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UTILIZAÇÃO DA CORTIÇA COMO AGREGADO EM BETÕES Fernando G. Branco Professor Auxiliar, FCTUC, Coimbra, Portugal, [email protected] Maria de Lurdes B. C. Reis Professora Adjunta, Instituto Politécnico de Tomar, Tomar, Portugal, [email protected] António Tadeu Professor Catedrático, FCTUC, Coimbra, Portugal, [email protected] Resumo A cortiça é um material natural, que tem acompanhado a Humanidade desde tempos imemoriais, possuindo enormes potencialidades e múltiplos usos. A indústria corticeira consume, anualmente, mais de 280 000 toneladas de cor- tiça. No entanto, verifica-se que, entre 20 e 30% da matéria-prima recebida nas unidades de transformação é rejeitada, sob a forma de pó de cortiça. Des- te modo, a indústria corticeira tem vindo a demonstrar interesse pelo aprovei- tamento destes subprodutos e suas possíveis aplicações no sector da constru- ção civil. O presente trabalho analisa a possibilidade de utilização de granu- lados de cortiça como agregados em misturas de betão, sendo utilizado na substituição total ou parcial dos agregados correntes. Palavras-chave: cortiça, betão, agregado leve, resistência mecânica Introdução O material denominado por cortiça é obtido a partir da casca do sobreiro Quer- cus suber L., um tipo de árvore nativa da zona Mediterrânica. A cortiça é cons- tituída essencialmente por suberina, substância que representa cerca de 40% do seu peso seco, lenhina (±20%), polisacarídeos (±20%) e outros produtos (±15%). Esta composição química, em conjunto com a sua particular estrutura celular, proporciona à cortiça um excelente comportamento relativamente a líquidos polares, temperatura e ruído [1]. A indústria corticeira mundial consome anualmente mais do que 280 000 t de cortiça. No entanto, verifica-se que uma quantidade apreciável da matéria- prima recebida nas fábricas (20% a 30%) é rejeitada, sobretudo sob a forma de pó de cortiça constituído por partículas de pequena dimensão, que fazem com que possuam um interesse industrial muito reduzido [2].

UTILIZAÇÃO DA CORTIÇA COMO AGREGADO EM BETÕESfjbranco/POCI_ECM_55889/branco_et_al_QIC_2006.pdf · menos elevada do que a do betão corrente, este tipo de betão comporta-se melhor

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UTILIZAÇÃO DA CORTIÇA COMO AGREGADO EM BETÕES

Fernando G. Branco Professor Auxiliar, FCTUC, Coimbra, Portugal, [email protected]

Maria de Lurdes B. C. Reis Professora Adjunta, Instituto Politécnico de Tomar, Tomar, Portugal, [email protected]

António Tadeu Professor Catedrático, FCTUC, Coimbra, Portugal, [email protected]

Resumo

A cortiça é um material natural, que tem acompanhado a Humanidade desde tempos imemoriais, possuindo enormes potencialidades e múltiplos usos. A indústria corticeira consume, anualmente, mais de 280 000 toneladas de cor-tiça. No entanto, verifica-se que, entre 20 e 30% da matéria-prima recebida nas unidades de transformação é rejeitada, sob a forma de pó de cortiça. Des-te modo, a indústria corticeira tem vindo a demonstrar interesse pelo aprovei-tamento destes subprodutos e suas possíveis aplicações no sector da constru-ção civil. O presente trabalho analisa a possibilidade de utilização de granu-lados de cortiça como agregados em misturas de betão, sendo utilizado na substituição total ou parcial dos agregados correntes.

Palavras-chave: cortiça, betão, agregado leve, resistência mecânica

Introdução O material denominado por cortiça é obtido a partir da casca do sobreiro Quer-cus suber L., um tipo de árvore nativa da zona Mediterrânica. A cortiça é cons-tituída essencialmente por suberina, substância que representa cerca de 40% do seu peso seco, lenhina (±20%), polisacarídeos (±20%) e outros produtos (±15%). Esta composição química, em conjunto com a sua particular estrutura celular, proporciona à cortiça um excelente comportamento relativamente a líquidos polares, temperatura e ruído [1].

A indústria corticeira mundial consome anualmente mais do que 280 000 t de cortiça. No entanto, verifica-se que uma quantidade apreciável da matéria-prima recebida nas fábricas (20% a 30%) é rejeitada, sobretudo sob a forma de pó de cortiça constituído por partículas de pequena dimensão, que fazem com que possuam um interesse industrial muito reduzido [2].

A cortiça é um produto natural, orgânico e leve. Possui uma elevada estabili-dade dimensional, e exibe uma considerável resistência face a cargas de com-pressão. Estas características permitem que a cortiça seja utilizada num vasto leque de aplicações [3]. Mas a cortiça possui ainda outras características importantes: para além de ser um produto natural e ecológico, não liberta chei-ros nem gases nocivos, e é um material que se mantém inalterável, conservan-do a sua eficiência, por longos períodos de tempo. Dado que Portugal é o maior produtor mundial de cortiça, pode revelar-se economicamente interes-sante encontrar utilizações alternativas para a utilização dos resíduos indus-triais da transformação deste material.

Na indústria da construção, o excelente comportamento térmico da cortiça e a sua capacidade de absorver vibrações, fazem deste material uma solução de eleição como isolante térmico ou para absorção acústica. Apesar de, na indús-tria da construção, existir um vasto espectro de aplicações possíveis para a cor-tiça, não existem muitas publicações em revistas científicas sobre este tema. Um dos poucos estudos documentados dedicados a misturas de betão contendo cortiça foi publicado por Aziz et al. [4]. Este trabalho apresenta os resultados de um projecto de investigação com o objectivo de desenvolver um betão leve utilizando grânulos de cortiça. O betão leve contendo cortiça foi comparado com betão corrente e com outros tipos de betão leve (com introdutores de ar, sem finos, celular e com espumas). Os resultados indicaram que, embora a re-sistência mecânica do betão com cortiça sujeito a compressão e tensão seja menos elevada do que a do betão corrente, este tipo de betão comporta-se melhor que os outros tipos de betão leve testados. O betão leve com cortiça exibiu ainda melhores propriedades térmicas e menor retracção quando compa-rado com outros betões leves produzidos com recurso a materiais orgânicos.

O trabalho descrito no presente documento constitui parte de um projecto de investigação mais vasto, sendo apresentados apenas alguns resultados prelimi-nares obtidos até à data. O projecto de investigação tem por objectivo avaliar as propriedades físicas e mecânicas dos desperdícios de cortiça, e de explorar as suas potenciais vantagens quando utilizadas como agregado no fabrico de betão. A introdução de grânulos de cortiça natural ou expandida em misturas de betão irá possibilitar que o betão resultante tire partido das propriedades da cortiça, conduzindo a uma melhoria no seu desempenho quando comparado com betões correntes. A resistência térmica, comportamento acústico, em par-ticular no que respeita a cargas de impacto, e um aumento da durabilidade sob condições de gelo-degelo são alguns dos parâmetros onde a inclusão de cortiça poderá conduzir a melhorias de comportamento.

No presente artigo, são apresentados alguns dos resultados preliminares obti-dos até à data. Os autores analisam a influência da presença da cortiça na resis-tência à compressão do betão. Testaram-se diferentes composições, utilizando como agregados dois tipos de grânulos de cortiça: natural e expandida. O efei-to da dimensão dos grânulos e a quantidade de cortiça na mistura foram igual-

mente analisados. Os resultados obtidos foram comparados com os provenien-tes de ensaios efectuados sobre um betão corrente, usado como referência.

Trabalho laboratorial A execução do trabalho laboratorial exigia a utilização de grânulos de cortiça, os quais foram fornecidos por indústrias produtoras. Estabeleceu-se a compo-sição de um betão de referência (sem cortiça), com características semelhantes Às dos betões correntemente utilizados na construção. A partir deste betão pro-duziram-se diferentes composições contendo cortiça. Nestas misturas, os grâ-nulos de cortiça natural ou expandida foram utilizados em substituição dos agregados correntes (brita e areia) do betão de referência.

Testaram-se diferentes percentagens de substituição. Em cada mistura, um determinado volume de um dos agregados da mistura de referência foi substi-tuído por um volume equivalente de granulado de cortiça, com uma distribui-ção granulométrica semelhante [5].

A distribuição granulométrica dos agregados manteve-se constante ao longo do projecto, sendo controlada através do seu módulo de finura, segundo a fórmula

1

(100 )

100

n

i

i

p

MF =

=

∑ (1)

onde pi representa a percentagem de partículas com dimensões inferiors à aber-tura do peneiro i. Testaram-se substituições de 10%, 20%, 25% e 30% do volume do agregado de referência. Nos provetes correspondentes à série B3, efectuou-se uma substituição simultânea de 10% dos volumes de areia e brita, por um volume igual de granulados de cortiça.

Os provetes foram sujeitos a ensaios de compressão, de acordo com a especifi-cação LNEC E226:1968 [6]. Estes ensaios realizaram-se aos 3, 7, 14, 21 e 28 dias de idade dos provetes, de modo a avaliar a variação da resistência à com-pressão com a idade, relacionando esta variação com a quantidade de cortiça presente na mistura.

O Quadro 1 exibe as composições de todos os tipos de betão testados. Neste quadro, a sigla NCG representa “Grânulos de Cortiça Natural” (Natural Cork Granules), enquanto ECG significa “Grânulos de Cortiça Expandida” (Expan-ded Cork Granules). Conforme se pode observar, foram utilizados lotes de cor-tiça representando diferentes fracções granulométricas. A quantidade de cada fracção granulométrica de cortiça utilizada foi calculada de modo a ser possí-vel reproduzir a curva granulométrica do agregado que se pretende substituir. Todas as composições utilizavam dosagens de cimento de 300kg/m3, à excep-ção das séries “B6” e “BE6”, em que se utilizaram 380kg/m3. A dosagem de água era de 180kg/m3, para todas as séries testadas.

Quadro 1: Composições de betão testadas.

Componentes (kg/m3)

Lote Brita. Areia

NCG

(4/5)

NCG

(0/1)

NCG

(1/2)

ECG

(5/10)

ECG

(3/5)

ECG

(0/1)

ECG

(1/2)

BR 1413 498 - - - - - - - B1.1 1271 498 6.90 - - - - - - B1.2 1130 498 13.80 - - - - - - B1.3 989 498 20.69 - - - - - - BE1.1 1271 498 - - - 5.16 5.58 - - BE1.2 1130 498 - - - 10.33 11.15 - - BE1.3 989 498 - - - 15.49 16.72 - - B2.1 1413 448 - 2.25 0.58 - - - - B2.2 1413 398 - 4.50 1.15 - - - - B2.3 1413 348 - 6.75 1.73 - - - - B2.4 1413 373 - 5.61 1.43 - - - - BE2.1 1413 448 - - - - - 6.54 2.11 BE2.2 1413 398 - - - - - 13.08 4.21 BE2.3 1413 348 - - - - - 19.62 6.32 B3.1 1271 448 6.90 2.25 0.58 - - - - BE3.1 1271 448 - - - 5.16 5.58 6.54 2.11 BR6 1515 365 - - - - - - - B6 - - 39.82 9.30 2.38 - - - - B6A 1515 - - 9.30 2.38 - - - - B6B - 365 39.82 - - - - - - BE6 - - - - - 28.94 28.75 28.79 8.50 BE6A 1515 - - - - - - 28.79 8.50 BE6B - 365 - - - 28.94 28.75 - -

Produziram-se dois tipos de betão de referência (BR e BR6), utilizando agre-gados correntes. A principal diferença entre ambos consiste na quantidade de cimento (300kg/m3 para o BR e 380kg/m3 para o BR6).

Com base no betão BR, produziram três séries de betões, em que os agregados correntes foram parcialmente substituídos por agregados leves (cortiça natural – “B” e expandida - “BE”): B1, BE1, B2, BE2, B3 e BE3. Nas séries B1 e BE1, efectuou-se a substituição parcial da brita, nas séries B2 e BE2, ocorreu a substituição parcial da areia, e nas séries B3 e BE3, realizou-se a substituição parcial e simultânea de ambos os agregados.

A partir do betão BR6, foram produzidos betões em que foi efectuada a substi-tuição total de um ou de ambos os agregados correntes. As séries B6 e BE6 contêm unicamente agregados leves (naturais ou expandidos). Nas séries B6A e BE6A foi substituída a totalidade da areia. Nas séries B6B e BE6B substi-tuiu-se toda a brita.

Realizaram-se testes laboratoriais com o objectivo de determinar as caracterís-ticas mais relevantes dos agregados utilizados. Determinou-se a distribuição granulométrica, a massa volúmica e a percentagem de humidade [7, 8] para todos os agregados e grânulos de cortiça utilizados. Ensaios de abaixamento (“slump”) foram realizados, de modo a medir a consistência do betão fresco em todas as amassaduras realizadas. Para o betão endurecido, foi determinada a resistência mecânica à compressão [6], a massa volúmica e a absorção de água [9].

Procurou verificar-se se a cortiça no interior dos provetes se encontrava distri-buída de forma homogénea. Para esse efeito, alguns dos provetes foram corta-dos ao meio, tendo sido analisada a distribuição de cortiça nos planos de corte. A Figura 1 ilustra a distribuição de cortiça natural (série B1.1) e expandida (série BE1.3). Este procedimento permitiu constatar a existência de uma boa dispersão da cortiça em todas as séries analisadas.

a) b) Figura 1: Dispersão de grânulos de cortiça no interior do betão: a) série B1.1; b) série BE1.3.

Caracterização dos materiais

A Figura 2 ilustra os resultados da distribuição granulométrica para os agrega-dos e grânulos de cortiça. Pode verificar-se a existência de uma boa aproxima-ção entre a distribuição dos tamanhos das partículas para cada agregado e a correspondente mistura de grânulos de cortiça.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Res. 200 100 50 30 16 8 4 1/4" 3/8" 1/2" 3/4" 1"Peneiro (série ASTM)

Pa

ssad

os

acu

mu

lad

os

(%

)

Areia

NCG p/ substituir Areia

ECG p/ substituir Areia

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Res. 200 100 50 30 16 8 4 1/4" 3/8" 1/2" 3/4" 1"

Peneiro (série ASTM)

Pas

sad

os

ac

um

ula

do

s (%

) Brita

NCG p/ substituir Brita

ECG p/ substituir Brita

a) b) Figura 2: Curvas granulométricas: a) Areia e correspondentes misturas de grânulos de cortiça; b) Brita e correspondentes misturas de grânulos de cortiça.

Os módulos de finura para a areia e brita eram de 3.10 e 5.67, respectivamente. As misturas de grânulos de cortiça utilizadas na substituição destes agregados exibiam o mesmo módulo de finura do material que substituíam.

O Quadro 2 mostra os pesos específicos determinados para todos os agregados e grânulos de cortiça utilizados. Pode verificar-se que a cortiça apresenta um peso específico muito inferior ao do material que substitui, como seria de esperar. Deste modo, o betão contendo cortiça terá naturalmente um peso sig-nificativamente inferior ao de referência.

Quadro 2: Densidade dos agregados e grânulos de cortiça.

Agregado Areia Brita NCG

4/5

NCG

0/1

NCG

1/2

ECG

5/10 ECG

3/5

ECG

0/1

ECG

1/2

Densidade

(kg.m-3)

2570 2670 70 86 88 68 248 363 249

Os parâmetros físicos avaliados para as misturas de betão produzidas encon-tram-se listados no Quadro 3. Como esperado, quando um maior volume de agregado é substituído por grânulos de cortiça, observa-se uma significativa redução no peso do betão resultante.

Os betões produzidos com recurso a grânulos de cortiça natural são mais pesa-dos do que os obtidos com incorporação de cortiça expandida. Uma excepção ocorreu com a série B1.3, que se revelou mais leve do que a série correspon-dente produzida com cortiça expandida (BE1.3). Quando se efectua a substi-tuição de agregado grosso por um igual volume de cortiça, é possível obter pesos mais baixos do que os resultantes da substituição de uma percentagem equivalente de areia. Ao substituir 30% do volume de brita por igual volume de cortiça, observam-se reduções de peso do betão da ordem de 25%, enquanto que a substituição da mesma percentagem de areia apenas permitiu uma redu-ção de 10%.

Quadro 3: Massa volúmica e absorção de água do betão.

Série Massa volúmica

(kg.m-3)

Absorção de água

(%)

BR 2450 - B1.1 2090 7.2 B1.2 1970 6.9 B1.3 1730 - BE1.1 2090 6.6 BE1.2 1930 7.4 BE1.3 1800 8.0 B2.1 2230 5.8 B2.2 2120 6.7 B2.3 2140 - B2.4 2140 6.4 BE2.1 2200 6.4 BE2.2 2120 6.7 BE2.3 2020 7.4 B3.1 2060 6.7 BE3.1 2090 6.3

Resistência à compressão do betão endurecido

Para a realização dos ensaios de compressão, foram produzidos cubos de betão com dimensões 150x150x150mm3. Estes provetes eram desmoldados 24h após a betonagem, e guardados numa câmara climática (20ºC; ±95%HR) até à data do ensaio. Foram ensaiados pelo menos três provetes em cada série.

Os resultados obtidos nos ensaios referentes às séries B1 a B3 encontram-se listados no Quadro 4. Os resultados revelam uma redução da resistência à com-pressão do betão à medida que a percentagem de cortiça aumenta. A série B1, onde foi feita a substituição de brita por cortiça, apresentou uma maior perda de resistência do que a série B2, na qual se efectuou a substituição de areia por cortiça. Quando se compara a série B1 com o betão de referência (BR), obser-vam-se reduções de resistência entre 32.6% e 74.9%, à medida que a percenta-gem de brita substituída aumenta de 10% para 30%. A redução correspondente quando se substituem iguais percentagens de areia (série B2), varia entre 26.5% e 52.8%.

De um modo geral, quando se utilizou cortiça expandida, verificou-se que a diminuição de resistência era mais elevada do que quando a substituição era feita com cortiça natural. Duas excepções observadas foram as séries BE1.3 e BE2.3, nas quais 30% do volume de agregados foi substituído por cortiça expandida. Nestas duas séries, registaram-se reduções de 61.6% e 46.0%, res-

pectivamente, contra 74.9% e 52.8% observadas nas séries B1.3 e B2.3 corres-pondentes.

Quadro 4: Resistência média à compressão dos provetes de betão – séries B1 a B3.

Resistência média à compressão (MPa) Séries

7 dias 14 dias 21 dias 28 dias

Redução

face a BR

(%)

BR 23.4 25.3 25.7 26.1 0.0 B1.1 13.9 16.0 16.7 17.6 32.6 B1.2 9.3 11.4 12.2 12.6 52.0 B1.3 6.0 6.8 6.5 6.56 74.9 BE1.1 12.2 13.5 14.3 15.2 42.0 BE1.2 11.0 11.9 12.8 13.2 49.3 BE1.3 8.7 9.8 10.3 10.1 61.6 B2.1 16.7 17.8 18.4 19.2 26.5 B2.2 16.1 17.1 17.8 18.3 29.9 B2.3 10.1 11.1 12.0 12.3 52.8 B2.4 17.2 18.7 19.3 19.2 26.7 BE2.1 14.9 16.9 18.3 18.3 30.1 BE2.2 14.4 16.2 16.9 17.7 32.5 BE2.3 11.3 12.8 13.7 14.1 46.0 B3.1 13.6 15.0 16.0 16.5 36.7 BE3.1 13.5 14.7 15.8 16.6 36.5

A Figura 3 ilustra a variação da resistência à compressão dos provetes em fun-ção da sua densidade. Os resultados indicam que a resistência média do betão que contém grânulos de cortiça como material agregado se encontra relaciona-da de uma forma próxima com a sua densidade, através de uma relação linear. Tendo em conta o reduzido número de testes efectuados até à data, não é pos-sível retirar conclusões definitivas.

y = 0.0233x - 32.005

R2 = 0.8927

10

12

14

16

18

20

22

24

2000 2050 2100 2150 2200 2250

Massa volúmica (kg/m3)

Re

sis

tên

cia

dia

(M

Pa)

Figura 3: Variação da resistência media à compressão com a densidade dos provetes.

Será necessário efectuar um maior número de ensaios, sobre betões com meno-res densidades, portanto com maior percentagem de cortiça, de modo a aferir se a relação obtida se mantém válida.

A Figura 4 ilustra a variação da resistência média à compressão em função da quantidade de cortiça presente na mistura. Neste gráfico, pode observar-se que a resistência decresce à medida que a percentagem de cortiça aumenta. Ambos os tipos de cortiça testados conduziram a perdas de resistência semelhantes.

0

5

10

15

20

25

30

0 5 10 15 20 25 30 35

Volume de cortiça (%)

Re

sis

tên

cia

dia

(M

Pa)

BR

NCG

ECG

Figura 4: Variação da resistência à compressão com o volume de cortiça na mistura.

Procurou avaliar-se a influência de uma eventual substituição da totalidade dos agregados correntes por agregados leves. Para esse efeito, realizaram-se os ensaios correspondentes às séries “B6”.No Quadro 5 apresentam-se os resulta-dos obtidos nos testes de resistência à compressão.

Quadro 5: Resistência média à compressão dos provetes de betão – série B6.

Resistência média à compressão (MPa) Séries

7 dias 14 dias 28 dias

Redução

face a BR6

(%)

BR6 31.0 34.5 36.8 0.0 B6 2.22 - 2.43 93.4 B6A 6.59 - 9.86 73.2 B6B 3.01 - 3.52 90.4 BE6 2.24 - 2.39 93.5 BE6A 9.21 - 10.73 70.8 BE6B 2.51 - 2.97 91.9

Como seria de esperar, a substituição total dos agregados levou à obtenção de betões com resistências muito baixas. Observaram-se perdas de resistência entre 70% a 90%, aproximadamente. Os resultados obtidos indicam que não existe, em termo de resistência, diferença significativa entre a utilização de cortiça natural ou expandida quando se procede à substituição integral dos agregados correntes. Verifica-se ainda, como acontecia nas séries anteriores,

que a substituição dos agregados de maior dimensão conduz a perdas de resis-tência mais elevadas.

O Quadro 6 apresenta as massas volúmicas apuradas para todas as composi-ções das séries “B6”. Os resultados demonstram que a substituição total de agregados correntes por cortiça permite uma significativa redução na massa volúmica, podendo os betões resultantes serem classificados como leves. A uti-lização de cortiça expandida permite uma diminuição da massa volúmica ligei-ramente superior à obtida com cortiça natural, para as mesmas condições.

Quadro 6: Massa volúmica do betão.

Série Massa volúmica

(kg.m-3)

BR6 2428 B6 839 B6A 1991 B6B 1265 BE6 726 BE6A 1947 BE6B 1037

Conclusões O presente artigo apresenta os resultados preliminares de um projecto de investigação cujo objectivo é caracterizar as propriedades mecânicas de granu-lados de cortiça e avaliar os seus potenciais benefícios na sua utilização como agregados na produção de betões leves e estruturais.

Diferentes composições de betão, contendo diferentes quantidades de grânulos de cortiça, foram elaboradas. Estudaram-se dois tipos de cortiça: natural e ex-pandida. As diversas séries de betões produzidas foram sujeitas a ensaios labo-ratoriais, tendo sido determinada a sua resistência à compressão a diferentes idades.

Os resultados apurados demonstraram que a resistência à compressão dos betões tende a diminuir à medida que a quantidade de cortiça presente na mis-tura aumenta. Este efeito é mais notório quando se efectua a substituição de agregados grossos por cortiça. A utilização de cortiça expandida conduz a maiores reduções de resistência.

A resistência à compressão do betão diminui com a redução da sua densidade. Os testes realizados permitiram verificar que a diminuição de resistência, den-tro da gama de valores de densidade testada, segue uma relação linear. Será necessária a realização de mais ensaios, em betões contendo grânulos de corti-ça com densidades mais baixas, de modo a verificar se a correlação encontrada se mantém válida fora dos limites considerados no presente estudo.

O volume de cortiça presente no betão influencia significativamente a sua resistência mecânica. Este fenómeno é particularmente importante quando se substituem os agregados de maiores dimensões. Ao substituir 10% a 30% de areia por um volume equivalente de cortiça, a resistência do betão decresce en-tre 26.5 e 52.8%, enquanto que o decréscimo correspondente, no caso de se efectuar a substituição de brita, varia entre 32.6 e 74.9%. A utilização de corti-ça expandida como material de substituição, na maioria das condições de ensaio testadas, conduziu a maiores reduções de resistência que as obtidas com a utilização de cortiça natural.

Produziram-se betões em que os agregados correntes foram substituídos, na sua totalidade, por granulados de cortiça. Nestes betões, a diminuição da resis-tência mecânica face ao betão de referência foi ainda mais maior (70 a 90% aproximadamente). Esta diminuição é mais significativa quando se substitui a totalidade dos agregados ou o agregado de maiores dimensões. Os testes reali-zados permitiram ainda observar que esta substituição possibilita a obtenção de betões leves. Verifica-se que o tipo de cortiça (natural ou expandida) não exerce influência significativa, quer na massa volúmica, quer na resistência à compressão dos betões resultantes.

Agradecimentos

Os autores agradecem à Fundação para a Ciência e Tecnologia – FCT, Portu-gal, o apoio financeiro disponibilizado através do projecto POCI/ECM/55889/ 2004, e às empresas Corticeira Amorim S.G.P.S., S.A. e Amorim Isolamentos S.A., pelo fornecimento da cortiça utilizada na produção dos provetes de ensaio.

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[6] LNEC E-226. 1968, Concrete. Determination of compressive strength. Lisboa: LNEC.

[7] NP 605. 1996, Granulados de cortiça. Determinação da massa volúmica aparen-

te. Lisboa: IPQ.

[8] NP 606. 1995, Granulados de cortiça. Determinação da humidade. Lisboa: IPQ.

[9] NP EN 1097-6. 2003, Ensaios das propriedades mecânicas e físicas dos agrega-dos. Parte 6: Determinação da massa volúmica e da absorção de água. Lisboa: IPQ.