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V Congresso Internacional do PPG-Letras e XIX Seminário de Estudos Literários 06 a 08 de junho de 2018
Escritas literárias: reflexão estética, política e tradução
Caderno de Resumos
Universidade Estadual Paulista ―Júlio de Mesquita Filho‖,
Câmpus de São José do Rio Preto,
Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas –
Programa de Pós-Graduação em Letras.
São José do Rio Preto
UNESP/IBILCE
2018
Reitor
Sandro Roberto Valentini
Vice-reitor
Sergio Roberto Nobre
Pró-Reitora de Graduação
Profa. Dra. Gladis Massini-Cagliari
Pró-Reitor de Pós-Graduação
João Lima Sant‘Anna Neto
Pró-Reitora de Pesquisa
Prof. Dr. Carlos Frederico de Oliveira Graeff
Pró-Reitora de Extensão Universitária
Profa. Dra. Cleopatra da Silva Planeta
Pró-Reitor de Planejamento Estratégico e Gestão
Prof. Dr. Leonardo Theodoro Büll
Diretora
Profa. Dra. Maria Tercília Vilela de Azeredo Oliveira
Vice-Diretor
Prof. Dr. Geraldo Nunes Silva
Chefe e Vice-Chefe do Departamento de Letras Modernas
Prof. Dr. Peter James Harris
Profa. Dra. Norma Wimmer
Chefe e Vice-Chefe do Departamento de Estudos Linguísticos e Literários
Profa. Dra. Lúcia Granja
Prof. Dr. Luís Augusto Schmidt Totti
Programa de Pós-Graduação em Letras
Coordenador
Prof. Dr. Pablo Simpson
Vice-coordenador
Prof. Dr. Cláudio Aquati
Apoio financeiro
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP)
Fundação de Apoio à Pesquisa e Extensão de São José do Rio Preto (FAPERP)
Programa de Pós-Graduação em Letras (PPG-Letras UNESP/IBILCE)
Comissão organizadora do evento
Corpo docente
Profa. Dra. Luciene Marie Pavanelo (UNESP/IBILCE)
Profa. Dra. Lúcia Granja (UNESP/IBILCE)
Prof. Dr. Nelson Luís Ramos (UNESP/IBILCE)
Profa. Dra. Norma Wimmer (UNESP/IBILCE)
Prof. Dr. Pablo Simpson (UNESP/IBILCE)
Prof. Dr. Ulisses Infante (UNESP/IBILCE)
Corpo discente
Bianca Cristina Sinibaldi
Dibo Mussi Neto
Diego Jesus Rosa Codinhoto
Gisele de Oliveira Bosquesi
Jean Carlos Carniel
Lilian Tigre Lima
Lucas de Castro Marques
Manoela Caroline Navas
Monelise Vilela Pando
Natália Fernanda da Silva Trigo
Odair Dutra Santana Júnior
Pâmela Coca dos Santos Ramos
Pedro Henrique Pereira Graziano
Comissão Científica do evento
Prof. Dr. Antonio Augusto Nery (UFPR)
Prof. Dr. Benedito Antunes (UNESP-Assis)
Prof. Dr. Berthold Zilly (Freïe Universität
Berlin/Universität Bremen,
Alemanha/UFSC)
Profª Dra. Fabiana Gonçalves (pós-doc
UNESP-IBILCE/CNPq)
Profª Dra. Francine Ricieri (UNIFESP)
Prof. Dr. Giorgio de Marchis (Universidade
de Roma III)
Prof. Dr. Henrique Marques Samyn (UERJ)
Profª Dra. Juliana Santini (UNESP-
Araraquara)
Profª Dra. Lúcia Granja (UNESP/IBILCE)
Profª Dra. Luciene Marie Pavanelo
(UNESP/IBILCE)
Profª Dra. Milena Mulatti Magri (pós-doc
UNESP-IBILCE/FAPESP)
Prof. Dr. Nelson Luís Ramos
(UNESP/IBILCE)
Profa. Dra. Norma
Wimmer (UNESP/IBILCE)
Prof. Dr. Pablo Simpson (UNESP/IBILCE)
Profª Dra. Sara Brandellero (Leiden
University, Holanda)
Prof. Dr. Ulisses Infante (UNESP/IBILCE)
Profª Dra. Valéria Cristina Bezerra (pós-doc
UNESP-IBILCE/Université de Nanterre –
Paris X/FAPESP)
Prof. Dr. Victor Luiz da Rosa (pós-doc
UNESP-IBILCE/PNPD CAPES)
Organização do caderno de resumos
Manoela Caroline Navas
Diego Jesus Rosa Codinhoto
Pâmela Coca dos Santos Ramos
Pedro Henrique Pereira Graziano
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca do IBILCE UNESP - Câmpus de São José do Rio Preto
Bibliotecária: Luciane A. Passoni
CRB-8 7302
Congresso Internacional do PPG-Letras (5. : 2018 : São José do Rio Preto, SP) Caderno de resumos [do] 5. Congresso Internacional do PPG-Letras e 19. Seminário de
Estudos Literários [recurso eletrônico] : 06 a 08 de junho de 2018, São José do Rio Preto-SP
/ [Organização de Manoela Caroline Navas... [et al.]. – São José do Rio Preto :
UNESP/IBILCE, 2018
96 p.
Temática do evento: Escritas literárias : reflexão estética, política e tradução
E-book
Requisito do sistema: Software leitor de pdf
Modo de acesso: <http://www.ibilce.unesp.br/#!/eventos472/19sel/resumos/caderno-de- resumos/>
ISBN 978-85-8224-145-5
1. Literatura - História e crítica - Teoria, etc. 2. Literatura - Estudo e ensino.
I. Seminário de Estudos Literários (19. : 2018 : São José do Rio Preto, SP) II. Navas,
Manoela Caroline. III. Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho". Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas. IV. Escritas literárias : reflexão estética, política
e tradução.
CDU – 8.013
APRESENTAÇÃO
O V CONGRESSO INTERNACIONAL DO PROGRAMA DE PÓS-
GRADUAÇÃO EM LETRAS e XIX SEMINÁRIO DE ESTUDOS LITERÁRIOS é
uma realização do Programa de Pós-Graduação em Letras do Instituto de Biociências,
Letras e Ciências Exatas (IBILCE) da Universidade Estadual Paulista (UNESP),
campus de São José do Rio Preto. O congresso reúne professores e pesquisadores
brasileiros e estrangeiros que desenvolvem estudos nas áreas de teoria e crítica literária
em seus diversos campos, como a literatura comparada, a literatura clássica, a literatura
brasileira e outras literaturas vernáculas, as literaturas estrangeiras modernas e as
relações entre a literatura e outras artes, como a pintura, o cinema, a música e as
narrativas gráficas.
O encontro de 2018, com o tema Escritas literárias: reflexão estética, política
e tradução, procurará discutir a criação literária, seja ela original ou traduzida, como
fruto de um trabalho estético, mas também de interesse político, tendo-se em vista as
suas relações com contextos de produção e recepção. Nesse sentido, partindo da
dialética entre forma literária e conteúdo histórico-social, pretende-se refletir sobre as
literaturas em língua portuguesa e estrangeira, abrindo espaço para o debate sobre a
tradução de obras do português para outros idiomas e vice-versa, bem como o seu
processo de adaptação para outras culturas e linguagens.
O V Congresso Internacional do PPG-Letras e XIX Seminário de Estudos
Literários é o principal encontro de pesquisa do programa da Pós-Graduação em Letras
do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas da UNESP de São José do Rio
Preto. Realizado anualmente, seu objetivo é oferecer aos alunos dos cursos de Mestrado
e Doutorado a oportunidade de debater suas pesquisas em andamento com professores
convidados, que recebem os projetos dos alunos ingressantes com um mês de
antecedência. Além disso, o congresso também abrirá inscrições para a participação
tanto de alunos do Programa quanto de outras universidades paulistas e de outras
regiões do país, na forma de comunicações orais, e uma de suas mesas-redondas será
composta pelos pós-doutorandos do Programa. Em 2018, estão previstas as vindas de
dois professores de universidades estrangeiras: o Prof. Dr. Berthold Zilly (da Freïe
Universität Berlin e da Universität Bremen, Alemanha, e atualmente professor visitante
da UFSC), que apresentará a conferência de abertura, e o Prof. Dr. Giorgio de
Marchis (da Universidade de Roma III), que apresentará uma comunicação em mesa-
redonda e ministrará um minicurso que integrará a programação do evento. O congresso
também contará com a presença de quatro convidados que, além de também
apresentarem comunicações orais em mesas-redondas, participarão das mesas de
debates de projetos dos alunos ingressantes, a fim de contribuírem com o
desenvolvimento de suas pesquisas: dois desses docentes vêm de universidades
paulistas (o Prof. Dr. Benedito Antunes, da UNESP de Assis e a Profª Dra. Francine
Ricieri, da UNIFESP) e dois deles vêm de outros estados (o Prof. Dr. Antonio Augusto
Nery, da UFPR, e o Prof. Dr. Henrique Marques Samyn, da UERJ). A conferência de
encerramento será proferida pelo escritor Antonio Geraldo Figueiredo Ferreira. O
interesse das vindas desses convidados é facultar o debate sobre a reflexão estética,
política e do fazer tradutório na literatura, debate fundamental para os alunos do
Programa.
*Agradecimentos: a organização do evento agradece o auxílio financeiro
da FAPESP (2018/03310-4), da FAPERP e do Programa de Pós-Graduação
em Letras (Ibilce/UNESP)
CONFERÊNCIAS E MESAS REDONDAS
06 de junho, às 10 horas
"A TRADUÇÃO COMO CRÍTICA LITERÁRIA: GRANDE SERTÃO:
VEREDAS"
Berthold Zilly (Freïe Universität Berlin/Universität
Bremen, Alemanha/ UFSC)
A palestra, motivada pelo projeto de uma nova tradução alemã de Grande Sertão:
Veredas, de João Guimarães Rosa (1956), tece reflexões sobre o texto-fonte diante de
reais e possíveis estratégias em versões estrangeiras. As traduções do romance, que vêm
aparecendo a partir de 1963 em muitas partes do mundo, suscitam volta e meia, devido
à linguagem insólita de Guimarães Rosa, discussões sobre os limites da traduzibilidade
de sua obra. O próprio autor não via diferença fundamental entre sua própria poética e
aquela que recomendava a seus tradutores: a criação e a recriação compartilhariam os
mesmos objetivos e procedimentos, levando em conta, naturalmente, a especificidade de
cada língua-alvo. O original e a tradução deviam, pela "novidade nas palavras e na
sintaxe", "chocar e estranhar", fazer valer "a música subjacente ao sentido", banir
radicalmente "expressões domesticadas" – ideias que aproximam a estética rosiana da
dos formalistas russos, assim como de concepções tradutológicas, por exemplo de
Schleiermacher, Benjamin, H. de Campos, Venuti. As traduções já publicadas são parte
da fortuna crítica e, ao mesmo tempo, ferramenta interpretativa, pois o traduzir permite
uma abordagem hermenêutica privilegiada, rastreando, desvendando e tentando
reconfigurar o "modo de designar" (Benjamin) de um texto, sua "lógica do estar-
produzido" (Adorno), suas "operações formadoras" (H. de Campos). O exame
comparativo de um breve trecho do romance em dez traduções mostra, porém, que a
maioria das primeiras traduções, sobretudo a versão alemã de Curt Meyer-Clason,
apesar de aproveitarem muitos esclarecimentos do autor, pouco cumprem os seus
princípios poéticos, seguindo mais bem o modelo das 'belas infiéis', ou seja, uma
estratégia domesticadora e naturalizadora, um estilo de fácil compreensibilidade, com
uma sintaxe tradicional, com pouca oralidade, sem elipses, e cheia de lugares-comuns.
Hoje em dia, as condições são mais favoráveis para mais arrojadas reconfigurações do
original, com maior qualidade diferencial, e transgressão do horizonte de expectativa do
leitor, graças a uma crescente disposição, da parte de leitores, críticos e editores, de
apreciar traduções estrangeirizantes, com alto grau de "choque" e "estranhamento".
06 de junho, às 16h30
Mesa-redonda – A tradução e seu contexto de adaptação e recepção
"PERI E CARAMURU. COMO A ITÁLIA DA BELLE ÉPOQUE LIA O
BRASIL"
Giorgio de Marchis (Universidade de Roma III)
Ao longo do século XIX, a recepção em Itália do Indianismo brasileiro foi um
fenômeno cultural significativo e as traduções das obras de Gonçalves de Magalhães e
José de Alencar, assim como o estrondoso sucesso da ópera Guarany de Antônio Carlos
Gomes, estreada no Teatro "La Scala" de Milão em 1870, confirmam um invulgar
interesse da cultura italiana para com os indígenas brasileiros. Não se trata, contudo, de
uma direta consequência dos imponentes fluxos migratórios que, na segunda metade do
século XIX, tornaram o Brasil num destino privilegiado para a mão de obra italiana.
Bem mais interessante e produtivo poderá ser interpretar esse interesse como um reflexo
do processo de unificação nacional. Sendo assim, será mais fácil compreender a razão
pela qual a literatura popular produzida na Itália finissecular muda completamente o
paradigma interpretativo dos indígenas do Brasil.
"A FREIRA NO SUBTERRÂNEO, UMA TRADUÇÃO DE CAMILO
CASTELO BRANCO"
Antonio Augusto Nery (UFPR)
Com o subtítulo "Romance histórico", de autoria anônima e sem data conhecida da
primeira publicação, a narrativa A Freira no subterrâneo foi traduzida por Camilo
Castelo Branco em 1872, a partir de uma edição francesa anônima do texto, segundo
relatos do próprio tradutor. A história trágica da freira Bárbara Ubryk, ocorrida em um
convento carmelita de Cracóvia, Polônia, possui forte apelo anticlerical e ficou famosa
pelas críticas veiculadas à Instituição religiosa. O objetivo deste trabalho é averiguar em
que medida o romance dialoga com o discurso anticlerical oitocentista, presente em
obras de diversos autores do contexto. Especificamente, pretende-se investigar as
diferenças e similitudes entre as discussões presentes no texto e o modo como o
tradutor, Camilo Castelo Branco, lidou com a temática anticlerical em várias de suas
produções.
07 de junho, às 10h30
"SOBRE A FIGURAÇÃO DO EROTISMO EM FRANCISCA JÚLIA E
FLORBELA ESPANCA"
Henrique Marques Samyn (UERJ)
Este trabalho encerra alguns apontamentos a partir de uma pesquisa, ainda incipiente,
cuja finalidade é investigar as possibilidades de um estudo comparativo entre as
produções poéticas da brasileira Francisca Júlia (1871-1921) e Florbela Espanca (1894-
1930). Separadas por cerca de uma geração, autoras de obras interrompidas por mortes
precoces, Francisca Júlia e Florbela Espanca deixaram escritos que dialogaram
intensamente com valores estéticos finisseculares – sendo, não obstante, possível nelas
divisar uma atenta propensão crítica que se traduz em textos que contestam, mais ou
menos explicitamente, os valores estéticos vigentes em sua época. Meu objetivo, neste
trabalho, será abordar as possibilidades de uma aproximação entre as obras das poetisas
brasileira e portuguesa a partir de um tema em particular: o erotismo. Pretendo, mais
especificamente, abordar questões como: em que medida uma investigação por essa via
pode ser levada a cabo, considerando-se a diferença entre os corpora disponíveis para a
exploração desse tema (bastante mais amplo no caso de Florbela Espanca)? Em que
medida se pode enxergar, na poesia de Francisca Júlia, algo semelhante à notória
ruptura efetivada por Florbela, em seus últimos escritos, no que tange à figuração do
erotismo feminino? De que modo questões como a representação do corpo desejante ou
a subversão de um ideário erótico androcêntrico (ou mesmo falocêntrico) se fazem
presentes nas obras das referidas escritoras?
07 de junho, às 18h30
Mesa redonda - Escritas literárias no Brasil
"ESSE VÍRUS DE SCIENCE FICTION: DOENÇA E ALTERIDADE EM
CAIO FERNANDO ABREU"
Milena Mulatti Magri (pós-doc UNESP/FAPESP)
Neste trabalho procuramos analisar diferentes formas de apresentação da Aids na obra
de Caio Fernando Abreu tendo em vista, sobretudo, dois momentos distintos. O
primeiro momento diz respeito à divulgação dos primeiros casos de Aids, no Brasil, e o
segundo, ao momento posterior à convivência do próprio escritor com os sinais da
doença, cujo diagnóstico se confirmaria em breve. Para tanto, apresentaremos uma
leitura comparativa dos textos "Pela noite", uma novela publicada pelo autor em 1983
no volume Triângulo das Águas, e "O homem e a mancha", uma peça de teatro cujo
texto foi finalizado em 1994, dois anos antes de sua morte, e recolhida postumamente
em seu Teatro Completo. A Aids é caracterizada, desde seu surgimento, como uma
doença socialmente temida e estigmatizada, o que acabou promovendo formas de
exclusão social de pacientes soropositivos. A comparação destes diferentes momentos
permite observar uma mudança na forma de compreensão da Aids, na obra de Abreu,
que passa de um evento alheio e temível a uma alteridade que passa a ser constitutiva do
próprio sujeito.
SE A BULGÁRIA EXISTE: VIAGEM E INEXISTÊNCIA EM O
PÚCARO BÚLGARO, DE CAMPOS DE CARVALHO
Victor Luiz da Rosa (pós-doc UNESP/PNPD CAPES)
O artigo analisa o último romance de Campos de Carvalho, O púcaro búlgaro (1964),
por meio das noções de viagem e inexistência. E procura mostrar algumas
consequências críticas e narrativas do impasse entre a promessa de uma "expedição ao
fabuloso reino da Bulgária" – feita pelo narrador logo de saída com a eloquência de um
viajante tarimbado – e seu constante adiamento ao longo do romance. Por meio de um
estilo na maioria das vezes inexato e fabuloso, sempre verborrágico e exagerado, o
narrador desta expedição torna-se complexo não por dominar o assunto que
supostamente é objeto de seu interesse (o tal púcaro búlgaro) e sim porque, ao contrário,
ele gira no vazio. E nesse giro, só pode "devanear sobre o nada", como ele próprio diz,
enquanto não atina para a razão de escrever o diário. Tal impasse, de um lado, dialoga
de modo crítico, e certamente irônico, com certa tradição dos relatos de viagem à
medida que se apropria aqui e ali de alguns dos seus pressupostos, como a
confiabilidade do narrador e a obsessão pelas classificações, para fazer deles objeto de
piada; de outro, na tentativa de realizar um romance altamente experimental, mas nem
por isso enfadonho, toma de empréstimo o princípio que Breton formula no "Manifesto
do surrealismo", segundo o qual a "existência está em outro lugar", ou seja, na Bulgária,
caso exista. Desse modo, o romance de Campos de Carvalho poderia ser pensado como
uma experiência de desarme da nossa maneira de ler os relatos de viagem nacionais, ao
mimetizar tais narradores e expor – ao ridículo – os seus limites. É a hipótese que se
propõe aqui.
08 de junho, às 10h30
Mesa redonda - Entre a estética e a política, no romance e na poesia
A PRESENÇA DO INTELECTUAL NO ROMANCE BRASILEIRO
Benedito Antunes (UNESP-Assis)
Trata-se de um breve estudo da voz narrativa de romances brasileiros em que se observa
a presença de um intelectual. Seja de forma direta, enquanto narrador ou personagem,
seja nas variadas formas de focalização, essa figura tende a criar uma instância que
reflete sobre o objeto da narração, visando à discussão de questões históricas, sociais e
políticas abordadas nos romances. Seu exame abre perspectivas para a compreensão do
contexto sociopolítico representado e do modo de cada autor apreender os temas de que
se ocupa. A figura do intelectual, evidentemente, está presente em toda a grande
literatura e pode ser acompanhada no Brasil, entre outros, nos romances Memorial de
Aires (1908), de Machado de Assis, Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá (1919), de
Lima Barreto, O Amanuense Belmiro (1936), de Cyro dos Anjos.
CRUZ E SOUSA EM DESLIZAMENTOS ENTRE PROSA E
POESIA
Francine Ricieri (UNIFESP)
A produção literária de Cruz e Sousa coloca em questão as relações entre escrita poética
e escrita em prosa. Tais relações ora se manifestam no modo de formalização de textos
específicos, ora são expressamente tematizadas e discutidas em algumas de suas
páginas. O objetivo desta exposição é explorar momentos de Cruz e Sousa em que as
referidas relações parecem oferecer elementos pertinentes para a reflexão sobre os
limites e deslizamentos das formas poéticas desde meados do século XIX. Os diálogos
entre o poeta brasileiro e o projeto de escrita do francês Charles Baudelaire, bem com as
não tão recentes problematizações de um paradigma crítico que delimitou a poesia da
modernidade ao que se poderia definir como "lírica", ou como a "lírica" associável à
"poesia pura" são, igualmente, questões implicadas e que se pretendem abordar a partir
de algumas referências à produção de Cruz e Sousa.
08 de junho, às 14h30
"OS CAMINHOS DA CRIAÇÃO"
Antonio Geraldo Figueiredo Ferreira
Esta apresentação discutirá o processo de criação dos livros que publiquei: Peixe e
míngua, poemas (Nankin), As visitas que hoje estamos, romance (Iluminuras) e O amor
pega feito um bocejo, infantil (Cia das Letrinhas).
MINICURSO
07 de junho, às 14 horas
"O TEMPO É DOCE, COMO NOS MELHORES MOMENTOS DE
JUNHO NO RIO DE JANEIRO". A ITÁLIA DE RUBEM BRAGA E
SCHNAIDERMAN
Prof. Dr. Giorgio de Marchis (Universidade de Roma III)
A experiência da guerra em Itália de Boris Schnaiderman e Rubem Braga, entre
setembro de 1944 e abril de 1945, respectivamente como militar da FEB e como
correspondente de guerra do "Diário Carioca", ofereceu aos dois autores a possibilidade
de experimentar temporalidades diversas, com a contemplação dos escombros da
Segunda Guerra Mundial que se sobrepunham às ruínas da Antiguidade. Além disso, os
textos de caráter memorialístico que sucessivamente produziram podem também ser
lidos como diários de um tardio Grand Tour ou como exemplos de cartas de achamento
viradas às avessas.
COMUNICAÇÕES
(Em ordem alfabética por sobrenome do autor)
A LIBERDADE EM OS IRMÃOS KARAMÁZOV
Thiago Henrique de Camargo Abrahão (UNESP/IBILCE)
A literatura, por se tratar de um fazer sociocultural historicamente constituído, é capaz
de promover reflexões não apenas estéticas, mas, também, éticas. As grandes obras
literárias o fazem porque evidenciam questões demasiado humanas, como a liberdade,
concomitantemente ao trabalho propriamente formal do texto enquanto construção
artística. É o caso d‘Os irmãos Karamázov, último romance do escritor russo Fiódor
Dostoiévski (1821–1881): a história do assassinato (ou do parricídio) do patriarca
Karamázov permite-nos notar que cada personagem sugere um sentido particular para o
que é ser livre, pois cada um dos quatro filhos apresenta um significado único para a
liberdade: algo visceral para Dmitri, algo cerebral para Ivan, algo espiritual para
Alieksiêi e algo irracional para Smierdiakóv. Afora o fato de que a própria literatura
exige liberdade para existir e deve a sua existência artística às potencialidades
imaginativas da linguagem verbal, passíveis de serem exploradas por uma consciência
necessariamente livre, investigaremos como a liberdade está no romance, seja em seu
conteúdo mais evidente — como nas discussões entre as personagens —, seja em seus
aspectos estruturais — como na polifonia narrativa. Desse modo, para além da liberdade
necessária ao autor, para que crie, e ao leitor, para que interprete, a liberdade no texto
literário será evidenciada a partir do que denominaremos de ―índice de liberdade‖, ou
seja, todo aspecto constitutivo de uma obra literária capaz de ampliar, para as
personagens (e para o leitor), a indeterminação quanto ao futuro. Com a ajuda de
teóricos como, sobretudo, Mikhail Bakhtin, salientaremos a importância de tais índices
não apenas para o romance dostoievskiano, mas para a literatura, na qual o ético (a
própria palavra o prova) se incorpora ao estético.
Palavras-chave: Fiódor Dostoiévski; Liberdade; Os irmãos Karamázov; Teoria
literária.
AS IMAGENS OBJETIVAS NA POESIA DE ORIDES FONTELA: VOOS
TRANSVERSOS
Nathaly Felipe Ferreira Alves (UNICAMP)
A proposta desta comunicação é refletir sobre os dados objetivos explicitados, pelo
estatuto da imagem do pássaro na poesia de Orides Fontela, mais particularmente de
alguns poemas de Alba (1983), a saber: um pequeno poema escrito por Orides, que
funciona como uma das epígrafes do livro, e os poemas ―Vigília‖ e ―Ode (II)‖. O que
consideramos ―dados‖ de objetividade não se refere à questão temática dos poemas
selecionados para a discussão, mas a uma noção de ―poesia objetiva‖, que prima pelo
trabalho de arte, em que a composição do texto e a materialidade das palavras e das
coisas são razões para possíveis interpretações dos poemas. Para tanto, partiremos das
considerações do texto crítico ―Poesia e Composição‖ (1952) de João Cabral de Melo
Neto. A objetividade dos poemas diria respeito, então, à maneira pela qual o sujeito
lírico seria ―despersonalizado‖, ou melhor, desapossado de seu subjetivismo. ―Fora de
si‖ (Collot, 2004), o ―eu‖ estaria deslocado da cena central do poema, em um
movimento que sugeriria seu encontro, sua realização, ou ―seu acontecer‖ com um outro
(sua existência estaria, dessa forma, vinculada à noção de alteridade). Nesse sentido,
certos campos semânticos contemplados na tessitura lírica ganhariam corpo e se
mobilizariam enquanto objetos viventes do universo poético. Em outras palavras, tais
objetos ganhariam certa autonomia, ao serem liricamente encarnados (ou tecidos e
vivenciados pela palavra poética). As palavras não apenas aludiriam às coisas, mas as
instituiriam, convocando sua presença, sua evidência concreta e sua espessura aludindo,
dada a devida medida de distância crítica, ao texto ―Meu método criativo‖ (1961), de
Francis Ponge.
Palavras-chave: Alba; Despersonalização; Orides Fontela; Poesia objetiva.
GÊNERO E DOMINAÇÃO EM NEIL GAIMAN
Marco Aurelio Barsanelli de Almeida (UNESP/IBILCE)
A luta feminina não se restringe ao espaço social. Na literatura é possível verificarmos o
surgir constante de personagens femininas que desafiam os padrões estabelecidos e
tomam posição como defensoras de si mesmas e vozes de comando, deslocando o papel
masculino para o lugar de personagem subserviente e/ou em necessidade de proteção. É
a partir desse posicionamento das personagens femininas que propomos um olhar mais
detido à obra de Neil Gaiman, uma vez que o escritor britânico insere, em seus
romances e contos, personagens femininas fortes, que não aceitam a voz masculina
como influenciadora de suas atitudes. Para o estudo aqui proposto temos como objetos
de análise dois romances de Gaiman: Coraline (2002), e Stardust (1999). Utilizando
principalmente os conceitos apresentados por Butler (1990), sobre o feminino, por
Spivak (1988), sobre a condição do subalterno, e por Campbell (2007), Kothe (1987) e
Propp (1978), sobre o herói e sua jornada, intencionamos, com tal análise, mostrar o
modo como as personagens femininas do mundo Gaiminiano rompem com os padrões
estabelecidos para as atitudes dos heróis, uma vez que os veem como seres mais frágeis,
tornando-os seus subordinados, ao mesmo tempo em que ultrapassam os percalços e
salvam a ambos dos perigos que se apresentam.
Palavras-chave: Dominação; Feminino; Gênero; Neil Gaiman.
SATÍRICON, LITERATURA E CINEMA
Claudio Aquati (UNESP/IBILCE)
Orientado pela temática deste Seminário, examino neste trabalho certas características
literárias do experimental Satíricon, de Petrônio, para confrontá-las com uma leitura
fílmica do muito peculiar Fellini-Satyricon, longa-metragem do diretor italiano Federico
Fellini. Mais que fidelidade episódica, com olhar certeiro e de alguma forma
distanciado, como fora o de Petrônio, Fellini repropõe um mundo pagão que hoje nos
resta em vestígios de monumentos históricos e em textos de velhos escritores romanos:
um mundo em que os homens tinham outros hábitos, outros pensamentos, dir-se-ia
outro sistema nervoso. Na realidade, a direção de Fellini nunca apontou para uma pura
tradução de Petrônio, por mais feliz e fértil que pudesse ser, mas se empenhou também
em fazer surgir na tela personagens liberados da cultura e da erudição, de tudo que de
arqueológico e literário se aprende na escola e que pesa sobre nós de maneira
paralisante: daí as imagens extremamente livres (costumes, perspectiva cenográfica,
condução psicológica, abandono de narração convencional), uma viagem ao mundo do
desconhecimento, um filme de ficção científica sobre o passado, como ele mesmo
declarou. O mundo pagão é irrecuperável se a idéia geral que dele se faz apela
ingenuamente para românticas imagens fotográficas da via Ápia, com os túmulos
romanos, ou para o teatro elisabetano — Cleópatra, Júlio César, Coriolano — ou para o
cinema e algumas medíocres representações cenográficas de uma cidade toda de
mármore e logicamente ordenada (tão distante dos becos por onde erra o Satíricon...). À
margem dessas convenções, o que encontramos no Fellini-Satyricon é a representação
de vivíssima sociedade de elementos heterogêneos (no fazer, no sentir, nas diferenças
raciais): Fellini não profana o antigo; atualiza-o, vivifica-o. Petrônio não terá sido
simples pretexto, mas sólida base sobre a qual se articula a fantasia de Fellini.
Palavras-chave: Fellini-Satyricon; Petronius; Satyricon; Satíricon.
O ALGUM LUGAR OCUPADO POR PALOMA VIDAL: UM ESTUDO SOBRE SEU
PROJETO LITERÁRIO
Daiane Crivelaro de Azevedo (UFF)
Paloma Vidal, escritora que diz possuir um ―jeito capenga de ser brasileira‖, faz parte da
cena literária nacional desde o lançamento da coletânea A duas mãos, em 2003. O livro
de contos, bem recebido pela crítica brasileira, inaugurou um longo percurso, composto
por mais um livro de contos, dois romances, três textos dramáticos e duas coletâneas de
breves inscrições, recolhidas de um blog pessoal. Com uma literatura fortemente
marcada pela influência de sua formação acadêmica, que se estende ao Pós-doutorado, e
atuação profissional, como professora de Teoria Literária da Universidade Federal de
São Paulo, Vidal faz da sua obra uma espécie de laboratório, propondo livros-
experimentos. Levando essa dupla inserção em consideração, proponho, neste artigo,
entender o espaço ocupado por essa escritora-crítica a partir de escritas que entendo
como embrionárias de um projeto literário mais extenso. Meu corpus, portanto, será o
último conto, ―Genealogia‖, de A duas mãos (2003), o primeiro romance, Algum lugar
(2009), e duas inscrições intituladas ―eu‖, de dois (2015) e durante (2015). Embora o
objetivo não seja reduzir a obra de Vidal à análise que apresento a partir desse recorte,
proponho-o como um meio para identificar e pensar um projeto literário maior. Para
isso, as leituras propostas por Sérgio de Sá, a respeito de parte da obra da escritora, e
Beatriz Resende, a respeito da literatura brasileira contemporânea, serão utilizadas para
encaminhar este estudo.
Palavras-chave: Escritora-crítica; Estrangeiridade; Feminino; Paloma Vidal.
ASPECTOS DA CONSTRUÇÃO TEXTUAL EM DIFERENTES VERSÕES DE
―JOÃO E MARIA‖
Dayse Oliveira Barbosa (USP)
Este trabalho visa ao estudo da construção textual de seis diferentes versões do conto
tradicional ―João e Maria‖. São elas: a versão escrita pelos irmãos Grimm (século XIX),
a letra de música composta por Chico Buarque (1976), as versões de Flávio de Souza
(1995), Tatiana Belinky (1997), Ruth Rocha (2010) e Neil Gaiman (2015), a fim de
evidenciar como o enredo básico que enfatiza os vínculos de cumplicidade existentes
entre um casal de irmãos abandonados pelos pais em uma floresta, que depois de
viverem várias desventuras na casa de uma bruxa, conseguem matá-la e retornam para
casa, levando o tesouro que a bruxa acumulara ao longo da vida, mantem-se intacto no
decorrer de séculos. Contudo, cada autor imprime características únicas ao próprio
texto. São essas características que tornam cada versão especial e possibilitam a
existência de diferentes versões da mesma história. Busca-se no estudo da construção
textual, evidenciar como os aspectos lexicais, sintáticos e semânticos agem em conjunto
para gerar os efeitos de sentido pretendidos por cada autor. Para a realização desse
trabalho são considerados os estudos de Vladimir Propp sobre a morfologia dos contos
maravilhosos, Nelly Novaes Coelho e Maria Tatar sobre a gênese dos contos de fadas,
as pesquisas psicanalíticas de Bettelheim, bem como, estudos significativos de Ingedore
Koch acerca da construção da coesão e coerência textuais.
Palavras-chave: Construção textual; Contos de fadas; Versões.
ENTRE A FORCA E A ESPERANÇA: ESTUDO COMPARATIVO DE ―A BALADA
DOS ENFORCADOS‖, DE FRANÇOIS VILLON, E DE ―A BALLAD OF SUICIDE‖,
DE GILBERT K. CHESTERTON
Heitor Benetti (UNESP/IBILCE)
O objetivo deste trabalho é analisar e discutir as relações temáticas entre dois poemas
pertencentes ao gênero balada, Balada dos enforcados, de François Villon (1489), e A
Ballad of Suicide, de Gilbert Chesterton (1915), evidenciando as diferentes concepções
de esperança. Para estabelecer tal comparação, é fundamental a consideração da
estrutura interna dos poemas. De acordo com Massaud (1984), a balada manifesta-se,
relativamente, de modo estável, não só se estruturando por meio de três estrofes, de oito
versos, e uma última, de quatro ou cinco versos, chamada ―envoi‖, mas também se
evidenciando por meio de um teor narrativo, melancólico e dialógico. Como
instrumental teórico para este estudo, recorreu-se ao conceito de tema proposto por
Machado e Pageaux (1988). A análise demonstrou que os poemas apresentam, em
comum, o elemento forca, todavia, simbolizando a morte de maneira distinta. Na balada
de Villon, a presença da forca é sugerida pelo título e pelo eu-lírico. Na ―Balada dos
enforcados‖, a forca é o símbolo da condenação à morte do eu-lírico, o qual assume a
posição de condenado que, depois de morto, roga pela compaixão e intercessão dos
vivos. Em ―A Ballad of Suicide‖, a forca é o primeiro substantivo do verso inicial e
manifesta-se como um convite ao suicídio, porém o eu-lírico, motivado por fatos
aparentemente banais, protela seu suicídio, o que é confirmado no refrão. Conclui-se
que as baladas apresentam, como tema comum, a esperança como virtude cristã, porém,
de modos distintos. Enquanto na obra de Villon, a esperança é compreendida como a
salvação dos mortos, que padecem no purgatório aguardando a intercessão dos vivos, na
obra de Chesterton, a esperança é o meio de salvação tanto pela (re)descoberta do real
quanto pela (re)valorização da vida. Apesar de aparentemente mórbidos, os poemas
veiculam, como tema central, a ideia de esperança.
Palavras-chave: Balada medieval; Chesterton; Literatura comparada; Villon.
A PUNIÇÃO DAS PERSONAGENS MASCULINAS EM CONTOS FANTÁSTICOS
DE GUSTAVO ADOLFO BÉCQUER
Nathália Hernandes Bergantini (UNESP/IBILCE)
O fantástico, de acordo com os estudos do professor David Roas (2006; 2011; 2013),
estabelece-se quando um mundo fictício, que copia aquele que entendemos como real, é
invadido por um fenômeno que cria uma ruptura com a anterior normalidade; este
acontecimento destrói as certezas que o leitor possuía anteriormente, gerando medo e
insegurança. Nos contos escolhidos para este trabalho, todos da autoria de Gustavo
Adolfo Bécquer (―La ajorca de oro‖, ―La cueva de la mora‖, ―Los ojos verdes‖ e ―El
monte de las animas‖), as personagens masculinas, são castigadas, pois, em seu anseio
por conquistar a mulher amada, violam leis e tradições. Com os seus castigos, temos a
consolidação do elemento fantástico: em ―La ajorca de oro‖ uma santa vingativa
enlouquece com visões aquele que tentou roubá-la, em ―La cueva de la mora‖ o homem
morre com sua amada e ambos viram fantasmas, ―Los ojos verdes‖ traz a morte do
nobre Fernando, assassinado pela bela mulher que na verdade era um demônio, e em ―El
monte de las animas‖ Alonso sai na noite de finados para realizar um capricho de sua
vaidosa amada Beatriz e é pego por criaturas daquela noite. Enfim, buscamos neste
trabalho, comprovar e elucidar como estas personagens são punidas a partir de
elementos fantásticos e devido às suas paixões, que as fizeram transgredir regras morais,
religiosas ou tradicionais.
Palavras-chave: Contos; Fantástico; Punição; Sobrenatural.
ONDE AS NARRATIVAS SE CONFUNDEM: A MISE EN ABYME EM MOÇA
COM CHAPÉU DE PALHA, DE MENALTON BRAFF
Kelvin Walker Bossolani (UNESP/IBILCE)
O procedimento narrativo empregado por Menalton Braff na construção do romance
Moça com chapéu de palha (2009), ao engendrar à narrativa principal os capítulos do
livro escrito por Bruno, protagonista do romance, remete diretamente à mise en abyme
(narrativa em abismo). O termo, cunhado por André Gide, constitui-se em inserir um
segundo romance, en abyme, ao primeiro, ou, em outras palavras, na concepção gidiana,
a mise en abyme se dá pelo encaixe do personagem a quem o autor atribui a tarefa de
narrar, como observa Dällenbach. As variantes desse procedimento narrativo têm, ao
longo das pesquisas, dificultado o consenso por parte da crítica. Desde as contribuições
de Lucien Dällenbach, ao retomar os postulados de Gide, considerando o procedimento
essencialmente como todo texto que apresente semelhança com a obra que o contém,
busca-se, por parte da crítica, compreender as semelhanças entre os procedimentos
desenvolvidos, considerando os processos de encaixe e desdobramentos da narrativa,
que geram um efeito de profundidade ao infinito. O procedimento empregado por Braff
em seu romance, ao explicitamente encaixar en abyme os capítulos do livro que Bruno
escreve ao seu próprio romance, faz com que ambos se confundam, a ponto de não se
saber se lemos a obra de Braff ou a de seu personagem escritor – efeito caracterizado
pela proximidade do discurso construído e pelos temas abordados. Neste sentido, a
presente proposta busca analisar o procedimento narrativo construído por Braff na
composição de Moça com chapéu de palha, no intuito de contribuir às discussões sobre
o procedimento empregado, considerando que, tal como a obra de Gide, o romance
braffiano busca romper as fronteiras do processo narrativo, uma vez que em ambas vem
a primeiro plano a construção da obra junto da história em si.
Palavras-chave: Menalton Braff; Mise en abyme; Procedimento narrativo; Romance.
A INVERSÃO DE MÁXIMAS EM OS MEUS SENTIMENTOS, DE DULCE MARIA
CARDOSO
Gabriela Cristina Borborema Bozzo (UNESP/FCLAr)
O estudo da produção romanesca de Dulce Maria Cardoso revela um minucioso
trabalho da forma que, organicamente, elaboram o tema de cada livro. Acreditamos que
tal arquitetura chega ao ápice em Os meus sentimentos composto por apenas um período
que se estende por mais de trezentas páginas, urdindo o tema da não-pertença. Neste
trabalho, tendo tal romance como objeto, tomamos como tema um aspecto específico da
elaboração da linguagem – a inversão de máximas – com o objetivo de verificar de que
modo esse componente – em colaboração com outros recursos linguísticos e com outras
categorias da narrativa – contribui para construir o tema mencionado. Na composição,
salta à vista a ironia. Para a concretização dessa última é que a escritora lança mão da
inversão de máximas, gerando o questionamento de verdades absolutas que compõem a
realidade sócio-histórica representada na narrativa que incorpora o período salazarista e
a Revolução dos Cravos. As inversões corroboram a realização do projeto artístico da
autora conforme proposto por Gonçalves Neto e Gama em relação a outro romance, O
chão dos pardais. Para atingir os objetivos, levantamos os provérbios presentes no texto
e investigamos o modo como se dá a sua inversão. Para tanto, contamos com
embasamento teórico-crítico dividido em três linhas principais: a) crítica da produção da
escritora com centro no ensaio ―Liquidez, reconfigurações e pluralidades: a
representação identitária da sociedade portuguesa em Chão de Pardais de Dulce Maria
Cardoso‖, de Gonçalves Neto e Gama; b) teoria relativa ao conceito de máxima, com
fulcro na Arte Retórica de Aristóteles, em La Rochefoucauld: reflexões ou sentenças e
máximas, de Roland Barthes e ―A Ciropédia de Xenofante: um romance de formação na
Antiguidade‖, de Emerson Cerdas; c) estudo sobre a antifábula de James Thurber, em
The American face of Aesop: Thurber’s Fables and Tradition, de Pack Carnes.
Palavras-chave: Dulce Maria Cardoso; Inversão de máximas; Os meus sentimentos.
ODILON REDON E SEU TEMPO: LITERATURA E ARTES VISUAIS
Luíza Araujo Braz (UNESP/IBILCE)
O pintor francês Odilon Redon, comumente conhecido como ―Príncipe dos Sonhos‖, de
estética fundamentalmente arquitetada a partir de uma ambientação onírica, o que o
tornou reconhecido pelo rótulo de simbolista, embora ele o recusasse, promove um
intenso diálogo entre sua obra gráfica e a literatura. Foi por intermédio de seu grande
amigo, o botânico Armand Clavaud, que o artista plástico entrou em contato com as
obras de Edgar Allan Poe, Gustave Flaubert, Stéphane Mallarmé e Charles Baudelaire,
dedicando a esses autores a publicação de uma série de portfólios que apresentam
interpretações de suas respectivas obras e igualmente homenagens aos escritores. Além
da frutífera relação de Odilon Redon com a literatura de sua época, é inegável a
identificação da marca deixada na obra do pintor pelos acontecimentos e embates mais
emblemáticos do final do século XIX, tais como os crescentes avanços na pesquisa
científica, a criação de instrumentos de análise laboratorial, a Revolução Pasteuriana e
todas as políticas públicas acarretadas pelo progresso científico deste período. Desse
modo, propomo-nos neste trabalho a descrever de que maneira a estética de Odilon
Redon em sua primeira fase de produção artística, em seus Noirs, foi influenciada pelo
cenário da revolução científica deste período e de que modo isso se reflete em suas
interpretações gráficas das obras literárias de diversos autores de seu tempo. Para tal, a
apoiamo-nos, sobretudo, no conceito de Intertextualidade revisitado pela autora
Tiphaine Samoyault (A intertextualidade. Tradução de Sandra Nitrini. São Paulo:
Aderaldo e Rotschild, 2008) e de paratexto literário/iconográfico apresentado por
Gérard Genette (Seuils. Paris: Seuil, 1987), buscando traçar paralelos entre âmbitos
literário e pictural e identificando os prolíficos diálogos entre literatura, artes visuais e
sociedade.
Palavras-chave: Paratexto literário-iconográfico; Odilon Redon; Simbolismo.
O TOM CRONÍSTICO DA PROSA DECRESCENZIANA
Matheus dos Santos Bueno (UNESP/IBILCE)
Maria Celeste Tommasello Ramos (UNESP/IBILCE)
O presente estudo propõe a discussão a respeito do tom cronístico presente em narrativa
do escritor napolitano Luciano de Crescenzo, principalmente em suas obras Così parlò
Bellavista, publicado em 1977, e Elena, Elena, amore mio, publicado em 1991. O
napolitano Luciano De Crescenzo, nascido em 1928, aborda diversos temas nessas e em
outras obras suas, circulando sua prosa de ficção, por meio de um tom cronístico, entre
as áreas de Mitologia, Filosofia, História, memórias suas e generalidades cotidianas. É
também conhecido como um diretor de comédias que tem como tema a Filosofia da
cidade de Nápoles e como um escritor de ensaios direcionados para a Filosofia grega
dos sofistas, como Sócrates em particular. Baseados nas considerações de Candido
(1992) e Scliar (2002 e 2009), principalmente, buscamos verificar como a crônica,
narrativa essencialmente breve desse gênero que se localiza entre o Jornalismo e a
Literatura, tem tom leve, como em um diálogo informal, e revela alguma questão ligada
ao cotidiano ou a um fato que capta alguma perspectiva social (COELHO, 2009), ajuda
a constituir as narrativas de De Crescenzo e como são inseridos acontecimentos
cotidianos e banais, comentários memorialísticos, fatos históricos reais ou fictícios,
narrativas ou personagens mitológicos, considerações filosóficas, etc., e, a partir desses
elementos, o escritor italiano configura as características das personagens, o percurso
narrativo de cada uma delas, fazendo fluir a trama num espaço inusitado criado por
meio do recurso ao tom cronístico no tecer das narrativas decrescenzianas.
Palavras-chave: Così parlò Bellavista; Elena, Elena, amore mio; Luciano De
Crescenzo; Tom cronístico.
POESIA: EXPERIÊNCIA DA ERRÂNCIA
Susanna Busato (UNESP/IBILCE)
Esta comunicação faz parte de uma pesquisa maior que tem como objetivo construir um
pensamento acerca da poesia como experiência e como errância. Experiência do poeta
com as palavras e com os signos do mundo, o seu cotidiano e sua história. E errância
como um exercício de deslocamento do olhar no mundo ao redor, que o invade com
seus signos, suas direções, suas referências. A presença da poesia como corpo no espaço
é sempre reinaugurada a cada tradução que o poeta faz do mundo a partir de uma
experiência da deriva. Essa experiência absorve o acaso, o inesperado do encontro,
incorpora-o como um elemento de criação. Assim, alguns pontos são marcados no
percurso crítico. Ei-los: a poesia como exploradora de territórios e linguagens; o lugar
de procura e de inserção do sujeito, o caminhante, cuja performance textual, sua voz, é
traduzida como descoberta de si e do mundo; a poesia como luta temporal: memória e
esquecimento; a poesia como viagem e mobilização do instante que escapa. O universo
do poeta é o mundo, mas é no terreno das palavras que ele finca o pé e o olhar e
imprime à experiência da errância a poesia possível de uma constelação, lugar para o
qual convergem tempo e espaço em suspensão. É na experiência do deslocamento que
absorve, deglute e devora o tempo e, com ele, a memória das coisas. Encontrar a poesia
nas coisas é percorrer o espaço intervalar que as separa do seu cotidiano entrópico.
Palavras-chave: Experiência; Errância; Poesia.
A CASA, A QUINTA E OS AVATARES FEMININOS: A ARQUITETURA DOS
ESPAÇOS NO ROMANCE DE AGUSTINA BESSA-LUÍS
Fernanda Barini Camargo (UNESP/FCLAr)
Voltando a sua escrita para o lugar que a viu nascer, as margens do rio Douro, a
ficcionista portuguesa Agustina Bessa-Luís (n. 1922) trouxe aos seus romances retratos
das famílias durienses (Os Clara, os Bahia, Os Paiva), bem como as suas casas, as suas
quintas e os seus solares. Destacam-se, nos contextos criados pela romancista,
personagens femininas que, inseridas, sobretudo em espaços domésticos, criam fissuras
no sistema patriarcal que se desenha ao seu redor. Assim, ocupam especial lugar na
ficção agustiniana as genealogias femininas representadas pelas figuras da mãe, da avó,
das tias e das criadas que se dedicam às famílias do Douro. Isto posto, pode-se constatar
que a arquitetura que abriga tais mulheres e as suas famílias reflete as transformações
sofridas pelas protagonistas criadas por Agustina, por vezes caminhando, paralelamente
à trajetória de tais mulheres (e como tais mulheres), rumo à decadência. Casas que
desabam são motivos que se relacionam, por exemplo, a identidades femininas cuja
preocupação reside na manutenção não apenas do patrimônio familiar a todo custo, mas
também dos costumes e das tradições. Nestes termos, presume-se que a escritora
articula um alargamento da temporalidade narrativa como técnica de composição que
privilegia o trato de gerações, ao passo que o seu tratamento do espaço se concentra em
regiões específicas e se caracteriza pela escassez de extensos deslocamentos. Debater a
importância do espaço arquitetônico-romanesco pelas representações da casa como
motivo fundamental do eixo da fábula agustiniana e a maneira pela qual tal categoria
narrativa incide sobre os demais componentes diegéticos, os quais dão forma ao seu
romance, é o escopo desta comunicação. Discutir-se-á a temática proposta a partir de
dois romances de Agustina Bessa-Luís: Fanny Owen (1979) e Vale Abraão (1993).
Palavras-chave: Agustina Bessa-Luís; Arquitetura; Espaço; Literatura.
CHATEAUBRIAND: O PRIMEIRO TRADUTOR FRANCÊS DE MILTON
Natália Pedroni Carminatti (UNESP/FCLAr)
Em 1836, François-René Auguste de Chateaubriand (1768-1848) publicou sua tradução
francesa da obra, Paradise Lost (Paraíso Perdido), de John Milton (1608-1674), no
momento em que a França vivenciava o apogeu do período que se denominou
romântico. Ainda que a publicação da referida obra tenha se dado em 1836;
precedentemente, no Génie du christianisme (1802), Chateaubriand, na segunda parte
do Livro I, intitulada ―Poétique du christianisme‖, dedicou-se ao exame geral das
epopeias cristãs, conferindo o capítulo III ao estudo do texto de Milton. Para o
apologista cristão, Milton foi o primeiro poeta a terminar sua epopeia com a catástrofe
do protagonista, contrariando, desse modo, a simplicidade legislada por Aristóteles. É
interessante dizer que Chateaubriand, admirador de Milton, consagrou-o como grande
poeta, escolhendo traduzi-lo, conforme afirmou Antoine Berman (1985), literariamente.
Pensando nisso, a presente comunicação visa discutir a postura de Chateaubriand
enquanto tradutor, já que a crítica chateaubriana é unânime ao afirmar que a tradução do
volume se destinou somente para que o tradutor garantisse sua subsistência, pois
encontrava-se, em tal época, exilado. Sendo assim, seguindo o modelo tradutório literal,
isto é, ―palavra por palavra‖, Chateaubriand acreditou que a tradução justalinear
marcaria sua arte. Para tanto, servir-nos-emos da obra A tradução e a letra ou o albergue
longínquo (1985), de Antoine Bernan a fim de sustentarmos nossas reflexões.
Palavras-chave: Chateaubriand; Paraíso Perdido; Romantismo; Tradução.
A PRESENÇA DE SATÍRICON EM ―QUATROCENTOS MIL SESTÉRCIOS‖, DE
MÁRIO DE CARVALHO
Jean Carlos Carniel (UNESP/IBILCE)
Mário de Carvalho (1944-), em suas obras, recupera vários elementos do romance
antigo romano; tais referências podem ser encontradas em títulos como ―Quatrocentos
mil sestércios‖, Fantasia para dois coronéis e uma piscina, e Um deus passeando pela
brisa da tarde, dentre outros. Dessa forma, objetiva-se, com este estudo, uma análise
comparativa entre o conto ―Quatrocentos mil sestércios‖, de Carvalho, com o romance
antigo romano Satíricon, de Petrônio (século I d.C.). No conto de Carvalho, há duas
cenas de banquetes, enquanto que no romance romano é retratado o tão famoso
Banquete de Trimalquião. A nossa análise, portanto, será pautada nas aproximações e
distanciamentos do texto carvalhiano com a cena petroniana. Para isso, utilizaremos
como aparato teórico os pressupostos defendidos por Kristeva (1969) e Genette (1982)
acerca da intertextualidade, bem como os estudos de Mendes (2005), de Hilário (2006)
e de Santos (2009) sobre a obra de Carvalho, de Aquati (2008) sobre o romance
petroniano, além das reflexões postuladas por Vayne (1997) sobre algumas
características do império romano. Percebe-se, portanto, que o autor contemporâneo
português recupera elementos temáticos desse romance latino em sua obra, ao fazer
referências diretas à obra de Petrônio, como a utilização de nomes de personagens e
outras características similares ao texto romano.
Palavras-chave: Intertextualidade; Literatura comparada; Mário de Carvalho; Satíricon.
AS RELAÇÕES DE PODER ENTRE PATRÃO E EMPREGADO EM COSMÓPOLIS
DE DON DELILLO
Alan Medeiros Casteluber (UNESP/IBILCE)
Este estudo investiga como se revelam e como se constroem as relações de poder na
pós-modernidade, mais especificamente as que compõem a dinâmica entre patrão e
empregado, num contexto em que o ―capitalismo tardio‖ prepondera como sistema
econômico-social padrão. Partindo da obra Cosmópolis (2003) de Don DeLillo e,
baseando-se nos estudos de Byers (2011), Belsey (1980), Burns (1996), Debord
(1967/2015), Harvey (1992), dentre outros, sobre os diferentes conceitos e faces do
poder, suas formas e seus mecanismos, constata-se a ampla influência da ideologia
capitalista na constituição da subjetividade dos indivíduos e das relações que mantêm
uns com os outros. Dando ênfase especial à extensão do poder financeiro de seu
protagonista Eric Packer, DeLillo apresenta uma sociedade em que o materialismo e o
consumismo configuram-se como o estilo de vida dominante, e grande parte da
subjetividade é substituída por preocupações referentes ao acúmulo de capital e bens
materiais, e à manutenção de uma imagem de sucesso. Assim, a partir dos
relacionamentos abusivos de Eric Packer com diversos outros personagens, grande parte
destes seus empregados (que serão o foco deste trabalho), DeLillo faz transparecer os
processos de reificação de sujeitos menos afortunados, e a potencial alienação e o
afastamento social dos indivíduos em relação a si mesmos e uns aos outros. Fica
evidente que a literatura de DeLillo parte de considerações de inegável relevância para a
compreensão plena do cenário atual, revelando os efeitos visíveis e degradantes do
alcance ideológico do capitalismo e suas concretizações na fábrica social, evidenciando
as relações de poder em prática que permeiam todo este contexto e constituem,
perniciosamente, a subjetividade dos indivíduos.
Palavras-chave: Don DeLillo; Pós-modernidade; Relações de poder; Subjetividade.
AS IMPOSIÇÕES DE GÊNERO E A INVISIBILIZAÇÃO DOS SUJEITOS:
(DES)CONSTRUINDO PADRÕES NA LITERATURA
Juliane Camila Chatagnier (IFSP)
É possível observar que, na literatura, a dominação masculina, por muito tempo,
posiciona o homem como o principal herói em romances mais lidos, deixando demais
grupos à ―margem‖ (cf. Dalcastagnè, 2005). Com o intuito de desconstruir essa ideia de
hierarquização, embasada no binarismo sexo/gênero, um dos propósitos deste trabalho é
mostrar como vozes antes silenciadas pela cultura heteronormativa, ganham espaço na
literatura, visto que essa não pode mais eternizar um cânone ligado apenas à história do
homem, branco, heterossexual, de classe média-alta. Hoje, as histórias múltiplas e
irregulares ganham visibilidade. Nota-se que não apenas homens têm realizado feitos
dignos de louvor: mulheres, gays, lésbicas protagonizam histórias agora lidas por mais
leitores. Pode-se dizer que, por meio da análise dos romances contemporâneos aqui
selecionados, o rumo da literatura apresenta mudanças. As autoras trazem aos leitores as
histórias silenciadas a fim de iniciar um processo de valorização das experiências
―marginalizadas‖ e os leitores as recebem com outro olhar, mais humanizado, ou seja,
há acréscimo de obras literárias sobre o assunto e mudança na postura dos leitores. A
leitura das obras escolhidas nos permite observar uma subversão na forma do romance,
na qual o homem branco heterossexual deixa de ser protagonista e dá lugar às mulheres
e aos homossexuais. Essa inversão também permite ao público entrar em contato com
diferentes expressões de masculinidades e feminilidades, uma vez que a relação corpo-
feminino/mulher ou corpo-masculino/homem não segue padrões. Utilizando a teoria de
Judith Butler (2003; 2010; 2015), como arcabouço teórico, verificaremos que, ao invés
de impor verdades, a intenção das escritoras é criar ―redes de solidariedade‖ visando
chamar a atenção para os problemas vivenciados pela "minoria", de forma que isso evite
a perpetuação de preconceitos e discriminações.
Palavras-chave: Gênero; Invisibilidade.Contemporaneidade; Judith Butler.
ESCRITAS ESQUECIDAS DE 30: O ENTRECRUZAR DO ESTÉTICO E DO
IDEOLÓGICO NOS ROMANCES NÃO CANÔNICOS
Elisa Domingues Coelho (UNESP/FCLAr)
Entre permanências e rupturas, o processo de formação do cânone se constrói a partir de
uma imensidão de esquecimentos, escritas literárias que expressam o espírito de suas
épocas, as questões fundamentais com as quais a intelectualidade se debateu, mas que
permanecem circunscritas ao seu tempo. No contexto da década de 30, há, em sua
numerosa prosa, obras que colocaram em movimento o famoso dualismo estético-
ideológico e cujos registros se limitam às críticas publicadas nos jornais da época. São
elas a imensa maioria dos romances de 30 e, por serem as tentativas que são de escritas
literárias respondendo à grande crise de seu tempo, são fundamentais para que a Crítica
Literária compreenda, de fato, um período crucial da formação de nossa literatura. Esses
romances são, portanto, um grande legado, mas que foram relegados ao esquecimento
por muito tempo. Diante disso, este trabalho traz a preocupação e o esforço de resgatar
alguns desses romances e, a partir da discussão da crítica feita em ocasião de seu
lançamento, não só trazê-los à luz, mas também perceber como se localizam entre o
ideológico e o estético, elementos que se cruzaram e se embaralharam na prosa e na
crítica – dessa década e das seguintes –, imbricamento que torna urgente que
revisitemos cada vez mais a prosa e a crítica de 30. Para essa discussão inicial a que nos
propomos, traremos os romances não canônicos Os três sargentos, de Aldo Nay; Badú,
de Arnaldo Tabayá; Paracoera, de Lauro Palhano e A rua do Siriry, de Amando Fontes.
Palavras-chave: Aldo Nay; Amando Fontes; Arnaldo Tabayá; Literatura brasileira;
Prosa.
A NARRAÇÃO DO HORROR COMO ATO DE MEMÓRIA EM JACQUES
CHESSEX
Ana Amélia Gonçalves da Costa (UERJ)
Jacques Chessex (1934-2009), escritor suíço de língua francesa, apesar de desconhecido
dos leitores brasileiros, publicou extensa obra e recebeu o prêmio Goncourt em 1973,
com o romance L’Ogre. Seu último livro publicado em vida, Un Juif pour l’exemple
(2009), causou polêmica no território helvético, ao relatar, baseando-se em fatos reais, o
assassinato, por militantes nazistas suíços, do comerciante suíço-judeu Arthur Bloch,
em 1942. O testemunho de Chessex sobre o episódio sangrento relacionado aos crimes
da Shoah é claramente reação ao silêncio oriundo da preservação, a qualquer custo, de
uma boa consciência coletiva. Ao transformar uma ―história morta‖ em romance, o
autor se torna o porta-voz privilegiado de um tempo de desencantamento e de resgate da
memória das chamadas situações-limite, aquelas em que as palavras do cotidiano
parecem ser insuficientes ou que desafiam nossa capacidade de expressão e de
pensamento. Uma das tendências na expressão dessas memórias na literatura pós-
moderna é a alta condensação da linguagem, produzindo a sensação de que há muito
sendo dito em poucas palavras. Esse é exatamente o ritmo frasal de Un Juif pour
l'exemple, que busca, por outro lado, trabalhar a dificuldade de representação que aponta
para a ideia de que a realidade não é passível de compreensão prévia. É nesse vácuo que
reside o confronto entre a memória individual e a memória coletiva, em que é preciso
atentar para o alcance das verdades fluidas. Através da bolsa de Pós-doutorado para
Recém-doutor Nota 10 da FAPERJ, a obra, que já rendeu um filme intitulado ―Um
Judeu Deve Morrer‖ (2016), está sendo traduzida para o português.
Palavras-chave: Identidade autoral; Jacques Chessex; Literatura suíça; Memória.
CANTO AGRESTE DAS TINTAS CABRALINAS
Alex Wagner Dias (UNESP/FCLAr)
A obra do poeta João Cabral de Melo Neto ocupa lugar de destaque no cenário da
poesia moderna em língua portuguesa. A crítica comumente o distingue pela
inventividade e linguagem peculiar, cujo projeto literário é marcado por uma extrema
consciência de seus mecanismos de composição. O poeta, em muitos de seus poemas,
fala do fazer – metapoesia – e da relação com outras formas de arte, incluindo tais
reflexões, também, em ensaios que nos legou. Neste trabalho, por meio de poemas deste
cunho, como ―Lição de Pintura‖ e ―O Ferreiro de Carmona‖, aproximar-se-á os ensaios
do poeta, ―Poesia e Composição‖ e ―Joan Miró‖, das teorias apresentadas pelos artistas-
críticos Fayga Ostrower e Wassily Kandinski, que possibilitam nova leitura e análise da
obra cabralina. Note-se que o intuito não é colocar uma arte sobreposta a outra, mas
promover leituras possíveis que, analisando a composição, a invenção para esses
artistas, possam combinar tais teorias em prol de uma leitura crítica que desvele pontos
de contato entre as teorias e poemas aqui selecionados. Há, certamente, a verificação do
que João Cabral de Melo Neto distinguiu sobre as categorias de poetas, divisando-os
entre os artistas inspirados e os artistas intelectuais ou os profissionais da literatura, em
que o sentido que dão às suas criações se aparta da visão romântica de inspiração.
Palavras-chave: João Cabral de Melo Neto; Pintura; Poesia e Composição.
A CRÍTICA SOCIAL EM L'ÉCUME DES JOURS (1947), DE BORIS VIAN
Glenda Verônica Donadio (UNESP/FCLAr)
Este trabalho buscará retomar o ensaio de Walter Benjamin "O surrealismo: o último
instantâneo da inteligência europeia" (1929), que demonstra o caráter político presente
nas práticas do movimento surrealista, especialmente naquilo que concerne a crítica aos
ideais burgueses por meio da revolução, ocasionando na transcendência da arte do
âmbito puramente estético para aquele da práxis vital. Os conceitos discutidos serão
evidenciados e exemplificados em quatro momentos selecionados ao longo da narrativa
poética L’Écume des jours (1947), de autoria de Boris Vian. Os trechos recortados ao
longo da história visam evidenciar a crítica social focada, principalmente, na inequidade
presente na dinâmica das relações trabalhistas – nos moldes do sistema capitalista – e na
hipocrisia recorrente em algumas práticas religiosas do cristianismo, aspectos
característicos da ideologia burguesa. A associação entre o ensaio de Benjamin, as
práticas surrealistas e a obra de Vian, dar-se-á pelo fato desta última, apesar de ter sido
publicada em 1947, em contextos político e social diferentes daqueles observados nos
textos anteriores, retoma a crítica social proposta pelo movimento surrealista na década
de 20 – a qual foi também pontuada por Benjamin – executando-a via criação de
sucessivas imagens surrealistas – aliadas à uma renovação estética – cristalizada por
uma nova abordagem da linguagem verificada no hibridismo de gêneros característico
desta narrativa poética.
Palavras-chave: Boris Vian; Surrealismo; Walter Benjamin.
À LA RECHERCHE DU TEMPS PERDU, DE MARCEL PROUST, EM UMA
PÁGINA: ESTUDO DE UMA ADAPTAÇÃO EM QUADRINHOS
Karina Espurio (UNESP/IBILCE)
O objetivo desta comunicação é analisar os procedimentos narrativos da adaptação do
quadrinhista francês François Ayroles de À la Recherche du Temps Perdu, de Marcel
Proust, para o formato de quadrinhos. Publicada na página 52 do número um de
―L‘OuBaPo‖, revista inovadora na apresentação de trabalhos em histórias em
quadrinhos, a adaptação reduz as mais de 3000 páginas do romance proustiano em uma
única página com seis requadros. Nessa prancha, Ayroles restaura a vida do narrador
proustiano sem desenhá-lo e sem dar-lhe voz, dando importância, unicamente, ao local
onde o personagem vive, destacando objetos que remetem à passagem do tempo e às
memórias do personagem principal do texto fonte. Para a feitura da análise, será
necessário o aporte de teorias da adaptação como, por exemplo, Uma teoria da
adaptação" (2013) de Linda Hutcheon, que nos ajuda a compreender o processo de
(re)criação do texto adaptado para a adaptação quadrinhística do desenhista francês.
Para compreender os mecanismos de composição dos quadrinhos, que utiliza,
primordialmente, imagens para contar uma história, será necessária a utilização de,
dentre outros, La Bande Dessinée: Mode d'Emploi (2007) de Thierry Groensteen. Com
isso, queremos mostrar como o texto proustiano foi transposto para uma história em
quadrinhos na qual somente estruturas imagéticas conseguem modelar a (ausência de)
ação da narrativa de Proust.
Palavras-chave: Adaptação; História em quadrinhos; Marcel Proust.
A CONSCIÊNCIA DO MAL EM LE NOEUD DE VIPÈRES DE FRANÇOIS
MAURIAC
Carla Alexandra Ezarqui (UNESP/FCLAr)
Objetiva-se, com esta comunicação, analisar o romance Le noeud de vipères, de
François Mauriac, cuja obra é permeada por diferentes manifestações do mal. O
romancista, em detrimento do célebre epíteto de ―escritor católico‖, exaltou, ao longo de
sua produção literária, os disparates e, até mesmo, os crimes para os quais são levadas
suas personagens. Conduzidas pelo mal, elas atuam, na maioria das vezes, de modo
consciente ao ponto de a malignidade se apresentar como um dos elementos
articuladores da trama. Em se tratando dos heróis, melhor designados como anti-heróis,
estas personagens revelam a complexidade da alma dividida entre a consciência do mal
e a sua prática; o mal interior é agravado à medida que as possibilidades de se fazer
compreender se dissipam. São seres desgarrados do amor e que, de maneira inadvertida
e, por vezes, tardia, buscam a redenção. Retratadas no seio familiar, as relações entre
elas, no romance em questão, são determinadas por sentimentos como a incompreensão,
o ressentimento e, sobretudo, a ganância. Assim, partindo do desejo de vingança,
associado à avareza de Louis, personagem protagonista, será analisado em que medida o
mal se apresenta como fundamento de sua existência, levando em consideração o
isolamento da família e um rancor fortalecido durante mais de quatro décadas. A análise
se estende, igualmente, à forma do romance, visto a maneira pela qual o mal é
provocado incidir sobre ela.
Palavras-chave: Escrita; François Mauriac; Mal; Narrativa francesa; Redenção.
DOS USOS DAS SOCIEDADES BRASILEIRA E INGLESA DO SÉCULO XIX:
APROXIMAÇÕES E DISTANCIAMENTOS EM SENHORA, DE JOSÉ DE
ALENCAR E NORTE E SUL, DE ELIZABETH GASKELL
Daiane de Cássia Martins Fazan (UNESP/IBILCE)
O presente trabalho objetiva a comparação de dois romances escritos e figurados no
século XIX: o romance brasileiro Senhora, de José de Alencar, e o romance inglês
Norte e Sul, de Elizabeth Gaskell. Tendo em vista as semelhanças e divergências entre
os contextos inglês e brasileiro, consideraremos a comparação dos usos do passado no
que tange à quebra de expectativas e aos paradigmas relacionados aos papéis dos
homens e das mulheres nessas sociedades. Estudaremos, sobretudo, possíveis
aproximações e distanciamentos existentes entre elas, como as convenções sociais, o
casamento, a obtenção de fortuna e como o falso moralismo é problematizado pelos
referidos autores. Para isso, trabalharemos com as considerações contidas no livro
organizado por Mary del Priore (2004), intitulado Histórias das mulheres do Brasil e,
ainda, em outro livro, este de autoria de del Priore (1991), A mulher na história do
Brasil, alguns relatos de viagem presentes na antologia de Miriam Moreira Leite (1993),
denominada ―A condição feminina no Rio de Janeiro - século XIX‖. Do outro lado,
consideraremos as reflexões sobre a situação das mulheres inglesas no período vitoriano
contidas em Cavendish (1996), em A voz embargada e Monteiro (1996), e no artigo
intitulado ―Figuras errantes na época vitoriana: a preceptora, a prostituta e a louca‖.
Palavras-chave: Romance brasileiro, Romance inglês, Sociedades oitocentistas.
RUY DUARTE DE CARVALHO, PEPETELA E O SUL
Suiá Dylan Cavalcante Ferreira (UFF)
Este trabalho pretende investigar as representações do sul de Angola nas literaturas de
Pepetela e Ruy Duarte de Carvalho e como esse espaço é integrado ao espaço nacional
angolano. Para investigar esta questão, discutimos as obras Predadores, de Pepetela, e
As águas do Capembáua, de Ruy Duarte. Para a análise utilizamos os textos do próprio
Ruy Duarte de Carvalho em que ele estabelece seus pressupostos antropológicos:
―Tempo de ouvir o ‗outro‘ enquanto o ―outro‖ existe, antes que haja só o outro... Ou
pré-manifesto neo-animista‖ e ―Decálogo neo-animista‖. Tomamos como apoio teórico,
também, a obra Epistemologias do Sul, de Boaventura de Sousa Santos e Maria Paula
Meneses, por também discutir a posição dos diferentes saberes no cânone ocidental.
Consideramos, ainda, A inconstância da alma selvagem, de Eduardo Viveiros de Castro,
por considerarmos o seu pensamento multiculturalista importante para o estudo de
textos literários que trazem povos com cosmologias diversas da ocidental.
Considerando-se parte da categoria do Outro em relação à Europa, Ruy Duarte propõe-
se a pensar essa categoria de alteridade em seu texto ―Tempo de ouvir o ‗outro‘
enquanto o ―outro‖ existe, antes que haja só o outro... Ou pré - manifesto neo-animista‖,
chegando à conclusão que existem diferentes alteridades. Para a análise dos textos
escolhidos, trabalhamos aquela que se refere aos sujeitos menos ocidentalizados,
conforme diz o autor, e que estão mais à margem do estado-nação.
Palavras-chave: Angola; Literatura; Pepetela; Ruy Duarte de Carvalho.
DONA GUIDINHA DO POÇO: A LENDA DE UMA CORONELA
Gabriela Fardin Fernandes (UNESP/IBILCE)
Esta comunicação trata de uma proposta de leitura e interpretação da obra Dona
Guidinha do Poço, escrita por Manoel de Oliveira Paiva, em meados de 1891, mas
publicada por volta de 60 anos depois, em 1951. A crítica nos conta que a publicação
tão demorada de Dona Guidinha do Poço foi resultado de uma série de imprevistos
ocorridos com o manuscrito; essa saga do romance será brevemente tratada no decorrer
da comunicação. Interessa-me, então, analisar a construção e o desenvolvimento dessa
personagem tão peculiar que, conforme discutirei ao longo da apresentação, parece-me
ter sido punida por assumir seus próprios caprichos e ser "mais fêmea do que mulher" (o
uso de aspas aqui faz referência à ideia de mulher enraizada na estrutura patriarcal da
sociedade sertaneja, assim como de tantos outros grupos sociais, brasileiros ou não,
representada no romance, para qual era esperado de Margarida um comportamento
brando, delicado, servil e passivo). A partir da leitura do romance e de trabalhos
relevantes à pesquisa, analisarei a personagem com o objetivo de esclarecer o quanto
Dona Guidinha representa um anti-ideal de mulher sertaneja, sendo assim, um dos
elementos que compõem o romance inovador de Paiva.
Palavras-chave: Dona Guidinha do Poço; Literatura brasileira; Manoel de Oliveira
Paiva; Romance regionalista.
A OBSESSÃO PELO SISTEMA EM THE NAMES (1982) E UNDERWORLD (1997),
DE DON DELILLO
Giséle Manganelli Fernandes (UNESP/IBILCE)
O escritor Don DeLillo revela, em suas obras, uma obsessão pelo sistema. Neste
trabalho, examinamos seus romances: The Names (1982) e Underworld (1997), a fim de
analisar a postura do autor em relação ao sistema vigente, colocando-o em xeque e
expondo sua fragilidade. Em The Names (1982), DeLillo aborda o poder do capital
determinante para as relações entre países e a ameaça constante do terror na vida
cotidiana. Por meio da atuação da personagem principal, o americano James Axton, um
analista de risco que trabalha para um conglomerado, avaliando as possibilidades de
sucesso para corporações com dinheiro aplicado em países cujas economias são
instáveis, o autor traz reflexões acerca da vulnerabilidade do sistema dominante. Já em
seu romance Underworld (1997), verifica-se uma nostalgia por um passado pré-Guerra
Fria, ao qual não se poderá nunca mais voltar, e expõe toda a insegurança causada pela
crise dos mísseis de 1962 e pelo lançamento do Sputnik, enfatizando a oposição
―Nós/Eles‖. Esta última tornou-se um fator de grande instabilidade para o mundo e
ainda está presente na realidade atual. Assim, a partir das estratégias narrativas
empregadas por DeLillo, este estudo mostra sua contestação no tocante a um sistema
aparentemente vigoroso, porém, na verdade, suscetível a intempéries.
Palavras-chave: Don DeLillo; Sistema; The Names; Underworld.
O SAGRADO FEMININO NA OBRA THE AWEKENING, DE KATE CHOPIN
Rosemary Elza Finatti (UNESP/FCLAr)
O célebre romance O despertar (The Awakening, 1899), obra-prima da autora Kate
Chopin (1850 – 1904) tem sido analisado por diversos críticos como um romance
político e de temática sexual, no qual a protagonista Edna Pontellier frequentemente é
considerada como uma Bovary Americana, semelhante à Emma Bovary, protagonista
do romance Madame Bovary (1857) de Gustave Flaubert. Do ponto de vista de tais
análises críticas, a protagonista é vista como uma mulher sulista casada e insatisfeita
com os papéis sociais de mãe e esposa impostos pela sociedade patriarcal, que busca o
amor, a liberdade e a autoafirmação, assim como Emma Bovary. Diferentemente da
perspectiva da crítica em geral, o ensaio intitulado ―The Second Coming of Aphrodite:
Kate Chopin‘s Fantasy of Desire‖ (1983), de Sandra Gilbert, defende a ideia de que o
sagrado feminino pode ser compreendido como o mito de Afrodite na figura de Edna
Pontellier. Neste sentido, a protagonista se transforma em uma mulher independente,
desperta para o seu próprio espírito, para o seu poder de pensar e agir,
independentemente das regras patriarcais. Assim, pretende-se apresentar uma proposta
diferente de leitura da obra máxima chopiniana, no que tange ao seu caráter mítico, à
transformação da protagonista em Afrodite e uma nova abordagem em relação ao
suposto suicídio no final do romance: a volta da protagonista para o mar, como a deusa
que ela encarna. Tomaremos como principais fundamentações teóricas da pesquisa os
apontamentos do ensaio supracitado, as reflexões de Mircea Eliade sobre o sagrado, as
considerações de Cathérine Clement e Julia Kristeva sobre o sagrado feminino, os
elementos da mitologia grega sobre Afrodite e sua relação simbólica com a água e o
sagrado feminino e a vertente crítica do feminismo que se dedica à questão do sagrado e
do metafísico relacionado ao feminino.
Palavras-chave: Kate Chopin; O despertar; Afrodite.
AS MASCULINIDADES EM DIÁLOGO COM OS ESTUDOS LITERÁRIOS: UMA
ANÁLISE SOBRE AS CRÔNICAS CONTEMPORÂNEAS
Fabricia Cristina Florencio (UEL)
Ao final do século XX, com avanço do feminismo e o movimento LGBT, os estudos
sobre as masculinidades começaram a crescer e evidenciar a necessidade de colocar em
debate a ideia do que é ―ser homem‖ e a construção do masculino. As pesquisas no
âmbito literário têm proporcionado diversos caminhos para os estudos de gênero e
contribuído para o enriquecimento do debate sobre as representações culturais e sociais
dos indivíduos na sociedade. A partir das leituras das obras, encontramos terreno fértil
para fomentar discussões e acrescentar outro olhar para as produções literárias. Embora
o ineditismo da temática proporcione um campo totalmente inexplorado nas pesquisas,
possibilitando revisitar obras de toda nossa história literária, trabalharemos apenas com
as produções de crônicas contemporâneas. Além de elencar nomes de cronistas que tem
contribuído para as discussões sobre as masculinidades, como Xico Sá, Fabrício
Carpinejar, Eliane Brum, Marcelo Rubens Paiva, Luis Fernando Verissimo, faremos
análises das crônicas de Antonio Prata, almejando demonstrar de que maneira as
representações sobre o tema aparecem na literatura e contribuem para as discussões
literárias e os estudos de gênero. Para desenvolver as análises buscaremos auxílio em
nomes como de Joan Scott (1989), Elisabeth Badinter (1993), Raewyn Connell e
Rebecca Pearse (2015), entre outros.
Palavras-chave: Crônica; Gênero; Masculinidades.
ZERO K: CIÊNCIA E TECNOLOGIA ALIADAS NA BUSCA PELA
IMORTALIDADE
Maura Cristina Frigo (UNESP/IBILCE)
O presente trabalho trata da análise da obra Zero K, publicada em 2016. pelo autor
norte-americano Don DeLillo. É sabido que os avanços científico-tecnológicos são
determinantes na formação do panorama socioeconômico de uma comunidade. As
diferentes fases de desenvolvimento do século XX sinalizam grandes mudanças no
cenário social, tendo como pano de fundo as eras industrial, espacial e tecnológica. Esta
última influenciando grandemente no comportamento humano e na busca desenfreada
pela preservação da vida e busca pela imortalidade. No romance em questão, as
personagens são confrontadas com sua finitude e lançam mão do uso de aparatos
científico-tecnológicos para se perpetuarem. Elas representam o homem em sua
constante busca por respostas sobre a própria existência. Inimigos antigos como a
guerra, a fome e doenças são lembrados na narrativa, bem como aspirações humanas
para a felicidade, imortalidade e divindade. São cenas do mundo pós-moderno
retratadas por Don DeLillo e estudadas por teóricos como Fredric Jameson (capitalismo
tardio), Baudrillard (simulacro), Terry Eagleton (pós-moderno), Stuart Hall
(descentramento do sujeito), Linda Hutcheon (discurso, poder e ideologia) e Zygmunt
Bauman (modernidade líquida), Donna Haraway (tecnologia), Yuval Noah Harari
(ciência), entre outros. Esta pesquisa evidencia a maneira como a literatura permite
representar, reler e reavaliar os diferentes avanços e aspirações do sujeito nas
comunidades do mundo pós-moderno.
Palavras-chave: Ciência; Imortalidade; Tecnologia; Zero K.
LÍRICA SACRA NO BARROCO LUSO-BRASILEIRO: FUNDAMENTOS PARA
UMA PESQUISA
Daniel de Assis Furtado (UNESP/FCLAr)
Elencamos, ao longo da pesquisa que resultou na dissertação ―Manuel Botelho de
Oliveira: a estética barroca, o nativismo e o mito do Brasil‖, uma série de poetas luso-
brasileiros cuja produção efetuou-se sob os princípios do estilo barroco. Manuel Botelho
de Oliveira (1636-1711), cuja silva ―À Ilha de Maré‖ então analisamos, além de sua
Música do Parnaso (1705), compôs também uma obra que permaneceu inédita até
1971: a Lira sacra (ms. 1703); enquanto naquela o poeta houvesse incluído todos seus
poemas de caráter profano, nesta relegou sua poesia de caráter religioso. Foi nesse
contexto que alcançamos o objeto de nosso projeto de pesquisa para o doutoramento
(em curso): o levantamento e a análise da poesia sacra produzida em Portugal e no
Brasil no período em que vicejou o estilo barroco. Tal projeto pretende, a partir da
leitura da Lira sacra, realizar um apanhado da poesia de caráter religioso produzida
pelos poetas portugueses e brasileiros do período barroco, tanto comparando os
elementos comuns de que fizeram uso, seja em sua poética ou em seus tópoi literários,
quanto destacando elementos particulares a cada um. Esta comunicação pretende dispor
os fundamentos para estes esforços, apresentando: a) um breve panorama da produção
lírica luso-brasileira do período barroco, com o apontamento de uma série de poetas, em
grande parte, obscuros, e o destaque para algumas de suas obras; b) uma exposição
sucinta sobre a vida de Botelho de Oliveira e, particularmente, de sua Lira sacra; e c) os
elementos sobre os quais se sustenta grande parte do ideário da poesia sacra barroca
luso-brasileira: Contra-Reforma e ação jesuítica. Acreditamos que estes esforços
venham a contribuir tanto com o resgate de poetas cujos nomes via de regra são
esquecidos ou relegados aos bastidores do estilo da época, quanto com a análise mais
cuidadosa do conjunto de suas obras.
Palavras-chave: Barroco; Lírica sacra; Poesia luso-brasileira.
INSPEÇÃO INTERIOR E INADEQUAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA EM CAETÉS, DE
GRACILIANO RAMOS
Pedro Barbosa Rudge Furtado (UNESP/FCLAr)
O objetivo da presente comunicação é assinalar o surgimento, mesmo que embrionário,
da introspecção em Caetés, característica marcante em obras posteriores de Graciliano
Ramos. Trata-se, portanto, de ampliar o modo como a crítica tem avaliado essa narrativa
e a produção do autor, considerando a primeira, muitas vezes, apenas como romance de
costumes e o início da presença do mergulho introspectivo somente em livros que
vieram depois. Tal intromissão interior quebra o tom de crônica de costumes encontrado
em grande parte do romance. Se, na crônica de costumes, João Valério – narrador-
protagonista – já demonstra certo sentimento de incompatibilidade entre o eu e o meio
em que estava inserido, nos momentos de auto-análise, o mal-estar, no que tange à
incompatibilidade com tal meio, acentua o seu sofrimento. Fazendo uso de alguns textos
da fortuna crítica do livro e da proposta de Alfredo Bosi (2006) para uma classificação
das tendências do romance brasileiro – dos anos 30 aos 60 – tendo em vista a tensão
entre o herói e o mundo, há a tentativa de mostrar como essa obra movimenta-se entre a
tensão mínima – crônica de costumes – e a interiorizada, alterando a sua
forma/conteúdo dependendo do momento narrativo. Brevemente, indicamos que, em
Graciliano, quanto maior o nível de inspeção interior, mais grave tornam-se os conflitos
sócio-históricos sentidos no âmago das personagens.
Palavras-chave: Crônica de costumes; Graciliano Ramos; Inadequação; Introspecção;
Subtexto social.
INDIVIDUALISMO E UTILITARISMO EM MOLL FLANDERS, DE DANIEL
DEFOE
Ana Paula Garcia (UNESP/IBILCE)
É muito comum, nos estudos sobre o gênero romanesco, análises que enfatizam as
diferenças entre as primeiras obras, do século XVIII, e as mais modernas do início do
século XX. Discussões que vão à direção oposta, no entanto - observando aspectos dos
romances do XX que já se mostravam presentes, ainda que de forma primitiva, nos
primeiros exemplares do gênero –, parecem menos frequentes. O presente trabalho tem,
portanto, o objetivo de fazer essa discussão, partindo de dois traços considerados
característicos das composições mais modernas: as vontades individuais como
verdadeiro motor das escolhas dos heróis e a relação com Deus como mais uma relação
de interesses, desvinculada da fé. Em Moll Flanders (1722), de Daniel Defoe, a
protagonista narra sua acidentada trajetória de vida, marcada pela instabilidade
emocional e financeira, que a acaba conduzindo à criminalidade. Ao analisar a
personagem, em seu livro A ascensão do romance, Ian Watt define a heroína como uma
―vítima de circunstâncias que qualquer um poderia ter experimentado‖ (p. 101), o que é
válido se consideradas apenas as condições que a levaram a começar a roubar, mas
insuficiente se observarmos as razões pelas quais ela continua com a prática mesmo
depois de ter alcançado condição financeira estável. Desse modo, a comunicação
pretende mostrar o peso das vontades individuais nas escolhas da personagem e,
consequentemente, em sua ruína, assim como o modo definitivo com que esses
interesses determinam sua relação com a religiosidade, revelando a superficialidade e o
caráter utilitário atribuído à fé, na medida que esta passa a funcionar como uma maneira
da heroína se confortar e se justificar a cada momento em que se aproxima da percepção
da vacuidade de seus arrependimentos.
Palavras-chave: Daniel Defoe; Individualismo; Romance; Utilitarismo.
A presença da tradução no jornal O Sexo Feminino
Priscila Renata Gimenez (UFG)
A imprensa do século XIX inscreve-se no fenômeno da globalização das práticas
culturais das mídias impressas, caracterizada pela circulação internacional de textos e
ideias. Isto foi possível, principalmente, graças à intermediação de periódicos em vários
idiomas que circulavam entre a Europa e as Américas, bem como pela reprodução de
artigos desses diversos periódicos nos periódicos nacionais, como os brasileiros. O
―Sexo Feminino‖ (1873-1890), jornal dirigido por Francisca Senhorinha da Mota Diniz
e cujo corpo redacional era majoritariamente feminino, foi um periódico que incorporou
traduções em suas rubricas. Assim, esta intervenção apresentará estudos iniciais sobre a
presença da tradução nesse periódico feminino, com o objetivo de repertoriar, descrever
e analisar a frequência de publicação de traduções, os tipos de rubricas e/ou artigos
traduzidos, suas temáticas, conteúdo e as ideias políticas e socioculturais desses textos.
Além disso, também compõem o foco desta investigação o modo como tais traduções se
relacionam com as demais rubricas e concepções do ―Sexo Feminino‖ e os artigos
fontes das traduções. Pretende-se examinar, igualmente, as questões culturais
imbricadas nessa prática tradutória da imprensa, partindo da ideia de que a ―noção de
tradução entre culturas e também entre línguas‖ pode ser entendida como ―a adaptação
de ideias e textos conforme eles passam de uma cultura para outra‖ (Burke; Hsia, 2009,
p. 9). Amparando-se nos estudos sobre literatura e imprensa e sobre a história cultural
da tradução, este trabalho visa contribuir para a visibilidade da prática tradutória na
imprensa do século XIX no Brasil, bem como suas contribuições para nossa imprensa e
literatura.
Palavras-chave: Imprensa; O Sexo Feminino; Século XIX; Tradução.
UMA JORNADA DE (DES)APEGO: ASPECTOS DA RELAÇÃO ENTRE MÃE E
FILHA NA MULHER-MARAVILHA DE GREG RUCKA
João Pedro Fernandes Gomes (UNESP/IBILCE)
Este trabalho pretende investigar as relações entre mãe e filha nos quadrinhos da
Mulher-Maravilha, especificamente na fase roteirizada por Greg Rucka entre 2016 e
2017. Consideramos, em consonância com Curtis (2017), que o parentesco é um dos
pilares fundamentais na construção simbólica e identitária da super-heroína em pauta,
sendo que a recente retomada desse tópico nas HQs favorece uma atualização das
leituras já existentes. Visamos, ainda, lançar olhares a uma obra contemporânea em que
se evidencia a maternidade, uma vez que, segundo Fontes (2014), tal temática, apesar
do papel fundamental das mães desde a antiguidade, é escassa até mesmo na literatura
de autoria feminina. Centraremos a análise nas personagens de Diana, a Mulher-
Maravilha, e sua mãe, Hipólita, bem como na antagonista, Veronica Cale, que tem como
motivação maior para o início de sua vilania o rapto de sua filha para satisfazer os
interesses dos deuses. As referências à Mitologia greco-romana nos permitem traçar
relações interpretativas homológicas com Deméter e Perséfone, mito no qual a
maternidade também é fator de destaque, de forma a observar, segundo a perspectiva de
Salis (2003), como a temática do desapego maternal nele presente é essencial também
na jornada tanto da super-heroína quanto da vilã. Por fim, após levantados aspectos
sobre a figura social da mulher mãe, concluímos o trabalho buscando averiguar de que
formas a narrativa perpetua e/ou subverte a representação da maternidade na literatura.
Palavras-chave: Maternidade na literatura; Mito de Perséfone; Super-heróis.
A PERDA DA EXPERIÊNCIA NAS NARRATIVAS DE ALESSANDRO BARICCO
E CAIO FERNANDO ABREU
Pedro Henrique Pereira Graziano (UNESP/IBILCE)
Com o desenvolvimento daquilo que se compreende por modernidade, seguindo as
ideias do pensador alemão Walter Benjamin (1996), observa-se um quadro em que
progressivamente a capacidade de intercambiar experiências entre sujeitos entra em
declínio. Ainda Benjamin caracteriza este mundo de incomunicabilidade como o um
mundo de barbárie que, de acordo com o autor, se caracterizaria justamente pela
pobreza de experiências comunicáveis. Isto aconteceria uma vez que no cenário social
existe um grande fluxo de imagens e informações que bombardeiam os leitores
constantemente de modo veloz, de modo que não é mais possível filtrar aquilo que lhes
é realmente importante e construir algum tipo de saber legítimo que possa ser
compartilhado com seus semelhantes. A partir do estudo crítico deste paradigma, serão
levados em conta os romances Castelli di rabbia, do autor italiano Alessandro Baricco e
Onde andará Dulce Veiga?, do brasileiro Caio Fernando Abreu. Nos dois romances
existe a temática de como os personagens objetivam construir algum tipo de saber, isto
é, de experiência comunicável, em um mundo caótico dentro do qual são
constantemente atingidos pelo excesso de velocidade. No romance italiano, isto se dá
em um universo insólito no qual cada um dos personagens procura por si próprio e por
sua voz em meio ao caos e à velocidade, ao passo que no romance brasileiro o cenário é
a metrópole São Paulo, onde o protagonista parte em uma busca por Dulce Veiga, que
acaba se configurando também em uma busca por si mesmo e por sua voz perdida em
meio ao caos metropolitano. O objetivo deste estudo é compreender criticamente como
se dá esta busca pela própria voz e a tentativa de resistência ao caos nos dois romances.
Palavras-chave: Baricco; Benjamin; Caio Fernando Abreu; Experiência; Romance.
O CAMPO DE PRODUÇÃO ERUDITA E O CAMPO DA INDÚSTRIA CULTURAL,
DE PIERRE BOURDIEU, EM CONSONÂNCIA COM AS IDEIAS DE
VALORAÇÃO DAS OBRAS LITERÁRIAS E AS INSTÂNCIAS DE
LEGITIMAÇÃO
Ana Paula Scatolim Hoffmann (UEM)
Este trabalho tem por objetivo relacionar o campo de produção erudita com o campo da
indústria cultural, partindo das reflexões de Pierre Bourdieu (2011), da obra A economia
das trocas simbólicas, em consonância com a literatura. Isso se dará através de análises
de valoração das obras literárias e da relação destas com o que é legitimado pelas
instâncias de consagração do campo de produção erudita, em contraponto com a da
indústria cultural. Também iremos buscar compreender o significado de letramento,
demonstrar sua variedade e complexidade, bem como desafiar algumas suposições
dominantes sobre esse termo na nossa cultura, analisando como elas foram construídas.
A escolha pela obra de Bourdieu se dá pelo fato de expor, com bastante audácia,
reflexões a respeito dos bens simbólicos, destrinchando o que de mais tem arraigado na
sociedade de forma geral sobre um tema pouco questionado. Além disso, ao considerar
uma área de pesquisa que trata da formação do leitor e do que é a leitura literária, faz-se
importante questionar também os textos e as concepções tidas a respeito dele pelas mais
diversas pessoas e posições sociais que ocupam, desde críticos literários, professores,
alunos, todos os que passaram pela escola e de todos os que, através das outras pessoas,
construíram e abraçaram ideais muitas vezes impostos de maneira hierarquizada e
simbólica a respeito do valor de certas obras literárias em detrimento de outras. A isso,
especificamente, Bourdieu pouco trata, mas o cenário que compõe nos é propício para
relacionar com a literatura, especificamente no recorte deste trabalho.
Palavras-chave: Campo erudito; Indústria cultural; Literatura.
A CARTOMANTE: COMO FAZER PARA GOSTAR DE LER LITERATURA?
Reginaldo Inocenti (UNESP/IBILCE)
O presente estudo busca compreender como se organiza a análise de A Cartomante, de
Machado de Assis, no material didático disponibilizado pela Secretaria Estadual de
Educação de São Paulo. A sequência de atividades, apresentada como uma Situação de
Aprendizagem, tem por título o slogan ―para gostar de ler literatura‖ e procura
diferenciar ―os sistemas de arte e de distração‖. Entretanto, a forte tendência do material
em evidenciar que a arte literária não possui função recreativa acaba desvinculando o
conto da sua grandeza estética e do seu papel fruitivo, alocando-o em uma dimensão de
análise que não é nem sincrônica, nem diacrônica, nem interativa. Ora, a arte, no caso a
literária, não pode ser diversão? Só lemos literatura para análises formais? Embora a
Situação de Aprendizagem se propõe a desenvolver no aluno o gosto pela literatura, ela
o faz por meio de procedimentos metodológicos refletidos de velhas práticas
acadêmicas cujo foco é o estudo do texto enquanto objeto de conhecimento e não como
meio para o conhecimento. Para Bakhtin (2010, p. 359-366), a literatura não pode ser
desvinculada das práticas culturais, pois está intimamente integrada aos aspectos
sociais, históricos e filosóficos dos povos e, como fruto de um trabalho estético, guarda
em si sentidos potenciais, os quais só podem ser desvelados no contexto de recepção.
Assim, acreditar que a arte literária deve ser estudada na escola ―por espelhar aquilo que
foi feito por outros ao longo do tempo‖ é reduzi-la a uma historiografia vazia de
significados culturais. Dizer que arte literária e diversão são conceitos divergentes entre
si é colocar os estudos literários na contramão da proposta inicial da Situação de
Aprendizagem, pois essa afirmativa antes afasta, do que aproxima o aluno atual do texto
literário.
Palavras-chave: A Cartomante; Distração; Literatura.
TRADUÇÃO LITERÁRIA: DA PONTE AO ABISMO – UM ESTUDO DE
TRADUÇÃO POR MEIO DA LITERARIEDADE
Dalila Silva Neroni Jora (UNESP/FCLAr)
Publicado em 1831, Notre-Dame de Paris teve o título modificado para O corcunda de
Notre-Dame (The Hunchback of Notre-Dame) após sua tradução para o inglês em 1833.
A mudança, além de não agradar a Hugo, alterou o principal foco da obra e a inversão,
que parecia inocente, criou um abismo na formação imagética dos leitores da versão
traduzida deste romance. Ao transferir o protagonismo a Quasimodo, automaticamente,
o núcleo da narrativa muda e o olhar do leitor passa a ser guiado, sobretudo, por esta
personagem, relegando a catedral apenas como mero cenário onde se dá a narrativa.
Desta forma, a tradução, que, metaforicamente, se apresenta como uma ponte, cuja
finalidade é auxiliar leitores que não possuem conhecimento de uma determinada língua
e cultura na travessia de uma margem a outra, figura-se, aqui, perigosamente, como
sorvedouro cultural. Em sua tradução, a catedral é posta em segundo plano e o objetivo
politizado do romance de Hugo perde, desta maneira, um pouco de sua força. Partindo
disto, o presente trabalho objetiva realizar uma análise descritiva e crítica, comparando
alguns capítulos previamente escolhidos de duas versões brasileiras entre si e com a
obra original de Victor Hugo, a fim de refletir sobre a natureza do texto original e as
proximidades e distâncias dos textos derivados. Ressaltaremos, também, o lugar de
Victor Hugo e do romance Notre-Dame de Paris em seu contexto estético e histórico a
partir da fortuna crítica de Victor Hugo e do Romantismo na França. O
desenvolvimento desta pesquisa tem como ponto de partida a tradutologia aplicada à
versão de obras literárias. Resulta oportuno destacar que a tradução é em grande parte
estudada, analisada e teorizada por meio de um viés linguístico, abordagem que não
proporciona dimensão literária. Como resultado destas considerações, depreendemos a
importância de investigar a tradução por meio da literariedade.
Palavras-chave: Estudos de tradução; Literariedade; Tradução comparada.
UMA ALEGORIA DO HORROR SOB A DITADURA CIVIL-MILITAR:
―HOLOCAUSTO‖, DE CAIO FERNANDO ABREU
Arnaldo Franco Junior (UNESP/IBILCE)
Nesta comunicação, analisaremos o conto ―Holocausto‖, de Caio Fernando Abreu,
publicado originalmente em 1977 no livro Pedras de Calcutá. Neste conto, as
personagens, encerradas numa casa fechada, queimam móveis, livros e objetos para
tentarem sobreviver a um frio intenso. Com a agudização da situação crítica, cogitam a
necessidade de se sacrificarem, imolando-se para manterem vivo o fogo que as aquece.
Essa situação dramática, que gradativamente se intensifica, é passível de ser lida, neste
conto, como uma alegoria do horror sob a ditadura civil-militar instalada no Brasil a
partir de 1964. É deste modo, pois, que a leremos.
Palavras-chave: Alegoria; Caio Fernando Abreu; Conto; Ditadura civil-militar.
AS TENTATIVAS DE COLEÇÃO PARA A LITERATURA BRASILEIRA NO
SÉCULO XIX
Odair Dutra Santana Júnior (UNESP/IBILCE)
O debate a respeito da História Literária (DARNTON, 1998; ABREU, 2014) vem
refletindo sobre a necessidade de olharmos além das obras canônicas e nos atentarmos
aos interesses dos leitores. A partir daí, procuramos contribuir para o detalhamento da
investigação do processo de formação do sistema literário no Brasil (CANDIDO, 1959),
estudando algumas tentativas e ações mais consistentes de formar coleções para a
literatura brasileira, que foram lançadas no Rio de Janeiro no decorrer do século XIX.
Nessa comunicação, apresentamos o levantamento dessas coleções, que foi realizado a
partir da observação dos anúncios e dos demais espaços dos jornais do XIX e de
catálogos de livrarias do período, além de uma análise inicial de dados materiais e
textuais presentes nas próprias obras que formam esses conjuntos. Entre essas coleções,
destacam-se a Bibliotheca Brasileira (1862-1863), iniciativa de Quintino Bocaiuva que
somou doze números, correspondentes a oito obras, entre elas As minas de prata, de
José de Alencar, e Memórias de um Sargento de Milícias, de Manoel Antônio de
Almeida; e a Brazilia Bibliotheca Nacional (anos de 1870), de Baptiste-Louis Garnier,
na qual foram publicados Manoel Inácio da Silva Alvarenga, Inácio José de Alvarenga
Peixoto, Alvares de Azevedo, Laurindo José da Silva Rabello, Gonçalves Dias,
Casimiro de Abreu e Junqueira Freire. Buscamos compreender como cada uma dessas
iniciativas, por meio de seus trabalhos de seleção e edição, atuou para a produção e
circulação da literatura e dos livros no século XIX, além de ter contribuído para a
consolidação da literatura nacional e do gosto pela leitura literária.
Palavras-chave: Coleções; Edição; História da leitura no Brasil; História literária.
A METAMORFOSE: FICÇÃO E HISTÓRIA
Leila Aparecida Cardoso de Freitas Lima (UNESP/IBILCE)
Embasados em pressupostos da Teoria e Crítica Literária, apresenta-se uma proposta de
reflexão acerca da obra A Metamorfose (Die Verwandlung), de Franz Kafka, traduzida
por Modesto Carone. Com efeito, semelhante trabalho tem como objetivo relacionar a
criação estética de Kafka aos respectivos contextos históricos: Alemanha, 1915,
momento da primeira publicação; primeira tradução para o português em 1956 e,
finalmente, o século XXI no Brasil. Partiremos de uma hipótese de que o recurso da
onisciência seletiva adotado pelo narrador reflete o processo de desumanização pelo
qual passa a personagem Gregor Samsa. Dessa forma, a partir desse recurso
narratológico, podemos refletir sobre os desdobramentos da ascensão da burguesia que
ocorre no século XVIII. Tal fato histórico em muito contribui na ocorrência da Primeira
e da Segunda Guerra Mundial, bem como no relacionamento alienante que se estabelece
entre os indivíduos, sobretudo em relação ao trabalho. Faz-se necessário, portanto,
considerar a recepção do texto de Kafka no século XX e também nos dias atuais. Para
tanto, serão convidados à discussão, em momentos oportunos, autores como Norman
Friedman (2002); Georg Lukács (2000); Bonnici e Zolin (2003); Antoine Compagnon
(2003) e Antonio Candido (2000). Com semelhante visada analítica na obra de Franz
Kafka, espera-se chegar ao entendimento de que, certas vezes, proporcionando as
diferentes recepções em momentos históricos e espaços distintos, o recurso de tradução
de um texto literário conduz a uma ideia de unificação da psique humana que, em
alguns casos, pode atravessar as barreiras temporais e geográficas.
Palavras-chave: A metamorfose; Franz Kafka; Ficção; História.
AS TRADUÇÕES DE HONORÉ DE BALZAC EM PORTUGAL E NO BRASIL DO
SÉCULO XIX: UM DESCONHECIDO EM SEU TEMPO?
Lilian Tigre Lima (UNESP/IBILCE)
Esta proposta de comunicação tem por objetivo debater alguns dados de circulação da
obra de Honoré de Balzac em Portugal e no Brasil no século XIX, chamando a atenção,
entre outros aspectos, para a ocorrência pouco significativa do escritor no cenário das
obras traduzidas para o português no Oitocentos. Embora inscrito no alto do panteão
literário francês, Balzac teria conhecido pouco sucesso em vida (RONAI, 1957, p. 14),
especialmente quando comparado aos seus contemporâneos Walter Scott, Fenimore
Cooper e Paul de Koch (PARENT-LARDEUR, 1978, p. 172), aos seus compatriotas
Chateaubriand, Eugène Sue e Alexandre Dumas (LYONS, 1990, 433) e, ainda, quando
considerado o aparecimento tardio do escritor no quadro das obras traduzidas em
Portugal (OLIVERIA, 2012) e no Brasil (LIMA, 2018) no século XIX. Em trabalho
sobre a recepção crítica de Camilo Castelo Branco em Portugal, Paulo Motta Oliveira
(2012) observa que, um pouco diferente do se imagina, Balzac não teria sido um escritor
tão conhecido no Portugal em que escreveu Camilo, de tal modo que títulos importantes
como Eugénie Grandet (1833), Le Père Goriot (1834), Splendeurs et misères de
courtisaines (1838) e Les Illusions Perdues (1843) ganham suas primeiras versões para
o português somente a partir dos anos 1870. No caso do Brasil, os dados se mostram
ainda menos generosos: se, por um lado, Baptiste-Louis Garnier promoveu importante
divulgação de Balzac em língua francesa no Brasil já na década de 1850, por outro lado,
foi somente a partir dos anos 1880 que a oferta de traduções da obra balzaquiana para o
português ganhou fôlego. A partir daí, pretende-se debater a importância do estudo em
fontes primárias para melhor compreender a circulação da obra de Balzac em português
no século XIX e, consequentemente, para se repensar os modos de produção,
divulgação e recepção da literatura no período.
Palavras-chave: Circulação dos impressos; Fonte primária; Honoré de Balzac;
Tradução; Século XIX.
CAIXA DE VIAGEM
Marina Ivo de Araujo Lima (PUC/RJ)
Essa pesquisa tem como ponto de partida uma experiência pessoal: uma viagem que a
pesquisadora fez com a avó. A partir da experiência vivida, pretende-se investigar o ato
da rememoração e também as relações intergeracionais avó-neta e seus assuntos
correlatos – afeto, a distância geracional, morte e luto. O ato da rememoração se
debruçará ainda na confecção de um objeto-caixa: a caixa de viagem. Pretende-se
pensar a memória enquanto construção, no gesto do contar e elaborar uma narrativa, e
não como algo imóvel e intocável do passado. A memória como processo inacabado.
Cabe ressaltar que no processo da elaboração da caixa se encontra a morte da avó, que
está ali, à espreita. A caixa se transforma no caixão e um luto antecipado lamenta, canta,
conta o interdito da morte. Tenta-se, então, entender historicamente como morremos e
pensamos o fim da vida a partir do historiador francês Philippe Ariès e também do
fundador da psicanálise Sigmund Freud. Os dois mostram como o homem ocidental do
século XX silenciou até mesmo o mais remoto pensamento diante da morte. O
psicanalista pergunta se não haveria uma nova forma de nos portarmos? Qual seria essa
nova atitude? Como dar à morte o lugar que lhe cabe? Para pensar a questão, o percurso
da escrita da poeta Anne Carson no livro-caixa Nox será debatido. Ela faz uma espécie
de elegia em homenagem ao seu irmão morto no ano 2000 com trechos em que
rememora a vida do irmão entrelaçados com a tradução em inglês do poema 101, do
poeta romano Catulo. Carson persegue lentamente a palavra certa que busca traduzir a
perda. Como traduzir o sentimento diante da morte?
Palavras-chave: Luto; Memória; Relações intergeracionais; Viagem velhice.
EM FAVOR DE DORA
Niccolly Evannys Zifirino Lima (IFTO)
O presente trabalho pretende fazer uma análise feminista do romance regional O Canto
da Carpideira, procurando relacionar as ações do personagem masculino Juca
Espigueiro com a família da doceira Nena. As ações comportamentais e de dominação
do personagem masculino são baseadas em sua origem, na cultura do patriarcado
fortalecido em meio à sociedade androcêntrica. Essa relação de submissão e
subordinação dos corpos femininos é afirmada por meio da violência simbólica. Este
tipo de violência diferencia-se da agressão física, contudo torna-se mais eficaz porque
se constrói através de tradições que são reverberadas e construídas sobre a figura
feminina. Devido a isto, tanto a mulher quanto a própria sociedade, independentemente
do sexo, são condizentes e compassíveis com estes atos simbólicos, decorrentes de uma
herança cultural que torna a violência como natural, principalmente quando ela
menospreza a mulher. Para tanto, utilizaremos os conceitos de dominação e violência
em Foucault, Weber, Pateman e Bourdieu. Metodologicamente este trabalho faz parte
de pesquisas realizado no Programa de Pós Graduação de Letras - PPGLETRAS, Porto
Nacional - Tocantins e baseia-se em levantamento bibliográfico e análise literária que
tem como objetivo mostrar a construção simbólica dentro do imaginário popular e como
estas construções são repassadas por meio das artes – no caso a literatura – e podem ser
despercebidas, reconhecidas ou afirmadas dentro do que se entende por normalidade.
Palavras-chave: Mulher; Patriarcado; Submissão; Violência.
POR UMA POÉTICA ROMÂNTICA: UTOPIA E RESISTÊNCIA EM HOWL (1956),
DE ALLEN GINSBERG E PARANÓIA (1963), DE ROBERTO PIVA
Patrícia Vieira Lochini (UNESP/FCLAr)
Segundo os críticos Michael Löwy e Robert Sayre (1995), o Romantismo não deve ser
concebido apenas como movimento histórico, mas como uma ―estrutura mental
coletiva‖, uma visão de mundo que se manifesta não somente na Literatura, mas em
diversos campos do conhecimento. Pensando nesse conceito de ―estrutura mental
coletiva‖ podemos afirmar que o espírito romântico não se limita aos séculos XVIII e
XIX, mas se estende às manifestações reconhecidamente românticas que se desdobram
em atitudes e comportamentos ao longo do século XX. A obra de Allen Ginsberg e
Roberto Piva pertence a uma linhagem de tradição romântica que, em permanente
contestação à ordem burguesa, trilham os caminhos da resistência, rebelando-se contra
os valores de sua época. Um exemplo são os surrealistas, que se mantiveram com a
tradição romântico-simbolista, tendo como ponto de partida a poesia em prosa de
Rimbaud. Pela viagem, pelo discurso profético, pela religiosidade, pelo ritmo, as
influências mais relevantes vão de Walt Whitman a William Carlos Williams. Partindo
desses princípios, o estudo tem como objetivo discutir a presença romântica nas
gerações rebeldes do século XX, a partir da análise da obra Howl (1956) de Allen
Ginsberg, e Paranóia (1963), de Roberto Piva, com o intuito de investigar a
permanência do pensamento romântico não como um movimento histórico, mas como
uma ―estrutura mental coletiva‖ e, partindo da reflexão sobre a permanência do
pensamento de rebeldia nos diferentes contextos no século XX, identificar
procedimentos formais, estilísticos, discursivos advindos de uma tradição romântica do
século XIX. Pretende, ainda, analisar os motivos desencadeadores dos ideais
propagados pelos poetas e como estes se inter-relacionam, estabelecendo, assim, um
entrecruzamento literário entre períodos históricos, mas que se relacionam na busca da
identidade pessoal e coletiva.
Palavras-chave: Poesia contemporânea; Resistência; Romantismo.
CECÍLIA MEIRELES EM ROMA: ENCONTRO COM MEMÓRIAS DE SHELLEY E
KEATS
Delvanir Lopes (UNESP/FCLAr)
Cecília Meireles (1901-1964) esteve na Itália durante dois meses do ano de 1953. Vinda
do Congresso na Índia sobre Gandhi, a escritora ficou fascinada pela ―cidade eterna‖ e,
com seu marido, Heitor Grillo, visitou inúmeros lugares, sobre os quais escreveu muitos
poemas e, após a viagem, inúmeras crônicas-artigos que foram publicadas,
principalmente, no jornal carioca Diário de Notícias. Por fim, os poemas reunidos
foram publicados apenas em 1968, em edição bilíngue, português-italiano, com o nome
de Poemas Italianos. Segundo Mercedes La Valle (1894-1997), italiana que trabalhava
como jornalista-correspondente no Brasil e que se tornou cicerone de Cecília Meireles
em terras italianas, um dos primeiros locais visitados pelo casal brasileiro foi a Piazza di
Spagna, onde haviam morado Percy Shelley (1792-1822) e John Keats (1795-1821),
dois poetas românticos ingleses. Este artigo propõe-se a analisar as impressões da
escritora com a visita à casa em que habitaram os escritores, depois ao Cimitero degli
Inglesi, onde está o túmulo de Keats e, por fim, às Termas de Caracalla, relembrando o
Prometheus Unbound, de Shelley. Para isso, serão elencados os textos que fazem
referência a tais poetas, bem como os poemas cecilianos escritos a partir dessa
inspiração. É preciso lembrar que o artigo trata de um fragmento do pós-doutorado que
foi desenvolvido na Universidade Paulista ―Júlio de Mesquita Filho‖, em Araraquara.
Palavras-chave: Cecília Meireles; Keats; Poemas Italianos; Roma; Shelley.
OS MATADORES DE DRAGÕES NA LITERATURA NÓRDICA E GERMÂNICA
MEDIEVAL
Gabriela Carlos Luz (UNESP/FCLAr)
A figura do matador de dragões tem sido observada e recontada inúmeras vezes na
literatura mundial. Em histórias medievais, tais figuras possuíam motivações específicas
e a vitória contra o monstro representa um ato singular que poderá levar a uma grande
conquista, ou, em casos raros, a uma tragédia. Faremos um panorama acerca da figura
do matador de dragões focando especificamente em heróis nórdicos e germânicos
medievais, sendo estes Beowulf, Sigmund, Sigurd e Siegfried (os dois últimos paralelos
um do outro). Ao olharmos mais a fundo para a figura dos matadores de dragões de tais
histórias, conseguimos entender qualidades e motivações presentes na época e
localidade de suas criações. Baseando-se principalmente nas análises de Joseph
Campbell sobre a figura do herói em sua obra O Herói de Mil Faces e de J.R.R. Tolkien
a respeito da construção de monstros mitológicos em seu estudo The Monsters and the
Critics, será elaborada uma comparação entre os quatro guerreiros. Serão observados
elementos que ora se distinguem ora se aproximam nas constituições literárias,
buscando entender como suas missões nos ajudam a perceber retratos representativos de
suas culturas ao focarmos na construção do dragão em si, o ato da luta, a
individualidade de cada herói e o resultado de sua façanha.
Palavras-chave: Herói; Joseph Campbell; J.R.R. Tolkien; Literatura fantástica;
Literatura medieval.
O EROTISMO COMO AFIRMAÇÃO DE SI: UMA ANÁLISE DOS PERSONAGENS
DE ANDRÉ MALRAUX
Patricia de Oliveira Machado (IFG)
A morte, o destino, o absurdo e a angústia são alguns dos motivos que levam os
personagens de André Malraux a estarem diante de si mesmos e, cientes de sua
existência, afirmá-la com todo fervor. A afirmação de si frente ao outro encontra seu
fundamento na ideia ocidental de uma identidade permanente e sólida que não para de
ressoar nos ouvidos dos moribundos Perken e Claude, de La Voie Royale, Garine, de
Les Conquérants, Tchen e Kyo, de La Condition Humaine. Povoados por um tipo de
enclausuramento invencível, arrastados pela solidão, esses heróis desacreditam na
comunicabilidade e na possibilidade do conhecimento dos outros seres. Apesar de serem
impelidos a um movimento de autoafirmação, os personagens malrucianos também são
retratados em cenas e situações eróticas, o que lhes demanda uma relação ―íntima‖ com
o outro. Diante de homens mergulhados em si mesmos, travando uma verdadeira luta
para a afirmação de suas individualidades, o que se pode esperar de suas relações
erótico-sexuais? Para muitos, o erotismo seria capaz de suprir as diferenças e ligar o eu
ao outro, concepção essa presente em textos que remontam à história da filosofia. No
célebre diálogo de Platão, O Banquete, o eros aparece como possibilidade de
restauração de uma unidade antiga e o outro mostra-se como complementaridade e
inteireza. Na contemporaneidade, Georges Bataille, autor de L’érotisme, chega a afirmar
a existência de um tipo de continuidade profunda entre os amantes. A questão que se
impõe, quanto à obra de Malraux, é saber se o erotismo pode unir seres tão solitários,
permitindo-lhes acesso ao outro ou se contrariamente se trata de mais uma instância de
imposição da subjetividade.
Palavras-chave: Afirmação de si, Egoísmo, Erotismo, André Malraux.
AMIZADE NA LITERATURA: DUPLAS NO SATÍRICON, DE PETRÔNIO
Rebecca Miriã Ribeiro Martins (UNESP/IBILCE)
A partir do conceito de amizade proposto nas obras antigas De amicitia, de Cícero, que
propõe parâmetros morais e éticos que deveriam reger uma relação de amigos, e Ética a
Nicômaco, de Aristóteles, que faz uma valoração do conceito de ―philia‖, pretende-se,
neste trabalho, identificar e analisar a amizade em personagens da literatura, mais
precisamente na obra Satíricon, de Petrônio. Considera-se que as personagens podem se
ligar em duplas, como ocorre em diferentes contextos, a saber, na mitologia, na mídia
televisiva de entretenimento (no âmbito de filmes, desenhos animados, etc.), no cinema
(curta ou longa-metragem), nas histórias em quadrinhos, entre outros. Sobre as duplas,
sabe-se que tal relação pode estabelecer-se não só durante o desenvolvimento da trama,
mas pode estar formada desde o princípio da narrativa. A partir da leitura das obras
antigas supracitadas, aliadas às obras modernas como Genealogias da amizade, de
Ortega (2002), e A amizade no mundo clássico, de Konstan (2005), será possível tecer
uma discussão, tendo em vista o viés da amizade, a respeito dos efeitos desse
relacionamento para a construção da dupla amiga no Satíricon. Dito isto, verificar-se-á
como a relação de hierarquia é estabelecida entre as duplas e o que leva duas
personagens por vezes tão diferentes a se relacionarem e atuarem juntas, haja vista a
dupla Encólpio e Gitão, presente no Satíricon.
Palavras-chave: Amizade na literatura; Duplas de personagens; Petrônio; Satyrica;
Satyricon.
RETORNOS AO PASSADO: MOVIMENTOS DA POESIA CONTEMPORÂNEA
Maísa de Oliveira Mascarenhas (UFG)
Helissa de Oliveira Soares (UFG)
É sabido que em todas as épocas da literatura ocidental os poetas dialogaram com os
seus predecessores e contemporâneos, citando suas obras ou aludindo a elas. No atual
cenário da lírica brasileira, a experiência de leitura do legado da tradição literária é um
dos principais elementos a ser considerados como matéria de criação poética. A poesia
recente amplia o campo de visão de poeta e leitor, levando-os ao exercício de uma
leitura mais atenta guiada pela mínima atividade de pesquisa, propondo uma
significação que exige de ambos o reconhecimento da tradição que compõe com a
construção dessa poesia. Evidencia-se, desse modo, que a memória de leitura do sujeito
empírico interfere em sua subjetividade, ou seja, as leituras que o poeta faz constituem o
material básico a ser elaborado em sua poesia. O poeta contemporâneo, imbuído de todo
o conhecimento anterior a ele, de toda cultura clássica, romântica e moderna, dispõe de
um cabedal de instrumentos - resultantes dessa construção cultural, de sua construção
como leitor - e recursos para enxergar o seu tempo, a poesia, a sua própria obra e o
papel do leitor de forma mais ampla. A arte poética contemporânea é, portanto,
composição de cânones, uma vez que o poeta traz em si uma multidão de outras leituras.
Esta comunicação propõe-se a evidenciar como os resquícios da tradição estão presentes
em alguns poemas de Paulo Henriques Britto e de Alexei Bueno, dois poetas bastante
representativos no cenário da lírica atual. Os estudos de João Alexandre Barbosa (1974),
Octavio Paz (1984), T.S. Eliot (1989), Ítalo Calvino (1990), Maria Esther Maciel
(1999), Alfonso Berardinelli (2007) e Benedito Nunes (2009) fundamentam as reflexões
deste projeto.
Palavras-chave: Contemporaneidade; Leitura; Lírica; Memória.
O ESPAÇO EM A PAIXÃO SEGUNDO G.H. DE CLARICE LISPECTOR
Gilda Marchetto (UNIR - UNESP/IBILCE)
Entre os inúmeros desafios que se encontram em um texto, o espaço pode se revelar tão
importante quanto os demais componentes da narrativa. Aberto ou restrito, constitui-se
num índice representativo da condição social e do estado de espírito da personagem que
se liga às outras categorias narrativas para formar o todo da obra, articulando-se
principalmente com o tempo. Segundo Anatol Rosenfeld (1996), na narrativa do século
XIX, o homem era extensão do lugar, da região, da cultura em que vivia ou era
submetido às influências do meio. A personagem era dominada pela causalidade,
subjugada pelo determinismo. Na narrativa contemporânea, rompe-se o princípio dessa
causalidade, negando o compromisso com o mundo temporal e espacial posto como real
e absoluto pelo realismo tradicional e pelo senso comum. Espaço e tempo fragmentam-
se e instauram uma realidade mais profunda que revelam no próprio esforço de
assimilar, na estrutura da obra-de-arte (e não apenas na temática), a precariedade da
posição do indivíduo no mundo moderno. Esta comunicação tem por objetivo
investigar, no romance A paixão segundo G.H. (1964), de Clarice Lispector, como o
espaço e sua ambientação, além de revelar a trajetória passional de G.H., revelam
também valores, conceitos e preconceitos da classe burguesa, intrinsecamente
articulados na descrição do apartamento como sinônimo de beleza e elegância e no
quarto da empregada que, segundo a narradora, seria o cômodo mais sujo de sua casa.
Palavras-chave: Ambientação; Clarice Lispector; Espaço; Romance.
CAETANO LOPES DE MOURA E LUIZ VICENTE D‘AFFONSECA,
TRADUTORES DE FENIMORE COOPER: FICÇÃO, HISTÓRIA E TRADUÇÃO
NO SÉCULO XIX
Lucas de Castro Marques (UNESP/IBILCE)
Esta comunicação apresenta uma interpretação das práticas tradutórias e de uma visão
de história a partir de duas traduções de romances de Fenimore Cooper: O Espião do
campo neutral (1833), feita pelo português Luiz Vicente d‘Affonseca (1803-1878), e O
derradeiro Mohicano (1838), de autoria do brasileiro Caetano Lopes de Moura (1780-
1860), um dos mais conhecidos profissionais da tradução da primeira metade do século
XIX, no contexto lusófono. Procuraremos entender como, a partir da repercussão das
duas traduções, ambos os tradutores procuraram expressar suas visões de uma história
comparada das Américas para públicos-leitores brasileiros. Sendo assim, analisaremos
anúncios de vendas de ambos os romances traduzidos presentes nos jornais, em
comparação ao todo dos romances estrangeiros oferecidos ao público, em tradução para
o português. Além disso, por meio do método descritivo de José Lambert & Van Gorp
(1985), recorreremos à análise comparativa dos textos de partida e de chegada, e por
meio de Silva-Reis (2012, 2015), situaremos a prática de ambos os tradutores no
contexto do século XIX. Procuraremos fundamentar nossa análise nos trabalhos de
Even-Zohar (1978) e Toury (1998), que concebem a literatura e a tradução a partir de
um ponto de vista sistêmico. O anúncio da tradução feita por Moura, publicado no
Jornal do Commercio (JC), em 1838, reverencia-o como um enriquecedor da literatura
portuguesa; além disso, afirma que o romance de Cooper, que retrata a decadência das
sociedades indígenas norte-americanas frente ao contato com o homem branco, é um
meio de oferecer, aos brasileiros, a possibilidade de contemplar comparativamente essa
história com a sua. No caso de Affonseca, o anúncio escrito pelo próprio tradutor e
publicado no JC, em 1833, revela-nos a intenção de ―lisonjear‖ os brasileiros com a
tradução de um romance a partir do qual ―se pode ganhar abundante informação sobre
os fatos mais salientes da história americana‖, precisamente sobre a Guerra de
Independência dos Estados Unidos (1765-1783). Dessa forma, ambas as traduções
podem ser entendidas como sugestões para a visão comparativa das histórias dos
Estados Unidos e do Brasil, no contexto pós-independência brasileiro.
Palavras-chave: Caetano Lopes de Moura; História e tradução; James Fenimore
Cooper; Luiz Vicente d‘Affonseca.
O INTERESSE POLÍTICO E O FAZER LITERÁRIO NAS OBRAS O PRÍNCIPE, DE
NICOLAU MAQUIAVEL E OS LUSÍADAS, DE LUÍS VAZ DE CAMÕES
Ranieri Emanuele Mastroberardino (UFPR)
A presente comunicação é inerente ao contexto do renascimento italiano e português e
possui, como objetivo principal, evidenciar e analisar o papel de conselheiro,
supostamente exercido pelo escritor florentino Nicolau Maquiavel (1469-1527) e pelo
poeta lusitano Luís Vaz de Camões (1524?-1580), em suas obras-primas, O Príncipe
(1513) e Os Lusíadas (1572). Nesta linha investigativa, destacaremos como que as
recomendações desses dois intelectuais a seus respectivos governantes, Lorenzo dei
Medici (1492-1519) e D. Sebastião (1554-1578), associavam-se aos anseios de
consolidação da pátria italiana, no contexto de Maquiavel, e de reconstrução da pátria
lusitana, na perspectiva de Camões. Ao assumir a função de requerentes a mentores de
seus soberanos, os dois intelectuais renascentistas, nesta ótica de análise, exteriorizam-
se como pensadores extremamente preocupados com os rumos de suas nações,
erguendo, em virtude disso, a bandeira do bem comum, do bem público e defendendo,
consequentemente, a incumbência do senhor de Florença e do rei de Portugal a serviço
da coletividade, da população (ESCOREL, 1958; CALMON, 1945). No tocante a dois
escritores canônicos da literatura ocidental, depreende-se como que o interesse político
orienta, em certa medida, o fazer literário, a escrita literária de intervenção, a qual busca
encontrar respostas às inquietações políticas e sociais que o Renascimento suscitava.
Palavras-chave: Bem comum; Luís Vaz de Camões; Nicolau Maquiavel;
Recomendações; Renascimento.
O ESPAÇO E O TEMPO INSÓLITOS EM DINO BUZZATI
Vanessa Matiola (UNESP/FCLAr)
Apesar de ser conhecido no Brasil principalmente por seu romance e obra-prima O
Deserto dos Tártaros, o italiano Dino Buzzati também é autor de vasta quantidade de
contos que, por sua vez, costumam ser analisados tendo o fantástico como perspectiva.
Seguindo a postulação colocada por Tzvetan Todorov sobre o gênero em Introdução à
literatura fantástica, um possível elemento sobrenatural deve aparecer no enredo e fazer
com que leitor ou personagem hesitem quanto à sua existência, o que de fato ocorre nos
contos fantásticos de Buzzati. Contudo, há também a criação de uma atmosfera de
estranhamento em suas narrativas curtas, causada, muitas vezes, pelo desconhecido,
pela angústia, pelo inevitável passar do tempo, pela morte ou, ainda, pela junção de
todos estes itens. A fim de compreender essa característica buzzatiana, selecionamos o
insólito como elemento conciliador dos contos fantásticos e não fantásticos do escritor,
tendo como base os ensaios produzidos pelos membros do grupo de pesquisa ―Nós do
Insólito: vertentes da ficção, da teoria e da crítica‖, da UFRJ, e organizados por Flavio
Garcia. Para investigar a presença do insólito em Buzzati, trabalharemos com contos
retirados da antologia La boutique del mistero, que reúne os mais significativos da
produção do autor segundo ele mesmo e que, conforme o próprio título do volume
sugere, contém narrativas que causam fascínio gerado pela intrigante atmosfera
excêntrica e pelo mistério. Nosso foco inicial são os contos ―Sette piani‖ e ―I sette
messaggeri‖, nos quais não há presença do sobrenatural e a manifestação do insólito se
dá pela relação das personagens com o espaço e com o tempo, respectivamente.
Palavras-chave: Dino Buzzati; Insólito; Literatura italiana.
MACHADO DE ASSIS E A TRANSGRESSÃO DOS GÊNEROS DA INTIMIDADE
Tatiana de Oliveira Miguez
Considerando o crescente interesse pela escrita do ―eu‖ e baseando-se na afirmação de
Jorge de Sena no ensaio ―Machado de Assis e o seu quinteto carioca‖, que declara haver
como unidade entre as cinco obras finais de Machado de Assis o questionamento dos
gêneros que expressam a subjetividade moderna, apresento neste artigo, baseado em
minha dissertação de mestrado, a maneira como Machado de Assis lida com alguns
desses gêneros da intimidade, dentro e fora do espaço ficcional. Para tanto, foram
selecionadas duas das obras finais que empregam mais diretamente a escrita do ―eu‖ e
que, do mesmo modo, mais ―transgridem‖ essa escrita: Memórias Póstumas de Brás
Cubas, uma autobiografia escrita por um ―defunto autor‖; e Memorial de Aires, um
diário que registra mais a vida dos outros do que a do próprio diarista. Para
compreender os gêneros da intimidade, tomo como base os estudos de Luiz Costa Lima
(1986), Elizabeth Muylaert Duque-Estrada (2009) e Leonor Arfuch (2010), que
demonstram como a escrita do ―eu‖ evoluiu até os dias atuais. A respeito do gênero
autobiográfico, recorri a Philippe Lejeune (2008) e Philippe Gasparini (2004), que
tentam delimitar os princípios da autobiografia e dos gêneros afins. Além das obras
ficcionais, foram analisadas, à luz dos estudos de Michel Foucault (2004), as missivas
machadianas, observando como o escritor constrói a imagem de si na troca de cartas
com intelectuais de seu convívio. Refletindo sobre o exercício desses gêneros da
intimidade, por parte de Machado de Assis, observa-se que este, na sua
correspondência, não ultrapassou os limites que, à época, regiam a troca de confidências
entre pares e amigos. Já na ficção, ao fazer um uso engenhoso e criativo das retóricas da
autobiografia e do diário, o escritor utilizou tais gêneros para recobrir e agudizar a
crítica corrosiva à sociedade de seu tempo.
Palavras-chave: Autobiografia; Correspondência; Diário.
A PRESENÇA DA METÁFORA NA TRADUÇÃO DO CONTO ―THE SWING OF
THE PENDULUM‖ DE KATHERINE MANSFIELD
Maria Alice Sabaini de Souza Milani (UNESP/IBILCE)
A presente comunicação tem como objetivo analisar o uso da metáfora, na tradução do
conto "The swing of the pendulum", presente na primeira coletânea de contos de
Katherine Mansfield publicada em 1911, a fim de observar em que medida os
vocábulos, escolhidos, pela tradutora Julieta Cupertino (1998) para a constituição da
metáfora, auxiliam na interpretação do conto por parte do leitor e, em que medida se
aproximam da metáfora presente no texto original. Este conto narra a estória de Viola
que se encontra em dificuldades financeiras e está prestes a ser despejada do lugar no
qual mora, uma vez que a proprietário já havia lhe dado um ultimato para que
abandonasse o lugar no dia seguinte, caso o aluguel não fosse pago. Além disso, a
protagonista também vive um relacionamento com Casimir, mas acaba sendo seduzida
por um desconhecido que bate em sua porta a procura de outra pessoa por acreditar que
ele pudesse ajudá-la financeiramente. A obra em questão projetou a escritora
neozelandesa no âmbito da literatura, no qual ela se tornou uma expressiva
representante do conto moderno devido à poeticidade de sua prosa e à sensibilidade de
sua escrita em retratar episódios do cotidiano da personagem, enfatizando a repercussão
deste no íntimo daquele que o vivencia. Nesse sentido, com base na tradução deste
conto feita por Julieta Cupetino em 1998 e de sua comparação com a versão original do
conto mansfieldiano, é possível perceber que a metáfora é um recurso imprescindível
para que a produção contística mansfieldiana consiga se aproximar, ainda que de
maneira indireta, da vivencia e da complexidade sentimental da personagem, já que a
completude dos sentimentos da alma humana é, de modo geral, intraduzível por
palavras. Benjamin (1978), Arrojo (1992), Kuhn (2003), Gomes (2006), Allan (2011)
entre outros estudiosos constituirão o referencial teórico dessa comunicação.
Palavras-chave: Metáfora; The swing of the pendulum; Tradução.
FAN FICTIONS DE UNIVERSO ALTERNATIVO: A CONSTRUÇÃO DA
VEROSSIMILHANÇA E A RECEPÇÃO DOS FÃS
Paula Renata Milani (UNESP/IBILCE)
Esta comunicação visa analisar a recepção que as fanfictions de classificação Universo
Alternativo têm sobre os fãs de Harry Potter, em especial a fanfiction intitulada Green
Eyes, com alto número de acesso em website próprio para o gênero. Visamos analisar,
por meio dos elementos verossímeis - de acordo com nomenclatura utilizada por
Aristóteles e exemplificada pela estudiosa Ligia Militz da Costa (2003) - quais são os
elementos verossímeis utilizados nesta obra para agradar e compensar os fãs de Harry
Potter pela diferença significativa nos contextos e enredos. Para a análise dos elementos
verossímeis, utilizamos o primeiro livro de Harry Potter, Harry Potter e a Pedra
Filosofal, e os dois primeiros capítulos de Green Eyes. Também entrevistamos duas fãs
de Harry Potter e leitoras de Green Eyes com suas opiniões sobre a fanfiction, o que
fundamentou nossa conclusão de que a verossimilhança em consonância com a obra
original Harry Potter é um item fundamental a ser considerado na produção do gênero
fanfictions e explicativo no que diz respeito ao número de acesso dessas obras. Tendo
em vista que as fanfictions são obras que agradam a um público muito específico – os
fãs – a construção verossímil dos acontecimentos dentro do ―possível lógico, causal e
necessário‖ (COSTA, 2003, p. 53 e 54) de Green Eyes pode ser um elemento
fundamental para despertar o interesse dos fãs.
Palavras-chave: Fanfictions; Harry Potter; Verossimilhança.
AMOR TRÁGICO EM JOGOS VORAZES: UMA RELEITURA DO MITO DE
PÍRAMO E TISBE
Guilherme Augusto Louzada Ferreira de Morais (UNESP/IBILCE)
Esta apresentação dedica-se a evidenciar como Suzanne Collins, autora do romance
Jogos vorazes (2010), utilizou elementos da Mitologia greco-romana para compor
partes significativas de sua obra, formando, assim, uma cadeia intertextual entre a
Literatura Clássica e a Contemporânea. Para além de todos os mitos resgatados, atentar-
nos-emos, mais especificamente, ao mito de Píramo e Tisbe, registrado literariamente
por Ovídio em suas Metamorfoses, um dos precursores da afamada peça de teatro
Romeu e Julieta, de Shakespeare. O escritor inglês usara também, como texto-fonte, um
conto renascentista italiano chamado Romeo e Giulietta, de Matteo Maria Bandello.
Partindo da proposição de Samoyault (2008), de que a literatura, antes de falar do
mundo, fala de si mesma, percebemos, com a leitura do romance, um diálogo
intertextual entre o mito fonte de Ovídio, a peça de Shakespeare e o romance de Collins.
Podemos dizer, então, que a retomada da Literatura Clássica, antes sagrada, por outra
literatura, a contemporânea, é que dá o caráter intertextual para esse diálogo, ou seja, no
processo criativo de uma nova obra, há a retomada de um ou mais textos como numa
espécie de interação que não se restringe somente a textos literários, se entendermos o
conceito de texto como conjunto de signos que expressa alguma mensagem humana.
Portanto, a nosso ver, Collins (2010), pelo viés estilístico da intertextualidade, recupera
um mito e lhe dá nova roupagem, de forma que se perceba que a "literatura se escreve
certamente numa relação com o mundo, mas também apresenta-se numa relação
consigo mesma [...]" (SAMOYAULT, 2008, p. 9). O passado, ou seja, os livros
anteriores ao "novo", é reutilizado pela autora estadunidense e, ao mesmo tempo,
transformado em algo adaptado à nova situação em que é inserido, favorecendo a
intersecção entre mito e literatura e, por isso, presentificando a Antiguidade Clássica na
Atualidade. (FAPESP Proc. 2015/23592-6).
Palavras-chave: Mito e Literatura; Píramo e Tisbe; Ovídio; Katniss e Peeta; Suzanne
Collins.
INTERSECCIONALIDADES: GÊNERO E RAÇA/ETNIA SOB PERSPECTIVA
Fernando Luís de Morais (UNESP/IBILCE)
No ensaio ―Quare studies, or (almost) everything I know about queer studies I learned
from my grandmother‖ (2005 [2001]), E. Patrick Johnson enfatiza a importância de
contestar noções estáveis de identidade e, ao mesmo tempo, situar o conhecimento de
raça/etnia e classe nos estudos de gênero. Fundamentado nos pressupostos veiculados
nesse referido texto, objetivo evidenciar como, pela assunção de um modo de expressão
assertivo e contestador, viabilizado pelo aparato teórico dos estudos quare, lésbicas,
bissexuais, gays e transgêneros negros empreendem uma luta pela autodefinição e pelo
reconhecimento. Ao desafiar os limites da hegemonia racial e heteronormativa,
instaurando uma reação de impostura subversiva frente às traumáticas imposições por
ela perpetradas, esses sujeitos ditos abjetos assumem uma voz expressiva que os
possibilita irromper e quebrar os silêncios impostos. Resgato as ideias de
reconceptualização dos estudos queer, lançadas por Johnson (Teoria Quare), que
oferecem um quadro particularmente útil dentro do qual se pode analisar a obra poética
do autor negro-gay norte-americano Thomas Grimes. A partir da análise do poema
―Equations‖, ilustro o potencial operante desse novo paradigma teórico que se
descortina, arejando leituras mais apuradas da identidade quare, forçosamente refreada
por regimes hegemonicamente instituídos.
Palavras-chave: E. Patrick Johnson; Equations; Identidade de raça/etnia e gênero;
Teoria Queer/Quare; Thomas Grimes.
A ESCRITA COMO DEVIR: POÉTICA DO RIZOMA NA LITERATURA DE
ANTÓNIO LOBO ANTUNES
Adriano Carlos Moura (UFJF)
O gênero romance vem passando por várias transformações desde seu surgimento.
Livros como Memórias póstumas de Brás Cubas (1881), Ulisses (1922), Eles eram
muitos cavalos (2001) são exemplos de obras que transgrediram as concepções
tradicionais do gênero, principalmente no que concerne ao foco narrativo, ao conteúdo e
à estrutura. Em se tratando do escritor português António Lobo Antunes, a transgressão
é um projeto literário que se renova a cada romance publicado. Este estudo pretende
investigar, por meio da análise das obras Os cus de Judas (1979) e Meu nome é legião
(2007), os procedimentos estilísticos, estruturais e temáticos que fazem do escritor um
caso único na literatura portuguesa contemporânea. Trabalha-se com a hipótese de que,
como para o autor, a escrita e o romance são atos sempre inacabados, em via de fazer-
se; seus livros são agenciamentos, que se propõem abarcar o mundo percebido pelo
autor em toda sua complexidade (política, psicológica, social, semiótica). Para isso,
cria-se uma ―língua estrangeira dentro de sua própria língua‖, assintática e agramatical,
o que torna a leitura de sua obra tão complexa quanto a própria realidade que tenta
abarcar: a experiência colonial e pós-colonial da sociedade portuguesa. A análise se
propõe interdisciplinar, aportando-se teoricamente nos conceitos de rizoma,
agenciamento e devir, em Gilles Deleuze e Félix Guattari, na concepção de cultura e
nação portuguesa como fronteiriça e semiperiférica em Boaventura Sousa Santos.
Palavras-chave: António Lobo Antunes; Devir; Literatura portuguesa; Rizoma.
―DE VERÃO E DE INVERNO – CASA SEM TELHA‖ – A FIGURA DO
TRABALHADORES RURAIS NA ESCRITA DE CARLOS DE OLIVEIRA
Nathália Macri Nahas (USP)
A figura do ―ganhão‖ ou ―jornaleiro‖, ou seja, um trabalhador rural que exerce uma
atividade e recebe a jorna ou o pagamento diário, é muito presente nas primeiras obras
do autor neorrealista português Carlos de Oliveira. Ao trazer essa personagem aos seus
poemas e à sua ficção, procurou explorar as condições de exploração e de precariedade
que esses camponeses viviam no contexto da ditadura portuguesa, que esteve em vigor
entre 1926 a 1974. Oliveira buscou expressar a miséria que definia a vida desse grupo
social no cenário da Gândara, zona rural que se localiza entre o centro e o norte de
Portugal. Dessa maneira, propomos uma análise acerca do modo como esse trabalhador
é inserido no primeiro livro de poesias do autor, Turismo, de 1941, e em seu primeiro
romance, Casa na Duna, de 1942, com base na influência do pensamento marxista no
movimento Neorrealista e na obra oliveiriana. Nesse sentido, serão analisadas imagens
que remetam a temas como a exploração do homem sobre seus semelhantes, as relações
sociais presentes nesse cenário e o modo como o poder organiza a ordem social em que
tais trabalhadores estão inseridos.
Palavras-chave: Literatura Portuguesa Contemporânea; Neorrealismo Português;
Poesia Social; Romance Social.
―UM DIA BRANCO, BRANCO‖: INTERRELAÇÕES SEMIÓTICAS ENTRE
POESIA E CINEMA NAS OBRAS DE ARSENI E ANDREI TARKOVSKI
Giuliarde de Abreu Narvaes (UNESP/IBILCE)
Andrei Tarkovski, a refletir acerca das semelhanças entre cinema e literatura, observa
que, como em outros sistemas artísticos, há sempre uma dependência mútua entre a
realização estética e a ―experiência emocional, espiritual e intelectual‖ do apreciador de
arte. As imagens estéticas, pensamos junto com o cineasta russo, parecem nutrirem-se
dessa experiência de alteridade. Todavia, entre cinema e literatura parece haver uma
concepção de criação diametralmente oposta, que quando comparada a outras formas de
arte revela no cinema sua própria especificidade estrutural. Segundo Tarkovski, o
―cinema é a única forma de arte em que o autor pode se considerar como (...) criador do
seu próprio mundo‖ (TARKOVSKI, 2010). Aconteça o que acontecer, e isso é um
aspecto fulcral em nossas investigações, o leitor irá sempre perceber a ―realidade‖
literária de maneira subjetiva. Será o cinema a criar ―extra subjetivamente‖ seu próprio
mundo. Um passo à frente em relação à tradição narrativa do cinema clássico, a
abordagem do cinema como uma realidade emocional é, ao nosso ver, aspecto
determinante para o que caracterizaremos como cinema moderno, e que se consolidou a
partir dos anos 1940. Objetivamos, neste trabalho, o aprofundamento das relações
estruturais entre cinema e literatura, buscando elucidar, de modo específico, invariantes
decisivas na interrelação entre a poesia e o filme. Colocaremos em evidência uma
perspectiva crítica sobre a natureza expressiva que concerne a poesia de Arseni
Tarkovski e o cinema de Andrei Tarkovski, cujos trabalhos e linguagens parecem o
tempo todo, implícita e explicitamente, interagirem e amalgamarem-se, fazendo imergir
leitor e espectador em um complexo residual de imagens e sonoridades, que dispõem
sistematicamente componentes memoriais, históricos e afetivos. Resultará de nossa
perquirição, por fim, nesta chave de leitura comparatista, as relações tensivas suscitadas
pelas fronteiras aparentes entre tais sistemas distintos de expressão estética.
Palavras-chave: Cinema; Interartes; Literatura russa; Poesia; Relações homológicas.
NOTAS E REFLEXÕES: LITERATURA DIGITAL, POESIA CONCRETA E O
GÊNERO MANIFESTO
Angeli Rose do Nascimento (UNIRIO)
A literatura digital tem suscitado inúmeras questões, tanto direcionadas para o ensino
como para a teoria da literatura. Pesquisadores e produtores do campo das Letras têm
encontrado alguma dificuldade para lidar com a teoria dos gêneros literários e as
classificações estabelecidas em relação a eles, uma vez que novas textualidades e
mesmo a expansão do campo literário são algumas das variações que colocam a
produção digital entre o que se entende e toma por texto literário até o que se estendeu
como artefatos literários. Neste sentido, propomos algumas reflexões sobre o
―Manifesto da literatura digital‖, escrito e propagado por Marcelo Spalding (2012) em
cotejamento com proposições da poesia concreta e sua teoria (1958), do movimento
concretista e a produção de seus signatários. O tratamento do recorte a que nos
propomos fazer parte de uma comparação inicial que estabelece algumas diferenças e
contiguidades possíveis, tanto no que tange o gênero textual manifesto, que segue uma
tradição de ruptura na literatura brasileira, como o estabelecimento de algumas
continuidades dentro de contextos intermidiáticos diferenciados. Deste modo,
entendemos estar contribuindo para o debate do campo do literário e da arte,
enfatizando o aspecto estético, sem deixar de lidar com o político na produção artística
(Ranciére, 2012). Esta produção integra projeto de pesquisa em estágio pós-doutoral
sobre formação inicial de professores e a leitura digital, na modalidade EAD, em
contexto que considera a produção cultural e artística atual, o cibercidadão como
categoria aproximada do leitor contemporâneo, além de ser estruturado a partir de
metodologia dialógica (Bakhtin, 2003) e de pesquisa-formação (Bueno, 2000, apud
Langorezi & Silva).
Palavras-chave: Dialogismo; Literatura digital; Manifesto; Obra; Pesquisa-formação.
MEMÓRIA E CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE EM DIÁRIO DE BITITA, DE
CAROLINA MARIA DE JESUS
Daniela de Almeida Nascimento (UNESP/FCLAr)
Este trabalho propõe um estudo analítico da construção da identidade em Diário de
Bitita (1986), enquadrando-o na tradição da literatura afro-brasileira (DUARTE, 2005).
Publicado postumamente, a narrativa da escritora Carolina Maria de Jesus oferece uma
leitura da história a partir da memória de um ―eu-que-se-quer-negro‖(BERND, 1988),
característica da literatura negra. As memórias de Diário de Bitita cobrem o período a
infância e juventude de uma mulher negra, que desafiou e superou imensas adversidades
para existir desde seu nascimento numa pequena cidade de Minas Gerais, Sacramento,
seu êxodo e errância por cidades mineiras e paulistas do interior, até a sua chegada a
cidade de São Paulo. Há um empenho em resgatar uma memória negra apagada, cuja
marca na escrita é a ruptura com contratos de fala e de escritura ditados pelo mundo
branco (BERND, 1988). Cronologicamente anterior aos seus primeiros dois livros
autobiográficos, Quarto de despejo (1960) e Casa de alvenaria (1961), Diário de Bitita,
apesar do título, situa-se nas fronteiras entre memórias e autobiografia e integra o que
reconhecemos ser um projeto literário idealizado, indicativo de uma busca por coerência
e globalidade no qual Carolina de Jesus coloca-se como a autora da sua própria história,
construindo, textualmente, sua identidade como escritora, mulher negra, brasileira, mas
também como herdeira e participante de uma tradição ancestral africana. Pretende-se,
então, uma análise da construção dessa identidade mediante o diálogo que a narrativa
estabelece entre literatura, memória e história, o individual e o coletivo em quatro
esferas: 1) a da autoria; 2) a do ponto de vista; 3) a da temática e 4) a da discursividade.
Palavras-chave: Identidade; Literatura afro-brasileira; Memória.
O AMOR NATURAL, TRADIÇÃO E INQUIETUDES
Dibo Mussi Neto (UNESP/IBILCE)
O amor natural representa, no conjunto da obra de Carlos Drummond de Andrade,
momento marcante. É quando o amor se realiza em sua plenitude, expondo o seu
contato mais íntimo, o íntimo suspiro da natureza humana. Nessa obra, o poeta propõe
―fazer uma síntese de modo a enobrecer as relações eróticas do amor‖. Buscamos,
portanto, expor neste trabalho, como esse corpo poético se constrói na obra em questão,
filiando-se a uma tradição milenar de poetas que cantaram a lírica de Eros, e que, nas
palavras de Moraes (2015), interrogaram ―tais segredos para melhor conhecer o pacto
entre a carne e a letra‖; sem deixar de perceber as inquietudes da obra drummondiana,
como já destacara Candido (1965). Drummond, ao revelar o amor natural por meio de
versos, revela também um conhecimento profundo desse canto do amor que ecoa desde
o mundo antigo e, mais do que isso, revela uma poesia inquieta que vai buscar na
tradição já consagrada parte da sua força para cantar a lírica de Eros. Sua natureza
moderna envereda-se por fôrmas e formas já cultuadas, reinventando-as, a exemplo do
que já fizera em Claro enigma (1951), quando opta por uma re-experimentação poética,
desta feita para cantar o tema do amor, que agora se liberta das amarras do
constrangimento e realiza-se explicitamente, trocando farpas com o mundo caduco, que
insiste em não reconhecê-lo como natural ou em mercantizá-lo. Para fundamentar nossa
reflexão, dentre outros, valemo-nos também de Gledson (1981), Paes (1983), Paz
(1995), Villaça (2006), Marques (2009).
Palavras-chave: O amor natural; Carlos Drummond de Andrade; Inquietudes;
Tradição.
OLHOS D’ÁGUA... REPRESENTAÇÃO RACIALIZADA E SEXUADA NO CORPO
DO TEXTO LITERÁRIO DE CONCEIÇÃO EVARISTO
Cláudia Maria Ceneviva Nigro (UNESP/IBILCE)
Ao materializar sentimentos ou discursos misóginos / de ódio às mulheres negras,
replicando o direito de usufruto do corpo feminino e dispondo e restringindo o espaço
de atuação social da mulher, Conceição Evaristo, escritora afro-brasileira, compartilha
um mundo outro exótico e de performances negativas que a sociedade brasileira a
―obriga‖ habitar. As protagonistas do livro de contos intitulado Olhos D’Água (2016)
lhes pertence. HOOKS (1998), ANZALDÚA (1987) e BUTLER (2003) indicam como
o discurso de gênero afeta os corpos abjetos, engendrando discursos capazes de suprimir
a presença de sujeitos e fundamentando o discurso hegemônico. Conceição Evaristo,
escritora contemporânea, escreve nas fissuras do sistema, servindo-se de linguagem
literária própria do discurso hegemônico (considerada Guimarães Rosa de saias) para
acrescentar, iterá-los à exaustão (DERRIDA, 1989), e propor significações próprias,
destituindo as formas consagradas do dizer poético. Recebedora de honras,
representando a literatura nacional nos Estados Unidos, em Moçambique, na Áustria, na
França, em Portugal, entre outros países, escreve romances, poemas e contos que se
envolvem no tratamento da linguagem de uma escrevivência, como ela própria diz. Uma
língua entranhada no desejo do corpo reivindicatório. Uma língua assentada na
(im)possibilidade do devir. Proponho com esse trabalho verificar como se dão as
construções de feminilidades no discurso literário de Evaristo, principalmente no livro
de contos Olhos D´Água (2016). Além de apresentar a maneira como a escritora
magistralmente transmuta sujeitos abjetos e os exibe na mesma sociedade que os
condena ao ostracismo, nosso objetivo.
Palavras-chave: Conceição Evaristo; Gênero; Olhos D’Água.
A CONSTRUÇÃO PSICOLÓGICA DA BURGUESIA EM THÉRÈSE
DESQUEYROUX (1927), DE FRANÇOIS MAURIAC
Andressa Cristina de Oliveira (UNESP/FCLAr)
François Mauriac é um escritor francês do século XX, ganhador do Prêmio Nobel,
contudo, atualmente, pouco conhecido e estudado no Brasil. Sua obra revela grande
atualidade de temas graças ao desenvolvimento bastante aprofundado que dá à
psicologia de seus personagens. O autor analisa seus sentimentos, caráter, reflexões e
comportamento de forma bastante verossímil, permitindo-nos descobrir os recônditos da
alma humana, conhecermo-nos melhor e, melhor compreender os outros. A isto,
acrescenta-se a crítica à religião, embora pouco atual em relação a nossa
contemporaneidade, e a crítica social, que ainda permanece atual. Em seus romances,
Mauriac nos mostra uma sociedade demasiadamente preocupada com valores materiais,
tais como o dinheiro, a propriedade privada, a reputação social, e pouco ligada a valores
espirituais. Isso aniquila a sanidade psicológica dos personagens e suas relações entre si,
impedindo-os, também, de serem livres, tornando-os dependentes em variados aspectos
de suas vidas. Dessa forma, aqui, escolhemos analisar a questão da liberdade e da
dependência no meio social burguês de Thérèse Desqueyroux, personagem principal da
obra homônima publicada em 1927. Ela é uma das personagens da obra de Mauriac que
deseja viver de forma diferente de sua família, sobretudo com mais liberdade. Contudo,
esse desejo lhe custa a incompreensão e a recusa de seu meio. Nesta obra, evidenciam-
se temas como a solidão, o desespero, o sufocamento, que causam o crime cometido por
uma mulher incompreendida devido à cegueira das pessoas que a cercam, presas a
tradições, estereótipos, conveniências e preconceitos ligados ao dinheiro e ao poder. Em
nossa breve análise, destacaremos como Thérèse se sente aprisionada e sua necessidade
de libertação, mesmo que seja por meio da tentativa de um crime. Como inspiração para
escrever esta obra, Mauriac se baseou em uma história real, de uma mulher de Bordeaux
chamada Blance Canaby que tentou envenenar seu marido. Vale ressaltar, ainda, que o
personagem de Thérèse Desqueyroux é recorrente na obra de Mauriac, aparecendo em
outras obras, como La fin de la nuit, Thérèse chez le docteur, e Thérèse à l'hôtel.
Palavras-chave: François Mauriac, Romance francês do século XX; Thérèse
Desqueyroux.
ESCRITAS CLARICIANAS: ENTRE CRÔNICAS E ENSAIOS BREVES
Marta Francisco de Oliveira (UFMS)
Refletir acerca do projeto literário de Clarice Lispector envolve considerar a importante
relação que a escritora teve com o jornal impresso, meio no qual publicava crônicas que,
hoje, podem ser lidas em uma estreita relação com o ensaísmo breve latino-americano.
Como cronista no Jornal do Brasil, escrevendo com regularidade e alcançando um
público leitor ampliado, o fazer literário de Clarice se mescla com questões básicas a
respeito de como desenvolver sua literatura de modo mais breve e pontual,
paralelamente à escrita de outros contos e romances. Neste respeito, a crônica permite
um trabalho mais livre e diversificado no qual a escritora desenvolve um estilo próprio,
e o leitor se depara com um modo de escritura que o ajuda a compreender questões de
reflexão estéticas e definir o projeto literário clariciano. Abarcando temas diversos, as
crônicas de Clarice Lispector são a um só tempo a demonstração tanto de seu trabalho
como jornalista, exercido desde muito nova, inclusive antes da publicação de seu
primeiro romance, Perto do coração selvagem, como de sua forma peculiar de pensar e
criar sua escritura, sua literatura, às voltas com temas e acontecimentos próprios do
meio de comunicação no qual publica entre parte das décadas de 1960 e 1970.
Independentemente de quais razões a tenham levado a aceitar se tornar cronista no
Jornal do Brasil, Clarice usou este espaço semanal como uma oficina de escrita, um
exercício para a produção literária, sobressaindo-se como escritora e aproximando-se da
forma de produção ensaística breve que se desenvolve, de modo crítico e consciente, na
América Latina.
Palavras-chave: Clarice Lispector; Crônicas; Ensaio breve; Literatura.
O MINICONTO TREVISANIANO E A GÊNESE DO MINICONTO NO BRASIL
Camila Gouvea Prates de Paiva (UEL)
O marco inicial da história do miniconto no Brasil é ambíguo, isso porque não há como
precisar uma data específica para o momento. Alguns estudiosos, como Márcio
Almeida, costumam afirmar que as produções de autores mineiros na década de 1960
são as prercussoras do formato mini, com a figura de Elias José ao centro. Já Marcelo
Spalding e Pedro Gonzaga atribuem o início do miniconto no Brasil a uma publicação
específica de 1994: o livro Ah, é?, de Dalton Trevisan. Mas definir o livro Ah, é? como
marco do miniconto no Brasil pode ser considerado um posicionamento errôneo, porque
mesmo o próprio Dalton Trevisan já vinha produzindo contos concisos e enxutos,
conforme a sua característica estilística. Uma vez que a narrativa trevisaniana é marcada
pela repetição, fato comprovado por meio da leitura de seus livros, nos quais os nomes,
as características físicas e psicológicas, os distúrbios das personagens estão sempre
presentes, como se elas fossem as mesmas. Além disso, ao conseguir manter sua
produção num curto espaço do papel Trevisan já ensaiava a produção de minicontos,
que seria sua especialidade no decorrer da carreira artística, culminando na produção do
livro Ah, é?. Então, o que se pretende dizer aqui acerca da obra do vampiro, é que
mesmo antes de ser consagrado escritor de miniconto, ele já vinha produzindo contos
minimalistas em sua essência. Um clássico de Dalton que pode ser encarrado como
miniconto, antes mesmo da temática definida, é ―Uma vela para Dario‖, de 1964, sendo
extremamente curto se pensarmos em contos, pois contém aproximadamente 500
palavras, ou seja, um limite baixo para a produção. Por isso, acreditamos que o autor
deve ser celebrado como um marco na historia do miniconto brasileiro, não pela gênese
da produção, mas por ser aquele mais conhecido e pela intimidade que apresenta frente
ao tema.
Palavras-chave: Ah, é?; Dalton Trevisan; Miniconto no Brasil.
O RETORNO DA IMAGEM REALIZADO POR RODRIGO DE SOUZA LEÃO
COMO UM CAMINHO PARA SE PENSAR O OLHAR DA SOCIEDADE À
LOUCURA
Monelise Vilela Pando (UNESP/IBILCE)
A partir do cotejo da obra literária e plástica do artista brasileiro e contemporâneo
Rodrigo de Souza Leão, o trabalho pretende investigar quais são as questões levantadas
pela temática da loucura e, como esse tema, que é também dado biográfico do escritor e
pintor, é organizado e ressurgido socialmente. Pensando à luz de ideias como a de
retorno da imagem de Didi-Huberman (2015), buscamos demonstrar como a obra de
Leão não fica circunscrita apenas ao paradigma da loucura, mas traz esse assunto e o
restitui à esfera da discussão pública, realizando algo possível de ser entendido como
uma reinserção à sociedade daqueles que por séculos foram postos à sua margem em
atos higienistas e moralmente justificados. A imagem e sua noção de potência visual e
discursiva sistematizam a importância do trabalho de Rodrigo de Souza Leão e tais
iluminações da literatura em sua pintura e vice-versa se encontram nas perquirições
centrais para o entendimento da notabilidade do todo de sua obra como força
desencadeadora de uma série de reflexões, inclusive editoriais e mercadológicas, no que
se refere ao mercado da arte. Questões como de caráter provocador sobre o caráter do
que representa e diz o fato de sua loucura ter sido exposta em seus quadros em um
museu, ou estampando capas de seus livros.
Palavras-chave: Literatura contemporânea brasileira; Literatura e Loucura; Literatura e
Pintura.
O VENDEDOR DE PASSADOS: DIÁLOGO ENTRE A OBRA DE JOSÉ EDUARDO
AGUALUSA E O FILME DE LULA BUARQUE DE HOLLANDA
João Gabriel Pereira Nobre de Paula (UEM)
A proposta do presente trabalho busca estabelecer diálogo entre a obra O vendedor de
Passados, publicada no ano de 2004 e de autoria do escritor angolano José Eduardo
Agualusa, e sua adaptação cinematográfica homônima, de 2015, sob a direção de Lula
Buarque de Hollanda. Dividido em três momentos, entendemos ser mister, por se
tratarem de campos distintos do universo artístico, destinar à primeira parte de nossas
ponderações um caráter mais teórico, correspondendo a uma breve exposição acerca do
processo de adaptação de uma obra literária para o cinema, a qual compreende mais do
que o debate a respeito da fidelidade, como implica noções como hipertextualidade e
intertextualidade. A fim de cumprir tais prerrogativas, valemo-nos de algumas
considerações de autores como Naremore (2000), Metz (1972) e Stam (2008), entre
outros. Em seguida, importa-nos discorrer acerca de aspectos mais contextuais, ligados
à criação literária do escritor angolano, bem como elucidar o enredo do romance tomado
por objeto de estudo. Por fim, atendendo a nossa premissa inicial, buscamos destacar os
diferentes pontos entre a obra tida como ―original‖ e sua adaptação, e alguns dos
possíveis efeitos produzidos pelas alterações existentes. Como resultado, foi possível
observar que a matriz fabular está presente nas duas materializações artísticas, mas que
alguns aspectos fazem a obra de Agualusa ter um fundo de criticidade maior e um
objetivo diferente da adaptação fílmica do cineasta brasileiro.
Palavras-chave: Diferenças; O vendedor de passados; Obra Cinematográfica;
Romance.
MIL E UM MISTÉRIOS, DE ANTÓNIO FELICIANO DE CASTILHO: UMA
PARÓDIA DAS NARRATIVAS DE TERROR
Luciene Marie Pavanelo (UNESP/IBILCE)
António Feliciano de Castilho (1800-1875) é um escritor português raramente estudado,
lembrado apenas pela sua contenda com Antero de Quental, na Questão Coimbrã
(1865), por ser um representante da ―velha geração‖ de poetas românticos, contra os
quais a Geração de 70 se insurgiu. Apontado por Maria Leonor Machado de Sousa, em
O “Horror” na Literatura Portuguesa e A Literatura “Negra” ou de Terror em
Portugal, como o precursor da literatura gótica portuguesa, devido à sua balada ―A
Noite do Castelo‖ (1836), Castilho é também aquele que foi responsável pela
―verdadeira sátira ao romance de horror‖ (SOUSA, 1979, p. 59) em Portugal. Pelo fato
de Castilho ter entrado na historiografia como poeta, a crítica literária praticamente
ignora a publicação de Mil e um Mistérios: romance dos romances, cuja primeira parte
foi lançada em 1845. A obra recebeu uma continuação na edição de 1907, publicada
pelo seu filho, a partir de um fragmento encontrado entre os manuscritos de Castilho,
mas, mesmo assim, permaneceu incompleta. Apesar de inacabado, o romance merece
ser estudado pelo fato de ser uma das poucas paródias à narrativa de terror feitas em
Portugal. Sendo assim, é nosso objetivo apresentar uma análise de Mil e um Mistérios,
de forma a enriquecer a compreensão da ascensão do romance português, tendo-se em
vista que o romance de Castilho fora publicado na década de 1840, a década que assistiu
ao lançamento das narrativas históricas, repletas de elementos da literatura gótica, de
Alexandre Herculano.
Palavras-chave: António Feliciano de Castilho; Literatura Portuguesa; Narrativa de
terror; Paródia; Século XIX.
TIPOS HUMANOS EM CONTOS DE MACHADO DE ASSIS E GUIMARÃES
ROSA
Raquel Cristina Ribeiro Pedroso (UNESP/FCL)
O trabalho analisa a constituição de protagonistas dos contos ―O espelho‖ (1882) e ―A
causa secreta‖ (1885), de Machado de Assis, em diálogo com ―A terceira margem do
rio‖ e ―O espelho‖, formas breves de João Guimarães Rosa, presentes nas Primeiras
Estórias, de 1964. Temos por objetivo demonstrar o modo machadiano de elaborar tipos
humanos em ambiente literário a partir da tensão entre o ato de colocar e retirar
máscaras sociais de acordo com as circunstâncias. A partir da interlocução com os
contos de Guimarães Rosa, elencamos o que Alcides Villaça (2013) afirma ser a
demonstração da consciência humana e de sua identidade social pelo olhar do outro, ou
melhor, pela identificação do que o outro lhe atribui: o elemento exterior é interiorizado
ao ponto de fazer parte da subjetividade dos protagonistas, num polo de produção,
reprodução e anulação do eu. Machado de Assis e Guimarães Rosa problematizam a
necessidade vital da imagem de si refletida pelo olhar do outro como parte intrínseca do
processo de autoafirmação e autoconhecimento. A figura do menino que percebe a
partida do pai para a terceira margem do rio vincula-se ao desvelamento de Jacobina
pela visão de seu reflexo no espelho e sua busca por reconhecer-se diante de máscaras
sociais; aceitamos a proposição do personagem machadiano que afirma existir duas
almas (uma interior e outra exterior) e pactuamos com uma dualidade de leitura entre o
que é visível pelo reflexo da imagem no espelho/rio, e o que fica recolhido, agindo na
configuração do sujeito narrativo.
Palavras-chave: Espelhos; Machado de Assis; Tipos humanos.
TRAGÉDIA GREGA E DIREITO: A CONTRIBUIÇÃO DE PROMETEU
PRISIONEIRO, DE ÉSQUILO
André Luiz Gardesani Pereira (UNESP/IBILCE)
Este estudo aborda a intersecção entre a literatura grega clássica e o direito em
Prometeu prisioneiro, de Ésquilo. Adota como ponto de partida as teorias de Lesky,
Nietzsche, Jaeger e Vernant sobre a origem da tragédia grega e sua função cívica no
contexto da pólis. A pesquisa também se aporta no trabalho dos teóricos da interface
direito e literatura, ao lado dos estudos interdisciplinares e da literatura comparada,
especialmente da comparação da literatura com outras esferas do conhecimento
humano. O objetivo geral consiste em demonstrar que a intersecção da literatura com o
direito pode atender a diversas expectativas do homem moderno. No caso específico da
tragédia, a função pedagógica, ao revelar erros e vícios que não devem ser cometidos,
educa o leitor ou expectador. A ―força educativa‖ de Prometeu prisioneiro adverte que o
operador do direito deve primar pelo conhecimento para o progresso das ciências
jurídicas; que o crime, excepcionalmente, pode ser dotado de uma função social ou estar
amparado por uma causa justificadora e que o delito deve necessariamente ser punido,
mediante a imposição de penas razoáveis, marcadas pelo equilíbrio entre a infração
praticada e a sanção imposta. Objetiva-se, ainda, demonstrar como a metódica de
interpretação literária pode ser útil para identificar a temática jurídica na tragédia grega
e repensar institutos do direito. Como resultado, obter-se-á a ampliação e fusão dos
horizontes da literatura e do direito, sobretudo sob o ponto de vista da identificação e
compreensão do direito e dos seus fenômenos na tragédia grega.
Palavras-chave: Direito e literatura; Ésquilo; Prometeu prisioneiro; Tragédia grega.
IMAGENS DA MELANCOLIA E DA SOLIDÃO NO ROMANCE NÃO É MEIA-
NOITE QUEM QUER, DE ANTÓNIO LOBO ANTUNES
Daniella Sigoli Pereira (UNESP/IBILCE)
No romance Não é meia-noite quem quer, de António Lobo Antunes, flagramos o fim
de semana de uma mulher de meia-idade que decide visitar a antiga casa de praia da
família. Nesse lugar, a personagem é tomada por numerosas lembranças da sua infância.
Acessamos, dessa maneira, as tragédias da sua família no passado, marcada por um
casamento arruinado dos pais, pela a presença de um irmão surdo sempre
incomunicável, de um irmão que regressa louco da guerra e de outro que comete
suicídio no Alto da Vigia, próximo a essa casa, e que se torna, durante todo o trajeto
existencial da protagonista, uma fixação perturbadora. O resgate dessas memórias
desperta e anuncia um lado solitário e melancólico permanente na vida da personagem,
pois a vida adulta e presente já não se mostra melhor. Seu casamento é frustrante, seu
emprego sem graça, ela, vítima de câncer, sofreu uma mutilação na mama e perdeu no
ventre o único filho que tentou gerar. Descrevemos, dessa forma, a personagem e sua
existência como melancólicas no sentido de que o sujeito melancólico é, de certa
maneira, obcecado por um objeto perdido (nesse caso o irmão que se matou) e não
consegue se livrar dele tão facilmente porque esse objeto passa a se tornar motivo de
identificação inconsciente com o melancólico. As construções imagéticas de que o autor
se utiliza dão força a essa caracterização desoladora de sua vida ao mesmo tempo que
contribuem, no campo linguístico, para a construção de uma narrativa marcadamente
lírica. Assim, o regresso à casa e, principalmente, o retorno ao Alto da Vigia no fim da
sua viagem anunciam-se, diante dessa existência melancólica e solitária, como um
convite pulsional para o seu próprio fim.
Palavras-chave: António Lobo Antunes; Lirismo; Melancolia; Solidão.
A PSICOLOGIA DA COMPOSIÇÃO SEGUNDO SERGUEI EISENSTEIN
Erivoneide Marlene de Barros Pereira (UNICAMP)
O cineasta e teórico russo Serguei Eisenstein propõe uma análise do ensaio "The
philosophy of composition", do escritor Edgar Allan Poe, buscando elementos para a
compreensão do mecanismo da composição artística a partir da tessitura literária. Tal
movimento proposto por Eisenstein advém do seu interesse pela Literatura como uma
estrutura artística capaz de provocar o leitor/espectador, por meio de aspectos formais e
estilísticos. Cabe ressaltar que Eisenstein estabelece a investigação do texto literário
como um laboratório para o estudo da criação artística em suas dinâmicas pedagógicas
apresentadas aos alunos do curso de direção cinematográfica do Instituto Estatal de
Cinema Russo (VGIK). Um dos resultados de sua aproximação com a arte literária é o
estabelecimento do fenômeno que denominou de expressividade, efeito que tem origem
na experiência artística, como resultado do tratamento dado pelo autor à sua matéria
artística. Nessa perspectiva, a Literatura contribui para o desenvolvimento do Cinema
enquanto linguagem ao demonstrar de que modo é possível construir uma imagem
artística plena de sentido através da palavra (matéria), abstrata, que conduz a um
conceito concreto, manifesto na estrutura da obra. Desse modo, esta comunicação
abordará alguns aspectos do processo criativo discutidos por Eisenstein em seu texto
intitulado The psychology of composition, delineando os pressupostos apresentados por
Edgar Allan Poe e explorando uma possível elaboração de uma base teórica para a
composição artística a partir do texto literário.
Palavras-chave: Cinema; Edgar Allan Poe; Eisenstein; Literatura Comparada.
AS FIGURAÇÕES DO FEMININO EM DESMUNDO, DE ANA MIRANDA
Juliana Cristina Minaré Pereira (UNESP/FCLAr)
O presente trabalho apresentará as discussões que estão sendo desenvolvidas para o
primeiro capítulo na dissertação ―As figurações do feminino em Desmundo (1996)‖, de
Ana Miranda. Abordaremos questões que são fundamentais para a compreensão da
obra, tais como o que contém a fortuna crítica da autora, seu estilo de escrita, o período
sócio-histórico no qual é produzida a obra, a qual tem seus efeitos na sociedade, que
transcendem a arte literária. Nessa perspectiva, traremos para o debate a importância
dos movimentos feministas, sua relevância frente ao cenário social da condição
feminina, suas nuances e, sobretudo, suas interfaces com a Literatura. Discutiremos
também o surgimento da crítica literária feminista na década de 1970, elementar para a
ampliação da voz feminina dentro da Literatura e seus resvalos em todas as esferas
sociais. Discutiremos como o surgimento da metaficção historiográfica, reflexo da Pós-
Modernidade, contribuiu para que narrativas de autoria feminina seguissem,
contestando o discurso hegemônico dentro e fora da literatura, dando voz à mulher,
historicamente silenciada. É através dessa abertura discursiva que essas figuras passam
a ser ouvidas e a condição das mulheres ganha centralidade nos debates sócio-políticos,
visando uma ruptura na condição de subjugação histórica imposta pelo patriarcado.
Intencionamos traçar um paralelo entre todas essas questões sociais e literárias que
giram em torno da figura feminina através do olhar que Oribela, personagem narradora,
tem sobre o ‗desmundo‘ e todas as imposições que lhe foram feitas. Intentamos, por
fim, mostrar como a construção de uma personagem órfã do século XVI, retirada à força
do convento, com seu discurso combativo, completamente fora dos padrões tradicionais
da época, reforça e colabora com os movimentos feministas indicando-nos que não tem
como estar em conformidade com esse lugar subalterno imposto à mulher. Ao longo da
análise mostraremos como a luta da personagem contra o adestramento pelo casamento,
contra o sexo forçado e todas as outras imposições sociais da época, em consonância
com o discurso patriarcal e hegemônico da Igreja, colabora para essa luta feminista na
contemporaneidade.
Palavras-chave: Desmundo; Discurso; Feminino.
AS PERSONAGENS JEAN VALJEAN, JAVERT, MYRIEL E ENJOLRAS EM LES
MISÉRABLES E SUA RELAÇÃO COM A CONCEPÇÃO DE JUSTIÇA
ILUMINISTA LEGALISTA
Maria Júlia Pereira (UNESP/FCLAr)
Esta pesquisa pretende demonstrar, no romance Les Misérables (1862), de Victor Hugo,
a relação das personagens Javert, Jean Valjean, Myriel e Enjolras com a concepção de
justiça iluminista, que nelas provoca importantes reações e, por isso, é possivelmente
um importante móvel da ação da história, determinando o senso de justiça que constitui
e transforma as personagens, além de guiá-las no meio social e político apresentado na
obra. Nesse sentido, este trabalho abordará a constituição, a ação e a transformação das
personagens na narrativa e na história com o auxílio de textos teóricos sobre a
personagem romanesca (BAKHTIN, 2003; CANDIDO, 1979; VIEIRA, 2008;
ZÉRAFFA, 1971), bem como por meio da fortuna crítica de Victor Hugo (ACHER,
1985; ALBOUY, 1968; PARENT, 2014; ROSA, 1985). Tratará da concepção de justiça
iluminista a partir do pensamento de Kant quanto à legalidade, à moralidade e à justiça
fundamentada na liberdade e na obediência à lei jurídica; sendo também relevante, para
análise da personagem Enjolras, o pensamento de Montesquieu no que diz respeito às
idéias de insurreição, república democrática, virtude política e sua relação com a justiça.
Mais especificamente, se buscará evidenciar: a oposição à concepção de justiça legalista
encarnada pela personagem Jean Valjean, condenada e injustiçada pelo sistema legal; a
relação da personagem Javert com a concepção de justiça enquanto conformidade à lei,
traduzida em sua postura legalista extremada e também em sua reação ao legalismo – a
ruptura representada pelo suicídio – pois a lei implica injustiça, e, portanto, não se
sustenta; como a personagem Myriel representa reação à concepção de justiça legalista,
visto que concebe a equidade como justiça; a oposição da personagem Enjolras ao
legalismo, na medida em que lidera a insurreição contra a ordem imposta e crê em uma
república democrática, baseada na equidade e apta a construir uma sociedade fraterna e
justa.
Palavras-chave: Concepção de justiça iluminista legalista; Les Misérables;
Personagem.
―A DEEPER EXILE‖: ENTRE A POESIA E A HISTÓRIA
Fernando Aparecido Poiana (UNESP/IBILCE)
A presente comunicação pretende analisar o poema ―A Deeper Exile‖, do poeta,
romancista e crítico literário norte-irlandês Seamus Deane (1940). O argumento central
dessa proposta de leitura é que o poema em questão, publicado no livro Rumours
(1977), tematiza as noções de perda e solidão que afetam diretamente a percepção do
eu-lírico sobre os seus afetos e a sua realidade imediata. Metodologicamente, essa
proposta de análise organiza-se em duas etapas distintas e complementares.
Primeiramente, busca-se realizar uma leitura cerrada (close reading) dos aspectos
formais do poema, seu tom e dicção. A fundamentação teórica dessa etapa é formada,
basicamente, pelos livros Practical Criticism (1929), de I. A. Richards, e How to Read a
Poem (2007), de Terry Eagleton. Em seguida, busca-se entender de que modo as
escolhas retóricas de Deane em ―A Deeper Exile‖ fazem com que o poema dê forma a
algumas das tensões e contradições que permeiam o seu contexto sócio-histórico-
cultural de produção e publicação. Essa segunda etapa da análise é fundamentada pelas
discussões propostas por Steven Matthews em Irish Poetry: Politics, History,
Negotiation (1997) e por Declan Kiberd em The Irish Writer and the World (2005). A
hipótese, portanto, é que ―A Deeper Exile‖ é tomado por certo senso de perplexidade
por meio do qual o poema dialoga com a realidade de onde surge.
Palavras-chave: Poesia Irlandesa; Seamus Deane.
O ESPAÇO URBANO NA OBRA DA ESCRITORA CATALÃ MONTSERRAT
ROIG
Nelson Luís Ramos (UNESP/IBILCE)
O cunho nacionalista, a ideologia de esquerda e a emancipação da mulher têm lugar de
destaque na obra de Montserrat Roig (1946-1991), escritora e jornalista catalã. Tendo
em vista que sua trajetória literária pode ser dividida em duas fases (morreu muito
nova), é a primeira – cuja ênfase aparece, sobretudo, em Ramona, adéu (1972) e El
temps de les cireres (1977) e que apresenta uma espécie de painel histórico da
Barcelona indo dos finais do século XIX até os anos 70, centrada quer na pequena
burguesia do bairro do Eixample, quer no protagonismo feminino –, a que nos interessa.
Em La voz testimonial en Montserrat Roig (1996), Christina Dupláa, professora de
literatura espanhola do Dartmouth College (EUA), afirma que ―no caso de Montserrat
Roig, o espaço urbano denominado Barcelona é elevado à categoria de personagem-
testemunho, tanto na narrativa de ficção como em reportagens e crônicas jornalísticas‖
(p.142). Em sua análise de Roig, Dupláa aborda principalmente a questão da mulher e
do espaço urbano, da memória e do testemunho, das identidades espanhola e catalã e o
pós-franquismo, dentre outras, enfatizando que o ―hilo conductor de su obra es, desde
ele principio hasta el final, la lucha física y psíquica por reivindicar la memoria cultural
de los pueblos como parte de sus señas de identidad‖ (p.170). Em um artigo publicado
em Espaço e gênero na literatura brasileira contemporânea (2015), a pesquisadora
Sandra Goulart de Almeida ressalta que o espaço é categoria enunciativa que ―perpassa
a literatura contemporânea, não apenas a literatura brasileira, mas também a cena
literária de vários outros países, nos quais o espaço, em especial o urbano, ganha
destaque‖ (p.16). Desta forma, visando aprofundar essa discussão sobre o espaço e a
cidade em Montserrat Roig, recorreremos a Dupláa bem como a estudos brasileiros
contemporâneos que analisam a categoria em questão, além das obras do crítico
canadense François Paré – Les littératures de l’exiguïté (1992) e Théories de la fragilité
(1994) – que tratam da exiguidade e das literaturas minoritárias (como é o caso da
catalã) e da ênfase que estas atribuem ao espaço.
Palavras-chave: Cidade; Espaço; Identidade; Literatura catalã; Literaturas minoritárias.
O FLUXO DE CONSCIÊNCIA NO CONTO "RODA DE PAU", DE DINORATH DO
VALLE
Pâmela Coca dos Santos Ramos (UNESP/IBILCE)
Dinorath do Valle foi, além de professora e importante personagem na história cultural
da cidade de São José do Rio Preto – SP, autora de obras tais como o romance Pau
Brasil, laureado com o Prêmio Casa de Las Americas (Cuba) em 1982 e o livro de
contos O vestido amarelo, laureado com o Prêmio Governador do Estado em 1971. O
conto "Roda de pau", objeto deste trabalho, é um dos 27 contos de O vestido amarelo.
No conto em questão, o protagonista, Paulão, interrompe seu trabalho para ir ao
banheiro e, lá, relembra episódios violentos de sua vida familiar, demora, por isso, a
voltar ao trabalho, e é demitido. Neste trabalho, procuramos estudar o modo como o
fluxo de consciência, foco narrativo com o qual o conto é narrado, contribui para o
desenvolvimento da fábula do conto, de seus conflitos e desdobramentos. Para isso,
teremos como base para nossos estudos, obras tais como O ponto de vista na ficção
(2002) de Norman Friedman e Foco narrativo e fluxo de consciência (2012), de Alfredo
Leme Coelho de Carvalho. Esperamos, com este estudo, mostrar que, ao serem narrados
por meio do fluxo de consciência, os momentos de violência sofridos pelo protagonista
nos levam a conclusão de que a violência que ele mesmo utiliza é um resultado e uma
perpetuação da violência sofrida no passado.
Palavras-chave: Dinorath do Valle; Fluxo de Consciência; Roda-de-pau.
DO MÍTICO AO MARAVILHOSO: VARIAÇÕES E PERMANÊNCIAS ENTRE
―CUPIDO E PSIQUÊ‖ E ―O CADEADO‖
Adriana Aparecida de Jesus Reis (UNESP/IBILCE)
Maria Celeste Tommasello Ramos (UNESP/IBILCE)
O mito de ―Eros e Psiquê‖ ou ―Cupido e Psiquê‖ é narrado nos livros IV, V e VI do
romance O asno de Ouro ou Metamorfoses, de Lúcio Apuleio, romano que viveu de 125
a 170 d. C. Neste romance, constituído por onze livros, são narradas as peripécias de
Lúcio metamorfoseado em asno, mudança provocada pelo equívoco de sua amada Fótis,
auxiliar e serva da feiticeira Panfília. Dessa forma, as aventuras de Lúcio servem de
moldura para a narrativa mítica intitulada ―Eros e Psiquê‖. Na fonte desse texto da
literatura latina, bebeu o escritor italiano Giambattista Basile (1575-1632), que, na sua
obra-prima Pentamerone, fez do mito a inspiração para desenvolver a nona história
narrada na segunda jornada, que tem o título de ―O cadeado‖ (―Il catenaccio‖). Trata-se
da narração a respeito das aventuras vividas pela protagonista Lucinha e o seu caso
amoroso com o moço encantado. Na presente comunicação, buscamos verificar como se
dá o diálogo intertextual entre o texto-fonte mitológico e o conto maravilhoso italiano,
uma vez que a retomada do mito clássico latino por um autor barroco é, a nosso ver,
muito significativa. Na análise, tomaremos como base reflexões críticas e teóricas de
Samoyault (2008), Eliade (2012), Grimal (2011), Croce (2010) e Ramos (2018) para
considerarmos as variações e permanências entre as duas narrativas cotejadas,
verificando assim como se dá a transformação do texto mítico, de autoria de Apuleio,
realizada na estruturação do texto maravilhoso, de autoria de Basile.
Palavras-chave: Conto maravilhoso; Cupido e Psiquê; Literatura Italiana; Mitologia; O
cadeado.
AS MÚLTIPLAS REFERENCIAÇÕES EM ATONEMENT, DE IAN MCEWAN
Mariana Crozzatti Renofio (UNESP/IBILCE)
Atonement pode ser descrito como uma mistura de aspectos e referenciações literárias
que ultrapassam a barreira do tempo e remontam, inclusive, ao surgimento do romance
como gênero literário, uma vez que McEwan insere referências a outras obras em ordem
cronológica, iniciando-se no século XVIII, com as obras que dão origem ao romance
como gênero textual e literário, e percorrem os séculos, passando pelo XIX até chegar à
contemporaneidade. Além da Literatura, a História é usada como parte integrante da
obra, sendo utilizada não apenas como ―pano de fundo‖ para o enredo, mas, mais do que
isso, McEwan utiliza-se dos acontecimentos históricos e de suas memórias — criadas
pelas narrativas do pai, integrante do exército inglês durante a Segunda Guerra Mundial
— para tecer críticas, principalmente, contra aqueles que usaram a Segunda Guerra
Mundial como meio de enriquecimento. Contudo, toda a grandiosidade da narrativa é
evidenciada com o uso autoconsciente que McEwan faz da estrutura do romance:
lançando mão de estratégias narratológicas, como a focalização, o escritor cria não só
uma grande obra metalinguística, uma vez que Atonement narra a si própria, mas
também discute ―polêmicas‖ que perpassam a história da narrativa, como a verdade
ficcional.
Palavras-chave: Atonement; Focalização; McEwan; Ponto de vista; Reparação.
DINORATH DO VALLE NAS ONDAS DA RÁDIO: UM ESTUDO SOBRE A
CRÔNICA LITERÁRIA NA INDEPENDÊNCIA AM DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO
Vera Lúcia Guimarães Rezende (UNESP/IBILCE)
A escritora Dinorath do Valle (10/07/1926 - 01/05/2004) construiu sua carreira
jornalística e literária por quase 60 anos, em São José do Rio Preto, no interior do
Estado de São Paulo e, mesmo longe de São Paulo e Rio de Janeiro, principal eixo da
cultura nacional, foi premiada em 14 concursos internacionais e nacionais de literatura.
Dinorath é mais uma escritora brasileira cujas obras ficaram recônditas a uma região,
neste caso o Noroeste paulista, onde exerceu intensa atividade na imprensa de São José
do Rio Preto, escrevendo crônicas para o jornal e para o rádio locais, e posteriormente
contos e romances. Visando compreender o processo de formação da escritora Dinorath
do Valle, este trabalho debruça-se sobre as narrativas que transitam entre o jornalismo e
a literatura e que, de certa forma, representam os primórdios da técnica de composição
literária revelada anos mais tarde. Propõe-se a abordagem crítica das crônicas
veiculadas pelo rádio, mídia sonora acessível a todas as classes sociais, por meio das
quais ela produziu narrativas analíticas, poéticas e de comentários, como convém à
crônica literária genuína. Dinorath do Valle escreveu mais de 500 crônicas para a Rádio
Independência AM e a despeito de constar entre as autoras reunidas por Nelly Novaes
Coelho em seu Dicionário crítico das escritoras brasileiras (2002), sua produção
literária e cronística de Dinorath do Valle está relegada à margem e suas narrativas
pouco conhecidas do mundo acadêmico e de novas gerações de leitores. Espera-se que
por meio dessa pesquisa seja possível impedir seu total apagamento, uma vez que seus
livros estão esgotados e suas crônicas são praticamente inéditas, pois nunca mais vieram
a público depois de veiculadas pela imprensa e pelo rádio do interior paulista.
Palavras-chave: Apagamento; Autoria feminina; Crônica literária; Mídia sonora.
VERMELHO, INCOLOR, VERDE E AMARELO: O TEMA DA MATURIDADE EM
"CHAPEUZINHO" NA TRADIÇÃO E NA MODERNIDADE
Gustavo de Mello Sá Carvalho Ribeiro (UNESP/FCLAr)
Chapeuzinho Vermelho é um conto popular de tradição oral que tem forte marca no
folclore ocidental, possuindo diversas versões, paródias e releituras. Neste trabalho,
tomamos três narrativas modernas que buscam traduzir e ressignificar a clássica
história: "The little girl and the wolf", fábula de James Thurber; "Fita verde no cabelo",
conto de Guimarães Rosa e Chapeuzinho Amarelo, livro infantil escrito por Chico
Buarque e ilustrado por Ziraldo. O objetivo é verificar como essas três composições
constroem novas figurações da protagonista partindo do tema da maturidade. Assim, é
possível que apontemos o que afasta e aproxima os três textos - entre si e em relação ao
conto popular. Por isso, propomo-nos a verificar como essas diferentes formas literárias
- uma fábula, um conto curto e uma narrativa em versos - retomam a folclórica história
de "Chapeuzinho Vermelho" para representar o tema em pauta. Para tanto, devemos
pensar as características do conto de tradição oral e estabelecer suas possíveis relações
com o gênero fabular. Para a consecução de tal objetivo, lançamos mão de teorias sobre
contos maravilhosos e fábulas para a análise das narrativas, das quais podemos citar A
forma da fábula, de Alceu Dias Lima e O conto popular, de Michèle Simonsen. Ao
analisarmos as três composições, percebemos que os textos modernos edificaram
protagonistas mais autônomas e maduras que a personagem clássica, criando
personalidades que conseguem vencer, por si próprias, os obstáculos a elas impostos.
Palavras-chave: Conto popular; Fábula; Literatura comparada.
HERÓIS EFÊMEROS: UMA LEITURA DA OBRA INFERNO PROVISÓRIO DE
LUIZ RUFFATO
Ingrid Zanata Riguetto (UNESP/IBILCE)
O nosso trabalho visa investigar as peculiaridades literárias que fazem do projeto
Inferno Provisório (2005-2012), de Luiz Ruffato, romances que buscam representar
ficcionalmente os diversos grupos que compõem e caracterizam a estrutura social
brasileira em processo de modernização (1950-2013). De acordo com Karl Eric
Shøllhamer (2010), Luiz Ruffato dá continuidade ao realismo, portanto, representa em
suas obras aspectos de uma realidade social profunda, reelaborando-os ficcionalmente,
fazendo emergir a figuração de trabalhadores menores e mal remunerados, malandros,
sujeitos à margem do sistema capitalista ou excluídos sociais, contudo por meio de uma
linguagem fragmentária. Diante disso, com o auxílio de sociólogos como Émile
Durkheim, Norbert Elias, Florestan Fernandes, Guerreiro Ramos, Antonio Candido,
compreenderemos como essas questões socioculturais estabelecem-se na relação
indivíduo/sociedade dentro do microcosmo ficcional de O inferno provisório (2005-
2013) para, a partir da análise dos múltiplos e fragmentários heróis que perpassam as
obras de Ruffato, investigar como esses romances representam o processo de
modernização nacional, sobretudo a partir da imagem da cidade e suas transformações,
motivada pela fragmentação, que a obra representa de modo tanto estrutural como
temático, articulada a partir de uma lógica própria, a da permanência e da ruptura, linha
de leitura pela qual perceberemos não só os elos entre os capítulos, na formação dos
romances, mas também as relações entre os cinco romances da pentalogia.
Palavras-chave: Literatura contemporânea; Luiz Ruffato; Modernização do Brasil.
A SUBMISSÃO DA MULHER MODERNA AO PATRIARCADO EM "DÃO-
LALALÃO", DE GUIMARÃES ROSA
Natália Calderan Rissi (UFSCar)
Este trabalho propõe analisar a novela ―Dão-Lalalão‖, de João Guimarães Rosa, por
meio de uma leitura política, conforme proposta por Jameson (1992), a fim de revelar o
subtexto histórico em um segundo nível de leitura (FERRREIRA, 2003), em que
pretende-se apreender as questões sociais e históricas presentes na narrativa. A novela é
ambientada nos Gerais, uma das nuances do sertão, que estão sendo, aos poucos,
atingidos pela modernização, configurando uma nova ordem social. A fim de
compreender essa nova ordem social, caracterizada pelo patriarcado, o qual é
representado por Soropita, mas que vem sofrendo mudanças com a chegada da
modernização, que é representada por Doralda, e caracteriza-se, portanto, como uma
nova ordem ambígua, serão analisadas essas duas personagens, centrais na narrativa, e
como estas dão forma às tensões do período histórico retratado na novela, ambientada
entre as décadas de 1930 e 1940 (RONCARI, 2007). Este estudo focará sua análise,
sobretudo, em como Doralda, ex-prostituta, mesmo sendo a representação da mulher
moderna e da modernização, acaba sendo submissa ao patriarcado ao ser submissa ao
seu marido, o ex-matador Soropita. Este estudo pretende mostrar, a partir da análise
destas personagens da narrativa rosiana, como a modernização ainda encontra
dificuldades em ser implementada no interior do Brasil, onde o sistema paternalista é
dominante. Para isso, a proposta de leitura desta novela se baseará nos estudos de
Candido (1951), Freyre (2006), Roncari (2007) e Soares (2007; 2008).
Palavras-chave: Dão-Lalalão; Guimarães Rosa; Leitura política; Modernização;
Patriarcado.
BORGES E BERTOLUCCI: A REMEMORAÇÃO LITERÁRIA SOB O VIÉS DA
TRADUÇÃO
Ana Claudia Rodrigues (UNESP/FCLAr)
Pretende-se para esta comunicação uma análise de cunho intersemiótico do conto
―Tema do traidor e do herói‖ (1944), de Jorge Luis Borges, no filme ―A estratégia da
aranha‖ (1970), de Bernardo Bertolucci. Separados no tempo e no espaço, Bertolucci,
pelos princípios da tradução, recria o conto de Borges na linguagem do cinema, e dela
extrai a mesma história, só que agora imbuída de novos sentidos – a liberdade que cabe
ao tradutor-transgressor, que, diante de formas artísticas distintas, capta o essencial
mediado pela própria estética e vivência. A história é sobre aquele que sai em busca dos
traços biográficos de seu ancestral e descobre, por meio de relatos dos moradores da
cidade, que se trata de um herói, mas à medida que se aprofunda em suas investigações,
vislumbra outra realidade: que o herói é um traidor e tudo não passava de uma
encenação das peças de Shakespeare, em particular, Júlio César e Macbeth. E diante de
tais revelações, faz-se silêncio, ora pelo choque que ofusca os olhos quando se está
diante da ‗verdade‘ consumada, ora pela constatação de que a ‗verdade‘ não importa, e
sim, a estratégia de sua representação. Assim, diante de tais aspectos citados, o que se
verifica, portanto, são histórias dentro de outras histórias, ou seja, tradições das
tradições, que, à luz do cinema, abrem-se ao debate aqui hoje presente, o que valeria
dizer, ao futuro de possíveis e infindáveis rememorações literárias.
Palavras-chave: Cinema; Rememoração literária; Tradição; Tradução.
A POESIA DE MACHADO DE ASSIS: TRADUÇÃO E DIÁLOGO COM
LAMARTINE
Cristiane Nascimento Rodrigues (UFSCar)
O ensaio de crítica de literária ―A poesia‖, de Machado de Assis (1839-1908), é o
primeiro texto de prosa do autor de que se tem notícia. Publicado no dia 10 de junho de
1856 no periódico Marmota Fluminense, pertence à série Ideias Vagas que contém
outros dois ensaios (―A comédia Moderna‖ e ―Os Contemporâneos‖) saídos em
diferentes números do jornal. Nele, o escritor discute, de maneira breve, o que é poesia,
a partir de uma concepção romântica copiada do prefácio intitulado ―Des Destinées de
la Poésie‖, do livro Oeuvres Complètes (1834), do poeta e prosador francês Alphonse de
Lamartine. A epígrafe de ―A poesia‖, ―A poesia, como tudo que é divino, não pode ser
definida por uma palavra, nem por mil. É a encarnação do que o homem tem de mais
divino no pensamento, do que a natureza divina tem de mais magnífico nas imagens, de
mais melodioso nos sons‖, é uma tradução realizada por Machado, em que alguns
termos foram suprimidos e inseridos no corpo do ensaio. Desse modo, a epígrafe
machadiana revela ao leitor a ideia que serve de norte para a leitura do texto de crítica
literária, estabelecendo um diálogo com o francês, pois, a presença de Lamartine em ―A
poesia‖ não se reduziu somente ao trecho inicial. Como Magalhães Júnior observou: ―A
primeira parte do artigo [de ―A poesia‖] é um simples desenvolvimento das ideias de
Lamartine, em tom excessivamente romântico, impregnado de religiosidade, de crença
em Deus‖ (Machado de Assis: vida e obra, 2008).
Palavras-chave: Lamartine; Machado de Assis; Poesia; Romantismo; Tradução.
LETRAMENTO LITERÁRIO E CINEMA NO ENSINO FUNDAMENTAL: AS
MÚLTIPLAS LINGUAGENS ENTRE VER UM LIVRO E LER UM FILME
Patrícia Rodrigues
Esta pesquisa que utilizou como metodologia a pesquisa-ação teve como foco promover
o letramento literário através da interação entre uma obra literária juvenil e o cinema,
suas múltiplas linguagens, diferentes plataformas de mídia, contribuições e canais que
possibilitam sua circulação. Propôs-se a investigar que influência teria a utilização de
imagens cinematográficas no processo de letramento literário. Esperou-se construir com
os alunos do 9º ano da Escola Estadual Cândido Portinari (Tapurah/MT) uma análise do
livro O escaravelho do diabo (1985), de Lúcia Machado de Almeida, e do filme
homônimo do diretor Carlo Milani. Por serem dois sistemas semióticos diferentes,
buscou-se as confluências e particularidades entre o texto e as imagens. A realidade que
motivou a realização desta proposta foi perceber que a maioria dos
estudantes/adolescentes necessitam de muito estímulo para ler obras literárias, então
pretendeu-se incentivar os alunos a tornarem-se leitores competentes utilizando também
a linguagem imagética do cinema. O projeto proporcionou aos alunos o conhecimento
necessário de ambos os sistemas semióticos (literatura e cinema) para que pudessem
realizar uma análise crítica das diferentes manifestações culturais. A produção de
portfólios e book trailers (atividades dos alunos) e e-book (atividades para professores)
foram os produtos finais alcançados. A pesquisa teve contribuições teóricas sobre a
humanização através da Literatura com Antonio Candido (1995) e o prazer do texto
com Barthes (2002); Letramento Literário e Sequência Expandida por Cosson (2009);
Cinema com Bazin (1991), Cunha, Martin (2013) e Stam (2003); Semiótica do cinema
com Lotman (1978) e a adaptação com Hutcheon (2013).
Palavras-chave: Cinema; Letramento Digital; Letramento Literário; Literatura.
O OLHAR POLÍTICO DO QUEER EM THE WIVES OF BATH (1993), DE SUSAN
SWAN
Lis Doreto Romero (UNESP/FCL)
Susan Swan, professora, jornalista, escritora e feminista canadense, tem publicado em
1993 seu romance The Wives of Bath. A história se passa em 1963, e desenvolve-se em
um colégio interno só para garotas que mais se parece com uma prisão, pois há grades
nas janelas, grandes escadas e muitas portas. O estilo gótico do romance contribui para
dar peso à narrativa alinear que faz uso de diferentes gêneros literários e textuais. Essa
não-linearidade da narrativa e dos gêneros presentes no corpo do texto vai de encontro à
construção das personagens, que podem ser consideradas fora do padrão, ou abjetas,
pois subvertem a padronização estética, a heteronormatividade e a heterossexualidade
compulsória. Mouse, a heroína, por exemplo, é uma garota que passeia entre o feminino
e o masculino e é corcunda; Paulie, a anti-heroína, é uma garota lésbica que comete um
crime para tentar afirmar sua masculinidade. As duas personagens, junto ao anão
travesti, à diretora lésbica, entre outras, configuram um jogo entre gênero e
respeitabilidade que será analisado com base na teoria queer. Desenvolvida no final da
segunda metade do século XX, a teoria queer sustenta os pressupostos necessários para
relacionar a subalternidade das personagens com a política da diferença, que de acordo
com Miskolci (2012) é uma política que procura ir além da tolerância e da inclusão
buscando mudar a cultura como um todo. Assim, observa-se que o romance The Wives
of Bath parodia a maneira como os corpos são colocados na sociedade, o que se
considera um ato político, haja vista que as experiências das personagens, sendo
algumas delas inspiradas em pessoas da vida real, repercutem não apenas em suas
próprias vidas, como também na vida de outras personagens e, consequentemente,
podem causar transformações ou colaborar para transformações na vida real.
Palavras-chave: Mulher; Crítica feminista; Gênero; Queer; Literatura canadense; Susan
Swan.
IDENTIDADE GOIANA E O MITO DO ATRASO NA OBRA DE HUGO DE
CARVALHO RAMOS
Thiago Sanches (UNESP/IBILCE)
A revisão historiográfica trouxe a perspectiva de um Império Marítimo Português
contendo partes autônomas e um novo significado para nossa história colonial. Com
Goiás não é diferente. Assim, é necessária uma nova relação entre história, literatura do
período em si e a que faz menção a ele. Partindo de uma nova historiografia sobre a
região, a presente comunicação traz os resultados mais incipientes da investigação da
formação da identidade goiana manifestada em noções de atraso e progresso contidas na
obra Tropas e boiadas, do escritor goiano Hugo de Carvalho Ramos, publicada em
1917. Nela, encontramos uma série de contos, com causos, lendas, mitos, ditados e
provérbios que emanam esporadicamente as vivências, experiências, linguagens e
conhecimento do autor sobre uma região afastada dos grandes centros, o sertão de
Goiás. Ao longo da pesquisa e elaboração da tese de doutorado, pretendo investigar de
que maneira as personagens históricas e suas trajetórias foram exploradas na produção
literária do século XIX e XX a ponto de contribuírem ou não para a construção de um
imaginário em torno da identidade goiana. Somado a isso, mergulharei na busca por um
entendimento das formas pelas quais a literatura eventualmente se estruturou e
influenciou na composição de discursos decadentistas alternados a ufanistas e de
progresso que alimentaram o imaginário da região.
Palavras-chave: História; Identidade goiana; Literatura.
ESTUDOS CULTURAIS E A IDENTIDADE CHICANA NO EPISÓDIO ―ES QUE
DUELE‖, DE TOMÁS RIVERA
César Augusto Alves dos Santos (UNESP/IBILCE)
Este trabalho tem como objetivo verificar como os imigrantes mexicanos nos Estados
Unidos e seus descendentes, os chicanos, têm sua identidade (des)estruturada através
das personagens do episódio ―Es que duele‖, presente na obra da literatura chicana ...y
no se lo tragó la tierra, de Tomás Rivera (1992). Para esse estudo, far-se-á uma breve
retrospectiva dos estudos culturais e seus campos de estudos como um fio condutor das
discussões sobre a identidade. Em seguida, pretende-se comprovar, por meio desse
episódio, o processo de estruturação/consolidação da identidade chicana, associando-a
com o conceito de identidade de subclasse, definido por Bauman (2005) como a
negação do direito de um indivíduo reivindicar uma identidade que não seja a que lhe
foi atribuída e imposta por outros, ao mesmo passo que o processo de desestruturação
dessa identidade também está presente no episódio, articulando-o com a ideia de
identidade fragmentada do sujeito pós-moderno defendida por Hall (2006), que se
contrapõe à ideia de identidade pré-concebida por artefatos culturais imaginados. Esses
conceitos identitários serão exemplificados por meio da extração de trechos do episódio
que possibilitem demonstrar que as características e experiências dos personagens foram
utilizadas como instrumentos não só de apresentação como também de ruptura dos
estereótipos estabelecidos à identidade chicana.
Palavras-chave: Estudos Culturais; Identidade Chicana.
RESSONÂNCIAS DO BILDUNGSROMAN EM EXTINÇÃO – UMA DERROCADA,
DE THOMAS BERNHARD
José Lucas Zaffani dos Santos (UNESP/FCLAr)
O sentido original do conceito de Bildungsroman (romance de formação) está
intimamente ligado ao ideário da Alemanha do final do século XVIII, como o anseio da
burguesia por uma formação universal e os princípios que definiriam a base de uma
nacionalidade alemã. A crítica literária elegeu Os anos de aprendizado de Wilhelm
Meister (1795-1796), de Goethe, a obra paradigmática do Bildungsroman, pois
entendeu que ela, além de apresentar a trajetória de formação do protagonista,
promoveria também a formação do leitor. Lukács, no entanto, reconhece que esta
―tentativa de síntese‖ harmônica entre o indivíduo problemático e a realidade tornar-se-
ia cada vez mais difícil de ocorrer, pois a conjectura histórica se alterara. No século XX,
o indivíduo não se reconcilia com a sociedade, mas sim tenta compreender o seu estar
no mundo. Desse modo, nosso objetivo é refletir sobre o romance Extinção – uma
derrocada (1986), de Thomas Bernhard, partindo da hipótese de que essa obra dialoga,
de forma consciente, com a tradição do Bildungsroman. Na narrativa de Bernhard, o
narrador-protagonista Franz-Josef Murau, um intelectual em crise artística, inicia seu
relato autobiográfico a partir da morte dos pais. Este fato desperta o narrador de seu
bloqueio criativo e o impulsiona a refletir, via memória, sobre sua formação ao lado da
família no período que recobre a Segunda Guerra Mundial. Além do artigo de Lukács,
―Os anos de aprendizado de Wilhelm Meister como tentativa de uma síntese‖ (2009),
serve-nos também de aporte teórico o livro O cânone mínimo: O Bildungsroman na
história da literatura (2000), de Wilma Patricia Maas.
Palavras-chave: Bildungsroman; Literatura alemã; Narrador; Thomas Bernhard.
TRADUÇÃO CULTURAL E DOMESTICAÇÃO EM O PISTOLEIRO (2004), DE
STEPHEN KING: EFEITOS E POSSIBILIDADES
Mayara Stéphanie Barbieri dos Santos (UEM)
O objetivo desta comunicação será analisar algumas escolhas tradutórias e seus efeitos
de sentido, embasados no conceito de tradução cultural (AZENHA, 2013), e na
abordagem de estrangeirização e domesticação de termos (VENUTI, 1995). Nesse
sentido, acordados com Arrojo (2003), fomos consonantes à ideia de que cada
indivíduo, sendo sujeito social e da linguagem, interpreta as línguas e as traduzem de
acordo com suas vivências e ideologias. Analisamos, de forma qualitativa-
interpretativista, trechos de O Pistoleiro, de Stephen King, traduzido por Mário Molina
(2004), e sugerimos outras possibilidades tradutórias, considerando tradução como a
materialização de uma leitura (OLHER, 2010) e uma transformação de um texto em
outro novo (DERRIDA, 1972). Concebemos, neste trabalho, os efeitos de sentidos
como construídos e dependentes de formações discursivas, condições de produção, de
recepção e das ideologias do sujeito que lê, interpreta e traduz. As discussões e análises
aqui presentes permitiram um olhar mais significativo para a tradução cultural e o
método de domesticação no processo tradutório, assim como nos possibilitou a reflexão
de que a tradução não é um processo de simples transferência, mas que envolve um
processo de (re)criação e a constante consideração de condicionantes culturais e
ideológicos. O aporte teórico do estudo tem como base as discussões de Campos (1991)
quanto à transcriação, Fish (1992) no que tange as comunidades interpretativas, e
Orlandi (2012) que aborda a Análise do Discurso.
Palavras-chave: Domesticação; Efeitos de sentido; O Pistoleiro; Stephen King;
Tradução cultural.
CASTRO ALVES E A DIALÉTICA ENTRE LOCAL E UNIVERSAL
Ricardo Russano dos Santos (USP)
Em sua Formação da literatura brasileira: momentos decisivos (1750-1880), Antonio
Candido pensa a literatura do período analisado a partir da dialética do local e do
universal, ressaltando que a maturidade de uma literatura se dá quando, internamente, já
há uma tradição que possibilite ao escritor utilizá-la como base, mais do que recorrer a
modelos estrangeiros. Para Candido, é em Machado de Assis que essa possibilidade de
construção endógena será levada a cabo, mais pelo modo de usar a tradição que o
precede do que por um incremento da vida social no Brasil, relação que ele deixará mais
clara em seu ―Literatura de dois gumes‖ (CANDIDO, 2017). Com base nessas
considerações, o objetivo desta comunicação é entender essa dialética entre local e
universal a partir de outro prisma, em que o influxo externo é aproveitado a partir de
interesses internos suscitados pelas necessidades do meio social local. Para isso, o
poema ―Navio Negreiro‖, de Heinrich Heine, e o poema homônimo de Castro Alves
serão analisados comparativamente, de modo a ressaltar nas escolhas grandiloquentes
do poeta brasileiro, mais do que uma influência do francês Victor Hugo, uma opção que
tinha em vista o papel engajado do poema na nascente luta emancipacionista no Brasil
do final da década de 1860.
Palavras-chave: Antonio Candido; Castro Alves; Heinrich Heine; Navio Negreiro.
O GROTESCO EM ADEMIR ASSUNÇÃO: POESIA, REFLEXÃO CRÍTICA E
RESISTÊNCIA
Suzel Domini dos Santos (PUC/SP)
A poesia de Ademir Assunção ancora-se em uma consciência crítica que relê
criativamente a tradição moderna e, ao mesmo tempo, arquiteta uma linguagem
singular, em conformidade com os apelos do contemporâneo. Dentre as características
que o poeta recupera da modernidade, notamos uma imagética da obscuridade,
sobretudo marcada pelo grotesco. Considerando, especificamente, A voz do ventríloquo
(2012), observamos um universo poético figurativamente denso e nonsense, que expõe
as mazelas de uma realidade urbana truculenta, e que ironiza as idiossincrasias de uma
sociedade embasada na lógica do consumo descomedido e do entretenimento banal.
Esse aspecto da literatura de Assunção destaca-se como força motriz de um projeto
estético que busca a arquitetura de uma linguagem hermética feita de pedaços, um
tecido poético feito da costura de fragmentos descontínuos cuja harmonia está na
composição desarmônica. O grotesco promove um desarranjo violento da ordem,
invertendo a polaridade das categorias, de maneira que é mobilizado pela arte
justamente para desestabilizar, denunciar ou questionar aquilo que é tomado como
estável, absoluto e permanente. Ao reafirmá-lo como recurso criativo, Assunção
compõe uma verdade estética que coloca em xeque as normas correntes, que diverge de
um entendimento passivo do mundo, contrapondo-se à ordem da linguagem habitual e,
ainda, do contexto histórico em que se insere. Dito de outra maneira, o poeta mobiliza a
categoria do grotesco a partir de um posicionamento crítico não apenas estético, mas
também ético e político, uma vez que o recurso em questão acaba por se manifestar
como estratégia de articulação da resistência dentro de um contexto que Haroldo de
Campos nominou ―pós-utópico‖. Por meio das imagens grotescas, a poesia de Ademir
Assunção pronuncia-se como forma que resiste à ordem social dominante.
Palavras-chave: Ademir Assunção; Grotesco; Reflexão crítica; Resistência.
RACHEL DE QUEIROZ E CONCEIÇÃO, PROTAGONISTA DE O QUINZE:
TRANSGRESSÃO E AMBIGUIDADE EM LITERATURA DE AUTORIA
FEMININA
Vinicius Schiochetti (UEL)
Muito do impasse existente entre Rachel de Queiroz e o movimento feminista vem dos
posicionamentos políticos controversos da autora cearense. A filiação ao movimento
comunista e a atuação, mesmo que indireta, no golpe militar de 1964 afastam a autora
das pautas e do gosto das feministas. Como muito bem diz Peregrino e Pereira (2012),
em seu artigo sobre a pertinência e a impertinência do estudo da autora à teoria
feminista, essas questões de ordem política afastam Rachel do interesse dessa vertente
da crítica literária, no entanto, não é possível rechaçar totalmente a contribuição da
autora para a literatura de autoria feminina. Citando estudos como os de Peregrino e
Pereira (2012), Hollanda (2017) e Lopes (2016) é possível considerar que o pioneirismo
de Queiroz ao ser aceita na Academia Brasileira de Letras e suas protagonistas fortes e,
até certo ponto, contraventoras da ordem patriarcal colocam-na como uma autora
interessante e cara aos estudos voltados às vozes femininas da literatura nacional.
Diante desse panorama, observou-se que a autora possui opiniões ambíguas em relação
ao feminismo, tal qual o de sua primeira protagonista apontada como uma mulher
transgressora, Conceição, personagem de O Quinze. A figura da professora nordestina,
eternizada por Rachel, é considerada por alguns críticos como contraventora da ordem
patriarcal por negar o matrimônio, por adotar uma criança estando solteira, por ter uma
profissão e não viver a espera do marido, no entanto, como já apontam alguns estudos,
como o de Lopes (2016), o posicionamento de Conceição não é tão firme e unilateral
em direção ao feminismo, pois muitas de suas atitudes e opiniões podem ser
consideradas contrárias ao movimento o que dá à posição da personagem um caráter
ambíguo, assim como o de sua criadora.
Palavras-chave: Autoria feminina; Rachel de Queiroz; O Quinze.
O ORDINÁRIO CINEMATOGRÁFICO EM MÃOS DE CAVALO
Danatiele Soares Segato (UNESP/IBILCE)
Não é de hoje a relação entre a literatura e outras mídias, sobretudo as imagéticas,
porém, é inegável que nas últimas décadas, com a industrialização do cinema, tenhamos
também uma maior relação intermidiática entre essas duas artes. A troca cultural e
estética entre os dois meios é intensa e não seria exagero afirmar que são quase
dependentes em alguns gêneros: o leitor-espectador espera ansiosamente pela adaptação
cinematográfica de seu romance predileto, bem como vê seus filmes e jogos favoritos
serem romanceados e tomarem conta das principais prateleiras das livrarias. Nesse
sentido, autores brasileiros repensam o romance contemporâneo ao criar romances-
roteiros ou ao descrever cenas através das lentes de uma câmera. É justamente com
descrições típicas de filmes hollywoodianos e com inúmeras referências fílmicas que
Daniel Galera compõe seu segundo romance, Mãos de cavalo. No livro, de 2006,
acompanhamos uma narrativa fragmentada em diferentes momentos da vida do
protagonista Hermano e a sua busca por redenção. Com base nos estudos intertextuais,
de Antoine Compagnon (2007), e na crítica filosófica ao espetáculo, de Guy Debord
(1997), pretendemos apontar e analisar como a epígrafe do romance – uma citação do
ator norte-americano Nicolas Cage – prenuncia e se estende por toda a narrativa; como
o protagonista recorre aos recursos cinematográficos para espetacularizar
acontecimentos banais e desinteressantes de sua vida e, por fim, observar a relação
estabelecida entre o paratexto, a narrativa e o efeito que poderá exercer sobre o leitor-
espectador.
Palavras-chave: Epígrafe; Intertextualidade; Literatura brasileira.
BALAS DE ESTALO E SEUS COLABORADORES
Vizette Priscila Seidel (UFPR)
Este trabalho visa analisar as crônicas da seção Balas de Estalo, de 1883 a 1887, no
periódico ―Gazeta de Notícias‖, contrapondo as estratégias narrativas de Machado de
Assis em relação aos demais colaboradores da seção para compreendê-la de maneira
geral, pois os trabalhos realizados até o momento contribuem com a visão machadiana,
deixando os demais colaboradores de lado. A partir da leitura das crônicas publicadas
em Balas de Estalo, pensamos em uma análise comparativa em relação à estratégia
narrativa dos autores em suas crônicas, relacionando com as questões de sua época,
questões que estavam vigentes no final do século XIX e eram também apresentadas no
periódico no qual esses textos estavam vinculados, em contraste ao cronista Machado de
Assis. Refletindo em que sentido as crônicas, tanto de Machado de Assis quanto dos
demais colaboradores, podem ser uma reafirmação dos ideais propostos pelo editor. E
quais são os vestígios das penas desses colaboradores ao refletir os aspectos de sua
sociedade, pois são eles que dão vida a Balas de Estalo. Sabemos da importância dos
estudos das fontes primarias para tentar apresentar as novas perspectivas do fazer
literário e a difusão das ideias. As mudanças na sociedade podem ser discutidas a partir
das crônicas de Machado de Assis e de seus contemporâneos, as angústias presentes em
suas estratégias narrativas para a construção da seção que será analisada.
Palavras-chave: Balas de Estalo; Fontes primárias; Machado de Assis.
A FANTÁSTICA LEITURA DA CORRUPÇÃO EM SEMINÁRIO DOS RATOS
Ana Maria Zanoni da Silva (IMESB)
Na concepção de Freitas (1986), há duas formas de se abordar as relações entre
literatura e história, ou seja: estuda-se a interação da obra com o contexto histórico no
qual ela foi produzida, por meio de análises comparativas entre a literatura e a história;
ou estuda-se a apropriação da temática histórica pela literatura. No segundo tipo de
abordagem, não se privilegia ficções que fazem alusões às situações históricas, ou que
situam a intriga num determinado momento histórico, que serve de pano de fundo, mas
visa-se explorar aquelas que tomam uma realidade qualquer do universo histórico,
transformando-a em parte integrante de sua estrutura interna, ou seja, uma realidade
estética. O fio condutor de muitas narrativas são temas universais e, no arranjo estético
do texto, o escritor, por meio do narrador, insere no campo visual do leitor elementos
que propiciam a reapresentação do real, trazendo à tona aspectos do caráter humano,
nem sempre passíveis de explicação. Este processo homem despe os véus que mascara
lado menos vistoso do homem, revelando o ser em sua dupla face de virtudes e vícios.
Lygia Fagundes Telles, no conto ―Seminário dos ratos‖ (1977), por meio de uma
atmosfera fantástica, mostra a face corrupta do homem. A atualidade do conto se faz
notar não apenas pelas manchetes de jornais que retratam a corrupção, mas, sobretudo,
pela entrevista que o economista norte-americano Robert Klitgaard concedeu à revista
―VEJA‖ (2427, 11 de maio, 2015), na qual ele analisa o fenômeno da corrupção no
Brasil. Neste sentido, este trabalho tem por objetivo analisar o referido conto,
contrastando-o com as afirmações de Klitgaard (2015) referentes à corrupção no cenário
político brasileiro, a fim de demonstrar o quão ficcional é o real, bem como o quanto a
ficção antecipa e mostra do real.
Palavras-chave: Corrupção; Fantástico; Ficção; Política.
A PERSONAGEM HELENA EM "TROIA: A QUEDA DE UMA CIDADE"
Gelbart Souza Silva (UNESP/IBILCE)
Composta de oito episódios com cerca de uma hora de duração cada um, a série ―épica‖
produzida pela parceria da BBC e da Netflix é a mais recente releitura do mito grego da
Guerra de Troia. A adaptação "Troy: fall of a city" ("Troia: a queda de uma cidade")
retoma a milenar narrativa do conflito bélico entre aqueus e troianos, registrada
primordialmente pelo poeta Homero na sua Ilíada, e posteriormente por um sem
número de poetas, tragediógrafos, romancistas e de artista de artes diversas, desde a
época clássica até os dias atuais. Segundo a mitologia, a causa da guerra é o rapto da
mulher mais bela do mundo, Helena, esposa do rei de Esparta Menelau. O raptor é
Páris, filho do rei de Troia, Príamo, a quem Helena foi prometida pela deusa Afrodite.
Em busca de vingança, o ultrajado Menelau convoca outros reis gregos para se aliarem
a ele na incursão contra Troia, nomes como Agamêmnon (seu irmão), Ulisses,
Diomedes, Ájax e Aquiles. Assim, sobre Helena recai a culpa de muitas mortes.
Considerando principalmente as discussões trazidas por Nicholas Rynearson (2013)
sobre o valor da beleza no texto homérico e por Graziana Brescia (2014) sobre algumas
versões acerca do rapto de Helena, nosso objetivo nesta comunicação é analisar a
representação da personagem Helena na série em contraste com os testemunhos
literários clássicos. "Troia: a queda de uma cidade" explora a figura de Helena ao trazer
à tona questões acerca do valor e do poder da mulher, contrapondo essa personagem a
outras, como Cassandra, Hécuba e, principalmente, Andrômaca. A série apresenta uma
Helena que não aceita ser tratada como uma propriedade e que entende sua importância
além de sua beleza física. Demonstramos, por fim, como essa adaptação do mito
atualiza a antiga narrativa por meio de questões contemporâneas.
Palavras-chave: Adaptação; Helena; Homero; Guerra de Troia; Mitologia grega; Troy -
fall of city.
―NO COMEÇAR § DEUS (E POETA) CRIANDO‖: A SAGA DA (RE)CRIAÇÃO
POÉTICA DE HAROLDO DE CAMPOS
Laís Midori da Silva (UNESP/IBILCE)
O projeto poético de Haroldo de Campos sempre foi pautado por um contundente
diálogo com a tradição, de modo que é possível observar uma grande quantidade
transcriações de obras do cânone literário, fruto, principalmente, da expressiva atividade
tradutória realizada pelo poeta. No entanto, apesar de discursos como o de Homero,
Dante, Mallarmé e Joyce fazerem-se sempre presentes no universo da produção
haroldiana, a seleção de trechos da Bíblia e o consecutivo direcionamento do seu olhar
poético para o texto religioso revelam aos leitores o surgimento de um projeto literário
inovador, ou seja, a busca por uma nova origem. Desse modo, a análise dos fragmentos
do Gênesis traduzidos por Haroldo pretende estabelecer e compreender os elementos
que possivelmente pautam a aproximação desses textos. Nessa perspectiva, a reunião de
trechos que representam os mitos da criação e da queda não nos parece aleatória e, ao
considerarmos que as inovações dos processos tradutórios já haviam sido exploradas
pelo poeta e que sua aproximação ao texto bíblico é laica e ―primacialmente interessada
em poesia‖ (CAMPOS, 2000), trabalhamos com a hipótese de que a instauração da crise
– da poesia, da vanguarda e da utopia – seja um fator significativo para a realização
desse ―recorte‖. A nosso ver, ao optar por retratar os mitos da queda simbolizados,
principalmente, pela passagem da Babel e pelo episódio da Serpente, Haroldo coloca-se
no papel de ―Deus-poietés‖ a fim de manifestar, por meio da (re)criação da linguagem
transcendental da poesia, a reconstrução do discurso da origem. Assim, entendendo que
a linguagem e a criação manifestam-se no mesmo momento, busca-se comprovar que o
poeta, por meio do seu labor, permite que, pela (re)criação, a poesia e a linguagem
poética sejam enaltecidas, compondo a saga do eterno retorno, da queda à ascensão,
demarcando a renovação da língua e da transgressão da poesia.
Palavras-chave: Bere‘shith; Haroldo de Campos; Mito; Poesia; Recriação.
O VEIO POLÍTICO NA ESTÉTICA POÉTICA DE AGOSTINHO NETO E NICOLAS
GUILLÉN
Lidiane Moreira e Silva (UNESP/FCL)
O trabalho pretende apresentar um olhar crítico e comparativo para a criação literária do
angolano Agostinho Neto (1922-1979) e do cubano Nicolás Guillén (1902-1989) a
partir da observação dos detalhes que caracterizam as estéticas de suas poesias voltadas
a um interesse político. Agostinho fez da poesia uma forma de motivar o povo a
manifestar-se e organizar-se contra a colonização. Por meio de suas palavras, os
movimentos anticoloniais conquistaram e somaram forças para o diálogo no interior da
guerra contra a dominação portuguesa no continente africano (1961-1974). Guillén, em
uma notável semelhança ao poeta angolano, usava a poesia como canal de crítica à
colonização tanto a espanhola, como a invasão americana em Cuba, além de apontar os
maus costumes daqueles que negavam as origens africanas. De modos distintos, os dois
poetas abordavam temáticas políticas, contra a colonização dando visibilidade ao povo,
especialmente à negritude. Enquanto o primeiro priorizava a linguagem, por vezes, mais
próxima ao discurso militante para o povo, o segundo escreveu poesias com uma
estrutura que remetia à música afro-cubana e com expressões típicas das ruas. As
especificidades estéticas das linguagens não opõem as intenções de seus autores, pelo
contrário, indicam para as mais variadas vestes que a literatura possibilita a um mesmo
ideal ou discurso. Para a reflexão que a comunicação propõe, serão tomados como base
alguns apontamentos sobre o processo de reconhecimento da identidade negra trazidos
na obra Negritude: Usos e Sentidos (1984) de Kabengele Munanga, e também as visões
sobre a relação da poesia com a sociedade em "Poesia e Resistência" da obra de Alfredo
Bosi O Ser e o Tempo da Poesia (1977), e "Poesia, sociedade, Estado" de Octávio Paz
em O Arco e a Lira (1956).
Palavras-chave: Agostinho Neto; Poesia; Colonização; Negritude; Nicolás Guillén;
Política.
O AVESSO DO AVESSO: RICARDO LÍSIAS E A META-AUTOFICÇÃO
Luís Cláudio Ferreira Silva (UNESP/FCLAr)
Cunhado na França em 1977 por Serge Doubrovsky, o gênero em questão já recebeu
inúmeras abordagens por diversos estudiosos tanto na França como no resto do mundo,
inclusive no Brasil. Produzida em grande quantidade neste século, chegou a incomodar
o escritor Daniel Galera que disse, em 2013, esperar o gênero seja passageiro. Ao
contrário das perspectivas o gênero se firmou e se reinventou, sobretudo pelas
produções de Ricardo Lísias. O escritor vem se consolidando como um dos escritores
com maior visibilidade na literatura brasileira contemporânea, não só pela qualidade de
sua obra, mas também pelo que ela provoca. Não é de hoje que sua literatura causa
polêmica e incomoda. Desde a publicação de Divórcio (2013), e indo até o mais recente
Diário da cadeia (2017), publicado sob o pseudônimo Eduardo Cunha, seus livros têm
causado as mais diversas reações, nem sempre positivas. O céu dos suicidas (2013) é o
livro que inaugura sua produção autoficcional. Divórcio (2013) continua na mesma
linha, embora esse último tenha causado mais repercussões. Entretanto, é a com
Delegado Tobias que Lísias inaugura um novo passo na produção autoficcional, livro
que transpôs os limites do livro e que chegou aos tribunais e que dá campo para a
criação de Inquérito policial: família Tobias, publicado um ano depois. Autoficção que é
um gênero por si só polêmico e controverso, muitas vezes acusado de fazer literatura
fácil. Leyla Perrone-Moisés é uma das vozes que discordam desse lugar comum onde a
autoficção é vista como subgênero. Utilizando-se de ferramentas interessantes como a
metaficção, o sarcasmo, redes sociais e o mashup, Lísias reconstrói esse espelho
enviesado que é a autoficção, fazendo uma espécie de dupla performance e colaborando
para embaralhar ainda mais as fronteiras entre o real e o ficcional.
Palavras-chave: Autoficção; Metaficção; Performance; Ricardo Lísias.
AQUELES QUE COMPÕEM AMANHÃ, DE ABEL BOTELHO: UMA ANÁLISE
DE PERSONAGENS SECUNDÁRIOS
Moisés Baldissera da Silva (UNESP/IBILCE)
O romance Amanhã (1901), de Abel Botelho, foi publicado em Portugal no final do
século XIX, e em suas páginas encontramos descritas belas cenas sobre o movimento
operário e as grandes reuniões para a discussão dos ideais anarquistas e socialistas.
Alguns autores tendem a reduzir o romance a uma representação histórica, optando por
deixar de lado uma análise mais aprofundada sobre seu conteúdo literário. Há também
aqueles que investigam a obra apenas sobre os conceitos naturalistas propostos por
Émile Zola, em O romance experimental e o naturalismo no teatro (1879), entretanto,
ambas as formas de análise são incompletas, porque se excluem, e não leem o romance
em suas peculiaridades. Sendo assim, proponho com esta comunicação uma introdução
à obra Amanhã, e uma análise aprofundada de alguns personagens secundários, entre
eles o boticário Gomes, para que possamos compreender a importância de cada um para
o desenrolar e formação da estória, expandindo a leitura do romance e trazendo à luz
uma série de minúcias, como a ambientação, até então pouco estudadas na obra do autor
português.
Palavras-chave: Abel Botelho; Amanhã; Romance Português.
MEMÓRIAS DE UMA GUEIXA: REFLEXÃO SOBRE O PROCESSO DE
ADAPTAÇÃO
Danieli Munique Fontes da Silveira (UNESP/IBILCE)
O país do sol nascente sempre instigou as pessoas ao redor do mundo devido a sua
cultura singular. No que diz respeito às gueixas não poderia ser diferente. Em 1997, o
escritor americano Arthur Golden publicou o livro Memórias de uma Gueixa. Nesta
narrativa, o leitor acompanha a trajetória da menina Chiyo até tornar-se a conhecida
gueixa Nitta Sayuri no distrito de Gion em Kyoto. O filme homônimo adaptado do
romance de Golden (1997) estreou em 2005 e foi dirigido por Rob Marshall, além de
contar com as atrizes chinesas Zhang Ziyi e Gong Li, com a malasiana Michelle Yeoh e
o japonês Ken Watanabe. Inicialmente, o filme foi classificado como ―filme de arte‖
sendo exibido em poucas salas nos cinemas, entretanto, a sua grande procura e salas
cheias fizeram com que ele fosse relançado em redes Cineplex. Se o filme foi aplaudido
e premiado no Ocidente, o mesmo não ocorreu no Japão. De acordo com Sérgio Dávila
(2005), a obra cinematográfica recebeu inúmeras críticas orientais devido à escolha das
atrizes e concepções equivocadas da imagem das gueixas japonesas. Dessa forma, o
objetivo do nosso trabalho é apresentar uma reflexão sobre o processo de adaptação que
a obra de Golden (1997) recebeu levando em consideração as modificações sofridas
aparentemente para atender ao público do Ocidente com uma cultura distinta do país
oriental onde se desenvolveu a narrativa. Utilizaremos os trabalhos de Bluestone (1956)
e Lefèvre (2007) para tratar das questões relacionadas com o processo de adaptação a
fim de analisar essas modificações e os seus efeitos na obra como um todo. Acreditamos
que a adaptação não deve ser uma cópia fiel da obra adaptada, mas refletir sobre essas
alterações considerando os contextos de produção e recepção são importantes para os
estudos de adaptação e literários.
Palavras-chave: Adaptação; Ocidente; Oriente; Romance.
AS RELAÇÕES ENTRE TEMPORALIDADE E ESPACIALIDADE NA
CONSTRUÇÃO DOS QUADRINHOS ABSTRATOS
Guilherme Lima Bruno e Silveira (IFPR)
O presente trabalho pretende discutir sobre as potencialidades das histórias em
quadrinhos abstratas. Na produção contemporânea das HQs, uma série de rupturas se
escora em outras linguagens, na tentativa de se desvincular das estratégias narrativas
mais desgastadas dessa linguagem, bem como de seus gêneros cristalizados. Assim,
vemos, principalmente a partir dos anos 80, uma grande aproximação, dos quadrinhos
com as literaturas, artes visuais e música. É em tal percurso que o espaço para o
quadrinho experimental se expande, abrindo possibilidades para a aparição de novas
formas de se trabalhar com a narrativa gráfica, entre elas a abstração passa a aparecer
dentro da produção quadrinhística. A ideia de abstração e de experimentação formal
está presente em diferentes linguagens, e pode ser vista, por exemplo, no poema
concreto e no poema processo, no neoplasticismo e no expressionismo abstrato, ou
mesmo em experiências no cinema de autor, então, como ela se dá nos quadrinhos?
Pretendemos levantar essa discussão com o diálogo entre teoria e prática, a partir da
pesquisa em arte e processos criativos, a qual pressupõe que da própria produção
artística se levantam questões teóricas, numa vinculação simultânea entre ambas. A
proposta, portanto, é de um trabalho em que o pesquisador investiga, com a sua
produção artística, a relação entre espaço, tempo e visualidade abstrata de diferentes
linguagens e os aspectos teóricos nela implicados.
Palavras-chave: Abstração; Experimentação; História em quadrinhos; Processo
criativo.
A VIAGEM DAS PERSONAGENS E DAS PALAVRAS EM ―O RECADO DO
MORRO‖, DE GUIMARÃES ROSA
Bianca Cristina Sinibaldi (UNESP/IBILCE)
Neste trabalho, temos como objetivo analisar a temática da viagem na novela ―O recado
do morro‖, presente na obra Corpo de baile (1956), de João Guimarães Rosa, visto que,
o foco será sobre a condição andeja das personagens e das palavras. A imagem dos
corpos em baile, nesta novela, remete ao movimento e a própria viagem que assume a
simbologia da existência, do percurso de vida e da travessia. A vida das personagens
tende a expandir-se a partir da experiência da viagem - ―Todos viajam e tudo é viagem,
inclusive a própria narrativa, que a tematiza.‖ (NUNES, 2013, p. 253). As personagens
na novela ―O recado do morro‖, são figuras errantes cuja busca da palavra se constitui
no universo de uma escrita que parece assimilar o movimento que a noção da relação
entre viagem e viajante estabelece. A estória contada por meio da oralidade sofre
mudança em cada reprodução e é pela mediação dos contadores de estórias que a
palavra se movimenta no decorrer do tempo e do espaço. Nesse sentido, a proposta de
leitura da novela se pautará nos estudos de Benedito Nunes (1969; 2013) e Walter
Benjamin (2015). O resultado da discussão proposta – uma reflexão sobre a viagem em
―O recado do morro‖ – se relaciona aos desdobramentos de noções ligadas à ideia de
travessia e errância.
Palavras-chave: Guimarães Rosa; Palavras; Personagens; Viagem.
RELIGIÃO SOB PERSPECTIVA IRÔNICA EM THE SCREWTAPE LETTERS, DE C.
S. LEWIS
Pâmela Rodrigues Scutari (UNESP/IBILCE)
O objetivo deste trabalho é, com base em pesquisa em nível de mestrado, em
desenvolvimento no Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas, de São José do
Rio Preto (UNESP), analisar a concepção de religião na ficção satírica The Screwtape
Letters (1942), de C. S. Lewis, de modo a compreender a perspectiva irônica sob que é
desenvolvida. A obra se constitui de 31 cartas, remetidas pelo demônio sênior
Screwtape, a seu sobrinho, o demônio ―tentador‖ Wormwood, e, apresenta o ponto de
vista daquele quanto a ―tentar‖ um ―paciente‖ inglês, isto é, corromper um ser humano
recém-convertido ao Cristianismo, por meio da exposição zombeteira dos contextos
religioso, familiar, amoroso e cívico desse, e por meio de ordens e repreensões ao jovem
tentador. A partir de conceitos de ironia, níveis e funções irônicos, e sátira, de,
respectivamente, Douglas C. Muecke (1995), Linda Hutcheon (1985; 2000), e Gilbert
Highet (1962), este trabalho abordará elementos dispostos no corpus da obra, como o
elogio e a censura, que denunciam o caráter irônico do discurso de Screwtape quanto à
religião cristã, dada sua construção por uma personagem demoníaca. Assim, buscar-se-á
confrontá-los, em caso de contradições expressas pelo autor das cartas, e observar suas
contribuições à ironia que compõe The Screwtape Letters, de C. S. Lewis.
Palavras-chave: C. S. Lewis; Ironia; Religião; Sátira; The Screwtape Letters.
BRANCAS DE NEVE ATRAVÉS DO TEMPO: REESCRITURAS
Denise Loreto de Souza (UNESP/IBILCE)
A presente comunicação tem o objetivo de traçar um breve percurso histórico das
reescrituras do conto ―Branca de Neve‖, tanto na literatura quanto no cinema,
focalizando as transformações sofridas na esfera de ação das personagens. O primeiro
registro desse conto foi realizado por Giambatistta Basile, na Itália, sob o título ―A
Jovem Escrava‖ (1634). Na Alemanha, os Irmãos Grimm, em 1812, registraram a
narrativa ―Branca de Neve‖ no livro Contos da criança e do lar, que foi lançado em
dois volumes: o primeiro, em 1812, e o segundo, em 1815. Elas mantêm relação com o
conto ―A Jovem Escrava‖, mas modificam e acrescentam outros elementos. O conto de
1812 é bastante violento, porém, vale ressaltar que, nessa época, os contos eram
destinados ao público adulto. Somente quando os Irmãos Grimm perceberam que seus
contos também eram lidos para crianças, que reescreveram a história, retirando as
passagens que consideravam impróprias para os pequenos. Esse ato de recontar/
reescrever faz parte do gênero e o conto ―Branca de Neve‖ já sofreu diversas
reescrituras, em diferentes suportes. Por isso, o objetivo dessa apresentação é mostrar,
por meio de um recorte temporal, as transformações sofridas na narrativa relacionadas
aos personagens para as posteriores versões, de modo a nos atentarmos também para os
elementos ligados ao contexto cultural em que foram produzidas. Escolhemos, para a
nossa análise, os contos ―A Jovem Escrava‖ (1634), de Giambattista Basile; Branca de
Neve (1812/1815), dos Irmãos Grimm; e o filme ―Espelho, Espelho Meu‖ (2012),
direção de Tarsem Singh. Como aporte teórico, utilizaremos as considerações feitas por
Vladimir Propp no livro Morfologia do Conto, e por André Jolles em Formas Simples.
Pretendemos, com essa seleção de reescrituras, perceber quais são os mecanismos de
atualização do discurso ao longo do tempo.
Palavras-chave: ―Branca de Neve‖; Conto de fadas; Reescrituras.
CO.S.M.O.FICÇÃO: COMPOSIÇÃO LITERÁRIA NARRATIVA DE ATÉ CENTO E
CINQUENTA CARACTERES COMO GÊNERO AUTÔNOMO
Vanderlei de Souza (UNESP/IBILCE)
Neste estudo de natureza teórica, desenvolvo argumentos para demonstrar as razões
pelas quais composições narrativas literárias de até, aproximadamente, cem caracteres,
conhecidas, entre outras denominações, como microconto, constituem um gênero
discursivo-literário autônomo. Não se trata de um subgênero do conto tradicional, cuja
característica de concisão foi levada às últimas consequências, nem de quaisquer outras
formas breves, tais como o aforismo, a piada e o poema curto. Discuto, também, as
principais questões teóricas que as envolvem, como sua história, designação e
características. Para tal, buscarei suporte nas teorias de gênero do discurso,
principalmente em Mikhail Bakhtin (2004, 2016), que conceitua gênero de acordo com
seu tema, estilo e estrutura composicional; nos estudos sobre as fronteiras que separam
os gêneros literários, como o de José Manuel Trabado Cabado (2005), nos estudos sobre
recepção de leitura de textos literários, a exemplo de Umberto Eco (1979, 1990, 2003) e
Roland Barthes (1977, 1980); na Análise de Discurso, principalmente em Eni Orlandi
(1988, 2007, 2012), com o intuito de conceber o silêncio com fundante e, finalmente,
em estudos específicos sobre narrativas curtas, especialmente de Dolores Koch (2017),
David Lagmanovich (2005, 2006, 2009), Lauro Zavala (2004) e David Roas (2010). O
corpus sob análise será constituído por composições brevíssimas de autores brasileiros,
coletadas do livro Os cem Menores contos brasileiros do século, de Marcelino Freire
(2004) e de portais da Internet, como o ―microcontos.com.br‖. Recorrerei, também, a
uma gama de obras microcontísticas hispânicas e hispano-americanas, dada sua
relevância nesse contexto, produções norte-americanas, ocasionalmente, além de contos
tradicionais e outras formas breves, para fins de contraponto, contraste, grau de
comparação ou exemplificação. Como resultado, busco reunir evidências e construir
argumentação que permitam com que o objeto de estudo possa ser visto como um
gênero autônomo além de construir uma referência para futuros estudos do gênero.
Palavras-chave: Gênero discursivo; Gênero literário; Microconto; Miniconto.
TORRES DE MARFIM - A POESIA DE EVASÃO COMO UMA REPRESENTAÇÃO
ANTIRREPUBLICANA (1888-1930)
Caio Cardoso Tardelli (UNESP/IBILCE)
Por meio desta pesquisa, pretende-se discutir a produção poética da Belle Époque
brasileira como uma crítica velada à Primeira República, sabendo-se que, na visão de
estudiosos determinantes para o estudo da literatura brasileira, como Antonio Candido,
grande parte da poesia produzida durante o período tinha características de escapismo e
de fuga; se, pelo lado de alguns Parnasianos, havia o refúgio na República das Letras,
do lado dos Simbolistas, havia a tão criticada Torre de Marfim. Em um momento de
turbulência política e social, essa postura causou incômodo em críticos da época e,
posteriormente, em escritores e leitores de algum modo ligados ao modernismo–
movimento baseado financeiramente nas oligarquias vigentes e que se apoiou
declaradamente nos governos finais da República Velha e, principalmente, no Estado
Novo getulista. No entanto, sabendo-se que parte considerável dos poetas da Belle
Époque apoiaram, na juventude, a proclamação da República, faz-se necessário
compreender os motivos que levaram esses autores a rejeitar a contemporaneidade e se
isolar em uma poética onírica. Declarações como a de Lopes Trovão, jornalista e
defensor das ideias republicanas (―Esta não é a República dos meus sonhos!‖), e poemas
como ―Solidão‖, de Emiliano Perneta (poeta paranaense republicano) darão um norte à
tese de que a evasão poética, naquela época, não se constituía em uma fuga da realidade,
mas em uma crítica profunda aos males do sistema político autoritário imposto pela
Primeira República brasileira. Casos de crítica social mais explícita – como os poemas
de Cruz e Sousa presentes em Últimos Sonetos e Evocações – também serão analisados,
mas por outra perspectiva: a recepção dessas pautas por uma crítica acostumada à
literatura sorriso de sociedade. Pretende-se, por meio de consulta bibliográfica da época
(produções poéticas, cartas e críticas de então) e de estudos contemporâneos,
desenvolver a pesquisa buscando uma nova visão sobre a literatura do período,
sondando, inclusive, um reestudo do período chamado de ―pré-modernista‖ (1911-
1922), questionando o sentido único que a literatura brasileira supostamente tomou após
a publicação de Ilusão, de Emiliano Perneta, comumente apresentado como o ponto
final do período parnasiano-simbolista da poesia brasileira.
Palavras-chave: História do Brasil; Literatura Brasileira; Poesia brasileira;
Simbolismo.
O SER-PARA-A-MORTE EM A PAIXÃO SEGUNDO G.H.
Marco Antonio Hruschka Teles (UEM)
O presente trabalho, a partir de um estudo de cunho bibliográfico, analisa a obra A
paixão segundo G.H., de Clarice Lispector, à luz do Existencialismo. O tema principal é
a morte e a sua simbologia no romance referenciado. O aparato teórico baseia-se
substancialmente na filosofia existencialista, notadamente na obra Ser e tempo (2015),
de Martin Heidegger. Na concepção do filósofo alemão, o ser da presença precisa abrir-
se para a angústia, lançar-se na estranheza, antecipar-se, prever a sua morte para, então,
renascer para uma existência mais autêntica, cuja relação com o outro é evidenciada. O
olhar está voltado para a trajetória mística da personagem G.H., caminho compreendido
como uma via-crucis do ser-para-a-morte. Abandonando a sua antiga identidade
humana, superficial, inautêntica e vazia, a personagem adota uma postura de ser-com,
projetando e reconhecendo o seu ser no da barata em nome da vida pulsante no
universo. Priorizando o agora em detrimento de uma vida após a morte, a mulher
identifica o sagrado na harmonia entre os elementos da natureza. Além disso, ao investir
em um processo de autoconhecimento, assume uma existência na qual a angústia
mantém o ser da presença em constante atenção com relação ao seu poder-ser mais
próprio: a morte.
Palavras-chave: A paixão segundo G.H.; Clarice Lispector; Existencialismo.
LA MALASANGRE, DE GRISELDA GAMBARO, À LUZ DE THEODOR W.
ADORNO
Amanda Guimarães Tito (UFES)
Analisar uma obra literária é tarefa surpreendente. A cada simples leitura, um ponto de
vista surge. Quando a leitura se torna mais detalhada, apoiada em críticos literários e
sob à luz de determinados teóricos, uma infinidade de possibilidades acontece. La
Malasangre, da autora argentina Griselda Gambaro, foi escrito em pleno período de
ditadura, enquanto a escritora vivia exilada na Espanha, entre os anos de 1977 e 1980.
Trata-se de um texto dramatúrgico rico em questionamentos, reflexões e conflitos, nos
fazendo lembrar de alguns filósofos que discutem sobre a sociedade vigente. Um deles é
Theodor Adorno que, em seus textos ―Educação após Auschwitz‖ (1954) e ―O que
significa elaborar o passado‖ (1960), vem atentar para a necessidade de que se discuta
com todas as gerações sobre o genocídio judeu praticado pelo nazismo na Alemanha, de
modo a despertar para a consciência, na tentativa de tomar conhecimento sobre o que
aconteceu e alertar para o perigo que se encontra no comum desejo de se libertar do
passado, em lugar de se elaborar o passado de forma que não se repitam pensamentos e
atitudes conformistas na sociedade presente. E o primeiro passo para isso, segundo
Adorno, é o esclarecimento. Esclarecer, tornar claro o que, de fato, ocorreu, para aí
gerar a tomada de consciência, que é fundamental para que haja uma mudança no curso
da história. E é a partir destes textos e ainda de outras reflexões escritas por Adorno, em
especial Dialética do Esclarecimento, que serão levantados alguns pontos importantes
na obra La Malasangre, de Griselda Gambaro. Dado o momento político de
enfraquecimento da ditadura civil-militar na Argentina no ano de sua estreia, La
Malasangre vem ser esta voz de denúncia diante a muitas realidades de repressão
velada sofrida e/ou executada por indivíduos de diferentes camadas da sociedade.
Palavras-chave: Ditadura; Gambaro; Holocausto; Literatura social; Repressão.
A EXPERIMENTAÇÃO FORMAL NO QUINTO HINO DOS HINOS À NOITE, DE
NOVALIS
Natália Fernanda da Silva Trigo (UNESP/IBILCE)
O presente trabalho visa analisar como no quinto hino da obra Hinos à Noite o poeta
alemão Novalis realiza uma experimentação formal e a partir dela coloca em discussão
os gêneros historicamente conhecidos até então. Podemos entender que essa
experimentação formal se realiza pelo fato do quinto hino ser construído em prosa e em
verso. Além disso, pretendemos analisar como essa escolha formal dialoga diretamente
com o significado desse hino. Buscamos analisar como a parte em prosa possui
características muito próximas à prosa narrativa, uma vez que apresenta uma história
mística do universo e das religiões, o que o difere dos demais hinos em prosa que fazem
parte dos Hinos à Noite, visto que esses demais hinos têm características muito
próximas dos textos em versos. Nesse hino, o verso quebra o texto em prosa em
momentos específicos e a linguagem presente nos versos é muito diferente da prosa,
muito mais imagética. É importante lembrar que Bernard (1994) realizou o estudo mais
importante sobre o poema em prosa, publicado no livro Le poème em prose: de
Baudelaire jusqu’a nos jours; a autora coloca Bertrand, com seu Gaspar de La Nuit,
como fundador do gênero, em 1842, sendo que os Hinos de Novalis foram publicados
em 1800, o que mostra como os poemas de Novalis foram fundamentais para a reflexão
sobre as formas literárias e para o desenvolvimento de novos gêneros literários, uma vez
que, ao romper com as formas historicamente conhecidas, Novalis propõe discussões
sobre os gêneros literários, problemática que irá fazer parte da literatura moderna até os
dias atuais.
Palavras-chave: frühromantik; Hinos à Noite; Novalis; Poema em prosa.
A CIÊNCIA OITOCENTISTA A FAVOR DO DESEJO: OS LABORATÓRIOS DE
ABEL BOTELHO E JÚLIO RIBEIRO
Fernando Vidal Variani (UFPR)
O crítico Álvaro Lins (1912-1970) chegou à conclusão de que todos os movimentos
literários poderiam ser resumidos em apenas duas vertentes: uma idealista, outra
naturalista. A dificuldade de definir o ―Ideal‖ é evidente. Mas é mesmo fácil definir o
que é a Natureza? Se tomarmos como verdade a maior parte das formulações críticas
acerca do Naturalismo em literatura, poderíamos presumir que sim: trata-se da dimensão
biológica da existência humana, os instintos reprimidos que vêm à tona no
―devoramento‖ (pra usar um termo de Abel Botelho) típico das sociedades modernas.
Porém, quando nos aproximamos de boa parte dos romances confortavelmente
associados à estética Naturalista, é possível notar, para além dos exageros
frequentemente alardeados em relação à sexualidade (o que de fato se confirma), uma
enorme mediação do imaginário científico, artístico ou religioso entre as personagens e
as tentativas de consumação de seus desejos eróticos. Neste trabalho, recorreremos a
uma breve abordagem de dois espaços ―científicos‖ que funcionam como mediadores
do desejo dos protagonistas de dois romances considerados indiscutivelmente
―Naturalistas‖: os laboratórios de O Barão de Lavos (1891), do português Abel Botelho
(1854-1917), e de A Carne (1888), do brasileiro Júlio Ribeiro (1845-1890). Com isso,
pretendemos desenvolver parcialmente uma hipótese mais ampla: a de que há certa
artificialidade inerente ao discurso científico oitocentista, e de que ela vem à tona
especialmente nos romances considerados mais emblematicamente ―Naturalistas‖ do
período.
Palavras-chave: Erotismo; Espaço; Literatura Brasileira; Literatura Portuguesa;
Naturalismo.
O DUPLO E A REPRESENTAÇÃO DO PROCESSO CRIATIVO DO ESCRITOR
Suelen Marcellino de Amorim Viegas (UNESP/IBILCE)
O trabalho tem por objetivo abordar, por meio de uma análise interpretativa de dois
contos da escritora espanhola Cristina Fernández Cubas, a complexidade do processo
criativo do escritor representada com apoio no duplo. ―Lúnula y Violeta‖, publicado no
livro Mi hermana Elba em 1980, é constituído por dois textos pertencentes a dois
narradores diferentes e traz o duplo por meio da crise de identidade de uma escritora
que sofre com o seguinte conflito: o que ela é e o que ela gostaria de ser, o eu real x eu
ideal. A narrativa apresenta as dificuldades do processo criativo do escritor, do transferir
uma boa história para o papel. Um conto onde o fantástico aparece associado ao duplo
por meio de fatos inexplicáveis e ambiguidades construídas por meio de recursos
narrativos. O segundo conto, ―En el hemisferio sur‖ foi publicado no ano de 1983 no
livro Los altillos de Brumal. E traz a história de uma escritora bem-sucedida. Esta
recorre ao seu amigo editor para desabafar sobre algo estranho que vem acontecendo
com ela na hora de escrever. Assim como ―Lúnula y Violeta‖, ―En el hemisferio sur‖
também apresenta, com apoio no duplo, o processo de elaboração de uma obra literária.
Para o desenvolvimento do trabalho, foram considerados estudos do duplo na literatura,
do fantástico e do gênero conto. Em relação ao suporte teórico, citamos: Herrero Cecilia
(2000, 2011), Martín López (2006), Martín Taffarel (2006), Roas (2011).
Palavras-chave: Conto; Fantástico; O duplo.
A VIAGEM DE FURTADO COELHO PELO BRASIL: O SUCESSO E AS
POLÊMICAS DE UM ARTISTA PORTUGUÊS EM TERRAS BRASILEIRAS
Gustavo Zambrano (UNESP/IBILCE)
O artista português Luiz Candido Furtado Coelho pode ser considerado um dos
responsáveis pela implantação do realismo teatral no Brasil. Tendo chegado em terras
brasileiras em 1856, Furtado Coelho, em nosso país, desenvolveu trabalhos de ator,
ensaiador e empresário teatral, sendo que como ator dramático atuou em peças que
foram grande sucesso de público no Teatro Ginásio do Rio de Janeiro. Como
dramaturgo, Furtado Coelho igualmente foi reconhecido por seu trabalho na Corte, uma
vez que suas peças O ator, Nem por muito madrugar amanhece mais cedo, Procure-me
depois do amanhã, José do Telhado, O bom anjo da meia-noite, O agiota, O ator, O
remorso vivo, sendo esta última em parceria com Joaquim Serra, alcançaram o
reconhecimento da crítica teatral especializada e dos espectadores. A partir destas
considerações, esta comunicação tem como objetivo, portanto, abordar o segundo
período de trabalho de Furtado Coelho no Brasil, ou seja, a passagem do artista
português por outras províncias brasileiras, tais como São Paulo, Rio Grande do Sul e
Recife. Nesta nova temporada, iremos comentar as peças encenadas pelo ator, as quais
envolvem em sua maioria dramas de escritores franceses, portugueses e brasileiros, a
repercussão do trabalho apresentado, além das polêmicas que o artista se envolveu com
alguns empresários teatrais da região nordeste do país.
Palavras-chave: Biografia artística; Furtado Coelho; Teatro Brasileiro.
ALEJANDRA PIZARNIK, A POESIA EM DIREÇÃO AO OUTRO
Rafael Patrik Procopiuk Walter (UFPR)
O poema ―En esta noche, en este mundo‖ (1971), de Alejandra Pizarnik, tem por espaço
a noite, não uma noite única e linear, mas todas elas. Nele surge a contemplação da
possibilidade de inúmeras noites contidas no termo ―noite‖, como o território do sonho.
A partir da leitura dos termos ―estrangeiro‖ e ―hospitalidade‖, de Derrida (2003), e da
alteridade, na perspectiva de Emanuel Lévinas (1988), aborda-se a questão da ética e do
Outro na Filosofia. Em torno de questões do Eu em comunhão/tensão com o Outro,
realizamos a presente leitura, considerando o processo de subjetivação da autora e
caráter múltiplo de sua obra poética. As críticas literárias argentinas Alícia Genovese
(2011; 2015) e Cristina Piña (1991) nos auxiliam nesta leitura. A voz poética de
Pizarnik assume neste poema a impossibilidade da compreensão do Outro em sua
completude através da linguagem. É possível também a leitura de que a poesia em sua
língua natal carece de uma tradução a uma outra língua, a qual é uma forma de crítica e
de recriação, pois simultaneamente une estas duas atividades. Há no poema em questão
a negação da expectativa da linguagem como uma ―promessa‖ e o distanciamento da
poesia do compromisso com a verdade. Dessa forma, aquilo que pode ser dito ou
nomeado pela palavra equivale a mentira, sendo o restante o silêncio. O poema
demonstra a perspectiva de um projeto de exílio existencial, na linguagem e através
dela. A linguagem no poema é concebida como território estrangeiro, a ser percorrido,
através da poesia. Convivem no mesmo espaço textual a tentativa de expressão poética e
a frustração que se apresenta, devido a impossibilidade de se atingir a expressão
almejada. O eu-poético se propõe a desconstruir as noções de sentimento nacional,
territorial, ou mesmo de pátria em relação à língua. O poema de Pizarnik cita e se
apropria do cão de Maldoror, personagem de Lautrèamont (2005). O eu-poético se
configura como um ―estrangeiro‖ em peregrinação na linguagem e que reconhece as
limitações da mesma. Evidencia-se então, o caráter paradoxal da poesia para Pizarnik,
pois embora o poema seja uma tarefa árdua e difícil, por algum momento ele pode ser
espaço de hospitalidade.
Palavras-chave: Alteridade; Pizarnik; Poesia.
REMINISCÊNCIAS DO JORNALISMO IMPERIAL: UM TEXTO DE JUSTINIANO
JOSÉ DA ROCHA
Norma Wimmer (UNESP/IBILCE)
O número 6, de 20 de junho de 1836, do jornal ―O Chronista‖ - fundado, no Rio de
Janeiro, por Justiniano José da Rocha (1812-1862) e por ele dirigido - apresenta um
artigo no qual o editor manifesta sua intenção de diferenciar dos demais o novo
periódico, por nele iniciar a publicação de grandes obras da literatura moderna, não em
traduções, mas em breves quadros que reuniriam páginas das obras de Hugo, Balzac,
Sue, Lacroix (todos eles, na época, colocados em nível de igualdade). Em seguida,
anuncia a publicação de ―A luva misteriosa‖, imitada do texto de Balzac, La Peau de
chagrin (1831). ―A luva misteriosa‖ foi, portanto, impressa sob forma de folhetim
(Justiniano informa brevemente o leitor sobre a origem da palavra folhetim e seu uso no
Chronista) em 1836, nos números 3, 8 e 9 do periódico. Não há notícias do periódico de
número 10. Duas hipóteses relativas a este fato parecem poder ser aventadas. A primeira
- e também a mais plausível - é a de que o "adaptador" simplesmente tenha abandonado
a adaptação no jornal e a tenha feito editar em volume. Efetivamente, um anúncio de pé
de página, no exemplar de número 3, segundo semestre de 1836, leva-nos a acreditar na
existência de uma possível publicação do texto integral, à venda na Casa Laemmert e na
Tipografia Comercial. Desta publicação também não há notícias. A segunda é a de que a
adaptação tenha simplesmente sido abandonada (o que, por razões diversas, não era
impossível acontecer). Na comunicação aqui proposta pretende-se comparar os textos
dos dois autores e o contexto de sua produção, bem como observar o efeito alcançado
pela adaptação de Rocha.
Palavras-chave: ―A luva misteriosa‖; Balzac; Folhetim; Justiniano José da Rocha; La
peau de Chagrin.
O PAPEL DOS APARELHOS IDEOLÓGICOS DE ESTADO EM APRENDER A
REZAR NA ERA DA TÉCNICA, DE GONÇALO M. TAVARES
Ibrahim Alisson Yamakawa (UEM)
A presente comunicação, fundamentada nos princípios da análise materialista do
discurso, pretende discutir o papel dos aparelhos ideológicos de Estado como
ferramenta sociopolítica de opressão, controle e manutenção do status quo em Aprender
a Rezar na Era da Técnica, de Gonçalo M. Tavares. Os aparelhos de Estado são
marcados por um duplo funcionamento e os aparelhos ideológicos de Estado (AIE), na
concepção de Louis Althusser, funcionam majoritariamente pela ideologia enquanto que
os aparelhos repressivos de Estado (ARE) funcionam majoritariamente pela repressão.
Aprender a Rezar na Era da Técnica é um romance que faz o retrato de uma sociedade
em crise em Estado de exceção e nesse romance os AIE têm um papel fundamental no
exercício da violência física sobre as personagens para assegurar as condições políticas.
Tendo em vista que esse romance se compromete com a representação da violência, da
opressão em sua forma mais plena, sondando o lado mais obscuro e inexprimível da
face humana, busca-se observar o funcionamento discursivo para dar a conhecer a
forma como os AIE operam pela violência para assegurar o status quo, valendo-se de
expedientes como o silêncio. O aporte teórico fica a cargo, especialmente, de Louis
Althusser (1980), Michel Pêcheux (1995), Eni P. Orlandi (2007) e Terry Eagleton
(2006).
Palavras-chave: Aprender a Rezar na Era da Técnica; Ideologia; Silêncios.
PAINÉIS
(Em ordem alfabética por sobrenome do autor)
AS POESIAS COMPLETAS DE MACHADO DE ASSIS (A ORGANIZAÇÃO):
RECORTE EM CRISÁLIDAS
Julia Ledo de Almeida (UNESP/IBILCE)
Machado de Assis publicou quatro livros de poesia - Crisálidas (1864), Falenas (1870),
Americanas (1875) e Ocidentais, lançado juntamente com a reedição dos três primeiros
volumes em um único tomo: Poesias completas (1901). No entanto, a completude
sugerida pelo título da antologia não corresponde à totalidade dos versos machadianos,
pois foram realizados reajustes e/ou supressões integrais de vários poemas, além disso,
muitas marcas extratextuais foram eliminadas. Para tanto, o poeta-editor valeu-se
inclusive de opiniões de críticos-leitores e amigos, conforme demonstra sua atividade
epistolar. Nesse sentido, a correspondência machadiana poderia revelar nuances do
processo de organização da antologia publicada em 1901 e das primeiras edições de
Crisálidas, Falenas e Americanas. Considerando a extensão do corpus poético e
epistolográfico de Machado de Assis, este trabalho delimitou-se à primeira coletânea,
Crisálidas, e às cartas nas quais tal compilação tornou-se objeto de discussão. Nesse
sentido, objetivou-se com este estudo delinear o processo de organização da primeira
coletânea de poesia de Machado de Assis a partir da correspondência do autor
fluminense. Com a leitura e análise do prefácio, de Caetano Filgueiras, e do posfácio, de
Machado de Assis, documentos que, anteriormente, foram cartas e, posteriormente,
integraram à primeira edição de Crisálidas (1864), podemos dizer que os resultados
obtidos foram positivos ao nosso pensamento inicial, pois se tornou evidente a
autocrítica do autor e a busca pelo aprimoramento poético, assim como, a influência de
críticos, como Filgueiras, no processo de composição das Crisálidas (1864).
Palavras-chave: Crisálidas; Correspondência; Machado de Assis; Poesia.
UM ESTUDO DAS RELAÇÕES ENTRE AUTORITARISMO E INDIVÍDUO EM
CARTA AO PAI, DE FRANZ KAFKA
Lorenzo Barreiro Lopes de Almeida (UNESP/IBILCE)
O início do século XX foi marcado pelo capitalismo, por duas das maiores guerras
realizadas pelo homem, pelo movimento socialista ao redor do mundo e por governantes
e governos autoritários. Muitos escritores descrevem esse momento de grandes conflitos
da humanidade, como Franz Kafka (1883–1924), que foi dos seus representantes mais
singulares. O autor traduz, tanto em Carta ao pai (Companhia das Letras, 2003) quanto
em A metamorfose (Companhia das Letras, 2016), a relação entre governante autoritário
e povo oprimido a partir da alegoria da relação conflituosa entre pai e filho, dialogando
criticamente com os contextos histórico, social e político de produção e de recepção
dessas obras. Em Carta ao pai, o autoritarismo é trabalhado de forma literal, fato que
torna a obra passível de ser lida como uma alegoria que extrapola os limites concretos
da história narrada sobre a relação pai-filho. Como o autor da carta é o narrador
autodiegético, o ato de narrar nos dá liberdade de debruçar-nos sobre a sua
subjetividade, logo, a alegoria permite um mergulho na subjetividade de um indivíduo
sob um governo autoritário. Já A metamorfose nos permite ver um homem totalmente
ordinário, mas cuja transformação em inseto revela, paradoxalmente, uma consciência
humana. O inseto nos mostra o grotesco não de sua forma física, mas dos outros,
aqueles que o oprimem. Dessa forma, as duas obras representam algo que vai além da
relação entre pai e filho, já que, por um lado, o pai assume traços característicos de um
governo/governante autoritário, e, por outro, o filho possui traços que o identificam com
o indivíduo e o povo subordinados pelo autocrata. Portanto, na vassalagem dos
protagonistas de Carta ao Pai e A metamorfose, investigamos, a partir da submissão não
voluntária, os efeitos do autoritarismo no indivíduo, cuja culpa, falta de autoconfiança,
melancolia e angústia dialogam com a subjetividade do povo oprimido pelo
autoritarismo de Estado.
Palavras-chave: A metamorfose; Autoritarismo; Carta ao pai; Estado autoritário; Franz
Kafka; Indivíduo oprimido.
LITERATURA E FILOSOFIA: A SÁTIRA NO ROMANCE FILOSÓFICO JACQUES,
O FATALISTA, DE DIDEROT
Luca Barreiro Lopes de Almeida (UNESP/IBILCE)
Desde a literatura antiga, o riso é utilizado como crítica à crise e até mesmo como uma
proposição de mudança. Completamente compatível com esse processo crítico, esse
procedimento foi, ao longo do tempo, um dos poucos modos possíveis para o protesto
contra decisões dos reis ou perspectivas religiosas. O romance, em geral, tem a
capacidade de abarcar diferentes gêneros em sua composição e os mais variados
saberes. Em Jacques, a filosofia é parte integrante da composição romanesca, pois o
personagem principal lida com inúmeras ideias filosóficas. Neste romance de Diderot
ocorre uma identificação entre as duas instâncias (filosófica e romanesca), que estão,
ambas, a serviço da elucidação das características humanas e da descrição compreensiva
de como os homens vivem. O personagem Jacques é um indivíduo que coloca em
―funcionamento‖ sua filosofia, da qual também é o próprio sujeito. Com isso, a
realidade se manifesta pela ficção em que, no romance estudado, o personagem usa
conceitos semelhantes aos de tratados filosóficos. Entre esses conceitos, podemos
observar o fatalismo (do qual o personagem é assumidamente adepto), o determinismo,
o materialismo e o sensualismo — os últimos dois dos quais Diderot era adepto. Logo,
nesta obra, Diderot discute, com o auxílio do sério-cômico, as mais diversas questões
morais e filosóficas. Em Jacques, o fatalista, essa elucidação crítica, a partir do
romanesco, se dá pelo uso da sátira vinculada à filosofia (servindo-se de diversas
influências, como Rabelais, Richardson, Voltaire e Spinoza). O próprio personagem lida
com suas ideologias de modo variável e, muitas vezes, elas se chocam com as situações
por ele vivenciadas.
Palavras-chave: Crítica; Diderot; Filosofia; Literatura; Riso; Sátira.
O CORPO É MEU! O ESTEREÓTIPO QUE ESTÁ NO IMAGINÁRIO: COMO O
CORPO DO NEGRO HOMOSSEXUAL FOI REPRESENTADO NA MÚSICA ―BIXA
PRETA‖
Vânia Lúcia Borges (UNEB)
Elizabete Rodrigues Santos Neta (UNEB)
Esta apresentação pretende buscar compreender as manobras feitas pelas mídias sobre o
que é ser masculino e feminino e o que é ser homem negro e homossexual negro. Sendo
a mídia um importante órgão disseminador de reprodução de estereótipos que distorce a
imagem real do homem negro representado de forma equivocada e construindo a sua
imagem ao longo da história por uma sociedade branca, este artigo tenciona a discutir
como o negro é representado nas obras ficcionais e em contraponto, como o negro
homossexual foi representado na música ―Bixa preta‖ (2017) da cantora transgênero
Linn da Quebrada, onde o eu-lírico da canção se desvincula das imagens errôneas que a
mídia de massa faz se voltando para a minoria que visivelmente é hostilizada pelos
meios de comunicação e de uma entrevista que a própria Linn concedeu à revista
Rolling Stone em março de 2017 em que ela explica com qual intuito ter feito uma
música com uma letra bastante significativa. Para a análise da letra da música será
estabelecido um diálogo de reflexão entre a canção e sobre como é representado o negro
no imaginário das pessoas de acordo com alguns teóricos como: Frantz Fanon (2008),
Stuart Hall (2006) e Anailde Almeida (2010), para, assim, buscar compreender atitudes
expressivas de afirmação da sua orientação sexual e colocando em debate questões
relevantes sobre gênero, preferência sexual, classe e raça.
Palavras-chave: Imagem do negro; Mídia; Música Bixa preta; Negro homossexual.
DIREITO E LITERATURA NO PÓS-POSITIVISMO
Lara Giselle Guardiano (UNESP/IBILCE)
O presente estudo tem por objetivo investigar as relações entre Direito e Literatura, no
pós-positivismo jurídico, como sendo fonte e método de compreensão pluralista da lei e
dos fatos sociais, ilustrando esse caminho com a análise de obras consagradas que
desvelem a evolução do pensamento jurídico ao longo do tempo. A importância desta
pesquisa reside no fato de que a interdisciplinaridade entre Direito e Literatura socorre o
estudo do Direito. A Literatura enriquece a compreensão de valores jurídicos e
possibilita o Direito ser analisado para além de suas fronteiras, revelando as articulações
entre Justiça, Poder Judiciário e Sociedade. Assim sendo, a realização deste trabalho
corresponde a um interesse geral, sendo especialmente voltada àqueles que pretendem
descortinar seus horizontes enquanto operadores jurídicos abertos a encontrar soluções
humanas para o problema universal do conflito. Buscar-se-á resgatar as origens da
Literatura e levantar as principais obras literárias, em âmbito nacional e mundial,
ligadas ao campo jurídico A metodologia aplicada a este estudo possui caráter
fenomenológico-hermenêutico, visto que preconiza estudos teóricos de documentos e
textos; e dedutivo, por partir de um valor universal para atingir um conhecimento
particular específico. Foram aplicadas a ele as ações de coletar, tabular e interpretar os
dados, cotejando com revisão bibliográfica acerca da temática, na doutrina, e exemplos
ilustrativos na prática da aplicação do Direito pelos Tribunais. Os resultados obtidos
confirmam a tese inicial, demonstrando que a ligação entre Literatura e Direito se faz
fundamental para a construção de um ordenamento jurídico menos atado à norma posta
e mais articulado aos valores inerentes à humanização do conflito.
Palavras-chave: Direito; Justiça; Literatura; Pós-positivismo.
CAMILO CASTELO BRANCO X IMPRENSA: A CRÍTICA DO AUTOR À
IMPRENSA PRESENTE EM CORAÇÃO, CABEÇA E ESTÔMAGO
Letícia de Freitas Greco (UNESP/IBILCE)
O livro Coração, Cabeça e Estômago, de Camilo Castelo Branco (1862), é dividido em
três partes: a primeira, representada pelo "Coração", mostra uma fase do protagonista
Silvestre da Silva voltada aos assuntos amorosos. Na segunda parte, representada pela
"Cabeça", o protagonista procura desviar-se das questões relativas ao amor para
dedicar-se às questões relativas à razão. Já na terceira e última parte do romance,
Silvestre abandona as duas primeiras fases para dedicar-se a outro órgão do corpo
humano, a que ele atribui a felicidade: o "Estômago". O objetivo deste trabalho é
analisar a face do personagem-jornalista, representada na segunda parte do romance, de
modo a verificar como o autor retrata a Imprensa vigente em Portugal no século XIX,
sobretudo nas décadas de 1850 e 1860. Para a fundamentação teórica do trabalho serão
pesquisados textos de autores como José Tengarrinha, jornalista português e
pesquisador da Imprensa, João Bigotte Chorão, escritor português e pesquisador de
Camilo, e Paulo Franchetti, crítico literário brasileiro. Da análise textual da segunda
parte, os resultados esperados são a presença de uma crítica de Camilo Castelo Branco
ao romantismo, à sociedade portuguesa e à Imprensa. Este trabalho abordará de forma
detalhada a crítica direcionada ao jornalismo, visto que, embora as críticas à sociedade e
à Imprensa estejam intrinsecamente relacionadas, o protagonista é um jornalista, e a
escolha dessa função para a personagem não foi aleatória. Tendo sido jornalista na vida
real, de 1840 até sua morte, em 1890, o autor conhecia toda a dinâmica da Imprensa,
assim, visamos mostrar que a crítica colocada na fala do protagonista é, na realidade,
uma crítica de Camilo Castelo Branco.
Palavras-chave: Camilo Castelo Branco; Coração, Cabeça e Estômago; Imprensa
portuguesa do século XIX; Literatura portuguesa.
REFLEXÕES SOBRE EXÍLIO, IDENTIDADE E MEMÓRIA NA OBRA L’ÉNIGME
DU RETOUR, DE DANY LAFERRIÈRE
Bárbara Souza Mattos (UFU)
Na obra L’énigme du retour, de Dany Laferrière, publicada em 2009 e ganhadora do
prêmio Médicis no mesmo ano, o protagonista Windsor, haitiano e exilado no Canadá,
narra o desenrolar dos preparativos da sua partida de seu país de exílio, que se fez
necessária após a ligação que o informara sobre o falecimento de seu pai, também
nomeado Windsor e exilado em Nova Iorque, até o seu destino e também lugar de
origem, Porto Príncipe, Haiti, para poder assim informar à mãe a morte de seu marido.
A obra e viagem são divididas em duas partes, ―Lents prépraratifs de départ‖ (Lentos
preparativos de partida), e o segundo, ―Le retour‖ (O retorno), sendo esse momento da
obra em que o narrador e protagonista chega ao seu destino, Porto Príncipe, depois de
trinta e três anos de exílio. Na primeira parte do livro, o narrador ao se preparar para o
seu retorno à cidade natal começa reviver memórias de seu passado e infância com a sua
família, como se estivesse vivendo nelas, contrapondo dessa forma o seu passado no
Haiti ao seu presente no Canadá, o calor e sul ao frio e norte. No presente trabalho será
exposto a trajetória de Windsor e o desvendamento do enigma de chegar ao seu país de
origem e (re) descobrir sua terra, sua gente, sua família, sua identidade. As reflexões
sobre a obra serão realizadas a partir da leitura de textos de Edward Said e Paul Ricoeur.
Palavras-chave: Exílio; Identidade; Memória; Retorno.
CONVERGÊNCIAS E DIVERGÊNCIAS ENTRE SENHORA E LE ROMAN D’UN
JEUNE HOMME PAUVRE
Rodrigo Donizeti Mingotti (UNESP/IBILCE)
O romance brasileiro do século XIX possuía contundentes marcas advindas das
literaturas estrangeiras, em especial a francesa. Tal fato não era de se estranhar, visto
que em Portugal o mesmo ocorria. À época, na Europa, os países centrais produtores de
cultura e, consequentemente, literatura, eram a França e a Inglaterra e os demais países
do continente, considerados periféricos, eram os grandes importadores dessas
literaturas. Nesse âmbito do mercado literário português escasso, tendo em vista que
antes do século XX somente uma pequena parcela da população portuguesa era
alfabetizada e esse mercado era dominado pela França, os escritores portugueses
passaram a assemelhar seus romances aos modelos franceses, a fim de conquistar
público. Contudo, ao mesmo tempo que haviam as semelhanças, essas eram escoltadas
de críticas a esses modelos. Isso posto, partindo de tais inferências, constitui-se o
presente trabalho de Iniciação Científica, intitulado ―Convergências e divergências entre
Senhora e Le roman d’un jeune homme pauvre‖, que versa realizar um estudo de cunho
comparatista, visando a ligação existente entre a literatura brasileira e a europeia, tendo
como objetos de pesquisa romances de dois escritores do século XIX: José de Alencar,
no Brasil e Octave Feuillet, na França. Para tal trabalho, sucedeu-se o estudo dos
romances Senhora (1875) e Le roman d’un jeune homme pauvre (1858), dos respectivos
autores supracitados, tendo como apoio pressupostos teóricos de literatura comparada e
bibliografias que abordam observações e reflexões sobre os romancistas e suas
produções. Neste, é possível observar semelhanças e dissemelhanças entre as obras
referenciadas e seus pertencentes autores, além de avistar e buscar compreender
profusas marcas francesas identificadas nas obras de José de Alencar, sendo ele leitor
assíduo assumido dessa literatura europeia.
Palavras-chave: José de Alencar; Literatura comparada; Literatura brasileira; Octave
Feuillet; Romance.
LITERATURA E HISTÓRIA: OUTRAS FORMAS DE CONTAR, UMA
OBSERVAÇÃO SOBRE A FICÇÃO E A REALIDADE
Dayana Rodrigues Pereira (UNEB)
Dannisleyk Moraes de Araujo Santos (UNEB)
Pensar a relação literatura e história é conceber as complexidades envolvidas na
construção de uma narrativa, o simples ato de contar sobre alguma coisa ou
acontecimento, sendo real ou fictício, implica em uma série de fatores decorrentes das
nossas relações sociais. Dessa forma, neste artigo abordaremos acerca da Literatura e
História envolvendo a questão de ficção e realidade contidas entre os dois, a fim de
compreender o elo presente, destacando assim que são elaborados a partir da
interpretação. Na tentativa de entender como ocorre essa relação, apresentaremos
algumas concepções teóricas acerca da história, colocados por Vavy Pacheco Borges
(2005), Antonio Pereira Sousa (1999) e Vieira, Peixoto, Khoury (2005). Bem como os
estudos sobre literatura realizados por Jonathan Culler (1999), e teceremos algumas
considerações acerca do conceito mimético aristotélico (COSTA, 1992). Remetendo-se
aos conceitos de memória e discurso, utilizou-se as concepções dos autores Jacques Le
Goff (2003), Durval Muniz Albuquerque Junior (2007) e Michel Foucault (2008).
Utilizamos da pesquisa bibliográfica, junto a estes autores e outros que seguiram suas
diretrizes desenvolvidas sobre o tema. Esperamos com essa pesquisa não só ampliar o
conhecimento do leitor, mas promover também outra concepção sobre a relação entre
história e literatura observando seus pontos de convergência.
Palavras-chave: Discurso; História; Interpretação; Literatura; Memória.
A DESSACRALIZAÇÃO DO CÂNONE: SUBVERSÃO E O OLHAR FEMININO
EM 'D. JOÃO E JULIETA', DE NATÁLIA CORREIA
Andrezza Jaquier Pigozzo de Oliveira (UFSCar)
O presente trabalho resulta da pesquisa que objetiva analisar as estratégias de
desconstrução do cânone dramatúrgico no âmbito da escrita de autoria feminina. Para
tanto, escolhemos como objeto a peça D. João e Julieta da escritora portuguesa Natália
Correia (1923-1993), obra em qual, sob o signo da subversão, revisita duas personagens
consagradas no teatro mundial. Importante autora do cenário português, Natália Correia,
sempre engajada, sobretudo, com a busca da liberdade política e social para as
mulheres, nunca se calou perante a ditadura salazarista, tanto que algumas de suas obras
foram obscurecidas pela censura. Nesse contexto, de gavetas encerradas, encontra-se a
obra D. João e Julieta, escrita em 1957, e só vinda a público 40 anos depois, em 1999;
seis anos depois da morte da autora. O cânone dramatúrgico invocado na peça reflete
uma preocupação sobre a tradição, no entanto, esta não é resumida na imitação ou
glorificação dos ícones tradicionais, antes percebe-se um movimento de desconstrução
ao desestabilizar personagens já fixados na tradição: de um lado, o shakespeariano, com
a famosa personagem Julieta, de outro a figura de Don Juan, relido como D. João,
personagem da dramaturgia mundial e considerado um mito moderno (WATT, 1997).
Na concepção nataliana, Julieta guia D. João, o seduzido, e este se entrega ao amor e à
morte, subvertendo, assim, os modelos canônicos dessas duas figuras emblemáticas. Em
vista disso, a autora esboça e propõe uma outra tradição, não com marcas masculinistas,
mas com a atuação primordial da personagem feminina em uma estratégia
representacional alternativa (CARLSON, 1997) colocando-a enquanto sujeito agente de
seu desejo. A fim de contemplar o nosso objetivo e análise, utilizamos um referencial
crítico-teórico sobre os conceitos de cânone e tradição, estudos sobre as personagens
revisitadas, e reflexões que abordem a escrita de autoria feminina em Portugal.
Palavras-chave: Escrita de autoria feminina; Natália Correia; Teatro português.
ESTUDO COMPARATIVO EM APULEIO: (RE)CRIAÇÕES E
(RE)SIGNIFICAÇÕES
Vinícius Medeiros dos Santos (UNESP/IBILCE)
O objetivo deste trabalho é analisar e refletir sobre as relações intertextuais
manifestadas entre O asno de ouro, de Apuleio, Lúcio ou asno, do Pseudo-Luciano, O
burrico Lúcio, de Léo Vaz, e O motoqueiro que virou bicho, de Ricardo Azevedo. Para
tanto, selecionaram-se determinados operadores de leitura da narrativa, a saber, fábula,
espaço, tempo, personagem e narrador. Por meio deste estudo, investigamos de que
modo certos aspectos e elementos ora se mantêm, ora se ressignificam. Ao conferirmos
em que medida as narrativas do corpus dialogam entre si, por vezes mantendo uma
relação aproximada, e em que medida se distanciam, por vezes permitindo a criação de
novas interpretações, certamente nos inserimos nos estudos das relações entre a
literatura antiga e a contemporânea e contribuímos com a ampliação dos horizontes dos
estudos sobre as recepções dos clássicos. Nossa fundamentação teórica, baseada em
Genette (Palimpsestos, 1989), Kristeva (Introdução à semanálise, 2005) e Samoyault (A
intertextualidade, 2001), demonstra como a literatura moderna brasileira é, em certa
medida, e relativamente, uma continuidade da literatura antiga, esta servindo de um
inquestionável hipotexto para aquela. Nossa metodologia orienta-se pelo estudo da
intertextualidade, do romance antigo grego e romano, da literatura infantojuvenil
brasileira, do herói, dos autores implicados e da análise narratológica do corpus. Os
resultados até aqui apontam para a maneira como se dá o diálogo e a conexão entre as
narrativas do corpus, cujas relações intertextuais mantêm uma correspondência quer
direta, confirmando a interdependência para com os traços dos romances antigos aqui
abordados, quer indireta, indicando não só para novos sentidos e significações, como
também evidenciando a qualidade e a técnica criativa e discursiva dos autores ora
examinados neste estudo.
Palavras-chave: Intertextualidade; Recepções dos clássicos; Romance antigo.
EMANCIPAÇÃO LITERÁRIA: O VALOR DA LITERATURA DE MASSA E SEU
PAPEL NA FORMAÇÃO DE LEITORES
Bruna Camargo da Silva (Universidade do Sagrado Coração)
Este trabalho busca discutir o valor da literatura de massa e seu papel na formação de
leitores. A literatura é intrínseca ao ser humano e importante na sua humanização,
sendo, portanto, a leitura literária um dos direitos do homem. Contrapondo-se à ideia
que se costuma ter sobre os jovens, estes não apenas leem, como são os que mais o
fazem entre qualquer faixa etária. Porém, há resistência deles em relação à literatura
canônica apresentada pela escola e os métodos por ela utilizados, que fogem à fruição
literária. Isso vai de encontro com a receptividade desses estudantes para com a
literatura de massa, que por sua vez é desvalorizada nos meios acadêmicos e
comumente rejeitada pela instituição. Sabe-se, entretanto, que não existe um consenso
na definição de literatura, pois os critérios utilizados para tal estão sujeitos aos contextos
históricos e antropológicos. Aqueles que legitimam a ―Grande Literatura‖ são os que
possuem poder dentro da sociedade para tal, o que faz dela a literatura de uma elite,
apesar de sua inegável contribuição para a sociedade, pois a massa não representa seu
modo de ver e sentir. A hierarquização é inevitável, mas cada obra deve ser analisada
dentro daquilo a que ela se propõe. A escola, como espaço sociocultural, deve estar
aberta às diferentes ideologias e visões de mundo e ao desqualificar a literatura de
massa e assumir como boa literatura apenas aquilo que por ela é legitimado, silencia
parte destas visões. É direito do aluno não apenas o acesso à literatura erudita, mas
também à diversidade de manifestações literárias existentes, porque é o contato com
ideologias e visões de mundo diversas que o humaniza. No processo de formação de
leitores, cabe à escola não a encarar como uma ameaça, mas utilizá-la como aliada nesse
processo, conduzindo-os a uma leitura literária diversificada.
Palavras-chave: Educação; Formação de leitores; Literatura; Literatura de massa.
SIZÍGIA NO PINHÉM: O RITUAL E O MITO EM "A ESTÓRIA DE LÉLIO E LINA"
Lucas Silveira Fantini da Silva (UNESP/IBILCE)
O enfoque deste trabalho é a relação entre Lélio do Higino e Dona Rosalina, ambos
personagens de ―A estória de Lélio e Lina‖, novela que integra as sete narrativas de
Corpo de baile, cuja autoria é de João Guimarães Rosa. O fio condutor da trama são as
etapas do processo de amadurecimento do vaqueiro Lélio, que procura se livrar do
fantasma de uma desilusão amorosa à medida em que atravessa e experimenta diferentes
esferas e manifestações do amor, como bem aponta Benedito Nunes em seu ensaio ―O
amor na obra de Guimarães Rosa‖, de 1969. Em sua jornada, o jovem Lélio tem em
Dona Rosalina, já de idade avançada, sua fonte de sabedoria a quem recorrer durante
suas maiores aflições, portanto, ela é uma espécie de guia para sua vida. Entre os dois,
porém, é edificada uma relação de dependência mútua, onde Lina só alcança o pleno
sentido da sua vida ao prestar seus cuidados a Lélio. A narrativa constrói o laço entre os
dois de maneira ambígua, como se flutuassem da relação maternal e filial à conjugal,
demonstrando uma espécie de amor mais sublime e espiritualizada. Sustentados no
aparato teórico da crítica literária arquetípica e da psicanálise de matriz junguiana,
nosso objetivo é evidenciar quais são os referenciais mítico-arquetípicos que delineiam
ambos os personagens, principalmente no que se refere à intervenção de Lina na
trajetória do protagonista Lélio.
Palavras-chave: Arquétipo; Guimarães Rosa; Mito.
ANÁLISE DOS VOCÁBULOS DE MAIOR CHAVICIDADE NO CONTO
"TENTAÇÃO" DE CLARICE LISPECTOR TRADUZIDO PARA AS LÍNGUAS
INGLESA E ESPANHOLA
João Vitor de Paula Souza (UNESP/IBILCE)
Neste trabalho, analisamos o conto ―Tentação‖ de Clarice Lispector, bem como suas
traduções ―Temptation‖ e ―Tentación‖ para as línguas inglesa e espanhola,
respectivamente. O conto narra, em terceira pessoa, um encontro intenso e momentâneo
entre uma menina e um cachorro em uma rua de Grajaú. Há uma grande identificação
entre os dois personagens centrais, desenvolvida a partir da singularização da cor ruiva
de seus cabelos. A ambientação da narrativa é misteriosa, como se não passasse de um
sonho ou de uma fuga da realidade. Nesse sentido, os objetivos deste trabalho foram
explorar alguns aspectos relativos ao léxico literário, bem como refletir sobre a
literatura brasileira traduzida no exterior. Nosso arcabouço teórico-metodológico
recorre sobre a Linguística de Corpus, como sugerida em importantes trabalhos de
Sardinha (2004) e Baker (1993; 1995; 1996; 2004), por meio de abordagem descritiva
que considera dados qualitativos e quantitativos como relevantes, no sentido de se
estabelecer uma leitura crítico-comparativa entre o Texto de Partida (TP) e seus Textos
de Chegada (TCs). Deste modo, partindo dos dados extraídos pelo programa
WordSmith Tools, o objetivo foi analisar o campo semântico da cor vermelha e suas
representações no TP e nos TCs. Para este fim, recorremos a trabalhos de Heller (2013),
Paula Júnior (2006) e Farina et. al (2011) que tratam, a partir de diferentes perspectivas,
dos aspectos simbólicos dos tons escarlate na cultura ocidental. Para esta análise,
partimos de significados mais concretos da cor vermelha, como sua associação com o
sangue e o fogo e chegamos a significações mais abstratas, como a associação com o
diabo, o pecado, a morte e a secular tradição de se depreciar aqueles que têm cabelos
ruivos. Os resultados obtidos apontam para a fomentação de leituras distintas nos TCs,
propiciadas pelo emprego do léxico via tradução.
Palavras-chave: Clarice Lispector; Estudos da Tradução baseados em Corpus; Léxico e
tradução; Literatura brasileira traduzida.
TRADUÇÃO JORNALÍSTICA: REPRESENTAÇÃO CULTURAL E IDEOLOGIA
Júlia da Silva Vasconcelos (UNESP/IBILCE)
Por meio do presente trabalho, objetivamos realizar um estudo teórico-analítico
referente à tradução jornalística. Tencionamos, de maneira específica, analisar a
tradução de notícias entre os pares linguísticos francês-português e espanhol-português.
Para tanto, do ponto de vista teórico, partiremos de textos que tratam da problemática da
tradução em sua relação com a questão da diferença, sobretudo dos trabalhos de
Rodrigues (2005; 2008) e de Arrojo (1986). No campo da tradução jornalística, serão
referências para esta pesquisa os trabalhos de Zipser (2006; 2009), Hernández Guerrero
(2006; 2012) e Simão e Stupiello (2017). Para Zipser as notícias devem ser pensadas
como diferentes leituras de um mesmo fato, o que ela nomeia ―deslocamento de
enfoque‖ (2009, p.11). Nos dedicaremos, num segundo momento, à análise dos textos
que compõem o corpus de nossa pesquisa, a saber, as traduções dos títulos e leads do
jornal ―El País‖, edições América e Espanha, disponíveis no site do ―El País Brasil‖, e
da ―Agence France Press‖, disponíveis no site da UOL. Até o presente momento
pudemos notar que cada cultura e cada jornal possui seu próprio padrão de títulos e
leads, fato que confere uma identidade singular ao seu modo de fazer notícia e, por
conseguinte, à maneira segundo a qual esta será interpretada pelo leitor. Assim, por
meio das análises das traduções buscaremos enfatizar as questões culturais e ideológicas
que permeiam todo o processo tradutório. Em conformidade com Zipser (2006, p.5), ao
afirmar que ―os textos devem funcionar culturalmente para o leitor no que diz respeito
ao processo de construção de sentidos através da leitura‖, proporemos uma reflexão
acerca das especificidades culturais e sociais de cada país, entendendo que a localidade
do fato noticiado e o público ao qual se destina é um dos determinantes no que tange à
construção de notícias e de sua posterior tradução.
Palavras-chave: Cultura; Ideologia; Tradução jornalística.