúdo – isto é, se este será exbibido em Módulos, Aulas, Áreas ou Temas. Além

disso, ele pode criar tanto subdivisões de conteúdo quanto novos espaço de inserção de

conteúdo. Esse componente contém, ainda, um link para a seção de Recursos da área de

Conteúdo, facilitando a incorporação de ferramentas adicionais ao conteúdo. Já em

Atividades, o professor poderá ativar e/ou desativar atividades e ferramentas de

trabalho, sendo elas Exercícios, Sala de Reunião, Wiki e Glossário. Com relação à Sala

de Reunião, o professor pode, ainda, definir os grupos de alunos correspondentes a cada

sala. É no componente relativo a Datas que o professor define ou modifica o

236

cronograma do curso, ao passo que no componente Outras ele modifica o nome do

curso e a sua apresentação.

Figura 23a

Figura 23b

237

Figura 23c

Figura 23d

238

Figura 23e

Figura 23. Página de Definições Iniciais da área de Gerenciamento, com detalhe da página de ativação dos recursos comunicacionais (23a), em especial o fórum (23b),

com detalhe das definições sobre o conteúdo do curso (23c), de ativação das ferramentas de trabalho (23d) e de organização do cronograma do curso (23e).