Upload
rita-braga
View
253
Download
1
Embed Size (px)
DESCRIPTION
11 poemas tristes...
Citation preview
Ela não tinha sapatosele não tinha asasela voava descalçaele calo nos pés,desviando do viésque a vida lhereservava.
O último vôo
Você se foi como um pássaroabriu as asas e voou pela janela.Deixou sua chinela franciscanado lado direito da nossa cama,e a túnica de linho azul marinhopendurada no cabide da banheira.Você voou pela janela sozinho,sozinho e nu como nascera...
Eu não sei se o que carrego aqui dentrosão flores de plástico,ou puro lamento...
Estranha, mutante...
Trago em meu peito fagulhas de vidroque me cortam a carne e arde.
E na garganta um grito preso, engasgado,gás, inflamável, prestes a explodir.
Um coração absorto, meio torto e com frio.Cabeça feita, laços, afetos, fitas
desbotadas...Nos olhos carrego um lago em tempestade, Mas meus pés criam asas e não encontram
limites.
.
...
Ando absorta por aí... Reticente...Meio catatônica, meio demente.Ando dando voltas trôpegassobre mim mesma.tropeçando no próprio cadarço, embaraçada nas linhas do tempo,nas meadas desbotadas do passado.Desatando nós imaginários.Alinhavando novos presságios.Ando absorta por ai...Tecendo novos ventos.
Estranha
Quem é essa estranha sangrando em minha cama, envolta em meus lençóis, tv ligada de madrugada...Quem é essa estranha, insana, gemendo assim?É uma parte esquecida de mim,uma parte que já não conheço mais,que já se foi há um tempo atrás,e agora volta pra me assombrar. Quem é essa estranha que me habitainsistente, que me faz repetir loucuras,gestos, trejeitos que já não quero mais.Quem é essa estranha insone em minha camaum pesadelo que não me deixa em paz ...
Ausência
Finalmente percebi que você se foi.Embora ainda arraste correntesem minha sala, durma na minha cama,beba do meu café...Embora ainda faça planosde viagem, pra nós dois.Mesmo assim, você se foi.É que você ainda não se deu conta!
Verso ao avesso
Faço verso quando estou pelo avesso.Peito sangrando, alma em chamas,cicatrizes à mostra...Faço verso quando sou carne viva,quando sou quase morta.Quando nada mais tenho,nada mais a perder...Faço verso!estou completamente nua,completamente exposta.
Lembranças que desfilam pela minha mente...
O tempo escorrendo pelos meus dedos...Lembranças desfilam belas e nítidaspela minha mente, solitariamente.O tempo continua lânguido,efêmero e implacável!Lembranças desfilampela minha mente,insistentemente...
Precipício
Estou na beira do abismo
segurando uma corda puída
Tenho duas alternativas
Ou eu pulo
Ou a corda se rompee eu caio
Então crio asas...
A outra e eu
Eu não sou eu, sou outraque se passa por mim.Aquela que é assim meioquem não quer nada...Trancada no quarto,deixa meus medostodos escaparempela janela!Eu não sou eu,sou aquela!Que me olhatão irônica...Com seu telescópiosobrenatural