Upload
others
View
3
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
UTILIZAÇÃO DE MÉTODOS MATEMÁTICOS DE LOCALIZAÇÃO DE FACILIDADES
PARA ELABORAÇÃO DE UM SISTEMA DE COMPARTILHAMENTO DE BICICLETAS
NA MARÉ, RIO DE JANEIRO
SILAS CABRAL FILGUEIRAS
2019
UTILIZAÇÃO DE MÉTODOS MATEMÁTICOS DE LOCALIZAÇÃO DE FACILIDADES
PARA ELABORAÇÃO DE UM SISTEMA DE COMPARTILHAMENTO DE BICICLETAS
NA MARÉ, RIO DE JANEIRO
Silas Cabral Filgueiras
Projeto de Graduação apresentado ao
curso de Engenharia Civil da Escola
Politécnica, Universidade Federal do Rio
de Janeiro, como parte dos requisitos
necessários à obtenção do título de
Engenheiro.
Orientador: Prof. Glaydston Mattos
Ribeiro
RIO DE JANEIRO
Agosto de 2019
UTILIZAÇÃO DE MÉTODOS MATEMÁTICOS DE LOCALIZAÇÃO DE FACILIDADES
PARA ELABORAÇÃO DE UM SISTEMA DE COMPARTILHAMENTO DE BICICLETAS
NA MARÉ, RIO DE JANEIRO
Silas Cabral Filgueiras
PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE
ENGENHARIA CIVIL DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO
RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A
OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO CIVIL.
Examinado por:
_______________________________________
Prof. Glaydston Mattos Ribeiro. D.Sc.
_______________________________________
Prof. Sandra Oda. D.Sc. ______________________________________
Prof. Licínio da Silva Portugal. D.Sc.
RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL
AGOSTO de 2019
Filgueiras, Silas Cabral
Utilização de métodos matemáticos de localização de facilidades para elaboração de um sistema de compartilhamento de bicicletas na Maré, Rio de Janeiro/ Silas Cabral Filgueiras – Rio de Janeiro: UFRJ/Escola Politécnica, 2019
XI, 55 p.:il.; 29,7 cm.
Orientador: Glaydston Mattos Ribeiro
Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/ Curso de Engenharia Civil, 2019.
Referências Bibliográficas: p. 62-66
1. Compartilhamento de Bicicletas 2. Maré 3. Modelos Matemáticos 4. Mobilidade Urbana 5. Desigualdade Socioespacial.
I. Ribeiro, Glaydston Mattos; II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Curso de Engenharia Civil. III. Título
À minha querida vó Geny,
Queria muito poder te mostrar meu diploma.
Obrigado
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus pelo cuidado durante todos esses anos, pelas
portas abertas e pelo sustento e principalmente pela salvação.
À minha família, meus pais Adilea e Alfredo, minhas irmãs Ester, Sara e Júlia.
Muito obrigado por ainda de longe estarem sempre perto, sem vocês eu não teria
chegado até aqui, meu grande privilégio é ter vocês como família. A minha segunda
mãe Mid, pelas incontáveis ligações só para saber como eu estava.
À minha família de fé da Igreja Cristã Carioca, obrigado pela irmandade dos
últimos anos, tem sido um prazer caminhar com vocês. Foi um período de muito
aprendizado e crescimento, e vejo que me tornei uma pessoa melhor. Aos meus irmãos
da Cru, que me ensinaram a maravilha que é viver com Deus na universidade.
Aos meus grandes amigos da Engenharia Elétrica, que apesar da minha
mudança de curso sempre serão a minha turma. Obrigado por tornar possível a
sobrevivência na faculdade, por me abraçar quando eu quis chorar, por dar força quando
eu quis desistir, por festejar as vitórias e por festejar as derrotas. Muito obrigado.
À UFRJ, apesar da relação de amor e ódio, viver nesse lugar me ensinou muito.
Convivi com pessoas de realidades muito distantes da minha, aprendi a compreender
quem eu sou. Obrigado pela formação de excelência e pelas oportunidades de
aprendizado. Viva a universidade pública!
À organização do edital UNIBRAL e ao programa ERASMUS, que me
proporcionaram a experiencia incrível de viver em Berlim. Personifico essa gratidão a
figura da Mariana, que compartilhou tantos dias inesquecíveis da minha vida, e hoje se
tornou minha irmã.
Aos muitos professores que participaram da minha formação acadêmica durante
a minha graduação, muito obrigado pela dedicação. Em especial ao meu orientador
Glaydston, pela parceria e mentoria nesses últimos meses, muito obrigado por acreditar
em mim, deixo aqui minha profunda admiração.
Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte
dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Civil.
UTILIZAÇÃO DE MÉTODOS MATEMÁTICOS DE LOCALIZAÇÃO DE FACILIDADES
PARA ELABORAÇÃO DE UM SISTEMA DE COMPARTILHAMENTO DE BICICLETAS
NA MARÉ, RIO DE JANEIRO
Silas Cabral Filgueiras
Agosto de 2019
Orientador: Glaydston Mattos Ribeiro
Sistemas de compartilhamento de bicicleta tem se tornado cada vez mais presentes nas
cidades ao redor do mundo, devido a uma crescente adaptação dos centros urbanos
aos ideais de sustentabilidade, e promoção de maior mobilidade urbana. Nas cidades
brasileiras, o surgimento desses sistemas se deu seguindo exemplos internacionais,
inicialmente se instalando em regiões centrais, porém o cenário brasileiro conta com um
sério agravante que é a desigualdade social, e com isso, os sistemas não foram
expandidos para áreas de periferia urbana, locais muitas vezes não atendidos
adequadamente pelos modos de transporte público. Assim, este trabalho apresenta uma
abordagem dessa solução voltada para regiões de extrema vulnerabilidade. É
apresentado o cenário do bairro da Maré, Rio de Janeiro, e proposta uma rede de
estações de compartilhamento de bicicletas para a região, possibilitando uma melhor
mobilidade da população residente. Diferentes modelos matemáticos são utilizados para
o posicionamento dessas estações com a finalidade de atender a demanda. Os testes
computacionais consideraram vários cenários que foram analisados visando um bom
sistema de compartilhamento.
Palavras-chave: Bicicleta; Sistema de Compartilhamento; Posicionamento de Estações.
Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of
the requirements for the degree of Engineer.
USE OF FACILITY LOCATION MATHEMATICAL METHODS FOR THE
ELABORATION OF A BICYCLE SHARING SYSTEM IN MARÉ, RIO DE JANEIRO
Silas Cabral Filgueiras
August 2019
Adviser: Glaydston Mattos Ribeiro
Bike sharing systems have become increasingly present in cities around the world due
to a growing adaptation of urban centers to sustainability ideals, and the promotion of a
better urban mobility. In Brazilian cities, the emergence of these systems occurred
following international examples, initially settling in central regions, but the Brazilian
scenario has a serious aggravating factor that is social inequality, consequently the
systems were not expanded to areas of urban periphery, places often not adequately
served by public transport modes. Thus, this work presents an approach of this solution
aimed at regions of extreme vulnerability. The scenario is presented in Maré, Rio de
Janeiro, and a network of bicycle sharing stations is proposed for the region, enabling a
better mobility of the resident population. Different mathematical models are used for
positioning these stations in order to meet the demand. The computational tests
considered several scenarios that were analyzed aiming at a good sharing system.
Keywords: Bike; Sharing system; Station Positioning.
LISTA DE FIGURAS
Figura 2.1 - Mapa da alocação de estações na abertura do sistema Bike Rio................17
Figura 2.2 - Mapa cicloviário do Rio de Janeiro nos anos 2010 e 2012...........................18
Figura 2.3 - Principais destinos dos ciclistas no Rio de Janeiro......................................18
Figura 2.4 - Perfil dos ciclistas brasileiros.......................................................................19
Figura 2.5 - Motivação para começar a utilizar a bicicleta como modo de transporte
urbano e para continuar pedalando no Rio de Janeiro...................................................19
Figura 2.6 - Problemas do dia-a-dia para o uso de bicicletas e motivação para pedalar
mais no Rio de Janeiro...................................................................................................20
Figura 2.7 - Mapa das estações do sistema Bike Rio sobreposto ao mapa de renda
média da cidade do Rio de Janeiro.................................................................................22
Figura 2.8 - Mapa das estações do sistema Bike Salvador e mapa de renda média da
cidade de Salvador........................................................................................................22
Figura 2.9 - Mapa das estações do sistema Bike Sampa e mapa de renda média da
cidade de São Paulo......................................................................................................23
Figura 2.10 - Mapa das estações do sistema Bike Poa e mapa de renda média da cidade
de Porto Alegre..............................................................................................................23
Figura 2.11 - Percentual da população urbana com acesso a bicicletas compartilhadas
por raça..........................................................................................................................24
Figura 2.12 - Percentual da população urbana com acesso a bicicletas compartilhadas
por renda anual..............................................................................................................25
Figura 5.1 - “Pontes de tábuas” interligando as palafitas da Maré em 1940...................42
Figura 5.2 - Localização do bairro da Maré.....................................................................47
Figura 5.3 - Divisão de comunidades da Maré................................................................47
Figura 6.1 - Localização dos pontos que podem receber estações de compartilhamento
de bicicletas para atender à população do Bairro da Maré.............................................50
Figura 6.2 - Resultado do processo de localização considerando o problema de
localização por cobertura...............................................................................................51
Figura 6.3 - Resultado do processo de localização considerando o problema de
localização de máxima cobertura sendo que três estações de compartilhamento estão
localizadas em pontos de ônibus...................................................................................53
Figura 6.4 - Resultado do processo de localização considerando o problema de
localização de máxima cobertura sendo que uma estação deve estar posicionada na
Estação BRT-Maré........................................................................................................53
Figura 6.5 - Mapa de distribuição e cobertura de estações do Cenário 1........................55
Figura 6.6 - Mapa de distribuição e cobertura de estações do cenário 2.........................56
Figura 6.7 - Mapa de distribuição e cobertura de estações do Cenário 3........................57
Figura 6.8 - Mapa de distribuição e cobertura de estações do Cenário 4........................58
Figura 6.9 - Mapa de distribuição e cobertura de estações do cenário 5.........................59
LISTA DE TABELAS
Tabela 5.1 - Percentual de utilização de modos de transporte para o principal destino ao
sair da Maré...................................................................................................................43
Tabela 5.2 - Tempo de viagem dos moradores da Maré, maiores de 16 anos para seu
destino semanal mais frequente....................................................................................44
Tabela 5.3 - Justificativas para substituir o meio de transporte atual pela bicicleta.........44
Tabela 5.4 - Justificativas para não substituir o meio de transporte atual pela bicicleta..45
Tabela 5.5 - Obstáculos enfrentados para locomoção interna na Maré..........................46
Tabela 5.6 - Pontos de demanda e população considerados no processo de localização
de estações de compartilhamento.................................................................................49
Tabela 6.1 - Quadro comparativo dos cenários propostos.............................................60
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 12
1.1. OBJETIVOS DO TRABALHO ........................................................................... 12
1.2. ESTRUTURA DO TRABALHO ......................................................................... 13
2. CONTEXTUALIZANDO O COMPARTILHAMENTO DE BICICLETAS .................... 15
2.1. HISTÓRICO DO COMPARTILHAMENTO DE BICICLETAS ............................ 15
2.2. COMPARTILHAMENTO DE BICICLETAS NO BRASIL ................................... 17
2.3. A RELAÇÃO COM CONCENTRAÇÃO DE RENDA EM CIDADES BRASILEIRAS
E ESTADUNIDENSES ............................................................................................ 21
3. CONSCIENTIZANDO O COMPARTILHAMENTO DE BICICLETAS ....................... 28
3.1. DIRETRIZES GERAIS PARA UM SISTEMA DE COMPARTILHAMENTO DE
BICICLETAS ........................................................................................................... 28
3.2. UM SISTEMA INCLUSIVO ............................................................................... 31
3.3. A BICICLETA NAS COMUNIDADES ................................................................ 33
3.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS DO CAPÍTULO ...................................................... 35
4. METODOLOGIA ..................................................................................................... 36
4.1. MODELOS MATEMÁTICOS DE LOCALIZAÇÃO DE FACILIDADES ............... 36
4.2. PROBLEMA DE LOCALIZAÇÃO POR COBERTURA ...................................... 37
4.3. PROBLEMA DE LOCALIZAÇÃO DE MÁXIMA COBERTURA .......................... 37
5. ESTUDO DE CASO: A MARÉ ................................................................................ 40
5.1. HISTÓRICO E CARACTERÍSTICAS ................................................................ 40
5.2. MOBILIDADE NA MARÉ E OPORTUNIDADES ............................................... 42
5.3. IDENTIFICAÇÃO TERRITORIAL E DEFINIÇÃO DOS PONTOS DE
DEMANDA .............................................................................................................. 46
6. APRESENTAÇÃO DE RESULTADOS .................................................................... 50
6.1. ANÁLISE DOS RESULTADOS ........................................................................ 51
6.2. AVALIAÇÃO ESPACIAL DO ATENDIMENTO .................................................. 54
7. CONCLUSÕES FINAIS E PROPOSTAS PARA TRABALHOS FUTUROS ............. 61
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................ 64
12
1. INTRODUÇÃO
O movimento de compartilhamento de bicicleta ocorreu de diferentes formas no
mundo, devido a necessidades como redução do tráfego de automóveis nos centros
urbanos, aumento na qualidade do ar e melhoria na qualidade de vida dos habitantes.
Hoje a bicicleta é uma das principais soluções de mobilidade em diversas cidades, e faz
parte do planejamento urbano.
Desde o surgimento desse movimento, em Amsterdam em 1965, como um
movimento político, ele passou por três diferentes gerações, que propuseram diversas
mudanças e melhorias, atualmente influenciadas, principalmente pela tecnologia da
informação. Porém a forma de estruturação desses sistemas se dá, geralmente, de
forma desigual em cidades ao redor do mundo.
Desde sua chegada no Brasil, essa solução de mobilidade tem sido instalada em
regiões de maior concentração de renda, respeitando o padrão histórico de
desenvolvimento brasileiro. Será apresentado o contexto do compartilhamento de
bicicletas no Brasil, e serão feitos paralelos com a realidade nos Estados Unidos.
1.1. OBJETIVOS DO TRABALHO
Foi escolhida a bicicleta como solução de mobilidade na região pelo sucesso
obtido em diversas cidades do mundo, pela vasta bibliografia encontrada a respeito do
assunto, pelo caráter ambiental do veículo e pela promoção de saúde aos usuários. A
forma de uso compartilhada, leva em consideração a redução de custos, já que
desestimula que cada indivíduo tenha sua bicicleta própria.
Para discussão da elaboração do sistema, serão levadas em consideração,
diretrizes que tem como objetivo tornar o compartilhamento de bicicletas eficiente e
integrado. O “Guia de planejamento de sistemas de bicicletas compartilhadas”,
publicado pelo Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP, 2014), que
foi baseado no estudo de diversos modelos de sistemas ao redor do mundo,
identificando pontos de sucesso e casos a melhorar, indica que o posicionamento de
estações é um dos itens chave para que o sistema seja bem sucedido.
A partir do padrão identificado de instalação desses sistemas, localizados em
zonas de maior concentração de renda, como será discutido a frente, é proposto uma
nova abordagem. Foi escolhido o bairro da Maré como objeto de estudo, pelas
condições de relevo do local, sem muitos desníveis, que permitirá a utilização de
bicicletas sem grandes dificuldades. E pela produção científica da região, que permite
acesso a dados sociais e comportamentais que permitem conhecimento da realidade.
13
Como exemplo de movimentos de conscientização sobre o uso de bicicleta, serão
apresentados casos nos Estados Unidos, que foram escolhidos pela complexidade
social existente e pelo período em que essa questão já vem sendo discutida e
solucionada.
Retomando a ideia da importância do posicionamento, são abordados dois
modelos matemáticos de localização de facilidade, solução que busca o posicionamento
estratégico em centros urbanos. A escolha dos dois modelos é função dos critérios de
otimização apresentados, a redução do número de estações instaladas, atendendo a
todo o território e a maximização do atendimento da demanda a partir de um número de
estações estabelecido.
Assim, esse trabalho tem como objetivo principal, elaborar um mapa de
localização de estações para um sistema de compartilhamento de bicicletas na Maré,
Rio de Janeiro. Essa localização foi realizada por meio de métodos matemáticos para
localização de facilidades.
Como objetivos específicos, busca-se:
• Apontar através de exemplos a viabilidade e a importância de se pensar em
mobilidade urbana em regiões de franjas urbanas e apresentar casos de
sucesso;
• Analisar as características bairro da Maré para entender sua complexidade e
estimar a demanda, que será obtida por resultados de censos demográficos,
pelo serviço;
• Verificar possíveis pontos candidatos a estação, a partir do mapeamento da
região; e
• Simular cenários de localização que permitam a redução do tempo de
caminhada entre a residência e uma estação, para promover conforto e melhoria
de qualidade de vida a população.
1.2. ESTRUTURA DO TRABALHO
O restante deste trabalho está assim estruturado. No Capítulo 2 será
apresentado o panorama histórico do compartilhamento de bicicletas, apresentando
características do seu surgimento e desenvolvimento. Ainda apresenta a chegada
desses sistemas no Brasil, com enfoque no Rio de Janeiro, sua infraestrutura cicloviária
e mapa de estações, a comparação entre a concentração de renda e o uso de bicicletas
compartilhadas. Quanto a isso são apresentadas pesquisas estadunidenses que
indicaram similaridade com o processo de desenvolvimento brasileiro, com ações
adotadas para reverter esse cenário.
14
No Capítulo 3 apresentam-se diretrizes para um sistema de compartilhamento
de bicicletas, que foram elaboradas pelo ITDP, baseadas no estudo de como se
desenvolveram esses sistemas em diversas cidades ao redor do mundo. Esse estudo
foi feito buscando parametrizar o sucesso do compartilhamento de bicicletas. O capítulo
ainda apresenta algumas informações relevantes de um guia de práticas de cidades
estadunidenses tomadas com o objetivo de tornar o acesso às bicicletas mais inclusivo.
Por fim apresenta-se a realidade do uso de bicicletas em comunidades brasileiras
O Capítulo 4 apresenta a metodologia do trabalho. Foram utilizados diferentes
modelos matemáticos de localização de facilidades, que são apresentados, apontando
seus objetivos e restrições. Apresenta-se ainda a forma com que foi elaborada a
modelagem computacional das soluções, com os sistemas e linguagem utilizados.
O Capítulo 5 apresenta o estudo de caso da Maré, contextualizando o histórico
e suas características. Apresenta-se também a realidade da mobilidade dos moradores
do território e oportunidades de atuação. Por fim, é feita a identificação do território, com
suas divisões internas, e são definidos os pontos de demanda a serem considerados
pelos modelos matemáticos.
O Capítulo 6 apresenta a localização dos pontos de demanda, os diferentes
cenários propostos pelo trabalho e a capacidade dos modelos matemáticos de
posicionar estações de compartilhamento de modo a atender à demanda. É avaliado o
posicionamento de estações e seu atendimento em cinco cenários selecionados, que
são então discutidos.
Por fim, o Capítulo 7 apresenta as considerações finais do trabalho, com
avaliação dos resultados obtidos e do cumprimento de seu objetivo, bem como
propostas para trabalhos futuros.
15
2. CONTEXTUALIZANDO O COMPARTILHAMENTO DE BICICLETAS
O crescimento da população dos centros urbanos gerou uma série de problemas
relacionados à mobilidade. Esse processo apresenta similaridades entre diversas
cidades ao redor do mundo. Se destacam como fatores negativos, o tempo gasto em
congestionamento durante o deslocamento, a ineficiência de atendimento da malha de
transporte público e a emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE). Com o aumento das
discussões ambientais e o impacto do comportamento humano na natureza, os
planejadores de transportes têm buscado formas de locomoção alternativas que
auxiliem na reversão desse cenário. Assim, a adoção de sistemas de bicicletas
compartilhadas surge como uma alternativa que pode aumentar a atratividade do
transporte público, tornando a mobilidade mais eficiente energeticamente. Por outro lado,
ela também promove melhorias na saúde da população, pois auxilia no condicionamento
físico dos usuários, principalmente se a utilização for diária. Esses sistemas ainda
colaboram para a melhoria da imagem das cidades e ampliam o acesso da população
as atividades e serviços ofertados.
2.1. HISTÓRICO DO COMPARTILHAMENTO DE BICICLETAS
Desde o ano de 1965, foram desenvolvidas três gerações de sistemas de
compartilhamento de bicicletas no mundo (DEMAIO, 2003; 2004). A primeira geração
foi criada a partir de um plano, denominado Witte Fietsenplan (o “Plano das Bicicletas
Brancas”), de iniciativa de um grupo ativista anarquista, chamado Provo, que atuava na
cidade de Amsterdam na década de 60 (PACHECO, 2015).
Esse plano tinha um conceito bem simples: utilização de bicicletas antigas,
pintadas de branco, espalhadas pela cidade e disponíveis para toda a população. Não
era necessária qualquer forma de registro dos usuários, não existiam estações ou
controle de tempo de uso, muito menos cobrança pelo serviço.
A inspiração de seu inventor, Luud Schimmelpennink, veio do que passou no
século 17 (VAN DER ZEE, 2016), quando Amsterdam dobrou de tamanho em um curto
período e acabou tendo suas ruas bloqueadas pelo tráfego de carruagem. O governo
então delimitou áreas nos arredores do centro para estacionamento de carruagem de
onde as pessoas deveriam seguir a pé para os seus destinos.
As principais críticas do grupo eram o consumismo da sociedade moderna e a
poluição do ar causada pelo crescimento do número de automóveis. O projeto acabou
16
falhando pois sofreu com roubos, danos as bicicletas e apreensões policiais. Entretanto,
o plano das bicicletas brancas está longe de ser considerado um fracasso, pois foi um
ponto de partida para a revolução da mobilidade urbana.
Passados 30 anos, em duas cidades dinamarquesas, Grená e Nakskov (ITDP
BRASIL, 2018), tiveram início pequenos programas de compartilhamento de bicicletas.
Apresentando algumas melhorias em relação ao Plano das Bicicletas Brancas,
contavam com estações fixas e destravamento das bicicletas com o depósito de uma
moeda. Essas mudanças tiveram como objetivo a redução do número de roubos e uma
melhor organização do sistema na cidade que passou a ser fiscalizado. O uso das
bicicletas somente era permitido em determinadas zonas da cidade e a fiscalização era
feita com o auxílio de autoridades. Os modelos, todavia, não possuíam controle de
tempo de uso nem identificação do usuário. A partir do sucesso obtido, essa ideia foi
levada, em 1995 (DEMAIO, 2009) para a cidade de Copenhagen que elaborou um
projeto com 5000 bicicletas. Dando início ao sistema de segunda geração, o City Bikes
é reconhecido como o primeiro modelo de compartilhamento de bicicleta em larga
escala do mundo (VAN DER ZEE, 2016). O sucesso desse sistema motivou a
implantação de sistemas similares em cidades como Trondheim (Noruega), Viena
(Áustria), Helsinki (Finlândia), Aarhus (Dinamarca), Aveiro (Portugal) e diversas cidades
da Alemanha.
A chegada da tecnologia da informação, no final da década de 90, deu início ao
sistema de terceira geração. Os principais avanços foram na identificação do usuário e
na restrição do tempo de uso, visando diminuir a quantidade de roubos e permitir maior
disponibilidade de bicicletas. Em 1998, foi inaugurado o primeiro sistema no espaço
público, em Rennes, França (ITDP, 2018). A partir dele surgiram outras iniciativas em
diversas cidades asiáticas e europeias, sendo em 2005, em Lyon, inaugurado o primeiro
projeto de grande escala, que serviria de modelo a ser seguido pela maioria dos países
que instalaram essa solução em suas cidades. A cidade de Paris, em 2007, lançou um
projeto com mais de dez mil bicicletas e 348 estações. A malha de estações cobria
quase totalmente a área urbana da cidade, dando visibilidade e importância a essa nova
alternativa de mobilidade urbana. Em 2016, as bicicletas compartilhadas já estavam
presentes em mais de mil cidades, com maior concentração nos continentes asiático e
europeu. Tendo como grande destaque a cidade de Hangzhou, na China, onde o
sistema chegou a 3572 estações e 84 mil bicicletas em 2016 (ITDP, 2018).
17
2.2. COMPARTILHAMENTO DE BICICLETAS NO BRASIL
No Brasil, o primeiro sistema de bicicletas compartilhadas foi implementado no
Rio de Janeiro, em 2008, com o nome de Pedala Rio. Esse sistema esteve em operação
entre 2008 e 2011, quando foi substituído pelo BikeRio em outubro de 2011. Segundo
IDTP (2016), até novembro de 2015, outras 12 cidades brasileiras desenvolveram
sistemas semelhantes: Porto Alegre (RS), Fortaleza (CE), Recife (PE), Aracaju (SE),
Santos (SP), Sorocaba (SP), Salvador (BA), Petrolina (PE), São Paulo (SP), Brasília
(DF), Belo Horizonte (MG) e Bertioga (SP).
Tomando como exemplo o caso do Rio de Janeiro, a partir da operação do
sistema BikeRio, inicialmente foram instaladas 60 estações, com capacidade para 600
bicicletas. A Figura 2.1 apresenta a localização dessas estações na qual pode-se
observar uma grande concentração na zona sul da cidade (como Botafogo, Copacabana,
Ipanema e outros), região historicamente ocupada pelas classes de maior poder
aquisitivo, atraindo também maior quantidade de turistas e destino de grande parte dos
investimentos em infraestrutura do município. A Figura 2.2 apresenta o mapa cicloviário
até o ano de 2010 e as obras previstas para o ano de 2012. Até o ano de 2010, observa-
se que a malha cicloviária mais desenvolvida estava instalada na zona sul da cidade e
na Barra da Tijuca, reafirmando o processo exposto na figura anterior, de distribuição
desigual de projetos envolvendo bicicletas na cidade.
Figura 2.1 - Mapa da alocação de estações na abertura do sistema BikeRio (Adaptado de BIKE SHARING MAP, 2011)
18
Figura 2.2 - Mapa cicloviário do Rio de Janeiro nos anos 2010 e 2012 (TRANSPORTE ATIVO, 2011)
Em pesquisa recente sobre o perfil do ciclista brasileiro, idealizada e
coordenada pelo grupo Transporte Ativo em 2018, foram apresentados os hábitos e as
motivações dos usuários. Foram entrevistados 7644 ciclistas em 25 cidades de
diferentes regiões do País, gerando uma quantidade significativa de dados. A Figuras
2.3, 2.4, 2.5 e 2.6, apresentam os principais resultados obtidos.
Figura 2.3 - Principais destinos dos ciclistas no Rio de Janeiro (adaptado de PERFIL DO CICLISTA, TRANSPORTE ATIVO, 2018)
A pergunta que gerou os dados apresentados na Figura 2.3 permitia que os
ciclistas dessem mais de uma resposta sobre seus hábitos. É importante ressaltar o
destaque do uso da bicicleta para trabalho, uma vez que representa uso frequente,
indicando maiores possibilidades de sucesso para um sistema de compartilhamento de
bicicletas.
19
Figura 2.4 - Perfil dos ciclistas brasileiros (adaptado de PERFIL DO CICLISTA,
TRANSPORTE ATIVO, 2018)
Nota-se a partir dos resultados um padrão dos usuários de bicicleta no país,
pessoas de classe baixa e em sua maioria percorrendo trajetos curtos, Figura 2.4,
utilizando esse meio de transporte principalmente para trabalhar, Figura 2.3. Esse é o
público alvo esperado pela proposta deste trabalho.
Figura 2.5 - Motivação para começar a utilizar a bicicleta como modo de transporte urbano (esquerda) e motivação para continuar pedalando (direita) no Rio de Janeiro
(adaptado de PERFIL DO CICLISTA, TRANSPORTE ATIVO, 2018)
20
Figura 2.6 - Problemas do dia-a-dia para o uso de bicicletas (esquerda) e motivação para pedalar mais (direita) no Rio de Janeiro (adaptado de PERFIL DO CICLISTA,
TRANSPORTE ATIVO, 2018)
Analisando conjuntamente as Figuras 2.3, 2.4 e 2.5, tem-se o perfil dos ciclistas
brasileiros: 40% com renda inferior a dois salários mínimos, 82% pedalando cinco vezes
ou mais por semana, mais da metade por trajetos que levam entre 10 e 30 minutos e o
principal destino sendo o trabalho. Assim, nota-se que esse perfil é semelhante ao
encontrado entre os moradores da Maré, bairro periférico da cidade. Apesar do baixo
percentual de ciclistas que combinam a bicicleta com outro modo de transporte, ao se
oferecer a possibilidade de deixar a bicicleta junto, por exemplo, dos pontos de ônibus,
o sistema de compartilhamento de bicicletas pode se tornar atraente.
A Figura 2.6 apresenta a realidade enfrentada pelos usuários de bicicletas na
cidade do Rio de Janeiro. Nota-se o destaque da infraestrutura e segurança no trânsito
como problemas para os ciclistas. A construção de mais ciclovias na cidade, alcançando
outras regiões, permite a solução desses dois problemas, uma vez que proporciona o
trajeto exclusivo às bicicletas, sem interferência de automóveis e garante a ligação entre
áreas da cidade.
Como apresentado no início desta seção, os investimentos voltados para a
instalação do sistema BikeRio se concentraram na região de maior poder aquisitivo da
cidade, e, como apresentado a seguir, esse padrão se mantém atualmente. Os
moradores da periferia do Rio de Janeiro apresentam dificuldades para utilizar algum
sistema de compartilhamento de bicicletas, justamente essa população que
normalmente enfrenta grandes desafios no seu deslocamento diário (longas distâncias
percorridas e dificuldades para pagar as passagens), sofrendo ainda com a falta de
confiabilidade do sistema. Esse fator e sabendo que 57% dos deslocamentos internos
em comunidades brasileiras é feito a pé ou em bicicleta (EMBARQ, 2014), constituem
como sendo os grandes motivadores deste trabalho.
21
Nota-se ainda motivações para pedalar como rapidez, melhoria na saúde e
redução de custo, que são processos potencializados pela democratização do acesso
à bicicleta. Apesar da maioria dos ciclistas possuírem menores rendas, o
desenvolvimento dos sistemas de compartilhamento se dá prioritariamente em bairros
de moradores de maior poder aquisitivo. São sistemas que demandam investimento, e
em sua grande maioria cobram por tal serviço, sendo assim, apresenta-se a seguir o
padrão de instalação e algumas práticas de democratização do uso que servem de
exemplo para este trabalho como forma de facilitar o acesso.
2.3. A RELAÇÃO COM CONCENTRAÇÃO DE RENDA EM CIDADES BRASILEIRAS E
ESTADUNIDENSES
Os sistemas de bicicletas compartilhadas implantados no Brasil possuem
relação estreita com a concentração de renda das cidades. Para exemplificar, considere
os sistemas Tembici, operador da Bike Itaú das cidades do Rio de Janeiro, São Paulo,
Salvador e Porto Alegre. As Figuras 2.7, 2.8, 2.9 e 2.10, apresentam os mapas de
concentração de renda das respectivas capitais, juntamente com a localização das
estações de compartilhamento. Verifica-se que os sistemas de compartilhamento de
bicicletas estão localizados nas áreas de maior poder aquisitivo das cidades. Esse
padrão de implementação colabora para a perpetuação da desigualdade socioespacial
presente desde a formação dos grandes centros urbanos brasileiros. Cabe ainda
destacar que 22,3% dos entrevistados pelo grupo Transporte Ativo (veja Figura 2.3)
indicou o fator “custo” como sendo o principal motivo para continuar pedalando. Porém,
esses usuários possuem, na sua grande maioria, residências localizadas em áreas de
menor poder aquisitivo, longe assim, das vantagens previstas pelos sistemas de
compartilhamento de bicicletas, gerando viagens por motivo “trabalho” em locais
inapropriados para bicicletas ou com pouca segurança.
22
Figura 2.7 - Mapa das estações do sistema BikeRio sobreposto ao mapa de renda média da cidade do Rio de Janeiro (adaptado de BIKE ITAÚ, 2019; RIO DE
JANEIRO, 2017)
Figura 2.8 - Mapa das estações do sistema Bike Salvador e mapa de renda média da cidade de Salvador (adaptado de BIKE ITAÚ, 2019; PENA E BOUÇAS, 2017)
23
Figura 2.9 - Mapa das estações do sistema Bike Sampa e mapa de renda média da cidade de São Paulo (adaptado de BIKE ITAÚ, 2019; IBGE, 2010)
Figura 2.10 - Mapa das estações do sistema Bike Poa e mapa de renda média da cidade de Porto Alegre (adaptado de BIKE ITAÚ, 2019; OBSERVAPOA, 2014)
Pode ser identificado um paralelo entre a realidade brasileira e a de outros
países, que vem discutindo esse padrão e pensando em soluções. Como destaque,
apresenta-se a seguir a forma como cidades estadunidenses identificaram tais questões.
24
O padrão de uso e instalação de sistemas vêm sendo discutidos em diversas
cidades ao redor do mundo. Segundo pesquisa apresentada pela Associação Nacional
de Oficiais de Transporte da Cidade (National Association of City Transportation Officials
- NACTO, 2016) no ano de 2010, nos Estados Unidos, apenas quatro cidades contavam
com sistemas de compartilhamento de bicicletas, já em 2016, esse número subiu para
55. Em 2015 foi elaborado um estudo de comparação da população com acesso a
bicicletas compartilhadas e suas características socioeconômicas, evidenciando um
processo desigual de implementação, já que áreas da cidade onde moram
majoritariamente pessoas brancas e de alto poder aquisitivo, recebem mais
investimento para sistemas de compartilhamento de bicicleta (URSAKI e AUKTMAN-
HALL, 2016) nos Estados Unidos. O estudo ocorreu nas cidades de Arlington, Boston,
Chicago, Washington DC, Denver, Nova York e Seattle, considerando fatores raciais e
econômicos dos usuários de bicicletas compartilhadas.
Começando pelo fator racial, A Figura 2.11 apresenta os percentuais de brancos
e negros vivendo em área urbana com acesso a sistemas de bicicletas compartilhadas.
Percebe-se que, com exceção de Washington DC, a população branca norte americana
tem mais acesso a bicicletas compartilhadas do que a população negra. Boston é a
cidade mais crítica com quase metade da população branca com acesso ao sistema de
compartilhamento e menos de 10% da população negra sendo atendida. Ainda existe
diferença entre graus de escolaridade, sendo os detentores de diploma de terceiro grau
mais bem servidos.
Figura 2.11 - Percentual da população urbana com acesso a bicicletas compartilhadas por raça (URSAKI e AUKTMAN-HALL, 2016)
Também há desigualdade em função de renda familiar. Assim, a Figura 2.12
apresenta o percentual de uso de dois extremos, os que recebem salários anuais
maiores que 100 mil dólares por ano e os que recebem menos de 20 mil, por cor.
25
Percebe-se claramente que a população branca com maior renda tem mais acesso aos
sistemas de compartilhamento de bicicletas e, em contrapartida, a população negra com
renda anual 1/5 menor.
Figura 2.12 - Percentual da população urbana com acesso a bicicletas compartilhadas por renda anual (URSAKI e AULTMAN-HALL, 2016)
A partir das informações apresentadas, devem ser pensadas soluções para
reverter esse quadro, já que a cidade é um espaço de todos e deve ser estruturada de
forma a promover acessibilidade aos moradores, ofertando o benefício de uma boa
malha de estações de compartilhamento de bicicletas, independentemente de questões
particulares. Pensando nisso, a cidade de Filadélfia, Estados Unidos, buscando maior
democratização ao acesso a bicicletas, elaborou um plano com algumas práticas e
diretrizes inovadoras, apresentadas a seguir.
O plano Indego, elaborado pelo grupo Better Bike Share, implementado em 2015,
foi o primeiro a incorporar questões de acessibilidade à diferentes camadas
socioeconômicas desde seu planejamento. Buscando ser “o sistema de
compartilhamento de bicicletas mais socialmente equitativo” (SHELLER, 2015), ele veio
trazendo algumas inovações. A ideia não era apenas deixar o sistema atrativo para
turistas, mas para os moradores, e assim um terço das 70 estações ativas iniciais foram
instaladas em bairros com menor renda per capta. A escolha desses pontos foi feita por
meio de informações coletadas em pesquisas e audiências comunitárias, para garantir
praticidade e eficiência.
Outra medida adotada pelos idealizadores para estimular a população mais
pobre a utilizar as bicicletas foi a possibilidade de pagamento com dinheiro. Rompendo
com o padrão seguido por todos os outros modelos, que exigem um cartão de crédito,
o sistema permite que pessoas sem uma conta bancária o utilizem. O registro e
26
pagamento podem ser feitos em qualquer unidade da rede 7-11, uma das maiores redes
de loja de conveniências do país. Em 2016 foi adicionado às práticas do projeto um
desconto no passe anual para pessoas que participam de algum programa de
assistência. O programa Indego é financiado por uma combinação de subsídios,
patrocínio corporativo e taxas de filiação de usuários.
A Associação Nacional de Oficiais de Transporte da Cidade (NACTO) e a Better
Bike Share Partnership elaboraram um documento (NACTO e BETTER BIKE SHARE
PARTNERSHIP, 2018) com estratégias de engajamento comunitário (Strategies for
Engaging Community), para locais historicamente sub atendidos. Desenvolvido por e
para cidades, organizações comunitárias e operadores de transportes ativos
compartilhados, esse guia descreve estratégias para envolver as comunidades e
oferece exemplos e melhores práticas para implementação.
Outro exemplo interessante aconteceu no bairro Bedford Stuyvesant, no Brooklin,
Nova York. O caso foi reportado pelo NACTO (2017) sobre sua parceria com o grupo
Restoration, que trabalha com desenvolvimento comunitário. Quando a cidade recebeu
o sistema Citi Bike, o maior do país, o bairro foi um dos atendidos, mas apresentou taxas
de uso muito abaixo da média do resto da cidade, mesmo sendo uma área com piores
resultados de saúde e menos opções de transporte que outras regiões.
Para reverter esse quadro, o operador do Citi Bike, buscou contato com o
Restoration Corporation, organização de desenvolvimento comunitário mais antiga do
país. Com mais de 50 anos de história, eles tinham uma relação de confiança com os
moradores e conhecimento das dinâmicas locais. Tinham como principal objetivo
combater as altas taxas de obesidade e diabetes da população. O projeto ainda contou
com a parceria dos departamentos de transportes (DOT) e de saúde e higiene mental
(DOHMH).
Até então, apenas 18% da população já havia utilizado o serviço alguma vez.
Assim, equipe do projeto buscou entender quais eram as principais demandas da
população. Entre elas estavam questões ligadas a infraestrutura, como o aumento de
estações no bairro e arredores e projetos que tornassem as ruas mais seguras, ainda a
criação de formas de engajamento local, oferecendo aulas, diversificando formas de
pagamento e criando material de divulgação tendo os moradores como público alvo.
Havia resistência também pelo pensamento de que o sistema “não foi feito para pessoas
como eu”, evidenciando questões de exclusão racial nos sistemas de compartilhamento
de bicicletas.
A parceria entre as entidades ganhou uma concessão de 75 mil dólares, com o
objetivo de gerar ações para reverter a realidade do bairro. Entre elas estavam, a
contratação de representantes comunitários e jovens para aplicar pesquisas, e a
27
informação aos moradores sobre o sistema. A partir desses resultados, o número de
estações passou de 10 para 36. Outra forma de atrair usuários foi a dinamização da
forma de pagamento, permitindo pagamento mensal ou diário, e ainda foram
direcionados descontos para os que recebem auxílio moradia do governo. Foram
criados eventos para ciclistas que promoviam atividades interativas, competições e
circuitos pela cidade, e contava com instrutores, para ensinar aos moradores que tinham
interesse, mas não sabiam pedalar. Foi criada uma campanha de divulgação dentro do
bairro, para mostrar que esse tipo de transporte é para todos, com apoio de moradores
conhecidos pela população, tornavam-no mais atrativo.
O programa obteve resultados que se destacaram nacionalmente e superaram
as expectativas dos idealizadores. Entre eles:
● Um aumento de 170 mil viagens entre 2015 e 2016, configurando 225% de
crescimento;
● Aumento de 70% entre setembro de 2015 e 2016, mês de maior uso em Nova
York;
● Mais viagens em janeiro de 2016, inverno, do que julho de 2015, verão;
● Mais de 2500 pessoas participando dos eventos de ciclismo; e
● Bairro com maior percentual de novos inscritos na cidade.
Apesar da resistência inicial de muitos moradores, os investimentos feitos, e as
ações propostas pelos idealizadores, trouxeram a bicicleta para o cotidiano dessa
população de regiões menos favorecidas. A realidade dos subúrbios estadunidenses é
distante dos brasileiros, porém com as devidas adaptações, é esperado grande sucesso
para uma inciativa como esta proposta neste trabalho, promovendo aumento na
qualidade de vida dos moradores.
28
3. CONSCIENTIZANDO O COMPARTILHAMENTO DE BICICLETAS
Neste capítulo são apresentadas diretrizes internacionais estipuladas no auxílio
do desenvolvimento e implementação de sistemas de compartilhamento de bicicletas.
Bem como práticas que buscam tornar o acesso aos mesmos mais democrático e
igualitário. Por fim, apresenta-se a realidade do uso de bicicletas em comunidades
brasileiras.
3.1. DIRETRIZES GERAIS PARA UM SISTEMA DE COMPARTILHAMENTO DE
BICICLETAS
Para estruturar um sistema de compartilhamento de bicicletas no Bairro da Maré,
conforme Seção 2.4, deve-se levar em consideração as indicações estabelecidas pelo
ITDP em seu guia de planejamento, que foi baseado em resultados de vários sistemas
instalados em diferentes cidades no mundo. Assim, percebe-se que o objetivo principal
do sistema deve ser previamente estabelecido, pois influenciará a tomada de decisão
da equipe e determinará a forma como o posicionamento será feito. Apesar das
similaridades entre os diversos sistemas de compartilhamento de bicicletas, como a
promoção da mobilidade urbana e a redução de gases poluentes nos centros urbanos,
existem finalidades estratégicas específicas. Entre elas, pode-se citar: suprir uma
demanda não atendida pelos modos de transportes já existentes, facilitar o acesso a
rede de transporte urbano, impulsionar o turismo, gerar empregos, entre outros.
A demanda da região deve ser estudada, apontando qual é a projeção de
usuários do sistema, pois essa fase influenciará todas as decisões subsequentes. Para
tal, deve-se estabelecer a área de abrangência do sistema, que é calculada a partir do
raio de alcance em torno de cada estação. A dimensão desse raio é definida em função
das condições iniciais de projeto. Segundo o ITDP (2014), “a área de cobertura deve ser
grande o suficiente para conter um conjunto significativo de pontos de origem e destino
dos usuários”. Caso o sistema esteja em uma área muito pequena, ele perde o poder
de atratividade ao usuário, já que não permite um bom deslocamento, colocando em
risco o seu sucesso.
O perfil da área em estudo deve ser identificado em diferentes aspectos. Deve-
se verificar quais são os serviços de transporte já oferecidos na região, as condições
estruturais existentes que permitam o trânsito de bicicletas, a composição do uso do
território e suas finalidades, apontando áreas residenciais, comerciais e mistas e os
motivos que levam as pessoas a frequentar a região. Também deve ser analisada a
29
dimensão e composição da população, características etárias e comportamentais, para
prever a finalidade do uso das bicicletas.
Com a finalização do estudo de demanda e o dimensionamento do sistema,
pode-se estimar o seu custo de implementação e manutenção. A análise da viabilidade
financeira permite à equipe de planejamento apresentar a proposta a possíveis grupos
de investidores. Para a elaboração dessa estimativa é necessário definir as principais
diretrizes do sistema e a tecnologia que será usada nas bicicletas e estações, sendo
este responsável por grande parte do investimento inicial. Deve-se ainda definir a
dimensão do sistema, como será feita a sua manutenção, o modelo financeiro adotado,
as fontes de investimento e a forma de pagamento.
Devem ser identificadas as possíveis barreiras para a implementação do sistema,
para que sejam criadas medidas a fim de reduzi-las. Essas barreiras podem incluir:
formas de pagamento dos usuários, legislação de segurança e trânsito, conflitos
regionais, ausência do Estado, entre outros fatores.
O processo de planejamento da infraestrutura e estudo de viabilidade exigem a
definição de parâmetros do sistema, que servirão de base para o dimensionamento, o
bom desempenho e o atingimento do retorno financeiro esperado. A área de cobertura
do sistema, que é a região calculada a partir do alcance das estações, e a população
dessa área, que será atendida, permitem o desenvolvimento da demanda do sistema.
Devem ser definidos, o número de bicicletas, de estações e de vagas nas estações para
o esboço financeiro da implementação. E o público deve ser dividido entre sua
frequência de uso, para a elaboração dos pacotes oferecidos, e a previsão do
reposicionamento e manutenção.
A maioria das diretrizes elaboradas pelo ITDP para um sistema eficiente, foram
levadas em consideração no desenvolvimento deste trabalho. Entre elas se tem:
● Área mínima de cobertura: 10 km²
● Densidade das estações: 10 a 16 estações por km²
● Número de bicicletas/grupo de moradores: 10 a 30 bicicletas / 1000 moradores
● Vagas de bicicleta: 2 a 2,5 vagas por bicicleta
● Bicicletas
○ Duráveis
○ Atraentes
○ Funcionais
● Estações
○ Dotadas de mecanismo antifurto e sistema de segurança
○ Instruções para o usuário
○ Praticidade na retirada e devolução
30
● Indicadores de Performance
○ Eficiência: Média de uso diária de quatro a oito horas
○ Penetração no mercado: média diária de uma viagem para cada grupo
de 20 a 40 moradores da região de atendimento
Existem dois indicadores muito importantes para a avaliação do desempenho de
um bom sistema de compartilhamento e, com isso, o planejamento deve ser feito
buscando sempre maximizá-los:
● Média de viagem/dia/bicicleta; e
● Média de viagens/dia/morador.
Para que o sistema seja visto como uma alternativa confiável de transporte, e de
fato comece a competir ou substituir outros modos de transporte, é importante que os
dois indicadores atinjam os valores esperados, pois um sistema com poucas bicicletas
pode, facilmente, atingir altas taxas de utilização, mas não ter boa inserção no território,
dificultando o uso pela população. Já um sistema muito abrangente e com poucas
viagens diárias por bicicleta, indica rentabilidade baixa para os investidores.
A estimativa do investimento inicial pode ser feita ao multiplicar o número de
bicicletas e estações por um valor que será função da tecnologia delas, já a projeção de
receita só pode ser feita no estágio de planejamento detalhado. Os custos de operação
e manutenção variam entre os sistemas em função do custo de mão de obra da cidade,
das taxas governamentais, do planejamento e outros fatores. Esse custo é apresentado
como um valor anual por bicicleta. O objetivo é sempre atrair o maior número de pessoas
possível e atendê-las da forma mais eficiente. A demanda do sistema é estimada a partir
de uma taxa de adesão esperada pela equipe idealizadora, ou seja, qual o percentual
populacional esperado de utilização.
Entre os sistemas avaliados pelo ITDP (Londres, Denver, Washington, Boston,
Cidade do México, Montreal, Barcelona e Lyon), a maioria não cobre seus custos
operacionais apenas com a receita dos usuários, por isso a fase de planejamento
financeiro é importante. Em geral, são tomadas medidas como patrocínios privados,
utilização do sistema para publicidade e subsídios governamentais. O sistema de
cobrança diferenciado entre usuários também é comum, normalmente usuários
esporádicos pagam uma taxa diária mais alta do que os recorrentes. Essa divisão ajuda
o entendimento da importância de cada um dos grupos e do foco para a sequência de
desenvolvimento do sistema.
31
3.2. UM SISTEMA INCLUSIVO
Após grande sucesso, o sistema Indego, na Filadélfia, citado no Capítulo 1, se
tornou modelo para novos empreendimentos e até mesmo para a remodelação de
outros já existentes. A ideia é que a bicicleta compartilhada aumente a mobilidade e
liberdade das pessoas, e que seus benefícios sejam igualmente oferecidos
independentemente de renda, cor ou região da cidade. O engajamento comunitário,
segundo o grupo, deve ser o centro de todo o processo de implementação de um
sistema de compartilhamento.
A cidade deve trabalhar junto com os grupos comunitários, associações de
moradores e com os operadores do sistema, para garantir que as propostas promovam
um transporte justo. Não se trata apenas de uma ação pontual, essa estratégia deve
estar presente no desenho da rede, nas possibilidades de pagamento, na acessibilidade
das estações e na forma de divulgação.
O grupo se tornou consultor na área e acompanhou o desenvolvimento do
compartilhamento de bicicletas em diferentes cidades no país, como Detroit, Nova York,
Boston, Portland, Memphis, entre outras. E, em 2018, o grupo NACTO, lançou o guia
de estratégias para engajamento de comunidades, que auxilia toda a comunidade
envolvida na elaboração do sistema a criar um projeto direcionado a comunidade. Os
objetivos apresentados buscam desenvolver estratégias para a cidade, e foram
catalogados a partir do estudo de sistemas existentes em diferentes cidades dos
Estados Unidos e Canadá.
O guia apresenta três objetivos principais:
• Aumentar o acesso a mobilidade. A mobilidade em uma cidade está diretamente
ligada a oportunidades e ao crescimento econômico e social, por isso deve estar
entre os principais objetivos da gestão. Para moradores das franjas urbanas, o
deslocamento é um desafio diário, que se dá pelo valor dos bilhetes, pelas longas
distâncias e a não confiabilidade do transporte. Reduzindo assim as chances de
encontrar ou manter um emprego e seu tempo livre. A caminhada entre suas
residências e as estações ou pontos de transporte público, pode apresentar
muitos riscos, por serem áreas com baixa segurança e infraestrutura.
Para atingir esse objetivo é preciso reduzir barreiras financeiras. Para tal, foi
criado um fundo para subsidiar a inscrição de moradores de baixa renda. Eles
foram identificados a partir da participação entre algum dos vários programas de
assistência social e moradia. A taxa mensal nas cidades americanas está entre
15 a 20 dólares, com esse benefício é possível pagar 5 dólares.
32
Foram oferecidas formas flexíveis de pagamento, já que entre os mais pobres,
existe menor intenção de se comprometer com um passe anual, ainda que seja
mais barato (NACTO, 2018). As opções de pagamento são mensais, diárias e
em alguns casos pré-pago por minutos. As cidades de Detroit e Filadélfia, EUA,
ainda oferecem a possibilidade de pagamento com dinheiro. Dessa forma,
muitos moradores que não têm acesso a uma conta bancária podem utilizar o
sistema.
Como o uso das bicicletas compartilhadas têm como uma de suas finalidades, a
conexão com outros meios de transporte, foram criadas diferentes formas de
combinação entre o sistema e os bilhetes de transporte público, incluindo
descontos ou não. Em 2019, no Rio de Janeiro, foi criado o cartão de metrô Giro,
que permite a integração com sistema de bicicletas da cidade, porém com
descontos apenas na primeira mensalidade.
Outro desafio a ser vencido é a diminuição de barreiras físicas. A falta de
ciclofaixas que permitam a segurança dos ciclistas é o fator mais presente entre
as queixas dos usuários. No Brasil, dos entrevistados pela pesquisa Perfil do
Ciclista (TRANSPORTE ATIVO, 2018), 40,8% apontam a falta de segurança no
trânsito como um problema do dia a dia e 37,8% a falta de infraestrutura, como
apresentado na Figura 2.7, e esses valores se mantêm próximos nas grandes
capitais. Para isso, devem ser desenvolvidos planos de construção de ciclovias,
favorecendo os usuários.
Uma malha densa e bem planejada de estações diminui a distância de
caminhada dos usuários e aumenta a confiabilidade do sistema, promovendo
maior uso. É preciso que os moradores da região participem e entendam os
critérios de escolha das instalações, e que sejam membros ativos nesse
processo.
• Aumentar a média de ciclistas. Para atingir esse objetivo, devem ser criadas
oportunidades para interação entre pessoas e os impulsionadores do sistema
devem chegar até as pessoas, que devem participar dos eventos da região.
Pode ser criado um “time” de embaixadores do movimento composto por
pessoas da região que possuam influência, contratadas para estimular os
moradores e convidá-los a experimentar, como foi feito na divulgação do sistema
na Filadélfia.
Os futuros ciclistas precisam ser ensinados e capacitados. É importante ofertar
aulas comunitárias e gratuitas, em eventos especiais de fim de semana, para
que a comunidade possa aprender em família. Também em eventos pontuais,
33
levando a bicicleta para o ambiente das pessoas, para que seja assimilada como
uma alternativa de mobilidade, não só para lazer. Um dia de bicicleta no trabalho
ou na escola, traz a prática para mais perto das pessoas.
Promover “pedaladas comunitárias” é uma outra forma de atrair pessoas. Podem
ser organizadas pelas próprias associações de moradores ou pelos
elaboradores do sistema, o foco é que as pessoas reconheçam quem está
usando a bicicleta como seu semelhante.
• Aumentar a conscientização e o suporte para o compartilhamento de bicicletas.
É importante construir parcerias com organizações locais, através das quais
pode-se estimular o comércio local, atividades culturais e a oferta de emprego.
Esse tipo de transporte deve ser enxergado como uma estratégia para alavancar
atividades econômicas na região, sendo do interesse de todos de que a
população tenha mais alcance nos deslocamentos. Empresas americanas com
perfil social, de inserção de pessoas no mercado de trabalho, formaram
parcerias com os operadores, permitindo que essas pessoas se locomovam de
graça, ou usem o sistema como fonte de renda (NACTO, 2018).
Para que a população se atente a instalação do sistema, é importante criar
campanhas de marketing que devem ser direcionadas ao público da região. As
imagens utilizadas e a linguagem de comunicação têm que ser familiares, para
que a mensagem de inclusão seja devidamente transmitida.
Essas práticas devem ser avaliadas e podem ser adaptadas para a realidade
das comunidades brasileiras. Sempre visando facilitar o acesso de pessoas de
baixa renda aos sistemas planejados.
3.3. A BICICLETA NAS COMUNIDADES
No ano de 2014 foi lançado o Manual de Projetos e Programas para Incentivar
o Uso de Bicicletas em Comunidades (EMBARQ Brasil, 2014) atualmente The City Fix
Brasil, que é um canal de comunicação de conteúdo do World Resources Institute (WRI)
Brasil. O WRI é um instituto de pesquisa que atua desenvolvendo e implementando
soluções sustentáveis em clima, florestas e cidades.
O manual foi desenvolvido com a finalidade de aumentar o uso de bicicletas no
Rio de Janeiro. O uso do solo das regiões de comunidades apresenta padrão
desordenado, o que gera desafios para a implementação de soluções de mobilidade
urbana. Apesar das condições desfavoráveis para a mobilidade não motorizada, como,
por exemplo, a declividade, 57% dos deslocamentos internos nas comunidades são
34
feitos a pé ou em bicicleta (EMBARQ, 2014). A bicicleta é o veículo mais adquirido por
moradores de comunidades, tendo uma taxa de posse de 33%, mas a grande queixa
dos moradores sobre seu uso é a falta de segurança nas ruas, tanto no interior das
comunidades como no resto da cidade do Rio de Janeiro, sendo as ruas da cidade
consideradas ainda mais inseguras para pedalar. O desejo por uma interface melhor
entre a cidade e a comunidade também ficou evidente na pesquisa. Assim, o uso da
bicicleta deve permitir a integração dos moradores no interior da comunidade e o acesso
a outros pontos da cidade.
Existem itens chave para uma implementação de infraestrutura cicloviária em
comunidades. Primeiro é preciso que o uso seja seguro para os usuários para que a
demanda da população seja atendida. Além disso, deve existir uma parceria com os
moradores durante o processo de construção do projeto.
Existem ações que complementarão a melhoria da infraestrutura nesse processo
de aumento de atratividade ao ciclismo. A ideia é que sejam práticas que levem ao
aumento do uso da bicicleta para torná-la mais prática, fácil e segura, entre elas estão:
● Práticas Educacionais: para fomentar o ciclismo seguro, ensinando como
pedalar de forma defensiva em vias compartilhadas com veículos motorizados,
sobre os equipamentos de segurança adequados para a utilização e como usá-
los, como capacete, luzes, cotoveleiras, entre outros. Aulas sobre manutenção
de bicicletas, sobre os cuidados e como reparar os problemas mais comuns;
● Práticas Sociais: através de alguns programas existentes, como o “Ganhe uma
Bicicleta” (EMBARQ Brasil, 2014), que coleta bicicletas ou peças doadas ou
descartadas e as remonta, para receber uma bicicleta do programa, o morador
deve se voluntariar para aprender a montar uma bicicleta e no final do processo
de montagem, receberá uma bicicleta. Uma variação desse programa é o
“Bicicleta para Estudantes” (EMBARQ Brasil, 2014), que trabalha com o
empréstimo de bicicletas para alunos com a intenção de ensinar sobre cuidado
e responsabilidade. A renovação é obtida com a apresentação do boletim escolar,
com notas suficientemente altas; e
● Práticas Recreativas: permite atrair a população para o uso de bicicletas,
tornando-a mais popular e atraente. Corridas organizadas dentro das
comunidades, que podem ocorrer paralelamente a oficinas de manutenção, são
práticas que valorizam o uso da bicicleta. O evento de ruas abertas, que já
acontece em diversas avenidas da orla da zona sul da cidade do Rio de Janeiro,
nos domingos e feriados, pode-se estender a outras regiões, ou até mesmo ser
ligado de forma mais segura as comunidades existentes nas proximidades. A
35
possibilidade de aluguel diário mais barato durante esses dias ajuda a promover
maior acesso às bicicletas.
3.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS DO CAPÍTULO
A bicicleta pode ser um símbolo de liberdade e oportunidade econômica para
moradores de comunidades, por isso é necessário que o acesso seja mais igualitário.
Devem ser feitas adaptações do sistema atual de compartilhamento de bicicletas da
cidade do Rio de Janeiro para que ele atenda a população das comunidades. A forma
de pagamento costuma ser uma barreira ao acesso, pois exige do usuário uma conta
bancária e um cartão.
Existem alternativas de baixo custo que podem ser aplicadas nessas regiões,
que se baseiam na gestão comunitária do sistema. A manutenção e gestão aconteceria
na própria comunidade, tornando os usuários responsáveis por essas tarefas, e
tornando o custo para utilização mais baixo. O sistema deve sempre promover a
padronização dos modelos de bicicletas, para facilitar o processo de manutenção.
Sendo assim, verifica-se que é possível implementar sistemas de
compartilhamento de bicicletas em comunidades, mas para isso, deve-se levar em
considerações as questões abordadas neste capítulo e fazer um estudo sobre a
localização das estações de compartilhamento de bicicletas.
36
4. METODOLOGIA
Este trabalho utiliza dois modelos matemáticos de localização de facilidades que
tem como objetivo identificar a melhor forma de se posicionar as estações de
compartilhamento de bicicletas entre pontos de demanda identificados no território. Os
modelos são descritos a seguir, juntamente com suas formulações matemáticas. Os
modelos matemáticos foram escritos em uma linguagem matemática e, com o auxílio
de um software de otimização, cenários foram analisados, conforme apresentado no
Capítulo 5.
4.1. MODELOS MATEMÁTICOS DE LOCALIZAÇÃO DE FACILIDADES
Os problemas de localização se originaram nos anos de 1600 com o matemático
Pierre de Fermat, com o propósito de dimensionar e posicionar um serviço em uma
região. Para tal, deve-se levar em consideração a forma de ocupação dessa região e a
sua população, gerando assim soluções que otimizem o atendimento. Com o
crescimento da industrialização, outros pesquisadores, como Alfred Weber,
contribuíram com o desenvolvimento de modelos para localização das indústrias
(BARÃO, KRIPKA e KRIPKA, 2009).
O problema de localização de facilidades busca posicionar dentro de uma rede,
facilidades que devem atender a uma certa população ou clientes, otimizando algum
critério que deve ser estabelecido pela equipe de planejamento. Essa equipe também é
responsável por definir o modelo matemático que será adotado no estudo (FERRI et al.,
2017). As facilidades posicionadas podem ser fábricas, escolas, hospitais, estações de
transporte, ou estações de compartilhamento de bicicletas. Essa forma de solução de
problemas é utilizada nos setores público e privado, para os mais diversos fins.
Para este trabalho são utilizadas diferentes modelagens matemáticas para dois
problemas de localização de facilidades que permitem a localização de unidades de
compartilhamento de bicicleta, formando uma malha dentro do bairro da Maré, Rio de
Janeiro. O cliente desses modelos é a população que reside no local, especificamente
a população acima de dezesseis anos. Análises são realizadas considerando o
problema de localização por cobertura e o problema de localização de máxima cobertura
que buscam minimizar o número de estações instaladas e maximizar a demanda
atendida, respectivamente.
37
4.2. PROBLEMA DE LOCALIZAÇÃO POR COBERTURA
O problema de localização por cobertura busca minimizar o número de estações
de compartilhamento de bicicletas que devem ser instaladas no território para que toda
a demanda seja atendida, cobrindo todos os pontos de demanda identificados. O
número de estações para tal, é função da distância máxima de caminhada pré-
determinada. As estações podem ser instaladas em qualquer um dos pontos de
demanda. Para definição do modelo matemático deste problema, seja 𝑛 o número de
pontos de demanda (que podem ser centroides de bairros). Seja ainda 𝑑𝑖𝑗 ≥ 0 um
parâmetro que representa a distância de caminhada entre os pontos 𝑗 ∈ {1, … , 𝑛} e 𝑖 ∈
{1, … , 𝑛}. Para garantir a cobertura, ou seja, o atendimento, seja 𝑑 uma distância de
caminhada máxima. Assim, considere 𝑎𝑖𝑗 ∈ {0,1} um parâmetro binário. Se 𝑎𝑖𝑗 = 1, uma
facilidade (estação de compartilhamento de bicicletas) localizada no ponto 𝑗 ∈
{1, … , 𝑛} atende o ponto de demanda 𝑖 ∈ {1, … , 𝑛} pois 𝑑𝑖𝑗 ≤ 𝑑, caso contrário, 𝑎𝑖𝑗 = 0.
Observe que o parâmetro 𝑑 representa um raio de cobertura ao redor de uma estação.
Com relação às variáveis de decisão, seja 𝑥𝑗 ∈ {0,1}, 𝑗 ∈ {1, … , 𝑛}, uma variável binária
que se 𝑥𝑗 = 1, uma estação de compartilhamento de bicicletas deve ser instalada no
ponto de demanda 𝑗, caso contrário, 𝑥𝑗 = 0. Com isso, a formulação matemática desse
problema de localização por cobertura está apresentada a seguir.
𝑀𝑖𝑛 ∑ 𝑥𝑗 𝑛𝑗=1 (4.1)
Sujeito a ∑ 𝑎𝑖𝑗𝑥𝑗𝑛𝑗=1 ≥ 1 ∀ 𝑖 = 1, . . . , 𝑛 (4.2)
𝑥𝑗 ∈ {0,1} ∀ 𝑗 = 1, . . . , 𝑛 (4.3)
A Função Objetivo (4.1) busca minimizar o número de estações de
compartilhamento de bicicletas. As Restrições (4.2) garantem que todos os pontos de
demanda identificados serão atendidos por pelo menos uma estação, assegurando o
atendimento de toda a demanda. Por último, as Restrições (4.3) estão associadas ao
domínio das variáveis de decisão.
4.3. PROBLEMA DE LOCALIZAÇÃO DE MÁXIMA COBERTURA
O objetivo do problema de localização de máxima cobertura é localizar um
número determinado 𝑝 de estações de bicicleta que maximiza o atendimento da
demanda, que se encontra dentro de um raio de cobertura das facilidades localizadas.
38
Assim como no modelo definido na Seção 4.2, esse raio compreende a área ao redor
de cada uma das estações que pode ser servida por ela. Assim, além dos parâmetros
definidos para o modelo matemático da Seção 4.2, seja 𝑓𝑖 ≥ 0, 𝑖 ∈ {1, … , 𝑛} , um
parâmetro que indica a população do ponto de demanda 𝑖. Seja ainda 𝑁𝑖 = {𝑗 | 𝑑𝑖𝑗 ≤ 𝑑}
o conjunto de estações de compartilhamento de bicicletas que se encontram a uma
distância menor que 𝑑 do ponto de demanda 𝑖, satisfazendo o critério pré-estabelecido
do raio de cobertura.
Com relação às variáveis de decisão, seja 𝑥𝑗 ∈ {0,1}, 𝑗 ∈ {1, … , 𝑛}, uma variável binária
que neste caso se 𝑥𝑗 = 1 , o ponto de demanda 𝑗 é atendido por uma estação de
compartilhamento de bicicletas, caso contrário, 𝑥𝑗 = 0 . Seja agora 𝑦𝑖 ∈ {0,1} , 𝑖 ∈
{1, … , 𝑛}, uma outra variável binária. Se 𝑦𝑖 = 1, uma estação de compartilhamento de
bicicletas deve ser instalada no ponto de demanda 𝑖 caso contrário, 𝑦𝑖 = 0. Com isso, a
formulação matemática do problema de localização de máxima cobertura é apresentada
a seguir.
𝑀𝑎𝑥 ∑ 𝑦𝑖 𝑛𝑖=1 (4.4)
Sujeito a ∑ 𝑥𝑗𝑗∈𝑁𝑖≥ 𝑦𝑖 ∀ 𝑖 = 1, . . . , 𝑛 (4.5)
∑ 𝑥𝑗 = 𝑝𝑛𝑗=1 ∀ 𝑗 = 1, . . . , 𝑛 (4.6)
𝑥𝑗 ∈ {0,1} ∀ 𝑗 = 1, . . . , 𝑛 (4.7)
𝑦𝑖 ∈ {0,1} ∀ 𝑖 = 1, . . . , 𝑛 (4.8)
A Função Objetivo (4.4) busca maximizar a demanda atendida. As Restrições
(4.5) impõem que a demanda de um ponto só será atendida caso tenha uma estação
de compartilhamento de bicicletas dentro do raio de cobertura determinado. A Restrição
(4.6) fixa em 𝑝 o número de estações que serão posicionadas. Por último, as Restrições
(4.7) e (4.8) estão associadas ao domínio das variáveis de decisão.
Os modelos (4.1) - (4.3) e (4.4) - (4.8) possuem estratégias diferentes. Enquanto
o primeiro garante o atendimento de todos os pontos de demanda, o segundo busca
maximizar a população servida dada uma restrição quanto do número de estações que
podem ser abertas.
Com o uso desses modelos, são apresentados diferentes cenários que
relacionam o número de estações instaladas na região, a distância máxima de
caminhada delimitada com o nível de serviço do sistema, ou seja, o percentual da
população atendida.
Os dois modelos matemáticos descritos neste capítulo foram implementados na
linguagem FICO® Xpress Mosel e o software FICO® Xpress IVE Version 1.25.02 64 bits
39
foi utilizando para resolver os cenários estudados. Todos os testes computacionais
foram realizados em um computador Intel ® Core ™ i7-2630QM (quad-core) CPU @ 2.0
GHz com 8,0 GB de memória RAM e sistema operacional Windows 10 de 64 bits.
40
5. ESTUDO DE CASO: A MARÉ
A cidade do Rio de Janeiro, como muitas outras cidades brasileiras, apresenta
um processo complexo e de longa duração de favelização. Essas regiões são
historicamente marcadas por descaso governamental, ausência de serviços básicos,
como habitações dignas, saneamento e pavimentação, e violência.
Um desses processos mais antigos deu origem a Maré, localizada na zona norte
da cidade, atualmente com quase 130 mil habitantes (IBGE, 2010). Para compreender
a Maré, este capítulo apresenta um breve relato sobre a sua história, bem como algumas
características da região. São apresentados ainda dados sobre os hábitos dos
moradores referentes a mobilidade e um mapeamento da região para identificação de
suas divisões internas, buscando identificar pontos de demanda que serão utilizados
nos modelos apresentados no Capítulo 3.
5.1. HISTÓRICO E CARACTERÍSTICAS
Nos anos 1940, se intensificou o processo migratório em direção às cidades do
Rio de Janeiro e São Paulo, originado principalmente no Nordeste do país (ARAÙJO,
2012). Esse êxodo, impulsionado pela busca de melhores condições, agravou ainda
mais a crise habitacional existente nas cidades.
A partir disso, as comunidades se tornaram uma característica do desenho
urbano das cidades brasileiras, em especial no Rio de Janeiro. No ano de 1950, a cidade
do Rio de Janeiro já contava com uma população de quase 190 mil pessoas habitando
essas regiões, que não eram áreas interessantes ao mercado imobiliário e não
contavam com acesso a serviços básicos.
No caso da Maré, a região já havia sido ocupada por comunidades indígenas,
então foi construído o Porto de Inhaúma no século XVI, mas recebeu seus primeiros
moradores, na configuração de comunidade, na década de 1930, na região do Morro do
Timbau. O desenvolvimento dessa ocupação está diretamente ligado ao crescimento da
cidade do Rio de Janeiro e sua industrialização. A região é designada como área
industrial e em 1946 é construída a “Variante Rio-Petrópolis”, atual Avenida Brasil, que
tinha como objetivo melhorar a ligação entre o centro da cidade e os subúrbios. Muitos
dos trabalhadores da via acabaram se mudando para a região, para estarem mais
próximos do local de trabalho, e acabam se instalando ali. Essa relação foi relatada por
Vieira (1999):
41
“Sem considerar o fato de que em sua construção
trabalharam muitos dos primeiros moradores destas
comunidades, a Avenida Brasil proporcionou o
crescimento de um cinturão industrial às suas
margens, que somado ao isolamento dos terrenos na
orla da Baía de Guanabara e a facilidade de acesso
a tais áreas, criou condições bastante favoráveis
para o surgimento das comunidades da Maré.” (id,
p.50)
A construção da cidade universitária, durante o mesmo período também trouxe
muitos moradores para o território. Em processo similar ao da Avenida Brasil, pela
proximidade a Ilha do Fundão, eles se instalaram e permaneceram na região. Devido a
região ser formada predominantemente de manguezais, as construções eram feitas no
estilo palafitas (veja Figura 5.1), acima do nível da água, assim foi formada a segunda
comunidade, Baixa do Sapateiro. Esse modelo foi seguido por toda área próxima à Baía
de Guanabara.
Com os movimentos de urbanização, principalmente no centro e zona sul, muitas
comunidades foram removidas e direcionadas à Maré. Foi criado então o Projeto-Rio
(1979 - 1982), que tinha como objetivo, o saneamento da orla da Baía de Guanabara.
Nesse período, um terço da população da Maré morava em palafitas. Entre os objetivos,
estavam a criação de regiões paisagísticas e de preservação ecológica.
Foi executada a drenagem e construídos diversos aterros na região, para que
não existissem mais palafitas. O projeto ainda incluiu a regularização dos terrenos, além
da construção de ruas e instalação de redes de abastecimento de água, esgoto e gás.
No ano de 1994, a Maré foi reconhecida como bairro popular, e se tornou a 30ª Região
Administrativa da cidade, através do Decreto de 24/01/1994 (SANTOS, 2005).
42
Figura 5.1 - “Pontes de tábuas” interligando as palafitas da Maré em 1940 (MUSEU DA MARÉ, 2017)
A região então cresceu e, segundo o censo de 2010 do IBGE, a Maré está em
9º lugar no ranking de bairros mais populosos, com aproximadamente 130 mil habitantes
sendo destes, 90.674 em idade ativa (15-64 anos), logo atrás da Barra da Tijuca, com
136 mil sendo 99.385 em idade ativa e de Copacabana com 146 mil, com 98.861 em
idade ativa. Percentualmente, a população economicamente ativa representa 70%, 73%
e 68% dos bairros da Maré, Barra da Tijuca e Copacabana, respectivamente. Nota-se
que que esses percentuais são próximos, o que pode sugerir que esses bairros são
semelhantes, porém ao comparar o índice de desenvolvimento humano de cada um
deles, tem-se 0,722, 0,959, 0,956, para Maré, Barra e Copacabana, respectivamente, o
que demonstra que a Maré tem pouca relação com Barra e Copacabana.
5.2. MOBILIDADE NA MARÉ E OPORTUNIDADES
Os dados socioeconômicos da região da Maré apontam que 94% da população
recebe até 2 salários mínimos (INSTITUTO PEREIRA PASSOS, 2017). Dentre a
população economicamente ativa, 12% possui um carro e habilitação e 81% sabem
43
conduzir uma bicicleta (REDES DA MARÉ, 2015). Isso evidencia um potencial para a
instalação de um sistema de compartilhamento de bicicletas, que permitiria maior
mobilidade à população e melhor qualidade de vida, já que reduz o tempo de
deslocamento e promove a atividade física. Dentre a população entrevistada para a
elaboração da Primeira Amostra de Mobilidade da Maré (REDES DA MARÉ, 2015),
quase 94% afirmou não possuir restrição de saúde ou física para andar de bicicleta ou
a pé, e que 87% afirma que a locomoção na cidade é importante ou muito importante
no dia-a-dia. A pesquisa apontou ainda que 52% da população maior de 16 anos sai da
Maré mais de quatro vezes na semana, e que os motivos principais para a saída são o
trabalho, 47%, compras, acessar serviços ou pagar contas, 18%, e saúde, 11%.
Quanto à locomoção dessa população, foi perguntado aos moradores “Qual(s) e
quantos meios de locomoção o(a) sr(a) utiliza no deslocamento para o bairro ou região
fora da Maré em que circula com mais frequência?” Os resultados, apresentados na
Tabela 5.1, mostram o destaque que ônibus tem para a mobilidade da população. A
partir da localização dos pontos de ônibus exibidos na Figura 6.1, se conclui que muitos
moradores percorrem longos percursos até as vias de acesso aos ônibus. A Tabela 5.2
apresenta o tempo de viagem de ida e volta dos moradores para seus destinos semanais
mais frequentes. Para os destinos fora da Maré, o percentual dos que percorrem trechos
a pé por mais de 15 minutos em seus deslocamentos é de 66%.
Tabela 5.1 - Percentual de utilização de modos de transporte para o principal destino ao sair da Maré (TRANSPORTE ATIVO, 2015)
Veículo %
Ônibus 57,2
Kombi / Van 24,7
Carro 13,1
Bicicleta 2,4
Mototáxi 1,1
Metrô 0,3
Trem 0,3
Não Especificaram 3,0
Não utilizam 6,4
A partir desses resultados, nota-se que o modo de transporte mais utilizado para
saída da Maré é o ônibus. O acesso aos ônibus pelos moradores é feito pela Avenida
Brasil e Linha Amarela, como será apresentado na Seção 4.3 de identificação territorial.
Esse acesso pode ser dificultado pela distância de tais vias às residências dos
moradores. Esse dado, é um dos impulsionadores para este trabalho, já que tem como
um de seus objetivos, a conexão intermodal com o transporte público urbano já existente.
44
Tabela 5.2 - Tempo de viagem dos moradores da Maré, maiores de 16 anos para seu destino semanal mais frequente (REDES DA MARÉ, 2015)
Tempo utilizado na ida % Tempo utilizado na volta %
Menos de 5 min 0,4 Menos de 5 min 0,2
Em torno de 5 min 1,7 Em torno de 5 min 1,4
Em torno de 10 min 8,5 Em torno de 10 min 7,1
Em torno de 15 min 6,8 Em torno de 15 min 6,9
Em torno de 20 min 16,4 Em torno de 20 min 16,6
Em torno de 25 min 3,1 Em torno de 25 min 3,5
Em torno de 30 min 19,0 Em torno de 30 min 16,3
Em torno de 45 min 15,7 Em torno de 45 min 15,1
Em torno de 1 h 12,8 Em torno de 1 h 13,9
Em torno de 1 h e 30 min 7,5 Em torno de 1 h e 30 min 8,4
Em torno de 2 h 5,1 Em torno de 2 h 6,7
Mais de 2 h 1,5 Mais de 2 h 2,6
Não informaram 1,4 Não informaram 1,4
Total 100 Total 100
Foi perguntado aos que não usam bicicletas como meio de transporte, se teriam
interesse em usá-las em substituição ao meio de transporte atual utilizado pelos
entrevistados, ou seja, não como meio de transporte complementar. Como resposta,
verificou-se que 26% teriam interesse e 72% não teriam, lembrando que essa pergunta
tinha como objetivo saber se os moradores tinham interesse de substituir o modo de
transporte utilizado pela bicicleta, não como um complemento. As justificativas para os
que indicaram substituição estão na Tabela 5.3. A Tabela 5.4 destaca os motivos
apresentados por aqueles moradores que não a substituição.
Tabela 5.3 - Justificativas para substituir o meio de transporte atual pela bicicleta. (REDES DA MARÉ, 2015)
Justificativa %
Porque se deslocaria com mais rapidez / Agilidade 45,9
Porque é uma forma de se exercitar / É saudável 25,1
Porque é econômico 9,5
Porque gosta / É prazeroso 9,0
Porque é ecológico / É sustentável 5,2
Porque facilita a mobilidade / É mais prático 5,1
Porque evitaria o trânsito 4,5
Porque serve para trajetos curtos 4,4
Porque seria mais seguro 1,3
Porque percorre longas distância(s) 0,9
Porque levaria objetos de trabalho ou mercadoria 0,1
Nota-se pela Tabela 5.3 que a economia de tempo no transporte é a maior
motivação para a substituição pela bicicleta. Segundo pesquisa realizada na cidade de
São Paulo no ano de 2017 pelo Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, se os
45
paulistanos substituíssem automóveis por bicicleta, 26% das viagens seriam feitas mais
rápidas. Foi identificado que 11% das viagens realizadas em automóveis têm distância
menor do que 8 km, considerado pela pesquisa um trajeto de fácil deslocamento por
bicicleta. O tempo economizado com essa substituição é em média 9 minutos por
pessoa por dia, resultando um ganho de produtividade de R$ 0,12 a mais no PIB por
pessoa, o que representa R$ 18,7 milhões para a cidade em um cenário de 1 a 3 anos.
Quanto a viagens feitas por ônibus, 11% têm até 8 km, e 45% delas seriam mais rápidas
quando feitas por bicicleta. A economia seria em média de 19 minutos por pessoa, por
dia, com um aumento de produtividade de R$ 0,25 a mais no PIB por pessoa.
Resultando para a cidade um aumento de R$ 624 milhões entre 1 e 3 anos.
Tabela 5.4 - Justificativas para não substituir o meio de transporte atual pela
bicicleta. (REDES DA MARÉ, 2015)
Justificativa %
Porque percorre longas distâncias 30,6
Porque o trânsito oferece riscos / Tem medo / Acha perigoso 14,6
Porque não sabe conduzir ou não conduz com destreza 14,3
Porque não gosta / Acha desconfortável ou cansativo / Não quer 10,8
Por causa da saúde / Limites físicos / Idade 6,1
Porque falta(m) ciclovia(s) e/ou bicicletário(s) 5,5
Porque não contempla sua necessidade / A mobilidade é limitada 5,3
Porque prefere utilizar carro ou motocicleta 3,8
Porque não possui bicicleta ou equipamento adequado 2,6
Porque prefere utilizar ônibus / Transporte Alternativo 1,6
Porque prefere caminhar 1,4
Porque se desloca com criança 1,1
Porque tem medo de assaltos ou da violência em geral 1,1
Porque se desloca com objetos de trabalho ou mercadorias 1,0
Porque despenderia mais tempo 0,6
Considerando agora a Tabela 5.4, algumas das práticas apresentadas no
Capítulo 2 podem ajudar a reverter este cenário como, por exemplo, aulas gratuitas para
ensinar e dar mais confiança aos ciclistas. E também o reforço da ideia de que o sistema
pode ser um complemento a outros modos de transporte e não somente a substituição.
Quanto a circulação no interior da Maré, 75% afirmam que circulam em outras
comunidades que não a sua e 62% afirmam usar alguma forma de transporte alternativo
no interior no bairro, como van ou moto táxi. Os principais motivos para o deslocamento
interno são: encontrar amigos, 35%, compras, serviços ou pagar contas, 22%, trabalho
10%, visitas e lazer, 8%. Perguntou-se ainda quais os principais desafios para a
locomoção no interior da Maré e as respostas estão na Tabela 5.5.
46
Tabela 5.5 - Obstáculos enfrentados para locomoção interna na Maré (REDES DA MARÉ, 2015)
Dificuldade / Obstáculo %
Problemas relacionados à urbanização das vias (pavimentação das calçadas e ruas, saneamento básico, enchentes, obras inacabadas etc.)
40,4
Problemas relacionados à segurança pública (violência, armas, tensão com a presença do exército)
31,1
Problemas relacionados ao trânsito de veículos nas ruas (excesso de carros e motos, ruas estreitas, excesso de velocidade, estacionamento irregular etc.)
16,1
Problemas relacionados à circulação dos pedestres (calçadas ocupadas, ruas cheias etc.)
13,3
Problemas relacionados ao transporte público (falta de transporte, ilegalidade do transporte alternativo etc.)
7,9
Limitações pessoais (cadeira de rodas, problemas de saúde etc.) 3,7
Não informaram 2,9
A partir das respostas encontradas, nota-se que existem diversos serviços que
devem acompanhar a chegada do compartilhamento de bicicletas a essa região. Esse
sistema, por sua vez, pode trazer mais segurança aos moradores, por permitir
deslocamentos internos mais fáceis, reduzindo a necessidade de transitar com
automóvel, ou alguma forma de transporte não regulamentado.
5.3. IDENTIFICAÇÃO TERRITORIAL E DEFINIÇÃO DOS PONTOS DE DEMANDA
A Maré está situada entre duas das principais vias da cidade do Rio de Janeiro,
A Avenida Brasil e a Linha Vermelha. O complexo é formado por mais de 40 mil
domicílios construídos, distribuídos em 16 comunidades diferentes: Marcílio Dias, Praia
de Ramos, Roquete Pinto, Parque União, Rubens Vaz, Nova Holanda, Parque Maré,
Nova Maré, Baixa do Sapateiro, Morro do Timbau, Bento Ribeiro Dantas, Conjunto
Pinheiros, Vila dos Pinheiros, Novo Pinheiros, Vila do João e Conjunto Esperança. A
Figura 5.2 apresenta a localização da Maré no contexto da cidade do Rio de Janeiro, e
a Figura 5.3, suas divisões internas.
47
Figura 5.2 - Localização do bairro da Maré (GOOGLE MAPS, 2019)
Figura 5.3 - Divisão de comunidades da Maré (REDES DA MARÉ, 2014)
As divisões internas foram utilizadas para a localização dos pontos de demanda
que são os candidatos a receber a instalação de uma estação de compartilhamento de
bicicletas. O posicionamento desses pontos segue a numeração apresentada na Figura
48
5.3 e foram escolhidos geograficamente de acordo com o centro de cada polígono
representativo.
Como um sistema de compartilhamento de bicicletas tem como um de seus
objetivos, a integração com o transporte público da cidade, é importante mapear os
modos de transporte urbano utilizados pelos moradores do território para projetar uma
malha de estações do sistema que permita essa integração dos usuários, facilitando o
acesso a outras regiões da cidade
Saindo do Centro em direção à Zona Norte, o trecho da Avenida Brasil que
percorre o limite oeste do território estudado conta com 10 pontos de ônibus, sendo eles:
Avenida Brasil - Fiocruz, Avenida Brasil - Passarela 06 (Vila Do João), Avenida Brasil -
Passarela 07, Avenida Brasil - Passarela 08, Avenida Brasil - Passarela 09 (Nova
Holanda), Avenida Brasil - Passarela 10, Avenida Brasil - Parque União, Avenida Brasil
- Passarela 11, Avenida Brasil
- Passarela 12 e Avenida Brasil - Passarela 13.
Já o sentido oposto, no mesmo trecho, ainda na Avenida Brasil, existem 7 pontos
de ônibus, Avenida Brasil - Passarela 13, Avenida Brasil - Passarela 12, Avenida Brasil
- Passarela 11, Avenida Brasil - Passarela 10 (Linhas Municipais Zona Norte /
Intermunicipais), Avenida Brasil - Passarela 08, Avenida Brasil - Passarela 07, Avenida
Brasil - Fiocruz
Dentro do território da Maré existe uma estação da linha do BRT Transcarioca,
localizada na Av. Brigadeiro Trompowski próximo ao número 580. Essa linha dá acesso
a pontos importantes da cidade, como o Aeroporto Galeão, a Cidade Universitária,
chegando até ao Terminal Alvorada na Barra da Tijuca, passando por diversos bairros,
permitindo ainda a integração com o Metrô Rio na estação Vicente de Carvalho.
Assim, a partir das informações apresentadas, a Tabela 5.6 apresenta os pontos
de demanda que devem ser considerados pelos modelos matemáticos. Como o modelo
de localização de máxima cobertura leva em consideração a demanda do local para
priorizar o posicionamento da estação, a partir subdivisões internas apresentadas na
Figura 5.3, considera-se a população de cada comunidade (REDES DA MARÉ, 2015).
O público alvo do sistema é a população jovem e adulta, por isso, a população
identificada como relevante para os modelos é a maior de 16 anos, indicada na Tabela
5.6. Como houve a divisão da Vila Pinheiro entre Vila Pinheiro e Vila Pinheiro (Parque
Ecológico) no Guia de Ruas da Maré (REDES DA MARÉ, 2014), a população e o
número de domicílios foi dividido igualmente entre os dois.
49
Tabela 5.6 - Pontos de demanda e população considerados no processo de localização de estações de compartilhamento. (REDES DA MARÉ, 2015)
Nº Identificação Nome População Domicílios
1 Conjunto Esperança 4146 1870
2 Vila do João 9881 4435
3 Conjunto Pinheiro 3091 1337
4 Vila Pinheiro 5486 1812
5 Vila Pinheiro (Parque Ecológico) 5486 1812
6 Novo Pinheiro 4843 2021
7 Bento Ribeiro Dantas 2494 719
8 Morro do Timbau 4821 1964
9 Baixa do Sapateiro 5864 2617
10 Nova Maré 1976 850
11 Parque Maré 8920 4018
12 Nova Holanda 10964 4085
13 Parque Rubens Vaz 3931 1710
14 Parque União 14713 6621
15 Roquete Pinto 5323 2382
16 Praia de Ramos 2185 932
17 Avenida Brasil - Fiocruz - -
18 Avenida Brasil - Passarela 06 (Vila Do João) - -
19 Avenida Brasil - Passarela 07 - -
20 Avenida Brasil - Passarela 08 - -
21 Avenida Brasil - Passarela 09 (Nova Holanda) - -
22 Avenida Brasil - Passarela 10 - -
23 Avenida Brasil - Parque União - -
24 Avenida Brasil - Passarela 11 - -
25 Avenida Brasil - Passarela 12 - -
26 Avenida Brasil - Passarela 13 - -
27 BRT Maré - -
28 Linha Amarela - Vila do Pinheiro - -
29 Linha Amarela - Vila do João - -
50
6. APRESENTAÇÃO DE RESULTADOS
A partir da identificação territorial e definição dos pontos de demanda,
apresentados no Capítulo 4, este capítulo apresenta resultados do processo de
localização de estações e compartilhamento de bicicletas para a Maré.
Como mostrado no capítulo anterior, considerou-se 29 pontos elegíveis para
receberem estações, sendo que 16 estão localizados no interior do bairro, um para cada
comunidade, com a exceção de Marcílio Dias por ser uma comunidade muito afastada,
e 13 de conexão com transporte público, sendo 10 localizados na Avenida Brasil, dois
na Linha Amarela e um na estação de BRT Maré. A Figura 6.1 apresenta
geograficamente esses pontos que estão de acordo com a Tabela 5.6.
Como os modelos matemáticos do Capítulo 3 necessitam das distâncias de
caminhada entre esses vinte e nove pontos possíveis para instalação de estações, com
apoio do Google Maps, foi criada uma matriz de distância.
Figura 6.1 - Localização dos pontos que podem receber estações de
compartilhamento de bicicletas para atender à população do Bairro da Maré.
51
6.1. ANÁLISE DOS RESULTADOS
Os resultados obtidos pelos modelos utilizados permitem a construção de curvas
que auxiliam na avaliação do nível de atendimento alcançado pelo sistema instalado,
em relação ao número de estações abertas.
Para o modelo matemático do problema de localização por cobertura, foi feita a
análise da relação entre a distância máxima de caminhada estipulada (raio de cobertura)
e a quantidade de estações necessária para atender todos os pontos de demanda.
Variou-se essa distância máxima entre 200 e 1000 metros, com intervalos de 100 metros.
Como resultado, o número de estações variou entre 4 e 28, sendo que estes limites
correspondem às distâncias limites de 1000 e 200 metros, respectivamente.
Para cada cenário analisado, considerou-se importante apresentar a distância
média de caminhada obtida, com um desvio padrão de 10%, valor calculado a partir da
matriz de distâncias elaborada para o cálculo computacional dos modelos, levando em
consideração todos os trajetos entre as estações instaladas e os pontos atendidos por
elas.
Figura 6.2 - Resultado do processo de localização considerando o problema de
localização por cobertura
A Figura 6.2 apresenta os resultados encontrados. Nota-se que, quanto maior a
distância caminhável, menos estações são necessárias para cobrir a área, e que a partir
dos 600 metros, o acréscimo de uma estação já permite uma solução que atenda todo
o território, ainda que 5 estações podem ser dispostas de modo a permitir 800 ou 900
metros de caminhada, sendo preferível o menor valor de caminhada.
A distância média de caminhada é sempre inferior ao valor máximo possível, já
que para que o atendimento ocorra, as estações ao redor devem estar em um raio
52
inferior, e a distância entre uma estação e sua própria região de atendimento é
considerada nula. Nota-se também, na Figura 6.2, que a partir de oito estações, as
curvas apresentam um novo comportamento, similar entre a distância máxima e média,
já que é necessário um aumento significativo de estações para cobrir o território quando
a distância máxima de caminhada é inferior a 600 metros. A distância mínima de
caminhada apresentada não leva em consideração o atendimento da estação à sua
própria região.
Para o modelo de localização de máxima cobertura, são comparadas duas
realidades diferentes, com resultados apresentados graficamente nas Figuras 6.3 e 6.4.
A primeira fixa em pelo menos três o número de estações de compartilhamento que
devem ser instaladas junto a pontos de ônibus. Quando o número de instalações for
menor que três, todas serão obrigatoriamente posicionadas em pontos de ônibus.
A segunda parte do mesmo princípio de pelo menos três estações junto a pontos
de ônibus, mas fixa uma dessas estações no ponto que corresponde ao BRT – Maré. A
ideia é avaliar o atendimento a região e a influência que o posicionamento da estação
no BRT – Maré causa ao atendimento.
O atendimento a demanda é avaliado para distâncias máximas de caminhada
fixas em 400, 600, 800 e 1000 metros. O número de instalações variou entre 0 e 13.
Assim como nos resultados do modelo de localização por cobertura, a distância média
de caminhada obtida em cada cenário é analisada.
A Figura 6.3 apresenta o atendimento quando três estações são fixadas em
pontos de ônibus. Fica evidente que quanto maior a distância máxima de caminhada,
menos estações são necessárias para cobrir o território. O comportamento das curvas
muda quando é adicionada a quarta estação, tendo um salto no percentual de
atendimento, e em seguida elas se mantêm com um crescimento estável.
A Figura 6.4 apresenta os resultados ao ser fixada uma estação de
compartilhamento de bicicletas na Estação BRT-Maré. Verifica-se o mesmo
comportamento da Figura 6.3. A partir da quarta estação, o percentual de atendimento
dos dois cenários se aproxima, com exceção do caso de 1000 metros e 4 estações que
se tem uma variação de 7% na cobertura da população.
53
População atendida
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13
400 m 0% 16% 22% 24% 41% 57% 67% 77% 82% 88% 92% 95% 98% 100%
600 m 0% 20% 31% 42% 65% 87% 96% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
800 m 0% 31% 49% 64% 88% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
1000 m 0% 47% 70% 78% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
Figura 6.3 - Resultado do processo de localização considerando o problema de
localização de máxima cobertura sendo que três estações de compartilhamento estão localizadas em pontos de ônibus
População atendida
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13
400 m 0% 0% 16% 22% 40% 57% 67% 77% 82% 88% 92% 95% 98% 100%
600 m 0% 16% 27% 37% 63% 85% 93% 98% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
800 m 0% 16% 43% 58% 84% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
1000 m 0% 20% 47% 70% 93% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
Figura 6.4 - Resultado do processo de localização considerando o problema de
localização de máxima cobertura sendo que uma estação deve estar posicionada na Estação BRT-Maré
54
6.2. AVALIAÇÃO ESPACIAL DO ATENDIMENTO
A partir das soluções encontradas pelos modelos matemáticos apresentadas na
Seção 6.1, cinco cenários foram selecionados para avaliar espacialmente a localização
definida das estações de compartilhamento de bicicletas. A escolha dos cenários para
o modelo de localização por cobertura foi feita a partir no nível de conforto da caminhada
dos usuários para ter acesso ao sistema (600 e 800 m). Assim, a partir dos resultados
encontrados, foram mantidas as distâncias para o modelo de localização de máxima
cobertura, a fim de permitir comparação. Utilizou-se a base de resultados de número de
estações encontradas pelo primeiro modelo para fixar o número de estações do
segundo.
Para o modelo de localização por cobertura foram definidas duas distâncias
máximas caminháveis: 600 m e 800 m, que correspondem, aproximadamente, a 7 e 10
minutos de caminhada, respectivamente.
Para o modelo de localização de máxima cobertura, foram selecionados três
cenários: um com distância máxima de caminhada de 600 m e pelo menos três estações
em pontos de ônibus; outro que igual ao anterior mas como uma estação de
compartilhamento localizada na Estação BRT-Maré; e o último com distância máxima
de caminhada de 800m com pelo menos três estações em pontos de ônibus.
Resumindo e nomeando os cenários, os seguintes cenários foram selecionados:
A. Cenário 1: Modelo de localização por cobertura com 𝑑 = 600 m;
B. Cenário 2: Modelo de localização por cobertura com 𝑑 = 800 m;
C. Cenário 3: Modelo de máxima cobertura com 𝑑 = 600 m e 𝑝 = 6 (com pelo
menos três estações em pontos de ônibus);
D. Cenário 4: Modelo de máxima cobertura com 𝑑 = 600 m e 𝑝 = 6 (com pelo
menos três estações em pontos e com a estação BRT-Maré pré-
selecionada); e
E. Cenário 5: Modelo de máxima cobertura com 𝑑 = 800 m e 𝑝 = 5 (com pelo
menos três estações em pontos de ônibus).
Os resultados espaciais encontrados são apresentados a seguir para cada um
dos cenários selecionados.
55
Cenário 1: Modelo de localização por cobertura com 𝑑 = 600 m
A Figura 6.5 apresenta a localização espacial e a cobertura de cada uma das
estações de compartilhamento de bicicletas. Para o raio de cobertura de 600 m, são
necessárias oito estações para atender todos pontos e demanda
Figura 6.5 - Mapa de distribuição e cobertura de estações do Cenário 1
Cenário 2: Modelo de localização por cobertura com 𝑑 = 800 m
Quando o raio de cobertura aumenta para 800m, nota-se que apenas cinco
estações são necessárias para atender a todos os pontos de demanda, veja Figura 6.6.
Ao comparar diretamente as Figuras 6.5 e 6.6, pode-se perceber mudanças
significativas de localização e de atendimento no centro e mais abaixo do Bairro da Maré.
56
Figura 6.6 - Mapa de distribuição e cobertura de estações do cenário 2
Cenário 3: Modelo de máxima cobertura com 𝑑 = 600 m e 𝑝 = 6 (com pelo menos três
estações em pontos de ônibus)
Nesse cenário, como o modelo matemático do problema de máxima cobertura
busca maximizar o atendimento da demanda, com um número fixo de estações, existem
pontos que não serão atendidos pelo sistema. Neste cenário, percebe-se que as
estações foram posicionadas de tal forma que o sistema é capaz de atender a 96% da
demanda.
Note que os pontos 1, 17, 18, 27 e 29 que correspondem, respectivamente, ao
Conjunto Esperança, a Avenida Brasil - Fiocruz, a Avenida Brasil - Passarela 06 (Vila
Do João), BRT Maré e Linha Amarela - Vila do João, não são cobertos pelo sistema.
57
Figura 6.7 - Mapa de distribuição e cobertura de estações do Cenário 3
Cenário 4: Modelo de máxima cobertura com 𝑑 = 600m e 𝑝 = 6 (com pelo menos três
estações em pontos de ônibus e com a estação BRT-Maré pré-selecionada)
Neste cenário, as estações foram posicionadas de tal forma que o sistema é
capaz de atender a 93% da demanda. Note que os pontos 1, 10, 17, 18, 22 e 29 que
correspondem, respectivamente, ao Conjunto Esperança, Nova Maré, Avenida Brasil -
Fiocruz, Avenida Brasil - Passarela 06 (Vila do João), Avenida Brasil - Passarela 10 e
Linha Amarela - Vila do João, não são cobertos pelo sistema.
Apesar da diferença de apenas 3% de cobertura entre este cenário e o anterior,
nota-se que o posicionamento da estação no ponto 27, BRT - Maré, para 600 m de
caminhada não reflete um bom atendimento para o território, já que não se mostra
centralizado entre pontos atendidos. É possível que essa estação apresente um
acentuado movimento pendular (casa-trabalho), não sendo favorável a distribuição de
bicicletas na área.
58
Figura 6.8 - Mapa de distribuição e cobertura de estações do Cenário 4
Cenário 5: Modelo de máxima cobertura com 𝑑 = 800m e 𝑝 = 5 (pelo menos três
estações em pontos de ônibus)
Neste cenário, as estações de compartilhamento de bicicletas foram
posicionadas de tal forma que o sistema é capaz de atender a 100% da demanda. Note
que os pontos 19, 20 22 e 29 que correspondem, respectivamente, a Avenida Brasil -
Passarela 07, Avenida Brasil - Passarela 08, Avenida Brasil - Passarela 10 e Linha
Amarela - Vila do João, não são cobertos pelo sistema. O não atendimento a tais pontos
não influencia o percentual de demanda atendida pelo fato de que não foi atribuído aos
pontos referentes a pontos de ônibus um valor de demanda.
59
Figura 6.9 - Mapa de distribuição e cobertura de estações do cenário 5
A partir dos resultados encontrados, nota-se que o território pode ser coberto
com um número consideravelmente baixo de estações. Vale ressaltar que quanto
menos alterações são feitas nos modelos, como o fato de impor estações em pontos de
ônibus, melhor será a distribuição territorial. Essas alterações foram feitas a fim de
permitir conexões entre o sistema de compartilhamento de bicicletas e os modos de
transporte público da cidade para melhor atender os moradores.
A Tabela 6.1 apresenta a consolidação dos resultados encontrados nos cenários
propostos deste trabalho, o atendimento em todos os casos se mostra satisfatórios com
uma quantidade pequena de estações sendo posicionadas, indicando então um baixo
investimento inicial do projeto. Vale lembrar que a partir de novos estudos, o
crescimento do sistema é aconselhado, tendo então os resultados de uma instalação
prévia.
60
Tabela 6.1 – Quadro comparativo dos cenários propostos
Cenário Modelo Número de Estações
Raio de Cobertura
Atendimento a demanda
1 Localização por Cobertura 8 600 100%
2 Localização por Cobertura 5 800 100%
3 Localização de Máxima Cobertura 6 600 93%
4 Localização de Máxima Cobertura 6 600 96%
5 Localização de Máxima Cobertura 5 800 100%
61
7. CONCLUSÕES FINAIS E PROPOSTAS PARA TRABALHOS FUTUROS
A partir dos exemplos apresentados de cidades estadunidenses ficam evidentes
a viabilidade e a relevância da extensão dos sistemas de compartilhamento de bicicletas
para regiões de menor concentração de renda das cidades. Apesar
Este trabalho teve como motivação o desconforto perante a segregação
socioespacial histórica existente no Brasil onde bairros vizinhos muitas vezes
apresentam realidades extremamente diferentes. A partir disso, buscou-se apresentar
uma solução de mobilidade urbana para o Bairro da Maré, Rio de Janeiro, que permite
aos seus moradores uma melhor forma de deslocamento com o uso de bicicletas
compartilhadas. Para tal, primeiro apresentou-se o panorama histórico mundial e
brasileiro do desenvolvimento deste modo de transporte. Pela comparação dos mapas
do sistema de compartilhamento de bicicletas Bike Itaú com os mapas de concentração
de renda das cidades do Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador e Porto Alegre, observou-
se a tendência de instalação nas regiões de maior poder aquisitivo.
Esse padrão existe em muitos outros países, por isso, foram apresentados
pesquisas estadunidenses que apontavam para essa realidade. Diversas cidades ao se
atentarem para este fato, começaram a desenvolver projetos buscando tornar o acesso
às bicicletas compartilhadas mais democrático. Neste sentido, ressalta-se a cidade da
Filadélfia que teve seu sistema instalado já com o objetivo de ser “o sistema de
compartilhamento de bicicletas mais equitativo” (SHELLER, 2015). A partir dos
exemplos apresentados, ficam evidentes a viabilidade e a relevância de práticas que
promovam a integração da população das regiões de menor concentração de renda das
cidades. Sendo essas regiões, em geral, as que sofrem com o mau atendimento ou
ausência do transporte público urbano. Apesar de realidades diferentes dos subúrbios
estadunidenses, as boas práticas devem ser adaptadas, para que da mesma forma, se
obtenha bons resultados no Brasil.
Para entender o perfil e hábitos dos ciclistas brasileiros, utilizou-se pesquisas
feitas em cidades em todo o país. Foram apresentados as motivações e desafios
encontrados na cidade do Rio de Janeiro. Os resultados das pesquisas se relacionam
com algumas das medidas propostas nos documentos apresentados, o estadunidense,
que catalogou as iniciativas sociais nos sistemas em suas cidades, e o brasileiro, que
apresentou práticas educacionais, sociais e recreativas que complementam a melhoria
de infraestrutura para estimular o ciclismo.
O estudo de caso foi direcionado ao Bairro da Maré que sofre com a ausência
de infraestrutura e serviços, e com o descaso das autoridades públicas desde sua
origem quando ainda era um mangue ocupado por palafitas. Atualmente a região é
62
habitada por quase 130 mil pessoas, um dos bairros mais populosos da cidade. Foram
apresentadas características sobre mobilidade na região e os principais desafios
enfrentados pelos habitantes. As justificativas para substituir ou não o meio de
transporte atual pela bicicleta evidencia diversas oportunidades que podem ser
exploradas para o sucesso do trabalho.
Com o objetivo de identificar pontos estratégicos para o posicionamento das
estações, foi apresentado o mapa das subdivisões internas do território em suas
comunidades. Os pontos escolhidos, então, foram os centroides das figuras formadas
pelas divisões. Como um dos objetivos específicos do trabalho era a promoção de
conexão com o transporte público da cidade, foram identificados os pontos de ônibus e
BRT vizinhos ao território.
Para obter resultados otimizados, foram utilizados diferentes modelos de
localização de facilidades que apontam em quais posições devem ser instaladas as
estações. Esses modelos foram escritos na linguagem computacional Mosel e os
resultados foram apresentados em forma de gráficos que indicavam a capacidade de
atendimento a demanda. Foram propostos alguns cenários específicos, que então foram
apresentados em forma de mapa com a finalidade de comparação. A escolha de tais
cenários foi feita com a intenção de conciliar a cobertura da área, a distância de
caminhada agradável e um número razoável de estações.
Alguns assuntos relevantes, todavia, não foram abordados neste trabalho. A
região, como muitas comunidades do Rio de Janeiro, apresenta sérios problemas
quanto a segurança pública. A presença do poder paralelo gera incertezas, tanto na
possibilidade de localização das estações, quanto na durabilidade das instalações e
bicicletas. O que se torna um agravante na busca por investidores, públicos ou privados.
A forma com que a integração com outros modos de transporte pode ser
realizada também deve ser mais bem analisada. Uma vez que os moradores da região
possuem baixo poder aquisitivo, ressalta-se a importância de que o sistema seja
financeiramente acessível. Até então as modalidades de bilhetes existentes na cidade
não contemplam integração tarifária com o atual sistema de compartilhamento BikeRio,
e apenas em algumas modalidades de integração é aplicado desconto. Essa é uma
questão importante a ser estudada para que o sistema de compartilhamento tenha
sucesso.
O agravante da segurança pública acabou por impedir uma fase importante do
processo que é o reconhecimento territorial. Com isso, infelizmente visitas não foram
feitas à região. Uma das premissas apresentadas por grupos de pesquisa que
buscavam tornar o compartilhamento de bicicletas mais acessível é a presença no local
63
e a convocação para reuniões. Nessas reuniões é possível escutar as necessidades e
as demandas dos moradores.
Neste sentido recomenda-se pesquisas futuras que contemplem pesquisas de
campo na localidade em questão, com desenvolvimento de questionários que seriam
aplicados buscando compreender melhor a realidade dos moradores. Os resultados
encontrados permitem que a localização das estações de fato atenda à população, com
isso aumentando as taxas de uso do sistema. Ainda um estudo mais detalhado sobre a
viabilidade econômica deste projeto dos custos de implementação e manutenção, e da
forma de arrecadação.
64
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRADE, V., RODRIGUES, J., MARINO, F., LOBO, ZÉ., Mobilidade por bicicleta
no Brasil, 1 ed., Rio de Janeiro, PROURB/UFRJ, 2016.
ARAÚJO, H. M. M., Museu da Maré: Entre Educação, Memórias e Identidades, Tese
de Doutorado, PUC-Rio, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 2012.
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE OFICIAIS DE TRANSPORTE DA CIDADE NACTO.,
BEDFORD STUYVESANT RESTORATION CORPORATION., Bringing equitable bike
share to bed-study, Nova York, 2017. Disponível em: <https://restorationplaza.org/wp-
content/uploads/Restoration-NACTO_BikeShareEquity_Report_WEB_FINAL.pdf>.
Acesso em: 13 de agosto de 2019.
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE OFICIAIS DE TRANSPORTE DA CIDADE NACTO.,
Bike Share in the US: 2010-2016, Nova York, 2017. Disponível em:
<https://nacto.org/bike-share-statistics-2016/>. Acesso em: 13 de agosto de 2019.
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE OFICIAIS DE TRANSPORTE DA CIDADE NACTO.,
Strategies for engaging community, Nova York, 2018. Disponível em:
<https://nacto.org/wp-content/uploads/2018/09/NACTO_BBSP_2018_Strategies-for-
Engaging-Community.pdf>. Acesso em: 13 de agosto de 2019.
DE MAIO, P., “Bike-sharing: History, Impacts, Models of Provision, and Future”, Journal
of Public Transportation, v. 12, n. 4, pp. 41- 56, 2009.
EMBARQ BRASIL., Manual de Projetos e Programas para Incentivar o Uso De
Bicicletas em Comunidades, 2ª Edição, Rio de Janeiro, 2014. Disponível em:
<https://wribrasil.org.br/pt/publicacoes/manual-de-projetos-e-programas-para-
incentivar-o-uso-de-bicicletas-em-comunidades>. Acesso em: 13 de agosto de 2019.
INSTITUTO DE POLÍTICAS DE TRANSPORTE E DESENVOLVIMENTO ITDP BRASIL,
Financiamento e administração de sistemas públicos de bicicletas
compartilhadas, Rio de Janeiro, v. 1, janeiro 2018. Disponível em:
<http://www.itdpbrasil.org.br/wp-
content/uploads/2018/01/ITDP_TA_Financiamento_Bicicletas_Compartilhadas_Jan_20
18-2.pdf>. Acesso em: 13 de agosto de 2019.
65
INSTITUTO DE POLÍTICAS DE TRANSPORTE E DESENVOLVIMENTO ITDP BRASIL,
Guia de planejamento de sistemas de bicicletas compartilhadas, Rio de Janeiro,
2014. Disponível em: <https://itdpbrasil.org.br/guia-de-planejamento-de-sistemas-de-
bicicletas-compartilhadas/>. Acesso em: 13 de agosto de 2019.
INSTITUTO DE POLÍTICAS DE TRANSPORTE E DESENVOLVIMENTO ITDP BRASIL,
Sistemas de bicicletas compartilhadas em Belo Horizonte, Distrito Federal, Rio de
Janeiro e São Paulo, Rio de Janeiro, 2016. Disponível em: <https://itdpbrasil.org/bike-
share-2016/>. Acesso em: 13 de agosto de 2019.
JAFFE, E., “Yet More Evidence Bike-Share Isn't Reaching the Poor”, Citylab, 2016.
Disponível em: <https://www.citylab.com/equity/2016/01/bike-share-poor-equity-
transit/424656/>. Acesso em: 13 de agosto de 2019.
LIMA, G. C. L. S., OLIVEIRA, G. T., BAHIENSE, L., “Otimização na Instalação de
Sistema de Bicicletas Compartilhadas para a Cidade Universitária da UFRJ”, 32º
Congresso de Pesquisa e Ensino em Transporte da ANPET, 2018.
MACHADO, R. L. C. M., Análise de Soluções Alternativas para Mobilidade Urbana
na Cidade do Rio de Janeiro. Projeto de Graduação, UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil,
2016.
MAPA, S. M. S., LIMA, R. S., “Uso Combinado de Sistemas de Informações Geográficas
para Transportes e Programação Linear Inteira Mista em Problemas de Localização de
Instalações”, Gestão e Produção, São Carlos, v. 19, n. 1, p. 119-136, 2012.
MARIJISSE, S., “Um Mergulho na História: O Nascimento e Formação do Complexo da
Maré”, Rio On Watch, Rio de Janeiro, 2017. Disponível em:
<https://rioonwatch.org.br/?p=23997>. Acesso em: 13 de agosto de 2019.
MENEZES, R. C., O Uso do SIG - Sistema de Informação Geográfico - para o Apoio
à Decisão no Planejamento da Localização das Escolas Municipais em Guaratiba,
Rio de Janeiro. Dissertação de Mestrado, PUC-Rio, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 2010.
MIÑANO, M. P., DOS SANTO, A., Contribuição dos serviços de bicicleta
compartilhada na mobilidade sustentável no Brasil, São Paulo, 2018
66
NUNES, C. I. J., Modelos Matemáticos para Alocação de Facilidades e Centros
Consumidores. Dissertação de Mestrado., UNICAMP, Campinas, SP, Brasil, 2018.
PACHECO, P., “Nossa Cidade: a evolução dos sistemas bikeshare”, TheCityFix Brasil,
2015. Disponível em: <http://thecityfixbrasil.com/2015/08/26/nossa-cidade-a-evolucao-
dos-sistemas-bikeshare/>. Acesso em: 13 de agosto de 2019.
REDES DA MARÉ., 1ª Amostra sobre Mobilidade na Maré, Rio de Janeiro, 2015.
Disponível em: <http://redesdamare.org.br/media/livros/MobilidadeMare_WEB.pdf>.
Acesso em: 13 de agosto de 2019.
REDES DA MARÉ., OBSERVATÓRIO DAS FAVELAS., Guia de Ruas da Maré 2014,
Rio de Janeiro, 2014. Disponível em:
<http://redesdamare.org.br/media/livros/GuiaMare_26mai.pdf>. Acesso em: 13 de
agosto de 2019.
RIO DE JANEIRO., Bairros Cariocas, Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos,
Rio de Janeiro, RJ, 26 abr. 2019. Disponível em:
<http://pcrj.maps.arcgis.com/apps/MapJournal/index.html?appid=7fe1b0d463e34b3b9c
a2fafd50c3df76>. Acesso em: 13 de agosto de 2019.
RIO DE JANEIRO., Sistema de Assentamentos de Baixa Renda, Instituto Municipal
de Urbanismo Pereira Passos, Rio de Janeiro, RJ, 28 mai. 2019. Disponível em:
<http://pcrj.maps.arcgis.com/apps/MapJournal/index.html?appid=4df92f92f1ef4d21aa7
7892acb358540>. Acesso em: 13 de agosto de 2019.
SANTOS, R. P., Complexo da Maré: Múltiplas Territorialidades Locais em
Movimento, Projeto de Graduação, PUC-Rio, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 2005.
SHELLER, M., “Racialized Mobility Transitions in Philadelphia: Connecting Urban
Sustainability and Transport Justice”, City & Society, Vol. 27, Issue 1, pp. 70–91, 2015.
Disponível em:
<https://anthrosource.onlinelibrary.wiley.com/doi/pdf/10.1111/ciso.12049>. Acesso em:
13 de agosto de 2019.
67
SILVA, E. S. et al., Censo Maré: Criação de Uma Base para Desenvolvimento
Territorial em Um Grande Conjunto de Favelas, ll Seminário Nacional Sobre
Urbanização de Favelas, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 2016.
STROMBERG, J., Bike share users are mostly rich and white. Here's why that's hard to
change, Vox, v. 1, Maio de 2015. Disponível em:
<https://www.vox.com/2015/5/15/8608567/bike-share-wealth-race>. Acesso em: 13 de
agosto de 2019.
TORRES-FREIRE, C., CALLIL, V., CASTELLO, G., Impacto Social do Uso da
Bicicleta em São Paulo, Centro Brasileiro de Análise e Planejamento CEBRAP, São
Paulo, 2018. Disponível em: <https://cebrap.org.br/wp-
content/uploads/2017/05/Impacto-Social-Uso-Bicicleta-SP.pdf>. Acesso em: 12 de
agosto de 2019.
TRANSPORTE ATIVO, Perfil do ciclista 2018, Rio de Janeiro, 2018. Disponível em:
<http://www.ta.org.br/perfil/perfil18.pdf>. Acesso em: 13 de agosto de 2019.
UNITED NATIONS DEPARTMENT OF ECONOMIC AND SOCIAL AFFAIRS, “Bicycle-
sharing schemes: Enhancing sustainable mobility in urban areas”, Commission on
Sustainable Development, 2011.
URSAKI, J., AULTMAN-HALL, L., Quantifying the Equity of Bikeshare Access in Us
Cities, University of Vermont, Burlington, Vermont, USA, 2015.
VAN DER ZEE, R., “Story of cities #30: how this Amsterdam inventor gave bike-sharing
to the world”, The Guardian, v. 1, 2016.