90
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DEPARTAMENTO DE BIOQUÍMICA KARLA SAMARA ROCHA SOARES OBTENÇÃO E AVALIAÇÃO DO POTENCIAL IMUNOADJUVANTE DE NANOPARTÍCULAS DE QUITOSANA NA PRODUÇÃO DE ANTISSOROS CONTRA VENENOS DE SERPENTES E ESCORPIÕES NATAL 2016

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE...pública em diversos países, destacando-se os acidentes ofídicos e escorpiônicos. No Brasil, as serpentes do gênero Bothrops e os

  • Upload
    others

  • View
    3

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

1

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DEPARTAMENTO DE BIOQUÍMICA

KARLA SAMARA ROCHA SOARES

OBTENÇÃO E AVALIAÇÃO DO POTENCIAL IMUNOADJUVANTE DE NANOPARTÍCULAS DE QUITOSANA NA PRODUÇÃO DE ANTISSOROS CONTRA VENENOS DE SERPENTES E ESCORPIÕES

NATAL

2016

2

KARLA SAMARA ROCHA SOARES

OBTENÇÃO E AVALIAÇÃO DO POTENCIAL IMUNOADJUVANTE DE NANOPARTÍCULAS DE QUITOSANA NA PRODUÇÃO DE ANTISSOROS CONTRA VENENOS DE SERPENTES E ESCORPIÕES

Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação em Bioquímica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito parcial para obtenção do título de Doutora em Bioquímica.

Orientador: Prof. Dr. Matheus de Freitas Fernandes Pedrosa.

Co-orientador: Prof. Dr. Arnóbio Antônio Silva Júnior.

NATAL 2016

3

4

5

Dedico este trabalho aos meus pais José Soares e Maria de Fátima, que com

todo amor e dedicação, sempre me apoiaram, me incentivaram e fizeram o

possível e o impossível para tornar realidade mais esta etapa vencida em

minha vida.

6

AGRADECIMENTOS

À Deus e Nossa Senhora, por toda proteção, sustentação e graças alcançadas.

Aos meus pais José Soares e Maria de Fátima, pelo incentivo constante, apoio,

amor incondicional e compreensão sempre a mim dedicados.

Ao meu esposo e grande amigo Renan, por todo amor, paciência, amizade e

parceria, estando sempre presente me apoiando em cada decisão e nunca me

deixando desistir.

Ao meu irmão Paulo, pelo carinho, amor, amizade e horas de conversas,

incentivando-me a continuar.

Ao Prof.Dr. Matheus de Freitas pela oportunidade concedida, confiança, estimulo,

paciência, orientação constante e conhecimentos passados, durante esses anos.

Ao Prof.Dr. Arnóbio Silva, pela confiança e co-orientação, a qual foi de fundamental

importância, estando sempre disposto a transmitir conhecimentos e discutir os

resultados obtidos.

Às queridas alunas e amigas, Alessandra Daniele e Fiamma Gláucia, pela dedicação

e auxilio em todas as etapas do trabalho desenvolvido.

Aos amigos e colegas adquiridos no laboratório TecBioFar pela agradável

convivência, auxilio em algumas etapas do trabalho, troca de conhecimentos e

momentos alegres e de descontração.

Aos demais colegas e laboratórios deste Programa de Pós-Graduação, que me

prestaram algum auxílio e contribuíram para a realização deste trabalho.

À CAPES pela provisão da bolsa de Doutorado.

A todos que de alguma maneira colaboraram para a realização deste trabalho.

7

“Até aqui nos ajudou o Senhor.” (1 Samuel 7:12)

8

RESUMO

Acidentes com animais peçonhentos representam um sério problema de saúde pública em diversos países, destacando-se os acidentes ofídicos e escorpiônicos. No Brasil, as serpentes do gênero Bothrops e os escorpiões pertencentes ao gênero Tityus, são as de maior relevância clínica. O tratamento para o envenenamento consiste em administração de soros antiofídico e antiescorpiônico. Vacinas que utilizam antígenos puros e vias de administração alternativa requerem o uso de adjuvantes potentes e um sistema de entrega de antígeno eficaz. Nanossistemas vêm sendo investigados como sistemas de liberação para macromoléculas terapêuticas. A quitosana, devido as suas propriedades, tem sido extensivamente investigada na formulação de nanocarreadores, particularmente de genes e proteínas. Este estudo teve como objetivo a obtenção de nanopartículas de quitosana (CNP) com base na gelificação iônica para carrear proteínas/peptídeos terapêuticos utilizados na imunoterapia e avaliação do potencial imunoadjuvante dessas nanopartículas na produção de soros antivenenos. CNP foram obtidas por gelificação iônica, com tamanho médio de 160 nm, caracterizadas físico-quimicamente e o perfil de liberação avaliado, demonstrando se tratar de um sistema de liberação modificado. A estabilidade dos sistemas foi avaliada por 7 semanas, observando-se uma maior estabilidade dos sistemas associados aos venenos. Animais experimentais foram imunizados durante 6 semanas com 100 µL de veneno das serpentes através injeções subcutâneas, em diferentes concentrações (5,0 ou 10,0%), encapsuladas em CNP ou associados ao hidróxido de alumínio (HA). Os resultados demonstram que os títulos de anticorpos obtidos para os animais vacinados com os nanossistemas foram equivalentes ou maiores aos obtidos para os animais vacinados com o HA, com a vantagem desses serem menos inflamatórios que o HA, exigindo uma menor quantidade de antígeno a ser administrada, por se tratar de um sistema de libertação modificada, revelando a obtenção de um novo sistema nanoparticulado com potencial aplicação na soroterapia. Palavras-chave: Sistemas de liberação modificados, Biopolímeros, Quitosana, Veneno, Imunoterapia.

9

ABSTRACT

Accidents with venomous animals represent a serious public health problem in many countries of the world, with emphasis to snake and scorpion accidents. In Brazil, Bothrops snakes are the most clinically relevant. Regarding scorpions, the genus Tityus includes the species of higher medical importance. Treatment for envenomation consists mainly in the administration of antivenom sera. Vaccines using pure antigens in alternative administration routes require the use of potent adjuvants and an effective antigen delivery system. Nanosystems are being investigated as delivery systems for therapeutic macromolecules. Chitosan, due to its properties, has been extensively investigated in nanocarriers formulations, particularly for genes and proteins. This study aimed to obtain chitosan nanoparticles (CNP) based on ionic gelation for the delivery of therapeutic proteins/peptides used in immunotherapy, as well as to evaluate the immunoadjuvant potential of these nanoparticles in the production of antivenom serums. CNP were obtained by ionic gelation, with an average size of 160 nm. Physicochemical characterization and evaluation of the release profile demonstrated that it is a modified release system. The stability of different systems was evaluated for 7 weeks, observing a greater stability of the systems associated with venoms. Experimental animals were immunized subcutaneously for 6 weeks with 100 uL snake venoms at different concentrations (5.0 or 10.0%), either encapsulated in CNP or associated with aluminum hydroxide (AH). The results demonstrate that the antibody titers observed for animals vaccinated with the studied nanosystems were equivalent or higher than those observed for animals vaccinated with HA. Further advantages of the nanosystems were to be less inflammatory, and to require smaller amounts of antigen to be administered, because it is a modified-release system, with potential application in anti-venom serum therapy. Keywords: Nanosystems, chitosan nanoparticles, venom, immunotherapy.

10

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Serpente Bothrops jararaca ....................................................................... 20 Figura 2. Serpente Bothrops erythromelas. ............................................................... 22 Figura 3. Escorpião Tityus serrulatus. ....................................................................... 24

Figura 4. Representação esquemática da quitosana. Grau de desacetilação (x) variável.. .................................................................................................................... 32 Figura 5. Representação esquemática da estrutura molecular do TPP (Tripolifosfato de Sódio) ................................................................................................................... 34 Figura 6. Esquema de representação das interações químicas formadas entre CH e TPP na formação das nanopartículas via gelificação iônica. .................................... 35 Figura 7. Métodos de incorporação de proteínas às nanopartículas de quitosana. .. 36

Figura 8. Solução de quitosana 0,1% m/v em ácido acético (A) e ............................ 48 Figura 9. Imagens de MEV das nanopartículas de quitosana (A), das nanopartículas contendo peçonha de B. erythromelas (B), de B. jararaca (C) ou Tityus serrulatus (D). ............................................................................................................................ 51 Figura 10. Imagens de AFM das nanopartículas de quitosana (CNP), das nanopartículas contendo peçonha de B. jararaca (CNP/BJ), de B. erythromelas (CNP/BE). Escala de 10 µm. ..................................................................................... 52 Figura 11. FTIR da Quitosana, TPP, Nanopartículas e Nanopartículas associadas aos venenos de serpentes e escorpião. CH (quitosana), CNP (nanopartículas de quitosana) e TPP (A), BSA (B), VTS (veneno de T.serrulatus) (C) e BJ (veneno de B. jararaca), BE (veneno de B. erythromelas) (D). ........................................................ 53 Figura 12. Determinação do perfil eletroforético do veneno das serpentes B. jararaca e B. erythromelas e das nanopartículas com as proteínas do veneno de B. jararaca (CNP+BJ 5 e 10%) e B. erythromelas (CNP+BE 5 e 10%). Gel corado em solução de “Commassie Brillant Blue” R-250. ............................................................................. 55 Figura 13. Determinação do perfil eletroforético do veneno do escorpião T. serrulatus (VTS), do BSA e das nanopartículas com as proteínas do veneno do escorpião (CNP+VTS 5 e 10%) e BSA (CNP+BSA 5 e 10%). Gel corado em solução de Prata. .................................................................................................................................. 56 Figura 14. Estabilidade física das nanopartículas puras e contendo veneno das serpentes nas concentrações 5 e 10% (n=3). ........................................................... 57 Figura 15. Perfil de liberação in vitro de BSA e veneno de T. serrulatus em diferentes concentrações (5 e 10%). ......................................................................... 59

Figura 16. Avaliação dos títulos de anticorpos obtidos a partir de animais imunizados com os adjuvantes hidróxido de alumínio (HA) e nanopartículas de quitosana (CNP) associados aos venenos de B. jararaca e B. erythromelas ***p <0,05 comparando HA/BE 10% e CNP/BE 10%, +++p<0,05 comparando CNP/BE10% com CNP/BE 5% (B). Títulos de anticorpos obtidos do soro de animais imunizados com o veneno de B. jararaca (C), B. erythromelas (D), após diluições seriadas. .................................. 62

11

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Características físico-químicas das nanopartículas antes e após a

incorporação dos diferentes venenos. CNP (nanopartículas de quitosana), BJ

(veneno de B. jararaca), BE (veneno de B. erythromelas), VTS (veneno de

T.serrulatus). ............................................................................................................. 50

Tabela 2. Valores de coeficiente de determinação (r2), para avaliar o ajuste de

diferentes modelos matemáticos aplicados na cinética de liberação das proteínas. . 60

12

LISTA DE ABREVIATURAS

AFM: Microscopia de Força Atômica

BJ: Veneno da serpente Bothrops jararaca

BE: Veneno da serpente Bothrops erythromelas

BCA: Ácido bicinconínico

BSA: Albumina de soro bovino

CNP: Nanopartículas de Quitosana

CH: Quitosana

DP: Desvio padrão

EIP: Eficiência de incorporação de proteínas

ELISA: Ensaio de imunoabsorção enzimática

FDA: Food and Drug Administration

FTIR: Infravermelho por transformada de Fourier

HA: Hidróxido de alumínio

IgG: Imunoglobulina G

IPD: Índice de polidispersão

MEV: Microscopia eletrônica de varredura

NPs: Nanopartículas

OMS: Organização Mundial da Saúde

PBS: Tampão fosfato-salino

SDS-PAGE: Eletroforese em gel de poliacrilamida e dodecil sulfato de sódio

SLFs: Sistemas de liberação de fármacos

TPP: Tripolifosfato de sódio

VTS: Veneno do escorpião Tityus serrulatus

13

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 14 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ......................................................................... 18 2.1 ACIDENTES OFÍDICOS .................................................................................. 18 2.1.1 Bothrops jararaca ......................................................................................... 19 2.1.2 Bothrops erythromelas ................................................................................. 21

2.2 ESCORPIONISMO .......................................................................................... 22 2.2.1 Tityus serrulatus ............................................................................................... 23

2.3 SOROTERAPIA ............................................................................................... 25

2.4 NANOPARTÍCULAS ........................................................................................ 28 2.5 QUITOSANA (CH) ........................................................................................... 31 3 OBJETIVOS ....................................................................................................... 37 3.1 OBJETIVO GERAL .......................................................................................... 37

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ........................................................................... 37 4 MATERIAL E MÉTODOS .................................................................................. 38 4.1 MATERIAL....................................................................................................... 38

4.2 MÉTODOS ...................................................................................................... 40 4.2.1 ANIMAIS EXPERIMENTAIS ........................................................................ 40 4.2.2 OBTENÇÃO DAS NANOPARTÍCULAS DE QUITOSANA ........................... 40 4.2.3 INCORPORAÇÃO DAS PROTEÍNAS ÀS NANOPARTÍCULAS .................. 40

4.2.4 ASPECTOS FÍSICO-QUÍMICOS DAS NANOPARTÍCULAS ....................... 41 4.2.4.1 MEDIDAS DE POTENCIAL ZETA E TAMANHO DE PARTÍCULA ............... 41

4.2.4.2 ANÁLISE DE ESPECTROSCOPIA NA REGIÃO DO INFRAVERMELHO .... 41 4.2.4.3 ESTUDO DA FORMA E DA SUPERFÍCIE DAS NANOPARTÍCULAS .......... 42 4.2.4.4 ENSAIO DE ESTABILIDADE FÍSICA DAS NANOPARTÍCULAS .................. 42

4.2.5 EFICIÊNCIA DE INCORPORAÇÃO ............................................................. 42

4.2.6 ELETROFORESE EM GEL DE POLIACRILAMIDA ..................................... 43 4.2.7 ENSAIO DE LIBERAÇÃO IN VITRO ............................................................ 43

4.2.8 PRODUÇÃO DE ANTICORPOS .................................................................. 44

4.2.9 OBTENÇÃO DOS SOROS .......................................................................... 44 4.2.10 AVALIAÇÃO DOS TÍTULOS DE ANTICORPOS POR ELISA .................. 45

4.2.11 ANÁLISE ESTATÍSTICA ................................................................................ 45 5 RESULTADOS .................................................................................................. 46

5.1. OBTENÇÃO E ANÁLISE DOS ASPECTOS FÍSICO-QUÍMICOS DAS NANOPARTÍCULAS ................................................................................................. 46 5.2. ENSAIO DE ESTABILIDADE FÍSICA DAS NANOPARTÍCULAS .................... 56 5.3. ENSAIO DE LIBERAÇÃO IN VITRO ............................................................... 58

5.4. AVALIAÇÃO DOS TÍTULOS DE ANTICORPOS NO SORO ........................... 60

6 DISCUSSÃO ...................................................................................................... 64

7 CONCLUSÃO .................................................................................................... 72

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 73 ANEXOS ................................................................................................................... 87

14 1 INTRODUÇÃO

Acidentes com animais peçonhentos representam um sério problema de saúde

pública em diversos países do mundo, destacando-se os acidentes escorpiônicos e

ofídicos. Animais peçonhentos são aqueles que produzem substâncias tóxicas, cuja

atividade farmacológica pode, potencialmente, interferir na sobrevivência de outros

animais (ESPINO-SOLIS et al., 2009), e apresentam um aparelho especializado para

inoculação desta, que passam ativamente através de glândulas que se comunicam

com dentes ocos ou ferrões ou aguilhões (CARDOSO et al., 2003).

Com relação aos acidentes ofídicos, estima-se que 2,4 milhões de

envenenamentos ocorrem a cada ano no mundo, principalmente na Ásia, África e

América Latina, com 94 a 120 mil mortes (GUTIERREZ et al., 2014;

KASTURIRATNE et al., 2008). Serpentes do gênero Bothrops são responsáveis por

90% dos acidentes ofídicos notificados anualmente no Brasil (20-30000 mil), sendo

as serpentes B. jararaca (Sul e Sudeste), B. moojeni (Centro-Oeste), B. atrox (Norte)

e B. erythromelas (Nordeste) responsáveis pela maior parte destes acidentes

(FENWICK et al., 2012; GONÇALVES-MACHADO et al., 2015; JORGE et al., 2015;

OLIVEIRA et al., 2010). Apesar desses acidentes causarem graves sequelas físicas

e psicológicas afetando a qualidade de vida dos acidentados, estes não tem

recebido a devida importância, sendo considerada uma doença tropical

negligenciada (GUTIERREZ et al., 2014).

Acidentes escorpiônicos possuem grande importância médico hospitalar em

virtude de sua incidência e da potencialidade do veneno de algumas espécies que

podem provocar casos clínicos graves e, às vezes fatais, principalmente em crianças

(ZULIANI et al., 2013). No Brasil, acidentes causados por picadas de escorpiões são

a principal causa de envenenamento por animais peçonhentos. Dados do Ministério

da Saúde do Brasil de 2013, indicam que, 114.037 casos de envenenamento por

animais peçonhentos foram notificados, em 2012, dos quais 64.233 (56,3%) foram

15 picadas de escorpião, com 92 mortes registradas, o que corresponde a uma taxa

anual de 32 casos/100.000 habitantes (BUCARETCHI et al., 2014). As espécies de

escorpiões de maior relevância médica no Brasil são do gênero Tityus, entre as

quais destacam-se Tityus serrulatus, Tityus stigmurus e Tityus bahiensis, sendo o

escorpião T. serrulatus o principal causador dos acidentes de maior gravidade

(BUCARETCHI et al., 2014; CHIPPAUX &GOYFFON, 2008; PUCCA et al., 2015).

O tratamento mais eficaz para os pacientes de acidentes ofídicos é a

administração parenteral do soro antiofídico. Este, por sua vez, neutraliza de forma

eficaz o efeito sistêmico do envenenamento, mas não os efeitos locais, que em caso

de acidente botrópico e laquético, observa-se um forte processo inflamatório

(GUTIERREZ et al., 2014; OGUIURA et al., 2014). Para acidentes escorpiônicos

graves, a soro terapia é o tratamento comumente utilizado principalmente em

crianças e em adultos com problemas de saúde anteriores, como doenças

cardiovasculares e hipertensão (AYARI-RIABI et al., 2016; BUCARETCHI et al.,

2014; PUCCA et al., 2015).

Os soros antivenenos rotineiramente produzidos são seguros e eficazes no

tratamento dos acidentes, o uso de imunoadjuvantes nessas formulações é de

grande importância, sendo estes substâncias capazes de potencializar a resposta

imunológica a um antígeno, podendo ser compostos naturais ou sintéticos (LI et al.,

2014; RESENDE et al., 2004). Os adjuvantes contendo sais de alumínio são os

principais utilizados nessas formulações e são aprovados para uso em humanos

pela Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos, sendo o hidróxido de

alumínio e fosfato de alumínio os mais utilizados (LI et al., 2014). No entanto, apesar

de serem aprovados para uso em humanos, estudos recentes trazem preocupações

sobre a toxicidade envolvida com o efeito cumulativo de sais de alumínio (BANSAL

et al., 2014; GUPTA et al., 2000; ROCHA SOARES et al., 2012), além da elevada

16 afinidade desses sais pelos antígenos, podendo reduzir a quantidade desses

disponíveis, resultando em uma resposta imunológica branda (LI et al., 2014).

Nesse contexto, novos imunoadjuvantes a base de biopolímeros vêm sendo

desenvolvidos a fim de maximizar a eficácia de vacinas e soros, reduzir os efeitos

secundários e a toxicidade em comparação com as formulações convencionais

(BANSAL et al., 2014; BORGES et al., 2008). Nanopartículas poliméricas têm

recebido muita atenção como sistemas de entrega de peptídeos, proteínas,

antígenos e genes terapêuticos por várias vias de administração, incluindo

intravenosa e transmucosa oral. Entre os polímeros utilizados para este fim, a

quitosana e os seus derivados têm demonstrado propriedades interessantes para

uso como sistema de liberação e/ou adjuvante para vacinas (AMIDI et al., 2010;

BORGES et al., 2008; RAMPINO et al., 2013; XU & DU, 2003). Dentre estas

propriedades podemos destacar a capacidade de adquirir carga positiva, conferindo-

lhe capacidade de muco-adesão, o que promove uma intensificação da absorção

das proteínas, podendo ainda proporcionar maior estabilidade da substância

encapsulada, capacidade de forte interação eletrostática com peptídeos, proteínas e

ácidos nucleicos também otimizando a estabilidade (RAMESH KUMAR et al., 2016;

TAVARES et al., 2012), e capacidade de imunoestimuladora (AMIDI et al., 2010;

BORGES et al., 2008; RAMPINO et al., 2013).

A aplicação da quitosana como adjuvante em vacinas para imunização pode

proporcionar uma resposta imune consideravelmente mais eficaz, por se tratar de

um sistema de liberação modificado e pela propriedade imunoestimuladora da

quitosana, podendo promover a produção de um título maior de anticorpos em

comparação com formulações convencionais que utilizam o hidróxido de alumínio

como imunoadjuvante, requerendo uma quantidade menor de antígenos a serem

administrados. Esta hipótese foi estabelecida com base em um estudo anterior

realizado por nosso grupo de pesquisa, em que a eficácia das nanopartículas de

17 quitosana foi confirmada na produção do soro contra o veneno do escorpião T.

serrulatus e comparada com o imunoadjuvante tradicional (ROCHA SOARES et al.,

2012). Estudos semelhantes foram desenvolvidos com foco na aplicação da

quitosana como adjuvante de imunização em vacinas contra o Helicobacter pylori

(XIE et al., 2007) e difteria (ZHIMING et al., 2005) e em ambos chegou-se a

conclusão que a associação com quitosana proporciona uma resposta imune

consideravelmente mais eficaz.

Um estudo mais detalhado do emprego da quitosana como adjuvante de

imunização e sistema de liberação modificada na forma nanoparticulada para

veiculação do veneno de animais peçonhentos será de grande importância em

saúde pública, podendo servir de base para a formulação de um novo soro contra as

toxinas do veneno de serpentes e escorpiões.

18 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 ACIDENTES OFÍDICOS

Acidentes ofídicos são um importante problema de saúde pública devido à

sua incidência, morbidade e mortalidade, sendo de grande importância em países

tropicais devido à sua alta incidência, gravidade e pós-efeito (STRAPAZZON et al.,

2015). São considerados também um grande problema de saúde ocupacional, por

ser um motivo constante de morte ou incapacidade crônica para muitos jovens

ativos, especialmente aqueles que estão envolvidos em trabalhos rurais, em várias

partes do mundo (DHARMADASA et al., 2016). Em geral, os acidentes ofídicos são

mais comuns em áreas tropicais e subtropicais, podendo também ocorrer em regiões

com clima temperado (KARABUVA et al., 2016).

No Brasil, as serpentes peçonhentas de interesse em saúde pública são

representadas por quatro gêneros da Família Viperidae: Serpentes do gênero

Bothrops (jararaca, jararacuçu, urutu, caiçaca, comboia), o qual, atualmente, está

agrupado em dois gêneros Bothrops e Botrocophias, Crotalus (cascavel),

Lachesis (surucucu-pico-de-jaca), Micrurus e Leptomicrurus (coral-verdadeira)

(Ministério da Saúde do Brasil, 2014), sendo as serpentes do gênero Bothrops as

responsáveis por 90% dos acidentes ofídicos notificados anualmente no Brasil (20-

30000 mil) (GONÇALVES-MACHADO et al., 2015;. JORGE et al., 2015; FENWICK

et al., 2012).

Os venenos de serpentes constituem uma mistura complexa de componentes

potencialmente tóxicos e não tóxicos, que têm uma gama de efeitos patológicos

sobre as funções vitais. Os venenos das serpentes do gênero Bothrops causam dor

intensa local, hemorragia, necrose de tecidos e inflamação, gerados por uma

complexa variedade de componentes tóxicos que atuam principalmente no sistema

hemostático, causando agregação plaquetária, indução de apoptose, hemorragia e

citotoxicidade. Uma mistura complexa de proteínas tóxicas e as enzimas envolvidas

19 no processo inflamatório, muitas vezes resultam numa resposta crônica, onde

metaloproteinases, anticoagulantes, fosfolipases, L-aminoácidos oxidases e

miotoxinas têm um papel importante na ação do veneno (CARDOSO et al., 2003;

IZIDORO et al., 2014; STRAPAZZON et al., 2015).

2.1.1 Bothrops jararaca

A espécie Bothrops jararaca (Figura1), é uma serpente de hábitos semi-

arborícolas, endêmica de áreas do sul do Brasil, norte da Argentina e nordeste do

Paraguai, distribuindo-se no Brasil nos estados do Espírito Santo, Minas Gerais, Rio

de Janeiro, São Paulo, leste do Mato Grosso, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande

do Sul, sendo esta a principal espécie de serpente causadora de acidentes na região

sudeste do Brasil. Encontra-se distribuída em diversos habitats, ocorrendo em

florestas tropicais decíduas e florestas de terra firme semitropical, a partir do nível do

mar próximo a mais de 1000 m de altitude (DE MOURA et al., 2015; GONÇALVES-

MACHADO et al., 2015; SAZIMA, 1992).

O tamanho médio dessas serpentes é de 100 cm, mas os maiores

exemplares observados apresentam até 150 cm, podendo atingir até 160 cm. Seu

padrão de coloração é bastante variável, com manchas marrons escuras dispostas

em faixas entremeadas por áreas claras, cinzas, oliváceas, amareladas e beges. As

manchas escuras de formas triangulares distribuem-se em ambos os lados do corpo,

de modo que os ápices dos triângulos fiquem sobre a linha média dorsal, dispondo-

se em posição total, parcial ou justaposto (GONÇALVES-MACHADO et al., 2015;

SAZIMA, 1992).

20

Figura 1. Serpente Bothrops jararaca Fonte: Adaptado de GONÇALVES-MACHADO et al.,2015.

Com relação ao veneno produzido por estas serpentes, dentre as substancias

que o compõem, podemos destacar as metaloproteases, que representam mais de

53% das proteínas transcritas em viperídeos, encontrando-se em grande quantidade

no veneno destas serpentes (CIDADE et al., 2006), desempenhando um papel

importante no envenenamento, causando hemorragia, necrose tecidual grave e

inibição da agregação de plaquetas no organismo da vítima (DE MOURA et al.,

2015; MARQUES-PORTO et al., 2008). Várias metaloproteases têm sido isoladas a

partir do veneno de Bothrops jararaca, como fator hemorrágico 3 (HF3), bothropasin

e jararhagin, sendo dentre estas a mais estudada a jararhagin que trata-se de uma

metaloprotease de 52 kDa, com atividade fibrinogenolítica e hemorrágica (DA SILVA

et al., 2012; LAING & MOURA-DA-SILVA, 2005).

A serpente B. jararaca produz, em média, 25 mg a 300 mg de veneno

altamente tóxico, cuja dose letal média (DL50) para camundongos é de 1,4 mg/kg

por via intraperitoneal, 1,2 mg/kg por via intravenosa, 3 mg/kg por via subcutânea

(GONÇALVES-MACHADO et al., 2015). O quadro clínico típico de envenenamento,

em humanos incluem inchaço local, petéquias, hematomas e bolhas no membro

afetado, hemorragia sistêmica espontânea em vários órgãos, hemorragia

subconjuntival e distúrbios de coagulação. Os sintomas sistêmicos podem ser

potencialmente fatais e podem envolver distúrbios na hemostasia, hemorragia

21 intracraniana, choque e insuficiência renal (CARDOSO et al., 2003; DE MOURA et

al., 2015; GONÇALVES-MACHADO et al., 2015; GUTIERREZ & LOMONTE, 2003).

2.1.2 Bothrops erythromelas

A serpente B. erythromelas (Figura 2) conhecida como jararaca-da seca ou

malha de cascavel, é uma serpente venenosa de pequeno porte, podendo atingir até

56 cm quando adulta. Seu padrão de coloração é marrom avermelhado, sendo sua

cabeça marrom e o dorso marrom avermelhado com uma dupla série de marcações

triangulares pretas e castanho-escuros, que podem ser alternadas (JORGE et al.,

2015). Abundante nas áreas litorâneas e úmidas da região Nordeste, encontra-se

amplamente distribuída desde o estado da Bahia até o Ceará, tem como habitat

natural a região da caatinga, sendo umas das principais serpentes responsáveis

pelos acidentes ofídicos na região Nordeste do Brasil (SANTOS, 2011; JORGE et

al., 2015).

Seu veneno assim como nos demais venenos botrópicos, possui atividades

coagulante, hemorrágica e proteolítica, porém, não apresenta em sua peçonha

toxinas tipo trombina-serino proteases, que atuam diretamente sobre a molécula de

fibrinogênio, encontradas em outros venenos botrópicos. A atividade coagulante

encontrada no veneno de B. erythromelas é devido à presença de toxinas pró-

coagulantes ativadoras do Fator II e X que levam a formação de trombina endógena

(MARUYAMA et al., 1992; JORGE et al., 2015).

22

Figura 2. Serpente Bothrops erythromelas. Fonte: Adaptado de JORGE et al., 2015.

2.2 ESCORPIONISMO

O termo escorpionismo refere-se ao quadro do envenenamento causado

pelas toxinas presentes na peçonha de espécies de escorpiões, diagnosticado e

decorrente de acidentes favorecidos por situações de risco como presença de

escorpiões no campo e em focos urbanos, lixo, desequilíbrio ambiental, ambientes

novos de dispersão e procriação, falta de infra-estrutura e consciência da população

a respeito do problema (ALBUQUERQUE et al., 2004). Este tipo de acidente pode

ter um grande impacto na perda de potencial humano e produtividade econômica

(AYARI-RIABI et al., 2015).

O envenenamento por picada de escorpião ainda representa grave problema

de saúde pública em países de clima tropical e subtropical. Aproximadamente cinco

milhões de acidentes escorpiônicos são registrados a cada ano no mundo

(principalmente na África, Ásia e América Latina, regiões subtropicais) (AYARI-RIABI

et al., 2015; RIBEIRO et al., 2010). No Brasil são notificados aproximadamente

10.000 acidentes por ano e 50% desses casos ocorrem nos estados de São Paulo e

Minas Gerais (RIBEIRO et al., 2010; ROCHA SOARES et al., 2012).

Mundialmente existem cerca de 2.069 espécies de escorpiões registrados,

subdivididos em 197 gêneros e 15 famílias (PUCCA et al., 2015a). A família

23 Buthidae apresenta cerca de 34 espécies consideradas potencialmente perigosas

para os seres humanos, incluindo espécies do gênero Tityus (CHIPPAUX &

GOYFFON, 2008). No Brasil, o principal escorpião relatado e de maior importância

médica é o Tityus serrulatus, que é hoje considerada a espécie de escorpião mais

perigosa e com uma ampla distribuição no país (BUCARETCHI et al., 2014; ROCHA

SOARES et al., 2012; PUCCA et al., 2015a).

2.2.1 Tityus serrulatus

A espécie T. serrulatus (Figura 3), conhecido popularmente como escorpião-

amarelo, é considerada a mais venenosa da América do Sul sendo responsável pela

maior parte dos eventos fatais notificados, especialmente em crianças (FIALHO et

al., 2011; TORRES et al., 2002; ZULIANI et al., 2013). Podem ser identificadas por

suas características morfológicas sendo as principais as pernas e cauda amarelo-

claras com o tronco escuro e a presença de uma serrilha nos 3º e 4º anéis da cauda.

O corpo do escorpião pode ser dividido anatomicamente em prosoma (cefalotórax),

mesosoma (abdómen) e metasoma (cauda), ligando o último segmento ao telson,

onde se encontram um par de glândulas secretoras de veneno, sendo este o

aparelho inoculador do veneno na presa. Medindo de 6 a 7 cm de comprimento

quando adulto, sua reprodução é partenogenética, o que junto com sua alta

adaptabilidade aos ambientes urbanos facilita sua alta disseminação e elevado

número de acidentes (BERGERON & BINGHAM, 2012; CHIPPAUX & GOYFFON,

2008; PUCCA et al., 2015a).

24

Figura 3. Escorpião Tityus serrulatus. Fonte: Adaptado de BUCARETCHI et al., 2014.

O veneno produzido pelo escorpião T. serrulatus é composto por uma mistura

de substâncias incluindo muco, sais inorgânicos, lipídeos, peptídeos

antimicrobianos, hialuronidases, peptídeos sem ligações dissulfeto com atividade

vascular, como hipotensinas e principalmente neurotoxinas de baixa massa

molecular (CERNI et al., 2014; COLOGNA et al., 2009; PUCCA et al., 2015a). As

neurotoxinas são os componentes do veneno do escorpião mais estudados devido à

sua relevância clínica, sendo os maiores responsáveis pela síndrome do

envenenamento, e ação farmacológica específica sobre os canais iônicos,

principalmente de sódio e potássio (COLOGNA et al., 2009; ORTIZ et al., 2014;

PUCCA et al., 2015a, 2015b; ZULIANI et al., 2013). Outras toxinas capazes de

reconhecer os canais de cálcio e cloro também são encontradas no veneno do

escorpião (ESPINO-SOLIS et al., 2009).

A ativação dos canais de sódio e/ou bloqueio dos canais de potássio têm

como consequência uma liberação excessiva de neurotransmissores nas vias de

transdução de sinais neuronais, essa ação sinérgica de várias toxinas resulta em

manifestações clínicas como dor, edema pulmonar, eritema, parestesia, vômitos e

diaforese (BATISTA et al., 2007). Alguns outros constituintes como enzimas

hialuronidases, proteases e fosfolipases presentes na peçonha, degradam os

constituintes da matriz extracelular e contribuem para a dispersão do veneno pelos

25 tecidos e demais sintomas associados ao envenenamento (CARMO et al., 2015). Os

acidentes escorpiônicos ocasionados por T. serrulatus provocam dor local, com

intensidade variável, podendo ser acompanhada por náuseas, suores, taquicardia,

febre, e agitação. O envenenamento moderado é caracterizado por sudorese, dor

epigástrica, obstrução pulmonar, cólicas, vômitos, hipotensão, diarreia, bradicardia e

dispneia. Já no envenenamento grave, que geralmente afeta as crianças e idosos, o

acidentado pode apresentar diversas complicações, tais como insuficiência

cardiorrespiratória, podendo ser letal (CHIPPAUX & GOYFFON, 2008; PUCCA et al.,

2015a; ZULIANI et al., 2013).

2.3 SOROTERAPIA

Ao longo dos anos vários estudos foram desenvolvidos na busca de soros e

vacinas eficazes. O resultado desses esforços forneceram ferramentas para obter

anticorpos humanos contra alvos específicos, fabricados por empresas

biotecnológicas dedicadas à produção de anticorpos terapêuticos. Os antivenenos

mais conhecidos disponíveis são aqueles dirigidos contra serpentes, escorpiões e

aranhas (ESPINO-SOLIS et al., 2009). A soroterapia convencional continua a ser o

único tratamento específico de envenenamento tanto para serpentes, escorpiões,

aranhas quanto para animais marinhos. Envolve basicamente a aplicação de

fragmentos de anticorpos para inativar e acelerar a depuração de componentes do

veneno relevantes no sistema da vítima (ALVARENGA et al., 2014).

O soro antiofídico é o tratamento atual mais eficaz para os pacientes de

acidentes com serpentes. Este, por sua vez, neutraliza muito bem o efeito sistêmico

do envenenamento, mas não os efeitos locais, que em caso de acidente botrópico e

laquético, observa-se um forte processo inflamatório (ESPINO-SOLIS et al., 2009;

GUTIÉRREZ et al., 2014; OGUIURA et al., 2014). Os antivenenos disponíveis às

vezes podem não neutralizar satisfatoriamente os efeitos causados pelo

envenenamento no paciente, fato este que pode ser explicado pela ideia de que o

26 antiveneno produzido pode não conter anticorpos específicos contra determinado

componente tóxico do veneno (ESPINO-SOLIS et al., 2009), o que vêm levando à

estudos mais aprofundados dos componentes do veneno através de técnicas e

estratégias para avaliação das toxinas que o compõem, "venomics", de forma direta

(por meio de análise proteômica) e indiretamente (através do transcriptoma da

glândula de veneno), sendo um estudo relevante para a produção de anticorpos com

maior especificidade e ação protetora (ESPINO-SOLIS et al., 2009; GONSALVES-

MACHADO et al., 2015; ALVARENGA et al., 2014).

Alguns antivenenos produzidos mundialmente são polivalentes, ou seja,

podem neutralizar o veneno de mais de uma espécie de serpentes; outros são

monovalentes, preparados usando o veneno de única espécie de serpente

(ESPINO-SOLIS et al., 2009). O tratamento para envenenamento botrópico, no

Brasil, envolve o uso de um soro antibotrópico equino polivalente (ou antibotrópico-

laquético) F(ab')2 preparado por imunizações em horários convencionais com um

pool de venenos de cinco espécies de serpentes do gênero Bothrops: B. jararaca, B.

jararacussu, B. moojeni, B. alternatus e B. neuwiedi (JORGE et al, 2015; OGUIURA

et al, 2014).

Com relação aos acidentes escorpiônicos, no Brasil, o tratamento utilizado

para casos leves baseia-se principalmente no alívio da dor pela administração de

lidocaína a 2% sem vasoconstritor no local da picada ou por administração de

analgésicos, por via oral ou parenteral. Nos casos de envenenamento grave a

administração do antiveneno por via intravenosa é obrigatória (PUCCA et al.,

2015a). No Brasil, o soro antiveneno de escorpião é rotineiramente produzido

imunizando-se cavalos. Embora este soro heterólogo tenha demonstrado ser eficaz

na redução da taxa de mortalidade em casos de acidentes, algumas complicações

graves podem acontecer com seu uso, como choque anafilático e doença do soro,

sendo assim estudos vêm sendo desenvolvidos avaliando a utilização de anticorpos

27 recombinantes para a produção desses antivenenos, o que poderia atenuar esses

efeitos colaterais. Alguns problemas também são relatados com relação a sua

produção, na obtenção de quantidades suficientes de veneno para o processo de

imunização e de amostras de soro com quantidade de anticorpos relevantes

(PUCCA et al., 2015a; RONCOLATO et al., 2015).

Enquanto a pesquisa por vacinas ainda estava em desenvolvimento, estudos

já reportavam que adicionando certos compostos a um inóculo poderia se elevar a

resposta imune obtida. Os adjuvantes são compostos que melhoram a resposta

imunológica contra um determinado antígeno, potencializando-a, podendo ser

compostos naturais ou sintéticos (AGUILAR & RODRIGUEZ, 2007; LI et al., 2014).

O uso de adjuvantes em vacinas é particularmente importante quando o

antígeno possui baixa imunogenicidade, no entanto muitos problemas são

encontrados no desenvolvimento e utilização de adjuvantes em vacinas,

principalmente em humanos (AGUILAR & RODRIGUEZ, 2007; ROCHA SOARES et

al., 2012; SCHERLIES et al., 2013). A escolha de um adjuvante para uma

determinada vacina deve ser associada ao poder adjuvante desta substância e ao

nível aceitável de efeitos adversos.

Vários mecanismos são propostos para explicar a eficiência dos adjuvantes e

como tais moléculas podem potencializar a resposta da vacina ao antígeno. Os

adjuvantes podem induzir inflamação local aumentando o contato do antígeno com

células adicionais que são atraídas para o local, formar um depósito de antígeno

liberando-o mais lentamente e prolongando assim sua interação com o macrófago,

podem também aumentar a velocidade e duração da resposta imune, modular a

avidez, a especificidade, estimular a imunidade mediada por células, e aumentar a

resposta imunológica em indivíduos imunologicamente imaturos ou senis

(RESENDE et al., 2004).

28

O principal adjuvante aprovado para uso em vacinas humanas é o hidróxido

de alumínio, que forma um depósito insolúvel no local da injeção, a partir de onde os

antígenos são solubilizados lentamente, sendo a eficiência de adsorção considerada

critica (AGUILAR & RODRIGUEZ, 2007; GUPTA et al., 2000; LI et al., 2014;

SCHERLIES et al., 2013). Relatos de incidências de toxicidade e efeitos colaterais

dos sais de alumínio têm levantado preocupações sobre sua segurança,

principalmente em vacinas infantis. Estes efeitos incluem reações locais menores,

como dor e eritema, nódulo no local da injeção, e sistêmicas que podem incluir febre,

mal-estar, calafrios, dores gerais e dor de cabeça (BANSAL et al., 2014; KIM &

KANG, 2008).

Nesse contexto, novas tecnologias vêm sendo adaptadas na busca de novos

imunoadjuvantes que possam potencializar a ação das vacinas e soros, minimizando

as reações adversas relacionadas ao uso dos adjuvantes tradicionais.

Nanocarreadores vêm sendo descritos na literatura por terem propriedades

adjuvantes, serem facilmente fagocitadas, protegerem o antígeno da degradação,

mantendo sua antigenicidade, garantindo uma apresentação ótima, com uma dose

controlada de forma segura e eficiente (AYARI-RIABI et al., 2015; KIM & KANG,

2008; SCHERLIES et al., 2013). Sendo assim, a utilização de biopolímeros, como a

quitosana, na forma nanoparticulada, vem sendo bastante estudados para essa

finalidade, sendo uma alternativa na busca de um novo adjuvante de imunização

mais eficiente e seguro.

2.4 NANOPARTÍCULAS

Nos últimos anos, esforços significativos vêm sendo dedicados a aplicação da

nanotecnologia no controle da liberação de fármacos e proteínas em sítios de ação

específicos, através da utilização de vetores capazes de permitir a otimização da

velocidade de liberação de substâncias, como fármacos e agentes bioativos. Sendo

assim, a nanotecnologia tem recebido muita atenção para aplicação em várias

29 áreas, tais como a indústria têxtil, agricultura, ciência forense e biomedicina (HAMIDI

et al., 2008; NAHAR et al., 2006; TAVARES et al., 2012). Na área farmacêutica, a

nanotecnologia concentra-se na formulação de agentes terapeuticamente ativos

biocompatíveis, tais como nanopartículas, sistemas micelares, lipossomas e

conjugados (HAMIDI et al.,2008).

O termo nanopartículas refere-se a partículas de tamanho variável, entre 10 e

1000 nm. As nanopartículas podem ser classificadas em nanoesferas e em

nanocápsulas, de acordo com a composição e organização estrutural (HAMIDI et

al.,2008; SAHOO & LABHASETWAR, 2003). As nanoesferas são constituídas de

uma densa matriz polimérica e o fármaco, portanto, encontra-se homogeneamente

disperso ou dissolvido em seu interior. Desta forma, obtém-se um sistema

monolítico, que não apresenta um núcleo definido. Já as nanocápsulas, são

denominadas de sistema tipo reservatório e, ao contrário do anterior, apresenta

núcleo bem definido. Este núcleo pode ser sólido ou líquido. Neste caso, a

substância encontra-se em um invólucro polimérico ao redor do núcleo de natureza

oleosa. Ou seja, a diferença morfológica entre a forma farmacêutica de nanoesferas

(sistema polimérico matricial) e nanocápsulas (sistema polimérico do tipo

reservatório) é o que classifica o sistema (HAMIDI et al., 2008; KUMARI et al., 2010;

RAO & GECKELER, 2011).

Sistemas baseados em biopolímeros têm sido estudados como produtos

farmacêuticos para obtenção de sistemas de liberação controlada devido as suas

potencialidades terapêuticas, como estabilidade no sangue e demais fluidos

biológicos, assim como durante o armazenamento e baixa toxicidade (HAMIDI et al.,

2008; NAHAR et al.,2006; SCHAFFAZICK et al., 2003; TAVARES et al., 2012).

Na liberação modificada de fármacos e/ou biomoléculas algumas vantagens

foram atribuídas ao desenvolvimento de nanopartículas poliméricas, entre elas, o

tamanho reduzido e consequente maior área de superfície, que resulta em aumento

30 da taxa de dissolução e biodisponibilidade. Outras vantagens incluem a diminuição

da dose administrada, redução da toxicidade, aumento da permeabilidade da

substância encapsulada e possibilidade de alterar a carga e a constituição de sua

superfície por meio de funcionalizações o que está diretamente relacionado com a

especificidade de sua interação com a membrana celular (KIM & KANG, 2008; LEE

et al., 2011; XU & DU, 2003). Alguns destes polímeros têm sido aprovados e

amplamente estudados, para administração em humanos, tais como Poli (L-Ácido

lático co-Glicólico) (PLGA), policaprolactona (PCL), gelatina, quitosana, Poli-DL

Ácido Lático (PDLLA) e polietilenoglicol (PEG) (AYARI-RIABI et al.,2015; BANSAL et

al., 2014; SON & KIM, 2010; TAVARES et al., 2012; WOITISKI et al., 2009).

Estudos utilizando alguns desses polímeros como sistemas de liberação e/ou

adjuvantes de imunização vêm sendo amplamente desenvolvidos, sendo obtidos

resultados favoráveis. Nanopartículas de PLGA, utilizadas como adjuvante de

imunização contra o veneno do escorpião Tityus serrulatus e de abelhas foram

desenvolvidas na busca de uma resposta imune mais eficaz (AYARI-RIABI et

al.,2015; TRINDADE et al., 2012), estudos também foram desenvolvidos utilizando

essas nanopartículas na gene terapia para encapsulação e transporte de DNA (SON

& KIM, 2010) e como sistema de liberação para a insulina (ANDREAS et al., 2011).

Nanoparticulas de quitosana demonstraram eficiência de encapsulação satisfatória

para o antígeno da Hepatite B e posteriormente foram utilizadas para imunização

intranasal e subcutanea (KIM & KANG, 2008; BORGES et al., 2008), e na gene

terapia recentemente utilizadas em estratégias de silenciamento de genes, para o

controle da proliferação do mosquito Aedes aegypti (KUMAR et al., 2016), também

foram estudadas para o desenvolvimento de vacinas de DNA contra o vírus da gripe

suina (ZHAO et al., 2011). Em um outro estudo nanopartículas de quitosana

conjugadas com PEG, foram desenvolvidas de forma satisfatória para encapsulação

da insulina, e posterior administração por via oral (WOITISKI et al., 2009).

31

Poucos são os trabalhos utilizando a quitosana como adjuvantes de vacinas

antivenenos, no entanto o veneno da serpente Naja naja oxiana foi encapsulado em

nanoparticulas de quitosana com uma alta eficiencia de encapsulação, no entanto

não foram realizados testes de imunização (MOHAMMADPOURDOUNIGHI et al.,

2010). Em um trabalho desenvolvido em nosso grupo de pesquisa o veneno do

escorpião Tytius serrulatus foi encapsulado à nanopartículas de quitosana, e estas

testadas como adjuvantes de imunização, sendo obtidos um titulo de anticorpos

consideravelmente mais elevados quando comparado aos obtidos na imunização

com o adjuvante convencional (ROCHA SOARES et al., 2012).

2.5 QUITOSANA (CH)

A quitosana, (1-4)2-amino-2-deoxi-b-D-glucana, biopolímero catiônico em

meio ácido, resultante da desacetilação da quitina, podendo ser encontrada em

alguns microrganismos como algas e fungos (ANTONIOU, et al., 2015; IEVA et al.,

2009; PAPADIMITRIOU et al., 2008; RAMPINO et al., 2013). Têm como uma das

principais características físico-químicas o percentual de grupos amina livres, que

interfere na solubilidade, e viscosidade, além de muitas das aplicações biológicas

(RAVI KUMAR, 2000; ANTONIOU et al., 2015). Sua natureza catiônica confere ao

polímero a capacidade de bioadesão e aumento da permeabilidade de membrana,

permitindo a passagem de grandes moléculas através da superfície da mucosa,

podendo aumentar a absorção da substância administrada (AMIDI et al., 2010;

PAPADIMITRIOU et al., 2008; XU & DU, 2003).

32

Figura 4. Representação esquemática da quitosana. Grau de desacetilação (x) variável. Adaptado de: AMIDI et al., 2010.

Esse biopolímero vem sendo amplamente utilizado na agricultura e nas

indústrias farmacêuticas, de cosméticos e de alimentos devido as suas propriedades

biológicas, dentre as quais podemos destacar a biocompatibilidade,

biodegradabilidade, atividade antimicrobiana, analgésica e cicatrizante, não

toxicidade e imunomodulação (ANTONIOU et al., 2015; BORGES et al., 2008; IEVA

et al., 2009; OKAMOTO et al., 2003; RAMPINO et al., 2013).

A natureza catiônica da quitosana tem sido explorada para o desenvolvimento

de sistemas particulados para liberação de medicamentos e proteínas.

Macromoléculas com carga negativa, tais como, peptídeos, proteínas, antígenos,

oligonucleotídeos, DNA e RNA podem ser eficientemente encapsulados às

nanopartículas de quitosana, devido ao seu caráter catiônico, estabelecendo uma

forte interação eletrostática com essas moléculas (ANTONIOU et al., 2015; GAN et

al., 2005; KOPPOLU et al., 2014; PAN et al., 2002; ROCHA SOARES et al., 2012;

VIMAL et al., 2013). Além disso, as nanopartículas de quitosana apresentam

capacidade para atravessar as barreiras biológicas, protegem as macromoléculas de

degradação em meios biológicos, e agem como sistemas de liberação controlada,

liberando macromoléculas num tecido ou célula alvo em uma taxa de liberação

desejada (IEVA et al., 2009; PAPADIMITRIOU et al., 2008).

A preparação das nanopartículas pode ser realizada utilizando métodos

diferentes, os quais podem envolver um ou dois tipos de associações entre as

33 moléculas de quitosana, como a reticulação covalente, com o auxilio de um agente

de reticulação (glutaraldeído, genipina, tripolifosfato), e interações físicas, onde as

nanopartículas são obtidas como resultado de uma diminuição da energia livre

proveniente da associação das moléculas de polímero (TAVARES et al., 2012).

Dentre os métodos de obtenção das nanopartículas de quitosana, podemos destacar

os seguintes: método de atomização por spray-drying, gelificação iônica,

complexação de polieletrólito, coacervação/precipitação, dessolvatação,

coalescência e emulsão com evaporação de solvente, apresentando cada método

suas vantagens e desvantagens (AGNIHOTRI et al., 2004; HAMIDI et al., 2008;

TAVARES et al., 2012).

A seleção do método de preparação de nanopartículas depende de diversos

fatores, tais como: o tamanho da nanopartícula que se pretende, a solubilidade do

fármaco utilizado, a estabilidade da substância a ser incorporada frente ao processo

de obtenção (por exemplo, ao aquecimento), o tipo de polímero empregado, a via de

administração escolhida e a toxicidade residual que provém principalmente dos

solventes envolvidos no processo de produção das nanopartículas (AGNIHOTRI et

al., 2004).

Quando o uso pretendido do sistema nanoparticulado em desenvolvimento é

a administração de fármacos/proteínas, é de grande importância a capacidade de

controlar as suas características físico-químicas, tais como tamanho de partícula,

distribuição de tamanho e carga de superfície, uma vez que estes fatores podem

influenciar significativamente a cinética de liberação. Estudos demonstram que

partículas de maior diâmetro, tendem a aumentar a taxa de liberação de fármacos e

proteínas encapsuladas (KOPPOLU et al., 2014).

A técnica de gelificação iônica é um método de obtenção de nanopartículas

de quitosana reticuladas extremamente vantajoso, pois se trata de um procedimento

simples, que não necessita de solventes orgânicos e gera partículas de tamanho

34 controlável com capacidade de encapsulamento satisfatória para fármacos e

macromoléculas como proteínas e peptídeos (PAPADIMITRIOU et al., 2008;

RAMPINO et al., 2013). Este processo de gelificação se dá pela formação de

ligações cruzadas inter e intramoleculares mediadas por poliânions que se

comportam como reticulantes. Dentre os agentes reticuladores empregados, o

tripolifosfato polianiônico (TPP) (Figura 5) é um dos mais utilizados devido a

biocompatibilidade, baixa toxicidade e alta reatividade química na gelificação

(ANTONIOU et al., 2015; GAN et al., 2005; PAPADIMITRIOU et al., 2008; SHU&

ZHU, 2000).

Figura 5. Representação esquemática da estrutura molecular do TPP (Tripolifosfato de Sódio) Adaptado de: PAPADIMITRIOU et al., 2008.

A formação das nanopartículas de quitosana reticuladas com TPP ocorre

através de interações iônicas, entre os grupos fosfato do TPP e os amínicos da

quitosana, formando ligações cruzadas entre as cadeias de quitosana, originando

assim moléculas com propriedades físico-químicas diferentes (GAN & WANG, 2007;

JANES et al., 2001; NASTI et al., 2009; RAMPINO et al., 2013). Este mecanismo

baseia-se no fato de que em meio ácido, as moléculas de TPP são dissociadas em

ânions P3O105−, e os grupamentos amina da quitosana ficam carregados

positivamente, ocorrendo assim o processo de reticulação, onde os ânions do TPP

estão completamente envolvidos no processo de reticulação estando na proporção

35 de 1 ânion de TPP para 5 grupamentos amina da quitosana (rPA=0,2), de acordo

com a figura 6 (YANG et al., 2007).

Figura 6. Esquema de representação das interações químicas formadas entre CH e TPP na formação das nanopartículas via gelificação iônica.

Adaptado de: YANG et al., 2007.

A incorporação das proteínas aos nanossistemas pode ser promovida por três

métodos diferentes: A proteína pode ser inserida ao sistema durante o processo de

formação das nanopartículas de diferentes formas: (i) podendo ser adicionada na

solução de quitosana ou (ii) na solução de TPP, (iii) como também pode ser feita

através da adição das proteínas ao sistema de nanopartículas já formado, mantendo

sob agitação magnética por um determinado tempo (KIM & KANG, 2008) (Figura 7).

A taxa de incorporação das proteínas pode variar dependendo do método

empregado e das características da proteína a ser incorporada.

36

Figura 7. Métodos de incorporação de proteínas às nanopartículas de quitosana. Adaptado de: KIM & KANG, 2008

Esses nanossistemas formados por nanopartículas de quitosana apresentam

algumas características que os tornam atrativos para a encapsulação e liberação de

macromoléculas. São vantajosos em comparação com outros sistemas de

nanopartículas, por formar partículas de tamanho homogêneo e ajustável, em

condições brandas (GAN et al., 2005), além do fato de que as partículas obtidas

apresentam uma carga de superfície positiva que pode ser facilmente modulada e,

ainda, possuem uma grande capacidade para a associação de peptídeos, proteínas,

oligonucleotiídeos e plasmídeos (SHU & ZHU, 2000; JANES et al., 2001).

Assim, um estudo mais detalhado da aplicação de nanopartículas de

quitosana obtidas por gelificação iônica, como um adjuvante em vacinas para

imunização na obtenção de soros antivenenos, pode ser de grande importância em

saúde pública podendo servir como base para a formulação de um novo soro

antiveneno.

37 3 OBJETIVOS

3.1 OBJETIVO GERAL

Obtenção e caracterização de nanopartículas de quitosana e avaliação do

potencial imunoadjuvante na produção de antissoros contra os venenos das

serpentes Bothrops jararaca e Bothrops erythromelas e do escorpião Tityus

serrulatus.

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Obter as nanopartículas de quitosana pela técnica de gelificação iônica e estudar

os parâmetros de encapsulação e liberação das proteínas/peptídeos que

compõem os venenos nos nanossistemas;

Determinar as características físico-químicas dos sistemas obtidos: Diâmetro

médio e distribuição do tamanho de partículas, potencial zeta, forma e superfície

das partículas por MEV e AFM, e avaliar a estabilidade física dos nanossistemas;

Imunizar animais de experimentação com os venenos das serpentes associados

aos adjuvantes: hidróxido de alumínio e nanopartículas de quitosana;

Obter amostras de soro dos animais (camundongos) imunizados e avaliar os

títulos de anticorpos pela técnica de ELISA.

38 4 MATERIAL E MÉTODOS

4.1 MATERIAL

Peçonha de escorpiões T. serrulatus e das serpentes B. jararaca, B.

erythromelas – Instituto Butantan; Patrimônio genético n°010843/2013-2.

Albumina de soro bovino (BSA) – Sigma-Aldrich (EUA);

Quitosana (80% desacetilada, massa molecular viscosimétrica de 5,2 x 105 g

mol-1) - Sigma-Aldrich (EUA);

Tripolifosfato de sódio - Sigma-Aldrich (EUA);

Padrão de albumina de soro bovino (BSA) – BioAgency (Brasil);

Minigel (Mini-ProteanTM II) – Bio-Rad Lab (EUA);

Acrilamida e Bisacrilamida – Biosystems (Brasil);

Dodecil Sulfato de Sódio (SDS) – Biosystems (Brasil);

Tris-Hidrocloreto (Tris-HCl) – Biosystems (Brasil);

Persulfato de Amônio (PSA) – Biosystems (Brasil);

Tetrametiletilenodiamina (TEMED) – Biosystems (Brasil);

Marcador de massa molecular – Gibco/BRL Life Technologies (EUA);

Corante Commassie Brillant Blue R-250 – Bio-Rad Lab (EUA);

Kit de quantificação de proteínas BCA Protein Assay kit – Pierce

Biotechnology (EUA);

Sistema purificador de água por osmose reversa, modelo OS50 LX – Gehaka

(Brasil);

Analisador de potencial zeta e tamanho de partículas, ZetaPlus - Brookhaven

Instruments (EUA);

Microcentrífuga 5418R – Eppendorf (Alemanha);

Microscópio de Eletrônico de Varredura SSX550 – Shimadzu (Japão);

Microscópio de Força Atômica SPM-9700 – Shimadzu (Japão);

39

Leitora de microplaca Epoch™ Microplate Spectrophometer – BioTek (EUA);

Concentrador de amostras Centrivap Labconco – Kansas City (EUA);

Espectrofotômetro de FTIR, modelo IRPrestige-21 – Shimadzu (Japão).

40 4.2 MÉTODOS

4.2.1 ANIMAIS EXPERIMENTAIS

Foram utilizados camundongos BALB/c machos (25-35 g) de 6 a 8 semanas

de idade, provenientes do Biotério setorial do Centro de Ciências da Saúde da

UFRN. Os animais foram mantidos em condições de temperatura controlada (22 ± 2

°C), ciclo claro/escuro de 12 horas e com livre acesso a água e ração comercial. Os

animais foram mantidos na sala de experimento durante pelo menos uma hora antes

da realização dos testes, para adaptação. Os experimentos foram realizados de

acordo com as orientações para os cuidados com animais de laboratórios.

Os protocolos experimentais foram aprovados pela Comissão de Ética no Uso

de Animais (CEUA) do Centro de Biociências da Universidade Federal do Rio

Grande do Norte sob o protocolo de número 003/2012.

4.2.2 OBTENÇÃO DAS NANOPARTÍCULAS DE QUITOSANA

As nanopartículas de quitosana para a incorporação do veneno de B.

erythromelas, B. jararaca e T. serrulatus foram obtidas através da técnica de

gelificação iônica. Para tanto, foram preparadas soluções de quitosana 0,1% em

solução de ácido acético 0,175%, (pH = 4,0), com um volume total de 5 mL, e

soluções de TPP 0,1% em água destilada (pH = 9,0). Dois mililitros da solução de

TPP foi vertida na solução de quitosana, por gotejamento, sob agitação constante

(700 rpm) e a temperatura ambiente, por 30 minutos, até se observar a formação de

uma dispersão opalescente com um volume total de 7 mL (pH = 5,0) (GAN & WANG,

2007).

Todos os experimentos foram efetuados em triplicata e os dados expressos

como média ± desvio padrão.

4.2.3 INCORPORAÇÃO DAS PROTEÍNAS ÀS NANOPARTÍCULAS

Os venenos do escorpião e das serpentes foi dissolvido em água estéril de

modo a se obter uma solução na concentração de 1 mg/mL. Desta solução inicial

41 foram retiradas alíquotas para compor soluções de veneno/TPP nas concentrações

5, 10 e 15% e mantidas a uma temperatura de 8 ± 2 ºC. As concentrações das

proteínas dos venenos incorporados às nanoparticulas foram estabelecidas com

relação à concentração de quitosana (0,1%) na formulação.

A solução de TPP/proteínas, foi gotejada na solução de quitosana e mantida

sob agitação magnética (700 rpm), por 30 minutos, até se observar a formação de

uma solução opalescente, seguindo a mesma metodologia de obtenção de

nanoparticulas descrita no item 4.2.2 (GAN & WANG, 2007; HAMIDI et al., 2008).

4.2.4 ASPECTOS FÍSICO-QUÍMICOS DAS NANOPARTÍCULAS

4.2.4.1 MEDIDAS DE POTENCIAL ZETA E TAMANHO DE PARTÍCULA

As medidas de potencial zeta, realizadas para investigar as interações

eletrostáticas na superfície das nanopartículas, foram obtidas com equipamento

Zeta Plus (Brookhaven Instruments, EUA) através do aparato ZetaPALS, com a

aplicação de um campo de força de 5,9 V.cm-1. Neste equipamento também está

acoplado um aparato 90 Plus/BI-MAS, o qual determina o diâmetro médio das

partículas através de uma análise de espalhamento de luz dinâmico. As análises

foram realizadas a 25 ºC em 659 nm, com ângulo de espalhamento 90º.

4.2.4.2 ANÁLISE DE ESPECTROSCOPIA NA REGIÃO DO INFRAVERMELHO

Os espectros de absorção no infravermelho (FTIR) foram obtidos através do

espectrofotómetro FT-IR, Prestige 21, (Shimadzu, Tóquio, Japão), a fim de estudar

a ocorrência das ligações intermoleculares entre os grupos fosfato do TPP e amina

da quitosana, comprovando a reticulação por gelificação iônica.

Espectros dos compostos individuais, veneno do escorpião T. serrulatus, das

serpentes B. erythromelas, B. jararaca, quitosana e TPP, e das nanopartículas de

quitosana com os venenos incorporados, foram comparados a fim de comprovar o

processo de reticulação. As amostras foram secas no concentrador a vácuo de

velocidade, Centrivap Labconco (Kansas City, EUA), em seguida, misturadas com

42 brometo de potássio (KBr) e comprimidas em prensa hidráulica. A proporção em

peso entre as amostras liofilizadas e o KBr foi de 1: 200.

4.2.4.3 ESTUDO DA FORMA E DA SUPERFÍCIE DAS NANOPARTÍCULAS

A forma e a superfície das nanopartículas de quitosana foram analisadas por

microscopia eletrônica de varredura (MEV) (SSX550, Shimadzu, Tóquio, Japão) e

por microscopia de força atômica (AFM) (SPM-9700 – Shimadzu, Japão), antes e

após a incorporação das proteínas dos venenos do escorpião e serpentes.

Para obtenção das imagens por MEV, as amostras foram preparadas

espalhando-se uma gota da dispersão de nanopartículas na lâmina de fita de

carbono do microscópio, mantidas em dessecador por 24 h. Para obtenção das

imagens por AFM, as amostras foram preparadas espalhando-se uma gota da

dispersão de nanopartículas na lâmina de microscópio, mantidas em dessecador por

24 h. As imagens foram obtidas com microscópio de força atômica com ponteira (tip)

de silício, operando na região atrativa em modo de não-contato do cantilever.

4.2.4.4 ENSAIO DE ESTABILIDADE FÍSICA DAS NANOPARTÍCULAS

As nanopartículas puras e contendo proteínas dos venenos das serpentes B.

erythromelas e B. jararaca foram acondicionadas a temperatura de 8 ± 2 ºC e

avaliadas quanto à sua estabilidade física. A cada cinco dias o tamanho de partícula

foi determinado por espalhamento de luz dinâmico em equipamento ZetaPlus,

durante 40 dias.

4.2.5 EFICIÊNCIA DE INCORPORAÇÃO

Amostras distintas de nanopartículas de quitosana reticuladas com proteínas

dos venenos incorporadas foram centrifugadas a 20.000 x g, 4 °C durante 30

minutos. A concentração proteica do sobrenadante das amostras foi estimada

utilizando o método do ácido bicinconínico pelo BCA Protein Assay kit (FERNANDES

PEDROSA et al., 2002). A eficiência de incorporação de proteínas (EIP%) foi

calculada usando a Equação 1 (GAN et al., 2005).

43

EIP%

(1)

4.2.6 ELETROFORESE EM GEL DE POLIACRILAMIDA

O perfil eletroforético dos venenos de B. erythromelas, B. jararaca e T.

serrulatus, e da Albumina Soro Bovina (BSA), associados ou não às nanopartículas

de quitosana foi determinado por eletroforese em gel de poliacrilamida e dodecil

sulfato de sódio (SDS-PAGE), utilizando-se o sistema de minigel (Mini-ProteanTM

II) (LAEMMLI UK, 1970).

As amostras foram misturadas ao tampão de amostra 1x (Tris 0,0625 M pH=

6.8, glicerol 20 %, SDS 2 %, azul de bromofenol 0,01 %, β-mercaptoetanol 5 %)

SDS-PAGE em condições redutoras, fervidas durante 5 minutos e aplicadas aos

géis de eletroforese, com concentração de poliacrilamida 12% para o gel de corrida

e 4% para o gel de empacotamento. A eletroforese foi desenvolvida em sistema

vertical, em placas de dimensão 10,0 x 8,0 x 0,8cm, à 180V, 24 mA, durante 3

horas. A massa molecular relativa das proteínas foi determinada em gel de

poliacrilamida, por comparação da migração eletroforética de uma mistura protéica

padrão, obtida comercialmente.

Os géis foram corados em solução de “Commassie Brillant Blue” R-250 e/ou

pelo método de coloração por prata.

4.2.7 ENSAIO DE LIBERAÇÃO IN VITRO

Para determinar o perfil de liberação in vitro das proteínas, as nanopartículas

contendo o veneno do escorpião Tityus serrulatus e BSA foram incubadas em

solução tampão fosfato pH = 7,4 (KH2PO4 0,05 mol·L-1) e mantidas em banho

termostatizado à 37 ºC ± 0,2 ºC, em condição sink. Em intervalos de tempo pré-

determinados (30 minutos, 1, 2, 4, 8, 12, 24, 48, 72, 126 e 144 horas), as

44 nanopartículas foram centrifugadas a 16.000 x g à 4 ºC por 30 min e o meio de

dissolução (sobrenadante) retirado para a dosagem de proteínas totais. Novo

volume de solução tampão foi adicionado aos tubos de dissolução, os quais foram

mantidos no banho termostatizado à 37 ºC ± 0,2 ºC até o próximo tempo de coleta. A

concentração de proteína foi analiticamente determinada pelo método do ácido

bicinconínico utilizando o BCA Protein Assay kit.

A massa percentual acumulada de proteínas foi plotada versus o tempo.

Diferentes modelos matemáticos (primeira ordem, Higushi, Korsmeyer-Peppas,

Blaskar e parabólico) foram utilizados para linearizar os dados experimentais. Como

critério de escolha do modelo que melhor explica o fenômeno de liberação das

proteínas das nanopartículas, foi selecionado o coeficiente de determinação (r2),

para avaliar o ajuste do modelo.

4.2.8 PRODUÇÃO DE ANTICORPOS

Os animais de experimentação foram imunizados por seis semanas com 100

µL de veneno das serpentes B. erythromelas, B. jararaca em diferentes

concentrações (5 e 10%) associados aos adjuvantes: hidróxido de alumínio e

nanopartículas de quitosana, com injeções subcutâneas semanais.

4.2.9 OBTENÇÃO DOS SOROS

Para obtenção dos soros, camundongos BALB/c machos normais foram

sangrados pelo plexo ocular. A sangria total dos animais, para análise da presença

de anticorpos contra os antígenos, foi realizada após seis inoculações semanais

(FERNANDES PEDROSA et al., 2002). Amostras de sangue, na ausência de

anticoagulante, foram incubadas a 37 °C por 30 minutos e posteriormente, a 4 °C

por 2 horas para retração do coágulo. Em seguida, as amostras foram centrifugadas

a 1500 rpm por 5 minutos a 4 °C, sendo o sobrenadante (soro) coletado e estocado

a -20 °C.

45 4.2.10 AVALIAÇÃO DOS TÍTULOS DE ANTICORPOS POR ELISA

Os títulos de anticorpos obtidos a partir das amostras dos soros de

camundongos imunizados foram determinados por ensaios de ELISA. Para tanto,

placas de poliestireno foram sensibilizadas com 100 µL de veneno específico (B.

erythromelas ou B. jararaca) em tampão PBS (10 µg/mL) e incubadas overnight a 4

°C. Após este período, as placas foram lavadas com PBS e incubadas por 2 h a 37

°C com a solução de bloqueio (PBS/BSA/ 5%) e, posteriormente, incubadas com

100 µL dos soros (soro de camundongo normal, soro de camundongo anti-veneno,

diluídas em PBS/BSA 0,1%, e incubadas a 37 °C por 1 h. As placas foram lavadas

com PBS/Tween 0,05% (três lavagens/ 5 min) e incubadas com o anticorpo

secundário (anti-IgG de camundongo) conjugado com peroxidase, diluído1:3.000,

por 1 h a 37 °C. As placas foram novamente lavadas com PBS/Tween 0,05% e as

reações reveladas pela adição de OPD (ortofenilenodiamina) e H2O2, e

interrompidas após 20 min. pela adição de H2SO4 2 M. As absorbâncias foram

determinadas a 492 nm em leitor de ELISA (TAMBOURGI et al., 2004).

4.2.11 ANÁLISE ESTATÍSTICA

Os dados experimentais foram apresentados como as médias dos valores

experimentais obtidos e seus respectivos desvios padrão, analisados pelo programa

GraphPad Prism 5. Inicialmente foi realizado o teste de normalidade, seguido do

teste t de Student para análises pareadas de duas médias ou da análise de variância

de uma entrada (ANOVA) quando aplicável, sendo considerados significativamente

diferentes os valores de P < 0,05.

46 5 RESULTADOS

5.1. OBTENÇÃO E ANÁLISE DOS ASPECTOS FÍSICO-QUÍMICOS DAS

NANOPARTÍCULAS

Diversos são os parâmetros que podem influenciar na obtenção e tamanho

das nanopartículas pela técnica de gelificação iônica, como concentração dos

reagentes, pH, volume das soluções, dentre outros, que foram previamente

estudados e otimizados. As partículas entre 150 e 200 nm foram preparadas usando

5 mL de solução aquosa (ácido acético 0,175% m/v) de quitosana a 0,1% m/v

(pH=4,0) e 2 mL de solução de solução aquosa TPP 0,1% m/v (pH=9,0).

A razão ( entre os ânions tripolifosfato da solução de TPP (P3O105-) e os

grupos amino da quitosana (NH2) foi determinada pela fórmula:

(2)

onde, ( ) e (

), correspondem ao número de mols de ânions de TPP e

grupos amina da quitosana em solução, respectivamente. Sendo obtida uma razão

rPA=0,2305, significando que nesse sistema obtido, a razão entre os ânions

tripolifosfato do TPP e os grupos amino da quitosana é de 1:5, estes dados estão de

acordo com os dados obtidos por YANG e colaboradores, 2007. Esta razão foi

obtida segundo os cálculos a seguir:

Cálculo do número de mols de ânions tripolifosfato da solução de TPP ( ):

(3)

47

Cálculo do número de mols de grupos amino da solução de quitosana ( ), onde

corresponde ao grau de desacetilação da quitosana utilizada (80%), Massa

molar da unidade desacetilada da quitosana e da unidade acetilada.

( ) (4)

(

( )

)

(

)

(

)

Então:

48

As nanopartículas de quitosana para a incorporação do veneno de B.

erythromelas, B. jararaca e T. serrulatus foram obtidas com sucesso através da

técnica de gelificação iônica, podendo ser observada a formação de uma dispersão

opalescente estável (pH=5,0), o que segundo a literatura caracteriza a obtenção dos

nanossistemas, como pode ser observado na Figura 8.

Figura 8. Solução de quitosana 0,1% m/v em ácido acético (A) e dispersão opalescente com nanopartículas de quitosana (B).

As nanopartículas de quitosana obtidas apresentaram tamanho médio de 152

nm, com potencial zeta (carga de superfície) positiva de +24,5 mV, com índice de

polidispersão 0,272. A medida do índice de dispersão demonstra a homogeneidade

do tamanho das partículas do sistema, o valor ideal para o índice de dispersão é

menor ou igual a 0,3.

Foram realizados testes de incorporação com a albumina soro bovina (BSA),

antes de serem iniciados os testes com os venenos. Após se obter uma eficiência de

incorporação de proteínas (EIP) satisfatória para o BSA em diferentes concentrações

(5 e 10%), acima de 60%, com tamanho de partícula 185 e 196 nm,

respectivamente, seguiram-se os testes com os venenos do escorpião e das

serpentes. As nanopartículas com o veneno da serpente B. jararaca incorporado nas

concentrações de 5, 10 e 15% apresentaram tamanho de 179, 174 e 187 nm

49 respectivamente, com o índice de polidispersão variando de 0,185 a 0,203. Essas

partículas apresentaram potencial zeta positivo para todas as concentrações

trabalhadas, sendo para a concentração de 5% e 10%, a carga obtida foi de +23,03

e +24,91 mV respectivamente. Uma pequena variação da carga das partículas foi

observada para as amostras que apresentaram 15% desse veneno incorporado,

sendo o potencial zeta obtido de +31,9 mV, o que pode está relacionado com o

discreto aumento das nanopartículas nessa concentração. A eficiência de

incorporação das nanopartículas para o veneno da serpente B. jararaca

correspondeu a 76,7%, 67,7% e 74,8%, para as concentrações de 5, 10 e 15% de

veneno incorporado, respectivamente (Tabela 1).

Nos sistemas envolvendo o veneno da serpente B. erythromelas incorporado

nas concentrações de 5, 10 e 15%, os resultados obtidos para o tamanho de

partícula e potencial zeta foram de 189nm com carga de +20,7 mV para a

concentração de 5%, já para a concentração de 10% de veneno incorporado, foram

obtidas partículas de 160nm com potencial zeta de +19 mV. Esta diminuição do

tamanho da partícula e da carga pode ocorrer devido a interações mais fortes entre

os grupamentos carregados da quitosana e algumas proteínas do veneno com carga

negativa. Quando 15% desse veneno foi incorporado às nanopartículas, o tamanho

médio obtido foi de 201nm, com potencial zeta +27,2 mV. O índice de polidispersão

obtido foi de aproximadamente 0,3 para as amostras com as concentrações de 5 e

10%, o que demonstrou que essas amostras apresentam tamanho de partículas

uniforme na solução, já para o sistema com 15% do veneno incorporado, o índice de

polidispersão foi de 0,328. A eficiência de incorporação obtida para esses sistemas

foi elevada, sendo maior que 80%, chegando a 97,16% para a concentração de 5%

de veneno. Estes resultados podem ser visualizados na Tabela1.

50 Tabela 1. Características físico-químicas das nanopartículas antes e após a incorporação dos diferentes venenos e BSA. CNP (nanopartículas de quitosana), BJ (veneno de B. jararaca), BE (veneno de B. erythromelas), VTS (veneno de T.serrulatus), BSA (Albumina Soro Bovina) (n=3).

Amostra Diâmetro ±

DP (nm) IPD± DP Potencial Zeta (mV) EIP (%)

CNP 152,6±2,2 0,272±0,00 24,50 -

CNP/BJ 5% 179,3±9,4 0,188±0,08 23,03 76,70

CNP/BJ 10% 174,7±5,0 0,203±0,07 24,91 67,70

CNP/BJ 15% 187,3±7,5 0,185±0,07 31,40 74,80

CNP/BE 5% 189,4±1,0 0,300±0,05 20,71 97,16

CNP/BE 10% 160,0±2,3 0,300±0,01 19,00 87,58

CNP/BE 15% 201,3±5,6 0,328±0,05 27,21 88,12

CNP/VTS 5% 149,6 ± 5,5 0,300±0,00 24,20 92,44

CNP/ VTS 10% 135,0 ± 2,7 0,128±0,06 21,75 89,22

CNP/ VTS 15% 169,0 ± 0,6 0,272±0,07 21,30 85,62

CNP/BSA5% 185,7±1,9 0,288±0,07 25,30 77,32

CNP/BSA10% 196,7±2,7 0,282±0,05 52,76 68,90

As nanopartículas obtidas após a incorporação do veneno do escorpião T.

serrulatus nas três diferentes concentrações testadas (5, 10 e 15%), apresentaram

tamanho médio de 149, 135 e 169 nm, com potencial zeta de +24,2, +21,7 e +21,3

mV, respectivamente. O índice de polidispersão variou de 0,128 a 0,3. As

nanopartículas apresentaram uma elevada capacidade de incorporação para as

proteínas desse veneno, sendo os valores da eficiência obtidos de 92,44%, 89,22%

e 85,62%, para os sistemas de 5, 10 e 15% de veneno incorporado,

respectivamente. Após a incorporação do BSA em concentrações 5 e 10% às

nanopartículas de quitosana, estas apresentaram um ligeiro aumento de diâmetro,

sendo 185 e 196 nm respectivamente, com um índice de polidispersão 0,28 e uma

eficiência de incorporação acima de 60% para ambas concentrações.

A forma e superfície das nanopartículas de quitosana contendo a peçonha do

escorpião ou das serpentes foram avaliadas por microscopia eletrônica de varredura

51 (MEV) e por microscopia de força atômica (AFM), antes e após a incorporação das

proteínas. As imagens de MEV mostraram que as nanopartículas obtidas

apresentam forma esférica e tamanho homogêneo em torno de 160 nm, estando de

acordo com os dados obtidos no ensaio de tamanho de partículas. Com a adição

dos venenos das serpentes B. erythromelas, B. jararaca e do escorpião Tityus

serrulatus ás nanopartículas na concentração de 15%, observou-se aumento do

diâmetro médio das nanopartículas de 152 nm para 201, 187 e 169 nm,

respectivamente (Figura 9).

Figura 9. Imagens de MEV das nanopartículas de quitosana (A), das nanopartículas contendo peçonha de B. erythromelas (B), de B. jararaca (C) ou Tityus serrulatus (D).

As imagens obtidas por AFM revelaram partículas de tamanho homogêneo e

esféricas, confirmando também os dados obtidos para o diâmetro médio das

nanopartículas que é de 152 nm, onde estas apresentaram um discreto aumento de

diâmetro após a adição dos venenos de serpentes B. erythromelas e B. jararaca,

para 160 e 174 nm, respectivamente (Figura 10).

52

Figura 10. Imagens de AFM das nanopartículas de quitosana (CNP), das nanopartículas contendo peçonha de B. jararaca (CNP/BJ10%), de B. erythromelas (CNP/BE10%). Escala de 10 µm.

Espectros de absorção na região do infravermelho foram obtidos para os

compostos isolados, quitosana, TPP, veneno do escorpião Tityus serrulatus, veneno

do escorpião incorporado às nanopartículas nas concentrações 5 e 10% e veneno

das serpentes B. jararaca e B. erythromelas incorporados às nanopartículas nas

concentrações de 10% (Figura 11).

53

Figura 11. Infravermelho da Quitosana, TPP, Nanopartículas e Nanopartículas associadas aos venenos de serpentes e escorpião. CH (quitosana), CNP (nanopartículas de quitosana) e TPP (A), BSA (B), VTS (veneno de T.serrulatus) (C) e BJ (veneno de B. jararaca), BE (veneno de B. erythromelas) (D).

No espectro da quitosana pura foi possível observar a banda de amina

primária em 3422 cm-1 (Figura 11A). Em 1649 cm-1 aparece a banda correspondente

ao grupamento N-H de amida primária e em 1561 cm-1 correspondente a amida

secundária. A banda presente em 1075 cm-1 é atribuída ao estiramento vibracional

do grupamento C–O. No espectro do TPP puro, as duas bandas correspondentes

aos grupamentos P=O e P-O-P foram observadas em 1162 cm-1 e 892 cm-1,

respectivamente. Nos espectros obtidos para as nanopartículas de quitosana

carregadas ou não com proteínas livres, foi possível observar bandas

correspondentes aos grupamentos C=O e N-H, relacionadas a amida primária, no

54 mesmo intervalo observado no espectro da quitosana pura, que no entanto

aparecem em uma intensidade elevada, devido as novas interações da amida,

ocasionadas pelo processo de obtenção das nanopartículas por gelificação iônica. O

mesmo pode ser observado para as bandas correspondentes aos grupamentos O-H

e N-H, presentes na amina primária, em 3422 cm-1. Este fato pode ser reforçado

pelo enfraquecimento da banda correspondente ao grupamento P=O em 1214 cm-1

e o alongamento da banda correspondente ao grupamento P-O-P em 892 cm-1.

Essas interações intermoleculares são características da formação de

nanopartículas de quitosana por gelificação iônica. (PAPADIMITRIOU et al., 2008;

RODRIGUES et al., 2012; ANTONIOU et al., 2015).

Nos espectros obtidos para as amostras de BSA e de nanopartículas com

BSA encapsulados (Figura 11B), bandas características dos grupamentos C=O

correspondentes aos grupos carboxila da amida primária, em 1657 cm-1, e

correspondente a amida secundária em 1536 cm-1 foram visualizadas, com

intensidades equivalentes a quantidade de BSA empregada no sistema, o que

segundo a literatura demonstra uma eficiente retenção da proteína na matriz

polimérica (MARUYAMA et al., 2001).

Para o espectro do veneno puro de T. serrulatus foram visualizadas bandas

correspondentes ao grupamento C=O da amida primária em 1651 cm-1 e a amida

secundária em 1540 e 1239 cm-1, respectivamente (Figura 11C). De acordo com a

Arêas et al.(1987), estão associadas com o formato α-helicoidal da estrutura

secundária do polipeptídio. Nos espectros de FTIR, dos venenos do escorpião e das

serpentes incorporados às nanopartículas, foram também observadas interações

dos grupos amina livres da quitosana com o grupo carboxila presente nos venenos.

Tal fato é caracterizado pelo aumento da intensidade da banda correspondente ao

grupamento amida, ocorrendo pelo mesmo mecanismo que para o BSA,

demonstrando uma forte retenção das proteínas ao polímero.

55

O perfil eletroforético do veneno das serpentes B. jararaca e B. erythromelas,

do escorpião T. serrulatus, do BSA, e das nanopartículas de quitosana com os

diferentes venenos incorporados nas concentrações de 5 e 10%, podem ser

observados nas Figuras 12.

Figura 12. Determinação do perfil eletroforético do veneno das serpentes B. jararaca e B. erythromelas e das nanopartículas com as proteínas do veneno de B. jararaca (CNP+BJ 5 e 10%) e B. erythromelas (CNP+BE 5 e 10%). Gel corado em solução de “Commassie Brillant Blue” R-250.

As proteínas que compõem os venenos das serpentes na faixa de 14 a 66,4

kDa, em 52 kDa podem ser observadas bandas que provavelmente são

correspondentes a metaloproteases. Na Figura 13, o perfil eletroforético das

proteínas que compõem o veneno do escorpião T. serrulatus mostrou que essas

encontram-se predominantemente na faixa de massa molecular entre 14 e 55 kDa e

o perfil da albumina soro bovina revela que as proteínas que a compõem estão

compreendidas entre 27 e 70 kDa, majoritariamente .

56

Figura 13. Determinação do perfil eletroforético do veneno do escorpião T. serrulatus (VTS), da BSA e das nanopartículas com as proteínas do veneno do escorpião (CNP+VTS 5 e 10%) e BSA (CNP+BSA 5 e 10%). Gel corado em solução de Prata.

Com o ensaio de retenção de proteínas no polímero de quitosana, realizado

com a obtenção do perfil eletroforético dos venenos e do BSA associados às

nanopartículas de quitosana, foi possível observar que as amostras de

nanopartículas contendo as proteínas dos venenos não apresentaram os mesmos

padrões de corrida das substâncias puras, indicando a associação total ou de uma

grande fração de proteínas às nanopartículas.

5.2. ENSAIO DE ESTABILIDADE FÍSICA DAS NANOPARTÍCULAS

As proteínas que constituem os venenos das serpentes e do escorpião

apresentam um padrão de massa molecular de média a baixa, o que foi evidenciado

na eletroforese desenvolvida (Figuras 12 e 13), além de apresentarem caráter

aniônico e perfil de incorporação semelhante (Tabela 1). Sendo assim, acreditou-se

que o perfil de liberação, assim como a estabilidade física das nanopartículas para

os três venenos será semelhante. Isto posto, o ensaio de estabilidade física das

57 nanopartículas foi desenvolvido com as nanopartículas com o veneno das serpentes

incorporado.

A estabilidade física das nanopartículas puras e contendo proteínas dos

venenos das serpentes B. erythromelas e B. jararaca foi verificada por 40 dias,

através de análises do diâmetro das partículas a cada cinco dias. Os resultados

demonstraram que as nanopartículas vazias se mantiveram estáveis durante cinco

dias, após esse período começaram a entumecer e aumentar de tamanho, com o

diâmetro variando de 164 a 255 nm, nos 40 dias de análise. As nanopartículas com

veneno das serpentes incorporado nas concentrações 5 e 10% apresentaram maior

estabilidade durante o período da análise (Figura 14).

Figura 14. Estabilidade física das nanopartículas puras e contendo veneno das serpentes B. jararaca e B. erythromelas nas concentrações 5 e 10% (n=3).

O diâmetro das nanopartículas de quitosana com o veneno da serpente B.

erythromelas na concentração de 5% variou de 153,2 a 171,6 nm, já na

58 concentração de 10% o diâmetro médio variou de 171,1 a 169,5 nm. Para as

amostras com o veneno das serpentes B. jararaca incorporado, nas mesmas

concentrações (5 e 10%), o diâmetro de partícula variou de 153,8 a 155,3 nm e

159,0 a 158,7 nm, respectivamente. Os resultados obtidos para as nanopartículas

com veneno incorporado, não apresentaram diferença estatística significante

(P>0,05) (Figura 14). O presente ensaio demonstrou o sucesso no design

experimental das nanopartículas para a liberação de proteínas de diferentes

peçonhas. Além de apresentarem o tamanho inferior a 200 nm, carga positiva e alta

eficiência de encapsulação, as partículas apresentaram estabilidade para o uso

pretendido. A maior estabilidade das partículas com veneno incorporado demonstra

a interação dessas proteínas com a quitosana com possível reticulação como

demonstrado nos ensaios de FT-IR.

5.3. ENSAIO DE LIBERAÇÃO IN VITRO

O perfil de liberação in vitro das proteínas a partir das nanopartículas de

quitosana foi avaliado analisando as nanopartículas contendo o veneno do escorpião

T. serrulatus e BSA. A Figura 15 exibe o perfil in vitro da liberação das proteínas do

veneno do escorpião T. serrulatus e BSA a partir de nanopartículas de quitosana, e

mostra que esse processo ocorreu em duas etapas. Após a liberação imediata das

proteínas na superfície das nanopartículas, conhecida como “efeito burst”, liberando

12–23 % da massa total de proteína, um estado de equilíbrio com liberação lenta foi

observado para os diferentes tipos de nanopartículas e de proteínas, caracterizando

um perfil de liberação sustentado.

Após 144 horas, as nanopartículas liberaram 88% e 62% da massa total de

proteína para as amostras contendo 5% e 10% de BSA, respectivamente.

Resultados semelhantes foram observados para as nanopartículas com veneno de

T. serrulatus incorporados, em que a massa total das proteínas liberadas foi de 87%

59 e 67% para as amostras contendo 5% e 10% de veneno, respectivamente. Este

resultado demonstrou que usando BSA como molécula molde, foi possível

estabelecer os parâmetros para incorporação das proteínas do veneno com êxito

(Figura 15).

Figura 15. Perfil de liberação in vitro de BSA e veneno de T. serrulatus em diferentes concentrações (5 e 10%).

O mecanismo de liberação do veneno e BSA a partir das nanopartículas de

quitosana foi estudado através do ajuste dos dados experimentais para diferentes

modelos matemáticos: primeira ordem, Higuchi, Korsmeyer-Peppas, Bhaskar e um

modelo parabólico de difusão (Tabela 2).

60 Tabela 2. Parâmetros de ajuste de diferentes modelos cinéticos para a liberação de proteínas a partir das nanopartículas de quitosana. CSN / BSA - Nanopartículas de quitosana contendo albumina do soro bovino; CSN / VTS - Nanopartículas de quitosana contendo veneno de T. serrulatus; Desvio padrão (SD).

Notas:

a Valores da constante de velocidade de liberação (k), expressa como média ± SD (n = 3);

b Coeficiente de correlação (r

2) expressos como a média ± SD (n = 3).

O coeficiente de correlação extraído (r2) mostrou que os modelos Higushi,

Korsmeyer-Peppas, e Bhaskar demonstraram ser inadequados para descrever o

mecanismo de liberação envolvido para todas as formulações testadas, pois

apresentou coeficiente de correlação menor que 0,9 para maior parte das amostras.

No entanto, o mecanismo de liberação das diferentes proteínas (BSA e T. serrulatus)

em concentrações diferentes (5% e 10%) pode ser confirmado pelos dois modelos

utilizados, primeira ordem e de difusão parabólica, que exibiu coeficientes de

correlação superiores a 0,9 (intervalo de 0,90 a 0,94).

5.4. AVALIAÇÃO DOS TÍTULOS DE ANTICORPOS NO SORO

Os títulos de anticorpos no soro foram avaliados uma semana após o último

reforço da vacinação, pela técnica de ELISA. Os resultados demonstram que houve

diferença significativa na produção de anticorpos específicos para cada veneno

(IgG), nos animais imunizados tanto com o veneno de B. jararaca, quanto como o

veneno de B. erythromelas (Figura 16).

Formulação Primeira ordema,b

Higuchi a,b

Korsmeyer-

Peppas a,b

Bhaskar a,b

Parabolic

modela,b

CSN/BSA 5% 0,0142 ± 0,0014 h-1

,

0,93 ± 0,03

6.71 ± 1.27 h0.5

,

0.91 ± 0.03

0.24 ± 0.04,

0.74 ± 0.05

-0.0317 ± 0.0092 h0.65

,

0.86 ± 0.06

0.33 ± 0.03 h-0.5

,

0.93 ± 0.02

CSN/BSA10% 0,0132 ± 0,007 h-1

,

0,92 ± 0,02

4.94 ± 0.41 h0.5

,

0.93 ± 0.01

0.32 ± 0.02,

0.79 ± 0.04

-0.0162 ± 0.0023 h0.65

,

0.94 ± 0.02

0.17 ± 0.01 h-0.5

,

0.92 ± 0.01

CSN/VTS 5% 0,0117 ± 0,0033 h-1

,

0,93 ± 0,04

5.44 ± 1.02 h0.5

,

0.77 ± 0.05

0.24 ± 0.08,

0.57 ± 0.09

-0.0231 ± 0.015 h0.65

,

0.69 ± 0.19

0.33 ± 0.15 h-0.5

,

0.92 ± 0.01

CSN/VTS10% 0,0096 ± 0,0014 h-1

,

0,94 ± 0.01

5.44 ± 0.13 h0.5

,

0.88 ± 0.04

0.20 ± 0.03,

0.68 ± 0.08

-0.0136 ± 0.0046 h0.65

,

0.82 ± 0.18

0.30 ± 0.04 h-0.5

,

0.93 ± 0.01

61

Para os animais imunizados com o veneno de B. jararaca, comparando-se os

grupos de animais vacinados com as nanopartículas de quitosana e hidróxido de

alumínio associado ao veneno na concentração de 5% não houve diferença

estatística para os títulos de anticorpos obtidos. Os títulos de anticorpos dos animais

vacinados com os dois adjuvantes associados ao veneno na concentração 10%,

também não mostraram diferença estatística (P>0,05). Quando foram comparados

os títulos de anticorpos dos animais vacinados com o adjuvante hidróxido de

alumínio associado com o veneno na concentração 10% e nanopartículas de

quitosana com veneno encapsulado na concentração de 5%, foi observada diferença

significativa (P<0,05).

Para ambas as concentrações de veneno de B. jararaca (5 ou 10%),

associados às nanopartículas, o titulo de anticorpos foi equivalente ao produzido

pelos animais imunizados com o hidróxido de alumínio associado ao veneno (Figura

16 A). Comportamento diferente apresentaram os animais vacinados com os

imunoadjuvantes associados ao veneno de B. erythromelas, apresentando os

animais imunizados com o veneno na concentração 10% incorporado as

nanopartículas de quitosana maiores títulos de anticorpos que os animais vacinados

com o veneno associado ao hidróxido de alumínio na mesma concentração

(#P<0,05), já os grupos experimentais vacinados com o veneno na concentração de

5%, apresentou títulos de anticorpos equivalentes (Figura 16 B).

62

Figura 16. Avaliação dos títulos de anticorpos obtidos a partir de animais imunizados com os adjuvantes hidróxido de alumínio (HA) e nanopartículas de quitosana (CNP) associados aos venenos de B. jararaca (A e C) e B. erythromelas (B e D)

***p <0,05 comparando HA/BE 10% e CNP/BE 10%,

+++p<0,05 comparando CNP/BE10% com CNP/BE 5%.

As amostras de soro foram submetidas a diluições seriadas com um diluente

padrão (PBS/BSA 0,1%), partindo de uma diluição 1:25 para 1: 204800, buscando

avaliar os títulos de anticorpos específicos em baixas concentrações. As Figuras

16C e 16D mostram os resultados para essas diluições, podendo-se observar que

até à diluição de 1:12800 foram detectados anticorpos no soro de animais

imunizados tanto com o veneno de B. jararaca quanto para os imunizados com o

veneno de B. erythromelas. Para os grupos imunizados com o veneno da serpente

B. jararaca, foi possível observar com este ensaio para ambas as concentrações

trabalhadas (5 e 10%), que os anticorpos obtidos apresentaram títulos equivalentes,

63 para ambos imunoadjuvantes. A partir da diluição 1:200 até a diluição 1:1600, foi

possível observar um aumento do título de anticorpos do grupo vacinado com as

nanopartículas de quitosana associado ao veneno em concentração 10% em

comparação ao título de anticorpos obtidos a partir do soro dos animais imunizado

com o HA associado ao veneno na concentração 10%. Para os títulos de anticorpos

obtidos a partir do soro dos animais imunizados com o veneno de B. erythromelas

associado à ambos imunoadjuvantes, estes se apresentaram equivalentes a partir

da diluição 1:100, para todos os grupos experimentais trabalhados. Nas diluições

1:25 e 1:50 os títulos de anticorpos foram distintos comparando os grupos das

nanopartículas de quitosana e HA associados ao veneno na concentração 10%.

64 6 DISCUSSÃO

As nanopartículas de quitosana, com diâmetro médio 152,6 nm, foram obtidas

espontaneamente por ligações intra e intermoleculares entre os grupos fosfato do

tripolifosfato polianiônico (TPP) e os grupos amina da quitosana pela técnica de

gelificação iônica, após o gotejamento de 2 mL da solução do agente reticulador

TPP, em 5mL da solução de quitosana, em meio ácido, sob condições previamente

otimizadas, observando-se a formação de uma dispersão final opalescente o que,

segundo a literatura, caracteriza a presença de nanopartículas (GAN & WANG,

2007). A partir do cálculo da razão entre os ânions tripolifosfato da solução de TPP

(P3O105-) e os grupos amino da quitosana (NH2), foi possível observar que o

nanossistema encontra-se em equilíbrio estequiométrico, corroborando com dados já

obtidos previamente na literatura (YANG et al., 2007).

A inclusão das proteínas nas nanopartículas foi realizada pela técnica de

incorporação durante a preparação dos nanossistemas, com as proteínas

solubilizadas na solução de TPP 0,1% nas concentrações 5, 10 e 15%, em relação à

concentração do polímero 0,1%. A formação de nanopartículas de quitosana

carregadas de veneno/proteínas ocorreu espontaneamente quando a solução de

TPP/proteína foi adicionada a solução de quitosana. As nanopartículas de quitosana

apresentaram grande capacidade de incorporação para as proteínas testadas,

mantendo-se na faixa de 200 nm. Os sistemas estudados apresentaram um

pequeno aumento de diâmetro médio de partículas sem a formação de agregados,

após a inclusão dos venenos ou BSA aos sistemas, sendo este fato de grande

importância, considerando-se que a distribuição e tamanho médio das partículas

estão relacionados com a estabilidade do sistema e são de grande importância para

a administração parenteral das substâncias.

A homogeneidade do tamanho das partículas do sistema pode ser avaliada

pela medida do índice de dispersão, o valor ideal para o índice de dispersão é menor

65 ou igual a 0,3. Os sistemas obtidos para as nanopartículas sem proteínas

incorporadas mostraram que se trata de um sistema com partículas de tamanho

homogêneo, o que é de grande importância para a aplicação dessas partículas em

formulações farmacêuticas, conferindo ao sistema estabilidade da dose a ser

administrada. O potencial de carga positiva apresentado por essas nanopartículas

confere grande capacidade de encapsulação e adsorção para proteínas e peptídeos

de carga negativa, assim como maior estabilidade ao sistema, diminuindo a

formação de agregados entre as nanopartículas, além de potencializar a capacidade

de muco adesão, facilitando a passagem das nanopartículas através das células

corporais.

A alta eficiência de incorporação para as proteínas do veneno do escorpião

Tityus serrulatus, atingindo 92,4%, pode ser explicada pela natureza das proteínas

que compõem esse veneno, sendo proteínas em sua maioria de baixa massa

molecular e de caráter aniônico. O veneno das serpentes também apresentou uma

alta eficiência de incorporação, sendo para a serpente B. erithromelas, maior que

para a serpente B. jararaca, chegando a 97,16% para a amostra de 5%, essa

eficiência de incorporação está relacionada a carga e tamanho das proteínas que

compõem o veneno das serpentes, que são proteínas em sua maioria de caráter

aniônico e de média a baixa massa molecular, o que pode ser observado no perfil

eletroforético dos venenos brutos (Figuras 12 e 13).

As pequenas variações na eficiência de incorporação entre os venenos das

serpentes podem ocorrer por uma pequena diferença que pode existir entre as

proteínas que os compõem. As nanopartículas obtidas nas concentrações 5 e 10%,

apresentaram distribuição do tamanho de partícula homogêneo (IPD ≤0,3), com

carga de superfície positiva. Essas características demonstram a grande capacidade

do nanossistema de incorporar e transportar proteínas através dos fluidos biológicos,

mantendo a estabilidade.

66

As nanopartículas, com veneno do escorpião nas concentrações 5 e 10%

incorporado, apresentaram menor diâmetro em relação às nanopartículas com o

veneno das serpentes, o que sugere uma maior competição das proteínas do

veneno do escorpião com o TPP pelos grupamentos catiônicos da quitosana, fato

este previamente elucidado na literatura (GAN & WANG, 2007; ANTONIO et al.,

2015). A alta eficiência de incorporação do BSA aos nanossistemas pode ser

explicada pelo fato do BSA se tratar de uma proteína globular com alto teor de

aminoácidos carregados (lisina, arginina, aspartato e glutamato) conhecida por

apresentar predominantemente carga negativa em água em pH 7,4 (ELZOGHBY et

al., 2012), podendo interagir iônicamente com o polímero.

O elevado percentual de incorporação de proteínas também foi confirmado

pelos perfis eletroforéticos em gel de poliacrilamida (SDS-PAGE) das nanopartículas

contendo venenos do escorpião T. Serrulatus, das serpentes B. jararaca e B.

erythromelas e dos venenos livres, e BSA (Figuras 12 e 13). As nanopartículas

contendo as proteínas não apresentam os mesmos padrões de corrida das

substâncias livres, indicando a associação/retenção total ou de uma grande fração

de proteínas nas nanopartículas.

Um nanocarreador polimérico eficaz deve apresentar a capacidade de

condensar DNA ou proteína para a proteção contra a degradação (SON & KIM,

2010). Essa capacidade pode ser observada através do ensaio de retenção das

proteínas no polímero, no qual não foi possível observar as proteínas, no gel de

eletroforese, quando associadas às nanopartículas, pela formação do complexo

polímero-proteína.

A forma e superfície das nanopartículas de quitosana contendo a peçonha do

escorpião e das serpentes antes e após a incorporação das proteínas podem ser

observadas nas imagens de MEV e AFM (Figura 9 e 10). As partículas apresentaram

forma esférica e diâmetro uniforme, com dados corroborando com os dados obtidos

67 por espalhamento dinâmico de luz. A uniformidade do tamanho de partícula não é

apenas importante para a estabilidade da formulação, mas também para a escolha

da via de administração do sistema. As vias intravenosa e intramuscular são muito

comuns para a administração de proteínas com atividade farmacológica, sendo bem

estabelecido que o tamanho de partícula/gotícula de formas farmacêuticas

destinadas a corrente sanguínea ou a circulação linfática deve variar em torno de

100 - 200 nm (SHEKUNOV et al., 2007).

Nos espectros de infravermelho obtidos, foi evidenciada a interação do

tripolifosfato com os grupamentos amino (NH3+) da quitosana, através do aumento

da intensidade das bandas presentes na quitosana, que também aparecem no

espectro das nanopartículas, em 1649 cm-1 e 1561 cm-1, correspondentes aos

grupamentos C=O e N-H, da amida primária, respectivamente. Com esse ensaio, foi

possível identificar a interação de grupamentos da quitosana com grupamentos

presentes nas proteínas, através do aumento da intensidade de bandas

características nessas substâncias, reforçando a hipótese, que ocorre uma nova

interação entre os grupamentos amida através da gelificação iônica. Esse resultado

é reforçado pela diminuição da intensidade das bandas associadas a interação do

TPP com a quitosana, o enfraquecimento da intensidade destas bandas nas

nanopartículas carregadas com proteína, pode ser explicada pela interação

intermolecular de grupos carboxila da proteína com grupos amina livres da

quitosana, como já foi demonstrado em estudos anteriores (MARUYAMA et al.,

2001; VANDANA & SAHOO, 2009).

Nas suspensões coloidais, com o tempo, pode ocorrer a aglomeração das

partículas e consequente sedimentação, podendo ser esse um fator limitante para a

sua aplicação. A estabilidade dos nanossistemas obtidos foi verificada, através da

analise do diâmetro das partículas, associadas ou não ao veneno das serpentes, por

40 dias. Os resultados apresentados demonstraram que as proteínas dos venenos

68 incorporadas conferiram maior estabilidade às nanopartículas. Os sistemas com os

venenos incorporados se mantiveram estáveis durante o tempo de análise, com

tamanho de partícula constante, não sendo apresentada diferença estatística

significante entre os diâmetros de partículas desses grupos.

A maior estabilidade apresentada pelas nanopartículas com veneno

associado pode ser explicada pela natureza aniônica das proteínas que compõem

os venenos, intensificando as interações eletrostáticas entre os grupamentos que

formam os nanossistemas e as proteínas dos venenos, essas interações podem ser

visualizadas através dos espectros de infravermelho obtidos. Após cinco dias de

análise, as nanopartículas vazias começaram a entumecer e apresentaram aumento

de diâmetro, não ultrapassando o diâmetro de 300 nm durante os 40 dias de análise.

Não foi observada separação de fases para nenhuma das formulações neste

período.

A atividade biológica de nanopartículas carregadas com substâncias

farmacologicamente ativas está diretamente relacionada com aspectos como forma

e superfície, devido à precisão e exatidão da taxa de fármaco que o sistema pode

fornecer. O perfil de liberação da substância depende principalmente do tamanho da

partícula, que afeta a dissolução do fármaco e, portanto, a sua biodisponibilidade.

Partículas pequenas têm uma maior área de superfície disponível para dissolução

proporcionando cinética de liberação mais rápida (SILVA-JUNIOR et al., 2007).

As nanopartículas de quitosana obtidas apresentaram um perfil de liberação

sustentada das proteínas, mantendo um estado de equilíbrio com liberação lenta,

após a liberação imediata das proteínas que estavam adsorvidas à superfície das

nanopartículas. Após esta fase inicial, a liberação da proteína segue por difusão

através da camada externa das partículas entumecidas. A presença de uma etapa

de liberação sustentada sugere que as proteínas não estão apenas adsorvidas à

69 superfície das nanopartículas, mas também interagem com os grupos positivos

dispersos dentro da matriz do polímero de quitosana.

O perfil de liberação prolongada das proteínas apresentado pelos

nanossistemas, pode ser mais um ponto positivo para o seu uso terapêutico,

podendo a quantidade inicial rapidamente liberada de proteína fornecer uma dose de

antígeno capaz de ativar a produção de anticorpos, seguindo-se uma liberação

sustentada que permite a manutenção desta dose por um longo período de tempo.

Esse comportamento de liberação torna as nanopartículas contendo os venenos,

candidatas ao desenvolvimento de um novo sistema de vacina para uso em

humanos no qual, uma menor quantidade de antígeno a ser administrada será

necessária.

O mecanismo de liberação das nanopartículas foi estudado através do ajuste

dos dados experimentais para diferentes modelos matemáticos. O primeiro modelo,

designado por modelo de primeira ordem expressa a taxa de liberação dependente

de carga de proteína nas nanopartículas (logQ1 = logQ0 + kt / 2.303). O modelo de

Higuchi têm abordado aspectos importantes envolvidos com difusão de liberação

controlada de moléculas retidas a partir de dispositivos planares (Mt / M∞ kH t = 0,5

+ b). O modelo Bhaskar descreve que a difusão da proteína através das partículas

limita a taxa de liberação (log (1-MT / M∞) kB = t 0,65 + b). O modelo Korsmeyer-

Peppas também é conhecido como o modelo de Freundlich modificado, descreve a

liberação de proteína a partir de uma superfície plana com os locais heterogéneos

baseados em um processo de difusão controlada (Mt / M∞ = KKP TN). Finalmente, o

modelo de difusão parabólico explica a liberação de proteína controlada por

processo de difusão, tal como a difusão intra-partícula ou superfície de difusão (Mt /

M∞ = 0,5 kP T + b) (PETROPOULOS; PAPADOKOSTAKI; SANOPOULOU, 2012).

O coeficiente de correlação extraído (r2) mostrou que o mecanismo de

liberação das diferentes proteínas (BSA e T. serrulatus) em concentrações diferentes

70 (5% e 10%) pode ser confirmado por dois modelos utilizados, primeira ordem e de

difusão parabólica, que exibiu coeficientes de correlação superiores a 0,9 (intervalo

de 0,92 a 0,94). Sendo assim, o modelo de primeira ordem demonstra que a taxa de

liberação da proteína ocorreu dependente da massa de proteína empregada em

cada nanopartícula, enquanto o modelo de difusão parabólico descreve que o

transporte de massa foi controlado por difusão (ABDUL LATIP et al., 2013; DELEON

et al., 2012). Estes mecanismos estão em conformidade com relatos sobre o efeito

da quantidade de proteína nas nanopartículas, bem como o processo de difusão por

intumescimento do polímero, já elucidados (MAKADIA & SIEGEL, 2011). O diferente

grau de interação entre as proteínas estudadas (BSA e veneno de T. serrulatus) com

as nanopartículas de quitosana, demonstrado nos espectros de infravermelho

obtidos, explica a diferença entre as taxas de liberação dessas proteínas.

Todas as vacinas eficazes precisam de um sistema de apresentação de

antígenos adequado (XIE et al., 2007), vários estudos vêm sendo desenvolvidos na

busca de adjuvantes menos tóxicos e que proporcionem uma resposta imune mais

eficaz. Após obter, caracterizar físico-quimicamente as nanopartículas de quitosana,

bem como avaliar o seu perfil de liberação, foi observado que esses nanossistemas

apresentam alguns atrativos para sua utilização como adjuvante de imunização.

O uso de adjuvantes em vacinas é particularmente importante quando o

antígeno a ser administrado possui baixa imunogenicidade e na administração de

baixas quantidades de antígenos, no entanto muitos problemas são encontrados no

desenvolvimento e utilização de adjuvantes em vacinas, principalmente em

humanos. A escolha de um adjuvante para uma determinada vacina deve ser

associada ao poder adjuvante desta substância e ao nível aceitável de efeitos

adversos.

Sendo assim visando avaliar o potencial imunoadjuvante das nanopartículas

de quitosana na produção de soros antivenenos, foram realizados ensaios de

71 imunização utilizando como imunoadjuvantes, as nanopartículas de quitosana e o

hidróxido de alumínio, por ser o adjuvante convencional mais utilizado, associados

aos venenos das serpentes, para tanto animais de experimentação foram

imunizados por seis semanas com o veneno das serpentes em diferentes

concentrações (5 e 10%) incorporados à nova formulação desenvolvida e

associados ao hidróxido de alumínio, para posterior análise dos títulos de anticorpos

pela técnica de ELISA.

Os resultados demonstraram que as nanopartículas de quitosana quando

aplicadas como adjuvante de imunização podem promover uma potencialização da

resposta imunológica, podendo-se observar a presença de anticorpos específicos

até à diluição de 1: 12800. Os títulos de anticorpos obtidos no soro, após análise,

para os animais imunizados com as nanopartículas de quitosana, foram equivalentes

ou superiores ao hidróxido de alumínio quando associados à mesma concentração

de veneno, para todas as formulações testadas na diluição 1:25. Esse resultado

reforça a hipótese de que as nanopartículas de quitosana podem ser consideradas

um potente imunoadjuvante, pelas características do polímero utilizado, conferindo-

as imunogenicidade, apresentando as vantagens de serem menos inflamatórias e

por se tratar de um sistema de liberação modificada, necessitando, portanto, de uma

menor quantidade de antígeno a ser administrado. Os títulos de anticorpos foram

avaliados em trabalho semelhante desenvolvido por nosso grupo de pesquisa, para

o veneno do escorpião T. serrulatus e os dados obtidos foram semelhantes aos

desse estudo (ROCHA SOARES et al., 2012), demonstrando o potencial

imunoadjuvante das nanopartículas de quitosana frente a produção de anticorpos

para diferentes venenos.

Este trabalho apresenta uma importante vertente na produção de produtos

biotecnológicos, especialmente na obtenção de soros em um novo nanossistema, no

tratamento com imunobiológicos envolvendo antivenenos.

72 7 CONCLUSÃO

As nanopartículas de quitosana foram obtidas pela técnica de gelificação

iônica apresentando diâmetro de partícula variando entre 150 e 200 nm, com

tamanho de partícula homogêneo. Foi observada uma alta eficiência de

encapsulação dos nanossistemas para os venenos do escorpião T. serrulatus e para

as serpentes B. jararaca e B. erythromelas. Essa eficiência foi comprovada pela

dosagem das proteínas livres no sistema, pelo ensaio de retenção das proteínas ao

polímero e ainda pelo infravermelho, que evidenciou as interações que ocorrem

entre os grupamentos que compõem a quitosana e as proteínas que foram

adicionadas ao sistema. Com a análise dos resultados obtidos no ensaio de

liberação, foi possível concluir, que o sistema obtido trata-se de um sistema de

liberação modificada, sendo bastante interessante sua utilização como adjuvante de

imunização. Os títulos de anticorpos obtidos, após a imunização dos animais com as

nanopartículas de quitosana, foram maiores ou iguais aos dos obtidos em animais

imunizados com o adjuvante convencional. Estas características conferem às

nanopartículas de quitosana a possibilidade de servir como base para a formulação

de um novo imunoadjuvante, que irá auxiliar na obtenção de um novo soro mais

eficaz, contra toxinas de venenos.

A obtenção, padronização e aplicação do nanossistemas como

imunoadjuvante na produção de soros e vacinas contra venenos de animais

peçonhentos proporcionou a produção de uma patente de inovação tecnológica, já

depositada e dois artigos científicos.

73 REFERÊNCIAS

ABDUL LATIP, A. F. et al. Release behavior and toxicity profiles towards A549 cell

lines of ciprofloxacin from its layered zinc hydroxide intercalation compound.

Chemistry Central journal, v. 7, n. 1, p. 119, 2013.

AGNIHOTRI, S. A.; MALLIKARJUNA, N. N.; AMINABHAVI, T. M. Recent advances

on chitosan-based micro- and nanoparticles in drug delivery. Journal of controlled

release : official journal of the Controlled Release Society, v. 100, n. 1, p. 5–28,

2004.

AGUILAR, J. C.; RODRIGUEZ, E. G. Vaccine adjuvants revisited. Vaccine, v. 25, n.

19, p. 3752–3762, 2007.

ALBUQUERQUE, I. C. S. DE et al. Escorpionismo em Campina Grande-PB.

Engenharia Agrícola, v. 4, 2004.

AMIDI, M.; MASTROBATTISTA, E.; JISKOOT, W.; HENNINK, W. E. Chitosan-based

delivery systems for protein therapeutics and antigens. Advanced Drug Delivery

Reviews, v. 62, n. 1, p. 59–82, 2010.

AMIDI, M. et al. Chitosan-based delivery systems for protein therapeutics and

antigens. Advanced Drug Delivery Reviews, 2010.

ANDREAS, K. et al. Biodegradable insulin-loaded PLGA microspheres fabricated by

three different emulsification techniques: Investigation for cartilage tissue

engineering. Acta Biomaterialia, v. 7, n. 4, p. 1485–1495, 2011.

ANTONIOU, JOHN.; LIU, FEI.; MAJEED, H.; QI, JING.; YOKOYAMA, WALLACE.;

ZHONG, F. Aspects Physicochemical and morphological properties of size-controlled

chitosan – tripolyphosphate nanoparticles. Colloids and Surfaces A :

Physicochemical and Engineering, v. 465, p. 137–146, 2015.

ANTONIOU, J. et al. Physicochemical and morphological properties of size-controlled

chitosan-tripolyphosphate nanoparticles. Colloids and Surfaces A:

Physicochemical and Engineering Aspects, v. 465, p. 137–146, 2015.

74 AYARI-RIABI, S.;TRIMAILLE, T.;MABROUK, K.;BERTIN, D.;GIGMES,

D.;BENLASFAR, Z.;ZAGHMI, A.;BOUHAOUALA-ZAHAR, B.;ELAYEB, M. Venom

conjugated polylactide applied as biocompatible material for passive and active

immunotherapy against scorpion envenomation. Vaccine, n. 2015, p. 2–7, 2016.

BAHREINI, E. et al. Preparation and nanoencapsulation of l-asparaginase II in

chitosan-tripolyphosphate nanoparticles and in vitro release study. Nanoscale Res.

Lett., v. 9, n. 1, p. 340, 2014.

BANSAL, V. et al. Evaluation of synergistic effect of biodegradable polymeric

nanoparticles and aluminum based adjuvant for improving vaccine efficacy.

International Journal of Pharmaceutics, v. 471, n. 1-2, p. 377–384, 2014.

BATISTA, C. V. F. et al. Proteomic analysis of the venom from the scorpion Tityus

stigmurus: Biochemical and physiological comparison with other Tityus species.

Comparative Biochemistry and Physiology - C Toxicology and Pharmacology,

v. 146, n. 1-2 SPEC. ISS., p. 147–157, 2007.

BERGERON, Z. L.; BINGHAM, J. P. Scorpion toxins specific for potassium (K+)

channels: A historical overview of peptide bioengineering. Toxins, v. 4, p. 1082-

1119, 2012.

BERGFORS, E.; TROLLFORS, B.; INEROT, A. Unexpectedly high incidence of

persistent itching nodules and delayed hypersensitivity to aluminium in children after

the use of adsorbed vaccines from a single manufacturer. Vaccine, v. 22, n. 1, p. 64–

69, 2003.

BJARNASON, J. B.; FOX, J. W. Hemorrhagic Metalloproteinases from Snake-

Venoms. Pharmacology & Therapeutics, v. Vol 62, n. Iss 3, p. 325–372, 1994.

BORGES, O.; SILVA, M. .; DE SOUSA, A.; BORCHARD, G.; JUNGINGER, H. E.;

CORDEIRO-DA-SILVA, A. Alginate coated chitosan nanoparticles are an effective

subcutaneous adjuvant for hepatitis B surface antigen. International

Immunopharmacology, v. 8, n. 13-14, p. 1773–1780, 2008.

75 BUCARETCHI, F.; FERNANDES, L.C. R.; FERNANDES, C. B.; BRANCO, M. M.;

PRADO, C. C.; VIEIRA, R. J.; DE CAPITANI, E. M.; HYSLOP, S. Clinical

consequences of Tityus bahiensis and Tityus serrulatus scorpion stings in the region

of Campinas, southeastern Brazil. Toxicon, v. 89, p. 17–25, 2014.

CARDOSO, J.L.C.; FRANÇA, F. O. S.; WEN, F.H.; MÁLAQUE, C. M. S. . H. J. V.

Animais peçonhentos no Brasil: biologia, clínica e terapêutica dos acidentes. Revista

do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo, v.45, p.6, 2003.

CARMO, A. O. et al. Evolution of alternative methodologies of scorpion antivenoms

production. Toxicon, v. 97, p. 64–74, 2015.

CARTER, D. C.; HO, J. X. Structure of serum albumins. Advances in Protein

Chemistry, v. 45, p. 153–203, 1994.

CERNI, F. A. et al. Electrophysiological characterization of Ts6 and Ts7, K+ channel

toxins isolated through an improved Tityus serrulatus venom purification procedure.

Toxins, v. 6, n. 3, p. 892–913, 2014.

CHIPPAUX, J. P.; GOYFFON, M. Epidemiology of scorpionism: A global appraisal.

Acta Tropica, v.107, p. 71-79, 2008.

CIDADE, D. A. et al. Bothrops jararaca venom gland transcriptome: analysis of the

gene expression pattern. Toxicon, v. 48, n. 4, p. 437–461, 2006.

COLOGNA, C. T. et al. Tityus serrulatus scorpion venom and toxins: an overview.

Protein and peptide letters, v. 16, p. 920–932, 2009.

DA SILVA, I. R. F. et al. BJ-PI2, A non-hemorrhagic metalloproteinase from Bothrops

jararaca snake venom. Biochimica et Biophysica Acta - General Subjects, v.

1820, n. 11, p. 1809–1821, 2012.

DE MOURA, V. M. et al. Plants used to treat snakebites in Santarém, western Pará,

Brazil: An assessment of their effectiveness in inhibiting hemorrhagic activity induced

by Bothrops jararaca venom. Journal of Ethnopharmacology, v. 161, p. 224–232,

2015.

76 DELEON, V. H. et al. Polymer nanocomposites for improved drug delivery efficiency.

Materials Chemistry and Physics, v. 132, n. 2-3, p. 409–415, 2012.

DHARMADASA, R. M. et al. Ethnopharmacological survey on medicinal plants used

in snakebite treatments in Western and Sabaragamuwa provinces in Sri Lanka.

Journal of Ethnopharmacology, v. 179, p. 110–127, 2016.

ELZOGHBY, A. O.; SAMY, W. M.; ELGINDY, N. A. Albumin-based nanoparticles as

potential controlled release drug delivery systems. Journal of Controlled Release,

2012.

ESPINO-SOLIS, G. P.; RIANO-UMBARILA, L.; BECERRIL, B.; POSSANI, L. D.

Antidotes against venomous animals: State of the art and prospectives. Journal of

Proteomics, v. 72, n. 2, p. 183–199, 2009.

FENWICK, A. M.; GREENE, H. W.; PARKINSON, C. L. The serpent and the egg:

Unidirectional evolution of reproductive mode in vipers? Journal of Zoological

Systematics and Evolutionary Research, v. 50, n. 1, p. 59–66, 2012.

FERNANDES PEDROSA, M. D. F. et al. Molecular cloning and expression of a

functional dermonecrotic and haemolytic factor from Loxosceles laeta venom.

Biochemical and Biophysical Research Communications, v. 298, n. 5, p. 638–

645, 2002.

FIALHO, E. M. S. et al. Immune cells recruitment and activation by Tityus serrulatus

scorpion venom. Toxicon, v. 58, n. 6-7, p. 480–485, 2011.

GAN, Q. et al. Modulation of surface charge, particle size and morphological

properties of chitosan-TPP nanoparticles intended for gene delivery. Colloids and

Surfaces B: Biointerfaces, v. 44, n. 2-3, p. 65–73, 2005.

GAN, Q.; WANG, T. Chitosan nanoparticle as protein delivery carrier-Systematic

examination of fabrication conditions for efficient loading and release. Colloids and

Surfaces B: Biointerfaces, v. 59, n. 1, p. 24–34, 2007.

GHERARDI, R. K. [Lessons from macrophagic myofasciitis: towards definition of a

77 vaccine adjuvant-related syndrome]. Revue neurologique, v. 159, n. 2, p. 162–164,

2003.

GONÇALVES-MACHADO, L. et al. Combined venomics, venom gland

transcriptomics, bioactivities, and antivenomics of two Bothrops jararaca populations

from geographic isolated regions within the Brazilian Atlantic rainforest. Journal of

Proteomics, v. 135, p. 73–89, 2015.

GUPTA, R. K.; BRADFORD RELYVELD,EDGAR,AND SIBER,GEORGE R., E. R.

Adjuvant Properties of Aluminum and Calcium Compounds. Pharm

Biotechnol.1995;6:229-48. Review., v. 6, n. 1995, p. 229–248, 2000.

GUPTA, R. K.; SIBER, G. R. Adjuvants for human vaccines-current status, problems

and future prospects. Vaccine, 1995.

GUTIERREZ, J. M.; LOMONTE, B.; SANZ, L.; CALVETE, J. J.; PLA, D.

Immunological profile of antivenoms: Preclinical analysis of the efficacy of a

polyspecific antivenom through antivenomics and neutralization assays. Journal of

Proteomics, v. 105, p. 340–350, 2014.

GUTIERREZ, J. M.; LOMONTE, B. Efectos Locales en el Envenenamiento Ofídico

en America Latina. In: Animais peçonhentos no Brasil: biologia, clínica e

terapêutica dos acidentes. [s.l: s.n.]. v. 45p. 310–323.

HAMIDI, M.; AZADI, A.; RAFIEI, P. Hydrogel nanoparticles in drug delivery.

Advanced Drug Delivery Reviews, v. 60, n. 15, p. 1638–1649, 2008.

HARISH PRASHANTH, K. V.; KITTUR, F. S.; THARANATHAN, R. N. Solid state

structure of chitosan prepared under different N-deacetylating conditions.

Carbohydrate Polymers, v. 50, n. 1, p. 27–33, 2002.

IEVA, E. et al. Analytical characterization of chitosan nanoparticles for peptide drug

delivery applications. Analytical and Bioanalytical Chemistry, v. 393, n. 1, p. 207–

215, 2009.

IZIDORO, L. F. M. et al. Snake venom L-amino acid oxidases: Trends in

78 pharmacology and biochemistry. BioMed Research International, p.19, 2014.

JANES, K. A.; CALVO, P.; ALONSO, M. J. Polysaccharide colloidal particles as

delivery systems for macromolecules. Advanced Drug Delivery Reviews, v. 47, n.

1, p. 83–97, 2001.

JORGE, R. J. B. et al. Venomics and antivenomics of Bothrops erythromelas from

five geographic populations within the Caatinga ecoregion of northeastern Brazil.

Journal of Proteomics, v. 114, p. 93–114, 2015.

KARABUVA, S. et al. Venomous snakebites in children in southern Croatia. Toxicon,

v. 112, p. 8–15, 2016.

KASTURIRATNE, A. et al. The global burden of snakebite: A literature analysis and

modelling based on regional estimates of envenoming and deaths. PLoS Medicine,

v.5, p. 1591-1604, 2008.

KAWASHIMA, Y. et al. Novel method for the preparation of controlled-release

theophylline granules coated with a polyelectrolyte complex of sodium

polyphosphate-chitosan. Journal of Pharmaceutical Sciences, v. 74, n. 3, p. 264–

268, 1985.

KIM, B.-G.; KANG, I.-J. Evaluation of the effects of biodegradable nanoparticles on a

vaccine delivery system using AFM, SEM, and TEM. Ultramicroscopy, v. 108, n. 10,

p. 1168–73, 2008.

KOPPOLU, B. PRASANTH et al. Controlling chitosan-based encapsulation for

protein and vaccine delivery. Biomaterials, v. 35, n. 14, p. 4382–4389, 2014.

KUMARI, A.; YADAV, S. K.; YADAV, S. C. Biodegradable polymeric nanoparticles

based drug delivery systems. Colloids and Surfaces B: Biointerfaces, v.75, p. 1-

18, 2010.

LAEMMLI, U. K. Cleavage of Structural Proteins during the Assembly of the Head of

Bacteriophage T4. Nature, v. 227, n. 5259, p. 680–685, 1970.

LAING, G. D.; MOURA-DA-SILVA, A. M. Jararhagin and its multiple effects on

79 hemostasis. Toxicon, v.45, p. 987-996, 2005.

LAMEIRO, M. H. et al. Encapsulation of adenoviral vectors into chitosan-bile salt

microparticles for mucosal vaccination. Journal of Biotechnology, v. 126, n. 2, p.

152–162, 2006.

LARISSA M. ALVARENGA, MUHAMMAD ZAHID ,ANNE DI TOMMASO ,

MATTHIEU O. JUSTE; NICOLAS AUBREY, PHILIPPE BILLIALD, J. M. Engineering

venom’s toxin-neutralizing antibody fragments and its therapeutic potential. Toxins,

v. 6, n. 8, p. 2541–2567, 2014.

LEE, K. Y.; HA, W. S.; PARK, W. H. Blood compatibility and biodegradability of

partially N-acylated chitosan derivatives. Biomaterials, v. 16, n. 16, p. 1211–1216,

1995.

LEE, S. H. et al. Nano spray drying: A novel method for preparing protein

nanoparticles for protein therapy. International Journal of Pharmaceutics, v. 403,

n. 1-2, p. 192–200, 2011.

LEE, S.-T. et al. Equilibrium and kinetic studies of copper(II) ion uptake by chitosan-

tripolyphosphate chelating resin. Polymer, v. 42, p. 1879–1892, 2001.

LEONG, K. . et al. DNA-polycation nanospheres as non-viral gene delivery vehicles.

Journal of Controlled Release, v. 53, n. 1-3, p. 183–193, 1998.

LI, X.; ALDAYEL, A. M.; CUI, Z. Aluminum hydroxide nanoparticles show a stronger

vaccine adjuvant activity than traditional aluminum hydroxide microparticles. Journal

of Controlled Release, v. 173, n. 1, p. 148–157, 2014.

LIRA-DA-SILVA, R. M. et al. Serpentes de importância médica do nordeste do Brasil.

Gazeta Médica da Bahia, v. 79, p. 7–20, 2009.

LÓPEZ-LEÓN, T. et al. Physicochemical characterization of chitosan nanoparticles:

Electrokinetic and stability behavior. Journal of Colloid and Interface Science, v.

283, n. 2, p. 344–351, 2005.

MADERUELO, C.; ZARZUELO, A.; LANAO, J. M. Optimization of release kinetics

80 from sustained-release formulations using model-independent pharmacokinetic

simulation. Journal of Pharmaceutical Sciences, v. 100, n. 8, p. 3260–3267, 2011.

MAKADIA, H. K.; SIEGEL, S. J. Poly Lactic-co-Glycolic Acid (PLGA) as

biodegradable controlled drug delivery carrier. Polymers, v. 3, n. 3, p. 1377–1397,

2011.

MARQUES-PORTO, R.; LEBRUN, I.; PIMENTA, D. C. Self-proteolysis regulation in

the Bothrops jararaca venom: The metallopeptidases and their intrinsic peptidic

inhibitor. Comparative Biochemistry and Physiology - C Toxicology and

Pharmacology, v. 147, n. 4, p. 424–433, 2008.

MARUYAMA, M. et al. Prothrombin and factor X activating properties of Bothrops

erythromelas venom. Annals of tropical medicine and parasitology, v. 86, n. 5, p.

549–56, 1992.

MARUYAMA, T. et al. FT-IR analysis of BSA fouled on ultrafiltration and

microfiltration membranes. Journal of Membrane Science, v. 192, n. 1-2, p. 201–

207, 2001.

MOHAMMADPOURDOUNIGHI, N. et al. Preparation of chitosan nanoparticles

containing Naja naja oxiana snake venom. Nanomedicine: Nanotechnology,

Biology, and Medicine, v. 6, n. 1, 2010.

MORRISSEY, J. H. Silver stain for proteins in polyacrylamide gels: A modified

procedure with enhanced uniform sensitivity. Analytical Biochemistry, v. 117, n. 2,

p. 307–310, 1981a.

MORRISSEY, J. H. Silver stains for proteins in polyacrylamide gels: a modified

procedure with enhanced sensitivity. Anal. Biochem., v. 117, p. 307–310, 1981b.

NAGPAL, K.; SINGH, S. K.; MISHRA, D. N. Chitosan nanoparticles: a promising

system in novel drug delivery. Chemical & pharmaceutical bulletin, v. 58, n. 11, p.

1423–1430, 2010.

NAHAR, M. et al. Functional polymeric nanoparticles: an efficient and promising tool

81 for active delivery of bioactives. Critical reviews in therapeutic drug carrier

systems, v. 23, n. 4, p. 259–318, 2006.

NASTI, A. et al. Chitosan/TPP and chitosan/TPP-hyaluronic acid nanoparticles:

Systematic optimisation of the preparative process and preliminary biological

evaluation. Pharmaceutical Research, v. 26, n. 8, p. 1918–1930, 2009.

OGUIURA, N. et al. An alternative micromethod to access the procoagulant activity of

Bothrops jararaca venom and the efficacy of antivenom. Toxicon, v. 90, p. 148–154,

2014.

OKAMOTO, Y. et al. Effects of chitin and chitosan on blood coagulation.

Carbohydrate Polymers, v. 53, n. 3, p. 337–342, 2003.

OLIVEIRA, F. N. et al. Accidents caused by Bothrops and Bothropoides in the State

of Paraiba: epidemiological and clinical aspects. Revista da Sociedade Brasileira

de Medicina Tropical, v. 43, n. 6, p. 662–667, 2010.

ORTIZ, E. et al. Scorpion venom components as potential candidates for drug

development. Toxicon, v. 93, p. 125–135, 2014.

PAN, Y. et al. Bioadhesive polysaccharide in protein delivery system: Chitosan

nanoparticles improve the intestinal absorption of insulin in vivo. International

Journal of Pharmaceutics, v. 249, n. 1-2, p. 139–147, 2002.

PAPADIMITRIOU, S. et al. Chitosan nanoparticles loaded with dorzolamide and

pramipexole. Carbohydrate Polymers, v. 73, n. 1, p. 44–54, 2008.

PAPADIMITRIOU, S. A.; ACHILIAS, D. S.; BIKIARIS, D. N. Chitosan-g-PEG

nanoparticles ionically crosslinked with poly(glutamic acid) and tripolyphosphate as

protein delivery systems. International Journal of Pharmaceutics, v. 430, n. 1-2, p.

318–327, 2012.

PETROPOULOS, J. H.; PAPADOKOSTAKI, K. G.; SANOPOULOU, M. Higuchi’s

equation and beyond: Overview of the formulation and application of a generalized

model of drug release from polymeric matrices. International Journal of

82 Pharmaceutics, v.437, p. 178-191, 2012.

PETROVSKY, N.; AGUILAR, J. C. Special Feature Vaccine adjuvants : Current state

and future trends. Immunology and cell biology, v. 82, p. 488–496, 2004.

PREGO, C. et al. Chitosan-based nanoparticles for improving immunization against

hepatitis B infection. Vaccine, v. 28, n. 14, p. 2607–2614, 2010.

PUCCA, M. B. et al. Tityus serrulatus venom - A lethal cocktail. Toxicon, v. 108, p.

272–284, 2015a.

PUCCA, M. B. et al. Revealing the function and the structural model of Ts4: Insights

into the non-toxic toxin from tityus serrulatus venom. Toxins, v. 7, n. 7, p. 2534–

2550, 2015b.

QI, L. et al. Preparation and antibacterial activity of chitosan nanoparticles.

Carbohydrate Research, v. 339, n. 16, p. 2693–2700, 2004.

RAMESH KUMAR, D. et al. Delivery of chitosan/dsRNA nanoparticles for silencing of

wing development vestigial (vg) gene in Aedes aegypti mosquitoes. International

Journal of Biological Macromolecules, v. 86, p. 89–95, 2016.

RAMPINO, A. et al. Chitosan nanoparticles: Preparation, size evolution and stability.

International Journal of Pharmaceutics, v. 455, n. 1-2, p. 219–228, 2013.

RAO, J. P.; GECKELER, K. E. Polymer nanoparticles: Preparation techniques and

size-control parameters. Progress in Polymer Science, v. 36, p. 887–913, 2011.

RAVI KUMAR, M. N. . A review of chitin and chitosan applications. Reactive and

Functional Polymers, v. 46, n. 1, p. 1–27, 2000.

RESENDE, F. et al. Adjuvantes de vacinas: possibilidades de uso em seres

humanos ou animais. Rev. bras. alergia e imunopatologia, p. 116–124, 2004.

RIBEIRO, E. L. et al. Biochemical profile of dogs experimentally envenomed with

Tityus serrulatus scorpion venom. Toxicon, v. 55, n. 6, p. 1125–1131, 2010.

RICHARDSON, S. C. W.; KOLBE, H. V. J.; DUNCAN, R. Potential of low molecular

mass chitosan as a DNA delivery system: Biocompatibility, body distribution and

83 ability to complex and protect DNA. International Journal of Pharmaceutics, v.

178, n. 2, p. 231–243, 1999.

ROCHA SOARES, K. S. et al. Serum production against Tityus serrulatus scorpion

venom using cross-linked chitosan nanoparticles as immunoadjuvant. Toxicon, v.

60, n. 8, p. 1349–1354, 2012.

RODRIGUES, S.; COSTA, A. M. R. DA; GRENHA, A. Chitosan/carrageenan

nanoparticles: Effect of cross-linking with tripolyphosphate and charge ratios.

Carbohydrate Polymers, v. 89, n. 1, p. 282–289, 2012.

RONCOLATO, E. C. et al. Phage display as a novel promising antivenom therapy: A

review. Toxicon, v.93, p.79-84, 2015.

SAHOO, S. K.; LABHASETWAR, V. Nanotech approaches to drug delivery and

imaging. Drug Discovery Today, v.8, p. 1112-1120, 2003.

SANTOS, J. Caatinga: the scientific negligence experienced by a dry tropical forest.

Tropical Conservation Science, v. 4, n. 3, p. 276–286, 2011.

SAZIMA, I. Natural history of the jararaca pitviper, Bothrops jararaca, in

southeastern BrazilBiology of pitvipers, 1992. Disponível em:

<http://scholar.google.com/scholar?hl=en&btnG=Search&q=intitle:Natural+history+of

+the+jararaca+pitviper,+Bothrops+jararaca,+in+southeastern+Brazil#0>

SCHAFFAZICK, S. R. et al. Caracterização e estabilidade físico-química de sistemas

poliméricos nanoparticulados para administração de fármacos. Quimica Nova, v.26,

n.5, p. 726-737, 2003.

SCHERLIES, R. et al. In vivo evaluation of chitosan as an adjuvant in subcutaneous

vaccine formulations. Vaccine, v. 31, n. 42, p. 4812–4819, 2013.

SERRANO, S. M. T.; MAROUN, R. C. Snake venom serine proteinases: Sequence

homology vs. substrate specificity, a paradox to be solved. Toxicon, v.45, n.8, p.

1115-1132, 2005.

SHEKUNOV, B. Y. et al. Particle Size Analysis in Pharmaceutics: Principles,

84 Methods and Applications. Pharmaceutical Research, v. 24, n. 2, p. 203–227, 2007.

SHU, X. Z.; ZHU, K. J. A novel approach to prepare tripolyphosphate/chitosan

complex beads for controlled release drug delivery. International Journal of

Pharmaceutics, v. 201, n. 1, p. 51–58, 2000.

SHU, X. Z.; ZHU, K. J.; SONG, W. Novel pH-sensitive citrate cross-linked chitosan

film for drug controlled release. International Journal of Pharmaceutics, v. 212, n.

1, p. 19–28, 2001.

SIEPMANN, J.; PEPPAS, N. A. Modeling of drug release from delivery systems

based on hydroxypropyl methylcellulose (HPMC). Advanced Drug Delivery

Reviews, v. 64, n. SUPPL., p. 163–174, 2012.

SILVA-JÚNIOR, A. A. et al. Thermal analysis of biodegradable microparticles

containing ciprofloxacin hydrochloride obtained by spray drying technique.

Thermochimica Acta, v. 467, n. 1-2, p. 91–98, 2007.

SON, S.; KIM, W. J. Biodegradable nanoparticles modified by branched

polyethylenimine for plasmid DNA delivery. Biomaterials, v. 31, n. 1, p. 133–143,

2010.

STRAPAZZON, J. D. O. et al. Systemic oxidative stress in victims of Bothrops

snakebites. Journal of Applied Biomedicine, v. 13, n. 2, p. 161–167, 2015.

TAMBOURGI, D. V. et al. Molecular cloning, expression, function and

immunoreactivities of members of a gene family of sphingomyelinases from

Loxosceles venom glands. Molecular Immunology, v. 41, n. 8, p. 831–840, 2004.

TAVARES, I. S. et al. Surface charging and dimensions of chitosan coacervated

nanoparticles. Colloids and Surfaces B: Biointerfaces, v. 90, n. 1, p. 254–258,

2012.

TORRES, J. B. et al. An accident involving Tityus serrulatus and its epidemiological

implications in Brazil. Revista de saúde pública,v.36, p. 631-633, 2002.

TRINDADE, R. A. et al. PLGA microspheres containing bee venom proteins for

85 preventive immunotherapy. International Journal of Pharmaceutics, v. 423, n. 1, p.

124–133, 2012.

TSAI, M. L.; BAI, S. W.; CHEN, R. H. Cavitation effects versus stretch effects

resulted in different size and polydispersity of ionotropic gelation chitosan-sodium

tripolyphosphate nanoparticle. Carbohydrate Polymers, v. 71, n. 3, p. 448–457,

2008.

VANDANA, M.; SAHOO, S. K. Optimization of physicochemical parameters

influencing the fabrication of protein-loaded chitosan nanoparticles. Nanomedicine

(London, England), v. 4, n. 7, p. 773–785, 2009.

VIMAL, S. et al. Chitosan tripolyphosphate (CS/TPP) nanoparticles: Preparation,

characterization and application for gene delivery in shrimp. Acta Tropica, v. 128, n.

3, p. 486–493, 2013.

WOITISKI, C. B. et al. Colloidal carrier integrating biomaterials for oral insulin

delivery: Influence of component formulation on physicochemical and biological

parameters. Acta Biomaterialia, v. 5, n. 7, p. 2475–2484, 2009.

XIE, Y. et al. Th immune response induced by H pylori vaccine with chitosan as

adjuvant and its relation to immune protection. World Journal of Gastroenterology,

v. 13, n. 10, p. 1547–1553, 2007.

XU, Y.; DU, Y. Effect of molecular structure of chitosan on protein delivery properties

of chitosan nanoparticles. International Journal of Pharmaceutics, v. 250, n. 1, p.

215–226, 2003.

YANG, C. H. et al. Using a cross-flow microfluidic chip and external crosslinking

reaction for monodisperse TPP-chitosan microparticles. Sensors and Actuators, B:

Chemical, v. 124, n. 2, p. 510–516, 2007.

ZAHAROFF, D. A. et al. Chitosan solution enhances the immunoadjuvant properties

of GM-CSF. Vaccine, v. 25, n. 52, p. 8673–8686, 2007.

ZHAO, K. et al. Preparation and immunological effectiveness of a swine influenza

86 DNA vaccine encapsulated in chitosan nanoparticles. Vaccine, v. 29, n. 47, p. 8549–

8556, 2011.

ZHIMING, H. et al. Induction of protective serum meningococcal bactericidal and

diphtheria-neutralizing antibodies and mucosal immunoglobulin A in volunteers by

nasal insufflations of the Neisseria meningitidis serogroup C polysaccharide-CRM197

conjugate vaccine mixed with . Infection and Immunity, v. 73, n. 12, p. 8256–8265,

2005.

ZULIANI, J. P. et al. Tityus serrulatus venom increases vascular permeability in

selected airway tissues in a mast cell-independent way. Experimental and

Toxicologic Pathology, v. 65, p. 229–234, 2013.

ZYCHAR, B. C. et al. Contribution of metalloproteases, serine proteases and

phospholipases A2 to the inflammatory reaction induced by Bothrops jararaca crude

venom in mice. Toxicon, v. 55, n. 2-3, p. 227–234, 2010.

87 ANEXOS

- Patente depositada.

Sistemas nanoparticulados de quitosana aplicados como imunoadjuvante na

produção de soros contra venenos de animais peçonhentos.

88

89

90