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1
UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI REDE NORDESTE DE FORMAÇÃO EM SAÚDE DA FAMÍLIA
MESTRADO PROFISSIONAL EM SAÚDE DA FAMÍLIA
Geórgia Xavier Esmeraldo Arrais
PERFIL CLÍNICO EPIDEMIOLÓGICO E NECESSIDADES ASSISTENCIAIS DAS
PESSOAS COM DEFICIÊNCIA EM UM MUNICÍPIO DE PEQUENO PORTE
Crato - CE
2016
2
Geórgia Xavier Esmeraldo Arrais
PERFIL CLÍNICO EPIDEMIOLÓGICO E NECESSIDADES ASSISTENCIAIS DAS
PESSOAS COM DEFICIÊNCIA EM UM MUNICÍPIO DE PEQUENO PORTE
Trabalho de Conclusão de Mestrado apresentado à
banca de defesa do Mestrado Profissional em Saúde
da Família, da Rede Nordeste de Formação em
Saúde da Família – RENASF, Universidade
Regional do Cariri – URCA.
Orientadora: Profa. Dra. Evanira Rodrigues Maia Área de concentração: Saúde da Família Linha de pesquisa: Atenção e Gestão do Cuidado em Saúde
Crato - CE
2016
3
Arrais, Geórgia Xavier Esmeraldo.
A773p Perfil clínico epidemiológico e necessidades assistenciais das
pessoas com deficiência em um município de pequeno porte/ Geórgia
Xavier Esmeraldo Arrais. – Crato-CE, 2016
103p.; il.
Trabalho de Conclusão de Mestrado apresentado à banca de
defesa do Mestrado Profissional em Saúde da Família, da Rede
Nordeste de Formação em Saúde da Família – RENASF, Universidade
Regional do Cariri – URCA. Área de concentração: Saúde da Família;
Linha de pesquisa: Atenção e Gestão do Cuidado em Saúde
. Orientadora: Profa. Dra. Evanira Rodrigues Maia
.
1. Perfil de saúde; 2. Necessidades assistenciais; 3. Pessoas com
deficiência; I. Título.
CDD: 362.4
4
5
Aos meus filhos, Benício e Maria Fernanda,
que me doam todos os dias o verdadeiro amor.
6
AGRADECIMENTOS
A Deus, pela vida e pela FÉ, que me permite superar as dificuldades e vencer
sempre!
Aos meus pais, Francisco Eugênio e Adélia Xavier, por sempre acreditarem em
mim e na minha vontade de vencer sempre! Essa conquista é nossa!!!
Aos meus queridos irmãos, Álvaro Neto e Ana Sáskia, pelo apoio e
companheirismo em todos os momentos.
Ao meu esposo, Cristhiano Botelho, pelo amor, companheirismo e suporte com os
nossos filhos durante os momentos em que tive que me ausentar.
Aos meu filhos, Benício e Maria Fernada, por todo o amor e compreensão que
demonstraram ter durante todo esse tempo que tive que me dedicar aos estudos.
Aos meus sobrinhos, Júlia, Beatrice, Marina e Túlio, por me proporcionarem
momentos de muitas alegrias.
À minha amada Vovó Biba, pelo exemplo de mulher guerreira.
À orientadora Evanira Rodrigues, pelos ensinamentos, paciência e compreensão
em relação às minhas dificuldades e limitações.
Á Professora Estelita Pereira, pelo compartilhamento dos conhecimentos
estatísticos e por ter me acolhido diversas vezes em sua residência, sempre com
muita sabedoria.
Aos professores do Mestrado Profissional em Saúde da Família – Nucleadora URCA
pelo aprendizado e pelos ricos momentos de convivência que compartilhamos.
À Emanuella Freire (Manu), Secretária do Mestrado, pelo apoio e dedicação
diários, tornando as atividades do curso sempre muito organizadas.
Aos colegas da turma do Mestrado Profissional, pelo aprendizado que pudemos
compartilhar durante esses dois anos.
Às professoras Dra. Estelita, Dra. Célida Juliana e Dra. Lorita, por terem aceitado
o convite para participar da banca.
Agradecimento especial à Secretária Municipal de Saúde de Jardim, Ana Hérica,
que deu todo o apoio necessário para a realização dessa pesquisa.
À Quitéria Magalhães e Aline Cruz, Coordenadoras da Atenção Primária de
Jardim, que sempre estiveram à disposição para ajudar com a pesquisa.
7
Aos Agentes Comunitários de Saúde do município de Jardim, pela fundamental
colaboração com a pesquisa.
À Secretaria de Saúde do Estado do Ceará, na pessoa do Secretário Henrique Javi,
pela liberação do trabalho, o que tornou possível a participação no mestrado.
Aos amigos Jorge André e Cícera Valtenira, que me ajudaram em diversos
momentos e nas mais diversas situações.
À amiga Francisca Tavares (Tiquinha), que sempre me encorajou a alcançar vôos
maiores. Às amigas Mércia, Geni e Fátima Vasques pelo apoio sempre!
Aos meus amigos, Alberto e Elainy, pelo amor, amizade e apoio.
À Maira Sampaio e Ingrid Vieira que colaboraram também para a realização da
pesquisa. A Luiz Osmar Pinheiro pelo auxílio com dados importantes.
Enfim, a todos que colaboraram e contribuíram de alguma forma para a
concretização desse momento ímpar da minha vida.
8
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
LISTA DE TABELAS
Tabela 1- Distribuição das pessoas com deficiência, por Unidade Básica de Saúde. Jardim, 2016.
37
Tabela 2- Frequências relativa e absoluta das características pessoais das pessoas com deficiência. Jardim, 2016.
38
Tabela 3- Frequências relativa e absoluta das pessoas com deficiência que frequentam escola ou creche. Jardim, 2016.
39
Tabela 4- Frequências relativa e absoluta do nível de escolaridade das pessoas com deficiência. Jardim, 2016
40
Tabela 5- Frequências relativa e absoluta da ocupação das pessoas com deficiência. Jardim, 2016
40
Tabela 6- Frequências relativa e absoluta da situação das pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Jardim, 2016.
41
Tabela 7- Condições de saúde das pessoas com deficiência. Jardim-CE, 2016
42
Tabela 8- Distribuição das pessoas com deficiência quanto ao gênero. Jardim, 2016.
45
Tabela 9- Distribuição das pessoas com deficiência quanto à faixa etária. Jardim, 2016.
46
Tabela 10- Distribuição das pessoas com deficiência quanto à ocupação. Jardim, 2016.
46
Tabela 11- Distribuição das pessoas com deficiência quanto à Hipertensão Arterial Sistêmica. Jardim, 2016.
47
Tabela 12- Distribuição das pessoas com deficiência quanto à Diabetes mellitus. Jardim, 2016.
47
Tabela 13- Distribuição das pessoas com deficiência quanto ao Acidente Vascular Cerebral. Jardim, 2016.
48
Tabela 14- Distribuição das pessoas com deficiência quanto à internação nos últimos 12 meses. Jardim, 2016.
48
Tabela15- Distribuição das pessoas com deficiência quanto ao tratamento mental. Jardim, 2016.
49
Tabela 16- Distribuição das pessoas com deficiência quanto à condição de acamado. Jardim, 2016.
50
LISTA DE QUADROS
Quadro 1- Necessidades assistenciais identificadas das pessoas com deficiência. Jardim, 2016.
52
9
LISTA DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS
AB Atenção Básica (AB).
ACS Agentes Comunitários de Saúde
AD Atenção Domiciliar
APS Atenção Primária à Saúde
AVC Acidente Vascular Cerebral
CAPS Centro de Saúde e um Centro de Atenção Psicossocial
CDS Coleta de Dados Simplificada
CEO Centro de Especialidades Odontológicas
CER Centro Especializados de Reabilitação
CIF Classificação Internacional de Funcionalidade
CORDE Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de
Deficiência
CRES Coordenadoria Regional de Saúde
CRES Coordenadoria Regional de Saúde
DAB Departamento de Atenção Básica
DCNT Doenças Cônicas Não Transmissíveis
DM Diabetes Mellitus
DPOC Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica
EMAD Equipe Multiprofissional de Atenção Domiciliar
EMAP Equipe Multiprofissional de Apoio
ESB Equipe de Saúde Bucal 70
ESF Estratégia Saúde da Família
eSUS Estratégia do Departamento de Atenção Básica
HPP Hospital de Pequeno Porte
IAM Infarto Agudo do Miocárdio
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IES Instituição de Ensino Superior
ILPI Instituições de longa permanência para idosos
MEV Mudança de Estilo de Vida
MPSF Mestrado Profissional em Saúde da Família
10
MS Ministério da Saúde
NASF Núcleo de Apoio à Saúde da Família
OMS Organização Mundial de Saúde
PcD Pessoas com Deficiência
PEC Prontuário Eletrônico do Cidadão
PNTN Programa Nacional de Triagem Neonatal
PPSUS Programa Pesquisa para o SUS
RAS Rede de Atenção à Saúde
RCPCD Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência
RP Razão de prevalência
SAD Serviço de Atenção Domiciliar
SAS Secretaria de Atenção à Saúde
SIAB Sistema de Informação da Atenção Básica
SISAB Sistema de Informação em Saúde para a Atenção Básica
STROBE Fortalecimento da Comunicação de Estudos Observacionais em
Epidemiologia
SUS Sistema Único de Saúde
SUS Sistema Único de Saúde
UBS Unidade Básica de Saúde
UFC Universidade Federal do Ceará
UFCA Universidade Federal do Cariri
UNILAB Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-
Brasileira
URCA Universidade Regional do Cariri
11
RESUMO
Identificam-se avanços na legislação e na atenção à saúde das pessoas com deficiência, com possibilidade de inclusão de forma crescente no conjunto de ações e serviços do SUS. Pouco se sabe a respeito do perfil clínico epidemiológico e das necessidades assistenciais dessa população. Objetivou-se descrever o perfil clínico-epidemiológico e identificar as necessidades assistenciais das pessoas com deficiência em um município de pequeno porte do Estado do Ceará. Trata-se de um estudo descritivo e transversal, realizado no município de Jardim, Ceará, Brasil pertencente à 21ª Coordenadoria Regional de Saúde. Os dados foram coletados no período de novembro de 2015 a julho de 2016, utilizando a ficha de cadastro individual do eSUS Atenção Básica, preenchida pelos Agentes Comunitários de Saúde do município, processados e organizados em um banco de dados no programa EPI INFO versão 7.2 e OPEN EPI 3.03. Realizou-se a análise descritiva dos dados e o teste de associação, considerando variável estatisticamente significativa quando p<0,05. Foram identificados 277 pessoas com deficiência sendo 47,65% com deficiência física, 20,58% deficiência auditiva, 16,97% deficientes visuais, 15,16% deficiência intelectual/cognitiva e 9,57% com outras deficiências. O perfil sócio-demográfico das pessoas com deficiência investigadas evidenciou prevalência do gênero masculino (56,32%), residentes predominantemente na zona rural, concentradas na idade produtiva de 20 a 59 anos (50,18%), na maioria analfabetos e/ou baixa escolaridade e 20,65% frequentam escola/creche. A aposentadoria (56,31%) é ocupação predominante dessas pessoas. O perfil clínico-epidemiológico demonstrou prevalência de hipertensão arterial (31,76%), seguida do diabetes mellitus (11,91%) e do acidente vascular cerebral (8,66%). Predominou fumantes (15,52%), domiciliados (31,04) e uma parcela vive acamado (9,38). Muitos estão em tratamento com psiquiatra/internação em saúde mental e todos são SUS dependentes. Houve significância estatística para hipertensão e deficiência visual (p=0,0045) e intelectual (p=0,0063); diabetes e deficiência visual (p=0, 034); AVC e deficiência física (p=0,001), internação entre pessoas com deficiência física (p=0,0018) e tratamento de saúde mental para pessoas com deficiência física (p=0,079) intelectual/congnitiva (p=0,041) e outra deficiência (p<0,001); acamados e deficientes físicos (p=0,0027). As necessidades assistenciais apresentadas são peculiares à própria deficiência, como acessibilidade física e assistencial. Ressalte-se a necessidade de diagnóstico/identificação precoce das deficiências, inclusão escolar e social, bem como acesso às tecnologias assistivas e acompanhamento/tratamento das problemáticas envolvidas na deficiência relacionadas à área técnica e de gestão. Prevaleceu a deficiência física como principal deficiência. Destaca-se que o atendimento às necessidades assistenciais das pessoas com deficiência envolve atendê-las de acordo com as peculiaridades apresentadas pelas mesmas, estando relacionadas ou não, à deficiência em si. Palavras chave: Perfil de saúde. Necessidades assistenciais. Pessoas com deficiência.
12
ABSTRACT
Advances in legislation and health care for people with disabilities are identified, with the possibility of inclusion in a growing number of SUS actions and services. Little is known about the epidemiological clinical profile and the care needs of this population. The objective was to describe the clinical-epidemiological profile and identify the assistance needs of people with disabilities in a small municipality in the State of Ceará. This is a descriptive and cross-sectional study carried out in the municipality of Jardim, Ceará, Brazil, belonging to the 21st Regional Health Coordination. Data were collected from November 2015 to July 2016, using the eSUS individual data sheet Primary Care, completed by the Municipal Health Agents of the municipality, processed and organized in a database in the program EPI INFO version 7.2 and OPEN EPI 3.03. A descriptive analysis of the data and the association test were performed, considering a statistically significant variable when p <0.05. 277 people with disabilities were identified, 47.65% with physical disability, 20.58% with hearing impairment, 16.97% with visual impairment, 15.16% with intellectual / cognitive impairment, and 9.57% with other deficiencies. The socio-demographic profile of the disabled persons investigated showed a prevalence of males (56.32%), predominantly in rural areas, concentrated in the productive age group of 20 to 59 years (50.18%), mostly illiterate and / or Low schooling and 20.65% attend school / day care. Retirement (56.31%) is the predominant occupation of these people. The clinical-epidemiological profile showed a prevalence of arterial hypertension (31.76%), followed by diabetes mellitus (11.91%) and stroke (8.66%). Predominant smokers (15.52%), domiciled (31.04) and a plot live bedside (9.38). Many are under psychiatrist / mental health treatment and all are dependent. There was statistical significance for hypertension and visual impairment (p = 0.0045) and intellectual disability (p = 0.0063); Diabetes and visual impairment (p = 0.034); (P = 0.001), physical disability (p = 0.001), and mental health treatment for people with intellectual / congnitive physical disabilities (p = 0.079) (p = 0.041) and another disability (p = 0.001). P <0.001); Bedridden and physically handicapped (p = 0.0027). The assistance needs presented are peculiar to the disability itself, such as physical and assistance accessibility. The need for early diagnosis / identification of disabilities, school and social inclusion, as well as access to assistive technologies and monitoring / treatment of the issues involved in disability related to the technical and management area should be emphasized. Prevalence of physical disability as the main disability. It should be emphasized that meeting the assistance needs of people with disabilities involves attending them according to the peculiarities presented by them, whether or not related to the disability itself. Keywords: Health profile. Assistance needs. Disabled people.
0
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 13
2 OBJETIVOS 19
3 REVISÃO DE LITERATURA 21
3.1 Legislação referente à Pessoa com Deficiência 21
3.2 Assistência à Pessoa com Deficiência 25
4 MÉTODO 30
4.1 Tipo de estudo 30
4.2 Local de estudo 30
4.3 Participantes do estudo 32
4.4 Instrumento de coleta de dados 32
4.5 Fases do estudo 33
4.6 Aspectos éticos 34
5 RESULTADOS 37
5.1 Caracterização das pessoas com deficiência por Unidade de Saúde
37
5.2 Variáveis relativas às Pessoas com Deficiência 38
5.3 Variáveis Sóciodemográficas das Pessoas com Deficiência 39
5.4 Variáveis relacionadas às condições de saúde das Pessoas com Deficiência
42
5.5 Condições de saúde das Pessoas com Deficiência 45
5.6 Necessidades assistenciais das Pessoas com Deficiência do município de Jardim/CE
52
6 DISCUSSÃO 55
6.1Perfil sóciodemográfico das pessoas com Deficiência de Jardim/CE 55
6.2 Perfil clínico epidemiológico das Pessoas com Deficiência do
município de Jardim/CE 65
6.3 Necessidades assistenciais das Pessoas com Deficiência do
município de Jardim/CE 68
7 CONCLUSÕES 78
REFERÊNCIAS 82
APÊNDICES 90
ANEXOS 101
1
Introdução
13
1 INTRODUÇÃO
Identificam-se avanços na atenção às pessoas com deficiência - PcD, em
especial no campo da saúde, com possibilidade de inclusão, de forma crescente, no
conjunto de ações e serviços no Sistema Único de Saúde (SUS). Entretanto, ainda
não ocorreram alterações significativas no que diz respeito à uma assistência
integral e à organização das ações de reabilitação à saúde direcionadas a esse
grupo populacional.
Dentre os direitos adquiridos pelas pessoas com deficiência destaca-se o
direito à assistência à saúde. Na Constituição de 1988, especificamente no Artigo
23, Capítulo II, determina-se que é competência comum da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios cuidar da saúde e assistência pública, da proteção
e garantia das pessoas portadoras de deficiências (BRASIL, 1988). Para cumprir tal
intento algumas estratégias, dentre elas a formulação da Política Nacional de Saúde
da Pessoa com Deficiência, publicada em 2002, têm sido empregadas pelo
Ministério da Saúde no sentido de incluir a atenção à saúde da pessoa com
deficiência no rol de ações e serviços do SUS, de forma articulada entre as três
esferas de governo, na perspectiva da universalização e integralidade da assistência
e da descentralização das ações.
Na década de 60 que teve início o processo de formulação de um conceito de
deficiência, quando se estabeleceu uma estreita relação existente entre as
limitações experimentadas pelas pessoas com deficiência, a concepção e a
estrutura do meio ambiente e a atitude da população com relação ao assunto
(BRASIL, 2008a).
Com a evolução da abordagem sobre deficiência, esta passou a ser
compreendida como parte ou expressão de uma condição de saúde, mas não indica
necessariamente a presença de uma doença ou que o indivíduo deva ser
considerado doente (BRASIL, 2008a).
Atualmente, pessoas com deficiência recebem esta denominação em virtude
de apresentarem uma anomalia, uma perda das funções ou estruturas do corpo,
incluindo as psicológicas, do que lhes resulta o enfrentamento de dificuldades
14
específicas e susceptíveis de lhes limitar a atividade ou restringir a participação na
vida social, econômica e cultural (FRANÇA; PAGLIUCA, 2008).
Para melhor compreensão, faz-se necessário distinguir deficiência de
incapacidade. Na Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF), o termo
deficiência corresponde a alterações apenas no nível do corpo, enquanto o termo
incapacidade seria bem mais abrangente, indicando os aspectos negativos da
interação entre um indivíduo (com uma determinada condição de saúde) e seus
fatores contextuais (fatores ambientais ou pessoais). Um indivíduo pode apresentar
uma deficiência (no nível do corpo) e não necessariamente viver qualquer tipo de
incapacidade. De modo oposto, uma pessoa pode viver a incapacidade sem ter
nenhuma deficiência, apenas em razão de estigma ou preconceito (NUBILA;
BUCHALLA, 2008).
O Ministério da Saúde adota o conceito de deficiência fixado pelo Decreto nº
3.298/99, que considera deficiência toda a perda ou anormalidade de uma estrutura
e/ou função psicológica, fisiológica ou anatômica que gere incapacidade para o
desempenho de atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser humano
(BRASIL, 2008a).
Os indicadores sóciodemográficos da pessoa com deficiência no Brasil são
considerados raros e necessitam de fidedignidade para demonstrarem as condições
de vida e de saúde dessa parcela significativa da população (MAIA; PAGLIUCA;
ALMEIDA, 2014). Conforme o Censo de 2010 divulgado pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística - IBGE, aproximadamente, 24% da população brasileira vive
com algum tipo de deficiência sensorial, física ou intelectual, de forma parcial ou
total (IBGE, 2010).
Ainda de acordo com o IBGE (2010), no Estado do Ceará, são 2.340.150
pessoas com deficiência. O levantamento demonstra que o percentual da população
residente no Estado com algum tipo de deficiência é de 27,69% e supera os
indicadores nordestinos de (26,63%) e nacional (23,92%). Na Região de Saúde de
Juazeiro do Norte, cerca de 114.980 pessoas apresentam algum tipo de deficiência,
o que equivalente a 28,9% da população total da região. Nesse cenário, 6,2%
apresentam deficiência mental/intelectual, 17,1% alguma deficiência auditiva, 58,5%
com alguma deficiência visual e 18,2% alguma deficiência motora (IBGE, 2010).
15
Diante das informações demográficas colhidas referentes às pessoas com
deficiência, o Ministério da Saúde tem elaborado propostas com o objetivo de
promover e ampliar a assistência à essa parcela significativa da população. Dentre
as mais recentes, está a instituição da Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência,
normatizada por meio da Portaria nº 793 de 24 de abril de 2012.
Em acordo a regulamentação foi então elaborada, em 2012, para o período
de 2013-2015, a Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência da Região de Saúde
de Juazeiro do Norte, cuja proposta é a realização do atendimento do usuário com
deficiência na Unidade de Saúde da Estratégia Saúde da Família mais próxima da
sua residência, que deverá dispor de estrutura física e funcional, além de equipes
multiprofissionais devidamente qualificadas para a prestação de uma assistência
especializada nos Centros Especializados de Reabilitação – CER, de modo
articulado aos demais níveis assistenciais da rede de cuidados (CEARÁ, 2012).
A construção da Rede de Cuidados da Pessoa com Deficiência pressupõe
ganhos para a gestão em saúde, pois permite identificar, dentre outras demandas,
os serviços de saúde disponíveis para atendimento às PcD e sua capacidade de
acolhimento a essas pessoas.
Apesar da criação da referida Rede de Atenção, pouco se sabe do perfil das
pessoas com deficiência, das necessidades e demandas dessa população. Nesse
sentido, assume-se como objeto desse estudo identificar o perfil clínico
epidemiológico e as necessidades assistenciais de saúde das pessoas com
deficiência em um município de pequeno porte.
O interesse em estudar sobre a temática das pessoas com deficiências
articula-se ao exercício profissional das pesquisadoras envolvidas no estudo no
âmbito da Região do Cariri cearense, pois a pesquisadora principal, além de
discente do Mestrado Profissional em Saúde da Família - Nucleadora URCA, exerce
a função de Coordenadora da 21ª Coordenadoria Regional de Saúde – CRES de
Juazeiro do Norte e participou ativamente na elaboração da Rede de Cuidados às
Pessoas com Deficiência da referida Região de Saúde, em 2012. A partir da
elaboração dessa rede temática, identificaram-se avanços na organização da
assistência à saúde das pessoas com deficiência na Região de Saúde de Juazeiro
do Norte, como a existência de vários pontos de atenção em todos os níveis
16
assistenciais distribuídos a partir da Atenção Primária, passando pela atenção
especializada e hospitalar, incluindo as ações de urgência e emergência.
Entretanto, algumas lacunas foram identificadas com a finalização do
desenho da Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência, dentre elas a
infraestrutura inadequada de unidades de saúde e as ações de saúde desenvolvidas
de forma fragmentada e isolada, apresentando como fragilidades importantes para
suprir as necessidades de saúde da população com deficiência e para garantir a
integralidade do cuidado. Ademais, o desconhecimento das equipes acerca do perfil
de saúde/doença dos que vivem com deficiência em suas áreas de abrangência,
bem como suas necessidades de cuidado contribui para justificar a realização deste
estudo.
O presente estudo corresponde a um recorte da pesquisa intitulada “Pessoa
com Deficiência: estudo da acessibilidade física e de comunicação às unidades do
SUS”. Essa pesquisa encontra-se em andamento na Região do Cariri, Maciço do
Baturité e Fortaleza/CE, projeto integrante do Programa Pesquisa para o SUS –
PPSUS e desenvolvido pelas instituições Universidade Regional do Cariri - URCA,
Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira – UNILAB e
coordenado pela Universidade Federal do Ceará - UFC
A pesquisa “Pessoa com Deficiência: estudo da acessibilidade física e de
comunicação às unidades do SUS” tem como objetivos fundamentais estimular
ações inclusivas relativas a acessibilidade física e de comunicação de pessoas com
deficiência nos serviços de saúde e proporcionar aprendizado do enfermeiro quanto
aos princípios da comunicação verbal e não verbal com o cego. A citada pesquisa
tem também como proposta promover a discussão de políticas públicas e
estratégias para solucionar os problemas de acessibilidade identificados e qualificar
enfermeiros na comunicação verbal e não verbal com pessoas cegas (PAGLIUCA,
2014).
A partir desse entendimento e, com base no objeto de estudo da presente
pesquisa, Pagliuca (2014, p.04) considera que, a partir da observação do princípio
da igualdade de direitos,
as necessidades das pessoas têm a mesma importância e devem constituir a base do planejamento das sociedades assim como todos os recursos devem ser
17
empregados com vistas a garantir a todos as mesmas oportunidades de participação.
Diante de tais conjunturas, o desenvolvimento de um estudo para a
identificação das necessidades assistenciais das pessoas com deficiência, tem
mérito por se tratar de uma proposta que levou em conta as especificidades desse
grupo populacional e os resultados identificados contribuirão para reorganização da
assistência à saúde aos que vivem com deficiência. Apresenta-se ainda como um
estudo de relevância para a Região de Saúde de Juazeiro do Norte, pois o perfil
epidemiológico apontado pelo IBGE demonstra a necessidade de se identificar
indicadores que possam fornecer subsídios para que os demais municípios utilizem
como metodologia para organizar e adequar a assistência à saúde de seus
munícipes que apresentam algum tipo de deficiência.
O presente estudo será relevante também para o espaço acadêmico, pois
implicará na produção de novos conhecimentos envolvendo essa temática e seus
resultados irão contribuir para as demais pesquisas na área da Atenção e Gestão do
cuidado em saúde, linha de pesquisa do Mestrado Profissional em Saúde da Família
– MPSF da pesquisadora desse estudo.
Diante das considerações, adota-se a seguinte hipótese: faltam informações
sobre o perfil clínico epidemiológico das pessoas com deficiência e as necessidades
assistenciais dessas pessoas são reprimidas.
18
Objetivos
19
2 OBJETIVOS
Descrever o perfil clínico-epidemiológico sobre as Pessoas com Deficiência
em um município de pequeno porte do Estado do Ceará;
Identificar as necessidades assistenciais das Pessoas com Deficiência no
referido município.
20
Revisão de literatura
21
3 REVISÃO DE LITERATURA
3.1 Legislação referente à Pessoa com Deficiência
Antes da criação do Sistema Único de Saúde (SUS) em 1988, a assistência
às pessoas com deficiência, na saúde pública, se limitava apenas à prevenção de
doenças infectocontagiosas. A reabilitação dessas pessoas ficava sob a
responsabilidade de instituições filantrópicas e de associações beneficentes e as
políticas públicas consistiam em repasse de recursos para a filantropia. De acordo
com o Programa de Atenção à Saúde da Pessoa com Deficiência no Sistema Único
de Saúde (1993), a assistência muito precária: os recursos eram insuficientes, os
serviços estavam concentrados em regiões de maior relevância econômica, o
modelo assistencial apresentava baixa cobertura, tinha pouca resolutividade e era
inadequado à realidade sociocultural da população (OTHERO; DALMASO, 2009).
No final da década de 1970 e início da década de 1980, os movimentos
sociais das pessoas com deficiência realizaram reinvidicação de direitos sociais e
igualdade de oportunidades para esse grupo populacional. Sob pressão dessas
mobilizações, o Estado passou a considerar a temática da saúde da pessoa com
deficiência, propondo programas e políticas nacionais voltados para esta população.
No âmbito federal, em 1986, foi criada a Coordenadoria Nacional para Integração da
Pessoa Portadora de Deficiência (CORDE), considerada uma referência na
conquista dos direitos civis e sociais (OTHERO; DALMASO, 2009). Na área da
saúde, todo o processo de mudanças sociais culminou na criação do SUS, em 1988,
quando a saúde foi considerada um direito de todos e um dever do Estado (BRASIL,
1990).
Nesse sentido, os direitos das pessoas que vivem com deficiências estão
assegurados desde a Constituição de 1988, abrangendo os mais diversos aspectos.
A partir de então, outros instrumentos legais relativos a esse segmento populacional
foram estabelecidos destacando-se as Leis n.º 7.853/89, n.º 10.048/00, n.º
10.098/00, bem como os Decretos n.º 3.298/99 e n.º 5.296/04 (BRASIL, 2008).
A Lei nº 7.853/89, dispõe sobre o apoio às pessoas com deficiência e sua
integração social e institui a garantia de interesses coletivos ou difusos dessas
pessoas. Apresenta em seu item II, que trata da área da saúde, medidas de
22
promoção de ações preventivas para deficiências; desenvolvimento de programas
especiais de prevenção de acidente do trabalho e de trânsito, e de tratamento
adequado a suas vítimas; a criação de uma rede de serviços especializados em
reabilitação e habilitação; a garantia de acesso das pessoas com deficiência aos
estabelecimentos de saúde públicos e privados, e de seu adequado tratamento
neles, sob normas técnicas e padrões de conduta apropriados; a garantia de
atendimento domiciliar de saúde ao deficiente grave não internado; o
desenvolvimento de programas de saúde voltados para as pessoas com deficiência,
desenvolvidos com a participação da sociedade e que lhes ensejem a integração
social (BRASIL, 1989).
Para fortalecer ainda mais a legislação que rege as pessoas com deficiência é
publicado o Decreto 3.298/99, que institui a Política Nacional para a Integração da
Pessoa Portadora de Deficiência, que compreende o conjunto de orientações
normativas que objetivam assegurar o pleno exercício dos direitos individuais e
sociais das pessoas portadoras de deficiência (BRASIL, 1999).
A referida Política Nacional tem como propósitos reabilitar a pessoa com
deficiência na sua capacidade funcional e no seu desempenho humano, de modo a
contribuir para a sua inclusão plena em todas as esferas da vida social, e proteger a
saúde do citado segmento populacional, bem como prevenir agravos que
determinem o aparecimento de deficiências (BRASIL, 2008).
Outra lei que garante aspectos importantes para as pessoas com deficiência é
a lei 10.048/00, que determina atendimento prioritário a determinado grupo de
pessoas, estando incluídas as pessoas com deficiência bem como idosos com idade
igual ou superior a 60 (sessenta) anos, gestantes, lactantes e pessoas
acompanhadas por crianças (BRASIL, 2000a).
A lei 10.098/00 estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção
da acessibilidade das pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida,
apresentando definições importantes sobre acessibilidade, barreiras, pessoa
portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida, elemento da urbanização,
mobiliário urbano e ajuda técnica (BRASIL, 2000b).
23
O Decreto 5.296/04, por sua vez, regulamenta as leis nº 10.048/00 e nº
10.098/00, estabelecendo normas critérios para a promoção da acessibilidade às
pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida (BRASIL, 2004).
Com o objetivo de alcançar os propósitos anteriores, foram estabelecidas
algumas diretrizes para permitir a operacionalização da citada Política Nacional,
dentre elas a promoção da qualidade de vida das pessoas com deficiência; a
assistência integral à saúde dessas pessoas; a prevenção de deficiências; a
ampliação e fortalecimento dos mecanismos de informação; a organização e
funcionamento dos serviços de atenção à pessoa com deficiência e a capacitação
de recursos humanos (BRASIL, 2008a).
Em 2011, o Decreto 7.612 institui o Plano Nacional dos Direitos da Pessoa
com Deficiência - Plano Viver sem Limite, com a finalidade de promover, por meio da
integração e articulação de políticas, programas e ações, o exercício pleno e
equitativo dos direitos das pessoas com deficiência. O Plano Viver sem Limite tem
como eixos de atuação o acesso à educação, a atenção à saúde, a inclusão social e
a acessibilidade (BRASIL, 2011).
O Plano Viver Sem Limites, em seu eixo de atenção à saúde, criou a Rede de
Cuidados à pessoa com Deficiência em 2012 e incluiu no planejamento outras
diversas ações, entre as quais se destacam: qualificação das equipes de atenção
básica; criação de Centros Especializados de Reabilitação (CER); oficinas
ortopédicas e ampliação da oferta de órteses, próteses e meios auxiliares de
locomoção; e qualificação da atenção odontológica (BRASIL, 2013a).
A Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência no âmbito do Sistema Único
de Saúde, instituída pela Portaria nº 793, de 24 de abril de 2012, é outro instrumento
legal considerado importante. A Rede de Cuidados deve garantir a criação,
ampliação e articulação de pontos de atenção à saúde para pessoas com deficiência
temporária ou permanente; progressiva, regressiva, ou estável; intermitente ou
contínua, no âmbito do Sistema Único de Saúde (BRASIL, 2012). A nova política
induz a articulação entre os serviços, garantindo ações de promoção à saúde,
identificação precoce de deficiências, prevenção dos agravos, tratamento e
reabilitação (BRASIL, 2013a).
24
De acordo com o Ministério da Saúde, a Rede de Cuidados à Pessoa com
Deficiência tem como objetivos gerais:
I - ampliar o acesso e qualificar o atendimento às pessoas com deficiência temporária ou permanente; progressiva, regressiva, ou estável; intermitente ou contínua no SUS; II - promover a vinculação das pessoas com deficiência auditiva, física, intelectual, ostomia e com múltiplas deficiências e suas famílias aos pontos de atenção; e III - garantir a articulação e a integração dos pontos de atenção das redes de saúde no território, qualificando o cuidado por meio do acolhimento e classificação
de risco (BRASIL, 2012, p. 02).
Todavia, apesar de toda essa legislação direcionada às pessoas com
deficiência, a assistência a esse grupo populacional ainda é incipiente em diversos
aspectos. A Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência é um indicativo disso, pois
não se efetivou desde a sua criação em 2012, pois percebe-se que a assistência
consiste basicamente na oferta de órteses, próteses e meios auxiliares de
locomoção, representando um cuidado ainda muito elementar.
No entanto, entende-se que a garantia da integralidade da assistência à
pessoa com deficiência deve ir além dos aspectos das boas práticas de saúde e da
organização dos serviços adequados, devendo centrar-se no acolhimento das
necessidades e dos desejos de saúde específicos desse grupo populacional (MAIA,
2011).
Sobre os desafios relacionados às pessoas com deficiência no Brasil, Fiorati e
Elui (2015) consideram que apesar da inclusão de pessoas com deficiência no
mercado de trabalho e no âmbito sociocultural, muitas permanecem sem acesso a
serviços básicos de reabilitação e oportunidades, em condições de igualdade nos
aspectos relacionados à educação, formação profissional, trabalho, lazer e outras
atividades. Ressalte-se que as PcD desconhecem os dispositivos assistenciais e
direitos sociais e encontram-se confinadas ao espaço doméstico, muitas vezes em
estado de isolamento social.
A ausência de produção de informações sistemáticas sobre as pessoas com
deficiência também é uma realidade que dificulta o planejamento de ações de saúde
direcionadas para esse público. Essa situação é agravada pelas instituições de
saúde pública que geralmente não dispõem de informações capazes de diagnosticar
25
com precisão a situação de saúde e as necessidades das pessoas com deficiência
(MAIA et al., 2009; MAIA, 2011).
Tão importante quanto conhecer toda essa legislação pertinente à assistência
à saúde das pessoas com deficiência, é a identificação das necessidades
assistenciais das mesmas para que se possam organizar os serviços de saúde para
melhor atendê-las.
3.2 Assistência à Pessoa com deficiência
Quase todas as pessoas terão algum tipo de deficiência, seja ela temporária
ou permanente, em algum momento de suas vidas (OMS, 2011). No entanto, a
estimativa é que 10% da população mundial possui algum tipo de deficiência (OMS,
2011). No Brasil, conforme o Censo de 2010, aproximadamente 24% da população
vive com algum tipo de deficiência sensorial, física ou intelectual, de forma parcial ou
total, sendo a região Nordeste a de maior concentração (IBGE, 2010).
Considerando essa estimativa e as recentes estatísticas relacionadas às
pessoas com deficiência bem como a necessidade da melhoria da qualidade de vida
dessas pessoas, faz-se necessário adotar estratégias e ações, individuais e
coletivas, no âmbito da saúde e de outros setores, que garantam ambientes
acessíveis e inclusivos, essenciais para a equiparação de oportunidades e
autonomia (SAMEA et al., 2015).
A Política Nacional de Saúde da Pessoa com Deficiência considera que os
serviços de atenção às pessoas com deficiência devem se organizar como uma rede
de cuidados, de forma descentralizada, intersetorial e participativa, tendo como porta
de entrada do sistema de saúde as Unidades Básicas de Saúde da Estratégia
Saúde da Família (ESF), nas quais devem ser desenvolvidas as ações de prevenção
e atendidas as intercorrências gerais de saúde da população com deficiência. A ESF
conta ainda com as equipes do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), que
tem como objetivo ampliar a resolutividade das ações da Atenção Básica (BRASIL,
2010).
26
O NASF foi criado pelo Ministério da Saúde, em 2008, na perspectiva de
ampliar a capacidade de resposta à maior parte dos problemas de saúde da
população assistida na atenção básica (BRASIL, 2014).
A proposta da equipe do NASF é a de atender às complexas demandas de
determinado território e solucionar os problemas de saúde, nas diversas
perspectivas, seja ela política, social, cultural e econômica, permitindo assim a
integralidade da atenção com uma equipe de profissionais de diferentes áreas do
conhecimento que atua conjuntamente com os profissionais das ESF (SHIMIZU;
FRAGELLI, 2016). A equipe do NASF deve ainda compartilhar práticas e saberes
em saúde com as ESF de referência apoiadas, buscando auxiliá-las no manejo ou
resolução de problemas clínicos e sanitários, bem como agregando práticas, na
atenção básica, que ampliem o seu escopo de ofertas (BRASIL, 2014).
De fato, a implantação dos NASFs foi uma conquista importante para
fortalecer a assistência na atenção básica. Muitos indivíduos passaram a ter
atendimentos específicos na sua área de abrangência realizados pelos profissionais
do NASF, dentre eles a fisioterapia, a terapia ocupacional, a psicologia, entre outros,
atendimentos esses de grande importância, em especial para as pessoas com
deficiência.
Apesar de a Atenção Básica ser um campo importante para o
desenvolvimento de práticas de atenção à saúde das pessoas com deficiência,
ainda são encontrados muitos problemas relacionados às boas condições de
acessibilidade nas Unidades Básicas de Saúde - UBS, pois muitas não dispõem de
estruturas adequadas às pessoas com deficiência, apresentando condições
insatisfatórias que não garantem o livre acesso dessas pessoas (MARTINS, 2015).
A falta de acessibilidade de qualquer unidade de saúde vai interferir diretamente na
assistência a ser desenvolvida às pessoas com deficiência, bem como na busca
desses serviços por esse grupo populacional.
A questão do acesso foi identificada como principal necessidade dessa
população, entendida de maneira bastante ampliada, incluindo acesso às
oportunidades, à circulação na cidade, aos serviços e recursos disponíveis
(OTHERO; DALMASO, 2009).
27
A assistência no nível secundário, por sua vez, é realizada pelos Centros
Especializados de Reabilitação (CER), que devem buscar sempre a atenção integral
à saúde dos que vivem com deficiência (TROMBETTA et al., 2015). A habilitação e
reabilitação realizadas nesse Centro objetivam melhorar as funcionalidades dessas
pessoas para promover sua autonomia e independência. Os CER, juntamente com
outros pontos de atenção da Rede SUS, como a atenção básica, hospitalar e os
serviços de urgência e emergência compõem a Rede de Cuidados à Saúde da
Pessoa com Deficiência (BRASIL, 2013a).
Os Centros de Reabilitação são os serviços de reabilitação mais frequentados
pelas pessoas com deficiência física e mental. Entretanto, percebe-se uma
tendência biomédica no tratamento das incapacidades realizado nesse espaço, que
em sua grande maioria, são desarticulados do contexto sociocultural dos sujeitos,
com propostas dirigidas, exclusivamente, à melhoria da condição física do usuário
(AOKI; OLIVER; NICOLAU, 2011). Além disso, ainda são escassas as informações
sobre a organização desses serviços de saúde que realizam assistência e
proporcionam atendimento às necessidades das pessoas com deficiência
(HOLANDA et al., 2015).
As oficinas ortopédicas, por sua vez, são vinculadas aos serviços de
reabilitação física da Rede SUS e ofertam órteses, próteses e meios auxiliares de
locomoção de que as pessoas com deficiência necessitem e que complementa o
trabalho de reabilitação e as terapias. Têm como objetivo garantir a indicação de
dispositivos assistivos bem adaptados e adequados ao ambiente físico e social
dessas pessoas (BRASIL, 2013a).
As pessoas com deficiência têm direito também à encaminhamento para
serviços mais complexos, onde recebem assistência específica em unidades
especializadas de alta complexidade para reabilitação física, auditiva, visual e
intelectual (BRASIL, 2010).
A Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência da Região de Juazeiro do
Norte é composta por pontos de atenção existentes na Atenção Primária (UBS/
Saúde Bucal, NASF, Academia da Saúde e Serviço de Atendimento Domiciliar -
SAD), na atenção secundária (Centro de Especialidades Odontológicas - CEO, CER
e Policlínica) e na atenção hospitalar (hospitais porta de entrada e hospitais com
28
leitos de longa permanência) (CEARÁ, 2012). Apesar de delineada desde 2012, até
os dias atuais essa Rede de Cuidados à PcD não foi, de fato, implementada.
Em todos os serviços descritos direcionados às PcD, a preocupação dos
gestores e profissionais de saúde não deve se limitar apenas à acessibilidade e à
garantia da assistência às pessoas com deficiência. É necessário que se leve em
conta as diversas necessidades apresentadas por cada indivíduo, nos diversos
pontos de atenção da rede assistencial, garantindo assim o princípio da
integralidade.
29
Método
30
4 MÉTODO
4.1 Tipo de estudo
Trata-se de um estudo descritivo e transversal, realizado no período de
novembro de 2015 a setembro de 2016.
É considerado, a partir de seus objetivos, um estudo descritivo, em
conformidade com o que expõe Gil (2010), quando afirma que as pesquisas
descritivas têm como objetivo descrever as características de determinada
população a partir do estudo das características desse grupo.
Caracteriza-se também como um estudo transversal, considerando que
estudos transversais são pesquisas em que a exposição ao fator ou causa está
presente ao efeito no mesmo momento ou intervalo de tempo analisado. Aplicam-se
às investigações dos efeitos por causas que são permanentes, ou por fatores
dependentes de características permanentes dos indivíduos (HOCHMAN et al.,
2015).
Para melhor descrição desse estudo foi utilizada a iniciativa STROBE -
denominada Strengthening the Reporting of Observational Studies in Epidemiology,
que consiste numa lista de verificação com recomendações sobre o que deve ser
incluído em uma descrição mais precisa e completa de estudos observacionais. De
acordo com Malta et al. (2010), a Iniciativa STROBE oferece um modelo que pode
ser seguido por autores de estudos observacionais e que objetiva contribuir para um
relato mais adequado desses estudos e, consequentemente, facilitar a leitura crítica
dessas publicações.
4.2 Local do estudo
O estudo foi realizado em Jardim, município de pequeno porte, localizado no
Sul do Ceará e adscrito à 21ª CRES – Juazeiro do Norte, que juntamente com
Barbalha, Caririaçu, Granjeiro, Juazeiro do Norte e Missão Velha compõem a Região
de Saúde de Juazeiro do Norte. A escolha desse cenário se deu especialmente por
ser um município com 100% de cobertura da população pela Estratégia Saúde da
Família e pelo fato de a pesquisadora estar incluída profissionalmente nessa Região
31
de Saúde, enquanto Coordenadora Regional de Saúde, o que permite maior acesso
ao município em tela.
O referido município conta com uma população de 26.688 habitantes, uma
densidade demográfica de 48,31 hab/Km², cuja população está mais centrada na
zona rural (IBGE, 2010). Atualmente, encontra-se com 12 equipes da Estratégia
Saúde da Família, que atualmente funcionam com todos os profissionais
recomendados pelo Ministério da Saúde, dentre eles o médico, o enfermeiro, o
dentista, técnico de enfermagem, atendente de saúde bucal e 70 Agentes
Comunitários de Saúde - ACS (DATASUS, 2015). Conta ainda com seis Equipes de
Saúde Bucal - ESB, uma equipe do Núcleo de Apoio ao Saúde da Família - NASF,
um Hospital de Pequeno Porte - HPP, um Centro de Saúde e um Centro de Atenção
Psicossocial - CAPS.
A estratégia e-SUS Atenção Básica (e-SUS AB) é uma iniciativa do
Departamento de Atenção Básica (DAB) da Secretaria de Atenção à Saúde (SAS)
do Ministério da Saúde (MS), que assumiu o compromisso de reestruturar o Sistema
de Informação da Atenção Básica (Siab), com o objetivo de melhorar a qualidade da
informação em saúde e de otimizar o uso dessas informações pelos gestores,
profissionais de saúde e cidadãos (BRASIL, 2015).
O e-SUS começou a ser implantado em Jardim em julho de 2014, após
participação de técnicos municipais (Coordenação da Atenção Básica e técnica
responsável pelos Sistemas de Informação) em uma capacitação promovida pelo
Ministério da Saúde em Teresina – PI. A partir desse momento, houve capacitação
de todos os profissionais da Atenção Básica do município e aquisição de
computadores para digitação das fichas do e-SUS. A 21ª Coordenadoria Regional de
Saúde - CRES acompanhou todo o processo de implantação do e-SUS em Jardim.
Atualmente, o município encontra-se na fase de intensificação de digitação das
fichas no sistema.
Foi realizada uma aproximação com o referido município em Abril de 2015,
momento em que houve a autorização para a realização da pesquisa, detalhado no
anexo 2.
32
4.3 Participantes do estudo
Para a realização desse estudo, como critério de inclusão, foram
selecionados todos os indivíduos com algum tipo de deficiência, parcial ou total,
residente no referido município, cadastrados em 12 áreas adscritas por meio do
formulário do e-SUS Atenção Básica (ANEXO 1) pelo ACS. Ressalte-se que os ACS
já foram devidamente capacitados no preenchimento do instrumento pelo município.
Elegeu-se como critério de exclusão as fichas que não estavam totalmente
preenchidas por não permitir obter todas as informações necessárias para o estudo.
No entanto, essas fichas incompletas foram devolvidas para os ACS para que
fossem revistas e devidamente preenchidas e devolvidas após um prazo de 15 dias.
A ficha não devolvida pelo ACS no prazo estabelecido foi definitivamente excluída
do estudo.
4.4 Instrumento de coleta de dados
O e-SUS AB conta com dois sistemas de software para a captação de dados:
o Sistema com Coleta de Dados Simplificada (CDS) e o sistema com Prontuário
Eletrônico do Cidadão (PEC), os quais devem alimentar o novo Sistema de
Informação em Saúde para a Atenção Básica (SISAB), que deve substituir o SIAB e
atender aos diversos cenários de informatização e conectividade nas unidades de
saúde da Atenção Primária à Saúde - APS (BRASIL, 2015).
O instrumento de escolha para o estudo foi a ficha de cadastro individual do
e-SUS Atenção Básica. O e-SUS é composto por sete fichas, elaboradas e
validadas pelo Ministério da Saúde, que são alteradas conforme a necessidade
apontada pelos municípios e de pactuações prévias propostas para discussão
tripartite. São elas: cadastro individual; cadastro domiciliar; ficha de atendimento
individual; ficha de atendimento odontológico individual; ficha de atendimento
coletivo; ficha de procedimentos e ficha de visita domiciliar. Para esse estudo foi
selecionada, dentre todas as outras, a ficha de cadastro individual, na versão 2.0,
por ser a versão mais atualizada e por fornecer todas as informações minuciosas
sobre o indivíduo (BRASIL, 2015).
33
A citada ficha de cadastro individual é utilizada pelo ACS durante a primeira
visita que realiza no domicílio e a preenche manualmente à medida que são
fornecidas as informações pelo indivíduo/família.
Essa ficha em particular identifica as características sociodemográficas,
problemas e condições de saúde dos usuários no território das equipes de AB e é
composta por duas partes: informações de identificação/sociodemográficas e
condições de saúde autorreferidas pelo usuário (BRASIL, 2013b).
A ficha do cadastro individual é composta por um cabeçalho, no qual constam
informações sobre a Unidade de Saúde, equipe da ESF, profissional de saúde que
irá realizar o cadastro e microárea dos ACS. Composta também por variáveis que
descrevem a identificação do usuário/cidadão, informações sociodemográficas,
condições/situações de saúde gerais e cidadão em situação de rua. Nessa pesquisa
foram consideradas todas as variáveis contidas na ficha porque todas são de
interesse para identificação das necessidades assistenciais dos usuários do
município de Jardim.
4.5 Fases do estudo
O estudo foi realizado em três fases. A primeira fase consistiu no
levantamento de pessoas com deficiência do município de Jardim, a partir do acesso
às fichas de cadastramento individual do e-SUS. Para tal, os ACS foram recrutados
por convite enviado pela Secretaria de Saúde de Jardim para uma reunião que foi
realizada na sede da Secretaria de Saúde do município, em novembro de 2015,
momento em que foi apresentada a presente pesquisa e reprodução das fichas de
cadastro individual das pessoas com deficiência, parcial ou total, para utilização na
próxima fase do estudo. Nesse momento, foram coletadas o total de 305 cadastros
de PcD do município.
Mediante a coleta dos dados secundários, iniciou-se a segunda fase do
estudo, que consistiu no processamento e organização das informações em um
banco de dados criado no programa EPI INFO, versão 7.2.1 e OPEN EPI 3.03.
Considerando o total de 305 fichas e a digitação de todas as informações contidas
nessas pela pesquisadora do estudo, mediante a aplicação dos critérios de exclusão
foram identificadas fichas incompletas, o que exigiu um período maior para
34
conclusão dessa etapa. Foram consideradas todas as variáveis contidas na ficha de
cadastro individual do e-SUS. Elaborou-se uma planilha complementar no programa
Excel 2010 (Apêndice B) para extrair erros, contendo a numeração da ficha de
cadastro individual e todas as variáveis da ficha utilizadas no estudo para identificar
aquelas que necessitaram de ajustes.
Com a seleção das fichas de cadastro individual incompletas, marcou-se um
novo encontro com os Agentes de Saúde do município de Jardim, ocorrido em julho
de 2016. Para esse encontro foram levadas 105 fichas incompletas e dado um prazo
de 15 dias para devolução. Das 105 fichas, foram devolvidas 80, das quais três
foram excluídas, pois dois usuários mudaram-se do município e outro foi a óbito. A
Coordenação municipal da Atenção Primária de Jardim informou que o motivo da
não devolução das 25 fichas de cadastro individual deveu-se ao fato dos ACS
responsáveis pelas mesmas estarem de férias e não foi possível contato com eles.
Assim a população foi de 305 pessoas com deficiência e após as revisão a amostra
foi constituída de 277 pessoas.
Foram realizadas duas revisões em busca de inconsistências pelo
pesquisador e pelo pesquisador sênior e após esta verificação a base de dados foi
utilizada para análise estatística.
Após conclusão da digitação do banco de dados, foi realizada a terceira fase
do estudo, que consistiu no tratamento estatístico dos dados obtidos na fase
anterior. Realizou-se a análise descritiva dos dados, quando foi possível caracterizar
o perfil clínico-epidemiológico e as necessidades assistenciais das pessoas com
deficiência no município de Jardim. Foram realizados os testes de associação para
identificação de significância entre os dados, através do Qui Quadrado (P),
considerando um nível de significância de 0,05 e da razão de prevalência. Em
seguida, cruzaram-se os dados de deficiência com os dados sóciodemográficos e as
condições auto-referidas pelos indivíduos.
4.6 Aspectos éticos
Os preceitos éticos foram respeitados, conforme preconiza a resolução
466/12, que estabelece diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas
envolvendo seres humanos, sendo mantido sigilo da identidade dos participantes em
35
todas as etapas do estudo. Foi garantida a confidencialidade das informações e as
pessoas com deficiência foram identificadas de forma codificada, por número de
cadastro digitado, a fim de manter o anonimato das mesmas. Acredita-se que a
pesquisa não acarretará prejuízo aos indivíduos cadastrados no Sistema de
Informação em saúde para a Atenção Básica - SISAB, ao contrário, será estratégia
para propiciar acesso às pessoas com deficiência ao sistema de saúde.
Foram adotados os quatro princípios éticos da bioética: autonomia,
beneficência, não maleficência e justiça, para que os direitos dos participantes
fossem assegurados (BRASIL, 2013).
A pesquisa que originou este estudo foi aprovada pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro- Brasileira
(CEP/UNILAB), com parecer nº 652.134/2014. O estudo se resguarda na Portaria
510/16 do Conselho Nacional de Saúde, que dispõe sobre as normas aplicáveis a
pesquisas em Ciências Humanas e Sociais cujos procedimentos metodológicos
envolvam a utilização de dados diretamente obtidos com os participantes ou de
informações identificáveis ou que possam acarretar riscos maiores do que os
existentes na vida cotidiana.
36
Resultados
37
5 RESULTADOS
Foram coletadas 305 fichas de cadastro individual em novembro de 2015. Ao
se identificar as fichas incompletas e que não foram devolvidas pelo Agente
Comunitário de Saúde no prazo estabelecido, restaram para esse estudo 277 fichas
de cadastro individual de pessoas com as seguintes deficiências: visual, auditiva,
física, intelectual/cognitiva e outra.
Das 277 pessoas com deficiência (PcD) investigadas no município de Jardim,
247 (89,2%) têm somente uma deficiência sendo: 132 (47,65%) física, 57 (20,58%)
auditiva, 47 (16,97%) visual, 42 (15,16%) intelectual/cognitiva e 27 (9,57%) outra
deficiência. Do total, 30 pessoas (10,8%) têm múltipla deficiência. Destas, 28
(93,3%) têm duas deficiências e 2 (6,7%) têm três das deficiências referidas.
Em algumas tabelas, a soma encontrada será de 305 devido às pessoas com
múltipla deficiência.
5.1 Caracterização das pessoas com deficiência por Unidade de Saúde
A seguir será descrita a caracterização das pessoas com deficiência do
município de Jardim/CE.
Tabela 1 - Distribuição das pessoas com deficiência, por Unidade Básica de Saúde. Jardim, 2016.
UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE Nº DE PcD LOCALIZAÇÃO
PSF I 25 Zona rural
PSF II 14 Zona rural
PSF III 27 Zona rural
PSF IV 15 Zona rural
PSF V 19 Zona urbana
PSF VI 01 Zona urbana
PSF VII 16 Zona rural
PSF VIII 28 Zona rural
PSF IX 21 Zona rural
PSF X 26 Zona rural
PSF XI 38 Zona urbana
PSF XII 47 Zona rural
Fonte: Secretaria Municipal de Saúde de Jardim-CE, 2016.
38
De acordo com informações fornecidas pela Secretaria de Saúde do
município, das 12 Unidades Básicas de Saúde (UBS) da Estratégia Saúde da
Família apenas três estão localizadas na zona urbana: ESF V, ESF VI e ESF XI.
Sendo assim, 75% das UBS estão localizadas na zona rural do município. A UBS
com menor número de pessoas com deficiência é a VI, com uma PcD e a que
apresenta maior percentual é a ESF XII, com 47 PcD.
5.2 Variáveis relativas às Pessoas com Deficiência
Considerando as informações obtidas a partir da ficha de cadastro individual
das pessoas com deficiência no município de Jardim, apresentam-se a seguir as
variáveis pessoais:
Tabela 2 - Frequências absoluta e relativa das características pessoais das pessoas com deficiência. Jardim, 2016.
CARACTERÍSTICAS PESSOAIS FREQUÊNCIA FR (%)
GÊNERO
Masculino 156 56,32
Feminino 121 43,68
ESTADO CIVIL
Solteiro 134 48,38
Casado/ Relação estável 120 43,32
Viúvo 20 7,22
Divorciado 02 0,72
Outro 01 0,36
FAIXA ETÁRIA
Menor de um ano 01 0,36
1-4 anos 06 2,17
5-9 anos 16 5,78
10-19 anos 32 11,55
20-59 anos 139 50,18
60 ou mais 83 29,96
Fonte: Secretaria Municipal de Saúde de Jardim-CE, 2016.
A faixa etária variou de menor de 1 ano até 94 anos. O maior percentual foi
identificado na idade produtiva de 20 a 59 anos correspondendo a 50,18% das
pessoas que vivem com deficiência em Jardim-CE. Ressalta-se que 29,96% das
pessoas com deficiência estão na idade idosa.
Das pessoas com deficiência cadastradas, 56,32% do total é do gênero
masculino. O estado civil predominante foi o solteiro (48,38%), seguido das pessoas
39
com relação estável ou casados (43,32%). Registrou-se ainda que 7,22% são
viúvos. Quanto à nacionalidade, todas as pessoas com deficiência cadastradas no
município de Jardim são brasileiras.
5.3 Variáveis sociodemográficas das Pessoas com Deficiência
a) Escolaridade
Na tabela 3 descrevem-se as informações educacionais das pessoas com
deficiência cadastradas em Jardim.
Tabela 3 - Frequências absoluta e relativa das pessoas com deficiência que frequentam escola ou creche. Jardim, 2016.
Frequenta escola ou
creche
Visual Física Auditiva Intelectual/
cognitiva Outra
deficiência
F (%) F (%) F (%) F (%) F (%)
Sim 06 (12,77) 22 (16,67) 13 (22,81) 16 (38,10) 06 (22,22)
Não 41 (87,23) 110 (83,33) 44 (77,19) 26 (61,90) 21 (77,78)
Total 47 (100) 132 (100) 57 (100) 42 (100) 27 (100)
Fonte: Secretaria Municipal de Saúde de Jardim-CE, 2016.
Do total de pessoas com deficiência, 63 frequentam escola ou creche, o que
representa 20,65% da amostra analisada. Observa-se ainda que as pessoas com
deficiência intelectual/cognitiva são as que frequentam a escola ou creche em maior
proporção (38,10%).
Na tabela 4 descrevem-se as informações relacionadas ao nível de
escolaridade das pessoas com deficiência cadastradas em Jardim.
40
Tabela 4 - Frequências absoluta e relativa do nível de escolaridade das pessoas com
deficiência. Jardim, 2016
NÍVEL DE ESCOLARIDADE FREQUÊNCIA FR (%)
Alfabetizado 34 12,36
Analfabeto 76 27,64
Pré-escola 06 2,16
Creche 05 1,82
Ensino fundamental especial 12 4,36
Fundamental I incompleto 29 10,55
Fundamental I completo 64 23,27
Fundamental II incompleto 17 6,18
Fundamental II completo 10 3,64
Ensino médio incompleto 07 2,55
Ensino médio completo 17 6,18
Total 277 100
Fonte: Secretaria Municipal de Saúde de Jardim-CE, 2016.
Quanto à escolaridade, identificou-se predominância do analfabetismo nas
pessoas com deficiência, identificado em 27,64% da amostra analisada, o que
representa quase 1/3 do total dos que vivem com deficiência. Importante registrar
que do total de pessoas com deficiência, 12 deles têm acesso ao ensino
fundamental especial.
b) Ocupação e situação no mercado de trabalho
Foram identificadas na tabela 5 as informações sobre a ocupação e na tabela
6, a situação das pessoas com deficiência no mercado de trabalho:
Tabela 5 - Frequências absoluta e relativa da ocupação das pessoas com deficiência.
Jardim, 2016
OCUPAÇÃO FREQUÊNCIA FR (%)
Agricultor 41 14,80
Aposentado 137 49,45
Estudante 50 18,05
Aposentado/Pensionista 19 6,86
Outro 30 10,84
Total 277 100
Fonte: Secretaria Municipal de Saúde de Jardim-CE, 2016.
41
Em relação à ocupação das pessoas com deficiência, identifica-se que
56,31% são aposentados/pensionistas, 18,05% são estudantes, 14,8% são
agricultores e 10,84% têm outra ocupação.
Tabela 6 - Frequências absoluta e relativa da situação das pessoas com deficiência no
mercado de trabalho. Jardim, 2016.
SITUAÇÃO NO MERCADO DE TRABALHO FREQUÊNCIA FR (%)
Aposentado/Pensionista 142 51,82
Assalariado com carteira 01 0,36
Assalariado sem carteira 01 0,36
Autônomo com previdência 07 2,55
Desempregado 15 5,47
Não trabalha 68 23,72
Outro 43 15,69
Total 277 100,00
Fonte: Secretaria Municipal de Saúde de Jardim-CE, 2016.
A situação das pessoas com deficiência no mercado de trabalho aponta que
51,82% delas é aposentado/pensionista. Considerando os desempregados e os que
não trabalham, 29,19% das pessoas com deficiência não têm ocupação definida no
mercado de trabalho. Na ficha de cadastro individual do indivíduo não há nenhuma
informação sobre a renda individual.
c) Outras variáveis sociodemográficas
Todas as crianças com deficiência na faixa etária de 0 a 9 anos ficam sob a
supervisão de um adulto enquanro os pais se ausentam, de acordo com as
informações contidas nas fichas analisadas.
Apenas três pessoas com deficiência relataram frequentar cuidador
tradicional, o que representa 1,08% do total das pessoas com deficiência.
Das PcD cadastradas em Jardim, oito afirmaram participar de algum grupo
comunitário, que representa 2,89% do total de pessoas com deficiência no referido
município.
Nenhuma das pessoas com deficiência cadastradas possui plano de saúde
privado, o que significa afirmar que todas as pessoas com deficiência em Jardim são
SUS dependentes.
42
5.4 Variáveis relacionadas às condições de saúde das pessoas com deficiência
A tabela 7 apresenta as condições de saúde das pessoas com deficiência.
Tabela 7 – Condições de saúde das pessoas com deficiência. Jardim-CE, 2016
CONDIÇÕES DE SAÚDE
Auditiva Física Intelectual/
cognitiva Visual Outra TOTAL
F F (%) F F (%) F F (%) F F (%) F F (%) F F (%)
Fumante 06 10,52 18 13,63 07 16,66 08 17,02 04 14,81 43 15,52
Etilista 01 1,75 05 3,78 02 4,76 03 6,38 02 7,40 13 4,69
Hipertenso 16 28,07 41 31,06 05 11,90 22 46,80 04 14,81 88 31,76
Diabético 07 12,28 12 9,09 02 4,76 10 21,27 02 7,40 33 11,91
AVC/Derrame 03 5,26 17 12,87 01 2,38 02 4,25 01 3,70 24 8,66
Doente cardíaco 01 1,75 03 2,27 01 2,38 01 2,12 00 00 06 2,16
Doente respiratório 01 1,75 07 5,30 02 4,76 01 2,12 00 00 11 3,97
Internado nos últimos 12 meses
00 00 11 8,33 00 00 01 2,12 02 7,40 14 5,05
Tratamento com psiquiatra ou internação em saúde mental
04 7,01
06 4,54 09 21,42 03 6,36 08 29,62 30 10,83
Acamado 01 1,75 16 12,12 02 4,76 04 4,48 03 11,11 26 9,38
Domiciliado 15 26,31 39 29,54 10 23,80 16 34,04 06 22,22 86 31,04
Uso de plantas medicinais
12 21,05 15 11,36 01 2,38 10 21,27 02 7,40 40 14,44
Fonte: Secretaria Municipal de Saúde de Jardim-CE, 2016.
43
Conforme informações apresentadas na tabela 6 relativo aos hábitos de vida,
15,52% das pessoas com deficiência são fumantes e 4,69% fazem uso de álcool
regularmente, apresentando maior prevalência destes hábitos nas pessoas com
deficiência física.
Identificou-se que as doenças cardiovasculares são prevalentes nas pessoas
com deficiência física: 31,76% têm hipertensão arterial, 11,91% têm diabetes, 8,66%
têm diagnóstico de acidente vascular cerebral (AVC) e 2,16% têm doença cardíaca.
Quanto às doenças respiratórias, 3,97% das pessoas com deficiência
apresentaram alguma das patologias listadas na ficha de cadastro individual, dentre
elas a asma, a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) ou outra. As pessoas
com deficiência física foram acometidas em maior proporção pelas doenças
respiratórias (5,30% do total).
A internação nos últimos 12 meses foi relatada por 5,05% das pessoas com
deficiência, sendo referida em maior proporção pelas pessoas com deficiência física
(8,33%), seguida das pessoas com outra deficiência (7,40%). As pessoas com
deficiência auditiva e intelectual/cognitiva não apresentaram registro de internação
nos últimos doze meses.
Relacionada à saúde mental, 10,83% das pessoas cadastradas foram
identificadas em tratamento com psiquiatra ou internação por problema de saúde
mental, condição apresentada em maior proporção pelas pessoas com outra
deficiência (29,62%), seguido das pessoas com deficiência intelectual/cognitiva
(21,42%).
Identificou-se ainda que 9,38% das PcD estão acamadas, condição
apresentada em sua maioria pelas pessoas com deficiência física (12,12%), seguida
das pessoas com outra deficiência (11,11%). Observou-se que 31,04% do total
estão domiciliadas, ou seja, restritas ao lar por alguma condição de saúde. Esta
condição foi apresentada por 34,04% das pessoas com deficiência visual e 29,54%
das pessoas com deficiência física.
Das pessoas com deficiência cadastradas, 14,4% fazem uso de plantas
medicinais, tendo sido identificado em menor proporção nas pessoas com
deficiência intelectual/cognitiva (2,38%).
44
Em relação ao peso, 86,22% das pessoas com deficiência encontram-se com
peso adequado, 9,19% acima do peso e 4,59% abaixo do peso.
Num parâmetro geral, por tipo de deficiência, observa-se que das 57 pessoas
com deficiência auditiva, 16 (28,07%) referem hipertensão arterial, 15 (26,31%)
estão domiciliados e 12 (21,05%) fazem uso de plantas medicinais. Das 118
pessoas com deficiência física, 41 (31,06%) referem hipertensão arterial, 39
(29,54%) estão domiciliados, 18 (13,63%) são fumantes e 17 (12,87%) relataram
AVC/derrame. Já em relação às 37 pessoas com deficiência intelectual/cognitiva, 10
(23,80%) estão domiciliadas, nove (21,42%) relataram fazer tratamento ou ter tido
internação em saúde mental e sete (16,66%) são fumantes. Por sua vez, das 46
pessoas com deficiência visual, 22 (46,80%) têm hipertensão arterial, 16 (34,04%)
estão domiciliados e 10 (21,27%) têm diabetes. Das 20 pessoas com ‘outra
deficiência’, oito (29,62%) relataram fazer tratamento ou ter tido internação em
saúde mental, seis (22,22%) estão domiciliados e quatro (14,81%) são fumantes e
apresentam hipertensão arterial.
Outras condições de saúde identificadas
As informações a seguir foram relatadas em menor proporção, porém podem
contribuir para auxiliar a caracterização do perfil clínico-epidemiológico desse grupo
populacional.
Foram identificadas duas gestantes, uma com deficiência física e outra com
deficiência visual.
Apenas no cadastro de uma pessoa com deficiência intelectual/cognitiva foi
assinalado uso de outras drogas, sem especificar maiores detalhes na ficha de
cadastro individual.
Foi registrado problema renal em uma pessoa com deficiência física. Quanto
às doenças crônicas transmissíveis, foi registrada hanseníase em uma pessoa com
deficiência auditiva e nenhum registro de tuberculose foi identificado na amostra.
Houve registro de câncer em seis indivíduos, quatro em pessoas com deficiência
física e duas com deficiência visual.
Em apenas um cadastro de pessoa com deficiência física foi registrado o uso
de práticas integrativas e complementares.
45
No que concerne à variável ‘outras condições de saúde’, houve registro dessa
informação em apenas seis cadastros de pessoas com deficiência, das quais uma
apresenta malformação congênita e as demais condições de saúde não foram
especificados pelo ACS.
Nenhuma pessoa com deficiência que reside no município de Jardim-CE está
em situação de rua.
5.5 Condições de saúde das pessoas com deficiência
A tabela 8 apresenta a distribuição das deficiências segundo o gênero e
indica a significância estatística em relação a esta variável.
Tabela 8 – Distribuição das pessoas com deficiência quanto ao gênero. Jardim, 2016.
Deficiências
Total Masculino Masculino
P
RP F F (%) F F (%)
Visual 47 28 59,57 19 40,43 0,62 0,87
Física 132 78 59,09 54 40,91 0,37 0,89
Auditiva 57 28 49,12 29 50,88 0,21 1,33
Intelectual/cognitiva 42 27 64,29 15 35,71 0,25 0,71
Outra def. 27 13 48,15 14 51,85 0,36 1,38
Fonte: Secretaria Municipal de Saúde de Jardim-CE, 2016.
OBS: F= Frequência absoluta; F(%) = Frequencia percentual; P=Teste Quiquadrado ; RP= Razão de
prevalência
Identificou-se predominância do gênero masculino na maioria das
deficiências, com exceção das pessoas com deficiência auditiva e outra deficiência,
nas quais observou-se predomínio do gênero feminino, respectivamente de 50,88%
e de 51,85%. Entretanto, essa relação não é significante (p>0,05). Quanto à razão
de prevalência (RP), com exceção das deficiências auditiva e outra deficiência, as
demais apresentaram-se abaixo de um.
Na tabela 9 apresenta-se a distribuição das deficiências segundo faixa etária
e os níveis de significância estatística analisados.
46
Tabela 9 – Distribuição das pessoas com deficiência quanto à faixa etária. Jardim, 2016.
Frequenta escola ou
creche
Total < 4 anos
5-9 anos 10-19 anos
20-59 60 ou +
P F (%) F (%) F (%) F (%) F (%)
Visual 47 0 (0) 02 (4,23) 04 (8,51) 19 (40,43) 22 (47,82) 0,0953
Física 132 03 (2,27) 08 (6,06) 16 (12,12) 63 (47,73) 40 (33,89) 0,6939
Auditiva 57 01 (1,75) 01 (1,75) 06 (10,53) 26 (45,61) 23 (41,07) 0,4151
Intelectual/ Cognitiva
42 01 (2,38) 03 (7,14) 12 (28,57) 24 (57,14) 02 (5,40) 0,0002
Outra def. 27 01 (3,70) 01 (3,70) 02 (7,40) 14 (51,85) 02 (7,40) 0,1387
Fonte: Secretaria Municipal de Saúde de Jardim-CE, 2016.
Existe predominância de quase todos os tipos de deficiência na faixa etária de
20-59 anos, com exceção da deficiência visual que é prevalente na faixa etária de 60
anos ou mais, com percentual de 47,82% do total das pessoas com essa deficiência.
A deficiência intelectual/cognitiva apresentou prevalência siginificativamente mais
elevada (57,14%; P= 0,0002).
Na Tabela 10 apresenta-se a distribuição das deficiências segundo à
ocupação e analisa-se a significância estatística.
Tabela 10 – Distribuição das pessoas com deficiência quanto à ocupação. Jardim, 2016.
Deficiências
Total Agricultor
Aposentado/
Pensionista
Estudante
Outro
P
F F (%) F F (%) F F (%) F F (%)
Visual 47 10 21,28 27 57,45 06 12,77 04 8,51 0,5903
Física 132 17 12,88 83 62,88 22 16,67 10 7,58 0,0629
Auditiva 57 09 15,79 34 59,65 08 14,03 06 10,53 0,6416
Intelectual/ Cognitiva
42 03 7,14
16 38,09 13 30,95 10 23,81 0,0007
Outra def. 27 03 11,11 15 55,55 07 25,93 02 7,41 0,4192
Fonte: Secretaria Municipal de Saúde de Jardim-CE, 2016.
Identifica-se, a partir da Tabela 10 que a principal ocupação das PcD no
município de Jardim/CE é a aposentadoria/pensionista, seguida da ocupação
47
estudante e de agricultor. A deficiência intelectual/cognitiva apresentou prevalência
siginificativamente mais elevada (38,09%; P= 0,0007).
Na tabela 11 apresenta-se a distribuição das deficiências segundo à
hipertensão arterial sistêmica e a significância estatística em relação a esta variável.
Tabela 11 – Distribuição das pessoas com deficiência quanto à hipertensão arterial sistêmica. Jardim, 2016.
Deficiências Total SIM NÃO P
F F (%) F F (%)
Visual 47 22 46,80 25 53,80 0,0045
Física 132 41 31,06 91 68,94 0,6121
Auditiva 57 16 28,07 41 71,93 0,7760
Intelectual/ cognitiva
42 05 11,90
37 88,10 0,0063
Outra def. 27 04 14,81 23 85,19 0,0764
Fonte: Secretaria Municipal de Saúde de Jardim-CE, 2016.
No que se refere à distribuição das pessoas com deficiência relacionada à
hipertensão arterial, a deficiência visual apresentou prevalência siginificativamente
mais elevada (46,80%; P= 0,0045), seguida da deficiência intelectual/cognitiva
(11,90%; P=0,0063)
Na tabela 12 apresenta-se a distribuição das deficiências segundo a diabetes
mellitus e os níveis de significância estatística analisados.
Tabela 12 – Distribuição das pessoas com deficiência quanto à diabetes mellitus. Jardim, 2016.
Deficiências Total SIM NÃO P
F F (%) F F (%)
Visual 47 10 21,27 37 78,73 0,0034
Física 132 12 9,09 120 90,91 0,7252
Auditiva 57 07 12,28 50 87,72 0,4693
Intelectual/ cognitiva
42 02 4,76
40 95,24 0,2369
Outra def. 27 02 7,40 25 95,60 0,6661
Fonte: Secretaria Municipal de Saúde de Jardim-CE, 2016.
48
Na distribuição de pessoas com deficiência relacionada à diabetes mellitus,
identifica-se uma maior prevalência das pessoas com deficiência visual (21,27%)
apresentando a referida patologia. Conclui-se que existe relação entre a deficiência
visual e a diabetes pois foi identificada significância estatística. (p<0,05).
Na tabela 13 apresenta-se a distribuição das deficiências segundo o acidente
vascular cerebral e a significância estatística em relação a esta variável.
Tabela 13 – Distribuição das pessoas com deficiência quanto ao acidente vascular cerebral. Jardim, 2016.
Deficiências Total SIM NÃO P
F F (%) F F (%)
Visual 47 02 4,25 45 95,75 0,4382
Física 132 17 12,87 115 87,13 0,0001
Auditiva 57 03 5,26 54 94,74 0,5926
Intelectual/ cognitiva
42 01 2,38
41 97,62 0,2125
Outra def. 27 01 3,70 26 96,30 0,4947
Fonte: Secretaria Municipal de Saúde de Jardim-CE, 2016.
No que se refere ao AVC, observa-se uma prevalência das pessoas com
deficiência física acometidas por essa complicação, somando 12,87% do total.
Como exposto, encontrou-se significância estatística entre a deficiência física e o
acidente vascular cerebral (p= 0,0001).
Na tabela 14 apresenta-se a distribuição das deficiências segundo a
internação nos últimos 12 meses e analisa-se a significância estatística.
Tabela 14 – Distribuição das pessoas com deficiência quanto à internação nos últimos 12 meses. Jardim, 2016.
Deficiências Total SIM NÃO P
F F (%) F F (%)
Visual 47 01 2,12 46 97,88 0,4125
Física 132 11 8,33 121 91,67 0,0018
Auditiva 57 00 0 57 100,00 0,0739
Intelectual/ cognitiva
42 00 0
42 100,00 0,1334
Outra def. 27 02 7,40 25 92,60 0,4117
Fonte: Secretaria Municipal de Saúde de Jardim-CE, 2016.
49
Conforme os dados relacionados à internação nos últimos doze meses,
identifica-se maior prevalência das PcD física (8,33%), seguida das pessoas com
outra deficiência (7,40%). Há siginificância estatística apenas para a internação das
pessoas com deficiência física, cujo valor de P < 0,0018.
Na tabela 15 apresenta-se a distribuição das deficiências segundo o
tratamento mental e os níveis de significância estatística analisados.
Tabela 15 – Distribuição das pessoas com deficiência quanto ao tratamento mental. Jardim, 2016.
Deficiências
Total
SIM NÃO
P F F (%) F F (%)
Visual 47 03 6,38 44 93,62 0,4247
Física 132 06 4,54 126 95,46 0,0079
Auditiva 57 04 7,01 53 92,99 0,5304
Intelectual/ cognitiva
42 09 21,42
33 78,58 0,0041
Outra def. 27 08 29,62 19 70,38 0,0000
Fonte: Secretaria Municipal de Saúde de Jardim-CE, 2016.
Conforme dados apresentados na Tabela 15, no que diz respeito à
distribuição das pessoas com deficiência relacionada ao tratamento mental, observa-
se que as pessoas com outra deficiência e com deficiência intelectual
proporcionalmente são as que mais realizam algum tipo de tratamento em saúde
mental, e representam respectivamente 29,62% e 21,42% da população analisada.
Identificou-se ainda significância estatística de p<0,001 e p=0,0041,
respectivamente. Estatisticamente houve significância também com a deficiência
física (p=0,0079).
Na tabela 16 apresenta-se a distribuição das deficiências segundo à condição
de acamado e a significância estatística em relação a esta variável.
50
Tabela 16 – Distribuição das pessoas com deficiência quanto à condição de acamado. Jardim, 2016.
Deficiências Total SIM NÃO P
F F (%) F F (%)
Visual 47 04 8,51 43 91,49 0,7135
Física 132 16 12,12 116 87,88 0,0027
Auditiva 57 01 1,75 56 98,25 0,0774
Intelectual/ cognitiva
42 02 4,76
40 95,24 0,4999
Outra def. 27 03 11,11 24 88,89 0,4147
Fonte: Secretaria Municipal de Saúde de Jardim-CE, 2016.
Após a análise estatística conclui-se que existe uma relação entre a
deficiência física e a condição de acamado, com significância estatística (p=0,0027).
Assim, a condição de acamado é mais comum entre as pessoas com deficiência
física do que nos demais tipos de deficiência.
Avaliou-se associação entre outras variáveis, porém não foi encontrada
significância estatística em nenhuma delas, conforme serão descritas a seguir:
- Peso: não foi apresentada associação significativa em nenhuma das
deficiências: visual (p=0,3734), física (p=0,3915), auditiva (p=0,9751),
intelectual/cognitiva (p=0,0743), outra deficiência (p=0,504).
- Fumante: também não houve significância em nenhuma das deficiências:
visual (p=0,6791), física (p=0,5017), auditiva (p=0,3032), intelectual/cognitiva
(p=0,8023), outra deficiência (p=1,0000).
- Uso de álcool: também não houve significância estatística em nenhuma das
deficiências: visual (p=0,3354), física (p=0,8723), auditiva (p=0,3337),
intelectual/cognitiva (p=0,7799), outra deficiência (p=0,3385).
- Doença cardíaca: não foi identificada associação significativa em nenhuma
das deficiências: visual (p=0,9841), física (p=0,9073), auditiva (p=0,8106),
intelectual/cognitiva (p=0,9172), outra deficiência (p=0,4157).
- Doença respiratória: os valores encontrados de p não foram estatisticamente
significativos para nenhuma das deficiências: visual (p=0,2173), física (p=0,8319),
auditiva (p=0,2173), intelectual/cognitiva (p=0,4388), outra deficiência (p=N/A).
- Domiciliado: a condição foi a mesma das variáveis anteriores, não havendo
associação significativa em nenhuma das deficiências: visual (p=0,2073), física
51
(p=0,2621), auditiva (p=0,9782), intelectual/cognitiva (p=0,6517), outra deficiência
(p=0,6655).
- Uso de plantas medicinais: os valores encontrados de p não foram
estatisticamente significativos para nenhuma das deficiências: visual (p=0,1225),
física (p=0,2064), auditiva (p=0,0790), intelectual (p=0,0175), outra deficiência
(p=0,2910).
52
5.6 Necessidades assistenciais das pessoas com deficiência do município de Jardim/CE
Considerando as informações das pessoas com deficiência identificadas a partir da análise da ficha de cadastro individual
do e-SUS, elaborou-se o quadro a seguir, contendo as principais necessidades assistenciais identificadas.
Quadro 1- Necessidades assistenciais identificadas das pessoas com deficiência. Jardim, 2016.
Problemáticas Necessidades assistenciais identificadas
Prevalência de pessoas com deficiência física (47,65%)
Acessibilidade física Tecnologias assistivas
Atenção domiciliar
Reabilitação – assistência especializada
Prevalência de pessoas com deficiência auditiva (20,58%)
Acessibilidade assistencial Reabilitação Identificação precoce de surdez Tecnologias assistivas
Prevalência de pessoas com deficiência intelectual/cognitiva (15,16%)
Inclusão social e escolar Tecnologias assistivas
Assistência especializada
Prevalência de pessoas com deficiência visual (16,97%)
Acessibilidade física e assistencial Redução de conformações domiciliares de risco Tecnologias assistivas
Diagnóstico tardio das deficiências Diagnóstico/identificação precoce das deficiências
PcD com acesso limitado à escola Inclusão escolar
PcD com baixa escolaridade Acesso à educação especial e regular
53
Problemáticas Necessidades assistenciais identificadas
Todas as pessoas com deficiência são SUS-dependentes Toda assistência à saúde deve ser prestada no SUS; Direito à integralidade e equidade
31,76% das PcD com hipertensão arterial Tratamento e controle da HAS Identificação de fatores de risco e prevenção de complicações
PcD domiciliadas (31,04%) Assistência integral no domicílio
PcD fumantes (15,5%)
Controle do uso do tabaco Promoção de hábitos saudáveis de vida Prevenção de diversos agravos à saúde
PcD com diabetes (11,9%)
Controle dos níveis glicêmicos Identificação de fatores de risco Detecção em tempo oportuno das complicações (retinopatia, nefropatia, neuropatia e pé diabético)
PcD em tratamento ou internadas por problemas saúde mental Tratamento e acompanhamento dessas pessoas, realizados de acordo com as necessidades apresentadas
PcD acamadas Assistência integral no domicílio
AVC/derrame
Assistência integral no domicílio Controle dos fatores causadores do AVC/derrame Prevenção de complicações
Probabilidade de isolamento social das PcD, causada pelo estigma da própria deficiência e pela condição de domiciliado e acamado
Maior interação social Assistência social
Ressalte-se que não se tem aqui a intenção de esgotar todas as necessidades assistenciais das PcD, mas descrever as
mais representativas.
54
Discussão
55
6 DISCUSSÃO
Os resultados serão discutidos na ordem exibida na ficha de cadastro
individual do eSUS, considerando inicialmente o perfil sociodemográfico e o clínico
epidemiológico, seguido das necessidades assistenciais identificado junto às
pessoas com deficiência do município de Jardim/CE.
6.1 Perfil sociodemográfico das pessoas com deficiência de Jardim/CE
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 10% da população
mundial vive com algum tipo de deficiência, das quais 80% vivem nos países em
desenvolvimento (OMS, 2011).
No Brasil, o Censo de 2010 revelou que aproximadamente 24% da população
apresenta algum tipo de deficiência sensorial, física ou intelectual, de forma parcial
ou total. A região Nordeste apresenta a maior concentração dessa população (IBGE,
2010).
No Estado do Ceará, são 2.340.150 pessoas com deficiência. O levantamento
censitário demonstrou que o percentual da população residente no Estado com
algum tipo de deficiência é de 27,69% e supera os indicadores nordestinos de
(26,63%) e nacional (23,92%). Na Região de Saúde de Juazeiro do Norte, 21ª
Regional de Saúde do Ceará, cerca de 114.980 pessoas apresentam algum tipo de
deficiência, equivalendo a 28,9% da população total da região. Nesse cenário, 6,2%
apresentam deficiência intelectual, 17,1% alguma deficiência auditiva, 58,5% com
alguma deficiência visual e 18,2% alguma deficiência motora (IBGE, 2010a).
De acordo com o Censo de 2010, Jardim possui 9.997 pessoas com
deficiência: 5.679 com deficiência visual, 1.964 com deficiência motora, 1.815 com
deficiência auditiva e 539 com deficiência intelectual/cognitiva (IBGE, 2010a).
Contudo, para o IBGE, as deficiências são classificadas em três categorias: alguma
dificuldade, grande dificuldade e não consegue de modo algum, com execção da
deficiência intelectual/cognitiva, que é classificada apenas se existe ou não a
presença da pessoa no domicílio (IBGE, 2010b). No censo do IBGE não são
descritas as pessoas com múltiplas deficiências.
56
Considerando as deficiências na categoria “não consegue de modo algum
enxergar, andar ou ouvir”, em Jardim 30, pessoas afirmaram viver com deficiência
visual, 120 pessoas com deficiência motora, 18 pessoas com deficiência auditiva e
539 com deficiência intelectual/cognitiva (IBGE, 2010).
Esse dado do IBGE se aproxima das informações coletadas pelos ACS de
Jardim principalmente nas pessoas com deficiência visual e motora. O mesmo não
aconteceu nas deficiências auditiva e intelectual/cognitiva. Acredita-se que a
diferença identificada entre as informações se dê pelo fato dos ACS cadastrarem
apenas as pessoas com deficiência que não consegue de modo algum andar, ouvir
e enxergar, ou seja, pessoas com deficiência severa. Especificamente em relação às
pessoas com deficiência intelectual/cognitiva acredita-se que há uma
subidentificação pelos ACS em Jardim, considerando a necessidade do diagnóstico
médico para classificação das síndromes e diagnósticos envolvidos nas deficiências
intelectuais.
Quanto ao local de residência, dos 26.688 habitantes que residem em Jardim,
17.695 residem na zona rural, que corresponde a 66,30% da população total e 8.993
residem na zona urbana, que corresponde a 33,70% do total (IBGE, 2010).
Informações fornecidas pela Secretaria de Saúde do município apontam que das 12
Unidades Básicas de Saúde (UBS) da Estratégia Saúde da Família (ESF) apenas
três localizam-se na zona urbana: a ESF V, ESF VI e ESF XI. Desse modo, 75% das
UBS estão localizadas na zona rural do município.
Com base nessas informações, identifica-se que a maior parte da população
em geral e das pessoas com deficiência de Jardim, concentram-se na zona rural do
município. Considerando que 75% das Unidades de Saúde estão também
localizadas na zona rural, acredita-se que as pessoas com deficiência não devem
apresentar dificuldade de acesso à assistência na Atenção Básica, o que é muito
positivo, tendo em vista todas as pessoas do município serem SUS dependentes e a
cobertura ser de 100% da população.
Entretanto, esse é um dado divergente do encontrado no Brasil, onde
prioritariamente as pessoas com deficiência vivem em áreas urbanas e apenas
15,64% dessas pessoas vive na zona rural (IBGE, 2010). Maia (2011), em seu
estudo sobre a distribuição espacial e pefil epidemiológico das PcD em áreas
57
cobertas pela ESF desenvolvido no município do Crato/CE, identificou igualmente
que prioritariamente as pessoas com deficiência residem na zona ubana (54,87%) e
em menor proporção (45,13%) na zona rural, no entanto, proporcionalmente a
maioria vivia em área rural, já que o município detém apenas 15% da população em
zona rural.
Os dados obtidos quanto às características pessoais nesse estudo,
demonstram uma prevalência da deficiência na população masculina no município
de Jardim/CE. Considera-se que dois prováveis fatores mantêm os homens como
principais atingidos por problemas de saúde que levam à incapacidade: a baixa
procura dos homens pelos serviços de saúde para prevenção/reabilitação de
doenças e a exposição masculina a maiores riscos e de diversas causas (MAIA,
2011; REBOUÇAS, 2016).
Esse dado contrasta com o resultado exibido na Cartilha do Censo 2010 sobre
Pessoas com Deficiência. Neste 56,36% da população brasileira com deficiência são
mulheres e 43,64% são homens (OLIVEIRA, 2012). Em um estudo realizado no
município de São Paulo, as mulheres também foram a maioria entre as PcD (AOKI;
OLIVER; NICOLAU, 2011).
Relacionado ao estado civil, observou-se que as PcD no município são em
sua maioria solteiras. Esse fato pode estar relacionado ao isolamento aos quais
essas pessoas são susceptíveis, bem como à dificuldade de relacionamento
interpessoal, causado pelo estigma e preconceito, bem como as doenças e
síndromes não oportunizaram tal ocorrência natural ao ciclo vital. Esta informação
remete também à provável inexistência de parentes de primeiro grau para cuidar
dessas pessoas na idade idosa, o que vai interferir diretamente na qualidade de vida
das mesmas. Residir em zona rural também predispõe ao isolamento social.
Essa realidade irá futuramente provocar a necessidade de cuidados
especializados direcionados às pessoas com deficiência, bem como a necessidade
de utilizar Instituições de Longa Permanência para Idosos – ILPI pelas mesmas.
Para a ANVISA, as ILPI são instituições governamentais ou não governamentais, de
caráter residencial, destinada a domicílio coletivo de pessoas com idade igual ou
superior a 60 anos, com ou sem suporte familiar, em condição de liberdade e
dignidade e cidadania. Essas instituições, onde são desenvolvidas ações de
58
assistência social e de saúde, acolhem idosos independentes em situação de
carência de renda e/ou de família e pessoas com dificuldades para o desempenho
das atividades diárias, que necessitem de cuidados prolongados (CAMARANO;
KANSO, 2011).
De acordo com informações da Secretaria de Saúde do município, em
Jardim/CE não existe nenhuma ILPI.
Existe predominância de quase todos os tipos de deficiência na faixa etária de
20-59 anos, com exceção da deficiência visual que é mais prevalente na faixa etária
de 60 anos ou mais, que apresenta porcentagem de 47,82% do total das pessoas
com essa deficiência.
Sabe-se que o avanço da idade traz consigo inúmeras limitações funcionais
que, quando permanentes, manifestam-se em deficiências (REBOUÇAS et al.,
2016). Durante o processo senescente, alterações em diversos sistemas funcionais
atingem o ser humano, sendo que algumas delas relacionam-se à saúde física e
sensorial, como alterações de postura e mobilidade corporal, coordenação motora,
diminuição da acuidade visual, auditiva e gustativa. Ademais, pode ocorrer o
envelhecimento cognitivo, caracterizado por modificações cerebrais, funcionais e
estruturais que não afetam, porém, o estado cognitivo global (MATTIAZZI et al.,
2014).
É relevante considerar que as deficiências podem estar sendo tardiamente
identificadas na idade infantil ou tratam-se de deficiência adquirida, já que o número
de pessoas com deficiência identificado no município em estudo na faixa etária de
menor de nove anos corresponde a apenas 8,3% do total de PcD, com poucos
casos entre os menores de 1 ano de idade.
O Ministério da Saúde preconiza, desde 2012, alguns exames de triagem
neonatal que devem auxiliar na identificação e intervenção precoce de algumas
patologias e deficiências na infância. A triagem neonatal, também conhecida como
“Teste do pezinho”, é definida como um conjunto de ações preventivas, responsável
por identificar precocemente indivíduos com doenças metabólicas, genéticas,
enzimáticas e endocrinológicas, que podem causar problemas de saúde, como a
deficiência intelectual, para que estes possam ser tratados em tempo oportuno,
evitando as sequelas e até mesmo a morte (BRASIL, 2016).
59
A Triagem Neonatal (Teste do pezinho), junto com a Triagem ocular (Teste do
olhinho) e a auditiva (Teste da orelhinha) fazem parte de Programa Nacional de
Triagem Neonatal (PNTN).
O Programa Nacional de Triagem Neonatal por sua vez é um programa de
rastreamento populacional, que tem como objetivo
identificar distúrbios e doenças no recém-nascido, em tempo oportuno, para intervenção adequada, garantindo tratamento e acompanhamento contínuo às pessoas com diagnóstico positivo, com vistas a reduzir a morbimortalidade e melhorar a qualidade de vida das pessoas. A missão é promover, implantar e implementar a triagem neonatal no âmbito do SUS, visando ao acesso universal, integral e equânime, com foco na prevenção, na intervenção precoce e no acompanhamento permanente das pessoas com as doenças do Programa Nacional de Triagem
Neonatal (BRASIL, 2016, p.09).
De forma geral, a não realização desses testes para identificação e
intervenção precoce das deficiências pode estar relacionada à infraestrutura da
maternidade municipal ou daquelas de referência nas quais as crianças nascem, ao
vínculo e habilidade do profissional que os realiza e à inexistência de programas de
rastreamento das deficiências na atenção primária em saúde.
Strefling et. al (2014) afirma que outras lacunas podem estar relacionadas à
fragilidade na realização desses exames de triagem neonatal e consequentemente
interferir na identificação precoce das deficiências, dentre elas a falta de
conhecimento técnico-científico e/ou desvalorização do exame pelos profissionais
que fazem a coleta e informações superficiais que os pais detêm sobre a
importância e a finalidade dos exames.
Informações fornecidas pela Secretaria de Saúde do município afirmam que
os testes do pezinho e da orelhinha são realizadas na maternidade do município, por
profissionais capacitados para sua realização. O Teste do olhinho, por sua vez, é
feito apenas entre os neonatos que nascem na maternidade de referência,
localizada no município vizinho a Jardim, não sendo realizado, portanto, em todas as
crianças conforme preconiza o Ministério da Saúde.
No que diz respeito ao nível de escolaridade das PcD, aproximadamente 1/3
das pessoas cadastradas nesse estudo é analfabeta.
60
Esse dado não condiz com o recomendado na Política Nacional de Educação
Especial na perspectiva da Educação Inclusiva, cujo objetivo é o de assegurar a
inclusão escolar de alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento
e altas habilidades/superdotação. Importante salientar também que a referida
política orienta os sistemas de ensino a garantir:
acesso ao ensino regular, com participação, aprendizagem e continuidade nos níveis mais elevados do ensino; transversalidade da modalidade de educação especial desde a educação infantil até a educação superior; oferta do atendimento educacional especializado; formação de professores para o atendimento educacional especializado e demais profissionais da educação para a inclusão; participação da família e da comunidade; acessibilidade arquitetônica, nos transportes, nos mobiliários, nas comunicações e informação; e articulação
intersetorial na implementação das políticas públicas (BRASILa, 2008, p.14).
A elevada taxa de analfabetismo é referida por Holanda et al. (2016) como um
dos fatores que podem influenciar negativamente a integração social das PcD. Os
autores consideram ainda o analfabetismo um indicador da necessidade de ações
destinadas a superar as possíveis dificuldades impostas pela condição
socioeconômica.
Das pessoas com deficiência que frequentam a escola ou creche, a maior
proporção é de pessoas com deficiência intelectual/cognitiva, que representa
38,10% do total de PcD. Informações colhidas na Secretaria de Educação do
município expõem que numa escola do centro da cidade funciona uma turma de
educação especial, fato que justifica as PcD intelectual/cognitiva frequentarem a
escola ou creche em maior proporção. O IBGE (2010) revela ainda que 143 pessoas
com deficiência estão matriculadas em oito escolas da zona urbana e 127 PcD em
18 escolas da zona rural do município de Jardim/CE.
O IBGE apresenta outros dados que se aproximam das informações
identificadas nesse estudo: são 270 pessoas com deficiência, das quais 165 são do
gênero masculino e 105 feminino; 193 dessas pessoas moram na zona rural e 77 na
zona urbana. Identifica ainda que das 270 PcD, 130 utilizam transporte do governo,
dos quais 121 usam transporte do governo municipal e nove do governo estadual.
Nas últimas décadas, com todas as mudanças na educação com vistas à
implementação de escolas inclusivas, tem-se um número maior de pessoas com
61
deficiência estudando e, apesar de toda a controvérsia em torno do assunto, cada
vez mais estes estarão incluídos (MARIUSSI; GISI; EYNG, 2016).
Diferente da educação especial, a proposta da educação inclusiva é de
ampliar a população a ser incluída na escola, pois esta modalidade de educação diz
respeito a todos aqueles tradicionalmente dela excluídos. Assim, a educação
inclusiva também se refere às crianças e adolescentes pobres, negros, indígenas,
imigrantes, em conflito com a lei, dentre outros (DIAS; ROSA; ANDRADE, 2015).
No Brasil, de acordo com o Censo Escolar de 2013, os importantes avanços
alcançados pela atual Política Nacional de Educação Inclusiva apresenta os
seguintes números: em 2007, 62,7% das matrículas da educação especial estavam
nas escolas públicas e 37,3% nas escolas privadas. Em 2013, esses números
alcançaram 78,8% nas públicas e 21,2% nas escolas privadas, mostrando a
efetivação da educação inclusiva e o empenho das redes de ensino em envidar
esforços para organizar uma política pública universal e acessível às pessoas com
deficiência (INEP, 2013).
De acordo com dados do Observatório do Plano Nacional de Educação,
também houve melhoria da educação inclusiva no Nordeste, Estado do Ceará e
município de Jardim. Em 2007, a porcentagem de matrículas de alunos com
deficiência em classes comuns era de 53% no Nordeste, 63% no Estado do Ceará e
59,4% em Jardim. Em 2014, esses números alcançaram 91,9% no Nordeste, 94,9%
no Ceará e 67,4% em Jardim, apresentando que assim como em nível nacional,
houve efetivação da educação inclusiva no Estado, no entanto, Jardim não
apresentou signiticativa melhoria no acesso escolar aos que vivem com deficiência
(BRASIL, 2014).
Sobre a educação das pessoas com deficiência intelectual/cognitiva, deve-se
levar em consideração que são seres humanos em potencial, por isso a necessidade
de insistir no ensino de conteúdos científicos, nos saberes construídos e elaborados
pela sociedade, para que assim possam distanciar-se de seus limites e de suas
dificuldades (ROSSATO; CONSTANTINO; MELLO, 2013).
Sobre a educação das pessoas com deficiência intelectual/cognitiva
Angonese, Boueri e Schmidt (2015) consideram a escola como o local ideal para
essas pessoas com deficiência expandirem suas habilidades, por meio da utilização
62
nesse espaço de boas práticas de ensino que favorecessem a transição até mesmo
para o mundo do trabalho, dentre elas o desenvolvimento de habilidades de vida
prática, o gerenciamento do próprio dinheiro e as habilidades interpessoais
necessárias para o trabalho, além de explorar diferentes opções de carreira, de
maneira a poder fazer suas próprias escolhas.
As pessoas com deficiência física e visual são as que tem menos acesso às
escolas, que pode estar relacionada à severidade da deficiência bem como à
presença de barreiras geográficas e de possíveis barreiras arquitetônicas que
devem existir nessas escolas.
A falta de acessibilidade ou sua limitação afetam as pessoas com deficiência,
prejudicando seu livre acesso às instituições de ensino, equipamentos de saúde e
outras estabelecimentos, o que muito limita diretamente seus direitos como
cidadãos. Os deficientes físicos, por sua vez, têm maior dificuldade de acesso aos
estabelecimentos, principalmente aqueles localizados nas periferias das cidades.
Ter limitações, no entanto, não diminui os direitos e deveres da pessoa, pois ela é
cidadã e faz parte da sociedade como todas as demais (BATISTÃO; CHAVES;
GOMES, 2014).
Em Jardim-CE essa situação pode estar agravada pois a maioria dos que
vivem com deficiência residirem em áreas rurais.
No que diz respeito à inclusão escolar das PcD, a Política Nacional de
Educação Especial na Perspectiva da Educação inclusiva, publicada pelo Ministério
da Educação, assegura que a educação para pessoas com deficiência “constitui um
paradigma educacional fundamentado na concepção de direitos humanos, que
conjuga igualdade e diferença como valores indissociáveis” (BRASIL, 2007).
Apesar de todo o processo de lutas por garantia de direitos a uma educação
inclusiva ter se iniciado há algumas décadas e apesar dos avanços nas legislações,
ainda se vivenciam limitações devido à complexidade que essa questão apresenta.
A educação inclusiva ainda é um processo em construção e envolve mais do que
estar na escola, é necessário compreender as diferenças como desafio à garantia do
direito à educação plena (MARIUSSI; GISI; EYNG, 2016).
Nesse estudo não foram identificadas PcD com nível superior. O município de
Jardim não possui Instituição de Ensino Superior (IES), logo as pessoas com
63
deficiência não estão conseguindo frequentar um curso de nível superior,
provavelmente devido às barreiras geográficas existentes e à inexistência de
transporte adaptado para acesso às Instituições de Ensino Superior existentes na
Região.
A baixa escolaridade dessas pessoas vai interferir diretamente na inserção do
mercado de trabalho. Segundo Rebouças et al. (2016), a escolaridade e a
remuneração estão diretamente relacionadas. Nesse sentido, pessoas com baixa
qualificação têm dificuldades de inserção no mercado de trabalho e, quando
inseridas, possuem baixos salários. A dificuldade é ainda maior se houver uma
deficiência aliada a uma baixa qualificação. Os autores relatam ainda que mesmo os
deficientes com mais anos de estudo não conseguem se inserir no mercado de
trabalho em cargos com maiores rendimentos.
Em relação à ocupação e à situação no mercado de trabalho das pessoas
com deficiência, identificou-se que mais da metade dessas pessoas são
aposentados/pensionistas. Sobre a situação das PcD no mercado de trabalho, os
desempregados e os que não trabalham totalizam quase um terço das pessoas
cadastradas. Acredita-se que essas pessoas, além de residirem na zona rural do
município, apresentam dificuldade de se inserir no mercado de trabalho por baixa
escolaridade, bem como o acesso ao emprego formal e por esses motivos não têm
renda fixa.
Apesar da criação de leis federais pelo Governo Brasileiro como a Lei nº
8.213 art. 93 de 1991, que garante vagas reservadas à população com deficiências
em toda empresa com mais de 100 empregados, ainda existem impedimentos para
que a inserção laboral seja plenamente efetuada. Dentre as principais dificuldades
de inserção nas empresas estão a falta de equipamentos para atender às
necessidades especiais, a ausência de acessibilidade, a má-qualificação profissional
e o desconhecimento, por parte dos gestores, das capacidades funcionais das
pessoas com deficiências (PAIVA; BENDASSOLLI; TORRES, 2015).
Jardim não apresenta um grande número de comércio, nem indústrias ou
rede de serviços que justifique a inserção da pessoa com deficiência no mercado de
trabalho.
64
Problemas como a falta de qualificação profissional, a inexistência de
transporte adaptado para acesso aos locais de trabalho, a presença de barreiras
arquitetônicas e a dúvida entre trabalhar ou obter benefícios da Assistência Social
tornam a experiência do trabalho distante das possibilidades reais das PcD, mesmo
com a existência da lei das cotas (AOKI; OLIVER; NICOLAU, 2011).
Sobre a pequena participação das pessoas com deficiência em grupos
comunitários encontrado nesse estudo, Holanda et al. (2015) consideram que em
virtude da dificuldade de deslocamento e de acesso aos serviços de saúde, as
pessoas com deficiência ficam limitadas a uma condição de isolamento social, ou
seja, têm seu convívio restrito aos familiares e com muitas limitações para inserção
nos demais grupos sociais.
Nenhuma das PcD cadastradas nesse estudo possui plano de saúde privado,
ou seja, todas utilizam o SUS para assistência à saúde. Considerando que 50,18%
da população está na faixa etária de 20-59 anos e 29,96% tem 60 anos ou mais,
supõem-se que a Unidade Básica de Saúde deverá ser preferencialmente o
equipamento mais frequentado pelas pessoas com deficiência no município de
Jardim. Nesse sentido, faz-se necessário o fortalecimento da Atenção Básica,
considerada por Mendes (2011) a porta de entrada do Sistema de Saúde e
ordenadora do cuidado na Rede de Atenção à Saúde, de forma que seja garantida a
assistência às pessoas com deficiência e o encaminhamento aos demais pontos de
atenção dessa rede quando necessário.
Mendes (2011) destaca ainda a importância da Atenção Primária à Saúde,
considerada o centro de comunicação das redes de atenção à saúde e o nó
intercambiador no qual se coordenam os fluxos e contrafluxos do sistema de
atenção à saúde. Ressalta ainda que a atenção primária à saúde deve cumprir três
papéis essenciais para garantir todos os benefícios à população: a resolução; a
coordenação da rede, com a capacidade de orientar os fluxos e contrafluxos de
pessoas, informações e produtos entre os componentes das redes; e a
responsabilização, pela capacidade de acolher e responsabilizar-se, sanitária e
economicamente, por sua população.
Nesse sentido, faz-se necessária a implementação da Rede de Cuidados à
pessoa com deficiência da Região de Juazeiro do Norte, ampliando o acesso e
65
promovendo a vinculação dessas pessoas aos diversos pontos de atenção. Deste
modo, será garantida a ampliação do acesso à saúde para as pessoas com
deficiência.
6.2 Perfil clínico-epidemiológico das pessoas com deficiência do município de
Jardim/CE
Considera-se que a caracterização do perfil clínico epidemiológico dessas
pessoas, levando em consideração as suas especificidades, irá contribuir de forma
significativa para a reorganização da assistência em saúde aos que vivem com
deficiência.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (2012), as pessoas com
deficiência desenvolvem os mesmos problemas de saúde da população em geral,
embora alguns possam se apresentar mais suscetíveis ao desenvolvimento de
doenças crônicas devido à influência de fatores de risco comportamental, como por
exemplo, uma crescente inatividade física.
De acordo com os dados, o perfil das pessoas com deficiência relacionado ao
peso revelou prevalência do peso adequado e uma menor parcela está acima do
peso, condição apresentada principalmente pelas PcD física, possivelmente pela
dificuldade de locomover-se e de realizar atividades físicas.
Segundo Dalcastagne et al. (2015), a população em geral está adotando cada
vez mais o sedentarismo, estando incluídos nesse julgamento principalmente os
deficientes físicos, que na sua maioria não praticam atividades. Os autores afirmam
ainda que a inatividade física pode ser um complicador do estado geral de saúde de
pacientes afetados por várias patologias, englobando as cardiovasculares, renais,
endocrinológicas, neuromusculares e osteoarticulares.
Consoante observado nesse estudo sobre o grande número das PcD física
que são fumantes e em menor proporção das que fazem uso regular de álcool,
ressalta-se que o tabagismo e o consumo excessivo de álcool, além de inatividade
física e das dietas inadequadas, são considerados os principais fatores de risco
preveníveis para o desenvolvimento das doenças crônicas não transmissíveis
(DNCT). O tabagismo, por sua vez, relaciona-se não somente com as doenças
66
cardiovasculares, o diabetes e as neoplasias, como também às doenças
respiratórias crônicas (BRASIL, 2015a).
Os dados relativos às doenças crônicas identificados nesse estudo, sobretudo
a maior incidência da hipertensão arterial sistêmica, seguida do diabetes mellitus e
AVC/derrame, todas predominantes nas PcD física, corroboram com os achados
apresentados no Relatório Mundial sobre a Deficiência (2012), o qual destaca que
adultos com deficiência de desenvolvimento apresentam uma taxa de problemas
crônicos de saúde similar ou maior do que a de pessoas não portadoras de
deficiências.
Além disso, a Organização Mundial de Saúde aponta que o aumento dos
casos de diabetes, doenças cardiovasculares, complicações mentais, câncer e
doenças respiratórias terão um efeito intenso sobre as deficiências em todo o mundo
(OMS, 2012).
De acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia, a HAS é um grave
problema de saúde pública no Brasil e no mundo. Sua prevalência no Brasil é de
32% em adultos, chegando a mais de 50% para indivíduos com 60 a 69 anos e 75%
em indivíduos com mais de 70 anos (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA,
2010).
Como observado, o perfil encontrado em Jardim-CE das pessoas com
deficiência com hipertensão arterial identificada em 31,76% delas assemelha-se ao
apresentado pela Sociedade Brasileira de Cardiologia, sendo esse considerado o
problema de saúde de maior proporção por essas pessoas.
Sobre a prevalência do diabetes mellitus (DM) nas PcD visual identificada
nesse estudo, sabe-se que a cegueira é uma das complicações crônicas do
diabetes. Desta forma, o DM não controlado é considerado causa de cegueira,
insuficiência renal e amputações de membros, sendo responsável por gastos
significativos em saúde, além de intervir substancialmente na redução da
capacidade de trabalho e da expectativa de vida (BRASIL, 2013a).
De acordo com dados epidemiológicos apresentados pelo Ministério da
Saúde, a prevalência mundial da diabetes ultrapassou 415 milhões de pessoas, no
Brasil atinge a ordem de 6,2% da população e na região Nordeste 5,4%. A doença
acarreta grande ônus para o estado, visto que o risco de uma pessoa com diabetes
67
desenvolver complicações crônicas graves é muitas vezes superior ao de pessoas
sem diabetes – 30 vezes para cegueira, 40 vezes para amputações de membros
inferiores, 2 a 5 vezes para infarto agudo do miocárdio (IAM) e 2 a 3 vezes para
AVC. Nesse sentido, recomenda-se a detecção em tempo oportuno dessas
complicações com definição de responsabilidades compartilhadas entre a Atenção
Básica e os demais níveis de atenção, para acompanhamento e seguimento de cada
caso (BRASIL, 2013a).
As pessoas com deficiência física também foram as que apresentaram o
maior número de internações nos últimos doze meses, com 11 das 14 internações
totais referidas pelas PcD.
Esse achado corrobora com Holanda et al. (2015), ao afirmar que as PcD
física encontram mais dificuldade de acesso aos serviços de saúde, cujas limitações
exigem um meio de transporte adequado ao seu deslocamento. Em certas ocasiões,
mesmo conseguindo garantia de atendimento no serviço, o usuário não tem
condições financeiras e/ou físicas de se deslocar continuamente até o mesmo,
perdendo a oportunidade de recuperação, agravando seu problema de saúde e
muitas vezes levando-o à hospitalização.
O estudo identifica que as PcD em tratamento com psiquiatra ou internação
em saúde mental pertenciam principalmente ao grupo daquelas pessoas com outras
deficiências e deficiência intelectual/cognitiva. Surjus e Campos (2013) consideram
que pessoas com deficiência intelectual chegam até o serviço de saúde mental
como uma demanda inadequada aos serviços de saúde mental, aparentemente
paralela, mas com certa constância. Afirmam ainda que um alto percentual de PcD
intelectual/cognitiva são referenciadas aos CAPS, inseridas a partir de comorbidades
psiquiátricas e/ou da profunda falta de outras ofertas mais adequadas.
A respeito da condição de domiciliado e de acamado das PcD encontrada no
presente estudo, sobretudo das pessoas com deficiência visual e física, acredita-se
que em decorrência da dificuldade de deslocamento e de acesso aos serviços de
saúde, as pessoas com deficiência estão propícias a uma condição de isolamento
social, pois geralmente têm sua vida social restrita ao convívio com familiares e
apresentam por vezes muitas limitações para inserção nos demais grupos sociais
(HOLANDA et al., 2015).
68
Relativo a essas informações, Fiorati e Elui (2015) pontuam que, apesar dos
avanços quanto à inclusão de pessoas com deficiência em determinados espaços,
muitas ainda desconhecem os dispositivos assistenciais e direitos sociais e
encontram-se confinadas ao espaço doméstico. As autoras consideram ainda a
inclusão social dessas pessoas como pré-requisito fundamental para a qualidade de
vida e promoção da saúde, afirmando a importância e necessidade do envolvimento
e da participação em atividades que integram o universo existencial humano.
Além disso, existem evidências de que uma rede social estável, ativa e
confiável atue como um fator de proteção à saúde da pessoa com deficiência,
“funciona como agente de ajuda e encaminhamento, afeta a pertinência e a rapidez
da utilização dos serviços de saúde, acelera os processos de cura e aumenta a
sobrevida, ou seja, é geradora de saúde” (HOLANDA et al., 2015, p.181).
Sobre o uso significativo de plantas medicinais pelas PcD encontrado nesse
estudo, não foi encontrada nenhuma literatura que justifique esse dado, porém,
associa-se esse dado ao fato de que 75% das PcD moram na zona rural do
município, sendo esse um hábito muito comum das pessoas que residem no campo.
6.3 Necessidades assistenciais das pessoas com deficiência do município de
Jardim/CE
As pessoas com deficiência, assim como as demais, possuem necessidades
peculiares inerentes à educação, lazer, cultura, esporte. Do mesmo modo, são com
as necessidades relacionadas à saúde.
Com base no Relatório Mundial sobre a Deficiência, há um pressuposto
implícito de que cada tipo de deficiência tem necessidades específicas de saúde,
educacionais, de reabilitação, sociais e de apoio. Porém, respostas diferentes
podem ser necessárias, considerando que indivíduos com a mesma deficiência
podem ter experiências e necessidades muito diferentes (OMS, 2012).
As pessoas com deficiência física, por sua vez, apresentam necessidades de
acessibilidade física tendo em vista que eles têm maior dificuldade de acesso aos
serviços de saúde, principalmente às unidades de saúde localizadas nas periferias
das cidades. Nesse sentido, a falta de acessibilidade ou sua limitação irão afetar os
69
portadores de deficiência, na medida em que o livre acesso aos equipamentos de
saúde estará prejudicado e seus direitos como cidadãos diretamente limitados
(BATISTÃO; CHAVES; GOMES, 2014).
A acessibilidade das pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida
está legalizada através da Lei nº 10.098 de 19 de dezembro de 2000. Esta Lei
estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade
dessas pessoas, mediante a supressão de barreiras e de obstáculos nas vias e
espaços públicos, no mobiliário urbano, na construção e reforma de edifícios e nos
meios de transporte e de comunicação (BRASIL, 2000).
Para garantia dessa acessibilidade, faz-se necessário melhorar a
infraestrutura em especial das Unidades de Saúde, com instalação de dispositivos
de acessibilidade. Para Batistão, Chaves e Gomes (2014), a acessibilidade deve
incluir detalhes construtivos que possam facilitar a utilização de um espaço pelo
usuário e, nesse sentido, pode ser definida como as características de um serviço de
saúde analisando-o sob o aspecto da capacidade da população de utilizá-lo.
Dentre as ações e atitudes que podem repercutir na melhoria da
acessibilidade, algumas delas melhoram este acesso ao serviço de saúde, como a
prioridade no atendimento, em algumas situações e, realização de visitas
domiciliares, quando possível. Estas ações são possíveis principalmente pela
contribuição e colaboração do ACS, que tem atuado como agente comunicador
entre a família e a equipe da ESF (ROSARIO et al., 2013).
As autoras reforçam ainda quanto aos objetivos da visita domiciliar: avaliar o
contexto de vida do usuário, suas demandas e necessidades e estabelecer um plano
assistencial para cada família/paciente visitado. No entanto, muitas vezes ao invés
de realizar a visita domiciliar, os profissionais realizam a assistência domiciliar, na
qual são realizados procedimentos, sem o intuito de considerar tudo que emana da
realidade da família.
Por vezes, a depender da severidade da deficiência, as PcD podem
necessitar de assistência no domicílio. Essa assistência pode ser realizada pela
ESF, em parceria com o NASF, por meio das visitas domiciliares e, em alguns
casos, pela Equipe de Atenção Domiciliar. Essa equipe que é multiprofissional
estabelece necessariamente, um cuidado em rede, com o desenvolvimento de
70
saberes e habilidades para facilitar o provimento e a disponibilização de tecnologias
de saúde de acordo com as necessidades dos pacientes. Esse atendimento
domiciliar também é realizado em pacientes com outras condições clínicas além da
síndrome da imobilidade, como as disfunções cognitivas e alterações
comportamentais, os déficits sensoriais, condições essas que podem ser
apresentadas por pessoas com outras deficiências (BRASIL, 2013c).
A reabilitação é outra necessidade apresentada pela maioria das PcD física,
bem como pelas PcD intelectual/cognitiva. Geralmente essa reabilitação é realizada
nos Centros Especializados de Reabilitação e, segundo Aoki, Oliver e Nicolau
(2011), o encaminhamento para esses serviços revela uma tendência biomédica no
tratamento das incapacidades, pois em sua grande maioria, são desarticulados do
contexto sociocultural dos sujeitos, com propostas dirigidas, exclusivamente, à
melhoria da condição física do usuário.
Além da acessibilidade assistencial e a reabilitação comuns às PcD, as
pessoas com deficiência auditiva apresentam necessidades relacionadas às
diversas dificuldades que encontram devido à perda parcial ou total da audição. O
bloqueio de comunicação entre surdos e profissionais da saúde, muitas vezes
considerado um obstáculo para a comunidade surda ao procurar serviços de saúde,
pode comprometer a qualidade de vida e saúde dessas pessoas, além de gerar
possíveis complicações na relação médico-paciente, confiança no profissional de
saúde e aderência ao tratamento (MAGRINI; SANTOS, 2014). Nesse sentido, a
equipe de Saúde da Família deve enveredar esforços no sentido de se estabelecer
uma boa comunicação com as pessoas com deficiência auditiva para que em sua
assistência, suas necessidades sejam atendidas.
Sobre a identificação precoce da surdez, Sabagg (2015) considera que a
realização de testes audiológicos em neonatos impacta na identificação precoce de
problemas auditivos sobre a saúde da população com risco de deficiência auditiva,
visto que quando o atendimento inicia-se desde o período neonatal aumentam-se as
chances de intervir e melhorar a competência linguística e desenvolvimento da
alfabetização para crianças com deficiência auditiva, o que garantirá melhores
condições de vida a este indivíduo.
71
Assim como para as pessoas com deficiência física, as necessidades
assistenciais para as pessoas com deficiência visual devem ser direcionadas à
acessibilidade física e à assistencial, que muitas vezes é complexa pela dificuldade
de comunicação inerentes às PcD visual. Para tanto, Martins et al (2015b) considera
que a promoção do cuidado voltado para as necessidades biopsicossociais das PcD
visual perpassa um processo comunicativo eficaz entre os profissionais e o usuário,
cuja comunicação pode se construir de diferentes formas e que, para tal, a
expressão verbal ou não verbal de um dos indivíduos tem que ser percebida dentro
do universo de significação comum ao outro.
No que diz respeito à redução de conformações domiciliares de risco, Martins
et al. (2015b) consideram que todos os cuidados necessários nesse ambiente
devem ser providenciados, para que o mesmo possa proporcionar segurança e
liberdade de chegar, fazer e descolar-se sem barreiras, uma vez que esse aspecto
para uma pessoa com deficiência visual é uma sensação de estar vivendo uma vida
mais saudável, de melhorar a imagem corporal e a autoestima.
As PcD intelectual/cognitiva, por sua vez, apresentam necessidades de
inclusão social e escolar e de assistência especializada. De acordo com Fiorati e
Elui (2015), a inclusão social das pessoas com deficiência é pré-requisito
fundamental para qualidade de vida e promoção de saúde, pelo envolvimento e
participação em atividades que integram o universo existencial humano.
Sobre a inclusão escolar dessas pessoas, além da importância do aumento
do número de escolas que recebem pessoas com deficiência, é preciso que a escola
retrate um ambiente inclusivo e participativo, no qual todos tenham espaço, sintam-
se acolhidos e respeitados, que aprendam a conviver na diversidade, prática
desafiadora pois não se resume apenas à transmissão do que deve ser feito
referente aos direitos, mas passa pelo exemplo cotidiano. Nesse ambiente,
certamente os direitos das pessoas com deficiência também serão respeitados e
vivenciados (MARIUSSI; GISI; EYNG, 2016).
Sobre a assistência às PcD intelectual/cognitiva, Surgus e Campos (2013)
referem algumas experiências exitosas de atendimento a essas pessoas nas
Unidades Básicas de Saúde, bem como a eficácia dos Centros de Convivência, que
se constitui atualmente como uma importante porta de acesso à saúde para
72
populações em situação de vulnerabilidade. As autoras reforçam sobre a
necessidade de diálogo entre gestores e profissionais de saúde, sensibilizando-os
para a importância das ações preventivas e construção de qualificação do acesso e
da atenção às PcD intelectual/cognitiva.
O uso das tecnologias de informação, comunicação e cuidado aplicadas como
tecnologia assistiva pelas PcD tem o objetivo de facilitar a comunicação e o acesso
dessas pessoas à informação, bem como o desenvolvimento de capacidades e
competências funcionais das mesmas. O uso dessas metodologias, apesar de ainda
limitado, ameniza as barreiras causadas pela deficiência e inserem esses indivíduos
em ambientes ricos para a aprendizagem, proporcionando a superação destas
barreiras impostas pelas suas limitações e pelo meio (GITAHY; SILVA;
TERÇARIOL, 2016). Segundo Radabaugh (1993, p.03), “ [...] para as pessoas sem
deficiência, a tecnologia torna as coisas mais fáceis. Para as pessoas com
deficiência, a tecnologia torna as coisas possíveis”.
Há dificuldades, sobretudo nos países em desenvolvimento, para diagnosticar
e identificar as crianças com deficiência. Isso, pela pouca informação, o que sugere
que as crianças com deficiência não estão sendo identificadas ou não estão
recebendo assistência adequada (BENTO et al., 2015).
É nesse sentido, da necessidade do diagnóstico/identificação precoce das
deficiências, que surgem novas discussões sobre a assistência à saúde para a
pessoa com deficiência, nas quais os profissionais da atenção primária recebem o
papel de prevenir agravos e identificar precocemente as deficiências em suas áreas
adstritas (ROSÁRIO et al., 2013). Dentre as ações desenvolvidas pelos profissionais
da ESF estão as consultas de puericultura, através das quais acompanham a
realização e o resultado dos exames preconizados pelo Ministério da Saúde a serem
realizados no primeiro mês de vida da criança, dentre eles os teste do pezinho, da
orelhinha e do olhinho (BRASIL, 2016).
No que diz respeito à necessidade de inclusão escolar apresentada por
algumas pessoas com deficiência, Bento et al. (2015) reforçam a importância do
Estado em garantir atendimento educacional especializado às pessoas com
deficiência e sobre a necessidade de envolvimento das famílias nesse processo. As
autoras afirmam ainda que apesar das instituições especializadas alegarem que as
73
escolas regulares não apresentam estrutura e condições para atender as pessoas
com deficiência, visando a dignidade, a igualdade de oportunidades e a proibição da
discriminação em relação às PcD.
Relacionado ao acesso à educação especial, o Ministério da Educação
garante por meio da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da
Educação Inclusiva, o acesso, a participação e a aprendizagem dos estudantes com
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidades/superdotação nas escolas regulares (BRASIL, 2008).
Resultados apresentados no Censo Escolar de 2013 comprovam a efetivação
da educação especial. No Brasil, em 2007, 62,7% das matrículas da educação
especial estavam nas escolas públicas e em 2013 esse dado alcança 78,8% das
matrículas realizadas, o que comprova o avanço da educação especial no país
(INEP, 2013).
Considerando que todas as pessoas com deficiência identificadas nesse
estudo são SUS-dependentes, faz-se necessário que a assistência em saúde do
Sistema Único de Saúde, organizada nos três níveis de atenção, aconteça de forma
satisfatória, integrada e equânime e não em condição de fragilidade e com
descontinuidade no atendimento. De acordo com a OMS, apenas 2% das pessoas
com deficiência têm acesso à reabilitação, porcentagem essa que cai em países em
desenvolvimento (FIORATI; ELUI, 2015).
Especificamente no atendimento às necessidades das PcD com hipertensão,
este deve consistir essencialmente no tratamento e controle da HAS, na
identificação de fatores de risco e na prevenção de complicações. É essencial que
nessa assistência, realizada pela equipe da ESF, o paciente seja avaliado
integralmente, já que comumente a HAS está associada a outros fatores de risco e
doenças. O Ministério da Saúde considera ainda que não há necessidade de
organizar o cuidado nesse ponto de atenção de forma fragmentada, por doenças,
sendo fundamental garantir o acesso e o cuidado longitudinal para a pessoa
independente de qual problema ela possui (BRASIL, 2013d).
Para as pessoas com deficiência que são fumantes, os cuidados são
semelhantes aos cuidados da população em geral. De acordo com o Ministério da
Saúde, o tabaco é considerado um grave problema para os sistemas nacionais de
74
saúde, gera altos custos sociais e econômicos e representa a primeira causa de
morte evitável (BRASIL, 2015a).
Nesse sentido, é extremamente importante que no atendimento às
necessidades das PcD fumantes seja reforçada a orientação sobre o controle do uso
do tabaco, da promoção de hábitos saudáveis de vida e da prevenção de diversos
agravos à saúde.
Já as necessidades assistenciais direcionadas às PcD com diabetes mellitus
também envolvem os mesmos cuidados direcionadas às pessoas em geral
acometidas por essa patologia e deverá ser realizada de acordo com as
necessidades gerais previstas no cuidado integral e longitudinal do diabetes,
incluindo o apoio para mudança de estilo de vida, o controle metabólico e a
prevenção das complicações agudas e crônicas (BRASIL, 2013a).
Para as PcD em tratamento com psiquiatra ou internadas por problemas
saúde mental, recomenda-se o tratamento e acompanhamento dessas pessoas de
acordo com as necessidades apresentadas pelas mesmas. Na Atenção Básica, essa
necessidade assistencial é facilitada pela proximidade dos profissionais de Saúde
aos usuários, o que permite conhecer a história de vida dessas pessoas e de seus
vínculos com a comunidade/território onde moram, bem como com outros elementos
dos seus contextos de vida, até mesmo quando há necessidade de
encaminhamento aos demais pontos de atenção da rede (BRASIL, 2013d).
Para atendimento das necessidades das PcD domiciliadas, acamadas e com
sequelas de AVC/derrame faz-se necessária a assistência integral no domicílio.
Esse atendimento domiciliar pode ser realizado pela equipe de Saúde da Família,
com apoio dos profissionais do NASF, durante a visita domiciliar e, em alguns casos,
pela Equipe Multiprofissional de Atenção Domiciliar (EMAD) / Equipe
Multiprofissional de Apoio (EMAP), que compõem o Serviço de Atenção Domiciliar
(SAD) (BRASIL, 2013c).
É muito comum no cotidiano das equipes de saúde que trabalham no SUS,
em especial na atenção domiciliar, deparar-se com situações complexas, seja pelas
características clínicas dos pacientes, seja pelas condições socioeconômicas em
que se encontram. Nesses casos, em que a equipe da Atenção Primária necessita
de apoio, a EMAD/EMAP, bem como o NASF, realiza também o cuidado desse
75
usuário, assumindo um papel mais protagonista e estabelece processos que ajudam
a aumentar a capacidade da ESF em lidar com a situação. Essa cooperação atua
preventivamente de modo que sejam evitadas situações mais graves e que
necessitam de apoio especializado (BRASIL, 2013c).
A atenção domiciliar no Brasil é uma modalidade assistencial recente,
principalmente no Sistema Único de Saúde. Apresenta-se como alternativa
consistente à intervenção hospitalar, tendo em vista as tendências epidemiológicas
atuais, a economia da saúde e especialmente a humanização do cuidado do
paciente e de sua família (VILLAS BÔAS, 2014).
Importante ressaltar que no atendimento domiciliar das pessoas com
deficiência domiciliadas, acamadas e com sequelas de AVC/derrame, essas
pessoas deverão ser atendidas levando-se em consideração a individualidade que
cada situação requer. Especificamente nas PcD que apresentam sequelas de
AVC/derrame, esse atendimento deverá ser direcionado ao controle dos fatores
causadores do AVC/derrame, bem como à prevenção de outras complicações.
Com base em evidências científicas e, conforme descrevem Santos et al.
(2016), a qualidade do cuidado a pessoas que sobrevivem ao AVC varia
consideravelmente entre os países e depende, dentre outros fatores, da
disponibilidade de recursos humanos, do acesso às instalações de saúde, o acesso
aos serviços de diagnóstico e de laboratório, o acesso a medicamentos e o acesso
ao transporte. A disponibilidade desses recursos impacta significativamente na
abrangência e na continuidade dos cuidados.
Para as pessoas com deficiência com probabilidade de isolamento social,
causada pelo estigma da própria deficiência e pela condição de domiciliado e
acamado, a necessidade apresentada é de apoio social, fornecido geralmente pelas
redes formais e informais que melhoram as condições de vida desses indivíduos,
dentre os quais se destacam os serviços públicos, associações comunitárias,
igrejas, familiares, vizinhos, amigos (AOKI; OLIVER; NICOLAU, 2011).
Para Holanda et al. (2015), p.176, apoio social é definido como
qualquer informação, falada ou não, e/ou auxílio material, oferecidos por grupos e/ou pessoas que se conhecem, que resultam em efeitos emocionais e/ou comportamentos positivos. Pode ser do tipo material, quando reflete o acesso dos indivíduos aos serviços práticos e recursos materiais; afetivo, envolve expressões
76
de amor e afeição; emocional, refere-se à empatia, carinho, amor, confiança, estima, afeto, escuta e interesse; e interação social positiva, que diz respeito à disponibilidade de pessoas com quem se divertir e relaxar. O conjunto dos apoios permutados pelas pessoas inseridas num determinado contexto social constitui uma rede de apoio social.
Aoki, Oliver e Nicolau (2011) ponderam ainda que ter apoio social significa
compartilhar informações, obter auxílio nos momentos de crise, participar de eventos
sociais com repercussões positivas no aspecto psicossocial, como a melhoria da
autoestima, da confiança pessoal, bem como melhorias no aspecto da saúde.
Consoante observado pelas considerações aqui expostas sobre as
necessidades assistenciais das pessoas com deficiência, ressalta-se que o
atendimento a essas necessidades envolve atendê-las de acordo com as
peculiaridades apresentadas, estando relacionadas ou não, à deficiência em si.
77
Conclusões
78
7 CONCLUSÕES
Os resultados revelados nesta pesquisa confirmam a hipótese de que as
informações relacionadas ao perfil clínico epidemiológico das pessoas com
deficiência estão disponíveis na ficha de cadastro individual do eSUS, porém
indisponíveis de modo a desvelar as causas e o processo embricado na causação e
determinação da deficiência. Ademais as informações ainda são utilizadas pelos
govenos, gestão e profissionais de saúde para planejamento das ações direcionadas
à essa população.
O perfil sócio-demográfico das pessoas com deficiência em Jardim/CE
evidenciou que a maioria é do gênero masculino, reside na zona rural do município,
concentrados na idade produtiva de 20 a 59 anos, muitos são analfabetos e/ou tem
pouca escolaridade e a grande maioria não frequenta escola ou creche. A
aposentadoria é ocupação predominante.
O perfil clínico-epidemiológico dessas pessoas demonstrou que dentre as
condições apresentadas, foi identificada em maior proporção a hipertensão arterial,
seguida do diabetes e do acidente vascular cerebral, além de muitos serem
fumantes. Em menor proporção e não menos importante foram identificadas
ocorrências de hanseníase, câncer e de gestação entre as pessoas com deficiência.
Grande parcela dessas pessoas vive domiciliado e uma menor parcela vive
acamado. Muitos estão em tratamento com psiquiatra ou tiveram internação em
saúde mental. Nenhuma pessoa com deficiência está em situação de rua e todas
são SUS dependentes.
O perfil epidemiológico mostrou significância estatística para as seguintes
variáveis analisadas por tipo de deficiência (p<0,05): faixa etária, ocupação,
hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus, acidente vascular cerebral e
internação nos últimos 12 meses. No entanto, constatou-se que apenas para
algumas variáveis existe uma relação real, como na relação entre a deficiência
visual e a diabetes, bem como com o acidente vascular cerebral e a internação nos
últimos 12 meses, que também apresentou relação significativa, ambas nas pessoas
com deficiência física.
79
Em relação às necessidades assistenciais dessas pessoas, estas são
reprimidas levando-se em consideração que são atendidas mediante a procura pelo
serviço de saúde que prioritariamente quando acontece é no nível da Atenção
Primária em Saúde.
Ainda pode-se concluir que muitas das necessidades assistenciais
apresentadas pelas pessoas com deficiência são peculiares à própria deficiência,
como acessibilidade física pelas PcD visual e física, acessibilidade assistencial pelas
PcD auditiva e assistência especializada para as PcD intelectual/cognitiva.
Outras necessidades assistenciais são comuns a todas as deficiências, como
a necessidade de diagnóstico/identificação precoce das deficiências, a necessidade
de inclusão escolar e social, o acesso às tecnologias assistivas e
acompanhamento/tratamento das intercorrências relacionadas à saúde dessas
pessoas.
Algumas necessidades assistenciais, no entanto, estão relacionadas à área
da gestão e à área técnica da saúde, como a capacitação dos profissionais de saúde
visando uma comunicação adequada com as PcD e à priorização/ fortalecimento da
assistência integral no domicílio.
Ressalta-se que o atendimento às necessidades assistenciais das PcD
envolve atendê-las de acordo com as peculiaridades apresentadas pelas mesmas,
estando relacionadas ou não, à deficiência em si.
Como limitação desse estudo, menciona-se a utilização da ficha de cadastro
individual do eSUS, o que limitou o acesso a informações importantes relacionadas
à renda e à saúde bucal das pessoas com deficiência, disponíveis em outras fichas
do eSUS. Outra limitação da referida ficha é a indisponibilidade de maiores
informações sobre “outra deficiência”.
Com a utilização da ficha de cadastro individual do eSUS, percebeu-se que a
mesma não dispõe inclusive de dados relacionados à causa da deficiência
(congênita ou adquirida), à assistência à saúde (atendimento pela ESF, serviços
secundários e terciários de apoio diagnóstico e reabilitação, bem como o uso de
órtese e prótese) e à rede de apoio, consideradas relevantes para a caracterização
das pessoas com deficiência.
80
Ponderando que todas as pessoas com deficiência desse estudo são
SUSdependentes, há que se priorizar o fortalecimento da assistência prestada pelos
diversos pontos de atenção à saúde, sobretudo da Atenção Primária, considerada
porta de entrada prefencial do usuário no Sistema de Saúde. Ressalta-se ainda a
importância da comunicação da equipe de Saúde da Família com os demais níveis
assistenciais, possibilita a integralidade do cuidado.
Dessa forma, pode-se concluir que a identificação e caracterização do perfil
clínico-epidemiológico das pessoas com deficiência pode ser considerada uma
importante ferramenta de gestão, em especial para o planejamento da assistência
pelos profissionais da saúde, considerando e priorizando as necessidades
apresentadas por esse grupo populacional.
Vislumbra-se, então, a partir das informações obtidas nesse estudo, contribuir
para aprimorar a gestão e o planejamento dos serviços de saúde para as pessoas
com deficiência, por meio da reorganização e fortalecimento da assistência à saúde,
sobretudo na Atenção Primária em Saúde do município de Jardim/Ceará.
81
Referências
82
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89
APÊNDICES
90
APÊNDICE A
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Sou enfermeira e professora da Universidade Internacional da Integração Lusófona Brasileira. Coordeno um
grupo de enfermeiros e estudantes que realiza pesquisas com pessoas com deficiência. Pretendemos desenvolver um
projeto com o objetivo de implantar estratégias que contribuam com as políticas públicas de saúde dirigidas às pessoas
com deficiência na região do maciço de Baturité, Região do Cariri e Fortaleza. Estes dados serão comparados às
realidades de outras regiões e países.
A coleta de dados teve início com o mapeamento de acessibilidade física das pessoas com deficiências às
unidades de saúde, entendidas as unidades básicas de saúde (UBS), unidades de pronto atendimento (UPA) e hospitais
e maternidades.
A segunda fase da pesquisa, que se inicia agora, tem por objetivo avaliar as condições de acolhimento e
comunicação dos profissionais da saúde para com as pessoas com deficiência. Para isto será realizado grupo focal com
os profissionais que aceitarem o convite. Na estratégia de grupo focal o pesquisador coloca o tema e os participantes
discutem dificuldades e, sucessos alcançados. A atividade se completa com o esboço de estratégias a serem
implementadas.
Comprometo-me a manter sigilo institucional e pessoal sobre as informações coletadas. Os resultados serão
divulgados em relatórios técnicos, publicações e eventos científicos como subsídio para políticas públicas de
acessibilidade da pessoa com deficiência sem identificação dos locais e dos sujeitos que participaram das coletas de
dados.
Apresentados os objetivos e métodos que serão utilizados neste estudo, convido(a) a participar do mesmo e
solicito sua concordância e assinatura deste Termo. Espero contar com sua cooperação e agradeço pela atenção.
Atenciosamente,
Lorita Marlena Freitag Pagliuca
Enfermeira, pesquisadora, coordenadora deste projeto
Caso tenha alguma dúvida, procure-me. Tel.: (85) 8881-2840; e-mail: [email protected]
O Comitê de Ética em Pesquisa da UNILAB encontra-se disponível para esclarecer dúvidas e/ou reclamações.
Av. da Abolição 3, Centro, Redenção, CE, BR CEP 62 790-000. Tel.: 55 (85) 3332 1414.
TCLE aplicado por: _____________________________________________________________________________
Consentimento pós esclarecido
Eu,_________________________________________________________________________________, RG
______________________ , na função de ____________________declaro que tomei conhecimento do estudo
Implantação de estratégias que contribuam com as políticas públicas de saúde dirigidas às pessoas com
deficiência, compreendi seus objetivos e métodos, e participo espontaneamente da pesquisa.
_______________________, _____de __________________de 2014.
____________________________________________________________________________________
Assinatura do participante
91
Apêndice B – PLANILHA COMPLEMENTAR PARA ORGANIZAÇÃO DAS FICHAS DO eSUS
92
93
94
95
96
APÊNDICE C – PLANO DE GESTÃO DAS NECESSIDADES ASSISTENCIAIS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA
Problemáticas Necessidades assistenciais Ações governamentais
Prevalência de pessoas com deficiência física (47,65%)
Acessibilidade física Tecnologias assistivas
Melhoria da infraestrutura das Unidades de Saúde, com instalação de dispositivos de acessibilidade.
Atenção domiciliar
Garantia de assistência domiciliar pela ESF ou Equipe de Atenção Domiciliar/NASF Capacitação de familiares/cuidadores para realizar ações e de menor complexidade no cuidado em AD
Reabilitação – assistência especializada
Qualificação e implementação da Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência – RCPCD no âmbito regional e local
Prevalência de pessoas com deficiência auditiva (20,58%)
Acessibilidade assistencial Reabilitação
Identificação precoce de surdez
Tecnologias assistivas
Garantia atendimento e tratamento adequado aos que vivem com deficiência auditiva; Capacitação em libras Pactuação na rede de cuidados para detecção precoce da surdez e ações de reabilitação
Prevalência de pessoas com deficiência intelectual/cognitiva (15,16%)
Inclusão social e escolar Tecnologias assistivas
Formação e fortalecimento da Rede de apoio social (familiares, amigos, vizinhos, amigos, profissionais de saúde), atenção saúde e inclusão escolar
Assistência especializada Garantia da assistência pelos demais pontos de atenção da RAS
97
Problemáticas Necessidades assistenciais Ações governamentais
Prevalência de pessoas com deficiência visual (16,97%)
Acessibilidade física e assistencial Redução de conformações domiciliares de risco Tecnologias assistivas
Capacitação dos funcionários e profissionais de saúde para que haja comunicação eficaz com o usuário com deficiência visual; Melhoria da acessibilidade às Unidades Básicas de Saúde (rampas, sinalização no chão e outras providências) A ESF deverá apoiar a família na organização do domicílio para que fique o mais funcional possível para o indivíduo com deficiência visual.
Diagnóstico tardio das deficiências Diagnóstico/identificação precoce das deficiências
Realização de exames de triagem neonatal e de outras investigações na infância/adolescência
PcD com acesso limitado à escola Inclusão escolar
Acesso à escola pelas PcD, garantido através da Política Nacional de Educação Especial
PcD com baixa escolaridade Acesso à educação especial e regular
Escolarização das pessoas com deficiência, respeitando a diversidade de cada um deles.
Todas as pessoas com deficiência são SUS-dependentes
Toda assistência à saúde deve ser prestada no SUS; Direito à integralidade e equidade
Fortalecimento da assistência realizada pelos diversos pontos de atenção do SUS; Diversificação das ações para atender às necessidades assistenciais.
31,76% das PcD com hipertensão arterial
Tratamento e controle da HAS Identificação de fatores de risco e prevenção de complicações
Tratar os casos de HAS diagnosticados e manter o acompanhamento regular com vistas à adesão ao tratamento medicamentoso e não medicamentoso. Identificar risco de doenças cardiovasculares, diminuir a morbimortalidade e melhorar a qualidade de vida dos indivíduos com HAS
98
Problemáticas Necessidades assistenciais Ações governamentais
PcD domiciliadas (31,04%)
Assistência integral no domicílio
Garantia de assistência domiciliar pela ESF ou Equipe de Atenção Domiciliar; Potencializar aspectos positivos do núcleo de cuidados e apoiar a família na organização do domicílio para que fique o mais funcional possível para o indivíduo com deficiência; Capacitação dos familiares/ cuidadores para realizar ações e procedimentos de menor complexidade no cuidado em AD
PcD fumantes (15,5%) Controle do uso do tabaco Promoção de hábitos saudáveis de vida Prevenção de diversos agravos à saúde
Avaliação, motivação e acompanhamento adequados da PcD que fuma. Implantar ações anti-tabaco
PcD com diabetes (11,9%)
Controle dos níveis glicêmicos Identificação de fatores de risco
Detecção em tempo oportuno das complicações (retinopatia, nefropatia,
neuropatia e pé diabético)
Fortalecimento das ações desenvolvidas pela Atenção Básica; Tratamento e acompanhamento das pessoas com DM, realizados de acordo com as necessidades gerais previstas no cuidado integral e longitudinal do diabetes, incluindo o apoio para mudança de estilo de vida (MEV), o controle metabólico e a prevenção das complicações crônicas; A ESF deve manter a comunicação constante com os demais níveis de atenção.
PcD em tratamento ou internadas por problemas saúde mental
Tratamento e acompanhamento dessas pessoas, realizados de acordo com as necessidades apresentadas.
Atendimento em saúde mental pela ESF/NASF Encaminhamento para outros pontos de atenção (CAPS, ambulatórios especializados e outros)
99
Problemáticas Necessidades assistenciais Ações governamentais
PcD acamadas
Assistência integral no domicílio
Garantia de assistência domiciliar pela ESF/NASF ou Equipe de Atenção Domiciliar; A ESF deverá se adaptar ao contexto do paciente para potencializar aspectos positivos do núcleo de cuidados e apoiar a família na organização do domicílio para que fique o mais funcional possível para o indivíduo com deficiência; Capacitação dos familiares/ cuidadores para que sejam capazes de realizar ações e procedimentos de menor complexidade necessários no cuidado aos pacientes acamados. Apoio aos cuidadores
AVC/derrame
Assistência integral no domicílio
Controle dos fatores causadores do AVC/derrame
Prevenção de complicações
Rastreamento de HAS/DM e ações de controle Tratamento e acompanhamento das pessoas com AVC/derrame, realizados de acordo com as necessidades gerais previstas no cuidado integral e longitudinal ao paciente com AVC/derrame.
Probabilidade de isolamento social das PcD, causada pelo estigma da própria deficiência e pela condição de domiciliado e acamado
Maior interação social Assistência social
Formação e fortalecimento da rede de apoio social (familiares, amigos, vizinhos, amigos, profissionais de saúde)
100
ANEXOS
101
ANEXO A – FICHA DE CADASTRO INDIVIDUAL DO ESUS (FRENTE)
102
ANEXO A – FICHA DE CADASTRO INDIVIDUAL DO ESUS (VERSO)
103
ANEXO B – AUTORIZAÇÃO PARA REALIZAÇÃO DA PESQUISA