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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
ESCOLA DE ENFERMAGEM AURORA DE AFONSO COSTA
MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO NA SAÚDE
ALCINÉA RODRIGUES ATHANÁZIO
EDUCAÇÃO PERMANENTE A TRABALHADORES DO CENTRO DE MATERIAL E
ESTERILIZAÇÃO: UMA CONTRIBUIÇÃO DA ENFERMAGEM
NITERÓI
2015
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
ESCOLA DE ENFERMAGEM AURORA DE AFONSO COSTA
MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO NA SAÚDE
ALCINÉA RODRIGUES ATHANÁZIO
EDUCAÇÃO PERMANENTE A TRABALHADORES DO CENTRO DE MATERIAL E
ESTERILIZAÇÃO: UMA CONTRIBUIÇÃO DA ENFERMAGEM
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação do Mestrado Profissional de Ensino na Saúde: Formação Docente Interdisciplinar para o SUS, da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Ensino na Saúde.
Linha de Pesquisa: Educação Permanente no SUS
Orientador: Dr. Benedito Carlos Cordeiro
NITERÓI
2015
A 865 Athanázio, Alcinéa Rodrigues.
Educação permanente a trabalhadores do Centro de Material e Esterilização: uma contribuição da enfermagem. / Alcinéa Rodrigues Athanázio. – Niterói: [s.n.], 2015.
114f.
Dissertação (Mestrado Profissional de Ensino na Saúde) - Universidade Federal Fluminense, 2015.
Orientador: Profº. Benedito Carlos Cordeiro.
1. Educação em Saúde. 2. Enfermagem. 3. Esterilização. I. Título.
CDD 610.7307
ALCINÉA RODRIGUES ATHANÁZIO
EDUCAÇÃO PERMANENTE A TRABALHADORES DO CENTRO DE MATERIAL E
ESTERILIZAÇÃO: UMA CONTRIBUIÇÃO DA ENFERMAGEM
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação do Mestrado Profissional de Ensino na Saúde: Formação Docente Interdisciplinar para o SUS, da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Ensino na Saúde.
Linha de Pesquisa: Educação Permanente no SUS
BANCA EXAMINADORA
___________________________________________________________________ Presidente: Prof. Dr. Benedito Carlos Cordeiro – Orientador
UFF
___________________________________________________________________ 1ª Examinadora: Profa. Dra. Ann Mary Machado Tinoco Feitosa Rosas
UFRJ
___________________________________________________________________ 2ª Examinadora: Profa. Dra. Miriam Marinho Chrizostimo
UFF
___________________________________________________________________ Suplente: Profa. Dra. Virgínia Farias Damázio Dutra
UFRJ
___________________________________________________________________ Suplente: Profa. Dra. Donizete Vago Daher
UFF
NITERÓI
2015
DEDICATÓRIA
Às minhas filhas Tatiana e Camila pela
paciência e compreensão.
Aos colegas do Centro de Material e
Esterilização que contribuíram para a
realização desse trabalho.
AGRADECIMENTOS
A Deus, pela oportunidade que me deu de retornar aos estudos e
compartilhar com novas pessoas, pela felicidade que se intensificou
em minha vida com os novos conhecimentos adquiridos e pela
motivação em continuar;
Às minhas irmãs, no auxílio, dividindo o cuidado com as minhas
filhas, para que eu chegasse até aqui;
A todos os colegas pelo incentivo e força;
Aos professores do Mestrado Profissional em Ensino na Saúde
(MPES), que foram incansáveis no percurso da nossa caminhada.
Sempre dedicados, atenciosos e com muito carinho para com todos;
À professora doutoranda Deise, pela atenção, e palavras de
encorajamento;
Às professoras doutoras Miriam e Ann Mary por aceitarem participar
da banca de qualificação e de defesa da dissertação; pelas
contribuições e pelo carinho;
A todos os colegas do MPES, pela amizade, carinho e incentivo;
Aos enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem do Hospital
Universitário Antônio Pedro (HUAP), que contribuíram com palavras
de ânimo e carinho para o meu caminhar;
A todos da secretaria do MPES, sempre atenciosos e solícitos;
Ao meu orientador, pela paciência, ensinamentos e por ter
acreditado e confiado que eu iria conseguir finalizar essa etapa;
A todos que, de alguma forma, contribuíram para que eu chegasse
até aqui.
Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas. Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do vôo.
Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser.
Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o vôo. Escolas que são asas não amam pássaros
engaiolados. O que elas amam são pássaros em vôo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o vôo, isso elas não
podem fazer, porque o vôo já nasce dentro dos pássaros. O vôo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado.
Rubem Alves
RESUMO
O objeto de estudo desta pesquisa se constitui na Educação Permanente em Saúde (EPS) como ferramenta para qualificação dos profissionais de enfermagem do Centro de Material e Esterilização (CME). A pesquisa emerge do cotidiano a partir da prática enquanto profissional, o que possibilitou a percepção do nítido enfrentamento dos funcionários no CME frente às novas tecnologias no desenvolvimento de suas atividades laborais. Objetivo: analisar a EPS como ferramenta na qualificação dos profissionais de enfermagem do CME. Método: Utilizou-se estudo de natureza exploratória descritiva, com abordagem qualitativa, através do trabalho de campo com entrevistas semiestruturadas. A fim de contribuir com as reflexões, foi construído um referencial teórico baseado nos temas: o contexto e importância do CME; educação permanente e; a Política Nacional de Educação Permanente como contribuição para o trabalho dos profissionais do CME. O referencial teórico-metodológico foi o pensamento de Paulo Freire e sua contribuição com a pedagogia crítica e abordagem da Política Nacional de Educação Permanente em Saúde para os trabalhadores do CME. Foi realizado no CME de um hospital público de grande porte situado no município de Niterói/RJ. A amostra foi composta por 31 profissionais da saúde entre enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, que fazem parte do quadro efetivo da instituição dos serviços diurno e noturno, atuam no CME e aceitaram participar da pesquisa. A coleta de dados ocorreu no período de setembro a novembro de 2014, quando foram realizadas as entrevistas. A pesquisa foi encaminhada e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa, da Faculdade de Medicina da UFF, sob o nº CAEE: 33739114.9.0000.5243, parecer consubstanciado nº 777.581. Os dados coletados foram baseados pela proposta de análise de conteúdo conforme o método de Bardin. Resultados: Na análise encontramos três categorias: A pluralidade de percepções sobre Educação Permanente em Saúde: ensino-aprendizagem constante, reciclagem, criação de cursos, educação continuada, capacitação; A inter-relação entre EPS e saúde do trabalhador do CME e A necessária implementação da EPS no CME: em busca da resolutividade e excelência no trabalho. Todo o estudo permeou questões referentes à EPS. O conceito de EPS apresentado pelos trabalhadores revela o desconhecimento de uma prática relevante no atual e futuro cotidiano. Os profissionais aguardam, com expectativa, que o cotidiano de suas práticas seja aperfeiçoado, que um novo olhar seja direcionado para eles, eles têm experiências que precisam ser partilhadas; a maioria, apesar das atividades complexas, está satisfeita com o trabalho que desempenha. Como produtos da pesquisa foram criados: um folder sobre o processo de trabalho no CME para as unidades consumidoras, como forma de contribuir com a visibilidade e a valorização da unidade; uma cartilha com orientações sobre a política de EPS para os trabalhadores do CME e um projeto de extensão para posterior implantação.
Descritores: Enfermagem, Esterilização, Educação em Saúde.
ABSTRACT
The study object of this research constitutes the Permanent Health Education (PHE) as a tool in the training of nursing professionals in the Material and Sterilization Center (MSC). The research emerges from the everyday practice as a professional, which allowed the perception of sharp confrontation of employees in MSC forward new technologies in the development of their work activities. Aim: to analyze the PHE as a tool in the training of the MSC nurses. Method: We used descriptive exploratory study with a qualitative approach, through field work with semi-structured interviews. In order to contribute to the reflections, it built a theoretical framework based on the themes: the context and importance of the MSC; permanent education; the Permanent Education National Policy as a contribution in the work of MSC professionals. The theoretical framework was the thought of Paulo Freire and his contribution to critical pedagogy and approach of the Permanent Education National Policy for the MSC workers. This study was CME was conducted at the CME of a large public hospital located in Niterói/RJ. The sample consisted of 31 health professionals including nurses, technicians and nursing assistants, who are part of the permanent staff of the institution of the day and night services, operating in MSC and agreed to participate. Data collection occurred from September to November 2014, when the interviews were conducted. The research was forwarded and approved by the Research Ethics Committee of the Faculty of Medicine of UFF, under no CAEE: 33739114.9.0000.5243, seem embodied No. 777,581. The collected data were treated by the proposed Bardin content analysis. Results: In the analysis we find three categories: A plurality of perceptions of PHE: constant teaching and learning, recycling, creation of courses, continuing education, training; The interrelationship between PHE and health of the MSC worker; the necessary implementation of the PHE in MSC: searching for problem solving and excellence at work. All the study permeated issues relating to PHE. The PHE concept presented by workers reveals the lack of a relevant practice in the current and future everyday. Professionals are waiting, expectantly, that their everyday practice be improved, a new look be directed to them, they have experiences that need to be shared; most, despite complex activities, is pleased with the work that plays. As research products were created: one folder on the working process at the MSC for consumer units, in order to contribute to the visibility and appreciation of the unit; a booklet with guidance on PHE policy for MSC workers and an extension project for later deployment.
Descriptors: Nursing, Sterilization, Health Education.
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
AC Análise de conteúdo
ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária
BDENF Base de Dados de Enfermagem
BVS Biblioteca Virtual em Saúde
CC Centro Cirúrgico
CCIH Comissão de Controle de Infecção Hospitalar
CEP Comitê de Ética em Pesquisa
CIES Comissões de Integração Ensino Serviço
CME Centro de Material e Esterilização
CNS Conselho Nacional de Saúde
CPPS Comitê de Processamento de Produtos para Saúde
DCN Diretrizes Curriculares Nacionais
EEAAC Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa
EGGP Escola de Governança em Gestão Pública
EP Educação Permanente
EPI Equipamento de Proteção Individual
EPS Educação Permanente em Saúde
IH Infecção Hospitalar
HUAP Hospital Universitário Antônio Pedro
LILACS Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde
MEC Ministério da Educação e Cultura
MS Ministério da Saúde
MPES Mestrado Profissional em Ensino na Saúde
OPAS Organização Pan-Americana de Saúde
PEPS Polos de Capacitação de Educação Permanente em Saúde
PNEPS Política Nacional de Educação Permanente em Saúde
RDC Resolução de Diretoria Colegiada
RPA Recuperação Pós-anestésica
SOBECC Sociedade Brasileira de Enfermeiros de Centro Cirúrgico
SUS Sistema Único de Saúde
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
UC Unidades Consumidoras
UFF Universidade Federal Fluminense
UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
LISTA DE TABELAS E QUADROS
Figura 1 Fluxograma dos produtos médicos processados no Centro de Material e Esterilização. Niterói, RJ, 2015
21
Figura 2 Mapa das áreas da região Metropolitana II do estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2015
44
Figura 3 Impressões dos trabalhadores do Centro de Material e Esterilização sobre o processo de trabalho no setor. Niterói, RJ, 2015 (n=31)
54
Figura 4 Representação das falas dos participantes da pesquisa, por meio de recurso gráfico de computação nuvem de palavras. Niterói, RJ, 2015 (n=31)
55
Quadro 1 Etapas do processo de trabalho do Centro de Material e Esterilização. Niterói, RJ, 2015
23
Quadro 2 Etapas da técnica de Análise de Conteúdo proposta por Bardin. Niterói, RJ, 2015
47
Quadro 3 Perfil dos trabalhadores do Centro de Material e Esterilização, participantes da pesquisa. Niterói, RJ, 2015 (n=31)
49
Quadro 4 Conhecimento dos trabalhadores do Centro de Material e Esterilização sobre educação permanente em saúde. Niterói, RJ, 2015 (n=31)
52
Quadro 5 Impressões dos trabalhadores do Centro de Material e Esterilização sobre o processo de trabalho no setor. Niterói, RJ, 2015 (n=31)
53
SUMÁRIO
RESUMO vi
ABSTRACT vii
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS viii
LISTA DE TABELAS E QUADROS ix
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS 10
1.1 Objetivo geral 12
1.2 Objetivos específicos 12
1.3 Justificativa 13
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 18
2.1 O contexto e importância do Centro de Material e Esterilização 18
2.2 A Educação Permanente e a Política Nacional de Educação Permanente como contribuição para o trabalho dos profissionais do Centro de Material e Esterilização
27
3 REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO 34
3.1 Pensamento Paulo Freire 34
3.2 A contribuição de Paulo Freire com a pedagogia crítica na abordagem da Política Nacional de Educação Permanente em Saúde para os trabalhadores do Centro de Material e Esterilização
38
4 METODOLOGIA 41
4.1 Tipo de estudo 41
4.2 Aspectos éticos da pesquisa 42
4.3 Campo/cenário 42
4.4 Participantes 45
4.5 Coleta de dados 45
4.6 Análise e interpretação dos dados 46
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO 49
5.1 A relevância da concepção de trabalho no CME e sua representação gráfica
55
5.1.1 Categoria 1. A pluralidade de percepções sobre EPS: ensino-
aprendizagem constante, reciclagem, criação de cursos, educação continuada, capacitação
58
5.1.2 Categoria 2. A inter-relação entre EPS e saúde do trabalhador do
CME 62
5.1.3 Categoria 3. A necessária implementação da EPS no CME: em
busca da resolutividade e excelência no trabalho 66
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 70
7 PRODUTO DA PESQUISA 74
APÊNDICES 80
Apêndice I. Quadro da caracterização dos participantes e respostas sobre o conhecimento de EPS.
80
Apêndice II. Termo de Consentimento Livre Esclarecido 83
Apêndice III. Instrumento de coleta de dados 85
Apêndice IV. Folder 88
Apêndice V. Cartilha 90
Apêndice VI. Projeto de extensão 98
ANEXOS 107
Anexo I. Parecer consubstanciado do CEP 107
Anexo II. Declaração de autorização para pesquisa 110
10
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O estudo em questão aborda a educação permanente em saúde (EPS) para
os profissionais de enfermagem que atuam no setor Centro de Material e
Esterilização, (CME). Este setor é responsável pela recepção, limpeza, preparo,
esterilização e distribuição de todos os materiais utilizados na assistência à saúde
aos pacientes, constituindo-se em um setor de grande importância para os serviços
de saúde.
O CME desempenha papel fundamental na qualidade do processo
assistencial. Contudo, nos serviços de saúde, frequentemente, conta com número
insuficiente de funcionários e a qualificação para os profissionais deste setor não é
prioridade para os gestores.
Cabe ressaltar que este setor se torna um espaço esquecido pelos gestores,
ao considerar que são encaminhados profissionais de enfermagem para lotação no
CME com transtornos emocionais já diagnosticados, com idades avançadas,
readaptados, em pré-aposentadoria ou por inadequação de relacionamento em
diferentes áreas da assistência.
Com isso, o CME destina-se a receber profissionais com algum problema de
saúde, ou em fim de carreira, o que reforça a visão de espaço de armazenamento
de pessoas doentes, cansadas, desmotivadas e com reduzidas demandas de
trabalho. O CME se configura, deste modo, como a última possibilidade de
adaptação profissional.
Sendo assim, observa-se que o contexto do CME traz conflitos entre a
situação de vida experimentada pelos funcionários e o trabalho a ser desenvolvido
por eles. Pois, esta circunstância ocasiona enfrentamento entre os funcionários e o
processamento de materiais que atualmente se faz com novas tecnologias.
Enfatiza-se que as atuais dificuldades existentes relacionadas à área de
recursos humanos na prática, compromete o funcionamento operacional do CME. O
quantitativo reduzido, para dar conta de complexas demandas, e a limitação no
potencial laboral dos funcionários afetam, principalmente, a dinâmica do serviço de
enfermagem, já que, nos diferentes serviços de saúde do Brasil, as ações são
realizadas majoritariamente por profissionais de enfermagem.
Dessa forma, observa-se a cultura organizacional singular no que tange à
alocação de recursos humanos no CME. Necessita-se de um novo olhar para a
11
gestão de pessoas, tanto no quantitativo, quanto nas potencialidades e na saúde do
trabalhador. O importante é desnaturalizar a concepção vigente e encontrar meios
de inovação atendendo as novas demandas de saúde.
A inovação, por vezes, está próxima dos olhos, contudo é pouco visualizada.
Nessa perspectiva, a educação permanente (EP) configura-se como possibilidade
para a mudança no ambiente de trabalho, podendo favorecer o desenvolvimento
cognitivo do funcionário, contribuir com a qualificação e a satisfação no trabalho e
aumentar o rendimento nas atividades realizadas, cujos resultados são visíveis na
assistência prestada.
A proposta pedagógica considerada nesta pesquisa privilegia a capacitação
pela EP, que visualiza os funcionários como sujeitos do processo de ensino-
aprendizagem na construção social de saberes e práticas, preparando-os para atuar
como sujeitos corresponsáveis nos processos de formação ao longo de sua vida
profissional. A capacitação incidirá sobre o processo de trabalho, e de preferência,
no âmbito de suas atividades laborais (BRASIL, 2004).
Nessa conjuntura, a pesquisa emerge do cotidiano, a partir da prática da
pesquisadora enquanto profissional, o que possibilitou a percepção do nítido
enfrentamento dos funcionários no CME frente às novas tecnologias no
desenvolvimento de suas atividades laborais. Há a sobrecarga de trabalho, a
dificuldade de organização, a repercussão da qualidade da assistência e o cuidado
prestado.
A EP deve ter como fundamento o processo pedagógico que contemple as
etapas de aquisição e atualização de conhecimentos e habilidades até o
aprendizado que parte dos problemas e desafios enfrentados no processo de
trabalho, com envolvimento das práticas que possam ser determinadas por vários
fatores, tais como: conhecimento, valores, relação de poder, planejamento e
organização do trabalho (BRASIL, 2012b).
O desenvolvimento tecnológico e o processo técnico se desenvolvem num
contexto globalizado, em que a velocidade inusitada é absolutamente necessária,
uma vez que os conhecimentos, as habilidades e as destrezas hoje adquiridas serão
ultrapassados rapidamente (BRASIL, 2004).
Ante ao problema de estudo exposto, questiona-se: como a EP pode ser
pensada como possibilidade ou espaço para trabalhar a qualificação do trabalhador
de enfermagem lotado no CME?
12
Assume-se, nesta pesquisa, que a EPS, se apresenta como enfoque
educacional reconhecido, apropriado para produzir as transformações nas práticas e
nos contextos de trabalho que fortalece a reflexão das ações oriundas do trabalho
em equipe, e da capacidade de gestão sobre os próprios processos locais. A EPS é,
portanto, um processo de ensino e aprendizagem da prática pela prática.
Esta proposta de ação estratégica é capaz de contribuir para a transformação
dos processos formativos das práticas pedagógicas e de saúde para a organização
dos serviços, com o empreendimento do trabalho articulado entre o sistema de
saúde e de várias esferas de gestão com as instituições formadoras (BRASIL, 2004).
A EP aos trabalhadores da saúde, neste sentido, pode ser compreendida
como um dispositivo para a transformação na área de saúde, para que eles próprios,
usuários e cidadãos possam assumir o controle sobre os fatores pessoais,
socioeconômicos e ambientais que afetam o setor.
Diante desse quadro, o objeto de estudo desta pesquisa se constitui na EPS
como ferramenta na qualificação dos profissionais de enfermagem do CME; e como
questão que norteia essa pesquisa, apresenta-se: que ações podem ser realizadas
para que a EPS aconteça no ambiente de trabalho do CME?
Nessa esteira, apresentam-se, a seguir, os objetivos da pesquisa:
1.1 Objetivo geral
Analisar a EPS como ferramenta na qualificação do profissional de
enfermagem do CME.
1.2 Objetivos específicos
Descrever o perfil e conhecimento dos trabalhadores do CME sobre EPS;
Discutir a percepção do profissional de enfermagem do CME sobre EPS;
Identificar que fatores contribuem para que não ocorra a EPS no CME.
13
1.3 Justificativa
O presente estudo foi realizado em uma unidade de CME de um hospital
público de grande porte situado no município do Rio de Janeiro.
O desenvolvimento desse estudo é importante porque ele atende uma das
exigências da agenda do Ministério da Saúde (MS), que se relaciona com a
ausência de processos de EPS em CME. A realização deste trabalho se justifica,
também, por esse tema se tratar de um problema que envolve a experiência e
vivência da pesquisadora no âmbito do trabalho neste setor.
Atuei no Centro Cirúrgico (CC) do referido hospital por vários anos como
funcionária do quadro permanente da instituição na categoria de auxiliar de
enfermagem. Já possuía o curso técnico de enfermagem e o curso técnico de
enfermagem do trabalho, mas o concurso para o qual pleiteava vaga era para
auxiliar de enfermagem.
Algum tempo depois terminei a minha graduação em enfermagem após
realizar um curso oferecido pela instituição como forma de capacitação de
funcionários e estratégia de aumento salarial. Estratégia essa que não seria
necessária, já que o aprimoramento científico adquirido me motivou na busca a
novos conhecimentos relacionados à prática profissional.
Conhecendo bem a dinâmica do CC, do setor de Recuperação Pós-
anestésica (RPA) e CME, esta última alocada no mesmo ambiente cirúrgico, fui,
junto com outros funcionários, convidada a trabalhar no CME do hospital, quando da
desvinculação desses dois setores, em razão da exigência da Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (ANVISA).
Com espaço físico próprio e independente, o CME só faltava se adequar a
resolução atual que dispõe sobre requisitos de boas práticas para o processamento
de produtos para saúde por meio da Resolução de Diretoria Colegiada (RDC) nº 15,
de 15 de março de 2012 (BRASIL, 2012a).
O setor carecia de profissionais habilitados no processamento de materiais,
principalmente nas atividades relacionadas aos instrumentais cirúrgicos, que se
apresentavam em maior número, aos complexos e aos de alto custo, nas diferentes
especialidades. Deveria haver controle para que não houvesse dispersão dos
materiais, que até então estavam sob a responsabilidade do CC.
14
Ouvia falar do setor CME e suas especificidades, mas não imaginava a
complexidade, a falta de visibilidade de gestores e os processos que envolviam as
unidades consumidoras (UC) dos materiais. A fragilidade e situação precária dos
processos de trabalho dos funcionários ali lotados foram se tornando cada vez mais
visíveis. Havia constantes atritos no cotidiano relacionados ao processamento de
materiais. Sem mencionar, também, a inadequação do ambiente que muito se
distanciava dos projetos arquitetônicos preconizados na legislação pertinente,
mesmo contendo espaço físico próprio e independente.
Presenciando toda esta problemática, vi-me com necessidade e oportunidade
de dar prosseguimento aos meus estudos. Assim, fiz curso de especialização em
enfermagem do trabalho, o que muito me ajudou na compreensão da situação de
estresse vivenciada pelos trabalhadores de enfermagem no CME frente às cargas
de trabalho e às novas tecnologias. Posteriormente realizei curso de especialização
em controle de infecção e assistência à saúde, que tinha relação com o setor em
que estava desempenhando minhas atividades.
Paralelamente a esse percurso laboral, atuei em um hospital de pequeno
porte do município do Rio de Janeiro, como enfermeira de CC e CME, essa ainda
fazendo parte do mesmo espaço físico e sem nenhuma expectativa de adequação
às exigências da ANVISA. Deste modo, e com toda experiência relatada, submeti-
me ao concurso para ingresso no Mestrado Profissional em Ensino na Saúde
(MPES) da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa da Universidade Federal
Fluminense (EEAAC/UFF), como forma de dar continuidade aos estudos, com um
projeto de pesquisa para o mestrado que tinha o propósito de refletir sobre este meu
cotidiano profissional no CME.
Nesse contexto, esta pesquisa surgiu a partir da prática enquanto profissional
no cotidiano do trabalho, possibilitando a percepção da dificuldade dos
trabalhadores de enfermagem no CME frente às novas tecnologias no
desenvolvimento de suas atividades laborais, o que torna nítido o enfrentamento
desses trabalhadores.
Portanto, este estudo trará contribuições em diferentes áreas do saber:
assistência, ensino, pesquisa e extensão, que envolvem diferentes atores:
trabalhadores, usuários, alunos de graduação e pós-graduação e sociedade. Pode
desencadear outras pesquisas, já que se discute a contribuição da EPS para a
equipe de enfermagem do CME de um hospital público de grande porte,
15
apresentando uma análise de uma situação real no contexto do desenvolvimento de
uma ação de EP, beneficiando os serviços que dependem desta unidade.
E, no intuito de contribuir para a maior visibilidade e valorização desta
unidade, expõe como produto o desenvolvimento de tecnologias educacionais, a
saber: um folder, sobre o processo de trabalho no CME para as UC (Apêndice IV);
uma cartilha com orientações sobre a Política de Educação Permanente em Saúde
(PNEPS) para os trabalhadores do CME (Apêndice V); e um projeto de extensão
(Apêndice VI) que será realizado em parceria com a Escola de Governança em
Gestão Pública (EGGP), que está sendo implantada na instituição.
Deseja-se, com isso, colaborar para a compreensão da PNEPS, por parte dos
profissionais que atuam no CME, para a implantação e desenvolvimento da EPS na
unidade e para futuras reflexões, discussões e pesquisas acerca desse tema, no
contexto do CME desta instituição pública de saúde de grande porte; fortalecer e
valorizar essa unidade; destacar que a EPS se configura como uma das
possibilidades para a mudança das práticas de saúde; favorecer o desenvolvimento
do trabalhador, contribuindo para a maximização do seu potencial e da sua
satisfação laboral, cujas resultantes possam ser percebidas na assistência prestada
e na qualidade dos serviços.
A proposta da revisão da literatura apresentada na sequência objetivou
analisar a EPS como ferramenta de qualificação profissional de profissionais da
enfermagem que atuam no CME; com destaque para a importância e o papel dessa
unidade no espaço dos serviços de saúde, colaborando com os serviços de
assistência e de diagnósticos, na responsabilidade do processamento de materiais,
num contexto epidemiológico que discute o advento da infecção nos
estabelecimentos de saúde. Trata-se, portanto, de um problema de saúde pública
que continua sendo alvo de preocupação de estudiosos da área, especialmente no
que tange à prevenção desse agravo adquirido nos hospitais, clínicas e
ambulatórios.
As discussões foram amparadas por artigos encontrados na Biblioteca Virtual
de Saúde (BVS), nas bases de dados Literatura Latino-Americana e do Caribe em
Ciências da Saúde (LILACS) e Base de Dados de Enfermagem (BDENF), teses,
dissertações e capítulos de livros. Como critérios de inclusão de artigos,
estabeleceram-se: datados entre os anos de 2003 a 2014, disponíveis em
português, com resumo e texto completo de acesso livre. Para a busca foram
16
empregados os termos “esterilização”, “enfermagem” e “educação em saúde”. O
termo educação permanente não foi incluído por não se tratar de descritor indexado
na BVS.
A produção científica relativa ao setor CME, no que se relaciona ao
processamento de materiais no Brasil, como apontado por Cruz e Soares (2003)
apud Carvalho Jr. (2012), está ligada a evolução do CC que, apesar de ter seu início
na década de 1930, apresentou pouco progresso até o início dos anos 1970, quando
ocorreram encontros de enfermagem, no Rio de Janeiro, sobre as referidas
unidades.
Em seguida, esses encontros ocorreram também em São Paulo, organizados
por um grupo de enfermeiras, no período de 1987 a 1991. Desse movimento surgiu,
em 1991, a Sociedade Brasileira de Enfermeiros de Centro Cirúrgico (SOBECC)
que, atualmente, realiza congressos anualmente.
Carvalho Jr. (2012) ainda ressalta que, mesmo com a criação da Aliança
Mundial para Segurança do paciente a partir de 2004, não existe um número
considerável de estudos que relaciona o processamento de materiais à segurança
do paciente. Evidencia-se, assim, a falta de sensibilização sobre o assunto, não
obstante o CME tratar-se de um setor de relevância frente à infecção hospitalar (IH),
sendo sempre relegado à segundo plano nas instituições de saúde.
Os artigos encontrados foram organizados e analisados de acordo com a
referência, tema, objetivos, método, resultados e classificação. A análise dos dados
foi constituída com base nos temas “processamento de material”, “processo de
trabalho” e “educação em saúde”.
Sobre o processo de trabalho da enfermagem, tecnologia e CME, Taube
(2007) e Carvalho Jr. (2012) discorrem sobre a interface do processamento de
materiais no CME e a segurança do paciente. Silva (2007), em seu estudo, identifica
as concepções dos enfermeiros das UC sobre o trabalho desenvolvido pelos
enfermeiros no CME. Outros autores que trouxeram contribuições pertinentes ao
tema foram: Cruz e Soares (2003), Machado e Gelbeck (2009), Costa e Freitas
(2009), Pereira e Belato (2004), Fontana e Lautert (2006), Bergo (2006), Guadagnin,
Tiplle e Souza (2007),Graziano, Silva e Psaltikidis (2011), Souza (2012), Leite (2008)
e Silva (2007).
Em se tratando do referencial teórico metodológico, com base nas
contribuições de Paulo Freire, para discussão da EP e da Política Nacional de EP,
17
foram levantados estudos relacionados à identificação dos conceitos de EP trazidos
por equipes multiprofissionais da Estratégia Saúde da Família (ESF), apontados por
Gonçalves (2013), Amestoy (2010), Ricaldoni e Sena (2007), Ceccin (2005), Lopes
et al (2007) e Ceccin e Ferla (2006).
O estudo foi organizado em seis capítulos: o primeiro, com a apresentação
das considerações iniciais; o segundo diz respeito à fundamentação teórica que foi
estabelecida através de leituras e reflexão e foram assim evidenciadas: o contexto e
importância do centro de material e esterilização; educação permanente e a Política
Nacional de Educação Permanente como contribuição no trabalho dos profissionais
do CME. O terceiro capítulo trata do referencial teórico metodológico, com o
pensamento e a contribuição de Paulo Freire com a pedagogia crítica na abordagem
a política de EPS para os trabalhadores do CME.
O percurso metodológico foi apresentado no quarto capítulo. No quinto
capítulo foram divulgados os resultados e discussão dos dados a partir das
seguintes categorias: A pluralidade de percepções sobre educação permanente em
saúde: ensino-aprendizagem constante, reciclagem, criação de cursos, educação
continuada, capacitação; A inter-relação entre educação permanente em saúde e
saúde do trabalhador do centro de material e esterilização e A necessária
implementação da educação permanente em saúde no centro de material e
esterilização: em busca da resolutividade e excelência no trabalho.
As considerações finais do estudo estão apresentadas no sexto capítulo; no
sétimo capítulo expõem-se os produtos da pesquisa que resultaram em: um folder
para as UC, como forma de contribuir com visibilidade e valorização a unidade CME,
uma cartilha com orientações sobre a política de EPS para os trabalhadores do CME
e um projeto de extensão para posterior implantação. Na sequência encontram-se
as referências, os apêndices e anexos.
18
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Este capítulo compreende o contexto e importância do CME e apresentam-se
a EP e a PNEPS como ferramentas de contribuição para o trabalho dos profissionais
do CME.
2.1. O contexto e importância do Centro de Material e Esterilização
O CME é um dos setores das instituições de saúde que ainda é pouco
valorizado, com baixa visibilidade entre gestores e profissionais, em muitos casos
com inadequação arquitetônica, localização que não atende as demandas e, muitas
vezes, agregado equivocadamente ao CC. E o desempenho dos profissionais nessa
unidade revela a percepção da importância e destaque dessa unidade com a
responsabilidade no processamento de materiais.
Segundo Graziano, Silva e Psaltikidis (2011), em diversas instituições
hospitalares, a unidade CME sofre grande transição. Até bem pouco tempo ela
funcionava como uma extensão do CC, com escopo de atividades quase que restrito
à esterilização dos materiais usados nas cirurgias. Com a revolução industrial e o
avanço das tecnologias este espaço passa por grandes transformações em suas
atividades, já que lida com o invisível: o risco biológico. Estas novas demandas
transforma o trabalho em ação complexa e diferente da realizada até então, aquela
que uma vez apreendida não se tinha dificuldade de cumprir, bastava repetir e
reproduzir.
Os primeiros CME parcialmente centralizados, segundo Graziano, Silva e
Psaltikidis (2011), surgiram na década de 1950, com a implantação dos mesmos nos
hospitais brasileiros. Nestes setores, a esterilização da maioria dos materiais
hospitalares era realizada, mas o preparo de alguns, como, por exemplo, pacotes de
curativos, cubas, bandejas, dentre outros, ainda era realizado pelas UC. E este
processo se dava em ambiente inadequado e por pessoal muitas vezes não
qualificado.
Nesse sentido, lembra-se que, no passado, o CME não era visto como um
setor independente e com autonomia como atualmente, os profissionais não tinham
reconhecimento e não eram valorizados em suas funções, e o setor responsável
19
pelo processamento e distribuição de materiais para todo o hospital, inclusive o
ambulatório era o CC. E tinham por principal função, a de atendimento às salas de
cirurgia, sendo um enfermeiro responsável por todo o processo. Hoje esse fato não
é aceito, já que as atividades desempenhadas nesses setores são distintas, tendo
que se ter habilidades próprias e concernentes as mesmas (GRAZIANO; SILVA;
PSALTIKIDS, 2011).
Os autores apontam que o CME destaca-se no contexto da organização
hospitalar de forma bastante peculiar, por se caracterizar como unidade com suporte
a todos os serviços assistenciais e de diagnósticos, que necessitam de produtos
para a saúde utilizados na assistência aos seus clientes; deve contar com a
capacidade técnica operacional necessária, infraestrutura física, recursos humanos
e materiais à operacionalização do serviço, de acordo com a demanda, os tipos de
produtos para saúde processados, e classificação.
Com o avanço das pesquisas em medicina, com a institucionalização do
paciente e com a organização dos serviços de saúde, buscou-se atender às
exigências do preparo dos materiais e da rouparia para os procedimentos cirúrgicos.
Deste modo, foi construído um espaço próprio, em separado, para a realização
dessas atividades, com a instalação de equipamentos e designação de pessoas
responsáveis pelas tarefas de limpeza, preparo e acondicionamento, controle e
distribuição desses materiais (SOUZA, 2012).
Com o avanço das técnicas cirúrgicas, houve a expansão dos serviços de
saúde, com aumento de leitos, unidades de internação e serviços de apoio
diagnóstico e terapêutico. As salas de cirurgias tornam-se centralizadas, CC com
áreas comuns, como lavabo, vestiários, laboratórios. Os CME passaram a ocupar
locais próximos para, assim, garantir o rápido acesso ao material esterilizado
(SOUZA, 2012).
Ao longo do tempo, novos equipamentos e procedimentos surgem, assim
como novas técnicas assépticas, o que demanda novos protocolos de
processamento de materiais. A medicina passou a ter um olhar preventivo com a
evolução das doenças infecciosas, migração, superlotação das cidades e
precariedade das condições de vida dos trabalhadores, ocasionando profundas
mudanças tecnológicas, gerando um desenvolvimento científico generalizado e
tecnicista (CARVALHO JR., 2012).
20
As mudanças ocorridas no CME, com avanço da tecnologia e o surgimento de
instrumentais de difícil complexidade, houve a necessidade de um CME mais
organizado. A ANVISA dispõe sobre requisitos de boas práticas para o
processamento de produtos para saúde, por meio da RDC n° 15, de 15 de março de
2012 (BRASIL, 2012a). Este regulamento tem o objetivo de estabelecer os requisitos
de boas práticas para o funcionamento dos serviços que realizam o processamento
de produtos para a saúde, visando à segurança do paciente e dos profissionais
envolvidos.
O cenário CME é entendido como unidade funcional destinada ao
processamento de produtos para uso pelos serviços de saúde; é o conjunto de
elementos destinados à recepção e expurgo, preparo, esterilização, guarda e
distribuição do material para as unidades dos serviços de saúde. É a unidade
responsável pelo processamento de todos os materiais utilizados na assistência à
saúde, a limpeza, inspeção e seleção no que diz respeito à integridade, à
funcionalidade e ao acondicionamento em embalagens adequadas, até a
distribuição desses produtos esterilizados às UC (BRASIL, 2012a).
No Brasil, o CME é compreendido como: uma “unidade funcional localizada
nos serviços de saúde destinada ao processamento de produtos de saúde”; e é
classificado em CME de classes I e II. O de classe I é o que realiza o processamento
de materiais críticos sem lúmen e sem espaços internos, de materiais semicríticos e
de materiais não críticos, que podem ser processados em serviços de saúde que
executam procedimentos estritamente ambulatoriais; o de classe II é o que realiza
processamento de materiais críticos, semicríticos e não críticos, que podem ser
processados em serviços de saúde que realizam procedimentos clínicos e cirúrgicos,
diagnósticos ou terapêuticos, em situação de internação ou semi-internação
(BRASIL, 2012a).
Em relação à planta física do CME, o MS recomenda fluxo contínuo sem
retrocesso e sem cruzamento dos artigos limpos com os contaminados. Portanto, o
planejamento desta unidade é de suma importância, considerando-se as diferentes
etapas do processamento dos artigos até sua distribuição às UC.
Assim, os projetos dos serviços de saúde deverão obrigatoriamente obedecer
às disposições da RDC nº 50, aprovada pela ANVISA, que normatizou instrumento
para elaboração e avaliação dos projetos físicos adequados às novas tecnologias,
na área da saúde. Trata-se da legislação vigente e certamente seu cumprimento traz
21
benefícios aos trabalhadores do CME e usuários dos serviços de saúde (BRASIL,
2002).
A Figura 1 possibilita a visualização do trabalho desenvolvido no CME.
Figura 1. Fluxograma dos produtos médicos processados no Centro de Material e Esterilização. Niterói, RJ, 2015
Fonte: Graziano; Silva; Psaltikidis, 2011.
Na maioria dos hospitais brasileiros o processamento de materiais tem sido
feito em um CME. Ele recebe, faz a limpeza, seleciona, acondiciona, esteriliza,
armazena, controla e realiza a distribuição dos produtos hospitalares a todos os
setores consumidores, colaborando para a segurança na qualidade prestada ao
cliente. Esse processo centralizado no preparo do material contribui para eficiência
no trabalho, otimização dos recursos materiais e humanos, além de garantia ao
cliente e aos profissionais de enfermagem, pois auxilia em técnicas eficientes e
seguras, na capacitação de pessoal, em produtividade, torna a supervisão mais fácil
e a adequação como campo de ensino e pesquisa (GRAZIANO, SILVA E
PSALTIKIDIS, 2011).
Central de Material e Esterilização
Unidades Consumidoras Unidades Fornecedoras
Recepção de Roupas
Preparo e Acondicionamento
Esterilização
Armazenagem dos Artigos
Processados
Distribuição dos Artigos
Limpeza e
Secagem dos
Artigos
Recepção dos
Artigos Sujos
Recepção de Artigos Limpos
22
Os trabalhadores de um CME devem ser organizados, ter agilidade,
resistência física, ser observadores, se ajustar quanto ao uso contínuo de
equipamentos de proteção individual (EPI) e ter facilidade para se adequar as
mudanças exigidas por novos protocolos estabelecidos (GRAZIANO, SILVA E
PSALTIKIDIS, 2011).
Para as etapas de recepção e limpeza dos materiais, se faz obrigatória a
realização das normas de precaução padrão para se evitar a exposição dos
trabalhadores a riscos biológicos em consequência de sangue e fluidos corporais
contaminados. Os EPI principais são: luvas de borracha de cano longo, avental
impermeável, gorro, proteção de face, máscara, óculos de proteção e botas plásticas
ou impermeáveis. O uso do protetor auditivo deve ser empregado quando a lavadora
ultrassônica e a pistola de ar comprimido estiverem em uso (GRAZIANO, SILVA E
PSALTIKIDIS, 2011).
O foco principal desta unidade é o processamento de artigos críticos, semi-
críticos e não críticos. Para tal, o trabalho é organizado seguindo fluxo contínuo,
unidirecional onde os artigos passam por várias etapas.
Durante o trabalho no CME, o acesso de pessoas deve ser restrito aos
funcionários do setor, sendo designado entre eles a área de atuação específica de
cada um, escalando-os quantitativamente para a área contaminada e outros para a
área limpa. O fluxo dos artigos deve ser contínuo e unidirecional, evitar o
cruzamento e retorno dos artigos limpos e esterilizados com os sujos. O processo
inicia-se com a entrada do material a ser processado até a sua dispensação para as
UC. Assim, o processo de esterilização e desinfecção resulta da execução de um
conjunto de processos inter-relacionados que criam valor para o usuário (LEITE,
2008; SILVA, 2007).
Silva (2007) ressalta que a demanda de produtos suficientes para atender o
consumo nas UC, sua dinâmica de rotatividade e abastecimento precisam ser
discutidas entre o enfermeiro das unidades e o enfermeiro do CME, a partir da
previsão de gastos e o tipo de procedimentos que são realizados.
A representação das diferentes etapas do processamento dos artigos até a
fase de distribuição às UC está demonstrada no Quadro 1.
23
Quadro 1. Etapas do processo de trabalho do Centro de Material e Esterilização. Niterói, RJ, 2015
Unidades Consumidoras
Abrangem as unidades de internação, ambulatório, centro cirúrgico, centro obstétrico, endoscopia, laboratório, radiologia, farmácia dentre outras.
Unidades Fornecedoras
Abrangem a lavanderia e o almoxarifado e são unidades imprescindíveis para o CME, no envio de produtos novos ou descartáveis para distribuição ou embalagem. O que decorre em esterilização, armazenagem e distribuição.
Área de Recepção de artigos sujos ou
limpeza
Caracterizada como um dos locais mais contaminados do CME com grande quantidade e variedade de artigos sujos com sangue, secreção e excreções, onde são limpos, secos, conferidos e separados conforme o tipo e encaminhados à área de preparo.
Área de Inspeção, Preparo e
Acondicionamento
Local onde está centralizado o preparo de todos os materiais, onde é feita a inspeção dos produtos quanto a sua integridade, presença de sujidades, manchas e corpo estranho, como sobras de fios cirúrgicos e fios de cabelo; funcionalidade e integridade. Preparo dos pacotes de capotes e roupas cirúrgicas, padrão de dobradura e embalagem conforme instituição, identificação e encaminhamento para as áreas de esterilização, armazenagem e distribuição.
Área de Esterilização Local dos equipamentos de esterilização, autoclaves em número suficiente para demanda apresentada ou esterilizadores por óxido de etileno ou Sterrard.
Área de Armazenamento e Distribuição dos Artigos Limpos e
Esterilizados
Local onde são centralizados todos os produtos processados e esterilizados para distribuição as UC. Deve ser em local exclusivo com acesso restrito, com condições adequadas de refrigeração e umidade do ar. O transporte deve ser realizado em recipientes fechados e onde a manutenção e integridade da embalagem sejam mantidas.
Fonte: SILVA, 2007
É importante assegurar que todas as etapas do processamento - limpeza,
desinfecção, preparo, esterilização, armazenamento e distribuição - sejam
obedecidas, garantindo a segurança dos produtos fornecidos.
A prática de enfermagem em CME é bastante complexa devido às
diversidades de atividades setoriais; por suas características peculiares, essas
atividades exigem conhecimento específico, que pode ser adquirido não só de modo
formal, mas também através da comunicação e troca de experiência. Nesse
contexto, a prática é o processo dinâmico de construção da realidade profissional
que pode ser apreendida através do discurso. E o desempenho dos profissionais
24
nessa unidade revela a percepção dos trabalhadores sobre a mudança que vem
acontecendo em suas atividades (CRUZ; SOARES, 2003).
Assim sendo, o CME torna-se uma unidade independente, que objetiva
atender a todas as demais que necessitam de seu serviço. Os processos para
limpeza, desinfecção e esterilização de materiais foram acompanhando a evolução
das ações em saúde, com a reestruturação no processo de trabalho, além da
criação de mecanismos que propiciassem o desenvolvimento de competências dos
trabalhadores da área (MACHADO; GELBECK, 2009).
Costa e Freitas (2009) ressaltam que a segurança no processamento de
artigos críticos é uma importante medida de controle de IH, sendo este um grave
problema de saúde pública devido as suas implicações sociais e econômicas, pois
se qualquer etapa do processo for realizada sob condições adversas, implicará em
exposição aos riscos biológicos, tanto ao cliente como para os trabalhadores
envolvidos.
O controle da IH tem sido objeto de estudos sob diferentes perspectivas na
área da saúde e principalmente pela enfermagem. A criação, pelo MS, das
Comissões de Controle da Infecção Hospitalar (CCIH), a partir da década de 1970,
enfatizou principalmente a estruturação, funcionamento e competências da própria
comissão, a relação entre o processo de trabalho em saúde, as condições físicas do
usuário dos serviços de saúde, o desenvolvimento de técnicas invasivas, a
resistência a antimicrobianos e o uso de produtos para o processamento de
materiais (PEREIRA; BELATO, 2004).
A IH, segundo a Portaria nº 2.616/98, do MS, é conceituada como aquela
adquirida após admissão do paciente e que se manifesta durante a internação ou
após a alta, quando puder ser relacionada com a internação ou a procedimentos
hospitalares. São também convencionadas IH aquelas manifestadas antes de 72
horas da internação, quando associadas a procedimentos diagnósticos ou
terapêuticos, realizados durante este período (BRASIL, 1998).
A referida portaria dispõe sobre a obrigatoriedade da manutenção pelos
hospitais do país, de programa de controle de IH, considerando que as IH
constituem risco significativo à saúde dos usuários dos hospitais, e que sua
prevenção e controle envolvem medidas de qualificação da assistência hospitalar,
de vigilância sanitária e outras, tomadas no âmbito do estado, do município e de
cada hospital (FONTANA; LAUTERT, 2006).
25
Com o desenvolvimento da tecnologia apareceram novos tipos de
antibióticos, técnicas modernas de assistência foram implantadas e o tratamento das
doenças assumiu alta complexidade. Por outro lado, a invasão das bactérias
multirresistentes, a entrada de novas formas vivas de microrganismos e a luta contra
a resistência bacteriana surgiram nesse cenário, fragilizando o ambiente do cuidado
humano e desafiando as ações no dia a dia dos profissionais em saúde, no que se
refere à prevenção das IH (FONTANA; LAUTERT, 2006).
Identifica-se, ainda, outro ponto a ser pensado. Em diversas unidades
existentes dentro dos serviços de saúde, cada vez surgem instrumentais de difícil
complexidade, materiais canulados de longo comprimento e com pouco lúmen, o
que torna o processo de limpeza pouco viável. Para melhor qualidade na assistência
a esses instrumentais, lavadoras ultrassônicas, termodesinfectadoras e outros
materiais são utilizados para execução da limpeza, inspeção, preparo,
acondicionamento, esterilização, armazenamento e distribuição dos materiais que
passam pelo CME (FONTANA; LAUTERT, 2006).
As mudanças ocorridas no setor CME foram determinadas pelo avanço da
tecnologia, com o surgimento de instrumentais de difícil complexidade. Assim, houve
a necessidade de um CME mais organizado e que atendesse a estas novas
tecnologias.
Com isso, as atividades de prevenção e controle das infecções são
complexas e dependem de conhecimentos e evidências científicas e habilidades
técnicas. A ação associada ao cuidado assistencial necessita do entendimento de
temas relacionados à microbiologia, imunologia, epidemiologia e outros (BERGO,
2006).
A ANVISA dispõe sobre requisitos de boas práticas para o processamento de
produtos para saúde por meio da RDC nº 15, de 15 de março de 2012. Este
regulamento tem o objetivo de estabelecer os requisitos de boas práticas para o
funcionamento dos serviços que realizam o processamento de produtos para a
saúde, visando à segurança do paciente e dos profissionais envolvidos.
Cabe ressaltar que através dessa portaria também ficou estabelecida a
constituição de um Comitê de Processamentos de Produtos para a Saúde (CPPS)
pelos serviços de saúde, composto de um representante da diretoria do CME,
serviço de enfermagem, equipe médica e da CCIH.
26
Guadagnin, Tiplle e Souza (2007) registram que as diversas atividades
realizadas pelos CME e CC, associadas ao desenvolvimento tecnológico e aos
avanços do conhecimento nos últimos anos, no campo da IH, proporcionaram a
separação dessas duas unidades. O CME é uma unidade anteriormente anexada ao
CC, mas com o advento das IH, com a diversidade de técnicas cirúrgicas, o aumento
e complexidade de instrumentais a serem processados, iniciou-se a separação
desses setores.
Garantir a segurança do reprocessamento de artigos odonto-médico-
hospitalares é uma importante medida de controle de infecções associadas aos
cuidados em saúde. Através da esterilização, pode-se interromper a cadeia de
transmissão de microrganismos (TIPLLE; PIRES; GUADAGNIN, 2011).
Dessa forma, a prática de enfermagem nesse setor caracteriza-se como fruto
da experiência cotidiana construída a partir do desenvolvimento de atividades
contínuas e específicas de rotina, em todas as áreas do CME, como preconiza a
RDC nº15, de 15 de março de 2012 (BRASIL, 2012a).
Manter conduta profissional compatível com estímulo e conhecimento técnico
é aderir às medidas de prevenção e controle de infecção, tal como preconiza o
Programa Nacional de Segurança do Paciente que considera a importância na
elaboração de estratégias, produtos e ações direcionadas aos gestores,
profissionais e usuários da saúde sobre segurança do paciente, possibilitando a
promoção no sentido de se minimizar os riscos de eventos adversos no cuidado à
saúde (BRASIL, 2013b).
Os profissionais de enfermagem do CME, no desenvolvimento de suas
atividades, estão frente às novas tecnologias destacando sua relevância para os
serviços de saúde; colaboram para um grande número de procedimentos cirúrgicos
e em todas as intervenções que necessitem de materiais esterilizados, na
cooperação com os serviços de assistência e diagnósticos. Esse processo subsidia
a qualidade da assistência, cujos resultados podem ser traduzidos na melhoria da
qualidade de vida dos usuários.
27
2.2. A Educação Permanente e a Política Nacional de Educação Permanente
como contribuição para o trabalho dos profissionais do Centro de
Material e Esterilização
A EP, como ferramenta na qualificação dos profissionais de enfermagem do
CME, configura-se como possibilidade para mudança no ambiente de trabalho, pois
favorece o desenvolvimento cognitivo, contribui para a qualificação e satisfação
laborais, aumenta o rendimento nas atividades realizadas e os resultados são
visíveis para a assistência prestada.
Cabe ressaltar a importância e o papel de destaque do CME no âmbito dos
serviços de saúde de forma privativa, como unidade funcional a todos os serviços de
assistência e de diagnósticos, com a responsabilidade do processamento de
materiais.
A EP insere-se como alternativa de transformação do trabalho na área da
saúde, aderindo a novas atividades com atuação crítica, reflexiva, compromissada e
tecnicamente eficiente. Todavia, para que isto ocorra efetivamente, torna-se
necessário descentralizar e disseminar a capacidade pedagógica entre os
trabalhadores, gestores e serviços (AMESTOY, 2010).
Gonçalves (2013) destaca que a educação é parte essencial para a vida do
homem e da sociedade em que vivemos. Mas ela tem diversificado de acordo com
as necessidades e desejos de cada povo e cada época. Ela traz em sua história a
marca da mudança e do desenvolvimento. A EP na área da saúde é resultado dessa
mudança, e é carregada de significados e de significantes.
A autora ainda recorda, ao citar Gadotti (1987; 2005), que na França, no ano
de 1955, apareceu pela primeira vez o termo EP, usado por Pierre Arents ao pôr em
prática um projeto de reforma do ensino, que tinha por meta assegurar a
continuidade dos estudos após a escola, propiciar o aperfeiçoamento das
capacidades em todas as idades; facilitar a atualização dos conhecimentos e a
compreensão acerca dos problemas enfrentados pelo país e pelo mundo e permitir
que todos desfrutassem do patrimônio da civilização e do enriquecimento dela
proveniente.
Mediante a perspectiva de uma educação que estimulasse a economia, o
projeto de EP foi desejado por vários países. Esta rápida popularidade se deu
28
graças a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura
(UNESCO), tendo em vista a EP como referência em sua política educacional.
A Constituição Federal promulgada no ano de 1988, que originou o Sistema
Único de Saúde (SUS), tornou a saúde um direito constitucional e dever do Estado.
Ela também trouxe contribuições para a formação em saúde ao estabelecer, em seu
Artigo 200, que ao SUS compete ordenar a formação de recursos humanos em
saúde. Nessa perspectiva, a Lei n°. 8.080/90 estabeleceu em seu Artigo 14 que
deverão ser criadas Comissões Permanentes de Integração entre os serviços de
saúde e as instituições de ensino profissional e superior (CIES), cuja finalidade é a
de propor prioridades, métodos e estratégias para a formação e educação
continuada dos recursos humanos do SUS (GONÇALVES, 2013).
A EPS apresenta como pressuposto a aprendizagem significativa, e sugere
que a transformação das práticas profissionais esteja baseada na reflexão crítica
sobre as práticas reais, de profissionais reais, em ação na rede de serviços. É a
realização do encontro entre o mundo de formação e o mundo de trabalho, o
aprender e o ensinar se incorporam ao cotidiano das organizações e ao trabalho
(BRASIL, 2004).
Outro importante pressuposto da EP é o planejamento e programação
educativa progressiva, diante da análise coletiva dos processos de trabalho, na
identificação dos nós críticos a serem confrontados, na atenção ou gestão,
proporcionando a construção de estratégias contextualizadas que permitam o
diálogo entre as políticas gerais e a singularidade dos lugares e das pessoas, no
incentivo a práticas inovadoras na gestão do cuidado e dos serviços de saúde
(BRASIL, 2011).
Por isso é necessário rever os métodos utilizados nos serviços de saúde para
que a EP seja, para todos, um processo sistematizado e participativo, tendo como
cenário o próprio espaço de trabalho, no qual o pensar e o fazer são insumos
fundamentais do aprender e do trabalhar. Independente da perspectiva que a
educação contemporânea tomar, uma educação voltada para o futuro será centrada
na educação crítica, reflexiva e transformadora, superando os limites impostos pelo
Estado e pelo mercado. Portanto, a educação deve ser mais voltada para a
transformação social do que para a transmissão cultural. Por isso acredita-se na
pedagogia da práxis, como pedagogia transformadora, em suas várias
manifestações (RICALDONI; SENA, 2007).
29
A EP funciona como ponto estratégico para a organização do processo de
trabalho de enfermagem em articulação com as demais práticas de enfermagem e
demais setores do hospital. A EP deve estar sustentada nos conceitos e
metodologia crítica e reflexiva. Esse processo implica em reconhecer que as práticas
rotineiras, descontextualizadas dos reais problemas, dificilmente permitirão o
desenvolvimento da capacidade de reflexão (RICALDONI; SENA, 2007).
Esses processos também devem permitir aos trabalhadores aprender, no
complexo mundo contemporâneo, no contexto de uma aprendizagem solidária e
democrática, que oferece ao profissional ajuda e tende a fortalecer processos de
crescimento pessoal e transformação no âmbito profissional. A autonomia na
aprendizagem desenvolve a capacidade de aprender a aprender e a consciência da
necessidade da formação permanente (RICALDONI; SENA, 2007).
Segundo Ceccim (2005), a formulação EPS como vertente pedagógica
ganhou o estatuto de política pública apenas na área da saúde.
A PNEPS considera que a EPS é uma das estratégias que possibilita
construir um novo estilo de gestão em que os pactos para reorganizar o trabalho na
gestão, na atenção e no controle social são construídos coletivamente (BRASIL,
2004).
No âmbito da PNEPS foi criada a estratégia dos Polos de Capacitação de
Educação Permanente em Saúde (PEPS), a qual foi reelaborada e substituída a
partir da Portaria nº 1.996, de 2007, sendo instituídas as Comissões Permanentes
de Integração Ensino-Serviço e os Colegiados de Gestão Regional (BRASIL,
2007a).
Ambas as estratégias são direcionadas aos trabalhadores dos serviços de
saúde, incluindo a formação profissional, o serviço, a gestão e o controle social
como instâncias importantes para a efetiva consolidação do SUS (BRASIL, 2004).
O conceito de EP no setor saúde desenvolveu-se gradualmente nos países
da América Latina, difundido pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS),
segundo a proposta de Educação Permanente do Pessoal de Saúde, que
reconhecia que somente a aprendizagem significativa seria capaz de ter a adesão
dos trabalhadores aos processos de mudança na prática, estabelecendo novos
significados. Essa abordagem foi incorporada pela PNEPS como estratégia de
gestão na reorganização do sistema de ensino em saúde; como recurso entre a
prática do profissional do SUS e as necessidades da população. Ao compreender a
30
complexidade da realidade dinâmica em saúde, a EP contribui com o avanço da
implementação da reforma sanitária brasileira como afirma Lopes, et al, 2007.
Nesse mesmo sentido, o autor se refere a proposta de EP na disseminação
pela América Latina como estratégia para alcançar o desenvolvimento da relação
entre o trabalho e a educação. Este conceito admite que o conhecimento nasce na
identificação das necessidades e na busca de solução para os problemas
encontrados. A atividade do trabalhador pode ser o ponto de partida de seu saber
real, determinando, desta maneira, sua aprendizagem recorrente (LOPES, et al,
2007).
A EPS caracteriza-se, ao mesmo tempo, como uma prática de ensino-
aprendizagem e como uma política de educação na saúde. A EPS concorre para a
construção do SUS, sendo adotada como política pública nacional no Brasil desde
2004 (CECCIM; FERLA, 2006)
A educação promove autonomia, responsabilidade social, além de contribuir
para a formação de indivíduos politizados, críticos e reflexivos. A EP insere-se como
alternativa de transformação do trabalho na área da saúde, adere a novas atividades
como a atuação crítica, reflexiva, compromissada e tecnicamente eficiente. Faz-se
necessário descentralizar e disseminar a capacidade pedagógica entre os
trabalhadores, gestores e serviços, possibilitando também a participação social
(AMESTOY, 2010).
Por se apresentar como espaço dinâmico em que o processamento de
material se constitui etapa fundamental frente à IH, o CME se torna um espaço
privilegiado de atuação no qual a EP surge como estratégia para mobilização dos
sujeitos, discussão e reorientação do processo de trabalho com vistas à melhoria da
qualidade dos serviços prestados, sendo uma ferramenta facilitadora da execução
de boas práticas em saúde.
Compreende-se a EP como o primeiro passo para amenizar as condições
atuais do trabalho nos serviços de saúde, através do distanciamento do modelo
institucional desgastante, por um local promotor de satisfação, desenvolvimento e
capacitação pessoal, especialmente em razão da situação problemática em que se
encontra a saúde da população brasileira. Nesse sentido, se torna relevante a
criação e adoção de políticas públicas educativas que contribuam positivamente
para a promoção da saúde e geradoras de condições que colaborem para o trabalho
31
em equipe entre professores, alunos, profissionais, gestores e comunidade
(AMESTOY, 2010).
O CME historicamente foi entendido como um lugar de preparo e de guarda
ou de depósito de material, sendo, então, pouco valorizado pelos gestores. Na
atualidade esta visão se perpetua na visão de alguns, por isso, na prática cotidiana,
observa-se a cultura organizacional de gestão no que tange alocação de recursos
humanos no CME. Há necessidade de um novo olhar para o quantitativo de pessoal,
e para a potencialidade desses trabalhadores.
A educação dos trabalhadores da saúde é uma área que requer empenho
para o aprimoramento de métodos educativos. Para promover o desenvolvimento do
processo de trabalho é preciso criar estratégias de educação que encorajem a
participação dos trabalhadores da área de saúde para, assim, possibilitar a
capacitação profissional.
Ricaldoni e Sena (2007) declaram que o desafio da EP é estimular o
desenvolvimento da consciência nos profissionais sobre o seu contexto, pela sua
responsabilidade em seu processo permanente de capacitação. E afirmam que
pensar propostas inovadoras de EP supõe um desafio de gerenciar experiências de
aprendizagem que interessem as pessoas envolvidas, que possibilitem elos no
processo de compreensão e construção dos conhecimentos, que promovam modos
de pensar inteligentes, criativos e profundos, para favorecer o desenvolvimento
pessoal e social e a capacidade reflexiva dos trabalhadores em serviço.
Sendo assim, diversos fatores estão interligados à dinâmica de organização
do trabalho, como: fragmentação de tarefas, trabalho repetitivo e exposição aos
riscos físicos, químicos, biológicos, ergonômicos e psicossociais, a inadequação
arquitetônica, relacionamento interpessoal, falta de valorização pessoal, condições
de trabalho melhores, limitações físicas, estilo de supervisão autoritário e arbitrário,
e descrédito na instituição que levam à desmotivação.
Assim, cabe ressaltar que, além do nítido enfrentamento citado acima, o CME
conta com número de profissionais limitado. A sobrecarga de trabalho dificulta a
organização e a assistência e repercute na qualidade dos cuidados prestados.
Então, discutir os conceitos de educação nos espaços dos serviços de saúde
é relevante para todos que estão refletindo sobre os rumos da educação e da saúde
em uma sociedade que está em constante modificação. A EP é uma conquista dos
32
trabalhadores da área de saúde do Brasil e deve ser continuamente aprimorada,
garantindo-se, assim, a qualidade nos serviços ofertados (GONÇALVES, 2013).
Gonçalves (2013) afirma, também, que espaços de formulação e execução de
ações de EP, bem como o desenvolvimento de pesquisas e discussões sobre o
tema se fortalecem no país, e se faz necessário esforço por parte de todos os atores
envolvidos, para que a EP possa se concretizar no cotidiano dos serviços de saúde.
Favorecer o desenvolvimento pessoal e social e a capacidade reflexiva dos
trabalhadores em serviço se faz necessário; refletir sobre propostas inovadoras de
EP pressupõe um desafio de gerenciar experiências de aprendizagem que
interessem as pessoas envolvidas, que viabilizem os processos de compreensão e
construção dos conhecimentos, promovam modos de pensar inteligentes, criativos e
profundos (RICALDONI; SENA, 2007).
No que diz respeito à qualidade da assistência, a EP é fundamental e deve
definir diretrizes e estratégias de ações educativas direcionadas aos profissionais,
no sentido de capacitá-los, e de promover o seu desenvolvimento no processo de
trabalho, o que previne danos e qualifica a assistência à saúde. Assim, “o processo
educativo tem dois aspectos: um psicológico, que consiste na exteriorização das
potencialidades do indivíduo, e outro social, que consiste em preparar o indivíduo
para as tarefas que desempenhará na sociedade” (PILLETI, 2008).
O profissional de saúde que desenvolve suas atividades no CME lida com
materiais que passam por processo de esterilização, mas sua atuação é também
para com o paciente que se encontra internado nos serviços de saúde,
proporcionando um cuidado de enfermagem indireto.
Graziano, Silva e Psaltikidis (2011), ressaltam que algumas décadas atrás
não havia uma preocupação com o preparo dos profissionais que iriam trabalhar em
CME, as condições nada favoráveis tanto no ambiente físico, ou relacionados aos
equipamentos, os profissionais de enfermagem e o processo de trabalho não tinham
nenhuma valorização. Com o avanço da tecnologia, no campo terapêutico e de
diagnóstico nos serviços de saúde, houve a necessidade do CME se adequar e
aperfeiçoar seus processos e métodos de trabalho e contribuir o melhor possível
para favorecer uma melhor infraestrutura. Em decorrência dessa mudança, em
especial pela automação das atividades, pela chegada de equipamentos de
esterilização modernos e sofisticados, há a urgente necessidade de profissionais
qualificados.
33
A necessidade de progressão profissional, que se estenderá ao campo
pessoal no âmbito do trabalho, tem ganhado forças com os avanços tecnológicos, já
que o trabalhador de enfermagem do CME quer ter o seu trabalho reconhecido.
Entretanto, o trabalhador se depara, em alguns momentos, com o sentimento de
inutilidade e de desvalor, gerados pela falta de valorização e de estímulo à
qualificação. O que este vivencia é a não possibilidade de ver suas opiniões e
necessidades atendidas, prevalecendo a falta de diálogo e não assistência aos
problemas identificados.
Para Hanzelmann e Passos (2010, p. 695),
a falta de valorização gera um sentimento de inutilidade, remetendo à falta de qualificação e de finalidade do trabalho. Um estilo de supervisão autoritário, arbitrário, onde o ritmo, as opiniões e necessidades dos funcionários são totalmente, ou quase que totalmente desconsiderados, com falta de diálogo e excesso de feedback negativo, sem nenhuma assistência para os problemas identificados [...], acarretando baixa produtividade e qualidade, e insatisfação do trabalhador e da própria instituição.
Neste sentido, identifica-se que a EPS traz contribuições para a enfermagem
e para toda a equipe de saúde, uma vez que esta prática instiga a reflexão sobre o
processo de trabalho, desenvolve a observação e a comunicação, a capacidade de
problematizar e buscar soluções criativas para situações do dia a dia, além de
promover o trabalho em equipe.
Assim, a implementação de EPS representa uma estratégia fundamental para
realização de transformações no cotidiano dos serviços para que se tornem locais
de atuação crítica, reflexiva, propositiva e compromissada e tecnicamente
competente (GONÇALVES, 2013).
Diante deste novo contexto das instituições de saúde, e em especial do CME,
há necessidade de enfoques educacionais inovadores e flexíveis. Portanto, a EPS
se apresenta como o enfoque educacional reconhecido e apropriado para produzir
as transformações nas práticas e nos contextos de trabalho, fortalecendo a reflexão
na ação, o trabalho em equipes e a capacidade de gestão sobre os próprios
processos locais. Seria a educação na prática e pela prática.
34
3. REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO
Este capítulo aborda o pensamento de Paulo Freire e sua contribuição com a
pedagogia crítica na abordagem da PNEPS para os trabalhadores do CME.
3.1. Pensamento Paulo Freire
Paulo Freire nasceu em Recife em 1921 e faleceu aos 76 anos; dedicou sua
vida às atividades pedagógicas como escritor e professor, tendo a educação das
massas como preocupação. É conhecido e respeitado internacionalmente.
Transmitia o desejo de estar no mundo com as pessoas, interferir no mundo;
acreditava que o diálogo poderia interferir no mundo. Tinha um gosto enorme pelo
viver. Ele não pensava a vida, pensava a existência (FREIRE, 2005).
Preocupado em encontrar uma resposta no campo da pedagogia às
condições da transição brasileira, Freire entendia que a contribuição a ser trazida
pelo educador brasileiro à sociedade deveria ser uma educação crítica. O educador
entendia que seria necessária uma educação para a decisão, para a
responsabilidade social e política. Educação em que o diálogo fosse uma constante
com o outro (FREIRE, 2011).
Freire (2005) se baseia em um modelo de educação construída sobre a ideia
de um diálogo entre educador e educando, onde ocorre um encontro de ideias, não
cabendo ao educador apresentar um modelo de ensino pronto, baseado apenas em
sua cultura e valores. Dentro desta percepção, um dos pressupostos de seu modelo
educacional se fundamenta na ideia de que ninguém educa ninguém e ninguém se
educa sozinho.
Em pedagogia do oprimido, o educador traz a discussão de que é o professor
quem faz do seu aluno um mero depositário, ao considerar o aluno como incapaz de
produzir conhecimento, e desconsiderar-se como um ser em formação contínua. O
educador ensinar a pensar e problematizar sobre a sua realidade é a forma correta
de se reproduzir conhecimento, pois é nesse sentido que o educando terá a
capacidade de compreender-se como um ser social (FREIRE, 2005).
35
O autor se refere a uma pedagogia de concepção bancária de educação na
qual predomina o discurso e a prática, e o sujeito da educação é o educador que
deposita o conhecimento para que os educandos recebam, memorizem e repitam.
Desse processo se origina uma transmissão e avaliação de conhecimentos
abstratos, numa relação vertical, fornecido de cima para baixo. Ele defende, então,
uma concepção da educação baseada na problematização dos homens em suas
relações com o mundo, e em uma relação dialógica entre educando e educador, que
permite a ambos aprenderem juntos através de um processo independente
(FREIRE, 2011).
Ele diz ainda que o processo de educação é de consciência humana, pois só
os homens tem consciência de que não são completos e, por isso busca
compreender o mundo que vive em sua finitude. Mas é no ser que transforma que
ele percebe a sua importância, portanto é na educação problematizadora que gera
história que se humaniza a sociedade (FREIRE, 2005).
Com os avanços tecnológicos, os trabalhadores do CME necessitam estar em
constante atualização, já que cada vez mais surgem equipamentos e instrumentais
para melhoria e qualidade dos serviços oferecidos.
Silveira e Robazzi (2012) se referem às frequentes mudanças que os
indivíduos estão vivendo em nível do saber, da técnica e da ciência, evidenciando a
necessidade de superação do atual modelo bancário de educação baseado em
modelos pedagógicos, por vezes, cerrado, fora do contexto, como destacado por
Freire, para pensar a educação como um processo libertador, resultantes de
vivências, experiências e conhecimentos individuais e coletivos que consiste no
ensino-aprendizagem e pela perspectiva de vislumbrar o indivíduo como um ser
inacabado e em continuum vir-a-ser.
Dessa maneira, segundo Freire (2011), o educando em sua passividade,
torna-se um objeto para receber a doação do saber do educador, sujeito único de
todo o processo.
Silva; Costa (2008) ao se referir a PNEPS e sua interface com a obra de
Paulo Freire, trata da formação de sujeitos críticos, e propõe a pedagogia libertadora
e problematizadora, entendida como uma forma de ler o mundo no ambiente de
trabalho para fortalecer e instrumentalizar os trabalhadores para a transformação do
universo do trabalho através da ação consciente, que perpassa do campo da
educação para o mundo e do mundo para educação.
36
Nessa troca dialógica constante, o profissional do CME vai se reconstruindo.
A partir do diálogo vão tomando consciência do seu papel no âmbito do trabalho.
Capaz de agir sobre si e o mundo que atua.
O diálogo, necessário para a educação, pressupõe trocas entre sujeitos.
Através do diálogo os sujeitos podem pensar juntos e recriar a realidade, desde que
este diálogo tenha como fundamento a verdade. A palavra verdadeira possibilita a
dialética da ação e reflexão que consequentemente viabilizará a conscientização
(FREIRE, 2011).
Dessa maneira, segundo Freire (2011), o educando em sua passividade,
torna-se objeto para receber a doação do saber do educador, sujeito único de todo o
processo. Trata-se de uma pedagogia fundada na ética, no respeito à dignidade e a
própria autonomia do educando, com a demanda do educador em exercício
contínuo, estimulando-o a se assumir enquanto sujeito sócio-histórico-cultural na
prática de conhecer. Essa educação ajuda a construir um ambiente favorável à
produção do conhecimento, com coerência para prática pedagógica permeável a
mudanças. O autor ainda ressalta que através da reflexão crítica sobre a prática de
hoje ou de ontem é que se pode pensar em melhorar as práticas no cotidiano.
Ensinar exige o reconhecimento do ser condicionado: “gosto de ser gente
porque inacabado sei que sou um ser condicionado, mas consciente do
inacabamento sei que posso ir mais além” (FREIRE, 2011, p. 52).
O ensino como especificidade humana, com segurança expressa na firmeza
que atua, com que decide, respeita as liberdades com que discute sobre suas
próprias posições e aceita rever-se (FREIRE, 2011, p. 89).
Gonçalves (2013), ao citar Freire (2011), diz que a educação é uma prática
política tanto quanto qualquer prática política é pedagógica. Não há educação
neutra. Toda educação é um ato político. Assim sendo, os educadores necessitam
construir conhecimentos com os educandos, tendo como horizonte um projeto
político de sociedade.
Os profissionais de enfermagem do CME, no desempenho de suas funções
são sujeitos ativos no processo ensino-aprendizagem nessa unidade. Ambos
aprendem juntos, já que a complexidade exige criticidade a ser gerada pelo
trabalhador.
Por sermos seres programados para aprender, ensinar, conhecer, intervir, e
que podemos entender a prática educativa como exercício constante em favor da
37
produção e do desenvolvimento de autonomia de educadores e educandos
(FREIRE, 2011).
Ao se pensar em discussão, debates e na pesquisa sobre o processo de
trabalho na unidade CME o profissional vai além, buscando novos desafios.
O pensamento de Freire dialoga com a proposta de EPS ao abordar a noção
da aprendizagem significativa, que era usada por ele quando defendia a ideia de que
os educandos não deveriam ser tratados como elementos vazios que apenas
recebem informações, mas que os educadores deveriam aproveitar o que os alunos
já traziam, com suas experiências de vida, para o início de todo processo de
aprendizagem (GONÇALVES, 2013).
Nesse sentido, remetendo ao processo de trabalho em saúde, deve-se
valorizar experiências e conhecimentos prévios, colaborar para que os profissionais
façam a leitura do próprio ambiente de trabalho.
Segundo Freire (2011, p.54), “a inconclusão que se reconhece a si mesmo
implica necessariamente a inserção do sujeito inacabado em um permanente
processo de busca.” Dessa mesma forma, uma proposta de formação e
desenvolvimento de profissionais de saúde para o SUS é também um ato político, e
deve conduzir esses sujeitos a uma análise crítica do contexto em que atuam, sobre
o sistema de saúde brasileiro, seu processo de consolidação, desafios que enfrenta
e papel dos profissionais nessa construção (GONÇALVES, 2013).
Gonçalves (2013) também se refere à pedagogia crítica de Freire quando
discorre que os profissionais devem ser colocados como participantes do processo.
Nesse sentido, essa pedagogia vai ao encontro da política de EP, que tem como
meta a transformação do processo de trabalho e assume a educação como ação
ascendente, por meio da qual a qualificação dos trabalhadores é pensada a partir de
problemas específicos, identificados no contexto do trabalho, e que faz com que os
assuntos abordados sejam tratados de forma a fazerem sentido para os sujeitos
envolvidos, considerando o conhecimento e experiências anteriores.
38
3.2. A contribuição de Paulo Freire com a pedagogia crítica na abordagem da
Política Nacional de Educação Permanente em Saúde para os trabalhadores do
Centro de Material e Esterilização
A educação é um processo que está presente nas diversas práticas sociais
que caracterizam o viver humano. Está relacionada à própria condição do ser
humano no percurso de humanização, “é um processo de vida, história de cada um.
A educação está sempre sendo” (YAMAZAKI; ALMEIDA, 2012).
Sendo assim, o CME é um setor onde há contínua repetição de atividades
fracionadas, com riscos ou cargas de trabalho presentes na manipulação, inspeção
e esterilização de produtos altamente insalubres. O enfermeiro que atua como
coordenador dos serviços de um CME necessita conhecer muito bem esta
específica dinâmica de trabalho, as condições estruturais e físicas para o
desenvolvimento das atividades, estando apto e sensível para realizar uma análise
que objetive a implementação de medidas. A base para que essas medidas sejam
implantadas é a da pedagogia de Paulo Freire através do diálogo libertador.
Na relação dialógica estabelecida entre o educador e o educando faz-se com
que este aprenda a aprender. Paulo Freire afirma que a leitura do mundo precede a
leitura da palavra, querendo dizer com isto que a realidade vivida é à base para
qualquer construção de conhecimento. Respeita-se o educando não o excluindo da
sua cultura, fazendo-o de mero depositário da cultura dominante (2011). Ao se
descobrir como produtor de cultura, os homens se veem como sujeitos e não como
objetos da aprendizagem.
Paulo Freire, mais que um educador, foi um pensador, legado de sua
inteligência a serviço dos mais humildes. Inovador, porque o aprendizado foge das
formas mecânicas, valoriza as experiências e percepções pessoais. E uma de suas
teorias se refere à educação, tendo papel imprescindível no processo de
conscientização, trata a educação como prática de liberdade, a considera
desafiadora e transformadora, e defende que para alcançá-la são essenciais o
diálogo crítico e a convivência. Na sua concepção, a educação é um momento do
processo de humanização, um ato político, de conhecimento e de criação
(GONÇALVES, 2013).
A EPS apresenta-se como uma proposta de ação estratégica capaz de
contribuir para a transformação dos processos formativos, das práticas pedagógicas
39
e de saúde e para a organização dos serviços, empreender um trabalho articulado
entre o sistema de saúde, em suas várias esferas de gestão, e as instituições
formadoras. Ela parte do pressuposto da aprendizagem significativa, e sugere que a
transformação das práticas profissionais esteja baseada na reflexão crítica sobre as
práticas reais, de profissionais reais, em ação na rede de serviços. A EP é a
realização do encontro entre o mundo de formação e o mundo de trabalho, onde o
aprender e o ensinar se incorporam ao cotidiano das organizações e ao trabalho
(BRASIL, 2004).
A Política de EP trabalha a educação em uma lógica ascendente, em que a
qualificação dos trabalhadores é pensada a partir de problemas específicos
identificados no contexto do trabalho, fazendo com que os assuntos abordados
sejam tratados de forma a fazerem sentido para os sujeitos envolvidos,
considerando as especificidades de cada cenário, o conhecimento e experiências
anteriores (BRASIL, 2009).
Os processos de EPS objetivam a transformação das práticas profissionais e
do contexto do trabalho. A proposta da política nacional é de que os processos de
formação dos trabalhadores da saúde se façam a partir da problematização da
organização do trabalho e considera que as necessidades de formação e
desenvolvimento dos trabalhadores sejam orientadas a partir das necessidades na
prática (BRASIL, 2009).
Destaca-se que trabalhar a educação dos trabalhadores da saúde de forma
ascendente e contextualizada, colocando o profissional como protagonista, com
participação ativa, reflexão crítica sobre a prática, capacidade de intervir e promover
mudanças no cotidiano do trabalho se constitui em desafio, e construção necessária
para que se possa assegurar à população brasileira o cumprimento dos princípios do
SUS. A EPS preceitua incorporar o ensino e o aprendizado à vida cotidiana das
organizações e às práticas sociais e laborais no contexto real em que elas ocorrem,
modificando as estratégias educativas a partir da prática como fonte de
conhecimento e de problemas, problematizando o próprio fazer (BRASIL, 2009).
Ceccim (2005) enfatiza que para preencher o lugar efetivo da EPS, é
necessário abandonar o sujeito que somos, desaprender, e mais que sermos
sujeitos dos modelos hegemônicos ou por papéis instituídos, necessitamos ser
produção de subjetividade, rompendo fronteiras, com mudança de comportamento
ou de gestão do processo de trabalho. Precisamos deixar de ser sujeitos que se
40
encaixam em modelos prévios, de ser profissional, de ser estudante, de ser
paciente.
Se somos atores ativos das cenas de formação e trabalho, os eventos em
cena nos produzem diferença, nos afetam, nos modificam, produz abalos enquanto
sujeitos, colocando-nos em permanente produção. O permanente se faz presente
diante de problemas, pessoas e equipes reais. A mudança na formação por si só
ajuda, mas essa mudança como política se instaura em mais lugares, todos os do
quadrilátero, pois todos esses lugares estão conformados em acoplamento de
captura da EPS. A incorporação crítica de tecnologias materiais, a eficácia da clínica
produzida, os padrões de escuta, as relações estabelecidas com os usuários e entre
os profissionais representam a captura da EPS e, por conseguinte, dos processos
de mudança e torna a EPS um desafio ambicioso e necessário (CECCIM, 2005).
Estratégia fundamental é a EP para a melhoria dos processos de trabalho e
para qualidade da assistência prestada, favorecendo a construção de novos
conhecimentos e intercâmbio de vivências; no esforço de transformar a rede pública
de saúde em um espaço de ensino-aprendizagem no exercício do trabalho.
Assim, este profissional ao atuar no CME poderá, através da EP viva, in loco,
de forma diferenciada, atender as singularidades, de forma a qualificar as práticas
profissionais.
41
4. METODOLOGIA
Este capítulo aborda o percurso metodológico para a direção dos objetivos
propostos e pretendidos da pesquisa. Com destaque para o objetivo geral que é
analisar a EPS como ferramenta na qualificação do profissional de enfermagem do
CME.
4.1. Tipo de estudo
Para o tema proposto foi utilizado um estudo de natureza exploratória,
descritiva, com abordagem metodológica qualitativa, através de desenvolvimento de
trabalho de campo, com aplicação de entrevistas semiestruturadas.
Marconi e Lakatos (2011, p. 43) definem pesquisa como:
(...) pode ser considerada um procedimento formal, com método de pensamento reflexivo que requer um tratamento científico e se constitui no caminho para se conhecer a realidade ou para descobrir verdades parciais. Significa muito mais do que apenas procurar a verdade: É encontrar respostas para questões propostas, utilizando métodos científicos.
A pesquisa descritiva observa, registra, analisa e correlaciona fatos ou
fenômenos (variáveis) sem manipulá-los. Procura descobrir, com precisão possível,
a frequência com que um fenômeno ocorre, sua relação e conexão com outros, sua
natureza e suas características (CERVO; BERVIAN; SILVA, 2007).
O objetivo da pesquisa exploratória é possibilitar familiaridade com o
problema, de forma a torná-lo explícito ou a construir hipóteses. A pesquisa
exploratória compreende o levantamento bibliográfico, entrevistas com pessoas que
tiveram experiências com o problema pesquisado e análise de exemplos que
estimulem a compreensão (GIL, 2008).
A pesquisa de campo caracteriza-se pelas investigações em que, além da
pesquisa bibliográfica ou documental, se realiza coleta de dados junto aos
participantes, com o recurso de diferentes tipos de pesquisa (GIL, 2008).
A pesquisa qualitativa trabalha com o universo de significados, o que
representa um espaço profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que
não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis, preocupa-se com
aspectos da realidade numa relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é,
42
um vínculo indissociável entre o objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode
ser traduzido em números (MINAYO, 2011).
4.2. Aspectos éticos da pesquisa
Atendendo ao estabelecido pela Resolução nº 466/12, do Conselho Nacional
de Saúde (CNS), que delibera as Diretrizes e Normas Regulamentadoras de
Pesquisa envolvendo seres humanos, esta pesquisa foi encaminhada e aprovada
pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Faculdade de Medicina da UFF, sob o
nº CAEE: 33739114.9.0000.5243 e Parecer nº 777.581 (Anexo I). Além disso, todos
os trabalhadores aceitaram participar voluntariamente da pesquisa, assinando o
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE); foram receptivos, colaboraram
e expressaram grande expectativa de mudanças.
4.3. Campo/cenário
A pesquisa para a coleta de dados foi realizada no CME do Hospital
Universitário Antonio Pedro (HUAP), cuja direção autorizou a divulgação do nome,
no período de setembro a novembro de 2014.
A unidade CME conta atualmente com 53 profissionais de enfermagem, entre
enfermeiros, técnicos de enfermagem e auxiliares de enfermagem, distribuídos em
plantões no serviço diurno e noturno. Um enfermeiro diarista na coordenação geral
do CME, um enfermeiro em cada plantão diurno, totalizando três, já que a escala de
plantão é de 12 horas trabalhadas por 60horas de descanso. O serviço noturno não
é contemplado com a presença de enfermeiro.
O HUAP, que até o ano de 1964 era chamado de Hospital Municipal Antônio
Pedro, localizado no centro do município de Niterói, tem atualmente uma área
construída de 29.730 metros quadrados, com sete blocos. Atende a população da
Região Metropolitana II do estado do Rio de Janeiro, na qual estão incluídas as
cidades de Niterói, Itaboraí, Maricá, Rio Bonito, São Gonçalo, Silva Jardim e
Tanguá, compreendendo uma população estimada em mais de dois milhões de
habitantes, além de receber parte da população da cidade do Rio de Janeiro devido
a sua proximidade.
43
A construção do hospital despontou em 1920, com a ideia do médico Antônio
Pedro Pimentel – morto dez anos depois – de se ter um hospital-escola. Mas, só foi
efetivamente implantado na década de 1940 pelo interventor Amaral Peixoto e pelo
prefeito do município, que tornou o projeto ativo.
O hospital foi criado para que atendesse a demanda de alunos da Faculdade
Fluminense e também para a população de Niterói que não parava de crescer e
necessitava de um serviço de saúde efetivo. A inauguração do hospital só aconteceu
em 1951 e recebeu o nome do seu fundador e primeiro diretor da faculdade de
medicina Antônio Pedro.
Duas tragédias deixaram a cidade desolada e marcaram a história do
hospital. Em abril de 1950, mesmo antes de sua inauguração, funcionou em caráter
de urgência no atendimento às vítimas do desastre ferroviário de Tanguá, no qual 56
pessoas foram à óbito e 61 ficaram feridas.
Em dezembro de 1961, com a tragédia do incêndio do Gran Circus Norte-
Americano, que comoveu todo o país, fez ressurgir o desejo da população em
manter o hospital aberto em plena atividade. Somente em 1964 é que acontece a
doação do hospital pela prefeitura à UFF, sendo então o primeiro hospital
universitário do país, denominado Hospital Universitário Antônio Pedro.
O HUAP é a maior e mais complexa unidade de saúde da região
metropolitana e é considerado pelo SUS como hospital de nível terciário e
quaternário (MEC-UFF, 2008). Ele atende toda área da Região Metropolitana II e,
para algumas especialidades, também incorpora população de outras regiões,
conforme Figura 2.
44
Figura 2. Mapa das áreas da região Metropolitana II do estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2015
Fonte: HUAP/UFF.
As áreas de atendimento de alta complexidade incluem as grandes cirurgias
cardíacas, as vasculares, ortopédicas, transplantes renais e neurocirurgias. Possui
um setor de cardiologia com centro de hemodinâmica e é também referência em
oncologia. O setor de emergência é aberto a todos os casos e funciona de forma
referenciada e regulada.
Atualmente o hospital possui 221 leitos ativos para internação, realiza, em
média, 350 cirurgias mensais, incluindo eletivas e de urgência, e 10.500
atendimentos entre consultas ambulatoriais e os realizados nos setores de
broncoscopia, endoscopia, hemodinâmica, banco de leite, e todo o serviço de
radiologia, que inclui o setor de tomografia computadorizada e ressonância
magnética. Por isso, a unidade demanda grande quantidade de materiais
esterilizados, que são disponibilizados pelo CME. Trata–se, portanto, de um hospital
que realiza grande número de procedimentos cirúrgicos e diagnósticos, com
produção grande no processamento de materiais e também dá suporte na área de
esterilização aos hospitais da Prefeitura Municipal e Estadual.
45
4.4. Participantes
Os participantes da pesquisa foram 31 trabalhadores da saúde que atuam no
CME do HUAP e fazem parte do quadro efetivo da instituição atuando nos serviços
diurno e noturno como enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem. Como
critério de exclusão do estudo se estabeleceu: trabalhadores que se encontravam de
licença médica ou usufruindo de férias durante o período de coleta de dados.
Ao serem convidados a participarem da pesquisa, foi feita apresentação do
pesquisador e das questões propostas à pesquisa como tema, objetivos, justificativa
e técnica de coleta de dados. O TCLE foi apresentado bem como os aspectos éticos
estabelecidos para pesquisa envolvendo seres humanos.
4.5. Coleta de dados
Como técnica de coleta de dados foi utilizada a entrevista semiestruturada,
por meio de abordagem individual.
A pesquisa, segundo Cervo e Bervian (2007), inicia-se após a escolha e a
delimitação do assunto, a definição dos objetivos, a formulação do problema e das
hipóteses. Realizada a coleta de dados, prossegue as tarefas de análise e discussão
dos resultados.
Ela envolve vários passos, como a população a ser estudada, a elaboração
do instrumento e da programação da coleta, o tipo de dados e de coleta. Somente
após ser definido o objetivo da pesquisa e levantadas as hipóteses e variáveis é que
foram elaboradas as questões do instrumento de coleta de dados.
A entrevista semiestruturada individual compreendeu perguntas abertas e
fechadas relacionadas ao objetivo da pesquisa, e foi realizada através de um
questionário (Apêndice III). Por meio dele foram coletados dados relativos à
caracterização dos participantes quanto ao sexo, idade, tempo de atuação na
instituição, tempo de atuação no CME, categoria profissional e formação; além de
apresentar questões abertas sobre o conhecimento dos profissionais acerca do
trabalho desenvolvido no CME e sobre o conceito de EP. As perguntas foram as
seguintes: Como é estar e a relação de você existir no CME? Como você percebe o
trabalho desenvolvido no CME? Você tem oportunidade de apresentar as ideias ou
46
práticas no cotidiano do trabalho em CME? Quais os principais problemas
vivenciados por você no CME que necessitam de ações educacionais? Você sabe o
que é EPS? Ao final do questionário, havia, ainda, uma questão aberta para
expressão livre do profissional sobre o assunto. A abordagem dos participantes se
deu em horários agendados previamente e realizada no ambiente de trabalho.
Para Minayo (2004), a entrevista é a técnica usada frequentemente no
processo de trabalho de campo, ressaltando sua importância a partir de referenciais
teóricos e de aspectos que envolvam questões conceituais. Na forma de realizá-las
é que se revelam as preocupações científicas dos pesquisadores, a escolha dos
fatos a serem coletados e o modo de recolhê-los.
Cervo e Bervian (2007) referem-se à entrevista como uma conversa orientada
a um objetivo definido, que irá recolher, através do interrogatório, dados para a
pesquisa. Segundo eles, deve-se recorrer à entrevista como forma de se obter
resultados que não são encontrados em registros e fontes documentais.
As entrevistas foram gravadas mediante a permissão dos participantes, a
partir da assinatura do TCLE.
4.6. Análise e interpretação dos dados
Com vistas a atender aos objetivos do estudo através da entrevista com os
trabalhadores do CME, foi possível evidenciar temas que respondem aos
questionamentos da pesquisa.
De acordo com Marconi e Lakatos (2011), na análise, o pesquisador detalha
sobre os dados decorrentes da pesquisa, a fim de conseguir respostas as suas
indagações e procura estabelecer as relações necessárias entre os dados obtidos e
as hipóteses formuladas. Estas são comprovadas ou refutadas, mediante a análise.
A partir da transcrição dos dados, realizada através da cópia das falas
emergidas da entrevista individual dos participantes, foi feita a escolha pela análise
de conteúdo (AC) proposta por Bardin (2009), que consiste em um conjunto de
instrumento e técnicas metodológicas que se aplicam em diversificados discursos.
Trata-se de um esquema geral no qual podemos verificar um conjunto de processos
que podem ser implementados para o tratamento dos dados e analisar o conteúdo
dos mesmos. O método de conteúdo é não só um documento, mas um leque de
47
alternativas, com rigor, marcado por disparidades de forma adaptável a um campo
de aplicação amplo: as comunicações.
Após transcrição das entrevistas, elas foram identificadas pela letra E,
seguido de um número correspondente à ordem em que foram realizadas.
Segundo a proposta de Bardin (2009), a organização da análise perpetua em
três diferentes polos: pré-análise; exploração do material; e tratamento dos
resultados, inferência e interpretação, conforme se observa no Quadro 2.
A pré-analise é a primeira fase da organização da análise, cujo objetivo é a
sistematização de ideias iniciais a fim de conduzir o desenvolvimento das operações
sucessivas, num plano de análise, que geralmente possui a escolha de documentos
a serem submetidos, a formulação de objetivos e hipóteses, e a formulação de
indicadores para a fundamentação da interpretação final. A exploração do material,
por sua vez, é ancorada no rigor metodológico e tem o propósito da aplicabilidade da
sistematização dos planos e objetivos formulados. Consiste essencialmente em
operações de codificações, decomposição ou enumeração, em função de regras
previamente estabelecidas. O tratamento dos resultados obtidos e a interpretação
podem valer de operações estatísticas simples e complexas, de acordo com a
necessidade do estudo, permitindo estabelecer um quadro que condense a síntese
dos resultados para a sua interpretação (BARDIN, 2009).
Quadro 2. Etapas da técnica de Análise de Conteúdo proposta por Bardin. Niterói, RJ, 2015
1ª etapa Pré-análise
É a sistematização de ideias iniciais a fim de conduzir o desenvolvimento das operações sucessivas, em um plano de análise.
2ª etapa Exploração do
material
Enquanto a exploração dos dados é ancorada no rigor e tem o propósito da aplicabilidade da sistematização dos planos e objetivos formulados, consistindo essencialmente em operações de codificações, decomposição ou enumeração, em função de regras previamente estabelecidas.
3ª etapa Tratamento dos
resultados, inferência e
interpretação
O tratamento dos resultados obtidos e a interpretação podem valer de operações estatísticas simples e complexas permitindo a síntese dos resultados para a sua interpretação.
Fonte: Gonçalves, 2013
Na primeira fase, pré-análise, foi realizada a disposição dos documentos a
serem analisados. Na sequência, foi preparado o material coletado, a transcrição
48
escrita das falas dos participantes em forma de texto para, através da leitura,
conhecer o conteúdo. A fase seguinte foi escolher as unidades de registro para
serem recortadas do texto.
Nessa fase foi realizada a preparação do material a partir dos dados surgidos
das entrevistas semiestruturadas gravadas e transcritas na íntegra, digitadas e
identificadas separadamente. As falas dos integrantes foram identificadas nas
categorias e citadas na discussão dos dados. A abordagem se deu a partir da
caracterização dos participantes do estudo, da análise dos dados e discussão das
categorias, as quais emergiram das falas, e com as quais se espera atender a
questão norteadora e aos objetivos específicos propostos.
49
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para apresentar os resultados e a discussão sobre a análise da EPS como
ferramenta na qualificação do profissional de enfermagem do CME, se inicia com o
primeiro objetivo específico, a saber: descrever o perfil e o conhecimento dos
trabalhadores do CME sobre EPS.
Os dados da representação das características da população de
trabalhadores do CME estão demonstrados no Quadro 3.
Quadro 3. Perfil dos trabalhadores do Centro de Material e Esterilização, participantes da pesquisa. Niterói, RJ, 2015 (n=31)
Variáveis %
Sexo
Feminino 77,0
Masculino 23,0
Faixa etária
41-50 anos 25,8
51-60 anos 42,0
Mais de 60 anos 32,2
Tempo de trabalho na instituição
10-20 anos 32,0
21-30 anos 34,5
31-40 anos 28,0
Mais de 40 anos 6,5
Tempo de trabalho na CME
1-4 anos 42,0
5-9 anos 38,7
9-13 anos 6,5
Mais de 13 anos 13,0
Categoria profissional
Enfermeiro 9,7
Técnico de enfermagem 5,6
Auxiliar de enfermagem 38,7
Maior nível de formação
Pós-graduação 29,0
Graduação 13,0
Ensino médio 51,5
Ensino fundamental 6,5
Dos 31 participantes da pesquisa, 77% (24) pertencem ao sexo feminino e
23% (7) ao sexo masculino.
50
Em relação à idade, 25,8% (8) se encontram na faixa etária entre 41 e 50
anos, 42% (13) na faixa etária entre 51 e 60 anos e 32,2% (10) se encontram na
faixa acima de 60 anos.
Quanto ao tempo de atuação na instituição, 32% (9) trabalham entre 10 e 20
anos, 34,5% (11) entre 21 e 30 anos, 28% (9) entre 31 e 40 anos e 6,5% (2) atuam
na instituição há mais de 40 anos.
No que se refere ao tempo de exercício no CME, 42% (13) atuam de 1 a 4
anos, 38,7% (12) atuam de 5 a 9 anos, 6,5% (2) atuam de 9 a 13 anos, e 13% (4)
acima de 13 anos.
A categoria profissional do CME está assim distribuída: 9,7% (3) de
enfermeiros (3), 51,6% (16) de técnicos de enfermagem, e 38,7% (12) de auxiliares
de enfermagem.
Em se tratando da formação, dos 31 participantes, 29% (9) possuem, como
maior nível educacional, a pós-graduação, 13% (4) a graduação, 51,6% (16) o nível
médio e 6,5% (2) o ensino fundamental.
Quanto ao sexo dos participantes, se destaca o maior quantitativo para o sexo
feminino, o que, segundo Amorim (2009), está ligado à própria característica da
profissão composta predominantemente de mulheres e que veio se feminilizar com o
advento da modernidade. O cuidar diz respeito a homens e mulheres, mas com a
divisão do trabalho, ficou a cargo das mulheres que desempenham tarefas que
abrangem sensibilidade, carinho e afetuosidade.
A maior parte dos trabalhadores do CME está na faixa etária entre 51 a 60
anos; lotados na instituição há mais de 20 anos e no CME de um a quatro anos.
Frente a essa faixa etária, pode-se ressaltar, segundo Silveira (2008), que o
profissional com idade elevada e vivência profissional no setor CME possui
experiência relacionada aos procedimentos executados. Todavia, essa vivência não
está relacionada a ter mais conhecimento científico. Os profissionais, com o decorrer
do tempo, adquirem segurança e liberdade na execução das atividades, mas não se
deduz com isso, que tais procedimentos estão sendo feitos de forma adequada e
segura.
O tempo e a vivência desencadeiam a composição da identidade do
profissional no serviço, fato esse ressaltado por Souza (2012), que diz que o
trabalhador pode até alterar superficialmente seu comportamento, e que nesse
percurso apresenta interferências em suas relações interpessoais, motivação, gosto
51
pelo trabalho, disciplina, vontade pela execução de tarefas e pela aquisição de
novos conhecimentos. Com isso, esta variação no tempo de serviço favorece a
manifestação de diferentes visões sobre a prática.
O estudo encontrou que os técnicos de enfermagem se apresentam em maior
percentual, disto, compreende-se que o CME é lotado com maior número de
profissionais de nível médio; além daqueles com ensino fundamental.
Souza (2012) entende que a fragmentação do trabalho de enfermagem se
deve a Florence Nightingale, ao criar a divisão social do processo de trabalho em
duas categorias: as ladies nurses, com funções intelectuais de administração,
supervisão, direção e controle e; as auxiliares nurses sob orientação das ladies
nurses, que faziam o trabalho manual e direto aos indivíduos. Essa fragmentação
passou a ser seguida e considerada até os dias de hoje.
A equipe de enfermagem tem papel de destaque no quantitativo do quadro de
pessoal das instituições de saúde. É formada pela enfermeira e pelos técnicos e
auxiliares de enfermagem, profissionais habilitados que, através da divisão social e
histórica do trabalho, desenvolvem suas atividades.
Vale relembrar que o Projeto Larga Escala, implantado na década de 1980,
tinha como objetivo o sistema de educação profissional formal em enfermagem de
nível técnico por meio de ensino supletivo e treinamento em serviço. Tinha em sua
conjectura a assistência e a prestação de serviço em saúde como um espaço
educacional, onde o processo ensino-aprendizagem deveria se adequar às
características do trabalhador, as práticas do trabalho e à precariedade das
instituições de saúde. E que a habilitação profissional em técnico de enfermagem
era concedida através da comprovação de atuação de pelo menos dois anos em
alguma instituição de saúde (BARROS; JÚNIOR, 2013).
A formação de trabalhadores para atuarem no setor saúde segundo princípios
e as diretrizes do SUS, segundo Silveira e Robazzi (2012), é um desafio que deve
ser encarado como aspecto relevante para a própria consolidação do SUS.
Princípios como o da universalização do acesso e da atenção integral à saúde,
dentre outros, exigem nova perspectiva na formação desse trabalhador,
independente do nível de formação que se encontrar, seja fundamental, médio,
técnico ou universitário.
Fica evidente que no movimento de mudanças da educação dos profissionais
de saúde, as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) e as diretrizes do SUS
52
colocam como perspectiva a existência de instituições formadoras com relevância
social; esse fato significa a presença de escolas capazes de formar profissionais de
qualidade, conectados às necessidades de saúde; comprometidas com a construção
do SUS, capazes de produzir conhecimento relevante para a realidade de saúde em
suas diferentes áreas, participantes ativas do processo de EP dos profissionais de
saúde e prestadoras de serviços relevantes e de qualidade (SILVEIRA; ROBAZZI,
2012).
É importante ressaltar, no que diz respeito à formação do trabalhador de
enfermagem do CME, que o órgão ao qual o HUAP está vinculado possui um
programa de capacitação e qualificação profissional, que oferece um benefício em
percentual de aumento salarial àqueles que terminarem o curso, seja na formação
de ensino médio, tecnólogo, graduação, pós-graduação, lato ou stricto-sensu. Mas,
não permite ao funcionário a mudança de categoria profissional.
A seguir, apresentam-se as respostas sobre conhecimento dos trabalhadores
de enfermagem do CME sobre EPS, através do Quadro 4.
Quadro 4. Conhecimento dos trabalhadores do Centro de Material e Esterilização sobre educação permanente em saúde. Niterói, RJ, 2015 (n=31)
Participantes Respostas sobre o conhecimento sobre EPS
E1 Sim. É estar recebendo informações constantemente nessa área.
E2 Sim. Acho que é o ensinamento com aprendizagem constante no que diz respeito à saúde ou à promoção dela.
E4 Sim. Faltam exames periódicos.
E5
Sim. É a instituição desenvolver projetos onde abrange o encaminhamento para exames periódicos, cursos e atividades que traga o bem-estar do funcionário, fisicamente e emocionalmente.
E6 Sim. É a criação de cursos de atualização para cada unidade específica. Atualizando as equipes e melhorando o relacionamento interpessoal.
E7 Não. Respondi “não” para que isso possa ocorrer mais depressa.
E8 Não vou saber te responder legal. Eu desconheço esse tema aqui no CME.
E9 Sim. Educação continuada. Ela não é uma coisa estática, ela se aperfeiçoa e tem que chegar até a gente.
Continua...
53
...continuação.
Participantes Respostas sobre o conhecimento sobre EPS
E10
Sim. Educação continuada, onde todos os dias se fizesse uma reciclagem, se buscar ideias e propostas novas. Atualização para que o nosso serviço saia da melhor forma possível. É também melhorar a nossa qualidade de vida.
E11 Sim. Atualização com as novas técnicas, normas, novas maneiras, por exemplo, de tratar o instrumental. Isso é importante, as mudanças tem que ser informadas.
E12 Sim. Eu acho que é estar sempre orientando os funcionários.
E14 Saber mesmo o que é eu não sei.
E15 Sim. Eu entendo que é uma convivência direta com o aprendizado, o que você está fazendo.
E16 Não sei, não estou por dentro.
E17 Sim. Oferecer meios para você trabalhar. É você estar bem no trabalho e isso inclui os cursos de qualificação.
E18
Sim. Para mim é uma continuidade da educação no seu cotidiano, ou seja, sempre que necessário, com cursos, workshops, enfim, aulas, palestras para que haja melhorias no setor de trabalho.
E22 Sim. A meu ver é reciclagem, utilização de novas técnicas de esterilização, visando sempre o bem-estar e saúde do paciente.
E23 Sim. Eu acho que é um conjunto de tudo. Assiduidade, setor muito bem lapidado e trabalhado. Com mão de obra específica.
E25
Sim. A atualização do nosso trabalho e de conhecimentos novos. A medicina, a informática e novas tecnologias e precisamos acompanhar. Não podemos ficar parados no tempo e no espaço.
E3; E13; E19; E20; E21; E24;
E26-E31
Não.
O Quadro 5 apresenta impressões sobre o processo de trabalho no CME e
conhecimento sobre EPS, demonstrado também na Figura 3.
Quadro 5. Impressões dos trabalhadores do Centro de Material e Esterilização sobre o processo de trabalho no setor. Niterói, RJ, 2015 (n=31)
Variáveis Sim (%) Não (%) Opção por trabalhar no CME 13,0 87,0 Atuação em outro setor da instituição 100,0 - Satisfação com desempenho no CME 90,3 9,7 Existência de trabalho em equipe 83,8 16,2 Estresse com o trabalho no CME 87,0 13,0 Ocorrência de ações de EPS 6,5 93,5 Conhecimento sobre EPS 38,7 61,3
54
Figura 3. Impressões dos trabalhadores do Centro de Material e Esterilização sobre o processo de trabalho no setor. Niterói, RJ, 2015 (n=31)
13%
100% 90,3%
83,8%87%
6,5%
38,7%
87%
0%
9,7%
16,2%13%
93,5%
61,3%
OPÇÃO POR TRABALHO CME ATUAÇÃO EM OUTRO SETOR DA INSTITUIÇÃO
SATISFAÇÃO COM DESEMPENHO CME
PERCEPÇÃO TRABALHO EM EQUIPE
ESTRESSE COM TRABALHO EM CME
OCORRE AÇÕES DE EPS CONHECIMENTO SOBRE EPS
SIM
NÃO
Em relação à impressão sobre o processo de trabalho, 13% dos profissionais
fizeram a opção para atuar nesta unidade. Todos já desempenharam atividades em
outros setores do hospital; a maioria está satisfeita com a função que executam no
CME; tem percepção do trabalho em equipe e de que decorre estresse no
desenvolvimento de suas atividades. Quanto à ocorrência de ações sobre EPS, a
maior parte respondeu não acontecer, o que também foi evidenciado em relação ao
conhecimento sobre EPS, em que grande percentual desconhecia (61,3%) ou a
resposta não era condizente com o conceito (38,7%).
Foi utilizado um recurso gráfico, através de um programa da internet
denominado nuvem de palavras, para representação das falas dos participantes da
pesquisa no intuito de se encontrar as categorias sobre a percepção do profissional
do CME com relação à EPS e a identificação dos fatores que contribuem para que
ela não ocorra no CME. A representação das palavras traz ainda aspectos sobre o
trabalho desenvolvido no CME.
A palavra trabalho foi a que mais emergiu da fala dos trabalhadores,
conforme Figura 4.
55
Figura 4. Representação das falas dos participantes da pesquisa, por meio de recurso gráfico de computação nuvem de palavras. Niterói, RJ, 2015 (n=31)
A computação na nuvem representa um novo modelo de serviço capaz de
fornecer todo o tipo de processamento, infraestrutura e armazenamento de dados
através da internet. É um recurso gráfico para descrever os termos mais frequentes
de um texto. O tamanho da fonte em que a palavra é apresentada é uma função da
frequência da palavra no texto palavras mais frequentes são desenhadas em fontes
de tamanho maior, palavras menos frequentes são desenhadas em fontes de
tamanho menor (PEDROSA; NOGUEIRA, 2011).
5.1. A relevância da concepção de trabalho no CME e sua representação gráfica
O trabalho desenvolvido pelos profissionais de enfermagem do CME é de
extrema importância para o progresso de todas as atividades que deste setor
dependem.
56
Em grande parte do tempo as pessoas estão dentro das organizações de
trabalho e são as responsáveis por seus resultados, que podem ou não estar de
acordo com os objetivos estabelecidos (SOUZA, 2012).
Souza (2012) cita Estelle Morin, que se refere ao trabalho como centro de
desenvolvimento na identidade da pessoa, que dá sentido à vida. E diz que quando
você tem um trabalho, tem uma razão para acordar de manhã, tem objetivos comuns
com outras pessoas, se sente útil no planeta [...]. O trabalho é o centro de equilíbrio
das pessoas. Quando você não trabalha as coisas tendem a se deteriorar, [...] e o
trabalho preenche as lacunas da vida, conforme percebido nos depoimentos dos
participantes:
“Fora o estresse, gosto muito da equipe. Me acolheram muito bem quando eu vim para cá. Vim porque estava doente, as pessoas colaboram comigo, me ajudam”. E29
“[...], eu gosto daqui, eu acho que sou útil aqui, apesar da minha limitação e de não poder fazer muitas coisas; não posso com peso”. E22
“Eu procuro executar minhas atividades da melhor maneira possível, sempre pensando no próximo, que é a clientela.” E20
“Hoje eu me sinto muito importante, quando eu vim para cá achei que aqui fosse o fim da linha [...]. Hoje eu vejo a minha importância aqui neste setor”. E18
“Eu me sinto bem aqui, estou bem localizada na função que eu sei fazer e faço bem feita. Eu gosto do que faço”. E7
“Eu gosto de trabalhar aqui, gosto dos meus colegas, mas, na verdade, gosto mesmo é de trabalhar com o paciente, mas estou sem condições devido à idade já avançada e também por apresentar problemas de saúde”. E12
Desde os seus primórdios, a humanidade mostra que os seres humanos
precisam de cuidado para sobreviver, não apenas para curar-se em situações de
doença, mas para viver com saúde, felicidade e bem-estar. E que os cuidados,
milenarmente, vêm sendo desenvolvidos por indivíduos ou grupos com diferentes
qualificações em diferentes cenários. Por meio de Florence Nightingale, na segunda
metade do século XIX, a enfermagem passou a ser uma profissão de saúde
reconhecida, com um rol de atividades especializadas e necessárias para a
sociedade, ganhou especificidade no conjunto da divisão do trabalho social e seu
57
exercício passou a depender de formação especial bem como de uma produção de
conhecimentos (PIRES, 2009).
Histórica e mundialmente, a legalização da profissão de enfermagem é
demonstrada pelo montante numérico destes profissionais. Trata-se de uma
profissão que está presente em todas as instituições assistenciais, sendo que na
rede hospitalar está presente nas 24 horas de todos os 365 dias do ano (PIRES,
2009).
Taube (2007) compreende a enfermagem como uma profissão que utiliza
saberes para subsidiar suas práticas, como forma de ser, fazer, pensar e transformar
em seus ambientes de trabalho, de interagir, dialogar e modificar os seres humanos
com quem estabelece relações nestes ambientes por meio do cuidado.
A breve reflexão sobre o trabalho de enfermagem apontada por Souza (2012)
se refere ao profissional enfermeiro como sendo o responsável pelo cuidado ao
paciente e pela equipe sob sua responsabilidade, no administrativo, gerenciamento
do cuidado, educativo, ensino, treinamentos, educação continuada, não se
esquecendo da pesquisa para o aprimoramento pessoal.
A qualidade das ações de enfermagem desempenhadas pelos trabalhadores
do CME interfere diretamente na qualidade da assistência prestada aos usuários,
como se observa na fala dos participantes.
“É um trabalho de grande importância, por isso fazemos tudo com muito carinho e muito cuidado, e a gente sabe que se não fosse o CME, o hospital não funcionaria”. E29
“Acho que o trabalho desenvolvido aqui [...] requer uma participação profissional intensa, apesar de não trabalhar direto com o paciente, mas sei que tudo que é feito aqui é direcionado para todos os setores e está relacionado ao paciente. Aqui é o coração do hospital”. E2
“Se não tivermos uma boa atuação, o hospital não funciona. O CME tem que funcionar a pleno vapor, tolerância, personalidade, [...], muita tolerância com os colegas com limitação”. E10
“Na minha equipe, (serviço noturno), nós nos ajudamos, cada um tem a sua função. A opinião de cada um aqui prevalece. A opinião de todo mundo é válida. E18
Para a realização de um determinado trabalho, não basta apenas a
sabedoria; o esforço constante da vontade para executá-lo deve estar além do
58
esforço físico, e isso se torna maior quanto menos atrativos forem os elementos do
trabalho (SOUZA, 2012).
Podemos perceber na fala dos profissionais a importância que é dada a este
setor, em revelar que o trabalho desenvolvido no CME é vital para a instituição.
Nesse contexto, a primeira categoria vem discutir a percepção do profissional
do CME sobre EPS.
5.1.1. Categoria 1. A pluralidade de percepções sobre EPS: ensino-aprendizagem
constante, reciclagem, criação de cursos, educação continuada, capacitação
“[...] é o ensinamento com aprendizagem constante. [...]” E2
“Criação de cursos de atualização para cada unidade específica.” E6
“[...] educação continuada, informações pertinentes ao trabalho, que devem ser mantidas atualizadas, mudanças, novos descobrimentos, estar a par de todo o processo em seu andamento. Não é uma coisa estática, ele se aperfeiçoa e tem que chegar até a gente [...].” E9
“[...], reciclagem, busca de ideias e propostas novas, nos atualizarmos para que nosso serviço saia da melhor forma possível [...].” E10
“Continuidade da educação no seu cotidiano, ou seja, sempre que necessário, com cursos, workshops, aulas palestras, para que haja melhoria no setor de trabalho”. E18
Silva (2007) faz uma reflexão sobre o desconhecimento acerca dos conteúdos
teóricos sobre CME no ensino das escolas de enfermagem brasileiras, em que
raramente ocorre a apresentação destes conteúdos enquanto disciplina específica,
ficando inseridas em outras disciplinas. Ela destaca que os profissionais que tiveram
oportunidade de atuar no CC possui mais domínio do trabalho desenvolvido em
CME, já que este setor possui estreita relação com a referida unidade.
Os assuntos relacionados ao desenvolvimento do CME são pouco abordados
nos cursos de graduação e na maioria das vezes o enfermeiro tem dificuldade de
dominar o assunto relacionado às atividades, embora o enfermeiro seja de grande
importância para o setor, já que é o responsável técnico dela.
“Acho que a chefia deveria oferecer mais cursos, palestras com os funcionários. Orientação sobre os procedimentos que não são oferecidos, simplesmente coloca o funcionário no setor sem nenhuma orientação; é um setor que requer muitos cuidados e informação”. E25
59
“Deveria haver maior interesse em estar fazendo uma reciclagem com o pessoal, pois é um setor muito importante.” E17
O sujeito que se abre ao mundo e aos outros inaugura com seu gesto a
relação dialógica que se confirma como inquietação e curiosidade, como ser
inconcluso em permanente movimento de busca (FREIRE, 2011). A educação é
prática pedagógica libertadora, capaz de gerar nos trabalhadores a consciência de
sua condição, baseado no diálogo, na liberdade e no exercício de busca ao
conhecimento participativo e transformador.
Existem serviços de saúde que já estão se adequando em relação à estrutura
física, recursos materiais e tecnológicos e no quadro de trabalhadores que compõe o
CME, reconhecendo sua importância no contexto hospitalar e na qualificação das
práticas laborais. Acolher e preparar esse trabalhador se faz necessário,
possibilitando-lhe o enfrentamento de obstáculos e de insatisfações no dia a dia e no
favorecer a EP para o trabalho. O estimulo à participação em programas de
desenvolvimento profissional e em atualização constante se faz relevante. Assim
como momentos de reflexão, análise e discussão, para que se percebam fazendo
parte de um setor de grande desenvoltura (LOPES et al 2007 apud SOUZA 2012).
A reforma do CME da instituição cenário desse estudo ocorreu recentemente,
se adequando à nova RDC relativa ao tema, considerando-se as diferentes etapas
do processamento dos artigos até sua distribuição às UC. Trouxe maior visibilidade
para esta unidade e mais conforto para a execução das atividades laborais, já que o
ambiente obedeceu aos projetos arquitetônicos.
Nesse contexto, houve a percepção dos trabalhadores da necessidade de
estarem mais bem qualificados para que o processamento de materiais seja
garantido de forma segura e eficiente.
[...]. Porque o setor aqui é que desenvolve todo o hospital. Precisa de uma educação continuada para os auxiliares e técnicos e para os enfermeiros também, porque quando se fala em educação continuada só se direciona para o auxiliar e o técnico”. E7
“[...]. Quando questionamos certo ocorrido, ouço: ‘aqui tem pouco trabalho, o trabalho aqui é fácil de fazer’. A realidade é outra, completamente diferente. Trabalhamos com equipamentos caríssimos e muito diversificados, material que você tem que estar atento [...]. E só mandam para cá pessoas doentes, limitadas e sem condições para o serviço. Na realidade, se tem poucas condições para que o CME funcione bem”. E10
60
“O CME é um depósito de pessoas, não se tem a preocupação de melhoria do trabalho. Quem sabe, sabe e quem não sabe continua sem aprender. Não existe educação continuada. A coordenadora do setor sabe, mas não passa. Ela tem muito conhecimento científico.” E25
Sabemos que a EPS é destinada ao todos os profissionais que atuam na
unidade hospitalar, principalmente no cenário desse estudo. Mas a fala dos
depoentes deixa claro que os profissionais de nível médio esperam do enfermeiro
um posicionamento que considere o trabalhador como sujeito de sua própria
aprendizagem e não como simples sujeito sem respostas e conhecimento. Sua
vivência, realidade, sua forma de ver e ler o mundo precisam ser consideradas.
O conhecimento científico que o profissional enfermeiro possui é o que o
diferencia dos profissionais de nível médio, que, apesar de desempenharem
atividades no cotidiano na execução de tarefas repetidas e fracionadas, espera
desse profissional um envolvimento maior nas atividades de planejamento,
supervisão e controle, não como exigência legal respectiva ao exercício da
profissão, mas o reconhece como diferencial positivo para qualidade dos serviços
prestados (SILVA; 2007).
“No geral, o trabalho aqui deixa muito a desejar, precisa de mais empenho por parte da chefia e coordenação. A palavra certa seria mais determinação para que os profissionais pudessem enxergar de uma outra forma [...].” E7
“O trabalho do CME é o coração do hospital, porém a chefia e coordenação não dão o devido valor.” E23
“Hoje o problema vivenciado é que nos consideramos um tanto quanto não representados junto aos demais setores do hospital, pois, atitudes ou medidas deveriam ser tomadas para a solução de problemas externos quando identificados, [...]. Percebo que muitos funcionários desse CME têm ficado muito chateados com isso.” E9
A programação de eventos relacionados à EPS irá contribuir para o
aprimoramento e sensibilização dos profissionais quanto à qualidade prestada e
segurança nos serviços oferecidos.
A observância de forma a atender a referida RDC na instituição cenário ainda
tem algumas etapas a serem cumpridas, como: a aquisição de uma lupa,
equipamento indispensável na detecção de sujidades e qualidade do instrumental,
protetores auriculares como EPI indispensável ao uso das pistolas de ar comprimido
e, também, área de descanso para os profissionais do serviço noturno, que não foi
61
contemplada por ocasião da obra, fazendo com que continuem do mesmo modo
anterior à resolução: descansando no chão.
O cumprimento da RDC se faz necessário, pois, traz benefícios aos
trabalhadores do CME e usuários dos serviços de saúde.
“O CME é fator vital para o hospital. Tudo que o hospital consome a nível de material é produzido aqui. Se tem uma responsabilidade enorme.” E13
“Como na maioria dos CME das outras instituições, apresenta falhas, sempre se procurando corrigir, melhorar. O trabalho no CME é importante, mas não existe reconhecimento, principalmente das camadas hierárquicas acima, dos superiores”. E20.
“Deveria haver um maior interesse em estar fazendo uma reciclagem com o pessoal, pois é um setor muito importante.” E17
O conceito que é atribuído aos profissionais do CME é o de menos valor já
que se encontram próximos da aposentadoria ou possuem condições limitantes. Na
referida unidade, o descrédito com o setor acontece frequentemente, principalmente
pelo seu maior consumista que é o CC. A culpa pelo desaparecimento de
instrumentais ao término das cirurgias, seja da instituição ou de uso privativo do
cirurgião, faz com que muitas vezes seja autorizada a abertura de várias bandejas
esterilizadas na procura do referido instrumental, ocasionando o retrabalho. Tal fato
caracteriza-se como não valorização do trabalho do profissional, causando estresse;
ademais, isso onera a instituição. O erro recai sempre sobre o setor CME fazendo
com que os profissionais se sintam cada vez mais desestimulados e excluídos.
O trabalho desenvolvido no CME deve ser divulgado pelo enfermeiro, assim
como a interação estabelecida com as UC relacionadas ao processamento de
material. Esse profissional também tem como responsabilidade a divulgação do
trabalho relacionado à prevenção de infecção nas unidades satélites e demais UC já
que a área de esterilização evoluiu muito nos últimos anos. O profissional não se
sente valorizado nas diversas atividades desempenhadas por ele nesta unidade,
como sinalizam:
“Falta uma boa relação dos funcionários de outro setor com os do CME e vice-versa. Tem que ter educação, respeito com os funcionários do CME. Os funcionários externos ao CME acham que só o trabalho deles é prioritário. O CME é consequência do trabalho externo, esquecem a desenvoltura que o trabalho do CME apresenta, eles acham que o
62
trabalho é mecânico e é um trabalho técnico, embora eles não acreditem.” E4
“A noite pela supervisão é muito esquecida, você participa dos problemas. Estamos pedindo um computador desde o ano passado. O computador tem, mas é só da coordenação. Um computador para tirar dúvida, querer fazer uma pesquisa.” E16
“[...] A maioria não conhece os materiais. Quem vem para o CME é só pessoal doente. A vida é cíclica e o trabalho do CME também. Nós estamos parados no tempo aqui dentro.” E25
Distingue-se ainda que a prática educativa crítica envolve o movimento
dinâmico, dialético, entre o fazer e o refletir sobre o fazer e, assim, associamos o
pensamento de Freire (2011) à proposta da política de EP, ao afirmar que a reflexão
crítica sobre a prática é fundamental no processo de formação e aprimoramento dos
profissionais da saúde, pois, é pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem
que se pode melhorar o cotidiano.
Segundo Ceccim (2004), as reformas que tem ocorrido no campo da saúde
tem se defrontado muito regularmente com a necessidade de políticas específicas
voltadas para os trabalhadores na área de recursos humanos. Ele considera
também que não se pode colocar a área de formação como lugar secundário, mas
sim como centro das políticas de saúde. Retirando os trabalhadores da condição de
“recursos” para atores sociais das reformas, do trabalho, das lutas pelo direito à
saúde e da disposição de práticas acolhedoras e resolutivas de gestão e de atenção
à saúde.
Importante considerar que a instituição possui um plano anual de capacitação
cujas promoções por titulação são direito garantido para os profissionais em seu
Plano de Cargos e Vencimentos.
A inovação se dará com foco na melhoria dos processos, melhorando o
potencial desse trabalhador, com maior motivação e satisfação pessoal.
5.1.2. Categoria 2. A inter-relação entre EPS e saúde do trabalhador do CME
O trabalho da equipe de enfermagem envolve a relação entre sujeitos. O
cuidador, a subjetividade, a história, os direitos, as necessidades, as relações com
os demais profissionais, a concepção cultural - profissional de saúde e o sujeito
cuidado. Estas expectativas e interesses podem aproximar e potencializar a
63
perspectiva do cuidado de si e do outro ou distanciar e gerar conflitos (PIRES,
2009).
“Eu observo alguns colegas que talvez não estão muito ligados e muitas vezes correm o risco de se contaminar e esse risco não é observado, ele não é orientado, não são cobrados. Essa falta de orientação acaba contribuindo para que o funcionário fique doente. Ocorre a cobrança indevida de outras coisas e a orientação não se tem”. E1
“Cada setor precisa de uma orientação profissional. O fluxo de trabalho precisa melhorar, mas fico inibida, porque sei que não vou ser ouvida. Eu sinto que vou extrapolar a minha condição. Você tem que dar provas do serviço, mal estimulado, mal coordenado. A forma como colocar as coisas e você não se atreve a dar um passo a mais. Você fica retraída”. E28
“(...) Buscar ideias e propostas novas, nos atualizarmos para que o nosso serviço saia da melhor forma possível e como forma de melhorar a nossa qualidade de vida”. E10
Na prestação de cuidados incluem ações de prevenção, proteção e
recuperação da saúde, tendo como foco a atenção ao usuário dos serviços de
saúde. Porém, com as novas tecnologias aumentou a carga de trabalho e, como
consequência, a susceptibilidade dos trabalhadores aos agravos (COSTA;
FUGULIN, 2011).
Segundo Azambuja et al (2010, p. 659):
Os trabalhadores da enfermagem, inseridos em diferentes organizações institucionalizadas, convivem com diferentes cargas de trabalho e estão expostos a diferentes situações de risco ocupacional. No ato de trabalhar em sua complexidade [...], o trabalhador tende a percorrer o caminho da produção da saúde ou da produção do desgaste.
O sentimento de inutilidade gerado pela falta de valorização profissional se
justifica num cenário em que o profissional não tem suas opiniões e necessidades
atendidas, onde inexiste o diálogo e não se tem assistência para os problemas
identificados.
Ayala e Oliveira (2007) revelam, em seus estudos sobre o trabalho no setor
de saúde, que o desgaste emocional e físico dos trabalhadores públicos se dá em
decorrência da maneira como é organizado. Eles baseiam-se na compreensão entre
as relações complexas, entre a fragmentação e divisão do trabalho, no protagonismo
dos trabalhadores e nas repercussões dessas relações no processo de trabalho e
64
salientam os conflitos surgidos quando os trabalhadores se confrontam com
situações de trabalho fixadas, muitas vezes, alheias à sua vontade.
“É um trabalho importante, mas falta estímulo, não tem um supervisor que venha conversar com você, você não é reconhecido. Não dá importância ao seu trabalho.” E16
“Observo que o trabalho é dinâmico, efetivo e todos imbuídos para o mesmo sentido, nos causando, às vezes, impasses, devido a uma situação de direcionamento melhor da gerência.” E28
As atividades realizadas no CME devem garantir segurança para os usuários
dos serviços de saúde, bem como as UC e trabalhadores envolvidos no
processamento de materiais.
“São vários problemas, vou citar um: cada funcionário aqui tem uma função, atividade específica e não se interessa ou falta orientação para aprender a fazer qualquer tipo de serviço aqui dentro. (...) deveria aprender todas as atividades. Quando alguém adoece e não aparece no setor, não tem outro para substituí-lo, a função fica descoberta. Precisamos aprender de tudo”. E10
“Há dificuldade de a coordenação aceitar uma ideia, tudo tem que partir da chefia. Eles deveriam ouvir os funcionários, porque quem fica mais tempo aqui é o funcionário de nível médio (...). E se você discorda de alguma opinião é vista de outra forma”. E26
Souza (2012) distingue o processo de trabalho do CME que ele comparou a
uma linha de montagem, do trabalho de uma indústria que utiliza materiais limpos
em suas atividades, com ausência de carga microbiana. No CME, os artigos, em sua
maioria, estão impregnados de fontes contaminadas, exigindo conhecimento e
cuidados específicos dos profissionais que os manipulam. E os setores ou as áreas
que compõem o CME são dotados de características específicas que garantem a
qualidade do trabalho no processamento dos diferentes materiais.
Os trabalhadores que desenvolvem suas atividades no CME necessitam de
conhecimentos sobre todas as etapas do processamento de materiais. Valorizar as
práticas, com a validação dos processos para que efeitos adversos possam ser cada
vez mais minimizados.
“Relacionado ao uso do EPI no expurgo porque eu soube que tem material que é até cancerígeno.” E12
65
“São muitas coisas para enumerar. O recebimento do material sujo, o uso do EPI, tudo novo que precisa de orientação, a orientação mínima possível para a gente poder operar como nos casos da autoclave”. E13
Os processos de trabalho atualmente caracterizam-se sob o modelo
capitalista, juntamente com o neoliberalismo e o processo de globalização, serviços
de saúde são vistos como produtores de bens e serviços para consumidores
exigentes. A saúde e a enfermagem se transformaram em atividades
comercializáveis no mercado com serviços que produzem bens e trabalhos
imateriais, o trabalho em saúde, a economia e a política constituem a atmosfera do
trabalho, o que, nos dias de hoje, podem ser vistas na competitividade do mercado
de trabalho e na necessidade de constantes inovações para manter-se nele (SOUZA
2012).
Os trabalhadores demonstram o desejo de que a realidade deles mude. A
EPS precisa acontecer nesse espaço. E para que se torne realidade necessita de
ações efetivas. Os desafios são muitos, fazer com que a EPS seja realidade no setor
CME para melhor desempenho das atividades, contribuindo para a excelência dos
processos e melhor satisfação do trabalhador.
“O CME tem um estigma: lugar de funcionário doente, lugar que ninguém quer nada. O estigma é muito grande e tem que acabar, tem que colocar gente nova, fazer reciclagem; sem esse setor, o hospital não existe.” E13
“(...), deveria se olhar um pouquinho mais a parte emocional do grupo que trabalha aqui. O pessoal já vem com uma situação lá de fora, já foi colocado aqui com uma situação, por uma necessidade. Nessa pressão, nesse estresse você fica mais doente aqui dentro”. E8
“Para que haja melhoria é necessário que haja reflexão dos superiores, da diretoria, da gerência, para poder mudar. E não pensar que o CME de hoje é a mesma de 50 anos atrás”. E25
Freire (2011) afirma que vivemos em uma sociedade dividida em classes,
sendo que os privilégios de uns impedem que a maioria usufrua dos bens
produzidos e coloca como um desses bens produzidos e necessários para
concretizar a vocação humana de ser mais a educação da qual é excluída grande
parte da população, já que a educação existe como prática da dominação.
É preciso entender a complexidade do ser humano no exercício da gerência
em assuntos relacionados ao fazer, ao saber, ao desejo, ao grupo. Souza (2012) se
refere a enfermeira gestora da equipe de enfermagem no CME como a que planeja
66
e organiza o ambiente de trabalho e os recursos humanos pautada em
conhecimentos técnico-científicos, onde o foco das atividades se concentra mais no
processamento de artigos, materiais e menos no trabalhador, na equipe e na
dinâmica de trabalho.
É necessária maior atenção por parte da coordenação, gerência e gestão da
instituição, com melhor qualificação, para que os procedimentos padronizados pelo
estabelecimento de protocolos permitam facilitar que o processamento de material
seja oferecido de forma segura e eficiente.
Sendo assim, para identificar que fatores contribuem para que não ocorra a
EPS no CME emerge a terceira categoria.
5.1.3. Categoria 3. A necessária implementação da EPS no CME: em busca da
resolutividade e excelência no trabalho
Carvalho Jr. (2012) atenta para a atualização e capacitação como
responsabilidade dos profissionais de enfermagem e que essas devem ser
mediatizados frente às necessidades e como apoio a novas tecnologias. Refere-se à
EP como facilitadora aos trabalhadores do CME no acompanhamento das novas
tecnologias presentes nos equipamentos e processos, para o desenvolvimento das
atividades deste setor, com habilidade, compreensão no favorecimento ao
processamento de material efetivo para o usuário. A responsabilidade da EP precisa
ser compartilhada com a instituição.
“O que eu sinto é que a tecnologia, hoje, ela tem avançado muito rápido e a cada momento estamos recebendo novos aparelhos, novos instrumentais, com especificações e diferentes processos. Não há um acompanhamento da parte educacional nesse item. Muitas vezes não temos todas as informações que teríamos que ter e acabam prejudicando o resultado final”. E9
”Qualificação de pessoal, onde todos aprendam a manusear os equipamentos para que na falta de determinado funcionário, outra pessoa possa desenvolver essa atividade”. E6
“A questão do próprio fluxo; está cheio de aparelhagem nova, que estão chegando [...], mas você não tem um manual para ser lido, um técnico para orientar. Todos precisam saber”. E14
67
“Acho que aqui o trabalho é complicado, muito burocrático. Deveria ocorrer uma mudança nessa parte mais burocrática, poderia simplificar [...], O tempo todo é necessário passar mais conhecimento. Eu vim de outro setor e cheguei aqui e encontrei muitos equipamentos diferentes.” E2
“Trabalhamos com equipamentos caríssimos e muito diversificados, material que você tem que estar atento. E só mandam para cá pessoas doentes, limitadas e sem condições para o serviço. Na realidade, se tem poucas condições para que o CME funcione bem”. E10
“Eu acho que a dispensação e guarda do material deve ser mais vista, porque quando precisam do material, não se encontra no local devido. Ele tinha que estar bonitinho lá”. E29
Silveira e Robazzi (2012) evidenciam que cada vez mais, no Brasil, tem-se
discutido a importância da formação de recursos humanos em saúde como forma de
mudança das práticas e de assistência. Tal questão relaciona-se, também, às
situações culturais e econômicas da sociedade, havendo uma influência recíproca
entre a formação e o contexto em que as práticas em saúde se realizam. Nessa
perspectiva, algumas ações têm sido implementadas a partir da reforma dos
sistemas de saúde, com a mudança de enfoque das práticas assistenciais, levando
em conta as ações relacionadas à promoção em saúde.
“A atualização do nosso trabalho, de conhecimentos novos. A medicina, a informática e novas tecnologias são conhecimentos novos. O nosso serviço precisa acompanhar. Não podemos ficar perdidos no tempo e no espaço”. E25
“As ideias não aceitam, porque não vai depender dos colegas, tem que passar primeiro pela coordenadora e chefia imediata; não tem como desenvolver nada”. E19
“[...] precisamos de qualidade no trabalho. Aqui não se tem acesso a um computador para se tirar alguma dúvida, um trabalho; não temos esse recurso”. E10
“Precisa de uma chefia que lapide os funcionários, fique do lado, que ouça. Com mais de (...) anos de serviço na CME, só tivemos uma reunião no serviço à noite. Por mais que se peça.” E23
O educando torna-se um objeto para receber de forma paternal a doação do
saber do educador. Esse tipo de educação implica em um mundo harmônico, onde
não há incoerências, daí a manutenção da ingenuidade do oprimido, que como tal se
68
acostuma e acomoda no mundo conhecido e eis aí, a educação exercida como
prática da dominação (FREIRE, 2011).
Com a evolução dos procedimentos cirúrgicos, acompanhados pela aquisição
de instrumentais cada vez mais complexos, exigem-se investimentos na qualificação
dos profissionais através de programas de EP. Os serviços de saúde, através de
seus ambientes virtuais de aprendizagem, disseminam e ampliam o campo de
conhecimento, com a construção de cursos auxiliados pelos seus softwares e
divulgados pela internet. Absorvem profissionais que os métodos tradicionais
encontravam barreiras, resultando em benefícios para a assistência prestada
(TIPPLE et al, 2005).
Tornar o ambiente de trabalho flexível e o investimento em um trabalho
estimulante na tentativa de melhorar as práticas no cotidiano se faz necessário. Até
mesmo como cumprimento da nova resolução. A inovação precisa acontecer nesse
espaço.
Carvalho Jr. (2012), em estudo recente, faz referência aos profissionais de
enfermagem na responsabilidade de se atualizarem e se capacitarem com
frequência, sendo que esses têm a necessidade e o apoio quando consideramos a
influência da tecnologia. Diz que durante a prática profissional percebeu interesse
dos profissionais por estarem se atualizando e capacitando, mas pouca ação para
tal. A EP facilita aos profissionais do CME acompanharem o desenvolvimento
tecnológico presente nos equipamentos e processos desenvolvidos nesta unidade,
ficando aptos a realizarem suas atividades.
Portanto, a visão de espaço de armazenamento de pessoas que se tem
atualmente do CME configura-se como a última possibilidade de ajuste profissional,
o fim da linha para esses trabalhadores. O fim que os surpreende. Não estão
preparados para a complexidade e as novas tecnologias. E aguardam com grande
expectativa, que o cotidiano em suas práticas melhore, que um novo olhar seja
direcionado para eles, pois, tem experiências que precisam ser partilhadas.
Nesse sentido, mudanças tornam se necessárias para que a implantação da
EP no cenário CME torne-se realidade, com planejamento e programação educativa
constante, diante da análise coletiva dos processos de trabalho, na identificação dos
nós críticos, proporcionando a construção de estratégias que permitam o diálogo,
como forma de respeito ao outro, as suas diferenças, reconhecer que como seres
69
inconclusos, inacabados que somos (FREIRE, 2011); só teremos resultados
viabilizados pelo diálogo, transformando de forma contínua as práticas no cotidiano.
A poesia “Tecendo a manhã” reflete a necessidade de mudança, a realidade
ora apresentada pelos trabalhadores de enfermagem do CME.
Um galo sozinho não tece uma manhã: ele precisará sempre de outros galos. De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo, para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
(João Cabral de Melo Neto)
Com isso, as ações que podem ser realizadas para que a EPS aconteça no
ambiente do CME são as que se constituem produtos para esta dissertação de
mestrado: a apresentação do folder para as unidades consumidoras, como forma de
contribuir com a visibilidade a este setor, no respeito e valorização as atividades
desempenhadas pelo trabalhador; a cartilha, com orientações sobre a política de
EPS para os trabalhadores do CME; e um projeto de extensão, para posterior
implantação.
Assim, a EP pode ser pensada como possibilidade ou espaço para trabalhar a
qualificação do trabalhador de enfermagem no CME como, por exemplo, implantar
oficinas ou rodas de conversa onde a cartilha elaborada como produto possa ser
manuseada, lida e entendida pelos profissionais de enfermagem do CME.
70
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para as considerações finais buscamos os objetivos que foram alcançados
através desse estudo. O primeiro objetivo específico se refere ao perfil e
conhecimento dos trabalhadores do CME sobre EPS. Quanto ao perfil, a maior parte
é constituída por mulheres; na faixa etária entre 51 a 60 anos; com tempo na
instituição de 21 a 30 anos; e atuação na unidade CME entre 1 a 4 anos. Os
técnicos de enfermagem, bem como os que possuem como maior nível educacional
o ensino médio são a maioria.
Com relação ao segundo objetivo específico que foi discutir a percepção do
profissional de enfermagem do CME sobre EPS, percebeu-se que ela não é
conhecida pelos profissionais já que quase a totalidade não soube responder
(61,3%) ou a resposta não foi condizente com o conceito (38,7%).
A percepção sobre EPS apresentada pelos trabalhadores do CME revela o
desconhecimento sobre uma prática relevante para o cotidiano em suas atividades
laborais.
No que se refere ao terceiro objetivo que trás a identificação de fatores que
contribuem para que não ocorra a EPS no CME, viu-se que a implementação da
EPS está vinculada a problemas laborais vivenciados pelos profissionais de
enfermagem.
O estudo possibilitou a análise da EPS como ferramenta para a qualificação
do profissional de enfermagem do CME, tendo em vista que todo o trabalho
permeou questões referentes a essa estratégia pedagógica.
Considerando o problema identificado por essa pesquisa de como a EP pode
ser pensada como possibilidade ou espaço para trabalhar a qualificação do
trabalhador de enfermagem lotado no CME, pensou-se em ações que podem ser
realizadas para que a EPS aconteça no ambiente de trabalho no CME. Disto, e com
a finalidade de dar visibilidade a unidade, elaborou-se um folder explicativo que foi
distribuído as UC com informações sobre as atividades desempenhadas no setor.
Com o mesmo propósito, foi desenvolvida uma cartilha com orientações sobre a
política de EPS, bem como proposto um projeto de extensão para desenvolvimento
de outras estratégias para os profissionais, que viabilizem educação, visto que os
trabalhadores percebem a necessidade da EP.
71
O que vivenciei ao realizar esse estudo é que a percepção sobre o
conhecimento acerca do processo de trabalho desenvolvido no CME precisa ser
aperfeiçoado. Os trabalhadores esperam passivamente da coordenação e gerência
atenção merecida, com participação mais efetiva.
Dentre as dificuldades enfrentadas e registradas podem-se citar a pouca
valorização e a reduzida visibilidade do trabalho realizado na unidade CME, não
obstante à adequação quase que completa da estrutura arquitetônica como
preconiza a legislação pertinente. O que fica claro é que mudar somente a estrutura
física não resolve.
O trabalho desenvolvido no CME se constitui de grande relevância frente ao
controle de IH. As atividades desenvolvidas nesta unidade contribuem muito para a
minimização de eventos adversos. Entretanto, o setor só é lembrado quando algo de
errado acontece. Cultura que precisa ser revista e que foi apontada em diferentes
momentos do trabalho de campo.
Os trabalhadores, em seus depoimentos, revelaram a importância do setor e
reconhecem que precisam estar qualificados para atender demandas tão
específicas, e que necessitam ser ouvidos e motivados para o trabalho. Assim, a
EPS precisa ser prioritariamente implementada no CME/HUAP.
É importante ressaltar que este estudo apresenta como limitação a própria
desmotivação da coordenação da unidade CME com o quadro de profissionais, já
que se tornou cultural, na maioria dos hospitais públicos, alocar para esse setor
trabalhadores com alguma limitação. Fato esse evidenciado pelos enfermeiros do
cenário de estudo, que, por obedecerem a uma hierarquia, se sentem impotentes.
Destacam que esperam da coordenação e gerência um posicionamento,
reconhecimento, respaldo e mais autonomia frente às situações e problemas
identificados, para que o processo de trabalho possa ser realizado de forma mais
equânime.
Também ficou evidenciado que é preciso vencer a concepção de CME como
espaço de “armazenamento” de pessoas, configurando-se como a última
possibilidade de adaptação profissional, o fim da linha para esses trabalhadores.
Profissionais que mesmo com a condição de “limitados”, colaboram para um grande
número de procedimentos cirúrgicos e para todas as intervenções que necessitam
de materiais esterilizados. Aguardam, com grande expectativa, que o cotidiano em
suas práticas seja revisto, que um novo olhar seja direcionado a eles.
72
Espera-se que a permanência desses trabalhadores no CME não seja
marcada de ressentimentos, de rejeição pelo não reconhecimento e valorização em
suas atividades, ocasionando aposentadorias precoces.
Para qualidade de vida e do processo de trabalho, alguns aspectos precisam
ser considerados: o estímulo ao uso do EPI, a aquisição de protetores auriculares e,
lupa e a reserva de espaço para o descanso dos profissionais do serviço noturno. A
humanização no trabalho para os profissionais da enfermagem com local digno para
o descanso se torna necessária, já que o descanso no chão ocasiona vários riscos e
como recomendação da resolução vigente precisa ser respeitado. Os que
contribuem para a produção da saúde não podem ter a sua relegada.
A introdução ao uso do computador como ferramenta necessária para
registros e consultas referentes ao processo de trabalho foi identificada como
necessária aos trabalhadores. O setor dispõe somente de um computador na sala
da coordenação, que é de uso privativo.
Um novo olhar, carinho, atenção para a sua formação, trazendo-os para o
foco faz-se necessário. Eles contribuem para a instituição e continuam com essa
finalidade. A submissão precisa ser vencida, pois está ultrapassada. A prática
dialógica precisa prevalecer.
Embora a nova resolução tenha proporcionado a essa unidade maior
visibilidade de seus trabalhadores e de sua importância, e o avanço da tecnologia,
apesar da complexidade, tenha facilitado o trabalho dos profissionais com a
automatização das tarefas, ela não dispensa, contudo, o recurso humano que
continua sendo fator primordial em relação à segurança dos processos de
esterilização.
Há possibilidades. Torna-se imprescindível um olhar inovador no que diz
respeito aos trabalhadores estarem se atualizando, para que venham ter acesso às
promoções por titulação, via capacitação, por direito garantido em seu Plano de
Cargos e Vencimentos.
Esse estudo subsidiará outros, já que foi criado um folder, uma cartilha com
orientações sobre a política de EPS e um projeto de extensão como produtos da
pesquisa. O projeto de extensão será implantado posteriormente com a contribuição
da Escola de Governança em Gestão Pública, recentemente criada por intermédio
da Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas da instituição de ensino na qual o HUAP está
inserido. Essa escola tem por objetivo promover a formação de servidores técnico-
73
administrativos e docentes de maneira continuada, através da EP, incluindo as
categorias que compõem o quadro de enfermagem do CME, que precisam de
melhor compreensão da política de EPS, fato esse evidenciado por ocasião da
pesquisa.
Divulgar e discutir o conceito de EP se faz necessário para toda a equipe do
CME, enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, como forma de
aprimoramento, já que, como política pública de saúde no Brasil, precisa ser
viabilizada aos trabalhadores de toda a instituição,
74
7. PRODUTO DA PESQUISA
Criação de um folder informativo para as UC como forma de contribuir com a
visibilidade e valorização das atividades desempenhadas pelo CME/HUAP/UFF, de
uma cartilha com orientações sobre a política de EPS para os trabalhadores do
CME, e, posteriormente, implantação de um projeto de extensão na unidade CME.
75
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YAMAZAKI, A. A.; ALMEIDA, J. M. Educação, Ética e Cultura. São Paulo: Liber Ars, 2012.
80
APÊNDICES
Apêndice I. Quadro da caracterização dos participantes e respostas sobre o conhecimento de EPS.
Sujeito Sexo Idade Tempo
atuação na Instituição
Tempo atuação
CME
Categoria Profissional
Formação Respostas sobre conhecimento EPS
E1 F 41-50 10-20 1-4 Auxiliar Enfermagem Ensino Médio Sim. É estar recebendo informações constantemente
nessa área.
E2 F 51-60 20-30 1-4 Técnico Enfermagem Pós-
Graduação
Sim. Acho que é o ensinamento com aprendizagem constante no que diz respeito à saúde ou a promoção
dela.
E3 F + 60 20-30 + 13 Auxiliar Enfermagem Ensino Médio Não.
E4 F 51-60 30-40 5-9 Auxiliar Enfermagem Ensino Médio Sim. Faltam exames periódicos.
E5 F 51-60 10-20 + 13 Auxiliar Enfermagem Pós-
Graduação
Sim. É a instituição desenvolver projetos onde abrange o encaminhamento para exames periódicos, cursos e
atividades que traga o bem estar do funcionário fisicamente e emocionalmente.
E6 M 51-60 30-40 9-13 Enfermeiro Pós-
Graduação
Sim. É a criação de cursos de atualização para cada unidade específica. Atualizando as equipes e
melhorando relacionamento interpessoal.
E7 F + 60 30-40 5-9 Técnico Enfermagem Ensino Médio Não. Respondi “não” para que isso possa ocorrer mais
depressa.
E8 F 51-60 + 40 5-9 Técnico Enfermagem Pós-
Graduação Não vou saber te responder legal Eu desconheço esse
tema aqui na CME.
E9 M 51-60 30-40 1-4 Enfermeiro Pós-
Graduação
Sim. Educação continuada. Ela não é uma coisa estática, ela se aperfeiçoa e tem que chegar até a
gente.
E10 F 41-50 10-20 1-4 Técnico Enfermagem Ensino Médio
Sim. Educação continuada, onde todos os dias se fizesse uma reciclagem, se buscar ideias e propostas novas. Atualização para que o nosso serviço saia da melhor forma possível. É também melhorar a nossa
qualidade de vida.
Continua...
81
...continuação
Sujeito Sexo Idade Tempo
atuação na Instituição
Tempo atuação
CME
Categoria Profissional
Formação Respostas sobre conhecimento EPS
E11 M 51-60 30-40 9-13 Técnico Enfermagem Graduação
Sim. Atualização com as novas técnicas, normas, novas maneiras, por exemplo, de tratar o instrumental.
Isso é importante, as mudanças tem que ser informadas.
E12 F + 60 10-20 1-4 Auxiliar de
Enfermagem Ensino
Fundamental Sim. Eu acho que é estar sempre orientando o s
funcionários.
E13 M 51-60 30-40 5-9 Técnico Enfermagem Ensino Médio Não.
E14 F 41-50 20-30 1-4 Técnico Enfermagem Pós-
Graduação Saber mesmo o que é eu não sei não.
E15 F + 60 20-30 5-9 Técnico Enfermagem Ensino Médio Sim. Eu entendo que é uma convivência direta com o
aprendizado que você está fazendo.
E16 F 51-60 + 40 1-4 Técnico Enfermagem Ensino Médio Não sei, não estou por dentro.
E17 F + 60 10-20 5-9 Técnico Enfermagem Ensino Médio Sim. Oferecer meios para você trabalhar.
É você estar bem no trabalho e isso inclui os cursos de qualificação.
E18 F 41-50 20-30 5-9 Auxiliar de
Enfermagem Graduação
Sim. Para mim é uma continuidade da educação no seu cotidiano, ou seja, sempre que necessário, com cursos, workshops, enfim, aulas, palestras para que
haja melhorias no setor de trabalho.
E19 F 51-60 20-30 5-9 Técnico Enfermagem Ensino Médio Não.
E20 F + 60 30-40 5-9 Enfermeiro Pós-
Graduação Não.
E21 M 41-50 10-20 1-4 Técnico Enfermagem Ensino Médio Não
E22 F 51-60 20-30 1-4 Técnico Enfermagem Graduação Sim. A meu ver é reciclagem, utilização de novas
técnicas de esterilização, visando sempre o bem estar e saúde do paciente.
E23 F + 60 20-30 +13 Auxiliar Enfermagem Ensino Médio Sim. Eu acho que é um conjunto de tudo. Assiduidade, setor muito bem lapidado e trabalhado. Com mão de
obra específica.
E24 F 51-60 20-30 5-9 Auxiliar Enfermagem Ensino Médio Não.
Continua...
82
...continuação
Sujeito Sexo Idade Tempo
atuação na Instituição
Tempo atuação
CME
Categoria Profissional
Formação Respostas sobre conhecimento EPS
E25 F + 60 20-30 5-9 Auxiliar Enfermagem Ensino Médio
Sim. A atualização do nosso trabalho e de conhecimentos novos. A medicina, a informática e novas tecnologias e precisamos acompanhar. Não
podemos ficar parados no tempo e no espaço.
E26 F 41-50 20-30 1-4 Técnico Enfermagem Pós-
Graduação Não.
E27 F + 60 30-40 +13 Auxiliar Enfermagem Ensino
Fundamental Não.
E28 F + 60 30-40 1-4 Técnico Enfermagem Graduação Não.
E29 F 41-50 10-20 1-4 Técnico Enfermagem Ensino Médio Não.
E30 M 41-50 10-20 1-4 Auxiliar Enfermagem Pós-
Graduação Não.
E31 M 51-60 10-20 5-9 Auxiliar Enfermagem Ensino Médio Não.
83
Apêndice II. Termo de Consentimento Livre Esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Alcinéa Rodrigues Athanázio / Benedito Cordeiro
Mestranda MPES - EEAAC/UFF / Prof. Dr. Titular do MEP/EEAAC/UFF
alciné[email protected] / [email protected]
Tel.: (21) 98550778. / (21) 2629-9177
Você está sendo convidado a participar da pesquisa intitulada: “Educação
Permanente a Trabalhadores da Central de Material e Esterilização (CME)” que
tem como um dos objetivos analisar como a Educação Permanente pode trabalhar a
qualificação do trabalhador de um CME. Serão direcionadas aos participantes do
estudo quaisquer orientações acerca da temática, garantindo-os informações
pertinentes que serão de grande valia para compreender e desenvolver os seus
depoimentos junto a sua entrevista. As suas respostas serão utilizadas de forma
anônima e confidencial, isto é, em nenhum momento será divulgado o seu nome em
qualquer fase do estudo. Quando for necessário exemplificar determinada situação,
sua privacidade será assegurada por meio de um pseudônimo, que lhe será dado
aleatoriamente. Os dados coletados serão utilizados apenas nesta pesquisa e os
resultados divulgados em eventos e/ou revistas científicas. A sua participação é
voluntária, isto é, a qualquer momento você pode recusar-se a responder qualquer
pergunta ou desistir de participar e retirar seu consentimento. Sua recusa não trará
nenhum prejuízo em sua relação com o pesquisador ou com a instituição que você
desenvolve suas atividades laborais.
Sua participação nesta pesquisa consistirá em responder as perguntas a
serem realizadas sob a forma de questionário, que será gravada em aparelho digital,
com a sua autorização, possibilitando a sua posterior transcrição.
Você não terá nenhum custo ou qualquer compensação financeira. Não
haverá riscos, de qualquer natureza, relacionados à sua participação. O benefício
relacionado à sua participação será de aumentar o conhecimento científico para a
área de enfermagem com foco na Educação Permanente. Você receberá uma cópia
deste Termo onde consta o telefone/e-mail e o endereço do pesquisador
responsável, e demais membros de equipe, podendo tirar suas dúvidas sobre o
projeto e sua participação, agora ou a qualquer momento.
84
Rio de Janeiro, _______ de ________________ de 2014.
Declaro estar ciente do inteiro teor deste TERMO DE CONSENTIMENTO,
estando de acordo em participar do estudo proposto, sabendo que dele poderei
desistir a qualquer momento sem sofrer qualquer tipo de punição ou
constrangimento.
_________________________________ ________________________________
Nome Identidade
Testemunha1
Testemunha2
85
Apêndice III. Instrumento de coleta de dados
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE ESCOLA DE ENFERMAGEM AURORA DE AFONSO COSTA
MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO NA SAÚDE: FORMAÇÃO DOCENTE INTERDISCIPLINAR PARA O SUS
Entrevista com os trabalhadores de Enfermagem do CME para caracterização dos
dados
Identificação para a pesquisa:
--------------------------------------
1 - Sexo
( )Feminino ( )Masculino
2- Idade
( ) 30 a 40 anos
( ) 41 a 50 anos
( ) 51 a 60 anos
( ) Acima de 60 anos
3-Categoria profissional
( ) Enfermeiro
( ) Técnico de Enfermagem
( ) Auxiliar de Enfermagem
4- Formação
( ) Fundamental
( ) Médio
( ) Graduação
( ) Pós- Graduação ( Especialização)
( ) Mestrado
5-Tempo de Trabalho na Universidade Federal Fluminense
( ) 5 a 10 anos
86
( ) 10 a 20 anos
( ) 20 a 30 anos
( ) 30 a 40 anos
( ) acima de 40 anos
6-Tempo de atuação n Centro de Material e Esterilização
( ) 1 a 4 anos
( ) 5 a 9 anos
( ) 9 a 13 anos
( ) Acima de 13 anos
7-Foi opção sua trabalhar no Centro de Material e Esterilização?
( ) Sim ( ) Não
8-Atuação em outro setor da mesma Instituição, além do Centro de Material e
Esterilização?
( ) Sim ( ) Não
9-Você está satisfeito com a função que desempenha no CME?
( ) Sim ( ) Não
10- Existe trabalho em equipe no CME?
( ) Sim ( ) Não
11- Você acha que o trabalho no CME causa estresse?
( ) Sim ( ) Não
SE sua resposta for sim, diga o motivo:
12- Você considera que no seu local de trabalho ocorram ações de Educação
Permanente em Saúde?
( ) Sim ( ) Não
87
Roteiro de Entrevistas
1- Como é estar e a relação de você existir no CME?
2-Como você percebe o trabalho desenvolvido no CME?
3-Você tem oportunidade de apresentar suas ideias ou práticas no cotidiano do
trabalho em CME?
4- Quais os principais problemas vivenciados por você no CME que necessitem de
ações educacionais?
5- Você sabe o que é Educação Permanente em Saúde?
( ) Sim ( ) Não
SE sua resposta for sim, defina, por favor.
6- Gostaria de falar mais alguma coisa?
88
Apêndice IV. Folder
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90
Apêndice V. Cartilha
Serviço Público Federal Ministério da Educação
Universidade Federal Fluminense Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas
Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa (EEAAC) Mestrado Profissional em Ensino na Saúde (MPES)
CONHECENDO A POLÍTICA NACIONAL DE EPS
Orientações sobre a Política de Educação Permanente para o trabalhador do CME
Por Enfª Mestranda Alcinéa R. Athanázio e Profº Dr.Benedito Carlos Cordeiro
Niterói-RJ
Setembro de 2015
91
Caro servidor do Centro de Material e Esterilização,
Esta cartilha tem como principal objetivo fornecer informações sobre a Política de
Educação Permanente em Saúde (EPS) e seu papel para o contexto do trabalho.
Aborda a Educação Permanente em Saúde para os profissionais de enfermagem
que atuam no setor Centro de Material e Esterilização (CME) do Hospital
Universitário Antonio Pedro – UFF – em Niterói-RJ.
Um pouco de história:
Os processos de esterilização surgiram da necessidade de se cuidar
adequadamente dos instrumentais utilizados em procedimentos cirúrgicos.
Inicialmente, estes procedimentos não despertavam interesse para o campo da
Medicina. Estamos falando da era dos pesquisadores Pasteur e Koch. Estes
comprovaram que os micro-organismos eram responsáveis pela transmissão de
doenças aos seres humanos1.
Foto do Hospital Universitário Antônio Pedro – HUAP- Niterói-RJ
92
Os primeiros CME parcialmente centralizados surgiram na década de 1950,
com a implantação dos mesmos nos hospitais brasileiros. Nestes setores a
esterilização da maioria dos materiais hospitalares era realizada, mas o preparo de
alguns destes materiais, como por exemplo, pacotes de curativos, cubas, bandejas,
dentre outros, ainda era realizado pelas unidades consumidoras. E este processo se
dava em ambiente inadequado e por pessoal muitas vezes não qualificado2.
O CME é um dos setores das instituições de saúde que ainda é pouco
valorizado, com baixa visibilidade entre gestores e profissionais, em muitos casos
com inadequação arquitetônica, localização que não atende as demandas e, muitas
vezes, agregado equivocadamente ao Centro Cirúrgico. Em relação ao desempenho
dos profissionais este é traduzido na falta de oferta de capacitações que refletem na
baixa percepção das necessidades de mudanças em seu ambiente laboral.
Nesse sentido, pode ser destacado que no passado os CME não eram vistos
como setores independentes e com autonomia. Os profissionais não tinham
reconhecimento e não eram valorizados em suas funções e o setor responsável pelo
processamento e distribuição de materiais para todo o hospital, inclusive para os
ambulatórios era o Centro Cirúrgico. Tinha-se, neste período, um profissional
enfermeiro responsável para todo o processo. Na atualidade, esse fato não é mais
aceito e as atividades desempenhadas nesse setor são distintas, exigindo-se
habilidades próprias e concernentes3.
Com o avanço das pesquisas em Medicina, com a institucionalização do
paciente e com a organização dos Serviços de Saúde, buscou-se atender às
exigências do preparo dos materiais e da rouparia para os procedimentos cirúrgicos.
Deste modo, foi construído um espaço próprio, em separado, para a realização
dessas atividades. Empreenderam-se esforços para a instalação de equipamentos e
designação de pessoas responsáveis pelas tarefas de limpeza, preparo, e
acondicionamento, controle e distribuição dos materiais. Os CME passaram a
ocupar locais próximos para, assim, garantir o rápido acesso ao material esterilizado.
As mudanças ocorridas no setor CME, foram determinadas pelo avanço da
tecnologia, com o surgimento de instrumentais de difícil complexidade. Assim, houve
a necessidade de um CME mais organizado e que atendesse a estas novas
tecnologias. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) dispõe hoje sobre
requisitos de boas práticas para o processamento de produtos para saúde por meio
da Resolução de Diretoria Colegiada (RDC) nº15, de 15 de março de 2012. – Este
93
Regulamento tem o objetivo de estabelecer os requisitos de boas práticas para o
funcionamento dos serviços que realizam o processamento de produtos para a
saúde visando à segurança do paciente e dos profissionais envolvidos4.
O cenário CME é entendido como unidade ou setor funcional destinado ao
processamento de produtos para saúde dos Serviços de Saúde; representa o
conjunto de elementos destinados à recepção e expurgo, preparo, esterilização,
guarda e distribuição do material para as unidades dos Serviços de Saúde. É a
unidade responsável pelo processamento de todos os materiais utilizados na
assistência à saúde, ou seja, a limpeza, inspeção e seleção no que diz respeito à
integridade, à funcionalidade e ao acondicionamento em embalagens adequadas,
até a distribuição desses produtos esterilizados às unidades consumidoras.
Em relação à planta física para o CME, o Ministério da Saúde do Brasil
recomenda fluxo contínuo, sem retrocesso e sem cruzamento entre artigos limpos e
aqueles contaminados. Portanto, o planejamento desta unidade é de suma
94
importância, considerando-se as diferentes etapas do processamento dos artigos até
sua distribuição às unidades do hospital. Assim, os projetos de Serviços de Saúde
deverão, obrigatoriamente, obedecer às disposições da RDC nº 50 aprovada pela
ANVISA, que normatizou instrumento para elaboração e avaliação dos projetos
físicos adequados às novas tecnologias, na área da saúde. Trata-se de legislação
vigente e, certamente, seu cumprimento traz benefícios aos trabalhadores do CME e
usuários dos serviços de saúde5.
A organização e o funcionamento do CME no Brasil está classificada em:
CLASSE I
É o que realiza o processamento de materiais críticos sem lúmen e sem
espaços internos, de materiais semicríticos e de materiais não críticos, que podem
ser processados em Serviços de Saúde que executam procedimentos estritamente
ambulatoriais.
CLASSE II
É o que realiza processamento de materiais críticos, semicríticos e não
críticos, que podem ser processados em Serviços de Saúde que realizam
procedimentos clínicos e cirúrgicos, diagnósticos ou terapêuticos, em situação de
internação ou semi-internação.
Tendo como foco principal desta unidade o processamento de artigos críticos,
semicríticos e não críticos. O trabalho é organizado seguindo fluxo contínuo,
unidirecional onde os artigos passam por várias etapas.
O fluxograma possibilita a visualização do trabalho desenvolvido no CME.
95
Fonte: GRAZIANO, SILVA e PSALTIKIDIS, 2011.
Assim sendo, o CME é uma unidade independente, que objetiva atender a
todas as demais unidades que necessitam de seu serviço. Os processos para
limpeza, desinfecção e esterilização de materiais foram acompanhando a evolução
das ações em saúde, com a reestruturação no processo de trabalho, além da
criação de mecanismos que propiciem o desenvolvimento de competências dos
trabalhadores da área6.
A inovação em saúde por vezes está próxima, mas não é alçada, dado o
desvalor concedido. A educação permanente (EP) implantada configura-se, então,
como possibilidade para a mudança que acontece no ambiente de trabalho, favorece
o desenvolvimento cognitivo do funcionário, contribui com a qualificação e a
satisfação no trabalho, aumenta o rendimento nas atividades realizadas, cujos
Central de Material e Esterilização
Unidades Consumidoras Unidades Fornecedoras
Recepção de Roupas
Preparo e Acondicionamento
Esterilização
Armazenagem dos Artigos
Processados
Distribuição dos Artigos
Limpeza e
Secagem dos
Artigos
Recepção dos
Artigos Sujos
Recepção de Artigos Limpos
Fluxograma dos produtos médicos processados no CME
96
resultados são visíveis e se desdobram na assistência de qualidade que passa a ser
prestada aos usuários.
O produto gerado pela pesquisa “Educação Permanente a Trabalhadores do
Centro de Material e Esterilização” produziu uma proposta pedagógica de
capacitação que visualiza o trabalhador do CME como sujeitos ativos do processo
ensino-aprendizagem, do fazer em saúde, na lógica da construção social e coletiva
de saberes e práticas, preparando-o para atuar como sujeitos corresponsáveis nos
processos de formação ao longo de sua vida profissional.
Ensinar, neste contexto, exige o reconhecimento do ser condicionado, gosto
de ser gente porque inacabado sei que sou um ser condicionado, mas consciente do
inacabamento, sei que posso ir mais além8.
A prática educativa crítica envolve o movimento dinâmico, dialético, entre o
fazer e o refletir sobre o fazer, e assim, nos aproximamos do pensamento de Paulo
Freire8 e da proposta da Política de Educação Permanente. Estes afirmam que a
reflexão crítica sobre a prática é fundamental no processo de formação e
aprimoramento dos profissionais da saúde, pois é pensando criticamente a prática
de hoje ou de ontem que se pode melhorar o atual e o futuro cotidiano.
A Política de Educação Permanente trabalha a educação em uma lógica
ascendente em que a qualificação dos trabalhadores é pensada a partir de
problemas específicos identificados no contexto do trabalho, fazendo com que os
temas abordados sejam tratados de forma a fazerem sentido para os participantes
envolvidos, considerando as especificidades de cada cenário, o conhecimento e as
experiências anteriores9.
97
Referências:
1. LOPES; S. G. Informativo SOBECC, nº 2, abr/mai/jun. 2014.
2. GRAZIANO, K. U.; SILVA, A.; PSALTIKIDIS, E. M. (Orgs.). Enfermagem em Centro de Material e Esterilização. Barueri, SP: Manole, 2011.
3. SOUZA, M. C. B. O trabalho no centro de material e esterilização. Campinas:
UNICAMPI, 2012. Tese (Doutorado em Enfermagem) – Faculdade de Ciências
Médicas, Universidade Estadual de Campinas, 2012.
4. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. RDC nº
15, de 15 de março de 2012. Diário Oficial da União, Brasília, n. 54, 19 mar. 2012a.
Seção 1.
5. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. RDC nº
50, de 21 de fevereiro de 2002. Aprova o Regulamento técnico para planejamento,
programação, elaboração de projetos físicos de estabelecimentos assistenciais de
saúde. Brasília: Ministério da saúde, 2002.
6. MACHADO, R. R.; GELBECK, F. L. Que brumas impedem a visibilização do centro de material e esterilização? Texto & Contexto Enfermagem, Florianópolis, v. 18, n. 2, p. 347-354, abr./jun. 2009.
7. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação
na Saúde. Departamento de Gestão da Educação na Saúde. Política de educação
e desenvolvimento para o SUS: caminhos para a educação permanente em
saúde: pólos de educação permanente em saúde. Brasília: Ministério da Saúde,
2004.
8. FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa.
São Paulo: Paz e Terra, 2011.
9. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação
na Saúde. Departamento de Gestão da Educação em Saúde. Política Nacional de
Educação Permanente em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2009.
98
Apêndice VI. Projeto de extensão
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE (UFF) ESCOLA DE ENFERMAGEM AURORA DE AFONSO COSTA (EEAAC)
MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO NA SAÚDE (MPES) ESCOLA DE GOVERNANÇA EM GESTÃO PÚBLICA (EGGP)-UFF
PROJETO DE EXTENSÃO
Educação Permanente
Equipe de Profissionais de Enfermagem do Centro de Material e Esterilização (CME)
do Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP)
Propositores: Alcinéa Rodrigues Athanázio1/Benedito Carlos Cordeiro2
Niterói, RJ
2015
1Enfermeira. Mestranda da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa –
EEAAC/UFF - [email protected]
2Farmacêutico. Doutor. Docente da EEAAC/UFF - [email protected]
99
INTRODUÇÃO
O estudo em questão aborda a Educação Permanente em Saúde (EPS) para
os profissionais de enfermagem que atuam no Centro de Material e Esterilização
(CME). Este setor é responsável pela recepção, limpeza, preparo, esterilização e
distribuição de todos os materiais utilizados na assistência à saúde aos pacientes.
O setor CME desempenha papel fundamental na qualidade do processo
assistencial, além de destacar a relevância do processamento do material para a
segurança do usuário do Sistema Único de Saúde (SUS) frente à infecção
hospitalar. Contudo, nos estabelecimentos de saúde, frequentemente, conta com
número insuficiente de funcionários e a qualificação para os profissionais deste setor
não é prioridade para os gestores.
Cabe ressaltar que este setor se torna um espaço esquecido pelos gestores,
ao considerar que são encaminhados profissionais de enfermagem para lotação no
CME com transtornos emocionais já diagnosticados, com idades avançadas,
readaptados, em pré-aposentadoria ou por inadequação de relacionamento em
diferentes áreas da assistência.
Com isso, o CME destina-se a receber profissionais com algum problema de
saúde, ou em fim de carreira, o que reforça a visão de espaço de armazenamento
de pessoas doentes, cansadas, desmotivadas e com reduzidas demandas de
trabalho. O CME se configura, deste modo, como a última possibilidade de
adaptação profissional.
Sendo assim, observa-se a cultura organizacional no que tange a alocação de
recursos humanos no CME. Necessita-se de um novo olhar para a gestão de
pessoas, tanto no quantitativo, quanto nas potencialidades e na saúde do
trabalhador. O importante é desnaturalizar a concepção vigente e encontrar meios
de inovação.
A inovação por vezes está perto dos olhos, contudo não se vê. A educação
permanente implantada configura-se como possibilidade para a mudança que
acontece no ambiente de trabalho, favorece o desenvolvimento cognitivo do
funcionário, contribui com a qualificação e a satisfação no trabalho, aumenta o
rendimento nas atividades realizadas e os resultados são visíveis na assistência
prestada.
Segundo Graziano, Silva e Psaltikidis (2011) em diversas instituições
hospitalares a unidade CME, sofre grande transição. Até bem pouco tempo ela
100
funcionava como uma extensão do centro cirúrgico, com atividades quase que
restrita na esterilização dos materiais usados nas cirurgias. Com a revolução
industrial e o avanço das tecnologias este espaço passa por grandes
transformações em suas atividades, já que lida com o invisível, o risco biológico.
Estas novas demandas transforma o trabalho em ação complexa e diferente da
realizada até então, aquela que uma vez aprendida não se tinha dificuldade de
cumprir, bastava repetir e reproduzir.
Objetivo geral
Reunir conteúdos e informações técnicas pertinentes aos
protocolos e rotinas de trabalho, junto aos profissionais que compõem a
equipe de enfermagem do setor CME sob o enfoque operacional, gerencial e
conceitual.
Objetivos específicos
Adequar a qualidade dos serviços, mediante um processo
educativo permanente e comprometido com a prática do trabalho;
Propiciar a resolutividade das ações frente aos problemas
prevalentes;
Fortalecer o processo de trabalho da equipe e as relações
interpessoais;
Estabelecer o compromisso com a saúde da própria equipe.
Temas de interesse
Os temas de interesse foram levantados através das queixas da própria
equipe de Enfermagem. Porém, tais temas e demandas, não se restringem apenas
aos profissionais da enfermagem, mas envolvem todo o hospital já que o trabalho
produzido no CME é de grande relevância para toda a instituição de saúde,
colaborando com os serviços de assistência e de diagnósticos, com a
responsabilidade do processamento de materiais.
-Autoconscientização como ferramenta de cuidado: o cuidado de si;
-Promoção da saúde mental da equipe;
-Trabalho em equipe;
101
-Curando feridas;
-Classificação dos produtos para saúde;
-Conceitos básicos de microbiologia;
-Transporte dos produtos contaminados;
-Processo de limpeza, desinfecção, preparo, inspeção, acondicionamento,
embalagens, esterilização, funcionamento dos equipamentos existentes;
-Monitoramento de processos por indicadores químicos, biológicos e físicos;
-Rastreabilidade, armazenamento e distribuição dos produtos para saúde;
-Manutenção da esterilidade do produto.
Numero de participantes e categoria profissional
Categoria Quantidade
Enfermeiro 04
Técnico em Enfermagem 25
Auxiliar de Enfermagem 23
Total 52
Instituições Envolvidas
Estarão participando deste Projeto de Extensão de Educação Permanente em
Saúde:
PROPPI- Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação-
UFF;
PROGEPE- Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas-UFF;
EEAAC- Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa--UFF;
EGGP- Escola de Governança em Gestão Pública da UFF;
HUAP- Hospital Universitário Antonio Pedro
Metodologia
Ao vislumbrar este contexto sócio-educacional relacionado à área da saúde,
percebe-se que currículos que utilizarem novas metodologias de ensino
aprendizagem como a Metodologia da Problematização ou a Aprendizagem
Baseada em Problemas emergem como estratégia pedagógica de possível eficácia
102
por propiciar uma articulação e aproximação do ensino com a realidade vivida nos
serviços de saúde.
O habilitar-se tecnicamente significa não apenas identificar problemas, mas,
também, apontar propostas de superação dos mesmos, avançando para além de um
olhar curioso, do tipo senso comum, e ganhando status de um ato técnico
contextualizado. Em relação à Metodologia da Problematização revela-se como
estratégia inovadora na área educacional, seja como método de estudo ou de
ensino, tendo como fundamento o pensamento freireano.
Ainda, percebe-se a importância da problematização como estratégia
pedagógica para o educar/cuidar em Enfermagem, pois contribui para a formação de
educandos mais críticos e reflexivos, que possam construir o conhecimento em
parceria com os educadores, tendo como finalidade um olhar inovador e
transformador das situações de saúde-doença e seus respectivos cuidados que
fazem parte da realidade vivida.
A aquisição de conhecimentos, normas, legislação, uma habilidade, um
treinamento prático, adquirir conhecimentos que exigem formulação, análise ou
reflexões mais complexas, metodologias problematizadoras serão
mais apropriadas. Mitre, et al, (2008) se refere a metodologia como a que possibilita
a articulação entre o ensino e o serviço, viabilizando uma leitura e intervenção sobre
a realidade, valoriza os atores no processo de construção coletiva nos diversos
conhecimentos e promove a liberdade no processo de pensar.
Contexto
O Projeto de Extensão será realizado na unidade CME do HUAP, localizado
no centro do município de Niterói, ele atende a população da zona Metropolitana II,
onde estão incluídas além de Niterói, as cidades de Itaboraí, Maricá, Rio Bonito, São
Gonçalo, Silva Jardim e Tanguá. Compreendendo uma população estimada em mais
de dois milhões de habitantes e parte da população da cidade do Rio de Janeiro
devido a sua proximidade.
O HUAP é a maior e mais complexa unidade de saúde da região
metropolitana e considerado pelo Sistema Único de Saúde (SUS), como hospital de
nível terciário e quaternário (MEC- UFF, 2008).
O HUAP atende toda área da região metropolitana II e também fora da
abrangência algumas especialidades. As áreas de atendimento de alta
103
complexidade incluem as grandes cirurgias cardíacas, as vasculares, ortopedias,
além dos transplantes renais e neurocirurgias. A cardiologia com o setor de
hemodinâmica e o hospital universitário é referência também em oncologia. O setor
de emergência é aberto a todos os casos e funciona de forma referenciada e
regulada.
Atualmente o hospital possui 221 leitos para internação ativos, uma média de
mais de 350 cirurgias por mês incluindo eletivas e de urgência, aproximadamente
10.500 atendimentos de consulta ambulatoriais e os atendimentos realizados nos
setores de broncoscopia, endoscopia, setor de hemodinâmica, banco de leite, na
esterilização de vidros para armazenamento do leite e todo o serviço de radiologia
não foram contabilizados. Demandando grande quantidade de materiais
esterilizados disponibilizados pelo CME. Portanto trata–se de um hospital que realiza
um grande número de procedimentos cirúrgicos e diagnósticos, com uma produção
grande no processamento de materiais e também dá suporte na área de
esterilização aos hospitais da Prefeitura Municipal e Estadual frequentemente.
O desenvolvimento desse estudo é importante porque ele visa corresponder
uma das exigências da agenda do Ministério da Saúde (MS), conforme
Portaria Ministerial GM/MS N°1996/2007 da Política de EPS.
Promover a formação institucional de servidores públicos através da EGGP.
A EPS deve ter como fundamento o processo pedagógico que contemple
desde a aquisição e atualização de conhecimentos e habilidades até o aprendizado
que parte dos problemas e desafios enfrentados no processo de trabalho, com
envolvimento das práticas que possam ser determinadas por vários fatores, tais
como: conhecimento, valores, relação de poder, planejamento e organização do
trabalho dentre outras (Brasil, 2012).
Nessa conjuntura, emerge o Projeto de Extensão que surgiu como um dos
produtos de pesquisa do Mestrado Profissional em Ensino na Saúde, baseado no
cotidiano a partir da prática enquanto profissional, que possibilitou a percepção do
nítido enfrentamento dos funcionários no CME frente as novas tecnologias no
desenvolvimento de suas atividades laborais.
E a consolidação se fará com a contribuição da EGGP-UFF, recentemente
criada. A EGGP é uma iniciativa da Reitoria da UFF através da Pró-Reitoria de
Gestão de Pessoas (PROGEPE) e tem como objetivo geral promover a formação de
servidores técnico-administrativos e docentes de forma continuada através da
104
Educação Permanente. Ele faz parte da política geral da atual administração na
valorização ao servidor e acredita que mais do que uma parte da máquina
administrativa, o servidor é e deve ser valorizado como um parceiro no processo da
gestão da universidade.
Sendo assim, os fatores estão interligados à dinâmica de organização do
trabalho, na qual destaca-se: fragmentação de tarefas, trabalho repetitivo e
exposição aos riscos físicos, químicos, biológicos, ergonômicos e psicossociais, a
inadequação arquitetônica, relacionamento interpessoal, falta de valorização
pessoal, condições de trabalho melhores, limitações físicas, estilo de supervisão
autoritário e arbitrário, descrédito na instituição levando a desmotivação.
Gauthier e Hirata (2001) reforçam a importância da “ação dialógica”, teorizada
por Freire (2005), que caracteriza uma ação cultural norteada pelos quatro
princípios, a saber, descritos: a) colaboração: Os sujeitos se encontram
para a transformação do mundo em colaboração. O importante é que os
saberes das pessoas são colocados em diálogo, possibilitando que cada uma
aprenda com a outra, sem nenhuma hierarquia; b) união para a libertação: esse
princípio prediz a unificação com o Eu; a desmistificação da realidade; a não divisão
entre conhecimento, afeto e agir; a solidariedade de classe; e a descoberta de si
como sujeito singular; c) organização: refere-se a organizar com coerência, ousadia,
radicalização, valentia de amar, crença, clareza das condições, adesão ao grupo por
simpatia; e d) síntese cultural: prediz a dialética permanência-mudança, Investigação
temática, Problematização, Teoria da ação educativa.
Critério de inclusão
Os participantes da pesquisa serão os trabalhadores da saúde do CME/HUAP
que fazem parte do quadro efetivo da instituição dos serviços diurno e noturno, como
enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, que atuam na unidade e que
aceitarem participar do Projeto de Extensão, também os trabalhadores do quadro
temporário por entender que serão multiplicadores do conhecimento.
Critério de exclusão
Como critério de exclusão do estudo os trabalhadores que estiverem de
licença médica, usufruindo de férias, e os que não desejarem participar do Projeto
de Extensão.
105
Benefícios
Ao multiplicar os conhecimentos, mediante um processo educativo
permanente e comprometido com a prática do trabalho ocorrerá o fortalecimento, a
valorização e mais visibilidade da unidade. Destacando que a educação permanente
se configura como uma das possibilidades para esta mudança, passando a
acontecer neste ambiente de trabalho, favorecendo o desenvolvimento do
trabalhador, contribuindo com o seu potencial, na satisfação no trabalho, com
rendimento em suas atividades e com melhores resultados para assistência
prestada, com melhor qualidade dos serviços.
Os resultados ficarão armazenados em um diário de campo do propositor do
Projeto de Extensão, cujos conteúdos serão posteriormente elencados e poderão
emergir como parte dos resultados a produção de um artigo de relato de
experiência.
Desfecho primário
Multiplicação dos conhecimentos relacionados as atividades desenvolvidas
na unidade CME do HUAP/UFF.
Desfecho secundário
Melhora da qualidade dos serviços, mediante um processo educativo
permanente e comprometido com a prática do trabalho; aumento da resolutividade
das ações frente aos problemas prevalentes; fortalecimento do processo de trabalho
da equipe; fortalecimento do compromisso com a saúde da própria equipe, assim
como os serviços que dependem desta unidade.
Cronograma e Carga horária total do Projeto de Extensão
O cronograma e a carga horária do projeto serão elaborados após a reunião
com a coordenação da EGGP, direção, gerência e coordenação do serviço de
Enfermagem do HUAP e os profissionais de enfermagem lotados no CME.
Recursos necessários
Computador, Datashow, Impressão de material didático.
106
Referências
BRASIL. Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012. Normas para pesquisa envolvendo seres humanos. Diário Oficial da União, Brasília, n. 12, 13 jun. 2013a. Seção 59.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. Departamento de Gestão da Educação em Saúde. Política Nacional de Educação Permanente em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2009.
FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2011.
GRAZIANO, K. U.; SILVA, A.; PSALTIKIDIS, E. M. (Orgs.). Enfermagem em Centro de Material e Esterilização. Barueri, SP: Manole, 2011.
GAUTHIER, J.; HIRATA, M. A. A Enfermeira como educadora. In: SANTOS, I. (Org.). Enfermagem Fundamental – Realidade, Questões e Soluções. Rio de Janeiro: Atheneu, 2001. p.123-141.
MITRE, S. et al. Metodologias ativas de ensino-aprendizagem na formação profissional em saúde: debates atuais. Ciência & Saúde Coletiva, v. 13, Sup. 2, p. 2133-2144, dez. 2008.