Utilização de Minhocas

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    UTILIZAO DE MINHOCAS NA ESTABILIZAO DE RESDUOS

    ORGNICOS: VERMICOMPOSTAGEMAdriana Maria de Aquino1

    Dejair Lopes de Almeida2

    Vladir Fernandes da Silva3

    INTRODUO:

    A transformao da matria orgnica, resultante da aocombinada das minhocas e da microflora que vive em seu tratodigestivo, conhecida como vermicompostagem.

    Embora a compostagem de resduos orgnicos seja uma prticaantiga, a vermicompostagem foi desenvolvida a partir de pesquisasbsicas mais recentes realizadas por programas de manejo de minhocasem Rothamstead (Inglaterra), no perodo de 1940 a 1950. Aps 1970, oscientistas se engajaram no estudo do potencial das minhocas para aconverso de resduos orgnicos numa forma mais estabilizada dematria orgnica. Diferentes resduos foram usados nesses estudos:resduos industriais e domsticos, estercos e restos de cultura,especialmente os de baixo valor econmico.

    O processo de compostagem e a ao das minhocas alteram,quantitativa e qualitativamente, a composio das substncias hmicasdos materiais orgnicos.

    O material mais estabilizado, isto , com carbono na formahumificada, apresenta como vantagens maior capacidade de troca dections, maior reteno de umidade e mineralizao mais lenta.Almeida (1991), observou que o esterco bovino que passou

    --------------1Biloga, Bolsista de Doutorado, UFRRJ, EMBRAPA/Centro Nacionalde Pesquisa de Biologia do Solo (CNPBS), Caixa Postal 74505, CEP23851-970 Seropdica, RJ2 Eng

    o. Agr

    o., Pesquisador, PhD., EMBRAPA/Centro Nacional dePesquisa de Biologia do Solo (CNPBS), Caixa Postal 74505, CEP

    23851-970 Seropdica, RJ3Engo. Agro., MSc, Produtor, Stio Pedra Selada, Visconde de Mau,RJ

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    ,temperaturas acima de 35oC que inviabilizaria a sobrevivnciadas minhocas (Haimi & Huhta, 1986). Alm disto, avermicompostagem dispensa o revolvimento do material orgnico,que realizado pelas minhocas.

    A maioria dos produtores de vermicomposto utilizaa espcieEisenia foetida, conhecida vulgarmente como minhoca vermelha daCalifrnia ou minhoca de esterco. Esta preferncia deve-se a suahabilidade em converter resduos orgnicos pouco decompostos emmaterial estabilizado, extraordinria proliferao e rpidocrescimento.

    As minhocas so hermafroditas, o que significa que

    apresentam rgo reprodutor masculino e feminino no mesmoindivduo. No entanto necessitam de dois indivduos para queocorra a reproduo.

    Aps a cpula e a conseqente troca de gametas masculinoocorre a fecundao. Cerca de quatro dias depois, d-se aformao dos casulos, uma espcie de bolsa que se forma a partirdo clitelo. O clitelo uma regio mais espessa que se situa naporo anterior da minhoca, sendo facilmente visvel nasadultas.

    O casulo contm as reservas nutritivas para odesenvolvimento do embrio, que leva de 14 a 44 dias, com umamdia de 23 dias, ocorrendo ento a ecloso das minhocas-filhas.

    Cada casulo pode dar origem a um nmero de minhocas que varia de1 a 9, com freqncia mdia de 3 minhocas por casulo (Venter &Reinecke, 1988).

    Em condies favorveis, as minhocas-filhas atingem amaturidade sexual e com completa formao do clitelo, dentro de40 a 60 dias, quando ento estaro aptas reproduo.

    Em menor escala, Eudrilus sp. tambm utilizada naestabilizao de resduos orgnicos, sendo freqentementeencontradas em solos que apresentam elevada concentrao dematria orgnica.

    A Pheretima sp, minhoca muito comum em nossos solos evulgarmente chamada de puladora, facilmente reconhecida pela

    presena de um "colarinho branco". Esta espcie pode ser usadana compostagem de resduos em estdio mais avanado dedecomposio, sendo til em campo na incorporao de matriaorgnica ao solo. Almeida (1991), comparou a aplicao de esterco de galinha,esterco bovino e vermicomposto, no desenvolvimento de

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    utilizando Eisenia foetida, e de composto obtido partir dessemesmo resduo, aps 12 semanas, obtendo os resultadosapresentados na Tabela 1.

    Tabela 1. Composio qumica de vermicomposto e composto, obtidos a partir de esterco de vaca, aps 12 semanas (Albanell et al. 1988).

    ------------------------------------------------------------ Parmetros* com minhoca sem minhoca

    ------------------------------------------------------------Matria orgnica (%) 47,7 71,2Cinzas (%) 52,3 28,8C oxidvel (%) 13,5 26,9N total (%) 1,5 2,2Relao C/N 9,0 12,2cidos hmicos (%) 18,6 14,1cidos flvicos (%) 2,3 7,7CTC (meq /100 g) 60,8 45,5------------------------------------------------------------* Expressos em matria seca

    Em experimento em que utilizou-se misturas de estercobovino, aps 20 dias de seu recolhimento e bagao de cana-de-acar modo, na proporo de 1:3 e 1:1 (v/v), Aquino (1991)constatou aos 86 dias, que a relao C/N da primeira mistura comminhoca foi 37,8 e sem minhoca 39,5, enquanto a da segunda foi22,0 com minhoca e 25,0 sem minhoca.

    As informaes de pesquisa nas nossas condies, alm deserem escassas, no devem ser extrapoladas sem os devidoscuidados. Os resultados variam com a qualidade do material a servermicompostado e com o manejo adotado. Desta forma, a respostada cultura depende da interao destes fatores com as condiesedafoclimticas, com a prpria cultura a ser utilizada, e claro,

    com a quantidade aplicada. Assim, o entusiasmo, s vezes,exagerado daqueles que propagam o chamado "humus de minhoca",deve ser visto com cautela.

    Alm da utilizao das minhocas na converso do materialorgnico numa forma mais estabilizada, o alto teor de protena,

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    Vrios materiais orgnicos podem ser utilizados para acriao de minhocas, tais como: lixo domstico, restos vegetaise estercos em geral. No entanto, materiais fibrosos, que tmalta relao C/N e conseqentemente so pobres em nitrognio,criam limitaes para o desenvolvimento da vermicultura.

    Com base em experimentos realizados na EMBRAPA-CNPBS porAquino & De-Polli (1989), recomenda-se a utilizao de esterco ematerial celulsico (palha, bagao de cana-de-acar esimilares) na proporo 1:1 (p/p). Com esta proporo possvela produo de coprlitos e boa proliferao de minhocas.

    Como outra alternativa a utilizao de esterco puro,

    Fernandes (1991), sugere a utilizao da mistura de esterco +palha + leucena, na proporo de 1:1:1 (v/v). O enriquecimentocom leucena permitiu a obteno de material 30% mais rico em N.Assim, alm de se obter material mais rico em N,conseqentemente menos fibroso (relao C/N mais baixa),utiliza-se menor volume de esterco. Nesta proporo, segundo omesmo autor, foi possvel uma economia de 56% de esterco,mantendo-se alta produtividade da cenoura, que foi usada comoplanta teste. Pode ser utilizada outra leguminosa, em lugarda leucena, sendo que no caso de arbreas ou arbustivas, usam-seas partes mais tenras, obtidas atravs de poda, e no caso deherbceas, de pequeno porte, pode-se usar toda a planta.

    O uso de esterco com 20 a 30 dias, quando retirado de pisosde curral, ou com temperatura abaixo de 35oC, quando retirado deesterqueira, recomendado sempre que disponvel. Desta forma,obtm-se produto mais estabilizado e com mais rapidez, j queesse material facilmente transformado pela minhoca.

    O local destinado vermicultura deve ser,preferencialmente, sombreado, mas deve-se ter o cuidado paraque no ocorra competio entre as razes das rvores e asminhocas pelo material orgnico, pois h casos em que as razeschegam at a invadir os canteiros das minhocas. Alm disto, oscanteiros devem ser preparados em local com boa drenagem eprximos a pontos de gua, visto que necessrio manter a

    umidade em torno de 75%. As regas devem ser freqentes, e um bommeio de avaliar se o material est com boa umidade pegandoum punhado do mesmo e apertando na mo; caso a guaescorra, estar havendo excesso de rega; se a mo ficar mida,estar no ponto; se no umedecer a mo, falta rega.

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    - , ,coqueiro ou qualquer outro material similar, a fim de manter aumidade e o sombreamento do material orgnico a servermicompostado.

    Pode ocorrer, depois de certo tempo, limitao de espao ede alimento para as minhocas e por isto deve-se ter cuidado paraque no fujam para outro local procura de melhores condiespara sua sobrevivncia. Visando poupar mo-de-obra, sugere-se ainstalao de canteiros contendo divisrias. Aos 40 dias,aproximadamente, a divisria deve ser suspensa, e as minhocas seencaminham, naturalmente, para o esterco recmcolocado no outro canteiro, quando necessrio. Durante uma

    semana mantm-se a divisria suspensa e ao final deste perododeve-se observar se as minhocas j migraram; caso tenham migradopara o material novo (recm colocado), abaixa-se a divisria eretira-se o hmus. Desta forma, no necessrio peneirar overmicomposto para separar as minhocas.

    O piso do canteiro pode ser de terra, sendo aconselhvelforr-lo com sacos de rfia.

    Na Figura 1, apresentada sugesto para a construo de umcanteiro.

    1) Bambu2) Divisria3) Piso do canteiro4) Trinco para prender a divisria na posio desejada

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    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS:

    ALBANELL, E.; PLAILATS, J.; CABRERO, T.; CAPELLAS, M.Composicion qumica del estiercol de vaca fresco y madurodurante el vermicompostaje. In: CONGRESSO DE BIOLOGIAAMBIENTAL, 2., Barcelona, 1988.Acta... Barcelona :Universidad Autonoma de Barcelona, 1988. p.247-252.

    ALMEIDA, D.L. de. Contribuio da matria orgnica na

    fertilidade do solo. Itagua : Universidade Federal Rural doRio de Janeiro, 1991. 188p. Tese de Doutorado.AQUINO, A. M.; DE-POLLI, H. Utilizao de Acetobacter

    diazotrophicusna vermicompostagem de esterco bovino ebagao de cana-de-acar. In: SIMPSIO BRASILEIRO SOBREMICROBIOLOGIA DO SOLO, 1., Jaboticabal, 1989. Revista de

    Microbiologia, So Paulo, v.20, n.2, p.110, 1989.Suplemento. Resumo.

    AQUINO, A.M. Vermicompostagem de esterco bovino e bagao decana-de-acar inoculados com bactria fixadora de N2(Acetobacter diazotrophicus). Itagua : Universidade FederalRural do Rio de Janeiro, 1991. 246p. Tese de Mestrado.

    FERNANDES, V.Vermicompostagem utilizando esterco e palhaenriquecida com N e P. Processo de produo e avaliao paraa cultura da cenoura(Daucus carotaL.). Itagua :Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, 1991. 118p.Tese de Mestrado.

    HAIMI, J.; HUTHA, Y. Capacity of various organic residues tosupport adequate earthworm biomass for vermicomposting.Biology and Fertility of Soils, Berlin, v.2, p.23-27, 1986.

    VENTER, J.M.; REINECKE, A.J. The life-cycle of the compost wormEisenia foetida (Oligochaeta). SouthAfrican Journal ofZoology, Africa do Sul, v.23, n.3, p.161-165, 1988.