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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE ESCOLA DE ENFERMAGEM AURORA DE AFONSO COSTA MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO NA SAÚDE ALCINÉA RODRIGUES ATHANÁZIO EDUCAÇÃO PERMANENTE A TRABALHADORES DO CENTRO DE MATERIAL E ESTERILIZAÇÃO: UMA CONTRIBUIÇÃO DA ENFERMAGEM NITERÓI 2015

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE ESCOLA DE ENFERMAGEM ... Rodrigues... · Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação do Mestrado Profissional de Ensino na Saúde: Formação

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

ESCOLA DE ENFERMAGEM AURORA DE AFONSO COSTA

MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO NA SAÚDE

ALCINÉA RODRIGUES ATHANÁZIO

EDUCAÇÃO PERMANENTE A TRABALHADORES DO CENTRO DE MATERIAL E

ESTERILIZAÇÃO: UMA CONTRIBUIÇÃO DA ENFERMAGEM

NITERÓI

2015

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

ESCOLA DE ENFERMAGEM AURORA DE AFONSO COSTA

MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO NA SAÚDE

ALCINÉA RODRIGUES ATHANÁZIO

EDUCAÇÃO PERMANENTE A TRABALHADORES DO CENTRO DE MATERIAL E

ESTERILIZAÇÃO: UMA CONTRIBUIÇÃO DA ENFERMAGEM

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação do Mestrado Profissional de Ensino na Saúde: Formação Docente Interdisciplinar para o SUS, da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Ensino na Saúde.

Linha de Pesquisa: Educação Permanente no SUS

Orientador: Dr. Benedito Carlos Cordeiro

NITERÓI

2015

A 865 Athanázio, Alcinéa Rodrigues.

Educação permanente a trabalhadores do Centro de Material e Esterilização: uma contribuição da enfermagem. / Alcinéa Rodrigues Athanázio. – Niterói: [s.n.], 2015.

114f.

Dissertação (Mestrado Profissional de Ensino na Saúde) - Universidade Federal Fluminense, 2015.

Orientador: Profº. Benedito Carlos Cordeiro.

1. Educação em Saúde. 2. Enfermagem. 3. Esterilização. I. Título.

CDD 610.7307

ALCINÉA RODRIGUES ATHANÁZIO

EDUCAÇÃO PERMANENTE A TRABALHADORES DO CENTRO DE MATERIAL E

ESTERILIZAÇÃO: UMA CONTRIBUIÇÃO DA ENFERMAGEM

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação do Mestrado Profissional de Ensino na Saúde: Formação Docente Interdisciplinar para o SUS, da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Ensino na Saúde.

Linha de Pesquisa: Educação Permanente no SUS

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________________________ Presidente: Prof. Dr. Benedito Carlos Cordeiro – Orientador

UFF

___________________________________________________________________ 1ª Examinadora: Profa. Dra. Ann Mary Machado Tinoco Feitosa Rosas

UFRJ

___________________________________________________________________ 2ª Examinadora: Profa. Dra. Miriam Marinho Chrizostimo

UFF

___________________________________________________________________ Suplente: Profa. Dra. Virgínia Farias Damázio Dutra

UFRJ

___________________________________________________________________ Suplente: Profa. Dra. Donizete Vago Daher

UFF

NITERÓI

2015

DEDICATÓRIA

Às minhas filhas Tatiana e Camila pela

paciência e compreensão.

Aos colegas do Centro de Material e

Esterilização que contribuíram para a

realização desse trabalho.

AGRADECIMENTOS

A Deus, pela oportunidade que me deu de retornar aos estudos e

compartilhar com novas pessoas, pela felicidade que se intensificou

em minha vida com os novos conhecimentos adquiridos e pela

motivação em continuar;

Às minhas irmãs, no auxílio, dividindo o cuidado com as minhas

filhas, para que eu chegasse até aqui;

A todos os colegas pelo incentivo e força;

Aos professores do Mestrado Profissional em Ensino na Saúde

(MPES), que foram incansáveis no percurso da nossa caminhada.

Sempre dedicados, atenciosos e com muito carinho para com todos;

À professora doutoranda Deise, pela atenção, e palavras de

encorajamento;

Às professoras doutoras Miriam e Ann Mary por aceitarem participar

da banca de qualificação e de defesa da dissertação; pelas

contribuições e pelo carinho;

A todos os colegas do MPES, pela amizade, carinho e incentivo;

Aos enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem do Hospital

Universitário Antônio Pedro (HUAP), que contribuíram com palavras

de ânimo e carinho para o meu caminhar;

A todos da secretaria do MPES, sempre atenciosos e solícitos;

Ao meu orientador, pela paciência, ensinamentos e por ter

acreditado e confiado que eu iria conseguir finalizar essa etapa;

A todos que, de alguma forma, contribuíram para que eu chegasse

até aqui.

Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas. Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do vôo.

Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser.

Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o vôo. Escolas que são asas não amam pássaros

engaiolados. O que elas amam são pássaros em vôo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o vôo, isso elas não

podem fazer, porque o vôo já nasce dentro dos pássaros. O vôo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado.

Rubem Alves

RESUMO

O objeto de estudo desta pesquisa se constitui na Educação Permanente em Saúde (EPS) como ferramenta para qualificação dos profissionais de enfermagem do Centro de Material e Esterilização (CME). A pesquisa emerge do cotidiano a partir da prática enquanto profissional, o que possibilitou a percepção do nítido enfrentamento dos funcionários no CME frente às novas tecnologias no desenvolvimento de suas atividades laborais. Objetivo: analisar a EPS como ferramenta na qualificação dos profissionais de enfermagem do CME. Método: Utilizou-se estudo de natureza exploratória descritiva, com abordagem qualitativa, através do trabalho de campo com entrevistas semiestruturadas. A fim de contribuir com as reflexões, foi construído um referencial teórico baseado nos temas: o contexto e importância do CME; educação permanente e; a Política Nacional de Educação Permanente como contribuição para o trabalho dos profissionais do CME. O referencial teórico-metodológico foi o pensamento de Paulo Freire e sua contribuição com a pedagogia crítica e abordagem da Política Nacional de Educação Permanente em Saúde para os trabalhadores do CME. Foi realizado no CME de um hospital público de grande porte situado no município de Niterói/RJ. A amostra foi composta por 31 profissionais da saúde entre enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, que fazem parte do quadro efetivo da instituição dos serviços diurno e noturno, atuam no CME e aceitaram participar da pesquisa. A coleta de dados ocorreu no período de setembro a novembro de 2014, quando foram realizadas as entrevistas. A pesquisa foi encaminhada e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa, da Faculdade de Medicina da UFF, sob o nº CAEE: 33739114.9.0000.5243, parecer consubstanciado nº 777.581. Os dados coletados foram baseados pela proposta de análise de conteúdo conforme o método de Bardin. Resultados: Na análise encontramos três categorias: A pluralidade de percepções sobre Educação Permanente em Saúde: ensino-aprendizagem constante, reciclagem, criação de cursos, educação continuada, capacitação; A inter-relação entre EPS e saúde do trabalhador do CME e A necessária implementação da EPS no CME: em busca da resolutividade e excelência no trabalho. Todo o estudo permeou questões referentes à EPS. O conceito de EPS apresentado pelos trabalhadores revela o desconhecimento de uma prática relevante no atual e futuro cotidiano. Os profissionais aguardam, com expectativa, que o cotidiano de suas práticas seja aperfeiçoado, que um novo olhar seja direcionado para eles, eles têm experiências que precisam ser partilhadas; a maioria, apesar das atividades complexas, está satisfeita com o trabalho que desempenha. Como produtos da pesquisa foram criados: um folder sobre o processo de trabalho no CME para as unidades consumidoras, como forma de contribuir com a visibilidade e a valorização da unidade; uma cartilha com orientações sobre a política de EPS para os trabalhadores do CME e um projeto de extensão para posterior implantação.

Descritores: Enfermagem, Esterilização, Educação em Saúde.

ABSTRACT

The study object of this research constitutes the Permanent Health Education (PHE) as a tool in the training of nursing professionals in the Material and Sterilization Center (MSC). The research emerges from the everyday practice as a professional, which allowed the perception of sharp confrontation of employees in MSC forward new technologies in the development of their work activities. Aim: to analyze the PHE as a tool in the training of the MSC nurses. Method: We used descriptive exploratory study with a qualitative approach, through field work with semi-structured interviews. In order to contribute to the reflections, it built a theoretical framework based on the themes: the context and importance of the MSC; permanent education; the Permanent Education National Policy as a contribution in the work of MSC professionals. The theoretical framework was the thought of Paulo Freire and his contribution to critical pedagogy and approach of the Permanent Education National Policy for the MSC workers. This study was CME was conducted at the CME of a large public hospital located in Niterói/RJ. The sample consisted of 31 health professionals including nurses, technicians and nursing assistants, who are part of the permanent staff of the institution of the day and night services, operating in MSC and agreed to participate. Data collection occurred from September to November 2014, when the interviews were conducted. The research was forwarded and approved by the Research Ethics Committee of the Faculty of Medicine of UFF, under no CAEE: 33739114.9.0000.5243, seem embodied No. 777,581. The collected data were treated by the proposed Bardin content analysis. Results: In the analysis we find three categories: A plurality of perceptions of PHE: constant teaching and learning, recycling, creation of courses, continuing education, training; The interrelationship between PHE and health of the MSC worker; the necessary implementation of the PHE in MSC: searching for problem solving and excellence at work. All the study permeated issues relating to PHE. The PHE concept presented by workers reveals the lack of a relevant practice in the current and future everyday. Professionals are waiting, expectantly, that their everyday practice be improved, a new look be directed to them, they have experiences that need to be shared; most, despite complex activities, is pleased with the work that plays. As research products were created: one folder on the working process at the MSC for consumer units, in order to contribute to the visibility and appreciation of the unit; a booklet with guidance on PHE policy for MSC workers and an extension project for later deployment.

Descriptors: Nursing, Sterilization, Health Education.

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

AC Análise de conteúdo

ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária

BDENF Base de Dados de Enfermagem

BVS Biblioteca Virtual em Saúde

CC Centro Cirúrgico

CCIH Comissão de Controle de Infecção Hospitalar

CEP Comitê de Ética em Pesquisa

CIES Comissões de Integração Ensino Serviço

CME Centro de Material e Esterilização

CNS Conselho Nacional de Saúde

CPPS Comitê de Processamento de Produtos para Saúde

DCN Diretrizes Curriculares Nacionais

EEAAC Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa

EGGP Escola de Governança em Gestão Pública

EP Educação Permanente

EPI Equipamento de Proteção Individual

EPS Educação Permanente em Saúde

IH Infecção Hospitalar

HUAP Hospital Universitário Antônio Pedro

LILACS Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde

MEC Ministério da Educação e Cultura

MS Ministério da Saúde

MPES Mestrado Profissional em Ensino na Saúde

OPAS Organização Pan-Americana de Saúde

PEPS Polos de Capacitação de Educação Permanente em Saúde

PNEPS Política Nacional de Educação Permanente em Saúde

RDC Resolução de Diretoria Colegiada

RPA Recuperação Pós-anestésica

SOBECC Sociedade Brasileira de Enfermeiros de Centro Cirúrgico

SUS Sistema Único de Saúde

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UC Unidades Consumidoras

UFF Universidade Federal Fluminense

UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

LISTA DE TABELAS E QUADROS

Figura 1 Fluxograma dos produtos médicos processados no Centro de Material e Esterilização. Niterói, RJ, 2015

21

Figura 2 Mapa das áreas da região Metropolitana II do estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2015

44

Figura 3 Impressões dos trabalhadores do Centro de Material e Esterilização sobre o processo de trabalho no setor. Niterói, RJ, 2015 (n=31)

54

Figura 4 Representação das falas dos participantes da pesquisa, por meio de recurso gráfico de computação nuvem de palavras. Niterói, RJ, 2015 (n=31)

55

Quadro 1 Etapas do processo de trabalho do Centro de Material e Esterilização. Niterói, RJ, 2015

23

Quadro 2 Etapas da técnica de Análise de Conteúdo proposta por Bardin. Niterói, RJ, 2015

47

Quadro 3 Perfil dos trabalhadores do Centro de Material e Esterilização, participantes da pesquisa. Niterói, RJ, 2015 (n=31)

49

Quadro 4 Conhecimento dos trabalhadores do Centro de Material e Esterilização sobre educação permanente em saúde. Niterói, RJ, 2015 (n=31)

52

Quadro 5 Impressões dos trabalhadores do Centro de Material e Esterilização sobre o processo de trabalho no setor. Niterói, RJ, 2015 (n=31)

53

SUMÁRIO

RESUMO vi

ABSTRACT vii

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS viii

LISTA DE TABELAS E QUADROS ix

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS 10

1.1 Objetivo geral 12

1.2 Objetivos específicos 12

1.3 Justificativa 13

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 18

2.1 O contexto e importância do Centro de Material e Esterilização 18

2.2 A Educação Permanente e a Política Nacional de Educação Permanente como contribuição para o trabalho dos profissionais do Centro de Material e Esterilização

27

3 REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO 34

3.1 Pensamento Paulo Freire 34

3.2 A contribuição de Paulo Freire com a pedagogia crítica na abordagem da Política Nacional de Educação Permanente em Saúde para os trabalhadores do Centro de Material e Esterilização

38

4 METODOLOGIA 41

4.1 Tipo de estudo 41

4.2 Aspectos éticos da pesquisa 42

4.3 Campo/cenário 42

4.4 Participantes 45

4.5 Coleta de dados 45

4.6 Análise e interpretação dos dados 46

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO 49

5.1 A relevância da concepção de trabalho no CME e sua representação gráfica

55

5.1.1 Categoria 1. A pluralidade de percepções sobre EPS: ensino-

aprendizagem constante, reciclagem, criação de cursos, educação continuada, capacitação

58

5.1.2 Categoria 2. A inter-relação entre EPS e saúde do trabalhador do

CME 62

5.1.3 Categoria 3. A necessária implementação da EPS no CME: em

busca da resolutividade e excelência no trabalho 66

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 70

7 PRODUTO DA PESQUISA 74

APÊNDICES 80

Apêndice I. Quadro da caracterização dos participantes e respostas sobre o conhecimento de EPS.

80

Apêndice II. Termo de Consentimento Livre Esclarecido 83

Apêndice III. Instrumento de coleta de dados 85

Apêndice IV. Folder 88

Apêndice V. Cartilha 90

Apêndice VI. Projeto de extensão 98

ANEXOS 107

Anexo I. Parecer consubstanciado do CEP 107

Anexo II. Declaração de autorização para pesquisa 110

10

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O estudo em questão aborda a educação permanente em saúde (EPS) para

os profissionais de enfermagem que atuam no setor Centro de Material e

Esterilização, (CME). Este setor é responsável pela recepção, limpeza, preparo,

esterilização e distribuição de todos os materiais utilizados na assistência à saúde

aos pacientes, constituindo-se em um setor de grande importância para os serviços

de saúde.

O CME desempenha papel fundamental na qualidade do processo

assistencial. Contudo, nos serviços de saúde, frequentemente, conta com número

insuficiente de funcionários e a qualificação para os profissionais deste setor não é

prioridade para os gestores.

Cabe ressaltar que este setor se torna um espaço esquecido pelos gestores,

ao considerar que são encaminhados profissionais de enfermagem para lotação no

CME com transtornos emocionais já diagnosticados, com idades avançadas,

readaptados, em pré-aposentadoria ou por inadequação de relacionamento em

diferentes áreas da assistência.

Com isso, o CME destina-se a receber profissionais com algum problema de

saúde, ou em fim de carreira, o que reforça a visão de espaço de armazenamento

de pessoas doentes, cansadas, desmotivadas e com reduzidas demandas de

trabalho. O CME se configura, deste modo, como a última possibilidade de

adaptação profissional.

Sendo assim, observa-se que o contexto do CME traz conflitos entre a

situação de vida experimentada pelos funcionários e o trabalho a ser desenvolvido

por eles. Pois, esta circunstância ocasiona enfrentamento entre os funcionários e o

processamento de materiais que atualmente se faz com novas tecnologias.

Enfatiza-se que as atuais dificuldades existentes relacionadas à área de

recursos humanos na prática, compromete o funcionamento operacional do CME. O

quantitativo reduzido, para dar conta de complexas demandas, e a limitação no

potencial laboral dos funcionários afetam, principalmente, a dinâmica do serviço de

enfermagem, já que, nos diferentes serviços de saúde do Brasil, as ações são

realizadas majoritariamente por profissionais de enfermagem.

Dessa forma, observa-se a cultura organizacional singular no que tange à

alocação de recursos humanos no CME. Necessita-se de um novo olhar para a

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gestão de pessoas, tanto no quantitativo, quanto nas potencialidades e na saúde do

trabalhador. O importante é desnaturalizar a concepção vigente e encontrar meios

de inovação atendendo as novas demandas de saúde.

A inovação, por vezes, está próxima dos olhos, contudo é pouco visualizada.

Nessa perspectiva, a educação permanente (EP) configura-se como possibilidade

para a mudança no ambiente de trabalho, podendo favorecer o desenvolvimento

cognitivo do funcionário, contribuir com a qualificação e a satisfação no trabalho e

aumentar o rendimento nas atividades realizadas, cujos resultados são visíveis na

assistência prestada.

A proposta pedagógica considerada nesta pesquisa privilegia a capacitação

pela EP, que visualiza os funcionários como sujeitos do processo de ensino-

aprendizagem na construção social de saberes e práticas, preparando-os para atuar

como sujeitos corresponsáveis nos processos de formação ao longo de sua vida

profissional. A capacitação incidirá sobre o processo de trabalho, e de preferência,

no âmbito de suas atividades laborais (BRASIL, 2004).

Nessa conjuntura, a pesquisa emerge do cotidiano, a partir da prática da

pesquisadora enquanto profissional, o que possibilitou a percepção do nítido

enfrentamento dos funcionários no CME frente às novas tecnologias no

desenvolvimento de suas atividades laborais. Há a sobrecarga de trabalho, a

dificuldade de organização, a repercussão da qualidade da assistência e o cuidado

prestado.

A EP deve ter como fundamento o processo pedagógico que contemple as

etapas de aquisição e atualização de conhecimentos e habilidades até o

aprendizado que parte dos problemas e desafios enfrentados no processo de

trabalho, com envolvimento das práticas que possam ser determinadas por vários

fatores, tais como: conhecimento, valores, relação de poder, planejamento e

organização do trabalho (BRASIL, 2012b).

O desenvolvimento tecnológico e o processo técnico se desenvolvem num

contexto globalizado, em que a velocidade inusitada é absolutamente necessária,

uma vez que os conhecimentos, as habilidades e as destrezas hoje adquiridas serão

ultrapassados rapidamente (BRASIL, 2004).

Ante ao problema de estudo exposto, questiona-se: como a EP pode ser

pensada como possibilidade ou espaço para trabalhar a qualificação do trabalhador

de enfermagem lotado no CME?

12

Assume-se, nesta pesquisa, que a EPS, se apresenta como enfoque

educacional reconhecido, apropriado para produzir as transformações nas práticas e

nos contextos de trabalho que fortalece a reflexão das ações oriundas do trabalho

em equipe, e da capacidade de gestão sobre os próprios processos locais. A EPS é,

portanto, um processo de ensino e aprendizagem da prática pela prática.

Esta proposta de ação estratégica é capaz de contribuir para a transformação

dos processos formativos das práticas pedagógicas e de saúde para a organização

dos serviços, com o empreendimento do trabalho articulado entre o sistema de

saúde e de várias esferas de gestão com as instituições formadoras (BRASIL, 2004).

A EP aos trabalhadores da saúde, neste sentido, pode ser compreendida

como um dispositivo para a transformação na área de saúde, para que eles próprios,

usuários e cidadãos possam assumir o controle sobre os fatores pessoais,

socioeconômicos e ambientais que afetam o setor.

Diante desse quadro, o objeto de estudo desta pesquisa se constitui na EPS

como ferramenta na qualificação dos profissionais de enfermagem do CME; e como

questão que norteia essa pesquisa, apresenta-se: que ações podem ser realizadas

para que a EPS aconteça no ambiente de trabalho do CME?

Nessa esteira, apresentam-se, a seguir, os objetivos da pesquisa:

1.1 Objetivo geral

Analisar a EPS como ferramenta na qualificação do profissional de

enfermagem do CME.

1.2 Objetivos específicos

Descrever o perfil e conhecimento dos trabalhadores do CME sobre EPS;

Discutir a percepção do profissional de enfermagem do CME sobre EPS;

Identificar que fatores contribuem para que não ocorra a EPS no CME.

13

1.3 Justificativa

O presente estudo foi realizado em uma unidade de CME de um hospital

público de grande porte situado no município do Rio de Janeiro.

O desenvolvimento desse estudo é importante porque ele atende uma das

exigências da agenda do Ministério da Saúde (MS), que se relaciona com a

ausência de processos de EPS em CME. A realização deste trabalho se justifica,

também, por esse tema se tratar de um problema que envolve a experiência e

vivência da pesquisadora no âmbito do trabalho neste setor.

Atuei no Centro Cirúrgico (CC) do referido hospital por vários anos como

funcionária do quadro permanente da instituição na categoria de auxiliar de

enfermagem. Já possuía o curso técnico de enfermagem e o curso técnico de

enfermagem do trabalho, mas o concurso para o qual pleiteava vaga era para

auxiliar de enfermagem.

Algum tempo depois terminei a minha graduação em enfermagem após

realizar um curso oferecido pela instituição como forma de capacitação de

funcionários e estratégia de aumento salarial. Estratégia essa que não seria

necessária, já que o aprimoramento científico adquirido me motivou na busca a

novos conhecimentos relacionados à prática profissional.

Conhecendo bem a dinâmica do CC, do setor de Recuperação Pós-

anestésica (RPA) e CME, esta última alocada no mesmo ambiente cirúrgico, fui,

junto com outros funcionários, convidada a trabalhar no CME do hospital, quando da

desvinculação desses dois setores, em razão da exigência da Agência Nacional de

Vigilância Sanitária (ANVISA).

Com espaço físico próprio e independente, o CME só faltava se adequar a

resolução atual que dispõe sobre requisitos de boas práticas para o processamento

de produtos para saúde por meio da Resolução de Diretoria Colegiada (RDC) nº 15,

de 15 de março de 2012 (BRASIL, 2012a).

O setor carecia de profissionais habilitados no processamento de materiais,

principalmente nas atividades relacionadas aos instrumentais cirúrgicos, que se

apresentavam em maior número, aos complexos e aos de alto custo, nas diferentes

especialidades. Deveria haver controle para que não houvesse dispersão dos

materiais, que até então estavam sob a responsabilidade do CC.

14

Ouvia falar do setor CME e suas especificidades, mas não imaginava a

complexidade, a falta de visibilidade de gestores e os processos que envolviam as

unidades consumidoras (UC) dos materiais. A fragilidade e situação precária dos

processos de trabalho dos funcionários ali lotados foram se tornando cada vez mais

visíveis. Havia constantes atritos no cotidiano relacionados ao processamento de

materiais. Sem mencionar, também, a inadequação do ambiente que muito se

distanciava dos projetos arquitetônicos preconizados na legislação pertinente,

mesmo contendo espaço físico próprio e independente.

Presenciando toda esta problemática, vi-me com necessidade e oportunidade

de dar prosseguimento aos meus estudos. Assim, fiz curso de especialização em

enfermagem do trabalho, o que muito me ajudou na compreensão da situação de

estresse vivenciada pelos trabalhadores de enfermagem no CME frente às cargas

de trabalho e às novas tecnologias. Posteriormente realizei curso de especialização

em controle de infecção e assistência à saúde, que tinha relação com o setor em

que estava desempenhando minhas atividades.

Paralelamente a esse percurso laboral, atuei em um hospital de pequeno

porte do município do Rio de Janeiro, como enfermeira de CC e CME, essa ainda

fazendo parte do mesmo espaço físico e sem nenhuma expectativa de adequação

às exigências da ANVISA. Deste modo, e com toda experiência relatada, submeti-

me ao concurso para ingresso no Mestrado Profissional em Ensino na Saúde

(MPES) da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa da Universidade Federal

Fluminense (EEAAC/UFF), como forma de dar continuidade aos estudos, com um

projeto de pesquisa para o mestrado que tinha o propósito de refletir sobre este meu

cotidiano profissional no CME.

Nesse contexto, esta pesquisa surgiu a partir da prática enquanto profissional

no cotidiano do trabalho, possibilitando a percepção da dificuldade dos

trabalhadores de enfermagem no CME frente às novas tecnologias no

desenvolvimento de suas atividades laborais, o que torna nítido o enfrentamento

desses trabalhadores.

Portanto, este estudo trará contribuições em diferentes áreas do saber:

assistência, ensino, pesquisa e extensão, que envolvem diferentes atores:

trabalhadores, usuários, alunos de graduação e pós-graduação e sociedade. Pode

desencadear outras pesquisas, já que se discute a contribuição da EPS para a

equipe de enfermagem do CME de um hospital público de grande porte,

15

apresentando uma análise de uma situação real no contexto do desenvolvimento de

uma ação de EP, beneficiando os serviços que dependem desta unidade.

E, no intuito de contribuir para a maior visibilidade e valorização desta

unidade, expõe como produto o desenvolvimento de tecnologias educacionais, a

saber: um folder, sobre o processo de trabalho no CME para as UC (Apêndice IV);

uma cartilha com orientações sobre a Política de Educação Permanente em Saúde

(PNEPS) para os trabalhadores do CME (Apêndice V); e um projeto de extensão

(Apêndice VI) que será realizado em parceria com a Escola de Governança em

Gestão Pública (EGGP), que está sendo implantada na instituição.

Deseja-se, com isso, colaborar para a compreensão da PNEPS, por parte dos

profissionais que atuam no CME, para a implantação e desenvolvimento da EPS na

unidade e para futuras reflexões, discussões e pesquisas acerca desse tema, no

contexto do CME desta instituição pública de saúde de grande porte; fortalecer e

valorizar essa unidade; destacar que a EPS se configura como uma das

possibilidades para a mudança das práticas de saúde; favorecer o desenvolvimento

do trabalhador, contribuindo para a maximização do seu potencial e da sua

satisfação laboral, cujas resultantes possam ser percebidas na assistência prestada

e na qualidade dos serviços.

A proposta da revisão da literatura apresentada na sequência objetivou

analisar a EPS como ferramenta de qualificação profissional de profissionais da

enfermagem que atuam no CME; com destaque para a importância e o papel dessa

unidade no espaço dos serviços de saúde, colaborando com os serviços de

assistência e de diagnósticos, na responsabilidade do processamento de materiais,

num contexto epidemiológico que discute o advento da infecção nos

estabelecimentos de saúde. Trata-se, portanto, de um problema de saúde pública

que continua sendo alvo de preocupação de estudiosos da área, especialmente no

que tange à prevenção desse agravo adquirido nos hospitais, clínicas e

ambulatórios.

As discussões foram amparadas por artigos encontrados na Biblioteca Virtual

de Saúde (BVS), nas bases de dados Literatura Latino-Americana e do Caribe em

Ciências da Saúde (LILACS) e Base de Dados de Enfermagem (BDENF), teses,

dissertações e capítulos de livros. Como critérios de inclusão de artigos,

estabeleceram-se: datados entre os anos de 2003 a 2014, disponíveis em

português, com resumo e texto completo de acesso livre. Para a busca foram

16

empregados os termos “esterilização”, “enfermagem” e “educação em saúde”. O

termo educação permanente não foi incluído por não se tratar de descritor indexado

na BVS.

A produção científica relativa ao setor CME, no que se relaciona ao

processamento de materiais no Brasil, como apontado por Cruz e Soares (2003)

apud Carvalho Jr. (2012), está ligada a evolução do CC que, apesar de ter seu início

na década de 1930, apresentou pouco progresso até o início dos anos 1970, quando

ocorreram encontros de enfermagem, no Rio de Janeiro, sobre as referidas

unidades.

Em seguida, esses encontros ocorreram também em São Paulo, organizados

por um grupo de enfermeiras, no período de 1987 a 1991. Desse movimento surgiu,

em 1991, a Sociedade Brasileira de Enfermeiros de Centro Cirúrgico (SOBECC)

que, atualmente, realiza congressos anualmente.

Carvalho Jr. (2012) ainda ressalta que, mesmo com a criação da Aliança

Mundial para Segurança do paciente a partir de 2004, não existe um número

considerável de estudos que relaciona o processamento de materiais à segurança

do paciente. Evidencia-se, assim, a falta de sensibilização sobre o assunto, não

obstante o CME tratar-se de um setor de relevância frente à infecção hospitalar (IH),

sendo sempre relegado à segundo plano nas instituições de saúde.

Os artigos encontrados foram organizados e analisados de acordo com a

referência, tema, objetivos, método, resultados e classificação. A análise dos dados

foi constituída com base nos temas “processamento de material”, “processo de

trabalho” e “educação em saúde”.

Sobre o processo de trabalho da enfermagem, tecnologia e CME, Taube

(2007) e Carvalho Jr. (2012) discorrem sobre a interface do processamento de

materiais no CME e a segurança do paciente. Silva (2007), em seu estudo, identifica

as concepções dos enfermeiros das UC sobre o trabalho desenvolvido pelos

enfermeiros no CME. Outros autores que trouxeram contribuições pertinentes ao

tema foram: Cruz e Soares (2003), Machado e Gelbeck (2009), Costa e Freitas

(2009), Pereira e Belato (2004), Fontana e Lautert (2006), Bergo (2006), Guadagnin,

Tiplle e Souza (2007),Graziano, Silva e Psaltikidis (2011), Souza (2012), Leite (2008)

e Silva (2007).

Em se tratando do referencial teórico metodológico, com base nas

contribuições de Paulo Freire, para discussão da EP e da Política Nacional de EP,

17

foram levantados estudos relacionados à identificação dos conceitos de EP trazidos

por equipes multiprofissionais da Estratégia Saúde da Família (ESF), apontados por

Gonçalves (2013), Amestoy (2010), Ricaldoni e Sena (2007), Ceccin (2005), Lopes

et al (2007) e Ceccin e Ferla (2006).

O estudo foi organizado em seis capítulos: o primeiro, com a apresentação

das considerações iniciais; o segundo diz respeito à fundamentação teórica que foi

estabelecida através de leituras e reflexão e foram assim evidenciadas: o contexto e

importância do centro de material e esterilização; educação permanente e a Política

Nacional de Educação Permanente como contribuição no trabalho dos profissionais

do CME. O terceiro capítulo trata do referencial teórico metodológico, com o

pensamento e a contribuição de Paulo Freire com a pedagogia crítica na abordagem

a política de EPS para os trabalhadores do CME.

O percurso metodológico foi apresentado no quarto capítulo. No quinto

capítulo foram divulgados os resultados e discussão dos dados a partir das

seguintes categorias: A pluralidade de percepções sobre educação permanente em

saúde: ensino-aprendizagem constante, reciclagem, criação de cursos, educação

continuada, capacitação; A inter-relação entre educação permanente em saúde e

saúde do trabalhador do centro de material e esterilização e A necessária

implementação da educação permanente em saúde no centro de material e

esterilização: em busca da resolutividade e excelência no trabalho.

As considerações finais do estudo estão apresentadas no sexto capítulo; no

sétimo capítulo expõem-se os produtos da pesquisa que resultaram em: um folder

para as UC, como forma de contribuir com visibilidade e valorização a unidade CME,

uma cartilha com orientações sobre a política de EPS para os trabalhadores do CME

e um projeto de extensão para posterior implantação. Na sequência encontram-se

as referências, os apêndices e anexos.

18

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Este capítulo compreende o contexto e importância do CME e apresentam-se

a EP e a PNEPS como ferramentas de contribuição para o trabalho dos profissionais

do CME.

2.1. O contexto e importância do Centro de Material e Esterilização

O CME é um dos setores das instituições de saúde que ainda é pouco

valorizado, com baixa visibilidade entre gestores e profissionais, em muitos casos

com inadequação arquitetônica, localização que não atende as demandas e, muitas

vezes, agregado equivocadamente ao CC. E o desempenho dos profissionais nessa

unidade revela a percepção da importância e destaque dessa unidade com a

responsabilidade no processamento de materiais.

Segundo Graziano, Silva e Psaltikidis (2011), em diversas instituições

hospitalares, a unidade CME sofre grande transição. Até bem pouco tempo ela

funcionava como uma extensão do CC, com escopo de atividades quase que restrito

à esterilização dos materiais usados nas cirurgias. Com a revolução industrial e o

avanço das tecnologias este espaço passa por grandes transformações em suas

atividades, já que lida com o invisível: o risco biológico. Estas novas demandas

transforma o trabalho em ação complexa e diferente da realizada até então, aquela

que uma vez apreendida não se tinha dificuldade de cumprir, bastava repetir e

reproduzir.

Os primeiros CME parcialmente centralizados, segundo Graziano, Silva e

Psaltikidis (2011), surgiram na década de 1950, com a implantação dos mesmos nos

hospitais brasileiros. Nestes setores, a esterilização da maioria dos materiais

hospitalares era realizada, mas o preparo de alguns, como, por exemplo, pacotes de

curativos, cubas, bandejas, dentre outros, ainda era realizado pelas UC. E este

processo se dava em ambiente inadequado e por pessoal muitas vezes não

qualificado.

Nesse sentido, lembra-se que, no passado, o CME não era visto como um

setor independente e com autonomia como atualmente, os profissionais não tinham

reconhecimento e não eram valorizados em suas funções, e o setor responsável

19

pelo processamento e distribuição de materiais para todo o hospital, inclusive o

ambulatório era o CC. E tinham por principal função, a de atendimento às salas de

cirurgia, sendo um enfermeiro responsável por todo o processo. Hoje esse fato não

é aceito, já que as atividades desempenhadas nesses setores são distintas, tendo

que se ter habilidades próprias e concernentes as mesmas (GRAZIANO; SILVA;

PSALTIKIDS, 2011).

Os autores apontam que o CME destaca-se no contexto da organização

hospitalar de forma bastante peculiar, por se caracterizar como unidade com suporte

a todos os serviços assistenciais e de diagnósticos, que necessitam de produtos

para a saúde utilizados na assistência aos seus clientes; deve contar com a

capacidade técnica operacional necessária, infraestrutura física, recursos humanos

e materiais à operacionalização do serviço, de acordo com a demanda, os tipos de

produtos para saúde processados, e classificação.

Com o avanço das pesquisas em medicina, com a institucionalização do

paciente e com a organização dos serviços de saúde, buscou-se atender às

exigências do preparo dos materiais e da rouparia para os procedimentos cirúrgicos.

Deste modo, foi construído um espaço próprio, em separado, para a realização

dessas atividades, com a instalação de equipamentos e designação de pessoas

responsáveis pelas tarefas de limpeza, preparo e acondicionamento, controle e

distribuição desses materiais (SOUZA, 2012).

Com o avanço das técnicas cirúrgicas, houve a expansão dos serviços de

saúde, com aumento de leitos, unidades de internação e serviços de apoio

diagnóstico e terapêutico. As salas de cirurgias tornam-se centralizadas, CC com

áreas comuns, como lavabo, vestiários, laboratórios. Os CME passaram a ocupar

locais próximos para, assim, garantir o rápido acesso ao material esterilizado

(SOUZA, 2012).

Ao longo do tempo, novos equipamentos e procedimentos surgem, assim

como novas técnicas assépticas, o que demanda novos protocolos de

processamento de materiais. A medicina passou a ter um olhar preventivo com a

evolução das doenças infecciosas, migração, superlotação das cidades e

precariedade das condições de vida dos trabalhadores, ocasionando profundas

mudanças tecnológicas, gerando um desenvolvimento científico generalizado e

tecnicista (CARVALHO JR., 2012).

20

As mudanças ocorridas no CME, com avanço da tecnologia e o surgimento de

instrumentais de difícil complexidade, houve a necessidade de um CME mais

organizado. A ANVISA dispõe sobre requisitos de boas práticas para o

processamento de produtos para saúde, por meio da RDC n° 15, de 15 de março de

2012 (BRASIL, 2012a). Este regulamento tem o objetivo de estabelecer os requisitos

de boas práticas para o funcionamento dos serviços que realizam o processamento

de produtos para a saúde, visando à segurança do paciente e dos profissionais

envolvidos.

O cenário CME é entendido como unidade funcional destinada ao

processamento de produtos para uso pelos serviços de saúde; é o conjunto de

elementos destinados à recepção e expurgo, preparo, esterilização, guarda e

distribuição do material para as unidades dos serviços de saúde. É a unidade

responsável pelo processamento de todos os materiais utilizados na assistência à

saúde, a limpeza, inspeção e seleção no que diz respeito à integridade, à

funcionalidade e ao acondicionamento em embalagens adequadas, até a

distribuição desses produtos esterilizados às UC (BRASIL, 2012a).

No Brasil, o CME é compreendido como: uma “unidade funcional localizada

nos serviços de saúde destinada ao processamento de produtos de saúde”; e é

classificado em CME de classes I e II. O de classe I é o que realiza o processamento

de materiais críticos sem lúmen e sem espaços internos, de materiais semicríticos e

de materiais não críticos, que podem ser processados em serviços de saúde que

executam procedimentos estritamente ambulatoriais; o de classe II é o que realiza

processamento de materiais críticos, semicríticos e não críticos, que podem ser

processados em serviços de saúde que realizam procedimentos clínicos e cirúrgicos,

diagnósticos ou terapêuticos, em situação de internação ou semi-internação

(BRASIL, 2012a).

Em relação à planta física do CME, o MS recomenda fluxo contínuo sem

retrocesso e sem cruzamento dos artigos limpos com os contaminados. Portanto, o

planejamento desta unidade é de suma importância, considerando-se as diferentes

etapas do processamento dos artigos até sua distribuição às UC.

Assim, os projetos dos serviços de saúde deverão obrigatoriamente obedecer

às disposições da RDC nº 50, aprovada pela ANVISA, que normatizou instrumento

para elaboração e avaliação dos projetos físicos adequados às novas tecnologias,

na área da saúde. Trata-se da legislação vigente e certamente seu cumprimento traz

21

benefícios aos trabalhadores do CME e usuários dos serviços de saúde (BRASIL,

2002).

A Figura 1 possibilita a visualização do trabalho desenvolvido no CME.

Figura 1. Fluxograma dos produtos médicos processados no Centro de Material e Esterilização. Niterói, RJ, 2015

Fonte: Graziano; Silva; Psaltikidis, 2011.

Na maioria dos hospitais brasileiros o processamento de materiais tem sido

feito em um CME. Ele recebe, faz a limpeza, seleciona, acondiciona, esteriliza,

armazena, controla e realiza a distribuição dos produtos hospitalares a todos os

setores consumidores, colaborando para a segurança na qualidade prestada ao

cliente. Esse processo centralizado no preparo do material contribui para eficiência

no trabalho, otimização dos recursos materiais e humanos, além de garantia ao

cliente e aos profissionais de enfermagem, pois auxilia em técnicas eficientes e

seguras, na capacitação de pessoal, em produtividade, torna a supervisão mais fácil

e a adequação como campo de ensino e pesquisa (GRAZIANO, SILVA E

PSALTIKIDIS, 2011).

Central de Material e Esterilização

Unidades Consumidoras Unidades Fornecedoras

Recepção de Roupas

Preparo e Acondicionamento

Esterilização

Armazenagem dos Artigos

Processados

Distribuição dos Artigos

Limpeza e

Secagem dos

Artigos

Recepção dos

Artigos Sujos

Recepção de Artigos Limpos

22

Os trabalhadores de um CME devem ser organizados, ter agilidade,

resistência física, ser observadores, se ajustar quanto ao uso contínuo de

equipamentos de proteção individual (EPI) e ter facilidade para se adequar as

mudanças exigidas por novos protocolos estabelecidos (GRAZIANO, SILVA E

PSALTIKIDIS, 2011).

Para as etapas de recepção e limpeza dos materiais, se faz obrigatória a

realização das normas de precaução padrão para se evitar a exposição dos

trabalhadores a riscos biológicos em consequência de sangue e fluidos corporais

contaminados. Os EPI principais são: luvas de borracha de cano longo, avental

impermeável, gorro, proteção de face, máscara, óculos de proteção e botas plásticas

ou impermeáveis. O uso do protetor auditivo deve ser empregado quando a lavadora

ultrassônica e a pistola de ar comprimido estiverem em uso (GRAZIANO, SILVA E

PSALTIKIDIS, 2011).

O foco principal desta unidade é o processamento de artigos críticos, semi-

críticos e não críticos. Para tal, o trabalho é organizado seguindo fluxo contínuo,

unidirecional onde os artigos passam por várias etapas.

Durante o trabalho no CME, o acesso de pessoas deve ser restrito aos

funcionários do setor, sendo designado entre eles a área de atuação específica de

cada um, escalando-os quantitativamente para a área contaminada e outros para a

área limpa. O fluxo dos artigos deve ser contínuo e unidirecional, evitar o

cruzamento e retorno dos artigos limpos e esterilizados com os sujos. O processo

inicia-se com a entrada do material a ser processado até a sua dispensação para as

UC. Assim, o processo de esterilização e desinfecção resulta da execução de um

conjunto de processos inter-relacionados que criam valor para o usuário (LEITE,

2008; SILVA, 2007).

Silva (2007) ressalta que a demanda de produtos suficientes para atender o

consumo nas UC, sua dinâmica de rotatividade e abastecimento precisam ser

discutidas entre o enfermeiro das unidades e o enfermeiro do CME, a partir da

previsão de gastos e o tipo de procedimentos que são realizados.

A representação das diferentes etapas do processamento dos artigos até a

fase de distribuição às UC está demonstrada no Quadro 1.

23

Quadro 1. Etapas do processo de trabalho do Centro de Material e Esterilização. Niterói, RJ, 2015

Unidades Consumidoras

Abrangem as unidades de internação, ambulatório, centro cirúrgico, centro obstétrico, endoscopia, laboratório, radiologia, farmácia dentre outras.

Unidades Fornecedoras

Abrangem a lavanderia e o almoxarifado e são unidades imprescindíveis para o CME, no envio de produtos novos ou descartáveis para distribuição ou embalagem. O que decorre em esterilização, armazenagem e distribuição.

Área de Recepção de artigos sujos ou

limpeza

Caracterizada como um dos locais mais contaminados do CME com grande quantidade e variedade de artigos sujos com sangue, secreção e excreções, onde são limpos, secos, conferidos e separados conforme o tipo e encaminhados à área de preparo.

Área de Inspeção, Preparo e

Acondicionamento

Local onde está centralizado o preparo de todos os materiais, onde é feita a inspeção dos produtos quanto a sua integridade, presença de sujidades, manchas e corpo estranho, como sobras de fios cirúrgicos e fios de cabelo; funcionalidade e integridade. Preparo dos pacotes de capotes e roupas cirúrgicas, padrão de dobradura e embalagem conforme instituição, identificação e encaminhamento para as áreas de esterilização, armazenagem e distribuição.

Área de Esterilização Local dos equipamentos de esterilização, autoclaves em número suficiente para demanda apresentada ou esterilizadores por óxido de etileno ou Sterrard.

Área de Armazenamento e Distribuição dos Artigos Limpos e

Esterilizados

Local onde são centralizados todos os produtos processados e esterilizados para distribuição as UC. Deve ser em local exclusivo com acesso restrito, com condições adequadas de refrigeração e umidade do ar. O transporte deve ser realizado em recipientes fechados e onde a manutenção e integridade da embalagem sejam mantidas.

Fonte: SILVA, 2007

É importante assegurar que todas as etapas do processamento - limpeza,

desinfecção, preparo, esterilização, armazenamento e distribuição - sejam

obedecidas, garantindo a segurança dos produtos fornecidos.

A prática de enfermagem em CME é bastante complexa devido às

diversidades de atividades setoriais; por suas características peculiares, essas

atividades exigem conhecimento específico, que pode ser adquirido não só de modo

formal, mas também através da comunicação e troca de experiência. Nesse

contexto, a prática é o processo dinâmico de construção da realidade profissional

que pode ser apreendida através do discurso. E o desempenho dos profissionais

24

nessa unidade revela a percepção dos trabalhadores sobre a mudança que vem

acontecendo em suas atividades (CRUZ; SOARES, 2003).

Assim sendo, o CME torna-se uma unidade independente, que objetiva

atender a todas as demais que necessitam de seu serviço. Os processos para

limpeza, desinfecção e esterilização de materiais foram acompanhando a evolução

das ações em saúde, com a reestruturação no processo de trabalho, além da

criação de mecanismos que propiciassem o desenvolvimento de competências dos

trabalhadores da área (MACHADO; GELBECK, 2009).

Costa e Freitas (2009) ressaltam que a segurança no processamento de

artigos críticos é uma importante medida de controle de IH, sendo este um grave

problema de saúde pública devido as suas implicações sociais e econômicas, pois

se qualquer etapa do processo for realizada sob condições adversas, implicará em

exposição aos riscos biológicos, tanto ao cliente como para os trabalhadores

envolvidos.

O controle da IH tem sido objeto de estudos sob diferentes perspectivas na

área da saúde e principalmente pela enfermagem. A criação, pelo MS, das

Comissões de Controle da Infecção Hospitalar (CCIH), a partir da década de 1970,

enfatizou principalmente a estruturação, funcionamento e competências da própria

comissão, a relação entre o processo de trabalho em saúde, as condições físicas do

usuário dos serviços de saúde, o desenvolvimento de técnicas invasivas, a

resistência a antimicrobianos e o uso de produtos para o processamento de

materiais (PEREIRA; BELATO, 2004).

A IH, segundo a Portaria nº 2.616/98, do MS, é conceituada como aquela

adquirida após admissão do paciente e que se manifesta durante a internação ou

após a alta, quando puder ser relacionada com a internação ou a procedimentos

hospitalares. São também convencionadas IH aquelas manifestadas antes de 72

horas da internação, quando associadas a procedimentos diagnósticos ou

terapêuticos, realizados durante este período (BRASIL, 1998).

A referida portaria dispõe sobre a obrigatoriedade da manutenção pelos

hospitais do país, de programa de controle de IH, considerando que as IH

constituem risco significativo à saúde dos usuários dos hospitais, e que sua

prevenção e controle envolvem medidas de qualificação da assistência hospitalar,

de vigilância sanitária e outras, tomadas no âmbito do estado, do município e de

cada hospital (FONTANA; LAUTERT, 2006).

25

Com o desenvolvimento da tecnologia apareceram novos tipos de

antibióticos, técnicas modernas de assistência foram implantadas e o tratamento das

doenças assumiu alta complexidade. Por outro lado, a invasão das bactérias

multirresistentes, a entrada de novas formas vivas de microrganismos e a luta contra

a resistência bacteriana surgiram nesse cenário, fragilizando o ambiente do cuidado

humano e desafiando as ações no dia a dia dos profissionais em saúde, no que se

refere à prevenção das IH (FONTANA; LAUTERT, 2006).

Identifica-se, ainda, outro ponto a ser pensado. Em diversas unidades

existentes dentro dos serviços de saúde, cada vez surgem instrumentais de difícil

complexidade, materiais canulados de longo comprimento e com pouco lúmen, o

que torna o processo de limpeza pouco viável. Para melhor qualidade na assistência

a esses instrumentais, lavadoras ultrassônicas, termodesinfectadoras e outros

materiais são utilizados para execução da limpeza, inspeção, preparo,

acondicionamento, esterilização, armazenamento e distribuição dos materiais que

passam pelo CME (FONTANA; LAUTERT, 2006).

As mudanças ocorridas no setor CME foram determinadas pelo avanço da

tecnologia, com o surgimento de instrumentais de difícil complexidade. Assim, houve

a necessidade de um CME mais organizado e que atendesse a estas novas

tecnologias.

Com isso, as atividades de prevenção e controle das infecções são

complexas e dependem de conhecimentos e evidências científicas e habilidades

técnicas. A ação associada ao cuidado assistencial necessita do entendimento de

temas relacionados à microbiologia, imunologia, epidemiologia e outros (BERGO,

2006).

A ANVISA dispõe sobre requisitos de boas práticas para o processamento de

produtos para saúde por meio da RDC nº 15, de 15 de março de 2012. Este

regulamento tem o objetivo de estabelecer os requisitos de boas práticas para o

funcionamento dos serviços que realizam o processamento de produtos para a

saúde, visando à segurança do paciente e dos profissionais envolvidos.

Cabe ressaltar que através dessa portaria também ficou estabelecida a

constituição de um Comitê de Processamentos de Produtos para a Saúde (CPPS)

pelos serviços de saúde, composto de um representante da diretoria do CME,

serviço de enfermagem, equipe médica e da CCIH.

26

Guadagnin, Tiplle e Souza (2007) registram que as diversas atividades

realizadas pelos CME e CC, associadas ao desenvolvimento tecnológico e aos

avanços do conhecimento nos últimos anos, no campo da IH, proporcionaram a

separação dessas duas unidades. O CME é uma unidade anteriormente anexada ao

CC, mas com o advento das IH, com a diversidade de técnicas cirúrgicas, o aumento

e complexidade de instrumentais a serem processados, iniciou-se a separação

desses setores.

Garantir a segurança do reprocessamento de artigos odonto-médico-

hospitalares é uma importante medida de controle de infecções associadas aos

cuidados em saúde. Através da esterilização, pode-se interromper a cadeia de

transmissão de microrganismos (TIPLLE; PIRES; GUADAGNIN, 2011).

Dessa forma, a prática de enfermagem nesse setor caracteriza-se como fruto

da experiência cotidiana construída a partir do desenvolvimento de atividades

contínuas e específicas de rotina, em todas as áreas do CME, como preconiza a

RDC nº15, de 15 de março de 2012 (BRASIL, 2012a).

Manter conduta profissional compatível com estímulo e conhecimento técnico

é aderir às medidas de prevenção e controle de infecção, tal como preconiza o

Programa Nacional de Segurança do Paciente que considera a importância na

elaboração de estratégias, produtos e ações direcionadas aos gestores,

profissionais e usuários da saúde sobre segurança do paciente, possibilitando a

promoção no sentido de se minimizar os riscos de eventos adversos no cuidado à

saúde (BRASIL, 2013b).

Os profissionais de enfermagem do CME, no desenvolvimento de suas

atividades, estão frente às novas tecnologias destacando sua relevância para os

serviços de saúde; colaboram para um grande número de procedimentos cirúrgicos

e em todas as intervenções que necessitem de materiais esterilizados, na

cooperação com os serviços de assistência e diagnósticos. Esse processo subsidia

a qualidade da assistência, cujos resultados podem ser traduzidos na melhoria da

qualidade de vida dos usuários.

27

2.2. A Educação Permanente e a Política Nacional de Educação Permanente

como contribuição para o trabalho dos profissionais do Centro de

Material e Esterilização

A EP, como ferramenta na qualificação dos profissionais de enfermagem do

CME, configura-se como possibilidade para mudança no ambiente de trabalho, pois

favorece o desenvolvimento cognitivo, contribui para a qualificação e satisfação

laborais, aumenta o rendimento nas atividades realizadas e os resultados são

visíveis para a assistência prestada.

Cabe ressaltar a importância e o papel de destaque do CME no âmbito dos

serviços de saúde de forma privativa, como unidade funcional a todos os serviços de

assistência e de diagnósticos, com a responsabilidade do processamento de

materiais.

A EP insere-se como alternativa de transformação do trabalho na área da

saúde, aderindo a novas atividades com atuação crítica, reflexiva, compromissada e

tecnicamente eficiente. Todavia, para que isto ocorra efetivamente, torna-se

necessário descentralizar e disseminar a capacidade pedagógica entre os

trabalhadores, gestores e serviços (AMESTOY, 2010).

Gonçalves (2013) destaca que a educação é parte essencial para a vida do

homem e da sociedade em que vivemos. Mas ela tem diversificado de acordo com

as necessidades e desejos de cada povo e cada época. Ela traz em sua história a

marca da mudança e do desenvolvimento. A EP na área da saúde é resultado dessa

mudança, e é carregada de significados e de significantes.

A autora ainda recorda, ao citar Gadotti (1987; 2005), que na França, no ano

de 1955, apareceu pela primeira vez o termo EP, usado por Pierre Arents ao pôr em

prática um projeto de reforma do ensino, que tinha por meta assegurar a

continuidade dos estudos após a escola, propiciar o aperfeiçoamento das

capacidades em todas as idades; facilitar a atualização dos conhecimentos e a

compreensão acerca dos problemas enfrentados pelo país e pelo mundo e permitir

que todos desfrutassem do patrimônio da civilização e do enriquecimento dela

proveniente.

Mediante a perspectiva de uma educação que estimulasse a economia, o

projeto de EP foi desejado por vários países. Esta rápida popularidade se deu

28

graças a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura

(UNESCO), tendo em vista a EP como referência em sua política educacional.

A Constituição Federal promulgada no ano de 1988, que originou o Sistema

Único de Saúde (SUS), tornou a saúde um direito constitucional e dever do Estado.

Ela também trouxe contribuições para a formação em saúde ao estabelecer, em seu

Artigo 200, que ao SUS compete ordenar a formação de recursos humanos em

saúde. Nessa perspectiva, a Lei n°. 8.080/90 estabeleceu em seu Artigo 14 que

deverão ser criadas Comissões Permanentes de Integração entre os serviços de

saúde e as instituições de ensino profissional e superior (CIES), cuja finalidade é a

de propor prioridades, métodos e estratégias para a formação e educação

continuada dos recursos humanos do SUS (GONÇALVES, 2013).

A EPS apresenta como pressuposto a aprendizagem significativa, e sugere

que a transformação das práticas profissionais esteja baseada na reflexão crítica

sobre as práticas reais, de profissionais reais, em ação na rede de serviços. É a

realização do encontro entre o mundo de formação e o mundo de trabalho, o

aprender e o ensinar se incorporam ao cotidiano das organizações e ao trabalho

(BRASIL, 2004).

Outro importante pressuposto da EP é o planejamento e programação

educativa progressiva, diante da análise coletiva dos processos de trabalho, na

identificação dos nós críticos a serem confrontados, na atenção ou gestão,

proporcionando a construção de estratégias contextualizadas que permitam o

diálogo entre as políticas gerais e a singularidade dos lugares e das pessoas, no

incentivo a práticas inovadoras na gestão do cuidado e dos serviços de saúde

(BRASIL, 2011).

Por isso é necessário rever os métodos utilizados nos serviços de saúde para

que a EP seja, para todos, um processo sistematizado e participativo, tendo como

cenário o próprio espaço de trabalho, no qual o pensar e o fazer são insumos

fundamentais do aprender e do trabalhar. Independente da perspectiva que a

educação contemporânea tomar, uma educação voltada para o futuro será centrada

na educação crítica, reflexiva e transformadora, superando os limites impostos pelo

Estado e pelo mercado. Portanto, a educação deve ser mais voltada para a

transformação social do que para a transmissão cultural. Por isso acredita-se na

pedagogia da práxis, como pedagogia transformadora, em suas várias

manifestações (RICALDONI; SENA, 2007).

29

A EP funciona como ponto estratégico para a organização do processo de

trabalho de enfermagem em articulação com as demais práticas de enfermagem e

demais setores do hospital. A EP deve estar sustentada nos conceitos e

metodologia crítica e reflexiva. Esse processo implica em reconhecer que as práticas

rotineiras, descontextualizadas dos reais problemas, dificilmente permitirão o

desenvolvimento da capacidade de reflexão (RICALDONI; SENA, 2007).

Esses processos também devem permitir aos trabalhadores aprender, no

complexo mundo contemporâneo, no contexto de uma aprendizagem solidária e

democrática, que oferece ao profissional ajuda e tende a fortalecer processos de

crescimento pessoal e transformação no âmbito profissional. A autonomia na

aprendizagem desenvolve a capacidade de aprender a aprender e a consciência da

necessidade da formação permanente (RICALDONI; SENA, 2007).

Segundo Ceccim (2005), a formulação EPS como vertente pedagógica

ganhou o estatuto de política pública apenas na área da saúde.

A PNEPS considera que a EPS é uma das estratégias que possibilita

construir um novo estilo de gestão em que os pactos para reorganizar o trabalho na

gestão, na atenção e no controle social são construídos coletivamente (BRASIL,

2004).

No âmbito da PNEPS foi criada a estratégia dos Polos de Capacitação de

Educação Permanente em Saúde (PEPS), a qual foi reelaborada e substituída a

partir da Portaria nº 1.996, de 2007, sendo instituídas as Comissões Permanentes

de Integração Ensino-Serviço e os Colegiados de Gestão Regional (BRASIL,

2007a).

Ambas as estratégias são direcionadas aos trabalhadores dos serviços de

saúde, incluindo a formação profissional, o serviço, a gestão e o controle social

como instâncias importantes para a efetiva consolidação do SUS (BRASIL, 2004).

O conceito de EP no setor saúde desenvolveu-se gradualmente nos países

da América Latina, difundido pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS),

segundo a proposta de Educação Permanente do Pessoal de Saúde, que

reconhecia que somente a aprendizagem significativa seria capaz de ter a adesão

dos trabalhadores aos processos de mudança na prática, estabelecendo novos

significados. Essa abordagem foi incorporada pela PNEPS como estratégia de

gestão na reorganização do sistema de ensino em saúde; como recurso entre a

prática do profissional do SUS e as necessidades da população. Ao compreender a

30

complexidade da realidade dinâmica em saúde, a EP contribui com o avanço da

implementação da reforma sanitária brasileira como afirma Lopes, et al, 2007.

Nesse mesmo sentido, o autor se refere a proposta de EP na disseminação

pela América Latina como estratégia para alcançar o desenvolvimento da relação

entre o trabalho e a educação. Este conceito admite que o conhecimento nasce na

identificação das necessidades e na busca de solução para os problemas

encontrados. A atividade do trabalhador pode ser o ponto de partida de seu saber

real, determinando, desta maneira, sua aprendizagem recorrente (LOPES, et al,

2007).

A EPS caracteriza-se, ao mesmo tempo, como uma prática de ensino-

aprendizagem e como uma política de educação na saúde. A EPS concorre para a

construção do SUS, sendo adotada como política pública nacional no Brasil desde

2004 (CECCIM; FERLA, 2006)

A educação promove autonomia, responsabilidade social, além de contribuir

para a formação de indivíduos politizados, críticos e reflexivos. A EP insere-se como

alternativa de transformação do trabalho na área da saúde, adere a novas atividades

como a atuação crítica, reflexiva, compromissada e tecnicamente eficiente. Faz-se

necessário descentralizar e disseminar a capacidade pedagógica entre os

trabalhadores, gestores e serviços, possibilitando também a participação social

(AMESTOY, 2010).

Por se apresentar como espaço dinâmico em que o processamento de

material se constitui etapa fundamental frente à IH, o CME se torna um espaço

privilegiado de atuação no qual a EP surge como estratégia para mobilização dos

sujeitos, discussão e reorientação do processo de trabalho com vistas à melhoria da

qualidade dos serviços prestados, sendo uma ferramenta facilitadora da execução

de boas práticas em saúde.

Compreende-se a EP como o primeiro passo para amenizar as condições

atuais do trabalho nos serviços de saúde, através do distanciamento do modelo

institucional desgastante, por um local promotor de satisfação, desenvolvimento e

capacitação pessoal, especialmente em razão da situação problemática em que se

encontra a saúde da população brasileira. Nesse sentido, se torna relevante a

criação e adoção de políticas públicas educativas que contribuam positivamente

para a promoção da saúde e geradoras de condições que colaborem para o trabalho

31

em equipe entre professores, alunos, profissionais, gestores e comunidade

(AMESTOY, 2010).

O CME historicamente foi entendido como um lugar de preparo e de guarda

ou de depósito de material, sendo, então, pouco valorizado pelos gestores. Na

atualidade esta visão se perpetua na visão de alguns, por isso, na prática cotidiana,

observa-se a cultura organizacional de gestão no que tange alocação de recursos

humanos no CME. Há necessidade de um novo olhar para o quantitativo de pessoal,

e para a potencialidade desses trabalhadores.

A educação dos trabalhadores da saúde é uma área que requer empenho

para o aprimoramento de métodos educativos. Para promover o desenvolvimento do

processo de trabalho é preciso criar estratégias de educação que encorajem a

participação dos trabalhadores da área de saúde para, assim, possibilitar a

capacitação profissional.

Ricaldoni e Sena (2007) declaram que o desafio da EP é estimular o

desenvolvimento da consciência nos profissionais sobre o seu contexto, pela sua

responsabilidade em seu processo permanente de capacitação. E afirmam que

pensar propostas inovadoras de EP supõe um desafio de gerenciar experiências de

aprendizagem que interessem as pessoas envolvidas, que possibilitem elos no

processo de compreensão e construção dos conhecimentos, que promovam modos

de pensar inteligentes, criativos e profundos, para favorecer o desenvolvimento

pessoal e social e a capacidade reflexiva dos trabalhadores em serviço.

Sendo assim, diversos fatores estão interligados à dinâmica de organização

do trabalho, como: fragmentação de tarefas, trabalho repetitivo e exposição aos

riscos físicos, químicos, biológicos, ergonômicos e psicossociais, a inadequação

arquitetônica, relacionamento interpessoal, falta de valorização pessoal, condições

de trabalho melhores, limitações físicas, estilo de supervisão autoritário e arbitrário,

e descrédito na instituição que levam à desmotivação.

Assim, cabe ressaltar que, além do nítido enfrentamento citado acima, o CME

conta com número de profissionais limitado. A sobrecarga de trabalho dificulta a

organização e a assistência e repercute na qualidade dos cuidados prestados.

Então, discutir os conceitos de educação nos espaços dos serviços de saúde

é relevante para todos que estão refletindo sobre os rumos da educação e da saúde

em uma sociedade que está em constante modificação. A EP é uma conquista dos

32

trabalhadores da área de saúde do Brasil e deve ser continuamente aprimorada,

garantindo-se, assim, a qualidade nos serviços ofertados (GONÇALVES, 2013).

Gonçalves (2013) afirma, também, que espaços de formulação e execução de

ações de EP, bem como o desenvolvimento de pesquisas e discussões sobre o

tema se fortalecem no país, e se faz necessário esforço por parte de todos os atores

envolvidos, para que a EP possa se concretizar no cotidiano dos serviços de saúde.

Favorecer o desenvolvimento pessoal e social e a capacidade reflexiva dos

trabalhadores em serviço se faz necessário; refletir sobre propostas inovadoras de

EP pressupõe um desafio de gerenciar experiências de aprendizagem que

interessem as pessoas envolvidas, que viabilizem os processos de compreensão e

construção dos conhecimentos, promovam modos de pensar inteligentes, criativos e

profundos (RICALDONI; SENA, 2007).

No que diz respeito à qualidade da assistência, a EP é fundamental e deve

definir diretrizes e estratégias de ações educativas direcionadas aos profissionais,

no sentido de capacitá-los, e de promover o seu desenvolvimento no processo de

trabalho, o que previne danos e qualifica a assistência à saúde. Assim, “o processo

educativo tem dois aspectos: um psicológico, que consiste na exteriorização das

potencialidades do indivíduo, e outro social, que consiste em preparar o indivíduo

para as tarefas que desempenhará na sociedade” (PILLETI, 2008).

O profissional de saúde que desenvolve suas atividades no CME lida com

materiais que passam por processo de esterilização, mas sua atuação é também

para com o paciente que se encontra internado nos serviços de saúde,

proporcionando um cuidado de enfermagem indireto.

Graziano, Silva e Psaltikidis (2011), ressaltam que algumas décadas atrás

não havia uma preocupação com o preparo dos profissionais que iriam trabalhar em

CME, as condições nada favoráveis tanto no ambiente físico, ou relacionados aos

equipamentos, os profissionais de enfermagem e o processo de trabalho não tinham

nenhuma valorização. Com o avanço da tecnologia, no campo terapêutico e de

diagnóstico nos serviços de saúde, houve a necessidade do CME se adequar e

aperfeiçoar seus processos e métodos de trabalho e contribuir o melhor possível

para favorecer uma melhor infraestrutura. Em decorrência dessa mudança, em

especial pela automação das atividades, pela chegada de equipamentos de

esterilização modernos e sofisticados, há a urgente necessidade de profissionais

qualificados.

33

A necessidade de progressão profissional, que se estenderá ao campo

pessoal no âmbito do trabalho, tem ganhado forças com os avanços tecnológicos, já

que o trabalhador de enfermagem do CME quer ter o seu trabalho reconhecido.

Entretanto, o trabalhador se depara, em alguns momentos, com o sentimento de

inutilidade e de desvalor, gerados pela falta de valorização e de estímulo à

qualificação. O que este vivencia é a não possibilidade de ver suas opiniões e

necessidades atendidas, prevalecendo a falta de diálogo e não assistência aos

problemas identificados.

Para Hanzelmann e Passos (2010, p. 695),

a falta de valorização gera um sentimento de inutilidade, remetendo à falta de qualificação e de finalidade do trabalho. Um estilo de supervisão autoritário, arbitrário, onde o ritmo, as opiniões e necessidades dos funcionários são totalmente, ou quase que totalmente desconsiderados, com falta de diálogo e excesso de feedback negativo, sem nenhuma assistência para os problemas identificados [...], acarretando baixa produtividade e qualidade, e insatisfação do trabalhador e da própria instituição.

Neste sentido, identifica-se que a EPS traz contribuições para a enfermagem

e para toda a equipe de saúde, uma vez que esta prática instiga a reflexão sobre o

processo de trabalho, desenvolve a observação e a comunicação, a capacidade de

problematizar e buscar soluções criativas para situações do dia a dia, além de

promover o trabalho em equipe.

Assim, a implementação de EPS representa uma estratégia fundamental para

realização de transformações no cotidiano dos serviços para que se tornem locais

de atuação crítica, reflexiva, propositiva e compromissada e tecnicamente

competente (GONÇALVES, 2013).

Diante deste novo contexto das instituições de saúde, e em especial do CME,

há necessidade de enfoques educacionais inovadores e flexíveis. Portanto, a EPS

se apresenta como o enfoque educacional reconhecido e apropriado para produzir

as transformações nas práticas e nos contextos de trabalho, fortalecendo a reflexão

na ação, o trabalho em equipes e a capacidade de gestão sobre os próprios

processos locais. Seria a educação na prática e pela prática.

34

3. REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO

Este capítulo aborda o pensamento de Paulo Freire e sua contribuição com a

pedagogia crítica na abordagem da PNEPS para os trabalhadores do CME.

3.1. Pensamento Paulo Freire

Paulo Freire nasceu em Recife em 1921 e faleceu aos 76 anos; dedicou sua

vida às atividades pedagógicas como escritor e professor, tendo a educação das

massas como preocupação. É conhecido e respeitado internacionalmente.

Transmitia o desejo de estar no mundo com as pessoas, interferir no mundo;

acreditava que o diálogo poderia interferir no mundo. Tinha um gosto enorme pelo

viver. Ele não pensava a vida, pensava a existência (FREIRE, 2005).

Preocupado em encontrar uma resposta no campo da pedagogia às

condições da transição brasileira, Freire entendia que a contribuição a ser trazida

pelo educador brasileiro à sociedade deveria ser uma educação crítica. O educador

entendia que seria necessária uma educação para a decisão, para a

responsabilidade social e política. Educação em que o diálogo fosse uma constante

com o outro (FREIRE, 2011).

Freire (2005) se baseia em um modelo de educação construída sobre a ideia

de um diálogo entre educador e educando, onde ocorre um encontro de ideias, não

cabendo ao educador apresentar um modelo de ensino pronto, baseado apenas em

sua cultura e valores. Dentro desta percepção, um dos pressupostos de seu modelo

educacional se fundamenta na ideia de que ninguém educa ninguém e ninguém se

educa sozinho.

Em pedagogia do oprimido, o educador traz a discussão de que é o professor

quem faz do seu aluno um mero depositário, ao considerar o aluno como incapaz de

produzir conhecimento, e desconsiderar-se como um ser em formação contínua. O

educador ensinar a pensar e problematizar sobre a sua realidade é a forma correta

de se reproduzir conhecimento, pois é nesse sentido que o educando terá a

capacidade de compreender-se como um ser social (FREIRE, 2005).

35

O autor se refere a uma pedagogia de concepção bancária de educação na

qual predomina o discurso e a prática, e o sujeito da educação é o educador que

deposita o conhecimento para que os educandos recebam, memorizem e repitam.

Desse processo se origina uma transmissão e avaliação de conhecimentos

abstratos, numa relação vertical, fornecido de cima para baixo. Ele defende, então,

uma concepção da educação baseada na problematização dos homens em suas

relações com o mundo, e em uma relação dialógica entre educando e educador, que

permite a ambos aprenderem juntos através de um processo independente

(FREIRE, 2011).

Ele diz ainda que o processo de educação é de consciência humana, pois só

os homens tem consciência de que não são completos e, por isso busca

compreender o mundo que vive em sua finitude. Mas é no ser que transforma que

ele percebe a sua importância, portanto é na educação problematizadora que gera

história que se humaniza a sociedade (FREIRE, 2005).

Com os avanços tecnológicos, os trabalhadores do CME necessitam estar em

constante atualização, já que cada vez mais surgem equipamentos e instrumentais

para melhoria e qualidade dos serviços oferecidos.

Silveira e Robazzi (2012) se referem às frequentes mudanças que os

indivíduos estão vivendo em nível do saber, da técnica e da ciência, evidenciando a

necessidade de superação do atual modelo bancário de educação baseado em

modelos pedagógicos, por vezes, cerrado, fora do contexto, como destacado por

Freire, para pensar a educação como um processo libertador, resultantes de

vivências, experiências e conhecimentos individuais e coletivos que consiste no

ensino-aprendizagem e pela perspectiva de vislumbrar o indivíduo como um ser

inacabado e em continuum vir-a-ser.

Dessa maneira, segundo Freire (2011), o educando em sua passividade,

torna-se um objeto para receber a doação do saber do educador, sujeito único de

todo o processo.

Silva; Costa (2008) ao se referir a PNEPS e sua interface com a obra de

Paulo Freire, trata da formação de sujeitos críticos, e propõe a pedagogia libertadora

e problematizadora, entendida como uma forma de ler o mundo no ambiente de

trabalho para fortalecer e instrumentalizar os trabalhadores para a transformação do

universo do trabalho através da ação consciente, que perpassa do campo da

educação para o mundo e do mundo para educação.

36

Nessa troca dialógica constante, o profissional do CME vai se reconstruindo.

A partir do diálogo vão tomando consciência do seu papel no âmbito do trabalho.

Capaz de agir sobre si e o mundo que atua.

O diálogo, necessário para a educação, pressupõe trocas entre sujeitos.

Através do diálogo os sujeitos podem pensar juntos e recriar a realidade, desde que

este diálogo tenha como fundamento a verdade. A palavra verdadeira possibilita a

dialética da ação e reflexão que consequentemente viabilizará a conscientização

(FREIRE, 2011).

Dessa maneira, segundo Freire (2011), o educando em sua passividade,

torna-se objeto para receber a doação do saber do educador, sujeito único de todo o

processo. Trata-se de uma pedagogia fundada na ética, no respeito à dignidade e a

própria autonomia do educando, com a demanda do educador em exercício

contínuo, estimulando-o a se assumir enquanto sujeito sócio-histórico-cultural na

prática de conhecer. Essa educação ajuda a construir um ambiente favorável à

produção do conhecimento, com coerência para prática pedagógica permeável a

mudanças. O autor ainda ressalta que através da reflexão crítica sobre a prática de

hoje ou de ontem é que se pode pensar em melhorar as práticas no cotidiano.

Ensinar exige o reconhecimento do ser condicionado: “gosto de ser gente

porque inacabado sei que sou um ser condicionado, mas consciente do

inacabamento sei que posso ir mais além” (FREIRE, 2011, p. 52).

O ensino como especificidade humana, com segurança expressa na firmeza

que atua, com que decide, respeita as liberdades com que discute sobre suas

próprias posições e aceita rever-se (FREIRE, 2011, p. 89).

Gonçalves (2013), ao citar Freire (2011), diz que a educação é uma prática

política tanto quanto qualquer prática política é pedagógica. Não há educação

neutra. Toda educação é um ato político. Assim sendo, os educadores necessitam

construir conhecimentos com os educandos, tendo como horizonte um projeto

político de sociedade.

Os profissionais de enfermagem do CME, no desempenho de suas funções

são sujeitos ativos no processo ensino-aprendizagem nessa unidade. Ambos

aprendem juntos, já que a complexidade exige criticidade a ser gerada pelo

trabalhador.

Por sermos seres programados para aprender, ensinar, conhecer, intervir, e

que podemos entender a prática educativa como exercício constante em favor da

37

produção e do desenvolvimento de autonomia de educadores e educandos

(FREIRE, 2011).

Ao se pensar em discussão, debates e na pesquisa sobre o processo de

trabalho na unidade CME o profissional vai além, buscando novos desafios.

O pensamento de Freire dialoga com a proposta de EPS ao abordar a noção

da aprendizagem significativa, que era usada por ele quando defendia a ideia de que

os educandos não deveriam ser tratados como elementos vazios que apenas

recebem informações, mas que os educadores deveriam aproveitar o que os alunos

já traziam, com suas experiências de vida, para o início de todo processo de

aprendizagem (GONÇALVES, 2013).

Nesse sentido, remetendo ao processo de trabalho em saúde, deve-se

valorizar experiências e conhecimentos prévios, colaborar para que os profissionais

façam a leitura do próprio ambiente de trabalho.

Segundo Freire (2011, p.54), “a inconclusão que se reconhece a si mesmo

implica necessariamente a inserção do sujeito inacabado em um permanente

processo de busca.” Dessa mesma forma, uma proposta de formação e

desenvolvimento de profissionais de saúde para o SUS é também um ato político, e

deve conduzir esses sujeitos a uma análise crítica do contexto em que atuam, sobre

o sistema de saúde brasileiro, seu processo de consolidação, desafios que enfrenta

e papel dos profissionais nessa construção (GONÇALVES, 2013).

Gonçalves (2013) também se refere à pedagogia crítica de Freire quando

discorre que os profissionais devem ser colocados como participantes do processo.

Nesse sentido, essa pedagogia vai ao encontro da política de EP, que tem como

meta a transformação do processo de trabalho e assume a educação como ação

ascendente, por meio da qual a qualificação dos trabalhadores é pensada a partir de

problemas específicos, identificados no contexto do trabalho, e que faz com que os

assuntos abordados sejam tratados de forma a fazerem sentido para os sujeitos

envolvidos, considerando o conhecimento e experiências anteriores.

38

3.2. A contribuição de Paulo Freire com a pedagogia crítica na abordagem da

Política Nacional de Educação Permanente em Saúde para os trabalhadores do

Centro de Material e Esterilização

A educação é um processo que está presente nas diversas práticas sociais

que caracterizam o viver humano. Está relacionada à própria condição do ser

humano no percurso de humanização, “é um processo de vida, história de cada um.

A educação está sempre sendo” (YAMAZAKI; ALMEIDA, 2012).

Sendo assim, o CME é um setor onde há contínua repetição de atividades

fracionadas, com riscos ou cargas de trabalho presentes na manipulação, inspeção

e esterilização de produtos altamente insalubres. O enfermeiro que atua como

coordenador dos serviços de um CME necessita conhecer muito bem esta

específica dinâmica de trabalho, as condições estruturais e físicas para o

desenvolvimento das atividades, estando apto e sensível para realizar uma análise

que objetive a implementação de medidas. A base para que essas medidas sejam

implantadas é a da pedagogia de Paulo Freire através do diálogo libertador.

Na relação dialógica estabelecida entre o educador e o educando faz-se com

que este aprenda a aprender. Paulo Freire afirma que a leitura do mundo precede a

leitura da palavra, querendo dizer com isto que a realidade vivida é à base para

qualquer construção de conhecimento. Respeita-se o educando não o excluindo da

sua cultura, fazendo-o de mero depositário da cultura dominante (2011). Ao se

descobrir como produtor de cultura, os homens se veem como sujeitos e não como

objetos da aprendizagem.

Paulo Freire, mais que um educador, foi um pensador, legado de sua

inteligência a serviço dos mais humildes. Inovador, porque o aprendizado foge das

formas mecânicas, valoriza as experiências e percepções pessoais. E uma de suas

teorias se refere à educação, tendo papel imprescindível no processo de

conscientização, trata a educação como prática de liberdade, a considera

desafiadora e transformadora, e defende que para alcançá-la são essenciais o

diálogo crítico e a convivência. Na sua concepção, a educação é um momento do

processo de humanização, um ato político, de conhecimento e de criação

(GONÇALVES, 2013).

A EPS apresenta-se como uma proposta de ação estratégica capaz de

contribuir para a transformação dos processos formativos, das práticas pedagógicas

39

e de saúde e para a organização dos serviços, empreender um trabalho articulado

entre o sistema de saúde, em suas várias esferas de gestão, e as instituições

formadoras. Ela parte do pressuposto da aprendizagem significativa, e sugere que a

transformação das práticas profissionais esteja baseada na reflexão crítica sobre as

práticas reais, de profissionais reais, em ação na rede de serviços. A EP é a

realização do encontro entre o mundo de formação e o mundo de trabalho, onde o

aprender e o ensinar se incorporam ao cotidiano das organizações e ao trabalho

(BRASIL, 2004).

A Política de EP trabalha a educação em uma lógica ascendente, em que a

qualificação dos trabalhadores é pensada a partir de problemas específicos

identificados no contexto do trabalho, fazendo com que os assuntos abordados

sejam tratados de forma a fazerem sentido para os sujeitos envolvidos,

considerando as especificidades de cada cenário, o conhecimento e experiências

anteriores (BRASIL, 2009).

Os processos de EPS objetivam a transformação das práticas profissionais e

do contexto do trabalho. A proposta da política nacional é de que os processos de

formação dos trabalhadores da saúde se façam a partir da problematização da

organização do trabalho e considera que as necessidades de formação e

desenvolvimento dos trabalhadores sejam orientadas a partir das necessidades na

prática (BRASIL, 2009).

Destaca-se que trabalhar a educação dos trabalhadores da saúde de forma

ascendente e contextualizada, colocando o profissional como protagonista, com

participação ativa, reflexão crítica sobre a prática, capacidade de intervir e promover

mudanças no cotidiano do trabalho se constitui em desafio, e construção necessária

para que se possa assegurar à população brasileira o cumprimento dos princípios do

SUS. A EPS preceitua incorporar o ensino e o aprendizado à vida cotidiana das

organizações e às práticas sociais e laborais no contexto real em que elas ocorrem,

modificando as estratégias educativas a partir da prática como fonte de

conhecimento e de problemas, problematizando o próprio fazer (BRASIL, 2009).

Ceccim (2005) enfatiza que para preencher o lugar efetivo da EPS, é

necessário abandonar o sujeito que somos, desaprender, e mais que sermos

sujeitos dos modelos hegemônicos ou por papéis instituídos, necessitamos ser

produção de subjetividade, rompendo fronteiras, com mudança de comportamento

ou de gestão do processo de trabalho. Precisamos deixar de ser sujeitos que se

40

encaixam em modelos prévios, de ser profissional, de ser estudante, de ser

paciente.

Se somos atores ativos das cenas de formação e trabalho, os eventos em

cena nos produzem diferença, nos afetam, nos modificam, produz abalos enquanto

sujeitos, colocando-nos em permanente produção. O permanente se faz presente

diante de problemas, pessoas e equipes reais. A mudança na formação por si só

ajuda, mas essa mudança como política se instaura em mais lugares, todos os do

quadrilátero, pois todos esses lugares estão conformados em acoplamento de

captura da EPS. A incorporação crítica de tecnologias materiais, a eficácia da clínica

produzida, os padrões de escuta, as relações estabelecidas com os usuários e entre

os profissionais representam a captura da EPS e, por conseguinte, dos processos

de mudança e torna a EPS um desafio ambicioso e necessário (CECCIM, 2005).

Estratégia fundamental é a EP para a melhoria dos processos de trabalho e

para qualidade da assistência prestada, favorecendo a construção de novos

conhecimentos e intercâmbio de vivências; no esforço de transformar a rede pública

de saúde em um espaço de ensino-aprendizagem no exercício do trabalho.

Assim, este profissional ao atuar no CME poderá, através da EP viva, in loco,

de forma diferenciada, atender as singularidades, de forma a qualificar as práticas

profissionais.

41

4. METODOLOGIA

Este capítulo aborda o percurso metodológico para a direção dos objetivos

propostos e pretendidos da pesquisa. Com destaque para o objetivo geral que é

analisar a EPS como ferramenta na qualificação do profissional de enfermagem do

CME.

4.1. Tipo de estudo

Para o tema proposto foi utilizado um estudo de natureza exploratória,

descritiva, com abordagem metodológica qualitativa, através de desenvolvimento de

trabalho de campo, com aplicação de entrevistas semiestruturadas.

Marconi e Lakatos (2011, p. 43) definem pesquisa como:

(...) pode ser considerada um procedimento formal, com método de pensamento reflexivo que requer um tratamento científico e se constitui no caminho para se conhecer a realidade ou para descobrir verdades parciais. Significa muito mais do que apenas procurar a verdade: É encontrar respostas para questões propostas, utilizando métodos científicos.

A pesquisa descritiva observa, registra, analisa e correlaciona fatos ou

fenômenos (variáveis) sem manipulá-los. Procura descobrir, com precisão possível,

a frequência com que um fenômeno ocorre, sua relação e conexão com outros, sua

natureza e suas características (CERVO; BERVIAN; SILVA, 2007).

O objetivo da pesquisa exploratória é possibilitar familiaridade com o

problema, de forma a torná-lo explícito ou a construir hipóteses. A pesquisa

exploratória compreende o levantamento bibliográfico, entrevistas com pessoas que

tiveram experiências com o problema pesquisado e análise de exemplos que

estimulem a compreensão (GIL, 2008).

A pesquisa de campo caracteriza-se pelas investigações em que, além da

pesquisa bibliográfica ou documental, se realiza coleta de dados junto aos

participantes, com o recurso de diferentes tipos de pesquisa (GIL, 2008).

A pesquisa qualitativa trabalha com o universo de significados, o que

representa um espaço profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que

não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis, preocupa-se com

aspectos da realidade numa relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é,

42

um vínculo indissociável entre o objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode

ser traduzido em números (MINAYO, 2011).

4.2. Aspectos éticos da pesquisa

Atendendo ao estabelecido pela Resolução nº 466/12, do Conselho Nacional

de Saúde (CNS), que delibera as Diretrizes e Normas Regulamentadoras de

Pesquisa envolvendo seres humanos, esta pesquisa foi encaminhada e aprovada

pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Faculdade de Medicina da UFF, sob o

nº CAEE: 33739114.9.0000.5243 e Parecer nº 777.581 (Anexo I). Além disso, todos

os trabalhadores aceitaram participar voluntariamente da pesquisa, assinando o

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE); foram receptivos, colaboraram

e expressaram grande expectativa de mudanças.

4.3. Campo/cenário

A pesquisa para a coleta de dados foi realizada no CME do Hospital

Universitário Antonio Pedro (HUAP), cuja direção autorizou a divulgação do nome,

no período de setembro a novembro de 2014.

A unidade CME conta atualmente com 53 profissionais de enfermagem, entre

enfermeiros, técnicos de enfermagem e auxiliares de enfermagem, distribuídos em

plantões no serviço diurno e noturno. Um enfermeiro diarista na coordenação geral

do CME, um enfermeiro em cada plantão diurno, totalizando três, já que a escala de

plantão é de 12 horas trabalhadas por 60horas de descanso. O serviço noturno não

é contemplado com a presença de enfermeiro.

O HUAP, que até o ano de 1964 era chamado de Hospital Municipal Antônio

Pedro, localizado no centro do município de Niterói, tem atualmente uma área

construída de 29.730 metros quadrados, com sete blocos. Atende a população da

Região Metropolitana II do estado do Rio de Janeiro, na qual estão incluídas as

cidades de Niterói, Itaboraí, Maricá, Rio Bonito, São Gonçalo, Silva Jardim e

Tanguá, compreendendo uma população estimada em mais de dois milhões de

habitantes, além de receber parte da população da cidade do Rio de Janeiro devido

a sua proximidade.

43

A construção do hospital despontou em 1920, com a ideia do médico Antônio

Pedro Pimentel – morto dez anos depois – de se ter um hospital-escola. Mas, só foi

efetivamente implantado na década de 1940 pelo interventor Amaral Peixoto e pelo

prefeito do município, que tornou o projeto ativo.

O hospital foi criado para que atendesse a demanda de alunos da Faculdade

Fluminense e também para a população de Niterói que não parava de crescer e

necessitava de um serviço de saúde efetivo. A inauguração do hospital só aconteceu

em 1951 e recebeu o nome do seu fundador e primeiro diretor da faculdade de

medicina Antônio Pedro.

Duas tragédias deixaram a cidade desolada e marcaram a história do

hospital. Em abril de 1950, mesmo antes de sua inauguração, funcionou em caráter

de urgência no atendimento às vítimas do desastre ferroviário de Tanguá, no qual 56

pessoas foram à óbito e 61 ficaram feridas.

Em dezembro de 1961, com a tragédia do incêndio do Gran Circus Norte-

Americano, que comoveu todo o país, fez ressurgir o desejo da população em

manter o hospital aberto em plena atividade. Somente em 1964 é que acontece a

doação do hospital pela prefeitura à UFF, sendo então o primeiro hospital

universitário do país, denominado Hospital Universitário Antônio Pedro.

O HUAP é a maior e mais complexa unidade de saúde da região

metropolitana e é considerado pelo SUS como hospital de nível terciário e

quaternário (MEC-UFF, 2008). Ele atende toda área da Região Metropolitana II e,

para algumas especialidades, também incorpora população de outras regiões,

conforme Figura 2.

44

Figura 2. Mapa das áreas da região Metropolitana II do estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2015

Fonte: HUAP/UFF.

As áreas de atendimento de alta complexidade incluem as grandes cirurgias

cardíacas, as vasculares, ortopédicas, transplantes renais e neurocirurgias. Possui

um setor de cardiologia com centro de hemodinâmica e é também referência em

oncologia. O setor de emergência é aberto a todos os casos e funciona de forma

referenciada e regulada.

Atualmente o hospital possui 221 leitos ativos para internação, realiza, em

média, 350 cirurgias mensais, incluindo eletivas e de urgência, e 10.500

atendimentos entre consultas ambulatoriais e os realizados nos setores de

broncoscopia, endoscopia, hemodinâmica, banco de leite, e todo o serviço de

radiologia, que inclui o setor de tomografia computadorizada e ressonância

magnética. Por isso, a unidade demanda grande quantidade de materiais

esterilizados, que são disponibilizados pelo CME. Trata–se, portanto, de um hospital

que realiza grande número de procedimentos cirúrgicos e diagnósticos, com

produção grande no processamento de materiais e também dá suporte na área de

esterilização aos hospitais da Prefeitura Municipal e Estadual.

45

4.4. Participantes

Os participantes da pesquisa foram 31 trabalhadores da saúde que atuam no

CME do HUAP e fazem parte do quadro efetivo da instituição atuando nos serviços

diurno e noturno como enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem. Como

critério de exclusão do estudo se estabeleceu: trabalhadores que se encontravam de

licença médica ou usufruindo de férias durante o período de coleta de dados.

Ao serem convidados a participarem da pesquisa, foi feita apresentação do

pesquisador e das questões propostas à pesquisa como tema, objetivos, justificativa

e técnica de coleta de dados. O TCLE foi apresentado bem como os aspectos éticos

estabelecidos para pesquisa envolvendo seres humanos.

4.5. Coleta de dados

Como técnica de coleta de dados foi utilizada a entrevista semiestruturada,

por meio de abordagem individual.

A pesquisa, segundo Cervo e Bervian (2007), inicia-se após a escolha e a

delimitação do assunto, a definição dos objetivos, a formulação do problema e das

hipóteses. Realizada a coleta de dados, prossegue as tarefas de análise e discussão

dos resultados.

Ela envolve vários passos, como a população a ser estudada, a elaboração

do instrumento e da programação da coleta, o tipo de dados e de coleta. Somente

após ser definido o objetivo da pesquisa e levantadas as hipóteses e variáveis é que

foram elaboradas as questões do instrumento de coleta de dados.

A entrevista semiestruturada individual compreendeu perguntas abertas e

fechadas relacionadas ao objetivo da pesquisa, e foi realizada através de um

questionário (Apêndice III). Por meio dele foram coletados dados relativos à

caracterização dos participantes quanto ao sexo, idade, tempo de atuação na

instituição, tempo de atuação no CME, categoria profissional e formação; além de

apresentar questões abertas sobre o conhecimento dos profissionais acerca do

trabalho desenvolvido no CME e sobre o conceito de EP. As perguntas foram as

seguintes: Como é estar e a relação de você existir no CME? Como você percebe o

trabalho desenvolvido no CME? Você tem oportunidade de apresentar as ideias ou

46

práticas no cotidiano do trabalho em CME? Quais os principais problemas

vivenciados por você no CME que necessitam de ações educacionais? Você sabe o

que é EPS? Ao final do questionário, havia, ainda, uma questão aberta para

expressão livre do profissional sobre o assunto. A abordagem dos participantes se

deu em horários agendados previamente e realizada no ambiente de trabalho.

Para Minayo (2004), a entrevista é a técnica usada frequentemente no

processo de trabalho de campo, ressaltando sua importância a partir de referenciais

teóricos e de aspectos que envolvam questões conceituais. Na forma de realizá-las

é que se revelam as preocupações científicas dos pesquisadores, a escolha dos

fatos a serem coletados e o modo de recolhê-los.

Cervo e Bervian (2007) referem-se à entrevista como uma conversa orientada

a um objetivo definido, que irá recolher, através do interrogatório, dados para a

pesquisa. Segundo eles, deve-se recorrer à entrevista como forma de se obter

resultados que não são encontrados em registros e fontes documentais.

As entrevistas foram gravadas mediante a permissão dos participantes, a

partir da assinatura do TCLE.

4.6. Análise e interpretação dos dados

Com vistas a atender aos objetivos do estudo através da entrevista com os

trabalhadores do CME, foi possível evidenciar temas que respondem aos

questionamentos da pesquisa.

De acordo com Marconi e Lakatos (2011), na análise, o pesquisador detalha

sobre os dados decorrentes da pesquisa, a fim de conseguir respostas as suas

indagações e procura estabelecer as relações necessárias entre os dados obtidos e

as hipóteses formuladas. Estas são comprovadas ou refutadas, mediante a análise.

A partir da transcrição dos dados, realizada através da cópia das falas

emergidas da entrevista individual dos participantes, foi feita a escolha pela análise

de conteúdo (AC) proposta por Bardin (2009), que consiste em um conjunto de

instrumento e técnicas metodológicas que se aplicam em diversificados discursos.

Trata-se de um esquema geral no qual podemos verificar um conjunto de processos

que podem ser implementados para o tratamento dos dados e analisar o conteúdo

dos mesmos. O método de conteúdo é não só um documento, mas um leque de

47

alternativas, com rigor, marcado por disparidades de forma adaptável a um campo

de aplicação amplo: as comunicações.

Após transcrição das entrevistas, elas foram identificadas pela letra E,

seguido de um número correspondente à ordem em que foram realizadas.

Segundo a proposta de Bardin (2009), a organização da análise perpetua em

três diferentes polos: pré-análise; exploração do material; e tratamento dos

resultados, inferência e interpretação, conforme se observa no Quadro 2.

A pré-analise é a primeira fase da organização da análise, cujo objetivo é a

sistematização de ideias iniciais a fim de conduzir o desenvolvimento das operações

sucessivas, num plano de análise, que geralmente possui a escolha de documentos

a serem submetidos, a formulação de objetivos e hipóteses, e a formulação de

indicadores para a fundamentação da interpretação final. A exploração do material,

por sua vez, é ancorada no rigor metodológico e tem o propósito da aplicabilidade da

sistematização dos planos e objetivos formulados. Consiste essencialmente em

operações de codificações, decomposição ou enumeração, em função de regras

previamente estabelecidas. O tratamento dos resultados obtidos e a interpretação

podem valer de operações estatísticas simples e complexas, de acordo com a

necessidade do estudo, permitindo estabelecer um quadro que condense a síntese

dos resultados para a sua interpretação (BARDIN, 2009).

Quadro 2. Etapas da técnica de Análise de Conteúdo proposta por Bardin. Niterói, RJ, 2015

1ª etapa Pré-análise

É a sistematização de ideias iniciais a fim de conduzir o desenvolvimento das operações sucessivas, em um plano de análise.

2ª etapa Exploração do

material

Enquanto a exploração dos dados é ancorada no rigor e tem o propósito da aplicabilidade da sistematização dos planos e objetivos formulados, consistindo essencialmente em operações de codificações, decomposição ou enumeração, em função de regras previamente estabelecidas.

3ª etapa Tratamento dos

resultados, inferência e

interpretação

O tratamento dos resultados obtidos e a interpretação podem valer de operações estatísticas simples e complexas permitindo a síntese dos resultados para a sua interpretação.

Fonte: Gonçalves, 2013

Na primeira fase, pré-análise, foi realizada a disposição dos documentos a

serem analisados. Na sequência, foi preparado o material coletado, a transcrição

48

escrita das falas dos participantes em forma de texto para, através da leitura,

conhecer o conteúdo. A fase seguinte foi escolher as unidades de registro para

serem recortadas do texto.

Nessa fase foi realizada a preparação do material a partir dos dados surgidos

das entrevistas semiestruturadas gravadas e transcritas na íntegra, digitadas e

identificadas separadamente. As falas dos integrantes foram identificadas nas

categorias e citadas na discussão dos dados. A abordagem se deu a partir da

caracterização dos participantes do estudo, da análise dos dados e discussão das

categorias, as quais emergiram das falas, e com as quais se espera atender a

questão norteadora e aos objetivos específicos propostos.

49

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para apresentar os resultados e a discussão sobre a análise da EPS como

ferramenta na qualificação do profissional de enfermagem do CME, se inicia com o

primeiro objetivo específico, a saber: descrever o perfil e o conhecimento dos

trabalhadores do CME sobre EPS.

Os dados da representação das características da população de

trabalhadores do CME estão demonstrados no Quadro 3.

Quadro 3. Perfil dos trabalhadores do Centro de Material e Esterilização, participantes da pesquisa. Niterói, RJ, 2015 (n=31)

Variáveis %

Sexo

Feminino 77,0

Masculino 23,0

Faixa etária

41-50 anos 25,8

51-60 anos 42,0

Mais de 60 anos 32,2

Tempo de trabalho na instituição

10-20 anos 32,0

21-30 anos 34,5

31-40 anos 28,0

Mais de 40 anos 6,5

Tempo de trabalho na CME

1-4 anos 42,0

5-9 anos 38,7

9-13 anos 6,5

Mais de 13 anos 13,0

Categoria profissional

Enfermeiro 9,7

Técnico de enfermagem 5,6

Auxiliar de enfermagem 38,7

Maior nível de formação

Pós-graduação 29,0

Graduação 13,0

Ensino médio 51,5

Ensino fundamental 6,5

Dos 31 participantes da pesquisa, 77% (24) pertencem ao sexo feminino e

23% (7) ao sexo masculino.

50

Em relação à idade, 25,8% (8) se encontram na faixa etária entre 41 e 50

anos, 42% (13) na faixa etária entre 51 e 60 anos e 32,2% (10) se encontram na

faixa acima de 60 anos.

Quanto ao tempo de atuação na instituição, 32% (9) trabalham entre 10 e 20

anos, 34,5% (11) entre 21 e 30 anos, 28% (9) entre 31 e 40 anos e 6,5% (2) atuam

na instituição há mais de 40 anos.

No que se refere ao tempo de exercício no CME, 42% (13) atuam de 1 a 4

anos, 38,7% (12) atuam de 5 a 9 anos, 6,5% (2) atuam de 9 a 13 anos, e 13% (4)

acima de 13 anos.

A categoria profissional do CME está assim distribuída: 9,7% (3) de

enfermeiros (3), 51,6% (16) de técnicos de enfermagem, e 38,7% (12) de auxiliares

de enfermagem.

Em se tratando da formação, dos 31 participantes, 29% (9) possuem, como

maior nível educacional, a pós-graduação, 13% (4) a graduação, 51,6% (16) o nível

médio e 6,5% (2) o ensino fundamental.

Quanto ao sexo dos participantes, se destaca o maior quantitativo para o sexo

feminino, o que, segundo Amorim (2009), está ligado à própria característica da

profissão composta predominantemente de mulheres e que veio se feminilizar com o

advento da modernidade. O cuidar diz respeito a homens e mulheres, mas com a

divisão do trabalho, ficou a cargo das mulheres que desempenham tarefas que

abrangem sensibilidade, carinho e afetuosidade.

A maior parte dos trabalhadores do CME está na faixa etária entre 51 a 60

anos; lotados na instituição há mais de 20 anos e no CME de um a quatro anos.

Frente a essa faixa etária, pode-se ressaltar, segundo Silveira (2008), que o

profissional com idade elevada e vivência profissional no setor CME possui

experiência relacionada aos procedimentos executados. Todavia, essa vivência não

está relacionada a ter mais conhecimento científico. Os profissionais, com o decorrer

do tempo, adquirem segurança e liberdade na execução das atividades, mas não se

deduz com isso, que tais procedimentos estão sendo feitos de forma adequada e

segura.

O tempo e a vivência desencadeiam a composição da identidade do

profissional no serviço, fato esse ressaltado por Souza (2012), que diz que o

trabalhador pode até alterar superficialmente seu comportamento, e que nesse

percurso apresenta interferências em suas relações interpessoais, motivação, gosto

51

pelo trabalho, disciplina, vontade pela execução de tarefas e pela aquisição de

novos conhecimentos. Com isso, esta variação no tempo de serviço favorece a

manifestação de diferentes visões sobre a prática.

O estudo encontrou que os técnicos de enfermagem se apresentam em maior

percentual, disto, compreende-se que o CME é lotado com maior número de

profissionais de nível médio; além daqueles com ensino fundamental.

Souza (2012) entende que a fragmentação do trabalho de enfermagem se

deve a Florence Nightingale, ao criar a divisão social do processo de trabalho em

duas categorias: as ladies nurses, com funções intelectuais de administração,

supervisão, direção e controle e; as auxiliares nurses sob orientação das ladies

nurses, que faziam o trabalho manual e direto aos indivíduos. Essa fragmentação

passou a ser seguida e considerada até os dias de hoje.

A equipe de enfermagem tem papel de destaque no quantitativo do quadro de

pessoal das instituições de saúde. É formada pela enfermeira e pelos técnicos e

auxiliares de enfermagem, profissionais habilitados que, através da divisão social e

histórica do trabalho, desenvolvem suas atividades.

Vale relembrar que o Projeto Larga Escala, implantado na década de 1980,

tinha como objetivo o sistema de educação profissional formal em enfermagem de

nível técnico por meio de ensino supletivo e treinamento em serviço. Tinha em sua

conjectura a assistência e a prestação de serviço em saúde como um espaço

educacional, onde o processo ensino-aprendizagem deveria se adequar às

características do trabalhador, as práticas do trabalho e à precariedade das

instituições de saúde. E que a habilitação profissional em técnico de enfermagem

era concedida através da comprovação de atuação de pelo menos dois anos em

alguma instituição de saúde (BARROS; JÚNIOR, 2013).

A formação de trabalhadores para atuarem no setor saúde segundo princípios

e as diretrizes do SUS, segundo Silveira e Robazzi (2012), é um desafio que deve

ser encarado como aspecto relevante para a própria consolidação do SUS.

Princípios como o da universalização do acesso e da atenção integral à saúde,

dentre outros, exigem nova perspectiva na formação desse trabalhador,

independente do nível de formação que se encontrar, seja fundamental, médio,

técnico ou universitário.

Fica evidente que no movimento de mudanças da educação dos profissionais

de saúde, as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) e as diretrizes do SUS

52

colocam como perspectiva a existência de instituições formadoras com relevância

social; esse fato significa a presença de escolas capazes de formar profissionais de

qualidade, conectados às necessidades de saúde; comprometidas com a construção

do SUS, capazes de produzir conhecimento relevante para a realidade de saúde em

suas diferentes áreas, participantes ativas do processo de EP dos profissionais de

saúde e prestadoras de serviços relevantes e de qualidade (SILVEIRA; ROBAZZI,

2012).

É importante ressaltar, no que diz respeito à formação do trabalhador de

enfermagem do CME, que o órgão ao qual o HUAP está vinculado possui um

programa de capacitação e qualificação profissional, que oferece um benefício em

percentual de aumento salarial àqueles que terminarem o curso, seja na formação

de ensino médio, tecnólogo, graduação, pós-graduação, lato ou stricto-sensu. Mas,

não permite ao funcionário a mudança de categoria profissional.

A seguir, apresentam-se as respostas sobre conhecimento dos trabalhadores

de enfermagem do CME sobre EPS, através do Quadro 4.

Quadro 4. Conhecimento dos trabalhadores do Centro de Material e Esterilização sobre educação permanente em saúde. Niterói, RJ, 2015 (n=31)

Participantes Respostas sobre o conhecimento sobre EPS

E1 Sim. É estar recebendo informações constantemente nessa área.

E2 Sim. Acho que é o ensinamento com aprendizagem constante no que diz respeito à saúde ou à promoção dela.

E4 Sim. Faltam exames periódicos.

E5

Sim. É a instituição desenvolver projetos onde abrange o encaminhamento para exames periódicos, cursos e atividades que traga o bem-estar do funcionário, fisicamente e emocionalmente.

E6 Sim. É a criação de cursos de atualização para cada unidade específica. Atualizando as equipes e melhorando o relacionamento interpessoal.

E7 Não. Respondi “não” para que isso possa ocorrer mais depressa.

E8 Não vou saber te responder legal. Eu desconheço esse tema aqui no CME.

E9 Sim. Educação continuada. Ela não é uma coisa estática, ela se aperfeiçoa e tem que chegar até a gente.

Continua...

53

...continuação.

Participantes Respostas sobre o conhecimento sobre EPS

E10

Sim. Educação continuada, onde todos os dias se fizesse uma reciclagem, se buscar ideias e propostas novas. Atualização para que o nosso serviço saia da melhor forma possível. É também melhorar a nossa qualidade de vida.

E11 Sim. Atualização com as novas técnicas, normas, novas maneiras, por exemplo, de tratar o instrumental. Isso é importante, as mudanças tem que ser informadas.

E12 Sim. Eu acho que é estar sempre orientando os funcionários.

E14 Saber mesmo o que é eu não sei.

E15 Sim. Eu entendo que é uma convivência direta com o aprendizado, o que você está fazendo.

E16 Não sei, não estou por dentro.

E17 Sim. Oferecer meios para você trabalhar. É você estar bem no trabalho e isso inclui os cursos de qualificação.

E18

Sim. Para mim é uma continuidade da educação no seu cotidiano, ou seja, sempre que necessário, com cursos, workshops, enfim, aulas, palestras para que haja melhorias no setor de trabalho.

E22 Sim. A meu ver é reciclagem, utilização de novas técnicas de esterilização, visando sempre o bem-estar e saúde do paciente.

E23 Sim. Eu acho que é um conjunto de tudo. Assiduidade, setor muito bem lapidado e trabalhado. Com mão de obra específica.

E25

Sim. A atualização do nosso trabalho e de conhecimentos novos. A medicina, a informática e novas tecnologias e precisamos acompanhar. Não podemos ficar parados no tempo e no espaço.

E3; E13; E19; E20; E21; E24;

E26-E31

Não.

O Quadro 5 apresenta impressões sobre o processo de trabalho no CME e

conhecimento sobre EPS, demonstrado também na Figura 3.

Quadro 5. Impressões dos trabalhadores do Centro de Material e Esterilização sobre o processo de trabalho no setor. Niterói, RJ, 2015 (n=31)

Variáveis Sim (%) Não (%) Opção por trabalhar no CME 13,0 87,0 Atuação em outro setor da instituição 100,0 - Satisfação com desempenho no CME 90,3 9,7 Existência de trabalho em equipe 83,8 16,2 Estresse com o trabalho no CME 87,0 13,0 Ocorrência de ações de EPS 6,5 93,5 Conhecimento sobre EPS 38,7 61,3

54

Figura 3. Impressões dos trabalhadores do Centro de Material e Esterilização sobre o processo de trabalho no setor. Niterói, RJ, 2015 (n=31)

13%

100% 90,3%

83,8%87%

6,5%

38,7%

87%

0%

9,7%

16,2%13%

93,5%

61,3%

OPÇÃO POR TRABALHO CME ATUAÇÃO EM OUTRO SETOR DA INSTITUIÇÃO

SATISFAÇÃO COM DESEMPENHO CME

PERCEPÇÃO TRABALHO EM EQUIPE

ESTRESSE COM TRABALHO EM CME

OCORRE AÇÕES DE EPS CONHECIMENTO SOBRE EPS

SIM

NÃO

Em relação à impressão sobre o processo de trabalho, 13% dos profissionais

fizeram a opção para atuar nesta unidade. Todos já desempenharam atividades em

outros setores do hospital; a maioria está satisfeita com a função que executam no

CME; tem percepção do trabalho em equipe e de que decorre estresse no

desenvolvimento de suas atividades. Quanto à ocorrência de ações sobre EPS, a

maior parte respondeu não acontecer, o que também foi evidenciado em relação ao

conhecimento sobre EPS, em que grande percentual desconhecia (61,3%) ou a

resposta não era condizente com o conceito (38,7%).

Foi utilizado um recurso gráfico, através de um programa da internet

denominado nuvem de palavras, para representação das falas dos participantes da

pesquisa no intuito de se encontrar as categorias sobre a percepção do profissional

do CME com relação à EPS e a identificação dos fatores que contribuem para que

ela não ocorra no CME. A representação das palavras traz ainda aspectos sobre o

trabalho desenvolvido no CME.

A palavra trabalho foi a que mais emergiu da fala dos trabalhadores,

conforme Figura 4.

55

Figura 4. Representação das falas dos participantes da pesquisa, por meio de recurso gráfico de computação nuvem de palavras. Niterói, RJ, 2015 (n=31)

A computação na nuvem representa um novo modelo de serviço capaz de

fornecer todo o tipo de processamento, infraestrutura e armazenamento de dados

através da internet. É um recurso gráfico para descrever os termos mais frequentes

de um texto. O tamanho da fonte em que a palavra é apresentada é uma função da

frequência da palavra no texto palavras mais frequentes são desenhadas em fontes

de tamanho maior, palavras menos frequentes são desenhadas em fontes de

tamanho menor (PEDROSA; NOGUEIRA, 2011).

5.1. A relevância da concepção de trabalho no CME e sua representação gráfica

O trabalho desenvolvido pelos profissionais de enfermagem do CME é de

extrema importância para o progresso de todas as atividades que deste setor

dependem.

56

Em grande parte do tempo as pessoas estão dentro das organizações de

trabalho e são as responsáveis por seus resultados, que podem ou não estar de

acordo com os objetivos estabelecidos (SOUZA, 2012).

Souza (2012) cita Estelle Morin, que se refere ao trabalho como centro de

desenvolvimento na identidade da pessoa, que dá sentido à vida. E diz que quando

você tem um trabalho, tem uma razão para acordar de manhã, tem objetivos comuns

com outras pessoas, se sente útil no planeta [...]. O trabalho é o centro de equilíbrio

das pessoas. Quando você não trabalha as coisas tendem a se deteriorar, [...] e o

trabalho preenche as lacunas da vida, conforme percebido nos depoimentos dos

participantes:

“Fora o estresse, gosto muito da equipe. Me acolheram muito bem quando eu vim para cá. Vim porque estava doente, as pessoas colaboram comigo, me ajudam”. E29

“[...], eu gosto daqui, eu acho que sou útil aqui, apesar da minha limitação e de não poder fazer muitas coisas; não posso com peso”. E22

“Eu procuro executar minhas atividades da melhor maneira possível, sempre pensando no próximo, que é a clientela.” E20

“Hoje eu me sinto muito importante, quando eu vim para cá achei que aqui fosse o fim da linha [...]. Hoje eu vejo a minha importância aqui neste setor”. E18

“Eu me sinto bem aqui, estou bem localizada na função que eu sei fazer e faço bem feita. Eu gosto do que faço”. E7

“Eu gosto de trabalhar aqui, gosto dos meus colegas, mas, na verdade, gosto mesmo é de trabalhar com o paciente, mas estou sem condições devido à idade já avançada e também por apresentar problemas de saúde”. E12

Desde os seus primórdios, a humanidade mostra que os seres humanos

precisam de cuidado para sobreviver, não apenas para curar-se em situações de

doença, mas para viver com saúde, felicidade e bem-estar. E que os cuidados,

milenarmente, vêm sendo desenvolvidos por indivíduos ou grupos com diferentes

qualificações em diferentes cenários. Por meio de Florence Nightingale, na segunda

metade do século XIX, a enfermagem passou a ser uma profissão de saúde

reconhecida, com um rol de atividades especializadas e necessárias para a

sociedade, ganhou especificidade no conjunto da divisão do trabalho social e seu

57

exercício passou a depender de formação especial bem como de uma produção de

conhecimentos (PIRES, 2009).

Histórica e mundialmente, a legalização da profissão de enfermagem é

demonstrada pelo montante numérico destes profissionais. Trata-se de uma

profissão que está presente em todas as instituições assistenciais, sendo que na

rede hospitalar está presente nas 24 horas de todos os 365 dias do ano (PIRES,

2009).

Taube (2007) compreende a enfermagem como uma profissão que utiliza

saberes para subsidiar suas práticas, como forma de ser, fazer, pensar e transformar

em seus ambientes de trabalho, de interagir, dialogar e modificar os seres humanos

com quem estabelece relações nestes ambientes por meio do cuidado.

A breve reflexão sobre o trabalho de enfermagem apontada por Souza (2012)

se refere ao profissional enfermeiro como sendo o responsável pelo cuidado ao

paciente e pela equipe sob sua responsabilidade, no administrativo, gerenciamento

do cuidado, educativo, ensino, treinamentos, educação continuada, não se

esquecendo da pesquisa para o aprimoramento pessoal.

A qualidade das ações de enfermagem desempenhadas pelos trabalhadores

do CME interfere diretamente na qualidade da assistência prestada aos usuários,

como se observa na fala dos participantes.

“É um trabalho de grande importância, por isso fazemos tudo com muito carinho e muito cuidado, e a gente sabe que se não fosse o CME, o hospital não funcionaria”. E29

“Acho que o trabalho desenvolvido aqui [...] requer uma participação profissional intensa, apesar de não trabalhar direto com o paciente, mas sei que tudo que é feito aqui é direcionado para todos os setores e está relacionado ao paciente. Aqui é o coração do hospital”. E2

“Se não tivermos uma boa atuação, o hospital não funciona. O CME tem que funcionar a pleno vapor, tolerância, personalidade, [...], muita tolerância com os colegas com limitação”. E10

“Na minha equipe, (serviço noturno), nós nos ajudamos, cada um tem a sua função. A opinião de cada um aqui prevalece. A opinião de todo mundo é válida. E18

Para a realização de um determinado trabalho, não basta apenas a

sabedoria; o esforço constante da vontade para executá-lo deve estar além do

58

esforço físico, e isso se torna maior quanto menos atrativos forem os elementos do

trabalho (SOUZA, 2012).

Podemos perceber na fala dos profissionais a importância que é dada a este

setor, em revelar que o trabalho desenvolvido no CME é vital para a instituição.

Nesse contexto, a primeira categoria vem discutir a percepção do profissional

do CME sobre EPS.

5.1.1. Categoria 1. A pluralidade de percepções sobre EPS: ensino-aprendizagem

constante, reciclagem, criação de cursos, educação continuada, capacitação

“[...] é o ensinamento com aprendizagem constante. [...]” E2

“Criação de cursos de atualização para cada unidade específica.” E6

“[...] educação continuada, informações pertinentes ao trabalho, que devem ser mantidas atualizadas, mudanças, novos descobrimentos, estar a par de todo o processo em seu andamento. Não é uma coisa estática, ele se aperfeiçoa e tem que chegar até a gente [...].” E9

“[...], reciclagem, busca de ideias e propostas novas, nos atualizarmos para que nosso serviço saia da melhor forma possível [...].” E10

“Continuidade da educação no seu cotidiano, ou seja, sempre que necessário, com cursos, workshops, aulas palestras, para que haja melhoria no setor de trabalho”. E18

Silva (2007) faz uma reflexão sobre o desconhecimento acerca dos conteúdos

teóricos sobre CME no ensino das escolas de enfermagem brasileiras, em que

raramente ocorre a apresentação destes conteúdos enquanto disciplina específica,

ficando inseridas em outras disciplinas. Ela destaca que os profissionais que tiveram

oportunidade de atuar no CC possui mais domínio do trabalho desenvolvido em

CME, já que este setor possui estreita relação com a referida unidade.

Os assuntos relacionados ao desenvolvimento do CME são pouco abordados

nos cursos de graduação e na maioria das vezes o enfermeiro tem dificuldade de

dominar o assunto relacionado às atividades, embora o enfermeiro seja de grande

importância para o setor, já que é o responsável técnico dela.

“Acho que a chefia deveria oferecer mais cursos, palestras com os funcionários. Orientação sobre os procedimentos que não são oferecidos, simplesmente coloca o funcionário no setor sem nenhuma orientação; é um setor que requer muitos cuidados e informação”. E25

59

“Deveria haver maior interesse em estar fazendo uma reciclagem com o pessoal, pois é um setor muito importante.” E17

O sujeito que se abre ao mundo e aos outros inaugura com seu gesto a

relação dialógica que se confirma como inquietação e curiosidade, como ser

inconcluso em permanente movimento de busca (FREIRE, 2011). A educação é

prática pedagógica libertadora, capaz de gerar nos trabalhadores a consciência de

sua condição, baseado no diálogo, na liberdade e no exercício de busca ao

conhecimento participativo e transformador.

Existem serviços de saúde que já estão se adequando em relação à estrutura

física, recursos materiais e tecnológicos e no quadro de trabalhadores que compõe o

CME, reconhecendo sua importância no contexto hospitalar e na qualificação das

práticas laborais. Acolher e preparar esse trabalhador se faz necessário,

possibilitando-lhe o enfrentamento de obstáculos e de insatisfações no dia a dia e no

favorecer a EP para o trabalho. O estimulo à participação em programas de

desenvolvimento profissional e em atualização constante se faz relevante. Assim

como momentos de reflexão, análise e discussão, para que se percebam fazendo

parte de um setor de grande desenvoltura (LOPES et al 2007 apud SOUZA 2012).

A reforma do CME da instituição cenário desse estudo ocorreu recentemente,

se adequando à nova RDC relativa ao tema, considerando-se as diferentes etapas

do processamento dos artigos até sua distribuição às UC. Trouxe maior visibilidade

para esta unidade e mais conforto para a execução das atividades laborais, já que o

ambiente obedeceu aos projetos arquitetônicos.

Nesse contexto, houve a percepção dos trabalhadores da necessidade de

estarem mais bem qualificados para que o processamento de materiais seja

garantido de forma segura e eficiente.

[...]. Porque o setor aqui é que desenvolve todo o hospital. Precisa de uma educação continuada para os auxiliares e técnicos e para os enfermeiros também, porque quando se fala em educação continuada só se direciona para o auxiliar e o técnico”. E7

“[...]. Quando questionamos certo ocorrido, ouço: ‘aqui tem pouco trabalho, o trabalho aqui é fácil de fazer’. A realidade é outra, completamente diferente. Trabalhamos com equipamentos caríssimos e muito diversificados, material que você tem que estar atento [...]. E só mandam para cá pessoas doentes, limitadas e sem condições para o serviço. Na realidade, se tem poucas condições para que o CME funcione bem”. E10

60

“O CME é um depósito de pessoas, não se tem a preocupação de melhoria do trabalho. Quem sabe, sabe e quem não sabe continua sem aprender. Não existe educação continuada. A coordenadora do setor sabe, mas não passa. Ela tem muito conhecimento científico.” E25

Sabemos que a EPS é destinada ao todos os profissionais que atuam na

unidade hospitalar, principalmente no cenário desse estudo. Mas a fala dos

depoentes deixa claro que os profissionais de nível médio esperam do enfermeiro

um posicionamento que considere o trabalhador como sujeito de sua própria

aprendizagem e não como simples sujeito sem respostas e conhecimento. Sua

vivência, realidade, sua forma de ver e ler o mundo precisam ser consideradas.

O conhecimento científico que o profissional enfermeiro possui é o que o

diferencia dos profissionais de nível médio, que, apesar de desempenharem

atividades no cotidiano na execução de tarefas repetidas e fracionadas, espera

desse profissional um envolvimento maior nas atividades de planejamento,

supervisão e controle, não como exigência legal respectiva ao exercício da

profissão, mas o reconhece como diferencial positivo para qualidade dos serviços

prestados (SILVA; 2007).

“No geral, o trabalho aqui deixa muito a desejar, precisa de mais empenho por parte da chefia e coordenação. A palavra certa seria mais determinação para que os profissionais pudessem enxergar de uma outra forma [...].” E7

“O trabalho do CME é o coração do hospital, porém a chefia e coordenação não dão o devido valor.” E23

“Hoje o problema vivenciado é que nos consideramos um tanto quanto não representados junto aos demais setores do hospital, pois, atitudes ou medidas deveriam ser tomadas para a solução de problemas externos quando identificados, [...]. Percebo que muitos funcionários desse CME têm ficado muito chateados com isso.” E9

A programação de eventos relacionados à EPS irá contribuir para o

aprimoramento e sensibilização dos profissionais quanto à qualidade prestada e

segurança nos serviços oferecidos.

A observância de forma a atender a referida RDC na instituição cenário ainda

tem algumas etapas a serem cumpridas, como: a aquisição de uma lupa,

equipamento indispensável na detecção de sujidades e qualidade do instrumental,

protetores auriculares como EPI indispensável ao uso das pistolas de ar comprimido

e, também, área de descanso para os profissionais do serviço noturno, que não foi

61

contemplada por ocasião da obra, fazendo com que continuem do mesmo modo

anterior à resolução: descansando no chão.

O cumprimento da RDC se faz necessário, pois, traz benefícios aos

trabalhadores do CME e usuários dos serviços de saúde.

“O CME é fator vital para o hospital. Tudo que o hospital consome a nível de material é produzido aqui. Se tem uma responsabilidade enorme.” E13

“Como na maioria dos CME das outras instituições, apresenta falhas, sempre se procurando corrigir, melhorar. O trabalho no CME é importante, mas não existe reconhecimento, principalmente das camadas hierárquicas acima, dos superiores”. E20.

“Deveria haver um maior interesse em estar fazendo uma reciclagem com o pessoal, pois é um setor muito importante.” E17

O conceito que é atribuído aos profissionais do CME é o de menos valor já

que se encontram próximos da aposentadoria ou possuem condições limitantes. Na

referida unidade, o descrédito com o setor acontece frequentemente, principalmente

pelo seu maior consumista que é o CC. A culpa pelo desaparecimento de

instrumentais ao término das cirurgias, seja da instituição ou de uso privativo do

cirurgião, faz com que muitas vezes seja autorizada a abertura de várias bandejas

esterilizadas na procura do referido instrumental, ocasionando o retrabalho. Tal fato

caracteriza-se como não valorização do trabalho do profissional, causando estresse;

ademais, isso onera a instituição. O erro recai sempre sobre o setor CME fazendo

com que os profissionais se sintam cada vez mais desestimulados e excluídos.

O trabalho desenvolvido no CME deve ser divulgado pelo enfermeiro, assim

como a interação estabelecida com as UC relacionadas ao processamento de

material. Esse profissional também tem como responsabilidade a divulgação do

trabalho relacionado à prevenção de infecção nas unidades satélites e demais UC já

que a área de esterilização evoluiu muito nos últimos anos. O profissional não se

sente valorizado nas diversas atividades desempenhadas por ele nesta unidade,

como sinalizam:

“Falta uma boa relação dos funcionários de outro setor com os do CME e vice-versa. Tem que ter educação, respeito com os funcionários do CME. Os funcionários externos ao CME acham que só o trabalho deles é prioritário. O CME é consequência do trabalho externo, esquecem a desenvoltura que o trabalho do CME apresenta, eles acham que o

62

trabalho é mecânico e é um trabalho técnico, embora eles não acreditem.” E4

“A noite pela supervisão é muito esquecida, você participa dos problemas. Estamos pedindo um computador desde o ano passado. O computador tem, mas é só da coordenação. Um computador para tirar dúvida, querer fazer uma pesquisa.” E16

“[...] A maioria não conhece os materiais. Quem vem para o CME é só pessoal doente. A vida é cíclica e o trabalho do CME também. Nós estamos parados no tempo aqui dentro.” E25

Distingue-se ainda que a prática educativa crítica envolve o movimento

dinâmico, dialético, entre o fazer e o refletir sobre o fazer e, assim, associamos o

pensamento de Freire (2011) à proposta da política de EP, ao afirmar que a reflexão

crítica sobre a prática é fundamental no processo de formação e aprimoramento dos

profissionais da saúde, pois, é pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem

que se pode melhorar o cotidiano.

Segundo Ceccim (2004), as reformas que tem ocorrido no campo da saúde

tem se defrontado muito regularmente com a necessidade de políticas específicas

voltadas para os trabalhadores na área de recursos humanos. Ele considera

também que não se pode colocar a área de formação como lugar secundário, mas

sim como centro das políticas de saúde. Retirando os trabalhadores da condição de

“recursos” para atores sociais das reformas, do trabalho, das lutas pelo direito à

saúde e da disposição de práticas acolhedoras e resolutivas de gestão e de atenção

à saúde.

Importante considerar que a instituição possui um plano anual de capacitação

cujas promoções por titulação são direito garantido para os profissionais em seu

Plano de Cargos e Vencimentos.

A inovação se dará com foco na melhoria dos processos, melhorando o

potencial desse trabalhador, com maior motivação e satisfação pessoal.

5.1.2. Categoria 2. A inter-relação entre EPS e saúde do trabalhador do CME

O trabalho da equipe de enfermagem envolve a relação entre sujeitos. O

cuidador, a subjetividade, a história, os direitos, as necessidades, as relações com

os demais profissionais, a concepção cultural - profissional de saúde e o sujeito

cuidado. Estas expectativas e interesses podem aproximar e potencializar a

63

perspectiva do cuidado de si e do outro ou distanciar e gerar conflitos (PIRES,

2009).

“Eu observo alguns colegas que talvez não estão muito ligados e muitas vezes correm o risco de se contaminar e esse risco não é observado, ele não é orientado, não são cobrados. Essa falta de orientação acaba contribuindo para que o funcionário fique doente. Ocorre a cobrança indevida de outras coisas e a orientação não se tem”. E1

“Cada setor precisa de uma orientação profissional. O fluxo de trabalho precisa melhorar, mas fico inibida, porque sei que não vou ser ouvida. Eu sinto que vou extrapolar a minha condição. Você tem que dar provas do serviço, mal estimulado, mal coordenado. A forma como colocar as coisas e você não se atreve a dar um passo a mais. Você fica retraída”. E28

“(...) Buscar ideias e propostas novas, nos atualizarmos para que o nosso serviço saia da melhor forma possível e como forma de melhorar a nossa qualidade de vida”. E10

Na prestação de cuidados incluem ações de prevenção, proteção e

recuperação da saúde, tendo como foco a atenção ao usuário dos serviços de

saúde. Porém, com as novas tecnologias aumentou a carga de trabalho e, como

consequência, a susceptibilidade dos trabalhadores aos agravos (COSTA;

FUGULIN, 2011).

Segundo Azambuja et al (2010, p. 659):

Os trabalhadores da enfermagem, inseridos em diferentes organizações institucionalizadas, convivem com diferentes cargas de trabalho e estão expostos a diferentes situações de risco ocupacional. No ato de trabalhar em sua complexidade [...], o trabalhador tende a percorrer o caminho da produção da saúde ou da produção do desgaste.

O sentimento de inutilidade gerado pela falta de valorização profissional se

justifica num cenário em que o profissional não tem suas opiniões e necessidades

atendidas, onde inexiste o diálogo e não se tem assistência para os problemas

identificados.

Ayala e Oliveira (2007) revelam, em seus estudos sobre o trabalho no setor

de saúde, que o desgaste emocional e físico dos trabalhadores públicos se dá em

decorrência da maneira como é organizado. Eles baseiam-se na compreensão entre

as relações complexas, entre a fragmentação e divisão do trabalho, no protagonismo

dos trabalhadores e nas repercussões dessas relações no processo de trabalho e

64

salientam os conflitos surgidos quando os trabalhadores se confrontam com

situações de trabalho fixadas, muitas vezes, alheias à sua vontade.

“É um trabalho importante, mas falta estímulo, não tem um supervisor que venha conversar com você, você não é reconhecido. Não dá importância ao seu trabalho.” E16

“Observo que o trabalho é dinâmico, efetivo e todos imbuídos para o mesmo sentido, nos causando, às vezes, impasses, devido a uma situação de direcionamento melhor da gerência.” E28

As atividades realizadas no CME devem garantir segurança para os usuários

dos serviços de saúde, bem como as UC e trabalhadores envolvidos no

processamento de materiais.

“São vários problemas, vou citar um: cada funcionário aqui tem uma função, atividade específica e não se interessa ou falta orientação para aprender a fazer qualquer tipo de serviço aqui dentro. (...) deveria aprender todas as atividades. Quando alguém adoece e não aparece no setor, não tem outro para substituí-lo, a função fica descoberta. Precisamos aprender de tudo”. E10

“Há dificuldade de a coordenação aceitar uma ideia, tudo tem que partir da chefia. Eles deveriam ouvir os funcionários, porque quem fica mais tempo aqui é o funcionário de nível médio (...). E se você discorda de alguma opinião é vista de outra forma”. E26

Souza (2012) distingue o processo de trabalho do CME que ele comparou a

uma linha de montagem, do trabalho de uma indústria que utiliza materiais limpos

em suas atividades, com ausência de carga microbiana. No CME, os artigos, em sua

maioria, estão impregnados de fontes contaminadas, exigindo conhecimento e

cuidados específicos dos profissionais que os manipulam. E os setores ou as áreas

que compõem o CME são dotados de características específicas que garantem a

qualidade do trabalho no processamento dos diferentes materiais.

Os trabalhadores que desenvolvem suas atividades no CME necessitam de

conhecimentos sobre todas as etapas do processamento de materiais. Valorizar as

práticas, com a validação dos processos para que efeitos adversos possam ser cada

vez mais minimizados.

“Relacionado ao uso do EPI no expurgo porque eu soube que tem material que é até cancerígeno.” E12

65

“São muitas coisas para enumerar. O recebimento do material sujo, o uso do EPI, tudo novo que precisa de orientação, a orientação mínima possível para a gente poder operar como nos casos da autoclave”. E13

Os processos de trabalho atualmente caracterizam-se sob o modelo

capitalista, juntamente com o neoliberalismo e o processo de globalização, serviços

de saúde são vistos como produtores de bens e serviços para consumidores

exigentes. A saúde e a enfermagem se transformaram em atividades

comercializáveis no mercado com serviços que produzem bens e trabalhos

imateriais, o trabalho em saúde, a economia e a política constituem a atmosfera do

trabalho, o que, nos dias de hoje, podem ser vistas na competitividade do mercado

de trabalho e na necessidade de constantes inovações para manter-se nele (SOUZA

2012).

Os trabalhadores demonstram o desejo de que a realidade deles mude. A

EPS precisa acontecer nesse espaço. E para que se torne realidade necessita de

ações efetivas. Os desafios são muitos, fazer com que a EPS seja realidade no setor

CME para melhor desempenho das atividades, contribuindo para a excelência dos

processos e melhor satisfação do trabalhador.

“O CME tem um estigma: lugar de funcionário doente, lugar que ninguém quer nada. O estigma é muito grande e tem que acabar, tem que colocar gente nova, fazer reciclagem; sem esse setor, o hospital não existe.” E13

“(...), deveria se olhar um pouquinho mais a parte emocional do grupo que trabalha aqui. O pessoal já vem com uma situação lá de fora, já foi colocado aqui com uma situação, por uma necessidade. Nessa pressão, nesse estresse você fica mais doente aqui dentro”. E8

“Para que haja melhoria é necessário que haja reflexão dos superiores, da diretoria, da gerência, para poder mudar. E não pensar que o CME de hoje é a mesma de 50 anos atrás”. E25

Freire (2011) afirma que vivemos em uma sociedade dividida em classes,

sendo que os privilégios de uns impedem que a maioria usufrua dos bens

produzidos e coloca como um desses bens produzidos e necessários para

concretizar a vocação humana de ser mais a educação da qual é excluída grande

parte da população, já que a educação existe como prática da dominação.

É preciso entender a complexidade do ser humano no exercício da gerência

em assuntos relacionados ao fazer, ao saber, ao desejo, ao grupo. Souza (2012) se

refere a enfermeira gestora da equipe de enfermagem no CME como a que planeja

66

e organiza o ambiente de trabalho e os recursos humanos pautada em

conhecimentos técnico-científicos, onde o foco das atividades se concentra mais no

processamento de artigos, materiais e menos no trabalhador, na equipe e na

dinâmica de trabalho.

É necessária maior atenção por parte da coordenação, gerência e gestão da

instituição, com melhor qualificação, para que os procedimentos padronizados pelo

estabelecimento de protocolos permitam facilitar que o processamento de material

seja oferecido de forma segura e eficiente.

Sendo assim, para identificar que fatores contribuem para que não ocorra a

EPS no CME emerge a terceira categoria.

5.1.3. Categoria 3. A necessária implementação da EPS no CME: em busca da

resolutividade e excelência no trabalho

Carvalho Jr. (2012) atenta para a atualização e capacitação como

responsabilidade dos profissionais de enfermagem e que essas devem ser

mediatizados frente às necessidades e como apoio a novas tecnologias. Refere-se à

EP como facilitadora aos trabalhadores do CME no acompanhamento das novas

tecnologias presentes nos equipamentos e processos, para o desenvolvimento das

atividades deste setor, com habilidade, compreensão no favorecimento ao

processamento de material efetivo para o usuário. A responsabilidade da EP precisa

ser compartilhada com a instituição.

“O que eu sinto é que a tecnologia, hoje, ela tem avançado muito rápido e a cada momento estamos recebendo novos aparelhos, novos instrumentais, com especificações e diferentes processos. Não há um acompanhamento da parte educacional nesse item. Muitas vezes não temos todas as informações que teríamos que ter e acabam prejudicando o resultado final”. E9

”Qualificação de pessoal, onde todos aprendam a manusear os equipamentos para que na falta de determinado funcionário, outra pessoa possa desenvolver essa atividade”. E6

“A questão do próprio fluxo; está cheio de aparelhagem nova, que estão chegando [...], mas você não tem um manual para ser lido, um técnico para orientar. Todos precisam saber”. E14

67

“Acho que aqui o trabalho é complicado, muito burocrático. Deveria ocorrer uma mudança nessa parte mais burocrática, poderia simplificar [...], O tempo todo é necessário passar mais conhecimento. Eu vim de outro setor e cheguei aqui e encontrei muitos equipamentos diferentes.” E2

“Trabalhamos com equipamentos caríssimos e muito diversificados, material que você tem que estar atento. E só mandam para cá pessoas doentes, limitadas e sem condições para o serviço. Na realidade, se tem poucas condições para que o CME funcione bem”. E10

“Eu acho que a dispensação e guarda do material deve ser mais vista, porque quando precisam do material, não se encontra no local devido. Ele tinha que estar bonitinho lá”. E29

Silveira e Robazzi (2012) evidenciam que cada vez mais, no Brasil, tem-se

discutido a importância da formação de recursos humanos em saúde como forma de

mudança das práticas e de assistência. Tal questão relaciona-se, também, às

situações culturais e econômicas da sociedade, havendo uma influência recíproca

entre a formação e o contexto em que as práticas em saúde se realizam. Nessa

perspectiva, algumas ações têm sido implementadas a partir da reforma dos

sistemas de saúde, com a mudança de enfoque das práticas assistenciais, levando

em conta as ações relacionadas à promoção em saúde.

“A atualização do nosso trabalho, de conhecimentos novos. A medicina, a informática e novas tecnologias são conhecimentos novos. O nosso serviço precisa acompanhar. Não podemos ficar perdidos no tempo e no espaço”. E25

“As ideias não aceitam, porque não vai depender dos colegas, tem que passar primeiro pela coordenadora e chefia imediata; não tem como desenvolver nada”. E19

“[...] precisamos de qualidade no trabalho. Aqui não se tem acesso a um computador para se tirar alguma dúvida, um trabalho; não temos esse recurso”. E10

“Precisa de uma chefia que lapide os funcionários, fique do lado, que ouça. Com mais de (...) anos de serviço na CME, só tivemos uma reunião no serviço à noite. Por mais que se peça.” E23

O educando torna-se um objeto para receber de forma paternal a doação do

saber do educador. Esse tipo de educação implica em um mundo harmônico, onde

não há incoerências, daí a manutenção da ingenuidade do oprimido, que como tal se

68

acostuma e acomoda no mundo conhecido e eis aí, a educação exercida como

prática da dominação (FREIRE, 2011).

Com a evolução dos procedimentos cirúrgicos, acompanhados pela aquisição

de instrumentais cada vez mais complexos, exigem-se investimentos na qualificação

dos profissionais através de programas de EP. Os serviços de saúde, através de

seus ambientes virtuais de aprendizagem, disseminam e ampliam o campo de

conhecimento, com a construção de cursos auxiliados pelos seus softwares e

divulgados pela internet. Absorvem profissionais que os métodos tradicionais

encontravam barreiras, resultando em benefícios para a assistência prestada

(TIPPLE et al, 2005).

Tornar o ambiente de trabalho flexível e o investimento em um trabalho

estimulante na tentativa de melhorar as práticas no cotidiano se faz necessário. Até

mesmo como cumprimento da nova resolução. A inovação precisa acontecer nesse

espaço.

Carvalho Jr. (2012), em estudo recente, faz referência aos profissionais de

enfermagem na responsabilidade de se atualizarem e se capacitarem com

frequência, sendo que esses têm a necessidade e o apoio quando consideramos a

influência da tecnologia. Diz que durante a prática profissional percebeu interesse

dos profissionais por estarem se atualizando e capacitando, mas pouca ação para

tal. A EP facilita aos profissionais do CME acompanharem o desenvolvimento

tecnológico presente nos equipamentos e processos desenvolvidos nesta unidade,

ficando aptos a realizarem suas atividades.

Portanto, a visão de espaço de armazenamento de pessoas que se tem

atualmente do CME configura-se como a última possibilidade de ajuste profissional,

o fim da linha para esses trabalhadores. O fim que os surpreende. Não estão

preparados para a complexidade e as novas tecnologias. E aguardam com grande

expectativa, que o cotidiano em suas práticas melhore, que um novo olhar seja

direcionado para eles, pois, tem experiências que precisam ser partilhadas.

Nesse sentido, mudanças tornam se necessárias para que a implantação da

EP no cenário CME torne-se realidade, com planejamento e programação educativa

constante, diante da análise coletiva dos processos de trabalho, na identificação dos

nós críticos, proporcionando a construção de estratégias que permitam o diálogo,

como forma de respeito ao outro, as suas diferenças, reconhecer que como seres

69

inconclusos, inacabados que somos (FREIRE, 2011); só teremos resultados

viabilizados pelo diálogo, transformando de forma contínua as práticas no cotidiano.

A poesia “Tecendo a manhã” reflete a necessidade de mudança, a realidade

ora apresentada pelos trabalhadores de enfermagem do CME.

Um galo sozinho não tece uma manhã: ele precisará sempre de outros galos. De um que apanhe esse grito que ele

e o lance a outro; de um outro galo que apanhe o grito de um galo antes

e o lance a outro; e de outros galos que com muitos outros galos se cruzem

os fios de sol de seus gritos de galo, para que a manhã, desde uma teia tênue,

se vá tecendo, entre todos os galos.

(João Cabral de Melo Neto)

Com isso, as ações que podem ser realizadas para que a EPS aconteça no

ambiente do CME são as que se constituem produtos para esta dissertação de

mestrado: a apresentação do folder para as unidades consumidoras, como forma de

contribuir com a visibilidade a este setor, no respeito e valorização as atividades

desempenhadas pelo trabalhador; a cartilha, com orientações sobre a política de

EPS para os trabalhadores do CME; e um projeto de extensão, para posterior

implantação.

Assim, a EP pode ser pensada como possibilidade ou espaço para trabalhar a

qualificação do trabalhador de enfermagem no CME como, por exemplo, implantar

oficinas ou rodas de conversa onde a cartilha elaborada como produto possa ser

manuseada, lida e entendida pelos profissionais de enfermagem do CME.

70

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para as considerações finais buscamos os objetivos que foram alcançados

através desse estudo. O primeiro objetivo específico se refere ao perfil e

conhecimento dos trabalhadores do CME sobre EPS. Quanto ao perfil, a maior parte

é constituída por mulheres; na faixa etária entre 51 a 60 anos; com tempo na

instituição de 21 a 30 anos; e atuação na unidade CME entre 1 a 4 anos. Os

técnicos de enfermagem, bem como os que possuem como maior nível educacional

o ensino médio são a maioria.

Com relação ao segundo objetivo específico que foi discutir a percepção do

profissional de enfermagem do CME sobre EPS, percebeu-se que ela não é

conhecida pelos profissionais já que quase a totalidade não soube responder

(61,3%) ou a resposta não foi condizente com o conceito (38,7%).

A percepção sobre EPS apresentada pelos trabalhadores do CME revela o

desconhecimento sobre uma prática relevante para o cotidiano em suas atividades

laborais.

No que se refere ao terceiro objetivo que trás a identificação de fatores que

contribuem para que não ocorra a EPS no CME, viu-se que a implementação da

EPS está vinculada a problemas laborais vivenciados pelos profissionais de

enfermagem.

O estudo possibilitou a análise da EPS como ferramenta para a qualificação

do profissional de enfermagem do CME, tendo em vista que todo o trabalho

permeou questões referentes a essa estratégia pedagógica.

Considerando o problema identificado por essa pesquisa de como a EP pode

ser pensada como possibilidade ou espaço para trabalhar a qualificação do

trabalhador de enfermagem lotado no CME, pensou-se em ações que podem ser

realizadas para que a EPS aconteça no ambiente de trabalho no CME. Disto, e com

a finalidade de dar visibilidade a unidade, elaborou-se um folder explicativo que foi

distribuído as UC com informações sobre as atividades desempenhadas no setor.

Com o mesmo propósito, foi desenvolvida uma cartilha com orientações sobre a

política de EPS, bem como proposto um projeto de extensão para desenvolvimento

de outras estratégias para os profissionais, que viabilizem educação, visto que os

trabalhadores percebem a necessidade da EP.

71

O que vivenciei ao realizar esse estudo é que a percepção sobre o

conhecimento acerca do processo de trabalho desenvolvido no CME precisa ser

aperfeiçoado. Os trabalhadores esperam passivamente da coordenação e gerência

atenção merecida, com participação mais efetiva.

Dentre as dificuldades enfrentadas e registradas podem-se citar a pouca

valorização e a reduzida visibilidade do trabalho realizado na unidade CME, não

obstante à adequação quase que completa da estrutura arquitetônica como

preconiza a legislação pertinente. O que fica claro é que mudar somente a estrutura

física não resolve.

O trabalho desenvolvido no CME se constitui de grande relevância frente ao

controle de IH. As atividades desenvolvidas nesta unidade contribuem muito para a

minimização de eventos adversos. Entretanto, o setor só é lembrado quando algo de

errado acontece. Cultura que precisa ser revista e que foi apontada em diferentes

momentos do trabalho de campo.

Os trabalhadores, em seus depoimentos, revelaram a importância do setor e

reconhecem que precisam estar qualificados para atender demandas tão

específicas, e que necessitam ser ouvidos e motivados para o trabalho. Assim, a

EPS precisa ser prioritariamente implementada no CME/HUAP.

É importante ressaltar que este estudo apresenta como limitação a própria

desmotivação da coordenação da unidade CME com o quadro de profissionais, já

que se tornou cultural, na maioria dos hospitais públicos, alocar para esse setor

trabalhadores com alguma limitação. Fato esse evidenciado pelos enfermeiros do

cenário de estudo, que, por obedecerem a uma hierarquia, se sentem impotentes.

Destacam que esperam da coordenação e gerência um posicionamento,

reconhecimento, respaldo e mais autonomia frente às situações e problemas

identificados, para que o processo de trabalho possa ser realizado de forma mais

equânime.

Também ficou evidenciado que é preciso vencer a concepção de CME como

espaço de “armazenamento” de pessoas, configurando-se como a última

possibilidade de adaptação profissional, o fim da linha para esses trabalhadores.

Profissionais que mesmo com a condição de “limitados”, colaboram para um grande

número de procedimentos cirúrgicos e para todas as intervenções que necessitam

de materiais esterilizados. Aguardam, com grande expectativa, que o cotidiano em

suas práticas seja revisto, que um novo olhar seja direcionado a eles.

72

Espera-se que a permanência desses trabalhadores no CME não seja

marcada de ressentimentos, de rejeição pelo não reconhecimento e valorização em

suas atividades, ocasionando aposentadorias precoces.

Para qualidade de vida e do processo de trabalho, alguns aspectos precisam

ser considerados: o estímulo ao uso do EPI, a aquisição de protetores auriculares e,

lupa e a reserva de espaço para o descanso dos profissionais do serviço noturno. A

humanização no trabalho para os profissionais da enfermagem com local digno para

o descanso se torna necessária, já que o descanso no chão ocasiona vários riscos e

como recomendação da resolução vigente precisa ser respeitado. Os que

contribuem para a produção da saúde não podem ter a sua relegada.

A introdução ao uso do computador como ferramenta necessária para

registros e consultas referentes ao processo de trabalho foi identificada como

necessária aos trabalhadores. O setor dispõe somente de um computador na sala

da coordenação, que é de uso privativo.

Um novo olhar, carinho, atenção para a sua formação, trazendo-os para o

foco faz-se necessário. Eles contribuem para a instituição e continuam com essa

finalidade. A submissão precisa ser vencida, pois está ultrapassada. A prática

dialógica precisa prevalecer.

Embora a nova resolução tenha proporcionado a essa unidade maior

visibilidade de seus trabalhadores e de sua importância, e o avanço da tecnologia,

apesar da complexidade, tenha facilitado o trabalho dos profissionais com a

automatização das tarefas, ela não dispensa, contudo, o recurso humano que

continua sendo fator primordial em relação à segurança dos processos de

esterilização.

Há possibilidades. Torna-se imprescindível um olhar inovador no que diz

respeito aos trabalhadores estarem se atualizando, para que venham ter acesso às

promoções por titulação, via capacitação, por direito garantido em seu Plano de

Cargos e Vencimentos.

Esse estudo subsidiará outros, já que foi criado um folder, uma cartilha com

orientações sobre a política de EPS e um projeto de extensão como produtos da

pesquisa. O projeto de extensão será implantado posteriormente com a contribuição

da Escola de Governança em Gestão Pública, recentemente criada por intermédio

da Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas da instituição de ensino na qual o HUAP está

inserido. Essa escola tem por objetivo promover a formação de servidores técnico-

73

administrativos e docentes de maneira continuada, através da EP, incluindo as

categorias que compõem o quadro de enfermagem do CME, que precisam de

melhor compreensão da política de EPS, fato esse evidenciado por ocasião da

pesquisa.

Divulgar e discutir o conceito de EP se faz necessário para toda a equipe do

CME, enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, como forma de

aprimoramento, já que, como política pública de saúde no Brasil, precisa ser

viabilizada aos trabalhadores de toda a instituição,

74

7. PRODUTO DA PESQUISA

Criação de um folder informativo para as UC como forma de contribuir com a

visibilidade e valorização das atividades desempenhadas pelo CME/HUAP/UFF, de

uma cartilha com orientações sobre a política de EPS para os trabalhadores do

CME, e, posteriormente, implantação de um projeto de extensão na unidade CME.

75

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YAMAZAKI, A. A.; ALMEIDA, J. M. Educação, Ética e Cultura. São Paulo: Liber Ars, 2012.

80

APÊNDICES

Apêndice I. Quadro da caracterização dos participantes e respostas sobre o conhecimento de EPS.

Sujeito Sexo Idade Tempo

atuação na Instituição

Tempo atuação

CME

Categoria Profissional

Formação Respostas sobre conhecimento EPS

E1 F 41-50 10-20 1-4 Auxiliar Enfermagem Ensino Médio Sim. É estar recebendo informações constantemente

nessa área.

E2 F 51-60 20-30 1-4 Técnico Enfermagem Pós-

Graduação

Sim. Acho que é o ensinamento com aprendizagem constante no que diz respeito à saúde ou a promoção

dela.

E3 F + 60 20-30 + 13 Auxiliar Enfermagem Ensino Médio Não.

E4 F 51-60 30-40 5-9 Auxiliar Enfermagem Ensino Médio Sim. Faltam exames periódicos.

E5 F 51-60 10-20 + 13 Auxiliar Enfermagem Pós-

Graduação

Sim. É a instituição desenvolver projetos onde abrange o encaminhamento para exames periódicos, cursos e

atividades que traga o bem estar do funcionário fisicamente e emocionalmente.

E6 M 51-60 30-40 9-13 Enfermeiro Pós-

Graduação

Sim. É a criação de cursos de atualização para cada unidade específica. Atualizando as equipes e

melhorando relacionamento interpessoal.

E7 F + 60 30-40 5-9 Técnico Enfermagem Ensino Médio Não. Respondi “não” para que isso possa ocorrer mais

depressa.

E8 F 51-60 + 40 5-9 Técnico Enfermagem Pós-

Graduação Não vou saber te responder legal Eu desconheço esse

tema aqui na CME.

E9 M 51-60 30-40 1-4 Enfermeiro Pós-

Graduação

Sim. Educação continuada. Ela não é uma coisa estática, ela se aperfeiçoa e tem que chegar até a

gente.

E10 F 41-50 10-20 1-4 Técnico Enfermagem Ensino Médio

Sim. Educação continuada, onde todos os dias se fizesse uma reciclagem, se buscar ideias e propostas novas. Atualização para que o nosso serviço saia da melhor forma possível. É também melhorar a nossa

qualidade de vida.

Continua...

81

...continuação

Sujeito Sexo Idade Tempo

atuação na Instituição

Tempo atuação

CME

Categoria Profissional

Formação Respostas sobre conhecimento EPS

E11 M 51-60 30-40 9-13 Técnico Enfermagem Graduação

Sim. Atualização com as novas técnicas, normas, novas maneiras, por exemplo, de tratar o instrumental.

Isso é importante, as mudanças tem que ser informadas.

E12 F + 60 10-20 1-4 Auxiliar de

Enfermagem Ensino

Fundamental Sim. Eu acho que é estar sempre orientando o s

funcionários.

E13 M 51-60 30-40 5-9 Técnico Enfermagem Ensino Médio Não.

E14 F 41-50 20-30 1-4 Técnico Enfermagem Pós-

Graduação Saber mesmo o que é eu não sei não.

E15 F + 60 20-30 5-9 Técnico Enfermagem Ensino Médio Sim. Eu entendo que é uma convivência direta com o

aprendizado que você está fazendo.

E16 F 51-60 + 40 1-4 Técnico Enfermagem Ensino Médio Não sei, não estou por dentro.

E17 F + 60 10-20 5-9 Técnico Enfermagem Ensino Médio Sim. Oferecer meios para você trabalhar.

É você estar bem no trabalho e isso inclui os cursos de qualificação.

E18 F 41-50 20-30 5-9 Auxiliar de

Enfermagem Graduação

Sim. Para mim é uma continuidade da educação no seu cotidiano, ou seja, sempre que necessário, com cursos, workshops, enfim, aulas, palestras para que

haja melhorias no setor de trabalho.

E19 F 51-60 20-30 5-9 Técnico Enfermagem Ensino Médio Não.

E20 F + 60 30-40 5-9 Enfermeiro Pós-

Graduação Não.

E21 M 41-50 10-20 1-4 Técnico Enfermagem Ensino Médio Não

E22 F 51-60 20-30 1-4 Técnico Enfermagem Graduação Sim. A meu ver é reciclagem, utilização de novas

técnicas de esterilização, visando sempre o bem estar e saúde do paciente.

E23 F + 60 20-30 +13 Auxiliar Enfermagem Ensino Médio Sim. Eu acho que é um conjunto de tudo. Assiduidade, setor muito bem lapidado e trabalhado. Com mão de

obra específica.

E24 F 51-60 20-30 5-9 Auxiliar Enfermagem Ensino Médio Não.

Continua...

82

...continuação

Sujeito Sexo Idade Tempo

atuação na Instituição

Tempo atuação

CME

Categoria Profissional

Formação Respostas sobre conhecimento EPS

E25 F + 60 20-30 5-9 Auxiliar Enfermagem Ensino Médio

Sim. A atualização do nosso trabalho e de conhecimentos novos. A medicina, a informática e novas tecnologias e precisamos acompanhar. Não

podemos ficar parados no tempo e no espaço.

E26 F 41-50 20-30 1-4 Técnico Enfermagem Pós-

Graduação Não.

E27 F + 60 30-40 +13 Auxiliar Enfermagem Ensino

Fundamental Não.

E28 F + 60 30-40 1-4 Técnico Enfermagem Graduação Não.

E29 F 41-50 10-20 1-4 Técnico Enfermagem Ensino Médio Não.

E30 M 41-50 10-20 1-4 Auxiliar Enfermagem Pós-

Graduação Não.

E31 M 51-60 10-20 5-9 Auxiliar Enfermagem Ensino Médio Não.

83

Apêndice II. Termo de Consentimento Livre Esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Alcinéa Rodrigues Athanázio / Benedito Cordeiro

Mestranda MPES - EEAAC/UFF / Prof. Dr. Titular do MEP/EEAAC/UFF

alciné[email protected] / [email protected]

Tel.: (21) 98550778. / (21) 2629-9177

Você está sendo convidado a participar da pesquisa intitulada: “Educação

Permanente a Trabalhadores da Central de Material e Esterilização (CME)” que

tem como um dos objetivos analisar como a Educação Permanente pode trabalhar a

qualificação do trabalhador de um CME. Serão direcionadas aos participantes do

estudo quaisquer orientações acerca da temática, garantindo-os informações

pertinentes que serão de grande valia para compreender e desenvolver os seus

depoimentos junto a sua entrevista. As suas respostas serão utilizadas de forma

anônima e confidencial, isto é, em nenhum momento será divulgado o seu nome em

qualquer fase do estudo. Quando for necessário exemplificar determinada situação,

sua privacidade será assegurada por meio de um pseudônimo, que lhe será dado

aleatoriamente. Os dados coletados serão utilizados apenas nesta pesquisa e os

resultados divulgados em eventos e/ou revistas científicas. A sua participação é

voluntária, isto é, a qualquer momento você pode recusar-se a responder qualquer

pergunta ou desistir de participar e retirar seu consentimento. Sua recusa não trará

nenhum prejuízo em sua relação com o pesquisador ou com a instituição que você

desenvolve suas atividades laborais.

Sua participação nesta pesquisa consistirá em responder as perguntas a

serem realizadas sob a forma de questionário, que será gravada em aparelho digital,

com a sua autorização, possibilitando a sua posterior transcrição.

Você não terá nenhum custo ou qualquer compensação financeira. Não

haverá riscos, de qualquer natureza, relacionados à sua participação. O benefício

relacionado à sua participação será de aumentar o conhecimento científico para a

área de enfermagem com foco na Educação Permanente. Você receberá uma cópia

deste Termo onde consta o telefone/e-mail e o endereço do pesquisador

responsável, e demais membros de equipe, podendo tirar suas dúvidas sobre o

projeto e sua participação, agora ou a qualquer momento.

84

Rio de Janeiro, _______ de ________________ de 2014.

Declaro estar ciente do inteiro teor deste TERMO DE CONSENTIMENTO,

estando de acordo em participar do estudo proposto, sabendo que dele poderei

desistir a qualquer momento sem sofrer qualquer tipo de punição ou

constrangimento.

_________________________________ ________________________________

Nome Identidade

Testemunha1

Testemunha2

85

Apêndice III. Instrumento de coleta de dados

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE ESCOLA DE ENFERMAGEM AURORA DE AFONSO COSTA

MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO NA SAÚDE: FORMAÇÃO DOCENTE INTERDISCIPLINAR PARA O SUS

Entrevista com os trabalhadores de Enfermagem do CME para caracterização dos

dados

Identificação para a pesquisa:

--------------------------------------

1 - Sexo

( )Feminino ( )Masculino

2- Idade

( ) 30 a 40 anos

( ) 41 a 50 anos

( ) 51 a 60 anos

( ) Acima de 60 anos

3-Categoria profissional

( ) Enfermeiro

( ) Técnico de Enfermagem

( ) Auxiliar de Enfermagem

4- Formação

( ) Fundamental

( ) Médio

( ) Graduação

( ) Pós- Graduação ( Especialização)

( ) Mestrado

5-Tempo de Trabalho na Universidade Federal Fluminense

( ) 5 a 10 anos

86

( ) 10 a 20 anos

( ) 20 a 30 anos

( ) 30 a 40 anos

( ) acima de 40 anos

6-Tempo de atuação n Centro de Material e Esterilização

( ) 1 a 4 anos

( ) 5 a 9 anos

( ) 9 a 13 anos

( ) Acima de 13 anos

7-Foi opção sua trabalhar no Centro de Material e Esterilização?

( ) Sim ( ) Não

8-Atuação em outro setor da mesma Instituição, além do Centro de Material e

Esterilização?

( ) Sim ( ) Não

9-Você está satisfeito com a função que desempenha no CME?

( ) Sim ( ) Não

10- Existe trabalho em equipe no CME?

( ) Sim ( ) Não

11- Você acha que o trabalho no CME causa estresse?

( ) Sim ( ) Não

SE sua resposta for sim, diga o motivo:

12- Você considera que no seu local de trabalho ocorram ações de Educação

Permanente em Saúde?

( ) Sim ( ) Não

87

Roteiro de Entrevistas

1- Como é estar e a relação de você existir no CME?

2-Como você percebe o trabalho desenvolvido no CME?

3-Você tem oportunidade de apresentar suas ideias ou práticas no cotidiano do

trabalho em CME?

4- Quais os principais problemas vivenciados por você no CME que necessitem de

ações educacionais?

5- Você sabe o que é Educação Permanente em Saúde?

( ) Sim ( ) Não

SE sua resposta for sim, defina, por favor.

6- Gostaria de falar mais alguma coisa?

88

Apêndice IV. Folder

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90

Apêndice V. Cartilha

Serviço Público Federal Ministério da Educação

Universidade Federal Fluminense Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas

Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa (EEAAC) Mestrado Profissional em Ensino na Saúde (MPES)

CONHECENDO A POLÍTICA NACIONAL DE EPS

Orientações sobre a Política de Educação Permanente para o trabalhador do CME

Por Enfª Mestranda Alcinéa R. Athanázio e Profº Dr.Benedito Carlos Cordeiro

Niterói-RJ

Setembro de 2015

91

Caro servidor do Centro de Material e Esterilização,

Esta cartilha tem como principal objetivo fornecer informações sobre a Política de

Educação Permanente em Saúde (EPS) e seu papel para o contexto do trabalho.

Aborda a Educação Permanente em Saúde para os profissionais de enfermagem

que atuam no setor Centro de Material e Esterilização (CME) do Hospital

Universitário Antonio Pedro – UFF – em Niterói-RJ.

Um pouco de história:

Os processos de esterilização surgiram da necessidade de se cuidar

adequadamente dos instrumentais utilizados em procedimentos cirúrgicos.

Inicialmente, estes procedimentos não despertavam interesse para o campo da

Medicina. Estamos falando da era dos pesquisadores Pasteur e Koch. Estes

comprovaram que os micro-organismos eram responsáveis pela transmissão de

doenças aos seres humanos1.

Foto do Hospital Universitário Antônio Pedro – HUAP- Niterói-RJ

92

Os primeiros CME parcialmente centralizados surgiram na década de 1950,

com a implantação dos mesmos nos hospitais brasileiros. Nestes setores a

esterilização da maioria dos materiais hospitalares era realizada, mas o preparo de

alguns destes materiais, como por exemplo, pacotes de curativos, cubas, bandejas,

dentre outros, ainda era realizado pelas unidades consumidoras. E este processo se

dava em ambiente inadequado e por pessoal muitas vezes não qualificado2.

O CME é um dos setores das instituições de saúde que ainda é pouco

valorizado, com baixa visibilidade entre gestores e profissionais, em muitos casos

com inadequação arquitetônica, localização que não atende as demandas e, muitas

vezes, agregado equivocadamente ao Centro Cirúrgico. Em relação ao desempenho

dos profissionais este é traduzido na falta de oferta de capacitações que refletem na

baixa percepção das necessidades de mudanças em seu ambiente laboral.

Nesse sentido, pode ser destacado que no passado os CME não eram vistos

como setores independentes e com autonomia. Os profissionais não tinham

reconhecimento e não eram valorizados em suas funções e o setor responsável pelo

processamento e distribuição de materiais para todo o hospital, inclusive para os

ambulatórios era o Centro Cirúrgico. Tinha-se, neste período, um profissional

enfermeiro responsável para todo o processo. Na atualidade, esse fato não é mais

aceito e as atividades desempenhadas nesse setor são distintas, exigindo-se

habilidades próprias e concernentes3.

Com o avanço das pesquisas em Medicina, com a institucionalização do

paciente e com a organização dos Serviços de Saúde, buscou-se atender às

exigências do preparo dos materiais e da rouparia para os procedimentos cirúrgicos.

Deste modo, foi construído um espaço próprio, em separado, para a realização

dessas atividades. Empreenderam-se esforços para a instalação de equipamentos e

designação de pessoas responsáveis pelas tarefas de limpeza, preparo, e

acondicionamento, controle e distribuição dos materiais. Os CME passaram a

ocupar locais próximos para, assim, garantir o rápido acesso ao material esterilizado.

As mudanças ocorridas no setor CME, foram determinadas pelo avanço da

tecnologia, com o surgimento de instrumentais de difícil complexidade. Assim, houve

a necessidade de um CME mais organizado e que atendesse a estas novas

tecnologias. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) dispõe hoje sobre

requisitos de boas práticas para o processamento de produtos para saúde por meio

da Resolução de Diretoria Colegiada (RDC) nº15, de 15 de março de 2012. – Este

93

Regulamento tem o objetivo de estabelecer os requisitos de boas práticas para o

funcionamento dos serviços que realizam o processamento de produtos para a

saúde visando à segurança do paciente e dos profissionais envolvidos4.

O cenário CME é entendido como unidade ou setor funcional destinado ao

processamento de produtos para saúde dos Serviços de Saúde; representa o

conjunto de elementos destinados à recepção e expurgo, preparo, esterilização,

guarda e distribuição do material para as unidades dos Serviços de Saúde. É a

unidade responsável pelo processamento de todos os materiais utilizados na

assistência à saúde, ou seja, a limpeza, inspeção e seleção no que diz respeito à

integridade, à funcionalidade e ao acondicionamento em embalagens adequadas,

até a distribuição desses produtos esterilizados às unidades consumidoras.

Em relação à planta física para o CME, o Ministério da Saúde do Brasil

recomenda fluxo contínuo, sem retrocesso e sem cruzamento entre artigos limpos e

aqueles contaminados. Portanto, o planejamento desta unidade é de suma

94

importância, considerando-se as diferentes etapas do processamento dos artigos até

sua distribuição às unidades do hospital. Assim, os projetos de Serviços de Saúde

deverão, obrigatoriamente, obedecer às disposições da RDC nº 50 aprovada pela

ANVISA, que normatizou instrumento para elaboração e avaliação dos projetos

físicos adequados às novas tecnologias, na área da saúde. Trata-se de legislação

vigente e, certamente, seu cumprimento traz benefícios aos trabalhadores do CME e

usuários dos serviços de saúde5.

A organização e o funcionamento do CME no Brasil está classificada em:

CLASSE I

É o que realiza o processamento de materiais críticos sem lúmen e sem

espaços internos, de materiais semicríticos e de materiais não críticos, que podem

ser processados em Serviços de Saúde que executam procedimentos estritamente

ambulatoriais.

CLASSE II

É o que realiza processamento de materiais críticos, semicríticos e não

críticos, que podem ser processados em Serviços de Saúde que realizam

procedimentos clínicos e cirúrgicos, diagnósticos ou terapêuticos, em situação de

internação ou semi-internação.

Tendo como foco principal desta unidade o processamento de artigos críticos,

semicríticos e não críticos. O trabalho é organizado seguindo fluxo contínuo,

unidirecional onde os artigos passam por várias etapas.

O fluxograma possibilita a visualização do trabalho desenvolvido no CME.

95

Fonte: GRAZIANO, SILVA e PSALTIKIDIS, 2011.

Assim sendo, o CME é uma unidade independente, que objetiva atender a

todas as demais unidades que necessitam de seu serviço. Os processos para

limpeza, desinfecção e esterilização de materiais foram acompanhando a evolução

das ações em saúde, com a reestruturação no processo de trabalho, além da

criação de mecanismos que propiciem o desenvolvimento de competências dos

trabalhadores da área6.

A inovação em saúde por vezes está próxima, mas não é alçada, dado o

desvalor concedido. A educação permanente (EP) implantada configura-se, então,

como possibilidade para a mudança que acontece no ambiente de trabalho, favorece

o desenvolvimento cognitivo do funcionário, contribui com a qualificação e a

satisfação no trabalho, aumenta o rendimento nas atividades realizadas, cujos

Central de Material e Esterilização

Unidades Consumidoras Unidades Fornecedoras

Recepção de Roupas

Preparo e Acondicionamento

Esterilização

Armazenagem dos Artigos

Processados

Distribuição dos Artigos

Limpeza e

Secagem dos

Artigos

Recepção dos

Artigos Sujos

Recepção de Artigos Limpos

Fluxograma dos produtos médicos processados no CME

96

resultados são visíveis e se desdobram na assistência de qualidade que passa a ser

prestada aos usuários.

O produto gerado pela pesquisa “Educação Permanente a Trabalhadores do

Centro de Material e Esterilização” produziu uma proposta pedagógica de

capacitação que visualiza o trabalhador do CME como sujeitos ativos do processo

ensino-aprendizagem, do fazer em saúde, na lógica da construção social e coletiva

de saberes e práticas, preparando-o para atuar como sujeitos corresponsáveis nos

processos de formação ao longo de sua vida profissional.

Ensinar, neste contexto, exige o reconhecimento do ser condicionado, gosto

de ser gente porque inacabado sei que sou um ser condicionado, mas consciente do

inacabamento, sei que posso ir mais além8.

A prática educativa crítica envolve o movimento dinâmico, dialético, entre o

fazer e o refletir sobre o fazer, e assim, nos aproximamos do pensamento de Paulo

Freire8 e da proposta da Política de Educação Permanente. Estes afirmam que a

reflexão crítica sobre a prática é fundamental no processo de formação e

aprimoramento dos profissionais da saúde, pois é pensando criticamente a prática

de hoje ou de ontem que se pode melhorar o atual e o futuro cotidiano.

A Política de Educação Permanente trabalha a educação em uma lógica

ascendente em que a qualificação dos trabalhadores é pensada a partir de

problemas específicos identificados no contexto do trabalho, fazendo com que os

temas abordados sejam tratados de forma a fazerem sentido para os participantes

envolvidos, considerando as especificidades de cada cenário, o conhecimento e as

experiências anteriores9.

97

Referências:

1. LOPES; S. G. Informativo SOBECC, nº 2, abr/mai/jun. 2014.

2. GRAZIANO, K. U.; SILVA, A.; PSALTIKIDIS, E. M. (Orgs.). Enfermagem em Centro de Material e Esterilização. Barueri, SP: Manole, 2011.

3. SOUZA, M. C. B. O trabalho no centro de material e esterilização. Campinas:

UNICAMPI, 2012. Tese (Doutorado em Enfermagem) – Faculdade de Ciências

Médicas, Universidade Estadual de Campinas, 2012.

4. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. RDC nº

15, de 15 de março de 2012. Diário Oficial da União, Brasília, n. 54, 19 mar. 2012a.

Seção 1.

5. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. RDC nº

50, de 21 de fevereiro de 2002. Aprova o Regulamento técnico para planejamento,

programação, elaboração de projetos físicos de estabelecimentos assistenciais de

saúde. Brasília: Ministério da saúde, 2002.

6. MACHADO, R. R.; GELBECK, F. L. Que brumas impedem a visibilização do centro de material e esterilização? Texto & Contexto Enfermagem, Florianópolis, v. 18, n. 2, p. 347-354, abr./jun. 2009.

7. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação

na Saúde. Departamento de Gestão da Educação na Saúde. Política de educação

e desenvolvimento para o SUS: caminhos para a educação permanente em

saúde: pólos de educação permanente em saúde. Brasília: Ministério da Saúde,

2004.

8. FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa.

São Paulo: Paz e Terra, 2011.

9. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação

na Saúde. Departamento de Gestão da Educação em Saúde. Política Nacional de

Educação Permanente em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2009.

98

Apêndice VI. Projeto de extensão

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE (UFF) ESCOLA DE ENFERMAGEM AURORA DE AFONSO COSTA (EEAAC)

MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO NA SAÚDE (MPES) ESCOLA DE GOVERNANÇA EM GESTÃO PÚBLICA (EGGP)-UFF

PROJETO DE EXTENSÃO

Educação Permanente

Equipe de Profissionais de Enfermagem do Centro de Material e Esterilização (CME)

do Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP)

Propositores: Alcinéa Rodrigues Athanázio1/Benedito Carlos Cordeiro2

Niterói, RJ

2015

1Enfermeira. Mestranda da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa –

EEAAC/UFF - [email protected]

2Farmacêutico. Doutor. Docente da EEAAC/UFF - [email protected]

99

INTRODUÇÃO

O estudo em questão aborda a Educação Permanente em Saúde (EPS) para

os profissionais de enfermagem que atuam no Centro de Material e Esterilização

(CME). Este setor é responsável pela recepção, limpeza, preparo, esterilização e

distribuição de todos os materiais utilizados na assistência à saúde aos pacientes.

O setor CME desempenha papel fundamental na qualidade do processo

assistencial, além de destacar a relevância do processamento do material para a

segurança do usuário do Sistema Único de Saúde (SUS) frente à infecção

hospitalar. Contudo, nos estabelecimentos de saúde, frequentemente, conta com

número insuficiente de funcionários e a qualificação para os profissionais deste setor

não é prioridade para os gestores.

Cabe ressaltar que este setor se torna um espaço esquecido pelos gestores,

ao considerar que são encaminhados profissionais de enfermagem para lotação no

CME com transtornos emocionais já diagnosticados, com idades avançadas,

readaptados, em pré-aposentadoria ou por inadequação de relacionamento em

diferentes áreas da assistência.

Com isso, o CME destina-se a receber profissionais com algum problema de

saúde, ou em fim de carreira, o que reforça a visão de espaço de armazenamento

de pessoas doentes, cansadas, desmotivadas e com reduzidas demandas de

trabalho. O CME se configura, deste modo, como a última possibilidade de

adaptação profissional.

Sendo assim, observa-se a cultura organizacional no que tange a alocação de

recursos humanos no CME. Necessita-se de um novo olhar para a gestão de

pessoas, tanto no quantitativo, quanto nas potencialidades e na saúde do

trabalhador. O importante é desnaturalizar a concepção vigente e encontrar meios

de inovação.

A inovação por vezes está perto dos olhos, contudo não se vê. A educação

permanente implantada configura-se como possibilidade para a mudança que

acontece no ambiente de trabalho, favorece o desenvolvimento cognitivo do

funcionário, contribui com a qualificação e a satisfação no trabalho, aumenta o

rendimento nas atividades realizadas e os resultados são visíveis na assistência

prestada.

Segundo Graziano, Silva e Psaltikidis (2011) em diversas instituições

hospitalares a unidade CME, sofre grande transição. Até bem pouco tempo ela

100

funcionava como uma extensão do centro cirúrgico, com atividades quase que

restrita na esterilização dos materiais usados nas cirurgias. Com a revolução

industrial e o avanço das tecnologias este espaço passa por grandes

transformações em suas atividades, já que lida com o invisível, o risco biológico.

Estas novas demandas transforma o trabalho em ação complexa e diferente da

realizada até então, aquela que uma vez aprendida não se tinha dificuldade de

cumprir, bastava repetir e reproduzir.

Objetivo geral

Reunir conteúdos e informações técnicas pertinentes aos

protocolos e rotinas de trabalho, junto aos profissionais que compõem a

equipe de enfermagem do setor CME sob o enfoque operacional, gerencial e

conceitual.

Objetivos específicos

Adequar a qualidade dos serviços, mediante um processo

educativo permanente e comprometido com a prática do trabalho;

Propiciar a resolutividade das ações frente aos problemas

prevalentes;

Fortalecer o processo de trabalho da equipe e as relações

interpessoais;

Estabelecer o compromisso com a saúde da própria equipe.

Temas de interesse

Os temas de interesse foram levantados através das queixas da própria

equipe de Enfermagem. Porém, tais temas e demandas, não se restringem apenas

aos profissionais da enfermagem, mas envolvem todo o hospital já que o trabalho

produzido no CME é de grande relevância para toda a instituição de saúde,

colaborando com os serviços de assistência e de diagnósticos, com a

responsabilidade do processamento de materiais.

-Autoconscientização como ferramenta de cuidado: o cuidado de si;

-Promoção da saúde mental da equipe;

-Trabalho em equipe;

101

-Curando feridas;

-Classificação dos produtos para saúde;

-Conceitos básicos de microbiologia;

-Transporte dos produtos contaminados;

-Processo de limpeza, desinfecção, preparo, inspeção, acondicionamento,

embalagens, esterilização, funcionamento dos equipamentos existentes;

-Monitoramento de processos por indicadores químicos, biológicos e físicos;

-Rastreabilidade, armazenamento e distribuição dos produtos para saúde;

-Manutenção da esterilidade do produto.

Numero de participantes e categoria profissional

Categoria Quantidade

Enfermeiro 04

Técnico em Enfermagem 25

Auxiliar de Enfermagem 23

Total 52

Instituições Envolvidas

Estarão participando deste Projeto de Extensão de Educação Permanente em

Saúde:

PROPPI- Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação-

UFF;

PROGEPE- Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas-UFF;

EEAAC- Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa--UFF;

EGGP- Escola de Governança em Gestão Pública da UFF;

HUAP- Hospital Universitário Antonio Pedro

Metodologia

Ao vislumbrar este contexto sócio-educacional relacionado à área da saúde,

percebe-se que currículos que utilizarem novas metodologias de ensino

aprendizagem como a Metodologia da Problematização ou a Aprendizagem

Baseada em Problemas emergem como estratégia pedagógica de possível eficácia

102

por propiciar uma articulação e aproximação do ensino com a realidade vivida nos

serviços de saúde.

O habilitar-se tecnicamente significa não apenas identificar problemas, mas,

também, apontar propostas de superação dos mesmos, avançando para além de um

olhar curioso, do tipo senso comum, e ganhando status de um ato técnico

contextualizado. Em relação à Metodologia da Problematização revela-se como

estratégia inovadora na área educacional, seja como método de estudo ou de

ensino, tendo como fundamento o pensamento freireano.

Ainda, percebe-se a importância da problematização como estratégia

pedagógica para o educar/cuidar em Enfermagem, pois contribui para a formação de

educandos mais críticos e reflexivos, que possam construir o conhecimento em

parceria com os educadores, tendo como finalidade um olhar inovador e

transformador das situações de saúde-doença e seus respectivos cuidados que

fazem parte da realidade vivida.

A aquisição de conhecimentos, normas, legislação, uma habilidade, um

treinamento prático, adquirir conhecimentos que exigem formulação, análise ou

reflexões mais complexas, metodologias problematizadoras serão

mais apropriadas. Mitre, et al, (2008) se refere a metodologia como a que possibilita

a articulação entre o ensino e o serviço, viabilizando uma leitura e intervenção sobre

a realidade, valoriza os atores no processo de construção coletiva nos diversos

conhecimentos e promove a liberdade no processo de pensar.

Contexto

O Projeto de Extensão será realizado na unidade CME do HUAP, localizado

no centro do município de Niterói, ele atende a população da zona Metropolitana II,

onde estão incluídas além de Niterói, as cidades de Itaboraí, Maricá, Rio Bonito, São

Gonçalo, Silva Jardim e Tanguá. Compreendendo uma população estimada em mais

de dois milhões de habitantes e parte da população da cidade do Rio de Janeiro

devido a sua proximidade.

O HUAP é a maior e mais complexa unidade de saúde da região

metropolitana e considerado pelo Sistema Único de Saúde (SUS), como hospital de

nível terciário e quaternário (MEC- UFF, 2008).

O HUAP atende toda área da região metropolitana II e também fora da

abrangência algumas especialidades. As áreas de atendimento de alta

103

complexidade incluem as grandes cirurgias cardíacas, as vasculares, ortopedias,

além dos transplantes renais e neurocirurgias. A cardiologia com o setor de

hemodinâmica e o hospital universitário é referência também em oncologia. O setor

de emergência é aberto a todos os casos e funciona de forma referenciada e

regulada.

Atualmente o hospital possui 221 leitos para internação ativos, uma média de

mais de 350 cirurgias por mês incluindo eletivas e de urgência, aproximadamente

10.500 atendimentos de consulta ambulatoriais e os atendimentos realizados nos

setores de broncoscopia, endoscopia, setor de hemodinâmica, banco de leite, na

esterilização de vidros para armazenamento do leite e todo o serviço de radiologia

não foram contabilizados. Demandando grande quantidade de materiais

esterilizados disponibilizados pelo CME. Portanto trata–se de um hospital que realiza

um grande número de procedimentos cirúrgicos e diagnósticos, com uma produção

grande no processamento de materiais e também dá suporte na área de

esterilização aos hospitais da Prefeitura Municipal e Estadual frequentemente.

O desenvolvimento desse estudo é importante porque ele visa corresponder

uma das exigências da agenda do Ministério da Saúde (MS), conforme

Portaria Ministerial GM/MS N°1996/2007 da Política de EPS.

Promover a formação institucional de servidores públicos através da EGGP.

A EPS deve ter como fundamento o processo pedagógico que contemple

desde a aquisição e atualização de conhecimentos e habilidades até o aprendizado

que parte dos problemas e desafios enfrentados no processo de trabalho, com

envolvimento das práticas que possam ser determinadas por vários fatores, tais

como: conhecimento, valores, relação de poder, planejamento e organização do

trabalho dentre outras (Brasil, 2012).

Nessa conjuntura, emerge o Projeto de Extensão que surgiu como um dos

produtos de pesquisa do Mestrado Profissional em Ensino na Saúde, baseado no

cotidiano a partir da prática enquanto profissional, que possibilitou a percepção do

nítido enfrentamento dos funcionários no CME frente as novas tecnologias no

desenvolvimento de suas atividades laborais.

E a consolidação se fará com a contribuição da EGGP-UFF, recentemente

criada. A EGGP é uma iniciativa da Reitoria da UFF através da Pró-Reitoria de

Gestão de Pessoas (PROGEPE) e tem como objetivo geral promover a formação de

servidores técnico-administrativos e docentes de forma continuada através da

104

Educação Permanente. Ele faz parte da política geral da atual administração na

valorização ao servidor e acredita que mais do que uma parte da máquina

administrativa, o servidor é e deve ser valorizado como um parceiro no processo da

gestão da universidade.

Sendo assim, os fatores estão interligados à dinâmica de organização do

trabalho, na qual destaca-se: fragmentação de tarefas, trabalho repetitivo e

exposição aos riscos físicos, químicos, biológicos, ergonômicos e psicossociais, a

inadequação arquitetônica, relacionamento interpessoal, falta de valorização

pessoal, condições de trabalho melhores, limitações físicas, estilo de supervisão

autoritário e arbitrário, descrédito na instituição levando a desmotivação.

Gauthier e Hirata (2001) reforçam a importância da “ação dialógica”, teorizada

por Freire (2005), que caracteriza uma ação cultural norteada pelos quatro

princípios, a saber, descritos: a) colaboração: Os sujeitos se encontram

para a transformação do mundo em colaboração. O importante é que os

saberes das pessoas são colocados em diálogo, possibilitando que cada uma

aprenda com a outra, sem nenhuma hierarquia; b) união para a libertação: esse

princípio prediz a unificação com o Eu; a desmistificação da realidade; a não divisão

entre conhecimento, afeto e agir; a solidariedade de classe; e a descoberta de si

como sujeito singular; c) organização: refere-se a organizar com coerência, ousadia,

radicalização, valentia de amar, crença, clareza das condições, adesão ao grupo por

simpatia; e d) síntese cultural: prediz a dialética permanência-mudança, Investigação

temática, Problematização, Teoria da ação educativa.

Critério de inclusão

Os participantes da pesquisa serão os trabalhadores da saúde do CME/HUAP

que fazem parte do quadro efetivo da instituição dos serviços diurno e noturno, como

enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, que atuam na unidade e que

aceitarem participar do Projeto de Extensão, também os trabalhadores do quadro

temporário por entender que serão multiplicadores do conhecimento.

Critério de exclusão

Como critério de exclusão do estudo os trabalhadores que estiverem de

licença médica, usufruindo de férias, e os que não desejarem participar do Projeto

de Extensão.

105

Benefícios

Ao multiplicar os conhecimentos, mediante um processo educativo

permanente e comprometido com a prática do trabalho ocorrerá o fortalecimento, a

valorização e mais visibilidade da unidade. Destacando que a educação permanente

se configura como uma das possibilidades para esta mudança, passando a

acontecer neste ambiente de trabalho, favorecendo o desenvolvimento do

trabalhador, contribuindo com o seu potencial, na satisfação no trabalho, com

rendimento em suas atividades e com melhores resultados para assistência

prestada, com melhor qualidade dos serviços.

Os resultados ficarão armazenados em um diário de campo do propositor do

Projeto de Extensão, cujos conteúdos serão posteriormente elencados e poderão

emergir como parte dos resultados a produção de um artigo de relato de

experiência.

Desfecho primário

Multiplicação dos conhecimentos relacionados as atividades desenvolvidas

na unidade CME do HUAP/UFF.

Desfecho secundário

Melhora da qualidade dos serviços, mediante um processo educativo

permanente e comprometido com a prática do trabalho; aumento da resolutividade

das ações frente aos problemas prevalentes; fortalecimento do processo de trabalho

da equipe; fortalecimento do compromisso com a saúde da própria equipe, assim

como os serviços que dependem desta unidade.

Cronograma e Carga horária total do Projeto de Extensão

O cronograma e a carga horária do projeto serão elaborados após a reunião

com a coordenação da EGGP, direção, gerência e coordenação do serviço de

Enfermagem do HUAP e os profissionais de enfermagem lotados no CME.

Recursos necessários

Computador, Datashow, Impressão de material didático.

106

Referências

BRASIL. Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012. Normas para pesquisa envolvendo seres humanos. Diário Oficial da União, Brasília, n. 12, 13 jun. 2013a. Seção 59.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. Departamento de Gestão da Educação em Saúde. Política Nacional de Educação Permanente em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2009.

FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2011.

GRAZIANO, K. U.; SILVA, A.; PSALTIKIDIS, E. M. (Orgs.). Enfermagem em Centro de Material e Esterilização. Barueri, SP: Manole, 2011.

GAUTHIER, J.; HIRATA, M. A. A Enfermeira como educadora. In: SANTOS, I. (Org.). Enfermagem Fundamental – Realidade, Questões e Soluções. Rio de Janeiro: Atheneu, 2001. p.123-141.

MITRE, S. et al. Metodologias ativas de ensino-aprendizagem na formação profissional em saúde: debates atuais. Ciência & Saúde Coletiva, v. 13, Sup. 2, p. 2133-2144, dez. 2008.

107

ANEXOS

Anexo I. Parecer consubstanciado do CEP

108

109

110

Anexo II. Declaração de autorização para pesquisa