Upload
vuongnhu
View
239
Download
1
Embed Size (px)
Citation preview
17/03/2015
1
VI. Hermenêutica e
Interpretação Constitucional
A expressão "hermenêutica
constitucional" é objeto de divergência
doutrinária.
Sentido amplo: abrange não só o
fenômeno da interpretação
constitucional, mas também da
validade, vigência, integração e
aplicabilidade das normas
constitucionais.
Portanto, é ramo da ciência que
estuda a interpretação, validade,
vigência, integração e
aplicabilidade das normas jurídicas.
Mas há quem empregue essa
expressão em sentido estrito, apenas no
sentido de interpretação das
normas constitucionais.
17/03/2015
2
Seguiremos aqui no sentido
amplo, incluindo aqui os
fenômenos da validade,
vigência, interpretação,
integração e aplicabilidade das
normas constitucionais.
1. Validade das Normas
Constitucionais
São aquelas introduzidas em
conformidade com a Constituição
vigente.
As normas constitucionais
originárias são formal e
materialmente válidas.
STF: as normas constitucionais
originárias são todas elas válidas.
Elas resultam do poder
constituinte originário que é
autônomo, incondicionado,
ilimitado.
17/03/2015
3
O STF já reconheceu que não se admite a
inconstitucionalidade de normas
constitucionais originárias.
Destaca-se que Otto Bachof sustenta a
existência da inconstitucionalidade de
normas constitucionais originárias nos
casos de violação de um direito
suprapositivo ou mesmo de um núcleo
principal da Constituição, o que foi
rechaçado pelo STF.
O que se admite no Brasil é a
inconstitucionalidade de normas
constitucionais derivadas,
produzidas pelo poder constituinte
derivado reformador. As emendas que
introduzem alterações na CF estão
sujeitas a limitações, pois é um poder
limitado, condicionado, subordinado.
2. Vigência das Normas
Constitucionais
José Afonso da Silva vem definido como
vigência de uma norma a sua
executoriedade compulsória. Em regra, as
normas constitucionais têm vigência logo após
sua publicação, mas pode ocorrer o fenômeno
da vacatio constitutionis, se a própria
Constituição estabelecer um período de vacatio,
como fez a nossa Constituição de 1967.
17/03/2015
4
3. Interpretação das Normas
Constitucionais
A expressão “interpretar” carrega a ideia
de esclarecimento, de compreensão de
conteúdo, de extrair de uma norma o seu
sentido e o seu alcance.
Para extrair o verdadeiro conteúdo da
norma, o intérprete sofrerá a influência de
diversos fatores, como, por exemplo,
sociais, políticos, históricos, dentre outros.
Alguns métodos de maior importância
e aplicação na doutrina constitucional, a
saber: métodos jurídico ou clássico;
tópico-problemático;
hermenêutico-concretizador;
científico-espiritual; normativo-
estruturante e; da comparação
constitucional.
(1) Método Jurídico ou Clássico:
busca-se a interpretação através da
instrumentalização nos elementos
interpretativos conhecidos, a saber:
gramatical, sistemático, teleológico,
histórico, genético, lógico, popular,
doutrinário e evolutivo.
O método jurídico não faz distinção
entre a interpretação constitucional da
interpretação geral do direito.
17/03/2015
5
Remontam à Escola Histórica do
Direito de Savigny, de 1840.
Método insuficiente e não satisfaz,
por si, a interpretação constitucional.
(1.1) Elemento Literal ou
Gramatical: por vezes é o único a
ser empregado, quando, por
exemplo, a norma que estabelece
que são 11 os Ministros que
compõem o STF ou que Brasília é a
Capital Federal. Limita-se à
literalidade da lei.
(1.2) Elemento Sistemático:
busca a análise do todo.
(1.3) Elemento Teleológico:
busca identificar a finalidade da
norma.
17/03/2015
6
(1.4) Elemento Histórico: busca-se a vontade do legislador, através da pesquisa das justificativas, dos projetos, das propostas, por meio dos debates parlamentares, reuniões das comissões, procurando aí identificar a vontade daquele que elaborou a norma.
(1.5) Elemento Genético: busca investigar as origens dos conceitos utilizados pelo legislador.
(1.6) Elemento Lógico: busca a harmonia lógica das normas constitucionais.
(1.7) Elemento Popular: a
análise parte da participação de
diversos grupos que compõe a
sociedade como os partidos
políticos, sindicatos, valendo-se de
instrumentos como plebiscito,
referendo, veto popular, recall, etc.
17/03/2015
7
(1.8) Elemento
doutrinário: interpretação
feita pelos especialistas.
(1.9) Elemento
evolutivo: segue a linha da
mutação constitucional.
(2) Método Tópico-problemático
Criado por Theodor Viehweg (1953 - Tópica e Jurisprudência).
A interpretação parte um problema concreto para a norma, verificando um caráter prático para a solução do problema.
A Constituição é um sistema aberto de regras e princípios.
Parte-se do problema (caso concreto) para a
norma, fazendo caminho inverso dos métodos
tradicionais, que buscam a solução do caso a
partir da norma.
Crítica de Canotilho: uma interpretação
constitucional a partir dos topoi (ponto de
partida de uma argumentação) pode conduzir a
um casuísmo sem limites.
17/03/2015
8
(3) Método Hermenêutico-
Concretizador (Idealizador Hesse)
Parte da Constituição para o
problema, destacando-se os seguintes
pressupostos interpretativos:
(a) pressupostos subjetivos: o
intérprete vale-se de suas pré-
compreensões sobre o tema para obter
o sentido da norma;
(b) pressupostos objetivos: o intérprete
atua como mediador entre a norma e a
situação concreta, tendo como “pano de
fundo” a realidade social;
(c) círculo hermenêutico: é o
“movimento de ir e vir” do subjetivo para o
objetivo, até que o intérprete chegue a uma
compreensão da norma.
O método concretista admite o primado
da norma constitucional sobre o problema.
(4) Método Científico-Espiritual
Idealizado por Rudolf Smend
Não se fixa na literalidade da norma, mas parte da realidade social e dos valores subjacentes do texto da Constituição.
17/03/2015
9
A interpretação constitucional
deve levar em consideração a
compreensão da Constituição como
uma ordem de valores e como
elemento do processo de
integração.
A Constituição deve ser
interpretada como instrumento
dinâmico que se submete a
constantes renovações em razão
das modificações da vida em
sociedade.
(5) Método Normativo-Estruturante
Idealizado por Friederich Müller.
O teor literal da norma, que será considerado
pelo intérprete, deve ser analisado à luz da
concretização da norma em sua realidade social.
A literalidade da norma é apenas o início.
A norma terá de ser concretizada não só pela
atividade do legislador, mas, também, pela
atividade do Judiciário, da administração, do
governo etc.
17/03/2015
10
(6) Método da Comparação
Constitucional
A interpretação se dá
através da comparação de
diversos ordenamentos
jurídicos.
(7) Método de interpretação
Construtivista ou Evolucionista
Não é preciso identificar a vontade do legislador, mas a vontade da norma de acordo com as exigências da realidade social do presente. O texto da Constituição pode manter-se inalterado, entretanto, diante de uma nova realidade social é possível extrair daquele texto constitucional uma outra norma, um outro sentido, favorecendo o fenômeno da "Mutação Constitucional", segundo o qual há o reconhecimento de reforma da Constituição por mecanismos não oficiais, como a fixação de uma nova interpretação.
Existem outros métodos tidos
como modernos de
interpretação da norma
constitucional, intitulados pela
doutrina como princípios,
como, por exemplo:
17/03/2015
11
(a) Princípio da Supremacia
Constitucional: a CF está no topo da cadeia
hierárquica das normas na interpretação.
(b) Princípio da Unidade
Constitucional: a CF deve ser interpretada
como um conjunto de normas válidas e de
mesmo grau hierárquico, sendo
interpretadas como um sistema de normas e
não de forma isolada.
(c) Princípio da Coloquialidade:
os termos expressos na CF devem ser
interpretados, sempre que possível, em
seu sentido coloquial e não no sentido
técnico, pois a Constituição é um
documento essencialmente político,
elaborado indiretamente pelo povo e
deve ser compreendido pelo povo.
(d) Princípio da Máxima Efetividade das Normas Constitucionais: o intérprete deve extrair uma maior eficiência do texto constitucional, sobretudo das normas de direitos humanos quando em colisão como outras que não contenham a previsão de direitos fundamentais.
17/03/2015
12
(e) Princípio da força normativa: Prioriza as soluções que possibilitem a atualização das regras, garantindo eficácia e permanência das normas constitucionais.
(f) Princípio da Cedência Recíproca: que pressupõe a necessidade da busca da harmonização das normas constitucionais aparentemente conflitantes. Uma interpretação de harmonização para aplicação de todas elas, daí a ideia de cedência recíproca.
(g) Princípio da Interpretação Conforme a Constituição: Antes de declarar a inconstitucionalidade de uma norma plurissignificativa ou polissêmica, o STF tenta preservar a sua constitucionalidade, verificando se determinada lei admite mais de uma interpretação. Se for possível encontrar uma interpretação que for compatível com o ordenamento constitucional, o STF promove um julgamento para reconhecer que determinada lei somente será válida/constitucional com aquela determinada interpretação. É o que se denomina de interpretação conforme a Constituição.
17/03/2015
13
A interpretação conforme a Constituição só poderá ocorrer se não afrontar a finalidade da lei que é traçada pelo legislador e não pode ser alterada por meio de interpretação.
(h) Princípios da Razoabilidade
e da Proporcionalidade: muitos
autores empregam esses termos como
sinônimos, mas há autores que
diferenciam esses princípios, colocando
a proporcionalidade como uma
consequência lógica da razoabilidade.
Segundo Luis Roberto Barroso, razoabilidade
é um critério de valoração das normas e dos
atos do poder público para que se verifiquem se
estão imbuídos dos valores de justiça.
Portanto, razoabilidade é interpretar com
critérios de bom senso, com ponderação,
harmonia, de acordo com aquilo que se
extrai do senso comum e dos valores
presentes na sociedade em determinado
momento.
17/03/2015
14
E na tentativa de dar contornos e
parâmetros menos subjetivos a
razoabilidade é preciso levar em conta
na sua identificação sempre se
determinado ato do poder público ou
se determinada norma visa a atender
valores como paz, justiça,
solidariedade.
Deve ser norteada, auferida dentro dos limites do ordenamento vigente, é o que se chama de razoabilidade interna. E também de acordo com as finalidades expostas e extraídas da própria CF, é a razoabilidade externa.
O princípio da proporcionalidade seria uma consequência lógica, segundo o qual o Poder Público só poderia agir dentro do estritamente necessário. Esse princípio também é conhecido como o de proibição do excesso. Para esse princípio é indispensável o requisito da adequação, ou seja, a medida adotada pelo Poder Público seja a mais adequada, seja o meio apto para obtenção dos fins do Estado.
17/03/2015
15
Há como requisitos também a
inexistência de outro meio menos
gravoso para a consecução dos fins aos
quais o Poder Público visa alcançar.
Também deve-se verificar se o ônus
para pratica de um ato é absolutamente
necessário e justifica a pratica do ato
do Poder Público.
PRINCÍPIO DA
PROPORCIONALIDADE
Adequação: O meio escolhido é
adequado para atingir sua finalidade?
Nenhum médico trataria uma gripe
com remédio para dor de cabeça
(medida ineficaz)
Necessidade: O meio escolhido é o
mais suave e ao mesmo tempo
suficiente para proteger a norma
constitucional?
Médico deve encontrar dentre os
tratamentos adequados, aqueles
menos onerosos, deve escolher a mais
barata.
17/03/2015
16
Proporcionalidade em sentido
estrito: análise das vantagens e
desvantagens que a medida trará.
O benefício alcançado com a adoção da
medida sacrificou direitos fundamentais mais
importantes (axiologicamente) do que os
direitos que a medida buscou preservar? Em
uma análise de custo-benefício, a medida
trouxe mais vantagens ou mais desvantagens?
No exemplo, o médico deverá ponderar
se os efeitos colaterais que o tratamento
compensam o resultado final (cura da
doença).
Sopesamento em prosseguir com
tratamento doloroso ou conviver com
doença não tão grave.
(i) Princípio da justeza ou da
conformidade (exatidão ou correção)
funcional: o intérprete máximo da
Constituição Federal é o STF que estabelecerá
a força normativa da Lei Maior, mas lhe é
vedado modificar a repartição de funções
constitucionalmente estabelecidas pelo
constituinte originário, para que não ofenda o
princípio da separação de poderes, a fim de
que se preserve o Estado de Direito.
17/03/2015
17
É vedado ao STF subverter o
sentido das normas constitucionais,
devendo as relações entre as três
esferas de “poderes” se pautarem
pela fidelidade e adequação à
Constituição.
4. Integração das Normas
Constitucionais Mecanismos reconhecidos para que as lacunas da CF possam ser sanadas, como, por exemplo, a analogia constitucional, segundo a qual o emprego de uma norma que disciplina certa situação de fato para a disciplina de outra situação de fato semelhante; também do costume constitucional, que é o reconhecimento de práticas tradicionais reiteradas, há o elemento externo/objetivo do costume que é o próprio uso que é aquela prática reiterada sem oposição, e também o elemento interno/subjetivo do costume que é a convicção de que aquela prática ou comportamento é necessário, é obrigatório.
Também se reconhece como instrumento
de integração das normas constitucionais a
chamada Teoria dos Poderes Implícitos
que traduz a ideia de que se a CF atribuiu
expressamente a um órgão ou autoridade
determinado poder ou competência,
implicitamente conferiu a ele também
todos os meios necessários para viabilizar o
exercício desse poder, dessa competência.
17/03/2015
18
Exemplo, o reconhecimento da reclamação
constitucional antes de sua previsão expressa no
ordenamento jurídico brasileiro, isso porque,
como a CF reconheceu o Judiciário como poder
e o STF como guardião da CF, antes da previsão
expressa da reclamação constitucional ela foi
admitida, importando a ideia da Suprema Corte
dos EUA (McCulloch vs. Maryland de 1819), já
que a reclamação serve para preservar a
competência e autoridade das decisões do STF.
STF: “... a outorga de competência expressa a determinado órgão estatal importa em deferimento implícito, a esse mesmo órgão, dos meios necessários à integral realização dos fins que lhe foram atribuídos” (MS 26.547-MC/DF, Rel. Min. Celso de Mello, j. 23.05.2007, DJ de 29.05.2007).
Outros exemplos: (a) O TJ estadual pode processar e julgar reclamação para garantir sua competência e a autoridade de suas decisões (ADI nº 2.212 e 2.480).
(b) Poderes investigatórios do MP, possibilitando o oferecimento de denúncia com fundamento em informações obtidas pelo parquet, sem necessidade de prévio inquérito policial (RE nº 535.478; HC 89.837 ; RHC 83.492).
17/03/2015
19
Para a integração constitucional também
se prevê a aplicação dos princípios
gerais do constitucionalismo, ou
seja, os princípios consagrados desde o
advento das primeiras Constituições,
portanto, princípios inerentes à própria
Constituição, como o princípio
democrático, o da separação de
poderes, etc.
É importante observar uma figura, também existente no Direito Europeu, chamada "Silêncio Eloquente", segundo a qual determinadas omissões do texto constitucional não podem ser sanadas, como se existissem de propósito. Exemplo reconhecido pelo STF está no art. 102, I, a, da CF, que prevê a possibilidade de se propor perante o STF ação direta de inconstitucionalidade para se discutir normas federais ou estaduais em face da CF e não fez referência a normas municipais, para o STF trata de "silêncio eloquente", porque a CF não quis admitir a figura da ADIN perante o STF para discutir normas municipais perante a CF.
5. Estrutura da Constituição
Federal
A Constituição Federal
contém: Preâmbulo, Nove
Títulos – art. 1º ao art. 250
(corpo) e o Ato das Disposições
Transitórias – art. 1º ao art. 97.
17/03/2015
20
O preâmbulo não tem relevância jurídica, não tem força normativa, não cria direitos ou obrigações, não tem força obrigatória, servindo, apenas, como norte interpretativo das normas constitucionais.
Portanto, a invocação de Deus
não é de reprodução
obrigatória nos preâmbulos das
Constituições Estaduais, tampouco
nas Leis Orgânicas do DF e dos
Municípios.
O ADCT (Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias)
tem a natureza jurídica de
norma constitucional e poderá,
portanto, trazer exceções às
regras colocadas no corpo da
Constituição.
17/03/2015
21
A modificação das normas do
ADCT ou a inclusão de novas
regras dependerão da manifestação
do Poder Constituinte Derivado
Reformador, ou seja, será
manifestado através das emendas
constitucionais.