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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS – CCSA DEPARTAMENTO DE ECONOMIA – DEPEC CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS JOÃO PAULO MOURA DE FRANÇA TEORIAS DA DECISÃO SOB CONDIÇÕES DE INCERTEZA NATAL/RN 2015

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN CENTRO DE CIÊNCIAS … · 2016-02-29 · O presente trabalho tem como objetivo ... 2.1 A IRRACIONALIDADE COMO OBJETO DE ESTUDO

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS – CCSA

DEPARTAMENTO DE ECONOMIA – DEPEC

CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS

JOÃO PAULO MOURA DE FRANÇA

TEORIAS DA DECISÃO SOB CONDIÇÕES DE INCERTEZA

NATAL/RN

2015

JOÃO PAULO MOURA DE FRANÇA

TEORIAS DA DECISÃO SOB CONDIÇÕES DE INCERTEZA

Monografia apresentada ao Curso de Bacharelado em ciências econômicas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, em cumprimento parcial das exigências para obtenção do título de Bacharel em ciências econômicas.

Orientador: Prof. Dr. Zivanilson Teixeira e Silva.

NATAL/RN

2015

JOÃO PAULO MOURA DE FRANÇA

TEORIAS DA DECISÃO SOB CONDIÇÕES DE INCERTEZA

Monografia apresentada à Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em ciências econômicas.

Aprovado em ___________ / ___________ / ______________

BANCA EXAMINADORA

Prof.º Dr. ZIVANILSON TEIXEIRA E SILVA.

Prof.º Msc. RAIMUNDO MARCIANO DE FREITAS NETO.

Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Setorial do CCSA

França, João Paulo Moura de.

Teorias da decisão sob condições de incerteza / João Paulo Moura de França. - Natal, RN, 2015.

55 f. Orientador: Prof. Dr. Zivanilson Teixeira e Silva.

Monografia (Graduação em Economia) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Departamento de Economia. Curso de Graduação em Ciências Econômicas.

1. Economia - Monografia. 2. Economia da informação - Monografia. 3. Irracionalidade econômica – Monografia. 4. Neuroeconomia – Monografia. 5. Tomada de decisão – Monografia. I. Silva, Zivanilson Teixeira e. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.

RN/BS/CCSA CDU 330

Meus mais sinceros agradecimentos:

Ao meu Deus que, desde o meu nascimento,

me concede grandes vitórias; a minha família,

que tem me dado suporte emocional em todos

estes anos, a minha namorada que tem

compartilhado esforços para execução deste

trabalho e ao meu orientador que proporcionou

a realização deste sonho.

É necessário que Ele cresça e eu diminua.

(João 3:30)

RESUMO

Nos dias atuais, o mundo tem passado por várias transformações sociais mediante grandes mudanças tecnológicas ocorridas, principalmente, pelas tecnologias da informação. A partir do momento que um enorme fluxo de dados são gerados e transmitidos via rede óptica e satélites, chegando a milhões de pessoas, a capacidade destas em processar essas informações podem assumir dois vieses: elas se apropriam das informações, filtram e as usam em suas decisões, ou apenas descartam-nas. O presente trabalho tem como objetivo apresentar as principais teorias que respaldem a decisão dos agentes econômicos neste mundo incerto, dinâmico e em constante mudança. Para isso, usam-se subáreas das ciências econômicas: economia irracional – conceitos psicológicos na ciência econômica, economia da incerteza – teoria da utilidade esperada, economia da informação – a importância dos avanços tecnológicos comunicacionais, e neuroeconomia – o papel da emoção nas decisões; para traçar caminhos que melhor corroborem com a decisão ótima em condições de incerteza. Por fim, percebemos que a interdisciplinaridade entre as ciências (economia, psicologia e neurociências), está contribuindo para uma melhor e mais eficaz análise da tomada de decisão.

Palavras-chaves: decisão, incerteza, irracionalidade econômica, economia da informação, neuroeconomia.

ABSTRACT

Nowadays, the world has gone through several social transformations through major technological changes, mainly by information technology. From the moment that a huge flow of data are generated and transmitted via optical and satellite network, reaching millions of people, their ability to process this information may take two biases: they appropriate the information filter and use them in their decisions, or simply discard them. This study aims to present the main theories behind the decision of economic agents in this uncertain world, dynamic and constantly changing. For this, it uses subfields of economics: economics irrational - psychological concepts in economics, economics of uncertainty - theory of expected utility, the information economy - the importance of communication technological advances, and neuroeconomics - the role of emotion in decision-making; to plot ways to better corroborate with the optimal decision under conditions of uncertainty. Finally, we realized that interdisciplinary sciences (economics, psychology and neuroscience), is contributing to a better and more effective analysis of decision making.

Keywords: decision, uncertainty, economic irrationality, economics information, neuroeconomics.

LISTA DE ABREVIATUAS E/OU SIGLAS

ANPEC - Associação Nacional dos Centros de Pós-Graduação em Economia

CCA - Córtex Cingulado Anterior

CFDL - Córtex Frontal Dorsolateral

CP - Córtex Parietal

CT - Córtex Temporal

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IEA - Índice de Eficiência Acadêmica

IRMF - Ressonância Magnética Funcional

P&D - Pesquisa e Desenvolvimento

PIB - Produto Interno Bruto

PNAD - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Matriz da informação. ............................................................................................ 21 Quadro 2 - Características Fordismo X Toyotismo. ................................................................. 33

LISTA DE FIGURAS

Figure 1 - Função de utilidade avessa ao risco. ........................................................................ 27 Figure 2 - Função utilidade propensa ao risco. ......................................................................... 28 Figura3 - Distribuição dos usuários de Internet por país em 2009 (CIA). ............................... 30 Figure 4 - O processo de tomada de decisão. ........................................................................... 41 Figure 5 - A ilusão de Muller-Lyer. ......................................................................................... 43 Figure 6 - Cortex Orbitofrontal. ............................................................................................... 47 Figure 7 - Áreas cerebrais relacionadas ao risco. ..................................................................... 47 Figure 8 - Circuitos neurais para tomada de decisão. ............................................................... 50

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................9

2 ECONOMIA IRRACIONAL .......................................................................................................... 12

2.1 A IRRACIONALIDADE COMO OBJETO DE ESTUDO DAS CIÊNCIAS ECONÔMICAS 13

2.2 O USO DO EXPERIMENTO PARA IDENTIFICAR O COMPORTAMENTO IRRACIONAL ........................................................................................................................................................... 16

3 ECONOMIA DA INCERTEZA ..................................................................................................... 18

3.1 UNIVERSO CERTO E UNIVERSO INCERTO ........................................................................ 19

3.2 ORDENS DE PREFERÊNCIA ................................................................................................... 21

3.4 VALOR ESPERADO E UTILIDADE ESPERADA .................................................................. 23

4 ECONOMIA DA INFORMAÇÃO ................................................................................................. 30

4.1 A INTERNET ............................................................................................................................. 31

4.2 MODELOS DE PRODUÇÃO DO CAPITAL ............................................................................ 32

4.3 A INFORMAÇÃO COMO BEM ............................................................................................... 34

4.4 A VERACIDADE DAS INFORMAÇÕES E A COMUNICAÇÃO ENTRE ADVERSÁRIOS POTENCIAIS ................................................................................................................................... 36

4.5 O PREÇO DAS INFORMAÇÕES ............................................................................................. 38

5 A NEUROECONOMIA ................................................................................................................... 39

5.1 A TOMADA DE DECISÃO ....................................................................................................... 40

5.1.1 Percepção ............................................................................................................................. 42

5.1.2 Aprendizado ......................................................................................................................... 43

5.2 A PSICOLOGIA COMPORTAMENTAL E A TOMADA DE DECISÃO ............................... 44

5.3 A PSICOLOGIA ECONÔMICA ................................................................................................ 45

5.4 A NEUROCIÊNCIA E A TOMADA DE DECISÃO ................................................................. 46

5.4.1 Como o cérebro humano toma uma decisão: essência da neuroeconomia ........................... 46

5.4.2 A participação da emoção na tomada de decisão ................................................................. 48

5.4.3 Sistema de avaliação dos benefícios .................................................................................... 49

5.4.4 Sistema de avaliação de riscos ............................................................................................. 50

5.5 UMA BREVE VISÃO DA CRISE E A NEUROECONOMIA .................................................. 51

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................. 52

REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 54

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1 INTRODUÇÃO

Desde milhares de anos atrás o ser humano tinha, e continua tendo, pelo futuro,

uma singularidade especial. Saber, previamente, de algo que ocorrerá diante de uma situação

incerta, diante de algo impalpável, ou até mesmo inimaginável, é algo que assombra, mas ao

mesmo tempo incita a imaginação de muitos homens. Ter condições de prever o que poderá

ocorrer em um espaço de tempo posterior ao vivido é a saga que muitos almejam,

incessantemente, ter domínio. Nos tempos mais primórdios, onde não se existia tamanho

conhecimento técnico-científico a superstição e o misticismo eram as correntes que

sobressaiam na sociedade. Atribuídos a deuses, os acontecimentos futuros, em sua grande

maioria, eram lendas que poderiam trazer algum tipo de maldição para àqueles que, de

alguma forma, buscasse desvendá-las, questionando-as.

A medida que a sociedade humana foi se desenvolvendo, suas ferramentas

também evoluíram. O modo de se enxergar o mundo na qual estamos inseridos foi se

aprimorando, o ser humano desenvolveu seu raciocínio lógico (deixando em menor evidência

o lado místico) e passou a racionalizar suas ações mediante estudos empíricos e teóricos. A

partir desta revolução do pensamento – que muitos atribuem ao período do iluminismo seu

estopim – vários ramos de estudo se sobressaíram e ganharam elevados graus de importância

na sociedade. Uma destas ciências foi a economia, que teve como marco inicial a publicação

do livro An inquiry into the nature and caufes of the wealth of nations de Adam Smith

publicado no ano de 1776 que, como o próprio título já evidencia, o autor buscou agregar

informações de como é que era o processo que gerava riqueza entre as nações. Esta

publicação ganhou grande notoriedade em seu tempo e até hoje é uma obra de destaque nos

cursos de ciências econômicas mundo a fora. Este livro iniciou uma saga de busca por

conhecimento de como aplicar da melhor forma possível os recursos escassos produzidos pela

natureza e sociedade e que se perpetua até os dias atuais. Mas, se o estudo tem como objeto os

recursos escassos, isso nos propõe, por hipótese, que o foco da economia é trabalhar com algo

que, pode acabar em um tempo próximo, ou seja, algo incerto.

Nos dias atuais, principalmente nos ramos governamental e corporativo, a

obtenção de maneiras que possam, de certa forma, antecipar o futuro, que é incerto, são

importantíssimas para o planejamento da gestão e diminuição dos riscos que envolvem esta

incerteza do tempo. Muitos recursos são gastos como forma de prevenção dos riscos de um

futuro incerto e que, se calculados e interpretados de maneira eficiente, podem salvar,

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financeira e moralmente, as instituições, sejam elas públicas ou privadas, de um grande

vexame social.

Porém, com o mundo em rápidas mudanças e um dinamismo sem igual, os

padrões social, tecnológico e cultural são rapidamente alterados, gerando um grande campo

de incerteza que influencia diretamente as tomadas de decisões dos agentes econômicos. Em

virtude deste dinamismo, é muito mais complicado se criarem teorias, que em si, sejam

completas, e capazes de explicar um fato tão abstrato e imprevisível como o futuro.

No que tange a tomada de decisão e a perspectiva futura temos na economia o

estudo da teoria os jogos. Esta vertente tem como finalidade analisar estrategicamente a

interação entre agentes que tomam decisões. Esta necessidade de decidir, em sua grande

maioria, é analisada em um universo incerto, onde a condicionante “qual a decisão tomará

meu concorrente?” é presente na estratégia traçada para se chegar a uma ação racional e de

maior maximização possível. Pode-se perceber o grau de importância desta teoria para as

ciências econômicas analisando a seguinte citação:

Os agentes econômicos podem interagir estrategicamente numa variedade de formas, e várias delas têm sido estudadas utilizando-se o instrumento da teoria dos jogos. A teoria dos jogos lida com análise geral de interação de estratégica. Pode ser utilizada para estudar jogos de salão, negociações políticas e comportamento econômico. (VARIAN, 2012, p. 552).

Porém é sabido que a impossibilidade da simetria de informações limita esta

teoria, inviabilizando-a a várias circunstâncias vividas no mundo contemporâneo1. Sendo

assim, o futuro, incerto, ainda continua sendo objeto de estudo da economia que precisa do

auxílio de outras ciências para fortalecer as teorias já existentes.

Com esta problemática em mente e buscando uma melhor interpretação para o

fenômeno da incerteza e os estudos sobre decisão que as norteiam, temos como objetivo geral

neste trabalho mostrar os diferentes campos de atuação científica que, interdisciplinarmente,

tem o estudado da tomada de decisão em condições de incerteza. Tratando-se dos objetivos

específicos serão abordados os preceitos da economia irracional para tratar da incerteza dos

agentes econômicos assim como uma contextualização no que tange a incerteza abordada na

economia da informação e neuroeconomia.

1 Salienta-se que já há estudos que usam a teoria dos jogos com foco nos avanços acadêmicos sobre decisões realizados pela neuroeconomia.

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Este trabalho tem como finalidade fazer um levantamento bibliográfico do assunto

referente à incerteza e tomada de decisão com a adição de exemplos práticos que visam à

compreensão da temática, caracterizando-se uma pesquisa exploratória. Tem sua importância

fundamentada no desenvolvimento da temática nos dias atuais graças aos avanços

tecnológicos adquiridos e sua complementação às teorias econômicas já consolidadas.

O estudo no âmbito da incerteza será iniciado promovendo a discussão da

irracionalidade dos agentes econômicos através dos assuntos discutidos na temática da

economia irracional. Partindo do pressuposto que os modelos econômicos tradicionais não

englobam fatores subjetivos que norteiam o comportamento econômico humano, teóricos

comportamentais como Daniel Kahneman, Amos Tversky e Dan Ariely propuseram novas

formas de caracterizar as escolhas dos agentes levando em consideração ações irracionais,

atos não captados pela teoria econômica clássica e que vem a somar com o estudo de tomada

de decisão.

Após esta argumentação teórica trazida pela exposição da economia irracional terá

início o estudo da incerteza. Trazendo ao leitor conceitos básicos para o entendimento de

como a teoria econômica atual caracteriza o mundo incerto, buscando, através de exemplos

práticos, consolidar o conteúdo abordado por referências mundiais nesta área de pesquisa, tais

como Jean-Louis Cayatte, John Von Neumann,Oskar Morgenstern e David Just.

No próximo capítulo desta monografia abordaremos um efeito importante para o

estudo da incerteza: a informação. Objeto de estudo do que denominamos, atualmente, de

economia da informação, este novo ramo das ciências econômicas vem agregando bastante

aos estudos de tomada de decisões em um universo incerto, que tem como seus percussores

nomes como Fritz Machlup, Manuel Castells e Joseph E. Stiglitz. Possuir informações em um

cenário de tamanha incerteza, proveniente de um dinamismo sem igual da sociedade, pode ser

fator preponderante para se chegar a uma decisão mais eficiente. Com este tamanho poder, a

informação, nos dias atuais, é um bem muito valorizado e disputado por muitos agentes

econômicos. Porém, também é mostrado neste trabalho, que com tamanha facilidade e acesso

às informações, um agravante vem se mostrando preocupante para a teoria da decisão: a

informação falsa. Atualmente há mercados que objetivam a disseminação e propagação de

informações inverídicas e isso tem causado grandes transtornos econômicos.

Por fim serão explorados recentes avanços teóricos que a economia passou: a

interação com a neurociência e a psicologia, no qual é denominado neuroeconomia, sendo o

último capítulo dedicado a apresentar ao leitor o que esta nova área estuda, qual é seu objeto

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de estudo e quais contribuições ela traz para a economia. Será apresentado o modo de

promover a nova ciência através dos estudos de autoridades no assunto como Paul Glimcher,

Armando Rocha, Carlos Barracho, José E. Carvalho e Zivanilson Silva que, seus avanços

podem somar ao estudo de atuação e prevenção de crises financeiras que assolam o mundo.

2 ECONOMIA IRRACIONAL

A irracionalidade é uma condição cognitiva que traz insegurança/incerteza a raça

humana. Não ter domínio sobre seus próprios atos ou não estar “assegurado” do futuro

próximo traz certa inquietação mental ao ser humano.

No decorrer da história vários teóricos clássicos da economia2 têm buscado

racionalizar as ações econômicas do homem e organizá-las de forma sistemática. Neste

âmbito de buscar incessantemente a razão nas coisas fez o homem evoluir, criar ferramentas e

perpassar o conhecimento científico adquirido através de teorias racionais.

A economia foi uma dessas ciências. Com um poder de descrição e teorização

enorme, as ciências econômicas se consolidaram no mundo, fundamentaram políticas públicas

e recriaram novas formas de se viver, tendo como vislumbre o crescimento da riqueza das

nações e bem-estar social.

Hoje em dia, a economia conta com modelos, praticamente, irrefutáveis3;

completos em termos de razão e lógica, algo totalmente “RACIONAL”. Porém, mudanças

estruturais na sociedade e a interdisciplinaridade entre as ciências fazem com que, um novo

leque seja aberto e, o termo “racional” comece a ser questionado.

Quando tratamos de uma ciência social, no qual a economia faz parte, algumas

problemáticas são enfatizadas:

1) O objeto de estudo é o próprio ser humano e suas interações sociais;

2) O mundo atual – espaço onde as interações econômicas acontecem –

está cada vez mais:

2Não só teóricos da economia que têm se preocupado em racionalizar as ações sociais. Como exemplo podemos citar os primórdios das ciências sociais: Karl Marx, Émile Durkheim e Max Weber. 3A Lei de oferta e demanda, por exemplo, é um exemplo clássico da hegemonia de modelos econômicos racionais.

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a) Estreito: as barreiras geográficas são quase inexistentes, consequência

dos avanços tecnológicos informacionais4;

b) Dinâmico: as interações sociais ocasionam constantes mudanças

comportamentais. Essas modificações no comportamento econômico das pessoas –

ocasionado pelo forte intercâmbio proveniente desse estreitamento geográfico e

avanços tecnológicos– dinamizam a sociedade, tornando-a mais...

c) Complexa: A partir do momento que a dinamicidade se torna fator

preponderante na sociedade atual, a complexidade para se materializar

metodologicamente esse processo dinâmico é cada vez mais dispendioso e de difícil

mensuração.

Ou seja, o que queremos salientar inicialmente é que há uma enorme dificuldade,

nos dias atuais, de falarmos em “racionalidade”. O Homo economicus é uma abstração – e não

negamos aqui seu alto grau de importância para as ciências econômicas, porém para tratarmos

de temas atuais, e de suma importância, precisamos ir além; precisamos trazer outras ciências

para somar: tanto em conteúdo como em experimentação5.

2.1 A IRRACIONALIDADE COMO OBJETO DE ESTUDO DAS CIÊNCIAS

ECONÔMICAS

Grandes nomes da economia mundial retratam essa preocupação. Estes não

medem esforços para tentar estreitar os laços e preencher lacunas visando uma evolução na

ciência e um melhor entendimento da problemática: a “irracionalidade” dos agentes

econômicos.

O Nobel em economia no ano de 2002, Daniel Kahneman, foi um destes cientistas

que questionaram os modelos de racionalidade econômica e, com base na psicologia,

adicionou aos estudos a subjetividade e o juízo humano em condições de incerteza na tomada

de decisões. Como psicólogo, Kahneman retrata dois sistemas de pensamento, um rápido e

outro devagar6, denominados Sistema 1 e Sistema 2.

Estes sistemas são definidos da seguinte forma:

4 Este conteúdo será debatido mais abertamente no tópico 4 deste trabalho, no qual se trata da economia da informação. 5 Outras ciências tais como a psicologia e a neurociências agregaram bastante valor aos estudos das ciências econômicas. Conhecida como uma ciência racionalista, a economia ganhou maior robustez ao usar métodos de experimentação e observação para fundamentar suas teorias. 6Título de um dos seus Best Sellers - Rápido e devagar: duas formas de pensar.

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• O Sistema 1 opera automática e rapidamente, com pouco ou nenhum esforço e nenhuma percepção de controle voluntário. • O Sistema 2 aloca a atenção às atividades mentais laboriosas que o requisitam, incluindo cálculos complexos. As operações do Sistema 2 são muitas vezes associadas com a experiência subjetiva de atividade, escolha e concentração. (KAHNEMAN, 2012, p. 29).

Daniel Kahneman evidencia em seus estudos que, no momento da tomada de

decisão, opera em nossas mentes dois tipos de sistemas: um rápido, que é instantâneo, e não

carece de esforço mental para transmitir a resposta do estímulo e outro devagar que, ao

contrário do anterior, requer uma atenção maior, cálculos mentais mais complexos e

processamento de informações disponíveis.

Um quesito preponderante na definição destes dois sistemas é que ambos, em sua

essência, refletem comportamentos irracionais. No Sistema 1 não há racionalidade no

processo de estímulo-resposta, a decisão tomada por este sistema é espontânea, minimizadora

de esforços, estritamente baseada em experiências passados que foram condicionadas como

“as melhores decisões”. O Sistema 2 tem uma robustez mais acentuada, um maior esforço

mental utilizado e o uso do [provável] critério racional. Porém, na definição acima há uma

palavra que “salta aos nossos olhos” nos chamando a atenção: “subjetiva” que, quando

substantivada origina a palavra subjetividade, cuja semântica nos traz sentido de imprecisão,

incerteza.

A incerteza – que será o conteúdo explorado no capítulo seguinte – será um ramo

de estudo da economia que enveredará por outros caminhos – outras ciências– abarcando o

fator subjetivo das decisões. No estudo tradicional das ciências econômicas o mundo incerto

é, muitas vezes, negligenciado com o intuito de trazer simplificação da realidade e criar

modelos que expliquem o fenômeno econômico.

Termos como simetria de informações, equilíbrio geral de mercado, maximização

de lucros são todos utilizados, levando em conta, conceitos objetivos, calculáveis e

racionalistas. Porém, olhando as ações sociais correntes no mundo atual, evidencia-se

claramente a inexistência de alguns termos destes termos citados acima.

O trecho abaixo mostra, em síntese, a economia mainstream identificada pelos

autores Lea et. al. apud Ferreira, que identifica a simetria de informação dos modelos

econômicos:

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Em sua cerne, a teoria da racionalidade [...] postula que as pessoas usam informações disponíveis e relevantes para prever o valor futuro provável de variáveis econômica e não cometem erros sistemáticos ao fazer essas previsões. Mesmo se cometerem erros, aprenderão a partir deles, de maneira que os erros previsíveis serão eliminados. Não se apoiando apenas nas experiências passadas, mas recorrendo também a informações atuais, usam-nas de modo ótimo, ainda que não possam alcançar toda a informação possível, pois esta é, muitas vezes, cara ou indisponível, ou tampouco a analisem em profundidade, mas gradualmente aprendem a antecipar as mudanças das políticas macroeconômicas e modificam seu comportamento em decorrência disso. (2007, p. 9-10).

O fragmento acima evidencia que as pessoas – ou agentes econômicos – prevêem

variáveis econômicas sem cometerem erros. Esta colocação é advinda das informações

disponíveis que, por hipótese, é simétrica, ou seja, está disponível em sua completude. Mesmo

que em alguma situação ocorra o erro, os agentes aprendem com os mesmos, até que estes

erros sejam previsíveis e incorporados como informação para respaldar a tomada de decisão.

Assim, volta-se a teoria da simetria de informações como válida e preponderante na teoria

econômica.

Porém, mesmo que este ciclo fosse válido e evidenciado, sempre existirão

informações não processadas pelos agentes; seja por indisponibilidade, pelo seu alto valor

monetário e até mesmo pela limitação cognitiva das pessoas.

O modelo de equilíbrio geral, já citado por Adam Smith e baseado nos estudos de

Walras, são hegemônicos na teoria econômica no que diz respeito ao mercado de

concorrência perfeita. O fragmento de texto abaixo define simploriamente a teoria:

No ponto em que as duas curvas se cruzem [curva de oferta e demanda], dizemos que foram atingidos a quantidade e o preço de equilíbrio ou balanceamento do mercado. Nesse preço, a quantidade ofertada e a quantidade demandada são exatamente iguais. (PINDYCK; RUBINFELD, 2010, p.23).

Com base na citação acima se pode observar que o equilíbrio geral é o momento

em que as curvas de oferta e demanda se cruzam, formulando na economia um preço e

quantidade ótimos. Empiricamente, por meio de coletas de dados, não se há afirmação de que

haja um equilíbrio nos mercados, portanto, esta forma de racionalizar os mercados se traduz

estritamente teórica.

16

Outro exemplo da presença da racionalidade nos modelos econômicos que se

mostram simplificadores para que haja um melhor entendimento do processo é o da

maximização.

[...] os indivíduos são vistos, pela economia tradicional, como maximizadores de utilidade, sempre buscando o maior retorno possível para seus esforços, mesmo que isso signifique, por exemplo, comportamentos egoístas, individualistas e pouco solidários. (FERREIRA, 2007, p.10).

Quando simplifica as ações dos agentes econômicos em apenas maximização da

utilidade deixamos de levar em consideração muitos critérios subjetivos que respaldam o

comportamento humano. Um desses fatores, que será tratado no tópico 5, é a emoção; muito

de nossas decisões econômica são balizadas pelo estado emocional do indivíduo, onde o

mesmo toma decisões irracionais, atos que não maximizam sua utilidade e que não são

explicados por uma curva de indiferença.

2.2 O USO DO EXPERIMENTO PARA IDENTIFICAR O COMPORTAMENTO

IRRACIONAL

Para ilustrar, de modo experimental, a irracionalidade nas decisões econômicas

recorreremos ao experimento realizado por Dan Ariely. Primeiramente, o economista

comportamental propôs replicar a ideia dos psicólogos Robert Yerkes e John Dodson no teste

realizado com ratos de laboratório. O intuito do estudo era verificar se os ratos aprendiam

com maior facilidade o caminho de um labirinto proposto pelos cientistas mediante estímulos

(choques elétricos) em diferentes intensidades7.

Pela lógica, quanto menor fosse o estímulo (choques mais leves), mais demorado

iria ser o aprendizado dos ratos em percorrerem o caminho proposto do labirinto. Ou seja,

quando submetido a choques de baixa intensidade ao momento em que errava o caminho

correto, o ratinho demoraria “n” segundos, se o mesmo fosse submetido a choques de média

intensidade demoraria “n-x” segundos e se os choques fossem de alta intensidade demoraria

“n-x-z”, onde o tempo de aprendizado da trajetória do caminho do labirinto seria:

������ � ��� � ����.

7 Os choques elétricos foram divididos em três intensidades diferentes: a leve, a média e a alta intensidade.

17

Onde:

• ������ = tempo gasto pelo rato para aprender o percurso do labirinto

sendo submetido a choques de baixa intensidade quando errava o caminho;

• ��é�� = tempo gasto pelo rato para aprender o percurso do labirinto

sendo submetido a choques de média intensidade quando errava o caminho e;

• ���� = tempo gasto pelo rato para aprender o percurso do labirinto

sendo submetido a choques de alta intensidade quando errava o caminho.

Porém os resultados não foram esses. Contrariamente ao que se esperava, os ratos

submetidos a choques elétricos de alta intensidade demoraram mais tempo para aprender o

caminho correto do labirinto que os demais. O estímulo de maior intensidade não foi capaz de

motivar os ratinhos a aprenderem mais rapidamente o caminho, mas ao contrário, fizeram

com que eles ficassem mais dispersos, quem sabe até mais desmotivados.

Vejamos o fragmento de texto abaixo:

O experimento de Yerkes e Dodson leva-nos a refletir sobre a verdadeira

relação entre remuneração, motivação e desempenho no mercado do

trabalho. Afinal, o experimento deles mostrou com nitidez que os incentivos

podem ser uma faca de dois gumes. Até certo ponto, eles motivam o

aprendizado rápido e o desempenho eficaz. Porém, além desse ponto, as

pressões motivacionais podem ser tão altas que, na realidade, dispersam o

foco do indivíduo na execução da tarefa – resultado indesejável em

quaisquer circunstâncias. (ARIELY, 2010, p.17).

Evidentemente, não se poderia chegar a conclusões parecidas para seres humanos,

nem tampouco comparar o estímulo de levar choque com o de ganhar dinheiro. Contudo, isto

despertou uma grande curiosidade e a ideia de replicar um experimento ganhou força. Ariely e

sua equipe, então, prepararam a adaptação deste experimento em ratos para seres humanos e,

ao invés dos choques, os participantes receberiam dinheiro conforme o grau de eficiência que

executassem as tarefas propostas. De forma semelhante, haveria três níveis de estímulos: 1 –

baixa intensidade: valor equivalente a um dia de trabalho, 2 – média intensidade: valor

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equivalente a duas semanas de trabalho e 3 – alta intensidade: valor equivalente a cinco meses

de trabalho.

Os resultados deste experimento estão descritos no texto abaixo:

[...] recorrer a dinheiro para motivar pessoas pode ser uma faca de dois gumes. No caso de tarefas que exigem habilidades cognitivas, incentivos baixos as médias com base no desempenho podem ajudar. Mas quando o nível do incentivo é muito alto, o prêmio às vezes absorve excesso de atenção, dispersando a mente em relação à tarefa com pensamentos referentes à recompensa. Essa situação pode gerar estresse e, em última instância, comprometer o nível de desempenho. (ARIELY, 2010, p. 31).

Diferentemente como a lógica racional econômica apregoa que o agente

econômico deve maximizar sua utilidade/bem-estar, o experimento realizado por Ariely e sua

equipe mostra que condicionantes subjetivos e psicológicos possuem um alto grau de

persuasão na hora da decisão, indo em caminho contrário aos pressupostos racionais

econômicos.

A partir do momento em que se começa a enxergar comportamentos irracionais

que definem nossas decisões econômicas, o mundo em que vivemos começa a ser um pouco

mais desconhecido e incerto. Por este motivo que o estudo das ciências econômicas precisa

continuar se renovando e trazendo novas problemáticas para debate.

3 ECONOMIA DA INCERTEZA

Em várias ocasiões de nossas vidas passamos por momentos de incerteza. O

desconhecimento de algumas informações – e sempre haverá este desconhecimento - nos

limita, tanto técnica quanto psicologicamente, a tomar a decisão mais precisa possível.

Mesmo que o tomador de decisão gaste uma grande quantidade de tempo, energia

e recursos viabilizando reunir as mais variadas e confiáveis informações, o “conhecimento

pleno” da situação é inalcançável, a existência da assimetria informacional sempre ocorrerá.

Continuamente o agente econômico precisará tomar suas decisões com um conhecimento

incompleto das possíveis alternativas que visam a deliberação que maximizará a satisfação do

mesmo.

Nós tentamos incessantemente minimizar, ou até mesmo, eliminar os riscos. Esse

processo é maximizado quando buscamos uma maior diversificação, aquisição de uma

19

seguridade ou investimentos em informações adicionais que nos possibilite tomar decisões

mais racionais.

3.1 UNIVERSO CERTO E UNIVERSO INCERTO

Para dar início a temática da economia da incerteza será preciso destacar algumas

definições fundamentais com o intuito de trazer um melhor entendimento das principais

teorias que regem esta área.

Ao se buscar soluções para os problemas econômicos, o ser humano precisa tomar

uma decisão. Porém, esta decisão, para ser realizada, terá de ser colocada em prática através

de uma ação. O ato de agir mediante a um problema trará consequências correlacionadas

com a decisão tomada, ou seja, com a ação realizada após o pensamento. Esta “ação” - antes

de ser posta em prática - muito provavelmente, não foi única; assim como também, a

“consequência” existente, mediante a ação realizada, não será uma só. Para uma melhor

visualização e entendimento imaginemos a seguinte história: João é um aluno do curso de

ciências econômicas, ele está no último período da graduação e começa a planejar como será

sua vida pós o término do curso, quando será certificado como economista. Ao deitar em sua

cama, João começa a idealizar as opções que o cercam e podem orientá-lo quanto a trajetória

que o mesmo seguirá no ano subsequente. Advindo de uma Universidade que estima o

alunado a seguir carreira acadêmica, a primeira opção do futuro economista é ingressar em

um curso de pós-graduação, ou seja, em um mestrado acadêmico. Para que esta alternativa se

concretize é necessário que João se submeta a uma prova denominada ANPEC – Associação

Nacional dos Centros de Pós-Graduação em Economia – que, se aprovado, o dará o direito de

ingressar no curso desejado. Mas, se nosso aluno não for aprovado na prova seletiva, o

mesmo irá trabalhar com seus pais no comércio que a família tem.

A partir desta pequena história temos condições de denominar as definições acima

de forma mais pedagógica. João, em sua jornada acadêmica, tem duas ações para tomar em

seu universo:

20

1. Fazer a prova da ANPEC – que terá como consequências:

a. ser aprovado e cursar o mestrado;

b. não ser aprovado e trabalhar com os pais.

2. Não fazer a prova da ANPEC – que terá como consequência:

a. Trabalhar junto com seus pais.

Com esta simples ilustração podemos definir o que é um universo certo e um

universo incerto, para tal usaremos a definição apresentada Cayatte (2004, p. 22):

• Quando as ações possíveis para um decisor têm cada uma delas uma única consequência possível, dizemos que o decisor toma a decisão num universo certo. Então, as suas preferências sobre as ações e as suas preferências sobre as consequências são confundidas.

• Quando, no momento de decisão, pelo menos uma das ações possíveis tem mais de uma consequência possível, dizemos que o decisor toma a sua decisão num universo incerto. Então, é preciso distinguir as suas preferências sobre as consequências e as suas preferências sobre as ações.

Através deste significado dos universos apresentado por Cayatte conseguimos

identificar que João tinha duas ações: a de fazer ou não fazer a prova da ANPEC. Se tomasse

a decisão de executar a ação de fazer a prova, a mesma traria duas consequências: ser

aprovado e iniciar a pós-graduação ou não. Percebemos que nesta situação estamos lidando

com o universo incerto, pois a ação de fazer a prova implicará duas consequências possíveis,

como definido acima. Em contrapartida, se João decidir não fazer a prova da ANPEC

estaremos lidando com um universo certo, pois esta ação só terá uma consequência – a de ir

trabalhar com os pais – o que a descrimina como um universo certo. Há de se salientar que o

universo certo é uma abstração proposta por negligenciar a incerteza, ou seja, João deixa de

lado várias outras consequências que poderiam estar atreladas a ação de não fazer a prova do

mestrado, tal como concorrer a uma vaga de trainee de uma empresa. Nesta situação

hipotética, esta opção foi negligenciada por João fazendo com que o ato de não participar do

exame seletivo resultasse em apenas uma única consequência, caracterizando assim, um

universo certo.

Partindo do pressuposto que o nosso foco é economia da incerteza, o universo que

vamos nos debruçar será o incerto, pois trata do nosso objetivo principal que é a tomada de

decisão em condições de incerteza.

21

3.2 ORDENS DE PREFERÊNCIA

No momento em que precisamos tomar uma decisão em um universo incerto, não

somos indiferentes quanto às consequências, ou seja, tem-se a tendência de preferir uma

consequência em detrimento de outra. No exemplo acima, o aluno João tinha duas

consequências mediante a ação de fazer a prova da ANPEC, uma era fazer o mestrado e a

outra era trabalhar com os pais. Para tais consequências ocorrerem é necessário que João seja

aprovado no exame, esta particularidade será denominada de estado da natureza8, que é o

“acontecimento que determina a consequência que tem uma ação.” (CAYATTE, 2004, p. 24).

Para ilustrar melhor, abaixo está a matriz de informação da nossa história:

Quadro 1 - Matriz da informação.

Estado da Natureza

Ser aprovado Não ser aprovado

Ações

possíveis

Fazer a prova (α) Ingressar no mestrado (A) Trabalhar com os pais (B)

Não fazer a prova (β) Trabalhar com os pais (ação excludente) (C)

Fonte: Elaboração própria.

Se entrevistarmos João, com certeza ele irá identificar suas preferências em

relação as ações e as consequências das ações. Se supusermos que a preferência de João

quanto as ações seja α >β e no que diz respeito as consequências seja A > C > B9 notamos que

o seu desejo é de ingressar no mestrado. Mas digamos que não é possível fazer esta entrevista

com João, ou que o mesmo não consegue mensurar suas preferências, como será possível

identificar qual a melhor decisão tomada pelo nosso personagem? Como poderíamos

mensurar uma decisão baseada em critérios que venham maximizar, matematicamente, a

satisfação de João?

8 Esta expressão também pode ser denominada de “estado do mundo”. 9 Como evidenciado na matriz de informação – Quadro 1 – α = fazer a prova, β = não fazer a prova, A = ingressar no mestrado, B = trabalhar com os pais, tendo sido negativo seu exame e C = trabalhar com os pais sem ter feito a prova.

22

Inicialmente iremos acrescentar em nossa história dois tipos de considerações: a

probabilidade e a atitude em relação ao risco. Com estes dois novos conceitos se pode

indagar: qual será a probabilidade do estado da natureza “ser aprovado” ocorrer? E do “não

ser aprovado”? Qual seria uma alternativa viável a ser escolhida?As respostas para essas

perguntas serão essenciais para podermos analisar a preferência de João pelas consequências

e, posteriormente, pelas ações.

Para responder as duas primeiras perguntas usaremos dois tipos de probabilidades:

a objetiva e a subjetiva. A primeira é elaborada mediante informações existentes no universo.

Por exemplo, João verificou que nos últimos cinco anos a concorrência para o mestrado na

Instituição de ensino escolhida por ele variava em torno da média de sete candidatos para uma

vaga. Considerando esta informação podemos determinar a probabilidade do estado da

natureza “ser aprovado” de 14% e de “não ser aprovado” de 86%10. Já a segunda –

probabilidade subjetiva - é diferenciada por cada agente. Vejamos a diferenciação dada por

Pindyck e Rubinfeld (2010):

A probabilidade subjetiva baseia-se na percepção de que determinado resultado poderá vir a ocorrer. Essa percepção pode estar embasada no julgamento ou na experiência de uma pessoa, mas não necessariamente na frequência com a qual determinado resultado tenha realmente ocorrido no passado. Quando as probabilidades são determinadas de modo subjetivo, diferentes pessoas podem atribuir diferentes probabilidades a diferentes resultados, fazendo, portanto, escolhas distintas.

No nosso exemplo, ao analisarmos o histórico escolar de João foi constatado que

o seu IEA – Índice de Eficiência Acadêmica é alto em relação aos seus colegas de curso

mostrando que ele é um dedicado aluno e que obtém boas notas. Levando em consideração

esta informação podemos atribuir outra probabilidade, a subjetiva, para a ocorrência do estado

da natureza “ser aprovado”. Por exemplo, a partir desta perspectiva, pode-se atribuir uma

probabilidade de 60% para a possibilidade da aprovação de João no exame da ANPEC e 40%

para a não aprovação do mesmo no exame.

É perceptível que, dependendo do tipo de probabilidade do estado da natureza (ser

ou não aprovado) que escolhermos, a preferência pela ação (fazer ou não a prova) será

modificada; ou seja, se considerarmos a probabilidade objetiva do estado da natureza, a

10 Na verdade, as probabilidades destacadas são, aproximadamente, 14,29% e 85,71%, porém para uma melhor visualização do problema foram arredondados estes valores para números inteiros.

23

preferência quanto as ações será β > α, porém se considerarmos a probabilidade subjetiva

teremos como preferência das ações o inverso, ou seja α > β.

3.3 RISCO E INCERTEZA

No estudo sobre a incerteza há uma discussão no que se refere a diferenciação de

risco e incerteza. Esta problematização vem desde os primórdios dos estudos que tem o futuro

incerto como objeto de estudo. Podemos atribuir o início desta discussão acadêmica à obra de

Franck Knight denominada Risk, Uncertainty and Profit de 1921, onde o mesmo, não tão

claramente, atribui a denominação risco para se referir a probabilidades objetivas e incerteza

para se referir a probabilidade subjetivas. Uma melhor explanação pode ser lida a partir do

texto de Cayatte (2004, p. 29):

Esta distinção remonta ao economista americano Franck Knight que a propôs em 1921 na sua obra Risk, Uncertainty and Profit. [...] Knight interessava-se pela relação entre o lucro e a incerteza. Considerava que não era o risco calculável (o que se pode traduzir por uma distribuição de probabilidade) que estava na origem do lucro. A empresa pode livrar-se deste risco, dizia ele, pagando um prémio de seguro que se analisa como custo. Em contrapartida, o lucro remuneraria o risco não calculável, e portanto não assegurável, a que Knight chama a incerteza. Na realidade, o pensamento de Knight não é tão claro quanto poderíamos desejar. O risco, para ele, parece referir-se a probabilidades objetivas, ou seja, a frequências relativas.

Ainda de acordo com o fragmento a cima, Cayatte identifica que esta definição

não é um tanto clara nem objetiva11. Sendo assim, neste trabalho iremos tratar risco e

incerteza como sinônimos, porém será empregado mais a palavra incerteza, pois risco tem

uma conotação mais ambígua, sua etimologia é controversa e, com o passar do tempo, seu

significado tem absorvido conotações diferentes (dependendo da língua) 12.

3.4 VALOR ESPERADO E UTILIDADE ESPERADA

Para se responder a terceira pergunta – qual seria uma boa alternativa a ser tomada

– teremos que introduzir a definição de Valor Esperado, na qual é caracterizado como “uma 11 Uma referência bem interessante e aprofundada no que diz respeito a risco e incerteza está na obra The

Analytics of Uncertainty and Information de Hirshleifer e Riley. 12 Ver Cayatte p. 30 a respeito da conotação do termo “risco”.

24

média ponderada de todos os seus possíveis resultados, em que os pesos são as respectivas

probabilidades. ”(FRANK, 2013, p. 180). Somando a esta definição, temos as palavras de

David R. Just “Rational models of decision under risk depend heavily on the assumption that

people understand the potential outcomes of any risky choice and the probability of each of

those outcomes.”Para se calcular o Valor Esperado é necessário monetizar as possíveis

decisões que podem ser colocadas em prática por nosso concluinte do curso de economia.

Para João fazer a prova da ANPEC ele precisa se deslocar a uma cidade diferente

da sua e desembolsará R$ 100,00 para a realização desta viagem. Seu orçamento naquele mês

é de R$ 500,00, porém sua mãe, como forma de incentivá-lo, disse que se fosse aprovado no

exame, ela cobriria seus gastos com a viagem e ainda lhe daria R$ 100,00 como prêmio. Se

caso ele optar por não fazer a prova, João continuará com os seus R$ 500,00. Considerando

essas informações teremos os seguintes valores esperados:

� � � �0,14� �$ 600 � �0,86��$ 400 � �$ 428,00

� � � �0,6��$ 600 � �0,4��$ 400 � �$ 520,00

� � � �1��$ 500 � �$ 500,00

Onde:

� �: valor esperado de fazer a prova dada probabilidade objetiva;

� �: valor esperado de fazer a prova dada probabilidade subjetiva;

� �: valor esperado por não fazer a prova.

Quando usamos o cálculo do valor esperado como medida de mensuração,

percebe-se que o resultado se trata de uma função linear crescente, ou seja, quanto maior for a

riqueza total, maior será a satisfação do agente13. Esta mensuração não é de toda correta,

tendo em vista que, em certas situações, mesmo que haja um crescimento da riqueza total, a

preferência do consumidor pode não crescer em mesma escala ou, em alguns casos, o

13 Esta função pode ser percebida no estudo de utilidade quando dizemos que o agente é indiferente ao risco, porém o avanço na teoria fica a cargo das contribuições elaboradas por diferenciar um agente propenso ou avesso ao risco.

25

aumento da riqueza pode até diminuir o grau de satisfação do consumidor por algum bem ou

serviço14.

Tendo esta problemática em vista, o matemático John Von Neumann e o

economista Oskar Morgenstern apresentaram um modelo de escolha entre alternativas em

condições de incerteza, denominado modelo de utilidade esperada, que, em resumo, tem:

Sua premissa central é a de que as pessoas escolhem a alternativa que possui a maior utilidade esperada e sua teoria da maximização da utilidade esperada supõe a existência de uma função utilidade que atribui um valor numérico à satisfação associada a diferentes resultados. A utilidade esperada

de um jogo é o valor esperado da utilidade de todos os possíveis resultados. (FRANK, 2013, p. 180).

A função de utilidade de Von Neumann-Morgenstern pode ser descrita da

seguinte forma:

!"�#$15 % &16�, ��#$ % &�, '�, '�( � '�)�#$ % &� � '�)�#$ � &�

Onde:

• '� = probabilidade de ocorrência da opção 1;

• '� = probabilidade de ocorrência da opção 2;

• )�#$ % &� = função utilidade da opção 1;

• ) �#$ � &� = função utilidade da opção 2

Definida a teoria da utilidade esperada de Von Neumann-Morgenstern voltemos

ao nosso exemplo do jovem João. Ele está em um jogo onde precisa tomar a decisão de fazer,

ou não, a prova da ANPEC. Notemos que a opção cujo valor esperado é mais alto (R$ 520,00)

é a decisão de João fazer a prova da ANPEC dada probabilidade subjetiva. Porém, a opção de

maior grau de certeza é a terceira (� �), pois a probabilidade é igual a um17. É neste momento

que precisamos chamar a atenção para a segunda condição mencionada acima: a atitude em

14 O exemplo clássico para este tipo de observação são os bens substitutos. O aumento da renda/riqueza diminui a preferência do consumidor por este bem considerado inferior, fazendo com que sua demanda caia. 15#$ é o valor da riqueza inicial do agente econômico. 16

B é o valor monetário que se perde/ganha com determinada estado da natureza. 17 Para reforçar, esta ação tem apenas uma consequência possível, portanto estamos lidando com uma situação certa, ou seja, probabilidade igual a um.

26

relação ao risco, para tentarmos evidenciar a alternativa mais viável para nosso

personagem18.

Vamos supor que João tenha se assustado com a concorrência do exame e está

receoso em fazer a prova. Percebe-se que ele está evitando o risco, ou seja, como é descrito na

literatura, dizemos que nosso estudante é avesso ao risco. Sendo assim, dado a probabilidade

objetiva temos as seguintes opções:

1. Ter uma riqueza de R$ 500,00 e não ir fazer a prova e,

2. Ir fazer a prova com probabilidade de 14% de ser aprovado e ter uma

riqueza de R$ 600,00 e 86% de não ser aprovado e ter uma riqueza de R$ R$ 400,00.

Se João decidir não ir fazer a prova sua utilidade esperada será descrita da

seguinte forma:

� � �1� !��$ 500 * 0�

� � 1 !�500�

Em contrapartida, se o estudante decidir em fazer a prova da ANPEC haverá o

seguinte resultado para a utilidade esperada:

� � �0,86�!��$ 500 % 100� � �0,14� !��$ 500 � 100�

� � 0,86 !�400� � 0,14 !�600�

Sendo João avesso ao risco, conclui-se que a utilidade da riqueza esperada é maior

do que a utilidade esperada da riqueza.

! �500� � 0,86 !�400� � 0,14 !�600�

Nesta proposição se verifica que a curva de utilidade da riqueza de João é côncava

e que o intercepto que representa a utilidade esperada da segunda opção (fazer a prova) está

18 A partir deste momento iremos considerar a probabilidade objetiva, porém a probabilidade subjetiva será usada mais à frente.

27

abaixo da curva (ponto vermelho), o que nos diz que para ele, é preferível ter a riqueza

esperada a apostar no universo incerto como mostrado na figura 1.

Figure 1 - Função de utilidade avessa ao risco.

Se considerarmos que, mesmo com a probabilidade considerada baixa, João está

confiante, que tenha estudado e que a aprovação é algo plausível, então podemos concluir que

ele é propenso ao risco, ou amante do mesmo. Porém, diferentemente do exemplo acima, a

curva de utilidade que definirá suas preferências, agora, será convexa e o ponto que representa

a utilidade esperada da segunda opção (ponto azul) está acima desta curva, como é observado

no gráfico 2; concluindo-se que a utilidade esperada da riqueza é maior que a utilidade d

riqueza esperada.

0,86 !�400� � 0,14 !�600� � ! �500�

u (riqueza)

Riqueza

Utilidade

600 400 500

u(400)

u(500)

u(600)

0,86u(400) + 0,14u(600)

28

Figure 2 - Função utilidade propensa ao risco.

Observando estes dois gráficos, se percebe que, embora a expressão que mensure

a utilidade esperada de João seja a mesma - 0,86 u(400) + 0,14 u(600) - dependendo da

atitude que ele tenha em relação ao risco, os valores da utilidade em relação a uma riqueza de

400 e de 600 são diferentes. Se João é avesso ao risco sua função utilidade u(400) e u(600)

são menores que sua função utilidade u(400) e u(600) quando ele é propenso ao risco, ou seja,

o grau de “utilidade/felicidade” de João é menor caso ele pondere um maior peso para a perca

do que para o ganho19.

No mundo incerto no qual está inserido João, a partir do conhecimento da

probabilidade (14% de chance de aprovação no exame) e da atitude do personagem em

relação ao risco (ele é avesso ao risco), é preferível que nosso personagem não realize a prova

da ANPEC. Esta conclusão é chegada pelo cálculo das utilidades esperadas das duas situações

descritos abaixo:

� � 0,86 !�400� � 0,14 !�600�

� � 0,86 . 400 � 0,14 . 600

� � 344 � 84

� � 428

� � 1 !�500�

� � 1 . 500

� � 500

19 Iremos abordar um pouco mais desta ponderação de maior peso que o ser humano faz para a perca do que para o ganho no capítulo sobre neuroeconomia.

Utilidade

u (riqueza)

Riqueza 600 400 500

u(400)

u(500)

u(600)

0,86u(400) + 0,14u(600)

29

Sendo a utilidade de João dada pela função !�#$� � #$ 20, a utilidade esperada

de fazer a prova da ANPEC é menor que a utilidade esperada de não ir fazer a prova, ou seja,

� � �. Portanto, João terá maior utilidade/felicidade, mediante o mundo incerto, se ele

conservar seu dinheiro e não ir fazer a prova, pois será muito mais doloroso para ele perder os

R$ 100,00, caso ele não passe; do que ganhar R$ 100,00 - caso passe - mediante o mundo

incerto em que vive. Por isso, é preferível para João conservar sua riqueza inicial e não ir

fazer o exame.

Porém, é importante frisar, que há uma alternativa que possibilita a mudança desta

escolha baseada na utilidade esperada: a informação. Quando um agente econômico obtém

informações sobre a ocorrência de um estado da natureza que possa mudar a probabilidade do

evento, toda a sua curva de utilidade esperada é modificada, assim como, também, sua

escolha poderá ser alterada. Com esta vertente em vista, as ciências econômicas têm se

preocupado em estudar a informação e seu impacto na economia, seja ele em nível

macroeconômico ou microeconômico.

Para determinar o grau de importância que a informação tem para a economia é

importante frisar as palavras de Cayatte:

Quando uma pessoa tem de tomar uma decisão num universo incerto, é ainda necessário distinguir dois casos.

• Ou a pessoa que deve tomar a sua decisão deve fazê-lo imediatamente, com base, portanto, na informação imperfeita de que dispões.

• Ou deve deixar o tempo melhorar a sua informação, antes de toma a sua decisão.

Chamamos de economia da incerteza à parte da ciência económica que trata do primeiro caso e economia da informação à que trata do segundo, ou seja, do montante de recursos que um agente dedica à melhoria da sua informação. (CAYATTE, 2004, p. 23).

Mediante a informação prescrita neste fragmento de texto, destaca-se a

importância do estudo da economia da informação como respaldo à economia da incerteza

para a tomada de decisões.

20#$ é o valor da riqueza inicial do agente econômico, como descrito na fórmula do modelo de utilidade esperada de Von Neumann-Morgenstern.

30

4 ECONOMIA DA INFORMAÇÃO

Nos dias atuais metade da população brasileira possui computador com acesso à

internet em seus lares, informação divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística – IBGE - em 2014 referente a PNAD (Pesquisa Nacional de Amostra de

Domicílios) realizada em 2013. Esse número é ainda maior se considerarmos dois fatores: há

usuários conectados à rede através de Smartphones, Tabletes e a existência de um período de

dois anos de defasagem da pesquisa; o que nos força a pensar que esse número, muito

provavelmente, tenha aumentado.

Esta não é, apenas, uma tendência brasileira, mas sim mundial. A União

Internacional de Telecomunicações – ITU divulgou em seu relatório anual que o ano de 2014

houve um crescimento de 6,6% do número de pessoas conectadas à rede no mundo, e que este

aumento se deu, principalmente, pelo grande impulso ocasionado nos países em

desenvolvimento21. Estes dados se sobressaem, principalmente quando visualizamos a

distribuição de acesso à internet no mundo conforme mostrado na figura abaixo:

Figura3 - Distribuição dos usuários de Internet por país em 2009 (CIA).

Fonte: Central Intelligence Agency apud Wikipédia.

É notório neste mapa, que as regiões com colorações mais avermelhadas são os

países mais desenvolvidos e de sistema de produção capitalista avançado. Este fato é

21 Os países em desenvolvimento, nos últimos cinco anos, tiveram seu percentual de pessoas conectadas à internet duplicado.

31

importante, pois a informação22 deixou de ser algo puramente comunicacional para se

transformar em um dos objetos de estudo da economia; sendo uma mercadoria, um bem de

produção.

Um dos primeiros economistas a dar importância a esta problemática foi o austro-

americano Fritz Machlup. Tendo como objeto de pesquisa o conhecimento e suas implicações

econômicas, Machlup revolucionou o pensamento econômico de sua época com a publicação,

em 1962, de seu trabalho The Production and Distribution of Knowledge in the United States.

Fritz identificou uma nova categoria econômica de riqueza no PIB americano, que a nomeou

de indústria do conhecimento. Embora apresentasse uma significativa parcela no Produto

Interno Bruto dos Estados Unidos da América, a produção do conhecimento não tinha a

atenção necessária pelos estudiosos da economia norte americana, porém uma variável desta

importância é fundamental para a manutenção do modo de produção capitalista pelo mundo,

por isso denominada como “nova economia”.

Uma nova economia surgiu em escala global no último quartel do século XX. Chamo-a de informacional, global e em rede para identificar suas características fundamentais e diferenciadas e enfatizar sua interligação. É informacional porque a produtividade e a competitividade de unidades ou agentes nessa economia (sejam empresas, regiões ou nações) dependem basicamente de sua capacidade de gerar, processar e aplicar de forma eficiente a informação baseada em conhecimentos. É global porque as principais atividades produtivas, o consumo e a circulação, assim como seus componentes (capital, trabalho, matéria-prima, administração, informação, tecnologia e mercados) estão organizados em escala global, diretamente ou mediante uma rede de conexões entre agentes econômicos. É rede porque, nas novas condições históricas, a produtividade é gerada, e a concorrência é feita em uma rede global de interação entre redes empresariais. Essa nova economia surgiu no último quartel do século XX porque a revolução da tecnologia da informação forneceu a base de informação/conhecimento da economia, seu alcance global, sua forma de organização em rede e a revolução da tecnologia da informação que cria um novo sistema econômico distinto” (CASTELLS, 1999, p. 119).

4.1 A INTERNET

Os estudos sobre a informação como categoria econômica ganharam um maior

grau de importância com o advento da internet – uma tecnologia essencial em nossos dias que

é capaz de conectar várias pessoas no mundo inteiro fazendo com que esses usuários troquem

22Ao longo deste capítulo as palavras informação e conhecimento (assim como seus derivados) serão sinônimos. Ambas querem expressar a produção intelectual que é transmitida através das tecnologias da comunicação.

32

informações entre si a uma velocidade impressionante. Esta revolução na tecnologia da

informação teve seus primórdios no período da Guerra Fria, mais precisamente na década de

1960, a necessidade comunicacional para fins militares era enorme, porém uma problemática

surgia: com uma ameaça plausível de ataques bélicos em suas bases de estratégia, o serviço

militar norte americano temia perder dados confidenciais importantes, assim como também,

que os mesmos fossem revelados e expostos. Para sanar este problema foi criado pelo

Departamento de Defesa dos Estados Unidos um projeto de descentralização de informações,

uma rede operacional de computadores chamada ARPANet (Advanced Research Projects

Agency Network), onde todos esses dados estariam armazenados em locais diferentes,

reduzindo os riscos de perda mediante ataque a alguma base militar que continha as

informações. Ao mesmo tempo em que esses dados estavam em vários locais diferentes eles

também estavam interligados, funcionando por chaveamento de pacotes, ou seja, as

informações eram quebradas e divididas em pequenos pedaços que, juntavam-se no

destinatário selecionado por criptografia.

Visando um aprimoramento desta rede e a maior segurança da mesma, o governo

norte-americano integralizou, em 1970,esta nova tecnologia a quatro universidades nacionais

para que especialistas pudessem estudá-la e aprimorá-la. Em apenas quatro anos, mais de

quarenta instituições acadêmicas faziam parte desta rede e, com a diminuição da tensão entre

Estados Unidos e União Soviética, este novo sistema de comunicação alavancou dividindo-se

em dois: a MILNet (Military Network), rede exclusiva para fins militares, e a ARPANet que

se tornaria cada vez mais popular e teria seu nome alterado para INTERNET.

4.2 MODELOS DE PRODUÇÃO DO CAPITAL

Com o advento desta tecnologia, o mundo se modificou socialmente; o

intercâmbio cultural se multiplicou, a aprendizagem de outras línguas se difundiu, a forma de

comercialização se aprimorou e o modo de produção industrial se diversificou tornando a

economia uma ciência social muito mais dinâmica e complexa. Um exemplo desta quebra de

paradigma social refletida na produção de mercadorias foi o surgimento do toyotismo, no qual

ia a contraponto do padrão usual vigente na época, o fordismo23. Para facilitar a compreensão

23 É bom frisar que na década de 1970 o capital mundial passou a dar sinais críticos. A decadência do regime monetário de Bretton Woods, a intensividade das lutas sociais (greves, manifestações etc.), a crise do petróleo, a tendência decrescente do lucro proveniente da queda de produção e o esgotamento da acumulação de capital baseada no fordismo/taylorismo foram fatores que contribuíram para a crise do capital e que, consequentemente,

33

foram elencadas algumas mudanças trazidas pelo toyotismo nesta nova dinâmica do

capitalismo no mundo. Examinemos o quadro abaixo:

Quadro 2 - Características Fordismo X Toyotismo.

Toyotismo Fordismo Produzir apenas o necessário Produzir em grande escala

Produzir na hora certa (Just in Time) Produzir em todo o tempo (Lei de Say) Trabalho em equipe Trabalho individual

Presa o controle de qualidade Presa a quantidade produzida Fonte: Elaboração própria.

A nova forma de racionalizar a produção no mundo, pós década de 1970, veio do

oriente e teve como idealizador o japonês Taiichi Ohno. Sua mais nova forma de pensar a

produção foi posta em prática nas fábricas de automóveis da Toyota, sendo um grande

laboratório para “testar” esta nova maneira de enxergar a acumulação de capital no setor

industrial. Mediante uma crise no capital que o mundo vinha enfrentando, tendo seu mercado,

o oriental, bem menor que o americano/europeu; o toyotismo ganhou força pelo mundo com

sua nova visão de mercado: flexibilização da produção. É notório que, com a ocorrência de

mudanças na economia mundial (descritas na nota de rodapé 20), a hegemonia do pensamento

fordista começou a apresentar entraves, a grande vantagem apresentada neste modelo – a de

produzir em grande escala visando preços menores e larga apropriação do mercado - estava se

desconfigurando, pois começava a apresentar margens de lucros decrescentes e o acúmulo de

estoques, características praticamente inexistentes até então.

O toyotismo combateu esses impasses aplicando uma filosofia de produzir apenas

o necessário, permitindo que a demanda gerasse a oferta do bem e que o trabalhador não

ficasse responsável por uma só função, mas que pudesse ser capacitado para exercer funções

mais complexas, no qual visaria maior ganho de produtividade e qualidade de produção. Para

que estes fatores pudessem ser idealizados da forma mais eficiente possível se faz necessário

um grande investimento comunicacional para que o just in time fosse colocado em prática.

Sendo assim, este novo modelo de produção se apropriou muito bem da constante evolução

das várias formas de comunicação, de modo que conseguiu colocar em prática seu diferencial:

a flexibilização da produção e o controle de qualidade do produto produzido, isso de forma

automatizada através da interligação de vários setores da empresa. Com as inovações

também foi o momento da derrocada do modelo de produção baseado em Henry Ford e Frederick W. Taylor; surgindo, agora, o toyotismo, pensamento dominante do modo de produção capitalista.

34

tecnológicas propiciadas pelas redes de computadores, o conhecimento poderia correr o

mundo; as grandes empresas não precisariam se fixar em um ponto geográfico apenas, sua

filosofia de gestão poderia ser intercambiada a qualquer parte do mundo e a integração da

produção pode, agora, ser difunda para todas as suas plantas industriais sem que haja excesso

de estoques.

O tripé economia, conhecimento e capital evidenciou que o mundo passou por

modificações extraordinárias, onde a descentralização industrial e a descontinuidade

geográfica não são mais fatores que inibem a circulação de capital; que o conhecimento não é

mais um elemento restrito a um grupo seleto, onde, hoje em dia, pesquisadores de todo o

planeta produzem conhecimento que, em questão de segundos, pode estar ao alcance de vários

outros cientistas que, somam à pesquisa e evolui a forma de se fazer ciência, tornando assim,

o conhecimento uma nobre mercadoria e de grande propagação e difusão do capitalismo24.

4.3 A INFORMAÇÃO COMO BEM

Para caracterizar melhor como o conhecimento/informação é um bem/mercadoria

traremos para este trabalho a definição de informação elaborada por Shapiro e Varian (1999):

Empregamos o termo informação [...] Em essência, [como] qualquer coisa que puder ser digitalizada – codificada como um fluxo de bits [...]. Para nossos objetivos, resultados de jogos de beisebol, livros, bancos de dados, revistas, filmes, músicas, cotações de ações e páginas da Web são todos bens

de informação.

A partir desta afirmação, tudo que pode ser digitalizado e transferido pela rede é

um bem da informação, ou seja, ele pode ser vendido, negociável e, bem comum nos dias

atuais, compartilhado. Outra característica preponderante é que o bem da informação tem seu

valor distribuído em vários seguimentos, por exemplo, a produção de uma música e seu vídeo

clipe pode apresentar:

24É importante frisar que a dinâmica econômica é tão forte no bem “conhecimento” que a necessidade de se proteger, juridicamente, contra plágios ganha cada vez mais proporção (iremos falar sobre propriedade intelectual mais a frente). Com o advento das tecnologias da informação que possibilita o compartilhamento de arquivos a níveis mais acelerados e em larga escala, produzir conhecimento ficou muito lucrativo, pois a força de Leis que protegem as descobertas com patentes são cada vez mais requisitadas. Em contrapartida, formas para burlar essas Leis também são, cada dia mais, inventadas e compartilhadas, surgindo um “comércio negro” que também vem a ser bastante lucrativo.

35

1. Valor financeiro para o artista, produtora e demais empresas envolvidas

no processo de confecção, produção, marketing, distribuição e consolidação do

produto;

2. Valor de entretenimento para àqueles que irão adquirir o bem;

3. Valor cultural por expressar uma manifestação artística;

4. Outros valores distintos.

Ou seja, o bem da informação tem vários valores atribuídos a ele, estes podem

abarcar vários nichos diferentes de mercados, assim como também, atribuir preços

diferenciados ao mesmo produto; tudo mediante ao valor, atribuído pelo consumidor, ao bem

da informação.Outra característica que tem de ser evidenciada é que os custos de produção

desses produtos possuem uma singularidade, para produzir um bem da informação o custo

fixo é altíssimo (imaginemos quantos milhões não são gastos para produzir um software25),

porém o custo marginal é, praticamente, desprezível, ou seja, baixíssimo; inviabilizando sua

precificação através do seu custo de produção.

Você tem de fixar o preço de seus bens da informação de acordo com o valor do consumidor, e não de acordo com seu custo de produção. Como as pessoas atribuem valores muito diferentes a um determinado tipo de informação, a fixação de preços baseada no valor conduz naturalmente à fixação diferencial de preços. (SHAPIRO; VARIAN, 1999, p.16).

Com esta particularidade, é possível extrair um preço bem elevado deste bem. Um

exemplo claro é que um produto em “pré-venda”, que costuma ser mais caro que o mesmo

produto enquadrado como “lançamento”, que costuma ser mais caro que este produto vendido

tradicionalmente (sem nenhum slogan temporal associado). Todo este “valor” atribuído é,

apenas, relacionado a uma periodicidade, pois o produto é o mesmo; ou seja, quanto mais

cedo o consumidor terá acesso a esta informação, maior valor será atribuído ao produto,

consequentemente, maior será o preço pago para aquisição deste bem da informação.

Ao possuir vantagens competitivas como a supracitada, há uma considerável

necessidade de promoção de mecanismos que garantam a produção da informação, pois como

mencionada a cima, produzir um bem da informação tem altíssimo custo, porém reproduzi-lo 25 Apenas a nível de curiosidade, o valor de produção do filme mais caro da história do cinema é de US$ 332 milhões, marca pertencente a Piratas do Caribe – No fim do mundo (2007). Outro exemplo do alto custo que é produzir um bem da informação é o jogo Grand Theft Auto 5 – GTA V, que teve seus custos estimados em US$ 266 milhões. Vale lembrar que, em grande escala, o custo para a reprodução de um DVD com os referidos conteúdos supracitados é ínfimo.

36

incorre em custos desprezíveis. Desta forma é preciso existir leis que assegurem a

“privatização” da informação, benefícios para aqueles que produzam e rigorosidade para o

cumprimento das normas. Este fator é muito importante, pois a lucratividade que um agente

econômico pode ter apenas em reproduzir um bem da informação é exorbitante, podendo

auferir preços bem mais baixos que seu concorrente criador da informação (pois não teve os

custos de produção do produto). Esta problemática pode ser acentuada se o país não tiver um

sistema rigoroso de se fazer cumprir as leis que corroborem com o produtor do bem da

informação e façam valer a produção intelectual. Países assim têm seu grau de incentivos à

ciência e tecnologia baixíssimos, não fomentando a busca por inovações tecnológicas, onde

todo este processo se traduz em perda de produtividade para a economia nacional e um

possível decrescimento econômico26.

4.4 A VERACIDADE DAS INFORMAÇÕES E A COMUNICAÇÃO ENTRE

ADVERSÁRIOS POTENCIAIS

Nos dias atuais, o avanço da tecnologia da informação proporciona uma gama de

conteúdo que possui vários graus de importância e pode, muitas vezes, ter valor estratégico

em um jogo de decisões. O primeiro ponto a ser discutido é a disponibilidade de informações

de maneira rápida e barata, dois adjetivos que podem ser sinônimos de incoerência e

incredibilidade. O Nobel em economia Herbert Simon deixou bem claro em suas palavras que

“a riqueza da informação cria a pobreza da atenção27”, ou seja, atualmente, os usuários são

sobrecarregados com uma quantidade de conteúdos tão grande que não se atenta mais para o

grau de veracidade contido na informação28. Neste ponto da discussão a cerne da questão não

é mais o acesso a informação, mas sim a ação de garimpar àquelas que têm alto valor

atribuído mediante características como: agilidade, periodicidade e confiabilidade. Estes

fatores agregam valor à informação, tornando-a um bem mais escasso, consequentemente

mais caro. Por isso que há empresas que investem pesado para ofertar esses tipos de serviços,

pois podem cobrar um preço mais elevado por estas informações. Atualmente o usuário quer 26Sobre este último tema, para um maior conhecimento, é indicado o livro “O desafio do decrescimento” de Serge Latouche. 27 Simon apud Shapiro e Varian, 1999, p.19. 28Na sociedade brasileira esta afirmação é bem notória. A difusão de informações falsas, principalmente as ocorridas nas redes sociais, tem sido um fator preocupante. Estas mentiras, a partir do compartilhamento, tomam um lastro de grandes proporções. Um belo exemplo foi o boato de que ocorreria o cancelamento do Bolsa Família – programa social do Governo Federal de transferência de renda; os participantes do programa, em massa, foram sacar o dinheiro do benefício ocorrendo, neste dia, um enorme déficit bancário, chegando a faltar dinheiro em muitos lugares.

37

informações instantâneas, com menor escala de tempo possível e que sejam verdadeiras.

Como amantes do futebol desejamos a informação da escalação do time do coração

antecipadamente para saber se o treinador optou pela melhor formação técnica e tática, que

possamos ter acesso ao vídeo do gol pouquíssimos minutos após o mesmo ter acontecido e

que o feed da narrativa não tenha erros, nos informe corretamente quem fez o gol, quem

tomou cartão e quantos impedimentos ocorreram na partida que realmente existiram, para

depois colocar a culpa no árbitro se o resultado for negativo29. Gananciosos por dinheiro,

temos a necessidade de um aplicativo para celular que nos informe a cotação das ações em

tempo real, que dê dicas de como investir e que estas tenham 99% de acertos para que

possamos aumentar nosso patrimônio30. A empresa de venda de materiais esportivos quer

saber o perfil do público alvo, seus dados pessoais, preferências, conteúdo que eles mais

navegam pela rede, para que possam direcioná-los ao produto cuja probabilidade de compra

seja maior31. O Governo precisa de dados periódicos, índices socioeconômicos para elaborar

políticas públicas que possam ser mais eficientes possíveis32. As grandes empresas destinam

boa parte do seu orçamento anual para Pesquisa e Desenvolvimento – P&D, buscando

encontrar uma inovação que a renda margens de lucros crescentes, assim como também

mantenham setores de gestão estratégica que proporcionem dados relevantes para todos os

demais setores da corporação, oferecendo-os maior robustez para seus planejamentos internos

e elaboração orçamentária33. Enfim, os exemplos da possibilidade de transformar a

informação em um produto de alto valor agregado – a informação processada, garimpada e

entregue ao usuário de acordo com suas necessidade e finalidades – são inúmeros e que, cada

vez mais, importantes para a tomada de decisão dos agentes econômicos.

O segundo ponto a debatermos é a informação como comunicação entre

adversários potenciais34 – fato bem presente nas trocas econômica. Para ilustrar esta temática

usaremos exemplos simplórios para início da discussão: 1 – o vendedor, cujo objetivo

principal é vender o produto e ganhar a devida comissão por este ato, exagera nas qualidades

do produto ofertado com intuito de convencer seu cliente de que a aquisição da mercadoria é a

escolha certa e, 2 – o comprador, cujo objetivo principal é maximizar sua satisfação dada sua

restrição orçamentária, barganha para conseguir o melhor preço pelo produto desejado, e 3 - o

29 Aquisição de informações a fim de entretenimento. 30 Aquisição de informações para fins monetários. 31 Aquisição de informações para fins empresariais. 32 Aquisição de informações para fins de planejamento e gestão pública. 33 Aquisição de informações para fins corporativos. 34 De acordo com Frank (2013) definimos como adversários potenciais agentes econômicos cujos objetivos entram potencialmente em conflito.

38

funcionário virtual que, almejando a vaga, superestima suas qualidades tentando se enquadrar

no perfil solicitado pela empresa. Nos exemplos supracitados podemos destacar um ponto em

comum nos três, a assimetria de informações. Percebe-se que cada agente tem uma

informação particular, no qual apenas ele a conhece (o vendedor sabe a real qualidade do

produto, o comprador sabe o máximo que deseja pagar pelo produto e o funcionário potencial

sabe suas verdadeiras qualidades que se enquadram no perfil da empresa), o inverso também é

verdadeiro, todos os agentes - não citados acima - envolvidos nas três situações têm um

desconhecimento de informações (o comprador no exemplo 1 não sabe a real qualidade do

produto35, o vendedor, no exemplo 2, não sabe o valor máximo disposto pelo comprador a

pagar pelo produto36 e a empresa que está com vagas abertas para contratação não tem

informações se o candidato realmente tem as qualidades descritas por ele37). Esta lacuna

informacional despenderá um custo por parte dos agentes envolvidos caso os mesmos

queiram tomar a melhor decisão possível38.

4.5 O PREÇO DAS INFORMAÇÕES

A partir deste momento vamos retomar o exemplo do futuro economista João

presente no capítulo III. Pelos cálculos efetuados usando o modelo de utilidade esperada

chegamos à conclusão de que nosso jovem formando maximizaria sua utilidade não indo fazer

a prova da ANPEC. Mas supomos que surgiu uma oportunidade para João fazer um curso

preparatório para esta prova, no qual pouquíssimas pessoas têm acesso ao mesmo. Esta

preparação extra o colocará em vantagem diante dos seus concorrentes e, possuindo este

diferencial, João tem sua probabilidade39, agora, de 60% em ser aprovado no exame e 40% de

não obter a pontuação necessária para cursar o mestrado.

A utilidade esperada de João, mais alta, já calculada foi de 500, para ele não ir

fazer a prova. Só que agora uma nova informação surgiu para o concluinte, ele terá acesso a

35 Não tendo esta informação o comprador poderá pagar mais para adquirir uma cobertura pelo risco, por exemplo, uma garantia estendida. 36 Se assim o vendedor soubesse, ele poderia vender o produto justamente pelo preço máximo que o comprador pretende pagar. 37 Não havendo esta assimetria de informação, a empresa contrataria o funcionário mais confiável, produtivo e inteligente. 38 Para uma melhor compreensão o capítulo III deste trabalho trata das teorias da decisão em condições de incerteza. 39 Lembramos que no exemplo usado no capítulo anterior foi aplicada a probabilidade objetiva. Agora, para fins de entendimento, iremos usar a probabilidade subjetiva, sendo esta definida na página 22 deste trabalho.

39

um curso preparatório que aumentará sua probabilidade de aprovação na prova e lhe custará

V. Sendo assim, sua utilidade esperada caso ele faça e pague pelo curso preparatório será:

� 0,6�600 % �� � 0,4 �500 % ��

Com a finalidade de encontrar o valor máximo que João poderá pagar pelo curso,

igualaremos sua utilidade esperada calculada no primeiro momento com a equação a cima.

500 � 0,6 �600 % �� � 0,4 � 500 % ��

500 � 360 % 0,6� � 200 % 0,4�

%0,6� % 0,4� � 500 % 360 % 200

� � 60

Por esta expressão chegamos ao resultado que o jovem João, diante da sua

utilidade esperada, poderá pagar, no máximo, um valor de R$ 60,00 no curso preparatório.

Este é o custo que João precisará ter para aumentar sua probabilidade de aprovação, ou seja, é

o dispêndio que terá pela informação, para torná-la menos assimétrica, é o valor pago para se

reduzir a incerteza.

A economia da informação é um vasto campo econômico, importantíssimo para o

ramo das tomadas de decisões. Associado à economia da incerteza, esses dois campos de

estudos vêm somando substancialmente as leis econômicas e contribuindo bastante para uma

maior eficiência dos órgãos decisórios de políticas macroeconômicas. Outro campo de estudo

que está causando impactos muito positivos na área das tomadas de decisões é a

neuroeconomia, tema do próximo capítulo.

5 A NEUROECONOMIA

A neuroeconomia trata de uma nova abordagem da economia que busca, através

da interdisciplinaridade, ter parâmetros mais eficazes para um melhor entendimento de como

o ser humano toma suas decisões econômicas. Neste capítulo traremos a reflexão teorias de

estudiosos da área, tais como Glimcher, Tversky, Rocha, Barracho, Carvalho, entre outros;

40

assim como, também, identificaremos o assunto ao leitor e levantaremos as principais

pesquisas realizadas na atualidade sobre neuroeconomia. Cada um destes autores supracitados

escreveram obras de grande relevância, abarcando de forma interdisciplinar uma melhor

dinâmica sistemática da ação humana de tomar decisões.

Este capítulo se estruturará na apresentação de conceitos que trarão melhor

entendimento ao leitor. O mesmo será conduzido por uma simples inserção de iniciação à

neuroeconomia; vendo seus precursores, seus métodos, pesquisas realizadas e, também, os

benefícios que essa ciência pode trazer no âmbito econômico, onde traremos à reflexão a crise

econômica.

Fundamentado na definição apresentada por Rocha (2011), a neuroeconomia é a

ciência que “combina teorias das neurociências e da economia para estudar o processo de

tomada de decisão... e satisfação do consumidor”. Esse pensamento interdisciplinar possibilita

uma “revisão” da economia, fazendo com que a mesma possa, cada vez mais, consolidar-se

como ciência que vise, indubitavelmente, a busca de meios da equidade do bem-estar

social/financeiro. Porém, como é que o conhecimento dos processos sócio-psicobiológicos do

ato de tomar uma decisão pode contribuir para o melhor entendimento da dinâmica

econômica?

5.1 A TOMADA DE DECISÃO

Todos os dias, nós seres humanos, tomamos mais de 10.000 decisões. Desde a

hora em que devemos acordar, o que comeremos, qual rota nos levará ao trabalho mais

rapidamente, se estudamos para prova “A” ou para a prova “B”. Enfim, várias são as decisões

que o ser humano toma no decorrer de sua vida. Porém, o ato de decidir, não é algo simples.

Algumas vezes, porém, é tão simples e/ou irrelevante, que tomamos a decisão sem nem

darmos conta que já decidimos e que o ato decidido já está sendo executado40.

A tomada de decisão está intrinsecamente ligada às nossas vidas. Tudo o que

agimos, ou nos comportamos, aplica-se em um ato de decidir. Essas decisões - como ilustrada

acima - podem ser simples (que envolvam apenas duas alternativas), mas podem ser também

complexas, ou seja, envolvem várias alternativas, envolve a vida de outros, envolve seu

dinheiro, etc.

40No primeiro capítulo deste trabalho demonstramos os estudos de Kahneman sobre os dois tipos de sistemas: o rápido e o devagar.

41

As ciências biológicas têm, como principal hipótese para explicar a tomada de

decisão, a teoria da seleção natural de Charles Darwin. A mesma tem como conceito geral a

seleção que o meio ambiente faz em extinguir as espécies “fracas” (as que não conseguem se

adaptar ao ambiente) e consolidar a permanência das mais “fortes” (as que se adaptam ao

ambiente). Essa mesma teoria também exprime que, para o animal conseguir se manter vivo

neste ambiente, faz-se necessário, em princípio, dois atos principais; são eles o de sobreviver

e o de se reproduzir. Sendo assim, podemos definir esses dois objetivos principais que gerem

nossa sobrevivência.

Entretanto, para sobreviver, há a necessidade de se alimentar, e para se reproduzir,

tem de haver um parceiro para acasalamento, ou seja, há uma necessidade envolvida para a

concretização dos objetivos. Tendo em vista que os objetivos devam ser cumpridos para que a

sobrevivência e a reprodução ocorram, essa necessidade fomentará a motivação para realizar

a ação. Porém, esta ação não pode ser aplicada de qualquer maneira, o nosso corpo privilegia

a economia de energia. Desse modo, a ação não pode ser executada aleatoriamente, mas sim

havendo uma pequena seleção. Para selecionar, faz-se necessário pensar quais são os

benefícios e riscos que empregam essa ação e quantificar os custos que serão empregadas na

mesma.

Figure 4 - O processo de tomada de decisão.

Fonte: Neuroeconomia e processo decisório, Rocha.

42

É nesse ponto que entra a neuroeconomia. Através da pesquisa e da

experimentação é propiciado ao indivíduo uma melhor análise dos benefícios e riscos

contidos na ação ao qual ele deve fazer e quantificar sistematicamente os riscos. Observamos

que o organograma acima esquematiza os processos de decidir, porém Rocha (2011) ainda

destaca três pontos que “traduzem” a tomada de decisão: o monitoramento, a avaliação e o

aprendizado. Estes não estão diretamente ligados ao ato de decidir, porém auxiliam em

futuras decisões. Quando o indivíduo toma a decisão ocorre um período de monitoramento

para que, neste momento, avalie se a decisão foi correta ou não. Depois da avaliação e

término do período de monitoramento, o sujeito praticante da ação julga se a mesma foi

adequada ou não àquela situação e, consequentemente, aprende. No momento ao qual um

objetivo parecido for solicitado, haverá menor gasto de energia se, acionando sua memória, a

decisão for tomada. Mas os cálculos do benefício e do risco sempre serão os mesmos para

todos? Em resposta a esta pergunta precisamos nos apropriar de conceitos psicológicos sobre

a percepção.

5.1.1 Percepção

Como descrito por Huffman (2003, p. 125), a percepção e a sensação estão

intimamente interligadas e definidas da seguinte forma:

A sensação geralmente se refere ao processo de selecionar e traduzir a informação sensorial bruta, enquanto a percepção se refere ao processo de selecionar, organizar e interpretar os dados sensoriais, transformando-os em representações mentais úteis do mundo.

A sensação é um importante processo para haver a percepção (como descrito no

fragmento acima). Recebemos muitos estímulos do meio, constantemente visualizamos algo,

escutamos, sentimos tocar, degustamos e cheiramos; mas não são todos que tomamos

consciência. No processo de perceber as várias sensações oriundas do meio, muitas delas, na

verdade, podem ser ilusões, percepções distorcidas das sensações sentidas. Isso indica que o

sujeito quando toma uma decisão, baseado na percepção que teve, pode estar sendo enganado

pelo ato da organização que nosso cérebro faz.

A figura 5 configura um excelente exemplo de percepção falha que temos ao

visualizar as duas retas horizontais. De maneira direta, a nossa percepção nos diz que a linha

horizontal de cima é maior do que a de baixo, porém isto não é verdade, ambas possuem o

mesmo tamanho. A luz que chega aos nossos olhos nos traz uma sensação, quando processada

pelo nosso cérebro, a imagem é selecionada, organizada e interpretada nos dando a percepção

de que a linha de cima é maior que a de baixo por associação.

resultado de ilusão de óptica, onde a nossa percepção se equivoca mediante associações mal

feitas.

Trazemos este assunto à tona pelo fato de

“equívoco perceptível” exemplificado na figura 5, nosso cérebro t

organizar mal as percepções que temos das finanças. Um belo exemplo é

compra” que o consumidor tem por possuir cartão de crédito. Segundo Loewenstein, citado

por Dooley, as empresas de cartões prosperam por estimul

mais, não respeitando a lei de restrição orçamentária

que parcelarmos e assim consumamos além do que podemos pagar, comprometendo, por

exemplo, mais de 30 % da renda total

5.1.2 Aprendizado

De acordo com Huffman

mudança relativamente permanente no comportamento como resultad

experiência. Com o aprendizado podemos conhecer melhor o comportamento do consumidor.

Ensinando-o novas concepções e até mesmo prevendo certas ações. Para dissertarmos melhor

41Margem aproximada ensinada pelos educadores financeiros para não comprometer o orçamento

Figure 5 - A ilusão de Muller-Lyer.

Fonte: picozezerabt.

A figura 5 configura um excelente exemplo de percepção falha que temos ao

visualizar as duas retas horizontais. De maneira direta, a nossa percepção nos diz que a linha

horizontal de cima é maior do que a de baixo, porém isto não é verdade, ambas possuem o

mesmo tamanho. A luz que chega aos nossos olhos nos traz uma sensação, quando processada

pelo nosso cérebro, a imagem é selecionada, organizada e interpretada nos dando a percepção

de que a linha de cima é maior que a de baixo por associação. Este fenômen

resultado de ilusão de óptica, onde a nossa percepção se equivoca mediante associações mal

Trazemos este assunto à tona pelo fato de que, da mesma forma que ocorre este

“equívoco perceptível” exemplificado na figura 5, nosso cérebro também cria ilusões por

mal as percepções que temos das finanças. Um belo exemplo é

compra” que o consumidor tem por possuir cartão de crédito. Segundo Loewenstein, citado

por Dooley, as empresas de cartões prosperam por estimularem os consumidores a gastar

, não respeitando a lei de restrição orçamentária, desta mesma forma, o cartão possibilita

que parcelarmos e assim consumamos além do que podemos pagar, comprometendo, por

exemplo, mais de 30 % da renda total41.

ndizado

De acordo com Huffman (2013) podemos definir aprendizado como uma

mudança relativamente permanente no comportamento como resultad

Com o aprendizado podemos conhecer melhor o comportamento do consumidor.

o novas concepções e até mesmo prevendo certas ações. Para dissertarmos melhor

Margem aproximada ensinada pelos educadores financeiros para não comprometer o orçamento

43

A figura 5 configura um excelente exemplo de percepção falha que temos ao

visualizar as duas retas horizontais. De maneira direta, a nossa percepção nos diz que a linha

horizontal de cima é maior do que a de baixo, porém isto não é verdade, ambas possuem o

mesmo tamanho. A luz que chega aos nossos olhos nos traz uma sensação, quando processada

pelo nosso cérebro, a imagem é selecionada, organizada e interpretada nos dando a percepção

Este fenômeno é um típico

resultado de ilusão de óptica, onde a nossa percepção se equivoca mediante associações mal

que, da mesma forma que ocorre este

ambém cria ilusões por

mal as percepções que temos das finanças. Um belo exemplo é o “pseudopoder” de

compra” que o consumidor tem por possuir cartão de crédito. Segundo Loewenstein, citado

arem os consumidores a gastar

mesma forma, o cartão possibilita

que parcelarmos e assim consumamos além do que podemos pagar, comprometendo, por

podemos definir aprendizado como uma

mudança relativamente permanente no comportamento como resultado da prática ou da

Com o aprendizado podemos conhecer melhor o comportamento do consumidor.

o novas concepções e até mesmo prevendo certas ações. Para dissertarmos melhor

Margem aproximada ensinada pelos educadores financeiros para não comprometer o orçamento familiar.

44

sobre o comportamento buscamos na psicologia o auxílio conceitual para melhor tratar deste

assunto.

5.2 A PSICOLOGIA COMPORTAMENTAL E A TOMADA DE DECISÃO

A psicologia comportamental teve sua gênese com John B. Watson. Denominada

por “Behaviorismo”, essa nova área da psicologia tinha como parâmetro principal a

observação e experimentação. Fatores estes que contribuíram com o reconhecimento da

psicologia como ciência, rompendo com os paradigmas de ser um ramo apenas filosófico.

Watson também defendia uma perspectiva funcionalista para a psicologia, isto é, o comportamento deveria ser estudado como função de certas variáveis do meio. Certos estímulos levam o organismo a dar determinadas respostas e isso ocorre porque os organismos se ajustam aos seus ambientes por meio de equipamentos hereditários e pela formação de hábitos. (Bock, 1999, p.46).

Como descrito na citação acima, o Behaviorismo vê o meio na qual o indivíduo

está inserido como um “modulador” comportamental. Esse pensamento conecta-se muito bem

com a visão darwiniana da Seleção Natural. Logo, o comportamento pode ser definido como

a ação da interação do indivíduo (resposta) e o ambiente (estímulo).

Tendo esta concepção que, de certa forma, o meio causa “estímulos” no ser

humano e esse responde aos mesmos, fica evidenciado que a decisão de agir tal

comportamento, muitas vezes, não é uma questão lógica, mas sim irracional. Trazendo esse

aspecto para a ciência econômica, grandes autores já cogitavam a existência da

irracionalidade nas decisões econômicas. Um grande exemplo é John Maynard Keynes que,

de acordo com Krugman, é o primeiro economista comportamental. Aquele, em seu livro “A

Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda”, no qual usa a nomenclatura Animal Spirits

(Espírito Animal) para tratar do “otimismo espontâneo”. Vejamos a citação:

Mesmo posta de lado a instabilidade devida à especulação, há instabilidade devida à característica da natureza humana de que uma grande proporção de nossas atividades positivas depende mais de otimismo espontâneo do que de expectativas matemáticas, sejam morais ou hedonísticas ou econômica. A maioria, provavelmente, de nossas decisões de fazer algo positivo, as completas consequencias das quais serão delineados vários dias que virão, só podem ser tomadas por resultado de espíritos animais - um impulso espontâneo para a ação, ao invés da inação, e não como consequencia de uma pensada média de benefícios multiplicada pelas probabilidades quantitativas. (Keynes, 1936, p. 161-162).

45

Este trecho evidencia a crença de Keynes que há fatores emocionais que

influenciam o comportamento humano em uma tomada de decisão.

Robert Shiller, outro estudioso econômico, traz a valorização do estudo da

irracionalidade econômica, visto que as grandes teorias não trazem esta vertente, pois

trabalham com modelos que a presença da racionalidade é máxima, onde o Homo Economicus

tem todas as informações possíveis para otimizar sua decisão.

Com todas estas adequações entre a economia e a psicologia, se faz necessário a

criação de uma nova ciência que abarque essas duas áreas. Assim origina-se a psicologia

econômica.

5.3 A PSICOLOGIA ECONÔMICA

A definição para psicologia econômica está descrita por Barracho (2007, p. 24) [A

psicologia econômica] “trata do estudo científico das condutas económicas: o estudo do

comportamento económico e dos factores que influenciam as pessoas na tomada de decisões.”

Atribui-se a Daniel Tarde a raiz da psicologia econômica. Marcado pela

publicação de seu artigo em 1881 na revista Filosófica tratando da relação entre psicologia e

economia. Após alguns anos, Tarde publica o seu curso em dois volumes cujo título é

“Psicologia Econômica”, que tinha como fundamento explicar o lado subjetivo dos

fenômenos econômicos.

Sua metodologia baseava-se em três mecanismos psicológicos:

A imitação, a repetição e a inovação [...] As leis de imitação (1890) podem aplicar-se à economia e aos planos económicos, como é o caso da moda e actividade de transformação (imitação), à produção (repetição) e à propriedade e associação (inovação). (Barracho, 2007, p. 20 – 21).

Outro renomado autor que corrobora com a psicologia econômica e que acredita

na irracionalidade do agente econômico é K. Lewin. O mesmo defende que o ato de decidir

comprar determinado produto e/ou serviço não é apenas uma situação econômica ou da

capacidade financeira, mas também, do sentimento envolvido, das expectativas e nível de

aspiração.

46

Percebemos que há muitos fatores subjetivos que estão além do que a ciência

econômica pode explicar. Assim, com o trabalho de interdisciplinaridade recorremos a

neurociência para nos auxiliar no entendimento biológico que leva o ser humano a tomar uma

decisão.

5.4 A NEUROCIÊNCIA E A TOMADA DE DECISÃO

Explicar como tomamos decisão não é algo simples, tampouco é um assunto

fechado. A neurociência vem contribuindo muito para que esse mistério venha a ser revelado.

Hoje dispomos de técnicas muito apuradas. O mapeamento das atividades cerebrais já é uma

realidade; imagens por Ressonância Magnética Funcional (IRMF), Mapeamento Cognitivo

Cerebral e eletroencefalograma são instrumentos que possibilitam ao pesquisador ter uma

visão em tempo real das manifestações elétricas do cérebro sem necessitar de incisão alguma,

as chamadas pesquisas invasivas.

5.4.1 Como o cérebro humano toma uma decisão: essência da neuroeconomia

Retomando o conceito que, para decidir por algo fazemos a avaliação dos

benefícios e riscos envoltos a esta decisão; não apenas estes dois, mas também o custo que

terá o benefício ou o risco.

A neuroeconomia vem descobrindo que os neurônios do Córtex Orbitofrontal têm

papel fundamental na codificação de benefícios (recompensas). Pacientes que sofreram lesões

nesse local apresentam dificuldades no ato de escolher, pois seus valores relacionados ao

prazer são equivocados.

47

Figure 6 - Cortex Orbitofrontal.

Fonte: jimjamesjimothy.

Já se tratando do risco temos os neurônios localizados na Ínsula (flecha 1), na

Amígdala (flecha 2) e no Córtex Orbitofrontal Medial (flecha 4) que estão envolvidos na

avaliação de risco associado a um bem ou serviço (figura 7).

Figure 7 - Áreas cerebrais relacionadas ao risco.

Fonte: Neuroeconomia e processo decisório, Rocha.

Rocha (2007, p. 46) define que:

A atitude frente ao risco é dependente do contexto de avaliação e da atividade cerebral registrada no Córtex Orbitofrontal Inferior. Assim, quanto maior a atividade nessa área, maior a aversão ao risco e maior susceptibilidade aos contextos de perda.

48

Usaremos o quadro para destacar melhor as funções de cada área.

Quadro 3: Funções das áreas cerebrais.

Cortex Cingulado Anterior (CCA)

Cortex Frontal Dorsolateral (CFDL)

Cortex Parietal (CP) Cortex temporal (CT)

• Analisa os conflitos pelas informações;

• Modula o CP e quantifica o conflito da tomada de decisão.

• Recebe informações do CCA sobre todas as alternativas codificando valores para cada escolha.

• Calcula o valor da intenção da ação.

• Está relacionado a decisões interpessoais.

Fonte: Própria com recursos do Livro Neuroeconomia e processo decisório.

Em síntese, as informações da percepção do conflito são analisadas no CCA.

Essas informações são passadas para o CFDL para haver uma codificação de valores de cada

escolha (alternativa). Esses valores já codificados são conectados ao CP calculará o valor da

intenção da ação – dando uma noção de “probabilidade”. Para o CP fazer esse cálculo, o

mesmo será modulado pelo CCA quantificando as opções e auxiliando o CO a dar valor às

informações.

5.4.2 A participação da emoção na tomada de decisão

Para Damásio, o termo emoção representa um conjunto de manifestações

orgânicas, movimentos fisiológicos envolvidos com uma resposta do organismo a situações

do ambiente.

A quebra da homeostase42 orgânica traz reações emocionais distintas, emoções

estas que ocasionadas, por exemplo, ao perceber a falta de um bem ou serviço. A avaliação da

intensidade da falta desse bem e/ou serviço pode ser quantificada mediante a intensidade das

emoções que podem desencadear no indivíduo.

42Homeostasia é o conjunto de fenómenos de auto regulação que levam à preservação da constância quanto às propriedades e à composição do meio interno de um organismo. O conceito foi criado pelo fisiologista norte-americano Walter Bradford Cannon (1871-1945).

49

Toda e qualquer atividade cerebral é ocasionada pela liberação de neurotransmissores e neuromoduladores pelos neurônios, de modo que as intensidades das emoções dependem das quantidades dessas substâncias utilizadas nas avaliações de benefícios e riscos. (Rocha, 2011, p. 70).

Embora para muitos a emoção seja o uso irracional da mente, não temos, em

hipótese alguma, como evitar essas reações emocionais. Estudos revelam que, de acordo com

a citação acima, a intensidade ao qual uma substância é jogada na corrente sanguínea,

mediante a carga emocional do indivíduo como é o caso da dopamina (Sistema de Avaliação

dos Benefícios) e da serotonina (Sistema de Avaliação de Riscos). Estes neurotransmissores

têm um papel importante da maneira em que sentimos e decidimos.

5.4.3 Sistema de avaliação dos benefícios

Esse sistema está fundamentado nos níveis de dopamina liberados pelos circuitos

mesocorticais. Esses níveis codificam o benefício esperado associado à implementação da

ação. Quando a dopamina é liberada, os neurônios do lobo frontal – que estão envolvidos com

a definição da ação – são ativados.

Neste processo, a quantidade de dopamina é proporcional à motivação empregada

pelo indivíduo. Seus níveis estarão em função do processo liberação*capitação (figura 8).

Com essa substância presente na corrente sanguínea, torna-se mais propenso à

avaliação de benefícios ficamos.

50

Figure 8 - Circuitos neurais para tomada de decisão.

Fonte: Neuroeconomia e processo decisório, Rocha.

5.4.4 Sistema de avaliação de riscos

Esse sistema tem como principal conceito a utilização dos níveis de serotonina

liberada pelo circuito serotoninérgico. Este codifica a expectativa do risco associada à

implementação da ação.

A liberação da serotonina é diferente da liberação da dopamina, sendo dividida em

duas etapas: reação primária e reação cortical, porém a forma da sua sinapse43 também

depende do processo liberação*capitação (figura 8).

Ambos os sistemas apresentados acima têm como fundamento principal as

reações emocionais enfrentadas pelo ser humano dia-a-dia.

Não podemos considerar a emoção e a razão como distintas, mas sim uma

complementar da outra. Como esboça Rocha (2007, p. 75).

A todo o momento estamos resgatando informações emocionais a respeito das situações que vivenciamos para planejarmos futuras ações que deverão

43

Processo comunicativo entre neurônios que começa com uma descarga químico-eléctrica na membrana da célula emissora (pré-sináptica). Quando esse impulso nervoso chega à extremidade do axônio, o neurônio segrega uma substância que se aloja no espaço sináptico entre esse neurônio transmissor e o neurônio receptor (pós-sináptico). Por sua vez, esse neurotransmissor trata de excitar outro neurônio.

51

ou melhorar ou ao menos manter os estados emocionais positivos que possuímos associados aos diversos eventos e pessoas com os quais convivemos [...]. Por mais que racionalizemos nossas ações, só decidimos e as executamos após uma computação dos possíveis resultados emocionais que elas nos trarão.

Na economia não podemos “fechar os olhos” para a irracionalidade dos agentes

econômicos. Problemas estão ocorrendo cada vez mais aceleradamente, crises estão

estourando e a confiança das pessoas diminuindo cada vez mais.

5.5 UMA BREVE VISÃO DA CRISE E A NEUROECONOMIA

Falar de crise é falar de problemas econômicos. Como mencionada em todo o

corpo deste capítulo, quando estamos submetidos a tomar uma decisão estamos visualizando,

mentalmente, benefícios e riscos envoltos à situação. Quanto mais alternativas temos, mais

difícil será a tomada de decisão, e quanto mais racional tentamos ser, mais carga emocional

toma os nossos pensamentos. Sendo assim, em momentos críticos de decisão é a

irracionalidade que sobressai na maioria das vezes.

Na crise financeira, a desconfiança, a instabilidade e o medo de tomar decisões

que sejam cruciais inviabilizam ainda mais o uso de modelos econômicos racionais. Então,

como aplicar esses modelos em uma conjuntura irracional? Como mudar essa concepção de

incertezas com modelos econômicos puros? Como identificar e quantificar fatores subjetivos?

Como reverter essa crise de confiança?

Somos enfáticos em dizer que, para responder estas perguntas temos que procurar

auxílio em outras ciências, em outras áreas do conhecimento. Se tratando muito destes

questionamentos de fatores psicológicos subjetivos, nada mais justo do que se juntar com a

psicologia e neurociência para se ter um aparato mais completo de como o ser humano toma

suas decisões econômica e como, conhecendo mais dessa irracionalidade, pode trabalhar

meios de reverter essa crise de confiança.

Podemos evidenciar isso no fragmento do livro de Silva (2009, p. 101):

O fator mais importante neste tipo de depressão profunda não é econômico, mas psicológica, ou seja, confiança; o remédio não é keynesianismo porque o programa de obras pública sendo emergencial só gera empregos imediatos, criando correspondente desconfiança no futuro. O remédio tem que ser feito

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dentro da empresa e somente nela, de modo a agir anticiclicamente, dando aos trabalhadores uma significativa garantia do seu emprego.

Silva destaca que a saída para a crise financeira não está alicerçada apenas no

âmbito econômico, mas sim no psicológico. Trabalhar na motivação dos agentes econômicos

gerando confiança nos mesmos e possibilitará uma maior dinâmica econômica, trazendo

novamente, crescimento econômico à nação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo da tomada de decisão em condições de incerteza é um ramo da economia

que vem para auxiliar o decisor a definir sua escolha de forma mais centrada possível,

mediante suas possibilidades técnicas e limitações biológicas. Iniciada na tradicional teoria do

consumidor e das firmas, esta área de estudo vem obtendo constantes atualizações, estas

inovações são tão importante para a teoria econômica que, algumas delas, são agraciadas com

o mais alto prêmio acadêmico mundial, o Nobel. A teoria da utilidade esperada de Von

Neumann-Morgenstern, a introdução da pesquisa psicológica na ciência econômica por

Kahneman e Tversky (Nobel de 2002), a análise de marcados com informações assimétricas

de Akerlof e Stiglitz (Nobel 2001) e os estudos dos processos cerebrais na tomada de decisão

de Glimcher são exemplos claros de teorias, que se somam, e contribuem significativamente

para o tema central deste trabalho, a decisão em um mundo incerto.

A partir desses estudos, percebe-se que é possível tomar decisões em condições de

incerteza a partir de parâmetros abordados neste trabalho. Com os estudos da economia

Irracional é possível notar a existência de vários vieses psicológicos e comportamentais

adquiridos através do aprendizado social condicionado pelas ações econômicas humanas.

Matematicamente, encontramos na teoria da utilidade esperada de Von Neumann-

Morgenstern, abordada no estudo da economia da incerteza, o respaldo teórico para, em um

jogo de decisões, propor o melhor caminho, que maximiza seu montante inicial. Esta teoria,

até então, tem por função obrigatória monetizar as ações para decidir a melhor escolha, caso

que nem sempre será, empiricamente, o desejo maior de satisfação do agente (o valor

monetário final maior para determinada opção do jogo).

A economia da informação oferece um enorme arcabouço social para definirmos a

melhor decisão e nos propõe, juntamente com a economia da incerteza, mensurar o gasto

53

máximo a ser efetuado pelo decisor, em uma informação estratégica, com a finalidade de

eliminar parcialmente/totalmente o risco imposto pela condição de incerteza.

Os conceitos da neuroeconomia, por sua vez, mostraram-se eficiente na detecção

de processos biológicos que induzem a decisão. Sistemas neurais articulados em grandes

cadeias ramificadas transportam informações, baseadas em estímulos provenientes do meio,

capazes de acionar mecanismos emocionais – sistema límbico, por exemplo – que influenciam

diretamente nossa decisão. A partir do momento que passamos a ter conhecimento deste fator,

que está longe da abordagem tradicional da economia, abre-se um leque de possibilidades que

tornam mais robusta a Teoria da decisão em condições de incerteza.

Sendo assim, procurar identificar as melhores formas possíveis de se tomar uma

decisão mediante um mundo incerto é procurar um estado de maior bem-estar, de maior

igualdade e melhores condições de vida. O risco é algo que existe, porém a forma de encará-

lo determinará o quão eficiente serão as ações. Os exemplos usados são simplórios, para um

melhor entendimento, porém entidades governamentais precisam ter subsídios para tomarem

as decisões mais corretas possíveis, pois envolvem um grande conjunto de pessoas que serão

altamente impactados pelo futuro incerto. Temos como exemplo decisões que devem ser

tomadas mediante catástrofes naturais, um risco, que para muitos é bastante remoto, porém a

qualquer momento pode acontecer; e governos, não obstantes a esta problemática,

simplesmente agem (e se agirem) depois de ocorrer drásticas perdas.

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