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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE BIOCIÊNCIAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA OS EFEITOS DA ESTRUTURA DE HABITAT SOBRE AS COMUNIDADES DE ARANHAS EM UMA FLORESTA DE CAATINGA DO NORDESTE BRASILEIRO NÍCHOLAS SEBASTIAN AIRES DE ARAÚJO Natal, Rio Grande do Norte Agosto de 2013

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE BIOCIÊNCIAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA

OS EFEITOS DA ESTRUTURA DE HABITAT SOBRE AS COMUNIDADES DE

ARANHAS EM UMA FLORESTA DE CAATINGA DO NORDESTE BRASILEIRO

NÍCHOLAS SEBASTIAN AIRES DE ARAÚJO

Natal, Rio Grande do Norte

Agosto de 2013

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NÍCHOLAS SEBASTIAN AIRES DE ARAÚJO

OS EFEITOS DA ESTRUTURA DE HABITAT SOBRE AS COMUNIDADES DE

ARANHAS EM UMA FLORESTA DE CAATINGA DO NORDESTE

BRASILEIRO

Orientador: Prof. Dr. Eduardo Venticinque

Natal, Rio Grande do Norte

Agosto de 2013

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Ecologia da

Universidade Federal do Rio Grande do

Norte em cumprimento às exigências

para obtenção do título de mestre em

Ecologia.

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UFRN / Biblioteca Central Zila Mamede

Catalogação da Publicação na Fonte

Araújo, Nícholas Sebastian Aires de. Os efeitos da estrutura de habitat sobre as comunidades de aranhas em uma floresta de caatinga do

nordeste brasileiro. / Nícholas Sebastian Aires de Araújo. – Natal, RN, 2013.

44 f. : il.

Orientador: Prof. Dr. Eduardo Venticinque.

Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Biociências.

Programa de Pós-graduação em Ecologia.

1. Aranae – Dissertação. 2. Heterogeneidade de habitat – Dissertação. 3. Complexidade –

Dissertação. 4. Estrutura da vegetação – Dissertação. 5. Caatinga – Dissertação. I.

Venticinque, Eduardo. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.

RN/UF/BCZM CDU 595.44

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NÍCHOLAS SEBASTIAN AIRES DE ARAÚJO

OS EFEITOS DA ESTRUTURA DE HABITAT SOBRE AS COMUNIDADES DE

ARANHAS EM UMA FLORESTA DE CAATINGA DO NORDESTE

BRASILEIRO

Banca Examinadora:

Prof. Dr. Eduardo Venticinque – UFRN

(Orientador)

Prof. Dr. Márcio Zikán

Prof. Dr. Ricardo Andreazze

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Ecologia da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte em

cumprimento às exigências para obtenção do

título de mestre em Ecologia.

Área de concentração: Ecologia Terrestre

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AGRADECIMENTOS

Em especial ao meu orientador, Prof. Dr. Eduardo Venticinque. Agradeço não

apenas pela orientação, mas principalmente pelo apoio durante todas as fases deste

trabalho, principalmente nos momentos mais difíceis, onde nunca deixou de me

incentivar e ensinar, se dedicando ao projeto junto comigo.

Aos meus estimadíssimos amigos de república: Gustavo, Lucas, Anna, Laura e

Natália. Com sua boa energia encheram meu cotidiano de risos e abraços partilhando

comigo aquilo que havia de melhor dentro de cada um deles.

A toda equipe do Laboratório de Ecologia e Conservação da Biodiversidade, por

terem sempre me motivado e me ajudado com as excursões à campo e organização dos

materiais coletados. Dedé, Rebert, Heitor, Victor, Thiago, Pedro, Igor, Aíla, Milena,

Daniel, Madson e Marcos, pela indispensável ajuda, amizade e companhia durante todo

o período do mestrado, desenvolvimento da pesquisa e excursões a campo.

Ao prof. Dr. Jomar e seu orientando Marcos, pela parceria no estudo

fitossociológico desenvolvido.

A toda equipe do Laboratório de Aracnologia do Museu Paraense Emílio Goeldi

em Belém do Pará pela valiosa ajuda na identificação das espécies de aranhas. Em

especial à Regiane Saturnino e ao Dr. Alexandre Bonaldo que me receberam de braços

abertos e me ajudaram prontamente no que precisei. A todos os outros membros dessa

turma fantástica: Laura Miglio, Emanuel Cafofo (Pato), Nayane Bastos, Naiara

Abrahim, Bruno Vinicius, Manoel Barros e Erika Larissa.

Ao Senhor Rogério, por permitir o desenvolvimento de nossas pesquisas na

floresta de Caatinga localizada na Fazenda Cauaçú, sua propriedade.

A todos os moradores do distrito de Cauaçú no município de João Câmara, por

permitir o uso de sua escola como alojamento durante as expedições além de todo

carinho durante a estadia da nossa equipe.

A todos os alunos e professores do curso de Ecologia com quem tive o prazer de

estudar.

Ao CNPQ pelo fornecimento da bolsa e ao Prof. Bruno Belline por toda ajuda

financeira na aquisição de materiais para viabilização das coletas e montagem do

alojamento.

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OS EFEITOS DA ESTRUTURA DE HABITAT SOBRE AS COMUNIDADES DE

ARANHAS EM UMA FLORESTA DE CAATINGA DO NORDESTE

BRASILEIRO

RESUMO

A complexidade inerente as comunidades naturais desafia nosso entendimento sobre

como o habitat influencia a abundância, a distribuição local e a diversidade das

espécies. O habitat pode influenciar a estrutura das comunidades de múltiplas maneiras

e elucidar essas relações tem sido um tema de intenso debate na ecologia. A hipótese de

heterogeneidade de habitat afirma que um aumento na complexidade do ambiente leva a

uma maior disponibilidade no número de habitas que, por conseqüência, leva a uma

ampliação na diversidade de espécies na paisagem devido a uma expansão no número

de partições das dimensões do nicho. O presente trabalho visa identificar se essa

hipótese é válida para as aranhas que habitam uma localidade na Caatinga do nordeste

brasileiro. Para isso, aranhas cursoriais e arborícolas foram amostradas em 30 parcelas

dentro de uma área de Caatinga, paralelamente a tomada de medidas de complexidade

ambiental, heterogeneidade de habitat e parâmetros do ambiente, relacionadas com

múltiplos aspectos da arquitetura da vegetação e composição das espécies de plantas

lenhosas. Regressões múltiplas do tipo Stepwise foram utilizadas para medir que

parâmetros ambientais locais melhor explicam a variação na riqueza de aranhas

arborícolas e cursoriais. Em seguida, um NMDS (Nonmetric multidimensional scaling)

foi utilizado para reduzir o número de variáveis preditoras àquelas mais importantes e

que melhor representavam a variação na riqueza de aranhas associada ao ambiente que

foram amostradas. Os resultados apontam uma segregação evidente entre as guildas de

aranhas arborícolas e cursoriais, tanto relacionada a que tipo de variáveis ambientais

melhor explicam sua variação assim como em relação ao extrato da vegetação que esses

organismos ocupam.

Palavras-chave: Araneae, heterogeneidade de habitat, complexidade, estrutura da

vegetação, Caatinga.

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HABITAT STRUCTURE EFFECTS OVER SPIDER COMMUNITIES IN A

CAATINGA FOREST FROM BRAZILIAN NORTHEAST

ABSTRACT

The inherent complexity of natural communities is a challenge to our understanding

about how the habitat influences the abundance, local distribution and species diversity.

The habitat can influence community structure in multiple ways and elucidate these

relationships has provoked a lot of debate in ecology. The habitat heterogeneity

hypothesis states that an increase in habitat heterogeneity (number of habitats) leads to

an increase in species diversity in the landscape due to an expansion in niche

dimensions. This study aims to identify whether this hypothesis is valid for the spiders

that inhabit a locality in the Caatinga of northeastern Brazil. Cursorial and arboreal

spiders were sampled in 30 plots within an area of Caatinga together with measures of

environmental complexity, habitat heterogeneity and environmental parameters related

to multiple aspects of vegetation architecture and species composition of woody plants.

Stepwise multiple regressions were used to define which local environmental

parameters best explain the variation in arboreal and cursorial spiders richness. Then a

NMDS (Nonmetric multidimensional scaling) was used to reduce the number of

predictive variables to those who are the most important and best represent the variation

in spiders richness associated with the environment they were sampled. The results

show a clear segregation between the guilds of arboreal and cursorial spiders, both

related to what kind of environmental variables best explain its variation as well as in

relation to what part of the vegetation they occupy.

Keywords: Araneae, habitat heterogeneity, complexity, vegetation structure, Caatinga.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Mapa do Brasil destacando a área do bioma caatinga em cinza, partindo para

um gráfico do estado do Rio Grande do Norte destacando a localização do município de

João Câmara onde aconteceram as coletas. A figura ampliada mostra a área em que o

estudo foi desenvolvido. Cada quadrado representado no mapa designa uma das

parcelas amostrais do trabalho. ......................................................................................... 6

Figura 2: Foto representando a forma que as armadilhas de interceptação e queda de

aranhas foram montadas. .................................................................................................. 8

Figura 3: Método do guarda-chuva entomológico sendo empregado para captura de

aranhas presentes no dossel do extrato arbustivo das parcelas amostradas. ..................... 9

Figura 4: Pesquisador vasculhando troncos e liteira em busca de aranhas durante a

coleta noturna. ................................................................................................................ 10

Figura 5: Coletor de serrapilheira utilizado para medir a quantidade de serrapilheira

produzida pela parte aérea da vegetação. ....................................................................... 11

Figura 6: Porcentagem da contribuição de jovens e adultos representados pelas

macroguildas de aranhas de solo e arborícolas das amostras ......................................... 13

Figura 7: Número de indivíduos por família coletados na Fazenda Cauaçú. Famílias

representadas com menos de 4 indivíduos foram agrupadas como “outras”. ................ 14

Figura 8: Número de indivíduos por família coletados na área degradada da Fazenda

Cauaçú. Famílias representadas com menos de 4 indivíduos foram agrupadas como

“outras”. .......................................................................................................................... 14

Figura 9: Número de indivíduos por família coletados na área intermediária da Fazenda

Cauaçú. Famílias representadas com menos de 4 indivíduos foram agrupadas como

“outras”. .......................................................................................................................... 15

Figura 10: Número de indivíduos por família coletados na área conservada da Fazenda

Cauaçú. Famílias representadas com menos de 4 indivíduos foram agrupadas como

“outras”. .......................................................................................................................... 16

Figura 11: Número de gêneros e espécies encontrados em cada uma das famílias mais

representativas. Todas as famílias representadas por apenas um gênero foram agrupadas

na categoria “outras”. ..................................................................................................... 17

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Figura 12: Curva de acumulação de espécies para os indivíduos adultos amostrados. . 17

Figura 13: Gráficos utilizando informações geográficas para agrupar as parcelas onde

as aranhas foram coletadas segundo sua composição, riqueza total, riqueza de aranhas

arborícolas e riqueza de aranhas cursoriais. O tamanho dos símbolos representa os

valores da composição e riqueza atribuídas a cada ponto. Os pontos verdes representam

as parcelas da área conservada, os pontos azuis os da área intermediária e os pontos

vermelhos os da área degradada. .................................................................................... 21

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Média, desvio padrão, mínimo e máximo das variáveis analisadas por parcela

........................................................................................................................................ 18

Tabela 2: Regressão múltipla stepwise entre a riqueza total de aranhas e as variáveis

explanatórias incluídas no modelo. Aqui são apresentadas apenas aquelas variáveis que

explicaram a variação da riqueza total de aranhas (p < 0.05). ....................................... 18

Tabela 3: Regressão múltipla stepwise entre a riqueza de aranhas de solo e as variáveis

explanatórias incluídas no modelo. Aqui são apresentadas apenas aquelas variáveis que

explicaram a variação da riqueza total de aranhas (p < 0.05). ....................................... 19

Tabela 4: Regressão múltipla stepwise entre a riqueza de aranhas arborícolas e as

variáveis explanatórias incluídas no modelo. Aqui são apresentadas apenas aquelas

variáveis que explicaram a variação da riqueza total de aranhas arborícolas (p < 0.05).19

Tabela 5: Regressão múltipla stepwise entre a composição de aranhas e as variáveis

explanatórias incluídas no modelo. Aqui são apresentadas apenas aquelas variáveis que

explicaram a variação da riqueza total de aranhas arborícolas (p < 0,05). ..................... 20

Tabela 6: Lista de espécies e morfoespécies, separando juvenis com adultos aranhas

coletadas na Fazenda Cauaçú ......................................................................................... 31

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SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS .................................................................................................... iv

RESUMO ......................................................................................................................... v

ABSTRACT .................................................................................................................... vi

LISTA DE FIGURAS .................................................................................................... vii

LISTA DE TABELAS .................................................................................................... ix

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 1

2. OBJETIVOS.............................................................................................................. 4

2.1. Geral ................................................................................................................................... 4

2.2. Específicos .......................................................................................................................... 4

3. MATERIAIS E MÉTODOS ..................................................................................... 5

3.1 Área de Estudo .................................................................................................................... 5

3.2 Delineamento amostral ....................................................................................................... 6

3.3 Fitossociologia ..................................................................................................................... 7

3.4 Amostragem de aranhas ..................................................................................................... 7

3.5 Identificação dos espécimes de aranhas ........................................................................... 10

3.6 Produção de liteira ............................................................................................................ 10

3.7 Análises de Solo ................................................................................................................. 11

3.8 Análises estatísticas ........................................................................................................... 11

4. RESULTADOS ....................................................................................................... 13

4.1 Estrutura Taxonômica dos Grupos de Aranhas e Curva de Acumulação de Espécies ...... 13

4.2 Variáveis Ecológicas e Microhabitat .................................................................................. 18

4.3 Relações entre complexidade de habitat e comunidades de aranhas ............................. 18

4.5 Variações espaciais na comunidade de aranhas ............................................................... 20

5. DISCUSSÃO ........................................................................................................... 22

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5.1 Estrutura Taxonômica dos Grupos de Aranhas e Curva de Acumulação de Espécies ...... 22

5.2 Comunidades de aranhas e complexidade de habitats .................................................... 22

5.3 Conclusão .......................................................................................................................... 25

6. REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 26

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1. INTRODUÇÃO

Desde o século XIX os ecólogos descrevem a importância da estrutura do habitat

na organização de comunidades de animais (Thoreau and Emerson 1887). No

entendimento dessa relação, sabe-se que a abundância e composição de espécies

animais podem variar de acordo com mudanças na estrutura da vegetação, devido ao

fato de que habitats mais heterogêneos oferecem uma expansão das possibilidades

dentro das dimensões de nicho e consequentemente, aumentam a diversidade de

espécies associadas (Magurram 1988). Esse mecanismo facilita a especialização e fuga

da competição através da segregação espacial (MacArthur and MacArthur 2011). Dessa

maneira, diferenças na estrutura da vegetação podem influenciar fortemente as

adaptações, distribuição e interações de vários grupos animais que habitam plantas

(Tews et al. 2004).

Ao longo do processo de sucessão ecológica em comunidades vegetais,

mudanças na fisionomia e estrutura da vegetação podem afetar a riqueza, composição e

abundância de assembléias de animais (Hurd and Fagan 1992; Liebsch et al. 2008). Para

as aranhas, mudanças estruturais do habitat podem influenciar na forma com que os

recursos necessários para a sua sobrevivência são utilizados, chegando a alterar os

padrões de distribuição das espécies que não se adaptam bem a essas mudanças (Mcnett

and Rypstra 2000). A heterogeneidade de habitat pode influenciar tanto aranhas

arborícolas como aranhas de solo (Uetz 1991; Wise 1993; Foelix 2011). Para esses

organismos a complexidade de um habitat depende de muitos elementos associados à

vegetação, como características da serrapilheira, da cobertura, riqueza e abundância

vegetal, e presença de outras estruturas que possam servir como microhabitats

potencialmente exploráveis por espécies de aranhas (Uetz 1979; Baldissera et al. 2004).

Por exemplo, a presença de bromélias no sub-bosque e dossel das florestas tropicais,

permite o acúmulo de água e matéria orgânica no seu interior, constituindo um tipo de

microhabitat peculiar que é bastante utilizado por várias famílias de aranhas como

refúgio e local para forrageio (Gonçalves-Souza et al. 2010).

Cada grupo de aranhas que explora recursos no ambiente de maneira similar

constitui uma guilda (Root 1973). Guildas de aranhas têm sido propostas e utilizadas

frequentemente como entidades ecológicas ao invés de espécies ou outras unidades

taxonômicas (Jaksić and Medel 1990). As guildas normalmente são o resultado da

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categorização das aranhas em grupos relacionados de acordo com a forma que capturam

presas (teia, espera, busca ativa), horário de atividade predominante (noturnas e diurnas)

ou principal microhabitat em que vivem (Höfer and Brescovit 2001). O uso de guildas

tem se mostrado eficaz em responder questões referentes à ecologia de aranhas (Uetz et

al. 1999; Toti et al. 2000; Höfer and Brescovit 2001). Nesse trabalho, as aranhas foram

utilizadas como organismos modelo por apresentarem forte relação com o tipo de

vegetação e o estado de conservação do ambiente que ocupam, além de serem animais

conspícuos e de hábitos diversos (Foelix 2011). Além disso, a araneofauna é um

componente importante em sistemas áridos e semiáridos ao redor do mundo, podendo

ocorrer em altas abundâncias nessas regiões (Whitehouse et al. 2002).

A composição e riqueza das comunidades de aranhas podem variar de acordo

com uma série de gradientes ambientais (Wise 1993). Um dos fatores que podem

explicar a influência da fitofisionomia na comunidade de aranhas é a disponibilidade de

microhabitats associados às condições microclimáticas resultantes de variações na

estrutura da vegetação (Duffey 1970; Greenstone 1984; Mrzljak and Wiegleb 2000;

Ziesche and Roth 2008). Diferenças na estrutura das assembléias de aranhas também

podem ser evidenciadas entre localidades em diferentes latitudes e longitudes devido a

características específicas relacionadas à região onde se encontram (Hillebrand 2004).

Fatores locais que influenciam aranhas de solo incluem a quantidade de serrapilheira no

substrato, o tipo de solo, a heterogeneidade e o tipo da vegetação (Uetz 1975; Uetz

1979; Bultman and Uetz 1982; Gasnier and Hofer 2001; Ziesche and Roth 2008). Para

as aranhas arborícolas, a riqueza, composição e densidade da vegetação são

determinantes no sucesso dos indivíduos no ambiente (Greenstone 1984; Wise 1993).

As aranhas são consideradas um dos grupos de animais de maior sucesso

evolutivo da atualidade (Decae 1984). Elas fizeram parte da primeira onda de ocupação

terrestre por animais que ocorreu no Paleozóico e compreendem um dos primeiros

grupos de organismos a ter habitado a superfície da Terra (Penney et al. 2003; Selden

and Penney 2010). Esses organismos desenvolveram uma grande variedade de histórias

de vida, comportamentos e adaptações ecológicas, fisiológicas e morfológicas que as

tornam animais extremamente cosmopolitas (Wise 1993; Foelix 2011). Atualmente, já

foram descritas mais de 44.000 espécies, distribuídas em 592 gêneros e 112 famílias

(Platnick 2013). As aranhas compreendem uma porção significativa da diversidade de

artrópodes do planeta sendo predadores abundantes e um dos principais componentes

desta fauna (Uetz 1979).

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O domínio das Caatingas é um complexo vegetacional caracterizado por altas

temperaturas e uma distribuição irregular de chuvas, que varia de 300 a 800 milímetros

anuais. Abrange uma área aproximada de 800.000 km², representando 70% do Nordeste

do Brasil e 11% de território nacional (Castelletti et al. 2003). É dominada pela

vegetação do tipo “savana estépica”, com predomínio de árvores baixas e arbustos que,

em geral, perdem as folhas no período seco (espécies caducifólias), apresentando

também muitas espécies de cactáceas (MMA 2013).

A Caatinga vem passando por um intenso processo de degradação ambiental

causado pela utilização inadequada dos seus recursos naturais, o que tem levado à

formação de núcleos de desertificação em várias localidades da região nordeste (MMA

2013). Mais de 45% da sua região encontra-se alterada, fruto de atividades antrópicas,

apresentando 15% da região considerada em processo de desertificação (MMA 1998). A

severa alteração das suas áreas deve-se, principalmente, pelo corte e queimada da

vegetação nativa para fins agrícolas, pela intensa retirada de lenha para alimentar

fornalhas e produzir carvão, pela excessiva prática da caça e pela criação extensiva de

bovinos e caprinos na região (Leal et al. 2005). Essas práticas têm levado o bioma a ser

considerado como uma das mais ameaçadas regiões naturais do país (Castelletti et al.

2003). Nesse sentido, conhecer as respostas da fauna às modificações do habitat

impostas pela intervenção humana torna-se fundamental para embasar iniciativas de

conservação, sobretudo em grupos que desempenham papéis importantes nas cadeias

tróficas.

No Rio Grande do Norte as florestas do interior do estado são dominadas por

uma formação vegetal de Caatinga típica, caracterizadas por um estrato arbóreo pouco

denso e com forte deciduidade relacionada à sazonalidade climática da região. A

cobertura de plantas no solo é frequentemente esparsa na estação seca, por vezes

formada por espécies de bromélias e espécies de cactáceas ocorrem entremeadas em

áreas abertas no dossel da floresta onde há uma maior incidência de luz (Andrade-Lima

1981).

Apesar da área da Caatinga ser expressiva em relação à área que ocupa do

território brasileiro, não há estudos que relacionem fatores locais, como a estrutura do

habitat e variáveis abióticas, com a riqueza e composição de aranhas nesse tipo de

ambiente. Nesse trabalho, investigamos a estrutura de comunidades de aranhas e a

influência de alguns fatores locais na sua composição e riqueza em um ecossistema de

Caatinga.

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2. OBJETIVOS

2.1. Geral

O presente trabalho tem como objetivo geral estudar a influência da estrutura de

habitat na riqueza e composição de assembléias de aranhas em três áreas dentro de uma

floresta de caatinga que apresenta históricos de degradação distintos.

2.2. Específicos

I) Identificar as famílias, gêneros e morfoespécies de aranhas amostradas.

II) Testar quais parâmetros relacionados com a estrutura do ambiente melhor

explicam a variação na riqueza total e na composição de aranhas.

III) Testar como a riqueza de duas macroguildas de aranhas (arborícolas e cursoriais)

varia em função da estrutura da vegetação e parâmetros locais.

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3. MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 Área de Estudo

O estudo foi conduzido em uma floresta de Caatinga do nordeste brasileiro,

estado do Rio Grande do Norte. A área esta localizada no município de João Câmara.

Esse município está inserido na mesorregião do agreste potiguar, mais precisamente na

microrregião da Baixa Verde (05°32’15’’S e 35°49’11’’W). O remanescente florestal,

com uma área de aproximadamente 700 hectares, faz parte de uma propriedade

particular da região chamada Fazenda Cauaçú (Figura 1).

Três áreas dentro da fazenda, com diferentes históricos de perturbação, foram

selecionadas para avaliar seus possíveis efeitos sobre a riqueza e composição de

aranhas: (1) “Área conservada”, composta por uma floresta de Caatinga não manejada

para fins agropecuários; (2) “Área intermediária”, formada por uma floresta secundária

relativamente bem estabelecida, a qual era utilizada para criação animal; (3) “Área

degradada”, composta por uma floresta secundária recente (antiga área de roçado),

dominada por espécies vegetais pioneiras e marcada pela presença constante de bovinos.

O clima da região é classificado como semi-árido quente, apresenta altas

temperaturas, precipitação irregular e escassa com uma estação seca variando de sete a

dez meses (Prado 2003). Segundo a classificação atualizada de Koppen (Peel et al.

2007) a área de estudo se enquadra na categoria BSh e apresenta média pluviométrica

anual de 650 mm, com chuvas concentradas de março a julho.

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Figura 1: Mapa do Brasil destacando a área do bioma caatinga em cinza, partindo para

um gráfico do estado do Rio Grande do Norte destacando a localização do município de

João Câmara onde aconteceram as coletas. A figura ampliada mostra a área em que o

estudo foi desenvolvido. Cada quadrado representado no mapa designa uma das

parcelas amostrais do trabalho.

3.2 Delineamento amostral

Na área da floresta que se encontra dentro da Fazenda Cauaçú, próximo à trilha

de acesso que atravessa a mesma, foi definida uma grade de 2000 m x 500 m (100 ha)

que engloba um complexo vegetacional com manchas em diferentes estágios de

sucessão. Nesta grade, foram sorteadas 30 parcelas amostrais de 20 m x 20 m, sendo dez

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em cada subárea (conservada, intermediária e degradada). A disposição das parcelas

encontra-se ilustrada na figura 1.

3.3 Fitossociologia

Dentro de cada parcela amostral (20 m x 20 m), foi delimitado um quadrado de

10 m x 10 m no qual foi realizado o levantamento fitossociológico.

Foram tomadas medidas do diâmetro do caule na altura do solo (DAS) e altura

(apenas para os indivíduos que apresentavam DAS maior ou igual a três centímetros e

altura maior ou igual a um metro). Esse procedimento foi repetido nas 30 parcelas.

No caso de indivíduos que apresentaram caules projetados em feixe a partir do

solo, as medidas de DAS foram somadas desde que se pudesse identificar que

pertenciam ao mesmo indivíduo. Cada planta foi marcada com uma numeração feita em

placa metálica e sua altura foi estimada em campo com a ajuda de uma haste graduada.

A coleta dos dados fitossociológicos aconteceu entre os meses de outubro e

dezembro de 2011 e junho e julho de 2012. Exsicatas foram tomadas de cada espécie

vegetal e levadas para posterior identificação. A identificação foi realizada através de

morfologia comparada, usando bibliografia especializada e análise das exsicatas

depositadas no herbário da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), sob

cuidados do Prof. Dr. Jomar Gomes Jardim.

3.4 Amostragem de aranhas

Três métodos distintos foram utilizados para a coleta da araneofauna. A

aplicação desses métodos visou acessar grupos que habitam diferentes extratos da

vegetação e que possuem modos de vida distintos. A coleta da araneofauna aconteceu

em dois momentos: (i) em novembro e dezembro de 2011 e (ii) em junho e julho de

2012.

No centro de cada parcela amostral foi instalado um conjunto de armadilhas de

interceptação e queda, utilizadas para amostrar animais errantes, que se locomovem

ativamente na superfície do solo. Cada conjunto de armadilhas foi formado por cinco

recipientes (15 cm de diâmetro e 10 cm de profundidade com 1 litro de volume)

conectados por uma barreira plástica e distantes um metro entre si (Figura 2). Os

recipientes foram preenchidos com água, sal (conservante) e detergente. Este último foi

utilizado para quebrar a tensão superficial da solução e facilitar a captura dos animais

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8

que caiam nos potes (Curtis 1980). As armadilhas de queda foram instaladas em dois

momentos, em dezembro de 2011 e julho de 2012 e foram mantidas por quatro dias no

campo, sendo esvaziadas a cada dois dias (adaptado de Coddington et al. 1991). O

conteúdo das amostras foi conservado em álcool 70% para posterior identificação do

material biológico.

Figura 2: Foto representando a forma que as armadilhas de interceptação e queda de

aranhas foram montadas.

Para amostragem de aranhas arborícolas presentes no estrato arbustivo (de 2 a 3

metros de altura) foi utilizada a técnica de guarda-chuva entomológico. O aparelho

coletor consiste em duas hastes cruzadas, presas entre si no centro e de um quadrado de

tecido branco fixado pelos cantos, nas extremidades das hastes (adaptado de

Coddington et al. 1991). O aparato é posicionado sob os galhos das árvores e arbustos

os quais são agitados manualmente ou com ajuda de bastão. Os animais que caem sobre

o tecido são capturados manualmente ou com auxílio de um pequeno pote e pinças

(Figura 3). Os arbustos amostrados foram escolhidos entre aquelas plantas que foram

registradas na fitossociologia das parcelas. Todas as aranhas coletadas em cada parcela

foram dispostas em um único recipiente e representaram uma amostra. As coletas com

Guarda-chuva entomológico aconteceram durante novembro de 2011 e julho de 2012.

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9

Figura 3: Método do guarda-chuva entomológico sendo empregado para captura de

aranhas presentes no dossel do extrato arbustivo das parcelas amostradas.

Dentro de cada parcela amostral também foram realizadas coletas manuais

noturnas de aranhas encontradas na serrapilheira, em troncos em decomposição, dentro

de cavidades, sob pedras e na vegetação de sub-bosque até a altura de dois metros, com

o auxílio de lanterna de cabeça (Figura 4). Esse método de coleta permite o acesso a

diferentes estratos da vegetação e ambientes, amostrando animais ativos durante a noite,

incluindo aqueles que caminham sobre o solo, sobre a vegetação ou que se movimentam

entre diferentes ambientes. O conjunto de animais que foi obtido em cada hora de coleta

contínua por parcela foi considerada uma amostra. A procura visual noturna aconteceu

durante o mês de junho de 2012.

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10

Figura 4: Pesquisador vasculhando troncos e liteira em busca de aranhas durante a

coleta noturna.

3.5 Identificação dos espécimes de aranhas

Todos os indivíduos coletados foram levados para o Laboratório de Ecologia e

Conservação da Biodiversidade (LECOB) da Universidade Federal do Rio Grande do

Norte, onde foram separados, contados e conservados em uma solução de etanol a 70%.

Posteriormente, os espécimes foram levados para o Museu Paraense Emílio

Goeldi (MPEG, curador A. B. Bonaldo), identificados por mim com a ajuda da Drª

Regiane Saturnino e a equipe do Laboratório de aracnologia do museu. Apenas os

adultos foram utilizados na identificação das espécies. O material testemunho está

depositado na coleção de aracnídeos do próprio MPEG.

3.6 Produção de liteira

A quantidade de liteira produzida pela parte aérea da vegetação foi mensurada

usando-se 30 coletores de 1 m x 1 m, alocados no centro de cada parcela amostral (um

coletor por parcela). A estrutura dos coletores é feita de metal e coberta com uma malha

de 1 mm x 1 mm confeccionada em náilon (Figura 5). A cada mês toda biomassa

vegetal que acumulada dentro da malha foi recolhida, seca e pesada no Laboratório de

Ecologia e Conservação da Biodiversidade da UFRN.

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11

Figura 5: Coletor de serrapilheira utilizado para medir a quantidade de serrapilheira

produzida pela parte aérea da vegetação.

3.7 Análises de Solo

Foram coletadas três amostras de solo em cada parcela. Essas amostras foram

homogeneizadas e guardadas em sacos plásticos. Todas elas foram encaminhadas para

análise de granulometria e quantidade de matéria orgânica no Laboratório de Análises

de Solo, Água e Plantas da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte

(EMPARN). A análise granulométrica foi realizada através do método densitométrico

enquanto que a quantidade de matéria orgânica do solo foi determinada pelo método

colorimétrico.

3.8 Análises estatísticas

As espécies coletadas foram divididas em duas macroguildas, de acordo com o

trabalho de Höfer and Brescovit (2001). A primeira macroguilda, de aranhas

arborícolas, incluiu espécies associadas à parte aérea da vegetação e que forrageiam a

uma altura mediana. A segunda macroguilda é composta pelas famílias de aranhas que

forrageiam no chão e que estão associadas à serrapilheira, troncos caídos e buracos no

solo.

Para o calculo dos valores de composição, foi realizado uma análise de

Escalonamento Multidimensional Não Métrico (NMDS) com os dados de abundância

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12

de cada espécie. Utilizou-se o índice de Morisita e foi calculada uma solução para três

dimensões. Antes da analise de ordenação foram removidas as espécies que ocorreram

em menos de quatro parcelas.

Para testar o efeito da complexidade de habitat na comunidade de aranhas foram

realizadas regressões múltiplas entre a riqueza e composição da comunidade de aranhas

(variáveis resposta) em função de variáveis relacionadas com a estrutura da vegetação,

parâmetros do solo e coordenadas geográficas (variáveis explicativas). Como variáveis

explicativas foram utilizadas as seguintes medidas: latitude, longitude, DAS total (cm),

DAS médio (cm), altura média, mínima e máxima da vegetação (cm), riqueza de

espécies arbóreas, abundância de espécies arbóreas, taxa de produção de liteira

(tonelada*ha/ano), conteúdo de matéria orgânica (gm/dcm3) e areia (gm de areia/kg de

sedimento). Foi realizada uma regressão múltipla para cada uma das variáveis respostas:

riqueza total de aranhas, riqueza de aranhas arbóreas, riqueza de aranhas de solo e

composição de espécies de aranhas (representada pelo primeiro eixo do NMDS,

calculado através do índice de Morisita). A seleção de variáveis foi feita através do

método stepwise, com direção backward; probabilidade para permanecer no modelo <

0.15 e para remoção > 0.15 e número máximo de passos = 15. Os modelos com menor

valor de AIC foram utilizados na análise. Em todos os modelos, a abundância de

aranhas foi incluída como variável resposta para considerar o seu efeito na riqueza.

Para avaliar se existe estrutura espacial na composição e riqueza de aranhas foi

realizada uma ordenação, utilizando as coordenadas geográficas de cada parcela

amostral.

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13

4. RESULTADOS

4.1 Estrutura Taxonômica dos Grupos de Aranhas e Curva de Acumulação de

Espécies

Foi coletado um total de 2218 aranhas (1036 adultos e 1182 juvenis) nas três

áreas de coleta, representadas por 76 morfoespécies, 59 gêneros e 24 famílias (Apêndice

I). As famílias de aranhas de solo contribuíram com mais indivíduos adultos para as

amostras, enquanto as famílias de aranhas arborícolas representaram a maioria dos

indivíduos juvenis coletados (Figura 6).

Figura 6: Porcentagem da contribuição de jovens e adultos representados pelas

macroguildas de aranhas de solo e arborícolas das amostras

Do total de aranhas coletadas, as famílias mais abundantes foram: Zoridae (32%

dos indivíduos coletados), Ctenidae (17%), Zodariidae (14%), Araneidae (6%) e

Salticidae (5%). Juntas essas famílias representam 74% dos espécimes amostrados. Por

outro lado, três famílias foram representadas com apenas um espécime (Idiopidae,

Scytotidae e Senoculidae) (Figura 7).

59%

29%

41%

71%

ADULTOS JUVENIS

Cursoriais

Arborícolas

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14

Figura 7: Número de indivíduos por família coletados na Fazenda Cauaçú. Famílias

representadas com menos de 4 indivíduos foram agrupadas como “outras”.

Quando as amostragens são separadas por área, foi visto que o número de

indivíduos coletados por família variou entre elas. Na área degradada foram coletados

377 espécimes adultos e as famílias mais abundantes foram: Zoridae (45% dos

indivíduos coletados), Zodariidae (13%), Araneidae (7%), Ctenidae (5%) e Salticidae

(3%). Juntas essas famílias representam 75% dos espécimes amostrados nessa área.

(Figura 8).

Figura 8: Número de indivíduos por família coletados na área degradada da Fazenda

Cauaçú. Famílias representadas com menos de 4 indivíduos foram agrupadas como

“outras”.

328

177 143

67 56 37 35 35 26 24 23 20 18 10

37

Ab

un

dân

cia

Famílias

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200

me

ro d

e in

div

ídu

os

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15

Na área intermediária foram coletados 407 espécimes adultos e as famílias mais

abundantes foram: Ctenidae (24% dos indivíduos coletados), Zoridae (22%), Zodariidae

(13%), Salticidae (6%) e Araneidae (5%). Juntas essas famílias representam 73% dos

espécimes amostrados nessa área. (Figura 9).

Figura 9: Número de indivíduos por família coletados na área intermediária da Fazenda

Cauaçú. Famílias representadas com menos de 4 indivíduos foram agrupadas como

“outras”.

Na área conservada foram coletados 252 espécimes adultos e as famílias mais

abundantes foram: Zoridae (23% dos indivíduos coletados), Ctenidae (20%), Zodariidae

(13%), Theraphosidae (6%) e Theridiidae (5%). Juntas essas famílias representam 69%

dos espécimes amostrados nessa área. (Figura 10).

0

20

40

60

80

100

120

me

ro d

e in

div

ídu

os

Área Intermediária

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16

Figura 10: Número de indivíduos por família coletados na área conservada da Fazenda

Cauaçú. Famílias representadas com menos de 4 indivíduos foram agrupadas como

“outras”.

As famílias mais representativas em número gêneros e espécies foram:

Araneidae, Theridiidae, Salticidae, Corinidae e Oonopidae. Araneidae apresentou 10

gêneros e 12 espécies ou 17% do total de gêneros e 16% do total de espécies.

Theridiidae apresentou 8 gêneros (14%) e 9 espécies (12%). Salticidae apresentou 5

gêneros (8%) e 10 espécies (13%). Corinnidae foi representada por 4 gêneros (7%) e 5

espécies (7%), seguido de Oonopidae com 4 gêneros (7%) e 4 espécies (5%). As demais

famílias apresentaram menos de 3 gêneros e 3 espécies, com exceção de Thomisidae

que apresentou 7 espécies. Juntas as famílias menos representativas somaram 47% dos

gêneros e 47% das espécies (Figura 11).

0

10

20

30

40

50

60

70

me

ro d

e in

div

ídu

os

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17

Figura 11: Número de gêneros e espécies encontrados em cada uma das famílias mais

representativas. Todas as famílias representadas por apenas um gênero foram agrupadas

na categoria “outras”.

Para determinar se o esforço amostral foi suficiente para indicar o total da

riqueza de espécies coletadas na área do estudo, foi construída uma curva média de

acumulação de espécies com seus respectivos intervalos de confiança, 95% para os

limites inferior e superior (Figura 12).

Figura 12: Curva de acumulação de espécies para os indivíduos adultos amostrados.

10

8

5 4 4

3 3 3 2 2 2

13 12

9 10

5 4

3 3

7

2 2 2

17

Famílias

Gêneros

Espécies

0

10

20

30

40

50

60

70

80

34 103 172 241 310 379 448 517 586 654 723 792 861 930 999

me

ro d

e e

spé

cie

s ac

um

ula

do

Número de indivíduos

Espécies observadas(Mao Tao)

Limite superior (95%)

Limite inferior (95%)

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18

4.2 Variáveis Ecológicas e Microhabitat

As parcelas amostradas apresentaram uma grande variação na riqueza e

abundância de aranhas, na estrutura da vegetação e nos parâmetros do solo, possuindo

assim, grande diversidade de microhabitats disponíveis (Tabela 1).

Tabela 1: Média, desvio padrão, mínimo e máximo das variáveis analisadas por parcela.

Variável Média ± Dp Mínimo Máximo

DAS (cm) 7.2 ± 5.68 1.5 68.2 Atura da vegetação (m) 3.73 ± 1.39 1 11 Riqueza da vegetação 7.4 ± 2.55 3 14 Abundância da vegetação 50.63 ± 21.16 13 92

Produção de liteira (ton*ha/ano) 7.34 ± 2.43 1.75 14.64 Conteúdo de matéria orgânica no solo (g/dm³) 24.81 ± 5.56 12.79 34.02 Conteúdo de areia no solo (g/kg) 72.07 ± 28.44 20 140

Abundância total de aranhas 34.5 ± 15.59 13 80 Riqueza total de aranhas 12.93 ± 3.9 6 21 Abundância de aranhas cursoriais 19.67 ± 10.48 6 59 Riqueza de aranhas cursoriais 5.27 ± 2.03 2 10 Abundância de aranhas arborícolas 14.87 ± 8.44 6 41

Riqueza de aranhas arborícolas 7.7 ± 3.04 3 14

4.3 Relações entre complexidade de habitat e comunidades de aranhas

O melhor modelo para a riqueza total de aranhas conteve as variáveis: liteira,

conteúdo de areia e abundância total. Estes resultados demonstraram que a riqueza total

de aranhas diminui quando há maior produção de liteira e aumenta quando o conteúdo

de areia do solo aumenta (Tabela 2).

Tabela 2: Regressão múltipla stepwise entre a riqueza total de aranhas e as variáveis

explanatórias incluídas no modelo. Aqui são apresentadas apenas aquelas variáveis que

explicaram a variação da riqueza total de aranhas (p < 0.05).

Efeito Coeficiente

Padrão Erro

Padrão t P

Intercepto 0.000 4.250 2.625 0.0151

Abundância Total 0.657 0.028 5.727 0.0000

DAS Total 0.466 0.011 1.447 0.1614

Altura Mínima da Vegetação -0.188 1.464 -1.816 0.0824

Taxa de Produção de Liteira -0.289 0.178 -2.602 0.0159

Conteúdo de Areia no Solo 0.2832 0.01715 2.266 0.0331

R2= 0.7768; F= 13.34; N=30; p < 0.000

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A riqueza de aranhas de solo não foi influenciada por nenhuma das variáveis

resposta incluídas na análise de regressão (Tabela 3).

Tabela 3: Regressão múltipla stepwise entre a riqueza de aranhas de solo e as variáveis

explanatórias incluídas no modelo. Aqui são apresentadas apenas aquelas variáveis que

explicaram a variação da riqueza total de aranhas (p < 0.05).

Efeito Coeficiente

Padrão Erro

Padrão t P

Intercepto 0.000 2.868 2.411 0.0236

Abundância aranhas de solo 0.355 0.034 2.041 0.0519

Altura média -0.255 0.557 -1.41 0.171

Abundãncia da Vegetação -0.293 0.018 -1.52 0.140

Conteúdo de Areia no Solo 0.273 0.0135 1.442 0.162

R2

= 0.3446; F = 3.286; N=30; p = 0.02699

O melhor modelo para riqueza de aranhas arborícolas conteve as variáveis:

longitude, abundância da vegetação, DAS total, riqueza da vegetação e abundância de

aranhas arborícolas. A riqueza de aranhas arborícolas aumentou com a longitude, DAS

total e com a riqueza da vegetação, contudo, diminuiu com a abundância da vegetação

(Tabela 4).

Tabela 4: Regressão múltipla stepwise entre a riqueza de aranhas arborícolas e as

variáveis explanatórias incluídas no modelo. Aqui são apresentadas apenas aquelas

variáveis que explicaram a variação da riqueza total de aranhas arborícolas (p < 0.05).

Efeito Coeficiente

Padrão Erro

Padrão t P

Intercepto 0.000 3510 3.405 0.002

Abundância Aranhas Arborícolas 0.447 0.057 2.802 0.010

Longitude 0.799 97.8 3.405 0.002

DAS Total 0.923 0.011 2.349 0.028

Riqueza da Vegetação 0.382 0.211 2.151 0.042

Abundância da Vegetação -1.361 0.066 -2.952 0.007

Conteúdo de Matéria Orgânica 0.203 0.087 1.274 0.2152

R2= 0,6035; F= 5,834; N=30; p = 0,0008

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A análise do NMDS para a composição de aranhas apresentou stress de 0.1417,

sendo a quantidade de informação retida por cada eixo de 47.1% (primeiro eixo), 16.3%

(segundo eixo) e 18% (terceiro eixo). Os valores obtidos no primeiro eixo foram

utilizados como variável resposta para as regressões com a composição de aranhas. O

melhor modelo para a composição de aranhas conteve as variáveis: altura mínima da

vegetação e produção de liteira (Tabela 5). A composição de aranhas variou fortemente

com a longitude. Adicionalmente a altura mínima da vegetação e a liteira afetaram

negativamente o eixo da composição.

Tabela 5: Regressão múltipla stepwise entre a composição de aranhas e as variáveis

explanatórias incluídas no modelo. Aqui são apresentadas apenas aquelas variáveis que

explicaram a variação da riqueza total de aranhas arborícolas (p < 0,05).

Efeito Coeficiente

Padrão Erro

Padrão t P

Intercepto 0.000 134.5 -6.281 0.000

Latitude -0.139 9.22 -1.315 0.202

Longitude -1.161 2.79 -7.688 0.000

DAS Médio -0.224 0.007 -2.012 0.056

Altura Máxima da Vegetação -0.175 0.011 -1.49 0.15

Atura Mínima da Vegetação -0.218 0.049 -2.161 0.042

Taxa de Produção de Liteira -0.219 0.005 -2.112 0.046

Conteúdo de Areia no Solo -0.153 0.0004 -1.559 0.133

R2= 0,8358; F= 16,01; N=30; p < 0.001

4.5 Variações espaciais na comunidade de aranhas

Os resultados da análise de ordenação revelaram que os padrões espaciais

agrupam a composição das espécies de aranhas encontradas em função da variação na

longitude entre as áreas. Contudo, a riqueza total e por macroguildas não respondeu

claramente a variação espacial entre as parcelas de onde foram tomadas as amostras

(Figura 13).

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Figura 13: Gráficos utilizando informações geográficas para agrupar as parcelas onde as

aranhas foram coletadas segundo sua composição, riqueza total, riqueza de aranhas

arborícolas e riqueza de aranhas cursoriais. O tamanho dos símbolos representa os

valores da composição e riqueza atribuídas a cada ponto. Os pontos verdes representam

as parcelas da área conservada, os pontos azuis os da área intermediária e os pontos

vermelhos os da área degradada.

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5. DISCUSSÃO

5.1 Estrutura Taxonômica dos Grupos de Aranhas e Curva de Acumulação de

Espécies

Na maioria dos ambientes a maior parte da riqueza é representada por espécies

raras, enquanto apenas uma pequena parcela do total de espécies apresenta uma alta

abundancia (espécies dominantes), sendo este um dos grandes padrões em ecologia

(Brown 1984). Os resultados encontrados no presente trabalho reforçam a generalidade

desse padrão, uma vez que uma boa parte da abundancia de indivíduos está concentrada

em poucos grupos taxonômicos.

A amostragem apresentou uma alta riqueza de espécies de aranhas quando

comparada aos poucos inventários feitos em áreas de Caatinga do nordeste brasileiro.

No trabalho de Carvalho and Brescovit (2005), realizado na área de Reserva Serra das

Almas no Ceará, os pesquisadores classificaram 93 morfoespécies. No presente

trabalho, o número de espécies se aproximou do que foi encontrado nesse inventário que

foi mais abrangente e extenso. Dessa forma pode-se notar que provavelmente existe

uma grande diversidade obscura de aranhas em áreas de Caatinga que precisa ser

amostrada integrando métodos de coleta diversos aos que foram utilizados nesse

trabalho e em uma maior área geográfica. Esses resultados corroboram a grande

deficiência de conhecimento da fauna e flora presentes na Caatinga, o que dificulta o

planejamento e estratégias de conservação do bioma (Santos 2011).

Segundo (Brandão et al. 2000) o nordeste brasileiro é a região do país onde

menos se conhece a fauna presente. De forma compatível, a Caatinga foi indicada como

o bioma menos conhecido do país em termos de biodiversidade. No mesmo trabalho

citado anteriormente, o nordeste brasileiro destaca-se por ser a região que reúne o pior

grau de coleta e menor conhecimento sobre araneofauna em relação as outras regiões do

país.

5.2 Comunidades de aranhas e complexidade de habitats

Se comunidades locais de aranhas fossem compostas por apenas um conjunto

randômico de espécies de aranhas, com padrões de ocorrência limitados por sua

capacidade de dispersão (teoria neutra de Hubbell, 2001), os atributos funcionais das

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espécies seriam igualmente distribuídos ao acaso (Petchey and Gaston 2007) e nenhum

padrão seria encontrado. Assim, os resultados apresentados nos permitem inferir que a

ocorrência do conjunto de espécies nas diferentes áreas de estudo depende do ajuste de

seus atributos às condições ambientais locais, aqui consideradas como as características

estruturais do habitat determinadas pela vegetação florestal de caatinga. A coexistência

de espécies provavelmente está ligada à partição de nicho em escala local, o que reduz

as interações negativas como a competição. Pimm and Rosenzweig (1981) mostram que

pequenas diferenças nas preferências de habitat podem levar a uma grande divergência

em seu uso por espécies competidoras, o que facilita a coexistência. Neste contexto, o

presente estudo corrobora a teoria do nicho, evidenciando que as comunidades de

aranha não são estruturadas ao acaso (Macarthur and Levins 1967).

A complexidade de habitat é um fator importante na estruturação de

comunidades bióticas. Ambientes com maior heterogeneidade e complexidade estrutural

de habitat tendem a apresentar uma maior diversidade de espécies devido a uma maior

disponibilidade de microhabitats, refúgios contra predadores e condições

microclimáticas (MacArthur and MacArthur 1961; Tews et al. 2004). Muitos estudos

têm corroborado a hipótese da complexidade de habitat nos mais diversos tipos de

ecossistemas (Denslow 1995; Tews et al. 2004). Neste trabalho, as variáveis ambientais,

expressas pelas características da vegetação influenciaram de forma significativa a

estruturação de comunidades de aranhas, dando suporte para a importância da

complexidade de habitat (James and Wamer 1982; August 1983; Boecklen 1986).

Baldissera et al. (2004) encontraram mudanças claras na composição de aranhas ao

longo de um gradiente de complexidade estrutural associado a diferentes tipos de

vegetação (áreas de pasto, borda e interior de uma floresta de Araucária). Os autores

encontraram uma relação positiva entre a riqueza de espécies vegetais e abundância de

aranhas, ressaltando a importância da vegetação na disponibilidade de microhabitats

para esses organismos.

No presente estudo, as variáveis relacionadas a complexidade de habitat tiveram

influencias distintas sobre a comunidade de aranhas. Adicionalmente, a riqueza total,

riqueza de aranhas arborícolas e de solo foram afetadas pela complexidade de habitat de

forma diferenciada. Enquanto a riqueza total variou em função da quantidade de liteira

produzida e conteúdo de areia do solo, a riqueza de aranhas arborícolas dependeu

intimamente de variáveis relacionadas a estrutura da vegetação (abundancia da

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vegetação, DAS total e riqueza da vegetação). Entretanto, a riqueza de aranhas de solo

não foi afetada por nenhuma das variáveis ambientais testadas.

A quantidade e o tipo de liteira são fatores importantes na estruturação de

comunidades de aranhas, uma vez que estão associados a uma maior disponibilidade de

presas e diversidade de condições microclimáticas, favorecendo assim uma maior

riqueza (Uetz 1979; Bultman and Uetz 1982; Rinaldi and Ruiz 2002). Nossos resultados

vão de encontro a essa hipótese, uma vez que o aumento na quantidade de liteira afetou

negativamente a riqueza de aranhas. Um possível mecanismo para explicar essa relação

inesperada, pode estar associado a baixa diversidade de espécies vegetais em ambientes

semi-áridos (Barthlott and al. 1996), fazendo com que uma maior quantidade de liteira

não necessariamente represente uma maior complexidade de microhabitats favoráveis

para as espécies de aranhas. Ao mesmo tempo, uma liteira homogênea pode estar

associada a uma menor diversidade de presas e fornecer, assim, menos áreas para

refugio, o que pode favorecer a dominância de poucas espécies. No entanto, para

entender mais claramente a importância da liteira nas comunidades de aranhas é preciso

estudar simultaneamente como a riqueza de espécies vegetais e a sazonalidade de

ambientes semiáridos influenciam a diversidade e disponibilidade de presas para esses

organismos (Schwinning et al. 2004).

Por outro lado, os resultados relativos à riqueza de aranhas arborícolas

corroboram a hipótese de que uma maior complexidade estrutural da vegetação favorece

uma maior diversidade de aranhas (Hatley and Macmahon 1980; Greenstone 1984;

Hore and Uniyal 2008; Rodrigues et al. 2009)

Apesar da abundancia da vegetação ter afetado negativamente a riqueza de

aranhas arborícolas, isso pode ser explicado devido ao fato das áreas degradadas

possuírem uma maior densidade e uma menor riqueza de espécies vegetais. Esse fato

sugere que a riqueza de espécies vegetais pode ser um fator mais importante na

disponibilidade de microhabitats quando comparada com a densidade vegetal (Hunter

and Price 1992). Os resultados também sugerem que a variação espacial, representada

pela longitude, é um fator importante para riqueza dessa guilda, evidenciando que a

importância da heterogeneidade espacial no entendimento de como a riqueza dessa

guilda varia (Pickett and Cadenasso 1995).

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25

Vegetações em estágios sucessionais distintos apresentam comunidades vegetais

com estrutura, espécies e condições ambientais diferentes (Guariguata and Ostertag

2001). Ao longo da sucessão vegetal as comunidades animais tendem a mudar em

consonância com as mudanças na composição e estrutura das comunidades vegetais

(DeWalt et al. 2003). Nossos resultados corroboram essa ideia, uma vez que a longitude

e a altura mínima da vegetação foram determinantes na composição de espécies de

aranhas. Esse padrão pode ser explicado devido à relação entre altura da vegetação e seu

estágio sucessional, uma vez que as áreas mais preservadas apresentam árvores de

maior porte (Guariguata and Ostertag 2001). Já a longitude destaca que não só a riqueza

varia no espaço, mas também a composição destas comunidades, refletindo variações

espaciais na comunidade vegetal, uma vez que neste trabalho, áreas com menor

longitude estão associadas a estados sucessionais menos avançados.

5.3 Conclusão

Os efeitos do habitat sobre as aranhas da caatinga podem ser diversos. No

presente trabalho foi evidenciado que para diferentes guildas de aranhas na Caatinga,

existem efeitos distintos vindos de diferentes aspectos da estrutura vegetal que

influenciam sua composição e diversidade.

A floresta de caatinga estudada no Rio Grande do norte apresenta uma alta

abundância e riqueza de espécies de aranhas que variam espacialmente entre as áreas

amostradas em sua composição, por vezes relacionadas com aspectos da estrutura da

vehetação. O fato de a longitude ter se correlacionado com as diferenças na riqueza e

composição de aranhas pode-se dever ao fato de que existem outras variáveis que

explicam e são fonte dessa variação, mas não foram contempladas no modelo.

Nesse sentido, mais estudos são necessários para que a fauna de aranhas da Caatinga

e o papel heterogeneidade de habitat sejam mais bem conhecidos nessa região.

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Tabela 6: Lista de espécies e morfoespécies, separando juvenis com adultos aranhas

coletadas na Fazenda Cauaçú

Família Espécie Adultos Juvenis

Anyphaenidae

227

Anyphaenidae Gen. sp. 24

Araneidae

304

Acacesia hamata 3

Acacesia sp1 1

Alpaida sp1 1

Argiope argentata 9

Cyclosa sp1 16

Eriophora sp1 7

Eriophora sp2 3

Eustala sp1 8

Kaira gibberosa 1

Metepeira lebyrinthea 1

Tatepeira tatarandensis 14

Araneidae Gen. sp1 3

Corinnidae

41

Abapeba GR Abalosi sp. 1

Falconina gracilis 8

Corinna GR capito sp. 2

Corinna GR Rubripes sp. 7

Trachelopachys sericeus 5

Ctenidae

12

Gephyroctenus sp. 5

Nothroctenus sp. 172

Dipluridae

1

Dipluridae Gen. sp. 5

Gnaphosidae

0

Camillina sp. 3

Zimiromus lubricus 1

Idiopidae

0

Idiops sp. 1

Mimetidae

8

Ero sp. 5

Miturgidae

17

Cheira canthium inclusum 18

Nemesiidae

0

Rachias sp. 13

Stenoterommata sp. 12

Nemesiidae Gen. sp. 1

Oonopidae

0

Escaphiella sp1 4

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Gamasomorpha sp1 4

Oonops sp1 1

Oonopidae Gen. Sp1 1

Oxyopidae

29

Oxyopidae Gen. sp1 2

Palpimanidae

10

Otiothops sp1 4

Otiothops sp2 2

Otiothops sp3 2

Pholcidae

6

Mesobolivar spinulosus 20

Salticidae

117

Marma sp1 19

Chira sp1 18

Chira sp2 2

Lisomanis sp. 2

Thiodina sp1 5

Salticidae Gen. sp1 5

Salticidae Gen. sp2 1

Salticidae Gen. sp3 2

Salticidae Gen. sp4 1

Salticidae Gen. Sp5 1

Scytotidae

2

Scytodes sp1 1

Senoculidae

0

Senoculus sp1 1

Sicariidae

0

Loxosceles sp1 1

Sicarius sp1 5

Sparassidae

64

Sparassidae Gen. sp1 1

Sparassidae Gen. sp2 3

Theraphosidae

8

Lasiodra sp1 1

Magulla sp1 33

Proshapalopus multicuspidatus 1

Theridiidae

13

Chrysso sp1 4

Cryptachea hirta 1

Dipoena sp1 5

Euryopis spinifera 8

Faiditus sp1 4

Latrodectus sp1 1

Theridion pernambucum 2

Theridiidae Gen. sp1 8

Theridiidae Gen. sp2 2

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33

Thomisidae

244

Aphantochilus rogersi 5

Misumenops sp1 7

Misumenops sp2 4

Misumenops sp3 4

Misumenops sp4 4

Misumenops sp5 2

Tmarus sp1 11

Zodariidae

30

Leprolochus mucuge 113

Leprolochus oeiras 30

Zoridae

49

Odo vittatus 328

Total 1036 1182