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UNIVERSIDADE DE CABO VERDE DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS CAMPUS PALMAREJO LICENCIATURA EM ENSINO DE FILOSOFIA CIÊNCIA E RELIGIÃO NAS PERSPECTIVAS DE BERTRAND RUSSEL E HANS KÜNG ORIENTANDA: VERA PATRÍCIA ANDRADE RODRIGUES ORIENTADOR: PROFESSOR, MESTRE, RUI MANUEL DA VEIGA PEREIRA

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UNIVERSIDADE DE CABO VERDE

DEPARTAMENTO DE CINCIAS SOCIAIS E HUMANAS

CAMPUS PALMAREJO

LICENCIATURA EM ENSINO DE FILOSOFIA

CINCIA E RELIGIO NAS PERSPECTIVAS DE BERTRAND RUSSEL E HANS KNG

ORIENTANDA: VERA PATRCIA ANDRADE RODRIGUES

ORIENTADOR: PROFESSOR, MESTRE, RUI MANUEL DA VEIGA PEREIRA

PRAIA, JUNHO DE 2015

ANO LECTIVO 2014/ 2015

UNIVERSIDADE DE CABO VERDE

DEPARTAMENTO DE CINCIAS SOCIAIS E HUMANAS

CAMPUS PALMAREJO

LICENCIATURA EM ENSINO DE FILOSOFIA

CINCIA E RELIGIO NAS PERSPECTIVAS DE BERTRAND RUSSEL E HANS KNG

ORIENTANDA: VERA PATRCIA ANDRADE RODRIGUES

ORIENTADOR: PROFESSOR. MESTRE, RUI MANUEL DA VEIGA PEREIRA

PRAIA, JUNHO DE 2015

ANO LECTIVO 2014/ 2015Trabalho cientfico apresentado Universidade de Cabo Verde (UNICV), como requesito parcial, para a obteno do grau de Licenciatura em Ensino de Filosofia, sob orientao do Prof. Mestre, Rui Manuel Da Veiga Pereira.

Trabalho Cientfico:

Cincia e Religio nas perspectivas de Bertrand Russel e Hans Kng.

Elaborado por:

Vera Patrcia Andrade Rodrigues

Orientado pelo:

Prof. Mestre, Rui Manuel Da Veiga Pereira

Aprovado pelos membros do Jri, e homologado pelo Conselho Cientfico aos ___/___/___.

O Jri

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Praia, aos ______ de ______________ de 2015

DedicatriaDedico este trabalho, especialmente, minha me, Maria Andrade Vieira, e ao meu filho, Marco Henrique Andrade Miranda.

AgradecimentosNa realizao do trabalho deste gnero so sempre muitas as pessoas a quem agradecer, sem as quais no seria possvel a sua concretizao. No s durante a realizao desse trabalho, mas durante o percurso da minha formao, tive muitas mos cmplices envolventes. Sendo assim, no poderia deixar de agradec-las uma vez que, sem tais apoios e mos amigas no alcanaria esta meta.

Eis o momento to esperado, onde poderei manifestar a minha profunda gratido a todos aqueles, que contriburam para este trabalho tornasse uma realidade. Assim, fico eternamente, grata:

A Deus, e minha querida me, por me terem dado vida e investir na minha educao no veradeiro sentido da palavra, onde a fora e coragem no me faltaram, para enfrentar todos os desafios, que tm surgido ao longo desta caminhada

Assim, queria agradecer a meu orientador, Professor Mestre Rui Manuel Pereira da Veiga, pela orientao e pela pacincia, que teve comigo, pela colaborao, pelas ideias e pela cumplicidade e pelo fornecimento de uma vasta e preciosa fonte bibliogrfica, que me facilitou realizao deste trabalho. Cmara Municipal de So Domingos por ter disponibilizado a bolsa de estudos sem a qual a minha Licenciatura seria impossvel.Aos meus pais, que sempre me apoiaram e me deram nimo para que levasse esse barco a bom Porto.

Ao, querido e amado pai do meu filho Natalino Miranda Varela pela pacincia de J, que teve comigo, oferecendo toda disponibilidade e apoio durante o processo de formao.Queria tambm agradecer aos meus irmos, Jossemar Rodrigues, Melany Varela, Celene Tavares, Snia Tavares, Kielidy Rodrigues por estarem sempre disponveis para ajudar no que eu precisasse e, por estarem dispostos a cuidarem do meu filho para que eu pudesse realizar o meu trabalho.s minhas tias Clarice Andrade Vieira, Filomena Andrade Vieira e Amlia Andrade Vieira por me terem apoiado com o que podiam durante esse longo e rduo percurso. Enfim, a todos que de forma directa ou indiretamente apoiaram os meus estudos s resta dizer muito obrigado a todos.ResumoCom a temtica Cincia e Religio nas perspectivas de Bertrand Russel e Hans Kng procuramos demonstrar ou mesmo descobrir qual posio da cincia perante a religio, nas perspectivas de Bertrand Russell e Hans Kng. Queremos demonstrar qual a posio desses dois autores perante a cincia e a religio, questes que historicamente tm provocado enmeras controvrsias e debates, pois representam dois dos grandes sistemas do pensamento humano. A religio sempre foi a influncia predominante na conduta do homem e a cincia interfere directamente na vida do homem, pelo menos, h dois sculos; no o faz a um nvel intelectual como a religio o faz, mas a um nvel prtico, atravs da tecnologia. Desde o caso Galileu, Cincia e Religio se opuseram e, muitas vezes, confrontaram-se por causa das direes dos seus olhares: uma em direo a este mundo e a outra em direo a outro mundo. A cincia tem como objecto de estudo os fenmenos naturais e a religio, a relao do homem com Deus ou Sagrado. Porm, a questo decisiva que colocamos se essa relao que as liga conflituosa como argumenta Bertrand Russell ou harmoniosa como sustenta Hans Kng? Desta, inferimos estas outras: no h um lado cientfico da religio e um lado religioso da cincia? Quais so os reais impactos da cincia e da religio na sociedade? Qual a importncia do dilogo entre as religies para a poca da sociedade civil mundial em que vivemos?PALAVRAS-CHAVE: cincia; religio; Deus; conhecimento; dilogo; possibilidade de verdade. cincia cabe dizer como vai o cu, e religio como se vai ao cu.Galileu Galileindice

5Dedicatria

6Agradecimentos

8Resumo

10ndice

18Captulo I: A relao objectual e metodolgica entre cincia e religio

181. Diferena e proximidade objectual entre a Cincia e a Religio

212. Natureza da experincia religiosa e da experincia cientfica

243. O mtodo cientfico, a crena e a possibilidade da verdade

284. Cientificidade da religio e a religiosidade da cincia

31Captulo II: A relao entre a cincia e a religio: perspectivas histricas

311. A antiguidade: onde a Cincia e a Religio se confundem

372. Idade Mdia: So Boaventura e a Reduo das Cincias Teologia

413. Idade Moderna: Criacionismo, filosofia mecanicista e evolucionismo

514. Cincia e a Religio hoje: um dilogo (que continua a ser) possvel?

56Captulo III: A natureza conflituosa entre a cincia e a religio em Bertrand Russell.

561. Cincia, Religio e filosofia em Russell

592. Eventuais Contribuies da Cincia e da Religio para a Civilizao

643. A Revolta da Cincia contra a Filosofia e as novas questes ticas da cincia

674. A razoabilidade do Cepticismo e as questes ltimas da existncia humana

69Captulo IV: Acerca das relaes entre a cincia e a religio em Hans Kng

691. A religio e os critrios ecumnicos da verdade

712. A importncia da Religio para um ethos mundial

733. Hans Kng e o imperativo do dilogo cientfico e espiritual

754. Como a Cincia descobre os seus limites e a religio tem necessidade da Cincia.

79Concluso

82Referncias Bibliogrficas

IntroduoA dificuldade em abordar a questo das relaes entre a cincia e a religio que a sua explicao exige que se obtenha, partida, alguma ideia clara do que se quer dizer com os termos "religio" ou "cincia". Temos de compreender o tipo de conexo, que existe entre as duas esferas e s depois tirar, ento, algumas concluses especficas a respeito da situao, que os contemporneos enfrentam.Ao falar da cincia e da religio no podemos deixar de salientar que as crenas inscritas nos mitos, nas religies ou na cincia, tm semelhantes objectivos, que passam por fornecer respostas s perguntas que o nosso esprito no deixa de exigir. No deveriam estar em contradio, nem mesmo em oposio, nem mesmo devem ser confundidas, porque se situam em planos diferentes. Talvez, uma se pronuncia sobre a natureza do universo e dos seres, e a outra, descobre o que eles so e como foi a sua evoluo.

O conflito entre cincia e a religio o que naturalmente ocorre nossa mente quando pensamos nesse assunto, mas tambm para o crente natural a harmonia entre as duas actividades. Durante a ltima metade de sculo XX, os resultados da cincia e as crenas da religio chegaram a uma posio de evidente desacordo, do qual no pode haver escapatria, excepto pelo abandono ou do claro ensinamento da cincia ou do claro ensinamento da religio. Quando consideramos o que a religio como a cincia so para a humanidade, no h nenhum exagero em dizer que o caminho futuro da histria depende do que esta gerao decidir quanto s relaes entre uma e outra. Nessa concluso, insistiram os defensores representantes de cada um dos lados. Encontramos, por exemplo, filsofo Bertrand Russel e telogo Hans Kng, que so o foco deste trabalho.O conflito entre a cincia e religio teve dois confrontos srios. Segundo Guy Lazorthes, o primeiro confronto deu-se, no sculo XVI, quando se realizou uma grande viragem das concepes cosmolgicas com os filsofos gregos pr-socrticos no seu gesto de desmitologizao, e a consequente busca racional do princpio de todas as coisas. O segundo teria sido quando Nicolau Coprnico publicou a famosa De Revolution ibusorbium coelestum, (1453) na qual declara que no o sol que gira em torno da terra, mas o inverso. Essa teoria foi confirmada por Galileu e Isaac Newton, que foram homens da cincia, mas tambm crentes.

Sempre existiu um conflito entre religio e cincia e, tanto religio como cincia sempre estiveram em estado de contnuo desenvolvimento. Nos primeiros tempos do cristianismo, havia uma crena geral entre os cristos de que o mundo estava chegando ao fim, exactamente, no perodo da existncia das pessoas, que ento viviam. S podemos tirar inferncias indirectas sobre at onde essa crena era autorizada, mas o certo que era amplamente aceite e que formava uma parte considervel da doutrina religiosa popular. Houve tempos em que essa relao se caracterizou pelo triunfo da religio sobre a cincia como aconteceu na longa Idade Mdia, e tempos em que, nessa relao, sobressaiu a cincia e a tcnica como foram os perodos do iluminismo e a contemporaneidade, embora esta seja tambm caracterizada por um certo regresso da religio esfera pblica.A questo das relaes entre a cincia e religio foi alvo de ateno de autores como Bertrand Russel e Hans Kng, dois filsofos contemporneos, que representam bem as duas possibilidades, conflito e harmonia, inscritas nessa dialctica. Bertrand Russel foi durante a sua vida, um escritor fecundo, e alguns de seus melhores trabalhos se encontram em pequenos opsculos, segundo o estilo dos filsofos analticos, como a sua obra Porque no sou cristo. Em relao religio so poucas as coisas conhecidas, por ele publicadas. Classifica a relao entre a cincia e a religio como um conflito permanente e insupervel. Segundo Russell, a cincia e a religio so dois aspectos da vida social, e a religio tem sido importante, pois remonta aos nossos conhecimentos da histria espiritual do homem, enquanto a cincia depois das vicissitudes da sua existncia entre os gregos e os rabes, de repente, tomou importncia no sculo XVI, e, desde ento, tem modelado progressivamente as ideias e as instituies em que vivemos. A religio um fenmeno complexo, que tem simultaneamente aspectos individuais e sociais ou colectivos. As religies mais antigas de que temos conhecimento eram as mais sociais, que individuais, isto , tinham espritos poderosos, que castigavam ou premiavam toda a tribo conforme os membros individuais da tribo tinham um comportamento ofensivo ou agradvel.A religio crist oferece queles que a aceitam, confortos que so dolorosos de abandonar, uma vez que a crena desvanece. Uma crena em Deus e na vida eterna torna possvel atravessar a vida com um grau menor de coragem estoica do que a que necessria aos cpticos. Na medida em que apela ao medo, a religio contribui para um aviltamento da dignidade humana. Quando tomada realmente a srio, a religio implica considerar o mundo em que vivemos como sem importncia quando comparado com o prximo, levando por essa via defesa de prticas, que do origem, aqui na terra, a um grande saldo de infelicidade maior no cu. Russel diz que entre a religio e cincia havia um conflito prolongado, que at os ltimos anos, a cincia sempre saiu vitorioso.

A cincia surgiu sculos e sculos depois da religio, mas tem tomado a posse das situaes onde a religio tem perdido gradualmente a guerra. A religio explicava as coisas de uma forma fictcia e dubitvel enquanto a cincia poderia trazer coerncia e distino com mtodos baseados na experimentao e observao, saindo da esfera do senso comum e do bsico. Russell fala-nos das contribuies da cincia para a civilizao onde ele diz que, de uma certa forma, a religio contribuiu para que tenhamos uma sociedade estvel e ao fim de um estdio em que as pessoas tinham medo de ser castigadas por um ser superior. Ao abordar essa questo, Russell diz que a religio como uma doena nascida do medo como uma fonte de indizvel sofrimento para a raa humana. Ajudou, nos primeiros tempos, a fixar o calendrio, e levou os sacerdotes egpcios a registrar os eclipses com tal cuidado que, com o tempo, foram capazes de prediz-los. Abordando a questo das contribuies da cincia para a civilizao, podemos mencionar primeiro a teoria heliocntrica de Galileu. Encontramos ainda, Isaac Newton com sua a teoria gravitacional. So exemplos de que a cincia trouxe enormes contributos para a civilizao, conduzindo os homens para uma explicao racional baseada na observao e na experimentao. A cincia trouxe contribuies extraordinrias para a civilizao, na medida em que, hoje, por exemplo, as epidemias podem ser controladas, a taxa de mortalidade infantil pode ser diminuida e controlada para no dizermos que foi praticamente erradicada, a produo planificada e massiva contribui para a reduo da fome no mundo, e existem muitos outros exemplos que mostram que a cincia trouxe contribuies positivas para a civilizao. Porm, trouxe tambm contribuies negativas. Alm de Russell, encontramos tambm Hans Kng, que o outro foco deste trabalho, com as interessantes consideraes sobre a cincia e a religio. Hans Kng (19 de marode1928) umtelogosuo,filsofo, professor deteologia, que ainda se encontravivo. Kng desenvolveu as suas reflexes ticas a partir do apelo a um dilogo entre a cincia e a religio em nome de uma paz entre elas. Como telogo cristo, mostra como no h incompatibilidades entre a religio e a cincia, particularmente, na Ps-Modernidade.Este estudo quer, a partir do mago destas suas reflexes, perceber os seus pontos de proximidade com as possibilidades ps-modernas. Segundo este pensador do projecto de uma tica mundial, no haver sobrevivncia sem uma tica mundial. No haver paz no mundo sem paz entre as religies. E sem paz entre as religies no haver dilogo entre as religies. Como justificativa, ele diz tratar-se de uma heursticadas transformaes actuais caracteriadas pela nova constelao geral, que requer uma ethos mundial.Kng claro ao afirmar que os tempos actuais como os da Ps-Modernidade exigem uma tica mundial capaz de fazer face ao mundo globalizado. Vrias so as coordenadas e caractersticas desse novo mundo, que se esboa, de novo, um macro paradigmae que se caracteriza por uma nova constelao geral,que est a exigir novas condutas das religies e das prticas polticas transnacionais. com base nesses argumentos, que vamos desenvolver esse trabalho cuja estrutura a seguinte: O captulo I um intitula-se A relao objectual e metodolgica entre a cincia e a religio. Visa mostrar a relao que existe entre as duas esferas no que tange ao objecto de estudo e metodologia de investigao. Ser construido atravs de anlise dos seguintes tpicos: 1. A diferena e a proximidade objectual entre a cincia e a religio onde vamos mostrar onde se diferem e onde se aproximam quanto ao objecto de estudo; 2. Natrureza da experincia religiosa e da experincia cientfica onde tentaremos mostrar que falar da natureza da experincia religiosa falar das suas formas de manifestao e da forma como ela encarada, enquanto a experincia cientficaconsiste naobservaode umfenmenosob condies, que o investigador pode controlar e verificar objectivamente; 3. Mtodo cientfico, a crena e a possibilidade de verdade onde analizaremos a questo, at que ponto o mtodo cientfico e crena tm a possibilidade de alcanar a verdade, uma vez que so duas esferas que usam mtodos diferentes e actuam em campos distintos. 4. Cientificidade da religio e religiosidade da cincia onde iremos discutir em que medida possvel uma cincia da religio e a religiosidade da cincia, dando continuidade ao carcter de proximidade das suas abordagens. O captulo II intitula-se A relao entre a cincia e a religio: Perspectivas Histricas. Visa mostrar como a cincia e religio se relacionam, ao longo dos tempos, visto que as interaes entre cincia e religio so variadas e complexas, tanto historicamente como na atualidade. Esta anlise ser feita com base nos seguintes tpicos: 1. A antiguidade: onde a Cincia e a Religio se confundem. Neste item argumentaremos que a cincia e a religio na antiguidade se confundiam no mtodo de estudo e na forma de alcanar o conhecimento da natureza; 2. Idade Mdia: So Boaventura e a reduo das cincias teologia onde vamos falar do porqu, na Idade Mdia, se considerava que todas as cincias deviam ser conduzidas ou reconduzidas teologia. 3. Idade Moderna: Criacionismo, Filosofia Mecanicista e Evolucionismo. Aqui, vamos demonstrar que foram vrias correntes, que surgiram com a expectativa de dar uma explicao diferente na explicao da origem do mundo, mas vamos referir apenas ao criacionismo, filosofia mecanicista e ao evolucionismo, para mostrar como estas vrias teses cosmolgicas tentam conciliar estas teorias, atravs da argumentao de que Deus ter criado o mundo, cujas leis nele imprimiu, passando este, a partir de ento a evoluir pelas leis prprias, i., mecanicamente; 4. Cincia e Religio Hoje: um Dilogo (que continua a ser) possvel? Neste item, vamos mostrar se entre as duas esferas to distintas, e com uma evoluo extraordinria da cincia, hoje, se possvel um dilogo ou mesmo uma conciliao entre ambas. O modelo de conflito, como chamado s vezes, da relao entre a cincia e a religio costuma ser o primeiro que as pessoas se lembram quando pensam nessa duas teses, mas h quem sempre viu uma unidade profunda entre elas.O captulo III intitula-se: A Natureza Conflituosa entre a Cincia e a Religio em Bertrand Russell. Visa mostrar como Russell descreve o conflito entre a cincia e a religio atravs de anlise dos seguintes tpicos: 1. Cincia, Religio e Filosofia em Russell onde partindo de Russell, argumentamos que a cincia e a religio so dois aspectos da vida social dos quais a religio tem sido importante, trazendo conhecimento da histria espiritual do homem, enquanto a cincia, aps as vicissitudes da existncia entre os gregos e os rabes, de repente, tornou-se importante no sculo XVI, e desde ento tem vindo a moldar as ideias e as instituies em que vivemos e a filosofia algo intermedirio entre a teologia e a cincia; 2. Eventuais Contribuies da Cincia e da Religio para a Civilizao. Neste item vamos mostrar como a religio e como cincia tiveram influncias na formao do carcter dos povos ocidentais, dado que a base da nossa moral foi construda pensando num castigo e numa recompensa por um ser superior; 3. A revolta da Cincia contra a filosofia e as novas questes ticas da Cincia. Aqui, vamos mostrar como a cincia veio introduzir novas formas de pensamento, novas formas de explicar as coisas com base nos factos, com base na experimentao e observao. O que podemos dizer que a cincia veio desviar a ateno para questes prticas, desviando a ateno das questes teolgicas; 4. A razoabilidade do Cepticismo e as novas questes ltimas da existncia humana. Aqui, discutiremos a questo da existncia do mundo, da existncia de um ser superior, criador de tudo e da prpria existncia humana como questes, que sempre intrigaram o homem e o fizeram procurar provas factuais, o que levanta problemas como o do fundamento e do primeiro princpio, o que faz com que as cincias reencontrem a religio. Por isso, falaremos da posio do cepticismo e das questes ltimas da existncia humana. O cepticismo argumenta que no possvel afirmar sobre a verdade absoluta de nada, sendo por isso, preciso estar em constante questionamento, sobretudo, em relao aos fenmenos metafsicos, religiosos e dogmticos. Se no nos permitido afirmar ou negar ou negar a existncia de Deus convm mantermo-nos razoveis perante essas questes.O captulo IV intitula-se: Acerca das relaes entre a Cincia e a Religio em Hans Kng e visa mostrar como Kng relaciona as duas teorias explicativas, a cientfica e a religiosa, atravs de anlise dos seguintes tpicos: 1. A Religio e os critrios ecumnicos da Verdade onde vamos mostrar como a igreja foi e at tenta ser a nica possuidora das verdades universais e que as suas verdades no podem ser contestadas e, com isso, vamos mostrar qual a viso de Kng em relao a essa temtica; 2. A Importncia da Religio para um ethos mundial com base no pensamento de Kng. Neste item, vamos mostrar como Hans Kng, defende a importncia da Religio para uma tica mundial, pois como argumenta para que possa existir uma paz mundial h que haver a paz entre as religies, se tivermos em conta que um dos temas, que mais interpelou a reflexo teolgica na primeira dcada deste milnio o papel das religies nos processos de estabelecimento da paz, da justia e da sustentabilidade da vida; 3. Hans Kng e o imperativo do dilogo cientfico e espiritual onde procuraremos mostrar que tanto a cincia e a religio so indispensveis vida humana, e nesse sentido, que Kng diz que precisamos simultaneamente, do dilogo espiritual das ordens religiosas, dos monges, das freiras e dos leigos que, de cientistas que possuam no s cada vez mais conhecimentos bsicos de carcter quantitativo e estatstico, mas igualmente conhecimentos profundos de natureza histrica, tica e religiosa. A transmisso de conhecimentos, sem valores de referncias, induz em erros. 4. Como a Cincia descobre os seus limites e a religio a necessidade da Cincia. Com este item pretendemos mostrar como ambas as esferas descobrem nos seus limites, aquilo de que, primeira, estariam separadas: a cincia descobre os seus limites quando no consegue explicar algo ou quando recorre ao postulado do fundamento enigmtico e primeiro do factos e das coisas, por exemplo, a existncia de Deus, criador do universo, e a religio necessita da cincia, na medida em que tem de recorrer cincia, para alcanar uma explicao racional dos fenmenos e factos religiosos.Como metodologia utilizada neste trabalho para atingir os objectivos definidos, adaptaremos essencialmente, recolha e tratamento de dados bibliogrficos e outros documentos, internet.

Para a realizao deste trabalho usarei o mtodo interpretativo e analtico das obras dos autores em questo (Bertrand Russell e Hans Kng) e dos mais variados autores os quais vo ser referidos durante o desenvolvimento do trabalho. Captulo I: A relao objectual e metodolgica entre cincia e religioEntre a cincia e religio existe uma relao complexa. Pode demonstrar-se as influncias, que a religio tem sobre o desenvolvimento cientfico enquanto o conhecimento cientfico e vice-versa. Historicamente, a cincia tem tido uma relao complexa com a religio, porque tem causado efeitos sobrecrenasreligiosas que pem em causa a credibilidade e a razoabilidades destas. O que podemos ver claramente que a religio e a cincia, inevitavelmente, competem pela autoridade explicativa sobre a natureza darealidade, de forma que a religio est gradualmente perdendo a competio contra a cincia, ao passo que as explicaes cientficas tornam-se mais poderosas e gerais. Nesta perspectiva, comeamos com a anlise do primeiro tpico intitulado: 1. Diferena e proximidade objectual entre a Cincia e a ReligioA religio s estuda o homem na sua relao com o sagrado, mas o seu conceito central o de deus/sagrado. A cincia estuda os fenmenos ou factos naturais passveis de verificao e s estuda o homem enquanto sujeito desse conhecimento. A religio e a cincia diferem-se no mtodo e nos objectos de estudos. A viragem para o sujeito como um ponto de partida de toda a reflexo filosfica e posterior fixao interesse no comportamento religioso do homem, assim como a importncia do renascimento d a religies pags antigas, juntos, em grande parte, com o aumento do conhecimento das religies crists a partir da idade de descoberta de estranho novos continentes e pases fez o material religioso armazenado ao longo do tempo, crescer em propores enormes, alegando formas de estudos inescapveis comparao e gesto sistemtica de conhecimentos histricos.Veio ento, a cincia da religio a ser uma cincia emprica normativa, que tenta compreender as religies da humanidade existentes actualmente ou passado, com uma maior abertura e objectividade, analisando na ntegra, as manifestaes histricas e atuais da religio, bem como os seus relacionamentos entre as amostras e cultura, sociedade, poltica e economia. No so poucas as pessoas, que vm na palavra "Religio" algo como uma doutrina, um sistema primitivo conhecimento, que ento comparado com a cincia moderna no mesmo nvel. E muitas vezes, a religio considerada como um sistema de conhecimento, que responde s mesmas perguntas, que a cincia tenta responder. O resultado que entre a cincia e a religio se estabeleceu uma relao de concorrncia em que os sistemas cognitivos lutam entre si. como nos diz J. Schmitz:Por enquanto a cincia avana de acordo com o pressuposto que s podem ser conhecidos os fenmenos intramundanos, que por sua vez se fundam exclusivamente em condies e causas intramundanas, a religio admite pelo contrrio, que existe uma realidade supra-sensvel e supramundana, que influencia os eventos mundanos, que realmente define o natural, a realidade humana e social. As relaes de concorrncia entre estes dois sistemas so cognitivas. (SCHMITZ, J., 1984:37).

A religio e a cincia tambm fornecem uma explicao simples da secularizao. O sistema primitivo do conhecimento humano, que frequentemente associado religio ultrapassado pelo sistema mais progressista a cincia. Muitos, simplesmente, reconhecem que as duas instituies lidam com domnios diferentes da experincia humana. A cincia investiga omundo natural, enquanto a religio lidaria com o espiritual e o sobrenatural,portanto, as duas poderiam ser complementares. O pensamento religioso e o pensamento cientfico perseguem objetivos diferentes, mas no opostos. A cincia procura sabercomoo universo existe e funciona desta maneira. Areligioprocura saberporqueo universo existe e funciona desta maneira. Os conflitos entre a cincia e a religio produzem-se quando um dos dois pretende responder de forma exclusivista s questes atribudas ao outro. Da, podemos ver, as suas proximidades que residem no facto de ambos estarem a procura da resposta sobre mesma realidade, e diferem no mtodo escolhido para alcanar tal conhecimento. A cincia tem como objecto de estudo os fenmenos naturais enquanto a religio tem como objecto Deus. A cincia tem um mtodo mais convicente e racional. A cincia deve ser encarada como o eptome da racionalidade humana. Fornece-nos conhecimento atravs do seu mtodo emprico distintivo. Com a glorificao da cincia, a religio tem parecido to diferente que em geral ela perdeu o estatuto de nica possuidora da verdade. Como nos diz Roger Trigg: Estabeleceu-se um forte contraste entre a f e a razo e a implicao tem sido que sempre que o mtodo cientfico se aplicou a um exame das reivindicaes de que qualquer religio, elas definharam. (TRIGG, R.,1998: 85).Da, podemos dizer que no domnio da cincia esto os factos, coisas sobre as quais os seres humanos concordaram e puderam ser verificados atravs dos procedimentos das cincias fsicas (observao e experimentao) enquanto a religio uma rea de enmeras controvrsias e desacordos insolveis e mostra-se, d ceerto modo, incapaz de conseguir a verdade de modo consensual, alis, facto tambm to frequente na cincia. Perante o desenvolvimento do conhecimento cientfico, a religio expressa apenas atitudes para com o mundo em vez de dizer o que dizer como o mundo. Est limitada esfera de valores, e pode revelar o que pensamos ser importante, mas ao agir assim diria algo sobre ns e no sobre o mundo; no traz nada de distinto sobre a realidade, uma vez que uma reivindicao estaria imediatamente sujeita a uma elaborao lgica pelos processos da cincia. Na cincia, a referncia a algo de transcendente ou sobrenatural ficaria ento fora e o que no acessvel cincia no pode existir. A cincia e a religio diferem-se na forma de alcanar e mostrar a verdade, embora sejam complementares, porque respondem a questes diferentes, ou seja, a cincia pode dizer-nos o como e a religio o porqu. Trigg defende, por isso, que as crenas cientficas so apoiadas pelas evidncias e obtm resultados. No sucede o mesmo com os mitos e as fs. A teologia enfatiza frequentemente, que Deus no apenas mais uma causa entre muitas, tal como Ele no apenas um objecto entre muitos. A cincia e a religio tm de reisitir tentao de ultrapassar os seus territrios especficos, embora possam dialogar uma com a outra.Porm, de se notar que a questo da relao entre a cincia e a religio foi colocada em forte contraste, como veremos com a anlise da posio russelliana, porque a relao entre a cincia e a realidade tem sido cada vez mais questionada. Embora cincia mantenha uma considervel autoridade intelectual, a sua base filosfica tornou-se mais problemtica. Podemos dizer que a cincia e a religio so dois aspectos distintos, que procuram explicar a realidade utilizando meios diferentes e que possuem naturezas diferentes, formas de manifestao e campos de aco distintos. Em relao natureza da experincia de cada uma delas, vamos clarificar no tem que se segue intitulado:2. Natureza da experincia religiosa e da experincia cientfica

A essncia da experincia religiosa uma certa relao com o Sagrado baseada na experincia pessoal (subjectiva) Para a experincia religiosa, o que conta o seu lado interior, como facto psicolgico e interioridade, pois no se pode perceber directamente a partir do exterior, mas essencial para a religio, ou seja, falar da natureza da experincia religiosa falar da sua forma de manifestao e da forma como ela encarada a partir de uma dimenso muito pessoal. como refere Schmitz:

Diferente do que ocorre com o lado exterior e perceptvel da religio, na vivncia religiosa, o que essencial o seu lado interior que, como um fato psicolgico, no pode ser percebido diretamente a partir do exterior, mas que essencial religio. A vivncia religiosa (= religio subjetiva) e as formas de expresso religiosa determinadas pela tradio (= religio objetiva) entrelaam entre si e constituem a religio. Segue-se que a experincia religiosa, com a sua singularidade baseia principalmente numa relao objectiva, e permite apenas uma escolha: ou preciso avali-la como uma experincia especfica, em que h um objeto experimental independentemente da experincia, ou deve ser entendida como uma experincia ilusria. Perante a avaliao da experincia religiosa deve-se ter em conta as ideias que fizeram a psicologia da percepo e a anlise experimental, porque tais estudos tm destacado que a deciso se a experincia religiosa representa uma verdadeira experincia ou se no passa a ser uma iluso que voc no pode tomar referindo-se apenas a essa experincia. Isto deve ficar claro antes de completar a descrio de experincias fundamentais, que acompanham a experincia religiosa. (SCHMITZ, J., 1984:56).

A experincia religiosa pode ser entendida como conceitos de quadro de referncia perceptual, uma vez que pretende ter como o objecto de conhecimento, o divino, uma primeira condio que contextualiza como o dado, que entra no processo de percepo. Segundo Stark (1965) citado por Geraldo Jos de Paiva, a experincia religiosa uma das cinco dimenses da religio, que inclui sentimentos, percepes e sensaes, que afetam a pessoa ou que so definidos por um grupo religioso como implicando alguma comunicao, por tnue que seja, com uma essncia divina, isto , com Deus entendido como realidade ltima e autoridade transcendente. Como nos diz William James, das caractersticas da vida religiosa, destaca-se a variedade da experincia religiosa que se caracteriza pelas seguintes crenas:

Que o mundo sensvel faz parte de um universo mais espiritual do qual retira o seu principal significado; que a unio ou a relao harmoniosa com esse universo mais elevado o nosso verdadeiro fim; que a orao ou a comunho interior com esse esprito- seja esprito de Deus ou lei um processo em que o trabalho realmente executado e a energia espiritual ocorre para dentro e produz efeitos, psicolgicos ou materiais, dentro do mundo fenomenal. (JAMES apud TALIFIERO, C., 2003:197).Para melhor percebemos a experincia religiosa, podemos mostrar vrias categorias da experincia religiosa descritas por Charles Talifiero como a Experincia Interpretativa onde as pessoas encaram uma experincia como religiosa, no devido a quaisquer caractersticas invulgares da prpria experincia, mas por ser encarada luz de um enquadramento interpretativo religioso anterior. O exemplo comum, que podemos tirar desse tipo de experincia, por exemplo, quando uma pessoa sofre com uma doena durante a velhice e diz-se que ele est a pagar o pecado pelas maldades, que fez durante a vida, ou ainda, quando um filho faz zomba de mimos com os pais e algo de ruim lhe acontece, diz-se que foi a praga dos pais. Ou seja, acreditam que as coisas desse mundo esto impregnadas de divino, encaram um acontecimento como vontade de Deus e pensam que um acontecimento o resultado de uma prece. Ainda podemos citar como um exemplo forte da experincia religiosa, o que a cincia veio a explicar mais tarde. Por exemplo, quando uma me tem um a espcie de pressentimento, que o filho est a correr perigo e as pessoas dizem que foi Deus quem lhe avisou, mas a Experincia cientfica veio mostrar, que durante a gravidez a me desenvolve uma substncia atravs da qual mantm uma ligao com o filho, mesmo quando este for adulto. O mais intrigante que em nenhuma das experincias temos uma prova da interveno divina, mas crenas. Um terceiro tipo tem a ver com as Experincias quase Sensoriais em que o elemento principal uma sensao fsica cuja alegada percepo a de um tipo normalmente apreendido por uma das modalidades dos cincos sentidos, como por exemplo, a viso e sonhos, vozes, a sensao de estar a ser tocado, etc. So experincias, que contam com presena de um ser sobrenatural, que esteve presente sob qualquer forma, para dar conselhos ou pedir algo. Existem ainda as Experincias Reveladoras englobam convices sbitas, revelao. Pode parecer que descem sobre o sujeito crente, vindos do nada. Existem ainda as Experincias regenerativas, que so as mais frequentes entre as pessoas vulgares, ou seja, pessoas que no so msticas, profetas ou mdiuns.As experincias religiosas s so diferentes no facto de que as pessoas, que alegam t-las tido so muito numerosas. Relativamente a este assunto, R. Dawkins cita Sam Harris dizendo que este no estava sendo cnico, em excesso, quando escreveu em The end of faith [O Fim da f]:Temos nomes para as pessoas que tm muitas crenas para as quais no h justificativa racional. Quando suas crenas so extremamente comuns, ns as chamamos de "religiosas"; nos outros casos, elas provavelmente sero chamadas de "loucas", "psicticas" ou "delirantes" [...] Claramente, a sanidade est nos nmeros. E, mesmo assim, apenas um acidente da histria o fato de ser considerado normal em nossa sociedade acreditar que o Criador do universo capaz de ouvir nossos pensamentos, enquanto uma demonstrao de doena mental acreditar que ele est se comunicando com voc fazendo a chuva bater em cdigo Morse na janela de seu quarto. Assim, se as pessoas religiosas no so generalizadamente loucas, suas principais crenas absolutamente o so. (DAWKINS R., 2007:99).

A experincia cientfica a experincia de um mundo profano (natural), de factos positivos (objectivos), que podem ser verificados, objectivamente compartilhado, investigado e experimentado. Uma vez que sua singularidade baseada principalmente em sua relao objectiva, permite apenas uma alternativa ou deve ser avaliada como uma experincia especfica, em que h um objecto experimental independentemente da experincia, ou deve ser entendido como uma experincia ilusria. A experincia cientfica a da prova. Em relao a este assunto Alan Chalmers di-nos ainda mais:

As teorias cientficas so derivadas de maneira rigorosa da obteno dos dados da experincia adquiridos por observao e experimento. A cincia baseada no que podemos ver, ouvir, tocar etc. Opinies ou preferncias pessoais e suposies especulativas no tm lugar na cincia. A cincia objetiva. O conhecimento cientfico conhecimento confivel porque conhecimento provado objetivamente. (CHALMERS, A., 1993:23).Da, podemos fazer uma certa diferena entre a experincia religiosa e a experincia cientfica: a experincia religiosa no pode ser provada objectivamente, pois no um facto objectivo, na medida em que apenas a pessoa que o diz ter, consegue sentir ou ver, mas a experincia cientfica tem uma estrutura construda sobre factos. Chalmers argumenta ainda que, a cincia comea com a observao. O observador cientfico deve ter rgos sensitivos normais e inalterados e deve registrar fielmente o que puder ver, ouvir etc, em relao ao que est observando, e deve faz-lo sem preconceitos. A experincia cientficaconsiste naobservaode umfenmeno,sob condies, que o investigador pode controlar. Ahiptese a guia de o que se deve e o que no se deve observar, do que procurar, ou de que experimentos fazer, a fim de descobrir algumalei da natureza. O que difere a experincia cientfica da experincia religiosa que na experincia cientfica os factos obtidos para a experimentao so tidos atravs da observao e a na experincia religiosa, a partir de projeces pessoais que resultam em crenas pessoais e privadas. A experincia cientfica exacta, porque no fica preso ao senso comum, mas esse tomado como ponto de partida. composto por mtodos que podem ser definidos como o modo ou o conjunto de regras empregue numa investigao, com o intuito deobterresultados mais confiveis possveis. Entretanto, o mtodo cientfico algo mais subjetivo, ou implcito, do modo de pensar cientfico do que um manual com regras explcitas sobre como o cientista, ou outro, deve agir. A experincia cientfica tenta alcanar a verdade, ou seja, tende a nos desprender do senso comum incitando a procura da verdade por via da razo atravs de uma argumentao racional pblica que se situa alm da esfera privada prpria da religio. Mas, pode a crena religiosa descobrir a verdade maneira do que faz a cincia ou simplesmente a postula? Essa questo vai ser desenvolvida na tem seguinte onde falaremos do mtodo de alcanar a verdade entre as duas esferas.3. O mtodo cientfico, a crena e a possibilidade da verdade

Aqui pretendemos mostrar at que ponto o mtodo cientfico e crena tm a possibilidade de alcanar a verdade, i.e, como cada uma delas tentam alcanar a verdade, partindo do pressuposto embora discutvel de que ahiptese cientfica testvel ao passo que a crena apenas afirmada ou demonstrada por quem diz t-la. Enquanto o mtodo cientfico um processo para explicar fenmenos, pode ser visto como complicado e muito pelo contrrio extremamente simples.O mtodo cientfico consiste na adio ou como resultado leva obteno de um parecer cientfico do assunto estudado e pode criar pesquisas e anlises de comparao do mesmo e, assim, formar uma idia definida ou conceito de forma eficaz. Geralmente, o mtodo cientfico engloba algumas etapas como: a observao, a formulao de hipteses, a experimentao, a interpretao dos resultados e, por fim, a concluso, com a criao de leis a partir da generalizao ou deduo. Porm, algum que se proponha a investigar algo atravs do mtodo cientfico no precisa, necessariamente, cumprir todas as etapas e no existe um tempo pr-determinado para que se faa cada uma delas. Se por exemplo, algum passar cerca de 20 anos apenas analisando os dados, que colhera nas suas pesquisas e seutrabalhose constitui basicamente de investigao, sem passar pela experimentao, isso, contudo, no torna a sua teoria menos importante nem cientfica. Algumas reas da cincia, como a fsica quntica, por exemplo, baseiam-se quase sempre em teorias, que se apoiam apenas na concluso lgica, a partir de outras teorias e nelas existem alguns poucos experimentos, simplesmente, pela impossibilidade tecnolgica de se realizar a comprovao emprica de algumas hipteses, mas nem por isso deixam de ser cientficas.O mtodo cientfico como conhecemos hoje foi o resultado direto da obra de inmeros pensadores, que culminaram no Discurso do Mtodo de Ren Descartes (1637), onde ele coloca alguns importantes conceitos como o da anlise, sntese, que permeiam toda a trajetria da cincia at hoje. De uma forma um pouco simplista, mas apenas para dar uma viso melhor do que se trata o mtodo proposto por Descartes, que acabou sendo chamado de Determinismo Mecanicista, Reducionismo, ou Modelo Cartesiano, ele baseia-se principalmente na concepomecnicada natureza e do homem, ou seja, na concepo de que tudo e todos (o mundo da extenso) podem ser divididos em partes cada vez menores, que podem ser analisados e estudados separadamente e que (para usar a frase clssica) para compreender o todo, basta compreender as partes.O mtodo deDescartesfuncionou, e no restam dvidas de que a cincia evoluiu como nunca com a aplicao deste mtodo a ponto de Nietzsche falar do triunfo do mtodo sobre a verdade como um dos traos da modernidade. Porm, a cincia que tinha como objetivo primeiro, proporcionar o bem-estar ao homem atravs da compreenso e modificao da natureza a seu favor, como props Francis Bacon seguido por Descartes da sua idealizao de uma filosofia prtica que nos tornaria donos e senhores da natureza (Discurso do Mtodo, VI) perdeu seu sentido pelo facto de ter trazido perigos existncia humana. Com a aplicao do modelo reducionista em todas as reas do conhecimento, as interaes entre as partes e o todo e entre este e outros deixou de causar srios distrbios sociais, ambientais e ameaando at a existncia do prprio homem em contradio com seu princpio fundamental. Sobre este assunto, Russell diz-nos: Que o mtodo cientfico consiste na observao daqueles factos que permitem ao observador descobrir as leis gerais que regem os factos da mesma natureza. Os dois perodos da observao e o da descoberta de uma lei so ambos, essenciais, e cada um deles sugestvel de um refinamento quase indefinido. (RUSSELL, B., 1962:17). de realar que desde o primeiro homem que afirmou que o fogo que queima estava empregando o mtodo cientfico, especialmente, se tivesse chegado a essa concluso depois de se ter queimado vrias vezes, ou seja, podemos mencionar que esse homem passou pelos dois perodos: o da observao e da generalizao. Segundo Henri Poincar (1854-1912), a cincia, portanto, nada pode nos ensinar sobre a verdade, s pode nos servir como regra de aco. Na perspectiva nominalista, a cincia no seria mais que uma regra de aco, pois seramos [...] impotentes para conhecer o que quer que seja, e, contudo, estamos envolvidos, precisamos agir e, por via das dvidas, firmamos regras. o conjunto dessas regras que chamamos cincia. (POINCAR, H. 1955, p. 139). Mas seria a cincia arbitrria como as regras de um jogo por exemplo, as regras do xadrez regras de aco consensual? Ao negar essa equiparao, a moderna filosofia da cincia assume que a cincia uma regra de ao que funciona, de maneira que se possa conhecer, fazer previses, que sejam teis e, que sirvam de regras de ao que diminuam as possibilidades do erro, conforme se extrai do pensamento de Bertrand Russell: Da minha parte no tenho dvida de que, embora mudanas graduais sejam esperadas no campo da fsica, as doutrinas atuais esto provavelmente mais perto da verdade do que quaisquer teorias rivais existentes. A cincia em momento algum totalmente exacta, mas raramente inteiramente errada, e tem, como regra, mais hiptese de ser exata do que as teorias no-cientficas. Portanto,o racional aceit-la hipoteticamente. (RUSSELL, B., 1995:13).O mtodo cientfico envolve limitaes e caractersticas, que chegam a atingir uma metafsica cientfica. O mtodo cientfico, embora, em suas formas mais refinadas podem ser julgados complicado, essencialmente de uma simplicidade notvel. observar esses factos, que permitem que o espectador descubra as leis gerais que os regem. Na tentativa de alcanar a verdade ultrapassando a crena, a cincia utiliza todos os mtodos possveis para alcanar a verdade. A cincia consiste em agrupar factos para que leis gerais ou concluses possam ser tiradas deles. E, assim, podemos mostrar que o mtodo cientfico composto pelos seguintes elementos: 1. Caracterizao - Quantificaes, observaes e medidas; 2. Hipteses - Explicaes hipotticas das observaes e medidas. 3 Previses - Dedues lgicas das hipteses; 4. Experimentos - Testes dos trs elementos acima. E, composto por seguintes aspectos: 1- Observao- Uma observao pode ser feita de forma simples, ou seja, realizada a olho nu, ou pode utilizar-se de instrumentos apropriados. Todavia, deve ser controlada com o objetivo de que seus resultados correspondam verdade e no a iluses advindas das deficincias inerentes prprias dossentidoshumanosem obter a realidade; 2. Descrio- O experimento necessita ser replicvel (capaz de ser reproduzido). importante especificar que se fala aqui dos procedimentos necessrios para se testarem as hipteses, e no dos fatos em si, que no precisam ser antropogenicamente reproduzidos, mas apenas verificveis; 3. Previso- As hipteses precisam ser tidas e declaradas como vlidas para observaes realizadas no passado, no presente e no futuro; 4. Controlo- Para maior segurana nas concluses, toda experincia deve ser controlada. Experincia controlada aquela que realizada com tcnicas, que permite descartar as variveis passveis de mascarar o resultado; 5. Falseabilidade (falsificao) - toda hiptese deve conter a testabilidade, e por tal falseabilidade ou refutabilidade. Isso no quer dizer que a hiptese seja falsa, errada ou to pouco dbia ou duvidosa, mas sim que elapodeser verificada, contestada e assim aperfeioada de forma a tornar uma conjectura mais razovel. Ou seja, ela deve ser proposta em uma forma que a permita atribuir-se a ela ambos os valores lgicos, falso e verdadeiro, de forma queseela realmente for falsa, a contradio com os fatos ou contradies internas com a teoria venha a demonstr-lo; 6. Explicao das Causas- Em todas as reas da cincia, a causalidade factor chave, e no se tem teoria cientfica - ao menos at a presente data - que viole acausalidade. Da, podemos mostrar a possibilidade da cincia alcanar a verdade ao passo que a crena no tem meios de provar se tal coisa ou no . Por exemplo, no h meios cientficos e talvez racionais, para provar que Deus existe. Como nos diz Mosley:

H um Deus transcendental, onisciente, onividente, onipresente e onipotente, que controla tudo no , por princpio, uma hiptese testvel frente aos experimentos e fatos naturais pois, qualquer que seja o resultado experimental, ele condizente com a oniscincia, onipotncia, onipresena e onividncia de Deus, e, conforme postulado pela prpria hiptese, Deus directamente mostra-se inacessvel aos experimentos naturais devido sua transcendncia, de forma que se fosse verificado directamente a existncia de Deus por algum experimento, a frase estaria falsa em virtude de sua transcendncia ser falsa, e mantida a sua transcendncia, a frase no testvel. Visto que nunca verificou-se a existncia direta de Deus - sendo em verdade esta a razo lgica da transcendncia figurar na hiptese - a hiptese em verdade uma frase no falsevel - no testvel - e por tal transcende tambm o escopo da cincia. (MOSLEY M., 2011: 125).Isto quer dizer que todas as nossas crenas so justificadas com outras crenas, e se todas as nossas crenas so justificadas com outras crenas, ento haveria uma regresso infinita, e se h uma regresso infinita, ento as nossas crenas no esto justificadas. Mas se as nossas crenas no esto justificadas, logo, no h conhecimento. Em suma, podemos dizer que o mtodo cientfico est mais apto ou mais perto de alcanar a verdade, na medida em que ela pode ser testada e passa por diversas fases, ao passo que a crena apenas pode ser dita e no justificada com mtodos, e no pode ser testada. Da a dificuldade de convencer aquele que no acredita. Resulta disso, a questo at que ponto possvel a religio ser uma cincia e a possibilidade da teologia ser uma ciencia dos fantasmas da nossa imaginao e dos nossos desejos.4. Cientificidade da religio e a religiosidade da cincia

Vamos falar em que medida possvel uma cincia da religio e a religiosidade da cincia, dando continuidade ao carcter de proximidade das suas abordagens. Falamos da religiosidade da cincia quando a cincia descobre algo que no consegue explicar racionalmente. O que podemos dizer que as cincias da religio vivem to intensamente quanto qualquer cincia da natureza, as consequncias do conflito cultural entre cincia e religio. Para l dos limites da cincia, prolonga-se as bases da religio como provar Immanuel Kant ao afirmar que teve que desistir da cincia para buscar os fundamentos da f:Tive pois de suprimir o saber para encontrar o lugar para a crena, e o dogmatismo da metafsica, ou seja, o preconceito de nela se progredir, sem a crtica da razo pura, a verdadeira fonte de toda a incredualidade, que est em conflito com a moralidade e sempre muito dogmtica. (KANT, I., KrV, BXXX).

Diferenciando-se de todas as cincias por um acolhimento da religiosidade em seus prprios termos, a Cincia da Religio tenta dar voz ao discurso religioso em pleno campo acadmico. No obstante, organizando-se como cincia, precisa traduzir de algum modo o seu objecto para uma forma crtica e sistemtica, e, nesse ponto, a relao temtica natural com a teologia torna-se problemtica. Como se suas dificuldades prprias j no fossem imensas, a Cincia da Religio sofre tambm com as indefinies correntes quanto natureza da cincia em geral e da objetividade possvel dos discursos, um problema que inclui radicalismos relativistas, que tentam exprimir todos os princpios do conhecimento como questes de paradigma cultural. Ao falar da cientificidade da religio e religiosidade da cincia podemos citar Roger Trigg:A religio o exemplo bvio da chamada doutrina racional que, por causa da aparente causa da aparente contestabilidade essencial, no deve ter acesso arena pblica (ROGGER, T., 1998: 25).Alis, como tambm argumenta Diguez, as cincias da religio no devero ter vergonha de se reclamar do mais humilde bom senso, dado que os grandes espritos empenharam todo o seu gnio a conferir uma grande dimenso simples evidncia. As cincias das religies podem ser consideradas uma disciplina do esprito cujo objectivo ser o de observar como a identidade essencial do sujeito forjada, aquele que separado da natureza e do fundamento de que o homem atribui sua liberdade por aco do simblico. Ao falar do homem, que pede a intercesso mtica que estruture a sua identidade e os seus reflectores tambm estamos a falar de um homem racional. o que nos diz Diguez:

Ao mesmo tempo, ao olhar que cada qual lanar sobre o seu prximo e sobre o mundo ser-lhe- dito por orculos interiorizados, que tero mediadores como porta voz. Mas quais sero os ltimos fundamentos dos julgamentos de valor veiculado pelos interlocutores sacralizados de Adam, a no ser diversas formas de razo? Toda a compreenso se reclama de uma lgica e no se conhece nenhuma crena que no se proclame bem motivada e ponderada, toda verdade que toda a anunciao, todo o evangelho, todo o prodgio pretende vencer a irracionalidade e a loucura da humanidade. (DIGUEZ M., 1984:34). assim que as teologias e os deuses se apresentaram em todos os tempos como arautos da inteligncia verdadeira. Se o engenhoso Ulisses se apoia em Atena para escapar clera de Poseidon, que o quer atrair ao abismo marinho, tal como cristo pede habilmente socorro Virgem Maria e aos santos para tentar escapar a precipcio infernal, que ameaa os pecadores, porque o mito tambm representa os meios de defesa racionais, que o imaginrio forjou, a fim de tornar totalmente eficaz, no terreno do quotidiano, a mquina dos seus sonhos. A cincia da religio exige uma deviso prvia das questes, para que as dificuldades sejam resolvidas, passo a passo, observa uma espectrografia crtica dos diversos tipos de racionalidade, que as crenas se reclamam se torna chave essencial desde que a razo humana tome como sejam bem articuladas com as mitologias, por sua vez, as diversas formas da identidade humana s quais a fbula pura servir de suporte simblico. A cincia das religies descobre o seu dilaceramento interno. O mtodo que guia o seu pensamento deixa os caminhos da evidncia pelas aflies da escolha de cada um por ser o reino da subjectividade. No entanto, para alguns socilogos e etnlogos, comoEmile Durkheim, a fronteira que separa a cincia do pensamento religioso no impermevel. No livroNas Formas elementares da vida religiosa (1912), Durkheim mostra que os quadros de pensamento cientfico como algicaou as noes de tempos e de espao encontram a suas origens nos pensamentos religiosos e mitolgicos. A questo da cientificidade da religio, no debate atual, depende, em primeiro lugar, de um conceito aberto de cincia, capaz de abranger as reas de pesquisa e metodologias diferentes das, meramente, positivas. A prpria religio precisa aceitar as demais cincias como parceiras, abdicando da presuno histrica de superioridade frente aos demais campos do saber ou a um regime de tratamento excepcional. Embora, no passado, gozasse de certos privilgios, foi a religio quem soube compreender, antes das instncias hierrquicas, a relevncia dos mtodos positivos de apreenso da realidade. Foi graas s mentes abertas e rigorosas, formadas na religio, e informadas do estgio de desenvolvimento cientfico, que os preconceitos e os juzos arbitrrios puderam ser superados. Veja se, por exemplo, o contributo dos precurssores de Galileu, muitos deles, telogos de formao. Observa-se, com razo, que tambm as cincias modernas no surgiram em oposio religio, mas como um caminho mais lcido para ler a obra da criao. Historicamente, esse dilogo entre as cincias e a as religies teve entendimento e perspectivas diferentes. O captulo que se segue dedica-se anlise dessas diferentes perectivas desse dilogo.Captulo II: A relao entre a cincia e a religio: perspectivas histricasAs interaes entre cincia e religio so variadas e complexas, tanto historicamente como na atualidade. Falar das relaes entre a cincia e a religio um desafio muito grande visto que o que mais se v entre essas duas teorias uma rivalidade, desde tempo de Galileu Kepler e Newton etc. Estes conflitos so testemunhos de o facto da cincia e da religio so aliados nem esto perto de se conciliarem.A histria da cincia e da religio pontuada por relaes de aproximao e conflitos. At o final do sculo XIX, os cientistas eram tipicamente cristos que no viam nenhum conflito entre a cincia e a f deles (casos de Kepler, Boyle, Maxwell, Faraday, Kelvin etc..). Mas ao longo desse captulo vamos mostrar as suas relaes ao longo do tempo. O que podemos dizer que a cincia e a religio so igualmente racionais.1. A antiguidade: onde a Cincia e a Religio se confundem

Em primeiro lugar, a Bblia, de facto, pode servir como documento, mas no como prova histrica. Este hoje em dia um problema candente que tem uma grande tradio na cultura anglo-saxnica e est a despertar um grande interesse em todo o lado. Muitas perguntas esto no ar e nem sempre tm respostas correctas. Sero cincia e religio incompatveis e opostas? A Igreja perseguiu os cientistas? Galileu morreu na fogueira condenado pela Inquisio? Os papas condenaram a teoria da evoluo? A maioria dos cientistas materialista e ateu?Continuam a repetir-se hoje muitas afirmaes negativas sobre a relao entre cincia e religio, s vezes, com muitas influncias destrutivas e alguns vm na religio um veneno, que se ope ao progresso da cincia.

O tema necessita de uma reflexo sria e serena, que examine a relao entre cincia e religio como formas de conhecimento e fenmenos sociais e como foi esta relao ao longo da histria, especialmente, em relao ao cristianismo. Em geral, podemos dizer que a cincia trata de compreender a natureza do mundo material que nos rodeia, como surgiu, como o conhecemos e que leis o regem.A religio, por outro lado, trata do que transcende o mundo material e pe o homem em contacto com o que est alm, o numinoso (que se refere a uma deidade), o misterioso, numa palavra com o mistrio de Deus e a sua relao com o homem e o universo.

Em todos os tempos, o ser humano sempre buscou conhecer osobrenaturalos deuses e a natureza. NaAntiguidade havia diversas formas de buscar conhecer a natureza, mas algumas delas estavam vinculadas acultosde natureza espiritual, cultos adivindadese rituaismsticos, emitologia. Aidolatriababilnica,sumria, egpciae posteriormente a grega consistiam em adorar coisas da natureza, invocando-as como deuses para que elas provessem o que necessitavam ou desejavam.Assim, a adorao ao deus sol, por exemplo, consistia em invocao de espritos, acompanhada de oferendas para que se obtivesse a condio climtica favorvel para umacolheitaaprazvel. Naidolatria, a manifestao de espritos sobre aquele elemento da natureza propiciava a bno desejada pelo adorador. Ou seja, na antiguidade tinham uma visoanimista, onde as coisas da natureza ganham vida atravs da invocao da divindade e manifestao de espritos.

Na antiguidade, o conhecimento desenvolveu-se em funo daagricultura, que era administrada porsacerdotesque efectuavam os cultos aos dolos, que eram, muitas vezes, elementos da natureza. Observar resultados da natureza estava, portanto, muito vinculado prtica da idolatria. Essa forma de conhecer a natureza era associada invocao de espritos, com excepo da civilizaohebraica, a nica que adorava um nico Deus criador e confiava nele para suas provises, no adorando as coisas criadas. O que podemos dizer da confuso entre a cincia e a religio na idade Mdia, que elas se confundiram na forma de encarar a natureza. Na Histria da Cincia, um dos perodos mais importantes e mais complexos foi o da Grcia Antiga, principalmente, a partir do sculo VI antes da Era Crist, pois foi quando se iniciou e se desenvolveu, pela primeira vez, o esprito cientfico, marco fundamental na evoluo do pensamento humano, e quando ocorrereu, em consequncia, o advento da cincia abstrata. Esse novo esprito viria a ser o grande divisor entre a civilizao grega e as demais civilizaes daquele perodo histrico, os quais trilhariam caminhos distintos na busca de resposta s inquietaes do homem quanto a seu destino e quanto natureza e seus fenmenos. Aos gregos coube a glria de terem sido os primeiros a romper as algemas do conservadorismo e a libertar a razo, capacitando-a a realizar sua obra. Ademais do brilhantismo nos diversos campos da educao, das artes, do direito, da poltica e da filosofia, os gregos foram, assim, os criadores da cincia e os iniciadores do esprito cientfico. O que houve na Idade Mdia, foi a ausncia da razo, principalmente, da parte da religio. Houve confuso na explicao da natureza onde havia a ausncia da razo. Podemos citar Carlos rosa quando nos diz que, o aparecimento do esprito cientfico no significaria a unidade de pensamento na sociedade ou mesmo na elite intelectual grega, nem implicaria ter essa nova mentalidade permeado as diversa camada social, pois a f, o reconhecimento do sinal divino deixado em ns, no acto da criao, conduziria o homem para a sua meta final: salvao na Cidade de Deus.A grande massa popular helnica permaneceria presa, ainda, s tradies mitolgicas, to bem representadas por Homero (Ilada e Odisseia) e Hesodo (Teogonia e Os Trabalhos e Os Dias). As autoridades das diversas cidades-estados assegurariam o carter oficial da religio mitolgica, como atestam as conhecidas perseguies a Anaxgoras e a Scrates. Conviveria, assim, na antiga Grcia, uma conscincia mitolgica arcaica, influenciada pelas religies do mistrio e do medo, mas tambm, um ceticismo humanstico, comprometido com a Razo. Erguiam-se templos, santurios, orculos e monumentos em homenagem aos deuses, criados semelhana e imagem do homem, mas ao mesmo tempo progredia o esprito cientfico, com uma nova metodologia observao, anlise, crtica, comparao e experimentao criada para encontrar uma explicao racional e lgica para os fenmenos. Assim,[...] Embora a religio grega fosse, no mnimo, to animista quanto s outras religies antigas, baseando-se em sacrifcios aos deuses e na interveno divina nos negcios, a Cincia grega representou um feito notvel, separando a investigao das leis da Natureza de quaisquer questes religiosas entre o homem e os deuses... (ROSA, C., 2012:102).

Na idade Mdia o desenvolvimento da Cincia na Europa, desde a submisso poltica da Grcia ao Imprio Romano at o final do sculo XII, corresponde a uma etapa de relativa estagnao cultural, com implicaes diretas e negativas sobre a evoluo do pensamento cientfico. Trs contextos podem ser identificados, para efeito de anlise: 1) A Europa oriental grega e o Imprio Bizantino, at seu desaparecimento, em meados do sculo XV; 2) O Mundo eslavo, at o sculo XV; 3) A Europa ocidental latina, do sculo IV at o final do sculo XII. Beneficiados pela lngua e territrio, mas distantes, culturalmente, da antiga civilizao grega, a Europa Oriental grega e o Imprio Bizantino se limitariam a preservar o patrimnio, sem acrescentar aporte significativo ao desenvolvimento da Cincia. O mundo eslavo, em fase de criao de sua prpria escrita, no teria condies, igualmente, de cultivar a Filosofia Natural. Nos antigos domnios, na Europa ocidental, do Imprio Romano, o conturbado clima poltico, social e religioso no seria favorvel ao desenvolvimento cultural e cientfico, uma vez que prevaleceria, como no mundo eslavo e no grego oriental e bizantino, o dogmatismo, impedindo o desenvolvimento da liberdade de pensamento e de expresso e impondo o monoplio do ensino. Assim,

O esprito inquisitivo, racional, lgico e laico seria combatido, denegrido, perseguido, impossibilitando e inviabilizando o desenvolvimento da Cincia. Apesar desse quadro geral negativo foram registrados significativos avanos tcnicos e sociais, pelo que a denominao de noite de mil anos, para caracterizar esta fase da histria europeia ocidental, absolutamente incorreta e imprpria (ROSA, C., 2012: 272).

Dessa forma, civilizao grega seguir-se-ia, na Europa, um longo perodo de estagnao, para no dizer de retrocesso, do processo evolutivo do pensamento cientfico, uma vez que a nova e triunfante Teologia dava uma completa explicao dos fenmenos naturais e sobrenaturais, e em oposio cultura pag englobaria a Filosofia Natural, responsabilizada por distrair a ateno para assuntos subalternos, em prejuzo da concentrao da mente e do esprito em temas verdadeiramente importantes, como a salvao da alma atravs da expiao dos pecados e caminhos para Deus criador. A Revelao, ao se contrapor Razo, significava, tambm, reconhecer a impossibilidade de o homem agir sobre os fenmenos naturais. Sua impotncia diante do inevitvel e do inacessvel tornava irrelevante e intil, portanto, qualquer veleidade para entender os mistrios do Universo. A implantao, consequentemente, de uma nova mentalidade, com prioridades voltadas para outros fins, teria assim, um impacto inibidor no desenvolvimento cientfico. Como nos diz D. Lindberg, a cincia e a filosofia tal como conheceram os romanos era uma verso limitada, divulgativa de realizaes pelos gregos. Porm, a Idade Mdia o cristianismo apresentou alguns contributos para o avano da cincia. O que podemos ver a cincia e a religio desde incio tiveram problemas de aceitao. Umas das acusaes que, muitas vezes, exerce contra a Igreja a de que foi claramente, historicamnte, anti-intelectual e que ela preferia a f razo e a ignorncia em vez da educao.Porm, o lado da idolatria grega surgira pensadores naAntiguidade grega,que queriam estudar a natureza sem invocar espritos. Buscava-se narazo o instrumento para o conhecimento, ainda que do ponto de vista de Werner Jaeger, os pr-socrticos desenvolveram essencialmente uma teologia.

Entre os gregos, com o surgimento da democracia e dos sofistas, mestres da oratria, adialcticae odiscursoganharam muita fora nessa poca onde as verdades institudas eram ganhas com base no raciocnio lgico,induo,deduoe na capacidade depersuasodo estudioso. Diversas escolasracionalistasgregas surgiram, das quais as mais famosas so atribudas aPlatoe aAristteles. Oracionalismo um movimento filosfico que cr que a razo instrumento para se aproximar da Verdade Absoluta. Ganhou fora com as vises platnicas de que o mundo das ideias seria um mundo perfeito onde se encontra a realidade autntica as ideias. Da, podemos dizer que a cincia e a religio na antiguidade confundiam se no mtodo de estudo, na forma de alcanar o conhecimento da natureza. Enquanto a religio utilizava idolatria a cincia utilizava a razo na explicao dos fenmenos naturais. O que os antigos tinham em falta era o esprito crtico, pois acreditavam que toda a relevao j tinha sido feita pelos deuses. Da, que ficavam presos natureza e recorriam aos sacrifcios e s oraes para se comunicarem com a verdade absoluta. Veja-se, por exemplo, entre os romanos que a lei (jus) nos dados pelo Jpter. Como escreveu Carlos Rosa:

O saber, objeto de uma revelao total, portanto sagrado, no poderia ser comunicado, e seria, assim, privilgio dos iniciados, dos sacerdotes que o transmitiam, mas oralmente, e no o consignavam em seus escritos, nos quais se encontra apenas um conjunto de receitas com o resultado a obter, sem sua explicao. Nessas circunstncias, ao progresso ocorrido na rea tcnica no corresponderia avano no campo terico, investigativo. A observao e a especulao eram restritas casta sacerdotal, o que viria inibir o surgimento de um esprito crtico. Como em todas as outras sociedades dessa poca, a Tcnica precederia a criao da Cincia, a qual requer uma capacidade de abstrao, ausente nas primeiras civilizaes. O conhecimento, o saber e as Artes eram dons da deusa Ea, qual, para os babilnios, s tinham acesso seus sacerdotes, nicos iniciados nos mistrios da divindade. Ciosos desse privilgio e conscientes de que saber poder, os sacerdotes no transmitiram, no ensinaram, nem registraram nas plaquetas de barro seus conhecimentos. At hoje s foram encontrados textos de aplicao prtica, catlogos de referncia e conjuntos de exerccio; o enunciado de solues no comportava explicaes e justificativas. A parte terica, o enunciado de princpios, de premissas, de postulados, os mtodos de investigao e pesquisas no foram revelados. Se houve, no so conhecidos. Esse procedimento era seguido nos domnios dos nmeros e da medio, da observao da abbada celeste, do tratamento dos doentes. Em outras palavras, raciocinar, analisar, compreender, criticar, explicar era proibido, por ser desnecessrio e irrelevante. (ROSA, C., 2012:61).Da, podemos dizer que o mundo estava fechado a novas descobertas e, havia uma confuso da explicao dos fenmenos religiosos e de muitos eventos naturais que eram vistos como manifestao do divino. Quem tinha o poder da explicao do sagrado e do sobrenatural eram os sacerdotes, que tendiam a fazer-lhos ser vistos como superiores a humanidade. As explicaes das causas da natureza do funcionamento do corpo humano, por exemplo, eram dadas sem nenhuma base cientfica. Na histria da cincia, um dos perodos mais importantes e mais complexos foi o da Grcia antiga, principalmente a partir do sculo VI antes da Era Crist, pois foi quando se iniciou e se desenvolveu, pela primeira vez, o esprito cientfico, marco fundamental na evoluo do pensamento humano, e quando ocorreria, em consequncia, o advento da Cincia abstrata. O novo esprito viria a ser o grande divisor entre a civilizao grega e as demais civilizaes do perodo histrico, os quais trilhariam caminhos distintos na busca de resposta s inquietaes do homem quanto a seu destino e quanto natureza e seus fenmenos. A revoluo do pensamento deu-se em diversos pontos, mas na Grcia dos pr-socrticos, tudo se configurou como um milagre. A este propsito, Augusto Rosa escreve que:

No mundo helnico, nesse Perodo, no entanto, nasceria a Filosofia (pr-socrticos) que, parte de todas as especulaes, muitas vezes ditadas pela pura imaginao, sem apoio na observao e na experimentao, levaria ao desenvolvimento do esprito cientfico, e, por via de consequncia, ao advento da Cincia. Enquanto nas culturas orientais se desenvolvia um esprito contemplativo e conservador, a Grcia seria capaz de criar, por seus filsofos, um esprito especulativo e crtico. No Oriente, o grande interesse seria desvendar os mistrios da vida aps a morte e obter a conquista do Nirvana ou da vida eterna; na Grcia, o importante seria entender os fenmenos naturais, buscando uma explicao lgica e racional. (ROSA, A., 2012: 99-100).O que os gregos e os antigos queriam era uma explicao mais abrangente e mais racional da natureza. No entanto, sob a denominao geral de Filosofia Natural, os gregos antigos criariam uma Cincia com o objetivo de estudar e compreender a Natureza. Essa busca por uma compreenso do Mundo fsico abrangia um vasto campo, que englobava a Matemtica, as Cincias Naturais e as Cincias Fsicas, ou seja, ao tempo dos filsofos pr-socrticos, os campos cientficos e filosficos se confundiam e se inter-relacionavam, ao ponto que os filsofos tanto se dedicavam a especulaes filosficas e metafsicas sobre a origem e a constituio do Universo quanto aos nmeros (Aritmtica), reas (Geometria) e elementos (Fsica e Qumica).2. Idade Mdia: So Boaventura e a Reduo das Cincias TeologiaNa Idade Mdia a cincia era entendida, sobretudo, como teologia ou corpus de saberes auxiliares da teologia, que continha todas as respostas para aquilo que os gregos buscavam do ponto de vista racional. O mundo medieval inequivocamente um mundo teocntrico e a instituio que se encarregou de fazer perdurar durante sculos essa concepo foi a Igreja de que os mosteiros e as universidades so prolongamentos. A Igreja alargou a sua influncia a todos os domnios da vida. No foi apenas no domnio religioso, foi tambm no social, no econmico, no artstico e cultural, e at no poltico e no cientfico considerado um dom de Deus oferecido ao homem.Com o poder adquirido, uma das principais preocupaes da Igreja passou a ser o de conservar tal poder, decretando que as suas verdades no estavam sujeitas crtica e quem se atrevesse sequer a discuti-las teria de se confrontar com os guardies em terra da verdade divina. A Idade Mdia foi, segundo o esprito iluminista, uma idade de trevas para a cincia, e nela houvepoucos progressos reais naquilo que chamamos de cincia. A concepo comum da Idade Mdia como um perodo cientificamente vazio tem persistido todo este tempo, para alm de se encontrar impregnada na mente popular, largamente devido s suas profundas razes sectrias e culturais, e no porque exista algum tipo de base para ela como demsontra Umberto Eco nas suas obras. Esta concepo parcialmentebaseada no preconceito anti-Catlico da tradio Protestante, que olhava para a Idade Mdia como nada mais que um ignorante perodo da opresso da Igreja. A cincia encontrava-se nessa poca, sob forte influncia da Igreja Catlica. A autoridade da Igreja impunha sua doutrina como verdade, que no podia ser discutida. Do mesmo modo, alguns escritores antigos, como Aristteles, gozavam de tratamento semelhante. Por isso, muito pouco conhecimento a cincia acumulou neste perodo. A esta cincia foi dado o nome de escolstica e, sua finalidade principal era demonstrar a verdade da doutrina da Igreja Catlica. Os sbios medievais acreditavam que a terra tinha forma de disco, e consideravam um absurdo a crena em sua esfericidade. Somente no sculo XIII esta crena obteve alguma aceitao por alguns sbios, que vieram a ter conhecimento da teoria de Ptolomeu. Porm, ainda acreditavam que a terra era o centro do universo. Em geral, as noes verdicas encontradas nos escritores antigos eram tidas por estes sbios como idias fantsticas. A Igreja, temendo perder sua autoridade, reprimia toda ideia que poderia traar novos caminhos para a cincia, impedindo seu livre desenvolvimento. Durante toda essa poca a Igreja foi o maior obstculo para o progresso do conhecimento cientfico, pois esse o essencial dessa relao est resumido no pensamento de So Boaventura na sua exigncia de reduo (reconduo) das cincias teologia, dado que aquelas estudam os fenmenos naturais criados pelo objecto da teologia: Deus. Neste sentido, cumpre-se a exigncia segundo a qual uma boa cincia (sabedoria) aquela que nos conduziria a Deus como explicao ltima e primeira de todo o universo. Neste sentido, So Boaventura defende que toda a ddiva preciosa e todo o dom perfeito vm de cima descendo do pai das luzes (BOAVENTURA, S., 1996:198). Isto quer dizer que a origem de toda a iluminao e, ao mesmo tempo, insinua-se com ela a liberalidade com que mltiplas luzes emanam daquela primeira luz, fonte de todas as luzes, ou seja, todo o nosso conhecimento teve a sua origem em Deus e para ele devem ser voltadas todas elas. Embora toda a iluminao do conhecimento seja interno, podemos contudo introduzir um distino de razo e dizer que a uma luz exterior, que a luz da arte mecnica, que considerada uma luz inferior, a luz do conhecimento sensitivo e a luz do conhecimento filosfico. E, toda essa luz e conhecimento deveriam ser orientados atravs de uma luz superior, que a luz da Graa e da Sagrada Escritura. Como ele afirma:A primeira luz refere a luz que ilumina no que se refere as figuras artificiais (que so como que exteriores ao homem e foram inventadas para suprir a indegncia do corpo) se denomina luz da arte mecnica a qual pode ser de certo modo de natureza servil e ficar abaixo do conhecimento filosfico (BOAVENTURA, B., 1996:198).

Da, podemos dizer que assim como Deus, Ser Supremo, deve-se considerar as razes, da causa eficiente formal e final, pois ele que a causa do existir, razo de entender, norma de viver. Segundo So Boaventura, o nosso entendimento dirigido em seus juzes por razes formais e podem ser consideradas sobre trs aspectos: em relao matria e ento so chamados razes propriamente formais; em relao alma so denominadas razes intelectuais; em relao sabedoria divina e chamam-se razes ideais. Como se sabe, a Idade Mdia foi marcada pelo poder da Igreja, todavia, comeou a surgir, por parte de certos pensadores, a necessidade de dar um fundamento terico, ou racional f crist. Era preciso demonstrar as verdades da f; demonstrar que a f no contradizia a razo e vice-versa. Se antes se dizia que era preciso crer para compreender, deveria ento juntar-se compreender para crer como exigira Santo Agostinho. A f revela-nos a verdade, a razo demonstra-a. Assim, f e razo conduzem uma outra. S. Boaventura foi um telogo, que destacou o intelecto como o principal meio de compreenso de tudo. Segundo ele, este desenvolvimento s poderia acontecer caso estivesse vinculada ao entendimento, a ideia de que Deus era a prpria inteligncia como propusera o Neoplatonismo de Plotino. Afirma ele:Um s o vosso mestre, Cristo (Mateus, 23,10). Com estas palavras exprime-se com clareza qual seja o princpio fontal da iluminao cognoscitiva, isto Cristo, que, - como diz Hebreus, 1,3 irradiao da glria e imagem de sua substncia, e a tudo sustenta com o poder de sua palavra; ele origem de toda sabedoria, segundo Eclesiastes 1,5: Fonte da sabedoria a palavra de Deus nos cus. O mesmo cristo ento a fonte de todo o conhecimento certo (BOAVENTURA, S., 1985 1).

Segundo Boaventura, o nico meio de entender tudo era conceber Cristo como o nico mestre e como fonte de sabedoria: nico mestre, porque era o criador de tudo e de todos; fonte de sabedoria, porque deu aos seres humanos a inteligncia para poder conhecer as coisas e, por meio dessas criaes, entender o prprio criador. Assim, para compreender as exigncias que estavam surgindo e se adaptar a elas, sem se esquecer dos mandamentos de Deus, era preciso re/organizar o pensamento e saber, de acordo com mestre, que a Teologia era a explicao de todas as cincias. preciso considerar que, para as atividades comerciais, para o conhecimento de novos territrios, de outras culturas, da realizao dos clculos, os homens foram em busca das cincias. Por isso, em Reduo das cincias Teologia, Boaventura afirma que as cincias explicavam as coisas, porm, isso s era possvel, porque Deus era o centro de toda cincia ou sabedoria humana. Com esta argumentao, concluia:E assim fica manifesto como a multiforme sabedoria de Deus (7), que com grande claridade se nos manifesta na Sagrada Escritura, oculta-se em todo o conhecimento e em toda a criatura. Fica manifesto tambm, como todo o conhecimento est subordinado Teologia, e por isto ela assume os exemplos e utiliza a linguagem pertencentes a qualquer outro gnero de conhecimento. Fica manifesto, igualmente, quo ampla a via iluminativa, e como no ntimo de toda a coisa que se sente ou se conhece est presente o prprio Deus. E este h-de ser o fruto de todas as cincias, que por meio delas se edifique a f [...] (BOAVENTURA, S. 1996 26.).Para o autor, para conhecer profundamente as coisas era preciso entender Deus como a prpria sabedoria e criador de tudo. Alm disso, a sua existncia s estava explcita nas Sagradas Escrituras: nelas estavam os seus ensinamentos. As atividades comerciais, por sua vez, implicavam a necessidade de aprender por meio das cincias, pois, era preciso conhecer, saber como agir e saber como se relacionar. Isso levou os indivduos a buscar outros conhecimentos e adquirir uma nova educao para conviver socialmente, assim como se instruir para administrar suas riquezas e outros elementos necessrios convivncia social. Desse modo, os homens comearam a sair da explicao teolgica tentando novas explices no s a nvel comercial, mas acerca da origem das coisas, da vida existente no mundo, dando o segundo passo, que foi o de sair da esferado mtica. nessa superao do estado mtico da explicao cientfica que encontramos a Idade Moderna marcaca pelas grandes revolues dirrigidas por pensadores como Galileu, Cpernico, Isaac Newton, homens abertos explorao da natureza, contrariando a Bblia, que era considerada fonte da verdade e do conhecimento. Esses tpicos sero desenvolvidos na tem que segue intitulado:3. Idade Moderna: Criacionismo, filosofia mecanicista e evolucionismo

Falar da relao entre a cincia e a religio na idade moderna mostrar at que ponto o criacionismo a filosofia mecanicista e o evolucionismo se relacionam e onde essas trs teorias se divergem no que tange explicao da origem da vida e questes conexas como a cosmologia. No nosso prprio tempo, deparamos com a controvrsia sobre o criacionismo e a evolucionismo. Como no diz Grondin a filosofia reconhece que, sem qualquer inconveniente religio oferece as respostas mais poderosas para a questo do sentido da existncia, mas ele sabe tambm que estas respostas hoje perderam suas provas. Mas no em todos os lugares, claro, porque nosso tambm um momento de ressurreio de religio de vrias maneiras, apesar das probabilidades, errado, o seu desaparecimento iminente: ascensso poderosa do fundamentalismo, protagonismo mdiatico dos papas e as grandes figuras religiosas; proliferao de espiritualidade ecltica; regresso da religio na Europa de Leste (e na China), at recentemente regies ateia; persistncia, nas sociedades avanadas, das ltimas perguntas e crena (em uma pesquisa de 2008, 92% dos que os americanos acreditam em Deus).

Hoje, a religio deixou de ser o ponto de partida, na medida em que ela envolvia mitos, casos fictcios e imginrios. Como refere Jean Grondin:A religio Religio envolve elementos como a f, tradio, ritual, que parecem obedecer estritamente os ditames de necessidades subjetivas e remetem ao improvvel: eles so todos itens que podem minar a sua credibilidade aos olhos da cincia moderna. Apesar de permanecer forte, com uma fora que parece ser parte de seu mistrio, a religio tornou-se uma questo cada vez mais problemtica aos olhos da filosofia (GRONDIN, J., 2010: 19).Naturalmente, podemos levantar a questo se a religio tem superado a cincia moderna? E Grondin nos responde da seguinte forma:Claramente, a cincia tem mostrado vrias representaes religiosas do mundo: mundo no foi criado em seis dias (mas em uma pequena fraco de segundo), homo sapiens e a sua evoluo, com a qual geneticamente relacionada, e Galileu estava certo. Tambm inegvel agnosticismo, e at poderia dizer que o atesmo do mundo moderno profundamente marcado pelo mundo cientfico, segundo a qual a religio no mais do que um forma de superstio, cujo abandono seria til para a humanidade (Ibidem, 27).Com amodernidade, afilosofia da naturezadesenvolveu mtodos prprios de investigao e tornou-se institucionalmente laica, isto , no independente da Igreja. A observao e a experimentao foram sendo entendidas como sendo muito importantes para o conhecimento da natureza. Ao longo do tempo, a viso sobre como realizar o processo de se conhecer a natureza, ou seja, filosofia da natureza foi se modificando.Ren Descartes um dos filsofosmecanicistaspropunha a realidade dualstica, ou seja, a existncia de dois mundos separados reino de extenso material (res extensas), de carcter essencialmente geomtrico e mecnico e o reino da substncia do pensamento (res cogitans), que no possui extenso. Vrias correntes surgiram com a expectativa de dar uma explicao diferente na explicao da origem do mundo, mas vamos referir apenas ao criacionismo, filosofia mecanicista e o evolucionismo, para mostrar como vrias teses cosmolgicas tentam conciliar as trs teorias, atravs da argumentao de que Deus ter criado o mundo cujas leis nele imprimiu, passando este, a partir de ento a evoluir pelas leis prprias.O Criacionismo consiste nacrenaque o universo e a vida foram criados, sem recurso a matria preexistente por uma entidade superior. Esta teoria no aceite no meio cientfico, pois no pode ser confirmada em bases cientficas. Contudo, tem gerado controvrsia, pois os criacionistas afirmam que esta se trata de uma proposta cientfica plausvel e que deveria ser tida em conta, no seio comunidade cientfica. No criacionismo encontramos a ideia de que Deus criou o mundo livremente sem recurso a qualquer matria preexistente como acontece na cosmologia platnica do Timeu, onde ele expe sua teoria das Ideias, que so formas imutveis, eternas, invisveis e imperceptveis, que podem ser apreendidas apenas por meio do pensamento. As Ideias seriam o modelo a partir do qual as coisas sensveis tomam sua forma, sem porm nunca chegar sua perfeio e perenidade. As formas observadas, na realidade, so transitrias, mutveis e esto sempre em movimento, sendo perceptveis atravs das sensaes e apreendidas pela opinio. Plato apresentou a idia de que um criador chamado Demiurgo (que significa arteso em Grego), que fez cpias fsicas dasestruturas perfeitase ideais, que somente podem existir no mundo dos deuses e no mundo das nossas ideias. O Demiurgo cria rplicas das formas ideais para o nosso mundo fsico que so imperfeitas, pois devem ter a qualidade de serem capazes de variar. Nascimento, crescimento, alterao e morte so ento partes do nosso mundo. O Demiurgo usa deuses subordinados para executarem as manutenes do dia-a-dia do mundo fsico.Plato deixa bem claro a ideia da recriao (composio) quando diz:Mas o Demiurgo no Criador, que tirasse do nada tudo quanto existe. Pois, j antes existia amatria, e a sua obra s consiste em tirar o mundo visvel que no se encontrava em estado de repouso, mas no de um movimento desmedido e desordenado da desordem para a ordem, convencido que este segundo estado era, em todo ponto de vista,melhor que o primeiro". O primeiro ser formado pelo Demiurgo a alma do mundo substncia no sensvel, invisvel. No-sensvel, invisvel; embora, de um lado, "mesclada" da realidade indivisvel e eternamente imutvel, e, do outro, da mutvel. Como a alma humana, ela revestida de um corpo, amatriado cosmos. Este cosmos ela o anima e, com a sua providncia e fora viva, forma o todo: deuses criados, homens, animais, plantas ematriainanimada. O todo tem vrias ordens; ao reino damatriainanimada se sobrepe o das plantas; a este, o dos animais, a do homem e o dos "deuses criados", i., o dos planetas (com a nossa Terra) e das estrelas. Quanto mais alto subirmos, tanto mais almas encontraremos; quanto mais baixo des cermos, menos oNousse manifestar. E, assim, o todo uma criatura animada e, na verdade, inteligente, pois foi feita pela Providncia de Deus.E este universo nico e o s existente, perfeito no seu ser e aparecer,visvel e abrangendo a plenitude do visvel. Organismo vivo, nele existem todos os outros organismos mortais e imortais; imagem sensvel de Deus, s atingvel como objeto de pensa mento, o universo , le prprio, tambm Deus, de grandeza e bondade totais, belo e perfeito. (PLATO, 1977.30 b).Alm do mundo das ideias e do mundo sensvel, ele coloca ainda uma definio obscura de espao, que seria uma terceira entidade, o qual "enseja tudo o que nasce em si mesmo, no apreendido pelos sentidos, mas apenas por uma espcie de raciocnio bastardo (...). O ser, o espao e a gerao so trs aspectos distintos desde antes da formao do cu. Segundo Plato, os corpos so formados pelos quatro elementos: fogo, gua, terra e ar. Eles tm uma natureza tridimensional e, portanto, compreendem uma superfcie e uma profundidade. A superfcie plana, como dito anteriormente, definida por trs pontos no lineares formando assim um tringulo. No captulo do versculo 1 a 30 do livro do Gnesis encontramos as descries da criao do mundo, por um ser infinito, imutvel: No princpio Deus criou os cus e a terra. 2: Era a terra sem forma e vazia; trevas cobriam a face do abismo, e o Esprito de Deus se movia sobre a face das guas. 3 Disse Deus: Haja luz, e houve luz. 4 Deus viu que a luz era boa, e separou a luz das trevas. 4 Deus chamou luz dia, e s trevas chamou noite. Passaram-se a tarde e a manh; esse foi o primeiro dia. 5 Depois disse Deus: Haja entre as guas um firmamento que separe guas de guas. 6 Ento Deus fez o firmamento e separou as guas que ficaram abaixo do firmamento das que ficaram por cima. E assim foi. 7 Ao firmamento Deus chamou cu. 8 Passaram-se a tarde e a manh; esse foi o segundo dia. 9 E disse Deus: Ajuntem-se num s lugar as guas que esto debaixo do cu, e aparea a parte seca. E assim foi. 10. parte seca Deus chamou terra, e chamou mares ao conjunto das guas. E Deus viu que ficou bom. (Gnesis, Bblia Sagrada).Com isso veremos que existe uma grande controvrsia entre o criacionismo a teoria mecanicista e o evolucionismo, embora os modernos teriam tentado concialiar as trs teses. Alis, a controvrsia agudiza-se com o surgimento da teoria da evoluo com Charles Darwin. Em geral, os criacionistas acreditam que a explicao do incio do mundo dada no gnesis, o primeiro volume do Velho Testamento, a verdadeira explicao das origens de tudo o que vemos em nosso redor. Apesar disso, o criacionismo no necessariamente conectado a nenhuma religio em particular. Simplesmente, exige acrenanuma inteligncia criadora na origem do universo e da vida. O criacionismo afirma a ideia da mais pura causalidade, pois, Deus a partir do nada, por um acto de sua livre vontade pe o mundo e o homem na existncia. Exclui-se, por conseguinte, uma causa material, a esta teoria ope-se a todas as concepes materialistas como as teorias da biognese e do Big Bang, que dizem que o universo ou a vida foram criados a partir de matria preexistente por meroacaso, ou mesmo, a teoria evolucionista segundo a qual a sobrevivncia das espcies est relacionada com sua seleo natural. Richard Dawkins, por exemplo, diz-nos na sua obra o Relojoeiro Cego que, a seleo natural o relojoeiro cego, cego porque no prev, no planeia consequncias nem tem propsitos em vista. Mas, os resultados vivos da seleo natural nos deixam pasmos, porque parecem ter sido estruturados por um relojoeiro magistral, dando uma iluso de desgnio e planeamento. Em oposio teoria evolucionista encontramos o materialismo de Thomas Hobbes, que ao contrrio da seleco natural, argumenta que o puro jogo das foras a razo pela qual sobrevivemos na natureza. Na presena no estado da natureza, onde o homem um lobo para o homem o modelo mecnico conduz assim a formular a necessidade da omnipotncia do soberano e a de um estado concebido como uma mquina perfeitamente organizada. Da, podemos dizer que esta concluso pressupe que o mecanismo natural seja substitudo, mediante o contrato. Assim, podemos citar um excerto onde Hobbes diz o seguinte:Em um enormeestado natural, enquanto alguns homens enormes possam ser mais fortes ou mais inteligentes do que outros, nenhum se ergue to acima dos demais por forma a estar alm do medo de que outrohomemlhe possa fazer mal. Por isso, cada um de ns tem direito a tudo, e uma vez que todas as coisas so escassas, existe uma constante guerra de todos contra todos (Bellum omnia omnes). No entanto, os homens tm um desejo, que tambm em interesse prprio, de acabar com a guerra, e por isso formam sociedades entrando numcontrato social. (HOBBES, T., 1988: Cap I).O criacionismo gira em torno de uma ideia chamada "desgnio inteligente". Esta a ideia de que os organismos vivos so to complexos, que apenas poderiam ter aparecido com a iznterveno de uma inteligncia superior, que Deus. Mas essa teoria no aceite dentro da viso cientfica, pois no h provas cientficas da existncia dessa entidade superior, que Deus. Em oposio ao criacionismo encontramos a filosofia mecanicista.O criacionismo gira em torno de uma ideia chamada de "desgnio inteligente" Esta a ideia de que os organismos vivos so to complexos que apenas poderiam ter aparecido com a interveno de uma inteligncia superior que Deus. Mas de salientar que