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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE Centro de Ciências Sociais e Aplicadas Programa de Pós-Graduação em Administração de Empresas Marineide de Oliveira Aranha Neto Compreendendo a dinâmica de inclusão e/ou exclusão de alunos bolsistas do ProUni São Paulo 2014

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

Centro de Ciências Sociais e Aplicadas

Programa de Pós-Graduação em Administração de Empresas

Marineide de Oliveira Aranha Neto

Compreendendo a dinâmica de inclusão e/ou exclusão de alunos

bolsistas do ProUni

São Paulo

2014

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Marineide de Oliveira Aranha Neto

Compreendendo a dinâmica de inclusão e/ou exclusão de alunos

bolsistas do ProUni

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Administração de Empresas da

Universidade Presbiteriana Mackenzie como

requisito parcial para a obtenção do título de Mestre

em Administração de Empresas.

Orientadora: Profa. Dra. Darcy Mitiko Mori Hanashiro

SÃO PAULO

2014

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A662c Aranha Neto, Marineide de Oliveira

Compreendendo a dinâmica de inclusão e/ou exclusão de

alunos bolsistas do ProUni / Marineide de Oliveira Aranha

Neto - 2015.

187f.: il., 30 cm

Dissertação (Mestrado em Administração de Empresas) –

Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2015.

Orientação: Profª. Drª. Darcy Mitiko Mori Hanashiro

Bibliografia: f. 169-180

1. ProUni. 2. Diversidade. 3. Inclusão. 4. Identidade social.

5. Preconceito. I. Título.

CDD 302.35

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Reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie

Prof. Dr. Benedito Guimarães Aguiar Neto

Decano de Pesquisa e Pós-Graduação

Profa. Dra. Helena Bonito Couto Pereira

Coordenadora Geral de Pós-Graduação Stricto Sensu

Profa. Dra. Angélica Tanus Benatti Alvim

Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Administração de Empresas

Prof. Dr. Walter Bataglia

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Ao meu esposo Carlos Eduardo, aos meus filhos Cadu,

Gustavo e Flávia, e minha nova filha Gabriela,

pessoas que me apoiaram nessa longa jornada e

compreenderam minha necessária ausência.

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Embora o Senhor vos dê pão de angústia e água

de aflição, contudo, não se esconderão mais os teus

mestres; os teus olhos verão os teus mestres.

Bíblia Sagrada, Isaías 30:20

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AGRADECIMENTOS

A Deus eterno e imortal, invisível mas real a minha maior gratidão, pela sabedoria e

força, pela direção e, principalmente, por me incluir em sua família e dispensar sobre mim

todo favor e bondade, conduzindo minha vida e ajudando-me a alcançar meus objetivos e a

realizar meus sonhos.

À Profª. Dra. Darcy Mitiko Mori Hanashiro por conceder-me a honra de tê-la como

minha orientadora, por sua postura séria e profissional, por compartilhar seu extenso

conhecimento, por desafiar-me quando necessário e conter minhas angústias quando estas me

pareceram maiores do que a minha capacidade.

À banca examinadora, Profª. Dra. Patrícia Tuma Martins Bertolin e Prof. Dr. Luiz

Alex Silva Saraiva pelas contribuições feitas no Exame de Qualificação.

Às professoras Dra. Maria Luisa Mendes Teixeira e Dra. Silvia Marcia Russi de

Domenico pelas orientações e considerações emitidas durante os seminários de pesquisa.

Aos sujeitos de pesquisa pela disponibilidade e contribuição com este trabalho,

permitindo-me uma aproximação de suas vivências.

A todos os meus colegas de curso pela troca de experiências, especialmente à Julia

Kenski e Diogo Reatto, que me apoiaram e incentivaram em sala de aula. À minha amiga

Paula Pamplona de Castro, que trilhou esse mesmo caminho antes de mim, apontou em

vários momentos “o caminho das pedras” e me incentivou desde o início.

Aos meus colegas de trabalho, Márcia Núbia Araújo Vieira, Ricardo Bressan e

Aline Wiezel da Silva Vieira pela paciência, companheirismo e incentivo.

Ao Instituto Presbiteriano Mackenzie, por meio do qual obtive a concessão do

benefício da Bolsa de Mestrado.

De modo especial a Francisco Washington da Silva, Renato de Moraes Santiago,

Elisama Silva e a todos os funcionários da Instituição que me apoiaram durante essa

jornada, forneceram-me informações e orientações necessárias e abriram-me portas que

facilitaram o cumprimento desta proposta de pesquisa.

De modo muito particular agradeço ao amigo Flávio Viola Machado por ter me dado

a palavra certa no momento certo, palavra que fez toda a diferença para que eu chegasse ao

final desta jornada, tão desejada, mas ao mesmo tempo tão desafiadora.

À minha amiga Dra. Marina Moura pelo apoio, orientações e importante

contribuição para que eu pudesse finalizar essa etapa.

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A todos os meus familiares, meu esposo Carlos Eduardo Aranha Neto, meus filhos,

pais e sogros por me incentivarem, me apoiarem e, acima de tudo, por me proporcionarem

acolhimento e sentimento de pertença, dada a importância de termos com quem contar,

principalmente quando nos vemos diante de obstáculos.

Nunca, nunca, nunca desista!

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Dissertações e Teses por ano de publicação ....................................................... 41

Tabela 2: Distribuição da Produção Acadêmica por Regiões ............................................ 42

Tabela 3: Distribuição de teses e dissertações por área de estudo ..................................... 44

Tabela 4: Motivos de encerramentos de matrículas de 2005 a 2012 .................................. 77

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Vagas ofertadas em São Paulo e no Brasil de 2005 a 2013 ............................. 64

Gráfico 2: Vagas ofertadas e ociosas na IES pesquisada ................................................... 76

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Composição dos conteúdos discursivos .............................................................. 127

LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Categorias de Conteúdo ................................................................................... 71

Quadro 2: Perfil geral dos respondentes ........................................................................... 78

Quadro 3: Legenda das siglas dos respondentes ................................................................ 79

Quadro 4: Características pessoais dos respondentes ......................................................... 95

Quadro 5: Similaridades e diferenças “Nós” e “Eles” ........................................................ 128

Quadro 6: Estratégias de autoinclusão dos alunos prounistas ........................................... 149

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BIRD Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento

CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CDES Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social

COFINS Contribuição para Financiamento da Seguridade Social

ENADE Exame Nacional de Desempenho de Estudantes

ENEM Exame Nacional do Ensino Médio

FGV Fundação Getúlio Vargas

FIES Financiamento Estudantil

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDH Índice de Desenvolvimento Humano

IES Instituição de Ensino Superior

IESP Instituição de Ensino Superior Privada

INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira

IPEA Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas

ISS Imposto sobre Serviços

INSS Instituto Nacional de Serviço Social

LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação

MEC Ministério da Educação e Cultura

MP Medida Provisória

OATD Open Access Thesis and Dissertations

PCE Programa de Crédito Educativo

PDE Plano de Desenvolvimento da Educação

PIB Produto Interno Bruto

PIS Programa de Integração Social

PL Projeto de Lei

PNE Plano Nacional de Educação

PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

PPP’s Parceria Público-Privado

PROUNI Programa Universidade para Todos

PUCs Pontifícia Universidade Católicas

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................... 17

2. REFERENCIAL TEÓRICO ......................................................................... 23

2.1 TEORIA DA IDENTIDADE SOCIAL ............................................................ 23

2.2 TEORIA DA AUTOCATEGORIZAÇÃO ....................................................... 28

2.3 ESTEREÓTIPOS, PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO ............................ 30

2.4 DIVERSIDADE E INCLUSÃO/EXCLUSÃO ................................................ 33

2.5 DELINEAMENTO DA PRODUÇÃO ACADÊMICA SOBRE O PROUNI .. 40

2.5.1 Principais enfoques das Pesquisas ................................................................. 42

2.5.2 Principais áreas de Estudo.............................................................................. 44

2.5.3 Pesquisas na área de Educação ...................................................................... 44

2.5.4 Pesquisas na área de Serviço Social .............................................................. 45

2.5.5 Pesquisas na área de Psicologia ..................................................................... 45

2.5.6 Pesquisas na área de Administração ............................................................. 46

2.5.7 Publicações em Periódicos .............................................................................. 48

2.6 A EDUCAÇÃO SUPERIOR – CONTEXTO POLÍTICO, ECONÔMICO E

SOCIAL ........................................................................................................... 50

2.6.1 Breve Cenário das Ações Afirmativas nos Estados Unidos ........................ 51

2.6.2 Ações Afirmativas no Brasil ........................................................................... 53

2.6.3 Cenário Político-Econômico antecedente ao ProUni ................................... 56

2.6.4 Contexto Socioeconômico Brasileiro e a Desigualdade Social .................... 57

2.6.5 Contexto Político-Educacional antecedente ao ProUni ............................... 59

2.7 O PROGRAMA UNIVERSIDADE PARA TODOS – PROUNI .................... 60

2.7.1 Critérios Seletivos............................................................................................ 62

2.7.2 O ProUni em números .................................................................................... 63

2.7.3 Críticas ao Programa ...................................................................................... 64

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS.................................................. 66

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3.1 MÉTODO DE PESQUISA .............................................................................. 66

3.2 TÉCNICA COLETA DE DADOS ................................................................... 67

3.3 SUJEITOS DE PESQUISA .............................................................................. 67

3.4 TÉCNICA DE ANÁLISE DE DADOS ............................................................ 69

3.5 CARACTERIZAÇÃO DA IES ....................................................................... 74

4. RESULTADOS ............................................................................................... 75

4.1. O PROUNI NA IES PESQUISADA ................................................................ 75

4.2 PERFIL DOS RESPONDENTES .................................................................... 77

4.2.1 Alunos prounistas de semestres iniciais ........................................................ 79

4.2.2 Alunos prounistas de semestres finais ........................................................... 80

4.2.3 Alunos não prounistas de semestres iniciais ................................................. 82

4.2.4 Alunos não prounistas de semestres finais ................................................... 82

4.2.5 Professores ....................................................................................................... 83

4.3 ANÁLISE DOS DADOS................................................................................... 83

4.3.1 Categoria: Importância e impacto do ProUni e da IES .............................. 84

4.3.1.1 O ProUni ........................................................................................................... 84

4.3.1.2 A IES ................................................................................................................. 87

4.3.2 Categoria: Quem são eles .............................................................................. 91

4.3.2.1 Contexto Familiar............................................................................................. 92

4.3.2.2 Características Pessoais................................................................................... 94

4.3.2.3 Base Educacional ............................................................................................. 95

4.3.2.4 Escolha da IES ................................................................................................. 96

4.3.2.5 Atividades profissionais .................................................................................... 98

4.3.3 Categoria: Quem eles dizem que são ............................................................. 99

4.3.3.1 Receios ............................................................................................................. 99

4.3.3.2 Identificação/não identificação ........................................................................ 101

4.3.3.3 Revelação voluntária/involuntária .................................................................. 103

4.3.4 Categoria: Obstáculos do Caminho ............................................................. 107

4.3.4.1 Período preparatório ....................................................................................... 107

4.3.4.2 Restrições Materiais ........................................................................................ 108

4.3.5 Categoria: Relações interpessoais ................................................................. 113

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4.3.5.1 Impressões iniciais ........................................................................................... 113

4.3.5.2 Divisão em feudos ............................................................................................ 114

4.3.5.3 Trabalhos em grupo ......................................................................................... 117

4.3.5.4 Grupos de convivência (em sala de aula) ........................................................ 119

4.3.5.5 Grupo de atividades sociais ............................................................................. 121

4.3.6 Categoria: Nós e Eles ..................................................................................... 123

4.3.7 Categoria: Manifestações intergrupais ........................................................ 129

4.3.7.1 Estereótipos....................................................................................................... 129

4.3.7.2 Razões do preconceito ...................................................................................... 130

4.3.7.3 Manifestações de preconceito .......................................................................... 132

4.3.7.4 Discriminação .................................................................................................. 134

4.3.8 Categoria: Experiência de Exclusão ............................................................. 137

4.3.8.1 Comportamentos excludentes e experiências de exclusão ............................... 139

4.3.9 Categoria: Experiência de Inclusão .............................................................. 145

4.3.9.1 Comportamentos inclusivos e experiências de inclusão .................................. 146

4.3.10 Categoria: Professor – Um Agente ............................................................... 152

5. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS .............................................................. 157

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................... 165

REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 169

APÊNDICES ..................................................................................................................... 181

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RESUMO

O ProUni é uma política pública federal e desde que foi institucionalizado, em janeiro de

2005, tem concedido bolsas de estudos integrais e parciais para estudantes de baixa renda em

instituições privadas de ensino superior. Tendo o Programa como objeto de estudo, o objetivo

geral deste trabalho foi o de compreender a dinâmica de inclusão e/ou exclusão do bolsista

ProUni no espaço acadêmico. De modo específicos buscou-se (a) entender as condições

socioeconômicas do aluno prounista; (b) investigar a existência de estereótipos, preconceitos

e discriminação na inclusão/exclusão dos alunos prounistas; (c) verificar as dimensões de

diversidade nas quais os alunos prounistas se reconhecem e são reconhecidos; (d) identificar

as estratégias utilizadas por esses alunos para serem inseridos no grupo; (e) verificar as

percepções do professor acerca dessa dinâmica de inclusão/exclusão e (f) analisar o papel dos

professores junto aos alunos prounistas. Foi realizada uma pesquisa qualitativa interpretativa

básica do tipo descritiva, tendo como sujeitos de pesquisa doze alunos bolsistas do ProUni,

seis alunos não prounistas e quatro professores do curso de Direito de uma mesma

universidade da cidade de São Paulo. Optou-se pela utilização de entrevistas semiestruturadas

e pelo método de análise de conteúdo, sob a perspectiva qualitativa, conforme proposto por

Bardin (2007). A partir análise das entrevistas emergiram dez categorias: (1) Importância e

impacto do ProUni e da IES; (2) Quem são eles; (3) Quem eles dizem que são; (4) Obstáculos

do caminho; (5) Relações interpessoais; (6) Nós e Eles; (7) Manifestações intergrupais; (8)

Experiência de inclusão, (9) Experiência de exclusão e (10) Professor – um agente. Em

função das dissimilaridades percebidas, esses alunos prounistas tornam-se vítimas de

preconceito e discriminação, manifestos principalmente quando da formação de grupos de

trabalho. Os resultados indicaram que as ocorrências de comportamentos desfavoráveis a um

sentimento de inclusão por parte dos alunos não prounistas são mais comuns do que

manifestações de comportamentos inclusivos. A autoinclusão tem sido uma estratégia de

inclusão adotada pelos alunos prounistas, sendo as características pessoais fatores importantes

para percepção de pertencimento ao grupo. Por meio do desempenho superior, esses alunos

conseguem destacarem-se, alcançar posições de prestígio, mobilidade e inclusão social.

Palavras Chaves: ProUni. Diversidade. Inclusão. Identidade social. Preconceito.

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ABSTRACT

ProUni is a Brazilian federal public policy and since it was institutionalized in January 2005,

has awarded full and partial scholarships for low-income students in private institutions of

higher education. Having the program as object of study, the aim of this study was to

understand the dynamics of inclusion and / or exclusion of the ProUni fellow in the academic

space. Specifically we sought to (a) understand the socioeconomic conditions of prounista

student; (b) investigate the existence of stereotypes, prejudice and discrimination in the

inclusion / exclusion of prounistas students; (c) check the dimensions of diversity in which

prounistas students recognize and are recognized; (d) identify the strategies used by these

students to be included in the group; (e) verify the perceptions of teachers about this dynamic

inclusion / exclusion and (f) analyze the role of teachers along with the prounistas students. A

basic interpretive qualitative descriptive research, and as research subject twelve ProUni

fellows, six non-prounistas students and four professors of law from the same university in

the city of São Paulo was held. We opted for the use of semi-structured interviews and the

method of content analysis, the qualitative perspective, as proposed by Bardin (2007). From

analysis of the interviews revealed ten categories: (1) Importance and impact of ProUni and

IES; (2) Who are they; (3) who they say they are; (4) Barriers of the way; (5) interpersonal

relations; (6) Us and Them; (7) Demonstrations intergroup; (8) Experience of inclusion (9)

Experience of exclusion and (10) Teacher - an agent. According to the perceived

dissimilarities, these prounistas students become victims of prejudice and discrimination,

manifest especially when the formation of working groups. The results indicated that the

occurrence of unfavorable behavior to a feeling of inclusion by non-prounistas students are

more common than manifestations of inclusive behaviors. The self-inclusion has been a

strategy of inclusion adopted by prounistas students, and the personal characteristics

important factor for perception of belonging to the group. Through superior performance,

these students can excel yourself, achieve positions of prestige, mobility and social inclusion.

Key-Words: ProUni. Diversity. Inclusion. Social Identity. Prejudice.

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1. INTRODUÇÃO

Apesar de encontrar-se entre as dez maiores economias mundiais, o Brasil

permanece entre as nações com pior distribuição de renda, sendo necessário que políticas

públicas sejam articuladas para que se ofereça uma estratégia de inclusão social

(POCHMANN, 2003). Para Ribeiro (2006), na sociedade contemporânea a educação formal

constitui-se uma das mais importantes vias de mobilidade social, sendo a qualificação

educacional essencial para se alcançar posições de prestígio.

Com origem nos Estados Unidos, ações afirmativas têm sido empregadas a fim de

corrigir ou mitigar os efeitos ainda presentes da discriminação praticada no passado. Estas

têm por objetivo a concretização do ideal de efetiva igualdade de acesso a bens fundamentais,

como a educação e o emprego (GOMES; SILVA, 2001).

De acordo com Lima (2010), a educação superior é o tema que mais mobiliza o

debate público sobre ações afirmativas; extensa produção acadêmica tem sido publicada

discutindo os princípios destas ações, bem como as políticas de cotas nas instituições de

ensino superior público. Políticas de ações afirmativas tomam como base para sua

implementação a extrema desigualdade racial brasileira no acesso ao ensino superior.

Dados acerca do sistema de ensino brasileiro, publicados nas versões de 2008 e 2011

do caderno Retratos das Desigualdades de Gênero e Raça, dão uma dimensão das

desigualdades existentes na educação do país. Constata-se que a média de anos de estudo para

brancos era de 8,4 anos, enquanto que entre os negros era de 6,7 anos, e a escolarização das

mulheres superior à dos homens. Mesmo que no período estudado tenha-se alcançado um

aumento médio de dois pontos percentuais no nível de escolaridade e as taxas de

analfabetismo tenham sido diminuídas, a redução das desigualdades ocorre de forma lenta.

A inclusão social figura como um dos eixos estratégicos da política educacional do

Ministério da Educação e Cultura (MEC), e a propagação da existência de uma educação

inclusiva no país vem sendo difundida nas campanhas de marketing utilizadas pelo Governo

Federal. Moehlecke (2009) chama a atenção para o slogan “Brasil, um país de todos”, que

serviu de marca de governo, e que, para o setor educacional, ganhou versões tais como

“Educação para todos” e "Todos juntos para democratizar a educação", que tentam transmitir

essa mensagem.

Regulamentado por Medida Provisória em 2004 e institucionalizado pela Lei nº

11.096 de 13 de Janeiro de 2005, o Programa Universidade para Todos (ProUni) foi criado

com o objetivo de possibilitar o acesso de jovens de baixa renda ao convívio acadêmico e à

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formação universitária. Estabelecido com a proposta de oferecer bolsas de graduação,

integrais ou parciais, para alunos que tenham estudado em escolas públicas ou em escolas

privadas na condição de bolsistas integral e que se enquadrem no critério de renda per capta

familiar, o programa também estipula obrigatoriedade que parte das bolsas seja direcionada a

ações afirmativas, por meio de cotas para portadores de deficiência, negros e indígenas.

Desde sua criação até o processo seletivo do primeiro semestre de 2013, o programa

já atendeu mais de 1,2 milhão de estudantes, sendo 68% com bolsas integrais (PROUNI,

2013).

Com base no número de estudantes atendidos desde seu lançamento, Lima (2010)

afirma que, em termos redistributivos, o ProUni é a política afirmativa de maior impacto

social. Seguindo uma tendência crescente, o número de vagas ofertadas já foi praticamente

dobrado desde seu lançamento, em 2005. No ano de 2013 foram ofertadas 252.374 bolsas

integrais e parciais (MEC, 2013).

Ao longo dos nove anos transcorridos desde o lançamento do programa ProUni,

muitos outros trabalhos têm se voltado para o tema, em diferentes áreas do saber e por

diferentes lentes teóricas. Uma revisão nos bancos de teses e dissertações da Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e da Open Access Thesis and

Dissertations (OATD), utilizando o verbete “ProUni” como critério de busca, foi apontada a

existência de 57 dissertações e 23 teses neste tema. As produções estão predominantemente

concentradas na área de Educação, que responde por 58,75% do total de trabalhos, seguido de

Serviço Social, área em que se concentra 7,5% da produção total. As áreas de estudo de

Ciências Sociais, Sociologia e Administração respondem, cada uma, por 5% do montante de

pesquisas, com quatro publicações em cada uma das áreas.

A partir da implementação do Programa, em 2005, grandes debates têm sido criados

em torno deste e despertado grande interesse do meio acadêmico. Carvalho e Lopreato (2005)

discutiram os aspectos políticos e econômicos que permeiam o referido programa. Em tom

crítico, Carvalho (2005) argumenta que, por trás do discurso de caráter social atribuído ao

ProUni, existe um jogo político e uma lógica financeira que, na opinião da autora, são

contrários aos interesses de parte significativa da população, que demanda acesso a

oportunidades de ensino de qualidade.

O programa tem sido analisado sob a ótica de políticos – como explorado por Corcini

(2007), que apresenta a visão de seis deputados federais acerca do reflexo das políticas

educacionais no abrandamento das desigualdades sociais, de professores e gestores (STIEG,

2009; OLIVEIRA, 2009) e, principalmente, sob a percepção dos alunos bolsistas

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(GERALDO, 2010; FERREIRA, 2012a; SENA, 2011). Sob diferentes abordagens, as

diversas áreas do saber buscam compreensões do mesmo programa.

Dentre os temas das pesquisas, o impacto do ProUni na vida dos egressos é a ênfase

predominante. Também são discutidas as dificuldades na trajetória dos alunos (ALMEIDA,

2009; ESTACIA, 2009), acesso e permanência, abordando os principais obstáculos, as

estratégias utilizadas e os estímulos recebidos (ROCHA, 2008a; SENA, 2011), o desempenho

acadêmico (ALVES, 2008; LIRA, 2010; PONTES, 2011), a inserção no mercado de trabalho

(COSTA, 2012) e as condições socioeconômicas e socioculturais dos alunos bolsistas

(COUTO, 2008; COSTA, 2012).

O ProUni, enquanto Política Pública de acesso ao ensino superior, é a segunda

temática mais discutida entre os trabalhos de pesquisa, evidenciando que o programa deixa

margem para muitas críticas. Os trabalhos de Mello (2007) e Valle (2009) ampliam o debate

acerca do tema, questionando o jogo de interesses políticos e o direcionamento dado às

políticas educacionais, no sentido de conduzi-las a uma privatização da educação superior no

Brasil.

Em sete do total de trabalhos pesquisados, o programa ProUni foi o objeto de análise.

Sob uma perspectiva econômica, Pontes (2011) discutiu o valor da bolsa, buscando identificar

diferenças entre o desempenho acadêmico de alunos bolsistas parciais e integrais. A

percepção dos alunos acerca do programa foi investigada por Santana (2009), Oliveira (2012)

e Melo Neto (2011). O processo de implantação do Programa dentro de uma Instituição de

Ensino Superior (IES) foi estudado por Silva (2007b).

Realizadas buscas nas revistas acadêmicas Qualis A1 a B2 da área de Administração

e no portal da Scientific Electronic Library Online (Scielo), verificou-se que poucos artigos

relativos ao tema ProUni têm sido publicados. Na área de Administração, apenas um artigo

foi identificado, enquanto que, no total das áreas que envolvem Educação, Ciências Políticas e

Sociais, foram encontrados 13 artigos abordando o programa. Quanto às temáticas dos

estudos, tem sido dada maior ênfase à discussão da inclusão social (ALMEIDA et al. , 2010;

CARVALHO, 2007; OLIVEIRA et al. , 2012) e ao impacto da implantação do programa nas

Instituições de Ensino (OLIVEIRA; MOLINA, 2012; PELEIAS et al. , 2012) e na vida dos

alunos (APRILE; BARONE, 2008).

Por dar margem a muita polêmica, o discurso de democratização do acesso ao Ensino

Superior utilizado pelo Governo para criação do programa é questionado em pesquisas de

Almeida (2009), Martins (2011) e Valle (2009), enquanto os trabalhos de Simões (2011) e

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Rizzo (2010) enfocam o programa enquanto Ação Afirmativa como possibilidade de inclusão

social/profissional e oportunidade de mobilidade social.

A inclusão do negro também tem recebido atenção dos pesquisadores. Em sua

dissertação, Leite (2009) discutiu a construção da identidade do bolsista e constatou que, na

instituição por ele pesquisada, a ausência de iniciativas que promovam o reconhecimento do

estudante cotista desfavorece o processo de constituição da identidade racial do bolsista.

Sotero (2009) analisou a trajetória de estudantes negros da cidade de Salvador, indicando que

a abrangência do programa demanda observação, em direção a uma educação inclusiva que

possibilite o acesso de diferentes classes sociais ao ensino superior.

Na opinião de Carvalho (2006), o benefício que o ProUni pode trazer para muitos

alunos está mais relacionado aos aspectos simbólicos do diploma. Além disso, argumenta que

as chances reais de ascensão são para os poucos que estudarem em instituições privadas de

qualidade.

Em um país como o Brasil, que é reconhecido internacionalmente por seu grau de

desigualdade social (POCHMANN, 2003), a busca por uma qualificação profissional se

apresenta como uma oportunidade para a mobilidade social e construção de uma identidade

social mais positiva; no entanto, ao mesmo tempo, implica uma árdua trajetória para os

bolsistas provenientes das classes mais baixas. Do ingresso à faculdade até a conclusão do

curso, diferentes desafios precisam ser superados, e para que a democratização e a inclusão

sejam efetivas são necessárias políticas voltadas para a permanência dos estudantes, uma vez

que as dificuldades dos bolsistas, seja no processo de aprendizagem ou no âmbito financeiro,

não desaparecem apenas com o ingresso na graduação (ROCHA, 2012).

No trabalho de Ferreira (2012b), o autor verificou haver diferenças no desempenho

de bolsistas ProUni, constatando que os jovens de cor branca são menos defasados em relação

ao nível de desempenho, e que, consideradas as notas médias dos estudantes, os alunos com

bolsa integral apresentam desempenho superior ao dos outros grupos. Tendo em vista que o

ProUni insere um grupo social diverso na universidade, tanto a experiência subjetiva dessa

inserção como a dinâmica envolvida nas interações sociais podem afetar a vida do aluno

prounista.

Atentando para a experiência acadêmica dos alunos prounistas, o trabalho realizado

por Santos (2011) aponta que a desigualdade social vivida na universidade pelos alunos

bolsistas cria, entre outros, o sentimento de inferioridade, que estimula tanto a busca de seus

pares quanto a reclusão e a negação de suas origens. Interagindo em ambiente acadêmicos no

quais as diferenças sociais se evidenciam, esses alunos podem, eventualmente, ser vítimas de

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preconceito, conforme indicam três dos 30 alunos bolsistas do ProUni questionados por

Nogueira (2013).

Embora a revisão dos trabalhos já produzidos mostre que o ProUni vem sendo

amplamente pesquisado e a inclusão e/ou exclusão social dos alunos bolsistas tenha sido

estudada, a abordagem teórica pela qual este trabalho buscará compreender a experiência de

inclusão dos prounistas se faz diferenciada. As lentes teóricas das relações intergrupais, da

diversidade e da inclusão enquanto experiência individual de pertença a um grupo social,

utilizando o ProUni como objeto de estudo, constitui-se uma nova proposta de pesquisas

frente às anteriormente realizadas. Considera-se relevante aprofundar conhecimentos sobre a

experiência pessoal dos alunos prounistas, bem como identificar a percepção dos alunos não

prounistas e dos professores com relação à experiência de inclusão daqueles dentro de uma

IES privada, de primeira linha.

Considerando a importância da educação para a formação de uma sociedade e para o

desenvolvimento de um país, neste momento em que políticas públicas possibilitam o acesso

de camadas de baixa renda ao ensino superior julgamos relevante abordar esse acesso de

alunos de classes sociais menos favorecidas ao espaço acadêmico, bem como discutir o

sentimento de inclusão e/ou exclusão do aluno prounista. Busca-se também a ampliação dos

estudos relativos à diversidade e à inclusão desses grupos minoritários, refletindo sobre a

dinâmica interpessoal que se estabelece durante a trajetória acadêmica desses alunos, bem

como o impacto dessas interações na percepção de pertença deles, que ainda é uma questão

pouco explorada.

Diante do panorama de trabalhos já realizados sobre o ProUni, destacamos como

inquietação fundamental desta pesquisa o seguinte questionamento: Como ocorre a dinâmica

de inclusão/exclusão do bolsista ProUni em uma universidade privada da cidade de São

Paulo?

Decorrente deste problema de pesquisa, o objetivo geral é compreender a dinâmica

de inclusão e/ou exclusão do bolsista ProUni no espaço acadêmico. Dentre os objetivos

específicos, esta pesquisa se propõe a entender as condições socioeconômicas do aluno

prounista, investigar a existência de estereótipos, preconceitos e discriminação na

inclusão/exclusão dos alunos prounistas; verificar as dimensões de diversidade nas quais os

alunos prounistas se reconhecem e são reconhecidos; identificar as estratégias utilizadas por

esses alunos para serem inseridos em grupos; verificar as percepções do professor acerca

dessa dinâmica de inclusão/exclusão e, por fim, analisar o papel dos professores junto aos

alunos prounistas.

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Considerando a importância das relações intergrupais, a experiência de pertença ou

exclusão, a aceitação ou a discriminação e o preconceito, e a percepção de como se formam

os vínculos sociais durante a formação acadêmica dos alunos prounistas são aspectos

relevantes a serem investigados.

Com o objetivo de responder ao problema de pesquisa proposto, este trabalho está

estruturado em uma introdução e quatro capítulos. Iniciado com o referencial teórico, o

capítulo 1 traz as teorias de fundamentação deste trabalho, que são Teorias da Identidade

Social e da Autocategorização, os conceitos e diferenciações entre estereótipos, preconceito e

discriminação, diversidade e inclusão/exclusão; também apresenta uma revisão de literatura

sobre o tema do ProUni e o contexto histórico antecedente à criação deste. No capítulo 2, são

expostos os procedimentos metodológicos, sujeitos de pesquisa, técnica de coleta de dados,

método de análise e caracterização da IES pesquisada. Em seguida, no capítulo 3, é feita a

análise dos dados e discussão dos resultados. Posteriormente, no capítulo 4, as considerações

finais, as limitações do estudo e recomendações para futuras agendas de pesquisa são

apresentadas.

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2. REFERENCIAL TEÓRICO

Inicialmente apresenta-se uma compreensão da experiência intergrupal a partir da

teoria da identidade social e teoria da autocategorização. São abordados estereótipos,

preconceitos e discriminação, sendo apresentado o conceito de diversidade e, por fim,

alcançando o nível mais micro, o de senso psicológico da experiência de inclusão e/ou

exclusão.

2.1 TEORIA DA IDENTIDADE SOCIAL

Primeiramente introduzida por Tajfel (1982), a teoria da identidade social é definida

como o conhecimento do indivíduo de saber-se pertencente a certos grupos sociais, bem como

o significado emocional e o valor que há, para ele, em ser membro do grupo. A ideia básica da

teoria é a de que as categorias sociais às quais pertencemos são determinantes para a formação

do nosso autoconceito, prescrevem formas de pensamento e comportamentos e, ao mesmo

tempo, fornecem referencial para comparação com outros grupos (HOGG; TERRY, 2001).

Hogg e Terry (2001) apontam que, de acordo com essa teoria, a identidade social e

os comportamentos intergrupais são guiados pela busca de uma identidade social de valor

positivo, por meio da obtenção de uma distinção intergrupal positiva que, por sua vez, é

motivada pela necessidade de autoestima positiva.

Faz parte do escopo da Teoria da Identidade Social buscar compreender as razões

que levam os indivíduos a desejarem pertencer a grupos de mais alto status, em que situações

os membros dos grupos agem e que ações eles empreendem para tentar mudar situações com

as quais não estão satisfeitos. Além disso, a teoria atenta também para quais são as estratégias

individuais adotadas para mudar as posições desses indivíduos (TAYLOR; MOGHADDAM,

1994).

A análise das relações interpessoais por meio da teoria identidade social parte do

pressuposto de que indivíduos são motivados a alcançar uma identidade social mais positiva;

concepção esta que se estende também para o nível intergrupal, compreendendo que os

indivíduos são motivados a pertencer a grupos positivamente avaliados, adotando estratégias

comportamentais a fim de mudar sua condição quando percebem a própria identidade como

inadequada (TAYLOR; MOGHADDAM, 1994).

Nessa perspectiva teórica, compreende-se que ao agirem nos grupos os indivíduos

têm como objetivo alcançar uma identidade social mais positiva, de modo que o desejo de

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alcançar melhor status funciona como um “motor” para as ações. Por meio da comparação

social o indivíduo se referencia, obtendo uma avaliação de sua posição e status ocupado

perante o grupo, o que reduz sua incerteza e permite uma autoavaliação mais acurada

(TAYLOR; MOGHADDAM, 1994). Tajfel (1982) propõe que, no nível intergrupal,

comparações também possibilitam a compreensão do valor e status relativo do grupo, bem

como status e valor adquirido em virtude de ser membro deste, exercendo importante papel

em modelar as ações dos indivíduos.

Para que se tenha uma compreensão básica da Teoria da Identidade Social, de acordo

com Taylor e Moghaddam (1994) existem quatro conceitos considerados fundamentais:

categorização, identidade e comparação social e distintividade psicológica do grupo. Esses

conceitos serão aqui apresentados e brevemente sintetizados.

Funcionando como uma ferramenta cognitiva a categorização permite que o

indivíduo estruture seu ambiente social, definindo seu lugar neste ambiente (TAYLOR;

MOGHADDAM, 1994). As categorizações sociais dizem respeito aos processos de

categorização de pessoas. Hogg e Abrams (2001) assinalam que, uma vez que classificações

são feitas com base nas similaridades e diferenças em relação a quem está categorizando;

pessoas podem ser percebidas como membros da mesma categoria a qual o indivíduo pertence

(endogrupo) ou como de uma categoria diferente (exogrupo).

A identidade social individual diz respeito ao conhecimento do indivíduo, de saber

que pertence a certo grupo social e ao valor agregado ao ser membro desse grupo, quer em

termos positivos ou negativos. Por essa compreensão conceitual, a participação no grupo é

vista a partir da percepção subjetiva do indivíduo, sendo comum aos membros deste destacar

e dar importância aos valores do grupo de pertença. O pressuposto básico é que os indivíduos

são motivados a alcançar uma identidade social mais positiva (TAYLOR; MOGHADDAM,

1994).

A corrente europeia da Psicologia Social considera que as sociedades atuam como

forças em conflito, mais do que em coesão e, e que em virtude disso, dentro dos grupos

sociais ocorrem competições e lutas a fim de aprimorar suas próprias posições, em contextos

de busca de mudanças das condições sociais. A Teoria da Identidade Social postula que os

membros do grupo almejam uma identidade para seu grupo que seja mais distinta e positiva

quando comparada a de outros grupos, de forma que as relações estabelecem mais por

competição e busca de distinção do que por cooperação (TAYLOR; MOGHADDAM, 1994).

Dentre os pressupostos da teoria da identidade social, o processo sócio-cognitivo de

autoaprimoramento é considerado fundamento importante para o entendimento das relações

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intergrupo, pois compreende que os indivíduos têm necessidade de serem vistos de forma

positiva em relação a outros relevante. Isto é feito por meio de comparações, geralmente

favorecendo aqueles que pertencem ao ingroup (HOGG; TERRY, 2001). Analogamente,

Triands (2003) considera que o etnocentrismo dos seres humanos constitui uma barreira para

as relações intergrupos, uma vez que a cultura própria é utilizada como padrão para julgar

outras culturas. Além disso, aquilo que se passa na própria cultura é considerado como

"natural", "normal" e "correto" e os costumes ingroup como se fossem universalmente

válidos, sem questionamentos.

Competição e conflito são aspectos comuns nas relações intergrupais, pois ao buscar

alcançar posição superior para o endogrupo, comportamentos discriminatórios intergrupos são

manifestos. Situações de potenciais mudanças sociais expressam a natureza dinâmica da

teoria, pois os indivíduos pertencentes aos grupos dominantes desejam e lutam para manter o

status de condição comparativamente superior, enquanto os integrantes dos grupos de

identidade social menos adequada desejam alcançar alguma mudança de status, a fim de

aprimorar a identidade grupal para uma condição superior (TAYLOR; MOGHADDAM,

1994).

A simples percepção de possuir uma identidade social inadequada não é condição

suficiente para se conquistar uma mudança de posição. De acordo com Taylor e Moghaddam

(1994), dois fatores são fundamentais para que membros dos grupos em desvantagem

conquistem melhor situação intergrupo: a princípio, que estes acreditem que a atual situação

pode ser mudada e a posição hierárquica alterada (estabilidade/instabilidade) e, em segundo

lugar, a extensão em que o intergrupo vê a situação posta como única e justa

(legitimidade/ilegitimidade).

Havendo, no indivíduo, uma percepção cognitiva de possíveis alternativas para a

alteração de seu status, de acordo com Taylor e Moghaddam (1994), há quatro estratégias de

mudanças intergrupos possíveis para serem adotadas:

O grupo subordinado tenta ser absorvido pelo grupo dominante;

Redefinir, como positivas, características do grupo anteriormente

avaliadas como negativas;

Criação de novas dimensões, que não tenham sido previamente

utilizadas, para comparação e avaliação, a fim de obter posição mais positiva;

Competição direta com o grupo dominante.

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Os referidos autores assinalam que todas essas estratégias são passíveis de reações

dos grupos dominantes, provocando conflitos e embates a fim de assegurar o status de

dominância. Em circunstâncias nas quais os grupos em desvantagem não percebem

alternativas cognitivas que permitam a alteração da condição do grupo, estratégias específicas

podem ser adotadas por indivíduos, que saem do grupo em desvantagem visando alcançar

posições em grupos melhor avaliados (TAYLOR; MOGHADDAM, 1994).

As respostas à possibilidade de mudanças podem se dar enquanto grupo ou

indivíduo. Taylor e Moghaddam (1994) ressaltam a distinção entre dois conceitos que

diferenciam essas estratégias de mudança: a mobilidade e mudança social. Mobilidade social

consiste em uma “estruturação subjetiva do sistema social” e pressupõe que o sistema é

flexível e permeável e não ameaça a posição relativa dos grupos, possibilitando, assim, uma

mobilidade de partes individuais. A mudança social, no entanto, refere-se ao modo subjetivo

de estruturar o sistema social no qual o indivíduo vive; diz respeito às crenças que delimitam

as fronteiras do grupo de pertença, sem possibilitar movimentos para fora desse a fim de

alcançar melhores posições ou condições de vida, a menos que a mudança se dê enquanto

grupo como um todo. Mudança social implica necessariamente confrontação intergrupo, pois

a busca por uma posição melhor encontra reação dos grupos dominantes, que querem garantir

a manutenção de suas posições favoráveis.

Mesmo em ambiente ausente de conflitos explícitos ou institucionalizados ou de

competição entre grupos, estes tendem a manifestar comportamentos mais favoráveis em

relação ao endogrupo. O grupo social provê aos seus membros uma identidade social positiva

por meio de comparação e distinção em relação a outros grupos, acerca de características

distintivas que tenham claro valor diferencial.

No campo da Psicologia Social, sob a influência da Teoria da Identidade Social, em

1984, Taylor e McKirnan desenvolveram um modelo de cinco estágios das relações

intergrupais. Apresentado por Taylor e Moghaddam (1994), o modelo busca abranger tanto

processos macro quanto micro sociais na interpretação do comportamento intergrupal,

partindo do pressuposto de que raramente os relacionamentos sociais ocorrem entre dois

grupos com status perfeitamente iguais.

Para nomear a condição dos diferentes grupos esses autores utilizam os termos

“vantagem” e “desvantagem”, pois consideram que termos como “majoritário” e

“minoritário” utilizados por alguns pesquisadores fazem referência a números, enquanto a

expressão “dominante” e “subordinado”, utilizados por Tajfel (1982), sugerem que o próprio

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grupo é responsável pela posição ou status que ocupa; desconsidera-se, portanto, que, mais do

que traços grupais, existem condições externas aos grupos responsáveis pelas desigualdades.

Os cinco estágios da dinâmica intergrupos propostos por Taylor e McKirnan (1984)

apud Taylor e Moghaddam (1994) abrangem:

1. Relações intergrupais claramente estratificadas – Não há possibilidade de

mudanças entre as classes, pois o status de cada grupo está rigidamente estabelecido com base

em características inerentes ou atribuídas a seus membros; é próprio aos integrantes de grupos

em desvantagem imputar a si mesmos a reponsabilidade por estar em posição inferior.

2. Ideologia individualística – A base de critério passa a ser as conquistas, as

habilidades e competências do indivíduo, que tem uma percepção do grupo como aberto e,

portanto, considera que há possibilidade de mudança; essa mobilidade se dará de forma

individual e por seu próprio esforço e capacidade, o que isenta o grupo em vantagem de

qualquer responsabilidade em relação à sua posição atual.

3. Mobilidade social individual – Ocorre uma tentativa dos membros do grupo em

desvantagem de migrar para o grupo em vantagem e, para tal, embora retenham fatores do

grupo em desvantagem suficientes para manter sua própria identidade, passam a adotar

características do outro grupo a fim de serem aceitos como membros.

4. Aumento da consciência – Os indivíduos que passaram pelo terceiro estágio, mas

não obtiveram sucesso na tentativa de passar para o grupo em vantagem, retornam ao seu

grupo de origem e tentarão estimular uma ação coletiva; aqueles poucos que foram bem-

sucedidos passam a incorporar as normas do grupo em vantagem e tornam-se mais convictos

de que o sistema é justo e que, portanto, cabe aos outros membros conquistar os próprios

lugares.

5. Ação coletiva – É necessário que parte dos membros do grupo em desvantagem

tome consciência de que habilidades e esforços não são suficientes para que seu grupo

consiga a mobilidade desejada, que percebam que são injustamente discriminados. Uma ação

coletiva deverá ser empreendida e, estratégias de competição, de reavaliação de originalidade

deverão ser adotadas para que assim novas dimensões para comparação social sejam criadas,

novos papéis e novas percepções assumidas.

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2.2 TEORIA DA AUTOCATEGORIZAÇÃO

A teoria da autocategorização é uma teoria cognitiva do comportamento dos

indivíduos no contexto grupal e, portanto, atenta para as mudanças que ocorrem do nível

pessoal para o social da identidade (TAYLOR; MOGHADDAM, 1994).

A categorização é considerada um processo cognitivo fundamental para a adaptação

do funcionamento humano, uma vez que possibilita uma simplificação das percepções e que

uma infinita variabilidade de estímulos existentes seja estruturada em um número distinto de

categorias. É um processo necessário e útil, pois reduz os processos cognitivos, possibilita que

estímulos muito diferentes sejam percebidos como se fossem idênticos (TRIANDS, 2003),

permitindo que pessoas respondam rapidamente a estímulos sem necessitar de avaliações

exaustivas. De forma efetiva, a categorização acentua a percepção de similaridades entre

objetos, possibilitando classificá-los em uma mesma categoria; ou de dissimilaridade,

diferenciando estímulos entre diferentes categorias (TAYLOR; MOGHADDAM, 1994).

Por meio desse processo cognitivo de categorização são delimitadas as fronteiras e

estabelecidos os aspectos relevantes utilizados para distinguir aqueles que pertencem ou não a

determinado grupo; além disso, por meio destas, os membros do exogrupo são percebidos

como mais homogêneos e os do endogrupo como mais heterogêneos.

A noção de protótipo é um conceito considerado central na teoria da

autocategorização. Segundo Hogg e Terry (2001) os protótipos são construídos a partir de

representações cognitivas das afirmações e atributos do grupo que são relativamente

consensuais; incorporam crenças, atitudes e sentimentos. Estabelecidos com base na

referência de um membro exemplar ou na definição de um tipo ideal de membro, se prestam a

fornecer suporte moral e validação aos integrantes do grupo.

Ao integrar o grupo o indivíduo deixa de ser visto como singular e passa a incorporar

o protótipo do grupo; deixa de ser uma personalidade individual e assume o self do grupo. Os

protótipos são formados pelo princípio do metacontraste, de forma que as diferenças do

intergrupo para o intragrupo são maximizadas. Portanto, a discriminação entre os grupos se dá

com base na menor diferença percebida, agrupando-se, num mesmo conjunto, os elementos

que, comparativamente, são menos diferentes entre si (HOGG; TERRY, 2001).

De acordo com esses autores, o ato de categorizar alguém como membro do grupo

transforma o modo como a pessoa é vista, uma vez que esta passará a ser percebida por meio

das lentes do protótipo. Ocorre uma despersonalização do indivíduo, enquanto singular, e este

assumirá as características do grupo de pertença, passando a ser visto como possuindo

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atributos da categoria ou desse grupo. A despersonalização refere-se à mudança na

autoconceitualização e na base da percepção dos outros, havendo uma tendência a produzir

uma percepção favorável em relação ao endogrupo e uma percepção negativa ou degradante

em relação ao exogrupo.

A categorização social é ao mesmo tempo útil e necessária, porém, embora se

constitua um processo cognitivo simples, tem implicações profundas (ARONSON; WILSON;

AKERT, 2002), uma vez que por meio dela, são despersonalizados tanto os membros do

ingroup como os membros do outgroup, pois perceber o outgroup como despersonalizado

configura-se estereótipo (HOGG; TERRY, 2001). Em virtude disso, a categorização é

considerada prejudicial às relações intergrupo, pois resulta em categorias como “Nós” e

“Eles”. Portanto, os seres humanos devem superar as dificuldades distintas de estar junto

àqueles que são diferentes (TRIANDS, 2003).

É comum as sociedades possuírem uma grande quantidade de categorias, tais como

raça, sexo, religião, classe social, profissão, dentre outras, das quais decorrem as diferentes

relações de poder, prestígio e status nas relações entre grupos. Em virtude de existir, nas

sociedades, uma estrutura social, um sistema de valores e uma ideologia a partir do local de

nascimento, cor da pele, família de origem, pessoas são categorizadas como pertencentes a

um e não a outro grupo. Por meio da internalização e identificação com essas categorias

estabelecidas, os indivíduos adquirem uma identidade social particular, avaliativamente mais

positiva ou negativa. Integrar grupos dominantes ou grupos subordinados confere aos

indivíduos estruturas de crenças subjetivas diferentes acerca da natureza da sociedade e das

relações entre grupos (HOGG; ABRAMS, 2001).

Na perspectiva da identidade social, todo conhecimento deriva de comparações. Por

meio das comparações sociais o indivíduo cria percepções sobre si mesmo, sobre os outros e

sobre o mundo em geral. Contudo as comparações sociais intergrupais não são percepções

imparciais; pelo contrário, há uma tendência à maximização da distinção positiva do ingrupo,

em que os diferentes consensos são formados por crenças enraizadas que diferem em termos

de parâmetros determinados por diferentes grupos (HOGG; ABRAMS, 2001).

A autocategorização é considerada um processo importante, uma vez que pertencer a

um grupo traz consigo um significado implícito de valor afetivo, capaz de reduzir a incerteza

dos integrantes do grupo de como se comportar e o que esperar de um determinado contexto

social. A hipótese da redução de incerteza é considerada o core da motivação humana, uma

vez que confere significado à vida do indivíduo e influencia a construção de autoconceito,

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tendo função descritiva e prescritiva das formas de pensar, sentir e agir (HOGG; TERRY,

2001).

Tendo em vista que a comparação social conduz ao exagero nas diferenças entre

grupos e as categorias conduzem à formação de estereótipos em relação a si, ao endogrupo e

ao exogrupo, ao operarem juntas, categorização e comparação social geram uma forma de

comportamento do grupo, envolvendo diferenciação, discriminação, favoritismo intragrupo,

percepção de valor mais positivo para endogrupo em relação ao exogrupo e preferência

afetiva pelo endogrupo (HOGG; ABRAMS, 2001).

Uma pesquisa realizada por Jaspars e Warnaem (1982), e citada por Tajfel (1982), na

qual tratam da saliência entre grupos, demonstra que, em geral, endogrupos não

necessariamente avaliam os exogrupos mais negativamente do que a si mesmos e, sim, que

tendem a fazer uma avaliação mais positiva acerca de si mesmos do que são por outros

avaliados, demonstrando um favoritismo ao endogrupo.

2.3 ESTEREÓTIPOS, PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO

Dentre as abordagens teóricas dominantes nos estudos, na Teoria das Relações

Intergrupais, definida como relações entre dois ou mais grupos e seus respectivos membros, o

preconceito e a discriminação têm sido os aspectos mais comumente pesquisados. Na Teoria

Psicodinâmica, pesquisadores como Adorno, Frankel-Brunswich, Levinson e Sanford, nos

anos 1950, faziam associação entre a ideologia e a personalidade para dar conta de explicar

tomadas de posições racistas e antidemocráticas, argumentando que o preconceito decorre das

diferenças de personalidade, sendo a personalidade autoritária preditora de preconceito

(JODELET, 2006; PROUDFORD; NKOMO, 2006). A teoria da Identidade Social (TAJFEL,

1982), no entanto, postula que a necessidade de autoestima positiva leva ao preconceito e que

a solução para o preconceito é a redução da saliência entre fronteiras grupais (contato).

O preconceito racial e étnico se faz presente em quase todas as partes do mundo,

sendo raro encontrar uma sociedade em que um grupo não seja classificado como “outro”

com base na etnia ou raça. No Brasil, o “mito da democracia racial” marcou secularmente o

país, estabelecendo uma falsa cultura de que no país não existe preconceito e que a paz e a

democracia aqui imperam (GUIMARÃES, 2002) mas, conforme já indicado por Aronson,

Wilson e Akert (2002) este é um fenômeno social onipresente.

Na perspectiva da Psicologia Social, o preconceito é compreendido como atitude

negativa em relação a membros de outro grupo social, decorrente de estereótipos e

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generalizações; a discriminação, como comportamento negativo em relação aos membros

desse grupo social; e o racismo é visto como a combinação de ambos (PROUDFORD;

NKOMO, 2006).

Três diferentes formas de compreender o preconceito são indicadas por Allport

(1979) em que: a primeira considera que o preconceito refere-se a julgamentos baseados em

experiências anteriores; na segunda é compreendido como um julgamento prévio e

precipitado, sem o adequado exame dos fatos; na terceira, o preconceito é considerado como

um sentimento combinado com julgamento prévio e sem justificativas.

O preconceito é considerado uma atitude, uma vez que comporta componentes

afetivos ou emocionais, cognitivos e comportamentais. Aronson, Wilson e Akert (2002)

definem preconceito como “[...] uma atitude negativa ou hostil contra pessoas de um grupo

identificável, baseada exclusivamente na sua condição de membro do grupo”, sem qualquer

justificativa que o fundamente. Mor-Barak (2005, p. 138) também ressalta o caráter negativo

do preconceito conceituando-o como “[...] um julgamento pré-concebido ou opinião

sustentada por membros de um grupo; o preconceito é percebido como atitude irracional de

hostilidade dirigida a um indivíduo, um grupo, uma raça ou às suas supostas características”.

Para compreender o componente cognitivo do preconceito, de acordo com Aronson,

Wilson e Akert (2002), é necessário entender o conceito de estereótipo, geralmente definido

como uma generalização acerca de um grupo de pessoas, em que características idênticas são

atribuídas a um grupo de pessoas, praticamente sem levar em conta suas individualidades.

Uma dimensão social é atribuída aos estereótipos, quando estes são compreendidos

como crenças ou conhecimentos amplamente partilhados por um grupo sobre a natureza do

endogrupo e dos exogrupos. Considerado como “padronizações” ou “figuras mentais

supersimplificadas” (MOR-BARAK, 2005) que construímos acerca de pessoas, instituições,

ou eventos e cujos pressupostos compartilhamos com outras pessoas, o estereótipo, em geral,

se faz acompanhar por preconceitos, ou seja, por pré-disposições favoráveis ou desfavoráveis

em relação à pessoa ou categoria em questão (TAJFEL, 1982).

Embora o escopo desse trabalho esteja fundamentado na Psicologia Social, cabe aqui

uma menção a abordagem sociológica do trabalho de Goffman (1988), em que o autor trata do

conceito de estigma, apontando que, a partir de atributos que são percebidos como

discrepantes ao estereótipo criado acerca de determinado tipo de indivíduo, pessoas podem

passar a ser vistas como estragadas e diminuídas, e em decorrência disso lhes ser atribuído

descrédito. O autor considera duas perspectivas distintas de se perceber a pessoa que possui

um estigma: a condição de desacreditado, que se dá quando os atributos distintivos são

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conhecidos e evidentes e a condição de desacreditável que ocorre quando essas características

não são imediatamente perceptíveis ou conhecidas dos presentes.

Difíceis de serem mudados, os estereótipos são mecanismos cognitivos ou maneira

adaptativa de lidar com eventos complexos, mas que se tornam disfuncionais e injustos

quando cegam as percepções, impedindo que diferenças individuais entre classes de pessoas

sejam percebidas (ARONSON; WILSON; AKERT, 2002).

O último componente do preconceito refere-se ao aspecto comportamental. Segundo

os autores anteriormente citados, crenças estereotipadas geralmente resultam em tratamento

injusto. A isso denominam “discriminação”, ou seja, “[...] ação negativa injustificada ou

prejudicial contra os membros de um grupo, simplesmente porque pertencem a esse grupo”.

Allport (1979) considera que discriminação ocorre quando é negada a indivíduos ou grupos de

pessoas a igualdade de tratamento que elas desejam. Para Dovidio et al. (2010, p. 10), a

discriminação pode ser definida como o comportamento de um indivíduo que cria, mantém ou

reforça vantagem para alguns grupos e seus membros em relação a outros grupos e seus

membros.

Goffman (1988) aponta que as discriminações podem ocorrer em virtude de que as

atitudes dos ditos “normais” partem da crença de que os estigmatizados, ou aqueles que

possuem uma marca distintiva, são inferiores, sendo possível que outras imperfeições sejam

inferidas a estes indivíduos a partir da imperfeição ou marca original.

De acordo com Allport (1979), pré-julgamentos são naturais do ser humano e se

modificam diante de fatos, enquanto preconceitos são irreversíveis e mantêm-se mesmo

diante do correto conhecimento dos fatos. O autor propõe uma tipologia das manifestações de

preconceitos, que evoluem de atitudes para ação, a partir de linguagens insultuosas, evitação,

discriminação (modo ativo de tentar privar o outro), ataque físico (atos de violência) e

extermínio (a manifestação mais extrema).

Manifestações de preconceito e discriminação têm se institucionalizado nas

organizações e na sociedade (PROUDFORD; NKOMO, 2006), pois, conforme assinalam

Aronson, Wilson e Akert (2002), este é um problema de e para toda a humanidade, com

impacto sobre a autoestima e ao qual ninguém passa incólume. Portanto, ele precisa ser

combatido e abandonado, o que só se dará por meio da aceitação do diverso e da inclusão,

uma vez que em decorrência do preconceito o que o advém é a exclusão.

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2.4 DIVERSIDADE E INCLUSÃO/EXCLUSÃO

Ao longo dos tempos e em diferentes culturas, a necessidade de ser incluído

socialmente tem importante função para a sobrevivência e, de acordo com Mor-Barak (2005),

as percepções de inclusão ou exclusão são formas contínuas de avaliação pessoal por meio

das quais os indivíduos avaliam suas posições nos grupos ou nas organizações. A necessidade

de pertença é uma poderosa base motivacional para o comportamento interpessoal, sendo esta

frustrada quando se vivencia uma rejeição ou exclusão social.

Dada a importância do tema, revisão de literatura realizada por Proudford e Nkomo

(2006) aponta que diferentes correntes teóricas têm se dedicado a pesquisar a temática de

raça, etnicidade e questões relativas à diversidade, tais como preconceito, discriminação e

racismo. A noção de diversidade é predominantemente usada para referir-se à variedade de

indivíduos e grupos com os quais as organizações são confrontadas em seu mercado de

trabalho, entre seus consumidores e seus empregados (MOR-BARAK, 2005).

Triands (2003) assinala que em virtude da limitação humana para processamento de

informações, agrupamentos mentais são criados para melhor manejo das informações, recurso

que é utilizado também para categorização de pessoas; categorias essas que definem

diversidade, em que o uso de “nós” e “eles” significa que algumas pessoas são vistas como

semelhantes e outras como diferentes. O autor considera que diversidade pode estar em

qualquer atributo humano, especialmente sexo, classe social, raça, etnia, cultura, idade,

orientação sexual, estilo de vida e religião.

Sob uma perspectiva subjetiva, diversidade é conceituada por Loden e Rosener

(1991) como alteridade ou aquelas qualidades humanas que são diferentes das nossas e dos

grupos aos quais pertencemos, ou seja, presentes em outros indivíduos e grupos. Nessa

perspectiva, “outros” são pessoas que são diferentes de nós sob uma ou várias dimensões, tais

como idade, orientação sexual, etnicidade, dentre outras dimensões possíveis de se classificar

características pessoais.

Nos estudos de diversidade propostos por Loden e Rosener (1991), são categorizadas

as dimensões de diversidade com base nos traços, dividindo-os em duas dimensões: a

dimensão primária, que se refere aos traços relativamente imutáveis do indivíduo, como

idade, etnia, gênero, habilidades físicas, raça e orientação sexual; e a dimensão secundária,

referente aos traços menos observáveis, porém mais mutáveis, formados em função e a partir

do contexto social, tais como: background educacional, naturalidade geográfica, renda, estado

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civil, experiências pessoais e profissionais prévias, crenças religiosas (LODEN; ROSENER,

1991).

Em revisão de literatura realizada por Mannix e Neale (2005), os autores apontam

trabalhos de pesquisa tanto com enfoques positivos como negativos acerca dos efeitos da

diversidade. Na vertente mais otimista da diversidade, a criação de valores e melhoria dos

resultados são apontados como possíveis benefícios. Nessa linha, há indicativos de que grupos

heterogêneos produzem soluções de mais alta qualidade, de que há, nesses grupos, um

aprimoramento da capacidade de resolução de conflitos e o benefício da melhoria da

qualidade de tarefas que requerem criatividade. Diversidade funcional tem a capacidade de

aumentar a comunicação com pessoas de fora do grupo, impactando nas possibilidades de

inovação do time.

Entretanto, a linha com visão mais pessimista da diversidade compreende que

diversidade cria divisão social, empobrecimento da integração e impacta negativamente nos

resultados do grupo, e considera que a composição demográfica da organização pode

determinar processos tais como inovação, comunicação e performance (MANNIX; NEALE,

2005).

Mannix e Neale (2005) apontam dois paradigmas por meio dos quais a questão da

natureza da diversidade pode ser abordada. O primeiro é a abordagem baseada em fatores, que

trabalha com identificação e medidas de diversidade, focando as diferenças visíveis e

invisíveis da diversidade. Essa abordagem considera que no nível superficial estão as

diferenças demográficas, enquanto no nível mais profundo ficam as atitudes e crenças. O

segundo paradigma, baseado em proporção demográfica entre maiorias e minorias, e,

fundamentado na lógica do contato social, compreende que a interação aumenta a atração, a

conexão e a compreensão entre as pessoas (PETTIGREW, 1982 apud MANNIX; NEALE,

2005).

Na visão de Mor-Barak (2005), diversidade refere-se ao processo de gerar categorias

distintas, no qual o grupo é percebido como possuindo um denominador comum em um

contexto nacional ou cultura específica. Dentro da compreensão global de diversidade,

proposta pela autora, diversidade refere-se necessariamente às diferenças, visíveis ou

invisíveis, que trazem consequências negativas ou positivas para a vida do indivíduo; está

relacionada, também, com o pertencer a um grupo diferente quando comparado ao

mainstream na sociedade, que o torna suscetível a sofrer consequências resultantes de uma

associação com o pertencer ou não a certo grupo social.

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Para além de traços ou qualidades humanas, a compreensão de Thomas e Ely (1996)

difere dos autores já aqui apresentados, pois consideram diversidade como as variadas

perspectivas e abordagens para o trabalho, trazidas pelos membros de diferentes grupos de

identidade e que são incorporadas às práticas organizacionais. Para que as pessoas sejam

incluídas, os autores propõem que a diversidade necessita ser gerida e apresentam três

paradigmas ou modos de se fazer a gestão da diversidade. Apontam que os paradigmas

discriminação-justiça e acesso-legitimidade têm guiado as iniciativas de gestão da diversidade

e propõem o paradigma da aprendizagem-efetividade como o melhor modo de promover a

integração dos diferentes.

O paradigma discriminação-justiça é a forma dominante de entendimento da

diversidade e envolve cumprimento de mandatos e força de lei. Seus pressupostos

assemelham-se aos que fundamentam as ações afirmativas e seu foco está em torno do

conceito da assimilação. Embora tenha o benefício de aumentar a diversidade demográfica,

apresenta a limitação de que traz implícita a suposição de que “somos todos iguais”. O

modelo de gestão dentro desse paradigma prioriza mais a contratação e retenção de pessoas

“diversas” do que propiciar condições que permitam a exploração do melhor potencial dos

indivíduos e possibilite que esses realizem o trabalho de maneira mais efetiva.

O paradigma acesso-legitimidade está baseado na aceitação e celebração das

diferenças. Organizado em torno da diferenciação, sua ênfase está no papel das diferenças

culturais em uma empresa, sem realmente analisá-las, a fim de compreender como elas afetam

a execução do trabalho. Neste paradigma, as capacidades dos integrantes dos grupos diversos

são aplicadas de forma utilitarista, uma vez que as diferenças são subvertidas a fim de obter os

melhores resultados por meio delas, sem, contudo, atentar para como essas poderiam ser

integradas aos trabalhos do mainstream da organização.

A principal limitação do paradigma acesso-legitimidade é que, sob sua influência, as

motivações para a diversidade são imediatistas, visando obter um melhor resultado ou atender

a uma necessidade específica em um determinado momento, sem incorporar à organização os

conhecimentos, habilidades, crenças ou práticas trazidos pelos membros dos grupos diversos

(THOMAS; ELY, 1996). Esses autores apontam que grupos de trabalho que adotam a

perspectiva da diferenciação reconhecem o valor da diversidade como meio para o alcance de

mercados, porém os membros das minorias não são considerados como parte da cultura maior

da organização, ficando sujeitos a isolamento.

Thomas e Ely (1996) propuseram o que chamam de um paradigma emergente e

argumentam pela utilização do paradigma aprendizagem-efetividade para a gestão da

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diversidade, visando atingir os verdadeiros benefícios da diversidade. Além de promover

igualdade de oportunidades, como ocorre no paradigma discriminação-justiça, e de

reconhecer as diferenças culturais, como ocorre no paradigma acesso-legitimidade, no

paradigma emergente o objetivo é que a organização internalize as diferenças entre os

empregados de forma que consiga aprender e crescer com eles. Ele organiza-se em torno da

integração, na qual a todos são dadas iguais oportunidades, permitindo que a organização

internalize diferenças entre os funcionários, que aprenda e cresça por causa deles. Ao mesmo

tempo, possibilita que os membros sintam que estão no mesmo time, com suas diferenças, e

não apesar delas.

Giovannini (2004, p. 27) assevera que “[...] se diversidade é a questão, inclusão é a

resposta”. Na mesma ênfase, Miller e Katz (2002) consideram que diversidade sem inclusão

não funciona, pois somente quando todas as pessoas, com todas as suas similaridades e

diferenças reconhecidas, participam das tomadas de decisão e contribuem para a identificação

e resolução de problemas será possível que a produtividade individual e coletiva de uma força

de trabalho diversa esteja completamente engajada.

Shore et al. (2011) assinalam que a inclusão consiste no grau com que cada

indivíduo se percebe como um membro estimado de seu grupo de trabalho, que tenha uma

experiência de um tratamento que satisfaça sua necessidade de pertença e de singularidade.

Os autores afirmam que indivíduos querem se sentir pertencentes e valorizados por seus

atributos singulares e propõem um modelo referencial de inclusão baseado na premissa de que

singularidade e pertencimento trabalham juntas para criar o sentimento de inclusão (SHORE

et al. , 2011), no qual:

Inclusão ocorre quando o indivíduo é tratado como um insider e também é

encorajado a manter sua singularidade no grupo de trabalho.

Assimilação ocorre quando há um alto pertencimento e uma baixa

singularidade, sendo necessário que se adapte às normas da cultura dominante

para ser tratado como um insider.

Diferenciação ocorre quando há um baixo grau de pertença, mas alto valor

para sua singularidade.

Exclusão ocorre quando o indivíduo não é tratado como um insider de valor

singular no grupo de trabalho, enquanto outros empregados são.

Pela proposição de Ferdman et al. (2009, p.07) acerca da inclusão, dois

componentes estão envolvidos: o comportamento inclusivo e a experiência de inclusão. O

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comportamento inclusivo antecede a experiência de inclusão e refere-se a “[...]

comportamentos manifestados por uma pessoa e pelos membros de seu grupo de trabalho,

junto às políticas e procedimentos organizacionais, que promovem um clima inclusivo”. O

segundo componente, a experiência de inclusão, é “[...] o senso psicológico da parte de um

indivíduo de que está de fato sendo incluído”.

Ferdman et al. (2009) categorizam como comportamentos inclusivos: criar segurança

(relativo a fronteiras físicas e psicológicas que determinam a pertença ao grupo), reconhecer o

outro (cumprimentar, valorizar trabalhos relevantes, compartilhar detalhes da vida pessoal),

lidar com conflitos e diferenças (buscar soluções alternativas), habilidade e desejo de

aprender, ter e dar voz (suporte afetivo permite percepção de ser valorizado pelo outro) e

aumentar a representação de membros de grupos de “minoria” (diferentes pessoas presentes

nos diferentes níveis da organização).

O sentimento de pertença a um determinado grupo social, de acordo com Ferdman et

al. (2009), está diretamente relacionado com o sentir-se incluído. Inclusão é descrita por

Giovannini (2004) como o estado de estar sendo valorizado, respeitado e apoiado, enquanto

Ferdman et al. (2009, p.07) consideram que “[...] em um senso mais geral, inclusão envolve

ambos, sermos completamente nós mesmos e permitir que outros sejam completamente eles

mesmos, no contexto de engajamento em atividades comuns”.

Dentre os componentes-chave da experiência de inclusão estão o envolvimento

(FERDMAN et al. , 2009), o sentir-se ouvido e tendo voz na tomada de decisões (MOR-

BARAK; CHERIN, 1998), o sentir-se valorizado e reconhecido como indivíduo e como

membro do grupo, com espaço para autenticidade e liberdade de expressão (BERG, 2002) e a

obtenção de tratamento igualitário.

Berg (2002) aponta um dilema existente nas relações intergrupais. Afirma que,

frequentemente, indivíduos decidem levar somente uma parte de si mesmos para o ambiente

organizacional e para ambientes heterogêneos, excluindo voluntariamente partes da própria

identidade por temor às consequências que podem advir de trazer-se integralmente para

ambientes nos quais a mensagem transmitida é a de que “somos todos iguais aqui”. A reflexão

do autor é de que se faz necessário que indivíduos possam ser encorajados a estar como um

todo, sendo, para tanto, necessária uma gestão dessas diferenças, de forma que resultem em

um conjunto colaborativo e mais criativo e inovador. De acordo com o autor, embora a ênfase

nas similaridades e nas características comuns tenha como objetivo reduzir a possibilidade de

conflitos decorrentes das diferenças, essas também reduzem os lampejos de criatividade que

podem emergir do grupo.

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Nesse sentido, Davidson e Ferdman (2001) argumentam que diversidade não se

refere a cumprimento de cotas legais ou contagem do número de um tipo de pessoa ou de

outro, mas trata-se da construção de uma organização de amplo escopo, na qual a confiança e

o respeito são as opções padrão para todos os membros da comunidade. Valorizar a

diversidade e as diferenças em uma comunidade significa que as políticas, estruturas e normas

de comportamento devem ser alinhadas de tal forma que cada membro da comunidade seja

respeitado e incluído.

Mor Barak (2005) considera que o conceito de inclusão-exclusão no local de trabalho

refere-se ao senso do indivíduo de ser participante do sistema organizacional, tanto de

processos formais, como o acesso a informações e a canais de tomada de decisões, quanto dos

processos informais, como participação em atividades e encontros informais, nos quais se tem

acesso a informações e decisões informais são tomadas. Na compreensão da autora, esse

conceito de inclusão-exclusão funciona como um indicador do modo como os empregados de

uma organização vivenciam e percebem suas posições em relação ao mainstream

organizacional.

Processos de inclusão e exclusão podem existir em diferentes níveis e formas. Podem

ocorrer em grande escala geográfica, em virtude de crenças religiosas e diferenças étnicas,

baseada na cultura ou nos níveis de desenvolvimento econômico entre países. No nível

institucional também é possível, no qual os critérios de pertença dos membros são

estabelecidos e a partir desses definido quem é membro (incluído) e quem está fora

(excluído). Ao nível das relações interpessoais, exclusão ocorre quando uma pessoa exclui

outra, negando-lhe a possibilidade de estabelecer um relacionamento e, ao nível intrapessoal

(autoexclusão), a exclusão ocorre quando o próprio indivíduo cognitiva e emocionalmente

não considera a possibilidade de se incluir em outros relacionamentos (ABRAMS; HOGG;

MARQUES, 2005).

Diferentes formas de exclusão e inclusão operam nas relações, indo de formas mais

abstratas, como ideologias sociais, convenções morais e princípios, a modos mais específicos,

como os processos de categorização, que se configuram como formas de exclusão, uma vez

que o ato de atribuir pessoas a diferentes categorias sociais envolve inclusão e exclusão de

membros de um ou outro grupo, em função das características compartilhadas (ABRAMS;

HOGG; MARQUES, 2005).

A gestão da diversidade tem como objetivo final a inclusão (JESUS, 2013). As

dificuldades e falhas nas tentativas de gerar e nutrir a diversidade, de acordo com Davidson e

Ferdman (2001), ocorrem porque, na dinâmica social, enquanto uma pessoa ou grupo está

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tentando ganhar algo, outra pessoa em algum outro grupo está tentando proteger algo. No

meio desse e de outros desafios, o imperativo de lidar com essas diferenças de maneiras novas

e criativas permanece. A partir de uma visão inclusiva da diversidade, o foco das ações deve

se concentrar na busca da ampliação dos recursos disponíveis, a fim de que todos possam se

beneficiar deles. A direção de um pensamento mais sofisticado acerca da diversidade está na

busca da construção de um espaço em que todos se encaixem (DAVIDSON; FERDMAN,

2001).

Até o momento o tema inclusão foi aqui conceituado e discutido como um senso

psicológico e experiência subjetiva de pertencimento a um determinado grupo social. A

Psicologia Social tem dado também um amplo enfoque à exclusão social, tema que, de acordo

com Sawaia (2006), é complexo e contraditório. Nas análises da desigualdade social, a

exclusão é tratada como sinônimo de pobreza, quando abordada sob o enfoque econômico; ao

centrá-la na questão social, o conceito de discriminação é privilegiado; ainda para Sawaia, a

injustiça social é o escopo fundamental de análise da exclusão. Jodelet (2006) considera que o

único nível de abordagem da exclusão em que a unanimidade pode fazer sentido é quando se

atenta para as interações entre pessoas e entre grupos, nos quais os indivíduos se põem como

agentes ou como vítimas, sendo próprio à Psicologia Social atentar-se a esse nível de detalhe.

Processos sociais excludentes remontam ao Brasil colônia (VERAS, 2006), havendo

uma coincidência entre pobreza e raça desde os tempos da escravidão, podendo-se notar que

ao longo da história tem sido negado aos negros a oportunidade de sair da miséria (SMANIO;

BERTOLIN, 2013). Wanderley (2006) assinala que na compreensão contemporânea de

pobreza, exclusão e pobreza estão associadas, apresentando-se como duas faces de uma

mesma moeda, estando vinculada às desigualdades e, especialmente, à privação de poder e de

representação.

Sawaia (2006) argumenta que a inclusão e a exclusão são duas faces de velhos

problemas sociais – a desigualdade social, a injustiça e a exploração, sendo necessário que as

formas de expropriação humana sejam expostas e analisadas, para que se conheça o

sofrimento ético-político vivenciado por aqueles que se veem impedidos de exercer, mesmo

que de forma parcial, seu potencial humano. Acerca dessa experiência, Gonçalves Filho

(1998) aborda a humilhação social sofrida pelos pobres, fenômeno histórico decorrente da

desigualdade política, que se coloca como uma modalidade de angústia disparada pelo enigma

da desigualdade de classes e que torna o humilhado impedido de vivenciar a sua humanidade.

Outra forma de as ciências humanas abordar a exclusão é lançando olhar sobre a

afetividade, o sofrimento e a felicidade, de modo que a ideia de humanidade seja posta como

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central às reflexões sobre a exclusão, e que o pobre seja olhado como sujeito que tem

emoções; que, para além da sobrevivência, se coloca como ser social e de desejos. Sob o olhar

da Psicologia Social, Sawaia (2006) qualifica a exclusão a partir da afetividade, considerando

o sofrimento “ético-político” dela decorrente. Trata do sofrimento vivenciado, da perda de

autonomia e da subjetividade do sujeito excluído; sofrimento este que advém da situação

social de ser tratado como inferior, e que o estar em uma posição sem valor diante da

sociedade tem o poder de afetar o corpo e a alma, mutilando a vida do excluído de diferentes

formas.

2.5 DELINEAMENTO DA PRODUÇÃO ACADÊMICA SOBRE O PROUNI

Atuando como entrevistadora, na área de Recrutamento e Seleção, tenho me

deparado com muitos candidatos a vagas de estágios e até mesmo de trabalho, que são

bolsistas pelo Programa Universidade para Todos (ProUni); muitos deles revelam grande

empenho e anseio pela conquista de um espaço no mercado de trabalho, que lhes abram

oportunidades de ascensão profissional e pessoal. A partir do contato com esses alunos nos

últimos dois anos, o interesse de estudo acerca do programa foi despertado; porém, até o

início das primeiras pesquisas, não era possível ter uma dimensão de quão grande interesse o

tema vem despertando nos pesquisadores acadêmicos, nas mais variadas áreas e sob

abordagens diversificadas.

Resultados de um levantamento bibliográfico das produções acadêmicas acerca do

tema ProUni, publicadas desde o lançamento do programa em 2005, são aqui apresentados,

destacando-se dissertações, teses e artigos acadêmicos que abordam o programa, os principais

enfoques das pesquisas, o objeto de estudo, as metodologias e sujeitos de pesquisa.

Para realização dessa revisão, foram consultados os bancos de teses e dissertações da

CAPES e da Open Access Thesis and Dissertations (OATD). Para levantamento dos artigos

científicos, a busca foi realizada nos periódicos da área de Administração, Contabilidade e

Turismo, classificados pela CAPES nos estratos Qualis de excelência A2, B1 e B2, além do

portal da Scientific Electronic Library Online (Scielo). O verbete “ProUni” foi utilizado como

critério de busca e considerados apenas trabalhos cujo objeto de estudo fosse exclusivamente

o programa ou que contemplassem, no máximo, mais um tema, além do deste. Foram

identificados três trabalhos anteriores que apresentaram levantamentos bibliográficos sobre o

tema, conforme detalhado nos parágrafos a seguir.

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No artigo de Almeida et al. (2010), no qual são discutidas políticas públicas e

inclusão social, os autores argumentam que a quantidade de estudos produzidos em âmbito

acadêmico reflete os inúmeros debates suscitados em torno do programa ProUni, apontando

que, no período entre 2005 e 2010, foram produzidas 32 dissertações, cinco teses e oito

artigos, dos quais sete foram publicados na área da Educação.

Com o objetivo de investigar como o ProUni vem sendo pesquisado, Felicetti,

Rossoni e Gomes (2011) publicaram artigo que revisa as teses e dissertações produzidas entre

os anos de 2007 e 2011. Ao final do trabalho, apontam a necessidade de estudos que

envolvam maior número de bolsistas ProUni, quer ainda em fase de estudos, quer egressos,

dada a importância de constatar a eficiência do Programa em escala regional, estadual e

nacional (FELICETTI; ROSSONI; GOMES, 2011).

Na tese de Ferreira (2012a), na qual estudou a compreensão do sujeito bolsista em

relação ao ProUni, o autor apresenta o “Estado da Arte” dentro da temática do ProUni,

produzido entre os anos de 2006 e 2010. Identificadas vinte e oito teses e dissertações

acadêmicas, o autor indica cinco categorias de conteúdos mais analisadas nesses trabalhos,

que são: Democratização do Ensino Superior, Inclusão Social e Profissional, Política

Neoliberal, Influência e Motivação Familiar (FERREIRA, 2012a).

Verifica-se uma crescente produção sobre o tema e até o mês de abril de 2013, data

em que foi feita a coleta dos dados, 80 trabalhos integravam os bancos de teses e dissertações

pesquisados para este trabalho, sendo 57 dissertações e 23 teses. 57,2% das dissertações e

teses existentes acerca do ProUni foram publicadas entre os anos de 2009 e 2011, apontando

que, após as primeiras turmas de prounistas concluírem os cursos em 2008, houve um

crescimento do interesse pelo tema, como se pode observar na tabela 1.

Tabela 1: Dissertações e Teses por ano de publicação

Ano de publicação Dissertação Tese Total geral

2006 02 - 02

2007 09 01 10

2008 07 01 08

2009 11 04 15

2010 09 06 15

2011 11 05 16

2012 8 05 13

2013 - 01 01

Total geral 57 23 80

Fonte: Elaborado pela autora.

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Classificados em termos de natureza da instituição, verificamos que as universidades

federais respondem por 31% dos trabalhos de pesquisas acerca do ProUni, e as PUCs por

28,7%, dos quais a maioria foi realizado pela PUC São Paulo, instituição com a maior

quantidade de publicações sobre o tema em todo o Brasil.

Em termos geográficos, mantém-se o predomínio de trabalhos produzidos na região

sudeste, conforme já identificado por Ferreira (2012b). Em seus apontamentos, o autor indica

que o Sudeste respondia por 43,3% das produções naquele período, predomínio este que se

acentuou uma vez que, no momento, essa região responde por 61,25% das pesquisas de

mestrado e doutorados já realizadas. A tabela 2 detalha a distribuição regional.

Tabela 2: Distribuição da Produção Acadêmica por Regiões

Distribuição da produção acadêmica por regiões – período 2005 a 2013

Centro-oeste 07 8,75%

Nordeste 09 11,25%

Norte 01 1,25%

Sudeste 49 61,25%

Sul 14 17,5%

Total geral 80 100%

Fonte: Elaborado pela autora.

A perspectiva dos alunos foi considerada em 51% dos trabalhos. Os egressos foram

ouvidos por três autores e gestores universitários foram entrevistados em sete pesquisas. Seis

deputados federais responderam questionário de pesquisas, no trabalho de Corcini (2007), e

reitores e pró-reitores foram entrevistados por Stieg (2009). Dos 80 trabalhos identificados, 22

utilizaram revisão de literatura e pesquisa documental, sendo constatado um predomínio da

utilização de métodos qualitativos de pesquisa, e que apenas 11 trabalhos foram analisados

por métodos quantitativos.

2.5.1 Principais enfoques das pesquisas

O impacto do ProUni na vida dos alunos é o principal enfoque abordado nas

dissertações e teses produzidas no período de 2005 a 2013. No estudo de caso realizado por

Ferreira (2009), junto a alunos bolsistas de Salvador, são apontadas a mudança de

comportamento e a obtenção de capital cultural como ganhos possíveis. Na opinião dos

alunos pesquisados, o acesso à universidade configura-se como um caminho em direção à

produção de novos conhecimentos, culturas e ao desenvolvimento das qualificações

necessárias para a inserção no mundo do trabalho (FACEIRA, 2009), como oportunidade

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única para a mudança de vida (KRAMES, 2010) e como possibilidade de inclusão em um

grupo de maior prestígio e status, em que seja possível ter voz e vez (MONGIM, 2010).

Diversos trabalhos abordam o ProUni como possibilidade de democratização do

ensino superior (BISPO, 2007; GASPAR, 2012; MARINELLI, 2010; VALLE, 2009),

enquanto Rocha (2008) aponta o caráter discursivo e mercantilista existente em torno do

programa. Embora, nos resultados de algumas pesquisas, diversos autores tenham apontado

que a maioria dos bolsistas pesquisados considera que o programa democratiza o Ensino

Superior (ALMEIDA, 2012; FARIAS, 2010), na opinião de Rocha (2012), para que a

democratização e a inclusão sejam efetivas, são necessárias políticas voltadas para a

permanência dos estudantes, uma vez que o acesso é possibilitado, porém a permanência não

é garantida. Pesquisa aponta que a evasão se dá em virtude de dificuldades acadêmicas e

financeiras enfrentadas pelos bolsistas (MARTINS, 2011).

Sendo o ProUni uma política pública que contempla cotas raciais, dentre os trabalhos

pesquisados, quatro autores discutiram a inserção do negro na universidade. Na área da

Educação, foi estudada a experiência de inserção do negro em duas IES de Mato Grosso do

Sul (MARQUES, 2010). A identidade racial do estudante negro foi discutida sob a

perspectiva da Psicologia Social (LEITE, 2009), da Teologia (LIMA, 2007) e da Sociologia

(SOTERO, 2009).

Relatos de estranhamento de alunos brancos em relação à presença dos alunos negros

no espaço acadêmico e percepção da existência de preconceito e discriminação expressos de

forma implícita e explícita foram apontados por Marques (2010). Utilizando a história de vida

de um aluno negro, a pesquisa de Leite (2009) aponta que, mesmo diante de dificuldades

socioeconômicas, defasados devido à deficiência do ensino médio, enfrentando e necessitando

superar situações de discriminação racial, esses alunos mostram que é possível ressignificar

suas trajetórias e suas identidades a fim de alcançar emancipação e autonomia. Acerca da

construção da identidade étnico racial do negro, Lima (2007) afirma que tanto a identidade

objetiva (para autorreconhecimento), como a identidade subjetiva (para identificação a partir

do outro) dos alunos é permeada por representações da inferioridade da raça. Alunos

entrevistados por Sotero (2009) consideram que a raça é importante na constituição de suas

identidades, sendo ingrediente fundamental para a percepção de que o lugar ocupado pelo

negro na sociedade é fruto de uma estrutura social que age de forma a tentar mantê-lo em

posições inferiores.

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2.5.2 Principais áreas de estudo

Com referência às áreas de estudo, verifica-se uma predominância de trabalhos

publicados na área da Educação e do Serviço Social, porém o tema tem despertado interesse

de outras áreas do saber como Teologia, Direito e Engenharia, conforme abaixo descrito na

Tabela 3.

Tabela 3: Distribuição de teses e dissertações por área de estudo

Área de estudo Dissertação Tese Total geral %

Administração 03 01 04 5,00%

Antropologia - 01 01 1,25%

Ciências Contábeis 01 - 01 1,25%

Ciências Sociais 03 01 04 5,00%

Direito 02 01 03 3,75%

Economia 02 01 03 3,75%

Educação 34 13 47 58,75%

Engenharia 01 - 01 1,25%

Estudos Étnicos e Africanos 01 - 01 1,25%

Interdisciplinar 01 - 01 1,25%

Politicas Públicas 01 - 01 1,25%

Psicologia 01 01 02 2,50%

Serviço Social 03 03 06 7,50%

Sociologia 03 01 04 5,00%

Teologia 01 - 01 1,25%

Total geral 57 23 80 100%

Fonte: Elaborado pela autora.

2.5.3 Pesquisas na área de Educação

Conforme citado na Tabela 3, a área de Educação responde por 58,75% dos trabalhos

publicados, com um total de 34 dissertações e 13 teses. Dentre as temáticas abordadas, os

estudos enfocam o desempenho dos bolsistas (ALVES, 2008; ROCHA, 2008; ROCHA,

2012), a inserção no mercado de trabalho (COSTA, 2012; GERALDO, 2011; SOUZA, 2011),

as representações sociais que os alunos constroem acerca do ProUni (SEBIM, 2008; SILVA,

2007) e a inclusão social dos egressos (GIACON, 2012). Porém, os temas mais recorrentes

nas dissertações e teses são a democratização do acesso ao ensino superior, a privatização da

educação e as políticas públicas de ações afirmativas e de acesso à educação.

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2.5.4 Pesquisas na área de Serviço Social

Ferreira (2009) discutiu os impactos diretos e indiretos do ProUni na vida dos alunos,

verificando haver um impacto positivo no capital social e cultural, possibilitando construção

de novas relações sociais, elevação da autoestima e autoconfiança e confiança no futuro.

Simões (2011) também analisou as possiblidades de mudança social na vida dos sujeitos a

partir do ensino superior, pesquisando alunos prounistas e não prounistas. As dificuldades

cotidianas enfrentadas por dez alunos do curso de Pedagogia a fim de obter um bom

aproveitamento acadêmico e garantir assim a permanência no curso foram estudadas por

Neves (2010). O acesso e permanência dos bolsistas em uma universidade comunitária do

Ceará foram discutidos por Rocha (2008) em um trabalho no qual o autor sugere, no próprio

título, que o ProUni oferece um “Processo de Inclusão Ilusória”, uma vez que, em sua

opinião, o argumento da democratização do Programa no estado do Ceará não se sustenta e,

nas instituições locais, a produção da ciência está subjugada aos interesses do mercado,

oferecendo uma formação de qualidade questionável.

Rodrigues (2011) também aborda a questão da permanência dos alunos, porém

investiga as estratégias utilizadas pelos bolsistas para se manterem na universidade antes de

contarem com o apoio fornecido por um fundo social da instituição estudada. O autor aponta a

necessidade da implementação de políticas de assistência estudantil que possibilitem a

permanência dos alunos oriundos dos pré-vestibulares comunitários e do ProUni na

universidade (RODRIGUES, 2008).

O papel do ProUni na promoção da inclusão social foi trabalhado por Santos (2011).

Utilizando a técnica de grupos focais, o autor abordou acessibilidade e inclusão/exclusão,

ascensão social, preconceito, estigmas e deficiências do ensino. Constatou-se que estudantes

de baixa renda têm acesso ao ensino superior, mas em IES privadas acabam sendo submetidos

a novas experiências de exclusão, ao tempo que convivem com grupos socioeconomicamente

distintos.

2.5.5 Pesquisas na área de Psicologia

Dois trabalhos foram publicados na área da Psicologia, sendo uma dissertação na

área de Psicologia Social e uma tese em Psicologia Educacional. Ambas as pesquisas são de

natureza qualitativa e utilizam história de vida de sujeito único.

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A dissertação de Leite (2009) visou compreender como o estudante negro, que

ingressou na universidade pela Ação Afirmativa ProUni, constrói sua identidade, bem como

identificar em que medida essa política contribui para sua formação identitária racial. Ao final

do trabalho, a autora infere que o modelo de inclusão social e racial que está posto atualmente

pode ser ilusório, considerado uma política de inclusão numa posição subalterna, uma vez que

não promove mudanças significativas e efetivas no processo de formação de estudantes

negros cotistas.

A tese de Nogueira (2013) investiga “Quais os sentidos subjetivos constituídos pelo

estudante pobre, que ascende à Universidade por meio do ProUni, sobre o seu processo de

escolarização”, utilizando macro dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE), do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e do Conselho de

Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), além de revisão teórica, questionários e uma

entrevista em profundidade com uma bolsista, aluna do curso de psicologia da PUC-SP. A

autora conclui que sentimentos de insegurança, ambivalências entre pertencer ou não ao grupo

da Universidade, reconhecimento da colaboração da família ou dos amigos no processo,

críticas àqueles que não são vistos como apoiadores, valorização da experiência escolar

anterior, orgulho pela conquista, sentimento de vitória pela conclusão do processo e a

perspectiva de mudança de vida são aspectos que compõem a dimensão subjetiva da

experiência de ser bolsista ProUni.

2.5.6 Pesquisas na área de Administração

Na área de Administração, apenas quatro trabalhos foram identificados (BISPO,

2007; GUERRA, 2009; FERREIRA, 2012b; HOPFER, 2011), sendo três dissertações e uma

tese, correspondendo a apenas 5% da produção científica acerca do ProUni. Os quatro

trabalhos têm o próprio Programa como objeto de estudo. Três dessas pesquisas estudam

exclusivamente o ProUni, enquanto um trabalho aborda também o sistema de cotas,

discutindo se as estratégias utilizadas no Programa permitirão uma democratização do ensino

superior e a redução das desigualdades sociais. Em relação ao foco de discussão das

dissertações, Ferreira (2012b) volta-se para a efetividade da política pública; Guerra (2009)

aborda o processo de criação do programa e os jogos de interesses políticos que envolvem a

sua implantação, e a tese de Hopfer (2011) busca posicionar o ProUni como um elemento do

modo capitalista de produção.

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A dissertação de Bispo (2007) é uma revisão bibliográfica, na qual a autora discute

desigualdades sociais, educação, ações afirmativas e sistema de cotas. Aponta que o ProUni e

ações afirmativas para o acesso de afrodescendentes ao ensino superior são medidas tomadas

pelo governo, buscando ampliar o acesso à educação superior no Brasil. Na opinião da autora,

a adoção de ações afirmativas é apenas um passo em direção à democratização do acesso ao

ensino superior, porém considera que o sistema de cotas vem se mostrando eficaz, pois, pela

primeira vez na história, começa a se admitir uma presença minimamente expressiva de

negros em um espaço altamente privilegiado e excludente que é a universidade.

Numa perspectiva crítica, fundamentada na Teoria da Escolha Racional, a

dissertação de Guerra (2009) discute a criação do ProUni e, por meio de pesquisa documental

em dados do Ministério da Educação e Cultura (MEC), Instituto Nacional de Estudos e

Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE), PNUD e Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), busca compreender o

processo de criação do ProUni, evidenciando os interesses intervenientes que permearam a

sua formulação. Investiga os interesses que moveram os atores envolvidos no contexto do

ProUni em suas escolhas. Conclui que, na prática, o ProUni se mostra como um programa que

reflete a lógica de atuação do governo brasileiro em relação à educação superior, na qual as

Parcerias Público-Privado (PPPs) funcionam como elemento central da política de educação

superior nacional, de forma que os limites entre público e privado são eliminados ou

consideravelmente minimizados.

A proposta da dissertação de Ferreira (2012b) foi analisar em que medida o ProUni

contribui para a universalização do acesso à educação superior, sem perder de vista a

qualidade do ensino. O estudo buscou identificar relações entre o ProUni e o desempenho dos

estudantes no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (ENADE), o aumento de

matrículas e a diminuição da evasão. A autora aponta que, quando consideradas as notas

médias dos estudantes, os alunos com bolsa integral do ProUni apresentam desempenho

superior aos outros grupos e que os jovens de cor branca são os menos defasados em relação

ao nível de ensino que frequentam, confirmando as desigualdades que ainda separam brancos

e negros. Com referência à evasão, a pesquisa aponta que a proporção de concluintes alcançou

46% dos ingressantes.

A tese desenvolvida por Hopfer (2011) se propõe a integrar os aspectos externos ou

sociais do programa com os aspectos internos administrativos, acadêmicos e de gestão. A

autora aborda o Programa de forma crítica, defendendo que, a despeito de ser originariamente

caracterizado como um programa de cunho acadêmico-social, o ProUni representa uma

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política pública do Estado Capitalista, que age em benefício das estratégias empresariais das

Instituições de Ensino Superior Privadas (IESP). A receita líquida e o lucro são aumentados,

sendo, assim, garantida uma melhora significativa dos resultados econômicos e da

organização acadêmica das IESP.

2.5.7 Publicações em periódicos

Se por um lado verifica-se uma grande quantidade de dissertações e teses publicadas

abordando o Programa ProUni, poucas publicações de artigos científicos foram identificadas.

Dentro do critério de revistas Qualis A1 a B2, considerando a classificação por área de

conhecimento, mantém-se o predomínio de publicações na área de Educação, seguido por

revistas voltadas às politicas públicas. Especificamente na área de Administração apenas uma

publicação foi encontrada. Verifica-se que muitos autores adotam uma abordagem crítica

acerca do programa, enquanto um segundo grupo adota uma perspectiva de análise mais

positiva.

O artigo de Carvalho e Lopreatto (2005) foi o primeiro publicado abordando o

ProUni com um posicionamento crítico dos aspectos políticos e econômicos do programa;

este tem sido referência para estudos no tema. Os autores apontam que o ProUni pode ser

visto como a alternativa pela qual o governo se valeu para aumentar o número de vagas no

ensino superior sem ampliar diretamente o volume de gastos federais e questionam o porquê

de não se utilizar os recursos destinados ao ProUni para aumentar as vagas nas

universidades/instituições públicas.

Seguindo na mesma linha de pensamento, Carvalho (2006) aborda o contexto das

finanças públicas e o jogo político em torno do programa e analisa o programa como política

de acesso para as camadas mais pobres. A autora discute a efetividade social do ProUni e as

isenções oferecidas às instituições que aderem a ele. Questiona a efetividade do programa,

afirmando que apenas conceder gratuidade integral ou parcial para estudar é insuficiente para

os alunos, sendo necessárias condições que apenas as instituições públicas podem oferecer.

Buscando complementar a pesquisa de Carvalho (2006), o trabalho de Guerra e

Fernandes (2009) discute os grupos de interesses que envolveram o processo de mudança

ocorrido da medida provisória à aprovação da Lei do ProUni. Enfatizam o caráter

assistencialista da priorização do acesso ao ensino superior sem garantia de permanência do

estudante e apontam como de maior gravidade o fato do caráter assistencialista do programa

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estar mais a favor da IES do que dos alunos. Afirmam que o ProUni ressalta o desvio do

Brasil em relação à privatização do ensino superior.

Catani e Giliolli (2005) caracterizam o ProUni como um programa voltado a

promover o acesso – e não a permanência – de estudantes de baixa renda ao nível superior. Na

opinião desses autores, enquanto a adesão ao programa amplia o poder das IES, resolvendo o

problema de vagas ociosas e evasão de alunos em virtude da falta de recursos para

pagamentos de mensalidades, aos bolsistas do ProUni é oferecida uma cidadania de segunda

classe, ficando estes abandonados à iniciativa privada.

Também de forma crítica, Catani et al. (2006) apresentam o programa em termos

numéricos, avaliam-no como de impacto popular, privatista e de baixo custo orçamentário,

afirmando que o MEC optou por conceder benefícios em vez de promover direitos. Além

disso, consideram que até como mera política assistencialista o ProUni é fraco, uma vez que

abre o acesso à educação superior, porém pouco se preocupa com a permanência do

estudante, elemento fundamental para a democratização do ensino superior. Conclui-se que é

atribuído às IES privadas a responsabilidade de assegurar a permanência do estudante

bolsista.

Sob uma perspectiva mais positiva, na área de Políticas Públicas, Amaral e Oliveira

(2011) publicaram dois artigos, nos quais avaliam o impacto da conclusão do ensino superior

no bem-estar dos alunos, a partir de indicadores como renda, inserção no mercado de trabalho

e ascensão profissional. Utilizando questionários respondidos por seis bolsistas, os autores

apontam que os egressos consideram o programa positivo para a obtenção de colocação no

mercado de trabalho e aumento da renda familiar.

Na área da Educação, Oliveira e Molina (2012) estudaram os desafios e implicações

do ProUni nas práticas institucionais de uma IES da região metropolitana do Vale do Aço e a

efetividade do programa para o acesso de estudantes negros da mesma região. De acordo com

depoimentos de professores entrevistados, os quesitos cor/raça não são evidenciados, não

sendo possível identificar quem são esses estudantes, a não ser em situações em que o próprio

bolsista se manifeste como prounista.

Utilizando 163 questionários de pesquisa respondidos por bolsistas e entrevistas

individuais, Santos (2012) analisou a inserção de Prounistas na PUC-Rio, buscando traçar o

perfil socioeconômico destes, identificando incentivos e dificuldades para a permanência no

curso. Afirma que o programa funcionou como um mecanismo positivo de inclusão na

instituição de grupos historicamente excluídos da educação superior, porém aponta a

necessidade de mecanismos que garantam a conclusão do curso (SANTOS, 2012b).

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Utilizando questionários eletrônicos enviados por meio do Sistema de Gestão

Acadêmica da IES, respondidos por 1.475 alunos de diferentes cursos, questionários enviados

pelo Sistema de Gestão Acadêmica do Professor, respondidos por 165 docentes, e

depoimentos de 73 alunos, obtidos por meio de grupos focais, Oliveira et al. (2012)

analisaram a implantação do Programa ProUni na PUC-MG a partir de uma perspectiva de

inclusão social e desempenho dos bolsistas. Seus resultados indicam que o ProUni tem tido

êxito como Política de Inclusão Social: a maioria dos bolsistas tem obtido desempenhos

positivos e a evasão é pequena. Alunos indicam que superar a precariedade do ensino médio

público é um desafio; referem contar com incentivo dos pais; consideram que o Exame

Nacional do Ensino Médio (ENEM) facilita o acesso à universidade e valorizam o ProUni

como política pública de acesso ao ensino superior; apontam que o acesso a material didático

e bens culturais como viagens e cursos de línguas é difícil; muitos aderem a programas de

iniciação científica e extensões, porém outros relatam dificuldades em alcançar bom

desempenho por necessitar conciliar trabalho e estudo. Embora relatem que as relações com

colegas e professores sejam boas, alguns mencionam sentimento de diferenciação e

discriminação frente aos não bolsistas. A maioria dos professores (87%) avalia o programa

como positivo. Os alunos também foram avaliados positivamente por 78% dos professores,

sendo que alguns declaram não perceber diferenças entre bolsistas e não bolsistas, enquanto

outros apontam um desnivelamento entre os dois grupos.

O único artigo na área de Administração, de autoria de Saraiva e Nunes (2011),

discute a efetividade do ProUni e aborda a educação como forma de inclusão. Na análise do

discurso de entrevistas em profundidade realizadas com 11 alunos bolsistas do curso de

Administração, esses se referem à receptividade positiva na inserção nas IES particulares,

melhoria do desenvolvimento pessoal e, por conseguinte, condições de maior igualdade para

concorrer com outros profissionais a vagas no mercado de trabalho.

2.6 A EDUCAÇÃO SUPERIOR – CONTEXTO POLÍTICO, ECONÔMICO E

SOCIAL

A educação superior brasileira esteve destinada, desde sua origem, no período do

Brasil Colônia, à formação das elites, havendo, em todos os momentos da história do país, um

predomínio da assistência ao ensino das elites, enquanto a universalização da educação

popular, condição necessária para a consolidação da democracia brasileira, era negligenciada

(OLIVEIRA, 2004). O Brasil é um país reconhecido por sua extrema desigualdade na

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distribuição espacial, de renda e de oportunidades e essas diferenças estão refletidas na

educação e nas oportunidades de acesso ao mercado de trabalho (SILVA, 2007). A

democratização do acesso à educação exerce papel fundamental para a redução dessas

diferenças (GIACON, 2012).

Embora, como já apontado anteriormente, a formulação do Programa tenha surgido

permeada por interesses intervenientes (GUERRA, 2009), que, conforme argumentado por

Hopfer (2011), representem uma política pública do Estado Capitalista que beneficiam as

Instituições de Ensino Superior Privadas (IESP), o ProUni, descrito a seguir, foi criado pelo

governo federal e apresentado sob o argumento de visar a redução de diferenças e

democratização do acesso ao ensino superior no país. É um programa de ação afirmativa,

operacionalizado mediante concessão de bolsas a alunos de baixa renda (GRAMPA, 2013),

que contempla também cota de vagas para deficientes, negros e indígenas.

2.6.1 Breve cenário das ações afirmativas nos Estados Unidos

Os Estados Unidos é pioneiro na adoção das políticas sociais denominadas de ações

afirmativas. Criadas na década de 1960 e tendo a idealização destas atribuída ao então

presidente do país, John F. Kennedy (BERTOLIN; BENEDITO, 2013), as ações afirmativas

foram concebidas inicialmente como mecanismos tendentes a solucionar o problema da

marginalização social e econômica do negro na sociedade americana, sendo posteriormente

estendidas às mulheres, a outras minorias étnicas e nacionais, aos índios e aos deficientes

físicos (BARBOSA, 2005). Além disso, destinavam especial consideração para

empregabilidade, educação e decisão de contratação desses grupos minoritários (PALMER et

al. , 2013). Nas instituições educacionais, essas políticas visavam ampliar o acesso dessas

minorias à educação superior.

Veras (2006) assinala que, em períodos de prosperidade econômica, os programas de

ação afirmativa baseados em critérios étnicos raciais foram amplamente adotados nos Estados

Unidos. Após um período de recessão passaram a ser amplamente questionados, conduzindo a

um processo de desmantelamento dos programas com esse enfoque. A autora atribui a

ocorrência desse processo de desmantelamento a dois fatores: a supressão dos programas de

discriminação positiva e a falta de um posicionamento definitivo da Suprema Corte

Americana acerca da questão.

Nos Estados Unidos, as políticas de discriminação positiva têm revelado a

inexistência de um modelo fixo e imutável de ação afirmativa, verificando-se uma tendência a

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certa variação dos fundamentos jurídicos e políticos inerentes a este tipo de política (VERAS,

2006). A constitucionalidade dessas políticas tem sido vigorosamente questionada desde suas

implementações. Leis foram promulgadas e desafios judiciais empreendidos, havendo

posições favoráveis e contrárias à diversificação racial nas universidades públicas (PALMER

et al. , 2013).

Além de altamente competitivos, os processos admissionais das instituições de

ensino superior no país são bastante controversos. Niu e Tienda (2010) apontam que, após a

proibição de considerar o critério de raça em seus processos admissionais, as universidades

estadunidenses têm buscado critérios alternativos de admissão que possibilitem a ampliação

da diversidade, de forma a não ferir a lei e, ao mesmo tempo, assegurar que a meritocracia

seja respeitada.

No estado do Texas, em resposta a referida proibição legal, criou-se uma legislação,

conhecida como Lei Top 10%, que estabelece um modelo de processo seletivo que garante

admissão a 10% de alunos, oriundos de escolas públicas, com melhor desempenho em suas

classes. A filosofia por detrás da referida política é possibilitar que, independente de status

econômico, local de residência ou etnia, todos os melhores alunos possam frequentar as

principais universidades (NIU; TIENDA, 2010).

Oliven (2007) aponta que, ainda na década de 1960, a Universidade da Califórnia foi

uma das primeiras instituições de ensino a estabelecer programas de ampliação do acesso das

minorias em sua comunidade acadêmica. Chegou a contemplar, no ano de 1994, 21% de

calouros pertencentes a grupos minoritários. Porém, em julho de 1995, suspendeu a adoção de

programas de ação afirmativa com base em critérios raciais. No ano de 2001, a instituição

passou a admitir automaticamente, em campi e cursos menos concorridos, alunos oriundos de

escolas públicas com desempenho superior, indiretamente possibilitando o aumento na

diversidade racial dos alunos admitidos.

Decorrente das controvérsias que envolvem essas políticas sensíveis à raça, muitas

IES estão abandonando o uso de ações afirmativas, que poderiam viabilizar o aumento da

diversidade racial em seus campi. As ações remanescentes têm se mostrado insuficientes para

impedir o desânimo e a desistência de estudantes pobres e negros em aventurar-se num

universo cultural altamente centrado nos valores dos grupos étnicos dominantes – europeus e

asiáticos (PALMER et al. , 2013).

Os progressivos questionamentos gerados em torno da questão da implementação das

ações afirmativas por critério étnico-racial integram um processo que, na opinião de Veras

(2006), se movimenta em direção a um modelo mais “flexível” de ação afirmativa, no qual se

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constata a ocorrência de certa “desracialização” dos fundamentos jurídicos e políticos

inerentes a esse tipo de política, caracterizada pela promoção da diversidade no lugar da

igualdade, assim como da promoção do indivíduo em vez do grupo. De acordo com Palmer et

al. (2013), as previsões para o futuro sinalizam o final da utilização de ações afirmativas no

ensino superior nos EUA, em decorrência da relutância das IES em fazer uso dessas por temor

de litígios.

2.6.2 Ações afirmativas no Brasil

O debate sobre políticas de ação afirmativa no Brasil é relativamente recente.

Somente a partir de 1990 o diálogo acerca da implantação de ações afirmativas tem se tornado

mais expressivo, alcançando espaço nos meios de comunicação de massa e rodas de

discussão. A partir da III Conferência Mundial de Combate ao Racismo, Discriminação

Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata, realizada em 2001, em Durban, África do Sul, na

qual o Brasil posicionou-se favorável a políticas públicas que beneficiem grupos

historicamente discriminados, o tema ganhou maior repercussão social (OLIVEN, 2007).

As ações afirmativas são políticas de inclusão especiais e temporárias, tomadas ou

determinadas pelo Estado, de forma espontânea ou compulsória (ESTACIA, 2009), previstas

com o objetivo de garantir a inclusão das minorias em áreas fundamentais da vida humana,

como educação e trabalho (BERTOLIN; BENEDITO, 2013). Atualmente, as ações

afirmativas podem ser definidas como:

Um conjunto de políticas públicas e privadas de caráter compulsório,

facultativo ou voluntário, concebidas com vistas ao combate à discriminação

racial, de gênero, por deficiência física e de origem nacional, bem como para

corrigir ou mitigar os efeitos presentes da discriminação praticada no

passado, tendo por objetivo a concretização do ideal de efetiva igualdade de

acesso a bens fundamentais como a educação e o emprego (GOMES;

SILVA, 2011 p. 94).

Por definição, devem ser adotadas por um período de vigência determinado,

enquanto perdurarem as condições que justificaram sua criação (APRILE; BARONE, 2008).

Essas políticas objetivam garantir igualdade de oportunidades e de tratamento, bem como

compensar perdas provocadas por discriminação e marginalização, decorrentes de motivos

raciais, étnicos, religiosos, sociais, econômicos, de gênero e outros.

A partir da Constituição de 1988, o debate sobre ações afirmativas foi intensificado e

a constitucionalidade destas questionada. Fundamentado no artigo 5º, caput, cláusula pétrea

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da Constituição Federal, o princípio da igualdade assevera que “todos são iguais perante a lei,

sem distinção de qualquer natureza”. Ao afirmar a igualdade, estabelece-se o direito formal de

tratamento igualitário, contudo, a proclamação jurídica por si só é insuficiente para reverter o

quadro social brasileiro, dado que o histórico da sociedade brasileira é marcado por um longo

período de escravidão e o status de inferioridade e de discriminação dos grupos sociais

continuam sendo reproduzidos. A Constituição não se limita a proibir a discriminação. Ela

permite também a utilização de medidas que possibilitem uma implementação efetiva da

igualdade material (BARBOSA, 2005). Rompendo com o mero estabelecimento da igualdade

formal, o artigo 3º do texto constitucional admite a existência de uma desigualdade material a

ser combatida (GRAMPA, 2013), determinando entre os objetivos da República brasileira a

erradicação da pobreza e da marginalização; a redução das desigualdades sociais e a

promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer

outras formas de discriminação, sendo as ações afirmativas condutas ativas por meio das

quais se busca promover a igualação.

Para o alcance desses objetivos, a atuação ativa do Estado é requerida e as ações

afirmativas visam propiciar a efetiva igualdade de oportunidades a que todos os seres

humanos têm direito (BARBOSA, 2005). Voltadas à garantia da concretização do princípio

constitucional da igualdade material, as ações afirmativas têm como objetivo não apenas

coibir a discriminação, mas, sobretudo, eliminar os “efeitos persistentes” da discriminação do

passado, cujos reflexos são manifestos nas imensas desigualdades sociais existentes em nossa

sociedade (BOLONHA; TEFFÉ, 2012). Esses autores argumentam que, embora formalmente

assegurado constitucionalmente, não foram dispostos mecanismos capazes de garantir

efetivamente tal direito à igualdade.

Bolonha e Teffé (2012) apontam que, permeadas por debates doutrinários em relação

ao princípio de igualdade, nos últimos anos, as ações afirmativas têm oferecido tratamentos

positivos diferenciados, por meio de leis infraconstitucionais, políticas públicas e projetos,

visando promover a igualdade fática entre os cidadãos. As ações afirmativas fundamentam-se

na máxima de que se deve tratar de forma desigual os desiguais, na exata medida de suas

desigualdades.

As ações afirmativas podem ser implementadas por meio de diferentes modalidades e

técnicas, tais como sistema de bônus, incentivos fiscais, estabelecimento de preferências

(BARBOSA, 2005), porém, no cenário brasileiro, as ações afirmativas estão representadas

essencialmente nos programas de cotas, por meio de medidas que contemplam,

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prioritariamente, a inserção social de grupos minoritários com histórico de exclusão (étnicos,

raciais e deficientes), adotando a reserva de vagas (GUARNIERI; MELO-SILVA, 2007).

A partir de 2001, em algumas universidades públicas foram introduzidas cotas raciais

e de renda, e a política de ações afirmativas foi adotada por algumas universidades federais

(SENA, 2011). No âmbito das universidades, as cotas sociais e raciais significam a efetivação

de uma discriminação positiva, capaz de ampliar a diversidade cultural, racial e social nas

instituições de ensino (BOLONHA; TEFFÉ, 2012). Enquanto as cotas e as políticas de ação

afirmativa são vistas como medidas compensatórias, na compreensão de alguns autores,

outros reconhecem nessas ações a possibilidade de políticas de inclusão social e a

oportunidade de dar enfoque à questão racial. O debate sobre as ações afirmativas é

antagônico e complexo. Uma das críticas mais comumente apresentadas refere-se à falta de

clareza no Brasil para definição de “afrodescendentes” em virtude de raça ser uma construção

social ideológica (FACEIRA, 2009). Pautados pelo princípio da igualdade de oportunidades

na competição entre indivíduos, as políticas de ações afirmativas estão fundamentadas na

desigualdade de tratamento apenas como meio de restituição da igualdade (MOEHLECKE,

2009).

Bolonha e Teffé (2012) assinalam que as universidades públicas brasileiras vêm se

posicionando favoravelmente à adoção de diretrizes de admissão sensíveis à raça e à condição

financeira do cidadão. Apontam que, no ano de 2012, pelo menos 56 instituições públicas já

utilizavam o sistema de cotas como ação afirmativa, traçando e delimitando internamente as

regras, seja por lei ou por resolução universitária.

Com o mesmo objetivo de reparação das desigualdades, em caráter de ação

afirmativa, por meio da Lei 12.711, publicada em 29 de agosto de 2012, foi assegurada a

reserva de vagas para acesso das minorias às instituições federais de ensino. Obrigando uma

reserva de 50% das vagas em instituições federais às cotas, de forma similar ao ProUni, a

política contempla estudantes que tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas

públicas. Dessas vagas, metade é reservada a alunos com renda familiar per capta igual ou

inferior a 1,5 salário mínimo e a outra metade independe da renda. As cotas raciais são

diferentes em cada Estado, pois são proporcionais à composição étnico-racial verificada pelo

IBGE, e devem incidir sobre a totalidade das vagas reservadas às cotas (50%). Essa proporção

étnico-racial é dividida entre pretos, pardos e indígenas; nenhum segmento étnico/racial pode

ficar sem reserva de cotas (BRASIL, 2012).

No caso das instituições de Ensino Superior privadas, a definição política do

Governo Federal para a eliminação das desigualdades se deu pela criação do ProUni, que opta

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por expandir o acesso ao ensino superior mediante utilização de vagas que se encontravam

ociosas nas IES privadas. O discurso do governo é de que buscam a democratização do acesso

ao ensino superior e correção das desigualdades via ação afirmativa, entretanto, na opinião de

alguns estudiosos do tema, a medida se configura para as minorias como um benefício ao

invés de um direito (GRAMPA, 2013; CATANI et al. , 2006), e para as IES privadas como

mais uma intervenção do governo em favor das elites dominantes.

2.6.3 Cenário político-econômico antecedente ao ProUni

No período antecedente à criação do ProUni, de acordo com Carvalho (2006), o

controle do déficit público ocupava lugar central na política macroeconômica do Brasil. Outra

significativa alteração no cenário nacional se deu com a abertura dos mercados financeiros e o

crescente fluxo de investimentos disponíveis por parte dos países em desenvolvimento,

momento a partir do qual demonstrar gozar de boa situação fiscal tornou-se insuficiente para

o país; a garantia para com os credores da sustentabilidade da dívida passou a ser o novo

indicador de confiança dos países para recebimento de recursos internacionais (CARVALHO;

LOPREATO, 2005).

Em 1998, o governo de Fernando Henrique Cardoso firmou um acordo com o FMI,

passando a ser exigido pelo referido órgão que o governo garantisse a manutenção de um

superávit primário capaz de assegurar a sustentabilidade da dívida do país. Dado o cenário de

elevadas taxas de juros reais, instabilidade cambial e evolução insignificante do Produto

Interno Bruto (PIB), a alternativa possível foi promover constantes aumentos do superávit

primário. Na gestão do presidente Lula, duas medidas foram adotadas visando a elevação do

superávit: promoção do aumento da carga tributária (30% do PIB, em 1998, para 35% em

2003) e significativos cortes nos gastos públicos (CARVALHO; LOPREATO, 2005;

CARVALHO, 2006).

Para o alcance do equilíbrio orçamentário dos países em desenvolvimento, como é o

caso do Brasil, é recomendado que o país promovesse a redução dos gastos públicos, a

desregulamentação dos mercados domésticos e a privatização das empresas e dos serviços

públicos, dentre os quais estão incluídos os serviços relativos à educação (GUERRA, 2009).

Na opinião de Lopreato e Carvalho (2006), o ProUni pode ser visto como a

alternativa da qual o governo se valeu para aumentar o número de vagas no ensino superior,

sem ampliar diretamente o volume de gastos federais, lógica que atende à política de controle

de gastos públicos e aos objetivos de sustentabilidade da dívida. Cabe aqui mencionar uma

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outra leitura, feita por Almeida (2006), que argumenta que o ProUni surge como uma

operação de salvamento para o setor privado, devido à profunda crise pela qual passavam as

IES privadas.

2.6.4 Contexto socioeconômico brasileiro e a desigualdade social

Acerca da realidade social do Brasil, Pochmann (2003) chama a atenção para a

contradição existente no país. Paradoxalmente, enquanto o Brasil está classificado entre as

maiores economias mundial, sua distribuição de renda está entre as piores do mundo.

Também apontando os antagonismos existentes no país, Nogueira (2013) argumenta que,

apesar das dimensões continentais e da grande projeção econômica obtida pelo Brasil nos

últimos anos, as desigualdades são muitas e antigas, questões históricas, culturais, econômicas

e subjetivas que estruturam boa parte das relações da população brasileira.

Somos uma sociedade visceralmente desigual desde a nossa origem (OLIVEN,

2007). A origem da educação superior brasileira data do período da chegada da família real e

da corte de Lisboa no Brasil, em 1808, quando surgiram os primeiros cursos superiores,

naquela época, baseados em aulas avulsas e ensinos práticos. Desde o período do Império, as

instituições públicas destinavam-se à formação das elites e, em todos os momentos históricos,

predominou a assistência ao ensino das elites e o despropósito com a universalização da

educação popular, condição necessária para a consolidação da democracia brasileira

(OLIVEIRA, 2004).

O Brasil está colocado como a sexta maior economia do mundo desde 2011, quando

ultrapassou o Reino Unido. A economia brasileira, a partir dessa nova colocação, fica atrás

apenas dos Estados Unidos, da China, do Japão, da Alemanha e da França. A posição leva em

conta o Produto Interno Bruto (PIB), que é a soma de tudo o que um país produz. A renda per

capta brasileira permanece baixa quando comparada aos países ricos (US$ 12,5 mil no Brasil

contra US$ 40 mil no Reino Unido, por exemplo), apesar de ter triplicado na última

década (BRASIL, 2013).

Economicamente, o Brasil está bem posicionado, porém, quando analisado a partir

da perspectiva do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), de acordo com o Relatório do

Desenvolvimento Humano (2011), o status do país fica comprometido, ressaltando as

diferenças existentes. Ocupando o 84º lugar no ranking mundial, o IDH do país é de 0,718,

ficando abaixo de países como Equador e Peru. Embora classificado em posição ruim, o país

tem obtido uma trajetória positiva comparado com as duas décadas anteriores, uma vez que

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em 1990 o IDH brasileiro era de 0,549 e em 1980 de 0,600. Acerca dos níveis de escolaridade

do país, a expectativa era de que o Brasil alcançasse uma média de 13,8 anos de escolaridade

por indivíduo, porém, até o fechamento do relatório, em 2011, a média obtida foi de 7,2 anos

de escolaridade, índice muito aquém do desejado.

Outra forma de análise das condições socioeconômicas de um país é o coeficiente

Gini, fornecido anualmente pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), que mede

o grau de desigualdade na distribuição da renda domiciliar per capta entre indivíduos. Na

variação de valor zero significa que não há desigualdade de rendas e um representa

desigualdade máxima. De acordo com esse índice, em 1991, o Brasil tinha um grau de

desigualdade de 0,63; em 2000, alcançou 0,64, abaixando em 2010 para 0,60, na média

nacional. Os índices nacionais colocam o Brasil entre os seis piores do mundo em termos de

desigualdade social.

Os dados expostos validam o argumento de Nogueira (2013), que indica que o Brasil

não é um país pobre, mas, sim, um país com muitos pobres, no qual existe uma distribuição

de renda perversa e as oportunidades de inclusão econômica, cultural e social para a camada

pobre são poucas.

A sociedade brasileira é caracterizada por extrema desigualdade espacial, de renda e

de oportunidades e essas desigualdades se refletem na educação e nas oportunidades de acesso

ao mercado de trabalho (NOGUEIRA, 2013). Abordar temas sociais no Brasil significa

observar sempre essas questões, pois, comprovadamente, maiores níveis de escolaridade

garantem melhores oportunidades de inserção qualificada no mercado de trabalho. Embora,

como sinalizado por Barbosa (2005), a educação seja o mais importante bem que o indivíduo

recebe ou deve receber do Estado, sob a alegação de não poder fornecê-la de forma universal,

os recursos têm sido destinados à educação da elite. Dado que, historicamente, a exclusão

educacional tem sido reproduzida, significativa parcela da população brasileira tem estado à

margem do acesso a melhores oportunidades profissionais e, por conseguinte, sociais.

A redução das desigualdades sociais e regionais consiste da equalização das

oportunidades de acesso à educação de qualidade, e figura como um dos objetivos do Plano

de Desenvolvimento da Educação (PDE), lançado pelo governo federal (BRASIL, 2009). A

inclusão social integra os temas prioritários do discurso político contemporâneo, como

instrumento de constituição da cidadania e de consolidação da democracia em bases justas

(KRAINSKI, 2011). Assegurada como direito constitucional, a educação apresenta-se como

um meio de acesso à cidadania, de reversão das desigualdades sociais e, portanto, de inclusão

social.

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A educação é considerada um dos fatores mais importantes de ascensão social, uma

vez que sem qualificações educacionais não é possível, por exemplo, ocupar posições de

profissionais liberais, entre outras, que proporcionam condições de vida relativamente mais

confortáveis (RIBEIRO, 2006). A educação exerce papel fundamental em proporcionar aos

indivíduos uma bagagem de conhecimentos, habilidades e competências necessárias para uma

participação ativa na sociedade e na economia. De acordo com Pochmann (2003), o processo

de inclusão social das pessoas que não possuem renda é possível, urgente e necessário.

2.6.5 Cenário político-educacional antecedente ao ProUni

De acordo com as determinações normativas da Reforma Universitária de 1968, as

IES de qualquer natureza, quer universidades, escolas ou faculdades isoladas, devem ser,

perante a lei, consideradas fundações ou associações. A partir do lançamento da Lei de

Diretrizes e Bases da Educação (LDB) de 1996, foram estabelecidas novas diretrizes e bases

para regulamentar a educação nacional e, por conseguinte, as instituições de ensino. De

acordo com o Art. 20 da LDB de 1996, a natureza das IES privadas enquadra-se nas seguintes

categorias:

I – particulares em sentido estrito, assim entendidas as que

são instituídas e mantidas por uma ou mais pessoas físicas ou jurídicas

de direito privado que não apresentem as características dos incisos

abaixo;

II – comunitárias, assim entendidas as que são instituídas por

grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais pessoas jurídicas,

inclusive cooperativas educacionais, sem fins lucrativos, que incluam

na sua entidade mantenedora representantes da comunidade (redação

dada pela Lei nº 12.020, de 2009);

III – confessionais, assim entendidas as que são instituídas

por grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais pessoas jurídicas

que atendem a orientação confessional e ideologia específicas e ao

disposto no inciso anterior;

IV – filantrópicas, na forma da lei.

Guerra e Fernandes (2009) assinalam que, no mesmo contexto da LDB, em agosto de

1997, por meio da medida provisória 1.477-39 (que dispõe sobre cobranças de mensalidades

escolares) e do decreto 2.306 (que regulamenta as práticas jurídicas da IES) publicados no

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mesmo mês e ano, foi produzida a fundamentação legal para que o setor privado educacional

brasileiro pudesse ter características lucrativas. Nessa mesma compreensão, Jezine et al.

(2011) afirmam que a LDB/96 se constituiu um instrumento legal para a expansão acelerada

da educação superior pela via da privatização, materializando os acordos com o Banco

Mundial acerca da diversificação institucional.

Embora não se possa reduzir a educação à dimensão econômica, é notável que o

modelo hegemônico do neoliberalismo não se limita à atividade econômica, tendo especial

reflexo na educação, não mais concebida como um bem social, mas como um produto

comercial, figurando na agenda da globalização neoliberal a partir do conceito de qualidade e

da ideia de educação para todos (JEZINE et al. , 2011).

A meta para a educação, estabelecida no Plano Nacional de Educação (PNE),

aprovada em 2001, era de que o Brasil alcançasse, até o final de 2010, um percentual de 30%

dos jovens, entre 18 e 24 anos, cursando o nível superior (AMARAL; OLIVEIRA, 2011).

Embora dentre os objetivos declarados do PNE encontrem-se a elevação global do nível de

escolaridade da população, a melhoria da qualidade do ensino em todos os níveis, a redução

das desigualdades sociais e regionais no tocante ao acesso e à permanência, com sucesso, na

educação pública (ALMEIDA, 2006), o governo recorreu ao setor privado, a fim de atingir

essa meta, pois não dispunha de infraestrutura ou pessoal suficiente para isso, uma vez que

não foram priorizados investimentos na educação superior pública (PELEIAS et al. , 2012).

Conceitualmente, para que um sistema seja caracterizado como de massa, este deve

absorver de 15 a 33% da população e para ser considerado universal deve absorver mais de

33% (GUERRA; FERNANDES, 2009). O ProUni foi criado com a missão de democratizar o

ensino superior no Brasil. No entanto, Prestes, Jezine e Scocuglia (2012) consideram

procedente atentar para o fato de que a massificação da educação superior não significa a

queda da tradicional universidade elitista. De acordo com esses autores, a expansão do canal

de acesso ao ensino superior no país, embora represente iniciativas significativas no plano da

democratização do acesso, não possui força suficiente para derrubar a muralha da diferença de

classe social.

2.7 O PROGRAMA UNIVERSIDADE PARA TODOS – PROUNI

Criado por meio da MP nº 213/2004 e institucionalizado pela Lei nº 11.096, de 13 de

janeiro de 2005, o ProUni surgiu imbuído de um discurso de justiça social (CARVALHO,

2006), tendo como finalidade a concessão de bolsas de estudos integrais e parciais a

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estudantes de baixa renda em cursos de graduação e sequenciais de formação específica, em

instituições privadas de ensino superior.

De acordo com Guerra e Fernandes (2009), o projeto de Lei 3.582/2004, concebido

pelo Governo Federal Brasileiro, que propõe a concessão de isenção fiscal às instituições de

ensino superior privado em troca da oferta de bolsas de estudo a alunos oriundos da rede

pública, teve como modelo o programa de isenção parcial do Imposto sobre Serviços (ISS),

utilizado inicialmente pela Prefeitura de São Paulo.

O ProUni é um programa de ação afirmativa, constitui-se uma política pública

federal, política redistributiva, uma vez que atende às classes sociais menos favorecidas e de

governo (GRAMPA, 2013, p. 214). Tem como objetivo a promoção da inclusão social, por

meio da concessão de vagas para estudantes de baixa renda em instituições privadas de ensino

superior, destina cotas para os que se autodeclaram pretos, pardos ou índios e optam por ser

beneficiários desse sistema no ato da inscrição, além de uma reserva de vagas para deficientes

físicos (LIMA, 2010). Visa também a promoção e aprimoramento do magistério, sendo

ofertadas bolsas para a formação de professores de ensino básico da rede pública, com

possíveis impactos positivos na qualidade da aprendizagem dos alunos da educação básica.

De autoria do Ministério da Educação (MEC), o projeto de lei foi enviado ao

Congresso sob o argumento de que a implantação do ProUni possibilitaria a criação de novas

vagas no Ensino Superior, para alunos cotistas, sem, contudo, requerer investimento adicional

por parte do governo federal (AMARAL; OLIVEIRA, 2011). Em contrapartida à concessão

das bolsas, o governo oferece isenção de alguns tributos àquelas instituições de ensino

particulares que aderem ao Programa, de acordo com a modalidade jurídica das instituições

(CARVALHO, 2006).

Ao optarem pela adesão ao ProUni, as IES com fins lucrativos recebem isenção da

maioria dos tributos federais; as IES sem fins lucrativos ficam liberadas do recolhimento da

Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (COFINS) e para o Programa de

Integração Social (PIS). Para todas as IES filantrópicas existe a obrigatoriedade da adesão ao

ProUni e concessão de bolsas integrais, visto que os tributos municipais podem ser

negociados com os poderes locais. O INSS patronal pode ser parcelado nos cinco primeiros

anos, conforme expresso na legislação do ProUni (SANTOS, 2011).

Para Catani, Hey e Giliolli (2006, p.126), a integridade da proposta inicial do

Programa ProUni, enquanto medida de acesso ao ensino superior para pessoas de baixa renda,

ficou comprometida em virtude das “diversas alterações, influenciadas pelas IES privadas e

beneficentes” e, conforme apontado por Valle (2009), em seu resultado final, o programa

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passou a atender mais aos interesses de instituições privadas para preenchimento das vagas

ociosas do que a reforçar seu caráter de democratização em relação ao ensino superior.

A despeito do texto da Medida Provisória da Presidência, que institui o Programa,

asseverar que “toda a atuação política relativa ao marco regulatório do ensino superior foi

orientada de forma a buscar a formação de um amplo consenso, incorporando reivindicações e

sugestões de todos os setores envolvidos” (BRASIL, 2004), Guerra e Fernandes (2009)

apontam que as análises da evolução da tramitação do PL até a aprovação final da Lei

mostram que as IES privadas foram o grupo mais ouvido em suas reivindicações, reforçando

opinião contrária ao discurso de democratização.

O texto da Lei estabelece que as instituições com ou sem fins lucrativos e não

filantrópicas concederão uma bolsa integral para cada 10,7 alunos pagantes ou, de forma

alternativa, uma bolsa integral para cada 22 pagantes, com quantidades adicionais de bolsas

parciais (50% e 25%), até atingir 8,5% da receita bruta da IES.

As IES beneficentes devem obrigatoriamente conceder 10% de sua receita bruta em

bolsas integrais para alunos prounistas e destinar outros 10% de gratuidade em bolsas parciais

de 50% e bolsas assistenciais. Para as instituições particulares, com ou sem fins lucrativos, a

participação no programa é voluntária, firmada mediante termo de adesão, enquanto para as

instituições filantrópicas a adesão ao programa e a concessão de bolsas integrais são

obrigatórias. Santos (2011) aponta que o prazo de adesão é de dez anos, podendo ser

renovável pelo mesmo período de tempo, havendo permissão para permutação de bolsas entre

cursos e turnos, até o limite de um quinto das bolsas oferecidas para cada curso e turno.

Guerra (2009) argumenta que, por possibilitar a inclusão no ensino superior de um

estrato da população que não teria acesso a esse nível educacional, devido a limitação de

oferta na rede pública, o ProUni foi apresentado revestido por um discurso de justiça social e

desenvolvimento econômico. No entanto, os discursos oficiais do governo dificilmente

referem-se às pressões exercidas por grupos de interesse das instituições de ensino superior,

cenário marcado por alta concorrência e ociosidade de quase metade das vagas ofertadas.

2.7.1 Critérios Seletivos

Nas IES privadas, os critérios utilizados para selecionar os beneficiários do programa

de bolsas do ProUni são a obtenção de, no mínimo, 450 (quatrocentos e cinquenta) pontos na

média aritmética das notas obtidas nas provas do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM)

e o perfil sócio econômico do estudante, sem necessidade de submissão a processos de

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vestibular das instituições privadas. As bolsas são destinadas a estudantes oriundos de

famílias cuja renda per capta não exceda um salário mínimo e meio, em caso de pleitos de

bolsa integral, e três salários mínimos mensais, no caso de bolsas parciais (MEC, 2013).

Compete a IES aferir a veracidade das informações prestadas pelo estudante no ato

da entrega dos documentos para matrícula. As instituições podem estabelecer processos

próprios para submeter os candidatos que, uma vez aprovados, são inseridos no programa

mediante termo de concessão de bolsa. Durante a formação é requerido um aproveitamento

acadêmico de 75% (setenta e cinco por cento), sob pena de perda da concessão da bolsa.

2.7.2 O ProUni em números

O Programa ProUni tem seguido uma tendência crescente e já teve o número de

vagas ofertadas praticamente dobrado desde seu lançamento, em 2005. Desde a implantação

do ProUni, o número de vagas ofertadas tem crescido semestralmente. No primeiro semestre

de 2005, quando o programa foi lançado, de acordo com dados do MEC, no Brasil inteiro

foram ofertadas 112.275 vagas, distribuídas entre bolsas parciais e integrais. No primeiro

semestre de 2012 já se atingiu um total de 194.311 vagas ofertadas, perfazendo um

crescimento de 73,1% no total de vagas disponíveis. Grande percentual dessas vagas ofertadas

está no Estado de São Paulo, onde a tendência de crescimento das vagas disponíveis

acompanha os números de vagas nacionais, conforme demonstrado no gráfico a seguir.

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Gráfico 1: Vagas ofertadas em São Paulo e no Brasil de 2005 a 2013

Fonte: MEC/2014 (elaborado pela autora).

De acordo com os dados estatísticos relativos ao ProUni, as vagas ofertadas no

Brasil, por critério de gênero, estão muito equitativamente distribuídas, sendo que 48% delas

estão ocupadas por alunos do sexo masculino e 52% por alunas do sexo feminino. A

distribuição em termos de raça não segue a mesma tendência distributiva e estão

predominantemente alocadas com alunos brancos (46,8%) e pardos (37%), e o restante

(12,4%), minoritariamente distribuídas entre negros, indígenas e amarelos.

No processo seletivo do primeiro semestre de 2013, o ProUni registrou a inscrição de

1.032.873 candidatos a bolsas de estudos em instituições particulares de educação superior.

(PLANALTO, 2013). Verifica-se, assim, uma relação de 6,4 candidatos para cada vaga

ofertada. De acordo com dados oficiais do ProUni, desde sua criação até o processo seletivo

do primeiro semestre de 2013, o programa já atendeu mais de 1,2 milhão de estudantes, sendo

68% com bolsas integrais (PROUNI, 2013).

2.7.3 Críticas ao Programa

A efetividade do ProUni tem sido amplamente questionada. Levantando debate

acerca do programa, Carvalho (2006) argumenta ser insuficiente a simples concessão de

gratuidade integral ou parcial nas IES privadas para as camadas de baixa renda. Embora,

desde 2006, o MEC tenha passado a fornecer uma bolsa permanência de R$ 300,00 para

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bolsistas de tempo integral cujas cargas horárias de estudo excedam seis horas diárias, o

número de bolsas disponíveis é baixo, sendo concedidas a um número ainda muito limitado

de alunos; e o valor pago insuficiente para suprir as demandas dos contemplados (PROUNI,

2013).

O ProUni tem sofrido duas críticas básicas: Em primeiro lugar, as instituições de

ensino privadas com status de filantrópicas, que estão submetidas a regras bastante rigorosas,

alegam que para as instituições lucrativas e sem fins lucrativos não beneficentes as regras

mostram-se bem mais flexíveis. A segunda vem dos defensores do ensino gratuito oferecido

pelo Estado que condenam qualquer destinação de recursos públicos a entidades particulares,

pois creem que o melhor seria revertê-los às instituições públicas (ALMEIDA, 2009).

Em análise realizada por Ferreira (2012b) acerca da eficiência do ProUni comparada

à expansão das instituições públicas, o autor aponta que, embora custos muito menores sejam

esboçados com a opção pelo Programa, perpetuar as instituições públicas restritas à classe

mais favorecida, ampliando o acesso dos mais pobres apenas às IES privadas, constitui-se

uma forma de eternizar as disparidades sociais e a discriminação. Entretanto, a promulgação

da Lei 12.711, em 29 de agosto de 2012, com caráter de política de ação afirmativa do

governo federal, que implementa uma reserva de 50% de todas vagas em instituições federais

de ensino às cotas para alunos que tenham estudado em escolas públicas durante toda sua

formação básica, também objetiva reparar essas desigualdades e discriminações.

Para Carvalho (2006) e Catani, Hey e Giliolli (2006), o ProUni aparece como uma

política pública que mascara seu verdadeiro propósito, qual seja: expandir o ensino superior

sem aumentar os gastos do governo, atendendo a um só tempo à demanda da sociedade civil

por mais vagas e os interesses privatistas, na medida em que os bolsistas ocupam as vagas

ociosas das Instituições de Ensino Superior Privadas.

Embora na meta estabelecida no PNE o alvo fosse possibilitar que, no ano de 2010,

30% dos jovens na faixa etária entre 18 e 24 anos estivessem cursando o nível superior, de

acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) somente 13,7%

da população nessa faixa etária estava matriculada no ensino superior em 2009 (AMARAL;

OLIVEIRA, 2011).

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3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.1 MÉTODO DE PESQUISA

Este estudo é uma pesquisa qualitativa interpretativa básica, do tipo descritiva, uma

vez que se busca obter uma compreensão mais aprofundada acerca de um fenômeno social. A

abordagem qualitativa interpretativa básica está interessada em como os significados são

construídos, em como indivíduos dão sentido às suas vidas e aos seus mundos, sendo o

objetivo principal desse tipo de estudo descobrir e interpretar esses significados (MERRIAM,

2002). Para a realização de pesquisas cujo propósito seja a descrição de uma situação social

circunscrita, na qual se busca obter detalhes acerca do fenômeno, conforme objetiva esse

trabalho, Deslauriers e Kérisit (2008), entendem que o método qualitativo melhor se aplica.

Esses autores indicam ainda que a adequação desse método se dá também pelo fato de que o

objeto por excelência da pesquisa qualitativa é a ação interpretada, tanto pelo pesquisador

quanto pelos seus sujeitos de pesquisa.

A abordagem qualitativa busca atentar para aspectos relacionados com a condição

específica do sujeito no mundo. Merriam (2002) assinala que o método incorpora um amplo

“guarda-chuva” de orientações teóricas e filosóficas, das quais as mais comuns são a

interpretativista, a crítica e a pós-modernista. Em comum às diferentes orientações está a

busca por significados e compreensões, sendo papel do pesquisador instrumentalizar a coleta

e análise de dados, a fim de fornecer uma descrição e enriquecer a compreensão do fenômeno.

As pesquisas qualitativas estão interessadas em compreender o que as interpretações

significam em um tempo específico e em um contexto particular.

No paradigma interpretacionista, a realidade social é entendida como uma rede de

representações complexas e subjetivas e cabe ao pesquisador buscar compreender e explicar o

mundo social a partir do ponto de vista das pessoas envolvidas nos processos sociais,

atentando-se para a experiência subjetiva dos indivíduos (VERGARA; CALDAS, 2007). Essa

abordagem mostra-se apropriada para o alcance do objetivo de compreender a dinâmica de

inclusão e/ou exclusão dos alunos do ProUni, o que envolve a interpretação de uma situação

social pela percepção subjetiva dos atores envolvidos.

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3.2 TÉCNICA COLETA DE DADOS

A coleta de dados deu-se em duas etapas. Em um primeiro momento foi realizado um

encontro com dois profissionais da área de Responsabilidade Social da IES pesquisada

(responsável pela gestão do Programa ProUni), visando obter uma visão geral acerca da

gestão do Programa dentro da instituição, seguido de análise de dados secundários, como

relatórios e estatísticas fornecidos pela área. Em um segundo momento, foram realizadas

entrevistas em profundidade com alunos e professores, orientadas por roteiros estruturados

previamente elaborados, com base nos objetivos específicos e as perguntas adaptadas em três

versões, com adaptações específicas para cada grupo de atores, de forma a contemplar alunos

prounistas (apêndice A), alunos não prounistas (apêndice B) e professores (apêndice C). Os

roteiros elaborados para os alunos foram revistos após realização de entrevista-piloto. As

entrevistas foram gravadas, transcritas e posteriormente categorizadas e analisadas.

Godoi e Mattos (2006) assinalam que as entrevistas qualitativas contêm um

significado que está radicado na comunicação humana, funcionando como um instrumento

dialógico, constituindo-se uma forma de realização de conversação com fins de pesquisa,

capaz de construir novas situações de conhecimento. Nas entrevistas em profundidade, o

objeto de investigação é constituído pela vida – experiência, ideias, valores e estrutura

simbólica do entrevistado. A opção por esse tipo instrumento de coleta de dados mostrou-se

adequada uma vez que entrevistas dessa natureza tendem a construir um quadro geral e

dinâmico da configuração vivencial e cognitiva do sujeito entrevistado.

Para a coleta de dados foi seguida a recomendação de Rubin e Rubin (2005) que

indicam aos entrevistadores a introdução de temas, encorajam o entrevistado a elaborar sua

fala dentro de uma gama delimitada de assuntos, possibilitando que o discurso seja

apresentado de modo mais estruturado. Compete ao entrevistador ouvir de forma a identificar

o significado do que está sendo dito, buscando obter uma compreensão mais profunda daquilo

que está sendo comunicado, identificando aquilo que é importante para responder ao

problema de pesquisa que está sendo estudado.

3.3 SUJEITOS DE PESQUISA

São considerados sujeitos desta pesquisa, 18 alunos e quatro professores do curso

Direito de uma mesma IES, sendo seis alunos prounistas de semestres iniciais, seis prounistas

de semestres finais, três alunos não prounistas de semestres iniciais, três alunos não prounistas

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de semestres finais e o grupo de professores. A opção por contemplar de forma distinta alunos

de semestres iniciais e de finais deve-se à busca do entendimento da dinâmica de inclusão e

ou exclusão do aluno durante a formação.

Os alunos participantes foram abordados por meio de um e-mail convite,

configurando-se um critério voluntário de participação. Foram convidados apenas alunos de

segundo e terceiro semestres para compor o grupo de semestres iniciais, uma vez que, apesar

de terem uma chegada recente à Universidade, já obtiveram uma percepção do ambiente

acadêmico. Da mesma forma, a fim de obter uma leitura de maior extensão, alunos de oitavo,

nono e décimo semestres integram o grupo de semestres finais.

A fim de evitar a possibilidade de identificação dos alunos prounistas, os e-mails

foram enviados para os alunos das salas nos semestres de interesse, por meio dos

representantes de classe, ou de forma direta para e-mails de alunos prounistas, indicados por

outros alunos ou ex-alunos prounistas. Em dois momentos a pesquisadora necessitou ir a uma

sala de aula, e, com a devida autorização do professor, expor a proposta de pesquisa,

convidando alunos não prounistas a colaborarem, sendo nesse caso deixado o e-mail para

contato. Três alunos não prounistas foram captados por essa forma de abordagem e os outros

três responderam ao e-mail convite.

Depois de confirmado o interesse e disponibilidade dos alunos, os agendamentos

foram feitos via e-mail, ou por telefone, quando os números eram informados. As entrevistas

foram agendadas de acordo com a conveniência de cada aluno, com exceção de um único

aluno que, embora tendo confirmado o horário de entrevista deixou de comparecer, todos os

agendamentos acordados foram devidamente cumpridos. Os encontros foram realizados

dentro do próprio campus, em sala apropriada, espaço físico confortável e reservado. Apenas

um aluno foi entrevistado em uma das sala de aula, fora de seu horário regular de curso.

Todos os entrevistados mostraram-se bastante receptivos e colaborativos.

No geral, as entrevistas com os alunos prounistas foram mais longas, em função dos

roteiros previamente elaborados para esse grupo serem mais extensos, tendo uma duração

média de cinquenta minutos. Quanto ao grupo de alunos não prounistas, uma das entrevistas

excedeu uma hora de duração, ficando as outras dentro de uma média de trinta minutos, o

mesmo ocorrendo no caso dos professores.

Como critério para escolha do curso de Direito, buscou-se contemplar um curso que

na hierarquia interna entre carreiras no Brasil é considerado imperial (VARGAS, 2010), e que

dentro da IES pesquisada desfruta de tradição e reconhecimento. Com cerca de seis mil alunos

matriculados, consequentemente, oferta grande número de bolsas ProUni, tendo, portanto,

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uma maior concentração de alunos prounistas nas turmas. O curso de Direito da instituição

conta atualmente com 513 alunos prounistas matriculados, sendo 189 homens e 324 mulheres.

Dentre os alunos prounistas manteve-se uma composição equilibrada entre homens e

mulheres. Para composição dos sujeitos buscou-se respeitar uma proporção entre alunos

prounistas e não-prounistas, porém, por tratar-se de uma pesquisa de natureza qualitativa, a

determinação do número de entrevistas realizadas com alunos prounistas condicionou-se ao

alcance da saturação ou redundância que, de acordo com Godoi e Mattos (2006), refere-se à

percepção que o pesquisador tem de que nada de novo está sendo apreendido pela expansão

do número de sujeitos pesquisados.

3.4 TÉCNICA DE ANÁLISE DE DADOS

A etapa de análise visa dar sentido aos dados coletados e demonstrar como esses

respondem ao problema de pesquisa. Principalmente em pesquisas de natureza qualitativa, a

análise ocupa lugar central (DESLAURIERS; KÉRISIT, 2008). Nas ciências humanas, a

análise de conteúdo constitui-se um instrumento disponibilizado para análise de

comunicações, sendo compreendida como:

Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por

procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das

mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de

conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis

inferidas) destas mensagens (BARDIN, 2007, p. 42).

Merriam (2002) ressalta que, embora toda análise de dados qualitativos seja indutiva,

existem diferentes estratégias de análise. Neste trabalho utiliza-se a técnica de análise de

conteúdo para análise dos dados obtidos nas entrevistas. O método, ou conjunto de técnicas,

visa a superação da incerteza, ou seja, garantir que o pesquisador veja no texto aquilo que

efetivamente está nele contido, bem como propiciar um enriquecimento da leitura, permitindo

descobertas de conteúdos e estruturas que confirmem ou neguem o que se busca demonstrar,

esclarecendo significações e mecanismos ainda incompreendidos (BARDIN, 2007).

Embora a análise de conteúdo também possa ser feita por uma abordagem

quantitativa, seguindo uma orientação mais descritiva do conteúdo e utilizando o método de

dedução frequencial para enumerar a frequência com que uma determinada característica de

conteúdo aparece no texto, este trabalho adotou uma abordagem qualitativa, na qual as

análises são feitas por categorias temáticas; as inferências – sempre que realizadas – são

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fundadas na presença ou ausência do índice (tema, palavra, personagem) e não na frequência

de aparições na comunicação (BARDIN, 2007).

A análise qualitativa de dados possui características particulares, sendo válida,

sobretudo, na elaboração de deduções específicas em relação a um acontecimento ou a uma

variável de inferência precisa, e não em inferências gerais. Essas análises podem funcionar

sobre corpus reduzidos, cabendo ao pesquisador zelar para que o contexto da mensagem e a

compreensão exata do conteúdo desta sejam adequadamente interpretados (BARDIN, 2007).

Visando extrapolar a compreensão dos significados imediatos das comunicações,

Bardin (2007) aponta que a análise de conteúdo se dá por meio de técnicas ou procedimentos

que auxiliam na descrição e interpretação de documentos produzidos, a fim de identificar

conceitos e temas centrais do texto. Estudos dessa natureza são desenvolvidos seguindo uma

sequência de três etapas: (a) a pré-análise; (b) a exploração do material; (c) o tratamento dos

resultados – a inferência e a interpretação (BARDIN, 2007).

A primeira etapa, de pré-análise, consiste em uma fase de organização do material,

podendo-se utilizar vários procedimentos, tais como: leitura flutuante, escolha dos

documentos a serem analisados, formulações de hipóteses e objetivos e, por fim, elaboração

de indicadores que fundamentem a interpretação final. Para a pesquisa aqui proposta, o

material de análise já estava previamente estabelecido, consistindo das transcrições de

entrevistas e os macro-dados fornecidos pela área de Responsabilidade Social da IES

pesquisada. A leitura flutuante foi a primeira atividade realizada pela pesquisadora neste

trabalho, uma vez que, conforme assinalado por Bardin (2007), esse procedimento possibilita

estabelecer um primeiro contato com o material a ser analisado, obter as primeiras impressões

sobre o conteúdo e, progressivamente, avançar em precisão de conhecimento, em função da

projeção das teorias sobre o material de análise, possibilitando uma melhor organização do

conteúdo e uma maior compreensão do fenômeno. As entrevistas transcritas literalmente e

impressas foram lidas e relidas, feitas anotações com indicações dos temas e aspectos

relevantes das transcrições, a partir das quais foram feitos os agrupamentos.

Na segunda etapa, os dados foram codificados a partir das unidades de registro e

unidades de contexto. Os segmentos de conteúdo foram agrupados de forma a transformar os

dados brutos em unidades que possibilitassem uma descrição das características do conteúdo e

que fossem pertinentes face ao material analisado e aos objetivos gerais e específicos dessa

pesquisa. Bardin (2007) assinala que a codificação é organizada a partir de recortes feitos no

texto, em nível semântico, seja por temas eixo em redor dos quais o discurso se organize, por

palavra (palavra-chave, palavra-tema ou categoria de palavra – substantivos, adjetivos,

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verbos) ou por frase. Dentre os temas, ou unidades de significações, pode-se considerar o

objeto, o personagem, o acontecimento, o documento.

Na última etapa foi feita a categorização ou classificação dos elementos, sendo estes

agrupados em função de semelhanças e diferenças, com posterior reagrupamento, em função

de características comuns dos elementos sob análise. A categorização tem como objetivo

primeiro fornecer, por meio da condensação, uma representação simplificada dos dados brutos

(BARDIN, 2007), podendo ser empregados dois diferentes processos para realização da

categorização:

A partir de funcionamentos teóricos hipotéticos, as categorias são previamente

estabelecidas, o material é organizado e à medida que os elementos vão sendo

encontrados são repartidos nas categorias, chamadas por Bardin (2007) de “caixas”,

nas quais os elementos ocupam as “gavetas”.

Não há um estabelecimento prévio das categorias, sendo essas resultantes de

uma classificação analógica e progressiva dos elementos, método esse chamado por

Bardin (2007) de “milha”. Nesse processo, o título conceitual de cada categoria

somente é definido ao final da operação.

A análise das transcrições das entrevistas foi feita com base no método de

categorização progressiva, nomeado pela autora como “milhas”, de modo que ao debruçar

sobre o material, em um processo analítico contínuo de similaridades de significações

contidas nas transcrições, as categorias foram emergindo dos dados. Prioritariamente, os

conteúdos das entrevistas foram organizados por temas-eixos, dando origem inicialmente a 48

temas ou subcategorias, agrupadas por similaridade de assuntos, sendo posteriormente

reagrupadas e organizadas em dez categorias. Aa derivações dos conteúdos a partir dos quais

as categorias foram criadas são apresentados no Quadro 1, apresentado a seguir.

Quadro 1 – Categorias de Conteúdo

Condições socio-economicas

Categorias Finais

Histórico familiar

Quem são eles

Quem eles dizem que sãoIdentificação

Experiências profissionais

Identidade Social

Base Educacional

Condições de moradia

Sub-categorias

Características Pessoais

Escolha da IES

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Fonte: Elaborado pela autora.

A metodologia de Bardin (2007) propõe que após um primeiro momento no qual o

pesquisador faz a descrição resumida do texto, enumerando suas características, passa-se a

Estrutura IES - Aspectos Negativos

Estratégias de Inclusão - Pessoais

Estratégias de Inclusão - Outros alunos

Percepção do Ambiente

Os Agentes

Estratégias de Exclusão - Pessoais

Estratégias de Exclusão - Outros alunos

Professor - um agente

Perfil do não prounista sob a ótica dos mesmos

Perfil do não prounista sob a ótica dos prounistas

O papel do professor

Estratégias de Exclusão - Institucionais

Obstáculos do Caminho

Nós e Eles

Percepções acerca da IES e do

Programa

Relações Interpessoais

Manifestações Intergrupais

Experiência de Inclusão

Experiência de Exclusão

Ambientação

Estereótipos

Dinâmica de sala

Grupo de Convivio

Grupo de Trabalho

Atividades Sociais

Preconceito

Discriminação

Os agentes

Percepção do Ambiente

Os Agentes

Crenças acerca de Inclusão

Vivências de Inclusão

Estratégias de Inclusão - Institucionais

Vivências de Exclusão

Crenças acerca de Exclusão

Perfil do prounista sob a ótica dos não prounistas

Desempenho

Dificuldades

Desigualdades

Significados de ser prounista

Prouni - Aspectos Positivos

Perfil do prounista sob a ótica dos mesmos

Sentimentos

Atendimento Institucional

Prouni - Aspectos Negativos

Estrutura IES - Aspectos Positivos

Expectativas em relação a IES

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uma fase intermediária, na qual ele faz inferências, ou deduções lógicas, que o permitem

chegar às interpretações, ou seja, extrair as significações existentes no conteúdo comunicado,

alcançando, assim, a mensagem entrevista por meio, ou ao lado, da mensagem primeira. Esse

procedimento foi adotado na discussão dos resultados deste trabalho. A autora aponta que o

objetivo é descobrir, a partir de significantes ou de significados (manipulados), outros

significados. Os novos significados ou saberes deduzidos dos conteúdos podem ser de

natureza psicológica, sociológica, histórica, política ou econômica, não necessariamente

esgotando-se nessas variáveis. Aqui se busca compreender a dinâmica de inclusão/exclusão

do aluno prounista, pela percepção subjetiva dos atores envolvidos e pela lente do

pesquisador.

Procedendo a idas e vindas ao material de análise, para instrumentalização, buscou-

se, por meio da inferência e da interpretação, realçar sentidos que se encontram “por detrás”

da mensagem transmitida, articulando os elementos característicos que constam na superfície

do texto com os fatores que determinaram essas características, estabelecendo uma

correspondência da análise descritiva e as variáveis inferidas (BARDIN, 2007).

Buscando seguir o rigor metodológico e ao mesmo tempo ir além das aparências, por

meio de um processo dedutivo, busca-se identificar as causas antecedentes da mensagem e as

suas consequências, ou possíveis efeitos dela, e alcançar os conhecimentos que se encontram

subjacentes ao conteúdo expresso da mensagem. Conforme apontado por Bardin (2007, p.42),

a intenção da análise de conteúdo é “a inferência de conhecimentos relativos às condições de

produção ou, eventualmente, de recepção (quem é que fala a quem e em que circunstâncias),

inferência esta que recorre a indicadores (quantitativos ou não)”. Os conteúdos deduzidos

podem ser de naturezas diversas, podendo estar apoiados nos referenciais teóricos; busca-se

estabelecer uma correspondência entre as estruturas semânticas ou linguísticas contidas na

mensagem, e as estruturas psicológicas ou sociológicas dos enunciados, possibilitando que

situações concretas sejam visualizadas segundo o contexto histórico e social de sua produção.

Uma análise objetiva procura fundamentar impressões e juízos intuitivos, por meio

da adoção de procedimentos que conduzam a um resultado de confiança, visando atribuir

significação ao texto, de modo a alcançar resultados que sejam ricos e válidos, produzindo

uma interpretação final fundamentada (BARDIN, 2007). Os trechos considerados relevantes

aos objetivos da pesquisa foram discutidos à luz da teoria e em diálogo com pesquisas

anteriores e com os dados fornecidos pela IES, sendo os discursos analisados de forma

alternada, por vezes fornecendo uma narrativa individualizada e em outros momentos pela

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composição dos diferentes discursos. Porém o estudo se propõe a compreender o quadro geral

da dinâmica, mais do que fornecer análises individuais.

Para melhor manuseio do material e facilitação da construção das categorias foi

utilizado o Software QSRNVivo10. Ferramentas como o NVivo, conforme apontado por Lage

e Godoy (2008), possuem facilidades para a codificação dos dados (atribuição de nomes para

porções de textos, de acordo com as especificações do pesquisador). Permitem também que

sejam feitos reagrupamentos dos textos já codificados, que estes sejam pesquisados e

recodificados, facilitando a geração de ideias, possibilitando uma proximidade entre o

pesquisador e seus dados.

3.5 CARACTERIZAÇÃO DA IES

Localizada na cidade de São Paulo e considerada uma das principais instituições de

ensino do país, a IES pesquisada é confessional e filantrópica e possui tradição em ensino

superior. Atuando há mais de cem anos, conta atualmente com cerca de 44 mil alunos,

predominantemente de classe média e classe média alta (com base no consenso dos

entrevistados). Além das bolsas disponibilizadas para o ProUni, a IES oferece gratuidade para

seus funcionários e filhos de funcionários e possui também uma política de bolsas

precariedade disponibilizadas para a comunidade.

Consta de documentos oficiais da instituição pesquisada que no princípio de sua

história ela buscava romper as barreiras raciais, de classes e de sexo, recebendo em suas salas

de aula filhos de escravos e implantando a prática de salas mistas (BALANÇO SOCIAL,

2010). Contam as publicações históricas acerca da instituição que filhas de protestantes, de

republicanos e de positivistas foram os primeiros alunos recebidos na instituição, vindo

posteriormente os primeiros meninos, um católico e um protestante e ainda uma filha de

escravos, compondo assim um grupo bem diverso; esta era prática incomum à época, mas

que, de acordo com Garcez (2004), alinhava-se aos princípios adotados pela instituição

nascente, uma vez que o respeito à crença, isenção de preconceitos raciais e liberdade política

eram preconizados por seus fundadores. Mais de um século depois, essa perspectiva histórica

retratada fica como o pano de fundo e a IES figura como o cenário a partir do qual são

discutidas as percepções dos atuais alunos acerca de preconceitos, inclusão e exclusão em seu

ambiente acadêmico atual.

A faculdade de Direito da IES pesquisada é renomada por altos índices de aprovação

no Exame de Ordem, sendo possuidora do selo OAB Recomenda. Com uma proposta de aliar

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ensino e pesquisa, teoria e prática, a Faculdade de Direito dispõe de um Núcleo de Prática

Jurídica, um Escritório Modelo, um Juizado Especial Cível e um Juizado Especial para Micro

e Pequenas Empresas, a fim de possibilitar formação mais abrangente aos seus alunos (SITE

IES, 2014).

O curso de Direito, escolhido para este estudo, existe há quase 61 anos, contando

atualmente com mais de seis mil alunos matriculados, dos quais cerca 10% são bolsistas pelo

Programa ProUni. O vestibular para ingresso no referido curso é concorrido, tendo uma média

de 11 candidatos para cada vaga no processo seletivo do primeiro semestre de 2014.

4. RESULTADOS

4.1 O PROUNI NA IES PESQUISADA

A presente pesquisa restringe sua investigação a apenas uma instituição de ensino da

cidade de São Paulo, escolhida de forma intencional, por critério de acessibilidade, sendo a

seguir apresentados dados relativos ao programa ProUni na referida IES. A fim de obter-se

uma visão inicial do programa na IES, em um primeiro momento foram solicitados dados

secundários desta, que foram fornecidos pela área de Responsabilidade Social, responsável

pela gestão do programa na instituição. Por tratar-se de uma instituição filantrópica, a adesão

ao ProUni data do lançamento do Programa.

O número de vagas ofertadas semestralmente pelas IESs é estabelecido em função da

previsão de recebimento de novos alunos, tendo, em geral, um pico mais alto no primeiro

semestre do ano com uma tendência a ser menor no segundo semestre. Pela análise das vagas

ofertadas, desde a adesão ao programa até o primeiro semestre de 2013, observa-se que, na

IES pesquisada, houve dois picos de ofertas de vagas: um no segundo semestre de 2006 e

outro no primeiro semestre de 2009. De acordo com os dados demonstrados, no início do

Programa, o número de vagas que permaneciam ociosas era grande, chegando a um número

de até 51 vagas em um semestre, número esse que tem diminuído, chegando a quase zero.

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Gráfico 2: Vagas ofertadas e ociosas na IES pesquisada

Fonte: Dados fornecidos pela IES pesquisada (elaborado pela autora).

Desde a implantação do ProUni na IES estudada, 6.408 alunos já foram admitidos. A

evasão dos alunos admitidos é uma questão preocupante: dados fornecidos pela IES apontam

que, dos 6408 alunos matriculados desde o início do programa, 43,9% deles ainda estão

cursando a graduação, 20% deles concluíram o curso e 36,1% tiveram suas bolsas suspensas,

por solicitação do aluno ou por reprovação.

Dentre os principais motivos apontados para o encerramento das matrículas, o maior

índice é o de solicitações do próprio aluno, seguido por baixo rendimento acadêmico e

evasão. Para o MEC, o índice de evasão é calculado apenas com base no percentual de alunos

que deixaram de comparecer ao curso sem notificação, critério que justifica os baixos índices

de evasão que são oficialmente publicados. No presente trabalho, consideramos evasão

qualquer tipo de encerramento de matrículas, notificados ou não pelos alunos. A Tabela 4

aponta os principais motivos de encerramentos de matrículas na IES pesquisada e os referidos

percentuais.

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Tabela 4: Motivos de encerramentos de matrículas de 2005 a 2012

Motivos de encerramento de matrículas ProUni

Solicitação do Bolsista 34,0%

Rendimento acadêmico insuficiente 26,3%

Evasão 13,8%

Substancial mudança socioeconômica 13,2%

Suspensão por trancamento de matrícula 3,8%

Constatação de irregularidades na supervisão do bolsista 2,9%

Encerramento da matrícula 2,0%

Inexistência de matrícula 1,8%

Não comparecimento do bolsista no processo de supervisão 0,7%

Não apresentação documentação pendente 0,4%

Esgotamento de prazo de utilização / suspensão da bolsa 0,5%

Decisão judicial 0,1%

Falsidade de informação prestada 0,1%

Matrícula em instituição pública 0,1%

Outros 0,3%

Fonte: IES (elaborada pela autora com dados fornecidos pela Área de Responsabilidade Social).

Grande parte dos alunos que adentram a IES pesquisada não conclui a graduação. A

Tabela 4 apresenta os principais motivos pelos quais os encerramentos se dão. Numa

perspectiva mais macro, já foram aqui brevemente expostos o contexto político-econômico,

socioeconômico e educacional brasileiro, e discutida a relevância da educação para a mudança

deste. A abrangência do Programa ProUni, enquanto oportunidade para a mobilidade social de

grande parcela da população, no âmbito nacional, estadual e local foi aqui exposta, e

demonstrado o grande interesse de pesquisa que o tema tem despertado. Já apresentado o

cenário mais amplo, busca-se aqui uma aproximação à experiência individual dos alunos

bolsistas do ProUni em um contexto local, a partir das teorias básicas abordadas e que

fundamentarão essa aproximação.

4.2 PERFIL DOS RESPONDENTES

Os alunos respondentes dessa pesquisa estão divididos em dois status: prounistas e não

prounistas. O primeiro grupo de alunos é composto por seis homens e seis mulheres, com uma

faixa etária média de 22 anos, sendo que dez desses alunos se autodeclaram brancos e dois

pardos. Dois homens e quatro mulheres integram o grupo de não prounistas, dos quais cinco

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se autodeclaram brancos e um pardo. Uma síntese do perfil geral dos entrevistados, com

detalhamento da cidade e do tipo de escola de origem, semestre e período e sigla atribuída ao

sujeito é apresentada no Quadro 2.

Quadro 2: Perfil geral dos respondentes

Fonte: Elaborado pela autora.

As siglas especificadas no Quadro 2 foram atribuídas a cada um dos respondentes, de

acordo com a legenda a seguir e serão utilizadas para identificação dos sujeitos de pesquisa,

na etapa de análise dos dados.

Sujeito Sexo Idade Semestre Período Status Escola Origem Cidade Autodeclaração Cor Sigla

1 Masc 24 Inicial Manhã Prounista Publica Sorocaba - SP Branca P1H - IM

2 Fem 19 Inicial Manhã Prounista Publica Garopaba - SC Branca P2M -IM

3 Masc 20 Inicial Noturno Prounista Publica São Paulo - SP Branca P3H - IN

4 Fem 19 Inicial Noturno Prounista Publica Tanabi - SP Branca P4M-IN

5 Fem 22 Inicial Noturno Prounista Publica Jau - SP Parda P5M-IN

6 Fem 19 Inicial Manhã Prounista Publica Suzano - SP Branca P6M-IM

7 Masc 25 Finais Noturno Prounista Publica Carapicuiba - SP Parda P7H-FN

8 Masc 22 Finais Manhã Prounista Particular São Paulo - SP Branca P8H-FM

9 Masc 29 Finais Manhã Prounista Publica São Lourenço - MG Branca P9H-FM

10 Masc 21 Finais Noturno Prounista Publica Guarulhos - SP Branca P10H-FN

11 Fem 23 Finais Manhã Prounista Particular Itap da Serra - SP Branca P11M-FM

12 Fem 24 Finais Manhã Prounista Publica Mogi das Cruzes - SP Branca P12M-FM

13 Masc 19 Inicial Noturno Não Prounista Part/Publ São Paulo - SP Branca NP1H-IN

14 Fem 24 Inicial Manhã Não Prounista Part/Publ São Paulo - SP Branca NP2M-FM

15 Fem 20 Inicial Manhã Não Prounista Particular São Paulo - SP Branca NP3M-IM

16 Masc 46 Finais Noturno Não Prounista Publica São Paulo - SP Parda NP4M-FN

17 Fem 24 Finais Manhã Não Prounista Particular São Paulo - SP Branca NP5M-FM

18 Fem 22 Finais Noturno Não Prounista Particular São Paulo - SP Branca NP6-FN

19 Fem Professora Branca PROF01

20 Fem Professora Branca PROF02

21 Masc Professor Branca PROF03

22 Masc Professor Negro PROF04

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Quadro 3: Legenda das siglas dos respondentes

Fonte: Elaborado pela autora.

4.2.1 Alunos prounistas de semestres iniciais

P1H-IM – Sexo masculino, 24 anos, solteiro, branco, estudante de escola pública e é de

Sorocaba. Fez quatro anos de cursinho, dois anos em sua cidade e dois em São Paulo, pois

sonhava entrar em uma universidade pública. Chegou ao cursinho sem saber tabuadas e após

quatro anos consecutivos tentando aprovação em IES pública desistiu de tentar quando

conseguiu a bolsa do ProUni na IES privada. Seus pais são aposentados, cursaram o Ensino

Fundamental incompleto. Começou trabalhar aos 13 anos, entregando panfletos e saiu do

emprego para estudar. Mora em uma república com mais cinco pessoas, nas proximidades da

universidade e atualmente cursa o segundo semestre de Direito no período da manhã e não

está estagiando.

P2M-IM – Sexo feminino, 19 anos, solteira, branca, estudante de escola pública e é do

interior de Santa Catarina. Fez um semestre de cursinho gratuito em uma cidade vizinha a que

morava, pois desejava cursar universidade federal, mas não conseguiu passar. Considerava

inviável continuar fazendo cursinho particular, devido aos custos e por estar a 90 km de

distância de sua casa. Conseguiu a bolsa do ProUni e veio pra São Paulo, pois tinha a

possibilidade de morar com seus tios, em bairro próximo à faculdade. Sua mãe é cabelereira e

possui ensino superior incompleto; o pai é comerciante e cursou o ensino fundamental

incompleto. Atualmente cursa o segundo semestre de Direito no período da manhã e está em

busca de estágio.

P3H-IN – Sexo masculino, 20 anos, solteiro, branco, estudante de escola pública, é da cidade

de São Paulo. Sua mãe cursou o ensino fundamental. Mora com a avó, em uma casa alugada

em bairro próximo à faculdade. Esta é sua segunda bolsa do ProUni, sendo que anteriormente

cursou três semestres de Direito, em outra faculdade menos conceituada (RUF, 2014).

P/NP

1,2,3

M/H

I/F

M/N

Prounista ou Não Prounista

Sujeito nº

Mulher ou Homem

Semestres Iniciais ou Semestres Finais

Manhã ou Noturno

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Atualmente cursa o segundo semestre de Direito no período noturno e está estagiando na área

jurídica.

P4M-IN – Sexo feminino, 19 anos, solteira, branca, estudante de escola pública. Seus pais

cursaram até a 4ª série e são trabalhadores rurais. Fez um ano de cursinho, trabalhando de

madrugada para custeá-lo. Veio do interior de São Paulo após conseguir uma bolsa do

ProUni, em outra faculdade menos conceituada (RUF, 2014). Como seu irmão estava

concluindo o curso de Direito na IES pesquisada, com bolsa do ProUni, tentou no semestre

seguinte, uma bolsa para si e conseguiu. Atualmente cursa o segundo semestre de Direito no

período noturno e trabalha em um escritório de advocacia, com vínculo CLT. Mora com o

irmão, em apartamento próximo à faculdade.

P5M-IN – Sexo feminino, 22 anos, parda, estudou no SESI, em virtude de seu pai atuar no

ramo industrial. Veio da cidade de Jaú, interior de São Paulo, após conseguir a bolsa do

ProUni. Sua mãe é cuidadora de idosos e está fazendo curso técnico em Enfermagem, o pai

estudou até a 8ª série e é calçadista. Trabalhou em um shopping center dos 15 anos até vir

para São Paulo. Divide um apartamento com três amigas, próximo à faculdade. Atualmente

cursa o terceiro semestre de Direito no período noturno. Conta com ajuda dos pais e recebe

uma bolsa de pesquisa da IES, valor com o qual paga seu aluguel.

P6M-IM – Sexo feminino, 19 anos, branca, estudante de escola pública. Relata que em sua

escola havia falta de professores na maioria das matérias, até concluir o ensino médio.

Desenvolveu a disciplina de estudar por conta própria, que a ajudou a conseguir a bolsa do

ProUni. A mãe estudou até a 4ª série e é dona de casa; o pai tem ensino médio incompleto e é

comerciante. Mora com os pais e dois irmãos na cidade de Suzano e demora quase três horas

para deslocar-se diariamente até a faculdade. Atualmente cursa o segundo semestre de Direito

no período da manhã e não está estagiando.

4.2.2 Alunos prounistas de semestres finais

P7H-FN – Sexo masculino, 25 anos, pardo, estudante de escola pública, já conseguiu quatro

vezes bolsas do ProUni. Mora com a mãe em casa própria, na cidade de Carapicuíba, interior

de São Paulo, o pai é falecido. A mãe possui ensino médio incompleto e é dona de casa; o pai

estudou somente a 1ª série e exercia a profissão de pedreiro. Está concluindo o décimo

semestre do curso de Direito no período noturno. Durante os dois primeiros anos da faculdade

trabalhava com Telemarketing e a partir do terceiro passou a estagiar em escritórios de

advocacia; com a conclusão do curso será efetivado.

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P8H-FM – Sexo masculino, 22 anos, branco, solteiro, estudante de escola particular com

bolsa, o que permitiu conseguir a bolsa do ProUni. Seus pais possuem formação superior em

Educação Física e são administradores de academia. Mora com a mãe em apartamento que

adquiriram recentemente pelo programa Minha Casa Minha Vida. Está concluindo o décimo

semestre do curso de Direito no período da manhã, mas não gosta da área. Estagiou durante

alguns semestres e com esses recursos conseguiu fazer um intercâmbio para os EUA.

P9H-FM – Sexo masculino, 29 anos, branco, solteiro, estudante de escola pública. É de São

Lourenço, Minas Gerais e veio pra São Paulo após conseguir a bolsa do ProUni. Filho de

comerciantes, seus pais possuem ensino médio incompleto. Mora com mais quatro pessoas

em apartamento próximo a faculdade e divide aluguel. Está concluindo o décimo semestre do

curso de Direito no período da manhã. Fez estágios em órgãos públicos e quer atuar nesse

setor. Tem prestado concursos. Considera como única deficiência de sua formação o fato de

não ser fluente em inglês.

P10H-FN – Sexo masculino, 21 anos, branco, solteiro, foi estudante de escola pública. Mora

com os pais na cidade de Guarulhos, em casa própria. Sua mãe tem formação superior e é

professora; o pai possui ensino médio completo e é funcionário Público. Atualmente cursa o

nono Semestre de Direito no período noturno. Estagia desde o começo da faculdade,

inicialmente em escritório de advocacia, para obter maior remuneração e mais recentemente

passou a estagiar na área pública, que é a área que mais gosta.

P11M-FM – Sexo feminino, 23 anos, branca, solteira, estudante de escola particular desde a

primeira série, sempre com bolsa integral. Mora com os pais em Itapecerica da Serra, em casa

própria. Seus pais possuem ensino médio incompleto, a mãe é dona de casa e o pai é

vendedor. Está concluindo o décimo semestre do curso de Direito no período da manhã. Fez

estágios em órgãos públicos, área na qual quer fazer carreira.

P12M-FM – Sexo feminino, 24 anos, branca, solteira, estudante de escola pública. Mora com

a mãe em Mogi das Cruzes e usa como meio de transporte até a IES o ônibus fretado. O pai é

falecido e era Policial Civil; a mãe possui formação superior completa e é professora. Contou

com recursos deixados pelo pai para custear-se durante o período da faculdade. Está cursando

o nono semestre do curso de Direito no período da manhã. Fez 11 meses de estágio, mas teve

dificuldade em conciliar a graduação e o estágio morando longe e optou por sair.

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4.2.3 Alunos não prounistas de semestres iniciais

NP1H-IN – Sexo masculino, 19 anos, branco, solteiro, estudou predominantemente em escola

particular, sendo somente dois anos em escola pública. Mora com a avó em bairro próximo à

faculdade. Sua mãe está cursando Pós-graduação e é professora; o pai é Administrador e está

concluindo mestrado. Atualmente cursa o segundo semestre de Direito no período noturno,

conciliando com formação militar.

NP2M-FM – Sexo feminino, 24 anos, branca, solteira, estudou em escola particular. É de

uma cidade próxima e veio para São Paulo para fazer a faculdade. Sua mãe possui formação

superior e é professora; nunca conviveu com seu pai. Iniciou graduação em Administração na

IES pesquisada, com Financiamento Estudantil (FIES), e posteriormente conseguiu

transferência para o curso de Direito, estando atualmente no segundo semestre, no período da

manhã. Mora com uma amiga próximo à faculdade e não está estagiando ou trabalhando no

momento.

NP3M-IM – Sexo feminino, 20 anos, branca, solteira, estudou em escola particular. Mora

com a mãe, duas tias, a avó e um irmão mais novo; o pai mora em outro país. A mãe possui

formação superior completa e atua como Corretora de Seguros. Cursa atualmente o segundo

semestre, no período da manhã. Estagia desde o primeiro semestre, pois é responsável por

pagar metade da mensalidade, sendo a parte restante paga por sua mãe.

4.2.4 Alunos não prounistas de semestres finais

NP4M-FN – Sexo masculino, 46 anos, pardo, casado, estudou em escola pública e indica ser

de origem humilde. Mora com a esposa em São Paulo. Custeia o seu próprio curso e está

concluindo o décimo semestre do curso de Direito no período noturno, sendo esta a sua

segunda formação. Exerce carreira profissional na área de Ciências Contábeis e pretende fazer

outra graduação para atualizar-se, uma vez que o curso que fez já sofreu várias alterações

desde que se formou.

NP5M-FM – Sexo feminino, 24 anos, branca, casada, estudou em escola particular. Mora

com o marido, na cidade de São Paulo. Seus pais possuem formação superior, sendo que a

mãe exerce a função de corretora de imóveis e o pai é advogado. Fez um ano e meio de

Comércio Exterior, mas, como não gostou do curso, mudou para Direito. Cursa atualmente o

nono Semestre, no período da manhã. Está estagiando no Fórum.

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NP6-FN – Sexo feminino, 22 anos, branca, solteira, estudou em escola particular, com bolsa

integral. Mora com a mãe, padrasto e irmão, em casa própria, em bairro próximo à faculdade.

Sua mãe possui formação superior e é professora; seu padrasto é secretário geral de uma

escola renomada, motivo pelo qual obteve a bolsa integral até a conclusão do ensino médio.

Está cursando o oitavo semestre de Direito no período noturno e faz estágios desde o início da

faculdade.

4.2.5 Professores

PROF 01 – Sexo feminino, branca, foi convidada a participar da pesquisa por exercer funções

de coordenação no curso de Direito.

PROF 02 – Sexo feminino, branca, foi convidada a participar da pesquisa por haver sido

citada por alunos prounistas durante suas entrevistas.

PROF 03 – Sexo masculino, branco, foi convidado a participar da pesquisa por haver sido

citado por alunos prounistas durante suas entrevistas.

PROF 04 – Sexo masculino, negro, foi convidado a participar da pesquisa por haver sido

citado por alunos prounistas durante suas entrevistas.

4.3 ANÁLISE DOS DADOS

Para o processo de análise dos dados, a primeira atividade realizada foi a leitura

flutuante de cada entrevista. Após contato com o material, realizou-se a codificação dos

dados, sendo estes agrupados por blocos temáticos e, em seguida, criadas as categorizações

dos conteúdos que emergiam do texto. Cada tema abordado foi minuciosamente detalhado e

organizado em subcategorias. Por fim, surgiram dez categorias: 1. Importância e impacto do

ProUni e da IES; 2. Quem são eles; 3. Quem eles dizem que são; 4. Obstáculos do Caminho;

5. Nós e Eles; 6. Relações Interpessoais; 7. Manifestações Intergrupais; 8. Experiência de

Inclusão; 9. Experiência de Exclusão e 10. Professor – um agente. Para melhor manuseio do

material, os dados foram codificados no Software QSRNVivo10. A partir análise dessas

categorias depreendidas, busca-se responder aos objetivos dessa pesquisa.

4.3.1 Categoria: Importância e impacto do ProUni e da IES

Nessa categoria, são abordados os conteúdos relativos aos aspectos positivos e

negativos do ProUni e da estrutura da IES estudada, impressões acerca do atendimento

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institucional, os significados de ser prounista e os sentimentos que envolvem a experiência

acadêmica nesta universidade. Considera-se relevante abordar esses aspectos, uma vez que

compõem “o pano de fundo”, permeando o cenário no qual ocorre a dinâmica de

inclusão/exclusão dos alunos bolsistas do ProUni. Embora a vivência de inclusão/exclusão

seja do aluno prounista, as opiniões de professores e demais alunos entrevistados também são

apontadas, tendo em vista que são agentes nessa dinâmica e suas opiniões pessoais pautam

suas ações.

4.3.1.1 O ProUni

Tanto na análise dos professores entrevistados quanto dos alunos, aspectos positivos e

negativos do ProUni são ressaltados. De modo geral os professores entrevistados mostram-se

simpatizantes ao Programa, o consideram “incrível”, “um fator de inclusão”, uma forma de

fazer “uma ponte entre igualdade formal e igualdade material”, trazendo esperança para esses

alunos.

[...] é uma política pública de verdade e ela tem um alcance muito grande

(PROF 01).

Eu acho um programa maravilhoso. Eu acho que todos os programas de

inclusão do Governo Federal são programas que objetivam fazer a ponte

entre a igualdade formal e a igualdade material (PROF 02).

[...] eu sou entusiasta do ProUni em especial em relação ao tipo de público

que o ProUni traz pra dentro das universidades privadas (PROF 04).

As limitações da política do ProUni também foram abordadas pelo grupo de

professores. Apontada como uma medida insuficiente que minimiza porém não resolve o

problema de acesso de alunos de classes menos favorecidas à educação superior; é criticada

também por tirar do Estado a responsabilidade de abrir vagas em IES públicas. A crítica feita

por Catani et al. (2006) em relação à qualidade questionável dos cursos superiores ofertados

nas IES privadas e filantrópicas é ratificada pelo PROF 04, que considera que, salvo algumas

exceções dentre as quais a IES pesquisada se inclui, são concedidas muitas bolsas em IES de

qualidade ruim. Tendo em vista que, historicamente, a educação superior no Brasil tem sido

destinada às elites, enquanto a universalização da educação popular sempre foi negligenciada

(OLIVEIRA, 2004), o PROF 03 salienta que, considerando esse contexto anterior, o ProUni é

um avanço.

Acho que foi uma medida, digamos, talvez mais política, no sentido de

talvez de minimizar o problema do que resolver. Mas antes isso do que nada,

porque antigamente as pessoas que não podiam pagar simplesmente não

estudavam (PROF 03).

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[...] é importante abrir a possibilidade de o aluno estudar, mas é importante

também que as boas universidades estejam abertas pra receber esses alunos e

também haja uma reconstrução dos alunos das universidades públicas que é

onde estes alunos também têm que estar, ou seja, a gente tem que pensar em

qualidade do ensino. Aqui (na IES) é certeza de sucesso, que vai ter

qualidade de ensino, agora em outras universidades... É essa a crítica que se

faz ao ProUni (PROF 04).

A estrutura e o calendário do Programa são alvos da reprovação dos professores, que

traz consequências diretas para o aluno prounista. PROF 01 sinaliza que o calendário do

ProUni, embora usado pelas IES particulares, foi criado para as públicas e sugere haver um

desconhecimento por parte de alguns professores acerca das especificidades do Programa,

sendo o aluno a maior vítima.

Você pega um professor no curso de Direito ele só vai saber: ele chegou um

mês depois e ele está me pedindo para fazer uma atividade... então para ele é

mais serviço. Ele não percebeu que foi toda uma estrutura que foi desenhada

desse jeito, e que esse aluno também é uma vítima, que ele queria estar aqui

um mês antes (PROF 01).

A orientação assistencialista do ProUni, que oferece benefícios ao invés de direitos

aos bolsistas, tem sido criticada por pesquisadores (GRAMPA, 2013; CATANI et al. , 2006).

A limitação da política do ProUni é criticada também pelos alunos. P6M-IM indica que nas

discussões em sala de aula “Quando eles entram nessas medidas compensatórias, eles já

começam a levantar debate, e aí essa política assistencialista do país é muito criticada”.

NP5M-FM diz que “Todo mundo critica essas formas de beneficiar um aluno e não corrigir o

problema em si... [...] tentar tapar o problema com uma peneira [...]”. NP2M-FM considera

ser necessário “Mudar todo o sistema. Esse eu acho que é o grande problema, as pessoas não

pensam em mudar o sistema de educação. Elas pensam só em injetar o dinheiro”. Embora

sejam críticas procedentes, destaca-se que as críticas ao caráter assistencialista da Política

ProUni provêm de alunos não prounistas, que apresentam certa resistência a medidas

compensatórias. Na percepção dos alunos prounistas entrevistados, as necessidades são

maiores do que a simples concessão da bolsa, contemplada pela política, e argumentam que

“só livrar o aluno da mensalidade [...] não é o suficiente” P12M-FM.

As principais críticas indicadas pelos alunos prounistas entrevistados referem-se à

abrangência do Programa, que se mostra insuficiente para democratizar o acesso ao ensino

superior, a dificuldade de acesso a faculdades de qualidade, a imagem de um programa

assistencialista, que concede oportunidade de formação, assegurada constitucionalmente,

como um benefício e não como um direito.

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Embora aspectos críticos sejam apontados, na fala dos bolsistas entrevistados percebe-

se o caráter determinante que o Programa tem para a vida desses alunos. Sendo a educação

considerada um dos mais importantes fatores de ascensão social, uma vez que a obtenção de

melhor qualificação possibilita o alcance de melhores posições profissionais e torna possível a

conquista de melhores condições de vida (RIBEIRO, 2006), o acesso a uma boa formação é

percebida como decisiva pelos prounistas entrevistados. A oportunidade de uma boa

formação, o contato com pessoas, a obtenção de posições de prestígio no mercado de trabalho

e a possibilidade de mobilidade social são vislumbrados como maiores benefícios obtidos.

Nas falas desses alunos fica perceptível que a oportunidade de acesso à educação superior

obtida por meio do ProUni é vista como meio de salvação, sendo dada uma conotação de que

estavam condenados à exclusão social, cheios de sonhos e aspirações, e que agora vislumbram

uma oportunidade de inclusão e ascensão social.

Oportunidade de vida. Simples. Direto. Uma maneira de alcançar o que eu

quero (P1H – IM).

Contatos. Isso em qualquer profissão é necessário. No Direito mais ainda. O

Direito é basicamente contatos. Nós temos bons professores e temos vários

colegas na sala que são filhos de pessoas influentes e, querendo ou não,

ajuda. E ajuda bastante (P1H – IM).

O ProUni veio para mim, como um salva-vidas mesmo. Uma esperança de

que eu podia sim, ter um ensino superior, eu podia sim estudar numa

faculdade de renome (P5M-IN).

ProUni para mim foi tudo. Foi o diferencial entre a vida que eu achava que

eu ia ter e a vida que eu queria ter (P5M-IN).

Eu acho que é uma oportunidade. Eu vejo como uma megaoportunidade.

Estou encarando como uma ultraoportunidade de efetivamente poder

concretizar esse sonho, que é advogar ou, enfim, ter uma função essencial à

justiça (P6M-IM).

O ProUni para mim, foi a salvação da minha vida, assim... uma chance de

mudar de vida, com certeza. Se não fosse o ProUni eu não sei o que ia

acontecer com a minha vida, o que eu ia fazer... (P7H-FN).

[...] a chance de ingressar numa universidade e me qualificar para o mercado

de trabalho, faz toda diferença (P11M-FM).

A utilização das expressões “salva-vidas”, “salvação da minha vida” e “oportunidade

de vida”, utilizadas pelos alunos, denotam um sentimento de privação, de falta de

oportunidades e de exclusão. Esses alunos consideram que o ProUni “[...] traz esperança para

muita gente” (P5M-IN) e constitui-se “[...] um aspecto de inclusão”, que tem um “[...] fator

social” P1H - IM, portanto, valorizam o Programa e manifestam um sentimento de gratidão à

IES.

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4.3.1.2 A IES

Acerca da qualidade do atendimento no momento da admissão, de modo unânime, os

alunos consideraram que receptividade, seriedade e atenção foram dispensadas. Informam que

é realizada uma cerimônia ou reunião de recepção inicial para os alunos prounistas, na qual

são explicadas as regras e dadas orientações gerais em relação às matérias, provas e DPs,

avaliadas como fundamentais para o primeiro momento de ambientação na IES. No discurso

dos profissionais responsáveis pela gestão do programa, a igualdade de condições entre

prounistas e não prounistas, também é ressaltada, conforme informam os entrevistados.

A cerimônia de recepção foi bem tranquila. Nós fomos até orientados no

começo a correr atrás das matérias, perguntar, para cobrir esse prejuízo,

entendeu... (P10H-FN).

[...] falaram com a gente lá no auditório, que independente da gente ser

bolsista ou não, a nossa condição de bolsista não muda em nada a nossa

condição como IESzista (P5M-IN).

Eu lembro que teve uma palestra no início, para as pessoas que foram

aprovadas depois de entregar a documentação. Eu achei que foi fundamental

também. Eles explicaram como que era a instituição, eles falaram que a

gente tinha que dar valor a bolsa, como se a gente não soubesse... (P12M-

FM).

A IES pesquisada é reconhecida como uma instituição com boa qualidade de ensino.

Os principais aspectos percebidos como positivos por esses alunos são a oportunidade de

conhecimento e de pesquisas, boa qualidade dos professores, boa estrutura física, organização

e a força do nome (IES renomada), e consideram capaz de abrir portas no mercado de

trabalho, conforme destacam:

[...] eu acho que um dos pontos positivos é o incentivo à pesquisa, a

qualidade dos professores, ah... Enfim, mercado de trabalho, a qualidade das

aulas (P6M-IM).

Eu adoro a instituição, eu gosto do campus, eu gosto dos ares, eu gosto de

tudo, eu gosto de onde as coisas estão. Eu gosto do prédio, eu gosto das

pessoas, eu gosto dos atendentes, eu gosto dos faxineiros (P11M-FM).

Eu acho a organização daqui, eu sei que tem muita coisa para melhorar, mas

assim, eu gosto do jeito como eles são organizados (P12M-FM).

Eu gosto daqui. O nome no nosso currículo faz muita diferença. Se você fala

que você faz aqui, se você fala que faz X ou faz Y, as pessoas já abrem as

portas de muitos estágios, muitos empregos. Tanto é que eles querem alunos

dessas três faculdades (P1H – IM).

Uma universidade de nome, querendo ou não, esse nome conta (P8H-FM).

Esses alunos relatam uma satisfação com a oportunidade de estar estudando na IES,

externam o desejo de extrair o máximo do que a IES tem para oferecer-lhes e de ânsia pelo

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saber. Vivenciam a conquista da vaga na IES como a realização de um sonho e manifestam

intensidade ao declarar amor, paixão e gratidão à instituição. Conforme expresso por P12M-

FM, a IES representa um “troféu”, uma grande conquista para ela. As declarações a seguir

exemplifiquem os sentimentos.

A IES digamos assim, é um troféu para mim, então eu sou apaixonada pela

instituição, então eu gosto daqui (P12M-FM).

Sou IESzista de coração (P11M-FM).

Eu sou grato a IES. Eu gosto muito da Universidade. Gratidão pelo tempo

que eu passei aqui (P10H-FN).

Ah! IES na veia. Isto é IES, né... (fala rindo) Eu amo a instituição. Gosto

muito da instituição. Falar que estudo aqui é um orgulho (P4M-IN).

Sou muito feliz de falar: Estudei aqui. Dá até orgulho (P9H-FM).

A falta de políticas internas da IES para apoio aos alunos prounistas foi apontada

como aspecto negativo, desfavorável à inclusão. P10H-FN afirma que os prounistas “[...] têm

certas vantagens... a gente não paga documentos... petição de documentos, que os alunos

comuns pagam. Agora tirando isso de facilitação burocrática mesmo, para o prounistas, não

tem mais nada”. P12M-FM lembra que para “[...] quem é muito, muito carente, é muito

difícil se manter aqui”, e P1H-IM afirma que sua expectativa era que “[...] tivesse mais

políticas” que suprissem “[...] pelo menos algumas coisas básicas”. P12M-FM acredita que a

instituição deveria “[...] ajudar a manter os alunos aqui dentro [...]. ajudar com vale-refeição,

vale-livro, eu acho. Porque eu acho que é uma instituição muito forte, que tem condições de

fazer isso”, porém não particulariza a crítica à IES, pelo contrário, compreende que “[...] não é

só aqui que não se dá assistência para o aluno bolsista, qualquer outra faculdade também não

dá”. Verifica-se que a limitação do benefício é salientada e que a expectativa de P1H-IM e de

P12M-FM é de que a IES proveja assistência que possibilite a manutenção deles, uma vez

que o Governo não concede esse apoio. Diante da ausência de outras fontes de apoio ou

políticas que extrapolem a exigência mínima estabelecida pelo Programa, compete a cada um

desses alunos superar seus próprios obstáculos.

P10H-FN aponta como outro aspecto considerado desfavorável da IES pesquisada, o

fato de que, segundo sua percepção, não é dada atenção às evasões dos alunos prounistas,

sendo estes negligenciados. A argumentação de P10H-FN é de que “[...] a faculdade, creio eu

que ela deveria saber pelo menos o porquê (os alunos se evadem) [...] porque, quando o aluno

prounista ele se desliga, a faculdade não procura saber por quê. Acho que isso é o mínimo,

entendeu... E através dessas pesquisas ela começar a fazer programas para que isso não ocorra

novamente”.

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Tanto na crítica à falta de assistência aos alunos prounistas exposta anteriormente,

quanto no questionamento de P10H-FN, está implícita a percepção de que não são garantidas

condições de permanência a esses alunos, dispensada atenção ou estabelecida qualquer

estratégia de monitoramento a fim de assegurar sua permanência. Cabe ressaltar que cerca de

18% dos alunos ingressantes na instituição com bolsas do ProUni acabam solicitando o

encerramento do benefício ou evadindo-se sem notificar a IES, enquanto aproximadamente

9% desses alunos não alcançam rendimento acadêmico suficiente, tendo a bolsa encerrada,

conforme estabelece a política do programa. Embora ofereça formação de qualidade, a falta

de uma atuação mais efetiva da instituição no sentido de assegurar condições de permanência,

faz com que a expressiva quantidade de vagas ofertadas se reduza a um número menor de

beneficiários, e que a permanência seja a mais dura pena, por falta de reais políticas de

inclusão, que extrapolem a concessão de acesso.

No contato com a área de Responsabilidade Social, responsável pela gestão do ProUni,

não foi mencionada qualquer ação sistemática que vise à retenção dos alunos prounistas. Cabe

ressaltar que o benefício da isenção dos impostos é concedido pelo período, em função do

preenchimento das vagas, portanto, evasões ocorridas durante o semestre não implicam

prejuízo para a instituição, somente a obriga a ajustar a proporção de vagas ofertadas no

semestre subsequente.

A falta de acompanhamento da instituição em relação às condutas inadequadas de

alunos prounistas, também foi abordada como indicativo de descaso institucional. Na

condição de aluno “[...] que paga a faculdade” NP4M-FN questiona não haver por parte da

IES mecanismos de supervisão de alunos prounistas, que, em sua opinião, se comportam

inadequadamente, deixando de assistir aulas. “Então, eu acho que no mínimo é na questão da

frequência perguntar para o aluno: ‘porque é que você tem um grau de [...] ausência nas aulas

tão elevadas’?”. Afirma que isso lhe faz ter “[...] descrédito da instituição, de como ela não

consegue supervisionar isso. [...] E quando teria mecanismos muito fáceis de fazê-lo”. Dado

que na IES pesquisada, o controle de frequência é registrado e que há uma exigência de

frequência mínima de 75% de presença para que qualquer aluno seja aprovado, a opinião do

aluno é de que, ao faltar às aulas, esses alunos estão negligenciando o benefício recebido, o

que não deveria ser aceito pela IES. Embora o conteúdo da fala de NP4M-FN se apresente

como uma cobrança à IES, ela evidencia sua percepção discriminatória, pois transmite a ideia

de que os direitos e deveres de prounistas e não prounistas são diferentes, em que aos

primeiros não é dado o direito de faltar às aulas, mesmo que dentro daquilo que é regulamento

geral de frequência, pois isso significa negligenciar a oportunidade de estudo a eles

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concedida. A visão da bolsa do ProUni como um favor ou benefício concedido, e não como

um direito, faz com que as responsabilidades e o desempenho das atividades acadêmicas

sejam “fiscalizados” de forma distinta.

Ao aderir ao Programa ProUni a IES pesquisada está simplesmente seguindo

exigência legal imposta a todas as IES de natureza filantrópica. Fazendo-se uma transposição

dos pressupostos teóricos acerca da gestão da diversidade, abordados por Thomas e Ely

(1996), para o ambiente acadêmico, é possível entender que a concessão de bolsas do ProUni

na IES, enquanto política de inclusão do diverso, restringe-se ao paradigma discriminação-

justiça, pois está limitada ao cumprimento de mandatos e força de lei, sem promover ou

facilitar a inclusão dos alunos beneficiados. Diante das lacunas institucionais existentes,

contemplar políticas de integração, proporcionar condições de permanência ou monitorar a

evasão desses alunos, são ações indicativas de que a IES, mais do que inserir esses alunos e

cumprir as cotas exigidas das instituições de natureza filantrópica, busca inclui-los. Contudo,

o que se constata é a inexistência de políticas de apoio a esses alunos, não havendo indicativos

de que haja alguma preocupação em prover ações integrativas de qualquer natureza,

acompanhamento do dia a dia desses alunos ou mesmo amparo assistencial.

Ciente da falta de políticas para suporte aos alunos dentro da IES, P12M-FM mostra-

se compreensiva e afirma que “[...] não é só aqui que não se dá assistência para o aluno

bolsista, qualquer outra faculdade também não dá”. Pesquisa realizada por Santos (2012),

indica que a PUC-Rio, antes da adesão ao ProUni, já dispunha de uma estrutura de apoio a

estudantes de baixa renda, que mostrou-se fundamental para garantir a permanência dos

alunos prounistas após a implantação do Programa. A autora sinaliza que políticas de acesso

ao ensino superior devem ser acompanhadas por medidas de suporte ao estudante durante sua

vida universitária, a fim de garantir uma formação de qualidade e a conclusão do curso. Frente

aos dados obtidos, depreende-se que aos alunos que ingressam na IES pesquisada é fornecida

uma formação de qualidade, de forma que se concede um tratamento igual para o diferente,

assegura-se o direito formal à formação, mas não é dada atenção para a desigualdade material

existente, desconsidera-se a responsabilidade institucional para além do cumprimento da lei.

Mais do que suporte assistencial, Thomas e Ely (1996) consideram que, para que os

verdadeiros benefícios da diversidade sejam obtidos, é necessário que as diferenças entre

indivíduos sejam internalizadas, de forma que consiga aprender e crescer com eles. Uma vez

que prejulgamentos tão próprios aos seres humanos, mas podem ser modificados diante de

fatos (ALLPORT, 1979), principalmente por tratar-se de um ambiente educacional, compete à

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instituição a responsabilidade de promover uma gestão mais inclusiva, proporcionando um

espaço de discussão e sensibilização para as questões de diversidade.

A criação de espaços de discussão seria ferramenta importante para sensibilização ao

diverso, caso a instituição estivesse atentando promovê-la. A percepção da falta desses

espaços e a importância que teriam para que professores e alunos pudessem melhor

internalizar as diferenças é indicada por PROF 02, quando diz ter “[...] certeza que se tivesse

um debate em sala de aula, um estudo aprofundado dos programas sociais, inclusive do

próprio Bolsa Família, que é tão vilipendiado, tenho certeza que a grande maioria mudaria de

opinião”, e endossada por NP2M-FM, que considera que “[...] o aluno de Direito, que não

percebe como existe a desigualdade. Precisa de um seminário”. A afirmação de PROF 01 de

que “[...] existem situações excludentes, que se agravam por falta de uma ação rápida, por

conta disso: os nossos coordenadores não são preparados, os nossos professores não são

preparados. Eu acho que a gente nunca teve uma conversa assim com os professores”, valida a

percepção de que, dentro da IES pesquisada, está se fazendo cumprir a lei e distante de um

paradigma voltado à diversidade.

Dentro do paradigma aprendizagem-efetividade para a gestão da diversidade, proposto

por Thomas e Ely (1996), a IES teria que atentar para a integração desses alunos dentro da

instituição, buscando garantir igualdade de oportunidades e tratamento justo para todos, com

suas diferenças, e não apesar delas. Também pressupõe que as opiniões e perspectivas desses

alunos deveriam ser trazidas para dentro do ambiente acadêmico, que a variedade de

conhecimentos por eles trazidas pudesse ser compartilhada contribuindo para que todos

pudessem aprender e crescer com eles, nas interações e trocas. Entretanto, diante da ausência

de ações integrativas, o que se percebe é que grande parte dos alunos prounistas ficam à

margem dos acontecimentos, “correndo pelas beiradas”, são emocionalmente afetados, uma

vez que condições marginais afetam a autoestima, refletindo no bem-estar individual desses

alunos, ficando impedida uma troca maior de experiências e aprendizados mútuos.

4.3.2 Categoria: Quem são eles

A fim de entender as condições socioeconômicas dos alunos prounistas, essa categoria

refere-se aos dados pessoais desse grupo. Dentro dessa categoria foram analisados os tópicos:

contexto familiar, características pessoais, base educacional, razão da escolha da IES e

atividades profissionais do estudante.

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4.3.2.1 Contexto Familiar

Conforme já detalhado no histórico dos respondentes, nas famílias dos alunos

prounistas entrevistados, em 42% dos casos a escolaridade dos pais é Ensino Fundamental

incompleto, 33% têm Ensino Médio incompleto. Como já chamava a atenção de Ferreira

(2012), o nível de escolaridade dos pais dos estudantes constitui-se um fator importante para

mensurar a equidade de acesso ao ensino superior. No exame dos dados de pesquisa da autora,

esta constatou uma disparidade, quando comparado o grau de escolaridade das famílias de

alunos prounistas e dos não prounistas, o que se corrobora neste trabalho. No grupo de

prounistas sujeitos dessa pesquisa, em apenas dois casos os pais obtiveram acesso à formação

superior, sendo que em um dos casos ambos conseguiram concluir o curso; porém, no

segundo caso, apenas a mãe é graduada e o pai não concluiu. Há evidente contraste em

relação aos alunos não prounistas entrevistados, uma vez que neste grupo apenas um

entrevistado não declarou a escolaridade dos pais, e em todos os outros casos os pais possuem

formação superior completa. A inclusão em uma universidade significa para os alunos

prounistas uma possibilidade de mudança na história de suas famílias e uma diferenciação da

geração atual em relação aos pais.

Tanto é que ele (o irmão, também prounista na mesma IES) é o primeiro

neto do meu avô, por parte de pai, a conseguir um título de graduação. Ele

vai conseguir agora, no meio do ano. Ele já passou na OAB. Ele trabalha

num escritório bem grande aqui em São Paulo (P4M-IN).

Na minha família ninguém nunca fez faculdade, então eu só estou

conseguindo agora por causa do ProUni (P11M-FM).

Acredito que seja o primeiro a estar concluindo o ensino superior (P9H-FM).

De forma geral, os pais dos prounistas entrevistados desempenham atividades

profissionais que não exigem qualificação formal: as mães realizam trabalhos informais como

cabelereira, cuidadora de idosos, dona de casa, e os pais trabalham principalmente com

comércio. A renda per capta sendo um dos critérios básicos para concessão de bolsas do

ProUni, pressupõe-se que as atividades desempenhadas por esses familiares são

financeiramente pouco rentáveis, assim, considerando que o benefício concedido pelo ProUni

limita-se à bolsa, torna-se difícil para a família manter o aluno durante a graduação,

implicando o custeio das despesas um sacrifício, como se depreende nas falas abaixo.

[...] ele conseguiu ao longo da minha faculdade dar uma melhorada nas

contas dele. Antes ele vivia com as contas atrasadas, então eu passei metade

do curso, nossa, num perrengue [...] mas o básico está bem mantido e isso já

me deixa bem feliz (P11M-FM).

[...] eliminei moradia sem ter que pagar, então isso foi um alívio gigantesco.

Alimentação o estágio supria. Então, eu sempre procurei estágio de quatro

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horas, para poder fazer tudo em casa, então alimentação em si eu supria

fazendo em casa, então dá pra conciliar. Basicamente seria isso. Não sobra,

mas também não passa fome (ri) (P9H-FM).

As restrições socioeconômicas familiares interferem nas condições de moradia,

sendo possível constatar que os alunos que moram com suas famílias em casas próprias

geralmente estão fora da cidade de São Paulo. Residir muito distante da faculdade acarreta

maior tempo de deslocamento e isso acaba interferindo no processo de inclusão desses

estudantes, pois restringe a possibilidade de participação desses alunos em atividades

extracurriculares, reduzindo assim o convívio com colegas de curso (esse tema será

posteriormente discutido). Alternativa também bastante comum entre os alunos entrevistados

é a opção de dividir apartamento mais próximo à faculdade ou residir com parentes em bairros

próximos. Nenhum dos alunos entrevistados que mora próximo à IES reside em casa própria

ou com os pais; por restrições financeiras, a possibilidade de moradia é em regiões mais

periféricas ou cidades próximas, assim, para o aluno estar próximo à faculdade, via de regra,

tem que estar longe da família.

Enquanto P12M-FM diz que “[...] moro em Itapecerica da Serra e antes eu morava em

Capão Redondo, ou seja, só periferia, né...”, P11M-FM optou por morar mais próximo, “[...]

a gente paga aluguel, a gente não tem casa própria, nem nada [...]” e, como a mãe mora fora

de São Paulo, considera ser mais econômico estar próximo à faculdade dividindo com amigas,

uma vez que “[...] sai R$ 400,00 para cada uma, para um apartamento aqui”. Rearranjos

familiares são feitos a fim de acomodar os filhos estudantes e facilitar o acesso destes à

faculdade. “Agora que ela (a mãe) está conseguindo comprar um apartamento pelo Minha

Casa Minha Vida, mas, assim, ainda nem financiou pela Caixa. A minha avó tem casa própria

e eu moro na casa dela”.

Com exceção de P4M-IN que, por morar com o irmão e ambos estarem trabalhando,

afirma que “[...] eu e meu irmão nós dependemos zero dos meus pais atualmente”, e de

P12M-FM que contou com ajuda extra de “[...] um seguro de vida que meu pai deixou pra

mim”[...]”, principalmente nos semestres iniciais os alunos prounistas dependem

financeiramente dos pais, que nem sempre possuem recursos suficientes para custeio das

necessidades básicas de manutenção dos filhos, sendo estes de alguma forma obrigados a

arcar com parte das despesas.

[...] quando acabou o meu seguro desemprego, começou a minha iniciação

científica, então eu não fiquei nenhum mês sem receber dinheiro [...] o meu

pai me paga pensão... Então, a pensão que ele me manda é para eu me

alimentar (P5M-IN).

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[E seus pais têm condições de ajudar?] Acho que têm... De ajudar. E o meu

primo também. Já vai ter as despesas de casa também. Eu pensei em arrumar

o trabalho e eu mesma pagar o aluguel e deixar as outras despesas com os

meus pais (P2M – IM).

Meu pai me ajuda com o dinheiro para o transporte, mas a alimentação, se eu

quiser comer por aqui, é tudo na marmita, ou não come. Come um lanche,

traz de casa (P11M-FM).

Morar distante da faculdade implica para esse aluno restrição ao envolvimento em

atividades paralelas dentro da instituição. As condições socioeconômicas inserem essas

famílias em classe social distinta da classe social predominante entre os alunos da IES,

considerada de classe média (com base na percepção dos próprios entrevistados), dois fatores

relevantes que podem interferir na inclusão desses alunos na IES.

4.3.2.2 Características Pessoais

As características pessoais dos alunos podem influenciar tanto o processo de

interação social e construção de vínculos, como a percepção do aluno acerca de sua

experiência de inclusão e exclusão no ambiente acadêmico. P5M-IN considera que para sua

experiência de ambientação na IES “[...] o diferencial mesmo foi o meu temperamento,

porque eu sou muito comunicativa, eu falo com todo mundo, se eu tenho uma dúvida eu vou

lá e pergunto, eu não tenho vergonha”. Conforme percebido pela professora PROF 01

[...] se ele é um cara expansivo, em trinta segundos ninguém sabe mais que

ele entrou depois, mas, se ele tem um outro perfil, um perfil mais calmo,

mais tranquilo [...] aí começa o nosso problema, que é um problema real.

Acerca das relações entre alunos prounistas e não prounistas em sua sala, P1H-IM

acredita que ser um aluno com bom desempenho facilita as relações, porque os outros alunos

os procuram, mas considera que “[...] não é só a qualidade, acho que tem a conversa também

[...] as pessoas que são muito boas (como alunos), mas são introspectivas não conseguem ter

tantos contatos assim”. Assim, considerando a relevância dos aspectos pessoais para as

interações sociais dos alunos entrevistados, nessa categoria apresentamos as diferenças

individuais como parte da definição de quem são esses alunos.

De acordo com a Escala Fatorial de Autoconceito, proposta por Tamayo (1981, p. 97),

o termo “retraído” descreve aquele “[...] um solitário, fechado aos outros, com uma

capacidade de relacionamento social fraca, tímido, puxado para trás”, enquanto expansivo é

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aquele que “[...] se percebe como uma pessoa social, que gosta de comunicar, aberta aos

outros, popular, desejada pelos outros”.

Com base na autodescrição de cada aluno foram criadas as classificações: retraídos e

expansivos, e cada aluno prounista enquadrado em uma delas, conforme apresentado no

Quadro 04.

Quadro 04 – Características pessoais dos respondentes

Fonte: Elaborado pela autora.

4.3.2.3 Base Educacional

Enquanto dentre os alunos não prounistas entrevistados, apenas um provém de escola

pública, os alunos prounistas são predominantemente oriundos destas, a exceção de dois que

Sujeito Evidência Sujeito Evidência

P2M - IM Eu sou mais na minha P1H - IM

Eu sou uma pessoa que

converso com todo mundo,

mas eu não dou muita

abertura.

P3H - INOuço e falo menos do que a

maioriaP4M-IN

Gosto de brincar, sou uma

pessoa muito brincalhona, só

tenho cara de séria, só.

P6M-IM Eu sou mais tímida P5M-IN

Eu faço amizades rápido

também... então, eu já fiz

amizades com a minha sala...

P8H-FM

Não se definiu, porém se

encaixa mais no perfil

introspectivo

P7H-FN Mais falante

P10H-FN

Eu sou muito reservado

também, muito na minha, não

gosto muito de me envolver

com coisas desnecessárias.

P9H-FM

Eu conheço todo mundo na

sala. Converso com todos e

tenho bom relacionamento

com todos.

P11M-FM

Eu sou muito alegre, muito

animada, muito falante [...] O

meu lado é mais extrovertido,

espontâneo.

P12M-FM

Eu sou fácil para comunicar

com as pessoas, então acabei

fazendo amizade rapidamente

Retraídos Expansivos

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conseguiram bolsas integrais em escola particulares, por critério de precariedade. É

recorrente, entre os entrevistados, haver maior prejuízo na área de Exatas. Alguns relatos dão

uma dimensão da defasagem do ensino obtido pela maioria deles. “Não tive nenhuma aula de

física nem de química durante o Ensino Médio inteiro”, afirma P1H-IM. Embora tendo

obtido um ensino de baixa qualidade, P2M-IM ainda considera-se, em algumas disciplinas,

sob alguma perspectiva privilegiada, uma exceção em termos de padrão de qualidade do

ensino recebido, quando diz que: “Eu não sei nada de matemática. Eu tive a sorte de ter, da

quinta ao terceiro ano, duas professoras excelentes de língua portuguesa, mas em outras áreas

era bem crítico”.

Diante de tão grande déficit escolar, o sonho de conquistar uma vaga em uma

universidade de melhor qualidade requer uma reparação mínima da formação, porém, em

virtude dos limitados recursos financeiros familiares, cursinhos preparatórios de boa

qualidade só são possíveis para alguns alunos que obtêm bolsas de estudos. Verifica-se que

eventualmente o cursinho se presta a corrigir a formação básica, fazendo-se acompanhar de

uma pressão psicológica, pois muitos desses alunos sabem que precisam conseguir superar

essa barreira restritiva da má formação para conquistar a bolsa, que pode representar um

ponto de virada em suas vidas.

Penei muito porque eu não tinha noção de praticamente nada, porque eu

senti uma grande diferença do ensino que eu tinha na escola para o ensino do

cursinho [...] Eu tive que me dedicar completamente a Humanas, porque eu

não tinha condições de fazer mais um ano de cursinho e não aguentaria, acho

que psicologicamente... (dá uma respirada cansada) (P4M-IN).

[...] entrei no cursinho sem saber tabuada [...] Fiz quatro anos de cursinho.

Eu chegava a estudar 16 horas por dia, de segunda a segunda. Eu estudava

de segunda a sábado e no domingo fazia prova [...] (P1H - IM.).

Há outros que recorrem aos cursinhos comunitários e ainda aqueles que elaboram

programas pessoais de preparação.

Eu fiz cursinho comunitário. Eu fiz um cursinho comunitário que tem em

Guarulhos. Era aos fins de semana. [...] Eu fiz só os últimos seis meses do

terceiro ano do ensino médio, entendeu... O resto eu estudei por fora. (P10H-

FN).

[...] eu acabei estudando por conta própria, foi o que ajudou. [...] porque se

dependesse da escola em si... (P6M-IM).

4.3.2.4 Escolha da IES

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A IES pesquisada possui tradição e reconhecimento pela qualidade de seu ensino. Na

concepção de Carvalho (2006), a obtenção de uma bolsa do ProUni em instituições privadas

de qualidade é uma oportunidade concedida para poucos alunos, para os quais haverá chances

reais de ascensão profissional e, consequentemente, social.

A escolha da IES para a qual o aluno se candidata no ProUni pode fazer grande

diferença na qualidade da formação. Carvalho (2005) assinala que parte significativa da

população demanda acesso a oportunidades de ensino de qualidade. Metade dos alunos aqui

entrevistados refere que tinham o desejo de cursar uma universidade pública, mas que pela

dificuldade de obtenção de aprovação no processo seletivo escolheram uma faculdade privada

de boa qualidade.

[...] meu primeiro foco sempre foi USP, como a maioria das pessoas, é o

sonho e tudo mais, e eu queria bastante. Só que a prova era muito difícil [...]

(P11M-FM).

[...] eu consegui a minha vaga aqui. Não pensei duas vezes... Eu não vou

continuar estudando mais dois anos se eu já consegui uma vaga numa

instituição muito boa (P11M-FM).

Seriedade e qualidade foram os principais critérios mencionados pelos alunos para

justificar a escolha da IES. Alguns alunos que obtiveram bolsas em outras faculdades menos

conceituadas, aspirando uma melhor formação, acabaram prestando o Enem novamente e,

conseguindo aprovação posterior, ingressaram então na IES foco deste estudo. Em um único

caso, o aluno afirma que o motivo de sua vinda para a IES foi a não formação de turma em

outra instituição de ensino com qualidade de ensino reconhecidamente inferior.

Eu sou o único dos meus amigos que está numa boa faculdade (P1H-IM).

Ah... porque eu sabia que para o curso que eu queria era uma das melhores

universidades (P2M-IM).

Eu tinha bolsa na XXX de Direito também, aí eu fiz até o 3º semestre e aí eu

falei: Ah, vamos tentar um passo além. Eu vim pra cá, passei (P3H-IN).

[...] ano passado, eu consegui a bolsa aqui e vim pra cá. E assim, foi como a

realização de um sonho [...] E assim, eu passava todo o tempo frustrada, com

vontade de ir para uma universidade melhor (P6M-IM).

Pesquisas anteriores (SANTOS, 2011; SENA, 2011) já relataram que os alunos

prounistas são considerados o orgulho da família e aqueles que proporcionam novos rumos

sociais para os familiares. O acesso a uma formação que, por motivos diversos, não foi

possível aos pais, dão a esses alunos um papel de destaque e os tornam referências em seus

lares. Ao falar do irmão que está concluindo o curso de Direito, é notável a empolgação de

P4M-IN ao dizer que ele “[...] foi o primeiro neto, dos dois avôs, a entrar numa universidade

[...]”, por isso tornou-se o “[...] orgulho da família completamente”. Nota-se uma gratificação

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pessoal desses alunos, por proporcionar alegria à família, como expresso na fala de P12M-

FM “[...] é legal ver minha mãe orgulhosa, falar para os vizinhos que eu estou estudando

aqui”. P6M-IM, cujos pais possuem apenas ensino fundamental; refere que quando pequena

era incentivada por eles a estudar e agora é usada como exemplo pelos pais para estimular

seus irmãos, pois agora “[...] eles sempre falam: ‘estuda. Faz igual a P6M-IM fez’”.

4.3.2.5 Atividades profissionais

Alguns alunos prounistas entrevistados relatam terem iniciado atividades

profissionais desde muito novos, executando trabalhos informais, tais como entrega panfletos

aos 13 anos, trabalhar em shopping center com 15 anos ou trabalhar na extração de látex, para

juntar dinheiro para fazer cursinho. Muitos desses alunos têm a responsabilidade por

contribuir para o orçamento familiar e, conforme anteriormente sinalizado por alunos

pesquisado por Oliveira et al. (2012), a remuneração recebida, ainda que pequena, contribui

tanto para possibilitar a permanência desses alunos na instituição, quanto para suas formações

acadêmicas. A fala de P11M-FM acerca do término de seu contrato de estágio expressa a

relevância econômica que o estágio tem para a manutenção de alguns alunos: “Então fica esse

buraco financeiro, porque, querendo ou não, você ganha R$ 500,00, mas são R$ 500,00, que

na minha família faz muita diferença”. As dificuldades financeiras permeiam as tomadas de

decisão desses alunos, que, por vezes, acabam restringidos em suas possibilidades de escolhas

profissionais, de forma que o critério financeiro prevalece sobre os interesses e gostos

pessoais. P10H-FN informa que

[...] desde o começo da faculdade eu tive que trabalhar. Agora que eu

consegui largar um pouco o trabalho mais pesado, porque antes eu estagiava

só em escritório de advocacia, para ganhar mais, agora, fui para a área

pública que é uma área que eu gosto.

A grande maioria dos alunos prounistas informa trabalhar ou estagiar desde o início

do curso, sendo que apenas três alunos dos semestres iniciais ainda estão em busca de

oportunidades de estágio. Alguns alunos do grupo de não prounistas entrevistados, também

declaram estagiar mais por necessidade do que por opção e, em alguns casos, têm que ajudar

no custeio da mensalidade do curso. Dos seis alunos deste segundo grupo, dois têm as

mensalidades custeadas pelos pais e um possui condições socioeconômicas, não referindo

dificuldade para tal; dois obtiveram Financiamento Estudantil (FIES), e uma afirma que se

“[...] não tiver o meu estágio, eu não tenho condições de estar aqui”. Os três últimos casos

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denotam que a condição socioeconômica de metade desse grupo de alunos difere em algum

nível do perfil de alunos predominante na IES, caracterizada como de classe média e classe

média alta, havendo certa aproximação e identificação, pelo menos dessa metade do grupo

com o perfil social do aluno prounista.

Em síntese, a análise dos dados pessoais aponta que os alunos prounistas

entrevistados diferem do grupo de não prounistas principalmente no histórico familiar,

formação escolar anterior e condições sociais. Os alunos do ProUni são provenientes de

famílias cujos pais possuem nível de escolaridade fundamental, que desempenham atividades

profissionais que não exigem qualificação formal e desfrutam de condições socioeconômicas

restritas e, em sua maioria, estudaram em escolas públicas ou em escola particular com bolsa.

Comparado ao grupo de não prounistas entrevistados, se assemelham com metade deles, no

que se refere à necessidade de estagiar ou trabalhar para garantir a manutenção das despesas

do curso, contudo distinguem-se do perfil social predominante entre os alunos não prounistas

da instituição. Cabe observar que acentuadas diferenças entre prounistas e não prounistas

podem trazer implicações negativas para as interações entre eles, uma vez que a percepção de

similaridade é um fator importante nas relações intergrupais, e o status igual entre grupos

possibilitam que contatos sejam mais bem sucedidos (TRIANDS, 2003).

4.3.3 Categoria: Quem eles dizem que são

Nesta categoria são discutidos os aspectos relativos à identificação e à identidade do

aluno prounista frente ao grupo, das subcategorias: Receios, Identificação/Não Identificação e

Revelação Voluntária/Involuntária.

4.3.3.1 Receios

Verifica-se que da aprovação do aluno no processo seletivo do ProUni até a chegada à

IES há um período permeado por sentimentos ambivalentes. Embora, em geral, os alunos

prounistas vivenciem um sentimento de alívio e de superação pela conquista da almejada

bolsa do ProUni, sintam-se felizes por serem considerados motivos de orgulho para seus

familiares, no início há também um receio da reação dos colegas em relação aos prounistas,

do tipo tratamento que receberão durante o processo de formação dentro da instituição;

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temores esses que antecedem e, em alguns casos, persistem durante a graduação, por tempos

diferentes, dependendo do processo de adaptação de cada aluno.

Em um país como o Brasil, no qual a educação superior sempre esteve destinada à

formação das elites, em que as camadas menos favorecidas da população sempre foram

negligenciadas (OLIVEIRA, 2004), a concessão de acesso a uma IES como a pesquisada

revela as distâncias sociais existentes, fazendo emergir nesses alunos um temor das

implicações que podem advir do convívio social durante o curso. Na fala de P4M-IN, citada a

seguir, constata-se que a chegada à IES é percebida como um adentrar a um lugar ao qual não

faz parte, no qual se vai “cair”. Embora P4M-IN já tivesse referências acerca da instituição,

uma vez que o irmão já estudava nela, a incerteza acerca do tipo de tratamento que receberia e

de como se sentiria diante de um grupo socialmente diverso ao seu já a inquietava antes de

obter a bolsa. P6M-IM também possuía temores acerca do novo ambiente e das pessoas com

as quais passaria a conviver e decide-se por, em um primeiro momento, omitir a informação

acerca de sua condição de prounista, até que estivesse certa de que não lhe seriam

desfavoráveis. P5M-IN relata que seu temor é compartilhado também por outros alunos e

considera que declarar-se prounista é uma informação que não se revela a qualquer pessoa,

sendo necessária uma relação de proximidade com aqueles para quem se “solta” esse tipo de

informação. A expressão “vai soltando” utilizada por P5M-IN dá uma conotação de um

segredo, que só se conta para pessoas de confiança. que sugere haver uma percepção de que

esse ambiente oferece algum tipo de risco, podendo trazer consequência negativa estar ali

com bolsa do ProUni. As falas abaixo evidenciam que P5M-IN faz uma análise de prévia do

ambiente e de seus riscos antes de tomar uma decisão e que P6M-IM tem um comportamento

estratégico em relação aos colegas.

[...] eu ficava pensando: e se eu caísse aqui, como eu seria tratada e como eu

me sentiria?... Onde tem pessoas que têm a classe econômica bem diferente

da minha. Eu me questionava sobre isso (P4M-IN).

Resolvi sentir o clima [dá risada]. Então, de início foi logo no primeiro dia,

eu não vou falar nada [acerca de ser do ProUni], aí se eu perceber que

ninguém falou nada, que está tudo tranquilo eu me manifesto (P6M-IM).

[...] eu lembro que no começo eu tinha o maior receio de falar que eu era

bolsista, vários alunos têm esse receio de falar que são alunos do ProUni.

Mais aí, quando a gente vai tendo mais intimidade a gente vai soltando, é

entrei pelo ProUni (P5M-IN).

Verifica-se que todas as alunas dos semestres iniciais entrevistadas referem-se à

vivência de um temor inicial, mas que, conforme afirma P5M-IN, “[...] com o tempo passa”,

sendo que nos semestres finais não são mais mencionados. Para cada indivíduo a experiência

da inclusão no espaço acadêmico é singular, cada alegria ou temor é vivenciado de acordo

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com a subjetividade própria de cada um e em resposta a objetividade das pessoas e do meio

social. Pode-se afirmar que no grupo de alunos entrevistados os temores por eles referidos

estão relacionados com a convivência e a reação do grupo de alunos não prounistas da IES, e

em relação aos tratamentos e revelação da identidade de prounista.

4.3.3.2 Identificação/não identificação

Não há consenso acerca da possibilidade de identificação dos alunos prounistas.

Dentre o grupo de prounistas, alguns creem que a identificação é possível, enquanto outros

afirmam categoricamente que, a menos que seja dito, não se pode saber se um aluno é ou não

prounista e essas opiniões diferem do mesmo modo entre o grupo de não prounistas. Todos os

professores entrevistados afirmam que só identificam os alunos que lhes contam.

De um lado, há um entendimento de que eles se reconhecem entre si, manifesta na fala

de P5M-IN. “Olha é uma coisa estranha. A gente se identifica, sabia... a gente acaba se

identificando. Não sei se pela própria história de vida, né, a gente acaba se identificando” e,

por outro lado, pela fala “[...] eu não sei explicar... Dá pra saber que é ProUni”. Nesses

trechos há uma percepção dos alunos de que haja alguma característica distintiva a partir da

qual se pode identificar esses alunos, porém não nomeiam quais, como se não quisessem dizer

em que aspectos se percebem diversos aos outros alunos, nomeiam como uma “[...] coisa

estranha” “[...] que não se sabe explicar”.

O grupo de alunos não prounistas entrevistados também percebe de forma diferente a

possibilidade de identificação dos alunos prounistas. NP3M-IM acredita que “[...] é bem

escondido mesmo. Elas acabam tendo vergonha de admitir: Ah. Eu fui beneficiado pelo FIES

ou pelo ProUni”. Em sua percepção os prounistas “[...] não têm confiança [...] ela não vai

falar [...]”, pois dizer que é prounista “[...] é como falar que eu sou pobre”. A aluna considera

haver uma associação da identidade de prounista com a de uma pessoa pobre, portanto,

aparentemente internalizou e está identificada com essa categoria, considerada de valor mais

negativo frente ao meio, pelo que tende a evitar dar a conhecê-la por temor das implicações

que pode trazer para sua relação com o grupo dominante (HOGG; ABRAMS, 2001). NP4M-

FN convive com um grande grupo de alunos prounistas, uma vez que em sua sala de aula tem

cerca de dez alunos bolsistas do programa, dos quais quatro integram seu grupo de trabalho.

Em sua opinião, a identificação é possível em virtude do “perfil mais humilde” desses alunos.

Frente a um ambiente em que as condições socioeconômicas são distintas, o perfil social

predominante na IES difere do perfil estabelecido para enquadramento nos critérios do

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ProUni, as diferenças individuais acabam interferindo na forma como cada indivíduo se

percebe e é percebido e em como responde ao ambiente.

Na fala de NP3M-IM, citada anteriormente, a entrevistada faz uma associação da

identidade de prounista com a de uma pessoa pobre, portanto, para conviver dentro de uma

IES considerada de classe média e classe média alta essa identidade deve ser omitida, motivo

pelo qual, segundo ela, eles não se identificam. A entrevistada refere-se ao sentimento de

vergonha e de não pertença, argumentando que estes “[...] não se sentem em casa, para falar

que eu sou beneficiária pelo Programa, porque vão falar que eu não sou daquele meio”

NP3M-IM. Berg (2002) aborda esse tipo de experiência como um dilema das relações

intergrupais, em que, encontrando-se em ambientes heterogêneos, indivíduos excluem

voluntariamente partes da própria identidade por temor às consequências que podem advir de

trazer-se integralmente para o ambiente.

A situação a seguir ilustra como a temática da identificação dos alunos prounistas é

subjetiva e envolve formas de pensamento e percepções individuais. P2M-IM e P6M-IM

vivenciaram uma mesma situação na qual, no primeiro dia de aula, foram constrangidas a se

identificarem como prounistas, sendo solicitadas a erguer uma das mãos e ambas relatam o

episódio. P2M-IM descreve o momento em que

[...] no primeiro dia, como estava todo mundo no trote, tinha umas quatro

pessoas dentro da sala, aí chegou uma mulher aquelas que acendem o

Datashow e perguntou se tinha alguém do ProUni, aí que eu achei

esquisito... e ninguém entendeu

P6M-IM continua a narrativa dizendo que a referida pessoa perguntou

[...] alguém aqui é bolsista? E aí eu e essas duas pessoas.... era pouquinha

gente que tinha na sala. Nós levantamos a mão, e aí ela falou assim: “Ah!

Que bom, tal...” e foi embora. E assim, por conta desse episódio, muita gente

sabe que a gente é bolsista.

Verifica-se que a crença de P6M-IM é de que sua identidade foi revelada a muita

gente em virtude desse episódio, embora somente uma das quatro pessoas presentes na sala

não fosse prounista. Acerca da situação, P2M-IM assinala que “[...] esse foi o meu contato

com a turma, e com os demais, eu acho que quase ninguém soube direto assim... não dá pra

identificar”. Embora P2M-IM acha que há similaridade entre ela e os demais alunos,

entretanto, a opinião de NP4M-FN é de que em virtude do “perfil mais humilde” é possível

sim identificar os alunos prounistas.

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No dia a dia, várias outras situações se apresentam como reveladoras da identidade

desses alunos, dentre elas as mais apontadas são o tempo da chegada, o momento da

renovação da bolsa, a eminência/temor de pegar disciplinas pendentes (DPs), perguntas que

surgem em conversas informais, ou mesmo a falta de uma história compartilhada, como a

experiência do vestibular. O tempo da divulgação da lista de aprovados do ProUni figura

como o marcador mais expressivo da possibilidade de identificação e, como sugerido na fala

de PROF 01, pode trazer mais implicações negativas para o prounista.

Metade dos problemas que a gente tem é porque a lista do ProUni sai muito

tempo depois. Não só o problema... Não estou falando só do problema da

sala de aula, porque você fica identificado (PROF 01).

Entrevistador: Como você sabe [que ele é prounista]? Respondente: É de

comentar assim... Ah. Abriu o prazo para renovar a bolsa. Ou de encontrar

alguns lá renovando a bolsa (P12M-FM).

Ela ia pegar DP e ela pediu, se eu podia ajudá-la a fazer o requerimento. Ela

estava muito nervosa na hora, chorando, até por uns fatores externos

também. Aí ela me contou que não poderia pegar [para não perder a bolsa]

(NP6-FN).

Os colegas às vezes chegavam e perguntavam: “Nossa! Porque você chegou

tão tarde?” aí eu falava: “Ah! Porque a lista demorou para sair” (P5M-IN).

Às vezes os alunos vinham perguntar: Quanto você tirou na sua redação

quando você fez o vestibular? Aí a gente acaba falando: eu não fiz

vestibular, eu sou bolsista do ProUni aqui (P5M-IN).

As falas apresentadas refletem primeiramente uma preocupação de esses alunos de

serem identificados e de dar a conhecer sua condição de prounista, provavelmente em virtude

de acreditarem possuir atributos percebidos como discrepantes ao que se considera perfil do

aluno da IES; em função dessas diferenças, temem ser vistos como pessoas diminuídas e cair

em descrédito. Assim, em sendo conhecidos os aspectos que os distinguem, virem ocupar a

condição de desacreditados e em decorrência disso serem discriminados, uma vez que a

crença de que essas características distintivas tornam essas pessoas inferiores interfere no tipo

de atitude dos não prounistas em relação a eles (GOFFMAN, 1988).

4.3.3.3 Revelação voluntária/involuntária

A análise dos dados relativos à identificação dos alunos prounistas frente aos alunos

pagantes da IES fornecem a mesma percepção depreendida por PROF 04, de que “[...] os

alunos Prounistas, eles também têm um pouco de receio de qual pode ser a reação diante

dessa revelação de que são Prounistas” e, por esse motivo, alguns optam por não revelar o

fato, exceto por força da situação. Goffman (1988) considera que uma pessoa está em uma

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condição de descrédito quando ela possui atributos que são percebidos como discrepantes ao

estereótipo criado acerca de determinado tipo de indivíduo, entretanto essas características

não são imediatamente perceptíveis ou conhecidas dos presentes. Com diferentes expressões,

todas revestidas de um mesmo sentido de esquiva, os prounistas externam o temor de serem

rotulados, e um esforço de acobertamento da revelação de uma identidade percebida como

menos positiva frente ao meio.

Mas, eu também não procuro divulgar (P2M-IM).

[...] eu não canto aos quatro ventos que eu sou bolsista (P6M-IM).

Não que eu me identifique como se fosse um crachá (P10H-FN).

[...] um ou outro pode saber, mas não como por exemplo: Ah, para que time

você torce? (P9H-FM).

Conforme apontam Taylor e Moghaddam (1994), a motivação dos indivíduos está

direcionada para o alcance de uma identidade social mais positiva, o mesmo se dando a nível

intergrupal pela busca de pertencer a grupos positivamente avaliados. Quando a própria

identidade é percebida como inadequada, estratégias comportamentais são adotadas visando

mudar a condição existente. Das falas dos alunos entrevistados, pôde-se depreender uma

hierarquia de identidades sociais mencionadas pelos alunos. Foram elencadas a condição de

cotista, prounista, bolsista e, o que aqui chamamos de, “IESzista” (a fim de preservar o nome

da instituição). Embora cientes de que o Programa ProUni é um tipo de cota, por ser

hierarquicamente a condição de menor status, não é uma identidade utilizada por estar mais

associada a cotas raciais e alvo de preconceitos mais explícitos. A condição de prounista,

embora em muitos casos seja evitada, é eventualmente usada. Bolsista, que é uma condição

mais genérica, dado que existem vários tipos de bolsas, torna-se a identidade mais assumida

por aqueles que preferem não se identificar como do ProUni. Dentro da IES, existem várias

categorias de alunos bolsistas, sendo possível obter bolsa por participação na Atlética

(concedidas a alunos que integrem equipes esportivas e representam a instituição em

competições), bolsa filantropia, bolsa para funcionários e para filhos de funcionários, dentre

outras. Por fim, constata-se que alguns alunos omitem durante toda a graduação a identidade

de prounista, assumindo a identidade de “IESzista”. As falas a seguir evidenciam essa

hierarquização.

Então [se revelasse ser prounista] eles tratariam do mesmo jeito que um

cotista, com as mesmas segregações e com os mesmos preconceitos (P1H –

IM).

Uma menina que era cotista, talvez ela fosse prounista, Não sei se ela era

prounista ou se ela já foi beneficiada por cota em outros espaços... (PROF

02).

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Se você falar que você é bolsista pode até ter preconceito, mas é muito

menor do que se você falar que é prounista. Se você falar que é prounista já

tem um certo preconceito, sim (P1H – IM).

[...] falaram com a gente lá no auditório [na palestra de integração dos

prounistas], que independente da gente ser bolsista ou não, a nossa condição

de bolsista não muda em nada a nossa condição como “IESZzista” (P5M-

IN).

Mediante situações nas quais são involuntariamente levados a responder a

questionamentos, e com isso necessariamente expor a condição de aluno prounista, alguns o

fazem, enquanto outros acabam optando por declarar-se bolsista; isto, na compreensão destes,

é uma identidade social percebida como de valor menos negativo que a de prounista, embora

até mesmo essa identidade seja evitada por alguns.

A maioria da sala sabe porque eu falo. Eu não tenho vergonha [...] Eu falo

que eu sou bolsista, não que eu sou prounista (P1H-IM).

Eu sempre falo que eu sou bolsista e nunca me falaram nada além de

parabéns. Que legal (P3H – IN).

Se perguntar: Ah! Você é bolsista? Eu falo sim, mas eu não canto aos quatro

ventos que eu sou bolsista (P6M-IM).

A teoria da identidade social propõe que os comportamentos intergrupais são guiados

pela busca de uma identidade social de valor positivo, uma vez que a distinção intergrupal

positiva confere ao indivíduo autoestima positiva (HOGG; TERRY, 2001). O conteúdo das

falas desses alunos revela a existência de uma hierarquia subjetiva em suas cabeças, havendo

uma distinção entre bolsistas e prounistas, identidades provavelmente associadas à condição

de pobreza, que, ao ser comparada em relação ao status dos outros alunos da IES, faz com que

a identidade desses primeiros grupos sejam vistas como mais negativas e menos desejadas,

afetando, portanto a autoestima destes.

Determinantes para a formação do nosso autoconceito de quem somos, as categorias

sociais às quais pertencemos; prescrevem formas de pensamento e comportamentos e, ao

mesmo tempo, fornecem referencial para comparação com outros grupos. Assim, as

diferenças sociais entre prounistas e não prounistas e o receio de que o dar-se a conhecer

como aluno prounista traga consequências negativas para si, influenciam a decisão de como e

se a identidade de cada um é revelada ou mantida encoberta.

Você se sente um pouco constrangido em falar que é do programa (P6M-

IM).

Mas, eu não procuro deixar muito claro, não. Tirando para as pessoas com

quem eu ando, que todo mundo sabe (P2M – IM).

[...] a menina que mora comigo [há um ano] ficou sabendo esses dias que eu

sou bolsista (P5M-IN).

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De modo semelhante, em sua pesquisa, Souza (2011) já havia constatado a hesitação e

temor dos alunos prounistas, relatando o que chamou de manifestação de autodefesa, ou

autoproteção, em que os alunos por ele pesquisados também optavam por não revelarem a

identidade de bolsista do ProUni, expressando “vergonha” de sê-los. Em seu trabalho, o autor

observou que tal comportamento era mais comum no período inicial do curso, alterando-se ao

longo dos semestres, porém que isso não ocorria com todos os bolsistas. Na presente

pesquisa, verifica-se que todas as evidências de esquiva destacadas acima são provenientes de

alunos dos semestres iniciais, mas não são utilizadas por todos eles, o que sugere um padrão

similar ao constatado por Souza (2011). Dos alunos em final de curso, metade afirma que

todos sabem que são prounistas porque eles mesmos falam, enquanto dois deles só o fazem

para amigos mais próximos e um deles não o faz, porque considera que isso é “indiferente”

para as outras pessoas. Embora em número menor, alguns alunos que se posicionam e

assumem a condição de prounistas, não demonstrando qualquer dificuldade ou

constrangimento, afirmam revelar de forma natural e voluntária.

O pessoal da sala sabe. Meus amigos sabem que eu sou prounista e eles

falam: nossa que bacana, você é superdedicada [...] Tanto é, que eu falo pra

todo mundo que eu sou prounista mesmo [dá uma arrastada na entonação

enfatizando o ser prounista] [...] (P4M-IN).

Prounista. Não tenho vergonha não. Para mim é até motivo de orgulho. Eu

tenho bolsa 100%, eu consegui, foi meu mérito. Eu estudei para isso. Para

mim não tem problema (P11M-FM),

Eu tenho orgulho de falar que eu sou prounista, sabe. Eu acho que é muito

bom isso pra gente [...] (P12M-FM).

Se para com outros alunos a identidade de prounista é omitida, com os professores os

alunos sentem-se mais à vontade para contar que o são, conforme relatam todos os

professores: “[...] alguns alunos se sentem a vontade de me contar que são prounistas, eles

gostam de falar pra mim” (PROF 04). “Hoje eu sei quem são meus alunos do ProUni porque

a maioria faz questão de falar [...] contaram superorgulhosos” (PROF 02). “Às vezes nunca

conversa, às vezes num debate, numa conversa particular: eu sou prounista” (PROF 03). A

PROF 01 diz que os alunos usam a condição de prounistas para “chorar nota”, argumentando

que se “[...] reprovar em três matérias eu perco a minha bolsa, porque eu sou ProUni”. Pode-

se observar que de alguma forma os alunos prounistas se sentem ameaçados em relação aos

não prounistas, entretanto na relação com esses professores mencionados não existe

necessidade de “proteção da identidade”, e eles podem usar sua condição para obter ganhos.

Com prazer, com orgulho pessoal, por se sentirem à vontade com os professores e até,

por um lado, a intenção de obter benefícios pessoais, não há reservas de esses alunos em

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revelar-se para os professores entrevistados. Por outro lado a reserva em relação aos alunos

não prounistas pode ser justificada nos argumentos de Taylor e Moghaddam (1994), que

sustentam a existência de forças em conflito entre esses grupos, uma vez que indivíduos

pertencentes aos grupos dominantes desejam e lutam para manter o status de condição

comparativamente superior, enquanto os integrantes dos grupos de identidade social de valor

menos positivo desejam alcançar alguma mudança de status, a fim de aprimorar a identidade

grupal para uma condição superior.

4.3.4 Categoria: Obstáculos do Caminho

Nessa categoria as principais dificuldades enfrentadas pelos alunos prounistas desde

o período preparatório, antecedente ao ingresso na instituição até a conclusão do curso, são

discutidas por meios das categorias: Período preparatório, Restrições Materiais e Implicações

Emocionais.

4.3.4.1 Período preparatório

Estudar em universidades particulares com boa qualidade de ensino, em geral implica

o pagamento de altos valores de mensalidades, requerendo consideráveis investimentos, até

mesmo para famílias de classes mais favorecidas, conforme apontado por NP5M-FM, que é

aluna pagante, “[...] eu acho um absurdo assim, eu pagar R$ 1.400,00 de faculdade [...]”.

A concessão da bolsa integral aos alunos do ProUni é um benefício importante, e

representa a possibilidade de acesso de jovens de baixa renda à formação universitária em

universidades privadas. Porém, os relatos demonstram que, embora isentos de mensalidades,

o acesso e a permanência desses alunos na IES envolve outros custos, tanto materiais como

emocionais. P4M-IN, afirma que durante seu período preparatório para o exame “Eu não via

meu namorado. Eu não namorava, não saia de casa... irritada o tempo todo, estressada por

aquela pressão, de não conseguir passar, eu tenho que passar”, o que exemplifica o custo

emocional envolvido na busca de acesso a uma bolsa de ProUni. Especialmente quando se

deseja obter uma vaga em instituições de melhor qualidade, a pressão não só pela aprovação

no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), mas também por obter uma boa nota é

vivenciada por aqueles que não possuem condições socioeconômicas suficientes para pagar o

curso.

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Alunos que inicialmente preparavam-se para tentar ingressar em universidades

públicas relatam o período do cursinho preparatório como um período desgastante, em virtude

do déficit de qualidade da educação até o ensino médio. P1H-IM conta que

[...] não aguentava mais fazer cursinho, eu já estava saturado. Eu fiquei

muito mal, entrei em depressão quando eu não passei, eu fiquei 06 meses

fazendo acompanhamento psicológico, todas essas coisas.

P5M-IN relata que porque “[...] a nota é altíssima, eu já tinha colocado na minha

cabeça fazer mais um ano de cursinho. Já ia ser o terceiro ano de cursinho, compensava ter

feito o ensino médio de novo”, mas que acabou sendo chamada na segunda lista de espera e

conseguiu entrar.

Conforme já constatado por Santos (2011), o acesso de estudantes de baixa renda às

IES privadas implica em convivência com grupos socioeconomicamente distintos e constitui-

se um período no qual acabam sendo submetidos a novas experiências de exclusão. Diferentes

desafios são enfrentados ao longo do período de graduação e têm que ser superados, uma vez

que, como apontado por Rocha (2012) e também aqui verificado, as dificuldades dos

bolsistas, seja no processo de aprendizagem ou no âmbito financeiro, não desaparecem apenas

com o ingresso na graduação. Nessa categoria, busca-se apontar as restrições materiais e as

implicações sociais e emocionais decorrentes da oportunidade de acesso à IES estudada.

4.3.4.2 Restrições Materiais

Desafiando os próprios limites, com garra e determinação pessoal, esses alunos correm

atrás da realização do desejo de obter uma formação superior, aproveitando a oportunidade

única de acesso a uma universidade de boa qualidade, em curso reconhecido no mercado, é

perceptível no discurso de grande parte dos alunos entrevistados, uma disposição em pagar o

preço e superar os obstáculos, como afirma P12M-FM, “[...] ainda que a gente passe um

pouco de aperto, vale a pena pela qualificação que a gente vai ter”.

Verifica-se que, por força do determinante econômico, os alunos acabam vivenciando

dificuldades outras, havendo restrições financeiras até mesmo para necessidade mais básica

como a alimentação. Observa-se que no campus da IES estudada existe uma ampla variedade

de franquias que vão desde lanchonetes multinacionais, restaurantes, cafeterias e até

esmalteria, estabelecimentos aos quais alunos prounistas não têm acesso, ocorrendo assim

uma exclusão econômica. Conforme argumenta P1H-IM, na “[...] X (outra IES privada), que

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é a X, tem bandeijão. Você paga R$ 6,00 e você come. Se nós formos comer aqui por perto o

almoço mais barato é R$ 12,00 por dia, e não é aquelas coisas. A média é R$ 16,00 por dia”,

de forma que, não havendo nenhuma política de ajuda a esses alunos, a possibilidade de

sobrevivência dentro do campus fica limitada. Sem recursos para custeio alimentar dentro do

campus, os alunos precisam trazer a própria alimentação de casa ou se organizar para

alimentar-se em casa.

[...] a alimentação, se eu quiser comer por aqui, é tudo na marmita, ou não

come. Come um lanche, traz de casa (P11M-FM).

Então, eu não me incomodo muito... No ano passado eu até comprava lanche

aqui. Esse ano eu passei a trazer de casa para economizar um pouco (P2M -

IM).

Mas, eu não sei que tipo de atitude poderia ser tomada para que esses alunos

se sentissem mais confortáveis nesse ambiente [...]. Vale lembrar que as

coisas aqui dentro, também, são bem caras, então... [...] Talvez, quem se

sinta incomodado por essas situações e essas diferenças normalmente,

chegando aqui, provavelmente, vai se sentir um pouco incomodado, se

chatear com esse tipo de coisa (P2M-IM).

Então, eu sempre procurei estágio de quatro horas para poder fazer tudo em

casa, então alimentação em si eu supria fazendo em casa, então dá pra

conciliar (P9H-FM)

Sendo a alimentação uma necessidade básica para a sobrevivência, não havendo,

portanto, outra opção a não ser supri-la, e bem ou mal, esses alunos o tem feito, mas não sem

certo grau de desconforto, devido à falta de políticas públicas mais abrangentes, que cubram

de forma efetiva as necessidades dos bolsistas do ProUni.

O local de moradia também é um quesito importante, que funciona como fator de

inclusão ou de exclusão do aluno. Morar perto da instituição implica custos de aluguel,

enquanto para aqueles que moram longe acarreta desgastes físico e emocional, além de

restringir as oportunidades de convivência. A distância da residência em relação ao campus

foi apontada como uma das principais dificuldades por alguns alunos. “Meu primeiro

obstáculo é morar longe, então pra conseguir vir para a faculdade, eu acordo 4h30 [...] é toda

uma saga até chegar na faculdade ” relata P11M-FM, opinião compartilhada por P7H-FN,

quando diz que “[...] a distância é o pior, Itapecerica da Serra é muito, muito longe”. Embora

economicamente possa ser a opção mais viável para essas famílias, ou a única opção, há

prejuízos sociais e mesmo profissionais decorrentes da distância que o aluno está da

faculdade. P11M-FM sente que a distância a impede de participar de atividades sociais que

possibilitariam maior interação com os outros alunos, e diz que “[...] às vezes eu saio [com os

colegas de curso], mas não é muito. Como eu moro longe da faculdade, fica difícil para eu vir

aqui nos finais de semana”. P12M-FM optou por deixar de estagiar, abrindo mão dos valores

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financeiros que lhe seriam importantes, devido ao tempo que gasta para deslocar-se até sua

residência; isso indica que seu local de moradia torna-se um impedimento de acesso a outras

atividades, “[...] acho que pra mim hoje [a maior dificuldade] é não poder conciliar trabalho

com a faculdade. Pra mim é isso, porque acabou faltando dinheiro”, portanto é um fator de

exclusão.

Outra dificuldade relatada principalmente pelas alunas prounistas, é referente à falta

de recursos para a aquisição de livros. As queixas são de que infelizmente “[...] os livros não

caem do céu. Nada aqui para a gente se manter” (P12M-FM), e que, embora a “[...] biblioteca

daqui seja ótima, mas, alguns livros atualizados não tem. Então, pela dificuldade financeira eu

não conseguia adquirir esses livros” (P11M-FM). Quer emprestando de amigos, solicitando

doação, recorrendo ao sacrifício familiar, como expressa P6M-IM, os pais fizeram “[...] tudo

o que eles podiam em fazer, em relação a livros... Se há uma necessidade eles dão um jeito”,

ou o que é mais comum, ou renovando constantemente na biblioteca, esses alunos conseguem

driblar essas barreiras. Contudo vivenciam um sentimento de privação, uma vez que, por

necessidade ou por desejo, não podem adquiri-los, conforme apontado por P12M-FM

[...] você tem que se apertar... ou tira xerox, que não [pode].... tem que fazer

isso, ou comprar o livro, se não for muito caro. Eu tive que comprar alguns,

mas eu gostaria de poder comprar mais. Eu acho bonito ter livro [ri].

As expressões “[...] nada aqui cai do céu para a gente se manter”, se “[...] não for

muito caro” (P12M-FM), “[...] eles dão um jeito” (P6M-IM) utilizadas anteriormente

manifestam que toda a manutenção durante o curso é difícil, sendo exigidos esforços a fim de

superar os obstáculos financeiros. Faltando recursos financeiros para o que é básico,

consequentemente esses alunos estão privados também da participação em cursos

extracurriculares, intercâmbios e viagens que impliquem em custos e lamentam ficarem

excluídos, conforme queixas a seguir.

[...] a faculdade divulga alguns cursos que eu não posso pagar, então eu

acabo ficando de fora (P5M-IN).

A IES disponibiliza vários intercâmbios, mas você precisa comprar a

passagem de avião, você precisa se manter quando você está lá, entendeu...

não tem a bolsa integral disso, e por não ter essa integralidade, para mim não

dava (P11M-FM).

Dificuldades para custear matérias, transportes e alimentação foram indicadas como

as principais restrições vivenciadas pela maioria dos alunos pesquisados por Santos (2012).

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Verifica-se que a falta de recursos materiais implicam desgaste emocional, que, vivenciado ao

longo de todo o curso, tornam a trajetória de formação mais longa e mais desgastante.

4.3.4.3 Implicações emocionais

Embora durante toda a formação seja requerido um aproveitamento acadêmico de

75% (setenta e cinco por cento), sob pena de perda da bolsa, os alunos prounistas

entrevistados não apontam desempenho como um peso ou dificuldade, exceto nos primeiros

semestres, isso, muitas vezes, em função da chegada tardia e do processo de adaptação. Para a

convocação dos alunos prounistas são publicadas duas chamadas, duas listas de espera e

posteriormente feita a oferta de vagas remanescentes. Na primeira lista, as vagas não são

todas preenchidas, pois nem todos os convocados preenchem os prerrequisitos do Programa.

Alguns não se enquadram no critério de renda, outros não apresentam a documentação

exigida pelo MEC e há ainda casos de convocados que deixam de comparecer para a

matrícula. Sucessivamente são reconvocados novos candidatos, até que as vagas sejam

completamente preenchidas, sendo a última lista de espera divulgada quase dois meses após o

início das aulas. Por problema estrutural do Programa, o calendário do ProUni é uma das

dificuldades impostas e que acarreta dificuldades outras para esses alunos (inclusive com

implicações para o processo de inclusão/exclusão desses alunos, aspecto que será abordado

posteriormente), tornando o período inicial do curso mais difícil conforme evidenciado na

comunicação dos alunos:

[...] o aluno prounista já entra um pouco atrasado, e aí, como deu esse problema, eu

entrei mais atrasado ainda. Então eu tive alguns problemas nesse sentido, para me

adaptar a essa correria, entendeu... Mas, tirando isso foi tranquilo (P10H-FN).

[...] desempenho dá pra acompanhar. No começo foi um pouco difícil acho, mas agora

já dá pra levar [...] No começo eu estudava muito mais, porque eu me sentia insegura,

mas eu estudei numa escola boa assim... [...] (P12M-FM).

[...] O primeiro semestre foi terrível. Cheguei a perder a bolsa inclusive. Eu só fui me

recuperar mesmo no terceiro, eu pegava todas as DPS, aí o pessoal da minha sala

passou a estudar junto... grupos de estudo, aí ficou melhor. E melhorou o desempenho

realmente [...] (P7H-FN).

Os recortes apresentados evidenciam que o início do curso é um período mais crítico

para esses alunos, em que várias situações de dificuldades são vivenciadas, quer de adaptação

ao ritmo do curso, temor de não conseguir acompanhá-lo e das disciplinas pendentes (DPs)

que põem em risco o benefício da bolsa conquistada ao longo do tempo, essas dificuldades

vão sendo superadas, permitindo que cheguem ao final do curso.

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Ainda que muito se fale sobre a defasagem de formação dos alunos provenientes da

escola pública (LEITE, 2009; SOTERO, 2009; SANTOS, 2011, OLIVEIRA et al. , 2012),

mais do que o desempenho, autocobrança e o desejo de superação impõem um preço

emocional a ser pago pelos alunos prounistas, que se sentem responsáveis e agentes da própria

história, que avança por um caminho árduo.

Dado que a educação formal constitui-se uma das mais importantes vias de mobilidade

social, e que a qualificação educacional é essencial para que se alcance posições de prestígio

em nossa sociedade (RIBEIRO, 2006), esses alunos consideram estudar na IES uma

oportunidade ímpar e sentem-se atribuídos de um peso maior do que o dos outros alunos,

sabida a importância que concluir o curso tem para eles, e manifestam esse peso em suas

falas.

[...] a maioria dos alunos do ProUni, eles estão entre os melhores da sala. Porque a

gente tem essa cobrança interior: “Nossa eu estou aqui dentro [...] numa faculdade que

a faculdade de Direito custa R$ 1.400,00, e eu não estou pagando por isso, e é uma das

faculdades top de linha de São Paulo, só fica atrás...” Aliás, nem fica atrás de X e Y.

Então, a gente tem essa cobrança sabe, de fazer por merecer mesmo (P5M-IN).

Aspecto negativo... [dá uma pausa]. Acho que a pressão que a gente coloca em nós

mesmos. A gente tem que ir bem... A gente tem que ir bem... Essa pressão eu não sei

se pode ser caracterizado como um aspecto negativo: A gente tem que se esforçar na

vida normal e muito mais aqui (P1H-IM).

Eu gosto de estar aqui, eu fico feliz, mas eu ainda tenho aquele sentimento de que eu

tenho que lutar mais. Não é simplesmente estou aqui. É aquele sentimento, eu preciso

continuar aqui. Então, a gente fica um pouco apreensivo, para não pegar DPs, não

pegar notas ruins. O sentimento é esse (P1H-IM).

Você não pode esquecer nem um dia que você tem que lutar mais do que as outras

pessoas, não importa o quanto elas lutam porque o seu caminho é muito maior que o

delas (P1H-IM).

[...] a gente tem que batalhar mais ainda para permanecer na faculdade do que eles,

porque é difícil... não é fácil não (P12M-FM).

Como denotam as experiências até aqui apresentadas, do ingresso até a conclusão do

curso, um árduo caminho foi percorrido e após superarem todos esses obstáculos, alguns

alunos dos semestres finais entrevistados já obtiveram aprovação no Exame da Ordem dos

Advogados e expressam um sentimento de vitória. Eles denotam ter consciência de que é uma

luta que terá ainda continuidade, mas para a qual, conforme a expressão usada por P9H-FM,

pelo menos em termos “[...] de conteúdo que a faculdade ensina para advogar, matéria de

direito profissional, não tenho do que reclamar, me considero capaz de combater... disputar

uma vaga com qualquer aluno da X, da Y ou de qualquer outro”. Percebe-se pelas expressões

utilizadas pelos alunos entrevistados que num país de extrema desigualdade social como o

Brasil, no qual rígidas barreiras sociais estão firmadas, o sentimento desses alunos é de que

estão em uma “batalha”, que necessitam “lutar”, mas que saem da graduação “capazes de

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combater”, significando que as armas foram obtidas. Diante da grande distância social que

está posta e tendo em vista o ambiente competitivo que enfrentarão no mercado de trabalho, é

realmente necessário lutar aguerridamente para superar os obstáculos e obter uma qualificação

profissional, importante fator de inclusão social.

A condição social dos alunos prounistas e todas as restrições financeiras dela

decorrentes constituem-se obstáculos que dificultam a trajetória acadêmica, porém o desejo de

alcançar melhor status e obter um aprimoramento pessoal funciona como um “motor” para as

ações e para a superação destes. As falhas estruturais do programa, principalmente no que se

refere ao calendário e à falta de políticas que estendam a assistência prestada ao aluno para

além da bolsa, principalmente nos períodos iniciais do curso trazem implicações sociais e

emocionais para esses alunos, que travam uma luta contra a realidade social que está posta e

contra as desigualdades e tornam-se agentes da história.

4.3.5 Categoria: Relações interpessoais

A categoria “Relações interpessoais” é bastante relevante ao objetivo geral desta

pesquisa, uma vez que nesta categoria são abordados aspectos relacionados à ambientação dos

alunos prounistas na IES, às diferentes dinâmicas de sala, aos grupos de convívio, ou seja,

com quem esses alunos se relacionam de forma mais próxima, aos critérios de formação de

grupos de trabalho e envolvimento em atividades sociais extra-curriculares são importantes

indicadores de como se dão as relações e quão permeáveis ou fechados os grupos são

percebidos. Os conteúdos foram organizados nas subcategorias: Impressões Iniciais, Divisão

Atividades Sociais.

4.3.5.1 Impressões iniciais

A convivência entre pessoas é um desafio, especialmente quando os grupos são mais

heterogêneos, sendo requerido que os seres humanos superem as dificuldades distintas de

estar junto àqueles que são diferentes (TRIANDS, 2003). A chegada em um ambiente

desconhecido em geral envolve algum nível de expectativa e ansiedade, por medo do

desconhecido. Os alunos prounistas entrevistados, conhecendo o perfil geral dos alunos da

IES pesquisada, sabem que há minimamente uma distinção social entre eles e, conforme já

apontado anteriormente, chegam com certo receio. Ao relatarem a experiência de ambientação

inicial, os alunos prounistas apontam algumas dificuldades iniciais. Aqueles que são dos

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semestres iniciais referem “[...] dificuldade para se ambientar” (P2M-IM), em um primeiro

momento “[...] sentir-se deslocada” (P4M-IN) e vivenciar “[...] um receio com os colegas”

(P5M-IN). Quando chegam à IES já existem grupos formados e alguma resistência a sua

aceitação é manifesta, deixando uma impressão inicial negativa para alguns; quando a

inserção no grupo é feita de forma requerida, por professor ou representante de sala, incorre

em tratamentos discriminatórios (tema que será mais amplamente discutido na categoria

posterior), conforme indicado nas falas a seguir.

Eles são bastante receptivos [...] têm sim, algumas exceções. [...] logo nas

primeiras semanas eles já estavam formados e até hoje é o mesmo grupo

assim... não teve nenhuma inclusão. Quando eu cheguei, eu não tive uma

impressão tão boa assim. Quando eu cheguei assim, logo o pessoal já fez

grupinhos separados, e isso tem muito ainda [de não prounistas] (P6M-IM).

Quando eu cheguei... a minha sala, ela é bem dividida. Ela tem três grupos.

Quando eu cheguei assim, já deu para perceber... (P9H-FM).

Esse início foi bem ruim. Eu não sei se as pessoas eram arrogantes, eu não

sei se foi por... eu não faço nem ideia do motivo [...] eu sofri vários

problemas [não aceita no grupo de trabalho e quando inserida por

solicitação, foi discriminada] (P11M-FM).

No primeiro semestre, que ninguém se conhecia assim quase, não foi nada

caloroso demais (P7H-FN)

Essa percepção de grupos fechados e menos receptivos, embora mais frequente, não é

unânime. Chegando ao final da graduação P7H-FN considera que “[...] o pessoal aqui é

receptivo pra caramba. Sempre muito consciente, talvez seja isso também, tem muito bolsista

na graduação”, mas em outro momento afirma ter se sentido ambientado somente após o

terceiro semestre do curso, sendo que antes disso não se sentia acolhido. P12M-FM diz que,

“[...] embora haja assim, diferença entre classes sociais, eu consegui levar numa boa”,

expressando uma experiência individual, mas que atribui a si o mérito de ambientar, mas que

não necessariamente expressa sua impressão em relação ao ambiente em geral.

4.3.5.2 Divisão em feudos

O professor PROF 01 faz um questionamento retórico de

[...] por que a gente cria os nichos aqui dentro, com os alunos? Eles levam

muito tempo para divulgar [a listas de convocados do ProUni]. Quando esses

alunos são inseridos no sistema, que viram alunos, já teve um tempo de aula

muito grande.

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Verifica-se que quando os alunos convocados pelo vestibular regular chegam à

instituição já fizeram contatos com outros integrantes da lista de aprovados. Conforme

informado por NP6-FN “[...] com as redes sociais, é um pouco mais rápido também”, pois

com a divulgação da lista de convocados, os alunos fazem contatos prévios entre eles. NP3M-

IM que é aluna não prounista, diz que

[...] antes mesmo de começar as aulas a gente já montou um grupo no

Facebook e aí a gente conversou... [...] a gente já meio que se conhecia

quando começou as aulas, mas eu não tive dificuldade nenhuma, assim, de

me inserir nesse meio,

facilitando o processo de ambientação quando do início das aulas. Para o aluno não

prounista o tempo da convocação é mais longo, não é feita em caráter público, o que impede

qualquer aproximação antecedente à chegada em sala de aula, acentuando a condição de

desvantagem desse grupo, pois são uma minoria, de condição social inferior e sem rede de

contatos prévios.

A percepção de diferença entre pessoas surge em virtude das categorizações sociais

que são feitas entre indivíduos, podendo o outro ser considerado diverso em função de sua

origem racial, gênero, nacionalidade, orientação sexual, classe social, idade, dentre outras

categorias. Grande parte dos alunos entrevistados relata que, dentro de suas salas de aulas, são

formados feudos, com baixa permeabilidade entre eles e consideram “[...] até feio de se ver”,

quão fragmentadas são as salas, tornando difícil a aceitação de pessoas que possuam

características distintas ao perfil predominante. As falas a seguir demonstram que desunião e

existência de feudos em grande parte das salas é uma percepção compartilhada tanto por

alunos prounistas como por não prounistas. Depreende-se que a fragmentação de sala persiste

durante todo o período do curso, uma vez que esse aspecto é ressaltado por NP4M-FN, aluno

do último semestre. Isso contribui para que o aluno prounista se perceba como alguém com

características distintivas em relação ao grupo social predominante, reduzindo a possibilidade

de contato e empobrecendo a interação social, dado as fronteiras existentes, conforme

ressaltado a seguir.

A nossa sala, ela é meio fragmentada. É bem demarcado. O território está

demarcado. É demarcação (NP4M-FN).

A minha sala é bem desunida, realmente é dividida e segregada (NP3M-IM).

Quando eu cheguei, eu não tive uma impressão tão boa assim. Quando eu

cheguei assim, logo o pessoal já fez grupinhos separados, e isso tem muito

ainda (P6M-IM).

[...] eu tenho o meu grupo, o outro tem o outro grupo, mas não é aquela coisa

que todo mundo fala com todo mundo (P8H-FM).

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Era muita panela. Era fechada sabe... Era feio até de se ver, era uma classe

desunida. A que eu estou hoje, não. É até bem unida (P12M-FM).

No entanto, alguns alunos relatam experiências mais positivas.

Eu acho o ambiente muito bom, muito tranquilo (P3H-IN).

A minha sala é uma sala muito unida para falar a verdade (P5M-IN).

Da mesma forma que P12M-FM percebe grande distinção entre uma sala e outra,

considerando haver em algumas delas maior união e ambiente mais favorável, P9H-FM

também faz a mesma observação quando diz que “[...] minha sala é muito tranquila, muito de

boa, mas eu lembro que a sala D não era uma sala muito legal”. NP4M-FN também observou

essa diferença e relata que pegou uma DP

[...] e vim fazer de manhã [...] naquele grupo da manhã [...] eu percebi que a

divisão era menor [...] eu vi que as pessoas conversam [...] se tiver

dificuldade, ele [o outro aluno] vai lá senta do lado dele e conversa. Isso na

minha sala não acontece.

As diferenças entre salas ocorrem tanto no período da manhã, como no período da

noite, não sendo possível determinar maior divisão em um horário ou outro.

De acordo com os entrevistados, o tamanho das salas no curso de Direito varia de 40

até 90 alunos por classe, dos quais, pela média geral, cerca de 9% são alunos prounistas.

PROF 01 menciona ocorrer séria dificuldade de inclusão destes nos grupos já formados e

afirma que “[...] depois que você forma time, você forma equipe, é muito difícil de... e aí ele

[o aluno prounista] chega, chega como o sem time”, e assim, dependendo do tipo de dinâmica

de sala, pode gerar sérios problemas para criarem seus próprios grupos de pertença.

Embora o tempo de chegada seja um dificultador real para a ambientação do aluno

prounista, chama atenção o relato de dois alunos não prounistas, que, por motivos outros,

também tiveram entrada tardia na IES, porém consideraram-se bem recebidos e incluídos.

NP1H-IN informa que chegou “[...] no meio do semestre letivo [...] me receberam muito

bem”, experiência também vivenciada por NP5M-FM que informa que “[...] como eu entrei

depois, elas já tinham esse grupinho delas formado, então elas meio que me incluíram”. A

percepção de similaridade percebida é um fator importante nas relações intergrupais, havendo

uma tendência a aproximação entre pessoas que se veem como semelhante umas às outras

(TRIANDS, 2003); assim, mesmo chegando após o início das aulas NP1H-IN e NP5M-FM

foram recebidos e incluídos nos grupos, enquanto a chegada tardia do aluno prounista, que

está sempre em minoria nas salas, é considerada justificativa para as discriminações e

exclusão.

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4.3.5.3 Trabalhos em grupo

Sendo a realização de trabalhos em grupo uma exigência do curso, a obrigatoriedade

de formação de grupos revela uma dinâmica de seu funcionamento e das salas. Dos seis

alunos não prounistas entrevistados, cinco deles referem terem escolhido os seus grupos de

trabalho, sendo que NP1H-IN, NP3M-IM e NP4M-FN consideram o critério de afinidade,

NP5M-FM diz ter sido convidada a integrar seu grupo, NP6-FN utiliza o critério de qualidade

para composição de grupos. Apenas NP2M-FM indica não ter muita escolha e diz buscar “[...]

grupos alternativos”, uma vez que não se identifica muito com sua sala, e considera os outros

alunos não prounistas “[...] elitistas”.

Para os alunos prounistas entrevistados, a formação de grupos de trabalho nem sempre

se dá segundo seus próprios critérios de escolha. Considerando que para que um indivíduo

seja incluído em determinado ambiente é necessário que anteriormente sinta-se valorizado e

reconhecido como membro do grupo (BERG, 2002), percebe-se que o status de membro de

um grupo de trabalho, para alguns prounistas é conquistado quase à força. O relato dos

professores evidencia que há resistências de alguns alunos em aceitar o ingresso de alunos

prounistas em alguns grupos de trabalho, sendo empreendidas estratégias por outros alunos a

fim de impedir a entrada de alunos prounistas, em alguns grupos de trabalho. Dessa forma, é

exigido desses professores, que também são agentes implicados no processo de

inclusão/exclusão, intervir a fim de evitar que o aluno seja prejudicado, tentando inclui-lo em

algum grupo já formado. Eventualmente, não obtendo sucesso na busca de um grupo, o aluno

fica excluído e acaba fazendo trabalho individual.

Às vezes ocorre do aluno ficar de fora, aí a gente vai correndo atrás e quando

não dá eu digo: não tem problema, eu vou receber [o trabalho individual] do

mesmo jeito (PROF 03).

Vai fazer trabalho em grupo, uns gostam, outros não gostam, uns querem

outros não querem, já têm seus amigos (PROF 03).

Na hora do bar não tem problema, na hora de falar mal do professor junto.

Aparece quando tem uma questão de estudo, aparece para a formação de

grupo (PROF 01).

E é legal [fala ironicamente] que eles envolvem professor: Professora, não

pode entrar mais ninguém no grupo, né? (PROF 01).

Dentre os alunos prounistas entrevistados, há evidente diferença nos relatos de suas

experiências pessoais, no que se refere à formação de grupos de trabalho. Apesar de P2M-IM

fazer trabalhos com as pessoas que lhe são mais próximas, mas “[...] às vezes eu acho que não

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deveria ser, porque às vezes a gente pega uma equipe que não agrada tanto”. P10H-FN

demonstra certo conformismo com sua “[...] sala já é assim, já é meio dividido em grupos”, e,

por ter alguma dificuldade de transitar entre eles, formou um grupo de quatro amigos no qual

faz todos seus trabalhos. P1H-IM diz que seu grupo de trabalho é formado por afinidade, no

qual a maioria é prounista, indicando uma afinidade por condição social. P11M-FM participa

de um grupo misto e refere que faz por critério de afinidade, o que em seu caso pode ser

sinônimo de aceitação, uma vez que sofreu resistência para ser aceita em outros grupos. P9H-

FM afirma que “[...] sempre mudei, por escolha”, mostrando-se uma exceção em relação aos

outros prounista, pois diz transitar bem entre grupos e fazer os trabalhos cada vez com um

grupo diferente. Cabe ressaltar que esse aluno omitiu ser prounista durante todo o curso, não

se identificando como tal para os demais alunos, pois considera que “[...] isso não faz

diferença”. P12M-FM afirma que na “[...] na minha sala que eu participei mais assim, eles

não ligam se a pessoa é prounista ou não, eles estão mais preocupados se ela vai fazer a

atividade, se ela não é perdida no assunto”, indicando não haver barreiras a admissão de

alunos prounistas nos grupos de trabalho.

A experiência de P11M-FM relata dificuldades enfrentadas para realização de

trabalhos em grupo, expressas como estratégias de exclusão. Descreve que no início do curso,

no momento de formar um grupo, tomou a atitude de abordar um grupo, dizendo:

“Posso fazer com vocês”? Ah. Já tem seis. “Posso fazer com fulano?” já tem

seis, já tem seis, já tem seis. Já tem seis, você tinha que ir até a representante

de sala e falar: “pode me indicar um grupo que ainda falta pessoas”? Aí

quando você é enfiada num grupo, pior ainda, porque é um grupo fechado e

as pessoas não estão nem aí para você.

PROF 01 chama isso de experiência clássica de exclusão, que “[...] é os grupos

separados, de não deixar incluir o fulano”, e relata que em uma determinada sala faziam isso

de forma tão explícita que alguns professores tiveram que fazer “[...] um trabalho de

desarticulação, mas nós não fomos vitoriosos. No outro semestre os alunos que eram

prounistas pediram pra mudar de sala”. PROF 01 afirma que dinâmica de sala agressiva nesse

nível é exceção, mas que “[...] situações agressivas é a regra em todo lugar, em toda sala”.

Dessa forma, constata-se que a formação de grupos de trabalho é um momento no qual

preconceitos e discriminações emergem, gerando situações de exclusão ao nível interpessoal,

dado que é negada a essas pessoas a possibilidade de estabelecer relacionamentos (ABRAMS;

HOGG; MARQUES, 2005). Essa é uma situação de discriminação, na qual, de forma ativa

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um grupo tenta privar o acesso de outro, provavelmente com base apenas em prejulgamentos,

sem maiores fundamentações (ALLPORT, 1979).

Em virtude do etnocentrismo existente nos grupos (TRIANDS, 2003), a cultura

própria do grupo é usada como padrão para julgamento dos outros grupos. Os trabalhos em

grupos seriam oportunidades para o que Allport (1979) chama de “hipótese do contato”, pois

a interação entre pessoas com status iguais e com objetivos comuns, em ambientes amistosos,

nos quais a interação cordial endogrupo e exogrupo possibilitaria a percepção de crenças

errôneas e a redução do preconceito, porém, em geral, isso não ocorre. A realização de

trabalhos em grupo poderia ser uma oportunidade de aproximação entre esses alunos, de troca

de experiência e oportunidade de convivência, permitindo revisão de prejulgamentos. Pela

lógica do contato social, a oportunidade de interação nos grupos de trabalhos aumentariam a

atração, a conexão e a compreensão entre as pessoas (PETTIGREW, 1982 apud MANNIX;

NEALE, 2005), no entanto, o que se percebe é que os trabalhos em grupos têm sido utilizados

como oportunidades de demarcação de fronteiras e formas de discriminação, fazendo com que

as diferenças sejam ressaltadas.

4.3.5.4 Grupos de convivência (em sala de aula)

Os grupos de trabalho discutidos anteriormente são de caráter instrumental, criados

para atender exigências de disciplina, embora na maioria das vezes tenham liberdade de

constituir os próprios grupos, eventualmente obedecem a critérios de formação estabelecidos

pelos professores. Os grupos de convivência, aqui considerados como as pessoas mais

próximas, com quem escolhem manter uma vinculação maior, têm uma conotação diferente,

voltada mais para o social e informal. Olhar para as particularidades dessas interações é

importante, uma vez que inclusão-exclusão, de acordo com Mor Barak (2005), envolve

engajamento tanto nos processos formais quanto informais, como participação em atividades

e encontros informais, nos quais se tem acesso a informações e decisões informais são

tomadas. Para Ferdman et al. (2009) a inclusão é vista como uma experiência psicológica de

ser aceito como membro de um determinado grupo social, ser valorizado, respeitado e

apoiado.

Nas descrições dos alunos se percebe dois grupos distintos: enquanto alguns alunos

gozam de um amplo espaço de convivência, com bom trânsito entre prounistas e não

prounistas, um segundo grupo tem um espaço mais restrito de convivência, com uma pequena

rede de contatos.

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É que tem um pessoal que saiu, foi para outra sala, mas a gente continua

conversando, vai para o bar juntos, sai junto, vai na casa um do outro (P7H-

FN).

[...] tem o dia que eu gosto de sentar na frente, tem o dia que eu gosto de

sentar no fundo, então eu conheço todo mundo na sala. Converso com todos

e tenho bom relacionamento com todos (P9H-FM).

Eu entrei na faculdade com um determinado grupo de amigos [...] um desses

eu carrego até hoje [...]a gente tem a mesma forma de pensar. Eu ando com

pessoas que não são do ProUni. São gente que trabalha, sabe o valor do

dinheiro (P8H-FM).

[...] a maioria dos meus amigos mesmos, só eu que sou ProUni na minha

sala. Eu não vejo diferença assim, o tratamento é bem igual (P11M-FM).

Meu grupo é bem diversificado. Mas são todos... Não tem nenhum prounista,

só eu que sou prounista (P12M-FM).

Agora é duas. E tem outras assim... que sentam ali com a gente...

conversam... mais eu sou mais amiga dessas duas e elas também são minhas

amigas (P2M-IM).

[...] na verdade assim, eu não tenho um grupo. Tenho duas amigas minhas

que são mais próximas (P6M-IM).

Tanto alunos prounistas quanto não prounistas relatam que a formação de seus

grupos de convivência levam em conta uma identificação em de termos ideias ou origem

social, indicando que a distinção social é um fator que está sempre em evidência para ambos

os grupos, revelando ser essa uma dimensão de diversidade importante nesse ambiente. A

similaridade de classe social é um critério relevante para formação de grupos. A preposição

“mas” usada no excerto a seguir faz uma distinção de que os amigos ricos de P12M-FM têm

uma característica que não é comum a outros, ser legal, o mesmo ocorrendo com os amigos de

NP4M-FN, que “[...] não ostentam o padrão social”. Por identificação ou por distinção, ao

falar dos grupos de convívio, a questão é recorrente.

Eles são ricos [ri], mas são muito legais (P12M-FM).

No grupo em que eu convivo [...] todos héteros, perfeitos... [ri] Eles têm

gostos semelhantes aos meus, ideais parecidos... Mas eles têm um modo de

vida de classe média alta, que é o que compõe essa faculdade (NP1H-IN).

Eu acho que as pessoas com quem eu me identifico mais são aquelas pessoas

que têm uma situação igual a minha (NP3M-IM).

Eu percebo que dos doze, dois deles têm um padrão um pouco maior, mas

eles não ostentam isso. Então talvez eles se inseriram, porque o padrão é de

uma origem mais humilde, e eu me identifiquei mais com isso (NP4M-FN).

Eu restrinjo meu grupo [de convívio] a uma amiga que ela tem poderes

econômicos, mas ela se identifica muito com as questões sociais [...] esse é o

meu grupo, junto com um outro amigo [...] ele é bolsista pela IES e não pelo

ProUni (P4M-IN).

Triands (2003) considera diversidade como qualquer atributo humano, especialmente

sexo, classe social, raça, etnia, cultura, idade, orientação sexual, estilo de vida e religião. Para

Mor-Barak (2005), ser considerado diverso, em qualquer dimensão, pode trazer

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consequências negativas ou positivas para a vida do indivíduo e torná-lo suscetível a sofrer

consequências da associação com a pertença ou não a certo grupo social, presume-se que

essas diferenças reflitam na forma de tratamento entre indivíduos e grupos. P1H-IM

considera que “[...] para uma real amizade [os alunos não prounistas] são mais fechados”, mas

P4M-IN diz que gosta “[...] do tratamento das pessoas”, sendo que na opinião de P12M-FM a

“[...] maioria é bem receptiva, eu diria isso... É uma minoria que não seria, sabe... Aquele

grupo de pessoas que são totalmente fora da nossa realidade”. Acerca dessa minoria, a

percepção de P12M-FM é de “[...] uma indiferença desagradável”. A percepção de um grupo

que é exceção em termos de tratamento é destacada também no comentário de P11M-FM,

que relata que em sua sala “[...] tinha um grupinho de três pessoas e que elas adoravam fazer

chacota com tudo”, distratando os alunos prounistas, mas não exclusivamente eles.

4.3.5.5 Grupo de atividades sociais

A participação em atividades extramuros da universidade é prática comum entre

jovens estudantes. Conforme já apontado por Ferdman et al. (2009) a experiência de inclusão

envolve a possibilidade de que pessoas possam ser elas mesmas, permitindo que outros sejam

eles mesmos, no contexto de engajamento em atividades comuns. O envolvimento em

atividades sociais é aqui considerado fator indicativo de inclusão ou exclusão, uma vez que

demonstra a natureza dos vínculos estabelecidos entre esses alunos, bem como as fronteiras

existentes e os fatores que acentuam ou atenuam essas vivências.

De acordo com P10H-FN “[...] a maioria dos prounistas não participa das mesmas

coisas que os não... de festas da IES, de festas dos Centros Acadêmicos, esse tipo de coisa”.

Percebe-se nos argumentos dos alunos prounistas entrevistados que restrições financeiras e

distância da residência são as principais “razões” que lhes impedem a participação em

atividades sociais fora da IES. P3H-IN diz que não participa em virtude de outros

compromissos pessoais, P6M-IM, P11M-FM e P12M-FM por morarem longe, P9H-FM que

tem 29 anos de idade, argumenta que “[...] a maioria deles são mais novos, então não dá pra

acompanhar”, enquanto para P8H-FM a razão é financeira, pois considera “[...] totalmente

fora de noção [...] ir para uma balada e pagar R$ 500,00 para entrar”. P10H-FN também não

tem “[...] muito contato assim, de sair junto, ir pra casa, nada disso assim...É mais dentro da

faculdade mesmo”. P6M-IM diz que as alunas de sua sala “[...] são muito participativas,

principalmente socialmente, então saem muito juntas” acredita que não sai mais por falta de

“[...] articulação social do que o próprio dinheiro. Eu acho que até em parte... a gente nem faz

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muito esforço pra ir, porque a gente tem essa sensação de que vai ficar meio de canto”. A fala

a aluna revela um sentimento de exclusão e sua resignação frente ao ambiente, não

considerando que haja perspectiva de que seja aceita. Apenas P7H-FN refere envolver-se em

atividades sociais diversas em companhia dos colegas de sala.

Os dois programas mencionados como atividades sociais mais comumente realizadas

entre amigos são: ir à casa um do outro e frequentar os bares próximos à universidade. P4M-

IN, P7H-FN, P7H-FN e P12M-FM dizem que dormem em casa de amigos da faculdade, o que

sugere uma maior proximidade entre colegas. Em relação ao bar, embora os alunos prounistas

refiram irem juntos ao bar, a partir das falas dos entrevistados depreende-se que este é um

ambiente no qual as barreiras foram flexibilizadas, configurando-se como um espaço

democrático, em que as diferenças são menos evidenciadas.

Na hora do estudo aparece, você é prounista eu não sou. Não é na hora do

bar. Na hora do bar não tem problema (PROF 01).

[...] quando você desce no bar... vai conversar, tomar uma... tá todo mundo

junto, você conversa com o cara que você nem viu... tá mais alegre, e já

começa a conversar (NP1H-IN).

Eu não tomo bebida alcoólica, então eu ia pro bar com o pessoal e ficava

tomando refrigerante (P4M-IN).

A gente sai para ir no bar juntos [...] É normal (P7H-FN).

A opinião de PROF 01 em relação às fronteiras entre grupos existentes no contexto

das atividades acadêmica possibilita presumir que o status de aluno da IES, historicamente

concedido àqueles que possuem recursos financeiros para custeio educacional, torna-se

motivo de competição. No ambiente acadêmico ocorrem manifestações de discriminação, pois

alguns alunos agem de forma a buscar manter ou reforçar vantagem para alguns grupos e seus

membros em relação a outros grupos e seus membros, conforme observam Dovidio et al.

(2010). Por meio de categorizações são delimitadas as fronteiras e estabelecidos os aspectos

relevantes utilizados para distinguir aqueles que pertencem ou não a determinado grupo

(TAYLOR; MOGHADDAM, 1994). Dentro da instituição, categorias como aluno pagante,

aluno bolsista, aluno prounista ou aluno cotista são categorias comparativas, enquanto que

provavelmente no bar outros aspectos são considerados relevantes para categorização dos

indivíduos; talvez nesse ambiente o prounista “perca” a identidade de exogrupo e seja visto

como um outro sujeito qualquer, sendo mais importante aspectos como “ser divertido”, “ter

um bom papo”, “ser um contador de piadas”.

Quer no grupo de trabalho, no grupo de convívio ou no envolvimento em atividades

sociais, o etnocentrismo característico dos seres humanos fica evidenciado e cada grupo usa

aquilo que lhes é próprio como padrão para julgar o outro (TRIANDS, 2003). NP4M-FN, que

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tem em seu grupo de convívio mais próximo quatro alunos prounistas, refere que busca

transitar entre os diferentes feudos de sua sala, inclusive participando de atividades sociais

com grupos distintos, o que não é percebido como natural por seu grupo de convívio mais

próximo. Relata que

[...] as pessoas saem entre elas. Entre aquele grupo. Saem entre elas. Eu era e

o único lá, diferente daquele grupo. Eu era de um outro [grupo] a principio e

tal... Aí depois as pessoas do meu grupo: “Pô XXX. Você tá jogando com

aqueles meninos lá?” Porque eles são de um perfil... um padrão mais

elitizado. Você está falando com os maur... [mauricinhos]?

A categorização dos “mauricinhos” como exogrupo é feita com base nas diferenças em

relação a quem está categorizando, pois, conforme descrito por NP4M-FN, as pessoas de seu

endogrupo são membros da categoria “[...] de uma origem mais humilde” (HOGG; TERRY,

2001) e, a partir dessas categorias, terão percepções distintas acerca do próprio grupo e do

exogrupo e, com base nessas percepções, se comportarão em relação a eles. A percepção

estereotipada de que o outro grupo tem um perfil mais elitizado demonstra que categorizar os

membros do exogrupo faz que todos os integrantes sejam percebidos como mais homogêneos,

enquanto os do endogrupo serão percebidos como mais heterogêneos.

4.3.6 Categoria: Nós e Eles

Nesta categoria são discutidas as percepções dos alunos prounistas e não prounistas

acerca de quais as categorias distintivas de seus grupos de pertença, que estereótipos possuem

acerca de seus outgroups, bem como a percepção dos professores entrevistados acerca de

ambos. Com essa análise, busca-se verificar as dimensões de diversidade nas quais os alunos

prounistas se reconhecem e são reconhecidos. Uma vez que o objeto do presente estudo é o

ProUni e que a experiência acadêmica dos bolsistas do Programa é o foco, os alunos

prounistas são considerados “Nós”, enquanto os alunos não prounistas são “Eles”.

Considera-se relevante discutir as categorizações que prounistas e não prounistas

fazem uns dos outros, uma vez que os comportamentos dos grupos embasam-se nelas

(HOGG; TERRY, 2001). Por meio da utilização de categorias como "Nós" e "Eles", são

delimitadas fronteiras e determinados aspectos são relevantes para distinguir quem pertence

ou não a determinado grupo, de forma que os membros do outgroup foram percebidos como

mais homogêneos e os do ingroup como mais heterogêneos.

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A autoimagem descrita pelos alunos prounistas volta-se especialmente para o

desempenho, aspecto para o qual consideram possuir características distintivamente mais

positivas. Cientes de que chegam à IES com um “[...] maior déficit educacional”, consideram-

se “[...] bons alunos”, com “[...] maior predisposição para aprender”, “[...] maior empenho e

seriedade”, mais “[...] focado, estudiosos” e que obtêm “[...] notas altas”. As falas desses

alunos expressam um desejo de superação e um senso de que compete a eles mudar a própria

história e conquistar posições de maior prestígio. Dizem que “[...] se cobram mais”, “[...]

correm atrás do que querem”, ou seja, “[...] querem estar entre os melhores” e “[...] aproveitar

mais o curso para se destacar”, uma vez que “[...] não estão interessados só no diploma”.

Embora solicitados a descrever o perfil do grupo de pertença, verifica-se em expressões como

“[...] maior predisposição”, “[...] maior empenho”, um favoritismo ao ingroup manifesto via

comparação. A comparação social constitui-se o meio pelo qual o indivíduo obtém avaliação

da posição e status por ele ocupado perante o grupo, possibilitando uma redução da incerteza

e permitindo uma acurada auto avaliação (TAYLOR; MOGHADDAM, 1994).

A percepção dos alunos não prounistas entrevistados em relação ao perfil do aluno

prounista encontra considerável convergência com a autoimagem descrita anteriormente. Há

um reconhecimento por parte desse segundo grupo de que embora “culturalmente menos”

preparados, realmente “[...] são ótimos alunos”, de forma que destacam quão “[...]

batalhadores e empenhados” os percebem, consideram que “[...] são dedicados” e que “[...] a

luta dos mesmos (sic) é maior”.

De igual modo, os professores também destacam o desempenho dos alunos prounistas

e confirmam que “[...] a maioria está entre os melhores da sala”, que “[...] fazem os melhores

trabalhos, levam o curso mais a sério e têm maior interesse por pesquisa”. Reconhecendo a

existência de certo “déficit intelectual” antecedente ao ingresso na graduação, os professores

endossam que esses alunos realmente desejam “[...] retirar da universidade aquilo que ela tem

de melhor a proporcionar”.

Diferentemente do grupo de prounistas, que na descrição da autoimagem de seu grupo

dá especial ênfase aos aspectos relativos ao perfil estudantil e ao desempenho, os alunos não

prounistas entrevistados deram pouco destaque a esses aspectos ao descreverem o perfil do

grupo de pertença. De forma sintética referem como distintividade “inteligência”, possuírem

uma “[...] formação cultural mais abrangente”; consideram que “[...] estudam, mas que

deixam para a última hora”, denotando menor empenho. De acordo com o estereótipo descrito

pelos alunos prounistas “Eles” possuem “[...] nível intelectual mais elevado”, “[...] tiveram

uma educação decente”, “[...] alguns estudam, enquanto outros levam com barriga”. De igual

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modo, evidenciam uma percepção de alunos menos comprometidos com a formação, pois

percebem que “[...] metade demonstra dedicação e vontade, enquanto a outra metade não o

faz”. Os professores os consideram “[...] bons alunos, com potencial” e destacam que o tipo

de “[...] comentários e articulações que fazem” são aspectos que distinguem os alunos não

prounistas.

Se ao falar de si mesmos os alunos prounistas entrevistados destacam os aspectos

relativos ao desempenho acadêmico, ao abordarem o perfil social trazem muito pouco acerca

do ingroup e realçam as diferenças sociais existentes entre grupos, colocando em foco as

características do outgroup. “Nós” “[...] somos de uma classe social diferente do perfil geral”

e “[...] sem dinheiro”, enquanto “Eles” possuem

[...] boa condição financeira, são de classe média, sustentados pelos pais, têm

oportunidades de viagens, maior bagagem cultural, não precisam ajudar em

casa, podem comprar livros, [vivem em um] mundo diferente, ganham carros

aos 18 anos.

A quantidade de aspectos mencionados e a forma como enfatizam as diferenças sociais

existentes demonstra que a condição social é importante fator de distinção entre grupos. Os

aspectos sociais, embora mais evidenciados pelos prounistas, foram destacados também pelos

não prounistas. Acerca da própria condição social, “Eles” dizem que possuem “[...] um padrão

social mais alto, que são sustentados pelos pais, se vestem melhor, são mais atraentes e não

precisam trabalhar”. Os professores endossam essa última descrição acerca do perfil social do

aluno não prounista e complementam que a maioria não trabalha e “[...] aqueles que

trabalham, fazem estágios para aprender porque não precisam”, uma vez que são “[...]

sustentados pelos pais, têm condições financeiras para ter carro, oportunidades de viagens,

possuem uma bagagem cultural maior, falam duas, três línguas”. Essas descrições evidenciam

que no estereótipo do aluno não prounista é dada maior ênfase à diferença social e não nos

aspectos estudantis.

Considerando que o convívio com pessoas com maiores similaridades percebidas

resultam em emoções e atitudes intergrupais positivas (TRIANDIS et al. , 1994), pressupõe-

se que as dissimilaridades ressaltadas tragam com elas uma carga de emoções negativas que

interferem nas interações entre os grupos, gerando sofrimento psíquico para o grupo em

desvantagem. Ao tratarem dos aspectos comportamentais relativos a “Eles”, os alunos

prounistas os descrevem como “[...] elitistas, egocêntricos, esnobes, preconceituosos,

hipócritas, competitivos”, e que embora se mostrem “[...] educados”, “[...] sociáveis”, “[...]

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receptivos” sejam “[...] pessoas que não distratam”, e “[...] alguns [sejam] solidários”, são

“[...] abertos só em um primeiro momento, mas não para amizades”. Essas impressões

evidenciam que a condição social é uma dimensão de diversidade percebida, que delimita

fronteiras grupais e reduz a abertura para maiores interações.

Tantos os alunos prounistas como os professores ressaltam como característico dos

alunos não prounistas o fato destes serem “[...] contra políticas públicas” e serem “[...]

competitivos nos estudos”. Enquanto os prounistas consideram-se alunos que querem “[...]

aproveitar mais o curso para se destacar”, têm a percepção de que “Eles” desfrutam de “[...]

uma maior tranquilidade e menor peso ombros”, pois têm “[...] futuro certo”, “[...] têm mais

contatos”, contam com “[...] suporte para a carreira” e “[...] querem manter as coisas como

estão”. Na compreensão da teoria da Identidade Social, na dinâmica intergrupos, as relações

se estabelecem mais por competição e busca de distintividade do que por cooperação, porque

os membros do grupo desejam alcançar uma identidade para seu grupo que seja mais distinta

e mais positiva quando comparada a de outros grupos (TAYLOR; MOGHADDAM, 1994).

Enquanto os alunos prounistas, que em princípio possuem uma identidade social de valor

menos positivo, buscam alcançar alguma mudança de status, a fim de aprimorar a identidade

grupal para uma condição superior, percebem que os alunos não prounistas, que pertencem ao

grupo dominante, desejam e lutam para manter o status de condição comparativamente

superior, o que gera conflitos entre grupos.

Triandis et al. (1994) ressaltam que emoções positivas aumentam a probabilidade de

interação e intimidade entre pessoas e grupos, o que aumenta a percepção de similaridade, de

forma a criar um ciclo de autoreforço causal, que em casos de dissimilaridades trazem

consequências inversas, gerando condições de distanciamento. A percepção de que os alunos

prounistas mantêm certa reserva e distância em suas interações é consenso entre os três

grupos entrevistados. De si mesmos, os prounistas dizem que são “[...] mais na deles”, “[...]

nem todos se expressam”, possuem um “[...] comportamento mais controlado”, “[...] se

apropriam menos do espaço”; percepção endossada pelos alunos não prounistas quando dizem

que são “[...] introvertidos, não se soltam, não se expõem, acuados com as diferenças sociais”,

opinião ratificada pelos professores que percebem um “[...] comportamento mais contido,

reservado”. Embora manifesto por apenas um entrevistado (NP1H-IN), o estereótipo de que

os alunos prounistas “[...] tiram vaga de quem estuda”, e que, por não prestarem o vestibular

da IES “[...] têm uma vantagenzinha”, indica a opinião de que os alunos prounistas não

estudam tanto quanto eles, que não há mérito pessoal na conquista da vaga e de que essas

vagas não pertencem a eles.

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Os alunos prounistas entrevistados consideram que comparativamente possuem “[...]

direitos diferentes”, que o caminho por eles trilhado é mais difícil, pois pertencem a uma “[...]

classe social diferente do perfil geral”, “[...] moram longe” e “[...] não têm dinheiro”, porém,

consideram possuir uma “garra” que os distingue, pelo que driblam as dificuldades, “[...]

juntam-se entre si”, “[...] trabalham e estudam ao mesmo tempo”, “[...] correm atrás” e “[...]

dão o melhor” de si na busca reduzir as distâncias sociais que os separam não só dos alunos

da IES, mas das classes sociais mais favorecidas. Jodelet (2006) argumenta que nas interações

entre pessoas e grupos, os indivíduos colocam- se como agentes ou como vítimas. Diante de

um ambiente no qual se percebem em condição social diferente do perfil social predominante,

esses alunos valem-se do desempenho como meio de obter maior distinção positiva e

aceitação nos grupos e um meio de instrumentalizarem-se para o exercício profissional e

obtenção de melhores posições, uma vez que colocam-se como agentes da própria mobilidade

social.

A partir dos conteúdos trazidos pelos alunos entrevistados acerca de seu grupo de

pertença, o protótipo relatado pelo outgroup e a percepção dos professores já discutidos nessa

categoria, foram criado perfis comparativos entre grupos, buscando-se as divergências e

intersecções da imagem do endogrupo e do exogrupo, conforme expresso na Figura 1.

Figura 1: Composição dos conteúdos discursivos

Fonte: Elaborado pela autora.

As descrições da autoimagem dos alunos prounistas, as similaridades, ou

denominadores comuns entre grupos, bem como os aspectos que os distinguem foram

comparados conforme sintetizado no Quadro 5.

Prounista

Professor Não prounista

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Quadro 5: Similaridades e diferenças “Nós” e “Eles”

Fonte: Elaborado pela autora.

Estando diversidade relacionada às diferentes categorias a partir das quais pessoas são

agrupadas em função de denominadores comuns existentes entre elas (MOR-BARAK, 2005),

ao pensar os alunos entrevistados nesta pesquisa buscou-se apontar as diferenças visíveis ou

invisíveis percebidas entre grupos, uma vez que elas podem trazer consequências negativas ou

positivas para eles. De acordo com Loden e Rosener (1991), as dimensões secundárias de

diversidade existentes entre prounistas e não prounistas referem-se principalmente ao

background cultural, à classe social e às experiências pessoais. Uma vez que a diversidade de

classe social, fator mais enfaticamente apontado pelos alunos prounistas, secundariamente

priva esses alunos de oportunidades de viagens, de engajamento em atividades sociais com

outros alunos, reduz a possibilidade de acesso aos mesmos bens de consumo, a frequentar os

mesmos ambientes sociais, ocorre significativa redução dos denominadores comuns entre

grupos. Considerando a lógica do contato social e do pressuposto de que havendo uma maior

interação entre pessoas ou grupos há também um aumento da atração entre eles, a conexão e a

compreensão entre as pessoas (PETTIGREW, 1982 et al. MANNIX; NEALE, 2005), a

condição de diverso implica uma menor interação social, estabelece fronteiras entre grupos,

criando maiores distâncias entre “Nós” e “Eles”.

4.3.7 Categoria: Manifestações intergrupais

Perfil Prounista

Consensual

Perfil Aluno IES

Consensual

* Maior seriedade

* Garra

* Quer se destacar

* Caminho mais difícil

* Direitos diferentes

* Quer aproveitar curso

para se destacar

* Assíduos

* Amam a IES

* Estudiosos

* Educados

* Respeito aos

professores

* Classe social inferior

* Ótimos alunos

* Menor bagagem

cultural e base escolar

*Vestimentas mais

simples

*Comportamento mais

contido

* Correm atrás futuro

melhor

*Beneficiado Políticas

Públicas

*Quer mudar condição

* Precisam trabalhar

* Classe Social mais alta

* Maior bagagem cultural

e base escolar

* Vestimentas melhores

* Sustentado pelos pais

* Têm futuro certo

* Contra Políticas

Públicas

* Quer manter coisas

como estão

* Não precisam trabalhar

Autoimagem

Prounista

Perfil Geral alunos

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Nesta categoria são discutidas as manifestações intergrupais de estereótipos,

preconceitos e discriminações, suas razões e seus agentes, uma vez que são aspectos

diretamente relacionados à experiência de inclusão/exclusão dos alunos prounistas.

4.3.7.1 Estereótipos

Já discutida anteriormente na categoria “Obstáculos do caminho”, a temática do perfil

do aluno prounista e seu desempenho é um dos estereótipos depreendidos das falas dos alunos

não prounistas entrevistados. Considerado o componente cognitivo do preconceito, os

estereótipos são generalizações (ARONSON; WILSON; AKERT, 2002) ou padronizações

(MOR-BARAK, 2005) feitas acerca de um grupo de pessoas, portanto, compreende-se que ao

usar o argumento de que o aluno que entra pelo ProUni “[...] vai pegar uma vaga de um cara

que está estudando” NP1H-IN explicita o estereótipo de que o aluno prounista não estuda. O

entrevistado sugere que, ao contrário dele, quem não estuda “consegue pegar” a vaga, o que

também sugere que essa vaga é obtida à força, quase que tirada dele. Tendo em vista que,

conforme já discutido na categoria “Nós” e “Eles”, o desempenho dos alunos prounistas é

considerado ótimo tanto por professores como por outros alunos não prounistas, não há

argumento concreto no qual sua argumentação se sustente.

A inconsistência de argumento é manifesta também na associação da imagem do aluno

prounista a alguém de comportamento inadequado, tanto em relação ao comprometimento

com a aula quanto pela postura frente ao ambiente, generalizações atribuídas a esses alunos,

sendo sugerido haver “um regimento”, ou seja, um modo esperado do aluno da IES agir, uma

capacidade de adequação ao ambiente para que pudesse conviver nesse meio social (o aluno é

militar de onde provavelmente advém a ideia de regimento). Além dos estereótipos relativos

ao aluno do ProUni, verifica-se que a imagem da escola pública também é estereotipada e

vista como um local de “baderna”, conforme indicado nos excertos a seguir.

Entrevistador: como você chegou à identificação desses alunos [prounistas]?

Entrevistado: Pelo comportamento. Pelo comportamento, né... É visível... a

pessoa que chega e entra, sai... vai beber e volta no final da aula, para pegar

a chamada, o que a gente pode concluir? (NP4M-FN).

Hoje o que você tem nas escolas públicas é baderna, é zona. Então se ele

chegasse aqui com o devido respeito [...] mas se comportasse segundo o

regimento da IES, eu não veria mal nenhum (NP1H-IN).

[Os alunos não prounistas] aqui têm uma pensamento distorcido em relação

ao bolsa família. É a mesma coisa em relação aos alunos do ProUni. Acham

que são vagabundos, que não merecem estar aqui (NP2M-FM).

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Nas comparações sociais, as diferenças entre grupos são acentuadas e por meio das

categorias formam-se os estereótipos em relação a si, ao endogrupo e ao exogrupo (HOGG;

ABRAMS, 2001). Uma clara padronização que expressa distinção entre prounistas e não

prounistas é manifesta no diálogo estabelecido com NP1H-IN, no qual:

P: Porque eu não posso comparar agua com óleo... E: Então, o que é a água e

o que é o óleo aqui? P: Água é o cara carente, que ascendeu à faculdade,

atendendo aos requisitos que o ProUni possibilitou a ele. Esse é o água. O

óleo é o cara que tem família que o sustenta, tem padrão alto.

Curiosamente, NP1H-IN, que é uma pessoa que convive mais proximamente com

pelo menos quatro alunos prounistas e se considera uma pessoa de “origem humilde”, escolhe

uma figura de linguagem para exemplificar os dois grupos, utilizando elementos que não se

misturam, sugerindo uma separação entre ambos os grupos. O entrevistado, que está com 46

anos, demonstra um nível de expectativas superior em relação aos alunos prounistas e

evidencia intolerância a qualquer demonstração de descomprometimento da parte desses

alunos, que desfrutam de uma oportunidade que ele não teve quando era mais jovem.

4.3.7.2 Razões do preconceito

A falsa crença de que não existe preconceito no Brasil e que a paz e a democracia aqui

imperam foi por muito tempo sustentada (GRAMPA, 2012). As opiniões expostas a seguir

demonstram a existência de atitudes negativas em relação aos alunos prounistas, com

justificativas baseadas em estereótipos e generalizações, com manifestações de preconceito

baseadas quase sempre em argumentos infundados.

Um argumento utilizado para justificar os preconceitos está relacionado com a prova

do Enem, pois constitui-se uma forma diferente de entrada na IES, considerada menos

competitivo para o prounista. Alegações de que “[...] o prounista não passou pelos mesmas

provas que eles” P1H-IM, e de tratar-se de “[...] uma prova mais fácil, que é jeito mais fácil”

(PROF 01), são corriqueiras e compartilhadas também por professores em sala de aula.

P10H-FN relata que seu professor durante a aula manifesta sua opinião de “[...] que o ProUni

é uma brecha no vestibular”, entendimento similar ao de NP1H-IN, aluno não prounista, que

também acha “[...] que o ProUni é um atalho para isso”. De acordo com PROF 01 “[...] os

alunos do ProUni, primeiros colocados [na prova do Enem], são compatíveis com as

primeiras listas [dos aprovados no vestibular regular da IES], só num sistema distinto”.

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Em relação à qualidade do ensino e ao desempenho do aluno prounista, no trabalho de

Souza (2011), o autor indicou que na PUC de Minas Gerais o argumento de que a entrada dos

alunos prounistas comprometeria a qualidade do ensino não se confirmou. Na IES pesquisada,

PROF 04 assinala que o preconceito também “[...] se manifesta muito nessa ideia de associar

ProUni com queda na qualidade”, criando-se “[...] uma falsa ideia de que o aluno do ProUni

tem um desempenho pior, que ele tem um desempenho diferente, isso não é verdade, isso é

mentira”. As pessoas contrárias ao programa acreditam que “[...] por ser uma prova fácil, está

deixando entrar pessoas que têm deficiência da escola pública” (P4M-IN), de forma que

consideram que a “[...] culpa toda é dos prounistas. O pessoal fala que o professor está tendo

que reforçar matéria” PROF 01. Cabe ressaltar que embora a prova do ENEM seja chamada

de “prova fácil”, as notas de corte para universidades conceituadas são altas.

Conforme assinalado por Aronson, Wilson e Akert (2002), crenças estereotipadas

geralmente resultam em “discriminação” e em tratamento injusto ou prejudicial contra os

membros de um grupo, simplesmente porque pertencem a esse grupo. PROF 01 diz que já

teve “[...] grandes debates na sala dos professores, de o professor falar: fulano, que é o pior

aluno, é do ProUni; e eu falei: pois é, mas em compensação, fulano, que é o melhor aluno

também é do ProUni”. Tendo em vista a fala do referido professor, presume-se que o mesmo

já categorizou seus alunos em “piores” e “melhores” e associa a qualidade do aluno com sua

condição de prounista.

Enquanto para alguns o caráter assistencialista do Programa é razão do preconceito,

uma vez que “[...] acham que você não tem que dar o peixe, tem que ensinar a pescar”

NP2M-FM, outros assinalam a existência de “[...] um preconceito de que, eu pago para os

outros fazerem as coisas” NP5M-FM, opinião essa reforçada na fala de NP4M-FN que diz já

ter “[...] ouvido aqui na faculdade: ‘isso não lhe diz respeito, pois quem paga isso é a

presidenta Dilma’. Isso não é verdade. É a sociedade que banca tudo isso [...]”. Em sua fala a

professora PROF 02 argumenta que o preconceito se dá em virtude da falta de informação,

recorrente do fato de “[...] a pessoa não sabe nem o que é o programa”.

Allport (1979) considera que situações de preconceito ocorrem sempre que uma

atitude negativa em relação a uma pessoa ou grupo é tomada com base em suposições

generalizadas. Tendo em vista que os argumentos utilizados para manifestar a posição

contrária ao programa ProUni e outras políticas estão baseados em estereótipos, falta de

informações e alegações infundadas, compreende-se que essas alegações buscam justificar os

preconceitos, que de forma manifesta ou velada existem na IES. Pressupõe-se que essas

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manifestações tendem a continuar presentes nesse ambiente, dado que o preconceito está

relacionado com base familiar, valores pessoais introjetados e crenças acerca de si e do outro.

4.3.7.3 Manifestações de preconceito

Em sua fala NP1H-IN declara sua intolerância aos prounistas ao dizer que caso “[...] a

pessoa faça o mesmo vestibular que a gente... acho que seria um pouco mais tolerável...”, e se

autoconfessa preconceituoso assumindo que “[...] eu mesmo gero um pouco de preconceito”.

Em sua opinião “[...] tem bastante [preconceito]. Acho que esse manifesto foi o maior

exemplo”. A realização de uma manifestação contra uma possível utilização do Enem como

critério para preenchimento de parte das vagas do vestibular, encabeçada pelos alunos do

curso de Direito da IES pesquisada, virou notícia de jornal, sendo citada por alunos (NP5M-

FM e NP1H-IN) entrevistados como a maior demonstração da existência de preconceito

contra o ProUni dentro da IES pesquisada.

Embora para alguns o manifesto, que ganhou dimensão pública e que levou 800 alunos

para as ruas, buscando assegurar o direito de que a IES se mantenha destinada às elites, seja a

maior evidência de preconceito, contudo há alunos que consideram que “[...] se há um

preconceito IESzista, é um preconceito mascarado, velado [...] mas para bom entendedor você

entendeu” (P6M-IM). NP5M-FM diz nunca ter visto manifestações de preconceito, mas que

“[...] é uma coisa que eu sei que tem, entendeu”. Provavelmente, por determinação em

conquistar a conclusão da formação superior, esses alunos prefiram negar as evidências de

preconceito, para conseguirem manter a maior integridade emocional possível, o que não é

feito sem sofrimento.

O discurso dos alunos entrevistados denota a existência de preconceitos em relação

aos alunos bolsistas em geral, sendo percebidos como mais intensos em relação a uma

categoria de alunos cotistas do que a outras categorias de alunos não pagantes. Ilustrando essa

gradação P2M-IM afirma que “[...] contra o ProUni eu não ouvi, é mais contra as cotas em si.

Só que se olhar pelo ProUni, também são vagas reservadas, então não deixa de ser, mas contra

cotas eu ouço de vez em quando”. Cabe aqui retificar a compreensão de P2M-IM, pois as

vagas do ProUni são vagas ofertadas na proporção de uma para cada dez vagas regulares

disponíveis obedecendo às normas do Programa. Estendendo essa lógica, P6M-IM considera

que “[...] se eles são contra o Programa, com certeza eles também são contra, indiretamente...

[o aluno]”, de modo que o preconceito contra cotistas é também percebido como preconceito

contra prounistas. As argumentações desses alunos transmitem a mensagem de que o

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preconceito os rodeia; se contra bolsistas, contra prounistas ou contra cotas, o fato é que estão

convivendo com alunos preconceituosos no ambiente acadêmico e isso gera desconforto e

impede um real sentimento de pertença ao local e ao grupo.

Cotas raciais são questões polêmicas dentro da IES, assunto para o qual os alunos se

posicionam mais claramente, havendo inclusive aluno prounista (P9H-FM) contrário ao

sistema de cotas raciais. P1H-IM enfatiza o posicionamento de colegas de sala dizendo que

“[...] elas [alunas da elite] são plenamente contra cotas. Elas defendem isso. Elas falam isso” e

esses posicionamentos preconceituosos são manifestos até mesmo nos interesses científicos

desses alunos. Duas propostas de pesquisa apresentadas a dois professores diferentes

evidenciam uma convergência do preconceito em relação a cotas com o preconceito em

relação ao ProUni e indicam a existência de inquietações e mobilizações acerca disso e das

cotas. Na primeira situação, a professora recusou a proposta de pesquisa, argumentando o

caráter preconceituoso da proposta, uma vez que o aluno não era pedagogo para avaliar

desempenho, enquanto na segunda situação, uma aluna sentiu-se ofendida com a proposta e o

tema foi discutido em sala.

Semana passada um aluno, na aula de metodologia, segundo semestre fez

uma proposta: Se o desempenho de um cotista é igual. Fez essa pergunta. Se

o desempenho de um cotista do ProUni é igual o dos outros alunos (PROF

01).

Semestre passado aconteceu que um grupo fez uma pergunta para os

entrevistados que era a seguinte: Ah, era sobre cotas... Você aceitaria ser

operado por um médico que foi formado em uma universidade e entrou pelo

sistema de cotas? (PROF 02).

Por ser a IES pesquisada voltada predominantemente às classes média e média alta, e

considerando que o programa é voltado a alunos de baixa renda, diante da diferença de perfil

econômico, o preconceito socioeconômico também é manifesto, conforme destacado por

alguns alunos.

[...] separa a crítica que é a critica que está pensando na qualidade de ensino

[...] do preconceito, que é o preconceito de raça e do preconceito de classe

que eu acho que isso é bem presente e eu sei que existe (PROF 04).

[O preconceito] que eu mais presencio e esse eu vejo é o socioeconômico.

Sabe quando a pessoa olha e fica desprezando porque a pessoa está mal

vestida, mas você olha e vê que a pessoa não está mal vestida porque ela

quer, é porque ela não tem outra roupa para usar (P11M-FM).

Eles são indiferentes, mas não só com as pessoas que são prounistas, eu acho

é com qualquer pessoa que seja abaixo da classe social deles eles são assim

(P12M-F).

Ela falou assim... eu não me lembro quais as palavras, mas ela falou mais ou

menos, também, olha onde você mora... porque ela mora num bairro de alto

padrão lá e eu não. [...] Eu me ofendi (P12M-FM).

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O ProUni é esse padrão aí... Esse... ess... essa coisa que também só chegou

porque se não tivesse alguém para pensar nesse pessoal, não teria chegado,

iria fazer noutro lugar. É injusto demais... (NP4M-FN).

A partir da análise dos dados, constata-se que a forma como o preconceito é expresso

envolve indiferença em relação ao outro, emissão de comentários ofensivos e colocações

preconceituosas frente ao grupo, podendo ser notadas estratégias de evitação e discriminação,

descritas a seguir.

4.3.7.4 Discriminação

Considera-se discriminação com uma ação ou comportamento negativo e injustificado

(PROUDFORD; NKOMO, 2006; ARONSON; WILSON; AKERT, 2002) de um indivíduo

que cria, mantém ou reforça vantagem para alguns grupos e seus membros em relação a

outros grupos e seus membros (DOVIDIO et al. 2010).

Na convivência entre grupos de status diferentes, como é o do contexto desse estudo,

na tentativa de manter vantagem para o endogrupo discriminações em relação ao exogrupo

podem ser manifestas. De forma similar a constatada por Souza (2011), a serem questionados

acerca de ocorrências de discriminações no ambiente acadêmico, a maioria dos alunos

prounistas entrevistados afirmam nunca terem sido discriminados ou testemunhado

discriminações. Na percepção de P12M-FM, “[...] O aluno prounista, não sofre discriminação

por isso. Eu acho que sofre mais, entre aspas, discriminação um aluno bagunceiro do que o

prounista”. A opinião de P12M-FM, contraditória às percepções dos outros alunos

anteriormente relatados, é de igual modo compartilhada por três dos quatro professores

entrevistados, que também acreditam não ocorrer situações de discriminação em relação a

esses alunos.

Contudo, embora representem uma minoria, PROF 01 e alguns alunos referem terem

testemunhado situações discriminatórias. Enquanto NP5M-FM alivia ou banaliza uma ação

tão grave, dizendo achar “[...] que tem um ‘quezinho’ de discriminação, porque, enfim... ele

não está pagando... Ele estuda com o meu dinheiro”, expressão que inclusive revela seu

desconhecimento em relação ao Programa ProUni; de forma oposta, PROF 01 afirma que já

viu “[...] de monte” alunos serem discriminados e já testemunhou também alunos reagindo.

Em seu depoimento, P6M-IM que é a única pessoa entrevistada que relata ter sido

vítima de discriminação direta, descreve uma situação em que ao encostar-se

involuntariamente em outra pessoa “[...] ela ficou extremamente irritada porque eu encostei

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nela e saiu do banheiro xingando. Ela falou: ‘Ai que nojo’ e saiu do banheiro. Então assim,

para mim foi extremamente constrangedor né, eu fiquei assim, atônita”. Diante da evitação de

contato e da utilização de linguagem insultuosa, a aluna se viu hostilizada e exposta a um

constrangimento público, como se possuísse uma doença contagiosa, que pudesse ser

transmitida no toque. A aluna é afetada em sua autoestima, mas se afasta emocionalmente do

contato com a realidade do preconceito manifesto. Utilizando-se de um mecanismo de

negação da gravidade do ato, P6M-IM questiona se a discriminação existe realmente ou se é

mera impressão sua, ao dizer que “[...] sensação a gente tem [de ser discriminada], eu não sei

se é porque a gente já se sente um pouco... né... ou se realmente há [discriminação]”. Embora

não haja indicativo algum de que a outra pessoa soubesse de sua identidade de prounista, ela

acha que sim. A sensação descrita por P6M-IM, de acordo com Goffman (1988), constitui-se

um marca de indivíduos que possuem uma identidade deteriorada, uma vez que eles tendem a

ter as mesmas crenças sobre identidade que os “ditos normais” têm. A aluna manifesta sua

percepção da discriminação existente quando refere-se a uma amigo que

[...] sempre sente essa... porque no caso dele, além de prounista ele é

discriminado pela questão da raça, então ele sofre mais por isso. Então, vira

e mexe ele me conta alguma coisinha que ele sentiu, mas assim, como eu

falei, é tudo muito velado.

Nas expressões “além de prounista” e “sofre mais” fica evidente que a condição de

prounista é percebida como de valor mais negativo e que há um sofrimento emocional na

experiência de confronto com o exogrupo, que tem uma percepção negativa em relação a ela

e/ou a seu grupo de pertença.

Na opinião de P11M-FM, as discriminações ocorrem de forma pontual, mas não são

prática comuns, são “[...] tão poucas pessoas”. Diferentemente de P6M-IM que foi vítima de

discriminação, P8H-FM percebeu-se discriminado de forma indireta ao presenciar uma

situação em que um professor “[...] discutiu com uma aluna. A aluna tinha razão [...], mas

todos os argumentos da aluna foram desqualificados, porque ela era do ProUni”. P8H-FM

relata que o posicionamento de outros alunos foi argumentar: “Você sabe como essa gente do

ProUni é”, comentário configura-se uma generalização, pois desconsidera a individualidades

desses alunos e atribui-se ao grupo características iguais (ARONSON; WILSON; AKERT,

2002). Esse episódio foi repetido por P7H-FN, P8H-FM, NP4M-FN, o que denota não tratar-

se de uma impressão particular do aluno, mas de fato concreto que manifesta que deixou-se de

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olhar a aluna individualmente, sendo atribuída a ela característica do grupo, visto como

negativo, estereotipada e indigna de crédito (HOGG; TERRY, 2001).

Se os estereótipos são formados, se há preconceito e discriminação, há sempre os

agentes por meio dos quais eles se manifestam. Os apontamentos já discutidos nesta categoria

evidenciam que, embora não se constitua uma maioria, alunos não prounistas tornam-se

agentes de preconceitos e discriminações, que tornam a permanência dos alunos bolsistas do

ProUni na IES mais árida e sofrida, impedindo o pleno gozo de uma experiência de inclusão.

PROF 01 afirma que os alunos “[...] são estimulados a discriminar”, tanto pela

estrutura física (salas mais apertadas em virtude da entrada dos alunos prounistas) como por

professores, indicando que estes também são agentes da discriminação e do preconceito, o que

é percebido por alunos. Com diferentes conteúdos, cada recorte de falas relativas aos

professores evidenciam distintas formas de agirem ou expressarem suas opiniões pessoais em

sala, capazes de fomentar animosidade entre grupos de alunos, conforme destaques.

E: Estimulados por quem? P: Eu acho que pela estrutura, por conta disso,

porque fica muito claro. Eu trabalho num curso que a gente tem problema de

espaço físico, de estrutura física. Se eu falo que eu vou por cinco alunos a

mais significa que eu vou apertar a sala cinco cadeiras a mais. Então, há um

estimulo estrutural (PROF 01).

Ele chega depois [prounistas], e eles [os outros alunos] são estimulados

também pelos professores (PROF 01).

Eu tive só um professor só, que era extremamente elitista. Ele fazia a

chamada e perguntava pelo sobrenome das pessoas, se conhecia tal pessoa...

se tal pessoa era amigo, e... a gente viu que, no final do semestre essas

pessoas ganhavam pontinhos (P1H-IM).

Foi um professor que era totalmente contra o ProUni e ele falava isso

abertamente na sala. Então eu ficava meio receoso, mas no sentido de não

querer discutir com o professor determinadas coisas, então eu preferia ficar

calado, entendeu... mas tirando esse caso... (P10H-FN).

Alguns professores que me perseguiam, mas mais relacionado à condição

social, o de XXX por exemplo, o de XXX, que era terrível, acho que só.

Esses dois são terríveis. É. Acho que são só esses dois mesmos (P7H-FN)

Teve um professor, eu acho que foi esse semestre, que estava falando sobre a

diferenciação da IES antes e agora, e disse que aqui antes era muito barato e

atualmente a IES é muito cara, e segundo entendimento dele, por causa da

quantidade de bolsas. Bolsa de esporte, bolsa daquilo. Aqui tem bolsa para

tudo, então quem sai pagando acaba sendo... De algum lugar tem que vir o

dinheiro, e acaba sendo de quem não é bolsista (P9H-FM).

Sendo a academia um espaço de formação e aprendizagem, onde se obtém

conhecimento, presume-se que os professores sejam referências para a formação dos alunos.

Formadores de opinião e com o domínio da palavra, aqueles que deveriam ensinar do direito à

igualdade, sensibilizar sobre as causas sociais e o direito constitucional, acabam utilizando

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esse espaço para estimular negativamente os alunos. Proudford e Nkomo (2006) assinalam

que o preconceito e discriminação têm se institucionalizado nas organizações e na sociedade.

Ainda que seja percebido mais como exceção do que como regra, preconceito e discriminação

têm se manifestado no ambiente acadêmico, fazendo como que o acesso à educação e a

apropriação do benefício concedido por direito aos alunos prounistas não seja plenamente

desfrutado. Conforme apontado por Taylor e Moghaddam (1994), na dinâmica intergrupos há

um grupo dominante lutando para manter-se no status de condição superior, enquanto o outro

busca alcançar alguma mudança de status, a fim de aprimorar a identidade grupal para uma

condição superior. Na relação entre alunos prounistas e não prounistas essa luta se estabelece,

pois cada um dos agentes que participam dessa dinâmica contribui para que a

inclusão/exclusão se efetive, sendo que os estereótipos e as manifestações de preconceito e

discriminação só colaboram para efetivação da exclusão, da qual o programa ProUni objetiva

retirá-los.

4.3.8 Categoria: Experiência de Exclusão

Não há como pensar esta categoria isoladamente de todas as outras já discutidas

anteriormente, mas como um ponto de convergência, que expressa a percepção e a

experiência individual de exclusão. Compreendendo que a experiência de inclusão ou

exclusão se configura a partir daquilo que cada um traz de seu contexto familiar, de suas

características pessoais, de suas percepções acerca da IES e do Programa ProUni, de suas

expectativas pessoais, da qualidade das relações interpessoais e das manifestações

intergrupais, muito do que já foi discutido nas categorias anteriores expressam facetas de

exclusão. Assim, nesta categoria sintetizamos a compreensão desses alunos acerca do que seja

exclusão, que situações excludentes ocorrem por parte da instituição, dos colegas e mesmo a

autoexclusão se dão no ambiente acadêmico que contribuem para que esses alunos se

percebam excluídos.

Uma vez que as crenças pessoais influenciam as percepções individuais, para

compreender a experiência de exclusão se faz necessário primeiramente conhecer o que é

exclusão para os entrevistados. Shore et al. (2011) consideram que para que uma pessoa

sinta-se incluída é necessário que ela receba um tratamento que satisfaça sua necessidade de

pertença e de singularidade, podendo-se entender que a exclusão se dá quando, de forma

oposta, não há espaço para expressão dessa singularidade e não é concedido um tratamento

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respeitoso a despeito das diferenças. Os principais entendimentos dos entrevistados acerca do

conceito de exclusão serão aqui apontados.

A experiência de inclusão ou exclusão do indivíduo se dá mediante trocas nos

ambientes sociais, de forma que, em ambientes não receptíveis, os indivíduos possam ser

tolhidos da liberdade de expressão e da possibilidade de autenticidade (BERG, 2002),

fundamentais para um sentimento de pertença real. As narrativas de alguns sujeitos

entrevistados seguem essa linha de compreensão, na qual uma primeira forma de compreender

exclusão é como a não aceitação das diferenças e as manifestações de tratamento negativo

dela decorrentes, compreensões essas que vão de não aceitação das diferenças ao desprezo e

evitação, conforme indicado nas falas:

Exclusão para mim é a não aceitação só porque você é diferente (P5M-IN).

Exclusão é você ser realmente tratado muito diferente... (NP3M-IM).

Então a exclusão, ou ela vem por preconceito ou por cultura, e esse

comportamento de rechaçar os diferentes faz com que as pessoas vivam

realidades não verdadeiras, simplesmente porque é mais fácil ser maioria, ao

invés de viver na sua singularidade. Isso é o mais grave, você não ser

respeitado, reconhecido, você ser olhado como menor, como se você tivesse

uma doença contagiosa, que você precisa ser evitado (PROF 03).

Em uma segunda compreensão, a exclusão é vista como conceder tratamento igual

para aqueles que tiveram oportunidades diferentes (considerada por PROF 02 como a pior

forma de exclusão, como se houvesse níveis), não propiciar oportunidades para redução das

distâncias sociais tão rigidamente estabelecidas, não utilizar ações afirmativas para reduzir

essas diferenças, atribuir ao sujeito a responsabilidade de conquistar por si só o seu espaço,

embora desfrutando de condições distintamente menores, são apontadas nas definições feitas

pelos entrevistados. Os conceitos expostos a seguir demonstram que esses alunos não

consideram justo enfrentarem sozinhos todas as barreiras econômicas e sociais e que precisam

do apoio do Governo em prover medidas compensatórias, que lhes permitam acessos e

oportunidades que de outra forma não os teriam.

Você [qualquer pessoa] identifica o problema, você não age, você não ajuda

quem precisa, e deixa esse desfalque (P3H-IN).

Exclusão é não dar oportunidades [...] Exclusão é tudo o que a nossa

sociedade é, porque a nossa sociedade é extremamente excludente (P1H-

IM).

Exclusão é isso: é você não tratar mesmo essas diferenças (PROF 01).

[Exclusão] seria a falta de ações afirmativas, assim... De tentar incluir

pessoas que não têm as mesmas oportunidades que as outras (P12M-FM).

E a exclusão pior é essa que você não sabe que está fazendo, e essa é a típica

da educação. Ah! Eu estou tratando igual... Tratar igual é extremamente

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excludente, porque você vai pressupor que os dois tenham as mesmas

condições, e não é verdade (PROF 02).

A terceira forma de compreensão da exclusão é vista como ação intencional de

isolar, de impedir ou restringir o acesso de alguém a determinado lugar, com base em suas

características pessoais. Isso o PROF 01 chama de um “caráter mais agressivo” de exclusão.

Eu [qualquer pessoa agente de exclusão] fecho determinado local, situação, e

não, você não pode entrar porque você não tem determinados requisitos para

entrar aqui. Se você não tem certo requisitos para entrar aqui, desculpa, não

é problema meu. Vá para onde você conseguir com as suas condições (P8H-

FM).

É você [alguém] colocar dificuldade para que essa pessoa não integre

determinado grupo. Não precisa nem ser expresso isso, você... Às vezes

essas dificuldades são colocadas são de forma implícita, entende...? (P10H-

FN).

Aquela eu não quero por tal motivo, sai fora (NP1H-IN).

Quando você começa a limitar o acesso a qualquer coisa que seja um direito

fundamental da pessoa, qualquer coisa, por questões múltiplas... desde por

padrões sociais ou limitações de acesso (NP4M-FN).

Por essa pessoa ser diferente, você tirá-la do convívio do coletivo, não

permitir que ela participe do todo ali (NP5M-FM).

Aí tem a exclusão agressiva, que daí é você, além de você não dar

oportunidades, você tira dela oportunidades (PROF 01).

A evolução das compreensões emitidas pelos entrevistados expressam as diferentes

formas de exclusão, que, conforme já apontado por Abrams, Hogg e Marques (2005), podem

ter formas mais abstratas, como ideologias sociais, convenções morais e princípios, a modos

mais específicos, como os processos de categorização. De forma sintética, depreende-se das

falas dos entrevistados que exclusão é compreendida como não aceitação das diferenças,

como desconsideração das diferenças sociais existentes e falta de ações que visem repará-las,

de forma a conceder tratamento diferente para os diferentes com vistas a promover a

igualdade. De forma mais grave, além de não aceitar e de não agir para minimizar as

diferenças aponta-se o entendimento de que exclusão refere-se ao tratamento negativo, ao

impedimento de acesso ou afastamento, que, conforme Abrams, Hogg e Marques (2005),

configura-se exclusão uma vez que, em decorrência disso, é negada a possibilidade de

estabelecer relacionamentos entre elas.

4.3.8.1 Comportamentos excludentes e experiências de exclusão

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Ao abordar as estratégias institucionais de exclusão do aluno prounista apenas dois

alunos prounistas se posicionaram, sendo a falta de políticas assistenciais (P12M-FM) de

ajuda a eles o único aspecto indicado. De acordo com P9H-FM, o “[...] aluno bolsista aqui, a

única coisa que ele tem direito é ali [usar da estrutura física e assistir aula]. Direito de entrar

na faculdade, direito de usar os livros, tudo... mas não além”. Aponta a falta de apoio para

qualificação em línguas estrangeiras, considerando que existe um centro de línguas dentro da

IES e que poderiam permitir que por “[...] uma taxinha de R$ 50,00 [...]. Eu acho que seria

mais isso, para ajudar esse aluno a se preparar”, porém esse acesso não é concedido.

Subjacente à fala desses alunos prounistas parece haver uma noção de que o “outro”, seja IES

ou Governo, têm que fazer algo para melhorar a condição deles.

Ao falar sobre diversidade, NP2M-FM reclama que a IES não proporciona “[...] um

espaço para você discutir sobre isso, falar com a universidade”, e considera que o ambiente se

tornará mais excludente uma vez que a IES está “[...] tirando os espaços de convivência dos

alunos para colocar lanchonetes”, percebendo que a exclusão é mais ampla, abrangendo a

todos, prounistas e não prounista.

PROF 01 argumenta que, devido ao despreparado de coordenadores e professores,

para lidar com “[...] situações excludentes” que ocorrem dentro da IES “[...] não são tomadas

ações rápidas”, o que seria resolvido se a IES fornecesse qualificação aos seus profissionais;

em não havendo, a percepção de exclusão é aumentada. Sua fala é endossada por NP4M-FN

ao relatar sua opinião de que a formação de grupos no período inicial do curso e que se torna

um fator que contribui para a exclusão e discriminação, teria danos reduzidos se houvesse

intervenção institucional e dos professores, conforme relata:

Se os professores, a faculdade, ficassem mais atentos, naquele período mais

propedêutico, você corrige vícios que depois você não conserta mais. Esse

negócio que eu estou te falando dos feudos, eu acho uma coisa muito grave.

Não deveria ter acontecido, mas aconteceu. E depois de estabelecido você

não muda mais. Os professores deveriam exercer, e isso é papel do

professor, criar mecanismos de interação (NP4M-FN).

Os indivíduos são motivados a pertencer a grupos positivamente avaliados; por meio

de comparações estabelecem o valor e status relativo de cada grupo e determinam o valor e

status que tem ser membro de tal grupo (TAJFEL, 1972). De acordo com o modelo dos cinco

estágios de Taylor e McKirnan (1984) apud Taylor e Moghaddam (1994), nas relações

intergrupais as ações dos grupos em vantagem visam manter o status de valor positivo de seu

grupo, enquanto as estratégias comportamentais daqueles que pertencem a grupos em

desvantagem, objetivam mudar a condição para um grupo de status mais positivamente

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avaliados. Hogg e Terry (2001) assinalam que quando uma pessoa passa a ser percebida como

membro do grupo a qual o indivíduo pertence (endogrupo), este será percebido em sua

singularidade; porém quando percebido como diferente (exogrupo) será também visto como

mais homogêneo. Por essas dinâmicas serem reproduzidas nas relações entre prounistas e não

prounistas, a intervenção inicial dos professores, a fim de evitar a formação dos grupos e

promover uma maior interação entre esses alunos, no momento inicial possibilitaria a redução

dos conflitos intergrupais posteriores. Essas formações são feitas porque são feitas

classificações baseadas nas similaridades e diferenças entre eles, que agirão com favoritismo

em relação ao próprio grupo.

Em sua fala, PROF 03 confirma a falta de ação institucional e manifesta sua crítica ao

dizer que “Não se implanta uma política nova sem trabalhar o corpo que vai lidar com as

pessoas. Então, não houve uma preparação, o pouco que nós temos atuado é por acreditarmos,

não temos uma ferramenta, não temos um trabalho de... [qualificação]”. A falta de ações

mostra que não há uma atenção para as interações entre grupos diversos, ou para a promoção

da inclusão, e sim uma inserção desses alunos da IES, de forma que cada um age por seus

próprios valores, não havendo uma atenção da instituição para a promoção de um ambiente

inclusivo.

Da parte institucional as menções de ações excludentes se restringem às acima

apontadas, porém a IES não é a única agente de exclusão. Na fala de P6M-IM, a aluna refere

que “[...] da parte de professor e funcionário, acho que não [houve exclusão]. Nunca senti

nenhuma diferença”, o que sugere perceber que a exclusão existe, mas que vem de outros

agentes, os outros alunos. Acerca do aluno como agente, NP4M-FN diz “[...] ter que insistir

na questão da divisão em grupos”, da mesma forma P9H-FM afirma que em sua sala “[...]

sempre foram os grupinhos fechados”, e assim, complementa PROF 01, se “[...] eles chegam

um mês depois, eles não têm grupos, aí eles formam grupos entre eles, e você começa a ter

um processo de exclusão que é feito pelas circunstâncias” ou, conforme indicado por P11M-

FM, quando solicitam a entrada nos grupos existentes “[...] você é colocada num grupo, pior

ainda, porque é um grupo fechado e as pessoas não estão nem aí para você”.

Uma estratégia considerada de “exclusão agressiva” é relatada por PROF 01, na

qual as “[...] salas fizeram mecanismos físicos de exclusão [...] de não deixar incluir o

fulano”, na qual, a despeito da tentativa de alguns professores de “[...] desarticulação [...] não

fomos vitoriosos” e, por ser “[...] uma sala, a sala não ia mudar de ideia. Então eles [os alunos

prounistas] saíram da sala”. Essa ocorrência traz como agravante o fato de não ser uma ação

de um indivíduo ou de uma “[...] minoria que exclui”, conforme aponta P6M-IM, mas sim

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coletiva, uma sala toda assumindo uma atitude discriminatória e excludente institucionalizada

na sala. Conforme modelo dos cinco estágios proposto por Taylor e McKirnan (1984) e

apresentado por Taylor e Moghaddam (1994), em geral, as relações sociais ocorrem entre dois

grupos com alguma diferença de status entre eles; no caso citado, a resignação dos alunos

prounistas, que solicitaram ser trocados de sala, demonstra que tanto o grupo em vantagem

como o em desvantagem consideram a estratificação. Os autores apontam que é próprio aos

integrantes de grupos em desvantagem imputar a si mesmos a reponsabilidade por estar em

posição inferior, portanto, caberia a eles resolver a questão, tomando a resolução de mudar de

sala.

Estando o conceito de inclusão-exclusão relacionado com à participação do indivíduo

tanto em processos formais, como o acesso a informações e a canais de tomada de decisões

(MOR BARAK, 2005), aponta-se como outra forma de exclusão que se dá no ambiente

estudado a privação do aluno prounista do acesso a informações. Ainda de acordo com PROF

01 “[...] uma representante, passou um semestre inteiro e não cadastrou o e-mail de nenhum

aluno do ProUni. Tudo o que você mandava de informação eles nunca recebiam”. P11M-FM

relata sua percepção de privação de acesso a informações pelo fato de gabaritos de respostas

de provas já aplicadas serem compartilhadas por e-mail somente para os grupos majoritários,

e não para os outros grupos.

Outra situação indicada por NP1H-IN, na qual

[...] acaba gerando aquela exclusãozinha natural... [...] vai ter um bota fora.

Vamos? Você sabe que o cara não tem. Mas vamos lá... O cara não vai falar:

Meu, eu não tenho R$ 120,00. Mas ele acaba simplesmente não indo, mas

não é porque a gente exclui.

Uma situação provavelmente não será considerada como de exclusão “natural” por

aquele que é vítima dela. As condições socioeconômicas díspares criam barreiras e exclusão

financeira, mas na percepção de PROF 01, a “situações agressivas” não se dão só em relação

à recursos financeiros, também ocorrem “[...] com o prounista: Ah, ele não fala inglês. Eu não

quero no meu grupo. Ele não tem isso... ele não... Eu já ouvi isso: fulano nem convida pro

churrasco, porque ele não vai ter condições de ir”. As passagens indicam que duas dimensões

de diversidade, a condição social e a qualificação pessoal, são apontadas como características

distintivas entre os grupos e em virtude dessas diferenças percebidas as situações de exclusão

ocorrem.

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Os dados aqui obtidos mostram que as experiências pessoais de exclusão relatadas

pelos alunos prounistas não são muito enfatizadas em seus discursos, são mais descritas como

ocorrências casuais, de um grupo minoritário que não dá abertura para relacionamentos, com

o sentimento de privação da liberdade de expressão e com a distância geográfica entre a

residência e a IES que impedem envolvimentos em atividades sociais e acadêmicas, conforme

indicado a seguir.

Então, ela assim... Ela [colega de sala não prounista e elitista] coloca uma

grande barreira entre ela e as amigas delas para mim e a outras pessoas da

sala. Ela é uma pessoa elitista, ela em específico. Extremamente elitista.

Então, acho que exclusão, só esse fato (P1H – IM).

Às vezes você mora muito longe para poder ir... a IES disponibiliza grupos

de estudo aos finais de semana [pequenos grupos, que se encontram

regularmente para aprofundar discussões sobre temas de interesse comum a

todos]. É uma coisa maravilhosa (P11M-FM).

Há determinados grupos que excluem [...] você vai lá tentar falar com ela,

ela passa a informação e já começa a falar com as outras pessoas e você fica

meio deslocado e acaba saindo fora [...] pelo menos por enquanto, eu não sei

assim, com o passar do tempo, talvez por não se conhecerem ainda muito

bem, esses grupos ficam extremamente fechados (P6M-IM).

Com aquela turma nem tanto [não se sente à vontade]. Às vezes eu quero

fazer uma pergunta e eu espero pra perguntar no final da aula (P11M-FM).

Eu imagino que ocorram casos de exclusão aqui, mas eu não me sinto bem a

dizer sobre isso, porque comigo não aconteceu e eu também não conheço

com quem tenha acontecido (P3H - IN).

Mor Barak (2005) propõe que o senso do indivíduo de ser participante do sistema no

qual está inserido se constrói com base no modo como experiência e percebe suas posições

em relação aos outros grupos sociais predominantes. Porém, chama-se aqui a atenção para o

fato de que os relatos de situações de exclusão apontados são feitos principalmente por

professores e por alunos não prounistas, que de alguma forma as banalizam, enquanto os

alunos prounistas tendem a minimizar as situações de exclusão, ignorando ou racionalizando-

as. Considerando que a percepção dos professores é mais abrangente, uma vez que eles

passam por diferentes salas, e de que, pelo menos em um caso específico, o professor está na

instituição desde o lançamento do Programa, o que lhe confere uma ampla visão dos fatos

relacionados à dinâmica de interação entre prounistas e não prounistas, é possível que alguns

dos alunos prounistas entrevistados, principalmente aqueles que estão nos semestres iniciais,

não tenham realmente experienciado, presenciado ou mesmo tomado conhecimento das

situações de exclusão aqui relatadas, ou ainda que as tenham experienciado, mas não as

reconheçam ou confiram importância às situações vivenciadas.

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Ao pensar na subjetividade da experiência desses alunos, não há como desconsiderar o

sofrimento decorrente de ser tratado como inferior e de como o sofrimento pode afetar o

corpo e a alma daqueles em condições menos favoráveis (SAWAIA, 2006). Portanto, é

possível que alguns alunos prounistas entrevistados não tenham vivenciado experiências

como essas relatadas, porém cabe também considerar que para um aluno implicado e vítima

da exclusão o contato com essas situações podem ser racionalizadas, a fim de não tomarem

contato com parte do que ocorre ao redor, para melhor alcançar o objetivo da formação.

Embora a exclusão possa ocorrer de forma institucional, da parte de professores e dos

colegas, o próprio aluno prounista pode ser agente de auto exclusão, pois, conforme apontam

Abrams, Hogg e Marques (2005), ao nível intrapessoal (autoexclusão), esta ocorre quando o

aluno cognitiva e emocionalmente não considera a possibilidade de se incluir em outros

relacionamentos e opta por manter certo afastamento do grupo. Dos doze alunos prounistas

entrevistados, cinco deles são mais retraídos, referem não engajarem-se em atividades fora de

classe, alguns se relacionam com poucas pessoas e não demonstram interesse em ampliar a

rede de contatos. PROF 02 considera P3H-IN “[...] menos incluído [...] acho que porque ele

não é daquela sala, ele está fazendo adaptação, então as pessoas também não conhecem muito,

então ele não é muito inserido”.

P2M-IM diz que não se envolve em atividade fora de sala ainda, vai para casa

estudar após a aula e tem dificuldades para se ambientar, mas que:

Ao mesmo tempo eu também não me importo tanto assim, sabe? Eu percebo

que todo mundo está muito junto, mas não é o que me incomoda.

P6M-IM relata esquivar-se de envolvimento em algumas atividades, porque:

Eu acho que até em parte... A gente nem faz muito esforço pra ir, porque a

gente tem essa sensação de que vai ficar meio de canto.

P8H-FM relata que:

Eu queria entrar na Atlética, porque eu tinha essa ideia de: vou fazer a

faculdade, não vou ir à faculdade. Mas eu vi que era uma coisa muito

fechada. É aquela coisa, eu venho para a faculdade sete e meia, meio-dia e

meio (sic), tchau, não tem aquela coisa...

Analisando os relatos de P6M-IM e P8H-FM acima apontados utilizando o modelo

dos cinco estágios da dinâmica intergrupos propostos por Taylor e McKirnan (1984), e

apresentado por Taylor e Moghaddam (1994), fica evidenciado que ambos estão no primeiro

nível, pois expressam a percepção de que as relações intergrupais dentro da IES são

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estratificadas; e por isso não consideram que a inclusão seja possível, uma vez que percebem

que o status de cada grupo está rigidamente estabelecido e por isso atribuem a si mesmos a

escolha de ficar em posição inferior.

P10H-FN não se envolve em outras atividades da IES e adotou a estratégia de unir-

se aos outros prounistas, criando dentro da sala um espaço deles, conforme relata:

Quando eu cheguei, no primeiro dia... no primeiro dia, teve uma questão

assim, é... De união dos prounistas, se fosse ver dessa forma... Todos sentam

ali, mais ou menos naquela região.

Ao adotar estratégias de isolamento, de formação de guetos entre iguais, não

buscando ampliar o espaço de convivência, esses alunos tornam-se agentes da própria

exclusão.

4.3.9 Categoria: Experiência de Inclusão

Da mesma forma que a categoria anterior, esta categoria não está isolada a todas as

outras já aqui apresentadas, uma vez que ela compreende todas as histórias e vivências

trazidas anteriormente. Igualmente serão aqui sintetizadas as compreensões dos alunos

entrevistados do que seja inclusão, quais as estratégias de inclusão percebem serem adotadas

pela instituição, pelos colegas e aquelas que adotam pessoalmente dentro do ambiente

acadêmico que favoreçam a experiência de inclusão.

As formas como os sujeitos entrevistados compreendem inclusão são aqui

apresentadas, uma vez que estas servem de referência para que estes se percebam incluídos ou

não. A compreensão de inclusão como “[...] fornecer meios” para o indivíduo crescer ou “[...]

abrir oportunidades para quem não teria” são os entendimentos mais citados, o que expressa

uma ideia de inclusão, como a instrumentalização e concessão de igualdade de condições, o

que deve ocorrer de forma ampla, possibilitando ao indivíduo alcançar autonomia, conforme

explicitado nas falas a seguir.

Fornecer os mesmos meios que se dá a qualquer outro ser que está nesse

ambiente e para o que está de fora, em outro ambiente também. Mas se é

todos os meios, é todos os meios. Então, inclusão mesmo é difícil acontecer

(P1H-IM).

Inclusão seria dar o meio de você conseguir crescer por si só. Seria te

preparar, te dar os instrumentos, que com esses instrumentos, você consiga

caminhar por si só (P9H-FM).

Então inclusão é você ter oportunidade e conseguir se incluir num contexto

que está totalmente fora da sua realidade. A realidade dos meus pais é roça,

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interior. Inclusão... Para mim, na verdade, é você abrir oportunidades para a

pessoa (P4M-IN).

Um modo mais restrito de pensar inclusão como inserir foi apontado por P2M-IM,

que considera que “[...] inclusão seria pegar alguém que está fora dessa capacidade de poder

estudar, não no sentido intelectual, mas de pertencer àquilo ali, e inserir essa pessoa dentro

desse meio”. Por essa compreensão, entende-se que a simples concessão da bolsa do ProUni

já seria suficiente para que a aluna se considere incluída. O argumento de NP1H-IN diz que

“Inclusão é inserir algo que não é. No caso inclui o que não era aceitável”. Essa fala sugere

que a inclusão vem do meio, que o diferente não é aceitável e que não há da parte de NP1H-

IN uma disposição para acolher e aceitar o diverso; isso, de acordo com Ferdman et al.

(2009), impede uma experiência psicológica de inclusão, uma vez que o comportamento

inclusivo antecede essa experiência.

A obtenção de tratamento igualitário e a possibilidade de ser autêntico são

considerados por Ferdman et al. (2009) dois componentes-chaves da experiência de inclusão,

e para alguns entrevistados é considerado como sinônimo de inclusão, conforme indica P7H-

FN “[...] é tratar como igual o diferente”. Compreendida também como “[...] aceitação das

pessoas, reconhecer [...] o porque você é diferente e não ter preconceito e não ter reservas

quanto a sua situação” (P5M-IN) e como “[...] uma diversidade de pessoas de grupos diferentes

[...] que conseguem conviver e viver [...] sem distinção e sem discriminação” (P6M-IM), e

como “[...] redução de barreiras entre pessoas” (P10H-FN).

4.3.9.1 Comportamentos inclusivos e experiências de inclusão

Questionados acerca do que consideram estratégias institucionais existentes dentro da

IES a fim de promover a inclusão, os entrevistados citam que a instituição estimula os alunos

a praticarem a solidariedade, convidando-os a se engajarem como voluntários em projetos

sociais patrocinados pela instituição (NP6-FN, NP6-FN, P9H-FM, P12M-FM) e oferta outras

bolsas de estudo além daquelas destinadas ao ProUni (P12M-FM e PROF 04). A formação de

grupos de estudo, prática comum dentro da universidade e extensiva a qualquer aluno do

curso de Direito, embora não tenha como objetivo primeiro promover inclusão, é indicada por

NP4M-FN como estratégia importante, visto que “[...] tenta buscar estimular essa inclusão...

[...] um convívio social melhor. Que não ficava restrito ao ambiente de sala”. Observa-se que

das menções feitas anteriormente, nenhuma delas destina-se especificamente à inclusão dos

alunos prounistas, embora fosse esse o questionamento inicial. Dessas estratégias, a única que

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realmente pode contribuir para a inclusão desses alunos é o grupo de estudos, mas que atende

mais o objetivo de fomentar interesse científico do que a promover inclusão.

O aluno P7H-FN considera a instituição inclusiva por ter sido condescendente com

ele, e lhe dado atenção a ele quando pegou “[...] quatro DPs, quando poderia ter pego duas só.

Mas aí eles me chamaram pra conversar, pra ver o que estava acontecendo. Eu expliquei, eles

me ajudaram. Dessa instituição eu não posso reclamar nada”. Para esse aluno, o apoio

institucional é percebido como um comportamento inclusivo.

PROF 01 relata que na Faculdade de Direito, ela e alguns outros professores

combinaram entre eles: “Trabalho em grupo... não no primeiro mês. A gente só vai dividir

grupo, a gente só vai estimular isso quando a sala estiver composta, não entra mais ninguém”.

Essa professora também considera que o Moodle (plataforma de ensino à distância utilizada

na IES) “[...] é fantástico para inclusão, porque o professor manda mensagem para todos os

alunos indistintamente”. Nas duas situações, tanto a articulação entre professores como a

utilização do Moodle, embora não sejam estratégias para incluir, prestam-se a minimizar as

exclusões que ocorrem no momento de formação de grupos e na comunicação de grupos,

evitando a omissão de alunos prounistas das listas de e-mail, conforme apontado na categoria

anterior.

Na IES pesquisada não há nenhuma estratégia de inclusão institucionalizada, e até

mesmo entre os professores entrevistados as percepções são distintas, pois enquanto PROF

02 e PROF 03 afirmam nunca terem visto esse tipo de estratégias, PROF 04 considera que há

“[...] uma tradição (histórica) de inclusão, no bom sentido, em relação à IES. Então acho que a

instituição tem suas estratégias”, porém, não indica quais são elas. As ações aqui apontadas

mostram-se tênues diante dos relatos de exclusão anteriormente apontados, cabendo aqui

ratificar a conclusão a que Krames (2010) chegou em sua pesquisa, apontando que o

compromisso social das IES que aderem ao Programa precisa ser traduzido em ações

concretas de acolhimento, orientação e acompanhamento aos alunos bolsistas, o que não pôde

ser constatado na IES pesquisada. PROF 02 indica que a instituição deveria fazer um trabalho

em torno do Programa, a fim de “[...] mudar a mentalidade da maioria que é contrária, porque

as pessoas são contrárias, mas não conhecem”, o que informaria e favoreceria a inclusão. Isso,

de acordo PROF 03, ocorre pois o pouco “[...] sentimento de acolhimento que está

acontecendo é mais por formação dos próprios alunos do que por uma atitude interna da

escola”.

Buscando identificar estratégias de inclusão utilizadas pelos outros alunos, as

respostas obtidas giram em torno da opinião de NP5M-FM, que afirma nunca ter visto “[...]

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alguém querendo incluir assim, ou algum projeto assim, vamos incluir tal pessoa”, e de P9H-

FM e PROF 04 e PROF 03, que dizem não conhecerem qualquer ação desse tipo. Verifica-se

que esse tipo de estratégia é incomum, pois dos 22 entrevistados, apenas PROF 01 relatou

caso único em que uma ação inclusiva foi voluntariamente tomada por um grupo de alunas,

conforme transcrição do relato:

Duas meninas eu me lembro que tiveram problema de acompanhamento e aí

um grupo de meninas [...] elas se reuniram, e um dia na minha aula elas

falaram: “Professora, você se incomoda se a gente fizer atividade em

conjunto, cada uma vai fazer com uma”. Elas se dividiram entre si e foram

ajudar as outras e elas fizeram assim. Essa tarde a fulana vai te explicar tudo

o que aconteceu dessa disciplina. Elas se organizaram e depois de um tempo

elas já vieram... Essa foi uma coisa que me marcou também, porque foi bem

espontâneo, será que se a gente ser revezar, porque uma não dá pra fazer

tudo, mas se cada uma fizer uma parte... Foi bem legal isso.

Quando as ações institucionais falham, o aluno prounista adota suas próprias

estratégias a fim de lidar com os estímulos do ambiente, quer de acolhimento ou de rejeição.

Uma forma, considerada por alguns entrevistados eficiente, de buscar conquistar o próprio

espaço dentro da instituição é quando o aluno prounista consegue se impor frente aos outros

alunos, a fim de garantir respeito, sua própria identidade e direito de estar ali, conforme

evidenciado nas falas:

A gente estava numa aula de Sociologia e o professor estava falando sobre

essa ajuda do governo, até que um aluno, bem “reaça” [reacionário] da sala

fez um comentário bem ruim [...] “que você não tem que dar o peixe, tem

que ensinar a pescar” e ela [a aluna prounista) foi pra cima mesmo... (entrou

na discussão e argumentou]: “Tem que dar oportunidade mesmo, nem todo

mundo pode pagar a faculdade. Você não sabe o quanto é difícil pagar uma

faculdade. Você tem pais que pagam para você. Você consegue isso. Seus

pais ganham o suficiente” [...] Aí ele se posicionou mesmo. Foi bem legal.

Daí ele ficou quieto (NP2M-FM).

Eu já ouvi algumas coisas [...] Mas assim, eu já cortei ela [amiga não

prounista que fez comentário preconceituoso sobre o lugar que ela mora] e

coloquei ela no lugar dela, então parou... Mas, acho que eu sei me impor

(P12M-FM).

Essa minha aluna se revelou prounista porque pra ela virou uma bandeira,

pra ela é um... pra ela, ela coloca, são as armas que ela põe na mesa, fala

assim, ó “eu sou mulher negra, Ieszista, prounista e se você tem algum

problema com isso, por favor, fale agora ou cale-se para sempre” (PROF

04).

Ferdman (2014) volta especial atenção para a experiência psicológica de inclusão e

para a responsabilidade do indivíduo em conseguir incluir-se. O autor assinala que a

autoinclusão pode reduzir os resultados negativos e aumentar os resultados positivos para o

indivíduo, trazendo benefícios tanto para ele quanto para a instituição. Ao falar da

autoinclusão, o autor ressalta que não está com isso negando ou mesmo minimizando a

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importância de combater a opressão, a discriminação ou qualquer outro impedimento

estrutural para a inclusão.

Considera-se comportamento de autoinclusão dos alunos prounistas as iniciativas de

envolvimento em atividades fora de classe, quer sejam as atividades sociais, grupos de

estudos, monitorias, Atlética, Centro Acadêmico, iniciação científica, busca proativa de

expandir as redes de contatos. A análise dos dados permite uma clara relação entre as

características pessoais do aluno com sua iniciativa de autoinclusão, verificando-se que todos

os alunos que se autodefinem como mais expansivos envolvem-se em outras atividades fora

de classe e de igual modo, os alunos que se consideram retraídos restringem suas atividades

acadêmica à sala de aula, com exceção de um aluno (P8H-FM), que diz ter participado de

grupo de estudos somente para contar horas complementares, o que indica também a não

participação em outros tipos de eventos. Percebe-se que alguns alunos se envolvem

paralelamente em atividades diversas, como é o caso de P1H-IM e P5M-IN, enquanto outros

não participam de nenhuma atividade, conforme mostra o Quadro 6.

Quadro 6 - Estratégias de autoinclusão dos alunos prounistas

Fonte: Elaborado pela autora.

ALUNO EXPANSIVO /

RESERVADO

AUTOINCLUSÃO

Sim / NãoTIPO DE ATIVIDADE

P1H - IM Expansivo SimCentro Acadêmico, Leituras livros, aproximação

outros alunos, bateria

P2M -IM Reservado NãoNão participa em nenhum tipo de atividade -

Vai embora após aula - Dificuldade se ambientar

P3H - IN Reservado Não Não participa em nenhum tipo de atividade

P4M-IN Expansivo Sim Grupo Estudo, Iniciação, Fala com todos,

P5M-IN Expansivo SimMonitoria, Representante sala, Grupo Estudo,

Teatro, Plantão de dúvidas, Temperamento ajuda

P6M-IM Reservado Não Não participa em nenhum tipo de atividade

P7H-FN Expansivo Sim Sai com turma, Grupo de Estudos

P8H-FM Reservado Não

Não participa em nenhum tipo de atividade -

Vai embora após aula - Tentou Atlética e Grupo

Estudo só pelas horas complementares

P9H-FM Expansivo SimSai às vezes com turma, não se envolve muito mas

fala com todos. Entrou na Atlética mas não gostou

P10H-FN Reservado NãoNão participa em nenhum tipo de atividade.

Agrupa-se com outros prounistas - Sentam juntos

P11M-FM Expansivo Sim Grupo Estudo, Iniciação Científica

P12M-FM Expansivo SimEntrou Grupo Estudo, mas saiu por morar longe. Sai

às vezes com a turma, amigas não são prounistas

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A influência das características pessoais para a experiência de inclusão é

exemplificada na situação de participação dos alunos de Direito nos Jogos Jurídicos. P6M-

IM, que é uma pessoa retraída e não se envolve em outras atividades, justifica não participar

dos jogos porque

[...] quem vai nos jogos jurídicos é esses grupos já formados. Então, assim,

eu prounista, esse colega que eu falei pra você que é prounista, a gente não

tem um grupo e mesmo que a gente tivesse condição financeira pra ir, a

gente ficaria meio que de canto. Eu acho que a questão dos jogos jurídicos é

esse compartilhar, e aí, você ir lá para ficar de canto não é muito legal.

No entanto, NP6-FN relata que

[...] eles [os alunos prounistas] sempre estão com a gente. Jogos jurídicos

todo mundo junto. Tanto é que foi uma aluna, que inclusive é prounista, foi

ela que separou a casa de uma amiga dela, e foi a sala inteira pra casa que

era de uma amiga dela na cidade. Então, assim não tem nada de mais.

Ferdman et al. (2009) consideram a experiência de inclusão como a percepção dos

indivíduos de quão seguros, confiados, aceitos, respeitados, suportados, valorizados,

engajados e autênticos se sentem em seus ambientes, tanto como indivíduos quanto como

membros de um grupo particular de identidade. Expressões utilizadas por alunos prounistas

evidenciam que alguns deles vivenciam uma experiência de inclusão dentro do ambiente

acadêmico da IES. PROF 02 afirma que P4M-IN “[...] ela é muito inserida com as meninas

de classe alta da sala, é amiga de todo mundo, superquerida na sala”; a aluna diz que ser

incluída faz parte da sua característica, que se sente à vontade para discordar e se posicionar:

Eu discordei dele [colega de sala com pensamento divergente do seu] na

frente de toda a classe, e aí travamos o maior debate. E eu discordo mesmo.

Discordei dele e disse: tá. Se fundamente que eu vou me fundamentar

também.

P9H-FM também se considera livre para se expressar, porém seus colegas não

sabem que ele é aluno prounista, portanto não é possível determinar se sua experiência de

inclusão seria a mesma se sua identidade de prounista fosse conhecida. Ele afirma que:

Eu não tenho problema em divergir, desde que seja fundamentado. Sempre

quando a questão era polêmica eu me sentia a vontade para perguntar.

P05M-IN demonstra engajamento e pertencimento quando diz participar de tudo

igual ou mais do que os alunos não prounistas e considera ser uma IESZista, o que indica que

se sente incluída, uma vez que:

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[...] eu tenho amigos que não são bolsistas e não têm a metade da integração

que eu tenho aqui dentro. Para mim, ser um prounista não muda em nada, ser

prounista é ser IESzista.

P7H-FN considera que foi bem recebido, encontrou uma sala receptiva, se expressa

livremente e conta que:

O primeiro semestre foi terrível. Cheguei a perder a bolsa inclusive. Eu só

fui me recuperar mesmo no terceiro, eu pegava todas as DPS, aí o pessoal da

minha sala passou a estudar juntos... grupos de estudo, aí ficou melhor. E

melhorou o desempenho realmente.

P11M-FM considera que teve uma experiência positiva durante sua formação, uma

vez que gosta muito da IES e considerou-se valorizada quando os amigos saíram com ela para

comemorar seu aniversário, destacando esse momento com o ponto máximo de experiência de

inclusão, contando que:

É porque eu gosto muito [de estudar aqui], então todos os dias meus são

muito felizes. Tenho que pensar numa [experiência de inclusão] extra. Teve

um dia que eu fiz aniversário, a gente saiu e foi todo mundo comemorar,

esse foi um dia especialmente feliz.

P12M-FM relata como sua experiência mais positiva dentro da IES foi a de poder

compartilhar seu conhecimento com outros colegas, ensinando-os a matéria antes das provas,

uma forma de se sentir aceita, respeitada e valorizada pelo por eles, afirmando que:

Às vezes eu gostava de estudar e antes da prova ensinar os meus amigos que

não estudaram muito, sabe, eu gosto disso.

Alcançar o objetivo de incluir socialmente, de incluir também no sentido de

proporcionar ao aluno um senso psicológico de pertencimento, a partir do qual possa dizer de

si mesmo que é IESzista, porque não existe diferenças de tratamento dentro da IES seria o

ideal. A percepção de que alguns desses alunos conseguem trazer parte de si mesmos para

esse ambiente no qual diferem do perfil social predominante apresenta-se como uma

perspectiva positiva, embora aparentemente parte do mérito esteja no próprio aluno e não no

ambiente. Para Davidson e Ferdman (2001), valorizar a diversidade e as diferenças requer que

políticas, estruturas e normas de comportamento sejam alinhadas de tal forma que os

membros da comunidade se sintam respeitados e incluídos, porém assinalam que a verdadeira

inclusão extrapola essa compreensão. Defendem que um pensamento de diversidade requer

que a organização enfatize ao mainstream que o objetivo não é que eles deixem de ocupar tal

posição, mas que esse espaço possa ser ampliado de forma a beneficiar a todos e que se

busque construir um espaço em que todos se encaixem. O ProUni pode ser pensado por essa

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ótica, uma vez que não são suprimidas vagas dos outros alunos, porém parte do mainstream

aparentemente considera que estão em uma disputa pela vaga e pelo espaço social. Na

ausência de políticas e ações alinhadas com o objetivo de valorizar a diversidade, para o

alcance de tal objetivo dentro da IES estudada há um longo caminho a ser percorrido. Será

necessário maior comprometimento institucional, dos outros alunos e engajamento dos

professores, a fim de que nesse ambiente as pessoas tenham comportamentos inclusivos em

decorrência dos quais a experiência de inclusão seja possível.

4.3.10 Categoria: Professor – Um Agente

Buscando verificar quais são as percepções dos professores acerca dessa dinâmica de

inclusão/exclusão dos alunos prounistas no ambiente acadêmico, e bem como analisar o papel

dos professores junto aos alunos prounistas, nessa categoria o papel do professor como agente

de inclusão ou de exclusão é apresentado.

Ferdman et al. (2009) apontam que sentir-se valorizado como membro do grupo e

também como ser humano, ser reconhecido e apreciado, propicia ao indivíduo a experiência

de inclusão. PROF 03 percebe essa carência em alguns de seus alunos prounistas e se mostra

disponível a acolhê-los, conforme relata:

[...] o que eu percebo é uma questão de afetos mesmo, que eu sinto que às

vezes eu preciso sentar... eles querem falar comigo. Você vê que no fundo a

carência de atenção e de afeto é tão grande que quando ele percebe que o

professor tem essa abertura, ele quer conversar com você. No fundo ele quer

saber até que ponto você olha para ele e o vê como ser humano (PROF 03).

O desdobramento de comportamentos inclusivos é proporcionar ao aluno uma

experiência de inclusão. Dois alunos prounistas entrevistados (P4M-IN e P3H-IN) citam que

alguns professores, incluindo PROF 02, PROF 03 e PROF 04 são pessoas que lhes servem

de referência, que os instigam, lhes são acessíveis e consideram que o comportamento destes

em relação a eles proporciona uma experiência positiva dentro da IES.

É um cara que te instiga a pensar. Eu tive contato com esses dois professores

que são acima da média para mim [PROF 02 e PROF 03] (P3H-IN).

Gosto muito dos professores, eu tenho uma relação muito de amizade com os

professores, confesso. Nunca teve nenhum distrato pessoal. Com os

professores formo um vínculo de amizade, mesmo. Tanto é que, tem

professores que eu gosto tanto, que de quinta-feira eu assisto duas vezes a

mesma aula [de PROF 04] (P4M-IN).

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Ao ser questionada sobre sua experiência mais positiva até o momento dentro da IES,

P4M-IN aponta que a interação com os professores PROF 02 e PROF 04, a sensibilidade

destes às questões sociais, a abertura para trocas com eles são comportamentos que trazem

como consequência o bem-estar, que favorecem a uma experiência de inclusão, conforme

relato:

Ele [PROF 04] desperta a luz de você tentar ter aquela experiência de uma

sociedade mais igualitária, mais justa, e de olhar diferente para as minorias, e

não olhar como empecilho, mas como pessoas que devem ter alguns direitos,

para tentar competir com as pessoas que estão acima. Então, ele é uma luz,

uma luz completamente. E esse semestre também, PROF 02, ela também é

outra luz, outra luz. Tive experiências sensacionais com eles. Troca de

conhecimentos (P4M-IN).

PROF 03 afirma que nunca precisou intervir junto a algum aluno, mas seu discurso

revela que o faz uma intervenção educativa e preventiva, uma vez que “[...] trabalha questões

sociais em sala”, o que é fundamental para a desconstrução de prejulgamentos e crenças

estereotipadas acerca do Programa e dos alunos beneficiados. Portanto, a saída possível, e

para a qual o professor pode ser importante agente, é trabalhar essas questões em sala de aula,

prover o aluno de informações fundamentadas, a partir das quais possam se posicionar. PROF

02 tem convicção de que alunos que são contra políticas públicas e contra o ProUni o fazem

por desinformação, e afirma ter “[...] certeza que se... cota, ProUni, tudo isso, se tivesse um

professor que viesse aqui na frente e falasse: é isso, isso, isso... estudem, analisem a

Constituição, vejam os argumentos a favor e os contra” esses posicionamentos seriam

revistos. Portanto, fornecer informações e discutir essas questões mostra-se o caminho mais

eficaz para fazer com “[...] que as pessoas entendam do que se trata, e tem que ser em sala de

aula. O professor passar trabalhos sobre o tema, porque aí o cara vai mergulhar”. Contudo,

para que esse tipo de conduta seja adotada, é necessário que haja uma crença institucional e

pessoal de cada professor, de que o caminho da inclusão e do respeito ao ser humano em suas

singularidades e diferenças é também o caminho para uma sociedade mais justa e melhor, e

que isso necessariamente passa pela educação e informação.

A percepção de imparcialidade de tratamento dos professores para com os alunos é

indicativo de que estes não se sentiram discriminados por eles, que relatam não perceber

qualquer favoritismo ou preconceito. P1H-IM assinala que “[...] os professores tratam bem

quem se interessa. Não importa sua classe social, não importa sua cor...”, mas em seguida

aponta a existência de uma exceção, que é elitista. Sua opinião é corroborada por outros

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alunos que apontam o comportamento inadequado de professores agentes de discriminação

em função da condição social ou base cultural.

[...] um professor só, que era extremamente elitista. Ele fazia a chamada e

perguntava pelo sobrenome das pessoas, se conhecia tal pessoa... se tal

pessoa era amigo, e... a gente viu que, no final do semestre essas pessoas

ganhavam pontinhos (P1H-IM).

Alguns professores que me perseguiam, mas mais relacionado a condição

social, o de XXX [dá o nome da matéria] por exemplo, o de YYY [dá o

nome da matéria], que era terrível, acho que só. Esses dois são terríveis. É.

Acho que são só esses dois mesmos (P7H-FN).

Fazer chacota com a ignorância do outro... eu estou buscando conhecimento.

Você é o professor, você está aqui para isso e fazer chacota é o nível mais

baixo que um professor pode chegar, e eu já encontrei isso (P11M-FM).

Ressaltando seu papel de agente de inclusão, PROF 03 diz que está “[...] sempre

acolhendo, mas não é todo o corpo docente, não”. Eventualmente o próprio professor não está

aberto para as questões sociais, não acolhe o aluno prounista e ainda utiliza o espaço de sala

de aula para disseminar suas opiniões preconceituosas e discriminatórias. Em uma sala na

qual 10% dos alunos são bolsistas do ProUni, um professor falar abertamente ser contrário ao

Programa faz no mínimo com que esse aluno, indiretamente, o perceba como desfavorável a

ele. O professor PROF 01 argumenta que “[...] o professor, ele é modelo”, mas que os

comentários tecidos por eles em sala de aula instigam alunos ao preconceito. Mais do que

expressar opinião acerca do Programa, as crenças pessoais são as bases para as ações, e, em

decorrência disso, ao invés do professor atuar como agente de inclusão torna-se agente de

preconceito e exclusão.

Eu tive já nesses 10 semestres, comportamentos inadequados de alguns

professores, em relação a alguns alunos. Às vezes ele era prounista, às vezes

eles não eram. Os professores deveriam exercer, e isso é papel do professor,

criar mecanismos de interação. Não pode deixar (NP4M-FN).

Eu acho que eles estão sendo muito estimulados esse jogo [disputa entre

grupos maioritários e minoritários] e eu fico sempre preocupada com isso. E

é problemático porque os professores fazem muito (PROF 02).

Ao invés de emitir comportamentos que criam, mantêm ou reforçam vantagem para

alguns grupos e seus membros em relação a outros grupos e seus membros (DOVIDIO et al. ,

2010), os professores deveriam agir no sentido de desconstruir crenças e quebrar interações

sociais disfuncionais, intervir a fim de combater manifestações de preconceito e

discriminação que promovem a exclusão. Caso na IES houvesse uma política de gestão da

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diversidade, necessariamente esses comportamentos inclusivos seriam adotados com base em

normas institucionais, em condutas preconizadas que expressassem valores e princípios

institucionais (DAVIDSON; FERDMAN, 2001); não o sendo, baseiam-se nos valores

pessoais desses professores. Portanto, não havendo apoio institucional e não sendo alguns

deles sensíveis a essas questões, não só não se mobilizam a intervir, como erram eles mesmos

em suas condutas, conforme sugerido por NP4M-FN.

Acredito que um professor com um pouco mais de percepção, ele perceberia

e poderia quebrar algumas coisas que se sedimentaram na nossa sala

[fragmentação da sala em feudos bem demarcados]. Aqueles professores que

pegam muito pesado com alguns alunos, um pouquinho mais é... sabe...

[humildes]. Embora sei e conheça professores que são um pouco exagerados,

de alguma forma no trato, não posso dizer se eles sabiam que o aluno era do

ProUni (NP4M-FN).

Questionados acerca de intervenções pessoais e papéis que eventualmente

desempenham junto aos alunos prounistas, os professores entrevistados PROF 02, PROF 03

e PROF 04 afirmam nunca terem sido necessárias intervenções pessoais, pois nunca

presenciaram qualquer manifestação de preconceito ou discriminação. No entanto, ao

adotarem uma postura disponível e manifestarem frente à sala um posicionamento pessoal

sensível às questões sociais já se tornam agentes de inclusão, pois servem de referência

positiva para eles e utilizam o espaço acadêmico para ampliar o debate sobre as questões

sociais. PROF 01 afirma já ter feito intervenções pontuais para resolver problemas quando a

omissão de aluno prounista nas listas de e-mail da sala foi utilizada com estratégia de

exclusão, para privá-los do acesso a informação, resolvendo a questão ao cuidar pessoalmente

do envio das mensagens. A professora assumiu a conduta de “[...] mandar o e-mail pra elas

(alunas prounistas excluídas da lista) com cópia para o grupo”. Também afirma ter feito

intervenções de caráter educativo/informativo, discutindo o tema com seus alunos e indo à

lousa estabelecer conceitos, comprometendo representante de sala, em representar a sala, o

que inclui os alunos prounistas, e não seus amigos pessoais, conforme relatado:

[Aluno diz] “Professora você sabe que a gente é contra [o ENEM]... Eu olhei

e eu falei: Não, vocês são elitistas. Elitista é aquele que acha que só quem

teve as mesmas condições têm os mesmos direitos. Não tem problemas,

muita gente nesse país é, mas saiba que você é... [...] E aí ocorreu um

processo legal... Foi assim na primeira semana, na segunda semana eles já

estavam fazendo a campanha a favor (PROF 01).

Eu tenho muito o hábito de chamar o representante: Você se decidiu ter um

cargo representativo, então você vai fazer direito. É... mais isso sou eu. Eu

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falo mesmo, e eu falo em voz alta e falo pra todo mundo ouvir. Não é

comum (PROF 01).

Intervenção simples de um professor, com resultados positivos e que produziu

mudança de comportamento do grupo, o exemplo relatado é indicativo de que discutir essas

questões e conscientizar todos os agentes envolvidos na vida acadêmica são caminhos

necessários, para que os benefícios da diversidade sejam vistos na IES pesquisada. De forma

otimista, PROF 01 afirma que está percebendo que “[...] alguns professores agora já estão

começando, não só a perceber [as manifestações de preconceitos e discriminações] como a

responsabilizar [seus agentes]”. Após oito anos da implantação do Programa na IES, alguns

professores “começam a perceber” as situações excludentes que ocorrem no ambiente

acadêmico. É necessário que esse olhar se amplie, bem como o nível de consciência e de

informação de todos os agentes, para que comportamentos inclusivos e percepção subjetiva de

inclusão possam ser regra e não exceção.

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5. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Este capítulo tem como objetivo articular os dados apresentados no capítulo anterior,

com a literatura. Como em cada uma das categorias já descritas, breves discussões com o

referencial teórico foram introduzidas, este capítulo busca avançar no processo interpretativo,

integrando teorias e dados, a fim de determinar a dinâmica de inclusão e/ou exclusão

depreendida dos dados, de forma a ampliar a compreensão do fenômeno à luz dos referenciais

teóricos da Psicologia Social, contribuindo para a área de estudo. Para efeito deste trabalho,

consideram-se pessoas “diversas” ou “minorias” os alunos pertencentes aos grupos sub-

representados, como cotistas, bolsistas, alunos prounistas, percebidos como de menor status

social.

Hanashiro et al. (2011, p. 3) afirmam que embora os membros de grupos de maioria

sejam historicamente aqueles que tiveram ou têm vantagens em poder e recursos econômicos,

quando comparados com grupos de minoria, estes não percebem seu privilégio. Ofertar uma

bolsa do ProUni para alunos aprovados pelo Enem, aos quais tantas outras oportunidades já

foram negadas devido às restrições socioeconômicas, é considerado por alguns alunos não

prounistas da IES pesquisada uma concessão de vantagem, o que denota essa falta de

percepção das desigualdades de condições.

Não obstante, para alguém com vantagem que possui essa percepção há também uma

imagem de que porque o aluno prounista não entrou pelo vestibular da IES é menos

capacitado; e sua origem social e/ou o fato de sua formação ter sido em escola pública

figuram como marcas ou estigmas vistos como negativos, de forma que, aos olhos de alguns

alunos não prounistas, o potencial desse aluno seja desqualificado (GOFFMAN, 1988).

Assim como as sociedades têm se tornado mais heterogêneas (MOR-BARAK, 2005),

o mesmo tem ocorrido com o perfil dos alunos da IES pesquisada. O perfil do grupo de alunos

não prounistas desta pesquisa evidencia que, embora aparentemente a maioria dos professores

e alunos entrevistados percebam o perfil do aluno da IES como predominantemente de classe

média e média alta, o perfil de parte dos alunos entrevistados evidencia existir uma parcela de

alunos de condições socioeconômicas menores, que trabalham e custeiam com esforço o

próprio curso. Além destes, bolsas filantropia já eram concedidas na IES pesquisada antes que

da adesão ao ProUni. Entretanto, na percepção de alguns alunos, a adesão ao ProUni trouxe

para a instituição um aluno diverso ao perfil predominante. As manifestações de preconceitos

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e discriminação em relação a esses alunos aqui apontadas permitem inferir que a

heterogeneização ocorrida não é vista de forma positiva por uma parcela dos alunos.

Os dados analisados evidenciam que os grupos de prounistas e não prounistas

percebem haver mais dissimilaridades do que similaridades entre eles. Considerando que a

interação com pessoas com maiores similaridades percebidas resulta em emoções e atitudes

intergrupais positivas, a partir das quais ciclos de autorreforço causal são criados

(TRIANDS et al, 1994), a percepção de dissimilaridades entre esses dois grupos de alunos

reduz a probabilidade de interação e consequentemente de intimidade entre eles. A diferença

de classe social e experiências pessoais, principalmente, restringem a interação social,

devido às restrições financeiras e barreiras intergrupos.

A dinâmica das salas evidencia que categorizações, feitas com base em similaridades

percebidas, dão origem aos grupos, sendo a criação de grupos o primeiro passo para o

preconceito (ARONSON; WILSON; AKERT, 2002), uma vez que pessoas que não se

enquadram no protótipo do grupo não são aceitas. Categorias como o “grupo dos

Mauricinhos” ou aqueles que “têm um modo de vida de classe média alta”, “uma situação

financeira muito próxima” ou “prounistas [que] se juntam” são critérios de agrupamentos

referidos pelos entrevistados. Mor-Barak (2005, p. 132) assinala que a diversidade refere-se

ao processo de gerar categorias distintas, “está relacionada, também, com o pertencer a um

grupo diferente quando comparado ao mainstream na sociedade, que o torna suscetível a

sofrer consequências resultantes de uma associação com o pertencer ou não a certo grupo

social”. De acordo com a percepção dos entrevistados desta pesquisa, condições

socioeconômicas, background e cultura/qualificação pessoal são características determinantes

para a aceitação em alguns grupos. Estabelecer inglês fluente como prerrequisito para ser

aceito em um grupo de trabalho, ao invés de domínio do conteúdo; objeção explícita à

aceitação de alunos prounistas em alguns grupos são indicativos de que as essas categorias

determinam as fronteiras intergrupais e estabelecem as características distintivas de pertença

ao grupo, no qual aqueles que são diversos aos critérios estabelecidos não são aceitos.

Portanto, ser prounista é uma dimensão de diversidade, pois traz implicações para a relações

destes com os outros alunos IESzistas.

Devido à necessidade própria dos indivíduos de serem vistos de forma positiva em

relação a outros relevantes, comparações sociais são feitas, geralmente favorecendo aqueles

que pertencem ao ingroup (HOGG; TERRY, 2001). Decorrente de comparações, a condição

de prounista é percebida como uma identidade de valor mais negativo, por isso esses alunos

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buscam alcançar uma identidade que seja mais distinta, ao tempo em que os alunos não

prounistas desejam e lutam para manter o status de condição comparativamente superior. A

omissão da identidade é uma estratégia adotada por alguns alunos, eventualmente por todo o

período da formação, para tentarem ser aceitos e incluídos. A busca por um desempenho

superior também é percebida como uma forma funcional de obter distintividade intergrupo,

porém, o que mais se mostra nos dados é que, as características pessoais desempenham

importante papel para que sejam aceitos e a autoinclusão aparentemente é a estratégia mais

efetiva.

Não foram identificadas estratégias do grupo de prounistas para o alcance de alguma

mudança social para o grupo como um todo, verificando-se somente estratégias individuais a

fim de alcançar uma mobilidade social. Com base no modelo dos cinco estágios da dinâmica

intergrupos propostos por Taylor e McKirnan (1984 apud TAYLOR; MOGHADDAM, 1994),

verificou-se um único caso de mudança intergupos, em que a aluna prounista se sente

identificada como IESZista, tendo contudo ocorrido uma mobilidade social individual, o que

faz com que ela considere haver mérito pessoal na conquista dessa mobilidade. Portanto, ao

ser aceita como membro do outro grupo, ela despersonaliza e deixa para trás a identidade de

prounista, para assumir o protótipo de IESZista. Praticamente metade dos alunos prounistas

entrevistados percebe que as relações intergrupais são estratificadas e não há possibilidades de

mudança, enquanto a outra metade acredita que há possibilidade de mobilidade individual,

mas não do grupo, o que provavelmente justifique a falta de qualquer articulação coletiva.

Matéria do jornal A Folha de São Paulo do dia 14/09/2014 noticiou a eleição de uma aluna

negra e prounista do curso de Direito da IES pesquisada para presidente do Centro Acadêmico

do curso, indicando uma situação que quebra um paradigma, pois concede um espaço que é

ocupado por meio de voto democrático a uma representante de um grupo de minoria. A aluna

representa as mulheres, os negros e os prounistas, podendo ser considerada o que Taylor e

Moghaddam (1994) chamam de um “token”, ou seja, uma pessoa de referência, a partir da

qual os alunos podem passar a perceber que são injustamente discriminados; que os faça

tomar consciência de que habilidades e esforços pessoais não são suficientes para vencer as

barreiras sociais e que as dimensões para comparação social, papéis e percepções assumidas

precisam ser renovadas.

Tanto os discursos dos alunos não prounistas como dos professores pesquisados

revelam que estes possuem uma hierarquia subjetiva de níveis ou graus de exclusão e de

discriminação. A menção a uma exclusão leve, exclusão pior e exclusão agressiva é referida

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por professores, enquanto os alunos minimizam ou banalizam esses comportamentos,

utilizando termos como um “quezinho” de discriminação, uma “discriminaçãozinha” ou uma

“exclusãozinha”, que dão uma conotação de distanciamento das implicações psíquicas e

emocionais para aqueles que são vítimas de tais comportamentos.

No balanço geral, verifica-se que existem três atitudes básicas em relação aos alunos

prounistas: o mais raro, que é o acolhimento, ocorre eventualmente em relação a uma pessoa,

porém em relação ao grupo só foi relatado uma caso; o mais comum, uma indiferença, por

vezes desagradável; e, por fim, uma rejeição, que, embora não seja citada por todos, tem a

força de transmitir uma mensagem de que esses alunos não são bem-vindos nesse ambiente.

As análises sugerem que as estratégias de autoinclusão são capazes de quebrar as

indiferenças, mas não as rejeições. Portanto, as características pessoais mostram-se uma

dimensão importante para a inclusão em um meio que não é naturalmente receptivo.

Observa-se que o caráter de inclusão social do programa não é adequadamente

alcançado, pois, no âmbito de Programa, a política do ProUni é limitada, uma vez que provê

ao aluno somente condições de acesso, mas não de manutenção em uma IES com custos de

manutenção altos. Esta seria necessária dado o perfil da região onde está localizada a IES e o

padrão socioeconômico dos alunos prounistas, insuficientes para o pleno custeio do curso,

enquanto a inclusão psicológica dificilmente é atingida, uma vez que esta depende também do

comportamento dos outros indivíduos.

Infere-se que as práticas acadêmicas são voltadas para atender os interesses dos

alunos pagantes, por serem supostamente “aqueles que mantêm a instituição” e garantem a

sustentabilidade econômica dos cursos. Portanto, quando os valores e crenças pessoais de um

grupo de alunos não prounista é contrária a aceitação de grupos diversos dentro da IES, estes

se articulam e usam de estratégias de exclusão, como passeatas contra o Enem. Estando a

inclusão relacionada ao sentimento de pertença a um determinado grupo social, os

comportamentos de indiferença, e por vezes de rejeição, manifestos para com alguns alunos

pode ser impeditivo para que esses tenham uma experiência real de inclusão, uma vez que

essas são precedidas por comportamentos inclusivos. A inclusão também envolve a

possibilidade de que, na interação com outras pessoas, o indivíduo possa ser completamente

ele mesmo, permitindo aos outros serem completamente eles mesmos no contexto de

engajamento em atividades comuns (FERDMAN et al., 2009). Porém, os dados evidenciam

que a identidade de prounista é escamoteada por vários alunos, por considerarem que os

alunos não prounistas “não os tratariam tão bem assim” se a revelassem. Alguns se veem

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impedidos de acesso a algumas pessoas e grupos, impossibilitados de um engajamento em

atividades comuns como grupos de trabalho, de convívio e de atividades sociais.

Se por um lado, da parte de alguns alunos não prounistas há uma clara posição de

rejeição em relação ao Programa e por vezes a seus beneficiários, por outro não foram

identificadas, na prática institucional, políticas ou ações que visem promover a inclusão, quer

seja fornecendo preparo ou orientação clara aos professores de condutas possíveis ou

minimamente discutidas as políticas de cotas e do ProUni com professores ou alunos. De

acordo com Ferdman et al. (2009), o ingrediente-chave para que se obtenha os benefícios da

diversidade é a inclusão. Ao omitir-se, a IES prossegue com o Programa de inserção de alunos

e cumprimento de cotas, não se atentando aos conflitos e manifestações intergrupais de

preconceitos, discriminação, que trazem consequências emocionais para os alunos bolsistas,

reduzindo o caráter inclusivo do programa à concessão de acesso, mas não de pertencimento.

Dentro da IES, o modelo utilizado para gestão do ProUni está no que Thomas e Ely

(1996) intitulam de Paradigma da Discriminação-justiça, cumpre-se a lei, inserem-se os

alunos, sem maior preocupação com suas diferenças e dificuldades. A fim de reconhecer e

valorizar as diferenças, as práticas da IES deveriam estar voltadas para o paradigma

aprendizagem-efetividade, atentando para a integração desse grupo diverso, provendo

condições para que estes pudessem se sentir respeitados nas diferenças e integrados à

academia, à sala e ao grupo. Nesse paradigma, as diversas perspectivas trazidas pelos alunos

deveriam ser reconhecidas e valorizadas, possibilitando criar uma universidade para todos

efetivamente, na qual as experiências de vida e as diferenças na forma de pensar, aprender e

crescer uns com os outros fossem incorporadas.

Comportamentos inclusivos podem ser ações individuais, ações dos grupos e também

institucionais, que se supõe, precedem a experiência de inclusão. Portanto, requer-se um

compromisso institucional com uma atenção à diversidade; que as tensões e conflitos que

ocorrem em seu ambiente ou seus agentes não sejam ignorados, e que os professores sejam

preparados para resolução destes e inibidos de reproduzi-los. Os dados evidenciaram como

estratégias possíveis, como encorajar discussões e debates, ampliando o conhecimento tanto

de alunos como de professores acerca do que é essa política, do que o Programa preconiza,

buscar evitar que situações de discriminações e exclusão sejam estimuladas ou reproduzidas.

Resultados dessa pesquisa diferem dos constatados por Santos (2011), pois a

percepção de todo o grupo de bolsistas por ela estudado indica a existência de sentimentos de

aceitação, integração e a ausência de qualquer situação de diferenciação com professores,

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colegas e funcionários; alinhando-se com Nogueira (2013), que indica que a experiência

acadêmica promove sentimentos de afeto e emoções contraditórias, tais como preconceito,

exclusão, alegria e vitória. Das dissertações e teses revisadas para este trabalho, apenas Santos

(2011a) teve alunos do curso de Direito como sujeitos de pesquisa, porém seu estudo fez uma

abordagem sociológica, investigando o lugar assumido pelo ProUni em suas trajetórias de

vida. Dessa forma, este trabalho apresenta uma amostra na qual três diferentes agentes de

inclusão e exclusão foram investigados, o faz sob uma perspectiva teórica diferente das

abordagens utilizadas pelos outros pesquisadores e contribui socialmente, dado ser o ProUni

uma política recente, que ainda tem limitações em sua abrangência. Este tem se mostrado

importante meio de acesso ao ensino superior e tanto no âmbito do sistema educacional como

um todo quanto dentro da IES pesquisada, pode ser repensado e aprimorado, para que os

benefícios desta possam ser ampliados e esses alunos incluídos e não inseridos nas IESs.

Há evidências de que os semestres iniciais são considerados mais críticos para os

alunos prounistas e as resistências entre grupos são mais acentuadamente percebidas. No

entanto, alguns desses alunos insistem em manter contato com todos, aumentando a

possibilidade de vencerem as “barreiras”. Aqueles que conseguem formar vínculos de

amizade, ao se sentirem aceitos no grupo, relatam até mesmo melhoria no desempenho,

mudando os sentimentos iniciais, o que lhes possibilita uma experiência de inclusão.

Conforme assinalado por Hanashiro et al. (2011, p. 14), “[...] a inclusão depende do

próprio indivíduo, de sua vontade e habilidade de desenvolver comportamentos que

contribuem para fomentar sua inclusão”, porém eventuais barreiras a aceitação podem

ocorrer. No momento inicial, em que os alunos estão se conhecendo e se dando a conhecer, o

comportamento de autoinclusão é de fundamental importância. Conforme já apresentado

anteriormente, existem receios dos alunos prounistas em relação ao novo ambiente e ao

tratamento que receberão. Se esses alunos mantiveram uma posição passiva e insegura frente

ao meio, as respostas de parte dos alunos não prounistas será de indiferença. No entanto, os

dados aqui apresentados nos sugerem que há alunos cujos valores e crenças pessoais os fazem

acreditar na distinção, superioridade de uns em relação a outros, e eles manifestam isso nas

relações interpessoais. Em havendo qualquer marca distintiva, seja o tempo da chegada, a

identificação voluntária ou involuntária como prounista, a postura “mais humilde”, tornará

esses alunos suscetíveis a serem vítimas de preconceitos e discriminações.

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Embora haja evidências de que para os alunos que chegam na primeira lista exista

menor desconforto inicial, infere-se aqui que a autopercepção do aluno como de uma pessoa

desacreditável, conforme referida por Goffman (1988), pode impedir a experiência de

inclusão, pois inibirá a vontade e o desejo de se colocar frente ao meio. Verifica-se que P2M-

IM e P6M-IM, que estão nos semestres iniciais, chegaram na primeira lista e entraram desde o

primeiro dia de aula são retraídas e mantêm essa postura de retraimento desde o início do

curso: não se envolveram em atividades extraclasse para expandir rede de contatos e não estão

estagiando. Uma vez que “[...] a inclusão não reflete um comportamento natural dos

indivíduos” (HANASHIRO et al. , 2011, p. 2), presume-se que se essas alunas não assumirem

um comportamento autoinclusivo, ao término do curso o desfecho será como o de P10H-FN,

que durante toda a formação esteve restrito a um pequeno grupo de convívio com outros

alunos prounistas, sem vivenciar uma experiência de inclusão, não conseguindo quebrar as

barreiras e resistências naturais e inerentes às relações interpessoais e intergrupais. No

entanto, P1H-IM e P4M-IN, ainda no segundo semestre do curso, já ampliaram seus espaços

de convivência, se engajaram em atividades extraclasse, indicam bom desempenho acadêmico

como fator importante e mostram-se autoinclusivos, agentes da própria experiência de

inclusão. P5M-IN expressa sua percepção de ser inclusa quando diz que se sente uma

IESzista, sem fazer distinção entre a condição de prounista e dos outros alunos da IES.

P9H-FM e P10H-FN assumiram uma postura de omitir a identidade social de

prounista, mas, aparentemente, por razões e com consequências diferentes. P9H-FM diz que

não se identificava porque isso é indiferente, portanto, nas relações interpessoais se

posicionou e se relacionou e de forma coerente com sua crença, interagindo com bom trânsito

em sua sala e sentindo-se livre para expressar-se. P10H-FN, no entanto, omitindo sua

identidade prounista, não se sente IESzista nem prounista, e até refere os prounistas como aos

IESZistas como “eles”, indicando que não foi incluído ou identificado em qualquer dos

grupos.

Dessa forma, conclui-se que na dinâmica entre alunos prounistas e não prounistas a

formação de grupos com base nas similaridades percebidas, e em não pertencendo ao grupo

majoritário, os alunos prounistas são percebidos como “exogrupo” e, portanto, mais

homogêneos, dando origem aos estereótipos. Discriminações são manifestas principalmente

no momento de formação de grupos de trabalhos e os preconceitos estão mais relacionados às

condições socioeconômicas. Não havendo identificação ou similaridades percebidas não se

estabelece relações mais próximas, o que impede maior intimidade entre os grupos e

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desconstrução de crenças estereotipadas. Verifica-se inexistência de estratégias grupais de

inclusão, sendo a autoinclusão a estratégia mais comumente observada, na qual engajamento

em atividades extraclasse, desempenho superior e iniciativas pessoais de construção de redes

de contato são as estratégias mais utilizadas e aparentemente mais funcionais. Uma vez que a

necessidade de pertencimento é fundamental para o ser humano e constitui-se uma poderosa

base motivacional para o comportamento interpessoal, quando o indivíduo vivencia uma

experiência de exclusão ou rejeição e ela é frustrada, este passa a reagir com ódio,

ressentimento e retaliação (MOR-BARAK, 2005; TWENGE; BAUMEISTER, 2005 apud

HANASHIRO et al. , 2011). Ao perceber tanto por parte da IES como do grupo a inexistência

de comportamentos inclusivos o aluno prounista fica impedido de vivenciar uma experiência

subjetiva de inclusão, sendo por isso afetado em sua autoestima, o que pode comprometer seu

desempenho. Constata-se que tanto para que haja uma experiência subjetiva de inclusão que

possibilite a esses alunos um senso psicológico de pertencimento ao ambiente acadêmico da

IES pesquisada quanto para que ocorra uma inclusão social que permita ao prounista desfrutar

de uma universidade que é para todos, na qual a inclusão é regra e não exceção, há um longo

caminho a ser percorrido.

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho se propôs a compreender o fenômeno da inclusão e/ou exclusão do

bolsista ProUni no espaço acadêmico, de acordo com a percepção de professores, alunos

prounistas e não prounistas, buscando responder ao seguinte questionamento: Como ocorre a

dinâmica de inclusão/exclusão do bolsista ProUni em uma universidade privada da cidade de

São Paulo?

Constitui-se objetivo geral deste trabalho compreender a dinâmica de inclusão e/ou

exclusão do bolsista ProUni no espaço acadêmico. Para alcançar essa compreensão, foram

determinados os objetivos específicos: (a) entender as condições socioeconômicas do aluno

prounista; (b) investigar a existência de estereótipos, preconceitos e discriminação na

inclusão/exclusão dos alunos prounistas; (c) verificar as dimensões de diversidade nas quais

os alunos prounistas se reconhecem e são reconhecidos; (d) identificar as estratégias utilizadas

por esses alunos para serem inseridos em grupos; (e) verificar as percepções do professor

acerca dessa dinâmica de inclusão/exclusão e (f) analisar o papel dos professores junto aos

alunos prounistas.

Na busca de entender as condições socioeconômicas dos alunos prounistas, verifica-

se que, embora estes considerem a abrangência do Programa limitada, o benefício da bolsa

tem caráter determinante para a vida dos alunos prounistas, considerado como um “salva-

vidas”, pois dada as condições socioeconômicas familiares constitui-se uma possibilidade de

mobilidade social. Esses alunos tornaram-se agentes da própria história, e embora as

restrições financeiras familiares seja obstáculo no caminho, lutam para superá-las e, chegado

os semestres finais, a aprovação no Exame da Ordem dos Advogados lhes confere um

sentimento de vitória.

Ao investigar a existência de estereótipos, preconceitos e discriminação na

inclusão/exclusão dos alunos prounistas, percebe-se que a existência de “feudos” é

relativamente comum e, na formação de grupos de trabalhos, as estratégias de exclusão dos

alunos prounistas são evidenciadas. Alunos mais expansivos tendem a gozar de grupos de

convivência maiores, enquanto os alunos mais retraídos ficam restritos em pequenos grupos.

Os estereótipos do prounista como um aluno que não estuda e de escola pública como

“baderna” estão presentes no ideário de alguns alunos não prounistas e até mesmo de alguns

professores. As razões de seus preconceitos estão pautados no argumento de que o Enem é

uma prova fácil, que o Programa tem caráter assistencialista e que pagam para o outro estudar,

trazendo como consequência discriminações na forma de evitação e até manifestos públicos.

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Verificadas as dimensões de diversidade nas quais os alunos prounistas se

reconhecem e são reconhecidos, constata-se que as maiores dissimilaridades em relação aos

outros alunos são background cultural, classe social e experiências pessoais, sendo que essas

diferenças trazem como consequências negativas uma menor interação social, uma vez que as

fronteiras entre grupos são estabelecidas em função de similaridades, criando maiores

distâncias entre “Nós” e “Eles”. Ou seja, são dimensões menos visíveis e mais profundas, de

acordo com a tipologia de diversidade baseada em fatores (MANNIX; NEALE, 2005).

Aponta-se a existência de estratégias individuais e até mesmo de salas inteiras a fim de

impedir a aceitação de alunos prounistas em grupos de trabalho, exclusão de alunos dos

mailings de sala e privação de acesso à informação. Ao serem identificadas as estratégias

utilizadas por esses alunos para serem inseridos em grupos, constata-se que ao sentirem que o

ambiente não lhes é receptivo alguns alunos adotam estratégias de autoinclusão, enquanto

outros aceitam o que está posto e se autoexcluem, preferindo não agir sobre o meio. A

formação de grupos de estudos fora de classe é apontado como importante fator de inclusão e

metade dos alunos prounistas entrevistados se engajam nesses grupos. Outras estratégias de

autoinclusão utilizadas por esses alunos são: buscar se impor frente aos outros alunos, obter

desempenho superior, envolvimento em atividades fora de classe, sendo essa última prática

comum a todos os alunos que se autodefinem como mais expansivos, mostrando que as

características pessoais são também fatores de inclusão.

Buscou-se verificar as percepções do professor acerca dessa dinâmica de

inclusão/exclusão, sendo por eles apontada a existência de “situações agressivas”, de

discriminação e preconceito. A falta de qualificação de professores para manejo de situações

conflituosas entre grupos diversos foi apontada como um aspecto negativo, que contribui para

a manutenção ou agravamento dos conflitos. A decisão pontual de alguns professores de não

formarem grupos de trabalho no primeiro mês de aulas é indicada como uma iniciativa para

minimizar ações excludentes.

A análise do papel dos professores junto aos alunos prounistas foi feita por meio da

categoria “Professor – um agente”, mostrando que os professores são importantes agentes,

alguns para inclusão e outros para a exclusão e discriminação de alunos. Por um lado,

professores “mais voltados às questões sociais” são considerados “luz” e proporcionam

experiência positiva para alunos prounistas entrevistados, por outro fica evidenciado que

professores ideologicamente contrários às Políticas Públicas, em especial ao ProUni, tornam-

se eles mesmos agentes de preconceito e discriminação e instigadores dos outros alunos.

Apenas um professor aponta ter feito intervenções em prol de alunos prounistas, mas há um

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entendimento de que, em sendo o professor pessoalmente favorável ao Programa, seu

posicionamento pessoal frente à sala funciona como uma intervenção, capaz de reduzir

crenças estereotipadas e munir os alunos de informações fundamentadas.

São consideradas limitações deste trabalho, em primeiro lugar o fato de que a

maioria dos alunos não prounistas entrevistados possui perfil muito próximo aos dos alunos

prounistas, o que faz com a amostra não represente adequadamente o perfil de alunos

predominante na instituição. Isso provavelmente ocorreu porque o e-mail convite enviado a

todos os alunos foi atendido por aqueles que tinham alguma identificação com o tema ou com

os alunos prounistas. De igual modo, todos os professores entrevistados se intitulam e são

reconhecidos por alguns alunos como pessoas mais sensíveis às questões sociais, quando o

ideal seria uma amostra mais heterogênea, que permitisse uma aproximação a sujeitos mais

críticos em relação ao Programa, uma vez que isso enriqueceria o debate e a propiciaria uma

compreensão do fenômeno.

Ao olhar para a atual forma de gestão do Programa ProUni dentro da IES pesquisada,

entende-se que esta pesquisa tem importante papel, pois traz como contribuição prática uma

aproximação às manifestações de preconceito, discriminações e situações excludentes que

ocorrem com alunos dentro da instituição. Uma vez que o ProUni, enquanto ação afirmativa,

visa reduzir a exclusão educacional a qual os grupos sociais menos favorecidos têm sido

historicamente submetidos. Mostra-se relevante discutir essas questões, contribuindo com a

ampliação da discussão do tema, de modo que ações e medidas sejam tomadas para que o

direito ao acesso a uma educação de qualidade possa deixar de ser percebida como um favor e

que esses alunos possam ser notados e tratados como sujeitos com direito legítimo de acesso à

IES.

Esse trabalho evidencia que há uma desinformação dos alunos acerca do Programa e

aponta que uma melhor preparação dos professores é requerida, cabendo à IES

instrumentalizar essa qualificação e ampliar os espaços de discussão acerca das políticas

públicas, e em especial ao ProUni. Como contribuição teórica, esta pesquisa amplia os

estudos de diversidade no Brasil e o escopo de pesquisa sobre inclusão e exclusão, apontando

a condição de prounista como uma dimensão de diversidade dentro do espaço acadêmico e as

consequências que traz para os alunos beneficiários. A pesquisa contribui com uma amostra,

na qual a visão do professor, do aluno prounista e não prounista fazem dialogam, ampliando a

compreensão acerca da dinâmica de inclusão e exclusão, que, compreendida como senso

psicológico de pertencimento, é uma temática pouco explorada nos estudos aqui revistos.

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Para uma futura agenda de pesquisa, indica-se um estudo comparativo entre

diferentes cursos, uma vez alunos entrevistados que já haviam começado outros cursos dentro

da IES percebem alguns cursos mais inclusivos e outros mais excludentes. Também propõe-se

um estudo da trajetória de carreira de alunos prounistas egressos da IES, a fim de analisar a

inclusão desses alunos no mercado de trabalho, o acolhimento nas organizações e a

mobilidade social

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APÊNDICE A

ROTEIRO DE ENTREVISTA COM ALUNOS PROUNISTAS

01. Em primeiro lugar, diga quantos anos você tem, seu curso, semestre e como se descreve

em termos de raça.

02. Fale-me um pouco sobre você. (onde mora, profissão dos pais, nível de escolaridade

deles, estrutura familiar – número de irmãos, moradia e descreva um pouco do seu

temperamento – jeito de ser).

03. Você enfrenta alguma dificuldade com relação ao seu dia a dia?

04. O que significa o ProUni para você e para sua vida?

05. Em termos positivos e negativos, o que significa para você ser um(a) aluno(a) bolsista

ProUni dentro da UPM?

06. O que o significa inclusão para você?

07. O que o significa exclusão para você?

08. Por que escolheu estudar aqui? Expectativas quando chegou e como foi a adaptação no

primeiro momento? Como você percebeu o atendimento inicial na área de bolsas e

secretarias? Conte-me um pouco sobre os procedimentos iniciais de apresentação da

documentação, até chegar à sala de aula.

09. Logo no início, quando você começou a estudar aqui, como foi a atitude dos seus colegas

de sala para com você (receptivas, acolhedoras, indiferentes, facilitadoras)? Você teve algum

tipo de dificuldade para se ambientar?

10. Fale um pouco, por favor, sobre sua turma de convívio mais próximo na faculdade. Hoje,

como é seu relacionamento com o grupo? Como é o tratamento dos seus colegas de sala para

com você?

11. Como foi para você a experiência de interação com professores? E com outros

profissionais da instituição?

12. Fale-me um pouco sobre os seus sentimentos em relação à instituição, aos professores e

aos seus colegas (pedir situações concretas).

13. Quando há trabalhos em grupo a serem feitos, como é formado o seu grupo de trabalho?

14. Até esse momento da sua trajetória acadêmica, que sentimentos melhor descrevem sua

experiência como universitário desta instituição?

15. Você se sente à vontade junto aos seus colegas de sala? Em geral, você se sente à vontade

para se expressar, perguntar, participar das aulas? Por quê?

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16. Você se envolve em alguma atividade extraclasse? Quais?

17. O que o motivou a ingressar nessa atividade? (Investigar: PIBIC, Empresa Júnior,

representação de classe, atléticas, monitorias, atividades culturais, corais, teatro.) Que

benefícios isso trouxe para você?

18. Você participa de alguma atividade social junto com os outros alunos de sua sala?

19. Como você descreve o perfil do aluno da IES em geral?

20. Que diferenças e semelhanças você acha que o seu perfil pessoal tem com o desses

alunos?

21. Como você percebe que os alunos prounistas são vistos pelos alunos não prounistas?

22. Você se identifica como aluno prounista para os outros alunos? Por quê?

23. Você já vivenciou alguma atitude ou comportamento negativo em relação à sua pessoa

pelo fato de ser aluno do ProUni? Você tem alguma situação que exemplifique isso?

24. Eu queria que você me contasse algo que aconteceu aqui na instituição com você, que foi

extremamente positivo para você. E uma que você se sentiu feliz.

25. Eu queria que você me contasse algo que aconteceu aqui na instituição com você, que foi

extremamente negativo para você. E uma que você se sentiu infeliz.

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APÊNDICE B

ROTEIRO DE ENTREVISTA COM ALUNOS NÃO PROUNISTAS

01. Em primeiro lugar, diga quantos anos você tem, seu curso e semestre e como se descreve

em termos de raça.

02. Fale-me, por favor, sobre o seu grupo de convívio mais próximo na faculdade.

03. Como foi para você construir essas amizades com seu grupo?

04. Você sabe identificar os alunos bolsistas do ProUni da sua sala? Como você os

identifica?

05. Como você descreve o perfil do aluno da IES em geral?

06. Como você descreve o perfil geral do aluno prounista?

07. Que diferenças e semelhanças você acha que existe entre o perfil geral dos alunos da IES

e os alunos bolsistas do ProUni?

08. Logo no início, quando você começou a estudar aqui, como foi a atitude dos seus

companheiros de sala para com você (receptivas, acolhedoras, indiferentes, facilitadoras)?

Você teve algum tipo de dificuldade para se ambientar?

09. Fale um pouco sobre sua turma de convívio mais próximo na faculdade. Hoje, como é seu

relacionamento com o grupo? Como é o tratamento dos seus colegas de sala para com você?

10. Como foi para você a experiência de interação com o grupo, com professores e com

outros profissionais da instituição? Fale-me um pouco sobre os seus sentimentos em relação à

instituição, aos professores e aos seus colegas.

11. Quando há trabalhos em grupo a serem feitos, como é formado o seu grupo de trabalho?

12. Como os alunos prounistas são vistos pelos alunos não prounistas?

13. Você já trabalhou em grupos com alunos prounistas? Como foi a interação deles no

grupo?

14. Você já testemunhou alguma atitude ou comportamento negativo em relação algum aluno

pelo fato de ser prounista? Você tem alguma situação que exemplifique?

15. Por algum outro motivo, isso já ocorreu? Você pode me dar exemplos de situações em

que isso tenha ocorrido, mesmo que não seja com você?

16. Como você vê a participação do aluno prounista aqui dentro da instituição? O que o

significa inclusão para você?

17. O que o significa exclusão para você?

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18. Em sua opinião, o ambiente da instituição é inclusivo ou excludente para os alunos do

ProUni? Por quê?

19. Como você percebe a inclusão e ou exclusão dos alunos prounistas pela instituição? E em

relação aos grupos sociais?

20. Você percebe em alunos não prounistas alguma estratégia de inclusão ou exclusão de

alunos que são prounistas?

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APÊNDICE C

ROTEIRO DE ENTREVISTA COM PROFESSORES

01. Qual a sua opinião com relação ao programa ProUni?

02. Você sabe identificar os alunos bolsistas do ProUni da sua sala?

03. Como você os identifica?

04. Como você descreve o perfil do aluno da IES em geral?

05. Que diferenças e semelhanças você acha que existem entre o perfil geral dos alunos da

IES e os alunos bolsistas do ProUni?

06. Como você percebe que os alunos prounistas são vistos pelos alunos não prounistas?

07. Você percebe preconceito dos outros alunos pelo fato de um aluno ser prounista?

08. Por algum outro motivo, isso já ocorreu? Dê-me exemplos de situações em que isso

ocorreu, mesmo que não seja com você.

09. Você alguma vez percebeu algum aluno ser discriminado pelo fato de ser prounista?

10. Você fez alguma coisa para intervir?

11. Você alguma vez tomou alguma ação específica em relação a esses alunos?

12. Você nota a existência da algum tipo de estratégia por parte dos alunos prounistas para se

inserirem no grupo? Quais?

13. Você percebe em alunos não prounistas alguma estratégia de inclusão ou exclusão dos

alunos que são prounistas?

14. Você já viu estratégias da instituição pra promover a inclusão dos alunos?

15. O que o significa inclusão para você?

16. O que o significa exclusão para você?

17. Na sua percepção, o ambiente da IES é inclusivo ou excludente? Por quê?

18. Você já interveio, teve que intervir ou tomou alguma atitude em favor de algum aluno

prounista?

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Matriz de Amarração – Continuação

Matriz de amarração – Questionários/objetivos específicos

Matriz de amarração (Continuação)

Objetivos Específicos:

Prouni Não Prouni Professores Responsabilidade Socia l

Primeiramente diga quantos tem, seu curso e semestre e

como se declara em termos de raça.

Primeiramente diga quantos tem, seu curso e semestre e

como se declara em termos de raça. XXXXXXXXXXXXXXXXX

Me fale um pouco sobre você. (Onde você mora, profissão

dos pais, nível de escolaridade deles, estrutura familiar, nº

de irmãos, condições de moradia)

Quem paga a sua faculdade?

XXXXXXXXXXXXXXXXX

Descreva seu temperamento, jeito de ser. XXXXXXXXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXXXXXXXX

Porque escolheu estudar no Mackenzie? Como foi o

atendimento inicial? XXXXXXXXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXXXXXXXX

Você enfrenta alguma difulcade com relação ao seu dia-a-

dia?XXXXXXXXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXXXXXXXX

Como você descreve o perfil do aluno da IES em geral? Como você descreve o perfil do aluno da IES em geral? Como você descreve o perfil do aluno da IES em geral?

Que diferenças e semelhanças você acha que o seu perfil

pessoal tem com desses alunos?

Como você descreve o perfil do aluno prounista? É possível identificar os alunos bolsistas do Prouni nas suas

salas de aula? Como você os identifica?

Como você percebe que os alunos prounistas são vistos

pelos alunos não prounistas?

Que diferenças e semelhanças você acha que o seu perfil

pessoal tem com desses alunos?

Que diferenças e semelhanças você acha que o seu perfil

pessoal tem com desses alunos?

Você se identifica como bolsista para os outros alunos?

Por que?

Você sabe identificar os alunos bolsistas do Prouni da sua

sala? Como os identifica? XXXXXXXXXXXXXXXXX

Você sabe identificar outros alunos prounistas? Como os

identifica? XXXXXXXXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXXXXXXXX

Como os alunos prounistas são vistos pelos alunos não

prounistas?

Como os alunos prounistas são vistos pelos alunos não

prounistas?

Como você percebe a interação entre alunos prounistas e

não prounistas aqui dentro da IES?

Você já experienciou alguma atitude ou comportamento

negativo em relação à sua pessoa pelo fato de ser aluno

do ProUni? Você tem alguma situação que exemplifique?

Você já testemunhou alguma atitude ou comportamento

negativo em relação a algum aluno pelo fato de ser aluno

do ProUni? Você tem alguma situação que exemplifique?

Você alguma vez percebeu algum aluno ser discriminado

pelo fato de ser prounista?

XXXXXXXXXXXXXXXXX

Por algum outro motivo, isso já ocorreu? Pode me dar

exemplos de situações em que isso ocorre, mesmo que

não seja com você?

Na sua percepão, existe preconceito dos alunos regulares

para com os alunos prounistas? Como se manifesta?

XXXXXXXXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXXXXXXXX

Por algum outro motivo, isso já ocorreu? Pode me dar

exemplos de situações em que isso ocorre?

Questões do Roteiro

Objetivo Geral: Compreender a dinâmica de inclusão e/ou exclusão do aluno prounis ta no espaço acadêmico

Problema de Pesquisa : Como ocorre a dinâmica de inclusão/exclusão do bols is ta ProUni em uma univers idade pr ivada da cidade de São Paulo?

Investigar a exis tência de

estereótipos , preconceitos e

discr iminação na

inclusão/exclusão dos a lunos

prounis tas

Entender as condições

sócioeconômico do aluno

prounis ta

Ver ificar as dimensões de

divers idade nas quais os a lunos

prounis tas se reconhecem e são

reconhecidos

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187

Matriz de Amarração (Continuação)

Matriz de amarração (Conclusão)

Prouni Não Prouni Professores Responsabilidade Socia l

Em temos positivos e negativos, o que significa para você

ser um(a) aluno(a) bolsista ProUni dentro da UPM?

Você percebe em alunos não prounistas alguma estratégia

de inclusão ou exclusão de alunos que são prounistas?

Você percebe em alunos não prounistas alguma estratégia

de inclusão ou exclusão de alunos que são prounistas?

O que o significa inclusão para você? O que o significa inclusão para você? O que o significa inclusão para você?

O que o significa exclusão para você? O que o significa exclusão para você? O que o significa exclusão para você?

Você considera o ambiente da IES inclusivo ou excludente?

Por quê?

Você considera o ambiente da IES inclusivo ou excludente

para os alunos do Prouni? Por quê?

Você considera o ambiente da IES inclusivo ou excludente

para os alunos do Prouni? Por quê?

Você poderia me relatar alguma experiência muito positiva

que você teve com seu grupo de trabalho que o deixou

feliz? Porque você acha que isso aconteceu?XXXXXXXXXXXXXXXXX

Você nota a existência da algum tipo de estratégia por

parte dos alunos prounistas para se inserirem no grupo?

Quais?

Você poderia me relatar alguma experiência muito negativa

que você teve com seu grupo de trabalho que o deixou

muito triste? Porque você acha que isso aconteceu?

Como você percebe a inclusão e ou exclusão dos alunos

prounistas pela instituição? E em relação aos grupos

sociais?

Como você percebe a inclusão e ou exclusão dos alunos

prounistas na instituição? E em relação aos grupos sociais?

XXXXXXXXXXXXXXXXX

Você percebe em alunos não prounistas alguma estratégia

de inclusão ou exclusão de alunos que são prounistas?

Você percebe em alunos não prounistas alguma estratégia

de inclusão ou exclusão de alunos que são prounistas?

XXXXXXXXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXXXXXXXX

Você nota a existência da algum tipo de estratégia por

parte dos alunos prounistas para se inserirem no grupo?

Quais?

Como você percebe a interação entre alunos prounistas e

não prounistas aqui na faculdade?

Você já percebeu algum tipo de discriminação ou

preconceito em relação a esses alunos?

Você fez alguma coisa para intervir?

Você alguma vez tomou alguma ação específica para esses

alunos?

XXXXXXXXXXXXXXXXX

Questões do Roteiro

XXXXXXXXXXXXXXXXX

Ver ificar a percepção dos

professores acerca dessa

dinâmica relacional

XXXXXXXXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXXXXXXXX

Analisar o papel dos

professores junto aos a lunos

prounis tas

Objetivos Específicos:

Objetivo Geral: Compreender a dinâmica de inclusão e/ou exclusão do aluno prounis ta no espaço acadêmico

Problema de Pesquisa : Como ocorre a dinâmica de inclusão/exclusão do bols is ta ProUni em uma univers idade pr ivada da cidade de São Paulo?

Compreender a dinâmica de

Inclusão/Exclusão dos a lunos

prounis tas na IES