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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE BIOCIÊNCIAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOECOLOGIA AQUÁTICA MESTRADO EM BIOECOLOGIA AQUÁTICA BIODIVERSIDADE E ABUNDÂNCIA DA ICTIOFAUNA ASSOCIADA AO CULTIVO ORGÂNICO DE Litopenaeus vannamei (BOONE, 1931). MARCOS ANTÔNIO FREIRE DA COSTA JÚNIOR NATAL / RN DEZEMBRO DE 2006

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE BIOCIÊNCIAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOECOLOGIA AQUÁTICA MESTRADO EM BIOECOLOGIA AQUÁTICA

BIODIVERSIDADE E ABUNDÂNCIA DA ICTIOFAUNA

ASSOCIADA AO CULTIVO ORGÂNICO DE Litopenaeus

vannamei (BOONE, 1931).

MARCOS ANTÔNIO FREIRE DA COSTA JÚNIOR

NATAL / RN

DEZEMBRO DE 2006

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MARCOS ANTÔNIO FREIRE DA COSTA JÚNIOR

BIODIVERSIDADE E ABUNDÂNCIA DA ICTIOFAUNA

ASSOCIADA AO CULTIVO ORGÂNICO DE Litopenaeus

vannamei (BOONE, 1931).

ORIENTADOR: Prof. Dr. Marcos Rogério Câmara – DOL/CB/UFRN

Dissertação de Mestrado

apresentada ao Programa de Pós-

graduação em Bioecologia Aquática,

Universidade Federal do Rio Grande do

Norte, como requisito parcial à obtenção

do título de Mestre em Bioecologia

Aquática.

NATAL / RN

DEZEMBRO DE 2006

I

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Divisão de Serviços Técnicos Catalogação da Publicação na Fonte UFRN/Biblioteca Central Zila

Mamede

Costa Júnior, Marcos Antônio Freire da. Biodiversidade e abundância da ictiofauna associada ao cultivo orgânico de Litopenaeus vannamei (Boone, 1931) / Marcos Antonio Freire da Costa Júnior. – Natal, RN, 2006. 63 f. : il.

Orientador : Marcos Rogério Câmara.

Dissertação (Mestre). Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Biociências. Programa de Pós-Graduação em Bioecologia Aquática

1. Aqüicultura orgânica – Dissertação. 2. Diversidade biológica - Dissertação. 3. Ictiofauna – Laguna de Guaíras – Tibau do Sul (RN) – Dissertação. 4. Litopenaeus vannamei – Dissertação. I. Câmara, Marcos Rogério. II. Título.

RN/UF/BCZM CDU 639.3

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Dedicatória

Dedico esta obra a todos àqueles

que dedicam suas vidas à preservação

do meio ambiente, em especial, ao

ambientalista e conservacionista

australiano Steve Irwin (in memorian),

que nos mostrou que é com muita ética,

amor, entusiasmo e coragem que

devemos lutar em prol de um mundo

mais justo para todos, seja para homens,

seja para animais.

III

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Agradecimentos

Agradecimentos

Agradeço em primeiro lugar Àquele que é único de receber: toda honra, glória, força e

poder. Ao o Pai eterno, Deus Jeová, pela companhia, proteção, ensinamentos e bênçãos.

Agradeço a UFRN e a CAPES, pelo apoio, ensino e estrutura, recursos esses essenciais à

realização desse estudo.

Agradeço à minha mãe Rosana, pela pessoa sensata, batalhadora, sensível, amorosa,

perseverante, estando sempre presente nos momentos mais importantes da minha vida.

Agradeço ao meu pai Marcos e à sua esposa Vilma, pelas pessoas maravilhosas,

dedicadas e presentes que são.

Agradeço à minha amada Rebeca, pelo carinho, cumplicidade, compreensão e amor

dedicados em todos os nossos momentos.

Agradeço ao meu orientador, Marcos Rogério Câmara, pela amizade, orientação,

ensinamentos, conselhos, compreensão e pelo espelho de profissional que representa.

Agradeço ao biólogo Alexandre Alter Waimberg, proprietário da Fazenda orgânica de

camarões - PRIMAR, pelo apoio fundamental à realização desse estudo, fornecendo dados e

abrindo as portas de sua fazenda com muita gentileza.

Agradeço aos amigos Marco Túlio e Cintya Bullé, pela valiosa e indispensável ajuda nas

coletas dos peixes, quando juntos passamos várias árduas horas coletando, identificando e

contando em campo os espécimes.

Agradeço ao amigo José Garcia, pela orientação e valiosa ajuda na identificação e

fotografia dos peixes em laboratório.

Agradeço aos professores doutores Ronaldo Olivera Cavalli, Eliane Marinho Soriano,

Virgínia Maria Cavalari Henriques e Maisa Clari Farias Barbalho de Mendonça por terem aceitado

tão gentilmente fazer parte da banca.

Agradeço ao Instituto de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente – IDEMA, pelos

valiosos mapas e informações durante a realização dessa Tese.

Por fim, agradeço à Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte –

EMPARN, pelos dados de pluviosidade cedidos.

IV

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Resumo

Resumo

A expansão da carcinicultura tem ocasionado uma série de impactos ambientais, frequentemente, como conseqüência da falta de planejamento e gerenciamento adequados. A aqüicultura orgânica tem sido apontada como alternativa à carcinicultura convencional e apresenta como diferencial, o aproveitamento do potencial econômico, ecológico e de cultivo de outros organismos, tais como peixes, ostras e macroalgas. O objetivo do presente estudo foi avaliar a diversidade biológica e abundância da ictiofauna associada ao cultivo orgânico de Litopenaeus vannamei na fazenda PRIMAR (Rio Grande do Norte, Brasil). O período amostral consistiu de quatro ciclos de cultivo (1, 2, 3 e 4) realizados em quatro viveiros de engorda (V1, V7, V2 e V4) em 2005. Os dois primeiros ciclos foram realizados durante a estação chuvosa e os dois últimos, durante a estiagem. Dados ambientais (temperatura, salinidade, transparência e precipitação pluviométrica), da diversidade biológica (índices de diversidade, uniformidade e abundância) da ictiofauna, e da produtividade de camarão foram coletados nesses quatro ciclos de cultivo. Os resultados obtidos para as variáveis ambientais mostraram que a salinidade e a transparência oscilaram de forma significativa (p < 0,001) entre os ciclos de cultivo. Em relação à abundância da ictiofauna, foram coletadas e identificadas cinqüenta e quatro espécies associadas ao cultivo orgânico de Litopenaeus vannamei na PRIMAR. Foram observadas maior riqueza (S = 46) e uniformidade (E = 0,59 ± 0,16) das espécies de peixe durante os ciclos 3 e 4 do que nos ciclos 1 e 2 (S = 41 e E = 0,15 ± 0,12). Correlação positiva e significativa foi obtida para o aumento da transparência com a diversidade e uniformidade das espécies de peixe entre os ciclos 1 e 2 (estação chuvosa) e 3 e 4 (estação seca) (p < 0,017 - Índice de Shannon; p < 0,008 - Índice de Pielou, respectivamente). Não houve correlação entre a produtividade de camarão e a biomassa de peixes. No entanto, a biomassa de peixes aumentou no transcorrer dos ciclos 1 e 2 para 3 e 4, concomitante com um incremento na produtividade de camarão, decorrente provavelmente, de uma maior sobrevivência (de 58,0% para 71,0%) desse crustáceo. Em relação ao potencial de cultivo da ictiofauna, três espécies (Mugil curema, Mugil liza e Chaetodipterus faber) foram identificadas como alternativas para cultivo isolado ou em consórcio com Litopenaeus vannamei. Uma quarta espécie (Centropomus undecimalis) foi apontada como alternativa para cultivo isolado ou em consórcio com outras espécies de peixe. Em conclusão, a rica diversidade de peixes estuarinos associada ao cultivo de Litopenaeus vannamei

observada na PRIMAR indica claramente, a viabilidade ecológica da aqüicultura orgânica no nordeste do Brasil.

Palavras chave: aqüicultura orgânica, diversidade biológica, abundância, ictiofauna, Litopenaeus vannamei, PRIMAR.

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Abstract

Abstract

The expansion of shrimp farming has caused a series of environmental impacts, often as a result of lack of planning and adequate management. Organic aquaculture has emerged as an alternative to conventional shrimp farming, and differently, aims at the economical, ecological and farming potential of other organisms, such as fishes, oysters and seaweeds. The present study aimed at evaluating the biological diversity and abundance of the ichthyofauna associated to Litopenaeus vannamei organic culture at PRIMAR farm (Rio Grande do Norte, Brazil). The sampling period consisted of four culture cycles (1, 2, 3, and 4) accomplished in four grow-out ponds (V1, V7, V2, and V4) in 2005. The first two culture cycles were carried out during the rainy season, and the last two cycles, during the dry season. Environmental (temperature, salinity, transparency, and rainfall), biodiversity (diversity and uniformity and abundance indexes) of the ichthyofauna, and shrimp productivity data were collected throughout these four culture cycles. The results obtained for the environmental variables showed that both salinity and transparency oscillated in a significant way (p < 0.001) between culture cycles. In relation to the abundance of the ichthyofauna, fifty four species associated to the organic culture of Litopenaeus vannamei were collected and identified at PRIMAR. For the biodiversity criterion, larger species richness (S = 46) and uniformity (E = 0.59 ± 0.16) were observed during cycles 3 and 4 than in cycles 1 and 2 (S = 41 and E = 0.15 ± 0.12). A positive and significant correlation was obtained for the transparency with diversity and uniformity of fish species between cycles 1 and 2 (wet season) and cycles 3 and 4 (dry season) (p < 0.017 - Shannon Index; p < 0.008 - Pielou Index, respectively). A correlation could not be established between shrimp productivity and fish biomass. However, fish biomass decreased from cycles 1 and 2 to cycles 3 and 4, concomitant with an increase in shrimp productivity, most probably due to a higher (from 58.0% to 71.0%) shrimp survival. Regarding the culture potential of the ichthyofauna, three species (Mugil curema, Mugil liza and Chaetodipterus faber)were identified as potential farming alternatives, either singly or in consortium with Litopenaeus vannamei. A fourth species (Centropomus undecimalis) was indicated as an alternative for single culture or in consortium with other fish species. In conclusion, the large diversity of estuarine fishes associated to Litopenaeus vannamei farming observed at PRIMAR clearly indicated the ecological feasibility for organic aquaculture in northeastern Brazil.

Key words: organic aquaculture, biological diversity, abundance, ichthyofauna, Litopenaeus vannamei, PRIMAR.

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Sumário

Sumário

Resumo ...................................................................................................................................... V

Abstract ..................................................................................................................................... VI

Lista de Tabelas...................................................................................................................... VIII

Lista de Figuras ........................................................................................................................ IX

1. Introdução ............................................................................................................................ 01

2. Objetivos ............................................................................................................................. 05

3. Material e Métodos .............................................................................................................. 06

3.1. Descrição e Caracterização da Área de estudo ............................................................. 06

3.2. Período Amostral ............................................................................................................. 11

3.3. Sazonalidade ................................................................................................................... 12

3.4. Coleta de Dados .............................................................................................................. 12

3.4.1. Variáveis Ambientais .................................................................................................. 12

3.4.2. Dados Biológicos ........................................................................................................ 13

3.4.2.1. Despesca, contagem e pesagem da ictiofauna ................................................... 13

3.4.2.2. Fotografia, identificação e descrição das espécies ............................................. 16

3.5. Critérios de Avaliação ...................................................................................................... 17

3.5.1. Índices de Biodiversidade ........................................................................................... 17

3.5.2. Índices de Produtividade ............................................................................................ 20

3.5.3. Importância Comercial ............................................................................................... 21

3.6. Análises Estatísticas ....................................................................................................... 21

4. Resultados ........................................................................................................................... 23

4.1. Variáveis Ambientais ....................................................................................................... 23

4.1.1. Ciclos de cultivo 1 e 2 ................................................................................................ 23

4.1.2. Ciclos de cultivo 3 e 4 ................................................................................................ 24

4.2. Dados Biológicos ............................................................................................................. 26

4.2.1. Diversidade, abundância e uniformidade da ictiofauna ............................................ 26

4.2.2. Biodiversidade associada à Sazonalidade .................................................................. 31

4.2.3. Índices de Produtividade ............................................................................................ 31

4.2.4. Importância Comercial ............................................................................................... 32

5. Discussão ................................................................................................................... 39

6. Referências Bibliográficas ................................................................................................ 45

7. Anexos ............................................................................................................................... 51

7.1. Anexo 1. Fotografias de quarenta e seis espécies coletadas na PRIMAR em 2005 ...

......................................................................................................................................... 51

7.2. Anexo 2. Sinopse dos táxons encontrados na PRIMAR em 2005 ............................. 59

VII

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Lista de Tabelas

Lista de Tabelas

I. Tabela 1. Síntese das principais informações referentes ao período amostral nos quatro

ciclos de cultivo estudados na PRIMAR em 2005 ............................................... pág. 12

II. Tabela 2. Fórmulas dos seis parâmetros ecológicos utilizados na avaliação

ictiofaunística dos peixes coletados na PRIMAR ................................................. pág. 20

III. Tabela 3. Resultados das variáveis ambientais monitoradas nos ciclos de cultivo 1 e 2

na PRIMAR .....................................................................................................,... pág. 23

IV. Tabela 4. Resultados das variáveis ambientais monitoradas nos ciclos de cultivo 3 e 4

na PRIMAR ......................................................................................................... pág. 24

V. Tabela 5. Comparação de médias pelo Teste-t para as variáveis ambientais

pertencentes aos ciclos 1 e 2 (estação chuvosa) e 3 e 4 (estiagem) na PRIMAR ...........

.............................................................................................................................. pág. 25

VI. Tabela 6. Análise ictiofaunística durante os ciclos 1 e 2 (estação chuvosa) e 3 e 4

(estiagem) na PRIMAR ................................................,...................................... pág. 28

VII. Tabela 7. Abundância Relativa e Dominância das espécies de peixe nos ciclos 1 e 2 na

PRIMAR ..................................................................................,........................... pág. 29

VIII. Tabela 8. Abundância Relativa e Dominância das espécies de peixe nos ciclos 3 e 4 na

PRIMAR ................................................................................,............................. pág. 30

IX. Tabela 9. Correlação de Pearson entre as variáveis ambientais: transparência (Transp)

e salinidade (Sal) e os índices de biodiversidade: Riqueza, Índice de Shannon (I.

Shannon) e Índice de Pielou (I. Pielou) nos quatro ciclos de cultivo na PRIMAR ............

............................................................................................................................. pág. 31

X. Tabela 10. Produtividade de peixes e camarões (kg/ha/ciclo) durante os ciclos 1, 2, 3 e

4 na PRIMAR ...................................................................................................... pág. 32

XI. Tabela 11. Importância Comercial das espécies de peixes nos ciclos 1 e 2 na PRIMAR

............................................................................................................................. pág. 33

XII. Tabela 12. Importância Comercial das espécies de peixes nos ciclos 3 e 4 na PRIMAR

............................................................................................................................. pág. 34

VIII

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Lista de Figuras

Lista de Figuras

I. Figura 1. Mapa de localização da área de estudo ............................................... pág. 06

II. Figura 2. Fazenda PRIMAR – Tibau do Sul/RN .................................................. pág. 07

III. Figura 3. Abastecimento e drenagem da PRIMAR .............................................. pág. 08

IV. Figura 4. Layout da PRIMAR destacando os viveiros de estudo (V1, V2, V4 e V7)

.............................................................................................................................. pág. 11

V. Figura 5. Manejo da despesca: a – comporta do tipo monje, onde era acoplado o Bag

Net; b – mesa de triagem posicionada próxima ao viveiro; c – peixes e camarões na 1ª

tela (10mm) da mesa de triagem; d – peixes pequenos apanhados pela 2ª tela (5mm)

posicionada estrategicamente embaixo da mesa de triagem; e – recipiente plástico

graduado (20L), onde era feita a contagem dos peixes pequenos; f – Após pesagem

em campo, os peixes eram levados ao laboratório para serem identificados e

fotografados ........................................................................................................ pág. 15

VI. Figura 6. Aspectos morfológicos utilizados na identificação dos peixes coletados

............................................................................................................................. pág. 17

VII. Figura 7. Variáveis ambientais (valores médios) monitoradas durante os ciclos 1, 2

(estação chuvosa) e 3 e 4 (estiagem) na PRIMAR ............................................. pág. 25

VIII. Figura 8. Concentração da dominância entre duas espécies durante os ciclos 1 e 2 na

PRIMAR .............................................................................................................. pág. 26

IX. Figura 9. Distribuição da dominância entre várias espécies durante os ciclos 3 e 4 na

PRIMAR .............................................................................................................. pág. 27

X. Figura 10. Espécime de Centropomus undecimalis coletado no ciclo 1 (estação

chuvosa) na PRIMAR ......................................................................................... pág. 35

XI. Figura 11. Espécime adulto de Mugil curema coletado no ciclo 2 (estação chuvosa) na

PRIMAR .............................................................................................................. pág. 36

XII. Figura 12. Espécime adulto de Mugil liza coletado no ciclo 3 (estiagem) na PRIMAR

............................................................................................................................. pág. 37

XIII. Figura 13. Espécime juvenil de Chaetodipterus faber coletado no ciclo 4 (estiagem) na

PRIMAR .............................................................................................................. pág. 38

IX

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1

1. Introdução

A aqüicultura, sistema de produção de alimento através do cultivo de

organismos aquáticos, tem se tornado uma importante atividade do setor

primário da economia nesse último quarto de século. Atualmente, contribui com

uma produção anual média de aproximadamente 59,4 milhões de toneladas de

peixes, algas e invertebrados (FAO, 2006). A aqüicultura tem crescido mais

rapidamente do que qualquer outra atividade do setor de produção de alimento

de origem protéica, fornecendo mais de 30% da demanda de proteína animal

em alguns países tropicais em desenvolvimento.

Um dos ramos da aqüicultura, a carcinicultura marinha, originada há

milhares de anos na região do Mediterrâneo, tem se tornado uma das

principais atividades de produção de alimentos na zona costeira de alguns

países em desenvolvimento (BAILEY, 1998). Essa atividade experimentou um

rápido crescimento durante as três últimas décadas. No início da década de 70,

a contribuição da carcinicultura para o mercado mundial de camarões era

inferior a 11%; no final da década de 80, essa atividade já respondia por 24,1%

do mercado mundial para esse produto; aumentando então para 28 e 29% na

década de 90 (BARBIERI JÚNIOR & OSTRENSKY NETO, 2002). Segundo

BURFORD et al (2003), a demanda global por camarões, a qual não pode ser

atendida apenas pelo extrativismo, continua a crescer e receber fortes

incentivos econômicos para o desenvolvimento de práticas de cultivos semi-

intensivos e intensivos que complementam o extrativismo e reduzem a pressão

sobre os estoques naturais desse crustáceo (COSTANZO et al, 2004).

Porém, a expansão descontrolada dessa atividade tem ocasionado

uma série de impactos ambientais e sócio-econômicos, resultantes muitas

vezes, da falta de planejamento e de gerenciamentos inadequados. Em

relação aos impactos ambientais, são ocorrentes: a transferência de doenças e

parasitas para as populações de camarões nativos, a introdução de material

Introdução

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2

genético exótico, a perda de habitat e nicho espacial, as mudanças nas teias

alimentares, o desmate de mangue, a liberação de nutrientes e produtos

químicos nos estuários, entre outros (KAUSTKY et al, 2000a), que têm

comprometido, sobretudo, a qualidade da água dos sistemas de cultivo, assim

como, a dos corpos receptores (LIN, 1989; NAYLOR et al, 1998, 2000). Por sua

vez, a marginalização de pescadores e agricultores, a depleção de água

potável, a diminuição dos estoques pesqueiros estuarinos, entre outros, são

exemplos de impactos sócio-econômicos causados por esta atividade.

Entretanto, há algumas alternativas de como tornar a carcinicultura

ambientalmente e sócio-economicamente sustentável (MACINTOSH &

PHILLIPS, 1992; KAUSTSKY et al, 2000ab; RÖNNBÄCK, 2001).

O cultivo orgânico de camarões pode ser considerado como uma das

alternativas para uma carcinicultura sustentável por apresentar características

peculiares, tais como: mitigação dos impactos ambientais gerados; a não

utilização de alguns insumos (e.g. rações, produtos químicos etc); a diminuição

de outros (e.g. mão-de-obra, energia, pós-larvas etc); o policultivo associado,

aproveitando o potencial econômico e ecológico de outros organismos; a

obtenção de alimentos mais saudáveis; o bem estar animal e a justiça social.

De forma geral, o cultivo orgânico é definido como um sistema de

manejo holístico da produção que promove a melhoria da saúde do

ecossistema, incluindo os ciclos e atividades biológicas da água e do solo. Em

outras palavras, o cultivo orgânico procura utilizar o mínimo possível de

insumos externos, além de evitar os produtos sintéticos. Segundo WAINBERG

et al (2004), para que um cultivo seja considerado orgânico, ele deve seguir

algumas restrições e diretrizes, que são: 1) deve-se utilizar métodos de

produção com produtos inteiramente naturais; 2) não deve haver alteração das

características ecológicas funcionais do ecossistema; 3) deve-se manter

distância de fontes poluidoras ou de outras formas de aqüicultura convencional;

4) devem ser adotadas medidas preventivas de modo a proteger e conservar

os recursos hídricos da propriedade e do entorno; 5) o sistema deve ser

Introdução

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3

projetado de forma a permitir o desenvolvimento do comportamento natural e

fisiológico dos indivíduos; 6) não é permitida a oxigenação do sistema e nem o

aumento da densidade de estocagem; 7) o tratamento da água, quando

necessário, deve privilegiar métodos naturais e produtos orgânicos e

inorgânicos atóxicos; por fim, 8) sempre que possível, deve-se utilizar espécies

nativas ou locais.

Na aqüicultura orgânica, as relações ecológicas entre os níveis tróficos

(i.e. produtores, consumidores e decompositores) são modeladas em função da

cadeia de detritos, sendo dependentes do fluxo de nutrientes e energia.

Ecologistas têm reconhecido a crescente necessidade de se compreender o

quanto estão interligadas as redes alimentares e os ambientes (POLIS et al,

2004). Fluxos de organismos, detritos, nutrientes e outros materiais pelos

ambientes podem fortemente afetar as teias alimentares recipientes (VANNI &

HEADWORTH, 2004). Entradas de detritos ou organismos, tais como peixes

em uma rede alimentar aquática, podem causar efeitos complexos que

dependem sobretudo, da posição trófica de entrada desses subsídios. Em

ambientes estuarinos, por exemplo, a entrada de detritos pode aumentar a

abundância de peixes e outros organismos detritívoros na rede alimentar, que

por sua vez, pode aumentar seus efeitos sobre outras espécies através de

diversas rotas: direta e indireta.

Os estuários, que são regiões de transição, apresentam variações

sazonais e também diurnas em seus parâmetros ambientais, como:

temperatura, salinidade e maré, ocasionando mudanças na produção primária

(FLORES-VERDUGO et al, 1990) e, conseqüentemente, na composição

ictiofaunística (OLIVEIRA NETO et al, 2004). Estudos indicam que as variáveis

ambientais como precipitação, temperatura, salinidade e transparência da água

influenciam a abundância e a composição específica de peixes nos estuários

(RAMOS & VIEIRA, 2001). Por sua vez, interações biológicas como predação e

competição podem ser igualmente importantes na estruturação das

assembléias de peixes nos estuários. Além disso, regiões estuarinas

Introdução

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4

apresentam grande variedade de habitats e aporte de nutrientes, o que justifica

sua função como criadouros de diversas espécies de peixes, pertencentes a

diversas famílias de importância comercial e recreacional (PICHLER, 2005),

dependendo, sobretudo, do estágio de vida e das necessidades biológicas que

possuem.

No entanto, não há estudos direcionados a um diagnóstico preciso e

completo sobre a participação ecológica das espécies ictiofaunísticas que

interagem em um cultivo orgânico em regiões estuarinas, e sobre a importância

de cada uma para a boa saúde e produtividade do sistema. Por esta razão,

podem ser feitos vários questionamentos sobre a ictiofauna associada à

aqüicultura orgânica. Entre eles: Ocorrem mudanças significativas nas

variáveis ambientais entre diferentes estações em um determinado

ecossistema orgânico? Qual a riqueza de espécies observada em um

determinado ecossistema orgânico estuarino? Ocorrem mudanças sazonais na

biodiversidade das espécies? Quantas e quais espécies são dominantes em

cada estação? De acordo com os hábitos alimentares das espécies

associadas, sobretudo das espécies predadoras, há prejuízos estatisticamente

comprovados na produtividade da espécie-alvo? Quantas e quais espécies

identificadas apresentam potencial de cultivo? As respostas para essas

questões podem vir a auxiliar no desenvolvimento de consórcios entre diversos

organismos, podendo esses vir a serem explorados de uma forma mais

eficiente, tanto econômica quanto social e ecologicamente, do que nas formas

convencionais dessa atividade.

Introdução

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2. Objetivos

2.1. Objetivo Geral

� O presente estudo tem como objetivo geral, caracterizar ecologicamente

a ictiofauna associada ao cultivo orgânico de Litopenaeus vannamei

(BOONE, 1931) na fazenda PRIMAR de aqüicultura orgânica (laguna de

Guaraíras, Tibau do Sul, Rio Grande do Norte, Brasil).

2.2. Objetivos Específicos

� Avaliar a biodiversidade e a distribuição da ictiofauna em quatro ciclos

de cultivo orgânico de Litopenaeus vannamei realizados nas estações

chuvosa e de estiagem do ano de 2005, na PRIMAR.

� Associar a composição da ictiofauna à produtividade obtida em quatro

ciclos de cultivo orgânico de Litopenaeus vannamei realizados nas

estações chuvosa e de estiagem.

� Discriminar as principais espécies de peixe identificadas no presente

estudo em relação ao seu potencial de cultivo (independente ou em

consórcio com Litopenaeus vannamei).

Objetivos

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3. Material e métodos

3.1. Descrição e Caracterização da Área de Estudo

Localização - A área de estudo (Figuras 1 e 2), ou seja, a fazenda de

aqüicultura orgânica PRIMAR, com 463.759.18 m2 (� 46,37 ha) de área total,

localiza-se no sítio São Félix, município de Tibau do Sul/RN, a

aproximadamente 90 km de Natal, às margens do sistema estuarino-lagunar

Guaraíras, e nas seguintes coordenadas geográficas em UTM: 9312141 de

Latitude Sul e 263213 de Longitude Oeste.

Figura 1. Mapa de localização da área de estudo.

Fonte: IDEMA/CESE

Material e métodos

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Área Produtiva – A PRIMAR possui 42,4 ha de área produtiva. Dessa,

40,5 ha equivale à área de lâmina d’água, correspondente a doze viveiros com

dimensões variando de 2 a 7 ha e profundidades médias de 0,60 a 1,80 m. Por

sua vez, os canais (abastecimento/drenagem) e os diques perfazem uma área

de aproximadamente 1 e 0,9 ha, respectivamente.

Abastecimento – A água da PRIMAR é proveniente do sistema

estuarino-lagunar Guaraíras, que em função dos fluxos das marés adentra um

canal artificial a oeste da fazenda, com tela de 10 mm de malha, posicionada a

Figura 2. Fazenda PRIMAR – Tibau do Sul/RN.

Material e métodos

Fonte: SIGGA-IDEMA

Mangue

Laguna Guaraíras

Viveiros

Planície flúvio-marinha

Legenda

Escala1: 35.000

PRIMAR

N

S

O L

Rio Jacú

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8

uma distância de dez metros do ponto de sucção, e que se comunica a

montante com o rio Jacú. Então, através de bombeamento, a água segue para

o canal de abastecimento central, com aproximadamente 1100 metros de

extensão (Figura 3). Nesse processo são utilizadas duas bombas de 30 cv de

potência e 500 L/s de vazão, cada. Em seguida, o abastecimento de água nos

viveiros é realizado por gravidade através das comportas de abastecimento,

que por sua vez, possuem telas de 1 mm de malha. Por fim, ainda em relação

ao abastecimento, ocorre uma pequena reposição diária da água, cerca de 2%

da capacidade volumétrica dos viveiros.

Drenagem – Os viveiros drenam a água do processo produtivo por

gravidade para um canal de drenagem periférico, com aproximadamente 1620

metros de extensão (Figura 3), que deságua no rio Jacú. Na despesca, a água

é totalmente drenada dos viveiros, para só então ser iniciado um novo ciclo de

cultivo.

Material e métodos

canal artificial

canal de abastecimentocanal de drenagem

Rio Jacú

Figura 3. Abastecimento e drenagem da PRIMAR.

Fonte: IKONOS - 2004

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9

Fertilização – Como no cultivo orgânico realizado na PRIMAR não há

uso de rações, toda produção no sistema é baseada na transferência natural

dos nutrientes através da cadeia alimentar do viveiro até o organismo cultivado,

incrementada pela introdução equilibrada de fertilizantes de origem vegetal,

fermentados (BOKASHI) e microorganismos probióticos (EM-4), para equilíbrio

do ecossistema. O BOKASHI é o principal fertilizante orgânico utilizado pela

agricultura orgânica. É feito a partir da decomposição anaeróbica da matéria

vegetal com EM-4. No caso da PRIMAR, farelos vegetais tais como farelo de

trigo, soja, torta de algodão e outros são misturados em proporções adequadas

com melaço de cana e EM-4 e fermentados anaerobicamente por duas

semanas. O EM-4, por sua vez, é um líquido que contém vários grupos de

microorganismos com funções diferentes, tais como bactérias produtoras de

ácido lático, bactérias fotossintéticas, leveduras e fungos actinomicetos

isolados a partir do húmus das florestas. Esta cultura atua na decomposição da

matéria orgânica disponibilizando os nutrientes nela contidos para o

ecossistema. Nos viveiros, a aplicação de EM-4 impede a acumulação de

matéria orgânica no solo, responsável pela formação de sedimentos

anaeróbicos, os quais quando ressuspendidos acarretam em altas taxas de

DBO e sólidos suspensos durante as despescas.

Densidade de Cultivo – O cultivo orgânico da PRIMAR é realizado em

três etapas, com densidades diferentes em cada uma, sendo a primeira, de

maior densidade, cerca de 35 a 50 camarões/m2, correspondendo a etapa de

berçário das pós-larvas (de 1g cada) recém chegadas da larvicultura; de 4 a 6

camarões/m2, correspondendo a etapa de produção de camarão médio (9-11g)

e de 2 a 3 camarões, correspondendo a etapa de produção de camarão grande

(> 20g). Cada etapa é realizada em viveiros diferentes e ocorre transferência

dos camarões por meio de tubos hidráulicos de até 600 metros de

comprimento. As transferências são realizadas à medida que o alimento vai se

esgotando em cada viveiro e para atender às necessidades do produtor em

relação às densidades e necessidades do mercado em relação ao produto

(médio ou grande).

Material e métodos

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10

Policultivo Associado – São mantidos dentro dos viveiros de cultivo

além dos camarões, organismos como: ostras, que agem como biofiltros de

plâncton e matéria particulada; peixes; siris e caranguejos, que auxiliam no

status de saúde do ecossistema, através das redes tróficas e seleção natural,

predando os organismos doentes e/ou fracos. Os peixes, em suas formas

embrionárias e larvais, adentram o canal de abastecimento central vindos do

bombeamento do rio Jacú, passando por tela de 10 mm e daí para os viveiros

passando por telas de 1 mm, acopladas nas comportas de abastecimento.

Aspectos Fisiográficos – A área de estudo situa-se em terreno sob

influência do fluxo e refluxo das marés, que o inundam periodicamente. A

laguna de Guaraíras tem seu canal de abertura com o mar bastante longo, o

que permite trocas de água entre o ambiente estuarino e o mar, favorecendo a

presença de água salgada na área dos viveiros mesmo em períodos de maior

incidência de chuvas. Possui uma faixa de salinidade regular, entre 20 e 30 ‰,

um pH ligeiramente ácido, em torno de 6,0, e com vegetação composta por

vegetação costeira (e.g. vegetação fixadora de dunas, árvores de pequeno

porte e gramíneas), resquícios de mata atlântica, mata de várzea e manguezal.

Em relação aos solos, predominam na área de estudo as areias quartozas

distróficas de fertilidade natural extremamente baixa, textura arenosa,

característica de solos excessivamente drenados e profundos. Também existe

a presença de solos de mangues que possuem textura areno-argilosa,

contendo elevado conteúdo de sais. Quanto à geologia, a área de estudo

localiza-se na sub-bacia Canguaretama, onde ocorrem sedimentos de idade

cretácea até o recente, sendo o pacote sedimentar o maior representante desta

área. Por fim, em relação ao clima, ocorre nesta região predominância do tipo

climático As’ segundo a classificação de Köppen; ou seja, clima tropical

chuvoso com verão seco e estação chuvosa se adiantando para o outono. A

precipitação média oscila entre 1.300 a 1.500 mm (IDEMA, 2004).

Material e métodos

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11

3.2. Período Amostral

O período amostral consistiu de quatro despescas realizadas após

quatro ciclos de cultivo orgânico do camarão marinho Litopenaeus vannamei

nos viveiros: V1, V2, V4 e V7 (Figura 4).

Duas amostragens foram realizadas durante a estação chuvosa e duas

durante a estiagem. As amostragens da ictiofauna foram realizadas durante as

Material e métodos

Figura 4. Layout da PRIMAR destacando os viveiros de estudo (V1, V2, V4 e V7).

V1

5,40 ha6,10 ha

6,40 ha

7,10 ha

Canal de drenagem

Canalde

abastecimentoManguezal

Rio Jacú

Bombas

N

V2

V7

V4

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despescas de cada um dos quatro viveiros: as duas primeiras, nos viveiros 1 e

7, foram distribuídas ao longo da estação chuvosa e realizadas em meados de

agosto de 2005 (ciclos 1 e 2); e as duas últimas, nos viveiros 2 e 4, distribuídas

ao longo da estiagem e realizadas em novembro do mesmo ano (ciclos 3 e 4)

(Tabela 1).

Tabela 1. Síntese das principais informações referentes ao período amostral nos

quatro ciclos de cultivo estudados na PRIMAR em 2005.

Ciclos 1 2 3 4

Viveiros 1 7 2 4

Área dos viveiros (ha) 5,40 7,10 6,10 6,40

Data da despesca (dia/mês) 02/08 30/08 09/11 23/11

Duração do ciclo (dias) 83 152 51 94

3.3. Sazonalidade

Os dados de biodiversidade e produtividade foram coletados

sazonalmente para as duas estações definidas (i.e. chuvosa e de estiagem), e

compilados em tabelas a partir das duas amostras (ciclos) por estação e, por

fim, correlacionados com as variáveis ambientais.

3.4. Coleta de Dados

3.4.1. Variáveis Ambientais

Para a caracterização da ictiofauna na área de estudo e sua variação ao

longo do tempo, foram levantados em cada um dos quatro ciclos estudados,

dados pertencentes às variáveis ambientais, tais como: temperatura (ºC),

monitorada por termômetro analógico (10 - 120ºC), salinidade (‰), através de

densímetro analógico (Aquarium Systems) e transparência (cm), aferida

através de disco de Secchi. Todas essas variáveis foram monitoradas

semanalmente pela própria fazenda. Também, foram levantados dados

Material e métodos

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13

pertencentes à precipitação (mm), que para esse estudo foi a ferramenta mais

importante no diagnóstico de possíveis flutuações na composição da ictiofauna

entre dois períodos amostrais (i.e. estação chuvosa e de estiagem do ano de

2005). Essa, por sua vez, foi monitorada diariamente pela EMPARN através de

pluviômetros localizados na delegacia de Tibau do Sul e indicada em tabela

através de: média, desvio padrão, mínimo e máximo e pelo valor médio

acumulado, obtido a partir da média extraída das precipitações diárias

somadas dos dois ciclos estudados para cada estação.

3.4.2. Dados Biológicos

3.4.2.1. Despesca, contagem e pesagem da ictiofauna

A despesca dos peixes foi realizada em conjunto com a dos camarões,

utilizando-se para isso um bag net (7 mm2 de malha e dimensões de 8 x 2 m),

acoplado à comporta do viveiro (do tipo monge), sendo realizada

gradativamente de acordo com a descida da maré. Do bag net, os peixes

juntamente com os camarões eram colocados na mesa de triagem com tela (10

mm), onde era a feita a separação, sendo os peixes maiores postos em

monoblocos plásticos. Os peixes menores (e.g. sardinha e peixe-rei) que

passavam pela tela da mesa de triagem, caiam em uma segunda tela (5 mm)

sobre o chão. Em seguida, eles eram pegos e colocados em um saco plástico

(50L) para posterior triagem e contagem no galpão da fazenda. Esse

procedimento foi adotado para essas espécies devido a grande quantidade em

que se apresentavam. No galpão, o arenque (Lycengraulis grossidens) e o

peixe-rei (Aterinella brasiliensis) foram triados e contados por meio de

metodologia especial. Primeiramente, eles eram separados e postos em

monoblocos. Depois, eram colocados em um recipiente plástico graduado (20L)

até a marca de 1L (Figura 5), sendo feita a contagem. Em seguida, o número

de peixes contado nesse recipiente e na marca de 1L, era padronizado,

enchendo o recipiente com peixes até a marca de 20L, multiplicando então o

valor encontrado para 1L por 20; daí repetindo esse procedimento sucessivas

Material e métodos

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14

vezes até não restar mais peixes para preencher o volume de 20L. Para

finalizar o procedimento, o pouco que sobrava era contado por método de

contagem individual.

Os peixes maiores ou aqueles em menores quantidades eram colocados

em tanques plásticos de 500L para facilitar a contagem e triagem, segundo

suas espécies, que era realizada no próprio local da coleta.

Ao término da despesca, os peixes maiores eram postos em

monoblocos plásticos e os peixes pequenos colocados em saco plástico (50L).

Em seguida, era realizada a pesagem total dos monoblocos e saco plástico por

meio de uma balança de mão (22kg/50lb) e estimada a biomassa total de

peixes no viveiro. A biomassa dos camarões, por sua vez, era estimada

primeiramente in situ, em tanques plásticos de 500L e só posteriormente

aferida através da pesagem dos monoblocos em uma balança analógica

FILIZOLLA.

Material e métodos

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15

a b

c d

e f

Figura 5. Manejo da despesca: a – comporta do tipo monje, onde era acoplado o Bag Net;b – mesa de triagem posicionada próxima ao viveiro; c – peixes e camarões na 1ª tela(10mm) da mesa de triagem; d – peixes pequenos apanhados pela 2ª tela (5mm)posicionada estrategicamente embaixo da mesa de triagem; e – recipiente plásticograduado (20L), onde era feita a contagem dos peixes pequenos; f – Após pesagem emcampo, os peixes eram levados ao laboratório para serem identificados e fotografados.

Material e métodos

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16

3.4.2.2. Fotografia, identificação e descrição das espécies

Todas as espécies coletadas foram previamente fotografadas no local

(maquina digital CANON ZR50MC). Alguns exemplares foram postos em sacos

plásticos (1L) e posteriormente levados ao Departamento de Oceanografia e

Limnologia (DOL/UFRN) dentro de um recipiente de poliestireno (20L) com gelo

para identificação, conforme características morfológicas-chave (Figura 6), tais

como: a) diâmetro do olho; b) comprimento do focinho; c) altura do corpo; d)

comprimento da nadadeira caudal; e) comprimento do pedúnculo caudal; f)

altura do pedúnculo caudal; g) base da nadadeira dorsal (contagem de raios

duros e moles); h) nadadeira anal (contagem de raios duros e moles); i)

nadadeira peitoral (contagem de raios duros e moles); j) contagem de escamas

da linha lateral; l) contagem de rastros e raios branquiais; m) contagem de

dentes (algumas espécies); entre outras (FIGUEIREDO & MENEZES, 1978;

FIGUEIREDO & MENEZES, 1980; MENEZES & FIGUEIREDO, 1980;

MENEZES & FIGUEIREDO, 1985; FIGUEIREDO & MENEZES, 2000;

CERVIGÓN et al, 2002; MENEZES et al, 2003). Após a identificação, os peixes

foram novamente fotografados (maquina digital CANON ZR50MC). A descrição

das espécies foi realizada conforme CARVALHO-FILHO (1999) e FROESE &

PAULY (2006).

Material e métodos

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17

3.5. Critérios de Avaliação

3.5.1. Índices de Biodiversidade

Entre os critérios de avaliação foram considerados de suma importância

para a caracterização da ictiofauna associada ao cultivo orgânico, os índices

ecológicos para estudo da biodiversidade, ou seja, da diversidade,

Material e métodos

j

Figura 6. Aspectos morfológicos utilizados na identificação dos peixes coletados.

a

b

c

def

h

i

m l

g

a – diâmetro do olho;

b – comprimento do focinho;

c – altura do corpo;

d – comprimento da nadadeira caudal;

e – comprimento do pedúnculo caudal;

f – altura do pedúnculo caudal;

g – nadadeira dorsal (raios duros e moles);

h – nadadeira anal (raios duros e moles);

i – nadadeira peitoral (raios duros e moles);

j – número de escamas da linha lateral;

l – número de rastros e raios branquiais;

m – número de dentes.

Legenda

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18

uniformidade e abundância de spp, dentre os quais, foram utilizados os

seguintes:

1) Riqueza (S): também chamada de densidade de spp, baseada no

número absoluto de spp (N) presentes na comunidade de determinado local, é

o conceito mais simples e antigo de biodiversidade. No entanto, é importante

ressaltar que a mera informação sobre a riqueza de um determinado nível

trófico em uma área qualquer de um ecossistema é tida como falha e

incompleta, por não considerar a uniformidade, ou seja, a identidade das

espécies presentes na comunidade, definida como a sua composição.

2) Índice de riqueza de Margalef (Dm): também chamado de índice de

biodiversidade de Margalef, é uma medida utilizada em ecologia para estimar a

biodiversidade de uma comunidade com base na distribuição numérica dos

indivíduos das diferentes espécies (MARGALEF, 1968). Quanto maior for o

valor do índice, maior será a biodiversidade da comunidade amostrada. Valores

acima de 5,0 significam grande riqueza biológica.

3) Abundância Relativa (AR%): componente da uniformidade que

informa a proporção (%) de indivíduos de uma espécie em relação ao total de

indivíduos da amostra, importante principalmente por informar o quanto uma

espécie é mais comum ou mais rara em relação às outras;

4) Dominância: Uma espécie é considerada dominante quando

apresenta abundância relativa superior a 1/S, e rara, quando apresenta uma

freqüência inferior a 1/S, onde S (riqueza) é o número total de espécies na

comunidade;

5) Índice de Simpson: É um índice de dominância o qual reflete a

probabilidade de dois indivíduos escolhidos ao acaso na comunidade

pertencerem a mesma espécie. Varia de 0 a 1 e quanto mais alto for, maior a

Material e métodos

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19

probabilidade de os indivíduos serem da mesma espécie, ou seja, maior a

dominância e menor a diversidade (SIMPSON, 1949; URAMOTO, 2005);

6) Índice de Shannon-Weaver: atribui um peso maior às espécies raras e

mede o grau de incerteza em prever a que espécie pertencerá um indivíduo

escolhido ao acaso, de uma amostra com S espécies e N indivíduos. É um dos

melhores para ser usado em comparações caso não haja interesse em se

separar os dois componentes da diversidade (riqueza e uniformidade). Quanto

menor o valor do índice, menor o grau de incerteza, portanto a diversidade é

baixa (SHANNON-WEAVER, 1949; URAMOTO, 2005);

7) Índice de Pielou: é um índice de uniformidade, o qual indica como a

abundância está distribuída entre as espécies de uma comunidade. Quando

todas as espécies em uma amostra são igualmente abundantes, esse índice

deve assumir valor máximo e decresce tendendo a zero à medida que as

abundâncias relativas das espécies divergirem desta igualdade. A uniformidade

segundo PIELOU (1975), tem relação direta com a diversidade e demonstra a

riqueza de espécies presentes (KREBS, 1978; LUDWIG & REYNOLDS, 1988).

Para a visualização das fórmulas de todos os índices de biodiversidade

descritos acima, ver Tabela 2.

Material e métodos

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20

Tabela 2. Fórmulas dos seis parâmetros ecológicos utilizados na avaliação

ictiofaunística dos peixes coletados na PRIMAR.

Parâmetros Fórmulas

S = N; onde N = número total de espécies.

2) Índice de riqueza

de MargalefDm = (S-1)/ ln(N)

onde Dm é a diversidade, S é a riqueza e

N é o número total de indivíduos

encontrados.

3) Abundância

Relativa (AR%)

onde ni: número de indivíduos da espécie

i e N: total de indivíduos da amostra.

4) Dominância onde S é a Riqueza de espécies na

amostra.

5) Índice de Simpson onde pi: freqüência de cada espécie, para

i variando de 1 a S (Riqueza).

6) Índice de Shannon-

Weaver

onde pi: freqüência de cada espécie, para

i variando de 1 a S (Riqueza).

7) Índice de Pielouonde : H’ = Índice de Shannon e S =

riqueza.

3.5.2. Índices de Produtividade

Os índices de produtividade foram utilizados para avaliar a produção de

peixes e camarões, estimados através da biomassa em kg por hectare por ciclo

ni

H´ = -� (pi .log. pi);1

s

E = H’/ log S ;

pi = ;N

2� = � . p ;

s

1i

D > (dominante);S

1

D < (rara);S

1

1) Riqueza

Material e métodos

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21

de cultivo. Através desses índices foi possível afirmar se a presença da

ictiofauna prejudicou ou não a produção do camarão.

3.5.3. Importância Comercial

As espécies coletadas foram consideradas importantes comercialmente

para três atividades econômicas: 1) pesca; 2) aquariofilia e 3) aqüicultura. A

identificação das principais espécies de peixe em relação ao seu potencial de

cultivo (independente ou em consórcio com Litopenaeus vannamei) foi

realizada através da obtenção de dados de importância comercial e também,

conforme dados referentes à biologia (distribuição, ocorrência, hábitos

alimentares e reprodução) das espécies identificadas como importantes

comercialmente para a aqüicultura (FROESE & PAULY, 2006). Por sua vez, as

espécies destinadas a aquários públicos, assim como aquelas com comércio

mínimo, sendo destinadas principalmente à pesca de subsistência de famílias

de pescadores tradicionais, foram consideradas sem importância comercial.

3.6. Análises Estatísticas

Para as análises estatísticas dos dados foram utilizadas as seguintes

ferramentas: a média aritmética, que é uma medida de tendência central; o

Desvio Padrão e Mínimo-Máximo, que são medidas de dispersão; e a ANOVA

(análise de variância), que analisa se houve variação em uma determinada

variável monitorada e o Teste-t (Dependente), que mostra quais variáveis

apresentam diferenças entre os dados comparados. Por fim, também foi

utilizada a Correlação de Pearson e o Diagrama de Dispersão, que associam

duas variáveis em estudo. As análises estatísticas referentes a ANOVA e

Teste-t foram calculadas para as variáveis ambientais, enquanto que a

Correlação de PEARSON e o Diagrama de Dispersão foram utilizados para

detectar possíveis associações entre as variáveis ambientais estudadas e os

índices de biodiversidade (riqueza, diversidade e uniformidade) e entre os

dados de produtividade obtidos (i.e. biomassa de peixes X biomassa de

Material e métodos

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camarões; biomassa de peixes e sobrevivência de camarões). Essas análises

foram calculadas através dos Softwares Statistics® 5,5 e Microsoft Excel®,

2003.

Material e métodos

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23

4. Resultados

4.1. Variáveis Ambientais

4.1.1. Ciclos de cultivo 1 e 2

Para os resultados das variáveis ambientais coletadas durante a estação

chuvosa, nos ciclos 1 e 2 (agosto/2005), os valores médios obtidos para

temperatura, salinidade e transparência estiveram dentro da faixa ideal para o

cultivo de peixes e camarões de águas quentes em viveiros (BOYD, 1989). A

temperatura variou de 26,50 a 33,00 ºC, com um valor médio de 29,11 ºC ±

1,73; já a salinidade, apresentou um valor reduzido devido a uma maior

precipitação, variando de 5,00 a 27,00 ‰, com valor médio de 13,48 ‰ ± 6,03;

a transparência, por sua vez, variou de 20,00 a 60,00 cm, com valor médio de

42,23 cm ± 7,75 e por fim, a precipitação variou grandemente de 1,10 a 600,50

mm, com média de 52,75 mm ±109,15 e valor médio acumulado para essa

estação de 1318,80 mm. Para esses dois ciclos, todas as quatro variáveis

ambientais analisadas apresentaram variação altamente significativa entre os

dados (ANOVA; P < 0,001) (Tabela 3).

Tabela 3. Resultados das variáveis ambientais monitoradas nos ciclos de cultivo 1 e 2

na PRIMAR.

ANOVAVariáveis

AmbientaisMédia ± DP

Valor Médio

AcumuladoMínimo-Máximo

Fcal P

Temperatura (ºC) 29,11± 1,73 - 26,50 - 33,00 122,15 <0,001**

Salinidade (‰) 13,48 ± 6,03 - 5,00 - 27,00 22,84 <0,001**

Transparência (cm) 42,23 ± 7,75 - 20,00 - 60,00 16,24 <0,001**

Precipitação (mm) 52,75 ± 109,15 1318,80 1,10 - 600,50 5,94 <0,001**

** Variação altamente significativa das variáveis ambientais (P < 0,001)

Resultados

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4.1.2. Ciclos de cultivo 3 e 4

Para esses dois ciclos de cultivo, estudados durante a estiagem

(novembro/2005), as variáveis ambientais: temperatura, salinidade e

transparência, também mostraram valores médios dentro da faixa ideal

estabelecida por BOYD (1989). Os valores obtidos para a temperatura, variaram

de 27,50 a 33,00 ºC, com valor médio estabelecido em 29,81 ºC ± 1,28; os

valores obtidos para a salinidade foram maiores do que os obtidos para os

ciclos 1 e 2, devido a menor precipitação e conseqüentemente menor influxo de

água doce, variando de 18,00 a 35,00 ‰, com média de 22,80 ‰ ± 5,47; a

transparência, por sua vez, apresentou valor médio (45,23 cm ± 7,67) maior do

que o observado para os ciclos 1 e 2, devido principalmente a menor turbidez

da água que cresce com o aumento da precipitação. Os valores obtidos para

essa variável flutuaram de 18,00 a 35,00 cm. Por fim, a precipitação variou de

0,30 a 51,30 mm, com média de 13,20 mm ± 15,44 e valor médio acumulado

para essa estação de apenas 72,65 mm, valor esse bem abaixo do obtido para

a estação chuvosa que foi de 1318,80 mm. Para esses dois ciclos, apenas a

temperatura e a transparência variaram de forma significativa e altamente

significativa, respectivamente (ANOVA; P < 0,05 e P < 0,001) (Tabela 4).

Tabela 4. Resultados das variáveis ambientais monitoradas nos ciclos de cultivo 3 e 4

na PRIMAR.

ANOVAVariáveis Ambientais Média ± DP

Valor Médio

Acumulado

Mínimo-

Máximo Fcal P

Temperatura (ºC) 29,81 ± 1,28 - 27,50 - 33,00 4,34 <0,05*

Salinidade (‰) 22,80 ± 5,47 - 18,00 - 35,00 3,94 0,07

Transparência (cm) 45,23 ± 7,67 - 30,00 - 65,00 57,74 <0,001**

Precipitação (mm) 13,20 ± 15,44 72,65 0,30 - 51,30 0,47 0,71

* Variação significativa das variáveis ambientais (P < 0,05)

** Variação altamente significativa das variáveis ambientais (P < 0,001)

Resultados

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25

A comparação entre os dois primeiros ciclos, realizados durante a

estação chuvosa, e os dois últimos, realizados durante a estiagem, para as

médias obtidas para cada uma das quatro variáveis ambientais (i.e.

temperatura, salinidade, transparência e precipitação), mostrou que apenas a

salinidade e transparência diferiram de forma altamente significativa para um

nível de significância de 5% (Teste-t; P < 0,001) (Tabela 5 e Figura 7).

Tabela 5. Comparação de médias pelo Teste-t para as variáveis ambientais

pertencentes aos ciclos 1 e 2 (estação chuvosa) e 3 e 4 (estiagem) na PRIMAR.

Variáveis AmbientaisTeste-t (� = 5%)

t p

Temperatura (ºC) -1,18 0,25

Salinidade (‰) -9,1 <0,001**

Transparência (cm) -3,82 <0,001**

Precipitação (mm) 2,61 <0,05*

*Variação significativa das variáveis ambientais (P < 0,05)

** Variação altamente significativa das variáveis ambientais (P < 0,001)

Resultados

Variáveis Ambientais

Figura 7. Variáveis ambientais (valores médios) monitoradas durante os ciclos 1 e 2(estação chuvosa) e 3 e 4 (estiagem) na PRIMAR.

Val

ore

sm

édio

so

bti

do

s

Variáveis Ambientais – Ciclos 1, 2, 3 e 4

Ciclos 1 e 2

Ciclos 3 e 4

Legenda

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26

4.2. Dados Biológicos

4.2.1. Diversidade, abundância e uniformidade da ictiofauna

No geral, foram coletadas e identificadas cinqüenta e quatro espécies e

vinte e seis famílias de peixes associadas ao cultivo orgânico de Litopenaeus

vannamei.

Nas despescas referentes aos ciclos 1 e 2 foi coletado um total de

31.945 peixes pertencentes a vinte e duas famílias e quarenta e uma espécies.

A espécie mais abundante, com 28.007 indivíduos (87,67%), foi Lycengraulis

grossidens. Em seguida, Aterinella brasiliensis com 2.408 exemplares (7,54%),

Mugil curema com 235 (0,73%), Eucinostomus argenteus com 207 (0,65%) e

Diapterus olisthotomus com 174 indivíduos coletados (0,54%). Para esses dois

ciclos, apenas duas espécies foram dominantes (Lycengraulis grossidens e

Aterinella brasiliensis), enquanto trinta e nove espécies foram consideradas

não-dominantes (Tabelas 7; Figura 8).

Por sua vez, nos ciclos 3 e 4 foi coletado um total de 4.736 peixes, o que

caracteriza uma diminuição significativa na abundância total em relação aos

dois primeiros ciclos. Por outro lado, uma maior riqueza foi observada em

Resultados

Dominância – Ciclos 1 e 2

Figura 8. Concentração da dominância entre duas espécies durante os ciclos 1 e 2 na PRIMAR.

Espécies

Ab

un

dân

cia

Rel

ativ

a(%

)

Lycengraulis grossidens

Aterinella brasiliensis

não-dominantes

Legenda

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27

relação aos ciclos 1 e 2, sendo coletadas vinte e quatro famílias e quarenta e

seis espécies. Uma maior abundância relativa foi observada para Lycengraulis

grossidens, com 1670 indivíduos, o que representa cerca de 35,26% dos

peixes coletados. Em seguida, Menticirrhus littoralis com 1590 exemplares

(33,57%), Diapterus olisthotomus com 262 (5,53%), Hemiramphus brasiliensis

com 217 (4,58%), Sardinella brasiliensis com 179 (3,78%), Colomesus

pisittacus com 128 (2,70%) e Achirus lineatus com 105 indivíduos coletados

(2,22%). Para esses dois ciclos, as sete espécies mais abundantes acima,

foram também as dominantes (Tabelas 8; Figura 9).

Comparando a biodiversidade nos dois primeiros e nos dois últimos

ciclos, conforme evidencia a Tabela 6, os ciclos 3 e 4 mostraram maior riqueza

(S = 46) do que os ciclos 1 e 2 (S = 41). O índice de riqueza de Margalef que

denota a diversidade com base na distribuição numérica dos indivíduos das

diferentes espécies mostrou maior diversidade também para os ciclos 3 e 4,

com valor médio de 4,58 ± 0,04, em detrimento de 3,14 ± 0,18 encontrado para

os ciclos 1 e 2. O índice de Simpson, varia de 0 a 1 e mostra que, quando a

probabilidade dos indivíduos amostrados serem da mesma espécie é alta,

então a diversidade é baixa, inferindo maior peso às espécies dominantes. Em

Resultados

Hemiramphus brasiliensis

Legenda

Figura 9. Distribuição da dominância entre várias espécies durante os ciclos 3 e 4 na PRIMAR.

Dominância – Ciclos 3 e 4

Ab

un

dân

cia

Rel

ativ

a(%

)

Espécies

Lycengraulis grossidens

Menticirrhus littoralis

Diapterus olisthotomus

Sardinella brasiliensis

Colomesus pisittacus

Achirus lineatus

não-dominantes

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28

relação a esse índice, os resultados obtidos reforça a maior diversidade para

os ciclos 3 e 4, com valor médio de 0,22 ± 0,09, comparado a 0,79 ± 0,21 para

os ciclos 1 e 2, que mostrou uma maior concentração na dominância para

poucas espécies. Por sua vez, o índice de Shannon-Weaver, de forma oposta e

ao mesmo tempo complementar ao índice de Simpson, ou seja, atribuindo

maiores valores a diversidade quanto maior for o valor do índice, confirmou a

maior diversidade para os ciclos 3 e 4, com valor médio de 0,92 ± 0,21,

comparado a somente 0,23 ± 0,18 encontrado para os ciclos 1 e 2. Por fim, a

uniformidade ou eqüitatividade, mostrou que os indivíduos coletados estão

menos concentrados, ou seja, mais bem distribuídos entre as espécies para os

ciclos 3 e 4, com valor médio de 0,59 ± 0,16, em relação aos ciclos 1 e 2 (0,15

± 0,12) que apresentou maior divergência nas abundâncias relativas, com uma

concentração de mais de 95% de todos os indivíduos coletados entre apenas

duas espécies (Lycengraulis grossidens e Aterinella brasiliensis).

Tabela 6. Análise ictiofaunística durante os ciclos 1 e 2 (estação chuvosa) e 3 e 4

(estiagem) na PRIMAR.

Parâmetros

Ciclos

1 e 2 3 e 4

(M ± DP) (M ± DP)

Riqueza (S) 41 46

Índice de riqueza de Margalef 3,14 ± 0,18 4,58 ± 0,04

Índice de Simpson 0,79 ± 0,21 0,22 ± 0,09

Índice de Shannon-Weaver 0,23 ± 0,18 0,92 ± 0,21

Índice de Pielou (uniformidade) 0,15 ± 0,12 0,59 ± 0,16

Número de espécies

Dominantes 2 7

Não-dominantes 39 39

Resultados

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29

Tabela 7. Abundância Relativa e Dominância das espécies de peixe nos ciclos 1 e 2

na PRIMAR.

* d: dominante; n: não-dominante

Resultados

Família Espécie Nome vulgar N AR (%) Dominância*

1 Ariidae 1 Genidens barbus Bagre-branco 8 0,03 n

2 Atherinidae 2 Aterinella brasiliensis Peixe-rei 2.408 7,54 d

3 Carangidae 3 Oligoplites palometa Tibiro 4 0,01 n

4 Centropomidae 4 Centropomus undecimalis Camurim-flecha 88 0,27 n

5 Clupeidae 5 Sardinella brasiliensis Sardinha 14 0,04 n

6 Eleotridae 6 Dormitator maculatus Dorminhoco 2 0,006 n

7 Elopidae 7 Elops saurus Ubarana 29 0,09 n

8 Engraulidae 8 Lycengraulis grossidens Arenque 28.007 87,67 d

9 9 Diapterus olisthotomus Carapeba 174 0,54 n

10 Eucinostomus argenteus Carapicú 207 0,65 n

Gerreidae

11 Eugerres brasilianus Carapeba-de-listra 36 0,11 n

10 12 Bathygobius soporator Moré 62 0,19 n

13 Ctenogobius boleosoma Amoré 6 0,019 n

14 Ctenogobius smaragdus Corongo-pintado 1 0,003 n

15 Evorthodus lyricus Coronguinho 30 0,09 n

16 Gobioides broussonneti Corongo 5 0,016 n

17 Gobionellus oceanicus Corongo 9 0,03 n

18 Guavina guavina Moré rajado 11 0,03 n

Gobiidae

19 Priolepis dawsoni Moré 2 0,006 n

11 Haemulidae 20 Genyatremus luteus Sanhoá 1 0,003 n

12 Hemiramphidae 21 Hemiramphus brasiliensis Agulhinha 6 0,019 n

13 22 Lutjanus cyanopterus Caranha 1 0,003 n

23 Lutjanus griseus Baúna 2 0,006 n

Lutjanidae

24 Lutjanus synagris Ariocó 1 0,003 n

14 25 Mugil curema Tainha 235 0,73 nMugilidae

26 Mugil liza Cacetão 60 0,19 n

1’5 Muraenidae 27 Gymnothorax funebris Moréia verde 1 0,003 n

16 Ophichthidae 28 Ophichthus sp Muriongo 14 0,04 n

17 Paralichthyidae 29 Etropus crossotus Linguado 3 0,009 n

18 Poecilidae 30 Poecilia vivípara Barrigudinho 25 0,008 n

19 31 Bairdiella ronchus Roncador 46 0,14 n

32 Cynoscion acoupa Pescada amarela 116 0,36 n

33 Cynoscion leiarchus Pescada branca 29 0,09 n

34 Larimus breviceps Boca mole 105 0,33 n

35 Menticirrhus littoralis Papa-terra 107 0,33 n

Sciaenidae

36 Ophioscion punctatissimus Canguá 9 0,03 n

20 37 Achirus lineatus Soia redonda 56 0,17 nSoleidae

38 Trinectes paulistanus Soia 16 0,05 n

21 Sparidae 39 Archosargus rhomboidalis Salema 1 0,003 n

22 Tetraodontidae 40 Colomesus pisittacus Baiacu camisa-de-meia 6 0,02 n

41 Sphaeroides testudineus Baiacu-mirim 2 0,006 n

Total 31.945 100

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30

Resultados

Tabela 8. Abundância Relativa e Dominância das espécies de peixe nos ciclos 3 e 4na PRIMAR.

* d: dominante; n: não-dominante

Família Espécie Nome vulgar N AR (%) Dominância*

1 1 Cathorops agassizii Bagre-amarelo 06 0,13 nAriidae

2 Genidens barbus Bagre-branco 01 0,02 n

2 Atherinidae 3 Aterinella brasiliensis Peixe-rei 10 0,21 n

3 4 Caranx hippos Xaréu amarelo 01 0,02 n

5 Oligoplites palometa Tibiro 22 0,46 n

Carangidae

6 Selene vomer Peixe galo 01 0,02 n

4 7 Centropomus paralellus Camurim peba 01 0,02 n

8 Centropomus pectinatus Camurim 01 0,02 n

Centropomidae

9 Centropomus undecimalis Camurim-flecha 27 0,57 n

5 Clupeidae 10 Sardinella brasiliensis Sardinha 179 3,78 d

6 Eleotridae 11 Dormitator maculatus Dorminhoco 02 0,04 n

7 Elopidae 12 Elops saurus Ubarana 56 1,18 n

8 Engraulidae 13 Lycengraulis grossidens Arenque 1670 35,26 d

9 14 Diapterus olisthotomus Carapeba 262 5,53 d

15 Eucinostomus argenteus Carapicú 78 1,65 n

Gerreidae

16 Eugerres brasilianus Carapeba-de-listra 31 0,65 n

10 17 Bathygobius soporator Moré 07 0,15 n

18 Ctenogobius smaragdus Corongo-pintado 01 0,02 n

19 Gobionellus oceanicus Corongo 47 0,99 n

Gobiidae

20 Guavina guavina Moré rajado 04 0,08 n

11 21 Genyatremus luteus Sanhoá 01 0,02 nHaemulidae

22 Pomadasys crocro corocoro 03 0,06 n

12 Hemiramphidae 23 Hemiramphus brasiliensis Agulhinha 217 4,58 d

13 Kyphosidae 24 Chaetodipterus faber Parú branco 12 0,25 n

14 Lutjanidae 25 Lutjanus griseus Baúna 02 0,04 n

15 26 Mugil curema Tainha 10 0,21 nMugilidae

27 Mugil liza Cacetão 09 0,19 n

16 Ophichthidae 28 Ophichthus sp Muriongo 13 0,27 n

17 29 Etropus crossotus Linguado 03 0,06 nParalichthyidae

30 Paralichthys brasiliensis Linguado de praia 04 0,08 n

18 Polymixiidae 31 Polydactylus virginicus Barbudo 01 0,02 n

19 32 Bairdiella ronchus Roncador 22 0,46 n

33 Cynoscion acoupa Pescada amarela 37 0,78 n

34 Cynoscion leiarchus Pescada branca 41 0,87 n

35 Cynoscion microlepidotus Pescada dentão 01 0,02 n

36 Larimus breviceps Boca mole 67 1,41 n

37 Menticirrhus littoralis Papa-terra 1590 33,57 d

Sciaenidae

38 Ophioscion punctatissimus Canguá 07 0,15 n

20 39 Achirus lineatus Soia redonda 105 2,22 dSoleidae

40 Trinectes paulistanus Soia 31 0,65 n

21 41 Archosargus probatocephalus Sargo de dente 03 0,06 nSparidae

42 Archosargus rhomboidalis Salema 04 0,08 n

22 Syngnathidae 43 Hippocampus reidi Cavalo marinho 03 0,06 n

23 44 Colomesus pisittacus Baiacu camisa-de-meia 128 2,70 dTetraodontidae

45 Sphaeroides testudineus Baiacu-mirim 14 0,30 n

24 Triglidae 46 Prionotus punctatus Cabrinha 01 0,02 n

Total 4.736 100

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31

4.2.2. Biodiversidade associada à sazonalidade

A biodiversidade, representada pela riqueza, diversidade (índice de

Shannon-Weaver) e uniformidade (índice de Pielou), associada às variáveis

ambientais que diferiram significativamente (i.e. transparência e salinidade)

entre os ciclos 1 e 2 (estação chuvosa) e 3 e 4 (estiagem), mostrou correlações

positivas e significativas (N>0 e p<0,050; respectivamente) apenas para a

transparência associada à diversidade de Shannon (N = 0,983 e p = 0,017) e à

uniformidade de Pielou (0,992 e p = 0,008); e positiva para a salinidade

correlacionada a diversidade de Shannon (N = 0,932 e p = 0,068) e à

uniformidade de Pielou (0,930 e p = 0,070). Isso significa que com o aumento

da transparência e da salinidade no decorrer da estação chuvosa para a

estiagem, houve também aumento na diversidade e uniformidade na

distribuição dos indivíduos entre as espécies de peixes (Tabela 9).

Tabela 9. Correlação de Pearson entre as variáveis ambientais: transparência (Transp)

e salinidade (Sal) e os índices de biodiversidade: Riqueza, Índice de Shannon (I.

Shannon) e Índice de Pielou (I. Pielou) nos quatro ciclos de cultivo na PRIMAR.

Variável Sal Transp Riqueza I. Shannon I. Pielou

Sal 0,906 0,355 0,932 0,930

Transp 0,097 0,983* 0,992*

Riqueza 0,276 0,221

I. Shannon 0,998*

I. Pielou

4.2.3. Índices de Produtividade

Em relação à biomassa de peixes e camarões despescadas no decorrer

dos ciclos 1 e 2 para 3 e 4, pôde-se observar (Tabela 10) que houve uma

diminuição na biomassa de peixes, de 45,0 para 9,6 kg/ha, em detrimento de

* Correlação significativa (P < 0,05)

Resultados

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32

um aumento na biomassa de camarões, de 185,3 para 267,2 kg/ha. Também

foi observado que, com a diminuição na biomassa de peixes dos ciclos 1 e 2

para 3 e 4, houve aumento na sobrevivência de camarões, de 58,0 para 71,0%.

Tabela 10. Produtividade de peixes e camarões (kg/ha/ciclo) durante os ciclos 1, 2, 3 e

4 na PRIMAR.

Produtividade (kg/ha/ciclo)

Ciclos Despesca Peixes Camarões Sobrevivência (%)

1 1 38,7 189,6 68,6

2 2 51,3 181,1 47,5

Média 45,0 185,3 58,0

3 1 7,4 331,1 78,8

4 2 11,9 203,3 63,2

Média 9,6 267,2 71,0

Essa diminuição na biomassa de peixes entre os dois primeiros e os

dois últimos ciclos, associada ao aumento na biomassa de camarões, mostrou

correlação negativa (N = -0,724), embora não significativa (p = 0,276). Por sua

vez, a diminuição na biomassa de peixes associada ao aumento na

sobrevivência de camarões, também mostrou correlação negativa (N = -0,756)

e também não significativa (p = 0,244).

4.2.4. Importância Comercial

Para o critério importância comercial das espécies despescadas durante

os ciclos 1 e 2, foram identificadas dezesseis, como sendo de importância

comercial (Tabela 11). Dessas, apenas três possuem importância na

aqüicultura, por possuírem além de alto valor comercial, hábitos alimentares,

taxa de crescimento e reprodução viáveis às condições de cultivo. São elas:

Centropomus undecimalis, Mugil curema e Mugil liza (BENETTI & FAGUNDES-

NETTO, 1991; MEZA et al, 2006).

Resultados

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33

Tabela 11. Importância Comercial das espécies de peixes nos ciclos 1 e 2 na

PRIMAR.

Ciclos Espécies de importância comercial Importância

Genidens barbus Pesca

Lutjanus griseus Pesca e Aquariofilia

Lutjanus sinagris Pesca e Aquariofilia

Lutjanus cyanopterus Pesca

Sardinella brasiliensis Pesca

Centropomus undecimalis Pesca e Aqüicultura

Dormitator maculatus Aquariofilia

Eugerres brasilianus Pesca

Bathygobius soporator Aquariofilia

Mugil curema Pesca e Aqüicultura

Mugil liza Pesca e Aqüicultura

Bairdiella ronchus Pesca

Cynoscion acoupa Pesca

Cynoscion leiarchus Pesca

Larimus breviceps Pesca

1 e 2

Archosargus rhomboidalis Pesca

Total 16

Já para as espécies despescadas durante os ciclos 3 e 4 do mesmo

ano, foram identificadas como sendo de importância comercial um total de

dezenove espécies (Tabela 12). Dessas, quatro possuem importância na

aqüicultura, por também possuírem além de alto valor comercial, hábitos

alimentares, taxa de crescimento e reprodução viáveis às condições de cultivo.

São elas: Centropomus undecimalis, Mugil curema, Mugil liza e Chaetodipterus

faber (HAYSE, 1990; BENETTI & FAGUNDES-NETTO, 1991; MEZA et al,

2006).

Resultados

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34

Tabela 12. Importância Comercial das espécies de peixes nos ciclos 3 e 4 na

PRIMAR.

Ciclos Espécies de importância comercial Importância

Genidens barbus Pesca

Lutjanus griseus Pesca e Aquariofilia

Centropomus undecimalis Pesca e Aqüicultura

Dormitator maculatus Aquariofilia

Eugerres brasilianus Pesca

Bathygobius soporator Aquariofilia

Mugil curema Pesca e Aqüicultura

Mugil liza Pesca e Aqüicultura

Bairdiella ronchus Pesca

Cynoscion acoupa Pesca

Cynoscion leiarchus Pesca

Cynoscion microlepidotus Pesca

Larimus breviceps Pesca

Archosargus rhomboidalis Pesca

Archosargus probatocephalus Pesca

Caranx hippos Pesca

Chaetodipterus faber Aqüicultura

Paralichthys brasiliensis Pesca

3 e 4

Prionotus punctatus Aquariofilia

Total 19

Resultados

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35

As informações referentes à distribuição, ocorrência, hábitos alimentares

e reprodução das espécies importantes comercialmente na aqüicultura, em

todos os quatro ciclos estudados, conforme FROESE & PAULY (2006), são

sintetizadas em seguida.

1) Centropomus undecimalis

Essa espécie (Figura 10), que é exclusiva do Atlântico ocidental,

da Carolina do Sul ao Sul do Brasil, ocorre em todas as regiões

costeiras do Brasil, de rios e canais a recifes de corais, preferindo áreas

em que haja alguma proteção ou esconderijo, como galhadas de

mangues, pedras, piers, sambaquis e mesmo naufrágios. Não tolera

água fria, com menos de 16 graus. Possui enorme capacidade de

adaptação, com hábito alimentar carnívoro, comem pequenos peixes,

caranguejos, moluscos, vermes, camarões, praticamente tudo que se

mova. São sexualmente maduros no terceiro ano de vida, as fêmeas

com 60 cm e os machos com 50 cm.

Figura 10. Espécime de Centropomus undecimalis coletado no ciclo 1 (estaçãochuvosa) na PRIMAR.

Resultados

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36

2) Mugil curema

No Atlântico ocidental, esta espécie distribui-se da Nova Escócia

ao sul do Brasil. Ocorre em águas com fundo arenoso e lamacento de

lagunas costeiras e estuários. Algumas vezes, esses peixes penetram

em rios e também podem ser encontrados em recifes de coral. Juvenis

dessa espécie são comuns em águas costeiras e são conhecidos por

encontrarem a rota para as lagunas e estuários onde nasceram. O

crescimento em juvenis é moderado (30-40 cm/ 4 anos). Os adultos

(Figura 11) formam grandes cardumes. Alimentam-se de algas

microscópicas ou filamentosas e organismos planctônicos. A reprodução

ocorre entre março e agosto e desova milhões de ovos com uma grande

quantidade de vitelo.

Figura 11. Espécime adulto de Mugil curema coletado no ciclo 2 (estação chuvosa) naPRIMAR.

Resultados

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37

3) Mugil liza

No Atlântico ocidental, esta espécie distribui-se das Bermudas a

Argentina. Habita águas marinhas costeiras, estuários e lagunas

salobras. Pode também ser encontrado em lagoas hipersalinas e

adentram em água doce, porém nunca distante do mar. Os adultos

(Figura 12) formam grandes cardumes. Alimenta-se de detritos

orgânicos e de algas filamentosas. Reproduz-se grandemente dando

origem a milhões de ovos no mar. É comercializado fresco e salgado e a

ova é comercializada seca e salgada em conserva, sendo considerada

uma iguaria.

Figura 12. Espécime adulto de Mugil liza coletado no ciclo 3 (estiagem) na PRIMAR.

.

Resultados

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38

4) Chaetodipterus faber

No Atlântico ocidental, esta espécie distribui-se da Nova Inglaterra

ao sul do Brasil. É muito abundante em águas costeiras rasas, desde

mangues e praias arenosas a costões rochosos e ancoradouros. Os

juvenis (Figura 13) são comuns em estuários e geralmente são

encontrados em águas muito rasas nadando em um ângulo que lembra

folhas mortas. Os adultos geralmente ocorrem em grandes cardumes de

mais de 500 indivíduos. Alimenta-se de plâncton, algas filamentosas e

invertebrados bentônicos como crustáceos, moluscos e anelídeos. De

carne apreciada, são comercializados frescos. Esta espécie tem sido

criada em cativeiro.

Figura 13. Espécime juvenil de Chaetodipterus faber coletado no ciclo 4 (estiagem) naPRIMAR.

Resultados

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39

5. Discussão

No cultivo orgânico realizado na PRIMAR, não há trocas d’água

periódicas, e sim uma pequena reposição diária de 2 % do volume dos viveiros,

através do bombeamento da água que vem do rio Jacú, para repor, sobretudo,

a que se perde por evaporação e infiltração. É principalmente durante este

processo que os peixes vindos do estuário adentram os viveiros passando

pelas telas de 1 mm de malha, principalmente sob a forma embrionária e larval.

Devido a essa ausência de trocas d’água periódicas e também à baixa

reposição do volume diário dos viveiros, ocorre um maior tempo de residência

dessa água e oscilações nas variáveis ambientais são condicionadas

principalmente, pela intensidade de precipitação e o caudal (volume) despejado

pelos rios durante as estações (KUBITZA, 2003).

Os resultados para as variáveis ambientais monitoradas durante os

ciclos 1 e 2 (estação chuvosa) e 3 e 4 (estiagem) em 2005 mostraram que, com

a diminuição acentuada da precipitação, da estação chuvosa (1318,80 mm)

para a seca (72,65 mm), as variáveis ambientais salinidade e transparência

oscilaram de forma altamente significativa (p < 0,001). Conforme FLORES-

VERDUGO et al. (1990) e HAEDRICH (1992), estas variáveis ambientais

oscilam horizontal e verticalmente, principalmente em função do influxo de

água doce proveniente do continente, condicionado por estações chuvosas e

de estiagem. Esse influxo de água doce do continente durante o período

chuvoso proporciona a diminuição da salinidade pela diluição da água que vem

do oceano, influenciada pela cunha salina e ventos de nordeste (PASKOFF,

1985) e também, proporciona um aumento na turbidez mineral, que ocorre

através do aumento de partículas em suspensão (colóides de argila e silte) a

partir da lavagem e erosão do solo (BOYD, 1989; GROSS, 1990; RICKLEFS,

2003).

Discussão

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40

As variáveis ambientais (salinidade e transparência), que oscilaram

significativamente entre as estações podem influenciar a dinâmica populacional

da ictiofauna nos estuários (RAMOS & VIEIRA, 2001). A salinidade pelo custo

energético do metabolismo para manter o equilíbrio osmótico. Sendo o

aumento observado para esta variável durante a estiagem, significativo para o

aumento na diversidade de peixes marinhos, os quais são em sua maioria

hiposmóticos, ou seja, possuem concentrações mais baixas de sais nos tecidos

do que a água circundante, tendendo a ganharem solutos e perderem água

através de transporte ativo (RICKLEFS, 2003), estando portanto, mais

adaptados a ambientes aquáticos mesohalinos (5 - 18 ‰) e polihalinos, que

são aqueles com maior salinidade (18 - 35 ‰) do que a água doce ou

oligohalina (0,5 - 5 ‰) (RÉ, 2000). Por sua vez, a transparência influencia a

ictiofauna diretamente através da visão de captura dos peixes, principalmente

para as espécies que caçam no fundo. De outra forma, essa variável que é um

bom indicativo da densidade planctônica na água, desde que não haja

influência de argila e silte em suspensão, permite quando superior a 60 cm, a

penetração de grande quantidade de luz em profundidade, favorecendo o

crescimento do fitoplâncton e das algas filamentosas que são alimento e

refúgio para várias espécies de peixes. O transcorrer da estação chuvosa para

a estiagem, com a mudança de determinados fatores ambientais, como

salinidade e transparência, foi provavelmente um dos fatores que

proporcionaram o aumento na diversidade e uniformidade de peixes.

A ictiofauna estuarina é constituída por espécies, das quais muitas são

acessórias ou ocasionais, ou seja, não estabelecem populações, ocorrendo por

um curto período de tempo, provavelmente em busca de alimento e abrigo para

desova (SAAD, 2003). Segundo ODUM (1983), muitos peixes comerciais e

esportivos que são pescados em alto mar, passam a parte inicial de suas vidas

em estuários, onde o alimento é abundante e a proteção contra predadores

aumenta a sobrevivência e o crescimento rápido nos estádios juvenis. Para

SILVA et al (2005), mudanças sazonais cíclicas no modo de vida, na fisiologia

e na estrutura que são características também dos peixes, estão diretamente

Discussão

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41

conectadas com os processos de desenvolvimento. Estações de desova

podem ser temporizadas a coincidirem com as melhores condições para o

melhor crescimento e sobrevivência larval (QASIM, 1956; CUSHING, 1987).

De acordo com VIEIRA et al (1998), o período de reprodução e desova

de muitas espécies que visitam os estuários brasileiros no verão é considerado

um fator importante que contribui para a diferença na diversidade de peixes

entre as estações em ambientes estuarinos, aumentando assim, a diversidade

de espécies durante os períodos mais secos, quando ocorre menor influxo de

água doce e aumento de salinidade, favorecendo dessa forma, a ocorrência de

espécies marinhas estenohalinas que ocorrem, sobretudo, em alto mar. Por

outro lado, as altas estações de chuva promovem aumento na produtividade

primária pelo influxo de nutrientes, principalmente, fósforo adsorvido às argilas,

quando geralmente se observa uma maior densidade populacional das

espécies mais representativas, caracteristicamente eurihalinas. Espécies das

famílias Mugilidae, Gerreidae, Centropomidae, Elopidae, Clupeidae, Sciaenidae

e Soleidae que são em sua maioria espécies eurihalinas, ocorrem com

freqüência nos estuários, lagunas costeiras e viveiros tropicais e subtropicais

do Brasil, onde muitas delas são dominantes, constantes e abundantes

(ANDREATA et al, 1990; SAAD et al, 2002).

As zonas rasas dos estuários brasileiros, com profundidades inferiores a

um metro e meio de profundidade, tais como os viveiros da PRIMAR,

apresentam ictiofauna dominada por pequenos peixes eurihalinos residentes,

tais como Lycengraulis grossidens e Aterinella brasiliensis, como observado

nesse estudo, provavelmente em função da alta produtividade dos viveiros,

providenciando grandes quantidades de carbono biogênico, gerando detritos

que estabilizam o ecossistema através da cadeia trófica, criando novos refúgios

e alimentos que refletem no aumento da diversidade de peixes e de outros

organismos (BRIONES et al, 2002).

Discussão

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42

Alguns estudos sobre ecologia ictiofaunística em estuários tropicais

apontam para a forte influência da sazonalidade no recrutamento de muitas

espécies de peixes, embora não tenha sido comprovada qualquer tendência

para aumento de diversidade e abundância de peixes durante uma estação

específica (ROBERTSON & DUKE, 1990; SEDBERRY & CARTER, 1993;

SHEAVES & MOLONY, 2001; NERO & SEALEY, 2005; SRINIVASAN &

JONES, 2006). Para esses autores, processos tais como a entrada de novos

recrutas nas populações durante os períodos de desova das espécies

(SILVANO et al, 2006); mudanças climáticas e oceanográficas; mudanças

ontogenéticas no habitat; padrões reprodutivos; crescimento e mortalidade de

juvenis durante a residência nos berçários estuarinos e a migração dos

espécimes maiores para fora dos estuários, podem ser decisivos para a

diferenciação sazonal na abundância e diversidade de peixes em águas

costeiras tropicais.

Porém, as dinâmicas de recrutamento de peixes nos trópicos são ainda

pouco conhecidas (SRINIVASAN & JONES, 2006). Conforme estudo realizado

por ROBERTSON & DUKE (1990) em habitats de mangue na Austrália,

espécies residentes temporárias como das famílias Atherinidae, Clupeidae e

Engraulidae dominaram a comunidade de peixes durante a estação chuvosa

(dezembro a abril), como observado também para este estudo. Já para NERO

& SEALEY (2005), a sazonalidade também foi a responsável por mudanças

mais marcantes na estrutura da comunidade de peixes estudada em regiões

costeiras tropicais nas Bahamas, quando se observou maior abundância na

estiagem e maior diversidade na estação chuvosa. É provável que a influência

do recrutamento na dinâmica de populações de peixes marinhos difira mais

intimamente no equador, onde condições favoráveis para a sobrevivência larval

podem se estender por todo o ano (LONGHURST & PAULY, 1987).

Em relação à produtividade de camarão associada à biomassa de peixes

presentes, a diminuição na biomassa de peixes no transcorrer da estação

chuvosa para a estiagem, pode ter resultado em aumento na produtividade do

Discussão

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43

camarão, através do aumento na sobrevivência desse crustáceo (de 58,0%

para 71,0%), provavelmente pela própria diminuição da predação desse

organismo por parte dos peixes, principalmente das espécies carnívoras e

onívoras que se encontravam em menores quantidades durante a estiagem.

O policultivo aquático é uma forma de cultivo que vem sendo

tradicionalmente praticado por milênios em países asiáticos como a China

(FERNANDO, 2002). O cultivo integrado de camarões com outros organismos

pode reduzir de forma significativa os resíduos orgânicos provenientes dos

alimentos e os impactos ambientais associados aos efluentes ricos em

nutrientes, assim como, fornecer um lucro adicional ao aqüicultor (NEORI et al,

2004). No presente estudo, foram identificadas como sendo de interesse

comercial para a aqüicultura, quatro espécies de peixes (FROESE & PAULY,

2006). Três dessas espécies possuem hábitos alimentares e valor de mercado

que permitem o cultivo isolado e em consórcio com o camarão marinho

Litopenaeus vannamei, sem que provavelmente, prejudique sua produção e

providenciem lucro adicional. Essas três espécies são Mugil curema, Mugil liza

e Chaetodipterus faber. Por outro lado, o cultivo de Centropomus undecimalis,

que é uma espécie predadora, pode ser realizado, desde com embasamento

técnico-científico, isolado ou em consórcio com outras espécies de peixe de

interesse comercial para a aqüicultura, tais como as tilápias (Oreochromis

niloticus), que possuem hábitos alimentares onívoros e, alta prolificidade,

quando confinadas (MOREIRA et al, 2001). Essa pode ser uma alternativa

eficaz de controle populacional para as tilápias e lucro adicional para o

aqüicultor, pelo fato que Centropomus undecimalis também possui alto valor de

mercado.

Além do próprio policultivo associado com essas espécies de peixes

estuarinos de interesse comercial, a aqüicultura orgânica, como desenvolvida

na PRIMAR (WAINBERG et al, 2004), apresenta também outras vantagens

ecológicas e econômicas em relação à aqüicultura convencional. Tais

vantagens são a não utilização de rações e produtos químicos; a baixa

Discussão

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44

densidade de estocagem (1-10 camarões/m2); a não utilização de aeração

mecânica; a baixa quantidade de energia e mão de obra; o preço de venda

mais elevado do camarão, de cerca de 30,00 reais/kg; entre outras, que

refletem tanto na diminuição dos custos e dos impactos causados no meio

ambiente, quanto no aumento da lucratividade desse sistema. A performance

da fazenda PRIMAR antes e depois da conversão para o modo orgânico,

demonstrou que a lucratividade bruta anual passou de 50.595,00 para

79.410,00 reais, a despeito da produtividade anual ter decrescido de 10.119

para 2.647 kg/ha/ano (WAINBERG et al, 2004).

Em conclusão, pôde-se observar que na PRIMAR há uma grande

diversidade de peixes estuarinos associada ao cultivo orgânico de Litopenaeus

vannamei, e que essa diversidade varia principalmente de forma sazonal.

Também, foi possível concluir que essa atividade é viável ecologicamente,

sobretudo pela ocorrência de peixes de hábitos alimentares não predatórios e

alto valor comercial, como observado para Mugil curema, Mugil liza e

Chaetodipterus faber, que podem ser cultivados em consórcio com o camarão

marinho Litopenaeus vannamei, melhorando provavelmente, o status de

“saúde” do ecossistema, através do aumento na dinâmica trófica dos viveiros e

ao mesmo tempo, proporcionando lucro adicional ao aqüicultor.

Discussão

Page 56: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Não houve correlação entre a produtividade de camarão e a ... Descrição e Caracterização da Área de estudo

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Anexos

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51

7. Anexos

7.1. Anexo 1. Fotografias de quarenta e seis espécies coletadas na

PRIMAR em 2005.

Prancha 1

Caranx hippos – Xaréu amarelo Selene vomer – Peixe galo

Centropomus paralellus – Camurim peba Centropomus pectinatus – Camurim

Aterinella brasiliensis – Peixe-rei Oligoplites palometa – Tibiro

Referências

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Prancha 2

Centropomus undecimalis – Camurim flecha Sardinella brasiliensis – Sardinha

Dormitator maculatus – Dorminhoco Elops saurus – Ubarana

Lycengraulis grossidens – Arenque Diapterus olisthotomus – Carapeba

Anexos

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53

Prancha 3

Eucinostomus argenteus – Carapicú Bathygobius soporator – Moré

Ctenogobius boleosoma – Amoré Ctenogobius smaragdus – Corongo-pintado

Evorthodus lyricus – Coronguinho Gobionellus oceanicus – Corongo

Anexos

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Prancha 4

Guavina guavina – More rajado Prioleps dawsoni – Moré

Genyatremus luteus – Sanhoá Pomodasys crocro – Corocoro

Hemiramphus brasiliensis – Agulhinha Chaetodipterus faber – Parú branco

Anexos

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Prancha 5

Lutjanus griseus – Baúna Mugil curema – Tainha

Mugil liza – Cacetão

Ophichthus sp – Muriongo

Gymnothorax funebris – Moréia verde

Etropus crossotus – Linguado

Anexos

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Prancha 6

Paralichthys brasiliensis – Linguado de praia

Bairdiella ronchus – Roncador

Polydactylus virginicus – Barbudo

Cynoscion microlepidotus – Pescada dentão

Poecilia vivipara � – Barrigudinho

Poecilia vivipara � – Barrigudinho

Anexos

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Prancha 7

Trinectes paulistanus – Soia Archosargus probatocephalus – Sargo de dente

Ophioscion punctatissimus – Canguá

Larimus breviceps – Boca mole Menticirrhus littoralis – Papa-terra

Achirus lineatus – Soia redonda

Anexos

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Prancha 8

Prionotus punctatus – Cabrinha

Archosargus rhomboidalis – Salema Colomesus pisittacus – Baiacu camisa-de-meia

Sphaeroides testudineus – Baiacu-mirim

Anexos

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59

7.2. Anexo 2. Sinopse dos táxons encontrados na PRIMAR em 2005.

Filo: Chordata

Subfilo: Vertebrata

Infrafilo: Gnathostomata

Classe: Osteichthyes

Subclasse: Actinopterygii

Ordem: Anguiliformes

Família: Muraenidae

Gênero: Gymnothorax

Espécie: Gymnothorax funebris (RANZANI, 1840)

Família: Ophichthidae

Gênero: Ophichthus

Espécie: Ophichthus sp

Ordem: Atheriniformes

Família: Atherinidae

Gênero: Aterinella

Espécie: Aterinella brasiliensis (QUOY & GAIMARD, 1825)

Ordem: Beloniformes

Família: Hemiramphidae

Gênero: Hemiramphus

Espécie: Hemiramphus brasiliensis (LINNAEUS, 1758)

Ordem: Clupeiformes

Família: Clupeidae

Gênero: Sardinella

Espécie: Sardinella brasiliensis (EIGENMANN, 1894)

Família: Engraulidae

Gênero: Lycengraulis

Espécie: Lycengraulis grossidens (AGASSIZ, 1829)

Anexos

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60

Ordem: Cyprinodontiformes

Família: Poecilidae

Gênero: Poecilia

Espécie: Poecilia vivípara (BLOCH & SCHNEIDER, 1801)

Ordem: Elopiformes

Família: Elopidae

Gênero: Elops

Espécie: Elops saurus (LINNAEUS, 1766)

Ordem: Perciformes

Família: Carangidae

Gênero: Caranx

Espécie: Caranx hippos (LINNAEUS, 1766)

Gênero: Oligoplites

Espécie: Oligoplites palometa (CUVIER, 1832)

Gênero: Selene

Espécie: Selene vomer (LINNAEUS, 1758)

Família: Centropomidae

Gênero: Centropomus

Espécie: Centropomus paralellus (POEY, 1860)

Espécie: Centropomus pectinatus (POEY, 1860)

Espécie: Centropomus undecimalis (BLOCH, 1792)

Família: Eleotridae

Gênero: Dormitator

Espécie: Dormitator maculatus (BLOCH, 1792)

Família: Gerreidae

Gênero: Diapterus

Espécie: Diapterus olisthotomus (GOODE & BEAN, 1882)

Gênero: Eucinostomus

Espécie: Eucinostomus argenteus (BAIRD & GIRARD, 1855)

Gênero: Eugerres

Espécie: Eugerres brasilianus (CUVIER, 1830)

Família: Gobiidae

Gênero: Bathygobius

Espécie: Bathygobius soporator (VALENCIENNES, 1837)

Gênero: Ctenogobius

Espécie: Ctenogobius boleosoma (JORDAN & GILBERT, 1882)

Espécie: Ctenogobius smaragdus (VALENCIENNES, 1837)

Anexos

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Gênero: Evorthodus

Espécie: Evorthodus lyricus (GIRARD, 1858)

Gênero: Gobioides

Espécie: Gobioides broussonneti (LACEPÈDE, 1800)

Gênero: Gobionellus

Espécie: Gobionellus oceanicus (PALLAS, 1770)

Gênero: Guavina

Espécie: Guavina guavina (VALENCIENNES, 1837)

Gênero: Priolepis

Espécie: Priolepis dawsoni (GREENFIELD, 1989)

Família: Haemulidae

Gênero: Genyatremus

Espécie: Genyatremus luteus (BLOCH, 1790)

Gênero: Pomadasys

Espécie: Pomadasys crocro (CUVIER, 1830)

Família: Kyphosidae

Gênero: Chaetodipterus

Espécie: Chaetodipterus faber (BROUSSONET, 1782)

Família: Lutjanidae

Gênero: Lutjanus

Espécie: Lutjanus cyanopterus (CUVIER, 1828)

Espécie: Lutjanus griseus (LINNAEUS, 1758)

Espécie: Lutjanus synagris (LINNAEUS, 1758)

Família: Mugilidae

Gênero: Mugil

Espécie: Mugil curema (VALENCIENNES, 1836)

Espécie: Mugil liza (VALENCIENNES, 1836)

Família: Polymixiidae

Gênero: Polydactylus

Espécie: Polydactylus virginicus (LINNAEUS, 1758)

Família: Sciaenidae

Gênero: Bairdiella

Espécie: Bairdiella ronchus (CUVIER, 1830)

Gênero: Cynoscion

Espécie: Cynoscion acoupa (LACEPÈDE, 1801)

Espécie: Cynoscion leiarchus (CUVIER, 1830)

Espécie: Cynoscion microlepidotus (CUVIER, 1830)

Gênero: Larimus

Espécie: Larimus breviceps (CUVIER, 1830)

Anexos

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Gênero: Menticirrhus

Espécie: Menticirrhus littoralis (HOLBROOK, 1847)

Gênero: Ophioscion

Espécie: Ophioscion punctatissimus (MEEK & HILDEBRAND, 1925)

Família: Sparidae

Gênero: Archosargus

Espécie: Archosargus probatocephalus (WALBAUM, 1792)

Espécie: Archosargus rhomboidalis (LINNAEUS, 1758)

Ordem: Pleuronectiformes

Família: Paralichthyidae

Gênero: Etropus

Espécie: Etropus crossotus (JORDAN & GILBERT, 1882)

Gênero: Paralichthys

Espécie: Paralichthys brasiliensis (RANZANI, 1842)

Família: Soleidae

Gênero: Achirus

Espécie: Achirus lineatus (LINNAEUS, 1758)

Gênero: Trinectes

Espécie: Trinectes paulistanus (MIRANDA-RIBEIRO, 1915)

Ordem: Scorpaeniformes

Família: Triglidae

Gênero: Prionotus

Espécie: Prionotus punctatus (BLOCH, 1793)

Ordem: Siluriformes

Família: Ariidae

Gênero: Cathorops

Espécie: Cathorops agassizii (EIGENMANN & EIGENMANN, 1888)

Gênero: Genidens

Espécie: Genidens barbus (LACEPÈDE, 1803)

Ordem: Syngnathiformes

Família: Syngnathidae

Gênero: Hippocampus

Espécie: Hippocampus reidi (GINSBURG, 1933)

Anexos

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Ordem: Tetraodontiformes

Família: Tetraodontidae

Gênero: Colomesus

Espécie: Colomesus pisittacus (BLOCH & SCHNEIDER, 1801)

Gênero: Sphaeroides

Espécie: Sphaeroides testudineus (LINNAEUS, 1758)

Anexos