URBANISMO - III FASE - Uma crítica de segundo grau

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  • 7/15/2019 URBANISMO - III FASE - Uma crtica de segundo grau

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    III. UMA CRTICA DE SEGUNDO GRAU:O URBANISMO EM QUESTO

    A resposta aos problemas urbanos colocados pela sociedade industrial notermina nem nos modelos do urbanismo nem nas realizaes concretas que inspiram.

    Esses modelos (nascidos de uma crtica) e essas realizaes provocaram uma novacrtica, uma crtica de segundo grau. O Movimento comeou ao longo dos anos 1910,mas foi depois da Segunda Guerra Mundial que ele deu um verdadeiro salto, ligado aatividade prtica crescente do urbanismo. (Com efeito, a crtica de segundo graudesenvolveu-se paralelamente e proporcionalmente a importncia das realizaes dourbanismo. Ela tambm foi muito mais precoce mais nos Estados Unidos e naInglaterra que na Frana).Essa crtica, ainda terica, continua difusa. Orienta-se no entanto segundo duasgrandes direes, correspondendo a dicotomia (progressismo-culturalismo) que foicolocado em evidencia desde a poca do pr-urbanismo.

    A. TECNOTOPIAVimos que os urbanistas progressistas, mesmo concebendo de modo novo o

    espao global da cidade, no souberam assumir as possibilidades que a tcnica lhesoferecia e no realizaram a revoluo tecnolgica, que constitua um dos fundamentosde sua teoria.

    Uma srie de tcnicos, arquitetos e engenheiros tentou imaginar de modo radical acidade do sculo XX, em funo, simultaneamente, nas novas tcnicas de construo, e

    do estilo de vida ou das necessidades do homem do sculo XX.Do ponto de vista construtivo, a pesquisa recai particularmente em:- estruturas fsicas complexas (estruturas suspensas ou triangulares, superfcies

    obliquas auto-sustentadoras),- e em materiais que implicam no seu emprego:

    - redes e entrelaamentos metlicos,- membranas elsticas e plsticas,- folhas de concreto.A geometria sucede uma dinmica mais complexa.As tcnicas de condicionamento climtico tambm exercem um grande papel aelaborao dos novos projetos.As funes novas da cidade so, conforme a tradio do urbanismo progressista, poruma srie de necessidades calculveis.Dois aspectos essencialmente destacados:- problemas colocados pelo aumento da populao do globo;- desenvolvimento de uma srie de necessidades especficas resultantes do

    progresso tcnico, (automao, mecanizao do trabalho e dos transportes, e dasmudanas resultante na existncia cotidiana).Essa polarizao tecnologista gera propostas surpreendentes que, se fossemrealizadas, marcariam efetivamente uma mutao na localizao humana.

    - As cidades verticais de P. Maymont erguem-se no cu, liberando totalmente o

    solo, suspensas em um mastro central (por onde passam todas as canalizaes).

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    - A cidade-ponte, de J. Fitzgibbon, composta de gigantescos fusos presos porcabos a uma plataforma mediana, solo artificial, local da circulao horizontal, onde opedestre descansar das circulaes verticais e de onde no alto poder contemplar aterra.

    - A localizao tridimensional de Y.Friedman compe-se de uma ossatura

    uniforme e contnua, semelhante a uma grade tridimensional de mltiplos andares,repousando a 15m acima do solo num sistema de estacaria, prolongvel acima dequalquer tipo de terreno.

    - Marina City, do Japons K.Kikutake, coloca ao contrario das plataformas deconcreto sobre o mar, o habitat como o nico a emergir.

    Caractersticas comuns das cidades futuristas:- todas propem concentraes humanas muito fortes,- liberao da superfcie terrestres pelo avano no subsolo,- urbanismo espacial e tridimensional,

    Esta espacializao, de certa forma torna a desnaturalizao das condies daexistncia, na qual, se estende por solos artificiais e em meio climatizado. Notando oatributo a imagem visual e a aparncia plstica dessas cidades.

    Em 1960, ocorre uma exposio A ARQUITETURA VISIONRIA, no Museu de artemoderna de Nova York, mostrando exemplos de urbanismo visionrio , no qual se viu ointeresse do pblico em adquirir a cidade do futuro.Mas qual o significado real deste urbanismo?Na medida em que se trata de encontrar solues para problemas precisos, eleapresenta um terreno de pesquisa pleno de interesse e um meio de luta contra hbitos

    mentais dirios que oferecem no campo da construo, apresentando uma resistnciamuito particular. Por exemplo, o urbanismo subterrneo apresenta solues notveispara o planejamento urbano. Explorado em uma escala reduzida por I. M. Pei na PraaVille-Marie de Montral, inspirou o projeto de Buchanan para circulao londriana.Porm essas contribuies tcnicas no deixam de incluir perigos ideolgicos.

    B. ANTRPOLIS: COM VISTAS A UM PLANEJAMENTO HUMANISTAO urbanismo progressista fez uma crtica radical que visa:

    - arbitrariedade de seus princpios;- desprezo pelas realidades concretas, em nvel de execuo;Ela pretende reintegrar o problema urbano em seu contexto global, partindo dasinformaes dadas pela antropologia.Essa crtica qualificada como humanista, desenvolveu-se fora do meio especializadodos urbanistas. Foi um trabalho resultado por socilogos, historiadores, economistas,

    juristas, psiclogos...Seu carter emprico e variedade dos ngulos sob os quais foi empreendida deixamsupor sua complexidade. Destacando trs tendncias significativas.

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    1. A LOCALIZAO HUMANA COMO ENRAIZAMENTO ESPAO-TEMPORAL:UM URBANISMO DA CONTINUIDADE

    A mais antiga dessas tendncias procura definir o contexto concreto da localizaohumana.O promotor desse movimento foi o escocs Patrick Geddes (Bilogo, dedicou-sedepois a histria, sociologia e ao estudo das cidades).Seu pensamento foi marcado pela idia darwinina de evoluo e pela imagem doorganismo vivo.- Devido o desenvolvimento desequilibrado das grandes cidades industriais,- do carter utpico,- e apriorstico das propostas reformistas do pr-urbanismo,uns dez anos antes de o urbanismo progressista ter comeado a conceber e a realizar

    suas cidades tericas, Geddes afirma a necessidade absoluta de reintegrar o homemno movimento de planificao urbana.Tal o mtodo dos sociological survery, que tambm faz apelo a economia,demografia, e a esttica. Pois segundo Geddes, os urbanistas s pensavam ourbanismo em termos de rgua e compasso, elaborada s por tcnicos da rea.

    Geddes leva em considerao as questes do passado, a integrao do passado noprojeto urbanstico indispensvel. Porm, no se deve confundir a posio deGeddes com a dos urbanistas culturalistas. Geddes valoriza como eles o passado, queele considera um patrimnio, o lugar inclusive em que o presente se alimenta e

    mergulha em suas razes, mas no deixa de reconhecer a originalidade da situaopresente. Desenvolvimento e transformao do passado.Para ele no existe uma cidade-tipo do futuro, mas tantas cidades quantos casosparticulares.O pensamento de Geddes foi ampliado e consideravelmente desenvolvido por seudiscpulo Lewis Mumford. Pos em evidencia os diversos aspectos tomados pelatecnolatria, em particular a ruptura das continuidades culturais, as desnaturalizao dazonas rurais, o servilismo do homem a maquina atravs de planos concebidos para umuso mximo de automvel.Ele defende o citadino contra o carro em nome de um conceito prximo de Wright e

    inspirado pelos ltimos progressos da civil. A rigidez do habitat le corbusieriano , opea suavidade, alterabilidade e a flexibilidade das solues que hoje tornam possveis astcnicas da construo.

    Depois de Geddes, Munford, contribuiu para dar-nos uma nova viso do espaourbano da Idade Mdia. Ele mostrou que os espaos verdes, na forma de jardinspblicos e privados, apresentam na idade medieval uma extenso mais considervelque em qualquer outro modelo urbano.

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    2. O PONTO DE VISTA DA HIGIENE MENTAL: DEFESA E ILUSTRAO DOASFALTO

    Uma outra tendncia da critica humanista estuda a aglomerao urbana do

    ponto de vista do comportamento humano.Pesquisas publicadas depois da guerra de 1940, mostravam que a higiene

    mental no coincide com a higiene fsica.O ponto de vista de higiene mental desenvolveu-se a partir a certos problemassociais:- a delinquncia juvenil;- o aumento das doenas mentais em adultos;- o emprego dos lazeres;- a evoluo da clula familiar;

    Sendo impossvel ignorar o papel de certas cidades urbanas no modelamento e

    formao mental dos grupos e indivduos. Segundo o os sistemas de formas adotadas,o meio construdo pode agir sobre o psiquismo humano como um poder de agressoou pelo contrrio, de integrao no suficientemente medidos.

    Nos Estados Unidos teve uma grande repercusso o ponto de vista da higienemental, onde inspirou o remodelamento de vrios centros de grandes cidades.

    Na Frana, manifestou-se principalmente em artigos que alertavam a opinioaps a construo de conjuntos como os de Sarcelles. Mas no foi substitudo porpesquisas ou aplicaes prticas, sua manifestao s foi vista em algumas realizaesisoladas e de escala reduzida, como as de mile Ailllaud.

    3. POR UMA ANLISE ESTRUTURAL DA PERCEPO URBANAO ponto de vista da higiene mental est ligado a uma psicologia do

    comportamento; pondo-se por exemplo, em evidencia uma ligao de causa e efeitoentre os espaos livres (verdes ou no) e a delinquncia das populaes infantis queeles recebem.

    As pesquisas sobre a percepo da cidade tiveram como primeiro resultado oesclarecimento de sua especificidade. Uma cidade no percebida pelos habitantesnela como um quadro, sua percepo , para eles organizada de modo radicalmentediferente, em funo de series de laos existenciais, prticos e afetivos que os unem aela. (a percepo estruturada pelas necessidades d individuo encontrar a sua casa,os melhores acessos de um ponto a outro...)Essa anlise demonstra, o erro dos urbanistas progressistas quando compem seusprojetos como quadros ou obras de arte. Os urbanistas culturalistas pressentiram esseengano, mas permaneceram ainda dentro de uma esttica.A comparativa da percepo entre o espao urbano e da percepo do espao estticoparece ao nosso ver, um empreendimento desejvel, o que seria rico de informaes.A especificidade da percepo urbana est ligada a uma serie de noescomplementares. Antes de tudo o conceito de legibilidade. A organizao de uma

    aglomerao satisfatria quando facilmente legvel, o que no exatamente o caso

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    dos conjuntos progressistas, difceis de estruturar (apesar da sua aparentesimplicidade).Como se organiza essa legibilidade?A existncia prova que no preciso pensar em termos de elementos, mas de forma ede fundo. E o papel da forma, longe de ser feito por objetos plsticos, so os pontos de

    referencia, limites, caminhos, direes.A cidade deve ser estruturara sobre um fundo neutro, pelo dinamismo de um certonumero de figuras significantes que diferem de acordo com a topografia, a populao,sua composio, seus interesses.Nenhuma pratica de artes plsticas, nenhum conhecimento da geometria podeconduzir a percepo de um projeto legvel, s pode faz-lo a experincia da cidade.