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12 UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE BIOLOGIA CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS CRÍSCIA CESCONETTO DE MESQUITA OCORRÊNCIA, DISTRIBUIÇÃO E COMPOSIÇÃO DE GRUPOS DE Eubalaena australis, (DESMOULINS, 1822), NO LITORAL CENTRO SUL DO ESTADO DE SANTA CATARINA E SUA RELAÇÃO COM FATORES AMBIENTAIS NA TEMPORADA REPRODUTIVA DE 2010. NITERÓI 2011

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE … · em Ciências Biológicas. ... Rafael de Almeida Tubino – Universidade Gama Filho (membro) Roberto Campos Villaça – Universidade

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12

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE BIOLOGIA

CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

CRÍSCIA CESCONETTO DE MESQUITA

OCORRÊNCIA, DISTRIBUIÇÃO E COMPOSIÇÃO DE

GRUPOS DE Eubalaena australis, (DESMOULINS, 1822), NO

LITORAL CENTRO SUL DO ESTADO DE SANTA CATARINA

E SUA RELAÇÃO COM FATORES AMBIENTAIS NA

TEMPORADA REPRODUTIVA DE 2010.

NITERÓI

2011

II

CRÍSCIA CESCONETTO DE MESQUITA

OCORRÊNCIA, DISTRIBUIÇÃO E COMPOSIÇÃO DE GRUPOS DE Eubalaena

australis, (DESMOULINS, 1822), NO LITORAL CENTRO SUL DO ESTADO DE

SANTA CATARINA E SUA RELAÇÃO COM FATORES AMBIENTAIS NA

TEMPORADA REPRODUTIVA DE 2010.

Monografia apresentada ao Curso de

graduação em Ciências Biológicas da

Universidade Federal Fluminense,

como requisito parcial para obtenção

do grau de Bacharel

Orientador: Prof. Dr. CASSIANO MONTEIRO NETO

Niterói

2011

III

CRÍSCIA CESCONETTO DE MESQUITA

OCORRÊNCIA, DISTRIBUIÇÃO E COMPOSIÇÃO DE GRUPOS DE Eubalaena

australis, (DESMOULINS, 1822), NO LITORAL CENTRO SUL DO ESTADO DE

SANTA CATARINA E SUA RELAÇÃO COM FATORES AMBIENTAIS NA

TEMPORADA REPRODUTIVA DE 2010.

Monografia de conclusão de curso

apresentada na Universidade Federal

Fluminense como requisito parcial

para obtenção do título de Bacharel

em Ciências Biológicas.

Aprovada em 29 de Novembro de 2011.

BANCA EXAMINADORA

Cassiano Monteiro Neto – Universidade Federal Fluminense

(Presidente)

Liliane Lodi – Faculdades Integradas Maria Thereza

(membro)

Rafael de Almeida Tubino – Universidade Gama Filho

(membro)

Roberto Campos Villaça – Universidade Federal Fluminense

(membro suplente)

Niterói

2011

IV

A todos aqueles que me ajudaram e sempre me

apoiaram no caminho do trabalho de campo, da

pesquisa e da conservação.

V

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus pelas oportunidades que por Ele me foram proporcionadas na

vida através da sua graça. Pela oportunidade de estar concluindo a graduação, e em

uma universidade pública, e podendo levar desses quatro anos de aprendizado muito

conhecimento e experiência.

À minha família, especialmente meus pais Roberto e Elianete e meu irmão

Cícero, que mesmo estando a quilômetros de distância, com muito carinho e

incentivo (inclusive $$!) me apoiaram todo esse tempo, não medindo esforços para

que eu alcançasse meus objetivos e chegasse até aqui. Cara, família é o que há!!

Ao meu namorado Guilherme, por estar sempre ao meu lado me ajudando, me

apoiando, me desestressando, me tirando todas as preocupações e me colocando

sempre pra cima, me mostrando e me ensinando jeitos melhores de aproveitar a vida

sem que eu deixe de lado as coisas realmente importantes. Não sei o que é amor e

felicidade sem ele, minha família e amigos por perto.

Ao meu orientador Cassiano, por ter me aceitado como aluna e pela sua

orientação, com a qual não seria possível a conclusão deste trabalho de monografia.

Aproveito para agradecer também aqui à Amanda e Suzana, alunas do Laboratório

ECOPESCA, pela amizade e por “me fazer” acordar às 4:30 da manhã pelo menos

uma vez por semana para monitorar tartarugas voluntariamente lá (láááááá) em

Itaipú, com toda a certeza, aprendi muito com vocês.

Aos professores Bernardo da Gama e Erwan Plouguerné, que seriam meus

orientadores na monografia, e que, impreterivelmente, foram muito importantes para

a minha formação acadêmica. Por toda a ajuda, apoio, incentivo, paciência,

compreensão e amizade. E muito mais ainda pela compreensão quando comuniquei

que não faria mais a monografia com eles (não resisti à megafauna carismática!) e,

mesmo assim, não deixaram de demonstrar seu apoio quanto à linha de pesquisa que

eu escolhi seguir.

Aproveitando, não posso deixar de agradecer à todos que, junto comigo,

fizeram e fazem parte do Laboratório de Produtos Naturais e Ecologia Química

Marinha da UFF e que me ajudaram, me ensinaram e me escravizaram

VI

(brincadeirinha, mas vocês sabem...) e foram escravizados junto comigo (há!), em

especial Rogers, Glaucia, Léo, Dudu, Felipe, Camila, Erica e Fernando.

À Karina Groch, diretora de pesquisa do Projeto Baleia Franca e ao Rodrigo

(gente fina!!), gerente de campo do PBF, que mostraram ser profissionais exemplares

e por estarem sempre disponíveis para ajudar no que fosse preciso e pelo

fornecimento dos dados para a elaboração deste trabalho. Agradeço pela

oportunidade de estágio em um projeto que realmente busca a conservação de uma

espécie e pelos aprendizados adquiridos, não só através da pesquisa de campo, mas

também por proporcionar a experiência de conhecer pessoas que despencam de

várias partes do Brasil para passar frio em Santa Catarina, mas com o objetivo único

de preservar uma espécie ameaçada. Sim, vocês, estagiários da temporada 2010 e

2011, obrigada pela convivência e pela motivação, a saudade é enorme e vocês são

pessoas incríveis!

A todos os meus amigos: aos que estão longe (Sára, Jaciara, Higor, Camila,

Fábio, Poliane), mas que sempre estiveram por perto, com os quais eu poderei contar

sempre e tenho a certeza que nossa amizade nunca vai acabar; os da faculdade (em

especial Ana Carol, Juliana, Thiago, Paulo, William, Daniel, Joana, Dekinha,

Airton), obrigada pelas festas, viradas de noite estudando, pela amizade e pelos

aprendizados compartilhados; e aos amigos que dividiram e/ou ainda dividem

apartamento comigo (Thayany, Viviane, Tiago, Gabrielle, Laura e Michela), pelas

sociais, amigos secretos, refeições compartilhadas, pela ótima convivência e

amizade.

Às baleias-francas por ainda existirem e, sem as quais, definitivamente, este

trabalho não poderia estar sendo realizado!

Finalmente, a todos aqueles que, de alguma forma, colaboraram e contribuíram

para que eu completasse mais essa etapa da minha vida e me fizeram acreditar que é

possível ser feliz na biologia, mostrando que é uma das profissões mais dignas que

uma pessoa pode ter.

A todos vocês, um MUITO OBRIGADA, muito obrigada MESMO!

VII

RESUMO

As baleias-francas-austrais (Eubalaena australis) passam o verão nas regiões

sub-antárticas onde se alimentam, e migram para águas tropicais mais quentes no

inverno e primavera para acasalamento, procriação e cria. A população de baleias-

francas que frequenta o litoral brasileiro concentra-se principalmente na costa centro-

sul do estado de Santa Catarina, onde são avistados pares fêmea/filhote, adultos

solitários e grupos de acasalamento. O objetivo deste estudo foi analisar a ocorrência,

distribuição e composição dos grupos de baleias-francas nas enseadas da

Ribanceira/Ibiraquera, Porto/Praia d’Água, Itapirubá Norte e Itapirubá Sul, em SC, e

sua relação com fatores ambientais. Os dados foram coletados entre os meses de

julho a novembro de 2010, como parte das atividades de campo do Projeto Baleia

Franca e o monitoramento foi feito com auxílio de binóculos Pentax 12x50 mm,

bússola, fichas de campo padronizadas, clinômetro, cartas náuticas das enseadas e

Escala Beaufort de vento e agitação do mar. Os dados referentes às avistagens foram

convertidos em índice CPUE e, em função de mares acima de Beaufort 3

dificultarem as observações, os dados foram tratados nas categorias Beaufort 0 a 3

(B0-3) e Beaufort 4 e 5 (B4-5). O pico de ocorrência nas quatro enseadas foi em

setembro, declinando em outubro, apresentando o mesmo padrão observado para a

espécie em outras temporadas, com a predominância de adultos nos primeiros meses

e de pares fêmea/filhote nos últimos meses da temporada, podendo os adultos ser

fêmeas prenhas em seu ano de concepção. Isto também explica a maioria (67,59%)

das avistagens sendo de adultos na Praia do Porto/Praia d’Água, ao contrário das

outras, em que a maioria foi de pares fêmea/filhote, sugerindo a preferência pelos

adultos por tal enseada, ou por estarem à procura de pares para acasalamento.

Verificou-se a presença de pares de fêmea/filhote em todos os meses da temporada

nas enseadas da Ribanceira/Ibiraquera e Porto/Praia d’Água, indicando uma

preferência de uso destas enseadas por esta categoria de baleias. Já em Itapirubá

Norte e Sul, onde não houve avistagens no mês de novembro, há a possibilidade de

ocorrência de uma variação temporal na distribuição dos indivíduos desta população

na área de concentração reprodutiva do Sul do Brasil. Foi observado um número

significativo de pares de fêmeas/filhotes e indivíduos adultos em mar B0-3 em todas

as enseadas, sugerindo para esta área a preferência por águas mais calmas. Da mesma

forma, esses grupos ocorreram em maior parte dentro das enseadas, exceto para Praia

do Porto/Praia d’Água, o que pode ter ocorrido devido à intensa atividade portuária e

pela pequena extensão de área da Praia D’Água. A grande maioria dos grupos de

fêmea/filhote e de adultos foi registrada em profundidades menores que 10 m,

sugerindo que estes grupos buscam locais rasos por serem mais calmos, a fim de

minimizarem gastos energéticos. Apesar do significativo crescimento populacional

no litoral brasileiro, estimado em 14% ao ano, a baleia-franca ainda é classificada

como vulnerável na lista de espécies ameaçadas de extinção. A continuidade do

monitoramento em longo prazo é imprescindível para melhor compreender os fatores

que influenciam o padrão de distribuição e ocorrência da população de baleias-

francas que visita o litoral de Santa Catarina, visando o adequado manejo e

conservação da espécie.

Palavras-chave: baleia-franca-austral, monitoramento, conservação.

VIII

ABSTRACT

Southern-right-whales (Eubalaena australis) spend the summer at subantartic

regions where they feed, and migrate to warmer tropical waters in winter and spring

for mating, procreation and nurture. The population of right whales that attends the

coast of Brazil is mainly concentrated in the south-central coast of the state of Santa

Catarina, where the sightings are of mother and calf pairs, solitary adults and mating

groups. The objective of this study was to analyze the occurrence, distribution and

right whales group composition in the coves of Ribanceira/Ibiraquera, Port/Water

Beach, North Itapirubá and South Itapirubá, SC, and its relationship with

environmental factors. Data were collected between july and november 2010 as a

part of the Right Whale Project field activities and monitoring was done with the

help of Pentax 12x50 mm binoculars, compass, standardized field data sheets,

clinometer, nautical charts of the bays and Beaufort Wind and Sea Scale. Data

referring to sightings were converted to CPUE index and whereby seas up to 3 in

Beaufort Scale obstruct the observations, data were treated in the Beaufort categories

0 to 3 (B0-3) and Beaufort 4 and 5 (B4-5). The occurrence peak for all the coves was

in september, declining in october, showing the same observed pattern for the specie

in other seasons, with a predominance of adults in the first months and mother and

calf pairs in the last months of the season, maybe being the adults pregnant females

in their year of conception. This also explains the majority (67.59%) of the sightings

being of adults in Port Beach/Water Beach, unlike the others where the majority of

the sightings was of mother and calf pairs, suggesting a preference for that cove by

adults, or because they are looking for mating pairs. The presence of mother and calf

pairs was verified in every month of the season in the coves of Ribanceira/Ibiraquera

and Port/Water Beach, indicating a preference by this category of whales in relation

to the use of these coves. In North and South Itapirubá coves, where there were no

sightings while the month of November, there is the possibility of a temporal

variation in the individuals distribution of this population in the reproductive

concentration area of southern Brazil. A significant number of mother and calf pairs

and adults was observed at B0-3 sea in all coves, suggesting a preference for calmer

waters in this area. Similarly, these groups occurred mostly within the coves, except

for the Port Beach/Water Beach, which may be happened due to the intense port

activity and the small areal extent of the Water Beach. The vast majority of mother-

infant and adult groups were recorded at depths below 10 m, suggesting that these

groups look for shallow waters because they are quieter, in order to minimize energy

waste. Despite significant population growth in the Brazilian coast, estimated at 14%

per year, the right whale is still classified as vulnerable on the list of endangered

species. Continuing long-term monitoring is essential to better understand the factors

that influence the occurrence and distribution pattern of the right whales population

that visits the coast of Santa Catarina, aiming the appropriate management and

conservation of the specie.

Keywords: southern right whale, monitoring, conservation.

IX

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Desenho esquemático de uma baleia-franca adulta ................................... 02

Figura 2: Mapa indicando as rotas migratórias, áreas de alimentação e reprodução e

cria e atual distribuição das baleias-francas-austrais na costa Brasileira .................. 04

Figura 3: Limites da APA da Baleia Franca. Os triângulos indicam os pontos fixos de

observação ................................................................................................................. 10

Figura 4: Mapa da enseada da Praia da Ribanceira e Ibiraquera. O triângulo indica o

local do ponto fixo de monitoramento (Fonte: Google Earth) .................................. 11

Figura 5: Mapa da enseada da Praia da Porto e Praia d’Água. O triângulo indica o

local do ponto fixo de monitoramento (Fonte: Google Earth) .................................. 11

Figura 6: Mapa da enseada de Itapirubá Norte. O triângulo indica o local do ponto

fixo de monitoramento (Fonte: Google Earth) .......................................................... 11

Figura 7: Mapa da enseada de Itapirubá Sul. O triângulo indica o local do ponto fixo

de monitoramento (Fonte: Google Earth) ................................................................. 11

Figura 8. Gráfico representando os índices CPUE para cada categoria de grupo de

baleias de acordo com os meses de ocorrência na enseada da Ribanceira/Ibiraquera

.................................................................................................................................... 16

Figura 9. Gráfico representando os índices CPUE para cada categoria de grupo de

baleias de acordo com os meses de ocorrência na enseada da Praia do Porto e Praia

d’Água ....................................................................................................................... 17

Figura 10. Gráfico representando os índices CPUE para cada categoria de grupo de

baleias de acordo com os meses de ocorrência na enseada de Itapirubá Norte ........ 18

Figura 11. Gráfico representando os índices CPUE para cada categoria de grupo de

baleias de acordo com os meses de ocorrência na enseada de Itapirubá Sul ............ 19

Figura 12. Porcentagem de ocorrência de cada categoria de grupo avistado na

Ribanceira/Ibiraquera em dias com agitação de mar B0-3 (dentro e fora da enseada) e

B4-5 (dentro e fora da enseada) ................................................................................ 20

Figura 13. Mapa da enseada da Ribanceira/Ibiraquera gerado a partir do software

Surfer 9.0. O triângulo preto indica o ponto fixo de observação. (Pontos vermelhos:

Fefi; azuis: Ad; verdes: SB) ...................................................................................... 21

X

Figura 14. Porcentagem de ocorrência de cada categoria de grupo avistado no

Porto/Praia d’Água em dias com agitação de mar B0-3 (dentro e fora da enseada) e

B4-5 (dentro e fora da enseada) ................................................................................ 23

Figura 15. Mapa da enseada da Praia do Porto e Praia d’Água gerado a partir do

software Surfer 9.0. O triângulo preto indica o ponto fixo de observação. (Pontos

vermelhos: Fefi; azuis: Ad; verdes: SB) ................................................................... 24

Figura 16. Porcentagem de ocorrência de cada categoria de grupo avistado em

Itapirubá Norte em dias com agitação de mar B0-3 (dentro e fora da enseada) e B4-5

(dentro e fora da enseada) ......................................................................................... 25

Figura 17. Mapa da enseada de Itapirubá Norte gerado a partir do software Surfer

9.0. O triângulo preto indica o ponto fixo de observação. (Pontos vermelhos: Fefi;

azuis: Ad; verdes: SB) .............................................................................................. 26

Figura 18. Porcentagem de ocorrência de cada categoria de grupo avistado em

Itapirubá Sul em dias com agitação de mar B0-3 (dentro e fora da enseada) e B4-5

(dentro e fora da enseada) ......................................................................................... 27

Figura 19. Mapa da enseada de Itapirubá Sul gerado a partir do software Surfer 9.0.

O triângulo preto indica o ponto fixo de observação. (Pontos vermelhos: Fefi; azuis:

Ad; verdes: SB) ......................................................................................................... 28

XI

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Índice CPUE gerado por meio dos dados coletados na enseada da

Ribanceira/Ibiraquera ................................................................................................ 15

Tabela 2. Índice CPUE gerado por meio dos dados coletados na enseada do Porto e

Praia d’Água ............................................................................................................. 17

Tabela 3. Índice CPUE gerado por meio dos dados coletados na enseada de Itapirubá

Norte ......................................................................................................................... 18

Tabela 4. Índice CPUE gerado por meio dos dados coletados na enseada de Itapirubá

Sul ............................................................................................................................. 19

Tabela 5. Porcentagem de ocorrência de Fefi, Ad e Sb dentro e fora da enseada e em

mares classificados como B0-3 e B4-5 na enseada da Ribanceira/Ibiraquera .......... 20

Tabela 6. Porcentagem de ocorrência de Fefi, Ad e Sb dentro e fora da enseada e em

mares classificados como B0-3 e B4-5 na enseada do Porto/Praia d’Água ............. 22

Tabela 7. Porcentagem de ocorrência de Fefi, Ad e Sb dentro e fora da enseada e em

mares classificados como B0-3 e B4-5 na enseada de Itapirubá Norte .................... 25

Tabela 8. Porcentagem de ocorrência de Fefi, Ad e Sb dentro e fora da enseada e em

mares classificados como B0-3 e B4-5 na enseada de Itapirubá Sul ........................ 27

XII

SUMÁRIO

Resumo .................................................................................................................... VII

Abstract .................................................................................................................. VIII

Lista de figuras ......................................................................................................... IX

Lista de tabelas ......................................................................................................... XI

1. Introdução ............................................................................................................. 01

1.1 Eubalaena australis – aspectos gerais ........................................................... 01

1.2 Distribuição e uso de habitat .......................................................................... 03

1.3 Organização social e aspectos comportamentais ........................................... 05

1.4 Eubalaena australis no Brasil e sua conservação .......................................... 06

2. Objetivos ............................................................................................................... 08

2.1 Objetivo geral ................................................................................................. 08

2.2 Objetivos específicos ..................................................................................... 08

3. Materiais e métodos .............................................................................................. 09

3.1 Área de estudo ................................................................................................ 09

3.2 Coleta de dados .............................................................................................. 12

3.3 Análise dos dados ........................................................................................... 13

4. Resultados ............................................................................................................. 15

4.1 Ocorrência, distribuição e composição de grupos .......................................... 15

4.1.1 Enseada da Ribanceira e Ibiraquera ..................................................... 15

4.1.2 Enseada do Porto e Praia d’Água ......................................................... 16

4.1.3 Enseada de Itapirubá Norte .................................................................. 17

4.1.4 Enseada de Itapirubá Sul ...................................................................... 18

4.2 Relação com fatores ambientais ..................................................................... 19

4.2.1 Enseada da Ribanceira e Ibiraquera ..................................................... 19

4.2.2 Enseada do Porto e Praia d’Água ......................................................... 22

4.2.3 Enseada de Itapirubá Norte .................................................................. 24

4.2.4 Enseada de Itapirubá Sul ...................................................................... 26

5. Discussão .............................................................................................................. 29

5.1 Ocorrência, distribuição e composição de grupos .......................................... 29

5.2 Relação com fatores ambientais ..................................................................... 32

XIII

6. Conclusões ............................................................................................................ 35

7. Referências Bibliográficas .................................................................................... 36

8. Anexos .................................................................................................................. 42

8.1 Anexo 1: Ficha geral de avistagens ................................................................ 43

8.2 Anexo 2: Ficha de monitoramento do Porto .................................................. 44

8.3 Anexo 3: Escala Beaufort do vento e agitação do mar .................................. 45

1

1. INTRODUÇÃO

1.1 Eubalaena australis – ASPECTOS GERAIS

As baleias-francas-austrais, Eubalaena australis (Desmoulins, 1822),

pertencem à família Balaenidae, subordem Mysticeti. Podem ser facilmente

distinguidas dos outros grandes cetáceos por várias características, sendo a principal

delas a ausência de nadadeira dorsal, característica exclusiva dentre as baleias que

habitam o Hemisfério Sul (Figura 1). Possuem os orifícios respiratórios bastante

separados, originando um borrifo característico em forma de “V” durante a

respiração (Andrade, 2006; Palazzo Jr. et al., 2007), que pode atingir de 5 a 8 metros

de altura nos adultos.

A característica morfológica mais marcante do gênero é o conjunto de

calosidades presentes na região da cabeça, ao redor do orifício respiratório e da boca

(Figura 1). Essas formações são espessamentos naturais da pele e ocorrem desde o

nascimento do animal, sofrendo alterações insignificantes ao longo do tempo

(Palazzo Jr. et al., 2007; Andrade, 2006), o que permite aos pesquisadores sua

utilização na identificação visual e individual dos indivíduos. As calosidades são

acinzentadas, mas colonizadas por uma cobertura maciça de ciamídeos (Cyamus sp.),

crustáceos anfípodes também chamados de piolhos-de-baleia, que lhes confere uma

coloração branca ou amarelada (Andrade, 2006; Palazzo Jr. et al., 2007), além de

cracas. A distribuição das calosidades segue um padrão geral, porém o formato,

tamanho e número de calosidades variam entre os indivíduos e geralmente são

assimétricos num mesmo indivíduo (Palazzo Jr. et al., 2007). Não se conhece até o

momento a função exata dessas calosidades; especula-se tratarem elas de elementos

2

identificadores e de reconhecimento entre as próprias baleias (Andrade, 2006).

Baseado na maior quantidade de marcas e arranhões temporários existentes no dorso

dos machos em relação às fêmeas sugere-se que as calosidades funcionem como

instrumento para agressão intraespecífica (Payne & Dorsey, 1983).

Figura 1. Desenho esquemático de uma baleia-franca adulta (Fonte:

www.jornaldosbichos.blogspot.com).

O corpo é arredondado e predominantemente negro, podendo a coloração do

corpo variar a acinzentado, com manchas brancas irregulares no ventre e no mento

(Payne et al., 1983; Evans, 1987). Alguns indivíduos podem apresentar manchas

brancas ou acinzentadas no dorso, que também podem ser usadas para

fotoidentificação. Estas manchas podem ocorrer também em todo o corpo, resultando

em indivíduos parcialmente albinos (Payne et al., 1983; Best, 1990a; Schaeff et al.,

1999). O indivíduo parcialmente albino possui a maior parte do corpo branca com

pequenas pintas pretas quando filhote, mas escurece nos primeiros anos de vida

adquirindo aparência marrom ou acinzentada.

As nadadeiras peitorais são curtas e largas, com formato de trapézio, e a cauda

larga e pontuda (Figura 1). A cabeça é robusta (cerca de 30% do comprimento total

do corpo) com rosto estreito, maxilas bastante arqueadas que abriga, pendentes, cerca

de 250 pares de barbatana – estruturas de retenção de pequenos organismos como

alimento, em substituição a dentes – e numerosos pelos sensoriais na região da

mandíbula e maxila (Cummings, 1985).

As fêmeas adultas são maiores que os machos, atingindo até 18 metros de

comprimento e pesando de 50 a 56 toneladas (Cummings, 1985; Evans, 1987). A

gestação na espécie é estimada em 12 meses (Payne, 1986; Best, 1994; Burnell &

Bryden, 1997), e os filhotes nascem em média com 6 metros de comprimento (Best,

3

1994) pesando de 4 a 5 toneladas (Whitehead & Payne, 1981). A maturidade sexual é

atingida em torno dos 6 anos (Payne, 1986) e a idade da primeira gestação ocorre em

torno dos 9 anos (Payne, 1986; Payne et al., 1990; Knowlton et al., 1994).

Em média, as fêmeas conhecidas nas áreas de reprodução do Brasil têm um

filhote a cada três anos, seguindo um padrão geral também observado em outras

áreas de reprodução no Hemisfério Sul (Payne, 1986; Bannister, 1990; Best, 1990a;

Payne et al., 1990; Burnell, 2001; Cooke et al., 2001;). O desmame parece ocorrer

após o primeiro ano de idade (Burnell, 2001; Hamilton et al., 1998; Hamilton et al.,

1995; Thomas & Taber, 1984). A expectativa de vida reprodutiva da fêmea é de

aproximadamente 30 anos, podendo produzir até nove filhotes e viver pelo menos 65

anos (Hamilton et al., 1998).

1.2 DISTRIBUIÇÃO E USO DE HABITAT

As baleias-francas-austrais têm como área de distribuição geográfica o

Hemisfério Sul. Elas passam o verão em áreas subantárticas onde se alimentam, e

migram para águas tropicais mais quentes durante o inverno e primavera para

acasalamento, procriação e cria (Evans, 1987) (Figura 2). O período de duração da

estação reprodutiva é em torno de 5 meses (Payne, 1986; Bannister, 1990; Best,

1994; Burnell & Bryden, 1997), ao término do qual os pares de fêmeas com filhote

iniciam a migração para as áreas de alimentação (Taber & Thomas, 1982).

Diversos “stocks” reprodutivos foram identificados no Hemisfério Sul, sendo

que são reconhecidas cinco áreas principais de reprodução e cria no Atlântico Sul:

Brasil, Argentina, Ilhas Tristão da Cunha, Namíbia/Angola e África do Sul (IWC,

2001). Na América do Sul a principal concentração reprodutiva ocorre nas águas

costeiras da Península Valdés, Argentina (Payne et al., 1990), com uma pequena

população encontrada no sul do Brasil (Groch et al., 2005), se comparada a outras

populações no Hemisfério Sul.

4

Figura 2. Mapa indicando as rotas migratórias, áreas de alimentação e reprodução e

cria e atual distribuição das baleias-francas-austrais na costa Brasileira (Fonte:

modificado de www.baleiafranca.org.br)

As áreas de alimentação dos misticetos estão associadas às áreas de alta

produtividade primária, com grandes concentrações de zooplâncton (Evans, 1987;

Moses & Finn, 1997; Clapham, 1999). Áreas de alimentação conhecidas no

Hemisfério Sul são as regiões próximas à Convergência Antártica (Goodall &

Galeazzi, 1986) e entorno das Ilhas Geórgias do Sul (Moore et al., 1999) (Figura 2).

A distribuição das baleias-francas-austrais nas áreas de reprodução e cria é

freqüentemente relacionada a águas calmas e rasas. Evans (1987) sugere a

manutenção de determinadas áreas de reprodução simplesmente por tradição, como

um reflexo da história evolutiva dos misticetos, e menciona a preferência por regiões

com águas calmas bem como regiões que ofereçam proteção contra predadores como

orcas (Orcinus orca) e tubarões.

Em geral, as baleias-francas-austrais são encontradas próximas da costa.

Estudos sobre a influência dos fatores ambientais, relacionados com o estado do mar,

5

na distribuição de baleias-francas-austrais revelam sua preferência por águas calmas

(Groch, 2000). Best (2000) e Elwen & Best. (2004) mostram a importância que têm

águas calmas e de pouco profundidade para fêmeas de baleias-francas-austrais

sugerindo que estas características ambientais trazem benefícios na manutenção

energética dos adultos e necessários ao desenvolvimento do filhote. A presença das

baleias-francas-austrais na área de concentração reprodutiva do Brasil pode estar

relacionada a características associadas a este ambiente. Relação semelhante foi

sugerida por Best (2000) na área de concentração reprodutiva da África do Sul. O

litoral de Santa Catarina possui a costa bastante recortada e repleta de baías e

enseadas, oferecendo às baleias-francas-austrais alguma proteção contra os ventos

fortes característicos dos meses de inverno, sendo um habitat propício para a

ocorrência das baleias-francas-austrais (Palazzo & Flores, 1998).

1.3 ORGANIZAÇÃO SOCIAL E ASPECTOS COMPORTAMENTAIS

As baleias-francas-austrais são animais pouco gregários tanto em áreas de

alimentação, quanto em áreas de reprodução e cria (Evans, 1987). Animais solitários

ou grupos de dois indivíduos são os mais freqüentemente observados, podendo

vários grupos estar distribuídos em pequenas áreas de agregação (Bannister, 1990;

Best, 1990b; Andrade, 2006; Palazzo Jr. et al., 2007). Grupos de baleias-francas-

austrais podem ser compostos por indivíduos solitários, pares de mãe e filhote ou

grupos de adultos (Cassini & Vila, 1990; Andrade, 2006; Palazzo Jr. et al., 2007).

Durante o período reprodutivo observam-se nas baleias-francas-austrais que

ocorrem à costa brasileira diversos padrões comportamentais conhecidos, que vão

desde dormir/descansar, boiando na superfície com o dorso parcialmente exposto,

cauda relaxada, movimentos muito lentos, em posição paralela à praia, até

movimentos vigorosos como os saltos e batidas de cauda, que podem constituir

demonstrações com significado social ou forma de anunciar sua presença para outros

animais (Andrade, 2006; Palazzo Jr. et al., 2007).

Clark & Clark (1980), demonstraram que as baleias-francas-austrais

reconhecem os sons produzidos por indivíduos da mesma espécie e diferenciam estes

de outros sons do ambiente. Clark (1983) correlaciona algumas atividades

6

comportamentais exibidas pelas baleias-francas-austrais e seu contexto social com o

tipo de som produzido pelos grupos observados e cita que, embora não se saiba ao

certo sua função comunicativa, sabe-se que os diferentes padrões estão relacionados

a diferentes níveis de interação entre os indivíduos e entre estes e seu habitat.

1.4 Eubalaena australis NO BRASIL E SUA CONSERVAÇÃO

As baleias-francas-austrais ocorriam na costa brasileira desde o Rio Grande do

Sul até a Bahia onde registros hitóricos destacavam sua enorme abundância nas baías

e enseadas. Entre esses registros destacam-se um quadro pintado por Leandro

Joaquim em 1785, que retrata a caça das baleias na Baía de Guanabara (RJ) e fornece

indícios da sua ocorrência nessa região, bem como uma publicação emblemática por

José Bonifácio de Andrada e Silva em 1970 para a Real Academia de Sciencias de

Lisboa, retratando a caça das baleias-francas-austrais no Brasil (Andrade, 2006).

Após o término da caça, oficialmente proibida no Brasil em 1935, elas ainda foram

caçadas no Brasil até 1973, com a morte da última baleia-franca-austral em Imbituba

(SC). A partir de então elas foram consideradas extintas em águas brasileiras, e só a

partir da década de 80 os primeiros indivíduos foram avistados no litoral sul-sudeste

do país (Lodi & Bergallo, 1984; Câmara & Palazzo, 1986).

Com os esforços internacionais de pesquisa e conservação, incluindo as ações

do Projeto Baleia Franca que atua na área desde 1982, a população da espécie que

ocorre no litoral brasileiro vem se recuperando. Através de avistagens a partir de

terra e censos aéreos, foi possível estabelecer uma área principal de concentração

destes animais. Atualmente há registros de ocorrência desde o Rio Grande do Sul até

a Bahia (Castello & Pinedo, 1979; Câmara & Palazzo, 1986; Simões-Lopes et al.,

1992; Lodi et al., 1996; Engel et al., 1997; Greig et al., 2001; Baracho et al., 2002),

com uma concentração entre o litoral cento-sul de Santa Catarina e norte do Rio

Grande do Sul (Câmara e Palazzo, 1986; Simões-Lopes et al., 1992; Greig et al.,

2001; Groch, 2005).

Nesta área, a maioria das avistagens consiste de pares de mãe/filhote, que são

observados por vários dias nas mesmas enseadas próximos a arrebentação das ondas,

ou ao longo de alguns quilômetros durante semanas, movendo-se lentamente de uma

7

enseada para outra (Simões-Lopes et al., 1992; Palazzo & Flores, 1996, 1998;

Palazzo et al., 1999; Groch, 2000). A observação de indivíduos solitários e ausência

de filhotes nos primeiros meses (maio a julho) da estação reprodutiva, e uma maior

frequência de avistagens de fêmeas com filhotes a partir de agosto, com registros de

neonatos, é evidência de que os nascimentos ocorram nesta região (Simões-Lopes et

al., 1992; Palazzo & Flores, 1998).

O número de avistagens no litoral sul do Brasil (Palazzo & Flores, 1998; Groch

et al., 2005) bem como em algumas regiões do sudeste (Lodi et al., 1996; Santos et

al., 2001) e nordeste (Lodi et al., 1996; Engel et al., 1997) vem aumentando ano a

ano e acredita-se que a espécie esteja recuperando sua distribuição geográfica

original no Atlântico Sul Ocidental. Atualmente, esta população vem se recuperando a

uma taxa de crescimento de aproximadamente 14% ao ano, sendo que o Catálogo Brasileiro

de Fotoidentificação de Baleias-Francas conta com 315 indivíduos até 2003 (Groch et al.,

2005) e frequenta principalmente a costa centro-sul do estado de Santa Catarina. Entre os

meses de julho e novembro são avistadas na região, com pico de ocorrência em setembro

(Groch, 2005).

Devido à importância dessa área para a conservação da espécie, foi criada no

ano de 2000 a Área de Proteção Ambiental (APA) da Baleia Franca (Figura 3), a

partir de uma proposta do Projeto Baleia Franca, onde se localizam as enseadas

estudadas neste trabalho: Ribanceira/Ibiraquera (Imbituba, SC), Praia do Porto (sob

influência da APA) e Praia d’Água (Imbituba, SC), Itapirubá Norte (Imbituba, SC) e

Itapirubá Sul (Laguna, SC). A APA da Baleia Franca abrange uma região costeira

aproximadamente 130 km, de grande concentração de grupos de baleias-francas-

austrais, tendo como limite norte a praia de Lagoinha do Leste (sul da Ilha de Santa

Catarina), e como limite sul o Balneário Rincão, estendendo-se 5 milhas náuticas a

partir da costa, totalizando uma área de 156.100 hectares (Palazzo Jr. et al., 2007).

Apesar de as populações de baleais-francas-austrais do Hemisfério Sul

apresentar sinais de recuperação, ainda são consideradas como “risco mínimo” (least

concern) (IUCN, 2011), sendo necessários estudos continuados objetivando sua

conservação.

8

2. OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

Analisar a ocorrência, distribuição e composição dos grupos de baleias-francas-

austrais nas enseadas monitoradas na temporada reprodutiva de 2010

(Ribanceira/Ibiraquera, Porto e Praia d’Água, Itapirubá Norte e Itapirubá Sul) e sua

relação com fatores ambientais.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Analisar e determinar os padrões de ocupação sazonal;

Verificar a composição e a freqüência dos grupos de baleias-francas-austrais

na área de estudo.

Verificar e determinar diferenças na distribuição espacial e no tempo de

permanência da espécie na área de estudo;

Determinar a relação de ocorrência da espécie com fatores ambientais, como

o estado de agitação do mar e a profundidade.

9

3. MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 ÁREA DE ESTUDO

A área de estudo compreende parte da Área de Proteção Ambiental (APA) da

Baleia-Franca (Figura 3), com exceção da Praia do Porto (sob influência da APA).

Nesta área, a circulação marítima é caracterizada pelo fluxo da Corrente do Brasil

(CB), de origem tropical, com sentido para sul, e pelo fluxo oposto da Corrente das

Malvinas (CM), de origem subantártica (Olson et al., 1998). A CB leva águas

quentes e oligotróficas em direção às altas latitudes, acompanhando a linha de quebra

da plataforma continental e encontra-se com a CM, criando uma região com fortes

gradientes térmicos (Convergência Subtropical). Na área da plataforma continental

catarinense o padrão geral de feições oceanográficas resume-se a uma condição mais

homogênea durante o verão alternando com uma maior riqueza de feições durante o

inverno, onde é possível observar frentes oceanográficas, sendo uma muito próxima

da costa, e outra acompanhando a quebra de plataforma (Pereira et al., 2009).

As observações nas quatro enseadas monitoradas na temporada reprodutiva

2010 ocorreram a partir de pontos fixos estrategicamente localizados na costa, sendo

eles (em sequência, do norte para o sul): porção sul da enseada da Praia da

Ribanceira e Ibiraquera (5 km) (28°11’37”S e 48°39’34”W) (Figura 4), entre as

enseadas da Praia do Porto (2,5 km) e da Praia D’Água (1 km) (28°12’32”S e

48°39’59”W) (Figura 5), porção sul da enseada de Itapirubá Norte (6 km)

(28°20’24’’S e 48°42’11’’W) (Figura 6) e porção norte da enseada de Itapirubá Sul

(7 km) (28°20’32’’S e 48°42’15’’W), totalizando aproximadamente 22 km de costa

estudados (Figura 7).

10

Figura 3. Limites da APA da Baleia Franca. Os triângulos indicam os pontos fixos de

observação (Modificado de: Área de Proteção Ambiental da Baleia Franca – Guia do

visitante, 2002)

11

Figura 4. Mapa da enseada da Praia da

Ribanceira e Ibiraquera. O triângulo

indica o local do ponto fixo de

monitoramento (Fonte: Google Earth)

Figura 5. Mapa da enseada da Praia da

Porto e Praia d’Água. O triângulo

indica o local do ponto fixo de

monitoramento (Fonte: Google Earth)

Figura 6. Mapa da enseada de

Itapirubá Norte. O triângulo indica o

local do ponto fixo de monitoramento

(Fonte: Google Earth)

Figura 7. Mapa da enseada de

Itapirubá Sul. O triângulo indica o

local do ponto fixo de monitoramento

(Fonte: Google Earth)

12

3.2 COLETA DE DADOS

Os dados foram coletados entre os meses de julho a novembro da temporada

reprodutiva da espécie em 2010, como parte das atividades de campo do Projeto

Baleia Franca. A coleta foi feita com auxílio de binóculos Pentax 12x50 mm, relógio

digital, bússola, clinômetro, fichas de campo padronizadas (Anexos 1 e 2), carta

náutica das enseadas e os dados ambientais classificados conforme descrição contida

por categorias na Escala Beaufort de vento e agitação do mar (Anexo 3). Para a

enseada do Porto/Praia d’Água também foi utilizado um teodolito digital.

Os grupos monitorados foram divididos em quatro categorias: pares de

fêmea/filhote, sendo considerado filhote o indivíduo com menos de 50 % do tamanho

do corpo do adulto e mantendo-se bem próximo à mãe (Fefi), grupos compostos

apenas por indivíduos adultos não acompanhados de filhotes (Ad), grupos contendo

indivíduos subadultos (Sb), identificados por um “calombo” na cabeça, na frente do

orifício respiratório, e que é menos pronunciado que o observado em filhotes e não

existente em indivíduos adultos, e indivíduos não identificados (Ni).

O monitoramento foi realizado seis vezes por semana, com duração

aproximada de 6 horas diárias na enseada da Ribanceira e Ibiraquera (3 horas no

período da manhã e 3 horas no período vespertino, sendo assim determinado devido

à incidência de reflexo do sol dentro da área monitorada no período de 10:30h às

13:30h), 8 horas diárias na enseada da praia do Porto e Praia d’Água (juntamente às

obras de ampliação do Cais do Porto de Imbituba) e 1 hora diária, no início da manhã

(quando o dia começa a clarear), nas enseadas de Itapirubá Norte e Itapirubá Sul. O

tempo de observação padrão pode variar de acordo com a quantidade de horas/luz

diárias e condições climáticas. Os fatores considerados limitantes à observação

foram: velocidade do vento e agitação do mar maiores ou iguais a 5 na Escala

Beaufort, ocorrência de precipitação, baixa visibilidade e reflexo do sol dentro da

área monitorada.

As observações seguiram a metodologia de varredura (Altmann, 1974). Eram

realizados 10 minutos de varredura (“scan”) inicial (visualização de toda área de

estudo à procura de grupos de baleias). Em havendo baleias na área, o registro era

realizado em ficha padronizada, onde era anotado o número de indivíduos, a

13

composição do grupo e localização, e a plotagem das avistagens em carta náutica

(cada grupo avistado era plotado uma vez durante a varredura). Neste caso era feito

um descanso de 5 minutos e após o que dado o início ao procedimento de observação

focal, sendo 50 minutos de observação focal, 10 minutos de descanso, 50 minutos de

observação focal, 10 minutos de descanso e assim sucessivamente, reservando 10

minutos finais de scan (varredura final – visualização de toda área de estudo à

procura de grupos de baleias), até o final do período determinado para o

monitoramento. Observados os tempos de mergulho registrados para as baleias-

francas-austrais considerando-se diferentes atividades comportamentais (Cummings

et al., 1972), e de acordo com observações prévias realizadas (Groch, 2000, 2005;

Corrêa & Groch, 2007), o tempo de 10 minutos foi considerado longo o suficiente

para assegurar a contagem de baleias em mergulho.

Caso nenhum grupo fosse avistado, eram realizadas varreduras sucessivas com

duração de 10 minutos e 5 minutos de descanso, seguindo esses intervalos

sucessivamente até o fim da observação. Se, durante esse período, surgisse algum

indivíduo ou grupo de baleias, tinha início o procedimento de observação na

presença de baleias, iniciando pelos 50 minutos de observação focal, e programando

o final da observação focal de modo a permitir os 10 minutos de scan finais.

Exclusivamente, o monitoramento na enseada do Porto e Praia d’Água era feito

da mesma forma, mas com os scans final e inicial com duração de 30 minutos,

devido à maior área de monitoramento em relação às outras enseadas.

É importante destacar que não havia apenas um observador para cada ponto

fixo e sim, haviam vários observadores que se revezavam no monitoramento nos

quatro pontos fixos de observação. Portanto, pode ser que os dados a serem

apresentados, tanto os referentes à composição e quantidade de grupos, bem como os

referentes à localização e à definição dos fatores ambientais (por exemplo, estado de

agitação do mar) possam apresentar uma pequena variação.

3.3 ANÁLISE DOS DADOS

Os dados referentes às avistagens foram convertidos em índice CPUE (Captura

por Unidade de Esforço) utilizando-se nº de indivíduos/horas de esforço amostral

14

(scan). Uma vez que a identificação individual das baleias-francas-austrais é difícil a

partir de pontos de observação em terra, os registros de avistagens podem conter

repetição de indivíduos ao longo da temporada.

Em função de mares acima de Beaufort 3 dificultarem as observações, os dados

foram classificados e tratados em função da intensidade de agitação do mar, em duas

categorias, Beaufort 0 a 3 (B0-3) e Beaufort 4 e 5 (B4-5). A presença dos grupos,

bem como a condição de agitação de mar foi registrada dentro e fora das enseadas.

Para determinar a relação entre a ocorrência dos grupos de baleias-francas-

austrais e a profundidade, mapas das quatro enseadas bem como as isóbatas de

profundidade de 1, 5, 10 e 20 m, foram georreferenciadas a partir do programa

Google Earth e com auxílio das cartas náuticas das enseadas. Os mapas foram

gerados no software Surfer 9.0, onde foram marcadas as plotagens dos grupos. A

localização das plotagens foi estimada com auxílio dos dados referentes à localização

dos grupos registrados nas fichas de campo (ângulo da bússola e do clinômetro,

referências em terra, distância aproximada da costa e do ponto fixo de observação),

com exceção da Praia do Porto, onde os dados referentes à localização exata (latitude

e longitude) dos grupos avistados foram coletados com o auxílio de um teodolito

digital. Foi considerada a ocorrência de um grupo dentro da enseada quando na área

delimitada por uma linha imaginária que vai de uma ponta (costão) a outra da mesma

enseada até a linha de costa, e a ocorrência de um grupo fora da enseada quando

registrado na área a partir desta linha imaginária em direção à mar aberto.

Quanto às análises estatísticas, o teste do qui-quadrado foi empregado para

determinar diferenças significativas na proporção do tempo de observação direta dos

grupos entre as enseadas; na distribuição espacial dos pares fêmea/filhote e adultos

em cada enseada e do total de baleias observadas em cada enseada; e na ocorrência

dos pares fêmea/filhote e adultos dentro e fora das enseadas e em mares B0-3 e B4-5

e quanto a ocorrência de pares fêmea/filhote e adulto em áreas com profundidade de

até 10 m e maiores que 10 m. O nível de significância considerado foi de 5% (p =

0,05).

15

4. RESULTADOS

4.1 OCORRÊNCIA, DISTRIBUIÇÃO E COMPOSIÇÃO DE GRUPOS

4.1.1 Enseada da Ribanceira e Ibiraquera

O monitoramento na enseada da Ribanceira/Ibiraquera durou 117 dias, entre 01

de julho e 30 de novembro, totalizando 221,97 horas de esforço amostral, sendo

14,21% de observação direta de baleias. Foram avistados 292 grupos contendo 460

indivíduos, sendo 147 pares FeFi , 145 Ad, 4 Sb e 17 Ni. O número de avistagens de

Fefi e Ad não diferiram significativamente (p = 0,9). Os índices CPUE estão

representados na Tabela 1 e Figura 8. Setembro foi o mês com pico de avistagens,

seguido de agosto, outubro, novembro e julho. A maioria dos pares Fefi ocorreu em

setembro, seguido por outubro e agosto, julho e novembro. Adultos foram mais

avistados em agosto e setembro, seguido por outubro e julho, não havendo avistagens

em novembro. Subadultos foram avistados apenas em agosto e setembro. Julho e

agosto foram os meses com maior índice CPUE para indivíduos adultos e os pares de

fêmea/filhote predominaram nos meses de setembro, outubro e novembro.

Tabela 1. Índice CPUE gerado por meio dos dados coletados na enseada da

Ribanceira/Ibiraquera para cada categoria de grupo de baleias

Categoria/Mês Julho Agosto Setembro Outubro Novembro

FeFi 0,1209 1,5567 4,4122 1,6431 0,0517

Ad 0,2720 1,6253 1,2772 0,3081 0,0000

Sb 0,0000 0,0687 0,0290 0,0000 0,0000

Total 0,4835 3,4109 5,8055 1,9769 0,0517

16

Figura 8. Gráfico representando os índices CPUE para cada categoria de grupo de

baleias de acordo com os meses de ocorrência na enseada da Ribanceira/Ibiraquera

4.1.2 Enseada do Porto e Praia d’Água

O monitoramento na enseada da Porto e Praia d’Água foi realizado durante 127

dias, entre 01 de julho e 30 de novembro, totalizando 347,52 horas de esforço

amostral, sendo 7,9% de observação direta de baleias-francas-austrais. Foram

avistados 238 grupos contendo 363 indivíduos, sendo 144 pares FeFi , 196 Ad, 21 Sb

e 2 Ni, onde as avistagens de Ad foram significativamente maiores (p < 0,000001)

em relação aos pares Fefi. Os índices CPUE estão representados na Tabela 2 e Figura

9. Setembro foi o mês com maior número de avistagens, seguido de agosto, julho,

outubro e novembro. A maioria dos pares fêmea/filhote ocorreu em setembro,

seguido por outubro e agosto, julho e novembro. A maior parte dos adultos não

acompanhados de filhote foi avistada em agosto, seguido por setembro, julho e

outubro, não havendo avistagens em novembro. Indivíduos subadultos foram mais

avistados em agosto, seguido por setembro e julho, não havendo avistagens em

outubro e novembro.

17

Tabela 2. Índice CPUE gerado por meio dos dados coletados na enseada do Porto e

Praia d’Água para cada categoria de grupo de baleias

Categoria/Mês Julho Agosto Setembro Outubro Novembro

Fefi 0,1751 0,2995 1,0931 0,3721 0,0667

Ad 0,2627 1,4840 0,8665 0,0169 0,0000

Sb 0,0250 0,1906 0,0667 0,0000 0,0000

Total 0,4754 1,9877 2,0262 0,3891 0,0667

Figura 9. Gráfico representando os índices CPUE para cada categoria de grupo de

baleias de acordo com os meses de ocorrência na enseada da Praia do Porto e Praia

d’Água

4.1.3 Enseada de Itapirubá Norte

O monitoramento em Itapirubá Norte durou 103 dias, entre 01 de julho e 30 de

novembro, totalizando 67,07 horas de esforço amostral, sendo 15,48% de observação

direta de baleias-francas-austrais. Foram avistados 100 grupos contendo 161

indivíduos, sendo 98 pares FeFi , 53 Ad, 6 Sb e 4 Ni. As avistagens de pares Fefi

foram significativamente maiores (p = 0.000251) que as avistagens de Ad. Os índices

CPUE estão representados na Tabela 3 e Figura 10. Setembro foi o mês com maior

número de avistagens, seguido de agosto, outubro e julho, não havendo avistagens

em novembro. A maioria dos pares Fefi ocorreu em setembro, seguido por agosto e

outubro, não havendo avistagens em julho. A maior parte dos adultos foi avistada em

18

agosto, seguido por setembro, outubro e julho. Indivíduos subadultos foram avistados

apenas em agosto e setembro.

Tabela 3. Índice CPUE gerado por meio dos dados coletados na enseada de Itapirubá

Norte para cada categoria de grupo de baleias

Categoria/Mês Julho Agosto Setembro Outubro Novembro

Fefi 0,0000 2,6667 3,7427 1,9898 0,0000

Ad 0,1074 2,1333 1,9883 0,1531 0,0000

Sb 0,0000 0,2667 0,2339 0,0000 0,0000

Total 0,1074 5,2667 6,0819 2,1429 0,0000

Figura 10. Gráfico representando os índices CPUE para cada categoria de grupo de

baleias de acordo com os meses de ocorrência na enseada de Itapirubá Norte

4.1.4 Enseada de Itapirubá Sul

O monitoramento na enseada de Itapirubá Sul foi realizado durante 94 dias,

entre 01 de julho e 27 de novembro, totalizando 53,63 horas de esforço amostral,

sendo 23,34% de observação direta de baleias-francas-austrais. Foram avistados 85

grupos contendo 136 indivíduos, sendo 60 pares FeFi , 30 Ad, 7 Sb e 9 Ni. As

avistagens de pares Fefi foram significativamente maiores (p = 0,001567) que as

avistagens de Ad. Os índices CPUE estão representados na Tabela 4 e Figura 11.

Setembro foi o mês com maior número de avistagens, seguido de agosto, outubro e

19

julho, não havendo avistagens em novembro. A maioria dos pares Fefi ocorreu em

setembro, seguido por agosto, outubro e julho. A maior parte dos adultos foi avistada

em agosto, seguido por setembro e julho, não havendo avistagens em outubro.

Subadultos foram avistados apenas em agosto e setembro.

Tabela 4. Índice CPUE gerado por meio dos dados coletados na enseada de Itapirubá

Sul para cada categoria de grupo de baleias

Categoria/Mês Julho Agosto Setembro Outubro Novembro

Fefi 0,2271 2,1639 3,5368 0,6844 0,0000

Ad 0,6812 3,0492 2,1474 0,0000 0,0000

Sb 0,0000 0,4918 0,2526 0,0000 0,0000

Total 1,1353 6,0984 6,0632 0,6844 0,0000

Figura 11. Gráfico representando os índices CPUE para cada categoria de grupo de

baleias de acordo com os meses de ocorrência na enseada de Itapirubá Sul

4.2 RELAÇÃO COM FATORES AMBIENTAIS

4.2.1 Enseada da Ribanceira e Ibiraquera

Nesta enseada verificou-se a maior parte dos pares Fefi e Ad ocorrendo dentro

da enseada, sendo ambos estatisticamente significativos (p < 0,000001), e a maioria

dos Sb fora da enseada. Quanto à condição do mar, a maioria das avistagens de todas

20

as categorias de baleias ocorreu em mar B0-3, da mesma forma sendo significativo

para Fefi e Ad (p < 0,000001) (Tabela 5).

Tabela 5. Porcentagem de ocorrência de Fefi, Ad e Sb dentro e fora da enseada e em

mares classificados como B0-3 e B4-5 na enseada da Ribanceira/Ibiraquera.

Fefi Ad Sb

Dentro 93,2 73,1 25

Fora 6,8 26,9 75

Total 100,0 100,0 100,0

B0-3 82,31 83,45 75

B4-5 17,69 16,55 25

Total 100,0 100,0 100,0

Em dias com agitação de mar B0-3, houve uma maior ocorrência de grupos

Fefi (n = 121) e Ad (n = 121) dentro da enseada, sendo ambos significativos (p <

0,000001), ao contrário dos Sb (n = 3), que ocorreram mais fora da enseada. Em dias

com agitação de mar B4-5, os grupos Fefi (n = 26) e Ad (n = 24) ocorreram mais

dentro do que fora da enseada, sendo também ambos significativos (Fefi: p =

0,000003; Ad: p = 0,041235), enquanto que todos os registros de Sb (n = 1) foram

verificados fora da enseada (Figura 12).

Figura 12. Porcentagem de ocorrência de cada categoria de grupo avistado na

Ribanceira/Ibiraquera em dias com agitação de mar B0-3 (dentro e fora da enseada) e

B4-5 (dentro e fora da enseada).

21

Quanto à profundidade, todas as categorias de grupos (98,64% de Fefi, 89,39%

de Ad e 75% dos Sb) foram registrados em profundidades menores que 10m, sendo

estatisticamente significativas ambas as categorias Fefi e Ad (p < 0,000001). As

plotagens dos grupos estão representadas na figura 13.

-48.67 -48.66 -48.65 -48.64

-28.21

-28.2

-28.19

-28.18

-28.17

-28.16

-28.15

-28.14

Ilha do Batuta

Ribanceira

Ibiraquera

Praia do Luz

Praia d'Água(enseada norte)

Praia d'Água(enseada sul)

Figura 13. Mapa da enseada da Ribanceira/Ibiraquera gerado a partir do software

Surfer 9.0. O triângulo preto indica o ponto fixo de observação. (Pontos vermelhos:

Fefi; azuis: Ad; verdes: SB).

22

4.2.2 Enseada do Porto e Praia d’Água

Para todas as categorias de grupos verificou-se a ocorrência, em sua maior

parte, fora das enseadas, sendo significativos os resultados para grupos Fefi (p =

0,009526) e para Ad (p = 0,000001) e, ao mesmo tempo, todas as categorias foram

mais representativas com agitação de mar B0-3, todas estatisticamente significativas

(Fefi: p = 0,018428; Ad: p < 0,000001) (Tabela 6).

Tabela 6. Porcentagem de ocorrência de Fefi, Ad e Sb dentro e fora da enseada e em

mares classificados como B0-3 e B4-5 na enseada do Porto/Praia d’Água.

Fefi Ad Sb

Dentro 34,72 32,65 33,33

Fora 65,28 67,35 66,67

Total 100,0 100,0 100,0

B0-3 63,89 82,14 80,95

B4-5 36,11 17,86 19,05

Total 100,0 100,0 100,0

Em dias com agitação de mar B0-3, houve maior ocorrência de todas as

categorias de grupos fora da enseada, sendo estatisticamente significativo tanto para

Fefi (p = 0,007959, n = 46) quanto para Ad (p = 0,000703, n = 161). Também para

todas as categorias de grupos, em dias com agitação de mar B4-5, a maioria das

avistagens foram verificadas fora da enseada, sendo significativo para Ad (p =

0,000024, n = 26) mas não significativo para Fefi (p = 0,432773, n = 35) (Figura 15).

23

Figura 14. Porcentagem de ocorrência de cada categoria de grupo avistado no

Porto/Praia d’Água em dias com agitação de mar B0-3 (dentro e fora da enseada) e

B4-5 (dentro e fora da enseada).

Todas as categorias de grupos foram registradas em profundidades menores

que 10m (79,17% de Fefi, 76,81% de Ad e 85,71% dos Sb), sendo que para ambas as

categorias de grupo Fefi e Ad os resultados foram significativos (Fefi: p = 0,000001;

Ad: p < 0,000001). As plotagens dos grupos estão representadas na figura 15.

24

-48.67 -48.665 -48.66 -48.655 -48.65 -48.645 -48.64 -48.635 -48.63 -48.625 -48.62 -48.615

-28.24

-28.235

-28.23

-28.225

-28.22

-28.215

-28.21

-28.205

-28.2

-28.195

Bóia

l

Santana de dentro

Praia do Porto

Praia d'Água(enseada sul)

Praia d'Água(enseada norte)

Figura 15. Mapa da enseada da Praia do Porto e Praia d’Água gerado a partir do

software Surfer 9.0. O triângulo preto indica o ponto fixo de observação. (Pontos

vermelhos: Fefi; azuis: Ad; verdes: SB).

4.2.3 Enseada de Itapirubá Norte

Para todas as categorias de grupos de Fefi e Ad avistados verificou-se uma

maior ocorrência dentro das enseadas, sendo ambos significativos (p < 0,000001),

bem como quanto à condição do mar, onde as avistagens dessas mesmas categorias

foram mais representativas e também significativas (p < 0,000001) em mar B0-3. As

avistagens de Sb foram imparciais em ambas as condições (Tabela 7).

25

Tabela 7. Porcentagem de ocorrência de Fefi, Ad e Sb dentro e fora da enseada e em

mares classificados como B0-3 e B4-5 na enseada de Itapirubá Norte.

Fefi Ad Sb

Dentro 94,0 92,45 50,0

Fora 6,0 7,55 50,0

Total 100,0 100,0 100,0

B0-3 96,0 96,23 50,0

B4-5 4,0 3,77 50,0

Total 100,0 100,0 100,0

Em dias com agitação de mar B0-3, houve uma maior ocorrência de grupos

Fefi (n = 48) e Ad (n = 51) dentro da enseada, ambos significativos (p < 0,000001),

enquanto que todos os Sb (n = 3) foram verificados ocorrendo dentro da enseada. Em

dias com agitação de mar B4-5, os grupos Fefi foram imparciais quanto à ocorrência

dentro e fora da enseada, todas as avistagens de Ad ocorreram dentro da enseada, não

sendo significativo (p = 0,157309), e todos as avistagens de Sb foram verificados

fora da enseada (Figura 18).

Figura 16. Porcentagem de ocorrência de cada categoria de grupo avistado em

Itapirubá Norte em dias com agitação de mar B0-3 (dentro e fora da enseada) e B4-5

(dentro e fora da enseada).

Para a enseada de Itapirubá Norte, também todas as categorias de grupos foram

registrados em profundidades menores que 10m (95,92% de Fefi, 97,67% de Ad e

26

100% dos Sb), sendo ambas as categorias de grupo Fefi e Ad significativas (p <

0,000001). As plotagens dos grupos estão representadas na figura 17.

-48.71 -48.7 -48.69 -48.68 -48.67 -48.66 -48.65 -48.64 -48.63

-28.34

-28.33

-28.32

-28.31

-28.3

-28.29

-28.28

-28.27

-28.26

-28.25

-28.24

Ilha das Araras

Santana de Dentro

Santana de Fora

Itapirubá Norte

Praia da Vila

Figura 17. Mapa da enseada de Itapirubá Norte gerado a partir do software Surfer

9.0. O triângulo preto indica o ponto fixo de observação. (Pontos vermelhos: Fefi;

azuis: Ad; verdes: SB).

4.2.4 Enseada de Itapirubá Sul

Assim como na praia de Itapirubá Norte verificou-se a maioria dos pares Fefi e

Ad, ambos significativos (Fefi: p = 0,007062; Ad: p = 0,014992) ocorrendo dentro

das enseadas, enquanto que os Sb tiveram maior ocorrência fora da enseada (Tabela

27

8). As categorias Fefi e Ad foram mais avistadas em condições de mar B0-3, ambos

significativos (Fefi: p = 0,000162; Ad: p = 0,000205), não havendo registro de

avistagem de Sb nessas condições (Tabela 8).

Tabela 8. Porcentagem de ocorrência de Fefi, Ad e Sb dentro e fora da enseada e em

mares classificados como B0-3 e B4-5 na enseada de Itapirubá Sul.

Fefi Ad Sb

Dentro 74,19 65,57 14,29

Fora 25,81 34,43 85,71

Total 100,0 100,0 100,0

B0-3 83,87 73,77 0,00

B4-5 16,13 26,23 100,00

Total 100,0 100,0 100,0

Em Itapirubá Sul, nos dias com agitação de mar B0-3, os grupos Fefi (n = 26) e

Ad (n = 45) tiveram uma maior porcentagem de ocorrência dentro da enseada, ambos

significativos (Fefi: p = 0.018609; Ad: p = 0,001747). Em dias com agitação de mar

B4-5, grupos Fefi (n = 5) foram mais avistados dentro da enseada, e Ad (n = 16) e Sb

(n = 7) foram mais avistados fora da enseada, sendo tanto Fefi como Ad

estatisticamente significativos (Fefi: p = 0,179722; Ad: p = 0,617078) (Figura 21).

Figura 18. Porcentagem de ocorrência de cada categoria de grupo avistado em

Itapirubá Sul em dias com agitação de mar B0-3 (dentro e fora da enseada) e B4-5

(dentro e fora da enseada).

28

Em Itapirubá Sul, todas as categorias de grupos foram registrados em

profundidades menores que 10m (100% de Fefi, 87,5% de Ad e 66,7% dos Sb),

sendo estatisticamente significativos os resulatdos para as categorias Fefi e Ad (p <

0,000001). As plotagens dos grupos estão representadas na figura 19.

-48.75 -48.74 -48.73 -48.72 -48.71 -48.7 -48.69 -48.68

-28.42

-28.41

-28.4

-28.39

-28.38

-28.37

-28.36

-28.35

-28.34

l

Itapirubá Sul

Praia do Sol

Figura 19. Mapa da enseada de Itapirubá Sul gerado a partir do software Surfer 9.0.

O triângulo preto indica o ponto fixo de observação. (Pontos vermelhos: Fefi; azuis:

Ad; verdes: SB).

29

5. DISCUSSÃO

5.1 OCORRÊNCIA, DISTRIBUIÇÃO E COMPOSIÇÃO DE GRUPOS

Para todas as enseadas verificou-se que as avistagens gerais e de fêmeas com

filhote seguiram o padrão observado para a espécie nas outras temporadas no litoral

de SC, apresentando pico de ocorrência em setembro (Groch, 2005), declinando a

partir de outubro (Palazzo Jr. et al., 2007).

Nas enseadas da Ribanceira/ Ibiraquera e do Porto/Praia d’Água, observou-se a

predominância de indivíduos adultos nos meses de julho e agosto em relação aos

pares fêmea/filhote, que foram mais predominantes nos meses de setembro, outubro

e novembro. Estes dados corroboram o fato de essas enseadas serem importantes

áreas reprodutivas para a espécie, indicando que a grande quantidade de adultos

observados nos primeiros meses da temporada possa representar fêmeas prenhas em

seu ano de concepção.

As fêmeas grávidas se aproximam da costa alguns dias antes do nascimento

dos filhotes, e permanecem com os recém nascidos em torno de 11 semanas na

mesma área de concentração; o tempo de permanência observado para adultos sem

filhotes varia bastante e, pelo menos em algumas regiões, permanecem próximos a

costa durante menos tempo que fêmeas com filhotes (em torno de 6 semanas)

(Bannister, 1990; Best, 1990b). As fêmeas permanecem na área reprodutiva com

seus filhotes até o término da estação reprodutiva, quando atingem o estágio pré-

migratório, momento em que poderão iniciar, com a mãe, a migração para as áreas de

alimentação (Taber & Thomas, 1982). Nas enseadas da Ribanceira/Ibiraquera e

Porto/Praia d’Água, os grupos compostos apenas de indivíduos adultos, que utilizam

30

a região como local de acasalamento, permaneceram menos tempo em relação aos

pares de fêmea/filhote, visto que não foi verificada a ocorrência de adultos no mês de

novembro, enquanto houve ocorrência de pares de Fefi em todos os meses da

temporada reprodutiva. A preferência por determinadas enseadas já foi observada em

outras áreas de reprodução e cria (Payne, 1986; Bannister, 1990; Burnell & Bryden,

1997), nas quais é possível verificar a sua ocorrência ao longo de todos os meses da

temporada reprodutiva. Como visto nas enseadas da Ribanceira/Ibiraquera e Praia do

Porto e Praia d’Água, a presença expressiva de pares de fêmea/filhote em todos os

meses da temporada indica uma preferência de uso desta enseada por esta categoria

de baleias.

A maioria dos registros de avistagens em cada enseada foi de pares

fêmea/filhote, exceto para a enseada da Praia do Porto e Praia d’Água, que teve um

número de avistagens de indivíduos adultos maior e mais expressivo que o número

de avistagens de pares Fefi. Este número significativo de adultos registrados no

Porto/Praia d’Água, além de também poder representar fêmeas prenhas em seu ano

de concepção e/ou indivíduos com preferência por tal enseada, pode indicar um

maior número de indivíduos a procura de pares para acasalamento, representando um

aumento da população reprodutiva.

Estudos de fotoidentificação de longo prazo realizados em várias áreas de

concentração das baleias-francas-austrais no Hemisfério Sul demonstram haver uma

certa fidelidade às áreas de reprodução e cria, onde as fêmeas grávidas tendem a

retornar à mesma região a cada 3 anos, em geral no mesmo local ou em área

adjacentes ao local do primeiro ano de avistagem, para concepção de um novo filhote

(Payne, 1986; Bannister, 1990; Best, 1990b; Payne et al., 1990). Partindo deste

princípio, os presentes dados referentes às avistagens na enseada da

Ribanceira/Ibiraquera foram comparados àqueles disponíveis na literatura (Quito et

al., 2008), obtidos na temporada reprodutiva da espécie em 2007, na qual foi

utilizada a mesma metodologia de campo que a empregada no presente estudo. O

número de baleias-francas-austrais que frequentou a enseada Ribanceira/Ibiraquera

no ano de 2010 foi 85,31% menor que em 2007. Isso mostra que apesar do número

de avistagens em 2010 ter sido expressivo, foi abaixo do esperado, uma vez que a

31

população de baleias-francas-austrais que visita o litoral catarinense cresce a uma

taxa de aproximadamente 14% ao ano (Groch et al., 2005).

Nas enseadas de Itapirubá Norte e Sul alguns padrões foram diferentes dos

observados para Ribanceira/Ibiraquera e Porto/Praia d’Água. Em relação às

avistagens gerais, não houve registros de qualquer uma das categorias de grupo no

mês de novembro, indicando um tempo de permanência menor dos grupos nessas

enseadas. Além disso, pares fêmea/filhote só tiveram registros de ocorrência nos

meses de agosto, setembro e outubro em Itapirubá Norte e adultos com registros de

ocorrência apenas nos meses se julho, agosto e setembro em Itapirubá Sul. No

entanto, foi registrado um maior tempo de observação direta na enseada de Itapirubá

Sul, indicando uma maior permanência de baleias-francas-austrais nesta enseada com

relação às outras, sendo estatisticamente significativo em relação ao tempo de

observação direta na Praia do Porto e Praia d’Água (p = 0,005741) e não

significativo em relação à Ribanceira/Ibiraquera (p = 0,1362) e em relação à

Itapirubá Norte (p = 0,20713). Como já foi mencionado, em geral, indivíduos adultos

permanecem relativamente pouco tempo nas áreas de reprodução e cria, sendo mais

comumente avistados entre julho e setembro, havendo possibilidade de alguns

indivíduos serem fêmeas prenhas em seu ano de concepção. Isto explica a drástica

diminuição no número de adultos avistados em outubro, e a ausência de avistagens

em novembro em ambas as enseadas.

Partindo do mesmo princípio de que há uma preferência, principalmente, de

pares fêmea/filhote por determinadas enseadas, onde verifica-se sua ocorrência em

todos os meses da temporada reprodutiva, nas enseadas de Itapirubá, no entanto, este

padrão não foi observado na temporada 2010, indicando a ocorrência de uma

variação temporal na distribuição dos indivíduos desta população na área de

concentração reprodutiva do Sul do Brasil. Alterações na distribuição das baleias-

francas-austrais já foram relatadas em alguns locais como África do Sul (Best, 2000)

e Península Valdés, Argentina (Rowntree et al., 2001). Na África do Sul, as

alterações ocorreram provavelmente em função das mudanças do número de baleias

presentes em algumas regiões (Best, 2000), o que pode estar relacionado à

experiência prévia das fêmeas na escolha de áreas de berçário. Na Península Valdés

as alterações foram atribuídas a grandes mudanças na topografia do fundo devido a

32

tempestades (Rowntree et al., 2001), e em alguns casos à preferência individual e à

coesão social. A aparente diferença na distribuição das baleias ao longo da

temporada nas enseadas de Itapirubá Sul e Itapirubá Norte não foi estatisticamente

significativa (p = 0,270113), diferentemente das outras enseadas.

O uso do teodolito digital pode explicar a maior quantidade de indivíduos

subadultos registrados para a Praia do Porto/ Praia d’Água em relação às outras

enseadas, uma vez que seu alcance é muito grande e permite a percepção de detalhes

que não são possíveis de se identificar quando do uso de um binóculo. As diferenças

na quantidade de avistagens registradas em cada enseada podem estar relacionadas a

características físicas intrínsecas das enseadas, como declividade e circulação

marítima, bem como proteção contra ventos fortes, fatores que podem influenciar na

distribuição das baleias-francas-austrais em áreas de reprodução e cria.

5.2 RELAÇÃO COM FATORES AMBIENTAIS

A distribuição das baleias-francas-austrais nas áreas de reprodução e cria é

frequentemente relacionada a águas calmas e rasas. Segundo Elwen & Best (2004), a

preferência por determinadas enseadas a e a escolha do habitat pelas baleias-francas-

austrais deve estar relacionada com a conservação de energia pelas fêmeas lactantes

(condições calmas do mar) e a proteção dos filhotes recém-nascidos, podendo então

justificar uma possível uma preferência dos pares Fefi por águas mais calmas. Essa

informação corrobora com os resultados observados no presente estudo, uma vez que

em todas as enseadas ao longo da temporada reprodutiva de 2010 foi observado um

número significativamente expressivo de avistagens de FeFi e Ad em mar B0-3,

constrastando com a pequena proporção de registros em mares B4-5, sugerindo para

esta área também a preferência dos pares fêmea/filhote e, inclusive, de adultos, por

águas mais calmas. Ressalta-se que o fato de os indivíduos adultos serem também

avistados em maior número nas mesmas condições para Fefi pode ser justificado por

se tratarem de possíveis fêmeas grávidas em busca de locais tranquilos para a de

concepção.

Historicamente, a enseada da Ribanceira/Ibiraquera, tem registrado números

significativos de avistagens, possuindo sempre uma predominância de grupos de Fefi

33

(Quito et al., 2008), indicando que isto provavelmente ocorra em função de

características da enseada que possam conferir algum tipo de proteção física.

Em todas as enseadas também verificou-se a maior parte dos pares

fêmea/filhote e indivíduos adultos ocorrendo dentro das enseadas, exceto para a

enseada da Praia do Porto e Praia d’Água. Mesmo sabendo-se que neste local há a

probabilidade das águas serem mais calmas devido a existência de proteções físicas,

o fato de o menor número de avistagens ter sido registrado dentro das enseadas pode

ter ocorrido devido a praia do Porto ser um local de intensa atividade portuária e a

Praia D’Água por ter uma pequena extensão de área. Sabe-se que a área de entrada

da enseada da praia do Porto é de extrema relevância, uma vez que está localizada na

rota de deslocamento das baleias entre as enseadas da região (Groch, dados não

publicados), o que pode ter refletido no grande número de avistagens tanto fora da

enseada do Porto quanto da Praia D’Água.

A proteção física das enseadas contra a ação de ventos fortes pode ter

colaborado para uma maior concentração de grupos de baleias dentro das enseadas

em dias com condição de mar menos agitadas, como visto para as enseadas da

Ribanceira/Ibiraquera, e Itapirubá Norte e Sul. O litoral centro-sul de Santa Catarina

possui locais apropriados para as interações entre fêmeas e filhotes, devido às águas

calmas e enseadas bastante recortadas, que conferem proteção contra os ventos fortes

característicos da região durante os meses de inverno. Nessas enseadas pode-se

verificar uma grande concentração de grupos nas porções mais ao norte ou mais ao

sul de cada uma delas, indicando que, provavelmente, em dias de ventos muito

fortes, e mares muito agitados, houve a preferência por esses locais por serem mais

protegidos. Mesmo em condições de mar agitado (B4-5), as fêmeas com filhote

mostraram ter preferência por permanecerem dentro das enseadas, exceto para a

Praia do Porto e praia d’Água, onde a maioria foi registrada fora das enseadas e para

a enseada de Itapirubá Norte, onde os registros foram imparciais.

Em geral, as baleias-francas-austrais são encontradas próximas da costa.

Adultos não acompanhados de filhotes permanecem mais afastados da região das

ondas (em locais com profundidades de até 60-80m) e fêmeas com filhotes são

avistadas logo após a arrebentação das ondas ou a distâncias de até 1000 metros da

costa, em profundidades menores que 20 m e mais frequentemente em torno de 10 m,

34

como já foi observado para as áreas de concentração reprodutiva na Argentina

(Payne, 1986; Thomas, 1986), África do Sul (Best, 1990b) e Nova Zelândia

(Patenaude & Baker, 2001). Nas enseadas monitoradas na temporada reprodutiva

2010 em Santa Catarina, a grande maioria dos grupos de fêmeas com filhote e dos

grupos de adultos foi registrada em profundidades menores e em torno de 10 m e, na

maioria das vezes os pares fêmeas/filhote foram registrados muito próximos à região

de arrebentação das ondas (observação pessoal), sugerindo que estes grupos que

frequentam o litoral de Santa Catarina também buscam locais mais rasos por serem

mais tranquilos, onde podem obter benefícios em relação à manutenção energética

dos adultos e necessários ao desenvolvimento do filhote. Já Thomas & Taber (1984)

sugerem que pares de mãe-filhote têm preferência por águas rasas para evitar

interações de alto custo energético com grupos sociais de baleias-francas-austrais.

É importante considerar que apenas as avistagens na Praia do Porto e Praia

d’Água têm praticamente 100% de exatidão quanto à localização de cada grupo

plotado no mapa gerado, uma vez que estas posições foram obtidas com teodolito.

Apesar disso, os grupos plotados em distâncias muito grandes da costa (ex., Figura

15) provavelmente apresentam erros de posicionamento, já que a dificuldade de

avistagem dos animais e leitura dos ângulos no teodolito aumenta com a distância em

relação ao observador. Por outro lado, as leituras dos ângulos obtidos através da

bússola e do clinômetro para obtenção das posições dos grupos apresentaram grande

variabilidade. Assim, no caso das enseadas da Ribanceira/Ibiraquera e Itapirubá

Norte e Sul, onde foram utilizados estes equipamentos para a obtenção das posições

dos grupos, o posicionamento nos mapas só foi possível efetuando-se a conciliação

das posições geográficas obtidas, com as anotações efetuadas nas fichas gerais de

monitoramento, que proporcionavam indicações adicionais quanto a localização dos

grupos. Desse modo, as plotagens nessas enseadas apresentam grande variabilidade e

devem ser interpretadas com parsimônia. Apesar disso, levando-se em conta que a

isóbata dos 10 m localiza-se na área considerada como “dentro da enseada” e que

esta foi utilizada para a análise de ocorrência dos grupos em relação à profundidade,

pode-se inferir que praticamente todas as avistagens registradas dentro da enseada

estavam em torno dos 10 m de profundidade.

35

6. CONCLUSÕES

Os resultados obtidos neste estudo mostram um pico de ocorrência de baleias-

francas-austrais principalmente de pares fêmea/filhote no mês de setembro,

declinando a partir de outubro. Adultos predominaram nos primeiros meses da

temporada, indicando que provavelmente sejam fêmeas prenhas em seu ano de

concepção.

A presença expressiva de pares de fêmea/filhote em todos os meses da

temporada nas enseadas da Ribanceira/Ibiraquera e Porto/Praia d’Água, indica uma

preferência de uso destas enseadas, diferente do observado nas enseadas de Itapirubá,

podendo haver a ocorrência de uma variação temporal na distribuição dos indivíduos

desta população na área de concentração reprodutiva do Sul do Brasil.

Em todas as enseadas foi observado um número significativamente expressivo

de avistagens de fêmeas com filhote e indivíduos adultos em mares calmos (B0-3),

bem como em profundidades em torno dos 10 m, sugerindo que a distribuição das

baleias-francas-austrais esteja fortemente relacionada a águas tranquilas e rasas.

O uso da bússola e do clinômetro mostrou-se impreciso no posicionamento dos

grupos de baleias-francas-austrais, bem como o uso do teodolito no posicionamento

de grupos que estejam muito distantes em relação ao observador, sendo necessários

modelos matemáticos que eliminem observações a partir de uma certa distância.

Todas as enseadas mostraram-se ser importantes áreas de reprodução e cria no

litoral centro-sul de Santa Catarina, sendo imprescindível a continuação do seu

monitoramento em longo prazo, para o adequado manejo e conservação das baleias-

francas-austrais que frequentam o litoral brasileiro.

36

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ANEXOS

43

Anexo 1: Ficha geral de avistagens

44

Anexo 2: Ficha de monitoramento do Porto

45

Anexo 3: Escala Beaufort do vento e agitação do mar