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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO PROFISSIONAL EM LETRAS - PROFLETRAS CAMPUS DE CURRAIS NOVOS - RN ENCANTOS POÉTICOS: A POESIA POTIGUAR PEDE LICENÇA... Luciana Maria Carvalho Medeiros dos Santos CURRAIS NOVOS - RN 2015

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · RESUMO É certo que muitas discussões acerca da abordagem da Poesia em sala de aula têm sido promovidas e publicadas, entretanto

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO PROFISSIONAL EM LETRAS -

PROFLETRAS

CAMPUS DE CURRAIS NOVOS - RN

ENCANTOS POÉTICOS: A POESIA POTIGUAR PEDE LICENÇA...

Luciana Maria Carvalho Medeiros dos Santos

CURRAIS NOVOS - RN

2015

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LUCIANA MARIA CARVALHO MEDEIROS DOS SANTOS

ENCANTOS POÉTICOS: A POESIA POTIGUAR PEDE LICENÇA...

Dissertação apresentada à Universidade Federal do

Rio Grande do Norte – UFRN, para obtenção do

título de Mestre em Letras, junto ao Programa de

Pós-Graduação Mestrado Profissional em Letras –

PROFLETRAS - Campus de Currais Novos – RN.

Orientadora: Profa. Dra. Valdenides Cabral de

Araújo Dias.

CURRAIS NOVOS - RN

2015

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Divisão de Serviços Técnicos

Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Setorial de Currais Novos

Santos, Luciana Maria Carvalho Medeiros dos.

Encantos Poéticos: A Poesia Potiguar pede licença... / Luciana Maria

Carvalho Medeiros dos Santos. - Currais Novos, RN, 2015.

90 f. : il. color.

Orientadora: Dra. Valdenides Cabral de Araújo Dias.

Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do

Norte. Programa de Pós-Graduação em Mestrado Profissional em Letras.

Centro de Ensino Superior do Seridó. Departamento de Ciências Sociais

e Humanas.

1. Poesia Potiguar – Dissertação. 2. Poesia. – Sala de aula –

Dissertação – 3. Estratégia de ensino – Dissertação. I. Dias, Valdenides

Cabral de Araújo. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III.

Título.

RN/UF/BSCN CDU 37:82-1

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ENCANTOS POÉTICOS: A POESIA POTIGUAR PEDE LICENÇA...

Esta dissertação foi julgada adequada para obtenção do Título de Mestre em Letras e

aprovada em sua forma final pelo Programa Pós-Graduação Mestrado Profissional em Letras

– PROFLETRAS, nível de mestrado da Universidade Federal do Rio Grande do Norte –

UFRN, em 14 de julho de 2015.

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________________________________

DRA. VALDENIDES CABRAL DE ARAÚJO DIAS

Presidente

______________________________________________________________________

DR. DERIVALDO DOS SANTOS

Membro Interno

______________________________________________________________________

DRA. FRANCISCA ZULEIDE DUARTE

Membro Externo

CURRAIS NOVOS - RN

2015

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DEDICATÓRIA

Dedico cada palavra aqui impressa a duas poesias-bigodudas que

amei,

amo,

amarei

:

José Medeiros dos Santos

Meu pai.

Com quem aprendi

A apertar a mão do outro bem firme e olhando nos olhos.

A respeitar os mais velhos.

A sonhar.

A amar a Literatura de Cordel.

A cultivar essa mania “doida e doída de sonhar”.

:

José Bezerra Gomes

Meu poeta.

Com quem aprendi

A olhar para minha terra com outros olhos.

A pisar neste chão seridoense com pés descalços e reverenciar suas pedras e frestas.

Que almas se ligam para além do tempo e da carne.

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AGRADECIMENTOS

Ao meu amor, Edson Neto, por toda a dedicação e compreensão aos meus momentos

de silêncio, ausência e solidão, necessários à escrita deste trabalho.

À minha mãe, pelo apoio, carinho e atenção tantas vezes a mim dedicados.

Às minhas irmãs, por tanto acreditarem em mim e me impulsionarem para voos cada

vez mais altos.

Aos meus filhos lindos, Icaro, Cauã e Henrique, simplesmente por existirem e me

dizerem a cada instante da magia da vida, da importância de acreditar no amanhã, da delícia

de sonhar e acreditar no sonho.

À minha orientadora, professora Valdenides, por saber abraçar essa missão sempre

tão cheia de carinhos e cuidados.

À Carlos Alberto Galvão (Júnior Caçarola) e Eric Amorim, pelo cuidado e

profissionalismo com os quais trataram a construção do site www.poesiapotiguar.com.br.

À Edilson (Edw Tyler) pelo belo trabalho artístico das caricaturas dos poetas que

ilustram o site.

Aos professores e colegas do PROFLETRAS, por todas as experiências

compartilhadas, os votos de confiança, as palavras de força.

Ao Casarão de Poesia por fazer parte de minha vida como uma segunda casa, uma

segunda família.

À Escola Estadual Tristão de Barros, pelo incentivo, apoio e confiança, sempre.

Aos meus alunos, os de hoje, de ontem e de sempre, por me permitirem com eles

aprender a cada dia.

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POESIA

O seu sabor

do almoço vó

tem sabor

de flores

tem sabor

de lembranças

tem sabor

de amor.

Eu gosto

muito do seu sabor

do almoço.

Cauã Carvalho (06 anos)

(Meu farelinho de gente,

Meu menino marrom,

Meu vendaval)

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RESUMO

É certo que muitas discussões acerca da abordagem da Poesia em sala de aula têm sido

promovidas e publicadas, entretanto qual a razão para a Poesia ainda não ter encontrado de

fato o seu caminho na escola? Um dos possíveis caminhos para desvendar esse mistério que

inquieta principalmente aqueles que sabem da importância do contato com leituras dessa

natureza, em especial na escola, é o de que é preciso ser leitor de Poesia, ainda que

minimamente, para formar leitores de Poesia. Assim, torna-se necessário ampliar e

ressignificar essas discussões de modo a promover efetivas transformações quanto a

abordagem do texto poético no espaço escolar. Uma outra lacuna também identificada nas

práticas de sala de aula é a mínima escolha pela Poesia produzida por autores locais como

objeto de estudo. Por essa razão, a presente pesquisa de natureza qualitativa, propõe-se a

apresentar uma proposta voltada à abordagem da Poesia Potiguar na sala de aula,

considerando, sobretudo, a escassez de material dessa natureza. Dessa forma, o objetivo maior

da pesquisa aqui apresentada é ressignificar os conceitos e a abordagem dessa Poesia Potiguar

no contexto da sala de aula, a partir de sua importância como artefato artístico, histórico e

cultural, para além dos limites geográficos, por meio da construção de um site inteiramente

dedicado à divulgação, discussão e projeção dessa Poesia, dedicado acima de tudo à sugestão

de propostas didáticas centradas na Poesia Potiguar. Para esta pesquisa, assumem-se como

norte os pressupostos teóricos a respeito de literatura e Poesia de CANDIDO (2013),

PINHEIRO (2002), COMPAGNON (2009) e PAZ (1982), as orientações acerca do

letramento literário de COSSON (2014), assim como os escritos de GURGEL (2001),

MACEDO e DUARTE (2001) (2013) e ONOFRE JR (2000) a respeito de literatura Potiguar.

Assim, a referida pesquisa assume o caráter de enfrentamento diante da necessidade de

impregnar nos professores a certeza de que é preciso dar voz e vez à Poesia na sala de aula,

assim como de conhecer a Poesia produzida por artistas locais, com vistas a valorizar e

disseminar suas obras para, enfim, possibilitar atividades significativas de construção,

desconstrução e reconstrução de paradigmas no campo da literatura, da Poesia.

Palavras-chave: Poesia Potiguar. Sala de Aula. Ensino Fundamental. Propostas Didáticas.

Site.

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ABSTRACT

It is true that many discussions about the Poetry approach in the classroom have been

promoted and published, however the reason for Poetry has not yet found its way indeed in

school? One of the possible ways to solve this mystery that mainly worried those who know

the importance of contact with readings of this nature, especially in school, is that you have to

be Poetry player, even minimally, to form readers of poetry. Thus, it is necessary to broaden

and reframe these discussions in order to promote effective changes as the approach of the

poetic text at school. Another gap also identified in classroom practices is the minimum

choice for Poetry produced by local authors as subject matter. Therefore, the present study of

a qualitative nature, it is proposed to present a proposal aimed to approach the Potiguar Poetry

in the classroom, considering above all the material shortages that nature. Thus, the ultimate

goal of the research presented here is reframing the concepts and the approach that Potiguar

Poetry in the context of the classroom, from its importance as an artistic artifact, historical and

cultural, beyond the geographical limits, by building a website entirely dedicated to

dissemination, discussion and projection of this Poetry, dedicated above all the suggestion

educational proposals centered on Potiguar Poetry. For this research, are assumed to north the

theoretical assumptions about literature and CANDIDO Poetry (2013), Pinheiro (2002),

COMPAGNON (2009) and PEACE (1982), the guidelines on the literary literacy COSSON

(2014) as well as the writings of GURGEL (2001), and MACEDO and DUARTE (2001)

(2013) and ONOFRE JR (2000) about Potiguar literature. As such, the research takes the

coping character on the need to impregnate the teachers to make sure that it takes time to give

voice and Poetry in the classroom, as well as to know the poetry produced by local artists, in

order to enhance and disseminate their works to finally allow meaningful activities of

construction, deconstruction and reconstruction of paradigms in the field of literature, Poetry.

Keywords: Potiguar Poetry. Classroom. Elementary School. Teaching proposals. Site.

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SUMÁRIO

Introdução ................................................................................... 12

I Mas, Literatura para quê? ............................................................ 18

1.1 A literatura empoeirada dos bancos escolares ........................... 20

1.2. A poeira secular das bibliotecas escolares ................................. 27

II A Poesia quando chega não respeita nada... .............................. 34

2.1 (Na sala de aula) Poesia... Presente?! ......................................... 37

III Investigações poéticas .................................................................. 44

3.1 Universo das curiosidades poéticas ............................................ 44

3.2 Conjecturas... Confabulações... ................................................... 46

IV

4.1.

4.2.

V

Eis que nasce a Literatura Potiguar... ...........................................

Mas, e santo de casa faz milagre? ...............................................

A Poesia Potiguar pede licença... .................................................

Educação e as Novas Tecnologias: aparando as

frestas e apontando caminhos ......................................................

54

56

59

62

VI Um sítio verdadeiramente poético... ............................................ 67

6.1. As partes desse todo .................................................................. 68

6.1.1. O Projeto .................................................................................... 68

6.1.2. Sala de Aula ............................................................................... 70

6.1.3. Biblioteca .................................................................................... 73

6.1.4. Cordel ......................................................................................... 75

6.1.5

6.1.6.

EnCantos ....................................................................................

Cinemapoético ............................................................................

77

79

6.1.7. Balaio .......................................................................................... 80

Considerações finais ................................................................... 85

Referências ..................................................................................

Anexos

88

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MULTIPLICAÇÃO

Deem-me minhas mãos,

que eu quero semear a terra.

Com elas,

alumiarei o cego,

afagarei a face do leproso

e enxugarei o suor do moribundo...

Violarei o cofre do usuário

e saciarei a fome do necessitado...

Eu quero minhas mãos,

para aliviar o laço do enforcado,

para guiar os passos do ébrio,

para estancar o sangue do esfaqueado...

Eu preciso das minhas mãos,

para libertar o detento,

para socorrer o fugitivo,

para salvar o afogado...

....................................................................

Deem-me minhas mãos,

que eu quero colher flores,

para o leito da noiva,

para o berço do recém-nascido...

Eu quero minhas mãos,

eu preciso das minhas mãos

para com elas milagres propagar.

José Bezerra Gomes

(Currais Novos – RN)

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1. INTRODUÇÃO

Falar de Poesia é submeter-se ao risco de falar, falar, e perder-se nos desvãos das

palavras, tão arrebatadoras são todas elas. É adentrar em um universo permeado de

subjetividades múltiplas e inquietantes. É ausentar-se do mundo real e, tal qual uma criança,

entrelaçar-se nos sons, nas imagens e nos sentidos da palavra poética, estabelecendo um jogo

com ela de entrega absoluta e verdadeira.

Falar de Poesia é assim, tarefa de amantes incondicionais, curiosos pelos sentidos

diversos que cada palavra assume na linguagem poética, independente de estilo literário,

nacionalidade, tempo, entre outros aspectos, pois, como afirma Paz:

A poesia é conhecimento, salvação, poder, abandono. Operação capaz de

transformar o mundo, a atividade poética é revolucionária por natureza;

exercício espiritual, é um método de libertação interior. A poesia revela este

mundo; cria outro. Pão dos eleitos; alimento maldito. Isola; une. Convite à

viagem; regresso à terra natal. Inspiração, respiração, exercício muscular.

Súplica ao vazio, diálogo com a ausência, é alimentada pelo tédio, pela

angústia e pelo desespero. Oração, litania, epifania, presença. Exorcismo,

conjuro, magia. Sublimação, compensação, condensação do inconsciente.

Expressão histórica de raças, nações, classes. [...] (1982, p. 15).

A Poesia transcende aos limites da arte, da beleza, visto que é também uma

manifestação cultural, ética, política, posto que seja humana.

O homem é um animal simbólico, carece de símbolos para se expressar e a

poesia (como a arte) é uma forma não só natural, mas cultural de expressar

aquilo que a linguagem convencional e prosaica não consegue. [...] A poesia

“tem”, é verdade, algumas funções, mas, mais do que isto, mais do que “ter”,

ela “é”, em si mesma, uma função do espírito humano. E essa mudança do

verbo “ter” para o verbo “ser” é essencial. (SANT’ANNA, 2009, p.13)

E se assim é a Poesia, os poetas, seus feitores/ benfeitores, são uma espécie de

condutores, reveladores da palavra poética. A respeito dos poetas e seus objetivos, diz

Hamburger:

O objetivo dos poetas, pois, é “dizer verdades”, mas de maneiras

necessariamente complicadas pelo “paradoxo da palavra”. [...] e uma vez

que a escrita da poesia é um “feito” – um processo de exploração e

descoberta – as verdades ditas são de um tipo especial. [...] Por outras

palavras, é o poema que diz ao poeta o que ele pensa, não o contrário. (2007,

p. 56)

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É sobre Poesia que as palavras grafadas neste artefato acadêmico pretendem falar. É

em nome da Poesia que esta pesquisa pede licença para falar, pede licença para tentar poetizar

o ensino de literatura nas nossas escolas.

E falamos de poetizar o ensino de literatura, sobretudo o “ensino” de Poesia, a

abordagem da Poesia na sala de aula. Primeiro porque não há razão para negar sua entrada

nesse espaço; segundo porque é papel da escola proporcionar aos alunos o contato com as

manifestações literárias, as orientações de como lidar com o texto literário, quais as suas

especificidades tão necessárias para a real compreensão do seu sentido e sua função, seu

caráter estético e político.

É preciso preparar o aluno para as linhas e entrelinhas do texto poético, para os saltos

e as quedas que a Poesia pode proporcionar, e alertá-los dos cuidados com ela, pois como

alerta Glória Kirinus:

A poesia irrompe o cotidiano, e mesmo que precise de uma intenção e

ordenação estética, ela não se sujeita aos rigores do tempo e do espaço. A

poesia canta uma canção eterna nutrida em cantos e preces antigas que até

sabiam alegrar e curar. (2011, p: 26)

Ainda a respeito da importância da literatura para o indivíduo, Antonio Candido

afirma:

A literatura corresponde a uma necessidade universal que deve ser satisfeita

sob pena de mutilar a personalidade, porque pelo fato de dar forma aos

sentimentos e à visão do mundo ela nos organiza, nos liberta do caos e,

portanto nos humaniza. Negar a fruição da literatura é mutilar a nossa

humanidade. (2013, p. 188)

Além de ser uma proposta de investigação e apontamentos para estas questões tão

pertinentes e relevantes em relação ao espaço que a literatura, sobretudo a Poesia, tem

merecido nas escolas brasileiras, esta pesquisa dialoga diretamente com professores do Estado

do Rio Grande do Norte, pois se materializa em um site totalmente voltado para a divulgação

e valorização da Poesia Potiguar, sobretudo a abordagem dessa Poesia no espaço escolar.

A delimitação da Poesia Potiguar para a referida proposta dá-se em virtude da

escassez de material dessa natureza. Ora, se a Poesia produzida por grandes autores

brasileiros, conhecidos por suas obras publicadas e difundidas nos mais diversos espaços,

inclusive nas bibliotecas escolares, ainda encontra obstáculos na adesão por parte de alguns

professores, como fica a Poesia produzida por autores locais, nem sempre publicada em livros

e pouquíssimo difundida nas escolas?

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Dessa forma, o objetivo maior desse projeto de pesquisa é ressignificar os conceitos

e a abordagem da Poesia Potiguar no contexto da sala de aula, considerando sua importância

como artefato artístico, histórico e cultural.

Partindo então da necessidade de impregnar nos professores a certeza de que é

preciso dar voz e vez à Poesia na sala de aula, e que é necessário conhecer a Poesia produzida

por artistas locais, para enfim valorizar e disseminar suas obras, é que o projeto de pesquisa

Encantos poéticos: A Poesia Potiguar pede licença... encontra sua justificativa, pois se

propõe a trazer para o centro das atenções a Poesia produzida no Rio Grande do Norte e

discutir a pertinência e a relevância de incluir essa Poesia no ambiente escolar.

Dessa forma, a referida pesquisa se configura como uma proposta de enfretamento a

essa problemática e para tal fim propõe a criação de um site totalmente voltado à divulgação e

discussão dessa Poesia Potiguar, oferecendo, sobretudo, possibilidades de abordagem do texto

poético de autoria Potiguar no espaço da sala de aula, por meio de planejamentos voltados ao

Ensino Fundamental. Para tanto, distribuímos nossa proposta da seguinte maneira:

O primeiro capítulo intitulado “Mas, Literatura para quê?” trata das inúmeras

questões no que se refere à literatura: a sua natureza, assim como de sua linguagem, suas

especificidades, sua função e importância. Para isso, o capítulo coloca em xeque diversas

dicotomias que orientam grande parte dos estudos sobre literatura, e materializa-se em um

diálogo entre vozes amantes e conhecedoras da literatura, e em sua defesa.

Ainda no mesmo capítulo, são discutidas questões relacionadas à necessidade da

permanência da literatura no espaço escolar, porém de maneira mais efetiva e responsável,

visto que no próprio capítulo são apontados alguns descaminhos quanto à abordagem do texto

literário na sala de aula e as implicações dos mesmos na real compreensão da função e da

importância da literatura.

As discussões desse capítulo são norteadas pelas concepções de literatura, assim

como sua relação com a escola, concepções estas assumidas por Antoine Compagnon (2009),

Antonio Candido (2004), Rildo Cosson (2014), entre outros.

“A Poesia quando chega não respeita nada...” é o título do segundo capítulo, cuja

preocupação, inicialmente, é abordar a natureza da Poesia, assim como suas particularidades.

Para isso, traz alguns olhares de teóricos e afins da Poesia como forma de reafirmar o caráter

ao mesmo tempo singular e plural que esse gênero abarca. Poesia – singular, por considerar

sua maneira tão peculiar de usar a palavra e conferir a esta sentidos tão outros, tão amplos, tão

múltiplos. Poesia – plural, por considerar sua potência criadora, inventiva, capaz de falar ao

homem de qualquer tempo, espaço, cultura, condição social, do próprio homem, do mundo, de

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si e provocar laços e rupturas, afinidades e aversões, tudo em um instante, embora rápido às

vezes, de intensidades e êxtases.

O capítulo também se propõe a discutir erros e acertos quando o assunto é a Poesia

na sala de aula. Para tanto, traz para essa discussão vozes consagradas nos estudos da

abordagem da Poesia no espaço escolar, como Hélder Pinheiro (2002), Neusa Sorrenti (2009),

Octávio Paz (1982), Rildo Cosson (2014), Holanda (2004) e mais alguns outros.

O terceiro capítulo “Investigações poéticas...” dá conta de parte da metodologia

assumida para a pesquisa e os métodos utilizados. Nesse capítulo são apresentados alguns

dados coletados junto a alguns professores do Ensino Fundamental de escolas diferentes do

Rio Grande do Norte, por meio de um questionário. Alguns desses dados são apresentados em

forma de gráfico e muitos deles colaboram para melhor compreender a problemática da

abordagem da Poesia na sala de aula e, mais especificamente, a Poesia produzida por autores

locais, ou seja, a Poesia Potiguar, protagonista dessa pesquisa.

Os dados coletados e analisados também servem para justificar a importância de

elucidar as implicações da abordagem da Poesia Potiguar no espaço escolar, assim como a

necessidade de pensar em estratégias de enfrentamento a essas lacunas.

Para a produção desse capítulo, são tomados como referência os aportes de Sorrenti

(2009) e Candido (2004).

“Eis que nasce a Literatura Potiguar...” título escolhido para batizar o quarto capítulo

e é inteiramente voltado a tratar da Poesia produzida por autores potiguares. O capítulo se

organiza em torno de um breve percurso histórico dessa Poesia Potiguar e apresenta logo no

início uma discussão a respeito de o que de fato consagra alguém como escritor potiguar.

Neste espaço também é discutido o embate histórico e clássico do poeta “canônico”,

nacionalmente conhecido, versus o poeta local, “desconhecido”, assim como a necessidade de

inserir na sala de aula a Poesia Potiguar como objeto de leitura, estudo e fruição, como forma

de valorização e ressignificação da identidade Potiguar.

Para este capítulo foram considerados os estudos de Tarcísio Gurgel (2001), Diva

Cunha e Constância Lima Duarte (2001) (2013) e Manoel Onofre Jr (2000).

“Educação e as Novas Tecnologias: aparando as frestas e apontando caminhos” é o

título do quinto capítulo e como o próprio nome sugere traz para a discussão a necessidade do

ser humano por tecnologias que dinamizem o cotidiano e as relações. Aqui é discutido como a

escola vem compreendendo e se adaptando às novas formas de interação e aprendizagem e

qual a necessidade de que essas transformações sejam aproveitadas no espaço escolar de

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forma a contribuir e potencializar o aprendizado. Para tanto, traz as discussões de Kenski

(2007) e Lévy (2010).

O sexto capítulo é intitulado “Um Sítio verdadeiramente poético...” e apresenta ao

leitor toda a proposta que orienta o site www.poesiapotiguar.com.br. O capítulo é todo

organizado em torno das ideias que perpassam a criação do site, desde informações mais

técnicas sobre o processo de construção do mesmo como o layout escolhido, título,

personagens, etc.

Considerando o caráter dinâmico e cada vez mais acessível da internet como

ferramenta para a educação, o site agrega valores e potenciais quando abarca propostas

didáticas direcionadas ao Ensino Fundamental, como forma de facilitar e incentivar a

abordagem do texto poético de autoria Potiguar na sala de aula.

O trabalho encerra com algumas considerações finais acerca da importância de se

pensar a literatura, em especial a Poesia, como um artefato artístico e cultural vivo, plural,

criativo, dinâmico, político, mas acima de tudo, humano e que, por todas essas razões, precisa,

deve e merece fazer parte da dinâmica escolar, visto que a escola é o espaço legitimado para

formação humana dos sujeitos.

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CAMINHO DO SERTÃO

A meu irmão João Cancio

Tão longe a casa!... Nem sequer alcanço

Vê-la, através da mata. Nos caminhos,

A sombra desce; e, sem achar descanso,

Vamos, nós dois, meu pobre irmão, sozinhos!

É noite, já! Como em feliz remanso,

Dormem as aves nos pequenos ninhos ...

Vamos mais devagar... de manso e manso,

Para não assustar os passarinhos.

Brilham estrelas. Todo o céu parece

Rezar de joelhos a chorosa prece,

Que a Noite ensina ao desespero e à dor ...

Ao longe, a Lua vem dourando a treva ...

Turíbulo imenso para Deus eleva

O incenso agreste da jurema em flor.

Auta de Souza

(Macaíba – RN)

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I – MAS, LITERATURA PARA QUÊ?

Caminhando pelos textos que tratam das concepções de literatura, ao longo da

história, é possível perceber que são diversas as vozes que dialogam sobre o que é, como é e

para que serve a literatura. Diversas também são as orientações que norteiam as respostas para

estas questões.

É possível perceber que conforme mudam os tempos, assim como as formas de estar

e pensar no mundo, a ideia sobre literatura e sua real importância para a humanidade vai se

modificando. Para além dos limites e dissabores que perpassam o embate das dicotomias

quanto aos estudos sobre literatura – história e teoria, forma e conteúdo, texto e contexto,

autor e leitor – a literatura permanece viva, e mesmo que insistam alguns em afirmar que esta

não serve para nada, sua permanência é a prova de sua importância.

Em defesa da literatura, alguns críticos e estudiosos apresentam as seguintes

reflexões sobre a natureza, a função e a importância desta para o homem de qualquer tempo,

espaço e condição social, como é o caso de Antonio Candido, quando diz:

A literatura aparece claramente como manifestação universal de todos os

homens em todos os tempos. Não há povo e não há homem que possa viver

sem ela, isto é, sem a possibilidade de entrar em contato com alguma espécie

de fabulação. Assim como todos sonham todas as noites, ninguém é capaz de

passar as vinte e quatro horas do dia sem alguns momentos de entrega ao

universo fabulado. [...].Ora, se ninguém pode passar vinte e quatro horas sem

mergulhar no universo da ficção e da poesia, a literatura concebida no

sentido amplo a que me referi parece corresponder a uma necessidade

universal que precisa ser satisfeita e cuja satisfação constitui um direito.

(2013, p. 176 – 177)

Antonio Candido, um dos maiores estudiosos da literatura brasileira, sociólogo,

professor e crítico literário, revela em seu ensaio O direito à literatura uma visão tanto quanto

ampla e profunda sobre a importância da literatura para a humanidade, visto que a concebe

como um direito “incompressível”, ou seja, indispensável, portanto, que não pode ser negado.

Em todo o ensaio, Candido segue em defesa da literatura, de forma a afastá-la dos

impasses dicotômicos. O mundo não mais se orienta pela dicotomia do eu versus o outro, mas

sim pela conexão do eu e do outro. Assim então é a literatura defendida por ele: um espaço de

conhecimento em que estrutura e significado, embora autônomos, permitem a experiência da

identificação com o(s) outro(s) e consigo mesmo, bem como a reconstrução da visão de

mundo por meio da emoção.

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Um outro nome importante da crítica literária é o de Antoine Compagnon. Este

crítico literário possui uma vasta obra sobre teoria, história e crítica literária. A respeito da

literatura e em sua defesa, Compagnon percebe que

a literatura desconcerta, incomoda, desorienta, desnorteia mais que os

discursos filosófico, sociológico ou psicológico porque ela faz apelo às

emoções e à empatia. Assim, ela percorre regiões da experiência que os

outros discursos negligenciam, mas que a ficção reconhece em seus detalhes.

[...] A literatura nos liberta de nossas maneiras convencionais de pensar a

vida – a nossa e a dos outros –, ela arruína a consciência limpa e a má fé.

(2009, p. 50)

É nítida a adesão do autor a toda e qualquer luta em defesa da literatura, visto que a

considera uma construção discursiva, transformadora, portanto, política. Compagnon aponta

para esse poder de transformação pelo texto literário, comparando-o a outros discursos

também transformadores, como a filosofia, a sociologia e a psicologia. Entretanto, o autor

potencializa essa capacidade transformadora da literatura em detrimento dos outros discursos,

por acreditar no poder da emoção. Assim, experienciar um texto, e consequentemente seu

discurso, por meio da emoção torna-se mais significativo do que experienciar esse mesmo

discurso pelo viés da razão.

Uma outra acepção a respeito da importância da literatura aqui apresentada é a da

escritora, professora, tradutora brasileira e colunista Lya Luft. A escritora, que já publicou

diversos livros, dentre estes livros de poesia, conto, romance, crônica, ensaio, além de livros

infantis, relata sua experiência de leitora literária e a importância da mesma para sua formação

humana e cidadã, de forma a defender a necessidade e a importância do acesso à literatura

para todos:

Desde criança, a leitura me dá imenso prazer, exercendo em mim o fascínio

de algo mágico, intenso, estético. É a janela por onde o mundo entra na

minha casa, na minha vida. A literatura dirigiu meu pensamento, minha

forma de ver o mundo. Eu vivo e respiro literatura o tempo inteiro [...]

(LUFT, 2005, p. 24)

Ao metaforizar o contato com a literatura como a janela que traz o mundo e todas as

suas cores, barulhos, sabores e dissabores para dentro da casa e da vida do leitor, Lya Luft

amplia a natureza estética da literatura, conferindo a esta também o caráter da aprendizagem.

Dessa forma, é possível compreender a defesa em favor da literatura também

norteada pela ideia de que o texto literário é capaz de promover aprendizagens. Mesmo a

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literatura não carregando em sua essência a função de ensinar, de promover aprendizagens

múltiplas, ela ensina, porque promove a experimentação de outras vidas, outras crenças,

outras formas de significar o mundo por meio da emoção. Por isso, conforme justifica

Compagnon,

Ensinando-nos a não sermos enganados pela língua, a literatura nos torna

mais inteligentes, ou diferentemente inteligentes. O dilema da arte social e

da arte pela arte se torna caduco face a uma arte que cobiça uma inteligência

do mundo liberta das limitações da língua. (2009, p. 39)

Ainda sobre essa particularidade da literatura, e também em sua defesa, o estudioso

do letramento, Rildo Cosson, assegura:

A literatura nos diz o que somos e nos incentiva a desejar e a expressar o

mundo por nós mesmos. E isso se dá porque a literatura é uma experiência a

ser realizada. É mais que um conhecimento a ser reelaborado, ela é a

incorporação do outro em mim sem renúncia da minha própria identidade.

No exercício da literatura, podemos ser outros, podemos viver como os

outros, podemos romper os limites do tempo e do espaço de nossa

experiência e, ainda assim, sermos nós mesmos. É por isso que

interiorizamos com mais intensidade as verdades dadas pela poesia e pela

ficção. (2014, p. 17)

Considerando as concepções de literatura aqui apresentadas, além das inúmeras

outras tão conhecidas e divulgadas sobre a natureza, a função e a importância da literatura

para a formação dos sujeitos, assim como para a [re]construção e o fortalecimento das mais

diversas identidades, é que se faz imprescindível garantir a permanência e a valorização da

literatura na escola.

1.1. A literatura empoeirada dos bancos escolares

Que a literatura é parte integrante da escola, seja como disciplina, objeto de ensino,

ou mesmo como mero instrumento para o deleite e a diversão, disso ninguém ousa duvidar.

Entretanto, é mais que sabida e constantemente discutida na academia, dissertações e teses,

congressos, palestras, entre outros espaços e suportes, que a simples inclusão da literatura na

escola não garante a sua efetivação, isto é, permitir que o texto literário faça parte do

planejamento do professor, ou mesmo que a literatura seja concebida como disciplina, não

garante que esta seja abordada e, consequentemente compreendida, em sua natureza

multifacetada, inventiva, criativa, enfim, estética:

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Não é possível aceitar que a simples atividade de leitura seja considerada a

atividade escolar de leitura literária. Na verdade, apenas ler é a face mais

visível da resistência ao processo de letramento literário na escola. Por trás

dele encontram-se pressuposições sobre leitura e literatura que, por

pertencerem ao senso comum, não são sequer verbalizadas. (COSSON,

2014, p. 26)

Um dos primeiros e possivelmente o maior equívoco da escola frente às concepções

e, consequentemente, abordagens do texto literário diz respeito à incompreensão da função da

literatura. Dentro dessa problemática, há uma concepção assumida por muitos professores de

que a função da literatura é simplesmente emocionar o leitor, no sentido mais superficial que

a palavra emocionar possa assumir. A literatura para o mero deleite, a diversão gratuita do ler

por ler.

Compreendidos dessa forma, os textos literários passam a ocupar lugares cada vez

menos prestigiados na escola, sobretudo na sala de aula, quando a ordem é não perder tempo

com conteúdos “menos importantes”, que não serão cobrados dos alunos nas avaliações

externas, e que tão pouco servirão para a formação dos mesmos como futuros integrantes do

mercado de trabalho.

[...] vivemos nas escolas uma situação difícil com os alunos, os professores

de outras disciplinas, os dirigentes educacionais e a sociedade, quando a

matéria é literatura. Alguns acreditam que se trata de um saber

desnecessário. Para esses, a literatura é apenas um verniz burguês de um

tempo passado, que já deveria ter sido abolido das escolas. [...] Essa postura

arrogante com relação ao saber literário leva a literatura a ser tratada como

apêndice da disciplina de Língua Portuguesa, quer pela sobreposição à

simples leitura no ensino fundamental, quer pela redução da literatura à

história literária no ensino médio. (COSSON, 2014, p. 10)

Essa confusão gerada e mantida pela escola quanto à função da literatura assume

caminhos diferentes no Ensino Fundamental e no Ensino Médio:

Tem sido assim com o ensino da literatura em nossas escolas, que, no Ensino

Fundamental, tem a função de sustentar a formação do leitor e, no Ensino

Médio, integra esse leitor à cultura literária brasileira, constituindo-se, em

alguns currículos, uma disciplina à parte da Língua Portuguesa. (COSSON,

2014, p. 20)

Folheando alguns livros didáticos do Ensino Fundamental é nítida a diferença de

espaço, abordagem e relevância que os textos literários recebem se comparados aos textos e

conteúdos voltados ao ensino da língua.

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Os textos literários quando abordados em livros didáticos são, em sua maioria, textos

em prosa, seguidos de questões muitas vezes cerceadoras da natureza imagética e lúdica da

literatura, priorizando a interpretação do que há de mais superficial no texto, como: Quem são

os personagens? Onde eles vivem? Qual é o acontecimento principal? Como é o desfecho da

história? Qual a temática abordada?

Em poucos casos se percebe uma proposta de leitura, interpretação e compreensão de

um texto literário que permita ao aluno um passeio pelas linhas e entrelinhas do texto, isto é,

pelo dito, mas também pelo não dito, pelas impressões, imagens e sensações provocadas.

Somente um professor crente na face múltipla da literatura e na sua capacidade de

promover aprendizagens, será capaz de transgredir a ordem normal do be-á-bá prontinho e

acabado do livro didático, para imprimir um outro caminho no trato com o mesmo texto

literário. No entanto, isso demanda tempo, dedicação e bem mais trabalho. Além do mais,

realinhar essa abordagem requer sensibilidade e, consequentemente afinidade com a literatura,

além do conhecimento das mais diversas habilidades e competências necessárias a um efetivo

letramento literário.

O letramento literário, conforme o concebemos, possui uma configuração

especial. Pela própria condição de existência da escrita literária, [...] o

processo de letramento que se faz via textos literários compreende não

apenas uma dimensão diferenciada do uso social da escrita, mas também, e

sobretudo, uma forma de assegurar seu efetivo domínio. Daí sua importância

na escola, ou melhor, sua importância em qualquer processo de letramento,

seja aquele oferecido pela escola, seja aquele que se encontra difuso na

sociedade. (COSSON, 2014, p. 12)

Apesar de todos esses desacertos, é ainda no Ensino Fundamental que o texto

literário pode ser utilizado com mais liberdade pelo professor, considerando claro o interesse,

a afinidade e a competência desse professor para tal atividade, visto que nesse nível de ensino

a literatura ainda não faz parte do componente curricular como uma disciplina, como acontece

no Ensino Médio.

Ao ingressar no Ensino Médio, o aluno passa a ter contato com a literatura com mais

frequência, decerto, visto que a mesma aparece nesse momento como disciplina. Porém, é aí

que surgem outros problemas.

Nesse nível de ensino a literatura funciona como uma disciplina de apoio à Língua

Portuguesa, ou seja, mesmo ocupando a grade curricular, atua como uma coadjuvante para

auxiliar no ensino de língua. Prioriza-se o ensino da história da literatura, compartimentando a

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mesma em escolas e estilos literários, e o texto literário então não passa de um suporte

ilustrativo dessas características.

Além disso, é a história das literaturas brasileiras e portuguesas que quase sempre

são propostas para o ensino, isso em virtude de uma visão limitada e eurocêntrica que

considera a identidade do povo brasileiro constituída da influência direta da colonização

portuguesa, em detrimento de toda a influência exercida pelos povos indígenas que aqui já

existiam muito antes de o branco português chegar sem pedir licença, além da influência dos

povos africanos trazidos à força para serem a força do trabalho na construção do território

brasileiro.

Já é possível perceber em alguns livros didáticos a presença da literatura africana,

por meio da abordagem de textos de autores mais consagrados como Mia Couto1 e José

Craveirinha2, dentre outros. Talvez em virtude de uma atuação mais antiga e

significativamente mais forte do movimento negro no Brasil, as literaturas africanas tenham

inaugurado o espaço da sala de aula se comparadas às literaturas indígenas.

Um dos efeitos mais claros e importantes da institucionalização do tema da

diversidade no âmbito educacional foi a criação de uma legislação

específica, obrigando escolas públicas e privadas a adotarem em seus

currículos a história da África e dos/as descendentes de africanos e africanas

no Brasil, o que inclui a cultura negra em geral (Lei 10.639/ 2003), agora

ampliada para contemplar também a introdução da história indígena e da

cultura destes povos no currículo escolar nacional (Lei 11.465/ 2005). (GDE,

2009, p. 213)

Embora esses novos olhares na escola para as outras literaturas que constituem as

identidades da literatura e do povo brasileiro, ainda sejam tímidas, as propostas oferecidas

pelos livros didáticos, e nem sempre aderidas pelo professor, que para inserir essas novas

literaturas em suas aulas, precisariam de mais conhecimento a respeito, logo, mais tempo para

estudar, ler e planejar suas aulas.

Um outro equívoco identificado na abordagem da literatura na escola é considerar

esta vinculada tão somente à disciplina de Língua Portuguesa, isso em virtude de a matéria

prima do texto literário ser a palavra que, por sua vez, se materializa em uma língua.

1 Mia Couto é um escritor moçambicano, nascido em Beira, em 1955. É biólogo, jornalista, membro

correspondente da Academia Brasileira de Letras e escritor. Possui mais de trinta livros publicados, entre prosa e

poesia. (COUTO, Mia. O fio das missangas. 2009)

2 José Craveirinha é um dos poetas contemporâneos de Moçambique, país africano que conquistou sua

independência política de Portugal somente em 1975. (CEREJA & MAGALHÃES, 2005, p. 111)

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É preciso transpor esses limites que cerceiam o trato com o texto literário, como se o

mesmo fosse tão somente um carregador de palavras facilmente traduzidas quando o leitor

detém os seus respectivos significados. Ora, se é esta mesma literatura que tantas vezes

destrói e reconstrói os significados da palavra para transformar vidas, como pode ser a mesma

vista dessa forma tão simplificadora da sua potência criadora?

Conforme Cabral, em seu livro, Metodologia de ensino da literatura, ao se interrogar

para que serve a literatura, responde que a literatura, enquanto portadora de um amplo

conhecimento que abarca valores, crenças e anseios de uma dada sociedade, coloca o leitor

frente ao entendimento da alma humana, ou seja, há a necessidade de uma abordagem da

literatura em sala de aula, uma vez que

A abordagem dos textos literários deve permitir, também, que relacionemos

questões humanas, sociais e ideológicas ao contexto de hoje, às vivências que

os leitores tem e aos valores culturais e políticos que seu grupo social

prestigia. (2013, p. 51)

Entendido dessa forma é preciso desempoeirar os bancos escolares, enquanto

professores e fornecer aos alunos o acesso a uma literatura de fato significativa, para que seja

possível, processualmente, formar leitores literários aptos a verem o mundo de forma crítica e,

ao mesmo tempo, prazerosa.

É ainda Cabral que afirma o papel relevante que tem o professor que, ao trabalhar

com a literatura, sente a necessidade de uma orientação teórica para melhor realizar seu

trabalho, aliando ao referencial teórico as ferramentas metodológicas necessárias para a

condução do aprendizado de seus alunos.

Ensinar literatura é, portanto, um processo de aprendizado mútuo: exige do professor

que ele esteja preparado para exigir, dos alunos, as habilidades e competências necessárias

para um leitor literário. Quanto de história, geografia, matemática, ciências, filosofia, arte e

sociologia pode haver na literatura, sobretudo, quanto de humanidade pode haver na literatura.

De forma a exemplificar esse caráter plural e humanizador da literatura, segue o

poema Surpresa, do escritor potiguar José Bezerra Gomes3. Este poema faz parte da sua única

obra desse gênero – Antologia Poética – e que foi publicada em 1974.

3 José Bezerra Gomes nasceu em Currais Novos-RN em 09 de Março de 1911. Sendo filho de uma tradicional

família seridoense, teve a oportunidade de dedicar-se aos estudos. Estudou no Atheneu em Natal-RN e, em

seguida, formou-se em Direito pela Universidade de Direito de Minas Gerais. Publicou os romances Os Brutos

(1938), Por que não se casa, Doutor? (1944) e A Porta e o Vento (1974), Antologia Poética (1974), Teatro de

João Redondo e Sinopse da história de Currais Novos além da biografia Retrato de Ferreira de Itajubá. Morreu

em Natal, em 26 de maio de 1982. (GURGEL, 2001, p. 197)

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SURPRESA

Vi minha

casa

Olhei-a

olhando

Olhei olhando

para mim

(GOMES, 1974, p. 45)

O poema recebe um título que sugere a novidade, o abismar-se diante de algo novo.

No caso do poema, a novidade que toma o eu poético é a sensação de identificação entre o eu

e sua casa.

É como se ao olhar a casa, o eu poético se transportasse para um outro universo, o

das suas memórias, um universo feito de devaneios e vivências que tanto se confundem ao

passo que se fundem, como afirma Bachelard, em A poética do espaço: “[...] a casa não vive

somente no dia-a-dia, no curso de uma história, na narrativa de nossa história. Pelos sonhos as

diversas moradas de nossa vida se interpenetram e guardam os tesouros dos dias antigos.”

(2008, p. 25)

A casa, no poema, é apresentada sob dois aspectos: a casa enquanto espaço físico,

abrigo, morada, e a casa enquanto espaço metafísico, circundado de sonhos e lembranças. É

essa casa que abriga o eu poético do poema Surpresa. Uma casa que guarda por entre paredes,

chão, teto e cantos as experiências vividas na infância e tantas vezes confundidas com as

imagens projetadas nas histórias contadas pelos mais velhos, por exemplo. A casa se lhe

reconhece.

Por mais local que um texto literário possa parecer, a depender de sua natureza e

riqueza estética, o global será atingido, porque este estará para todos, pelo simples fato de

falar de humanidade. Quantos olhares e diálogos possíveis, mágicos e transformadores a

escola e seus componentes curriculares poderiam dar a este poema de José Bezerra Gomes...

Promover reflexões sobre as memórias dos alunos que estão atadas à casa em que

nasceram e cresceram; identificar traços representativos das casas da localidade dos alunos,

como a arquitetura, as fachadas, etc, de modo a reconhecer traços da identidade daquele lugar,

assim como relacionar os elementos que se perderam ou que se transformaram ao longo dos

tempos, comparando casas antigas que preservam sua estrutura primeira a casas recém

construídas.

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Um outro olhar possível para a abordagem do poema Surpresa em sala de aula, seria

estabelecer diálogos com outros textos literários, inclusive de autores, lugares e tempos

distintos, textos estes que também tenham a casa como protagonista. Assim, o aluno teria a

possibilidade de ressignificar sua ideia de casa, para além de suas experiências pessoais.

Por todas essas possibilidades de leitura e abordagem é que se torna possível afirmar

que o sujeito, seja este de qualquer espaço físico, inserido em tempos outros, é capaz de

identificar-se com o poema Surpresa, visto que este traz à tona o sentimento de identificação

provocado pela lembrança da casa de cada um.

Assim, para cada leitor este poema poderá ser único, porque são as experiências de

vida de cada um que permite ao leitor construir a seu modo suas impressões de um

determinado texto. São as noções de tempo, espaço, ambiente e sujeito que permitem cada

leitor, no ato da leitura, criar conjecturas, projeções, representações.

Entretanto, não é bem assim que o texto poético geralmente é trabalhado em sala de

aula. Afora aquela pequena parcela de professores mais dados à Poesia, textos dessa natureza

de longe são abordados por professores de disciplinas outras que não Língua Portuguesa, e

vez por outra Artes, menos ainda são chamados para o diálogo com outros componentes

curriculares.

Portanto, “não basta selecionar bons textos e despejá-los sobre as crianças e deixar

tudo por conta da magia das palavras. O professor e/ ou mediador torna-se o dinamizador

imprescindível para a criação da atmosfera de uma legítima oficina poética.” (SORRENTI,

2009, p. 20)

Uma outra lacuna que perpassa essa problemática da abordagem significativa do

texto literário em sala de aula é o fato de nem sempre o professor ser um leitor de literatura e,

por essa razão, cabem aqui alguns questionamentos:

Como fazer o aluno acreditar no prazer e na importância da literatura, quando

o próprio professor, mediador dessa tarefa, não acredita no potencial lúdico e

transformador desta?

É possível então encantar o aluno na leitura literária sem também se permitir

a esse encantamento?

Como fazer o aluno transpor os limites da leitura decodificada diante de um

texto literário para uma leitura fruitiva, estética, se o próprio professor nunca

transpôs esse limite para visitar o outro lado da literatura?

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Preencher essa lacuna do professor não leitor não é fácil, visto que criar

novos gostos e hábitos depois de cristalizados certos estereótipos e posturas

diante da leitura literária é bem mais difícil, porém, “pau que nasce torto”,

precisa morrer torto?

Claro que não. E é exatamente para preencher as diversas lacunas que, ao longo do

tempo, vão sendo identificadas e reforçadas na prática cotidiana de todo profissional que

justifica a necessidade da constante formação. E com o professor não é diferente.

As formações continuadas são excelentes oportunidades de fazer este professor

refletir sobre sua prática, de que forma é possível inovar, transpor barreiras, limites,

desvencilhar-se de ideias e atitudes que ao longo dos tempos não mais correspondem às

necessidades dos sujeitos, posto que o mundo e o homem modificam-se mutuamente e o

tempo todo.

Como forma de atender a um dos objetivos das Diretrizes Curriculares Nacionais,

“orientar os cursos de formação inicial e continuada de profissionais – docentes, técnicos,

funcionários – da Educação Básica (LDB, 2013, p. 8), são proposições do MEC de Formação

Continuada para Professores do Ensino Fundamental: Formação no Pacto Nacional pela

Alfabetização na Idade Certa, ProInfantil, Plano Nacional de Formação de Professores da

Educação Básica – ParFor, Proinfo integrado, e-Proinfo, Pró-letramento, Gestar II, Rede

Nacional de Formação Continuada de Professores.

Um outro problema relacionado à literatura no espaço escolar diz respeito ao

material dessa natureza disponível na escola, tanto para professores quanto para alunos. Na

maioria das escolas, os livros de literatura ficam expostos para os olhos curiosos dos alunos

apenas na biblioteca, e infelizmente esta, a bliblioteca, é uma senhora tantas vezes já caduca e

carrancuda...

1.2. A poeira secular das bibliotecas escolares

Um dos maiores problemas ainda enfretado pelas escolas brasileiras e motivo de

insucessos escolares, tanto nas avaliações internas, considerando o número de aprovados e/ ou

promovidos para os anos sequentes, quanto nas avaliações externas, como os indicadores de

qualidade da educação, em especial o IDEB, está diretamente relacionado às habilidades de

leitura.

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É fato que o aluno que apresenta maiores dificuldades no que diz respeito à

compreensão da leitura, está fadado a desafios muito maiores ao longo de sua vida escolar,

desafios estes muitas vezes não superados e continuamente potencializados, o que costuma

gerar desânimo, descrença e, consequentemente, a evasão escolar.

Um dos caminhos apontados como solução para essa problemática é o trabalho

intensivo e significativo com a leitura, seja este trabalho realizado pelo professor em sala de

aula ou não. Assim, a Biblioteca passa a ocupar um papel fundamental de enfrentamento às

dificuldades de leitura junto a estes sujeitos. Entretanto, qual a real situação das bibliotecas

escolares?

Espaços pequenos, com pouca ventilação e iluminação, mobiliário inadequado,

muitas vezes herdado de algum outro espaço da escola para o qual não mais servia, paredes

envelhecidas, chão acinzentado, enfim, um lugar caduco, saído de um conto de suspense e

onde poucos sentem vontade de estar.

Benditas e salvas as exceções, este é o retrato quase fiel de grande parte das

bibliotecas escolares brasileiras. Um retrato em preto e branco, carcomido pelo tempo, pelas

traças e pelo mofo, entregue ao abandono e à solidão das estantes empoeiradas e das histórias

quase nunca lidas, conforme ratifica Rildo Cosson quando aborda a problemática da seleção

dos textos literários:

Infelizmente, na maioria das escolas brasileiras, a biblioteca, quando existe,

é sinônimo de sala do livro didático, não tem funcionários preparados para

incentivar a leitura e apresenta coleções tão reduzidas e antigas que um leitor

desavisado poderia pensar que se trata de obras raras. (2014, p. 32)

Na tentativa de concretizar essa discussão a respeito da situação das bibliotecas

escolares, foi aplicado um questionário com 15 perguntas junto a bibliotecários das cinco

maiores escolas públicas do município de Curais Novos-RN, sendo 03 destas escolas

vinculadas à rede estadual de educação – Escola Estadual Capitão-Mór Galvão, Escola

Estadual Tristão de Barros e Instituto Vivaldo Pereira – e 02 destas vinculadas a rede

municipal – Escola Municipal Professor Humberto Gama e Escola Municipal Professora

Trindade Campelo.

O questionário buscava investigar as características e as ações da biblioteca

considerando os aspectos físicos, o acervo bibliográfico, a condição/ situação dos

profissionais que atuam nesse espaço, assim como os aspectos pedagógicos e administrativos

diretamente relacionados ao trabalho desenvolvido pela Biblioteca.

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Quanto às condições físicas das Bibliotecas escolares visitadas, é possível afirmar

que a infraestrutura das mesmas não pode ser considerada das piores, tendo em vista se tratar

de bibliotecas situadas nas maiores escolas da cidade, porém em algumas é impossível

imaginar um aluno se sentindo à vontade para permanecer naquele espaço por mais tempo.

Espaços pequenos, com pouca ventilação, ou mesmo nenhuma, mal iluminados, entretanto

bem organizados e limpos, assim são de um modo geral a “cara” das bibliotecas visitadas.

Questionados sobre as condições físicas da Biblioteca em que atuam assim as

descreveram os bibliotecários responsáveis, conforme dados apresentados na tabela abaixo:

Excelente Muito bom Bom Regular Péssimo

Espaço físico 01 01 01 01 01

Ventilação - - 02 02 01

Iluminação - 02 02 01 -

Mobília 01 01 03 - -

Acessibilidade - 01 02 01 01

Quadro 1 Avaliando as condições físicas da Biblioteca de sua escola

Como afirmado anteriormente, por se tratar de bibliotecas que fazem parte das

maiores escolas do município de Currais Novos-RN, as mesmas apresentam de um modo

geral uma infraestrutura minimamente razoável, principalmente no que diz respeito à limpeza

e à organização. Entretanto, alguns detalhes chamam a atenção.

Das 05 bibliotecas visitadas, somente 02 têm um espaço realmente apropriado:

amplas o suficiente para distribuir de forma adequada e agradável as estantes e as mesas com

as cadeiras. Porém, embora o espaço físico seja bem apropriado, a iluminação e a ventilação

são bem precárias, provocando a falta de estímulo em permanecer no espaço.

Um outro detalhe que salta aos olhos de qualquer usuário ou visitante dessas

bibliotecas é a ausência parcial ou mesmo total de acessibilidade. Bibliotecas situadas em

áreas mais altas, que exigem a subida de degraus, portas estreitas e mesas muito próximas

umas das outras, impedem o livre acesso e trânsito de alunos portadores de necessidades

educacionais especiais, sobretudo os cadeirantes e deficientes visuais.

Como a escola, a instituição-mãe carregadora da bandeira da inclusão, mantém em

seus espaços obstáculos tão cruéis para efetivação dessa mesma inclusão? Por que a

insistência em obstruir essa passagem tão sagrada que leva o aluno ao contato com a leitura,

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seja na sala de aula, com atividades que não despertam o interesse pela leitura, seja na

biblioteca, com caminhos tortuosos que atrapalham ou mesmo impedem a criação de laços de

entrega?

A respeito das inúmeras problemáticas que estão atreladas ao processo de inclusão

escolar, é interessante destacar:

As leis de inclusão e obrigatoriedade da matrícula não vieram acompanhadas

de formação adequada aos educadores nem de condições de trabalho. [...]

Segundo o Censo Escolar 2011, apenas 10% das escolas de Ensino

Fundamental têm sala de AEE, sendo que só em 9% há profissionais

alocados para esses espaços. Falta também infraestrutura mínima. Apenas

19% têm sanitários adequados e 17% contam com dependências e vias

adaptadas. (NOVA ESCOLA, 2014, p. 90)

Sobre o acervo bibliográfico das bibliotecas visitadas, a tabela abaixo ajuda a

entender melhor a situação:

Excelente Muito bom Bom Regular Péssimo

Quantidade de obras

disponíveis

01

03

01

-

-

Variedade de obras

disponíveis

01

02

02

-

-

Atualidade e

conservação do acervo

-

01

04

-

-

Quadro 2 Avaliando o acervo da Bibliotecas de sua escola

De fato, as bibliotecas visitadas apresentam um acervo bibliográfico bem

interessante, incluindo livros didáticos, revistas, dicionários, enciclopédias, atlas, além das

obras literárias. Grande parte deste acervo encontra-se disponível para empréstimo, entretanto

outros são considerados como obras para consulta, assim permanecem na biblioteca para

serem utilizados conforme surjam necessidades.

No que diz respeito ao acervo específico de obras de literatura, estrangeira e

nacional, todas estas bibliotecas são abarcadas pelo Programa Nacional de Biblioteca da

Escola (PNBE)4 e, por essa razão, recebem frequentemente novos títulos para enriquecer e

4 PNBE O Programa Nacional Biblioteca da Escola tem o objetivo de promover o acesso à cultura e o incentivo

à leitura nos alunos e professores por meio da distribuição de acervos de obras de literatura, de pesquisa e de

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diversificar o acervo disponível. No entanto, os próprios bibliotecários ainda consideram este

acervo carente de variedade, visto que os alunos são bem diversos em afinidades e interesses.

Questionados sobre como avaliam o acervo específico das obras literárias, 04 dos

cinco bibliotecários entrevistados declararam considerar este acervo bom, mas que precisa

melhorar.

Sobre esta lacuna, os bibliotecários destacaram a necessidade de títulos mais atuais,

os tão procurados pelos adolescentes e que ainda não encontraram espaço nas estantes das

bibliotecas, porque “muitas escolas torcem o nariz para livros de sucesso. [...] Isso provoca

uma cisão entre o que os alunos demonstram ter interesse e até mesmo leem em casa e o tipo

de leitura cobrado pelos educadores”. (NOVA ESCOLA, 2015, p. 48)

Obras como A culpa é das estrelas5, Diário de um Banana

6, as sagas de Harry

Potter7 e Percy Jackson e os Olimpianos

8, ainda não tiveram permissão para entrar na maioria

das escolas brasileiras e ocupar lugar de destaque ao lado dos clássicos, sem embates nem

comparações.

Outro ponto apontado no questionário como lacuna a ser preenchida é a necessidade

da informatização das bibliotecas, pois segundo os próprios profissionais entrevistados a

informatização desses espaços interfere diretamente na prestação de um serviço mais

dinâmico, portanto, de melhor qualidade.

Quanto ao trabalho realizado na biblioteca, os dados levantados são os seguintes: em

todas as bibliotecas visitadas há pelo menos 01 profissional em cada turno, sendo todos estes

de formação distinta, como licenciados em matemática, pedagogos, ou apenas com o Ensino

Médio completo, na modalidade Magistério.

referência. o PNBE atende de forma universal e gratuita todas as escolas públicas de educação básica cadastradas

no Censo Escolar. O programa ainda supre as bibliotecas escolares de periódicos (PNBE Periódicos) e obras de

referência para os professores da educação básica (PNBE Professores), além do PNBE Temático, com obras

elaboradas com base no reconhecimento e na valorização da diversidade humana, voltadas para estudantes e

professores dos anos finais do ensino fundamental e do ensino médio.

5 A culpa é das estrelas é um romance do escritor John Green publicado em janeiro de 2012 e em junho do

mesmo ano ocupou o primeiro lugar na lista dos best-sellers.

6 Diário de um Banana é uma coleção de autoria de Jeff Kinney. A obra é produzida por meio de ilustrações e

textos verbais e tornou-se um best-seller internacional.

7 Harry Potter é uma série literária da escritora J. K. Rowling, composta de 07 títulos, e que alcançou imensa

popularidade no mundo inteiro, em especial com o público jovem.

8 Percy Jackson e os Olimpianos é uma série de livros que também entrou para lista dos mais vendidos e que

dialoga diretamente com o público juvenil.

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Ainda avaliando este aspecto das bibliotecas um dado é bastante intrigante e

inquietador: 03 dos 05 bibliotecários entrevistados declararam atuar na biblioteca em razão de

problemas de saúde que o impediam de estar em sala de aula.

Esse é um quadro lamentavelmente bastante conhecido nas escolas brasileiras. Como

não há concurso público para o cargo de bibliotecário, essa função acaba sendo ocupada por

profissionais readaptados a funções específicas para as quais não tiveram formação. Então,

por que não afirmar que os descaminhos com a leitura, em especial a leitura literária, comece

nessa postura medíocre para com a biblioteca e seus agentes?

Se o próprio Estado assim compreende a função da biblioteca e dos profissionais que

nela trabalham, como cobrar atitudes mais coerentes, verdadeiras, significativas dentro deste

espaço? Como alimentar o sonho de ver bibliotecas mais coloridas, mais vivas, se o próprio

sistema as condena ao ócio, ao abandono?

A solução para toda essa poeira que impede a qualidade do trabalho realizado pelas

bibliotecas escolares não é tão simples e depende de diversas ações, internas e externas, pois

trata-se de uma rede de ações que precisam ser pensadas e repensadas coletivamente,

considerando sempre em primeiro lugar o bem estar e o crescimento do aluno.

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REBOLIÇO

Menina me arresponda,

Sem se ri e sem chorá:

Pruque você se remexe

Quando vê home passa?

Fica toda balançando,

Remexendo, remexendo...

Pensa tarvez, qui nós véio,

Nem tem ôio e nem tá vendo?

Mas, se eu fosse turidade,

Se eu tivesse argum valô,

Eu botava na cadeia

Êsse teu remexedô...

E adespois dele tá preso,

Num lugá, bem amarrado,

Eu pedia: - Minha nêga,

Remexe pro delegado.

Renato Caldas

(Assu – RN)

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II – A POESIA QUANDO CHEGA NÃO RESPEITA NADA...

“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.”

(BÍBLIA, 2000 p. 03)

Assim é a metáfora da criação do mundo, tão conhecida e disseminada. E se assim

proclamam os dizeres sagrados, mitificando e sacralizando o Verbo, isto é, a palavra, pelo seu

poder de criar mundos, como não bendizer a Poesia que por meio da palavra cria e recria

tantos mundos?

O homem se expressa poeticamente talvez antes mesmo de usar a palavra, se

considerarmos o sentido mais humano que a Poesia possa assumir, como expressão, extensão,

compreensão e explicação da vida.

São tantos e tantas que se aventuraram na Poesia na tentativa de [re]construir

mundos. Homens e mulheres que absortos em ideias, sentimentos, devaneios, aflições,

permitiram-se estender-se para além de suas vivencias concretas Sobre esse poder da criação

que a palavra poética abarca, Manoel de Barros escreve no poema VII de O Livro das

Ignorãças:

No descomeço era o verbo.

Só depois é que veio o delírio do verbo.

O delírio do verbo estava no começo, lá

onde a criança diz: Eu escuto a cor dos

passarinhos.

A criança não sabe que o verbo escutar não

funciona para cor, mas para som.

Então se a criança muda a função de um

verbo, ele delira.

E pois.

Em poesia que é voz de poeta, que é a voz

de fazer nascimentos –

O verbo tem que pegar delírio.

(BARROS, 1997, p. 17)

O poema dialoga claramente com o texto bíblico “No descomeço era o verbo”,

porém pelo caminho da negação, ou mesmo da ressignificação, pois o verbo, ou seja, a

palavra, como dito no poema, está para além do começo de tudo, visto que ela é o antes de

tudo, “é a voz de fazer nascimentos”, como tão poeticamente fala o crítico Octavio Paz: “O

homem é homem graças à linguagem, graças à metáfora original que o fez ser outro e o

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separou do mundo natural. O homem é um ser que se criou ao criar uma linguagem. Pela

palavra, o homem é uma metáfora de si mesmo.” (1982, p. 41 - 42)

Assim, a palavra poética, segundo o eu-poético, está para além dos limites temporais,

do tempo cronológico, da ordem natural de todas as coisas: começo, meio e fim, e o poeta está

como um Deus, visto que é um criador de sentidos.

Toda a poética de Manoel de Barros é por excelência uma transgressão da norma, um

avessamento da língua. Metaforicamente carregada, sua Poesia parece engendrar uma

máquina de fazer, desfazer e refazer palavras. Ainda sobre o que é a Poesia e em seu louvor,

outros poetas brasileiros assim explicam as nuances e facetas da palavra poética, e bendizem

suas maravilhas:

CONVITE

Poesia é

brincar com palavras

como se brinca

com bola, papagaio, pião.

Só que bola, papagaio, pião

de tanto brincar se gastam.

As palavras não:

quanto mais se brinca

com elas

mais novas ficam.

Como a água do rio

que é água sempre nova.

Como cada dia

que é sempre um novo dia.

Vamos brincar de poesia?

(PAES, 2002, p. 96)

O poema Convite, de José Paulo Paes, é um meta-poema imensamente criativo, pois

explica ao leitor o que é a Poesia apelando para o lúdico, para o jogo, uma vez que compara o

fazer poético a uma brincadeira com as palavras.

E o jogo não para aí, pois o eu-poético incrementa sua explicação garantindo que

diferente das outras brincadeiras, essa em que se brinca com as palavras tem um sabor

especial: o sabor da novidade, pois as palavras se renovam a cada vez que são manuseadas. O

poema é arrematado convidando o leitor para jogar com as palavras, para brincar de poesia.

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Mas, se é a Poesia esse constructo feito de desvios, posto que a palavra poética

reveste-se de sentidos outros, inconcebíveis à lógica normativa da gramática, para que serve

então a Poesia? Em defesa da Poesia alguns teóricos, estudiosos, poetas e amantes da palavra

poética reiteram a importância da leitura de textos dessa natureza para, dentre outras

possibilidades, a sensibilização do olhar e a ampliação dos mundos.

É a palavra poética, engastada na de uso comum e automático, que nos faz

perceber a plasticidade de uma língua e toda a riqueza de potencialidades

expressivas para traduzir, por equivalência, qualidades de ideias e de

sentimentos que precisam encontrar vãos e novas combinatórias para se

entredizer. Mais do que “querer dizer” para atingir determinados sentidos e

ideias, a questão do poema e da linguagem poética é muito mais primitiva e

original: a de “querer fazer”, plasmar uma quase-objeto por uma quase-

palavra. (OLIVEIRA, 2015, p. 90)

Segundo Oliveira, é somente a palavra quando tomada de poeticidade capaz de

expressar a multiplicidade da língua, visto ser na Poesia que a palavra se transmuda de

sentidos outros para além do sentido usual.

Affonso Romano de Sant’anna assim explica a Poesia: “Poesia é isto: logos e verbo.

Poesia é espanto transverberado.” (2009, p. 20)

Importante ressaltar a acepção a respeito da Poesia discutida aqui neste capítulo,

como sendo o construto verbal, ou seja, o poema. Assim, o poema para o autor citado é o

lugar de encontro da razão e da palavra, é o espaço em que a Poesia em sua acepção de

subjetividade ganha vida e se materializa.

No livro O arco e a lira, Octávio Paz apresenta uma série de projeções, imensamente

poéticas, a respeito do que possa ser a Poesia e para que esta serve:

A criação poética se inicia como violência sobre a linguagem. O primeiro ato

dessa operação consiste no desenraizamento das palavras. O poeta arranca-as

de suas conexões e misteres habituais: separados do mundo informativo da

fala, os vocábulos se tornam únicos, como se acabassem de nascer. O

segundo ato é o regresso da palavra: o poema se converte em objeto de

participação. Duas formas antagônicas habitam o poema: uma de elevação

ou desenraizamento, que arranca a palavra da linguagem; outra de gravidade,

que a faz voltar. O poema é uma criação original e única, mas também é

leitura e recitação – participação. O poeta o cria; o povo, ao recitá-lo, recria-

o. Poeta e leitor são dois momentos de uma mesma realidade. Alternando-se

de uma maneira que não é inexato chamar de cíclica, sua rotação engendra a

chispa – a poesia. (1982, p. 47)

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E se assim é a Poesia, e se para tudo isso serve a Poesia, quem é então o poeta, este

fazedor, revelador de Poesia? Um “fingidor”? Um trapaceador da língua? Um alquimista das

palavras? O poeta é aquele que proclama novos sentidos às palavras e as apresenta de uma

forma única, verdadeira, irrepetível, condensada, densa. É aquele que consegue em sua

escritura singular pluralizar e ressignificar a dinâmica da língua.

[...] o que ocorre com as palavras quando deixam a esfera social e passam a

ser palavras do poema? Filósofos, oradores e literatos escolhem suas

palavras. Os primeiros, segundo seus significados; os outros, em atenção à

sua eficácia moral, psicológica ou literária. O poeta não escolhe suas

palavras. Quando se diz que um poeta procura sua linguagem, não se quer

dizer que ande por bibliotecas ou mercados recolhendo termos antigos e

novos, mas sim que, indeciso, vacila entre as palavras que realmente lhe

pertencem, que estão nele desde o início, e as outras aprendidas nos livros ou

na rua. Quando um poeta encontra sua palavra, reconhece-a: já estava nele. E

ele já estava nela. A palavra do poeta se confunde com ele próprio. Ele é a

sua palavra. (PAZ, 1982, p. 55)

É o poeta o sujeito que materializa imagens, sentidos e impressões em uma

linguagem específica, em que o que se diz só atinge o outro pela maneira como se diz, ou seja,

não basta ao poeta tentar dizer sobre algo, e para o poeta tudo pode ser matéria para Poesia,

mas é preciso dizê-lo de uma forma singular.

[...] o poeta é uma espécie de porta-voz da coletividade. Ele é capaz de

colocar em palavras o que sentimos dentro de nós e não somos capazes de

expressar. Daí o prazer que temos ao ler um poema e reconhecermos nele os

nossos próprios anseios e as nossas próprias emoções retratadas. (SILVA,

2009, p. 105)

De fato, são inúmeros os textos e os autores que tratam da natureza, da função, da

importância e das especificidades do gênero Poesia. Inúmeros são também os textos que

tratam da Poesia inserida no espaço escolar.

Mas, e se são assim inúmeros, por que ainda são tantas as pedras no caminho

percorrido pela Poesia no ambiente escolar?

2.1. (Na sala de aula) Poesia... Presente?

É certo que muitas discussões acerca da abordagem da Poesia em sala de aula têm

sido publicadas em livros, dissertações e teses, além de difundidas em concursos e programas

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como, por exemplo, as Olimpíadas de Língua Portuguesa. Entretanto, qual a razão para a

Poesia ainda não ter encontrado de fato o seu caminho na escola?

Um dos possíveis caminhos para desvendar esse mistério que inquieta

principalmente àqueles que sabem da importância do contato com leituras dessa natureza, em

especial na escola, é o de que é preciso ser leitor de Poesia, ainda que minimamente, para

formar leitores de Poesia.

Nascem assim novos questionamentos: São leitores de Poesia nossos professores?

Tiveram em sua vida escolar um contato prazeroso com a Poesia? E em suas licenciaturas,

como foram os encaminhamentos direcionados a esse gênero? É possível tornar-se leitor de

Poesia depois de cristalizados certos gostos, hábitos e estereótipos em relação à leitura?

Pensando em responder tais questões e propor caminhos que ultrapassem tamanhas

barreiras é que novos estudos voltam-se para o texto literário com mais força e urgência a fim

de ressignificar sua inserção e abordagem na escola, de modo a contemplá-lo em suas

inteirezas; assim são os estudos do letramento, mais especificamente, do letramento literário.

Se o letramento compreende os estudos voltados ao domínio da escrita e das práticas

sociais nas quais esta escrita se insere, o letramento literário volta-se também para o domínio

da escrita, no entanto, por meio do texto literário. Assim,

O letramento literário, conforme o concebemos, possui uma configuração

especial. Pela própria condição de existência da escrita literária, [...] o

processo de letramento que se faz via textos literários compreende não

apenas uma dimensão diferenciada do uso social da escrita, mas também, e

sobretudo, uma forma de assegurar seu efetivo domínio. Daí sua importância

na escola, ou melhor, sua importância em qualquer processo de letramento,

seja aquele oferecido pela escola, seja aquele que se encontra difuso na

sociedade. (COSSON, 2014, p. 12)

Pensar a literatura e todos os gêneros por esta abarcados é pensar em um espaço

multifacetado, em que discursos e estilos se projetam para a construção plena de seu sentido,

sendo este sentido arquitetado por cada leitor. É saber da sua força de expressão, de

humanização. “Literatura é sempre a linguagem comprometida com a poiésis [...] e a poesia é

o modo de reabitar (e assim, reabilitar) o mundo, dando-o a ver. [...] Todo sentido vem

mediado pela linguagem.” (HOLANDA, 2004, p. 218)

A respeito do caráter humanizador da literatura, Candido assim o explica:

Humanização é o processo que confirma no homem aqueles traços que

reputamos essenciais, como o exercício da reflexão, a aquisição do saber, a

boa disposição para com o próximo, o afinamento das emoções, a

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capacidade de penetrar nos problemas da vida, o senso da beleza, a

percepção da complexidade do mundo e dos seres, o cultivo do humor. A

literatura desenvolve em nós a quota de humanidade na medida em que nos

torna mais compreensivos e abertos para a natureza, a sociedade, o

semelhante. (2013, p. 182)

Dessa forma, nenhum texto literário, por mais rico em significados, representações e

construções, pode ser considerado pronto, completo, carregando todo o sentido já consigo. É

necessário o olhar do leitor – carregado de suas vivências, expectativas e intersubjetividades –

para a efetiva construção de significados diante do texto lido, assim, “ler um poema é buscar

sentidos, o que equivale a dizer que cada leitura comporta a possibilidade de participação nos

textos do outro, pelo duplo jogo de receber e refazer o texto”. (SORRENTI, 2009, p. 19)

Assim, nenhum leitor volta a um poema da mesma forma que o leu inicialmente,

pois, embora o texto permaneça o mesmo, escrito da mesma forma que estava quando foi lido

anteriormente, é este leitor agora um outro, porque inserido em um espaço social dinâmico

que o transforma e por ele é transformado a cada instante.

É apenas na escola que muitos leitores têm acesso a leituras mais elaboradas, textos

literários bem construídos, de fato representativos das singularidades da literatura, fato este

que legitima e assegura a permanência da literatura enquanto disciplina escolar, e dos textos

literários como objetos de estudo. Portanto, cabe ao professor proporcionar um encontro

verdadeiro do aluno com a literatura por meio de textos e abordagens significativas, que

permitam a este aluno construir sentidos sólidos, verdadeiros.

Durante muito tempo, acreditou-se que, para aproximar a criança da poesia,

bastava apresentar-lhe textos de qualidade. Sabe-se hoje que é preciso somar

outros elementos a essa aproximação, entre os quais o entusiasmo do

professor ou mediador. Um mediador sensível ao texto poético tornar-se-á o

grande iluminador do encontro texto-leitor. Ele é peça importante na

formação do gosto pela poesia. (SORRENTI, 2009. P. 19)

Entretanto, o que vemos nos bancos escolares muitas vezes não corresponde a esta

importância tão merecida pela literatura e, consequentemente, pela Poesia.

Destina-se, geralmente, à escola a tarefa de criar no aluno o gosto pela

poesia. No entanto, ela pode ser, por vezes, responsável pelo desgosto pela

poesia. [...] Numa organização marcada pelo utilitarismo, apregoa-se que

cada criança deve aprender a não perder seu tempo, nem tomar o de seus

professores. Infelizmente, a poesia e a arte em geral participam dessa área

denominada “não lucrativa” em que se inserem as atividades prazerosas e

lúdicas, e por isso, excluídas do programa de vida de uma sociedade voltada

para o lucro. (SORRENTI, 2009, p. 17)

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É comum flagrar na sala de aula o texto literário sendo alvo de mutilações, quando

fragmentado em razão do tempo que se “perderia” na leitura integral; sendo alvo de

deformações, quando o texto é apresentado sob uma forma distinta da sua forma primeira,

original; ou mesmo alvo de falsificações, quando a um texto se confere autoria duvidosa ou

mesmo o anonimato, além de outras posturas desrespeitosas e descaracterizadoras do texto

literário.

Quando este texto literário é a Poesia, alguns problemas bem específicos emergem

dessas propostas didáticas. Vemos diversas vezes a Poesia na sala de aula não como objeto de

interação, muito menos de estudo, mas como um pretexto para abordagens de caráter

gramatical, o que cerceia sua natureza estética, impedindo assim de o aluno vislumbrar suas

nuances e especificidades.

[...] a escola, agindo assim, pode sufocar a imaginação criadora dos alunos

ou, se não a sufoca, enfraquece-a, em vez de estimular sua capacidade de

criar. Independente de sua condição social, a criança existe em estado de

poesia até que esbarra na sistematização da linguagem: a escola se põe a

ensiná-la a medir as sílabas, a grifar os substantivos do poema, a circular os

verbos, a encontrar os dígrafos, e por aí vai. (SORRENTI, 2009, p. 18)

Também é comum flagrar a Poesia na escola como um simples adorno em momentos

festivos, datas comemorativas, como se a Poesia fosse simplesmente uma arrumação bonita

de palavras e que, por essa única razão, é capaz de emocionar a todos.

Em outros momentos, há também a escolha pela Poesia para nortear algumas

atividades, entretanto não há critérios muito claros para a seleção do texto a ser trabalhado;

como se tudo que é escrito em versos, ou mesmo que apresente rimas, tem assegurado o

caráter poético, pois “o poema não é uma forma literária, mas o lugar de encontro entre a

poesia e o homem. O poema é um organismo verbal que contém, suscita ou emite poesia.

forma e substancia são a mesma coisa.” (PAZ, 1982, p. 17)

Cabe assim, retomar o pensamento do professor e pesquisador Hélder Pinheiro, em um

de seus livros em defesa da Poesia no espaço escolar:

É evidente que vale a pena trabalhar a poesia na sala de aula. Mas não

qualquer poesia, nem de qualquer modo. Carecemos de critérios estéticos na

escolha das obras ou na confecção de antologias. Não podemos cair no

didatismo emburrecedor e no moralismo que sobrepõe à qualidade estética

determinados valores. (2002, p. 18)

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Outro fator importantíssimo para uma abordagem do texto poético em sala de aula de

fato significativa corresponde à sensibilidade/ habilidade do professor na tarefa de mediar

essas atividades. É preciso um olhar sensível para a Poesia e minimamente preparado para

lidar com as singularidades do texto poético no instante da mediação em sala de aula:

Por muito tempo acreditou-se que, para aproximar a criança da poesia,

bastava apresentar-lhe textos de qualidade. Sabe-se hoje que é preciso somar

outros elementos a essa aproximação, entre os quais o entusiasmo do

professor ou mediador. Um mediador sensível ao texto poético tornar-se-á o

grande iluminador do encontro texto-leitor. Ele é peça importante na

formação do gosto pela poesia. (SORRENTI, 2009, p. 19)

Para ratificar a acepção aqui defendida sobre a importância do mediador no contato

com a leitura literária, a seção “Orgulho de ser professor”, apresentada na última página da

revista Nova Escola, se mostra como um excelente exemplo. Na seção alguns profissionais de

áreas das mais diversas, inclusive alguns bastante conhecidos, apresentam um depoimento em

que revelam a diferença promovida em suas vidas por parte de algum professor que tiveram.

Manoel Lázaro Pereira foi meu professor de Língua Portuguesa no Ensino

Médio em uma escola pública em Ituverava (a 414 quilômetros de São

Paulo). Ele era temido pelos alunos e virava um bicho quando notava alguém

preguiçoso. Mas, depois que começou a fazer a turma ler em voz alta,

ganhou minha atenção e as aulas passaram a ser o momento mais aguardado

da semana. Ele despertou em mim o amor pela literatura e oratória. Erei

eternamente agradecido a ele. Já falecido, hoje dá nome a uma escola

pública da cidade. (Marcelo Tas, apresentador de TV) (NOVA ESCOLA,

2014, p. 106)

Tive aulas de Língua Portuguesa com Sandra durante o Ensino Fundamental,

no colégio Bandeirantes, em Americana (a 130 quilômetros de São Paulo).

Ela deixava a aula fluir bem, sem tensão. Quando precisava dar uma dura

nos alunos, nem parecia professora. Graças a ela, aprendi a ter gosto pela

leitura. Até títulos cobrados em vestibulares a gente lia sem reclamar.

Quando comecei a ler Memórias de um sargento de Milícias, de Manuel

Antônio de Almeida (1831-1861), não gostei, mas ela comentou um pouco

da história e tudo ficou mais interessante. (Cesar Cielo, nadador) (NOVA

ESCOLA, 2014, p. 98)

José Luiz Beraldo me deu aulas de Língua Portuguesa e Literatura no 1º e 2º

ano do Ensino Médio do Colégio Santa Cruz, em São Paulo. Era um

daqueles professores performáticos. Muito culto, fazia a gente ficar vidrada

nele. Tudo o que apresentava na aula eu curtia. Acho que ele tinha um gosto

muito parecido com o meu ou eu acabei ficando com um gosto muito

parecido com o dele. Lembro que ele discutia Machado de Assis (1839-

1908) na aula e interpretava os livros. Tinha um olhar crítico sobre as coisas.

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(Marina Person, apresentadora de TV e cineasta) (NOVA ESCOLA, 2014, p.

90)

Os três depoimentos apresentados ilustram de forma bastante clara a importância que

o professor tem na tarefa de promover o gosto pela leitura. Na mediação da leitura literária é

cada vez mais exigida do professor uma postura verdadeira com o objeto que está

apresentando, ou seja, é preciso que o professor acredite na importância daquele texto

literário, na relevância daquela leitura para os sujeitos escolhidos como seus leitores,

sobretudo acredite e valorize o potencial estético do texto literário, de forma que a sua leitura

possibilite uma ampliação do mundo do aluno, seja este mundo semântico, social, político,

ideológico, entre outros.

Por isso, nunca é demais lembrar a responsabilidade dos professores de

literatura, no momento que atravessamos, tão próximo da estagnação e do

conformismo – como se o desgaste de uma utopia fizesse esquecer a

permanência de sua necessidade. Apesar do desgaste advindo do descaso

político com a função social do ensino, é preciso propor contestar o

consenso, reagir ao vale-tudo ideológico. Nas palavras acerbas de Frank

Kermode, esse é o desafio dos professores. Se falharem nisso, quer porque

desprezem a humildade da tarefa, quer porque eles mesmos não amam a

literatura, eles são fracassos e fraudes. (HOLANDA, 2004, p. 217 e 218)

Embora a defesa aqui explicitada em nome da necessidade de uma boa mediação

entre textos literários, em especial a Poesia, e o aluno, é preciso considerar as particularidades

dos sujeitos. Assim, mesmo que as atividades de leitura literária sigam um direcionamento

extremamente rico no que se refere à exploração da linguagem, da natureza e dos elementos

que compõem o poema em estudo, é possível que algum aluno não tenha interesse de buscar

outras leituras de Poesia para além do texto apresentado. E isso não deve ser encarado como

um insucesso, visto que há de fato em cada sujeito afinidades e interesses dos mais diversos.

São necessárias, pois, novas posturas perante o texto poético, sejam na escola – com

abordagens criteriosas, bem direcionadas e com objetivos bem claros, sobre a utilização da

Poesia como objeto de leitura, fruição, análise e interpretação – sejam na academia – com

discussões densas e engajadas que de fato possibilitem a formação desse professor no trato

com esse gênero.

Portanto, para estar na sala de aula como objeto de estudo/ ensino, a Poesia precisa

ser compreendida em toda sua potencialidade e apresentada de uma forma que ao aluno sejam

permitidos projetar imagens diversas, construir significados, propor outras leituras e perceber

a dinâmica e as sutilezas da língua quando diz o homem e o mundo em Poesia.

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TORÓ

Há uma terra árida

que pulsa em mim

e me impulsiona para os cataventos

Meus pés descalços

e estilhaçados feito terra rachada

caminham em busca de novos

desgostos

Que venha a chuva

e banhe-me do clarão vindo do céu

Estou pronta pra despencar...

Paula Érica

(Currais Novos – RN)

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III – INVESTIGAÇÕES POÉTICAS...

Ao passo que as leituras e escrituras da pesquisa iam seguindo adiante, foi percebida

a necessidade de conversar mais de perto com alguns professores do Ensino Fundamental,

como forma de reafirmar a necessidade e a importância de aproximá-los à Poesia produzida

por autores Potiguares.

Assim, foi preparado um questionário estruturado em torno de 15 perguntas e

aplicado junto a 23 educadores do Ensino Fundamental de escolas diversas.

As instituições representadas pelos professores entrevistados são vinculadas, em sua

maioria, à rede municipal e estadual de ensino, sendo apenas uma destas vinculada à rede

privada do município de Currais Novos-RN.

As escolas às quais os professores estão vinculados localizam-se em municípios

diferentes do estado do Rio Grande do Norte, o que de certa forma possibilitou um olhar um

pouco mais amplo acerca de como a Poesia Potiguar vem sendo recebida e tratada nestes

espaços e qual a pertinência e a relevância de pesquisas dessa natureza para potencializar, ou

mesmo efetivar a abordagem da Poesia produzida no Rio Grande do Norte nas escolas, visto

que é este um espaço em que a Poesia tem entrada também como objeto de estudo/ ensino.

3.1 Universo de curiosidades poéticas...

Foram entrevistados no início do ano de dois mil e quinze 23 professores do Ensino

Fundamental da rede básica de ensino do estado do Rio Grande do Norte, sendo que 03 destes

professores também atuam no Ensino Médio.

As escolas às quais os professores participantes da entrevista representam estão

localizadas nos municípios de Currais Novos, Acari, Campo Redondo e Cerro Corá.

Os questionários foram encaminhados para as escolas, sob a orientação de que

deveriam ser respondidos especialmente pelos professores de Língua Portuguesa e Literatura

e Polivalentes, considerando assim a natureza do objeto de ensino que permeia essas áreas de

atuação. No entanto, qualquer um outro professor que, mesmo sendo de área diferente,

costume orientar suas aulas e atividades a partir do texto poético, poderia responder ao

questionário.

Assim, dos 23 professores entrevistados, 11 são formados em Letras, 06 têm

formação em Pedagogia, 01 é formado em História e os outros 05 estão ainda em formação ou

mesmo não informaram seus cursos.

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HISTOGRAMA 1 Formação dos professores entrevistados

Parte dos entrevistados acrescentou algumas informações sobre suas especialidades,

visto que 06 afirmaram possuir o título de especialista em áreas correlatas às suas respectivas

áreas de atuação, e apenas 01 afirmou ser mestre em Literatura e Ensino.

Grande parte destes realizam suas atividades docentes no Ensino Fundamental, sendo

que 15 dos entrevistados atuam com as séries iniciais do Ensino Fundamental, ou seja, do 1º

ao 5º Ano, e 11 atuam nas séries finais do Ensino Fundamental, isto é, do 6º ao 9º Ano. Há

nesse universo de pesquisa 03 professores que também atuam no Ensino Médio e 01 na EJA –

Educação Jovens e Adultos.

Portanto, é importante aqui a ressalva sobre a distorção entre os números de

entrevistados e os Anos/ Séries em que atuam, visto que parte dos professores entrevistados

possuem vínculo em mais de uma escola, atuando muitas vezes em níveis escolares diferentes.

São 10 os professores que afirmaram trabalhar com a disciplina de Língua Portuguesa

e, consequentemente Literatura, visto que esta é uma disciplina conjugada à disciplina de

Língua Portuguesa, ocupando, na maioria das vezes e infelizmente, uma posição subalterna.

Outros 12 dos professores entrevistados se afirmaram polivalentes, ou seja, trabalham

com todas as áreas de atuação, ou seja, atuam nas séries iniciais do Ensino Fundamental,

Letras

PedagogiaHistória

Em Formação

0

2

4

6

8

10

12

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período da escolarização em que cabe ao professor transitar livremente por todas as áreas do

conhecimento.

3.2 Conjecturas... Confabulações...

A pergunta que abria o questionário indagava os professores se estes costumam

trabalhar textos literários em sala de aula, pergunta a que a maioria, um total de 13 dos

entrevistados, respondeu sempre, e outros 10 responderam às vezes.

Os gêneros literários apontados como os mais trabalhados em sala de aula foram, na

ordem de votação: Conto, Poesia, Literatura de Cordel, Crônica, Memórias Literárias. As

razões apresentadas como justificativas para a escolha desses gêneros variam um pouco.

Entretanto, a maioria acredita serem estes os gêneros que mais costumam abordar em suas

aulas por serem mais adequados à faixa etária dos alunos com os quais trabalham, além de

estes gêneros fazerem parte da proposta curricular das suas escolas.

HISTOGRAMA 2 Gêneros literários mais abordados pelos professores entrevistados

Alguns indicadores se mostraram bastante preocupantes, como, por exemplo, a forma

como os professores avaliam a Sala de Leitura/ Biblioteca de suas escolas, quanto às

condições físicas e ao acervo disponível.

ContoPoesia

Literaturade Cordel

CrônicaMemóriasLiterárias

0

5

10

15

20

25

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De um universo de 23 entrevistados, 11 avaliaram as condições físicas da Sala de

Leitura/ Biblioteca de suas escolas como sendo regular e 08 avaliaram como péssima:

“Espaço inadequado para o funcionamento”; “Espaço pequeno, sem ventilação, sem mobília”,

são algumas das observações apresentadas.

Dentre os entrevistados, 01 acrescentou que a sua escola não tem Sala de Leitura/

Biblioteca e que cada professor tem em sua sala de aula um acervo pequeno para uso com os

alunos.

Quanto à avaliação que os professores fizeram sobre o acervo bibliográfico da Sala

de Leitura/ Biblioteca das suas escolas os números são bastante expressivos e preocupantes:

10 dos entrevistados disseram ser bom o acervo e 08 destes disseram ser regular. Apenas 02

professores classificaram o acervo da Sala de Leitura/ Biblioteca de sua escola como

excelente, e outros 03 o classificaram como péssimo.

Dentre as inúmeras problemáticas apresentadas pelos professores entrevistados,

destaco duas como sendo, talvez, as mais preocupantes: a primeira delas é o acervo ser

consideravelmente pequeno e sem muita diversidade, o que muitas vezes impede de atrair o

aluno/ leitor para este espaço, legitimado como espaço de leitura. Tal fato se comprova pelo

fato de sabermos que

Uma biblioteca bem adaptada à comunidade escolar assumindo suas

funções, disponibilizando um ambiente carregado de motivações é o local,

por excelência, onde a criança aprende a gostar de ler, a se interessar pela

leitura e pelo livro, ou por qualquer coisa que represente uma interpretação,

uma associação, uma história. (FACHIN e HILLESHEINM, 2003/ 2004, p.

37)

A outra problemática apontada por alguns dos professores entrevistados, e já sabida

por quem conhece a realidade das nossas escolas, sobretudo nossas Salas de Leitura/

Bibliotecas, é o fato de não haver um trabalho bem direcionado pelos profissionais que atuam

nesses espaços de leitura e aprendizagem.

Como já abordado no capítulo Mas, Literatura para quê? não há uma política

direcionada às Salas de Leitura/ Bibliotecas de nossas escolas, uma vez que o profissional que

atua como coordenador das mesmas são, na maioria das vezes, profissionais não mais

possibilitados de atuar em sala de aula por razões diversas, inclusive por questões de saúde.

A respeito das abordagens pedagógicas permeadas pelo texto poético, alguns dados

levantados são animadores, outros nem tanto...

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Grande parte dos professores afirmou que o trabalho com Poesia em suas escolas é

sempre valorizado, e 13 dos 23 entrevistados afirmaram trabalhar frequentemente textos

poéticos em suas aulas.

A princípio, é necessário lembrar que inserir o texto poético na sala de aula não é

garantia de que ela, a Poesia, será apresentada e apreendida em toda a sua potencialidade

estética, criativa. É preciso, pois estar atento às nuances da linguagem poética, todas as suas

vestes, e aberto aos seus encantos e dissabores, para uma abordagem significativa. É

importante o cuidado com a abordagem poética desde o instante em que se seleciona o texto

que será trabalhado até o que será feito depois de lido e discutido o poema. Assim, “cumpre

notar que a criança tem capacidade para viver poeticamente o conhecimento e o mundo.

Caberia, pois, à escola criar situações para incentivar a criatividade, a intuição e o ludismo do

aluno, de modo a despertar-lhe a sensibilidade poética [...].” (SORRENTI, 2009, p. 19)

Para a felicidade dos que amam a Poesia e sabem da sua importância no espaço

escolar, muitos foram os nomes de poetas citados pelos professores, cujos textos costumam

ser contemplados em suas aulas. São alguns desses nomes, Cecília Meireles, José Paulo Paes,

Carlos Drummond de Andrade, Vinícius de Moraes, Patativa do Assaré, entre outros.

Porém, para esses mesmos amantes da Poesia, sobretudo os que amam a Poesia

Potiguar, um dado levantado é bastante angustiante: embora 17 dos 23 entrevistados tenham

afirmado ter acesso às Poesias produzidas por autores Potiguares, 13 dentre os 23 professores

afirmaram raramente abordar a Poesia Potiguar em sala de aula. Então, será que são nossos

professores crentes da máxima que diz que Santo de casa não obra milagres?

Interessante frisar o quanto é importante conhecer a literatura produzida pelos artistas

nascidos ou moradores da mesma localidade para reconhecer em suas obras traços de uma

mesma identidade, visto que é o texto literário um verdadeiro arcabouço de registros da

memória e da identidade coletiva de um povo.

Comparada às grandes, a nossa literatura é pobre e fraca. Mas, é ela, não

outra, que nos exprime. Se não for amada, não revelará a sua mensagem; e se

não a marmos ninguém o fará por nós. Se não lermos as obras que a

compõem, ninguém as tomará do esquecimento, descaso ou incompreensão.

(CANDIDO, apud GURGEL, 2001, p. 27)

A citação acima faz referencia direta à Literatura Brasileira, de um modo geral, mas

pode perfeitamente enquadrar-se à Literatura Potiguar, visto que a mesma carrega uma

história pequena, se comparada à literatura produzida na Europa, por exemplo.

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Para ratificar a importância de dar vez e projeção à Poesia Potiguar no cenário

escolar, como forma de garantir o espaço de fruição e discussão que esta merece e precisa, é

que o poema a seguir, de Zila Mamede, um dos principais nomes da Poesia Potiguar, é

sugerido como uma leitura que transcende aos limites da temporalidade e da localidade, pois

fala de e para qualquer sujeito, independente de onde e quando o mesmo tenha nascido:

RETRATO DE MINHA MÃE COSTURANDO

A máquina move

bobinas fios

a máquina fixa

flor e atavios

Corra essa correia

de couro curtido

da roda ao pedal

como um desafio

Dance a inquieta agulha

em louco vai-e-vém

cutelo e fagulha

de calor, de bem

A máquina

e o veio:

aranha a tecer

varizes inchadas

longo anoitecer

A máquina e

o tempo:

luz de lampião

pedal madrugada

cheiro quente: o pão

A máquina e

as linhas:

branco em carretel

chama de pavio

na fumaça: o mel

A máquina e

o berço:

filho vai nascer

perna pedalando

filha a adormecer

A máquina:

morna tessitura

de lençóis-colchões

dentes e cangalhas

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presos nos mourões

A máquina:

texto-documento

na execução

de mortalhas: anjos

em azul de caixão

A máquina:

trapézio de infância

caos da adolescência

vestida sem rendas:

lúcida indigência

A máquina:

lúdico artefato

de abstrato museu

(a avó, a bisavó)

do tempo hoje meu.

(MAMEDE, in DUARTE e MACEDO, 2001, p. 436-438)

Ao ler o poema de Zila Mamede é fácil perceber as marcas da memória impressas

nas mais diversas atividades que a máquina de costura, objeto central do poema, realiza. É a

máquina aí traduzida em concretude e abstração, ao mesmo tempo.

O concreto no poema se traduz nas atividades desempenhadas na máquina de

costura: nos movimentos do pedal, fios e bobinas a costurar o enxoval do bebê que vai nascer,

as vestes do trabalho, os lençóis, a mortalha. Já o abstrato é traduzido nas memórias

entrelaçadas a essa mesma máquina de costurar. Memórias que falam de um passado

compartilhado pela avó e bisavó, mas que ultrapassa os limites do tempo e se atualiza, a cada

vez que são lembradas.

As lembranças de meninice e juventude atreladas a esta maquina de costurar podem

ser compartilhadas por sujeitos inseridos nos mais diversos contextos históricos e sociais.

Assim, mesmo que o poema de Zila Mamede circunscreva um passado de memórias

particulares, isto é, um alinhavado de experiências suas de tempos passados, pode ser

apreendido em sua totalidade, para além da localização histórica e social, de modo a provocar

identificação junto a quaisquer outros sujeitos.

Retomando a análise dos dados obtidos nos questionários aplicados, os professores

entrevistados citaram alguns nomes de poetas potiguares que conhecem, ou mesmo que já

leram, como José Bezerra Gomes, Zila Mamede, Antonio Francisco, Auta de Souza, Iara

Maria Carvalho, Ferreira Itajubá, Maria Maria, dentre outros.

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Perguntados sobre a existência de livros de autores potiguares na Sala de Leitura/

Biblioteca de suas escolas, 16 dos 23 entrevistados afirmaram que há sim livros de escritores

potiguares, entretanto trata-se ainda de um acervo bastante limitado.

Considerando que grande parte dos professores entrevistados apontou a internet

como um dos recursos mais utilizados para a busca por material dessa natureza – 16

professores afirmaram que a utilizam para selecionar textos literários para seus alunos e 18

revelaram que é na internet onde buscam os textos poéticos de autores Potiguares – não há

mais por que ignorar a importância dessa ferramenta para a educação.

A internet é uma realidade cada vez mais presente no dia-a-dia das pessoas de um

modo geral, e dos estudantes certamente de uma forma bem específica e certamente

potencializada pela possibilidade que a internet oferece de dinamizar o aprendizado e as

interações pessoais.

Dentre os professores entrevistados, 19 dos 23 destacaram a importância de um site

voltado à Poesia Potiguar, sob as mais diversas justificativas como: “Perceber o autor local

inserido em uma literatura nacional”; “Ajudaria bastante o professor” e “No Ensino

Fundamental, quanto mais próximo for o objeto de estudo da realidade do aluno, mais a

aprendizagem será significativa”, entre outras observações.

HISTOGRAMA 3 Números que revelam a importância do site

Dessa forma, o objetivo maior desta pesquisa parece ter sido alcançado, visto que a

mesma se propõe a discutir a importância de um site voltado a esta Poesia Potiguar e produzir

Consideram importante

Não consideram importante

0

5

10

15

20

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o mesmo, considerando as necessidades a serem contempladas no site e que foram

identificadas ao longo da pesquisa. é importante que, tanto professores quanto alunos se

reconheçam, de alguma forma, dentro dessa teia poética local que aqui chamamos de

Literatura Potiguar, posto que esta se encontra impregnada de nossas marcas, perceptíveis

através das marcas impressas na poesia de seus autores.

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HERANÇA

Por isso estou aqui

lavrando

meu corpo

nas pedras da terra que me viu crescer

- escrita rupestre -

dando conta de minha própria arqueologia.

Valdenides Cabral de Araújo Dias

(Parelhas-RN / Recife-PE/ Currais Novos-RN)

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IV – EIS QUE NASCE A LITERATURA POTIGUAR...

O Estado do Rio Grande do Norte é bastante conhecido como um reduto de artistas

literários, desde tempos mais distantes, até as mais recentes datas.

Nomes como Auta de Souza, Ferreira Itajubá, Zila Mamede, José Bezerra Gomes,

Luís Carlos Guimarães e Jorge Fernandes, para citar alguns nomes de outras épocas. Mas

também nomes como Moacy Cirne, Iracema Macedo, Diva Cunha, Antonio Francisco, Marize

Castro e Iara Maria Carvalho, para fazer referência a alguns dos tantos nomes da atualidade.

Artistas da palavra, lavradores da palavra poética, são estes e tantos outros poetas

norte-rio-grandenses responsáveis por imprimir em seus versos nossa identidade Potiguar,

mesmo quando em seus versos nem parecem falar de nosso chão.

Consonante a ideia defendida por Onofre Jr. em seu livro Salvados, sobre o ser poeta

Potiguar:

Que é um autor potiguar? Por acaso, seria, simplesmente, todo aquele que

tivesse nascido no Rio Grande do Norte? Não. Potiguar é o escritor que,

havendo ou não, nascido neste Estado, tem a terra norte-rio-grandense

entranhada em sua obra; é o que aí morou bastante tempo, ou mora, e aí

construiu, ou vem construindo sua obra. (2000, p. 11)

Ainda a respeito do que faz um escritor ser considerado Potiguar, algumas

divergências são claramente identificadas, como é o caso da escritora Nísia Floresta – uma

mulher nascida no Rio Grande do Norte, educadora, escritora, poetisa e considerada como

uma das pioneiras do feminismo no Brasil – que rompeu diversas barreiras e publicou vários

artigos sobre a condição feminina.

Alguns estudiosos da literatura Potiguar divergem quanto a considerar Nísia Floresta

inserida nesta literatura:

Ninguém contesta o seu sentimento de nativismo, expresso, entre outras

“atitudes”, no próprio pseudônimo: Nísia Floresta Brasileira Augusta.

Floresta era o nome do sítio de nascença, nas imediações da antiga vila de

Papari, hoje cidade de Nísia Floresta. Todavia, sua identificação com o

nosso estado limita-se a essas exterioridades. Nada ou quase nada de

potiguar encontra-se em sua obra. (ONOFRE JR, 2000, p. 11-12)

Manoel Onofre Jr. assim justifica a não inclusão de Nísia Floresta em seus estudos

sobre a literatura norte-rio-grandense, sob o argumento de que na obra da escritora não há

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uma preocupação nítida em registrar as impressões e expressões do estado do Rio Grande do

Norte.

Contrários ao pensamento de Onofre Jr. estão os argumentos apresentados por

Constância Lima Duarte e Diva Cunha no livro Literatura do Rio Grande do Norte:

Antologia.

No caso da escritora, não custa lembrar que a partir da escolha do nome

literário – Floresta – ela homenageia o local onde nasceu, e, ao longo de sua

obra, são inúmeras as referências à paisagem, aos costumes e à infância

vivida em terras potiguares. Se Nísia Floresta não fosse considerada

pertencente à literatura do Rio Grande do Norte, que outro Estado deveria

reivindicá-la? Seria o caso de esperar que o Rio de Janeiro, Pernambuco ou o

Rio Grande do Sul (ou talvez algum país da Europa), a incluísse entre suas

escritoras apenas porque ela aí publicou alguns títulos? (2001, p. 28 – 29)

Divergências à parte, o mais importante é que cada vez mais pesquisadores,

estudantes e historiadores debrucem-se sobre o acervo literário do Rio Grande do Norte para

que esta literatura possa ser mais discutida e, consequentemente, valorizada.

Ainda em uma viagem pela história do Rio Grande do Norte, lá no começo de tudo,

encontra-se Lourival Açucena, o poeta que enfim abriu as porteiras para dar passagem à

Poesia Potiguar. Somente a partir dele é possível falar em uma Poesia genuinamente Potiguar.

O poeta, conhecido por suas cantorias e sua irreverência, não teve livro publicado em

vida, mas sua obra ficou conhecida pelas publicações em jornais da época. Após a sua morte,

seus poemas foram registrados no livro Versos, organizado por Câmara Cascudo. (COSTA,

2007, p. 605)

No trecho a seguir do poema A Política, que foi musicado pelo próprio Açucena, é

possível flagrar um poeta preocupado com a denúncia dos desmantelos políticos e sociais da

época:

VI

Nas vésperas da eleição,

Vão à casa do compadre,

Dão beijos no afilhado,

Rompem sedas à comadre…

E o pobre diabo

Entra na rascada,

Tomando sopapos,

Servindo de escada.

Eles vão pra Corte

E o compadre fica

Bebendo jucá,

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Ou dose de arnica…

Já ouviu, Yayá?

(DUARTE e MACEDO, 2001, p. 55)

Embora seja um poema escrito em outro século, quando o Brasil ainda vivenciava o

Império, pode ser considerado um poema bastante atual, pois traz para o centro das atenções

situações bastante comuns do jogo político brasileiro, em que candidatos em campanha se

propõem a se aproximar dos seus eleitores, tratar-lhes com tamanho respeito, no intuito

apenas de conquistar a credibilidade e, consequentemente, os votos. Depois de eleitos,

simplesmente ignoram a participação e a importância dos seus eleitores.

Assim sendo, ao ler o poema de Lourival Açucena, o leitor acrescenta a este suas

projeções e significações, de acordo com suas experiências de vida e de leitura. Dessa forma,

o poema é atualizado pelo novo leitor no instante da leitura, o que confirma o caráter

multifacetado e atemporal do texto literário.

Depois de Lourival, muitos outros escritores se aventuraram ao verso e à prosa,

enriquecendo a literatura do estado e afirmando a identidade do povo Potiguar. Porém, mesmo

se tratando de muitos escritores, nomes inclusive que ultrapassaram os limites geográficos do

estado, que passaram a ser lidos em outras freguesias, como são as obras de Zila Mamede e

Auta de Souza, por que ainda não vislumbramos com tanta frequência, nem tanto apreço a

inclusão dessa Poesia em outros espaços, como a escola, espaço em que esta deveria ter

passagem livre?

4.1 Mas, e santo de casa faz milagre?

Há os que dizem que santo de casa não faz milagre... Usado nas mais diversas áreas

de atuação para justificar falhas e desajustes, o dito acima parece às vezes tornar-se mais que

popular nas salas de aula brasileiras quando o objeto trabalhado é o texto literário.

Parece não haver a necessidade, nem tão pouco a importância, de trazer para o

espaço escolar a literatura produzida por autores locais, como se o autor, e seus respectivos

textos, ideal para a abordagem pedagógica fosse sempre e somente aquele canonizado pelo

batismo bibliográfico das enciclopédias e dos livros didáticos.

Esse embate promovido pela escola entre o cânone e o “desconhecido” fica ainda

mais emblemático quando é esta escola localizada em lugares de menor visibilidade, de

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pequeno acesso a obras literárias e autores representativos de sua história e tradição. Assim,

apoiados na dificuldade de encontrar material que atenda a essa demanda, e na incerteza do

que é de fato pertinente indicar como leitura literária aos seus alunos, muitos professores

simplesmente desconsideram a relevância de promover o contato dos mesmos com a literatura

produzida por indivíduos pertencentes a um contexto geográfico, histórico e social

semelhante.

Dessa maneira, perde-se uma oportunidade profícua de desvencilhar estereótipos

cristalizados nas práticas escolares no que diz respeito à ideia do aluno em relação ao sujeito

escritor, sendo este muitas vezes, preconcebido pelo aluno como sendo um indivíduo quase

sempre do sexo masculino (como se somente os homens produzissem literatura), velho,

barbudo, de óculos e bigode, e que já morreu.

A respeito dessa escassez de material que contemple a literatura do Rio Grande do

Norte, Tarcísio Gurgel traz a seguinte afirmação:

A documentação cultural, no Rio Grande do Norte, repito, está a exigir

urgente atenção. A mesma observação vale, é claro, para a estante do autor

potiguar em nossas bibliotecas. Nas oficiais, ela é de uma pobreza gritante.

Nas escolas públicas, simplesmente inexistem bibliotecas. Ou estão

reduzidas a melancólicas salas/ depósitos de livros paradidáticos. (2001, p.

17)

É fato que a escola não pode abrir mão daquilo ou daqueles que fazem parte da

tradição literária nacional em detrimento de um exclusivismo da literatura local. Entretanto, é

preciso pensar a escola e, consequentemente, seus atores, como diversos, plurais, logo, a

diversidade de textos, contextos e autorias faz-se extremamente necessária para um efetivo

processo de escolarização e um significativo letramento literário. Confirma a importância

dessa diversidade e flexibilidade na etapa da seleção dos textos para a sala de aula Rildo

Cosson quando diz:

Ao selecionar um texto, o professor não deve desprezar o cânone, pois é nele

que encontrará a herança cultural de sua comunidade. Também não pode se

apoiar apenas na contemporaneidade dos textos, mas sim em sua atualidade.

Do mesmo modo, precisa aplicar o princípio da diversidade entendido, para

além da simples diferença entre os textos, como a busca da discrepância

entre o conhecido e o desconhecido, o simples e o complexo, em um

processo de leitura que se faz por meio da verticalização de textos e

procedimentos. É assim que tem lugar na escola o novo e o velho, o trivial e

o estético, o simples e o complexo e toda a miríade de textos que faz da

leitura literária uma atividade de prazer e conhecimento singulares. (2014, p.

35-36)

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Abordar o texto literário produzido por autores locais, sendo estes do mesmo

município ou estado no qual a escola se insere, é oportunizar o diálogo entre sujeitos que,

embora pertencentes a um mesmo universo geográfico, ora pode se aproximar por uma

relação de afinidade e identidade, ora pode se distanciar pelos discursos, por exemplo.

É também uma forma de ressignificar os conceitos de local e global, uma vez que,

mesmo se tratando de uma literatura que fale de um povo e contexto específicos, como é o

caso dos personagens e ambientes dos poemas do escritor curraisnovense Wescley J. Gama,

que compõem a série dez poemas de barro, é uma literatura que fala do ser humano acima de

tudo, para além dos limites geográficos e temporais.

VI

vários homens a caminho da olaria

bicicletavam a estrada

toda cheia de pedrinhas,

miudinhas como dedo mindinho

de menino recém-nascido.

VII

na cacimba profunda

pairava água doce.

na casinha profunda

flutuavam bebês,

à espera do resgate da água

(da cacimba profunda).

VIII

nas paredes de barro

zé do né se encostava

e emprestava gentilezas,

dentro da tarde cinzenta.

ele sabia,

o café não tardava

e as casas de marimbondos

se preparavam rápidas

para suas histórias de trancoso.

(2015, p. 16 - 26)

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Portanto, por mais local que um texto literário possa parecer, a depender de sua

natureza e riqueza estética, o global será atingido, porque este estará para todos, pelo simples

fato de falar de humanidade.

Um exemplo bastante alusivo a essa afirmação é quando ao ler os poemas de

Wescley J. Gama citados anteriormente, o leitor, sendo um cidadão também morador de uma

região que apresente em seu cenário físico, social e cultural os mesmos elementos, como a

olaria, a cacimba, as histórias de trancoso, sente por vezes tão retratado, tão impresso em cada

imagem suscitada. Entretanto, mesmo um sujeito que nunca tenha conhecido o lugar-cenário

da poética de Wescley pode assim mesmo identificar-se, a ponto de construir com perfeição

cada canto e criatura.

E o fará assim ao seu modo, porque são as experiências de vida de cada um que

permite cada leitor construir do seu jeito suas impressões de um determinado texto. São as

noções de tempo, espaço, ambiente e sujeito que permitem cada sujeito-leitor no ato da leitura

criar conjecturas, projeções, representações.

4.2 A Poesia Potiguar pede licença...

A Poesia Potiguar pede licença... é o nome que batiza este subcapítulo, assim como

o subtítulo desta dissertação. Foi escolhido e assim escrito por algumas razões que merecem

ser aqui destacadas.

Em princípio, esse nome foi escolhido na tentativa de romper com essa ideia de que

santo de casa não faz milagre, visto que a pesquisa se vincula à ideia de que é importante

conhecer e difundir a Poesia produzida no Rio Grande do Norte, exatamente por acreditar na

importância e na qualidade da mesma, assim como por entender a necessidade de projetá-la.

Nossas palavras encontram eco no seguinte pensamento:

Jamais se escreverá corretamente a História da Literatura Brasileira enquanto

não se fizer o exato balanço das nossas literaturas regionais. Muita coisa, da

maior importância cultural, morre na província não conseguindo ultrapassar

os limites que injustamente a separam dos grandes centros culturais. Autores

também de inestimável valor veem suas obras fulminadas por uma tremenda

conspiração de silêncio, apenas porque não trocaram a placidez da vida

regional pelo tumulto das grandes metrópoles. (WANDERLEY, Apud

DUARTE e MACEDO, 2001, p. 09)

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As palavras Poesia e Potiguar foram escritas assim com as iniciais maiúsculas ao

longo de todo o texto como forma de conferir destaque e reconhecimento a ambas, como os

holofotes desejados pela pesquisa à Poesia Potiguar.

Quanto ao pedir licença..., assim como no dia-a-dia costumam-se julgar educadas as

pessoas que ao entrar em um espaço costumam pedir licença, a Poesia Potiguar aqui colocada

como importante, necessária e interessante também em outros espaços, não deseja o embate

com qualquer outra literatura, mas sim o seu lugar de interação. E pede ela, a Poesia Potiguar,

licença, sobretudo para entrar nas escolas, nas bibliotecas, nas salas de aula, espaços

legitimados para o estudo da literatura, e todos os gêneros a esta relacionados, como artefato

textual, discursivo, ideológico, político e cultural.

Portanto, a pesquisa aqui apresentada busca concretizar toda a discussão

encaminhada a respeito da importância merecida pela Poesia Potiguar sob a forma de um site,

especialmente pensado e construído para dar visibilidade à Poesia Potiguar e considerando o

caráter aberto e democrático que a internet oferece aos seus leitores/ usuários.

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IDÍLIO

Entre notícias antigas e muralhas

construí com você

um amor feito alucinadamente de palavras

Meus versos seduzem os seus

seus versos aliciam os meus

Coloquei nossos livros juntos na estante

para que se toquem

e se amem clandestinamente

durante as madrugadas

Iracema Macedo

(Natal – RN)

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V – Educação e as novas tecnologias: aparando as frestas e apontando caminhos

A palavra tecnologia é quase sempre empregada para definir situações que envolvam

engenhocas extraordinárias, aparatos revolucionários, como se tudo o que está diretamente

relacionado à tecnologia seja necessariamente grandioso, no sentido de complicado. Porém, a

significação para tecnologia vai além de tudo isso:

Ao contrário, ela está em todo lugar, já faz parte das nossas vidas. As nossas

atividades cotidianas mais comuns – como dormir, comer, trabalhar, nos

deslocarmos para diferentes lugares, ler, conversar e nos divertirmos – são

possíveis graças às tecnologias a que temos acesso. As tecnologias estão tão

próximas e presentes que nem percebemos mais que não são coisas naturais.

Tecnologias que resultaram, por exemplo, em lápis, cadernos, canetas,

lousas, giz e muitos outros produtos, equipamentos e processos que foram

planejados e construídos para que possamos ler, escrever, ensinar e aprender.

(KENSKI, 2007, p. 24)

Dessa forma, não há como pensar na vida cotidiana de sujeitos inseridos nos mais

diversos contextos, sem considerar a presença das tecnologias, mesmo sabendo que alguns

contextos e sujeitos são mais privilegiados no acesso a essas tecnologias.

O acesso a essas ferramentas, a esses instrumentos, a tecnologia enfim, corresponde à

necessidade própria do ser humano de pensar, questionar, produzir, de interferir no espaço em

que vive, de buscar novos caminhos para facilitar ou potencializar tarefas, isto é, de

problematizar o mundo a sua volta. É esta a grande corrida do homem desde sempre, se

autoafirmar, garantindo seu espaço e seu poder de conhecimento, articulação e dominação.

E é na escola que estes sujeitos vão buscar as ferramentas e as estratégias necessárias

para a conquista desse poder. Cada um a seu modo. Cada um guiado por suas necessidades,

exigências e afinidades, visto que são sujeitos diversos em habilidades, competências,

afinidades e expectativas.

E assim sendo os sujeitos tão diversos e tão únicos, integrantes de uma sociedade

também diversa, permeada de desigualdades e pluralidades, a escola precisa estar atenta ao

que tem para oferecer a estes alunos, na tentativa de atender a toda essa diversidade.

Mas, será que a escola tem enxergado e respeitado essa pluralidade? Tem a escola

acompanhado as transformações do mundo e dos sujeitos, ou permanece acreditando em

fórmulas mágicas, pensadas para atender sujeitos que pensam e agem iguais?

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É a escola este espaço em que os aparatos tecnológicos são compreendidos apenas

como um auxílio para, vez por outra, incrementar a aula, em especial naqueles momentos em

que os alunos precisam de uma motivação?

A respeito desses equívocos, Kenski ratifica:

As novas tecnologias de comunicação (TIC’s), sobretudo a televisão e o

computador, movimentaram a educação e provocaram novas mediações

entre a abordagem do professor, a compreensão do aluno e o conteúdo

veiculado. A imagem, o som e o movimento oferecem informações mais

realistas em relação ao que está sendo ensinado. Quando bem utilizadas,

provocam a alteração dos comportamentos de professores e alunos, levando-

os ao melhor conhecimento e maior aprofundamento do conteúdo estudado.

As tecnologias comunicativas mais utilizadas em educação, porém, não

provocam ainda alterações radicais na estrutura dos cursos, na articulação

entre conteúdos e não mudam as maneiras como os professores trabalham

didaticamente com seus alunos. Encaradas como recursos didáticos, elas

ainda estão muito longe de serem usadas em todas as suas possibilidades

para uma melhor educação. (2007, p. 45)

É preciso, pois, considerar a dinamicidade a qual estão atreladas as tecnologias

comunicativas, tão atraentes e cada vez mais pertencentes ao universo de todos, sobretudo dos

mais jovens, pela facilidade com a qual lidam com esses recursos.

Em razão dessas novas tecnologias, sobretudo a internet, o ser humano vem

modificando constantemente sua maneira de pensar, estar e agir na sociedade. E, embora a

internet ainda não seja acessível a todos os sujeitos, é ela um espaço amplamente

democrático, principalmente quando se leva em consideração as redes sociais, espaços em que

todo e qualquer sujeito pode se permitir falar e mostrar o que quiser para o mundo.

Além do mais, com o advento da internet os sujeitos aprenderam novas formas de

conduzir a leitura, navegando por entre caminhos dentro do texto, que os levam a outros

espaços de leitura, sempre bastante dinâmicas e interativas. São os hipertextos, janelas

entreabertas que guardam mundos de informações e que ajudam a ampliar os sentidos da

leitura inicial. Desse modo,

O que, então, torna o hipertexto específico quanto a isto? A velocidade,

como sempre. A reação ao clique sobre um botão (lugar da tela de onde é

possível chamar um outro nó) leva menos de um segundo. A quase

instantaneidade da passagem de um nó a outro permite generalizar e utilizar

em toda sua extensão o princípio da não-linearidade. Isto se torna a norma,

um novo sistema de escrita, uma metamorfose da leitura, batizada de

navegação. A pequena característica de interface "velocidade" desvia todo o

agenciamento intertextual e documentário para outro domínio de uso, com

seus problemas e limites. Por exemplo, nos perdemos muito mais facilmente

em um hipertexto do que em uma enciclopédia. A referência espacial e

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sensoriomotora que atua quando seguramos um volume mas mãos não mais

ocorre diante da tela, onde somente temos acesso direto a uma pequena

superfície vinda de outro espaço, como que suspensa entre dois mundos,

sobre a qual é difícil projetar-se. (Lévy, p. 23)

Como então continuar acreditando que falar durante cinquenta minutos sobre um

assunto qualquer será para esse aluno tão interessante, se as possibilidades de navegação em

uma aula expositiva, diante das outras possibilidades que os hipertextos oferecem, são muitas

vezes bastante resumidas? Pensando dessa forma,

Não há dúvida de que as novas tecnologias de comunicação e informação

trouxeram mudanças consideráveis e positivas para a educação. Vídeos,

programas educativos na televisão e no computador, sites educacionais,

softwares diferenciados transformam a realidade da aula tradicional,

dinamizam o espaço de ensino-aprendizagem, onde, anteriormente,

predominava a lousa, o giz, o livro e a voz do professor. Para que as TIC’s

possam trazer alterações no processo educativo, no entanto, elas precisam

ser compreendidas e incorporadas pedagogicamente. Isso significa que é

preciso respeitar as especificidades do ensino e da própria tecnologia para

poder garantir que o seu uso, realmente, faça diferença. Não basta usar a

televisão ou o computador, é preciso saber usar de forma pedagogicamente

correta a tecnologia escolhida. (KENSKI, 2007, p. 46)

É claro que o professor tem sua importância na mediação dos conhecimentos, e é

claro que a aula expositiva também tem sua importância no processo educativo, mas nem

pode o professor achar-se o único capaz de dizer o que o aluno precisa saber, nem tão pouco é

possível desconsiderar a necessidade deste aluno de interagir com as informações e o

conhecimento sob outras vias, logo, “lecionar assim é desafiante. Significa trocar o antigo

papel de único detentor da informação pelo de orientador dos processos de descoberta. Não se

trata, porém, de uma perda de importância.” (NOVA ESCOLA, 2015, p. 22)

Dessa forma, é necessário encontrar o equilíbrio entre o que não pode ser

considerado arcaico na educação, e o que não pode ser impedido de entrar neste espaço, sob o

risco de desconsiderar o quanto de potencialidades a confluência dessas orientações pode

provocar.

Sobre os benefícios dessa confluência, mais uma vez Kenski assegura:

Em relação à educação, as redes de comunicações trazem novas e

diferenciadas possibilidades para que as pessoas possam se relacionar com

os conhecimentos e aprender. Já não se trata apenas de um novo recurso a

ser incorporado à sala de aula, mas de uma verdadeira transformação, que

transcende até mesmo os espaços físicos em que ocorre a educação. A

dinâmica e a infinita capacidade de estruturação das redes colocam todos os

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participantes de um momento educacional em conexão, aprendendo juntos,

discutindo em igualdade de condições, e isso é revolucionário. (2007, p. 47)

A escola e seus atores precisam atar laços cada vez mais fortes com essas

ferramentas da comunicação, visto que é a comunicação a mola propulsora de toda a

humanidade, logo, a escola precisa não simplesmente aceitar a entrada dessas novas

possibilidades de interação e conhecimento, mas efetivá-las em práticas significativas e que

de fato promovam a autonomia e a aprendizagem.

Certamente, para o aluno, tatear a língua enquanto comenta uma postagem de um

amigo virtual, ou cria, por exemplo, uma legenda para uma foto sua de um momento especial,

é tão natural e verdadeiro que ultrapassa os limites ainda enfrentados na escola quanto a

escrita espontânea, verdadeira, sem os artificialismos que uma proposta de produção de texto

desvinculada da realidade do aluno pode provocar nessa escrita.

Portanto, pensar a educação na atualidade é estar aberto às mudanças, às

transformações, considerando os aspectos realmente positivos de todas essas inovações.

Assim, não basta levar os alunos para o Laboratório de Informática e deixá-los acessar

livremente, é preciso oferecer-lhes um norte, a orientação clara sobre o que se pretende tratar

e que justifica a escolha deste espaço, por entender a sua capacidade de potencializar a

abordagem pedagógica do professor, assim como a assimilação do conteúdo.

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ORIGEM

Há uma sombra vermelho inca

A pairar sobre os alimentos

Emanando saudades primitivas

Dos americanos sentimentos

Colho, cozinho, fervo, seco, pilo

A secreta virtude do milharal

Voando amplo no terreiro

Desmentindo da terra seu sal.

Elina Carvalho

(Currais Novos – RN)

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VI – UM SÍTIO VERDADEIRAMENTE POÉTICO...

A ideia do site surgiu durante as disciplinas do PROFLETRAS, quando leituras e

discussões ratificavam a necessidade de as escolas caminharem junto dos avanços

tecnológicos, tentando sempre aliar o discurso e a prática educacional ao respeito as mais

diversas formas de comunicação, de interação.

Assim, não há porque desvincular a escola das novas mídias, uma vez que é o aluno

um sujeito social, portanto, em constante contato com todas essas ferramentas da

comunicação que, por sua vez, fazem circular uma infinidade de gêneros, dentre eles a Poesia,

o que obriga e legitima a consideração e inclusão de todos esses recursos no espaço escolar,

ou seja,

No raiar do século XXI, [...] irrompe esse fato vertiginoso – a internet. E, de

repente, a poesia conhece um tipo de circulação surpreendente. [...] A poesia,

boa ou má, está voltando ao cotidiano, demonstrando que é gênero

primordial, a fresta por onde respira a mente humana.” (SANT’ANNA 2009,

p. 19)

O site de domínio www.poesiapotiguar.com.br é uma ferramenta pensada para

atingir toda e qualquer pessoa interessada na Poesia produzida por autores norte-rio-

grandenses, sobretudo professores e pesquisadores nessa área. Apresenta uma proposta

bastante interativa, pois em suas interfaces há alguns espaços voltados à participação do

público leitor, de forma que este possa contribuir para a ampliação do acervo (nomes de

autores, obras publicadas, planos de aula, etc).

Figura 1 Interface do site www.poesiapotiguar.com.br

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A interface inicial do site apresenta algumas imagens de elementos naturais e

culturais que representam um pouco do cenário geográfico e cultural do Rio Grande do Norte,

como a presença da jangada e dos coqueiros, elementos bastante representativos do litoral

Potiguar, ou mesmo a presença do bode e da panela de barro, como signos representativos do

sertão Potiguar.

As cores laranja e marrom foram escolhidas para colorir a maior parte do site por

suas tonalidades terrosas, pois dialoga com a ideia principal do site, ou seja, permitir que

através desse espaço a Poesia Potiguar chegue mais facilmente a outros mundos, mas sempre

levando o tom da terra norte-rio-grandense em seus versos, a identidade Potiguar.

6.1 As partes desse todo

O site apresenta de forma sistemática, porém lúdica, alguns pontos importantes da

Poesia Potiguar, como sua dinâmica e roupagem ao longo da história, as publicações, desde as

mais antigas até as mais recentes, os diversos olhares para a leitura dessa Poesia, sugestões de

planos de aula que tenham como protagonista a Poesia Potiguar, entre outros pontos.

O site apresenta seis seções: “O Projeto, Sala de Aula, Biblioteca, Cordel, EnCantos,

Cinemapoético e Balaio”, cada uma delas independente e apresentada por um personagem

representativo da Poesia Potiguar que conduz o leitor na navegação e busca que lhe interessar.

6.1.1 O Projeto

A primeira seção do site recebe o nome “O Projeto” e é inteiramente dedicada a

apresentar ao leitor as orientações que norteiam a construção do site, considerando que o

mesmo é resultado da pesquisa que ora se apresenta.

Figura 2 Interface do banner O Projeto

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Assim, em “O Projeto” são propostos quatro links que apresentam ao leitor os

caminhos percorridos, e quem os percorreu, na tessitura deste sítio virtual, além de

informações sobre o personagem que ilustra a seção.

Figura 3 Interface da seção O Projeto

No link “Saiba mais sobre o projeto” o leitor terá acesso às informações que

norteiam o projeto de pesquisa como Introdução, Justificativa, Objetivos, Metodologia, entre

outros.

No link “Conheça os sonhadores deste sítio” há a disposição mais quatro links que

guiam o leitor na navegação para conhecer as pessoas que de forma direta ou indireta

participaram do processo de idealização e construção do site.

Em um outro link – “Leia a dissertação” – o leitor terá a oportunidade de ler a

dissertação Encantos Poéticos: A Poesia Potiguar pede licença... na íntegra e em PDF,

disponível para eventuais consultas e download.

Por fim, a seção “O Projeto” apresenta o link “Poeta homenageado” em que são

apresentados dados biográficos do escritor José Bezerra Gomes, personagem-guia desta

seção.

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Figura 4 Caricatura de José Bezerra Gomes (Edw Tyler9)

A escolha por este poeta para ilustrar esta seção se deu em virtude de o mesmo estar

entre os principais poetas do Rio Grande do Norte, sobretudo por seu potencial criativo e

inovador.

O plano de fundo que ilustra a seção é a fachada da Fundação Cultural José Bezerra

Gomes, espaço localizado no município de Currais Novos, que funciona como museu

histórico da referida cidade e que guarda e conta a história deste que é um personagem

bastante representativo da nossa literatura Potiguar.

6.1.2 Sala de Aula

Esta é uma seção diretamente relacionada à abordagem da Poesia Potiguar na Sala de

aula e é, certamente, a seção de maior destaque do site, visto que o mesmo foi idealizado

exatamente como uma proposta de enfrentamento às dificuldades da inserção e abordagem da

Poesia Potiguar no ambiente escolar.

9 Edw Tyler é o nome artístico do artista plástico e caricaturista Edilson Aureliano dos Santos, nascido e

residente no município de Currais Novos-RN e também professor de Língua Inglesa da rede estadual de Ensino.

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Figura 5 Interface do banner Sala de Aula

Na seção Sala de Aula estão disponíveis quatro links para a navegação do leitor.

Figura 6 Interface da seção Sala de Aula

Um deles – Propostas Didáticas – disponibiliza planos de aula direcionados ao

Ensino Fundamental na forma de sequência didática ou oficina. Cada proposta tem como

elemento norteador poemas de autores Potiguares.

Diálogos Poéticos é o nome de um outro link desta seção em que são dadas

sugestões de diálogos entre poemas produzidos por autores Potiguares e poemas de autores do

cenário nacional, indígena, português e africano, considerando assim as principais

confluências da identidade brasileira, logo identidade Potiguar.

O terceiro link é intitulado Somas Poéticas e destina-se a abrir o espaço para que o

leitor, em especial professores e/ou pesquisadores das áreas relacionadas à educação, possam

propor planos de aula que tenham como objeto de ensino/ estudo Poesias de autoria Potiguar.

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Importante a ressalva que as propostas sugeridas devem seguir o mesmo padrão das

propostas já apresentadas no site e serão previamente analisadas para, enfim, comporem o

acervo do site.

O outro link – Poetisa homenageada – é voltado às informações biográficas acerca

da poetisa Auta de Souza10

, personagem-guia escolhida para ilustrar a seção, um dos

principais nomes da Poesia Potiguar.

Figura 7 Caricatura de Auta de Souza (Edw Tyler)

Considerando sua importância para o cenário literário norte-rio-grandense, a poetisa

não poderia ficar de fora e sua escolha para ilustrar a seção Sala de Aula se deu em razão de a

mesma ter vivenciado um pouco da experiência como educadora quando, ainda bem jovem,

dava aulas de Catecismo, conforme Gomes. (2007, p. 163)

10

Auta de Souza nasceu em Macaíba-RN em 12 de setembro de 1876. Era irmã de Eloy de Souza e Henrique

Castriciano, intelectuais e políticos de renome no Rio Grande do Norte. Depois da morte dos seus pais, ainda

menina, foi residir em Recife-PE com os avós maternos. Aos 14 anos apresentou sintomas de tuberculose o que a

fez regressar ao estado onde nasceu. Muitos dos seus poemas foram publicados em revistas e em jornais, de

circulação local, mas também no Rio de Janeiro e em Recife-PE. Sua única obra Horto (1900) tem o prefácio de

Olavo Bilac e teve uma significativa repercussão na crítica literária nacional. Faleceu em 1901, aos 24 anos de

idade. (DUARTE e MACEDO, 2013, p. 84 – 85)

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6.1.3 Biblioteca

A seção Biblioteca como o próprio nome já sugere e a imagem do plano de fundo da

interface desta seção confirma, abarca os livros de Poesia Potiguar já publicados e suas

respectivas informações bibliográficas como: título, autor, editora, ano da publicação.

Figura 8 Interface do banner Biblioteca

A seção disponibiliza em sua interface três links para interação.

Figura 9 Interface da seção Biblioteca

O link Veja nossa estante de livros disponibiliza o acervo literário de autoria

potiguar, sejam estas obras do gênero Poesia ou não, além de disponibilizar títulos de crítica

literária produzidos também por pesquisadores Potiguares ou que tratem de escritos de autores

Potiguares.

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Um outro link é o Somas Poéticas, destinado à interação da comunidade leitora do

site. O link foi pensado com vistas a proporcionar a dinamicidade do site a partir do

conhecimento de obras publicadas, mas de pequena circulação, por essa razão, desconhecidas.

Assim, o leitor do site terá a oportunidade de colaborar com o projeto, propondo títulos e

autores para serem investigados e, após a confirmação da produção e da autenticidade do

poeta sugerido e, consequentemente dos seus textos, os mesmos serão também divulgados na

mídia.

Poetisa homenageada é o nome do link que traz as informações acerca da escritora

que ilustra a seção, no caso específico desta seção, a escritora e bibliotecária Zila Mamede11

.

Figura 10 Caricatura de Zila Mamede (Edw Tyler)

A escolha da poetisa para ilustrar esta seção se deu em virtude de Zila ter sido

bibliotecária, “[...] a responsável pela organização da Biblioteca Central da UFRN (hoje,

11

Zila Mamede nasceu em Nova Palmeira-PB em 1928. Ainda menina veio para o Rio Grande do Norte com sua

família, morando inicialmente em Currais Novos-RN e em seguida, quando adolescente, passando a residir em

Natal-RN. Formou-se em Biblioteconomia, ocupando cargos importantes nessa área. No campo da literatura

publicou as seguintes obras: Rosa de Pedra (1953), Salinas (1958), O Arado (1959), Exercício da Palavra

(1975) Navegos (1978) – uma coletânea das cinco obras anteriores –, Corpo a Corpo (1978) e A Herança

(1984). No campo da biblioteconomia publicou Luís da Câmara Cascudo – 50 anos de vida intelectual (1970) e

Civil Geometria (1987). Faleceu em 1985, quando nadava entre a Praia do Forte E O Rio Potengi. (GURGEL,

2001, p. 204) (DUARTE e MACEDO, 2013, p. 84 – 85)

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Biblioteca Zila Mamede) e da Biblioteca Estadual Pública Câmara Cascudo.” (DUARTE e

MACEDO, 2013, p. 303).

6.1.4 Cordel

Esta é uma seção direcionada a textos e autores norte-rio-grandenses de Literatura de

Cordel. Cabe aqui destacar que a opção por inserir a Literatura de Cordel em um link

diferenciado se dá em virtude de concebê-la como uma Poesia de características muito

próprias e singulares.

Figura 11 Interface do banner Cordel

A interface desta seção que tem como plano de fundo uma feira livre disponibiliza ao

leitor quatro links.

Figura 12 Interface da seção Cordel

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Poetas é o nome de um dos links e apresenta em ordem alfabética nome de poetas

populares do Rio Grande do Norte.

Um outro, intitulado Mangaio Poético, disponibiliza alguns textos como artigos,

ensaios, reportagens, entre outras possibilidades de leitura, que tratem da Literatura de Cordel

para a apreciação do leitor.

O terceiro link é intitulado Somas poéticas e se mostra como um canal de abertura

para o leitor propor nomes de novos poetas, assim como textos, até então não contemplados

no site. Importante ressaltar que as sugestões dos leitores, embora sejam sempre bem vindas,

implicarão em pesquisas para comprovação das informações sugeridas.

O quarto e último link – Poeta homenageado – traz as informações a respeito do

personagem-guia que ilustra a seção, o poeta mossoroense Antonio Francisco12

, autor de

diversos livros, alguns publicados em edições especiais para o público infantil e juvenil.

Figura 13 Caricatura de Antonio Francisco (Edw Tyler)

12

Antonio Francisco Teixeira de Melo nasceu em Mossoró-RN em 21 de outubro de 1949. É graduado em

História pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN. É poeta popular, xilógrafo e compositor.

Publicou mais de cinquenta folhetos, dentre estes Dez cordéis num cordel só, Por Motivos de Versos, Meu sonho

e Os animais têm razão. (FRANCISCO, 2010, p. 48)

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Foi este o poeta escolhido para personagem-guia desta seção em razão de sua

representatividade na Literatura de Cordel, visto que é considerado na atualidade como um

dos maiores poetas populares do RN.

6.1.5 EnCantos

Considerando as outras linguagens que dialogam com a Poesia e ajudam a ampliar os

seus significados, foi criada a seção EnCantos Poéticos como o espaço de passagem para a

Poesia musicada.

Figura 14 Interface do banner EnCantos

O plano de fundo apresenta a casa da personagem que ilustra e, consequentemente,

representa a referida seção que dispõe ao leitor três links.

Figura 15 Interface da seção EnCantos

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Um dos links – EnCantos Poéticos – direciona o leitor a audição de poemas de

autores Potiguares musicados, ou mesmo canções compostas em homenagem a poetas norte-

rio-grandenses.

Um outro link é o Somas Poéticas, destinado a interação do público leitor que deseje

contribuir com o site, enviando áudios de poemas de autoria Potiguar musicados.

O último link da referida seção é o Poetisa homenageada, destinado a apresentar

informações sobre Dona Militana13

, personagem-guia desta seção.

Figura 16 Caricatura de Dona Militana (Edw Tyler)

Dona Militana foi escolhida para ilustrar esta seção por sua representatividade para a

Poesia Potiguar, considerando a riqueza poética e histórica de seus poemas cantados,

13

Dona Militana nasceu no sítio Oiteiros, na comunidade de Santo Antônio dos Barreiros, em 19 de março de

1925. O dom do canto ela herdou do pai, Atanásio Salustino do Nascimento, uma figura folclórica de São

Gonçalo, mestre dos Fandangos. Dona Militana gravou na memória os cantos executados pelo pai. São romances

originários de uma cultura medieval e ibérica, que narram os feitos de bravos guerreiros e contam histórias de

reis, princesas, duques e duquesas. Além de romances, Militana canta modinhas, coco, xácaras, moirão, toadas

de boi, aboios e fandangos. [...] Críticos e jornalistas de grandes jornais brasileiros se renderam aos encantos e a

peculiaridade da voz de Dona Militana. Em setembro de 2005 aconteceu o momento mágico quando ela recebeu

das mãos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Comenda Máxima da Cultura Popular, em Brasília.

(TRIBUNA DO NORTE, Natal – RN: 2010. Versão digital)

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fortemente carregados de memória e tradição. A imagem que ilustra o plano de fundo da

interface desta seção corresponde a casa de Dona Militana.

6.1.6 Cinemapoético

A seção Cinemapoético dedica-se a apresentar filmes dos mais diversos que tenham

a Poesia Potiguar ou seus poetas como personagens principais.

Figura 17 Interface do banner Cinemapoético

A seção tem em sua interface a imagem de um cinema antigo em consonância com o

material que será abarcado pela mesma, vídeos de artistas recitando Poesias de autoria

Potiguar, ou mesmo filmes ou documentários que tratem de nossos poetas e disponibiliza ao

leitor quatro links.

Figura 18 Interface da seção Cinemapoético

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O link Curta Poético destina-se a apresentar vídeos pequenos de artistas recitando

Poesias de autores Potiguares e o link Longa Poético se propõe a apresentar longas metragens,

como filmes ou documentários, que apresentem um poeta Potiguar como personagem.

A terceira seção é a Somas Poéticas. Nela o leitor do site poderá contribui enviando

sugestões de vídeos que contemplem a divulgação da Poesia Potiguar.

Por fim, a seção Poeta homenageado que traz as informações a respeito do

personagem-guia escolhido para a mesma, o poeta Moacy Cirne14

, um dos grandes

responsáveis por divulgar a Poesia Potiguar e um autêntico apaixonado por cinema.

Figura 19 Caricatura de Moacy Cirne (Edw Tyler)

6.1.7 Balaio

Esta é a última seção do site e se propõe a abarcar tudo o que não foi possível ser

contemplado nas outras seções. O nome Balaio Poético para esta seção foi escolhido em razão

da diversidade de conteúdos contemplados na mesma e o plano de fundo apresenta a imagem

14

Moacy Cirne nasceu em São José do Seridó-RN em 1943. Poeta e professor do Departamento de

Comunicação Social da Universidade Federal do Fluminense foi um dos maiores estudiosos brasileiros de

histórias em quadrinhos e um dos fundadores do poema/processo. “Nasci há séculos, talvez em Caicó, talvez em

Jardim do Seridó, cidades norte-rio-grandenses, às margens do Rio Amazonas. Em Natal estudei no Marista e na

Faculdade de Direito [...]. Publiquei alguns livros, a partir de 1970. Escrevi – e escrevo – sobre quadrinhos”.

Faleceu em Natal, em janeiro de 2014. (CIRNE, 1994, p. 84)

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do Pico do Tototó, um dos pontos turísticos mais representativos de Currais Novos – RN,

cidade em que moram os poetas que ilustram a seção.

Figura 20 Interface do banner Balaio

Esta seção apresenta em sua interface seis links e nela o leitor terá acesso a textos

poéticos classificados como da Literatura Infantil, Literatura Afro-Brasileira, Literatura

Indígena, assim como textos teóricos que tratem da Poesia Potiguar, como ensaios, artigos,

resenhas, reportagens, entre outros, além de trabalhos das mais diversas linguagens e vertentes

que mantenham um diálogo com a Poesia Potiguar (fanzines, fotografias, exposições, etc).

Figura 21 Interface da seção Balaio Poético

Um deles é o Poesia para crianças, destinado a apresentar Poesias de autores

Potiguares voltadas ao público infantil.

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Um outro link é o Poesia é coisa de índio e é voltado a divulgar Poesias de autores

indígenas Potiguares ou mesmo Poesias que tenham a figura ou o cenário histórico e cultural

indígena entranhado em suas vestes.

O terceiro link é intitulado AfroPoesias e, como o próprio nome já sugere, é voltado

a divulgação de Poesias de autores Potiguares que mantenham esse diálogo (seja na

linguagem, nos personagens, nos elementos figurativos) com a Poesia africana.

DiVersos é o nome do quarto link que abre espaço para a apresentação de textos

teóricos que tenham a Poesia Potiguar como objeto de discussão, assim como outros materiais

que promovam o protagonismo da Poesia produzida por autores Potiguares.

Também há nesta seção o link Somas Poéticas, em que o leitor poderá contribuir

com o site sugerindo textos dos mais diversos que tragam a Poesia Potiguar para o centro das

atenções.

Por fim, o link Poetas homenageados que traz informações acerca dos poetas que

atuam como personagens-guias desta seção.

Figura 22 Caricatura de Iara Maria Carvalho e Wescley J. Gama (Edw Tyler)

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A razão da escolha pelos poetas curraisnovenses Iara Maria Carvalho15

e Wescley J.

Gama16

para ilustrar a seção se deu em virtude de os dois configurarem entre os principais

nomes da Poesia Potiguar da atualidade, numa confluência de imagens e linguagens, que vez

por outra dialogam, como na proposta do CD Seridolendas17

do músico e poeta Wescley em

que Poesias da poetisa Iara Maria Carvalho foram musicadas. A interface desta seção

apresenta em seu plano de fundo a imagem do Pico do Tototó, por causa dos poetas

escolhidos para ilustrá-la.

Por tudo o que foi anteriormente apresentado a respeito do site

www.poesiapotiguar.com.br, é possível concluir que o referido site configura-se como uma

porta aberta para aqueles que desejam conhecer um pouco mais sobre a Poesia produzida no

Rio Grande do Norte, pois neste espaço virtual terão a oportunidade de visualizar esta Poesia

sob as mais diversas possibilidades de interação e linguagem.

Acima de tudo, o site www.poesiapotiguar.com.br se apresenta como uma

ferramenta de incentivo e pesquisa para aqueles professores que sabem da importância de

inserir a abordagem de textos poéticos em sala de aula, por compreenderem, sobretudo sua

natureza estética, inventiva.

15

Iara Maria Carvalho é uma escritora seridoense, nascida em Currais Novos-RN e ganhadora de diversos

prêmios literários: Concurso de Poesia Zila Mamede (2006 e 2007), como primeiro lugar nos dois anos e

Concurso de Poesia Luís Carlos Guimarães (2005, 2006, 2007), como 3º, 2º e 3º lugares, respectivamente, além

do Concurso Literário de Contos Newton Sampaio promovido pelo Governo do Estado do Paraná, em 2009, no

gênero Conto. Integra algumas coletâneas como Tamborete (2003) e Por cada uma (2011).

16

Wescley J. Gama é um escritor nascido nas terras seridoenses e criado em Currais Novos-RN desde pequeno.

É poeta, músico e um dos coordenadores da Associação Casarão da Cultura Potiguar (Casarão de Poesia). Como

poeta venceu o Concurso de Poesia Luís Carlos Guimarães (2007) e publicou em 2015 Com a força das folhas

que estiverem vivas. Como músico lançou em 2007 seu primeiro Álbum Chuva, estiagem, água, lampiões e em

2013 lançou o Seridolendas.

17

Seridolendas é o nome do segundo Álbum do músico e poeta Wescley J. Gama. Foi lançado em 2013 e a

maioria das canções são poemas de sua esposa, Iara Maria Carvalho, musicados.

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TRANSE

a areia clara

do seridó me move-

diça

de sereia a hortaliça

Iara Maria Carvalho

(Currais Novos-RN)

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A linguagem é sem dúvida um dos maiores e mais revolucionários artefatos de

domínio do ser humano, visto que é a partir dela que os sujeitos apreendem todo o mundo a

sua volta, expressam-se, comunicam-se, enfim, existem. Não há como conceber a existência

humana sem a presença da linguagem. É próprio do ser humano de qualquer época, de

qualquer lugar, de qualquer condição, a necessidade de comunicar-se, de falar de si, do outro

e do mundo, portanto, a necessidade aliada à capacidade de produzir linguagens pode ser

considerada a mola propulsora de toda a humanidade,

Dessa forma, como não pensar na necessidade própria do ser humano de, por meio

da linguagem, extravasar seus sonhos e inquietações, seus medos e desejos, sua história? É

movido por essa necessidade que o homem há muito tempo, quase desde sempre, se inscreve

no mundo por meio da linguagem literária, em especial a poética. Por que talvez somente esta,

carregada de toda a subjetividade que é própria da sua natureza, seja capaz de traduzir em

palavras, imagens, sons, cheiros e sabores tudo o que abarca o espírito humano. Assim,

sendo o primeiro pacto social um pacto linguístico, a literatura que daí

decorre em consequência é o espaço de construção do imaginário comum

que cimenta o grupo. Aquilo que dá sentido à tribo – e que convencionamos

chamar cultura: suma das invenções e criações pelas quais o homem se faz.

(HOLANDA, 2004, p. 216)

Pensar em literatura é pensar em um arcabouço de signos multifacetados e que

somente ao leitor cabe escolher a face que melhor se ajusta a estes signos, e isso só é

permitido porque cada leitor é único e já traz consigo sua história, suas experiências, todas

estas vivenciadas e permeadas por meio da linguagem. Portanto, “imaginar uma linguagem é

imaginar uma forma de sentir a vida. Literatura: imaginar uma forma de vida outra”.

(HOLANDA, 2004, p. 217)

Sendo assim, a literatura e todos os gêneros a ela atrelados precisam fazer parte de

forma verdadeiramente significativa do ambiente escolar. É preciso promover um contato

prazeroso e efetivo com a literatura nas escolas, desde as séries iniciais até o termino da vida

escolar desses alunos. E mesmo considerando as necessidades reais de cada estágio do

desenvolvimento dos sujeitos, as habilidades e as competências trabalhadas e exigidas de

acordo com a idade/ série destes alunos, que a escola não ignore o lúdico e o criativo quando

o objeto de estudo/ ensino trabalho for o texto literário, sobretudo o poético.

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Abordar a Poesia em sala de aula, seja esta abordagem com alunos da Educação

Infantil, seja com rapazes e moças do Ensino Médio, implica em propor um contato com a

linguagem pelo caminho da desconstrução, da reconstrução, enfim, pelo caminho do jogo,

porque é assim que a Poesia se constrói, por meio de um jogo linguístico em que palavras são

mais que palavras, são sentidos e imagens sempre plurais.

E é claro que abordar a Poesia em sala de aula considerando toda sua natureza

estética implica em alguns pontos, quase todos direcionados ao professor, mediador da

atividade. É necessário que o professor acredite no potencial linguístico e humano da Poesia –

este é o primeiro passo para uma abordagem minimamente significativa.

Também é necessário conhecer um bom número de textos, e que estes sejam

diferentes em estilo, autoria, temáticas, etc, para ampliar as possibilidades de escolha do

poema a ser trabalhado com a turma.

Um outro ponto bastante importante é a necessidade de o professor, sobretudo o de

linguagens, desvencilha-se da ideia de que tudo o que é abordado em sala de aula precisa ter

fins “educativos”, no sentido de, por exemplo, aproveitar para trabalhar questões de natureza

gramatical no poema abordado. Não há de fato razão nem necessidade para isso, visto que é

próprio da natureza da Poesia o desvio da norma. Um desvio que escamoteia a língua, mas

que ao mesmo tempo ensina, porque revela outras formas possíveis de dizer o mundo, o outro

e a si mesmo.

Mais um ponto que não poderia ficar de fora sob o risco de desconsiderar o objetivo

maior desta pesquisa, é a necessidade de o professor tentar encontrar o equilíbrio entre a

abordagem da Poesia canonizada e a Poesia desconhecida, sobretudo quando esta Poesia

menos privilegiada pelas grandes publicações e mídias se tratar de poetas da terra.

É preciso apresentar aos alunos também uma literatura produzida pelos seus, sujeitos

habitantes da mesma terra, mesmo que em tempos outros, para que ao aluno seja dada a

oportunidade de captar o cenário físico e social que o circunda por meio de uma linguagem

criativa, inventada, surreal.

Por acreditar nessa necessidade é que surgiu o site www.poesiapotiguar.com.br como

forma de abrir um espaço para divulgação dessa Poesia produzida no Rio Grande do Norte, de

forma a colaborar em especial com os professores em suas buscas e planejamentos, quando a

Poesia Potiguar é desejada como objeto de estudo/ ensino.

O site se configura como uma ferramenta bastante útil a todo aquele que gosta de

Poesia ou que pesquisa materiais dessa natureza. Apresenta uma linguagem simples, lúdica e

tem como público principal professores do Ensino Fundamental, visto que o carro-chefe do

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site são as propostas didáticas em forma de sequencia didática e oficina, todas norteadas pelo

poema de autoria Potiguar.

O site, pela própria natureza desse artefato virtual, é um ambiente acessível,

considerando que todos os que tenham interesse podem entrar e navegar à vontade. Não há

restrição de idade, por exemplo, a nenhum conteúdo exibido no site, que também se mostra

bastante democrático quando abre espaço para o leitor compartilhar ideias, conteúdos e

planejamentos de aula.

Portanto, não há por que negar a entrada e a permanência da Poesia na sala de aula.

Entretanto, é preciso ir além nas abordagens quando o objeto de estudo/ ensino é a Poesia,

pois não cabe à Poesia limitar-se a regras do bom uso da língua, ou mesmo aos

preenchimentos e adornos das festividades escolares.

Cabe à escola e, obrigatoriamente ao professor, em especial ao professor de

linguagens, um trato efetivo e verdadeiro com a Poesia na sala de aula, de modo a fazer o

aluno embrenhar-se nas linhas e entrelinhas do texto poético, assumindo com este um jogo de

sentidos, todo permeado por um uso próprio e singular da língua que a pluraliza, visto que é

este trato diferenciado com a palavra poética que faz a língua transcender aos limites da

palavra comum.

Em síntese, a Poesia Potiguar pede licença para se instalar no espaço da sala de aula,

junto a professores e alunos, instaurando e restaurando novos caminhos de compreensão de si

e do mundo pela palavra poética.

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[Citado em 2010, junho 06] Disponível em: http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/morre-

dona-militana-salustiano-a-maior-romanceira-do-brasil/151828