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Uso da Biomassa como Alternativa Energética Bruno Monteiro Cardoso Rio de Janeiro Fevereiro de 2012 Projeto de Graduação submetido ao corpo docente do curso de Engenharia Elétrica da Escola Politécnica, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Eletricista Orientador: Jorge Luiz do Nascimento

Uso Da Biomassa Como Alternativa Energética

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Biomass

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  • Uso da Biomassa como Alternativa Energtica

    Bruno Monteiro Cardoso

    Rio de Janeiro

    Fevereiro de 2012

    Projeto de Graduao submetido ao corpo

    docente do curso de Engenharia Eltrica da

    Escola Politcnica, da Universidade Federal do

    Rio de Janeiro, como parte dos requisitos

    necessrios para a obteno do grau de

    Engenheiro Eletricista

    Orientador: Jorge Luiz do Nascimento

  • ii

    Uso da Biomassa como Alternativa Energtica

    Bruno Monteiro Cardoso

    PROJETO DE GRADUAO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE

    ENGENHARIA ELTRICA DA ESCOLA POLITCNICA DA UNIVERSIDADE

    FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSRIOS

    PARA A OBTENO DO GRAU DE ENGENHEIRO ELETRICISTA.

    Examinada por:

    ____________________________________

    Prof. Jorge Luiz do Nascimento, Dr.Eng.

    ____________________________________

    Prof. Lus Guilherme Barbosa Rolim, Dr.Ing.

    ____________________________________

    Prof. Sergio Sami Hazan, Ph.D.

    ____________________________________

    Prof. Tirl Cruz Silva, M. Sc. em Economia.

    RIO DE JANEIRO, RJ BRASIL

    FEVEREIRO de 2012

  • iii

    Cardoso, Bruno Monteiro Uso da Biomassa como Alternativa Energtica/ Bruno Monteiro Cardoso. Rio de Janeiro: UFRJ/ Escola Politcnica, 2012. X, 94 p.: il.; 29,7cm Orientador: Jorge Luiz do Nascimento Projeto de Graduao UFRJ/ Escola Politcnica/ Curso de Engenharia Eltrica, 2012. Referncias Bibliogrficas: p. 78-81 1.Introduo. 2.Uso da Biomassa como Fonte de Energia. 3.Descrio das Principais Biomassas do Brasil. 4.Processos de Converso Energtica da Biomassa. 5.Gerao de Energia Eltrica Atravs da Biomassa. 6.Anlises e Concluses. I. Nascimento, Jorge Luiz. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola Politcnica, Curso de Engenharia Eltrica. III. Uso da Biomassa como Alternativa Energtica.

  • iv

    minha me Maria Alice por todo o sacrifcio,

    colocando a educao de seus filhos sempre como prioridade.

  • v

    AGRADECIMENTOS

    Gostaria de agradecer primeiramente a minha famlia. Meu av Alcides, minha

    av Deolinda, minha me Maria Alice e minha irm Viviane por sempre me apoiarem

    com todo amor. Os tenho como exemplo e a cada dia me inspiram para ser uma

    pessoa melhor.

    Agradeo tambm a minha atual e futura esposa Michelle pela pacincia,

    compreenso, amor e companheirismo. Sem o seu incentivo e ajuda o caminho da

    graduao seria bem mais rduo. Eu te amo.

    Agradeo a minha sobrinha querida Marina pelos momentos de alegria,

    acompanhar o seu crescimento pessoal e estudantil prazeroso e motivador.

    Agradeo a todos os meus companheiros do CENPES, em especial ao

    supervisor Luiz Evangelista e ao gerente Marclio Mariano que confiaram em mim, me

    dando a oportunidade de conciliar as atividades profissionais e acadmicas.

    Por fim, agradeo a todos os professores com os quais tive o prazer de

    estudar, todos de alguma forma, me ajudaram a ser o profissional que sou hoje. Em

    especial, gostaria de agradecer ao professor Jorge Luiz, no s pela orientao neste

    projeto, mas tambm por todas as disciplinas cursadas com ele, inclusive Clculo I,

    cursada no primeiro semestre de 2002, no incio da graduao.

  • vi

    Resumo do projeto de Graduao apresentado Escola Politcnica/ UFRJ como parte

    dos requisitos necessrios para a obteno do grau de Engenheiro Eletricista.

    Uso da Biomassa como Alternativa Energtica

    Bruno Monteiro Cardoso

    Fevereiro/2012

    Orientador: Jorge Luiz do Nascimento

    Curso: Engenharia Eltrica

    O crescente aumento do consumo de energia mundial, grande parte em virtude da

    evoluo das reas tecnolgica e econmica, demanda investimentos no

    aproveitamento de novas fontes de energia e em novas aplicaes das fontes

    existentes. Em ambos os casos primordial que as novas solues sejam eficientes e

    sustentveis.

    Neste cenrio, uma das energias de destaque a energia eltrica, indispensvel para

    a sociedade atual. Uma das opes existentes para o crescimento e desenvolvimento

    sustentvel desta fonte se d atravs da utilizao de biomassas como insumo.

    Este trabalho rene informaes, que se encontravam dispersas, referentes a

    produo de energia eltrica a partir do uso da biomassa. Nele so apresentadas as

    principais biomassas existentes no Brasil que so utilizadas para gerao de

    eletricidade e tambm outras com grande potencial de aproveitamento para este fim.

    Posteriormente so descritas os principais processos de converso energtica da

    biomassa em uso e em desenvolvimento. Por fim, apresenta-se o estado-da-arte das

    principais rotas tecnolgicas que visam o aproveitamento de biomassa para a gerao

    de energia eltrica.

    Palavras-chave: Energia, Biomassa, Gerao de Energia Eltrica, Converso,

    Bioeletricidade.

  • vii

    Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of

    the requirements for the degree of Engineer.

    USE OF BIOMASS AS AN ENERGETIC ALTERNATIVE

    Bruno Monteiro Cardoso

    February/2012

    Advisor: Jorge Luiz do Nascimento.

    Course: Electric Engineering

    The increasing of global energy consumption, largely because of the development of

    economic and technological areas, requires investments in the exploitation of new

    energy sources and new applications for the existing ones, in both cases it is essential

    that the new solutions are efficient and sustainable.

    Due to this fact, electrical energy is one of the most important sources of energy, since

    it is essential for todays society lifestyle. One option for the growth and sustainable

    development of this source is though the use of biomass as a feedstock.

    This work brings together information, which was dispersed, regarding the production

    of electricity from biomass use. It presents the main kinds of biomass that are used to

    generate electricity in Brazil and others with great potential for this purpose. Moreover,

    it describes the main processes of energy conversion of biomass in use and in

    development. Finally, the state of the art of the main technological approaches aimed

    at the use of biomass for power generation is presented.

    Keywords: Energy, Biomass, Power generation, Conversion, Bioelectricity.

  • viii

    NDICE

    1 INTRODUO........................................................................................................01

    2 - USO DA BIOMASSA COMO FONTE DE ENERGIA...............................................03

    3 - DESCRIO DAS PRINCIPAIS BIOMASSAS DO BRASIL....................................08

    3.1 BIOMASSA DE ORIGEM FLORESTAL.......................................................08

    3.1.1 LENHA E CARVO VEGETAL.....................................................08

    3.1.2 RESDUOS DE MADEIRA E LICOR NEGRO...............................12

    3.2 BIOMASSA DE ORIGEM AGRCOLA.........................................................19

    3.2.1 CANA-DE-ACAR......................................................................20

    3.2.2 ARROZ..........................................................................................24

    3.2.3 CAPIM ELEFANTE.......................................................................27

    3.2.4 MILHO...........................................................................................28

    3.2.5 SOJA.............................................................................................30

    3.3 BIOMASSA ORIUNDA DE REJEITOS URBANOS E INDUSTRIAIS..........32

    3.3.1 REJEITOS URBANOS SLIDOS E LQUIDOS...........................32

    3.3.2 REJEITOS INDUSTRIAIS SLIDOS E LQUIDOS......................36

    4 - PROCESSOS DE CONVERSO ENERGTICA DA BIOMASSA..........................40

    4.1 CONVERSO TERMOQUMICA................................................................41

    4.2 CONVERSO FSICO-QUMICA................................................................46

    4.3 CONVERSO BIOQUMICA.......................................................................47

    5 - GERAO DE ENERGIA ELTRICA ATRAVS DA BIOMASSA..........................54

    5.1 CICLO A VAPOR.........................................................................................55

    5.2 GASEIFICAO DA BIOMASSA E USO DE TURBINAS A GS...............59

    5.3 OUTRAS TECNOLOGIAS...........................................................................64

    6 CASO ESPECIAL: O USO DA BIOMASSA PARA GERAO DE ENERGIA

    ELTRICA EM PEQUENA ESCALA.............................................................................67

    7 ANLISES E DIAGNSTICOS...............................................................................69

    8 CONCLUSES.......................................................................................................75

    9 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS.........................................................................78

  • ix

    APNDICE A Fatores de converso de energia...........................................................82

    APNDICE B Usinas produtoras de eletricidade a partir do bagao de cana..............83

    APNDICE C Impactos socioambientais decorrentes da construo e operao de

    usinas termoeltricas a biomassa.................................................................................98

  • x

    LISTA DE FIGURAS Figura 1 Participao das diversas fontes de energia no consumo (1973 a 2006).............................................................................................................................05

    Figura 2 Lenha...........................................................................................................09

    Figura 3 Histrico do consumo de lenha no Brasil....................................................11

    Figura 4 P de serra..................................................................................................14

    Figura 5 Cana-de-acar...........................................................................................21

    Figura 6 Casca de arroz............................................................................................25

    Figura 7 Fases da produo de biogs.....................................................................33

    Figura 8 Diagrama esquemtico dos processos de converso da biomassa...........40

    Figura 9 Rotas tecnolgicas de converso energtica da biomassa........................41

    Figura 10 Esquema da planta de pirlise rpida da Unicamp...................................43

    Figura 11 Rotas de gaseificao baseada no tipo de agente gaseificante...............44

    Figura 12 Exemplo de unidade de gaseificao de biomassa..................................45

    Figura 13 Processo de obteno do biodiesel a partir da transesterificao............47

    Figura 14 Exemplo do processo de fermentao para formao de etanol..............48

    Figura 15 Exemplo de processo de hidrlise cida...................................................51

    Figura 16 Integrao do biodigestor ao biociclo........................................................52

    Figura 17 Diagrama processual da digesto anaerbica..........................................53

  • xi

    Figura 18 Sistema de co-gerao tipo bottoming......................................................56

    Figura 19 Sistema de co-gerao tipo topping..........................................................56

    Figura 20 Ciclo a vapor em contrapresso em co-gerao topping..........................57

    Figura 21 Caractersticas tcnicas dos ciclos a vapor com turbinas de contrapresso para gerao de energia eltrica...................................................................................57

    Figura 22 Ciclo a vapor de condensao e extrao em co-gerao topping...........58

    Figura 23 Caractersticas tcnicas dos ciclos a vapor com turbinas de condensao e extrao para gerao de energia eltrica.................................................................59

    Figura 24 Exemplo de fluxograma esquemtico do ciclo BIG-GT em co-gerao topping...........................................................................................................................60

    Figura 25 Exemplo de fluxograma esquemtico do ciclo BIG-STIG em co-gerao topping...........................................................................................................................61

    Figura 26 Exemplo de fluxograma esquemtico do ciclo BIG-ISTIG em co-gerao topping...........................................................................................................................62

    Figura 27 Exemplo de fluxograma esquemtico do ciclo BIG-GTCC em co-gerao topping...........................................................................................................................63

    Figura 28 Caractersticas tcnicas do ciclo combinado integrado a gaseificao da biomassa para a gerao de energia eltrica...............................................................63

    Figura 29 Gerao especfica de energia eltrica das tecnologias a partir da biomassa excedente exportvel segundo o modo de operao ..................................64

    Figura 30 Esquema de uma microturbina..................................................................65

    Figura 31 Custos de produo de energia eltrica no Brasil.....................................69

  • xii

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Classe de combustveis utilizados no Brasil para gerao de energia eltrica Operao.......................................................................................................04

    Tabela 2 Matriz de energia eltrica do Brasil: empreendimentos em operao........................................................................................................................06

    Tabela 3 Detalhamento do uso da biomassa para gerao de energia eltrica no mercado brasileiro Operao.....................................................................................07

    Tabela 4 Empreendimentos produtores de energia eltrica a partir do uso da biomassa de carvo vegetal..........................................................................................11

    Tabela 5 rea total com florestas plantadas por gnero e estado (mil ha)................12

    Tabela 6 Estimativa de produo madeireira potencial de Eucalipto e Pinus no Brasil, 2010....................................................................................................................13

    Tabela 7 Empreendimentos produtores de energia eltrica a partir do uso de resduos de madeira......................................................................................................15

    Tabela 8 Empreendimentos produtores de energia eltrica a partir do licor negro.............................................................................................................................18

    Tabela 9 Informaes tcnicas da cultura de cana-de-acar..................................20

    Tabela 10 Empreendimentos produtores de energia eltrica a partir do uso da biomassa de casca de arroz..........................................................................................26

    Tabela 11 Empreendimentos produtores de energia eltrica a partir do uso da biomassa de capim elefante..........................................................................................28

    Tabela 12 Informaes tcnicas da cultura de soja...................................................30

    Tabela 13 Equivalncia entre o biogs e outros combustveis..................................34

  • xiii

    Tabela 14 Produo de rejeitos slidos urbanos por habitante e suas caractersticas...............................................................................................................35

    Tabela 15 Clculo da emisso anual de metano originrio de dejetos da explorao pecuria, segundo espcies, em mil toneladas anuais.................................................36

    Tabela 16 Produo diria de resduos slidos e lquidos de alguns animais...........37

    Tabela 17 Quantidade de rejeitos necessrios para a produo de 1m de biogs............................................................................................................................37

    Tabela 18 Empreendimentos produtores de energia eltrica a partir do uso do biogs............................................................................................................................38

    Tabela 19 Verses da tecnologia de pirlise.............................................................43

    Tabela 20 Vantagens e desvantagens do uso da biomassa para gerao de energia eltrica...........................................................................................................................70

    Tabela 21 Categoria de impactos..............................................................................71

    Tabela 22 Impactos ambientais referentes ao uso da biomassa como insumo para a gerao de energia eltrica...........................................................................................72

    Tabela 23 Tabela comparativa de rendimentos das biomassas analisadas..............73

    Tabela 24 Oferta mssica de biomassa por resduo agrcola, agroindustrial e silvicultural Brasil........................................................................................................74

    Tabela A.1 Fatores de converso para Energia........................................................82

    Tabela B.1 Empreendimentos produtores de energia eltrica a partir do uso do bagao de cana-de-acar............................................................................................83

    Tabela C.1 Impactos socioambientais decorrentes da construo e operao de usinas termoeltricas a biomassa.................................................................................98

  • xiv

    NOMENCLATURA

    ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas.

    ABRAF Associao Brasileira de Florestas Plantadas.

    ABRELPE Associao Brasileira de Empresas de Limpeza Pblica e Resduos

    Especiais.

    ANEEL Agncia Nacional de Energia Eltrica.

    BEN Balano Energtico Nacional.

    BIG Banco de Informaes de Gerao.

    BIG-GT Biomass Integrated Gasification Gas Turbine.

    BIG-GTCC - Biomass Integrated Gasification Gas Turbine Combined Cycle.

    BIG-ISTIG - Biomass Integrated Gasification Intercooled Steam Injected Gas Turbine.

    BIG-STIG - Biomass Integrated Gasification Steam Injected Gas Turbine.

    BRACELPA Associao Brasileira de Celulose e Papel.

    CETESB Companhia Ambiental do Estado de So Paulo.

    CONAB Companhia Nacional de Abastecimento.

    CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente.

    DEE Departamento de Engenharia Eltrica da UFRJ.

    EPE Empresa de Pesquisa Energtica.

    FAO Food and Agriculture Organization of the United Nations.

    HRSG Heat Recovery Steam Generator.

    IPT Instituto de Pesquisa Tecnolgica.

    IEA International Energy Agency.

    LAFAE Laboratrio de Fontes Alternativas de Energia DEE|POLI|UFRJ.

    LDB Lei de Diretrizes e Bases.

    MAPA Ministrio de Agricultura, Pecuria e Abastecimento.

    MME Ministrio de Minas e Energia.

    NBR Norma Tcnica Brasileira aprovada pela ABNT.

    pH Potencial Hidrogeninico.

    PNE Plano Nacional de Energia.

    POLI Escola Politcnica da UFRJ.

    OPEP Organizao dos Pases Exportadores de Petrleo.

    SBS Sociedade Brasileira de Silvicultura.

    SIN Sistema Integrado Nacional.

    SPAE Secretaria de Produo e Agroenergia.

    TCC Trabalho de Concluso de Curso.

    UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro.

  • 1

    1 Introduo

    Considerando que nas finalidades de um departamento acadmico e de seus

    laboratrios de pesquisa tambm esteja includa a catalogao e a disponibilizao ao

    pblico de informaes tcnicas e cientficas de temas pertinentes s suas atividades,

    considerando tambm que a falta de informaes concisas e organizadas em

    determinados tpicos no conjunto das ementas das disciplinas dos cursos devam ser

    cobertas com atividades complementares como regulamentado na LDB vigente, faz-se

    oportuno que os TCC Trabalhos de Concluso de Curso dos engenheirandos

    tornem-se um dos instrumentos para suprir tais falhas. Assim, a elaborao de

    material didtico ou informativo como referncia para as atividades didticas das

    disciplinas se encaixa perfeitamente no formato de apresentao dos TCCs. No caso

    especfico deste trabalho, enfocamos o tema biomassa como alternativa energtica

    para o Brasil.

    Este trabalho tem por objetivo apresentar as informaes referentes a

    utilizao da biomassa como alternativa energtica para o Brasil, com foco na gerao

    de energia eltrica. As informaes aqui contidas serviro como material didtico para

    o Laboratrio de Fontes Alternativas de Energia LAFAE do Departamento de

    Engenharia Eltrica da UFRJ.

    Todas as informaes aqui apresentadas foram obtidas ou desenvolvidas a

    partir de pesquisas em endereos eletrnicos especializados ou da bibliografia

    existente relacionada ao tema. As informaes foram ordenadas de maneira lgica, de

    forma a propiciar ao leitor uma linha de raciocnio desde a origem da biomassa at sua

    aplicao como alternativa na produo de energia eltrica.

    Primeiramente foi realizado um breve histrico da utilizao da biomassa como

    fonte energtica, seguido de uma apresentao do cenrio atual da utilizao desta

    fonte para este fim.

    Posteriormente so apresentadas as descries das biomassas mais utilizadas

    classificadas em trs categorias: origem florestal, origem agrcola e rejeitos industriais

    e urbanos. Em uma primeira abordagem as biomassas foram tratadas individualmente

    dentro destas categorias e as informaes apresentadas em formado de tpicos como

    definio, caractersticas fsicas e biolgicas, processos produtivos, impactos

    ambientais e sociais, etc. Contudo esta apresentao se mostrou inadequada j que

    algumas biomassas apresentavam caractersticas similares e as informaes ficaram

    divididas em uma grande quantidade de tpicos. Como soluo, algumas biomassas

  • 2

    foram englobadas em um mesmo tpico e as informaes apresentadas em

    pargrafos dentro de cada biomassa ou grupo de biomassas.

    Na terceira parte do trabalho so apresentadas as tcnicas mais utilizadas

    comercialmente, ou com destaque na rea de pesquisa, referentes a transformao

    das biomassas visando seu aproveitamento energtico. Cada tcnica descrita

    resumidamente de forma a passar um conhecimento bsico sobre a mesma.

    Na quarta parte deste projeto dado enfoque a utilizao das biomassas para

    gerao de energia eltrica, apresentando quais so os meios mais utilizados e

    estudados atualmente para a converso da energia contida na biomassa em energia

    eltrica.

    Por fim, na quinta e na sexta parte do trabalho, so feitas consideraes a

    respeito de possveis reas para estudos futuros e anlises e concluses relacionadas

    as informaes aqui apresentadas.

  • 3

    2 - Uso da biomassa como fonte de energia

    O desenvolvimento da civilizao est atrelado ao consumo de energia

    exercido pelo homem. Desde os primrdios, quando o homem descobriu o fogo e

    comeou a utilizar sua energia para coco de alimentos e outros fins, esta energia

    tem sido obtida atravs de atividades extrativistas, aproveitando-se assim dos

    recursos da natureza. Este processo era realizado sem quaisquer preocupaes com

    os impactos que poderiam advir de sua execuo, pois se acreditava que os recursos

    naturais e os combustveis fsseis foram fontes abundantes de energia, sem previso

    de esgotamento.

    Contudo, desde a metade do sculo XX este cenrio est em transformao. A

    evoluo dos processos industriais e o desenvolvimento da sociedade acarretam em

    um aumento sistemtico da demanda de energia e, devido a este fato, a comunidade

    mundial comeou a perceber os impactos de um consumo descontrolado destes

    recursos. Foi constatado que a grande maioria dos insumos energticos utilizados na

    produo de energia em grande escala possui reservas finitas. Estes aumentos de

    demanda agregados s limitaes das reservas fizeram com que as perspectivas de

    durao das fontes de energia predominantes se tornassem reduzidas.

    Outra ao que mudou consideravelmente o cenrio de produo de energia

    ocorreu ao final do sculo XX com a implantao de legislaes ambientais em

    diversos pases. A preocupao em se preservar o meio ambiente para as geraes

    futuras, discutindo-se questes tais como o aquecimento global e as emisses de

    carbono, passou a ser um tpico de destaque em qualquer projeto de gerao de

    energia.

    Alm dos aspectos quantitativos e ambientais existem tambm fatores

    econmicos que impactam diretamente no setor energtico, com foco na indstria de

    petrleo. Aps a Segunda Grande Guerra, em 1945, surgem sinais iniciais da

    importncia geo-estratgica do petrleo com as primeiras ameaas de embargo

    petrolfero realizadas pelos pases rabes aos Estados Unidos. Desde este perodo

    at os dias atuais j ocorreram cinco crises relacionadas a produo / consumo de

    petrleo (1956, 1973, 1979, 1991 e 2008), revelando ao mundo as conseqncias

    econmicas da grande dependncia de uma nica fonte de energia.

    Em vista dos fatos apresentados se faz necessrio a busca de alternativas

    energticas sustentveis visando atender a demanda crescente de energia no mbito

    mundial. Muitas alternativas surgiram como soluo deste problema, dando-se

    destaque a energia solar, a energia elica, a energia atmica e a energia proveniente

  • 4

    das biomassas. Todas as alternativas citadas possuem vantagens e desvantagens

    que devem ser levadas em considerao. Por este motivo, at o momento, nenhuma

    das opes despontou como a melhor alternativa, mas cada uma deve ser analisada,

    verificando-se a melhor relao custo-benefcio para cada aplicao.

    Este trabalho tem como foco a utilizao da biomassa como fonte de energia,

    destacando seu aproveitamento na gerao de energia eltrica no Brasil.

    Tabela 1 Classe de combustveis utilizados no Brasil para gerao de energia

    eltrica - Operao.

    Combustvel Quantidade de

    empreendimentosPotncia (kW) %

    Biomassa 429 8.990.493 28,79

    Fssil 1045 20.753.350 66,46

    Outros 36 1.485.270 4,76

    Total 1510 31.229.113 100

    Fonte: ANEEL:BIG, 2012 Acesso em 19/01/2012.

    Do ponto de vista energtico a biomassa toda matria orgnica, seja de

    origem animal ou vegetal, que pode ser utilizada na produo de energia (ANEEL,

    2002). A mesma sempre esteve presente como fonte de energia na histria da

    civilizao, inicialmente na forma de lenha ou carvo e, a partir de meados do sculo

    XX, outras formas de utilizao da biomassa ganharam nfase. A utilizao da

    biomassa tem como grandes vantagens seu aproveitamento direto por meio da

    combusto em fornos e caldeiras e tambm a reduo de impactos socioambientais.

    Como desvantagens, seu aproveitamento apresenta eficincia reduzida, contudo esto

    sendo pesquisados aperfeioamentos das tecnologias de converso.

    Por ser considerada uma fonte energtica limpa e renovvel, o interesse na

    utilizao de biomassa ganhou espao no mercado de energia, passando a ser

    considerada uma boa alternativa para a diversificao da matriz energtica mundial e

    conseqente reduo da dependncia dos combustveis fsseis, conforme se pode

    observar nos dados apresentados na Tabela 1 e na Figura 1. Por este motivo os

    investimentos e incentivos do setor pblico e do setor privado de diversos pases na

    produo de energia utilizando a biomassa tm aumentado consideravelmente nos

    ltimos anos.

  • 5

    Figura 1 Participao das diversas fontes de energia no consumo (1973 e 2006).

    Fonte: IEA, 2008.

    A biomassa, quando utilizada para fins energticos, classificada em trs

    categorias: florestal, agrcola e rejeitos urbanos, onde, na biomassa energtica

    agrcola, esto includos as culturas agroenergticas e os resduos e subprodutos das

    atividades agrcolas, agroindustriais e da produo animal. O potencial energtico de

    cada um desses grupos depende tanto da matria-prima utilizada quanto da tecnologia

    utilizada no processamento para obt-los.

    Existem diversas rotas tecnolgicas para a utilizao da biomassa com a

    finalidade de se produzir energia eltrica, contudo, todas envolvem a transformao da

    biomassa, por meio de processos termoqumicos, bioqumicos e fsico-qumicos, em

    um produto intermedirio, que por fim, ser usado na gerao de eletricidade. Para

    cada cenrio deve ser observado a viabilidade tcnica e econmica de cada tipo de

    biomassa e da tecnologia a ser empregada visando a otimizao dos resultados.

    A matriz energtica brasileira, considerando-se os empreendimentos em

    operao, segundo o BIG 2012, est atualmente dividida conforme apresentado na

    Tabela 2.

  • 6

    Tabela 2 Matriz de energia eltrica do Brasil: empreendimentos em operao.

    Empreendimentos em Operao

    Tipo

    Capacidade Instalada

    %

    Total

    % N. de

    Usinas(kW)

    N. de

    Usinas (kW)

    Hidrulica - 966 82.318.681 65,76 966 82.318.681 65,76

    Gs Natural 102 11.424.053 9,13

    140 13.213.236 10,56Processo 38 1.789.183 1,43

    Petrleo

    leo

    Diesel 891 3.942.036 3,15

    923 7.074.243 5,65leo

    Residual 32 3.132.207 2,50

    Biomassa

    Bagao

    de Cana 347 7.263.608 5,80

    427 8.986.143 7,18

    Licor

    Negro 14 1.245.198 0,99

    Madeira 42 373.827 0,30

    Biogs 16 70.902 0,06

    Casca de

    Arroz 8 32.608 0,03

    Nuclear - 2 2.007.000 1,60 2 2.007.000 1,60

    Carvo Mineral Carvo

    Mineral 10 1.944.054 1,55 10 1.944.054 1,55

    Elica - 72 1.452.792 1,16 72 1.452.792 1,16

    Importao

    Paraguai 5.650.000 5,46

    - 8.170.000 6,53Argentina 2.250.000 2,17

    Venezuela 200.000 0,19

    Uruguai 70.000 0,07

    Total 2.548 125.171.587 100 2.548 125.171.587 100

    Fonte: ANEEL:BIG, 2012 Acesso em 19/01/2012.

  • 7

    A Tabela 3 apresenta uma viso mais detalhada das biomassas utilizadas nas

    usinas em operao no Brasil.

    Tabela 3 Detalhamento do uso da biomassa para gerao de energia eltrica no

    mercado brasileiro - Operao.

    Combustvel Quantidade de

    empreendimentosPotncia (kW) %

    Licor negro 14 1.245.198 13,85

    Resduos de madeira 37 316.927 3,53

    Capim elefante 2 31.700 0,35

    Biogs 16 70.902 0,79

    Bagao de cana-de-acar 347 7.263.608 80,79

    leo de palmiste 2 4.350 0,05

    Carvo vegetal 3 25.200 0,28

    Casca de arroz 8 32.608 0,36

    Fonte: ANEEL:BIG, 2012 Acesso em 19/01/2012.

  • 8

    3 - Descrio das principais biomassas do Brasil

    3.1 - Biomassa de origem Florestal A biomassa energtica florestal definida como produtos e subprodutos dos

    recursos florestais que incluem basicamente biomassa lenhosa, produzida de forma

    sustentvel a partir de florestas cultivadas ou de florestas nativas, obtida por

    desflorestamento de floresta nativa para abertura de reas para agropecuria, ou

    ainda originada em atividades que processam ou utilizam a madeira para fins no

    energticos, destacando-se a indstria de papel e celulose, indstria moveleira,

    serrarias etc. O contedo energtico desta classe de biomassa est associado

    celulose e lignina contidas na matria e ao baixo teor de umidade. Seu aproveitamento

    no uso final energtico se realiza, principalmente, atravs das rotas tecnolgicas de

    transformao termoqumica mais simples, como combusto direta e carbonizao,

    mas rotas mais complexas tambm so empregadas para a produo de combustveis

    lquidos e gasosos, como metanol, etanol, gases de sntese, licor negro (um

    subproduto da indstria de celulose), entre outros (ANEEL:EPE, 2007).

    3.1.1 - Lenha e carvo vegetal

    A lenha definida como ramos, troncos, achas (tora de lenha, cavaca) de

    madeira tosca ou quaisquer pedaos de madeira que podem ser utilizados como

    combustvel. No Brasil, ela participa com cerca de 10% da produo de energia

    primria e continua tendo grande importncia na matriz energtica do pas. Em relao

    a sua composio a lenha possui de 41% a 49% de celulose, de 15% a 27% de

    hemicelulose e de 18% a 24% de lignina e seu poder calorfico inferior mdio de

    3100 Kcal/Kg.

  • 9

    Figura 2 Lenha

    Fonte: http://www.portalsaofrancisco.com.br

    A produo de lenha pode ser dividida em dois segmentos: a lenha catada e a

    lenha produzida para fins comerciais. A lenha catada proveniente de matas nativas

    parecia uma fonte inesgotvel desta biomassa, contudo a forma predatria com que a

    mesma foi explorada causou problemas crticos em diversas regies do pas. Vrias

    regies onde existiam abundantes coberturas florestais passaram a conviver com a

    degradao do solo, a alterao no regime das chuvas e conseqente desertificao.

    Na produo de lenha para fins comerciais, principalmente nas serrarias e

    indstrias de mveis, a lenha proveniente das matas nativas substituda pela lenha

    de reflorestamento, sendo o eucalipto a principal rvore cultivada para este fim. Aps a

    utilizao da lenha nas fbricas so gerados resduos industriais como pontas de

    toras, costaneiras e serragem de diferentes tamanhos e densidade. Tais resduos

    podem ter um aproveitamento energtico.

    Para a lenha catada, de uso residencial, considerada uma densidade com

    valor mdio de 300 Kg/m e, para a lenha comercial, a densidade de 390 Kg/m (BEN,

    2011).

    No Brasil em 2010, cerca de 33% da lenha produzida foi transformada em

    carvo vegetal. Esta transformao realizada atravs dos processos conhecidos

    como carbonizao, que consiste na queima da lenha com presena controlada de ar,

    ou pelo processo de pirlise, onde a lenha submetida a altas temperaturas em um

    ambiente com pouqussima ou nenhuma quantidade de oxignio. O poder calorfico

    inferior do carvo vegetal de 6460 Kcal/Kg e sua densidade mdia de 250 Kg/m.

  • 10

    Em relao a sua composio tm-se de 20% a 35% de material voltil, de 65% a 80%

    de carbono fixo e de 1% a 3% as cinzas (material inorgnico).

    O Brasil o maior produtor mundial deste insumo energtico, sendo o setor

    industrial, liderado pelas indstrias de ferro-gusa, ao e ferro-ligas, o maior consumidor

    do carvo vegetal utilizando 85% da produo nacional. O setor residencial consome

    cerca de 9% e o setor comercial fica com 1,5% da produo de carvo vegetal.

    Basicamente a produo de carvo vegetal implica na disperso de grande

    quantidade de matria e energia, iniciada com a derrubada da mata e prosseguindo

    durante o processo de carbonizao onde so gerados gases volteis que so

    compostos de uma frao que pode ser liquefeita, conhecida como material

    pirolenhoso, e de uma frao no condensvel. Assim, do processo de carbonizao

    aproveita-se apenas o carvo vegetal, dispersam-se gases, vapores dgua, lquidos

    orgnicos e alcatro.

    De maneira a se garantir a viabilidade econmica da produo de carvo

    vegetal, se faz necessrio que as carvoarias fiquem prximas a indstrias que

    produzam resduos de madeira, como as serrarias. Caso este conjunto de indstrias

    fique prximo a zonas urbanas, o mesmo influi diretamente no grau de poluio destas

    zonas, submetendo a populao aos efeitos danosos da fumaa e das partculas

    emitidas durante o processamento da lenha.

    A maior parte da produo nacional executada atravs do processo de

    carbonizao, praticada nas carvoarias ainda na forma tradicional, em fornos de

    alvenaria com ciclos de aquecimento e resfriamento que podem durar vrios dias. Esta

    atividade associada a condies desumanas de trabalho j que rudimentar,

    expondo os trabalhadores a condies inseguras e muitas vezes sendo realizada de

    maneira informal.

    Segundo o Balano Energtico Nacional 2011, no Brasil a produo total de

    lenha em 2010 foi de 84,101 milhes de toneladas, sendo que 27,86 milhes de

    toneladas (33,1%) foram utilizadas na produo de carvo vegetal e 1,235 milhes de

    toneladas (1,5%) diretamente na gerao eltrica, gerando um total de 29,095 milhes

    de toneladas (34,6%) aplicadas em transformao (produo de carvo vegetal e

    gerao eltrica). O setor residencial responsvel pelo consumo de 27,9% da lenha

    produzida, geralmente utilizada na coco dos alimentos nas regies rurais. Como

    exemplo, tem-se como mdia a necessidade de 2m de lenha por ms para que uma

    famlia de oito pessoas possa preparar suas refeies neste perodo. O setor industrial

    fica responsvel por 27,5% do consumo da produo de lenha, sendo as indstrias de

    alimento e bebidas, cermicas e papel e celulose as principais consumidoras. O setor

  • 11

    agropecurio e o comercial, em menores nmeros, tambm so consumidores deste

    insumo.

    Analisando-se estes dados verifica-se que a produo de energia eltrica

    advinda da lenha ainda pequena em relao a produo total desta biomassa, cerca

    de 1,5%, totalizando cerca de 4,45 TWh (0,38 milho de tonelada equivalente de

    petrleo - tep).

    Figura 3 Histrico do consumo de lenha no Brasil.

    Fonte: MME:EPE. BEN, 2011.

    A Tabela 4 apresenta as usinas que geram energia eltrica a partir da queima

    do carvo vegetal registradas no BIG.

    Tabela 4 Empreendimentos produtores de energia eltrica a partir do uso da

    biomassa de carvo vegetal.

    Usina Potncia

    (kW) Proprietrio Municpio

    Simasa 8.000

    50% para companhia Siderrgica

    Vale do Pindar, 50% para

    Siderrgica do maranho S/A

    Aailndia - MA

    Viena 7.200 100% para Viena Siderrgica do

    Maranho S/A Aailndia - MA

    Gusa

    Nordeste 10.000 100% para Gusa Nordeste S.A. Aailndia - MA

    Total: 3 usinas Potncia total: 25.200 kW

    Fonte: ANEEL:BIG, 2012 Acesso em 19/01/2012.

  • 12

    3.1.2 - Resduos de madeira e Licor negro

    O Brasil possui alto potencial florestal devido s suas grandes extenses de

    terra que possibilitam um alto volume de produo de madeira. A cadeia produtiva da

    madeira gera uma grande quantidade de resduos se considerarmos os processos de

    transformao primrio, secundrio e tercirio que, se no tratados adequadamente,

    podem gerar diversos problemas ambientais. Estes resduos so constitudos pelo

    material florestal orgnico que sobra na floresta aps a colheita, sobras de madeira,

    com ou sem casca, galhos grossos e finos, fuste, casca, copa, toua e razes.

    As rvores mais utilizadas em florestas de reflorestamento so o pinus e o

    eucalipto. O pinus do gnero de plantas da famlia pinaceae e so rvores perenes

    presentes principalmente em climas temperados. Seus resduos possuem poder

    calorfico inferior de 4174 Kcal/Kg e densidade de 350 Kg/m. J o eucalipto a

    designao vulgar das vrias espcies vegetais do gnero Eucalyptus, pertencente a

    famlia das mirtceas, que compreende outros 130 gneros. Seus resduos possuem

    poder calorfico inferior de 4024 Kcal/Kg e densidade de 374 Kg/m. Tanto os valores

    citados para o eucalipto quanto para o pinus consideram um teor de umidade em torno

    de 25%. Como se pode verificar atravs dos dados da Tabela 5, o eucalipto

    responsvel por 81,6% da rea total com florestas plantadas e o pinus responsvel

    por 17,2%, ficando 1,2% da rea plantada para outros gneros.

    Tabela 5 rea total com florestas plantadas por gnero e estado (mil ha)

    Fonte: Relatrio Anual 2009/2010 BRACELPA, 2010

  • 13

    O processamento primrio composto pela extrao da madeira da floresta

    nativa ou da floresta de reflorestamento transformando-a em toras, gerando um

    desperdcio de madeira na forma de resduos. Em plantios de pinus, cerca de 28% do

    peso total da rvore fica na floresta em forma de resduos, j no plantio de eucaliptos

    22% se tornam resduos. O setor de base florestal (processamento secundrio) se

    baseia na transformao das toras de madeira em placas, barras, laminados, painis,

    compensados etc. Nesta fase gerada a maior quantidade de resduos, pois para

    cada tonelada de madeira bruta beneficiada, so gerados de 35% a 50% de resduos,

    conforme ilustrado na Figura 4. Em uma ltima etapa, essa madeira processada

    utilizada na montagem de mveis, construo civil, entre outras finalidades, o que

    tambm gera perdas nas operaes de corte e acabamento.

    Tabela 6 Estimativa da produo madeireira potencial de Eucalipto e Pinus no Brasil,

    2010

    Gnero Produo Sustentada

    m/ano

    Eucalipto 193.736.543

    Pinus 64.913.131

    Total 258.649.674

    Produo sustentada foi calculada multiplicando a rea plantada pelo incremento mdio anual (m/ha ano) mdio ponderado da espcie.

    Fonte: Anurio Estatstico da ABRAF 2011 Ano base 2010.

    A produo de madeira pinus em toras concentra-se nas regies Sul e Sudeste

    do pas, as quais respondem por mais de 90% da produo sustentvel nacional. J a

    produo de madeira de eucalipto, tambm em toras, concentra-se nas regies Sul,

    Sudeste e Nordeste do Brasil, e representam mais de 70% da produo sustentvel

    nacional de eucalipto. O principal segmento consumidor de madeira em tora (processo

    primrio) de floresta plantada a indstria de papel e celulose, seguida pela siderurgia

    e pela indstria de madeira serrada.

    Aps o processo secundrio, os principais destinos da madeira processada so

    as indstrias moveleiras e de construo civil.

  • 14

    Figura 4 P de serra

    Fonte: http://www.portalsaofrancisco.com.br

    Do ponto de vista fsico, plantios de eucalipto e pinus no devem ocupar terras

    em locais no recomendados, como reas consideradas aptas para culturas agrcolas,

    encostas ngremes, margens de rios, dentre outras. Caso o sistema de planejamento

    operacional adotado no seja adequado podem ocorrer interferncia dos plantios nos

    processos de conservao do solo (eroso) e na qualidade da gua.

    Tendo em considerao os aspectos biolgicos, no cultivo de eucalipto e pinus

    deve ser considerado o plano de manejo de forma a garantir a biodiversidade dos

    sistemas aquticos e terrestres. Neste aspecto tambm se pode destacar o uso

    inadequado de defensivos agrcolas, fertilizantes e a utilizao de queimadas e

    desmatamentos como mtodo de limpeza da rea pr-plantio, gerando gases

    causadores do efeito estufa.

    Os principais impactos sociais referentes ao cultivo de eucalipto e de pinus

    podem ser observados quando da implantao de uma nova rea de cultivo, tendo

    como destaques a ocupao das terras, a infra-estrutura da regio e a qualidade de

    vida da populao.

    A necessidade de aquisio de grandes reas para o plantio de eucalipto e

    pinus pode causar mudanas na origem e na quantidade dos alimentos produzidos em

    certas reas, em funo da substituio parcial de culturas agrcolas. Alm disso,

    existe a interferncia na estrutura fundiria das regies.

    Com a instalao de empresas do setor florestal projeta-se o aumento de

    investimentos em infra-estrutura das cidades, normalmente a ser realizado atravs de

    parcerias entre o setor pblico e o setor privado, tendo como conseqncia um

  • 15

    processo de modernizao das mesmas, facilitando a comunicao com outros

    centros e diversificando as atividades do comrcio local.

    No que diz respeito qualidade de vida da populao prxima s empresas do

    setor florestal verificou-se o aumento na gerao de empregos diretos e indiretos,

    dando oportunidade a um grande contingente de pessoas que no tinham perspectiva

    de trabalho em regies pobres. As empresas normalmente investem nas equipes de

    trabalho e em equipamentos para melhorias ergonmicas.

    A ttulo de exemplo, considerando-se as perdas totais em torno de 50% (j

    computada a quantidade de resduo que no pode ser aproveitado como combustvel

    em termoeltricas ou centrais de gerao trmica), os poderes calorficos do eucalipto

    e do pinus e os nmeros apresentados na Tabela 6, pode-se verificar um total de

    129,33 milhes de m/ano de resduos, sendo 96,87 milhes de m/ano advindos da

    produo de eucalipto e 32,46 milhes de m/ano advindos da produo de pinus.

    Estes nmeros equivalem a 14,58 milhes de tep e 169,55 TWh para o eucalipto e

    para o pinus estes nmeros so 4,74 milhes de tep e 55,15 TWh para o perodo.

    Tabela 7 Empreendimentos produtores de energia eltrica a partir do uso de

    resduos de madeira.

    Usina Potncia

    (kW) Proprietrio Municpio

    Ripassa 53.480 100% para Ripasa S/A Celulose e

    Papel Limeira SP

    Tramontina 1.500 100% para Tramontina Belm S/A. Belm PA

    Rigesa 32.500 100% para Rigesa Celulose Papel e

    Embalagens Ltda. Trs Barras SC

    Forjasul 1.800 100% para Forjasul Encruzilhada

    Indstria de Madeiras Ltda.

    Encruzilhada do

    Sul RS

    Sinop 6.000 100% para Vitale Industrial Norte S/A Sinop MT

    Miguel Forte 16.000 100% para Miguel Forte Industrial

    S.A.

    Unio da Vitria

    PR

    Energia

    Madeiras 4.000

    100% para Energia Madeira

    Industrial e Comercial Ltda. Canoinhas SC

    Pizzatto 2.000 100% para Indstrias Pedro N.

    Pizzatto Ltda.

    General Carneiro

    PR

    Piratini 10.000 100% para Piratini Energia S/A Piratini RS

  • 16

    Usina Potncia

    (kW) Proprietrio Municpio

    Ecoluz 12.330 100% para Gaia Energia e

    Participaes S.A.

    Guarapuava

    PR

    Iatacoatiara 9.000 100% para BK energia Itacoatiara

    Ltda. Itacoatiara AM

    Pampa 400 100% para Pampa Exportaes Ltda. Belm PA

    PIE-RP 27.800 100% para PIE-RP Termoeltrica S/A Ribeiro Preto

    SP

    Araguassu 1.200 100% para Araguassu leos Vegetais

    Indstria e Comercial Ltda.

    Porto Alegre do

    Norte MT

    Gaseifamaz I 27 100% para Biomass Users Network

    do Brasil So Paulo SP

    Toledo 3.000 100% para Sadia S/A Toledo PR

    Lages 28.000 100% para Lages Bioenergtica Ltda. Lages SC

    Dois

    Vizinhos 1.980 100% para Sadia S/A

    Dois Vizinhos

    PR

    Rohden 3.500 100% para Rohden Artefatos de

    Madeira Ltda. Salete SC

    Egdio 2.000 100% para Serraria Egdio Ltda. Juruena MT

    Battistella 3.150 100% para Battistella Indstria e

    Comrcio Ltda.

    Rio Negrinho

    SC

    Terranova I 3.000 100% para Solida Brasil Madeiras

    Ltda.

    Rio Negrinho

    SC

    Irani 9.800 100% para Celulose Irani S/A Vargem Bonita

    SC

    Bragagnolo 1.200 100% para Avelino Bragagnolo S/A

    Indstria e Comrcio

    Faxinal dos

    Guedes SC

    Pira 9.000 100% para Centrais Eltricas Salto

    Correntes Ltda. Pira do Sul PR

    Energy

    Green 5.000 100% para E G Brasil Energia Ltda. Carambe PR

    Santa Maria 6.400 100% para Santa Maria Companhia

    de Papel e Celulose

    Guarapuava

    PR

  • 17

    Usina Potncia

    (kW) Proprietrio Municpio

    Bio Fuel 4.800 100% para Brasil Bio Fuels S.A. So Joo da

    Baliza RR

    Berneck 12.000 100% para Berneck S.A., Painis e

    Serrados. Araucria PR

    Thermoazul 4.700 100% para Thermoazul Usina de

    Energia Ltda. Tangar SC

    Primavera do

    Leste 8.000 100% para Cargill Agrcola S.A.

    Primavera do

    Leste MT

    Comigo 5.000

    100% para Cooperativa Agroindustrial

    dos Produtores Rurais do Sudoeste

    Goiano

    Carmo do Rio

    verde GO

    Natureza

    Limpa 1.000

    100% para TJMC Empreendimentos

    Ltda. Una MG

    Laminados

    Triunfo 1.500 100% para laminados Triunfo Ltda. Rio Branco AC

    Santo

    Antnio 60

    100% para Cooperativa de

    desenvolvimento Sustentvel Santo

    Antnio do Rio Ituquiara

    Breves PA

    Cargill

    Uberlndia 25.000 100% para Cargill Agrcola S.A. Uberlndia MG

    Ebata 800 100% para Ebata Produtos

    Florestais Ltda. Belm - PA

    Total: 37 usinas Potncia total: 316.927 kW

    Fonte: ANEEL:BIG, 2012 Acesso em 19/01/2012.

    Outro derivado da madeira que bastante utilizado como combustvel para a

    gerao de energia eltrica o licor negro. O licor negro, tambm conhecido como

    lixvia negra, um resduo lquido proveniente do digestor aps o processo de

    cozimento da madeira. uma mistura complexa que contm grande nmero de

    substncias orgnicas dissolvidas da madeira junto a seus componentes inorgnicos.

    Seu poder calorfico inferior da ordem de 2860 Kcal/Kg de licor.

    Na indstria de produo de papel a matria prima a polpa da madeira que

    obtida atravs de processos mecnicos e qumicos da madeira bruta separando-a em

    lignina, celulose e hemicelulose (componentes da madeira). Os processos mecnicos

  • 18

    trituram a madeira, separando assim apenas a hemicelulose que uma polpa de

    menor qualidade, de fibras curtas e de cor amarelada. O processo qumico na indstria

    de papel mais difundido no Brasil o Kraft, onde uma soluo de hidrxido de sdio /

    sulfito de sdio, conhecido como licor branco, adicionada para separar a celulose da

    matria prima lenhosa, etapa essa conhecida como digesto. Nesta operao, mais da

    metade da madeira se solubiliza, saindo junto com os produtos qumicos na forma de

    uma lixvia escura, o licor negro.

    No Brasil, a produo total de licor negro no ano de 2010 foi de 21.247.000

    toneladas, sendo 4.796.000 toneladas (22,6%) aplicadas em transformao (gerao

    de energia eltrica). Este quantitativo equivale a 1,37 milhes de tep e 15,95 TWh,

    incluindo os empreendimentos cadastrados no BIG conforme a Tabela 8 e os

    empreendimentos de menor escala e de autoprodutores.

    Tabela 8 Empreendimentos produtores de energia eltrica a partir do licor negro

    Usina Potncia

    (kW) Proprietrio Municpio

    Aracruz 210.400 100% para Fibria Celulose S.A. Aracruz ES

    Bahia Pulp

    (Ex. Bacell) 108.600

    100% para Bahia Specialty

    Cellulose S.A. Camaari BA

    Suzano Mucuri

    (Ex. Bahia Sul) 214.000

    100% para Suzano Papel e

    Celulose S.A. Mucuri BA

    Celulose Irani 4.900 100% para Celulose Irani S/A Vargem Bonita

    SC

    Klabin Otaclio

    Costas (Ex.

    Igaras)

    33.745 100% para Kablin S/A Otaclio Costa

    SC

    Jari Celulose 55.000 100% para Jari Celulose, Papel e

    Embalagens S.A. Almeirim PA

    Aracruz

    Unidade

    Guaba

    (Riocell)

    47.000 100% para Aracruz Celulose S/A. Guaba RS

    Klabin 113.250 100% para Kablin S/A Telmaco Borba-

    PR

    Cenibra 89.421 100% para Celulose Nipo-

    Brasileira S/A Belo Oriente MG

  • 19

    Usina Potncia

    (kW) Proprietrio Municpio

    Nobrecel 3.200 100% para Nobrecel S/A Celulose

    e Papel

    Pindamonhangaba

    SP

    Lwarcel (Ex.

    Lenis

    Paulista)

    38.000 100% para Lwarcel Celulose Ltda. Lenis Paulista

    SP

    Veracel 126.600 100% para Veracel Celulose Ltda. Eunpolis BA

    VCP-MS 163.200 100% para Fibria-MS Celulose Sul

    Mato-Grossense Ltda. Trs Lagoas - MS

    Klabin correia

    Pinto (Ex.

    Celucat)

    37.882 100% para Kablin S/A Correia Pinto SC

    Total: 14 usinas Potncia total: 1.245.198 kW

    Fonte: ANEEL:BIG, 2012 Acesso em 19/01/2012.

    O licor negro de particular interesse devido aos diversos impactos ambientais

    que pode causar no controle biolgico nas estaes de tratamento de efluentes e o

    potencial impacto em caso de derrames na vida aqutica e nas emisses no processo

    de combusto como TRS (Teor de Enxofre Reduzido) e poluentes atmosfricos.

    Atualmente as grandes empresas do setor de celulose so monitoradas e

    fiscalizadas por rgo ambientais. Diante desse controle so adotados diques de

    conteno para os tanques de armazenamento dos produtos que so utilizados no

    processo de fabricao como o licor verde, licor branco e tambm o licor negro.

    3.2 - Biomassa de origem Agrcola

    A biomassa energtica agrcola definida como os produtos e sub-produtos

    provenientes das plantaes no florestais, tipicamente originados de colheitas anuais,

    cujas culturas so selecionadas segundo as propriedades de teores de amido,

    celulose, carboidratos e lipdios, contidos na matria, em funo da rota tecnolgica a

    que se destina. As culturas agroenergticas utilizam principalmente rotas tecnolgicas

    de transformaes biolgicas e fsico-qumicas, como fermentao, hidrlise e

    esterificao, empregadas para a produo de combustveis lquidos, como o etanol, o

    biodiesel e leos vegetais diversos. Integram estas culturas a cana de acar, o milho,

    o trigo, a beterraba, a soja, o amendoim, o girassol, a mamona e o dend, existindo

  • 20

    uma grande variedade de oleaginosas a serem exploradas. Abaixo esto descritas as

    biomassas agrcolas com maior destaque no cenrio brasileiro.

    3.2.1 - Cana-de-acar

    Cana de acar uma gramnea com uma haste fibrosa espessa, crescendo

    at 6 metros de altura. As variedades comerciais de cana de acar so hbridos

    complexos de vrias espcies dentro do gnero Saccharum. A espcie mais

    conhecida Saccharum officinarum.

    A planta de cana constituda por quatro partes principais, que so: razes,

    talho (fruto agrcola), folhas e flores. O talho constitudo no seu interior por um tecido

    esponjoso muito rico em sumo aucarado que pode ser extrado de diversas maneiras.

    O contedo calrico da cana-de-acar, considerando todos os seus

    componentes (sacarose, fibras, gua e outros) de, aproximadamente, 1060 Kcal/Kg.

    Para o bagao de cana o poder calorfico inferior de 2130 Kcal/Kg, considerando o

    bagao com 50% de umidade. O poder calorfico inferior das pontas e folhas (palha)

    da cana-de-acar de 3105 Kcal/Kg, tambm considerando 50% de umidade.

    A cana de acar constituda por fibra e sumo onde o sumo composto por

    gua, slidos solveis ou brix. O brix um composto de sacarose mais acares

    redutores e sais, sendo estes dois ltimos considerados impurezas. Em outras

    palavras a cana de acar, considerando a matria seca a 30%, tem a seguinte

    composio: 70% de umidade, 14,7% de fibras, 13% de acares e 2,3% de no-

    acares.

    Tabela 9 Informaes tcnicas da cultura de cana-de-acar.

    Item Dado

    Ciclo 5 anos

    Nmero mdio de cortes 5 cortes

    Produtividade de cana 85 ton/ha

    Rendimento de acar 138 Kg/ton

    Rendimento de lcool 82 l/ton

    Fonte: MAPA, 2010

    A cana de acar propagada a partir de cortes ou "gemas" at um metro de

    comprimento, plantadas em sulcos. Mudas crescem de brotos sobre essas sees da

    haste. No Brasil, cinco ou seis safras podem ser colhidas antes do replantio. "Cana de

  • 21

    acar-planta" a nova safra, colhida cerca de um ano aps o plantio (a colheita se d

    no incio da estao chuvosa de setembro a novembro), ou mais comumente,

    dezoito meses aps o plantio (colheita no perodo de seca julho, agosto). Aps o

    corte, uma lavoura brotada cultivada a partir dos novos brotos que crescem nos

    tocos das plantas colhidas. Lavouras brotadas so colhidas em intervalos anuais,

    principalmente nas estaes secas. A aplicao criteriosa de fertilizante de nitrognio

    crucial para altos rendimentos de acar. O excesso incentiva o crescimento da

    folha, em vez de armazenar acar. O amadurecimento ocorre naturalmente nos

    perodos mais frios de seca. Caso contrrio, este amadurecimento acelerado atravs

    de tcnicas de reteno de nitrognio, irrigao e aplicao de um maturador qumico.

    Metade de toda a cana de acar colhida manualmente. Antes do corte, os

    campos de cana-de-acar podem ser queimados para eliminar as folhas, que tm

    bordas afiadas, para espantar cobras, e evitar que sementes de ervas daninhas sejam

    devolvidas ao solo. Os talos e razes da cana-de-acar so deixados ilesos. A

    queima da cana de acar controversa devido aos efeitos adversos sobre o solo e a

    fauna, bem como o perigo de que os incndios fujam do controle, e proibida em

    alguns pases.

    Figura 5 Cana-de-acar

    Fonte: http://www.portalsaofrancisco.com.br

    Aps a colheita, a cana-de-acar transportada em caminhes, bi-caminhes

    e ou at mesmo caminhes de mais de duas balsas at a usina onde ser

    processada.

    Colheitadeiras que arrancam as folhas e as depositam sobre o campo

    apresentam uma alternativa queima. Esta cobertura de palha reduz o impacto da

    chuva e ajuda a evitar a eroso do solo. A cana de acar geralmente cultivada em

  • 22

    terrenos com declive ou em solos frgeis. Tempestades tropicais causam muita eroso

    do solo. A perda da camada superficial do solo reduz a fertilidade e produtividade,

    dificulta as operaes onde se abriram sulcos, e o solo erodido bloqueia cursos

    d'gua. Os escoamentos associados de pesticidas e nutrientes podem tambm reduzir

    a biodiversidade e provocam eutrofizao (excesso de nutrientes que provocam

    aumento excessivo de algas) em lagos e rios.

    Por se tratar de uma cultura densa e espessa, a cana promove uma

    conservao eficaz do solo. A palha de cana, que contribui para a melhoria da

    quantidade de matria orgnica no solo, mesmo depois de colhida, protege o solo da

    eroso. Outro benefcio da palha de cana no campo a reduo de energia luminosa

    sobre o solo, reduzindo-se assim o processo de fotossntese e a germinao de

    algumas plantas daninhas presentes no banco de sementes do solo.

    Contudo existem alguns impactos que interferem negativamente no ambiente

    tais como:

    - a reduo da biodiversidade, causada pelo desmatamento e pela implantao de

    monocultura;

    - contaminao das guas superficiais e subterrneas e tambm do solo, por meio de

    prtica excessiva de adubao qumica, corretivos minerais e aplicao de herbicidas

    e defensivos agrcolas;

    - compactao do solo, pelo trfego de mquinas pesadas durante o plantio, tratos

    culturais e colheita;

    - assoreamento de corpos dgua devido eroso do solo em reas de reforma;

    - emisso de fuligem e gases de efeito estufa na queima ao ar livre de palha durante o

    perodo da colheita;

    - danos a flora e a fauna, causados por incndios descontrolados;

    - consumo intenso de leo diesel nas etapas de plantio, colheita e transporte.

    Nas usinas de processamento a cana-de-acar pode ser utilizada para a

    fabricao de acar ou de lcool.

    Na produo de acar ocorrem as etapas de evaporao (concentrao),

    cozimento, centrifugao e secagem. Do processo gerado o mel pobre ou de

    primeira, esse ltimo ainda contm acar e deve retornar para etapa de cozimento e

    posterior centrifugao visando assim maximizar a produo de acar. Com os

    avanos na produo de lcool, comum a prtica de extrao do acar de segunda

    e o direcionamento do mel pobre para a produo de lcool, na etapa de fermentao,

    juntamente com uma parte do xarope produzido na evaporao.

    J na produo especfica de lcool so adicionadas leveduras ao caldo misto,

    proveniente da extrao do mel residual ou do xarope, gerados na fabricao do

  • 23

    acar. Esta mistura, conhecida como mosto, armazenada em dornas, para fins de

    fermentao. Nesta etapa o processo enzimtico produz gs carbnico, calor e vinho.

    Em seguida ocorre a destilao que a separao dos diferentes constituintes do

    vinho, objetivando a recuperao do etanol presente na soluo. Desta destilao

    realizada em colunas, obtm-se a produo do lcool anidro ou hidratado, gerando,

    como resduos, vinhaa que tambm conhecida como vinhoto ou garapo (resduo

    pastoso e malcheiroso que sobra aps a destilao fracionada do caldo de cana-de-

    acar).

    No ano de 2010 a produo brasileira de lcool anidro foi de 8.037X10m e a

    de lcool hidratado alcanou 19.926X10m (BEN, 2011).

    Aps a produo de acar e lcool os resduos de bagao de cana podem ser

    utilizados para gerao de energia trmica e eltrica.

    No Brasil a produo total de bagao de cana no ano de 2010 foi de

    160.333.000 toneladas, sendo 12.752.000 toneladas (7,9%) aplicadas em

    transformao (gerao de energia eltrica) e 61.843.000 toneladas (38,6%) no setor

    energtico (energia consumida nos centros de transformao e/ou processos de

    extrao e transporte interno). A parte da produo destinada a gerao de energia

    eltrica corresponde a 2,72 milhes de tep e 31,59 TWh.

    Com relao a energia trmica, a gerao de vapor realizada em caldeiras

    aquatubulares, que utilizam o bagao de cana como combustvel. O vapor gerado

    aciona turbinas e moendas, supre a demanda trmica do processo industrial e gera

    energia eltrica, estabelecendo assim o ciclo de co-gerao. A energia eltrica

    gerada atravs da injeo de parte do vapor produzido em turbinas especficas e pode

    ser utilizada para auto-suficincia ou abastecimento parcial de energia eltrica do

    complexo industrial. Em caso de produo excedente de energia eltrica, a mesma

    pode ser comercializada para o sistema pblico e disponibilizada ao Sistema

    Interligado Nacional (SIN).

    A cultura de cana-de-acar apresenta dois impactos sociais marcantes:

    condies de mo-de-obra e a concentrao de terras.

    Grande parte da mo-de-obra utilizada no plantio de cana-de-acar

    contratada via intermedirios, popularmente conhecidos como gatos que buscam

    trabalhadores principalmente no nordeste. Estes trabalhadores so levados a

    alojamentos localizados na periferia de pequenas cidades prximas a plantao com

    precrias condies de higiene e salubridade. Outros trabalhadores desta cultura so

    antigos lavradores de pequenas propriedades que migram para as cidades e se

    deparam com a falta de oferta de trabalho, acabando assim se sujeitando a servios

    espordicos nos novos canaviais.

  • 24

    O transporte dirio dos trabalhadores dos alojamentos at os canaviais e vice-

    versa realizado por meio de nibus ou at mesmo caminhes antigos e inseguros.

    Em resumo, fato que freqentemente os trabalhadores rurais da cultura de

    cana-de-acar so submetidos a condies desumanas.

    J no que se refere a concentrao de terras, verifica-se que, em determinadas

    regies do pas, ocorre a eliminao de pastagens e da pecuria bovina em virtude da

    implantao de novos canaviais. Este fato aumenta a concentrao de terras sob

    domnio de grupos restritos e causa a diminuio do nmero das pequenas

    propriedades agrcolas.

    A relao dos empreendimentos produtores de energia eltrica a partir do uso

    da biomassa de bagao de cana-de-acar encontra-se na Tabela B.1 do APNDICE

    B.

    3.2.2 Arroz

    O arroz uma gramnea anual que tipicamente cresce at 1 1,8 metros de

    altura. A principal espcie de arroz cultivada a oryza sativa, uma das 23 espcies do

    gnero. As plantas desde gnero so tolerantes a condies desrticas, quentes,

    midas, alagadas, secas e frias, e crescem em solos salinos, alcalinos e cidos.

    A palha de arroz (0,38 tonelada para cada tonelada de arroz colhido) definida

    como o resduo que permanece no campo aps a etapa de colheita. J a casca de

    arroz (22% do peso total do arroz com casca) o resduo gerado aps o

    processamento industrial do arroz bruto, ilustrada na Figura 6.

    O poder calorfico inferior da palha e da casca so, respectivamente de 3821

    Kcal/Kg e 3200 Kcal/Kg.

    A cultura do arroz muito exigente em relao a umidade do solo, contudo

    pode ser desenvolvida sob diversas condies climticas. Para que a plantao seja

    bem sucedida dois fatores so de suma importncia: gua em abundncia para que

    seja mantida a temperatura ambiente dentro da faixa adequada e, nos sistemas

    tradicionais, mo-de-obra intensiva.

    Em torno de 15% das cascas de arroz residuais do processo industrial so

    utilizadas na fase de secagem do prprio processo, sendo que os outros 85%, assim

    como os resduos de palha de arroz gerados no plantio, no possuem outro tipo de

    reaproveitamento.

  • 25

    A casca de arroz possui baixa densidade e grande volume, caractersticas que

    dificultam e aumentam o custo de seu transporte. Este fato implica diretamente na

    destinao adequada destes resduos.

    Figura 6 Casca de arroz

    Fonte: http://www.portalsaofrancisco.com.br

    No que se refere ao processo produtivo, devido a grande quantidade de gua

    necessria para a irrigao, a produo de arroz pode causar impactos ambientais aos

    recursos hdricos das proximidades da plantao. Uma alternativa para evitar este tipo

    de problema a captao de gua das chuvas para a irrigao, visando preservar os

    recursos hdricos citados.

    No que tange a gerao de resduos provenientes da produo de arroz, pode-

    se listar os seguintes: casca, p, cinza, quirela e farelo, palha, impurezas e outros.

    Dentre os citados destaca-se a casca e a palha que podem ser utilizados na gerao

    de energia eltrica.

    A casca de arroz representa 22% do peso do gro. Este resduo classificado

    como resduo slido conforme definio da NBR 10004 e de classe II (resduos no

    perigosos e no inertes), segundo a resoluo nmero 23 do CONAMA, sendo assim

    a casca de arroz, apesar de no ser considerado um resduo perigoso, necessita de

    um tratamento apropriado para que no resulte em impactos negativos para o meio

    ambiente.

    A destinao inadequada da casca de arroz pode gerar grandes passivos

    ambientais. Grande parte dos descartes inadequados se deve logstica de transporte

    da casca de arroz que, por possuir baixa densidade, gera grande volume e acarreta na

    elevao da dificuldade e dos custos de transporte.

    Como exemplo de destinao inadequada pode-se citar o depsito das cascas

    de arroz diretamente no solo, em terrenos a cu aberto, pois com esse tipo de

  • 26

    descarte a casca leva aproximadamente cinco anos para se decompor e exala um

    elevado volume de metano (CH4) que um gs causador do efeito estufa. Outra forma

    de descarte comum o lanamento da casca de arroz em rios, ocasionando passivos

    ambientais s unidades beneficiadoras de arroz, gerando multas dos respectivos

    rgos fiscalizadores e altos gastos com o tratamento do ambiente degradado.

    Outra utilizao da casca de arroz servir como adubo nas lavouras de arroz,

    contudo, com este uso, a mesma tambm se decompe e gera gs metano, sendo

    inclusive no muito vantajoso para o produtor, j que no possui muitos nutrientes. A

    utilizao da casca de arroz como fonte energtica a que causa menor impacto ao

    meio ambiente, tendo em vista que, desta forma, h uma reduo da emisso de gs

    metano para a atmosfera e a reduo do uso de energia gerada por fontes no

    renovveis.

    O Brasil o nono maior produtor mundial de arroz e na safra 2009/2010 colheu

    11,26 milhes de toneladas (MAPA, 2012). Sabe-se que a casca de arroz corresponde

    a 22% do peso do gro gerando 2,48 milhes de toneladas deste resduo. Estima-se

    que 15% do total de casca de arroz sejam destinados a secagem do arroz e mais 15%

    no possam ser aproveitados por ter sua origem em pequenas indstrias dispersas, o

    que inviabiliza sua utilizao. Com isso projeta-se uma quantidade de 1,74 milhes de

    toneladas de casca de arroz que possam ser reutilizveis. A partir do poder calorfico

    de 3200 Kcal/Kg este nmero equivale a 0,55 milhes de tep e 6,46 TWh.

    Para cada tonelada de arroz colhido so geradas 0,38 toneladas de palha de

    arroz. Considerando-se a produo da safra 2009/2010 tem-se uma produo de 4,3

    milhes de toneladas deste resduo. Para o poder calorfico de 3821 Kcal/Kg tem-se o

    equivalente a 1,6 milhes de tep e 19,01 TWh.

    Tabela 10 Empreendimentos produtores de energia eltrica a partir do uso da

    biomassa de casca de arroz.

    Usina Potncia

    (kW) Proprietrio Municpio

    Itaqui 4.200 100% para Camil Alimentos S/A Itaqui RS

    Urbano So

    Gabriel 2.200

    100% para Urbano Agroindustrial

    Ltda. So Gabriel RS

    GEEA

    Alegrete 5.000

    100% para Geradora de Energia

    Eltrica Alegrete Ltda. Alegrete RS

    So Borja 12.500 100% para So Borja Bioenergtica

    S/A So Borja RS

  • 27

    Usina Potncia

    (kW) Proprietrio Municpio

    Rical 2.288 100% para Sociedade Assistencial

    Bandeirantes. Vilhena RO

    Camil

    Alimentos

    Camaqu

    4.000 100% para Camil Alimentos S.A. Itaqui RS

    Urbano

    Sinop 1.200

    100% para Urbano Agroindustrial

    Ltda. Sinop MT

    Kiarroz 1.200 100% para Indstria e Comrcio de

    Arroz Fumacense Ltda.

    Morro da

    Fumaa - SC

    Total: 8 usinas Potncia total: 32.608 kW

    Fonte: ANEEL:BIG, 2012 Acesso em 19/01/2012.

    3.2.3 - Capim elefante

    O capim elefante uma gramnea perene com altura entre trs e cinco metros.

    Foi trazida da frica para servir de pastagem e utilizada principalmente na criao de

    gado de corte e leiteiro. Suas principais caractersticas so: possui crescimento rpido,

    tolera solos pobres de nutrientes e gera uma quantidade maior de biomassa por rea.

    Seu poder calorfico inferior de 3441 Kcal/Kg (25% de gua).

    O capim-elefante pode ser colhido seis meses aps o seu plantio e permite de

    dois a quatro colheitas por ano, o que possibilita fornecimento de biomassa durante

    todo o ano. O potencial energtico do capim-elefante pode ser descrito com a relao

    de 45 toneladas/ha/ano de biomassa seca (MAZZARELLA, IPT) que podem virar

    energia. Alm disso, a cultura do capim-elefante altamente eficiente na fixao de

    CO2 atmosfrico durante o processo de fotossntese para a produo da biomassa

    vegetal, contribuindo para a reduo do efeito estufa.

    A transformao do capim-elefante em energia consiste em sua colheita

    mecanizada e posterior secagem. Em uma prxima etapa, o mesmo segue atravs de

    uma esteira para uma mquina onde as folhas so picadas em pequenos pedaos e

    onde retirado o restante da umidade. Em seguida, estes pedaos so depositados

    em uma caldeira em que sero queimados e transformados em energia trmica.

    O transporte do capim-elefante ainda um dos pontos negativos de sua

    utilizao como biomassa, pois sem passar pelo processo de secagem, o mesmo no

  • 28

    pode ser amontoado, pois corre risco de apodrecer e, aps o processo de secagem, o

    volume do capim-elefante seco grande.

    Alm do uso como fonte de energia eltrica, o capim-elefante pode ser

    transformado em carvo vegetal atravs do processo de pirlise e tambm pode ser

    utilizado na produo de lcool atravs do processo de gaseificao e hidrlise da

    biomassa.

    O interesse energtico do uso desta gramnea como biomassa recente,

    sendo verificado nos ltimos 10 anos. Por este motivo este uso ainda est sendo

    pesquisado e desenvolvido, passando por fases de avaliao da produo,

    produtividade e viabilidade econmica.

    Uma das vantagens do uso do capim-elefante a maior produtividade de

    massa seca, em mdia 45 toneladas/ha/ano. Para o poder calorfico desta biomassa e

    supondo uma rea plantada de 4500ha, para fins ilustrativos, tem-se uma produo

    anual de 202500 toneladas que equivalem a 69,7 mil tep e 0,81 TWh.

    Tabela 11 Empreendimentos produtores de energia eltrica a partir do uso da

    biomassa de capim elefante.

    Usina Potncia

    (kW) Proprietrio Municpio

    Syku I 30.000 100% para Syku Gerao de

    Energia Ltda.

    So Desidrio

    BA

    Flrida Clean

    Power do

    Amap

    1.700 100% para Flrida Clean Power do

    Amap Ltda. Macap - AP

    Total: 2 usinas Potncia total: 31.700 kW

    Fonte: ANEEL:BIG, 2012 Acesso em 19/01/2012.

    3.2.4 Milho

    O milho uma gramnea anual originria da Amrica Central. Possui

    tipicamente de dois a trs metros de altura e no possui sabugo no topo da haste. O

    milho possui flores masculinas e femininas separadas, em que as flores masculinas

    emergem como a franja no topo da haste depois que todas as folhas se formaram. J

    as flores femininas se encontram na base das folhas, no meio da haste. Aps a

    polinizao, o grupo de flores femininas forma as espigas.

  • 29

    Como impactos ambientais do cultivo do milho podem ser citados o uso

    intensivo de agroqumicos causando o surgimento de resistncia em ervas daninhas,

    assim como de pragas e doenas, uso excessivo de gua para irrigao, eroso do

    solo e degradao do mesmo, contaminao da gua por escoamento e lixiviao de

    agroqumicos, perda de habitats e efeitos sobre a biodiversidade e a disseminao de

    plen de lavouras geneticamente modificadas.

    No processo de colheita do milho a utilizao de mquinas fundamental e

    aplicado praticamente totalidade da produo. O milho colhido e a prpria mquina

    faz o beneficiamento do gro, retirando o caule, folhas, palha e sabugo, tendo como

    resultado o gro de milho limpo. Os gros so depositados na prpria mquina e os

    resduos so despejados na lavoura, pela parte de trs da mquina. Essa uma

    grande desvantagem, pois todos os resduos do milho, chamados de palhada, ficam

    distribudos por toda a rea plantada, dispersos no ambiente. Este fato ocorre em toda

    produo a granel de milho no Brasil, o que praticamente inviabiliza a utilizao da

    palhada na gerao de energia eltrica devido aos altos custos para juntar e

    transportar estes resduos. O poder calorfico da palhada de milho de 4227 Kcal/Kg.

    Uma exceo a este fato a produo de milho em espiga, destinada a

    indstrias de processamento de milho verde. Neste cenrio, a mquina utilizada na

    colheita beneficia somente a espiga do milho fechada, com palha e sabugo,

    descartando na lavoura o caule, talos e folhas. A retirada da palha e do sabugo

    realizada na fbrica que produz o milho em conserva (enlatado) e, sendo assim, estes

    dois resduos podem ser utilizados como biomassa em uma central termeltrica da

    prpria fbrica.

    Apesar das indstrias de processamento de milho verde existentes, atualmente

    no existem empreendimentos cadastrados na ANEEL que utilizem os resduos da

    produo de milho como biomassa para a produo de energia eltrica. Como

    alternativa para transformar os resduos de milho de biomassa descartada para

    biomassa energtica, alguns pases da Europa j utilizam um tipo especfico de

    colheitadeiras que beneficiam o gro e descartam os resduos em montes, carreiras ou

    os armazenam temporariamente em depsitos localizados na prpria mquina. Esta

    metodologia poderia ser estudada e aplicada s plantaes nacionais de forma a

    aproveitar o grande volume de resduos gerados para a gerao de energia eltrica.

    Na safra 2009/2010 foram produzidas no Brasil 53,2 milhes de toneladas de

    milho (MAPA, 2012). Para cada tonelada de milho produzida so geradas

    aproximadamente 2,3 toneladas de palhada de milho (15% de umidade). A partir

    dessa relao estima-se a produo de 122,36 milhes de toneladas de palhada. Com

    um fator de aproveitamento de 40% tem-se 48,94 milhes de toneladas de resduos.

  • 30

    Associando-se esta quantidade ao poder calorfico desta biomassa tem-se a

    equivalncia de 20,69 milhes de tep e 240,61 TWh que poderiam ser aproveitados.

    3.2.5 Soja

    A soja um gro rico em protenas e pertence a famlia fabaceae (leguminosa),

    assim como o feijo, a lentilha e a ervilha. O poder calorfico da palha de soja de

    3487 Kcal/Kg.

    Na produo de soja as exigncias trmicas e hdricas so altas, destacando-

    se as fases mais crticas que so a florao e a do enchimento dos gros. Apesar

    destes fatos, a soja suporta bem a escassez de gua na fase vegetativa e, no estgio

    de maturao e colheita, tolera excesso de umidade.

    Tabela 12 Informaes tcnicas da cultura de soja.

    Item Dado

    Ciclo 105 a 135 dias

    Teor de leo no gro 20%

    Teor de farelo 72% a 79%

    Produtividade mdia (gro) 2800 Kg/ha

    Rendimento em leo 560 Kg/ha

    Fonte: MAPA e SPAE, 2010

    O processamento dos gros de soja no gera resduo e, sendo assim, todos os

    resduos da cultura de soja so provenientes do processo de colheita, ou seja, os

    gros so colhidos e a palha (folhas, caule, talos e cascas) retirada e descartada na

    lavoura. Assim como na cultura do milho, esta caracterstica torna sua utilizao muito

    custosa devido aos gastos com o recolhimento, compactao e transporte dos

    resduos. Ainda em comparao com a cultura do milho, o aproveitamento dos

    resduos do plantio de soja ainda possui outra desvantagem, j que apresentam

    efeitos positivos no solo da lavoura.

    Apesar do pouco aproveitamento dos resduos de soja na gerao de energia

    eltrica no Brasil, a soja j bastante aproveitada como fonte de energia na forma de

    biocombustvel atravs dos processos de transesterificao e craqueamento. Em

    comparao com outras culturas tambm utilizadas como matria prima para a

    gerao de biocombustveis a soja possui uma baixa porcentagem de leo, entretanto

  • 31

    suas vantagens so possibilitar a produo em escala e maior qualidade do leo

    extrado.

    No Brasil os gros da soja so utilizados para muitos fins, contudo, a maior

    importncia ainda para a produo de grandes volumes de farelo para raes de

    animais e de leo para alimentao humana. Grande parte da soja produzida no pas

    se destina a atender o mercado externo.

    A soja apresentou um crescimento bastante expressivo no Brasil na segunda

    metade do sculo XX, entretanto este crescimento transcorreu com a modernizao

    do processo produtivo, mas mantendo-se a estrutura agrria vigente, ou seja, os

    latifndios e a produo patronal. Devido a este fato, tal expanso excluiu produtores

    familiares, concentrou a posse das terras e aumentou o tamanho das propriedades

    agrcolas.

    Com a supresso da cultura de subsistncia, a populao rural foi em busca de

    vagas assalariadas tanto no campo como na cidade e, como tal busca nem sempre

    era bem sucedida, houve conseqncias tpicas como gerao de conflitos, aumento

    da violncia e crescimento urbano de maneira descontrolada, gerando desemprego,

    subemprego e misria nas cidades.

    Outro fator marcante na transformao da cultura de soja foi a desvalorizao

    do conhecimento do produtor rural em virtude dos avanos tcnico-cientficos que

    mecanizou e aumentou a produo.

    A soja uma monocultura e como tal foi viabilizada atravs das pesquisas e

    avanos nas reas de qumica, gentica e mecnica. Contudo, tais tecnologias

    advindas destes avanos provocam diversos impactos ambientais como, por exemplo:

    compactao e impermeabilizao dos solos pelo uso intensivo de mquinas

    agrcolas, eroso, contaminao por agrotxico nas guas, alimentos e animais,

    impactos negativos provenientes da retirada da vegetao nativa de reas contnuas

    extensas, assoreamento de rios e reservatrios, aparecimento de novas pragas e/ou

    aumento das j conhecidas e risco sobrevivncia de espcies vegetais e animais

    com a perda de habitat natural devido a expanso agrcola.

    Como outros tipos de cultura, o plantio de soja tambm pode causar diminuio

    dos recursos hdricos devido a gua necessria para irrigao.

    Existem algumas prticas utilizadas visando minimizar os danos causados pela

    sojicultura no ambiente, tais como: utilizao de um sistema de plantio adequado,

    prtica da rotao de culturas e mtodos de irrigao adequados visando a

    minimizao do desperdcio de gua.

    Pelos mesmos motivos apresentados no texto referente a cultura do milho,

    atualmente no existem empreendimentos cadastrados na ANEEL que utilizam os

  • 32

    resduos da produo de soja como biomassa para a produo de energia eltrica.

    Ainda um potencial a ser estudado e, caso haja viabilidade tcnica e econmica,

    explorado.

    Na safra 2009/2010 foram produzidas no Brasil 68,7 milhes de toneladas de

    soja (CONAB, 2012). Para cada tonelada de soja produzida so geradas

    aproximadamente 2,5 toneladas de palha de soja (15% de umidade), a partir dessa

    relao estima-se a produo de 171,75 milhes de toneladas de palha. Com um fator

    de aproveitamento de 40% tem-se 68,70 milhes de toneladas de resduos.

    Associando esta quantidade ao poder calorfico desta biomassa tem-se a equivalncia

    de 23,96 milhes de tep e 278,61 TWh que poderiam ser aproveitados.

    3.3 - Biomassa oriunda de rejeitos urbanos e industriais

    A biomassa contida em resduos slidos e lquidos urbanos tm origens

    diversas, e se encontra no lixo e no esgoto. O lixo urbano uma mistura heterognea

    de metais, plsticos, vidro, resduos celulsicos e vegetais, e matria orgnica. As

    rotas tecnolgicas de seu aproveitamento energtico so: a combusto direta, a

    gaseificao, pela via termoqumica, aps a separao dos materiais reciclveis, e a

    digesto anaerbica, na produo de biogs, pela via biolgica. O esgoto urbano

    possui matria orgnica residual diluda, cujo tratamento uma imposio sanitria,

    que atravs da rota tecnolgica de digesto anaerbica encontra aplicao energtica.

    Tambm se enquadram nesta categoria os subprodutos das atividades

    agroindustriais e da produo animal: uma expressiva quantidade de subprodutos

    resultantes das atividades agroindustriais e da produo animal tratada como

    resduo, porm possui potencial energtico importante, que varia segundo a rota

    tecnolgica empregada, que pode variar desde a transformao termoqumica, com

    combusto direta, pirlise ou gaseificao, passando pelas transformaes biolgicas

    e fsico-qumicas, incluindo a digesto anaerbica.

    3.3.1 - Rejeitos urbanos slidos e lquidos

    Os rejeitos urbanos lquidos consistem nos efluentes lquidos de origem

    domstica e residencial. J os rejeitos slidos podem ser definidos como uma mistura

    heterognea de materiais descartados pelos setores comerciais e residenciais, tais

    como: plsticos, metais, vidros, madeiras, papis e matria orgnica, cuja combinao

    vulgarmente chamada de lixo.

  • 33

    Os efluentes lquidos so descartados nas redes de esgoto e de l seguem

    para as estaes de tratamento. Aps o tratamento nestas estaes, uma massa

    orgnica produzida, vulgarmente chamada de lodo. O lodo proveniente de estaes

    de tratamento de esgoto est sendo alvo de estudos e pesquisas, visando seu

    aproveitamento na gerao de energia eltrica atravs da rota tecnolgica de digesto

    anaerbica.

    O despejo dos efluentes lquidos sem tratamento diretamente no mar, em rios,

    em crregos e em lagoas, causa a poluio destes recursos naturais.

    Com relao aos rejeitos slidos urbanos existem trs rotas tecnolgicas mais

    aceitveis pra o processamento desta biomassa, a biodigesto anaerbica a que

    apresenta mais vantagens, pois alm de um processo com maior rendimento

    energtico, possui considervel capacidade de despoluir, permite valorizar um produto

    energtico (biogs) e ainda obter um fertilizante, cuja disponibilidade contribui com a

    rpida amortizao dos custos da tecnologia instalada.

    O biodigestor uma estrutura projetada e construda de modo a produzir a

    situao mais favorvel possvel para que a degradao da biomassa seja realizada

    sem contado com o ar. Este fato proporciona condies ideais para que certos tipos

    especializados de bactrias, altamente vorazes em se tratando de materiais orgnicos,

    passem a predominar no meio e, com isso, provocar a degradao de forma acelerada

    (Itaipu Binacional / FAO, 2009).

    O biogs gerado a partir dos rejeitos slidos possui a seguinte composio:

    metano (CH4): 60% a 70%, gs Carbnico (CO2): 30% a 40% e traos de nitrognio

    (N2), hidrognio (H2) e gs sulfdrico (H2S).

    Figura 7 Fases da produo de biogs.

    Fonte: Bley Jr., 2008

  • 34

    O poder calorfico do biogs est diretamente relacionado com a quantidade de

    metano existente na mistura gasosa e varia de 5000 a 7000 Kcal/m. Se submetido a

    processo de purificao, pode gerar um valor de at 12000 Kcal/m. O metano um

    gs incolor e altamente combustvel, no produz fuligem e seu ndice de poluio

    atmosfrico inferior ao do butano, presente no gs de cozinha.

    Tabela 13 Equivalncia entre o biogs e outros combustveis.

    Combustvel Equivalente a 1 m de biogs

    Gasolina 0,613 litros

    leo Diesel 0,553 litros

    GLP 0,454 Kg

    Lenha 1,536 Kg

    lcool Hidratado 0,790 litros

    Eletricidade 1,428 kWh

    Fonte: Ministrio de Minas e Energia: Empresa de Pesquisas Energticas - Plano

    Nacional de Energia 2030 - Braslia: MME:EPE, 2007

    No Brasil, o lixo comumente coletado por empresas contratadas para prestar

    tal servio e transportado para grandes reas abertas onde despejado, reas estas

    conhecidas como lixes. Em determinados intervalos de tempo estes resduos so

    revolvidos e cobertos por camadas de terra. Contudo, na grande maioria das vezes,

    estas reas recebem o lixo descartado por residncias e comrcios sem quaisquer

    tipos de pr-seleo destes materiais. Estes rejeitos, quando acumulados em rea

    aberto durante algum tempo, se tornam um grave problema ambiental, trazendo mau

    cheiro, doenas e dando origem a um liquido altamente txico, o chorume.

    O chorume um lquido poluente de cor escura e com forte odor desagradvel,

    originado de processos biolgicos, qumicos e fsicos da decomposi