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V. – O Génesis V. – O Génesis História das História das origens origens Escola de Dirigentes do MCC Formação Básica na Fé V

V. – O Génesis – História das origens

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V. – O Génesis – História das origens. Escola de Dirigentes do MCC Formação Básica na Fé V. Formação básica na Fé V - 5ª sessão – O Génesis – História das Origens. Sumário: 1 – UMA INTRODUÇÃO AO GÉNESIS 2 – OS ONZE PRIMEIROS CAPÍTULOS DO GÉNESIS 3 – A CRIAÇÃO 4 – A ORIGEM DO MAL - PowerPoint PPT Presentation

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Page 1: V. – O Génesis –  História das origens

V. – O Génesis – V. – O Génesis –

História das História das origensorigens

Escola de Dirigentes do MCC

Formação Básica na Fé V

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Formação básica na Fé V - 5ª sessão – Formação básica na Fé V - 5ª sessão – O Génesis – História das OrigensO Génesis – História das Origens

Sumário:1 – UMA INTRODUÇÃO AO GÉNESIS

2 – OS ONZE PRIMEIROS CAPÍTULOS DO GÉNESIS3 – A CRIAÇÃO

4 – A ORIGEM DO MAL5 – CAIM MATA O SEU IRMÃO ABEL

6 – OS DESCENDENTES DE ADÃO ATÉ NOÉ7– OS «FILHOS DE DEUS» E AS «FILHAS DOS

HOMENS»8 – A CORRUPÇÃO DA HUMANIDADE E DILÚVIO

9 – OS DESCENDENTES DE NOÉ10 – A TORRE DE BABEL

11 – GENEALOGIA OU ASCENDÊNCIA DE ABRAÃO 12 – EM JEITO DE CONCLUSÃO…

13 – Bibliografia recomendada

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1. UMA INTRODUÇÃO 1. UMA INTRODUÇÃO AO GÉNESISAO GÉNESIS

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1. UMA INTRODUÇÃO AO GÉNESIS1. UMA INTRODUÇÃO AO GÉNESIS QUAL A ORDEM CANÓNICA DO GÉNESIS?QUAL A ORDEM CANÓNICA DO GÉNESIS?

COMO SURGIU O NOME «GÉNESIS»?COMO SURGIU O NOME «GÉNESIS»?

É o primeiro livro da Bíblia – e portanto do Pentateuco (os cinco primeiros livros da Bíblia: Génesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronómio).

Na Bíblia hebraica, os livros não tinham títulos; eram denominados conforme a primeira palavra ou expressão do livro (segundo o costume mesopotâmico): este chamava-se de Bereshit.

Português Hebraico Grego Latim Significado

Génesis Bereshit ( אלהים ברא No» :( בראשיתprincípio…»

Genesis Genesis «Origem»

Na Bíblia cristã (tradução do hebraico para o grego), os nomes foram dados conforme o conteúdo do livro; como este livro trata do princípio de tudo, chamaram-lhe «Génesis», isto é, Livro das Origens.

«GÉNESIS» «GÉNESIS» «NASCIMENTO»,«NASCIMENTO», «ORIGEM». «ORIGEM».

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1. UMA INTRODUÇÃO AO GÉNESIS1. UMA INTRODUÇÃO AO GÉNESIS QUAL FOI O AUTOR DO GÉNESIS? E QUAL FOI O AUTOR DO GÉNESIS? E

QUANDO FOI ESCRITO?QUANDO FOI ESCRITO?

O autor tradicional do Génesis (assim, como de todo o Pentateuco) é Moisés. Contudo, hoje sabe-se que não tem um só autor sagrado, mas é fruto de várias tradições orais, populares e da recompilação de três fontes ou tradições: javista, eloísta e sacerdotal; estas são de diferentes épocas, que se juntaram mais tarde (por volta

do séc. IV a.C.), possivelmente por Esdras. Fonte e sigla Séc. e lugar Características

Javista Javista (J)IX ou X a.C.; Reino do Sul

(Judá)Vivaz, pitoresca, representa Deus com traços antropomórficos. Deus é JAVÉ. A humanidade está marcada pelo pecado e pela fragilidade, mas também pela promessa divina. O congregador da fé e do povo é o Rei.

Eloísta Eloísta (E)VIII (ou IX a.C); Reino do

Norte (Israel)Evita o antropomorfismo; acentua o aspecto moral. Sublinha a fé testada até ao limite, o temor de Deus, os temas de eleição do povo de Israel e da aliança. O PROFETA é o congregador da fé e do povo. Deus é ELOIM. Diferenças de nomenclaturas (exemplo, chama Monte Horeb ao Sinai, etc.)

SacerdotalSacerdotal (P, do alemão priester,

padre)

VI (Regresso do Exílio) em Jerusalém

Rigorosa, sublinha os traços distintivos do Judaísmo: o Sábado, a circuncisão, a Lei. Acentua a presença «gloriosa» de Deus (é «Espírito», cf. Gn 1,2). Contém códigos litúrgicos, processuais e genealogias.

Nota: no Pentateuco há ainda outra tradição: a Deuteronomista, do séc. VII a.C.

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1. UMA INTRODUÇÃO AO GÉNESIS1. UMA INTRODUÇÃO AO GÉNESIS QUAIS SÃO AS CARACTERÍSTICAS QUAIS SÃO AS CARACTERÍSTICAS

LITERÁRIAS DO GÉNESIS?LITERÁRIAS DO GÉNESIS?

As narrações dos 11 primeiros capítulos do Génesis não são de todo originais; na literatura dos povos vizinhos, existem relatos semelhantes que falam das origens do mundo; por exemplo: a epopeia de Gilgamesh, o poema Enuma-Elish, a epopeia de Atra-hasis; neles há muitas semelhanças, mas apenas aparentes. Há diferenças fundamentais com o relato bíblico: o Monoteísmo (contra o mundo povoado de deuses na Babilónia); o Deus-amor (contra os deuses caprichosos e vingativos, que vêem no homem um brinquedo nas suas mãos); a purificação de todos elementos fantásticos, concentrando-se na reflexão teológica. O Génesis é original e único, não na forma literária, mas na mensagem sobre Deus e o homem.

No Génesis encontram-se três tradições: Javista, Eloísta e Sacerdotal. As formas literárias que usa são relatos míticos, lendas e genealogias. Mito não significa mentira ou invenção: a sua origem está na capacidade do homem se admirar perante as grandes coisas do mundo, da busca da realidade profunda; é uma expressão, um aproximação ao mistério.

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1. UMA INTRODUÇÃO AO GÉNESIS1. UMA INTRODUÇÃO AO GÉNESIS QUAL O CONTEÚDO TEMÁTICO DO QUAL O CONTEÚDO TEMÁTICO DO

GÉNESIS (OU ESTRUTURA)?GÉNESIS (OU ESTRUTURA)?

Divide-se em duas grandes partes:

Gn 1-11: ORIGENS DA HUMANIDADE. História ou Ciclo

das Origens; História Primitiva; «Pré-História Bíblica»; Proto-história.

Gn 12-50: ORIGENS DO POVO DE ISRAEL.

História Patriarcal

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1. UMA INTRODUÇÃO AO GÉNESIS1. UMA INTRODUÇÃO AO GÉNESIS QUAIS SÃO OS TEMAS DOMINANTES DO QUAIS SÃO OS TEMAS DOMINANTES DO

GÉNESIS?GÉNESIS?

São cinco temas dominantes no livro do Génesis:

O Universo com os seus astros, bem como a Terra com as plantas, os animais e os homens, existem porque Deus assim o quis.

O Homem é a coroação de toda a obra criadora de Deus e aquele a quem o mesmo Deus confiou a missão de dominar sobre todos os seres e sobre todas as forças da natureza para prover às suas necessidades e ao desenvolvimento do seu progresso.

A origem e o alastramento do pecado, assim como as promessas de salvação (cf. 3, 15 e 12, 3) vêm desde o início da Humanidade.

Deus escolhe livremente aqueles através dos quais as promessas se hão-de ir realizando (cf. 25-36).

As promessas de salvação realizaram-se em forma de Alianças entre Deus e os homens (cf. 3, 15 e 17).

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2. OS ONZE PRIMEIROS 2. OS ONZE PRIMEIROS CAPÍTULOS DO GÉNESISCAPÍTULOS DO GÉNESIS

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CapítuloCapítulo JJ PP

As origensAs origens

1 1-31

2 4b-25 1-4a

3 1-24

4 1-26

5 1-28

29 30-32

O dilúvioO dilúvio

6 1-8 9-22

7 1-5; 7;10; 12; 16b; 17b; 22-23 6; 8-9; 11; 13-16a; 17a; 18-21; 24

8 2b-3a; 6-12; 13b; 20-22 1-2a; 3b-5; 13a; 14-19

9 1-17

De Noé até AbraãoDe Noé até Abraão

18-27 28-29

10 1b;8-19; 21; 24-30 1a;2-7; 20; 22-23; 31-32

11 1-9; 27b-30 (?) 10-27a; 31-32

2. OS ONZE PRIMEIROS 2. OS ONZE PRIMEIROS CAPÍTULOS DO GÉNESISCAPÍTULOS DO GÉNESIS

QUAIS AS TRADIÇÕES PRESENTES EM GN 1-11?QUAIS AS TRADIÇÕES PRESENTES EM GN 1-11?

Estão presentes apenas as tradições Javista e Sacerdotal, como segue:

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2. OS ONZE PRIMEIROS 2. OS ONZE PRIMEIROS CAPÍTULOS DO GÉNESISCAPÍTULOS DO GÉNESIS

QUAL O SIGNIFICADO DA «HISTÓRIA» DE QUAL O SIGNIFICADO DA «HISTÓRIA» DE GN 1-11?GN 1-11?

Nenhum autor sustentaria hoje que Génesis constitui uma história no sentido moderno da palavra. Os hagiógrafos apenas se interessavam pelos «factos» da história somente na medida em que ilustravam o plano divino. Eles desejam mostrar o plano divino revelado progressivamente nos acontecimentos da história e, em consequência, sublinham em tudo a iniciativa divina.

Em Gn 1-11 os «factos» fundamentais são acontecimentos de ordem cósmica que afectam o homem em geral, «acontecimentos típicos». A criação, a queda do homem, etc., são exemplos.

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COMO EXPLICAR AS CONTRADIÇÕES DO GÉNESIS (E DA COMO EXPLICAR AS CONTRADIÇÕES DO GÉNESIS (E DA BÍBLIA EM GERAL) COM A CIÊNCIA E COM A HISTÓRIA?BÍBLIA EM GERAL) COM A CIÊNCIA E COM A HISTÓRIA?

Não há contradições, pois entre ciência e Bíblia, entre ciência e história, não é necessário escolher, pois movem-se em campos diferentes! À Bíblia interessa apresentar um ensinamento religioso que determina as relações entre o Homem e o Criador, as verdades de fé em ordem à salvação do Homem.

A Bíblia não é um livro de ciência, nem um manual de história natural, não lhe interessa saber o «como» das coisas, compreender as origens do universo, estudar o movimento dos planetas, etc., mas sim o «porquê» e o «para quê» das coisas. «A intenção do Espírito Santo é ensinar-nos como devemos ir para o céu, e não como vai o céu»: afinal, Galileu tinha razão.

A Bíblia não é um livro de história, mas um livro de fé. A ela não lhe interessa os factos em si mesmo, mas em que medida os acontecimentos servem para ensinar e explicar o Plano Divino. Por isso, as personagens, a sua idade, datas, os números… são simbólicos e escondem por detrás uma verdade revelada por Deus, que só descobriremos pela fé.

Como conciliar os seus ensinamentos com a ciência: Adão e Eva face à teoria da Evolução e face ao poligenismo; a Criação em seis dias face ao Big-bang, etc?

2. OS ONZE PRIMEIROS 2. OS ONZE PRIMEIROS CAPÍTULOS DO GÉNESISCAPÍTULOS DO GÉNESIS

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COMO EXPLICAR AS CONTRADIÇÕES DO GÉNESIS (E DA COMO EXPLICAR AS CONTRADIÇÕES DO GÉNESIS (E DA BÍBLIA) COM A CIÊNCIA E COM A HISTÓRIA? BÍBLIA) COM A CIÊNCIA E COM A HISTÓRIA? (cont)(cont)

Daqui derivam duas consequências importantes:

O descabimento de certas perguntas. Por exemplo: então Adão e Eva existiram? Onde se localizou o Jardin do Éden? O Dilúvio aconteceu mesmo? É verdade que Matusalém viveu 969 anos?, etc., etc. São questões que não se podem colocar ao Génesis, pois não pretende transmitir-nos dados científicos, históricos ou jornalísticos; mas sim uma mensagem religiosa, iluminada pelo Espírito Santo, sob essas narrações. Estas perguntas surgem da seguinte linha de pensamento: achar que o autor nos quer transmitir algo sobre o andamento concreto das coisas no início da história da humanidade, numa perspectiva histórico-informativa. Este esquema mental, com o qual lemos as narrativas dos onze primeiros capítulos do Génesis, não corresponde à intenção do autor que escreveu aquelas linhas.

Ler a Bíblia como se fosse uma narrativa científica, leva-nos a uma leitura fundamentalista da Bíblia. É o caso de cristãos fundamentalistas, influentes sobretudo nos E.U.A. Esta forma de ler a Bíblia é um perigo, tendo sido condenada pela maior parte dos cristãos, inclusive pela Igreja Católica. Por exemplo: a Bíblia diz que a «lebre é um ruminante»? Então, ela é que está certa, e quem diz, como a zoologia que é um roedor, cai numa heresia!

2. OS ONZE PRIMEIROS 2. OS ONZE PRIMEIROS CAPÍTULOS DO GÉNESISCAPÍTULOS DO GÉNESIS

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2. OS ONZE PRIMEIROS 2. OS ONZE PRIMEIROS CAPÍTULOS DO GÉNESISCAPÍTULOS DO GÉNESIS QUAL O CONTEÚDO DE GN 1-11?QUAL O CONTEÚDO DE GN 1-11?

1ª PARTE DO GÉNESIS: A História das origens (Gn 1,1-11,32):

• Primeiro Relato da Criação: criação do mundo e do homem (Gn 1,1-2,4a) (P)

• Segundo Relato da Criação: criação do homem e da mulher (Gn 2,4b-25) (J)

• A queda do Homem e a origem do mal (Gn 3,1-24) (J)

• Caim e Abel (Gn 4,1-16) (J)

• Genealogia de Caim (Gn 4,17-26) (J)

• Genealogia de Adão até Noé (Gn 5,1-32) (P)

• Prólogo ao dilúvio (Gn 6,1-22) (J e P)

• O dilúvio (Gn 7,1-8,22) (J e P)

• Aliança com Noé (Gn 9,1-17) (P)

• Os filhos de Noé (Gn9,18-27) (J)

• Os povos da terra (Gn 10,1-32) (P e J)

• A Torre de Babel (Gn 11,1-9) (J)

• Genealogias conclusivas: ascendência de Abraão (Gn 11,10-32) (P e J)

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QUAL É A IMPORTÂNCIA DE GN 1-11 QUAL É A IMPORTÂNCIA DE GN 1-11 PARA A HISTÓRIA DA SALVAÇÃO? PARA A HISTÓRIA DA SALVAÇÃO?

A sua importância funda-se em acontecimentos culminantes que marcaram os começos da História de Israel como povo escolhido. O Deus de Israel foi considerado, à luz desses acontecimentos, como o Deus de toda a natureza e de toda a história. Israel, como único povo monoteísta da antiguidade, concluiu, a partir da recordação das acções salvadoras de Deus na história em favor do Seu povo, que esse mesmo Deus só podia ter sido o Criador do céu e da terra.

2. OS ONZE PRIMEIROS 2. OS ONZE PRIMEIROS CAPÍTULOS DO GÉNESISCAPÍTULOS DO GÉNESIS

DO DEUS LIBERTADOR…DO DEUS LIBERTADOR… ……AO DEUS CRIADOR. AO DEUS CRIADOR.

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QUAL É A IMPORTÂNCIA DE GN 1-11 QUAL É A IMPORTÂNCIA DE GN 1-11 PARA A HISTÓRIA DA SALVAÇÃO? PARA A HISTÓRIA DA SALVAÇÃO? (cont.)(cont.)

2. OS ONZE PRIMEIROS 2. OS ONZE PRIMEIROS CAPÍTULOS DO GÉNESISCAPÍTULOS DO GÉNESIS

Em consequência, esta história primitiva é a interpretação teológica dos acontecimentos importantes para o desenvolvimento posterior da própria história de Israel. Assim, não é, nem pretende ser, uma relação completa de tudo o que aconteceu desde o princípio do mundo, mas é selectiva ao máximo. A criação e a queda são os factos determinantes para a gradual aversão a Deus por parte dos homens, a qual levará a uma intervenção definitiva de Deus numa nova criação: a do Seu povo. O autor pretende responder, de alguma forma, às grandes questões da humanidade: Quem criou tudo? Quem criou o Homem como ser mais perfeito da Criação? Por que é que há a atracção entre homem e mulher? De onde vem o mal? Por que é que o trabalho é duro? Qual o sentido do sofrimento e da morte? Para onde vamos? Etc, etc.

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3. A CRIAÇÃO3. A CRIAÇÃO

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3. A CRIAÇÃO3. A CRIAÇÃO

Quantos RELATOS DA CRIAÇÃORELATOS DA CRIAÇÃO podemos encontrar no Génesis?

O Génesis contem duas narrações (ou Relatos da criação): o Primeiro Relato da CriaçãoPrimeiro Relato da Criação e o Segundo Relato da CriaçãoSegundo Relato da Criação.

Porquê duas narrativas da Criação?

São dois modos diferentes de nos contar a Criação, de estilos e tradições diferentes; por detrás de toda a «roupagem literária» e de até de algumas contradições, ambas pretendem transmitir verdades de féverdades de fé importantes sobre Deus e a Criação; os textos foram fundidos (no séc. IV a.C.), porque ambas as narrações foram consideradas inspiradas por Deusinspiradas por Deus.

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3. A CRIAÇÃO3. A CRIAÇÃO

Quais as DIFERENÇASDIFERENÇAS fundamentais principais que se podem encontrar entre os dois relatos?Primeiro relato da CriaçãoPrimeiro relato da Criação

(Gn 1, 1-31; 2, 1-4a)Segundo Relato da CriaçãoSegundo Relato da Criação

(Gn 2, 4b-25)

Sacerdotal (P)• Mais recente (século VI a.C.), depois do Exílio.• Mostra um Deus mais transcendente, que cria tudo com a Sua Palavra (parece um «maestro de orquestra»).• Grande pureza de conceitos, narração dogmática, feita por teólogo ou mestre.• Deus é Elohim (= forte).

Javista (J)• Mais breve e mais antiga (século IX ou X a.C.)• Mostra um Deus mais antropomórfico, que realiza tudo como um operário ou artesão.

• Narração colorida, pitoresca e realista, feita por uma espécie de catequista popular.• Deus é Javé ( = Aquele que é).

Tradição:

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3. A CRIAÇÃO3. A CRIAÇÃO

Sucessão cronológica:

Narra a criação do mundo e do homem em seis dias, de 24 horas

cada (com manhã e tarde).

Fala de um só dia no qual o Senhor Deus criou o céu e a terra.

Cosmogonia:

Aquática: tudo vem da água, do oceano primordial; espécie de ilha

no meio do mar.

Terrestre: tudo vem da terra; é uma espécie de oásis no meio do

deserto.

Ordem da criação:

Começa pela criação dos seres materiais, para pôr o Homem

como a coroa de toda a obra de Deus, feita para o mesmo homem.

Começa pela criação do homem, para mostrar que é a obra mais

importante de Deus e que tudo o resto foi criado para ele.

Primeiro relato da CriaçãoPrimeiro relato da Criação (Gn 1, 1-31; 2, 1-4a)

Segundo Relato da CriaçãoSegundo Relato da Criação (Gn 2, 4b-25)

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3. A CRIAÇÃO3. A CRIAÇÃO

O PRIMEIRO RELATO DA CRIAÇÃOO PRIMEIRO RELATO DA CRIAÇÃO (Gn 1, 1-2,4).

Trata-se de um HINO ou POEMA DA CRIAÇÃO, poema litúrgico que foi elaborado para ser declamado e cantado nas sinagogas.

Quais as FINALIDADESFINALIDADES deste hino da criação?

Sublinhar a importância da observância do Sábado, pois esquematiza a obra criadora numa semana. O Sábado era o dia semanal de culto no Antigo Testamento. Para os cristãos é o Domingo, dia da Ressurreição.

Narrar os gestos grandiosos do Criador.

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3. A CRIAÇÃO3. A CRIAÇÃO

Sentido antimitológicoSentido antimitológico: contra os deuses dos povos vizinhos, que começavam a seduzir os israelitas, especialmente a zoolatria egípcia e a astrologia babilónica. Trata-se de um esclarecimento e reforço das verdades religiosas de Israel.

COMO? COMO? QUANDQUAND

O? O? ONDE?ONDE?

PARA PARA QUÊ? QUÊ?

PORQUPORQUÊ?Ê?

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3. A CRIAÇÃO3. A CRIAÇÃO

Quais as PARTESPARTES em que se divide este Relato?

……DO DO HOMEMHOMEM

……DO DO MUNDO MUNDO

CRIAÇÃO…CRIAÇÃO…

(Gn 1, 26-2, 4a)(Gn 1, 1-25)

Qual é a ESTRUTURAESTRUTURA desse Relato?

Foi orientada pela estrutura da semanaestrutura da semana: para realçar o Sábado; e criar um sistema mnemónico, para melhor recordar as verdades religiosas (poema cadenciado, repetitivo, com estribilhos: «Deus disse…» e «Deus viu que era bom»; paralelismos entre os dias: 1º/4º; 2º/5º; 3º/6º).

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3. A CRIAÇÃO3. A CRIAÇÃO

D

I

A

OBRA REALIZADA

TRABALHO DE SEPARAÇÃO

(ordem no caos)

D

I

A

OBRA REALIZADA

TRABALHO DE ADORNO (aparece a diversidade de seres em todo o Universo)

1º A luz (vers. 3) luz / trevas (vers. 4-5)

4º Os Luzeiros do Céu (vers. 14-

15)

Firmamento com o Sol, a Lua e as estrelas

(vers. 16-18)

2º O firmamento (vers. 6)

águas superiores /

inferiores (vers. 7)

5º Peixes e pássaros (vers.

20-22)

As águas com os peixes, e o ar com as

aves (vers. 21-23)

3º As plantas terrestres (vers. 9-12)

mar / terra (vers. 9-12)

6º Os animais e o Homem (vers.

24-27)

A Terra com os animais e com o

Homem (vers. 24-31)

7º: Terminada a obra da criação, Deus «descansou» (cap. 2, 2). O homem deve reservar o 7º dia da semana, que foi abençoado por Deus, para descansar e para prestar

louvor e culto ao mesmo Deus (cap. 2, 3).

Não se deve buscar (como muitos fizeram até aqui) nesta classificação qualquer indício de ordem cronológica: o concordismo entre Gn 1 e as investigações da cosmologia e paleontologia é um contra-senso absoluto.

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3. A CRIAÇÃO3. A CRIAÇÃO

A concepção cosmológica (o modo de ver o mundo) é a mesma em toda a Bíblia: é a concepção geocêntricaconcepção geocêntrica.

Qual a concepção COSMOLÓGICACOSMOLÓGICA que está subjacente ao Primeiro Relato da Criação?

A Terra é concebida no centro do Universo, como um grande disco plano, assente em colunas.

É vista como uma grande casa, uma «Casa Cósmica»: na cave, ou seja, em baixo, estão os infernos (sheol), o reino dos mortos e as «águas inferiores»; no rés-do-chão está o Homem; depois, o firmamento, como um pavilhão sólido (firmus), e em cima as «águas superiores»; por vezes, abrem-se janelas, e cai chuva; no firmamento estão pendurados, como candeeiros, os astros; em cima de todo temos o palácio de Deus.

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3. A CRIAÇÃO3. A CRIAÇÃO

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3. A CRIAÇÃO3. A CRIAÇÃO

Qual a diferença fundamental da criação do mundo no Primeiro Relato da Criação com outras civilizações vizinhas?

Os poemas pagãos descrevem a criação como o resultado da luta entre os deuses e as forças do caos; ou como um parto resultante de união sexual dos deuses. O relato bíblico sublinha a tranquila actividade do sublinha a tranquila actividade do Deus únicoDeus único. Deus criou pela palavra: «Deus disse… e assim aconteceu»; Deus cria as oito principais obras da criação, pronunciando «Dez palavras» para criar e organizar o mundo.

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3. A CRIAÇÃO3. A CRIAÇÃO

«No princípio»: não se trata de cronologia, do primeiríssimo instante. O «princípio», no sentido ontológico, do ser, sendo que tudo remonta a Deus, que é a raiz de tudo. Esse «princípio» é quando Deus decide quando Deus decide criarcriar.

Que pretende transmitir a expressão: «No princípio, Deus criou os céus e a terra» (Gn 1, 1)?

«Deus criou os céus e a terra»: Há um só Deus e esse Deus criou tudo o que existe, Deus criou tudo o que existe, pelo que os astros, os animais não devem ser adorados, pois são criaturas de Deus.

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3. A CRIAÇÃO3. A CRIAÇÃO

Esta expressão surge várias vezes ao longo do texto. O que acontece é que os hebreus contavam os dias do pôr-do-sol ao pôr-do-sol do dia seguinte (e não da meia-noite à meia-noite). Por isso, aparece em primeiro lugar a tarde.

«Assim surgiu a tarde, em seguida, a manhã…» (Gn 1, 5)? Não tinha mais lógica primeiro surgir a manhã e depois a tarde?

Que significa a expressão: «Façamos o homem à nossa imagem, à nossa semelhança…» (Gn 1, 26)?

Três pontos a reter sobre esta expressão:

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3. A CRIAÇÃO3. A CRIAÇÃO

1. O homem aparece como a cúpula da criação. Até aqui, o discurso aparece no singular; a partir daqui, aparece no plural; até aqui, Deus ordena: «Deus disse…e assim foi»; agora, Deus anuncia um propósito; isto tem como objectivo chamar a atenção para a importância deste texto.

2. «Façamos»: este plural parece indicar uma deliberação de Deus com a sua corte (os anjos). Ou então, é um plural majestático, que exprime a riqueza interior de Deus. Os Padres da Igreja viram aqui uma insinuação da Trindade.

3. «Imagem e semelhança»: Ser «imagem e semelhança» de Deus é o fundamento da dignidade do Homem. Semelhança parece atenuar o sentido de imagem, excluindo a paridade. A Bíblia emprega a palavra «imagem» a propósito dos reis que fazem erigir uma estátua em sua honra: Deus agiu como esses reis, mas para Se representar escolheu o ser humano, não uma estátua sem alma. Assim, no profundo do homem, há algo de divino. Mas para os autores da Bíblia, o homem não é Deus! Mas naquilo que o homem tem de melhor, podemos encontrar a melhor imagem de Deus. A «semelhança» com Deus está na vocação de dominar e transformar este mundo.

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3. A CRIAÇÃO3. A CRIAÇÃO

O «submetei-a» não é a autorização para matar e explorar, como alguns acreditaram. É uma responsabilidade confiada a todos os homens, um serviço. O homem deve cuidar da Criação e viver em harmonia com a terra, as plantas, os animais.

Depois de ter criado o mundo em seis dias, Deus repousou um dia inteiro. Primeiro a civilização judaica, depois a cristã retomaram esta frase da Bíblia para organizar a sua própria vida e ritmar o tempo. Os judeus param de trabalhar ao sábado, dia do sabbat, enquanto que os cristãos escolheram o domingo para celebrar Deus, em memória da ressurreição de Cristo.

«Sede fecundos e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a…» (Gn 1, 28).

«Deus abençoou o sétimo dia e santificou-o…» (Gn 2, 3).

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3. A CRIAÇÃO3. A CRIAÇÃO

Esta segunda narrativa da Criação, elaborada nos tempos do rei Salomão (século X a.C.) é tradicionalmente atribuída à tradição javista. Contudo, recentemente, alguns estudiosos colocaram em causa esta origem: de facto os profetas anteriores ao Cativeiro da Babilónia não falarem num Jardim do Éden (como Isaías, Jeremias, Amós, etc.); já Ezequiel (profeta do Cativeiro da Babilónia) fala num Jardim do Éden; este «silêncio dos profetas» leva a situar a sua redacção do tempo do cativeiro da Babilónia ou até posterior.

Só Deus é Criador e Senhor de todas as coisas. A ideia é repetida ao longo do texto, com a constante repetição de «Senhor Deus». «Terra e os céus»: significa tudo o que existe.

O SEGUNDO RELATO DA CRIAÇÃOO SEGUNDO RELATO DA CRIAÇÃO (Gn 2,4b-25).

«Quando o Senhor Deus fez a Terra e os céus…» (Gn 2, 4b).

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3. A CRIAÇÃO3. A CRIAÇÃO

No anterior relato predominava a água, mas neste há falta dela. Tem por base a experiência do oásis na vastidão do deserto. A terra seca é ausência de vida.

«…ainda não tinha feito chover sobre a terra (Gn 2, 5).

«…então o Senhor Deus formou o homem do pó da terra e insuflou-lhe pelas narinas o sopro da vida…» (Gn 2, 7).

Devem-se ressaltar três aspectos essenciais deste trecho bíblico…

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3. A CRIAÇÃO3. A CRIAÇÃO

1.A água, a chuva é a grande bênção inicial, que permite ao Criador modelar o homem. Modelar é próprio do oleiro que se reconhece na sua obra: um «Deus-oleiro». É o primeiro momento da criação do Homem…

2. O segundo momento da criação do Homem é o soprar com o Seu sopro de vida, tornando-se o Homem um «ser vivo». No primeiro momento, o Homem participa da condição terrena; no segundo momento, ganha a inteligência e a liberdade.

3. Em hebraico, «Homem» é Adam ( = «terreno»), que não é propriamente «homem», mas sim a humanidade (homem e mulher) e tem a ver com «húmus». Liga-se com Adamah, que significa «terra» ou «barro». Adão não é um nome próprio, mas é um nome comum: das 560 vezes que aparece na Bíblia, só 5 vezes é usado como nome próprio.

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3. A CRIAÇÃO3. A CRIAÇÃO

Que Deus tenha criado directamente o primeiro homem a partir de uma matéria preexistente como o «pó da terra» ou que Se tenha servido de um animal que, durante milhões de anos, foi evoluindo para uma constituição cada vez mais aperfeiçoadas, em nada afecta o poder criador do mesmo Deus e a Sua intervenção pessoal na criação da alma, que fez dessa animal aperfeiçoado um verdadeiro «Homem», dotado de corpo material e alma espiritual que o torna inteligente e livre, responsável pelos seus actos, e capaz de se relacionar pessoalmente com o mesmo Deus.

UM PARÊNTESIS: ENTÃO, O HOMEM FOI UM PARÊNTESIS: ENTÃO, O HOMEM FOI CRIADO OU EVOLUIU?CRIADO OU EVOLUIU?

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3. A CRIAÇÃO3. A CRIAÇÃO

Até ao vers. 17 narra-se a história do Éden, um paraíso na terra. Deus deseja que o Homem seja feliz e que viva em amizade com Ele; para isso, cria-lhe as condições: como um «Deus jardineiro», coloca-o num estado de felicidade, num «jardim», o Éden. «Éden» deriva do sumério Edin e significa «terreno fértil».

«Depois, o Senhor Deus plantou um jardim no Éden, ao oriente, e nele colocou o homem que tinha formado» (Gn 2, 8).

É um lugar simbólico, que não pode ser localizado geograficamente, mas está a «oriente», que é de onde vem o Sol, como fonte de vida e daí vem a felicidade. Dele deriva um rio que se divide em quatro: dois são o Tigre e o Eufrates, isto para dar algum «realismo» à narração. Quatro é o número cósmico, a totalidade da terra; o rio dá fertilidade e riqueza ao jardim.

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3. A CRIAÇÃO3. A CRIAÇÃO

No Éden, as árvores e os frutos eram abundantes…

«O Senhor Deus fez brotar da terra toda a espécie de árvores agradáveis à vista e de saborosos frutos para comer, a árvore da Vida estava no meio do jardim, assim como a árvore do conhecimento do bem e do mal» (Gn 2, 9).

A «árvore da vida» e do «conhecimento do bem e do mal» não vêm em nenhum catálogo florestal. Trata-se de símbolos tirados das lendas da época, em particular da Babilónia. Representam a livre escolha: ressaltam a livre decisão do homem nos confrontos com Deus. Estamos perante uma linguagem mítica e poética.

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3. A CRIAÇÃO3. A CRIAÇÃO

Deus criou a Terra para que o homem a cultive e guarde e usufrua dela e possua a vida plena (a árvore da vida), imortalidade.

A condição única para viver em felicidade e alcançar a imortalidade, é obedecer a Deus e reconhecer a dependência d’Ele. Deus proíbe comer os frutos da árvore do conhecimento não porque este conhecimento seja mau, mas o problema é o bom ou o mau uso que o Homem fará desse conhecimento.

«O Senhor Deus levou o homem e colocou-o no jardim do Éden, para o cultivar e também, para o guardar» (Gn 2, 15).

«E o Senhor Deus deu esta ordem ao homem: podes comer do fruto de todas as árvores do jardim, mas não comas o da árvore do conhecimento do bem e do mal, porque, no dia que o comeres, certamente morrerás» (Gn 2, 16-17).

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3. A CRIAÇÃO3. A CRIAÇÃO

Quanto à questão das árvores do «conhecimento do bem e do mal» e da «vida», há a justaposição de duas tradições diferentes. Por exemplo, em Gn 2, 9 há de facto «no meio do jardim» a árvore da vida e em Gn 3,3, há a árvore do conhecimento. Em Gn 2, 16 e ss fala-se da proibição de comer da árvore do conhecimento, mas em Gn 3, 22, a proibição é aplicada também à árvore da vida.

«Vou dar-lhe uma auxiliar semelhante a ele (…) O homem designou com nomes todos os animais…» (Gn 2, 18-20)

O Homem «ao dar nome aos animais» colabora e participa no poder criativo de Deus. Dar nome, entre os hebreus, significa «ter poder sobre», pois Deus quis que o Homem tivesse a propriedade e domínio sobre todos os animais (como se diz em Gn 1,26s). Esta superioridade é também apanágio da mulher, visto ser uma companheira adequada ao homem.

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3. A CRIAÇÃO3. A CRIAÇÃO

Deus, que fora descrito como um oleiro e como um jardineiro, aparece agora como um «Deus-cirurgião». Não se pode tomar sito à letra. Mas qual o sentido da mesma?

«…enquanto ele dormia, tirou-lhe uma das suas costelas (…) da costela (…) o Senhor Deus fez a mulher» (Gn 2, 21-22).

«Chamar-se-á mulher, visto ter sido tirada do homem!» (Gn 2, 23).

«Por esse motivo, o homem deixará o pai e a mãe, para se unir à sua mulher, e os dois serão uma só carne» (Gn 2, 24).

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3. A CRIAÇÃO3. A CRIAÇÃO

Adão dorme profundamente, pelo que não participa da feitura da mulher. O sono é espaço da revelação. O primeiro homem não foi espectador da acção criadora de Deus. A origem da primeira mulher, mesmo depois de Adão lá estar, permanece um mistério impenetrável.

Foi Deus que instituiu a diversidade de sexos:

CONTRA O CONTRA O DESPREZO DO DESPREZO DO CORPO E DO CORPO E DO

SEXO…SEXO…

CONTRA A CONTRA A IDOLATRIA DO IDOLATRIA DO CORPO E DO CORPO E DO

SEXO…SEXO…

A sexualidade foi querida por Deus

Praticada pelos cultos dos

povos vizinhos

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3. A CRIAÇÃO3. A CRIAÇÃO

A mulher sai duma costela do homem, isto é, da zona do coração do homem. É igual a ele, tem uma missão de amor no seio da humanidade. Homem e mulher são corpo um do outro. São o complemento um do outro. Por isso, o matrimónio é bom, contra certas teorias que apareceram ao longo da História. Por exigência da criação, a família é monogâmica. «Chamar-se-á mulher» porque em hebraico o homem é ish (masculino) e a mulher ishah (feminino): a raiz da palavra é a mesma, a natureza de ambos é a mesma. O adam (humanidade) passa agora a homem e mulher. Mais tarde, designa-se a mulher por «Eva» = mãe de todos os viventes.

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3. A CRIAÇÃO3. A CRIAÇÃO

«Há aqui um grande significado teológico: como Eva sai do peito aberto de Adão adormecido, assim a Igreja – esposa de Cristo – sai do Seu coração aberto na cruz (Jo 19, 34).

É um versículo de transição para o capítulo seguinte. É símbolo do estado da feliz inocência do primeiro casal humano, querido por Deus, não no sentido da ausência de desordem sexual, mas no sentido de uma mútua confiança e estima.

«Estavam ambos nus, tanto o homem como a mulher, mas não sentiam vergonha» (Gn 2, 25).

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3. A CRIAÇÃO3. A CRIAÇÃO

2. Que tudo o que foi criado é bom, porque saiu das mãos de Deus, que é bom.

Em resumo, qual a MENSAGEM DE FÉMENSAGEM DE FÉ que se pode retirar dos textos da Criação?

1. Que existe um único Deus criador, eterno, omnipotente, bom e Senhor de tudo.

3. Que foi por vontade de Deus, expresso na Sua Palavra, que existem o Céu e a Terra, bem como tudo o que eles contêm; e que a Natureza não é divina, nem está povoada por divindades.

4. Que Deus pôs um cuidado especial na criação do Homem, ponto mais alto da Criação, foi criado à imagem e semelhança de Deus, criado livre e responsável, e destinado a viver em comunhão com Ele nesta e na outra vida.

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3. A CRIAÇÃO3. A CRIAÇÃO

5. Que foi para este Homem – rei e centro do universo - que Deus criou tudo o resto, pois Deus quer que ele viva feliz.

6. Que Deus está na origem dos dois sexos; que o homem e a mulher são iguais em dignidade, são complementares um ao outro; que o homem e a mulher viviam num estado de inocência, livres da revolta dos instintos; que o matrimónio e a família foram instituídos por Deus.

7. Que o homem foi criado por Deus para viver em justiça e santidade, em harmonia consigo, com os outros, com a natureza e com Deus, e cheio dos Seus dons.

8. Que os homens devem manifestar a Deus a sua gratidão, reservando um dia por semana para O glorificar e descansar.

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4. A ORIGEM DO MAL4. A ORIGEM DO MAL

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Na narração da queda do Homem (Gn 3, 1-24), ou da origem do mal, podem distinguir-se as partes seguintes:

O paraíso, lugar da decisão. O diálogo entre Eva e a serpente. O fruto proibido. O interrogatório e a sentença. A expulsão do paraíso.

Quais as partes em que se pode dividir a narração da queda do Homem (Gn 3, 1-24)?

Em que consiste a primeira parte: o paraíso, lugar de decisão?

Foi sendo contada até aqui, com a proibição de comer da árvore do conhecimento do bem e do mal e a posição do Homem face à mesma proibição.

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«1 A serpente era o mais astuto de todos os animais selvagens que o SENHOR Deus fizera; e disse à mulher: «É verdade ter-vos Deus proibido comer o fruto de alguma árvore do jardim?». 2 A mulher respondeu-lhe: «Podemos comer o fruto das árvores do jardim;3 mas, quanto ao fruto da árvore que está no meio do jardim, Deus disse: ‘Nunca o deveis comer, nem sequer tocar nele, pois, se o fizerdes, morrereis.‘ 4 A serpente retorquiu à mulher: ‘Não, não morrereis; 5 porque Deus sabe que, no dia em que o comerdes, abrir-se-ão os vossos olhos e sereis como Deus, ficareis a conhecer o bem e o mal‘.» (Gn 3, 1-5).

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4. A ORIGEM DO MAL4. A ORIGEM DO MAL

Este texto trata-se do diálogo entre Eva e a serpente (Gn 3, 1-5).

A origem do mal do mundo é um dos problemas mais sérios que o homem se coloca a si mesmo. O autor sagrado conclui, por inspiração divina, que o autor do mal não pode ser Deus (como pensavam os Persas e outros). A causa dele deve procurar-se nas criaturas e no mau uso das faculdades com que Deus lhes dotou. Mas Deus não podia ter criado o homem com tanta inclinação para o mal; só uma misteriosa «força do mal» pode ter levado o Homem a desobedecer às determinações que Ele lhes deu.

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4. A ORIGEM DO MAL4. A ORIGEM DO MAL

1. Causa instintivamente repulsa e horror...

SERPENTEDEMÓNIO ou

SATANÁS

Mas porquê uma serpente?

2. Para condenar os cultos dos cananeusPara condenar os cultos dos cananeus em honra das serpentes: era considerada como símbolo da fertilidade e prestavam-lhe culto, com ritos sexuais e prostituição sagrada. Além disso, para advertir os israelitas desses perigospara advertir os israelitas desses perigos, que desviavam a muitos das duras exigências da Lei para um culto fácil.

3. Para dizer que a serpente não era um deusPara dizer que a serpente não era um deus, mas uma criatura, que até ridicularizavam, pois «rastejava e comia pó»; era o «símbolo» do causador dos males da humanidade: se não andassem atrás da serpente, o mundo poderia ser diferente!

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4. A ORIGEM DO MAL4. A ORIGEM DO MAL

O Demónio começa por insinuar que Deus lhes mentiu, por inveja. Em seguida, sugere-lhes que, se desobedecerem a Deus, ficarão iguais a Ele: como Ele, passarão a conhecer todas as coisas. Poderão ser os senhores do seu destino e determinar o que é bem ou o que é mal.

Eva expôs tudo claramente: tal como a árvore colocada no meio do jardim devia ser bem visível, também a proibição que Deus lhes fez para provar a fidelidade deles e o seu amor, devia ser bem clara. Só Deus tem o poder de decretar o que é bem e o que é mal. E o homem tem o dever de obedecer à vontade de Deus, desde que a conheça claramente.

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4. A ORIGEM DO MAL4. A ORIGEM DO MAL

«6 Vendo a mulher que o fruto da árvore devia ser bom para comer, pois era de atraente aspecto e precioso para esclarecer a inteligência, agarrou do fruto, comeu, deu dele também a seu marido, que estava junto dela, e ele também comeu. 7 Então, abriram-se os olhos aos dois e, reconhecendo que estavam nus, coseram folhas de figueira umas às outras e colocaram-nas, como se fossem cinturas, à volta dos rins» (Gn 3, 6-7).

Este trecho bíblico fala do fruto proibido (Gn 3, 6-7).

A fascinação pelo fruto proibido é descrita em linguagem tipicamente hebraica, acentuada três vezes: «bom… atraente… precioso».

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4. A ORIGEM DO MAL4. A ORIGEM DO MAL

Uma maçã? A imagem da maçã não provém do ambiente judaico, mas possivelmente da mitologia grega (o pomo das Hespérides).

Em vez de repelir imediatamente a tentação diabólica, o homem, orgulhosamente, quis apoderar-se da «ciência» e «tornar-se como Deus» (Gn 3, 5), rejeitando o estatuto de criatura e usurpando o lugar de Deus; mas é agora obrigado a reconhecer que perdeu a antiga riqueza e se encontra nu e despojado diante de Deus e diante de si mesmo. Na Bíblia desvelar a nudez de alguém é torná-lo fraco e ridículo, retirar-lhe a sua força. O pecado das origens é de orgulho, presunção e desobediência do homem.

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4. A ORIGEM DO MAL4. A ORIGEM DO MAL

A MULHER É RESPONSÁVEL PELOS MALES DO A MULHER É RESPONSÁVEL PELOS MALES DO MUNDO? MUNDO? Eva foi a primeira a ser tentada e a ceder à tentação. Através dos escritos de Paulo e dos Padres da Igreja, muitas vezes se quis dar à primeira mulher (e a todas) o peso da falta. Em vez de responsabilizar a sua mulher, Adão também tem de responder pelos seus actos. O pecado provocou uma divisão no interior do primeiro casal. Nem Adão nem Eva, podem assumir a responsabilidade dos males do mundo. Compete a cada homem e a cada mulher assumir as responsabilidades de respeitar o outro na sua diferença, e de trabalhar para reconstruir o mundo.

PECADO ORIGINAL E PECADO DAS ORIGENS. PECADO ORIGINAL E PECADO DAS ORIGENS. Pecado original significará a nossa condição pecadora; a condição em que nascemos não tem consigo, em si mesma, a amizade com Deus e a participação na sua vida. Pecado das origens designará o que na Bíblia se chama «pecado de Adão» ou, por outras palavras, o acontecimento original com que se inaugurou a história da nossa raça pecadora.

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«8 Ouviram, então, a voz do SENHOR Deus, que percorria o jardim pela brisa da tarde, e o homem e a sua mulher logo se esconderam do SENHOR Deus, por entre o arvoredo do jardim. 9 Mas o SENHOR Deus chamou o homem e disse-lhe: «Onde estás?» 10 Ele respondeu: «Ouvi a tua voz no jardim e, cheio de medo, escondi-me porque estou nu.» 11 O SENHOR Deus perguntou: «Quem te disse que estás nu? Comeste, porventura, da árvore da qual te proibi comer?» 12 O homem respondeu: «Foi a mulher que trouxeste para junto de mim que me ofereceu da árvore e eu comi.» 13 O SENHOR Deus perguntou à mulher: «Por que fizeste isso?» A mulher respondeu: «A serpente enganou-me e eu comi.» (Gn 3, 8-13).

Este texto bíblico narra o interrogatório (Gn 3, 8-13).

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Esta narração javista apresenta uma imagem de Deus simples e antropomórfica. Deus é apresentado como um amigo do homemamigo do homem que, sem saber ainda de nada, percorre o jardim. Esta «ignorância divina» é, assim, um artifício literário para introduzir o diálogo que se segue.

«Onde estás?».Onde estás?». O mesmo é dizer, em que condição caíste? «Quem te disse que estás nu?», isto é, quem te fez perceber da tua fraqueza? Deus, embora saiba o que aconteceu, procura que o pecador tome consciência daquilo que fez.

Mas os culpados tentam sempre arranjar desculpas para as suas más acções, passando as culpas de uns para os outros: é o «jogo do empurra».

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Este texto narra a sentença: castigo e esperança (Gn 3, 14-19).

«14 Então, o SENHOR Deus disse à serpente: «Por teres feito isto, serás maldita entre todos os animais domésticos entre os animais selvagens. Rastejarás sobre o teu ventre, alimentar-te-ás de terra todos os dias da tua vida. 15 Farei reinar a inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta esmagar-te-á a cabeça e tu tentarás mordê-la no calcanhar.» 16 Depois, disse à mulher: «Aumentarei os sofrimentos da tua gravidez, entre dores darás à luz os filhos. Procurarás apaixonadamente o teu marido, mas ele te dominará.». 17 A seguir, disse ao homem: «Porque atendeste à voz da tua mulher e comeste o fruto da árvore, a respeito da qual Eu te tinha ordenado: ‘Não comas dela‘, maldita seja a terra por tua causa. E dela só arrancarás alimento à custa de penoso trabalho, todos os dias da tua vida. 18 Produzir-te-á espinhos e abrolhos, e comerás a erva dos campos. 19 Comerás o pão com o suor do teu rosto, até que voltes à terra de onde foste tirado; porque tu és pó e ao pó voltarás.» (Gn 3, 14-19)

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Temos a condenação comunicada contra a serpente (Gn 3, 14-15), contra a mulher (Gn 3, 16) e contra o homem (Gn 3, 17-19). Em Gn 3, 15 temos a Promessa de um Salvador, é chamado de Proto-Evangelho.

Este castigo não é mais do que a descrição da serpente, da mulher e do homem como os encontramos hoje. Não esqueçamos que o autor sagrado, na mentalidade e condicionalismos do seu tempo, esforça-se, sob inspiração divina, por dar uma resposta à origem das dores do parto, do sofrimento no trabalho, da morte… Uma resposta aos problemas do mal, em resumo. Este não vem da Deus, mas das criaturas.

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Castigo do Demónio: Só o Demónio tentador foi amaldiçoado por Deus. Tal como os vencidos tinham de se prostrar e «lamber a terra» diante dos seus vencedores, assim Satanás terá de rastejar e de «lamber o pó» diante da «descendência» (=Jesus) da Mulher (= a Virgem Maria).

Promessa de um Salvador. A luta entre as «forças do mal» (= descendência de Satanás) e os homens ( = descendência da mulher) será uma luta constante. Mas, com a ajuda de Deus, os homens acabarão por vencer o Demónio, apesar das suas tentativas para inutilizar a acção salvadora do mesmo Deus. Apesar de tudo, Deus nunca abandona o Homem, apesar de este Lhe ter sido infiel. É o chamado Proto-evangelho.

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Castigo da mulher. Imagem para explicar a origem dos incómodos da gravidez e dos sofrimentos do parto. Apesar disso, a mulher sentir-se-á atraída para o homem, ao qual ficará sujeita.

Castigo do homem. O homem não é amaldiçoado; mas, para seu castigo, será amaldiçoada a terra, da qual só conseguirá tirar alimento, a custa de um trabalho difícil e esgotante. Se não for cultivada, a terra só produzirá espinhos e cardos. Imagem da realidade que o homem sente, todos os dias, para conseguir uma subsistência divina. Após a morte, o nosso corpo se tornará em pó, é consequência do pecado.

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Este texto narra-nos a expulsão do paraíso (Gn 3, 20-24).

«20 Adão pôs à sua mulher o nome de Eva, porque ela seria mãe de todos os viventes. 21 O SENHOR Deus fez a Adão e à sua mulher túnicas de peles e vestiu-os. 22 O SENHOR Deus disse: «Eis que o homem, quanto ao conhecimento do bem e do mal, se tornou como um de nós. Agora é preciso que ele não estenda a mão para se apoderar também do fruto da árvore da Vida e, comendo dele, viva para sempre.» 23 O SENHOR Deus expulsou-o do jardim do Éden, a fim de cultivar a terra, da qual fora tirado. 24 Depois de ter expulsado o homem, colocou, a oriente do jardim do Éden, os querubins com a espada flamejante, para guardar o caminho da árvore da Vida» (Gn 3, 20-24).

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Eva: explicação popular da origem e do significado do nome «Eva» ( = Hawwâh», em hebreu), «Vida».

Apesar de tudo, Deus continuou a velar pelos Deus continuou a velar pelos homens, não o abandonouhomens, não o abandonou, pois vestiu o ser humano, pois só Deus nos pode livrar da «nudez» que o pecado produz em nós.

Perda do dom da imortalidade. «Árvore da vida» é uma imagem para significar o dom da imortalidade. Aqui a descoberta da morte está ligada à descoberta do bem e do mal. O mal é uma espécie de morte. Quando alguém escolhe o mal, vai ao encontro daquilo por que foi criado, está do lado da morte. A morte de que se trata aqui é a morte dos sentimentos, do pensamento, de tudo o que não está com o sentido da vida. Para se opor à morte, é necessário estar do lado da vida, amar o que existe na vida. Os autores bíblicos relembram sem cessar que Deus é a vida, e convidam o homem a escolher as forças da vida e não as da morte.

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Perda do estado de felicidade. Imagem para significar que, pelo pecado, o homem perdeu o estado de felicidade em que Deus o criou, e também a intimidade com o mesmo Deus, de que gozava no Éden.

«Agora é preciso que ele não estenda a mão para se apoderar também do fruto da árvore da Vida e, comendo dele, viva para sempre». O homem, por causa da sua desobediência, não terá acesso ao dom da imortalidade corporal, que Deus lhe teria concedido, caso tivesse permanecido fiel.

Os Keroubim (=«querubim»). São os anjos que guardam a árvore da vida e são representados sob a forma de touros alados com cabeça humana. Na linguagem corrente, os querubins designam anjos com cabeça de criança.

«se tornou um de nós»: trata-se de uma ironia, afinal o Homem quis colocar-se no lugar de Deus, mas saiu ainda a perder.

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4. A ORIGEM DO MAL4. A ORIGEM DO MAL

O autor javista tinha que apresentar várias «ideias abstractas» a um povo simples, pouco instruído, pelo que faz apelo a «imagens concretas, vivas e coloridas».

1. Para que os homens pudessem ser felizes, Deus deu-lhes tudo aquilo de que eles mais necessitavam, e dotou-os ainda de certos dons que não eram devidos à natureza humana: fê-los participar na Sua vida divina, na Sua amizade e na Sua intimidade; concedeu-lhes o equilíbrio interior, pela sujeição dos instintos à razão; isentou-os do sofrimento e da morte, a que todas as criaturas corporais e sensíveis estão sujeitas. Só no estádio escatológico da Humanidade salva por «Deus-feito-Homem» é que atingiremos a verdadeira e completa fruição dos dons com que o mesmo Deus nos quis dotar desde o início.

Em resumo, qual a MENSAGEM DE FÉMENSAGEM DE FÉ que se pode retirar dos textos da Queda do Homem?

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2. Satanás (= o Adversário) é uma realidade espiritual e misteriosa que, desde o início da humanidade, se opõe, por todos os meios, ao triunfo das obras de Deus e à felicidade dos homens, a quem o mesmo Deus tanto ama.

3. O mal e o sofrimento que atingem os homens são devidos ao facto de o primeiro casal humano, por instigação de Satanás, se ter recusado a obedecer às ordens que Deus lhe tinha dado, para pôr à prova o seu amor e a sua fidelidade.

4. Foi por orgulho de se tornarem iguais a Deus, tal como Satanás lhes fez crer, que os nossos primeiros pais desobedeceram ás ordens de Deus.

5. Como resultado desta grave desobediência e do seu incrível orgulho, o primeiro casal humano perdeu, para si mesmo e para os seus descendentes, os dons sobrenaturais e preternaturais com que Deus desejava dotá-los, Se lhe permanecessem fiéis. Assim: perderam a vida divina, bem como a amizade e a inimizade com Deus; ficaram sujeitos do desequilíbrio interior, ao egoísmo, à concupiscência, ao ódio, etc.; ficaram sujeito ao trabalho penoso, ao sofrimento e à morte.

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6. Apesar de ter de castigar um orgulho e uma desobediência tão graves, Deus não deixou de continuar a amar os homens e a interessar-Se pelo bem dos mesmos:

• Ensinou-os a cobrirem com peles a sua nudez.• Prometeu mesmo que a «descendência deles» havia de esmagar o poder

( = a cabeça) de Satanás e obrigá-lo a prostrar-se ( = a rastejar), vencido, diante de Deus.

Esta narrativa pretende oferecer uma resposta ao problema da origem do pecado e da actual situação de decadência. Pretende responder às seguinte questões:

• Como entrou o mal no mundo?• Como é que o homem se tornou capaz de cometer o mal?• Qual foi a acção realizada pelo demónio contra Deus?• Que género de pecado foi cometido no paraíso?

Esta narrativa não pode ser desligada das seguintes, que nos apresentam o mal e o pecado, uma crescente onda negra que vai desfigurando a face da criação. Esta sombra fatídica alonga-se pelo homicídio de Caim e pelos seus descendentes; pelos pecados dos gigantes e da humanidade pré-diluviana; pela torre de Babel…

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5. CAIM MATA O SEU 5. CAIM MATA O SEU IRMÃO ABELIRMÃO ABEL

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5. CAIM MATA O SEU IRMÃO ABEL5. CAIM MATA O SEU IRMÃO ABEL

Há vários motivos para imaginar que esta cena foi imaginada pelo autor, à maneira das parábolas de Jesus, com o fim de nos transmitir ensinamentos morais e religiosos. Alguns deles:

Quem poderia matar Caim, como ele temia (vers. 14), se apenas vivesse ele e seus pais?

Para quem e com a ajuda de quem é que o mesmo Caim começou a edificar uma cidade (vers. 17)? As cidades mais antigas foram edificadas 10000 a 12000 a.C.; já havia homens na Terra entre 60000 e 8000o anos a.C.

Segundo o texto (vers. 2), Caim foi agricultor. Mas a agricultura só apareceu uns 13000 a 15000 antes de Cristo. Depois da revolta contra Deus, temos a revolta contra o Homem.

Que indícios nos indicam que esta narração não pretende ser uma reportagem sobre os alvores da humanidade?

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5. CAIM MATA O SEU IRMÃO ABEL5. CAIM MATA O SEU IRMÃO ABEL

«Adão conheceu Eva, sua mulher. Ela concebeu e deu à luz Caim, e disse: «Gerei um homem com o auxílio do SENHOR.» 2Depois, deu também à luz Abel, irmão de Caim. Abel foi pastor, e Caim, lavrador». (Gn 4, 1-2)

«Conheceu» = teve relações conjugais com Eva.

«CAIM»: o autor «javista» explica a origem popular dos nomes baseando-se na semelhança da sonoridade das palavras ou expressões de que os faz derivar. Assim, chama «Caim» ao primeiro filho que Eva deu à luz, por ela ter exclamado: «Gerei (em hebreu: qanithi), um homem com o auxílio de Deus!». Do hebraico Qayin, significa «ferreiro» ou «artífice de metais», em certas línguas semitas. Por outro lado, «Caim» parece ser o mesmo nome de «Cainan» ou «Qênan», antepassado dos cainitas (cf. Gn 5, 9-14), povos errantes; este estado de «errantes» seria derivado do crime do seu antepassado Caim (cf. Gn 5, 12).

«ABEL»: do hebraico «Hebel» que significa «ar» ou «respiração». Talvez o autor quisesse já significar que ele desapareceria como um «suspiro de ar», sem chegar a ter posteridade, como veio a acontecer.

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5. CAIM MATA O SEU IRMÃO ABEL5. CAIM MATA O SEU IRMÃO ABEL

«3 Ao fim de algum tempo, Caim apresentou ao SENHOR uma oferta de frutos da terra. 4*Por seu lado, Abel ofereceu primogénitos do seu rebanho e as suas gorduras. O SENHOR olhou com agrado para Abel e para a sua oferta, 5mas não olhou com agrado para Caim nem para a sua oferta. Caim ficou muito irritado e andava de rosto abatido». (Gn 4, 3-4)

Supõe já instituída a existência do culto em honra de Deus, e a prática dos sacrifícios: oferta dos primeiros frutos da seara; dos primogénitos dos animais. Desde o início, Deus manifesta a Sua liberdade para escolher quem Ele entenda. Mostra que não está sujeito à lei humana que dava preferência e regalias aos primogénitos.

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5. CAIM MATA O SEU IRMÃO ABEL5. CAIM MATA O SEU IRMÃO ABEL

DEUS REJEITA OS DEUS REJEITA OS CAMPONESES? CAMPONESES? A narrativa manifesta uma preferência pela profissão de pastor (= povos nómadas) em detrimento da de agricultor (= povos sedentários).

Servindo-se destas profissões simbólicas, o autor parece querer atribuir o progresso do mal e da violência ao avanço da civilização tecnológica. Mas é a reacção de Caim que origina o problema: primeiro, a sua irritação, como se tivesse todos os direitos e todos os méritos diante de Deus, e sobretudo, o assassinato do irmão.

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«Caim ficou muito irritado e andava de rosto abatido. 6 O SENHOR disse a Caim: «Porque estás zangado e de rosto abatido? 7 Se procederes bem, certamente voltarás a erguer o rosto; se procederes mal, o pecado deitar-se-á à tua porta e andará a espreitar-te. Cuidado, pois ele tem muita inclinação para ti, mas deves dominá-lo.» (Gn 4, 5b-7)

A atitude de Caim é provocada pela inveja que sente contra o seu irmão, pelo facto de notar que este é o preferido de Deus. Apesar de conhecer o mau íntimo de Caim, Deus avisa-o com bondade. Pela primeira vez se fala de «pecado», que é comparado a um animal perigoso, pronto para atacar a sua vítima. Caim deve resistir à tentação de inveja, de ódio e de vingança, que sente contra seu irmão.

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«8 Entretanto, Caim disse a Abel, seu irmão: «Vamos ao campo.» Porém, logo que chegaram ao campo, Caim lançou-se sobre o irmão e matou-o. 9 O SENHOR disse a Caim: «Onde está o teu irmão Abel?» Caim respondeu: «Não sei dele. Sou, porventura, guarda do meu irmão?». (Gn 4, 8-9).

Caim não quer testemunhas para o crime que tenciona cometer. Esquece-se que não pode esconder-se de Deus. A natureza humana decaída pode levar a cometer os maiores crimes.

Deus sabe tudo, mas quer que o pecador tome consciência do seu pecado. Após o crime, a cobardia em assumir as suas responsabilidades.

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PECADO. PECADO. Pensa-se, por vezes, que cometer um pecado é escolher fazer algo de mal. Esta definição não é correcta. O pecado, na Bíblia, consiste em se afastar de Deus livre e voluntariamente. Em vez de escolher o caminho que Deus indica para ir junto dele, prefere-se seleccionar outro, isto é, escolhemos «afastar-se», «errar», «desviar-se» para longe dele.

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5. CAIM MATA O SEU IRMÃO ABEL5. CAIM MATA O SEU IRMÃO ABEL«10 O SENHOR replicou: «Que fizeste? A voz do sangue do teu

irmão clama da terra até mim. 11 De futuro, serás amaldiçoado pela terra, que, por causa de ti, abriu a boca para beber o sangue do teu irmão. 12 Quando a cultivares, não voltará a dar-te os seus frutos. Serás vagabundo e fugitivo sobre a terra.» 13 Caim disse ao SENHOR: «A minha culpa é excessivamente grande para ser suportada. 14 Expulsas-me hoje desta terra; obrigado a ocultar-me longe da tua face, terei de andar fugitivo e vagabundo pela terra, e o primeiro a encontrar-me matar-me-á.» 15 O SENHOR respondeu: «Não! Se alguém matar Caim, será castigado sete vezes mais.» E o SENHOR marcou-o com um sinal, a fim de nunca ser morto por quem o viesse a encontrar. 16 Caim afastou-se da presença do SENHOR e foi residir na região de Nod, ao oriente do Éden». (Gn 4, 10-16)

A vida humana é um dom de Deus e só Ele pode dispor dela. Por isso, todo o sangue criminosamente derramado reclama um castigo proporcionado.

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5. CAIM MATA O SEU IRMÃO ABEL5. CAIM MATA O SEU IRMÃO ABEL

Depois de revelar a Caim a gravidade do seu crime, Deus anuncia-lhe o castigo que ele vai ter de suportar por causa do mesmo: a terra não produzirá para ele; terá de levar uma vida de fugitivo errante, características dos povos Cainitas, descendentes do criminoso Caim.

Caim não quer aceitar o castigo: o criminoso não parece arrependido. Só acha que o castigo é exagerado, e teme que também o matem.

Uma lei de Israel ordenava que o vingador de sangue matasse o assassino, logo que o encontrasse (cf. Num 35, 19). Isto supõe a terra já povoada.

Embora tenha de castigar o pecado, Deus não abandona o pecador, mas procura salvá-lo. Talvez referência a uma espécie de tatuagem, distintivo da tribo a que pertencia, a qual seria terrível na vingança do sangue.

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«Caim afastou-se da presença do Senhor»: Imagem para significar a perda da amizade e da intimidade com Deus. Por medo e por vergonha, Caim foi residir numa terra onde não fosse conhecido.

CAIM É CASTIGADO, MAS CONTINUA A SER CAIM É CASTIGADO, MAS CONTINUA A SER PROTEGIDO. PROTEGIDO. O pecado de Adão e Eva era uma desobediência directa à ordem dada por Deus, relativamente à árvore do bem e do mal. O pecado de Caim aparece como a primeira falta cometida contra um ser humano. No momento em que a narrativa é escrita, a humanidade conta vários milénios, e a violência já está tristemente inscrita no coração da sua história. A «maldição» de Caim é a denúncia suprema de toda a forma de violência assassina dirigida contra os seus semelhantes. Mas Deus não comete o erro de responder à violência com violência. Apesar da sua falta, Caim continua a ser um ser humano a quem Deus entende proteger.

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5. CAIM MATA O SEU IRMÃO ABEL5. CAIM MATA O SEU IRMÃO ABEL

Qual a relação que se pode efectuar entre Abel e Jesus Cristo?

O sacrifício de Abel é considerado como uma figura do Antigo Testamento do sacrifício de Cristo na Cruz:Relações por

semelhançaAbel Cristo

Pastor «O Bom Pastor»

Oferecimento das primícias

«O primogénito de toda a criação»

Cordeiro imolado «Cordeiro de Deus»

O inocente que é morto por ódio de Caim

Crucificado embora inocente

Relação por contraste

O sangue de Abel clamou ao céu por vingança

O sangue de Cristo clamou ao céu para nos alcançar a graça e a reconciliação.

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1. Desde o princípio, a natureza humana está profundamente inclinada para o mal, e é capaz de cometer os maiores crimes (v. 8).

2. A inclinação para o mal é uma realidade que nos acompanha para toda a parte ou que está sempre junto e nós, tentando-nos a fazer a nossa vontade e a desobedecer à vontade de Deus. Todo o cuidado é pouco para não sucumbirmos às más tendências e para conseguirmos dominá-las (ver. 7).

Em resumo, qual a MENSAGEM DE FÉMENSAGEM DE FÉ que se pode retirar da «História dos dois irmãos»?

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5. CAIM MATA O SEU IRMÃO ABEL5. CAIM MATA O SEU IRMÃO ABEL

3. O pecado e os males dele resultantes não provêm de Deus, mas apenas o mau uso que o homem faz da sua liberdade, quando transgride, consciente e voluntariamente, as ordens que Deus lhe deu para o tornar feliz (ver. 7).

4. Apesar de ter de condenar todo o pecado e toda a desordem moral voluntária, Deus continua a proteger o pecador para o libertar e para o salvar do pecado (ver. 15). O sinal de protecção divina (v. 15) afasta o desespero e o rumo fatal do pecado; prenuncia a graça futura.

5. A vida humana é um precioso dom de Deus, e só Ele pode dispor dela. Por isso, todo o assassínio culpável deve ser rigorosamente castigado.

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6. Ninguém consegue esconder de Deus os seus pecados ou os seus crimes. Depois de nos ter dado as Suas ordens para nos indicar o caminho da felicidade, é ainda Ele Quem, através da nossa consciência, nos faz reconhecer o mal que fizemos e os maus resultados que dele tirámos.

7. O pecado grave faz-nos perder a participação na «Vida divina» e também a amizade e a intimidade com Deus. O pecado, o egoísmo, introduz a rivalidade e a competição. Em vez de acolher, o homem fere e mata o seu semelhante.

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6. OS DESCENDENTES 6. OS DESCENDENTES DE ADÃO ATÉ NOÉDE ADÃO ATÉ NOÉ

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6. OS DESCENDENTES DE ADÃO ATÉ NOÉ6. OS DESCENDENTES DE ADÃO ATÉ NOÉ

Quais os textos bíblicos que são considerados neste ponto?

São: A descendência de Caim: Gn 4, 17-24 (J). A descendência de Set: Gn 4, 25-26 (J). Livro da descendência de Adão (patriarcas anteriores ao

dilúvio): Gn 5, 1-32 (P).

As duas tradições (javista e sacerdotal) dão-nos listas genealógicas. Tal como os outros povos semitas, também os Hebreus davam grande importância às genealogias dos antepassados e dos descendentes das grandes figuras do seu clã, da sua tribo ou da sua história. As duas listas não coincidem totalmente, nem quantos aos nomes, nem quanto à ordem da descendência.

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6. OS DESCENDENTES DE ADÃO ATÉ NOÉ6. OS DESCENDENTES DE ADÃO ATÉ NOÉ

Descendência de Caim – 17 Caim conheceu a sua mulher. Ela concebeu e deu à luz Henoc. E começou, depois, a edificar uma cidade, à qual deu o nome de seu filho Henoc. 18 De Henoc, nasceu Irad, que gerou Meujael; Meujael gerou Metusael; Metusael gerou Lamec. 19 Lamec teve duas mulheres: uma chamava-se Ada, e o nome da outra era Cila. 20 Ada deu à luz Jabal, que foi o pai de quantos habitavam em tendas e conduziam rebanhos. 21 O nome do seu irmão era Jubal, que foi pai de quantos tocam cítara e flauta. 22 Por seu lado, Cila deu à luz Tubal-Caim, pai daqueles que fabricavam todos os instrumentos de cobre e ferro. A irmã de Tubal-Caim era Naamá. 23 Lamec disse às suas mulheres: «Ada e Cila, escutai a minha voz; mulheres de Lamec, ouvi a minha palavra: Matei um homem porque me feriu, e um rapaz porque me pisou. 24 Se Caim foi vingado sete vezes, Lamec sê-lo-á setenta vezes sete.» (Gn

4, 17-24). Qual o significado desta descendência de Caim?

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6. OS DESCENDENTES DE ADÃO ATÉ NOÉ6. OS DESCENDENTES DE ADÃO ATÉ NOÉ

Pressupondo já uma civilização urbana, a Bíblia atribui a um homicida a fundação da primeira cidade, e à sua descendência a civilização própria do tempo em que o hagiógrafo escrevia: civilização do cobre e do ferro, da espada e dos instrumentos musicais. Assim, sem rigor histórico, o texto descreve o aparecimento das diversas profissões: o homem da cidade (v. 17), os pastores (v. 20), os artistas (v. 21) e o homem artesão (v. 22). Os Israelitas, como nómadas e pastores, viam com maus olhos a civilização sedentária e urbana dos Cananeus. Habitualmente, o progresso material, especialmente atribuído aos descendentes de Caim (ver. 17 e 22), diminui a religiosidade dos homens e é, quase sempre acompanhado de uma maior perversão moral (vers. 23-24).

Este texto pertence à tradição javista.

Como descendentes de Caim, é comum a todos eles a marca da auto-suficiência e da violência, que geram uma sociedade que dá guarida à hostilidade. No v. 19 faz-se a primeira referência à poligamia, também consequência do pecado. O teor do canto selvagem em honra de Lamec (v. 24) mostra o tom crescente das vinganças tribais, que será travado pela lei do Talião (Ex 21, 23-25); além disso mata-se até por uma pequena ofensa («matei um rapaz porque me pisou»).

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6. OS DESCENDENTES DE ADÃO ATÉ NOÉ6. OS DESCENDENTES DE ADÃO ATÉ NOÉ

Set e os seus descendentes - «25 Adão conheceu de novo a sua mulher, que teve um filho, e deu-lhe o nome de Set, dizendo: «Porque Deus concedeu-me outro no lugar de Abel, morto por Caim.» 26 Set também teve um filho, ao qual chamou Enós. Foi então que se começou a invocar o nome do SENHOR». (Gn 4, 25-26)

Também pertence à tradição javista.

Também aqui o nome de Set tem uma origem popular por semelhança sónica com o verbo hebreu posto na boca de Eva, quando exclamou: «Deus concedeu-me». A palavra «concedeu» é a tradução do verbo hebreu «Shât». Daí, o nome set, em hebreu «Shét».

«Enós» é o termo poético para designar o «homem» ou o «ser humano». Com Enós, surge o homem religioso (v. 26), que procura reunir novamente aquilo que o egoísmo divide; começa-se a prestar culto ao «Senhor Deus». Em Mt 18, 21-22, a proposta de Jesus representa a antítese da violência.

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Qual a finalidade da genealogia de Gn 5, 1-32?

«Trata-se do «Livro da descendência de Adão», pertencente à tradição sacerdotal. Muitos destes nomes foram transmitidos oralmente por muito tempo; por isso, há discrepâncias nas idades e nomes entre os vários documentos. Mas isto não é importante, pois o que pretende realçar é a continuidade na História da Salvação: o Povo de Deus teve origem no chamamento de Deus a Abraão; mas, através de Noé e de Set, tem a sua origem mais remota no próprio Deus.

«…Com cento e trinta anos, Adão gerou um filho à sua imagem e semelhança, e pôs-lhe o nome de Set. Após o nascimento de Set, Adão viveu oitocentos anos, e gerou filhos e filhas. Ao todo, a vida de Adão foi de novecentos e trinta anos. Depois morreu» (Gn 5, 3)

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ADÃOADÃOSETSET

NOÉNOÉ

ABRAÃOABRAÃO

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O autor sacerdotal divide a história em duas partes: antes do Dilúvio (de Adão a Noé) e depois do Dilúvio (de Noé a Abraão); tanto antes como depois do Dilúvio temos 10 patriarcas (gerações); esses dez arcos, ora antes, ora depois, fazem a ponte de ligação entre Adão e Abraão. Podemos imaginar a pré-história bíblica como uma ponte gigantesca, que vai de Adão a Abraão e da qual foram destruídos quase todos os arcos, exceptuando alguns pilares.

As idades de cada patriarca são muito mais exageradas antes do Dilúvio do que após o mesmo: isto serve para ilustrar que o mal progrediu no mundo; quanto maior a idade, maior a importância da pessoa, conforme a mentalidade semita. Contudo, não se pode comparar às idades astronomicamente exageradas que algumas culturas atribuíam a algumas personagens, por exemplo aos reis na Suméria: alguns chegaram a durar 72000 anos! À sua beira, mesmo Matusalém, que o autor bíblico diz ter vivido 969 anos, pareceria ainda um jovem!...

Os primeiros homens

Caim e Abel

Dilúvio (Noé)

Torre de Babel

Abraão

10 PATRIARCAS10 PATRIARCAS 10 PATRIARCAS10 PATRIARCAS

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O sétimo patriarca da lista (Henoc) tem um significado especial, pois «andou na presença do Senhor»; Henoc é «santo e perfeito» (=7), por isso Deus o levou; como amigo de Deus, ele «não morreu». Durou 365 anos, correspondente a um ano solar inteiro. Não sabemos o sentido exacto do desaparecimento de Henoc. A Bíblia refere o caso de Elias, que foi arrebatado ao céu (2Rs 14, 8). Na literatura pagã também se fala de casos análogos. Muitos passos da escritura referem-se a Henoc (cf. Heb 11, 5; Ecli 44, 16…). Há um livro não canónico chamado «Livro de Henoc». Assim surgiu a tradição que Henoc e Elias viriam nos tempos messiânicos; mas Jesus declarou que Elias era João Baptista.

«Henoc andou na presença de Deus, e desapareceu, pois Deus levou-o»

«Ao todo a vida de Matusalém foi de novecentos e sessenta e nove anos; depois morreu» (Gn 5, 27).

É de todos, aquele a quem se atribui a idade mais avançada.

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6. OS DESCENDENTES DE ADÃO ATÉ NOÉ6. OS DESCENDENTES DE ADÃO ATÉ NOÉ

Nº da lista Patriarca Duração da sua vida

1 Adão 930

2 Set 912

3 Enós 905

4 Cainan 910

5 Mahalalel 895

6 Jered 902

7 Henoc 365

8 Matusalém 969

9 Lamec 777

10 Noé 950 (500 + 450)

São estes os dez patriarcas pré-diluvianos referidos no texto:

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7. OS «FILHOS DE DEUS» E 7. OS «FILHOS DE DEUS» E AS «FILHAS DOS HOMENS»AS «FILHAS DOS HOMENS»

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7. OS «FILHOS DE DEUS» E AS «FILHAS DOS HOMENS»7. OS «FILHOS DE DEUS» E AS «FILHAS DOS HOMENS»

«1 Aconteceu que os homens começaram a multiplicar-se sobre a Terra, e deles nasceram filhas. 2 Os filhos de Deus, vendo que as filhas dos homens eram belas, escolheram entre elas as que bem quiseram, para mulheres. 3 Então, o SENHOR disse: «O meu espírito não permanecerá indefinidamente no homem, pois o homem é carne, e os seus dias não ultrapassarão os cento e vinte anos.» 4 Naquele tempo, havia gigantes na Terra - e também depois - quando os filhos de Deus se uniram às filhas dos homens e delas tiveram filhos. Eram esses os famosos heróis dos tempos remotos». (Gn 6, 1-4).

É de difícil interpretação, até porque foi inserido de outro documento javista. Não tem relação directa com o capítulo anterior. Parece que foi incluído para indicar a causa remota do Dilúvio: o alastramento da maldade dos homens até ao tempo de Noé. É o prólogo do dilúvio.

Que significado tem esta passagem enigmática?

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7. OS «FILHOS DE DEUS» E AS «FILHAS DOS HOMENS»7. OS «FILHOS DE DEUS» E AS «FILHAS DOS HOMENS»

Contudo, os «filhos de Deus» ou os «filhos dos deuses», parece que se refere aos descendentes de Set, considerados mais fiéis ao verdadeiro culto de Deus. As «filhas dos homens» representavam as mulheres descendentes de Caim, considerados imorais. Parece que o autor pretende mostrar a grande gravidade dos descendentes de Set se terem misturado com a descendência de Caim, com mulheres dos povos pagãos.

O hagiógrafo pinta com cores cada vez mais sombrias o avanço da onda negra do crime sobre a humanidade. Adão revoltou-se contra Deus; o Homem revoltou-se contra o Homem, em Caim-Abel; agora as próprias forças celestes saem da sua esfera e vêm misturar-se com os mortais. É a desordem cósmica. Só será lavada com um castigo cósmico: o Dilúvio.

Quanto aos gigantes, deriva de uma lenda. Em épocas recuadas, os habitantes de algumas regiões do Médio-Oriente ficavam admirados perante a grandiosidade de alguns monumentos; concluíram que só poderiam ter sido feitos por gigantes, que nasceram das relações entre deuses e as filhas dos homens. Esta lenda corria ainda no séc. X a.C., nos tempos de Salomão. Parece que se atribuiu aos gigantes o aumento dos pecados, pois eles inventaram a magia, a adivinhação e a adoração dos falsos deuses (segundo o «Livro dos Gigantes» embora livro que não faz parte da Bíblia).

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8. A CORRUPÇÃO DA 8. A CORRUPÇÃO DA HUMANIDADE E O DILÚVIOHUMANIDADE E O DILÚVIO

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CapítuloCapítulo JJ PP

O dilúvioO dilúvio

6 1-8 9-22

7 1-5; 7;10; 12; 16b; 17b; 22-23

6; 8-9; 11; 13-16a; 17a; 18-21; 24

8 2b-3a; 6-12; 13b; 20-22 1-2a; 3b-5; 13a; 14-19

9 1-17

8. A CORRUPÇÃO DA HUMANIDADE 8. A CORRUPÇÃO DA HUMANIDADE

E O DILÚVIOE O DILÚVIO Quais as tradições na narração do Dilúvio?

O redactor entrelaçou entre si as tradições javista e sacerdotal, o que dá ao texto uma grande complexidade; contudo, deixou algumas contradições no texto; embora não desconhecesse essas contradições, conservou-as, uma vez que o respeito venerando pela antiguidade de ambos os textos, o impediu de tomar partido por um dos textos.

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ALGUMAS CONTRADIÇÕES: O número dos animais. A duração do dilúvio. As aves soltas da arca no fim do dilúvio. O autor sagrado tinha consciência dessas contradições; mas para ele o que importava era a finalidade teológica dos mesmos textos.

8. A CORRUPÇÃO DA HUMANIDADE 8. A CORRUPÇÃO DA HUMANIDADE

E O DILÚVIOE O DILÚVIO Alguns exemplos de contradições no texto.

Alguns exemplos de exageros literários no texto.

Os exageros, as hipérboles, são próprios da cultura semita, que servem para realçar a importância de certo acontecimento. Por exemplo: Noé deveria meter na arca sete pares de todos os animais puros e aves do céu; as águas cobriram todos os altos montes; foram exterminados todos os seres vivos e todos os homens… S. Jerónimo, do séc. V dizia: «É costume dos autores bíblicos designarem o conjunto da região de que falam, utilizando a expressão «toda a terra».

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8. A CORRUPÇÃO DA HUMANIDADE 8. A CORRUPÇÃO DA HUMANIDADE E O DILÚVIOE O DILÚVIO

Além desta narração da Bíblia, já existiam outras narrações de dilúvios em outras culturas, especialmente na Babilónia; por exemplo, a lenda de Gilgamesh, que poderia ter origem nalguma inundação famosa dos rios Tigre e Eufrates, na Mesopotâmia.

Com o facto que mencionámos, que a expressão «toda a terra» significa apenas a terra de que se fala, podemos concluir que o Dilúvio deve ter sido uma grande catástrofe que ficou na memória dos povos mas que atingiu apenas uma determinada região (provavelmente a planície da Mesopotâmia, entre os rios Tigre e o Eufrates), cuja extensão se desconhece, e só terá matado os animais e homens que viviam nessa mesma região.

Então, o Dilúvio aconteceu mesmo?

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8. A CORRUPÇÃO DA HUMANIDADE 8. A CORRUPÇÃO DA HUMANIDADE

E O DILÚVIOE O DILÚVIO«6 O SENHOR arrependeu-se de ter criado o homem sobre a

Terra, e o seu coração sofreu amargamente. 7 E o SENHOR disse: «Eliminarei da face da Terra o homem que Eu criei, e, juntamente com o homem, os animais domésticos, os répteis e as aves dos céus, pois estou arrependido de os ter feito.» 8 Noé, porém, era agradável aos olhos do SENHOR». (Gn 6, 1-8)

O autor javista, como é seu hábito, continua a falar de Deus como se falasse do Homem. Isto para tornar mais compreensível a gravidade da situação a que tinha chegado a Humanidade pecadora, quanto o pecado ofende a Deus e quanto Lhe custa ter de castigar. A ambição humana atinge o limite e consideram-se como deuses.

Assiste-se a uma anti-criação: ao contrário do refrão em Gn 1 «Deus viu que era bom» sucede-se o contrário: «Deus viu que a maldade do homem se multiplicava sobre a terra». A ambição do homem destruiu a harmonia da criação.

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8. A CORRUPÇÃO DA HUMANIDADE 8. A CORRUPÇÃO DA HUMANIDADE E O DILÚVIOE O DILÚVIO

ENTÃO DEUS CASTIGA? Para os hebreus, neste período da Revelação – todo o mal físico (doença, pobreza, catástrofes) aparecia como um castigo. Contra tal interpretação se levanta o Livro de Job. Um homem esmagado pela dor que protesta estar inocente. Cristo ensinará que tais males nem sempre são um castigo (Jo 9, 3-5; Lc 13, 1-5). Entram, contudo, nos planos salvíficos de Deus.

Após este trecho, o mesmo é repetido a seguir, com outras palavras pela tradição sacerdotal.

Os primeiros 4 versículos deste capítulo, como vimos, parecem dar a entender que a causa remota deste aumento da maldade dos homens estaria no facto de os descendentes de Set (= os filhos de Deus) terem casado com mulheres descendentes de Caim (as «filhas dos homens).

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8. A CORRUPÇÃO DA HUMANIDADE 8. A CORRUPÇÃO DA HUMANIDADE

E O DILÚVIOE O DILÚVIO Como era a arca que Deus mandou Noé

construir?

O autor sacerdotal, bem relacionado com o culto e com o Templo, não deixou de comparar essa arca com o próprio Templo de Jerusalém, pelo menos na altura, que também era de 13,5 metros (= 30 côvados: cf. 1Rs 6, 2). O templo de Jerusalém também tinha três andares: cf. 1Rs 6, 8.

Em Gn 6, 14-17 descreve-se essa arca. Seria de tamanho gigantesco, com 150x25x15 metros, um transatlântico, inconcebível para as possibilidades daquele tempo. Trata-se de uma narração hiperbólica.

Estes detalhes mostram que não se tratava de um simples barco, mas a obra do próprio Deus.

Os Santos Padres vêem nela uma figura da Igreja na tempestade do mundo.

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8. A CORRUPÇÃO DA HUMANIDADE 8. A CORRUPÇÃO DA HUMANIDADE

E O DILÚVIOE O DILÚVIO Afinal, quantos animais devem entrar na

arca? Segundo a tradição sacerdotal (Gn 6, 18-22), Deus ordena a Noé que leve apenas um par de animais de cada espécie.

Na tradição javista (Gn 7, 1-5), Deus ordena que leve sete pares de animais puros e um par de animais impuros.

Entre os costumes hebraicos sancionados pela religião havia a distinção entre animais «puros» e «impuros» (Lev 11, 1ss). Estes últimos não podiam ser comidos nem oferecidos em sacrifício. Contudo, em Gn 8,20, Noé ofereceu holocaustos ao Senhor; assim, sete pares de animais puros seriam suficientes para ter matéria para esse sacrifício.

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8. A CORRUPÇÃO DA HUMANIDADE 8. A CORRUPÇÃO DA HUMANIDADE

E O DILÚVIOE O DILÚVIO Quanto durou o Dilúvio?

Segundo a tradição javista durou 40 dias e 40 noites (Gn 7, 4). Este número simbólico aparece muitas vezes na Bíblia. O dilúvio dura quarenta dias, tal como a espera de Moisés no monte Sinai ou o jejum de Jesus no deserto. O povo de Israel passa quarenta anos no deserto. Este número representa o tempo da provação que conduz a um novo encontro com Deus.

Segundo a tradição sacerdotal (Gn 7, 23) durou 150 dias.

TEMPO DE PROVAÇÃOTEMPO DE PROVAÇÃO

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8. A CORRUPÇÃO DA HUMANIDADE 8. A CORRUPÇÃO DA HUMANIDADE

E O DILÚVIOE O DILÚVIO Onde pousou a arca no final do Dilúvio?

Segundo Gn 8, 4, sobre os «montes de Ararat», actual Turquia.

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8. A CORRUPÇÃO DA HUMANIDADE 8. A CORRUPÇÃO DA HUMANIDADE

E O DILÚVIOE O DILÚVIO «8 Depois, soltou a pomba, a fim de verificar

se as águas tinham diminuído à superfície da terra» (Gn 8, 8). Qual o significado da pomba que Noé soltou?

A POMBA. A POMBA. Este pássaro, que transporte no bico um ramo de oliveira, marca o fim do dilúvio e da cólera divina. Depois, a pomba e a oliveira tornaram-se símbolos da paz. Uma e outra figuram em numerosos emblemas como, por exemplo, o da ONU, onde um ramo de oliveira envolve o mapa do mundo.

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E O DILÚVIOE O DILÚVIOA arca em terra – «13 a No ano seiscentos e um, no

primeiro dia do primeiro mês, as águas começaram a secar sobre a terra». (Gn 8, 13)

Esta data teria sido escolhida pelo autor sacerdotal para fazer coincidir o começo da «secagem da terra» com o início de um novo ano, o ano 601 da vida de Noé e com a respectiva festividade do Ano Novo.

20*Noé construiu um altar ao SENHOR e, de todos os animais puros e de todas as aves puras, ofereceu holocaustos no altar» (Gn 8, 20)

HOLOCAUSTO. HOLOCAUSTO. Em hebraico, a palavra holocausto provém de um verbo que significa «elevar-se». Durante um sacrifício denominado «holocausto», o animal era completamente queimado e o fumo «elevava-se» para o céu onde habitava a divindade. Não se guarda nada do animal e oferecemo-lo plenamente a Deus como sinal de reconhecimento e louvor. Esta palavra foi recuperada para nomear o genocídio dos judeus organizado pelos nazis: um contrasenso horrível e escândalo que desvirtua totalmente o sacrifício bíblico.

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8. A CORRUPÇÃO DA HUMANIDADE 8. A CORRUPÇÃO DA HUMANIDADE

E O DILÚVIOE O DILÚVIO«9 Bênção renovada – 1 Deus abençoou Noé e os seus filhos, e

disse-lhes: «Sede fecundos, multiplicai-vos e enchei a terra. 2 Sereis temidos e respeitados por todos os animais da terra, por todas as aves do céu, por tudo quanto rasteja sobre a terra e por todos os peixes do mar; ponho-os à vossa disposição. 3 Tudo o que se move e tem vida servir-vos-á de alimento; dou-vos tudo isso como já vos tinha dado as plantas verdes. 4 Porém, não comereis a carne com a sua vida, o sangue. 5 Ficar também a saber que pedirei contas do vosso sangue a todos os animais, por causa das vossas almas; e ao homem, igualmente, pedirei contas da alma do homem, seu irmão…» (Gn 9, 1-5)

Após uma bênção da tradição javista, segue-se esta bênção da tradição sacerdotal; trata-se de uma re-criação.

«VÓS NÃO COMEREIS…». «VÓS NÃO COMEREIS…». É a primeira interdição alimentar que aparece na Bíblia. Assim como muitos povos antigos, também os israelitas seguiam regras alimentares muito precisas. Os Antigos pensavam que o princípio vital dos seres, a alma, residia no sangue. Por isso, não o podiam comer.

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8. A CORRUPÇÃO DA HUMANIDADE 8. A CORRUPÇÃO DA HUMANIDADE E O DILÚVIOE O DILÚVIO

O autor sacerdotal que escreveu este relato é talvez o mesmo que escreveu o 1º capítulo do Génesis. Não admira, pois, que fale da bênção que Deus a Noé e a seus filhos, quase com as mesmas palavras que utilizou para descrever a bênção que o mesmo Deus deu a Adão e Eva, depois de os ter criado (cf. Gn 1, 28). Esta bênção aparece repetida, mais abaixo, no versículo 7.

O mesmo autor realça que continua a proibição de beber o sangue dos animais ou de comer carne com sangue, tal como estava determinado no Livro do Levítico, 17, 14.

Por causa das nossas almas, como diz o autor, ninguém pode dispor da vida humana, a não ser o próprio Deus, que pedirá rigorosas contas a quem matar outro homem.

Porque o homem é «imagem de Deus», o assassínio é tão grave, que deve ser castigado também com a morte de quem tiver matado. Deste modo, o autor confirma a lei que vinha dos tempos antigos e que diz: «Um assassino deve ser punido com a morte. É o vingador de sangue que matará o assassino, logo que o encontre» (cf. Nm 35, 18-19).

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E O DILÚVIOE O DILÚVIO«8 A seguir, Deus disse a Noé e a seus filhos: 9 «Vou estabelecer a

minha aliança convosco, com a vossa descendência futura 10 e com os demais seres vivos que vos rodeiam: as aves, os animais domésticos, todos os animais selvagens que estão convosco, todos aqueles que saíram da arca. 11 Estabeleço convosco esta aliança: não mais criatura alguma será exterminada pelas águas do dilúvio e não haverá jamais outro dilúvio para destruir a Terra.» 12 E Deus acrescentou: «Este é o sinal da aliança que faço convosco, com todos os seres vivos que vos rodeiam e com as demais gerações futuras: 13 coloquei o meu arco nas nuvens, para que seja o sinal da aliança entre mim e a Terra. 14 Quando cobrir a Terra de nuvens e aparecer o arco nas nuvens, 15 recordar-me-ei da aliança que firmei convosco e com todos os seres vivos da Terra, e as águas do dilúvio não voltarão mais a destruir todas as criaturas. 16 Estando o arco nas nuvens, Eu, ao vê-lo, recordar-me-ei da aliança perpétua concluída entre Deus e todos os seres vivos de toda a espécie que há na Terra.» 17 Dirigindo-se a Noé, Deus disse: «Esse é o sinal da aliança que estabeleci entre mim e todas as criaturas existentes na Terra.»

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ALIANÇA. ALIANÇA. O início da narrativa apresentava o dilúvio como um castigo divino pela maldade dos homens. Mas a conclusão muda a perspectiva e fala agora de re-criação. E, mediante o grupo dos justos salvos, a Criação retoma o seu fôlego inicial, com alguns focos de luta e cuidados especiais relativamente à vida do homem que é imagem de Deus. Deus promete que nunca mais provocará uma tal catástrofe. É uma boa nova, completada com uma aliança extraordinária. As numerosas divindades mais antigas do que a Bíblia eram normalmente conhecidas como intransigentes e inacessíveis. O Deus da Bíblia faz-se próximo não só de Noé e dos seus, mas do conjunto da humanidade e da criação, que ele chama de novo á fé e à felicidade. Com a Aliança, Deus garante a vida a todos os seres.

Estabelece uma Aliança cósmica, entre Ele e o homem, com Noé e com a sua descendência. A Aliança, coluna vertebral do Judeo-cristianismo, é um contrato ou pacto que Deus faz com o Homem. Fá-lo com Noé, sobre as leis da natureza; fá-lo com Abraão sobre a descendência e a promessa; fá-lo com Moisés, constituindo um novo povo; fá-lo com a Humanidade em Cristo.

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O ARCO-ÍRIS. O ARCO-ÍRIS. Na Bíblia, muitas vezes, os elementos naturais são utilizados para ilustrar manifestações de Deus. Os antigos facilmente viam nestes fenómenos naturais manifestações da bondade divina. Também a gente do povo, ao ouvir os trovões dizem que o é «Deus a ralhar». O arco-íris é um fenómeno espectacular, pela sua curva imensa que torna a forma da abóbada celeste, e pelo seu extraordinário feixe de cores. A Bíblia faz dele o símbolo da aliança entre Deus e a humanidade.

É o arco-da-velha (aliança) que não será abolida na promessa-aliança com Abraão (Gn 17), nem na aliança com Moisés, explicitada na lei (Ex 19, 5; 24,7-8). Durante muitos séculos, o «Arco-Íris» foi chamado de «arco da Aliança» ou «Arco da Velha» (Aliança), por ter sido escolhido como sinal da «Antiga Aliança» que Deus fez com toda a Humanidade.

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8. A CORRUPÇÃO DA HUMANIDADE 8. A CORRUPÇÃO DA HUMANIDADE E O DILÚVIOE O DILÚVIO

• Deus é um só, nada pode acontecer sem a Sua autorização e tem domínio perfeito sobre as forças da natureza.

Em resumo, qual a MENSAGEM DE FÉMENSAGEM DE FÉ que se pode retirar da narração do Dilúvio?

• Deus não suporta a iniquidade. Mas a Sua misericórdia está sempre presente, mesmo quando castiga. Ao destruir um mundo envelhecido pelo Dilúvio, suscita um resto, um gérmen de salvação: Noé, «o arauto das justiça» (2 Ped 2,5; Sab 10,4; 14,6) e sua família.

• O Dilúvio, lavando o mundo dos seus crimes e fazendo nascer da água um mundo novo, é figura do Baptismo que nos salva (1 Ped 3, 21).

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8. A CORRUPÇÃO DA HUMANIDADE 8. A CORRUPÇÃO DA HUMANIDADE E O DILÚVIOE O DILÚVIO

• Deus abençoou a nova Humanidade e confiou aos homens o domínio sobre a Terra e sobre todos os animais; Deus exige um respeito absoluto pela vida humana, aceitando a pena de morte para castigo dos assassinos; Deus recorda que a dignidade de todo o homem lhe vem do facto de ser «imagem de Deus».

• Como prova da continuidade do Seu amor pelos homens, Deus faz uma Aliança com a nova Humanidade, comprometendo-Se a não permitir que haja qualquer outro dilúvio de iguais proporções. O «Arco-íris» será o sinal público e universal que fará recordar esta Aliança de Deus com a nova Humanidade.

• APESAR DE O HOMEM SER INFIEL A DEUS, DEUS NUNCA ABANDONA O HOMEM!

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9. OS DESCENDENTES 9. OS DESCENDENTES DE NOÉDE NOÉ

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9. OS DESCENDENTES DE NOÉ9. OS DESCENDENTES DE NOÉ«18 Os filhos de Noé, que saíram da arca, eram: Sem, Cam e Jafet. Cam era o pai de Canaã. 19 São estes os três filhos de Noé, e por eles foi povoada a Terra inteira. 20 Noé, que era agricultor, foi o primeiro a plantar a vinha. 21 Tendo bebido vinho, embriagou-se e despiu-se dentro da sua tenda. 22 Cam, o pai de Canaã, ao ver a nudez do pai, saiu a contar o sucedido aos seus dois irmãos. 23 Então Sem e Jafet agarraram uma capa, colocaram-na sobre os ombros e, andando de costas, cobriram a nudez do pai, sem a terem visto, porque não voltaram o rosto para trás. 24 Quando despertou da sua embriaguez, Noé soube o que tinha feito o seu filho mais novo 25 e disse: «Maldito seja Canaã! Que ele seja o último dos servos dos seus irmãos.» 26 E acrescentou: «Bendito seja o SENHOR, Deus de Sem, e que Canaã seja seu servo. 27 Que Deus aumente as posses de Jafet e que Ele resida nas tendas de Sem, e que Canaã seja o seu servo.»

28 Noé viveu trezentos e cinquenta anos, depois do dilúvio. 29 Ao todo, a vida de Noé foi de novecentos e cinquenta anos; depois morreu» (Gn 9, 18-29).

Qual a finalidade de Gn 9, 18-29finalidade de Gn 9, 18-29?

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9. OS DESCENDENTES DE NOÉ9. OS DESCENDENTES DE NOÉ

1.1. A ORIGEM DA VINHAA ORIGEM DA VINHA. Os antigos atribuíam a origem da vinha aos deuses (por exemplo, para os Romanos era atribuída a Baco). A Bíblia desmitiza tal lenda e atribui-a a Noé. Ao mesmo tempo, alerta contra os abusos do vinho, uma vez que Noé, desconhecia o vinho e os seus efeitos, tendo-se embriagado, embora involuntariamente.

Os versículos 18 a 29 do capítulo 9º do Génesis estabelecem a transição entre os «filhos de Noé» e a «origem das nações espalhadas sobre a Terra» de que falará o capítulo 10º.

A narração pretende justificar dois factos:

2. A HOSTILIDADE ENTRE ISRAEL E OS CANANEUS2. A HOSTILIDADE ENTRE ISRAEL E OS CANANEUS. Aproveita para explicar a hostilidade reinante entre o povo bíblico e os cananeus, descendentes de Cam, que viviam na Palestina. Cam procedeu mal, uma vez que já sabemos que na Bíblia desvelar a nudez de alguém é torná-lo fraco e ridículo, retirar-lhe a força. Assim, Noé pronuncia uma «maldição» contra Cam e seu filho Canaã. Por outro lado, o filho Sem é abençoado porque dele se formará o povo de Israel.

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9. OS DESCENDENTES DE NOÉ9. OS DESCENDENTES DE NOÉ O que pretende a «tábua das naçõestábua das nações»

(Gn 10, 1-32)?

O autor pretende manifestar a fraternidade universal fraternidade universal dos povosdos povos e os efeitos da bênção de Deus a Adãoefeitos da bênção de Deus a Adão (Gn 1, 28) e a Noée a Noé (Gn 9, 1.7).

É formado por textos do autor javista e do autor sacerdotal, que foram reunidos pelo redactor final, no século 5º a.C. O facto de ser a junção de duas tradições e de uma pequena achega do redactor final, explica algumas repetições e algumas divergências de pormenor.

Por um lado, é uma uma maneira de dizer que foram plenamente eficazes as bênçãos dadas por Deus a Noé e a seus filhos, após o Dilúvio.

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9. OS DESCENDENTES DE NOÉ9. OS DESCENDENTES DE NOÉ

Concretamente, o mundo dividia-se em três grandes regiõestrês grandes regiões, segundo os filhos de Noé: os descendentes de Jafet povoam a Ásia Menor; os descendentes de Cam ficam no Egipto, Arábia e Canaã; os descendentes de Sem chamam-se sírios, lídios e arameus; neste último grupo integram-se os antepassados dos hebreus.

Por outro lado, os autores pretendem, através de uma «árvore genealógica de povos e nações», dizer que os povos, tribos e cidades - conhecidos por Israel na época do Rei Salomão - eram descendentes de uma fonte comum, os três filhos de Noé: Sem, Cam e Jafet. Demonstra-se a unidade da raça humana, a partir de Noé e a origem de todos os povos, a partir dos três filhos de Noé.

Mostra também que o povo de Israel, que nascerá de Abraão, é um povo eminentemente histórico, inserido no meio das nações e não um povo mítico, provindo do mundo dos deuses.

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9. OS DESCENDENTES DE NOÉ9. OS DESCENDENTES DE NOÉ

Os Judeus pertencem à raça dos Hebreus, descendentes de Heber (ou Éber), que, por sua vez, é descendente de Sem, filho de Noé.

Em resultado da sua multiplicação, as famílias foram obrigadas a separarem-se, dando origem a novos povos, que começaram a habitar noutras terras e falar outras línguas (vers. 5, 20 e 31).

A continuação destas genealogias até Abrão – o escolhido por Deus para dar origem ao Povo israelita – encontra-se em Gn 11, 10-32.

NOÉNOÉ

SEMSEM

CAMCAM

JAFETJAFET

ARFAXADARFAXAD CHELÁCHELÁ ÉBERÉBER

HEBREUSHEBREUS

JUDEUSJUDEUS

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DISTRIBUIÇÃO DOS POVOS NA GEOGRAFIA (Gn 10, 1ss)DISTRIBUIÇÃO DOS POVOS NA GEOGRAFIA (Gn 10, 1ss)

9. OS DESCENDENTES DE NOÉ9. OS DESCENDENTES DE NOÉ

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10. A TORRE DE BABEL10. A TORRE DE BABEL

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9. A TORRE DE BABEL9. A TORRE DE BABEL«1 Em toda a Terra, havia somente uma língua, e empregavam-se as mesmas palavras. 2 Emigrando do oriente, os homens encontraram uma planície na terra de Chinear e nela se fixaram». (Gn 11, 1-2)

Significa apenas uma região ou país, onde se falava a mesma língua, talvez o país dos Caldeus. A expressão «em toda a terra», é uma afirmação exagerada, pois tanto nos textos bíblicos como nos textos profanos de outros povos, se refere, quase sempre, apenas a uma determinada região ou a um só país. Também a expressão «havia uma só língua e empregavam-se as mesmas palavras» deve referir-se, como a anterior, a uma determinada região ou país. Anteriormente, em Gn 10, 4-5, lê-se que dos filhos de Javân «nasceram os povos que se dispersara, pelos diversos países, cada um segundo a sua língua, segundo os seus clãs familiares e de acordo com as suas nações».

Do «oriente»: da região da Caldeia ou da Mesopotâmia; região da Babilónia entre o Tigre e o Eufrates.

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9. A TORRE DE BABEL9. A TORRE DE BABEL«3 Disseram uns para os outros: «Façamos tijolos, e cozamo-los ao fogo.» Utilizaram o tijolo em vez da pedra, e o betume serviu-lhes de argamassa». (Gn 11, 3)

Como não havia pedra na Mesopotâmia, as casas eram feitas com tijolos feitos de barro, endurecidos pelo calor e, depois, assentes com betume.

CONSTRUIR ESTA TORRE É ASSIM TÃO MAU? CONSTRUIR ESTA TORRE É ASSIM TÃO MAU? Os autores da narrativa, saídos de uma civilização campestre, viam com maus olhos a aparição da civilização urbana na Babilónia. Para eles este projecto de construção não é razoável! Para sublinhar a sua reprovação, utilizam nas frases «Façamos tijolosFaçamos tijolos… façamos uma cidade» o mesmo verbo que é atribuído a Deus no início do Génesis, e «Façamos o ser humano à nossa imagem». O homem não tem de se julgar Deus ousando fazer tais obras. É mais um acto de orgulho desmedido que pretende congregar os humanos e desafiar o próprio Deus. É a eterna tentação do poder político-religioso que visa o domínio universal e a auto-suficiência.

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9. A TORRE DE BABEL9. A TORRE DE BABEL«4 Depois disseram: «Vamos construir uma cidade e uma torre, cujo cimo atinja os céus. Assim, havemos de tornar-nos famosos para evitar que nos dispersemos por toda a superfície da Terra.» (Gn 11, 4)

Trata-se de outra afirmação exagerada: «cujo cimo atinja os céus», isto é, que se veja de muito longe. Em algumas inscrições encontram-se referências importantes: por exemplo, por volta do ano 2450 a.C, o soberano Gudéa gloria-se de ter «elevado até ao céu» o templo de E-Ninnu, edificado por ele em Lagash. Hoje também chamamos aos prédios muito altos de «arranha-céus». «famosos»: construir uma cidade era sempre motivo de

grande glória para o seu construtor.

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9. A TORRE DE BABEL9. A TORRE DE BABEL «para evitar que nos dispersemos»: Há o sentido de abandonar

a vida nómada para se fixarem nas cidades ou nas vizinhanças das mesmas. Ora as cidades eram vistas, para os judeus, como o berço do mal.

TRAÇOS DE BABEL? TRAÇOS DE BABEL? A descrição da torre parece corresponder aos zigurateszigurates, santuários urbanos da antiga Mesopotâmia. Eram construídos em andares sobrepostos, com uma base quadrada; eram semelhantes a pirâmides truncadas, que se elevavam em forma de andares ou degraus cada vez mais estreitos; uma escada exterior permitia o acesso directo da base ao último andar. Cada terraço era dedicado a cada um dos sete planetas do zodíaco e revestidos no exterior com tijolos esmaltados em várias cores. Calcula-se que seriam necessários cerca de 85 milhões de tijolos para erguer um zigurate.

Os maiores zigurates chegavam a medir 90 metros de base por 90 metros de altura. Por exemplo o de E-Temenna-Ki tinha uma base de 8100m2.

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9. A TORRE DE BABEL9. A TORRE DE BABEL Supõe-se que no cimo se encontrava um templo. No topo encontrava-se

o «santuário» propriamente dito, em cujo altar se ofereciam sacrifícios ao deus principal. Acreditavam também que os deuses, algumas vezes, desciam à terra e aí residiam, para tratarem assuntos relacionados com os homens.

Podem encontrar-se vestígios de zigurates no Iraque (como em Ur) e no Irão, mas não resta quase nada do zigurate de Babel. A torre de Babel foi provavelmente construída em tijolos de argila. O edifício não tinha divisórias: era inteiramente cheio de tijolos. No centro encontravam-se tijolos crus, e à volta, tijolos cozidos. Traves de madeira e esteiras de palha permitiam consolidar o edifício.

Esse zigurate, da cidade da Babilónia, foi possivelmente o mais importante e que, nos séculos seguintes, teve uma grande influência nos hebreus, que transmitiram geração após geração, contos e lendas populares relacionadas com a «Torre de Babel» ou da Babilónia.

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9. A TORRE DE BABEL9. A TORRE DE BABELPerigos dessas lendas para a fé dos israelitas: ao ouvirem contar essas lendas, os Israelitas podiam sentir-se tentados a acreditarem nos deuses falsos em cuja honra se tinham erigido tão imponentes construções; também podiam acreditar que os deuses vinham morar no topo deles, quando queriam entrar em relação com os homens.

O Ziguratte representava, assim, aos olhos dos israelitas piedosos, devotos de Javé, o símbolo da idolatriaidolatria.

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9. A TORRE DE BABEL9. A TORRE DE BABEL«5 O SENHOR, porém, desceu, a fim de ver a cidade e a torre que os homens estavam a edificar». (Gn 11, 5)

O autor ridiculariza a grandeza da cidade e a altura da torre, pois foi necessário Deus «descer» para poder vê-las!... Ele que vê tudo, mesmo os nosso pensamentos.

«6 E o SENHOR disse: «Eles constituem apenas um povo e falam uma única língua. Se principiaram desta maneira, coisa nenhuma os impedirá, de futuro, de realizarem todos os seus projectos». (Gn 11, 6)

Trata-se, pois, de um povo do oriente médio (Mesopotâmia), que tinha a mesma língua. Note-se a semelhança com Gn 3, 22-23, quando se descreveu a interdição de Adão e Eva terem acesso à «árvore da vida», após a sua desobediência a Deus.

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9. A TORRE DE BABEL9. A TORRE DE BABEL«7 Vamos, pois, descer e confundir de tal modo a linguagem deles que não consigam compreender-se uns aos outros.» (Gn 11, 7)

A origem das diversas línguas foi motivada pela multiplicação dos homens e pela necessidade de se dispersarem em procura de novas terras e de novas pastagens para os rebanhos.

O autor não menospreza a riqueza das diversas línguas; utiliza apenas a triste experiência da dificuldade ou do mal em comunicar. Neste caso aparece como um mal, pois coloca na sua base um pecado: Babel (ou Babilónia) é uma cidade organizada sem Deus. É o culminar do primeiro pecado: «sereis como deuses» (3,5).

Mas Deus desmancha-lhes a ambição (cf. 3, 22), sem esmagar ninguém.

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9. A TORRE DE BABEL9. A TORRE DE BABEL«8 E o SENHOR dispersou-os dali por toda a superfície da Terra, e suspenderam a construção da cidade». (Gn 11, 8)

O autor javista atribui directamente a Deus um fenómeno que teve apenas causas naturais.

«9 Por isso, lhe foi dado o nome de Babel, visto ter sido lá que o SENHOR confundiu a linguagem de todos os habitantes da Terra, e foi também dali que o SENHOR os dispersou por toda a Terra». (Gn 11, 9)

«Babel» refere-se a Babilónia, mas o significado popular da palavra é «confusão» (ou «baralhar»). Partindo deste significado, um conto popular que corria entre os Israelitas ridicularizava a grande «Babilónia» que, em vez de ser «a Porta do Céu», como orgulhosamente se apelidava, não passava de cidade de «confusão», cujos habitantes foram obrigados a dispersar-se.

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9. A TORRE DE BABEL9. A TORRE DE BABEL Babel é a cidade dos zigurates, da

idolatria, do comércio e do poder, procurada por muitos comerciantes vindos de vários países, é uma confusão de línguas; aí as pessoas dividem-se, falando muitas línguas; na Igreja, nova Jerusalém, cidade santa de Deus, os povos, vindos dos quatros pontos do mundo, entendem-se, apesar de falarem muitas línguas: no Pentecostes o Espírito reúne as pessoas que falam línguas diferentes (Act 2, 4).

Encarada como resultante da bênção de Noé (9, 1 e 10, 32), a dispersão dos povos é focada, aqui, a outra luz. São aspectos complementares da História do mundo, que conjuga o poder de Deus e a maldade dos homens.

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9. A TORRE DE BABEL9. A TORRE DE BABEL Em resumo, o que é que o episódio da Torre

de Babel pretende demonstrar?

O autor javista procura mostrar aos Israelitas:

Que toda a grandeza da cidade da Babilónia e da sua altíssima «torre-santuário» era fruto do seu incomensurável orgulho.

Que perante o Deus omnipotente, infinito e omnipresente dos Israelitas, toda essa imensa cidade com a sua enorme torre eram tão insignificantes, que, Deus, para as poder ver como que teve de «descer» à terra.

Que, para castigar tanto orgulho dos homens, Deus permitiu que eles se desentendessem e que fossem obrigados a dispersarem-se em direcção ao Norte e ao Ocidente. O autor pretende demonstrar que o orgulho ou a revolta dos homens contra Deus só lhes pode trazer males, desilusões, desentendimentos e sofrimentos.

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9. A TORRE DE BABEL9. A TORRE DE BABEL Que, destas migrações dos povos hebreus, descendentes de Heber,

havia de surgir Abraão, que deu origem ao povo Israelita.

Que a tendência da humanidade para se preocupar apenas com o progresso material, sem ter em conta ou mesmo desprezando os deveres para com Deus e para com o próximo, é condenável.

O autor javista serve-se de um antigo relato (ou relatos) para expor a razão teológica da divisão da humanidade. A princípio, este relato era uma simples explicação etiológica da origem das diferentes línguas (ou da cidade de Babel), mas serve agora como ponto culminante da pré-história da humanidade e introduz a história dos patriarcas.

Que, o primeiro pecado levou o Homem a afastar-se de Deus.; e como consequência do pecado, toda a sociedade afasta-se agora de Deus e os homens uns dos outros. É o episódio final duma série de imagens exemplares da origem que pretendem ilustrar uma verificação: o mal alastra no mundo.

Page 134: V. – O Génesis –  História das origens

9. A TORRE DE BABEL9. A TORRE DE BABEL

Numa palavra: procura ilustrar o ORGULHO HUMANO e o JUÍZO DIVINO.

Origem da diversidade das línguas. Os dez primeiros capítulos do Génesis explicam a origem do mundo, do homem e da mulher, dos animais e das planta, do mal, das dores do parto, do vinho, das duas partes do tempo, da agricultura e da vida pastoril, etc. Aqui procura explicar-se a origem das várias línguas.

Page 135: V. – O Génesis –  História das origens

11. GENEALOGIA OU 11. GENEALOGIA OU ASCENDÊNCIA DE ABRAÃOASCENDÊNCIA DE ABRAÃO

Page 136: V. – O Génesis –  História das origens

11. GENEALOGIA OU 11. GENEALOGIA OU ASCENDÊNCIA DE ABRAÃOASCENDÊNCIA DE ABRAÃO Quais são os patriarcas pré-diluvianos (Gn 11, 10-

32)?

Nº da lista Patriarca Duração da sua vida

1 Sem 600

2 Arfaxad 438

3 Chela 433

4 Éber 464

5 Péleg (ou Faleg) 239

6 Reú 239

7 Serug (ou Sarug) 230

8 Naor (ou Nacor) 148

9 Terá 205

10 Abraão 175

Nota: a partir de Peleg (v. 18), as idades começam a diminuir rapidamente, consequência do pecado do homem.

A partir daqui, o interesse do historiador vai-se concentrar no pequeno grupo humano donde nascerá Abraão. Do mesmo modo que dez gerações conduziram a história desde as origens ao dilúvio (Gn 5), assim também são dez as gerações que a conduzem desde Noé até Abraão (11, 10-26).

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11. GENEALOGIA OU ASCENDÊNCIA 11. GENEALOGIA OU ASCENDÊNCIA DE ABRAÃODE ABRAÃO

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11. GENEALOGIA OU 11. GENEALOGIA OU ASCENDÊNCIA DE ABRAÃOASCENDÊNCIA DE ABRAÃO

«25 Depois do nascimento de Tera, Naor viveu ainda cento e dezanove anos e gerou filhos e filhas. 26 Tera, de setenta anos, gerou Abrão, Naor e Haran. 27 Esta é a descendência de Tera: Tera gerou Abrão, Naor e Haran. 28 Haran gerou Lot. E Haran morreu, vivendo ainda Tera, seu pai, na terra da sua naturalidade, em Ur, na Caldeia. 29 Abrão e Naor casaram-se. O nome da mulher de Abrão era Sarai, e a de Naor era Milca, filha de Haran, pai de Milca e de Jiscá. 30 Sarai era estéril, não tinha filhos. 31 Tera tomou seu filho Abrão, seu neto Lot, filho de Haran, e sua nora Sarai, mulher de Abrão, seu filho, e partiu com eles de Ur, na Caldeia, e dirigiram-se para a terra de Canaã. Chegados a Haran, aí se fixaram. 32 Tera viveu duzentos e cinco anos, e morreu em Haran». (Gn 11, 25-32)

v. 26: só a partir de Gn 17, 5 é que Abrão passa a ser Abraão.

v. 27: O autor sacerdotal detalha mais a descendência dos Semitas, para referir os parentes de Abraão, antepassado-iniciador do Povo escolhido por Deus.

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11. GENEALOGIA OU 11. GENEALOGIA OU ASCENDÊNCIA DE ABRAÃOASCENDÊNCIA DE ABRAÃO

v. 29: a partir de Gn 17, 15, o nome de Sarai passará a ser Sara.

v. 30: Sarai é apresentada como estéril, para mostrar que a descendência de Abrão virá a ser o resultado de uma intervenção especial de Deus.

v. 28: «Haran gerou Lot. E Haran morreu, vivendo ainda Tera, seu pai, na terra da sua naturalidade, em Ur, na Caldeia». Lot, sobrinho de Abrão, tornou-se o antepassado dos Moabitas e dos Amonitas, a nascente do Mar Morto. Ur, na Caldeia, povoação da Baixa mesopotâmia. A família de Abrão emigrou de lá para Haran, cidade principal da alta Mesopotâmia. Daí Abraão e a sua casa vieram para a terra dos Cananeus, actual Terra Santa. Entretanto desceu ao Egipto, regressando de novo a Canaã. Foi por essa época que se deu nele e na sua tribo uma grande transformação religiosa: deixaram de adorar os «elohim» (deuses) e passaram a adorar o Deus supremo (El-Chadai).

v. 31: primeira emigração da família de Abrão em direcção a Canaã (Palestina). Talvez esta migração esteja integrada naquela que é referida em Gn 10, 5. Ou também na dispersão dos povos a partir da Babilónia, após o caso da «Torre de Babel». Textos antigos fazem referência a numerosas migrações de tribos nómadas (como a de Térah e de seu filho Abrão), entre Ur e Harân (perto da actual fronteira entre Turquia e Síria), no decorrer de períodos perturbados por volta dos anos 2500 a 2000 a.C.

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Esta genealogia, provavelmente do mesmo autor «sacerdotal» da lista do capítulo 5, é a continuação da genealogia terminada em 10, 23-24, a qual já incluía os primeiros cinco nomes desta nova lista.

Pelo menos uma parte desses nomes não designa pessoas mas povos que deram origem a outros povos, a partir das migrações da Mesopotâmia em direcção ao Norte e ao Ocidente. Além disso, as idades indicadas não devem ser interpretadas como se fossem reais. Mesmo assim, esta genealogia sacerdotal, na continuidade de Gn 5, pretende dar uma ideia do modo como Abrão (mais tarde Abraão), chamado por Deus para dar origem ao Seu «Povo escolhido», provinha em linha directa de Noé, através de seu filho Sem, e também de Adão, através de Sem, filho deste. Abraão é o herdeiro das bênçãos e promessas de DeusAbraão é o herdeiro das bênçãos e promessas de Deus.

11. GENEALOGIA OU 11. GENEALOGIA OU ASCENDÊNCIA DE ABRAÃOASCENDÊNCIA DE ABRAÃO Qual a finalidade da genealogia de Gn 11,

10-32?

No Novo Testamento, os evangelistas preocupam-se em unir Adão a Cristo mediante uma linha biológica e cronológica bem precisa.

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12. EM JEITO DE 12. EM JEITO DE CONCLUSÃO…CONCLUSÃO…

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12. EM JEITO DE CONCLUSÃO…12. EM JEITO DE CONCLUSÃO…

Constituem um género literário especial; não pretendem ser um manual de história (pelo menos no sentido actual do termo), nem um manual de história natural das origens do mundo e do homem (daí «pré-história bíblica»); nem uma reportagem de factos; pretendem, isso sim, através de reflexões teológicas, inspiradas pelo Espírito Santo, apresentar uma mensagem de fé, um ensinamento religioso.

Os onze primeiros capítulos do Génesis são o chamado ciclo das origens: é uma extensa ponte entre as origens da Humanidade e as origens do Povo de Israel; entre Abraão, antepassado do Povo de Israel e Deus.

Pretende dar resposta às grandes questões da humanidade: De onde viemos? Para onde vamos? Por que é que existe o mal? Por que é que o trabalho é duro? Por que é que o Homem é o ser mais perfeito da criação, etc.

Então, qual o significado de Gn 1-11?Então, qual o significado de Gn 1-11?

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O único Deus é o autor de tudo quanto existe (1,1), e a Sua actividade criadora não tem oposição (1, 2). A Sua omnipotência reflexa-se na total eficácia da Sua Palavra, que consegue o seu efeito com absoluta correspondência do objecto criado à vontade criadora (1,3ss).

12. EM JEITO DE CONCLUSÃO…12. EM JEITO DE CONCLUSÃO…

Em resumo, quais os ENSINAMENTOS ENSINAMENTOS RELIGIOSOSRELIGIOSOS que se podem retirar de Gn 1-11?

SOBRE DEUSSOBRE DEUS:: Deus é eterno, transcendente, único e verdadeiro. Deus é o Criador do Universo e os seres da criação são

Suas criaturas. Deus está cheio de Poder e Majestade. Deus está cheio de bondade, tudo o que Ele criou é bom.

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12. EM JEITO DE CONCLUSÃO…12. EM JEITO DE CONCLUSÃO… O homem supera a todos os demais seres criados em virtude

das suas especiais relações com Deus (1,26-30). Por decreto divino, a mulher é a companheira apropriada do homem, compartilha a sua dignidade (1,27; 2,18-23) e está unida a ele pelo vínculo indissolúvel do matrimónio (2,24).

O estado original do homem era de inocência (2,25) e amizade com Deus (2,8s). Instigado a alcançar um estado por cima da sua natureza criada, o homem pecou (3, 1-6). Os efeitos deste primeiro pecado converteram-se na sorte comum de todos os seus descendentes. Esses efeitos incluíam perca da amizade divina (3,23-24), falta de estima mútua (3,7), males físicos de acordo com a natureza do homem (3,23.24), falta de estima mútua (3,7), males físicos de acordo com a natureza do homem (3,17-19) e da mulher (3,16) e uma luta constante contra o poder do mal (3, 15a). Mas a promessa de uma vitória final na luta (3,15b) é óbvia, tratando-se do Deus cuja vontade salvífica havia sido manifestada tão claramente com respeito a Israel. A promessa é a primeira mensagem do anúncio da vitória final.

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12. EM JEITO DE CONCLUSÃO…12. EM JEITO DE CONCLUSÃO… Esta luta contínua teve como resultado imediato uma

contínua derrota para o homem (caps 4-11). Tendo-se rebelado contra Deus, o homem rebela-se também contra o próximo. O assassinato (4,1-8), a vingança (4,24), a poligamia (4, 19) e a concupiscência da carne (6,5) marcaram a história do homem e da civilização (4,17-22). A justiça divina ofendida manifestou-se nas catástrofes naturais que recaíram sobre o homem (6,6-7.11-13); por outro lado, a Sua misericórdia e vontade de salvar manifestaram-se na salvação do justo (6,8-9). Mas a aliança de Deus com o justo, simbolizada na natureza (9,8-17), foi seguida pela contínua perversidade moral do homem (9,20-27), a qual teve como resultado que a sociedade humana se afastou de Deus e os homens afastaram-se entre si (11,1-9).

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12. EM JEITO DE CONCLUSÃO…12. EM JEITO DE CONCLUSÃO… SOBRE O HOMEMSOBRE O HOMEM:

Deus criou o homem à imagem e semelhança d’Ele. O homem é rei da criação, guarda da criação. O homem é responsável por si mesmo, pela sua

responsabilidade e actos. O homem está aberto aos outros. O homem é elevado por Deus a um estado de santidade e

de justiça. O homem, não obstante esta dignidade, continua frágil. O homem, instigado por Satanás, deixa-se levar pela

soberba e desobedece a Deus, pecando contra Ele e contra o projecto que Deus lhe havia traçado.

O homem com o pecado original, originou os restantes pecados.

Deus quer que o homem e a mulher formem uma comunidade de vida, pelo Matrimónio.

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12. EM JEITO DE CONCLUSÃO…12. EM JEITO DE CONCLUSÃO…

SOBRE A SALVAÇÃOSOBRE A SALVAÇÃO:: Apesar de tudo, de o Homem Lhe ser infiel, Deus não

abandona nunca o Homem, fazendo com Ele várias Alianças ao longo da História, sendo a definitiva com Jesus Cristo.

Mas Deus não abandonou o Homem; podemos ver gestos de misericórdia de Deus: Deus fez roupa para Adão e Eva (Gn 3, 21); protege Caim (Gn 4, 15: «O Senhor marcou-o com sinal, a fim de nunca ser morto por quem o viesse a encontrar»); preserva Noé do Dilúvio, causado pelo mal do homem (Gn 6, 9-9; 17); protege a terra (Gn 8, 21: «De futuro não amaldiçoarei mais a terra por causa do homem»; salva Noé, que deve trazer uma bênção tirada da terra (Gn 5, 29); chama a Abraão para com ele atingir todos os outros (Gn 12, 1-3). Começa a «História da Salvação».

Com a vinda de Cristo, o projecto de Deus tomou forma e o paraíso concretizou-se de facto na sua ressurreição. O Redentor já tinha sido prometido em Gn 3, 15. S. Paulo considera Jesus como um «novo Adão» (cf. Rom 5, 12-19) e S. João, no Apocalipse, descreve o futuro que nos aguarda com imagens tiradas do paraíso terrestre (cf. Apoc 21, 4; 22, 2-3).

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12. EM JEITO DE CONCLUSÃO…12. EM JEITO DE CONCLUSÃO…

Deus é o CriadorDeus é o CriadorA criação é boa; o A criação é boa; o

Homem é «imagem e Homem é «imagem e semelhança» de Deussemelhança» de Deus

Primeira Queda do Primeira Queda do Homem: pecado Homem: pecado

contra Deuscontra Deus

Caim mata Abel: Caim mata Abel: primeiro pecado primeiro pecado contra o Homemcontra o Homem

O pecado alastra…O pecado alastra… O Dilúvio causado pelo O Dilúvio causado pelo pecado do Homem: mas pecado do Homem: mas

Deus re-cria.Deus re-cria.

Deus salva Noé; 1ª Deus salva Noé; 1ª Aliança com o HomemAliança com o Homem

O Homem continua O Homem continua orgulhoso: a Torre de orgulhoso: a Torre de

BabelBabel

Deus chama Abraão: Deus chama Abraão: início do Povo de Deusinício do Povo de Deus

Com a ressurreição de Com a ressurreição de Cristo concretiza-se a Vida Cristo concretiza-se a Vida

EternaEternaA Nova Jerusalém: o A Nova Jerusalém: o Paraíso está para vir!Paraíso está para vir!

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13. BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA13. BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA