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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ
Bárbara Foschi
PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE NAS EXECUÇÕES FISCAIS
TRABALHISTAS
CURITIBA
2011
Bárbara Foschi
PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE NAS EXECUÇÕES FISCAIS
TRABALHISTAS
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Direito. Orientador: Dr. Péricles Coelho
CURITIBA
2011
TERMO DE APROVAÇÃO
Bárbara Foschi
PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE NAS EXECUÇÕES FISCAIS
TRABALHISTAS
Esta monografia foi julgada e aprovada para obtenção do título de Bacharel em Direito da Universidade Tuiuti do Paraná.
Curitiba, ____de _________________ de 2011.
_________________________________
Curso de Direito
Universidade Tuiuti do Paraná
Orientador: Prof. Dr. Péricles Coelho
Universidade Tuiuti do Paraná – Ciências Jurídica
Prof. __________________________________
Universidade Tuiuti do Paraná – Ciências Jurídica
Prof. _________________________________
Universidade Tuiuti do Paraná – Ciências Jurídica
Dedico à consumação do mais lindo
amor que compartilho com meu querido
marido e está abençoado em meu
ventre.
AGRADECIMENTOS
Agradeço inicialmente a Deus que me deu forças para superar todos os
obstáculos para hoje propiciar a minha carreira que tanto projeto e me dedico.
Foram cinco anos de dificuldades e alegrias, uma mistura de superações e
frustrações, o tal caminho da evolução.
Nada disso seria possível sem o incentivo, o amor, a amizade e
estrutura da pessoa mais importante, meu marido, Leandro. É querendo o
melhor para a nossa família que tive e continuo tendo o ânimo para encarar a
rotina pesada da vida.
Agradeço a serenidade da minha sogra, Maria da Graça, uma pessoa
de muita luz, que faz jus ao nome com a sua graciosidade.
Fico muito grata ao meu pai Luiz Roberto, que pode proporcionar meus
estudos com o suor do seu trabalho e a vontade de ter seus filhos graduados.
Pretendo retribuir com todo o orgulho que um pai pode ter por um filho. Até
porque foi ele o motivo de tudo isso.
Agradeço pela sorte de ter um segundo pai, Luiz Renato, meu amado
padrasto, que sempre me apoiou, cuidou e me socorreu em todos os
momentos da minha vida sem pestanejar.
À minha mãe Marilúcia, guerreira, que sempre foi minha amiga,
compreensiva e deu todos os mimos para uma filha, muitas vezes sensível.
Aos meus irmãos Luiz Roberto e Luiz Fernando e a minha tia Mariléia
que são as razões do meu viver.
Os meus sinceros agradecimentos aos meus amigos de faculdade,
Maurício Natividade, e em especial, Maria Caroline, um exemplo de mulher, de
postura e inteligência, minha maior companheira e amiga.
Por fim, agradeço aos meus mestres e a todos que contribuíram
para esse trabalho monográfico acontecer.
RESUMO
O presente trabalho tem como escopo teorizar o instituto da prescrição intercorrente nas Execuções fiscais trabalhistas, de modo a idealizar um regime jurídico equilibrado para sua aplicação no âmbito do Direito Processual do Trabalho e harmonizar as legislações agregadas aos princípios da ciência jurídica, questionando a razão pela qual a Súmula 114/TST perdura, se os elementos legais e doutrinários atuam em sentido oposto.
Palavras-chave: Prescrição intercorrente; Execuções fiscais trabalhista; Direito Processual do Trabalho; Súmula 114/TST.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................... 2 PRESCRIÇÃO ........................................................................................... 2.1 ASPECTOS HISTÓRICOS ..................................................................... 2.2 CONCEITO ............................................................................................. 2.3 ESPÉCIES .............................................................................................. 2.4 NATUREZA JURÍDICA ........................................................................... 2.5 PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA ............................................................ 2.6 INSTITUTOS PROCESSUAIS AFINS .................................................... 2.7 CAUSAS QUE IMPEDEM OU SUSPEDEM A PRESCRIÇÃO ............... 2.8 CAUSAS QUE INTERROMPEM A PRESCRIÇÃO ................................ 2.9 APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA DO CÓDIGO CIVIL E OUTROS RAMOS DO DIREITO ................................................................................................. 2.10 PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE ...................................................... 3 EXECUÇÃO FISCAL TRABALHISTA ...................................................... 3.1 A EMENDA N 45/2004 ............................................................................ 3.2 A ALTERAÇÃO DA COMPETÊNCIA MATERIAL DA JUSTIÇA DO TRABALHO ................................................................................................... 3.3 AÇÕES RELATIVAS ÀS PENALIDADES ADMINISTRATIVAS IMPOSTAS AOS EMPREGADORES PELOS ORGÃOS DE FISCALIZAÇÃO DAS RELAÇÕES DE TRABALHO ..................................... 3.4 EXECUÇÃO FISCAL .............................................................................. 3.5 CERTIDÃO DE DÍVIDA ATIVA ............................................................... 3.6 CERTIDÃO DE DÍVIDA ATIVA NO DIREITO DO TRABALHO .............. 3.7 PROCEDIMENTO ................................................................................... 3.8 ASPECTOS PROCESSUAIS DA REFORMA ........................................ 4 DA PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE NA EXECUÇÃO FISCAL TRABALHISTA DECORRENTE DE MULTA ADMINISTRATIVA IMPOSTA AO EMPREGADOR PELA DELEGACIA DO TRABALHO ........ 4.1 DOS FUNDAMENTOS PARA A EXISTÊNCIA DA PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE ....................................................................................... 4.2 PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE NAS EXECUÇÕES FISCAIS ......... 4.2.1 Causa Eficiente da Prescrição Intercorrente na Execução Fiscal ....... 4.3 PREVISÕES LEGISLATIVAS DA PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE .. 4.3.1 No Processo Civil ................................................................................. 4.3.1 No Processo do Trabalho .................................................................... 4.3.3 Na execução fiscal ............................................................................... 4.4 DISPENSA DE MANIFESTAÇÃO PRÉVIA DA PROCURADORIA- GERAL DA FAZENDA NACIONAL ............................................................... 4.5 ANÁLISE DA PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE A LUZ DA JURISPRUDÊNCIA PROCESSUAL TRABALHISTA ................................... 4.5.1 Confronto de Súmulas: 114/TST e 327/STF ........................................ 4.5.2 Tribunal Regional do Trabalho da Nona região ................................... 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................... REFERÊNCIAS .........................................................................................
09 10 10 11 12 13 13 15 16 17
18 19 21 21
22
23 25 26 27 27 29
30
30 32 33 34 34 35 36
37
39 39 41 43 45
9
1 INTRODUÇÃO
O tema monográfico trata da prescrição intercorrente nas execuções fiscais
trabalhistas.
Primeiramente vamos investir no instituto da prescrição, compreendendo o
seu conceito, sendo necessário buscar nas fontes do Direito os fundamentos que o
criaram, bem como, a posição científica, sobretudo no tocante ao reconhecimento de
ofício do instituto e o seu regime jurídico.
Após, vamos tratar das execuções fiscais trabalhista na sua evolução
histórica com o intuito de destacar e esclarecer os efeitos da Emenda Constitucional
45/2004, que ampliou a competência da Justiça Trabalhista, com a modificação do
art. 114 da CF/88.
Com esses elementos o trabalho acadêmico busca fundamentar a aplicação
da prescrição intercorrente na justiça do trabalho em execuções fiscais trabalhista,
bem como das alterações legislativas; da previsão expressa da prescrição
intercorrente, pela Lei de Execuções Fiscais, aplicável na Justiça Trabalhista.
Dito isso, buscar-se-á compreender o conflito estabelecido entre as súmulas
dos tribunais superiores em torno do instituto, devendo a prescrição intercorrente ser
aplicada com critério restritivo não havendo sentido a conservação da súmula 114
do TST.
10
2 PRESCRIÇÃO
2.1 ASPECTOS HISTÓRICOS
A palavra prescrição vem do latim e deriva da junção dos vocábulos prae e
scribere, o que significa escrever antes, ou seja, pré-escrever.
O instituto da prescrição é originário do Direito Romano, utilizado pelos
pretores, equiparados hoje ao juízo de primeira instância, que com a Lei Ebutia
passaram a determinar um prazo para as ações temporárias, em contraposição às
ações do Direito quiritário, que eram perpétuas. Os pretores ao expedir a “fórmula”
(orientações aos magistrados) estatuíam em nota introdutória, que se o prazo da
ação houvesse sido exaurido, restava ao magistrado não entrar no mérito do litígio,
devendo absolver automaticamente o réu1.
Com a lei das XII Tábuas, surgiu o primeiro caso de aquisição de direito com
a aplicação da prescrição em face de reconhecimento de usucapião.
Maria Helena Diniz2 explica esse aspecto aquisitivo do instituto como:
o termo praescriptio originalmente era aplicado para designar a extinção da ação reivindicatória, pela longa duração da posse; tratava-se da praescriptio longissimi temporis e para indicar a aquisição da propriedade, em razão do relevante papel desempenhado pelo longo tempo, caso em que se tinha a praescriptio longi temporis. Assim, no direito romano, sob o mesmo vocábulo, surgiram duas instituições jurídicas, que partem dos mesmos elementos: ação prolongada do tempo e inércia do titular. A prescrição, que tinha caráter geral, destinada a extinguir as ações, e a usucapião, que constituía meio aquisitivo do domínio.
A prescrição é aceita em todas as legislações ocidentais contemporâneas
para o bem da sociedade, isto é, pro bono publico.
1 MARTINS, Alan; FIGUEIRA, Antonio Borges de. Prescrição e Decadência no Direito Civil. v.2. ed. Porto Alegre: Síntese, 2004. p.18. 2 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. v.1. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. p.342.
11
Segundo Carlos Roberto Gonçalves3 “o instituto da prescrição é necessário,
para que haja tranquilidade a ordem jurídica, pela consolidação de todos os direitos”.
2.2 CONCEITO
Primeiramente é necessário ter a idéia de que o decurso do tempo gera
efeitos jurídicos. Haja vista que o tempo é um fato jurídico natural nas relações
jurídicas acertadas na sociedade, vez que tem repercussões no nascimento,
exercício e extinção de direitos4. Isto é, como diz Maria Helena Diniz5, “fato jurídico
como um acontecimento independente da vontade humana que produz efeitos
jurídicos, criando, modificando ou extinguindo direitos”.
Outra concepção necessária de que a matéria envolve é a inércia, assim
observa-se que o tempo é fator operante (fenômeno objetivo) e a inércia do titular do
direito (fenômeno subjetivo) representa causa eficiente da prescrição. Desta
maneira, terá efeito imediato à extinção o não exercício de um direito ou de uma
pretensão do titular6.
Prescrição, portanto, extingue a pretensão do autor, vez que a prescrição é a
perda da pretensão e não a perda do direito de ação. Neste sentido, apresentado
pela nova concepção do Código Civil em seu art.189, o direito material violado dá
origem à pretensão, que é deduzida em juízo por meio da ação.
O inciso XXXV do art. 5º, da Constituição Federal, garante a todos o direito de
ação, isto é, direito de acesso à justiça para a defesa de direitos individuais e
3 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. v.1. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p.472. 4 GAGLIANO, Pablo Stolze, FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo Curso de Direito Civil. v.1 12. ed., rev., atual. São Paulo: Saraiva, 2010. p.499. 5 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. v.1. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. p.200. 6 MARTINS, Alan; FIGUEIRA, Antonio Borges de. Prescrição e Decadência no Direito Civil. v.2. ed. Porto Alegre: Síntese, 2004. p.11.
12
coletivos violados, de modo que o judiciário irá analisar o direito na ação pretendido.
Desta maneira, os titulares de um direito ou pretensão poderão ajuizar uma ação,
porém o juiz poderá declarar extinto o processo com resolução do mérito, caso a
pretensão do autor esteja prescrita, conforme ditames do art. 269, inciso IV, do CPC.
Entretanto, como visto, Carlos Roberto Gonçalves7 diz que, “o atual Código
Civil, evitando essa polêmica, adotou o vocábulo pretensão (anspruch), para indicar
que não se trata do direito subjetivo público abstrato de ação”.
2.3 ESPÉCIES
Ante os delineamentos já traçados, é possível perceber que o Código Civil
distingue duas espécies de efeitos do decurso do tempo sobre a relação jurídica: a
prescrição aquisitiva, quando trata do direito das coisas, na parte referente aos
modos de aquisição do domínio e; da prescrição extintiva, regulamentada na Parte
Geral, dando ênfase à força extintiva do direito.
Desta forma, Nelson Godoy Bassil Dower8 conceitua prescrição aquisitiva:
a prescrição aquisitiva ou usucapião, através da qual o titular do direito adquire a propriedade dos bens, com o passar do tempo. Vale dizer, o direito é conferido em favor daquele que possui, com ânimo de dono, a propriedade ou outro direito real referente a um bem móvel ou imóvel. É a aquisição de direito real pela usucapião.
Ainda Godoy9 define prescrição extintiva ou liberatória como:
a prescrição liberatória ou extintiva implica com a perda do direito de ação e isto acontece quando o titular é negligente deixado passar certo tempo previsto pela lei sem propor a ação competente em defesa de seu direito. Por
7 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. v.1. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p.473. 8 DOWER, Nelson Godoy Bassil. Curso Moderno de Direito Civil. v.1. 5. ed. São Paulo: Nelpa, 2008. p.465. 9 DOWER, Nelson Godoy Bassil. Curso Moderno de Direito Civil. v.1. 5. ed. São Paulo: Nelpa, 2008. p.466.
13
exemplo, um reclamante, estando trabalhando, tem o prazo de cinco anos após o período de gozo para reclamar, judicialmente, o pagamento em dobro das férias não concebidas.
Conclui-se que nas duas espécies ocorre o mesmo fenômeno: por um lado
alguém se beneficia e aumenta seu patrimônio, conseqüentemente, alguém sofre
com a perda de bens ou direitos, uma vez que o elemento tempo é comum entre
elas que modifica sua condição econômica.
2.4 NATUREZA JURÍDICA
A prescrição foi estabelecida por considerações de ordem social e não do
interesse único dos indivíduos, vez que o instituto existe independentemente da
vontade daqueles a quem possa se prejudicar ou favorecer, porque é a lei que a cria
e é rigorosamente obrigatória, imposta por norma cogente. Entretanto, ocorrendo a
perda do direito de ação pelo decurso do prazo, as regras jurídicas sobre prescrição
devem ser interpretadas estritamente, não permitindo a interpretação analógica e
extensiva.
Nesse sentido, Alan Martins e Antonio Borges de Figueiredo10, afirmam que
“adquirido um direito, pela verificação do fato e pela existência da lei, o seu titular
adquire também uma faculdade de agir para o exercício de seu direito, desde que
não atue de forma ilícita”.
2.5 PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA
A prescrição extintiva e a decadência merecem atenção para distingui-las vez
10 MARTINS, Alan; FIGUEIRA, Antonio Borges de. Prescrição e Decadência no Direito Civil. v.2. ed. Porto Alegre: Síntese, 2004. p.21 e 22.
14
que é comum a confusão sobre os institutos.
O Novo Código Civil disciplinou expressamente a decadência, entretanto, o
Código Civil de 1916 tratava todos os prazos com denominação genérica de
prescrição11. Assim, para melhor entendimento, estas são as principais diferenças:
a) quanto ao objeto: a prescrição extingue a pretensão (art.189), enquanto a
decadência extingue o direito material, motivo pelo qual o legislador utiliza
expressões como “extingue-se o direito” (ex.: art. 1078, parágrafo 4), ou “decai do
direito” (ex.: 445), ou “o direito caducará” (ex.: art. 516), entre outros; b) quanto à
origem e natureza do prazo: na prescrição o prazo nasce com a violação do direito
(art. 189) “actio nata”, ao passo que na decadência o legislador preestabelece um
prazo para que o direito seja exercido (ex.: art. 513, parágrafo único); c) quanto à
renúncia, interrupção ou suspensão: possibilidade na prescrição (art. 191, e 197 a
204), e impossibilidade na decadência contra os incapazes (arts. 208 c/c 198, inciso
I) e a renúncia a decadência convencional (art. 209); d) quanto às fontes: a
prescrição resulta apenas de disposição legal, não podendo ser alterado pelas
partes (art. 192), enquanto a decadência pode ser legal (arts. 209 e 2010) ou
convencional (art. 211); e) quanto à natureza do direito correlato: a prescrição refere-
se apenas a pretensões relativas a direitos patrimoniais (art. 205 e 206), enquanto a
decadência atinge também direitos não patrimoniais (ex.: art. 1560); f) quanto à
argüição ou declaração: antigamente a prescrição não poderia ser conhecida de
oficio pelo juiz, a menos que favorecesse o absolutamente o incapaz (art. 194),
norma revogada pela Lei nº 11.280, de 2006. No Novo Código Civil a decadência
deve ser declarada de oficio pelo juiz quando fixada em lei (art. 210).
Cabe lembrar que os prazos prescricionais foram taxativamente
11 CAHAI, Yussef Said. Prescrição e Decadência. v.1. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. p.22.
15
descriminados na Parte Geral do Código Civil, nos arts. 205 (regra geral) e 206
(regras especiais), sendo os demais prazos decadenciais, estabelecidos tanto na
Parte Geral quanto na Especial, como complemento de cada artigo que rege a
matéria12.
Por fim, é importante destacar que a prescrição por ser a extinção de uma
pretensão a prestação devida, em função de um descumprimento, que gerou a ação,
poderá somente ser aplicada nas ações condenatórias, até porque, somente este
tipo de ação exige o cumprimento coercitivo de uma prestação; enquanto que a
decadência, por ser a perda de um direito pelo não exercício no prazo estipulado,
somente pode ser relacionada aos direitos potestativos, que assim exijam uma
manifestação judicial, entretanto, essa manifestação poderá ser apenas por ações
constitutivas. Lembrando que as ações declaratórias visam apenas o
reconhecimento de certeza jurídica e independem de qualquer prazo, portanto, são
imprescritíveis, vez que não são direcionadas a modificar qualquer estado de
coisas13.
2.6 INSTITUTOS PROCESSUAIS AFINS
Têm afinidade com a prescrição, por sofrerem a influência do decurso do
tempo, os institutos da preclusão e perempção.
A preclusão consiste na perda de uma faculdade processual, por não ter sido
exercida no momento próprio e tem por objetivo impedir que se renovem questões
dentro de um mesmo processo. Ressalta-se que só produz efeitos dentro do
12 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. v.1. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p.491 e 492. 13 GAGLIANO, Pablo Stolze, FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo Curso de Direito Civil. v.1 12. ed.rev., atual. São Paulo: Saraiva, 2010. p.513.
16
processo que advém14.
Já a perempção, também com natureza processual, regulada no art. 268,
parágrafo único, do CPC, estabelece a perda do direito de ação pelo autor, que deu
causa a três arquivamentos sucessivos. Cabe lembrar que perempção não extingue
o direito material, nem a pretensão, que passam a ser oponível somente como
matéria defesa15.
2.7 CAUSAS QUE IMPEDEM OU SUSPEDEM A PRESCRIÇÃO
Suspensão é a parada do curso do tempo necessário para consumar-se a
prescrição, pelas causas que acontecem e impedem a sua continuação ou que,
existindo já de inicio, impedem então a sua fluência. Assim a prescrição pode ser
impedida de começar ou, iniciada, pode ser suspensa16.
Desta forma, o Código Civil enumera as causas que impedem a fluir o prazo
prescricional, bem como estabelece que suspenda a fluência do prazo já iniciado.
Essas modificações do decurso do tempo em que a prescrição sofre, dependem das
causas previstas no art. 197 a 201 do CC17.
Como exemplo de impedimento enquadra-se a cobrança de dívida a um
menor incapaz, contra o qual a prescrição somente se iniciará a partir da data em
que completar a maioridade ou for emancipado, inteligência do art. 198, inciso I, do
Código Civil; acerca da suspensão tem-se a seguinte hipótese: o prazo prescricional
já se encontrava em curso no que concerne à determinada divida, quando o credor
14 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. v.1. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p.476 15 CAHAI, Yussef Said. Prescrição e Decadência. v.1. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. p.31. 16 CAHAI, Yussef Said. Prescrição e Decadência. v.1. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. p.83 17 DOWER, Nelson Godoy Bassil. Curso Moderno de Direito Civil. v.1. 5. ed. São Paulo: Nelpa, 2008. p.487.
17
morre e o devedor é nomeado tutor do herdeiro menor, restando o prazo
prescricional suspenso nos termos do art. 197, II, do Código Civil, sendo que a tutela
finda retomará o curso do prazo18.
2.8 CAUSAS QUE INTERROMPEM A PRESCRIÇÃO
A diferença entre a interrupção e a suspensão é que nesta, o prazo fica
paralisado e quando superada a causa suspensiva, a prescrição retoma ao seu
curso normal, incluindo na contagem do prazo o tempo percorrido antes da
ocorrência do fato impediente; enquanto que na primeira, o prazo decorrido “zera-
se”, isto é, o tempo decorrido antes da interrupção fica totalmente comprometido,
não sendo o primeiro lapso de tempo, depois de cessada a circunstância que
interrompia o curso temporal, considerado na nova contagem19.
Outro fator importante trazido pelo Novo Código Civil é que a interrupção da
prescrição, agora, só poderá ocorrer uma única vez. Essa limitação veio no sentido
de regular essa possibilidade de utilização da interrupção a fim de evitar abusos e a
perpetuação da lide20.
As indicações das causas interruptivas da prescrição estão previstas no art.
202 do Código Civil e diz respeito ao direito material, nesse sentido diz Youssef Said
Cahali21:
se a este compete estatuir as causas de extinção do direito, da pretensão e da ação, devidas à omissão do titular no prazo que a lei assinala, compete-
18 MARTINS, Alan; FIGUEIRA, Antonio Borges de. Prescrição e Decadência no Direito Civil. v.2. ed. Porto Alegre: Síntese, 2004. p.31. 19 MARTINS, Alan; FIGUEIRA, Antonio Borges de. Prescrição e Decadência no Direito Civil. v.2. ed. Porto Alegre: Síntese, 2004. p.33. 20
GAGLIANO, Pablo Stolze, FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo Curso de Direito Civil. v.1 12. ed., rev., atual. São Paulo: Saraiva, 2010. p.521 e 522. 21 CAHAI, Yussef Said. Prescrição e Decadência. v.1. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. p.100.
18
lhe igualmente a indicação dos atos que, representando exercício do direito subjetivo, da pretensão e da ação, põem termo aos efeitos extintivos que decorreriam de sua omissão.
Desta forma, a interrupção para os processualistas refere-se como sendo
efeito de direito material, que decorre de qualquer dos atos judiciais ou extrajudiciais
interruptivos da prescrição, vez que especificados no art. 202 da lei substantiva, pois
somente a esta compete estatuir as causas capazes de produzir esse efeito.
2.9 APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA DO CÓDIGO CIVIL E OUTROS RAMOS DO
DIREITO
O Direito Civil é aplicado subsidiariamente ao Direito do trabalho, razão pela
qual, salvo em relação aos prazos prescricionais, bienais e quinquenais, previstos
em legislação trabalhista e na Constituição Federal e à decadência, que são poucas
as causas de aplicação com as relações de trabalho (ex.: prazo de trinta dias para
instauração do inquérito judicial, a contar da suspensão, por falta grave, de
empregado estável, reconhecido pela súmula 403 do Supremo Tribunal Federal), as
normas de prescrição previstas no Código Civil são aplicadas às relações jurídico-
laborais22.
A prescrição das ações da Fazenda Pública contra o particular de acordo com
a natureza do ato ou do contrato a ser ajuizado é comum a utilização da lei civil ou
comercial. Todavia, para cobrança de crédito tributário, independentemente da
origem ou espécie, o prazo prescricional e decadencial é estabelecido pelo Código
Tributário Nacional. Cabe lembrar que a distinção de tratamento do instituto no
âmbito do direito comum e no âmbito fiscal é que a prescrição no direito tributário
22 MARTINS, Alan; FIGUEIRA, Antonio Borges de. Prescrição e Decadência no Direito Civil. v.2. ed. Porto Alegre: Síntese, 2004. p.42
19
extingue não só a ação, como também o crédito. Entretanto, por sua intercorrência,
o devedor se libera da dívida sem prestar o crédito e se caso o fizer, quando já
prescrita a ação, terá direito a restituição23. Cumpre salientar que a aplicação
subsidiária do Código Civil em matéria de prescrição e decadência no âmbito do
direito público, incide as mesmas regras supletivamente sobre as relações
administrativas, tributárias e previdenciárias.
Com a vigência do Novo Código Civil, foram unificadas as obrigações civis e
comerciais, bem como revogada a primeira parte do Código do Comercial, sendo
reguladas as relações mercantis pela Parte Especial do atual Código Civil.
Entretanto, mantiveram-se as normas relativas ao instituto aplicáveis às relações
jurídicas empresariais24.
Por fim, na esfera das relações jurídicas de direito privado, as normas
relativas à prescrição e decadência do Código Civil também são subsidiariamente
aplicáveis a legislação civil e empresarial extravagante, como por exemplo, o Código
de Defesa do Consumidor25.
2.10 PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE
A prescrição intercorrente é um tema muito pouco abordado pelos
doutrinadores, mesmo que possa causar a extinção do processo com o julgamento
do mérito.
O instituto nada mais é que um objeto de direito processual, entendida como
23 CAHAI, Yussef Said. Prescrição e Decadência. v.1. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. p.314. 24 MARTINS, Alan; FIGUEIRA, Antonio Borges de. Prescrição e Decadência no Direito Civil. v.2. ed. Porto Alegre: Síntese, 2004. p.43 25 MARTINS, Alan; FIGUEIRA, Antonio Borges de. Prescrição e Decadência no Direito Civil. v.2. ed. Porto Alegre: Síntese, 2004. p.43.
20
aquela que corre no curso da ação, também conhecida como prescrição
superveniente, ou seja, a prescrição intercorrente é aquela que implica na
inatividade do demandante em efetivar atos processuais de sua competência
exclusiva, por prazo superior ao que lhe foi consagrado para deduzir a pretensão em
juízo.
Nesse sentido, afirma Arnor Serafim Junior26:
A doutrina e a jurisprudência consagram o uso da expressão ‘prescrição intercorrente’, para designar aquele tipo de prescrição que se caracteriza pela fluência do prazo respectivo durante o curso da relação processual e que possui estribo legal no parágrafo único do art. 202 do Código Civil, segundo o qual ‘a prescrição interrompida recomeça a correr da data do ato que a interrompeu, ou do último ato do processo para a interromper.
Observa-se, portanto, que a prescrição intercorrente importa em estabilizar o
conflito pelo instituto prescrição no sentido de obter segurança jurídica aos litigantes,
sendo impossível a perpetuação da lide, vez que a parte interessada, após o
decurso do tempo, não promoveu ato de sua atribuição. Assim, é plenamente
possível se fazer uma transposição daquilo que é aplicado à prescrição geral para a
prescrição intercorrente.
26 SERAFIM JUNIOR, Arnor. A prescrição na execução trabalhista. LTr. São Paulo. 2006. p. 34.
21
3 EXECUÇÃO FISCAL TRABALHISTA
3.1 A EMENDA N 45/2004
A Emenda Constitucional n. 45 foi promulgada pelo Congresso Nacional no
dia 8 de dezembro de 2004, sendo publicada na impressa oficial no dia 30 de
dezembro de 2004, quando entrou em vigor.
A emenda trata de questões referentes à organização e funcionamento dos
Tribunais e Juízos, tendo como escopo a chamada reforma do judiciário, das normas
de ingresso na carreira de magistratura, bem como cria o Conselho Nacional da
Justiça, enquanto órgão de controle externo do Judiciário e dentre outras inovações
e modificações, alterou a competência material da Justiça do Trabalho, modificando
o art. 114 da Constituição Federal27.
Vale ressaltar que a Reforma do Judiciário visa reforçar a natureza social da
Constituição, vez que estabelece um órgão judicial próprio e especializado com
“status” constitucional para julgar as causas em que esteja em questão labor
humano, valorizando por vez o trabalho28.
Nesse sentido diz Leonardo Raupp29 que “valorizar o trabalho humano,
conforme o preceito constitucional significa defender condições humanas de
trabalho, além de preconizar por justa remuneração e defender o trabalhador contra
os abusos que o capital possa ser desarrazoadamente proporcional”.
27 MANUS, Pedro Paula Teixeira; ROMAR, Carla Teresa Martins; GITELMAN, Suely Ester. Competência da Justiça do Trabalho e a EC n 45/2004. São Paulo: Atlas S.A, 2008. p.1 e 2. 28, MEIRELES, Edilton. Competência e procedimento na Justiça do Trabalho: primeiras linhas da reforma do judiciário. São Paulo: LTr, 2005. p. 10. 29 BOCORNY, Leonardo Raupp. A valorização do trabalho humano no estado democrático de direito. Porto Alegre: Sérgio Fabris, 2003. p. 73.
22
3.2 A ALTERAÇÃO DA COMPETÊNCIA MATERIAL DA JUSTIÇA DO TRABALHO
A nova redação do art. 114 da Constituição Federal traz para o âmbito da
Justiça do Trabalho as ações que envolvem as relações de trabalho e não só
àquelas que envolvem relação de emprego, como era a regra geral da antiga dicção
do texto constitucional.
Desta forma, o legislador constitucional, tratou das ações oriundas da relação
de trabalho, abrangidas os entes públicos de direito externo e da administração
pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;
das ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes de relação de
trabalho; das ações que envolvam exercício do direito de greve; as ações sobre
representação sindical, entre sindicatos, entre sindicatos e trabalhadores, e entre
sindicatos e empregadores; os mandados de segurança, habeas corpus e habeas
data, quando o ato questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição; dos
conflitos de competência entre órgãos com jurisdição trabalhista; das ações relativas
às penalidades administrativas impostas aos empregadores pelos órgãos de
fiscalização das relações de trabalho; bem como da execução, de oficio, das
contribuições sociais previstas no art. 195, I, a, e II, e seus acréscimos legais,
decorrentes das sentenças que proferir.
Entretanto, é importante observar que há matérias abordadas pela EC n.
45/04 que versam de natureza civil e tributária, ensejando adaptação ao processo do
trabalho.
Neste sentido, diz Amauri Mascaro Nascimento30 que “as transformações
foram profundas e vão mudar a visão que se possa ter da Justiça do Trabalho, tudo
30 MANUS, Pedro Paula Teixeira; ROMAR, Carla Teresa Martins; GITELMAN, Suely Ester. Competência da Justiça do Trabalho e a EC n 45/2004. São Paulo: Atlas S.A, 2008. p.4.
23
dependendo, da forma como os juízes do trabalho as interpretarão e do modo como
virão a conduzi-las na interpretação e aplicação dos seus dispositivos”.
Contudo, os operadores do direito terão que contornar as objeções com a
aplicação da EC n. 45/04.
Observa-se também, que o legislador com a alteração buscou maior
celeridade e eficiência ao processo.
Destarte, os autores Manus, Romar e Gitelmnan31 afirmam que:
a nosso ver orientou-se o legislador pela idéia de que, versando tais ações sobre direito que representa o sustento do prestador de serviços, ainda que não tenha o sentido estrito de salário, como no caso do empregado, merece tratamento processual mais célere e eficiente, o que sem dúvida possibilita o processo do trabalho, em comparação com o processo civil, que se dirige em regra ao patrimônio e não à sobrevivência, daí por que permite mais tempo na solução do conflito do que o processo do trabalho.
Data vênia, com a celeridade e a simplificação do processo obtém-se maior
segurança jurídica.
3.3 AÇÕES RELATIVAS ÀS PENALIDADES ADMINISTRATIVAS IMPOSTAS
AOS EMPREGADORES PELOS ORGÃOS DE FISCALIZAÇÃO DAS RELAÇÕES
DE TRABALHO
As ações relativas às penalidades administrativas impostas aos
empregadores pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho, em face da
matéria, passaram a ser atribuição do Juiz do Trabalho, estando previsto nos art.626
a 642 da CLT.
É importante lembrar que até o advento da EC n.45/04 as ações judiciais
31 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao processo do trabalho. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 99.
24
decorrentes das autuações eram de competência da Justiça Federal Comum, que
para a análise do mérito das referidas ações executivas deveria interpretar as
normas de Direito do Trabalho.
Com efeito, imaginemos o caso de autuação pelo Ministério do Trabalho e
Emprego de uma empresa pela ausência de registro de um prestador de serviços
que o auditor fiscal entenda ser empregado, enquanto a empresa tem-no como
trabalhador autônomo. Referida multa, se não for paga, nem objeto de recurso
administrativo, ensejará um processo de execução fiscal.
Entretanto, a competência, antes da EC n.45/04, para conhecer e decidir o
executivo fiscal era da Justiça Federal Comum e nesta ação executiva o objeto de
discordância é a condição do prestador de serviços de empregado ou trabalhador
autônomo, ainda que como simples fundamento da sentença e não com força de
coisa julgada material. E se caso o trabalhador autônomo viesse a entender que o
auditor fiscal tinha razão e resolvesse ingressar com uma ação judicial para obter
reconhecimento do vinculo e prestações dele decorrentes, deveria ingressar perante
a Justiça do Trabalho, sempre competente para tanto.
Diante do caso hipotético, percebe-se que ocorre conflito de entendimento
entre os ramos da Justiça, vez que se manifestaram sobre a ocorrência ou não do
vinculo de emprego, sem que uma decisão afetasse a outra, mas criando incerteza
jurídica.
Desta forma, com a Emenda Constitucional n. 45/04, pacificou-se o
entendimento de que compete à Justiça do Trabalho e não à Justiça Federal. E
neste sentido afirma i. Desembargadora do Tribunal Regional do Trabalho da 3ª
Região Lucilde D’ Ajuda Lyra de Almeida32·, que:
32 ALMEIDA, Lucilde D’Ajuda Lyra de. Execução Fiscal: Questões Relevantes Sobre as Ações
25
O fato de existir o interesse da União na causa que determinava fosse da Justiça Federal a competência para o processamento e o julgamento deste tipo de ação. Entretanto, é também pacífico o acerto do deslocamento desta competência, uma vez que a Justiça do Trabalho por ser especializada detém maior experiência com as causas que ensejam a aplicação de multas pelo fiscal do trabalho. Tratam-se, pois, de multas administrativas, cujo processamento é regulado pela Consolidação das Leis do Trabalho por meio de seus arts. 626/642.
Assim, observa-se que se transfere à Justiça do Trabalho não só a
competência para execução fiscal das multas impostas pelo Ministério do Trabalho,
como também qualquer ação acerca dessa matéria, como por exemplo, o mandado
de segurança contra ato de autoridade fiscal, ação declaratória de inexistência de
débito, inclusive a de embargos ou interdição do estabelecimento (art. 161, da
CLT)33.
Conclui-se, então, que a típica execução fiscal julgada na Justiça do Trabalho
é somente nos casos de multas administrativas impostas pelos fiscais do trabalho,
vez que inscrito o débito é constituída a certidão de dívida ativa em favor da União,
tendo este ramo especializado a competência constitucional para o processamento
dos títulos executivos dali provenientes.
3.4 EXECUÇÃO FISCAL
A Execução Fiscal nada mais é do que uma execução forçada, regida por um
procedimento especial (Lei 6.830/80), movida pela Fazenda Pública que requer os
créditos que lhe é devida em face dos contribuintes inadimplentes.
Portanto, a Fazenda Pública busca através do meio Judiciário bens
Relativas às Penalidades Administrativas Impostas aos Empregadores pelos Órgãos de Fiscalização do Ministério do Trabalho. São Paulo: Revista LTr., 2006, Vol. 70, p. 735. 33 MEIRELES, Edilton. Competência e procedimento na Justiça do Trabalho: primeiras linhas da reforma do judiciário. São Paulo: LTr, 2005. p. 79 e 80.
26
suficientes, através do patrimônio do executado, para que garanta o crédito que está
sendo exigido através de execução fiscal.
Destarte, o título que empresta à divida ativa o caráter de executoriedade é a
certidão, extraída em livro próprio, ou do arquivo virtual, de onde aquela fora inscrita.
Entretanto, esse procedimento trata de providência administrativa, preliminar e
indispensável à persecução do crédito, pelo sujeito ativo da relação jurídico-
tributária, em processo judicial34.
3.5 CERTIDÃO DE DÍVIDA ATIVA
Escriturar em dívida ativa significa contabilizar ao Estado que essa dívida já
pode ser cobrada judicialmente, vez que não satisfez o crédito administrativamente.
O § 1º do Art. 2º da Lei 6830/80, diz que, qualquer valor cuja cobrança seja
atribuída à União, Estados, Distrito federal, Municípios e respectivas autarquias será
considerada Dívida Ativa da Fazenda Pública. Diz ainda o referido artigo que a
dívida ativa abrange atualização monetária, juros e multa de mora, além de
eventuais encargos previstos em lei ou contrato. Ressalta-se também, que a lei
classifica a dívida ativa em tributária e não tributária.
Destarte, assim que inscrito o débito em dívida ativa, expede-se a certidão do
título certo, líquido, exigível e exequível. Essa certidão será a cártula que a Fazenda
Publica ira promover a execução forçada35. Nota-se que o Código de Processo Civil,
em seu art. 585, fala que a certidão de dívida ativa é título executivo extrajudicial.
34 ROCHA FILHO, J. Virgílio Castelo. Execução Fiscal: Doutrina e Jurisprudência. Curitiba: Juará, 2004. p. 70. 35 THEODORO JUNIOR, Humberto. Lei de Execução Fiscal. 11. Ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p.17.
27
3.6 CERTIDÃO DE DÍVIDA ATIVA NO DIREITO DO TRABALHO
De acordo com o art. 627, 627-A e 628 da CLT, o Auditor Fiscal deverá
promover a denominada dupla visita a empresa, no sentido de promover a instrução
do responsável, no caso de edição de novas leis, bem como, no caso de primeira
visita ao local de trabalho recentemente instalado, enfatizando o modo pedagógico
de fiscalização, além de fiscalização e punição a ela inerentes36.
No entanto, constatada violação a preceito legal, à exceção das hipóteses
acima, deverá ser lavrado o auto de infração, sob pena de responsabilidade
administrativa do fiscalizador, conforme inteligência do art. 628 da CLT.
Lavrado, portanto, o auto de infração, poderá o empregador: pagar a multa
colocando fim ao problema; ou se inconformado com a penalidade, poderá interpor
recurso administrativo, nos termos do art. 635 a 638 da CLT, no qual se acolhida
suas razões terá o cancelamento da multa; bem como, poderá manter-se inerte, no
qual terá o mesmo efeito da hipótese de rejeição de seu recurso37.
Caso o valor devido não seja satisfeito, deverá ser o valor da dívida inscrito
em livro próprio, sendo extraída cópia da inscrição, que valerá como título executivo
extrajudicial, com a competência da Procuradoria da Fazenda Nacional instaurar o
processo de execução fiscal, conforme o dispõem os art. 641 e 642, da CLT,
3.7 PROCEDIMENTO
Os processos de dívida ativa da Fazenda Pública eram regidos pelo Decreto
36 MANUS, Pedro Paula Teixeira; ROMAR, Carla Teresa Martins; GITELMAN, Suely Ester. Competência da Justiça do Trabalho e a EC n 45/2004. São Paulo: Atlas S.A, 2008. p.68. 37 MANUS, Pedro Paula Teixeira; ROMAR, Carla Teresa Martins; GITELMAN, Suely Ester. Competência da Justiça do Trabalho e a EC n 45/2004. São Paulo: Atlas S.A, 2008. p.70.
28
Lei n. 960/38, isso na vigência do antigo Código de Processo Civil de 1939, porém
ambos foram revogados pelo nosso atual Código de Processo Civil de 1973.
Destarte, não foi criada de imediato uma lei específica para regulamentar o
procedimento dos executivos fiscais, permanecendo por sete anos, sujeitos às
regras do processo civil, até a chegada da Lei n. 6.830/80.
Observa-se que o art. 769 da CLT é expresso que na fase de conhecimento o
direito processual comum será fonte subsidiária do direito processual do trabalho,
enquanto que no art. 889 da CLT também é expresso que na fase de execução será
a fonte subsidiária ao direito processual do trabalho os preceitos que regem o
processo executivo fiscal para a cobrança de dívida ativa da Fazenda Pública
Federal.
Portanto, não obstante a vigência da nova lei continua-se utilizando o direito
processual civil como fonte subsidiária para a execução trabalhista ao apavoro do
referido art. 889 da CLT, afastando na prática o processo do trabalho da Lei n.
6830/80.
Nesse sentido, percebe-se que até o próprio legislador foi traído pela praxe
referida, no momento em que alterou o art. 882 da CLT pela Lei n. 8.432/92,
incorporando a seu texto a ordem de preferência a indicação de bens para garantir o
juízo previsto no art. 655 do Código de Processo Civil, enquanto que o legislador
deveria incorporar ao texto legal a ordem prevista no art. 11 da Lei n. 6.830/80, vez
que nessa fase do processo, devia obediência as regras do procedimento dos
executivos fiscais38.
Acontece que, com a alteração do texto constitucional em relação ao seu
inciso VII do art.114, não se aplica subsidiariamente a lei de execução fiscal, e sim
38 MANUS, Pedro Paula Teixeira; ROMAR, Carla Teresa Martins; GITELMAN, Suely Ester. Competência da Justiça do Trabalho e a EC n 45/2004. São Paulo: Atlas S.A, 2008. p.73.
29
de sua aplicação integralmente, vez que trata de ação de execução fiscal no âmbito
da Justiça do Trabalho, devendo, portanto, obedecer ao rito e conceito da lei própria.
Assim, conforme orientação já consubstanciada pelo TST, uma vez inscrito o
débito e constituída a certidão de dívida ativa em favor da União, será requerida a
citação do contribuinte para pagar ou garantir o juízo, pela Fazenda Federal,
devendo o mesmo ser citado e prosseguindo o processo de execução até a decisão
final, nos termos da Lei n. 6830/80, que impõe sua aplicação por ter procedimento
próprio.
Destarte, os processos de execução fiscal trabalhista têm gerado dúvidas,
conflitos de interpretação e procedimentos diversos no âmbito trabalhista.
3.8 ASPECTOS PROCESSUAIS DA REFORMA
O Tribunal Superior do Trabalho, preocupado com as questões decorrentes
da aplicação da Emenda Constitucional n. 45/04, buscou unificar os procedimentos
dos Juízes e Tribunais do Trabalho, editando a Instrução Normativa 27/05,
imprimindo rito trabalhista as ações que passam a ser competência da justiça do
trabalho39.
Destarte, podemos observar que a ação executiva decorrente de autuação da
empresa por Auditor fiscal do Ministério do Trabalho e Emprego não consta no rol da
referida Instrução Normativa, à evidência que se trata de ação com rito especial, por
força da Lei n. 6.830/80, que rege a cobrança judicial da dívida ativa.
39 MANUS, Pedro Paula Teixeira; ROMAR, Carla Teresa Martins; GITELMAN, Suely Ester. Competência da Justiça do Trabalho e a EC n 45/2004. São Paulo: Atlas S.A, 2008. p.101.
30
4 DA PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE NA EXECUÇÃO FISCAL TRABALHISTA
DECORRENTE DE MULTA ADMINISTRATIVA IMPOSTA AO EMPREGADOR
PELA DELEGACIA DO TRABALHO
4.1 DOS FUNDAMENTOS PARA A EXISTÊNCIA DA PRESCRIÇÃO
INTERCORRENTE
A ocorrência da prescrição intercorrente visa proteger o executado e a
sociedade da instabilidade jurídica causada pela inércia do credor em exigir a
satisfação de seu direito, haja vista que o direito não socorre aqueles que dormem,
Dormientibus non seccurrit jus.
Ernesto José Toniolo40 diz que:
a simples possibilidade de exigir, tardiamente, determinada prestação compromete a estabilidade das situações jurídicas consolidadas pelo tempo, causando ao ordenamento jurídico tamanho repúdio que impede ao Direito Subjetivo boa parte de sua eficácia, extinguindo a pretensão correspondente. Já no caso do crédito de natureza tributária, a conseqüência é ainda mais grave: ocorrida a prescrição, estão extintos o crédito, bem como a própria obrigação tributária (art. 156, V e art. 113 § 1o, ambos do CTN)
A pretensão quando é tardiamente deduzida em juízo, além de ameaçar as
situações jurídicas consolidadas no tempo, constitui pesado ônus para a sociedade,
bem como ao executado, que é incluído no pólo passivo da demanda,
independentemente de sua vontade. Não se olvide que execução fiscal possui a
peculiaridade de ser promovida como base no único titulo executivo extrajudicial
unilateralmente produzido, que goze da presunção de certeza e liquidez (art. 3°,
LEF). Portanto, estes dois elementos (a possibilidade da livre formação do pólo
40 TONIOLO, Ernesto José. Breves considerações sobre os fundamentos da substituição ou Emenda da CDA na execução fiscal. Porto Alegre: Revista dos Tribunais. v. 386. p. 97.
31
passivo, mesmo com suas nefastas conseqüências, aliado à peculiaridade da
promoção da ação executiva fiscal trabalhista em face de mero título extrajudicial),
devem ser freados com a utilização de medidas arrefecedoras das incontáveis
demandas propostas pelo Estado, com a aplicação, v. g., da prescrição
intercorrente.
E muitos são os argumentos para se estancar o uso indiscriminado das
demandas.
Segundo Cândido Rangel Dinamarco41:
sendo a jurisdição exercida mediante atos encadeados do processo, há os males que a própria formação e pendência deste impõem às partes e especialmente ao demandado, a quem a situação é imposta sem consulta à sua vontade.
Já Carlos Alberto Álvaro de Oliveira42, comente acerca dos malefícios
causados pelo processo:
o valor paz social insta a que se tente eliminar com presteza o conflito, mediante o emprego de mais conhecidamente idôneos. Já se acentuara, aliás, no início do século XX, essa vocação do processo, considerado um mal social (expressão de Frederico, O Grande), um fenômeno doentio, a ser suprimido da maneira mais rápida possível, mormente porque sua freqüente repetição representa autêntico perigo para a sociedade.
Desta forma, a insegurança, a incerteza, e a instabilidade das relações
jurídicas, econômicas e sociais, clamam por solução da lide que se prolonga no
tempo, especialmente quando patente a negligência do credor no exercício dos
poderes e deveres da afirmação do direito em juízo.
41 DINAMARCO, Cândido Rangel. Execução Civil. 7. ed. São Paulo: Malheiros, 2001. p. 399. 42 OLIVEIRA, Carlos Alberto Alvaro de. Do formalismo no Processo Civil. São Paulo: Saraiva, 1997. p. 67.
32
4.2 PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE NAS EXECUÇÕES FISCAIS
O instituto da prescrição intercorrente é um tema de grande divergência,
havendo posicionamentos doutrinários que até negam a sua existência, mais ainda
quando tratar de sua aplicação à execução fiscal43.
Diz Eurico Marcos Diniz de Santi44:
a questão, de existir ou não prescrição intercorrente na execução fiscal, passa necessariamente pela interpretação da expressão interrupção. Ela poderia significar o fim do prazo prescricional, que não mais correria enquanto durasse o processo, ou o fim do prazo prescricional anterior e a possibilidade de o inicio de um novo prazo, que poderia se consumar no curso da própria execução.
Para alguns a intercorrência é prevista em lei constituindo efeito obrigatório e
inafastável. Assim, vedar a aplicação do instituto significaria aniquilar a própria
prescrição; já para outros a prescrição intercorrente na execução fiscal seria uma
conseqüência lógica do princípio da sucessividade de interrupções, segundo o qual,
verificada uma causa de interrupção, o prazo reinicia o seu fluxo, podendo
consumar-se no curso da própria execução45.
Desta forma, admitidas a possibilidade e a necessidade de se iniciar um novo
prazo prescricional no curso do processo de execução fiscal, vale saber quando e
por qual motivo poderá consumar-se.
43 TONIOLO, Ernesto José. A prescrição intercorrente na Execução Fiscal. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008. p.119. 44 SANTI, Eurico Marcos Diniz de. Decadência e prescrição no Direito Tributário. São Paulo: Max Limonad, 2004. p.159. 45 TONIOLO, Ernesto José. A prescrição intercorrente na Execução Fiscal. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008. p.120.
33
4.2.1 Causa Eficiente da Prescrição Intercorrente na Execução Fiscal
A primeira causa eficiente da Prescrição a ser analisada é a inércia do credor,
investido na qualidade de exeqüente, o exercício da pretensão dentro do processo
pela utilização dos poderes, das faculdades e dos deveres decorrentes da condição
da demanda.
Para alguns o direito de ação é exercido apenas no ajuizamento da execução
fiscal. Assim afirma Antonio Luis da Câmara Leal46:
A perpetuação da lide, no sentido de não correr a prescrição da ação enquanto essa se processa, é uma conseqüência necessária do conceito e dos fundamentos jurídicos da prescrição, e, portanto, independentemente de preceito expresso, ela existe como parte integrante da teoria prescricional. Os que discutem e lhe negam existência em nosso direito positivo olvida, os princípios basilares do instituto da prescrição e estudam o Direito, em um térreo movediço, fora dos alicerces fundamentais em que se assenta a sua construção doutrinária.
As afirmações acima não são corretas, vez que a ação não se consuma com
o seu ajuizamento, pois é exercida e reiterada durante todo o curso do processo por
meio de atos praticados por todos que nele atuam (exequente, executado e juiz) 47.
Neste sentido diz Zuudi Sakakihara48:
O afastamento da prescrição intercorrente pressupõe que o credor não apenas de inicio a ação de cobrança, mas nela persista, durante todo o tempo de sua duração, por mais longa que seja, requerendo o que for pertinente e promovendo as diligências que forem necessárias. Se, a qualquer momento, faltar a necessária diligência, houver negligência ou omissão na promoção da cobrança, a prescrição não estará afastada, pois a causa interruptiva, que foi a ação de cobrança, não estará cumprindo a finalidade que lhe é iminente. Em tal caso, a prescrição deixará de ser interrompida, e terá reinício do seu curso, consumando-se ao final do prazo.
46 LEAL, Antonio Luiz da Câmara. Da prescrição e decadência. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1982. p. 156. 47 TONIOLO, Ernesto José. A prescrição intercorrente na Execução Fiscal. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008. p.127. 48 SAKAKIHARA, Zuudi. Execução Fiscal – doutrina e jurisprudência. São Paulo: Saraiva, 1998. p. 549.
34
Desta forma, o ajuizamento da execução fiscal afasta a causa eficiente da
prescrição pela inércia do titular do direito em exercer a pretensão que lhe é
correspondente, mas não a elimina em definitivo, vez que a prescrição intercorrente
localiza-se na inércia do exeqüente na condução da execução, deixando de praticar
atos que demonstrem a efetiva necessidade e o interesse de que sejam produzidos,
através da prestação jurisdicional, os efeitos correspondentes ao adimplemento do
crédito, no sentido de harmonizar os direitos do credor com a garantia da segurança
jurídica ao executado e à sociedade49.
Além da inércia do credor, outra causa eficiente da prescrição é a inatividade
desse, pela impossibilidade de atos executórios ante a não localização do devedor
ou de bens passiveis à penhora, restando frustrada a execução50.
Assim, observa-se que a condição de eterno devedor, submetido a eterna
litispendência, viola não apenas a estabilidade das relações jurídicas, bem como a
própria garantia da dignidade da pessoa humana (caso o devedor seja pessoa
física), vez que a prescrição não ocorre para castigar o credor pela sua inércia ou
pela sua inatividade, mas sim para realizar as referidas garantias constitucionais.
4.3 PREVISÕES LEGISLATIVAS DA PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE
4.3.1 No Processo Civil
A partir da vigência da Lei nº 11.280/2006, o juiz poderá reconhecer ou
49 TONIOLO, Ernesto José. A prescrição intercorrente na Execução Fiscal. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008. p.132 e 133. 50 TONIOLO, Ernesto José. A prescrição intercorrente na Execução Fiscal. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008. p.138 e 139.
35
declarar ex officio a prescrição no processo civil, vez que modificou o texto do § 5º,
art. 219, do CPC.
A nova regra padronizada no § 5º do art. 219 do CPC é aplicável, no âmbito
do direito processual civil, tanto à prescrição extintiva (extinção das ações que
protegem um direito ou uma obrigação), quanto à prescrição intercorrente, vez que o
dispositivo não fez restrições a qualquer o tipo de prescrição.
4.3.2 No processo do Trabalho
A regra constante do art. 889 da CLT dispõe que:
Art. 889. aos trâmites e incidentes do processo de execução são aplicáveis, naquilo em que não contravierem ao presente título, os preceitos que regem o processo dos executivos fiscais para a cobrança judicial da dívida ativa da Fazenda Pública Federal
Portanto, aplicam-se à execução trabalhista, as normas dos Executivos Fiscais
(Lei 6.830/80), e, subsidiariamente, pelo CPC conforme dispõe o artigo 769 da CLT,
bem como nas ações relativas às penalidades administrativas impostas aos
empregadores pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho, em
cumprimento ao disposto no inciso VI, do art. 114/CF.
Entretanto, resta clara a previsão da aplicação da prescrição intercorrente na
justiça do trabalhista, vez que a Lei 11.051, de 29 de dezembro de 2.004,
acrescentou o § 4º, ao art. 40, da Lei 6.830/80 que assim dispõe:
Art. 40. O Juiz suspenderá o curso da execução, enquanto não for localizado o devedor ou encontrados bens sobre os quais possa recair a penhora, e, nesses casos, não correrá o prazo de prescrição. (...) § 4o Se da decisão que ordenar o arquivamento tiver decorrido o prazo prescricional, o juiz, depois de ouvida a Fazenda Pública, poderá, de ofício,
36
reconhecer a prescrição intercorrente e decretá-la de imediato.
Além desses, outro dispositivo consolidado muito invocado pelos defensores
da aplicabilidade da prescrição intercorrente ao Direito do Trabalho é o art. 884, § 1º,
da CLT, pois a prescrição nele mencionada só pode se tratar da intercorrente, já que
os demais tipos de prescrição já se encontram preclusos na fase de execução:
Art. 884. Garantida a execução ou penhorados os bens, terá o executado 5 (cinco) dias para apresentar embargos, cabendo igual prazo ao exeqüente para impugnação. § 1º. A matéria de defesa será restrita às alegações de cumprimento da decisão ou do acordo, quitação ou prescrição da dívida. (grifou-se)
4.3.3 Na execução fiscal
A ação para a cobrança do crédito tributário prescreve em 5 (cinco) anos,
contados da data da sua constituição definitiva, tudo de acordo com o art. 174,
caput, do Código Tributário Nacional - CTN (Lei nº 5.172/1966).
A prescrição intercorrente, in casu, é decorrente do processo de execução
fiscal, a qual acontecerá da seguinte forma: suspenso o procedimento por 1 (um)
ano, terá início o prazo da prescrição qüinqüenal intercorrente (equivalente, portanto,
há cinco anos), nos termos dos §§ 2º e 4º (parágrafo este acrescentado pela Lei nº
11.051/2004), respectivamente, ambos do art. 40, da Lei nº 6.830/1980.
Neste mesmo sentido, se direcionam as recomendações do verbete da
Súmula nº 314, do Superior Tribunal de Justiça: “Em execução fiscal, não
localizados bens penhoráveis, suspende-se o processo por um ano, findo o qual se
inicia o prazo da prescrição qüinqüenal intercorrente”.
No caso específico da prescrição intercorrente do crédito tributário, o juiz só
37
poderá reconhecê-la ou declará-la de ofício, e o fará, nos termos do art. 219, § 5º, do
CPC, depois de legalmente ouvir a Fazenda Pública sob as penas da lei.
Neste mesmo sentido e de forma reiterada, vem se manifestando o STJ,
desta forma:
1163862989 - JCPC. 219 JCPC. 219.5 JLEF. 40 JLEF. 40.4 - PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO - IPTU - NOTIFICAÇÃO - ENTREGA DO CARNÊ DE PAGAMENTO - PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO À COBRANÇA DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO - DECRETAÇÃO DE OFÍCIO - APLICAÇÃO DO ART. 219, § 5º, DO CPC (COM REDAÇÃO DADA PELA LEI nº 11.280/2006) - POSSIBILIDADE - DESPROVIMENTO - 1. A prévia intimação da Fazenda Pública, nos termos do § 4º do art. 40 da Lei nº 6.830/1980, somente é necessária quando se tratar de hipótese de prescrição intercorrente, a qual ocorre no curso do processo de execução fiscal. 2. Em se tratando de prescrição da pretensão à cobrança do crédito tributário, aplica-se o § 5º do art. 219 do Código de Processo Civil (com a redação dada pela Lei nº 11.280/2006). 3. Recurso especial desprovido. (STJ, REsp 996.021 (2007/0242452-0), 1ª T., Relª Min. Denise Arruda, DJe 18.09.2008, p. 732)
Afinal de contas, esta regra (intimação da Fazenda Pública) não será
necessária para o reconhecimento ou a declaração, de ofício, da prescrição extintiva
do crédito tributário. Portanto, e uma vez constatada esta (prescrição extintiva), o
juiz poderá, de ofício, reconhecê-la ou declará-la, nos termos do art. 174, caput, do
CTN, independentemente de intimação da Fazenda Pública.
4.4 DISPENSA DE MANIFESTAÇÃO PRÉVIA DA PROCURADORIA-GERAL DA
FAZENDA NACIONAL
A portaria MF nº 227 de 8 de março de 2011 estabelece limite de valor para
dispensa de manifestação prévia da Fazenda Nacional, para fins de decretação, de
ofício, da prescrição intercorrente e confere outras providências.
O Ministro de Estado da Fazenda, no uso da atribuição que lhe confere o
parágrafo único, inciso II, do art. 87 da Constituição da República Federativa do
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Brasil e tendo em vista o disposto no § 5º do art. 40 da Lei nº 6.830, de 22 de
setembro de 1980, resolve:
Art. 1º Fica dispensada, para fins de decretação, de ofício, da prescrição intercorrente, a manifestação prévia da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) nas execuções fiscais cuja dívida consolidada seja igual ou inferior a R$ 10.000,00 (dez mil reais). Parágrafo único. Entende-se por dívida consolidada o valor executado acrescido dos encargos e acréscimos legais vencidos até a data de ocorrência da prescrição intercorrente. Art. 2º A PGFN disponibilizará, aos membros do Poder Judiciário, consulta aos sistemas de registro das informações sobre débitos inscritos em dívida ativa da União objeto de execuções fiscais ajuizadas. Nota: A Portaria PGFN nº 16, de 07.01.2010, DOU 10.01.2011, autoriza a concessão de acesso à consulta prevista neste caput, aos diretores de secretaria de ofícios judiciais. § 1º A consulta de que trata o caput possibilitará identificar cada uma das inscrições que componham o executivo fiscal, a fim de que possa ser aferido se o montante da dívida consolidada se enquadra no limite estabelecido no art. 1º. (Antigo parágrafo único renomeado pela Portaria MF nº 537, de 18.11.2010, DOU 23.11.2010) § 2º A PGFN poderá, por conveniência e oportunidade, estender o acesso à consulta descrita no caput a outros servidores do Poder Judiciário. (Parágrafo acrescentado pela Portaria MF nº 537, de 18.11.2010, DOU 23.11.2010) Art. 3º No caso de reunião de processos contra o mesmo devedor, na forma do art. 28 da Lei nº 6.830, de 22 de setembro de 1980, para os fins de que trata o limite indicado no caput do art. 1º, será considerada a soma das dívidas consolidadas das execuções reunidas. Art. 4º Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação.
Ocorre que, a Fazenda Pública, tem se manifestado nos autos em que o valor
da dívida é inferior a R$10.000,00 (dez mil reais), no sentido de requerer seu
arquivamento até o valor da dívida atingir os limites indicados, nos termos do art. 21
da Lei n° 11.033, de 21 de dezembro de 2004:
Art. 21. Os arts. 13,19 e 20 da Lei 10.522 de 19 de julho de 2002 passam a vigorar com a seguinte redação: ... Art. 20. Serão arquivados, sem baixa na distribuição, mediante requerimento do Procurador da Fazenda Nacional, os autos das execuções fiscais de débitos inscritos como Dívida Ativa da União pela Procuradoria – Geral da Fazenda Nacional ou por ela cobrado, de valor consolidado igual ou inferior a R$10.000,00 (dez mil reais). § 1° Os autos de execução a que se refere este artigo serão reativados quando os valores dos débitos ultrapassarem os limites indicados.
Desta forma, observa-se que a suspensão da execução com base no art. 20
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da Medida Provisória 2.176-77/2001 (transformada em Lei nº 10.522/2002 e com
redação dada pela Lei nº 11.033/2004), não suspende ou interrompe o prazo
prescricional, haja vista que as hipóteses de interrupção da prescrição qüinqüenal
são taxativamente descritas no art. 174, parágrafo único, do Código Tributário
Nacional, devendo, portanto ser declarada a prescrição intercorrente nesses casos.
4.5 ANÁLISE DA PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE A LUZ DA JURISPRUDÊNCIA
PROCESSUAL TRABALHISTA
4.5.1 Confronto de Súmulas: 114/TST e 327/STF
A Súmula 327 do Supremo Tribunal Federal que trata de prescrição
intercorrente, verbis: “O direito trabalhista admite a prescrição intercorrente”.
Aprovado em sessão plenária de 13 de dezembro de 1.963.
Em sentido oposto, entende o Tribunal Superior do Trabalho em sua
Súmula n° 114 que “é inaplicável na Justiça do Trabalho a prescrição intercorrente”.
Esse Colendo Tribunal Superior do Trabalho teve por fundamento, as disposições
contidas na CLT no sentido de que o processo trabalhista é regido pelo o Princípio
do Impulso Oficial, no qual uma vez instaurada a relação jurídica processual cabe ao
juiz impulsionar o procedimento para a entrega da prestação jurisdicional dando
andamento aos atos processuais.
Além disso, considerou o TST, o fato de que na Justiça do Trabalho as partes
têm a prerrogativa do jus postulandi, conforme dicção do art. 839 da CLT, na alínea
“a” podendo atuar em Juízo sem serem representados por advogados. A doutrina,
aqui, mais uma vez se divide, visto que parte entende que não cabe, em hipótese
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alguma, a argüição de prescrição intercorrente, independentemente de a parte estar
postulando com ou sem advogado. Já outra corrente entende que não caberia a
aplicação da prescrição intercorrente nos processos onde o reclamante, tido com
hipossuficiente, estivesse figurando em juízo sem a representação de advogado. Em
contrapartida, observa que quando o reclamante estiver acompanhado de advogado,
cabe a argüição de prescrição intercorrente pela parte reclamada, já que o advogado
detém os conhecimentos jurídicos específicos. Por fim, uma terceira corrente
defende a aplicação da prescrição intercorrente em qualquer circunstância.
Outro fundamento é quanto ao cabimento do reconhecimento ex officio da
prescrição intercorrente pelo juiz. O Código Processual Civil, de aplicação
subsidiária no processo do trabalho, em seu art. 219, § 5° dispõe que “o juiz
pronunciará, de ofício, a prescrição”. Como já dito a prescrição é matéria de ordem
pública, portanto, a sua declaração de oficio pelo juiz, em qualquer fase do
processo, é plenamente cabível. Ainda mais, a declaração da prescrição, por força
do que determina o art. 219, § 5° do CPC é um dever do juiz.
Bem como na Lei de Execuções Fiscais, também de aplicação subsidiária ao Direito
Processual do Trabalho, quando trata da prescrição intercorrente, admite a sua
aplicação de oficio pelo juiz.
Assim observa-se que tais súmulas não possuem força vinculante, fazendo
surgir grande discussão em torno da existência e da aplicabilidade da prescrição
intercorrente na Justiça trabalhista.
Tratando de ações de penalidades administrativas impostas pela delegacia do
trabalho, não há que falar em não aplicação do instituto, vez que trata de execução
fiscal típica, regida pela Lei de Execução Fiscal, julgada pela Justiça do Trabalho,
após a emenda 45/2004.
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Nesse sentido, questiona-se a razão pela qual a Súmula 114/TST perdura,
tendo em vista que houve alteração constitucional em relação à ampliação da
competência da Justiça do Trabalho no sentido de julgar questões de outros ramos
do Direito.
Desta forma, observa-se que os operadores de direito resistem em mudar sua
prática jurídica de modo a motivar suas argumentações pela habitualidade ao uso
dos princípios do direito e processo do trabalho.
4.5.2 Tribunal Regional do Trabalho da Nona região
TRT-PR-01253-2008-026-09-00-0-ACO-16242-2010-publ-28-05-2010 EMENTA EMENTA: EXECUÇÃO FISCAL. PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE. APLICABILIDADE NA JUSTIÇA DO TRABALHO. É de cinco anos o prazo prescricional para a cobrança judicial de multa administrativa pela Fazenda Pública (art. 1º, Decreto n.º 20.910/32), podendo a prescrição intercorrente ser reconhecida de ofício pelo Juiz do Trabalho, por não se tratar de lide em que o trabalhador seja credor, mas sim oriunda da nova competência da Justiça do Trabalho (art. 114, VII, CF). Não se aplicam, portanto, as limitações da Súmula 114 do C. TST. Aplicação do item IV da OJ EX SE n.º 31 deste E. Tribunal. Recurso a que se dá provimento. V I S T O S, relatados e discutidos estes autos de AGRAVO DE PETIÇÃO, provenientes da MM. VARA DO TRABALHO DE UNIÃO DA VITORIA - PR, sendo Agravante SÉRGIO GOMES DE OLIVEIRA e Agravada UNIÃO.
Este Egrégio Tribunal não tem aplicado a prescrição intercorrente nas ações
trabalhistas por entender que tal instituto não tem a mesma propriedade quando
visualizado pela lente do hipossuficiente. Pois se considera a natureza alimentar da
verba executada, garantidora da subsistência do trabalhador, bem como o tempo de
tramitação de um processo, de forma que, admitir a prescrição intercorrente,
equivale a considerar que é mais fácil ao credor trabalhista perder a ganhar, pois
esperaria muito mais tempo para ver seu direito reconhecido do que para vê-lo
prescrito.
Já em execução fiscal, a prescrição intercorrente tem sido declarada, nos
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casos em que a paralisação do processo ocorra por tempo superior ao prazo de
suspensão previsto no art. 40 da Lei 6.830/1980, uma vez que o mesmo não pode
ficar suspenso por tempo indefinido, sob o argumento de que a literalidade do
dispositivo amolda-se à execução fiscal. Até porque o custo de manutenção de um
processo mal sucedido passa a ser maior que o benefício almejado, qual seja, a
arrecadação de recursos.
Os argumentos de que é necessária a inércia culposa do credor e de que a
paralisação do feito em decorrência de não terem sido encontrados bens passíveis
de penhora do devedor não configura tal situação não merecem prosperar. Na
execução fiscal, basta o decurso do prazo de 05 anos após o arquivamento dos
autos para que a ação prescreva. Deve-se estabilizar o conflito, pela via da
prescrição, impondo-se segurança jurídica aos litigantes.
A propósito, a Súmula 314 do STJ é clara no sentido de que a prescrição
intercorrente se verifica na hipótese em que o feito se encontra paralisado pela não
localização de bens penhoráveis.
.
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com a Emenda Constitucional n. 45/04, que alterou substancialmente o art.
114, da CF, passou a ser de competência da justiça do trabalho o julgamento de
todas as questões decorrentes das relações de trabalho e alem daquelas
decorrentes das relações de emprego, bem como as execuções fiscais trabalhista.
As execuções fiscais trabalhistas, a exemplo daquelas decorrentes de multas
administrativas impostas pela fiscalização laboral ao empregador, e o crédito da
Fazenda Pública, apurado nos processos trabalhistas, passaram à apreciação do
judiciário trabalhista.
A CLT determina a aplicação dos dispositivos da Lei 6.830/80, conhecida
como Lei dos Executivos Fiscais, que por sua vez, dispõe sobre a cobrança judicial
da Dívida Ativa da Fazenda Pública, no que for compatível; A Lei 11.051, de 29 de
dezembro de 2004, que acrescentou o § 4º, ao art. 40, da Lei 6.830/80, no sentido
de que: se da decisão que ordenar o arquivamento tiver decorrido o prazo
prescricional, o juiz, depois de ouvida a Fazenda Pública, poderá, de ofício,
reconhecer a prescrição intercorrente e decretá-la de imediato; E a regra constante
do art. 889/CLT: aos trâmites e incidentes do processo de execução são aplicáveis,
naquilo em que não contravierem ao presente título, os preceitos que regem o
processo dos executivos fiscais para a cobrança judicial da dívida ativa da Fazenda
Pública Federal; por fim, devemos observar a Lei 11.280/06, que alterou o § 5º, do
art. 219/CPC, que passou a dispor que: o juiz pronunciará de ofício a prescrição,
autorizando o reconhecimento de ofício da prescrição intercorrente, uma vez que o
dispositivo não fez restrições a qualquer o tipo de prescrição.
A problemática da alteração do artigo constitucional em relação à ampliação
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da competência da Justiça do Trabalho é no sentido de julgar questões de outros
ramos do Direito. É algo que parece simples, porém dotado de grande controvérsia
no cotidiano dos operadores do direito, pois resistem em mudar a sua prática jurídica
de modo a motivar suas argumentações a partir de normas interdisciplinares,
estando enraizados pela habitualidade ao uso dos princípios do direito e processo
do trabalho. Assim questiona-se a razão pela qual a Súmula 114/TST perdura, se os
elementos legais, doutrinários, até mesmo a súmula do 327/STF atuam em sentido
oposto.
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