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UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E D AS MISSÕES
URI – CAMPUS DE ERECHIM
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA
CURSO DE MATEMÁTICA
SINDIA LILIANE DEMARTINI DA SILVA
MÉTODOS DE MEDIÇÃO DE ÁREA DE TERRAS UTILIZADOS POR
AGRICULTORES E TOPÓGRAFOS DO MUNICÍPIO DE
SANANDUVA/RS
ERECHIM
2009
1
SINDIA LILIANE DEMARTINI DA SILVA
MÉTODOS DE MEDIÇÃO DE ÁREA DE TERRAS UTILIZADOS POR
AGRICULTORES E TOPÓGRAFOS DO MUNICÍPIO DE
SANANDUVA/RS
Monografia apresentada para obtenção do título de Licenciatura em Matemática, no Curso de Matemática, do Departamento de Ciências Exatas e da Terra da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – Campus de Erechim. Orientadora: Profª. Hélia Valério Thibes
ERECHIM
2009
2
DEDICATÓRIA Dedico este trabalho ao meu pai, Afonso Demartini (in memorian), por ter sido responsável pela minha paixão pela matemática, ensinando-me cedo a fazer as “contas de roça”.
3
AGRADECIMENTOS Em especial à minha mãe Pierina pela força e apoio, e ao meu marido Milton pelo carinho e compreensão nos momentos difíceis. Também agradeço aos colaboradores desta pesquisa e aos os professores do curso, em especial à Professora Hélia, que me orientou neste trabalho.
4
“A Matemática, quando a compreendemos bem possui não somente a verdade, mas também a suprema beleza”.
Bertrand Russel
5
RESUMO
A pesquisa “Métodos de medição de área de terras utilizados por Agricultores e Topógrafos do município de Sananduva/RS” teve como objetivos: identificar e comparar os métodos de medição e cálculo de área de terras utilizado por tais profissionais, bem como analisar os resultados e os conceitos matemáticos implícitos. Foi realizada pesquisa de campo de caráter qualitativo, onde dois topógrafos e três agricultores do município de Sananduva/RS estiveram em diferentes ocasiões fazendo medições e calculando a área de um determinado terreno agrícola. A mesma foi registrada com fotografias e entrevistas gravadas, também foram representadas pelos profissionais o esboço da área e suas demonstrações de cálculo. Os métodos de medição e cálculo foram semelhantes entre os agricultores, sendo o terreno irregular, percorreram seus contornos medindo com uma corda procurando transformá-lo numa figura regular, como o retângulo e o triângulo, faziam a média dos lados opostos e determinavam a área multiplicando ambas. Os topógrafos também utilizaram técnicas semelhantes, fizeram irradiamento com o uso do teodolito, marcando as coordenadas de cada vértice do polígono determinando a área com técnicas de cálculo específicas. A média aritmética de todas as áreas encontradas é de aproximadamente 1 583,72 m². A pesquisa contribui no aspecto de avaliar perspectivas para a inovação do ensino da matemática no contexto prático. Palavras-chave: Área de terras. Educação Matemática. Topografia.
6
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Terreno selecionado para a pesquisa ...................................................... 13
Figura 2 e 3 – Medições dos agricultores A1 e A2 .................................................... 13
Figura 4 – Demonstração de cálculo do agricultor A1 ............................................... 14
Figura 5 – Demonstração do cálculo do Agricultor A2 .............................................. 15
Figura 6 e 7 – Medições do agricultor A3 .................................................................. 15
Figura 8 – Demonstração de cálculo do agricultor A3 ............................................... 16
Figura 9 e 10 – Medições do topógrafo T1 ................................................................ 19
Figura 11 – Levantamento planimétrico do topógrafo T1 .......................................... 20
Figura 12 e 13 – Medições do topógrafo T2 .............................................................. 21
Figura 14 – Levantamento planimétrico do topógrafo T2 .......................................... 21
7
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 8
2 A TOPOGRAFIA COMO CIÊNCIA .......................................................................... 9
2.1 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA .................................................................... 9
2.2 DIVISÕES DA TOPOGRAFIA ............................................................................. 10
2.3 UNIDADES DE MEDIDA ..................................................................................... 10
3 O TRABALHO DO AGRICULTOR ........................................................................ 12
3.1 OS MODELOS MATEMÁTICOS ......................................................................... 12
3.2 CONTRIBUIÇÃO DOS AGRICULTORES PARA ESTA PESQUISA ................... 12
4 O TRABALHO DO TOPÓGRAFO ......................................................................... 18
4.1 O PROFISSIONAL DA TOPOGRAFIA ................................................................ 18
4.2 CONTRIBUIÇÃO DOS TOPÓGRAFOS PARA ESTA PESQUISA ...................... 19
5 TOPOGRAFIA x MATEMÁTICA ESCOLAR ........................................................ 23
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 25
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 27
APÊNDICES ............................................................................................................. 28
8
1 INTRODUÇÃO
Esta pesquisa tem por finalidade verificar os métodos de medição de área de
terras utilizados por agricultores e topógrafos do município de Sananduva/RS, bem
como as possíveis diferenças de cálculo e resultados obtidos por cada profissional.
A Topografia é uma área das ciências técnicas que envolvem diversos
saberes matemáticos nas medições, procedimentos e cálculos. Investigar o
conhecimento matemático empírico dos agricultores ao calcularem área de terras, e
compará-lo com o conhecimento técnico dos topógrafos, pode contribuir no currículo
escolar, ajudando o professor a sair do universo dos problemas pré-formulados dos
livros didáticos e mostrar as aplicações da matemática no contexto real.
Inicialmente apresenta-se um breve histórico da Topografia, onde consta a
origem desta ciência, suas divisões, unidades de medida mais comuns e as
mudanças ocorridas através dos anos com o surgimento de novas tecnologias.
Em seguida, destaca-se o trabalho desenvolvido pelos agricultores em
contribuição a esta pesquisa com seu conhecimento empírico, sustentado por suas
experiências.
Na seguinte seção, encontram-se as informações do profissional de
Topografia, a formação necessária e campo de trabalho. Também relata-se a
contribuição destes nesta pesquisa, através de trabalho desenvolvido a campo.
A última seção é dedicada à análise dos dados obtidos nesta pesquisa e a
contribuição da mesma para a Educação Matemática.
9
2 A TOPOGRAFIA COMO CIÊNCIA
2.1 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA
O termo Topografia, de origem do idioma grego, topos: lugar, região e
graphein: descrever, significa “descrição de um lugar”. É a ciência que estuda todos
os acidentes geográficos, definindo a situação e a localização deles numa área
qualquer. Tem a importância de determinar analiticamente as medidas de área e
perímetro, localização, orientação, variações no relevo e ainda representá-las
graficamente em cartas, ou plantas topográficas.
O termo só se aplica às áreas relativamente pequenas, onde o limite de
atuação, chamado campo topográfico, é aquele em que seja possível desprezar o
erro causado pela curvatura da terra sem que haja prejuízo de precisão no
levantamento topográfico. É convencional o termo geodésia, quando se fala de
áreas maiores, onde são utilizadas as referências esféricas das coordenadas
terrestres.
Segundo Santiago (1982), a história da Topografia é muito antiga, surge na
época em que o homem começou a sentir a necessidade de conhecer e representar
o “seu mundo” através de um desenho em tamanho reduzido e proporcional ao
tamanho normal, conseqüentemente surge também o conceito de escala.
Desde os primórdios da civilização, ainda em seu estágio primitivo, o homem
tratou de demarcar sua posição e seu domínio. Sem saber, ele já aplicava a
Topografia.
Os babilônicos, os egípcios, os gregos, os chineses, os árabes e os romanos
foram os povos que nos legaram instrumentos e processos que, embora
rudimentares, serviram para descrever, delimitar e avaliar propriedades tanto
urbanas como rurais, com finalidades cadastrais.
10
2.2 DIVISÕES DA TOPOGRAFIA
Como qualquer ciência a Topografia também tem suas divisões. Segundo
Espartel (1982) a Topografia divide-se, basicamente, em quatro partes: topometria,
topologia, taqueometria e fotogrametria.
De acordo com esse autor, a topometria trata da medição de distâncias e
ângulos de modo que permita reproduzir as feições do terreno o mais fielmente
possível. Ela subdivide-se ainda em planimetria, onde os ângulos e distâncias são
medidos no plano horizontal, como se a área fosse vista do alto; e altimetria, onde
são medidos ângulos e distâncias verticais, ou seja, as diferenças de nível e os
ângulos zenitais, esses levantamentos são representados sobre um plano vertical,
como um corte do terreno.
A topologia trata da interpretação dos dados colhidos através da topometria,
visando facilitar a execução do levantamento e do desenho topográfico. Já a
taqueometria trabalha no levantamento de pontos de um terreno, in loco, de forma a
se obter rapidamente plantas com curvas de nível, que permitem representar no
plano horizontal as diferenças de nível (ESPARTEL, 1982).
Por fim, a fotogrametria permite conhecer o relevo de uma região através de
fotografias. Inicialmente as imagens eram tomadas do solo, atualmente elas são
produzidas a partir de aviões e satélites; graças ao avanço tecnológico, os aparelhos
modernos e altamente sofisticados, permitem obter uma descrição do modelado
terrestre com precisão exigida para projetos de grande complexidade (ESPARTEL,
1982).
2.3 UNIDADES DE MEDIDA
Na Topografia, distinguem-se três espécies de grandezas: lineares,
superficiais e angulares.
No Brasil, de acordo com Espartel (1982), a partir de 1874, por decreto, foi
instituído o Sistema Métrico Decimal Legal, determinando que as unidades padrão
de medida de superfície são o metro quadrado ou centiare (0,01 do are) e o are, que
11
corresponde à superfície de um quadrado de 10 metros de lado, ou seja, 100 m². É
muito usado o múltiplo dessas unidades, o hectare, que vale 10 000 m² e
corresponde à superfície de um quadrado de 100 m de lado.
As escalas de redução usadas na confecção de plantas topográficas variam
de acordo com o fim a que se destina o referido trabalho, desde 1:50 e 1: 100 em
representações de lotes urbanos até cerca de 1:5000 para representações de
propriedades rurais.
A medida das superfícies agrárias foi a primeira tarefa de que se incumbiu a Topologia desde a Antigüidade, razão porque a mesma era chamada agrimensura. Hoje, entretanto, este vocabulário indica a parte da Topografia que trata da medida e da representação planimétrica de superfícies, bem como sua divisão em parcelas, de acordo com condições preestabelecidas [...] Assim, os métodos de projeção, adotados na agrimensura ou na divisão e partilha de terras são os mesmos adotados nas outras partes da Topografia (ESPARTEL, 1982, p. 8-9).
Em geral, as denominações de medidas de superfície variam dependendo da
cultura local. No sul do Brasil, por exemplo, uma medida de área muito usual é a
quarta que corresponde à quarta parte de um alqueire paulista, ou seja, 6 050 m².
12
3 O TRABALHO DO AGRICULTOR
3.1 OS MODELOS MATEMÁTICOS
O conceito de área é comum entre os agricultores, pois é freqüente a
necessidade de determinar medidas superficiais de terras para fins de plantio,
aplicação de herbicidas e colheita.
Segundo Grando e Moretti (1995, p. 75-77), para resolver tais situações
cotidianas o agricultor utiliza-se de um modelo matemático peculiar, o qual tem sido
passado, de forma extra-escolar, de um agricultor para outro; consideram como
bases para o cálculo de área o quadrilátero e o triângulo, sendo que o terreno que
não tiver um desses dois formatos é dividido em partes que reproduzam essas
figuras.
O modelo de cálculo do agricultor, tanto para a área de quadriláteros como
para triângulos, é composto de duas etapas:
- esquadrejamento: transformação da figura dada em um quadrilátero com
ângulos retos;
- cubação: determinação da medida da área.
3.2 CONTRIBUIÇÃO DOS AGRICULTORES PARA ESTA PESQUISA
Foram convidados a enriquecer esta pesquisa três agricultores do município
de Sananduva/RS, que serão identificados como A1, A2 e A3. Cada um destes
agricultores visitou um terreno relativamente plano, delimitado por cinco lados,
mostrado a seguir (Figura 1), fez medidas, calculou a área do mesmo e após, relatou
suas conclusões em entrevista gravada.
13
Figura 1 – Terreno selecionado para a pesquisa
No primeiro momento, os agricultores A1 e A2 estiveram juntos fazendo as
medições (Figura 2 e 3). Foi possível verificar que a preocupação inicial de ambos
ao percorrerem os contornos do terreno, foi transformá-lo em um quadrilátero.
Partiram de um ponto inicial com uma corda, a cada de dez metros
correspondentes ao comprimento da corda, marcavam o lugar com um galho de
vegetação do local e, quando se aproximavam do ângulo do terreno e não se
completavam os dez metros da corda, mediam a mesma com uma trena.
Figura 2 e 3 – Medições dos agricultores A1 e A2
Figura 3
Após a coleta das medidas do terreno, os agricultores A1 e A2, fizeram os
cálculos separadamente.
14
A1 optou por arredondar os centímetros, e tornar o cálculo (Figura 4) mais
prático, explica como fez para determinar a área deste terreno:
“Eu meço os quatro lados, né, cada lado marco o número de metros que dá, a
quantia, daí depois eu faço a conta, né, pego um lado mais o outro lado, somo e
divido por dois, depois pego o outro lado também e mais o outro e somo e depois
divido por dois, depois os dois resultados da divisão eu multiplico, daí sai o resultado
da quantia de metros que dá o pedaço que foi medido, né.
Figura 4 – Demonstração de cálculo do agricultor A1
A1 diz ainda que antigamente se aprendia fazer esses cálculos na escola e
que seus irmãos mais velhos o ensinavam em casa, comenta que conhece o
trabalho do agrimensor e que este faz o cálculo “bem certinho”.
Quanto às medidas empregadas, diz que no tempo em que aprendeu a fazer
cálculo de área de terras, era por quarta, equivalente a 6 050 m² e hoje é por
hectare, 10 000 m².
Fala que aprendeu muito na escola e cita os cálculos de soma, multiplicação
e divisão.
A2 fez seus cálculos (Figura 5) com as medidas inexatas, incorporando os
centímetros.
“... meço com uma corda de dez metros, onze, depende, corre os quatro
cantos, mede, depois soma as paredes, duas a duas, a de baixo com a de cima e a
de lado com a de lado, soma elas, divide por dois [...], depois faz vezes, faz vezes e
vai dar o total da área medida”.
15
Figura 5 – Demonstração do cálculo do Agricultor A2
A2 diz que aprendeu a fazer cálculo de área com A1, já viu e até ajudou
profissionais a balizar e medir com aparelhos.
Diz que sabia calcular área de triângulo, mas não lembra por não praticar.
Comenta que hoje a medida usual é o metro quadrado e o hectare, mas
antigamente, quando trabalhava de empreitada, era comum a quarta, 6 050 m² e o
salamin, que corresponde a ¼ da quarta, ou seja, 1 512,5 m². Fala que a tabuada,
aprendida na escola, sempre o ajudou a fazer os cálculos “de cabeça”, pois não
tinham acesso à calculadora como hoje.
Figura 6 e 7 – Medições do agricultor A3
16
Em outra oportunidade, A3 esteve no mesmo terreno fazendo suas medições
(Figura 6 e 7). Percorreu o terreno com uma corda de dez metros de comprimento,
marcando o caminho com estacas de madeira preparadas antecipadamente e usou
um metro articulado quando não se completava a medida da corda.
Este agricultor decidiu dividir o terreno em duas partes, formando um
quadrilátero e um triângulo (Figura 8).
“O costume nosso é pegar uma corda, geralmente de 10 metros, e faz círculo
ao redor do terreno medindo todos os lados, depois vê, conforme se for irregular o
terreno, como neste caso que tinha o losango e o triângulo daí tu divide e calcula a
área. Neste caso, dividi ele em duas partes, né, o triângulo e o losango e somei as
duas larguras e dividi por dois, depois as duas alturas, dividi por dois e multipliquei.
O triângulo também, peguei a altura vezes a base e dividi por dois.”
Figura 7
Figura 8 – Demonstração de cálculo do agricultor A3
17
A3 diz que aprendeu a medir área com o pai e também com o avô, o cálculo
era necessário na hora do plantio, aplicação de herbicidas, financiamentos nos
bancos. Afirma que até auxiliou em outros métodos de medição de área de terras,
mas que não tem conhecimento das técnicas de cálculo dos profissionais.
Diz que as unidades mais usadas no seu cotidiano são o hectare, 10 000 m² e
o alqueire, 24 200 m². E, que o conhecimento adquirido na escola foi muito
importante, pois além dos cálculos de soma, multiplicação e divisão, aprendeu a
calcular a área do triângulo, por exemplo.
Constata-se que é comum a estes agricultores o método de esquadrejamento,
ou seja, a transformação da figura irregular formada pelos contornos do terreno em
um quadrilátero, pois fizeram a média aritmética dos lados opostos e calcularam a
área multiplicando o comprimento pela largura.
18
4 O TRABALHO DO TOPÓGRAFO
4.1 O PROFISSIONAL DA TOPOGRAFIA
Antigamente, o agrimensor era um funcionário nomeado pelo faraó com a
tarefa de avaliar os prejuízos das cheias do rio Nilo que inundava as terras
apagando as marcas físicas de cada propriedade e restabelecer as fronteiras entre
as mesmas.
Segundo Figueirola (2008, p. 42-43), nos dias de hoje, o agrimensor é
integrante das engenharias, intitulado como Engenheiro Agrimensor, profissional que
trabalha com ciências como: Topografia, Cartografia, Aerofotogrametria e Geodésia
e também com tecnologias como Sistema de Posicionamento Geográfico - GPS,
Sistemas de Informações Geográficas e Sensoriamento Remoto (imagens de
satélite).
Para tornar-se um profissional da topografia é necessária boa visão espacial,
raciocino matemático e freqüentar um curso técnico em agrimensura.
A formação técnica é fundamental, pois permite que o profissional tenha um
registro junto ao Crea (Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia),
que permite participar de concursos públicos e cadastrar-se no Incra (Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária). Também poderá emitir laudos em
empresas privadas e de engenharia.
Também é importante atualizar-se por meio de cursos e treinamentos, pois
equipamentos mecânicos como o teodolito, hoje podem ser associados ou até
substituídos por equipamentos de alta tecnologia, os aparelhos digitais e eletrônicos
como a Estação Total. Sempre aparecem novidades e as empresas que vendem os
equipamentos normalmente oferecem os cursos de treinamento.
19
4.2 CONTRIBUIÇÃO DOS TOPÓGRAFOS PARA ESTA PESQUISA
Os topógrafos, identificados como T1 e T2, estiveram no mesmo terreno em
diferentes dias, para fazer o levantamento topográfico do local, ambos realizaram
levantamento planimétrico pelo método que chamam de irradiamento, pois a área
escolhida é pequena e não apresenta grandes alterações de relevo.
O sistema de irradiamento consiste em centralizar o teodolito no terreno,
localizar cada um dos ângulos e anotar as coordenadas de cada ângulo e a
distância entre este e o teodolito. O T1 usou uma trena para medir tais distâncias
(Figura 9 e 10).
Figura 9 e 10 – Medições do topógrafo T1
Figura 10
“A área é calculada num sistema que, sinceramente não sei quem foi que
inventou, é calculada por um sistema de coordenadas. A gente coloca as
coordenadas em colunas de x e y, depois tu multiplica o x da coluna número um com
o y da coluna número dois sucessivamente, até o fim, depois tu soma as duas
colunas, diminui uma da outra, divide por dois e dá a área em metros quadrados”.
20
Figura 11 – Levantamento planimétrico do topógrafo T1
T1 diz que se tornou topógrafo “por acidente”, pois precisava de emprego e
começou a trabalhar no Pólo Petroquímico de Porto Alegre em 1972, por este motivo
diz ser um topógrafo prático.
Diz que o sistema usado neste trabalho não é o único que usa, o método
varia de acordo com as condições do terreno, por exemplo, em uma área maior faz-
se uma poligonal, aberta ou fechada. Poligonal fechada quando se faz a volta do
terreno e tem um fechamento na figura, com irradiamento nos ângulos das divisas.
Poligonal aberta quando sai de um ponto ao outro do terreno em linha, comum em
áreas estreitas.
T1 comenta que o hectare é a medida oficial em topografia e que dificilmente
será encontrado outro tipo de medida em escrituras dos últimos cinqüenta anos.
Salienta que a matemática é a base da topografia, quem sabe matemática
sabe exatamente o que está fazendo, como e porquê. Cita exemplo da facilidade
que traz o computador atualmente, pois basta colocar os dados coletados e a área
será calculada rapidamente, porém o homem fica sujeito à máquina e no momento
em que a máquina falhar, o topógrafo fica na mão.
21
T2, também fez o levantamento topográfico do terreno pelo sistema de
irradiamento (Figura 12 e 13), usou uma régua fracionada em centímetros para suas
medições.
Figura 12 e 13 – Medições do topógrafo T2
Figura 13
“Eu utilizo um aparelho chamado teodolito e, geralmente utilizo um método
chamado caminhamento planimétrico, também existe outro método utilizado
seguidamente que é o irradiamento simples, irradiação ou polar. Essa medição é por
aparelho e, além do teodolito que é o aparelho que você faz as visadas e consegue
determinar os ângulos horizontais e verticais e as distâncias, você utiliza acessórios;
para manter o aparelho a gente usa um tripé, usa balizas e usa uma régua com
frações de um centímetro.”
Figura 14 – Levantamento planimétrico do topógrafo T2
22
T2 é engenheiro agrônomo e diz ter aprendido a topografia na universidade,
teve três cadeiras desta disciplina, nas quais faziam trabalhos com o teodolito.
Diz que além do teodolito, pode-se obter a área de um determinado local com
aparelhos mais sofisticados, cita a estação total, GPS, que determina a área por
coordenadas geográficas de satélite. Comenta ainda que as medidas oficiais são o
metro quadrado e o hectare.
T2 afirma que a matemática que se aprende na escola é a base do
conhecimento e que utiliza a trigonometria em cálculos mais simples.
Ambos os topógrafos usaram o teodolito para determinar os ângulos, porém,
verifica-se na entrevista que as técnicas de cálculo diferem; T1 adotou um sistema
de coordenadas cartesianas e T2 adotou relações trigonométricas.
23
5 TOPOGRAFIA x MATEMÁTICA ESCOLAR
Segundo Andrini e Vasconcellos (2002, p. 8), a idéia de conhecimento tem
estreita ligação com a de significado e o processo de atribuição de significado
depende das experiências vivenciadas. Assim, o ser humano atribui significado às
coisas das quais ele realmente se apropria; a aprendizagem se constitui por um
processo articulado de construção de significados e reelaboração de esquemas
anteriores.
Uma das grandes dificuldades do ensino da matemática é a linguagem que
precisa ser utilizada, muitas vezes o aluno compreende a “idéia”, mas não é capaz
de expressar a linguagem. Outras vezes, o que é pior, manipulam a linguagem de
forma automática sem aprender o significado. Assim sendo, uma das tarefas da
educação matemática é auxiliar o aluno para que diante de uma situação concreta
seja capaz de interpretá-la em linguagem matemática para resolver o problema.
Para Grando e Moretti (1995, p. 74), falar em Educação Matemática não é
simples, o estudo do conhecimento matemático, elaborado e sistematizado ao longo
da história, por vezes esconde uma despreocupação com a geração deste
conhecimento e com as relações que este tem com o mundo, para o aluno é como
se fossem dois mundos: o mundo da escola e o mundo real.
A Topografia pode representar um exemplo de ação na prática pedagógica,
os conceitos envolvidos num levantamento de dados e cálculo de área de terrenos
de diversas formas geométricas e até irregulares pode contribuir de forma
enriquecedora nas aulas de matemática, evitando a fadiga dos problemas pré-
formulados dos livros didáticos.
Assim, práticas sociais de referência, como as da agricultura ou da indústria (serraria, olaria, fábrica de cerâmicas, funilaria, etc.) poderiam ser utilizadas com o objetivo de apreender e compreender situações do cotidiano; de perceber que papel a Matemática desempenha nas diferentes atividades; de contribuir para a formação de um sujeito que tenha condições de ler o mundo; de compreender e estabelecer relações entre o contexto escolar e a sociedade de forma global (GRANDO; MORETTI, 1995, p. 74-75).
24
Explorar novas perspectivas para o ensino da matemática depende de uma
visão do currículo escolar pré-estabelecido em um contexto mais amplo que as
paredes de uma sala de aula.
25
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao verificarmos os métodos de medição e cálculo de área de terras
resultantes desta pesquisa, onde foram colaboradores dois topógrafos e três
agricultores do município de Sananduva/RS, constatamos que as técnicas de
medição assemelham-se entre os agricultores e também entre os topógrafos,
diferenciando em alguns aspectos os métodos de cálculos, variando também os
resultados.
Entre os agricultores, os resultados obtidos para a área do local foram: para
A1 = 1.620 m², para A2 = 1.617,3 m² e para A3 = 1.649,23 m², o que nos leva a
concluir que o percentual da diferença entre a área encontrada por A1 e A2 é de
aproximadamente 0,2%, entre A1 e A3 é de 1,8% e entre A2 e A3 é de 1,9%.
Entre os topógrafos, T1 calculou 1.394,59 m² e T2, 1.637,49 m² para a
mesma área, com uma diferença entre os cálculos de 14,8%, que pode estar sujeita
ao modo como foram tomadas as distâncias.
Constatamos que é comum entre os agricultores a necessidade de determinar
a medida de área de terras para o seu trabalho. Utilizam também outros conceitos
matemáticos, por exemplo, quando calculam a quantidade de sementes para o
plantio de determinada área, quando calculam a porcentagem de herbicida para
certa quantidade de água, suficiente para pulverizar determinada área, entre outros.
Geralmente utilizam-se de modelo matemático peculiar, o qual é passado de
um agricultor para outro. Contudo, fica claro que, mesmo alguns deles tendo
aprendido os conceitos de medições e cálculo de área em situações fora da escola,
têm consciência da importância da matemática escolar para suas vidas.
A cubação da terra tem inspirado pesquisas etnomatemáticas, cujos resultados apontam para uma multiplicidade de procedimentos associados a essa prática, distintos entre si, mas que são, muitas vezes, praticados em uma mesma comunidade [...] Esta matemática camponesa é produzida por uma linguagem que em muito se afasta daquela utilizada pela matemática acadêmica e pela escolar (KNIJNIK, 2005, p. 86).
26
Os dois topógrafos colaboradores desta pesquisa utilizaram o mesmo
processo de coleta de dados em seus levantamentos topográficos, usaram o
teodolito e uma técnica chamada de irradiamento, os resultados de ambos os
cálculos também diferem, mas dentro de uma margem de erro dita aceitável.
Mostram nas suas argumentações que a matemática do currículo escolar é
fundamental na profissão, pois as tecnologias sofisticadas hoje utilizadas não
substituem o conhecimento matemático específico.
No ensino fundamental, a área de conhecimento que aborda conceitos de
medidas de área é a geometria; porém o programa desenvolvido, por vezes não
oportuniza o conhecimento para determinar área em figuras irregulares devido à
complexidade dos cálculos, ficando também de lado atividades práticas pertencentes
ao “mundo real”.
Para Meira (1993, p. 19), do ponto de vista da psicologia da educação
matemática, podemos listar três objetivos principais do ensino desta disciplina na
escola:
(1) o desenvolvimento, nos alunos, da compreensão do significado, estrutura e função de conceitos matemáticos; (2) o desenvolvimento da competência para construir abordagens matemáticas para problemas e situações; (3) a apreciação da atividade matemática enquanto prática cultural [...] Recentemente, a psicologia cognitiva passou a considerar as conexões entre “conhecimentos formais” (supostamente construídos através da escolarização) e “informais” (supostamente adquiridos através da experiência diária fora da escola).
Finalmente, é importante ressaltar que, sem negar a importância da
matemática ensinada na escola, faz-se necessário articular um processo de
comunicação e interação à matemática construída por crianças e adultos em
atividades profissionais fora da escola, evidenciando-a enquanto prática cultural.
27
REFERÊNCIAS
ANDRINI, Álvaro; VASCONCELLOS, Maria José. Considerações gerais sobre o ensino da Matemática . Coleção Praticando Matemática. São Paulo, 2006. ESPARTEL, Lélis. Curso de topografia . 8. ed. Porto Alegre, Rio de Janeiro: Globo, 1982. FIGUEIROLA, Valentina. Topógrafo: Mercado tem uma grande demanda desses profissionais, que hoje praticamente só trabalham com a chamada Estação Total. Revista Equipa de Obra. São Paulo: SENAI, n. 19, p. 42-43, 2008. Disponível em <http://www.equipedeobra.com.br>. Acesso em: 10 dez. 2008. GRANDO, Neiva Ignês; MORETTI, Méricles Tadeu. Análise de modelos utilizados na agricultura na determinação de áreas. Revista Zetetiké . São Paulo: UNICAMP/FE/ CEMPEM, n. 4, p. 73-93, 1995. KNIJNIK, Gelsa. A Matemática da cubação da terra. Scientific American - Brasil . São Paulo: Ediouro, n. 11, p. 86-89, 2005. MEIRA, Luciana. O “mundo real” e o dia-a-dia no ensino de Matemática. A Educação Matemática em Revista – SBEM. São Paulo: SBEM, n.1, p.19-27,1993. SANTIAGO, Anthero da Costa. Guia do técnico agropecuário : desenho e topografia. Campinas, SP: Instituto Campineiro de Ensino Agrícola, 1982.
28
APÊNDICES
29
APÊNDICE A – Roteiro de entrevista
1. Como você mede uma determinada área de terra? Demonstre.
2. Como você aprendeu a medir área de terras dessa maneira?
3. Você conhece outros métodos de medição de superfícies de terra? Quais?
4. Que unidades de medida você costuma usar? Conhece outras?
5. A matemática que você aprendeu na escola é útil nos processos que você
utiliza para calcular área de terras?
30
APÊNDICE B – Termo de consentimento livre e esclare cido para agricultores e
topógrafos do município de Sananduva/RS
Fui convidado como voluntário a participar da pesquisa Métodos de medição de área de terras utilizados por Agricultores e Top ógrafos do município de Sananduva/RS , sob responsabilidade de Sindia Liliane Demartini da Silva, acadêmica do Curso de Matemática/2004, na Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI – Campus de Erechim com orientação da professora Ms Hélia Valério Thibes.
Esta pesquisa é motivada pela necessidade de valorização do conhecimento empírico dos agricultores associado ao conhecimento técnico dos topógrafos em medição de área de terras. Tem por objetivos identificar os métodos de medição e de cálculo utilizado por estes profissionais, fazer comparações e verificar os conceitos matemáticos empregados. A partir deste conhecimento é possível traçar estratégias de ensino que possam ser expandidas para além da sala de aula a fim de tornar o aprendizado mais eficiente e significativo, principalmente para alunos de escolas de meio rural.
A pesquisa será feita através de perguntas direcionadas aos participantes durante suas demonstrações de medida e cálculo de uma determinada área de terra, as mesmas serão gravadas em fitas K7 e estas gravações serão guardadas no Departamento de Matemática da URI e destruídas após três anos.
É uma pesquisa de campo, com caráter qualitativo, não oferece riscos à saúde e serei esclarecido sobre a mesma em qualquer aspecto que desejar. Sou livre para recusar-me a participar, retirar meu consentimento ou interromper a participação a qualquer momento. A participação no estudo é voluntária, não acarretará custos para mim e não será disponível nenhuma compensação financeira adicional.
Minha identidade será tratada com padrões profissionais de sigilo e serei informado dos resultados da pesquisa caso desejar. Meu nome e dados obtidos que indiquem minha participação não serão divulgados sem minha permissão.
Declaro que estou ciente dos objetivos e estratégias da pesquisa, que recebi uma cópia deste Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, que me foi dada a oportunidade de ler e esclarecer minhas dúvidas e que concordo em participar como voluntário da pesquisa. Estou ciente também da submissão deste projeto ao Comitê de Ética e que a ele poderei me reportar pelo telefone (54) 3520-9000 - R: 9191, caso seja necessário.
__________________________________________ Assinatura do participante
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__________________________________________ Assinatura da Pesquisadora - Sindia Liliane Demartini da Silva
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__________________________________________ Assinatura da Orientadora - Profª. Hélia Valério Thibes
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