69
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE MÚSICA CURSO DE LICENCIATURA EM MÚSICA EDUCAÇÃO MUSICAL E ENSINO DE PIANO: ESTRATÉGIAS PARA O DESENVOLVIMENTO DE AULAS DE INSTRUMENTO EM GRUPO. JONAS ALMEIDA BUARQUE E SILVA Orientadora: Profa. Ms. Carolina Chaves Gomes NATAL, RN 2014

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

  • Upload
    vanmien

  • View
    214

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

ESCOLA DE MÚSICA

CURSO DE LICENCIATURA EM MÚSICA

EDUCAÇÃO MUSICAL E ENSINO DE PIANO: ESTRATÉGIAS PARA O

DESENVOLVIMENTO DE AULAS DE INSTRUMENTO EM GRUPO.

JONAS ALMEIDA BUARQUE E SILVA

Orientadora: Profa. Ms. Carolina Chaves Gomes

NATAL, RN

2014

Page 2: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

JONAS ALMEIDA BUARQUE E SILVA

EDUCAÇÃO MUSICAL E ENSINO DE PIANO: ESTRATÉGIAS PARA O

DESENVOLVIMENTO DE AULAS DE INSTRUMENTO EM GRUPO.

Monografia entregue a Universidade Federal

do Rio Grande do Norte como exigência

parcial para obtenção do titulo de Licenciado

em Música.

Orientadora: Profa. Ms Carolina Chaves

Gomes

NATAL, 2014

Page 3: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas
Page 4: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

JONAS ALMEIDA BUARQUE E SILVA

EDUCAÇÃO MUSICAL E ENSINO DE PIANO: estratégias para o desenvolvimento de

aulas de instrumento em grupo.

Monografia apresentada a Universidade

Federal do Rio Grande do Norte como

exigência parcial para obtenção do titulo de

Licenciado em Música.

Orientadora: Profa. Ms Carolina Chaves

Gomes

Natal,____de ___________ de ___________

BANCA EXAMINADORA

______________________________________

Profa. Ms. Carolina Chaves Gomes

UFRN

______________________________________

Profa. Dr. Betânia Maria Franklin de Melo

UFRN

______________________________________

Profa. Dr. Maria Clara de Almeida Gonzaga

UFRN

Page 5: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

“Não faças de ti um sonho a se realizar. Vai.”.

Cecília Meireles

Page 6: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

DEDICATÓRIA

À minha mãe Graça Almeida, que sempre me

deu suporte em todos esses anos de trabalho e

estudo.

Page 7: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente ao autor e consumador da minha fé, em quem firmo os meus

pés, e onde renovo minhas forças todo e cada amanhecer.

A minha mãe Graça Almeida, pela dedicação em cuidar de mim enquanto crescia e por

acreditar que poderia chegar até aqui, desde o tecladinho desenhado na madeira no quintal de

casa. Pelas orações e apoio quando precisei ser amparando, sei que nunca serei grato o

suficiente, amo você!

A minha Vovó Nazaré de Almeida, por todo carinho que eu jamais receberei, todo

cuidado e atenção, e todas as horas acordada, preocupada me esperando chegar da

universidade.

Ao meu pai Everaldo Buarque que sempre me ensinou o caminho certo a seguir,

orientando e apoiando sempre que possível (Obrigado painho por pagar a taxa de inscrição do

vestibular! Olha aqui o resultado!).

Aos meus irmãos Ruth e David pelo amor e carinho dedicado e por fazer parte de

minha história musical.

A minha noiva Amanda Campos, essa mulher incrível! Por todo amor, compreensão e

confiança, pelo suporte nas horas de sufoco, por acreditar tão intensamente em mim.

Ao meu amigo Clodoaldo Azevedo meu primeiro professor de teclado que me ensinou

a dar os primeiros passos.

A professora Maria Clara de Almeida Gonzaga que me aceitou como aluno em sua

classe, e tem me ensinado com dedicação a ser melhor músico.

A Professora Lourdinha Lima pela oportunidade de trabalhar ao seu lado e pela

confiança em meu trabalho.

As crianças que participaram do curso de piano do IFRN, colaborando com a pesquisa

e com muitas horas divertidas também!

A minha orientadora Carolina Chaves Gomes, que acreditou em mim, me apoiou e se

dispôs a orientar-me desde o início dessa pesquisa. Você sempre receberá agradecimentos

meus!

Page 8: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

RESUMO

Este trabalho é fruto de minhas indagações a respeito das metodologias de ensino de piano

praticadas ao longo dos meus anos de estudo, tanto como aluno quanto como professor.

Apresenta portanto, uma possibilidade para o desenvolvimento das aulas que contemplem o

aprendizado técnico e a musicalidade, criando conceitos que se adéquam a Musicalização

Através do Piano (GONÇALVES, 2014). Trazendo discussões sobre pedagogia do ensino do

instrumento, planejamento e aplicação de aulas em grupo, atento a possibilidades provindas

do pensamento pedagógico de Edgar Willems e Carl Orff, além dos métodos de piano

escolhidos para este trabalho. Bem como apresenta os resultados obtidos pela análise

entrevistas, vídeos, fotografias, e do percurso didático traçando paralelos entre a educação

musical e o ensino de piano na busca de responder o que se fez a problemática desta pesquisa,

o uso de metodologias ativas, especificamente as abordagens de Edgar Willems e Carl Orff,

na Iniciação e Musicalização ao Piano.

PALAVRAS-CHAVE

Educação Musical, Iniciação ao Piano, Ensino de Piano em Grupo.

Page 9: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

ABSTRACT

This paper is a result of my questions regarding the methodologies of teaching piano

developed in my early years of study, as well in my experience as a teacher. Therefore it

presents the possibility to the development of classes that embrace the technical learning and

the musicianship, creating concepts that adapt itself to the Musicalization through the Piano

(GONÇALVES, 2014). It raise the discuss of pedagogy of teaching of this instrument,

planning and application on group classes, attempting to develop possibilities that came from

the Edgar Willem's and Carl Orff's pedagogic thinking. Furthermore, the analysis of a few

methods of teaching piano which ones was used in this work. In addition presents the results

obtained on the analysis of interviews, videos, photos and the didactic way, doing a parallel

between musical education and piano teaching, in search to answer the problematic of this

research, the use of active methodologies, specifically the approaches of Willems and Orff in

the initiation and musicalization through the piano.

KEY-WORDS

Musical Education, Piano Initiation, Group Piano Teaching.

Page 10: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

LISTA DE QUADROS E TABELAS

Quadro 1...............................................................................................................................26

Tabela 1................................................................................................................................42

Page 11: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

LISTA DE FIGURAS

Figura 01................................................................................................................................29

Figura 02................................................................................................................................31

Figura 03................................................................................................................................32

Figura 04................................................................................................................................33

Figura 05................................................................................................................................33

Figura 06................................................................................................................................34

Figura 07................................................................................................................................37

Figura 08................................................................................................................................37

Figura 09................................................................................................................................38

Figura 10................................................................................................................................38

Page 12: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

SUMÁRIO

INTRUDUÇÃO .......................................................................................................................11

CAPITULO I - CONTEXTUALIZAÇÃO E METODOLOGIA.............................................14

1.1. Caracterização da pesquisa.....................................................................................14

1.2. Instrumentos de construção e análise de dados......................................................15

CAPITULO II - SOBRE WILLEMS E ORFF E O ENSINO DE PIANO EM GRUPO.........17

2.1. Ensino de piano em grupo: conceitos, aspectos históricos e definições

atuais.........................................................................................................................................17

2.2. Ideias Pedagógicas de Alguns Autores..................................................................19

2.3. Aspectos da abordagem Orff..................................................................................22

2.4. Conceitos do método Willems...............................................................................22

2.5. Possibilidades para o ensino de piano em grupo....................................................23

CAPÍTULO III - PERCURSO DIDÁTICO E DESCRIÇÃO DAS AULAS..........................26

3.1. Ideia geral sobre a construção do percurso didático..............................................26

3.2. Desenvolvimento das aulas....................................................................................28

3.3. A criação musical como significação dos elementos da música em aulas de

piano em grupo.........................................................................................................................35

3.4. Processo de avaliação: a visão do professor...........................................................36

CAPITULO IV - AVALIAÇÃO DAS AULAS E DOS ALUNOS.........................................39

4.1. As vozes dos participantes: pais e alunos...............................................................39

4.2. Avaliação das aulas realizadas a partir das abordagens de ensino proposta..........42

4.3 O fim de um ciclo...................................................................................................43

CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................................52

BIBLIOGRAFIA.....................................................................................................................54

APÊNDICES...........................................................................................................................58

Page 13: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

11

INTRODUÇÃO

Muitas questões são respondidas e outras nascem durante o processo a qual somos

submetidos quando adentramos em um curso de graduação. O contato com esse novo modo

de pensar música nos enche os olhos e aguça a nossa curiosidade. Especificamente este

trabalho, entretanto, reflete um dos meus maiores questionamentos, pois sendo pianista e

professor de iniciação ao piano eu sempre procurei o melhor caminho para o aprendizado de

meus alunos, porém sem uma sistematização pedagógica adequada e uma reflexão não

direcionada, muitas coisas funcionaram e outras foram somente tentativas frustradas.

A busca por essa resposta me levou ao tema de pesquisa sobre o ensino de piano, pois

ao ingressar na licenciatura me deparei com vários conceitos sobre educação musical, e apesar

do foco na educação musical escolar escolhi voltar minha atenção para a construção do

aprendizado da música através do instrumento o qual estudo e tenho uma grande paixão.

O conhecimento que os teóricos da educação musical me propiciaram por sua vez, me

fizeram olhar o ensino do instrumento de maneira mais reflexiva, podendo analisar a minha

conduta como professor, bem como a minha aprendizagem como aluno. Minha motivação é,

pois, resultante das propostas pedagógicas as quais fui submetido durante meu

desenvolvimento instrumental/musical desde a infância, quando iniciei os estudos, até a fase

adulta ao ingressar no curso técnico de piano popular da Escola de Música da UFRN.

Olhando do ponto de vista do ensino de piano, percebemos que este tem um histórico

baseado no ensino individualizado e tecnicista, e no Brasil a herança do ensino conservatorial

europeu foi difundida por muitos anos, porém o que se observa é que nos últimos anos uma

quantidade importante de pesquisas tem sido realizada no Brasil e grande parte destes

trabalhos é voltada para a musicalização através do piano (SILVA e AZEVEDO, 2009), cria-

se então um conceito atual de ensino deste instrumento.

Neste trabalho apresento os resultados obtidos com a análise dos dados, bem como a

metodologia aplicada para alcançar os objetivos pretendidos. O intuito desta investigação é,

portanto, apresentar a maneira como trabalhei para responder a questão problema desta

pesquisa, de modo a apresentar os pressupostos teóricos, o método de formulação do curso

(que foi o meio pesquisado), as metas e objetivos traçados, dificuldades encontradas, etc. E

por fim apresentar os resultados obtidos com este trabalho, tendo como foco informar como se

deu esse processo e o que alcançamos dentro do objetivo traçado.

Page 14: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

12

Sendo assim se fez objetivo desta pesquisa discutir o uso de metodologias ativas,

especialmente as abordagens de Edgar Willems e Carl Orff, na Iniciação e Musicalização ao

Piano. Mais especificamente, procurei analisar essas abordagens verificando suas possíveis

interfaces com o ensino coletivo de instrumento. Foi meu intuito também identificar as

principais contribuições atuais da temática de ensino de Piano em grupo no Brasil e sua

contribuição para as aulas de musicalização através deste instrumento, observando como se

desenvolve a aprendizagem musical através do piano, aplicadas a partir uso de métodos

ativos.

Dentro dessa perspectiva, busquei verificar correlação entre o estudo técnico do piano

utilizando essas abordagens e o desenvolvimento das noções acerca da técnica pianística e da

música como um todo. A partir de então desenvolver atividades e planos de aula com base na

discussão apresentada, avaliando e desenvolvendo estratégias de musicalização ao piano que

contemplassem os princípios das abordagens de Orff e Willems, bem como o

desenvolvimento técnico e musical ao piano.

Desse modo, veremos no primeiro capítulo desta monografia a contextualização e

metodologia do trabalho, seguindo com a revisão de literatura, onde estão contidos todos os

pressupostos teóricos utilizados para fundamentar esta investigação. Traremos no capitulo três

um relato sobre como se desenvolveu o plano de curso, explicando sobre a estrutura elaborada

para a aula e como foram realizadas, focando nos principais aspectos da mesma. O próximo

capítulo tratará da avaliação e análise dos dados obtidos, contendo os resultados alcançados

com o desenvolvimento desta pesquisa, material este construído através das entrevistas

realizadas com pais e alunos, bem como com a análise dos vídeos e fotografias e do percurso

didático.

Sendo esse trabalho fruto de minhas indagações a respeito das metodologias de ensino

de piano, procurei com as conclusões dessa pesquisa, apresentar uma possibilidade viável

para o aprendizado tanto técnico do instrumento quanto da musicalidade, criando conceitos

que se adéquam a Educação Musical Através do Piano (GONÇALVES, 2014). Trazendo a

tona discussões sobre pedagogia do ensino do instrumento, planejamento e aplicação de aulas

em grupo, atento a possibilidades provindas do pensamento pedagógico de Edgar Willems e

Carl Orff, além dos métodos de piano escolhidos para este trabalho.

Espero que com este trabalho eu possa estar colaborando na produção e divulgação de

estratégias para o ensino do piano, bem como para a educação musical num contexto geral.

Sendo apenas o começo de uma longa caminhada na busca por soluções para um fazer

Page 15: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

13

musical pleno, onde não só as habilidades técnicas e os conhecimentos teóricos sejam

desenvolvidos, mas sim a música na sua totalidade, humana, expressiva e sensível.

Page 16: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

14

CAPÍTULO 1

CONTEXTUALIZAÇÃO E METODOLOGIA

1.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA

Esta pesquisa se caracteriza a partir de uma abordagem qualitativa do ponto de vista de

que o material estudado, pesquisado e apresentado nesse trabalho traz aspectos da experiência

empírica de um professor, no caso a minha, e investiga temas relacionados a vivência e

experiência dos alunos envolvidos. Ainda podemos considerar esse trabalho como uma

investigação qualitativa pelo envolvimento pessoal com os participantes, a estada prolongada

no local onde se desenvolveu a mesma (dois anos), bem como, a maneira como seus dados

foram formatados, principalmente em textos e tabelas mais do que em números (BRESLER,

2007).

Pesquisar alternativas para o desenvolvimento da ação pedagógica no contexto do

ensino de piano em grupo com foco na musicalização, estando portanto o investigador

inserido no próprio contexto e sendo ele próprio sujeito dessa investigação, caracteriza uma

investigação-ação, que segundo Bogdan e Biklen (1994, p. 293) “é um tipo de investigação

aplicada no qual o investigador se envolve ativamente na causa da investigação”. Este termo,

pesquisa-ação, é ainda um termo geral para qualquer processo que se baseie em um ciclo no

qual se aprimora a prática pela variação sistemática entre a ação no campo da prática e a

investigação a respeito dela (TRIPP, 2006).

Este trabalho por sua vez teve como universo de pesquisa duas turmas de iniciação ao

piano do curso de extensão do Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do Rio Grande do

Norte (IFRN), Campus Cidade Alta. Local este onde fui estagiário corepetidor do coral

infantil, e vendo a possibilidade de desenvolver este trabalho, lancei a proposta para a

professora orientadora do estágio, de realizar as aulas de teclado.

A seleção das crianças foi feita através de sorteio, pois em virtude de serem poucas

vagas, optei por esse método. Primeiro utilizamos o ensaio do coral, todas as segundas e

quartas, e perguntei quem gostaria de estudar teclado, depois com os que tinham o interesse os

indagados a respeito da disponibilidade nos horários previstos, daí em diante coletamos os

nomes dos que queriam, tinham disponibilidade e fizemos o sorteio.

Os alunos participantes deste trabalho são oriundos de contextos sociais distintos,

tendo deste modo várias concepções e gostos musicais contrastantes. Como todos são

participantes do coral, lhes é proporcionado através deste, uma certa experiência com a

Page 17: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

15

música, além de alguns já possuírem contato com outros instrumentos como, violão e até

mesmo teclado anteriormente ao curso.

Foram formadas duas turmas, cada turma era composta por três alunos, com faixa

etária entre 10 e 12 anos, a maioria oriundos do Projeto de Extensão do Coral Infantil do

IFRN, com coordenação da professora Maria de Lourdes Lima de Souza Medeiros. Ao final

apenas quatro crianças finalizaram o curso, algumas saíram por conta de problemas familiares

e houve também a questão de incompatibilidade com o horário escolar. O ambiente onde

ocorreram as aulas de música era bastante propício ao desenvolvimento do estudo por contar

com climatização e materiais que propiciaram uma qualidade para o estudo, dentre os

equipamentos dispúnhamos de: dois teclados eletrônico, metalofones, xilofones, instrumentos

de percussão, flautas doce, livros didáticos, quadro branco pautado e um data show.

1.2. INSTRUMENTOS DE CONSTRUÇÃO E ANÁLISE DE DADOS

Considerando que o objetivo desta investigação constituiu-se em discutir o uso de

metodologias ativas, especificamente as abordagens de Edgar Willems e Carl Orff, na

Iniciação e Musicalização ao Piano, com duas turmas de piano coletivo compostas por

crianças entre 10 a 12 anos, utilizei como instrumento de coleta de dados a observação dos

sujeitos envolvidos ao longo das aulas, além de entrevistas semiestruturadas com pais e

alunos e análise de vídeos e fotografias dos momentos de aula, apresentações etc.

Para construir os dados a respeito do desenvolvimento técnico, postural, bem como do

espaço e atividades realizadas usamos como instrumento a fotografia que segundo Bogdan e

Biklen (1994), está intimamente ligada a investigação qualitativa e esta por sua vez é capaz de

gerar dados descritivos (BOGDAN e BIKLEN, 1994, p.183). Além da fotografia, utilizamos

o registro em vídeo das atividades, da interação dos alunos com o espaço bem como dos

recitais, para verificar a aprendizagem de fatores relacionados à técnica e a postura, bem

como para análise dos resultados obtidos com as atividades, como também registro das

apresentações dos alunos para avaliar o desenvolvimento geral.

Procurando observar elementos de continuidade fiz a documentação dos planos de

aula e relatórios de aula. Realizei a seleção e catalogação do repertório e avaliei o

desenvolvimento técnico através da identificação da complexidade de cada peça. Logo após a

parte prática foi realizada uma entrevista estruturada com os pais e crianças, visto que é na

entrevista que recolhemos dados descritivos na linguagem dos próprios participantes, trazendo

à tona a ideia criada pelos pais e participantes a respeito do processo a qual foram submetidos

Page 18: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

16

(BOGDAN e BIKLEN, 1994, p.134). Porém das quatro crianças que finalizaram o curso foi

possível contatar apenas três, pois após o termino das atividades ficou inviabilizado contato

com um dos alunos visto que esta morava fora da cidade.

Tendo os materiais devidamente coletados, os meios para essa análise foram:

avaliação do percurso didático, a fim de identificar nos objetivos, atividades, repertório a

relação com as aulas anteriores e posteriores; as transcrições das principais atividades

desenvolvidas em sala a partir do registro em vídeo; seleção e edição do material observado

nos vídeos, selecionando o que foi relevante de acordo com os objetivos da pesquisa; escolha

de fotografias que representassem o espaço, materiais e desenvolvimento geral das aulas,

ajudando a entender as dificuldades e facilidades da execução das aulas; tabulação dos

questionários e desenvolvimento de tabelas, para a obtenção de dados quantitativos que

pudessem auxiliar no desenvolvimento de estratégia e/ou caracterização dos sujeitos; e, por

fim, transcrição e textualização das entrevistas, com vistas a verificar a percepção dos alunos

sobre os processos de ensino e aprendizagem no qual foram partícipes.

Por fim trabalhei na elaboração de relatório final que se configura nesta monografia,

detalhando as etapas do processo até a conclusão. Para divulgar este trabalho organizei artigos

diversos, dentre os quais estão/serão publicados nos anais de congressos da área de Música e

Educação Musical (BUARQUE e GOMES, 2013).

Após a explanação dos tópicos referentes aos procedimentos usados para o

desenvolvimento desta pesquisa, o próximo capítulo tratará da revisão da bibliografia

escolhida pra fundamentar este trabalho.

Page 19: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

17

CAPÍTULO 2

SOBRE WILLEMS, ORFF E ENSINO DE PIANO EM GRUPO

2.1 ENSINO DE PIANO EM GRUPO: conceitos, aspectos históricos e definições atuais

Pesquisando sobre o ensino de piano em artigos e livros, pude perceber que este é

historicamente conhecido pelo rigor e a dureza nos discursos dos professores. É comum

ouvirmos alguém que estudou no sistema conservatorial, dizer que aprendia sob

circunstâncias pouco sutis. Entretanto, o perfil do professor exigente e o sistema de hierarquia

ainda persistem no ideal de alguns professores, não somente no Brasil, e durante muito tempo

seguiu-se reproduzindo uma pedagogia pianística de matriz essencialmente europeia

(AMATO, 2007). O fato é que muitos professores tendem a repassar o modelo de

aprendizagem ao qual foram submetidos e findam por continuarem reproduzindo um padrão

pautado no virtuosismo, configurando um “ensino tradicional” (FONTERRADA e GLASER,

2006), e hoje sabemos que é difícil praticar, sob quaisquer contextos, uma pedagogia tal qual

realizada e idealizada sobre plataformas inflexíveis em uma realidade que se configura

particular e contextual.

Ao longo do tempo com o advento de novas metodologias, temos visto mudanças

significativas tanto de pensamento didático, quanto na preocupação sobre o que é realmente

essencial no estudo do piano, como, por exemplo, a quantidade de horas que se deve estudar

por dia para se obter um bom resultado, ou a necessidade de estudar técnica antes do

repertório. Chang (apud LEMOS, 2012) discorre sobre a prática deliberada (quanto mais

horas você estuda maior é o desenvolvimento) afirmando que essa prática é desestimulante e

desnecessária. O que ele sugere é utilizar objetivamente a energia, levando em consideração o

estado de descanso do corpo e respeitando seus limites.

Em relação ao que chamamos “prática deliberada” - que é o excesso de estudo

mecânico para a perfeita execução - o que acontece é que os limites do corpo não são

respeitados, tornando o estudo ineficaz. Lemos (2012) caracteriza o foco excessivo na técnica

como possível causa de evasão e baixa demanda nos cursos de piano. Esses são apenas alguns

exemplos sobre as mudanças no pensamento metodológico do ensino do piano, entre tantos

outros que poderíamos citar.

Mas afinal o que seria um ensino de piano eficaz, e qual modelo é o mais adequado a

seguir? A resposta a essa pergunta está no simples fato de que não existe como se apropriar de

um modelo didático e tomá-lo como único meio de aprendizagem, pois no meio de tantos

Page 20: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

18

contextos sociais e de aspectos individuais de cada aluno, não podemos nos prender a aplicar

métodos pré-determinados diante de tantas perspectivas (sociais, cognitivas, culturais etc.) sob

as quais vivemos (SCARAMBONE e MONTANDON, 2008).

É nesse contexto que onde se insere a educação musical contemporânea, que

compreende que há muitas soluções para o mesmo problema. Atualmente o campo de

pesquisa que tem se dedicado a investigar a atuação do professor de instrumento tem crescido

(TOURINHO e BARRETO, 2006; BOZZETTO, 2004; LOURO, 2004; MONTANDON,

1998), bem como aquele que diz respeito a metodologias adotadas para o ensino do piano

(FONTERRADA e GLASER, 2006; TOURINHO e BARRETO, 2006; CARVALHO, 2004;

LOURO, 2004; MONTANDON, 2004). Essas contribuições nos dão opções para se trabalhar

de forma criativa e - longe dos paradigmas os quais se pensava serem eficazes - desenvolver

uma leitura da realidade na qual iremos trabalhar, e traçar o caminho para um aprendizado

musical eficiente. Nesse sentido, cabe discutir os conceitos e definições de autores acerca do

ensino de piano para turmas com mais de um aluno que recebe, ainda, denominações diversas

como: ensino de piano em grupo e ensino coletivo de piano.

Nascimento (2007) define a metodologia de ensino coletivo de instrumentos

musicais como aulas que são ministradas ao mesmo tempo para vários alunos. E dentro desse

conceito subdividem-se em turmas homogêneas, quando o mesmo instrumento é ensinado em

grupo, e heterogêneas, quando são aulas coletivas em que vários instrumentos diferentes são

ensinados ao mesmo tempo.

Segundo Pace (1961) a categoria de aulas de piano compreende 5 possibilidades: o

ensino individual, master class, conhecimento de piano, experiência de teclado e piano em

grupo. O último se caracteriza por aulas que são ministradas para dois ou mais alunos onde há

interação entre os mesmos, numa aprendizagem dinâmica, visando as habilidades técnicas

necessárias, a análise auditiva visual e critica de si mesmo e dos colegas, desenvolvendo desse

modo a consciência e a criatividade a respeito dos conteúdos apresentados.

Complementarmente, com relação ao ensino em grupo, Lemos (2012) afirma que se

caracteriza pela interação entre os alunos, estes por sua vez têm participação ativa no fazer

musical. Neste contexto de ensino, os alunos trocam informações, refletem sobre o repertório

trabalhado, sugerem ideias musicais, entre outros.

Melo (2002) define algumas características das aulas de piano em grupo como os

procedimentos metodológicos diferentes e adaptados ao ensino de piano, a percepção e os

conhecimentos teóricos, unido no processo aplicado à criatividade. Lista também os

Page 21: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

19

conteúdos que devem constar numa abordagem como esta, os quais seriam: “técnica,

elementos teóricos, percepção (no repertório), criatividade, improvisação e leitura” (MELO,

2002, p.19).

Para este trabalho, escolhemos utilizar o conceito de piano em grupo em razão de que

essa ação pedagógica foi desenvolvida em caráter interativo e os alunos participantes se

relacionaram entre si durante as atividades, opinaram, construíram juntos os conhecimentos e

assuntos abordados nas aulas. Desse modo caracterizo nossas aulas como Aulas de Piano em

Grupo, definindo assim um dos eixos deste trabalho que se soma ainda a Educação musical e

aos Métodos ativos de ensino da Música.

2.2 IDEIAS PEDAGÓGICAS DE ALGUNS AUTORES

Os autores de trabalhos voltados ao ensino de piano utilizados para a fundamentação

deste trabalho foram escolhidos de acordo com os seguintes critérios: conhecimento e

utilização em trabalhos anteriores, possibilidade de adaptação à realidade dos alunos do

projeto em que se estabeleceu a pesquisa, e repertório diversificado (popular e erudito).

Realizamos leituras de seus trabalhos e escolhemos alguns fundamentos provindos de suas

pesquisas, no intuito de visualizar o que seria interessante dentro da proposta de cada autor,

para ser utilizado nas nossas aulas e o resultado encontra-se nos tópicos a seguir.

2.2.1. Leila Fletcher

Podemos observar no volume I da serie The Leila Fletcher Piano Course a

preocupação da autora em relação ao aprendizado do instrumento a partir da vivência direta

com o piano considerando o aluno participante ativo no processo de aprendizagem.

A autora escreve na introdução do livro I, que a “aprender música deveria ser como

aprender um idioma, ouvindo, cantando, tocando canções fáceis, e progressivamente

aprendendo a gramática da música”1 [tradução do autor] (FLETCHER, 1981, p. 02). Nesse

sentido, há a preocupação em desenvolver a musicalidade e não só praticar um discurso

tecnicista.

Pude observar que seu trabalho se desenvolve com a aprendizagem gradual através do

uso de leituras a partir do Dó central, utilizando apenas 5 notas: Lá, Si, Dó central, Ré e Mi.

Existem algumas críticas em relação a esse sistema, porém para os primeiros passos na leitura

musical notamos que é muito estimulante e motivador. O repertório, por sua vez, tem em sua

1 Music should be learned as a language is learnedby listenning, by singing and playing easy songs, and as

education progress by learning the Grammar of music (FLETCHER, 1981, p. 02).

Page 22: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

20

maioria canções do repertório popular americano, porém algumas das canções têm versões em

português e são conhecidas possibilitando seu uso.

Sendo assim podemos resumir que escolhemos atividades deste método por se tratar

de uma abordagem interessante para a aplicação inicial da leitura e por proporcionar um

condicionamento e adaptação rápida. Utilizei o seu repertório por poder ser cantado, contém

muitas possibilidades de atividades para o desenvolvimento técnico, o que nos dá mais opções

para o trabalho em grupo.

2.2.2. Alice G. Botelho

Meu Piano é Divertido v.II (1987) tem uma abordagem parecida com a da autora

anterior, também utiliza clave de Sol e Fá desde o início desenvolvendo o aprendizado da

leitura através do Dó central. Isto torna, segundo a autora, o aprendizado mais fácil, pois

“descarta a necessidade de decorar as notas em outra clave” (BOTELHO, 1987 p. 05).

Observamos que o conteúdo, mais especificamente o repertório, dispõe de muitas peças que

utilizam a tríade dos acordes maiores e menores e inversões dos mesmos de forma simples,

tocados tanto melódica quanto harmonicamente. Assim como no Leila Fletcher, também é

possível cantar o repertório que vem acompanhado do texto na parte inferior da clave de sol.

Existe um cuidado em desenvolver o aprendizado de forma a contextualizar o ensino

do instrumento sem deixar de lado a importância do conhecimento da estrutura da música,

inserindo a leitura musical de forma gradual, primeiro simbolizando as alturas

indefinidamente e utilizando um gráfico semelhante ao gráfico de altura do método Willems.

É interessante salientar que o uso do volume II especificamente se dá pelo fato de ter

sido usado na segunda etapa do curso e dessa maneira não seria necessário algo tão elementar

como o volume I. A autora sugere introduzir o repertório desde o início através da imitação,

proporcionando ao aluno a possibilidade de tocar antes mesmo de desenvolver habilidades

técnicas. Visando o desenvolvimento da musicalidade, o método traz os conteúdos da

linguagem musical anexos os exercícios práticos.

2.2.3. Antonio Adolfo

Antônio Adolfo em seu livro Método de Iniciação ao Piano e Teclado (ADOLFO,

1994) “apresenta conceitos através do contato prático direto com o piano e suas características

idiomáticas” (LEMOS, 2012 p. 109). De acordo com Adolfo (1994, p. 06), o trabalho

“apresenta os parâmetros básicos da música, ensinando os primeiros passos e fazendo com

Page 23: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

21

que o aluno tenha contato com o(s) instrumento(s) sem receios, ou melhor, incentivando-o a

expressão musical”.

Observamos neste método a preocupação inicial com o fato de que é importante

conhecer o instrumento, suas regiões e possibilidades no que diz respeito à sua execução. O

autor apresenta uma introdução ao teclado e suas funções – timbres, estilos etc... – bem como

ao piano mostrando a extensão do instrumento, sugerindo atividades que explorem esses

aspectos de forma livre.

2.2.4. Maria de Lourdes Junqueira Gonçalves

A obra Educação Musical Através do Teclado traz um material completo para o

desenvolvimento das aulas segundo sua perspectiva. Compreende tanto o material do aluno

quanto as orientações que conduzem o professor nas aulas. Segundo a própria Gonçalves

(1989, p.05),

O elemento inovador da metodologia adotada na série Educação Musical

através do Teclado (doravante EMaT) consiste em reconhecer que o

processo ensino/aprendizagem do piano, limitado à prática de técnica e

repertório, limita também o desenvolvimento da musicalidade do aluno

(GONÇALVES, 1989, p.05).

É muito importante observar sua análise do que seria o aprendizado da leitura

pianística. Melo (2002) sobre esse aspecto ressalta que envolver o aluno numa esfera de

atividades práticas em função do aprendizado do instrumento faz com que o processo áudio-

visual-tátil acabe sendo desenvolvido, pois o piano é um instrumento polifônico do qual se

devem aproveitar as vantagens de uma compreensão do aspecto da leitura vertical. “A leitura

não faz do aluno um decodificador de símbolos, mas permite que trabalhe a percepção visual

com significado expressivo” (MELO, 2002, p. 40).

Outro aspecto importante deste método se trata da estrutura da aula e do planejamento

das ações a serem realizadas em grupo. Suas contribuições nesse ponto se tornam

indispensáveis, pois o aspecto principal de uma aula em grupo é o planejamento que

conduzirá a aula ao seu objetivo (DEL BEN, HENTSCHKE, 2003, p.183).

Considerando que o objetivo desta pesquisa busca a interseção com as abordagens e

metodologias de ensino de Willems e Orff, passarei a seguir a uma discussão reflexiva acerca

das proposições desses educadores e sua aplicação no ensino de piano em grupo.

Page 24: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

22

2.3. ASPECTOS DA ABORDAGEM ORFF

Em relação a Orff vemos que ele não teve o intuito de sistematizar sua abordagem, não

criou traçados metodológicos para aplicação de suas ideias pedagógicas, porém, tal aspecto

ficou sob responsabilidade de seus discípulos. O ponto de partida da construção do

Schulwerk2 foi o canto do cuco, a terça descendente, aumentado gradativamente o intervalo

para uma escala pentatônica, sem meios tons, tendo esta uma proximidade com a escala

maior. Em relação à linguagem o ponto de partida foram os nomes das crianças, parlendas e

canções infantis simples (ORFF, 1965, p.03).

Orff ressalta que esse era um ambiente facilmente acessível a todas as crianças. E seu

pensamento educacional não estava voltado só para quem fosse dotado de habilidades

musicais e sim para todas que pudessem acompanhar, e revela que em sua experiência

raramente existe uma criança totalmente não musical. Para Hermman (1975) o conceito que

Orff defende é que o aprendizado musical deve se iniciar de forma simples e essencial porém

esse “simples” não quer dizer fácil de mais, de modo que o aprendizado produza desafios.

Hermman (1975), por outro lado, sintetiza o pensamento pedagógico de Orff

descrevendo os comportamentos que devem ser internalizados pelas crianças através da

música, os quais são denominados: Motivação - sendo a música por si só o grande incentivo

ao seu estudo; Exploração - a descoberta dos elementos musicais de forma a interessante e

criativa; Sensibilização - experimentar os elementos que compõem a música; O Fazer musical

- desenvolvimento psicomotor, tocar, compor, improvisar etc.; E Conhecimento da estrutura

da música - teoria e estruturação musical (HERMANN, 1975, p. 178).

Desse modo essa proposta permite que cada professor crie seu caminho a partir de

padrões sugeridos por Carl Orff. Essa abertura permite contextualizar as aulas, de acordo com

a vivência dos alunos e professor (GOODKIN, 2004), e também torna necessário que os

professores sejam criativos, estando aptos a buscar vários caminhos para a concretização do

aprendizado musical (SALIBA, 1991).

2.4. CONCEITOS DO MÉTODO WILLEMS

Carmem Mettig Rocha (1990) ressalta que para Willems os elementos constitutivos da

música não são apenas fenômenos físicos, mas elemento da vida de ordem fisiológica, ou seja

devem ser desenvolvidos a partir de experiências pessoais e práticas, por ser parte constituinte

2 É o termo em alemão usado para a abordagem criada por Carl Orff e Gunild Keetman e significa tarefa escolar

(GOODKIN, 2004).

Page 25: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

23

do ser humano. Para ele, a prática vem antes da conceituação dos elementos, assim como Carl

Orff, Edgar Willems utiliza a canção, porém neste caso é a canção o centro do seu método,

pois segundo ele, engloba o ritmo e a melodia e inconscientemente introduz os elementos

harmônicos (FONTERRADA, 2008; PAZ, 2000).

Vemos portanto que existe uma relação entre a canção e o bom desempenho na

aprendizado musical, visto que a criança não compreende os elementos da música

separadamente (SUBTIL, 2006). Entre os objetivos do uso desse elemento em sua

metodologia, Willems ressalta entre outros propósitos o fato de usá-la como preparação para o

instrumento (ROCHA, 2013).

Existem três aspectos do som e seus elementos principais que podem ser trabalhados

durante as aulas de musicalização através do piano, e que são pontos importantes do método

Willems: o aspecto sensorial, o aspecto afetivo e o aspecto mental, cada um deles relacionado

à música e seus elementos. Por isso a canção – unindo ritmo, melodia e harmonia para um

fazer musical concreto – seria a forma mais completa de aprender música (ROCHA, 2013).

Para Willems, as etapas para o aprendizado musical devem ser claras, partindo de um

desenvolvimento auditivo que priorize o ouvir, reconhecer e reproduzir, posteriormente

passando a comparar, ordenar e classificar (PAZ, 2000; ROCHA, 2013). Dessa perspectiva,

ele considera importante o desenvolvimento auditivo como base da construção musical do

indivíduo, um ponto importante a se explorar nas aulas de piano. Ouvir e desenvolver uma

sensibilidade auditiva a partir de princípios embasados no desenvolvimento humano natural

propicia uma aproximação do aluno com o universo dos sons, e torna-o sensível a esse

elemento fundamental da música.

2.5. POSSIBILIDADES PARA O ENSINO DE PIANO EM GRUPO

O Ensino de Piano em Grupo (EPG) possibilita uma gama de atividades por seu

caráter de aula coletiva. Essas atividades podem contribuir para o desenvolvimento dos alunos

do ponto de vista de que aqueles envolvidos nessa aprendizagem podem cooperar entre si,

contribuindo para o aprendizado um do outro (DANTAS, BRAGA e ROCHA, 2010). Dentre

estas alternativas, faremos neste tópico uma descrição de algumas possibilidades

identificadas, provindas dos métodos e autores estudados, relacionado seus conceitos ao EPG.

Na proposta de Orff a utilização da palavra, a canção e a expressão corporal são

elementos de sensibilização musical, são portanto o fio condutor para o aprendizado. Saliba

(1991, p.02) explica que “para a criança é natural o uso do corpo como significado da

Page 26: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

24

expressão rítmica”3. Desse ponto de vista, podemos utilizar esse recurso nas aulas de

musicalização através do piano fazendo com que os alunos vivenciem o elemento ritmo com o

corpo, preparando-o para o que vai executar no instrumento dando, assim, significado ao que

irá tocar. É ao mesmo tempo proporcionar uma releitura e reflexão acerca do conhecimento

musical.

É possível ainda dentro da proposta de Orff, utilizar onomatopeias para apropriar-se

da divisão rítmica, usar palavras e enfatizar uma sílaba relacionando aos acentos métricos

(aspectos já característico da abordagem Orff para musicalização), realizar batimentos

corporais para a apropriação de padrões rítmicos a serem executados no piano e que exigem

coordenação motora e independência de mãos. Sabemos que o estudo e o bom

desenvolvimento do aprendizado do piano, está ligado a uma boa coordenação motora.

Por essa razão, consideramos que os aspectos da abordagem Orff acima relacionados

podem ser utilizados para fins de desenvolver e dar uma excelente base rítmica, bem como

trabalhar aspectos ligados a lateralidade e coordenação motora. O ritmo sentido com o corpo,

percebido através das palavras e até mesmo no uso do seu instrumental específico (incluindo-

se aqui os metalofones e xilofones), são propostas dessa abordagem que experimentei nas

aulas de piano.

Em Willems, como já citado, vemos que existem três aspectos do som e seus

elementos principais que podem ser trabalhados durante as aulas de musicalização através do

piano: o aspecto sensorial, o aspecto afetivo e o aspecto mental. Trazendo esses aspectos

propostos por ele, é possível desenvolver atividades práticas que englobem elementos da

musicalização e aprendizagem do piano, proporcionando aos alunos a descoberta em conjunto

de conceitos musicais e a experimentação dos mesmos, através de exercícios de

desenvolvimento rítmico e auditivo, propostos pelo método Willems, aplicados com o uso do

piano, fazendo com que a aula seja dessa maneira mais dinâmica.

Dentre outros princípios, Willems, assim como Orff, também enfatiza a expressão

corporal e a participação do aluno no fazer musical como imprescindíveis para um

aprendizado musical significativo. Desse modo, consideramos utilizar nas nossas aulas

elementos que possibilitassem a vivência do que se iria aprender, por exemplo, cantar as

canções que iremos executar no instrumento, seja com letra ou com nomes das notas, sentir a

pulsação com o corpo etc.

3 “For children it is natural to use the body as a means of expressing rhythm” (SALIBA, 1991, p. 2).

Page 27: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

25

Em Willems o preparo auditivo precede o ensino de um instrumento musical, por

isso é importante desenvolver atividades que proporcionem conhecer e vivenciar o repertório

a ser tocado no piano, internalizar os sons das escalas e intervalos através de exercícios com

canções, audição crítica das peças do repertório a ser estudado, ou simplesmente atividades de

apreciação musical ativa, dentre outras atividades realizadas a partir da escuta.

Dessa perspectiva, consideramos a preocupação do autor no que diz respeito ao

desenvolvimento auditivo como base da construção musical do indivíduo, um ponto

importante a se explorar nas aulas de piano. Ouvir e desenvolver uma sensibilidade auditiva a

partir de princípios embasados no desenvolvimento humano natural propicia uma

aproximação do aluno com os sons e torna-o sensível a esse elemento fundamental da música.

Trazendo esses aspectos propostos por Willems para EPG, podemos desenvolver

atividades práticas que englobem elementos da musicalização e aprendizagem do piano,

proporcionando aos alunos a descoberta em conjunto de conceitos musicais, e a

experimentação dos mesmos, através de exercícios de desenvolvimento rítmico e auditivo,

propostos pelo método Willems, aplicados com o uso do instrumento, fazendo com que a aula

seja dessa maneira mais dinâmica.

Dentre outros princípios, Willems, assim como Orff, também enfatiza a expressão

corporal e a participação do aluno no fazer musical como imprescindíveis para um

aprendizado musical significativo. Desse modo, pesquisamos atividades que proporcionassem

conhecer e vivenciar o repertório a ser tocado no piano, internalizando os sons das escalas e

intervalos através de exercícios com canções, audição crítica das peças do repertório a ser

estudado, ou simplesmente atividades de apreciação musical ativa, dentre outras realizadas a

partir da escuta.

Nesse contexto, nosso trabalho foi aproximar a relação entre as abordagens

pedagógico-musicais aqui discutidas e o ensino de piano. Reiteramos essa possibilidade com

a fala de uma das pioneiras do ensino de piano em grupo, Gonçalves (1989), ao ressaltar que,

Educação Musical através do Teclado caracteriza-se pelo enfoque dado à

correlação entre executar, criar e ouvir música, atividades que, requerendo

uma diversidade de comportamentos musicais, podem ser integradas no

processo ensino/aprendizagem (GONÇALVES, 1989, p.05).

Aspectos esses discutidos amplamente pelos educadores musicais apresentados,

realizando uma interface, um caminho possível de ser trilhado dentro dessa perspectiva.

Page 28: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

26

Realizada essa pequena análise passo a explanar no próximo capítulo a formatação do

plano de curso e o desenvolvimento das aulas, trazendo as reflexões realizadas neste capítulo

de revisão bibliográfica, para a prática, que seria aquilo que absorvemos das leituras

realizadas e onde nos guiamos para produzir o material que guiaria nossa ação pedagógica.

Page 29: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

26

CAPÍTULO 3

ANÁLISE E DESENVOLVIMENTO DAS AULAS

3.1. IDEIA GERAL SOBRE A CONSTRUÇÃO DO PERCURSO DIDÁTICO

Para criarmos o percurso que nortearia nossa proposta, construímos um mapa dos

principais elementos abordados no aprendizado da música e da técnica pianística, verificados

tanto nos métodos analisados quanto pela prática pedagógica já realizada, sendo identificados

os seguintes aspectos: Estruturação e Leitura musical, Apreciação, Desenvolvimento Rítmico

e Auditivo, Criação, Improvisação, Técnica pianística e Repertório.

Quadro 1: Conteúdos do curso x níveis

NÍVEL 1

(8 aulas)

NÍVEL 2

(8 aulas)

NÍVEL 3

(16 aulas)

Estruturação musical (pulso, métrica,

ritmo, altura, intensidade, timbre etc.)

Estruturação musical Estruturação musical

Apreciação Apreciação Apreciação

Criação Musical (livre) Criação Musical (sobre o pentacorde) Criação Musical (sobre o tom)

Improvisação (livre) Improvisação (sobre o pentacorde) Improvisação (sobre o tom)

Leitura musical (leitura de gráficos) Leitura musical (pelo Dó central) Leitura musical (múltiplas tonalidades)

Desenvolvimento rítmico e auditivo Desenvolvimento rítmico e auditivo Desenvolvimento rítmico e auditivo

Desenvolvimento motor Técnica Pianística Técnica Pianística

Repertório (por imitação) Repertório (leituras simples, melodia e

cifra)

Repertório (duas claves, melodia e

cifra)

Dividimos o percurso em 3 unidades (Nível 1, 2 e 3) de 8 aulas os dois primeiros e 16

o último, totalizando 32 semanas, realizando uma aula semanal, partindo do pressuposto de

que o cérebro precisa de um tempo para realizar a construção do conhecimento. Lemos (2012)

enfatiza que “é importante descansar após seções de estudo”, pois “pesquisas na área de

Neurociência comprovam que o desenvolvimento musical estabelece novas ligações entre os

neurônios, atividade que ocorre no período de descanso”.

Para as primeiras 8 semanas separamos os conteúdos que dizem respeito a estruturação

musical em si: pulso, métrica, ritmo, nome das notas, localização das mesmas no teclado,

altura, intensidade, timbre, e ainda os primeiros conceitos sobre postura das mãos e

consciência corporal ao piano (FLETCHER, 1981; BOTELHO, 1987; GONÇALVES, 1989;

ADOLFO, 1994; FONTERRADA, 2005; DEL BEN e HENTSCHKE, 2003). Procuramos não

dissociar os conteúdos do instrumento, desse modo, tomamos o cuidado de sempre estar

fazendo ligação das atividades e vivências corporais e vocais com o instrumento, sendo ele o

viés do aprendizado dos temas citados.

Page 30: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

27

A respeito da importância de integrar nas aulas de piano os elementos da estruturação

musical já na iniciação, Nilson (2005, p.14) afirma que:

USZLER (1991, p. 214-215 e p. 227) considera que os primeiros dois anos

de estudo compreendem o período em que a criança irá desenvolver noções

básicas de leitura - como ler à primeira vista um repertório simples contendo

conceitos estudados nos métodos - e desenvolver habilidades técnicas

preliminares, como postura correta do corpo, da posição dos braços, mãos e

dedos. Além disso, a autora acrescenta que neste período o aluno deve ter

desenvolvido habilidades funcionais básicas como improvisar e harmonizar

melodias simples e ter manipulado recursos expressivos elementares como

dinâmica forte e piano, crescendos, decrescendos e rallentando (NILSON,

2005, p.14)

Após as primeiras 8 aulas introduzimos o conceito do pentacorde e todas as

possibilidades provindas do mesmo: tríades, melodias compostas ou improvisadas dentro das

5 notas, percepção da escala maior, intervalos simples, transposição, acompanhamento em

ostinato usando o conceito de música elementar que, segundo Orff (1965, p.03) é uma música

que não nasce sozinha, ela vem acompanhada de movimento (a dança ou a linguagem), é a

música que uma pessoa por si só pode construir e onde ela não esta incluída apenas como

ouvinte e sim como coparticipante.

No nível 3, que segue a partir da semana 16 enfatizamos o aprendizado técnico através

do repertório em grupo e solista, e o arranjo coletivo, bem como, a apreciação e

desenvolvimento da sensibilidade aos elementos sonoros, nesta etapa o programa compreende

atividades de percepção aliadas à análise das peças e do conteúdo da estruturação musical

presentes nela como sugere Botelho (1987), ressaltando que essa prática “proporciona ao

estudante, acurado conhecimento de fórmulas de compasso, acidentes, escalas etc.”

(BOTELHO 1987, p. 05).

As atividades de leitura foram dirigidas de acordo com as sugestões do método Leila

Fletcher e do EMAT, por permitir uma adaptação gradual de alguns domínios necessários,

especificamente Gonçalves (1987) sugere em seu método o uso de gráficos que possibilitam a

adaptação gradual à leitura de signos, para o desenvolvimento da lateralidade integrada a

interpretação destes para o ritmo ou para o som. Utilizamos entretanto pra este fim, os

gráficos Willems, em razão de existir um gráfico para cada elemento no desenvolvimento da

leitura de símbolos musicais visando a leitura.

Posteriormente introduzimos o Leila Fletcher realizando as primeiras leituras do livro,

por serem de fácil adaptação, servindo de estimulando inicial ao aluno, seguindo com outras

atividades de leituras realizadas se utilizando de outros padrões de leitura que não pelo dó

Page 31: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

28

central, proporcionando uma gama de possibilidades, sempre observando desenvolvimento

para não pular etapas. Esta atividade era elemento integrante de todas aulas, que se

desenvolveram com base em 5 momentos: Integração, que agrega aquecimento alongamento;

Exercícios Preparatórios; Exercícios ao Piano; Leitura e Repertório. No próximo tópico

detalharemos o que seria cada momento e as principais atividades desenvolvidas em cada um

destes.

3.2. DESENVOLVIMENTO DAS AULAS

Nessa etapa do processo reunimos todos os conceitos previamente formulados e o que

tentamos fazer foi por tanto, criar atividades que fossem passíveis da participação de todos os

alunos, gerando assim uma dinâmica de grupo que pudesse culminar num aprendizado

coletivo e significativo. As aulas iniciais foram planejadas, como mencionado no tópico

anterior, tendo em vista a introdução ao aprendizado dos princípios básicos da música. Assim,

os tópicos a seguir irão se orientar a partir dos momentos da aula já apresentados: Exercício

de integração, aquecimento e alongamento; Exercícios Preparatórios; Exercícios ao piano;

Atividades de leitura; Prática de repertório.

3.2.1 Exercícios de integração, aquecimento e alongamento

Valorizamos aplicar a prática da expressão corporal tomando por principio que o

instrumento é uma extensão do corpo e é necessário desenvolver uma consciência corporal,

bem como para a interação social, demos o nome a esses momentos de Integração, que

agregou também exercícios de aquecimento e alongamento. A preocupação nessa construção

foi possibilitar a sensibilização dos elementos musicais dando ao aluno não apenas a mecânica

do movimento que produz o som no instrumento, mas lhe proporcionando a consciência dos

elementos que o compõe.

3.2.2 Exercícios preparatórios

Para as primeiras vivências formulamos atividades a fim de desenvolver a

sensibilidade aos elementos que compõe a música e para este fim foram aplicadas exercícios

de memorização e automatização do nome das notas, exercícios de locomoção, com a

intenção de criar o sentido de pulso e andamento.

As atividades desse momento da aula contemplaram de desenvolvimento rítmico se

seguiram de acordo com as sugestões de Willems e Orff, utilizando a palavra em forma de

Page 32: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

29

texto rítmico, onomatopeias, acompanhados de significação corporal se utilizando de

batimentos e de instrumentos, dentre os quais: pandeiros, pandeirolas, tambores, metalofones

e xilofones (Orff) em atividades que mesclavam a execução do material proposto por nós e a

improvisação e criação dos próprios alunos, após a apreciação do que sugerimos

(ROCHA,1998; SALIBA, 1991; PAZ, 2000).

Um exemplo bem significativo sobre a aplicação dessas atividades se configurou na

aprendizagem do padrão rítmico “baião”, realizamos uma atividade onde a célula rítmica

característica foi apresentada primeiramente usando uma onomatopeia (tu-dum-tá), num

segundo se transformou em batimento corporal onde cada sílaba da onomatopeia era realizada

com um batimento, exemplo: “tu” batimento na coxa esquerda, “dum” coxa direita e o “tá”

palmas, mudando os batimentos de lugar algumas vezes para criar várias possibilidades para

aquela tarefa (FIGURA1). Saliba (1991, p. 2) escreve que para a criança usar o corpo para

significar o ritmo é natural, desse ponto de vista, procuramos fazer com que os alunos

sentissem e vivenciassem rítmica e melodicamente com o corpo e voz tudo o que executaram

no instrumento proporcionado uma releitura e uma reflexão acerca do conhecimento musical

adquirido.

Figura 01: Exemplo do exercício com uso de onomatopeias e batimentos.

Para os alunos essas atividades proporcionaram uma adaptação sutil ao gesto que seria

desenvolvido, não tendo dessa maneira grandes dificuldades em entender, matematicamente a

divisão rítmica, e nem fazer um esforço desnecessário para compreender a ação motora.

Posteriormente a esses momentos, realizávamos reflexões a respeito do que foi trabalhado o

Page 33: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

30

que tínhamos aprendido naquele exercício e como eles chegaram até aquele ponto, tentando

com essa ação reflexiva, fazê-los compreender no âmbito racional o que foi desenvolvido.

É importante relatar que a maior parte dessas atividades foram realizadas usando

canções, escolhidas com objetivos pedagógicos tendo em vista o desenvolvimento da

sensibilidade e da prática do solfejo e do instrumento. Para Rocha (1998, p. 28):

É inegável o valor da canção na iniciação musical das crianças, não só pelo

seu aspecto sintético, globalizador, mas também pelo seu poder de despertar

a sensibilidade afetiva. Willems considera a canção o centro do trabalho da

educação musical; ela engloba ao mesmo tempo o ritmo, a melodia e

introduz de modo inconsciente seu conteúdo harmônico (ROCHA, 1998, p.

28).

Sendo assim nesses momentos da aula, utilizávamos a canção no processo de

memorização de conteúdos estudados. Como exemplo podemos citar a canção “Todo dia vou

a escola” (APÊNDICE 4) que foi utilizada para memorizar o som da escala maior e dos seus

intervalos. Antes de ensinar a escala propriamente dita, ou seja, fazer a ordenação de notas

(ROCHA, 1998) e lhe dar o devido nome. Vivenciamos o conteúdo cantando a canção e

posteriormente tocando-a no teclado na tonalidade de Dó, o que possibilitou que os alunos se

apropriassem do som da escala, sempre fazendo relação com a palavra (a letra da canção).

Essa atividade por sua vez, viabilizou o aprendizado das outras escalas maiores,

algumas sem necessidade de interferência do professor, tornando-se desnecessário de igual

modo falar sobre relação intervalar, e distância entre tons (T T St T T T St), pois o próprio

som da escala maior já memorizado guiava auditivamente os alunos para os intervalos

corretos, formando-as sem dificuldades em qualquer tonalidade proposta.

Outro momento importante que se torna indispensável relatar nesse tópico, se trata da

estratégia criada para o aprendizado da forma da mão. Utilizamos uma bola que fosse possível

ao segurá-la com a uma mão virada com a palma para baixo, obter a forma correta da mão.

A partir desse ponto fizemos um percurso onde seria necessário caminhar segurando a

bola nessa posição, sem derruba-la, até o próximo ponto, numa espécie de revezamento, onde

outro aluno pegaria e conduziria para outro lugar até chegar ao fim de todos os pontos do

trajeto (esta atividade lembrou a “brincadeira do ovo”). Na volta o caminho era feito usando a

outra mão trabalhando assim a forma em ambas as mãos, além da posição do braço, pois não

havia como segurar a bola sem flexionar . Após este exercício fomos ao piano para o trabalho

de contextualização com o instrumento e reflexão do que foi aprendido em relação a

dinâmica.

Page 34: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

31

Alguns alunos não compreenderam de início a proposta, mas quando começamos a

refletir sobre o que havíamos realizado, notamos que o sentido da atividade se fez perceber.

Tivemos que relembrar outras vezes e trabalhar mais especificamente no instrumento para

alcançar a postura ideal, mas de todo modo, sempre que relembrávamos “a posição de segurar

a bolinha” (FIGURA 02) logo vinha a lembrança do exercício e assim se tornava mais fácil

corrigir a imperfeição postural.

Figura 02: Postura da mão (segurando a bolinha)

Estes exercícios precederam a prática no piano, procuramos criar um sentido corporal,

sonoro e afetivo, para que quando o aluno fosse realizar o mesmo elemento no piano estivesse

devidamente familiarizado não tendo por tanto dificuldades em executa-lo, o que realmente

foi observado na avaliação das aulas e das atividades especificamente. Como no exemplo

citado – na aprendizagem do padrão rítmico baião – as crianças conseguiram após a

realização da atividade, executar o padrão com facilidade, necessitando de pequenos ajustes

que foram trabalhados posteriormente. A esses momentos demos por tanto o nome de

Exercícios Preparatórios.

3.2.3 Exercícios ao piano

Os exercícios ao piano compreenderam todo o trabalho técnico a qual se propunha o

percurso didático, além de ser o instrumento presente em quase todas as atividades propostas

nas aulas. Nesse momento, aplicamos tudo que foi estudado nos exercícios preparatórios,

transformando a vivência em estudo técnico (FIGURA 03), sempre tendo a preocupação em

buscar nas sugestões de Willems e Orff os meios para adaptar o aprendizado musical

agregado ao aprendizado dos elementos técnicos, desse modo desenvolvemos as atividades

procurando o caminho lúdico para o desenvolvimento das habilidades necessárias para a

execução instrumental, sem tornar esta prática uma situação desconfortante e exigindo do

Page 35: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

32

aluno habilidades que não foram capacitadas previamente. Em razão disso os exercícios

preparatórios foram realizados antes da prática no instrumento, os quais viabilizaram uma

compreensão mais direta dos elementos da técnica.

Tomando como exemplo o trabalho preparatório feito sob o padrão rítmico baião, que

teve como exercício preparatório a atividade citada no início do Exercícios Preparatórios.

Realizamos o exercício ao piano inicialmente pedindo que as crianças realizassem o padrão

apenas com uma nota um dedo em cada mão, modificando o acento para explorar todas as

possibilidades. Geralmente usávamos um teclado apenas nas aulas então para que todos

participassem sem ter que esperar muito nos utilizávamos do recurso chamado por Gonçalves

(2014) “atividade de rodízio”, que são atividade realizadas com um instrumento onde as

crianças fazendo o revezamento do instrumento, ocasionalmente tocando outro instrumento

ou cantando a melodia enquanto o outro toca (FIGURA 03e 04).

FIGURA 03: Atividade de rodízio

Incluímos nessas atividades o exercício de ouvir e reconhecer. Dentro do método

Willems os instrumentos e objetos sonoros são o material dessa audição e reconhecimento,

nas aulas de piano procuramos associar esses elementos a percepção da melodia ou ritmo

realizado (ouvir) e o reconhecimento das diferentes sonoridades geradas no determinado

exercício (reconhecer), além de ter sido agregado também o exercício da memória sonora,

enquanto ouviam o que o professor ou os colegas faziam estavam memorizando o som,

reproduzindo os mesmos como parte da prática, bem como nas atividades que envolviam a

canção onde a melodia era aprendida primeiro através da memorização e executadas no

instrumento. Por fim estava intrínseco neste momento o reproduzir.

Page 36: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

33

FIGURA 04: Crianças realizando exercícios ao

piano

FIGURA 05: Exercício ao piano em formato de rodízio.

3.2.4 Atividades de leitura

As atividades de Leitura se deram de maneira gradual visto a adaptação a leitura de

símbolos musicais. Nessa etapa o trabalho inicial foi desenvolvido utilizando os gráficos

Willems para duração, intensidade, altura, movimento sonoro. Realizamos as primeiras

atividades de leitura utilizando essa ferramenta da seguinte maneira: Primeiramente lendo os

gráficos que foram apresentados em aulas diferentes de acordo com o conteúdo da mesma.

Inicialmente utilizando o som da voz, como por exemplo, falar longo e curto de acordo com

as figuras no gráfico de duração (FIGURA 06).

Page 37: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

34

FIGURA 06: Gráfico Willems de duração.

Após entenderem o funcionamento, o exercício foi realizado no instrumento,

inicialmente utilizando apenas uma nota em cada mão, evoluindo para um cluster1, e mais

adiante pentacordes, com mãos alternadas, simultâneas e em direções e intensidades

diferentes de acordo com o prévio estudo do elemento, bem como já estruturando o uso

correto das mãos.

Cumprido a etapa da iniciação, apresentamos a pauta, primeiro sem altura definida,

que Willems classifica como leituras relativas, que trabalha as relações sonoras e intervalos,

processo este que se dá pela distribuição de notas na pauta estabelecendo uma nota referência

(Dó por exemplo) em diversos pontos dela, lemos então de acordo com a ordem das notas de

acordo com o lugares em que a nota escolhida está (ROCHA, 1998, p. 49). Em seguida

inserindo as claves de Sol e Fá, determinando então as alturas realizando a partir de então

primeiramente as leituras pelo dó central e de cifras.

3.2.5 Prática de repertório

O último momento da aula era por tanto a prática de Repertório, inicialmente como

sugere Adolfo (1994), o repertório foi transmitido por imitação, uma forma de estimular os

alunos e ao mesmo tempo desenvolver a memória auditiva e motora. Escolhemos um

repertório para as primeiras aulas que possibilitasse o aluno mesmo sem manter uma rotina de

estudo (o que não acontece nas primeiras aulas) pudesse lembrar facilmente, canções com

nomes de notas por exemplo, que ficam na memória pela utilização da palavra e se relaciona

com o som (APÊNDICE 5). Procedendo assim até que as crianças estivessem hábeis a fazer

leituras na pauta.

1 CLUSTER: Tocar percussivamente o piano com as mãos fechadas ou abertas.

Page 38: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

35

A partir de então inserimos o repertório escolhido para o trabalho que incluiu canções

do Método Meu piano é divertido, Leila Fletcher e peças populares e eruditas, de acordo com

a diversidade do desenvolvimento de cada aluno, que não é necessariamente igual. Algumas

peças ainda foram realizadas a quatro mãos ou acompanhadas de xilofones, metalofones e

instrumentos de percussão.

Dentro da atividade de repertório ainda criamos um ambiente que contemplasse a

apreciação das peças através de áudio, vídeo ou até mesmo ouvindo os próprios colegas,

realizando uma audição crítica, contribuindo com o desenvolvimento dos colegas, o que

caracteriza uma aprendizagem cooperativa (DANTAS, BRAGA e ROCHA, 2010, p.427).

3.3. A CRIAÇÃO MUSICAL COMO SIGNIFICAÇÃO DOS ELEMENTOS DA

MÚSICA EM AULAS DE PIANO EM GRUPO

Apesar de não constituir um momento específico da aula, as atividades de criação

foram importantes para o desenvolvimento do trabalho. Dessa forma, preferiu-se dedicar um

tópico específico para tal. Este tópico tem o objetivo de refletir como se desenvolveram as

atividades de composição e improvisação e sobre quais princípios nos baseamos, observamos

que a execução musical é o meio para realizar na prática os vários elementos da música. Essas

atividades são propostas tanto por Willems quanto por Orff (FONTERRADA, 2008;

ROCHA, 1990; PAZ, 2000), e se configuram em uma parte importante do processo de

aprendizagem musical, visto que são nessas atividades onde os conceitos aprendidos sobre

música são significados.

As duas atividades desses momentos da aula compor (composição sistematizada) e

improvisar (composição espontânea2) são processos criativos dentro do estudo da música.

Porém ambos dependem de conhecimentos prévios, adquiridos nas aulas, ou fruto da

experiência cotidiana dos alunos. Para este fim é necessário obter um “vocabulário” musical,

informações estas que são cruciais no momento da criação e improvisação.

Para Swanwick (1992, p. 43), compor é organizar ideias musicais partindo dos

materiais sonoros de uma maneira expressiva. Sendo assim, a composição não se limita a

criações que foram notadas na escrita musical, mas agrega todas as formas de invenção

musical, incluindo a improvisação.

As atividades preparatórias consistiram em trabalhar princípios básicos da música,

andamento, ritmo, escalas maiores e menores, acordes, além de desenvolver as formas para as

2 Segundo o dicionário Grove (2001), a improvisação é uma composição espontânea ocorre durante o período da

execução.

Page 39: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

36

mãos, coordenação motora para o uso das mãos simultaneamente etc. Todos estes aspectos

trabalhados em atividades que tirassem os elementos da esfera conceitual e os dessem

significado, ou seja, fazendo música.

Para as atividades de composição, foi solicitado para as crianças que a partir do que

desenvolvemos juntos nas aulas (escalas, padrões rítmicos etc.), criassem sua própria música.

Num primeiro momento quando trabalhamos, escalas e acordes maiores e o padrão rítmico

balada, por exemplo, realizamos atividades que mesclavam todos esses aspectos, e o resultado

foi justamente baseado naquilo que estudamos e suas composições se configuraram em

baladas em tons maiores, com melodias dentro das escalas maiores, porém o interessante é

que eram compostas de sistemas bem mais livres ainda sem muita padronização.

Na improvisação as atividades consistiam em construir sob alguma base rítmica

trabalhada a partir de acordes que eram tocados por outro colega, visando às possibilidades do

trabalho em grupo, criar melodias livres. Os resultados que obtivemos, foram improvisações

baseadas no “vocabulário” musical apresentado nas experiências anteriores as atividades de

criação, porém sempre argumentado de uma forma livre, sem muita preocupação com padrões

estéticos atribuídos a música.

Em resumo podemos dizer que a composição e a improvisação foram partes

importantes no processo de aprendizagem da música através do piano, pois enquanto o aluno

compões ele delimita a demanda técnica, tendo assim uma compreensão do que ele pode fazer

dentro da sua capacidade, ou então procurar uma maneira de realizar a dificuldade

apresentada por ele mesmo, procurando possíveis soluções. O aprendizado gerado por esse

exercício se torna indispensável.

3.4. PROCESSO DE AVALIAÇÃO: A VISÃO DO PROFESSOR

Neste tópico, falarei resumidamente sobre quais foram os critérios utilizados por mim

para avaliar o desempenho dos alunos, que surgiram através do planejamento e observação.

Acredito que este assunto deve ser tratado neste capítulo pelo fato de fazer parte da aplicação

das aulas, além de todos os aspectos já tratados a avaliação é importante em todo e qualquer

processo educacional (DEL BEM e HENTSCHKE, 2003).

O primeiro destes foi a “participação nas atividades propostas”, no qual foi avaliado o

desempenho do aluno nas atividades e vivências realizadas na integração e nos exercícios

preparatórios com vistas a observar se compreendeu o conteúdo abordado no momento em

Page 40: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

37

questão. Para este fim realizamos uma reflexão com os alunos ao fim da atividade buscando

em cada aula nos assegurar que o aluno havia compreendido o conteúdo.

Outro aspecto avaliado foi o “desenvolvimento da sensibilidade aos elementos

musicais”, principalmente através do processo de criação e improvisação que se tornou

elemento de avaliação desse critério. Assim, busquei observar como o aluno estava

compreendendo e aplicando os conteúdos da linguagem musical, e a maneira que observei ser

possível, foi por tanto ouvindo suas composições e improvisações durante as atividades que

compreendiam estes temas. Os elementos que eles utilizaram nas atividades sugeriam o que

havia sido compreendido, por exemplo, o contraste entre alturas, as diferentes intensidades

utilizadas, as regiões do instrumento que escolhiam para tocar e as possibilidades rítmicas e

harmônicas dentro de cada etapa em que o aluno estava.

Por fim, o que nos serviu de elemento avaliador da aprendizagem técnica foi o

resultado na “execução do repertório selecionado para cada etapa”. Avaliação essa realizada a

partir de observação dos vídeos dos recitais e fotografias (FIGURAS 07, 08, 09e 10), no

intuito de verificar pontos importantes de postura, coordenação motora e musicalidade.

Quando realizamos a avaliação dos alunos participantes desse estudo, nos

preocupamos principalmente em visualizar de acordo com a particularidade de cada um, o

ponto de partida (como o aluno iniciou) e o seu desenvolvimento até o ponto final (o recital),

levando em consideração as dificuldades e obstáculos vencidos por cada um dos alunos no

processo.

FIGURA 07: Recital final Maria FIGURA 08: Recital final Marcos

Page 41: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

38

FIGURA 09: Recital final Marta FIGURA 10: Recital final Mateus

Page 42: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

39

CAPÍTULO 4

AVALIAÇÃO DAS AULAS E ENTREVISTA COM ALUNOS E PAIS

4.1. AS VOZES DOS PARTICIPANTES: PAIS E ALUNOS

4.1.1 De quem são as vozes?

Este capítulo é fruto das entrevistas realizadas com os pais e responsáveis pelos

alunos, e também com as crianças. Os tópicos contidos nesta parte foram divididos de acordo

com as categorias que surgiram das falas e das perguntas realizadas.

Falaremos das crianças usando pseudônimos que representarão as quatro crianças

participantes. Passarei agora a caracterizar cada uma delas de acordo com o desdobramento

obtido por ela no percurso, bem como do que foi alcançado em relação a aprendizagem.

Percebi que o aluno Mateus de 12 anos, desde o início uma grande aptidão pra o

instrumento, comprovado pela facilidade com que o aluno compreendeu os primeiros

conteúdos apresentados, sempre se envolveu nas atividades demonstrando grande interesse

em executá-las, obsevando atenciosamente cada comando dado, bem como participando das

reflexões realizadas após cada uma delas. Um fator importante a ser citado sobre esse aluno é

que embora este fosse canhoto não teve dificuldades com o uso da mão direita, executando

tranquilamente os exercícios com ambas as mãos.

Ao longo das aulas fui percebendo o desenvolvimento das habilidades esperadas com

as atividades propostas, e uma tendência a se destacar nas atividades práticas ao piano, bem

como nas leituras iniciais de gráficos tendo portanto uma dificuldade em relação a leitura

musical quando foi lhe apresentado a pauta convencional, que de acordo com a minha

avaliação se deram pelo fato de o aluno não disponibilizar tempo para o estudo individual, o

que proporcionou uma evolução lenta nesse quesito, entretanto a boa memória sonora

adquirida lhe proporcionou a facilidade de tocar os trechos e memoriza-los para não ter que

recorrer a leitura novamente.

Dentro do proposto para este trabalho, que tem relação não somente com a

habilidade técnica, mas no desenvolvimento equilibrado tanto da musicalidade quanto da

performance no instrumento, posso definir a aprendizagem desse aluno satisfatória, pois em

se tratando da leitura percebi que mesmo com a dificuldade da leitura a primeira vista, o aluno

pode ler as peças propostas no seu próprio tempo, e dessa maneira acredito que com a

continuidade do trabalho possa ser melhor trabalhada essa habilidade.

Page 43: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

40

Em relação ao aprendizado técnico, o aluno demonstrou uma grande evolução, que

pode ser analisada a partir dos vídeos de seu recital de conclusão, este aluno conseguiu

acumular cinco peças de vários estilos para a apresentação. Dentre as peças estavam obras do

repertório popular como “Asa Branca” de Luiz Gonzaga e “Anunciação” de Geraldo Vandré,

além de peças do repertório do Meu Piano é Divertido e do Leila Fletcher.

Pude observar que Marcos (12 anos) nas primeiras aulas que o aluno em questão

possuía uma desenvolvida sensibilidade musical, e se mostrou também muito participativo.

No início notei que existia uma dificuldade motora quanto a execução de atividades que

envolviam movimentos alternados de mãos, procuramos desse modo, fazê-lo participar mais

intensamente das atividades que promovessem o desenvolvimento da coordenação motora.

Outro ponto interessante é que este aluno assim como Mateus também é canhoto,

mas neste caso específico, vi que houve uma dificuldade motora em relação a mão direita,

tanto nos exercícios de preparação quanto nas atividades ao piano. o interessante deste aluno é

que sua dificuldade pode ser observada por ele mesmo, que várias vezes na aula corrigia sua

postura e tentava encontrar a melhor maneira de executar os exercícios e peças.

Um ponto positivo em relação ao Marcos é que o seu desenvolvimento na

aprendizagem da linguagem musical foi superior ao dos outros alunos, tendo uma consciência

maior do que cada elemento significava, além de sua leitura ter alcançado um grau de fluência

muito bom dentro do nível proposto em nossas aulas. Percebi um bom desempenho nas

atividades de percepção, de modo que o aluno se destacava sempre nas atividades de

desenvolvimento auditivo.

Ao fim do trabalho pude ver que mesmo vencido muitas dificuldades em relação a

falta de habilidade com a mão direita o aluno ainda não estava totalmente confortável ao

tocar, o que o impossibilitou de ter uma quantidade maior de peças acumuladas no recital

final, embora o que notamos é que se houvesse um pouco mais de estudo individual o aluno

teria melhores resultados. No seu desenvolvimento geral, relacionado ao objetivo da pesquisa,

observamos que Marcos teve sucesso nos dois objetivos principais, a musicalização e a

habilidade técnica, visto que em ambos os domínios mesmo que em níveis diferentes houve

aprendizagem.

Page 44: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

41

Sobre Maria1 de 12 anos, é importante salientar que ela já havia tido aulas de

teclado, porém de notamos problemas posturais e de caráter técnico em geral, bem como em

relação a leitura e o ponto chave do nosso trabalho o desenvolvimento da musicalidade.

A aluna se dispôs a trabalhar junto com os outros colegas passando pelo mesmo

processo sobre os quais eles seriam submetido, possibilitando assim sua integração a turma de

iniciantes. Notamos que apesar de ter alguma facilidade na execução de alguns exercícios

existia uma insegurança, questionada algumas vezes a aluno relatou que teria gastrite nervosa,

o que afetava sua habilidade motora.

O trabalho foi focado em relação a ela em dar-lhe essa segurança e firmeza, dentro

das atividades em conjunto a deixávamos ouvindo os colegas primeiro antes de fazer os

exercícios, nas atividades em grupo procurei fazê-la se integrar pra adquirir segurança junto

aos colegas, entre outros artifícios, as atividades de integração e relaxamento foram muito

importantes para Maria visto que esta permitia sua adaptação aquela situação que poderia ser

relacionada a alguma tensão.

Dentre os aspectos importantes a serem citados no desenvolvimento da aluna,

podemos considerar que no percurso foram vencidas algumas dificuldades relacionadas a esse

nervosismo que causava tremores nas mãos, a medida que a aluna tinha mais firmeza e

segurança no que ia executar, menos eram as reações sintomáticas da sua condição de saúde.

Outro aspecto importante foi o seu desempenho nas atividades de criação e

improvisação, a forma bem estruturada como a aluna utilizava os elementos em suas criações

se mostraram bastante satisfatórios, e na interpretação das peças, a sua concepção

interpretativa era um diferencial em relação aos outros. O repertório de seu recital contemplou

peças que lhe dava segurança visando um conforto, mas ela trabalhou em sala peças que

exigiram um pouco mais, causando o rompimento dessa zona de conforto abrindo portanto

possibilidades para seu crescimento. Não haverá citações de falas desta aluna no texto pois

devido a distância e a inviabilidade da criança comparecer no dia marcado não pude realizar a

entrevista com ela.

A aluna Marta tem características importantes a serem citadas que denotam uma

grande diferença em seu desenvolvimento nas aulas. No início das aulas percebi que ela

dispunha de uma grande facilidade em compreender os conteúdos e uma habilidade motora

realmente diferenciada, durante o processo se mostrou muito dedicada e estudiosa cumprindo

todas as metas propostas para cada semana de aula. 1 Não haverá citações de falas desta aluna no texto, pois devido à distância e a inviabilidade da criança

comparecer no dia marcado não pude realizar a entrevista com ela.

Page 45: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

42

O ponto negativo em relação a Marta gira em torno de a aluna relatar que não

gostava de compor e improvisar, nas suas palavras ela dizia que achava “chato”, mas o

interessante é que suas composições e improvisos eram sempre bem elaborados e ela

demonstrava uma desenvoltura e liberdade diferenciadas em relação a utilização dos

elementos musicais.

Algumas observações são importantes serem ressaltadas, a aluna possuía instrumento

em casa, e o mais importante, seu comprometimento com o estudo individual, além do

acompanhamento dos seus pais, que por sua vez estavam presente no dia-a-dia, na interação

com o professor, bem como vindo aos recitais e apresentações durante o processo. Considero

estes fatores antes citados como definitivos para o bom desenvolvimento da aluna,

conquistando assim dentro do propósito desse estudo os resultados mais significativos. Seu

recital contou com peças do repertório popular, tais como Anunciação e Asa Branca, com

arranjos desenvolvidos a partir de experimentações nas aulas, e o Minuet em G de J. S. Bach.

4.1.2 Experiência musical prévia e a relação com o desenvolvimento nas aulas de

piano

Além do Coral, algumas as crianças também já havia participado de outras atividades

musicais como vemos no questionamento feito a respeito da experiência prévia que

avaliaremos a partir desse tópico. De acordo com a mãe de Marta, “primeiro ela veio pro

coral infantil daí, do coral infantil, ela fez iniciação à flauta doce, e como consequência,

assim, teve o desdobramento mesmo2”. Outra criança, Mateus, teve uma vivência com o

violão em casa, pois o pai tocava o instrumento e tentou ensiná-lo. Como disse sua mãe: “ele

às vezes, em casa, muito raramente pegava o violão e aí o pai ia e passava aquela

iniciaçãozinha básica mesmo ‘olha Rafael, assim e tal’”. Já Maria possuiu uma experiência

anterior especificamente com teclado, porém não relevante a ponto de interferir na abordagem

utilizada nas aulas. A sua experiência, portanto, não compreendeu a leitura musical, sendo

assim a aluna participou das aulas como iniciante, visto que as suas habilidades técnicas

também precisavam ser desenvolvidas. A tabela 01 a seguir sintetiza a experiência anterior

com música dos alunos envolvidos no projeto (TABELA 01).

2 Destacarei em itálico a fala dos pais e dos alunos para diferenciá-las das citações literais dos autores.

Page 46: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

43

ASPECTO DA EXPERIÊNCIA ANTERIOR AS AULAS DE PIANO SIM NÃO

Alunos com experiência prévia com música. 04 00

Alunos com experiência prévia com outros instrumentos 02 02

Alunos com experiência prévia com o teclado. 01 03

Tabela 01: Experiência anterior com música.

Dentre todas as crianças, percebemos que entre os alunos, aqueles que tiveram

contato com um instrumento musical apresentaram um desempenho melhor em relação ao

desenvolvimento de habilidades técnicas com o piano. Nos vídeos de recitais percebemos que

a destreza técnica e a segurança em tocar em público eram maiores nos alunos com alguma

experiência.

Grosman (2011, p. 68) explica que o desenvolvimento de qualquer habilidade depende

basicamente de três fatores: habilidade propriamente dita, personalidade e motivação. De

acordo com a discussão do autor, pesquisas revelam que os testes elaborados para detectar

habilidades identificaram a experiência prévia como fator importante (KEMP e MILLS, 2002

apud GROSMAN, 2011, p. 68).

Confirmando tal aspecto, a pesquisa com os alunos do IFRN constatou que a

experiência prévia com música ou com algum instrumento que os alunos participantes

tiveram, ajudou no desenvolvimento técnico. Outro fator importante a ser relatado é a

contribuição da experiência com o coral para a aprendizagem de aspectos relacionados à

sensibilidade musical, como cantar as notas das melodias estudadas, memorização de canções

ensinadas por imitação, bem como na performance ao piano.

4.1.3 O interesse pessoal e sua influência na aprendizagem

A vontade de realizar algo é um fator que pode influenciar diretamente nas atividades

que nos propomos desenvolver. Percebi que em todos os casos, quando feito esse

questionamento, a resposta foi que o interesse nas aulas partiu dos próprios alunos, como no

caso do Mateus em que sua mãe enfatiza: “um dia encontrei Lourdinha e conversei com ela e

tudo, e foi falando. E falou: ‘o professor Jonas vai fazer um teste com as crianças

interessadas do coral para teclado’, e ele [o aluno] interessou, aí ele ficou assim, ‘ah, mainha

eu queria ir’”. Em relação ao Marcos sua mãe relata que, “ele sempre me pedia pra fazer,

assim, ou piano ou violão. Fazer aula de algum instrumento, e surgiu a oportunidade aqui,

né?”. Desse modo fazendo relação com os resultados obtidos ao final da aplicação das aulas,

Page 47: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

44

posso concluir que essa disponibilidade dos alunos em querer frequentar as aulas de piano foi

um fator importante no resultado desse trabalho.

Pude observar o reflexo desse interesse nas respostas dos alunos quando questionados

sobre o entusiasmo em participar das aulas. O pai da aluna Marta relata:“ela busca o

instrumento pra estudar nem que seja um pouquinho do tempo, ela busca esse treino”.

Entretanto, existem fatores contrastantes como quando a mãe do aluno Marcos falando sobre

o seu desinteresse em estudar em casa, “quando eu falo assim que ele tinha preguiça, era de

ficar treinando em casa. Mas em relação às aulas não era nem um obstáculo pra ele vir, era

mais em casa mesmo pra treinar, mas pra vir pra aula aqui, não”. Porém, no que diz respeito

a presença nas aulas vemos com essa fala que o aluno se mostrava disposto.

O que me faz concluir que outro ponto que contribui para o bom desenvolvimento do

aprendizado tem relação com o interesse pessoal dos alunos participantes da pesquisa. Além

do que o formato das aulas e o desenvolvimento delas foram estimulantes para os alunos,

tornando-se notório este fator nas análises dos vídeos de atividades realizadas em sala, bem

como na fala dos pais dos alunos quando indagados se estes compareciam às aulas por

vontade própria. Dentre as respostas, o pai da aluna Marta relata que ela participava “sempre

por vontade própria. Uma das coisas que mais ela gostava, ou gosta, aliás, é quando a gente

fala que vai ter a aula de música dela”. Já a mãe de Mateus afirma que, “ele nunca chegou e

disse ‘ah não quero ir pra aula’, sempre foi por vontade própria”.

Podemos observar que todos os pais e familiares entrevistados alegaram apoiar os

alunos e incentivá-los, dando suporte para que os participantes estivessem sempre motivados.

O pai de Marta afirma, “sempre me preocupei muito [...] em priorizar com ela a

responsabilidade pelos ensaios. Em casa a gente sempre procura incentivar”. Já a mãe de

Marcos relata “comprei o teclado já pra ajudar, mas eu vejo que a ajuda maior era meu

incentivo mesmo, na verdade não era nem incentivo, era minha cobrança”. Para a mãe de

Mateus sua estratégia era mostrar, portanto, a importância da aula. Ela relata: “eu tentava

conscientizar ele assim, essa é uma oportunidade, então já que você se interessou você não

pode perder essa oportunidade”. Ela complementa dizendo que “procurava saber o que

tinha acontecido na aula: ‘Mateus o que aconteceu na aula? Vamos pro teclado, vamos

estudar, vamos repassar o que o professor passou’”.

Dessa maneira vemos que a aprendizagem nas aulas pôde ter resultados positivos por

ser uma atividade a qual os alunos desempenhavam por interesse pessoal e voluntário, em

função do desenvolvimento de aulas atrativas para os participantes. Porém, não se tratou

Page 48: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

45

apenas de vontade própria, pois crianças se interessam e desinteressam facilmente por

atividades as quais desenvolvem no seu dia-a-dia, e os pais tem o papel de apoiar e incentivar

seus filhos visando o surgimento e renovação dos motivos para continuar realizando a

atividade.

Grosman (2011, p. 69) afirma que “o apoio familiar associado a professores

capacitados sugere a hipótese de que este binômio seria fator decisivo no sucesso profissional

e artístico do futuro pianista” (GROSMAN, 2011, p. 69), ressaltando que o fator mais

importante para o desenvolvimento do “talento” da criança é o estímulo do meio. Sendo assim

a participação dos pais nesse processo foi de suma importância para o desenvolvimento das

crianças e dessa pesquisa.

4.1.4 O resultado da ação pedagógica na musicalidade e desenvolvimento técnico

Em relação ao desenvolvimento musical pude observar que houve uma

mudança tanto na percepção dos elementos relacionados à música, quanto na execução do

instrumento, visto que o objetivo dessa investigação foi justamente a possibilidade de adquirir

ambas as habilidades através do uso de atividades do método Willems e da abordagem Orff

aplicadas nas aulas de iniciação ao piano. Desse modo o que podemos observar no que diz

respeito ao desenvolvimento da sensibilidade musical, está presente no relato dos pais. A mãe

do aluno Mateus relata: “eu percebo ele mais interessado na questão musical, entendeu? Ele

se interessa mais, antes passava meio desapercebido pra ele”.

Já na fala da mãe de Marcos, vemos o relato da sua percepção do comportamento do

filho em relação à presença em ambientes com música ou com alguém tocando: “acho que

hoje ele tem uma noção. Ele já aprendeu, assim, a maneira de tocar, como se comportar. Por

exemplo, quando ele chega num lugar e tem um teclado, ele já sabe diferenciar o que a

pessoa está tocando”.

Pude ainda observar nas aulas que muitas vezes os alunos traziam músicas do

cotidiano deles, muitas vezes até mesmo partituras em celulares, pedindo para que eu os

ensinasse. Foi muito interessante ver esse despertar para a pesquisa de repertório e da prática

em casa. A aluna Marta revela que aprendeu a tocar músicas do hinário protestante lendo na

partitura em casa. Perguntei aos pais se ela buscava aprender coisas novas além do repertório

passado em sala e a resposta foi que, “apesar de que ela procurava desenvolver mais o que

ela aprendeu em sala de aula, mas ela procurava coisas novas também”. Interferindo na

resposta do pai, a aluna revela: “aprendi a tocar dois hinos da harpa [hinário protestante]”.

Page 49: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

46

O que me faz concluir que, outro ponto que contribui para o bom desenvolvimento do

aprendizado tem relação com o interesse pessoal dos alunos participantes da pesquisa, bem

como os graus de relação que estabelecem entre o piano e o cotidiano de cada um deles,

expresso aqui pelas partituras do hinário protestante e as partituras no celular. Além de que o

formato das aulas e o desenvolvimento delas foram estimulantes para os alunos, tornando-se

notório este fator nas análises dos vídeos de atividades realizadas em sala, bem como na fala

dos pais dos alunos quando indagados se estes compareciam às aulas por vontade própria.

Dentre as respostas, o pai da aluna Marta relata que ela participava “sempre por vontade

própria. Uma das coisas que mais ela gostava, ou gosta, aliás, é quando a gente fala que vai

ter a aula de música dela”.

4.2. AVALIAÇÃO DAS AULAS REALIZADAS A PARTIR DAS ABORDAGENS DE

ENSINO PROPOSTAS

4.2.1 Uma visão geral

O aprendizado obtido nas aulas, bem como a reflexão que fizemos a respeito do

pensamento desses dois teóricos, fizeram as aulas de piano em grupo terem resultados

positivos. Considero que as aulas foram proveitosas, de maneira a refletir esses resultados nas

amostras e recitais que fizemos durante o percurso.

O que observamos no desenvolvimento das aulas, pode ser caracterizado como uma

forma prazerosa de se aprender técnicas e fundamentos que normalmente (considerando o

ensino tradicional) seriam desinteressantes para um aluno entre 10 e 12 anos no contexto em

que desenvolvi o estudo (LEMOS, 2012, [s/p]). A divisão dos momentos da aula como

descritas no capítulo III3, representa uma das soluções mais significativas desse processo, que

permitiu uma administração do tempo em função do aprendizado, possibilitando que cada

habilidade fosse trabalhada em todas as aulas, e mesmo quando a aula não contemplava todos

os momentos foi possível ter mais de uma habilidade sendo abordada, o que gerou uma

dinâmica na aula.

Em relação ao aparato utilizado nas aulas, tais como: instrumentos de bandinha e os

metalofones e xilofones, sua utilização nas atividades de ritmo e para o trabalho em grupo

realizado durante os momentos dos exercícios preparatórios; foram de grande valia,

3 Exercícios de integração, aquecimento e alongamento, exercícios preparatórios, exercícios ao piano, atividades

de leitura e prática de repertório.

Page 50: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

47

possibilitando o envolvimento e a interação entre os alunos e a internalização dos aspectos

rítmicos e motores abordados como objetivos nessa atividade.

Em alguns momentos, entretanto, o que percebemos é que algumas atividades

precisariam ser melhoradas para que o conteúdo que vem intrínseco nela seja mais bem

compreendido, visado o melhoramento da proposta. Todas as observações em relação a essas

atividades e os pontos negativos delas foram observadas e registradas em diários de bordo

algumas, as mais significativas, expomos no capítulo de desenvolvimento das aulas, outras

serviram de autoavaliação, correção e melhoramento da proposta.

O resultado obtido com o desenvolvimento desse trabalho mostrou uma significativa

mudança na relação entre o aprendizado dos conteúdos musicais e o aprendizado técnico do

instrumento. Quando questionados se percebiam a diferença entre o momento do aprendizado

técnico e de conceitos musicais, Mateus responde, “na verdade eu tava aprendendo piano e

às vezes a música na própria aula simultâneo”, fazendo menção à forma de aprender técnica

integrada ao repertorio ou atividades de musicalização. A aluna Marta explica, “Eu aprendi

notas, melodias [...] Aprendi a diferenciar as músicas, não só piano”. De acordo com ela a

música se fez presente como um aprendizado que foi desenvolvido em conjunto com o estudo

do piano.

Em alguns momentos se fez necessário mudanças no percurso e durante as aulas em

virtude de determinados métodos utilizado por mim não terem funcionado (capitulo III),

porém como existem inúmeras formas de se trabalhar o mesmo aspecto, fomos moldando e

procurando o melhor caminho para alcançar os objetivos traçados.

4.2.2 Implicações da metodologia utilizada

“Ah... Eu gostava de quando como a gente fazia as brincadeiras com os

batimentos...”. Essa fala da aluna Marta faz menção aos exercícios preparatórios, bem como o

aluno Marcos que ressalta, que gostava quando “você [o professor] passava aquelas

atividades em grupo [...], os exercícios batendo também”. Esse bater ou batimentos o qual os

alunos fazem menção é portanto o modo de aprender os desenhos rítmicos que foram

utilizados na minha prática pedagógica, provinda tanto do método Willems (ROCHA, 1990)

quanto da abordagem Orff (SALIBA, 1991). Como consequência da aplicação dessas

atividades, cujo propósito foi desenvolver a coordenação motora para tocar ritmos complexos

com baião e samba, por exemplo, obtivemos o resultado pretendido, concluindo assim que

essa atividade pode ser utilizada nas aulas de piano para o fim descrito acima.

Page 51: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

48

Como exemplo, posso citar dois dos alunos, Marta e Mateus, ambos tocaram músicas

com esses padrões rítmicos complexos no recital final. Para comprovar se o resultado obtido

não se tratava apensas de uma especificidade da peça, sugeri que ambos tocassem outra peça

que necessitava da mesma habilidade, e comprovei então que do mesmo modo das primeiras

peças, não houve dificuldade em executá-la, esses detalhes puderam ser observados nos

vídeos dos recitais e das atividades em sala.

É importante salientar que o mesmo método foi aderido para o estudo individual dos

alunos vemos isso quando a aluna Marta revela em sua fala: “até lá em casa quando eu vou a

estudar algum ritmo, primeiro eu faço com a mão e com o pé, eu faço”.

A canção, elemento principal da metodologia Willems (ROCHA, 1990), foi utilizado

na minha prática como elemento condutor dos conteúdos musicais, bem como no auxílio a

aprendizagem das peças. O resultado do uso da canção pode ser observado na fala do aluno

Marcos, quando ressalta que achava importante quando “você [o professor], passava aquelas

atividades em grupo, preparando vocalmente”. Esse preparo vocal a qual o aluno se refere

está relacionado com o uso da canção ou simplesmente o cantar as notas de uma peça que

seria executada no instrumento, visando a internalização da melodia e das intenções da peça.

Em virtude de ter aderido a essa estratégia para introduzir o repertório, foi priorizado

na seleção dos métodos de piano e das peças, aqueles que contivessem músicas passíveis de

ser facilmente cantadas. A canção se tornou portanto um meio importante na aprendizagem

dos conteúdos musicais, nas atividades em grupo como observado nos vídeos, comprovei que

dividir as vozes de uma peça e cantá-las separadamente, auxilia na aprendizagem das peças e

promove o trabalho em grupo.

O uso da canção também auxiliou no desenvolvimento da musicalidade e da

percepção. O aluno Mateus quando questionado a respeito das atividades que mais gostou

respondeu: “eu gostava da brincadeira com os sinos”. Essa atividade realizada no último

nível, se trata de uma atividade de percepção (atividade do método Willems) trabalhada com a

finalidade de ordenação e emparelhar os sons do sinos até formar a escala de Dó maior.

Foram realizadas ainda atividades usando objetos sonoros e com cartelas de notas

posteriormente usados para as atividades de percepção, e como observado, a canção cantada

com nome de notas intervalos e escalas foi um elemento importante nesse processo o que

propiciou um desenvolvimento notório na audição e reconhecimento de sons.

4.2.3 Aulas em grupo: desenvolvimento individual e aprendizagem cooperativa.

Page 52: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

49

As aulas de piano em grupo se caracterizam por serem aulas onde os participantes

interagem colaborando com o aprendizado uns dos outros (LEMOS, 2012; DANTAS,

BRAGA e ROCHA, 2010; PIACE, 1961), essa aula em conjunto gera vínculos e segundo o

pai da aluna Marta: “a gente até estimula isso porque viver em grupo é uma coisa diferente,

uma coisa gostosa [...]. Esse estudo em grupo eu acho de extrema importância para ela, para

que ela aprenda a se entrosar mais”. Essa fala foi gerada pelo fato dos pais da aluna

perceberem a dificuldade que a filha tinha de se relacionar e viam portanto nesse formato,

uma forma de interagir e desenvolver esse aspecto.

A troca de experiências, bem como a autocrítica foram temas que apareceram nas

entrevistas. Para a mãe de Marta, “o trabalho em grupo, o estudo em grupo, ele possibilita

esse acesso, essa interação, essa troca. Isso é muito bom isso é muito legal”. O aluno Marcos

alega, "acho melhor do que só, porque nas aulas em grupo a gente sabe assim, interage mais,

a gente sabe mais interagir e tal. E sabe assim comparar, dizer o erro do colega, e também

comparar ao nosso erro”. Essa possibilidade referida pelo aluno Marcos se trata de poder

perceber seus erros e avanços a partir da observação do desempenho do colega e assim

perceber o quanto progrediu ou precisa crescer. O aluno Mateus ilustra isso na sua fala, “dava

pra ver seu colega, vendo que você tem tipo uma diferença sobre ele. Não dizendo assim: ‘ah!

eu sou melhor que ele, ou ele é melhor que eu’”. A partir dessa relação os alunos

desenvolvem sua autoavaliação através de parâmetros criados por eles mesmos, aspecto

ressaltado também por Dantas, Braga e Rocha (2010, p. 428) ao dizerem que “a transmissão

de conhecimentos através da interação é proporcionada, muitas vezes, pela semelhança da

linguagem utilizada entre os estudantes. Os alunos ‘falam a mesma língua’”.

Surge, portanto, dentro da temática das aulas em grupo, outro aspecto relativo à

aprendizagem cooperativa, quando, por exemplo, um aluno não entende um determinado

assunto e os outros colegas interpretam a linguagem “específica” usada pelo professor se

expressando de forma mais clara entre si. Woolfolk (2005, p. 57 apud DANTAS, BRAGA e

ROCHA, 2010, p. 428) afirma que “às vezes o melhor professor é outro aluno que acaba de

resolver o problema, porque ele está operando na mesma zona de desenvolvimento proximal

do aprendiz”.

A respeito das noções de direitos e deveres de cada membro do grupo a mãe de

Mateus explica que, “você aí aprende que cada um tem o seu limite, cada um é de um jeito,

tem um temperamento, cada um tem um limite, cada um pode ir até ali. Eu acho

importantíssimo esse desenvolvimento em grupo”. E essa relação de convívio saudável e

Page 53: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

50

respeito ao próximo pode ser percebido nas aulas, vi que os desníveis não separavam os

alunos e sim os uniam, pois o aprendizado do outro também importava pra eles, e eles se

sentiam interessados em ajudar-se mutuamente.

Em suma além de todos os aspectos citados as aulas em grupo funcionaram como

elemento de fluxo das atividades propostas, e em outro formato os aspectos aqui levantados

não seriam relevantes, visto que o resultado das atividades desenvolvidas com o grupo

geraram os temas aqui expostos.

4.3 O FIM DE UM CICLO

No que diz respeito ao desenvolvimento das aulas, podemos afirmar que os

procedimentos utilizados no desenvolvimento das aulas bem como o formato e divisão das

mesmas agregou bons resultados, mediante os objetivos que busquei quando desenvolvi o

projeto de pesquisa. Diante do estudo realizado sobre o Método Willems, a abordagem Orff e

o EPG podemos afirmar que é possível a realização de atividades provindas destes teóricos no

desenvolvimento das aulas de piano em grupo, o que se faz necessário portanto, é refletir,

planejar e direcionar e até mesmo criar com base nessas propostas meios para esse

aprendizado.

As contribuições de Willems como síntese, foram num contexto geral a sua visão da

aprendizagem musical relacionado aos estágios do desenvolvimento humano, o trabalho

inicial elementar na música e a experimentação em forma de vivências que seu método

sugere. Num foco mais específico a maneira como ele desenvolve os momentos da aula, que

nos inspirou a criar etapas para as aulas de piano, bem como as atividades de escuta e

desenvolvimento auditivo e rítmico. Ainda podemos citar as estratégias para a aquisição da

leitura musical, e o foco do aprendizado da música com foco no instrumento.

Orff e seu conceito sobre música elementar, sua visão de que a aprendizagem

musical tem que ser desafiadora, porém não impossível, nos enriqueceu com a ideia do

trabalho sobre escalas e sistemas elementares como a pentatônica a escala maior as tríades, a

composição e improvisação, e seu ponto mais importante para o fim esperado na nossa

pesquisa, o desenvolvimento motor que engloba a palavra, o movimento e a canção, a ação

musical sentida corporeamente em função de explicar os fenômenos rítmicos através da

simbiose entre o fazer e o viver.

Ambos enfatizam que o meio mais eficaz de se aprender música é fazendo, suas

propostas vêm repletas de atividades procurando promover a sensibilidade musical, e os dois

Page 54: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

51

autores tratam dessa sensibilização em seus discursos, afirmando que só assim haverá um

aprendizado musical prazeroso (HERMAN, 1975; SALIBA, 1991; ROCHA, 1998; PAZ,

2000).

Page 55: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

52

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Há muito que refletir sobre práticas pedagógicas e em relação ao ensino de piano não

seria diferente, pois este é um processo que sempre pode estar sendo aprimorado. Neste

trabalho busquei explanar através das discussões um pouco de meus questionamentos e

motivação para o desenvolvimento dessa pesquisa, atentando principalmente para o que seria

importante dentro do que me propus criando assim estratégias para o aprimoramento da minha

ação pedagógica, entretanto com o intuito de contribuir com ideias e sugestões para os colegas

que comungam dos mesmos questionamentos.

Em função de perceber a importância e interesse pessoal desse trabalho busquei na

leitura de trabalhos voltados para a educação musical ensino de piano, bem como nos

trabalhos dos parceiros que me serviram de base nesse estudo (Willems e Orff), criar

fundamentos sólidos e coesos na intenção de fazer com que esta investigação pudesse

alcançar seus objetivos e obter as respostas às quais motivaram tal pesquisa. Através da

análise dos métodos de piano escolhidos para o trabalho técnico, bem como as leituras a

respeito dos métodos e abordagens ativas de educação musical, criamos o alicerce para

construir o conhecimento que buscamos. Como resultado dessa pesquisa bibliográfica nos foi

gerado um conhecimento que propiciou a criação do percurso didático, e as atividades

contidas nesse plano de ação definiram o resultado final da investigação. Podendo ver desse

modo como as atividades de coordenação motora, por exemplo – que foram desenvolvidas

através de batimentos e locomoção – puderam ajudar no aprendizado de ritmos complexos

que em outra configuração de aula seria mais lento, entre outras atividades já citadas no texto.

No que diz respeito a aplicação das aulas com base nos estudo dos teóricos escolhidos,

constatei que as atividade sugeridas por ambos podem sim ser inseridos no contexto de aulas

de piano, contribuindo assim para o desenvolvimento tanto de habilidades técnicas quanto da

sensibilidade musical. As atividades que trabalham desde autoconhecimento,

desenvolvimento auditivo e rítmico, que englobam lateralidade e trabalham a performance, se

definem nas vivências de criação composição, e esses são apenas alguns dos elementos

observados, além de que o trabalho de Edgar Willems e Carl Orff tem em suas propostas

atividades desenvolvidas para aulas em grupo, e essas vivências tenderam por facilitar o

trabalho com EPG, visto que são estratégias usadas para trabalhar musicalidade em aulas

coletivas.

Page 56: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

53

Pude observar que na fala dos pais e alunos participantes e nos vídeos que são o sumo

desse trabalho, que o processo a qual foram submetidos os alunos também obteve resultados

palpáveis do ponto de vistas deles. Feitas as conexões necessárias entre fundamentação

teórica, prática e resultados, concluo que os alunos de fato compreenderam a proposta,

tiveram o aprendizado técnico esperado, Fato obsevado nos vídeos de recitais, além das falas

que dizem respeito ao desenvolvimento continuado dos alunos, que buscam dar

prosseguimento as atividades com o piano. O importante aqui é salientar que mesmo com as

dificuldades encontradas que soa naturais do instrumento estudado (o piano) os resultados

obtidos com o uso direcionado ao EPG do método Willems e do Orff Schwerk mostrou uma

eficiência notável no que diz respeito ao aprendizado técnico e musical associados.

Desse modo concluo que trabalhar elementos das propostas destes autores em aulas

de piano em grupo é um caminho para o aprendizado deste instrumento, podendo este ser

desenvolvido de maneira global e gradual. Havendo o direcionamento da aplicação das

atividades bem como a adaptação a proposta, este estudo constatou que é um caminho viável.

Espero que as ideias e os conceitos construídos nesse trabalho contribuam com a pesquisa e

trabalho de colegas do meio acadêmico. Encerro este trabalho expressando minha pretensão

em levar a diante essa pesquisa, e desse modo espero que seja a partir das experiências obtidas

nesse primeiro momento que partam as ideias para o desenvolvimento de novos

conhecimentos.

Page 57: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

REFERÊNCIAS

AMATO, R. C. Fucci . O piano no Brasil: uma perspectiva histórico-sociológica. In:

Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música (ANPPOM),

17., 2007, São Paulo. Anais A pesquisa em música e sua interação na sociedade. São Paulo :

ANPPOM/ IA-UNESP, 2007. p. 01-11.

ADOLFO, Antonio. Iniciação ao piano e teclado.

BELLARD, Vanda Freire. Organizadora. Horizonte da pesquisa em música. Rio de Janeiro:

7Letras, 2010.

BOTELHO, Alice G. Meu Piano é Divertido v.II. Ricordi Brasileira. São Paulo, SP, 1987.

BORGAN, Robert; BIKLEN Sari. Investigação Qualitativa em Educação. Tradução: Maria

João Alvarez, Sara Bahia dos Santos e Telmo Mourinho Baptista. Porto Editora. Porto,

Portugal. 1994.

BOZZETTO, A. Ensino Particular de Música: Práticas e Trajetórias de Professores de piano.

Porto Alegre: Editora da UFRGS/Editora da FUNDARTE, 2004.

BRESLER, Liora. Pesquisa qualitativa em educação musical: contextos, características e

possibilidades. Revista da ABEM, n°16, Março de 2007.

BUARQUE, Jonas; GOMES, Carolina Chaves. Willems e Orff na iniciação musical em

turmas de piano coletivo: primeiras discussões. Anais do XXIII Congresso Nacional da

ABEM, Perinípoles, 2013.

DANTAS, Tais. BRAGA ,Simone. ROCHA, Marcus. Aprendizagem cooperativa: a

diversidade como recurso facilitador na aprendizagem do instrumento. In: Anais do VI

SIMCAM, 25 a 28 de maio. Rio de Janeiro, 2010.

DEL BEN, Luciana; HENTSCHKE, Liane (Org.). Ensino de música: propostas para agir e

pensar em sala de aula. São Paulo: Moderna, 2003. p.176-187.

FONTERRADA, Marisa Trench de Oliveira. De tramas e fios: um ensaio sobre música e

educação. São Paulo: Editora UNESP, 2005.

FONTERRADA, M.; GLASER, S. Ensaio a respeito do ensino centrado no aluno: uma

possibilidade de aplicação no ensino do piano. Revista da ABEM, Porto Alegre, v.15, 91-99,

set. 2006.

FLETCHER, Leila. The Leilla Fletcher Piano Course. Montgomery Music inc. Bulffalo, New

York, 1981.

GONÇALVES, Maria de Lourdes Junqueira. Educação Musical Através do Teclado, Manual

do Professor 2° vol. 2ª edição. Rio de Janeiro: Cultura Musical, 1988.

Page 58: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

______. Educação Musical Através do Teclado, Manual do Professor 3° vol. 2ª edição. Rio de

Janeiro: Cultura Musical, 1987.

______.Educação musical através do teclado: habilidades funcionais. Manual do professor,

vol.4. Rio de Janeiro: Cultura Musical, 1989.

______..Ensino de piano em Grupo no Brasil. Disponível em

<http://www.pianoemgrupo.mus.br/index.htm> Acesso em 23 de abril de 2014.

GROSMAN, Mirian. A atuação da família no desenvolvimento das habilidades do futuro

músico. Revista Música em Perspectiva. v.4, n.2 , Setembro 2011.

LEMOS, Daniel. Pedagogia do piano. Disponível em: <http://audio-arte.blogspot.com.br/>

Acesso em 08 de dezembro de 2012.

______. Considerações sobre a elaboração de um método de Piano para Ensino Individual e

Coletivo. Revista do conservatório de música da UFPel. Pelotas, N°25, 2012, p. 98- 125.

LOURO, Ana Lúcia M. Ser docente universitário-professor de música: dialogando sobre

identidades profissionais com professores de instrumento. Tese de Doutorado. UFRGS, 2004.

MELO, Betânia Maria Franklin de. Uma atividade musical para adultos através do piano:

proposta de trabalho. Campinas, 2002. Dissertação (Mestrado em Artes). UNICAMP.

MONTANDON, Maria Isabel . A Conferência Nacional de Pedagogia do Piano como

referência para uma definição da área de estudo. Opus (Porto Alegre), Campinas, SP., v. ano

10, n.n. 10, p. 47-53, 2004

ORFF, Carl. Entrevista de Wille Reich e Manesse Verdag. Trecho de uma entrevista com Carl

Orff do livro Gespraech Hit Komponisten. Zuerich, 1965.

PAZ, Ermelinda A. Pedagogia Musical Brasileira no Século XX: Metodologias e Tendências.

Brasília: Editora MusiMed, 2000.

PACE, Robert. Music for Piano. [s.l]: Lee Roberts Music Publications: 1961.

ROCHA, Carmen Maria Mettig. Educação Musical: Método Willems. Bahia: Faculdade de

Educação da Bahia, 1990.

SCARAMBONE, Denise; MONTANDON, Maria Isabel. A construção de saberes

pedagógico-musicais a partir das reflexões sobre a pratica. XIX Congresso da ANPPOM.

Curitiba, Agosto de 2009.

SALIBA, Konnie K. Accent on Orff: an introductory approach. New Jersey: Prentice Hall,

1991.

SUBTIL, Maria José Dozza. Música Midiática e Gosto Musical da Criança. Editora UEPG.

Ponta Gorssa, PR, 2006.

Page 59: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

SWANWICK, Keith. A Basis for Music Education. 2. ed. London: Routledge, 1992. 124 p.

TOURINHO, Cristina e BARRETO, Robson. Oficina de Violão, v. 1. Salvador,

Moderna,2003.

TRIPP, D. Pesquisa ação:uma introdução metodológica. Educação e pesquisa, São Paulo.

V.31, n3 p. 443-466. Set-dez 2005.

Page 60: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

APÊNDICES

Page 61: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

APÊNDICE 1

EDUCAÇÃO MUSICAL ATRAVÉS DO PIANO: POSSIBILIDADES PARA O

ENSINO DO INSTRUMENTO EM GRUPO

INICIAÇÃO MUSICAL ATRAVÉS DO PIANO

Plano de conteúdos por aula.

Duração: 32 aulas

Nível I

Nível II

Mês Aula 1 Aula 2 Aula 3 Aula 4

1

Nome das notas e

localização no

teclado.

Reconhecimento e

numeração das

oitavas

Regiões do teclado.

Andamento (pulso).

Consciência

corporal ao piano.

Valores longos e

curtos.

Postura ao piano.

Representação

gráfica das alturas

do teclado.

Mãos no teclado.

2

Intensidades.

Pentacordes.

Numeração dos

dedos.

Notas alternadas e

simultâneas e

Representação

gráfica.

Forma da mão.

Criação melódica

dentro do

pentacorde.

Mãos alternadas e

simultâneas

Formação de

acordes a partir do

pentacorde (C, G e

F) e inversões.

Cifragem.

3

Formação de

acordes a partir do

pentacorde (Dm, Em

e Am) e inversões.

Cifragem.

Oitavas.

Ritmos simples para

as duas mãos, com

uso de oitavas e

acordes.

Polirritmo simples

nas duas mãos.

Criação com

melodia e harmonia.

Apresentação da

pauta do piano.

Leituras pelo dó

central.

4

Pauta simples

(harmonia e cifra).

Leituras de

harmonia e cifra.

Preparação de

amostra

Preparação de

amostra

Preparação de

amostra

5

Escala maior C e G

(movimentos

Alternado, contrário,

paralelo)

Independência

rítmica das mãos

Leitura das mãos

simultâneas.

Stacatto e legatto

Escala maior D e A

(movimentos: Alt.

Cont. e Paral.)

Leitura das mãos

simultâneas com

acordes.

Padrão rítmico da

balada.

Improvisação na

tonalidade maior.

6

Escala maior E e B

(movimentos: Alt.

Cont. e Paral.)

Analise de harmonia

e construção de

acordes

Padrão rítmico do

baião.

Progressão I, IV, V,

I.

Escala maior F

(movimentos: Alt.

Cont. e Paral.)

Tons e semitons,

estrutura da escala

maior.

7

Escalas menores

(Am, Em, Bm).

Progressão II,V,I

Arpejo dos acordes.

Improvisação

utilizando escala

maior e arpejos.

Escalas menores

(F#m, C#m)

Escalas menores

(A#m, Dm)

Estrutura das escalas

menores.

8

Introdução a

transposição.

Padrão rítmico

samba.

Transposição das

escalas maiores e

menores para

tonalidades b e #

Improvisação e

produção criativa

Preparação de

amostra

Page 62: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

APÊNDICE 2

MODELO DE ESTRUTURAÇÃO DO PERCURSO DIDÁTICO.

Nível I

Semana Data Tema/conteúdo Desenvolvimento da aula Repertório Materiais

1

11/03/13

Nome das notas.

Localização das

notas no piano

Alongamento

Aquecimento/preparação: exercício nas

notas com estalos.

Exercitar a automatização das notas,

falando três notas (subindo ou descendo)

e eles completam com as duas próximas.

Aumentar o úmero de notas.

Prática ao piano: comparação do teclado

com uma vila de casas, enfatizando as

três portas e três janelas.

Explicar o posicionamento das notas.

Pedir que encontrem todas as notas por

ex.: Lá ou sol ou Mi etc.e que digam a

quantidade.

Enfileirar os alunos e em circuito tocar

alternado uma vez com nome de notas e

na outra com a letra, só da primeira

estrofe.

“Todo dia vou à

escola”

Teclado e cartelas

com o nome das

notas.

2

18/03/13

Consciência

corporal ao

piano

Regiões do

teclado.

Andamento e

pulso

Alongamentos: Exercícios direcionados

a consciência corporal ao piano.

Aquecimento: noções de andamento,

exercício de roda com instrumento de

percussão.

Exercício preparatório: Exercícios com

gráficos de altura de Willems.

Ao piano: (grave médio e agudo)

reconhecer as 3 regiões do piano, usar

gráficos de região.

Leitura e repertório: apresentar a pauta

do piano mostrando o dó central na pauta

e no instrumento. Fazer leituras apenas

com o dó central alternando mão

esquerda e direita (haste pra cima mão

direita e haste pra baixo mão esquerda).

“Dó na direita,

Dó na esquerda”

Teclado,

instrumento de

percussão (tambor

ou pandeiro),

gráfico de altura

Willems; gráficos

de região.

3

24/03/13

Valores longos e

curtos.

Postura ao piano.

Alongamento:

Aquecimento: movimentos que simulam

a postura pianística fora do piano.

Exercício preparatório: gráficos de

duração de Willems; jogo do curto e

longo, com a quinta sinfonia.

Ao piano: utilizar teclas aleatória para

tocar as leituras dos gráficos de duração.

Uma música que

trabalhe com

notas curtas e

longas em série.

Teclado,

datashow, vídeo

da 5 sinfonia com

gráfico midi.

Cartelas de

símbolos de

duração (curto e

longo), gráficos

Willems de

duração.

4

31/03/13

Representação

gráfica das

alturas do

teclado.

Mãos no teclado.

Alongamento: com foco principalmente

nas mãos.

Exercício preparatório: usa o

manosolfa para que eles visualizem as

alturas falando o nome das notas de

vários pontos. Fazer o mesmo exercício

usando o gráfico de notas.

Ao piano: tocar notas utilizando o

gráfico partindo de vários pontos com

ambas as mãos

“Subindo,

descendo,

subindo.”

Teclado, gráfico

de notas Willems

5 29/04/2013 Intensidades.

Pentacordes.

Exercício preparatório: Trabalhar os

“O Tambor” Teclado.

Gráficos Willems

Page 63: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

Numeração dos

dedos.

gráficos de intensidade usando a voz

(falar forte e fraco), e depois o teclado.

Cantar “O tambor” para enfatizar os

sons fortes e fracos, crescendo e

decrescendo.

Fazer um desenho da mão no quadro e

numerar os dedos das duas mãos.

Enfatizar a questão dos números dos

dedos.

Ao piano:Utilizar os princípios de

velocidade de toque como ferramenta

para tocar diferentes intensidades no

teclado.

Introduzir o pentacorde: pedir que

coloquem todos os dedos de uma mão

sobre as teclas de forma que cada um

ocupe uma única tecla.

Utilizar as duas mãos.

de intensidade.

6 Notas alternadas

e simultâneas e

Representação

gráfica.

Forma da mão.

7 Criação

melódica dentro

do pentacorde.

Uso das Mãos

alternadas e

simultâneas

Exercício preparatório: realizar

improvisações com onomatopeias, e

pedir que repitam, associando

batimentos aos sons. Ensinar o texto

rítmico “dibidibidibidá” depois de

aprendido, entre os sugerir que realizem

improvisações entre uma repetição e

outra

Ao piano:Relembrar os exercícios

propostos sob o pentacorde.

Tocar a base de quintas alternadas na

mão esquerda, e tocar as notas do

pentacorde alternadamente criando uma

melodia a partir do material rítmico

experimentado com as onomatopéias.

Ensinar a canção “Um sorriso eu vou

dar”.

“Um sorriso eu

vou dar”.

“dibidibidibidá”

8 Formação de

acordes a partir

do pentacorde

(C, G e F).

Exercício preparatório: procurar os

pentacordes de C, G e F em todas as

oitavas. Tocar notas juntas e depois

uma por uma, com mãos separadas e

depois juntas.

Ao piano:ensinar a canção um “sorriso

eu vou dá” primeiro somente a letra e

em seguida a melodia. Quando

aprendida, mostrar que as notas da

melodia estão dentro do penatacorde,

tocar no piano cantar a canção (somente

a primeira parte) bem lento para que

seja compreendida.

“Um sorriso eu

vou dar”

Semana Data Tema/conteúdo Desenvolvimento da aula Repertório Materiais

9

11/03/13

Escala maior C e

Independência

rítmica das mãos

Alongamento: lombar, braços, mãos

e pescoço.

Exercício preparatório: Exercícios de polirritmia com os

braços e pernas.

Ao piano: Transferir o exercício

feito com o corpo para o piano.

Circuito com xilofone e atabaque.

Ensinar a cação todo dia vou a

“Todo dia vou a

escola”

“Um sorriso eu

vou dar”

Teclado, xilofone e

atabaque.

Page 64: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

escola, primeiro letra e depois

melodia, ensinar a canção ao piano

somente com uma mão e de forma

livre.

Repertótio: “inserir um baixo pedal

junto com a melodia já aprendida de

um sorriso eu vou dar” e trabalhar a

independência das mãos,

primeiramente dentro da sincronia do

movimento, depois voltar a atenção

do aluno para as partes

10

18/03/13

Leitura das mãos

simultâneas.

Stacatto e legatto

Alongamento: lombar, braços, mãos

e pescoço.

Aquecimento: movimentos com

pulinhos e arrastados (simulando

stacatto e legatto)

Exercício preparatório: leituras

rítmicas simultâneas simples com a

utilização de pauta rítmica e

utilizando o ritmo da música do

repertório com movimentos

corporais, depois substituir o ritmo

pelo nome das notas e movimento,

invertendo a ordem.

Ao piano: Fazer a leitura das mãos

separadas, enquanto uma mão toca

uma clave a voz canta a melodia ou

as notas no caso da clave de fá.

“Canta! Roda!”

meu piano é

divertido II.

Teclado, quadro

branco e pautado.

Cópias das partituras.

11

24/03/13

Escala maior D e

A (movimentos:

Alt. Cont. e

Paral.)

Leitura das mãos

simultâneas com

acordes.

Alongamento: lombar, braços, mãos

e pescoço.

Aquecimento: atividades que

promovam o desenvolvimento da

coordenação motora.

Exercício preparatório: falar o

nome das notas subindo e descendo e

com números de dedos da mãos

esquerda e direita

Ao piano: cantar melodia com nome

de notas, tocar a melodia depois de

decorada. Tocar os acordes enquanto

os colegas cantam a melodia com a

letra e com nome de notas, para

efetivar a memorização. Tocar a

melodia e harmonia juntas.

“Canta! Roda!”

“Careca do vovô”

Teclado, pandeiro

triângulo. Cópias da

música

12

31/03/13

Padrão rítmico

da balada.

Improvisação na

tonalidade maior

Alongamento: lombar, braços, mãos

e pescoço.

Aquecimento: fazer o padrão rítmico

utilizando batimentos depois

transferi-los para os xilofones.

Exercício preparatório: em círculos

marcando a pulsação cantar a escala

maior subindo e descendo, cantar

partindo de vários lugares diferentes,

batendo palmas no tempo forte do

compasso para enfatizar a entrada

dos acordes na improvisação.

Ao piano: de acordo com a harmonia

de “Careca do vovô” pedir que criem

sua própria melodia dentro das cinco

notas da melodia e depois pedir que

estendam para todas as notas da

escala maior. Enquanto um aluno

improvisa os outros tocam

instrumentos de percussão.

“Careca do vovô”

“Criação em sala”

Teclado,

Cópias da música,

Instrumentos de

percussão.

Page 65: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

Semana Data Tema/conteúdo Desenvolvimento da aula Repertório Materiais

13

15/04/13

Escala maior E e B

(movimentos: Alt.

Cont. e Paral.)

Analise de harmonia

e construção de

acordes

Exercício de improvisação com as

escalas e os acordes.

14

29/04/13

Padrão rítmico do

baião.

Progressão I, IV, V,

I.

Desenvolver o sentido rítmico da

célula do baião através de batimentos

corporais. Utilizar também

Instrumentos de percussão utilizando

as duas mãos para desenvolver a

coordenação motora necessária para

a execução da célula rítmica.

Explicar o que significa progressão e

de acordo com a numeração

perguntar quais acordes são o I o IV

e o V em diversas tonalidades.

15

06/05/13

Escala maior F

(movimentos: Alt.

Cont. e Paral.)

Revisar o padrão rítmico baião.

Pedir que localizem a escala de Fá

maior, utilizando apenas a memória

sonora da escala maior (todo dia vou

a escola).

Explicar o dedilhado diferente.

(realizar primeiro com mão esquerda

e depois com mão direita).

Realizar a Progressão I, IV, V, I

dentro da tonalidade de fá.

Faze a leitura de “Anunciação”.

Anunciação

16

13/05/13

Tons e semitons,

estrutura da escala

maior.

Page 66: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

APÊNDICE 3

EDUCAÇÃO MUSICAL ATRAVÉS DO PIANO: POSSIBILIDADES PARA O

ENSINO DO INSTRUMENTO EM GRUPO

Roteiro de Entrevista

Nome do respondente:________________________________________________________

Nome do aluno:_____________________________________Idade:___________________

Apresentação: O presente questionário tem como objetivo coletar dados para a pesquisa

“Educação Musical através do piano: possibilidades para o ensino do instrumento em grupo”

nas quais seus filhos ou alunos sob sua responsabilidade foram sujeitos participantes. A

pesquisa em questão se propõe avaliar quais as implicações metodológicas utilizadas no

desenvolvimento da musicalidade e na aprendizagem técnica do piano em aulas em grupo.

Essas propostas buscam facilitar o caminho do aprendizado musical através de vivências,

trazendo a música para a realidade do aluno. Respondendo este questionário você estará

auxiliando a nós pesquisadores a responder os questionamentos que circundam esta pesquisa,

gerando dados para a avaliação dos resultados obtidos o que promoverá a produção de

propostas pedagógicas para o ensino de piano e de outros instrumentos musicais em grupo.

Desde já agradecemos a sua colaboração e contamos com o seu apoio.

1. Como surgiu o interesse em ingressar nas aulas de piano?

2. O aluno já havia tido alguma experiência com aula de música ou aula de piano

anterior? Qual? Como foi? (Tempo de estudo, Aulas de teoria ou piano)

3. Se houve experiência anterior, no que difere das aulas anteriores para a do nosso

curso? (Aprendizado anterior, Aprendizado nas aulas de piano em grupo)

4. Na família há o acompanhamento do desenvolvimento do aluno observando as

agendas de estudo e incentivando-o a estudar? De que forma? (Quem incentiva,

Como incentiva)

5. Você percebe ou percebeu se o aluno apresentava interesse pessoal nas aulas

buscando aprender coisas novas além da sala de aula?

6. O aluno gosta de ir às aulas e o faz por vontade própria sempre? Fale um pouco dos

motivos pelo qual ele/ela alegam não querer ou querer frequentar as aulas.

Page 67: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

7. O aluno relatou algum incômodo relacionado a dinâmica da aula? (ex. A aula é

chata, a aula é legal, não gosto quando o professor faz isso ou aquilo) fale um pouco

sobre isso.

8. Em sua opinião a relação do aluno com a música mudou depois da participação nas

aulas de piano? Comente sua resposta.

9. Houve alguma mudança comportamental no aluno depois do envolvimento com o

estudo do instrumento? Relate as mudanças que considera mais importante.

10.Você considera importante para o desenvolvimento social e humano do aluno a

aprendizagem musical em grupo?

11.O que em sua opinião deveria melhorar nesta proposta de aula de piano?

12.O que você mais gostava da aula de piano? (Aprendizagem)

13.Você gostou das aulas em grupo?

14.E os momentos de “brincadeiras” musicais? (Dinâmicas)

15. Você consegue dizer que aprendeu música ou que aprendeu piano? Serviu de

instrumento musicalizador ou apenas de ensino de instrumento/piano?

Page 68: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

APÊNDICE 4

Page 69: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE ... · PDF filejonas almeida buarque e silva educaÇÃo musical e ensino de piano: estratÉgias para o desenvolvimento de aulas

APÊNDICE 5