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RESPONSABILIDADE CIVIL POR ERRO MÉDICOCIVIL RESPONSABILITY FOR MEDICAL ERROR
Renata Akemi Mandai - [email protected] em Direito - UniISALESIANO - Lins
Prof.ª Ma. Meire Cristina Queiroz Sato – [email protected] e Professora no UniSALESIANO Lins
RESUMO
O presente trabalho analisa os instrumentos jurídicos disponíveis para a defesa das vítimas de erro médico. Delineou-se a natureza da responsabilidade civil do médico, definindo o erro médico e estabelecendo a distinção entre o erro profissional, o dano iatrogênico e o erro do diagnóstico e suas hipóteses de imperícia, imprudência ou negligência, para, então, definir-se a sua consequente responsabilidade civil. Com isso, discutiu-se quando a obrigação da atividade médica em geral será de meio ou de resultado, com ênfase na cirurgia plástica, para se chegar à conclusão de que o profissional da saúde poderá ser responsabilizado de duas formas: pela responsabilidade civil subjetiva ou pela objetiva. Para o desenvolvimento do trabalho foi utilizado o método dedutivo, com a técnica de pesquisa bibliográfica. Tem-se por objetivo compreender que a responsabilidade civil médica é de grande importância, pois às vítimas que sofrem danos são os pacientes, considerados hipossuficientes, e necessitam de informações adequadas, evitando-se as crescentes demandas judiciais desnecessárias.
PALAVRAS-CHAVE: Responsabilidade civil. Erro médico. Profissional liberal. Obrigação de meio.
ABSTRACT
The present work analyzes the legal instruments available for the defence of victims of medical malpractice. Outlined the nature of the civil liability of the doctor, setting the medical malpractice and establishing the distinction between professional error, the iatrogênico damage and the diagnostic error and your chances of clumsiness, imprudence or negligence, to then set their consequent liability. With that, argued when the obligation of medical activity in General is of middle or result with an emphasis on cosmetic surgery, to come to the conclusion that the health professional can be held to account in two ways: the subjective or objective liability. For the development of the work was used the deductive method, with the technique of bibliographical research. It has as objective to understand that medical liability is of great importance because the victims who suffer damage are patients, considered hipossuficientes, and require appropriate information, avoiding the increasing litigation unnecessary.
KEY-WORDS: CIVIL RESPONSABILITY. MEDICAL ERROR. LIBERAL PROFESSIONAL. THROUGH MEANS OF OBLIGATION.
INTRODUÇÃO
A responsabilidade civil por erro médico é um tema de grande relevância e
discussão nos dias atuais, devido ao fato do grande aumento de demandas
Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 7, n.15, jul-dez de 2016
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judiciais, em que pacientes vítimas de erro médico, postulam em juízo a reparação
contra médicos que causam danos ou prejuízos no exercício de sua profissão.
A medicina, enquanto profissão tem como objetivo a preservação da saúde, o
tratamento e a cura de várias doenças, pois o profissional da saúde lida com vidas e
com a integridade física do ser humano. Entretanto, os médicos, no exercício da
profissão e na prestação dos seus serviços, podem causar danos irreversíveis
contra o seu paciente, como morte, lesões irremediáveis, bem como, aos seus
familiares, violando os direitos da personalidade humana.
Assim, todos aqueles que forem submetidos a tratamento médico e venham,
por meio deste tratamento, sofrer um prejuízo, decorrente da verificação de culpa do
médico, terá o direito à reparação do dano postulada em juízo. Dessa forma, o
presente trabalho traz quais as medidas a serem adotadas no judiciário para os
pacientes vítimas de erro médico, no qual, diante da configuração de dano ou lesão,
a vítima ou sua família que se sentir prejudicado, primeiramente, deverá procurar
pela defesa dos direitos que lhe cabem pelos órgãos competentes, por meio de uma
ação em juízo para postulara indenização ou reparação do dano sofrido.
O médico somente poderá ser responsabilizado quando agir de modo
imprudente, negligente ou imperito, haja vista que a ciência médica não é exata.
Dessa forma, o profissional terá como consequência a responsabilidade jurídica civil
ou penal, e ainda estará sujeito às sanções administrativas do Conselho Federal,
Estadual ou Regional de Medicina, os quais são entidades fiscalizadoras da
atividade médica, e ainda dependendo da gravidade da situação poderá ter a
inscrição ou sua licença de médico junto ao Conselho Regional de Medicina
cassado, deste modo, não podendo exercer sua profissão.
Portanto, o aumento das demandas judiciais acerca do presente tema, indica
a necessidade de maior informação, por parte de médicos e de pacientes, sendo de
extrema importância que esta relação de consumo, deve ser permeada de
confiança, diálogo e esclarecimento exaustivo e preciso.
O trabalho aborda em seu primeiro capitulo a idéia de erro médico, sua
definição e hipóteses. No segundo capítulo trata da responsabilidade civil por erro
médico para, no terceiro capítulo averiguar como se dá a reparação do dano por erro
médico.
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1. ERRO MÉDICO
1.1 Definição e característica
A medicina, enquanto profissão, tem como principais objetivos a preservação
da saúde e a cura de várias doenças, sendo óbvio que o médico jamais quer errar,
pois o profissional da medicina estudou para melhorar a qualidade de vida dos seus
pacientes. No entanto, falhas acontecem e pode levar os médicos a causarem danos
irreversíveis ao maior bem jurídico tutelado pelo Estado, que é a vida, sendo o mais
fundamental de todos os direitos.
O erro médico é o dano causado ao paciente, pela ação ou omissão do
médico, no exercício da profissão, ou seja, é uma conduta profissional inadequada
que supõe uma inobservância técnica, capaz de produzir um dano à vida ou à saúde
de outrem, caracterizada por imperícia, imprudência ou negligência, para os autores
Gagliano e Pamplona Filho (2012, p. 316) “O erro médico é, em linguagem simples,
a falha profissional imputada ao exercente da medicina”.
Para a verificação do erro médico e sua consequente responsabilidade civil, é
necessária estabelecer a distinção entre o erro profissional, o dano iatrogênico e o
erro do diagnóstico. Assim, para uma melhor compreensão o doutrinador Cavalieri
Filho (2014, p.433), explica: “[...] Há erro profissional quando a conduta médica é
correta, mas a técnica empregada é incorreta”.
Verifica-se, então, que o erro profissional, ou da técnica decorre das
incertezas e imperfeições da arte, diferente da culpa que resulta da negligência ou
imprudência do profissional. A iatrogenia é a atuação positiva do médico que causa
um mal ao enfermo, ou seja, é a consequência do tratamento que resultou no erro
médico, refere-se a complicações médica, que resultam em efeitos colaterais de um
tratamento médico, no qual, não há outra opção a não ser aquele resultado para
salvaguardar a vida do paciente, agravando muitas vezes o estado do doente. Para
o doutrinador Gonçalves (2012, p. 262):
[...] a “iatrogenia”, expressão usada para indicar o dano que é causado pelo médico, ou seja, o prejuízo provocado por ato médico em pessoas sadias ou doentes, cujos transtornos são imprevisíveis e inesperados. Aproxima-se de uma simples imperfeição de conhecimentos científicos, escudada na chamada falibilidade médica, sendo por isso escusável.
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O erro do diagnóstico poderá ocorrer quando o médico prescreve a doença do
paciente e de suas causas, chegando a uma conclusão do estado de saúde do
doente, para poder fazer um tratamento adequado.
[...] o erro de diagnóstico, que consiste na determinação da doença do paciente e de suas causas, não gera responsabilidade, desde que escusável em face do estado atual da ciência médica e não lhe tenha acarretado danos. (GOLÇALVES, 2012, p. 262).
Diante disso, constata - se que desde que não acarrete nenhum dano ao
paciente o erro do diagnostico não gera a responsabilidade civil em regra, porém,
para ensejar a responsabilidade, deverá ser observado se o médico teve culpa no
modo pelo qual procedeu ao diagnóstico, se recorreu a todos os meios para
diagnosticar desde o início da consulta até os exames laborais. Também, deverá
constatar se o médico diagnosticou o paciente, aplicando os tratamentos e
medicamentos corretos para a sua melhora e recuperação.
1.2 Hipóteses
A culpa é um dos pressupostos da responsabilidade civil para que haja o
dever de indenizar, conforme o art. 186, do Código Civil: "Aquele que, por ação ou
omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a
outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito." Assim, o Código de
Ética Médica, também estabelece, dentro da responsabilidade do profissional é
vedado ao médico “Art. 1º Causar dano ao paciente, por ação ou omissão,
caracterizável como imperícia, imprudência ou negligência”. Portanto, é dever do
profissional da saúde, bem como do hospital, conhecer e observar, as três
modalidades de culpa, em sentido estrito: a negligência, a imprudência e a imperícia.
Diante do exposto, constata-se que dentro da área médica a negligência é um
ato omissivo, ou seja, é a falta de cuidado do profissional da medicina,
exemplificando, é quando o profissional da saúde abandona o paciente sobre os
seus cuidados; a imprudência é um ato comissivo, o médico age sem cautela
causando lesão ao paciente, como o exemplo do médico cirurgião que opera o
paciente sem examiná-lo antes; ao passo que a imperícia é a ausência de
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conhecimentos técnicos, um exemplo de imperícia é quando o médico no exercício
de sua profissão causa dano ao paciente por falta de habilidade no exercício da
atividade técnica. Assim, se ao médico causar qualquer dano ao paciente, por ação
ou omissão, decorrente das hipóteses de imperícia, imprudência ou negligência,
será obrigado a repará-lo (art. 927 do Código Civil), ensejando assim a
responsabilidade civil médica, o qual é o tema de estudo do presente trabalho.
2 A RESPONSABILIDADE CIVIL POR ERRO MÉDICO
2.1 Obrigação de meio: responsabilidade civil subjetiva do médico e demais profissionais da saúde
Considera-se obrigação de meio, aquela no qual, o profissional se obriga a
empregar todos os meios, isto é, toda dedicação, cuidado e prudência para
conseguir alcançar o melhor resultado.
Obrigação de meio é aquela em que se exige tão somente determinado comportamento do devedor, pouco importando se o resultado pretendido pelo credor vem a ser ou não atingido, pois ele somente responde mediante culpa. [...] (LISBOA, 2012, p.45).
Em regra atividade médica é uma obrigação de meio, pois, o médico não se
compromete ao resultado, ou seja, a curar o paciente ou salvá-lo, mas sim de
empregar todos os meios e cuidados necessários para a obtenção do resultado,
para o tratamento do paciente, bem como, o médico, que não se compromete com
o sucesso do tratamento da doença de seu paciente, mas sim em prestar
informações adequadas, pois é direito do paciente obter todas as informações do
profissional.[...] o médico celebra contrato de meio, e não de resultado, cuja prestação não recai na garantia de curar o paciente,mas de proporcionar-lhe conselhos e cuidados, proteção até, com emprego das aquisições da ciência, a conduta profissional suscetível de engendrar o dever de reparação só se pode definir, unicamente, com base em prova pericial, como aquela reveladora de erro grosseiro, seja no diagnóstico como no tratamento, clínico ou cirúrgico, bem como na negligência à assistência, na omissão ou abandono do paciente etc., em molde a caracterizar falta culposa no desempenho do oficio,não convindo, porém, ao Judiciário lançar-se em apreciações técnicas sobre métodos científicos e critérios que, por sua natureza, estejam sujeitos a dúvidas,discussões, subjetivismos. (CAVALIERI FILHO. 2012. p.407).
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Diante disso, constata-se que a responsabilidade civil do médico também é
em regra subjetiva decorrente de uma obrigação de meio, pois, o profissional não se
obriga a curar o seu paciente, mas sim, de empregar todos os meios e cuidados
possíveis para o sucesso do tratamento do doente.O Código Civil, em seu artigo
1.545, traz a responsabilidade civil subjetiva do médico, pelos danos causados aos
seus pacientes ao determinar que “Art. 1545. Os médicos, cirurgiões, farmacêuticos,
parteiras e dentistas são obrigados a satisfazer o dano, sempre que da imprudência,
negligência, ou imperícia, em atos profissionais, resultar morte, inabilitação de servir,
ou ferimento”. O Código de Defesa do Consumidor estabelece em seu art. 14, § 4º,
“A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a
verificação de culpa”.
A equipe médica é integrada pelos profissionais da área que atua o cirurgião,
sendo composta por médicos assistentes, o anestesista o instrumentador, pelas
enfermeiras, todos estes que acompanharão os atos cirúrgicos. Contudo, nos casos
em que ocorrer danos e causar prejuízos ao paciente, só vai decorrer a
responsabilidade civil, quando houver a comprovação de culpa, sendo hipótese de
responsabilidade civil subjetiva, ou seja, tem que provar que houve negligência ou
imprudência ou imperícia, bem como, o erro grosseiro, para responsabilizar os
integrantes que compõem a equipe médica.
Porém, existem controvérsias no que se refere a responsabilização pelos
integrantes da equipe médica, ou seja, quem deve ser responsabilizado? Existe
entendimento no sentido de que o chefe da equipe, é o responsável, pois, é ele
quem dirige a equipe médica, no qual são subordinados a sua ordem. De acordo
com a Súmula 341 do STF “é presumível a culpa do patrão ou comitente pelo ato
culposo do empregado ou preposto” é o chamado culpa in eligendo, ou seja, é a
culpa de ter escolhido o funcionário errado para integrar em sua equipe médica,
tornando-se responsável pelas ações de seus empregados, como no caso dos
médicos auxiliares que executam suas ordens.
Segundo Cavalieri Filho, esse entendimento não é mais absoluto, pois, com a
evolução e o aprimoramento das técnicas cirúrgicas, é possível a divisão de tarefas
entre os membros da equipe cirúrgica.
[...] embora a equipe médica atue em conjunto, não há, só por isso, solidariedade entre todos os que a integram. Será preciso apurar que tipo
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de relação jurídica, há entre eles. Se atuam como profissionais autônomos, cada qual em sua especialidade, a responsabilidade será individualizada, cada respondendo pelos seus próprios atos, de acordo com as regras que disciplinam o nexo de causalidade, exaustivamente examinando no Capítulo III. A responsabilidade será daquele membro da equipe que deu causa ao evento (CAVALIERI FILHO, 2014, p. 436).
Portanto neste caso, a responsabilidade não será solidária, tendo em vista
que, será apenas daquele que deu causa ao evento, ou seja, do profissional que
agiu com negligência, imprudência ou imperícia.
2.2 Obrigação de resultado: responsabilidade civil objetiva do médico e demais profissionais da saúde
Para o doutrinador Lisboa (2012, p.45) “Obrigação de resultado é aquela em
que se exige do devedor que a finalidade almejada pelo credor seja alcançada, pois
ele responde até mesmo pelo risco de sua atividade [...]”. Na obrigação de resultado
o profissional contratado além de empregar o seu conhecimento técnico, assume o
compromisso de atingir o objetivo almejado. Contudo, ao não atingir o resultado
esperado o contratado será considerado inadimplente, devendo responder pelos
prejuízos decorrentes do insucesso.
Como no caso da cirurgia plástica estética, a obrigação assumida pelo médico
é de resultado, o profissional se compromete a execução de um resultado final,
assumindo o dever de garantir o resultado almejado pelo paciente, ou seja, de
executar o serviço de acordo com o que foi pactuado.
Neste caso, se o profissional da saúde não alcançar o resultado no qual se
comprometeu com o paciente, responderá independente da averiguação de culpa,
visando proteger o consumidor, para não ser enganado com falsas promessas de
médicos que garantem um resultado e na realidade não podem cumprir. Para isso, é
importante distinguir a diferença da cirurgia estética com o intuito de melhorar a
aparência da cirurgia corretiva, pois, a cirurgia estética com o intuito de melhorar a
aparência, como nos casos de implante de silicone, o médico assume a obrigação
de resultado, devendo entregar ao paciente o resultado esperado conforme
pactuado no contrato; porém, nos casos de cirurgia corretiva, que tem por objetivo
corrigir deformidades, como o exemplo de reconstrução de regiões afetadas pelo
câncer, a obrigação é de meio, pois o médico, por mais habilidades e qualificado que
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seja não poderá garantir a correção do defeito do paciente.
A obrigação de resultado tem como consequente a responsabilidade civil
objetiva, também conhecida como teoria risco, no qual, considera apenas o dano
causado à vítima e o nexo de causalidade entre o dano e a conduta do profissional.
Adota-se a responsabilidade civil objetiva nos casos do erro médico independente
da verificação de culpa, bem como, ocasionado pela má prestação do serviço dos
estabelecimentos hospitalares, pois são fornecedores de serviços.
Diante disso, contata-se que os hospitais, bem como as clínicas, laboratórios
de análises clínicas, bancos de sangue, centros de exames radiológicos e casas de
saúde ou estabelecimentos similares, todos empregadores e fornecedores de
serviços, responderam objetivamente pelos danos causados aos seus pacientes,
independente da comprovação de culpa, pela má prestação de serviços, pois, o
lesado terá que demonstrar somente a ocorrência do dano e o nexo de casualidade.
Já os médicos profissionais liberais, que trabalham por conta própria, sem
nenhum vínculo empregatício com o hospital, responderão subjetivamente, ou seja,
será necessário provar a culpa, conforme estabelece a exceção da responsabilidade
objetiva no § 4º do art. 14, do Código de Defesa do Consumidor.
Portanto, para excluir a responsabilidade do hospital, é necessário provar que
não houve defeito do serviço, bem como nos casos dos médicos sem vínculo
empregatício com o hospital, que apenas utiliza o estabelecimento para internar
seus pacientes particulares.
2.3 Excludente da responsabilidade civil médica
Há causas que excluem a responsabilidade civil do médico, no qual exonera o
dever de reparação de dano, não tendo o dever de indenizar, pois excluem o nexo
de causalidade. Sendo assim, quando houver prejuízos resultantes de caso fortuito
ou força maior, o médico ou hospital não serão responsabilizados.
O caso fortuito geralmente decorre de fato ou ato alheio à vontade das partes: greve, motim, guerra. Força maior é a derivada de acontecimentos naturais: raio, inundação, terremoto. Ambos, equiparados no dispositivo legal supratranscrito, constituem excludentes da responsabilidade porque afetam a relação de causalidade, rompendo-a, entre o ato do agente e o dano sofrido pela vítima (GONÇALVES, p. 394, 2012).
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Tanto no caso fortuito quanto na força maior, ocorre fato imprevisível e
inevitável para o médico e para o hospital, no qual, não existe nenhuma ação ou
omissão culposa por eles. Já a culpa exclusiva do paciente ocorre quando o dano foi
provocado por ele mesmo, ou seja, quando o médico não contribui para o evento
danoso, sendo também uma causa que exonera o médico da responsabilidade pelos
danos sofridos pelo paciente. Todavia, a culpa exclusiva da vítima ocorre nos casos
em que o paciente não segue corretamente o tratamento prescrito ou os cuidados
necessários no pós-operatório recomendado pelo médico. Segundo o art. 945 do
Código Civil “Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a sua
indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em confronto
com a do autor do dano”. Contudo, se o médico e o paciente concorrerem na culpa a
indenização será dividida em uma proporção justa aos dois que concorreram
culposamente pelo evento danoso.
Configura o fato de terceiro quando a ação seja ela dolosa ou culposa partiu
de outra pessoa que não é o médico, sendo praticado exclusivamente por alguém
que não tem nenhuma ligação com o profissional, quebrando o nexo de causalidade
entre a conduta do agente e o resultado. Portanto, como não existe nexo causal
entre o dano e a ação do médico, o mesmo será isento da reparação do dano.
O doutrinador Gonçalves (2012, p. 394), conceitua cláusula de não indenizar
ensinando que Cláusula de não indenizar é o acordo de vontades que objetiva afastar as consequências da inexecução ou da execução inadequada do contrato. Tem por função alterar, em benefício do contratante, o jogo dos riscos, pois estes são transferidos para a vítima.
As partes (médico e paciente) firmam um contrato de acordo de vontades, no
qual poderá conter uma cláusula estipulando que não haverá responsabilidade civil
no caso de descumprimento do contrato, ou seja, se ocorrer um dano ou prejuízo
para uma das partes contratantes no decorrer do tratamento, não haverá a
obrigação de reparar o dano.
3 A REPARAÇÃO DO DANO CAUSADO POR ERRO MÉDICO
Ocorrerá a responsabilidade civil quando houver a configuração de um dano
causado pelo erro do médico, sendo necessária a comprovação de culpa, surgindo
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assim, o dever de reparação do dano, conforme preceitua o art. 927 do Código Civil:
“Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a
repará-lo”. Outrossim, o art. 186 também do Código Civil, estabelece: “Art. 186.
Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar
direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato
ilícito.”Nossa legislação civil prevê em seu artigo 951, que o dano deve ser reparado
mediante a responsabilidade em indenização, estabelecendo:
Art. 951. O disposto nos artigos 948, 949 e 950 aplica-se ainda no caso de indenização devida por aquele que, no exercício de atividade profissional, por negligência, imprudência ou imperícia, causar a morte do paciente, agravar-lhe o mal, causar-lhe lesão, ou inabilitá-lo para o trabalho.
O direito à indenização surgirá sempre que da atuação do médico, decorrer
de um prejuízo. Os referidos artigos citados no dispositivo acima se referem às
indenizações cabíveis nos casos de homicídio, lesão ou ofensa à saúde e o
impedimento de exercício de profissão ou ofício.
Nos casos em que a obrigação assumida pelo médico é de resultado, caso o
profissional da saúde não alcançar o resultado no qual se comprometeu com o
paciente, responderá independente da averiguação de culpa, bem como, os
hospitais, bem como, as clinicas, laboratórios de análises clinicas, bancos de
sangue, centros de exames radiológicos e casas de saúde ou estabelecimentos
similares, todos fornecedores de serviços, responderam objetivamente pelos danos
causados aos seus pacientes, independente da comprovação de culpa, pela má
prestação de serviços de acordo com art. 14, “caput”, do Código de Defesa do
Consumidor:
Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.
Os hospitais públicos responderam objetivamente pelos danos causados aos
seus pacientes, na qualidade de prestador de serviços, independente da
comprovação de culpa de acordo com art. 43 do Código Civil:
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Art. 43. As pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente responsáveis por atos dos seus agentes que nessa qualidade causem danos a terceiros, ressalvado direito regressivo contra os causadores do dano, se houver, por parte destes, culpa ou dolo.
Conforme estabelece o art. 932, III, Código Civil, o hospital privado,
responderá civilmente pelos danos que forem causados por seus empregados,
serviçais e prepostos: “Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil: [...]
III. o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no
exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele”. Todavia, tanto o hospital
público, quanto o hospital privado poderão entrar com uma ação de regresso contra
quem causou o dano, conforme é assegurado pelo art. 37, § 6º, da Constituição
Federal:Art. 37 [...]§ 6º. As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.
No entanto, poderá haver responsabilidade solidária entre todos aqueles que
participaram para a ocorrência do evento danoso, na qualidade de fornecedores e
prestadores de serviço médico, segundo o art. 7º, parágrafo único, do Código de
Defesa do Consumidor: “Tendo mais de um autor a ofensa, todos responderão
solidariamente pela reparação dos danos previstos nas normas de consumo”; bem
como o art. 25, § 1°, do mesmo dispositivo legal: “Havendo mais de um responsável
pela causação do dano, todos responderão solidariamente pela reparação prevista
nesta e nas seções anteriores”, portanto, a responsabilidade do médico e dos
hospitais poderá ser solidária, no qual, ambos responderam solidariamente pelos
danos causados ao paciente.
Contudo, a vítima de erro médico ao verificar o dano, poderá se socorrer ao
judiciário, entrando com uma ação de indenização por danos morais e materiais,
estando amparados pelo art. 5º, V, da Constituição da República Federativa de
1988: “art. 5º [...] V. é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo,
além da indenização por dano material, moral ou à imagem”.O Código de Defesa do
Consumidor, no seu art. 6º, VI, também protege a integridade moral dos
consumidores, tendo como direito: “art. 6º [...] VI. A efetiva prevenção e reparação
de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos”.
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Quando ocorrer a morte do paciente ocasionado por erro médico, a família
poderá postular em juízo, onde será aplicado o que determina o Código Civil no art.
948:Art. 948. No caso de homicídio, a indenização consiste, sem excluir outras reparações:I - no pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu funeral e o luto da família;II - na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia, levando-se em conta a duração provável da vida da vítima.
Dessa forme, a família terá direito a todas as despesas e gastos neste
período, inclusive os lucros cessantes. Já nos casos em que a vítima sofrer lesões
ou complicações a saúde em razão da culpa do médico, o ofensor deverá indenizar
o paciente, o art. 949 do Código Civil estabelece:
Art. 949. No caso de lesão ou outra ofensa à saúde, o ofensor indenizará o ofendido das despesas do tratamento e dos lucros cessantes até o fim da convalescença, além de algum outro prejuízo que o ofendido prove ter sofrido.
Ocorrendo o dano, poderá o autor ajuizar uma ação de indenização, no qual
deverá incluir tudo o que efetivamente perdeu, bem como, o que razoavelmente
deixou de ganhar, sendo assim, a indenização configurará o dano emergente e o
lucro cessante.Portanto, é através da Responsabilidade Civil que todos aqueles que
sofrerem prejuízos no decorrer do tratamento médico, bem como estiver configurado
que o médico agiu com culpa no exercício de sua profissão, terão o direito à
reparação do dano postulada em juízo e será por meio da liquidação do dano, que o
juiz verificará os valores pecuniários do dano sofrido pelo paciente.
É fundamental observar o prazo prescricional para entrar com a ação de
reparação de danos, pois, de acordo com art. 27 do Código de Defesa do
Consumidor:Art. 27. Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos causados por fato do produto ou do serviço prevista na Seção II deste Capítulo, iniciando-se a contagem do prazo a partir do conhecimento do dano e de sua autoria.
Dessa forma, verifica-se que o prazo é de cinco anos contados a partir do
conhecimento do dano e de sua autoria.Assim, é necessário observar o prazo
prescricional ao ingressar com a ação de reparação de dano, pois poderá ficar
afastada a possibilidade do recebimento da indenização.
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CONCLUSÃO
Conclui-se através do presente trabalho que o médico deverá empregar todos
os meios e técnicas necessárias em sua profissão, respeitando todas as regras
estipuladas no Código de Ética Médica e nas Resoluções do Conselho Federal de
Medicina, bem como, o profissional da saúde e os hospitais deverão ter o
conhecimento das normas contidas no Código de Defesa do Consumidor e no
Código Civil para eventual responsabilização decorrente da configuração de um
dano ou lesão que causar ao paciente, assim como para a defesa de seus direitos.
Para a verificação do erro médico e sua consequente responsabilidade civil,
necessário se faz estabelecer a distinção entre o erro profissional, o dano
iatrogênico e o erro do diagnóstico, constatando se cabe ou não a responsabilização
do médico em relação ao paciente. Na verificação da responsabilidade civil médica,
necessário se faz apurar se o médico agiu com uma das modalidades de culpa, ou
seja, negligência, imprudência ou imperícia. O profissional da saúde, bem como o
hospital que, por ação ou omissão, violar um direito e um dever que deveria ter o
conhecimento, causando dano ao paciente e seus familiares, será obrigado a
repará-lo, ensejando assim, a responsabilidade civil médica.
No que tange a responsabilidade civil médica, em regra, é obrigação de meio,
tratando-se de responsabilidade civil subjetiva, porém, existem casos que a
obrigação assumida pelo médico é de resultado, tratando-se de responsabilidade
civil objetiva. Neste sentido, caberá ao juiz analisar o caso concreto para firmar sua
convicção quanto à procedência ou não do pedido de indenizar a vítima pelo dano
causado.
Haverá causas que excluem a responsabilidade civil do médico, como o caso
fortuito e a força maior, culpa exclusiva do paciente e a cláusula de não indenizar, no
qual exonera o dever de reparação de dano, não tendo o dever de indenizar, pois
excluem o nexo de causalidade. Portanto, quando houver a configuração de um
dano causado pelo erro do médico, o mesmo, ficará obrigado a repará-lo, devendo o
juiz analisar mediante o caso concreto se haverá ou não a necessidade de
comprovação de culpa, ou seja, que profissional, tenha agido com negligência,
imprudência ou imperícia. Comprovada a existência do prejuízo do paciente, o
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mesmo ou sua família terá o direito à indenização por danos morais e materiais, no
prazo de cinco anos contados a partir do conhecimento do dano e de sua autoria,
sendo necessário que esteja presente o nexo causal entre o dano e o prejuízo
experimentado pelo paciente, havendo o direito ao ressarcimento de seu prejuízo,
seja este material ou moral.
O presente trabalho visa demonstrar a importância do estudo da
responsabilidade civil, bem como seus pressupostos e espécies, tendo em vista que
com base no caso concreto o julgador irá analisar o feito, para verificar, se houve ou
não o erro médico e se o profissional da saúde ou o hospital que o paciente foi
atendido será responsabilizado.
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