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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
UNIDADE ACADÊMICA ESPECIALIZADA
ESCOLA DE MÚSICA DA UFRN
CURSO DE LICENCIATURA EM MÚSICA
FÁBIO LOPES DOS SANTOS
O ENSINO E APRENDIZAGEM DA MÚSICA GOSPEL:
um olhar investigativo
NATAL/RN
2013
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
UNIDADE ACADÊMICA ESPECIALIZADA
ESCOLA DE MÚSICA DA UFRN
CURSO DE LICENCIATURA EM MÚSICA
FÁBIO LOPES DOS SANTOS
O ENSINO E APRENDIZAGEM DA MÚSICA GOSPEL:
um olhar investigativo
Monografia apresentada à disciplina de Monografia ministrada
pela Profª Drª Valéria Lázaro de Carvalho, para fins de
avaliação da disciplina e como requisito parcial para a
conclusão do curso de Licenciatura em Música na Escola de
Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Orientador (a): Prof ª Drª Valéria Lázaro de Carvalho.
NATAL/RN
2013
FÁBIO LOPES DOS SANTOS
O ENSINO E APRENDIZAGEM DA MÚSICA GOSPEL:
um olhar investigativo
Monografia apresentada à disciplina de Monografia ministrada
pela Profª Drª Valéria Lázaro de Carvalho, para fins de
avaliação da disciplina e como requisito parcial para a
conclusão do curso de Licenciatura em Música na Escola de
Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
APROVADA EM __/__/__
BANCA EXAMINADORA
PROFª DRª VALÉRIA LÁZARO DE CARVALHO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
(ORIENTADORA)
PROFª MSC. CAROLINA CHAVES GOMES
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
(MEMBRO DA BANCA)
PROF. MSC. TICIANO MACIEL D‟AMORE
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
(MEMBRO DA BANCA)
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus por ter me facultado a oportunidade de louvá-lo e
engrandecê-lo através da minha música e por ter me ajudado a ingressar na vida acadêmica.
Agradeço a minha família pelo apoio prestado. Em alguns momentos foram noites de
sono, tardes incansáveis (e cansáveis também) e que sempre esteve e está do meu lado.
Aos amados Irmãos em Cristo por ter me auxiliado em suas orações e por terem dado
palavras de incentivo para a conclusão deste projeto.
A Profª Heather Dea Jeannings por ter traduzido a parte pré-textual, ou seja, o resumo
para o inglês.
Aos membros da minha banca por terem aceitado o meu convite assim como também
agradeço a Profª Drª Valéria Lázaro de Carvalho por ter aceitado o meu convite para ser a
minha orientadora e também por ter paciência comigo e conselhos práticos.
Aos amigos da comunidade acadêmica que me incentivaram a continuar trabalhando
sobre o tema proposto.
Enfim a todos os que contribuíram de maneira direta ou indireta para a realização
deste trabalho. Que Deus abençoe a todos
RESUMO
O ensino e a aprendizagem da música entre os evangélicos tem tido um grande êxito
no que tange a melhora no fazer musical, tendo em vista que muitos evangélicos têm entrado
nas universidades que dispõem dos cursos de Bacharelado e Licenciatura, propiciando assim
uma melhor didática ao ensino musical aos adeptos deste grupo religioso. Neste ambiente
ocorre o ensino não formal e esse conhecimento técnico é passado dentro das dependências
dos templos evangélicos, para os próprios evangélicos visando utilizar esse conhecimento
dentro da igreja. Não obstante, alguns músicos evangélicos por se destacarem dentro dos
templos acabam tendo uma posição de destaque nacional, sendo notado por todos os músicos.
Este trabalho foi realizado com três grupos de duas igrejas evangélicas diferentes os quais
são: Orquestra Filarmônica Evangélica Gênesis (OFEG), a Orquestra Evangélica Gênesis de
Alunos (OFEGAL), ambas da Igreja Evangélica Assembleia de Deus no Estado do Rio
Grande do Norte (IEADERN) e o Ministério de Louvor Brasil em Adoração (MLBA) que é
da Igreja O Brasil para Cristo, ambas situadas no bairro do Alecrim.
Palavras Chave: Ensino e Aprendizagem. Contexto Não Formal. Música Gospel. Igreja
Evangélica Assembleia de Deus. Igreja O Brasil para Cristo. OFEG. OFEGAL. MLBA.
ABSTRACT
The teaching and learning of music among evangelicals has had great success in
relation to improvement in music making, considering that many evangelicals have entered in
universities that offer higher education degrees and, therefore, offering a better system for
teaching music to adherents of this religious group. In this environment, non-formal is occurs
and this technical knowledge is passed within the premises of the evangelical temples for
evangelicals themselves aiming to use this knowledge within the church. Nevertheless, some
evangelical musicians excel within the temples and end up in a position of national
prominence, being noticed by all musicians. This study was conducted with three groups of
two different evangelical churches:: Evangelical Genesis Philharmonic Orchestra (OFEG), the
Genesis Evangelical Student Orchestra (OFEGAL), both from the Assembly of God
Evangelical Church in the state of Rio Grande do Norte (IEADERN ) and the Ministry of
Worship Praise in Brazil (MLBA) which is from the Brazil for Christ Church, both located in
the Alecrim neighborhood (of the city of Natal).
Keywords: Teaching and Learning. Non Formal Context. Gospel Music. Assembly of God
Evangelical Church. Brazil for Christ Church. OFEG. OFEGAL. MLBA.
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
IEADERN – Igreja Evangélica Assembleia de Deus no Estado do Rio Grande do Norte
MLBA – Ministério de Louvor Brasil em Adoração
OFEG – Orquestra Filarmônica Evangélica Gênesis
OFEGAL – Orquestra Filarmônica Evangélica Gênesis de Alunos
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 8
2 DISPOSIÇÕES GERAIS SOBRE O ENSINO NÃO FORMAL ............................... 10
2.1 DISPOSIÇÕES PRELIMINARES ................................................................................ 10
2.1 O ESPAÇO NÃO FORMAL ......................................................................................... 13
2.2 O PERFIL DO PROFESSOR NOS ESPAÇOS NÃO FORMAIS ................................ 15
3 A MÚSICA CRISTÃ EVANGÉLICA .......................................................................... 20
3.1 ORIGENS DA MÚSICA CRISTÃ ............................................................................... 20
3.2 CARACTERÍSTICAS DA MÚSICA GOSPEL ........................................................... 24
3.3 A IMPORTÃNCIA DA TÉCNICA .............................................................................. 27
4 GRUPOS MUSICAIS E SUAS CONTRIBUIÇÕES PEDAGÓGICAS .................... 30
4.1 GRUPOS MUSICAIS OBSERVADOS ........................................................................ 30
4.2 OS PROCESSOS DE ENSINO E APRENDIZAGEM NOS GRUPOS OBSERVADOS
............................................................................................................................................. 33
5 METODOLOGIA EMPREGADA NA PESQUISA .................................................... 37
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 38
REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 39
8
1 INTRODUÇÃO
Este trabalho consiste em apresentar o ensino e a aprendizagem da música gospel.
Foram visitados grupos musicais de duas igrejas evangélicas com o objetivo de realizar uma
comparação entre os dois grupos e analisar o processo de aprendizagem musical.
Os grupos musicais observados pertencem a Igreja Assembléia de Deus, templo
central, e a Igreja Pentecostal, o Brasil para Cristo, ambas no bairro do Alecrim, em Natal.
Estas igrejas são antigas e têm um trabalho musical bem antigo em suas dependências e, no
caso da Assembleia de Deus, já tem uma escola que forma músicos para tocar nos trabalhos
evangelísticos.
Estes grupos são o Ministério de louvor Brasil em Adoração (MLBA) da igreja do
Brasil e a Orquestra Filarmônica Evangélica Gênesis de Alunos (OFEGAL) da Igreja
Evangélica Assembleia de Deus no Rio Grande do Norte. Estes dois grupos musicais foram
escolhidos porque sentimos a necessidade de comparar grupos tão distintos em estilo e
gêneros musicais, apesar de terem a mesma ideologia religiosa.
Também realizei um estudo sobre a educação informal, com o objetivo de estudar
alguns desses espaços não formais, como estão organizados e quem são os participantes e os
líderes desses movimentos sociais. Dando continuidade, procurei desenhar o perfil de um
profissional que trabalha nestes espaços e quais os desafios que o mesmo encontra nestes
locais de trabalho, bem como, a sua postura frente a esses desafios.
No capítulo seguinte, elaborei um contexto histórico sobre a música gospel. A sua
origem, fundadores, as causas sociais que levaram à sua criação, e quando esta chega ao nosso
país.
Também expus as características da música gospel e a importância da técnica
vocal/instrumental no contexto evangélico. Também apontei as características dos grupos
estudados e quais as suas contribuições no processo didático que a música evangélica tem
dado aos músicos que participam desses grupos musicais.
Demonstrar o quanto é importante para os evangélicos a sua música e assim também
apontar para a visibilidade de seus músicos que fazem um trabalho expressivo. Também será
visto como estão organizados os grupos musicais gospel e as interações com a igreja durante o
culto no qual estes se apresentam.
Na conclusão ressalto as contribuições que esse estudo pode trazer para o crescimento
artístico e cultural dos músicos que atuam nos grupos evangélicos que estão mencionados
9
neste trabalho, e também para que os mesmos tomem ciência da importância dessa atividade
no seio desta sociedade.
10
2 DISPOSIÇÕES GERAIS SOBRE O ENSINO NÃO FORMAL
2.1 DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
Existe uma relação entre música, sociedade e cultura bastante envolvente no que tange
às áreas do conhecimento humano, especialmente na área Antropológica e Etnomusicóloga.
Esta relação mostra o quanto os mesmos são intrínsecos na formação musical do
indivíduo. Esta forma de abordagem facilitará a nossa compreensão da maneira como se dá o
ensino e aprendizagem da música evangélica. Este ensino e aprendizado se dão em um
ambiente não formal, onde às vezes, o local não propicia, em termos de espaço, um ambiente
adequado para o ensino.
Em tempos passados havia um pensamento em que, o ensino musical se dava somente
em espaços regulares, desconsiderando assim o ensino não formal. Algum tempo depois
houve uma mudança gradual acerca deste pensamento, pois o volume de pesquisas sobre o
assunto têm se intensificado consideravelmente no decorrer dos anos. Apesar disto, estes
espaços já dispunham de um ensino de música presente no local bem antes das pesquisas
começarem.
A música sempre está presente nos mais diversos espaços, formais e não formais, e
como tal, faz-se a necessidade de aprendê-la e o ensino de música em tais ambientes têm sido
de grande importância. A música está inserida em diversos contextos sociais e imersa neles,
trata de participar do cotidiano dos indivíduos participantes desta cultura. Em se tratando da
cultura “Gospel” como também é conhecido pelas outras culturas, à música tem a sua devida
importância, principalmente litúrgica. Porém é neste meio, onde também ocorre esse
aprendizado, em que surgem músicos de destaque.
Segundo Alves (2009, p. 2):
Nas igrejas evangélicas no Brasil a música faz parte da liturgia como elemento
indispensável para o culto. A formação musical dentro das igrejas evangélicas tem
impulsionado a formação de diversas orquestras, bandas diversas, coros que são
responsáveis pelo serviço dentro das próprias igrejas, e tem alimentado o mercado
musical – acadêmico.
Sob essa perspectiva, podemos observar o quão é importante à música Gospel, na
formação artística dos próprios Cristãos Evangélicos. O campo da educação musical é muito
vasto e abrange tanto o contexto formal e não formal, e a música gospel, tem como ambiente
gerador desta, o contexto não formal.
11
Queiroz (2005) observa que a música é um meio importante de expressão e de
comunicação humanas e que a mesma tem-se destacado como um fator que determina as
singularidades que dão forma e sentido às mais variadas formas e sentidos dos mais diversos
contextos. Isto quer dizer que a música tem um papel preponderante na sociedade na qual está
acolhida nas relações interpessoais dentro deste meio. A música assim deixa de ser uma mera
coadjuvante e se torna uma agente que constrói laços entre os participantes entre si.
(QUEIROZ, 2005, p. 51)
O mesmo autor relata que a música, enquanto fenômeno cultural constitui umas das
mais ricas e significativas artes do homem, produzido pelas vivências, crenças, valores,
costumes e etc., portanto a música como cultura, está atrelada a sua importância em uma
determinada sociedade.
Isto induz-nos a perceber o quanto a música tem, nos espaços sociais, “um corpo
sonoro que congrega aspectos compartilhados pelos seus praticantes nas distintas experiências
culturais que compartilham em seus sistemas sociais” (QUEIROZ, 2005, p.52). O autor
adverte que apesar da música ser utilizada universalmente não faz da sua prática uma
linguagem universal, pelo fato de que cada cultura se apropria dela e a transmite, a elabora e a
compreende da sua própria forma.
O mesmo autor assegura que urge uma necessidade de um tratamento mais sério do
aprendizado musical. Segundo Queiroz (2005, p. 54):
Demonstra a necessidade de incorporarmos às práticas educativas da música
sentidos que inter-relacionam o fazer musical a aspectos mais abrangentes da cultura
dos alunos, fazendo das atividades educativo-musicais algo relevante e significativo
socialmente. Assim estaremos fugindo da cultura musical frágil e superficial
consolidada, muitas vezes, dentro das salas de aulas de música em instituições
formalizadas. Cultura que cria „musiquinhas‟ e „brincadeirinhas musicais‟ sem
qualquer significado real para os seus praticantes, gerando, consequentemente,
desinteresse e descaso dessas pessoas para com as aulas de música.
Esta crítica se refere ao ato de pensar do fazer musical, uma espécie de recreação e
não uma aula com todo o processo pedagógico que se faz necessário (ainda assim em algumas
escolas de ensino público e privado, a aula de música é vista sob esse prisma). Contudo há de
se batalhar para que haja uma conscientização por parte dos professores tanto de música, para
que a música seja vista com seriedade pelos mesmos profissionais citados anteriormente.
2.2 O ESPAÇO NÃO FORMAL
12
É importante lembrar que, o contexto formal, é aquele em que não há uma
regulamentação ou padronização. O espaço não formal é um grande celeiro no que diz
respeito à aprendizagem e ao ensino. Ong‟s, igrejas, centros comunitários, a sociedade civil
em geral, tratam de realizar o ensino artístico em suas dependências por vários motivos.
Segundo Gohn (2006), “quando tratamos da educação não formal, a comparação com a
educação formal é quase que instantânea” (GOHN, 2006, p.02). Nesse trecho, a autora declara
que todos nós fazemos logo uma comparação dos dois campos de ensino e que somos levados
a tratar, em até certo ponto, com desconfiança o campo informal.
O campo da educação não formal é muito vasto, porém muito proveitoso e digno de
pesquisas acadêmicas nas mais diversas áreas do conhecimento humano. Este campo está em
franca expansão e as pesquisas começam a se avolumar nas universidades, fazendo assim com
que este contexto sociocultural, seja amplamente divulgado e valorizado, tanto é que podemos
observar pelas mídias o trabalho realizado por Ong‟s e demais setores da sociedade
internacional.
Desta forma podemos observar que as Ong‟s fazem um belo trabalho no que tange à
conscientização do ser humano e também quanto à valorização do que é “seu” e que faz parte
daquela determinada comunidade. No Brasil existe inúmeras ongs e estas atuam em vários
seguimentos da sociedade, sendo estes, esporte, cultura, meio ambiente etc. são instituições
sem fins lucrativos.
Algumas tratam de ter entre os serviços disponíveis, o ensino da música ofertada aos
que se interessarem. As aulas são ministradas para o canto coral, banda de fanfarra, flauta
doce ou oficinas de percussão, e estas são realizadas pelo oficineiro que está realizando a sua
oficina musical.
Estas oficinas, muitas vezes, são a primeira oportunidade do participante do projeto
social, de aprenderem música de outra maneira, diferente das ministradas em espaços formais
de música, ou seja, os conservatórios musicais da cidade.
A realidade do ensino não formal
Designa um processo com várias dimensões tais como: a aprendizagem política dos
direitos dos indivíduos enquanto cidadãos; a capacitação dos indivíduos para o
trabalho, por meio da aprendizagem das habilidades e/ou desenvolvimento de
potencialidades; a aprendizagem e exercício de práticas que capacitam os indivíduos
a se organizarem com objetivos comunitários, voltadas para a solução de problemas
coletivos cotidianos; a aprendizagem de conteúdos que possibilitem aos indivíduos
fazerem uma leitura do mundo do ponto de vista de compreensão do que se passa ao
redor; a educação desenvolvida na mídia e pela mídia, em especial a eletrônica etc.
(GOHN, 2006, p. 27).
13
Nesse sentido, o ambiente informal, envolve o aluno por completo e não apenas com
um determinado tipo de conhecimento. Também é descrito como um lugar em que os
integrantes estão possibilitados a aprender a lidar com a realidade em que estão inseridos e
que os mesmos podem compreender e tentar melhorar o ambiente ao seu redor. Podemos
analisar com esses dados o poder de transformação que o ambiente informal dispõe, pois, o
mesmo está inserido num contexto muitas vezes adverso, como por exemplo, em favelas.
A autora supracitada adverte que é necessário distinguir e demarcar as diferenças entre
esses conceitos (GOHN, 2006, p. 2). O campo formal é aquele em que há uma escola e que
nesta, os assuntos são previamente delimitados. Já no informal, os conteúdos são assimilados
durante a socialização dos indivíduos presentes e este ambiente é carregada de culturas e
valores próprios. Neste último, segundo a autora, o sujeito aprende na “escola da vida” através
de compartilhamento de experiências em espaços de ações coletivas e cotidianas, geralmente.
Este ambiente pode ser nos lugares mais diversos os quais podem ser um Rádio, a
Televisão ou interagindo com familiares que tocam (FELDENS, 2008, p. 1). Nesse ambiente
segundo Gohn (2006), o professor é o outro indivíduo do ambiente, diferentemente do ensino
formal que está voltado para a figura do professor. Segundo Gohn (2006), ”[...] é necessário
reconhece-los para adaptar a formação de profissionais para trabalhar nesta área e possibilitar
a todos a um maior acesso à música.” Os agentes educadores que atuam nessa área, podem ser
dos mais diversos. Pode ser os pais, os vizinhos, os amigos, a família em geral, os colegas de
escola, a igreja paroquial ou evangélica, meios de comunicação em massa etc., porém, a
educação não formal, não tem como objetivo preencher os espaços da formal, e deve buscar
uma forma de trabalhar a educação num sentido amplo.
Muitas vezes, no entanto, a educação informal acaba sendo o único local de
aprendizagem musical para os alunos (FELDENS, 2008, p. 2) e de acordo com GOHN (2006,
p. 3) na educação não formal, os espaços educativos localizam-se em territórios que
acompanham as trajetórias de vida dos grupos e indivíduos, fora das escolas, em locais
informais, locais onde há processos interativos interacionais (a questão da intencionalidade é
um elemento importante de diferenciação).
Gohn (2006) destaca que no espaço informal os espaços educativos são demarcados
por referencias de nacionalidade, localidade, idade, sexo, religião, etnia etc. a casa onde se
mora a rua, o bairro, o condomínio, o clube que se frequenta, a igreja ou o local de culto a que
se vincula sua crença religiosa, o local onde se nasceu etc. tendo uma intencionalidade na
ação, no ato de participar, de aprender e de transmitir ou trocar saberes e opera em ambientes
14
espontâneos onde as relações sociais se desenvolvem de acordo com os gostos, preferências
ou pertencimentos herdados.
A educação não formal procura socializar os indivíduos e desenvolver hábitos,
atitudes, comportamentos, modo de pensar e de se expressar no uso da linguagem e etc. É
importante ressaltar que a mesma trata do indivíduo como um todo, dependendo do ambiente
em que este esteja inserido. Nas igrejas evangélicas, por exemplo, há um cuidado em tratar
não somente da parte técnica, mas também da parte espiritual.
Existe uma multiplicidade de espaços de atuação que é uma particularidade para quem
é dessa área (DEL BEN, 2003 apud FELDENS, 2008). Este último ponto é interessante, pois
podemos analisar que isto, a diversificação de espaços informais, significa que há um grande
número de locais em que se ensina música. No Brasil e exterior há um grande número de
pessoas que investigam sobre essa área do ensino.
A finalidade da educação informal é de abrir janelas do conhecimento sobre o mundo
que circunda os indivíduos e suas relações sociais (GOHN, 2006, p. 29). Uma vez que esse
processo educativo é gerado, surge um aprendizado espontâneo por parte do indivíduo e que,
este, deverá repassar para outro e assim por diante, sendo assim o aluno um agente
multiplicador do conhecimento. Este aprendizado pode ser fruto de um processo que se volta
para os interesses e as necessidades dos integrantes.
Em se tratando de música a sociedade que a permeia, a influência grandemente de tal
modo que, até no ensino, a mesma determina o que é e o que não é música; o que é ensinado
como tal e o que deveria ser rejeitado ou menos evidenciado conforme preconiza Merrian
(1964) “[...] o fenômeno sonoro só se tornará música se o contexto que o pratica aceitá-lo
como tal”. (MERRIAN, 1964 apud QUEIROZ, 2005).
Como vimos à sociedade civil de forma determinante, influencia no fazer musical dos
indivíduos inseridos nela. Faz-se necessário ressaltar que, por algum motivo, o aluno está
aprendendo porque o mesmo teve algum interesse, o que é bastante lógico. Esse interesse
surge em uma determinada situação em que aquele ouvinte se identificou com algum
instrumento, viu a possibilidade de ascensão social, financeira etc. É também importante
lembrar que há pessoas, que buscam na música uma forma de expressar os seus sentimentos e
dependendo do meio em que ele está inserido, isso lhe dará a condição de status entre os
demais participantes.
Segundo Carvalho (2005, p. 70), a educação nos espaços não formais é abordada
diferentemente da educação formal. Aquela não quer se sobrepor a esta, mas complementá-la
trabalhando de tal maneira, que estenda a mesma a dimensões que estão além do que os
15
sistemas escolares oferecem. E acrescenta que estes espaços com uma organização própria,
independente dos direcionamentos oficiais, dirigem a transmissão de conhecimentos, a
fixação de tempos, sequencialidades, e outras etapas do funcionamento se fazem acontecer no
meio em questão.
É necessário lembrar que no campo do ensino informal, as propostas metodológicas de
ensino tem sido, até pro assim dizer, implementadas mais facilmente. O professor de música
dessa área deve encontrar sim barreiras durante o percurso do aprendizado, mas deve tentar
reverter à situação contrária na medida do possível.
Estes ambientes possuem liberdade, a flexibilidade e a possibilidade de construir os
conteúdos de aprendizagem que sejam mais significativos para cada grupo. É por isso que o
ambiente é chamado de não formal visto que, a condição Sine qua non, é que não segue aos
princípios formais do ensino e aprendizagem.
Estes ambientes como tem a liberdade para escolher os conteúdos ministrados, então a
escolha dos mesmos vai de acordo com o objetivo que se tem. Tanto os templos religiosos,
Ongs e projetos sociais, trabalham sob essa perspectiva e que segundo a autora, a escolha do
educador é um dos momentos cruciais. Esse tipo de ambiente é bastante sociável; todos se
conhecem e na maioria das vezes, convivem mutuamente. É necessário pensar, que os
indivíduos estão ali por um objetivo comum e que eles levam a sério esse momento; se não
todos, mas a maioria sim.
Este ambiente bastante diversificado tem inúmeras facetas estruturais, organizacionais,
pedagógicas e motivacionais.
2.3 O PERFIL DO PROFESSOR DOS ESPAÇOS NÃO FORMAIS
De acordo com as exigências da sociedade em se tratando de um profissional, o
mesmo deve buscar, se capacitar cada vez mais. Muitas vezes o profissional deve sempre
estar se reciclando e aprimorando os conhecimentos para prepara o aluno para o mercado de
trabalho, ensino esse conhecido como Ensino Propedêutico, ou seja, um ensino que trata de
preparar o referido aluno para o trabalho na sociedade.
Os professores deste ambiente de ensino muitas vezes não detêm de conhecimentos
acadêmicos para realizar o ensino musical. A maioria desses profissionais, não tem formação
musical acadêmica para lidar com a docência. Muitos destes, conforme observa Almeida
(2005), são ex-participantes do projeto que se destacaram assumem a posição de oficineiros e
16
que poucos contam com a participação de licenciados em Música e/ou assessoria de escolas
de música.
A causa disso é a falta de exigência de uma formação mais sólida no tocante ao
conhecimento que ele vai ministrar. Segundo Libâneo (1999 apud CERONI, 2006, p. 59):
Todos os educadores seriamente interessados nas ciências da educação, entre elas a
pedagogia, precisam concentrar esforços em propostas de intervenção pedagógica
nas várias esferas do educativo para enfrentamento dos desafios colocados pelas
novas realidades do mundo contemporâneo.
O educador na perspectiva de Libâneo deve procurar esforçar-se em propor métodos
que, em face desses novos desafios, trabalhem para que estes desafios sejam vencidos através
de seu trabalho como professor e que estes métodos facilitem aos alunos um aprendizado
significativo nas diversas áreas do conhecimento, dentre as quais, a própria Música.
Queiroz (2005, p. 55-56) aponta que o educador faça “[...] necessário apontar
alternativas para um ensino que utilize tanto o desempenho quanto manifestações
performáticas concretizadas como fenômenos culturais [...]” a música considerada como um
fenômeno sociocultural, “[...] o desempenho pode ser entendida como um modo de expressão
e comunicação que faz de um evento social um veículo carregado de sentidos e de estruturas
determinantes de situações diferenciadas das experiências e vivências cotidianas da
sociedade” [...] (QUEIROZ 2005, p. 56) e segundo ele deve ser a experiência musical numa
prática educativa.
Ainda nas palavras do mesmo autor, é importante que o profissional veja a
necessidade de pensar numa educação musical abrangente que reconheça e desenvolva
diferentes competências, não entendendo e concretizando a ideia de que uma [música] é
melhor do que outra, mas sim enfatizando as suas dimensões distintas e variadas (QUEIROZ
2005, p. 61-62).
Podemos observar que ainda há por parte da comunidade acadêmica, certo desdém
pela música que se faz nos ambientes informais por vários motivos. O professor que é
formado na academia, mas, que leciona no meio informal, não deve se pautar por esse
comportamento, pois todas essas músicas criadas estão em acordo com a realidade em que os
seus alunos vivem, ou seja, elas possuem um significado para eles. Este tipo de música que os
alunos aprendem, e talvez esse seja o único meio pelo qual eles têm contato com a música.
17
Não quero dizer que se devem abandonar as práticas pedagógicas que aprendemos nas
academias, mas procurar por meio da habilidade, trazer esses alunos para aprender outro tipo
de música que eles fatalmente não têm contato.
Desse modo, o professor que irá lecionar no meio informal, deverá ter essa
consciência das dificuldades impostas pelo meio não formal, e dependendo de onde esse
profissional irá trabalhar, essas dificuldades poderão ser ainda mais trabalhosas.
Conforme Carvalho (2005, p. 72) e Gohn (1999, p. 95, 97) “Cobra-se um perfil de
trabalhador, segundo elas, criativo, que saiba compreender processos e incorporar novas
ideias, tenha velocidade mental, saiba trabalhar em equipe, tome decisões, incorpore e assuma
responsabilidades, tenha autoestima, sociabilidade e atue como cidadão”.
Como está explicitado acima, nos dias de hoje o profissional tem uma enormidade de
tarefas a cumprir. Isso faz com que o profissional se sinta mais e mais cobrado para poder
obter uma vida mais digna financeira e socialmente falando. Essa cobrança causada pela
temática capitalista se deve ao fato de que o trabalhador deve ser mais bem adestrado para
cumprir tarefas cada vez mais laboriosas por causa da grande exigência, não só por parte do
sistema econômico e político vigente, mas por parte da sociedade também.
Conforme explicitado acima, isto tem muito haver com o comportamento da
sociedade, pois, esta tem se tornado uma ávida consumista e imediatista. Os profissionais
devem se desdobrar para cumprir diversas tarefas, vários compromissos em pouco tempo,
melhorar o conhecimento no que tange a sua área de atuação, e essa pressão também chega ao
campo educação uma vez que o profissional é cobrado parasse especializar em sua área.
No campo informal, o profissional está muitas vezes sem uma formação como foi
explicitado anteriormente, por causa da informalidade que a permeia. De acordo com
Carvalho (2005, p. 73) “[...] grande parte das Ongs no Brasil, tem endereçado suas atuações às
camadas mais pobres da população do Brasil”. É neste ambiente em que há, muitas vezes,
problemas sociais tais como, violência, tráfico de drogas entre outras situações em que os
moradores estão expostos a riscos.
O profissional que ensina neste lugar geralmente é da comunidade onde ocorre o
ensino de música e que, como vimos, é um ex-aluno que se destacou no projeto e que tem a
responsabilidade de ensinar aos outros alunos a música. O professor, por causa da situação do
ambiente muitas vezes tenha múltiplas exigências. A autora reflete que o mesmo deve ter
posicionamentos políticos, éticos e estéticos alinhados aos da instituição e que possua
qualidades e aptidões pessoais que vão além das habilidades técnico-profissionais.
18
E ter uma formação acadêmica não é essencial para o educador do ambiente não
formal. Mas não é por isso que não se deve ter formação acadêmica para ensinar arte nestes
ambientes; são fatos isolados que tem a sua importância no contexto do ensino e
aprendizagem. Mas, o mais importante é o que este ensino traz ao ser humano que participa
deste ambiente; quais as contribuições que este ensino dá para a formação ética, estática,
social, cultural e emocional do indivíduo; quais as implicações para o desenvolvimento e da
conscientização da comunidade na qual o meio informal está envolvido.
Segundo a autora, em alguns casos os profissionais com formação acadêmica trazem,
para os espaços educacionais informais, vivências e atitudes próprias da escola formal que
muitas vezes não se adaptam a essa esfera pedagógica, dificultando a sua atuação
(CARVALHO, 2005, p. 80).
A razão dessas dificuldades conforme a autora citada deve ser a pressão exercida por
essas instituições informais, sobre o educador, na busca por resultados, a qual a mesma
instituição está sendo também, de alguma forma, pressionada por outros setores da sociedade
para que as mesmas instituições sejam avaliadas no sentido de que o investimento realizado
tenha bom proveito na concepção destes últimos. O trabalho exige dedicação e
disponibilidade muito grande por parte dos educadores. O educador em geral se envolve
muito com o trabalho realizado por ele e essa entrega é tão grande que o mesmo quase que se
torna um militante da causa.
Ainda segundo a autora, ela pesquisou em alguns ambientes não formais e verificou
que os mesmos dão ao profissional a liberdade para intervir, porém, não significa que este
esteja livre de cumprir algumas exigências. Ele sempre está sendo avaliado pela direção,
embora não esteja obrigado a fazer testes avaliativos. Cobra-se deles capacidade intelectual
para a ministração dos conteúdos, habilidade, criatividade e aptidões específicas os educandos
atraídos e interessados. Eles devem ter capacidade de liderança e estimular os processos de
transformações pessoais e desejadas.
O docente neste ambiente, como vimos, anda numa corda bamba. Este profissional é
bastante avaliado pelos gestores e a responsabilidade é enorme desse profissional e este fica a
mercê da avaliação deles e dependendo do trabalho, este pode ser admitido, permitido ou
demitido. Em virtude disto, os educadores se veem cercados por outras problemáticas que são
do cerne do local. Lidar com a questão da violência, tráfico de drogas, exploração infantil
entre outros, faz do educador um profissional multifacetado em vários outros.
Melo reflete que a arte é uma “práxis essencialmente política” já que tem um vínculo
orgânico com um determinado período sociohistórico (MELO, 2005 p. 95) e que é uma
19
expressão intencional ou não das contradições inerentes da realidade concreta. A arte
desempenha um papel preponderante na vida e nas práticas do ser humano na sociedade em
que ela se insere.
Segundo Schafer (1991 apud SANTOS et al, 2011, p. 211), os educadores têm um
desafio de “ensinar no limite do risco”. E conforme esses autores, Schafer estava descontente
com os “currículos organizados previamente” e que pouco se abrem para a dimensão criativa.
William Doll observa que as suposições dos currículos modernistas são adornadas ao
paradigma dominante moderno, que ainda hoje permeia as práticas da nossa vida (DOLL,
1997 apud SANTOS, 2011, p. 212). É este o componente que desafia a todos os educadores
no que tange ao fazer musical: a mídia influência na arte, na vida, e ações da sociedade e
inclusive na música.
20
3 A MÚSICA CRISTÃ EVANGÉLICA
3.1 ORIGENS DA MÚSICA CRISTÃ
Conforme Weschenfelder (2008) “a música exerce um papel muito importante na
igreja e tem poder sobre a vida. É uma arte poderosa, que sendo bem administrada traz
benefícios a todos os envolvidos nela”.
O Cristianismo é uma religião que canta. Esta arte é produzida em seu meio para a
liturgia e serve a este como parte inerente ao culto cristão. A Reforma Protestante a utilizou
para a propagação das suas idéias na Europa dentro de vários países.
A música Cristã como conhecida, teve origem entre os povos Hebreus da antiguidade.
Os judeus foram os grandes influenciadores da música cristã como um todo, tanto em relação
a liturgia do culto, como ao significado. Os antigos judeus usavam-na em todas as áreas de
sua vida assim também como danças.
Quanto a música hebraica, graças a torá (a Lei) e a outros documentos religiosos
antigos, pode-se precisar relativamente a história da música hebreia. O maior compositor do
povo hebreu sem dúvida é o Rei Davi (c. 1000 a 962 a. C.). O mesmo compôs muitos dos
Salmos que estão na bíblia que inspiraram e inspiram muitos cristãos da atualidade a compor
músicas evangélicas.
Os hebreus costumavam formar orquestras e corais para as suas celebrações. As
orquestras reuniam instrumentos tais como trombetas – inclusive havia uma festa só para elas,
o shofar que é um instrumento de sopro feito com chifre de um animal, flautas, percussão
como tambores, címbalos e cordas como liras, harpas, saltérios etc. os corais geralmente em
uníssono, característica essencial de muitos corais evangélicos denominados de “conjuntos”.
Até a Reforma Protestante a música sacra se resumia ao cantochão e a polifonia
introduzida por Leonin e Perotin na França no século IX. Aos fiéis era vetada a possibilidade
de cantar no canto congregacional e Lutero é que inicia uma nova era musical na cristandade
fazendo com que os fiéis façam parte do canto, como também na utilização da língua vulgar
na execução dos mesmos.
Esse tipo de formação musical é muito comum nas igrejas evangélicas sendo
específico de cada grupo da igreja. Por exemplo, o departamento de jovens tem o conjunto
deles formados especificamente por jovens. O de senhoras a mesma coisa e assim
sucessivamente. Nestes o cantar é em uníssono e às vezes responsorial, como no estilo judeu
de cantar que tanto influenciou o cristianismo, assim como também o solista.
21
A música gospel teve seus primórdios e desenvolvimento nos Estados Unidos e vem
de uma aglutinação das palavras GOD SPELL vindo do inglês antigo que se traduzi-las ao pé
da letra, será DEUS SOLETRA, porém contextualmente pode significar BOAS NOVAS e, se
destaca por ser harmoniosa em um coral dividido em várias vozes ou em uníssono, um solista,
piano, órgão, guitarra, baixo e bateria e, se desejar, pode por mais instrumentos na banda.
Este termo é bem vasto, pois englobam vários estilos musicais mais estes tem uma mesma
raiz: a música negra cristã executada nas igrejas afro-americanas cristãs e o seu surgimento
deve-se a “Thomas A. Dorsey (1899-1993), compositor de sucesso tipo There Will Be Peace
in the Valley, é considerado por muitos, O Pai da Música Gospel. No início de sua carreira ele
era um importante pianista de Blues, conhecido, aliás, por Georgia Tom.” (WIKIPÉDIA...,
[20--]).
Este gênero nasce nas fazendas de escravos do sul dos Estados Unidos. Os negros
cantavam músicas religiosas com mensagens escondidas em suas letras. Estas poderiam
conter informações sobre terrenos, estradas, quais rios para evitar e o número de homens que
patrulhavam essas estradas e rios. Eram esses cânticos utilizados por escravos presos durante
a noite, para orientar os negros que fugiam para o Norte dos Estados Unidos que era a parte
livre. Este costume permaneceu quando os negros livres começaram a se converter nas igrejas
Norte-Americanas.
Cunha (2004, p. 118), diz que as raízes do Gospel estão nos negro spirtuals e que este
gênero está na base de toda a base da música negra norte-americana, no Blues, no Ragtime e
nas músicas religiosas populares do movimento urbano do revival (reavivamento) do século
XX.
Segundo a supracitada autora, outro pioneiro do gospel é o Charlles A. Tindley (1853
– 1933). Tindley foi também um grande compositor deste gênero, desde a década de 10, mas
o mesmo só conseguiu notoriedade nos anos 20 e 30. Nesta última década mencionada surge
o pastor batista Herbert W. Brewster. Este último desenvolveu um coral conhecido como “Os
Cantores de Brewster” e para o qual ele compôs grande parte de suas canções.
Por sua vez Dorsey fundou a Convenção Nacional de Corais Gospel nos Estados
Unidos em 1932, que existe até hoje na origem da música gospel. Este estilo se desenvolve
mais ainda com Mahalia Jackson (1911 – 1972), Clara Ward (1924 – 1973) que, influenciou
grandes nomes como Little Richard e Aretha Franklin, e James Cleveland (1932 – 1991)
conhecido como o Rei do Gospel e fundador da Gospel Music Workshop of America em
1967 considerada a maior convenção de Gospel no mundo. Vale salientar que grandes
intérpretes da Música Pop, como Whitney Houston, Britney Spears, Elvis Presley, Jerry Lee
22
Lewis, Ray Charles, Katy Perry entre outros, começaram a sua carreira artística em igrejas
evangélicas antes da fama. Os estilos derivados do gênero gospel são o Rhythm and Blues, o
Doo Wop e o Soul Music.
O processo de popularização foi um tanto acelerado segundo Kip Lornell. Estudioso
do assunto ele afirma que nos anos 30 o apelo da música Gospel era muito grande no interior
da cultura negra e que isso fez com que as gravadoras comerciais abraçassem rapidamente
isto buscando capitalizá-lo.
Esse gênero ganhou impulso na época do “Movimento de Jesus” nos Estados Unidos.
Este movimento começou em 1967 na Califórnia e durou até 1973 e influenciou a juventude
da época.
A música evangélica brasileira obedece a um longo processo de adaptação, pois os
missionários que foram os pioneiros eram estrangeiros, não tinham domínio sobre a nossa
língua e quando se familiarizavam como o nosso idioma traduziam hinos considerados
históricos para os evangélicos, para o nosso idioma.
É nessa época em que surgem os hinários congregacionais nas denominações
evangélicas, e que, cada denominação, tem o seu hinário oficial. Estes hinários são uma
coletânea de canções compostas por esses evangélicos pioneiros que deram os primeiros
passos – creio eu que incipientemente – para a musicalização dos seguidores da vertente
protestante. Os hinários mais conhecidos são o Cantor Cristão da Igreja Batista e a Harpa
Cristã da Igreja Assembleia de Deus no Brasil.
Estes hinários têm por objetivo auxiliar na liturgia do culto e em determinadas
oportunidades e estes têm canções que são utilizadas nos mais diversos trabalhos da
congregação como casamentos (muito raramente), Batismo, Apresentação de crianças
(também muito raro), Santa Ceia, Funerais de membros etc., visto que há uma diversidade de
músicas com os mais variados temas.
Paralelo a isto as congregações faziam – e fazem – uso de hinos avulsos como são
chamados os hinos que não estão contidos no hinário. Estas músicas são de caráter popular e
servem de complemento na parte do louvor e isto vem desde o início do movimento
protestante no mundo.
Desde as décadas de 50 e 60 os pentecostais rompem com a tradição da hinologia
protestante com a introdução de ritmos e estilos mais populares nas canções e foram estes que
deram destaque, segundo o site Wikipédia, à música no culto e valorizam o seu papel popular.
O movimento musical nas igrejas evangélicas no Brasil, muda de forma a partir do
século passado entre as décadas de 80 e 90. Seguindo uma tendência musical da época,
23
surgiram novos grupos musicais que influenciaram toda uma geração de evangélicos das
décadas mencionadas. Nessa época também surge as grandes gravadoras evangélicas do País
como, por exemplo, a MK Publicitá, Line Records, Bom Pastor e a pioneira Gospel Records.
Recentemente a Assembleia de Deus em conjunto com a CPAD, que é a Casa Publicadora das
Assembleias de Deus, ambas ligadas a CGADB, que é a Convenção Geral das Assembleias de
Deus, lançou a gravadora Patmos Music.
Desses grupos alguns ainda continuam na ativa como, por exemplo, Logos, Oficina
G3, Katsbarnea, Fruto Sagrado, Novo Som, Voz da Verdade, Grupo Nova Dimensão que
encerrou suas atividades na década de 90 e cantores como Adhemar de Campos, Asaph
Borba, Cristina Mel, J. Neto (da voz parecida com a do Roberto Carlos), Alvaro Tito,
Fernanda Brum, Aline Barros só para constar alguns dos artistas gospel de maior expressão
surgida na época citada. Alguns desses artistas ainda fazem parte do casting gospel e inclusive
aparecendo em programas de Televisão de grande audiência da televisão Brasileira e
chegando a fazer parte de uma das maiores gravadoras do Brasil e do mundo, a Sony Music.
Esses músicos e cantores têm suas composições difundidas entre os evangélicos,
principalmente, entre o público jovem. Estes artistas surgiram no eixo Rio-São Paulo, mas
também, outros grupos despontaram nacionalmente em outros estados.
Nas igrejas evangélicas a parte do louvor é logo no início do culto e esse momento é
importante para todos os presentes, pois o louvor para os evangélicos é um momento sagrado
de entrega a Deus.
Neste momento os grupos musicais da congregação fazem a sua participação no
louvor do culto. Cada um tem a sua oportunidade para cantar ou tocar no culto e dependendo
da quantidade de grupos, há uma escala para estes. Os grupos também têm o seu dia de ensaio
para que haja uma organização do espaço e para que todos possam ensaiar e preparar para o
culto.
O culto evangélico depende da linha de pensamento que esta segue. Pentecostal,
tradicional entre outras tem sua forma de conduzir o culto. Isso influi fortemente na questão
do tipo de música, ritmo e interpretação que se vai usar na mesma. No meio pentecostal,
trabalha a questão de batalha espiritual, poder de Deus sendo por sua vez a sua música mais
ritmada com exceções é claro. Já as tradicionais como Batista, Presbiteriana, Wesleyana e
outras, o tema é a adoração a Deus e o culto é mais solene e a música é mais calma.
Vemos então que esta arte se adapta e que se insere ao meio em que está em questão.
Neste ambiente podemos perceber as mudanças em que a música se torna única em cada
igreja e dessa forma cada igreja pode caracterizar-se pelo estilo de música que se canta e se
24
toca em seu meio. A música gospel também serve de espaço para a divulgação dos seus
ideais e pensamentos entre a sociedade e também para a pregação do evangelho. Este gênero
musical esteve por um tempo no ostracismo musical, pois não era considerada uma música
de boa qualidade, talvez por ser restrita ao ambiente, ou porque era bastante simples, ou
também porque não tinha uma rítmica variada.
Segundo Magali Cunha (2004) toda essa mudança ocorre a partir da década de 80 e ela
coloca como causa “[...] a abertura política alcançada pelo povo brasileiro na passagem dos
anos 70 para 80 representou também uma conquista no interior das igrejas” (CUNHA, 2004,
p. 80). Esta informação nos mostra a causa da existência de muitos grupos musicais e o
quanto eles são diversificados na sociedade evangélica.
A música evangélica tem sido bem aceita até entre os que não professam a fé
protestante. Isso se deve a qualidade em que são compostas e arranjadas e também se deve a
qualidade técnica dos músicos que tocam neste gênero musical que estão chegando às
universidades públicas que tem ensino de música. Outrora os músicos evangélicos não eram
bem vistos pelos seculares assim como a música gospel, como foi relatado anteriormente.
3.2 CARACTERÍSTICAS DA MÚSICA GOSPEL
A música gospel tem características atípicas a outro tipo de gênero musical. Neste
gênero bastante amplo, é de se esperar várias tendências musicais dentro deste e que levam a
fazer parte da vida dos participantes do meio evangélico. A principal característica desta é a
busca em adorar a Deus e outros temas que podem ser de interesse dos evangélicos.
Outra característica interessante é a instrumentação que é utilizada no louvor. Este
instrumental é bem diverso, mais basicamente, utiliza-se cordofones como guitarra,
contrabaixo elétrico, violão etc., menbranofones os quais são os tambores e idiofones como os
pratos e etc.
Os temas das músicas variaram um pouco com o decorrer do tempo visto que, há letras
com conteúdo romântico também. Este tipo de temática tem sido mais explorado
recentemente por cantores como Aline Barros, Fernanda Brum, Cassiane e Jairinho entre
outros e bandas como Novo Som e Catedral. Há outros que tratam de fazer uma música mais
reflexiva como Sérgio Lopes e o Grupo Logos, por exemplo, visto que suas letras fazem com
que o ouvinte reflita sobre um determinado assunto ou comportamento na igreja.
Porém a grande maioria delas é a adoração e exaltação a Deus, a Jesus Cristo e ao
Espírito Santo. Há divergências entre os evangélicos no que tange, em como louvar no culto,
25
quais as formações musicais que eles acham que deve fazer isso, o que pode e não pode na
hora de tocar/cantar no culto como, por exemplo, se pode dançar ou não, bater palma etc.
também é bastante discutível a questão de instrumentos musicais, ritmos e comportamentos.
Quanto a ritmo algumas igrejas são bem liberais e outras não permitem determinados
estilos musicais alegando algo negativamente espiritual na concepção e criação do mesmo.
Outra questão conflituosa é quanto à dança, da mesma maneira que os ritmos, assim também
quanto às palmas, pois algumas aceitam e outras não aceitam isto, e em algumas igrejas até
hoje não permitem que certos instrumentos como a bateria, por exemplo, que é barrada em
algumas igrejas, porque, na visão deles, enfatiza o ritmo e que por sua vez incentivará a
Dança.
Em alguns templos evangélicos há muita utilização dos Playbacks. Este recurso é
bastante utilizado nas igrejas evangélicas até naquelas em que há músicos muito bons. Isto
para alguns músicos dá um pouco de acomodação, pois, muitos deles, ficam esperando o
PLAYBACK, pois esse o deixa em uma zona de conforto, isto é, o músico começa a deixar de
aprimorar a sua técnica no seu instrumento, já que o artista se vê pouco utilizado na liturgia
evangélica. Há cantores seculares que também se utilizam do PLAYBACK para cantar em
programas de auditório ou de outros gêneros de público. Esse recurso tem feito parte da vida
musical na igreja evangélica, e ultimamente isso tem sido mais intenso, pois alguns cantores
dispõe no mesmo CD algumas faixas PLAYBACKS de algumas canções para os cantores se
utilizarem no seu repertório musical.
Os templos também têm suas características estruturais, de acordo com o tipo de
denominação a qual esse templo está ligado. Nas igrejas evangélicas da linha pentecostal,
geralmente os músicos ficam embaixo em quanto em outras o púlpito também é tomado pelos
instrumentos e pelos Ministros de Louvor.
Ultimamente a frase Ministério de Louvor tem sido bastante empregada nas atuais
bandas gospel. Esse título vem do inglês PRAISE MINISTRY e essas bandas têm como
componentes Vocalistas protagonistas, Backing Vocals coadjuvantes, Guitarras, Violonistas,
Baixistas, Tecladistas e Bateristas. Podem-se acrescentar outros participantes como bailarinos,
outros instrumentistas, corais, orquestras, atores etc. sempre dependerá da denominação, pois
não são todas elas que permitem essas coisas mencionadas acima.
Quem comanda esses grupos é o chamado Ministro de Louvor, cada qual com o seu
líder. Estes ficam encarregados de controlar as ações, apresentações e outras querelas dos
músicos participantes. Tamanha a organização desses grupos despertaram na indústria
26
fonográfica, especificamente no Brasil, o interesse em ter esses grupos em seu casting e torná-
los famosos. Os mais famosos são:
Diante do Trono - Belo Horizonte/MG;
Renascer Praise - São Paulo/SP;
Ministério de Louvor Apascentar, Toque no Altar ou Ministério Trazendo a Arca –
Nova Iguaçú/ RJ;
Ministério Voz da Verdade – Santo André/SP;
Voices – Rio de janeiro/RJ;
Prisma Brasil – Hortolândia/São Paulo/SP;
Também há os grupos de música cristã evangélica com outras temáticas e ritmos que é
o caso do grupo Novo Som, do Catedral, Oficina G3, Katsbarnea, Rebanhão entre outros e
internacionalmente, o Hillsong United, o Deliriuos?, O Casting Crowns, o Skillet etc. Esses
grupos utilizam o Rock para a divulgação da mensagem bíblica entre os jovens
principalmente. Há outros como o Norte-Americano Christafari que toca Reggae e que tem
como meta difundir a mensagem cristã entre os adeptos desse estilo. Há também o Hip Hop
cristão e demais gêneros que são da mesma raiz musical.
Pode se notar o quanto é diversificado o meio gospel e isso tem se acentuado desde a
década de 80, com a chegada de novos ideais e novos pensamentos que vieram à tona na
sociedade. Outras transformações aconteceram e estão acontecendo em relação a uma
enormidade de assuntos, usos e costumes, comportamento etc., porém vale ressaltar que
algumas igrejas ainda tentam se mantiver fiéis aos padrões nos quais as mesmas foram
fundadas.
E isto se reflete na música que se toca no seu meio, por exemplo, em algumas igrejas
não se pode ou podia tocar bateria, guitarra ou até mesmo o Rock, pois acham ou achavam ter
ligação com um lado sombrio, porém em outras podem tocar esses ritmos sem maiores
problemas, qualquer ritmo e instrumento que se quiser.
Ser músico gospel, em muitos casos é não ter remuneração para tocar na igreja. Isso é
visto em quase todos os templos evangélicos do país e estes músicos estão tocam mais por,
como é dito entre os evangélicos, trabalharem em prol da divulgação do Reino de Deus.
Nos trabalhos evangélicos estes músicos são imprescindíveis, pois sempre tem
louvores durante os serviços religiosos na igreja. A música gospel tem influenciado muitas
gerações e tem dos mais variados tipos de gêneros musicais que se encaixe num gênero maior.
27
De acordo com o Conferencista Marcos Bitencourtt, o louvor como é assim chamado,
é cantado com a participação maior da congregação, em contraste aos tradicionais coros,
duetos, trios, ritmos e harmonia de estilo popular, ou seja, é muito difícil uma harmonia e
rítmica bem caprichada cair no gosto deles, com utilização de aparelhos de som sofisticados
mais nem sempre bem equalizados, Cânticos interdenominacionais, ou seja, muitos cânticos
são conhecidos em todas ou em muitas igrejas evangélicas, ênfase rítmica com coreografias,
não é perceptível nesses louvores a tradicional divisão de “musica juvenil” e “música para
adultos e idosos” como no passado.
Vale ressaltar que algumas músicas são de conteúdo teológico questionável e que
muitos deles estão centrados na 1ª pessoa do singular, sendo isso influência do individualismo
de nosso tempo, a questão da música de mercado que também há no meio gospel. O povo
evangélico é um ótimo consumidor com cerca de R$ 500.000, segundo o site Cristianismo
Hoje, por ano no Brasil, e isso atrai os empresários que não são evangélicos, e estes, fazem da
música Gospel um negócio. E já que há um mercado na música gospel, ocorre também a
música descartável que adquire certo status por um tempo e depois desaparece.
A música gospel tem como marca, refazer as linhas divisórias entre o “sagrado e o
profano” e este não representa apenas uma manifestação eclesiástica, mas é estabelecido
como um fenômeno que transcende os limites da igreja e insere-se na dinâmica da igreja e
insere-se na dinâmica do mercado musical brasileiro.
A grande contribuição da história é de revelar-nos a transitoriedade do tradicional para
o moderno. Isto implica em dizer que para alguns, o moderno é visto com maus olhos e estes
relutam em aceitar o novo fazer musical, como por exemplo, novas harmonias, ritmos e etc.
para outros esta introdução é normal acontecer no meio gospel, pois, esta vai trazer novidades
para os fiéis, principalmente à juventude gospel.
Nestas inovações, há a questão das danças, pois alguns baseados em diversas
passagens bíblicas apoiam o ato de dançarem na congregação enquanto outros condenam
baseados em outros argumentos. O fato de tocar Rock na igreja também é polêmico, visto
que, há divergências entre as denominações sobre o uso deste gênero musical nas igrejas, não
só o Rock, mas outros gêneros musicais, inclusive brasileiros, na execução do louvor.
3.3 A IMPORTÂNCIA DA TÉCNICA
Sobre este item é importante frisar que há músicos evangélicos que tratam de se
aprimorar tecnicamente, tanto que, alguns já estão no cenário musical nacional como
28
referência e tendo o respeito até entre os músicos do meio secular. Isto se deve a dois fatores:
o primeiro se deve ao fato de que os músicos evangélicos estão se aperfeiçoando para tocarem
na igreja. O outro fator é que as músicas evangélicas estão ficando famosas entre os não
evangélicos e que, ao ouvirem as canções, percebem o alto nível dos músicos evangélicos.
Isto se deve a procura dos músicos evangélicos que se sentiram na responsabilidade de
se aprimorar no seu instrumento, não na sua totalidade, pois alguns músicos ainda não tem
esse acesso a informações por vários motivos.
A técnica tem sido um ponto de muita discussão entre os músicos evangélicos, se é
bom ou ruim, se ajuda a louvar a Deus ou não. A técnica conforme o Dicionário Michaelis, é
“[...] conjunto dos métodos e pormenores práticos essenciais à execução perfeita de uma arte
[...] princípios, métodos e meios, para estudo e melhoramento prático da sociedade [...]”. É
interessante notar que não se faz necessário ter uma técnica excelente para tocar um
instrumento qualquer na igreja; é necessária apenas a disposição de querer ajudar ao
ministério, departamento ou grupo de louvor.
Porém essa busca por aprimoramento técnico-musical, tem se intensificado muito mais
nesse momento, por que a mídia, seja televisiva ou radiofônica, tem divulgado mais e mais os
trabalhos dos cantores evangélicos, e isto tem feito com que os músicos do meio gospel.
Tenham em quem se inspirar. Esses músicos inspiradores do gospel têm movimentado o
mercado musical, mas precisamente, no Brasil. Bateristas, Tecladistas, Guitarristas, Baixistas,
Violonistas, Trombonistas, Trompetistas, Saxofonistas e vários outros músicos têm sido
apoiados por marcas nacionais como estrangeiras, fazendo com que o patrocinador destes
tenha venda garantida dos seus produtos.
Segundo a Bíblia Sagrada, no Salmo Capítulo 33, Versículo três a parte “b” declara
que “[...] Tocai bem e com júbilo.” Esta passagem bíblica reforça a ideia de tocar bem e com
alegria durante o culto que será realizado na igreja, ou seja, reforça a ideia de que o músico
evangélico deve produzir um belo trabalho na arte de tocar o seu instrumento, seja ele qual
for.
Como já foi dito anteriormente a técnica é polêmica, pois envolve concepções
divergentes sobre sua utilização na igreja evangélica. Alguns músicos fazem questão de
estudar técnicas para aperfeiçoar enquanto outros não o fazem por algum motivo de força
maior ou por desinteresse.
Os músicos deste cenário encontram várias barreiras no caminho desse preparo. O
local não é adequado, por causa do espaço em que a igreja está localizada, a acústica, às vezes
o músico não dispõem do instrumento em casa, e isto é toda uma conjuntura de problemas
29
para impedir o seu acesso ao conhecimento da técnica que o mesmo pretende aprender e
aprimorar. Mas, apesar das dificuldades impostas, alguns destes músicos evangélicos
conseguem ou conseguiram vencer as mais diversas barreiras.
Alguns desses músicos tiveram um início musical dentro das igrejas, na infância. Por
esses estarem em um contato mais direto ou indireto com a música, as crianças também
desenvolvem o gosto pelo fazer musical. Um exemplo disso é o músico paulista Alexandre
Aposan, baterista da Banda de Rock gospel Oficina G3, no release do seu site:
Aos quatro anos de idade comecei a me interessar pela bateria. Como meu primo era
o baterista da igreja, acabei sendo influenciado por ele. Eu ficava louco ao ver tantos
tons e pratos... A partir daí, tive a ideia de fazer a minha própria bateria com latas,
baldes e tampas de panelas. Colocava tudo no quintal de casa e ficava batucando o
dia inteiro (APOSAN, 2012).
Como podemos observar, o músico citado mostrou nas entrelinhas, suas dificuldades e
assim como ele, muitos músicos, como foi relatado anteriormente, não dispõem de um
instrumento próprio para estudar e aprofundar os seus conhecimentos sobre uma determinada
técnica. Ela pode fazer com que determinado músico se destaque entre os demais músicos e
em certos casos este adquire certo prestígio perante os outros músicos e demais membros da
congregação a qual este está afiliado como membro. Esta pode estar ligada também a questões
de gênero musical, pois em algumas igrejas como foi dito anteriormente, alguns ritmos não
são permitidos, o que acaba engessando o músico no sentido de que ele dispõe de apenas
umas poucas opções musicais, pois não dispõe de músicas diferentes para tocar e ir se
acostumando com técnicas diferentes de execução musical reduzindo assim a sua capacidade
criativa que o músico detém.
Este comportamento pode ser entendido por que a música não é cunho profissional nos
templos evangélicos. Esta tem apenas um sentido que é louvar a Deus e a sua palavra
mediante os cânticos ministrados na hora do louvor.
Nesta comunidade as músicas são de fácil execução e estas são tocadas nos ensaios
com o intuito de tocar a noite. Quando a música tem uma parte de difícil execução, e o músico
não está conseguindo fazer, então se faz uma adaptação desse trecho para poder ser tocada
sem maiores problemas.
Neste ambiente é possível perceber que as dificuldades existem, mas que estes
músicos procuram solucioná-las. Transpor essas dificuldades tem sido para estes, um desafio,
mas que não é impossível de serem vencidos.
30
4 GRUPOS MUSICAIS E SUAS CONTRIBUIÇÕES PEDAGÓGICAS
4.1GRUPOS MUSICAIS OBSERVADOS
Neste capítulo serão abordadas as formações musicais que foram observadas em duas
igrejas evangélicas distintas da cidade do Natal. Estas estão localizadas no bairro do Alecrim
na Zona Leste da capital e já estão em atividades eclesiásticas há bastante tempo, desde o
século passado, no caso da Assembleia de Deus no RN.
A primeira é a Igreja Evangélica Assembleia de Deus no Rio Grande do Norte
(IEADERN), a qual tem muitas atividades musicais e possui uma Escola de Música em suas
dependências. Está localizada na Rua Manoel Miranda n° 251 no bairro citado nesta capital
próximo a Praça Gentil Ferreira. Esta igreja tem 94 anos de existência nesta cidade e neste
Estado, e este templo, é o templo sede de todo o estado do Rio Grande do Norte.
Na Assembleia de Deus, não há costume de se bater palmas e dançar como algumas
igrejas coirmãs o fazem, o que antigamente era condenado por alguns membros
assembleianos, hoje já é aceito com naturalidade pela grande maioria de pentecostais.
Esta igreja tem como líder o Pastor Martin Alves da Silva, este recém-empossado na
diretoria da igreja. A igreja tem sido muito procurada por diversos membros e até por quem
não é membro da Assembleia de Deus para estudar música em suas dependências. O templo é
bem localizado e bem estruturado, com ar-condicionado e com alguns pequenos prédios nos
quais funcionam a escola de música, o prédio da diretoria e o refeitório da igreja.
A igreja dispõe de uma escola de música de onde a igreja consegue ter vários músicos
para cantar e/ou tocar na igreja, na orquestra, ou então aprender regência. Os músicos são
formados e encaminhados às suas igrejas, ou então se assim desejar, para a orquestra
principal, da qual falaremos neste capítulo.
O primeiro professor da escola de música da IEADERN foi o Pastor Nelson Bezerril, e
que este empenhava até recursos próprios para fazer o trabalho. O Pastor Bezerril, estudou
Teoria Musical e Solfejo e depois Regência e Harmonia, e tratou de ensinar os membros da
igreja, que tinham o desejo de aprender música, e assim sendo, o mesmo conseguiu montar
uma banda de música para a Assembleia de Deus no de 1954.
A escola leciona vários instrumentos como, por exemplo: bateria, guitarra, violão,
teclado, contrabaixo, flauta transversal, trombone, trompete, tuba, saxofone, violino,
violoncelo, viola, dentre outros. Nesta escola as idades são variadas e de ambos os gêneros, ou
31
seja, masculino e feminino, e o aluno precisa arcar com as mensalidades, pois esta é a forma
de manter a escola de música funcionando.
Os professores da escola têm perfis distintos. Uns são estudantes de música da UFRN,
alguns são profissionais da música e outros têm outras profissões, inclusive estudantes de
outras aéreas do conhecimento.
A igreja dispõe de uma rádio que leva o nome de Rádio Nordeste Evangélica. Esta
rádio tem sido difusora dos eventos da igreja, na evangelização e porque não dizer na
musicalização dos ouvintes. Esta rádio também divulga a escola de música, quando esta abre
vagas para que os membros aprendam os instrumentos musicais.
As aulas teóricas são ministradas em outro local, pois não há um espaço para lecionar
as aulas teóricas, mas no prédio da escola de música ocorrem as aulas práticas. As aulas são
ministradas de segunda a sábado, sendo que este último o horário é pela manhã.
A igreja dispõe de uma orquestra para tocar em seus cultos mais precisamente aos
domingos ou em algum culto em que esta é solicitada a sua presença. O nome da referida
orquestra é Orquestra Filarmônica Evangélica Gênesis (OFEG) e o detalhe é que ela, como foi
dito, é FILARMÔNICA, pois os músicos tocam sem serem pagos pela a igreja.
O trabalho é voluntário e os músicos desempenham um papel importante durante o
culto. Mas este trabalho tem uma longa data de início das atividades musicais no templo.
O movimento musical na referida igreja começou na primeira metade do século XX,
mais especificamente, por volta da década de 30 conforme o site da orquestra. Esta primeira
formação era pequena de apenas 05 (cinco) músicos e que começaram a tocar na igreja para
acompanhar o coral, sendo que eles começaram a tocar para acompanhar o coral Filemom,
que é o coral de adultos do templo central que ainda está em atividade, fundado anos antes da
pequena orquestra.
Segundo o site da própria orquestra em 1954, surge a banda de música da IEADERN,
na qual estava à frente, o Pastor Nelson Bezerril e esta formação já contava com 32
componentes. Em 1974 as mulheres são admitidas na banda de música, o que não era
permitido para a época.
Tempos depois esta formação muda e se torna, até os anos 2000, big band. A partir
dos anos 2000, o grupo musical de torna uma orquestra com a entrada dos naipes de cordas
como, por exemplo, violinos, violas, violoncelos e baixos acústicos.
A OFEG tem um embrião que é a OFEGAL (Orquestra Filarmônica Evangélica
Gênesis de Alunos), que é responsável em fazer os alunos praticarem o que eles veem nas
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aulas com os seus professores. Este trabalho é muito importante, pois os alunos praticam e
assim, aprendem uma determinada técnica que lhes foi ensinada.
Muito dos músicos da OFEG, passaram pela OFEGAL, e até hoje desempenham suas
atividades musicais no templo central, ou nas congregações espalhadas pela capital e interior
do estado. Os membros da OFEG são bem diversificados, quanto à idade, a profissão, posição
social etc. Todos os alunos, independentemente de estarem desejosos de tocar na orquestra
principal ou não, são chamados para participarem da orquestra de alunos.
A orquestra principal tem participado de eventos de grande envergadura da própria
igreja, como por exemplo, na comemoração dos 90 anos da IEADERN, no qual, a orquestra
participou em conjunto com um grande coral, que reuniu vários membros da igreja, no antigo
campo de futebol, conhecido como Machadão, que futuramente será conhecido como Arena
das Dunas.
O grupo musical, geralmente toca todo domingo quase sempre às 17h45min no
prelúdio, como é chamado assim à parte inicial do culto em que a orquestra toca para os que
estão chegando à igreja, e geralmente são temas instrumentais de hinos da igreja, de domínio
público ou não.
A orquestra toca acompanhando os corais, mas também toca sozinha para a igreja
ouvir e apreciar. Os seus ensaios são geralmente aos sábados às 15h00min para a OFEG, e na
quinta feira às 19h00min para a OFEGAL no 5° andar do prédio em anexo.
Neste ambiente religioso a orquestra ocupa um lugar de destaque sendo, muitas vezes,
convidadas por outras igrejas para tocarem nos eventos em que é necessário. A orquestra atua
somente em eventos religiosos e, nos quais, que a diretoria da igreja esteja ciente do seu
acontecimento.
No mês de setembro nos dias 20 e 21 desse ano, ocorreu o aniversário da orquestra no
templo central. Foi um recital com a forma de um culto – característica do meio evangélico –
só que, no sábado, foi instrumental exceto a parte do cântico congregacional e do coral
infanto-juvenil Sementinha, e no domingo repetiu a mesma formação, porém o coral do
domingo foi um coral misto, no qual todos os moralistas do templo central fizeram parte do
recital. Este ano foi comemorado os 74 anos de fundação do movimento musical, 58 anos de
criação da banda de música e 12 anos da formação da orquestra.
A escola de música da igreja, todo fim de ano, organiza um recital de alunos com o
intuito de divulgar o seu trabalho e mostrar o que os alunos estão aprendendo na escola de
música.
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É muito importante esse momento para os alunos, pois os mesmos vão demonstrar a
sua habilidade com os instrumentos musicais acompanhados por outros instrumentos, ou
solando em seu instrumento. O recital é geralmente realizado, aos sábados pela manhã no
templo central da IEADERN, no endereço citado.
O outro grupo observado é o Ministério de Louvor Brasil em Adoração (MLBA) que
está locado na Igreja Evangélica Pentecostal o Brasil para Cristo que está localizada na rua
dos paiatis no Bairro do Alecrim.
Essa denominação chegou a Natal em 1954 neste Bairro. A igreja tem uma
característica que, apesar de ser pentecostal, ou seja, da mesma vertente doutrinária da
Assembleia de Deus, permite alguns costumes como, por exemplo, permite o uso de roupas
que são a calça jeans no caso das mulheres, o uso de joias, e dentre outros os quais em teoria,
não são permitidos pela Assembleia de Deus.
O grupo é antigo em suas atividades musicais, porém, a formação atual é desde o ano
de 2007 na igreja. O grupo dispõe dos seguintes instrumentos: bateria, violão, guitarra,
contrabaixo e teclado incluindo Quatro vocalistas. São Dez componentes e estes têm as suas
profissões são: design gráfico, professor de inglês, configurador de redes de internet e estes
tocam na igreja todo o domingo. A banda já tocou em eventos como o Summer Hope, que é
um evento evangélico que ocorre durante o verão nas praias da cidade de Natal e em outras
cidades do estado e que visa, além do evangelismo, ação social que tem como objetivo,
trabalhar com jovens em situação de risco social, e abriu shows para outras bandas. A banda
surgiu de necessidade de louvar a Deus e por isso se faz necessário um ministério de louvor
nesta igreja.
A banda tem um blog na internet onde pode ser visto o seu trabalho e saber da agenda
do mesmo. O grupo musical tem no seu repertório somente música gospel e esta bastante
variada, pois abrange vários estilos como, por exemplo, pop rock e adoração dentre outros.
4.2 OS PROCESSOS DE ENSINO E APRENDIZAGEM NOS GRUPOS OBSERVADOS
Os processos variam de grupo para grupo. A orquestra gênesis, por exemplo, tem a
grande maioria de seus componentes, oriundos da escola de música da igreja em que ela está
localizada. O grupo musical referido tem uma orquestra de alunos, que lhe proveem
instrumentistas que estão estudando na referida escola.
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A orquestra de alunos foi concebida, com o intuito de fazer com que os alunos
aprendam a tocar em conjunto, pois eles podem montar grupos musicais na sua igreja, ou
tocar na orquestra Gênesis que é a escolha de muitos dos alunos da OFEGAL.
Como podemos ver o aluno desta escola não está, em hipótese alguma, obrigado a
tocar no grupo principal que é a OFEG, mas este é estimulado a tocar em sua própria igreja, já
que esta pode estar precisando de músicos para tocar em seus cultos.
Os ensaios da OFEGAL são realizados toda quinta-feira à noite no 5º andar do templo
central da IEADERN às 19h00min. Este trabalho está em atividade desde os anos 2000, que
coincidentemente é o ano da entrada do naipe de cordas. O repertório desse grupo é baseado
em música evangélica mais tradicional como, por exemplo, oriundas do Hinário da
Assembleia de Deus, a Harpa Cristã.
Os alunos que participam são em sua grande maioria, jovens e adolescentes, nos mais
diferentes instrumentos. Estes tem como motivação o louvor a Deus principalmente, e esta
tem o seu ensaio na formação instrumental baseada na formação do dispositivo da principal.
Os ensaios sempre começam com uma oração e uma leitura da Bíblia, o que é
conhecido como devocional, um momento que é separado para ter contato com Deus, o que é
bastante comum nesta igreja. Essa prática é realizada na grande maioria das igrejas
evangélicas, pois o ensaio é uma extensão do culto, porém sem a parte da pregação e
ofertório, para estes fiéis.
Este grupo musical tem um caráter mais pedagógico do que performático. Eles, os
alunos têm um reforço das aulas de teoria e prática musicais, e também repertório adequado
ao seu nível de conhecimento musical.
Interessante notar que os pais e responsáveis de alguns alunos ficam presentes aos
ensaios da OFEGAL, como forma de incentivar ao aluno a participar dos ensaios. Isto está em
acordo com um princípio filosófico do método do educador musical Suzuki, que preconiza a
participação dos pais na educação musical dos filhos.
Neste ensaio o maestro, que é o mesmo da OFEG, reproduz a mesma metodologia da
orquestra principal, como por exemplo, a passagem da mesma música por naipes. Ele também
faz exercícios com a OFEGAL com todos os músicos e por naipes também faz o mesmo
exercício. O exercício que foi passado na minha visita foi o de escalas diatônicas maiores e
essa metodologia foi aplicada e com sucesso nos naipes individualmente, e depois com todos
os instrumentos.
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Neste dia em que observei o Maestro fez as escalas de Mi maior para os instrumentos
em Dó, e Fá # maior para os instrumentos em Si bemol. Essas escalas foram repetidas várias
vezes para que os alunos a internalizassem.
Houve também a passagem de repertório, que foram duas canções de hinários
diferentes. É interessante notar que alguns músicos da orquestra principal, também ensaiam
com os alunos, para que possam auxilia-los nas músicas quando necessário. Estes sempre
atuam junto ao maestro como monitores.
Os alunos tem certa inibição para responder algumas perguntas do maestro, porém, o
mesmo procurou auxiliá-los na resposta. Além disso, o maestro cobrou um pouco mais de
estudo nos instrumentos para o aperfeiçoamento na execução dos tais instrumentos.
O repertório desta orquestra é mais simples tecnicamente em relação ao da orquestra
principal, porém, com o tempo a dificuldade vai aumentando requerendo do aluno, uma
habilidade mais profunda com o seu instrumento. Sempre que possível o regente procura
corrigir um erro ou outro de forma branda o que é bem normal já que, se trata de uma
orquestra composta por iniciantes.
Esta é a forma destes alunos aprendem através da prática da música em seu meio. É
importante frisar que os músicos da OFEGAL, nos seus ensaios, estão com as partituras das
músicas, o que facilita um pouco na memorização da canção ensaiada.
Viviane Beineke (2003, p. 87) preconiza que “relacionada à concepção de que a aula
de música tem como foco a prática musical dos alunos está a idéia de que o sujeito precisa se
relacionar ativamente com a música de diferentes maneiras – tocando e cantando, ouvindo e
analisando, e compondo”.
Esta autora ressalta a importância da prática musical na formação do músico no seu
estágio inicial de conhecimento musical. Neste ambiente de interação musical, o trabalho de
conjunto auxilia o indivíduo no processo de humanização e formação geral do mesmo assim
como a execução, improvisação e a criação em grupo. (FIALHO, ARALDI, DEMORI, 2007,
p. 3).
No outro grupo observado, o Ministério de Louvor Brasil em Adoração (MLBA), foi
constatado que a prática em conjunto é muito evidente. Foi basicamente passagem de
repertório e que era música nova, um pouco complexa na rítmica que exigia um pouco mais
dos componentes.
Nos ensaios o processo de aprendizagem se dá pela memorização das partes da música
por cada integrante. Nesse ensaio um dos músicos, geralmente passa as partes para estes
verem como se toca o que é bastante comum um músico auxiliar os outros na dificuldade de
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uma música. Isto deve ao fato de que os músicos deste local, geralmente, por observação,
aprenderem os outros instrumentos que há em sua banda.
Para Barbosa, Nascimento e Santiago (2007) a prática da música é necessária para que
o músico desenvolva as habilidades técnicas necessárias para memorizar determinada música,
desenvolver interpretações e preparar o musico para o profissionalismo.
Neste ministério de louvor, apenas dois músicos tem conhecimento pleno de teoria
musical, em quanto os demais integrantes do grupo não a conhecem. Apesar de tudo isso os
músicos do referido grupo conseguem dar continuidade ao trabalho sem mais problemas e às
vezes ocorreram conflitos de natureza técnica, como por exemplo, numa música em que um
dos integrantes não estava tocando uma das músicas, de acordo com o que ouviram.
Segundo um dos integrantes, isto é normal acontecer, pois os mesmos tem uma
cobrança muito grande com os outros, por que segundo o mesmo, eles estão fazendo um
trabalho para Deus, e por isso há essa exigência com todos os envolvidos, sendo isso a causa
de alguns conflitos que sempre são solucionados e apaziguados.
Os músicos evangélicos têm uma só motivação: louvar a Deus. Woolfolk (2000)
defende que a motivação deve ser descrita como um estado interior que estimula e direciona,
mantendo-o o comportamento do indivíduo orientado para um determinado fim. Isto é bem
palpável entre os evangélicos, pois nestes estão incutidos o ideal de que qualquer pessoa pode
cantar em honras a Deus por algum motivo.
Nesta banda, como foi visto, os músicos usam a forma de aprendizado, através da
memorização da técnica sem a intervenção de um material didático, e que há uma
diferenciação nas formas de aprendizado de um grupo para o outro, de acordo com a sua
estrutura organizacional e ministerial.
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5 METODOLOGIA EMPREGADA NA PESQUISA
Este trabalho foi realizado pela coleta de dados em sites das instituições e dos grupos,
assim como também foram realizadas observações nos grupos estudados. As observações se
deram nos ensaios dos grupos e as entrevistas se deram após os ensaios para não atrapalhar o
desenvolvimento dos grupos.
Os dias de observações foram a partir do dia 10 de novembro de 2012 a 08 de
dezembro de 2012, nas duas igrejas relacionadas. Estas igrejas por serem próximas umas das
outras, o deslocamento foi facilitado e não tive dificuldades em chegar aos locais.
Já que fiz parte da OFEGAL a minha chegada ao ambiente não foi difícil para
observar o grupo, assim como também na OFEG da qual eu faço parte do grupo. No caso do
ministério de louvor, por causa da amizade que tenho com o líder do grupo, meu acesso foi
facilitado ao grupo musical.
Chegando nestes locais fui bem recepcionado pelos integrantes dos grupos. Estes
agiram naturalmente durante os ensaios dos grupos enquanto eu os observava. Durante os
ensaios foram constatadas as teorias expostas pelos teóricos que apresentei aqui neste
trabalho, logo no início do mesmo.
As observações foram importantes para constatar as posições dos estudiosos aqui
apontados. Estas observações constatam a uniformidade na metodologia do ensino não
formal, independentemente da organização ser religiosa ou secular. Estas observações me
mostraram o quanto é importante a arte no meio gospel.
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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em espaços não formais pode-se ver o quanto esse aprendizado é espontâneo e
diverso. Em ambientes religiosos, isso é bem latente, visto que há uma necessidade em formar
músicos com os mais variados interesses e metas a cumprir.
No entanto é notada a presença de barreiras em todo o percurso da existência desses
espaços. Feldens aponta que o contexto não formal passa a ser o único local de ensino e
aprendizagem musical dos alunos que estão nestes ambientes (FELDENS 2008). Isso se torna
um desafio para os educadores musicais, pois estes devem lidar com um maior número de
pessoas que muitas vezes tem vários problemas emocionais, estruturais, financeiros e até
sociais.
É um ambiente desafiador, porém muito rico em experiências didáticas. Tem suas
dificuldades, mas com determinação elas poderão ser vencidas, como os próprios músicos,
que se encontra em situações adversas, como a falta de um instrumento, o espaço é
inadequado, o material de trabalho não é, muitas vezes de boa qualidade. Outro problema que
algumas igrejas enfrentam ou enfrentaram é a convivência com os vizinhos ao redor.
Os músicos das organizações religiosas têm cada vez mais conquistados espaços na
vida acadêmica musical comprovando a qualidade do ensino musical dentro das instituições
religiosas. Alguns músicos se destacam nos dias atuais e dentre estes, há músicos evangélicos
no meio destes músicos. Este trabalho serviu para mostrar, não só a academia, mas a todos
quanto lerem este trabalho sendo evangélico ou não, a riqueza e importância desta arte no
meio gospel.
Para mim, este trabalho me mostrou a riqueza da música gospel e a sua devida
importância na vida dos músicos que professam essa fé. Este trabalho contribuiu para o meu
enriquecimento musical e teórico e assim, me fez ter ideia da importância da música no que
tange a importância social desta, assim como também na vida de quem faz parte da música
evangélica e o seu significado que muitos ainda não tinham ideia desta importância.
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