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Variação linguística: diferenças e aceitações na EJA

Autora: Ana Cristina da Silva Covalchuk¹

Orientadora: Bernardete Ryba²

Resumo

Proporcionar ao aluno, na prática, em sala de aula, conhecimento das adequações da língua, tanto na variedade prestigiada como na variedade estigmatizada e adequá-la às mais diferentes situações de uso, contribuindo para a utilização de novas metodologias de ensino da língua materna foi o principal objetivo desse projeto.Para estudar todas as variações inerentes à fala, surge a Sociolinguística, que toma a sociedade como causa e vê na linguagem os reflexos das estruturas sociais. (Orlandi, 2006, p.51).Em toda comunicação, a variação das formas linguísticas é constante. As variantes são diferentes maneiras de se dizer a mesma coisa, num mesmo contexto e com o mesmo valor de verdade, (Tarallo, 2001, p.08). Há vários fatores que influenciam nessa variação. Os principais são: geográficos, de classe, de idade, de sexo, de etnia, de profissão, grau de instrução.Para Ilari e Possenti (1985) a Variação Linguística presente na fala e na escrita dos alunos é apenas uma das variedades que a Língua Portuguesa oferece aos seus falantes e que o professor de língua materna deve trabalhar.Segundo Possenti (2001, p.36) “a variedade linguística está entre as variedades as mais funcionais que existem; quanto mais numerosas forem, mais expressiva pode ser a linguagem humana”. E, segundo Bortoni-Ricardo (2009, p.25) “sempre haverá variação de linguagem nos domínios sociais”. É importante o aluno perceber que a língua é o veículo linguístico da comunicação e que não a usamos sempre do mesmo jeito, adequamos nossos textos à situação comunicativa do momento.

Palavras-chave: Variação Linguística na escola – desmistificação do

preconceito linguístico na escola – adequação de textos

¹ Pós graduada em Língua Portuguesa – Análise e produção de Textos com Graduação em Letras

Português/Inglês pela FAFI. Professora de Língua Portuguesa da Educação de Jovens e Adultos no

CEEBJA de União da Vitória (PR).

² Mestre em Linguística – Área : Sociolinguística – UFPR. Professora de Linguística / Língua Portuguesa –

UNESPAR – Campus de União da Vitória (FAFIUV) – Professora de LEM – Inglês / Colégio São Mateus

(São Mateus do Sul – PR).

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1-Introdução

Ao frequentar a escola, a criança, o jovem ou o adulto são usuários

competentes da língua materna, mas precisam ampliar seu repertório de

recursos comunicativos para que esses estejam adequados e que possam

utilizar a língua bem como suas variedades linguísticas adequadamente,

segundo Bortoni-Ricardo (2009, p.75).

Estudar e analisar a variação linguística presente nos textos produzidos

no Ensino Médio da EJA (Educação de Jovens e Adultos) foi o objetivo desse

projeto., pois observava-se que a linguagem presente nas produções dos

alunos assemelhava-se à da variedade estigmatizada popular, afastando-se,

assim, da variedade prestigiada, principalmente no que dizia respeito ao uso

dos tempos verbais e sua concordância.

Esse artigo foi organizado levando em conta três parte distintas:

Primeiramente foi elaborado um projeto no qual foram levantadas algumas

discussões que cercam os estudos sobre a variação linguística, entre eles a

definição e o surgimento da sociolinguística. Dessa forma, discutiu-se, num

primeiro momento, a relação entre variantes-padrão e não padrão;

conservadoras e inovadoras; estigmatizadas e de prestígio. Os principais

fatores que influenciam as diferenças na fala das pessoa: geográficos, de

classe, de idade, de sexo, de etnia, de profissão, levando em consideração o

estudo da língua e o estudo da sociedade.

Em seguida, houve atividades que envolveram a linguagem, entre elas,

a escrita, a interpretação e análise de texto de diferentes gêneros, levando em

conta as variedades linguísticas ali apresentadas. Segundo Possenti (2002,

p.35), “a variedade linguística é o reflexo da variedade social e, como em todas

as sociedades existe alguma diferença de status ou de papel, essas diferenças

se refletem na linguagem”. Na continuidade, apoiou-se no trabalho de Scherre

(2008, p.140) que se refere ao trabalho com a gramática. Segundo a linguista,

não basta apenas reformular gramáticas, é preciso combater publicamente o

preconceito linguístico sem menosprezar a língua materna, nas suas diversas

manifestações dialetais. “A beleza do ensino e da reflexão sobre gramáticas,

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normativas ou descritivas, devem fazer parte de nossas preocupações com a

linguagem.”

E, em um terceiro momento, houve a socialização desse trabalho, em

rede, com professores do estado, o GTR ( grupo de trabalho em rede),no qual

ao apresentar o projeto, a análise dos trabalhos desenvolvidos em sala,

contou-se com a participação, a sugestão desses professores envolvidos, o

que veio a enriquecer ainda mais o projeto.

2- Fundamentação Teórica

2.1 – Surgimento da Sociolinguística

A Sociolinguística surgiu nos Estados Unidos, na década de 1960,

quando muitos cientistas da linguagem decidiram que não era mais possível

estudar a língua sem levar em conta também a sociedade em que ela é falada.

(Bagno, 2009, p.28).

Segundo Orlandi (2006, p.51), para estudar todas as variações inerentes

à fala, surge a Sociolinguística, que toma a sociedade como causa e vê na

linguagem os reflexos das estruturas sociais. Essa ciência tem como objetivo

sistematizar a variação presente na linguagem, considerando que a língua não

é um sistema homogêneo, mas sim heterogêneo e dinâmico, por conseguinte,

as regras deverão abranger todas as variações das formas. O falante real será

analisado pelo uso das formas linguísticas, em sua comunidade.

De acordo com Musssalin e Bentes (2004, p.50), a Sociolinguística

estuda a linguagem no contexto social a fim de solucionar problemas próprios

da teoria as linguagem - a relação entre língua e sociedade. Como a linguagem

é um fenômeno social, é necessário recorrer às variações provenientes do

contexto social.

Para Possenti (2001, p.34), as diferenças que existem na língua não são

casuais, há fatores que influenciam na variação. Alguns dos tipos de fatores

que produzem diferenças na fala das pessoas são externos à língua. Os

principais são os fatores geográficos, de classe, de idade, de sexo, de etnia, de

profissão, etc. Pessoas que moram em lugares diferentes falam de maneiras

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diferentes em relação a um outro grupo que vive em outro lugar. Isso vale

também para diferenças entre sexos, idades, etnias, profissões. Cada grupo

assume seu dialeto, sua linguagem para se comunicar, construindo e

reforçando os papéis sociais próprios de cada indivíduo.

Segundo Possenti (2001, p.35), há farores internos à língua que também

influenciam na variação. Por exemplo, ouvem-se pronúncias alternativas de

palavras como caixa, peixe, outro: a pronúncia padrão incluiria a semivogal, a

pronúncia não-padrão a eliminaria (caxa, pexe, outro). Mas nunca se ouve

alguém dizer peto ou jeto ao invés de peito e jeito. Outro exemplo são as

variáveis pronúncias, em diferentes lugares do país, como do som que se

escreve com a letra l: alguma, auguma, arguma. Mais exemplos: poderemos

ouvir; “os boi”, “dois cara”, “nós vai”, mas nunca “o bois”, “um caras”, “eu

vamo(s)”.

Possenti (2013, p.44), em uma reportagem à Revista Língua

Portuguesa, cujo título de seu artigo é: “A língua (não) é dos falantes” afirma:

Talvez a única verdade indiscutível em relação às línguas é que não são faladas uniformemente por todos. A heterogeneidade social implica, ao menos concorre, na heterogeneidade linguística – em todas as sociedades! Seria simplificador supor (e impor) uma única variedade, tratando o restante das formas da língua simplesmente como erros. Mas o resultado mais interessante da consideração da variedade da língua é que ela pode ser tratada juntamente com sua mudança.

De acordo com Scherre (2008, p.145-146), a questão de linguagem

ultrapassa as fronteiras de classe social. Atinge também a dimensão rural-

urbano, do interior-capital. A fala de muitos brasileiros é caracterizada pela

presença do “r” retroflexo (socialmente chamado de caipira – embora

semelhante ao “r” do inglês americano, que representa grande prestígio) traço

de identidade local de várias regiões brasileiras: Goiás, Mato Grosso do Sul,

Minas Gerais, São Paulo, Paraná. Esse traço de identidade local, independente

de classe social, de anos de escolarização, de etnia, de poder aquisitivo, de

local de moradia, de gênero e de faixa etária é fortemente discriminado fora de

suas regiões de origem. A rejeição é tanta que muitos falantes mudam sua

falas para se sentirem aceitos e não discriminados por grupos que não utilizam

o “r” retroflexo.

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Segundo Bortoni-Ricardo (2009, p.10), a Sociolinguística é uma

disciplina que reúne dois campos de interesse: o estudo da língua e o estudo

da sociedade. Tem como compromisso a luta contra todas as formas de

discriminação e de exclusão social pela linguagem, porque não basta

descrever e analisar as relações entre língua e sociedade – é preciso também,

transformá-las.

2.2- A Variação Linguística

No Brasil, muitos pesquisadores se detêm a estudar a variação

linguística da língua portuguesa. Fernando Tarallo, Marcos Bagno, Stella Maris

Bortini-Ricardo, Maria Marta Pereira Scherre, Irandé Antunes, Rodolfo Ilari são

alguns autores com obras básicas de qualquer estudo sociolinguístico.

Segundo Ilari e Possenti (1985), a variação linguística presente na fala e

na escrita dos alunos é apenas uma das variedades que a Língua Portuguesa

oferece aos seus falantes e que o professor de língua materna deve trabalhar

e, ao mesmo tempo, levar os alunos a refletir sobre seu objeto de estudo e não

praticar mais um ensino que visa à transmissão de conteúdos prontos.

Segundo as DCEs (2008, p.53):

É na escola que um imenso contingente de alunos que frequentam as redes públicas de ensino tem a oportunidade de acesso à norma culta da língua, ao conhecimento social e historicamente construído e à instrumentalização que favoreça sua inserção social e exercício da cidadania. Contudo a escola não pode trabalhar só com a norma culta, porque não seria democrática, seria a-histórica e elitista.

De acordo com as DCEs da EJA – Educação de Jovens e Adultos (2006,

p.35):

Como eixo principal, a cultura norteará a ação pedagógica, haja vista que dele emanam as manifestações humanas, entre elas o trabalho e o tempo. Portanto, é necessário manter o foco na diversidade cultural, percebendo, compartilhando e sistematizando as experiências vividas pela comunidade escolar, estabelecendo relações a partir do conhecimento que esta detém para a(re)construção de seus saberes.

Entende-se que, ao manter o foco na diversidade cultural, a língua

também precisa ser entendida e trabalhada em suas diversas formas e

apresentações.

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Segundo Tarallo (2011, p.19), é importante o aluno perceber que a

língua é o veículo linguístico de comunicação e que não a usamos sempre do

mesmo jeito, adequamos nosso textos à situação comunicativa do momento.

Ainda segundo Tarallo (2011, p.14) a língua pode ser um fator

extremamente importante na identificação de grupos e no modo de indicar

diferenças sociais presentes nessa comunidade. Ressalta-se aqui, que como a

escola é constitucionalmente democrática, deve socializar o conhecimento,

acolhendo seus alunos independentemente dos traços linguísticos que

dispõem para expressar a linguagem e a compreensão do mundo que os

cerca. E, principalmente evitar que qualquer preconceito a isso se manifeste.

Para Bagno (2009, p.47), um conceito muito importante na

sociolinguística é o de variedade linguística – que significa um dos muitos

“modos de falar” um língua. Esses diversos modos de falar se relacionam com

fatores sociais como lugar de origem, idade, sexo, classe social, grau de

instrução, etc.

Dizer que a língua apresenta variação é o mesmo que dizer que a língua

é heterogênea, múltipla, variável, instável e está sempre em desconstrução e

reconstrução. Ela é uma atividade social empregada pelos falantes cada vez

que interagem por meios da fala ou escrita. (BAGNO, 2009, p.36). Segundo o

linguista, essa heterogeneidade linguística está relacionada com a

heterogeneidade social, pois estuda as relações que os grupos sociais e os

indivíduos mantêm através da linguagem (2009, p.38). Cada variedade

linguística tem características próprias, que servem para diferenciá-la das

outras variedades.

Para Tarallo (2011, p.8), “ em toda comunidade de fala são frequentes

as formas linguísticas em variação”. Segundo Possenti (2001, p.36) “ a

variedade linguística está entre variedades as mais funcionais que existem;

quanto mais numerosas forem, mais expressiva pode ser a linguagem

humana”. E, segundo Bortoni-Ricardo (2009, p.25) “sempre haverá variação de

linguagem nos domínios sociais”.

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Segundo Bagno (2005, p.150-151):

Uma das tarefas de língua na escola seria, então, discutir os valores sociais atribuídos a cada variante linguística, enfatizando a carga de discriminação que pesa sobre determinados usos da língua, de modo a conscientizar o aluno de que sua produção oral ou escrita estará sempre sujeita a uma avaliação social, positiva ou negativa. É mais do que justo que o professor explique, com base em teorias linguísticas consistentes, a origem e o funcionamento das variantes linguísticas estigmatizadas, que mostre as regras gramaticais que governam cada uma delas. Isso deixará claro que as formas alternativas à regra-padrão tradicional não são caóticas nem confusas nem incoerentes: muito pelo contrário, obedecem regras tão lógicas e consistentes quanto as que governam a opção-padrão e por isso podem ser explicadas cientificamente.

Segundo Bagno, (2005, p.12), a afirmação do linguista britânico Milroy

(1998, p.64-65) descreve com precisão as relações entre língua e poder:

“Numa época em que a discriminação em termos de raça, cor, religião ou sexo

não é publicamente aceitável, o último baluarte da discriminação social

explícita continuará a ser o uso que uma pessoa faz da língua”. Segundo

Scherre (2008, p.146), a prática de preconceito linguístico é licenciada,

estimulada e institucionalizada.

Soares afirma (2008, p.78):

Um ensino da língua materna comprometido com a luta contra as desigualdades sociais e econômicas reconhece, no quadro dessas relações entre a escola e a sociedade, o direito que têm as camadas populares de apropriar-se do dialeto de prestígio, e fixa-se como objetivo levar os alunos pertencentes a essas camadas a dominá-lo, não para que se adaptem às exigências de uma sociedade que divide e discrimina, mas para que adquiram um instrumento fundamental para a participação política e a luta contra as desigualdades sociais, Um ensino de língua materna que pretenda caminhar na direção desse objetivo tem de partir da compreensão das condições sociais e econômicas que explicam o prestígio atribuído a uma variedade linguística em detrimento de outras, tem de levar o aluno a perceber o lugar que ocupa seu dialeto na estrutura de relações sociais, econômicas e linguísticas, e a compreender as razões por que esse dialeto é socialmente estigmatizado; tem de apresentar as razões para levar o aluno a aprender um dialeto que não é o do seu grupo social e propor-lhe um bidialetismo não para sua adaptação, mas para a transformação de

suas condições de marginalidade.

De acordo com Bagno (2001, p.115- 117), combater o preconceito

linguístico requer uma mudança de atitude, tanto do professor quanto do

usuário da língua materna, elevando o grau da própria auto-estima linguística.

Deixar de lado certas concepções prontas que dizem que “brasileiro não sabe

português”; “português é muito difícil”; que habitantes da área rural ou das

classes menos privilegiadas “falam tudo errado”. O professor de língua

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portuguesa deve ser leitor e pesquisador sempre, pois precisa e deve produzir

seu conhecimento referente ao ensino de gramática e não apenas reproduzir o

que diz a gramática tradicional, descobrindo métodos interessantes e

envolventes para que seus alunos deduzam essas regras gramaticais em

textos vivos, coerentes, interessantes, bem produzidos, tanto na linguagem oral

quanto na escrita. Com essas mudanças e essa nova maneira de ver a língua

portuguesa espera-se que os alunos sejam bons usuários da língua.

Segundo Possenti (2001, p.53-54) ao responder o questionamento

“Ensinar língua ou ensinar gramática”, afirma que isso só será possível se...

[...]os professores estiverem convencidos – ou puderem ser convencidos – de que o domínio efetivo e ativo de uma língua dispensa o domínio de uma metalinguagem técnica. Em outras palavras, se ficar claro que conhecer uma língua é uma coisa e conhecer sua gramática é outra. Que saber usar suas regras é uma coisa e saber explicitamente quais são as regras é outra. Que se pode falar e escrever numa língua sem saber nada “sobre” ela, por um lado, e que, por outro lado, é perfeitamente possível saber muito “sobre” uma língua sem saber dizer uma frase nessa língua em situações reais.

Levando em consideração os vários estudos feitos sobre a linguagem,

há um consenso entre os linguistas em afirmar que existe uma variedade

linguística. Essa separa as pessoas que detêm as variedades prestigiadas das

que utilizam as variedades estigmatizadas. São estigmatizadas aquelas que

não têm o conhecimento ou não se apropriam da variedade considerada de

prestígio, “culta”. Respeitar a variedade linguística de toda e qualquer pessoas

é muito importante, principalmente nas aulas de língua materna. Dentro dessa

variedade existe uma normatização bem estruturada que os alunos seguem,

considerando com isso a ideia de que não existe erro de português e sim

formas diferentes de usar os recursos presentes na própria língua. A escola

deve proporcionar meios pelos quais os alunos tenham acesso à variedade

considerada “culta”, de prestígio e, em nenhum momento esses mesmos

alunos sejam ridicularizados ou estigmatizados por, ainda, não serem usuários

competentes da forma prestigiosa.

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2.3- Variantes-Padrão/ Não Padrão; Conservadoras/ inovadoras;

Estigmatizadas/ De Prestígio

De acordo com Tarallo (2011, p.11-12), a variante considerada padrão é,

ao mesmo tempo, conservadora e aquela que goza do prestígio sociolinguístico

na comunidade. Já as variantes inovadoras são também, quase sempre, não

padrão e estigmatizadas pelos falantes da comunidade.

Ainda segundo o linguista (2011, p.14), a língua é um fator de

identificação de grupo, e também um meio de demarcar diferenças sociais

numa comunidade.

Segundo Bortoni-Ricardo (2009, p.33-34), em todas comunidade onde

vivem e convivem diferentes variedades regionais, os falantes de maior poder

socioeconômico transferem esse “prestígio” para a sua variante linguística que

passa a ser vista como uma variedade mais bonita e mais correta. Em

contrapartida, a variedade regional falada por pessoas de menor poder

aquisitivo ou oriundas de uma comunidade rural, é considerada um dialeto

“ruim”, estigmatizado.

Segundo Possenti (2002, p.51-52) o que chamamos e conhecemos por

linguagem correta é apenas uma variedade da língua que, em certa época da

história do Brasil foi utilizada por cidadãos influentes da região mais poderosa

do país e, escolhida por essa razão como expressão do poder, da cultura

desse grupo. Com isso, seu domínio passou a ser necessário para obter

acesso ao poder

Possenti afirma (2002, p.52) que todas as variedades da língua são boas

e corretas e, que seguem regras tanto quanto às da “língua clássica dos

melhores autores”. Deve-se ter em mente que as variedades não são erros,

mas sim diferenças. A noção de erro nada tem de linguística. O que ocorrem

são inadequações de linguagem, que consistem no uso de uma variedade em

vez de outra numa determinada situação em que as regras sociais não abonam

aquela forma de falar. Segundo Bortoni-Ricardo (2009, p.9), “os chamados

“erros” que nossos alunos cometem têm explicação no próprio sistema e

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processo evolutivo da língua. Portanto, podem ser previstos e trabalhados com

uma abordagem sistêmica.”

Travaglia (2009, p.63) afirma:

A norma (culta, da classe de prestígio) constitui o português correto; tudo o que foge à norma representa um erro. Isso representa um preconceito porque, na verdade, não há português certo ou errado: todas as variedades são igualmente eficazes em termos comunicacionais nas situações em que são de uso esperado e apropriado. O que há na verdade são modalidades de prestígio e modalidades desprestigiadas em função do grupo social que as utiliza. Assim,querermos que os alunos saídos de classes desprestigiadas aprendam a norma culta para dela se utilizarem, por exemplo, quando fora do ambiente familiar é desejável porque isso lhes dará maiores possibilidades de mobilidade social. Contudo, é igualmente desejável que eles mantenham a modalidade que aprenderam antes de vir para a escola para utilizá-la quando inseridos nos contextos sociais nos quais esta modalidade é mais conveniente. Nossa proposta é que a variedade da escola seja não só a norma culta, mas também o trabalho com as variedades adequadas a situações em que a norma culta não será a mais conveniente. Podemos listar argumentos para que a escola trabalhe prioritariamente ou só com a norma culta, mas é preciso lembrar que isso é apenas uma opção e sempre deixar isso claro para os alunos. O problema, a nosso ver, é apresentar a chamada variedade culta ou padrão como a única possível (“correta”) no uso da língua. Para nós é inadmissível a atitude de querer que o aluno apague a variedade de seu grupo de origem e/ou a substitua por outra.

2.4- Uma Proposta para o Ensino da Gramática

Segundo Possenti (2001, p.86):

Costuma-se pensar o ensino da língua como ensino de gramática, e o ensino de gramática como ensino de regras. Pode até ser interessante manter esta fórmula, dando-lhe, porém, um conceito novo. Ensinar gramática é ensinar a língua em toda sua variedade de usos, ensinar regras é ensinar o domínio do uso de escrever, diferentes daqueles que eles já trazem de sua vivência familiar e comunitária. A escola tem como função ampliar o repertório linguístico dos estudantes, principalmente pela inserção deles no mundo da cultura letrada. Ensinar a ler e escrever é a tarefa número um da educação linguística.

De acordo com essa nova concepção de gramática ( a descritiva),

Bagno (2009, p.195) propõe que o (a) docente de língua portuguesa elabore

um projeto de pesquisa sobre o funcionamento da língua, cujo tema parta das

reais dificuldades detectadas no seu trabalho com a leitura e a escrita, pois

através da pesquisa, os alunos tomarão consciência dos fenômenos

gramaticais, as variações e as mudanças que configuram no sistema linguístico

do português.

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Bagno (2009, p.221), salienta que as regras de concordância nominal e

verbal estão entre as quais mais apresentam traços variáveis da língua.

Segundo o linguista a gramática normativa aborda esse assunto simplificando

uma realidade que, na verdade, é muito complexa. Poucos falantes,

principalmente em seus usos de língua oral, respeitam integralmente as regras

de concordância da gramática normativa, até mesmo os que julgam conhecê-

las em diversos momentos deixam de obedecê-las.

Scherre afirma (2008, p.140), que por mais atualizada, revisada e

ampliada que a gramática normativa esteja atualmente, não, possui condições

para representar a complexa rede linguística de uma comunidade de fala. De

acordo com a linguista, o domínio da língua materna é natural, não requer

ensino. O domínio de gramáticas normativas, de segundas línguas, de línguas

estrangeiras, de processos de leitura e de escrita é adquirido. Aprende-se a

escrever, escrevendo; escrevendo textos que façam sentido, textos de

múltiplos sentidos. Aprende-se a ler, lendo; lendo textos que façam sentido,

que provoquem prazer.

Para se ensinar a escrever com eficiência, os professores têm que

produzir textos interessantes com os alunos, dos mais variados gêneros,

escrevendo e reescrevendo, prazerosamente. (SCHERRE, 2008, p.141).

2.5 EJA - Educação de Jovens e Adultos

De acordo com as Diretrizes Curriculares da EJA (2006, p.27), a

Educação de Jovens e Adultos é uma modalidade de ensino que atende aos

alunos-trabalhadores que não tiveram acesso ou continuidade da escolarização

na idade própria e que tem como função social o compromisso com a formação

humana e com o acesso à cultura geral, de maneira que os educandos

aprimorem sua consciência crítica e se firmem como sujeitos ativos, críticos, de

atitudes éticas e comprometidos com o aprendizado e desenvolvimento de sua

autonomia intelectual.

É característica dessa modalidade de ensino a diversidade do perfil dos

educandos, com relação à idade, ao nível de escolarização, à situação

socioeconômica e cultural, às ocupações e a motivação pela qual procuram a

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escola. É pertinente entender que cada sujeito-aluno tem um tempo próprio de

formação, apropriando-se de saberes locais e universais, partindo de sua

perspectiva e ressignificação de mundo e de si mesmo. (DCE-EJA, p.27)

A EJA (Educação de Jovens e Adultos) tem suas especificidades. Para

tanto, deve ter uma estrutura flexível a fim de contemplar inovações que

tenham conteúdos significativos. Deve respeitar os limites, o tempo de cada

educando, pois há diferenças de aprendizagem e não um tempo único para

todos. Ao reconhecer-se como sujeito, o educando poderá ressignificar suas

experiências socioculturais para a construção e apropriação de conhecimentos

para o mundo de trabalho e para o exercício da cidadania.

A Educação de Jovens e Adultos deve atender às expectativas e às

necessidades do aluno adulto, inserido em uma sociedade que está em

constante transformação. Segundo Gadotti e Romão (2001, p.55):

Neste sentido, há que se destacar a qualidade de que deve se revestir a educação de jovens e adultos. Ela não pode ser colocada paralelamente ao sistema, nem como forma compensatória, nem como forma complementar, mas como modalidade de ensino voltado para uma clientela específica.

2.5.1. Perfil dos Educandos da EJA

Para compreender o perfil do educando da EJA é preciso conhecer sua

história, sua cultura, seus costumes e entendê-lo como um sujeito com

diferentes experiências de vida que, em algum momento precisou afastar-se da

escola devido a fatores sociais, econômicos, políticos e/ou culturais, levando-o,

com isso, a ingressar prematuramente no mundo do trabalho ou a elevar os

dados de estatísticas da evasão e da repetência escolar. (DCE-EJA, 2006,

p.29).

Após a instrução nº 032/2010 – SUED/SEED, em vigor em 2011, quando

a idade mínima de 15 anos incompletos passou a ser considerada para

matrícula no Ensino Fundamental dessa modalidade de Educação de Jovens e

Adultos, ocorreu o aumento no número de adolescentes advindos de uma

educação marcada por frequente evasão e reprovação no Ensino Fundamental

e Médio, principalmente no estabelecimento de ensino que será destinado a

implementação desse projeto (CEEBJA – União da Vitória), PPP (2022, P.18).

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Segundo a DCE-EJA (2006, p.31) o atendimento escolar a adolescentes,

jovens, adultos e idosos não diz respeito apenas a uma característica etária,

mas sim à diversidade sociocultural de seus alunos, que é composta por

populações do campo, em privações de liberdade, com necessidades

educativas especiais, indígenas, remanescentes de quilombos, entre outros,

levando em conta uma educação que privilegie o tempo, espaços e a sua

cultura.

3. Desenvolvimento e aplicação do projeto

Esse projeto foi idealizado para aplicação no CEEBJA (Centro Estadual

de Educação Básica para Jovens e Adultos) de União da Vitória (PR), aplicado

no primeiro semestre de 2013. Paralelamente a aplicação do projeto ocorreu o

GTR (grupo de trabalho em rede), envolvendo não só professores da disciplina

de Língua Portuguesa, mas também de Educação Física, História, Geografia,

Sociologia, Sala de Recursos e Pedagogia. na Isso foi muito interessante pois

o tema variação linguística está presente em todas as aulas, de qualquer que

seja a disciplina e todos os professores, como afirma Antunes, (2007, p.123),

devem ter uma ampla competência linguística, porque não apenas na aula de

português, mas as lições de história, de geografia, de ciências, de matemática

também são textos e precisam ser entendidos, sintetizados e incorporados a

nosso repertório de informação. O ponto de partida foi a sua apresentação

Semana Pedagógica do início do ano letivo, no qual colegas professores,

equipe pedagógica, direção e demais profissionais da educação que compõem

o coletivo da escola se inteiraram sobre o assunto e como seria o trabalho com

as variedades linguísticas na sala de aula escolhida.

Partiu-se do pressuposto de que a atividade escrita é essencialmente

uma prática social. De acordo com Schneuwly e Dolz (2004), as práticas de

linguagem caracterizam, ao mesmo tempo, o reflexo e o principal instrumento

de interação social. É a realidade social, portanto, que determina o uso da

linguagem e lhe confere, de fato, relevância.

A produção dessa Unidade Didática teve como objetivo propor ao

professor atividades que abordassem o tema Variações Linguísticas em

diferente gêneros textuais. Sabe-se que os professores de Língua Portuguesa

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precisam sempre encontrar métodos interessantes e envolventes para que

seus alunos entendam as regras gramaticais em textos vivos, coerentes,

interessantes e bem produzidos, textos esses, tanto na linguagem oral, quanto

na escrita, dos mais variados gêneros.

Para Possenti (2001, p.84), boa estratégia para ensinar língua e

gramática é a prioridade absoluta para a leitura, para a escrita, a narrativa oral,

o debate e todas as formas de interpretação (resumo, paráfrase, etc). Parece

paradoxal, mas não se incluem entre as atividades as lições de nomenclatura e

de análise sintática e morfológica, tão estranhamente praticadas.

Atividade 02: A atividade começou com a leitura de uma história em quadrinho

do personagem Chico Bento na qual a professora teve uma reação típica dos

“professores tradicionais” que acreditavam que deveriam corrigir severamente

os usos da língua que diferem da norma considerada “culta”.

A atividade ocorreu de maneira tranquila. Em seguida os alunos assistiram

aos vídeos (http://www.youtube.com/watch/v=NrtrLbDPC-Y)

(http://www.youtube.com/watch?v=9dN1krnlzTc) e

((http//www.youtube.com/watch?feature=player_detailpage&v=xRLbYay3yZy) e

fizeram a atividade proposta. Porém, foi mais fácil encenar que produzir o texto

no papel. Com incentivo, persistência e pleno envolvimento dos colegas de

cada grupo formado, produziram textos bem interessantes e criativos.

Atividade 03: A atividade começou com uma canção popular muito envolvente

que aos poucos encantou a todos. A música era o “Cuitelinho”, que ao ser

passada e tocada no data show fez com que todos “entrassem” no cenário e

vivenciassem a beleza e o encantamento da bela paisagem que ali era exibida,

sem contar que o voo alegre e faceiro do pequeno cuitelinho tornou a proposta

bem prazerosa e envolveu todo o grupo. Com isso, puderam perceber uma das

classificações, classificada pela Sociolinguística, como diatópica, ou seja,

modo de falar de lugares diferentes (zona urbana e zona rural).

Atividade 04: A música ”Asa Branca” cativou os alunos. É conhecida e por

todos foi cantada. Perceberam a riqueza do vocabulário cultural mesmo sendo

escrito em linguagem estigmatizada. Analisaram a história ali contada do

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retirante; a história de vida dos escritores: Luiz Gonzaga e Patativa do Assaré.

Perceberam, ao trabalharem os textos, tanto o da música quanto o da poesia,

que eles exemplificavam bem a variação diastrática, ou seja, o modo de falar

das diferentes classes sociais.

Nessa atividade também foi salientada a questão o “r” retroflexo que

ocorre em determinadas regiões do país, o “r” vibrado nas palavras “porta”,

“sorvete”, “curva”, etc.

Atividade 05: A variação diamésica, comparação entre a língua falada e a

língua escrita, foi o foco central dessa atividade. Ao lerem o texto de Jô

Soares: “Português é fácil de aprender porque é uma língua que se escreve

exatamente como se fala” perceberam que, em nosso dia a dia, muitas das

palavras ali escritas são exatamente transcrição da fala e que há diferenças

entre fala e escrita. O texto de Carlos Drummond de Andrade “Aula de

Português” confirmou o que foi estudado de uma maneira poética e envolvente.

Atividade 06: Os textos trabalhados permitiram que os alunos percebessem

que, conforme a situação comunicativa do momento, há a necessidade de

adequação da fala. Essas regras indispensáveis à formação das sentenças,

também às normas sociais e culturais que definem a adequação da fala,

denominam-se competências comunicativas e, segundo Bagno, são

classificadas de variação diafásica, ou melhor dizendo, uso diferenciado que

cada indivíduo faz da língua de acordo com o grau de monitoramento que ele

confere ao seu comportamento verbal, ao seu modo de falar.

Atividade 07: Ao lerem o texto “O diálogo dos tempos” de José Roberto Torero

e “Antigamente” de Carlos Drummond de Andrade perceberam que a

linguagem falada não é um elemento fixo e imutável. Os textos que envolviam

palavras “desconhecidas” para o público mais jovem, diferente de alguns

alunos que entenderam bem o que ali estava escrito, pois muitas palavras

mudaram de acordo com as circunstâncias sociais, tornaram-se engraçados,

proporcionando aos alunos divertirem-se com o inusitado da linguagem através

dos tempos. Já ao lerem “Pela Internet”, de Gilberto Gil e outro texto que

mostrava a linguagem usada pelos jovens em redes sociais, foi, estranharam

alguns termos usados (internetês), uma vez que, como se trata da EJA

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(Educação de Jovens e Adultos) e alguns não fazem uso desses meios de

comunicações atuais, tiveram dificuldades para entender o que estava escrito.

Essa atividade mostrou, de forma bem caracterizada, o que Bagno quis

dizer quando classificou a Variação Linguística como diacrônica, ou seja, a

comparação entre diferentes etapas da história de uma língua. Sabe-se que as

línguas mudam com o tempo e esse textos são exemplos vivos disso.

Atividade 08: A música “Comida” dos Titãs envolveu a todos. Cantaram, leram

sua letra e, após o trabalho da re-escrita das palavras envolvendo o uso das

concordâncias, perceberam que há a necessidade de fazê-la corretamente

para que a escrita de seus textos seja de acordo com as normas da regra

padrão, ou seja da linguagem de prestígio.

4 - Considerações Finais

Desenvolveu-se nesse trabalho uma reflexão em torno das Variantes

Linguísticas através de diversos gêneros textuais.

O trabalho da educação linguística consiste em revelar aos estudantes e

da EJA em especial, a existência de outros modos de falar e escrever,

diferentes daqueles que os educandos trazem de sua vivência familiar e

comunitária. Cabe à escola ampliar esse repertório linguístico através da sua

inserção no mundo da cultura letrada. Ensinar a ler e a escrever é a tarefa

número um da educação linguística.

Antunes afirma que cabe ao professor de Língua Portuguesa reconhecer

e expandir a competência linguística e comunicativa dos seus alunos, sem que

haja a repreensão aos “erros” ou a zombaria dos sotaques “engraçados e nem

a imposição de uma norma padrão pautada na decoreba maçante da gramática

normativa. Deve-se sim, ensinar gramática, mas partindo daquilo que o aluno

sabe para chegar ao domínio do que ele precisa saber, privilegiando a

dimensão integral, social e coletiva do seu desenvolvimento comunicativo

alcançado.

Que a escola saiba trabalhar e acolher as diferenças dos alunos com o

maior respeito por aqueles que as apresentam, não por estar fazendo

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concessões ou ser compassiva, mas sim porque a diferença é a parte mais

significativa daquilo que nos faz iguais. (ANTUNES, 2007, p.109).

5- Referências:

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ANTUNES, Irandé. Muito Além da Gramática – por um ensino de línguas sem pedras no caminho. São Paulo. Parábola Editorial, 2007.

BAGNO, Marcos. Preconceito Linguístico – o que é, como se faz. São Paulo: Edições Loyola, 2001.

______. Português ou brasileiro? – um convite à pesquisa. São Paulo: Parábola Editorial, 2001.

______. A norma oculta – Língua & Poder na sociedade brasileira. São Paulo: Parábola Editorial, 2005.

______. Nada na língua é por acaso – por uma pedagogia da variação linguística. São Paulo. Parábola Editorial, 2009.

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