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XVI ENCONTRO NACIONAL DE TECNOLOGIA DO AMBIENTE CONSTRUÍDO Desafios e Perspectivas da Internacionalização da Construção São Paulo, 21 a 23 de Setembro de 2016 VERIFICAÇÃO DA ACEITABILIDADE DE FERRAMENTAS E DIRETRIZES DE MODELAGEM PROPOSTAS PARA UM BANCO PÚBLICO BRASILEIRO 1 FERRARI, Fernanda Andrade (1); MELHADO, Silvio Burrattino (2) (1) USP, e-mail: [email protected]; (2) USP, e-mail: [email protected] RESUMO A Caixa Econômica Federal (Caixa) é um notável stakeholder da indústria da Construção Civil e de Projetos brasileira que mantém um departamento técnico de aproximadamente dois mil profissionais, entre engenheiros civis e arquitetos. Dentre suas responsabilidades estão a análise da documentação técnica de obras de infraestrutura e habitação que pleiteiam financiamento. Atualmente, este é um processo elaborado manualmente que demanda muito tempo e dedicação para desenvolvimento e conclusão. Como forma de superar essa dificuldade, a instituição elegeu algumas tarefas que poderiam ser automatizadas através da Modelagem da Informação da Construção (BIM), e está buscando gradualmente a sua adoção. Estabelecer padrões de modelagem mostrou-se necessário para viabilizar a verificação de projetos e especificações de obra baseada em uma plataforma BIM. O objetivo deste artigo é verificar a aceitabilidade de ferramentas e diretrizes de modelagem desenvolvidas para esse fim. Para isso, foi organizado um workshop com profissionais da área de construção e projeto, no qual foi proposto um exercício estruturado seguido de uma discussão e um questionário. Como resultado, apesar da avaliação positiva da proposta, a pesquisa revelou um obstáculo mais abrangente, que consiste na atual realidade de segregação entre as disciplinas de projeto e orçamentação. Palavras-chave: Modelagem da Informação da Construção. Análise de projetos. Padronização. Diretrizes de modelagem. ABSTRACT Caixa Econômica Federal (Caixa) is an important stakeholder in the Brazilian Construction and Design industry that maintains a technical department comprising more than two thousand civil engineers and architects. These professionals perform mainly technical feasibility analysis of infrastructure or housing projects that apply for public financing. Currently, the analysis process is manual, paper-based, time and labour consuming. Facing up to this situation, the bank organization has established tasks likely to be automated through Building Information Modelling (BIM), and is now pursuing its adoption. Establishing modelling standards and templates was deemed necessary to enable designers to use BIM. The aim of this paper is to analyse the suitability and usefulness of the modelling tools and guidelines proposed. To that end, a workshop was conducted with construction and design professionals in which a modelling exercise was proposed, followed by a group discussion and a survey. Although the evaluation of the tools and project template proposed were positive, the results showed a broader issue of segregation between the disciplines of design and cost estimation. 1 FERRARI, F.A.; MELHADO, S.B.. Verificação da aceitabilidade de ferramentas e diretrizes de modelagem propostas para um banco público brasileiro, 16., 2016, São Paulo. Anais... Porto Alegre: ANTAC, 2016. 4785

VERIFICAÇÃO DA ACEITABILIDADE DE FERRAMENTAS E …infohab.org.br/entac/2016/ENTAC2016_paper_604.pdf · verificaÇÃo da aceitabilidade de ferramentas e diretrizes de modelagem propostas

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XVI ENCONTRO NACIONAL DE TECNOLOGIA DO AMBIENTE CONSTRUDO Desafios e Perspectivas da Internacionalizao da Construo So Paulo, 21 a 23 de Setembro de 2016

VERIFICAO DA ACEITABILIDADE DE FERRAMENTAS E DIRETRIZES DE MODELAGEM PROPOSTAS PARA UM BANCO

PBLICO BRASILEIRO1

FERRARI, Fernanda Andrade (1); MELHADO, Silvio Burrattino (2)

(1) USP, e-mail: [email protected]; (2) USP, e-mail: [email protected]

RESUMO A Caixa Econmica Federal (Caixa) um notvel stakeholder da indstria da Construo Civil e de Projetos brasileira que mantm um departamento tcnico de aproximadamente dois mil profissionais, entre engenheiros civis e arquitetos. Dentre suas responsabilidades esto a anlise da documentao tcnica de obras de infraestrutura e habitao que pleiteiam financiamento. Atualmente, este um processo elaborado manualmente que demanda muito tempo e dedicao para desenvolvimento e concluso. Como forma de superar essa dificuldade, a instituio elegeu algumas tarefas que poderiam ser automatizadas atravs da Modelagem da Informao da Construo (BIM), e est buscando gradualmente a sua adoo. Estabelecer padres de modelagem mostrou-se necessrio para viabilizar a verificao de projetos e especificaes de obra baseada em uma plataforma BIM. O objetivo deste artigo verificar a aceitabilidade de ferramentas e diretrizes de modelagem desenvolvidas para esse fim. Para isso, foi organizado um workshop com profissionais da rea de construo e projeto, no qual foi proposto um exerccio estruturado seguido de uma discusso e um questionrio. Como resultado, apesar da avaliao positiva da proposta, a pesquisa revelou um obstculo mais abrangente, que consiste na atual realidade de segregao entre as disciplinas de projeto e oramentao.

Palavras-chave: Modelagem da Informao da Construo. Anlise de projetos. Padronizao. Diretrizes de modelagem.

ABSTRACT Caixa Econmica Federal (Caixa) is an important stakeholder in the Brazilian Construction

and Design industry that maintains a technical department comprising more than two

thousand civil engineers and architects. These professionals perform mainly technical

feasibility analysis of infrastructure or housing projects that apply for public financing.

Currently, the analysis process is manual, paper-based, time and labour consuming. Facing

up to this situation, the bank organization has established tasks likely to be automated

through Building Information Modelling (BIM), and is now pursuing its adoption. Establishing

modelling standards and templates was deemed necessary to enable designers to use BIM.

The aim of this paper is to analyse the suitability and usefulness of the modelling tools and

guidelines proposed. To that end, a workshop was conducted with construction and design

professionals in which a modelling exercise was proposed, followed by a group discussion

and a survey. Although the evaluation of the tools and project template proposed were

positive, the results showed a broader issue of segregation between the disciplines of design

and cost estimation.

1 FERRARI, F.A.; MELHADO, S.B.. Verificao da aceitabilidade de ferramentas e diretrizes de modelagem propostas para um banco pblico brasileiro, 16., 2016, So Paulo. Anais... Porto Alegre:

ANTAC, 2016.

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Keywords: Building Information Modelling. Feasibility analysis. Standardization. Modelling

guidelines.

1 INTRODUO

A Caixa uma empresa pblica do governo federal brasileiro, fundada em 1861, que possui patrimnio prprio e autonomia administrativa. A instituio hoje lder em operaes de financiamento imobilirio e principal mandatria do governo federal na aplicao de recursos destinados a obras de infraestrutura e de habitao social. As operaes de financiamento infraestrutura, que destinam investimentos aos setores de mobilidade urbana, energia, logstica, abastecimento de gua, entre outros, apresentou um saldo de R$68,4 bilhes no terceiro trimestre de 2015, resultado de um crescimento de 33,3% em 12 meses. Alm disso, a Caixa detm 67,5% do mercado de financiamento habitacional, cujo saldo atingiu R$ 375,7 bilhes em 2015 (CAIXA ECONMICA FEDERAL, 2015).

A instituio possui hoje 97,7 mil empregados, dentre os quais esto aproximadamente dois mil engenheiros e arquitetos exercendo funo tcnica, distribudos em 74 regies do pas. A partir desse quadro, possvel afirmar o importante papel desempenhado pelo banco, principalmente no que se refere anlise da viabilidade dos projetos que pleiteiam recursos. Alm disso, cabe destacar que, atravs de seus requisitos de anlise, a Caixa exerce grande influncia na indstria da construo civil brasileira. Como exemplo, pode ser citado o requisito de certificao das construtoras e fornecedores no Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat (PBQP-H) para obras enquadradas no Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV) (MINISTRIO DAS CIDADES, 1998).

No mbito dos projetos financiados e desenvolvidos pela Caixa, o principal objetivo da anlise da documentao tcnica avaliar a viabilidade de execuo do projeto bem como o cumprimento das metas previstas, visando garantir a aplicao correta dos recursos e proporcionar o atendimento da populao beneficiada. Conforme a atual sistemtica, so apresentados pelos proponentes os documentos tcnicos necessrios caracterizao das propostas, bem como documentos institucionais e cadastrais exigidos pela legislao. A anlise tcnica verifica o atendimento das propostas s diretrizes do programa de vinculao, a adequao do projeto ao local da interveno, sua funcionalidade e exequibilidade tcnica, em conformidade s referncias tcnicas institudas legalmente, aos custos e aos prazos de execuo previstos.

Atualmente, o processo de anlise burocrtico, concentrando esforos no atendimento estrito s regras estabelecidas e baseado em uma documentao apresentada na forma impressa, demandando muito tempo e ateno do tcnico que o realiza. O projeto verificado manualmente, sendo a etapa de extrao de quantitativos para comparao com o oramento proposto a tarefa que demanda maior dedicao para realizao e concluso.

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Este artigo est inserido em um projeto de pesquisa mais abrangente que tem como objetivo analisar a introduo do BIM no processo de anlise da documentao tcnica realizado pela Caixa (FERRARI; MELHADO, 2015). Verificou-se que a utilizao do BIM foi inicialmente motivada por uma demanda interna gerada pela reestruturao do SINAPI, e que levou necessidade do desenvolvimento das ferramentas e diretrizes de modelagem expostas neste trabalho.

O objetivo deste artigo verificar a aceitabilidade dessas ferramentas e diretrizes propostas, investigando a potencialidade da utilizao do BIM no desenvolvimento de atividades relacionadas s prticas de projeto, planejamento e oramentao de obras. Neste sentido, o artigo observa ainda a disposio de diferentes profissionais, considerados enquanto futuros e provveis usurios na efetiva adoo desse novo instrumento.

Embora o objeto desta pesquisa ainda seja uma proposta em anlise pela Caixa, a falta de uma padronizao nacional para modelagem indica que o estabelecimento de diretrizes e fornecimento de ferramentas de suporte e viabilizao utilizao do BIM essencial para garantir que os projetos submetidos ao exame da Caixa, no mbito das suas atribuies e demandas, sejam apresentados de forma satisfatria, isto , adequados anlise executada em plataforma BIM.

A relevncia do estudo no apenas reside no amplo potencial de disseminao de tais ferramentas no meio profissional, mas tambm procura perspectivar a aplicabilidade desses dispositivos uma vez aprovados e consolidados pela Caixa, organismo fundamental ao desenvolvimento e estruturao do mercado da construo civil no Brasil. A fim de verificar os pontos citados acima, o mtodo de pesquisa empregado contemplou a proposio de um exerccio estruturado, no qual os participantes utilizaram dois plug-ins e um template desenvolvido para o software Revit da Autodesk, seguido de uma discusso em grupo e do preenchimento de um questionrio como maneira de avaliar a atividade realizada e encaminhar as concluses acerca das questes motivadoras deste artigo.

2 A CAIXA ECONMICA FEDERAL COMO POTENCIAL DIFUSORA DE PRTICAS BASEADAS EM BIM

A McGraw Hill Construction conduziu uma pesquisa no Brasil que apontou que 55% das empresas pesquisadas declaram ter pouco contato com o BIM (BERNSTEIN et al, 2014). Dentre as empresas que adotam o BIM, 70% manifestaram que iniciaram a sua utilizao a partir de 2012 e 75% revelaram que menos de 30% de seus projetos so desenvolvidos em BIM. Esses dados indicam o estgio inicial de adoo do BIM em que grande parte das empresas brasileiras se encontram.

Assim, atualmente, podemos considerar que a indstria da construo civil no Brasil objetiva o primeiro estgio de capacidade relativa ao BIM, descrita por SUCCAR (2010), ou seja, voltada ao emprego de softwares de modelagem baseada em objetos. Mesmo que a Caixa tenha a prerrogativa

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de ser um agente coercivo e regulador, pressionando uma difuso de cima para baixo conforme descrevem Succar e Kassem (2015), em relao ao emprego do BIM, foi adotada primeiramente uma abordagem passiva, que, de acordo com esses autores, consiste em conscientizar, incentivar e observar a adoo do BIM no processo de desenvolvimento do projeto.

Em relao ao panorama brasileiro, reconheceu-se que a ausncia de padronizao e diretrizes de modelagem em BIM seria uma grande barreira para qualquer inovao nesta rea, corroborando para que os esforos da Caixa se voltassem ao fornecimento de ferramentas e diretrizes indstria da construo civil, vislumbrando a possibilidade de, em um futuro prximo, efetivar o processo de anlise de projetos baseada em BIM.

2.1 Diretrizes e ferramentas

A proposta analisada neste artigo foi desenvolvida por uma empresa de consultoria, incialmente orientada a resolver um problema interno da Caixa causado pela reestruturao do Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e ndices da Construo Civil (SINAPI). O SINAPI mantido pela instituio e adotado como sua principal fonte de referncia de preos, e, recentemente, teve suas composies de servios revisadas para considerar ndices de produtividade, consumo de material e perda mais precisos (OLIVEIRA; SOUZA; KATO, 2014).

Tal fato resultou em aumento da gama de opes e na dificuldade de escolha da composio referencial correta para cada item de oramento. Por exemplo, o servio de parede de alvenaria que antes era associado apenas ao tipo de tijolo, hoje tem seu custo subordinado ao comprimento da parede, existncia de aberturas e ao tipo de mistura da argamassa (manual ou mecnica). Nesse sentido, as ferramentas em BIM tm grande potencial de auxlio na escolha da correta composio de oramento, por extrair facilmente as informaes do projeto que influenciam nos parmetros de produtividade adotados recentemente pelo SINAPI.

Assim, objetivando solucionar as questes relativas s composies de preos e oramentos, foram desenvolvidos dois plug-ins e um template para o software Revit da Autodesk com o intuito de auxiliar o responsvel tcnico pela oramentao na escolha do componente correto do SINAPI para cada objeto do modelo, atravs da filtragem das opes baseada nas caractersticas do objeto ou de informaes previamente imputadas.

Primeiramente, para garantir a padronizao, o template foi concebido j com as famlias de elementos e configuraes pr-definidas a fim de proporcionar um ponto de partida para novos projetos (AUTODESK, 2015). Dessa forma, garante-se que os elementos utilizados no modelo possuem as caractersticas necessrias para o correto funcionamento dos plug-ins.

O primeiro plug-in foi desenvolvido para funcionar no prprio software Revit e auxiliar na modelagem dos revestimentos das paredes (chamaremos de plug-in de revestimento). Atravs deste aplicativo, o usurio escolhe o

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ambiente para o qual deseja criar de definies e seleciona de uma lista de materiais de revestimento (praltura e espessura. O plugseparado para cada camada de revestimento imputado, o que facilita posteriormente a sua manipulao e quantificao.

Finalmente, um segundo especificao de materiais e componentes para cada elemento modelado, relacionando-os com as composies do SINAPI (chamaremos de SINAPI). Conforme demostrado naselecionar materiais para as paredes, pisos e forros. A filtragem das possibilidades ocorre de acordo com as caractersticas do objeto modelado, permitindo a exportao dos dados para finalizao do processo de oramentao.

Fonte: Material de apresentao do

importante ressaltar que a proposta analisada neste artigo no foi desenvolvida inicialmente com o intuito de disseminao no mercado ou com a finalidade de constituir um requisito de aprovao de futuros projetos, mas sim para ser utilizada em carter dinternos da instituio. Por este motivo foi selecionado apenas um softwareNo entanto, para futura disponibilizao ao mercado, qualquer ferramenta ou diretriz de modelagem dever ser baseada em formatos livres, como o Industry Foundation Classes (IFC)empresas desenvolvedor

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ambiente para o qual deseja criar de definies e seleciona de uma lista de materiais de revestimento (pr-determinados no template) definindo a sua

plug-in cria automaticamente um elemento de parede separado para cada camada de revestimento imputado, o que facilita posteriormente a sua manipulao e quantificao.

Finalmente, um segundo plug-in foi desenvolvido para auxiliar na materiais e componentes para cada elemento modelado,

os com as composies do SINAPI (chamaremos de Conforme demostrado na Figura 1, em cada ambiente possvel

selecionar materiais para as paredes, pisos e forros. A filtragem das possibilidades ocorre de acordo com as caractersticas do objeto modelado, permitindo a exportao dos dados para finalizao do processo de

Figura 1 - Plug-in SINAPI

Fonte: Material de apresentao do workshop descrito neste artigo.

importante ressaltar que a proposta analisada neste artigo no foi desenvolvida inicialmente com o intuito de disseminao no mercado ou com a finalidade de constituir um requisito de aprovao de futuros projetos, mas sim para ser utilizada em carter de teste, em apenas alguns setores

da instituio. Por este motivo foi selecionado apenas um softwareo entanto, para futura disponibilizao ao mercado, qualquer ferramenta ou diretriz de modelagem dever ser baseada em formatos livres, como o ndustry Foundation Classes (IFC), para garantir a isonomia entre as diversa

desenvolvedoras de tecnologia.

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ambiente para o qual deseja criar de definies e seleciona de uma lista de definindo a sua

cria automaticamente um elemento de parede separado para cada camada de revestimento imputado, o que facilita

foi desenvolvido para auxiliar na materiais e componentes para cada elemento modelado,

os com as composies do SINAPI (chamaremos de plug-in cada ambiente possvel

selecionar materiais para as paredes, pisos e forros. A filtragem das possibilidades ocorre de acordo com as caractersticas do objeto modelado, permitindo a exportao dos dados para finalizao do processo de

descrito neste artigo.

importante ressaltar que a proposta analisada neste artigo no foi desenvolvida inicialmente com o intuito de disseminao no mercado ou com a finalidade de constituir um requisito de aprovao de futuros projetos,

e teste, em apenas alguns setores da instituio. Por este motivo foi selecionado apenas um software.

o entanto, para futura disponibilizao ao mercado, qualquer ferramenta ou diretriz de modelagem dever ser baseada em formatos livres, como o

para garantir a isonomia entre as diversas

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3 MTODO DE PESQUISA

As vantagens e proveitos da utilizao do BIM no esto claramente e empiricamente estabelecidos, portanto a deciso de sua adoo frequentemente baseada em uma especulao sobre seus benefcios (BARLISH; SULLIVAN, 2012). Consequentemente, a anlise do comportamento de potenciais e futuros usurios foi considerada importante para verificar se existe uma inteno de adoo da metodologia proposta para desenvolvimento de projeto.

O mtodo de pesquisa aplicado baseou-se na estruturao de workshop, no qual foi proposto um exerccio de modelagem, utilizando os plug-ins e o template desenvolvidos, uma discusso monitorada e a aplicao de um questionrio junto aos usurios participantes. Cabe destacar que, como reforo ao mtodo utilizado no procedimento descrito, foi estimulado o debate entre os participantes que, atravs de seus comentrios e observaes, forneceram subsdios verificao da efetiva aplicabilidade das inovaes.

O exerccio de modelagem foi estruturado de forma que o template e os plug-ins fossem utilizados em uma situao real e familiar aos participantes. Para isso, foi proposta a modelagem de uma pequena casa, conforme mostra a Figura 2, junto com a definio de seus componentes e materiais, para finalmente elaborar um oramento de obra utilizando as referncias de materiais e servios do SINAPI em cada elemento do modelo proposto.

Figura 2 - Captura de tela do exerccio

Fonte: Material de apresentao do workshop descrito neste artigo.

Para assegurar que os participantes utilizassem as ferramentas corretamente, o desenvolvedor da tecnologia, tambm responsvel pela consultoria junto Caixa, guiou e acompanhou a elaborao do exerccio, respondendo

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dvidas e auxiliando os integrantes do grupo. Todos os comentrios e questes foram gravados, assim como a posterior discusso das impresses dos participantes sobre a experincia.

Dez profissionais das reas de projeto, construo e acadmica integraram o diversificado grupo, como mostra o quadro apresentado no Quadro 1.

Quadro 1 Perfil dos participantes

Item Formao Cargo Empresa Experincia com Projetos em BIM

1 Arquitetura Coordenador do Grupo BIM

Empresa 1 Mais de 10

2 Engenharia Civil Engenheiro Civil Empresa 1 Mais de 10 3 Tcnico em

Edificaes Desenhista tcnico Empresa 2 Mais de 10

4 Engenharia Civil Gestor de obras e projetos

Autnomo

1-3

5 Arquitetura Instrutor e Consultor de Revit

Autnomo

Mais de 10

6 Arquitetura BIM Manager Empresa 3 1-3 7 Arquitetura Arquiteto Empresa 3 1-3 8 Arquitetura Arquiteto Empresa 3 1-3 9 Engenharia

Eltrica Projetista de Eltrica

Autnomo Nenhum

10 Engenharia Civil Estudante de Doutorado

Acadmico Nenhum

Fonte: Os autores

O convite para o workshop foi aberto a qualquer interessado e divulgado na pgina da internet do desenvolvedor das ferramentas. A experincia com projetos em BIM tampouco foi pr-requisito para aceitao de participantes. A diversidade de formao, os variados nveis de experincia e atuao profissional em diferentes campos relacionados construo civil foram aspectos que colaboraram ao enriquecimento da discusso, na qual variados pontos de vista foram apresentados (Figura 3).

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Figura 3 - Apresentao do Workshop

Fonte: Os autores

Alm dos comentrios espontneos durante a apresentao e posterior elaborao do exerccio, os pesquisadores autores deste artigo propuseram a discusso dos pontos listados a seguir:

a) Durante a modelagem, quais foram as suas impresses em relao a:

O tempo e a dificuldade de construir o modelo?

A visualizao do modelo?

As diferenas de suas atuais prticas?

b) Na utilizao dos plug-ins, quais foram as suas impresses com relao a:

A sua operao?

Os seus benefcios?

A sua aplicabilidade em suas atividades dirias?

3.1 Limitaes do mtodo

Apesar de o mtodo ser considerado satisfatrio para o objetivo desta pesquisa e para promoo de um amplo debate entre profissionais com diferentes nveis de experincias e distintas atividades profissionais desenvolvidas, viu-se necessrio a imposio de um nmero limitado de participantes, para que fosse vivel aos pesquisadores coordenar as atividades e registrar os resultados de forma satisfatria. Alm disso, no obstante o esforo para que o grupo fosse constitudo de forma diversa, contando com a participao de diferentes perfis profissionais, conforme citado anteriormente, vlido ressaltar que, na etapa de anlise, principalmente dos comentrios e discusso, foi subtrada a subjetividade e a parcialidade das diferentes vises.

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4 RESULTADOS

4.1 Perfil dos participantes

De acordo com informaes extradas das fichas de inscrio e do questionrio, explicitadas na

Figura 4, formados em arquitetura e engenharia civil constituram a maioria neste grupo, que ainda pode ser considerado enquanto um conjunto jovem e qualificado, uma vez que pelo menos metade dos partgraduados e tem at 30 anos de idade.

Figura 4 - Informaes de idade e formao dos participantes

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Perfil dos participantes

De acordo com informaes extradas das fichas de inscrio e do questionrio, explicitadas na

formados em arquitetura e engenharia civil constituram a maioria neste grupo, que ainda pode ser considerado enquanto um conjunto jovem e qualificado, uma vez que pelo menos metade dos participantes so psgraduados e tem at 30 anos de idade.

Informaes de idade e formao dos participantes

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De acordo com informaes extradas das fichas de inscrio e do

formados em arquitetura e engenharia civil constituram a maioria neste grupo, que ainda pode ser considerado enquanto um conjunto jovem

icipantes so ps-

Informaes de idade e formao dos participantes

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Fonte: Os autores

Os usos mais frequentes do BIM para os participantes so relacionados s atividades de coordenao de projetos, visualizao e apresentao, alm de extrao de quantidades e planejamento de obras. Mesmo que a maioria dos participantes j tenha tido alguma experincia profissional com oramentao de obras, apenas 30% dos participantes j utilizaram um software BIM para este propsito.

4.2 Motivaes

As motivaes para utilizar um software BIM visando estimativa de custos estavam essencialmente relacionadas inovao nas prticas de projeto e oramento, e reduo da complexidade da atividade de oramentao. As mudanas de responsabilidade dos projetistas, acarretadas pela adoo de um processo de projeto baseado em BIM, figuraram como grande preocupao dentre os participantes, uma vez que algumas decises que afetam o planejamento da obra e seus custos so frequentemente requisitadas nas fases iniciais de projeto.

Alguns participantes admitiram negligenciar o planejamento de custos na fase de projeto, alm reconhecer a falta integrao entre as atividades de projeto e oramentao.

Quando questionados, todos os participantes declararam que se a Caixa estabelecesse uma padronizao de modelagem, ela seria adotada em suas prticas cotidianas.

4.3 Benefcios

Os resultados do questionrio mostraram que a maioria dos participantes (88 a 100%) concordou que, comparado a sua prtica atual, foi mais fcil, mais rpido e mais preciso modelar, extrair quantidades e estimar custos durante o exerccio proposto, conforme demonstra o grfico da Figura 52.

Figura 5 - Respostas para as perguntas sobre impresses das ferramentas

2 O resultado apresentado na Figura 5 demonstra o percentual de participantes que responderam positivamente a cada pergunta.

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Fonte: Os autores

Houve ainda respostas positivas s questes relacionadas inteno de uso, adequao e percepo de utilidade para sua prtica profissional (Figura 6)3. Durante a discusso foi apontado que o plug-in de revestimentos seria muito til em projetos de edifcios que apresentam um grande nmero de elementos repetitivos, tal como hotis, em que uma mesma tipologia de quarto replicada diversas vezes.

Figura 6 - Resultado em escala de 0 a 5 para concordncia com as afirmaes sobre uso das ferramentas

3 Para cada afirmao demonstrada na Figura 6 houve possibilidade de escolha de uma escala baseada no grau de concordncia com cada sentena que foi de discordo totalmente, com peso 1, e concordo plenamente, de peso 5. O resultado a mdia ponderada da opinio de todos os participantes.

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

Eu atribuiria valor aos produtos/servios assim no futuro

Foi mais rpido atribuir valor aos produtos/servios

Foi mais fcil atribuir valor aos produtos/servios

Eu extrairia quantitativos assim no futuro

Foi mais rpido extrair quantitativos

Foi mais fcil extrair quantitativos

Eu especificaria materiais assim no futuro

Foi mais rpido especificar os materiais

Foi mais fcil especificar materiais

Eu projetaria assim no futuro

Foi mais rpido projetar

Foi mais fcil projetar

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Fonte: Os autores

4.4 Dificuldades

A principal barreira reconhecida pelos pesquisadores foi percebida durante a explicao do exerccio, evidenciada pelas questes colocadas pelos participantes. Suas dvidas refletiram a falta de familiaridade com processos construtivos, o que levou a uma grande dificuldade em designar materiais, servios e caractersticas ao projeto. Alm disso, com rara exceo, os participantes mostraram desconhecimento sobre o SINAPI, sua estrutura e diretrizes, indagando questes elementares sobre o assunto.

Sobre os plug-ins e o template, alguns participantes reportaram dificuldades em designar especificaes com o plug-in do SINAPI em decorrncia das diversas opes apresentadas, deixando evidente que a filtragem de materiais e componentes deve ser revista. Alm disso, foi demonstrada preocupao com a previso de exportao das informaes para apenas um software de oramentao.

Finalmente, apesar dos participantes aprovarem o treinamento que tiveram durante o workshop e afirmarem a facilidade na execuo do exerccio proposto, a maioria dos participantes declarou que teria dificuldade em reproduzir o que aprendeu sem ajuda ou orientao.

5 DISCUSSO

A Levando em considerao a experincia do workshop realizado, houve

0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5

Acredito que poderia chegar aos mesmos resultados do

exerccio utilizando outras ferramentas e padres.

Acredito que sou capaz de replicar meus conhecimentos mesmo

que no exista ningum para me ajudar.

Acredito que tenho o treinamento necessrio para aplicar meus

conhecimentos dos novos padres e ferramentas.

O uso dos novos padres e ferramentas se adequa bem ao meu

estilo de trabalho.

O uso dos novos padres e ferramentas se adequa bem com a

maneira que gosto de trabalhar.

Utilizar os novos padres e ferramentas compatvel com

muitos aspectos do meu trabalho.

Ser fcil replicar o que aprendi utilizando os novos padres e

ferramentas.

Foi fcil realizar o exerccio.

A minha interao com as ferramentas e os padres propostos

se deu de forma clara e compreensvel.

Acredito que utilizar as ferramentas e os padres propostos ser

til ao meu trabalho.

Acredito que utilizar as ferramentas e os padres propostos

trar confiabilidade ao meu trabalho.

Acredito que utilizar as ferramentas e os padres propostos

trar melhoria ao meu trabalho.

Eu pretendo utilizar as ferramentas e os padres propostos em

meus projetos quando necessrio.

Sempre que possvel utilizarei as ferramentas e os padres de

modelagem propostos em meus projetos.

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aprovao quase unnime do template e dos plug-ins para Revit desenvolvidos, com apenas algumas sugestes de melhoria. O modelo de aceitao de uma tecnologia postula que o comportamento de inteno de uso de uma tecnologia relacionado percepo de sua utilidade e da facilidade de uso (SON; LEE; KIM, 2015). Os resultados da pesquisa mostram que essas qualidades foram apontadas pelos participantes.

No entanto, deve ser levado em considerao o fato de que a maioria dos participantes, devido sua falta de experincia com oramentao em BIM, compararam a experincia a mtodos tradicionalmente adotados. Isso explica parcialmente porque a maioria dos participantes acredita que poderia alcanar os mesmos resultados usando diferentes ferramentas e diretrizes de modelagem: primeiramente, existe um interesse em adotar prticas baseadas em BIM, e, apenas posteriormente, questiona-se escolher uma ferramenta especfica para realizar determinada tarefa. A falta de experincia com a modelagem de projetos explica o motivo dos participantes em acreditar que no poderiam reproduzir o exerccio sem ajuda ou acompanhamento.

Os resultados chamaram ateno ainda para o fato de que as disciplinas de projeto e oramentao so atualmente segregadas, e que o profissional responsvel pelo projeto nem sempre tem a compreenso da totalidade do processo construtivo, incluindo as atividades de especificao de materiais e de seus custos. Essa pode ser considerada a maior barreira, no somente para a aceitao da proposta analisada nesta pesquisa, mas tambm para a adoo de uma prtica de projeto e oramentao baseada em BIM (GU; LONDON, 2010).

6 CONSIDERAES FINAIS

Mesmo que a Caixa seja essencialmente uma instituio financeira, ela figura como um importante stakeholder dos setores de projeto e construo brasileiros, e pode ser considerada uma formuladora de polticas, fundamentalmente baseada em seu potencial de exigir e disseminar padres, regras, diretrizes e melhores prticas para a indstria da construo. Assim, a relevncia desta pesquisa est no monitoramento de seus esforos direcionados adoo do BIM e ao possvel estabelecimento de diretrizes de modelagem, uma vez que esses tm grande potencial de se tornarem padres nacionais.

O objetivo deste estudo foi verificar a aceitabilidade das ferramentas e diretrizes de modelagem desenvolvidos para a Caixa, e, consequentemente, avaliar as diretrizes de modelagem intrnsecas em sua utilizao. Para isso, foi proposto um exerccio de modelagem que englobou a elaborao de um projeto e sua oramentao, seguido de uma discusso em grupo e do preenchimento de um questionrio, com o intuito de identificar se existiu um comportamento de inteno de uso da tecnologia proposta.

Apesar do propsito especfico da pesquisa, e da avaliao positiva da proposta pelo grupo, os resultados revelaram um problema mais amplo de

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segregao entre as disciplinas de projeto e oramentao, que pode influenciar no somente a aceitao da inovao proposta pela Caixa, mas tambm a adoo e a disseminao do BIM.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos a todos os participantes do workshop e David Pinto Consultoria pelo auxlio.

REFERNCIAS

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