v11n1a02

  • Upload
    thais

  • View
    17

  • Download
    0

Embed Size (px)

DESCRIPTION

artigo

Citation preview

  • Psicologia Hospitalar, 2013, 11 (1), 2-24

    2

    A ATUAO DO PSICLOGO NO TRATAMENTO DE PACIENTES TERMINAIS E

    SEUS FAMILIARES

    Glaucia Regina Domingues, Karina de Oliveira Alves, Paulo Henrique Silva do

    Carmo, Simone da Silva Galvo, Solmar dos Santos Teixeira1, Eduardo Ferreira

    Baldoino2

    RESUMO

    A proximidade com a morte pode trazer angstias e minar a capacidade de uma pessoa suportar um diagnstico irreversvel. Este artigo bibliogrfico tem como objetivo compreender como o psiclogo pode ajudar o paciente terminal e seus familiares a elaborar os sentimentos decorrentes dessa situao limite. Este estudo, resultado de leituras e reflexes acerca da atuao do psiclogo no tratamento de pacientes terminais, pautou-se pela seguinte problemtica: Qual a importncia de um profissional de psicologia em situaes de luto iminente? Ao trmino desta investigao percebeu-se que ele importante, pois atua 1. Na escuta profissional da famlia e do paciente terminal; 2. Na decifrao de respostas do paciente aos familiares; 3. Na educao de expectativas; etc. Constata-se que a tarefa do psiclogo a de acolhimento e humanizao e que o mtodo utilizado a escuta e a fala que conduz o paciente e a famlia a novas percepes e sensaes. Palavras-chave: Cuidados paliativos, Pacientes terminais, Psiclogo hospitalar, Tanatologia.

    THE ROLE OF THE PSYCHOLOGIST IN THE TREATMENT OF TERMINAL PATIENTS AND THEIR

    FAMILIES

    ABSTRACT Proximity to death can cause distress and undermine ones ability to bear the pressure of tolerating an irreversible diagnosis. The present work aims to shine light upon the way in which psychologists can help terminal patients and their families to cope with the feelings generated by such a delicate situation. This study, the mature fruit of readings and reflections on the role of the psychologist in the treatment of terminal patients, was oriented by the following question: What is the relevance of a psychology professional in situations of imminent grief? By the end of the research, the conclusion is arrived at that the psychologist is important because he or she: 1. engages in professional analysis of the terminal patient and the patients family; 2. interprets the patients communication to the family; 3. Communicates parameters for expectations; etc. It is understood that the chief task of the psychologist is to comfort the patients and their families and provide a humanizing element, by listening and speaking, in order to provide new insights and guide sentiments. Keywords: Palliative care, Terminal patients, Hospital psychologist, Thanatology.

    1 Acadmicos do 6 semestre de Psicologia do perodo noturno da Universidade de Cuiab, campus Rondonpolis/Arnaldo Estevo. 2 Docente da UNIC-RONDONPOLIS-MT (Grupo Kroton Educacional).

  • Psicologia Hospitalar, 2013, 11 (1), 2-24

    3

    INTRODUO

    Este artigo de reviso bibliogrfica resultado de leitura e reflexes sobre a

    atuao do psiclogo no tratamento de pacientes terminais e seus familiares. Para

    uma melhor compreenso a respeito do tema, mostrou-se necessria a retomada de

    alguns conceitos bsicos, bem como a possibilidade de levantamento de algumas

    questes consideradas relevantes, como: que procedimentos realizar quando j no

    h mais o que fazer? Como garantir dignidade humana ao paciente terminal numa

    sociedade onde h grande valorizao da vida e da cura em detrimento da morte?

    Sociedade onde o profissional de sade, na maioria das vezes, formado para curar

    doenas e salvar vidas. Se no h lugar para a morte, que lugar, ento, ocupa

    aquele cuja expectativa de vida j no to longa? Em face da problemtica

    evidenciada acima, ressalta-se que a diretriz que norteou a presente investigao

    consistiu nas seguintes questes de pesquisa: Qual a importncia de um profissional

    de psicologia em situaes de luto iminente? Como ajudar o paciente e seus

    familiares aps o diagnstico de doena terminal?

    Nessa perspectiva, o interesse pelo tema surgiu da necessidade de

    compreender de que maneira o psiclogo pode atuar em situaes de doenas

    terminais, aliviando o sofrimento, tanto do paciente, quanto dos seus familiares,

    principalmente porque a morte sempre foi vista como algo abominvel, assustador e

    inaceitvel.

    natural que surjam conflitos tanto na dificuldade de aceitao daquele

    estado terminal, bem como no tratamento de feridas emocionais no curadas,

    frustraes, arrependimentos, preocupaes com projetos em andamento, dentre

    muitas outras razes que envolvam a vida, a doena e a morte, mesmo que o

    paciente seja uma pessoa emocionalmente forte.

  • Psicologia Hospitalar, 2013, 11 (1), 2-24

    4

    Diante do supracitado, a presente pesquisa se justifica, pois aliviar o

    sofrimento humano a preocupao primeira dos profissionais da psicologia,

    portanto, a busca por informaes a respeito deste tema torna-se cada vez mais

    necessria, j que, infelizmente, muitos pacientes e seus familiares ainda perecem

    sem a ajuda de um profissional que possa auxili-los neste momento crucial de suas

    vidas. Provavelmente, porque pouco ainda se sabe sobre o papel do psiclogo em

    situaes de enfermidades terminais, embora vrios pesquisadores tenham se

    debruado sobre o tema, trazendo contribuies valiosas, muitas das quais serviram

    de subsdio para a elaborao do presente artigo, dentre eles cita-se: Bifulco (2006);

    Figueiredo (2006); Hennezel (2004); Kbler-Ross (1985); Melo Filho (2010); dentre

    outros, que contriburam significativamente para a elaborao deste estudo.

    Conceito de paciente terminal

    Pode ser considerado como paciente terminal aquela pessoa cujo estado de

    sade est to prejudicado que no h mais nenhum tratamento para a recuperao

    de seu bem-estar.

    A doena no respondeu a nenhum tratamento convencional. A morte torna-

    se ento inevitvel, pois o quadro de sade irreversvel (Gutierrez, 2001). O que

    resta a este paciente so cuidados que melhoram sua qualidade de vida enquanto

    se aproxima da morte, isto , restam-lhe apenas os cuidados paliativos que podero

    ser oferecidos pela equipe multidisciplinar e no mais os cuidados curativos.

    O sofrimento do paciente terminal, bem como o das pessoas que o cercam,

    abrange os aspectos biopsicossociais. Este paciente necessita e capaz de

    compreender que sua vida ainda no acabou na ocasio da notcia, ele ainda ter

    planos a realizar.

  • Psicologia Hospitalar, 2013, 11 (1), 2-24

    5

    Tanatologia e cuidados paliativos

    Ao tratar-se de pacientes terminais, faz-se necessrio destacar a relevncia

    da Tanatologia e dos Cuidados Paliativos.

    Tanatologia uma palavra de origem grega, onde Thnatos o deus da

    morte e logia o logos, ou seja, estudo, cincia deste modo, conceituada como o

    estudo da morte. Portanto, Tanatologia uma rea de conhecimento que envolve

    cuidados a pessoas que vivem processos de morte pela perda de pessoas

    significativas, processos de adoecimentos, em decorrncia de comportamentos

    autodestrutivos, suicdios ou por causas externas, pela violncia presente

    principalmente nos grandes centros urbanos (Kovcs, 2008).

    O estudo da morte como parte do processo de existir conduz ao fato de que,

    nesta existncia, o indivduo pode ser acometido por uma doena grave, crnica e

    fatal. O que fazer quando os recursos teraputicos de cura se esgotam? Que rumos

    tomar quando no h mais o que fazer? Com o agravamento da doena e a

    instalao de um quadro de irreversibilidade, um tratamento doloroso e invasivo

    pode tornar-se, muitas vezes, degradante e, por conseguinte, desnecessrio. Diante

    de tal situao, surgem os Cuidados Paliativos.

    O termo paliativo deriva do latim pallium, que significa manto, capote. Dando

    a ideia de prover um manto para aquecer aquele que passa frio (Pessini&Bertachini,

    2005). Essa a essncia de cuidados paliativos: aliviar dores e sintomas ecobrir de

    cuidados aqueles pacientes para quem a medicina j no oferece recursos

    curativos.

    Conforme asseveramBifulco e Iochida (2009), os Cuidados Paliativos so

    procedimentos feitos por todos os integrantes de uma equipe multiprofissional, que

  • Psicologia Hospitalar, 2013, 11 (1), 2-24

    6

    oferecem uma opo de tratamento adequado a pacientes fora dos recursos

    teraputicos de cura. Nessa perspectiva, a Organizao Mundial da Sade (OMS),

    em conceito definido em 1990 e atualizado em 2002, afirma que:

    Cuidados Paliativos consistem na assistncia promovida por uma equipe multidisciplinar, que

    objetiva a melhoria da qualidade de vida do paciente e seus familiares, diante de uma doena

    que ameace a vida, por meio da preveno e alvio do sofrimento, da identificao precoce,

    avaliao impecvel e tratamento de dor e demais sintomas fsicos, sociais, psicolgicos e

    espirituais (Inca, 2013).

    Portanto, em Cuidados Paliativos, no h uma busca pela cura, mas sim, um

    acolhimento daquele que, diante da irreversibilidade de sua patologia, receber um

    tratamento que preserve sua dignidade, mesmo diante da morte.

    Para os doentes fora dos recursos teraputicos de cura, a evoluo natural

    a morte. No entanto, nossa cultura ocidental, materialista, nega a existncia da

    morte, ela temida e lamentada e, frequentemente, adiada, valendo-se de mtodos

    artificiais para a manuteno das chamadas funes vitais, quando, na realidade, o

    indivduo j deixou de viver. A vida, ao contrrio, celebrada (Figueiredo, 2006).

    Somos a civilizao cuja vaidade afastou a morte, afirma Karnal (2013), numa

    bela reflexo sobre a vaidade humana. Numa sociedade onde a vida to exaltada,

    no h espao para temas relacionados morte e o morrer, embora issoseja parte

    doprocesso de existir. Profissionais da sade so formados para salvar vidas e nas

    escolas de medicina e enfermagem nada se ensina sobre a morte, observa

    Figueiredo (2006).

    Para um profissional da sade formado para curar doenas e salvar vidas, a

    morte de um paciente pode ser interpretada como uma derrota profissional. Ao

  • Psicologia Hospitalar, 2013, 11 (1), 2-24

    7

    perder um paciente, inconscientemente, o profissional da sade se depara com a

    prpria finitude (Bifulco&Iochida, 2009).

    No entanto, a morte existe e,apesar de todo avano tecnolgico, o homem

    no se tornou imortal. Todos so pacientes terminais, posto que a morte far parte

    do cotidiano de cada um, em algum momento. Entender a morte e os sentimentos

    que a norteiam fundamental para compreender as angstias daqueles que vivem

    seus momentos finais. Como auxili-los, sem que se compreenda isso? Quando a

    cura se torna impossvel, todavia, h de existir recursos disponveis nos seres

    humanos para realizar um trabalho, no de cura, porm, de cuidado, como observou

    Bifulco(2006).

    Dizer que no h mais nada o que fazer , no mnimo, uma frase infeliz,

    proferida por algum que, certamente, desconhece a dimenso humana e sua

    subjetividade. Tratar o ser humano como algo que por no ter mais conserto deva

    ser descartado, desconsiderando as implicaes que tal condio impe sobre a

    sua vida e a dos seus familiares desumano. Aquele que no viver por muito mais

    tempo merece ser cuidado e ter uma boa morte, entendida aqui como uma morte

    digna, assistida, ondeseus sintomas fsicos sejam tratados e esse ser humano seja

    considerado em seus aspectos sociais, psicolgicos e espirituais.

    A equipe multidisciplinar

    Cuidados Paliativos compreendem alvio da dor e controle dos sintomas, que

    devem comear desde o diagnstico at a fase avanada da doena

    (Bifulco&Iochida, 2009). Para essas mesmas autoras, atender s necessidades

    desses pacientes humanizar o tratamento.

  • Psicologia Hospitalar, 2013, 11 (1), 2-24

    8

    Mas como garantir humanizao quele ser fragilizado que se encontra ali

    numa situao limite, diante do inexorvel da vida, a morte? Um ser que, alm das

    dores fsicas e das fragilidades orgnicas, traz dores na alma, resultante das

    diversas experincias vividas e, at mesmo, daquelas que deixou de viver e para as

    quais j no h mais tempo.

    Muitos so os profissionais necessrios aos cuidados com pacientes

    terminais, por esta razo, h que se pensar na formao de uma equipe

    multidisciplinar. Bifulco e Iochida (2009) citam uma equipe formada pelos seguintes

    profissionais: mdicos, psiclogos, enfermeiros, assistentes sociais, fisioterapeutas,

    terapeutas ocupacionais e o servio administrativo (recepo, triagem, segurana e

    transporte). No entanto, muitos outros profissionais podem fazer parte da equipe,

    inclusive religiosos, uma vez que OMS prev cuidado espiritual.

    Em Aitken (2006) h referncia ao trabalho de um capelo e sua equipe de

    capelania, a quem ela denomina assistentes espirituais. Para a autora, o apoio

    espiritualbeneficiar o enfermo, bem como sua famlia e a equipe de sade, que

    conviver com situaes de estresse tanto pessoal, quantodecorrentes das perdas

    de seus pacientes. Um atendimento espiritual dirio e individual a todos,

    oportunidades de reflexo sobre as questes existenciais, perdo, vida eterna,

    qualidade e utilidade de vida.

    Vale ressaltar que a espiritualidade no necessariamente est vinculada a

    uma religio instituda, portanto, caber aos profissionais de Cuidados Paliativos

    atentarem para as demandas dos pacientes e seus familiares, respeitando as

    diferenas de credo e possibilitando sua livre expresso, caso haja desejo de assim

    procederem.

  • Psicologia Hospitalar, 2013, 11 (1), 2-24

    9

    A famlia tambm ter papel importante, no apenas na questo da

    espiritualidade, mas em todas as demais questes relacionadas aos pacientes e seu

    tratamento. Se nessas unidades de Cuidados Paliativos, mais do que tratar de uma

    doena, trata-se da pessoa, como definiu Hennezel (2004), a famlia tambm deve

    ser tratada, uma vez que ela costuma adoecer nesse processo.

    A partir do diagnstico de uma doena potencialmente mortal, paciente e

    famlia se deparam com situaes de rupturas, limitaes e privaes (Genezini,

    2009), ademais, viver uma situao de luto antecipado gera angstias e

    ambivalncias de sentimentos, tanto do enfermo quanto da famlia. Podemos dizer

    que a morte lana uma sombra assustadora sobre ns porque somos

    completamente impotentes diante dela (Soavinsky, 2009).

    nesse cenrio de dores e angstias que atua a equipe multidisciplinar. A

    essa equipe, formada por profissionais das mais diversas especialidades, no basta

    apenas o conhecimento tcnico ou cientfico, necessrio sintonia, um ajudando o

    outro e todos ajudando os enfermos, seja ele o paciente, o seu familiar ou ainda, o

    seu cuidador.

    necessrio lembrar que os cuidados paliativos no ocorrem somente no

    ambiente hospitalar. Muitas vezes pode ser possvel, e at recomendvel, que o

    paciente seja levado para o seu lar, no obstante, familiares e cuidadores devem ser

    preparados para isso.

    Em casa, o paciente poder ter uma qualidade de vida melhor. Cercado de

    carinho e ateno, ter tempo de se despedir dos seus queridos, longe da assepsia

    fria de um hospital, onde experimentaria a solido: um dos medos primitivos do ser

    humano (Soavinsky, 2009). Mas, mesmo em domiclio, o paciente dever

  • Psicologia Hospitalar, 2013, 11 (1), 2-24

    10

    estarvinculado a uma equipe multidisciplinar, que lhe dispensar ateno na medida

    de suas necessidades.

    Numa equipe multidisciplinar, o psiclogo poder atuar como mediador tanto

    nas relaes entre os profissionais da equipe, quanto nas relaes da equipe com

    os pacientes - relaes estas que nem sempre sero harmoniosas num primeiro

    momento, dada toda a carga emocional presente na revelao de um diagnstico

    trgico. A presena desse profissional poder ser decisiva na resoluo de conflitos

    existenciaisque, possivelmente, eclodiro nessa situao de terminalidade imposta

    pela doena.

    A importncia de uma equipe multidisciplinar apoia-se no desejo de que a

    pessoa tenha uma morte natural e humanizada, sem que o paciente fique sozinho

    ou, ainda, ligado a uma parafernlia de equipamentos que atrapalhem a sua morte

    (Soavinsky, 2009).

    A compreenso de que a vida finita e que a morte parte desse processo

    poder ser uma experincia libertadora, tanto para pacientes quanto para

    profissionais da sade. A certeza da finitude da vida talvez traga a conscincia de

    que nem toda doena pode ser curada. No obstante, todo ser humano pode ser

    cuidado, at a morte, por outro ser humano.

    Revelao do diagnstico

    As dificuldades que os profissionais encontram na hora de informar o

    diagnstico da doena ao paciente so muitas. O mdico muitas vezes no sabe

    como proceder, fica preocupado e inseguro perante o paciente. Certamente a

    pessoa encarregada de dar a notcia dever ter muita cautela, pois dependendo da

  • Psicologia Hospitalar, 2013, 11 (1), 2-24

    11

    forma como a notcia chegar a este paciente, poder ter grandes alteraes no

    suposto tratamento.

    Na maioria das vezes, o paciente finge no saber de sua doena, mas

    percebe, observando ao seu redor, algo que no est normal, como: mudanas nas

    pessoas da famlia, no mdico, pois todos sua volta comeam a falar baixo,

    mudam a maneira de olhar para o doente, percebe que as pessoas prximas esto

    muito emotivas, demonstrando certa piedade para com ele.

    De acordo com Kbler-Ross, (1996), quando o mdico esclarece sobre o

    diagnstico da doena terminal, o paciente se sente mais seguro, ver que no est

    sozinho, que seu mdico est ali para ajud-lo, que vo juntos enfrentar o que vier

    pela frente, que no um diagnstico que vai travar o tratamento que pretendem

    realizar com ele e com a famlia.

    De acordo com Stedeford (1986), no devemos desacreditar na capacidade

    que o paciente terminal tem em realizar e organizar tarefas importantes antes de

    partir. Deixar resolvidos assuntos sobre finanas, preferncia na hora do

    sepultamento, como se sentiria se soubesse que o seu cnjuge se casaria

    novamente e como o seu parceiro sobreviver aps a sua morte so questes

    cruciais para que o paciente sinta-se aliviado e menos culpado, tornando seu

    sofrimento menos angustiante.

    No entanto, para que tal capacidade seja despertada, necessrio contar

    com o apoio de um profissional da psicologia. ele quem poder usar de seus

    conhecimentos e habilidades profissionais e intervir, junto ao paciente e sua famlia,

    buscando a reestruturao emocional, diante de uma situao de perdas e luto

    iminente.

    Estgios psicolgicos diante da morte iminente

  • Psicologia Hospitalar, 2013, 11 (1), 2-24

    12

    Segundo Kbler-Ross(1969), a negao em geral o primeiro estgio de um

    processo psquico que ocorre em doentes terminais, uma forma de mecanismo de

    defesa temporrio do ego contra a dor psquica diante da morte. A intensidade e

    durao dessa fase dependem de como o paciente e as outras pessoas ao seu

    redor so capazes de lidar com a dor, pois esse perodo no dura por muito tempo.

    A raiva segue no segundo estgio (frustrao), pelo motivo do ego no

    manter a negao e o isolamento, os relacionamentos se tornam hostis pela

    conscincia da morte iminente. Nesse estgio necessria a compreenso dos

    demais para apoio e auxlio na transio dessa fase, entendendo que a angstia do

    doente se converte em raiva, pois a pessoa se sente interrompida em suas

    atividades cotidianas.

    Devem-se evitar os julgamentos em relao ao comportamento do paciente,

    mesmo que isso dificulte o tratamento, pois sempre h duas facetas, isto , dois

    lados. Atrs de uma atitude negativa do paciente, sempre h um motivo ou razo

    positiva que justifique o ato. Pelo simples fato do doente expressar uma

    exteriorizao de seus sentimentos, isso funciona como uma vlvula de escape

    emocional, produzindo uma sensao de alvio para o mesmo.

    Havendo deixado de lado a Negao e o Isolamento, percebendo que a

    raiva tambm no resolveu, a pessoa entra no terceiro estgio, a barganha. A

    maioria dessas barganhas feita com Deus e, normalmente, mantidas em segredo.

    A pessoa implora, geralmente a Deus, para que aceite sua oferta em troca da vida,

    como por exemplo, sua promessa de uma vida dedicada ao dogma, aos pobres,

    caridade. Na realidade, a barganha uma tentativa de adiamento. Nessa fase o

    paciente se mantm sereno, reflexivo e dcil. A fase da depresso ocorre quando o

    doente toma conscincia de seu estado frgil e debilitado e j no tem mais como

  • Psicologia Hospitalar, 2013, 11 (1), 2-24

    13

    negar sua condio de doente terminal. Surge um sentimento de grande perda, a

    dor e o sofrimento psquico so quem vai assumindo o quadro clnico mais tpico

    com caractersticas depressivas.

    Tristeza, choro e a sensao de inutilidade dominam o paciente e o ambiente

    que o envolve. Quando h uma conscincia e uma estabilidade emocional do

    doente, considera-se que ele est na fase da aceitao. Paz e dignidade so

    priorizadas nesse estgio, pois o doente encara a realidade com mais serenidade e

    enfrentamento, que tem como caracterstica a alternncia da postura de luta para o

    luto em relao doena.

    As fases psicolgicas na doena terminal no seguem uma ordem pr-

    estabelecida, considera-se a individualidade subjetiva. normal que o doente

    mantenha a esperana em qualquer das situaes, mesmo quando racionalmente

    ela no exista, ele a inventar.

    Discutir sobre a morte to urgente quanto viver. Faz-se necessrio criar

    espaos nos quais se possa encontrar solidariedade e a ajuda para enfrentar a

    prpria morte ou a de uma pessoa significativa.

    Despersonalizao do paciente

    No ambiente hospitalar o paciente torna-se a doena e deixa de ter seu

    prprio nome, passa a ser algum portador de uma determinada patologia, criando

    assim, o estigma do doente-paciente, at no mesmo sentido de sua prpria

    passividade perante novos fatos e perspectivas existenciais, o simples fato da

    pessoa se tornar hospitalizada faz com que adquira os signos que iro enquadr-la

    em uma nova performance de existncia.Tudo e qualquer procedimento ou

  • Psicologia Hospitalar, 2013, 11 (1), 2-24

    14

    interveno para o seu tratamento pode ser visto como invasivo e afrontando a sua

    dignidade (Trucharte, Knijnik,Sebastiani&Camon, 2010).

    Hennezel (2004), relatando sua experincia com pacientes terminais, narrou

    que um deles se queixou do atendimento em hospitais onde eram tratados pelo

    nmero do leito, seguido pelo nome da sua patologia. Considerava insuportvel

    quando mdicos chegavam em seus quartos, discutindo sobre o tratamento como se

    o paciente ali no estivesse. O que queriam saber, perguntavam s enfermeiras,

    sem demonstrar um nico gesto de humanidade, como por exemplo, sentar-se ao

    lado do paciente e perguntar: como voc estava vivendo?.

    Um paciente, ao chegar numa unidade de tratamentos paliativos, muito mais

    do que tratar uma doena, deseja ser tratado como pessoa. J no espera muito da

    medicina, espera muito mais das pessoas e nos seus cuidados atenciosos

    (Hennezel, 2004).

    O papel do psiclogo no atendimento a pacientes terminais

    Diante de tantos fatores que envolvem a experincia de um paciente em

    quadro terminal, faz-se necessria a atuao de um profissional junto clnica

    mdica, capaz de facilitar superao e alvio de ordem psicolgica e emocional. O

    trabalho de um psiclogo tornou-se imprescindvel nos hospitais, dada sua

    sensibilidade e capacidade em lidar com questes to desconsideradas por outros

    profissionais da sade.

    Para tanto, o psiclogo no pode,e nem conseguiria sozinho, desempenhar

    bem seu papel de facilitador e promotor de sade mental. Conforme salienta

    Londero (2006), o tratamento em Cuidados Paliativos deve contar com uma equipe

    multiprofissional que trabalhar com o foco de promover um equilbrio geral para o

  • Psicologia Hospitalar, 2013, 11 (1), 2-24

    15

    doente, sem buscar pela cura, no entanto, oferecendo-lhe uma melhor qualidade

    dessa vida.

    Como integrante de uma equipe multiprofissional, o psiclogo ter diversas e

    minuciosas formas de atuar, especialmente em casos de pacientes em situao de

    luto iminente. Seu trabalho deve levar em conta vrios aspectos, como: a instituio,

    a equipe multiprofissional, o paciente e sua doena, bem como a famlia deste.

    Esses aspectos nortearo e delimitaro suas aes enquanto profissional.

    Segundo Simonetti (2011), a psicologia hospitalar o campo de atendimento

    e tratamento dos aspectos psicolgicos em torno do adoecimento, onde seu objetivo

    a subjetividade. Ele explica que diante de todas as implicaes oriundas do estado

    patolgico de um paciente, sua subjetividade sacudida. neste momento que o

    psiclogo hospitalar entra em cena oferecendo algo que os outros profissionais da

    sade no puderam dar: ateno e escuta a suas aflies. A psicologia se interessa

    em dar voz subjetividade do paciente, restituindo-lhe o lugar de sujeito que a

    medicina lhe afasta (Moretto, 2001,citado porSimonetti, 2011).

    O campo de trabalho do psiclogo so as palavras e a observao. Ele fala,

    escuta e observa. Escuta ainda mais do que fala. No algo to simples, pois o ato

    de escutar, falar e tambm captar signos com valor de palavras pode levar o

    paciente a mudanas em seu quadro de bem estar. Como assevera Simonetti

    (2011), a psicologia hospitalar trata do adoecimento no registro do simblico, pois a

    medicina j trata no registro do real.

    No que concerne liberdade e ao dever de exercer seu papel frente ao

    doente e as fronteiras estabelecidas pelas instituies de sade, o psiclogo, ao

    entrar em contato com o paciente, h de levar em considerao duas situaes bem

    colocadas por Simonetti (2011): se houve uma solicitao de atendimento ou uma

  • Psicologia Hospitalar, 2013, 11 (1), 2-24

    16

    demanda de atendimento. Uma solicitao feita por qualquer pessoa (inclusive o

    paciente) diante do quadro apresentado pelo paciente. J a demanda se trata mais

    de um estado de incmodo ou questionamento acerca de como est vivenciando

    sua situao. Esta demanda s pode partir do doente, como questionamento acerca

    de suas atitudes. Sendo assim, o essencial que haja demanda para que o

    tratamento flua, mas isso no quer dizer que o psiclogo no possa iniciar o trabalho

    apenas com a solicitao de atendimento, pois com o tempo poder surgir a

    demanda.

    O primeiro dos trabalhos do psiclogo no atendimento hospitalar entender

    que necessrio uma boa identificao entre ele e seus pacientes. No demais

    conferir bem o nome com o nmero do leito no incio da consulta e depois buscar

    mais dados que o levem a conhecer melhor o paciente. Cabe ao psiclogo tambm

    apresentar-se ao doente a cada novo dia, a fim de evitar confuses.

    Quanto ao agir do psiclogo no setting teraputico, Simonetti (2011) salienta

    que como a estratgia teraputica da psicologia hospitalar levar o paciente rumo

    palavra, este profissional deve buscar seguir algumas estratgias e tcnicas,

    propiciadas por um jeito de pensar que orienta o agir teraputico, apontando a

    direo do tratamento. Essas estratgias e tcnicas no devem ser compreendidas

    como uma receita rgida, mas que devem ser adequadas a cada situao clnica.

    Com o paciente fora de recursos teraputicos de cura, que o caso que

    estamos analisando, o que deve orientar o trabalho do psiclogo o desejo do

    paciente e no a possibilidade de vida. Tratar do desejo, e no do prognstico.

    A medicina paliativa diz que h muito o que fazer pelo paciente, quando j

    no h mais nada a fazer pela cura. Aqui a participao do psiclogo hospitalar

    imprescindvel. Esse profissional deve ajudar o paciente na busca de mecanismos

  • Psicologia Hospitalar, 2013, 11 (1), 2-24

    17

    de enfrentamento que o ajudaro a manter sua autoestima e estabilidade diante do

    quadro patolgico, jamais se esquecendo de que religio e espiritualidade so

    aspectos importantes para o paciente e seus familiares (Simonetti, 2011).

    No raro, h casos em que o psiclogo atua no atendimento a muitos

    profissionais da sade que lidam com a medicina paliativa. Por isso faz-se

    necessrio que o terapeuta busque conhecer sobre as tarefas desempenhadas por

    esses profissionais para o trato com o paciente terminal.

    Tanto quanto para o paciente terminal, importante direcionar, como num

    trabalho conjunto, o trabalho teraputico para a famlia desse paciente. Como afirma

    Simonetti (2011, p. 141):

    Quando o paciente entra na fase terminal, a famlia inteira se torna o foco mais adequado para

    os cuidados dos profissionais de sade, seja porque as dificuldades psicolgicas surgiro no

    apenas no paciente, mas em vrios membros da famlia, seja porque da famlia que brotaro

    as foras necessrias superao dessa situao.

    Tanto antes como no momento da morte do paciente o trabalho do psiclogo

    voltado para ele e tambm para a famlia, porm, quando o paciente morre, os

    trabalhos sero voltados para a famlia, em prol do restabelecimento do equilbrio

    familiar, agora sem um integrante.

    Com vista nos vrios momentos em que tanto o paciente terminal quanto sua

    famlia vivenciam um quadro terminal que apresentaremos sucintamente algumas

    prticas do trabalho de interveno do psiclogo juntamente com a famlia em

    algumas instncias.

    Fases de interveno

  • Psicologia Hospitalar, 2013, 11 (1), 2-24

    18

    Como retratam Oliveira,Luginger, Bernado e Brito (2004), importante ter em

    mente organizar o processo de interveno em trs momentos: antes, no momento e

    aps a morte do paciente.

    Quanto interveno antes da morte, relevante comunicar e informar ao

    paciente sobre sua doena e atuao de medicaes e tratamento, para que

    transtornos fsicos e emocionais sejam evitados. desejvel que o terapeuta tenha

    conhecimento da forma de comunicabilidade da famlia para com o paciente em

    relao ao seu estado e sua doena.

    O terapeuta deve ainda instruir a famlia a ser moderada ao expressar seus

    contedos, dentro do padro de recepo usual da famlia. O terapeuta tambm

    deve trabalhar para estimular a empatia entre a famlia para que a expresso de

    sentimentos e pensamentos possa possibilitar a resoluo de problemas no

    resolvidos, bem como uma despedida mais confortante do paciente (Oliveira et al.,

    2004).

    Faz-se necessria a antecipao de sofrimentos e negcios no terminados,

    nestecasoo profissional psiclogo deve encorajar o processo de sofrimento

    antecipatrio no intuito de promover respostas que possam ameniz-lo.

    Destaca-se ainda a interveno da terapia clnica e da educao clnica e

    apoio preciso que o profissional tenha conhecimento de processo de sofrimento

    antecipatrio, experincia da morte de um familiar, teoria dos sistemas relativos

    famlia, reaes das crianas morte e problemas da doena em geral e em

    particular neste familiar.

    Todas essas aes, entre muitas outras, visam proporcionar sade mental

    para os envolvidos neste processo que demarca tanto desgaste, dor e sofrimento.

  • Psicologia Hospitalar, 2013, 11 (1), 2-24

    19

    Na interveno no momento da morte, necessrio considerar que o

    contexto de um paciente com doena terminal traz, em certa altura, um cansao e

    desgaste muito acentuado, tanto para os familiares quanto para o prprio paciente.

    A proximidade da morte um momento que envolve muito receio de ambas as

    partes. Nesta hora, o terapeuta ter de trabalhar em prol de ajudar a famlia,

    promovendo discusses sobre os desejos do paciente para depois de sua morte.

    O psiclogo tambm desempenhar a funo de orientar a famlia sobre a

    importncia de sua presena nos momentos finais do paciente, mesmo em caso de

    coma. Como ressalvam Oliveira etal. (2004), pode ser relevante para alguns

    familiares estarem presentes num momento to crucial, dada a possibilidade de

    sentimentos de culpa. importante tambm dar liberdade para a famlia estar

    sozinha junto ao corpo e poder tocar, falar e sofrer a morte do familiar querido, pois

    isso proporciona um sofrimento adequado e sadio, sem a perspectiva de transtornos

    psicolgicos futuros. interessante que o psiclogo esteja com a famlia nesses

    momentos difceis, assistindo a famlia no ato da notificao da morte e oferecendo

    auxlio nas questes funerais e cerimoniais. Como salientam Oliveira et al. (2004),

    as aes do psiclogo sero para viabilizar a expresso de sentimentos e a vivncia

    perante o luto.

    Para os familiares do paciente que acaba de falecer, os momentos que

    sucedem ao perodo de sepultamento so tomados geralmente por sentimentos de

    dor, perda, solido, culpa, entre outros. Este o momento, como afirmam Oliveira et

    al. (2004), em que o profissional deve comparecer oferecendo apoio e trabalhando

    para promoo de sade mental.

    Golderf(1932, citado porOliveira et al., 2004) coloca que so tarefas

    imprescindveis famlia permitir o luto, abdicar da memria do falecido, reorganizar

  • Psicologia Hospitalar, 2013, 11 (1), 2-24

    20

    papis intra e interfamiliares. Para o cumprimento dessas tarefas designadas

    famlia, de suma importncia o acompanhamento e interveno do terapeuta, que

    fornecer orientaes em cada momento. A famlia encontrar dificuldades diante da

    tarefa de realinhamento estrutural familiar e recolocao de papis, por isso

    necessrio o trabalho do psiclogo, para ajud-la na busca pelo equilbrio.

    O local de atendimento e horrio de atendimento

    Um psiclogo no precisa de um ambiente determinado e separado para

    operar sua profisso dentro de um ambiente hospitalar, at mesmo porque se trata

    de um tipo de ambiente que dificilmente favorece a atividade psicoteraputica em

    termos de espao fsico. Como ressalva Moretto (2001,citado por Simonetti, 2011), o

    setting no pode ser tratado como um espao real, porque ele virtual e psquico,

    sendo ainda um artifcio, uma construo para que a anlise se d. O que mais

    importa que o psiclogo esteja disposto a prestar atendimento quele que

    necessita e queira falar.

    Neste espao, por vezes, haver necessidade de se atender a um paciente

    em horrios tumultuados do dia, o ideal que o psiclogo opte pelo atendimento no

    final da tarde. Isso porque, como diz Simonetti (2011), na rotina hospitalar o

    momento mais tranquilo do dia.No h como se delimitar um tempo para cada

    atendimento psicolgico hospitalar. Cada encontro acontece em tempo irregular.

    Isso porque existem variveis que podem interferir no momento da consulta como,

    por exemplo, as condies clnicas do paciente e tambm procedimentos mdicos

    que so realizados durante o encontro (Simonetti, 2011).

    CONCLUSO

  • Psicologia Hospitalar, 2013, 11 (1), 2-24

    21

    O paciente que se encontra fora dos recursos teraputicos de cura tem diante

    de si uma situao de medo, angstia e muita insegurana. H uma nova situao

    imposta, com a qual ter que lidar, a despeito de tudo.

    Nos achados desta pesquisa desenvolvida em torno de um assunto to

    relevante, que permeia a vida de todos, uma vez que o morrer faz parte do processo

    da existncia, constatamos que o psiclogo desempenha papel fundamental no

    amparo queles que se encontram numa situao de perda importante em suas

    vidas, bem como vivem a expectativa de um luto prximo e inevitvel.

    Ao psiclogo cabem vrios papis que sero importantes na vida do paciente,

    da sua famlia, bem como da equipe na qual trabalha. Utilizando-se dos recursos

    mais importante de que dispe - a escuta, ele poder dar vez e voz aos pacientes e

    seus familiares fazendo com que se sintam amparados e compreendidos. Agindo

    como mediador entre a famlia e o paciente, o psiclogo poder orient-los na

    reorganizao de suas vidas, que apesar da proximidade com a morte, poder ser

    desfrutada revendo amigos, reatando laos esquecidos, perdoando e pedindo

    perdo. Isso pode ser libertador, tanto para quem vai partir, quanto para quem ainda

    vai ficar.

    O psiclogo o profissional mais indicado para captar desejos, inibies,

    ouvir a voz da alma, mesmo quando a pessoa est em silncio. Muitas vezes

    preciso decifrar perguntas e respostas do paciente famlia ou a qualquer outra

    pessoa, inclusive a membros da equipe.

    Orientar a famlia a respeito dos altos e baixos que sero vividos pelo

    paciente, bem como oferecer a ela um suporte necessrio para que se fortalea e

    possa manter-se ao lado do seu ente querido facilitar na conciliao de

    sentimentos intensos e comuns nesse tipo de situao.

  • Psicologia Hospitalar, 2013, 11 (1), 2-24

    22

    A certeza de estar amparado, durante suas crises de angstias, bem como o

    fato de contar com algum que, estando ao seu lado, o escuta e compreende, no

    emitindo nenhum juzo de valor, mas que, ao contrrio disso, considera importante

    todas as suas queixas e dores, e ainda consegue fazer com que a pessoa d a tudo

    aquilo que expressa um significado para a sua existncia, certamente contribui para

    que, uma vez tratadas suas demandas, ela consiga, com mais tranquilidade, aceitar

    a morte. Podendo, a partir disso, debater e discutir sobre o que gostaria que fosse

    feito aps a sua partida, em relao sua famlia e tambm sobre o que gostaria de

    decidir sobre suas preferncias sobre tipo e local para sua morte e sepultamento.

    Discutir sobre a morte nos conduz ao valor da vida, ainda que seja, apenas, a um

    pedacinho dela.

    Conclumos que este o papel do psiclogo, fazer com que algum que, num

    momento de perda e dores intensas, imagina que j no encontrar razes para

    existir, encontre essas razes e as encontre dentro de si mesmo, expressando as

    dores do seu corpo e de sua alma, reatando laos e desfazendo ns. Sentindo que,

    para alm de um corpo doente e que j no responde aos tratamentos, h um ser

    que ainda existe em sua subjetividade e continuar existindo no corao daqueles

    que o amam. Morrer em paz aquele que conseguiu se reconciliar com a vida.

    REFERNCIAS

    Aitken, E. V. P. (2006). Entre a vida e a morte. In: Figueiredo, M. T. A. (Org.). Coletnea de textos sobre cuidados paliativos e tanatologia. So Paulo, p.21-23. Acesso em: 12 out. 2012: http://www.ufpel.tche. br/medicina/bioetica/cuidadospaliativosetanatologia. Bifulco, V. A. (2006). Psicologia da morte. In: Lopes, A. C. Diagnstico e tratamento. Barueri, SP: Manole, v.2, p. 302-306. Acesso em 30 out. 2012: http://www.eventos.med.br/tanatologia/2/textos/psicologiada morte.pdf.

  • Psicologia Hospitalar, 2013, 11 (1), 2-24

    23

    Bifulco, V. A.; Iochida, L. C. (2009). A formao na graduao dos profissionais de sade e a educao para o cuidado de pacientes fora de recursos teraputicos de cura. Revista Brasileira de Educao Mdica (online). So Paulo, v. 33, n. 1, p. 92-200. Acesso em 24 out. 2012: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010055022009000100013&lng=en&nrm=iso. Figueiredo, M. T. A. (2006). A dor no doente fora dos recursos de cura e seu controle por equipe multidisciplinar (hospice). In: ___. (Org.). Coletnea de textos sobre cuidados paliativos e tanatologia, So Paulo, p.43. Acesso em 12 out. 2012: http://www.ufpel.tche.br/medicina/bioetica/cuidadospaliativosetanatologia. Genezini, D.(2009). Assistncia ao luto. In: Academia Nacional de Cuidados Paliativos. Manual de cuidados paliativos, Rio de Janeiro: Diagraphic, p. 321. Acesso em 29 out. 2012: http://www.nhu.ufms.br/Bioetica/Textos/Morte%20e%20o%20Morrer/MANUAL%20DE%20CUIDADOS%20PALIATIVOS.pdf. Gutierrez, P. L. (2001). beira do leito. Rev. Assoc. Med. Bras. vol.47 no. 2 So Paulo April/June. Acesso em 03 out. 2012: http://dx.doi.org/10.1590/S0104-42302001 0002000 10. Hennezel, M.(2004). A morte ntima: aqueles que vo morrer nos ensinam a viver. (S O. A. Trad.) SP: Ideias e Letras. Instituto Nacional do Cncer (2013). Cuidados Paliativos. Rio de Janeiro, Portal do INCA. Acesso em 30 nov. 2012: http://www.inca.gov.br/ conteudo_view.asp? ID=474. Karnal, L. (2013). O mal primordial: o orgulho nosso de cada dia. In: Ciclo de Palestras sobre o tema: Os velhos e novos pecados. Campinas, CPFL Cultura. Acesso em 8 nov. 2012: http://www.cpflcultura.com.br/?s=leandro +karnal. Kovcs, M. J. (2008). Desenvolvimento da Tanatologia: estudos sobre a morte e o morrer. Paidia, Ribeiro Preto, v.18, n. 41, set/dez/2008. Acesso em 26 nov. 2012: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103863X2008000300004&Ing=en&nrm=iso. Kbler-Ross, E. (1985). Sobre a morte e o morrer. (2a ed.) So Paulo. Martins Fontes. Mello Filho, J.;Burd, M. (2010). Psicossomtica hoje. (2a ed.). Artmed. Oliveira, M. F. Luginger S.; Bernado, A.; Brito M.(2004). Morte interveno psicolgica junto da famlia do paciente terminal. Trabalho de Licenciatura. Acesso em 10 out. 2012: http://www.ufpel.tche.br/medicina/bioetica/IntervencaoPsicologicaJuntoaFamiliadoPacienteTerminal.pdf.

  • Psicologia Hospitalar, 2013, 11 (1), 2-24

    24

    Pessini, L.&Bertachini, L. (2005). Novas perspectivas em cuidados paliativos: tica, gerontologia, comunicao e espiritualidade. O mundo da sade, So Paulo, v.29, n.4, out/dez.Acesso em 18 mai. 2012: http://www.scamilo.edu .br/pdf/mundosaude/32/03_Novas20perspectivas20cuida.pdf. Simonetti, A. (2011). Manual de Psicologia Hospitalar: o mapa da doena. (6aed.). So Paulo: Casa do Psiclogo. Stedeford, A. (1986). Encarando a morte: uma abordagem ao relacionamento com o paciente terminal - Porto Alegre: Artes Mdicas, 168p. Soavinsky, M. A. (2009). Morrer com dignidade. In: Encontro de Biotica do Paran Biotica incio da vida em foco.Curitiba. Anais eletrnicos. Curitiba: Champagnat. Acesso em 12 out. 2012: http://www2.pucpr. br/reol/index.php/BIOETIOCA?dd1=3315&dd99=pdf. Trucharte, F. A. R.; Knijnik, R. B.; Sebastiani, R. W. Camon, V. A. A. (org).(2010). Psicologia Hospitalar: teoria e prtica. (2a ed.). Revista e ampliada, 120p.

    CONTATO

    E-mail: [email protected]