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UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO CIÊNCIAS DA SAÚDE E BIOLÓGICAS ISABEL DIELLE SOUZA LIMA PIO ESTUDO ETNOFARMACOLÓGICO E FITOQUÍMICO DE PLANTAS MEDICINAIS UTILIZADAS EM COMUNIDADES DAS ILHAS DO SUBMÉDIO DO RIO SÃO FRANCISCO PETROLINA- PE 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO CIÊNCIAS DA SAÚDE E

BIOLÓGICAS

ISABEL DIELLE SOUZA LIMA PIO

ESTUDO ETNOFARMACOLÓGICO E FITOQUÍMICO DE

PLANTAS MEDICINAIS UTILIZADAS EM COMUNIDADES DAS

ILHAS DO SUBMÉDIO DO RIO SÃO FRANCISCO

PETROLINA- PE

2015

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ISABEL DIELLE SOUZA LIMA PIO

ESTUDO ETNOFARMACOLÓGICO E FITOQUÍMICO DE

PLANTAS MEDICINAIS UTILIZADAS EM COMUNIDADES DE

ILHAS DO SUBMÉDIO DO RIO SÃO FRANCISCO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Ciências da Saúde e Biológicas da Universidade Federal do Vale do São Francisco, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Ciências.

Orientadora: Profª Drª Gabriela Lemos de Azevedo Maia. Co–orientadora: Profª Drª Lúcia Marisy Souza Ribeiro. Linha de pesquisa: “Biodiversidade, Tecnologia e Recursos Naturais”.

PETROLINA-PE 2015

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Ficha catalográfica elaborada pelo Sistema Integrado de Bibliotecas da UNIVASF. Bibliotecária: Luciana Souza Oliveira CRB5/1731

Pio, Isabel Dielle Souza Lima

P662e Estudo etnofarmacológico e fitoquímico de plantas medicinais utilizadas em comunidades de ilhas do submédio do Rio São Francisco / Isabel Dielle Souza Lima Pio.-- Petrolina, 2015.

xiii; 114f.; il.; 29 cm Dissertação (Mestrado em Ciências da Saúde e

Biológicas) – Universidade Federal do Vale do São Francisco, Campus Petrolina, Petrolina-PE, 2015. Orientadora: Profa. Dra. Gabriela Lemos de Azevedo Maia.

1. Plantas medicinais - Medicina tradicional. 2. Etnofarmacologia. 3. Rhaphiodon echinus (Lamiaceae). I. Título. II. Universidade Federal do Vale do São Francisco.

CDD 581.634

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO CIÊNCIAS DA SAÚDE E

BIOLÓGICAS

FOLHA DE APROVAÇÃO

ISABEL DIELLE SOUZA LIMA PIO

ESTUDO ETNOFARMACOLÓGICO E FITOQUÍMICO DE

PLANTAS MEDICINAIS UTILIZADAS EM COMUNIDADES DAS

ILHAS DO SUBMÉDIO DO RIO SÃO FRANCISCO

Dissertação apresentada como requisito parcial

para obtenção do título de Mestre em Ciências,

pela Universidade Federal do Vale do São

Francisco.

Aprovado em: ___de _________ de _____.

Banca Examinadora

_______________________

Profª Drª Gabriela Lemos de Azevedo Maia Universidade Federal do Vale do São Francisco – Orientadora

_______________________

Prof. Dr. Ernani Machado de Freitas Lins Neto Universidade Federal do Vale do São Francisco – Examinador externo

_______________________

Prof. Dr. Jackson Roberto Guedes da Silva Almeida

Universidade Federal do Vale do São Francisco – Examinador interno

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Aos beradeiros do rio São Francisco,

“o povo das ilhas”, que me receberam

com simplicidade e carinho.

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TENHO QUE AGRADECER pela sorte que eu tenho.

Pela sorte de ter uma vida guiada pela fé em Deus, que sempre me inspira e

me fortalece;

Pela sorte de ser filha de Ademar e Ivonete, estrelas que me iluminam, dando-

me a certeza de nunca estar sozinha;

Pela sorte de ser irmã de Diogo que mesmo longe, está sempre me apoiando

em todos os momentos;

Pela sorte de ter encontrado Helbert, que me ensina diariamente o valor da

compreensão, respeito e companheirismo.

Pela sorte de pertencer a uma família de pessoas honestas, que valorizam o

amor, a saúde e a educação.

Pela sorte de ter amigos de longa data, como Sarah e Kelly, que vibram

comigo em cada vitória.

Pela sorte de ter chegado ao Vale do São Francisco e ter conhecido pessoas

tão queridas e importantes.

Pela sorte de ter Prof. Drª Gabriela como orientadora. Por ela ter acreditado

em mim, sempre me tranquilizando com seu jeito leve de conduzir o projeto.

Pela sorte de estar na Universidade Federal do Vale do São Francisco,

instituição formada por muita gente de energia boa.

Pela sorte de ter conhecido pessoas dispostas a me ajudar na

construção dessa dissertação. Em especial, pela sorte de ter encontrado

Anderson Lavor e Pedro Modesto, assim como todo o pessoal dos

laboratórios de Química Orgânica e de Farmacologia da UNIVASF e também

do Laboratório de Micologia da Universidade Federal da Paraíba.

Pela sorte de ter tido a possibilidade de conviver esses 18 meses com

colegas especiais, companheiros de muitas alegrias e alguns

descontentamentos.

Pela sorte de ter aprendido com os docentes do Programa de Pós-Graduação

Ciências da Saúde e Biológicas / UNIVASF.

Pela sorte de ter experimentado momentos inesquecíveis e boas conversas

com “o povo das ilhas” do Massangano, Rodeadouro e Jatobá II.

Pela sorte de ter encontrado todos que contribuíram para esse conquista.

Pela sorte que eu tenho, TENHO QUE AGRADECER.

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“Tenho a impressão de ter sido uma criança brincando à beira-mar,

divertindo-me em descobrir uma pedrinha mais lisa ou uma concha mais

bonita que as outras, enquanto o imenso oceano da verdade continua

misterioso diante de meus olhos.”

Isaac Newton

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RESUMO

Objetivou-se realizar um levantamento etnobotânico de plantas medicinais

utilizadas nas ilhas do Massangano, Jatobá II e Rodeadouro, localizadas entre

Petrolina-PE e Juazeiro-BA, no submédio do rio São Francisco e posterior

investigação fitoquímica e farmacológica da espécie mais citada, conforme a

indicação da comunidade. Realizaram-se visitas de observação nas ilhas e os

dados etnobotânicos foram coletados por entrevistas semiestruturadas com 12

informantes-chave. Calculou-se a Importância Relativa (IR), a Porcentagem

Corrigida de Concordância quanto ao Uso Principal (CUPc) e o Valor de Uso

(VU). Observou-se que as ilhas são marcadas por características rurais e

urbanas, com moradores antigos de baixa escolaridade e muita religiosidade. A

maioria dos informantes era mulheres, com idade média de 64,83 ±16,95 anos.

O conhecimento sobre plantas medicinais é transmitido por familiares e as

plantas mais usadas são cultivadas. As principais indicações de uso das

plantas medicinais foram doenças infeciosas, parasitárias e do aparelho genito-

urinário. Rhaphiodon echinus (Ness & Mart.) Schauer, indicada para infecção

urinária e dismenorreia apresentou os maiores valores IR e CUPc. Utilizaram-

se as partes aéreas da R. echinus para obtenção do extrato etanólico bruto

(Re-EEB), suas frações hexânica (Re-HEX), clorofórmica (Re-CLO) e acetato

de etila (Re-AE); o produto liofilizado (Re-LIO) e o óleo essencial (OE-Re). O

screening fitoquímico revelou prevalência de flavonoides, taninos, lignanas e

saponinas em Re-LIO e Re-AE e compostos terpênicos em Re-HEX e Re-CLO.

O OE-Re é composto majoritariamente de sesquiterpenos. Os testes

antibacterianos mostraram que Re-AE é mais atuante contra E. coli e S. aureus

do que para P. aeruginosa. O Re-EEB tem efeito parcial contra bactérias gram-

negativas e OE-Re possui moderada resposta para todos microorganismos

testados. A avaliação da atividade espasmolítica em útero de rata mostrou que

Re-LIO, Re-EEB e Re-HEX possuem atividade dependente da concentração,

sem diferença significativa e sem relaxamento total. Este trabalho revela a

importância de estudos mais aprofundados para a comprovação científica do

uso popular da R. echinus.

Palavras-chave: Plantas medicinais. Medicina Tradicional. Etnofarmacologia.

Rhaphiodon echinus. Lamiaceae.

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ABSTRACT

This study aimed to carry out an ethnobotanical survey of medicinal plants used

by inhabitants of the Massangano, Rodeadouro and Jatoba II islands, located

between the cities of Petrolina, Pernambuco, and Juazeiro, Bahia, in the Lower

Basin of São Francisco Valley. The phytochemical and pharmacological

investigation of the most cited specie, according to the community's nomination

was also proposed. The observation visits were made to the islands and

ethnobotanical data were collected through semi-structured interviews with 12

key informants. We calculated the Relative Importance (RI), the corrected

percentage of agreement related to the Main Uses (cAMU) and Use Value (UV).

The scenery of the islands is rich in contradictions between rural and urban

daily life, with former residents with little education, but a lot of religiosity. The

most informants were women with mean age of 64.83 ±16.95 years. The

knowledge of medicinal plants is transmitted by relatives and the most

medicinal plants being used as they are grown. The most common indications

were infectious and parasitic diseases and disorders of the genital and urinary

tract. Rhaphiodon echinus (Ness & Mart.) Schauer was indicated for urinary

tract infection and dysmenorrhea and it showed the highest RI and cAMU

values. We used the aerial parts of the plant to obtain the crude ethanol extract

(CEE-Re), their hexanic (HEX-Re), chloroform (CLO-Re) and ethyl acetate (AE-

Re) fractions; the lyophilizate (LYO-Re) and the essential oil (OE-Re). The

phytochemical screening showed a higher prevalence of flavonoids, tannins,

lignans and saponins in LYO-Re and AE-Re. Already terpene compounds were

more present in HEX-Re and CLO-Re. The OE-Re showed majority

composition of sesquiterpenes. The antibacterial tests showed that Re-AE is

more active against E. coli and S. aureus than P. aeruginosa. The CEE-Re has

partial effect against gram-negative bacteria and OE-Re has moderate

response for all tested microorganisms. The spasmolytic evaluation in rat uterus

showed that LYO-Re, CEE-Re and HEX-Re have activity concentration-

dependent without significant change. This work demonstrates the importance

of other studies for scientific proof of popular use of the R. echinus.

Keywords: Medicinal plants. Medicine, Traditional. Ethnopharmacology. Rhaphiodon echinus. Lamiaceae.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 01- Localização espacial das ilhas onde o estudo foi realizado, rio

São Francisco – Pernambuco/Bahia (região Nordeste do Brasil), 2015 33

Figura 02- Indicações terapêuticas de plantas medicinais citadas por

moradores das Ilhas do Massangano, Rodeadouro e Jatobá II(PE/BA),

distribuídas por capítulos de doenças do CID 10, 2014-2015

53

Figura 03- Fotografia da planta conhecida popularmente como Betônica

(Rhaphiodon echinus), llha Massangano, Petrolina – PE, 2015 61

Figura 04- Distribuição geográfica da espécie Rhaphiodon echinus no

Brasil, 2015 61

Figura 05 - Triterpenos pentacíclicos detectados no extrato acetônico

bruto de partes aéreas de R. echinus (MENEZES; KAPLAN, 2006). 63

Figura 06 – Foto da exsicata de R. echinus depositada no Herbário do

Vale do São Francisco 65

Figura 07 – Registros originais do efeito relaxante dos produtos

derivados de R. echinus em útero isolado de rata 85

Figura 08 - Efeito espasmolítico dos derivados de R. echinus sobre as

contrações tônicas induzidas com KCl 60 mM em útero isolado de rata 87

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LISTA DE QUADROS

Quadro 01- Dados sobre conhecimento e uso de plantas medicinais de

moradores (n=12) das Ilhas do Massangano, Rodeadouro e Jatobá

(PE/BA), 2014-2015

48

Quadro 02 - Sistema de eluição, controles e reveladores utilizados para

caracterizar os principais metabólitos secundários das frações do extrato

de Rhaphiodon echinus, por cromatografia em camada delgada

67

Quadro 03 - Componentes do meio Luria Bertani (LB) utilizado na

avaliação da atividade antimicrobiana 69

Quadro 04 - Substâncias constituintes da solução nutritiva Lock Ringer

utilizada na avaliação da atividade espasmolítica 71

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LISTA DE TABELAS

Tabela 01- Lista de ilhas onde o estudo foi realizado com as coordenadas

geográficas, rio São Francisco – Pernambuco/Bahia (região Nordeste do

Brasil), 2015

33

Tabela 02 - Recursos vegetais utilizados por moradores (n=12) das Ilhas

do Massangano, Rodeadouro e Jatobá (PE/BA), 2014-2015 49

Tabela 03 - Tabela 03 - Comparativo entre os valores de IR para as

espécies mais relevantes (IR ≥ 1,2) com os dados da literatura. IR1:

Valores obtidos nesta pesquisa, Ilhas de Massangano, Rodeadouro e

Jatobá (PE/BA), 2014/2015; IR2: Informações extraídas de

ALBUQUERQUE et al., 2007

54

Tabela 04 - Comparativo de indicadores etnobotânicos para as plantas

mais citadas por moradores das Ilhas de Massangano, Rodeadouro e

Jatobá (PE/BA), 2014. : importância relativa; CUPc: percentual corrigido

de concordância de uso; VU: valor de uso

56

Tabela 05 – Rendimento do extrato etanólico bruto (Re-EEB), das frações

hexânica (Re-HEX), clorofórmica (RE-CLO), acetato de etila (Re-AE)

obtidos pelo processamento de folhas, caules e flores de R. echinus

65

Tabela 06 - Caracterização fitoquímica das frações do extrato etanólico

bruto e do produto liofilizado de Rhaphiodon echinus 74

Tabela 07 - Constituintes químicos do óleo essencial de Rhaphiodon

echinus 78

Tabela 08 - Atividade antimicrobiana do extrato e frações, do liofilizado e

do óleo essencial das partes aéreas de R. echinus 80

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LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS

BA - Bahia

Ca2+ - Cálcio

CaCl2.2H2O - Cloreto de cálcio di-hidratado

CE50 – Concentração efetiva 50%

CEDEP – UNIVASF - Comissão de ética e deontologia em pesquisa da

Universidade Federal do Vale do São Francisco

CEUA – UNIVASF - Comissão de ética no uso de animais da Universidade

Federal do Vale do São Francisco

CFMV- Conselho Federal de Medicina Veterinária

CONCEA - Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal

CG-EM – Cromatografia gasosa acoplada a espectrômetro de massa

CGEN - Conselho de Gestão do Patrimônio Genético

CID 10 – Classificação Internacional de Doenças, 10ª edição

CIM - Concentração Inibitória Mínima

C6H12O6 - Glicose

CUP – Porcentagem de concordância quanto ao uso principal

CUPc – Porcentagem corrigida de concordância quanto ao uso principal

EEB - Extrato etanólico bruto

Emáx – Amplitude ou efeito máximo

e.p.m - Erro padrão da média

EUA - Estados Unidos da América

FC – Fator de correção

HIV – Vírus da Imunodeficiência Humana

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IR – Importância relativa

ITU - Infecção do trato urinário

KCL - Cloreto de potássio

Kg - Quilogramas

M - Concentração molar (mol/L)

mg - Miligramas

mL - Mililitros

MS – Ministério da Saúde

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Na+ - Sódio

NaHCO3 - Bicarbonato de sódio

NaOH - Hidróxido de sódio

OE-Re - Óleo essencial da Rhaphiodon echinus

OMS - Organização Mundial da Saúde

PE - Pernambuco

PNPIC - Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares

PNPMF - Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos

RE-AE: Fração de acetato de etila de Rhaphiodon echinus

Re-EEB: Extrato etanólico bruto de Rhaphiodon echinus

Re-CLO: Fração clorofórmica de Rhaphiodon echinus

Re-HEX: Fração hexânica de Rhaphiodon echinus

UNIVASF - Universidade Federal do Vale do São Francisco

VU – Valor de uso

WHO – World Health Organization

µg - Microgramas

µM - Micromolar

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 17

OBJETIVOS

OBJETIVO GERAL

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

22

CAPÍTULO I

CONHECIMENTO POPULAR E LEVANTAMENTO ETNOBOTÂNICO

DE PLANTAS MEDICINAIS NAS ILHAS DO SUBMÉDIO DO SÃO

FRANCISCO

24

1 ASPECTOS HISTÓRICOS E CONCEITUAIS 24

1.1 Considerações sobre o uso humano de plantas como

recurso terapêutico 24

1.2 A abordagem etnodirigida na pesquisa de novos fármacos:

contribuições para a ciência e a (re)valorização do

conhecimento popular

28

2 PERCURSO METODOLÓGICO 33

2.1 Universo, população e área de estudo 33

2.2 Observação do campo de pesquisa e levantamento

etnobotânico de espécies vegetais com potencial medicinal 36

2.2.1 Critérios de inclusão 38

2.3 Instrumentos de pesquisa e coleta de dados 38

2.4 Análise dos dados e apresentação dos resultados 39

2.5 Seleção da espécie mais citada e comparação de

indicadores etnobotânicos 40

2.6 Aspectos éticos 42

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 43

3.1 As ilhas e seus moradores 43

3.2 Conhecimento e uso de plantas medicinais 44

CAPÍTULO II

ANÁLISE FITOQUÍMICA PRELIMINAR E INVESTIGAÇÃO

FARMACOLÓGICA DE R. echinus (Lamiaceae)

59

1 ASPECTOS TEÓRICOS SOBRE A FAMÍLIA LAMIACEAE E A

ESPÉCIE R. echinus 59

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1.1 Considerações sobre a família Lamiaceae 59

1.2 Considerações sobre a espécie Rhaphiodon echinus 60

2 MATERIAIS E MÉTODOS 64

2.1 Local de realização dos experimentos 64

2.2 Seleção da espécie estudada 64

2.3 Coleta do material botânico 65

2.4 Obtenção e processamento do extrato etanólico bruto 65

2.5 Obtenção do produto liofilizado 66

2.6 Identificação preliminar da composição química por

screening fitoquímico 66

2.7 Processamento e obtenção do óleo essencial 68

2.8 Identificação da composição química do óleo essencial 68

2.9 Testes farmacológicos 68

2.9.1 Avaliação da atividade antibacteriana 68

2.9.1.1 Preparação das substâncias para os testes in

vitro 68

2.9.1.2 Espécies bacterianas utilizadas 69

2.9.1.3 Preparação do inóculo bacteriano 69

2.9.1.4 Determinação da concentração inibitória

Mínima (CIM) 69

2.9.2 Avaliação da atividade espasmolítica em útero isolada

de rata 70

2.9.2.1 Animais 70

2.9.2.2 Procedimento experimental para a avaliação da

atividade espasmolítica in vitro em órgãos isolados 71

2.9.2.3 Análise e apresentação dos resultados 72

2.9.2.4 Análise estatística dos resultados 73

2.10 Aspectos éticos 73

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 74

3.1 Constituintes químicos de Rhaphiodon echinus 74

3.2 Constituintes químicos do óleo essencial de Rhaphiodon

echinus 77

3.3 Atividade antibacteriana de Rhaphiodon echinus 79

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3.4 Atividade espasmolítica de Rhaphiodon echinus 83

CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS 90

REFERÊNCIAS 92

ANEXOS 106

APÊNDICES 109

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INTRODUÇÃO

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INTRODUÇÃO 17

A busca pela cura através do consumo de plantas é possivelmente,

umas das primeiras formas de utilização humana de produtos da natureza

(ZUANAZZI; MAYORGA, 2010). As estimativas da Organização Mundial da

Saúde (OMS) afirmam que cerca de 80% da população mundial usam os

princípios da medicina tradicional - com emprego de recursos naturais - nos

cuidados primários de saúde (OLIVEIRA et al., 2011). No Brasil, o uso de ervas

para fins medicinais é uma prática bastante comum, alicerçada pela

diversidade cultural advinda da colonização pelas populações europeia e

africana, além dos conhecimentos tradicionais indígenas (GIRALDI;

HANAZAKI, 2010).

O uso de plantas no tratamento de doenças vem ganhando cada vez

mais atenção das indústrias farmacêuticas, que consideram os recursos

naturais como importante fonte de matéria prima de novos medicamentos

(NEWMAN; CRAGG, 2007). Uma análise realizada sobre a origem dos

medicamentos desenvolvidos entre 1982 e 2002 revelou que 52% de todas as

novas entidades químicas lançadas no mercado provinham de produtos

naturais ou de derivados sintéticos elaborados com base em substâncias

encontradas em plantas, animais ou microrganismos (CHIN et al., 2006). O

interesse industrial pelos produtos naturais aumenta também por conta das

limitações existente em muitas terapias com medicamentos sintéticos. Os

analgésicos e anti-inflamatórios, por exemplo, considerada a classe

farmacoterapêutica mais prescrita na reumatologia mundial (MONTEIRO et al.,

2008) podem produzir ulceração gástrica, intolerância gastrintestinal, bloqueio

da agregação plaquetária e reações de hipersensibilidade (GOLDMAN;

GILMAN, 2012). Portanto, é evidente a necessidade de investigação e

pesquisa de novas drogas capazes de reduzir efeitos colaterais, garantindo

esquemas terapêuticos mais eficazes e seguros. Nessa perspectiva, muitos

pesquisadores passaram então, a reconhecer e valorizar a riqueza da flora

medicinal de diferentes regiões brasileiras caracterizadas pela diversidade da

vegetação, associada à heterogeneidade cultural.

Neste contexto, uma alternativa apontada para a descoberta de novos

fármacos é baseado em uma abordagem etnodirigida, que associa a

etnobotânica (estudo da relação entre os indivíduos e as plantas do seu meio)

com a etnofarmacologia (pesquisa interdisciplinar dos compostos

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INTRODUÇÃO 18

biologicamente ativos, tradicionalmente empregados ou observados pelo

homem no cuidado em saúde) (ALBUQUERQUE, 2005 apud CARNEIRO;

BARBOZA; MENEZES, 2010; ELISABETSKY, 2003). Dessa maneira

selecionam-se espécies conforme a indicação de populações tradicionais em

determinados contextos de uso, enfatizando a busca pelo conhecimento

construído localmente a respeito de seus recursos naturais (MACIEL et al.,

2002). Além da pesquisa de novas drogas, tais conhecimentos são de extrema

importância para outras diversas áreas da ciência como a sociologia,

antropologia, biologia, além de apresentar fundamentos para o

desenvolvimento de medidas sustentáveis (FUNARI; FERRO, 2005).

Os estudos etnodirigidos - a partir das populações tradicionais -

começaram a ganhar impulso nos anos de 1990 e é um dos caminhos muito

utilizados atualmente, por duas razões básicas: reduzida demanda de tempo e

o menor custo envolvido na coleta dessas informações (MACIEL et al., 2002).

A complexidade dos eventos para a descoberta de novas drogas implica muito

tempo (de sete a dez anos) e um grande volume de recursos envolvidos, o que

explica a concentração da pesquisa e desenvolvimento de novos

medicamentos nos países ditos do primeiro mundo, detentores de tecnologia e

recursos (FOGLIO et al., 2006). Por isso, a importância da pesquisa

etnobotânica como um meio mais custo-efetivo para a localização de novos

compostos bioativos passou a ser mais enfatizada. Além disto, pesquisas mais

recentes demonstraram que a chamada megabiodiversidade, encontrada na

Austrália, Brasil, China, Colômbia, Equador, Índia, Indonésia, Madagascar,

Malásia, México, Peru e Zaire, está seriamente ameaçada. Pensa-se, pois, na

estratégia de estudos sobre utilização das plantas de forma sustentável, para

conservação e reparação das áreas degradadas (NODARI; GUERRA, apud

SIMÕES et al., 1999; ALVES; ROSA, 2007; ALBUQUERQUE; RAMOS; MELO

2012).

Em busca de fomentar trabalhos de pesquisa na área de etnobotânica

e etnofarmacologia, percebe-se que grande parte das plantas nativas

brasileiras ainda não tem estudos suficientes para permitir a elaboração de

monografias completas e modernas. Muitas espécies são usadas

empiricamente, sem respaldo cientifico quanto à eficácia e segurança, o que

demonstra que em um país como o Brasil, com enorme biodiversidade, existe

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INTRODUÇÃO 19

uma extensa lacuna entre a oferta e pesquisas de plantas (FIRMO et al., 2011).

Ressalta-se, assim, a relevância do estudo com plantas com potencial

terapêutico no país, pois a vegetação brasileira representa ainda um vasto

celeiro de moléculas a serem descobertas.

A região do submédio do São Francisco segue o rio por uma faixa

territorial de cerca de 700 quilômetros, onde se localiza o Vale do são

Francisco. Essa é uma área fértil que abrange majoritariamente os estados

brasileiros de Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Sergipe e Alagoas. A sub-

região que mais se desenvolveu foi o polo Petrolina/Juazeiro, onde estão

localizadas muitas ilhas fluviais. Dentre as ilhas habitadas desse polo estão a

Ilha do Rodeadouro, a Ilha do Jatobá II e a Ilha do Massangano. As duas

últimas são pertencentes ao estado de Pernambuco, município de Petrolina,

enquanto que a Ilha do Rodeadouro é administrada por uma cooperação entre

os governos municipais de Petrolina- Pernambuco e Juazeiro-Bahia. De acordo

com o inciso III do artigo 20 da Constituição Federal as ilhas fluviais do Rio São

Francisco são propriedades da União (BRASIL, 1998). Porém, grande parte

destas áreas é habitada por famílias que em geral ocupam a região há muito

tempo e não têm registro legal de propriedade privada individual da terra,

definindo apenas o local de moradia como parcela individual, sendo o restante

do território encarado como área de utilização comunitária, com seu uso

regulamentado pelo costume e normas compartilhadas internamente (DE

CAMPOS, 2002; AQUINO, 2012).

Nestas ilhas, as plantas estão submetidas ao clima da caatinga, mas

por estarem às margens do rio têm abundante disponibilidade de água,

constituindo, portanto uma vegetação mista de espécies de grande valor,

caracterizando a especificidade da região (GODINHO; GODINHO, 2003). A

grande riqueza de espécies vegetais associada à dificuldade de acesso ao

sistema de saúde oferecido nas cidades, fez com que a população dessas ilhas

consolidasse o uso de recursos da própria região para tratamento e cura de

seus males. O conhecimento sobre o uso das plantas vem sendo transmitido

de geração a geração, e, apesar de hoje essas comunidades já contarem com

serviços assistenciais de saúde, muitos moradores permanecem reproduzindo

as práticas de cuidado envolvendo a flora local e seguem repassando para

seus filhos e netos.

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INTRODUÇÃO 20

Assim, considerando a importância do resgate do conhecimento sobre

plantas medicinais empregadas pelos ribeirinhos e visando contribuir com o

processo de pesquisa de substâncias bioativas, este trabalho buscou realizar o

levantamento etnobotânico de espécies medicinais utilizadas em comunidades

de ilhas do Submédio São Francisco, seguido por uma investigação fitoquímica

e farmacológica da espécie vegetal considerada mais relevante. Essa atividade

se constitui como o primeiro estudo dessa natureza com a população das ilhas.

Colabora, portanto para o reforço identitário, no entendimento da dinâmica do

povo pesquisado, valorizando e reconhecendo a diversidade que a área

comporta.

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OBJETIVOS

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OBJETIVOS 22

OBJETIVO GERAL

Identificar as principais plantas utilizadas com fins terapêuticos pelos

habitantes de ilhas fluviais do Submédio São Francisco – Ilhas do Massangano,

Jatobá II e Rodeadouro - bem como a relação histórico-cultural com as

mesmas, no processo saúde-doença e, a partir dessas informações, fornecer

subsídios para a procura de novos fármacos a partir da flora da região.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Conhecer as práticas de uso de plantas referentes ao cuidado em

saúde entre os moradores das ilhas fluviais do Massangano, Jatobá II e

Rodeadouro;

Pesquisar as espécies medicinais mais utilizadas pela

comunidade estudada, quanto a sua forma de obtenção, as principais

finalidades terapêuticas, forma de preparo e administração;

Selecionar a espécie mais importante para a investigação

fitoquímica e farmacológica, de acordo com o uso citado pela comunidade

ribeirinha.

Promover a aproximação entre o conhecimento popular tradicional

e o conhecimento científico, como contribuição à pesquisa de novos fármacos

partindo de recursos vegetais tradicionais da flora da região do Vale do São

Francisco.

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CAPÍTULO I

CONHECIMENTO POPULAR E LEVANTAMENTO

ETNOBOTÂNICO DE PLANTAS MEDICINAIS EM ILHAS DO

SUBMÉDIO DO SÃO FRANCISCO

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CAPÍTULO I 24

1 ASPECTOS HISTÓRICOS E CONCEITUAIS

1.1 Considerações sobre o uso humano de plantas como recurso

terapêutico

O hábito de recorrer às propriedades curativas dos vegetais pode ser

considerado uma das primeiras manifestações do esforço do homem para

compreender e utilizar recursos da natureza contra uma antiga preocupação - a

doença ou qualquer desconforto físico ou mental (WHO, 2002). É admirável

que todas as civilizações, nos mais diversos territórios, tenham desenvolvido

paralelamente à domesticação animal e o cultivo de plantas para alimentação,

a busca por produtos naturais com poder medicinal. Mas é ainda mais

interessante o fato de que este conjunto de conhecimentos tenha sobrevivido

durante séculos, se reestruturando e se diversificando, sem, contudo, cair

totalmente no esquecimento (ALVIM et al., 2006).

O homem primitivo buscou na natureza as soluções para os diversos males que o assolava, fossem esses de ordem espiritual ou física. Aos feiticeiros, considerados intermediários entre os homens e os deuses cabia a tarefa de curar os doentes, unindo-se, desse modo, magia e religião ao saber empírico das práticas de saúde, a exemplo do emprego de plantas medicinais. A era Antiga inaugurou outro enfoque, quando, a partir do pensamento hipocrático, que estabelecia relação entre ambiente e estilo de vida das pessoas, os processos de cura deixaram de ser vistos apenas com enfoque espiritual e místico. (ALVIM et al., 2006).

Evidências mostram que o uso de recursos naturais, especialmente as

plantas para a promoção de efeitos terapêuticos no homem ou animal surgiu

com o surgimento da própria humanidade (FIRMO et al., 2011). Existem

registros históricos que datam de 4.000 anos antes de Cristo (a.C.), sendo que

os primeiros escritos fitoterápicos são do período de 2.838 a 2.698 a. C.,

quando o imperador chinês Shen Nung catalogou 365 ervas, algumas

consideradas medicinais, outras venenos (VALE, 2002). O primeiro documento

considerado médico encontra-se no Museu da Pensilvânia, é datado de 2.100

a.C. e inclui uma coleção de trinta fórmulas diferentes de drogas de origem

vegetal, animal ou mineral. O manuscrito Egípcio “Ebers Papirus” (1.500 a.C.)

conta com 811 prescrições e 700 drogas também oriundas de fontes naturais.

Já um antigo registro chinês sobre plantas medicinais (500 a.C.) trazia

referências de nomes, doses e indicações de uso de plantas, algumas dessas

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CAPÍTULO I 25

ainda utilizadas pelas indústrias farmacêuticas atuais, como Ginseng (Panax

spp.), Ephedra spp., Cassia spp. e Rheum palmatum L. (DUARTE, 2006).

O pensamento positivista no final do século XIX e início do século XX

fortaleceu o desenvolvimento da pesquisa experimental e os cuidados

assistenciais em saúde passaram a seguir a orientação cartesiana. O

conhecimento e as terapêuticas anteriormente empregados na saúde humana,

a exemplo das plantas medicinais, entre outras práticas de origem popular,

foram marginalizados devido à ausência de comprovação científica (ALVIM et

al., 2006). Os recursos terapêuticos disponíveis até o século XIX oriundos

exclusivamente de plantas medicinais e extratos vegetais, foram substituídos

por produtos farmacêuticos industrializados, testados por protocolos

rigorosamente científicos (FIRMO et al., 2011).

Vivenciou-se no século XX o triunfo da indústria farmacêutica focada

na síntese química, que substituiu extratos naturais por moléculas sintéticas

que muitas vezes não tinha conexão com produtos naturais. O crescimento

espetacular da indústria farmacêutica teve um enorme impacto sobre o

tratamento e prevenção de doenças e se tornou uma das mais importantes

conquistas da história (RASKIN et al., 2002).

Apesar do aumento do uso de drogas sintéticas industriais, o uso de

materiais orgânicos para cura ou alívio de sintomas tem persistido como o

''tratamento de escolha'' para uma infinidade de problemas de saúde em

populações de todo o mundo (HALBERSTEIN, 2005). Nos países em

desenvolvimento, o conhecimento e uso de plantas medicinais é mais evidente.

Isto se justifica pelo fato de que grande parte da população possui baixa renda,

o que dificulta o acesso aos medicamentos industrializados. Recorre-se assim,

ao uso de plantas medicinais (OLIVEIRA; OLIVEIRA; ANDRADE, 2010;

BATISTA SILVA et al., 2015). Nesse sentido, a OMS calcula que mais de 80%

da população mundial faz uso da medicina tradicional nos cuidados primários

em saúde. E nos países em desenvolvimento esse número chega a 88%,

sendo que desse total, 85% fazem uso de plantas medicinais (OLIVEIRA et al.,

2011). No Chile e Colômbia 71% e 40% da população, respectivamente, usam

plantas como recursos terapêuticos (REVENE; BUSSMANN; SHARON, 2008).

No Brasil, não se sabe com exatidão o número de pessoas que utilizam

as plantas medicinais, mas, seguramente, essa tendência mundial também é

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CAPÍTULO I 26

seguida (CARVALHO, 2007). Isto porque o cenário de saúde brasileiro é

marcado por extrema iniquidade. Apenas 20% da população é responsável por

63% do consumo dos medicamentos industrializados disponíveis; o restante,

portanto, procura nos produtos de origem natural, especialmente as plantas

medicinais, a principal fonte de recursos terapêuticos. Essa alternativa é

utilizada tanto dentro de um contexto cultural, na medicina popular, quanto na

forma de fitoterápicos (FOGLIO et al., 2006).

Em muitos países desenvolvidos, o uso das práticas da medicina

alternativa e complementar, incluindo o uso de plantas medicinais, também

está se tornando cada vez mais popular, alimentado pela preocupação com os

efeitos adversos das drogas sintéticas, questionamentos sobre as abordagens

e pressupostos da medicina ocidental, e um maior acesso do público às

informações sobre saúde. Paralelamente a isso, o aumento da expectativa de

vida trouxe consigo o crescimento dos riscos de desenvolvimento de doenças

crônicas, como doenças cardíacas, câncer, diabetes e transtornos mentais

debilitantes. Para muitos pacientes os princípios da medicina tradicional

parecem oferecer formas de manejo menos invasivos e mais suaves desses

problemas médicos, quando comparados com as intervenções da medicina

cartesiana, o que também levou ao crescimento do uso de plantas com

potencial terapêutico (WHO et al., 2002; REVENE; BUSSMANN; SHARON,

2008).

O interesse na natureza como uma fonte de agentes terapêuticos

ultrapassa o uso popular nos sistemas primários de cuidados e está cada vez

mais forte no setor industrial farmacêutico. Calcula-se que cerca de 40% dos

medicamentos disponíveis na atualidade foram desenvolvidos direta ou

indiretamente a partir de fontes naturais, assim subdivididos: 25% de plantas,

12% de microorganismos e 3% de animais (CALIXTO et. al., 2001).

Aproximadamente 11% dos medicamentos considerados essenciais pela OMS,

são originários de plantas e uma parcela importante são drogas sintéticas

construídas a partir de moléculas precursoras naturais (RATES 2001; BRASIL,

2006). A área de pesquisa de novas drogas antitumorais apresenta o maior

impacto quando se fala de medicamentos derivados de plantas, onde, por

exemplo, os fármacos vimblastina, vincristina, camptotecina e paclitaxel

melhoraram drasticamente a eficácia da quimioterapia contra alguns dos

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CAPÍTULO I 27

cânceres mais mortais (MONTANARI; BOLZANI, 2001; CHIN et al., 2006). E

ainda, os fármacos mais importantes na prática clínica atual são derivados de

plantas, num contexto em que metabólitos secundários tais como alcaloides,

fenilpropanoides e terpenoides, estão bem documentados quanto à sua

atividade farmacológica (SHARMA, 2013).

No cenário mundial de cuidados em saúde, a OMS vem estimulando ao

longo de sua história o uso da medicina complementar alternativa nos sistemas

de saúde de forma integrada às técnicas da medicina ocidental moderna,

preconizando o desenvolvimento de políticas que observem os requisitos de

segurança, eficácia, qualidade e uso racional (BRASIL, 2006a). Segundo Lopes

e colaboradores (2005), “planta medicinal é toda planta que administrada ao

homem ou animal, por qualquer via ou forma, exerça alguma ação terapêutica”.

O tratamento feito com uso de plantas medicinais é denominado de fitoterapia

e os medicamentos produzidos a partir dessas plantas são denominados

fitoterápicos. Sendo assim, a fitoterapia é caracterizada pelo tratamento com o

uso de plantas medicinais, sem a utilização de princípios ativos isolados, com

finalidade profilática, curativa, paliativa ou com fins de diagnóstico (FIRMO et

al., 2011). Essa tendência mundial de defesa, estímulo e inserção da fitoterapia

nos programas de atenção primária em saúde tem início ainda em 1978, na

Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde realizada em

Alma-Ata, onde a OMS reconheceu oficialmente a prática da fitoterapia e

recomendou a difusão dos conhecimentos necessários para a sua

implementação. Esse movimento ganhou mais força quando a OMS, em sua

estratégia global sobre medicina tradicional e medicina complementar e

alternativa para o período 2002/2005, reafirmou o compromisso de estimular a

elaboração de políticas públicas que viabilizassem a inserção oficial de práticas

alternativas em saúde (FONTENELE et al., 2013).

Seguindo as recomendações da OMS, as diretrizes do Ministério da

Saúde (MS) no Brasil determinaram prioridades na investigação das plantas

medicinais, implantando a fitoterapia como prática oficial da medicina no

Sistema Único de Saúde (SUS). A Política Nacional de Práticas Integrativas e

Complementares – PNPIC, portarias/MS nº 971/2006 e nº 1.600/2006 e Política

Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos – PNPMF, decreto/MS nº

5.813/2006 contemplam diretrizes, ações e responsabilidades das três esferas

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CAPÍTULO I 28

de governo para oferta desses serviços e produtos. Estas vão além das

dimensões do setor saúde, visto que são intersetoriais e englobam toda a

cadeia produtiva de plantas medicinais e produtos fitoterápicos (BRASIL,

2006a; 2006b; 2006d; FONTENELE et al., 2013).

Dentre as principais justificativas citadas pelo MS para a implantação

da fitoterapia nos serviços públicos de saúde estão: 1) a ampliação do acesso

da população aos medicamentos; 2) grande aceitação da população,

considerando o resgate da cultura popular; 3) baixo custo; 4) necessidade de

orientação à população quanto ao uso correto das plantas medicinais; 5) baixo

número de efeitos colaterais e 6) eficácia comprovada (BRASIL, 2006c). Dessa

maneira, a aplicação da Fitoterapia pelo SUS inicia um período de fomento

desta prática com base científica, decorrente de estudos do conjunto de plantas

colecionadas por gerações de uma população que, durante muito tempo

possuía como única opção terapêutica, o uso empírico das plantas medicinais.

1.2 A abordagem etnodirigida na pesquisa de novos fármacos:

contribuições para a ciência e a (re) valorização do conhecimento popular

É notório que os produtos naturais desempenham um importante papel

no processo de descoberta de fármacos. Observando-se a história do

desenvolvimento da Aspirina®, por exemplo, modelo do paradigma ocidental

de fármaco como uma molécula pura com efeitos definidos, pode-se

compreender este fato (MAIA, 2008). A Aspirina®, produzido pela empresa

farmacêutica e química Bayer A.G., é um análogo sintético mais seguro do

ácido salicílico, um ingrediente ativo de casca de salgueiro (Salix sp.) que foi

descoberto independentemente por residentes de novos e velhos mundos

como um potente agente contra dores e febres (SHARMA, 2013). Atualmente,

a pesquisa farmacêutica considera que os compostos de origem natural

desempenham quatros funções importantes. Primeiramente, fornecem alguns

medicamentos extremamente úteis, cuja produção laboratorial para

comercialização na forma sintética é difícil, se não impossível. Muitos destes

produtos naturais são metabólitos secundários de plantas e os principais

grupos farmacologicamente úteis podem ser divididos em várias categorias que

incluem alcaloides, flavonas, terpenos, fenóis e polifenóis, com atividades anti-

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CAPÍTULO I 29

infecciosa, antioxidante, anti-inflamatória entre outras (GU et al., 2013). A partir

dos recursos naturais pode também se extrair compostos capazes de ser

modificados para ampliar a eficácia e/ou reduzir a toxicidade, tornando-os

terapeuticamente mais viáveis. Os produtos naturais podem ainda servir como

modelo para medicamentos sintéticos que tenham atividades fisiológicas

semelhantes às dos originais. Um exemplo clássico dessa função é vista pelos

anestésicos de ação local (MAIA, 2008).

Finalmente, o quarto papel atribuído aos produtos naturais decorre de

substâncias constituintes que apresentam atividade inexpressiva ou até mesmo

ausente, mas que podem ser redesenhados por processos químicos ou

biológicos para produzir drogas potentes, não obtidas facilmente por outros

métodos. Como exemplo disso, pode-se citar a produção de hidrocortisona ou

de corticosteroides relacionados, a partir do tratamento do estigmasterol, que

ocorre em abundância no óleo de soja (SIMÕES; SCHENKEL, 2002).

Fundamentada nesses argumentos, a indústria farmacêutica vem

aplicando grandes investimentos em pesquisas de bioprospeção, mesmo tendo

em conta que a pesquisa de novos fármacos é um mercado de alto risco. O

atual e intenso interesse da comunidade acadêmica, assim como da indústria

segue no sentido de descobrir novos princípios ativos e também aprimorar as

descobertas de novas atividades farmacológicas de substâncias já conhecidas.

Para tanto, diversas são as metodologias para a pesquisa e desenvolvimento

de novos fármacos. Estas abordagens podem ser resumidas em: seleção

aleatória ou randômica seguida de screening de compostos fitoquímicos e

bioensaios; seleção etológica (baseado nos estudos de comportamento animal

com primatas), seleção quimiotaxônomica (seleção de espécies de uma família

ou gênero, para as quais se tenha algum conhecimento fitoquímico); e a

abordagem etnodirigida (acompanhamento de uso de plantas medicinais em

grupos étnicos específicos). Todas as abordagens envolvem métodos

multifacetados que combinam técnicas botânicas, fitoquímicas, biológicas,

moleculares, entre outras (ALBUQUERQUE; HANAZAKI, 2006; GU et al.,

2013).

Embora o número de estudos de bioprospecção da flora tenha

aumentado, ainda pouco se sabe sobre os fatores que podem aumentar a

eficiência destes estudos, otimizando a pesquisa científica em termos de

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CAPÍTULO I 30

tempo, dinheiro e recursos humanos. Em todo o mundo, apenas 17% das

plantas foram estudadas de alguma maneira quanto ao seu emprego medicinal

e, na maioria dos casos, sem grande aprofundamento nos aspectos

fitoquímicos e farmacológicos (FOGLIO et al., 2006). Nesse sentido, é

indiscutível o papel dos estudos etnodirigidos (etnobotânicos e

etnofarmacológicos), uma vez que a busca de novas substâncias naturais com

ação terapêutica a partir do conhecimento tradicional tem demonstrado ser

uma ferramenta poderosa por diversos autores (RASKIN et al., 2002;

ALBUQUERQUE, 2006; FOGLIO, et al., 2006; GU et al., 2013). A

"Etnobotânica Aplicada" pode fornecer muitas evidências no apoio ao uso

tradicional de plantas, uma vez que utiliza métodos e tecnologias modernas

para investigar as inter-relações entre as plantas e as populações tradicionais e

não tradicionais, no que tange às questões de desenvolvimento humano,

conservação da natureza, questões de segurança alimentar e saúde pública

(DE OLIVEIRA et al., 2009). Já a análise etnofarmacológica combina as

informações das plantas adquiridas na comunidade, com estudos químicos e

farmacológicos, avaliando as técnicas tradicionais a partir de um grande

número de modelos farmacológicos rigorosos. Neste contexto, o uso tradicional

pode ser considerado como uma pré-triagem quanto à propriedade terapêutica

(ALBUQUERQUE; HANAZAKI, 2006; GURIB-FAKIM, 2006).

Partindo do pressuposto do uso tradicional como ferramenta

metodológica de seleção preliminar de espécies potencialmente medicinais,

pode-se resumir diversas etapas do processo de pesquisa, reduzindo também

custos e demanda de tempo. Essa vantagem aparece em alguns estudos que

comparam a abordagem etnodirigida com o método aleatório de seleção de

plantas medicinais. Por exemplo, em testes de extratos anti-HIV, uma pequena

amostra de plantas oriundas de curandeiros indígenas de uma vila em Belize

(América Central), apresentou-se quatro vezes mais eficiente do que a triagem

realizada com uma coleção aleatória (BALICK; COX, 1996 apud

ALBUQUERQUE; HANAZAKI, 2006). Slish e colaboradores (1999) realizaram

análise semelhante, utilizando bioensaios para contrações induzidas em

músculo liso. Encontraram que para o estudo etnobotânico o efeito observado

foi de 13% do total de 46 amostras, enquanto que seleção aleatória não obteve

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CAPÍTULO I 31

qualquer efeito para nenhuma das 44 das amostras de 32 espécies testadas

(SLISH et al., 1999).

É indispensável a ressalva dos objetivos de estudos etnodirigidos,

lembrados por Etkin (2001): a bioprospecção e o avanço da ciência

farmacêutica; a conservação e preservação da biodiversidade; promover o uso

local das plantas em combinação com os medicamentos e outras tecnologias

biomédicas já conhecidas; e fazer uso do conhecimento das comunidades

locais respeitando a sua propriedade intelectual. Portanto admite-se que esse

tipo de estudos é realizado em comunidades tradicionais com forte ligação com

a natureza. Segundo o decreto presidencial nº 6040/2007, entende-se por

comunidades tradicionais: (BRASIL, 2007).

Grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, além de possuir formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição (BRASIL. Decreto 6.040/7/02/2007. Art.3º.

pg. 01).

As estimativas denotam que povos e comunidades tradicionais ocupam

quase 25% do território brasileiro, mas pouco disso é legalmente reconhecido

(ESTERCI, 2008). Podemos destacar como população tradicional as

populações caiçaras, ribeirinhos, seringueiros, quilombolas, indígenas e outras

variantes. Os povos tradicionais possuem um vasto sistema de conhecimentos,

práticas e crenças, desenvolvidos por processos adaptativos e passados entre

gerações por transmissão cultural, sobre as relações entre os seres vivos entre

si e com o seu ambiente. É imprescindível que esse saber seja reconhecido,

utilizado e valorizado, não somente para garantir novos horizontes à pesquisa

científica, mas principalmente o fortalecimento identitário desses grupos

entendidos como minorias sociais (LEONEL, 2000). Entretanto, Albuquerque e

Hanazaki (2006) mencionam que muitos estudos etnodirigidos brasileiros

parecem desconectados da proteção do ambiente ou da propriedade

intelectual, necessitando de uma profunda reflexão ética no processo de

construção científica.

Como resultante dessas análises, iniciou-se uma discussão sobre

instrumentos oficiais para assegurar o estabelecimento de protocolos de

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CAPÍTULO I 32

pesquisa éticos e justos. No Brasil, a medida provisória n.º 2.186-16, de 23 de

agosto de 2001, oficializada pelo Decreto 3.945/01, regulamenta dispositivos

da Constituição Federal e dispõe sobre o acesso e proteção ao patrimônio

genético e conhecimento tradicional associado; a promoção e transferência de

tecnologia para sua conservação e a repartição dos benefícios gerados com a

pesquisa científica. Com isso, se estabeleceram ações de autorização e

acompanhamento de pesquisas da área, que ficaram a cargo do Conselho de

Gestão do Patrimônio Genético (CGEN), órgão ligado ao Ministério do Meio

Ambiente. Apesar do ineditismo, esta normativa parece gerar impasses

burocráticos, considerados por alguns pesquisadores como dificuldades

importantes para os trabalhos de pesquisa e desenvolvimento de novas drogas

a partir dos recursos naturais.

Todavia, antes mesmo de enfrentarmos essa problemática da

normatização das atividades de exploração da biodiversidade, há a

necessidade de conscientização sobre a relevância do assunto, já que

possuímos de 15 a 20% da biodiversidade mundial (KISHI, 2004). O Brasil,

pelo fato de estar entre as sete “megadiversidades”, deveria ser um foco

prioritário de investigação farmacológica de novas drogas, e da realização de

pesquisas que resgatassem o conhecimento popular em relação aos recursos

naturais, para que eles pudessem ser conhecidos, estudados e conservados. A

riqueza brasileira não é somente sob o ponto de vista da biodiversidade, mas

também da multiplicidade cultural sendo este o dueto mais importante na

construção do conhecimento que cada grupo dispõe sobre o uso de plantas

medicinais (RODRIGUES; CARLINI, 2002).

Diante do exposto, observa-se a relevância em se questionar sobre o

rigor metodológico das pesquisas etnobotânicas e/ou etnofarmacológicas, com

a reflexão profunda sobre as suas implicações éticas quanto ao acesso e

proteção à biodiversidade brasileira. As questões sobre quem se beneficia ou

quem prospera com o desenvolvimento da ciência tem que ser cotidianas, mas

devem ser ainda mais importantes em estudos com abordagem etnodirigida, os

quais têm a obrigatoriedade primordial de defender a valorização e o cuidado

para com as populações tradicionais.

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CAPÍTULO I 33

2 PERCURSO METODOLÓGICO

O estudo propõe contribuir com a valorização do conhecimento popular

construído pelos moradores das ilhas, utilizando-o como ferramenta de triagem

para espécies vegetais de potencial terapêutico. Devido esse caráter

interdisciplinar, observa-se a necessidade da separação do processo

metodológico em duas etapas: A primeira de caráter etnobiológico, aplicando

as técnicas do campo da pesquisa social, a fim de se familiarizar com as

relações étnico-culturais da comunidade. A segunda etapa, que estará descrita

no capítulo II, consiste na abordagem experimental com utilização sistemática

da tecnologia para pesquisa compostos bioativos, pautadas na extração,

isolamento e análises de componentes das plantas selecionadas.

2.1 Universo, população e área de estudo

O Rio São Francisco encontra-se inserido na região do semiárido

brasileiro. A região do submédio São Francisco possui 168.528 km2,

correspondendo a 26% de todo percurso do rio (MARQUES, 2006). Essa

região tem como principais polos urbanos os municípios de Petrolina-PE e

Juazeiro-BA, além de um conjunto de ilhas fluviais. As ilhas do Massangano e

Rodeadouro situadas no submédio São Francisco possuem respectivamente

uma área total de 206,3 hectares (ha) e 31,5 ha. Já a Ilha Jatobá II possui um

território com 5,9 ha (FABRICANTE, 2015) (Tabela 01; Figura 01). Nas três

ilhas, o espaço é dividido em sítios domiciliares, propriedades rurais e pontos

comerciais (AQUINO, 2012; LYRA; ARAÚJO, 2013). Há uma estimativa de

cerca de 1000 habitantes residindo nas três ilhas selecionadas e exercendo as

atividades de agricultor, barqueiro, pescador e comerciante (DAOU, 1994;

AQUINO, 2012).

Tabela 01- Lista de ilhas onde o estudo foi realizado com as coordenadas geográficas, rio São Francisco – Pernambuco/Bahia (região Nordeste do Brasil), 2015

ILHAS COORDENADAS GEOGRÁFICAS

Rodeadouro 09°27’54.38” S, 040°34’57.58” W

Massangano 09°27’36.10” S, 040°34’46.50” W

Jatobá II 09°23’54.94” S, 040°27’12.94” W

Fonte: Autoria própria.

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CAPÍTULO I 34

Figura 01- Localização espacial das ilhas onde o estudo foi realizado, rio São Francisco – Pernambuco/Bahia (região Nordeste do Brasil), 2015

Fonte: Google Earth, 2015.

As ilhas possuem um cenário bastante diverso, por vezes confuso em

meio a um ambiente rural, porém tão demarcado por hábitos urbanos,

circunstância considerada inevitável, dada a proximidade com cidades de

médio porte (AQUINO, 2012). Contudo, as atividades econômicas essenciais

permanecem sendo a agricultura e criação de pequenos animais, além da

pesca embora cada vez menos produtiva. Os serviços de entretenimento,

presentes por conta do fomento ao turismo, principalmente na Ilha do

Rodeadouro, complementa a gama de atividades produtoras de renda nessas

comunidades.

Não há muitos dados sobre a forma como essas ilhas foram povoadas.

Segundo Aquino (2012), a Ilha do Massangano começou a ser povoada em

1830 e seu nome é decorrente do nome de um fazendeiro que lá habitava e

que possuía boa parte das terras da ilha. Com a inundação da região devido à

construção da barragem de Sobradinho (1977), as pessoas procuraram abrigo

nessa área que não foi atingida pela construção da barragem. Dessa forma, o

“povo da ilha do Massangano”, também chamado de ribeirinhos ou beradeiros,

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CAPÍTULO I 35

são moradores antigos, sertanejos e relocados da barragem que vieram há

mais de 30 anos trabalhar nas fazendas de cebola e tomate e permaneceram,

criaram suas famílias e passaram a plantar no sistema de produção de

subsistência. Uma parcela ainda trabalha nos barzinhos do polo turístico da

Ilha do Rodeadouro, ou na cidade de Petrolina-PE. Os residentes ocupam o

lugar há muito tempo e vem passando a posse das terras entre as gerações de

suas famílias (AQUINO, 2012). A ilha dista 15km de Petrolina, e dados do

IBGE (2000) mostram que tem cerca de 150 famílias instaladas em uma vila

com extensão de 05km.

Já a ilha do Rodeadouro possui uma vila mensurada em

aproximadamente 04km, e cerca de 50 metros de largura separando “as

praias”. A mais extensa é considerada pela população “a praia” de Juazeiro.

Outras duas praias menores, que apontam para Petrolina, são tidas como

“praias” dessa cidade. É um lugar muito visitado por turistas, com boa parte de

sua população envolvida nas atividades de recepção desses visitantes. Apesar

disso, são poucos os moradores dessa ilha, embora não haja dados oficiais.

Segundo as informações dos populares, apenas cinco famílias mantém

residência fixa. A grande maioria das casas só é habitada aos finais de semana

ou feriados.

A ilha do Jatobá II é habitada por famílias que se instalaram há muito

tempo e, atualmente, desenvolvem atividades de pesca, agricultura e criação

de animais de pequeno porte. É a área onde a lavoura parece ser mais

evidente, sobressaindo a cultura de arroz e hortaliças, mas também na

produção de goiaba e manga. Possui o ambiente bastante marcado pelas

características rurais, com casas bem afastadas e ausência de pavimentação.

Também não possui estrutura de travessias e o transporte para a cidade é feito

através dos barcos dos próprios moradores ou pelo serviço municipal de

travessia para escolares. A Ilha do Jatobá II pertence ao estado de

Pernambuco, porém não foram encontrados dados oficiais quanto ao número

de habitantes. Os populares afirmam que cerca de sessenta famílias moram

permanentemente nesse território.

Quanto à infraestrutura, as três ilhas contam com energia elétrica, mas

não foi verificada a presença de rede de esgotamento ou outro serviço de

saneamento ambiental mantido pelo município, exceto a coleta semanal de lixo

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CAPÍTULO I 36

presente apenas na Ilha do Massangano. É possível perceber a presença de

fossas sépticas em algumas casas. Na vila da Ilha do Massangano foi

construída uma escola municipal com ensino fundamental e educação de

jovens e adultos, além de uma creche–escola e uma quadra poliesportiva. Já

os moradores das ilhas do Rodeadouro e Jatobá frequentam escolas

municipais nas sedes de Juazeiro-BA e Petrolina–PE. A assistência em saúde

ocorre nos serviços de Atendimento Médico Especializado (AME) na cidade de

Petrolina, para os ribeirinhos das ilhas do Massangano e Jatobá II, enquanto

que na Ilha do Rodeadouro, os moradores são adscritos à Unidade de Saúde

da Família do Rodeadouro localizada, próximo do cais da travessia.

É evidente o processo de arrendamento de porções de terras das ilhas,

uma vez que os habitantes não possuem o título de propriedade e tornam-se

donos de terra a partir da agregação à comunidade em formação. Hoje ocorre

também a ocupação por pessoas que moram nas cidades de Juazeiro e

Petrolina e possuem terrenos e casas nas ilhas, onde moram temporariamente,

geralmente nos finais de semana e feriados. Esta ocupação temporária

estimula o desenvolvimento das atividades comerciais de lazer e turismo.

Em relação à vegetação local, essas ilhas são caracterizadas por uma

riqueza natural bastante particular, num misto de caatinga e mata ciliar e com

superdominância da espécie de ingazeiros (Inga vera Willd). Os solos são

arenosos e apenas uma faixa de menos de 10 m de largura nas bordas das

ilhas é ocupada por plantas características das matas ciliares. Apesar de sua

importância, seja por razões ecológicas, econômicas e socioculturais, estas

ilhas ainda não são consideradas Áreas de Preservação Permanente (APP),

não possuindo, portanto, a proteção legal do país para a conservação de seus

habitats (BRASIL, 2012; FABRICANTE et al., 2015).

2.2 Observação do campo de pesquisa e levantamento etnobotânico de

espécies vegetais com potencial medicinal

A primeira etapa da pesquisa ocorreu com a aproximação com as

comunidades selecionadas. Realizaram-se visitas durante os meses de

novembro de 2014 e janeiro de 2015 a fim de se estabelecer um contato com

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CAPÍTULO I 37

os membros desse grupo. Nessa fase foram utilizados dois procedimentos para

coletar dados: a observação e a entrevista semiestruturada.

A observação direta, sob algum aspecto, é imprescindível em qualquer

processo de pesquisa científica, pois ela tanto pode conjugar-se a outras

técnicas de coleta de dados como pode ser empregada de forma independente

e/ou exclusiva. Na observação o investigador atua como espectador atento,

baseado nos objetivos da pesquisa (RICHARDSON, 1999). É importante

salientar que essa prática ocorreu seguindo um plano sistemático de

observação, baseado nos critérios etnobiológicos de investigação para plantas

medicinais, partindo também do conhecimento adquirido a partir do que há

disponível na literatura científica e dos documentos disponibilizados pelas

instituições públicas (Secretaria de Desenvolvimento e Turismo de Juazeiro –

BA e Secretaria de Turismo de Petrolina - PE). Nessa perspectiva, uma das

ferramentas utilizadas na coleta de dados qualitativos foi o diário de campo,

documento pessoal, onde se registraram percepções sobre as relações do

pesquisador com as pessoas e a situação de campo.

A partir da observação da comunidade – a observação dos espaços

públicos das ilhas, tais como igrejas, praças, bares, entre outros – bem como

de conversas informais em encontros oportunísticos com alguns moradores,

foram selecionados 12 informantes-chave (02 moradores da Ilha do

Rodeadouro, 04 da ilha do Jatobá II e 06 da Ilha do Massangano). Estas

pessoas possuíam destaque entre seus populares pelo conhecimento e

habilidade com plantas medicinais, sendo então considerados especialistas no

assunto.

A estratégia amostral foi qualitativa, intencional, não probabilística,

destituída de rigor estatístico, uma vez que se buscou apreender diversas

dimensões de aspectos cotidianos (PATTON, 2002) do uso das plantas no

cuidado em saúde. Na técnica utilizada, conhecida como “bola de neve”, a

inclusão progressiva dá-se a partir de um primeiro informante encontrado “ao

acaso” e amplia-se a partir de novos informantes encontrados da mesma

maneira. Um informante culturalmente competente, ou seja, especialista,

recomenda outro de competência similar, repetindo-se o processo a partir dos

novos incluídos. A amostragem foi considerada suficiente com base no efeito

de uma inclusão progressiva que permitiu aplicar o critério da exaustividade

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CAPÍTULO I 38

(ANDRADE; MARQUES; ZAPPI, 2006). Buscou-se ainda optar por

colaboradores a que tem maior acesso, possibilitando uma abordagem mais

confiável e profícua. Dessa maneira, os componentes da amostra foram

sujeitos que possuíam os atributos necessários ao pesquisador, listados a

seguir:

2.2.1 Critérios de inclusão

Possuir idade igual ou superior a 18 anos;

Ser reconhecido (a) socialmente pelo saber e uso de plantas

medicinais próprias das regiões das ilhas;

Ser produtor de “remédios caseiros”, isto é, fabricar produtos com

potencial terapêutico em pequena escala ou para uso familiar;

Ser morador fixo, ou seja, possuir residência permanente em

qualquer uma das três ilhas;

Se disponibilizar a participar voluntariamente do estudo mediante

a assinatura de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

2.3 Instrumentos de pesquisa e coleta de dados

Além dos dados registrados em diários de campo no momento da

observação, realizou-se uma entrevista semiestruturada, cujo roteiro consta de

05 perguntas desencadeantes, permitindo a livre expressão do colaborador

(Apêndice A). A entrevista foi escolhida como método principal da pesquisa,

uma vez que permite o acesso aos dados de difícil obtenção por meio da

observação direta, tais como concepções, crenças, sentimentos, pensamentos

e intenções (PATTON, 1990).

A entrevista ocorreu de forma individual, no domicílio dos

colaboradores. O primeiro momento foi de apresentação dos membros e das

intenções da pesquisa, seguido pela leitura, esclarecimento e assinatura do

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE B). Para o registro

dos dados, utilizou-se o registro escrito das falas. Assim, foram feitos

questionamentos sobre o porquê do uso de plantas medicinais, como foi obtido

o conhecimento sobre as plantas e também se direcionou para uma listagem

aberta de plantas medicinais encontradas nas ilhas, que são utilizadas no

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CAPÍTULO I 39

cotidiano. Foi utilizado o termo status no texto e tabelas para se referir a

classificação da planta como espontânea ou cultivada nas respostas ao

questionamento sobre como os informantes conseguiam as plantas medicinais

que utilizavam. Considerou-se que espécies espontâneas são aquelas que

ocorrem naturalmente na caatinga, sem ser cultivada, incluindo-se nesta

categoria as plantas nativas e invasoras (ALBUQUERQUE et al., 2007).

Buscou-se saber também outros aspectos como as partes vegetais utilizadas,

as vias de administração e maneiras de preparo, a duração do tratamento e

a(s) doença(s) tratada(s) (indicações). As indicações foram agrupadas com

base na classificação estatística internacional de doenças e problemas

relacionados à saúde, na sua décima revisão (CID 10) proposta pela

Organização Mundial da Saúde (OMS, 2000) e as doenças ou estados que não

puderam ser inclusos nesta classificação geral, foram agrupadas na categoria

“sintomas e sinais gerais”.

2.4 Análise dos dados e apresentação dos resultados

Os dados extraídos do diário de campo construído no momento da

observação das comunidades foram analisados para a elaboração dos

aspectos descritivos da comunidade. Já as falas dos sujeitos foram analisadas

mediante leitura sistemática de todas as informações registradas, separando-

as por categorias de análise, apoiadas nos conceitos teóricos utilizados no

estudo, num processo que permite uma ampla representação do conteúdo

(BARBOSA, FERREIRA, BARBOSA, 2012). Os nomes das plantas foram

registrados conforme pronunciados pelos informantes, e na maioria dos casos

conseguiu-se identificar com grande segurança as espécies com base na

consulta à literatura específica, do site do Missouri Botanical Garden (Biblioteca

do Conselho sobre Botânica e Horticultura, Missouri, EUA) e do o sistema da

Lista de Espécies da Flora do Brasil (Jardim Botânico do Rio de Janeiro).

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CAPÍTULO I 40

2.5 Seleção da espécie mais citada e comparação de indicadores

etnobotânicos

A fim de poder comparar as espécies de plantas medicinais quanto à

importância da sua utilização, calculou-se para cada espécie a importância

relativa (IR), com base na proposta de Bennett e Prance (2000). O cálculo do

IR, sendo 2 o valor máximo obtido por uma espécie, revela que as espécies

que obtém os maiores resultados são considerados mais versáteis,

apresentando maior número de propriedades medicinais e atuação no

tratamento de problemas nos mais diversos sistemas corporais. Como tal, a

importância de uma espécie aumenta quanto mais for utilizada para o

tratamento de enfermidades variadas (ALBUQUERQUE et al., 2006). Calcula-

se, pois, a partir da seguinte fórmula (1) (ALMEIDA; AMORIM;

ALBUQUERQUE, 2011):

IR = NSC + NP (1)

NSC = NSCE/NSCEV (2)

NP = NPE/NPEV (3)

Onde NSC = número de sistemas corporais tratados por uma

determinada espécie (NSCE), dividido pelo número total de sistemas corporais

tratados pela espécie mais versátil, isto é a que tem o maior número de

propriedades medicinais (NSCEV) (2); NP = número de propriedades atribuído

a uma determinada espécie (NPE), dividido pelo número total de propriedades

atribuídas à espécie mais versátil (NPEV)(3).

O IR foi considerado o principal indicador, haja vista que do ponto de

vista farmacológico e respeitando as limitações do estudo, é tido como um

importante critério de seleção de plantas para pesquisa mais aprofundada de

compostos com potencial biológico (ALBUQUERQUE et al., 2007).

Adicionalmente, utilizaram-se outras duas metodologias distintas,

denominadas porcentagem de concordância quanto aos usos principais para

cada espécie (CUP) e Valor de Uso (VU). De acordo com a teoria proposta por

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CAPÍTULO I 41

Amorozo e Gély (1988) e repetida com sucesso por Oliveira (2008), CUP

mostra a importância relativa das plantas utilizadas nesta comunidade de

acordo com o número de entrevistados que as citaram e a concordância dos

usos informados (4). Calcula-se o fator de correção (FC) para cada espécie (5),

o qual permite a extração de valores de importância relativos à espécie mais

citada pelos entrevistados (CUPc) (6) (OLIVEIRA, 2008; MASSAROTTO,

2009).

CUP = (ICUP / ICUE) × 100 (4)

FC= ICUE / espécie mais citada (5)

CUPc = CUP × FC (6)

Onde ICUP = número de informantes que citaram os usos principais;

ICUE = número de informantes que citaram o uso da espécie.

A técnica de VU, a qual é baseada no número de usos e no número de

pessoas que citam uma dada planta, tem sido amplamente utilizada na

literatura etnobotânica, a fim de indicar as espécies que são considerados mais

importantes por uma população específica (ALBUQUERQUE et al., 2006). O

VU assume que a importância relativa de uma planta é dada basicamente pelo

número de usos que a mesma apresenta (7) (SILVA; ALBUQUERQUE, 2004).

VUs =∑ Us / n (7)

Onde VUs = valor de uso da espécie s; Us = número de usos

mencionados por cada informante para a espécie s; e n = número total de

informantes.

Para a espécie que obteve, concomitantemente, os maiores valores de

IR, CUPc e VU, buscou-se coletar o material botânico para a construção de

uma exsicata, encaminhada para identificação e depósito junto aos

profissionais do Herbário do Vale do São Francisco.

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CAPÍTULO I 42

2.6 Aspectos éticos

As ilhas do Massangano, Rodeadouro e Jatobá II assim como qualquer

outra ilha fluvial, são consideradas território da União, conforme está

explicitado na Constituição Federal de 1988 (Art. 20, inciso III). Dessa forma, a

região é tratada como área de utilização comunitária, com seu uso

regulamentado pelo costume e por normas compartilhadas internamente. Para

os governos municipais, os quais respondem pela organização administrativa e

fornecimento de serviços de direito público, estas áreas são consideradas

bairros constituintes das cidades de Juazeiro-BA e Petrolina-PE. Isso implica

na não exigibilidade de documento atestando a concordância ou anuência

institucional uma vez que o trabalho irá se desenvolver em território público.

O presente estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética e

Deontologia em Estudos e Pesquisas da Universidade Federal do Vale do São

Francisco (CEDEP/UNIVASF) estando registrado sob o nº 0006/240914

CEDEP/UNIVASF (Anexo A). E o consentimento livre e esclarecido foi obtido

através da leitura, compreensão total e assinatura do Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido (Apêndice B) para todos os entrevistados da etapa 01 da

pesquisa, assegurada a adequação às peculiaridades culturais e linguísticas

dos envolvidos.

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CAPÍTULO I 43

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 As ilhas e seus moradores

Na busca por dados oficiais, foram consultadas as instituições públicas

municipais responsáveis pela manutenção de serviços nas ilhas, como as

Secretarias de Turismo e de Educação das cidades de Petrolina-PE e Juazeiro-

BA. Entretanto, a indisponibilidade de informações sociodemográficas relatada

nesses órgãos, levou à utilização de informações provenientes dos populares e

as percepções registradas pela pesquisadora.

Os moradores entrevistados tinham idade variando de 26 a 85 anos

(média de 64,83 anos e desvio padrão de 16,95 anos) e com maioria feminina

(83%; n=10). Em trabalhos realizados por outros autores, as mulheres também

corresponderam à maior parcela das entrevistadas (CARREIRA; ALVIM, 2008;

FREITAS et al,. 2012; FURLANETTO; NOVAKOWSKI; CORREA, 2012). O fato

dos especialistas serem majoritariamente do sexo feminino guarda uma relação

bastante própria com a medicina popular, uma vez que a tarefa de cuidar da

família está tradicionalmente associada ao papel de maternidade (CARREIRA;

ALVIM, 2008). Além disso, a maior parte dos entrevistados possuía pouca ou

nenhuma escolaridade (41,67%; n= 5 possuíam o primeiro grau incompleto e

25%; n= 3 eram analfabetos). O baixo grau de instrução formal também foi

verificado em estudos etnobotânicos com comunidades ribeirinhas da Bahia

(MOREIRA et al, 2002) e do Pará (CARNEIRO et al., 2010). Todos habitavam

há muitos anos nas ilhas (mediana de anos de residência de 44,58 anos) e

muitos relataram ter nascido na ilha, sendo, pois, os pais que haviam migrado

para a região.

Essas comunidades possuem uma composição étnica bastante

variada, encontrando-se descendentes indígenas, filhos de comunidade

remanescentes quilombolas, de garimpeiros, de barqueiros e agricultores do

Sudeste (em especial de Minas Gerais), e vaqueiros do sertão nordestino. Essa

mistura de povos também foi encontrada no trabalho sobre o povo da Ilha do

Massangano, realizada por Aquino (2012). Entretanto, apesar da

heterogeneidade da formação inicial, este povo construiu e mantém uma

identidade própria, fundamentada no “ser da ilha” (AQUINO, 2012), reforçada

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CAPÍTULO I 44

no cotidiano com familiares/ vizinhos, nos ritos culturais e festejos

comemorativos como dos dias dos Reis, de São José e de Santo Antônio, além

das manifestações artísticas como dos grupos e rodas de samba, a exemplo do

Samba de “Véio”.

Disso decorre que a religiosidade encontra-se presente como fator que

influencia as diferentes formas de cuidado em saúde, incluindo o uso de

plantas medicinais. A crença religiosa é colocada como condição primordial

para que ocorra um resultado positivo no processo de cura ou melhoria de

qualquer enfermidade. Este fenômeno também foi discutido em um estudo com

ribeirinhos da ilha Mutum / Porto Rico, Paraná. Neste, a religião é enaltecida e

vista como necessária em todas as condutas e procedimentos realizados -

sejam profissionais ou populares - para que haja um resultado favorável

(CARREIRA; ALVIM, 2008). Isso aponta para a relevância de conhecer e

valorizar os aspectos culturais e singulares do “povo das ilhas”, com vistas a

garantir o respeito às suas especificidades locais, não só no que tange à

assistência em saúde, mas também no atendimento adequado de demandas

relacionadas a outros setores da sociedade.

3.2 Conhecimento e uso de plantas medicinais

O uso de plantas nos cuidados em saúde é uma atividade diária nas

ilhas, cujos conhecimentos são transmitidos pela oralidade de geração em

geração. Isso foi evidenciado nas respostas dos questionários, onde todos os

colaboradores afirmaram ter conhecimento de plantas com potencial

terapêutico mediante informações da mãe, do pai, avó ou outros familiares

mais velhos (Quadro 01). A transmissão oral do conhecimento tradicional é fato

já bem elucidado em outros trabalhos etnodirigidos (CARNEIRO; BARBOZA;

MENEZES, 2010; FIRMO et al., 2011), o que revela a fala como uma

ferramenta imprescindível para a difusão de saberes e valores culturais entre

os membros de uma comunidade e, garantindo a continuidade da mesma.

Nesse sentido, a fala reforça também a importância da família dentro da

comunidade, uma vez que é papel dos mais velhos transmitir os

conhecimentos aos mais novos, que aprendem ouvindo ou imitando-os (DE

SOUZA PERRELLI, 2008).

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CAPÍTULO I 45

Os determinantes para o uso de plantas medicinais foram definidos

como a confiança no potencial dos recursos naturais; sua preferência quando

comparados aos produtos farmacêuticos industrializados e a facilidade de

acesso (Quadro 01). Essas justificativas foram apontadas em diversos estudos

(STALCUP, 2000; RODRIGUES; CARVALHO, 2001; CARREIRA; ALVIM,

2008; FURLANETTO; NOVAKOWSKI; CORREA, 2012), mas alguns trabalhos

enfatizam que as plantas são muito utilizadas, não só pela acessibilidade

geográfica - dada a ocorrência no ambiente onde vivem os usuários -, mas

também por serem comercializados a preços menores do que os

medicamentos sintéticos ou ainda por apresentarem uma alternativa de

cuidado mais viável frente às dificuldades de assistência médica (STALCUP,

2000).

O quadro 01 mostra também que as formas de uso mais comuns foram

chá, banho e xarope, também relatados com frequência em outros estudos

realizados na região nordeste brasileira (MOREIRA et al., 2002; FREITAS et

al,. 2012). Contudo, diferentemente do que foi visto por Moreira e

colaboradores (2012), percebeu-se na fala dos entrevistados certa confusão

sobre as técnicas de preparo do chá, sendo que alguns descreveram o

procedimento de decocção, enquanto outros falaram da infusão. Quanto aos

xaropes caseiros, constituem preparações espessadas com açúcar, mel ou

rapadura, conhecidas popularmente como “lambedores”. São indicados para

tosse, coqueluche ou como tônicos e frequentemente utilizados para crianças,

devido à sua facilidade de administração e sabor agradável (DE FÁTIMA AGRA

et al., 2007). Já os banhos, preparados a partir de decocto ou infuso, são

considerados a principal forma de uso externo, para tratar problemas

dermatológicos como escaras, feridas e dermatite, ou ainda para amenizar o

mal-estar provocado pela doença (FRANCO; BARROS, 2006)

Todos os entrevistados utilizavam plantas medicinais cultivadas na sua

residência ou nas casas dos vizinhos (Quadro 01). Poucos especialistas

referiram a utilização de espécies com status de espontânea, justificando este

fato pelas mudanças ocorridas no ambiente, como por exemplo, a lavoura de

hortaliças e criação de animais de pequeno porte. Estas alterações foram

consideradas as principais causas da redução da vegetação nativa e, por conta

disso os informantes relataram a necessidade de cultivar as plantas com

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CAPÍTULO I 46

potencial terapêutico em regiões peridomiciliares (quintais e jardins), onde

supostamente estariam mais protegidas. Isso confirma a proposição de

Amorozo (2002) que a alteração antrópica decorrente das mudanças nos

padrões de uso dos recursos ambientais locais pode reduzir a disponibilidade

de plantas nativas e espontâneas e como consequência tem-se uma redução

do seu uso com objetivos terapêuticos.

Da forma semelhante, Moreira e colaboradores (2002) observaram

que a população de Ilhéus – BA usavam mais plantas cultivadas em quintais, o

que se justifica, segundo os autores, pela possibilidade de maior troca não só

de informações, mas também de sementes e mudas entre os especialistas. Em

outro estudo na área da caatinga (numa comunidade rural de Caicó, Rio

Grande do Norte), percebeu-se que os informantes realizam o cultivo apenas

de plantas medicinais consideradas exóticas e, apesar do uso frequente, não

realizavam qualquer armazenamento ou cultivo das herbáceas nativas ou

mesmo daquelas plantas que desapareciam durante o período de seca

(ROQUE; ROCHA; LOIOLA, 2010). Em contrapartida, no agreste do estado de

Pernambuco, Albuquerque e Andrade (2002 a) descobriram que a comunidade

analisada preferia usar plantas medicinais encontradas na vegetação nativa,

negligenciando ainda plantas com usos similares mais acessíveis. Nesse

estudo, apenas uma pequena parcela das plantas medicinais era cultivada

(29,16%) e era ainda somente disponível na estação chuvosa

(ALBUQUERQUE; ANDRADE, 2002 a).

Carneiro, Barbosa e Menezes (2010) discutem a baixa frequência de

uso de plantas nativas pelos moradores da Vila dos Pescadores em Bragança,

Pará, o que pode ocorrer em função de três fatores: 1) metodologia de

amostragem; 2) baixa diversidade de espécies vegetais ou 3) desconhecimento

da vegetação local. Essas hipóteses justificativas citadas pelos autores

também podem estar presentes nesse estudo. Primeiro, é possível que a

metodologia de amostragem tenha influenciado nos dados, já que o roteiro

semiestruturado das entrevistas deixou os informantes livres para recordar as

espécies que faziam uso. Daí as espécies mais faladas podem ser as utilizadas

mais recentemente ou com maior frequência enquanto que aquelas usadas

eventualmente não foram lembradas. Além disso, as entrevistas ocorreram nas

residências dos especialistas e pôde-se perceber que alguns respondentes

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CAPÍTULO I 47

procuravam pelas plantas que estavam próximas, isto é, buscavam lembrar-se

daquelas cultivadas nos seus quintais e jardins.

A segunda hipótese refere-se à mudança ambiental como um fator

importante na redução de plantas medicinais nativas ou que ocorriam

espontaneamente na região (CARNEIRO; BARBOSA; MENEZES, 2010). No

presente estudo esse argumento foi bastante referido pelos entrevistados,

conforme já foi descrito anteriormente. E a terceira provável explicação,

relaciona-se ao pouco conhecimento a respeito da vegetação local

(CARNEIRO; BARBOSA; MENEZES, 2010). Nas ilhas analisadas, o saber

sobre plantas advém dos familiares mais velhos, que migraram para essa

região. Logo, os pais e avós traziam consigo as informações de plantas

presentes em outras regiões, cuja vegetação pode não ser similar àquela

encontrada originalmente nas ilhas.

Supõe-se, então, que há diversos padrões de uso dos recursos

vegetais nos diferentes ambientes. Embora não existam estudos específicos

sobre o assunto, percebe-se que o status das plantas medicinais utilizadas em

comunidades tradicionais é um tema que vem sendo discutido pelos estudiosos

da etnobotânica (ALBUQUERQUE; ANDRADE, 2002 b; AMOROZO, 2002;

CARNEIRO; BARBOZA; MENEZES, 2010; SOUZA et al., 2010; BATISTA

SILVA et al., 2015). Nas regiões semiáridas, observa-se que a utilização de

plantas depende de vários fatores que vão desde a disponibilidade dos

recursos até o grau de interesse por um item em especial (ALBUQUERQUE;

ANDRADE, 2002b). Alguns interpretam a diversidade de uso das plantas

cultivadas e exóticas como um sinal de aculturação, enquanto outros veem

aspectos positivos no uso de ervas daninhas e plantas invasoras nos diferentes

sistemas de saúde tradicionais (ALBUQUERQUE; ANDRADE, 2002 b). É

possível que essa variação de status das plantas medicinais mais usadas seja

uma reflexo das características de cada comunidade, de como evoluem as

suas práticas de cuidado, das mudanças na relação com a natureza, assim

como dos resultantes do contato com outros povos etnicamente diferentes

(AMOROZO, 2002).

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CAPÍTULO I 48

Quadro 01- Dados sobre o conhecimento e uso de plantas medicinais de informantes (n=12) das Ilhas do Massangano, Rodeadouro e Jatobá (PE/BA), 2014-2015

Inf.*

Origem do conhecimento sobre plantas

medicinais

Motivo de uso de plantas medicinais

Principais formas de

uso / preparo

Status das plantas

medicinais

01

Familiares mais velhos**

(descendentes indígenas)

Confiança nos produtos naturais; Facilidade de acesso às plantas

medicinais

Chás; banhos; infusão

Cultivadas no domicílio

02 Pais Preferência por produtos naturais

frente aos medicamentos industrializados

Chás; banhos

Cultivadas no domicílio

03 Mãe Preferência por produtos naturais

frente aos medicamentos industrializados

Chás; xarope;

macerado

Cultivadas no domicílio e na

vizinhança

04 Familiares mais

velhos**

Preferência por produtos naturais frente aos medicamentos

industrializados

Chás; xarope

Cultivadas no domicílio e

espontâneas

05 Avó Preferência por produtos naturais

frente aos medicamentos industrializados

Chás; banhos; xarope

Cultivadas no domicílio e

espontâneas

06 Pais Confiança nos produtos naturais Chás;

banhos

Cultivadas no domicílio e

espontâneas

07 Pais;

Familiares mais velhos**

Preferência por produtos naturais frente aos medicamentos

industrializados

Chás; banhos

Cultivadas no domicílio

08 Mãe Preferência por produtos naturais

frente aos medicamentos industrializados

Chás; sucos;

consumo in natura

Cultivadas no domicílio e

espontâneas

09 Pais;

Familiares mais velhos**

Confiança nos produtos naturais Chás Cultivadas na vizinhança e espontâneas

10 Pais Facilidade de acesso às plantas

medicinais Chás;

banhos Cultivadas no

domicílio

11 Mãe Preferência por produtos naturais

frente aos medicamentos industrializados

Chás; xarope

Cultivadas no domicílio e

espontâneas

12 Familiares mais

velhos**

Preferência por produtos naturais frente aos medicamentos

industrializados

Chás; banhos

Cultivadas no domicílio

*Número de identificação do informante; ** Foram citados diversos familiares como: tios, avós e bisavós. Fonte: Autoria própria.

Na listagem livre de plantas medicinais identificou-se 34 espécies

diferentes, pertencentes a 22 famílias e com 51 indicações diversas (Tabela

02). A família mais frequente foi a Lamiaceae, com 05 representantes, sendo a

mais indicada também nos trabalhos de Moreira e colaboradores (2002) e

Souza e colaboradores (2010). Além disso, as famílias Lamiaceae e

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CAPÍTULO I 49

Asteraceae foram muito citadas no levantamento de estudos científicos de

plantas medicinais da caatinga, realizada por Albuquerque e colaboradores

(2007). Isto por que foram referidas muitas espécies cultivadas e espontâneas

de ampla distribuição pertencentes a essas famílias, que também estão entre

as mais representativas nos estudos etnobotânicos desenvolvidos em outros

biomas brasileiros, como a Mata Atlântica (ALBUQUERQUE et al., 2007).

As folhas foram a parte da planta mais usada, com 73,5% das citações

(n=25). Isto se deve provavelmente, à frequente utilização de plantas

medicinais herbáceas cultivadas pelas pessoas da comunidade, cujas folhas

estão disponíveis durante todo o ano (AMOROZO, 2002). Entretanto foram

encontrados outros estudos da caatinga com resultados divergentes (ALMEIDA

et al., 2006; ALBUQUERQUE; ANDRADE 2002a; 2002b). Uma pesquisa

realizada em dois municípios próximos a Usina Hidrelétrica Xingó, no Vale do

São Francisco (fronteira com os estados da Bahia, Alagoas e Sergipe)

encontrou que as flores são a parte da planta mais utilizada. Todavia é

importante notar que nesse estudo, as flores foram usadas tanto sozinhas,

como com outras partes das plantas (folha e/ou caule), o que pode indicar que

quando determinada parte da planta encontra-se indisponível, a população

pode coletar outro elemento da mesma planta para o propósito pretendido

(ALMEIDA et al., 2006). Já Albuquerque e Andrade (2002a; 2002b) enfatizam

que na caatinga, normalmente o caule ou sua casca é mais coletado para uso

medicinal devido à contínua oferta desses recursos (que também são

minimamente afetados pela irregularidade de água), argumentando, então, que

a sazonalidade local é um regulador importante na relação entre as pessoas e

as plantas da região (Tabela 02).

Tabela 02 – Plantas medicinais utilizadas por moradores (n=12) das Ilhas do Massangano, Rodeadouro e Jatobá (PE/BA), 2014-2015

(continua)

N Nome comum Espécie Indicação de uso Parte usada

Forma de uso /

preparo IR

1. Família Lamiaceae

01 Agua-de-alevante

Mentha gentilis L.

Hipertensão Folhas Infusão 0,8

02 Erva-cidreira Melissa

officinalis L. Cólica intestinal Folhas Chá 0,8

03 Hortelã,

Hortelã-miúda Mentha x

villosa Huds. Gripe; Cólica

intestinal Folhas Chá 2,0

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CAPÍTULO I 50

Tabela 02 – Plantas medicinais utilizadas por moradores (n=12) das Ilhas do Massangano, Rodeadouro e Jatobá (PE/BA), 2014-2015

(continuação)

N Nome comum Espécie Indicação de uso Parte usada

Forma de uso /

preparo IR

04 Betônica

Rhaphiodon echinus (Nees

& Mart.) Schauer

Infecção urinária; Cólica menstrual;

Problemas digestivos

Folhas, flores, caule

Chá; banho 2,0

05 Vick, Hortelã-

Vick, Mentha

arvensis L. Gripe Folhas Chá 0,8

2. Família Anacardiaceae

06 Aroeira Myracrodruon

urundeuva

Allemao

Infecção urinária e dermatológica

Caule Infusão 1,7

07 Cajueiro Anacardium

occidentale L. Diabetes;

Cicatrização. Caule Infusão 1,7

08 Mangueira Mangifera indica L.

Coqueluxe; Infecção

respiratória Folhas Chá 0,8

3. Família Fabaceae

09 Jatobá Hymenaea courbaril L.

Anemia Caule Infusão 0,8

10 Pau-ferro Caesalpinia férrea Mart.

Anemia Caule Melaço 0,8

11 Jurema-preta Mimosa

tenuiflora (Willd) Poir.

Lesões de pele Caule Banho 0,8

4. Família Malvaceae

12 Malva-santa, Malva-branca

Sida cordifolia L.

Inflamação; Cicatrização;

Diarreia Folhas Chá 2,0

13 Quiabo Abelmoschus esculentus (L.)

Moench Diabetes Folhas Chá 0,8

5. Família Zingiberaceae

14 Colônia

Alpinia speciosa

(Blume) D. Dietr.

Hipertensão Folhas Chá 0,8

15 Gengibre Zingiber officinale Roscoe

Dor Articular; Gripe

Raízes Chá, xarope 0,8

6. Família Asteraceae

16 Macela Egletes

viscosa (L.) Less.

Cólica intestinal Folhas Chá 0,8

17 Picão-preto Bidens sp. Coqueluxe;

Infecção respiratória

Folhas Chá 1,7

7. Família Rutaceae

18 Arruda Ruta

graveolens L.

Infecção urinária; Problemas digestivos

Folhas Chá, suco 1,5

19 Limão Citrus limonum

Russo Verminose Fruto Suco 0,8

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CAPÍTULO I 51

Tabela 02 – Plantas medicinais utilizadas por moradores (n=12) das Ilhas do Massangano, Rodeadouro e Jatobá (PE/BA), 2014-2015

(conclusão)

N Nome

comum Espécie Indicação de uso

Parte usada

Forma de uso /

preparo IR

8. Família Xanthorrhoeaceae

20 Babosa* Aloe vera (L.)

Burm. f. Verminose Folhas Suco 0,8

9. Família Amaryllidaceae

21 Cebola* Allium cepa L. Diabetes Folhas Chá 0,8

10. Família Aristolochiaceae

22 Jarrinha Aristolochia sp. Gripe Raiz Xarope 0,8

11. Família Myristicaceae

23 Noz

moscada Myristica fragrans

Houtt. Dor articular Sementes Chá 0,8

12. Família Rhamnaceae

24 Juazeiro,

Juá Ziziphus joazeiro

Mart. Gripe; Cárie Caule Pó (tópico) 1,7

13. Família Lauraceae

25 Abacate, Abacatei-

ro

Persea americana Mill.

Dor renal (Infecção urinária)

Folhas Chá 0,8

14. Família Moraceae

26 Amoreira Amora-negra

Morus nigra L. Perda de peso Folhas Chá 0,8

15. Família Poaceae

27 Capim-santo

Cymbopogon citrates (DC.) Stapf

Hipertensão Folhas Chá 0,8

16. Família Combretaceae

28 Castanho-

la Terminalia catappa

L. Dor renal

(infecção urinária) Folhas Chá 0,8

17. Família Annonaceae

29 Graviola Annona muricata L. Prevenção de

câncer Folhas Chá 0,8

18. Família Amaranthaceae

30 Mastruz Chenopodium

ambrosioides L. Gripe Folhas Chá; suco 1,2

19. Família Cucurbitaceae

31 Melão-de-

são-caetano

Momordica charantia L.

Dor (processos inflamatórios)

Frutas e folhas

Chá 0,8

20. Família Rubiaceae

32 None Morinda citrifolia L.

Coqueluxe; Inflamação; Cicatrização

(lesões de pele)

Frutas e folhas

Suco 2,0

21. Família Phytolaccaceae

33 Pipi, Tipim Petiveria alliacea L. Febre; Cárie Folhas e raízes

Banho, chá, pó

0,8

22. Família Myrtaceae

34 Pitanga Eugenia uniflora L. Febre Folhas Chá 1,2

*Em alguns trabalhos, como em Albuquerque et al., 2007, são classificados na mesma Família Liliaceae, porém considerou-se a classificação divulgada no site do Missouri Botanical Gardem (2015). Fonte: Autoria própria.

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CAPÍTULO I 52

Das 51 indicações terapêuticas referidas pelos especialistas, percebe-

se que o maior número de espécies medicinais relatadas teve indicações em

doenças infeciosas e parasitárias, tais como infecções intestinais, verminoses e

diarreias (17,14%), seguida por problemas do aparelho genito-urinário

(14,28%) e problemas de pele e tecido subcutâneo (11,43%) (Figura 02). A

grande citação desses problemas médicos se justifica por sua elevada

prevalência local, mas também pelo fato de pertencerem ao escopo dos

cuidados primários em saúde, podendo ser fácil e eficazmente tratadas com

plantas medicinais (ALMEIDA et al., 2006) e com procedimentos de baixa

densidade tecnológica. Contudo, esses resultados mostram-se diferentes do

relatado em outros estudos na região da caatinga, os quais demonstram uma

maior frequência para indicações relacionadas ao sistema respiratório

(ALBUQUERQUE; ANDRADE, 2002a; ROQUE; ROCHA; LOIOLA, 2010,

FREITAS et al., 2012). É importante ressaltar a subjetividade que caracteriza a

proposição dessas indicações, variando, pois, de comunidade para

comunidade. Esta diferença fortalece o argumento de que cada grupo social

possui seu próprio sistema de diagnóstico, classificação (MOREIRA et al.,

2002) e tratamento das enfermidades, influenciado por suas crenças e

concepções de mundo. Algumas condições foram enquadradas na categoria de

sintomas e sinais gerais (8,57%), por conta da imprecisão da etiologia e do

caráter inespecífico de sintomatologia (como ocorreu com as indicações “febre”

e “inflamação”), ou mesmo por não se enquadrarem em diagnósticos clínicos,

mas tão somente como uma ação preventiva – como ocorreu com a indicação

terapêutica “prevenção do câncer” (Figura 02).

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CAPÍTULO I 53

Figura 02 - Indicações terapêuticas de plantas medicinais citadas por moradores das Ilhas do Massangano, Rodeadouro e Jatobá II(PE/BA), distribuídas por capítulos de doenças do CID 10, 2014-2015

Fonte: Autoria própria.

O índice de importância relativa (IR) demonstra a relevância de

determinada planta medicinal utilizada numa comunidade, conforme a

quantidade de sistemas corporais sobre os quais pode atuar. De acordo com

esse indicador as plantas mais citadas foram: Rhaphiodon echinus, Malva

parviflora, Morinda citrifolia, Mentha x villosa (com IR = 2,0), Myracrodruon

urundeuva, Anacardium occidentale, Ziziphus joazeiro e Bidens sp. (todas com

IR= 1,7). Estudos realizados em áreas da caatinga (ANDRADE, 1998;

ALBUQUERQUE; ANDRADE, 2002a; 2002b; ALBUQUERQUE et al, 2007;

SILVA; ROQUE; ROCHA; LOIOLA, 2010; FREITAS et al., 2012) também

indicaram o uso destas espécies na medicina popular, com exceção para

Morinda citrifolia. A utilização do IR traz uma vantagem técnica importante já

que possibilita compará-lo com valores publicados previamente, sem a

necessidade de investigações adicionais (ALBUQUERQUE et al., 2007).

Nessa perspectiva, realizou-se a comparação dos valores de IR obtidos

com os disponibilizados por Albuquerque e colaboradores (2007) no

levantamento de estudos de plantas medicinais da caatinga, no nordeste

brasileiro (Tabela 03). Esse trabalho analisou 21 publicações científicas de

1986 a 2006, que investigaram 19 comunidades rurais e dois agrupamentos

indígenas entre os estados brasileiros de Alagoas, Bahia, Paraíba,

Pernambuco e Sergipe (ALBUQUERQUE et al., 2007). Apesar das

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CAPÍTULO I 54

semelhanças entre os grupos avaliados, observam-se grandes diferenças entre

os valores de IR estabelecidos para cada planta. As plantas mais importantes

no presente estudo (IR = 2,0) tiveram índices muito inferiores no estudo de

comparação. Não houve informações para Morinda citrifolia, possivelmente

pelo fato desta planta de origem polinésia ter chegado ao mercado norte-

americano na década de 1990 (POTTERAT; HAMBURGER, 2007) e no Brasil

somente nos anos 2000, de forma que a investigação científica nacional para

esta espécie ainda é bastante recente. Das 11 espécies analisadas os valores

se aproximam somente para quatro espécies, popularmente conhecidas como:

cajueiro, aroeira, juazeiro e mastruz (Tabela 03).

A significativa divergência expressa na tabela 03 decorre das diferentes

percepções que as pessoas têm sobre os recursos de um determinado

ambiente. O significado de utilidade se modifica entre as culturas e até mesmo

dentro de um grupo étnico, e esta concepção torna-se ainda maior quando se

extrapola o entendimento de utilidade para além dos objetivos medicinais.

Albuquerque e colaboradores (2002b) anunciaram que as comunidades da

caatinga, tendem a conceber todas as plantas como úteis, ainda que as

pessoas não as utilizem diretamente. Ressalta-se então, a demanda de outros

estudos etnodirigidos a fim de aprofundar o conhecimento sobre os diversos

sistemas culturais da região, assim como garantir maior confiabilidade ao uso

de métodos etnobotânicos na bioprospecção de compostos com potenciais

terapêuticos.

Tabela 03 - Comparativo entre os valores de IR para as espécies mais relevantes (IR ≥ 1,2) com os dados da literatura. IR1: Valores obtidos nesta pesquisa, Ilhas de Massangano, Rodeadouro e Jatobá (PE/BA), 2014/2015; IR2: Informações extraídas de ALBUQUERQUE et al., 2007.

(continua)

N NOME VULGAR FAMÍLIA / ESPÉCIE IR1 IR2

1 Betônica Lamiaceae

Rhaphiodon echinus (Nees & Mart.) Schauer 2,0 0,2

2 Malva-santa Malvaceae

Sida cordifolia L. 2,0 0,5

3 None Rubiaceae

L 2,0 S.I.*

4 Hortelã Lamiaceae

Mentha x villosa Huds. 2,0 0,5

5 Cajueiro Anacardiaceae

Anacardium occidentale L 1,7 1,2

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CAPÍTULO I 55

Tabela 03 - Comparativo entre os valores de IR para as espécies mais relevantes (IR ≥ 1,2) com os dados da literatura. IR1: Valores obtidos nesta pesquisa, Ilhas de Massangano, Rodeadouro e Jatobá (PE/BA), 2014/2015; IR2: Informações extraídas de ALBUQUERQUE et al., 2007.

(conclusão)

N NOME VULGAR FAMÍLIA / ESPÉCIE IR1 IR2

6 Aroeira Anacardiaceae

Myracrodruon urundeuva Allemao 1,7 2,0

7 Juazeiro Rhamnaceae

Ziziphus joazeiro Mart. 1,7 1,3

8 Picão-preto Asteraceae Bidens sp.

1,7 0,2

9 Arruda Rutaceae

Ruta graveolens L. 1,5 1,3

10 Mastruz Amaranthaceae

Chenopodium ambrosioides L. 1,2 1,4

11 Pitanga Myrtaceae

Eugenia uniflora L. 1,2 0,3

*Sem informações na referência consultada. Fonte: Autoria própria.

Realizou-se ainda uma comparação entre indicadores etnobotânicos

comumente usados na literatura, visto que cada um dos índices valorizam

aspectos diferentes da relação entre o homem e as plantas (Tabela 04). O IR

enfatiza o número de sistemas corporais onde a planta atua -

independentemente do número de informantes; enquanto que o VU considera o

número de pessoas que cita as indicações da espécie, o que pode influenciá-

lo, maximizando-o (isso ocorre quando um número pequeno de colaboradores

atribuem muitos tipos de uso para uma mesma planta). Esses dois parâmetros

fazem referência à multiplicidade de uso das plantas (ALBUQUERQUE et al.,

2006). O CUPc, por outro lado, avalia quanto a indicação terapêutica é

consenso no grupo de especialistas avaliados (AMOROZO; GÉLY, 1998).

Assim a análise conjunta desses três indicadores possibilita inferir que a

relevância de uma planta medicinal não é definida exclusivamente pela sua

versatilidade, mas também pela coerência das informações de potencial

terapêutico obtidas na comunidade.

Nessa lógica, os dados da tabela 04 revelam uma conformidade ao se

destacar Rhaphiodon echinus (Nees & Mart.) Schauer (identificada

popularmente por Betônica ou Flor-de-urubu) para todos os três indicadores

(IR, CUPc e VU). Isto significa dizer que essa planta possui importância

significativa nos cuidados em saúde dessa comunidade, tanto pela

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CAPÍTULO I 56

versatilidade de indicações terapêuticas, descritos em IR e VU, mas também

pelo grau de consenso sobre seu uso principal, entre os especialistas

entrevistados (definido pelo CUPc).

Tabela 04 - Comparativo de indicadores etnobotânicos para as plantas mais citadas por moradores das Ilhas de Massangano, Rodeadouro e Jatobá (PE/BA), 2014, 2015. IR: importância relativa; CUPc: percentual corrigido de concordância de uso; VU: valor de uso

NOME VULGAR FAMÍLIA / ESPÉCIE

IR CUPc (%)

VU

Betônica

Lamiaceae

Rhaphiodon echinus (Nees & Mart.)

Schauer

2,0 83,3 1,7

Malva-santa Malvaceae

Sida cordifolia L. 2,0 16,7 1,0

None Rubiaceae

Morinda citrifolia L 2,0 16,7 1,5

Hortelã Lamiaceae

Mentha x villosa Huds. 2,0 33,3 2,0

Cajueiro Anacardiaceae

Anacardium occidentale L 1,7 33,3 1,0

Aroeira Anacardiaceae

Myracrodruon urundeuva Allemao 1,7 50,0 1,3

Juazeiro Rhamnaceae

Ziziphus joazeiro Mart. 1,7 16,7 1,0

Picão-preto Asteraceae Bidens sp.

1,7 16,7 2,0

Fonte: Autoria própria

Rhaphiodon echinus é uma planta rasteira considerada como invasora,

típica da caatinga, sendo encontrada em áreas do polo de fruticultura irrigada

do Vale do São Francisco, onde forma densas populações. Os beradeiros

referiram como principal indicação terapêutica desta planta, o tratamento de

infecções urinárias e dismenorreia. Por ter sido a planta que apresentou os

maiores valores de IR e CUPc, realizou-se a coleta de seus elementos

representativos que foram herborizados e encaminhados para o Herbário do

Vale do São Francisco, para a confirmação da espécie e o depósito da exsicata

com o registro I.D.S.L. Pio 1, nº 22526. Dando prosseguimento ao estudo, a

planta foi submetida à análise preliminar fitoquímica e a testes de atividade

farmacológica, descritos no capítulo II.

O levantamento etnobotânico aqui descrito demonstra a elevada

diversidade de plantas da caatinga utilizadas para fins de cuidado em saúde,

revelando o grande potencial do bioma para a pesquisa e aplicação de

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CAPÍTULO I 57

alternativas terapêuticas eficientes. As peculiaridades das comunidades

estudadas, no manejo dos recursos, no diagnóstico, e tratamento das doenças

tornaram-se evidentes, enfatizando a necessidade de estudos etnodirigidos

que viabilizem a compreensão e valorização de aspectos culturais e sociais dos

grupos tradicionais como instrumentos norteadores na pesquisa científica de

diversos núcleos de conhecimento, seja das ciências sociais, ambientais ou da

saúde.

Não foram encontrados registros na literatura científica da área que

confirmem a importância relativa da R. echinus, bem como a indicação do uso

informada pelos beradeiros. Todavia, a comparação dos indicadores

etnobotânicos demonstra forte coerência para a relevância da planta na

comunidade estudada no presente estudo. Este achado sugere per si, um

caminho importante de pesquisa etnofarmacológica, que começa a ser descrita

nas páginas seguintes.

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CAPÍTULO II

ANÁLISE FITOQUÍMICA PRELIMINAR E INVESTIGAÇÃO

FARMACOLÓGICA DE Rhaphiodon echinus (Lamiaceae)

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CAPÍTULO II 59

1 ASPECTOS TEÓRICOS SOBRE A FAMÍLIA LAMIACEAE E A ESPÉCIE R.

echinus

1.1 Considerações sobre a família Lamiaceae

A família Lamiaceae, anteriormente denominada Labiatae, é composta

por mais de 252 gêneros e 7000 espécies, sendo conhecida pela riqueza de

espécies com propriedades medicinais, usadas desde tempos antigos (ALI et al

, 2000). Apresenta distribuição cosmopolita, sendo o maior centro de dispersão

a região do Mediterrâneo. Crescem em vários habitats e altitudes: da região

Ártica ao Himalaia, sudeste da Ásia ao Havaí, Austrália, África e do Norte ao

Sul do Novo Mundo. Apresenta-se como uma família típica de cerrado,

habitando as regiões tropicais (RANGEL; ALMEIDA, 2002). No Brasil ocorrem

28 gêneros e cerca de 350 espécies, sendo em sua maioria arbustos e ervas

(MÜZELL, 2006). Esta família contém muitas espécies de importância

econômica, pois são usadas como plantas medicinais, condimentos e

alimentos, bem como na indústria de cosméticos e perfumes (RANGEL;

ALMEIDA, 2002). Como exemplo, têm-se as plantas aromáticas sálvia, tomilho,

alecrim, orégano, hortelã e manjericão utilizados como temperos típicos e

consumidos mundialmente (CALDAS, 2011).

Segundo a classificação taxonômica proposta por Dahlgren, a família

Lamiaceae pertence à ordem Lamiales, superordem Lamiflorae. Por conta da

sua característica de grande heterogeneidade, a família Lamiaceae é

subdividida em 08 subfamílias e doze tribos, incluindo a Oicimoideae que por

sua vez, subdivide-se em cinco subtribos, sendo uma delas a Hyptidinae Endl.

Esta subtribo ocorre principalmente na América do Sul e consiste em 06

gêneros, dentre eles, os gêneros Hyptis Jacq. e Rhaphiodon, ao qual pertence

a espécie Rhaphiodon echinus, objeto deste estudo (HARLEY et al., 2015).

Morfologicamente, as espécies pertencentes à família

Lamiaceae apresentam folhas do tipo simples ou compostas, cruzadas ou

opostas, as quais podem ser sésseis ou pecioladas. O limbo pode se

apresentar inteiro, dentado ou partido. A grande maioria dos exemplares possui

pêlos que são responsáveis pela secreção dos aromas característicos desta

família. Já as flores não tem um tamanho definido, são bilabiadas, sozinhas ou

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CAPÍTULO II 60

associadas em um denso terminal, ou com inflorescências axilares (AGOSTINI

et al., 2009).

As espécies de Lamiaceae produzem grande variedade de metabólitos

secundários, mas são conhecidas principalmente por seus óleos essenciais,

encontrados em tricomas glandulares na superfície das folhas e

inflorescências. Os óleos essenciais são constituídos principalmente de

monoterpenos, como o mentol extraído das espécies do gênero Mentha e o

timol extraído de Thymus; sesquiterpenos e alguns fenilpropanoides voláteis

como o eugenol e o metil cavicol encontrados em espécies de Ocimum.

Constituintes não voláteis também são relatados como flavonoides, lignanas e

alcaloides (FALCÃO; FERNANDES; MENEZES, 2003).

A medicina popular tem por muito tempo, considerado os extratos e

óleos de plantas da família Lamiaceae como fontes ricas de substâncias

medicinais no tratamento de infeções, inflamações e problemas digestivos. Por

isso, encontram-se muitos estudos realizados com várias espécies dessa

família, inclusive registrando a comprovação de atividade farmacológica, como

espasmolítica e antidiarreica. Observou-se que alguns constituintes isolados de

espécies da Lamiaceae apresentam atividade antitumoral tanto in vitro como in

vivo. E ainda, muitas espécies desta família estão sendo investigadas como

compostos eficazes para tratar tumores, edemas, dermatites, irritações de pele,

cólicas, entre outros (ASTUDILLO-VÁZQUEZ; MATA; NAVARRETE, 2009).

1.2 Considerações sobre a espécie Rhaphiodon echinus

A espécie mais importante na primeira fase deste estudo (do

levantamento etnobotânico em ilhas do Submédio do rio São Francisco) é

conhecida popularmente como Betônica ou flor-de-urubu, sendo identificada

como Rhaphiodon echinus Ness Mart. Schauer, pertencente à subfamília

Ocimoideae, subtribo Hyptidineae (HARLEY et al., 2015). É uma planta rasteira

e se destaca por apresentar como principais características a presença de

cálice frutífero com lacínios espinescentes e hábito prostrado (Figura 03). É

considerada como invasora típica da Caatinga, encontrada especialmente em

áreas sujeitas à inundação temporária, à beira da estrada e em áreas de cultivo

abandonada, com ampla distribuição no Brasil, sendo localizada nos estados

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CAPÍTULO II 61

da Bahia, Pernambuco, Paraíba, Ceará e Minas Gerais (DE VASCONCELOS

DIAS; KIILL, 2007). Ocorre comumente nas áreas do polo de fruticultura

irrigada do Vale do São Francisco, onde forma densas populações. Está

presente ainda nos estados da região sudeste e centro-oeste brasileiro (Figura

04) (HARLEY et al., 2015). As flores são fornecedoras de néctar para abelhas

como a espécie Agraulis vanillae (DE VASCONCELOS DIAS; KIILL, 2007).

Figura 03- Fotografia da planta conhecida popularmente como betônica (Rhaphiodon echinus), llha Massangano, Petrolina – PE, 2015

A: Visão geral do exemplar; B: Detalhe mostrando a inflorescência. Fonte: Autoria própria.

Figura 04- Distribuição geográfica da espécie Rhaphiodon echinus no Brasil, 2015

Fonte: HARLEY et al., 2015.

A B

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CAPÍTULO II 62

No levantamento etnobotânico realizado na primeira etapa de nosso

trabalho (capítulo I), os populares das ilhas do Massangano, Jatobá II e

Rodeadouro referiram como principal indicação da R. echinus, problemas no

aparelho genito-urinário, descritas como infecção urinária e cólica menstrual

(dismenorreia). Essa indicação terapêutica também aparece no estudo de

Albuquerque e colaboradores (2007). Outro estudo relata que, especialmente

na região do Nordeste brasileiro, a planta R. echinus é utilizada pela população

para tratar tosse e inflamação dentária (MENEZES et al, 1998). Pesquisas

farmacológicas demonstram que o extrato aquoso desta planta possui atividade

anti-inflamatória e analgésica (MENEZES et al., 1998). E o óleo essencial

demonstrou atividade antimicrobiana contra E. coli e K. pneumoniae (SOUZA;

RODRIGUES, 2012).

Do ponto de vista químico, R. echinus não tem sido extensivamente

estudada. Apenas um estudo químico realizado por Menezes e Kaplan (2006)

identificou no extrato acetônico bruto de partes aéreas de R. echinus, a

presença de triterpenos pentacíclicos. A identificação destes constituintes

ocorreu através da cromatografia gasosa e espectroscopia de massas, sendo

eles: ácido betulínico, ácido oleanólico, ácido ursólico, ácido micromérico e

ácido siaresinólico, identificados em diferentes proporções (Figura 05). O óleo

essencial da espécie apresenta como principais constituintes sesquiterpenos

(TORRES et al., 2009).

Como foi evidenciado o número pequeno de publicações sobre a R.

echinus, Menezes e Kaplan (2006) realizaram uma pesquisa literária para

determinar a composição química do gênero Hyptis - o mais estudado da

subtribo Hyptidineae. Essa revisão da literatura apontou que o gênero Hyptis

caracteriza-se por espécies com ampla produção de metabólitos secundários

importantes para a pesquisa de compostos bioativos como flavonoides,

triterpenoides, α-pironas e lignanas. Ao considerar a premissa

quimiotaxônomica que sugere que exemplares de uma mesma família guardam

semelhanças estruturais e metabólicas, pode-se esperar também que a R.

echinus apresente grande variedade de metabólitos de interesse para

desenvolvimento de novas drogas, e em outras áreas.

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CAPÍTULO II 63

Dessa maneira, buscou-se realizar uma investigação fitoquimica e

etnofarmacológica preliminiar para a espécie R. echinus, a planta medinical

considerada mais importante pelos moradores das ilhas do Rodeadouro,

Jatobá II e Massangano.

Figura 05 - Triterpenos pentacíclicos detectados no extrato acetônico bruto de partes aéreas de R. echinus (MENEZES; KAPLAN, 2006)

A: ácido betulínico; B: ácido oleanólico; C: ácido ursólico; D: ácido micromérico; E: ácido siaresinólico. Fonte: Adaptado de MENEZES; KAPLAN, 2006.

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CAPÍTULO II 64

2 MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 Local de realização dos experimentos

A preparação dos extratos das partes aéreas da R. echinus e o

screening fitoquímico foram realizados no Laboratório de Química Orgânica na

Universidade Federal do Vale do são Francisco (UNIVASF), campus Petrolina-

Centro.

A identificação química dos constituintes do óleo essencial da espécie

foi realizada na Central Analítica da Universidade Federal da Paraíba.

A atividade antimicrobiana foi realizada no Laboratório de Micologia do

Departamento de Ciências Farmacêuticas no Centro de Ciências da Saúde da

Universidade Federal da Paraíba.

A avaliação da atividade espasmolítica foi realizada no Laboratório de

Farmacologia, no campus Petrolina-Centro da UNIVASF, que possui todos os

instrumentos necessários para o desenvolvimento da pesquisa.

2.2 Seleção da espécie estudada

A seleção da espécie vegetal para a investigação fitoquímica e

farmacológica seguiu os critérios listados abaixo. Estes pontos foram

analisados a partir dos resultados do levantamento etnobotânico descrito no

capítulo I.

Possuir concomitantemente os maiores valores de IR e CUPc -

indicadores calculados para a verificação da importância de uso da espécie

(ver capítulo I);

Ter como principal (is) indicação(s) de uso problemas com

relevância para a comunidade;

Não possuir estudos fitoquímicos e/ou farmacológicos publicados

para a indicação mencionada.

A espécie R. echinus obedeceu a todos esses critérios (IR =2,0; CUPc

= 83,30%, VU=1,7, com principais indicações de uso infecção genito-urinária e

dismenorreia). Uma exsicata foi encaminhada para o Herbário Vale do São

Francisco, onde foi identificada e depositada com o registro I.D.S.L. Pio 1, nº

22526 (Figura 06). Após a confirmação da espécie, o caule, as folhas e flores

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CAPÍTULO II 65

foram coletadas para a investigação fitoquímica e farmacológica, conforme as

etapas seguintes.

Figura 06 – Foto da exsicata de R. echinus depositada no Herbário Vale do São Francisco

Fonte: Autoria própria.

2.3 Coleta do material botânico

Elementos representativos (folhas, flores e caules) da planta R.

echinus foi coletada na manhã do dia 22 de janeiro de 2015, na Ilha do

Massangano (09°27’36.10” S, 040°34’46.50” W), Petrolina-PE.

2.4 Obtenção e processamento do extrato etanólico bruto

O material vegetal coletado foi seco em estufa (temperatura de 45°C)

por 03 dias, e em seguida, pulverizado em moinho de facas (Tipo

Willye/SOLAB), obtendo uma massa 1.294,12g de pó seco. Desta quantidade,

retirou-se de 1.004,52g que foi submetida à maceração exaustiva em etanol PA

95%. As extrações foram realizadas em intervalos de 72h. Foram feitas quatro

extrações até esgotamento da droga. A solução extrativa obtida foi submetida à

destilação do solvente em evaporador rotatório (modelo SL126/SOLAB) sob

pressão reduzida, a uma temperatura média de 55ºC, obtendo o extrato

etanólico bruto (EEB) (98,475g). Uma parte do EEB foi reservada para

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CAPÍTULO II 66

realização dos testes de atividade farmacológica (antimicrobiana e

espasmolítica) e a outra parcela foi particionada com solventes em gradiente

crescente de polaridade (hexano, clorofórmio e acetato de etila), para obtenção

das frações clorofórmica (9,773g), hexânica (12,444g) e acetato de etila

(3,495g), que foram utilizadas para realização nas etapas de investigação

fitoquímica e farmacológica. O rendimento do extrato e das frações obtidas

está descrito na tabela 05.

Tabela 05 – Rendimento dos extratos etanólico bruto (Re-EEB), das frações hexânica (Re-HEX), clorofórmica (RE-CLO), acetato de etila (Re-AE) obtidos pelo processamento de folhas, caules e flores de R. echinus

Massa do material vegetal seco

Extrato /Fração Massa Bruta (g) Rendimento (%)

1.004,52 g

Re-EEB 98,475 9,80

Re-HEX 12,444 12,63

RE-CLO 9,773 9,92

Re-AE 3,495 3,55

Fonte: Autoria própria.

2.5 Obtenção do extrato aquoso liofilizado

Para a obtenção do extrato aquoso liofilizado, seguiu-se a metodologia

de preparo de chás da comunidade pesquisada: cerca de 100 g das partes

aéreas frescas de R. echinus foram devidamente higienizadas e colocadas em

infusão com água na temperatura próxima a ebulição. A solução aquosa obtida

foi filtrada e distribuída sobre bandejas de acrílico, e em seguida, congelada em

um freezer convencional a -18 ºC por um período de 24h. Posteriormente foi

submetida à secagem por liofilização, a uma pressão de vácuo de

aproximadamente 130 mmHg com temperatura do condensador de -50 °C.

Obteve-se uma massa bruta de 5,2 g (rendimento de 5,2%).

2.6 Identificação preliminar da composição química por screening

fitoquímico

A identificação fitoquímica preliminar do extrato liofilizado e das frações

hexânica, clorofómica e de acetato de etila foi realizada por screening, obtido

por cromatografia em camada delgada analítica (CCDA), usando a metodologia

descrita por Wagner e Bladt (1996). Os compostos foram redissolvidos em

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CAPÍTULO II 67

clorofórmio e aplicadas com auxílio de um tubo capilar sobre as placas de sílica

gel, a um 1,0 cm da borda inferior e 0,5 cm da borda lateral. Aplicaram-se

também, os padrões de metabólitos secundários. Cada placa foi imersa na

cuba cromatográfica, numa profundidade de 0,5 cm da camada do eluente.

Após a eluição e secagem, as placas foram expostas à luz ultravioleta, nos

comprimentos de onda de 254 nm e 365 nm. Em seguida, verificou-se a

presença do metabólito, utilizando reveladores específicos (Quadro 02).

Fez-se ainda a pesquisa diferencial para alcalóides, utilizando como

revelador o reativo de Mayer (iodo + mercurato de potássio).

Quadro 02- Sistema de eluição, padrões e reveladores utilizados para caracterizar os principais metabólitos secundários das frações do extrato de Rhaphiodon echinus, por cromatografia em camada delgada

CLASSE FITOQUÍMICA

ELUIÇÃO PADRÕES REVELAÇÃO

Alcaloides Tolueno: Acetato de etila:

dietilamina (70:20:10)

Ioimbina, Quinina Reagente de Dragendorff

Antocianinas

Acetato de etila: Ácido fórmico: Ácido acético

glacial: Água 100:11:11:26

Azul de metileno

Solução de ácido sulfúrico-anisaldeído

Derivados Antracênicos

Acetato de etila: Metanol: Água

(100:13,5:10)

Aloína

Solução etanólica de hidróxido de potássio

10%

Antraquinonas Éter de Petróleo: acetato de

etila: Ácido fórmico: 75:25:1

Antraquinona

Solução etanólica de hidróxido de potássio

10%

Cumarinas Tolueno: Dietileter (1:1

saturado com Ácido acético 10%, v/v)

Escopoletina Solução etanólica de hidróxido de potássio

10%

Flavonoides e Taninos

Acetato de etila: Ácido fórmico: Ácido acético

glacial: Água 100:11:11:26

Ácido gálico, Rutina,

Quercetina

Reagente de NEU

Lignanas Clorofórmio: Metanol: Água

70:30:4 Extrato de linhaça

Vanilina Sulfúrica*

Mono e diterpenos

Tolueno: Acetato de etila 93:7

Carvacrol

Vanilina Sulfúrica*

Naftoquinonas Tolueno: Ácido fórmico

99:1 Lapachol (Biflorina)

Solução etanólica de hidróxido de potássio

10%

Saponinas Clorofórmio: Acetato de etila:

Metanol: Água 64:32:12:8

Saponina Solução de ácido

sulfúrico-anisaldeído

Triterpenos e Esteroides

Tolueno: Clorofórmio: Etanol 40:40:10

Lupeol Lieberman-Burchard

*Revelação da placa por aquecimento: 10min a 110ºC. Fonte: WAGNER; BLADT, 1996.

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CAPÍTULO II 68

2.7 Processamento e obtenção do óleo essencial

As partes frescas de R. echinus foram selecionadas, higienizadas,

cortadas e submetidas à extração pelo processo de hidrodestilação em

aparelho de Clevenger, utilizando três litros de água destilada em balão de

vidro de 6,0 L, aquecida em manta aquecedora, mantendo-se a temperatura de

ebulição por duas horas. O óleo obtido apresentou coloração amarelada e foi

armazenado em frasco âmbar, em temperatura inferior a 4,0°C

2.8 Identificação da composição química do óleo essencial

A identificação da composição química do óleo essencial extraído foi

feita através da cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massas.

As análises foram realizadas em equipamento CG-MS modelo QP 2010,

fabricado pela Shimadzu, coluna capilar DB - 5m (30m x 0,25mm), com

espessura do filme de 0,25 μm, temperatura do injetor 220 ºC e do detector de

240 °C, hélio como gás de arraste na vazão de 1,0 mL/min, temperatura da

interface de 240 ºC, temperatura da fonte de ionização de 240 ºC, energia de

ionização 70 eV, corrente de ionização: 0,7 kV e programa de temperatura do

forno: 60 ºC a 240 ºC (3 ºC/min), mantendo uma isoterma de 240 °C por 20

minutos.

A identificação dos compostos foi feita por comparações dos espectros

de massas com os espectros existentes no banco de dados do equipamento,

com a literatura e pelo índice de Kovat’s (ADAMS, 1995).

2.9 Testes farmacológicos

2.9.1 Avaliação da atividade antibacteriana

2.9.1.1 Preparação das substâncias para os testes in vitro

Foi testada a atividade antibacteriana do extrato etanólico bruto (EEB),

das frações hexânica, clorofórmica, acetato de etila, do produto liofilizado e do

óleo essencial extraído de R. echinus. Para a realização dos protocolos

experimentais in vitro preparou-se uma solução com concentração de 10

mg/mL de cada substância, utilizando-se DMSO como veículo.

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CAPÍTULO II 69

2.9.1.2 Espécies bacterianas utilizadas

Foram avaliadas tanto bactérias Gram-positivas quanto Gram-

negativas oriundas da Coleção de Culturas Tropicais (CCT), American Type

Culture Colection (ATCC) e de origem clínica, sendo elas:

• Pseudomonas aeruginosa ATCC 8027

• Pseudomonas aeruginosa ATCC 23243

• Staphylococcus aureus ATCC 25619

• Staphylococcus aureus ATCC 25925

• Escherichia coli 2536

• Escherichia coli 105

As espécies foram selecionadas por estarem relacionadas com

infecção do trato urinário (ITU) (CORREIA, et al., 2007; BRITO et al., 2012;

FERNANDES,2014), indicação de uso da planta sugerida pela comunidade

(ver capítulo I). As bactérias foram cultivadas em meio Luria Bertani (LB), cuja

composição está descrita no quadro 03 abaixo. O meio foi preparado com água

destilada e esterilizado em autoclave, a 121 °C por 15 minutos.

Quadro 03 - Componentes do meio Luria Bertani (LB) utilizado na avaliação da atividade antibacteriana

SUBSTÂNCIAS FORNECEDORES CONCENTRAÇÃO (g/L)

Extrato de levedura DIFCO 10,0

Triptona DIFCO 5,0

Cloreto de sódio (NaCl) Vetec, Brasil 10,0

Fonte: Autoria própria.

2.9.1.3 Preparação do inóculo bacteriano

Os micro-organismos foram inoculados em meio LB estéril e incubados

a 37 ºC durante 24 h. Colônias foram suspensas em LB estéril e ajustadas de

acordo com o padrão 0,5 da escala de McFarland, contendo 1-5 X106 UFC/mL

(CLEELAND; SQUIRES, 1991; HADACEK; GREGER, 2000).

2.9.1.4 Determinação da concentração inibitória mínima (CIM)

A determinação da CIM foi realizada por meio da técnica de

microdiluição, utilizando-se placas de 96 poços e fundo em “U” para cada uma

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CAPÍTULO II 70

das cepas testadas, conforme determinado por Viljoen e colaboradores (2003).

Para isso, distribuiu-se 100 µL do meio LB em todos os poços, exceto os da

primeira linha que receberam 160 µL. Posteriormente, adicionou-se 40 µL da

solução a 10 mg/mL de cada um dos extratos e frações aos poços da primeira

linha e a partir daí se deu a diluição seriada a uma razão de dois, obtendo-se

as concentrações de 1024 µg/mL até 6,25 µg/mL. Por último, acrescentou-se

10 µL da suspensão de cada inóculo bacteriano (P. aeruginosa ATCC 8027, P.

aeruginosa ATCC 23243, S. aureus ATCC 25619, S. aureus ATCC 25925, E.

coli 2536, E. coli 105) nas cavidades, onde cada coluna da placa referiu-se a

uma cepa de micro-organismo, especificamente. Vale ressaltar que nas duas

últimas linhas foram feitos os controles com o antimicrobiano Cloranfenicol 100

µg/mL (controle positivo) e com o veículo DMSO (controle negativo),

respectivamente, sendo este último feito adicionando-se às cavidades 100 µL

do meio, 100 µL do DMSO e 10 µL da suspensão contendo o inóculo

bacteriano.

As placas foram incubadas a 37 °C por 24 h para posterior leitura,

realizada com a adição 20μL de uma solução 0,01% (p/v) de resazurina sódica

(SIGMA), preparada com água destilada estéril. A solução de resazurina

constitui num indicador colorimétrico da atividade metabólica.

Foi considerada como CIM para os produtos testados a menor

concentração que inibiu completamente o crescimento bacteriano quando

comparado ao grupo controle, sendo verificado pela manutenção da cor azul da

resazurina. Os ensaios foram realizados em duplicata e o resultado expresso

pela média aritmética das CIM’s obtidas nos dois ensaios.

2.9.2 Avaliação da atividade espasmolítica em útero isolada de rata

2.9.2.1 Animais

Para realização dos testes farmacológicos foram utilizadas ratas

(fêmeas virgens) Wistar (Rattus norvegicus), provenientes do Biotério Setorial

da UNIVASF, com 6 a 10 semanas de idade e pesando entre 150-250 gramas

– pesados em balança comum modelo 9094C/4 (Toledo®, Brasil). Os animais,

com livre acesso à alimentação e à água, foram mantidos em ambiente com

temperatura de 22 ± 1 ºC, umidade monitorada e fotoperíodo de 12 horas

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CAPÍTULO II 71

claro/escuro. Foi utilizado para cada protocolo experimental um n de 05

animais, considerado um número adequado para obtenção de um resultado

estatístico.

2.9.2.2 Procedimento experimental para a avaliação da atividade

espasmolítica in vitro em órgãos isolados

A fração hexânica e os extratos etanólico e liofilizado de R. echinus

foram solubilizados em uma mistura composta de Cremophor EL 3%

(fornecedor Merck) e água destilada, na concentração de 1 gota de Cremophor

EL/mL de água e pH igual a 7,0. Os solubilizados constituíram as respectivas

soluções-estoque (concentração de 10 mg/mL) que foram mantidas a -20 ºC,

com a realização da diluição necessária no momento do experimento.

Todas as drogas e reagentes, quando necessário, foram pesados em

balança analítica modelo FA2104N (Celtac®, Brasil) ou semianalítica modelo

MARK300 (Bel®, Brasil) foram, dissolvidos e diluídos em água destilada.

As ratas foram tratadas de 18 a 24 horas antes da realização do

experimento com dietilestilbestrol (Merck), na dose de 1,0 mg/Kg por via

subcutânea para indução do estro. Após esse tempo, foram eutanasiadas por

decapitação, tendo a cavidade abdominal aberta e dissecada para a retirada do

útero, com a adição deste a um béquer de 100 mL contendo a solução nutritiva

Locke Ringer a 32 ºC (Quadro 04) aerada com mistura carbogênica (95% de

gás oxigênio, O2, e 5% de gás carbônico, CO2) para retirada de tecido conectivo

e limpeza.

Quadro 04 - Substâncias constituintes da solução nutritiva Lock Ringer utilizada na avaliação da atividade espasmolítica

SUBSTÂNCIAS FORNECEDORES CONCENTRAÇÃO

Cloreto de Cálcio Di-hidratado (CaCl2.2H2O)

Isofar, Brasil 2,16 mL

Cloreto de sódio (NaCl) Vetec, Brasil 8,0 g/L

Glicose (C6H12O6) Vetec, Brasil 1,00 g

Cloreto de potássio (KCl) Dinâmica 4,18 mL

Bicarbonato de sódio (NaHCO3) Proquímicos 1,00 g

Fonte: Autoria própria.

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CAPÍTULO II 72

Em seguida, os dois cornos uterinos foram separados por meio de uma

incisão, abertos longitudinalmente e cortados em fragmentos de 0,5 a 1,0 cm.

Cada fragmento foi suspenso individualmente, com o auxílio de linhas de

algodão, em cubas de vidro (capacidade de 10 mL) de um sistema de banho

para órgãos isolados modelo EFF-321 (Insight ® Instruments, Brasil). Para o

monitoramento das contrações isométricas foram utilizados transdutores de

força acoplados a um amplificador do tipo “bridge system” (Insight®

Instruments, Brasil), que por sua vez estava conectado uma placa conversora

analógico/digital instalada em um microcomputador, possibilitando a

observação e registro dos dados.

Para estabilização do preparado, o órgão foi mantido em repouso por

45 minutos sob tensão de 1,0 g a 32 ºC, com renovação da solução nutritiva a

cada 15 minutos. Após esse período, uma contração isométrica inicial foi

induzida em cada fragmento do útero com solução de cloreto de potássio (KCl;

Dinâmica) 60 mM. A solução nutritiva das cubas foi substituída após o órgão

atingir a contração máxima e após 15 minutos de repouso. Transcorrido esse

intervalo, as soluções de extrato etanólico bruto, a fração hexânica, o produto

liofilizado de R. echinus e o controle negativo (Cremophor EL 3 %) foram

adicionados individual e cumulativamente às cubas em concentrações

crescentes (1 a 729 µg/mL), para obtenção de curvas concentração-reposta.

2.9.2.3 Análise e apresentação dos resultados

As contrações isométricas foram registradas em computador, por

intermédio do software WINDAQ/DATAQ DI200. A atividade espasmolítica foi

avaliada pelo relaxamento, isto é, a percentagem reversa da tensão máxima

obtida pela adição de KCl à cuba. Assim, o relaxamento máximo é obtido

quando a tensão causada por KCL coincidir com os níveis basais.

Os dados obtidos dos registros foram plotados em curvas

concentração-resposta e estas ajustadas por regressão não linear no software

Prism 5 for Windows (GraphPad Software Inc., San Diego, CA, EUA), para

obtenção do valor de CE50 (concentração do extrato ou fase capaz de causar

50% de seu efeito máximo) servindo como parâmetro de potência relativa de

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CAPÍTULO II 73

uma amostra, e o Emax (valor médio, em percentagem, do efeito máximo obtido

pelo extrato) servindo como parâmetro de eficácia relativa.

2.9.2.4 Análise estatística dos resultados

Os dados numéricos obtidos foram expressos como média ± erro padrão

da média (x ± e.p.m.) e n representa o número de animais utilizados no

protocolo.

Os conjuntos de dados experimentais dos ensaios foram comparados

estatisticamente com o grupo controle do protocolo, através da análise de

variância (ANOVA) e comparações múltiplas das médias (teste de Tukey).

Todas as análises estatísticas foram realizadas usando o programa Prism 5 for

Windows (GraphPad Software Inc., San Diego, CA, EUA), sendo as diferenças

consideradas significativas quando o valor calculado de p for menor que 0,05.

2.10 Aspectos éticos

O protocolo experimental realizado nesse estudo respeitou todos os

princípios éticos de experimentação animal, preconizados pela Comissão de

Ética no Uso de Animais da Universidade Federal do Vale do São Francisco

(CEUA–UNIVASF); pela Resolução do Conselho Federal de Medicina

Veterinária (CFMV) nº 879/ 2008; da Lei 11.794/2008; das Resoluções

Normativas nº. 01/2010; nº 02/2010; nº 03/2011; e nº 04/2012 do Conselho

Nacional de Controle de Experimentação Animal (CONCEA); e

regulamentações afins. Importante salientar que todas as ratas foram

sacrificadas seguindo os princípios de cuidados com animais. Além disso, o

presente estudo foi submetido à apreciação sendo aprovado CEUA-UNIVASF,

sob o protocolo 0006/120215, (Anexo B).

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CAPÍTULO II 74

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Constituintes químicos de Rhaphiodon echinus

O screening fitoquímico das frações hexânica, clorofórmica e acetato de

etila, bem como do produto liofilizado, apontou a presença de diversos

metabólitos secundários, apresentando maior prevalência de flavonoides e

taninos, lignanas e saponinas - no produto liofilizado (Re-LIO) e na fração de

acetato de etila (Re-AE) - e monoterpenos, diterpenos, triterpenos e esteróides

principalmente nas fases hexânica (Re-HEX) e clorofórmica (Re-CLO) (Tabela

06).

Tabela 06- Caracterização fitoquímica das frações do extrato etanólico bruto e do produto liofilizado de Rhaphiodon echinus

FITOQUÍMICA Re-HEX Re-CLO Re-AE Re-LIO

Alcaloides + + - -

Alcaloides (por reativo de Mayer)

+ + - -

Antocianinas - - + -

Derivados antracênicos

+ + +++ ++

Antraquinonas + + ++ ++

Cumarinas ++ + ++ +

Flavonóides e taninos

+ + ++ +++

Ligninas + ++ +++ +++

Mono e diterpenos +++ ++ - -

Naftoquinonas - - + +

Saponinas ++ + +++ ++

Triterpenos e Esteroides

+++ +++ + +

Re-LIO: Produto liofilizado (extrato aquoso); Re-HEX: Fração Hexânica; Re-CLO: Fração Clorofórmica; RE-AE: Fração Acetato de etila. Fonte: Autoria própria.

As plantas são capazes de produzir compostos químicos importantes

para o seu metabolismo a partir dos nutrientes, da água e da luz que recebem.

Esses compostos são classificados em metabólitos primários e secundários.

Os metabólitos primários são lipídios, protídeos e glicídios, essenciais a todos

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CAPÍTULO II 75

os seres vivos e com funções bem definidas, enquanto que os metabólitos

secundários apresentam estruturas complexas e estão presentes em menores

concentrações. Esses compostos, tais como os alcaloides, terpenos,

antocianinas, esteroides, flavonoides, quinonas e lignanas apresentam uma

ampla diversidade em estruturas e tamanhos, sendo encontrados e distribuídos

por todo o reino vegetal. Possuem, atualmente, uma grande aplicabilidade

comercial, seja na composição de corantes, aromatizantes, inseticidas,

fármacos, entre outros (BURT, 2004).

Encontra-se bem descrito na literatura científica que flavonoides,

terpenos e saponinas são constituintes químicos encontrados em muitas outras

espécies da família Lamiaceae como Orthosiphon stamineus Benth.; Mentha

spicata L.; Coleus amboinicus Lour.; Ocimum basilicum L.; Satureja boliviana

(Benth.) Briq. e Ocimum gratissimum L. A variação ocorre nas concentrações

destes compostos, que podem se diferenciar de acordo com o solvente de

cada fase. Porém, esses três grupos de metabólitos secundários são

majoritariamente presentes, podendo ser considerado uma característica dos

elementos vegetais dessa família (GALVEZ et al., 1993; FIUZA et al., 2010;

ANDRADE et al., 2010).

Foi detectada em todas as frações testadas nesse estudo a presença

do amplo conjunto dos compostos fenólicos, que englobam desde moléculas

simples até outras com alto grau de polimerização, como flavonoides, taninos e

lignanas (polímeros fenólicos), ou como os derivados do ácido cinâmico,

denominados cumarinas (ANDRADE et al., 2010).

Todas as frações de R. echinus testadas apontaram a presença de

flavonoides, em concentrações variadas, provavelmente devido a questões de

solubilidade que variam conforme o gradiente de polaridade dos solventes de

cada fração. Os flavonoides constituem o maior grupo dentro dos compostos

fenólicos e são importantes devido às suas diversas atividades sobre o sistema

biológico, em peculiar, sobre o sistema cardiovascular e ação antioxidante.

(ANDRADE et al., 2010). Esses compostos fitoquímicos são apontados no

tratamento de doenças gastrointestinais como úlceras pépticas e diarreia

aguda. No sistema digestório, alguns flavonoides foram relatados com

potencial antiespasmódico, prolongando o tempo de trânsito no intestino

delgado e inibindo a amplitude de contração fásica. Investiga-se ainda que os

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CAPÍTULO II 76

efeitos moduladores dos flavonoides sobre o metabolismo do ácido

araquidônico provêm da atividade antioxidante, através da inibição das

enzimas cicloxigenase e lipoxigenases (GALVEZ et al., 1993).

As espécies de Hyptis – gênero mais estudado da subtribo a qual

pertence R. echinus - são reconhecidas por apresentarem propriedades

medicinais com potencial antioxidante, tendo sido comprovado para algumas

espécies e, atribuindo-se, possivelmente, parte de suas propriedades

terapêuticas aos compostos fenólicos detectados (POVH; SANTOS; SILVA,

2012).

Pedersen (2000) identificou a presença de um composto cumarínico,

denominado ácido rosmarínico, em 25 espécies de 30 estudadas (15 gêneros)

da tribo Ocimoideae, incluindo no seu estudo a espécie R. echinus - o que

reforça a detecção de cumarinas no screening fitoquímico desse estudo. O

trabalho cita ainda a presença de ácido cafeico livre em quatro indivíduos

pertencentes a essa tribo, inclusive em R. echinus. Apesar de não se ter

realizado uma investigação para tal substância neste trabalho, considera-se

importante dizer que o achado de Pedersen (2000) é ainda bastante discutido,

visto que alguns afirmam que o ácido cafeico pode ser um artefato do

processamento fitoquímico, enquanto outros discutem a presença deste

composto, na sua forma livre, como uma possível diferenciação metabólica que

pode contribuir na revisão taxonômica das espécies (PEDERSEN, 2000).

Os resultados da investigação fitoquímica mostraram a presença

marcante de mono, di e triterpenos, especialmente nas fases hexânica e

clorofórmica, embora tenha sido notado também na fase acetato de etila e no

produto liofilizado. Esse resultado é apoiado pelo estudo de Menezes e Kaplan

(2006) que identificaram uma mistura de triterpenos pentacíclicos no extrato

acetônico bruto de R. echinus. Além disso, alguns trabalhos sobre o gênero

Hyptis informam que plantas desse gênero possuem elevada concentração de

compostos terpênicos, isolados ou em misturas, considerados os principais

componentes dos óleos essenciais destas espécies (FALCÃO; FERNANDES;

MENEZES, 2003; MORENO et al.,2005; BASÍLIO et al., 2007; TORRES et al.,

2009). Os terpenos ou terpenóides aparecem na natureza, isolados ou em

misturas complexas dos óleos essenciais, e possuem grande importância na

área de pesquisa de novas drogas, uma vez que apresentam diferentes

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CAPÍTULO II 77

atividades terapêuticas, tais como: expectorante, anestésico, carminativo, anti-

helmíntico, antiespasmódico, antisséptico, entre outros (ASTUDILLO-

VÁZQUEZ; MATA; NAVARRETE, 2009). Este potencial terapêutico pode,

então, contribuir para a relevância do uso popular da R.echinus observado nas

ilhas.

Nessa triagem fitoquímica, realizou-se o teste de detecção de

alcaloides (com reativo de Dragendorff), seguido pelo teste diferencial

(precipitação com reativo de Meyer), ambos dando positivo, sugerindo a

presença dessa classe de metabólitos secundários na composição da espécie

em estudo. Até o momento final dessa pesquisa não se encontrou nenhuma

publicação que confirmasse esse achado para o gênero Rhaphiodon. Todavia

a literatura científica aponta o metabolismo diferenciado das plantas da família

Lamiaceae, como do gênero Hyptis, caracterizado pela notável variabilidade.

Apesar do aspecto incomum, um estudo de Falcão, Fernandes e Menezes

(2003) registrou o isolamento de um composto também da classe dos

alcaloides, o (R)-5–hidroxipirrolidina-2-ona, extraído da planta Hyptis verticillata

(FALCÃO; MENEZES, 2003).

De maneira geral, os resultados do screening fitoquímico de R. echinus

revelou uma composição bastante comum à encontrada na literatura científica

para o gênero Hyptis e para muitos exemplares da família Lamiaceae. A

prevalência de compostos fenólicos, saponinas e substâncias terpenoides é

bastante reforçada pela literatura da área (FALCÃO; FERNANDES; MENEZES,

2003; FALCÃO; MENEZES, 2003; MORENO et al., 2005; BASÍLIO et al., 2007;

TORRES et al., 2009).

3.2 Constituintes químicos do óleo essencial de Rhaphiodon echinus

A análise da composição química do óleo essencial de R. echinus

apontou a presença de 31 constituintes, com predominância do espatulenol

com percentual de 30,27%, seguido do aromadendreno (8,30 %) e do cadin-4-

en-10-ol (7,77%). A tabela 06 apresenta todos os componentes químicos do

óleo essencial por ordem crescente de tempo de retenção, como também sua

classificação fitoquímica o índice de Kovat's.

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CAPÍTULO II 78

Tabela 07 - Constituintes químicos do óleo essencial de R. echinus

N Constituinte Classificação fitoquímica

Tempo de retenção

% Área

IK*

1 Pineno Monoterpeno 5,96 0,17 934,8

2 Limoneno Sesquiterpeno 8,90 0,48 1029,1

3 Eucaliptol Monoterpeno 9,01 1,08 1032,0

4 Elemeno Sesquiterpeno 22,06 0,97 1339,5

5 α-Copaeno Sesquiterpeno 23,78 1,55 1378,6

6 β-Bourboneno Sesquiterpeno 24,19 7,25 1388,0

7 Germacreno Sesquiterpeno 24,30 0,21 1390,4

8 Ciclohexano, 1- etenil-1-metil-2,4-bis (1-metiletenil)

24,48 4,56 1394,6

9 Cariofileno Sesquiterpeno 25,69 2,8 1422,9

10 β-Cubebeno Sesquiterpeno 26,11 0,85 1432,8

11 α-Humuleno Sesquiterpeno 27,15 0,8 1457,3

12 Benzeno, 1-(1,5-dimetil-4-hexenil)-4-metil Monoterpeno 28,34 0,49 1485,2

13

1H-Cycloprop[e] azuleno, 1a,2,3,5,6,7,7a,7b – octa 1hidro-1,1,4,7-tetrametil

Sesquiterpeno 28,93 1 1499,1

14 α- Muuroleno Sesquiterpeno 29,13 0,4 1504,1

15 Trans-calameneno Sesquiterpeno 30,08 1 1527,2

16

Ciclobuta[1,2:3,4]diciclopenteno, decahidro -1a-metil-6-metilene-1-(1-metiletil)

Sesquiterpeno 31,69 0,64 1566,6

17 Ledol Sesquiterpeno 31,92 1,52 1572,2

18 Espatulenol Sesquiterpeno 32,36 30,27 1583,1

19 Aromadendreno Sesquiterpeno 32,58 8,3 1588,3

20

1H-Cicloprop[e]azuleno, 1a,2,3,5,6,7,7a,7b -octahidro-1,1,4,7-tetrametil

Sesquiterpeno 32,91 4,28 1596,4

21

1H-Cicloprop[e]azuleno, decahidro-1,1,7-trimetil- 4-metileno 1-trimetil-4-metileno

Sesquiterpeno 33,36 2,01 1607,8

22 Humuleno epoxido II Sesquiterpeno 33,61 1,62 1614,0

23 1H-Cicloprop[e]azulen-7-ol, ecahidro-1,1,7 1-trimetil-4-metileno

Sesquiterpeno 34,35 4,08 1633,0

24 1H-Cicloprop[e]azulen-7-ol, decahidro-1,1, 1-trimetil-4-metileno

Sesquiterpeno 34,73 2,11 1642,6

25 Cadin-4-en-10-ol Sesquiterpeno 34,86 3,49 1646,0

26 Cadin-4-en-10-ol Sesquiterpeno 35,36 7,77 1658,7

27 Isogermacreno D Sesquiterpeno 36,77 1,58 1694,5

28 1H-Cicloprop[e]azulen-7-ol,decahidro-1,1,7-trimetil-4-metileno

Sesquiterpeno 37,79 0,98 1825,5

29 (-)-Espatulenol Sesquiterpeno 38,50 2,46 1856,4

30 δ-Elemeno Sesquiterpeno 38,71 0,97 1865,8

31 Aromadendreno óxido-(1) Sesquiterpeno 41,18 4,3 2104,5

*Índice de Kovat’s. Fonte: Autoria própria.

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CAPÍTULO II 79

A partir da análise do óleo essencial é possível descrever a

predominância de sesquiterpenos, principalmente aqueles tricíclicos derivados

do aromadendreno. Esses compostos possuem estruturas químicas complexas

que são normalmente descritos com grande atividade. Dois trabalhos onde há

o relato da identificação química do óleo essencial da espécie também

corroboram com o achado de que os sesquiterpenos são predominantes na

espécie, embora haja diferença em relação aos componentes majoritários

(PEREIRA, 2015; TORRES et al., 2009).

Populações naturais de plantas que ocorrem em locais com

diversidade ambiental variam quanto à constituição genética e atividade

fisiológica e, embora pertencendo à mesma espécie, podem responder de

modo muito diferente às condições ambientais vigentes. Os estímulos

decorrentes do ambiente no qual a planta se encontra podem redirecionar a

rota metabólica, ocasionando a biossíntese de diferentes compostos. Dentre

estes fatores, podem-se ressaltar as interações planta-microrganismos, planta-

insetos e planta-planta; idade e estádio de desenvolvimento, fatores abióticos

como luminosidade, temperatura, pluviosidade, nutrição, época e horário de

coleta, bem como técnicas de colheita e pós – colheita (DE MORAIS, 2009).

Isso foi evidenciado por Martins e colaboradores (2006) que atestou a

variabilidade da composição do óleo essencial de Hyptis suaveolens L (Poit),

considerando que a precedência distinta de plantas pode ser um fator de

variabilidade genética, uma vez que a biodiversidade envolve o metabolismo

das plantas e seus produtos, ou pode indicar um padrão de variação geográfica

na composição do óleo essencial (MARTINS et al, 2006). A influencia desses

fatores externos à planta pode justificar a diferença de composição do óleo

essencial da R. echinus obtido nesse estudo.

3.3 Atividade antibacteriana de Rhaphiodon echinus

O extrato etanólico bruto, as frações hexânica, clorofórmica, acetato de

etila, o extrato liofilizado, bem como o óleo essencial de R. echinus foram

testados contra algumas espécies bacterianas, cuja atividade foi analisada

mediante o cálculo da concentração inibitória mínima (CIM). Os resultados

estão descritos na tabela 08.

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CAPÍTULO II 80

Tabela 08 - Atividade antimicrobiana do extrato e frações, do liofilizado e do óleo essencial das partes aéreas de R. echinus

Amostra

CEPAS BACTERIANAS

S. aureus ATCC 25619

S. aureus ATCC 25925

P. aeruginosa ATCC 8027

P. aeruginosa ATCC 25243

E. coli ATCC 2536

E. coli ATCC 105

CIM (mg/mL)

CIM (mg/mL)

CIM (mg/mL)

CIM (mg/mL)

CIM (mg/mL)

CIM (mg/mL)

Re-LIO - - - - - -

Re-EEB - - 1,024 1,024 1,024 1,024

Re-HEX - - - - - -

Re-CLO - - - - - -

Re-AE 0,512 1,024 1,024 1,024 0,512 0,512

OE-Re 1,024 1,024L 1,024 1,024 1,024 1,024

Con.

Negativo* - - - - - -

Con.

Positivo** + + + + + +

Re-LIO: Produto liofilizado (extrato aquoso); Re-EEB: Extrato etanólico Bruto; Re-HEX: Fração Hexânica; Re-CLO: Fração Clorofórmica; RE-AE: Fração de Acetato de etila; OE-Re: Óleo essencial. *Controle negativo: DMSO;**Controle positivo: Cloranfenicol, solução 100 µg/mL (não foi calculado valor de CIM). Fonte: Autoria própria.

Segundo Sartoratto e colaboradores (2004) produtos originados de

plantas podem ser classificados da seguinte maneira, de acordo com sua

potência antimicrobiana:

Forte poder antimicrobiano = produtos com CIM de 0,05 até

0,5 mg/mL;

Moderado poder antimicrobiano = produtos com CIM entre 0,6 até

1,5 mg/mL e

Fraco poder antimicrobiano = produtos com CIM acima de

1,6 mg/mL (SARTORATTO et al., 2004).

Ao analisar os dados obtidos nos testes antibacterianos com as

substâncias propostas (Tabela 07) percebe-se que a fase acetato de etila

apresentou um forte efeito frente às cepas de E. coli e S. aureus e um efeito

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CAPÍTULO II 81

moderado frente às cepas de P. aeruginosa. Além disso, observou-se que o

extrato etanólico apresentou um efeito moderado frente às bactérias gram-

negativas e o óleo essencial apresentou um efeito moderado diante de todas

as cepas de microorganismos testadas.

As plantas têm uma capacidade quase ilimitada de sintetizar

substâncias aromáticas, geralmente consideradas como metabólitos

secundários pertencentes ao conjunto dos fenóis ou seus derivados. Em muitos

casos, estas substâncias servem como mecanismos de defesa da planta contra

a predação por microorganismos, insetos e herbívoros. Muitos compostos

bioativos originados de plantas têm sido estudados como antimicrobianos,

inclusive com a proposição dos mecanismos de ação. Como por exemplo, tem-

se que os mecanismos responsáveis pela ação antibacteriana dos compostos

fenólicos (sejam eles os fenóis simples como o ácido cinâmico ou os mais

complexos como os taninos) incluem inibição enzimática, possivelmente

através de reação com grupos sulfidrila ou através de interações mais

inespecíficas com as proteínas (COWAN, 1999).

No presente estudo a fração acetato de etila (Re-AE) apresentou

atividade antimicrobiana mais significativa. Isso pode estar relacionado pela

elevada presença de compostos fenólicos, verificada no screening fitoquímico.

Contudo, a investigação de metabólitos secundários revelou um perfil para

essa fração bastante próximo do extrato aquoso liofilizado. Poderia se esperar,

então, que o extrato aquoso e a fração acetato de etila tivessem perfis

semelhantes de atuação antimicrobiana, o que não foi percebido. A explicação

para esse ocorrido pode estar na variação da concentração dos metabólitos,

em cada fração. Já é conhecido na literatura científica que não existe sistema

de extração com solventes que seja satisfatório para o isolamento de todos ou

de classe específica de compostos bioativos naturais, devido a diversos

fatores: a peculiaridade do vegetal; a variedade da natureza química desses

metabólitos, e a possibilidade de interação destes elementos com outros

componentes vegetais, como carboidratos e proteínas (ANDREO; JORGE,

2006). Para algumas plantas, os solventes com menor polaridade, como o

acetato de etila, extraem compostos fenólicos com maior atividade antioxidante

que extrações com etanol, metanol, água ou esses componentes em mistura

(TSUDA et al., 1994). Essa diferença pode ocorrer também para extração de

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CAPÍTULO II 82

substâncias com propriedade antibiótica, o que talvez pudesse ser verificado

no processo de quantificação de tais compostos. No entanto, a determinação

quantitativa da concentração dos metabólitos secundários não foi objeto desse

estudo.

Como não foram encontradas publicações sobre a atividade

antimicrobiana das frações do extrato de R. echinus, utilizou-se a estratégia já

mencionada de pesquisar acerca do gênero Hyptis. Estudos revelam diversos

testes e comprovações das propriedades antibacterianas e/ou antifúngicas de

extratos etanólicos e óleos essenciais de muitas plantas de Hyptis, como por

exemplo: Hyptis ovalifolia (SOUZA et al, 2002; 2003;) e Hyptis martiusii

(COUTINHO et al., 2008). Esses dados corroboram com os resultados aqui

encontrados, partindo-se da premissa de semelhança fitoquímica de vegetais

que são próximos na classificação taxonômica.

O óleo essencial foi o único derivado de R. echinus testado que

mostrou atividade moderada contra as bactérias gram-positivas e gram-

negativas. A literatura científica traz que atividade antimicrobiana das espécies

da Lamiaceae é muitas vezes atribuída aos componentes voláteis a partir de

óleo essencial. Apesar de estes compostos terem sido muito estudados,

algumas vezes é difícil correlacionar os achados in vitro com observações

etnofarmacológicas, já que não se consegue detectar a presença dos

elementos do óleo essencial nos modos tradicionais de preparação, que são

muitas vezes inadequados, com elevada variabilidade e protocolos de extração

equivocados (decocção, por exemplo) (ABEDINI et al., 2013). Este argumento

é reforçado pela evidente inatividade antimicrobiana do extrato aquoso, que

seria aquele produto cuja metodologia de obtenção mais se aproxima do

realizado na comunidade.

O mecanismo pelo qual os óleos essenciais podem inibir o crescimento

ou eliminar os microorganismos envolvem diferentes formas de ação, sendo

em parte devido às suas características hidrofóbicas, o que os tornam aptos

para atravessar a membrana plasmática e se ligar a componentes celulares

essenciais para a vida das bactérias (EDRIS, 2007). Estudos têm demonstrado

que alguns sesquiterpenos (bastante prevalentes no óleo essencial de R.

echinus, ver tabela 06) são sugeridos como compostos que causam aumento

na permeabilidade da membrana, facilitando que outros agentes

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CAPÍTULO II 83

antimicrobianos penetrem na célula e provoque o efeito biocida (KURODA;

NAGASAKI; OHTA, 2007).

A eficácia do óleo essencial de R. echinus contra bactérias também foi

evidenciado por Souza e Rodrigues (2012). O autor admite que o efeito

observado esteja relacionado a uma possível ação sinérgica dos constituintes

do óleo (SOUZA; RODRIGUES, 2012). Além disso, há relatos na literatura

apontando alguns terpenoides de óleo essencial de plantas do gênero Hyptis

com ação antimicrobiana (FALCÃO; MENEZES, 2003; LEMES; FERRI;

LOPES, 2011). É válido ressaltar que o screening fitoquímico também apontou

a presença de compostos terpênicos nas frações hexânica e clorofórmica, mas

estas não apresentaram nenhuma ação antimicrobiana. Mais uma vez, parece

que a diferença de desempenho contra bactérias pode estar relacionada com a

concentração dessas substâncias no meio, já que se apresentam em maior

quantidade no óleo essencial. Pode-se ainda sugerir como justificativa a

presença de outros compostos (mais prevalentes nas frações hexânica e

clorofórmica) que poderiam antagonizar o efeito farmacológico investigado.

Pode-se ainda relacionar a atividade antimicrobiana de alguns

derivados da R. echinus à sua rica composição de flavonoides. Estes

metabólitos mostraram-se presentes em todas as frações de R. echinus e

apresentam variados mecanismos de ação como inibição da síntese de ácidos

nucleicos, alteração da função da membrana plasmática e inibição do

metabolismo energético (CUSHNIE; LAMB, 2005).

Diante do exposto, percebe-se, que somente a fração Re-AE fornece

uma atividade antimicrobiana forte contra as cepas estafilococócicas e de E.

coli testadas. A fração Re-EEB pode direcionar para um caminho de pesquisa

somente para bactérias gram-negativas, e com um perfil de ação moderada.

Quanto ao óleo essencial (OE-Re), tem-se uma atuação mediana, porém com

o espectro mais estendido para todas as cepas envolvidas com infecção do

trato urinário testadas nesse estudo.

3.4 Atividade espasmolítica de Rhaphiodon echinus

Para atender a um dos objetivos propostos, que é correlacionar a

indicação popular com testes farmacológicos que investiguem cientificamente

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CAPÍTULO II 84

esse fim, foi realizado o protocolo experimental in vitro para determinar o

potencial espasmolítico de R. echinus, testando o extrato etanólico bruto, a

fração hexânica, e extrato liofilizado. A investigação foi feita sobre o miométrio

de ratas, por ser o modelo farmacológico animal mais adequado para analisar a

indicação da comunidade para o uso da planta (dismenorreia).

O experimento revelou que os produtos da espécie R. echinus

relaxaram o útero da rata pré-contraído com solução despolarizante de KCl 60

mM, de forma dependente da concentração (Figura 07).

O útero é um órgão oco, que possui três camadas diferenciadas de

músculo liso, chamadas de endométrio, de miométrio (camada muscular

espessa) e de serosa (camada externa) (AGUILLAR; MICTHELL, 2010). Como

ocorre com outros órgãos que são constituídos por músculo liso (vasos

sanguíneos, estômago, intestinos, bexiga e vias aéreas), o funcionamento do

útero, bem como os processos fisiopatológicos associados depende da

atuação da musculatura lisa, especialmente da dinâmica contrátil, onde se

sabe que o cálcio (Ca2+) é um importante mediador (WEBB, 2003).

Assim, no músculo liso, um aumento na concentração citosólica de

Ca2+ é a causa primária para a produção da contração. De maneira geral,

existem duas fontes deste íon: uma extracelular que permite o influxo de Ca2+

através de canais na membrana plasmática, e outra intracelular representada

pelos estoques internos, principalmente no retículo sarcoplasmático, que libera

Ca2+ para o citosol (SOUZA, 2014). De maneira geral, o influxo de cálcio para o

interior celular é controlado pelo potencial da membrana plasmática, uma vez

que este determina a abertura para canais de Ca2+ dependentes de voltagem

(WRAY et al., 2001). Dessa forma quando preparações de útero isolado de rata

são postas em contato com soluções despolarizantes, como KCl 60 mM, há o

desenvolvimento de um acoplamento eletromecânico, controlado pelo influxo

de Ca+2 através dos canais. O aumento da concentração de íons de cálcio

induz a ativação dos receptores e enzimas específicas, resultando na

contração do músculo (SILVA, 2012). É importante lembrar que a contração do

músculo liso pode ser alcançada tanto pela despolarização da membrana

(acoplamento eletromecânico); como também por um meio de um agonista

(acoplamento fármaco-mecânico), ocorrendo independentemente do potencial

da membrana (SOUZA, 2014).

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CAPÍTULO II 85

Figura 07 – Registros originais do efeito relaxante dos produtos derivados de R. echinus em útero isolado de rata.

A: Fração hexânica (Re-HEX); B: Extrato etanólico bruto (Re-EEB); C: Extrato aquoso

liofilizado (Re-LIO) //: intervalo de pontos ocultados. As setas representam a adição cumulativa

dos produtos de R. echinus nas concentrações de: 1 µg/mL; 81 µg/mL, 243 µg/mL e 729 µg/mL. Fonte: Autoria própria.

C

A

B

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CAPÍTULO II 86

O mecanismo de contração do músculo liso permite inferir que

substâncias capazes de modular a polarização da membrana da célula ou de

interferir nos componentes intracelulares, são capazes de influenciar na

contratilidade do músculo liso. A atividade contrátil espontânea do útero da rata

é primariamente dependente de Ca2+ extracelular e vários bloqueadores de

canais de cálcio são potentes inibidores de contrações (RIBEIRO, 2014). Por

outro lado, existem vários agonistas, neurotransmissores e hormônios (a

exemplo de serotonina, ocitocina, carbacol, histamina, etc.) que se ligam aos

receptores específicos, estimulando a liberação de Ca2+ intracelular do retículo

sarcoplasmático e ativando a contração muscular (WEBB, 2003).

O relaxamento da musculatura lisa, por sua vez resulta na remoção

dos estímulos contráteis ou pela ação direta de uma substância que iniba

alguma etapa do mecanismo contrátil. De qualquer sorte, o relaxamento do

músculo liso requer uma diminuição da concentração de Ca2+ intracelular e

maior ativação da enzima inibitória de fosforilação de miosina de cadeia leve -

um dos processos responsáveis pelo encurtamento da fibra muscular (WEBB,

2003; ASTUDILLO-VÁZQUEZ; MATA; NAVARRETE, 2009).

Na perspectiva da pesquisa de substâncias moduladoras da contração

do músculo liso, percebe-se o potencial da investigação de derivados de

plantas, considerando que as substâncias espasmolíticas têm uma vasta

aplicação em processos fisiopatológicos, tais como: hipertensão, arritmias

cardíacas, angina do peito, diarreias, espasmos intestinais, cólicas menstruais

e asma (SOUZA, 2014). A utilização dessas substâncias especificamente no

músculo uterino pode ser considerada como uma importante ferramenta

terapêutica no combate de problemas médicos de relevante frequência.

Vislumbra-se a possibilidade de ampliação da oferta de alternativas para o

manejo da dismenorreia, ou no tratamento de contrações semelhantes em

gestantes que a depender da severidade, pode provocar agravos à saúde da

mãe e do filho (YOUNG, 2007).

Nessa investigação os resultados mostram que todos os três derivados

de R. echinus apresentaram atividade espasmolítica dependente da

concentração, mas o padrão de concentração-resposta não apresentou

diferença significativa (valor de p>0,05; Figura 08 A). Nenhuma das amostras

testadas conseguiu relaxar completamente (100% de relaxamento), embora a

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CAPÍTULO II 87

fração hexânica tenha relaxado, no seu efeito máximo, cerca de 80% (Figura

08 A). Também não houve diferença estatisticamente relevante para os valores

médios de CE50, significando que as três amostras são equipotentes quanto à

ação tocolítica em útero de rata, para o protocolo experimental realizado nesse

estudo (Figura 08 B). Quanto ao Emax, parâmetro de eficácia relativa, tem-se

que a fração hexânica (Re-HEX) mostrou-se mais eficaz, comparado aos

outras duas amostras analisados (Figura 08 C).

Figura 08 - Efeito espasmolítico dos derivados de R. echinus sobre as contrações tônicas induzidas com KCl 60 mM em útero isolado de rata

A: Curvas concentração-resposta dos derivados de R. echinus; B: Valores de CE50 dos compostos testados; C: Valores de Emax para os compostos testados. Os dados estão apresentados como média ± e.p.m. (n = 5); * representa valores de Emax que apresentaram diferença estatisticamente significante (ANOVA, p < 0,05). Fonte: Autoria própria.

Em

ax

(%

)

R e -H E X R e -L IO R e -E E B

0

2 0

4 0

6 0

8 0

1 0 0

R e -H E X

R e -L IO

R e -E E B

***

*

A

B

C

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CAPÍTULO II 88

Não foram encontrados registros na literatura sobre as propriedades

tocolíticas da espécie Rhaphiodon echinus. Para a família Lamiaceae,

observaram-se alguns estudos que apontavam a atividade de algumas

espécies sobre o músculo liso uterino, porém com atividade espasmogênica ou

uterotônica, ou seja, com objetivos diametralmente opostos ao analisado nesse

estudo (CHEN; CHEN; KWAN, 2000; ADEJI; UDOH; OKOYE, 2005;

KAMATENESI-MUGISHA; ORYEM-ORIGA, 2007; GRUBER; O’BRIEN, 2011).

Todavia, alguns estudos apontam a propriedade espasmolítica de óleos

essenciais ou metabólitos vegetais isolados, como é o caso do estudo de

Centeno (2010), referente ao óleo essencial do Rosmarinus officinalis L., ou o

trabalho de Shih, Hsu e Yang (2009) que avalia um flavonoide da Scutellaria

baicalensis Georgi na redução das contrações de útero isolado de ratas

(CENTENO, 2010; SHIH; HSU; YANG, 2009).

Para o gênero Hyptis, três estudos relataram a atividade espasmolítica.

Souza (2014) avalia essa propriedade em Hyptis macrostachys em diversos

modelos de músculo liso. Seus resultados demonstraram que em útero de rata,

aorta de rato e traqueia de cobaia, o extrato etanólico da planta apresentou

efeito espasmolítico significante, mas que não foi dependente de concentração

(SOUZA, 2014).

Outros dois estudos descreveram que a espécie Hyptis suaveolens

possuem atividade antiespasmódica e espasmolítica, sendo indicado o infuso

das flores para aliviar cólicas menstruais e problemas digestivos (BASÍLIO et

al., 2007; ASTUDILLO-VÁZQUEZ; MATA; NAVARRETE, 2009).

A ausência de estudos prévios sobre a espécie deve ser considerada

uma fonte de limitações para esta pesquisa, uma vez que eleva a dificuldade

de traçar comparativos. Porém, reforça a importância deste estudo em ampliar

o conhecimento sobre a família Lamiaceae e a planta considerada tão

importante pela comunidade dos beradeiros do submédio do rio São Francisco.

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CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS

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CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS 90

A abordagem etnodirigida representa uma via metodológica bastante

útil nas pesquisas de recursos naturais da caatinga, uma vez que preza pelo

respeito ao conhecimento tradicional localmente construído, enquanto traz

observações de manejo sustentável e conservação ambiental. No

levantamento etnobotânico do capítulo I observa-se a diversidade de plantas

utilizadas no cuidado em saúde das comunidades das Ilhas do Massangano,

Jatobá II e Rodeadouro. As espécies relatadas também foram encontradas em

outros estudos semelhantes. Porém, foram poucas as citações de plantas de

origem espontâneas, justificando-se pelas alterações do meio ou pouco

conhecimento da vegetação nativa local, já que os moradores são filhos de

migrantes ou oriundos de outras regiões.

As principais indicações para uso de plantas medicinais nas ilhas foram

doenças parasitárias e do aparelho genito-urinário, retratando condições

clínicas diferentes das relatadas em estudos também realizados no bioma

caatinga, onde a categoria das afecções respiratórias aparece com mais

frequência. Essa diferenciação pode ter uma relação com a concepção de

saúde e os sistemas locais de cuidados, próprios de cada comunidade.

Apesar de pouca referência de plantas espontâneas, a espécie

considerada mais importante, betônica (Rhaphiodon echinus) é uma planta

invasora típica da Caatinga. Foi referido que essa planta é utilizada na forma

de chá para tratamento de infecção urinária e dismenorreia. A comparação dos

indicadores que expressam a importância da planta em uma comunidade (IR,

CUPc e VU) mostrou coerência que confirma o forte uso da Betônica entre os

beradeiros do rio São Francisco, justificando também a investigação fitoquímica

e farmacológica realizados em seguida.

Os dados apresentados no capítulo II revelam o perfil fitoquímico e

farmacológico da espécie R. echinus. No screening fitoquímico observou-se a

presença de flavonoides, taninos, lignanas, saponinas e terpenos nas frações e

extrato da planta. A análise do óleo essencial revelou composição majoritária

de sesquiterpenos.

No teste antibacteriano a fase acetato de etila apresentou atividade

mais significativa frente as cepas de E. coli e S. aureus. Já o extrato etanólico

apresentou um efeito moderado frente às bactérias gram-negativas e o óleo

essencial atuou moderadamente contra todas as cepas testadas.

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CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS 91

No teste espasmolítico as amostras testadas apresentaram atividade

dependente da concentração, mas nenhuma conseguiu 100% de relaxamento

da musculatura lisa.

A pesquisa por diferentes potenciais farmacológicos é possível graças

a ampla variedade de metabólitos secundários que R. echinus apresenta. Os

dados etnofarmacológicos foram resultados de relatos inéditos de avaliação da

ação em dois modelos experimentais in vitro. Contudo a evidente variação de

atividade para frações com perfis fitoquímicos semelhantes insere incertezas

sobre o potencial terapêutico da planta estudada. Além disso, a fraca atuação

antimicrobiana e espasmolítica do extrato aquoso liofilizado – forma de preparo

que mais se aproxima da utilizada na comunidade - não confirma a indicação

popular da planta. Portanto, a comprovação científica para o uso tradicional da

R. echinus ainda necessita de maiores confirmações baseadas em outros

protocolos experimentais.

É importante salientar que esse estudo promove um avanço no sentido

de aproximar o conhecimento popular com as pesquisas desenvolvidas no

âmbito da Universidade. Sendo assim, a perspectiva deste trabalho está em

colaborar no fortalecimento de atividades acadêmico-científicas comprometidas

com a valorização identitária dos ribeirinhos do Submédio do São Francisco,

enquanto contribui para a investigação de recursos naturais com potencial

terapêutico a partir da flora regional.

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ANEXOS

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ANEXO A- CARTA DE APROVAÇÃO DO CEDEP / UNIVASF

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ANEXO B- CARTA DE APROVAÇÃO DO CEUA / UNIVASF

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APÊNDICES

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APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA

PROJETO DE PESQUISA: ESTUDO FITOQUÍMICO E FARMACOLÓGICO

COM ABORDAGEM ETNODIRIGIDA DE PLANTAS ENCONTRADAS EM

ILHAS DO SUBMÉDIO DO RIO SÃO FRANCISCO

Objetivo Geral: Identificar as principais plantas utilizadas com fins terapêuticos

pelos habitantes de ilhas do Submédio São Francisco, bem como sua relação

histórico-cultural com as mesmas, no processo saúde-doença e utilizando-se

dessas informações fornecer subsídios para a procura de novos fármacos a

partir da flora da região.

Data da entrevista: ____/____/_______ Entrevista nº _______

Comunidade: _________________________________________

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

Sexo: Masc: ( ) Fem: ( ) Idade:________

Profissão: _______________ Tempo de residência na comunidade: _________

Escolaridade: Não alfabetizado ( ) Alfabetizado ( ) 1º grau incompleto ( ) 1º

grau completo ( ) 2º grau incompleto ( ) 2º grau completo ( ) superior ( )

DADOS SOBRE AS PLANTAS MEDICINAIS

1. Por que você utiliza plantas medicinais no tratamento ou controle das

doenças?

2. Você utiliza as plantas medicinais em quais formas?

3. Onde você consegue as plantas medicinais que você utiliza?

4. Com quem você obteve os conhecimentos sobre as plantas medicinais?

5. Cite algumas plantas que costuma usar, para que e como as usa.

a. Nome da planta: Para que usa: Parte da planta que usa: Quantidade que usa: Como usa:

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b. Nome da planta: Para que usa: Parte da planta que usa: Quantidade que usa: Como usa: c. Nome da planta: Para que usa: Parte da planta que usa: Quantidade que usa: Como usa: d. Nome da planta: Para que usa: Parte da planta que usa: Quantidade que usa: Como usa: e. Nome da planta: Para que usa: Parte da planta que usa: Quantidade que usa: Como usa:

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APÊNDICE B: TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Título da Pesquisa: “ESTUDO FITOQUÍMICO E FARMACOLÓGICO COM

ABORDAGEM ETNODIRIGIDA DE PLANTAS ENCONTRADAS EM ILHAS DO

SUBMÉDIO DO RIO SÃO FRANCISCO.”

Nome do (a) Pesquisador (a): GABRIELA LEMOS DE AZEVEDO MAIA

Nome do (a) pesquisador(a) Colaborador (a): ISABEL DIELLE SOUZA LIMA PIO

1 Natureza da pesquisa: o Sr.ª (sr.) está sendo convidada (o) a participar desta

pesquisa que tem como finalidade identificar as principais plantas utilizadas com fins

terapêuticos pelos habitantes de ilhas do Submédio São Francisco, bem como sua

relação histórico-cultural com as mesmas, no processo saúde-doença e utilizando-se

dessas informações fornecer subsídios para a procura de novos fármacos a partir da

flora da região.

2.Participantes da pesquisa: 15 pessoas (maiores de idade) que residem nas ilhas do

Massangano, Rodeadouro ou Jatobá(PE/BA).

3.Envolvimento na pesquisa: ao participar deste estudo a sra (sr) permitirá que o (a)

pesquisadora Gabriela Lemos de Azevedo Maia e a sua colaboradora ISABEL DIELLE

SOUZA LIMA PIO realize entrevista e divulguem os resultados com finalidade

científica. A sra (sr.) tem liberdade de se recusar a participar e ainda se recusar a

continuar participando em qualquer fase da pesquisa, sem qualquer prejuízo para a

sra (sr.). Sempre que quiser poderá pedir mais informações sobre a pesquisa através

do telefone do (a) pesquisador (a) do projeto e, se necessário através do telefone do

Comitê de Ética em Pesquisa.

4.Sobre as entrevistas: A entrevista será do formato semiestruturada uma vez que

contará com um roteiro de entrevista, constituída apenas por tópicos, permitindo a livre

expressão do colaborador Deve-se também, questionar outros aspectos como, as

partes vegetais aproveitadas, a parte utilizada, as vias de administração e maneiras de

preparo (cataplasma, banho, massagem, infusão, decocção, ingestão), qual a duração

do tratamento e a(s) doença(s) tratada(s).Para o registro dos dados, será utilizada a

gravação da entrevista por um aparelho MP3.

5.Riscos e desconforto: a participação nesta pesquisa não infringe as normas legais e

éticas. Os procedimentos adotados nesta pesquisa obedecem aos Critérios da Ética

em Pesquisa com Seres Humanos conforme Resolução no. 466/2012 do Conselho

Nacional de Saúde. Nenhum dos procedimentos usados oferece riscos à sua

dignidade.

6.Confidencialidade: todas as informações coletadas neste estudo são estritamente

confidenciais. Somente o (a) pesquisador (a) e seu (sua) orientador (a) terão

conhecimento de sua identidade e nos comprometemos a mantê-la em sigilo ao

publicar os resultados dessa pesquisa.

7.Benefícios: ao participar desta pesquisa a sra (sr.) não terá nenhum benefício direto.

Entretanto, esperamos que este estudo traga informações importantes sobre o uso

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seguro das plantas medicinais mais usadas pela população das ilhas estudadas, de

forma que o conhecimento que será construído a partir desta pesquisa possa

contribuir com as formas de tratamento das doenças que afligem a população, onde

pesquisador se compromete a divulgar os resultados obtidos, respeitando-se o sigilo

das informações coletadas, conforme previsto no item anterior.

8.Pagamento: a sra (sr.) não terá nenhum tipo de despesa para participar desta

pesquisa, bem como nada será pago por sua participação. Fica garantida indenização

em casos de danos, comprovadamente decorrentes da participação na pesquisa,

conforme decisão judicial ou extrajudicial.

Após estes esclarecimentos, solicitamos o seu consentimento de forma livre para

participar desta pesquisa. Portanto preencha, por favor, os itens que se seguem:

Confiro que recebi cópia deste termo de consentimento, e autorizo a execução do

trabalho de pesquisa e a divulgação dos dados obtidos neste estudo.

Obs.: Não assine esse termo se ainda tiver dúvida a respeito.

Consentimento Livre e Esclarecido

Tendo em vista os itens acima apresentados, eu, de forma livre e esclarecida,

manifesto meu consentimento em participar da pesquisa.

___________________________

Nome do Participante da Pesquisa

______________________________

Assinatura do Participante da Pesquisa

Assinatura do Pesquisador

Assinatura do Pesquisador Colaborador

Pesquisadora: Gabriela Lemos de A. Maia/(87)21016862/email;

[email protected]. Pesquisadora Colaboradora : Isabel Dielle

Souza Lima Pio/(74)91413030/email: [email protected]

COMITÊ DE ÉTICA E DEONTOLOGIA EM ESTUDOS E PESQUISAS -CEDEP

Coordenador do CEDEP: Alexandre H. Reis

Vice Coordenadora: Márcia Bento Moreira

Telefone do Comitê: 87 21016896 E-mail:[email protected]

Site: http://www.graduacao.univasf.edu.br/cedep/