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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN
CENTRO DE CIENCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES – CCHLA
LICENCIATURA EM ARTES VISUAIS
DEPARTAMENTO DE ARTES – DEART
JÚLIA MARIA RODRIGUES DE SOUZA
O ÍCONE DE JESUS CRISTO
NAS OBRAS DE CLÁUDIO PASTRO
NATAL
2014
JÚLIA MARIA RODRIGUES DE SOUZA
O ÍCONE DE JESUS CRISTO
NAS OBRAS DE CLÁUDIO PASTRO
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Licenciatura em Artes Visuais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para obtenção do titulo de Licenciada em Artes Visuais. Orientador: Professor Dr. Vicente Vitoriano Marques Carvalho.
NATAL
2014
JULIA MARIA RODRIGUES DE SOUZA
O ÍCONE DE JESUS CRISTO
NAS OBRAS DE CLÁUDIO PASTRO
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Licenciatura em Artes Visuais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para obtenção do titulo de Licenciada em Artes Visuais. Orientador: Professor Dr. Vicente Vitoriano Marques Carvalho.
Aprovado em 03 de dezembro de 2014.
Orientador Prof. Dr. Vicente Vitoriano Marques Carvalho
Examinadora Professora Esp. Adriana Vieira Lopes
Examinador Professor Artur Luiz de Souza Maciel
NATAL
2014
AGRADECIMENTOS
“A amizade e gratidão se acham intimamente ligadas; quanto mais moderada se tornar nossa exigência, tão mais importantes serão para nós as pequenas coisas do cotidiano, nas quais se manifesta o amor de Deus ou dos homens, e tanto maior será a nossa gratidão pelo menor sinal de amor. A gratidão é um vinho espumante de alegria”. (Madre Maria Helena Cavalcanti)
Agradeço primeiramente à Santíssima Trindade, autora e razão de minha
existência e vocação, a Nossa Senhora, Mãe de Jesus e minha que acompanha e
guia meus passos.
Meu agradecimento profundo e filial à Madre Maria Helena Cavalcanti, Mãe
Fundadora da Congregação de Nossa Senhora de Belém a qual pertenço, fonte de
inspiração, na propagação do Evangelho de Jesus. Como modelo de zelo
apostólico, fidelidade à Igreja e coerência de vida, tem com amor e paciência me
guiado e formado nos caminhos da busca da santidade. Agradeço por ter
contribuído para que esse trabalho fosse realizado da melhor maneira possível. “A
Gratidão é a mais bela flor do cristianismo” (Madre Maria helena Cavalcanti).
Às minhas irmãs da Congregação de Nossa Senhora de Belém,
companheiras de ideal, que de diversas formas contribuíram de forma efetiva e
afetiva para a realização deste trabalho.
Devoto especial gratidão aos meus queridos pais Sr. Cipriano e Dona Nila,
que me educaram na fé católica e me permitiram ser feliz em minha vocação de
especial consagração a Deus, assim como aos meus queridos irmãos Johnson e
Jéssica com quem partilhei e ainda partilho momentos de alegria e verdadeira
amizade.
A todos os meus professores, o meu reconhecimento pela contribuição que
deram à minha vida acadêmica durante os quatro anos na Universidade Federal do
Rio Grande do Norte - UFRN, em particular ao Professor Dr. Vicente Vitoriano
Marques Carvalho que não mediu esforços para me orientar nesse trabalho sempre
com muita atenção e liberdade. Aos meus colegas de curso com quem partilhei
grandes momentos de aprendizado e de amizade durante esse período.
Um agradecimento muito especial ao ilustre amigo o artista sacro Cláudio
Pastro que com muita simplicidade, generosidade e atenção se dispôs a auxiliar-me
nesse trabalho sempre solícito e respondendo com presteza às cartas e
telefonemas.
Perene agradecimento à minha querida e inesquecível amiga Joelma de
Sousa Vieira Alves (in memoriam), pela preciosa amizade e belo testemunho de
autêntica vida cristã e de fidelidade a Deus e à Igreja, deixado a todos o que tiveram
a graça de conhecer e conviver com ela. Agradeço também aos demais amigos que
fazem a Paróquia de Nossa Senhora Aparecida, Samambaia Norte, Brasília DF, pela
amizade maior dom de Deus.
Enfim agradeço a todos os amigos e benfeitores que direta ou indiretamente
contribuíram para que esse trabalho fosse realizado com êxito.
Termino com mais um pensamento de nossa Mãe Fundadora, na certeza de
que sem Deus nada disso teria sido possível:
“Nós somos um nada diante de Deus, um nada. Mas Ele quer que a gente
se faça capacidade pra Ele. Se nós nos fizermos capacidade Ele se fará plenitude”.
Deus seja bendito nos seus dons.
Os pintores, por séculos, molharam seus
pincéis no alfabeto colorido da Bíblia.
(Marc Chagal)
Sempre que procuramos voltar à fonte e
recuperar o frescor original do Evangelho,
despontam novas estradas, métodos
criativos, outras formas de expressão,
sinais mais eloquentes, palavras cheias
de renovado significado para o mundo
atual. (Papa Francisco)
RESUMO
Este trabalho apresenta o resultado de uma pesquisa sobre arte sacra cristã, em
específico sobre a presença dos ícones de Jesus Cristo nas obras do artista Cláudio
Pastro. Seu objetivo foi o de fazer uma análise iconográfica e iconológica do ícone
do Cristo Pantocrator que se encontra na Igreja Abacial do Mosteiro da Virgem,
localizado em Petrópolis - Rio de Janeiro, tendo como referência a metodologia
proposta por Erwin Panofsky. O trabalho também apresenta a diferença entre arte
sacra e arte religiosa, a posição da Igreja Católica em relação à arte sacra, além de
cartografar a presença das obras de Cláudio Pastro em ambientes sagrados da
Igreja Católica no Brasil. Como extensão, a pesquisa pretende contribuir para uma
maior elucidação e conhecimento da história arte sacra cristã e suas interfaces,
trazendo reflexões feitas acerca de sua trajetória, de sua origem até os dias atuais,
considerando seu contexto histórico-social.
Palavras Chave: História da arte, arte sacra cristã, iconografia, iconologia, Cláudio
Pastro.
RESUMEN
Este trabajo presenta el resultado de una investigación sobre arte sacro cristiano,
más específicamente sobre la presencia de íconos de Jesús Cristo en las obras del
artista Claudio Pastro. Su objetivo fue hacer un análisis iconográfico e iconológico
del ícono Cristo Pantocrator que se encuentra en la iglesia Abacial do Monasterio de
la Virgen, ubicada en Petrópolis, Rio de Janeiro, teniendo como referencia la
metodología propuesta por Erwin Panofsky. El trabajo también presenta la diferencia
entre arte sacro y arte religioso, la posición de la Iglesia Católica en relación al arte
sacro, además de mapear la presencia de las obras de Claudio Pastro en ambientes
sagrados de la Iglesia Católica en Brasil.
Por extensión, la investigación pretende contribuir para una mayor elucidación y
conocimiento de la historia del arte sacro cristiano y sus interfaces, trayendo
reflexiones hechas acerca de su trayectoria, de su origen hasta los días actuales,
considerando su contexto histórico social.
Palabras llaves: Historia del arte, arte sacro cristiano, iconografía, iconología,
Claudio Pastro.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 – Bom Pastor. Autor desconhecido. Catacumba de São Calisto............. 16
Figura 2 – Pães e peixe. Autor desconhecido. Catacumba de São Calisto........... 16
Figura 3 – Cristo entre os doze apóstolos. Catacumba de Santa Domitilla ........... 18
Figura 4 – Três Marias no Santo Sepulcro.Casa de Dura Europos. Síria ............. 19
Figura 4 – Basílica de Santa Maria Maior. Roma, séc. IV ..................................... 21
Figura 6 – Cristo Pantocrator. Arte Românica. Séc. XII ....................................... 27
Figura 7 – A glorificação de Santo Inácio. Andrea Pozzo. Séc. XVII ..................... 28
Figura 8 – Virgem Odighítria. Arte Bizantina. Séc. XII ........................................... 30
Figura 9 – Virgem Eleoúsa, Mãe da ternura. Arte Bizantina. Séc. XII ................... 31
Figura 10 – Virgem Déesis, Mãe intercessora. Arte Bizantina. Séc. XII ................ 32
Figura 11 – Sagrada Face de Edessa. Ano 28 da era Cristã ................................ 33
Figura 12 – Ícone Aquerópta. Séc. XIII .................................................................. 34
Figura 13 – Ícone Emmanuel. Séc. XIX ................................................................. 35
Figura 14 – Cristo Pantocrator. Séc. XII ................................................................ 36
Figura 15 – Cristo em Majestade. Românico.Séc. XII ........................................... 39
Figura 16 – Santa Ceia. Leonardo da Vinci. Séc. XVI ........................................... 40
Figura 17 – Basílica de São Pedro Baldaquino. Bernini. Séc. XVI ........................ 41
Figura 18 – Davi. Michelangelo. 1504 ................................................................... 42
Figura 19 – Davi. Bernini. 1623 ............................................................................. 42
Figura 20 – O Cristo amarelo. Paul Gauguin. 1889 ............................................... 43
Figura 21 – A Crucifixão branca. Marc Chagall. 1938 ........................................... 43
Figura 22 – Interior da Igreja do Mosteiro de São Bento. Séc XVI ........................ 46
Figura 23 – Capela da CNBB. C. Pastro. 2010 ..................................................... 47
Figura 24 – São Domingos. Matisse. 1950.Capela do Rosário de Vence. França. 50
Figura 25 – Acolhida. C. Pastro. 1993. Colégio Nossa Senhora do Rosário. SP .. 50
Figura 26 – Cruz processional em bronze. C. Pastro. ........................................... 53
Figura 27 – Casulas com Cristo Evangelizador C. Pastro...................................... 53
Figura 28 – Evangeliário. C. Pastro. Mosteiro de Nossa Senhora da Paz. SP...... 53
Figura 29 – Nova Bíblia Pastoral. C. Pastro. ......................................................... 53
Figura 30 – A Criação “Detalhe da obra A história da Salvação” C. Pastro. ......... 56
Figura 31 – Madre della Chiesa. Egino Weinert .................................................... 57
Figura 32 – Jesus nasce numa gruta. C. Pastro. ................................................... 57
Figura 33 – Mãe do Perpétuo Socorro. C. Pastro................................................... 58
Figura 34 – Mãe de Deus da Paixão. Santuário da Via Merulana. Roma ............. 58
Figura 35 – Cristo Pantocrator. (detalhe) C. Pastro................................................ 59
Figura 36 – Cristo Pantocrator. Santuário da Santa Cruz. São Paulo SP ............. 59
Figura 37 – A Natividade. (detalhe) C. Pastro........................................................ 60
Figura 38 – Adoração dos Magos. (detalhe) C. Pastro........................................... 60
Figura 39 – Batismo do Senhor. C. Pastro............................................................. 61
Figura 40 – Cristo Crucificado. C. Pastro............................................................... 61
Figura 41 – Fuga para o Egito. C. Pastro............................................................... 62
Figura 42 – Batismo do Senhor. C. Pastro............................................................. 62
Figura 43 – Última Ceia. C. Pastro......................................................................... 62
Figura 44 – Túmulo Vazio. C. Pastro Basílica Nacional de Aparecida. SP .......... 62
Figura 45 – Cristo Emmanuel. C. Pastro Capela do Colégio Marista. RJ ............. 63
Figura 46 – Cristo Emmanuel. C. Pastro. Basílica Nacional de Aparecida. SP ..... 63
Figura 47 – Cristo Pantocrator. C. Pastro Mosteiro Beneditino da Transfiguração
Santa Rosa. RS ...................................................................................... 64
Figura 48 – Cristo Pantocrator. Pímen Sofronov. Séc XX. Roma ......................... 64
Figura 49 – Cristo Pantocrator. C. Pastro. Igreja Abacial do Mosteiro da Virgem,
Petrópolis RJ .......................................................................................................... 88
Figura 50 – Cristo Pantocrator. (detalhe). C. Pastro. Igreja Abacial do Mosteiro
da Virgem, Petrópolis RJ ....................................................................................... 90
Figura 51 – Cristo Pantocrator. (detalhe). C. Pastro. Igreja Abacial do Mosteiro
da Virgem, Petrópolis RJ ....................................................................................... 94
Figura 52 – Cristo Pantocrator. (detalhe). C. Pastro. Igreja Abacial do Mosteiro
da Virgem, Petrópolis RJ ....................................................................................... 94
Figura 53 – Cristo Pantocrator. (detalhe) C. Pastro. Igreja Abacial do Mosteiro
da Virgem, Petrópolis RJ ....................................................................................... 95
Figura 54– Cristo Pantocrator. (detalhe) C. Pastro. Igreja Abacial do Mosteiro da
Virgem, Petrópolis RJ ........................................................................................... . 95
Figura 55 – Cristo Pantocrator. (detalhe) C. Pastro. Igreja Abacial do Mosteiro
da Virgem, Petrópolis RJ ....................................................................................... 97
Figura 56 – Cristo Pantocrator. (detalhe) C. Pastro. Igreja Abacial do Mosteiro
da Virgem, Petrópolis RJ ....................................................................................... 97
Figura 57 – Cristo Pantocrator. (detalhe) C. Pastro. Igreja Abacial do Mosteiro
da Virgem, Petrópolis RJ ....................................................................................... 98
Figura 58 – Cristo Pantocrator. (detalhe) C. Pastro. Igreja Abacial do Mosteiro
da Virgem, Petrópolis RJ ....................................................................................... 98
Figura 59 – Cristo Pantocrator. (detalhe) C. Pastro. Igreja Abacial do Mosteiro
da Virgem, Petrópolis RJ ....................................................................................... 100
Figura 60 – Cristo Pantocrator. (detalhe) C. Pastro. Igreja Abacial do Mosteiro
da Virgem, Petrópolis RJ ....................................................................................... 100
Figura 61 – Cristo Pantocrator. (detalhe) C. Pastro. Igreja Abacial do Mosteiro
da Virgem, Petrópolis RJ ....................................................................................... 101
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 10
2 A ARTE CRISTÃ ............................................................................................ 14
2.1 Arte Sacra e Arte Religiosa ...................................................................... 24
2.2 O Ícone de Jesus Cristo na arte sacra .................................................... 29
2.3 O decurso da arte sacra no Ocidente ...................................................... 37
2.4 O Espaço Sagrado hoje. A posição da Igreja Católica em relação à
Arte Sacra ........................................................................................................ 44
3 A ARTE SACRA DE CLÁUDIO PASTRO ..................................................... 49
3.1 O Ícone de Jesus Cristo nas obras de Cláudio Pastro .......................... 53
3.2 Cartografia das Obras de Cláudio Pastro nas Igrejas Católicas do
Brasil ............................................................................................................... . 66
4 ANÁLISE FORMAL DO CRISTO PANTOCRATOR DA IGREJA ABACIAL
DO MOSTEIRO DA VIRGEM, PETRÓPOLIS/RJ ............................................. 85
4.1 A Educação do olhar no ensino de Artes Visuais .................................. 102
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 106
REFERÊNCIAS ................................................................................................. 109
ANEXOS ........................................................................................................... 112
10
1 INTRODUÇÃO
Século XXI, século da imagem. É assim que podemos designar o tempo em
que vivemos, quando a imagem tem grande relevância na comunicação. Vivemos no
que podemos chamar de a “civilização da imagem”. Juntamente com a palavra
falada e escrita, a imagem completa os meios de comunicação interpessoal.
Televisores, computadores, outdoors, cartazes... Para todos os lados que olhamos
nos deparamos com os mais variados tipos de imagens, símbolos ou ícones,
informações que representam algo ou nos levam a alguma coisa ou pessoa. Porém,
a necessidade do ser humano de usar imagens não é de hoje. O homem sempre
necessitou de imagens para divulgar suas ideias e crenças, expressar seus
sentimentos, demarcar territórios, realizar rituais, identificar grupos, etc. Isso
podemos constatar com um breve estudo da História da Arte.
No campo da arte cristã não é diferente, pois a mesma sempre teve como
objetivo manifestar o Sagrado, o divino que é invisível aos olhos, por meio de uma
forma visível, através de imagens, ícones e símbolos. Essa necessidade da
simbologia influenciou a arte cristã em vários aspectos como nas pinturas, nas
esculturas e na arquitetura. Na arte cristã tudo converge para Deus buscando
alcançar uma aproximação dos homens com o transcendente.
A arte cristã é parte integrante e essencial na história da Igreja Católica. A
Igreja tem em seu patrimônio cultural e histórico riquezas indizíveis referentes a essa
arte. No decurso da história do cristianismo, a arte cristã sempre foi uma grande
aliada da catequese, dos ensinamentos da doutrina cristã.
A arte cristã, do Ocidente, em seu percurso na história, acompanhou os
variados movimentos artísticos. Em alguns teve bastante relevância como no
românico, no gótico, na renascença e no barroco. Além disso, muitos artistas de
diversos movimentos e épocas, sobretudo nos séculos XIX e XX, embora não
fossem artistas sacros, fizeram pinturas com temas cristãos como, por exemplo,
Eugène Delacroix, Vicent Van Gogh, Paul Gauguin, Matisse, Salvador Dali, Marc
Chagal, Vítor Meireles, Portinari e outros.
No âmbito eclesial, no ano de 1962 o Papa João XXIII convocou o XXI
Concílio Ecumênico da Igreja Católica, que aconteceu na cidade do Vaticano que foi
encerrado no ano de1965, no Pontificado de Paulo VI. Este Concílio recebeu o nome
11
de Concílio Vaticano II1, por ter sido o segundo Concílio da Igreja realizado na
cidade do Vaticano. Nesse Concílio foram elaborados alguns documentos para
nortear a Igreja no mundo, a saber: nove decretos, três declarações e quatro
constituições. Esses documentos tratam de vários aspectos da Igreja dentre os
quais se destaca o primeiro documento aprovado: a constituição Sacrosanctum
Concilium que trata especificamente do culto da Igreja, ou seja, a celebração da
Missa e sua liturgia. (PASTRO, 2007). Nessa Constituição a Igreja voltou o olhar
sobre todos os aspectos que compõem a liturgia sagrada e propôs promover uma
reforma sobre o rito sagrado, inclusive no campo das artes sacras e da música
litúrgica. Após o Concílio Vaticano II, a Igreja trouxe de volta elementos da liturgia
cristã que eram comuns nas primeiras comunidades cristãs como, por exemplo, o
uso da língua vernácula nas celebrações. Desde então, não se usa mais o latim
como primeira língua nas celebrações, dando maior oportunidade de participação
aos fiéis que, a partir do referido Concílio participam de forma mais ativa das
celebrações. Como afirma Horta (2013, p. 30) “No Concílio Vaticano II, um grupo de
prelados [...] pregou a necessidade de uma ‘Igreja das catacumbas”, ou seja, uma
Igreja que procurasse a vivência das primeiras comunidades cristãs, com relação à
vida fraterna e a celebração do culto cristão.
Tendo em vista a renovação que a Igreja Católica tem vivido desde o
Concílio Vaticano II e o contínuo aumento do interesse pelos ícones no Ocidente,
sobretudo no Brasil, torna-se relevante empreender uma pesquisa que apresente a
importância e a feitura da arte sacra nos dias os atuais. O presente estudo é feito
especificamente sobre as obras do artista sacro Cláudio Pastro, que se encontram
em um grande número de igrejas no Brasil e fora dele. Tratar sobre a arte cristã,
sobretudo a sacra é um desafio, pois é uma arte pouco tratada nos dias atuais no
meio acadêmico, tendendo a contribuir com uma maior elucidação e conhecimento
da história arte sacra cristã e suas interfaces de sua feitura nos dias atuais.
O tema e o artista escolhidos para pesquisa se enquadram no período atual.
Cláudio Pastro é um artista brasileiro com especialização em arte sacra, nascido no
ano de 1948 na cidade de São Paulo onde reside atualmente. Desde 1974 dedica-se
à arte sacra. Ele tem realizado um trabalho pioneiro, principalmente na Igreja do
1 O primeiro no Concílio realisado Vaticano convocado pelo Papa foi Pio IX e aconteceu do dia 08/12/1869 até
18/07/1879. Dele resultaram duas Constituições Dogmáticas, Dei Filius sobre a fé Católica e Pastor Aeternus,
sobre o primado e a infalibilidade do Papa quando se pronuncia “Ex Cathedra”, em assuntos de fé e moral.
(AQUINO 2006).
12
Brasil, na busca da volta às fontes da arte sacra cristã. Conforme o espírito do
Concílio Vaticano II, Pastro volta às fontes e se inspira na iconografia dos primeiros
séculos do cristianismo, quando a Igreja iniciava sua caminhada. Suas obras no
Brasil estão em maior número na Arquidiocese de São Paulo, até os dias atuais,
contabilizam-se 124 Igrejas com sua intervenção artística nesse Estado sendo que
algumas ainda estão em andamento. Pastro tem feito um grande trabalho em vários
estados do Brasil, como também em outros países como Argentina, Bélgica, México,
Itália, Alemanha, Portugal e Itália.
Essa pesquisa teve por objetivo executar um estudo de caso das obras do
artista sacro Cláudio Pastro, especificando a presença dos Ícones de Jesus Cristo
em suas obras. Também foi objetivo desse trabalho apresentar a posição da Igreja
Católica em relação à arte sacra declarada em documentos oficiais, cartografar a
presença das obras de Cláudio Pastro em ambientes sagrados da Igreja Católica no
Brasil, o que está no segundo capitulo deste documento.
Para compilação de informações, a metodologia empregada pautou-se na
pesquisa bibliográfica e eletrônica, tendo como principal referencia os livros do
próprio artista pesquisado, Cláudio Pastro. Para maior entendimento sobre a arte
sacra, estudou-se Burckhardt (2004), uma das maiores autoridades no campo da
arte e das doutrinas tradicionais. Em relação ao estudo dos ícones, busquei
referências em Donadeo (1996, 1997) e Bragantini (2008). Também foram
estudados Farthing (2011) e Gombrich (1999), sobre História da arte. Sobre a
História da Igreja pesquisei Bettencourt (1987) Monge Beneditino e um dos mais
importantes teólogos Brasileiros do século XX e Rops (1988) escritor e historiador
francês eleito para Academia Francesa em 1955. Além desses historiadores foram
consultados documentos oficiais da Igreja Católica e autores indicados pelo próprio
Pastro como Casel (2009), que trata sobre o Mistério do culto no cristianismo.
Quanto às discussões sobre o estilo e análise formal, a base teórica se encontra nas
analises de Erwin Panofsky (1991), nos seus estudos sobre iconografia e iconologia.
Além disso, foram realizadas visitas e registros fotográficos, in loco, das
obras de Cláudio Pastro em nove igrejas no Brasil, a saber: Igreja Abacial do
Mosteiro da Virgem em Petrópolis Rio de Janeiro (RJ), 1986; Casa de Retiros Padre
Anchieta, na Gávea Rio de Janeiro RJ, 1991; Igreja da Casa Provincial das Irmãs de
Santa Catarina em Petrópolis RJ, 1995; Igreja da Santíssima Trindade no Convento
Madre Regina em Petrópolis RJ, 1997; Capela do Colégio Marista São José no Rio
13
de Janeiro RJ, 1998; Igreja do Mosteiro Nossa Senhora de Guadalupe em Caicó Rio
Grande do Norte (RN), 1988; Catedral de Nossa Senhora da Apresentação em Natal
RN, 1989; Capela do Santíssimo da Catedral de Nossa Senhora da Apresentação
em Natal RN, 1991; e Basílica Nacional de Nossa Senhora da Conceição Aparecida
em Aparecida São Paulo (SP), cuja finalização artística ainda está em andamento.
Alguns desses registros se encontram no anexo B deste documento. Dentre essas
obras visitadas o Ícone do Cristo Pantocrator da Igreja Abacial do Mosteiro da
Virgem localizado em Petrópolis RJ foi escolhido para análise.
Este trabalho está dividido em três capítulos. O primeiro capítulo discorre
sobre a arte cristã, a diferença entre arte sacra e arte religiosa, de acordo com
Burckhardt e Pastro, sobre o ícone de Jesus Cristo na arte sacra, sobre o decurso
da arte sacra no Ocidente bem como sobre o espaço sagrado nos dias atuais,
período pós Concilio Vaticano II.
O segundo capítulo trata especificamente das obras do artista Cláudio
Pastro e da presença do ícone de Jesus Cristo que, foram pintados com mais
frequência na arte dos primeiros séculos do cristianismo, e que Pastro, no espírito
do Concílio Vaticano II, retoma-os em suas obras. Esse capítulo também traz a
cartografia das obras de Pastro, com a localização das Igrejas e espaços sagrados
do Brasil, divididas por regiões e estados.
No terceiro e último capítulo é apresentada uma analise formal do Cristo
Pantocrator da Igreja Abacial do Mosteiro da Virgem localizado em Petrópolis RJ,
com registros fotográficos feitos in loco, a análise está baseada nos estudos sobre
iconografia e Iconologia de Panofsky (1991). Esse capítulo também trata sobre a
educação do olhar no ensino de Artes Visuais.
14
2 A ARTE CRISTÃ
A arte cristã nasceu com a Igreja que, segundo a Tradição Cristã, foi
fundada pelo próprio Jesus Cristo por volta dos anos 33 d.C, quando, depois da
profissão de fé do Apostolo Pedro, disse: “Também eu te digo que tu és Pedro e
sobre esta pedra edificarei a minha Igreja” (BÍBLIA..., Mt 16,18, 1987). Neste
momento, Jesus Cristo assentou a pedra fundamental de sua Igreja que já
começava a se formar. O Catecismo da Igreja Católica (1998, p. 220) ensina que a
Igreja nasceu do lado aberto de Cristo na Cruz:
[...] a Igreja nasceu primeiramente do dom total de Cristo pela nossa salvação, antecipado na instituição da Eucaristia e realizado na Cruz. ‘O começo e o crescimento da Igreja são significados pelo sangue e pela água que saíram do lado aberto de Jesus crucificado’. ‘Pois do lado de Cristo dormindo na Cruz é que nasceu o admirável sacramento de toda a Igreja. ’ Da mesma forma que Eva foi formada do lado de Adão adormecido, assim a Igreja nasceu do coração traspassado de Cristo morto na Cruz.
Depois da ressurreição de Jesus Cristo, os apóstolos se reuniam em locais
fechados e escondidos por medo dos judeus que perseguiam todos os seguidores
do novo caminho. Nesses locais de esconderijo já se manifestava a Igreja primitiva,
visto que o nome Igreja em sua acepção mais antiga designa a assembleia ou
reunião de pessoas crentes. Só mais tarde esse termo foi usado para designar o
templo onde se reúnem os cristãos.
Consta que, cinquenta dias depois da Ressurreição de Cristo, a Igreja foi
ratificada pela infusão do Espírito Santo, que Cristo prometera enviar sobre seus
apóstolos, no dia de Pentecostes. Assim descreve o CIC (1998, p. 220):
Terminada a obra que o Pai havia confiado ao Filho para realizar na terra, foi enviado o Espírito Santo no dia de Pentecostes para santificar a Igreja permanentemente. Foi então que a Igreja se manifestou publicamente diante da multidão e começou a difusão do evangelho com a pregação.
De acordo com Bettencourt (1987), depois do Pentecostes, a Igreja cristã
nascente se espalhou por toda Jerusalém e redondezas, e a cada dia unia a si mais
adeptos. Muitos judeus que vieram a Jerusalém por ocasião da Festa de
Pentecostes se converteram ao cristianismo e, voltando para suas cidades,
15
formaram novas comunidades cristãs. Todavia, a Igreja não gozava de liberdade de
culto e seus membros eram perseguidos e muitas vezes eram presos e mortos ora
por judeus, ora pelos imperadores romanos que não aceitavam a doutrina da religião
que estava nascendo. Os apóstolos e discípulos se dispersaram para fugir da
perseguição e nos locais a que chegavam, pregavam a Boa Nova de Jesus Cristo.
Assim, a Igreja foi crescendo e cumprindo o que Jesus ordenara: “Ide, portanto, e
fazei que todas as nações se tornem discípulos” (BÍBLIA..., Mt 28, 19, 1987).
No período das perseguições, os primeiros cristãos se reuniam ainda nos
templos judeus, porém a “fração do pão”, que é a celebração cristã que Jesus
instituiu na última ceia, mandando que fizessem em sua memória, era feita em suas
próprias casas, como atesta o livro dos Atos dos Apóstolos: “Todos os dias se
reuniam, unânimes no Templo. Partiam o pão nas casas” (BÍBLIA... At 2, 46, 1987).
Por isto essa fase da Igreja é denominada de Ecclesiae Doméstica, período em que
se fazia uso das casas, dos recém-convertidos, para o culto cristão, tempo das
perseguições e da fortificação das primeiras comunidades cristãs (PASTRO, 2007).
Rops (1988, p. 10), conta que “era comum reunirem-se a parte para realizar certas
cerimônias que embora ainda judaicas na aparência, tinham para eles um novo
significado”.
Como entendido, a nova religião não era bem vista pelos judeus e pelos
imperadores romanos, por isso era comum, também nesse período o uso de
imagens pagãs para a catequese. Os fiéis, porém, davam-lhe interpretação cristã e
usavam em geral temas conhecidos, mas tratavam de modo que só os iniciados
pudessem entender (UPJON; WINGERT; MAHLER, 1975).
Um exemplo é o Bom Pastor (Figura 1), tema que trata de um homem que
carrega sua ovelha aos ombros. Para os cristãos esse homem representava o
próprio Jesus que assim se definiu: “Eu sou o bom pastor” (BÍBLIA... Jo 10, 11,
1987). Nessa imagem percebemos pela vestimenta que o pastor retratado não
caracteriza um judeu palestino, o que seria mais apropriado para retratar Jesus.
Nessa época, Jesus era muitas vezes associado a Apolo, deus do sol ou a Orfeu
que liberta da morte. Isso se dava também pelo fato da arte cristã nas catacumbas
ser realizadas pelos “fossores” que, como afirma Pastro (2010, p. 145) eram “artistas
coveiros [...] que a princípio por serem de origem pagã, retratavam o ‘Cristo Hermes’,
figuras imberbes e jovens, pois os romanos dos três primeiros séculos não tinham
recebido a influência da arte original do Oriente.” Entretanto, os símbolos das
16
catacumbas eram imagens para a catequese de iniciação dos cristãos. Era também
comum o uso de imagens de pães e de peixes (Figura 2) como símbolos do
cristianismo, o pão referente à Eucaristia e o peixe que, escrito em grego, forma o
acróstico “Jesus Cristo Filho de Deus Salvador.” (DONADEO, 1997).
Figura 1 – Bom Pastor. Autor desconhecido. Séc. I. Afresco.
Catacumba de São Calisto. Fonte: VATICANO (1973).
Figura 2 – Pães e peixe. Autor desconhecido. Séc. I. Afresco.
Catacumba de São Calisto. Fonte: ROPS (1988).
Tendo a perseguição se tornado acirrada, os cristãos se dispersaram e
deixando suas cidades se infiltravam em outros locais. A Igreja difundiu-se aos
arredores chegando a territórios pagãos, como testemunha a primeira carta de São
Pedro: “Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos que vivem como estrangeiros na
dispersão, no Ponto, na Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia” (BÍBLIA... I Pd 1, 1,
1987). Dessa forma, a Igreja chegou ao Império Romano, uma vez que a Judeia era
província Romana. Em Roma, a nova religião também não era aceita e por causa
das perseguições dos imperadores romanos, era comum os cristãos se reunirem em
catacumbas2, e ali os fiéis celebravam a “fração do pão” e também faziam a
catequese para iniciar os novos membros da doutrina que estava surgindo. Nesse
contexto, a arte cristã foi ganhando sentido e espalhando a pregação da boa nova
de Jesus Cristo. (ROPS, 1988).
2 As catacumbas são cemitérios gigantescos onde gerações de cristãos enterraram os seus mortos. (ROPS, 1988,
p. 198)
17
É importante ressaltar que o nome catacumbas não era usado pelos
primeiros cristãos, esses locais só foram assim denominados por volta do século
XVI, como afirma Rops (1988, p. 198)
A palavra que designa estes vastos hipogeus e que tem hoje o poder de um símbolo provem, na verdade, de um erro de interpretação. O termo já se lia nos velhos “itinerários” medievais que os peregrinos que iam a Roma tinham entre as mãos; mas não designava senão uma pequena parte das nossas “catacumbas” modernas, aquelas que se situavam em volta da antiga Basílica de São Sebastião, três quilômetros a sudeste de Roma, na Via Ápia. Era a única “região” que na época se conhecia bem e se venerava. Como estava numa depressão de terreno, chamavam-lhe “perto do vale”, isto é, em grego, língua oficial da Igreja primitiva, katá kumben. Quando no
século XVI nasceu o interesse por outros jazigos do cristianismo antigo, estendeu-se o nome a todo o conjunto.
Esse tempo de perseguição e reuniões secretas por parte dos cristãos durou
do inicio do cristianismo até por volta do inicio do século IV, passando por vários
imperadores que torturavam e matavam os cristãos. Durante esse período houve
grande produção da arte cristã.
Roma possui um grande número de catacumbas utilizadas por muito tempo
pelos primeiros cristãos como local de culto, onde até hoje se conserva a arte cristã
feita por eles. Era costume fazer pinturas de passagens da vida Cristo como, por
exemplo, a Última Ceia ou o Cristo entre os apóstolos (Figura 3). Atualmente,
algumas catacumbas são abertas à visitação de devotos e fiéis e se tornaram alvo
de peregrinação cristã. As mais conhecidas e visitadas são as de São Calisto, de
São Sebastião, de Santa Domitilla e de Santa Priscila (VATICANO, 1973).
18
Figura 3 – Cristo entre os doze apóstolos
Autor desconhecido. Séc. I. Afresco. Catacumba de Santa Domitilla
Fonte: Vaticano (1973)
Por volta do fim do século II da era cristã, as comunidades tinham crescido
consideravelmente. Os cristãos tiveram a necessidade de construir ou adaptar casas
próprias para fins eclesiais. Dessas construções, só se tem conhecimento de uma
que restou até os dias atuais, a casa de Dura Europos (Figura 4), situada na Síria e
que é considerada uma das mais antigas casas de oração cristã feita ou adaptada
para esse fim. Essa fase da Igreja é denominada de Domus Ecclesiae, que quer
dizer a casa da Igreja, nesse período a casa já não era destinada à habitação, mas
somente às funções eclesiais do culto eucarístico, neocatecumenatos e batizados,
dessa forma os cristãos tinham mais espaço já que o número de adeptos crescia a
cada ano (PASTRO, 2010). Também aí se encontra forte a presença da arte cristã
nas paredes que, como lhe é próprio, auxiliava na pregação do evangelho
principalmente para os que ainda não sabiam ler.
19
Figura 4 – Três Marias no Santo Sepulcro. Autor desconhecido. Séc. III. Pintura mural.
Casa de Dura Europos Fonte: Pastro (2010)
No inicio de século IV, de acordo com Rops (1988), Roma teve como
imperador Constantino que, como os outros imperadores prestava culto às
divindades pagãs, mas era tolerante a religião cristã, contudo não a considerava
como a verdadeira religião, mas como mais uma entre outras. Conta-se que três
anos antes de sua conversão, invocava o Sol Invictus e afirmava ter tido uma visão
do deus Apolo. No ano de 312, Constantino empreendeu uma batalha contra
Maxêncio e, depois de ter implorado a ajuda de Cristo, conquistou a vitória e se
tornou um cristão. Diz Daniel Rops (1988, p. 406) “não são só os historiadores
cristãos que o afirmam; o fato depreende-se também dos panegíricos e inscrições
oficiais”. Existem documentos oficiais que afirmam o acontecido como, por exemplo,
o arco do triunfo, construído para comemorar sua vitória, o IX livro da História
Eclesiástica, escrito por Eusébio, que diz claramente que Constantino venceu
Maxêncio por que invocou Cristo e ainda um escrito de Lactâncio, feito cerca de
vinte anos depois, sobre a vida de Constantino. Esse relato, Rops (1988, p. 407)
transcreve em detalhes:
20
Uma noite, pouco antes da batalha, Constantino teve um êxtase durante o qual recebeu de Cristo a ordem de colocar sobre o escudo das suas tropas um sinal formado pelas duas letras CH e R ligadas; é este, com efeito, o monograma que se encontra nas moedas e inscrições constantinianas. [...] momentos antes de entrar em luta com Maxêncio, Constantino apelou para o Deus dos cristãos e então, em pleno dia viu no céu, para os lados do poente, uma cruz luminosa com estas palavras em grego: “Com esse sinal vencerás”. Na noite seguinte apareceu-lhe Cristo mostrando a sua cruz e convidando o imperador a mandar executar uma insígnia que a representasse. Esta insígnia é o Labarum, estandarte em forma de cruz que, a partir daí, acompanhou sempre os exércitos de Constantino.
No ano de 313 d.C, Constantino então promulgou o Edito de Milão
alforriando os cristãos das perseguições, dando liberdade de culto à religião cristã.
Começa a fase da Igreja cognominada Ecclesiae Basilicalis que, segundo Pastro
(2010, p. 262), “[...] corresponde a construções grandiosas, concebidas para
engrandecer a glória de Deus e para dar maiores espaços à crescente frequência de
fiéis”. O cristianismo, então com a liberdade de culto, embora não fosse ainda a
religião oficial de Roma, começou se reunir em basílicas3 e edifícios reais cedidos
para as celebrações eucarísticas. Nessa época a arte cristã pode se expressar mais
livremente e já não se usavam imagens pagãs. (BETTENCOURT, 1987).
As Basílicas foram de vital importância para o desenvolvimento da arte
cristã. Nessa época, a arquitetura cristã começou a ter maior relevo, se tornando,
assim como a pintura, a escultura e a música, elemento que deve convergir para o
centro do Mistério Cristão e tem grande importância na celebração do mistério em
torno do qual a Igreja celebra. As primeiras basílicas foram edifícios cedidos pelo
imperador para as celebrações cristãs, posteriormente foram construídas ou
reformadas exclusivamente para a celebração do culto cristão (Figura 5). Nesse
tempo também eram usados fóruns e senados.
Nos períodos seguintes, a arquitetura também teve grande relevância como
no Românico e nos grandes edifícios Góticos como veremos mais à frente.
3 Basílica vem do grego basilikós = casa real. Basílicas eram construções especiais com colunas e pórticos que
na Grécia levavam o nome de basílica, por estarem relacionadas ao rei (basileus). Posteriormente, na Roma
antiga, vai designar o edifício amplo e de formato retangular, destinado a tribunais e local de encontro dos
cidadãos. Com a liberdade de culto favorecida pelo imperador Constantino (313), e a posterior elevação do
cristianismo como religião oficial (380), muitas basílicas passaram a ser templos cristãos.
Fonte: <http://www.basilicadocarmocampinas.org.br/basilica_historia.htm>.
21
Figura 5 – Basílica de Santa Maria Maior.
Roma, séc. IV, reconstruída no séc. V. Fonte: Pastro (2010).
A arte sacra cristã teve inicio logo após a ratificação da Igreja que teve seu
inicio – fundação, nascimento e confirmação-, por volta do ano 33 d.C. Isso
contrapõe a opinião de pessoas que afirmam que a Igreja foi fundada por
Constantino no começo do século IV d.C. Constantino, como visto, com o Edito de
Milão (313), libertou a Igreja da perseguição romana, permitindo que os cristãos
pudessem se reunir publicamente em templos, dando à Igreja o poder de se
institucionalizar. Rops (1988, p. 214) afirma que: “em Roma, no século II, assim
como em Edessa, Apaméia, Alexandria e Antioquia, não há dúvida de que havia já
aquilo que nós hoje chamamos igrejas”. A arte cristã se desenvolvia, mas ainda sem
regras que a determinassem.
No ano de 691 d.C, aconteceu o Cocílio de Trulo4 e foi nesse Concílio que
foram determinadas as normas para a arte sacra. Nesse concílio também ficou
esclarecido o conceito sobre o simbolismo do cordeiro, que era pintado para
representar Jesus, baseado na passagem em que João Batista aponta Jesus como
o Cordeiro de Deus. Ficou decidido que, a partir de então, se representasse Jesus
4 Recebeu esse nome visto que se desenrolou em uma sala assim chamada, do Palácio imperial de
Constantinopla. (DONADEO, 1997, p. 15)
22
em sua forma humana e não mais como o cordeiro. Em todo caso poderiam ser
representados ambos em um mesmo painel. (DONADEO, 1997).
Mas nem sempre o uso das imagens e pinturas de Cristo e dos Santos foram
bem aceitas e, infelizmente muito se perdeu da arte cristã no período do chamado
movimento iconoclasta. Nesse período, no império bizantino, surgiram opositores
fanáticos do uso das imagens sagradas que durante os séculos VIII ao IX destruíam
todos os tipos de imagens cristãs. Esse movimento teve início em 725 d.C, pelo
imperador Leão III influenciado pelo judaísmo e islamismo, foi o início de uma
verdadeira guerra com exílios, prisões, torturas e martírios dos que defendiam dos
ícones, sobretudo os monges destemidos defensores das imagens sagradas, e uma
enorme destruição dos objetos sagrados. Porém, no ano de 787 d.C, houve uma
trégua na luta iconoclasta que permitiu a realização do VIII Concílio Ecumênico, o
segundo ocorrido em Nicéia, convocado pelo Papa Adriano I, que aconteceu entre
os dias 24 de setembro de 787 a 23 de outubro do mesmo ano. Teve como uma das
principais definições que é licito a representação pictórica, bem como a veneração e
o culto dos ícones. Entretanto essa trégua não durou muito. Com a eleição de Leão
V, no ano 813 d.C, a luta iconoclasta foi retomada e a perseguição se tornou ainda
mais violenta do que a primeira. Houve grande matança entre os que defendiam o
culto às imagens sagradas. Essa guerra perdurou até a morte do imperador Teófilo,
segundo sucessor de Leão V, no ano 842, quando foi restaurado o culto aos ícones
e findada a luta iconoclasta. (DONADEO, 1996).
Nos últimos séculos, após a reforma protestante encabeçada por Martinho
Lutero no ano de 1517 d.C, também no Ocidente, têm surgido contradições por parte
de cristãos de denominações protestantes que, citando passagens do Antigo
Testamento, afirmam que é proibida a confecção de qualquer tipo de imagens do
sagrado, nem de nada acima do céu ou abaixo da terra. A essa controvérsia a Igreja
responde na pessoa de seu Vigário Geral, o Papa São João Paulo II (2010, p. 11),
em sua Carta aos artistas:
A lei do Antigo Testamento contém uma proibição explícita de representar Deus invisível e inexprimível por meio de uma ‘estátua esculpida ou fundida’ (Dt 27, 15), por que Ele transcende qualquer representação material: ‘Eu sou Aquele que sou’ (Ex 3, 14). No mistério da Encarnação, porém, o Filho de Deus tornou-se visível em carne e osso: ‘Ao chegar à plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de mulher’ (Gl 4, 4). Deus fez-se homem em Jesus
23
Cristo, que se tornou assim ‘o centro de referência para se poder compreender o enigma da existência humana, do mundo criado, e mesmo de Deus’.
Segundo Besançon (1997), os pais da Igreja, como são considerados,
Gregório de Nazianzo, Tomás de Aquino e Orígenes, explicam bem a diferença
entre ícone (palavra que deriva do grego eikôn, que quer dizer imagem) e ídolo
(imagem ou símbolo de uma divindade falsa que não existe). No Antigo Testamento,
Deus proibiu a confecção de imagens por que Ele é Deus conforme disse: “Eu sou
aquele que é” (BÍBLIA... Ex. 3, 14, 1987). O homem, portanto, não poderia fazer a
imagem de Deus uma vez que nunca o tinha visto. Deus proibiu a feitura de imagens
para serem adoradas como se fossem deuses. No entanto, em relação ao culto dos
judeus encontramos em outras passagens do próprio Antigo Testamento, que muitas
vezes são ignoradas, que “Javé Deus ordenou que imagens e estátuas fossem
esculpidas e pintadas, não como ídolos ou deuses, mas para ajudar os devotos e
para colocá-los numa atmosfera de devoção e de beleza artística” (SAADEH;
MADROS, 1991, p. 178).
Todavia, conforme a tradição cristã, na plenitude dos tempos o Filho de
Deus se fez Homem, no seio de uma Virgem chamada Maria. Desde então Deus
pode ser visto, pois como podemos ler: “Ele é a imagem do Deus invisível” (BÍBLIA...
Cl 1, 15, 1987). Com a vinda do Messias esperado, a Lei pode ser transformada, já
que segundo as Sagradas Escrituras, Deus assumiu a condição humana. Desde
então, a ideia de que não se podia olhar o rosto de Deus havia passado. Jesus
libertou a humanidade da idolatria tronando-se Deus visível, revelando assim a Face
de Deus, conforme disse: “Quem me vê, vê o Pai” (BÍBLIA... Jo 14, 9, 1987).
O Papa São João Paulo II (1987), em sua Carta Apostólica Duodecimum
Saeculum, mais uma vez fala sobre a importância da arte na vida da Igreja:
A arte cristã autêntica é aquela que, através da percepção sensível, leva à intuição de que o Senhor está presente na sua Igreja, que os acontecimentos da história da Salvação dão sentido e orientação à nossa vida e que a glória que nos está prometida começa já a transformar a nossa existência. A arte sacra deve tender a proporcionar-nos uma síntese visual de todas as dimensões da nossa fé. A arte da Igreja deve ter a preocupação de falar a linguagem da Encarnação e exprimir, com os elementos da matéria, Aquele que ‘se dignou habitar na matéria e realizar a nossa salvação através da matéria’ [...].
24
A Igreja acredita que os seres humanos são compostos de um corpo
material e de uma alma espiritual, portanto também os sentidos precisam ser
sensibilizados e dentre os sentidos não somente a audição, através da escuta da
Palavra de Deus, mas também a visão, janela pela qual as imagens vão direto ao
entendimento e ajudam a captar a mensagem transmitida. A imagem é, portanto
também um meio de ensinar como indica a raiz da palavra: “ENSINAR = IN +
SIGNUS = levar para dentro de um sinal, desvendar um sinal, uma imagem. Quem
ensina, revela, desvela o que está por trás de um sinal.” (PASTRO, 2010, p. 29).
Mesmo com a intenção de ter uma forma própria de arte, “[...] a arte cristã
em comparação às civilizações milenares Orientais é estranhamente descontínua
tanto em seu estilo quanto em sua qualidade espiritual,” (BURCKHARDT, 2004, p.
75). A consequência dessa descontinuidade e divergência resultou na subdivisão da
arte cristã em duas vertentes: a arte sacra ou de culto e arte religiosa ou de
devoção. Vejamos em que consiste essa diferença.
2.1 Arte Sacra e Arte Religiosa
Nem toda arte cristã pode ser considerada arte sacra simplesmente pelo
tema que trata. Na Igreja do Ocidente esse assunto não é muito tratado e muitos
fiéis e até mesmo padres, religiosos e bispos, não sabem fazer a diferença entre arte
sacra e arte religiosa costumando nomear arte sacra toda arte que trata do tema
cristão. Existem grandes diferenças entre a arte sacra e arte religiosa, que
tentaremos apresentar agora.
“A arte sacra é aquela que tem por finalidade construir os templos ou
esculpir as imagens dos deuses. Toda religião comporta um culto. Objetos
necessários ao exercício do culto entram no ciclo da arte sacra” (OCHSÉ, 1960, p.
25).
O primeiro quesito para a arte ser considerada sacra é que ela deve, em
qualquer religião, estar ligada diretamente ao culto que se celebra. No caso do
cristianismo, deve estar ligada ao Mistério da Pessoa de Jesus Cristo que é
celebrado diariamente por toda a Igreja no mundo inteiro. Dom Odo Casel (2009, p.
77) define o Mistério cristão dessa forma: “o Mistério supremo e último do
cristianismo, o fundamento e principio de todos os mistérios cristãos, é a revelação
de Deus na Pessoa do Logos encarnado”. Portanto, Jesus Cristo é o centro do culto
25
do cristianismo. Contudo não basta estar ligada somente à pessoa de Jesus, a arte
para ser considerada sacra também deve seguir algumas normas, caso contrário é
arte religiosa, como veremos a seguir.
Quando a Igreja Católica se institucionalizou em Roma, se tornando a
religião oficial (380 d.C), o império romano já era divido em império do oriente e
império do ocidente. A Igreja Una se encontrava nos dois impérios, tendo como
chefe supremo o Papa. Porém, no ano de 1054 houve um grande cisma na Igreja
que é conhecido como o Cisma do Oriente e a Igreja, até então indivisa, se dividiu
em duas: a Igreja Católica Apostólica Romana, no Ocidente, com sede em Roma e a
Igreja Católica Ortodoxa no Oriente, com sede em Constantinopla. A Igreja do
Ocidente continuou tendo como chefe o Sumo Pontífice, o Papa, que era na época
Leão IX e a Igreja do Oriente tomou então por chefe o patriarca Miguel Cerulário.
(BETTENCOURT, 1987).
No campo das artes, a Igreja do Oriente manteve mais firmemente a tradição
da arte sacra até os dias atuais. Como afirma Donadeo (1996, p. 45), “[...]
diferentemente do Ocidente, onde a arte sacra permaneceu mais individual, no
Oriente, padronizou-se a tradição dos Santos Padres, com relação ao Ícone
(imagem), o que lhe assegurou a força e a continuidade”. A Igreja Ocidental não
conseguiu unificar a arte sacra dando ocasião para o desenvolvimento de uma arte
religiosa.
Burckhardt (2004, p. 17) é categórico ao mostrar a diferença entre arte sacra
e arte religiosa:
Os historiadores da arte, que aplicam o termo ‘arte sagrada’ para designar toda e qualquer obra de tema religioso, esquecem-se de que a arte é essencialmente forma. Para que uma obra de arte possa ser propriamente qualificada de ‘sagrada’ não basta que seus temas derivem de uma verdade espiritual. É necessário, também, que sua linguagem formal testemunhe e manifeste essa origem. Esse não é o caso da arte religiosa como a que encontramos, por exemplo, no Renascimento ou no período barroco, que absolutamente não se distingue, enquanto estilo, da arte fundamentalmente profana da mesma época.
Daí pode-se extrair um segundo ponto: a arte para ser sacra além de estar
ligada à liturgia ou ao culto sagrado deve usar uma linguagem formal que manifeste
a presença de Deus. Não é somente o tema, mas também a forma que faz a arte
26
sacra. Não basta somente usar temas da Sagrada Escritura e pintá-los sem
nenhuma distinção da pintura que se faz de temas do cotidiano.
Essa diferença acontece também no campo da música sacra, que também é
“[...] parte integrante da Liturgia solene, participa do seu fim geral, que é a glória de
Deus e a santificação dos fiéis” (DOCUMENTOS..., 2005, p. 15). Atualmente pouco
se compõem músicas sacras e nas Missas, frequentemente as músicas executadas
são religiosas e não sacras, sobretudo no Brasil.
Pastro (2010) evidencia bem a diferença entre a arte de culto ou sacra e a
arte de devoção ou religiosa. A imagem de culto está estritamente ligada à
celebração do culto cristão, isto é, ao mistério em torno do qual se celebra (Figura
6). A arte sacra deve ser discreta, suas linhas e formas apresentam o Mistério em si
e não a interpretação do artista; não tem psicologia, mas tem realidade e essência;
tem autoridade em si mesma; é evangelização e deve elevar o homem ao
sobrenatural; é celebrativa, teocêntrica, objetiva, imagética, geométrica e simbólica.
Graficamente apresenta em geral o uso de poucas cores e essas chapadas e puras.
O sentido da imagem de culto é que Deus se faça presente e dela não se espera a
admiração do fiel por suas cores, formas ou semelhança com a realidade, mas
respeito e reverência ao que ela indica. A imagem de culto vem da transcendência
divina, dimana de Deus e para ele se volta, é uma janela para outra realidade.
Pastro (2007, p. 57) reitera dizendo:
A arte sacra procede do ser objetivo de Deus, vem do transcendente e se dirige à transcendência [...] A arte sacra é um prolongamento do Mistério da Encarnação, da descida do Divino no humano. A arte tem valor sacramental e é simbólica, isto é sinal de união. Não é o tema que faz a arte sacra e sim a forma. A arte de culto indica a presença, é a imagem do Invisível, leva à contemplação.
A arte sacra, reafirma Pastro (2008, p. 83), “[...] não diz ‘isso é Cristo’ ou
‘isso representa Cristo’, mas uma terceira coisa: ‘aqui está presente o Cristo’. Ela,
sim, indica a presença do Mistério entre nós”.
27
Figura 6 – Cristo Pantocrator. Arte Românica. Séc. XII. Afresco.
Abside da igreja de São Clemente. Espanha. Fonte: Pastro (2010).
Já a imagem de devoção, embora dirigida pelo mesmo espírito, está
geralmente no plano humano de individualismo, procede da experiência interior do
ser humano, não dando muita expressão à realidade sagrada, mas à realidade
experimentada. É orgânica, sensorial, naturalista, realista, fantasiosa e acadêmica.
Na imagem de devoção sente-se a personalidade de um artista determinado, nesse
caso a pessoa do artista aparece mais do que o tema retratado. Sua linguagem
realista leva ao sentimento, suas linhas são agitadas e envolventes, tem a intenção
de ludibriar o olhar dando a ilusão de que é realidade (PASTRO, 2010). Um bom
exemplo de arte religiosa é o teto da Igreja de Santo Inácio, (Figura 7) em Roma,
(1691-1694), pelo “[...] mestre da pintura em tetos Andrea Pozzo” (FARTINGH, 2011,
p. 213). Essa obra é uma das mais celebres da época por seus efeitos de ilusão que
torna difícil saber onde termina a arquitetura e onde começa a pintura. O céu parece
abrir-se com uma porção de anjos imaginários, o olhar do espectador ou fiel não
repousa em um ponto ou figura, mas é absorvido por uma falsa infinitude que não
levam o fiel ao Mistério central do cristianismo. (BURCKHARDT, 2004).
28
Figura 7 – A glorificação de Santo Inácio.
Andrea Pozzo. Séc. XVII. Afresco. Igreja de Santo Inácio de Loyola. Roma.
Fonte: <http://pt.wahooart.com/@/AndreaPozzo>
Pastro (2007, p. 83) define dessa forma a arte religiosa:
A arte religiosa vem da vida pessoal e suas reflexões de fé, lutas e buscas internas. Faz parte dos cuidados das almas, produz edificação e consolo, mas não tem necessariamente nada com o ser do Mistério Pascal, da celebração litúrgica. [...] Essas imagens podem estar numa Igreja, mas são dispensáveis ao Mistério da Salvação. Ficam bem numa casa, sala, quarto ou associação.
A arte religiosa, além de estar bastante presente na Igreja do Ocidente, está
também voltada ao comércio. A confecção de imagens, a impressão gráfica de
“santinhos” para a devoção particular é muito comum, principalmente no Brasil.
Depois de Concílio Vaticano II, aos poucos essa realidade está mudando e a arte
sacra de culto está começando a voltar às igrejas, buscado inspiração no protótipo
da arte sacra que são os ícones.
29
2.2 O ícone de Jesus Cristo na Arte Sacra
A palavra ícone deriva do grego “eikon” que quer dizer imagem. Os ícones
têm por objetivo perpetrar uma ligação entre os homens e Deus. Os primeiros ícones
se originaram da arte chamada acheiropoieta ou Aquerópita, que quer dizer: não
pintada por mãos humanas. Isso se remete à tradição que conta que a imagem da
Face de Cristo ficou impressa em um pano de linho e que se tornou o protótipo para
todos os outros ícones (FARTING, 2011).
Não se sabe ao certo quando foi feito o primeiro ícone. Sabe-se, entretanto,
que desde os primeiros séculos do cristianismo era costume o uso de pinturas para
representarem Jesus, sua mãe Maria e até mesmo os apóstolos e discípulos que
conviveram com ele.
As primeiras imagens de Jesus Cristo aparecem em meio pagão, daí o uso
de símbolos que representavam ou se referiam a Cristo, como, já foi citado, o Bom
Pastor ou o peixe cujo nome em grego forma o acróstico: “Jesus Cristo Filho de
Deus Salvador”. Porém é, sobretudo, a partir do século III que aumenta o interesse
pela imagem da pessoa de Jesus Cristo que passou a ser figurada como um homem
maduro, de barba e com cabelos longos (DONADEO, 1997).
De acordo com Donadeo (1996), existe uma antiga tradição muito difundida
que atribui os primeiros ícones a São Lucas, escritor do terceiro evangelho e
discípulo de Jesus que, ainda segundo a tradição, conviveu com a mãe de Jesus e
teria feito ao menos três tipos de ícones: o primeiro apresenta Maria com o menino
Jesus sentado em seu braço esquerdo e ela com o outro braço aponta para Jesus
indicando-o como o “Caminho”. Esse ícone é denominado de Odighítria (Figura 8)
que quer dizer: “aquela que indica o Caminho”, conforme do próprio Jesus se
autodefiniu: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (BÍBLIA... Jo 14, 6, 1987).
30
Figura 8 – Virgem Odighítria, “aquela que indica o Caminho”
Arte Bizantina. s.d. Fonte: <http://ateliersantacruz.blogspot.com.br>.
Desse ícone derivam vários outros, sendo alguns bem conhecidos na Igreja
Ocidental como, por exemplo, a Virgem do Perpétuo Socorro.
O segundo ícone atribuído a São Lucas apresenta a Virgem e o Menino
Jesus com as faces unidas numa expressão de afeto. Esse ícone é chamado de
Nossa Senhora da Ternura ou Eleoúsa, (Figura 9) que significa “a terna”. Ele revela
o amor e a ternura recíprocos entre Jesus e sua mãe. Desse tipo de ícone também
derivam vários outros subtipos ou variantes que foram surgindo depois e que têm as
mesmas características básicas, ou seja, a Virgem com o Menino no colo tendo as
faces unidas. As características desse ícone e de seus derivantes são sempre a
afeição e o amor maternal da Virgem para com seu Filho, e a reciprocidade do Filho
para com sua Mãe.
31
Figura 9 – Virgem Eleoúsa, Mãe da ternura.
Arte Bizantina. s.d. Fonte: <http://ateliersantacruz.blogspot.com.br>
Há ainda um terceiro tipo de ícone igualmente atribuído a São Lucas,
denominado Déesis (Figura 10), que apresenta a Virgem orando como intercessora
da Igreja. Nesse tipo, a Virgem aparece geralmente sozinha com as mãos erguidas
para o céu, modelo de oração suplicante pelos fiéis. Em alguns escritos
iconográficos que remontam ao século VIII, acredita-se que a própria Virgem
recebeu os ícones e abençoou o jovem evangelista, São Lucas, agradecendo a arte
pictórica.
32
Figura 10 – Virgem Déesis, Mãe intercessora.
Arte Bizantina. s.d. Fonte: <http://ateliersantacruz.blogspot.com.br>
Segundo outra tradição oral da cristandade, o primeiro ícone teria sido a
imagem do rosto do próprio Jesus que ficara gravado no véu de uma mulher que por
piedade o teria dado para enxugar a sua face, enquanto subia ao monte Calvário.
Esse fato não consta nos evangelhos canônicos, mas em escritos apócrifos não
considerados totalmente verossímeis pelo magistério da Igreja. (DONADEO, 1997).
Há ainda outra tradição que reza que o próprio Jesus teria enviado ao Rei
Abgar de Edessa, que lhe havia suplicado um milagre. Jesus teria enxugado seu
rosto em uma toalha na qual teria ficado impressos seus traços (Figura 11). Dessa
lenda surgiu a Aquerópita que quer dizer a Sagrada Face não pintada por mãos
humanas. Essa relíquia, denominada também Mandýlion, que quer dizer, tecido ou
lenço, teria sido venerada por muito tempo em Constantinopla, porém no período da
guerra iconoclasta teria sumido e depois foi associada ao Sudário de Turin. São
características desse ícone olhos grandes, boca pequena e bigode cai sobre a
barba. (DONADEO, 1996).
33
Figura 11 – Sagrada Face de Edessa.
Ano 28 da era Cristã. Fonte: Pastro (2010).
Existem vários tipos de ícones de Jesus Cristo, que relatam fatos
importantes de sua vida, são chamados ícones das grandes festas como, o ícone do
Natal, do Batismo, da Transfiguração, da Crucifixão, da Ressurreição, da Ascensão
e etc. Há também os ícones que não estão ligados a uma passagem da vida de
Jesus, mas estão ligados diretamente à sua pessoa, dentre os quais os mais
comuns são três: o Aquerópita, o Emmanuel e o Pantocrátor. Vejamos as
características de cada um deles segundo Donadeo (1996).
O termo Aquerópita (Figura 12), como visto acima, que quer dizer “não
pintado por mãos humanas”, tem seu fundamento na tradição que afirma que o rosto
de Cristo que ficara gravado em um pano. Esse ícone reproduz a misteriosa beleza
da Face de Jesus e apresenta apenas a sua cabeça, sem pescoço, sempre com
barba e olhos aumentados e é representado sempre frontalmente. Esse ícone é
mais conhecido e difundido no Oriente.
34
Figura 12 – Ícone Aquerópta. Autor desconhecido. Séc. XIII. Escola de Novgorod Russia.
Fonte: Pastro (2010).
O Emmanuel (Figura13) é um ícone em que se apresenta o Cristo Menino a
meio busto. O termo Emmanuel quer dizer “Deus conosco”. Embora seja uma
criança, sua face é de um jovem, geralmente envolto por um círculo de glória. Com
uma mão, segura o rolo das Escrituras e com a outra abençoa o mundo. Pode ser
representado sobre o peito da Virgem Maria, denominada Virgem do sinal,
referência feita a uma profecia de Isaías que diz: “Pois, sabei que o Senhor mesmo
vos dará um sinal: Eis que a jovem concebeu e dará à luz um filho e por-lhe-á o
nome de Emanuel” (BÍBLIA..., Is 7,14 1987). Esse ícone tem um significado bem
determinado: representa Jesus que é o Verbo de Deus, o Logos que no principio era
Deus, estava em Deus e se fez Carne conforme narra São João em seu Evangelho.
35
Figura 13 – Ícone Emmanuel. Autor desconhecido.
Séc XIX. Técnica desconhecida. Rússia. Fonte: Donadeo (1996).
Por fim, o ícone mais conhecido e presente nas Igrejas, inclusive atualmente
no Brasil, é o Cristo Pantocrátor, pan (tudo ou todo), kratós (acima, alto) que
traduzido quer dizer “onipotente”. Esse ícone apresenta o Cristo adulto sempre
entronizado, mesmo que seja representado a meio corpo. É o Cristo todo poderoso
que está sentado no Trono de Deus e abençoa seu povo. Na maioria das vezes é
concebido em dimensões gigantescas que dominam toda a cúpula das igrejas. Por
vezes, o ícone aparece com o rosto severo, mas não perde a expressão de
bondade. Ele segura em sua mão esquerda um livro geralmente aberto que contém
uma pequena passagem do Evangelho, enquanto a mão direita abençoa. Tem
sempre sobre a cabeça uma aureola cruciforme que indicam a santidade do Cristo
(DONADEO, 1996).
Um exemplo do tipo Pantocrátor (Figura 14) está na Catedral de Monreale,
na Itália. Nele notamos as características apresentadas acima. Nesse mosaico,
Cristo é visto a meio busto, sua face expressa certa severidade, porém sem deixar
de ser acessível ao espectador. A posição dos dedos da mão direita, que abençoa,
forma o Cristograma “ICXC” uma abreviação das palavras gregas para “Jesus
Cristo” (FARTING, 2011).
36
Figura 14 – Cristo Pantocrator. 7m x 13m. Autor desconhecido
Séc XII. Mosaico. Catedral de Monreale, Sicília- Itália.
Fonte: Farting (2011).
O ícone é a maior referência da arte sacra. É a arte sacra por excelência,
uma vez que foram as primícias ou os primeiros tipos de arte sacra da Igreja
institucional. O ícone não é apenas uma figuração ou representação, ele indica uma
presença e como é frequentemente definido: imagem do invisível, por tender sempre
para o espiritual, abrindo uma janela para outra dimensão que não a terrena, sua
forma, seus traços nos movem, não a emoção ou sentimento, mas ao
transcendente.
A Igreja já no Concílio de Nicéia, 787 d.C, dá orientações com relação as
artes, “[...] o que se pinta, o que se canta o que se plasma nas formas visíveis não
pode ser diferente do conteúdo invisível. O ícone é a suprema realidade do MYS-
TERIUM. Há uma ortodoxia na arte. Arte e fantasia se opõem” (CONCÍLIO DE
NICÉIA apud PASTRO, 2008, p. 18).
Para Bragantini (2008, p. 24), “[...] o ícone nasceu e foi sustentado em sua
existência por essa vitalidade litúrgica, e seu encontrar-se dentro da celebração dos
santos mistérios justifica-o não como um simples meio, mas como um testemunho
daquilo que viu e ouviu”.
37
Os ícones possuem algumas características próprias que os fazem divergir
de qualquer outra obra de arte. Com relação às cores não há claro-escuro, nem
sombreamentos que dão impressão de relevos; usa-se a clarificação progressiva
que consiste em pinceladas com tinta mais claras partindo de uma base mais
escura. Com relação ao material este é de origem mineral ou orgânica. Usa-se com
frequência o ouro que se torna fonte de luminosidade e aparece com frequência nas
aureolas de Cristo e dos santos, nas asas dos anjos e, sobretudo nas vestes do
Cristo e de sua Mãe. A anatomia não é seguida como nos cânones clássicos e isso
não tem muita relevância, uma vez que os ícones não têm a função ou intenção de
serem naturalistas, ao contrário buscam-se uma realidade espiritual. Por isso os
rostos geralmente são cor de bronze e os olhos são grandes. A perspectiva é
preferencialmente inversa, as linhas não se encontram em um ponto de fuga, como
é comum nas obras depois da perspectiva exata, mas vão em direção ao
espectador. Não há profundidade e o acontecimento sempre se dá no primeiro
plano, não há ilusões e é basicamente bidimensional (DONADEO, 1996).
2.3 O decurso da arte sacra no Ocidente
A Igreja unificada, aqui me refiro à Igreja antes do Cisma do Oriente em
1054, após o Edito de Milão, seguia um padrão de arte sacra “As artes bizantinas e
românicas eram simbólicas, pois queriam tão somente indicar outra coisa [...] as
figuras tinham desproporcionalidade proposital, uma vez que queriam apenas indicar
a presença e não ser eles mesmos a presença” (PASTRO, 2007, p. 46). Contudo
havia ainda algumas diferenças entre o Oriente e o Ocidente. Na arte cristã Oriental
as representações eram frontais e com cores chapadas, enquanto que na arte cristã
Ocidental era mais comum o simbolismo (PASTRO, 2010).
Como visto, a Igreja Católica se tornou a religião oficial do Império aos 28 de
fevereiro de 380, por um decreto assinado pelo então Imperador Teodósio I
(BETTENCOURT, 1987). Desde então, em liberdade e como religião oficial, foram
construídas basílicas para fins do culto cristão. No Oriente construíram-se templos
especialmente nos locais mais importantes, que marcaram a presença de Jesus de
forma significativa, como em Belém onde Jesus nasceu, no Monte Calvário, onde foi
crucificado, no Santo Sepulcro, onde foi sepultado e ressuscitou... Os edifícios
cristãos têm algumas normas e espaços que foram seguidas até o principio do
38
século XX. Por tradição e respeito às antigas basílicas, esses espaços são o atrium
ou adro, lugar de recepção onde os fiéis se lavavam para entrarem na igreja, a
grande nave central, local onde os fiéis se sentam para a reunião ou culto, o
transepto é o cruzamento entre a nave central e os outros locais e a abside que é o
centro onde fica a cátedra ou cadeira. (PASTRO, 2010).
Como visto, no ano de 1054 ocorreu o grande Cisma, conhecido como o
Cisma do Oriente, que dividiu a Igreja em Igreja Católica Apostólica Romana, no
Ocidente e Igreja Ortodoxa, no Oriente. No campo da arte sacra, o Ocidente passou
por diversas fases e foi seguindo o curso de diversos movimentos artísticos que
aconteceram no campo das artes em geral. Como afirma Burckhardt (2004, p. 116),
“a transmissão dos modelos sagrados continuou no Ocidente, até o Renascimento, e
até hoje as imagens miraculosas mais celebres, veneradas na Igreja Católica, são
os ícones de estilo bizantino”. A arte sacra na Igreja Ocidental conseguiu manter-se
por algum tempo e ainda no principio do segundo milênio houve expressões
profundamente sacras como nas igrejas românicas (Figura 15) e nas góticas.
Figura 15 – Cristo em Majestade. Autor desconhecido.
Séc XII. Românico. St. Sernin, Toulouse. França. Fonte: Pastro (2010).
39
Porém, logo os cânones da arte sacra foram aos poucos sendo ignorados
permitindo-se todo o tipo de expressão artística dentro das igrejas. Os estilos e
movimentos artísticos que aconteciam no campo das artes em geral eram também
usados nas igrejas (PASTRO, 2001). Como afirma Gombrich (1999, p. 185), o
Ocidente no campo das artes em geral sempre se mostrou em busca de novidades:
[...] existe um aspecto em que a Europa sempre diferiu profundamente das concepções artísticas orientais. Com efeito, no Oriente, esses estilos duraram milhares de anos e não parecia haver razão alguma para que mudassem. O Ocidente jamais conheceu essa imobilidade. Foi sempre irrequieto, em busca de novas soluções e de novas ideias.
Segundo Fartingh (2011) no século XV, a civilização europeia passou por
uma brusca mudança de mentalidade. O Renascimento que marcou a transição da
Idade Média para a Idade Moderna, foi um movimento intelectual que teve inicio na
Itália e depois se difundiu na Europa. Esse nome se deve dentre outros fatores à
busca e o interesse pelos modelos artísticos da Grécia e Roma antigas. Começa
então uma visão mais humanística dando maior relevo ao Homem
(antropocentrismo) e não a Deus (Teocentrismo), como o era até a Idade Média.
Contudo o tema cristão não caiu em desuso e continuou a ser fonte de inspiração
para vários artistas (Figura 16).
Figura 16 – Santa Ceia. Leonardo da Vinci
Séc. XVI (1495-1497). Afresco. Abside da igreja de São Clemente. Espanha.
Fonte: Pastro (2010).
40
A Igreja nesse meio não ficou isenta das transformações que estavam
acontecendo e os “Papas do Renascimento”, assim chamados pelo fato de estarem
à frente da Igreja durante esse período, seguiram as mudanças que estavam
ocorrendo na Europa em diversos aspectos e favoreceram bastante as artes em
geral, foram gloriosos em seu mundanismo, mas o mesmo não pode ser dito do
ponto de vista moral-eclesiástico. Foram os seguintes Papas que governaram a
Igreja durante esse período: Nicolau V (1447-1455), Calixto III (1455- 1458), Pio II
(1458-1464), Paulo II (1464-1471), Sixto IV (1471-1484), Inocêncio VIII (1484-1492),
Alexandre VI (1492-1503), Pio III (1503), Julio II (1503-1513) e Leão X (1513-1521).
Esses Papas, principalmente os dois últimos, dedicaram-se muito às artes
contratando artistas renomados como Michelangelo, Rafael e Bernini (figura 17) para
produzirem arte nas igrejas, sobretudo na Basílica de São Pedro no Vaticano.
(BETTENCOURT, 1987).
Figura 17 – Basílica de São Pedro Baldaquino. Bernini.
Séc XVI. Escultura em bronze. Vaticano, Roma
Fonte: Pastro (2010).
Nesse período, a arte religiosa cresceu muito enquanto a arte sacra aos
poucos foi desaparecendo das igrejas do Ocidente. O sagrado foi aos poucos
perdendo o sentido e a arte se dissociando da liturgia. A partir de então começaram
41
a sobressair os gostos pessoais dos artistas ou de quem encomendava as obras. A
arte religiosa não difere em nada em relação à forma, da arte profana. O uso da
perspectiva exata, do claro-escuro, de técnicas que buscavam o realismo imitando o
volume e a sombras dos corpos e objetos é exatamente o contrário do que se vê nos
ícones, protótipo da arte sacra.
Do Renascimento em diante, a arte religiosa tomou vulto e continuou
presente na maioria dos movimentos que se seguiram, mas já não tinham a função
litúrgica. Não obstante a arte Barroca tenha sido uma arte especificamente
eclesiástica não pode, por isso, ser considerada sacra, por que continuou a ressaltar
o naturalismo, porém com muita fantasia para encantar o espectador. Na verdade
era uma estratégia da Igreja Católica para combater a Reforma Protestante que
havia divido a Igreja. (FARTINGH, 2011).
De certa forma, o Barroco foi uma continuação do Renascimento, uma vez
que ambos demonstram interesse pelos cânones clássicos, porém se expressam de
forma diferente; enquanto o Renascimento tinha formas mais moderadas e austeras,
no Barroco os mesmos temas tinham mais dinamismo, dramaticidade, contrastes,
exuberância e beleza que enchem os olhos de todos quantos as apreciam. Um
exemplo clássico dessa diferença são as esculturas de Michelangelo (Figura 18) e
de Bernini (Figura 19), ambas retratam o mesmo personagem bíblico o rei Davi,
porém sua forma e expressão são muito diferentes. Podemos notar que o barroco
não dá relevância ao nu, mas o naturalismo do corpo humano é evidente.
42
Figura 18 – Davi. Michelangelo. 1504. Escultura em Mármore.
Roma. Itália. Fonte:
<http://thefineartdiner.blogspot.com.br/2011/06/3 - davids-3-theologies-donatello.html>
Figura 19 – Davi. Bernini 1623. Escultura em Mármore
Roma. Itália. Fonte:<http://thefineartdiner.blogspot.com.br/2011/06/3- davids-3-theologies-donatello.html>
Foi no Concílio de Trento (1545 a 1563), convocado pelo Papa Paulo III, que
o Barroco tomou força na Igreja Católica. Nesse Concílio, foram emitidos numerosos
decretos disciplinares em oposição aos protestantes, entre eles a unificação da
Santa Missa, a confirmação de Cristo presente na Eucaristia e definiu explicitamente
que as imagens eram mediadoras para se elevar a Deus, e faziam parte da doutrina
Cristã. (AQUINO, 2006).
A arte da Igreja continuou seguindo esse viés clássico e, embora os
movimentos que se seguiram procurassem se desvencilhar desses cânones, a arte
religiosa permaneceu presente nas igrejas até os dias atuais, sobretudo no Brasil.
Contudo, no campo das artes em geral, desde meados do século XIX,
alguns artistas começaram a se desprender das regras das academias de artes
vigentes até então. O movimento impressionista foi apenas um de tantos outros
movimentos que buscavam uma nova forma de fazer e ver a arte. Com o advento
dos avanços científicos e tecnológicos, a arte também foi mudando seu modo de ser
feita e de ser vista. Surgiram vanguardas precedendo movimentos artísticos, que
fizeram muitas mudanças na história da arte. Esses movimentos procuravam se
43
libertar de padrões das academias e buscavam novas formas de expressão. São
exemplos, o expressionismo alemão, o fauvismo, o cubismo, dentre outros. Nesses
movimentos e em outros movimentos, vários artistas fizeram uso do tema cristão em
suas pinturas (Figuras 20 e 21), pintaram sobre esse tema em suas telas, porém
com interpretação própria, produzindo assim arte religiosa e não sacra.
Figura 20 – O Cristo amarelo.
Paul Gauguin. 1889. Óleo sobre tela. Fonte: <http://arteehistoriaepci.blogspot.com.br>
Figura 21 – A Crucifixão branca
Marc Chagall. 1938. Óleo sobre tela. Paris. Fonte: <http://www.wikipaintings.org/en/marc-chagall>
No Brasil, a influência eurocêntrica, que o invadiu desde sua colonização,
inclusive no campo das artes, tem consequências até os dias atuais. No mundo
hodierno secularizado, a arte sacra não é mais vista com os mesmo olhos, parece
não ter o mesmo valor. Como afirma Pastro (2010, p. 292),
Neste século, o Cristianismo católico parece desorientado, sobretudo nas grandes cidades. Muitas expressões vitais do Cristianismo não são exercitadas. Não há espaços para orientação ou os espaços estão desorganizados e, em muitos casos, estão sendo utilizados para outras finalidades.
É nesse contexto que surge na Igreja a necessidade de uma volta às fontes,
com a reforma Litúrgica que começou com o Concílio Vaticano II e que acontece
paulatinamente até os dias atuais. “Após o Concílio, jovens artistas estão
44
despontando com o frescor e o ardor dos primeiros seguidores da nova doutrina e
retomando o verdadeiro sentido da beleza cristã. Entre eles se destaca Cláudio
Pastro” (DR. ALCEU DE AMOROSO LIMA apud PASTRO, 2001, p. 302). Ele
redescobre os ícones e traz de volta às igrejas elementos ricamente simbólicos
como, por exemplo, o ícone do Cristo Pantocrator, que até então nunca tinha sido
representado em igrejas no Brasil, dando à Igreja uma grande contribuição na
reforma dos espaços sagrado nos dias atuais.
2.4 O Espaço Sagrado hoje. A posição da Igreja Católica em relação à Arte
Sacra
Nos dias atuais, a Igreja continua a manter a tradição da produção dos mais
diversos tipos de arte, com o tema do sagrado, na intenção de evangelizar e de levar
o homem a Deus. Disse o então Cardeal Joseph Ratzinger, atual Papa emérito
Bento XVI, na introdução do Compêndio do CIC (COMPÊNDIO, 2005, p. 15):
A partir da secular tradição conciliar, aprendemos que também a imagem é pregação evangélica. Os artistas de todos os tempos ofereceram à contemplação e à admiração dos fiéis os fatos salientes do mistério da salvação, apresentando-o no esplendor da cor e na perfeição da beleza. Isso é um indício de como hoje, mais que nunca, na civilização da imagem, a imagem sagrada pode exprimir muito mais que a própria palavra, uma vez que é muito eficaz o seu dinamismo de comunicação e de transmissão da mensagem evangélica.
Como afirmou São João Damasceno (apud AQUINO, 2002, p. 102), “[...] o
que a Bíblia é para os que sabem ler, a imagem o é para os iletrados.”
Como visto, o Concílio Vaticano II foi um grande divisor de águas na Igreja,
pois promoveu grandes mudanças, na intenção da volta às fontes, em vários
aspectos da Igreja no mundo. No tocante à Liturgia e ao Espaço Sagrado, ou seja,
no templo, o referido Concílio estabeleceu que houvesse uma maior participação
dos fiéis no “Mistério” celebrado pela Igreja em todo o mundo. Os pontos que mais
se destacam são: o uso da língua vernácula nas celebrações, o celebrante da Missa
volta a celebrar de frente para os fiéis, como era feito no princípio e as leituras do
Antigo e do Novo Testamento, exceto o Evangelho, podem ser feitas pelos fiéis.
45
O Concílio Vaticano II, na Constituição Sacrossantum Concílium, prevê a
reforma também na arquitetura:
Revejam-se quanto antes [...] os cânones e determinações eclesiásticas atinentes ao conjunto das coisas externas que se referem ao culto sagrado, especialmente quanto à digna e funcional construção das igrejas, à forma e edificação dos altares, à nobreza, disposição e segurança do tabernáculo eucarístico, à conveniente colocação das sagradas imagens, da decoração e ornamentação. O que parecer convir menos à reforma da Liturgia, seja emendado ou abolido; o que, porém, a favorecer, seja mantido ou introduzido. (CONCÍLIO..., 1984, n. 128, Sacrosactum Concíllium).
O que havia acontecido é que igrejas no decurso da história foram
recebendo elementos que não eram usados nas igrejas dos primeiros séculos. Um
exemplo foi o que aconteceu no período barroco, em que a Igreja autorizou a
construção de vários altares nas laterais da nave central para que os fiéis pudessem
praticar suas devoções particulares em uma mesma igreja. Podemos constatar isso
do Mosteiro de São Bento no Rio de Janeiro (Figura 22), esse Mosteiro construído
no período do barroco no Brasil. Essa igreja além do altar-mor, que fica no centro,
tem na nave principal oito altares laterais dedicados aos seguintes santos: Santa
Gertrudes, Nossa Senhora do Pilar, Nossa Senhora do Rosário, São Brás, Santo
Amaro, São Lourenço e São Caetano, além da Capela do Santíssimo Sacramento.
(BAZIN, 1956).
46
Figura 22 – Interior da Igreja do Mosteiro de São Bento.
Séc. XVI. Barroco. Rio de Janeiro, Brasil.
Fonte: <http://www.osb.org.br/mosteiro/index.php>
Após a reforma do último Concílio as igrejas voltaram a ter apenas um altar
que é o centro da celebração e a peça mais importante da igreja, pois representa o
próprio Cristo que é Altar, Sacerdote e Vítima, que com o ambão, lugar em que são
feitas as leituras e é proclamado o Evangelho, a sédia, cadeira do presidente da
celebração, cruz processional e a credência compõe o presbitério. Conforme
podemos observar na Capela da CNBB (Figura 23), projetada e realizada por
Cláudio Pastro, em Brasília DF (PASTRO, 2008).
47
Figura 23 – Capela da CNBB. C. Pastro
2010. Brasília, Brasil Fonte: Pastro (2010).
Como artista pós conciliar (Concílio Vaticano II), Cláudio Pastro (2007, p. 56)
dá algumas orientações sobre o espaço sagrado:
Não podemos esquecer que, primordialmente, o lugar de celebração não é um monumento artístico, nem um templo, nem um lugar onde se veneram imagens ou se guardam obras de arte como num museu, nem um espaço dedicado à oração pessoal e intima. O lugar de celebração também pode servir a essas finalidades, mas são aspectos secundários. A igreja cristã é, sobretudo, o lugar destinado à celebração do Mistério Pascal, seus sacramentos e demais ações sagradas dos batizados.
Em relação às pinturas e esculturas, a Igreja permanece em sua tradição
quanto ao uso das imagens sagradas e afirma que: “a iconografia cristã transcreve
pela imagem a mensagem evangélica que a Sagrada Escritura transmite pela
palavra. Imagem e palavra iluminam-se mutuamente” (CATECISMO... 1998 p. 326).
A igreja, porém, toma alguns cuidados em relação à feitura e ao uso das
imagens, sendo desejáveis imagens que eduquem a fé e despertem sentimentos de
piedade; não apresentem pormenores inúteis para não desviar a atenção. São
desaconselhadas: imagens que tratem o invisível com traços das realidades visíveis
48
como, por exemplo, anjos configurados a seres humanos com asas; imagens que
sejam capazes de impressionar e que, no entanto, não suscitem sentimentos
piedosos. São condenadas: imagens que transmitam falsa noção de realidade como,
por exemplo, o Menino Jesus pregado na Cruz ou imagens muito sentimentais.
Essas normas deverão ser observadas para que não haja motivos de instruções
incorretas ao povo de Deus. As imagens devem ser usadas como um meio e não
como fim, devem cumprir a função dos ícones: serem janelas para a contemplação
do invisível. (AQUINO, 2006).
Um dos documentos mais importantes da Igreja nos últimos tempos: Via
Pulchritudinis, o caminho da Beleza, elaborado pela Assembleia plenária dos Bispos
(2007, p. 43), no ano de 2006 no Vaticano, afirma:
o grande poder da arte sacra de comunicar torna capaz de ultrapassar as barreiras e os filtros dos preconceitos para unir o coração dos homens e mulheres de outras culturas e religiões e, ao seu modo, acolher a universalidade da mensagem de Cristo e seu Evangelho. Por tanto quando a obra de arte, inspirada pela fé, é oferecida ao público no quadro da sua função religiosa, essa arte se revela como uma via, um caminho de evangelização e diálogo, que dá a possibilidade de saborear o patrimônio vivo do cristianismo e, ao mesmo tempo, a própria fé cristã.
O documento também propõe que haja, e se criem em toda a Igreja,
condições para uma renovação da criação artística em todas as comunidades
cristãs, criando vínculos pessoais com os artistas ajudando-os a entender o que é
permitido a uma obra para que seja realmente sacra. Desde então a Igreja já
promoveu iniciativas bem sucedidas como o diálogo com artistas, arquitetos,
restauradores, músicos; organização de eventos culturais e artísticos com
concursos, concertos, como uma forma de valorizar o patrimônio cultural da Igreja; a
sensibilização dos agentes pastorais, catequistas, como também dos seminaristas e
do clero por meio de cursos e seminários dentre outras que tem conscientizando
mais os fiéis e o clero sobre a importância da arte sacra em toda a Igreja
(ASSEMBLEIA..., 2007).
Nessa conjuntura tem tido destaque as obras do artista sacro Cláudio
Pastro, que com quase quarenta anos de trabalho dedicados exclusivamente à arte
sacra tem feito uma importante colaboração para a Igreja no Brasil e no mundo.
49
3 A ARTE SACRA DE CLÁUDIO PASTRO
Cláudio Pastro herdou da sua família de origem europeia a tradição de uma
fé Católica. Desde pequeno teve muita influência da religião Católica através das
Irmãs da Assunção, que tinham um convento perto da casa de seus pais, e dos
padres holandeses que atuavam na paróquia a que pertencia. (PASTRO, 2001).
Segundo sua autobiografia, (PASTRO, 2001) toda a sua vida religiosa foi
formada na vivência entre religiosos e padres, o que direcionou sua vida e vocação,
Pastro vê o seu trabalho de artista sacro como uma vocação que ele responde com
alegria e gratidão a Deus autor de todos os dons. O diferencial do artista Cláudio
Pastro é o fato de ele dedicar seu trabalho exclusivamente à arte sacra e à Igreja.
A fonte de inspiração de Pastro é a Santa Missa, centro e ápice do
cristianismo e é em torno desse Mistério que deve girar a arte sacra cristã. Pastro é
um artista que viveu o período antes e pós Vaticano II e em sua caminhada
trabalhou e conviveu com muitos artistas que influenciaram e trocaram experiências
no decurso de seu processo artístico que ainda está em andamento, pois Pastro
atualmente tem uma produção intensa. Ele menciona alguns exemplos importantes
em sua vida como: Meinrad Burch Korrodi, Egino Weinert, Elizabth Stapp, Emil
Steffan, Sieger Köder, Ivo Schaible, Ernest Barlach, Rudolf Schwarz, Albert Schilling
e Ewald Mataré, na Alemanha. Pastro cita ainda Nicola Sebastio e Giacomo Manzú,
na Ítalia.
Pastro se diz admirador dos artistas impressionistas e expressionistas, bem
como de artistas de outros movimentos do final do século XIX e inicio do XX, que
também influenciaram em suas obras como Henri Matisse, Marc Chagall, Georges
Braque, Fernand Léger, Le Corbusier, Alfred Manessier e literatos como Péguy,
Jacques e Raïssa Maritain e Léon Bloy. No Brasil, cita como grandes referências
dois ítalo-paulistas: Galileo Emendabili e Fulvio Pernnacchi, além de admirar
Portinari e Brecheret. Para Pastro, todos esses artistas, e outros que não foram aqui
citados, assim como ele beberam da mesma fonte: a arte sacra do primeiro milênio,
a arte primitiva das Américas, a arte Africana etc. Esses artistas estão em busca da
luz, do essencial não de cópias ou imitações da realidade.
50
Figura 24 – São Domingos. Matisse. 1950. Painel em azulejo.
Capela do Rosário de Vence. França. Fonte: Pastro (2010).
Figura 25 – Acolhida. C. Pastro 1993. Painel em azulejo.
Colégio Nossa Senhora do Rosário. SP Fonte: Pastro (2001).
Em algumas obras de Pastro, notamos grande influência de alguns artistas
citados por ele, como por exemplo, a acolhida (Figura 25) apresenta semelhança
com uma das últimas obras de Henri Matisse realisada na Capela do Rosário em
Vence, França, (Figura 24). As linhas limpas e fluidas, a preferência pela abstração
e uso de linhas essenciais, a simplificação e exclusão de detalhes é também
característica de muitas de suas obras. Como ele mesmo afirma: “A simplicidade e a
sobriedade nos revelam o Mistério Pascal, centro de nossa fé, pessoa e Igreja.”
(PASTRO, 2013, p. 324). Há ainda outras obras de Pastro que seguem o mesmo
estilo, como a sequência de 42 “Parábolas dos Evangelhos”, usando a técnica de
incisão sobre aço, obra essa que foi exposta na Galeria Korn Haus de Weingarten,
na Alemanha.
Pastro considera como base de sua vida, no campo espiritual, a vida
monástica dos diversos mosteiros que esteve em contato, primeiramente o Mosteiro
beneditino, do qual é irmão oblato, recebendo o onomástico de Irmão Matinho
Pastro. Também os trapistas, os cartuxos, bem como os monges da Escola de
Marilach e de Beuron. Pastro faz referência também a pessoas que influenciaram
mais diretamente sua vida, trabalho e vocação como os Padres Dominicanos
51
Couturrier e Régamey, o mexicano Dom Gabriel Chavez de La Mora e o beneditino
alemão Odo Casel (PASTRO, 2001).
Pastro, além de ser artista sacro, é constante pesquisador, faz parte da
Sociedade Internacional de Artistas Cristãos (SIAC), com sede em Fribourg, Suiça. É
membro da Associação dos Liturgístas do Brasil (ASLI) e da Conferencia Episcopal
Latino-Americana (CELAM) com sede me Bogotá, na Colômbia (PASTRO, 2001).
Realizou alguns cursos na sua formação artística como apresenta em seu
currículo (PASTRO, 2001, p. 305):
1973 – Curso de Cerâmica na Abbaye Notre-Dame de Tournay, Hautes-Pyrénnées – França. 1973 – Curso de Arte Românica no Museu de Arte de Catalunha, em Barcelona – Espanha. 1978 – Curso de técnicas pictóricas, História da Arte, teoria da forma e percepção, tecnologia e uso das arenárias e materiais sintéticos, tecnologia de incisão, estética sociológica da arte e teoria e método dos meios de comunicação, na Accademia di Belle Arti Lorenzo da Viterbo – Itália. 1981 – Curso de analise estética de obras de arte no Liceu de artes e ofícios em São Paulo – Brasil.
Pastro é um artista que se tornou referência no Brasil e também fora dele.
“Foi o artista escolhido pela Santa Sé para conceber a imagem do Cristo
Evangelizador do Terceiro Milênio, para as celebrações do Jubileu do ano 2000,
obra que se encontra exposta no Vaticano” (PASTRO, 2013, p. 109). No ano de
2008, ganhou o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Católica do Paraná.
Atualmente, Pastro é o responsável pela finalização do projeto artístico do
Santuário Nacional de Aparecida em São Paulo que é a segunda maior basílica do
mundo, sendo menor apenas que a Basílica de São Pedro no Vaticano. Também foi
responsável pelos objetos litúrgicos, vasos sagrados e paramentos que o Papa
Francisco usou na sua visita apostólica ao Brasil por ocasião da Jornada Mundial da
Juventude que aconteceu entre os dias 23 e 28 de julho de 2013, no Rio de Janeiro.
Pastro tem feito um trabalho itinerante, sobretudo nas igrejas do Brasil que,
em sua maioria, trazem a influência do barroco, movimento artístico em voga, no
contexto em que foram construídas.
Pastro (2002, p. 52) reflete desta forma sobre o seu trabalho:
Meus traços, minhas cores puras e chapadas são uma continuidade do Texto Sagrado. Minha linguagem é simbólica e não realista – quero ir além do real e da cópia. Evitar o renascimento, evitar o subjetivo. A transfiguração –a luz- a arte é uma oração, uma atenção
52
para o Mistério. Os artistas do ultimo século (Van Gogh, Gauguin, Césane, Matisse, Picasso e tantos outros) estão procurando a luz. É o essencial que interessa e não o acessório – o despojamento, o simples. Uma arte cristã deve ser também didática, leitura, como o foi no primeiro milênio.
Como Pastro mesmo diz e podemos notar, seu estilo é simbólico e simples,
segue as características da iconografia cristã primitiva que é como um complemento
da Sagrada Escritura. Como afirma Bragantini (2008, p. 20) “a iconografia é a Bíblia
dos pobres”; depois de lê-la, podemos contemplá-la em suas imagens.
Burckhardt (2004, p. 111) descreve algumas características da arte primitiva
cristã que são encontradas nas obras de Pastro.
Uma arte em que predomina a consciência espiritual tende a simplificar os traços das imagens sagradas, reduzindo-os a suas características essenciais, o que não implica, como às vezes se supõe, uma rigidez da expressão artística. A visão interior, orientada para e pelo arquétipo celestial, comunicará sempre suas qualidades sutis à obra de arte, como a serenidade e a plenitude.
Pastro atualmente continua seu trabalho de reforma das igrejas intervindo
não somente com a feitura dos ícones para presbitérios de capelas, igrejas,
mosteiros, catedrais, que constituem a maior parte de suas realizações, mas é
artista polivalente projetando em geral todo o espaço litúrgico, arquitetura,
presbitério, altar, ambão, piso, teto, vitrais, painéis em azulejos, mosaicos,
esculturas, etc. Além disso, projeta objetos e paramentos litúrgicos para o culto
Divino como, casulas (Figura 28), cálices, âmbulas, ostensórios, sacrários, cruzes
processionais (Figura 26), Evangeliários (Figura 27) etc. Atualmente, seu trabalho
com os objetos litúrgicos são feitos com a empresa Luiz Carrara que fica em São
Paulo. Pastro faz o design das peças e acompanha a produção na referida empresa.
Além disso, produz ilustrações para livros, agendas, Bíblias (Figura 29) e cartões.
Também ministra cursos de estética e arte sacra em seminários museus, conventos
e faculdades.
Podemos dizer que Cláudio Pastro é um marco e uma referência para a Arte Sacra atual do Brasil e do mundo. Ele tem reavivado a linguagem cristã numa época em que a secularização e os modernismos psicológicos e sociais quase esvaziaram o conteúdo e
53
a forma do ser, do ethos cristão. (DOM JOAQUIM DE ARRUDA ZAMITH. OSB, apud PASTRO, 2001, p. 7).
Recentemente foi convidado pelo Papa Francisco para conceber e executar o
projeto do Monumento a Nossa Senhora Aparecida para os Jardins do Vaticano,
projeto que já está em andamento.
Figura 26 – Cruz processional em bronze Para comemorações do Jubileu do Brasil
C. Pastro. 2000. Fonte: Pastro (2001)
Figura 27 – Casulas com Cristo Evangelizador. Para comemorações do
Jubilares. C. Pastro. 2000. Fonte: Pastro (2001)
Figura 28 – Evangeliário. Incisão em metal dourado. C. Pastro. 1999.
Patrimônio do Mosteiro de Nossa Senhora da Paz. SP.
Fonte: Pastro (2001)
Figura 29 – Nova Bíblia Pastoral. C. Pastro Ilustração. 2014
Fonte: http://www.paulus.com.br/nova-biblia/
3.1 O ícone de Jesus Cristo nas obras de Cláudio Pastro
Cláudio Pastro desenvolve seu trabalho desde 1974, mas foi em 1975 que
fez a sua primeira exposição individual de pintura no salão da Pontifícia
Universidade Católica (PUC) de São Paulo. Nesse ano também publicou postais e
54
pôsteres pela Cooperativa Culturale IV Mondo, em Bolonha- Itália e desde então
Pastro vem realizando seu trabalho incansavelmente até os dias atuais.
Retratar em imagens a vida de Cristo é a missão de Pastro, pois é em torno
desse Mistério que gira a arte sacra cristã, como afirma Casel (2009, p. 19): “Cristo é
o mistério em pessoa, manifestando em nossa carne humana a divindade que nós
não podemos ver”.
Nesse capítulo abordaremos as obras de Pastro, especificando os ícones de
Jesus, uma vez que o ícone só admite a forma bidimensional trataremos se suas
pinturas discorrendo sobre os suportes, materiais e ferramentas que Pastro utiliza.
Num segundo momento versaremos sobre os tipos de ícones mais escritos5 por
Pastro.
Na arte sacra tudo tem significado, desde os materias até a produção da
obra em si, nada é feito ao acaso, como assegura Donadeo (1997, p. 33):
nem a técnica iconográfica, nem o material empregado pode ter, com relação ao culto, um caráter ocasional [...] Técnica e material, em obras de arte, geralmente estão intimamente ligados à concepção artística e não podem ser considerados como arbitrários e ocasionais.
Com relação à feitura dos ícones, Pastro diz não seguir estritamente ritos
para escrever os ícones, como é costume dos iconógrafos ortodoxos. Sendo assim
leva em consideração a sua condição de ser um artista sacro, latino do século XXI,
no entanto considera de vital importância a vida de oração, ofício divino, a lectio
divina e a participação plena dos Sagrados Mistérios que é a Celebração da Missa,
o que pratica diariamente, pois como afirma Bragantini (2008, p. 18) “[...] o
iconógrafo não pode deixar de ser um cristão crente, assim como o pregador não
pode deixar de ser um cristão”. Para Pastro o iconógrafo é aquele que prega não por
palavras, mas por imagens e cores.
Tecnicamente, com relação ao suporte, Pastro usa qualquer suporte firme,
pois os materiais rígidos são próprios da arte sacra, podendo ser madeira,
compensado, latão, etc. Na maioria de suas intervenções em igrejas o suporte é a
própria parede ou teto de concreto, Pastro não faz uso de telas, uma vez que essas
foram criadas no período do renascimento.
5 Em grego, assim como em russo e em outras línguas de países onde a produção dos ícones permaneceu sempre
viva, diz-se mais exatamente “escrever” um ícone (DONADEO, 1996, p. 47).
55
Os materiais usados por Pastro são sempre pigmentos minerais que ele
mesmo mistura com água, cola e fixador. Procura usar pigmentos naturais como
eram usados nos afrescos de Pompéia, no Egito e nas igrejas românicas, embora
nessa época os pigmentos fossem misturados com ovos, cola de coelho e/ou leite.
O motivo do uso desses materiais está na simbologia de que os pigmentos naturais
(terras naturais) não fogem do original, do criado por Deus. Pastro, nos anos iniciais
de seu trabalho, usou em algumas obras a técnica do afresco com pigmentos sobre
o reboco ainda fresco, mas depois passou a usar o pigmento adicionado à cola,
água e fixador como citado a cima.
As ferramentas utilizadas por Pastro são em geral trinchas ou pinceis com
cerdas duras de boi ou cavalo, já que faz uso de suportes duros, esses danificam
muito os pelos dos pinceis mais maleáveis.
Os projetos feitos por Pastro passam quase sempre por esboço em papel
que depois ele mesmo amplia para transferir para a parede ou suporte a isso
destinado. A maioria de seus trabalhos é feita por ele mesmo, a não ser em casos
de espaços muito grandes ou quando usa outros materiais como o azulejo ou aço.
Nesses casos Pastro procura profissionais que o auxiliem. No caso especifico da
Basílica Nacional de Aparecida tudo, é bem projetado previamente e técnicos em
azulejos, em porcelanas e em mosaicos realisam os painéis sob sua orientação e
coordenação.
Em seus estudos Pastro usa alguns cânones óbvios da arte sacra. Por
exemplo, as figuras em pé devem ter de nove a onze vezes o tamanho da cabeça.
Nos anos iniciais de seu trabalho até fins dos anos 80, Pastro se expressava
de uma forma mais pura inspirado nas primeiras representações da arte cristã,
também influenciado pela arte primitiva africana de Marrocos e pela arte indígena
brasileira (Figura 30). Nesse período, Pastro fez muito o uso de linhas de contorno
de cor escura que aparecem bem nítidas, delineando todos os corpos. Utilizou uma
gama de cores variada, dando ênfase às cores primárias que se apresentam
chapadas e fortes, não havendo degradês ou matizes. Na pele, usou o marrom mais
escuro, sem nuanças, pois como próprio da arte sacra não se busca a imitação da
realidade. A frontalidade é evidente reportando à arte egípcia que também tem o
caráter espiritual. O rosto aparece alongado e os olhos são grandes e expressivos,
em forma de amêndoas, que têm a intenção de elevar para o plano espiritual. As
sobrancelhas são arqueadas o nariz é alongado e fino ligando a boca aos olhos. Os
56
corpos apresentam certa deformidade e desproporcionalidade. Isso se dá não por
imperícia do artista, mas assim como a arte egípcia e bizantina o naturalismo é
rejeitado por uma questão de princípios, por se valorizar o objetivo e não o subjetivo.
Por exemplo, a mão do ícone central é grande em relação ao corpo e a
bidimensionalidade é bastante evidente.
Figura 30 – A Criação “Detalhe da obra A história da Salvação” Cláudio Pastro. 1982. Acrílico sobre reboco.
Igreja de São Bento do Morumbi, São Paulo SP. Fonte: Pastro (2002).
Nesse tempo pode-se notar que Pastro fez muito o uso de volutas ou
espirais que eram motivos ornamentais prediletos na arte primitiva. Seu simbolismo
provavelmente está ligado a vários elementos como as fases da lua e sua influência
sobre a água, o movimento da evolução e involução em todo o cosmo, com o
retorno e a renovação (BECKER, 1999). Na perspectiva cristã a espiral é o símbolo
da vida em movimento. Quando uma pedra é lançada com força na água, surge a
forma de uma espiral, é símbolo da vida (PASTRO, 2007).
No aspecto cor nota-se grande influência de Egino Weinert (Figura 31),
nessa pintura em guache de Pastro, também dos anos iniciais, (Figura 32). Egino
Weinert, foi artista sacro alemão e é citado por ele com um dos artistas que o
influenciaram, no uso das cores puras e intensas como o vermelho, o azul e o
amarelo. Assim como na arte primitiva, não querendo correspondência com a
57
realidade, valoriza o objetivo e não o subjetivo, também no uso de formatos grandes,
simples, com traços largos procurando estabelecer um equilíbrio e harmonia na
composição da obra.
Figura 31 – Madre della Chiesa. Egino G. Weinert. s.d.
Trítico em bronze e esmalte Fonte: https://www.flickr.com/photos/
renzodionigi/sets/72157608142091473/ detail/?page=3
Figura 32 – Jesus nasce numa gruta. C. Pastro . Guache.s.d. Casa Cultura e Fé. SP Fonte: Pastro (2002).
Já em outra obra de Pastro datada do ano de 1994 (Figura 33), notamos a
forte influência da arte bizantina. Nela não se percebem traços de qualquer outra
escola ou cultura. Os traços são bastante análogos aos do ícone bizantino (Figura
34). Com isto, Pastro volta às fontes da arte bizantina e românica em conformidade
com o espírito do Concílio Vaticano II (PASTRO, 2001).
58
Figura 33 – Mãe do Perpétuo Socorro. C. Pastro. 1994. Afresco.
Igreja de S. Pedro e S. Paulo. Curitiba.PR Fonte: Pastro (2001).
Figura 34 – Mãe de Deus da Paixão Autor desconhecido.s.d.
Santuário da Via Merulana. Roma. Fonte: Donadeo (1997).
Podemos notar claramente que Pastro fez esse ícone por esse modelo
bizantino, pois ele respeita todo o simbolismo ligado às cores e traços das vestes,
exceto a túnica que veste o Menino. Também são preservadas as posições das
mãos da Virgem e do Menino, a posição dos anjos nas laterais que trazem cruz e
lança, instrumentos da “Paixão” que Jesus viria a sofrer. Todos esses elementos são
característicos da iconografia da Virgem da Paixão que, no Ocidente é mais
conhecida como Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Esse ícone apresenta o
Menino Jesus nos braços de sua Mãe. Pastro adota o sistema medieval, que
segundo Panofsky (1991), limita-se a organizar a obra apenas no aspecto planar da
figura, sendo inteiramente esquemático.
Num segundo momento, em meados dos anos 90 até os dias atuais, nota-se
uma grande diferença na produção de Cláudio Pastro que passou a desenvolver
uma arte mais elaborada, mais estilizada e madura (Figuras 35 e 36), Agora o artista
apresenta um traço menos esquemático, assim como no cânone bizantino “apesar
de toda a sua tendência para a esquematização, baseava-se, ao menos até certo
59
ponto, na estrutura orgânica do corpo” (PANOFSKY, 1991, p. 122). Pastro agora traz
um traço mais específico, mais característico seu, sem deixar o caráter universal da
arte sacra. Um traço que já torna reconhecível uma obra sua, apresentando assim
um ícone inspirado nas origens da arte cristã com elementos originais. Seu traço
agora é mais despojado e limpo, tendo a tendência de buscar sempre o essencial e
a sobriedade com o objetivo de cumprir a missão evangélica das imagens sacras.
Em alguns casos os ícones são permeados por formas que remetem à cultura afro-
brasileira e elementos que fazem parte da fauna e da flora.
Figura 35 – Cristo Pantocrator. (detalhe) C. Pastro. 2000. Afresco.
Capela do lar de Santana. São Paulo SP. Fonte: Pastro (2001).
Figura 36 – Cristo Pantocrator. (detalhe) C. Pastro. 2000. Afresco.
Santuário da Santa Cruz. São Paulo SP. Fonte: Pastro (2013).
Nessa fase, Pastro ainda faz uso de linhas de contorno, porém não usa o
preto, mas cores análogas, em algumas obras aplica uma gama de cores mais
restrita e, em sua maioria, em tons pastel, todavia ainda são cores chapadas,
também influência do românico. Como próprio da arte sacra, continua a negação da
ilusão por meio da perspectiva e dos jogos de claro escuro, permanecendo o caráter
simbólico. Há certa planificação das formas e forte presença da frontalidade, pois
essa indica presença, no sentido de que não quer representar ou substituir alguém,
60
mas apenas indicar a presença. Como afirma o teólogo ortodoxo Jean-Yves Leiloup
(apud PASTRO, 2013, p. 397):
“o ícone é a imagem que não pretende representar o real, mas significá-lo e simbolizá-lo, preservando assim o caráter inacessível e invisível do representado. O ícone não é uma descrição, mas sim a evocação de uma Presença.”
Pastro tem feito também, em seu percurso artístico, ícones compostos, que
são assim chamados por não apresentar somente uma figura, mas um grupo.
Exemplo são os ícones dos Mistérios da vida de Jesus bem como os Ícones das
grandes festas, como, por exemplo, Ícones do Natal (Figura 37), da Epífania (Figura
38), do Batismo (Figura 39), da crucifixão (Figura 40). Com relação a esse ícone da
crucifixão não podemos deixar de fazer uma importante observação.
Figura 37 – A Natividade. (detalhe) C. Pastro. 1998. Afresco.
Colégio Marista. Maceió. AL. Fonte: Pastro (2001).
Figura 38 – Adoração dos Magos. (detalhe) C. Pastro. 2000. Afresco.
Igreja de Santa Marina. São Paulo SP. Fonte: Pastro (2001).
61
Figura 39 – Batismo do Senhor. C. Pastro. 2000. Afresco.
Igreja de Santa Marina. São Paulo SP. Fonte: Pastro (2001).
Figura 40 – Cristo Crucificado. C. Pastro. 1999. Afresco.
Santuário S. André. São Paulo SP. Fonte: Pastro (2001).
Notamos que o Cristo mesmo na Cruz irradia uma expressão de serenidade
e quase de vitória, nele não vemos o “realismo” de um homem que padece em uma
cruz, como se tornou comum após o Renascimento, mas mostra a nobreza do ato
voluntário de Cristo, mesmo na imobilidade e de olhos fechado o Cristo continua
sendo o Kyrios, o Senhor.
Na Basílica Nacional de Aparecida, nas quatro naves, Pastro escreve todo o
percurso da vida de Cristo, segundo as Escrituras Sagradas. Esses ícones foram
feitos em azulejos e estão localizados da seguinte maneira: na Nave Sul, encontram-
se dez painéis que narram a Infância de Jesus, desde a Anunciação do Anjo até a
sua perda e encontro no Tempo aos doze anos (Figura 41). Na Nave Norte, oito
painéis descrevem a vida púbica de Jesus, do Batismo por João Batista até a
Transfiguração (Figura 42). Na Nave Oeste, oito painéis relatam os últimos dias de
Jesus nesse mundo, da unção dos pés por Maria Madalena a Crucifixão (Figura 43).
Por fim, na Nave Leste, oito painéis ilustram os Mistérios gloriosos da vida de Cristo,
da Ressurreição de Jesus ao Pentecostes (Figura 44).
62
Figura 41 – Fuga para o Egito. C. Pastro. 2004. Painel em Azulejo. Basílica Nacional de Aparecida. SP.
Fonte: Arquivo da autora
Figura 42 – Batismo do Senhor. C. Pastro. 2006. Painel em Azulejo Basílica Nacional de Aparecida. SP.
Fonte: Arquivo da autora
Figura 43 – Última Ceia. C. Pastro. 2008. Painel em Azulejo. Basílica Nacional de Aparecida. SP.
Fonte: Arquivo da autora
Figura 44 – Túmulo Vazio. C. Pastro. 2012. Painel em Azulejo. Basílica Nacional de Aparecida. SP.
Fonte: Arquivo da autora
Quanto aos três tipos mais comuns de ícones de Jesus que tratamos no item
2.2 do segundo capitulo Pastro realizou apenas dois do tipo Emmanuel. O primeiro
se encontra no Colégio Marista do Rio de Janeiro, RJ (Figura 45) e o segundo, na
nave oeste da Basílica Nacional de Aparecida, SP (Figura 46). Nesses dois ícones,
o Menino Jesus é apresentado a meio busto dentro de um circulo e no centro de
outro ícone o da Virgem do Sinal, como foi especificado no item acima citado deste
trabalho.
63
Figura 45 – Cristo Emmanuel. C. Pastro. 1998. Afresco.
Capela do Colégio Marista. RJ. Fonte: Arquivo da autora.
Figura 46 – Cristo Emmanuel. C. Pastro. 2008. Painel em Azulejo Basílica Nacional de Aparecida. SP.
Fonte: Arquivo da autora
O tipo Aquerópita ou Mandylon, que retratata apenas a face de Cristo sem
pescoço, como visto no item 2.2 deste documento, Pastro nunca o fez, pois já os
considera na face dos ícones de “Cristo Pantocrator”. Pastro dá grande importância,
e é algo que sempre faz em seu trabalho, a retratar o Cristo a partir do mandylon e
não segundo o padrão europeu que apresenta Cristo loiro com olhos azuis ou
verdes, para lembrar que o cristianismo é uma religião oriental.
Sem dúvida, o ‘tipo’ mais escrito por Pastro é o Pantocrator que se encontra
em grande número de igrejas no Brasil e fora dele, é importante ressaltar que Pastro
foi o primeiro artista a fazer o Pantocrator nas igrejas do Brasil.
Na maioria dos Cristos Pantocrator de Pastro, nota-se grande semelhança
com a arte bizantina, como visto, mas também com ícones russos dos dias atuais,
ele conserva a fidelidade às fontes, mas renova criando um estilo diferenciado. As
figuras 47 e 48 são ícones escritos por Pastro e pelo iconógrafo russo Pímen
Sofronov, respectivamente, ambos no século XX, neles podemos observar
características típicas dos ícones bizantinos, porém em uma linguagem mais
atualizada.
64
Nos dois ícones, Jesus é visto com vestes luminosas, sentando em um trono
com os pés descalços. O Cristo Pantocrator está inscrito em um circulo azul que
simboliza a eternidade e o céu. Em volta do Cristo, são expostas quatro figuras que
são símbolos dos evangelistas. No ícone escrito por Pastro, essas figuras aparecem
dentro do círculo azul sendo apresentadas apenas com linhas, mas são facilmente
reconhecíveis. Foram feitos na ordem dos evangelhos na Sagrada Escritura, em
sentido anti-horário. Já no ícone por Sofronov, o tetramorfo6, como são também
conhecidos, aparecem fora do círculo azul e são apresentados na mesma ordem só
que em sentido horário. O monograma grego IC XC, que correspondem a Jesus
Cristo e são comuns na maioria dos Ícones de Cristo só aparecem no primeiro ícone.
Já as inscrições na auréola das letras gregas ò `w v, que significam “Aquele que é”,
referência feita ao nome de Deus revelado a Moisés no Antigo Testamento, só
aparecem no segundo ícone (DONADEO, 1997).
Figura 47 – Cristo Pantocrator. C. Pastro. 1998. Afresco.
Mosteiro Beneditino da Transfiguração Santa Rosa. RS
Fonte: Pastro (2001).
Figura 48 – Cristo Pantocrator. Pímen Sofronov.
Séc XX. Roma Fonte: Donadeo (1997).
6 Designação dos símbolos dos evangelistas. A imagem origina-se de uma visão, descrita no Apocalipse de João
e pelo profeta Ezequiel, de quatro seres alados que se assemelhavam a um homem, um leão, um touro e uma
águia. (BECKER, 1999, p. 278).
65
Há também uma diferença nos livros que Cristo traz em suas mãos, no
primeiro ícone Cristo trás o livro fechado com a seguinte inscrição em latim: “ecce
nova facio ominia” que se refere às palavras do livro do Apocalipse de São João que
diz “eis que eu faço novas todas as coisas” (BÍBLIA..., Ap 21, 5, 1987). No segundo
ícone, Cristo traz o livro aberto com a frase escrita em eslavo que traduzida diz: “não
julgar pelas aparências. Com a mesma medida que julgardes os demais, sereis
julgados vós mesmos” (DONADEO, 1997, p. 108). As duas formas são admitidas na
iconografia do Pantocrator, como afirma Donadeo (1997, p. 42): “[...] o livro das
Escrituras, mantido pela mão esquerda pode vir aberto ou fechado”. Isso faz alusão
à passagem do Apocalipse de São João que fala de um livro escrito por dentro e por
fora e que ninguém, no céu ou na terra, podia abrir a não ser o Cristo que venceu a
morte e recebeu poder para abri-lo (BÍBLIA..., Ap 5, 1-10, 1987).
O rosto remete ao Aqueropta, sendo oval e tendo olhos grandes, cabelos
repartidos no meio e nariz afilado. O enquadramento faz ressaltar o Cristo sentando
em seu trono que, assim como na arte bizantina e românica, quer dar relevância ao
poder e a majestade do Cristo Pantocrator Senhor do cosmos e vencedor da morte,
que virá no último dia como juiz, de acordo com a crença cristã. Cláudio Pastro pode
ser considerado um artista primitivo 7, pois seus traços seguem o estilo da arte sacra
dos primeiros séculos de nossa era.
Cláudio Pastro tem percorrido o Brasil como um importante agente
reformador dos espaços litúrgicos nas igrejas católicas. Seu trabalho tem tido grande
relevância na conscientização da volta às fontes promulgada no Concílio Vaticano II.
Trazendo de volta às igrejas o Cristo Pantocrator Pastro, com a Igreja pós conciliar,
evidencia que Ele é o centro da vida cristã, em torno do qual deve girar a vida da
Igreja.
Apresentaremos agora a cartografia das realizações de Cláudio Pastro no
Brasil, divididas pelas regiões e estados, em cada estado estão listadas as igrejas e
espaços sagrado com intervenção de Pastro com a data da realização. Ressaltamos
que a maioria dessas igrejas não foram apenas pintadas por ele, mas também
reformadas, ambientadas liturgicamente além de projetadas arquitetonicamente.
7 Primitivo é um pintor do período anterior ao Renascimento ou um pintor moderno, que imita o estilo deste.
(Shorter Oxford Dictionary, apud GOMBRICH, 2012 p. 321).
66
3.2 Cartografia das obras de Cláudio Pastro nas igrejas Católicas do Brasil
67
Regiões e estados com intervenção artística de Cláudio Pastro
Fonte: (PASTRO, 1986; 2001; 2013)
Pastro tem realizações nas cinco Regiões brasileiras sendo elas em quinze
Estados e no Distrito Federal, contabilizando um total de cento e oitenta e seis
intervenções em espaços Sagrados até os dias atuais.
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Região Sul
Realizações nos três estados da Região sul. Total de vinte e duas
intervenções.
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Igrejas no Paraná
1- Mosteiro do Encontro, em Curitiba PR.1982.
2- Igreja do Mosteiro Trapista Nossa Senhora do Novo Mundo, em Campo do
Tenente PR. 1983.
3- Capela da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, em Curitiba PR. 1985.
4- Capela do Seminário de Teologia dos Padres Palotinos, em Curitiba PR.
1985-1986.
5- Oratório da Casa de Retiros das Irmãs de Santo André, em Rondinha PR.
1987.
6- Capela da Casa de Retiros das Irmãs de Santo André, em Rondinha PR.
1987 – 1988.
7- Igreja Paroquial Santos Pedro e Paulo, em Curitiba PR. 1994.
8- Capela da Casa da Paz do Colégio de Sion em Curitiba PR. 1995
9- Capela do Colégio Sion, em Curitiba PR. 1996.
10- Capela da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba PR. 1998.
11- Mosteiro do Encontro, Monjas Beneditinas, em Mandirituba PR. 2005.
12- Seminário dos Padres Agostinianos Recoletos, em Maringá PR. 2005.
13- Igreja de Nossa Senhora de Fátima em Campo Largo PR. 2014 (Em
andamento).
Igrejas em Santa Catarina
1- Igreja das Irmãs da Divina Providência, em Florianópolis SC. 1983.
2- Santuário do Sagrado Coração de Jesus, Praia dos Ingleses, em Florianópolis
SC. 2008
3- Igreja Nossa Senhora de Lourdes e São Luís, em Florianópolis SC, 2009.
4- Matriz de Brusque, em Brusque SC 2010.
5- Capela da residência episcopal de Florianópolis, em Florianópolis SC. 2011.
Igrejas no Rio Grande do Sul
1- Igreja do Mosteiro Beneditino da Transfiguração, em Santa Rosa RS. 1998.
2- Igreja da Cartuxa Nossa Senhora Medianeira, em Ivorá RS. 2009.
70
3- Capela de Retiros das Irmãs de Notre Dame, em Passo Fundo – RS. 1984.
4- Igreja do Mosteiro da Mãe de Deus, em Santa Rosa RS. 1990.
71
Região Sudeste
Realizações nos quatro Estados da Região Sudeste. Total de cento e trinta e
nove intervenções.
72
Igrejas em Minas Gerais
1- Mosteiro Rainha da Paz das Monjas Dominicanas, em Poços de Caldas MG.
1984.
2- Igreja do Mosteiro da Santa Cruz das Monjas Beneditinas, em Juiz de Fora –
MG. 1985.
3- Capela do Seminário Provincial do Coração Eucarístico, em Belo Horizonte
MG. 1985.
4- Santuário da Serra da Piedade, em Caeté MG. 1986-1988.
5- Catedral de Uberlândia, em Uberlândia MG. 1994- 1995.
6- Capela do Colégio dos Jesuítas em Santa Rita Sapucaí MG. 1995.
7- Paróquia de São Vicente de Paulo, em Belo Horizonte MG. 2010-2011.
Igrejas no Espírito Santo
1- Catedral de São Mateus, em São Mateus ES. 1989.
2- Igreja e Mosteiro da Virgem de Guadalupe, em São Mateus ES. 1992 – 1994.
Igrejas no Rio De Janeiro
1- Igreja Abacial do Mosteiro da Virgem, em Petrópolis RJ. 1986.
2- Casa de Retiros Padre Anchieta, na Gávea Rio de Janeiro RJ. 1991.
3- Igreja da Casa Provincial das Irmãs de Santa Catarina, em Petrópolis
RJ.1995-1997.
4- Igreja da Santíssima Trindade no Convento Madre Regina em Petrópolis
RJ.1997.
5- Capela do Colégio Marista São José, no Rio de Janeiro RJ. 1998.
6- Paróquia de São Vicente de Paulo, no Rio de Janeiro RJ. 2010.
Igrejas em São Paulo SP
1- Igreja de São Bento Morumbi, dos Monges Beneditinos Húngaros, em São
Paulo SP – Brasil.1980-1982.
73
2- Igreja Abacial do Mosteiro Nossa Senhora da Paz, em Itapecerica da Serra
São Paulo SP. 1980-1984.
3- Capela do Hospital dos Camilianos, em Santana – São Paulo SP. 1982.
4- Capela da Faculdade de Nutrição e Enfermagem São Camilo, no Ipiranga
São Paulo SP. 1984.
5- Capela do Colégio Stella Maris das Irmãs Franciscanas de Bonlanden, em
São Paulo SP. 1984.
6- Capela do Noviciado dos Camilianos, em Cotia São Paulo SP. 1984.
7- Igreja do Instituto Santa Escolástica das Irmãs Missionárias Beneditinas de
Tutzing, em Sorocaba SP. 1985.
8- Igreja do Mosteiro da Visitação em São Paulo SP. 1985.
9- Capela de Santo Andreas Kim das Irmãs Beneditinas Coreanas, no Ipiranga
São Paulo SP, 1985.
10- Capela do Seminário de Teologia dos Camilianos, no Ipiranga São Paulo SP.
1985.
11- Casa Provincial dos Maristas, no Cambuci São Paulo SP. 1986.
12- Catedral de Sant’Ana em Itapeva SP. 1986 – 1988.
13- Capela da Casa Provincial das Irmãs Franciscanas de Bonlanden, em
Itapecerica da Serra, SP. 1987.
14- Paróquia de São Pedro Apostolo, em Vila Galvão, Guarulhos SP. 1987.
15- Igreja da Paróquia São José Operário, em Guarulhos SP. 1987 – 1988.
16- Casa Provincial das Irmãs Franciscanas de Bonlanden, em Itapecerica da
Serra, SP. 1988.
17- Capela da Casa Provincial das Beneditinas de Tutzing, em Sorocaba SP
1989.
18- Igreja de Cristo Rei, em Tatuapé São Paulo SP. 1989.
19- Capela da Transfiguração, do Mosteiro Camalduense, em Mogi das Cruzes
SP. 1989.
20- Capela da Casa de Retiros Emaús, das Irmãs Franciscanas de Bonlanden,
em Itapecerica da Serra – SP. 1989.
21- Capela da Casa São Lucas, em Campo Limpo SP. 1989.
22- Catedral de São Miguel Paulista, São Paulo SP. 1990.
23- Auditório Rainha dos Apóstolos Casa de Retiros da Vila Kostka , em Itaici,
Indaiatuba SP. 1990.
74
24- Capela da Mãe de Deus da Casa de Retiros da Vila Kostka, em Itaíci,
Indaiatuba SP. 1990.
25- Capela da Santíssima Trindade Casa de Retiros da Vila Kostka, em Itaici,
Indaiatuba SP. 1990.
26- Monumento comemorativo dos 500 anos do nascimento de Santo Inácio, em
Itaici, Indaiatuba SP.
27- Capela da Casa Provincial dos Irmãos Maristas, em Cambuci São Paulo SP.
1992.
28- Capela da Casa de Retiros dos Irmãos Maristas, em Campinas SP. 1992.
29- Capela da Casa do Colégio Santo André, em São José do Rio Preto SP.
1992.
30- Capela do Colégio Stella Maris, em São Paulo SP. 1992.
31- Igreja do Colégio Santo André, em Jaboticabal SP. 1992 – 1993.
32- Capela do Colégio Nossa Senhora do Rosário das Irmãs Dominicanas de
Monteiul, em São Paulo SP. 1993.
33- Capela do Hospital Santa Casa de Misericórdia das Irmãs Beneditinas de
Tutzing, em Cunha SP. 1993.
34- Capela de São José do Mosteiro Beneditino, em São Paulo SP. 1993.
35- Capela da loja do Apostolado Litúrgico, em São Paulo SP 1993.
36- Capela da Cela São José. Mosteiro Beneditino, em Itapecerica da Serra SP.
1993.
37- Igreja Paroquial da Imaculada Conceição de Morungaba, em Morungaba SP.
1993- 1995.
38- Igreja Paroquial São José Operário, em Jundiaí SP. 1994.
39- Capela da Casa Provincial das Irmãs de Santo André, em Pompéia SP. 1994
40- Colégio Santo Américo, em Morumbi SP. 1994.
41- Capela da Inspetoria Salesiana, em São Paulo SP. 1994.
42- Capela da Casa Provincial das Irmãs de Santo André, em Santo André SP.
1994.
43- Capela da Casa Provincial das Irmãs Azuis em São Paulo SP. 1995.
44- Capela da Parmalat. Jundiaí SP. 1995.
45- Igreja Paroquial da Imaculada Conceição no Tatuapé em São Paulo SP. 1995
46- Capela da nova Casa Provincial das Irmãs Franciscanas de Bonlanden em
São Paulo SP. 1995
75
47- Capela da Casa de Formação das Irmãs Franciscanas de Bonlanden em
Itapecerica da Serra. SP. 1995
48- Capela da Loja do Apostolado Litúrgico das Irmãs Discípulas do Divino
Mestre. São Paulo. 1995
49- Igreja Matriz Nossa Senhora dos Prazeres em Itapecerica da Serra. SP. 1996-
1996.
50- Igreja Paroquial São Judas Tadeu em São José dos Campos SP. 1995-1996
51- Colégio Nossa Senhora do Rosário das Irmãs Dominicanas de Monteiul em
São Paulo SP. 1995-1996.
52- Igreja Paroquial São Judas Tadeu, em Guarulhos SP. 1995-1997.
53- Capela do Anchietanum, no Bairro de Sumaré em São Paulo SP. 1996.
54- Capela do Seminário Teológico dos Padres Somacos, em Campinas SP.
1996.
55- Igreja Paroquial Nossa Senhora Mãe de Deus, em Vila Albertina, Freguesia
do Ó, São Paulo SP 1996.
56- Igreja Paroquial São Judas Tadeu de Vila Miriam, em Pirituba, São Paulo SP.
1996-1997.
57- Paróquia São Pedro Apóstolo, em Vila Oratório, São Paulo SP. 1996.
58- Colégio João XXIII, na Vila Prudente, São Paulo SP.1996-1997.
59- Capela do Seminário Maior de Filosofia e Teologia da Diocese de Campo
Limpo, São Paulo SP. 1997.
60- Catedral da Sagrada Família de Campo Limpo, São Paulo SP. 1997.
61- Prédio da Editora Loyola em São Paulo. SP.1997
62- Igreja Nossa Senhora da Esperança, em Interlagos, São Paulo SP.1997.
63- Igreja São Judas Tadeu, em Guarulhos. SP. 1997
64- Provinciado das Ursulinas da União Romana, em Cotia SP. 1997
65- Casa de Retiros do Convento Maria Imaculada das Franciscanas de
Bonlanden, em Embu SP. 1997.
66- Colégio Nossa Senhora Menina, em Vila Oratório, São Paulo SP. 1997
67- Círculo dos trabalhadores cristãos de Vila Prudente, em São Paulo SP. 1997.
68- Igreja de Santo Emídio, em Vila prudente, São Paulo SP. 1998.
69- Igreja São João Batista em Campo Limpo, São Paulo SP. 1998.
70- Capela da fazenda Santa Fé Agroindustrial, em São Manuel, São Paulo SP.
1998
76
71- Capela Casa dos Sofredores de Rua da Arquidiocese de São Paulo SP. 1998.
72- Capela do novo Mosteiro Cristo Rei das Monjas Dominicanas, em São Roque
SP. 1998.
73- Igreja Matriz de Rio das Pedras, em Rio das Pedras SP. 1998.
74- Igreja Paroquial de Santa Marina em São Paulo SP. 1998-2000.
75- Igreja Paroquial São José do Mandaqui, em São Paulo SP. 1999.
76- Painel em azulejo para as comemorações do centenário da União Romana,
Irmãs Ursulinas, em Cotia SP. 1999.
77- Capela da Casa Provincial dos Irmãos Maristas, em São Paulo SP. 1999.
78- Capela da Casa de Formação das Irmãs Servas da Caridade, em Morungaba
SP. 1999.
79- Capela da Casa das Irmãs de Santo André, em São João da Boa Vista SP.
1999.
80- Oratório do Pensionato Santo André, em Pompéia, São Paulo SP. 1999.
81- Santuário da Vida, para a Rede Vida de Televisão, em São José do Rio Preto
SP. 1999-2000.
82- Capela do Bom Pastor, em São Paulo SP. 2000.
83- Capela da creche do Colégio Santo André, em São José do Rio Preto SP.
2000.
84- Paróquia São Judas Tadeu em Itaim Paulista, São Paulo SP. 2000.
85- Capela da Liga das Senhoras Católicas – Lar Sant’Ana, São Paulo SP. 2000.
86- Igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e São José, Cidade Nova, Jundiaí
SP. 2000.
87- Igreja Abacial do Mosteiro Nossa Senhora da Paz, Monjas Beneditinas, em
Itapecerica da Serra, SP. 2001/2002.
88- Capela das Irmãs de Santo André, em São Paulo. SP. 2003. Acrescentou o
apóstolo André.
89- Capela das Irmãs Scalabrinianas, em Jundiaí SP. 2004.
90- Igreja Santo Andreas Kim da Colônia Coreana Católica, em São Paulo SP.
2004.
91- Hospital de Santa Catarina, pinturas no hall de entrada, em São Paulo SP.
2004
92- Mosteiro Beneditino São Geraldo, em São Paulo SP. 2005.
77
93- Faculdades Integradas Teresa D’Ávila (Painel em azulejo Santa Teresa),
Salesianas, em Lorena SP. 2005.
94- Igreja Nossa Senhora de Lourdes, em Indianópolis, em São Paulo SP. 2005.
95- Capela do Seminário de Filosofia e Teologia São José, da Diocese de São
Miguel Paulista, em São Paulo SP. 2006.
96- Capela Papal no Seminário Bom Jesus, em Aparecida SP. 2006.
97- Capela do Colégio Santo André, 2ª reforma toda a Igreja, em São José do Rio
Preto SP. 2006.
98- Colégio Santa Inês, Salesianas, em São Paulo SP. 2008.
99- Igreja São Marcos, Padres da Consolata, em São Paulo SP. 2008.
100- Santuário Diocesano Santa Teresinha, em Taboão da Serra SP. 2008.
101- Catedral da Sé, novo presbitério, em São Paulo SP. 2008.
102- Santuário da Santa Cruz, Padre Combonianos, em São Paulo SP.
2009.
103- Igreja Rainha dos Apóstolos, Padres Palotinos, em São Paulo SP.2009.
104- Pateo do Collegio, lugar onde os jesuítas fundaram a cidade de São
Paulo, em São Paulo SP. 2009 (Reforma Litúrgica).
105- Capela Jesus Mestre, Central Paulinas, em São Paulo SP. 2009.
106- Paróquia Maria Mãe de Deus, em São José do Rio Preto SP. 2009 (em
andamento).
107- Catedral de São Francisco Xavier, em Registro SP. 2010.
108- Capela da Casa dos Padres Claretianos, em Batatais SP. 2010.
109- Mãe de Deus e Sala Capitular do Mosteiro Nossa Senhora da Paz, em
Itapecerica da Serra SP. 2010.
110- Mosteiro Cristo Rei, Monjas Dominicanas, em São Roque SP. 2011.
111- Capela da Santa Teresinha, Salesianas, em São Paulo SP.2011.
112- Pintura no hall Casa Santa Teresinha, Salesianas, em São Paulo SP.
2012.
113- Capela das Irmãs Franciscanas de Bonlanden no Brasil. Colégio Stella
Maris, em São Paulo SP. 2012.
114- Relicário de São Romualdo para Mosteiro Camaldolense da
Trasfiguração, em Mogi das Cruzes SP. 2012.
115- Abadia de Santa Maria, Pinturas na Igreja, Monjas Beneditinas, em São
Paulo SP. 2012.
78
116- Capela Interna das Irmãs Salesianas, Colégio Santa Inês, em São
Paulo SP. 2012.
117- Basílica Nacional de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, em
Aparecida SP. 2000- em andamento.
118- Capela do Convento Redentorista de Aparecida, em Aparecida SP.
2012.
119- Mosteiro da Encarnação, Monjas Beneditinas Camaldolenses, em Mogi
das Cruzes SP. 2013.
120- Reforma da Capela da Inspetoria Salesiana, em São Paulo SP. 2013
121- Monumento para Nossa Senhora de Fátima, Jardins da Basílica
Nacional de Nossa Senhora Aparecida SP. 2014.
122- Mosteiro da Transfiguração, Monjas Beneditinas Camaldolenses, em
Mogi das Cruzes SP. 2013 (em andamento).
123- Faculdade de Engenharia dos Jesuítas, em São Paulo SP. 2014.
Inaugurada em 08 de setembro.
124- Capela do Seminário de Teologia dos Agostinianos Recoletos, em São
Paulo SP. 2014. (em andamento)
79
Região Centro Oeste
Realizações em um Estado e Distrito Federal da Região Centro Oeste. Total
de oito intervenções.
80
Igrejas em Brasília
1- Capela da CNBB em Brasília DF – Brasil- 1980.
2- Capela do Colégio – Casa de Retiros Assunção de Brasília, em Brasília DF.
1985.
3- Capela da Hospedaria do Mosteiro Beneditino da Santa Cruz, em Brasília DF.
1986.
4- Capela da CNBB, em Brasília DF, 1998.
5- Capela do Colégio Marista de Taguatinga, em Brasília DF. 1999.
6- Capela da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil , em Brasília DF. 2004.
Igrejas em Goiás
1- Catedral do Espírito Santo de Jataí, em Jataí GO. 1987 – 1988.
2- Capela da Casa de retiros, Irmãs Dominicanas de Monteiul, em Goiânia GO.
2008.
81
Região Nordeste
Realizações em cinco Estados da Região Nordeste. Total de quinze
intervenções.
82
Igrejas na Bahia
1- Catedral de Nossa senhora do Perpétuo Socorro, em Barreiras BA. 1991.
2- Comunidade de Taizé, em Alagoinhas BA. 1992
3- Igreja do Apóstolo Tiago Maior, em Cajazeiras, Salvador BA. 1997.
4- Igreja do Sagrado Coração de Jesus, em Cajazeiras, Salvador BA. 1997.
5- Igreja Conversão de São Paulo, em Cajazeiras, Salvador BA. 1997.
6- Capela no Seminário Diocesano de Feira de Santana, Bahia BA. 1997.
Igreja em Alagoas
1- Capela do Colégio Marista de Maceió, em Maceió AL. 1998.
Igrejas em Pernambuco
1- Colégio Sagrado coração, Irmãs Missionárias Beneditinas de Tutzig, em
Caruaru PE. 2010
2- Igreja do Mosteiro São Bento, em Garanhuns PE. 1990.
3- Capela da Universidade Católica de Pernambuco, em Recife PE. 2012-2014.
(Em andamento).
Igrejas no Rio Grande do Norte
1- Igreja do Mosteiro Nossa Senhora de Guadalupe, em Caicó RN. 1987 – 1988.
2- Catedral de Nossa Senhora da Apresentação, em Natal RN. 1989.
3- Capela do Santíssimo da Catedral de Nossa Senhora da Apresentação, em
Natal RN. 1991.
Igrejas no Ceará
1- Igreja de São Francisco de Cratéus - Ceará CE. 1983.
2- Catedral de Fortaleza, em Fortaleza CE. 2005.
83
Região Norte
Realizações em dois estados da Região Norte. Total de duas intervenções.
84
Igreja no Pará
1- Paróquia da Conceição, em, Belém PA. 2008-2012.
Igreja no Amazonas
1- Capela do Seminário Diocesano de Manaus, em Manaus AM. 1986 – 1988.
85
4 ANÁLISE FORMAL DO CRISTO PANTOCRATOR DA IGREJA ABACIAL DO
MOSTEIRO DA VIRGEM, PETRÓPOLIS/RJ
O painel: Cristo Pantocrator foi realizado por Pastro na Abside da Igreja
Abacial do Mosteiro da Virgem em Petrópolis RJ no ano de 1986. O motivo da
escolha dessa obra se deu pelo fato de essa ser, a obra mais rica em símbolos
bíblicos dentre as nove igrejas visitadas por ocasião dessa pesquisa.
A igreja Abacial do Mosteiro da Virgem está localizada na Avenida Ipiranga,
555 em Petrópolis, Rio de Janeiro. Em visita ao local no dia 18 de janeiro de 2014
foram coletados dados e executados registros fotográficos do painel. As informações
sobre o Mosteiro e sobre a obra de Pastro que serão apresentadas estão contidas
nos dados recolhidos em conversa com as monjas beneditinas, em um folheto
explicativo adquirido no local e, sobretudo, em informações diretas com o próprio
artista por cartas e telefonemas. Vale ressaltar a importância da participação do
artista uma vez que podemos considerar um privilégio poder consultar diretamente a
fonte, tendo em vista manter-se ao máximo fiel às intenções e concepções do artista
em relação a sua obra, evitando assim equívocos interpretativos.
O Mosteiro da Virgem era uma fundação dedicada para cuidar da Igreja,
principalmente do clero. Foi fundado por Madre Francisca no inicio do século XX. Na
década de 60, por falta de membros, a comunidade foi acoplada à Abadia de Nossa
Senhora das Graças de Belo Horizonte, havendo uma refundação do Mosteiro. A
igreja Abacial do Mosteiro da Virgem foi projetada arquitetonicamente por Pastro,
que também realizou a feitura do altar, ambão, crucifixo, sacrário, escultura Mãe de
Deus, vitral e painéis. Nesse capítulo será analisado apenas o painel central da
Abside da igreja, uma vez que o intuito desse trabalho é analisar o ícone de Jesus
por Cláudio Pastro.
O painel tem 9m x 4m, os materiais utilizados foram “pigmentos terra”
alemães e inglesas adicionados a água, cola branca e fixador mate americano –
acrílico. As ferramentas utilizadas foram trinchas e pincéis de cerdas duras, como é
costume do artista.
Tendo por base os estudos de Panofsky (1991) em seu ensaio denominado:
“Iconografia e Iconologia: Uma introdução ao Estudo da Arte da Renascença”, será
apresentada a análise formal do Ícone de Jesus Cristo Pantocrator da igreja acima
citada.
86
Panofsky (1991, p. 50) apresenta nesse estudo três níveis de análise que ele
define da seguinte maneira: “I. Tema primário ou natural, subdividido em fatual e
expressional. É apreendido pela identificação das formas puras, ou seja: certas
configurações de linha e cor, ou determinados pedaços de bronze ou pedra de forma
peculiar [...]”. Esse é o primeiro nível e também o mais simples que visa apenas o
significado das formas básicas em si, esse nível é também denominado descrição
pré- iconográfica.
A análise nesse nível será feita na obra como um todo, observando os
traços, as cores, a composição, etc.
O segundo nível de análise determinado por Panofsky (1991) trata do tema
secundário, conforme explica: “é apreendido pela percepção de que uma figura
masculina com uma faca representa São Bartolomeu, [...] Assim fazendo, ligamos os
motivos artísticos e as combinações de motivos artísticos com assuntos e
conceitos”. Dessa forma Panofsky apresenta nesse nível a identificação especifica
das imagens em seu sentido extrínseco, trata-se do tema em si a partir de seus
atributos que dão seus significados, esse nível se localiza no campo dos temas
secundários, é também chamado de descrição iconográfica que segundo o autor “é
o ramo da história da arte em contraposição à sua forma” (PANOFSKY, 1991, p. 47).
O terceiro e último nível de analise trata do significado intrínseco que: “é
apreendido pela determinação daqueles princípios subjacentes que revelam a
atitude básica de uma nação, de um período, classe social, [...] qualificados por uma
personalidade e condensados numa obra” (PANOFSKY, 1991, p. 52). Nesse nível é
feita a analise da imagem não somente em si mesma, mas no contexto e forma em
que foi feita. Essa interpretação exige mais do que os conhecimentos dos conceitos
que usamos na análise iconográfica, ou seja, busca uma análise para compreensão
da obra sob as distintas condições em que foi feita.
Esses dois últimos níveis serão analisados de forma acoplada uma vez que
a iconografia está intimamente ligada à iconologia, como afirma Panofsky (1991, p.
54) “assim concebo a iconologia como uma iconografia que se torna interpretativa”,
ou seja, uma depende da outra para melhor leitura e compreensão da análise.
Em seu estudo Panofsky (1991) trata sobretudo da arte da renascença,
como os cânones da renascença bem como o estilo são opostos ao cânone da arte
sacra, executamos a análise usando apenas os três níveis designados por Panofsky,
sem, no entanto, fazer comparações ao estudo feito por ele.
87
O Cristo Pantocrator (Figura 49) não é a única figura nesse painel, mas faz
parte de um ícone composto. Essa composição é conhecida como Déesis, quando
Cristo se encontra no centro de um grupo de intercessores. Encontramos em
Donadeo (1996, p. 85) a seguinte descrição:
[...] muito notório e difundido é o ícone da Déesis, palavra grega traduzível por: intercessão. Aí o Cristo se encontra no centro, às vezes inteiro ou a meio busto, e à sua direita (esquerda de quem olha) encontra-se sua Mãe em posição de súplica, e do outro lado São João Batista, um pouco inclinado, também em oração e voltado para o Cristo. Muitas vezes o ciclo da Déesis se prolonga com a representação, nas laterais, dos arcanjos Miguel e Gabriel, de São Pedro e São Paulo ainda outros santos, eventualmente os patronos da igreja.
Pastro não apresenta um ícone da Déesis na forma tradicional russa, como
podemos observar ele não segue estritamente toda a composição iconográfica
descrita acima por Donadeo. Por exemplo, a presença da Virgem Maria não segue a
posição comum nas Déesis ortodoxas, no entanto as figuras de São Miguel arcanjo,
de São Pedro e de São Paulo aparecem na obra de Pastro. É uma Déesis um tanto
distante dos cânones rígidos da Ortodoxia, uma Déesis feita por Pastro, no século
XX e no Brasil, com a liberdade de artista sacro Latino Americano, sem, contudo,
deixar de observar as formas e a iconografia que fazem a arte sacra.
88
Figura 49 – Cristo Pantocrator. Cláudio Pastro (1986). Afresco.
Igreja Abacial do Mosteiro da Virgem, Petrópolis RJ. Fonte: Arquivo da autora.
89
O esquema iconográfico feito por Pastro nessa obra apresenta uma figura
central em grande proporção, rodeada por oito figuras bíblicas proporcionalmente
menores e apenas desenhadas, há também sete elementos com simbologia cristã.
Esse esquema é semelhante ao esquema do antigo Egito em que as figuras de
maior importância eram retratadas em maior dimensão, dando-lhes valor hierárquico.
Compositivamente, o conjunto se articula em torno da figura central,
assemelhando a composição a um sistema solar em que os corpos celestes giram
em torno do sol que tem sobre eles o domínio gravitacional.
As cores presentes no painel são puras e chapadas, não se misturando
entre si. Não existe degradê, nem luz e sombra, como é próprio da arte sacra.
Apresentam-se chapadas e fortes, sobretudo no rosto e membros da figura central a
única figura preenchida por cores. As demais figuras são translucidas recebendo as
cores de fundo do painel que se intensificam com mais luminosidade no centro do
painel onde há predominância do laranja e do amarelo, além dessas são destacadas
as seguintes cores: o branco, o vermelho, o azul, azul índigo, o violeta, o verde e o
preto. São cores que dão harmonia, o próprio colorido contribui para uma
composição equilibrada.
A obra é isenta de texturas ou relevos, desprovida de volumes ou
perspectiva exata sendo inteiramente bidimensional. Pastro faz muito uso de linhas
de contorno escuras que delineiam todas as figuras da composição. Na obra há
predominância de formas curvilíneas, há também formas circulares, triangulares e
retangulares.
A figura central apresenta certa desproporcionalidade no corpo. Os braços
são curtos e finos em relação ao corpo que é grande e largo, essa desproporção
proposital distancia a figura do naturalismo, levando a obra para um plano espiritual,
característica própria da arte sacra, como afirma Burckhardt (2004, p. 17): “[...]
nenhuma categoria de arte pode ser definida como sagrada a menos que também
sua forma reflita a visão espiritual característica da religião da qual provém”. As
demais figuras feitas com linhas essenciais são apenas desenhadas e as que estão
mais próximas das laterais não apresentam o corpo completo, fundindo-se com a
parede, dando sentido de continuidade.
Passaremos agora às analises iconográfica e iconológica, para melhor
entendimento analisaremos cada figura do painel separadamente, porém sem deixar
de fazer a estrita relação que há entre elas.
90
Em cada parte analisada haverá a presença de uma figura menor que
servirá de localizador, esse indicará em que parte da composição iconográfica está a
figura analisada. A parte analisada aparecerá destacada em uma figura menor do
ícone completo e o detalhe será apresentado em tamanho maior para melhor
visualização e análise da obra.
No centro do painel vê-se uma grande figura, um homem sentado em uma
cadeira, sua mão direita com gesto de benção enquanto sua mão esquerda segura
Figura 50 – Cristo Pantocrator. (detalhe) Cláudio Pastro (1986). Afresco.
Igreja Abacial do Mosteiro da Virgem, Petrópolis RJ. Fonte: Arquivo da autora
91
um livro (Figura 50). Essas características iconográficas identifica o ícone do Cristo
Pantocrator.
O Cristo Pantocrator é a figura central da Déesis, pois a vida da Igreja é
cristocêntrica, ou seja, gira em torno do Cristo Ícone do Pai que se revela à
humanidade. O Cristo Pantocrator apresenta-se sentado em um trono que simboliza
sua majestade e soberania, usa vestes sacerdotais numa alusão a epistola aos
Hebreus que diz: “temos, portanto, um sumo sacerdote eminente, que atravessou os
céus: Jesus, o Filho de Deus” (BÍBLIA..., Hb 4, 14, 1987). A direção frontal indica
que Cristo está acessível ao espectador. A veste que usa é branca, cor da pureza,
da perfeição e da luz, associada ao absoluto, ao principio e ao fim. A cor branca é
usada como símbolo do espírito e da luz, por isso na arte cristã os santos e o próprio
Jesus são representados com vestes brancas, referência feita também à passagem
da Transfiguração em que o branco simboliza a divindade de Jesus. Como relata o
evangelista Marcos (BÍBLIA..., Mc 9, 2-3 , 1987), “Jesus tomou consigo a Pedro,
Tiago e João e [...] Ali foi transfigurado diante deles. Suas vestes tornaram-se
resplandecentes, extremamente brancas, de uma alvura tal como nenhum lavadeiro
na terra as poderia alvejar” (BECKER, 1999). Dessa veste sacerdotal pende uma
estola, paramento litúrgico usado pelo clero nas celebrações, que tem inscritas as
letras Alfa e Ômega que correspondem respectivamente à primeira e à última letra
do alfabeto grego, conforme encontramos no livro do Apocalipse de São João: “Eu
sou o alfa e o Ômega, diz o Senhor Deus, ‘Aquele que é, Aquele que era e Aquele
que vem’, o Todo-poderoso”. (BÍBLIA..., Ap 1, 8, 1987).
No centro do Cristo Pantocrator vê-se uma forma espiral que segundo seu
próprio significado nos transporta para o centro do Cristo, o umbigo que “nos mitos
de diversos povos, simboliza o centro do mundo, a partir do qual teria começado a
criação” (BECKER, 1999, p. 288). Para o cristianismo Cristo é o centro e autor da
Nova Criação.
Com a mão direita o Cristo Pantocrator abençoa, os dedos indicador e médio
erguidos aludem à dupla natureza de Cristo, humana e divina, essa mão está
rodeada por sete estrelas e o Cristo por sete lâmpadas. O número sete, no judaísmo
e consequentemente no cristianismo, simboliza a plenitude, pois no Oriente, o
sistema não é binário como no Ocidente, os números são na totalidade sete, por
isso na Bíblia se diz que o mundo foi criado em sete dias dessa forma o sete é
considerado o número da perfeição. Esse número tem grande valor simbólico, na
92
Bíblia o número e aparece como sinal positivo e negativo, porém dando sentido de
totalidade (PASTRO, 2004). As estrelas e as lâmpadas estão ligadas,
respectivamente, aos textos do Apocalipse de São João que narram: “na mão direita
ele tinha sete estrelas” (BÍBLIA..., Ap 1, 16, 1987) e “diante do trono ardiam sete
lâmpadas de fogo: são os sete Espíritos de Deus” (BÍBLIA..., Ap 4, 5, 1987). As sete
lâmpadas significam que Jesus é a luz plena e também tem forte ligação à menorah,
candelabro hebraico de sete braços que na iconografia cristã, corresponde ao
Espírito de Deus (PASTRO, 2010). A mão esquerda segura um livro com o seguinte
texto bíblico: “Eu renovo todas as coisas” (BÍBLIA..., Ap 21, 5, 1987). Esse pequeno
texto bíblico é o resumo e o significado de toda a obra, ele justifica a presença de
cada elemento que compõe a Déesis desde Adão e Eva a São Pedro e São Paulo
cujas analises serão feitas a seguir.
Os pés do Cristo, descalços, estão simetricamente representados, lado a
lado, símbolo da majestade e autoridade do Cristo. Como diz Manguel (2001, p.
100), “[...] toda vez que os pés são mostrados em posições iguais, lado a lado,
conferem ao personagem majestade e equilíbrio, sugerindo sabedoria e virtude”. O
Cristo também apresenta cinco pontos vermelhos, símbolo das cinco chagas de
Cristo, duas em suas mãos, duas nos pés e uma no peito, como se lê nas Escrituras
Sagradas, essas foram as parte do corpo de Cristo que ficaram marcadas após a
crucifixão, como relata São Lucas em seu evangelho “falavam ainda, quando ele
próprio se apresentou no meio deles e disse: ‘A paz esteja convosco’ [...] vede
minhas mãos e os meus pés, sou eu” (BÍBLIA..., Lc 24, 36-39, 1987), e descreve
São João: “chegando a Jesus, vendo-o já morto, não lhe quebraram as pernas, mas
um dos soldados traspassou-lhe o lado com a lança e imediatamente saiu sangue e
água” (BÍBLIA..., Jo 19, 33-34, 1987).
O Cristo tem em sua cabeça uma auréola cruciforme, ou seja, com desenho
de uma cruz, é esse o sinal que faz divergir a auréola do Cristo dos demais santos.
Essa auréola simboliza a luz e a perfeição, seu formato circular significa a divindade,
a santidade e a glória do Cristo. Dividido em dois lados, à esquerda e à direita da
cabeça do Cristo encontra-se a inscrição IC XC, abreviação grega de Jesus Cristo,
muito usada nos ícones da Idade Média, as barras sobre as letras é um titlo, antigo
símbolo cirílico usado par indicar que IC XC é um nome sagrado (DONADEO, 1996).
Além da auréola o Cristo está envolto por uma mandorla que segundo Becker (1999,
p. 207) é uma “auréola em forma de amêndoa, que também participa do significado
93
simbólico da amêndoa8. Desde o cristianismo antigo foi usada principalmente em
representações de Cristo glorificado e de Maria”. A Mandorla é amarela, cor cujo
significado simbólico é próximo do ouro, símbolo da luz celeste e do sol, assim como
o ouro representa a eternidade um dos atributos de Cristo. Essa cor cria uma
luminosidade que parece emanar de dentro da obra dando lhe ressonância espiritual
(PASTRO, 2010).
Nas duas laterais, três faixas em azul, azul índigo e violeta, as três últimas
cores do arco-íris, representam o próprio arco-íris, símbolo de ponte entre o céu e a
terra, sinal da Aliança feita por Deus com os Homens e que se renova a cada
Celebração do Sacrifício de Cristo, autor da Nova e Eterna Aliança.
Acima do Cristo Pantocrator, iconograficamente, há a representação de uma
mão humana. Iconologicamente essa mão representa a Mão do Pai que oferece o
seu Filho feito homem pela salvação do Mundo. Logo abaixo da Mão do Pai e acima
da aureola do Cristo Pantocrator vê-se uma grande árvore, a tamareira. Pastro,
nessa imagem da árvore faz menção à Árvore da Vida que, no principio se
encontrava no centro do Paraíso, como atesta o livro do Gênesis, “Yahweh Deus fez
crescer do solo toda espécie de árvores formosas de ver e boas de comer, e a
árvore da vida no meio do jardim” (BÍBLIA..., Gn 2, 9, 1987). Para os cristãos tem
uma estreita ligação com a Cruz do Senhor, como afirma a primeira antífona do
Oficio das leituras do Domingo da primeira semana do saltério: “a árvore da vida ó
Senhor, é a vossa Cruz” (LITURGIA..., 1999, p. 576). Segundo Pastro (2010) é
símbolo do oásis no deserto da vida, para a Igreja representa a soleira do Paraíso, o
lugar do repouso, a Jerusalém Celeste que desce do Céu (BÍBLIA..., Ap 21, 1987).
Abaixo do trono em que está sentado o Cristo Pantocrator saem quatro rios
de água. Na iconografia cristã a água simboliza também a força regeneradora, a
purificação física, psíquica e espiritual, também associada a fertilidade. No painel a
água está ligada a simbologia da passagem do Gênesis “um rio saia de Éden para
regar o jardim e de lá se dividia formando quatro braços” (BÍBLIA..., Gn 2, 10, 1987).
Essa imagem do rio se repete também no último livro da Bíblia: “mostrou-me, depois
um rio de água da vida, brilhante como cristal, que saia do trono de Deus e do
Cordeiro” (BÍBLIA..., Ap 22, 1, 1987). Ao lado do rio, nascem duas videiras, símbolo
8 Amêndoa, como fruta doce sob uma casca dura, é símbolo do essencial, do espiritual, que está oculto atrás das
aparências externas. É símbolo de Cristo porque a sua natureza humana oculta a sua natureza divina. (BECKER,
1999, p. 20)
94
do povo de Israel e dos cristãos. A videira também faz referência ao Cristo que se
compara a uma Videira cujos ramos são cristãos que só podem ter a vida se
estiverem ligados a Ele. (PASTRO, 2010).
Após analisar o Cristo Pantocrator que é a figura dominante do painel,
passaremos a analisar figuras bíblicas que compõem a Deésis. Elas estão dispostas
nas laterais e cada uma tem significado análogo com a figura que está do seu lado
oposto.
Eva A Mulher
Figura 51 – Cristo Pantocrator. (detalhe) Cláudio Pastro (1986). Afresco.
Igreja Abacial do Mosteiro da Virgem, Petrópolis RJ.
Fonte: Arquivo da autora
Figura 52 – Cristo Pantocrator. (detalhe) Cláudio Pastro (1986). Afresco.
Igreja Abacial do Mosteiro da Virgem, Petrópolis RJ.
Fonte: Arquivo da autora
No lado superior direito do Cristo Pantocrator, vemos duas figuras, um
homem e uma mulher, nuas e com a cabeça baixa (Figura 51). Na iconografia
bíblica eles representam Adão e Eva que, segundo relato do livro do Gênesis, são o
primeiro casal criado por Deus que, depois de terem desobedecido à ordem
expressa do Criador de não comerem o fruto da árvore do conhecimento, são
expulsos do Paraíso e enfraquecem o laço de união com Criador. Em contrapartida,
no lado oposto apresenta-se a figura de uma mulher envolta por raios de sol, com os
95
pés apoiados na figura de uma lua rodeada por doze estrelas (Figura 52). Conforme
o relato do Apocalipse, “um sinal grandioso apareceu no céu: uma Mulher vestida
com o sol, tendo a lua sob os pés e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas;
estava grávida e gritava as dores do parto, atormentada para dar a luz” (BÍBLIA...,
Ap 12,1-2, 1987).. Essa Mulher representa Maria a Mãe de Jesus, a “Nova Eva” que
traz em seu seio o Salvador, o “Novo Adão”, que veio para recuperar o que o
primitivo casal perdera no Paraíso. Como afirma São Paulo em sua epistola aos
Corintos, “[...] com efeito, visto que a morte veio por um homem, também por um
homem vem a ressurreição dos mortos. Pois assim como em Adão todos morrem
em Cristo todos receberão vida” (BÍBLIA..., I Cor 15, 21-22, 1987). Essa Mulher
também representa a Igreja, Corpo Místico de Cristo do qual Cristo é a Cabeça,
essa menção está baseada também no livro do Apocalipse quando relata:
“enfurecido por causa da Mulher, o Dragão foi então guerrear contra o resto dos
seus descendentes, os que observam os mandamentos de Deus e mantêm o
Testemunho de Jesus” (BÍBLIA..., Ap 12, 17, 1987). Simbolicamente os
descendentes da Mulher são os cristãos, membros da Igreja de Cristo.
São José São Miguel Arcanjo
Figura 53 – Cristo Pantocrator. (detalhe) Cláudio Pastro. (1986). Afresco.
Igreja Abacial do Mosteiro da Virgem, Petrópolis RJ.
Fonte: Arquivo da autora
Figura 54– Cristo Pantocrator. (detalhe) Cláudio Pastro. (1986). Afresco.
Igreja Abacial do Mosteiro da Virgem, Petrópolis RJ.
Fonte: Arquivo da autora
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Ao lado direito do Cristo aparece a figura de um homem com um lírio na mão
(Figura 53). Essa descrição iconográfica segundo a tradição bíblica remete a São
José, o justo que foi escolhido por Deus para ser o guarda da Sagrada Família de
Nazaré. Conforme relato bíblico, depois de um sonho em que o Anjo do Senhor lhe
explicara o desígnio de Deus, “José, ao despertar do sono, agiu conforme o Anjo do
Senhor lhe ordenara e recebeu em casa sua mulher” (BÍBLIA..., Mt 1, 24, 1987).
Desde então, São José se tonou o guarda e protetor de Jesus e de Maria, sobretudo
na fuga para o Egito, no intuito de salvar o Menino na fúria do Rei Herodes. O lírio
em sua mão para a “arte cristã é considerado símbolo da pureza, a inocência e a
virgindade.” (BECKER, 1999, p. 169).
Foi o Papa Pio IX que declarou São José o patrono da Igreja, no dia 08 de
dezembro de 1870, assim como foi o protetor de Jesus e de Maria é o protetor da
Igreja que é o Corpo de Cristo. (AQUINO, 2007).
No lado oposto, uma grande figura, menor apenas que o Cristo, alada e está
com uma lança na mão direita (Figura 54). Na iconografia esses atributos remetem a
São Miguel Arcanjo que é igualmente considerado patrono e defensor da Igreja de
Deus, com base no relato bíblico, “[...] houve então uma batalha no céu: Miguel e
seus Anjos guerrearam contra o Dragão. O Dragão batalhou juntamente com seus
Anjos, mas foi derrotado” (BÍBLIA..., Ap 12, 7, 1987). O Dragão a que o texto faz
referência é o mesmo que persegue os filhos da Mulher, ou seja, a Igreja, por isso
São Miguel é considerado protetor da Igreja.
São Miguel Arcanjo é mencionado tanto no Antigo como no Novo
Testamento. A igreja desde os primeiros séculos devotou a São Miguel um culto
especial, chegando rapidamente do Oriente ao Ocidente. São vários os cargos
atribuídos a São Miguel Arcanjo como, por exemplo, o de ser o responsável de
apresentar as almas dos fiéis a Deus para o julgamento ou ainda o de “pescador de
almas”, mas a principal é a de defensor da Igreja e protetor dos cristãos
(DEVOCIONÁRIO..., 2004).
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Esposos dos Cânticos Rei Davi
Figura 55 – Cristo Pantocrator. (detalhe) Cláudio Pastro. (1986). Afresco.
Igreja Abacial do Mosteiro da Virgem, Petrópolis RJ.
Fonte: Arquivo da autora
Figura 56 – Cristo Pantocrator. (detalhe) Cláudio Pastro. (1986). Afresco.
Igreja Abacial do Mosteiro da Virgem, Petrópolis RJ.
Fonte: Arquivo da autora
Um pouco abaixo de São José, do lado direito do Cristo, veem-se duas
figuras, um casal que caminha (Figura 55). Em torno desse casal, há alguns
elementos como cachos de uva, maçãs e romãs. Essa iconografia remete aos
Esposos do livro bíblico, do Antigo Testamento, Cânticos dos Cânticos que trata do
amor esponsal de um homem (o amado) e de uma mulher (a amada). Os elementos
que estão próximos ao casal são símbolos desse amor esponsal. A romã simboliza a
vida pela água contida em seus grãos, a uva é símbolo do Mistério, por produzir o
vinho que inebria o homem, a maçã simboliza do amor pela sutileza da sua
fragrância (PASTRO, 2010). Para a Igreja esse amor esponsal é interpretado como
o Mistério do dom nupcial por excelência que o Cristo escolheu para a Igreja. A
celebração cristã é um lugar esponsal onde se dá as núpcias do Amado com a
Amada. A Igreja como verdadeira esposa e unida misticamente ao Cristo recebe do
próprio Cristo a força de gerar e multiplicar o número de seus filhos (CASEL, 2009).
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No ícone analisado Pastro apresenta o Esposo, que é Cristo, que conduz a Esposa,
a Igreja, pela mão. Ele vai à frente e já se encontra na luz, pois já ressuscitou;
enquanto que a Esposa ainda está a caminho, apoiada em seus ombros segue seu
Esposo até a Casa do Pai.
Do lado oposto aos esposos dos Cânticos, a figura de um homem com uma
coroa na cabeça e uma lira nas mãos (Figura 56), essas características dizem
respeito ao Rei Davi, o maior Rei de Israel, autor e cantor de muitos salmos da
Bíblia. Segundo as Escrituras Sagradas o Rei Davi era músico como lemos no
primeiro livro de Samuel, “Davi tangia a lira como nos outros dias” (BÍBLIA..., I Sm
18, 10, 1987). Segundo relatos bíblicos Jesus nasceu de sua descendência e por
isso é por vezes chamado de “Filho de Davi” (BÍBLIA..., Mc 10, 46-49, 1987). Sua
presença na obra também faz alusão ao Ofício Divino, que é a oração da Igreja, que
contém os 150 salmos divididos em quatro semanas e que as monjas beneditinas,
assim como todos os religiosos da Igreja, rezam diariamente.
São Pedro São Paulo
Figura 57 – Cristo Pantocrator. (detalhe) Cláudio Pastro. (1986). Afresco.
Igreja Abacial do Mosteiro da Virgem, Petrópolis RJ.
Fonte: Arquivo da autora
Figura 58 – Cristo Pantocrator. (detalhe) Cláudio Pastro. (1986). Afresco.
Igreja Abacial do Mosteiro da Virgem, Petrópolis RJ.
Fonte: Arquivo da autora
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Na base do painel, à direita e à esquerda, apresentam-se duas figuras. A
primeira, do lado direito (Figura 57), tem em suas mãos uma chave e a segunda,
(figura 58) segura um livro nas mãos. Na iconografia cristã essas figuras
correspondem respectivamente a São Pedro e a São Paulo. São Pedro tem na mão
a chave, referência à passagem bíblica em que Jesus diz a Pedro: “eu te darei as
chaves do Reino dos Céus e o que ligares na terra será ligado nos céus” (BÍBLIA...,
Mt, 16, 19, 1987). São Paulo traz um livro, símbolo de suas treze cartas que
integram os 27 livros no Novo Testamento. Os dois são considerados, juntamente
com os outros apóstolos, as colunas da Igreja. São Pedro e São Paulo recebem
maior destaque por terem sido os líderes da pregação do Evangelho, São Pedro
para os judeus e São Paulo para os pagãos. Conforme o próprio São Paulo atesta:
“conhecendo a graça em mim concedida, Tiago, Cefas e João, os notáveis tidos
como colunas, estenderam-nos a mão, a mim e a Barnabé, em sinal de comunhão:
nós pregaríamos aos gentios e eles para a Circuncisão” (BÍBLIA..., Gl 2, 9, 1987). A
posição dos Apóstolos na base do painel tem o sentido de que a fé cristã que se
apoia na Igreja Apostólica.
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Ovelha O cervo
Figura 59 – Cristo Pantocrator. (detalhe) Cláudio Pastro. (1986). Afresco.
Igreja Abacial do Mosteiro da Virgem, Petrópolis RJ.
Fonte: Arquivo da autora
Figura 60 – Cristo Pantocrator. (detalhe) Cláudio Pastro. (1986) Afresco.
Igreja Abacial do Mosteiro da Virgem, Petrópolis RJ.
Fonte: Arquivo da autora
Na parte central inferior do painel vemos a presença de dois animais: a
direita uma ovelha (Figura 59) e a esquerda um cervo (Figura 60). Eles representam
os cristãos que bebem da água que jorra do Cordeiro. Nesse contexto a água que é
a própria graça de Deus, a água viva. A ovelha e a corsa aludem ao rebanho do
Pastor, imagem da Igreja que sacia sua sede na fonte do Mistério celebrado que é o
próprio Cristo, conforme o convite do próprio Senhor: “que o sedento venha, e quem
o deseja receba gratuitamente água da vida” (BÍBLIA..., Ap 22, 17, 1987).
Encontramos outra referência a esse símbolo no livro dos Salmos: “assim como a
corsa bramindo por águas correntes, assim minha alma está bramindo por ti, ó meu
Deus” (BÍBLIA..., Sl 42, 2, 1987).
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A Jerusalém Celeste
Figura 61 – Cristo Pantocrator. (detalhe) Cláudio Pastro. (1986). Afresco.
Igreja Abacial do Mosteiro da Virgem, Petrópolis RJ. Fonte: Arquivo da autora
Por fim, por trás do Cristo Pantocrator, aparece um casario (Figura 61),
símbolo da Jerusalém Celeste, referência às palavras de Cristo que afirmou: “na
casa de Pai há muitas moradas, se não fosse assim eu vos teria dito” (BÍBLIA..., Jo
14, 2, 1987). Conforme o Livro do Apocalipse, no capitulo 21, o lugar da celebração
cristã é o lugar onde se une a Igreja celeste com a Igreja terrestre, o culto cristão
não tem a penas a dimensão humana, mas humana e divina é a Jerusalém que
desce do céu, conforme a visão de João no Apocalipse: “[...] vi também descer do
céu, de junto de Deus, a Cidade santa, uma Jerusalém nova, pronta como uma
esposa que se enfeitou para seu marido” (BÍBLIA..., Ap 21, 2, 1987). Na perspectiva
eclesiológica “A Nova Jerusalém, a cidade santa, é a meta para onde peregrina toda
a humanidade” (PAPA FRANCISCO, 2013, p. 62).
102
Finalizada a análise desse painel chegamos à conclusão que toda a obra
tem o aspecto mistagógico9. Nada nesse painel, assim como em todas as obras de
Pastro, foi feito a bel prazer ou ao acaso, mas todos os elementos estão ligados a
um único centro que transparece o Mistério do culto cristão, é símbolo no sentido
etimológico da palavra. Como explicita Pastro (2010, p. 74) “SIM BOLO = união das
partes”, a obra torna-se um meio de união entre o homem e o sagrado. Os valores
simbólicos são plenamente conhecidos pelo artista e empregados com
fundamentação na fé cristã, Pastro em suas obras transparece tão somente o
conteúdo das Escrituras Sagradas.
Percebemos, portanto, a importância da análise iconológica que exige,
conforme explica Panofsky (1991), uma maior familiaridade com os conceitos e
temas. No caso da arte cristã, sacra ou religiosa há alguns historiadores que por
desconhecerem o sentido ou a passagem bíblica da qual deriva a imagem, cometem
equívocos que poderiam ser evitados com um maior aprofundamento no sentido
intrínseco da obra.
Daí a importância de um maior aprofundamento e conhecimento da arte
cristã bem como de outras grandes culturas e religiões que não podem passar
despercebidos ou serem pouco valorizados nos estudos acadêmicos.
4.1 A educação do olhar no ensino de artes visuais
O ensino de artes visuais é um grande desafio. A arte é um campo do
conhecimento humano que quebra parâmetros e preconceitos ligados ao ensino de
artes dentro das instituições escolares. Ao mesmo tempo, nota-se a necessidade de
um aprofundamento e de uma preparação para uma mudança de mentalidade
dentro da cultura escolar, ou seja, a escola toda necessita estar aberta aos
benefícios e desafios que o ensino da arte lhe proporcionará. É preciso “formar o
homem em sua totalidade, desenvolvendo harmoniosa e hierarquicamente todas as
suas faculdades: sensitivas, intelectuais e volitivas” (CAVALCANTI, 1996, p. 18).
A arte como ensino não se restringe aos muros da escola ou as salas de
aula, mas educa o homem em sua formação social, intelectual e afetiva. Para tal, a
formação de professores (arte educadores) necessita também ser uma formação
9 Mistagogia. [Do gr. mystagogia) s.f. iniciação nos mistérios duma religião (FERREIRA, 1986,
p.1142).
103
que trabalhe a totalidade do ser, que não fragmente, mas que procure harmonizar a
arte dentro e fora da pessoa.
A quebra de preconceitos, que na maioria das vezes partem da ignorância,
também se torna papel da arte. Para tal o arte educador necessita ter um
conhecimento amplo de formas de ensino diferenciados, ou seja, maneiras de
ensinar que saiam do “padrão” conteudista e levem os educandos a aguçar o olhar e
o senso crítico fazendo a arte, como explicita Meira (2006, p. 131), deixar de
[...] ser uma disciplina do currículo e se torne algo incorporado à vida do sujeito, que o faça buscar a presença da arte como uma necessidade e um prazer, como fruição ou produção, porque em ambas a arte promove a experiência criadora da sensibilização.
Pastro (2008, p. 47) apresenta a arte como elemento educativo que realiza
um ensino que se difere das experiências institucionais. Como ele mesmo descreve,
[...] a arte realiza em nós uma lenta, silenciosa, mas profunda educação, autodomínio e conhecimento, disciplina e respeito. Pouco a pouco, observador e arte se fundem. Dá-se uma catarse. A arte é vida em harmonia, enquanto a realidade nem sempre.
A arte educa o artista e quem a aprecia. Desenvolve uma educação que se
denomina “educação integral”, apresentando à pessoa a possibilidade de
desenvolver uma harmonia, que não é sinônimo de estagnação ou simplesmente
aceitação, mas, como escreve Paulo Freire (1996, p. 32), “[...] desenvolve a
curiosidade como inquietação indagadora, como inclinação ao desvelamento de
algo, como pergunta verbalizada ou não, como procura de esclarecimento, como
sinal de atenção que sugere alerta”.
Na perspectiva de Pastro (2008, p. 47) “[...] a beleza e a arte são
questionadoras”, ou seja, levam a reflexão diante do desafio da vida, diante da
grande questão do ser homem. Assim sendo, a educação do olhar faz-se sempre
necessária, para levar o educando a um “patamar” diferente do que outras
disciplinas curriculares podem proporcionar.
O contexto escolar será por assim dizer um grande aliado, pois a partir do
conhecimento que o arte educador tem de seus educandos é que poderá planejar
ações que despertem o interesse livre e consciente dos mesmos para um trabalho
realmente produtivo no que diz respeito à arte.
104
Para acontecer a “educação do olhar” é necessário valorizar o que os
educandos já trazem de experiência visual, pois:
Esta leitura, esta percepção, essa atribuição de significados, vai ser feita por um sujeito que tem uma determinada história de vida, em que a objetividade e a subjetividade organizam de modo singular sua forma de apreensão e apropriação do mundo. (PILLAR apud BARBOSA, 2003, p. 74)
Sendo assim, a arte deverá quebrar alguns conceitos de belo e tantas outras
coisas diretamente ligadas ao que a maioria dos educandos traz em sua bagagem
visual, além do sentido social, ideológico e político que vem por trás. Podemos dizer
que é a hora de “abrir os olhos para ver”. Na arte sacra, sobre a qual este trabalho
se debruçou, esse processo acontece naturalmente, porque a pessoa é conduzida a
educar a vontade e a inteligência permitindo que se desvele a beleza que está além
da obra, buscando um encontro com Deus e consigo mesmo. (PASTRO, 2008).
Ressaltamos a importância do conhecimento e do estudo dos mais diversos
tipos de arte nas escolas, não só os grandes movimentos artísticos europeus, mas
também o aspecto artístico e cultural das e culturas e religiões do mundo. Todas as
artes têm grande importância e contêm riquezas simbólicas indizíveis e não devem
ser consideradas inferiores ou indignas de se fazerem parte dos estudos e
pesquisas, simplesmente pelo seu estilo, época ou local em que foram feitas. “É
necessário pesquisá-las no seu movimento histórico, nos seus tipos e nas suas
estruturas essenciais [...] para compreender antes de tentar formular julgamento”
(RATZINGER, 2013, p. 14), pois podem contribuir de forma efetiva para a formação
do ser humano. As instituições escolares, chamadas “laicas”, não tem o direito de
por isso não abordar aspectos artísticos de culturas ou religiões específicos. Pelo
contrário, é necessário que isso faça parte de um programa curricular assim como
tantos outros assuntos que muitas vezes não estão nem tão ligados ao contexto e à
curiosidade indagadora dos alunos (RATZINGER, 2013).
Pastro (2008, p. 48) afirma que “a arte faz-nos seres criativos, senhores, não
escravos”. Essa afirmação vem de encontro com os anseios e pensamentos de
tantos educadores que sonham com a oportunidade de fazer da escola um lugar de
transformação. É errôneo pensar que a arte não tem o poder de mudança por não
ser tão valorizada e respeitada nas instituições de ensino. Se um arte educador
assume seu papel transformador no mundo a começar por seus alunos, a semente
105
estará lançada. É bonito nos enveredarmos por esse pensamento de Pastro (2008,
p. 48):
Pela arte contemplamos a unidade e a universalidade que ela tem em si, pois ela cria comunhão entre uns e outros e todos passam a falar a mesma língua. Como processo educativo, a arte cria personalidades equilibradas que geram a sua volta espaços belos, continuidade daquilo que é, reflexos da beleza contemplada, cativada e cativadora.
Transformar, segundo o Dicionário, significa “dar nova forma, feição ou
caráter a, [...] mudar, converter” (FERREIRA, 1986, p. 1701) e a prática docente
precisa proporcionar uma transformação que contribua para o desenvolvimento
integral dos alunos. Como afirma Cavalcanti (1996, p. 4).
Não estamos na idade em que o frio raciocínio e a fria beleza bastam. A sensibilidade também é uma grande faculdade, faz parte da nossa pessoa. É preciso educá-la, não destruí-la; aliás, não se deve destruir nada, mas construir. ‘A virtude cresce com atos
positivos’. Alimentar a sensibilidade com a Beleza que também é Verdade.
Tal postura prioriza a busca de um conhecimento que transcende a obra em
si, que eleva os sentidos, a inteligência e a vontade. Como Pastro (2008) afirma, “a
arte nos une ao invisível”. Assim, na perspectiva de uma educação que forma e
transforma, a arte possibilita ao educando a capacidade aprender a ler e a saborear
a arte e o mundo de forma livre e consciente.
106
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após empreender essa pesquisa sobre arte, contemplamos um panorama
sobre a arte cristã em seus aspectos mais relevantes. Em primeira instância o
conhecimento e aprofundamento sobre a arte no cristianismo se fizeram essenciais
para a produção dessa pesquisa, pois a experiência feita com seriedade e
embasamento histórico demonstra a importância do estudo específico dessa arte,
uma vez que esse assunto não é abordado em profundidade e consciência no meio
acadêmico e estudantil. Não é possível falar da arte no cristianismo e suas
realidades com propriedade, sem uma experiência concreta e aprofundamento sobre
sua história e contexto.
Para melhor compreensão dos ícones de Jesus Cristo nas obras de Cláudio
Pastro, foi necessária uma grande pesquisa na história das artes em geral e na
história da Igreja, uma vez que a arte cristã é indissociável da Igreja. Nesse percurso
foi de grande importância, o esclarecimento da diferença entre arte sacra e arte
religiosa, que é um aspecto peculiar da arte cristã e que muitos historiadores de arte
e até mesmo membros do clero da Igreja, não sabem diferenciar. Esse fator se
tornou um quesito indispensável para análise e entendimento das obras de Cláudio
Pastro, que se embasa totalmente na arte sacra em sua essência. Além desse
esclarecimento, foi apresentada a posição da Igreja com relação à arte sacra,
sobretudo após o Concílio Vaticano II, período em que se destaca o trabalho de
Cláudio Pastro como um artista que busca retomar a originalidade da arte sacra do
primeiro milênio do cristianismo. Após a renovação do Concílio Vaticano II, Pastro
tem feito trabalho bandeirante de restaurar a beleza e o valor e da iconografia cristã
do primeiro milênio nos dias atuais, sobretudo no Brasil, país em que o Barroco
predominou por muitos séculos na maioria das igrejas. Essa beleza não está
somente no aspecto estético ou aparente, mas na riqueza do significado intrínseco
de cada elemento que compõem a arte sacra, conforme alega, a arte sacra tem uma
intima relação com a espiritualidade da Igreja, não tem a intenção de ser naturalista
ou uma cópia da realidade, mas é um lugar onde se manifesta o Mistério. Suas
obras são de cunho mistagógico, como meio de instruir e educar a fé, além de ser
celebrativa, pois retrata o próprio Mistério do Culto cristão, assumindo assim notável
função pastoral. (PASTRO, 2010).
107
O cerne do trabalho, porém, demonstrou a presença dos ícones de Jesus
Cristo nas obras do referido artista, apresentando os tipos de ícone de Jesus Cristo
que Cláudio Pastro tem feito na maioria das igrejas. Percebemos que o tipo mais
realizado é o Pantocrator que somam grande número em suas obras, pois
juntamente com a Igreja tem a intenção de propagar o senhorio de Jesus.
Nessa pesquisa também foram apresentadas informações peculiares de
seus trabalhos, obtidas em contato direto com o próprio artista, como, por exemplo,
os materiais que emprega, a técnica adotada na maioria de suas obras, as
ferramentas utilizadas e o processo do projeto à execução de seus trabalhos. Vale
lembrar que foi tratado nesse trabalho apenas o que toca a feitura dos ícones, uma
vez que Pastro é artista polivalente e produz também dentre outros, painéis em
azulejos, mosaicos, vitrais, etc., como já visto nesse trabalho.
Um ponto alto da pesquisa foi a análise do ícone do Cristo Pantocrator da
Igreja Abacial do Mosteiro da Virgem, obra de Pastro localizada em Petrópolis RJ. A
análise foi feita baseada no estudo de Panofsky (1991) sobre iconografia e
iconologia da obra, através do qual conseguimos perceber a grande riqueza
simbólica contida em cada elemento que compõe essa obra. Analisar esse ícone de
Jesus nos três níveis indicados por Panofsky (1991) foi de grande valia, por permitir
desenvolver e aperfeiçoar competências de investigação não nos limitando somente
na iconografia, mas penetrando no significado mais profundo de cada elemento. A
análise também nos impeliu para um maior aprofundamento sobre a história da arte
em geral e especificamente sobre a história da arte na Igreja. Vale ressaltar que a
finalidade evangelizadora está sempre presente nessa arte e, por isso, a análise
formal teve tanta importância, pois sem a compreensão do significado intrínseco da
obra toda a riqueza da arte sacra de Pastro tenderia a ficar em segundo plano, não
sendo esse o sentido primeiro de suas obras. Dessa forma, notamos a relevância do
trabalho que Pastro tem feito nas igrejas, redescobrindo de maneira especial, os
ícones elementos ricamente simbólicos, dando à Igreja, especialmente no Brasil,
uma grande contribuição na reforma dos espaços sagrado nos dias atuais.
Nesse trabalho evidenciamos também a necessidade de ultrapassar os
limites dos estudos sobre a história da arte, sobretudo nas escolas, que em sua
maioria se centralizam nos grandes movimentos artísticos europeus, demostrando a
importância do aprofundamento da arte no cristianismo, sobre a qual esse trabalho
se centrou, dessa forma também abrindo caminhos para que sejam estudadas
108
também outras artes como, a arte indígena, africana, budista e outras de grandes
culturas e religiões que são muitas vezes olvidadas.
Essa pesquisa ainda foi bastante relevante e esclarecedora para nosso
aprofundamento no campo da arte sacra e certamente poderá ser base para
pesquisas futuras que abordem esse assunto.
Acreditamos ter conseguido alcançar os objetivos que tínhamos proposto,
apresentando aspectos de grande importância sobre a arte no cristianismo,
especificamente nas obras de Cláudio Pastro, que são muitas vezes ignorados.
Tendo completado a pesquisa, concluímos que tratar especificamente dos
ícones de Jesus Cristo nas obras de Claudio Pastro teve suma importância para
uma concepção histórico-artística consciente e conscientizadora, sendo notória a
contribuição desses estudos para uma boa formação, de futuros arte educadores.
Em suma, podemos afirmar ainda que o artista Cláudio Pastro reafirma
através de suas obras que a arte sacra não foi não é e nunca será simplesmente
uma obra meramente artística, mas uma expressão de fé onde o Mistério de Cristo
se torna o centro de toda inspiração.
109
REFERÊNCIAS
AQUINO, Felipe Rinaldo Queiróz de. Escola da fé. I. A Sagrada Tradição. 4. ed. Lorena SP: Cléofas, 2002. AQUINO, Felipe Rinaldo Queiróz de. A intercessão e o culto dos Santos, Imagens e Relíquias. Lorena SP: Cléofas, 2006. AQUINO, Felipe. São José é o patrono da Igreja. 2007. Disponível em: <http://blog.cancaonova.com/felipeaquino/2007/03/18/sao-jose-e-o-patrono-da-igreja/>. Acesso em: 25 out. 2014. ASSEMBLÉIA, Plenária dos Bispos. Via Pulchritudinis, o caminho da beleza, caminho privilegiado de evangelização e de diálogo. Tradução Cláudio Pastro. São Paulo: Loyola, 2007. BARBOSA, Ana Mae Tavares Bastos, org. Inquietações no ensino da arte. São Paulo: Cortez, 2003. BAZIN, Germain. A arquitetura religiosa barroca no Brasil. Estudo Histórico e morfológico. Tradução Lúcia Nunes. Rio de Janeiro: Record, 1956. v. 1 e 2. BECKER, Udo. Dicionário dos símbolos. Tradução Edwino Royer. São Paulo: Paulus, 1999. (Coleção dicionários) BESANÇON, Alain. A imagem proibida: uma história intelectual da iconoclastia. Tradução Carlos Sussekind. Rio de Janeiro: Bertrand, 1997. BETTENCOURT, Estevão Tavares. Curso de História da Igreja Mater Ecclesiae. Rio de Janeiro: Ultima Cor Artes Gráficas, 1987. BÍBLIA de Jerusalém. Tradução Euclides Martins Balancin e outros. São Paulo: Sociedade Bíblica Católica Internacional e Paulus, 1987. BRAGANTINI, Gabriele. A vida de Jesus em ícones. Da Bíblia de Tbilise. Tradução Silva Debetto C. Reis. São Paulo: Loyola, 2008. BURCKHARDT, Titus. A arte sagrada no Oriente e no Ocidente: princípios e métodos. Tradução Eliana Catarina Alves, Sérgio Rizek. São Paulo: Attar, 2004. CASEL, Odo. O mistério do culto no cristianismo. Tradução Gemma Scardini. São Paulo: Loyola, 2009. CAVALCANTI, Madre Maria Helena. Escritos pedagógicos. Congregação de Nossa Senhora de Belém. Acervo Particular, 1996. (livro não publicado) CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. Edição típica Vaticana. Tradução CNBB. Brasília: Paulinas, Loyola, 1998.
110
COMPÊNDIO do Catecismo da Igreja Católica. Tradução CNBB. São Paulo: Loyola, 2005. CONCÍLIO Vaticano II. Compêndio do Vaticano II: constituições, decretos e declarações. 17. ed. Tradução Frei Frederico Vier. OFM. Petrópolis: Vozes, 1984. DEVOCIONÁRIO a São Miguel Arcanjo. Comunidade Canção Nova. São Paulo: Canção Nova, 2004. DOCUMENTOS sobre a música litúrgica. São Paulo: Paulus, 2005. DONADEO, Maria. Os ícones: imagens do invisível. Tradução Gemma Scardini. São Paulo: Paulinas, 1996. DONADEO, Maria. Ícones de Cristo e dos santos. Tradução Gemma Scardini. São Paulo: Paulinas, 1997. FARTHING, Stephan. Tudo sobre arte. Tradução Paulo Polzonoff Jr. et al. Rio de Janeiro: Sextante, 2011. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário da língua portuguesa. 2. ed. Revista e ampliada. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 34. ed. São Paulo: Paz e terra, 1996. (coleção leitura). GOMBRICH, Ernst Hans. A história da arte. 16. ed. Tradução Alvaro Cabral. Rio de Janeiro, LTC, 1999. GOMBRICH, Ernst Hans. Gombrich essencial, textos selecionados sobre . 16. ed. Tradução Alvaro Cabral. Rio de Janeiro, LTC, 1999. HORTA, Luiz Paulo. De Bento a Francisco: uma revolução na Igreja. Rio de Janeiro: Zarar, 2013. LITURGIA DAS HORAS. Segundo o rito romano. Tradução Frei Alberto Beckhäuser. Rio de Janeiro: Vozes, Paulinas, Paulus e Ave Maria, 1999. vol. IV. MANGEL, Alberto. Lendo imagens: uma história de amor e ódio. Tradução Rubens Figueiredo e outros. São Paulo: Companhia das letras, 2001. MEIRA, Marly Ribeiro. Educação estética, arte e cultura do cotidiano. In: PILLAR, Analice Dutra (Org.). A educação do olhar no ensino das artes. 4. ed. Porto Alegre: Mediação, 2006. OCHSÉ, Madeleine. Uma arte sacra para nosso tempo. Tradução Rose Marie G. Muraro. São Paulo: Flamboyant, 1960.
111
PANOFSKY, Erwin. Significado nas artes visuais. 3. ed. Tradução Maria Clara F. Kneese e J. Guinsburg. São Paulo: Perspectiva, 1991. PAPA FRANCISCO. A alegria do Evangelho. São Paulo: Paulinas, 2013. PAPA JOÃO PAULO II. Carta Apostólica Duodecimum Saeculum. 1987. Disponível em: <http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/apost_letters/documents/hf_jp-ii_apl_19871204_duodecimum-saeculum_po.html >. Acesso em: 26 ago. 2013. PAPA JOÃO PAULO II. Carta aos artistas. 7. ed. São Paulo: Paulinas, 2010. PASTRO, Cláudio. C. Pastro Arte sacra. São Paulo: Loyola, 1986. PASTRO, Cláudio. Arte sacra. São Paulo: Paulinas, 2001. PASTRO, Cláudio. Guia do espaço sagrado. 4. ed. São Paulo: Loyola, 2007. PASTRO, Cláudio. O Deus da beleza: a educação através da beleza. São Paulo: Paulinas, 2008. PASTRO, Cláudio. A arte no cristianismo. São Paulo: Paulus, 2010. PASTRO, Cláudio. Imagens do Invisível na Arte Sacra de Cláudio Pastro. São Paulo: Loyola, 2013. PASTRO, Cláudio. Aparecida: guia da Basílica Nacional de Nossa Senhora Aparecida. Aparecida, São Paulo: Santuário, 2013. RATZIGER, Joseph. Fé, verdade, tolerância: O cristianismo e as grandes religiões do Mundo. Tradução Silvar Hoeppner Ferreira. São Paulo: Instituto Brasileiro de Filosofia e Ciência “Raimundo Lúlio”, 2013. ROPS, Daniel. A Igreja dos apóstolos e dos mártires. Tradução Emérico da Gama. São Paulo: Quadrante, 1988. SAADEH, Ya’cub H; MADROS, Peter H. Fé e Escritura. Desafios e respostas. Tradução Gentil Fernando. São Paulo: Loyola, 1991. UPJON, Everard M; WINGERT, Paul S; MAHLER, Jane Gaston. História mundial da arte II. Dos etruscos ao fim da idade média. Tradução Maria Benedita Monteiro. São Paulo: DIFEL, 1975. VATICANO e Roma Cristã, O. Cidade do Vaticano: Libreria Editice Vaticana, 1973.
112
ANEXOS
113
Anexo A – Realizações de Cláudio Pastro fora do Brasil
Pastro tem realizado vários trabalhos também fora do Brasil, um dos
objetivos desse trabalho é listar essas realizações. As referências estão nos três
seguintes livros de Pastro: Arte Sacra (1986), Arte Sacra (2001) e Imagens do
Invisível (2011), e em informações diretas com o próprio artista.
1. Publicação de postais e pôsteres pela cooperativa Culturale IV Mondo, em
Bolonha Itália. 1975
2. Publicação de reproduções em cerâmica pela Santerno Artes Ímola – Itália.
1976
3. Ilustração (40 guaches) do Livro segundo diálogos de São Gregório Magno,
publicado em seis idiomas pela editora Friedrich Pustet, de Regensburg –
Alemanha. 1980
4. Ícones (Pantocrator e Santo André) para a Igreja do Mosteiro de Saint-andré
Ottignies – Belgica. 1981.
5. Ilustração (40 Guaches) do livro comemorativo do sétimo centenário da morte
de Santo Antônio, publicado por Edizione Messagero de Pádua – Itália. 1981
6. Confecção da cruz processional para a abadia Nuestra Señora de Guadalupe,
em Tepeiac – México.1986
7. Lançamento do Calendário da Arte Missio 89, em Aachen, pela Missio
Aktuellverlag, e Prêmio Internacional de Arte Missionária recebido na décima
sétima premiação em Aachen – Alemanha. 1988.
8. Ilustração di livro Die Botschaft Von Guagalupe, publicado pelas editoras
Bonifatius, de Fulda, e Thomas Plöger, de Paderbom – Alemanha. 1988.
9. Publicação de cartões de Natal para a Christian AID, de Londres – Inglaterra.
1989.
10. Lançamento do livro El mensaje de Guadalupe, em língua espanhola, pela
editora Verbo Divino, de Navarra – Espanha. 1989.
11. Projeto para a igreja de Santo Irineu (Altar, ambão, crucifixo e painéis);
participação com os arquitetos Andrea Coscia e Sauro Censi, no Concorso
Nazionale Chiese per Il 2000 – Diocesi di Milano – Comitato Nuove Chiese.
Terceiro lugar entre mais de 800 participantes, em Milão – Itália. 1990.
114
12. Painel sobre tecido “A evangelização na América Latina” (8m²) para
Katholikentag de Berlim, a convite do Advaniat – Alemanha. 1990.
13. Lançamento do livro sobre as obras executadas na igreja da San Pietro AL
monte, em Urbania – Itália. 1991.
14. Igreja de Monte San Pietro (painéis, crucifixo e tampa da pia batismal em
cobre), em Urbania – Itália. 1991.
15. Fresco na sala capitular no Mosteiro de Beneditino de Singevera (“A História
do Monaquismo Português”), em Singeverga – Portugal. 1993.
16. Capela do Arcebispado de Fermo (vitrais, Via-Sacra e tabernáculo), em
Fermo – Italia. 1993.
17. Grande Painel “O Gênesis” na Casa Frau Elizabeth Prégardier em
Oberhausen – Alemanha. 1995.
18. Capela da Instituição Adveniat (arquitetura, grande painel sobre tecido, altar,
tabernáculo e cruz temporal) em Essen – Alemanha.
19. Cruz Pax Vobis(cruz processional em bronze) escolhida como símbolo das
festividades do terceiro milênio pela CELAM, em Bogotá – Colômbia. 1996.
20. Altar e painel em mármore da Capela do Brasil na Basílica de Santa
Teresinha do Menino Jesus, em Lisieux – França. 1997.
21. Ilustração do livro da missa de abertura do Sínodo das Américas para o
Vaticano – Roma. 1997.
22. “Cristo Evangelizador para o Terceiro Milênio” (incisão sobre metal), a convite
do Vaticano, na pessoa do Bispo dom Cipriano Calderion, da Pontifícia
Comissão Pró-América Latina. Vaticano. 1998.
23. Capela do Arcebispado de Fermo, Itália. 1998.
24. Ícone do Cristo Luz do Mundo. Fermo, Itália. 1999.
25. Lançamento do livro refernte à exposição de Weigarten, na Alemanha com 42
“Parabolas” (incisão sobre aço escovado), pela editora Plöger, de Frankfurt –
Alemanha. 1999.
26. Ilustração para a CNBB e editora Paulinas do livro das celebrações jubilares
do Vaticano para o ano 2000. Vaticano. 1999.
27. Execução da cruz emblema para a Congregação das Irmãs da Divina
Vontade, em Bréscia – Itália. 1999.
28. Estola pintada à mão, Igreja de Monte San Pietro, Urbania, Itália. 2000.
115
29. Cruz peitoral em prata e esmalte para o abade dos Cistercienses, dom Mauro
Esteva – Roma-Itália. 2001.
30. Medalha em prata com gravação do Cordeiro, Abadia São Martinho de
Weingarten, Alemanha. 2004.
31. I greja do Mosteiro dos Cistercienses, Casa Generalícia. Roma – Itália. 2005.
32. Batistério da igreja matriz de Schwarzenbach, Padre Rudi Keiser mostra o
teto. Alemanha. 2005.
33. “Trono da Sabedoria”, gravação e esmalte sobre placa de aço escovado,
Saint Vicent Archabbey, Estados Unidos. 2005.
34. Monumento ao Peregrino de Santiago de Compostela, em aço, Weingarten,
Alemanha. 2006.
35. Medalha comemorativa dos 950 da Abadia São Martinho de Weingarten,
Alemanha. 2004.
36. Mosteiro de Helfta, Monjas Cistercienses, Helfta, Alemanha. 2007.
37. Real Mosteiro de San Pelayo, Monjas Beneditinas, Oviedo, Principado de
Astúrias. Espanha. 2007.
38. Museu dos Presépios, Franciscanas, Bonlanden, Alemanha. 2007.
39. Casa Generalícia dos Padres Assuncionistas. Roma, Itália. 2008.
40. Iglesia Del Espíritu Santo, Puente Alto, Santiago, Chile. 2009.
41. Projeto do Monumento a Nossa Senhora Aparecida para os Jardins do
Vaticano a pedido do Papa Francisco. 2014. A obra será executada em breve.
116
Anexo B – Registros fotográficos feitos in loco em nove igrejas com
intervenção artística de Cláudio Pastro
No decorrer dessa pesquisa foram feitos registros fotográficos in loco em
nove igrejas com intervenção de Pastro, no intuito de maior proximidade e
conhecimento das obras do artista. Tendo o privilégio de estar em contato com o
objeto do estudo, enriquecendo a experiência com a arte, sobretudo a arte sacra.
Igreja Abacial do Mosteiro da Virgem em Petrópolis Rio de Janeiro (RJ), 1986.
Visita realizada no dia 18 de janeiro de 2014.
Igreja do Mosteiro Nossa Senhora de Guadalupe em Caicó Rio Grande do
Norte (RN), 1987/ 1988. Visita realizada no dia 19 de abril de 2014.
Catedral de Nossa Senhora da Apresentação em Natal RN, 1988. Visita
realizada no dia 17 de outubro de 2013.
Casa de Retiros Padre Anchieta, na Gávea Rio de Janeiro RJ, 1991. Visita
realizada no dia 23 de janeiro de 2014.
Capela do Santíssimo da Catedral de Nossa Senhora da Apresentação em
Natal RN, 1991. Visita realizada no dia 17 de outubro de 2013.
Igreja da Casa Provincial das Irmãs de Santa Catarina em Petrópolis RJ,
1995. Visita realizada no dia 18 de janeiro de 2014.
Igreja da Santíssima Trindade no Convento Madre Regina em Petrópolis RJ,
1997. Visita realizada no dia 18 de janeiro de 2014.
Capela do Colégio Marista São José no Rio de Janeiro RJ, 1998. Visita
realizada no dia 24 de janeiro de 2014.
Basílica Nacional de Nossa Senhora da Conceição Aparecida em Aparecida
São Paulo (SP). (em andamento). Visita realizada no dia 21 de janeiro de
2014.
117
Igreja Abacial do Mosteiro da Virgem em Petrópolis Rio de Janeiro - RJ. 1986
Cláudio Pastro. Nave central. Igreja Abacial do Mosteiro da Virgem,
Petrópolis RJ. Fonte: Arquivo da autora
Cláudio Pastro. Lâmpada do Santíssimo Igreja Abacial do Mosteiro da Virgem,
Petrópolis RJ. Fonte: Arquivo da autora
Cláudio Pastro. Vitral Igreja Abacial do Mosteiro da Virgem,
Petrópolis RJ. Fonte: Arquivo da autora
Cláudio Pastro. Assinatura Igreja Abacial do Mosteiro da Virgem,
Petrópolis RJ. Fonte: Arquivo da autora
118
Igreja do Mosteiro Nossa Senhora de Guadalupe em Caicó Rio Grande do
Norte – RN.1987-1988
Cláudio Pastro. Cristo Crucificado. Igreja do Mosteiro Nossa Senhora de
Guadalupe. Caicó RN. Fonte: Arquivo da autora
Cláudio Pastro. X estação da Via sacra. Igreja do Mosteiro Nossa Senhora de
Guadalupe. Caicó RN. Fonte: Arquivo da autora
Cláudio Pastro. Nave central. Igreja do Mosteiro Nossa Senhora de
Guadalupe. Caicó RN. Fonte: Arquivo da autora
Cláudio Pastro. Assinatura. Igreja do Mosteiro Nossa Senhora de
Guadalupe. Caicó RN. Fonte: Arquivo da autora
119
Catedral de Nossa Senhora da Apresentação em Natal – RN. 1988
Cláudio Pastro. Presbitério Catedral de Nossa Senhora da Apresentação. Natal RN.
Fonte: Arquivo da autora
Cláudio Pastro. Pia Batismal. Catedral de Nossa Senhora da
Apresentação. Natal RN. Fonte: Arquivo da autora
Cláudio Pastro. Pia Batismal. (Detalhe) Catedral de Nossa Senhora da
Apresentação. Natal RN. Fonte: Arquivo da autora
120
Casa de Retiros Padre Anchieta, na Gávea Rio de Janeiro - RJ. 1991
Cláudio Pastro. Painel Mãe de Deus. Casa de Retiros Padre Anchieta, Rio de
Janeiro, RJ. Fonte: Arquivo da autora
Cláudio Pastro. Anchieta Casa de Retiros Padre Anchieta, Rio de
Janeiro, RJ. Fonte: Arquivo da autora
Cláudio Pastro. Sacrário. Casa de Retiros Padre Anchieta, Rio de
Janeiro, RJ. Fonte: Arquivo da autora
Cláudio Pastro. Assinatura. Casa de Retiros Padre Anchieta, Rio de
Janeiro, RJ. Fonte: Arquivo da autora
121
Capela do Santíssimo da Catedral de Nossa Senhora da Apresentação em
Natal – RN. 1991
Cláudio Pastro. Maria e os Apóstolos. Capela do Santíssimo da Catedral de Nossa
Senhora da Apresentação em Natal – RN
Fonte: Arquivo da autora.
Cláudio Pastro. Sacrário. Capela do Santíssimo da Catedral de Nossa
Senhora da Apresentação em Natal – RN
Fonte: Arquivo da autora.
Cláudio Pastro. Painel Nossa Senhora da Apresentação.
Capela do Santíssimo da Catedral de Nossa Senhora da Apresentação em Natal – RN
Fonte: Arquivo da autora
Cláudio Pastro. Assinatura. Capela do Santíssimo da Catedral de Nossa
Senhora da Apresentação em Natal – RN
Fonte: Arquivo da autora
122
Igreja da Casa Provincial das Irmãs de Santa Catarina em Petrópolis - RJ. 1995
Cláudio Pastro. Painel da Visitação. Igreja da Casa Provincial das Irmãs de Santa
Catarina, Petrópolis RJ. Fonte: Arquivo da autora
Cláudio Pastro.Altar em madeira. Igreja da Casa Provincial das Irmãs de
Santa Catarina, Petrópolis RJ. Fonte: Arquivo da autora
Cláudio Pastro. Painel da Visitação. (detalhe) Igreja da Casa Provincial das Irmãs de Santa Catarina,
Petrópolis RJ. Fonte: Arquivo da autora
Cláudio Pastro. Assinatura Igreja da Casa Provincial
das Irmãs de Santa Catarina, Petrópolis RJ. Fonte: Arquivo da autora
123
Igreja da Santíssima Trindade no Convento Madre Regina em Petrópolis RJ.
1997
Cláudio Pastro. Painel Madre Regina. Igreja da Santíssima Trindade, Convento
Madre Regina, Petrópolis RJ. Fonte: Arquivo da autora
Cláudio Pastro. Painel Santíssima Trindade. Igreja da Santíssima Trindade, Convento
Madre Regina, Petrópolis RJ. Fonte: Arquivo da autora
Cláudio Pastro. Painel Emaús. Igreja da Santíssima Trindade, Convento
Madre Regina, Petrópolis RJ. Fonte: Arquivo da autora
Cláudio Pastro. Assinatura. Igreja da Santíssima Trindade, Convento
Madre Regina, Petrópolis RJ. Fonte: Arquivo da autora
124
Capela do Colégio Marista São José no Rio de Janeiro - RJ. 1998
Cláudio Pastro. Painel Virgem do Sinal, com Cristo Emmanuel.
Colégio Marista São José, Rio de Janeiro, RJ.
Fonte: Arquivo da autora.
Cláudio Pastro. Painel São Marcelino Champagnat.
Colégio Marista São José, Rio de Janeiro, RJ.
Fonte: Arquivo da autora.
Cláudio Pastro. Sacrário. Colégio Marista São José, Rio de
Janeiro, RJ. Fonte: Arquivo da autora.
Cláudio Pastro. Assinatura Colégio Marista São José, Rio de
Janeiro, RJ. Fonte: Arquivo da autora.
125
Basílica Nacional de Nossa Senhora da Conceição Aparecida em Aparecida
São Paulo – SP. 2000 (em andamento)
Cláudio Pastro. Cruz em aço. Basílica Nacional de Nossa Senhora
Aparecida, SP. Fonte: Arquivo da autora.
Cláudio Pastro. Capela de São José.(Detalhe)
Basílica Nacional de Nossa Senhora Aparecida, SP.
Fonte: Arquivo da autora.
Cláudio Pastro. O Bom Pastor Basílica Nacional de Nossa Senhora
Aparecida, SP. Fonte: Arquivo da autora.
Cláudio Pastro.Ascensão do Senhor . Basílica Nacional de Nossa Senhora
Aparecida, SP. Fonte: Arquivo da autora.