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UNIVERSIDADE POTIGUAR UnP PRÓ-REITORIA ACADÊMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO PPGA MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO - MPA ANTONIO ALFREDO DE CARVALHO NOBRE RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA EM UMA EMPRESA PRESTADORA DE SEVIÇOS DE SAÚDE NATAL 2015

UNIVERSIDADE POTIGUAR UnP PRÓ-REITORIA ACADÊMICA … · ANTONIO ALFREDO DE CARVALHO NOBRE ... Gestão Estratégica de Pessoas. ... Prof.º Dr.º Manoel Pereira da Rocha Neto Orientador

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UNIVERSIDADE POTIGUAR – UnP

PRÓ-REITORIA ACADÊMICA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO – PPGA

MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO - MPA

ANTONIO ALFREDO DE CARVALHO NOBRE

RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA EM UMA EMPRESA

PRESTADORA DE SEVIÇOS DE SAÚDE

NATAL

2015

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ANTONIO ALFREDO DE CARVALHO NOBRE

RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA EM UMA EMPRESA

PRESTADORA DE SEVIÇOS DE SAÚDE

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Administração da Universidade

Potiguar, como requisito para obtenção do título de

Mestre em Administração.

Área de Concentração: Gestão Estratégica de Pessoas.

ORIENTADOR: Prof.º Dr.º Manoel Pereira da Rocha

Neto

NATAL/RN

2015

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N754r Nobre, Antônio Alfredo de Carvalho.

Responsabilidade Socioambiental em uma empresa prestadora de

serviços de saúde/ Antônio Alfredo de Carvalho Nobre.- Natal, 2015.

119p

Dissertação – (Mestrado em Administração)- Universidade Potiguar - Pró-

Reitoria Acadêmica – Núcleo de Pós-Graduação.

1.Administração. 2. Responsabilidade Social Empresarial. 3. Serviço

de Saúde. Indicadores Ethos. I. Título.

RN/UnP/BCNC CDU: 65

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ANTONIO ALFREDO DE CARVALHO NOBRE

RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA EM UMA EMPRESA

PRESTADORA DE SEVIÇOS DE SAÚDE

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Administração da Universidade

Potiguar – UnP, como requisito para obtenção do

título de Mestre em Administração.

Aprovado em: ____/____/2015

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________

Prof.º Dr.º Manoel Pereira da Rocha Neto

Orientador

Universidade Potiguar - UnP

__________________________________________________

Prof.ª Dr.ª Hilderline Câmara de Oliveira

Examinadora Interna

Universidade Potiguar - UnP

___________________________________________________

Prof.ª Drª Fernanda Fernandes Gurgel

Examinadora Externa

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

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Dedico este trabalho ao meu pai Severino Guimarães

(in memoriam), e a minha mãe Francisca Diva, que

souberam fazer germinar em seus filhos o prazer da

busca do conhecimento.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, pela existência de todas as coisas.

A minha esposa Miriam Lúcia, pelo companheirismo em todos os momentos e em especial pelo

apoio e incentivo no transcurso desta jornada.

As minhas filhas, Cintia Mirela, Regina Lúcia e Camila Cristina que vibraram ao tomarem

conhecimento que teriam em casa um companheiro de estudos acadêmicos, e em muito

contribuíram, com compreensão e carinho, para o bom andamento e conclusão deste estudo.

Aos irmãos Marco Aurélio (in memoriam), Suely Magna, Soraya Cely, Sebastiao Neto, Jorge

Guimarães e Severino Júnior, pela amizade sincera.

A Professora Fernanda Gurgel, que, com sabedoria, dedicação e paciência guiou este seu aluno,

oriundo das ciências biomédicas, pelos férteis campos das ciências humanas, contribuindo de

forma decisiva para o êxito deste trabalho.

Ao Professor Manoel Pereira, que assumindo a função de orientador deste trabalho, em um

momento crucial de definições, conduziu-o com sabedoria e discernimento até o seu término.

A todos os que fazem o Mestrado Profissional em Administração da UnP, pela dedicação e

profissionalismo.

Aos colegas de turma pelo incentivo e companheirismo.

Ao IFRN pela disponibilização do tempo para estudo, e de um modo especial aos colegas de

trabalho, do setor de saúde, pela compreensão e palavras de encorajamento.

Aos Sócios, funcionários e clientes da intuição pesquisada, que com suas participações

voluntárias, tornaram possível a realização deste estudo.

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RESUMO

A Responsabilidade Social Empresarial (RSE) é um conceito que ganha adeptos e robustez, à

medida que o empresariado percebe, que a institucionalização de práticas e ações de

responsabilidade socioambiental, gerando valor para a sociedade e para o meio ambiente, ao

invés de ser apenas custos, representa um diferencial competitivo, capaz de produzir resultados

positivos para a empresa e para a sociedade como um todo. Este trabalho verificou, qual o atual

estágio de engajamento com a RSE de uma empresa de serviços de saúde, especializada em

traumato-ortopedia, localizada na Zona Norte da cidade do Natal, Rio Grande do Norte – RN,

por meio das percepções de gestores, funcionários e clientes. O modelo, Indicadores Ethos de

Responsabilidade Social Empresarial, na sua versão 2013, foi empregado na análise dos

resultados. Esta pesquisa adotou uma abordagem qualitativa, descritiva e foi desenvolvida

como um estudo de caso. Foram utilizados, dados primários, coletados por meio de entrevista

semiestruturada individualizada. Na análise e tratamento dos dados foi utilizada a técnica de

análise de conteúdo. Os resultados evidenciaram uma percepção convergente, de gestores e

funcionários, quanto ao entendimento, de que existe uma responsabilidade da empresa com o

meio ambiente, comunidade de entorno e público interno. Em relação à questão ambiental a

percepção dos gestores encontra-se focada na problemática do correto manejo dos resíduos e

cumprimento das exigências legais, enquanto os funcionários além de demonstrarem

preocupação com a questão dos resíduos, destacam outros importantes aspectos da

responsabilidade ambiental das empresas como a reciclagem, coleta seletiva, ações para a

comunidade, arborização e preservação da qualidade do ar. Gestores e funcionários, percebem

a necessidade de uma maior interação da empresa, com a comunidade onde está localizada, e

relatam a inexistência de ações formais desenvolvidas nessa direção. Gestores e funcionários

percebem a carência de ações de RSE destinadas pela empresa para o seu público interno.

Quanto aos clientes, estes demonstram conhecimento em torno da temática RSE, e percebem a

responsabilidade ambiental das empresas, com foco na problemática do correto manejo dos

resíduos e seus aspectos legais. Os clientes desconhecem ou não percebem a existência de ações

de RSE da empresa em parceria com organizações da comunidade. Em relação ao público

interno, percebem práticas, relacionadas a diversidade e a não discriminação e condições

adequadas de trabalho. Com base nos resultados dessa pesquisa, pode-se inferir que a empresa

alvo deste estudo, encontra-se em um processo evolutivo de conscientização em torno dos

pressupostos da RSE, estando em um momento de transição de um estágio básico para um

estágio intermediário de RSE como proposto pelo Instituto Ethos.

Palavras-chave: Responsabilidade Social Empresarial. Serviço de Saúde. Indicadores Ethos.

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ABSTRACT

Corporate Social Responsibility (CSR) is a concept that has gained acceptance and robustness,

as the business community realizes that the institutionalization of social and environmental

responsibility initiatives, generating value for society and the environment, rather than just

costs, represents a competitive advantage, able to produce positive results for the company and

for society as a whole. This study aimed to verify what is the current stage of engagement with

CSR of a healthcare company, specialized in traumatology and orthopedics, located in the North

Zone of Natal, Rio Grande do Norte - RN, through the perceptions of managers, employees and

clients. Ethos Indicators of Corporate Social Responsibility Model, version 2013, was used in

results analysis. This research adopted a qualitative, descriptive approach and was developed

as a case study. Primary data was collected in individualized semi-structured interview. To

analyze and treat this data, technic of content analyze was used. The results show a convergent

perception of managers and employees concerning the understanding that there is a corporation

responsibility with the environment, surrounding community and internal public. Regarding the

environment, perception of managers is focused on the problem of correct management of waste

and compliance with legal requirements, while employees not only showed concern for the

issue of waste managements but also highlighted other important aspects of environmental

responsibility as recycling, waste sorting, services for the community, afforestation and

preservation of air quality. Managers and employees realize the need for greater interaction of

the company and the surrounding community, and reported the absence of formal actions taken

in this direction. Managers and employees perceive the lack of CSR actions by the company to

its internal public. Considering the clients, those demonstrated knowledge about CSR and they

perceived corporations environmental responsibility with focus on the correct management of

residues and its legal aspects. Clients were not aware of or did not perceive the existence of

CSR actions of the corporation in partnership with local community organizations. Internal

public perceived practices related to diversity and non-discrimination, they also observed

adequate work conditions. Based on this research results, it can be inferred that the company

studied, is in an evolutionary process of awareness around the CSR assumptions, being in a

transition from a basic stage for an intermediate stage of CSR as proposed by the Ethos Institute.

Keywords: Corporate Social Responsibility. Healthcare Service. Ethos Indicators.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Pirâmides da Responsabilidade Social Empresarial.............................. 29

Figura 2 - Modelo de Responsabilidade Corporativa – CED................................ 41

Figura 3 - Modelo Tridimensional de Performance Social Corporativa............... 43

Figura 4 - Categorias de Responsabilidade Social................................................. 44

Quadro 1 - Temas e Indicadores de Responsabilidade Social................................ 49

Quadro 2 - Indicadores de profundidade................................................................. 50

Quadro 3 - Classificação dos Indicadores Ethos para Negócios Sustentáveis e

Responsáveis..........................................................................................

51

Quadro 4 - Caracterização dos participantes da pesquisa...................................... 67

Quadro 5 - Objetivos específicos, categorias e subcategorias analíticas e roteiro

das entrevistas (Gestores e funcionários).............................................

69

Quadro 6 - Objetivos específicos, categorias e subcategorias analíticas e roteiro

das entrevistas (Clientes).......................................................................

71

Quadro 7 - Principais resultados encontrados – Meio Ambiente............................. 88

Quadro 8 - Principais resultados encontrados – Comunidade de Entorno............... 93

Quadro 9 - Principais resultados encontrados – Público Interno............................. 101

Quadro 10 - Síntese final dos principais resultados encontrados.............................. 103

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LISTA DE SIGLAS

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

ADCE Associação de Dirigentes Cristão de Empresas

AMA Atendimento Multi Assistencial

ANAHP Associação Nacional dos Hospitais Privados

ANS Agência Nacional de Saúde Suplementar

ANVISA Agencia Nacional de Vigilância Sanitária

BS Balanço social

CBPG Comitê Brasileiro do Pacto Global

CED Comittee for Economic Development

CONASS Conselho Nacional dos Secretários de Saúde

DS Desenvolvimento Sustentável

EUA Estados Unidos da América

GIFE Grupo de Institutos Fundações e Empresa

GRI Global Reporting Iniciative

GO Goiânia

IBASE Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

INMETRO Instituto Nacional de Metrologia Qualidade e Tecnologia

INPS Instituto Nacional de Previdência Social

IPEA Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas

ISO International Organization for Standardization

MS Ministério da Saúde

ODM Objetivos de Desenvolvimento do Milênio

OIT Organização Internacional do Trabalho

OMS Organização Mundial de Saúde

ONU Organização das Nações Unidas

OSCIP Organização da Sociedade Civil de Interesse Público

PNBE Pensamento Nacional das Bases empresariais

RS Responsabilidade Social

RSE Responsabilidade Social Empresarial

SAS Secretaria de Atenção à Saúde

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SGA Sistema de Gestão Ambiental

SIS Instituto Sueco de Normatização

SUS Sistema Único de Saúde

UNIAPC União Internacional de Dirigentes Católicos de empresas

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO............................................................................................... 13

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO................................................................................... 15

1.2 PROBLEMA E QUESTÃO DE PESQUISA..................................................... 20

1.3 OBJETIVOS....................................................................................................... 21

1.3.1 Geral................................................................................................................. 21

1.3.2 Específicos.......................................................................................................... 21

1.4

1.5

JUSTIFICATIVA................................................................................................

ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO..................................................................

22

23

2 REFERÊNCIAL TEÓRICO........................................................................... 24

2.1 RESPONSABILIDAE SOCIAL EMPRESARIAL: EVOLUÇÃO DO

CONCEITO.......................................................................................................

24

2.1.1 Responsabilidade Social Empresarial no Brasil............................................ 31

2.1.2 Pacto Global...................................................................................................... 36

2.1.3 Certificação de Responsabilidade Social........................................................ 38

2.1.4 Modelo de Responsabilidade Social Corporativa.......................................... 40

2.1.4.1 Modelo Tridimensional de Performance Social................................................ 42

2.1.4.2 Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial.............................. 47

2.2 SAÚDE E DOENÇA: BREVE HISTÓRICO................................................... 53

2.2.1 Serviços de saúde no Brasil.............................................................................. 58

2.2.2 Estudos sobre RSE em serviços de saúde...................................................... 61

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS................................................. 65

3.1 TIPOLOGIA DA PESQUISA........................................................................... 65

3.2 PARTICIPANTES DA PESQUISA.................................................................. 66

3.3 COLETA DE DADOS........................................................................................ 68

3.4 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS.................................................... 69

3.5 CATEGORIAS ANALÍTICAS.......................................................................... 69

3.6 TRATAMENTO DOS DADOS......................................................................... 71

3.7 CARACTERIZAÇÃO DO CAMPO DA PESQUISA...................................... 73

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS.......................................... 75

4.1 RESPOSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL E O MEIO AMBIENTE... 75

4.1.1 Questão ambiental na percepção de gestores e funcionários........................ 76

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4.1.1.1 Responsabilidade ambiental............................................................................... 76

4.1.1.2 Qualidade ambiental.......................................................................................... 77

4.1.1.3 Proteção ambiental.............................................................................................. 79

4.1.1.4 Uso consciente de água, energia e material de consumo.................................... 80

4.1.1.5 Coleta seletiva e reciclagem............................................................................... 81

4.1.1.6 Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde (PGRSS)........... 82

4.1.1.7 Certificação ambiental....................................................................................... 84

4.1.2 Questão ambiental na percepção dos clientes............................................... 85

4.1.2.1 Responsabilidade ambiental............................................................................... 85

4.1.2.2 Qualidade ambiental........................................................................................... 87

4.2 RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL E COMUNIDADE DE

ENTORNO.........................................................................................................

89

4.2.1

4.2.1.1

Percepção de gestores e funcionários sobre RSE e a comunidade de

entorno..............................................................................................................

Política de Relacionamento com a Comunidade de entorno.............................

90

90

4.2.1.2 Campanhas educacionais e/ou de interesse público – Projetos sociais............. 91

4.2.1.3 Avaliar reclamações com origem na comunidade de entorno.......................... 92

4.2.1.4 Estimulo ao trabalho voluntário...................................................................... 92

4.2.2 Relacionamento com a comunidade de entorno – Percepção dos clientes 93

4.3

4.3.1

RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL E PÚBLICO INTERNO

Percepção de gestores e funcionários em relação a RSE e o público

interno..............................................................................................................

94

94

4.3.1.1 Mecanismos de participação............................................................................ 94

4.3.1.2 Valorização da diversidade............................................................................... 96

4.3.1.3 Saúde, segurança e condições de trabalho......................................................... 97

4.3.1.4 Desenvolvimento e capacitação......................................................................... 98

4.3.1.5 Ações de RSE direcionadas à família do funcionário........................................ 99

4.3.1.6 Outras ações de RSE direcionadas ao público interno...................................... 99

4.3.2 Ações de RSE direcionadas ao público interno – Percepção dos clientes... 100

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................... 106

REFERÊNCIAS................................................................................................ 109

APÊNDICES.......................................................................................................

117

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1 INTRODUÇÃO

Este trabalho encontra-se inserido na temática Responsabilidade Social Empresarial1

(RSE), conceito que tomou consistência a partir da década de 1970 e vem aos poucos sendo

incorporado à filosofia administrativa das empresas, seja na área da indústria seja na área de

serviços. De acordo com Guimarães (1984, p. 01):

As pressões exercidas sobre as empresas para que estas se tornem mais sintonizadas

com os problemas sociais se constitui num movimento que, ultrapassando a mera

consideração das obrigações legais e econômicas, pôs em xeque o próprio conceito de

legitimidade que servia de suporte aos negócios empresariais.

Desta maneira, a RSE com seus pressupostos, muda e amplia o conceito de empresa,

que passa a perceber as ações de cunho social, não como um fardo a ser carregado por pressão

da sociedade e imposição legal, onerando seu balanço e diminuindo o lucro dos seus acionistas,

mas sim como uma nova ferramenta capaz de trazer um diferencial competitivo e aumentar a

lucratividade, fato esse comprovado por estudos recentes que de acordo com Orellano e Quiota

(2011. p. 4), “[...] confirmam a hipótese de correlação positiva entre desempenho financeiro e

desempenho socioambiental”.

O setor de serviços e, de maneira mais específica os serviços de saúde por sua dimensão

financeira e relevância social não podia ficar à margem desse movimento, e, embora de maneira

tardia quando comparado ao setor industrial foi aos poucos incorporando os conceitos da RSE

nos seus planejamentos de gestão. Esse novo olhar para a questão socioambiental vem

ocorrendo de uma forma mais incisiva nas grandes unidades hospitalares, não havendo uma

literatura de vulto sobre a internalização dessas práticas em empresas de saúde que fornecem

serviços classificados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), como, atendimento ambulatorial de

média complexidade. Corroborando esse pensamento Toledo (2011, p.121) afirma que ainda é

escassa a bibliografia envolvendo a atividade hospitalar e a questão ambiental e relata que: “O

que se percebe é que as ações da atividade hospitalar em relação ao meio ambiente estão

concentradas no tema, resíduos e riscos ocupacionais, e outros aspectos e impactos são

negligenciados ”.

1 Por não haver na literatura especializada diferenças substanciais entre os termos, responsabilidade social

empresarial e responsabilidade social corporativa, os mesmos serão tratados como sinônimo neste trabalho.

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Abordando a temática do desenvolvimento sustentável, Toledo (2011), trata do conceito

de ecoeficiência, filosofia de gestão empresarial que incorpora a gestão ambiental, como uma

estratégia organizacional a ser implementada levando-se em consideração tanto a questão

ambiental como àquelas relacionadas a produção e afirma que “O sistema já é utilizado por

grande parte das organizações industriais em detrimento das atividades de serviços hospitalares,

que negligenciam seus impactos ambientais e não usam a ecoeficiência como instrumento

gerencial” (TOLEDO, 2011, p. 121).

Os danos socioambientais causados pela instalação de uma unidade de saúde em uma

determinada localização da área urbana podem se apresentar de diversas formas como:

estéticos, desvalorização imobiliária, prejuízo ao turismo, contaminação ambiental (lençol

freático, solo, flora e fauna) e risco à saúde pública por contaminação de vetores. O correto

manejo e a minimização desses problemas surgem, então, como uma possibilidade da empresa

buscar um diferencial competitivo através da implementação de ações relacionadas à RSE que

de forma ética possa vir a ser utilizada nas campanhas de marketing empresarial (MIA, 1999;

SILVA, 2003).

As clínicas de traumato-ortopedia são unidades de saúde que prestam serviços

ambulatoriais de média complexidade2 (BRASIL, 2007) e, por suas características e fins

apresentam um potencial de gerar danos socioambientais, visto que em suas dependências são

realizados uma série de procedimentos que produzem resíduos 3 de serviço de saúde que

necessitam ser adequadamente tratados através de um plano gerencial que inclua: segregação,

acondicionamento, identificação, abrigo temporário, transporte, tratamento e destinação final.

Essas medidas, se não forem implementadas de modo apropriado, podem gerar situações de

risco ambiental, com prejuízo para a comunidade onde se localiza, pôr em risco a saúde dos

funcionários e a vida dos pacientes.

A RSE a muito deixou de ser uma prática meramente filantrópica e as empresas

atualmente se vêm forçadas pelos mais diversos agentes com quem se relacionam, a adotarem

um novo modelo de gestão, orientado pelos princípios da ética e da transparência. Diante da

atualidade e relevância do tema, decidiu-se por estudá-lo no contexto do setor de serviços, mais

2 As ações de média complexidade caracterizam-se por demandarem a necessidade de profissionais especializados

e a utilização de recursos tecnológicos para o apoio ao diagnóstico. 3 Embora do ponto de vista econômico, tenham conotações distintas, as palavras lixo e resíduos tendem a ter o

mesmo significado, e neste trabalho serão tratados como sinônimo.

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especificamente em um serviço de saúde prestador de procedimentos ambulatoriais de média

complexidade, tendo em vista a importância socioeconômica desses estabelecimentos.

Este trabalho pretende estudar e produzir conhecimentos, acerca da percepção de

gestores, funcionários e clientes, de uma empresa prestadora de serviços de saúde, especializada

em traumato-ortopedia, localizada na cidade do Natal/RN, no tocante a temática,

Responsabilidade Social Empresarial.

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO

Desde os primórdios da civilização, os seres humanos passaram a conviver com um

aumento progressivo da produção de resíduos, a princípio de caráter orgânico e em pequena

quantidade facilmente absorvido pelo ambiente em volta dos núcleos populacionais. Com o

crescimento das diversas civilizações, florestas foram destruídas, rios assoreados e terras

tornadas inférteis pela ação do homem. A princípio, essa interferência destrutiva do homem no

ambiente não foi percebida, em parte pela possibilidade de obtenção de recursos em novas áreas

ainda não exploradas e em parte pela capacidade de recuperação das áreas degradadas pelo

modo de produção de uma cultura pré-industrial. A partir da Revolução Industrial, no século

XVII, passa a ocorrer uma mudança drástica no padrão de produção de agentes nocivos ao meio

ambiente, com o aparecimento de uma gama de substancias criadas artificialmente pelo homem

que têm como características o difícil processo de degradação pela natureza, e serem capazes

de causar danos ambientais os mais diversos com impacto negativo na saúde das populações

(BARBIERI, 2011).

Embora a preocupação com os impactos negativos do desenvolvimento tecnológico

para a sociedade e para o meio ambiente venha percorrendo um longo caminho, que tem seu

início nos primórdios da Revolução Industrial, só a partir da década de 1960, setores

organizados da sociedade civil passam a se engajar de uma forma mais incisiva em movimentos

voltados para a melhoria da qualidade de vida das pessoas e preservação do meio ambiente. Por

essa época, uma parcela significativa da produção acadêmica passa a disseminar o conceito de

que a RSE vai além da dimensão econômica e das exigências legais, não havendo, entretanto,

entre os estudiosos do assunto, um consenso sobre o alcance dessa responsabilidade, que

permanecia restrita à filantropia e às obras de caridade. Contrapondo-se a essas ideias, o

pensamento neoliberal continuava a advogar que as forças do mercado continuariam a

impulsionar a economia e a promover o bem-estar social.

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Para uma grande parcela da classe empresarial, as ações de responsabilidade

socioambiental seriam da alçada do setor público e de instituições como a Igreja. Defensor da

teoria neoclássica, Friedman (1970) advoga que a gestão que persegue um retorno social ou

ambiental é incompatível com o principal objetivo da empresa de maximização do retorno

financeiro aos acionistas. A partir dessa época, e de forma mais aguda após a divulgação do

conceito de Desenvolvimento Sustentável (DS) extraído do relatório Brundtland, publicado em

1987 pela Organização das Nações Unidas (ONU), avolumaram-se os trabalhos que defendiam

que a implantação dos conceitos de responsabilidade socioambiental podia proporcionar

resultados positivos para as empresas. Dentro desse novo contexto, as empresas começam a

reconhecer que iniciativas que geram valor para a sociedade e para o meio ambiente podem

trazer vantagem competitiva em longo prazo, o que está de acordo com estudos que têm

confirmado a hipótese de correlação positiva entre desempenho financeiro e desempenho

socioambiental (BRUNDTLAND, 1987; ORELLANO; QUIOTA, 2011).

Após o fim da Segunda Grande Guerra, um número significativo de nações capitaneadas

pelos Estados Unidos da América (EUA), passaram a experimentar um acelerado processo de

crescimento populacional e de desenvolvimento econômico, baseado em parte na exploração

ao extremo dos recursos naturais e tendo como matrizes energéticas o petróleo, o gás e o carvão,

bens naturais não renováveis e finitos.

Uma conscientização da população em geral, da classe empresarial e política em relação

à magnitude dos problemas sociais e ambientais que estavam sendo gerados pelo modo de

produção capitalista, só se tornaram evidentes quando sérios problemas de poluição da água,

do ar e da terra, por contaminantes físicos, químicos e biológicos, passaram a impactar de forma

negativa a qualidade de vida das populações que viviam no entorno dos grandes complexos

industriais (BARBIERI, 2011).

O ritmo acelerado de degradação ambiental provocada pelo modus operandi capitalista

de produzir, com o intuito de satisfazer uma sociedade ávida por adquirir novos bens e agora

denominada sociedade de consumo, passou aos poucos a ocupar a atenção dos estudiosos, dos

meios de comunicação e da sociedade civil organizada Estes agentes, gradativamente,

começaram a cobrar dos governantes uma intervenção do Estado com o objetivo de buscar

soluções que de alguma forma contribuíssem para reduzir o impacto negativo do

desenvolvimento tecnológico no meio ambiente e no tecido social.

Após o fim da Segunda Guerra Mundial, o temor provocado pelas incertezas do alcance

da poluição causada por radiação fez com que o movimento ambientalista tomasse novo

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impulso o que veio a ser reforçado pela publicação em 1962, do livro de Rachel Carson, ‘A

Primavera Silenciosa’, que faz um alerta acerca dos riscos, para a saúde humana e para os

ecossistemas do uso indiscriminado de pesticidas químicos e sintéticos na agricultura.

Saindo da periferia das discussões, a questão socioambiental passou a ocupar de maneira

crescente a agenda dos líderes mundiais, até que em 1972, a Organização das Nações Unidas

(ONU) convocou e instalou a primeira grande conferência mundial sobre o meio ambiente

intitulada de ‘Conferência Mundial sobre o Homem e o Meio’, que se realizou na cidade de

Estocolmo, capital da Suécia, e é um marco na história da luta pela preservação do meio

ambiente pelo homem. A partir dessa conferência passou a ser propagado o conceito de

Desenvolvimento Sustentável (DS), que foi ganhando consistência e penetração na sociedade

civil organizada.

Em 1983 a ONU instala a ‘Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e

Desenvolvimento’, presidida pela médica e ex Primeira Ministra da Noruega Gro Harlem

Brundtland, cujos trabalhos foram concluídos em 1987 com a publicação do relatório

denominado, ‘Nosso Futuro Comum’, também conhecido como ‘Relatório Brundtland’,

documento este, que trouxe o conceito de DS para o discurso público. Esse documento, dentre

outras iniciativas, elenca uma série de providências a serem tomadas pelos estados membros da

ONU, no que tange ao desenvolvimento de políticas de proteção sócio ambiental (ONU

BRASIL, 2014). Discorrendo sobre os fundamentos do Desenvolvimento Sustentável, Fiorillo

(2011, p. 83) relata que:

[...] o princípio do desenvolvimento sustentável tem por conteúdo a manutenção das

bases vitais da produção e reprodução do homem e de suas atividades, garantindo

igualmente uma relação satisfatória entre os homens e destes com o seu ambiente,

para que as futuras gerações também tenham oportunidade de desfrutar os mesmos

recursos que temos hoje à nossa disposição.

Tendo como marco inicial a Conferência de Estocolmo, em 1972, as nações signatárias

cada uma no seu próprio ritmo, passaram a erigir um arcabouço legislativo com o intuito de se

adequarem aos novos tempos em que a preocupação com o meio ambiente adentrava na esfera

de preocupações dos governantes e dos níveis diretivos das grandes corporações capitalistas

que, a partir de então teriam, que pensar sobe o desenvolvimento atrelado à preservação do

meio ambiente e à melhoria da qualidade de vida das pessoas (FIORILLO, 2011).

Inicialmente associada ao setor industrial, à noção de desenvolvimento sustentável foi

paulatinamente sendo incorporada aos demais setores da economia, como os serviços públicos

e o setor de serviços. O setor de serviços assume, atualmente uma grande importância na

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economia mundial, entretanto quando comparado com o setor industrial é pouco pesquisado

pela academia, quantos aos impactos ambientais gerados pela sua atividade (TOLEDO, 2011).

Dentro do setor de serviços, a atividade de saúde em hospitais e clinicas especializadas,

contribuiu ao longo do tempo com sua quota para o dano socioambiental e só recentemente vem

incorporando, nas suas diretrizes administrativas, ações de responsabilidade socioambiental,

sendo a internalização dessas ações mais visível nas grandes unidades hospitalares.

Corroborando com essa assertiva, Viégas e Faria Filho (2007), em trabalho em que abordam o

tema gestão hospitalar e responsabilidade social nos Hospitais vinculados à Associação

Nacional dos Hospitais Privados (ANAHP), relatam que a maioria desses hospitais já

contempla, nos seus planos de gestão, projetos sociais voltados ao atendimento à comunidade

na qual estão inseridos.

Os serviços de saúde no Brasil são organizados a partir de princípios emanados da

Constituição Federal de 1988, que criou o SUS e encontra-se regulamentado pela Lei Federal

nº 8.080/1990, Lei Orgânica da Saúde (BRASIL, 1990). O SUS organiza-se ancorado nos

princípios da regionalização e da hierarquização, estando na atualidade suas ações e

procedimentos dispostos em dois blocos, sendo que um contempla a atenção básica e outro as

ações de média e alta complexidade, ambulatorial e hospitalar. A atenção ambulatorial de média

complexidade é definida pela Secretaria de Atenção à Saúde (SAS), do Ministério da Saúde

(MS), em seu site na internet, nos seguintes termos:

A média complexidade ambulatorial é composta por ações e serviços que visam

atender aos principais problemas e agravos de saúde da população, cuja complexidade

da assistência na prática clínica demande a disponibilidade de profissionais

especializados e a utilização de recursos tecnológicos, para o apoio diagnóstico e

tratamento (BRASIL, 2014).

As ações de média e alta complexidade têm relevante importância para a garantia da

resolutividade e da integralidade da assistência à saúde, e, segundo dados de 2007 do Conselho

Nacional dos Secretários de Saúde (CONASS) consomem em torno de 40% dos recursos da

União alocados no orçamento da saúde. Na grande maioria dos estados brasileiros os

procedimentos de média e alta complexidade são contratados/conveniados junto aos serviços

de saúde privados com fins lucrativos, bem como junto a serviços de saúde filantrópicos ou

universitários, que passam dessa forma a participar do sistema complementar de saúde do SUS.

A atenção de média complexidade no âmbito do SUS foi instituída pelo decreto nº 4.726, de

2003, e contempla entre outros procedimentos do sistema de informações ambulatoriais da

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média complexidade, os procedimentos traumato-ortopédicos de radiodiagnóstico e fisioterapia

(BRASIL, 2007).

Diferente do setor público de saúde, organizado pela Constituição Federal de 1988, em

um sistema único de saúde de viés social democrata, o setor privado de saúde no Brasil cresceu

e fortificou-se ao longo do século XX sob a influência das políticas liberais e com a instalação

dos governos militares, após o golpe de março de 1964, o setor passou a apresentar uma grande

expansão e fortalecimento. Essa expansão foi incentivada por uma série de medidas

governamentais, como a concessão de incentivos fiscais às empresas, para a contratação de

companhias privadas ou cooperativas médicas para prestarem serviços de saúde a seus

funcionários, o fornecimento de empréstimos subsidiados para o crescimento do setor, bem

como o incentivo a contratação desses serviços de saúde para o atendimento aos beneficiários

do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) (PAIVA; TEIXEIRA, 2014; RODRIGUES,

2014).

Ao criar o SUS, o Congresso Constituinte de 1988 não extinguiu os serviços privados

de saúde, nem tampouco as políticas de incentivo a esse segmento da economia, que passou a

ser denominado a partir de então, setor suplementar de saúde. Esse setor passou a ser regulado

pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), órgão vinculado ao Ministério da Saúde,

e criado pela Lei nº 9.961, de 28 de janeiro de 2000 (BRASIL, 2000), sendo a regulação

entendida como um conjunto de medidas e ações do Governo que envolve a criação de normas,

o controle e a fiscalização de segmentos de mercado explorados por empresas para assegurar o

interesse público.

De acordo com dados de 2010 da ANS, o Brasil conta com um dos maiores setores

privados de saúde de todo o mundo, com as empresas de seguro privado de saúde, detendo uma

parcela de aproximadamente 24% desse mercado, com cerca de 45 milhões de segurados numa

população de 190 milhões de pessoas. O setor suplementar de saúde, apesar de ser

regulamentado pelo SUS, quanto às condições de seu funcionamento, não mantem relações

operacionais diretas com o sistema público de saúde, sendo formado pelas operadoras de planos

de saúde, consumidores e prestadores privados de serviços de saúde.

A relevância econômica e social crescente do mercado suplementar de saúde fica

evidente a partir de dados de 2013 da ANS que mostram a existência no país de 50,3 milhões

de segurados ou beneficiários dos planos ou seguros privados de saúde que nesse ano,

realizaram entre outros procedimentos, 262,2 milhões de consultas médicas e 709,2 milhões de

exames complementares, bem como pela receita de contraprestações (mensalidades) das

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operadoras médico hospitalares que atingiu a cifra de R$ 108.1 bilhões nesse mesmo ano (ANS,

2013; BRASIL, 1990; PAIVA; TEIXEIRA, 2014; RODRIGUES, 2014).

Este estudo foi realizado em uma empresa privada de prestação de serviços de saúde

ambulatorial de média complexidade, na especialidade de traumato-ortopedia, que participa do

setor suplementar de saúde, por intermédio de convênios com cooperativas médicas e

operadoras de planos privados de assistência à saúde. A empresa está instalada desde 1997 no

bairro de Igapó, pertencente ao Distrito Administrativo Norte, ou Zona Norte, da cidade do

Natal. No ano de 2014 foram realizadas na instituição, 42.328 consultas médicas em traumato-

ortopedia e 8.982 procedimentos de radiologia (RX) entre outros, como pequenas cirurgias,

imobilizações gessadas e curativos.

Diante do exposto, contextualiza-se este trabalho em um momento histórico de

crescente preocupação da sociedade em relação às práticas de responsabilidade social

empresarial, associada à importância socioeconômica dos serviços de saúde ambulatoriais de

média complexidade, que são ofertados a população brasileira por empresas privadas,

integrantes do setor suplementar de saúde.

1.2 PROBLEMA E QUESTÃO DE PESQUISA

As questões relativas à RSE há muito deixaram de ser uma preocupação das grandes

empresas do setor industrial e hoje permeia as preocupações das empresas da área de serviços,

ai incluídos os serviços de saúde. No contexto de um mercado altamente competitivo e da

crescente exigência por parte de um público consumidor ávido por bens e serviços prestados

dentro de altos padrões de responsabilidade socioambiental, as empresas prestadoras de

serviços de saúde em especial as de grande porte como os hospitais, vêm paulatinamente se

adaptando as novas exigências legais, e as pressões oriundas de um mercado consumidor cada

vez mais consciente e esclarecido quanto a essas questões.

Os serviços de saúde, com suas peculiaridades comportam uma gama de modelos

organizacionais, sendo as clínicas médicas especializadas uma das formas que esse setor lança

mão para se organizar com o objetivo de prestar serviços diferenciados a população. As

instituições de saúde são de uma forma geral potenciais produtoras de impacto socioambiental

e, dentre esses serviços, podemos destacar as clínicas prestadoras de serviços de traumato-

ortopedia. Embora na literatura existam trabalhos que procuram identificar como se encontra

a implantação das políticas de responsabilidade socioambiental no setor de saúde, estes estão

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concentrados em pesquisas envolvendo unidades hospitalares e focados em temas como

qualidade de vida no trabalho e gerenciamento dos resíduos de saúde, sendo escassa na

literatura trabalhos tratando de RSE em outras formas de organização empresarial relacionadas

aos serviços de saúde e potencialmente capazes de causar dano socioambiental, como são as

clinicas prestadoras de serviços ambulatoriais de traumato-ortopedia, que geralmente são

instituições localizadas em ambiente físico diferente da unidade hospitalar (TOLEDO, 2011).

As clínicas de traumato-ortopedia são unidades de saúde especializadas, que pela

natureza de suas atividades, produzem resíduos de serviço de saúde e coexistem com o risco

potencial de causar dano socioambiental. Dada a atualidade, importância do tema e a

exiguidade de trabalhos na literatura pesquisada tratando da RSE no setor de saúde, salvo

aqueles realizados em grandes unidades hospitalares, este estudo se propõe a responder o

seguinte problema: Qual o atual estágio de engajamento com a Responsabilidade Social

Empresarial (RSE), de uma empresa prestadora de serviços de saúde, de média complexidade,

especializada em traumato-ortopedia, por meio das percepções de gestores, funcionários e

clientes?

1.3 OBJETIVOS

1.3.1 Geral

Verificar o atual estágio de engajamento com a Responsabilidade Social Empresarial

(RSE), de uma empresa prestadora de serviços de saúde, especializada em traumato-ortopedia,

por meio das percepções de gestores, funcionários e clientes.

1.3.2 Específicos

Mapear ações e programas de Responsabilidade Social Empresarial direcionados ao

meio ambiente;

Verificar a existência de ações e programas de Responsabilidade Social Empresarial

direcionados para a comunidade de entorno;

Identificar ações e programas de Responsabilidade Social Empresarial desenvolvidos

pela empresa, direcionados ao seu público interno.

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1.4 JUSTIFICATIVA

Esta dissertação tem como motivação a preocupação do mestrando com a questão

socioambiental, e de modo mais específico, com essa problemática na sua área de atuação, qual

seja, os serviços de saúde. Apesar de bem assimilados pelo setor industrial os novos conceitos

que envolvem a RSE demoraram a ser incorporados às rotinas administrativas do setor de

serviços, havendo certa negligência quanto aos potenciais danos ambientais provenientes dessas

atividades.

Em se tratando setor de saúde, os poucos trabalhos encontrados na literatura se atêm de

modo predominante aos estudos do impacto socioambiental das unidades hospitalares, com

ênfase no tratamento dos resíduos de saúde, sendo relegados outros aspectos inerentes a essa

temática. A produção acadêmica se torna ainda mais escassa quando procura-se estudar a RSE

em serviços de saúde que não unidades hospitalares (TOLEDO, 2011).

Este trabalho se propõe, portanto, a estudar a RSE em uma unidade de saúde de média

complexidade especializada na prestação de serviços de traumato-ortopedia, que, por suas

características, é potencialmente capaz de acarretar danos socioambientais. As clínicas médicas

que prestam serviços de média complexidade em traumato-ortopedia, geralmente agregam ao

atendimento médico propriamente dito, serviço de radiologia, serviço de imobilização gessada,

serviço de pequenas cirurgias e curativos, entre outros.

Nessas unidades de saúde, são realizados procedimentos médicos e de enfermagem,

capazes de gerar riscos físicos, químicos e biológicos, além da produção de lixo comum e

resíduos sólidos de serviços de saúde, que se não segregados, acondicionados e armazenados

de forma correta, colocam em risco a vida dos gestores, funcionários e clientes, além de poder

infligir danos à população e ao meio ambiente, caso não tenham um tratamento e destinação

final adequados.

Dentro deste contexto, pretende-se com a realização deste trabalho contribuir para a

academia com novos conhecimentos em torno da RSE nos serviços de saúde, e proporcionar

oportunidade para que os gestores, funcionários e a comunidade se apropriem desses

conhecimentos, enriquecendo suas percepções em torno dessa temática. Pretende-se ainda

contribuir para que novos estudos sejam realizados, propiciando a criação de um conhecimento

mais denso em torno da RSE e serviços de saúde.

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1.5 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO

Este trabalho encontra-se estruturado em cinco seções como se segue: introdução,

referencial teórico, procedimentos metodológicos, análise e discussão dos resultados e

considerações finais.

No primeiro capítulo apresenta-se a introdução do trabalho, sua contextualização, o

problema de pesquisa, seus objetivos, a justificativa e a sua estrutura.

No segundo capítulo contempla-se o referencial teórico, que na primeira seção

secundária, trata da Responsabilidade Social Empresarial: Evolução do conceito,

Responsabilidade Social Empresarial no Brasil, Pacto Global, Certificação de Responsabilidade

Social, Modelos de Responsabilidade Social Corporativa, Modelo Tridimensional de

Performance Social, Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial e na segunda

seção secundaria aborda o processo Saúde e Doença: Breve Histórico, Serviços de Saúde no

Brasil e Estudos sobre RSE em Serviços de Saúde.

No terceiro capítulo é apresentado o procedimento metodológico utilizado no

desenvolvimento da pesquisa com as seções secundarias: Tipologia da pesquisa; participantes

da pesquisa; coleta de dados; instrumento de coleta de dados; categorias analíticas; tratamento

dos dados e caracterização do campo de pesquisa.

O quarto capítulo trata da análise e discussão dos resultados, e pôr fim, o quinto capítulo,

que se detém nas considerações finais desta dissertação, contendo a conclusão, recomendações,

limitações e sugestões de trabalhos futuros.

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2 REFERÊNCIAL TEÓRICO

Esta seção discorre sobre aspectos relevantes para um melhor entendimento do tema

central deste trabalho, através de uma análise sucinta da evolução e formação do conceito de

RSE ao longo do tempo, e em especial a partir do início do século XX até os dias atuais, além

de um breve histórico sobre o complexo saúde e doença, serviços de saúde no Brasil e sua

aproximação com os pressupostos da RSE.

Neste intuito, busca-se contextualizar as principais correntes de pensamento com o

momento histórico em que alguns dos principais estudiosos envolvidos com esta temática

publicaram seus trabalhos contributivos para o desenvolvimento e evolução teórica do conceito.

Destaca-se ainda, um curto relato, da introdução dos princípios da RSE no Brasil, da origem e

desenvolvimento do Pacto Global, da evolução e consolidação da certificação socioambiental,

além de uma análise dos principais modelos de Performance Social Corporativa surgidos a

partir da década de 1970, dando-se ênfase ao modelo do Instituto Ethos de Empresas e

Responsabilidade Social, que será o modelo utilizado como suporte teórico para este estudo.

2.1 RESPONSABILIDAE SOCIAL EMPRESARIAL: EVOLUÇÃO DO CONCEITO

O conceito de Responsabilidade Social Empresarial vem sendo formado ao longo da

história do desenvolvimento econômico da humanidade, sendo possível encontrar evidências

da preocupação dos detentores do poder, com os problemas sociais ao longo desse percurso.

Segundo Fellenberg (1980), existem registros demonstrando, que na antiguidade clássica, tanto

na Grécia como em Roma, o exercício da atividade produtiva dependia de autorização

governamental, que exigia como contrapartida, obrigações de cunho social por parte das

organizações. Por sua vez, Ashley et al (2005), relatam que até o século XIX, a ética e a

responsabilidade social estavam incorporadas como doutrina, na condução dos negócios

corporativos pelos Governos, que tinham como prerrogativa, a expedição de alvarás para o

funcionamento das corporações de capital aberto, as quais deveriam, em contrapartida,

proporcionar benefícios de alcance público.

Essa primazia dos governos sobre as corporações econômicas passou a perder força a

partir do crescimento e fortalecimento da iniciativa privada, dentro de um contexto de expansão

do sistema capitalista industrial no século XIX nos Estados Unidos da América (EUA) e em

alguns países da Europa, nos quais, foi ganhando consistência uma legislação corporativa que

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tinha como premissa que o propósito primeiro de uma empresa seria a geração e maximização

do lucro, em benefício dos seus acionistas (ASHLEY et al, 2005).

Dentro desse ambiente de efervescência e expansão acelerada do modo capitalista de

produção, passa a ganha forma a preocupação com a responsabilidade social, o que tornou-se

evidente, quando um dos pioneiros na disseminação das ideias da função social da empresa,

Andrew Carnegie, publicou, em 1889, sua obra “O Evangelho da Riqueza”, na qual essa

responsabilidade é exposta, baseada nos princípios da caridade e da custódia. O princípio da

caridade prega que os indivíduos mais afortunados devem ajudar aqueles menos favorecidos,

enquanto que o princípio da custodia baseia-se na doutrina bíblica que prega que os indivíduos

mais favorecidos sejam guardiões de suas propriedades, as quais devem ser mantidas em

custodia em benefício da sociedade como um todo.

A consecução desses princípios deveria ser posta em prática pelo empresário,

considerando suas convicções individuais e não estava atrelada às práticas de gestão

empresarial. Embora uma crescente preocupação com a responsabilidade social das empresas

começasse a ganhar corpo a partir dessa época, naqueles países que estavam à frente do

processo de expansão industrial capitalista, uma literatura formal em torno desse assunto só

passa a ser produzida a partir do início do século XX e, de uma maneira mais profusa, a partir

da sua segunda metade (CARROLL, 1999; OLIVEIRA, 2010).

As grandes injustiças sociais que marcaram o processo de expansão do sistema

capitalista a partir da Revolução Industrial e o surgimento da moderna corporação não poderiam

deixar de sensibilizar estudiosos do assunto quanto à ética na gestão desses empreendimentos.

Já no final do século XIX, começaram a surgir os primeiros relatos documentados, tratando de

aspectos das relações entre a empresa e a sociedade. Nos EUA, onde primeiro se desenvolveu

uma literatura consistente sobre RSE, as discussões que se apresentavam favoráveis ao

delineamento de uma função social para a empresa sofreu um grande revés após o julgamento,

em 1919, pela Suprema Corte de Michigan do caso Dodge vs Ford Motor Company que criou

jurisprudência favorável a perpetuação do paradigma da economia neoclássica que via a função

da empresa restrita a sua busca pela maximização dos lucros, que não podiam ser destinados

a qualquer outro objetivo que não em benefício dos acionistas ( VASCONCELOS; ALVES;

PESQUEUX, 2012).

Com o fim da Segunda Grande Guerra, as corporações capitalistas, sobretudo nos EUA,

passaram a experimentar um grande crescimento, aumentando o seu poder de influência sobre

a sociedade. Nessa época, diversas ações julgadas pelas Cortes norte-americanas foram

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favoráveis às ações filantrópicas das corporações, sendo emblemático desse período, o caso A.

P Smith Manufacturing Company versus Barlow, julgado pela Suprema Corte de Nova Jersey,

que se pronunciou favorável à doação de recursos para a Universidade de Princeton,

contrariamente ao interesse de um grupo de acionistas, definindo então que uma corporação

poderia buscar o desenvolvimento social, estabelecendo, em lei, a filantropia corporativa

(ASHLEY et al, 2005).

Embora o conceito envolvendo a responsabilidade social das empresas começasse a se

fortalecer, ao longo da primeira metade do século XX até o início da década de 1970, o

pensamento neoclássico da teoria da firma prevaleceu, tendo Friedman (1962), após a

publicação de seu livro Capitalism and Freedom, em que corrobora e fortalece as concepções

neoliberais defendidas por Levitt (1958), assumido a posição de expoente maior dessa corrente

de pensamento, que defende através de seus trabalhos que a única responsabilidade social da

empresa é gerar lucro, reduzindo à responsabilidade dos gestores à maximização dos ganhos

dos acionistas. De acordo com Friedman (1970), a responsabilidade social da empresa

completa-se na busca do crescimento, na administração eficiente que proporcione a geração de

empregos e o pagamento dos impostos, ficando as ações sócias propriamente ditas na alçada de

instituições como a Igreja e o Estado (FRIEDMAN, 1970; VASCONCELOS; ALVES;

PESQUEUX, 2012).

Na sua crítica aos que defendem a responsabilidade social da empresa, Friedman (1970),

argumenta que a empresa, como ente jurídico, possui responsabilidades jurídicas, consistindo

sua responsabilidade social em aumentar os lucros dos acionistas. Ainda para Friedman (1970,

p. 6, tradução nossa), aqueles que abraçam os conceitos da RSE, “[...] não diferem em seus

aspectos filosóficos dos que defendem uma doutrina explicitamente coletivista, diferenciando-

se desses apenas por acreditarem e professarem que fins coletivistas podem ser alcançados sem

meios coletivistas”. Essa corrente de pensamento foi chamada, em seu livro Capitalism and

Freedom, de ‘doutrina fundamentalmente subversiva em uma sociedade livre’ (FRIEDMAN,

1970).

Tratando dessa temática, Carroll (1999) aponta que os primeiros trabalhos tratando da

RSE se reportam apenas ao termo Responsabilidade Social (RS), fato esse provavelmente

decorrente da falta de percepção da crescente importância das corporações no setor de negócios

e aponta a publicação do livro de Bowen (1953), intitulado Social Resposibilities of the

Businessman, como um marco na moderna literatura envolvendo a RS. Ao contrário das

décadas anteriores, em que foram poucos os trabalhos científicos publicados, a década de 1960

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foi marcada pelo aumento de estudos que buscaram formalizar e definir, de maneira mais

acurado o significado de RSE. Embora o termo businessman utilizado por Bowen (1953), ainda

estivesse sendo usado na literatura especializada na segunda metade da década de 1960, os

novos conceitos envolvendo a RSE, passam, nessa época, aos poucos a deixarem de ser

pensados como uma responsabilidade do dono ou gerente do empreendimento, ou seja uma

responsabilidade pessoal, e, gradativamente, passam a ser substituídos pela noção de

responsabilidade corporativa, evoluindo assim, de uma perspectiva individualista, para uma

perspectiva organizacional (CARROLL, 1999).

A partir do início da década de 1970 as empresas passam a sofrer uma maior pressão no

tocante as suas responsabilidades com a sociedade e com o meio ambiente onde estão inseridas,

levando-as a repensar a teoria da firma, dentro de um novo contexto mundial, no qual a agenda

socioambiental passa a ocupar espaço cada vez maior na academia, nos meios de comunicação

e na agenda dos executivos. O cumprimento dos pressupostos dessa agenda tornou-se parte dos

anseios de uma sociedade mais esclarecida que, através de organizações não governamentais e

das diversas instâncias de pressão características dos países democráticos de economia liberal,

cobrava ações e resultados efetivos. Esses anseios da sociedade passaram de forma definitiva

a fazer parte da preocupação dos líderes mundiais e dos gestores de empresa a partir da

instalação da assembleia da ONU denominada, Primeira Conferência Mundial sobre o Homem

e o Meio Ambiente, realizada em Estocolmo, no ano de 1972 (FIORILLO, 2011).

A partir desse momento, diversos estudiosos, entre eles Manne e Wallich (1972), Davis

(1973), Stone (1975), Carroll (1979) e Frederick (1987) passaram a questionar a primazia dos

interesses dos acionistas sobre o conjunto da sociedade, e, em seus trabalhos defenderam que a

responsabilidade social e obrigações das empresas estavam além das econômicas, contratuais e

legais. No pensamento desses autores a Responsabilidade Social Corporativa corresponde à

identificação e à satisfação dos interesses de todos aqueles que são afetados pelas atividades da

empresa como: funcionários assalariados, consumidores, fornecedores, detentores dos capitais

da sociedade, clientes etc., além dos acionistas. Ainda durante o decorrer da década de 1970, as

novas teorias organizacionais passaram a defender a ideia de que as empresas têm identidade

moral, e como tal, são responsáveis pelos seus atos, passando assim a responsabilidade social a

migrar de uma perspectiva individualista para uma perspectiva organizacional (KREITLON,

2004; VASCONCELOS; ALVES; PESQUEUX, 2012).

A preocupação no mundo acadêmico com todos os agentes que, de uma forma ou de outra

possam ser afetados pela atividade da empresa fez com que em 1978 Emshoff e Freeman

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resgatassem o termo stakeholder de uma publicação de 1963, do Stanford Research Institute

(SRI) que definiram como “ qualquer grupo cujo comportamento coletivo pode afetar de modo

direto o futuro da organização, mas que não está subordinado ao seu controle direto”

(ACQUIER; AGGERI, 2008 apud VASCONCELOS; ALVES; PESQUEUX, 2012, p. 149).

A teoria dos stakeholder, defendida por Freeman (1984), questiona a separação entre um

mundo econômico – dominado pelo interesse e pelo oportunismo – e um mundo ético marcado

pela busca do bem comum e da equidade. Pensando um novo modelo de gestão – stakeholder

model – Freeman define o gestor como um avalista dos interesses de todas as partes envolvidas

mesmo que isso traga, como consequência potencial, redução de retorno financeiro aos

acionistas. Nesse modelo, a organização passaria também a ter outras responsabilidades e a RSC

seria considerada como condição essencial para uma boa gestão, ou seja, uma gestão estratégica

e ética que reconheceria as necessidades de todos os atores que têm um interesse na empresa e

percebem as implicações de seus procedimentos. De acordo com Vasconcelos, Alves e Pesqueux

(2012, p. 149), “Mais do que representar um avanço considerável na RSC, os trabalhos de

Freeman permitiram identificar o outro, aquele sujeito ou grupo para quem a empresa deve

alguma satisfação”.

Questionando o velho paradigma da economia neoclássica e caminhando em sentido

contrário às ideias de Friedman, Carroll (1979, 1991) propõe um modelo piramidal com o

objetivo de auxiliar os executivos na tarefa de conciliar os interesses dos acionistas com os

interesses dos demais stakeholder. O modelo piramidal de Carroll constitui-se da base para o

topo das dimensões econômicas, legal, ética e discricionária ou filantrópica. Segundo Carroll

(1979, 1991) da dimensão econômica, que encontra-se na base do seu modelo, dependem todas

as outras responsabilidades da empresa, que deve procurar ser lucrativa, maximizar vendas,

minimizar custos e ter uma política de dividendos. A dimensão legal refere-se ao cumprimento

da lei e suas regulamentações. A dimensão ética pauta-se pelas práticas da sociedade no tocante

ao que é permitido e ao que é proibido pelos seus membros em relação à honestidade, à justiça

e ao respeito aos direitos. A dimensão filantropia está no topo da pirâmide e caracteriza-se por

ser uma resposta voluntária/discricionária da empresa às expectativas da sociedade de que as

empresas possam patrocinar ações que promovam o bem-estar humano, por meio de recursos

financeiros ou ações voluntárias de seus integrantes (BORGES; MIRANDA; VALADÃO

JÚNIOR, 2007; CARROLL, 1979,1991). O modelo proposto por Carroll (1979,1991) encontra-

se apresentado de forma gráfica na Figura 1:

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Figura 1 Pirâmides da Responsabilidade Social Empresarial

Fonte: Carroll (1979,1991).

Embora, na atualidade as discussões em torno do conceito de RSE, que tem como pilares

fundamentais a ética empresarial, a preservação dos recursos naturais e o respeito aos

trabalhadores, tenham se tornado um tema recorrente no âmbito das organizações e estejam

incorporadas aos seus processos gerenciais, ainda há autores que questionam esse movimento

e chamam a atenção para o discurso contraditório frente a uma postura socialmente responsável,

às injustiças sociais e à degradação do meio ambiente. O sistema capitalista vem desde o início

da década de 1970, apresentando uma crise estrutural que se caracteriza por ser demasiadamente

longa e, dentro dessa conjuntura, a RSC pode ser entendida como uma resposta do capital às

novas exigências de um mercado globalizado, em que cresce o poder de retaliação da sociedade

contra as empresas que não se adequam aos novos paradigmas. Para Soares (2004), são

diferentes os discursos das empresas em relação à questão que envolvem a RSE, e classifica

esses discursos em discurso explicitado, discurso pronunciado reservadamente e o discurso não

dito, como definido no texto a seguir:

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O discurso explicitado, através do qual são divulgadas as informações a respeito da

responsabilidade social que se pretende que sejam do conhecimento dos trabalhadores

e do grande público, normalmente composto da massa de consumidores das empresas

patrocinadoras das ações sociais; o discurso pronunciado reservadamente, que

contempla as informações que, embora públicas, não são divulgadas no âmbito da

população em geral e se encontra preponderantemente em trabalhos acadêmicos e

livros especializados; e o discurso não-dito, revelado a partir de uma análise crítica

dos discursos explicitado e pronunciado reservadamente (SOARES, 2004, p. 8).

Seguindo a linha dos críticos do conceito e do discurso da Responsabilidade Social,

Jones (1996 apud BORGES; MIRANDA; VALADÃO JÚNIOR, 2007), a partir de uma

perspectiva marxista enfatiza que o conceito e o discurso da RS são viáveis somente na ausência

de uma compreensão historicamente fundamentada da lógica da economia política capitalista

na sua busca por legitimação e pode ser compreendida como ideologia legitimadora, na medida

em que é essencialmente orientada para a gestão do sistema ou regulação em vez de sua

negação.

O surgimento da RSE no meio empresarial tem, portanto, como pressuposto básico o fato

de que as companhias não devem ser conduzidas levando-se em consideração de forma

exclusiva os interesses dos acionistas (shareholders), mas necessitam levar também em

consideração as expectativas, desejos e necessidades de outros agentes envolvidos, mesmo que

de forma indireta, nas atividades e resultados da empresa (stakeholders).

Apesar dessa corrente de críticos, os conceitos concernentes à responsabilidade

socioambiental, ganharam força com a divulgação, em 1987, do relatório da ONU, ‘Nosso Futuro

Comum’, também conhecido como Relatorio Brundtland, oriundo dos desdobramentos da

Conferência de Estocolmo (1972). Esse relatório definiu novas bases para o desenvolvimento

humano, listando políticas e comportamentos para que o planeta se desenvolva dando igual

importância às políticas econômicas, ambientais e sociais. Durante os trabalhos da comissão,

nasceu à expressão ‘Desenvolvimento Sustentável’ que foi definido, como o desenvolvimento

que procura satisfazer as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade das

gerações futuras de satisfazer as suas próprias necessidades (BRUNDTLAND, 1987).

A partir da sua divulgação e consolidação o sucesso do conceito de DS passa a se

constituir um eixo filosófico popular do final do século XX e início do século XXI, fazendo com

que o conceito de RSC saísse do campo meramente teórico e passasse a representar uma nova

postura a ser adotada pelas empresas que passaram a buscar de forma espontânea junto com seus

stakerholders, formas de contribuir para a melhoria dos aspectos sociais e ambientais do meio

onde estão inseridas. No atual momento do desenvolvimento econômico e social as práticas de

RSC fazem parte das preocupações dos governos das populações e dos gestores de empresas

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estando incorporada ao modo de agir e pensar de uma sociedade em franca globalização

(VASCONCELOS; ALVES; PESQUEUX, 2012).

Em linhas gerais, pode-se inferir que, na atualidade, a RSE deixou de ser vista como

algo teórico, restrito às discussões da academia, para se incorporar de forma definitiva às práticas

de gestão das corporações dos países desenvolvidos, como também das empresas daqueles países

que, em processo de desenvolvimento, começam a participar de forma mais ativa do competitivo

comércio global.

2.1.1 Responsabilidade Social Empresarial no Brasil

Em um contexto histórico de industrialização tardia, as discussões sobre RSE, que já na

década de 1950 era motivo de debates no meio acadêmico e empresarial dos EUA, tardaram a

ocupar a agenda do empresariado brasileiro, e segundo Oliveira (2010, p. 154) “[...] até o fim

do regime militar, não há indícios muito significativos de que preocupações sociais mais amplas

estivessem presentes na agenda empresarial [...]”. No Brasil as discussões acerca do efetivo

papel social a ser desempenhado pelas empresas, só passa a tomar vulto com o término do

regime militar e a redemocratização4 do país a partir de 1985.

Os primeiros relatos da preocupação do empresariado brasileiro em torno da RSE datam

do início da década de 1960 e surgiram a partir da influência da igreja católica e protestante,

que questionavam a conduta ética e a responsabilidade dos dirigentes empresariais frente ao

excesso de lucro, a distribuição da riqueza, á qualidade de vida e a democratização do capital

(PERTILE, 2008). Esse movimento tem como núcleo propagador a Associação de Dirigentes

Cristão de Empresas (ADCE), sociedade civil de caráter cultural e educativo, que nasceu sob a

inspiração de associações de empresários católicos que passaram a surgir na Europa a partir do

fim da Primeira Grande Guerra, com o intuito difundir a Doutrina Social Cristã com o objetivo

de estimular esses agentes sociais a participarem da recuperação física, econômica e espiritual

de uma Europa devastada.

Essas associações com o tempo se congregaram no que viria a ser a União Internacional

de Dirigentes Católicos de empresas (UNIAPC). A primeira ADCE foi fundada por um grupo

de empresários paulistas em 1961(ADCE/SP), e, posteriormente, o movimento foi levado a

4 Redemocratização é o processo de recuperação das instituições democráticas, abolidas pelo Regime Militar,

instaurado no Brasil após o golpe de estado de 1964.

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outros estados da federação. No ano de 1977, foi criada a Associação de Dirigentes Cristãos de

empresa do Brasil, com o intuito de coordenar o movimento em âmbito nacional. A ADCE tem

como princípio filosófico, a Doutrina Social Cristã e tem como missão:

Unir, orientar e motivar os dirigentes de empresa para a prática efetiva do pensamento

social cristão, comprometendo-se com seu melhoramento pessoal, com a

transformação do ambiente empresarial e com a edificação de uma sociedade mais

justa, que promova a dignidade da pessoa e objetive o bem comum (ADCE/RS, 2014).

Não obstante, a ADCE ter exercido um importante papel na história da difusão das

noções dos conceitos de RSC no Brasil, a perspectiva com que esta temática foi tratada a

princípio por essa associação teve como norte o dever e a caridade cristã, e não uma nova

filosofia a ser incorporada às práticas de gestão empresarial (OLIVEIRA, 2010).

Os debates envolvendo a RSE começam a ganhar um maior espaço no meio trabalhista,

empresarial e nas ações governamentais a partir da década de 1970 quando a classe trabalhadora

começa a se reorganizar e cobrar das empresas ações a serem desenvolvidas na área social e

essas por sua vez cobravam do estado uma contrapartida ao pagamento de altos impostos em

forma de medidas que viessem ao encontro dos anseios por melhoria dos serviços prestados à

população.

Durante o processo de redemocratização do Brasil, no final da década de 1970 e início

da década de 1980, foi promulgada a Lei nº 6.683, de 28 de agosto de 1979, também conhecida

como Lei da Anistia, que permitiu a volta ao país dos exilados pelo Regime Militar. Ao

retornarem do exílio, Herbert de Souza, Carlos Afonso e Marcos Arruda fundam em 1981, o

Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE) que adota como princípios, a

liberdade, igualdade, solidariedade, participação, diversidade e justiça socioambiental. O

IBASE desenvolve desde a sua criação diversas campanhas de alcance social como a campanha

contra a fome comandada por Herbert de Souza (Betinho) e tem entre uma de suas principais

ações a luta pela conscientização dos empresários para a necessidade da realização de um

balanço social (BS) através de uma modelo desenvolvido pelo instituto em conjunto com

representantes de empresas públicas e privadas. Para Betinho, (2014), “Realizar o Balanço

Social significa uma grande contribuição para a consolidação de uma sociedade

verdadeiramente democrática”. A ideia de um relatório produzido pelas empresas dando conta

de suas ações sociais surgia na Europa na década de 1970, e a França, já no ano de 1977,

aprovou uma lei que tornava obrigatório a realização de balanços sociais periódicos para as

empresas com mais de 700 funcionários. No Brasil os primeiros documentos produzidos por

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empresas mostrando sua atuação na área social foram realizados pela Nitrofertil na Bahia em

1984, Sistema Telebrás em meados da década de 1980 e do Banespa, em 1992. O Ibase (2014)

define balanço social como:

[...] um demonstrativo publicado anualmente pela empresa reunindo um conjunto de

informações sobre os projetos, benefícios e ações sociais dirigidas aos empregados,

investidores, analistas de mercado, acionistas e à comunidade. É também um

instrumento estratégico para avaliar e multiplicar o exercício da responsabilidade

social corporativa.

No ano de 1997, o IBASE desenvolveu um modelo de BS que logo passou a ser adotado

por diversas empresas que após a divulgação do seu balanço, passaram a receber um selo da

instituição. A distribuição do selo Ibase/Betinho foi suspensa em 2008 embora o modelo de

balanço social continue disponível para as empresas. Para esse instituto a importância da

realização do BS está na sua capacidade de medir e comparar o desempenho social ao longo de

uma série histórica, bem como de servir para comparação entre as empresas, se prestando, pois,

como um meio que a sociedade pode dispor para avaliar o que essas instituições estão fazendo

na área da RS. Como ferramenta útil a esses estudos o instituto lançou em 2008 a publicação

Balanço Social. O desafio da transparência. Em 2009 foi lançada a plataforma Ibase, que

através de seminários com os parceiros, procura traçar novos rumos para a instituição, dentro

de um contexto de novos desafios, tanto mundiais quanto locais, e, assim, contribuir com novos

paradigmas civilizatórios (IBASE, 2014).

Acompanhando o movimento de redemocratização do Brasil um grupo de jovens

empresários paulistas, insatisfeitos com as lideranças do setor, criou um movimento que

denominaram de “Pensamento Nacional das Bases empresariais (PNBE) ”, com o propósito de

participarem de uma forma mais efetiva das discussões em torno do processo de modernização

econômica do país. No ano de 1990, o PNBE se institucionalizou como entidade representante

de uma parcela do empresariado brasileiro e promoveu esforços para a efetivação de um pacto

nacional pelo controle da inflação e a retomada do desenvolvimento envolvendo a classe

empresarial, os trabalhadores e o governo federal.

O PNBE tem como eixo ideológico uma economia baseada na iniciativa privada e no

livre mercado, defendendo o lucro como instrumento de desenvolvimento e a eficiência

econômica como um meio para a obtenção da qualidade de vida bem como o respeito aos

patrimônios nacionais, sejam humanos, materiais ou ambientais. Propondo o debate nacional

em um ambiente que permitisse a participação de todos os segmentos da sociedade na

construção de um projeto de desenvolvimento para o Brasil, o PNBE se constituiu um marco

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do início do desenvolvimento das preocupações do empresariado brasileiro com a

responsabilidade social (OLIVEIRA, 2010; PNBE, 2014).

Com a consolidação do processo democrático e uma maior abertura comercial do

mercado brasileiro à concorrência internacional a partir da década de 1990, as políticas de RSE

passam a ser inseridas de forma definitiva na agenda dos empresários brasileiros, que desta

forma buscam melhorar a imagem das empresas nacionais tanto para o público interno como

para o externo, em um momento crucial de mudanças de práticas e processos empresariais na

luta pela permanência em um mercado competitivo e globalizado (OLIVEIRA, 2010).

A partir da década de 1980, cresce a conscientização no meio empresarial brasileiro de

que as políticas de estado, por si só, não são suficientes para que se possa atingir o objetivo de

diminuir as grandes desigualdades econômicas e sociais presentes no país. Dentro desse

contexto um grupo de organizações empresariais criou em São Paulo, em 1989 um grupo de

trabalho para discutir as práticas de filantropia. Esse grupo de trabalho viria a dar origem ao

Grupo de Institutos Fundações e Empresa (GIFE), que teve sua assembleia de constituição

realizada em 1995 com a presença de 25 organizações empresariais.

O GIFE nasce em um momento de preocupação mais ampla do empresariado brasileiro

em torno da função social da empresa e passa a propagar a ideia de que o empresariado necessita

participar com sua parcela de responsabilidade para a redução das desigualdades sociais através

do investimento social privado (GIFE, 2014). Para Oliveira (2010, p. 157):

Na direção de atuação preconizada pelo GIFE, é possível identificar sinais de uma

ligação mais efetiva do empresariado com a temática da responsabilidade social, bem

como a abertura das empresas à incorporação de mecanismos de gestão que

considerem como elementos importantes a humanização da empresa e a promoção de

canais de relacionamento entre empresa e sociedade.

Ainda dentro do processo de consolidação e ampliação da divulgação dos conceitos de

RSE no ambiente empresarial brasileiro, um grupo de empresas funda em São Paulo, no ano de

1998 o Instituto Ethos de Empresas e responsabilidade social, Organização da Sociedade Civil

de Interesse Público (OSCIP), que entre outros objetivos, busca disseminar as práticas de RSE

e tem como missão “[...] mobilizar, sensibilizar e ajudar as empresas a gerir seus negócios de

forma socialmente responsável, tornando-as parceiras na construção de uma sociedade justa e

sustentável” (ETHOS, 2014). O Instituto Ethos realiza anualmente desde 1999 a Conferência

Ethos, que é o maior evento do gênero na América Latina, tendo a última edição, ocorrido em

São Paulo em setembro de 2013, com o objetivo de discutir, junto à academia, à sociedade civil,

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ao governo e ao meio empresarial, as tendências nacionais e globais do desenvolvimento

sustentável para aplica-las a realidade das organizações.

O Instituto Ethos surgiu, com o intuito maior, de promover a adesão das empresas às

práticas de RSE. Com a consolidação dos conceitos abrangendo essa temática, o instituto

desenvolveu, no ano 2000, a primeira geração dos indicadores Ethos de responsabilidade social

empresarial, ferramenta de gestão, que se propunha, auxiliar às organizações, a mensurar e

acompanhar o resultado de seus esforços na implantação de suas políticas de RSE. Os

indicadores Ethos de responsabilidade social empresarial vêm sofrendo atualizações ao longo

do tempo e têm se mostrado uma importante ferramenta para as empresas que os utilizam para

o estabelecimento de comparações entre o que elas vêm implementando de um período para

outro no campo da RSE.

Além das instituições que tiveram origem na iniciativa privada, o governo brasileiro,

por intermédio do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA), fundação pública

federal, vinculada à Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República vem

realizando ao longo de sua existência, uma série de pesquisas envolvendo o meio empresarial

e as práticas de responsabilidade social. O IPEA, se propõe como missão, “Aprimorar as

políticas públicas essenciais ao desenvolvimento brasileiro, por meio da produção e

disseminação de conhecimentos e de assessoria ao Estado nas suas decisões estratégicas”.

O IPEA, com atuação na produção e disseminação de conhecimentos nas áreas

econômica e social, realizou entre os anos de 1999 e 2002 a primeira edição da ‘Pesquisa Ação

Social das Empresas’, um estudo que envolveu as cinco regiões brasileiras e deu origem ao

livro ‘A iniciativa privada e o espírito público – Um retrato da ação social das empresas no

BRASIL’, publicado em 2002, sendo essa a primeira pesquisa a mapear a ação social das

empresas de todos os portes, setores e regiões do Brasil. Dando continuidade aos estudos

envolvendo RSE e tendo como foco inicial as regiões Sudeste e Nordeste do Brasil, o IPEA,

publicou em 2006, a segunda edição da Pesquisa Ação Social das Empresas, aprofundando o

conhecimento sobre o envolvimento do setor empresarial com a área social, criando uma série

histórica de informações para serem utilizadas pelo Governo Federal, pelas empresas e

organizações da sociedade civil (IPEA, 2014).

Esses estudos realizados pelo IPEA nas regiões Nordeste e Sudeste do Brasil

demonstraram ser bastante significativo o envolvimento do empresariado dessas regiões com a

RSE, chegando entre as grandes empresas a alcançar patamares de 90%. Na região Nordeste,

as empresas que declararam alguma forma de atuação social para o público externo, aumentou

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em 35% entre os anos de 1999 e 2003, e, na região Sudeste esse aumento foi de 6% entre 1998

e 2003. Em 2003, na região Nordeste o setor de serviços foi o que apresentou menor percentual

de participação em ações sociais para a comunidade entre os setores pesquisados. Os dados da

pesquisa demonstram que, embora o envolvimento do empresariado venha crescendo, essa

participação ainda tem caráter predominantemente informal, assistencialista e personalizado,

com aspectos de caridade e assistência social, estando o retorno dessas ações ainda percebido

no campo das gratificações pessoais. Permanece muito presente embora com algumas exceções

a ideia de que as questões sociais são da alçada do poder público e que a responsabilidade social

do empresário centra-se na criação de postos de trabalho, no pagamento de seus tributos e na

garantia da qualidade do seu produto (IPEA, 2005).

Os dados da pesquisa ‘Ação Social das Empresas’, na sua segunda edição foram

publicados em 2006 e demonstraram, entre outras coisas, que os empregados continuam

participando pouco da atuação social das empresas, que a responsabilidade pela realização das

ações sociais permanecem nas mãos dos donos ou da diretoria da empresa. A pesquisa destaca

o aumento expressivo do número das micro e pequenas empresas que praticam algum tipo de

ação social junto à comunidade e demonstra que, entre 1990 e 2004, aconteceu um aumento

generalizado na proporção de empresas que declaram realizar ações sociais para a comunidade

onde está inserida. Esses dados revelaram a crescente consciência e participação do

empresariado brasileiro na implantação de ações no campo da responsabilidade social

empresaria (IPEA, 2006).

Sendo assim, percebe-se que, a partir da década de 1990 até a contemporaneidade, a

RSE torna-se de forma definitiva parte das preocupações dos mais diversos segmentos da

sociedade brasileira, sobretudo do segmento empresarial, que de maneira gradativa e

consistente, passa a perceber que as ações de responsabilidade socioambiental proporcionam

um diferencial competitivo importante em um ambiente empresarial globalizado.

2.1.2 Pacto Global

Vindo ao encontro dos anseios de uma sociedade globalizada e esclarecida que passava

a exigir dos governantes e das empresas um maior compromisso com o desenvolvimento

sustentável a ONU, por iniciativa do seu secretário geral Kofi Annan lança de forma oficial em

26 de julho de 2000, um documento denominado ‘Pacto Global’, propondo um conjunto de

ações com o objetivo de mobilizar o empresariado internacional para a prática de suas

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atividades agregada a princípios fundamentais e internacionalmente aceitos, baseados na

Declaração Universal dos Direitos Humanos, Declaração da Organização Internacional do

Trabalho (OIT) sobre Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho, na Declaração do Rio

sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento e na Convenção das Nações Unidas Contra a

Corrupção. São os seguintes os princípios norteadores do Pacto Global: respeito e proteção aos

direitos humanos; não violação dos direitos humanos; apoio a liberdade de associação e

reconhecimento do direito a negociação coletiva; eliminação do trabalho forçado; abolição do

trabalho infantil; eliminar a discriminação no emprego; apoio a uma abordagem preventiva aos

desafios ambientais; promover a responsabilidade ambiental; incentivar o uso de tecnologias

que não tragam agressão ao meio ambiente; combater a corrupção em todas as suas formas,

inclusive extorsão e propina.

Endossado por uma significativa parcela do empresariado mundial, o Pacto Global da

ONU é na atualidade a maior iniciativa de responsabilidade corporativa voluntária do mundo,

com mais de 8.700 empresas participantes e partes interessadas (stakerholders) em mais de 140

países. O Pacto Global não fiscaliza nem se propõe a ser um instrumento regulatório

obrigatório, e sim um conjunto de diretrizes a serem utilizadas pelas lideranças empresariais

que buscam alinhar seu negócio, de forma voluntária, aos pressupostos do crescimento

sustentável e da promoção da cidadania. O escritório do Pacto Global da ONU entende que a

implementação dos dez princípios deve ser pensada como um processo de longo prazo, que

reque da empresa um compromisso contínuo com a mudança e com o aprimoramento

organizacional, na busca pelo alcance da sustentabilidade empresarial. Esse documento foi à

base para a criação da ISO 26000 de RSE e das diretrizes para a criação de relatórios de

sustentabilidade como o Global Reporting Iniciative (GRI) que é na atualidade referência

mundial para a elaboração de balanços sociais (OLIVEIRA, 2010; GLOBAL COMPACT,

2014).

No primeiro semestre do ano 2000, o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade

Social passou a divulgar e a buscar a participação e adesão do empresariado brasileiro ao Pacto

Global proposto pelas Nações Unidas. Em dezembro de 2003, com a participação do setor

privado, sociedade civil organizada, academia e agências do Sistema das Nações Unidas no

Brasil foi criado o Comitê Brasileiro do Pacto Global (CBPG). Desde a sua criação a CBPG

vem participando ativamente de eventos internacionais realizados pelas Nações Unidas ao

mesmo tempo em que busca a divulgação e a ampliação da adesão das empresas brasileiras aos

princípios do Pacto Global (PACTO GLOBAL, 2014).

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A partir da realização do segundo Global Compact Leaders Summit realizado em julho

de 2007 em Genebra na Suíça que contou com uma significativa participação da Rede Brasileira

do Pacto Global foram definidos pelo comitê do Pacto Global do Brasil os seguintes objetivos

a serem alcançados: massificar de seus princípios no pais; ampliar a adesão de empresas e

organizações Brasileiras; apoiar as empresas na implantação de tais princípios; incentivar a

troca de experiências e aprendizados; permitir a articulação internacional com as demais redes

do Pacto Global, bem como com o escritório em Nova Iorque; promover o vínculo entre os

princípios do Pacto Global e os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), e assessorar

a diretoria do CBPG. Em 18 de junho de 2012, durante o fórum de Sustentabilidade

Corporativa, realizado durante a Rio+20, as empresas participantes da Rede Brasileira do Pacto

Global entregaram ao Governo Brasileiro e às Nações Unidas a carta ‘Contribuição Empresarial

para a Promoção da economia verde e Inclusiva’, composta por dez compromissos baseados

nos princípios da sustentabilidade ambiental (PACTO GLOBAL, 2014).

Atualmente, o Pacto Global do Brasil vem trabalhando com o objetivo de fazer com que

um número crescente de empresas passe a adotar os princípios da cidadania empresarial como

padrão na gestão de seus negócios, e, de intensificar esse movimento nas instituições em que

ele já esteja consolidado.

2.1.3 Certificação de Responsabilidade Social

A partir da disseminação do conceito de desenvolvimento sustentável as empresas e a

sociedade como um todo passaram a sentir a necessidade de instrumentos que fossem capazes

de avaliar o desempenho social das organizações e estas, por sua vez, pressionadas por seus

stakeholders, começaram a perceber a incorporação dos conceitos de responsabilidade social e

desenvolvimento sustentável aos seus processos gerenciais como instrumento de vantagem

competitiva capaz de influenciar sua capacidade de atrair trabalhadores, manter uma moral

elevado por parte dos empregados e influenciar de modo positivo, a percepção dos diversos

agentes econômicos com quem se relacionam, inclusive a comunidade onde estão estabelecidas.

Em consonância com os anseios da sociedade a International Organization for Standardization

(ISO), federação internacional que congrega organismos de normalização de diversos países e

tem sua sede em Genebra na Suíça, em conferência realizada em Estocolmo na Suécia decidiu

pela elaboração de uma Norma Internacional de Responsabilidade Social, sendo a Associação

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Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e o Instituto Sueco de Normatização (SIS), eleitos para

presidir o grupo de trabalho encarregada de sua elaboração (INMETRO, 2014).

A Norma Internacional ISO 26000 – Diretrizes sobre Responsabilidade Social foi

publicada no dia 1º de novembro de 2010, tendo seu lançamento ocorrido em Genebra na Suiça.

De acordo com a ISO 26000:

[...] a responsabilidade social se expressa pelo desejo e pelo propósito das

organizações em incorporarem considerações socioambientais em seus processos

decisórios e a responsabilizar-se pelos impactos de suas decisões e atividades na

sociedade e no meio ambiente. Isso implica um comportamento ético e transparente

que contribua para o desenvolvimento sustentável, que esteja em conformidade com

as leis aplicáveis e seja consistente com as normas internacionais de comportamento.

Também implica que a responsabilidade social esteja integrada em toda a

organização, seja praticada em suas relações e leve em conta os interesses das partes

interessadas (INMETRO,2014).

A ISO 26000 é vista como uma das mais importantes iniciativas internacionais no

campo das normas de conduta em RS, tanto pela relevância da entidade que promove quanto

pela amplitude das representações que tomaram parte de sua elaboração. A norma apresenta

orientações no tocante à responsabilidade social para todos os tipos de organizações,

independente do seu porte ou localização e se apresenta como um conjunto de diretrizes de uso

voluntário, não se propondo a fins de certificação. A norma tem entre seus objetivos, estimular

as organizações a irem além da conformidade legal e complementar outros instrumentos e

iniciativas relacionadas à responsabilidade social.

Essa norma, tem como princípios basilares a Accountability (que pode ser traduzido de

forma aproximada como responsabilização), a transparência, o comportamento ético, o respeito

pelos interesses das partes interessadas (Stakeholders), o respeito pelo estado de direito, o

respeito pelas normas internacionais de comportamento e o respeito aos direitos humanos

(INMETRO, 2014).

No Brasil, a ABNT antecipando-se a publicação da ISO 26000, aprovou em dezembro

de 2004 a primeira edição da norma da ABNT NBR 16001 – Responsabilidade Social – Sistema

da Gestão, passando essa norma a partir de então a fazer parte do sistema brasileiro de

certificação. Em 2012 após trabalho de revisão que ocorreu no âmbito da Comissão Especial

de Estudos de Responsabilidade Social da ABNT, foi editada uma nova Versão da NBR 16001,

dessa vez baseada na ISO 26000 que havia sido publicada em novembro de 2010. Enquanto a

ISO 26000 é uma norma de diretrizes, a NBR 16001 é uma norma de sistema de gestão, passível

de auditoria e certificação da organização por uma terceira parte (IMETRO, 20014).

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Na atualidade a implementação dessas ferramentas normativas de responsabilidade

social e sua posterior certificação, passa a ser encarada pelo mundo empresarial, como um

mecanismo de gestão capaz de diferenciar a empresa, agregando valor à Marca, garantindo a

conformidade, qualidade e segurança dos produtos e serviços, proporcionando vantagem

competitiva em um mercado exigente e globalizado.

2.1.4 Modelos de responsabilidade social corporativa

As discussões em torno da RSC ganharam vulto a partir da década de 1950, após a

publicação da obra de Bowen (1953), intitulada Social Responsabilities of the Businessman,

que, de acordo com Carroll (1999, p. 269), marcou o início da moderna literatura em torno

desse temática. Desde então, as discussões em torno da RSC passaram de forma crescente a

ocupar um espaço cada vez mais amplo no debate acadêmico, no meio empresarial, bem como

na esfera do poder público e na sociedade civil organizada como um todo. Embora inúmeros

trabalhos tenham sido produzidos e o conceito de RSC tenha evoluído ao longo das décadas de

1950 e 1960, só a partir do início da década de 1970 passam a ser identificados na literatura

especializada trabalhos tratando de modelos de RSC.

A partir do início da década de 1970 até a contemporaneidade, diversos modelos foram

propostos pelos teóricos da RSC, com o objetivo de compreender e sintetizar, de uma forma

prática, o alcance das obrigações econômicas e não econômicas das empresas. Um dos

primeiros modelos de RSC foi desenvolvido pelo Comittee for Economic Development (CED)

(1971), em resposta a uma pesquisa de opinião pública conduzida pelo Opinion Research

Corporation em 1970, na qual dois terços dos entrevistados acreditavam que a empresa tem a

obrigação moral de ajudar outras instituições com o objetivo de se alcançar o progresso social,

mesmo em detrimento de sua rentabilidade (CARROLL, 1999).

O modelo proposto pelo CED (1971) estrutura-se graficamente em três círculos

concêntricos (Figura 2). O círculo interno trata da dimensão econômica do empreendimento,

que para seus teóricos deve ser executada de forma responsável e eficiente com foco no produto,

no emprego e no crescimento econômico. O círculo intermediário trata do exercício da função

econômica com responsabilidade e uma consciência sensível e aberta para as mudanças de

valores sociais tendo como prioridade, por exemplo: a conservação do meio ambiente, a relação

com os empregados e o atendimento das expectativas dos clientes. O círculo exterior trata de

responsabilidades ditas amorfas, que são aquelas que as empresas devem assumir para que

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possam efetivamente envolver-se de uma forma mais ampla na melhoria do ambiente social

com ações relacionadas a pobreza, a exclusão e a degradação urbana (CARROL, 1999; CED

1971).

Figura 2 - Modelo de Responsabilidade Corporativa – CED

Fonte: CED (1971).

As limitações da aplicação prática do modelo de RSC proposto pelo CED (1971), logo

mostrou suas fragilidades, como a não identificação dos stakeholders, quais interesses são

relevantes e como equilibra-los, além de apresentar uma impermeabilidade entre os três

círculos. Essas fragilidades encontradas no modelo proposto pelo CED (1971) fizeram com que

os estudiosos do assunto passassem a desenvolver e a defender novos modelos.

Ainda no início da década de 1970, Ackerman (1973) divulga seu modelo, cuja ênfase

não se encontra na aceitação moral da obrigação e sim na atitude gerencial para fazer frente às

demandas sociais. O modelo de Sethi (1975) foi denominado de Esquema de Três Estados e

apresenta como limitação não abarcar nas suas dimensões de comportamento corporativo todos

os aspectos do comportamento das empresas. Dessa mesma década temos os modelos RSC

propostos por Preston e Post (1975), e o Modelo Conceitual Tridimensional Social Corporativo

de Carroll (1979), que tem como característica marcante a preocupação com o desempenho

social corporativo e sugere a incorporação de novas dimensões, como a ética e a discricionária

ou filantrópica aos modelos de RSC. A partir da década de 1980 a influência do modelo

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tridimensional de performance social proposto Carroll (1979), faz-se sentir na maioria das

novas propostas de modelos de RSC (FREIRE; SOUZA, 2010).

Freire e Souza (2010), em seu trabalho, encontraram publicações tratando de modelos

de RSC que vão desde o início da década de 1970, com a publicação do CED (1971), até a

publicação do Modelo VBA de Schhwartz e Carroll (2007). Embora não sendo o objetivo dos

autores da pesquisa, esse trabalho demonstrou a profunda influência do pensamento de Archir

B. Carroll nesta área do conhecimento humano a partir da publicação dos seus artigos A Three-

Dimension Conceptual Modelo of Corporate Performance (CARROLL, 1979) e The Pyramid

of Corporate Social Responsibility: Toward the Moral Management Stakeholders (CARROL,

1991). Segundo esses autores desde a sua publicação até os dias atuais o modelo de Carroll

(1991) tem exercido grande influência na academia, tornando-se um paradigma de RSC na área

da administração.

2.1.4.1 Modelo Tridimensional de Performance Social

O conceito de Responsabilidade Social (RS) tem sido explicitado de diversas maneiras

ao longo das últimas décadas a depender do momento histórico vivenciado pelos estudiosos do

assunto. A partir da década de 1970, a questão da RS veio se juntar à econômica, a legal e a

voluntaria nos modelos de RSC. Nessa época, Carroll (1979), desenvolveu seu modelo

Tridimensional de Performace Corporativa, que enfatiza a necessidade de um comportamento

socialmente responsavel por parte das organizações, e que exerce até os dias atuais uma forte

influência nos estudos envolvendo essa área do conhecimento, sendo considerado por Welzel

et al (2008) como um modelo explicativo fundamental sobre a temática Performance Social

Corporativa ( PSC).

Tentando agregar em um único modelo de RSC diversos conceitos que julgou

pertinetes, Carrol (1979), propõe o seu modelo de perfomace social, no qual se destaca sua

grande preocupação com os aspectos relativos ao desempenho social, com ênfase nos aspectos

éticos e socialmente responsavel das corporações, procurando agegar essas dimensões à

dimensão econômica. O modelo de Carroll (1979) procura, dessa forma, integrar as questões

econômicas àquelas relacionadas com a responsabilidade social, como as categorias ética e

descricionaria, dentro de um ambiente de racionalidade econômica e legalidade juridica.

Discorrendo que seu modelo é uma tentativa de relacionar aspectos chaves relativos aos

conceitos de RSC em um quadro conceitual que possa ser útil tanto para acadêmicos como para

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gestores, que passam então a contar com um instrumento que poderá auxilia-los na melhora

do diagnóstico e do planejamento no ambito do desempenho social corporativo, Carroll (1979),

chama a atenção para essa necessidade de sistematizaçao dos conceitos de maior relevancia em

torno da RSC e defende que, atravéz do entendimento das três dimensões do modelo

tridimensional de performace social, os acadêmicos e gerentes passem a utilizar esse

instrumento agora padronizado, como ferramenta para a avaliação da performace social

empresarial.

O modelo de Carroll (1979) propõem a integração entre três aspectos que se

interralacioanm quais sejam 1- Responsabilidade social, 2- tipo de comportamento de resposta

e 3 - áreas de ação/programas. Dentro dessas três dimensões, concentram-se as principais

questões que devem ser investigados quando da análise da performace social de uma empresa

e estão de forma esquemática representados no cubo explicativo proposto por Carroll (1979),

como pode ser visto na Figura 3:

Figura 3- Modelo Tridimensional de Performance Social Corporativa

Fonte: Carroll (1979, p. 503).

A seguir para que fique mais claro os aspectos teóricos do modelo, será feito um breve

relato explicativo de cada uma das dimensões propostas por Carroll (1979).

No modelo de Carroll (1979) a dimensão responsabilidade sócia da RSC está

subdividida em quatro categorias que são a responsabilidade Econômica, Legal, Ética e

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discricionária e está graficamente representada pela figura 4 que sugere a importância

proporcional de cada uma dessas categorias.

Figura 4- Categorias de Responsabilidade Social

Fonte: Carroll (1979, p. 499).

De acordo com Carroll (1979, p. 499-500), as quatro categorias de RS não são

mutuamente excludentes bem como não são cumulativas ou aditivas e a sua representação

gráfica apenas sugere o grau de importância de cada uma ao longo do desenvolvimento histórico

empresarial, que na sua origem priorizava os aspectos econômicos e legais e só mais tarde

passou a apresentar uma maior preocupação no tocante aos aspectos éticos e discricionários de

suas atividades.

O estudo dessas quatro categorias de RS pode identificar o grau de comprometimento

de uma empresa com suas ações sociais a partir da ênfase dada a cada uma das categorias no

desenvolvimento de suas atividades. Para Carroll (1991) as duas primeiras categorias da RS são

exigidas pela sociedade e são denominadas responsabilidade de ação das empresas, a terceira

categoria é esperada pela sociedade, e a quarta e desejada pela sociedade.

Em seu modelo de RS contrariando alguns estudiosos do assunto com destaque para

Friedman (1970) que advogava não haver no modelo capitalista de produção, espaço para o

comprometimento com ações sociais por parte das empresas, posto que, por natureza a

administração deve centrar e direcionar seus objetivos e esforços para a questão econômica na

busca de proporcionar lucros aos seus acionistas, Carroll (1979), procurou estabelecer uma

visão distinta agregando a responsabilidade econômica à responsabilidade social. Segundo

Macedo (2010, p. 36) os estudos de Carroll (1979) podem ser sintetizado no seguinte

enunciado:

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[...] a empresa deve ser economicamente viável, produzir bens, prover serviços que a

sociedade precisa; cumpri as leis; adotar comportamento que não estão propriamente

codificados nas leis, mas são esperados pela sociedade; e voluntariamente contribuir

com projetos sociais que beneficiem a comunidade.

No modelo de Carroll (1979), a responsabilidade econômica é a primeira e principal

responsabilidade social da empresa, já que, na nossa sociedade, alicerçada no modelo de

economia liberal capitalista, a empresa se configura como unidade econômica básica, e, como

tal, tem como principal responsabilidade produzir bens e serviços que a sociedade deseja e

vendê-los com lucro. Todas as demais funções a serem desempenhadas pela empresa derivam

desse pressuposto fundamental. A responsabilidade legal se sustenta no arcabouço jurídico

erigido ao longo do tempo com o intuito de disciplinar as inter-relações dos seus diversos atores,

inclusive do setor empresarial, que espera-se que cumpra sua missão econômica dentro do

âmbito das exigências legais desse contrato social.

Não obstante, as categorias econômica e legal comportem aspectos éticos, há, por parte

dos mais diversos atores sociais, uma expectativa de que as empresas pratiquem atitudes e

comportamentos que não necessariamente estejam contidos nos códigos legais, mas que

estejam de acordo com os padrões éticos da sociedade onde estão inseridas. Por suas próprias

características, a responsabilidade ética apresenta dificuldade de definição e não tem sido fácil

para as empresas trabalharem com o conceito do que é ético e do que não é ético, porém o que

está posto é que a sociedade tem expectativas em relação à responsabilidade social da empresa,

que vão além do cumprimento das suas obrigações legais.

Concluindo seu modelo de RSE, no que tange às categorias de responsabilidade social,

Carroll (1979) trata da responsabilidade discricionária, que tem como principal característica,

ser uma ação da empresa em benefício da sociedade que está além das suas obrigações éticas e

legais e pauta-se pela realização de ações filantrópicas e envolvimento voluntário em programas

de cunho social. Cada vez mais, as empresas precisam estar em sintonia com os anseios e as

expectativas da sociedade, no que diz respeito ao desenvolvimento de suas atividades, de modo

que possam agir de maneira proativa no intuito de promover ações que venham beneficiar a

comunidade onde estão inseridas.

Para Carroll (1979, p. 500), mesmo que a responsabilidade discricionária seja por

essência uma atividade voluntária, fruto de escolhas individuais, e o fato desse tipo de

responsabilidade não estar contemplada nas ações da empresa não seja considerado por si só

uma atitude antiética, existe uma crescente expectativa por parte da sociedade para que as

empresas assumam papeis que vão além das suas responsabilidades econômicas e éticas e

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participem cada vez mais de iniciativas que visem atenuar os problemas sociais das

comunidades onde estão inseridas.

A dimensão ‘ações e programas’ do modelo de Carroll (1979) trata de questões onde as

categorias de responsabilidade social podem ser ou estar envolvidas em questões como o

consumo, o meio ambiente, a discriminação, a segurança do produto e do trabalho e a

expectativa dos acionistas. A depender da área de atuação da empresa, sua cultura

organizacional e sua relação com os diversos agentes sociais, são definidas as ações e

programas a serem desenvolvidos.

A ênfase dada a cada aspecto da questão social vai depender do segmento de mercado

em que a empresa exerce sua atividade e sofre grande influência do momento histórico, tendo

em vista que as preocupações sociais do início da década de 1970, por exemplo, não são as

mesmas vivenciadas na contemporaneidade. Exemplificando essa questão, Carroll (1979)

afirma que, a segurança do produto, a segurança e saúde ocupacional e a ética nos negócios não

apresentam tanto interesse na atualidade como há uma década, ao contrário das preocupações

com o meio ambiente, o consumismo e a discriminação no emprego que são hoje temas de

maior relevância.

Completando o seu modelo tridimensional de responsabilidade social, Carroll (1979)

introduz um terceiro componente, ‘filosofia da resposta’, que aborda as questões filosóficas, o

modo ou estratégia de resposta que está por trás da maneira como a empresa reage as pressões

da sociedade. Para Carroll (1979), o termo geralmente usado para descrever este aspecto é

‘resposta social’, que caracteriza-se pela possibilidade de ir de uma não resposta até uma

resposta proativa a depender do tipo e grau de ação gerencial adotada pela empresa em resposta

às demandas da sociedade. Carroll (1979), descreve alguns trabalhos que há seu tempo

procuraram estabelecer conceitos para que pudessem definir a maneira de como se dá a resposta

das empresas quando confrontada com as aspirações sociais e se deteve de forma mais profunda

na abordagem de Ian Wilson (1974, apud CARROLL, 1979) que caracteriza a resposta da

empresa frente as demandas sociais em reativa, defensiva, acomodativa e proativa, e incorporou

esses conceitos ao seu modelo tridimensional de performance social ( CARROLL,1979;

MACEDO, 2010).

A seguir descreve-se de forma sucinta os tipos de estratégias de resposta que as empresas

estabelecem quando confrontadas com as mais variadas formas de pressão oriundas da

sociedade:

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a) - Reativa - A empresa encontra-se em um estágio em que a administração dos riscos

e a atividade econômica são prioridades, ficando a questão social em segundo plano. Neste

estágio, a empresa só responde as questões sociais quando se sente ameaçada em seus objetivos

ou quando algum problema passa a interferir em seu funcionamento.

b) - Defensiva – Neste estágio, a empresa embora não concordando de maneira plena

que tenha obrigações sociais, admite essas obrigações no intuito de se proteger ou se defender

de um desafio ou problema.

c) - Acomodativa – A empresas nesse momento aceita suas responsabilidades sociais e

se alinha as exigências do governo e da opinião publica

d) - Proativa – Nesse estágio a empresa adota posturas visando à prevenção dos impactos

negativos de suas atividades e, por iniciativa própria, antecipa-se na busca por respostas e

soluções para as questões sociais emergentes, antecipando-se dessa maneira as exigências da

sociedade (CARROLL, 1979; MACEDO, 2010).

O referencial teórico pesquisado demonstra a aceitação e o alto conceito alcançado pelo

modelo de Carroll (1979) para o estudo e avaliação da performace social empresarial, que

desde a sua elaboração, passou a ser utilizado tanto na academia, no embate teórico, como na

prática diária como uma ferramenta eficaz de auxilio aos gestores e pesquisadores na busca de

melhor compreenderem o nível de comprometimento das empresas com a RSC.

2.1.4.2 Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial

O Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social foi criado em 1998 por um

grupo de empresários e executivos da iniciativa privada com o objetivo de ser um polo de

organização de conhecimento, troca de experiência e desenvolvimento de ferramentas que

possam auxiliar as empresas nas suas práticas de gestão, incorporando o compromisso com a

responsabilidade social e o desenvolvimento sustentável às suas rotinas administrativas. O

Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social é uma Organização da Sociedade Civil

de Interesse Público, que se propõe como missão, mobilizar, sensibilizar e ajudar as empresas

a gerir seus negócios de forma socialmente responsável, tornando-as parceiras na construção

de uma sociedade justa e sustentável.

O Instituto, que na atualidade é uma referência tanto em âmbito nacional quanto

internacional, vem participando ativamente, desde a sua criação, da disseminação dos conceitos

de responsabilidade social empresarial, por entender que a responsabilidade social é um fator

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de sucesso empresarial e que as empresas são importantes agentes de promoção de

desenvolvimento econômico, devendo juntar esforços ao lado do Estado e da sociedade civil

para a construção de um mundo melhor (ETHOS, 2014).

Ao longo das duas últimas décadas, a prática da Responsabilidade Social (RS) passou

de forma gradativa e consistente a ser incorporada aos processos de gestão empresarial, tendo

as grandes corporações papel fundamental nesses resultados, ao estimularem suas cadeias de

fornecedores e clientes a adotarem os princípios da RS na administração de seus negócios.

Dentro desse contexto passou a existir um anseio do meio empresarial por uma ferramenta que

pudesse permitir o diagnóstico e a comparabilidade das ações desenvolvidas de um período

para outro, no tocante às ações implementadas envolvendo responsabilidade social e

desenvolvimento sustentável. Como resposta a essa necessidade o Instituto Ethos desenvolveu

os ‘Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial’, como uma ferramenta capaz

de auxiliar os empresários no processo de aprofundamento de seu comprometimento com a

responsabilidade social e com o desenvolvimento sustentável. Os indicadores Ethos se

apresentam em forma de questionários e se propõe a ser um instrumento de conscientização,

aprendizado e monitoramento da RSE (ETHOS, 2013).

Na sua segunda geração, o questionário dos Indicadores Ethos de Responsabilidade

Social encontra-se organizado de acordo com os seguintes temas: Valores, transparência e

governança; público interno; meio ambiente; fornecedores; consumidores e clientes;

comunidade e, governo e sociedade. Cada um desses temas encontra-se estruturado em uma

questão de profundidade (permite avaliar o estágio atual da gestão da empresa em relação a

determina prática), questões binárias (sim ou não) que qualificam a resposta escolhida no

indicador de profundidade e por questões quantitativas para alguns indicadores e que visão o

levantamento sistemático de determinados dados, que podem ser avaliados segundo séries

anuais e cruzados com outros (ETHOS, 2013).

A seguir, para um melhor entendimento da proposta do Instituto Ethos na sua segunda

geração, versão 2013, apresenta-se o Quadro 1 com os temas e seus respectivos indicadores de

responsabilidade social.

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Quadro 1 – Temas e Indicadores de Responsabilidade Social Tema: Valores, Transparência e Governança

Indicador 1 – Compromissos Éticos

Indicador 2 – Enraizamento na Cultura Organizacional

Indicador 3 – Governança Corporativa

Indicador 4 – Relações com a Concorrência

Indicador 5 – Diálogo e Engajamento de Partes Interessadas (Stakerholders)

Indicador 6 – Balanço Social

Tema: Público Interno

Indicador 7 – Relações com Sindicatos

Indicador 8 - Gestão Participativa

Indicador 9 - Compromisso com o Futuro das Crianças

Indicador 10 – Compromisso com o Desenvolvimento Infantil

Indicador 11 – Valorização da Diversidade

Indicador 12 – Compromisso com a Não-Discriminação e Promoção da Equidade Social

Indicador 13 – Compromisso com a promoção da Equidade de Gênero

Indicador 14 – Relações com Trabalhadores Terceirizados

Indicador 15 – Política de Remuneração, Benefícios e Carreira

Indicador 16 – Cuidado com a Saúde, Segurança e Condições de Trabalho

Indicador 17 – Compromisso com o Desenvolvimento Profissional e a Empregabilidade

Indicador 18 – Comportamento nas Demissões

Indicador 19 – Preparação para a Aposentadoria

Tema: Meio Ambiente

Indicador 20 – Compromisso com a Melhoria da Qualidade Ambiental

Indicador 21 – Educação e Conscientização Ambiental

Indicador 22 – Gerenciamento dos Impactos sobre o Meio Ambiente e do Ciclo de Vida

Produtos e Serviços

Indicador 23 – Sustentabilidade da Economia Florestal

Indicador 24 – Minimização de Entradas e Saídas de Materiais

Tema: Fornecedores

Indicador 25 – Critério de Seleção e Avaliação de Fornecedores

Indicador 26 – Trabalho Infantil na Cadeia Produtiva

Indicador 27 – Trabalho Forçado (ou análogo ao escravo) na Cadeia produtiva

Indicador 28 – Apoio ao Desenvolvimento de Fornecedores

Tema: Consumidores e Clientes

Indicador 29 – Política de Comunicação Comercial

Indicador 30 – Excelência no Atendimento

Indicador 31 – Conhecimento e Gerenciamento dos Danos Potenciais de Produtos e Serviços

Tema: Comunidade

Indicador 32 – Gerenciamento do Impacto da Empresa na Comunidade de Entorno

Indicador 33 – Relações com Organizações Locais

Indicador 34 – Financiamento de Ação Social

Indicador 35 – Envolvimento com a Ação Social

Tema: Governo e Sociedade

Indicador 36 – Contribuições para Campanhas Políticas

Indicador 37 – Construção da Cidadania pelas Empresas

Indicador 38 – Praticas Anticorrupção e Antipropina

Indicador 39 – Liderança e Influência Social

Indicador 40 – Participação em Projetos Sociais Governamentais

Fonte: Adaptado. Ethos (2013).

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Na proposta do Instituto Ethos para avaliar o estágio evolutivo da empresa em relação

a RSE, cada indicador é contemplado com uma questão de profundidade (ou Indicador de

Profundidade) que permite avaliar o estágio atual da gestão da empresa em relação às práticas

de RSE. Esses indicadores são apresentados em quadros contíguos, sendo que, cada quadro

representa um estágio dessas práticas, cujo nível de desempenho, parte de um estágio básico e

evolui até um estágio de ações proativas, como demonstrado no Quadro 2 a seguir.

Quadro 2 – Indicadores de profundidade ESTÁGIO 1 ESTÁGIO 2 ESTÁGIO 3 ESTÁGIO 4

Representa um estágio

básico de ações da

empresa, no qual ela

ainda se encontra em

nível reativo as

exigências legais.

Representa um estágio

intermediário de ações,

no qual a empresa

mantém uma postura

defensiva sobre os temas,

mas já começa a

encaminhar mudanças e

avanços em relação a

conformidade de suas

práticas.

Representa um estágio

avançado de ações, no

qual já são reconhecidos

os benefícios de ir além

da conformidade legal,

preparando-se para novas

pressões

regulamentadoras do

mercado, da sociedade,

etc. A responsabilidade

social e o

desenvolvimento

sustentável são tidos

como estratégico para o

negócio.

Representa um estágio

proativo, no qual a

empresa atingiu padrões

considerados de

excelência em suas

práticas, envolvendo

fornecedores,

consumidores, clientes, a

comunidade e também

influenciando políticas

públicas de interesse

social.

Fonte: Adaptado, Ethos (2013).

Os indicadores Ethos são uma ferramenta de gestão de uso gratuito, sendo preservada a

confidencialidade das informações das empresas que respondem ao questionário e tem como

foco principal, avaliar o quanto a sustentabilidade social tem sido incorporada nos negócios,

trazendo apoio para a definição de estratégias, políticas e processos. Os indicadores Ethos

encontram-se em permanente processo de aprimoramento e sua segunda geração, publicada em

2007, trouxe como inovação a adaptação do software de preenchimento dos indicadores para

um sistema on-line de amplo acesso. A segunda geração dos indicadores Ethos (2007), passou

por um processo de revisão que teve início em 2010 e chegou ao fim, com a publicação da

versão 2013, que manteve o conteúdo das versões anteriores. Essa versão traz uma maior

integração desses indicadores com as diretrizes da Global Reporting Initiative (GRI), e com a

Norma de Responsabilidade Social ABNT NBR ISSO 26000 (ETHOS, 2014).

Uma nova geração dos indicadores, que agora passa a denominar-se Indicadores Ethos

para Negócios Sustentáveis e Reesposáveis, foi publicada em 2014 e procura a integração de

princípios e comportamentos da RSE com os objetivos da sustentabilidade, tendo como base

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um conceito de negócios sustentáveis e responsáveis ainda em desenvolvimento. Para o

Instituto Ethos, um negócio sustentável e responsável é definido como:

É a atividade econômica orientada para a geração de valor econômico-financeiro,

ético, social e ambiental, cujos resultados são compartilhados com os públicos

afetados. Sua produção e comercialização são organizadas de modo a reduzir

continuamente o consumo de bens naturais e de serviços ecossistêmicos, a conferir

competitividade e continuidade à própria atividade e a promover e manter o

desenvolvimento sustentável da sociedade (ETHOS, 2014, p. 8).

O conteúdo dos Indicadores Ethos está disponível para todas as empresas,

independentemente de seu porte, e, nesta nova geração, a classificação do questionário passa a

ser agrupado em dimensões, que são desdobradas em temas, subtemas e indicadores, com

inspiração na Norma ISSO 26000. Este novo modelo preserva a estrutura do anterior com suas

características questões de profundidade, questões binárias e questões quantitativas. As

questões de profundidade estão representadas por cinco quadros contíguos e apresentam a

evolução de práticas em cada indicador, as questões binárias são perguntas com respostas “sim”

ou “não”, que orientam com clareza a escolha do estágio e as questões quantitativas são

questões numéricas para apoiar a definição de objetivos e metas claras para o próximo ciclo de

aplicação dos indicadores Ethos.

As dimensões dos Indicadores Ethos para Negócios Sustentáveis e Responsáveis, em

que se agrupam temas subtemas e indicadores classificam-se em: Dimensão Visão e estratégia,

dimensão governança e gestão, dimensão social e dimensão ambiental como demonstrado no

Quadro 3 a seguir:

Quadro 3 - Classificação dos Indicadores Ethos para Negócios Sustentáveis e Responsáveis. Dimensão Tema Subtema Nº Indicador

Visão e Estratégia Visão e Estratégia Visão e Estratégia 1 Estratégia para a sustentabilidade

2 Proposta de valor

3 Modelo de negócio

Governança e Gestão Governança

Organizacional

Governança e

Conduta

4 Código de conduta

5 Governança da Organização

6 Compromisso voluntário e Participação em iniciativas de RSE /Sustentabilidade

7 Engajamento das partes interessadas

Prestação de Contas 8 Relação com investidores e relatórios financeiros

9 Relatos de sustentabilidade e relatos integrados

10 Comunicação com responsabilidade social

Práticas de Operação

e Gestão

Concorrência Leal 11 Concorrência Leal

Práticas

Anticorrupção

12 Práticas Anticorrupção

Envolvimento Político Responsável

13 Contribuições para Campanhas Políticas

14 Envolvimento no Desenvolvimento de Políticas

Públicas

Sistema de Gestão 15 Gestão Participativa

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16 Sistema de Gestão Integrado

17 Sistema de Gestão de Fornecedores

18 Mapeamento dos Impactos da Operação e Gestão de Riscos

19 Gestão da RSE/ Sustentabilidade

Social Direitos humanos Situações de Risco

para os Direitos Humanos

20 Monitoramento de Impactos do Negócio nos Direitos

Humanos

21 Trabalho Infantil na Cadeia de Suprimentos

22 Trabalho Forçado (ou Análogo ao Escravo) na Cadeia

de Suprimentos

Ações Afirmativas 23 Promoção da Diversidade e Equidade

Práticas de Trabalho Relações de Trabalho 24 Relação com Empregados (Efetivos, Terceirizados, Temporários ou Parciais)

25 Relações com Sindicatos

Desenvolvimento Humano, Benefícios e

Treinamento

26 Remuneração e Benefícios

27 Compromisso com o Desenvolvimento Profissional

28 Comportamento frente a Demissões e

Empregabilidade

Saúde e Segurança no

Trabalho e Qualidade de Vida

29 Saúde e Segurança dos Empregados

30 Condições de Trabalho, Qualidade de Vida e Jornada

de Trabalho

Questões relativas ao

consumidor

Respeito ao Direito

do Consumidor

31 Relacionamento com o Consumidor

32 Impacto decorrente do Uso dos Produtos ou Serviços

Consumo Consciente 33 Estratégia de Comunicação Responsável e Educação para o Consumo Consciente

Envolvimento com a

comunidade e seu desenvolvimento

Gestão de Impactos

na Comunidade e Desenvolvimento

34 Gestão dos Impactos da Empresa na Comunidade

35 Compromisso com o Desenvolvimento da Comunidade e Gestão das Ações Sociais

36 Apoio ao Desenvolvimento de Fornecedores

Ambiental Meio Ambiente Mudanças Climáticas 37 Governança das Ações Relacionadas às Mudanças

Climáticas

38 Adaptação às Mudanças Climáticas

Gestão e

Monitoramento dos

Impactos sobre os Serviços

Ecossistêmicos e a

Biodiversidade

39 Sistema de Gestão Ambiental

40 Prevenção da Poluição

41 Uso Sustentável de Recursos: Materiais

42 Uso Sustentável de Recursos: Água

43 Uso Sustentável de Recursos: Energia

44 Uso Sustentável da Biodiversidade e Restauração dos Habitats Naturais

45 Educação e Conscientização Ambiental

Impactos do

Consumo

46 Impactos do Transporte, Logística e Distribuição

47 Logística Reversa

Fonte. Ethos (2014).

Para o Instituto Ethos, a empresa precisa atuar de forma socialmente responsável com o

seu público interno, procurando investir no seu desenvolvimento pessoal e profissional,

considerando o funcionário um dos seus mais importantes stakeholders, proporcionando-lhe

melhorias nas condições de trabalho e não se atendo apenas em respeitar os direitos garantidos

pela legislação. Nesse novo cenário que se apresenta ao meio empresarial, o público interno

necessita estar inserido nas decisões estratégicas que visem tornar a empresa detentora de uma

gestão socialmente responsável para a sociedade como um todo (ETHOS, 2015). Outro

importante foco de preocupação e atuação do Instituto Ethos diz respeito ao meio ambiente,

que considera pedra fundamental das atuais discussões sobre o direcionamento do processo

produtivo e a busca por soluções para a substituição de insumos.

Para o Instituto Ethos, existem indícios de que a principal causa dos problemas sociais

e ambientais são os padrões insustentáveis de produção e consumo, que dependem de diversos

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fatores e cuja solução deve ser buscada através de ações envolvendo o setor empresarial o setor

público e os consumidores. Um dos aspectos que se sobressaem nessa temática é a geração de

resíduos e a correta administração de sua destinação final, bem como os níveis de

responsabilidade dos atores envolvidos. Outro aspecto deste debate é a origem dos insumos a

degradação ambiental e a perda da biodiversidade que segundo registros já há perda de 35%

dos mangues do planeta, de extinção total de florestas em 25 países e de degradação de 50%

das áreas úmidas da terra, bem como de 30% dos recifes de corais, que chegaram a um ponto

onde é impossível sua recuperação. Esses dados mostram que as empresas necessitam trabalhar

com foco na identificação dos seus impactos negativos, forma de neutraliza-los, gerenciando

riscos e mapeando oportunidades (ETHOS, 2015).

De acordo com o Instituto Ethos as empresas são importantes agentes de promoção do

desenvolvimento econômico e do avanço tecnológico e possuem importante influência nas

transformações do planeta e, por isso, a sua participação e engajamento são cruciais para a

construção de um mundo melhor, ao lado dos esforços do Estado e da sociedade civil, sendo

que, aquelas que têm seus valores percebidos como positivo pela sociedade tendem a ter uma

vida longa. No atual contexto do desenvolvimento econômico, uma atuação cidadã e

responsável da empresa, deve considerar o seu envolvimento e o impacto de suas atividades

sobre todos aqueles com os quais se relacionam: funcionários e seus familiares, clientes,

fornecedores, o governo e a comunidade do entorno entre muitos outros stakehoslders, pois a

responsabilidade social está se tornando cada vez mais fator de sucesso empresarial, o que cria

novas perspectivas para a construção de um mundo economicamente mais próspero e

socialmente mais justo (ETHOS, 2015). O momento atual, nas empresas que lançam mão dos

instrumentos propostos pelo Instituto Ethos é de transição da aplicação dos indicadores como

proposto na sua segunda geração, para o novo modelo denominado, Indicadores Ethos para

Negócios Sustentáveis e Responsáveis.

2. 2 SAÚDE E DOENÇA: BREVE HISTÓRICO

O conceito de saúde ao longo do tempo, apresenta diferentes conotações, a depender do

momento histórico, da cultura e do estágio evolutivo das civilizações, sofrendo influência de

valores individuais, concepções científicas, religiosas e filosóficas. Nas civilizações da

antiguidade, predominantemente politeístas, o complexo saúde-doença, se revestia de

conotação mágico-religiosa, na qual as doenças, tanto individuais, como coletivas, eram

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percebidas, como transgressões de pactos com suas divindades. Para essas civilizações o

retorno ao estado de saúde passava por realizações de rituais, liderados por xamãs, sacerdotes

ou feiticeiros, com características próprias à cada cultura, que tinham o objetivo de expulsar os

demônios e os maus espíritos causadores das enfermidades. Para os antigos Hebreus com sua

cultura monoteísta a doença não necessariamente era causada por maus espíritos e demônios,

já que poderia ser fruto da ira do seu Deus único, diante dos pecados humanos. Para essa cultura,

Deus também é o grande médico de onde provêm toda a cura (SCLIAR, 2007).

No mundo ocidental, essas formas de encarar o complexo saúde-doença vieram a

modificar-se, quando o pensamento médico, afastando-se dos aspectos sobrenaturais, passa, de

forma racional, a perceber a doença como um fenômeno natural, capaz de ser compreendido

fora do contexto do complexo mágico-religioso. Essa nova forma de pensar, floresceu na Grécia

Antiga, no século V a.C., época que hoje conhecemos como ‘Século de Péricles’, quando sob

influência do racionalismo e do naturalismo filosófico, que nessa época passou dominar o

pensamento no mundo Grego, Hipócrates de Cós (460-377 a.C.), passou a defender que as

doenças não são causadas por demônios ou por deuses e sim por causas naturais, e propôs uma

terapêutica com bases na observação e no raciocínio dedutivo, dando início dessa forma, ao

afastamento da prática médica do seu passado mágico-religioso. Hipócrates, na sua explicação

do complexo saúde-doença considerou a existência de quatro fluidos (humores), bile amarela,

bile negra, fleuma e sangue, e pensou a saúde como a expressão harmoniosa entre esses

humores corporais e a doença o desequilíbrio entre os mesmos (ALBUQUERQUE;

OLIVEIRA, 2002; BARROS, 2042).

A prática médica hipocrática, chegou a considerar que fatores externos ambientais como

s estações do ano e o estilo de vida de uma pessoa, podiam agir causando desequilíbrio nos

humores, influenciando seu estado de saúde, e procurou entender o homem como uma unidade

organizada e a doença como uma desorganização desse estado. Nos textos Hipocráticos,

sobretudo em ‘Sobre os Ares, as Águas e os Lugares’, há discussões envolvendo as inter-

relações entre fatores ambientais e doença, que reconhece a influência do ambiente geográfico

nas condições de saúde das populações.

Essa nova forma de pensar, que procura demonstrar uma relação causal entre fatores

ambientais e doenças, forneceu os primeiros fundamentos racionais para o entendimento do

desenvolvimento das doenças endêmicas e epidêmicas. Esse esboço, de um conceito ecológico

do processo saúde-doença, presente no pensamento hipocrático, influenciou seus seguidores,

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que passaram a buscar no ambiente os caminhos para a identificação da origem e da solução

dos problemas relacionados à saúde (RIBEIRO, 2004; SCLIAR, 2007).

Na sua expansão pelo mundo mediterrâneo, o Império Romano conquistou a Grécia,

por volta do ano 146 a.C., herdando da cultura helenista suas concepções de saúde. A influência

da cultura Grega, quanto aos aspectos relacionados a saúde fez-se presente no mundo romano

através da preocupação com a saúde pública, evidenciada pela construção de sistemas de coletas

de esgotos, organização da destinação do lixo, banheiros públicos e rede de abastecimento de

água, através de diversos aquedutos que abasteciam a cidade de Roma, que por volta do século

II d.C., chegou a ter uma população estimada em um milhão de habitantes (RIBEIRO, 2004).

Dentro do contexto do império romano e expansão do cristianismo, o médico romano,

Galeno (122-199 d.C.), partindo dos princípios da escola hipocrática, realiza uma síntese do

conhecimento médico de então, e avança nas concepções diagnostico-terapêuticas, tendo como

ideia central de sua filosofia médica, que a doença seria provocada por desequilíbrios no fluxo

permanente dos humores, causado tanto por agentes internos, como a predisposição individual,

quanto por fatores externos, como os excessos alimentares e sexuais (BARROS, 2002).

A queda do Império Romano do Ocidente, no século V d.C., dá início ao período

histórico conhecido como Idade Média, que caracterizou-se por um declínio da cultura urbana,

e consequente ruralização da vida social e econômica, bem como pela valorização de fatores

espirituais no desencadeamento e cura das doenças e subsequente decadência das práticas de

saúde pública. Durante esse período histórico, o saber médico difundido por Galeno, foi

assimilado pela filosofia escolástica, servindo de base para a prática médica cristã, hegemônica

na Europa por todo o período Medieval. Apesar da assimilação de princípios da filosofia médica

de Galeno, o complexo saúde-doença na Europa Cristã, deixa de ser pensado com base na

racionalidade hipocrática, e torna-se assunto da alçada dos sacerdotes, que entediam a doença

como resultado do pecado, e a cura como uma questão de fé, estando a assistência aos doentes

e necessitados em sua grande parte entregues aos cuidados de suas ordens religiosas.

Representando um modelo de transição entre a escola galênica e o modelo biomédico

encontra-se os princípios difundidos por Paracelso (1493-1541), médico Suíço, que propôs um

conjunto de ideias que formavam um sistema médico complexo e sincrético com uma visão

holística e mística do mundo (BARRO, 2002; SCLIAR, 2007).

No início da Idade Moderna, ganha força uma concepção mecanicista e reducionista do

mundo, sendo essa concepção extrapolada para o corpo humano, que passou a ser estudado de

forma fragmentada e comparado a uma máquina, em que cada peça tem uma função

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diferenciada a executar. Este modelo filosófico, desenvolvido por Galileu, Descartes e Newton

entre outros pensadores da época, passou a ser conhecido por Modelo Cartesiano e influenciou

de forma significativa os estudos e o desenvolvimento teórico e prático da investigação médica.

Mesmo passível de críticas, esse modelo proporcionou, há seu tempo, um grande progresso no

desenvolvimento da ciência biomédica em um momento crucial para o desenvolvimento da

humanidade (ALBUQURQUE; OLIVEIRA, 2002).

A Revolução Industrial, que tem seu início na Inglaterra por volta das últimas décadas

do século XVIII, traz no seu bojo graves consequências para a saúde de um grande contingente

de pessoas, causadas por migrações forçadas, desequilíbrios ambientais, proletarização em

massa de camponeses e artesãos. A esses fatores se associavam as péssimas condições de

salubridade das cidades, que cresciam de forma desordenada em face da ausência do poder

público e da falta de percepção dos empresários do então nascente complexo industrial

capitalista, no que tange aos danos causados por suas atividades às pessoas, à sociedade e ao

meio ambiente.

No século XIX, dentro do contexto de expansão do capital, do nascente movimento

operário, que passa a reivindicar melhores condições de vida e de trabalho, e do adoecimento

de grandes contingentes populacionais, decorrentes de doenças infectocontagiosas como a

tuberculose, sarampo, difteria e varíola, que grassavam de forma epidêmica nos grandes centros

populacionais dos países que estavam à frente do processo de industrialização, passa a se

desenvolver um conhecimento em torno da higiene pública. O pensamento higienista,

baseando-se em teorias que relacionavam a doença com as condições ambientais, fortaleceu-se

e passou a propor normas de comportamento individual e coletivo, além da reorganização do

espaço urbano como forma de prevenção e controle das doenças. Sob a influência desse

movimento, países como a Inglaterra, França, Alemanha e Estados Unidos da América (EUA)

passam a desenvolver projetos de reforma sanitária, que preconizam, intervenções na

localização de equipamentos urbanos como hospitais, cemitérios e matadouros, higienização

dos ambientes de trabalho, fornecimento de água potável a população e a adequada coleta do

lixo, como forma de prevenção e alteração no padrão de adoecimento da população.

Ainda no século XIX, com a descoberta de que organismos microscópicos vivos, são

os agentes causadores das doenças, como demostrado nos trabalhos do cientista francês Louis

Pasteur (1822-1895) e do médico alemão Robert Kock (1843-1910), inicia-se a era microbiana,

que tem como suporte científico a teoria do germe, na qual preceitua-se, que para cada doença

está associado um organismo patogênico específico (BARROS, 2002; RIBEIRO, 204).

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As ações de saúde pública com base no desenvolvimento e na aplicação dos conceitos

científicos que davam suporte a bacteriologia e, posteriormente, da antibioticoterapia, ficaram

conhecidas como a Primeira Revolução da Saúde. A aplicação prática desses conceitos obteve

grande sucesso, proporcionando significativa redução do adoecimento decorrente de doenças

infectocontagiosas, proporcionando melhoria nas condições de saúde pública das populações

dos países industrializados da Europa e dos Estados Unidos da América (EUA). O predomínio

da teoria bacteriana, com seu sucesso no controle das doenças infectocontagiosas nesses países,

teve como efeito secundário, um refluxo na propagação das concepções médicas que

procuravam demonstrar a multicausalidade das doenças ou que defendiam que na sua eclosão

participavam fatores de ordem socioeconômica.

Esse novo modelo, capaz de explicar o complexo saúde-doença, passou a ser

conhecido por, ‘modelo biomédico’ e foi desenvolvido sob forte influência do espirito

cartesiano, perdurando hegemônico, até meados do século XX, quando os estudos

epidemiológicos passaram a identificar um novo padrão de morbidade e de mortalidade,

relacionados a fatores como aumento da longevidade, estilo de vida, distúrbios

socioeconômicos e ambientais que não podiam ser explicados dentro dos preceitos da teoria

dos germes. Essa constatação por parte da comunidade cientifica, ensejou novos desafios à

saúde pública, produzindo rupturas no paradigma biomédico (BARROS, 2002; MATOS,

2004).

A Organização Mundial de Saúde (OMS), agência da ONU para a saúde, foi fundada

em 1948, sob influência dos movimentos sociais do pós-guerra, do fim do colonialismo e da

ascensão do socialismo. A OMS, em seu documento constituinte define que ‘Saúde é o estado

de mais completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de enfermidade’. A

amplitude do conceito com aspectos de ideal inatingível não tendo objetivos práticos a ser

buscado pelos serviços de saúde, foi passível de críticas, tanto técnicas como políticas e deu

margem a interpretações como a que propunha, que a saúde é a ausência de doença, podendo

os seres humanos, dentro desse conceito, serem classificados de forma objetiva em saudáveis e

doentes (SCLIAR, 2007).

Procurando dar respostas a essas questões, a Declaração de Alma-Ata, elaborada e

divulgada na Conferência Internacional de Assistência Primária à Saúde, promovida pela OMS,

no ano de 1978, na cidade de Alma-Ata, Cazaquistão, fornece as bases ideológicas para a

Segunda Revolução da Saúde, e rompe com os paradigmas do modelo biomédico cartesiano.

Com foco nos conceitos de promoção a saúde e na meta de Saúde Para Todos no Ano 2000, se

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estabelece uma nova maneira de pensar o complexo saúde-doença, passando a saúde a ser

percebida como um estado positivo de bem-estar e não só a ausência de doença. Esse

movimento, passa a valorizar às práticas de promoção da saúde individual e coletiva, tendo

como foco de estudo o comportamento dos indivíduos, que passa a ser vistos como uma das

principais causas de adoecimento e mortalidade humana.

Dentro desse contexto, a Carta de Ottawa (OMS, 1986) consolida o conceito de

promoção da saúde, e define como prioridade uma política de saúde pública, o desenvolvimento

de competências sociais e pessoais, uma ação comunitária, um ambiente protegido e protetor,

bem como, uma reorganização dos serviços de saúde de modo a torná-los mais eficazes nas

respostas aos novos desafios.

Desde que o estabelecimento das diretrizes básicas das políticas sobre cuidados

primários de saúde e de promoção da saúde, foram definidas na Declaração de Alma-Ata

(1978) e na Carta de Ottawa (1986) a OMS tem promovido periodicamente Conferências

Internacionais com o objetivo de discutir a promoção da saúde, sendo a última dessas

conferencias, a 8ª Conferência Internacional de Promoção da Saúde, realizado na cidade de

Helsinqui, Finlândia em 2013, que elaborou e divulgou o documento denominado, ‘Declaração

de Helsinque sobre Saúde em Todas as Políticas’ (ALBUQUERQUE; OLIVEIRA, 2002;

MATTOS, 2004; RIBEIRO, 2015).

Pode-se inferir, que, não obstante o modelo biomédico com suas bases nos princípios

da filosofia cartesiana, ainda hoje, permearem de forma consistente o complexo saúde-doença,

percebe-se o surgimento e desenvolvimento de novos paradigmas que rompendo com um

passado dominado pelo mecanicismo e reducionismo, passa a pensar esse complexo de forma

muiticausal, na qual aspectos psicológicos, socioeconômicos e ambientais são trabalhados de

forma integrada na busca da saúde do indivíduo e do bem estar da sociedade.

2.2.1 Serviços de saúde no Brasil

A organização dos serviços de saúde no Brasil contemporâneo tem seus fundamentos

legais alicerçados na Constituição Federal promulgada em outubro de 1988, marco do retorno

do país ao regime democrático, após o período de ditadura militar que perdurou de 1964 a 1985.

Dentro de um contexto histórico mundial de ascensão da doutrina econômica neoliberal com

sua defesa do estado mínimo e ampla liberdade de mercado, que atingiu seu auge após a chegada

ao poder na Inglaterra, do partido conservador, com a eleição de Margareth Thatcher, em 1979,

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como Primeira Ministra, e do partido republicano nos EUA, com a eleição, em 1980, de Ronald

Reagan para presidente, o Congresso constituinte debatia o modelo de saúde a ser incluído no

texto constitucional sob influência do pensamento social democrata de importantes segmentos

da sociedade brasileira.

No que tange à formulação das políticas sociais, e em especial as políticas de saúde, o

Congresso constituinte sofreu forte pressão dos movimentos sociais organizados, de uma

parcela da intelectualidade universitária e dos profissionais ligados à área de saúde, que

orientados ideologicamente à esquerda eram defensores da prestação estatal dos serviços de

saúde. Essas forças sociais emergiram no cenário político brasileiro, ao longo das décadas de

1970 e 1980, marcando posição contra as políticas neoliberais do regime militar, através do

movimento que ficou conhecido como Movimento da Reforma Sanitária Brasileira. Os

sanitaristas procuravam implantar e consolidar o processo de expansão da cobertura de saúde a

população, tendo como princípios norteadores aqueles emanados da Conferência de Alma-Ata

(1978), que preconizavam de modo primordial a realização de investimentos na Atenção

Primária a Saúde como estratégia para alcançar as metas de ‘Saúde para todos no ano 2000’

estabelecidas pela OMS em 1977 (OMS, 1978).

O movimento sanitarista participou de forma decisiva na difusão da noção de direito a

saúde como parte da cidadania, tendo entre seus objetivos a luta pela redemocratização do país

e a formulação de um projeto de saúde que representasse uma alternativa ao sistema vigente,

pela construção de uma nova política de saúde, efetivamente democrática que levasse em

consideração a descentralização, universalização e unificação como elementos essenciais para

a reforma do setor.

Um marco rumo à criação do Sistema Único de Saúde foi à oitava conferência nacional

de saúde, no ano de 1986, em que foram discutidas e aprovadas as principais demandas do

movimento sanitarista brasileiro, base do futuro sistema de saúde. Esse movimento advogava

o fortalecimento do setor público de saúde e sua extensão a todos os cidadãos além da

integração da medicina previdenciária à saúde pública.

Foi dentro desse contexto de embate ideológico entre as correntes neoliberais, e social

democráticas que o Congresso constituinte aprovou o Sistema Único de Saúde, que traz em seu

bojo os princípios da social democracia como; a equidade, integralidade e universalidade,

passando a saúde a ser tratada na nova constituição, como um direito do cidadão e um dever do

estado. Atendendo as pressões das correntes de pensamento neoliberais, o Congresso

constituinte, ao criar o SUS não extinguiu o sistema privado de saúde, que passou a ser definido

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pela legislação brasileira como sistema suplementar de saúde, e caracteriza-se por transações

diretas envolvendo consumidores, empresas de seguro privado prestadores e privados de

serviços de saúde e pela inexistência de relações diretas com SUS. A Constituição Federal de

1988, não extinguindo o setor privado de saúde, permite que este mediante contrato ou

convênio possa prestar serviços ao SUS de maneira complementar (HOBSBAWN, 1995;

RODRIGUES, 2014; PAIVA; TEIXEIRA, 2014).

A Lei Federal nº 8.080, Lei Orgânica da Saúde, promulgada em setembro 1990,

disciplina o SUS, e tendo como base os princípios fundamentais da regionalização e

hierarquização, organiza o cuidado à saúde em níveis de Atenção Básica, Média e Alta

Complexidade. A atenção básica à saúde envolve ações tanto no âmbito da coletividade como

no plano individual com o objetivo de resolver de solucionar os agravos de saúde mais

frequentes e de maior relevância para a população e definida na Portaria nº 2.488, de 21 de

outubro de 2011 que estabelece a Política Nacional de Atenção Básica como:

[...] um conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrange a

promoção e a proteção à saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento,

a reabilitação, redução de danos e a manutenção da saúde com o objetivo de

desenvolver uma atenção integral que impacte na situação de saúde e autonomia das

pessoas e nos determinantes e condicionantes de saúde das coletividades.

As ações de média complexidade caracterizam-se por demandarem a necessidade de

profissionais especializados e a utilização de recursos tecnológicos para o apoio ao diagnóstico

como os procedimentos de traumato-ortopédia, rádio diagnóstico, fisioterapia, patologia

clínica, entre outros. A alta complexidade se compõe de um rol de procedimentos que implicam

a utilização de alta tecnologia e alto custo tendo como exemplos a assistência ao paciente

oncológico, à cirurgia cardiovascular e os procedimentos de neurocirurgia (BRASIL, 2014).

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA, 2014), autarquia vinculada ao

Ministério da saúde e integrante do Sistema único de Saúde (SUS) define serviços de saúde

como: “[...] estabelecimentos destinados a promover a saúde do indivíduo, protege-lo de doença

e agravos, prevenir e limitar os danos a ele causados e reabilita-lo quando sua capacidade física,

psíquica ou social for afetada”. Dados de 2005 do Departamento de Informática do SUS

(Datasus), demonstram que a transferência de recursos federais para os serviços de saúde de

média e alta complexidade representaram R$ 12,82 bilhões, sendo esse valor o dobro do

transferido para a atenção básica (R$ 6,07 bilhões). Esses valores demonstram a importância

econômica dos serviços de saúde, no entanto, esses serviços que por suas especificidades

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convivem com um potencial de afetar de forma negativa os diversos atores com que se

relacionam, ainda têm sido pouco estudados no que concerne à implantação de políticas de

RSC.

Na atualidade não se contesta mais a importância do progresso econômico como gerador

de dano socioambiental, dano este que tem alcançado proporções de implicações de alcance

global como e caso das discussões de sua implicação na rarefação da camada de ozônio e no

aquecimento global. Apesar da sociedade como um todo pareça está consciente da problemática

socioambiental e os serviços de saúde pela sua dimensão e especificidade participe com sua

quota de responsabilidade, segundo Camponogara; Ramos e Kirchhof (2009. P. 3562) “[...]

alguns setores ainda mantém uma aproximação tímida com esta questão, dentre eles o da

saúde”. Corroborando com o pensamento de que o setor de saúde ainda não incorporou, de uma

forma ampla os conceitos inerentes às políticas de RSE, a grande maioria dos estudos

envolvendo a responsabilidade social no setor de saúde ainda concentra-se em aspectos

relacionados à gestão dos resíduos sólidos de serviços de saúde, bem como nos riscos biológicos

inerentes a essa atividade, por imposição de uma legislação com origem na ANVISA, e em

portarias oriundas do Ministério do Trabalho (BRASIL, 2014; TOLEDO, 2011).

Percebe-se que o setor de saúde no Brasil, tanto privado com vínculos ou não com a

saúde suplementar, como o setor público, pela sua importância social e pela dimensão

econômica, necessita estar mais engajado às demandas socioambientais, procurando incorporar

os princípios da RSE aos seus planos de gestão, passando a atuar de uma forma mais consistente

com ações proativas em prol da coletividade e do meio ambiente.

2.2.2 Estudos sobre RSE em serviços de saúde

Discorrendo sobre a RSE em serviço de saúde hospitalar, Gomes et al (2008), destacam

o limitado número de estudos publicados sobre a temática levando-se em consideração a

importância econômica dessas instituições no mundo desenvolvido e sua capacidade de gerar

impactos negativos ao meio ambiente e a sociedade. Ainda sem uma internalização adequado

do conceito mais amplo de RSC, os serviços de saúde, em especial os hospitais, a partir de

meados da década de 1990, passam a preocupar-se com sua inserção no novo ambiente

empresarial no qual a RSE passa a ser importante fator diferencial de sobrevivência em um

mercado altamente competitivo.

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Em um primeiro momento, o que se tem visto são ações pontuais que mais vinculam a

responsabilidade social à ação social e a filantropia, restando, portanto, um longo caminho a

ser percorrido por essas instituições na busca da incorporação às suas rotinas administrativas

dos conceitos de sustentabilidade empresarial, gerenciando suas atividades com foco não só nos

aspectos econômicos, mas também nos resultados ambientais e sociais (GOMES et al, 2008).

Em pesquisa realizada com gestores de hospitais do Estado da Paraíba, Gomes et al (2008),

chegaram à conclusão de que a maioria dos gestores pesquisados consideravam que a

responsabilidade social está na alçada do Estado e das ONG’s, ficando sob responsabilidade de

suas instituições as dimensões econômica e ambiental da RSE, o que demonstra a falta de

incorporação dos conceitos e estratégias de RSE por parte dessas instituições.

Chamando a atenção para a importância das questões ambientais em uma instituição

hospitalar dentro do contexto do desenvolvimento sustentável Naime, Ramalho e Naime

(2008), relatam que, ao contrário de outros segmentos que já avançaram bastante nessa

temática, a área de saúde necessita de iniciativas que contribuam para a sua inserção nessa nova

realidade, com implantação de sistemas de gestão ambiental onde todos os seus aspectos

fundamentais sejam atendidos. Em um estudo denominado, Avaliação do Sistema de Gestão

dos Resíduos Sólidos do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, envolvendo médicos e equipe

de enfermagem, Naime, Ramalho e Naime (2008) constataram que, em geral, esses funcionários

possuem alguma informação sobre o manejo adequado dos Resíduos de Serviços de Saúde

(RSS) e estão sensibilizados para a geração de resíduos em suas áreas de trabalho, bem como

para o impacto desses resíduos para o meio ambiente.

A instituição hospitalar de caráter privado, encontra-se inserida em uma realidade

mercadológica na qual a fidelização da clientela é uma busca permanente, que na atualidade,

passa pela excelência da prestação dos serviços e pelo compromisso da instituição com as

questões socioambientais. Em estudo realizado no Hospital Samaritano com sede no município

de São Paulo e integrante da Associação Nacional de Hospitais Privados (ANAHP), que aborda

a participação dessa instituição em práticas de responsabilidade social, durante o período de

2000 a 2004, Viegas e Faria Filho (2007), tratam do projeto de Atendimento Multi Assistencial

(AMA), desenvolvido pela instituição com o objetivo de prevenir doenças por meio de

programas de informação educacional em comunidades da região de Itaquera e Vila Nhocuné.

Discorrendo sobre o sucesso do programa, os autores concluem que o Hospital

Samaritano, alinhado com as novas diretrizes da gestão empresarial tem uma forte atuação

socioambiental, que se reverte em efeitos benéficos como: aumento da fidelidade dos

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funcionários à organização, aumento da produtividade e descoberta de novos talentos,

fortalecimento da imagem da instituição junto já comunidade, ao mesmo tempo em que

constatam não haver ainda, uma consciência no setor hospitalar da necessidade de uma

divulgação mais agressiva de suas ações de responsabilidade social como forma de marketing

empresarial (VIEGAS; FARIA FILHO, 2007).

As clinicas médicas especializadas, localizadas em ambiente não hospitalar, de acordo

com suas especificidades, são capazes de gerar dano socioambiental. Em trabalho que trata do

gerenciamento dos resíduos biológicos em serviços de dialise, Eliam et al (2004) chamam a

atenção para os riscos a que os profissionais de saúde que trabalham nesses serviços estão

expostos, e analisam o gerenciamento dos resíduos infectantes e perfurocortantes nos serviços

de dialise do município de Goiânia (GO). Os autores concluem, apontando falhas no

cumprimento das exigências legais pelas instituições pesquisadas no tocante ao correto manejo

dos resíduos de serviços de saúde (RSS), e apontam as vantagens da segregação dos resíduos,

que quando realizada de forma efetiva, permite, minimizar a contaminação do meio ambiente,

e os riscos à saúde dos trabalhadores e pacientes (ELIAM et al, 2004).

A penetração e aceitação do conceito de desenvolvimento sustentável no seio da

sociedade contemporânea faz com que as grandes empresas mundiais também passem a se

preocupar de uma forma mais incisiva com a sustentabilidade de seus negócios, passando a

incorporar as suas rotinas gerenciais as diretrizes da responsabilidade socioambiental

empresarial. A necessidade de agir com o fim de permanecer no mercado por um longo prazo,

enfrentando os desafios ambientais e as exigências de uma sociedade esclarecida é o novo

desafio que se apresenta as empresas, não importando seu tamanho e área de atuação. Mais

recentemente administradores e acionistas passaram a perceber que a dimensão social do

desenvolvimento sustentável necessita ser contemplada nas suas decisões como requisito de

grande importância para a sobrevivência de seus empreendimentos (TOLEDO, 2011).

Diante do exposto, depreende-se que, apesar do setor privado hospitalar já ter

despertado para os benefícios da incorporação aos seus planos de gestão, dos princípios que

norteiam a responsabilidade social empresarial, ainda resta um longo caminho a ser

percorrido, para que as empresas de serviços de saúde, em sua totalidade, não negligenciando

a questão do correto manejo dos resíduos, possam ir além, e passem a encarar a

responsabilidade social empresarial como um objetivo explícito da gestão empresarial, na

busca da sustentabilidade ambiental, da contínua melhoria da qualidade de vida das pessoas, e

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de um diferencial, que proporcione sua permanência em um mercado globalizado e

competitivo.

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3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Este capítulo descreve a abordagem metodológica utilizada com o propósito de se

alcançar a resposta ao questionamento proposto neste trabalho. Procura-se, primeiramente

contextualizar, definir e justificar a escolha do tipo de pesquisa e a seguir, abordam-se os

aspectos referentes a caracterização do ambiente de pesquisa, procedimentos de coleta dos

dados, instrumentos de pesquisa e pôr fim a forma de tratamento dos dados coletados.

3.1 TIPOLOGIA DA PESQUISA

Este trabalho adotou a classificação proposta por Silva e Menezes (2005), que considera

as formas clássicas de classificação na seguinte sequência: quanto a natureza, quanto a forma

de abordagem, quanto aos objetivos e quanto aos procedimentos técnicos adotados.

Quanto à forma de abordagem, esta é uma pesquisa qualitativa, pois o que se pretendeu

foi procurar entender o fenômeno a partir da percepção dos participantes da pesquisa o que

implica em trabalhar com aspectos subjetivos e não quantificáveis, o que justifica a forma de

abordagem escolhida, que tem como apoio teórico o pensamento de Godoy (1995, p. 58)

quando afirma que “a pesquisa qualitativa não procura enumerar e/ou medir os eventos

estudados, nem emprega instrumental estatístico na análise dos dados,” de maneira diversa da

pesquisa quantitativa que tem seu objetivo voltado para a medição objetiva e quantificação dos

resultados. Nessa mesma linha de raciocínio Marconi e Lakatos (2004, p. 267) aprofundam a

definição e ressaltam que:

O método qualitativo difere do quantitativo não só por não empregar instrumentos

estatísticos, mas também pela forma de coleta e análise dos dados. A metodologia

qualitativa preocupa-se em analisar e interpretar aspectos mais profundos,

descrevendo a complexidade do comportamento humano. Fornece análise mais

detalhada sobre as investigações, hábitos, atitudes, tendências de comportamento etc.

Ainda sobre a pesquisa qualitativa, infere-se que o seu objetivo único não é apenas os

resultados, mas a verificação de como determinado fenômeno se manifesta o que torna essa

metodologia apropriada quando pretende-se realizar estudos de caráter descritivo quando o que

se busca é o entendimento do fenômeno (GODOY, 1995).

Para o desenvolvimento deste trabalho foram utilizadas técnicas da pesquisa descritiva,

que de acordo com Gil (2008, p. 28), “[...] têm como objetivo primordial a descrição das

características de determinada população ou fenômeno [...]”. Também se enquadram nesse tipo

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de pesquisa aquelas “[...] que tem por objetivo levantar as opiniões, atitudes e crenças de uma

população” (GIL, 2008, p. 28).

Como estratégia metodológica para o desenvolvimento da pesquisa optou-se pela

técnica de estudo de caso. De acordo com Gil (2008, p. 57), “O estudo de caso é caracterizado

pelo estudo profundo e exaustivo de um ou de poucos objetos, de maneira a permitir o seu

conhecimento amplo e detalhado, [...]”, podendo ser utilizado tanto em pesquisas exploratórias

quanto descritivas e explicativas. Para Yin (2010) os estudos de caso representam a estratégia

preferida quando: se colocam questões do tipo “como e “por que”; o pesquisador tem pouco

controle sobre os eventos; e o foco se e encontra em fenômenos contemporâneos inseridos em

algum contexto da vida real.

Em síntese, o caminho percorrido com o objetivo de responder a proposição deste

trabalho, passou pela utilização de uma abordagem cientifica qualitativa, de cunho descritiva,

com a utilização da técnica de estudo de caso.

3.2 PARTICIPANTES DA PESQUISA

Esta pesquisa foi realizada em uma empresa prestadora de serviços de saúde, mais

especificamente em uma clínica privada de traumato-ortopedia, prestadora de serviços de saúde

ambulatoriais de média complexidade, integrante do setor suplementar de saúde, localizada na

Zona Norte da cidade do Natal/RN. A classificação dessa empresa como prestadora de serviços

ambulatoriais de média complexidade tem como fundamento, diretrizes emanadas do SUS. O

quadro de pessoal da empresa no momento da pesquisa era composto por 15 funcionários.

Participaram da pesquisa 12 funcionários e um dos sócios proprietários que no momento da

pesquisa exercia a função de Sócio Gestor. Dentre os 12 funcionários entrevistados 02 exerciam

funções de gestão, sendo que um desses funcionários é responsável pela gestão de Recursos

Humanos e o outro pela Gestão Financeira. Dois funcionários se negaram a participar da

pesquisa e um encontrava-se de licença médica. Além dos gestores e demais funcionários,

foram entrevistados 14 clientes, selecionados por acessibilidade, forma de amostragem não

probabilística, sendo condição para que participassem da pesquisa já ter tido um contato anterior

com o serviço de saúde objeto do estudo. O número de 14 clientes entrevistados foi definido

levando-se em consideração que as respostas começaram a se repetir denotando-se um processo

de saturação que de acordo com Cherques (2009, p. 21), “[...] designa o momento em que o

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acréscimo de dados e informações em uma pesquisa não altera a compreensão de fenômeno

estudado”.

Visando a preservação do sigilo da empresa, e de todos os indivíduos entrevistados, que

contribuíram para a realização deste trabalho, a mesma não foi identificada. Quanto aos

participantes da pesquisa, estes foram identificados por letras como se segue: o sócio gestor e

os dois funcionários que exercem cargos de gestão, foram identificados, pela letra G, os demais

funcionários pela letra F e os clientes pela letra C. Além das letras os entrevistados foram

identificados por um numeral que corresponde a ordem sequencial em que foram realizadas as

entrevistas; assim G 1 identifica o primeiro gestor entrevistado, F 1 o primeiro funcionário

entrevistado, C 1 o primeiro cliente entrevistado e assim sucessivamente.

A seguir, no Quadro 4, são caracterizados os participantes da pesquisa.

Quadro 4 - Caracterização dos participantes da pesquisa

CARGO/FUNÇÃO TOTAL DE ENTREVISTADOS

Sócio Gestor 01

Gestor de Recursos Humanos 01

Gestor Financeiro 01

Técnico em Raio X 02

Auxiliar Administrativo 02

Recepcionista 05

Auxiliar de Serviços Gerais 01

Cliente 14

Fonte: Elaboração do autor (2015).

Percebe-se, por meio da análise do número de participantes, e de suas atribuições

profissionais, que houve uma ampla participação neste estudo, dos diversos setores da

instituição, bem como de parte do seu público externo, representado, nesta pesquisa, pelos

clientes, o que contribuiu de forma decisiva para a realização desta pesquisa.

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3.3 COLETA DE DADOS

Tendo como finalidade o aprimoramento e validação do instrumento de pesquisa, foi

realizado, no mês de setembro de 2014, um pré-teste em uma empresa prestadora de serviço de

saúde que não a empresa objeto deste trabalho porém de porte semelhante, e que envolveu um

de seus gestores e cinco de seus funcionários, Segundo Marconi e Lakatos (2003, p. 203), “o

pré-teste deve ser aplicado em populações com características semelhantes , mas nunca naquela

que será alvo de estudo”, e a sua realização se justifica pela necessidade de se verificar a

presença de elementos de fidedignidade, validade e operatividade. No tocante ao número de

participantes do pré-teste, Hair (2005, p. 130) destaca que “a amostra do pré-teste deve incluir

um número mínimo de quatro a cinco indivíduos e um máximo de trinta indivíduos”.

Durante a aplicação do pré-teste o gerente entrevistado não encontrou dificuldades de

responder aos questionamentos, porém chamou à atenção para algumas palavras e termos

técnicos que, a seu ver, poderiam trazer prejuízo ao entendimento das questões. Após a

aplicação do pré-teste aos funcionários da empresa, foi identificada a dificuldade na compressão

de algumas palavras e mesmo sobre alguns questionamentos mais específicos em torno do tema

RSE, o que tornou necessário adaptações no instrumento de pesquisa, como a substituição de

algumas palavras por sinônimos de mais amplo entendimento, bem como o desdobramento de

algumas questões, com o intuito de tornar mais adequado a compreensão dos objetivos

específicos.

Em comum acordo com a gestora de pessoas da instituição pesquisada, as entrevistas

foram realizadas nas manhãs de quintas-feiras dos meses de outubro e novembro de 2014.

Todos os gestores e funcionários foram previamente orientados quanto aos motivos e teor da

pesquisa e foi solicitado aqueles que se dispuseram a participar, assinar um termo de

consentimento esclarecido. As entrevistas foram realizadas pelo pesquisador de forma

presencial em uma sala disponibilizada nas dependências da empresa alvo deste estudo, bem

como dentro do seu horário normal de funcionamento. As gravações das entrevistas foram

realizadas a partir da autorização expressa por parte dos entrevistados e, posteriormente, foram

integralmente transcritas com o objetivo de organização das respostas dentro de suas categorias

para posterior interpretação através da técnica de análise de conteúdo.

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3.4 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS

O instrumento de coleta de dados utilizado para a consecução deste trabalho foi a

entrevista, que de acordo com Yin (2010, p.133) é “uma das fontes mais importantes de

informação para o estudo de caso [...]”, assertiva esta corroborada por Gil (2008, p. 100) quando

afirma que “muitos autores consideram a entrevista como a técnica por excelência na

investigação social”. Quanto ao nível de estruturação da técnica optou-se pela entrevista

semiestruturada que nos dizeres de Laville e Dionne (199, p. 188), “[...]é uma série de perguntas

abertas, feitas verbalmente em uma ordem prevista, mas na qual o entrevistador pode

acrescentar perguntas de esclarecimento”.

O instrumento de pesquisa utilizado neste trabalho foi adaptado a partir de enunciações

contidas em publicação do Instituto Ethos (2007), na sua versão 2013, denominada, Indicadores

Ethos de Responsabilidade Social Empresarial. Tanto para gestores como para funcionários, as

entrevistas foram realizadas utilizando-se um roteiro envolvendo aspectos da RSE relacionados

ao meio ambiente, comunidade de entorno e público interno. Aos clientes foi aplicado um

roteiro de entrevista específico, porém com as mesmas categorias temáticas daquelas aplicadas

aos gestores e funcionários.

3.5 CATEGORIAS ANÁLITICAS

Com o objetivo de identificar ações e práticas de RSE desenvolvidas pela empresa

estudada, foram definidas categorias e subcategorias de análises, que proporcionaram uma

melhor compreensão do tema em estudo. Para um melhor entendimento do objetivo da pesquisa

e sua temática, o Quadro 5, a seguir, demonstra os objetivos específicos, categorias e

subcategorias analíticas e o roteiro das entrevistas desenvolvida para gestores e funcionários.

Quadro 5 - Objetivos específicos, categorias e subcategorias analíticas e roteiro das entrevistas

(Gestores e funcionários).

Objetivos

Específicos

Categorias

de análise

Subcategorias Roteiro de entrevista para gestores

e funcionários.

Mapear ações e

programas de

RSE

direcionados ao

meio ambiente

Meio

Ambiente

Responsabilidade

ambiental.

Qualidades ambiental.

Proteção ambiental

Uso consciente de água,

energia e material de

consumo.

1 – O que você entende por responsabilidade

ambiental da empresa?

2 – Existe na empresa uma política de

compromisso com a qualidade ambiental? Se

sim, poderia descrevê-la?

3 – A empresa participa de projetos de

proteção ambiental? Se positivo poderia

descrevê-lo?

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Coleta seletiva e reciclagem.

Plano de Gerenciamento de

Resíduos de Serviços de

Saúde (PGRSS).

Certificação ambiental.

4 – A empresa desenvolve campanhas

internas de educação para o uso consciente de

água, energia e outros e material de

consumo?

5 – A empresa possui um Plano de

Gerenciamento de Resíduos de Serviços de

Saúde (PGRSS)?

6 – A empresa possui alguma certificação

ambiental? Qual?

Verificar a

existência de

ações e

programas de

RSE

direcionados

para a

comunidade de

entorno

Comunidade Política de Relacionamento

com a Comunidade de

entorno.

Campanhas educacionais

e/ou de interesse público –

Projetos sociais.

Avaliar reclamações com

origem na comunidade de

entorno.

Estimulo ao trabalho

voluntário.

7 – A empresa possui uma política de

relacionamento com a comunidade onde está

localizada?

8 – A empresa desenvolve em conjunto com

organizações da comunidade campanhas

educacionais e/ou de interesse público?

9 – A empresa desenvolve algum projeto

social próprio?

10 – Em algum momento você presenciou

reclamações da comunidade relacionadas aos

seguintes motivos: a) excesso de lixo ou

outras formas de poluição; b) transtorno

causado pelo excesso de tráfego de veículos

e c) outros motivos?

11 – A empresa estimula a participação de

seus funcionários em trabalho voluntário?

Identificar

ações e

programas de

RSE

desenvolvidas

pela empresa,

direcionados ao

seu público

interno

Público

Interno

Mecanismos de

participação.

Valorizações da diversidade.

Saúde, segurança e

condições de trabalho.

Desenvolvimento e

capacitação.

Ações de RSE direcionadas

a família do funcionário.

Outras ações de RSE

direcionadas ao público

interno.

12 - Existe na empresa mecanismos para a

participação dos funcionários com sugestões

e críticas? Se sim essas sugestões e/ou

críticas são geralmente acatadas?

13 - Você tem conhecimento se a empresa

possui políticas direcionadas a valorização da

diversidade e não discriminação e promoção

da equidade racial?

14 – A empresa desenvolve ações

relacionadas à saúde, segurança e condições

de trabalho de seus funcionários? Se sim,

poderia falar sobre essas ações?

15 – A empresa tem uma política de

desenvolvimento e capacitação direcionada

aos seus funcionários? Comente.

16 – A empresa oferece algum benefício

social direcionado às famílias dos

funcionários?

17 – A empresa possui ações de RSE

direcionadas aos seus funcionários e que não

foram contempladas nas perguntas

anteriores? Se sim, poderia falar sobre essas

ações?

Fonte: Elaboração do autor (2015).

O Quadro 6, a seguir, trata dos objetivos específicos das categorias e subcategorias de

análise, bem como do roteiro das entrevistas para os clientes.

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Quadro 6 - Objetivos específicos, categorias e subcategorias analíticas e roteiro das entrevistas

(Clientes).

Objetivos

Específicos.

Categorias

de análise.

Subcategorias. Roteiro de entrevista para os

clientes.

Mapear ações e

programas de RSE

direcionados ao

meio ambiente

Meio

Ambiente

Responsabilidade

ambiental da

empresa.

Compromisso com a

qualidade ambiental.

1- O que você entende por responsabilidade

ambiental da empresa?

2 - Durante o seu contato com esta empresa

(Clínica), você percebeu alguma forma de

compromisso da mesma com a qualidade

ambiental? Se sim, poderia discorrer sobre o

que foi percebido?

Verificar a

existência de ações e

programas de RSE

direcionados para a

comunidade de

entorno

Comunidade Ações sociais

desenvolvidas em

parceria com

organizações da

comunidade.

Projeto social próprio

3 - Você conhece alguma ação social

desenvolvida por esta empresa em parceria

com organizações da comunidade? Se sim,

poderia descrevê-la?

4 - Você tem conhecimento de algum projeto

social próprio da empresa? Se sim, poderia

descrevê-lo?

Identificar ações e

programas de RSE

desenvolvidas pela

empresa,

direcionados ao seu

público interno.

Público

interno

Mecanismos de

participação.

Valorizações da

diversidade.

Saúde, segurança e

condições de trabalho

5 - Em seu contato com esta empresa, você

percebeu no que se refere ao seu quadro de

funcionários, uma política de valorização da

diversidade, da não discriminação e da

promoção da igualdade racial?

6 - Você conseguiu perceber algum tipo de

preocupação desta empresa em relação à

saúde, segurança e condições de trabalho de

seus funcionários? Poderia comentar?

7 - Além do que já foi perguntado, você

conseguiu identificar alguma outra forma de

ação de responsabilidade social, direcionada

pela empresa aos seus funcionários?

Fonte: Elaboração do autor (2015).

As categorias de análise, meio ambiente, comunidade e público interno, bem como suas

subcategorias e roteiro de entrevistas foram adaptados a partir dos Indicadores Ethos de

Responsabilidade Social Empresarial (2007), na sua versão 2013 e organizados de maneira a

facilitar o entendimento e desdobramentos do estudo proposto.

3.6 TRATAMENTO DOS DADOS

A análise de conteúdo, entendida como um conjunto de técnicas de análise das

comunicações, foi a metodologia utilizada neste trabalho para o tratamento e análise dos dados

coletados a partir da aplicação do instrumento de pesquisa. Para Bardin (2011, p. 15), a análise

de conteúdo é “Um conjunto de instrumentos metodológicos cada vez mais sutis, em constante

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aperfeiçoamento, que se aplicam a “discursos” (conteúdos e continentes) extremamente

diversificados”, e ainda, para o referido autor, essa técnica enquanto esforço de interpretação

oscila entre o rigor da objetividade e a fecundidade da subjetividade (BARDIN, 2011).

Segundo Mozzoto e Grzybovski (2011), a análise de conteúdo vem apresentando nível

crescente de interesse e aplicação na produção científica em administração, ganhando

legitimidade no tratamento dos dados da pesquisa qualitativa, tendo nos trabalhos de Laurence

Bardin seu principal suporte teórico. Ainda segundo Mozozto e Grzybovski (2011) a análise de

conteúdo pode ser usada tanto na pesquisa qualitativa quanto quantitativa e mesmo na pesquisa

mista e na atualidade a análise dos dados qualitativos é facilitada pelo tratamento através de

programas computacionais.

A análise de conteúdo vem se desenvolvendo como técnica da pesquisa social desde o

início do século XX quando era aplicada essencialmente a material jornalístico. É considerada

uma técnica para tratamento de dados que visa identificar o que está sendo dito a respeito de

determinado tema, e hoje vem sendo utilizada na análise de entrevistas e documentos

institucionais entre outras aplicações (VERGARA, 2010).

A interpretação dos dados deste trabalho seguiu as seguintes etapas cronológicas em que

se organiza a técnica de análise de conteúdo: 1) Pré-análise; 2) Exploração do material e 3)

Tratamento dos dados, a Inferência e a interpretação. A pré-análise constitui-se em fase de

organização do material coletado que neste trabalho corresponde às entrevistas

semiestruturadas realizadas com gestores, funcionários e clientes. Para Bardin (2011, p.125)

essa fase “[...]tem por objetivo tornar operacionais e sistematizar as ideias iniciais, de maneira

a conduzir a um esquema preciso do desenvolvimento das operações sucessivas, num plano de

análise”.

A exploração do material consiste essencialmente em operações de codificação,

decomposição ou enumeração, em função de regras previamente estabelecidas, sendo a

codificação uma conversão dos dados brutos do texto, que agregados em unidades, , que neste

trabalho são representadas de uma forma mais ampla pelas categorias público interno , meio

ambiente e comunidade de entorno, vão permitir uma descrição precisa das características

pertinentes do conteúdo, enquanto que a enumeração diz respeito ao modo de contagem da

unidade de registro (palavra, tema frase, etc.). Na fase de tratamento dos dados, Inferência e

interpretação, os resultados brutos foram analisados de maneira a tornarem-se significativos e

válidos, o que trouxe à tona informações que permitiram propor inferências e realizar

interpretações a propósito dos objetivos estabelecidos pela pesquisa (BARDIN, 2011).

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3. 7 CARACTERIZAÇÕES DO CAMPO DE PESQUISA

O campo de pesquisa deste trabalho encontra-se inserido no setor de serviços, mais

especificamente no âmbito dos serviços privados de saúde e suas inter-relações com a saúde

suplementar. Segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar, esse segmento da economia

(saúde suplementar), contava, no primeiro trimestre de 2014 com quase 51 milhões de

beneficiários de planos privados de assistência médica. O atendimento a esses beneficiários

gerou uma despesa de R$23,3 bilhões em assistência à saúde entre janeiro e março de 2014.

Dados de março/2014 demonstram que o Rio Grande do Norte tinha nessa época uma taxa de

cobertura de assistência médica de 16,85%, sendo que em Natal essa cobertura chegava a

41,2%. Ainda de acordo com dados de março de 2014 atuam no Rio Grande do Norte, 115

estabelecimentos de saúde caracterizados como clínica ou ambulatório especializado, que

atendem a planos privados de saúde. Dados de 2009 do Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE), demonstram a existência de 14 estabelecimentos privados de saúde com

atendimento de emergência em traumato-ortopedia, na cidade do Natal/RN (ANS, 2015; IBGE,

2015).

A unidade de saúde pesquisada caracteriza-se por ser uma empresa privada que participa

do sistema suplementar de saúde, através da prestação de serviços aos beneficiários de diversas

operadoras de planos privado de saúde, que atuam na cidade do Natal/RN. A empresa, encontra-

se localizada, na Região Administrativa Norte, ou Zona Norte, desta capital, que, segundo dados

do IBGE (2013), caracteriza-se por ser a maior entre as cinco áreas administrativas em que a

cidade está dividida, tanto no tocante a sua extensão territorial, quanto em relação a sua

população. Dados de 2013 do IBGE, estimarão a população da cidade do Natal/RN, em 862.044

mil habitantes sendo que, o distrito administrativo norte, contribui com 39,635% deste

contingente populacional. Esse distrito, tem na sua composição os bairros de Igapó, Lagoa

Azul, Nossa Senhora da Apresentação, Pajuçara, Potengi, Redinha e Salinas.

A empresa de saúde pesquisada, estende sua área de influência aos municípios da região

metropolitana do Natal, como, São Gonçalo do Amarante e Extremoz, que fazem limite

geográfico, com essa região administrativa. A empresa pesquisa é uma sociedade LTDA,

composta por quatro sócios, todos com formação acadêmica em medicina e com especialidade

em traumato-ortopedia, os quais se revezam a cada dois anos na função de gestor da instituição.

No momento desta pesquisa, a empresa possuía um quadro de 15 funcionários, sendo que

destes, dois exercem funções de gestão. Dados fornecidos pela gestão financeira a partir de

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sistema informatizado, revelam que no ano de 2014 foram realizadas 42.328 consultas de

traumato-ortopedia e 8. 982 procedimentos de RX, o que evidencia a importância sócio

econômica da instituição pesquisada para a região onde está inserida. Por problemas

operacionais, dados quanto ao número de pequenas cirurgias e procedimentos envolvendo

imobilizações gessadas, não puderam ser disponibilizados durante o desenvolvimento desta

pesquisa.

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4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Neste capítulo, serão apresentados os resultados da pesquisa, sua análise e discussão.

Este capitulo está dividido em três seções que, de forma sequencial contemplam as categorias

de análise: meio ambiente, comunidade de entorno e público interno. A análise de cada

categoria contempla, em um primeiro momento e de forma simultânea o discurso de gestores e

funcionários, e, em um segundo momento, o discurso dos clientes.

4.1 RESPOSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL E O MEIO AMBIENTE

Nesta seção, analisa-se os resultados das entrevistas realizados com gestores,

funcionários e clientes, abordando o tema meio ambiente, buscando-se identificar as suas

percepções em torno da responsabilidade ambiental empresarial, além de se fazer uma análise

dos seus relatos em relação à presença na empresa pesquisada, de ações e programas

relacionados a essa temática.

A preocupação com a responsabilidade ambiental ganhou impulso a partir da década de

1970, e teve como marco a Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o

meio ambiente, realizada em Estocolmo, em 1972. Em 1987, com a publicação do relatório

Brundtland, consolida-se o conceito de desenvolvimento sustentável, que servirá de base para

a conferência da ONU, Rio-92.

A questão ambiental passou a ser tema frequente de estudos acadêmicos e está

presente na obra de Carroll (1979), compondo uma das áreas temáticas do seu modelo

tridimensional de performance social, proposição pioneira e fundamental nesse campo de

estudo. Esta temática também encontra-se presente nos trabalhos desenvolvidos no Brasil, pelo

Instituto Ethos de Responsabilidade Social.

Dentro dessa perspectiva, analisa-se, nesta seção, a percepção dos gestores,

funcionários e clientes da empresa pesquisada, sobre a RSE com foco na Responsabilidade

Ambiental, tema atual e de grande importância socioeconômica, que, vem nos últimos anos,

ocupando um espaço crescente na agenda empresarial, demonstrando capacidade a partir de sua

implementação, de se criar valor para clientes, acionistas e demais stakerholders.

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4.1.1 Questão ambiental na percepção de gestores e funcionários.

4.1.1.1 Responsabilidade ambiental

Quando confrontados com a questão que procura identificar as suas percepções em torno

do tema Responsabilidade Ambiental da Empresa, os gestores entrevistados demonstram

compreender que existe essa responsabilidade, como fica evidente nas falas de G-1 “[...] aos

pouquinhos vai se engatinhando a questão da responsabilidade e da consciência ambiental”, G-

2 quando este relata que as empresas “além de ter a responsabilidade, têm a obrigação de cuidar

bem do meio ambiente, fazer políticas de preservação e com a coleta do lixo, se preocupar onde

esse lixo fica armazenado” e G 3 “Os resíduos, os resíduos que são gerados na clínica... a nossa

preocupação é separa-los adequadamente, inclusive os contaminados a gente entrega para uma

empresa própria”.

Quando o mesmo questionamento foi aplicada aos funcionários, evidencia-se que

apesar de não conseguirem expressar um conceito em relação ao tema, há uma percepção por

parte dos entrevistados quanto à responsabilidade ambiental da empresa, o que pode ser

observado nos seguintes fragmentos de textos extraídos das entrevistas: F1 “[...] ter a

consciência de implantar o que é certo na sua empresa para que não venha a destruir o meio

ambiente”; F 2 “Prestar serviços à comunidade e cuidar da melhoria do que está em volta”; F

3 “ Ter mais responsabilidade com a reciclagem... arborização para melhorar o ar”; F 4 “A

empresa tem que ter cuidado com o manuseio de materiais para não agredir o meio ambiente”;

F 6 “ Todos nós temos que ter responsabilidade com o meio ambiente principalmente as

empresas” e F 9 “Tem que ter essa responsabilidade”.

Procurando entender a questão ambiental no ambiente hospitalar, estabelecimento de

saúde com características semelhantes àquelas encontradas no local de realização desta

pesquisa, Toledo (2011), comenta em seu trabalho que, embora as atividades de serviço, gerem

impactos ambientais de maior ou menor monta, pouco tem sido escrito a respeito das relações

entre as atividades desse setor e a problemática ambiental, e discorrendo de modo especifico

sobre o setor de saúde, afirma: “O que se percebe é que as ações da atividade hospitalar em

relação ao meio ambiente estão concentradas no tema resíduo e riscos ocupacionais, e outros

aspectos e impactos são negligenciados” (TOLEDO, 2011. p. 121).

Pode-se creditar, que o foco da percepção dos gestores no tocante à responsabilidade

ambiental esteja direcionado para a problemática dos resíduos, ao fato da empresa atuar na

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prestação de serviços de saúde, setor da economia disciplinado por rígida legislação

governamental de regulação e fiscalização (BRASIL, 2015). A preocupação dos gestores, e

em menor grau dos funcionários, quanto à questão dos resíduos encontra-se em consonância

com conceitos presentes na terceira diretriz de responsabilidade social empresarial do Instituto

Ethos/Sebrae, que trata dessa temática. Para estas organizações, “Gerenciar com

responsabilidade ambiental é procurar reduzir as agressões ao meio ambiente e promover a

melhoria das condições ambientais” (ETHOS/SEBRAE, 2003. p. 25).

Do que foi exposto fica evidente uma percepção tanto de gestores quanto de

funcionários em torno do tema, responsabilidade ambiental da empresa, no entanto, percebe-se

nas suas falas, que o foco das preocupações dos gerentes está atrelado às questões relacionadas

com a adequada coleta, armazenamento e destinação final dos resíduos produzidos pela

empresa. Quanto os funcionários, estes apresentam uma visão mais ampla em relação as

questões relacionadas à responsabilidade ambiental das empresas, pois além de se reportarem

ao problema do lixo, demonstram preocupação com temas como à destruição ambiental,

arborização, prestação de serviço à comunidade e à melhoria da qualidade do ar.

4.1.1.2 Qualidades ambiental

Abordando a questão da qualidade ambiental percebe-se a existência de conhecimento

por parte dos gestores e funcionários, de aspectos da responsabilidade da empresa em relação a

preservação da qualidade do meio ambiente, no entanto nota-se nos seus discursos, que à

empresa pesquisada, ressente-se de uma política formal direcionada a essa questão, muito

embora fique claro a existência de práticas e ações de responsabilidade ambiental na rotina da

empresa, o que pode ser evidenciado através das falas dos gestores quando tratam da questão

da coleta, armazenamento e destino final dos resíduos gerados pela empresa: G 1 “[...] mas

voltando a questão dos perfuro cortantes creio que seja uma preocupação”; G 2 “[...] nós temos

uma empresa que é responsável pela coleta do nosso lixo hospitalar e G 3 “São os cuidados

com o que a clínica gera que possa contaminar o meio ambiente”.

Dentre os 10 funcionários entrevistados, 05 responderam que a empresa pesquisada não

tinha uma política de compromisso com a qualidade ambiental, 03 responderam que sim, a

empresa tinha compromisso com a qualidade ambiental e 02 responderam de maneira tal que

não foi possível detectar suas opiniões. Aqueles que responderam “sim” tiveram como

embasamento para as suas respostas a percepção de práticas e ações de responsabilidade

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ambiental no tocante ao correto manejo dos resíduos, embora procurem destacar que essas

práticas vão de encontro ao cumprimento, por parte da empresa, de suas obrigações legais

perante os órgãos de fiscalização dos serviços de saúde no tocante ao correto manejo dos

resíduos de serviços de saúde. Essa assertiva pode ser percebida nas seguintes falas: F 1 “Eu

acredito que sim, assim tudo que é exigido pelos órgãos como Covisa, essas coisas, eles estão

dentro dos padrões que eles pedem e a empresa faz de tudo para obedecer e trabalhar de acordo

com o que eles pedem”; F 3” Sim. Existe essa preocupação importante. O material das agulhas

e seringas. Responsabilidade de não ir para o lixão”; F 10 “Existe sim, quanto a isso ai a gente

tem esse cuidado. Eu vejo assim, que aqui tem o cuidado de não tá jogando... pronto,

principalmente ali, que tem essa parte de seringa, de [...] não jogar no lixo, a gente separa o

pessoal vem pegar”.

Apesar da existência de ações e práticas de responsabilidade com a qualidade ambiental,

como ficou claro nos discursos de gerentes e funcionários, não foi possível perceber que a

empresa desenvolva programas internos de melhoramento ambiental, requisito presente na

primeira questão de profundidade do indicador 20 - compromisso com a melhoria da qualidade

ambiental, do documento intitulado indicadores Ethos de responsabilidade social empresaria.

Para que se alcance o estágio 01, dentre os quatro estágios, desse indicador é necessário que a

empresa além de cumprir rigorosamente os parâmetros e requisitos exigidos pela legislação

nacional, desenvolva programas internos de melhoramento ambiental (ETHOS, 2007).

O atual nível de percepção de gestores e funcionários encontra-se em consonância com

o pensamento de Barbieri (2011) quando este relata que apesar da questão da qualidade

ambiental ser um tema atual e amplamente disseminado, tendo ganhado a imprensa, as ruas e

os auditórios, passando a fazer parte das preocupações de políticos, administradores e

empresários, na verdade “[...] para a maioria das empresas, essa preocupação ainda não se

transformou em práticas administrativas e operacionais efetivas[...]” (BARBIERI, 2011, p. 7).

Apesar dessas ressalvas, percebe-se que o entendimento dos gestores e funcionários vai

ao encontro do seguinte enunciado do Instituto Ethos, que trata da questão da qualidade

ambiental: “Um dos aspectos que se sobressaem nessa temática é a geração de resíduos e a

correta administração de sua destinação final, bem como os níveis de responsabilidade dos

atores envolvidos”, (ETHOS, 2015). Fica evidente, que tanto os gestores como uma parte dos

funcionários percebem a existência de práticas e ações de responsabilidade ambiental

desenvolvidas pela empresa, estando esta preocupação direcionada a questão dos resíduos.

Pode-se intuir, que o direcionamento de práticas e ações relacionadas a qualidade ambiental

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para a questão dos resíduos, deve-se a atividade fim da empresa pesquisada, qual seja, prestação

de serviços de saúde, segmento da economia, amplamente regulamentado e fiscalizado por

órgãos governamentais, nas esferas federal, estadual e municipal.

4.1.1.3 Proteção ambiental

Na atualidade, decorrente da crescente conscientização ambiental, disseminada a partir

da consolidação da noção de desenvolvimento sustentável, que ganhou força a partir dos

resultados da Conferência Rio-92, patrocinada pela ONU, aumenta o engajamento empresarial

em projetos de proteção do meio ambiente, com investimentos que visam à compensação

ambiental pelo uso de recursos naturais e pelo impacto causado por suas atividades, sendo este

comportamento um dos pilares da Responsabilidade Social Empresarial. Segundo o Instituto

Ethos:

Cabe à empresa ambientalmente responsável apoiar e desenvolver campanhas,

projetos e programas educativos voltados para seus empregados, para a comunidade

e para públicos mais amplos, além de envolver-se em iniciativas de fortalecimento da

educação ambiental no âmbito da sociedade como um todo (ETHOS, 2015).

Ao se analisar os discursos dos gestores, estes são unânimes em afirmar que a empresa

não participa de qualquer projeto de proteção ambiental, fato que segundo o G 3 pode ser

computado a “falta de informações e a uma falta de estimulo da área governamental”. A

percepção dos funcionários em relação a este tema, converge para o que se evidenciou nas falas

dos gestores, sendo que dos 10 funcionários entrevistados 05 responderam de forma categórica

que a empresa não participa de projetos de proteção ambiental e 05 relataram não ter

conhecimento da participação da empresa neste tipo de projeto.

Fica evidente, portanto, um nível ainda incipiente de conscientização ambiental por

parte dos gestores, fato este, que é detectado pelos funcionários nas suas percepções no tocante

a essa questão. A conscientização ambiental é a base para uma gestão proativa no âmbito das

ações de proteção ambiental, sendo lícito supor do que foi exposto, que a empresa pesquisada

ainda não assimilou, na sua cultura organizacional, os valores concernentes a responsabilidade

ambiental empresarial.

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4.1.1.4 Uso consciente de água, energia e material de consumo

Para o Instituto Akatu (2015), praticar o consumo consciente “é consumir

solidariamente, buscando os impactos positivos do consumo para o bem-estar da sociedade e

do meio ambiente; é consumir sustentavelmente, deixando um mundo melhor para as próximas

gerações” A preocupação com essa temática está no centro das atenções das autoridades

governamentais, setor privado, sociedade civil organizada e de forma paulatina e consistente

vem sendo incorporada pelas pessoas nas suas rotinas individuais. A importância do consumo

consciente de água, energia e demais insumos fez com que o instituto Ethos (2007)

contemplasse essa temática nos questionamentos do Indicador 24 – Minimização de Entradas

e Saídas de Materiais, dos Indicadores Ethos de Responsabilidade Social.

Percebe-se no discurso do G 3, a existência de uma preocupação quanto ao uso

consciente de agua e energia, o que fica evidente quando este diz que “Existe a preocupação

com o uso consciente tanto de agua como de energia, isso é uma preocupação permanente

nossa” no entanto essa preocupação parece não permear as rotinas administrativas como pode-

se inferir da fala de G2 “Nós temos uma vez no ano uma palestra sobre isso” e na afirmação

de G 1 quando diz que “algo documentado uma rotina, não existe”. Quando solicitados a falar

sobre essas questões 09 dentre os 10 entrevistados responderam que a empresa não desenvolve

campanhas internas de educação para o uso consciente de água, energia e material de consumo,

evidenciando uma dissociação entre a preocupação presente na fala de G 3 e a realidade do dia

a dia evidenciada no discurso dos gestores G 1 e G 2 e reverberada nas falas dos funcionários.

Pode-se supor, que embora exista uma clara preocupação de G 3 quanto a essa temática,

prováveis falhas no processo de comunicação interna, esteja contribuído para que essa questão

ainda não esteja institucionalizada nos processos de gestão da empresa.

Quando analisa-se os discursos dos funcionários, fica patente em seus comentários que

a empresa não desenvolve campanhas internas de educação para o uso consciente de água,

energia e material de consumo, sendo as ações envolvendo essa temática realizadas de forma

pontual, como percebe-se no seguinte comentário de F 9 “Eles chegam, desligue o ventilador,

apague a luz”. Os funcionários procuraram salientar que, de forma individualizada, têm a

percepção da necessidade de um consumo consciente e tomam atitudes que vão ao encontro

dessa faceta da questão ambiental, como pode-se concluir das seguintes falas F 4” A gente

própria mesmo que faz, utiliza o menos possível”; F 6 “A gente faz a nossa parte, sai apagando

as luzes, economiza agua”; F 8 “Eu tomo essa atitude. Há um individualismo entre os

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funcionários”; F 10 “É uma coisa mais assim, dos próprios funcionários, de livre e espontânea

vontade a gente faz”.

Percebe-se que, embora gestores e funcionários tenham entendimento de aspectos

relacionados a questão do uso racional de agua, energia e demais insumos, a empresa

pesquisada, ressente-se de uma política de educação continuada para o consumo sustentável,

não obstante, evidencia-se uma conscientização, embora individualizada, em relação a essa

temática, que redunda em ações proativas de consumo sustentável. Do que foi exposto, fica

evidente, que a instituição, necessita avançar no seu envolvimento com a questão ambiental,

para que possa estar alinhada com as diretrizes do Plano de Ação para Produção e Consumo

Sustentáveis - PPCS – documento com origem no Ministério do Meio Ambiente, que visa dar

aplicabilidade concreta aos conceitos de Produção e Consumo Sustentáveis como estabelecidos

pela ONU nas diretrizes do processo de Marrakesh (BRASIL, 2015).

Em relação ao conhecimento da população brasileira no que se refere ao consumo

consciente, pesquisa do Instituto Akatu em 2010, demonstrou que naquele momento 5% dos

consumidores brasileiros podiam ser considerados “consumidores conscientes” segundo alguns

critérios estabelecidos como apagar luzes dos cômodos vazios e separar o lixo para reciclagem

(AKATU, 2015).

4.1.1.5 Coleta seletiva e reciclagem

Um dos grandes desafios da nova economia diz respeito à correta administração dos

resíduos gerados no processo de produção e consumo, exigindo do poder público, da iniciativa

privada e da sociedade como um todo, uma visão mais ampla em relação a questão, e um maior

engajamento desses atores no desenvolvimento e aplicação de medidas como a coleta seletiva

do lixo e a reciclagem, capazes de produzir impacto positivo para a questão ambiental.

Quando perguntados sobre se a empresa desenvolve campanhas de educação em relação

à coleta seletiva do lixo e à reciclagem tanto os gerentes quanato os funcionários relatam que a

empresa não desenvolve ações nesse sentido como pode ser visto na fala de G1 quando diz que

a empresa “[...] ainda não tem essa consciência da coleta seletiva do lixo e da reciclagem’, F 5

“No tempo que estou aqui nunca vi nada especifico”, F 6 “Não que eu tenha visto, [...]

campanhas de todo mundo fazer um grupo não”. Embora fique evidente nesses discursos que a

empresa não desenvolve campanhas internas abordando a temática da coleta seletiva do lixo e

da reciclagem pode-se perceber que a preocupação de empresa com a coleta diferenciada do

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lixo hospitalar é detectada pelos funcionários, o que fica evidente e sintetizado na seguinte

frase: F 5 “Só o que eu vi é que é separado lixo hospitalar e lixo comum”.

Na atualidade, o gerenciamento dos resíduos sólidos é parte fundamental no que diz

respeito as práticas de Responsabilidade Social Empresarial sendo a coleta seletiva e a

reciclagem etapas fundamentais desse processo. Pode desprender do que foi exposto por

gestores e funcionários que a empresa pesquisada salvo a questão da separação do lixo

hospitalar do lixo comum, não apresenta um projeto amplo de ações educacionais e ações

práticas quanto a coleta seletiva e a reciclagem do lixo. A ausência, que se percebe, de um maior

compromisso desses agentes em torno desta temática, não se coaduna com o atual momento

histórico de expansão da conscientização dos governantes, empresários e da população como

um todo, em torno dessas questões, campo este, em que o Brasil vem se destacando no cenário

mundial por seus expressivos índices de reciclagem (ETHOS, 2007). A Preocupação com a

coleta seletiva do lixo e a reciclagem é uma constante nas publicações deste Instituto, estando

presente nos Indicadores Ethos de Responsabilidade Social quando este trata do tema meio

ambiente, bem como, na terceira diretriz Ethos /Sebrae (ETHOS, 2003), que entre outras ações

orienta que a empresa realize iniciativas de educação ambiental em relação a coleta seletiva do

lixo e a reciclagem, medidas que quando utilizadas não apenas iram reduzir o impacto ambiental

como poderão gerar lucro e ganho de imagem para a empresa.

4.1.1.6 Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde (PGRSS)

A crescente preocupação com a questão da degradação ambiental, associada aos

resíduos sólidos e suas inter-relações com a saúde da população, tem provocado demandas da

sociedade, as quais pressionam as instâncias governamentais envolvidas com esta temática.

Estas têm respondido com a criação de uma forte legislação regulatória com vistas ao

gerenciamento adequado desses resíduos com base no conceito da responsabilidade

compartilhada que envolve a sociedade como um todo – cidadãos, governos, setor privado e

sociedade civil organizada (BRASIL, 2015).

Os resíduos de serviços de saúde – RSS, representa uma fração inferior a 2% do

montante dos resíduos residenciais e comerciais gerados diariamente, sendo que destes apenas

10 a 20% necessitam de cuidados especiais. Na atualidade os estabelecimentos de saúde têm a

obrigatoriedade de implementarem de forma adequada o Plano de Gerenciamento de Resíduos

de Serviços de Saúde (PGRSS), com o objetivo de minimizar os riscos sanitários e ambientais,

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à melhoria da qualidade de vida e da saúde da população e ao desenvolvimento sustentável. A

implementação do PGRSS, encontra-se legalmente ancorado na RDC ANVISA Nº 306/04 e na

Resolução CONAMA Nº 358/05 (BRASIL, 2005). De acordo com definição da Agencia

Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA, o PGRSS é um:

Documento que aponta e descreve ações relativas ao manejo dos resíduos sólidos,

observadas suas características, no âmbito dos estabelecimentos, contemplando os

aspectos referentes à geração, segregação, acondicionamento, coleta, armazenamento,

transporte, tratamento e disposição final, bem como a proteção à saúde pública e ao

meio ambiente (BRASIL, 2015).

Quando confrontados com essa questão tanto os gestores quanto os funcionários são

unânimes em responder que, a clínica, tem sim, um plano de Gerenciamento de Resíduos de

Serviços de Saúde mesmo que isso se deva a necessidade do cumprimento de exigências legais

como fica explicito quando G 1 relata que, “estar documentado, [...] foi uma exigência da

Covisa” e F 1 “Tem, e é feito porque a Covisa... se não for feito a Covisa bate em cima”.

A afirmação tanto de gestores quanto de funcionários em relação a existência na

empresa de um plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde encontra-se

ancorada na percepção do acondicionamento destes resíduos em recipientes apropriados e na

existência de uma empresa contratada que dá o destino final a esse material. Essa assertiva pode

ser percebida nas seguintes falas: G 1 “O que tem em relação ao plano de gerenciamento é

justamente essa empresa que vem coletar o lixo que tem de ficar separadinho para eles

levarem”; G 3 “Tem, se você for considerar que tem uma empresa terceirizada que passa aqui

para recolher esses itens que possam trazer alguma lesão aos manipuladores, essa preocupação

é permanente”; F 2 “Eu acho que tem, tem a parte que vem aquela caixinha que as pessoas

colocam as seringas. É tem uma caixa só pra isso, e vem o pessoal de uma empresa pegar”; F 4

“Fica tudo na caixinha apropriada e vai para um local apropriado”; F 7 “Na radiologia tem um

pessoal que vem pegar o químico existe um plano tem uma empresa que vem pegar esse

químico” e F 10 “, tem, exatamente como eu falei, os produtos daqui que a gente separa

direitinho, ai quando eles vem pegar eles dão um termo pra dizer que tão levando esse

material... ai eles dão o destino certo... isso ai a gente tem”.

O gerenciamento dos resíduos sólidos não se submete a uma legislação única, estando

sua regulamentação na dependência do local em que são gerados e de seu conteúdo. Por suas

peculiaridades os resíduos de serviços de saúde, por exigência do princípio da informação

ambiental devem ser armazenados em embalagens adequadamente identificadas como

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infectantes e na existência de objetos perfurocortantes torna-se necessário que sejam antes

embaladas em sacos plásticos e acondicionadas em recipiente rígido, sendo o cumprimento

dessa exigência legal percebida no discurso tanto de gestores como dos funcionários

(FIORILLO, 2011).

Pode-se inferir do que foi exposto, que o conhecimento tanto de gestores quanto de

funcionários, da existência na unidade de saúde estudada, de um PGRSS está vinculado, entre

outros aspectos, a percepção de uma legislação a ser cumprida por força de uma forte

fiscalização dos órgãos governamentais. Essa preocupação com a coleta e destinação final dos

resíduos de serviços de saúde encontra-se contemplada em diversos documentos legais com

origem nas esferas Federal, Estadual e Municipal. Na esfera Federal é disciplinada pela RDC

Nº 306 de 7 de dezembro de 2004 do Ministério da Saúde que dispõe sobre o Regulamento

Técnico para o gerenciamento de resíduos de serviços de saúde. Fica definido no texto dessa

RDC, em seu artigo 3º que, “A vigilância sanitária dos Estados, dos Municípios e do Distrito

Federal, visando o cumprimento do Regulamento Técnico, poderão estabelecer normas de

caráter supletivo ou complementar, a fim de adequá-lo às especificidades locais” (BRASIL,

ANVISA, 2014).

Ainda disciplinando essas questões temos as normas regulamentadoras emitidas pelo

Ministério do Trabalho que estabelece diretriz básica para a implementação de medidas de

proteção à segurança e à saúde dos trabalhadores em serviço de saúde como se segue: – NR 7

– Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional – PCMSO; NR 9 – Programa de

Prevenção de Riscos Ambientais – PPRA; NR 32 – Segurança e Saúde no Trabalho em Serviços

de Saúde, bem como a Lei Federal Nº 12.305 que institui a Política Nacional de Resíduos

Sólidos, formando um amplo arcabouço regulatório em relação a essa temática (BRASIL,

2015).

4.1.1.7 Certificação ambiental.

Na atualidade torna-se crescente a importância de instrumentos de mercado como a

certificação ambiental, que destaca e diferencia a empresa dos demais concorrentes, agregando

valor à marca, e facilitando a introdução de novos produtos e serviços no mercado. Os gestores

da empresa pesquisada encontram-se em um estágio preliminar de contato com essa importante

ferramenta de gestão, fato este evidenciado na resposta negativa de G 1, quando afirma que a

empresa onde trabalha não tem qualquer diploma de certificação ambiental, na fala de G2, que,

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além de confirmar a assertiva de G1, deixa transparecer que na sua percepção a certificação

ambiental é assunto para empresas de maior porte e na fala de G 3, quando relata não ter

informações quanto a certificação ambiental de sua empresa. Quando defrontados com essa

questão a maioria dos funcionários demonstraram ter um conhecimento ainda que superficial

em torno do tema e indo de encontro ao que foi relatado pelos gestores a maioria relatou

desconhecer que a empresa onde trabalham seja detentora de certificação ambiental.

O que se percebe em relação a temática certificação ambiental, é que, tanto gestores

como funcionários não alcançam essa questão em toda a sua amplitude e deixam transparecer

que a empresa onde trabalham, ainda não tem institucionalizado na sua rotina administrativa,

um Sistema de Gestão Ambiental (SGA), passível de certificação. Caminhando em sentido

contrário ao que expressou G 2 quando reportou que a certificação ambiental é para empresas

de maior porte, encontra-se na Norma Nacional - ABNT NBR 16001 – Responsabilidade

Social – Sistema de gestão (INMETRO, 2012), que “A Norma é aplicável a todos os tipos e

portes de organizações (pequenas, médias e grandes) e de todos os setores (governo, ONG’s e

empresas privadas)”, e na norma ISO 14001 que, segundo Barbieri (2011, p. 192), “[...] aplica-

se a qualquer organização que deseje (a) estabelecer, implementar, manter e aprimorar um

SGA; [...]”. Ainda dentro deste tema Teodoro (2002, p. 35) define gestão ambiental empresarial

como: [...] “o conjunto de práticas definidas e sistematizadas aplicadas por um determinado

empreendimento com a finalidade de reduzir e controlar impactos ambientais” e a

implementação dessas práticas independem do porte ou área de atuação da empresa que não

representam fatores impeditivos para que a mesma trabalhe no sentido de se adequar a um novo

tempo onde o paradigma da responsabilidade ambiental permeia as relações entre os diversos

agentes envolvidos na dinâmica empresarial. A busca pela certificação ambiental encontra-se

incorporada a esse paradigma, onde a empresa não só precisa desenvolver suas atividades

dentro dos princípios étnicos, como também, necessitam demonstra isso publicamente.

4.1.2 Questão ambiental na percepção dos clientes

4.1.2.1 Responsabilidade ambiental

Quando confrontados com a questão ambiental e instados a discorrer sobre o que

entendiam em torno do tema responsabilidade ambiental da empresa 11 entre os 14

entrevistados demonstraram ter uma percepção de que a empresa é detentora de

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responsabilidades quanto à preservação do meio ambiente e associam de maneira consistente

essa responsabilidade a questão do correto manuseio do lixo, desde a sua geração, passando

pelo correto acondicionamento e destino final. Percebe-se ainda dentro da questão dos resíduos

uma preocupação com a responsabilidade da empresa com a coleta seletiva e a reciclagem,

como podemos evidenciar nos seguintes enunciados: C 1 “Descartar o lixo adequadamente,

não jogar em qualquer lugar, tem alguns que tem aqueles recipientes para colocar plástico,

livros, separadamente, mas infelizmente são poucas ainda”; C 4 “Com certeza tem que ter,

assim por exemplo tem aquelas coletas tudo separadozinho o lixo tudo organizadozinho, tem

que ter”; C 7 “Que a empresa seja de médio porte, pequeno porte elas deveriam proporcionar

sim a reciclagem porque é fundamental para o meio ambiente e C 8 “Porque tem clínicas

pequenas que deixam o lixo hospitalar no meio da rua provocando o risco das pessoas, daqueles

catadores de lixo se contaminarem”.

Afora essa preocupação com a questão dos resíduos, dois (02) dos clientes entrevistados

enfatizaram a questão da responsabilidade da empresa com a arborização como pode-se ver nos

seguintes trechos de suas falas: C 12; “ A empresa tem que preservar um monte de coisa,

limpeza e não cortar árvore pra ter mais ventilação e o ar ser melhor” e C 13 “É muito

importante a parte também ambiental em termo de vegetação que é outra coisa que as vezes pra

se construir um prédio de médio porte pequeno porte se faz algumas retiradas de arvores e não

se plantam”.

A percepção, por parte dos clientes entrevistados, da existência, de uma

responsabilidade das empresas com a questão ambiental, encontra-se em consonância com o

pensamento de estudiosos que nas últimas décadas vêm se debruçando sobre o tema RSE e seus

diversos desdobramentos, bem como, integra os princípios que norteiam as ações do Instituto

Ethos de Empresas e Responsabilidade Social (CARROLL, 1979; ETHOS, 2015; PORTER;

KRAMER, 2006). Face ao exposto, fica claro, a disseminação de um entendimento entre os

clientes de que a empresa tem responsabilidades ambientais, não obstante, um dos respondentes

ter declarado, que essa responsabilidade é da alçada das autoridades como pode-se deduzir da

sua fala quando se reporta a essa questão: “Eu acho que não. Não tem. Eu entendi. Eu acho que

é das autoridades. Isso”. Essa percepção vai de encontro ao pensamento dos teóricos da

economia neoclássica e está presente no trabalho de Friedman (1970), que respaldado na teria

da firma, defende que as ações de responsabilidade social propriamente dita não são da alçada

da empresa e sim de instituições como a Igreja e o Estado.

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O número elevado de clientes que entendem que existe uma responsabilidade ambiental

das empresas provavelmente é reflexo do grande espaço que a questão ambiental vem

ocupando, nas duas últimas décadas, nas mais diversas mídias, tendo essa exposição

contribuído para que seus conceitos alcançassem uma grande penetração no meio da sociedade

como um todo.

4.1.2.2 Qualidade ambiental

As percepções, quanto ao compromisso da empresa com a qualidade ambiental vai ao

encontro do que foi evidenciado no tópico anterior, no que diz respeito a preocupação dessas

pessoas em relação a questão dos resíduos, coleta seletiva e reciclagem. Fica patente na fala dos

clientes que o foco de suas atenções quanto a qualidade ambiental, está direcionada para questão

do lixo, higienização e limpeza. Através das suas falas fica evidente ainda, que estes percebem

as ações desenvolvidas pela empresa pesquisada no intuito de manter a limpeza e uma adequada

coleta e destinação do lixo gerado nas suas dependências. Essa assertiva pode ser corroborada

pelos seguintes enunciados: C 4 “Sobre o lixo também tudo nos seus cantos nos cestinhos para

você não poluir não jogar as coisas assim fora”; C 9 “A empresa cuida do ambiente mantem o

ambiente limpo, quando a gente chega sempre tá limpo; C 10 “A gente ver que sempre tem uma

lixeira em cada departamento e tudo bem organizado isso eu pude perceber”; C 12 “Não vi lixo

em canto nenhum as lixeirazinhas em seus cantos adequados” e C 13 “Fiz muito fisioterapia e

achei lá muito asseado, muito cuidado, assepsia, higienização a gente chega ta sempre bem

arrumado sempre achei certinho”. Embora fique clara a preocupação da empresa com a questão

dos resíduos, alguns clientes chamam a atenção para o fato de não detectarem ações e práticas

direcionadas para aspectos importantes relacionados a essa temática, como a coleta seletiva e

a reciclagem, como pode-se ver nas seguintes falas: C 1” O básico que você encontra em

qualquer lugar, recipiente adequado pra você descartar o lixo. Não tem aquela coisa, coleta

seletiva, como eu já vi em outras clinicas” e C 9 “O lixo tem onde a gente colocar, mas não vi

aqui dentro se tem como separar. Os copos descartáveis em alguns lugares eles são reciclados

ai você percebe pela cor do copo quando eles são reciclados”. O foco das atenções dos clientes

na questão dos resíduos gerados pela empresa encontra respaldo na preocupação da comunidade

mundial para um dos grandes desafios dos centros urbanos na atualidade que é a busca de

alternativas para o correto gerenciamento da crescente produção de resíduos sólidos. Entre as

várias alternativas para lidar com esse desafio encontra-se a ampliação de programas de coleta

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seletiva e a reciclagem que nos últimos anos vem ganhado apresenta um processo de expansão

no meio empresarial (ETHOS, 2015).

Com o objetivo de sintetizar as principais percepções dos gestores, funcionários e

clientes quanto aos seus entendimentos em relação a responsabilidade ambiental da empresa,

bem como suas percepções no tocante à presença de ações e programas de RSE na empresa

pesquisado foi elaborado o Quadro 7, a seguir:

Quadro 7 – Principais resultados encontrados – Meio ambiente

CATEGORIA – MEIO AMBIENTE

Entrevistados GESTORES FUNCIONÁRIOS CLIENTES

Subcategorias

Responsabilidade

ambiental

Percebem a

responsabilidade

ambiental das

empresas.

Foco na questão dos

resíduos.

Percebem a

responsabilidade

ambiental das

empresas. Foco na

questão dos resíduos.

Necessidade da

empresa prestar

serviços à comunidade.

Reciclagem

Arborização

Melhoria da qualidade

do ar.

Coleta seletiva

Entendem que as

empresas têm

responsabilidade com

o meio ambiente.

Foco na questão dos

resíduos.

Qualidade ambiental Percebem a questão da

qualidade ambiental.

Foco na questão dos

resíduos.

Percebem a questão da

qualidade ambiental.

Foco na questão dos

resíduos.

Percebem que a

empresa tem

preocupação com a

qualidade ambiental.

Foco na questão dos

resíduos. Cumprir

aspectos legais. Não

percebem ações

relacionadas a

reciclagem.

Proteção ambiental Ausência de projetos

de proteção ambiental

Ausência de projetos

de proteção ambiental

Não se aplica.

Consumo consciente Relatam a ausência de

políticas formais.

Preocupação pontual.

Negam a existência de

ações e programas de

consumo consciente.

Ações

individualizadas.

Não se aplica

Coleta seletiva e

reciclagem

Não há práticas de

coleta seletiva e

reciclagem, salvo a

separação do lixo

Não percebem práticas

de coleta seletiva e

reciclagem, salvo a

separação do lixo

Não se aplica

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89

hospitalar do lixo

comum.

hospitalar do lixo

comum.

Gerenciamento de

Resíduos de Serviços

de Saúde (PGRSS)

Relatam a existência Percebem a existência Não se aplica

Certificações ambiental

Relatam que a empresa

não possui certificação

ambiental.

Não percebem que a

empresa possua

certificação ambiental.

Não se aplica

Fonte: Elaborado pelo autor (2015).

Uma síntese da análise, do tema ‘meio ambiente’, deixa claro que tanto gestores, como

funcionários e clientes percebem a responsabilidade ambiental das empresas, estando o foco

dessas preocupações centrado na questão da produção e destinação final dos resíduos/lixo, bem

como, evidencia que a empresa pesquisada encontra-se em um estágio preliminar de

aproximação com a responsabilidade ambiental empresarial, caracterizada por práticas e ações,

reativa as exigências legais.

4. 2 RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL E COMUNIDADE DE ENTORNO

Esta seção trata de aspetos da RSE envolvendo à empresa e à comunidade de entorno, e

procura identificar à partir dos discursos de gestores, funcionários e clientes a existência de

ações e programas de RSE direcionados pela empresa para esses stakerholder.

A responsabilidade social com a comunidade onde estar localizada a empresa, é uma

importante dimensão da RSE, e está contemplada no modelo tridimensional de Carroll (1979)

dentro da categoria, responsabilidade discricionária. Esta categoria da RSE ocupa o topo do seu

modelo piramidal e tem como principal característica, ser uma ação da empresa em benefício

da sociedade que está além das suas obrigações legais e pauta-se pela realização de ações

filantrópicas e envolvimento voluntário em programas de cunho social (CARROLL, 1979).

Tratando desse assunto o Instituo Ethos contempla essa dimensão da RSE dentro do tema

comunidade, com os indicadores 32 – Gerenciamento do Impacto da empresa na Comunidade

de Entorno, 33 – Relações com Organizações Locais, 34- Financiamentos da Ação Social e 35-

Envolvimento com a Ação Social (ETHOS, 2013).

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90

4.2.1 Percepção de gestores e funcionários sobre RSE e a comunidade de entorno

4.2.1.1 Política de Relacionamento com a Comunidade de Entorno

Apesar de estar há aproximadamente duas década atuando no atual endereço, se

desprende da fala dos gestores e funcionários que a empresa pesquisada encontra-se em um

estágio bastante preliminar de conscientização quanto implantação de ações de RSE

direcionadas a comunidade onde está localizada, o que pode ser verificado no comentário de

G 1, “ A empresa está um pouco isolada, só aqui no cantinho dela”, ou esta preocupação aparece

de forma pontual e sem um caráter de institucionalização dessas ações na fala do G 3, quando

este relata que: “É intenção minha, fazer umas palestras junto com uma nutricionista já a partir

agora de março para que possamos prestar informações que posa ser útil para a coletividade”.

Quanto aos funcionários entrevistados, esses são unânimes em declarar que a empresa não

pratica uma política de relacionamento com a comunidade sendo que um desses funcionários

evoca o tempo de trabalho na empresa para dá ênfase a sua resposta como se segue: F 2” Nesse

tempo que estou aqui dentro, não. Vai fazer treze anos”.

Para o Instituto Ethos, o indicador de profundidade permite avaliar o estágio atual da

gestão da empresa em relação a determinada prática, e o estágio 1 desse indicador representa

um estágio básico de ações da empresa, no qual ela ainda se encontra em níveis reativo de

exigências legais. O indicador 33 – Relações com Organizações locais, preconiza que com

relação as organizações comunitárias, ONGs e equipamentos públicos (escola, postos de saúde

etc.) presente em seu entorno, as empesas necessitam conhecer as atividades dessas instituições

e responder pontualmente a eventuais pedidos de apoio para que possam ser classificadas no

estágio 1 desse indicador. Do que foi exposto fica evidente que a instituição pesquisada

encontra-se em um estágio de conscientização ainda preliminar em relação a essa temática, não

tendo ainda despertado para o entendimento de que práticas de RSE, como a filantropia

empresarial direcionada a comunidade onde desenvolvem suas atividades, são capazes de

proporcionar benefício público e bem estar social, proporcionando ainda um melhor ambiente

competitivo, além de ser um marketing empresarial com impacto positivo tanto para o público

interno como para o público externo, pela percepção de que a empresa está contribuindo

efetivamente para tornar o mundo um lugar melhor para se viver (PORTER; KRAMER, 2002).

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91

4.2.1.2 Campanhas educacionais e/ou de interesse público – Projetos sociais

Como bem ficou demonstrado no item anterior a empresa ainda não despertou para a

importância do aprimoramento de um relacionamento mais estreito com a comunidade onde

está localizada, fato esse, que fica ainda mais evidente pela identificação de que a mesma não

desenvolve junto com organizações da comunidade de entorno campanhas educacionais e ou

de interesse público nem tampouco desenvolve projetos sociais de iniciativa própria como fica

patente nas respostas tanto de gestores como de funcionários quando afirmam que a empresa

não participa de ações neste sentido, entretanto pode-se perceber de algumas falas um

movimento, embora que ainda tímido, em direção da realização de ações de RSE destinadas a

comunidade, como pode-se desprender dos seguintes trechos das entrevistas; F 5 quando se

reporta que: “A única campanha direcionada a população e essa do outubro rosa” e F 3 “Todo

ano a gente quer ajudar o pessoal da LIGA, ai compra aquela camiseta pra ajudar a instituição.

Percebe-se no discurso de G 3, que este intui a importância da interação da empresa com a

comunidade quando relata: “Acho que a interação com a comunidade tem uma importância

muito grande uma vez que hoje somos o único prestador de serviço na área de ortopedia nessa

região toda, precisamos está mas integrado a comunidade”. Embora fique patente que a empresa

não esteja em um estágio avançado de envolvimento com ações e práticas de RSE, direcionada

à comunidade de entorno, percebe-se pela discurso de G 3, em relação a essa temática e pela

presença de ações como a participação em campanhas em prol da LIGA e da conscientização e

prevenção do câncer de mama feminino – outubro rosa, como demonstrado nas falas de F 3 e

F 5, que, embora não institucionalizada, a empresa desenvolve mesmo que de forma incipiente,

ações de responsabilidade social para a comunidade onde está inserida.

A participação proativa da empresa com a manutenção de projetos sociais próprios e a

participação em conjunto com entidades da comunidade em campanhas educacionais e ou de

interesse público é uma marca característica daquelas empresas que já assimilaram na sua

cultura organizacional os preceitos da RSE. Esta faceta da RSE encontra-se contemplada no

trabalho de Carroll (1979), integrando a categoria Responsabilidade discricionária do seu

modelo de responsabilidade social, como também é contemplada e no tema ambiente, dos

Indicadores Ethos de Responsabilidade social empresarial (ETHOS, 2013).

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4.2.1.3 Avaliar reclamações com origem na comunidade de entorno

Quando questionados quanto a reclamações oriundas de indivíduos da comunidade em

relação a possíveis transtornos trazidos pela empresa com foco na questão do lixo e tráfego de

veículos ficou claro da análise dos discursos de funcionários e gerentes que a empresa consegue

lidar de modo satisfatório com essas questões, pois todas as respostas vão no sentido de deixar

evidente que a instituição nunca recebeu reclamações de pessoas da comunidade, salvo em

uma situação esporádica no início de seu funcionamento, como pode-se evidenciar das

seguintes falas G 2 “No início a gente tinha um funcionário que coletava o lixo e quando o lixo

era muito difícil de transportar ele queimava e ai tinha vizinhos que vinham reclamar, mas isso

foi resolvido”, G 1 “Nós temos um local com cadeado que guarda o lixo, foi exigido pela

Covisa”, G 3 “Em alguns aspectos nós somos bem privilegiados a gente tem estacionamentos

em duas áreas da clínica, ofertando quase oitenta metros de estacionamento. A clínica

acondiciona muito bem o lixo aqui na parte externa por exigência da própria Covisa”. F 2”

Nunca escutei reclamações sobre isso”, F 8 “Eu também moro bem próximo daqui e conheço a

empresa a um bom tempo, como paciente e agora como funcionaria... não, nenhuma

reclamação” e F 10 “O pessoal até elogia com o tratamento que a gente tem com o lixo e com

o estacionamento”.

4.2.1.4 Estimulo ao trabalho voluntário

O envolvimento com o trabalho voluntário envolve aspectos éticos e é uma das

premissas da RSE estando vinculada àquelas ações socialmente responsáveis que não estão

previstas em lei, tendo como característica o envolvimento da empresa com projetos que

caminhem no sentido de melhorar a qualidade de vida da comunidade onde está inserida.

Quando questionados em relação a essa temática tanto gestores como funcionários

demonstram perceber a importância do envolvimento da empresa no trabalho voluntário ao

mesmo tempo em que se ressentem da falta de estimulo nessa direção. Percebe-se da fala de G

3 que o mesmo intui a falta de um envolvimento maior da empresa essa questão, quando diz

que, “Nessa parte, a gente está devendo algo a sociedade”. Quanto aos funcionários há uma

percepção da falta de estimulo para o voluntariado. F 5 “Para mim nunca chegou esse estimulo”;

F 9 “Não tem incentivo”. A questão do trabalho voluntário como meio de inserção da empresa

na comunidade de entorno encontra-se na essência da dimensão discricionária do modelo de

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RSE proposto por Carroll (1979), como também está contemplada no indicador 35 –

Envolvimento com a Ação Social, do Instituto Ethos que, no seu primeiro indicador de

profundidade, entre outras ações, aborda a questão da mobilização do trabalho voluntário dos

funcionários.

4.2.2 Relacionamentos com a comunidade de entorno – Percepção dos clientes

Nesta subseção analisa-se a percepção dos clientes quanto à realização por parte da

empresa, de ações de RSE, em parceria com organizações da comunidade de entorno, bem

como o desenvolvimento por parte da empresa de projeto social próprio. As respostas aos

questionamentos tratando desses temas foram bastante diretas, e 13 entre os 14 clientes

entrevistados relataram não terem conhecimento de ações e práticas da empresa que contemple

esses aspectos da RSE.

No Quadro 8, a seguir encontra-se uma síntese da análise das entrevistas de gestores,

funcionários e clientes, que teve como objetivo verificar a existência de ações e programas de

RSE direcionadas para a comunidade de entorno.

Quadro 8 – Principais resultados encontrados – Comunidade de entorno CATEGORIA – COMUNIDADE DE ENTORNO

Entrevistados GESTORES FUNCIONÁRIOS CLIENTES

Subcategorias

Política de

Relacionamento com a

Comunidade de

entorno.

Não há políticas de

relacionamento.

A empresa está isolada

da comunidade.

Necessidade de

interação da empresa

com a comunidade de

entorno.

A empresa não tem

uma política de

relacionamento com a

comunidade de

entorno.

Desconhecem ações de

RSE da empresa em

parceria com

organizações da

comunidade.

.

Campanhas

educacionais e/ou de

interesse público.

Relatam não haver

ações e práticas

direcionadas a essas

questões.

Ações pontuais –

Outubro rosa e

compras de camisetas

da LIGA.

Não se aplica

Projeto social próprio. A empresa não

desenvolve projeto

social próprio.

Não tem conhecimento

e ou não percebem que

a empresa tenha algum

projeto social próprio.

Não têm

conhecimento ou não

percebem que a

empresa desenvolva

projeto social próprio.

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Avaliar reclamações

com origem na

comunidade de entorno.

Não há reclamações da

comunidade do

entorno relacionadas

ao funcionamento da

empresa.

Não recebe

reclamações da

comunidade.

Não se aplica

Estimulo ao trabalho

voluntário.

Não existe uma

política de estimulo e

promoção do trabalho

voluntário. Percebem a

falta de um maior

envolvimento com a

comunidade.

A empresa não

promove nem

incentiva o trabalho

voluntário. Ações

individualizadas,

Não se aplica

Fonte: Elaborado pelo autor (2015).

Percebe-se da análise das falas de gestores, funcionários e clientes, que apesar de

desenvolver ações pontuais de responsabilidade social direcionada a comunidade de entorno, a

empresa pesquisada, não pratica essas ações de forma institucionalizada. Isto demonstra, que a

empresa, encontra-se em um estágio inicial de conscientização em relação aos benefícios, para

a sociedade e para a instituição, decorrentes do desenvolvimento de práticas de

responsabilidade social direcionada para a comunidade onde está inserida.

4.3 RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL E PÚBLICOS INTERNO

Nesta seção, procura-se identificar práticas e ações de RSE direcionada ao público

interno, levando-se em consideração que no atual cenário da economia mundial as empresas

que adotam modelos avançados de RSE procuram uma gestão colaborativa e socialmente

responsável onde os funcionários passam a estar inseridos nas decisões estratégicas.

4.3.1 Percepção de gestores e funcionários em relação a responsabilidade social

empresarial e público interno

4.3.1.1 Mecanismos de participação

Ao serem questionados sobre os mecanismos de participação dos funcionários nos

processos decisórios, evidencia-se que, embora exista uma percepção por partes dos gestores

da importância de se ouvir a opinião destes stakerholders, com o objetivo de auxilia-los no

processo de gestão, a empresa ainda não tem institucionaliza uma política formal nesse sentido,

como pode-se identificar na fala dos gestores: G 1 “As coisas são feitas de forma esporádica

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não existe nada documentado, ainda não”; G 2 “Geralmente as reuniões são aleatórias sem data

certa, não existe um calendário” e G 3 “As sugestões são feitas em pequenas reuniões setoriais”.

Pode-se supor que a ausência de uma política formal de gestão participativa, como ficou

plausível na fala dos gestores seja um fator que possa explicar a divergência de opiniões

presente nas respostas dos funcionários a essa questão já que 06 dentre os dez funcionários

entrevistados relatam haver reuniões com a gerência na qual podem externar suas opiniões e

oferecer sugestões e 04 funcionários afirmam não haver reuniões com esse objetivo. F 5 “A

gente se reúne as vezes semanalmente e mais por setores como recepção faturamento, mais por

setores e sinceramente é muito difícil serem acatadas” F 6 “Já existe, tipo assim, uma vez por

mês ela pega todo mundo e faz uma reunião para saber como é que tá e fala, vamos melhorar

isso, vamos melhorar aquilo, tá bom isso”; F8 “A empresa faz reuniões com a gente,

funcionários, praticamente semanalmente”; F 4” Pelos cinco meses que estou aqui, não. Não

tem reunião, nem coisa escrita nem nada” e F 10 “Não existe não. Tem assim, a gente as vezes

senta e conversa dois ou três e dá sugestão mas da empresa... não”. A importância do

funcionário e a responsabilidade da empresa para com esses stakerholders, encontra-se

explicitada no seguinte enunciado do Instituto Ethos:

O funcionário é um dos mais importantes stakeholders da empresa. Atuar de forma

socialmente responsável com o público interno significa mais do que respeitar os

direitos garantidos pela legislação. Isso é imprescindível, mas também é necessário

investir no seu desenvolvimento pessoal e profissional, assim como oferecer

sucessivas melhorias nas suas condições de trabalho. É preciso ainda respeitar as

culturas locais e manter um relacionamento ético e responsável com as minorias e

com as instituições que representam seus interesses (ETHOS, 2015).

A questão da gestão participativa estar contemplado no indicador 8 – Gestão

participativa, do Instituto Ethos e é uma das facetas da RSE direcionada ao público interno,

tendo como característica a possiblidade do envolvimento dos trabalhadores na solução dos

problemas organizacionais. De acordo com Naisbitt e Aburdene (1985), esse novo aspecto de

gestão empresarial, tem como premissa, que uma das principais funções do gerente é ser um

facilitador, que coordena e estimula pessoas inteligentes, com vontade própria, com potencial

criativo, capazes de trabalhar em equipe e adaptar-se a novos trabalhos, ambientes e situações

(ETHOS, 2013).

Pode-se concluir que a empresa pesquisada, ainda não tem incorporada as suas rotinas

administrativas, os pressupostos da gestão participativa, permitido o envolvimento efetivo do

seu público interno, na busca conjunta de soluções para os desafios organizacionais.

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4.3.1.2 Valorizações da diversidade

Em um mundo em contínuo processo de globalização, o respeito e a valorização da

diversidade passa a representar um valor estratégico para as empresas que procuram se destacar,

dentro desse novo contexto mundial. Para o Instituto Ethos:

[...]a diversidade representa um princípio básico de cidadania, que visa assegurar a

cada um, condições de pleno desenvolvimento de seus talentos e potencialidades. Ao

mesmo tempo, a prática da diversidade representa a efetivação do direito à diferença,

criando condições e ambientes em que as pessoas possam agir em conformidade com

seus valores individuais (ETHOS, 2015).

Dentro dessa perspectiva, percebe-se da análise das falas dos gestores da empresa

pesquisada, que embora não operacionalizem uma política formal em relação a diversidade, a

não discriminação e a promoção da igualdade social, são sensíveis a essa questão e procuram

deixar claro que na hora da contratação de um funcionário, a competência para o cargo é o fator

preponderante, não havendo preconceitos quanto aos diferentes aspectos da diversidade.

Neste sentido, destaca-se os seguintes trechos das entrevistas: G 1 “Em relação aos

funcionários se você pode observar aqui não só trabalha loura, não só trabalha morena, tem uma

diversidade. O candidato é avaliado pelo currículo, pela capacidade, essas questões como a

orientação sexual, a cor da pele, nunca foi levada em conta não” e G 3 “A gente aqui tem uma

política de eficiência, então o nosso funcionário...não é considerado cor, raça, porque raça não

existe, o que importa é a eficiência”. Quanto aos funcionários, estes, indo ao encontro das

percepções dos gestores entendem não haver uma política formal no tocante as questões

envolvendo a diversidade ao mesmo tempo em que relatam não notarem discriminações por

parte da gerência na efetivação de suas contratações, sendo a competência para o cargo,

ressaltada como requisito para a contratação. F 2 “Não há rejeição, mais não existe uma política

formalizada não”; F “Bem uma política bem direcionada não tem. Mas eu não noto

desigualdade nas contratações”; F 7 “Se tem capacidade contrata não tem essas coisas, é mais

pela capacitação”.

Para o Instituto Ethos as questões relacionadas a diversidade devem ser encaradas pelas

empresas como quesito fundamental do seu compromisso social e estão contempladas nos

indicadores 11 – Valorização da Diversidade, 12 – Compromisso com a Não-Discriminação e

Promoção da Equidade Racial e 13 – Compromisso com a Promoção da Equidade de Gênero

(ETHOS, 2013). Do que foi exposto, desprende-se que embora não exista uma política formal,

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documentada, de contratação de funcionários levando-se em consideração a valorização da

diversidade, a empresa, no momento da contratação pauta-se pela meritocracia, fato este, que

junto com a percepção da não discriminação, levando-se em consideração os diversos aspectos

relacionadas a diversidade é percebido e valorizado pelos funcionários.

4.3.1.3 Saúde, segurança e condições de trabalho

Quando inqueridos sobre que ações relacionadas a saúde, segurança e condições de

trabalhos são desenvolvidas pela empresa, destinadas aos funcionários, os gestores relatam

que a empresa tem ações que procuram cumprir as determinações legais oriundas do Ministério

do Trabalho, além de proporcionar um plano de saúde e promover a realização de palestras

relacionadas a primeiros socorros. Apesar dessas ações de RSE desenvolvidas em resposta às

demandas legais, o que percebe-se na análise dos discursos desses gestores, é que a empresa

pesquisada ainda não dispõe de uma política institucionalizada direcionada ao seu público

interno, que contemple esse importante aspecto da RSE, como pode-se perceber nas seguintes

falas: G 1 “[...] Mais não existe hoje algo documentado, bonitinho, que tenha essa preocupação,

até porque são recepcionistas, são ASGs... recepcionistas ficam muito tempo sentada,

digitando”, G 2 “Geralmente a gente trabalha do jeitinho correto né, que tem o Ministério do

Trabalho que vem aqui e exige o PPRA o PPR que são documentos que até sobre isso eles

querem esclarecimento” e G 3 “O Ministério do Trabalho vem sempre aqui e todas as sugestões

do Ministério do Trabalho foram atendidas, com relação a segurança tanto dos funcionários da

limpeza, para usar equipamentos adequados, botas, como na área da recepção fazemos a

prevenção da LER/DORT”. Quando da análise da percepção dos funcionários em torno dessa

temática, apenas 01 entre os 10 que foram entrevistados, se reportou ao benefício do plano de

saúde, sendo que os demais, convergindo para o que foi relatado pelos gestores procuram

destacar que a empresa não desenvolve ações formais relacionados a saúde, segurança e

condições de trabalho salvo aquelas necessárias para cumprir as exigências legais, como pode-

se ver nos seguintes enunciados: F 2 “Tem assim umas palestras que acho que é a Covisa que

exige, tipo assim, primeiros socorros, fora isso nada bem certo, aquilo certo, nada que seja

formal”, F 5 “Preocupações sinceramente não tem, segurança do trabalho não tem” F 10 “O

pessoal da segurança do trabalho, vem e dão palestra é periódico, não tem um calendário assim

especifico não”.

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As questões relacionadas à saúde, à segurança e às condições de trabalho constituem

uma preocupação mundial e foi contemplada com a convenção nº 155 da Organização

Internacional do Trabalho (OIT), de 22 de junho de 1981 que dispõe sobre Segurança e Saúde

dos Trabalhadores e o Meio Ambiente de Trabalho. Em 2007, a Organização Mundial de Saúde

(OMS) aprovou o “Plano de Ação Mundial sobre a Saúde dos Trabalhadores”, que reforça a

necessidade de seus membros formularem uma política de saúde do trabalhador, considerando

as diretrizes dispostas nessa convenção.

O Brasil, enquanto estado membro da Organização das Nações Unidas, e signatário

dessa convenção, instituiu através do Decreto nº 7.602 de 7 de novembro de 2011, o Plano

Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho que tem por objetivos a promoção da saúde e a

melhoria da qualidade de vida do trabalhador e a prevenção de acidentes e de danos à saúde

advindos, relacionados ao trabalho ou que ocorram no curso dele, por meio da eliminação ou

redução dos riscos nos ambientes de trabalho. Como importante aspecto da RSE direcionada ao

público interno a preocupação com a saúde, segurança e condições de trabalho é contemplada

na 2º diretriz do documento Ethos/Sebrae (2003) Responsabilidade Social Empresarial para

Micro e Pequenas Empresas – Passo a Passo, bem como Indicador 16 – Cuidados com a saúde,

segurança e condições de Trabalhos dos Indicadores Ethos de Responsabilidade Social

Empresarial (BRASIL, 2015; ETHOS, 2013).

De acordo com o que foi abordado, a empresa pesquisada, desenvolve ações de RSE

relacionadas à saúde, segurança e condições de trabalho, direcionadas a seus funcionários,

entretanto não avança em ações proativas, permanecendo em um estado de reatividade às

exigências oriundas da vasta legislação nacional, que trata da saúde, segurança e qualidade de

vida no trabalho.

4.3.1.4 Desenvolvimento e capacitação

Quando questionados quanto a ações de RSE envolvendo o desenvolvimento e a

capacitação dos funcionários, percebe-se que a empresa pesquisada ainda não despertou para a

importância dessa ferramenta de gestão como pode-se inferir das seguintes falas: G 1 “Não, já

se falou muito sobre isso, mais só ficou no papel. Eu acredito particularmente que em primeiro

lugar seria uma benfeitoria para a empresa’ G 3 “Podíamos usar o Sebrae mas até agora está só

no projeto”. Quanto aos funcionários há uma convergência de percepção com os gestores pois,

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esses são unanimes em afirmar que a empresa onde trabalham não desenvolve uma política

direcionada ao desenvolvimento e capacitação do seu público interno.

A preocupação com uma política de desenvolvimento e capacitação de recursos

humanos encontra-se contemplada nos questionamentos do indicador 17 – Compromisso com

o Desenvolvimento Profissional e a Empregabilidade, dos Indicadores Ethos, demonstrando a

importância dessas ações, para as empresas, que na busca de alinhamento com os pressupostos

da responsabilidade social, não se limitam a cumprir a legislação trabalhista, e investem no

desenvolvimento, capacitação pessoal e profissional, alinhando seus interesses aos dos seus

funcionários.

4.3.1.5 Ações de RSE direcionadas a família do funcionário

Desprende-se da análise dos discursos de gestores e funcionários que a empresa

pesquisada ressente-se de uma política formal de maior amplitude direcionada às famílias de

seus funcionários, sendo a inclusão dos filhos como benificiários do plano de saúde a única

ação detectada nesse espectro da RSE, ficando claro, contudo na fala dos gestores uma

preocupação restrita ao cumprimento das obrigações legais, como sintetizado no comentário de

G 3, “No plano de saúde você inclui alguns dependentes, esse é o único benefício que eu

conheço. Tudo o que a legislação manda a gente faz rigorosamente”. Como no tópico anterior,

há em relação a essa temática uma convergência entre as falas dos gestores e funcionários como

pode-se deduzir das seguintes opiniões: F 1 “Se pra gente já tá difícil então pra os nossos

familiares...” e F 10 “O que eles têm é assim, para os familiares é um plano de saúde”.

4.3.1.6 Outras ações de RSE direcionadas ao público interno

Quando solicitados a se reportarem de maneira aberta sobre se percebiam alguma prática

de RSE direcionadas ao público interno além daquelas já tratadas até então na entrevista,

percebe-se que o Gestor 1 está consciente da ausência de uma política formal direcionada à

práticas socialmente responsáveis por parte da empresa onde trabalha, embora perceba

realizações pontuais e demonstre esperança de que a empresa caminhe no sentido de implantar

essas ações como pode-se ver do seguinte trecho de sua fala:

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Na minha opinião particular, eu creio que se poderia fazer mais porque hoje a empresa

é um referencial aqui na zona norte muito conhecida, bem respeitada, tem um certo

tempo no mercado. Talvez essa pesquisa possa abrir os olhos dos sócios mas eu

acredito que o que está tendo hoje ainda é pouco, poderia ser mais, eu acredito que ela

tem condições para isso (G 1).

Ainda dentro dessa temática, chama a atenção a preocupação dos gerentes com a questão

do cumprimento das obrigações legais da instituição para com os seus funcionários, sintetizada

na fala de G 3 “A gente cumpre a legislação, cumpre a legislação do tribunal do trabalho, não

existe nada em atraso, obrigações sociais nada, todas elas com relação aos funcionários... se

cumpre a legislação”. Quando instigados a se reportarem também de maneira aberta em torno

das ações de responsabilidade social praticadas pela empresa onde trabalham, os funcionários

deixam transparecer nos seus discursos que os gestores da empresa de certa forma não estão

atentos para a importância do desenvolvimento e implantação de um programa de ações e

práticas de RSE destinada ao seu público interno como pode-se perceber da fala de F 2 “Eles

não têm uma visão disso ai, desde que estou aqui dentro é sempre a mesma coisa”.

Percebe-se, portanto, das falas de gestores e funcionários, que estes têm conhecimento

de aspectos relativos a importância de ações de responsabilidade social direcionada ao público

interno, ao mesmo tempo fica evidente que a empresa pesquisada encontra-se em um estágio

básico de RSE, caracterizado por reatividade as exigências legais.

4.3.2 Ações de responsabilidade social empresarial direcionada ao público interno –

Percepção dos clientes

Nas entrevistas realizadas com os clientes em torno da temática público interno, foram

abordados aspectos da RSE relacionados a diversidade, saúde, segurança e condições de

trabalho. Abordando a questão da diversidade estes demonstram perceber que a empresa

pesquisada não adota políticas discriminatórias no que tange à questão da diversidade no

momento da contratação de seus funcionários como pode-se desprender dos seguintes

enunciados: C 5 “Não tem discriminação. No meu ponto de vista não tem”, C 7 “Percebi que

há uma diversidade de etnia, cor, aqui é bem complexo, graças a Deus” C 11 “Eu acho que não

há discriminação em relação as contratações, porque assim, tá mesclado, tá misto tem tanto

jovens, como pessoas mais experientes” C 13 “Assim eu vejo muito essa diversidade pelas

cores, tem umas meninas morenas umas meninas mais...umas pessoas de mais idade, existe

assim uma certa diferença entre elas de raça, de cor, uma diversidade”.

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Na abordagem do tema saúde, segurança e condições de trabalho, 01 dentre os 14

clientes entrevistados percebeu que a empresa destina um plano de saúde para os seus

funcionários e 11 desses clientes convergiram na assertiva de que a empresa oferece boas

condições de trabalho aos seus funcionários como pode-se de verificar nas seguintes falas: C 1

“As cadeiras, que isso conta muito, a recepção, a postura delas. Estão adequadas... e algumas

empresas relaxam muito nessa parte”, C 3 “A gente sente que eles se preocupam, existe uma

preocupação de aumentar as condições de trabalho, independente de cargo, desde a

coordenação, recepcionista, até a limpeza”, C 4 “Pelo que eu vejo ali na recepção eles têm

computadores essas coisas assim” e C 8” Achei as condições de trabalho adequadas pois eu

trabalho em recepção e entendo”.

Quanto a segurança do trabalho todos aqueles que de uma forma ou de outra falaram

sobre este tema, desviaram o foco para a questão da segurança no trabalho. Pode-se supor que

isso ocorra devido a uma percepção de falhas no sistema de segurança pública. C3 “O pessoal

aqui se preocupa muito com a segurança, aqui fechava as 20hs agora fecha as 19hs, prá diminuir

assaltos para os funcionários”, C 9 “Acho que a segurança melhorou mais ali na frente, porque

as vezes a gente saia de noite e tava tendo muito assalto lá na frente”.

A seguir, o Quadro 9, com a síntese, da análise das entrevistas que teve como objetivo

identificar ações e programas de RSE desenvolvidas pela empresa, direcionadas ao seu público

interno.

Quadro 9 – Principais resultados encontrados – Público interno CATEGORIA – PÚBLICO INTERNO

Entrevistados GESTORES FUNCIONÁRIOS CLIENTES

Subcategorias

Mecanismos de

participação

Não há política formal.

Reuniões pontuais por

setores ou individuais.

Aplicação de

questionários não

identificados.

Sete funcionários

relatam que embora

pontuais existem

reuniões. Três

funcionários relatam

não haver reuniões.

Não se aplica.

Valorizações da

diversidade

Não há política formal.

A competência para o

cargo é o fator

preponderante no

momento da

contratação.

Não percebem a

existência de uma

política formal.

Ressaltam a

capacitação para o

cargo como fator

preponderante na

contratação.

Percebem que a

empresa não pratica

políticas

discriminatórias em

relação a aspetos da

diversidade como

etnia, idade, gênero e

orientação sexual.

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Saúde, segurança e

condições de trabalho

Ações pontuais.

Plano de saúde

Palestras sobre

primeiros socorros.

Preocupação em

cumprir as exigências

legais.

A segurança

proporcionada pela

instituição visando

coibir a ocorrência de

assaltos se sobrepôs ao

tema segurança do

trabalho.

Ausência de uma

política formal.

Plano de saúde.

Palestras sobre

primeiros socorros.

Objetivo de cumprir as

exigências legais.

Plano de saúde.

Condições de trabalho

adequadas.

Não há uma percepção

quanto a segurança do

trabalho e sim quanto a

questões de segurança

privada da instituição

visando evitar a

ocorrência de assaltos.

Desenvolvimento e

capacitação

Relatam não haver

ações relacionadas ao

desenvolvimento e

capacitação.

Relatam não haver

ações relacionadas ao

desenvolvimento e

capacitação.

Não se aplica.

Ações de RSE

direcionadas a família

do funcionário.

Restringe-se a cumprir

as obrigações legais.

Plano de saúde para os

dependentes

Percebem unicamente

a questão do plano de

saúde para os

dependentes.

Não se aplica.

Fonte: Elaborado pelo autor (2015).

Em síntese a análise do tema RSE e público interno demonstra que tanto gestores

quanto funcionários percebem uma carência de políticas formais de responsabilidade social da

empresa para o seu público interno, que limita-se, salvo algumas ações pontuais, ao

cumprimento da legislação trabalhista. Quanto aos clientes estes percebem aspectos da

diversidade e não discriminação no quadro de funcionários da empresa pesquisada bem como,

que esta proporciona condições de trabalho adequadas aos seus funcionários.

Com o intuito de facilitar a compreensão dos resultados encontrados na análise do

conteúdo dos dados coletados elaborou-se o Quadro 10, síntese dos quadros 7, 8 e 9 que em

última análise representa o resultado final deste trabalho.

Quadro 10 – Síntese final dos principais resultados encontrados ENTREVISTADOS GESTORES FUNCIONÁRIOS CLIENTES

CATEGORIAS

MEIO AMBIENTE Percebem a responsabilidade

ambiental e a qualidade

ambiental com foco na questão

dos resíduos. Relatam que a

empresa não participa de

projetos de proteção ambiental,

não tem políticas formais para o

consumo consciente, não possui

Percebem a responsabilidade

ambiental e a qualidade

ambiental com foco na questão

dos resíduos. Se reportam a

reciclagem, coleta seletiva,

arborização, melhora da

qualidade do ar e prestação de

serviços à comunidade.

Percebem que a

empresa tem

responsabilidade

com o meio

ambiente.

Percebem que a

empresa tem

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certificação ambiental e não tem

políticas destinadas a coleta

seletiva e a reciclagem. Relatam

a existência de um PGRSS e que

separam o lixo hospitalar do

lixo comum

Percebem a ausência de projetos

de proteção ambiental, ações e

programas de consumo

consciente, ações relacionadas a

coleta seletiva e reciclagem e a

ausência de certificação

ambiental.

Percebem a existência de um

PGRSS e a separação do lixo

hospitalar do lixo comum.

preocupação com a

qualidade ambiental.

Foco na questão dos

resíduos.

Preocupação em

cumprir as

obrigações legais.

COMUNIDADE

DE ENTORNO

Não recebe reclamações

oriundas de pessoas da

comunidade. Percebem a

necessidade de uma interação da

empresa com a comunidade de

entorno. A empresa não

desenvolve ações de

relacionamento com a

comunidade, não desenvolve

projeto social próprio, não

desenvolve campanhas

educacionais e/ou de interesse

público e não desenvolve nem

estimula o trabalho voluntário

Não recebe reclamações

oriundas de pessoas da

comunidade. A empresa não

desenvolve ações de

relacionamento com a

comunidade. Não têm

conhecimento e ou não

percebem que a empresa tenha

algum projeto social próprio.

Não desenvolve campanhas

educacionais e/ou de interesse

público e não desenvolve nem

estimula o trabalho voluntário.

Desconhecem ou não

percebem a

existência de ações

de RSE da empresa

em parceria com

organizações da

comunidade bem

como que a empresa

desenvolva projetos

sociais próprios.

PÚBLICO

INTERNO Ausência de mecanismos

formais de participação.

Presença de reuniões pontuais e

aplicação de questionários não

identificados. Percebem a

questão da diversidade e a não-

discriminação.

Valorização da competência.

Palestras sobre primeiros

socorros. Cumprir as exigências

legais. Ausência de ações

relacionadas ao

desenvolvimento e capacitação.

Plano de saúde para

funcionários e dependentes.

Percebem a carência de ações de

RSE direcionado ao público

interno.

Reuniões como mecanismo de

participação citadas por 07

funcionários. Percebem a

ausência de uma política formal

em relação a questões como

diversidade, saúde segurança e

condições de trabalho,

desenvolvimento, capacitação e

família. Percebem a não-

discriminação nas contratações

e a diversidade no quadro de

funcionários.

Cumprir exigências legais.

Plano de saúde.

Ressentem-se de um olhar mais

atento da gerência para a

implementação de ações de

RSE.

Percebem que a

empresa não pratica

políticas

discriminatórias em

relação a aspetos da

diversidade como

etnia, idade, gênero e

orientação sexual.

Plano de saúde.

Condições de

trabalho adequadas.

Fonte: Elaborado pelo autor (2015).

Os resultados das percepções de gestores, funcionários e clientes no que diz respeito a

RSE e sua temática ambiental, convergem, e encontram-se em consonância com os conceitos

propagados pelo Instituto Ethos, conceitos estes que serviram de suporte para a análise dos

dados desta pesquisa. Tanto gestores como funcionários e clientes demonstram que entendem

a existência de uma responsabilidade empresarial em relação a questão ambiental, contudo, a

percepção dos gestores e clientes, encontra-se focada na problemática do correto manejo dos

resíduos, enquanto os funcionários além dessa questão, destacam outros importantes aspectos

da responsabilidade ambiental das empresas como a reciclagem, coleta seletiva, ações para a

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comunidade, arborização e preservação da qualidade do ar. Ainda dentro da questão ambiental

gestores e funcionários relatam que a empresa onde trabalham não participa de projetos de

proteção ambiental, não tem políticas formais para o consumo consciente, coleta seletiva e

reciclagem. Tanto gestores como funcionários e clientes procuram deixar claro, que percebem,

a preocupação da empresa com o cumprimento das exigências legais no tocante a questão

ambiental.

Desprende-se da análise do tema comunidade que os gestores percebem a necessidade

de uma maior interação da empresa com a comunidade onde está localizada, e que procuram

realizar ações pontuais nessa direção, no entanto essa percepção ainda não se transformou em

ações institucionalizadas, pois tanto esses gestores como funcionários, relatam que a empresa

não desenvolve ações de relacionamento com a comunidade, não desenvolve projeto social

próprio, não desenvolve campanhas educacionais e ou de interesse público e não promove o

trabalho voluntário. A percepção dos clientes quanto a essa temática converge na direção do

que foi relatado por gerentes e funcionários. Do que foi exposto pode-se inferir que a empresa

pesquisada encontra-se em um processo preliminar de conscientização quanto a esses aspectos

da RSE.

Em relação as ações de RSE direcionadas para o público interno os resultados apontam

que tanto gestores como funcionários e clientes percebem que a empresa não pratica ações

discriminatórias relativas a diversidade. A participação dos funcionários nos processos

decisórios e de gestão da empresa ainda é incipiente, mas presente, e realizado através de

reuniões e aplicação de questionários não identificados, fato relatado pelos gestores e percebido

por uma parcela significativa dos funcionários. Apesar da empresa desenvolver algumas ações

pontuais, não indo muito além do cumprimento das exigências legais, os gestores deixam

entender que percebem a carência de ações de RSE destinada ao seu público interno ao mesmo

tempo em que os funcionários deixam transparecer que ressentem-se dessas ações. Quanto aos

clientes, estes destacam as adequadas condições de trabalho proporcionada pela empresa aos

seus funcionários.

Por fim, os resultados deste trabalho demonstram que gestores, funcionários e clientes

percebem que existe uma responsabilidade social das empresas com o meio ambiente, com a

comunidade de entorno e com o público interno ao mesmo tempo que deixam evidente, a partir

de suas falas, que a empresa pesquisada encontra-se em um estágio preliminar de

conscientização em relação a RSE. Depreende-se ainda que a empresa pesquisada encontra-se

em um processo evolutivo de conscientização em torno dos pressupostos da RSE, estando em

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um momento de transição de um estágio básico, que caracteriza-se por ações e práticas de RSE

reativas as exigências legais, para um estágio intermediário onde embora mantendo uma postura

defensiva, já começa e encaminhar mudanças e avanços em relação à conformidade de suas

práticas.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo verificar o atual estágio de engajamento com a

Responsabilidade Social Empresarial, de uma empresa prestadora de serviços privados de

saúde, localizada na Zona Norte, da cidade do Natal/RN, por meio da percepção de gestores,

funcionários e clientes. As categorias de análise envolveram os temas meio ambiente,

comunidade de entorno e público interno. Como embasamento teórico para a consecução deste

trabalho buscou-se estudar a evolução histórica do conceito de RSE, seus principais modelos

explicativos e a penetração do conceito no meio empresarial brasileiro.

Na atualidade, os pressupostos da RSE permeiam o tecido social, fato este, decorrente

de uma ampla divulgação desse tema nas mais variadas formas de mídias como TV, jornais e

revistas, nas suas formas impressas e ou eletrônicas, com divulgação por meio de seus sites na

internet. Os resultados dessa pesquisa demonstraram que, gestores, funcionários e clientes da

instituição pesquisada, percebem, que existe uma responsabilidade das empresas para com o

meio ambiente, estando, essa percepção focada no adequado manejo dos resíduos/lixo, desde a

sua geração, até o seu destino final.

Muito embora, as práticas de RSE direcionadas ao meio ambiente sejam hoje adotadas

nos atuais modelos de gestão empresarial, a empresa pesquisada ressente-se dessa ferramenta

de gestão que, em última análise, propicia um marketing positivo e um diferencial, que, nesses

dias de acirrada competitividade empresarial não podem ser menosprezados. O comentário tem

como base os dizeres de gestores, funcionários e clientes que relatam a ausência e ou

desconhecem que a empresa participe de projetos de proteção ambiental, consumo consciente,

coleta seletiva, reciclagem ou que possua alguma documentação de certificação ambiental. A

afirmação por parte dos gestores da existência de um Plano de Gerenciamento de Resíduos de

Saúde (PGRSS), e a percepção dos funcionários da existência desse plano, prende-se como

deixam transparecer, à área de atuação da empresa e ao cumprimento das exigências legais.

A participação da empresa em ações proativas direcionadas à comunidade de entorno,

tanto de forma isolada, quanto em associação com organizações governamentais e não

governamentais, é uma importante premissa da RSE. Apesar de procurarem salientar que a

empresa tem uma grande aceitação por parte da comunidade onde encontra-se inserida , não

havendo relatos de reclamações em virtude de qualquer tipo de transtorno decorrente do seu

funcionamento, as respostas de gestores e funcionários, às questões envolvendo essa temática,

convergem no sentido de exporem que a empresa desenvolve ações pontuais de RSE , não

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existindo portanto o desenvolvimento institucionalizado de ações de relacionamento com a

comunidade, campanhas educacionais e ou de interesse público e estímulo ao trabalho

voluntário. Indo na direção do que relataram gestores e funcionários, os clientes entrevistados

deixam transparecer que desconhecem e ou não percebem ações de RSE própria da empresa

ou em parceria com instituições da comunidade de entorno.

Tendo como pressuposto o fato de que a valorização do público interno é uma

importante ação de RSE, capaz de dotar a empresa que institui essas práticas de um diferencial

competitivo, fica claro, da análise das entrevistas, que a empresa pesquisada ainda se encontra

em um estágio preliminar de envolvimento com essas questões. Gestores e funcionários

percebem ações pontuais de RSE direcionadas pela empresa para o seu público interno, além

daquelas que objetivam ao estrito cumprimento das obrigações legais, porém fica evidente, que

a empresa não tem institucionalizada, ações que contemplem questões relacionadas à saúde e

segurança do trabalho, valorização da diversidade, gestão participativa, bem como um plano

de desenvolvimento e capacitação direcionado a esses stakerholders. Quanto aos clientes, estes

conseguem intuir através do contato com a empresa, que esta disponibiliza um plano de saúde

para os seus funcionários e não adota políticas discriminatórias em relação aos mais diversos

aspectos da diversidade.

Na atualidade, o processo de globalização avança sobre as diversas sociedades e impõe

um alto padrão de competitividade às organizações, que necessitam administrar seus negócios

com o pensamento voltado para à responsabilidade social e à sustentabilidade ambiental,

aceitando as diretrizes da RSE como objetivos intrínsecos a gestão empresarial.

Nesse contexto, este trabalho demonstra que gestores, funcionários e clientes da

empresa pesquisada, percebem que existe uma responsabilidade social e ambiental por parte da

empresa, ao mesmo tempo deixam evidente, a partir de seus discursos, que a empresa

pesquisada encontra-se em um estágio preliminar de conscientização em relação a RSE e seus

pressupostos.

Desse modo, foi possível verificar neste estudo, o atual estágio de engajamento da

empresa pesquisada com os princípios da RSE, a partir da percepção dos gestores, funcionários

e clientes, levando-se em consideração alguns aspectos dos temas Meio Ambiente, Comunidade

e Público Interno como proposto nos Indicadores Ethos de Responsabilidade Social

Empresarial na sua versão 2013.

Por meio da análise dos dados das entrevistas de gestores, funcionários e clientes, fica

evidente que a empresa, encontra-se em um estágio preliminar de engajamento com os

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princípios da RSE, no qual, ações e práticas discricionárias não fazem parte dos objetivos

explícitos de gestão. O que evidencia-se da percepção dos diversos agentes entrevistados é que

a empresa desenvolve ações pontuais relacionadas a responsabilidade discricionária e

demonstra preocupação com questões éticas e com o cumprimento das suas obrigações legais.

Tendo como modelo os Indicadores Ethos, pode-se inferir que a empresa pesquisada,

encontra-se em um processo de transição de um estágio básico de engajamento com os

princípios da RSE, que caracteriza-se por ações e práticas reativas às exigências legais, para um

estágio intermediário no qual, mantem uma postura defensiva sobre os mais variados aspectos

da RSE, no entanto, começa avançar em ações e práticas que vão além dessas exigências.

Como limitação da pesquisa, é válido apontar o fato de que, por motivos de

disponibilidade, dentre os sócios proprietários da empresa, apenas aquele que exercia a função

de Sócio Gestor, no período em que foram realizadas as entrevistas, participou deste estudo.

Dada a limitação característica à pesquisa qualitativa de não permitir inferências do tipo

estatístico, sugere-se que trabalhos semelhantes a este, sejam realizados em outros

estabelecimentos de saúde do mesmo porte, com o objetivo de se estabelecer através da

comparação dos resultados, um perfil do engajamento desse setor da economia com as ações e

práticas de RSE.

Este estudo contribui para a produção de conhecimento em Ciências da Gestão, e para

um despertar da instituição pesquisada para a importância de se avançar na implementação de

ações e programas de RSE, que proporcionem uma melhoria da qualidade de vida da

comunidade na qual encontra-se inserida, bem como, traz contribuições como fonte de

pesquisa e dados para outros trabalhos acadêmicos.

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APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA COM GESTORES E FUNCIONÁRIOS

UNIVERSIDADE POTIGUAR – UnP

PRÓ-REITORIA ACADÊMICA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO – PPGA

MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO

Questões Norteadoras da Entrevista

Gestores/Funcionários

Tema: Meio ambiente.

1 – O que você entende por responsabilidade ambiental das empresas?

2 – Existe na empresa uma política de compromisso com a qualidade ambiental? Se sim,

poderia descrevê-la?

3- A empresa participa de projetos de proteção ambiental? Se positivo poderia descrevê-los?

4– A empresa desenvolve campanhas internas de educação para o consumo consciente de

água, energia e outros insumos?

5 – A empresa possui um Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde

(PGRSS)?

6– A empresa possui alguma certificação ambiental? Qual?

Tema: Comunidade.

7 – A empresa possui uma política de relacionamento com a comunidade onde está

localizada?

8 – A empresa desenvolve em conjunto com organizações da comunidade campanhas

educacionais e/ou de interesse público?

9– A empresa desenvolve algum projeto social próprio?

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10 – Em algum momento você presenciou reclamações da comunidade relacionadas aso

seguintes motivos: a) excesso de lixo ou outras formas de poluição; b) transtorno causado

pelo excesso de tráfego de veículos e c) outros motivos?

11– A empresa estimula a participação de seus funcionários em trabalho voluntário?

Tema: Público interno.

12 - Existe na empresa, mecanismos para a participação dos funcionários com sugestões e

críticas? Se sim essas sugestões e/ou críticas são geralmente acatadas?

13 – Você tem conhecimento se a empresa possui politicas direcionadas a valorização da

diversidade e não discriminação e promoção da equidade racial?

14 – A empresa desenvolve ações relacionadas à saúde, segurança e condições de trabalho de

seus funcionários? Se sim, poderia falar sobre essas ações?

15– A empresa tem uma politica de desenvolvimento e capacitação direcionada aos seus

funcionários? Comente?

16 – A empresa oferece algum benefício social direcionado as famílias dos funcionários?

17 – A empresa possui ações de RSE direcionadas aso seus funcionários e que não foram

contempladas nas perguntas anteriores? Se sim, poderia falar sobre essas ações?

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APÊNDICE B – ROTEIRO DE ENTREVISTA COM OS CLIENTES

UNIVERSIDADE POTIGUAR – UnP

PRÓ-REITORIA ACADÊMICA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO – PPGA

MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO

Questões Norteadoras da Entrevista

Clientes

Tema: Meio ambiente

1- O que você entende por responsabilidade ambiental da empresa?

2 - Durante o seu contato com esta empresa (Clínica), você percebeu alguma forma de

compromisso da mesma com a qualidade ambiental? Se sim, poderia discorrer sobre o que foi

percebido?

Tema: Comunidade

3 - Você conhece alguma ação social desenvolvida por esta empresa em parceria com

organizações da comunidade? Se sim, poderia descrevê-la?

4 - Você tem conhecimento de algum projeto social próprio da empresa? Se sim, poderia

descrevê-lo?

Tema: Público interno

5 - Em seu contato com esta empresa, você percebeu no que se refere ao seu quadro de

funcionários, uma política de valorização da diversidade, da não discriminação e da promoção

da igualdade racial?

6 - Você conseguiu perceber algum tipo de preocupação desta empresa em relação à saúde,

segurança e condições de trabalho de seus funcionários? Poderia comentar?

7 - Além do que já foi perguntado, você conseguiu identificar alguma outra forma de ação de

responsabilidade social, direcionada pela empresa aos seus funcionários