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VIA DA IIFACIA ESPIRITUAL MA ESCOLA DE SANTA TERESIIHA Meditações para uma novena e PETALAS DE ROSAS dos mais bellos pensamentos do Anjo do Carmelo, para todos os dias do anno P. Ascanio Brandão (Da Diocese de Taubalé) i & . http://alexandriacatolica.blogspot.com.br

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VIA DA IIFAIICIA ESPIRITUAL MA ESCOLA DE SANTA TERESIIHA

Meditações para uma novena e PETALAS DE ROSAS dos mais bellos pensamentos do Anjo do Carmelo, para todos os dias

do anno

P. Ascanio Brandão (Da Diocese de Taubalé)

i &

.

http://alexandriacatolica.blogspot.com.br

Nlhll obstat. 30 septem� brls MCMXXXVI. F'r. Fri� derlcus VIer, Ofm. Censm·.

lmprirnatur. Por commis� são espcclnl do Exmo. e Revmo. Sr. Bispo de Ni­ctheroy. D. José Pereira Alves. 30 ele Setembro de 1936. Frei Oswnldo Schlen­ger. O. li'. M.

TODOS OS J)IJr.BJTOS BBSEBVAJJOS

A's minhas boas IrmãH de oração e sacrificio, que nos Carmelos de S. Paulo e do Rio acompanham com tanta dedi­cação os passos de minha vida sacerdotal e missionarif' ..

A's Carmelitas brasileiras, estas paginas e a minha grati­dão.

O Autor.

AOS PI�DOSOS u;ITOR�S

Teresinha, a santinha do sorriso e da cbul'a de rosa.'i, é bem conhecida e amada.

Santa Teresa do Menino Jesus, men­sageira providencial de uma doutrina de incomparavcl opportunidade, a. mes­tra, a doutora da via da Infancia, au­rora de uma \"('rdatl('ira r<•nascença da vida. espiritual, neste seculo, no dü�er de Pio XI, e como o provou admira­velmente o Pe. Petitot, O. P. (1), com toda a sua autoridade de theologo e de escriptor ; Santa Teresa. do Menino Jesus, tal como t�lla é, e não como a julgam os espiritos superficiaes, cegos por antipathias irreflectidas e prejuizos theologicos sem que jamais se dessem ao trabalho de estudar a espiritualida­de do Anjo do Carmelo nas suas fontes legitimas, Santa. Teresa do Menino Je­sus, repito, não é bem conhecida.

1) "Sainte Théràse de Lisieux, Une reua.is­sauce spirltuelle".

A via da in!ancia espirltual

Dahi a necessidade que sinto em es­crever, e prégar muito, opportune et importune, o pequenino caminho da via da infancia espiritual.

E' a vontade do Santo Padre. usi esta \'Ía. da infa.neia espiritual se

generaliza, disse Pio XI na homilia da Canonização do Anjo do Carmelo, há de se ver como facilmente se realizará esta reforma da sociedade humana, que nos propuzemos no começo do nosso Pontificado".

Ahi vae este livrinho, ligeiro estudo de algumas faces apenas da rica espiri­tualidade da Santinha. Em forma de novena é mais piedoso e mais accessive1.

Obriga a rezar e a meditar. Não deveis ler superficialmente estas

paginas, meus leitores. Meditae-as. E que as petalas de rosas dos pensa.mcn· tos de Santa. Teresinha. embalsamem, cada dia, os \'ossos pensa.mentos.

Pe. Ascanio Brandão.

PRIMEIRO DIA

Em nome do Padre, e do Filho, e do Espirito Santo. Assim seja.

Vinde, Espírito Santo, enchei os co­rações dos vossos fiéis e accendei nelles o fogo do vosso amor.

)'r. Enviareis o vosso Espirito e tudo será criado.

IJr. E renovareis a face da terra.

OREMOS

Deus, que instruistes os corações dos fiéis com a illustração do Espirito San­to, fazei que nos regulemos seg1.1ndo o mesmo Espirito e gozemos sempre da sua consolação. Por Christo, Senhor nosso.

ljl. Assim seja.

10 ---- A ,·ia

LEMBRAE-VOS

Lembrae-vos, ó Santa Teresinha do Menino Jesus, da promessa que fizes­tes de 11passar o vosso céu a fazer o bem sobre a terra" e das graças in­numeraveis que obtivestes aos que re­correram á vossa intercessão. Cheio de confiança em vossos meritos, venho pe­dir-vos a graça de (aqui se declara a graça) . Oh! não rejeiteis a minha pe­tição! MAs, si quereis que eu vos cha­me 11Alegr�.". do Sagrado Coração", deS­pachae as minhas supplicas, e, pelo amor que tínheis á Divina Eucharistia e á Virgem Santíssima, alistae-me na legião das almas pequeninas, inteira­mente abandonadas ás mãos de Deus, e, envolvendo minha vida em vossos ce­lestes perfumes, derramae sobre mim c todos os que me são caros uma de vos­sas "chuvas de rosas". Assim seja.

Santa Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face, Alegria do Sagrado Coração, rogae por nós.

Tc1·esinl1a ���� 11

MEDITAÇÃO

"A lUISSÃO Dt; SANTA TERt;SINHA"

Em vesperas da morte, exclamou Sta. Teresinha, toda cheia de uma ale� gria celeste: "Sinto que é chegada a hora de desempenhar a minha mis­são. - A missão de fazt•r amar a Nos­so Senhor �orno eu o amo . . . de dar a. conhecer a. minha. vercdazinha. ás ai .. mas . . . "Quero passar o meu céu a fa .. zer o bem na terra." (1).

A Missão providencial dC' Sta. Tere­sinha é :

I - Dar a. t•onhecet' a. sua. \'ereda­zinha, ou a \'ia da lnfancia es­piritual, e tlassa.r o céu fazr-ndo o bem na terra.

A Providencia deu á Igreja, na pes­soa de Santa Teresa do Menino Jesus, um admiravel modelo de santidade, pa� ra nos facilitar a conquista do céu. A missão providencial de Sta. Teresinha é ensinar ás almas a sua veredazinha ou a Via da Infancia espiritual. E em que consiste esta pequena via, este ca� rninho seguro do céu?

12 ----- A vin da lnfancia espiritual

Ella mesma no-lo vae explicar : A senda da Infa.ncia espirJtua.l ê o

canünho da confiança e da entrega to .. tal de si mesmo a Deus. Uma só coisa nos cumpre fazer neste mundo: es­pargir diante de Jesus as flores dos pe­quenos sacrificios, c captivá.-Io a poder de carinhos! Assim mesmo o prendi eu, e por isso é que hei de ser tão bem aco­lhida!

Eis a [Jequena l'ia, eis a '·li a maneira facil de conquistar o amor de Jesus e chegar á mais alta perfeição.

Quero passar o meu céu fazendo o bem na terra, disse Teresinha. O Se­nhor ouviu-lhe as supplicas ardentes e no céu faz hoje todas as suas vontades.

A chuva de rosas de tantas graças e tantos milagres, que há já alguns an­nos a nossa amavel santinha faz cair sobre a terra, vem demonstrando a missão providencial que lhe foi confia­da de passar o céu fazendo o bem na terra. Oh! tenhamos confiança na pro­tecção valiosa de Santa Teresinha junto ao throno de Deus, e lembremo-nos de que, até ao fim do mundo, o povo, nas amarguras deste exilio, há de ver bri-

Na escola de Santa Tereslnha ------ 13

lhax no céu a estrella. do Carmelo, e por ella nos virá do alto uma chuva de rosas de graças escolhidas. uNão, a:té ao fim do mumlo não hei de ter descanso! �las quando o Anjo disser: uo tempo já não existe! ( 2) só então descansarei, porque o numero dos elei .. tos estará completo" (Hist. alma).

D - A Via da Infancia espiritual

Um dia disse Jesus aos seus discipu­los: ugJ não \"OS CODVCrterdcs e não vos fizerdes como crianças, não entrareis no reino dos céus". Eis ahi, nestas pa­lavras do Divino Mestre, a Via da In­fancia espiritual,. imposta como condi­ção necessaria para se obter a eterna salvação. Consideremos :

1. Entrar na \'ia da lnfancia espiri­tual é condição necessaria. para a sal­\'a.ção.

2. Santa 'I'eresinha é um modelo ad­mira\"el nesta senda de amor e de con­fiança.

Bento XV, após a leitura do decreto da heroicidade das virtudes de Sta. Te­resinha, disse no seu bello discurso: A

11 ----·- A \'ia da inf:mci:l e�pil'itual

infancia est)iritunl não é um m(�io Ii­,·re, uma \'Í'r'J melhor ou mais curta. �� facil, é condição nPcPssaria para se ob­ter a sal\'ação.

Temos de nos tornar como as crian­cinhas, simples c puros, si quiZermos alcançar o céu.

As palavras do Divino Mestre, pala­vras de vida eterna, .são bem claras e explicitas. Ao meditá-las,., não podemo::: duvidar do que nos restá· a fazer : -arrancar de nosso coração toda malícia, todo adio e dobrez, e seguir a Jesus nesta senda admiJ�avcl c SE'gu:r.·a que nos há de levar ao cume da Montanha do Amor.

"Si não \'OS fizerdes com as crian­�a.s, niio f"ntrarPis no reino dos cf.us".

Meditemos bem estas palavras e não hesitemos. Trata-se de salvar a nossa alma, e para salvá-la tornemo-nos pe­quenos pela humildade, doceis, mansos e simples como as criancinhas.

Santa Teresinha. veiu nos ensinar, com a sua Pequenina. Via, um meio pratico e facil de realizarmos na vida espiritual as palavras do Divino Mestre.

Na escola de Santa Tcre�inha ---- Hi

Toda a doutrina e a vida da nossa santinha constituem um modelo admi­ravel da via da Infancia. Imitemo-la, porque a nossa devoção aos santos deve ser antes de tudo uma devoção de imita­ção. O Santo Padre Pio XI na homilia da Canonização de Teresinha disse: V l'· nera.veis irmãos e filhos amados, arden­tt•mente desejamos qne todos os chris· tãos se torném dignos de partici1)ar d� abundantissintaH gra(,:,as por intercC"ssão de Teresinha. �la.� desejamos, com mais ardor ainda, que se c-rnpt>nhrm decidi­damente a. imitá-la, fazt•ndo-s,• meninos, pois si tal n�o forf'm, se \'(•rão exclui­dos do reino dos cfi.us, st·�undo a sen· trn.;a de Christo".

ORAÇÃO

Santa Teresinha, cnsinae-nos a vos­sa pequenina via da Infancia espiritual. Dac-nos a graça de cumprirmos fiel­mente o preceito de Jesus, que nos or­dena façamo-nos criancinhas, para al­cançar o reino dos céus. Guiae-nos, am­parae-nos, protegei-nos.

16 ----- A via da lnfancla espiritual

EXEMPLO

Apparecedo á Priora do Carmelo de Gallipoli, na Italia, Santa Teresinha, de­pois de lhe ter entregue a importancia da divida da Communidade, lançou um olhar cheio de ternura sobre a humilde Priora. Esta, agTadecida, prostrou-se em terra para agradecer aquelle grande favor, julgando ter diante de si a sua Madre Santa Teresa : - O' minha mãe! exclamou.

- Não, eu não sou a nossa Santa Mãe, eu sou a. sen•a. de Deus, So1·or Teresa. de Lisieux.

E acariciando a cabeça da humilde priora, que tremia cheia de emoção, foi-se afastando lentam.ente.

- Esperae, podeis vos enganar no caminho - advertiu a priora.

Com um sorriso celeste, Teresinha respondeu :

- Não, não, minha via é segura, e não me enganei seguindo-a ...

Era uma allusão consoladora á peque­nina via da Infancia espiritual.

(Pluie de roses - Tom. I)

1) Hlstor. de uma alma - Cap. XII. 2) Apoce.I. 10, 6.

SEGUNDO DI A

MEDITAÇÃO Il

A VIA OO!UMUM DA SANTIDADE

Todos somos chamados á perfeição, á santidade. ''Sêde perfeitos como \'OS· so Pae celeste é perfeito", disse Nosso Senhor.

Não ha excepções neste convite do Divino Mestre. Devemos ser santos, de­vemos ser perfeitos, si quizermos sal­var a nossa alma. E nosso ideal de santidade é o Pae celeste, é a SantidadP mesma.

Vejamos :

1. llá uma \ia commum de santidade,

pela qual todos deYemos pas!iiar.

11. Em que consiste u. ''ia da lnfan­

cia espiritual.

18 ----- A viu da infancia espiritual

Sêde perfeitos como vosso Pa.e ce­leste é perfeito (1).

Jesus Christo nos ordena a perfeição e nos apresenta o modelo a seguir. S. Paulo exige que estejamos sempre ar­mados contra os ataques de nossos in­imigos, e perfeitos em tudo: T omae a armadura de Deus, afim de poderdes resistir no dia mau e vos manterdes perfeitos em tudo (2).

Notae-o bem : perfeitos em tudo!

Não ha duvida, todos sOmos obriga­dos a tender á perfeição e á santidade. Nem todos, porém, podemos chegar á perfeição pelas vias extraordinarias dos grandes santos. Logo, há de existir uma via. commum, sem carismas, sem vi­sões e sem obras extraordinarias e bri­lhantes, pela qual possamos andar com segurança e attingir a esta perfeição, a este grau de santidade que Deus exi­ge de todos sem excepção.

Não façamos um conceito erroneo da santidade, julgando-a privilegio de alguns e que a ella não poderemos che­gar. Deus não a exigiria de nós, si não

:-;a e�:;cula de Sunll:l Tere�inha ----- 19

houvesse uma \'ia commum para attin­gi-la.

E esta via commum de santidade, não há duvida, é a via da lnfancia. es­piritual.

Quando os apostolos perguntaram ao Divino Mestre quem seria o maior no reino dos céus, respondeu-lhes Jesus, chamando uma criança e collocando-a no meio delles : uNa. yerdade, vos digo que si não vos convertl'rdcs e vos fi­zerdes como as criancinhas, não entra­reis no reino do céu. Portanto, quem se humilhar como este pequeno, este sérá o maior no reino do céu" (3).

O Evangelista S. Marcos nos conta que Jesus, abraçando e abençoando as criancinhas, dizia aos seus discípulos : "Em verdade, em verdade, \'OS digo, totlo aquelle que não receber o reino de Deus como um menino, não entrará ne] .. !e" (4).

Devemos ser como as crianças e re­ceber o reino de Deus como um meni­no, para nos salvarmos. Ora, a via da Infancia espiritual, pela sua simplicida­dE", tem por fim fazer-nos pequeninos, criancinhas pela humildade e a pratica

20 ----- A via da iurancia espirllual

de todas as virtudes ao alcance de toàa.� as almas. Não é isto justamente o que nos ensinou o Divino Mestre, impondo­nos a condição necessaria para entrar­mos no reino do céu ?

Não há duvida, pois, que a via da infancia espiritual é a l'Ía. commum de santidade indicada pelo Divino Mestre .

. n

Em que consiste a l'ia. da lnfanr:ia espiritual.

A via da Infancia espiritual, diz o Pe. Martin (5), consiste em se fazer pe­queno, em transportar para o domínio sobrenatural da alma os traços ca­racterísticos da infancia, e viver sob o olhar de Deus como vivem neste mundo as crianças sob as nossas vistas. Após esta definição, meditemos

Os ensinamentos e a doutrina de St.a. T etcs.inha sobre a. via da. Infa.ncia espi­ritual e As virtudes principaes desta via.

Perguntaram as noviças a Santa T ercsinha. um dia : "Procuraes sempre

Nu escoht de Santa Tcrcsinha ---- 21

imitar as crianças ; mas afinal que é preciso fazer para se possuir o espirito da infancia? Que quer dizer, pois, ficar pequeno?"

Eis a resposta admiravel e inspirada da nossa santinha e que é a definição da sua pequenina via :

- Ser pequeno é reconhecer �u na­da, nã.o se desalentar com as proprias faltas, pois as crianças caem muitas ,·e­zcs, mas são demasiado pequenas para se maehucarem muito. Emfim, é não J�anhar fortun�. e com nada se inquie­tar. Ser pequeno é não a.ttribuir a si mesmo as virtudes, julgando-se capaz de alguma coisa, mas reconhecer que o bom Deus põe este thesouro na mão do seu filhinho, ])ara que dellc se sirva quando tiver necessidade.

"Quero amar-vos como uma crianci-nha!" dizia ella muitas vezes a Deus.

Qual tcrnissima filha, com delicias,

Quero, ó Senhor, encher-te de carícias.

Definida assim a via da Infancia es-piritual, podemos agora ver as virtu­des que a caracterizam. São tres : Con­fiança., abandono e Amor.

22 ----- A via <la infancia espiritual

Que é uma criança? E' uma fraque­za, nada pode por si, é pequena, pobre, simples e amorosa. Pequena e fraca, ella em tudo depende dos paes. Dahi a confiança que nelles deposita. Pobre, não pode subsistir sem que lhe seja dado o alimento, o pabulo da vida. En­tão, abandona·se á vontade dos que a sustentam. Simples e amorosa, a crian­cinha, sem malicias, sem refolhos no coração, em retribuição ao amor e ca­rinho dos paes, só lhes pode dar uma coisa : o seu amor.

Teresinha fez assim para com Nosso Senhor. Tornou-se criança na vida es­piritual e, pela confiança, o abandono e o amor ao Pae celestial, traçou a rota luminosa da sua via da Infancia.

ORAÇÃO

Quero tambem ser como as crianci­nhas, ó minha querida Santa Teresinha! Quero me tornar humilde e manso de coração, para que, seguindo os traços luminosos da vossa admiravel via da Infancia espiritual, possa comvosco, mi­nha·

santinha, cantax um dia o hymno do Amor na Patria dos Eleitos.

Na escola de S1tnta Tcreslnhn ---- 28

EXEMPLO

Uma alma, que muito se adiantou, na via de Teresinha, foi 1\la.ria Guerin, prima da nossa santinha e sua compa­nheira de brinquedos nos ''Buissonets". Esta alma privilegiada entrou paxa o Mosteiro de Lisieux a 15 de Agosto de 1895, com o nome de Soror Maria da Eucharistia. Tornou-se notavel pelo seu espírito de pobreza e paciencia nos sof­frimentos : "Nii.o sei si soffri muito, disse na sua doença, parece-me comtudo que Tercsinha me communica os seus soffrimcntos e que lhe sigo o exemplo no entregar-me sem reser\"a ao (]hino beueplacito. Pndera eu, como ella, mor­rer de amor! Quero morrer repetindo a Jesus que eu o amo".

Realizou-se o seu desejo. Uma carta circular do Carmelo narra-nos os seus ultimes momentos. Respirava-se em sua cella uma atmosphera que não era des­te mundo. Uma de nossas irmãs trou­xe-lhe a Virgem de Teresa e ella excla­mou, com um olhar celeste : - "Quero­

lhe tanto!" e estendendo os braços para a estatua : '40h! linda. que ella é!".

24 ----- A via da infancia espirilual

Ao aproximar-se da morte, abrasada no amor divino, suspirava : " Não tenho medo da morte. Oh! que paz!. . . Não nos de\'e metter medo o soffrimento. Jesus nos dá. sempre for�..a.. Oh! quem me dera morrer de amor! . de amor de Deus. Meu Jesus, eu \'OS amo!" e expirou suavemente, aos 14 de Abril de 1905, com 34 annos de idade.

1) Mt 4, 8. - 2) Ef 6�13. - 3) 1\H 18, 3, 4. 4) Me 10, 14., 15, 16. - 5) P. Martin - La. Pe­tite VoJe.

TER CEIRO D I A

MEDITAÇÃO ill

COMO ENTRAR NA \'IA DA IN­FA NCIA ESPffii TUAL

Já que Nosso Senhor nos convida a ser pequenos, a imitar as criancinhas para obtermos o reino do céu, entre­mos na ·Pequenina Via da Infancia es­piritual. "O que agrada a Jesus !"m m.inh'alma, escreveu Teresinha, é me ver amar a. minha pequenez e minlla pobreza, é a. esperança. ceJ..ra. que eu t-e­nho em sua rniscricorllia" (1). Destas palavras, podemos concluir que para en­trar na via da Infancia espiritual é pre­ciso :

I. Reconhecer t� amar, a. nossu. pe­quenez e pobrt�za. e ter uma con­fiança. cega na misericordia. do coração de Jesus

11. Veremos a t�sscncia. da Via da lnfancia espiritual

26 ----- A via dn infancia espiritual

O grande obstaculo do progresso da alma no caminho, na perfeição, é o or­gulho. Dentre as innumeraveis doenças moraes que soffre a pobre humanidade, uma das mais estranhas e enraigadn.s, diz o Pe. Dcsurmont (2), é a que se poderia chamar: O espírito da suffi­ciencia.. HDe nada. preciso, eu me sou sufficiente ; Deus não me é necessario, nada. tenho que Lhe pedir! Eis o homem, eis o fundo do seu coraç�o, tal como o peccado o fez". Quasi ninguem quer ser pequeno e pobre, ainda mesmo na vida espiritual. E isso secca a fonte das gra­ças divinas na alma. Deus só fala aos humildes, aos pequeninos e só a elles revela os segredos do seu Coração. De­vemos reconhecer o nosso nada, a nossa miseria, a nossa pobreza diante de Deus, que é a propria grandeza e sem o qual nada podemos. Combatamos em nós o espirito de sufficiencia. E' Jesus quem faz tudo em mim, dizia Teresinha, e eu nada. mais faço que ser pequt>na e fraca. (3).

O Todo Poderoso fez em mim gran­des coisas e a maior é me ter mos-

Na escol/l de Santa Tere!'linha · ---·---- 27

trado a. minha pequenez, a. minha. im .. potencla para todo bem ( 4).

Reconhecer-se pequeno e pobre é, sem duvida, a primeira condição para en­trarmos na via da Infancia espiritual. Não basta só reconhecer. E' preciso tambem amar esta J)obreza e pequenez.

''Eu não me afflijo, vendo-me fraca, ao contrario, diz a nossa san.tinha, eu me glorio desta fraqueza, e espero cada dia descobrir em mim no\·as imperfei­ções (5).

E' minha. t'raqueza que faz a minha. f<lrça, (6).

Aliás, não é esta a doubina de S. Paulo ? E podemos alimentar o desejo de salvarmos a nossa a.lma, si em nosso coração não combatermos o t�spirito de sufficiencia, inimigo perigoso da virtu­de e de todo o bem em nós?

Sejamos pequenos e pobres diante de Deus, reconheçamos e amemos a nossa fraqueza. ,.Porque eu era pequena. e fraca, disse Teresinha, Jesus se abaixou até ruim e me instruiu docemente nos se�o,rredos do seu amor" ( 7) .

Qua.mlo uma alma s e \'ê misera.\'el e fraca, não quer mais se considerar;

28 ----- A \'ia da inf11.ncia espiritual

oJha. tão sómente o seu unico Bem ama­do (8).

Eis a consequericia do conhecimento e amor da nossa fraqueza : a confiança cega na misericordia do coração de Jesus. Nada somos, nada podemos, na­da temos ! Que nos resta sinão confiar cegamente naquelle que tudo fará por nós no caminho da perfeição ? Como a criancinha que nada faz sem os paes, assim devemos ser na vida espiritual. O Pae celeste - que invocamos todos os dias no Padre-Nosso - nos tomará nos braços e nos dará o pão de cada dia, si formos pequeninos pela humil­dade, e confiarmos cegamente na bon­dade do seu Coração Divino. Jesus fará tudo em nós e por nós si estas forem as disposições de nossa alma para com Elle. "Tudo se obtém de Deus quando se espera delle" ( 9).

E' a confiança, é só a confiança que nos den conduzir ao amor (10), repe­tia Teresinha serq.pre. E o amor é tu­do, é a essencia da perfeição.

Para entrar na via da Infancia espi­ritual não é necessario fazer prodígios. Basta ser hwnilde, pequeno, pobre, e

Na escola de Santa Tet·esinha ---- 29

ter bastante confiança no Coração de Jesus. Estas duas condições são indis­pensaveis, e cumprindo-as fielmente, não tenhamos duvida, poderemos seguir os passos de Tcresinha, isto é, podere­mos ser santos. Como é facil, doce e suave a via da Infancia espiritual ! Não é o jugo doce e suave de que Jesus nos fala no Evangelho?

li

A essencia da 'ria da lnfancio. espiri­tual

A essencia da via da Infancia espiri­tual é naturalmente a mesma que a da perfeição, isto é, a Caridade, o Amor. O Amor é o principio, é o meio, é o fim, o amor é tudo na pequenina via de Teresinha, que é a Santa do Amor, o Seraphim de Lisieux.

O Amor é principio, meio e fim da vida espiritual na da da Infancia, e Santa Teresinha, Mestra na scien­cia. do Amor!

30 ----- A via da infanci:.t espiritu:.tl

O amor é o principio universal da santidade. Não ha santidade onde não há amor, onde a Caridade não reina. "A caridade, diz S. Paulo, é o ,·inculo da perfeição" (11). Seremos tanto mais perfeitos, quanto mais caridade tiver­mos, isto é, quanto mais amarmos a Deus e ao nosso proximo. A Via da In­fancia espiritual começa pelo amor, que é o seu movei principal, a sua regra, a sua lei. A alma entra na via de Tere­sinha, como dissemos, pelo reconheci­mento e amor de sua pequenez, e uma confiança cega na misericordia de Deus. E' a criancinha que, julgando-se fraca e pobre, fecha os olhos e adormece tranquilla nos braços do Pae celeste. Agora só lhe resta uma coisa : amar e tão sómentc amar, amar como a crian­cinha.

Desejaes um meio de conseguir a per­feição ? escreve Teresinha á"' sua prima, eu conheço sómente um: o amor (12) . Esta resposta, commenta o autor do "Espirito de Santa. Teresa do 1\-fenino Jesus", lembra a de S. Francisco de Sales a uma religiosa que lhe dizia: 11Quero adquirir o amor pela humilda-

Na escola U.e Sunla Tere:o�inha. ··---- 31

de". - "E eu, replicou o Santo, quero adquirir a humildade pelo amor".

O Amor foi o principio, o meio e o fim de toda vida espiritual na via da Infancia, que se pode chamar com ver­dade: a "Via do amor. O genio da Car­melita de Lisieux simplüicou todos os meios da perfeição, reduzindo-os a wn só, aliás o mais sublime, o mais facil, o mais pratico : o amor. O grande prin­cipio na via da Infancia é este : "Fazer tudo por amor" (13). E a razão é que, "sem o amor, todas a.'i obras são puro nada, ainda. as mais brilhanteíoi. Não, Jesus não pede a.eções sublimes, mas unicamente o abandono c o reconheci­mento, isto é, o Amor" (14). A alma na via de Teresinha não faz calculas, não mede os seus actos de virtude, nem os conta, não procura meios complica­dos de perfeição ; faz tudo por amor. Quem ama, diz a Imitação de Christo, corre, está sempre cheio ()e alegria; é liYre e não se deb::a deter. Dá tudo para ganhar tudo (15).

Na via da Infancia espiritual, a al­ma, como a criancinha, ama o Pae ce­leste, e por isto não se detém, corre,

32 ----- A via da lnfancla. espiritual

progride sempre na virtude. Não se perturba, está sempre cheia de alegria, desta doce alegria infantil. Abandona-se nos braços de Deus, dá tudo, para ga­nhar tudo, a felicidade, a paz, o Amor!

Como isto é simples e sublime ! Mui­to bem disse o Santo Padre Pio XI que a via de Teresinha é não sómente pos­sivel, mas até facil a todos.

Santa Teresinha possuiu em grau muito elevado a sciencia do amor. "A sciencia do amor! exclama ella, Ah! esta palavra t·esôa. docemente aos ou­vidos de minha alma.. Não desejo sinão esta sciencia." (16). Esta sciencia ella tambem ensinou ás almas, tornando-se, pela sua doutrina e principalmente pe­la sua vida seraphica, uma verdadeira doutora do Amor. As lições da mais sublime caridade se encontram nestas paginas admira v eis da "Historla de uma alma.", livro de ouro onde se acha, a par de uma simplicidade encantadora, a espiritualidade mais elevada e ao mes­mo tempo eminentemente pratica e ac­cessivel a todos! "O amor de Nosso Se­nhar, escreveu Teresinha, tanto se re­vela na alma mais simples que não op-

Na escola de Sanla Teresinhn ---- 33

põe resistencia á. ,graça, como na mais sublime" (17).

Sim, é verdade; mas nem todos os autores tiveram este dom de revelar ás almazinhas simples e fracas os meios praticas de amarem a Deus como as almas sublimes O amam. Teresinha, mestra na sciencia do amor, Teresinha, que exclamara: No coração da Igreja, minha mã-e, eu serei o Amor (18), ella, o Seraphim do Carmelo, recebeu de Nosso Senhor este dom admiravel de simplificar a vida espiritual, e mos­trar, pela via da Infancia, como todos nós, almas pobres, fracas, imperfeitas, podemos, si quizermos, chegar ao cume da Montanha do Amor.

Ah! si as almas fracas .e imperfeitas, qual é a minha, experimentassem em si o que eu experimento, nenhuma del­las perderia. a esperança de chegar ao cimo da montanha do Amor! (19). As­sim falou humildemente a nossa santi­nha, e a sua missão tem sido e será sempre, na Igreja, a de ensinar ás al­mas fracas e imperfeitas a Sciencia do Amor. "Eu voltarei á. terra, disse ella, para fazer amar o Amor" ( 20).

34 ----- A \•la. da. infancia espiritual

ORAÇÃO

Santa Teresinha, abrasado Seraphim do Carmelo, eu, almazinha pobre, fraca e miseravel, quero experimentar no meu coração o que experimentastes na vossa vida mortal, isto é, aquella confiança, aquelle abandono que conduz a alma ao cume da montanha do Amor. Ah! dae-me o vosso amor, ensinae-me a amar o Amor!

EXEMPLO

Falleceu, no Rio de Janeiro, em 27 de Junho de 1925, uma jovenzinha de 18 annos, flor delicada e bella da virtude que Teresinha fez germinar em nossa terra. Chamava-se Laura Nogueira. Mo­delo de piedade, de candura e modestia, esta alma pura adiantou-se muito n�. via de Teresinha. Victima da tuberculo­se, dias após á canonização de nossa Santinha, recolheu-se Laurita ao leito de dores e soffrimentos, onde haviam de brilhar as suas virtudes. Foi nesta doença que revelou todo seu amor a Jesus: Meu Jesus, repetia ella, eu \'OS amo até á. loucura. Meu Jesus, eu que-

Na escola. de Santa Tcresinha ----- 35

ro morrer num exta...,is de amor! !\leu Jesus, eu vos offereço todo o meu amor! E quando as dores apertavam mais, el­la dizia: Jesus ! nunca gozei neste mun­do e isto foi para mim ti-e grande pro­\·eito. Na humildade de sua alma, repe­tia : Eu sou uma florzinha. muito peque .. nina. (Alludindo á hypsophite, pela qual tinha uma predilecção toda especial, por ser muito mimosa e delicada) .

Devotissima de Santa Teresinha, cos­tuma repetir : Eu sou da le,hrião das ami­�ruinhas de Teresinha. Tercsinha, leva­me a Maria, e Maria me leYari a Jesus. Um dia, depois de ter recebido a Sta. Communhão, num transporte de amor, erguendo os braços c quasi elevando-se da cama, prorompeu: !\leu Jesus, eu vos amo até á loucura! No mesmo dia em que entregou sua bella alma a Deus, estando em estado comatoso, quasi acor­dando de um somno, exclamou : Meu Jesus, eu vos amo tanto que hoje mes­mo desejo ver-vos no céu! Neste mes­mo dia perguntou-lhe o seu confessor que a assistia: O que pensas, filhinha ? Penso no meu esposo Jesus. Tendo-lhe o mesmo apresentado a mãe e a irmã,

36 ----- A via da infancla espiritual

ella disse : Minha mãe é Maria Santís­sima. E teu esposo? replicou o con­fessor. E' Jesus. - E tua irmã? - E' Teresinha. - Teu irmão? - Hesitou um instante, e o sacerdote adiantou: E' S. Luiz Gonzaga.? e ella disse : Oh! sim, é S. Luiz.

Devotissima de N assa Senhora do Carmo, disse que desejava morrer no sabbado, para não passar pelo purga­torio, e quando chegou a manhã do dia 27, depois de ter recebido a Sagrada Communhão, sem saber que era mes­mo sabbado, disse ao seu confessor: !\leu pae, é hoje que vou ao céu. Sim, ao céu ! e repetia: Mãezinha, entrega tua filhinha a. Jesus ! Desejosa de en­trar logo depois da morte no céu, di­zia: Jesus, dae-me mais soffrimento, porque depois da minha morte quero ir direitinho para o céu. Chamou sua querida irmã Carlinda e lhe disse: Mi· nha irmã, escreve as jaculatorias que quero que repitas na hora da minha

morte. Attendendo ella ao pedido, Lau­

rinha ditou: "Jesus, eu vos amo tanto que hoje mesmo desejo ver-vos no céu ... Jesus, eu \'OS amo tanto que só por

Na escola de Sanla Teresinha ---- 37

amor abandono inteiraJDente o mun­do . Jesus, eu \'OS amo tanto que o meu desejo de ir para o céu é sómente para poder satisfazer a sêde do vosso amor e a necessidade de amar infinita­mente o infinito amor . Jesus, eu vos amo tanto, ma.s desejaria amar-vos quanto mereceis . Jesus, cu quero morrer abrasada no vosso amor . 1\oleu Jesus, eu vos offert�ço meus soffrimen­tos pelos agonizantes, pelos J)(�ccadores e especialmente pela conversão dos espí­ritas, que estão afastados do caminho da verdadeira religião". Durante a sua longa agonia, repetia: No céu serei a protectora dos agonizantes. Coitadi­nhos! precisam tanto de quem inter­ceda por elles! quanto é bom ter re­liJ.,'"Íão e fé na hora da morte ! Jesus, eu vos agradeço.

Horas antes do seu desenlace, ergueu os braços e, olhando para o céu, num sorriso celestial, ficou extasiada por muito tempo, e murmurou: Vejo. . O confessor perguntou-lhe: Que vês, fi­lhinha, vês Maria Santíssima? disse

que não. Vês Jesus? Sim, \'ejo Jesus. Oh! que bonito é Jesus! Quando já se

38 ----- A vitt dn. in!nncla espiritual

aproximava o momento extremo, o Pa­dre lhe dizia: Laurinha, faze um acto de amor e dá um signal com os olhos que estás amando a Jesus. E ella com muito esforço mexia os olhos vidrados e os labias aridos, cruzados os braços sobre o peito com o Crucifixo nas mãos, como uma vela consumida, deu, placi­damente, o ultimo suspiro e vôou ao céu, para cantar o eterno hymno de amor ao seu Esposo querido.

1) Sa. carta á Irmã Mari:t do Sagrado Cora­e<ão. - 2) ''L'a.rt d'a.ssurer son salut". - 3) His4 toria de uma alma, c. V. - 4) Hlst. ulm. c. IX. 5) Idem. - 6) 3a. carla á Mudre Igncz .Ue Je­sus. - 7) Hist. ahn., �- V. - 8) 2a. c<l.rt:� a Maria Gue1·in. - 9) Hlst. ulm.. c. XII. - 10) 6 a. carta á Irmã Mo.rla do Sagrado Corac;:ão. -11) (Coloss. III-13). - 12) carta o. Maria Gue­rln, 1894. - 13) Carta a Maria Guerin, 1888. -1<:0 Hist. ahn., c. VIII e XI, - 15) Imit. Lh•r. III. - C. V. 4. - 16) Hist. alm., c. XI. - 17) Hist. alm., c. I. - 18) Hist. nhn., c. XI. -Hl) HlsL alm., c. XII.

«O�soffrimento !unido ao amor: leis a unica coisa que me parece desejavel neste valle de

Jagrimas �

QUA R T O D I A

MEDITAÇÃO IV

"A PRATICA DO A�IOR NA VIA DA INFANCIA ESPIRITUAL"

A pratica do amor na via da Infan­cia espiritual pode-se reswnir nesta for­mula : uFazer tudo para dar prazer a Deus, apro\'eltando ainda as menores occasiões de offerecer a Jesus pequenos sacrifícios, sempre com alegria, delica­deza e grande generosidade" ( 1) . Amar na via da Infancia quer dizer, pois,

I. Fazer tudo para dar prazer a Deus, até nas menores occasiões. Offere­cer a Deus com delicadeza e gene­rosidade muitos sacrificiozbthos.

11. Qualidades do amor na via da m .. fancia.

Na escola de Santa Teresinho. ---- 41

.. Dar prazer a Deus" é uma formula delicada do amor de Teresinha. Quer dizer, procurar em tudo fazer mais a vontade de Deus que a nossa e ter em mira alegrar o Coração de Jesus e não o nosso ; não procurar a satisfação de nosso amor proprio, de nossa sensuali­dade. O que nos faz perder o merito de muitas obras é a falta de pureza de intenção. Nem sempre as fazemos por amor de Deus, mas por amor pro­prio, por capricho, por agradar ás cria­turas, emfim, para nosso prazer. Dahi vem o facto tão commum de muitas al­mas não progredirem na virtude, fa­zendo, não obstante, muitas obras bri­lhantes, e sendo até dedicadas em extre­mo a estas mesmas obras em si boas, excellentes, quem sabe até necessarias. Na Via da Infancia é preciso que a alma se esqueça e só procure fazer a vontade de Deus. Para isso ella não irá procurar grandes obras, empresas difficeis e elevadas, não; basta-lhe fa­zer as acções ordinarias da vida, e não perder nenhuma, com um só ideal em todas ellas : Dar prazer a Deus, cum-

42 ----- A via da lnfe.ncla espirltuttl

prlr a. sua sa.ntlssima. Vontade em tudo e sempre.

"Se te queres tornar santa, escreveu Teresinha á sua irmã, é bem fa.cil: não tenhas sinão um alvo: dar prazer a Jesus" (2).

Esta é a occupação das almas peque­ninas.

"Conser\-ei-me sempre pequenina, não tendo outra. occupaçã.o sinão a. de co­lher flores, flores de amor e sacrificlo, e de offerecê-las ao bom Deus para. seu prazer" ( 3) , disse a nossa Santinha nos ultimos dias de sua vida terrestre.

Purificando a nossa intenção desta maneira tão bella e simples, transfor­maremos todas as acções de nossa vida, ainda as mais ordinarias, em outros tantos actos de amor, e então vivere­mos de amor. Lembremo-nos que esta foi a vida da Sagrada Familia, em Na­zareth, vida occulta, humilde, ordinaria, santificada por Jesus, Maria e José, que só tinham este desejo e esta von­tade: "fazer em tudo a ''ontade do Pae celeste".

Na escoln de Santa. Tereslnhn ---- 43

Não percamos o nosso tempo, apro­veitemos tudo que fizermos para dar prazer a Deus.

Nada devemos perder. Nossas acções quotidianas como levantar-se, trabalhar, comer, recrear-se; nossos soffrimentos, tudo isto podemos transformar em actos de amor, si tivermos a recta e deli­cada intenção de em tudo dar prazer a. Df'us, fazer a sua santa vontade e não a nossa.

Cumprir a vontade de Deus é amá� lo ; cumpri�la em tudo, até nas menores coisinhas, é amá-lo muito; cumpri-la com alegria e sentindo-se feliz em sa­crificar�se por isto, é amá-lo com deli­cadeza. c generosidade. Tal é o amor de Teresinha e o das almas pequeni­nas que a seguem. Toda a pratica do amor na via da Infancia está nesta sublime passagem da "Historia de uma alma.": Como hei de testemunhar o meu amor, se o amor se prova pelas obras? - Pois bem! a criancinha hã de l'Spalhar flores . Há de com os seus perfun1es embalsamar o throno di­vino e com a sua voz argentina há. de e.antar o hymno do amor! Sim, ó Amor

----- A \'ia da infancia C5piritual

de miÔ.h'alma, assim é que a minha \'ida ephemera se consumua na '\·ossa presença. Não disponho de outro meio para Yos provar o meu amor, sinão es· pargindo flores, isto é, esmerando-me em não deixar fugir nenhum sacrificio­zinho, nenhum olhar, nenhuma pala­Yra, fazendo aproveitar até as mais in­significantes acções, e empenhando-me nellas por \"osso amor. Quero soffrcr por amor e até �ozar por amor; assim hei de derramar flores. Nenhuma acha .. rei que nã.o desfolhe por vós. . . e hei de cantar sempre, nem que seja obri­gada a colher as minhas rosas entre es­pinhos ; e tanto mais melodioso será o meu canto, quanto mais crescidos e pungentes forem esses espinhos ( 4 ) . Eis ahi o amor generoso que colhe flo­res de pequenos sacricios e as esparge junto ao throno de Deus ; e sempre alegre, canta no meio dos soffrimentos, entre os espinhos da dor.

Essas flores de sacrificios, não as encontramos a cada passo na vida. São as dores moraes, o peso do cumprimento dos nossos deveres, as doenças, e estas occasiões em que sempre temos de sa-

Na escnla de Santa Teresinhn ---·-- 45

crificar o nosso amor proprio e o nosso coração. Oh ! sejamos generosos e of­fereçamos estas flores tão bellas a Je­sus. Não as deixemos murchar ao sol de nossa impaciencia. Colhamo-las, ain­da mesmo que custe (entre espinhos) , e alegres, resignados á santa vontade de Deus, vamos offerecê-las a Jesus. A h! si as almas que soffrem soubessem amar como Teres�ha., como seriam fe­lizes!

11

As qualidades do amor na. ·\"ia da ln­fa.ncia. espiritual

Cinco são as qualidades do amor na via da infancia espiritual, segundo o autor do Espírito de Santa Teresinha : O amor deve ser diligente, generoso, desinteressado, delicado e exclush·o. Vi­mos a delicadeza e generosidade do Amor de nossa S�n tinha e como pode­mos imitá-la. Meditemos as outras qua­lidades deste amor.

O amor na via da. lnfa.ncia. é excln­sh•o, desinteressado e diligente.

O amor de Deus exclue todo outro amor ás criaturas na alma que se dei-

46 ----- A vin. da infancla espiritual

xou vencer e abrasar por elle. A alma na via da In.fancia ama a Jesus como uma criancinha que só ama a seu pae.

O amor de Deus foi, na alma seraphi­ca de Teresinha, inteiramente exclusivo.

Só Jesus me encanta, escreveu ella, e Elle quer mostrar-me que eu me enga. na.ria si buscasse fóra dello uma som­bra. de belleza. que talvez toma."'e pela. mesma Belleza. (5). Senti grande"- de­sejos de não amar sinão a Deus e de não achar sinão nelle só a minha ale­gria. (6).

Estas expressões : amar só a Jesus, viver só para Jesus, soffrer só por Deus, alegrar-se só por Jesus, etc., a cada passo se encontram na "Historia de uma alma.", e nos seus escriptos.

Devemos imitá-la neste amor exclu­sivo. As almas pequeninas da via da Infancia devem. viver só por Elle. Jesus •ó! Nada. fór& delle! O grão de a•·eia é tão pequenino que, si quizesse abrir o coração a outras coisas alheias a J csus, não b&\•eria lugar para esse Amado ( 7), assim escreveu a nossa santinha. Hu­milde como wna gotinha de or\·alho co­nhecida de Deus só (8), como um grão-

Na escola de Sanla Tcreslnha ---- 47

zinho de areia, a alma deve se occultar ao amor das criaturas e procurar unica e exclusivamente o amor de seu Deus. No soffrimento é preciso exclamar como Teresinha : E' a mão de Jesus que diri­ge tudo, é preciso \·er só a Elle em to­das as coisas ( 9) .

Na pratica das virtudes, deve a alma pequenina nada attribuir a si, mas tudo a Jesus só. Só Jesus é quem po(le dar valor ás nossas a.Cções ( 10) .

O superior do Mosteiro disse a Tere­sinha, na enfermidade : Não devia mor­rer tão jovem! Não formou ainda a sua coroa !

- O' meu padre - respondeu a nos­sa santinha - é verdade, sim, que não formei minha coroa, mas Jesus a for­mou (11). O amor exclusivo, pois, ex­clue todo amor proprio, não se attri­buindo nenhuma virtude, nenhuma boa obra, e exclue todo amOr ás criaturas, não amando sirião o que é de Jesus, com Jesus e por Jesus.

E' perfeição amar a Deus por ser Elle quem é, não pela recompensa que nos promette ou pelo prazer que nisto sentimos. Além disto, não ha negar,

48 ----- A ''ia da infuncia espiritual

custa muito ao pobre coração humano desapegar-se das criaturas. Donde a necessidade de ser o amor desinteres­sado e diligente.

Teresinha amava a Jesus por ser Elle quem é.

''Minha alma, escreveu ella, perma­nece sempre como um subterraneo; ma..�oJ sinto-me feliz, sim, bem feliz de não ex ... perimentar consolação alguma; enver­gonhar-me-ia, si o meu amor se asse .. melhasse ao das noivas da terra, que olham as mãos do noivo, para \'er si lhes trazem algum presente, ou então fitam seu rosto em busca de um sor­riso que as encante. Teresa, a noivinha de Jesus, ama--o por ser Elle quem

é (12) .

Amemos a Jesus, aconselha ella á ir­mã, a ponto de soffrer tudo que Elle qnizer, mesmo a aridez e a frieza ap­parentes. E' nm amor sublime o amar a Jesus, sem gozar as doçuras desse amor; é um martyrio! . . . Pois bem,

morramos martyres ! . . . ( 13) .

Nu escolll de Sanla Teresinha ---- <O

Na poesia Vin'�r de amor, diz ella :

''Viver de amor é dal' sem medida., Sem na terra o salario reclamar; Ah! sem conta: \"OU dando, con\'eneida Que quf'm ama não sabe calcular"

(14).

O' meu Jesus, exclama ainda, bem sa.­beis que não é pela recompensa que \"OS sirvo, mas unicamente porqm� Yos amo e para salvar a.lma.' ( 15).

Peçamos a Deus que nos alcance um tal amor desinteressado!

O amor deve ser diligentt", isso é, deve pelejar com toda coragem para se desapegar das criaturas e unir-se a Deus. Este combate é duro, é clifficil, não há duvida, mas na via da Infancia se torna facil e doce. Teresinha de­seja que as almazinhas pequeninas co­nheçam o segredo da sua luta.

Consiste primeiro numa vontade fir­me de sempre combater o amor pro­prio e o apego ás criaturas. Muitas al­mas se excusam com estas palavras : uNão tenho forças para tal sacrificio". Pois fa�am esforços! diz ella. Algumas ''ezes é difficil, toda,·ia o bom Deus nun-

50 ----- A via da infa.ncia esplrllual

ca recusa a. primeira graça que dá cora­

gem para vencer; si a alma correspon­<lr, acha-se immedia.ta.mente na luz; o seu coração se fortalece, e ella. cami­nha de victoria em dctoria (16). E' preciso entrar na luta mesmo sem co­ragem, gemendo sob o peso do sacri­ficio.

Qual seria o vosso merecimento, di­zia a uma das noviças, si houvesseis de combater sómente quando sentis cora­gem? Que importa que a. não sinta.es, comtanto que procedaes corajosamen­te? (17). A victoria aqui depende pri· meiro do combate e da maneira de entrar na luta. Oh! imitemos a nossa Santinha no seu amor diligente, com­prehendamos bem o seu segredo de santidade.

ORAÇÃO

O' Deus, quero amar-vos como Teresi­nha, com um amor diligente, desinteres­sado e ex�lusivo, fazendo tudo por vós, unicamente por vós, por serdes vós

quem sois, e, com a nossa querida San-

!>la escola de Santa Tereslnhn ---- 51

tinha, quero dizer de coração : Por vosso amor, ó Jesus, pelejarei até ao occaso

de minha vida. ( 18).

EXEMPLO

A tia de Teresinha, Me. Guérin, aquel­la que a tratara com tanto carinho e de­dicação maternal, 1nos Buissonets, esta senhora, alma piedosa e santa., falleceu aos 52 annos de idade, depois de uma vida toda de imitação das virtudes da sua santa sobrinha. Na sua ultima doen­ça, no leito de dores, encontraram-na um dia radiante de alegria e inundada de uma doce paz : "Soffri& acerbas do­

res, disse, ma.o;; a minha Teresinha as­

sistiu-me com extremos de ternura; sen­

ti toda a noite a sua presença. ao pé

de meu leito, acariciou-me repetidas ve­

zes e estes afagos me animaram sobre­

maneira. Com um sorriso nos labias, repetia ella muitas vezes: Feliz de nüm

que vou morrer ! E' tão bom ver a

Deus! 1\-leu Jesus, cu vos amo; offerc­

ço-vos a minha vida pelos Sacerdotes, a

52 ----- A \'ia da ln!ancia espiritual

exemplo de minha Teresinha. do Menino Jesus".

Assim expirou, abrasada de amor, no dia 13 de Fevereiro de 1900.

1) P. ltlartin, "La. Petlte Voie". - 2) Ca1·La u Leonla, 17 de Julho, 1897. - 3) Novlulma verba, 6 de Agosto, Hl97. ·1) Hlsl. alm., c. XI. -5) Carta á Madre Ignez de JeiiUH, Janeiro, 1896. 6) Hlst. alm., c. IV. - 7) Carla a M. lgncz de Jesus, 1892. - 8) Carta a Cellna, 25 de Ahl"il. 1893. - 9) Carta a Celina, 21 ele Outubro. 1893. 10) Carta a Leonla. 1895. - 11) Novissima ver­ba, 8 de Julho. - 12) Carta ã Irmã Ignez de Jesus. Setembro. 1800. - t:n Carta a Celina, 14 de Julho, 1889. - liJ) Poesias - Viver de amor. - 15) Conselhos e Lembranças. 16) Conselhos e Lembranças. --· 17) Idem. - 18) Oro.ç:ilo composta pela Shnta.

QUI N T O D I A

MEDITAÇÃO V

"O AMOR DO PROXIMO NA VIA DA INFANCIA"

A caridade é a éssen"cia da perfeição e tanto mais perfeito é o homem, quan­to mais ama a Deus e ao seu proximo por amor de Deus. O amor de Deus é a fonte do verdadeiro amor do proximo. Teresinha, porque muito amava a Deus, deixou-nos, na sua pequenina via, bellos ensinamentos sobre o grande preceito do Senhor : 41Jf�smerava-me princiJ•al­mente em a.mar ao bom Deus, diz ella, e amando-o, foi-me concedido comprt�­hender em toda a sua. extensão o dc­Yer da caridade" (1). Vejamos então :

I. O codigo da. caridadl" fraterna na \'Ía. da Infancin. espiritual c Terc­sinha, anjo da caridade

11. O zelo, "carida.tl� esJ•iritual", na via d:J, Infancia

54 ----- A via da lnC!Lilcia espiritual

Uma criancinha não pensa mal de ninguem, não guarda adias nem resen­timentos, não tem malicia nem desejos de vingança. Assim deve ser a alma na Via da infancia espiritual. Eis o peque­nino codigo da caridade fraterna tra­çado pela nossa Teresinha.

1. Não se deve nem mesmo pensar mal do nosso proximo. O meio de afas­tar os pensamentos contra a caridade, a nossa santinha no-lo mostra : ••quando quero a.ugmenta.r em meu cora{!ão o amor do prox.imo, a.o passo que o de­monio busca pôr-me diante dos olhos os defeitos desta ou daquella Irmã, pro­curo im.mediatamente descobrir-lhe as virtudes, os bons desejos, reflectindo que, si a l'ir cair em falta uma yez, pode bem ser que tenha. alcançado muitas victorias que por humildade occulta., talvez até o que me parece falta seja a.cto de virtude pela intenção que a mo­veu" (2).

2. Deve-se supportar com pacien­cia · os defeitos do proximo. 11A \'er­dadeira. caridade consiste em supportar todos os defeitos do proximo, em não

Na escola de Santa Tereslnhn ---- 66

se espantar de suas fraquezas, em se edificar das suas menores virtudes. ( 3).

3. Deve-se amar o proximo desin­teressadamente. Disse Nosso Senhor no Evangelho : "Dá a todo aquelle que te pedir e ao que tomar o que te per­tence não lh'o tornes a pedir'' (4). HAo que demandar-te em juizo e tomar a. tua tunica., larga-lhe tambem a tua ca­pa" (5).

Largar a capa, explica Teresinha, é renunciar aos ultimos direitos (� consi­derar-se como ser''a. c escrava das ou .. tras (6).

4. O amor fraterno deve ser ge­neroso, isto é, estender-se a todas as necessidades espirituaes e corporaes dos nossos semelhantes, e devemos nos sa­crificar por elles, em tudo, até nas me­nores coisinhas, renunciando até ás nos­sas commodidades, ao nosso prazer, si for necessario. Mais adiante, veremos o zelo ardente que abrasava o coração de Teresinha pela salvação das almas e a conversão dos peccadores.

5. O amor do proximo deve ain­da ser prudente c humilde. Prudente, elle usa de tactica para aconselhar:

50 ----- A via da infaneia espiritual

HQuerer persuadir ás nossa.o;; Irmãs que ellas não têm razão, diz Teresinha, mes­mo quando é pura l'crdade, nã.o é de boa. tactica, pois não estamos encar­regadas da. sua. direcção. Não devemos ser juizes de paz, mas sim anjos de paz" (7) .

Sejamos, pois, sempre anjos de paz, mas tomemos cuidado em não nos arvo­rarmos em mestres e directores do nos­so proximo, quando isto não nos com­pete. Não sejamos juizes de paz ! Quan­do nossas admoestações caridosas não surtirem effeito, oremos, e Deus fará o resto.

Humilde, o verdadeiro amor do proximo se occulta, não faz o bem para ser visto e não procura a recompensa. uNão devo ser obsequiosa. para que se \"eja que o sou, ou com a esperança de que em outra oecasião me prestem ser­viços, JlOÍS Nosso Senhor diz: usi em .. prC':stardes áquelles de quem esperas re .. cebcr alguma. coi"ia, que premio será. o \'Osso? Os peccadores tambem empres­tam aos peecadores afim de receber ou ..

.. tro tanto. Quanto a Yós, porém, em .. prcstae sem esperar retribuição e grau ..

Nu escola d e Santa Tereslnha ---- 57

de se-rá. a. ,-ossa. recom[•ensa" ( 8). Co­mo é facil a pratica. ()o grande preceito na \'la. da. infancia espiritual !

Modelo da caridade fraterna, a nos­sa querida Santinha observava com he­roismo e exactidão o pequenino mas sublime codigo do amor fraterno. Du­rante nove annos que passou no Mos­teiro, nunca teve para com suas irmãs uma palavra aspera, um gesto, um olhar em que transpareceSse a mais leve falta de caridade. Considerava-se a escrava de todas e a todas servia com amor e humildade. Teresinha conseguiu vencer uma antipathia por uma de suas irmãs, tratando-a como si fosse a mais intima de suas amigas. Si alguem a maltra­tava, sorria, cheia de bondade. Procurou e obteve permissão da Superiora para ficar no officio de auxiliar de uma Por­teira do convento, religiosa de um genio desagradavel e impertinente, e que mui­to fez soffrer á nossa Santinha. Foi com grande amor e alegria que recebeu a ordem de auxiliar a pobre irmã S. Pe­dro, paralytica, nervosa e a qual parecia impossivel contentar-se. Na "Historia de uma alma", vemos as narrações dos

68 ----- A via da infancla. espiritual

actos heroicos de paciencia que eram necessarios a Teresinha para suppor­tar a estas pobres irmãs que tanto a maltrataram. E ella sorria a todas com muita bondade e se julgava uma es­crava a quem todos têm o direito de mandar.

"Oh! dizia ella (9), quanto seria dl­tosa si me tivessem confiado o officio de enfermeira! Bem sei que exige mui­ta abnegação, mas parece-me que o exer­citaria com tanto amor, pensando no que disse Nosso Senhor: "Estive en­fermo e vós me visita.stes" ( 10) .

Quando Mestra de noviças, Teresinha procura inculcar em suas irmãzinhas o espírito de abnegação nas relações com o proximo. "Viver para si mesma, di­zia, isto torna a alma estcril, devemos voar ás obras de caridade". Ensina ás noviças que não devem ir ás recreações da Communidade com o unico fim de se divertirem e desafogarem ; quer vê­las dispostas a praticar a caridade, pro­curando alegrar antes as outras que a si mesmas. Em resumo, a doutrina e os · exemplos da caridade fraterna fi-

Na. escola de Santa Tereslnha. ---- 59

zeram da nossa santinha um sublime modelo desta virtude.

Pode-se apenas tocar de leve uma materia tão fecunda, para a Santa, em actos de virtude, dos quaes a maior parte fica necessariamente sendo segre­do de Deus, diz o autor do uEspirito de Santa Teresinha".

li

O zelo na. \'ia da. Infancia espiritual

Quem ama o proximo se abrasa no zelo.

O zelo é a chamma do logo do Amor, c pro\'ém da intensidade deste amor, diz Sto. Thomaz cté Aquino (1) . Tere­sinha foi um seraphim de amor ; devia necessariamente ser apostolica, ter o co­ração abrasado nas chammas do mais ardente zelo pela salvação das almas. O grito de Jesus agonizante : Eu tenho sê de! Si tio ! a cada instante resoa v a n'alma de nossa santinha e accendia-

1) Hlst. alm .. c. IX. - 2) Hlst. alm., c. IX. 3) Hlst. alm., c. IX. - '.I) Lc VI. 30. - 5) Mt V, 40. - 6) Hist. alm., c. IX. - 7) Conselhos e Lcmbrançal!. - 8) Hlst. alm., c. IX. - 9) Con­selhos e Lembranças. - 10) Lc XII, 37.

60 ----- A ,-iu da infancia espiritual

lhe no coração uma sêde devorante de almas, almas de peccadores, almas de sacerdotes. Era o zelo da Carmelita co­mo requer a Santa Matriarcha do Car­melo, a gloriosa Santa Teresa d' A vila. As filhas do Carmelo têm uma dupla missão apostolica : orar prla conversão dos pcccadores c o. santificação dos sa­cerdotes. Eis o objectivo do zelo de Te­resa.

Vejamos : Santa Tert�sinha e a conversão dos

})eccadores e a santificação dos sacer­dotes.

Cantou ella : "Pelo peccador quero orar sempre, sem treguas.

Ao Carmelo quiz voar, P.ara teu céu povoar. o· Jesus, lembra-te! (2)

Teresinha abraçou a vida austera de carmelita por amor das almas, para conversão dos peccadores. (lu e compai­xão eu sinto, dizia, pelas almas que se perdem ! (3).

E queria a todo custo arrancá-las ás chammas eternas. Resolveu então fi­car em espirito aos pés da cruz de Je-

Na ('seola de Sanla Teresinha --- --- 61

sus Christo, para receber o divino or­valho da salvação e derramá-lo sobre as almas (4). Teresinha sente-se arreba­tada ao pensamento da salvação das al­mas. O amor de Deus e o zelo no seu coração chegaram ao extremo de uma sublime loucura. Ei-la num dos seus arroubos : "0' Jesus, quisera esclarecer as alma..� como os prophetas r os douto­res, quizera percorrer a tt�rra, ])régar o vosso nome e plantar no solo infi;:•l a \'ossa cruz gloriosa, ó meu Bem Ama­do! Mas uma. só missão não me basta­ria; eu quizera, ao mesmo tempo, an­nunciar o E\"angelho t'm todas a...o.; par­tes do mundo t� até nas ilhas mais remo­tas. Quizera ser missionario, não só­mente algwts annos, mas (leseja\'a-o ter sido df'sde a criação do mundo e con­tinuar n. sê-lo até á. consummação dos seculos" ( 5).

Ah ! ella comprehendia o preço das al­mas remidas pelo sangue precioso de Nosso Redemptor, e sabia quanta sêde tem Nosso Senhor da salvação dos po­bres peccadores.

Os meios que emprega para converter as almas são dois : a oração e o sacri-

62 ----- A via da infancla espiritual

ficio. "E' a oração e o sacrificio, diz, que fazem toda a minha força e são minhas armas in\'enciveis; ella..'t podem, bem mais que as palavras, tocar os co­rações, eu o sei por experiencia" ( 6).

Antes de entrar para o Carmelo, Te­resinha faz a sua primeira conquista, convertendo o infeliz Pranzini com suas orações. No Carrnelo, immolou-se pe­los infelizes peccadores. uJesus, escre­veu ella, deseja que a salvação das al­mas dependa de nossos sacrifícios, do nosso amor, offereçamos os nossos sof­frimentos a Jesus Christo para salvá­las. Oh! vivamos para ellas, sejamos apostolos !" (7).

Este pensamento da salvação das al­mas obsecara divinamente a nossa ama­da santinha, levando-a, na ultima en­fermidade, a fazer este paeto commove­dor e heroico : upeço ao bom Deus que todas as orações que se fazem para. mim nã.o sin•am para allivia.r os meus soffrimentos, mas sim para alcançar a sal\'ação dos peccadores". Teresinha amava como Jesus os pobres peccado­res e os chama v a seus filhos. Deus a fez santa para salvá-los. Que a ella re·

Na escola. de Santa Tereslnha ---- 63

corram os infelizes que não sabem ain­da o que é amar e servir a Deus tão bom e tão misericordioso como o nosso !

Orar pela santificação dos sacerdotes é tão necessario ou talvez ainda mais dos que orar pela conversão dos pecca­dores. O Padre de Jesus Christo tem sobre si tremendas responsabilidades e há de ser bem santo si quizer salvar muitas almas e cumprir a missão divi­na que lhe foi confiada.

Só muita oração c sacrificio de al­mas santas poderão. salvar o padre. O sacerdote é o alvo predilecto das tenta­ções do inferno. Oh ! rezemos pelos sa­cerdotes !

Durante os curtos instantes que nos restam, escreve Teresinha a Celina, não percamos o nosso tempo, salvemos almas! Sinto que Jesus pede que sa,.. ciemos a sua. sêde dando-lhe almas, al­mas sacerdotaes sobretudo . . . Sim, ore­mos pelos sacerdotes, seja-lhes consa­grada a nossa vida. . . (8).

6·1 ----- A via da infandn c:'lpil'i tunl

Essas alm&.G;, accrescenta ella, deve­riam ser mais transparent'R-s quP o crys­tal; mas ai! sinto que há maus padres como houve um Juda.o:.;, sinto que há. mi­nistros do Senhor que não são o que del't>riam ser. Oremos, pois, e soffra­mos por elles . Comprehendei o bra­do e meu coração !" (9).

Orar pelos sacerdotes é um acto de zelo maior que rezar pelos peccadores, porque um só padre santo e virtuoso pode converter wna multidão de pecca­dores. Teresinha, segundo testemunho de sua irmã Celina, chamava a isto fa­zer alto commercio no apostolado da oração e pela cabeça attingir a todos os membros. O Pe. Matteo com muita fe­licidade diz que Teresinha exerce o seu apostolado junto dos padres, porque el­les são os multiplicadores de almas.

11Como é bella a nossa vocação ! es­creveu na "Historia de uma alma". A nós compete conservar o sal da terra!

Offercça.mos as nossas ora�õcs e os nos­

sos sa.crificios pelos apostolos do Se­nhor; nós mesmos devemos ser seus apostoJos, emquanto que por suas pala-

Na escola de Santa Teresinha ---- 65

1'ras e exemplos e\'angelizam a.."' alma�

dos nossos irmãos" (10 ) .

Viver d e amor, ó mestre nteu dileeto !

E teus a.rtlores implorar, afim

Que a alma santa de teu ministro

eleito

Seja mais pura que a de um Sera­

phim (11).

Oremos p('los. saGerdotes, sejamos apostolos dos apostolos do Senhor!

EXEMPLO

Yozes do inferno

Na "Storia 11i S. Teresa. dei Bambino

Gesú", do R. P. Francisco Sa v crio di S. Teresa, Carmelita Descalço, vem o trecho seguinte que revela a missão su­blime confiada por Deus a nossa san­tinha de santificar os sacerdotes :

"O Pe. Anatolio Armando Flamé­rion, da Companhia de Jesus, que se consagra ao ministerio da santificação dos sacerdotes, attesta ter ouvido da bocca de alguns possessos, aos quaes es-

66 ----- A via da lnfancln espiritual

tava exorcizando, estas palavras : Há. muito tempo Teresa te foi destinada. Ella é quem dirige o teu braço. E' a

Virgem quem t'a deu . . . Teresa é o

anjo do teu ministerio junto aos sacer· dotes . . . Teresa te foi dada, é tua . . .

ella te assiste sempre no desempenho da tua. missão sacerdotal . . . ".

Outras vezes declarou o dernonio que "Teresa lhe rouba muitas almas sa.cer­

dotaes . . . Ei-la a Ca.rmelitazinha, Tere­

sa do Menino, arrebatadora. de sacerdo·

tes . . . Oh ! quantos deites não me tem

ella arrancado ! . . . Teresa do l\lenino

Jesus! . . . quantos me tem ella rouba­

do! • • •

Quanto ao que diz respeito á vereda­zinha da infancia espiritual de Teresa, o demonio, constrangido a dar o seu pa­recer, chamou-a de "Suprema loucura !"

O coração de Deus foi attrahido para

Tercsinha "porque Teresa era uma a.J .. ma que se humilha.va . uma alma ani ..

quilada.! E' nessas almas que Jesus Yem

fixar sua morada . . . Um sacerdote que

tivesse a alma aniquilada, salvaria o

Nn escola de Santn. Tereslnha ---- 67

mtmdo . seria um Christo \i.'\·o! . . . Teresa chegou ao auge da loucura ! . . .

Por que? Porque ella era pequena, hu­

milde".

1) Zelus quoquunque modo sumatur, ex ln­tenslone arnoris provenlt. - Sum. Theol. I·II. qu. 28 - A1·t. '.1. - 2) Poesias - Lembra-te. -3) HlsL alm., c. V. - 4) Hlst. alm., c. V. -5) Hlst. o.lm., c. XI. - 6) 2a. carta aos Missio­narlos. - 7) Hi!!t. o.lm., c. IX. - 8) Carta � Celina, 14 de Julho de 1889. - 9) Carla a Ce­lina, 14 de Outubro de 1890. - 10) Hist. alm .. c. VI. - 11) "Viver de a.mor" - Poesia.

S E X T O D I A

MEDITAÇÃO VI

A FE' E A CONFIANÇA NA VIA DA INFANCIA ESPIRITUAL

O justo vive da fé, diz o Apostolo. A doutrina da via da Infancia espiritual tem a sua base na pratica da grande virtude theologal da fé e a vida de nossa santinha foi uma vida toda de fé e de confiança.

Vejamos :

I. O espírito de fé na \"ia da infan­cia espiritual, c como Santa Te­resinha foi modelo admira.�·el de fé

U. A confiança na. via da. Infancia es­piritual

A via da Infancia espiritual, pela sua grande simplicidade, excluindo as obras grandiosas e brilhantes e exi·

Na. ee:co.� de Santa. Terealnha ---- 69

gindo um grande amor a Deus e um amor com todas aquellas qualidades e condições de que já tratamos, requer um grande espirito de fé. A alma que trilha a senda de Teresinha não vive de illusões e fantasias, não espera de Deus revelações e extases. Tudo para ella é simples e singelo. Só a verdade a alimenta e nutre na vida espiritual. Numa palavra, vive da fé. Falando al� guem a Tercsinha, quasi nas vesperas de sua morte, sobre as consolações es­pirituacs e revelações, perguntou-lhe si essas graças não a seduziam : Oh! não, replicou a Santa, absolutamente; não anhelo \'er a Deus nesta \ida., e, com­tudo, amo-o tanto ! ( 1). A minha pe­quenina \'ia é de não desejar ver coisa alguma; sabeis muito bem que eu can­tei :

Que não desejei aqui Na terra ver a Ti, 0' Jesus, lembra-Te (2) .

A fé assim praticada mata o espirito de orgulho e esta vaidade subtil que penetra a devoção de muitas almas e as afasta da verdade e pureza da vida sobrenatural, que é uma vida de fé.

70 ----- A \'ia da infanch:. espiritual

Muitas almas entendem que Deus há de operar por ellas milagres a cada pas­so e vivem numa atmosphera illusoria, sempre procurando coisas extraordina­rias na vida espiritual, factos, coinci­dencias, etc. A vida commum, occulta, penosa e monotona do cumprimento do dever e entrega total nas mãos da Pro­videncia, esta se lhes afigura despre­zível e inferior. O espírito da via da Infancia combate esta desordem e estas illusões perigosas, porque só quer a verdade pura em todas as coisas. Dis­seram á nossa santinha que os anjos a viriam assistir á hora da morte, acompanhando a Nosso Senhor, e que ella os contemplaria resplandescentes de luz e de belleza : 11Todas essas repre .. sentações, diz ella, não me fazem bem algum. Só a. verdade me alimenta.. E

por isso que nunca desejei visões. Não podemos \·er na terra. o céu, nem os Anjos taes como são. Prefiro esperar a '\i são eterna" ( 3 ) .

Oh ! tenhamos este espirito d e fé. Como é bello e meritorio viver da fé! Crer e amar, ahi está toda vida espi-

No. escolD. de Santa Tereslnha ---- 71

ritual. Ahi está a via da infancia, a doce e simples via de Teresinha.

Há muito pouca devoção sincera e verdadeira porque, em geral, há tam­bem muito pouco espírito de fé. Imite­mos a Florzinha de Lisieux. Sigamos os seus passos, e não haverá perigo de errarmos.

Da intensidade do amor, que abrasava o coração de Teresinha, se conclue a grandeza de sua fé. Não podia amar a Deus sem que uma fé muito viva sus­tentasse este amor. Teresa do 1\olenino Jesus, diz o Postulador da causa de sua beatificação, te\'e uma fé precoce que se manifesta\"a, sendo ainda menina, no pensamento do céu e na pratica do� sacrificios. Esforço-me, disse, por agra­dar a Jesus em minhas acçõcs e punha muito cuidado em nunca. o offender (4 ) . Aos cinco annos, Teresinha fez a sua primeira confissão com grande espírito de fé. Aos sete annos, suspirava pelo Pão dos anjos e adorava com muito respeito a Nosso Senhor Sacramentado. Com que fé não implora a conversão do infeliz Pranzini e a graça da sua entrada no Carmelo, aos quinze aunos !

72 ----- A \'la da lnfancla espiritual

Era na Sagrada Escriptura que bebia toda a sua sciencia. Lia os evangelhos com tanta fé como si estivesse real­mente na Judéa, acompanhando os pas­sos de Jesus e ouvindo de seus labias divinos as palavras de vida eterna. A fé que animava toda a vida de Tere­sinha e inspirava suas palavras e es­críptos, tornou-se-lhe mais meritoria e forte no fim da vida, quando soffreu o abalo de terríveis tentações. Durante estas tentações contra a fé escreveu ella: No espaço (lC um anno tenho feito

mais actos de fé que em toda. minha

Yida (5).

O demonio procurou apagar em nossa santinha a lembrança do céu e da vida futura, e com assaltos terriveis queria tirar-lhe a fé e abatê-la na vida espi­ritual. Um confessor, a quem ella ex­paz este estado d'alrna e as suas ten­tações, aconselhou-a que trouxesse com­sigo escripto o symbolo dos Apostolos. Teresinha escreveu com seu proprio san­gue o credo e o apertava contra o co­ração quando o demonio a assaltava com as mais violentas tentações (6).

Depois da minha morte farei cair uma chuva de rosas»,

74 ----- A via da infancia espiritual

Ei-la como vence no combate : Sem­pre que me vejo salteada, sempre que o inimigo me tenta pro\·ocar, porto-me como soldado valente. Sabendo que o bater-se em duello é uma cobardia, dou as costas ao adversario, ao qual nun­ca. enfrento, e vou correndo pressu­rosa para Jesus, protestando-lhe estar pronta a derramar até a ultima gota de meu sangue para confessar a cxis­tencia do céu. Di,:;o-lbe que me consi­dero afortunada por me ser dado con­templar, desde esta tet·ra c com os olhos da alma., este bello céu que me espera, afim de que Elle se sirva de o franquear para todo o sempre aos in­felizes inerepulos ( 7).

Teresinha soffria pelos incredulos e sentia-se feliz com a esperança de com suas lagrimas impedir ou talvez reparar ao menos um só peccado contra a fé.

Ah t é tão doce, exclama v a, servir a Deus na. noite e na provação ! Não te· mos sinão essa vida para l'iver de fé (8).

Na escola do Sa.nla Teresinha. ----- 75

11

A CONFIANÇA NA VIA DA INFANCIA ESPIRITUAL

A alma que busca attingir a perfeição na via da Infancia, necessita de wna confiança illimi tada na bondade de Deus. E' para ella questão capital, pois desde que se fez criança, está obri­gada a esperar tudo de Deus, diz o Pe. Martin (9) .

A minha. l"i&, diz Teresinha, é toda. de amor c de confiança em Deus (lO).

Vejamos :

A doutrina. de Sta. Teresinha. sobre a confiança. e a.s consequencia.s prati­

cas desta. (loutrina..

A doutrina sublime de Teresinha so­bre a confiança em Deus está synthe­thizada em alguns axiomas que devem ser familiares a todas as almas que a querem seguir na "pequenina via". Ei-Ios :

70 ----- A via da ln!anda espiritual

1. Nunca teremos demasiada confian­ça. em Dm!s, tão poderoso c mise­ricordioso ( 11).

A confiança n une a é demais. Deus é infinito na sua bondade, na sua pa­ciencia, na sua magnanimidade. Quan­to mais miseraveis formos, quanto mais pobres, tanto mais confiança devemos ter.

2. Tudo se obtém de Deus, comtanto que se espere nelle (12). Estas pa­

lavras são o echo do Evangelho. Nosso Senhor dizia sempre : Pedi e recebereis. Tende confiança, tudo é possível áquelle que crê em mim!

3. O que offende a Deus e lhe fere no coração é a falta. de confian­

ça (13) .

Desconfiar da misericordia de Deus é uma injuria, é uma offensa á Bondade de seu Coração Divino, sempre aberto e pronto a nos prodigalizar os seus the­souros infinitos. Jesus exige a confian­ça para que se obtenha alguma graça, e sente-se offendido quando duvidamos do poder de sua bondade. A desconfian­ça offende sempre um amigo e o fere

Na escola de Santa Tereslnha -------- 77

no coração, isto é, na parte mais sen� sivel de seus affectos. O mesmo se dá quando desconfiamos do maior de nos� sos amigos, o Coração de Jesus.

4. E' a. confiança e só a confiança. qu� nos de\"e conduzir ao amor (14).

Teresinha, diz o autor de "La Petitc Voie", oppõe aqui a confiança ao te� mor servil e não quer dizer que esta confiança nos dispense do esforço pes� soai e da generosidade no sacrifício ; mas que ella deve ser bastante pode­rosa paxa nos fazer vencer as tenta� ções do desanimo. Bem filial, para dar á alma toda especie de santa ousadia. E bem firme, .para nunca afrouxar, aconteça o que acontecer.

Nos quatro axiomas enunciados re� uniu o Pe. Martin toda a doutrina da confiança na via da Infancia espiritual.

Vejamos as consequcncias praticas desta doutrina em algumas circum� stancias da vida espiritual.

O que leva muitas almas a descon­fiar da miscricordia de Deus para com ellas, são os peccados da vida passa� da, e enormidade de suas faltas. Eis

78 ----- A ,-la da infancia espiritual

wna pagina consoladora de nossa san­tinha : O pecca.do mortal não al'reba.ta­ria a minha. confiança. Não ; não é por .. que fui preservada do peccado mortal que me ele\'o a Deus pela confiança e pelo amor. Ah! sinto bem, embora pesassem em minha conscicncia todos os crimes que se podem commctter, eu nada perderia de minha confiança. Iria com o coração despedaçado de arrepen­dimento atirar-me nos braços de meu Salvador. Sei quanto elle amou a Magda­lena, ao filho prodigo, á mulher adul­tera, a Samaritana. Não, ninguem me poderia aterrorizar, pois sei o que pen­sar sobre o seu amor e sua. misericor­dia. Sei que toda essa. multidão de of­fensa....'i se abysmaria num relance, como uma gota de agua lançada. num bra­seiro ardente (15).

Cahimos muitas vezes nas mesmas faltas, nos mesmos peccados, e estas quedas nos humilham, e desanimam muitas vezes no caminho da parfeição. Confiança! Confiança ! A confiança faz milagres, diz Teresinha. Lembremo-nos de que o Senhor leva em consideração a.s nosso.s fraquezas, conhece a fra.gili-

Na escola de Santa Teresinhn ---- 79

dadc ()e nossa. natureza, l)Or que então temer? (16).

Depois de cada falta, levante-se o peccador cheio de confiança e vá ao Coração Di vi no e misericordioso de J e­sus. Não comprehendo as almas que têm medo de um tão temo amigo (17), dizia a nossa santinha. Sim, continua ella, depois que me foi dado compene­trar-me do amor do Coração de Jesus, confesso que cllê expelliu de minha al­ma toda e qualquer apprehensão. A lembrança de minhas faltas humilha­me, leva-me a nunca me apoiar sobre as minhas forças, que não são mais que a mesma fraqueza, mas essa. lem­brança fala-me ainda. mais da. miseri­eordia e <lo amor ( 18) .

"Sim, creio, já há. muito tempo, que o Senhor é mais temo que uma. mãe e conheço a fundo mais de um coração matemo ! Sei que as mães estão sem­I,re prontas a perdoar as pequenas in· delicadezas involuntarias de seus filhi­nhos" (19).

O Coração de Deus é mais terno que um coração de mãe ! Oh ! como é con­solador este pensamento de nossa San-

80 ----- A via dn lnfo.ncia espiritual

tinha, como elle enche a nossa alma de uma audaciosa confiança em Deus !

Para obter o favor de Deus, basta entregar-se a Elle ..!om toda a confian­ça. E' \'erdade, diz Teresinha, que nem sempre sou fiel, mas nem por isso per­co a coragem. Abandono-me nos bra­ços de Jesus. ueomo gotinha de or­\'a.lho penetro bem no intimo do ca­lice da 4'Divina Flor dos Campos" ( 20) e ali acho de no\'o tudo o que perdi e muito mais ainda.

Esta confiança deseja ella que seja revelada ás almas : O' Jesus! quem me dera re\"elar a todas as almas pequeni­nas a tua ineffa.vcl condescendencia! Sinto que, si te (lepa.rar alguma mais fraca do que a minha, o que julgo im­possível, logo a. cumulari('is de favores ainda. maiores, comta.nto que se aban­donasse com inteira confiança á tua misericordia infinita (21).

E' por isso que ella podia dizer: "A.h! si as almas fraca..'J c imp�rfeita.s, qual é a minha, experimentassem o que sin­to, nenhuma desesperaria de attingir o cume da montanha. do Amor".

Na escola de Santa. Tercslnha ------ 81

ORAÇÃO

Querida Santa Teresinha, enchei-me o coração daquella vossa admiravel con­fiança em Deus. Oh! intercedei por mim junto á Virgem Santissima c pe­di-lhe para minha pobre alma, tão fraca e miseravel, este dom precioso da con­fiança. Dae-me, Tercsinha, a vossa con­fiança e eu poderei então, wn dia, can­tar comvosco etern�ente no céu as ternuras do Amor Misericordioso.

EXEMPLO

Bclla palavra de SOJlta Teresinha a um padre Jesuita. moribundo.

Com este titulo, publicaram "Les An­nales de Ste. Térêse de Lisieux", de 17 de Abril de 1926, o seguinte :

11Extracto de wna carta do Revmo. Padre Ortega, S. J.

Montevidéu (Uruguay) , 16 de De­zembro de 1925.

Eis um facto que se passou há alguns dias. O Padre Ministro deste collegio acaba de morrer. Há já algum tempo que elle estava passaJldo bem mal, e

82 ----- A via ela lnfa.ncla esplrllual

agora, no principio deste mez, após uma operação, sentiu O'Je a morte era imminente. Elle se preparou para ella de uma maneira admiravel. Tive a con­solação de passar jwlto delle a ultima noite. A's 9 horas e meia, eu lhe falei em Santa Teresinha, convidando-o a invocá-Ia, e elle então beijou, com mui­ta devoção, a sua reliquia. Pouco depois perguntou-me a hora. Eram 9 horas e 40. Pelas 10 horas, mostrou-se inquieto de novo. Então eu lhe disse :

- Meu Pae, por que quereis saber a hora?

- Morrer . . . - respondeu-me elle com difficuldade ; cornprehendi que elle sabia a hora em que deveria morrer.

- Quem va-la disse? - perguntei-lhe eu.

- Santa Teresa . . - Santa Teresa do Menino Jesus? - Sim. Pouco depois perguntou-me de novo

que horas eram. Vendo esta insistencia, disse-lhe:

- Vistes então a Santa Teresinha?

Na escola de Santa Teresinhn ---- 83

Com difficuldade levantou elle os dois ultimos dedos da mão direita e com a outra segurava o crucifixo e o terço.

Não comprehendi o seu gesto, e pe­di-lhe que m'o ex·plicasse. Então, com voz clara, respondeu-me:

- Duas vezes. - Que vos disse clla? - Que eu tenha confiança ! . . . - Pois bem, não a tendes então ? - Completa. Dahi por diante, não me perguntou

mais as horas uma só vez, vindo a fallecer ás 3 horas e 25 minutos da manhã.

1) Novisshna Verba, 14 de Setembro. - 2) Poesia - Lembra-te. - 3) Novissima Verba, 5 d e Agosto. - 4) Mag. Rogerio Tell - A·rtlgos do Processo de beatlficaçii.o de Soror Teresa do Menino Jesus. Art. 28 - Art. 32. - 5) His­torio. de uma alma. c. IX. - 6) Art. 32 - Ar­tigos da Postulalõão - R. Tell. - 7) Hlst. alm., c. IX. - 8) Conselhos e Lembranç;as. -9) La Petite Vele de I'Entance Spiriluelle. -10) Carta aos Mlssionarloa. 1897. - 11) Hist. alm., c. XII. - 12) la. carto. a Mari11 Guerin, 188fl. - 13) Idem. - 14) Ga. co.rta á Irmã. Ma­ria do Sagrado Cor<�ção. - 15) Hist. alm., c. X. - 16) Hist. alm., c. VIII. - 17) Carta. aos Misslonarios. 1897. - 18) Carta aos M!ssionn­rios, 1897. - 19) Hlst. alm .. c. VIII. - 20) Cnnl. li - 1. - 21) Hist. alm., c. XI.

S E T I M O D I A

MEDITAÇÃO VII

A HUMILDADE E SIMPLICIDADE NA VIA DA INFANCIA ESPIRITUAL

A humildade é uma virtude essencial na via da Infancia espiritual. Ser pe­queno, ser como a criancinha, é ser humilde e considerar que a criatura nada pode por si. A verdadeira humil­dade, diz o Pe. Martin, não consiste tão sómente em se ver a propría abjc­cção, mas em vê-la e amá-la. Esta é a humildade de coração, a unica verda­deira. Consideremos

I. A humildade na via da lnfancia espiritual e os exemplos de humil­da<le de Sta. Teresinha

U. A simplicidade na Yia da Infancia

Na via da Infancia espiritual, a humil­dade é das virtudes a mais necessaria, pois como pode uma alma que se faz

Na escola de Ss.nla Teresinha ---- 85

criancinha por amor de Deus, deixar-se levar pelo orgulho ? Quereis entrar na pequenina via? Sêde humildes, procurae conhecer-vos tal qual sois. Em vós há o bem e o mal. Todo o bem vem de Deus. Sêdc fieis em agradecer-lhe. To­do mal é vosso. Aproveitae-vos disto para vos desprezar. Vejamos nossas roi­serias. Si nos acharmos pobres e mise­raveis, regozijemo-nos com isto. Eu não me afflijo, dizia: Teresinha, ao \'er a propria. fraqueza. Ao contrario, nella eu me glorio, e espero cada dia ir des­cobrindo em mim novas imperfeições. Confesso que as luzes sobre o meu na­da me fazem mais bem que as luzes sobre a fé (1) .

Tudo quanto lhe sen·ia de conheci­mento da propria. fraqueza era precioso á nossa sa.ntinha. uo Todo-Poderoso operou em mim gramles coisa.s, escreveu ella, mas a maior é a de me ter mos­trado minha fraqueza e minha impo­tencia para todo bem".

Eis ahi, incontestavelmente, diz o Pe. Martin, um dos mais certos signaes de humildade. A alma verdadeiramente hu­milde não fica surprehendida com as

86 ----- A via da. Jnfa.nclll espiritual

proprias quedas. O que a surprehende e admira, não são as quedas, não é o cair, mas sim o não cair mais vezes e o não ter quedas ainda mais pesadas. Por acaso, uma criancinha se admira ao se ver cahida em terra? Não se pode ella ter em pé. Como lhe será possivel não dar passos em falso ? Or­dinariamente, as criancinhas caem, mas esta queda não tem, em geral, conse­quencias funestas, porque não caem de muito alto. O mesmo acontece com as almazinhas da pequenina via. Não se ferem ellas gravemente, e suas feridas se curam com facilidade. E demais, longe de se enfraquecerem, tornam-se mais fortes, porque a experiencia as fortifica. Tornam-se mais humildes. HE' minha. fraqueza, dizia Teresinha, que faz toda. a minhl\ força" (2).

Esta é a linguagem das almas que comprehendem e sentem a humildade de coração, a unica verdadeira.

Santa Teresinha tinha uma santa avi­dez de ser ignorada e tida por nada. No dia da emissão dos seus votos le­vou sobre o coração este bilhete : "O' Jesus, fazei que ninguem se oceupe de

Na escola de Santa Tere.!llnha ���- 87

mim, qne eu seja calcada aos pés, es­quecida como um grãozinho de areia" (3).

A uma de suas irmãs escreveu : "Não quero mais nada sinão o esquecimento. Não aspiro aos desprezos, ás injurias. Tudo isso seria demasiadamente glo­rioso para o "g·rão de areia", pois si alguem desprezasse um grão de areia seria signal que o via e J)(msava nelle. Quero ser ol\'idâ.da C não sómentc das criaturas, mas tambcm de mim mes­ma, afim de n�o ter outro anhelo si­não o de amar ao bom Deus" ( 4). Es­crevia ainda : Que felicidade a vossa, '\i­ver tão occulta. que ning:ucm pense em \'Ós! Ser desconhe.cida mesmo das pes­soas que comVO!;CO \'ivem! ( 5) .

J á muito antes d e entrar para o Car­melo, Jesus lhe fizera comprehender que a verdadeira gloria é a que per­manecerá para sempre, e que para at­tingi-la não são necessarios feitos bri­lhantes, sinão occultar-sc aos olhos dos outros e a si mesma.

Escreveu, certo dia, a uma das suas irmãs : O' céu! ó céu ! quanto suspiro por elle para \"er a face de Jesus e con-

iS ----- A Yiu da infa.ncla esplrltua� ..

tcmpla.r a sua. maravilhosa bclleza.; mas emquanto espero, desejo soffrer muito e ser desprezada nesta terra.

Eis os conselhos que dá ella ás suas noviças sobre a humildade: Quando commcttemos qualquer falta não deve­mos attrlbui-la a alguma causa physica como á. enfermidade ou a.o tempo, mas sim á nosMa imperfeição, sem toda'\·ia nos desanimarmos. Nii1) são as occasiõcs que fazem o homem fraco. Apenas mos­tram o que elle é (6).

A unica coisa que não é sujeita á in .. veja, dizia, é o ultimo lugar; portanto, só nesse ultimo lugar não há. Ya.idade e afflicção de espírito. Todavia, nem sempre está na mão do homem o seu caminho, e algumas \·ezes surprchcnde­mo-nos a desejar o que brilha. Então, colloquemo-nos humildemente na cJas .. st� dos imperfeitos, consideremo-nos al­mas ainda. tão pequeninas que Deus de­ve sustentar a ca<la passo. Desde o mo� mento em que Dl�us nos \'ê convictos do nosso nada, desde que lhe dizemos: "Os meus pés trepidaram, a vo�sa mi­sericortlia firmou-os" (7), elle no�; es­tende as suas mãos. Porém, basta ten-

Na escDia de Santa Tereslnha ----- 89

tarm.os fazer algo de grandioso, embora sob pretexto de zelo, para deixar-nos entregues a nós mesmos. Basta, pois, humilhar-nos, supportar com doçura. as tnoprias imperíeiçõcs, eis a Ycrdadeira santidade para nós.

No leito de morte pôde a nossa san­tinha dizer : Sim, cu comprchendi a hu­mildade de coração !

li

A SIMPLICIDADE NA VIA DA INFANCIA ESPIRITUAL

A simplicidade é o traço caracteris­tico da infancia. A criancinha não co­nhece a duplicidade, a malicia, o disfar­ce, o dólo. E' sempre franca, sincera, nada tem de complicado no seu modo de agir. Transportando para o dominio da vida espiritual os traços caracterís­ticos da Infancia, a alma, na via da in­fancia espiritual, deve ser bem simples na pratica da virtude. Vejamos

A simplicidade na vi<la e virtudes de Santa Tercsinba e o espil"ito de simpli­cidade na. \"ia da lnfa.neia esJ•iritual.

90 ----- A via da in!ancla esplrltual

Tudo é simples, tudo é muito com­mwn na vida e virtudes da nossa san­tinha. A sua vida exterior e interior têm um encanto e uma belleza origi­naes, justamente peia grande singeleza de que se revestiram.

Quando menina, Teresinha ignorava ao:� qualidades excepcionaes de sua in­telligencia e não conhecia a seducção e o encanto do mundo que se extasiava ante a belleza de seu rosto. Entra para o Carmelo e se torna uma religiosa que em nada se distingue das outras, pro­curando sempre occultar-se, e soffrcndo toda sorte de humilhações e o rigor da Regra de Santa Teresa. Emfim, diz o autor do Espírito de Santa Teresinha, como S. João da Cruz, do qual diziam muitos dos seus contemporancos : "E' um religioso menos que ordina.rio", Te­resinha viveu tão occulta, e tão sem importancia no mosteiro, que certas Ir­mãs, vendo-a enferma, perguntam que coisa se poderá escrever sobre ella de­pois da sua morte !

Que admiravel simplicidade ! E o que mais admira é pensar como soube ella occultar as suas mais heroicas vir-

Na escolo. de Santa Tereslnha ---- 91

tudes para não fugir da pequenina via. E' preciso, diz ella, que as a.lmazinha.s pequeninas nada tenham a invejar-me!

A vida interior de Teresinha é tam­bem muito simples. Nada de visões e coisas grandiosas. Declara que não pos­sue o dom de ler nas almas (8) . Al­guns dias antes de sua morte, Madre Ignez de Jesus interrogou-a: Tendes alguma intuição . quo vos llê a. conhecer o dia em que deixareis a terra?

- 0' minha madre, não ! Ficac bem certa que não tenho intuições! Conheço apenas o que conheceis. Nada adivinho sinão o que ,-ejo e sinto como \'Ós ! ( 9)

Neste estado de simplicidade as vir­tudes de nossa santinha são todas oc­cultas.

uLonge de assemelhar-me ás grandes almas, que desde a infa.ncia. praticam toda. sorte de macerações, declara ella em sua humildade, fazia consistir uni­camente as minhas em quebrantar a minha vontade, reprimir uma. pala.\'ra de replica, 1uestar pequenos serviços ao proximo, sem ostentação, e mil ou­tras coisas deste genero" (lO) .

92 ----- A \'ia da lnfancla espiritual

Essas pequeninas virtudes, esses na­das, como dizia ella, lhe custaram muitos esforços e soffrimentos, e por elles elevou-se ao cume da montanha do Amor!

O espirito de simplicidade é um traço característico das virtudes na via da Infancia espiritual. O Pe-: Martin es­creve : .. E' proprio da simplicidade ir direito ao seu fim. Na vida espiritual, o fim é Deus. Ir direito a Deus é tê-lo por fim directo em todas as acções, é não se embaraçar com nenhum outro cuidado. Por isto, é mister esq uccer as criaturas e não procurar agradá-las. Esquecer-se a si mesmo, e em nada procurar a propria satisfação ou as vantagens pessoaes. Porque, por pouco que alguem se afaste para si ou para as criaturas, desvia-se da linha recta, cessa de tender directamente a Deus. Sae da simplicidade" ( 11) .

Teresinha só teve uma preoccupa­ção constante em toda sua vida: dar prazer a. Deus. E com isto, simplificou a sua espiritualidade de uma maneira admiravel. Com effeito, basta a uma alma viver sempre com a recta inten-

Na escola de Santa Teresinha ---- 9a

ção de em tudo fazer a vontade de Deus, agradar a Nosso Senhor, para que fuja de complicados methodos de asce­se, e progrida na virtude a passos agi­gantados. Dar prazer a Deus é o fim, é o objectivo da alma na via da in­fancia. O meio pelo qual chegará ella á perfeição é o amor e nada mais além disso.

Assim, diz ainda o Pe. Martin : Sim­plicidade no fim:

. Deus só; simplicidade

nos meios : o amor; e este amor, livre de tudo o que poderia complícá·lo, e reduzido á sua forma mais simples: o amor da. criança por seu pa.e (12).

Eis ahi o que constitue o espirito de simplicidade na via da infancia espiri­tual, e a torna accessivel a todos.

As pequeninas virtudes, esses peque­ninos actos de sacrificio nas diversas circumstancias, parecem a muitos coi­sa de somenos importancia na vida es­piritual. Entretanto, devemos estar bem certos disto, a fidelidade no serviço de Deus e as graças mais preciosas nos vêm as mais das vezes da generosi­dade com que lutamos em todas as occasiões que se nos deparam de offe-

94 ----- A via da lnfancia esplrJtual

recer a Nosso Senhor pequenos sacri­fícios.

E' o amor e a recta intenção de em tudo dar prazer a Deus, que simpiifi­cam a vida espiritual na via da Infan­cia e dão valor aos mais pequeninos c insignificantes actos de virtude.

ORAÇÃO

Santa Teresinha, ensinae-me a ser, como aconselha Nosso Senhor : simples como a pomba. c prudente como a ser­pente. Simples desejo ser como vós em todos os actos da minha vida, destruin­do, com a graça de Deus, tanta mali­cia, tantos disfarces e vaidades que ali­mentam meu pobre coração. Prudcnt.e, eu quero imitar-vos na vossa admiravel vigilancia e attenção contra as ciladas do inferno, e pôr em ordem a minha pobre vida espiritual.

EXEMPLO

A um sacerdote que tentava, numa occasiao, persuadir ao Santo Padre Pio X de que não h a via nada de extraordi­nario na vida de Soror Teresa do Mcni·

Na escola de Santa Teresinho. ---- 95

no Jesus, deu o Papa a seg-uinte res� posta : Ah! o que há de ma.i� extraordi­na.rio nessa alma é precisa-mente a. sua extremo. simplicidade . . . Consulte lá a sua. thcologia .

A Providencia fez com que fosse ra­pida a ascensão de Teresinha aos al­tares, afim de que o tempo não defor­masse o caracter de simplicidade da sua vida com as lendas. Ail:tda mais, permittiu Deus que as tres irmãs que com clla viveram no Mosteiro attestas­sem e depuzesscm em todo o longo pro­cesso. Em sua obra Sainte Térêsc de Lisieux - Une rcnaissance spirituclle", o Po. Petitot cita um trecho de duas deposições feitas pela �ladre lgnez de Jesus (Paulina) o Soror Gcnoveva da Sagrada Face, esta ultima protestando contra os exaggeros de alguns artigos do Processo do Ordinario. Ei-las resu­midamente : "Soror Teresa do Menino Jesus, depõe a Madre lgnez, não se as­semelha, quant-o aos dons sobrcnatu­ra.es, ou, pelo menos, em sua. manifesta­ção, á maioria dos santos canonizados pela Igreja. Exceto a sua \'isão da San-­ta. Virgem, a chamma de amor e o ex-

06 ----- A '·ia da lnfnncia esplrltual

tase da morte, eu nada \·ejo em toda a sua vida que saia do ord.inario".

Devo dizer a verdade, depõe Soror Genoveva, os numeras 239, 241, 241, dos artigos do processo do Ordinario, parecem�me muito exaggerados, e apre­sentam como frequentes phenomenos que foram muito raros em sua vida. Quanto a mim, prefiro que ella não seja beatificada, a não se apresentar o seu retrato exacto como eu o julgo em consciencia. A frcquencia dos dons so­brenaturaes extraordinarios em sua vi­da é contrario áquillo que dizia ella ser dos desígnios de Deus sobre sua alma. Sua vida deveria ser simples para servir de modelo ás almas pequeninas.

1) Hlst. alm., c. IX. - 2) 5a. Carta a Cellna. 3) Hlst. n.Im., c.. VIII. 4) Carta ã. Irmã. Ignez de Jesus, 1888. - 5) Carta á Irmii Ignez de .Jesus, 1892. - 6) Conselhos e Lembranç:;a.s. -7) J e rem. X, 23. - 8) Hlst. alm., c. · X. -9) Novlssima verba, 24 de Setembro de 1897. -10) Hlst. alm., c. VI. - 11) La Petlte Vale, c. IX. - 12) La Petlte Vole, c. IX.

O I T A V O D I A

MEDITAÇÃO VIII

O ABANDONO NA VIA DA INFAN­CIA ESPIRITUAL E O ASCENSOR

Dl·VINO

O abandono á vontade de Deus, a entrega total da alma nas mãos de Nos­so Senhor é uma condi�ão indispensavel na via da infancia espiritual.

Vejamos

I. Sta. Teresinha mestra do santo abandono e os seus admira,·eis e heroicos exemplos desta vir­tude.

11. O Ascensor Divino e o Amor 1\-lisericordioso

A doutrina do abandono, Teresinha a aprendeu de Nosso Senhor, a quem tanto amava: "Porque sou pequenina

98 ----- A '"ia da infancla espiritual

e fraca, escreveu, Jesus inclina-se para mim, e reveJa .. me os segredos do seu Amor. Elle se compraz em indicar-me o unico caminho que conduz a essa for­nalha dil'ina. Esse caminho é o aban­dono da criancinha que adormece sem temor nos bra.ços do seu Pae" ( 1). Sim, é unicamente o abandono que me guia, não tenho outra bussola. Não sei pedir outra coisa com ardor, sinão o cumprimento Jlf�rfeito da. vontade de Deus sobre a minha alma (2).

Como é facil a perfeição na via da infancia! Basta abandonar-se á vontade de Deus, cumpri-la perfeitamente, com toda simplicidade como uma criancinha adormecida nos braços de seu pae!

Fazer a vontade de Deus é caminhar com segurança na via da salvação eter­na.

O meu desejo, escreve Teresinha a Celina, é fazer sempre a vontade de Jesus. Deixemo-lo tomar ou dar tudo o que Lhe approuver. A perfeição con­siste em cumprir a. sua vontade, em en­tregar-se inteiramente a Elle ( 3) .

Na "Historia d e uma alma", compa­rando ella as almas ás diversas flo·

Na escola de Sa.nlu Tere!-!inha ----· 9!l

res de nossos jardins, diz : "Approuve ao Senhor e.riar os g1·andes Santos que se podem comparar aos lirios e ás ro­sas i mas criou tambem outros mais pe­queninos que se devem contt>ntar com ser humildes boninas ou simples vio­letas destinadas a recrcar-Lh(� os olhos divinos. Tanto mais perfeitas srrão as florinhas quanto mais felizes se mos­trarem em fazer � \"onta.de de Deus ( 4 ) .

N a bella poesia ui\leu céu" cantou ella :

''O meu céu é ficar semt•re em sua. presença

�� ser sua filhinha r chamá-lo meu Pae:

Em seus braços não temo o temporal desfeito.

O total abandono, eis minha lei . . Oh! sim!

Chegar-me á. sua Face e dormir no seu peito,

Eis o céu para mim! (5) .

A tal ponto chega o abandono na via da infancia, que Teresinha pôde dizer : Deus quer que eu me abandone como a criancinha quP não sabe o que

100 ----- A via da inrancla espiritual

irão fazer de lia ( 6) . Há muito tempo já não ·me pertenço, entreguei-me total­mente a Jesus. póde de mim fazer o que Lhe approuwr (7) .

O papel de Teresa, escreve ella a Ce­lina, é abandonar-se, entregar-se intei­ramente (8). Enfim na pequenina via tudo é abandono e amor.

Antes de entrar para o Carmelo, a nossa admiravel santinha já se mani­festa uma alma toda abandonada á santissima vontade de Deus. Vendo que os seus negocias se embrulham, como diz ella com tanta graça, não se des­anima nas dolorosas decepções que soffre para realizar o seu sonho ar­dente de ser carmelita. - "Nessa. épo .. ca, escreve, tinha-m(': offerecido ao Me­nino Jesus para ser o seu brinquedinho, pedindo-Lhe que não me h'atasse como brinquedo de luxo daquelles que as cri­anças se • contentam em olhar sem Sf" atreverem a. tocá-los, mas como a bo­linha sem \'a.lor qne Elle podia. atirar ao chão, empurrá-la com o pé, perfu­rar, deixar a um canto ou apertar bem

�ão, si com isso tivesse gosto. NuinB.O �la,•ra, queria divertir o 1\-fe-

Na escola de Santa Tere�inha ---- 101

nino Jesm; e entregar-me aos seus ca,.. prichos Infantis" (9).

Nos soffrimentos, nas alegrias, nos reveses e transes dolorosos da sua vi­da, Teresinha não se inquieta, mantém­se numa santa indifferença : "ser cri­ancinha, diz, é não se inquietar com coisa alguma (10). Sinto-me toda aban­donada. nas mãos de Deus, 1•ara \'i\'er ou para morrer, 1•ara sarar ou partir para a Cochinchina, -si Deus assim o quizer" (11). Tal era a sua linguagem heroica quando, já enferma, sabia da sua partida para outro Carmelo dis­tante, caso estivesse em boa saudc.

Não desejo a lida nt>m a morte: si Nosso Senhor me· offerecessc a escolha, não escolheria nem uma nem outra, quero o que elle quer e o que clle faz é o que tambem eu amo" (12).

Tendo-lhe wna noviça contado os phenomenos extraordinarios produzidos pelo magnetismo nas pessoa-s que en­tregam a sua vontade ao magnetiza­dor, essas explicações interessaram-na vivamente e no dia seguinte disse á no­viça : Quanto aquella conversação de hontem fez bem á. mlnh'alma! Oh! qui-

102 ---- � ,.ia da infancia espiritual

zera fazer·me magnetizar por Nosso Se­nhor ! Com que doçura lhe entregaria a. minha vontade! Sim, quero que elle se apodere de tal sorte da.'i minhas fa-­culdades, que eu já não faça acções hu� manas e pessoaes, mas sómente a.cções todo divinas, inspiradas e diri�ida.s pelo Espírito do Amor" ( 13).

Este abandono tão elevado e su­blime brilhou sobretudo nos ultimas dias da vida terrestre da nossa querida santa. As noviças exprimiam-Lhe o seu grande pesar de vê-la soffrer e o receio de que esses soffrimentos au­gmentassem mais ainda : Não fazeis bem, replica Teresinha, em pensar no que nos pode adYir de doloroso no fu­turo; isto é como que pôr-se a criar! Nós, que corremos pela senda do amor, não nos devemos atormentar por coisa alguma." (14).

- Vou pedir á Santissima Virgem, disse-lhe uma irmã, que allivie a vossa falta de ar.

- Não. Devemos deixar que lá em cima façam o que quizerem ! respondeu ella (15).

Na escola de Santa. Tercsinha ---- 103

Vendo-a soffrer, disseram-lhe : E' bem doloroso soffrer, sem consolações in­teriores, não é ? . . "Sim, mas é um soffrimento sem inquietação. Sinto-me contente de soffrer, pois Deus assim o determina. (16).

Estando numa especie de agonia, exclama, gemendo de dor, a pequenina victima : Como foi quf" o medico me dis-­se que não teria ag-onía ! Mas afinal de contas, é de boá. vontade que eu a ac­ceito.

- E si vos mandassem escolher ? ·- Nada. escolheria.!

Teresinha é na verdade um modelo perfeito de santp abandono !

11

O ASCENSOR DIVINO E O AMOR MISERICORDIOSO

Um dos pontos mais importantes na via da Infancia espiritual é a consi­deração e o reconhecimento sincero da nullidade da criatura para a pratica do bem e a entrega total da alma á acção poderosa da graça. ''Esta doutrina, diz

104 ----- A via. da infanclo. espiritual

o Pe. Martin ( 17), não é nova e nem particular a Santa Teresinha, pois é tão antiga como a doutrina da graça. Mas o que é o novo, é a maneira como ella a apresenta, é a applicação tão op­portuna que della faz a nossa santinha, ás almazinhas pequeninas, dando deste modo a todas, ainda ás mais fracas e imperfeitas, o meio de chegar aos mais altos cumes da montanha do amor". E' a theoria do Ascensor Divino que re­sume toda esta doutrina e o offereci­mento ao amor misericordioso, a sua pratica.

Vejamos

O Ascensor Divino, O Amor Miseri­cordioso c o offerecimento como \icti­ma de holocausto a este Divino Amor.

A theoria do Ascensor Dil'ino é como que a synthese de toda a doutrina es­piritual de Teresinha, esta doutrina consoladora, cujo segredo deseja ella que seja bem conhecido das almazinhas fracas e imperfeitas. Não vale com­mentá-la, vamos expô-la toda.

Na. escola de Santa Teresinhn ---- 105

uo meu desejo, escreve ella, na His­toria de uma Alma, foi sempre o de tor­na.r-me santa: ma.s ai! sempre tenho visto, quando me comparo aos sa.ntos, que existe entre mim c elles a mesma differença que vemos na natureza entre uma montanha cujo cimo se perde nas nuvens, e o grãozinho de areia obscuro, calcado aos pés dos \'iandantcs. Em vez de desanimar-me, digo a mim mesma: - O bom Deus Dão inspira desejos ir­realizaveis ; posso portanto, apesar da minha pequenez, aspirar á santidade. Tomar-me grande é imtlOssivel. Devo pois supportar-me tal qual sou com as minhas impel"feições innumeraveis; mas quero achar para ir ao céu um peque­nino caminho bem recto, bem curto, uma \'eredazinha toda nova. Estamos num seculo de invenções. Agora já. não se tem o traba.Iho de subir os degraus de uma escada. Na.� casas dos ricos, um ascensor ?.. substitue vantajosamentP. Tambem eu quizera achar um elevador para me elevar até Jesus, pois sou de­masiado pequenina para galgar a rude escada da. perfeição. Então perscrutei os Lh·ros Santos t,ara encontrar a in ..

100 ----- A via da infancia espiritual

di�..ão do ascensor, objecto dos meus anhelos, e se me depararam estas pala· \TBS brotadas dos proprios la.bios da Sabedoria Eterna: usi alguem é pequeni· no venha a mim" (18) . Aproximei-me, pois, de Deus, adivinhando ter desco­berto o que buscava. Querendo saber o que Elle faria ao pequenino, continuei as minhas pesquisas, e eis o que en­contrei: 4'Do modo com que a mãe aca­ricia o seu filhinho, assim vos consola­rei eu, trar-vos-ei ao collo, embalando­,·os sobre os meus joelhos" (19). -­Oh! nunca palavras mais ternas, mais melodiosa.'t vieram deliciar a mi­nha alma. O Elevador que me de\'e le­\'a.r até vós são os \'ossos braços, ó Je­sus! Para isso não necessito crescer, é preciso ao contrario ficar pequenina, e ficá-lo cada vez mais. O' meu Deus, \'Ós sobrepujastes a minha espe�tativa, e eu quero cantar as vossas misericor­dias (20).

Meditando estas palavras, quem pôde, por mais fraco e miseravel que seja, não aspirar á perfeição e a galgar o cume da montanha do Amor ? Oh ! com­prehendamos bem a theoria do Eleva-

:Na escola de Sunla Teresinha ---- 107

dor Divino e peçamos a Teresinha que nos obtenha luzes sobre o nosso nada e as disposições requeridas para que su­bamos até Jesus no seu Divino Ascen­sor.

Deus não nos pode amar com um amor de complacencia porque somos a propria miseria e imperfeição. O seu amor para comnosco é de pura miseri­cordia, é o Amor 1\-lisericordioso. Este Amor Infinito quer o nosso pobre e fraco amor, tem sêde de nosso cora­ção. "E' o amor da sua pobre criatura que o Criador do universo reclama. Elle tem sêde de amor !" (21) . Mas ai! quantos há que cprrespondam ao Amor do Divino Coração ? Bem poucos. A maior parte dos homens rejeita a cham­ma do Amor Misericordioso, procuran­do nas criaturas a sua felicidade e um falso amor illusorio. Lembremo-nos das queixas amorosas do Coração de Je­sus a Santa Margarida Maria : "O me o

coração, disse Jesus, está abrasado de

amor pelos homens e, não podendo con .. ter estas chammas, deseja diffundi .. Jas por toda terra".

108 ----- A ,·ia da infancia espiritual

Vendo o desprezo dos homens ingra­tos ao Amor Misericordioso, Teresi­nha comprehendeu que era necessario reparar tamanha ingratidão e se offe­reccu a Jesus como victima. ao seu Amor 1\olisericor,lioso. Como foi levada a esta

'«enerosida.de amorosa e sublime ? Ella no-lo vae narrar:

"Estando, em certa occasiao, a t•en­sar nas almas que se offerecem para victimas á justiça dh·ina, desejosas de des,·iar os castigos que ameaçam os peccadores, attrahindo-os t•ara si mes­mas, achei este offerecimento admira­\'Cl e generoso, ainda que estava bem longe de me sentir inclinada a fazê­lo. 0' meu divino 1\lestre, exclamei com todas as \'eras de meu coração, será possivel que só a Yossa justiça receba hostias de holocausto ? Não as· preci­sará igualmente o vosso Amor :r.liseri­cordioso ? Vejo-o universalmente desco­nhecido, rejeitado . . i os ,mesmos cora· ções aos quaes o deseja.es prodigalizar, em vez de se recolherem nos vossos braços e de acceitar a dcJiciosa forna­lha do \'Osso amor infinito, teimam em fugir para as criaturas, mendigando-

Na escola de Sanla Teresinha ----- 109

lhes a felicidade e a mesquinha affeição de um instante. O' meu Deus, h!i. de ficar encerrado no vosso Coração e�tc

menosprezado amor ? Se encontrasseis almas que se offerccessem para. victima.fol

de holocausto ao vosso amor, certa es­

tou de que :::ts havit�is de consumir ra­

pidamente e folgarieis de vos não ver

constrangido a abP..Iar e a conter as

chamma.s de infinita ternura que dentro

em vós se acham aprisionadas. Se a vos­

sa justiç..a., cuja acção se limita, á terra.

estima ver-se desarmada, quanto mais

ardentemente deseja.ri abrasar as al­

mas o vosso amor misericordioso, pois que "a vossa misericordia se dilata até

ao céu" (22). O' Jesus, possa eu ser

esta \·ictima afortunatla, consumi a vos­

sa pequl'nina hostia no fogo do vosso

Dhino Amor (23). O desejo ardente de Teresinha commoveu o Coração Di­vino, e no dia 9 de Junho de 1895, as chammas do Amor Misericordioso de­voraram o coraçãozinho virginal do Se­raphim de Lisieux.

110 ----- A \'in da infancia espiritual

ORAÇAO

O' Teresinha, Seraphim de Lisieux ! Oh! desejo como vós amar a Jesus, como jamais foi elle amado na terra! Entretanto, vendo a minha pobreza c miseria, desejo me fazer pequenino c como vós entrar no Ascensor Divino, atirar-me nos braços de meu Pae Ce­leste e subir, . . . subir até chegar a ser a victima do Amor Misericordioso. A h ! tenho confiança em vós, Teresinha. Eu serei do numero das felizes victi­mas do Amor!

EXEMPLO

Em 15 de Novembro de 1919, na idade de 77 annos, falleceu santamcnte o Revmo. Pe. Pichon, da companhia de Jesus, admiravel missionario que ha­via dado a Teresinha tanto consolo, quando pregou, em 1888, os exercícios espirituaes no Carmelo de Lisieux. A nossa Santinha se achava num doloro­so transe de sua vida espiritual, na­quelle subterraneo de que nos fala. O Pe. Pichon restituiu-lhe a paz da al­ma, e depois de a ter ouvido em con-

Na escola de Santa Tere�inha ------ - -- 111

fissão geral, declarou-lhe : Em presença. de Deus e da Santa Virgem, dos An­jos e dos santos, declaro-\·os que nunca commettestcs um só peccado mortal. Agradecei ao Senhor o que vos fez gra­tuitamente, sem nenhum merecimento da l'ossa. parte. Estas palavras do ve­neravel padre inundaram de consola­ção a alma de nossa santinha. Na de­posição feita no processo da canoni­zação, disse o Pe. ·· Pichon : Tive neste retiro a impressão muito l·h·a de que Deus queria fazer de Soror Teresa uma grande Santa (24). Mais tarde o pie­doso Jesuita tornou-se um apostolo da via da Infancia espiritual nos dois mundos. Em 1909 escrevia elle a Ce­lina (Soror Genoveva da Sagrada Fa­ce) : Sim, Deus quer glorificar a sua hu­milde esposazinba. Como então não nos havemos de esforçar por nos tomarmos pequenos? E' para que eu trabalho há. cerca de 66 annos". Desejoso de entrar na Legião das victimas do "Amor Mi­sericordioso", o Revmo. Pe. Pichon fez o acto de offerecimento e pediu a Deus, por intercessão de Teresinha, a graça de celebrar a Santa Missa até ao

112 ----- A via da lnfancia espiritual

ultimo dia de sua vida. No dia 15 de Novembro de 1919, no momento em que, cheio de fervor, ia subir ao Altar para celebração dos Santos Mysterios, expi­rou placidamente, após uma longa vida de apostolo ardente do Amor Miseri­cordioso.

]) Hlst. alm. C. XI. - 2) Hlst. C. III. -3) Carta a Cellna. - 6 de Junho de 1893. -4) Hlst. alm. C. V. - 5) Meu céu· - Poe­�:�las. - 6) Novissima Verba, 15 de Junho. -7) Hlst. aJm. C. IX. - 8) Carta a Celina, 6 de Julho de 1893. - 9) Hlst. alm., c. VI. -10) Conselhos e Lembranças. - 11) Novlssl­ma verba - 21 de Mnio de 1897. - 12) Hlst. alm. C. XII. - 13) Conselhos e Lembranças. - H) Hlst. alm. C. XIII. - 15) Novisslma verba - 17 de Agosto. - 16) Novlsslma verba - 29 de Agosto. - 17) La. Petite vote, C. VI. - 18) Pv IX, 4. - 19) Is 66-13. - 20) Hlst. alm., c. IX. - 21) Hlst. alm., c. XI. - 22) Ps. 35-6. - 23) Hlst. alm., c. VIII. - 24) SUmma.rlum de 1919, § 362.364, Gltado por l'ltgr. La.vellle: SalDW Thériae de l'BIIlaa.t; Jésua.

N O N O D I A

MEDI'l'AÇÃO IX

O ESPIRITO DE ORAÇÃO NA VIA DA INFANCIA ESPIRITUAL

E O SERAl'Hift� DJ<; LISIEUX

A oração é a alma de todo aposto­lado, a vida da Igreja. Sta. Teresinha veiu demonstrar quanto vale a oração do justo e se tornou mestra da ora­ção como o foi a grande Santa Teresa.

Vejamos.

I. A doutrina de Sta. Teresinha. so­bre a oraçft.o e a l'ida de oração de nossa santinha.

11. O Seraphim de Lisieux

A sublime doutrina de Teresinha so­bre a oração se encontra toda na 41His­toria de uma alma". Vamos pois ex-

114 ----- A vlo. da lnfancla. espiritual

pô-la sem mais commentarios, porque todo comrnentario aqui é desnccessa­rio, tão clara, tão simples e tão bella é tal doutrina.

Para mim, diz Teresinha, a oração é um desabafo do coração, um simples olhar para o céu; um grito de reconhe­cimento e de amor, tanto no meio das tribulações como entre alegTias! Em· fim é um não sei que sublime e so .. brenatural, que dilata a alma. e a une & Deus (1). Falando da cfficacia da oração diz ella : E' realmente admira­vel o poder da oração ! Dir-se-ia. uma rainha que a qualquer hora se pode apresentar francamente ao rei, que lhe outorga tod&s &S mercês implor&da.s (2). As almas abrasadas não podem ficar inactivas. E' verdade que, a exemplo de 1\lagdalena, se deixam estar aos· pés de Jesus, ouvindo-lhe a palavra suave e in­flammada. Ainda que parecem ociosas estão muito mais occnpadas que Mar .. tha, que anda numa roda. 'iva, preoccu­pada. com muitas coisas. O que Jesus censura não são as occupações de 1\ola.r­tha, mas apenas a sua apoquentação ; e a. esses mesmos tra.balhos se sujeitou

Na escola de Santa Tere1:1inha ------- 115

humildemente e a sua. divh1a. i\lãe, pois que lhe cumpria prt•parar as n�feições da Sagrada Familia. Assim mesmo o entenderam todos os santos e melhor ainda talvez os que têm espalhado pelo universo a luz da doutrina evangeliea. Jt; não foi talvez na oração que S. Paulo, Sto. Agostinho, Santo Thomaz de Aqui­no, S. Joio da Cruz, Santa Tí'rl•sa. e ou .. tros tantos amigos de Deus foram bus .. car esta. prodigiosa scien�ia, qu�� a.rr("­bata os mais atilados genios?

Disse lá um sabio : "Dae-me um pon­to de apoio e uma. alavanca, qut� cu vos prometto levantar o mundo". O qnt• não conseguiu Archimedes, alcançaram­n'o plenamente- os santos. O Todo-Po­deroso deu-lhes um ponto de apoio que é Elle mesmo e só Elle! Deu-lhes por al&\'anca. a oração, que tem a virtu­de de abrasar em incemlios de amor ; e dest'arte lograram le\·anta.r o mundo, dest'arte o le\·anta.m ainda hoje os santos militantes e continuarão a levan­tá-lo até ao fim dos seculos (3).

Teresinha, desde criança, sentia gran­de attractivo para a vida de oração. No Collegio das Benedictinas em Lisieux,

116 ---- A \'ia du infancia espil'itual

retirava-se ás vezes do convivia alegre de suas companheiras e se punha a orar, cheia de fervor, ante o Sacramen­to do Altar. Esta visita silenciosa era a minha unica consolação, dizi.a clla, e não era talvez Jesus o meu unico ami­go ? Só com Elle sabia falar. Conver­sar com as criaturas, ainda de as­sumptos de piedade, fatigava-me a al­ma (4) .

Nada há de complicado na vida de oração de nossa santinha. A oração é par� ella urna communicação intima e espontanea com Deus. "Tirando o Of� ficio Divino qut� todos c� dias rezo com prazer, ap:��ar da. minha jndignidat1t>, escreve, não acho modor-; ne·m coragt'ft1 de me sujeitar a :l'olhear formularias) em cata dt� beiJas orações; esta IU'eoc­CUilação me dá ca.bo da cabeça. São tan­tas e cada. qual dellas mais bonita! Não podendo JJOis recitá-las todas e indeci:oia na escolha, tomo o partido de imitar as crianças que uão sabem ler: digo com toda. simplicidade a Nosso Senhor o que me inst)ira. o coração, e o facto é que Jesus me .romprehende perfeita­mente" (5) .

:'>Ja escola d.c Santa Tcresinha ------- ])7

A oração é a grande arma de Te­resinha para conquista das almas.

A oração e o �cJ"il"icio, diz ella, são toda. a minha. forço. e minhas armas in� venei\'eis. 1\'Juito mais qm� pala\·fa.s, po­dem ella.s tocar os corações ( 6) .

Na aridez, nas provações mais du­ras, Teresinha se mostra sempre fiel ao seu Divino esposo e nada a pode impedir na sua união intima com Deus. Uma noviça qtÍeixaVa-sc a clla das nu­merosas distracçõcs que tinh� na ora­ção : Eu t.amht�m, diz a nossa santi­nha, tenho muitas distra.cções, mas ac­ceito tudo por amor de Deus, até os pensamentos mais extra.Yaga.ntes que me Yêm ao espírito" (7) .

Habitualmente no estado de aridez, orava continuamente. Um dia, uma no­viça que lhe entrava na cella estacou, enleada pela expressão verdadeiramente celestial do seu rosto. Não obstante es­tar cosendo com actividade, parecia absorta em profunda contemplação. Em que está a pensar? perguntou-lhe a ir­mãzinha. Jt�stou nwditando o "Padre Nosso'?, respondeu Teresa. Consola tan­to poder chamar a Dí"us : Nosso Pae! .

118 ---- A via da lnfaucia espil'ilual

e emquanto assim falava, tremeluziam­lhe lagrimas nos olhos. ''Não \"cjo o que poderei }Jossuir no céu que já o não pos­sua. nesta. vida, dizia ella em outra oc­casião ; é verdade que verei a Deus, po· rém já vivo int('irament� unida. a elle sobre a terra (8).

Até á ante-vespera da sua morte, Teresinha quiz ficar sózinha durante a noite ; mas não obstante as suas in­stancias em contrario, a enfermeira não deixava de a visitar varias vezes. Numa destas visitas, encontrou-a de mãos pos­tas e olhos fitos no céu. Que está a fazer ? perguntou-lhe, é preciso ver si consegue pegar no somno.

- Não há. meios, minha. irmã, soffro demais; e então ponho-me a rezar.

-- Que diz a Nosso Senhor ? ·

- JS"ã,o lhe digo nada, amo-o! ( 9).

Tal era a oração de Teresinha: um acto de amor, um brado do coração, um olhar para o céu .

Na esçola de Santa Teresinha ---- 119

II

O SERAPHIM DE LISEUX

Terezinha. vh•eu e morreu de amor e no coração da Igreja. eHa é o Amor.

Amo-o ! esta palavra diz tudo sobre o estado de alma da nossa santinha durante toda a sua vida terrestre.

\7ós sabeis, ó meu Deus, escreveu ella, que eu nunca. desejei outra coisa. sinão ''OS amar, e náo arilbiciono outJ·a glo­ria . . . Vosso amor me prt�'\·eniu desde a minha infa.ncia, cresceu commigo, e agora é um a.bysmo cuja. 1•rofundeza. não posso sondar ( 10).

Um abysmo ! Sim, a alma de Teresi­nha é um aby.Smo de amor. Desde a idade de tres annos que ella nada havia recusado a Deus, correspondendo de uma maneira admiravcl á Infinita bon­dade do Amor Misericordioso do Co­ração de Jesus.

O objecto de todas as supplicas de nossa santinha era o Amor. ,.Eu nã.o tenho outro de!",;cjo, dizia, sinão o de amar a Jesus até á. loucura! Sim, é o amor que me arrebata. (11) . E como o yerdadeiro amor se nutre de sa.crilicios

120 ----- A \"ia da infnncia espiritual

(12), tudo ella sacrificou ao amor, e quanto mais amava tanto mais soffria. O soffrimento unido ao amor, eis a uni­ca coJsa. que me parece descjavel neste valle de lag•ima.s ( 13), escreveu a um seu Irmão missionario. Teresinha aspi­rava ao martyrio de amor : "Jesus ! Que eu morra martyr por \"osso amor; dae­me o martyrio do coração ou do corpo. Ah! melhor, dae-m'os ambos (14). Es­tes martyrios ella os teve e os suppor­tou com aquelle heroismo que bem sabe­mos. Jesus consumiu esta sua ''ictima nas chamma.s de seu Amor J\.lisericor­dios, c se realizou o sonho da criança amorosa: \iver de amor!

Em 30 de Setembro de 1897, num extase de amor, o Seraphim de Lisieux evolou-se para a região celeste e suas ultimas palavras foram um .acto de amor : Oh! . . . Amo-O . . . ft.leu Deus, eu . . . ,·os . amo ! ! !

Cada Santo tem, n a Igreja de Deus, uma missão e uma vocação divina pro­videncial.

A de Teresinha é Amar e fazer amar o Amor. Ei-la como descobre a sua vo­cação : "considerando o corpo mystico

Na escola de Sa.nlu Teresinha ---- 121

da santa l�reja, não me ha\·ia reco­nhecido em nenhum dos membros des· criptos por S. Paulo, ou antes, queria reconhecer-me em todos. A Caridade '\'eiu dar·me a chave da ·minha vocação. Comprehendi que, tendo a lgrt�ja um cor· po composto de differentes mf'mbros, não lhe faltava o mais necessa:rio, o mais nobre tmtre os orgãos ; compre· bendi que só o amor movia. os S('US membros, e que, se- desse a. extinguir· se o amor, os a!•ostolos deixaria.m dt� a.nnuncia.r o };vangrlho e os martyres recusariam dt'rrama.r o seu sangue. J�n­

tendi que no amor iam encerradas todas a.s \'oc�ões, que o amor é tudo, que abrange to(los os tempos e luk�Ures, por­que é eterno!

No auge de minha. ddirante alegria, exclamei então : O' Jesus, meu amor! até que emfim descobri a minha \"oca­

ção ! a minha ,·ocaç2.o é o amor! Sim, encontrei o meu lugar no st>io da lgre· ja, e este lugar, ó meu Deus, é a vós que o de\'O: no coração da Igreja minha 1\lãe, eu serei o amor! . Dest'arte se­rei tudo; dest'a.rte se realizará. o mPu sonho !".

122 ----- A via da lnfancla espiritual

O sonho de Teresinha é amar, ser amada e fazer amar o Amor.

Uma Irmã lhe falava um dia da bem­aventurança do céu. Interrompeu-a di­zendo : - Não é isto que me attrae.

- Que é então ? - E' o Amor! amar, ser amada, e

voltar a este mundo para fazer amar o Amor! (15) .

Tudo isto se realizou. Teresinha que é, no coração da Igreja, o Amor, ama na patria do Amor; é ama.da porque é objecto da ternura infinita de Deus no céu ; e ella voltou á terra, ahi está no meio de nós, ensinando-nos a peque­nina via do Amor, fazendo, em toda par­te do mundo, com que todos amem o Amor !

Esta é a sua vocação, ella é, na ver­dade, o Seraphim de Lisieux! ·

ORAÇÃO

Santa Teresinha, sempre hei de re­petir aquélla supplica que a um de vossos irmãos missionarios pedistes que fizesse por vós ainda mesmo depois de vossa morte, porque no céu desejaes

Na e&cola de Santa Tereslnha ---- 123

fazer a mesma coisa que fizestes na ter­ra: amar a Jesus e O fazer amar : "Pae Misericordioso, em nome de vosso doce Jesus, da. Santa Virgem e dos Santos, eu vos peço que abraseis a minha Ir­mã de vosso espirito de amor e lhe con­cedais a graça de \'OS amar muito" (3n. carta aos Missionarios).

EXEMPLO

A virtude era tradicional na familia abençoada de Santa Teresinha. Maria Luiza Guerin, irmã de Zelia Guerin e tia de nossa santinha, entrou para o Mosteiro da Visitação de Mans, tom8ll­do o nome de Soror Maria Dosithéa. Era uma alma adiantada nas vias da perfeição e principalmente na via do abandono. Desde menina bastava que se lhe dissesse: isto é um peccado, para que dominasse as mais fortes inclina­ções c praticasse actos da mais heroi­ca virtude. Pôde dizer com verdade : "Graças a Deus, parec�-me nunca ter

commettido uma só falta. \'Oluntaria!"

Quando entrou para o mosteiro, traçou

124 ----- A ,-la da infancia espil·ilual

o seu novo programma de vida : Vim aqui, disse, para ser uma Santa!

Foi fiel á sua resolução, pois levou a vida toda a dar passos de gigante no caminho da santidade. Dom Gueran­ger , que a conhecia bem, não duvidou apontá-la como exemplar de perfeita re­ligiosa. Dois annos antes de sua morte, Soror Dosithéa começou a soffrcr hor­rivelmente, c quasi impossibilitada de andar, devido a grave inflammação num dos pés, fazia esforços incríveis e so­brehumanos para se aproximar da San­ta Communhão. Em 1876, na festa do Natal, recebeu a Extrema-Uncção com edificante piedade. Confessou sentir-se numa paz profunda: Não me preoccupo com os ultimos soffrimentos, nem com a. minha agonia, pois estou certa que Deus me dará sua graça.

Monsenhor d'Outremont. Bispo de Mans, foi visitá-la e disse-lhe estas pa­lavras que a consolaram muito : uNada. de receios, nlinha filha, onde cae a ar­vore, ahi fica; breve há de tombar no coração de Jesus, para nell(" permane­cer eternamente".

Na escola de Santa Teresinha ----- 125

Uma tarde-, voltou-se ella para a Su­periora e exclamou : O' minha Mãe, eu nada mais sei sinã.o amar, confiar-me e abandonar-me a Deus. Ajudae-mc a agradecer a Nosso Senhor.

A's sete horas e meia da noite, do dia 24 de Fevereiro de 1877, num sab­bado, expirou santamente, na idade de 49 annos. Conservou nos seus traços uma tal expressão de predestinada, que a communidade ' ficava arrebatada ao contemplá-la.

1) Hlst. alm., c. X. - 2) Hlst. alm .. c. X. -3) Hist. alm., c. X. - 4) Hist. nlm,, c. IX. -5) Hist. alm., e. X. - 6) Hist. alm., <'. X. -7) Conselhos e Lembran�.;as. - 8) Hlst. alm., e. XII. - 9) Hist. alm.. e. XII. - 10) Hlst. alm., c. XI. - 11) Hisl. alm.. <'. VIII. - 12) Conselhos e Lembranças. - 13) 9a. cartn. aos Mlsslonarios. - H) Hist. alm., <'. VIII. - 15) Hisl. alm., c. XII

P E T A L A S

D E

R O S A S . . .

, Q' Jesus, possa cu ser a vossa pequenina hostia, a victima do vosso amor!

P E N S A M E N T O S

DE SANTA TERESINHA

PARA CADA DIA DO ANNO

JANEIRO

1 - O tempo não é mais que uma miragem, um s

"onha·; agora Deus nos

vê de sua gloria e se alegra com a nos­sa eterna felicidade. Como este pen­samento faz bem á minha alma! Eu comprehendo então por que Elle nos deixa soffrer . . . (8" carta a Celina).

2 - Persuadi-me de que o amor de Nosso Senhor tanto se revela na alma mais simples que não oppõc resistencia á sua graça, como na mais sublime.

(Historia de uma alma, c. I).

3 - Jesus não tem necessidade de livros nem de doutores para instruir as almas ; Elle, o Doutor dos doutores, ensina sem o ruido das palavras.

4 - O' meu Jesus, vós bem sabeis que não é pela recompensa que eu vos

130 ----- A via da infancia espiritual

sirvo, mas unicamente porque vos amo e para salvar as almas.

(Conselhos e Lembranças)

5 - Não estamos ainda em nossa patria e a tentação deve nos purificar como o ouro á acção do fogo.

6 - E' preferível não se expôr ao combate quando a derrota é certa.

(Historia de urna alma, c. IX)

7 - Muitas vezes o Senhor se con­tenta com o desejo de trabalhar para sua gloria.

(Historia de uma alma, c. IX)

8 - E' mais pelo sof.frimento e pela perseguição, do que por brilhantes pré­gações, que Deus quer affirmar o seu reino nas almas.

(6·' carta aos Missionarios)

9 - Jesus ! Oh ! quizera amá-lo tan­to! Amá-lo como jamais foi Elle amado.

(4·' carta á Madre Ignez de Jesus)

10 - E' tão doce servir ao bom Deus na noite da provação ! Não te­mos sinão esta vida para viver de fé.

(Conselhos e Lembranças)

Na escola de Sanla Teresinha ---- 131

11 - Devo procurar a companhia das Irmãs que não me agradam natu­ralmente, e desempenhar para com el­las o papel do bom Samaritano. Uma palavra, um sorriso, bastam, muitas ve­zes, para desafogar uma alma acabru­nhada e opprimida.

( Historia de uma alma, c. XI) 12 - Como eu tenho sêde desta man­

são bemaventurada, onde se 3Jllará a Jesus sem reserVas! Mas é preciso sof­frer e chorar para lá chegar ; pois bem. Quero soffrer tudo que fôr do agrado do meu Bem Amado.

( 5" carta á Irmã Maria do S. Coração) 13 - Para se aproximar de Jesus é

preciso ser pequéno ! Oh ! como ha pou­cas almas que aspiram a ser pequenas e desconhecidas ! ( 14' carta a Celina)

14 - A unica felicidade da terra consiste em se occultar e ficar numa total ignorancia das coisas criadas.

(Historia de uma alma)

15 - O desprezo sempre teve at­tractivos para o meu coração e estou apaixonada pelo esquecimento.

( 7" carta á Madre lgnez de Jesus)

132 ----- A via. da. infanoia espiritual

16 - Meu Deus, de quantos desasso­cegos se livra quem faz voto de obe­diencia! E que felizes são as simples religiosas!

(Historia de uma alma, c. IX) 17 - O que offcnde a Jesus e o fere

no coração é a falta de confiança. (1" carta á prima Maria Guerin)

18 - Quereis saber quaes são meus domingos e dias de festa? São os dias em que Deus me envia mais provaç'&.!!s.

(Conselhos e Lembranças) 19 - Não é para ficar num ciborio

de ouro que Jesus desce todos os dias do céu ; mas sim para encontrar um outro céu, o céu de nossa alma, onde tanto se delicia.

(Historia de uma alma, c. X) 20 - Hoje é o abandono só que me

guia, não tenho outra bussola. Nada sei pedir com ardor, excepto o cumpri­mento perfeito da vontade de Deus em minh'alma.

(Historia de uma alma, c. VIII)

21 - O unico meio de fazer progres­sos na via do amor é o de ficar sem­pre muito pequeno.

Na escola de Sanla. Teresinha ---- 133

22 - A vida é cheia de sacrificios, é verdade; mas por que procuramos neste mundo a felicidade? Não é sim­plesmente esta vida uma noite a se passar numa má hospedaria, como dis­se nossa Madre Santa Teresa?

23 - Oh! como Deus é bom ! . Sim, é preciso que elle seja muito bom para me dar força de supportar tudo o que soffro. (Historio, de uma alma, c. XII)

24 - Não tenhaes receio de dizer a Jesus que O amaes, mesmo sem sen­tir ; é um meio de O forçar a vos soe­correr, a vos ter como uma criancinha muito fraca para andar.

(Conselhos e Lembranças)

25 - A principal indulgencia plena­ria e a que todo mundo pode ganhar sem as con,dições ordinarias, é a indul­gencia da caridade que cobre a mult.i­dão dos peccados.

(Conselhos e Lembranças)

26 - O soffrimento unido ao amor, eis a unica coisa que me parece dese­ja vel neste vali e de lagrimas.

( 9" carta aos Missionarios)

134 ----- A via da in!o.ncia espiritual

27 - Eu não desejo morrer, nem viver ; si o Senhor me offerecesse es­colher, eu nada escolheria. Não quero sinão o que Elle quer, amo tudo o que Elle faz!

(Historia de uma alma, c. VIII)

28 - Que doce alegria pensar que o Senhor é justo e leva em conta nos­sas fraquezas, conhece perfeitamente a fragilidade de nossa natureza.

(Historia de uma alma, c. VIII)

29 - A h! como o Senhor me torna feliz ! Como é facil e doce servi-lo so­bre a terra !

(Historia de uma alma, c. X)

30 - Nossos sonhos, nossos desejos de perfeição não são uma chimera, pois Jesus mesmo nos deu um mandamento : Sêde perfeitos como vosso Pae celeste é perfeito!

31 - E' a confiança e nada mais si­não a confiança que nos conduz ao Amor.

Na. escola de Santa Teresinha ---- 135

FEVEREIRO

1 - O Senhor quer ter aqui na ter­ra a sua côrte, como no alto ; quer an­jos martyres e anjos apostolos.

(11" carta a Celina)

2 - Chama Deus a quem lhe apraz e não já a quem lh'o merece.

(Historia de uma alma, c. I)

3 - A alegri.a não se encontra nos objectos que nos rodeiam ; reside no mais interior da alma e tanto a podemos gozar no fundo de um tenebroso cala­bouço com num palacio regio.

(Historia de wna alma, c. VI)

4 - O' Verbo, ó meu Salvador ! Tu és a minha Aguia, a quem eu amo e que me attrae; és tu que baixando á terra do exilio, quizeste padecer e mor­rer para arrebatar todas as almas e abysmá-las bem no seio da Trindade Santissima, eterno fóco de amor.

(Historia de uma alma)

5 - O' Jesus, quem poderá descrever a ternura e suavidade com que dirigis a minh'alma tão pequenina.

(Historia de urna alma, c. XI)

ISS ----- A via da ln!ancla espiritual

6 - 0' Jesus, meu divino Esposo, conservae-me immaculada a veste do meu baptismo ! Levae-me deste mundo antes que manche a minh'alma com a mais leve culpa voluntaria.

7 - Que as criaturas nada sejam para mim e eu nada para ellas ! Que nenhuma coisa desta terra logre pertw-­bar minha paz.

(Historia de uma alma, c. VID)

8 - O Criador do universo espera a oração de uma pobre almazinha para salvar wna multidão de almas remi­das como ella com o preço do seu pre­cioso sangue. ( 12' carta a Celina)

9 - A cruz me segue desde o ber­ço; mas esta cruz Jesus m'a fez amar apaixonadamente.

10 - Tanto nas coisas pequeninas como nas maiores, o nosso misericor­dioso Deus dá cento por um, mesmo neste mundo, ás almas que tudo dei­xaram por seu Amor!

(Historia de uma alma, c. VIII)

11 - Haverá alegria superior á de soffrer vosso amor ? Mais in tenso é o soffrimento, e menos apparece aos

Na escola de Santa Teresinha ---- 137

olhos das criaturas e mais vos leva a sorrir-vos, ó meu Deus !

(Historia de uma alma, c. IX)

12 - Como eu tenho compaixão das almas que se perdem ! E' tão facil des­garrar-se pelas sendas floridas deste mundo ! (Historia de uma alma, c. IV)

13 - E' preciso praticar as pequenas virtudes. Muitas vezes é difficil, mas Deus não recusá jamais a primeira gra­ça que dá coragem de se vencer; si a alma a ella corresponde, immediatamen­te acha luz. (Conselhos e Lembranças)

14 - Parece-me que a humildade é a verdade. Não sei si sou humilde, mas só sei que digo a verdade em todas as coisas. (Conselhos e Lembranças)

15 - Si for do agrado de Deus, de boa mente consinto em que se prolongue por muitos annos a minha vida de sof­frimentos da alma e do corpo.

(Historia de uma alma, c. IX)

16 - O sol alumia igualmente o ce­dro e a florinha; assim tambem o Astro Divino acalenta cada uma das almas em particular, tanto as grandes como as pe-

138 ----- A via da infancia espiriluo.l

queninas, e vae tuda accommodado pa­ra seu bem particular.

(Histeria de uma alma, c. I)

17 - Havendo em mim grande pro­pensão para o bem alliada com a boa dose de amor proprio, bastava que me dissessem uma vez : "Isto não vae bem assim . . tal coisa não se faz", para que me passasse a vontade de a fazer.

(Histeria de uma alma, c. I)

18 - Para se chegar a ser santo, é necessario soffrer muito, ambicionar sempre o que há de mais perfeito e esquecer-se de si mesmo.

19 - Meu Deus! não quero ser san­ta mediana, quero sê-lo deveras ; não me amedronta ter que soffrer por vós, o que me mette medo é ter de governar a minha vontade : tomae posse della, pois eu escolho tudo o que vós quereis.

(Histeria de uma alma, c. I)

20 - Havia me habituado a nunca me queixar quando me tiravam o que era meu, preferindo, outrosim, calar-me em vez de me desculpar, si me aconte­cia ser accusada injustamente ; e o fazia

Na escola de Sanl11 Teresinha ---- 139

naturalmente, sem que houvesse nisto merecimento algum da minha parte.

21 - Persuadi-me de que a alegria sem nuvens de tristeza só no céu se pode gozar.

(Historia de uma alma, c. I)

22 - Não é insensível o meu coração e sendo como é, capaz de soffrer mui­to, quero por isto mesmo offerecê-lo a Jesus para todos os generos de sof­Irimentos que elle possa supportar.

(Historia de uma alma, c. IX)

23 - Quem só espera soffrimento, chega até a estranhar o mais pequenino gozo.

24 - O soffrimento se converte na mais intensa alegria para quem pro­cura como se procura um precioso the­souro. (Historia de uma alma, c. IX)

25 - A verdadeira caridade con­siste em supportar todos os defeitos do proximo, em não estranhar as suas fraquezas, em tirar das suas virtudes, por pequeninas que sejam, assumpto de edificação.

(Historia de uma alma, c. IX)

140 ----- A \'ia da. in!a.ncia espiritual

26 - Bem o sabeis, meu Deus, outra coisa nunca desejei que não seja uni­camente amar-vos, nem outra gloria ambiciono.

(Historia de uma alma, c. X)

27 - Não conheço sinão um meio pa­ra se chegar á perfeição : - o amor. Amemos, pois nosso coração não foi feito sinão para isto.

( Cartas á prima Maria Guerin)

28 - Não há sinão uma coisa a fa­zer neste mundo: amar a Jesus e sal­var-lhe almas, para que Elle seja ama­do. (6' carta a Celina)

29 - Ah ! que enchente de paz inun­da a alma que se alevanta acima dos sentidos rasteiros da natureza.

(Historia de uma alma, c. IX)

MARÇO

1 - O verdadeiro amor se nutre de sacrüicios e quanto mais se priva a alma das satisfações naturaes, mais a sua ternura torna-se forte e desinteres­sada. (Conselhos e Lembranças)

Na escola de Santa Tereslnha ---- 141

2 - Sejamos ciosas das menores oc­casiões de nos sacrificar e nada recu­semos a Jesus. Elle tem tanta necessi­dade de amor! (6• carta a Celina)

3 - o· meu Jesus, parece-me im­possível que uma alma chegue a ca­ber mais amor do que vós puzestes na minha ; eis por que me animo a supplicar-vos que ameis todos aquelles que me destes �orno me tendes amado a mim. (Historia dê uma alma, c. X)

4 - Não vá lá imaginar que eu estou nadando em consolação; oh ! isso não ; a minha consolação consiste em não ter nenhuma neste mundo.

(Historia de uma alma, c. IX)

5 - Jesus se compraz em indigitar­me a unica senda que leva a essa for­nalha divina ; esta senda é o abandono, a despreoccupação da criancinha que sem temor adormece entre os braços de seu pae.

(Historia de uma alma, c. IX)

6 - Havemos de auxiliar os Missio­naxios por meio da oração e sacrifícios.

(Historia de uma alma, c. X)

142 ----- A \'ÍU da infancio. espil·itual

7 - Si eu fosse rica não poderia ver um pobre com fome sem que lhe désse de comer. Assim faço na minha vida espiritual. A' medida que ganho alguma coisa, sabendo que as almas es­tão prestes a cair no inferno, dou-lhes os meus thesouros, e assim não encon­tro um momento que possa dizer : ago­ra vou trabalhar para mim.

(Conselhos e Lembranças)

8 - Nesta terra é preciso não se apegar a nada, ainda ás coisas inno­centes, porque quando menos pensamos ellas nos faltam. Só o que é eterno nos pode contentar.

( 1" carta a Soro r Maria do Sagrado Coração).

9 - Si soubesseis até que ponto de­sejo ser indifferente ás coisas da ter­ra! Que me importam todas as belle­zas criadas ? Seria bem desgraçada si as possuísse!

( 2' carta á M. Ignez de Jesus)

10 - Escrever livros de piedade, compor as mais sublimes poesias ; tudo isto não vale o mais pequenino acto de renuncia. (Conselhos e Lembranças)

Na escola de So.nta Tereslnha ---- 143

11 - Não sou capaz de procurar nos livros de piedade bellas orações. Como não sei qual escolher; faço como as crianças que não sabem ler : digo sim­plesmente a Deus tudo que lhe queria dizer, e Elle me comprehende sempre.

(Historia de uma alma, c. X) 12 - Muitas vezes durante minhas

acções de graças eu repetia esta passa­gem da Imitação : uo• Jesus, doçura ineffa\'el, mudae-me- em amargura to­das as consolações da terra". Estas pa­lavras sahiam sem esforço de meus la­bias, e eu as pronunciava como uma criança que repete sem comprehender o que uma pessoa amiga lhe inspira.

(Historia. de uma alma, c. IV) 13 - A gota de fel deve estar mistu­

rada em todos os calices, pois eu acho que provações ajudam muito a se des­apegar da terra ; fazem olhar mais o céu que este mundo.

(1" carta á M. lgnez de Jesus) 14 - Sim, desejo estas feridas do

coração, estes golpes de espinhos que fazem soffrer tanto . A todos os ex­tases prefiro o sacrificio.

(3' carta á M. lgnez de Jesus)

114 ----- A via da. infancla espiritual

15 - Não temos sinão o unico dia desta vida para salvar as almas e dar assim ao Senhor provas de nosso amor.

( 2" carta aos Missionarios)

16 - Desde que comprehendi o amor do Coração de Jesus, confesso que ex­pulsei do meu coração todo temor. A lembrança de minhas faltas me humi­lha, leva-me a não me apoiar em mi­nha força, que não é sinão fraqueza ; mas esta lembrança me fala mais ainda da misericordia e do amor.

( 5� carta aos Missionarios) 17 - Eis o caracter de Nosso Se­

nhor ; Elle dá como Deus, mas quer a humildade de coração.

(17" carta a Celina) 18 - A unica coisa que eu desejo é

a vontade de Deus. ( 411 carta aos Missionarios)

19 - Desde a mais tenra infancia que na minh'alma se confundem a de­voção a Maria e a S. José.

20 - Eu só tenho necessidade de re-signação para viver . para morrer é só alegria que sinto.

(Historia de uma alma, c. VIII)

Na escola de Sanla Teresinha ---- 145

21 - Está escripto no catecismo que a morte é a separação do a.lma c do corpo e é certo ! Pois bem, eu não tenho medo de uma separação que me unirá para sempre ao bom Deus.

(Conselhos e Lembranças)

22 - A vida não é triste ! Ao contra­rio, ella é muito alegre. Si dizeis : "a vida na terra é o exilio e triste", eu vos comprehendo. Este nome de vida só devemos dar ás

·coisas do céu, que nunca

se hão de acabar. (Conselhos e Lembranças)

23 - O rosto é o reflexo da alma; deveis ter um rosto calmo e sereno. co­mo uma criancinha que está sempre contente. Quando estiveres só, procede da mesma maneira, porque sois sempre espectaculo dos anjos.

(Conselhos e Lembranças)

24 - Jesus gosta dos corações ale­gres, e ama uma alma sempre sorri­dente. (Conselhos e Lembranças)

25 - O unico crime imputado a Nosso Senhor por Herodes foi o de ser louco . . e, francamente, elle o era na verdade! Sim, era a loucura de vir pro-

146 ----- A via da infancla espiritual

curar os pobres corações dos mortaes para delles fazer seus thronos, Elle, o Rei da gloria, que estava assentado aci­ma dos cherubins.

(20" carta a Celina) 26 - Deus nos disse que no ultimo

dia elle enxugará todas as Iagrimas de nossos olhos; e, não há duvida, quanto mais lagrimas houver para enxugar, maior será a consolação.

(3' carta a Sr. Maria do Sagrado Coração) .

2 7 - Tudo é puro para. os puros. A alma simples e recta não vê mal em nada, pois o mal só existe nos corações impuros, e não nos objectos insensiveis.

(Historia de uma alma, c. VI)

28 - Uma alma no estado de graça não deve ter medo dos demonios, que são patifes e capazes de fugir diante do olhar de uma criança.

(Histeria de uma alma, c. 1) 29 - Só no -céu veremos a verdade

absoluta de todas as coisas. Na terra, mesmo na Sagrada Escriptura, há o lado obscuro e tenebroso.

(Conselhos e Lembranças)

Na escola Ue Santa Tereslnha ---- 147

30 - Guardar a palavra de Jesus, eis a unica condição da nossa felicida­de, a prova de nosso amor para com Elle ; e esta. palavra parece-me que é Elle mesmo, pois se chama o Verbo ou Palavra Incriada do Pae.

(18" carta a Celina)

31 - Jesus não veiu procurar nem o espirito nem os talentos neste mun­do . Elle se fez a_ Flor dos Campos, afim de nos mostrar como lhe é que­rida a simplicidade. (14" carta a Celina)

ABRIL

1 - As inspirações mais sublimes, nada são sem as obras.

(Historia de uma alma, c. X)

2 - Quando sentimos nossa im.po­tencia para fazer o bem, nosso unico recurso é offerecer as obras dos outros. Eis o beneficio da communhão dos San­tos. ( Conselhos e lembranças)

3 - Sim, tudo está bem, quando não se procura sinão a vontade de Deus. (Historia de uma alma, IX)

148 ----- A via da lnfa.ncia espiritual

4 - E' preciso trabalhar, agir sem­pre com coragem ; pois o coração se fortifica e se vae de victoria em vi­ctoria. (Conselhos e lembranças)

5 - Quando pela manhã não sen­tirmos coragem alguma e força para praticar a virtude, eis o momento de pôr o machado á raiz da arvore, não contando sinão com Jesus só.

( 2' carta a Celina) 6 - Como pode unir-se intimamente

a Deus um coração entretido em amo­res humanos ? E' impossível, disto es­tou persuadida. Tenho encontrado tan­tas almas fascinadaS com esta luz en­ganadora, precipitar-se sobre ella como outras tantas maripôsas estonteadas, queimar abi as asas e tornar assim para Jesus, fogo divino que sabe queimar sem consumir.

(Historia de wna alma, c. IV) 7 - Dando-se a Deus, o coração nada

perde de sua ternura natural ; ao con­trario, esta ternura cresce e se torna mais pura e divina.

(Historia de uma alma, c. IX) 8 - E' bem consolador pensar-se

que Jesus, o Divino Forte, conheceu

Na escola de Santo. Tereslnha ---- 149

tambem todas as nossas fraquezas, e tremeu á vista do calice amargo, este calice outr'ora tão desejado ardente­mente. (1" carta aos Missionarios)

9 - O que mais faz soffrer a Jesus, parece-me ainda que é o esquecimen­to. ( s· carta a Celina)

10 - A's vezes quando a aridez de meu espirito é tão grande, que nem um bom pensarpento lhe ·posso expri­mir, recito pausadamente um Padre Nosso ou uma Ave-Maria ; estas ora­ções têm a virtude de me enlevar, ali­mentam divinamente a minh'alma e são quanto lhe basta.

(Historia de uma alma, c. X)

11 - Felizmente que o reino dos céus é composto de muitas moradas! Por­que si não houvesse sinão essas cuja descripção e o caminho me parecem in­comprehensiveis, eu lá não poderia entrar. (6� carta aos Missionarios)

12 - Tudo que puderem dizer agora de mim deixa-me indifferente, porque eu comprehendi a pouca solidez dos juizos humanos.

(Conselhos e Lembranças)

150 ----- A \"ia da lnfancia espiritual

13 Quanto mais avançardes, me-nos combates tereis, ou melhor, ven­cereis com mais facilidade, porque ve­reis o lado bom das coisas.

(Conselhos e Lembranças)

14 - Oh ! eu sinto, a minha alma nunca procurou sinão a verdade. . sim, eu comprehcndi a humildade de cora­ção. (Histeria de uma alma, c. Xll)

15 - O bom Deus me fez cornpre­hender que as macerações dos santos não foram feitas para mim, e nem para as almazinhas que andarão pela mesma via da Infancia.

(Histeria de uma alma, c. XII)

16 - Não há nenhum apoio a se procurar fora de Jesus. Só Elle é im­mutavel. Que felicidade pensar-se que Elle não pode mudar !

( 5' carta á M. Ignez de Jesus)

17 - Eu vos peço, ó Jesus, que o oleo dos louvores, tão doce á natureza, não a.molleça jamais minha cabeça, isto é, meu espirito, fazendo-me crer que eu possuo virtudes que apenas prati­quei uma ou outra vez.

(Conselhos e Lembranças)

Na. escola de Santa Teresinha ---- 151

18 - Eu o confesso, as luzes sobre o meu nada me fazem mais bem que as luzes sobre a fé.

(Histeria de uma alma, c. IX) 19 - Sim, eu quero que Jesus se

apodere de tal modo de minhas facul­dades, de maneira, que eu já não faça mais acções humanas e pessoaes, mas tão sómente acções divinas, inspiradas e dirigidas pelo Espirito de Amor.

(Conselhos e Lembranças) 20 - Comrnetteis um grande erro

em pensar no que vos poderá succe­der no futuro de doloroso, isto é como que se pôr a criar ! Nós, que corremos na via do amor, não nos devemos per­turbar por nada.

(Historia de uma alma, c. XII) 20 - Si eu não soffresse minuto por

minuto, ser-me-ia impossível guardar a paciencia; mas eu só vejo o momento presente, esqueço o passado e evito olhar para o futuro.

(Historia de uma alma, c. XII) 22 - Si muitos perdem a coragem e

se desesperam, é porque pensam muito no passado e no futuro.

(Historia de uma alma, c. XIT)

152 ----- A via da infancla espiritual

23 - Para subir a escada da per· feição, não imagineis que possaes su· bir mesmo o primeiro degrau ! não ; mas Deus não pede de vós sinão a boa vontade. Do alto desta escada elle vos olha com amor e fogo; vencido por vos­sos esforços inuteis, elle descerá e, to­mando-vos nos braços, vos levará para sempre no seu Reino, onde não O dei­xareis jamais.

(Conselhos e lembranças) 24 - Na minha pequena via não há

sinão coisas muito ordinarias ; é preciso que tudo que eu faça, as almazinhas possam imitar.

(Historia de uma alma, c. XII)

25 - O que me arrebata para a pa­tria celeste é o chamado de Nosso Se­nhor, é a esperança de amá-lo emfim como Elle desejou tanto, e o pensa­mento de que eu poderei fazê-lo ama­do por uma multidão de almas que o terão de bemdizer eternamente.

(8G carta aos Missionarios) 26 - Confesso, que si no céu não

pudesse mais trabalhar para gloria do bom Deus, preferia antes o exilio que a patria. ( 4' carta aos Missionarios)

Na. escola. de Santa. Tereslnha ---- 163

27 - Não há nada mais doce do que pensar bem em nosso proximo.

(Conselhos e lembranças)

28 - Eu sinto que quando sou ca� ridos a é Jesus só que age em mim ; quanto mais eu me uno a Elle, mais tambem eu amo as minhas irmãs.

(Historia de uma alma, c. IX)

29 - O bom Deus fará todas as mi­nhas vontades ·no céu, porque nunca fiz a minha sobre a terra.

(Conselhos e lembranças)

30 - Provo urna grande alegria, não sómente quando me acham imperfeita, mas principalmente quando eu sinto que o sou. Os elogios, ao contrario, só me causam desgosto.

(Conselhos e lembranças)

�lAIO

1 - Hoje tive meu coração todo re­pleto de uma alegria celeste . hon­tern á noite eu rezei tanto á Santíssima Virgem pensando que o seu bello rnez ia começar! (Novissima verba, 1" de Maio de 1897)

154 ----- A via da infancia espiritual

2 - Oh! como eu amo a Santissirna Virgem ! Si eu fosse padre, falaria mui­to sobre Ella!

(Historia de uma alma, c. XII)

3 - Nesta terra, onde tudo muda, uma só coisa fica estavel : o procedi­mento do Rei dos céus para com seus amigos. Desde que Elle levantou o es­tandarte da cruz, é á sua sombra que todos devem combater e alcançar a vi­ctoria. (6R carta aos Missionarios)

4 - A Virgem Maria ! parece-me que sua vida era tão simples.

(Historia de uma alma, c. XII)

5 - Neste triste exilio, á minha Mãe querida, eu quero viver contigo e te seguir cada dia. (Poesias)

6 - Muitas vezes eu me surprehen­do a dizer á ssma. Virgem : "Sabeis, ó minha Mãe querida, que eu me julgo mais feliz do que vós ? Eu vos tenho por Mãe, e vós não tendes, como eu, uma Santa Virgem para amar! .

(13" carta a Celina)

Na secola de Sanla Teresinha ---- 155

7 - Dos pequenos o bando é bem considera vel.

Elles podem sem medo a ti er­guer o olhar

Para guiá-los aos céus, ó Mãe incomparavel,

Pela estrada commum quizes­te caminhar.

(Poesias --=- Porque te amo, ó Maria)

8 -- A h ! qqe doce foi o primeiro osculo de Jesus á minha alma! Sim, foi um osculo de amor ! Sentia-me es­tremecida e repetia : "Amo-vos e a vós me entrego para todo o sempre, ó meu Jesus !" (Historia de uma alma, c. IV)

9 - Não me dirigi directamente a Deus, porque quero deixá-lo agir com toda liberdade; pedi essa graça á San­tissima Virgem, o que está longe de ser a mesma coisa. Ella cuida dos meus pequeninos desejos, apresenta-os ou não a Deus; a Ella cabe pensar co­mo há de fazer para não forçá-lo a me ouvi.r.

10 - Quando nos dirigimos aos San­tos, fazem-nos algo esperar, sente-se que vão primeiro apresentar o nosso

156 ----- A via da infancla. espiritual

pedido ; mas quando pedimos alguma graça á Santissima Virgem, é um soe­corro immediato o que se recebe. Ainda não o observastes ? Fazei a experien­cia e vereis !

11 - Neste exilio tão triste, ó minha Mãe querida, comtigo hei de viver, se­guir-te com fervor. ( Poesias)

12 - Praticando as pequenas virtu­des, a Santa Virgem tornou visivel o caminho do céu. (Poesias)

13 - A Santissima Virgem adian-tou-se para mim! Sorriu-me. que ventura a minha!

(Histeria de uma alma, c. IV)

14 - Minha Mãe, olhando esta tar­de a Santissima Virgem, eu comprehen­di que ella soffreu não sómente na alma, mas tambem no corpo. Soffreu nas viagens, o frio, o calor, a fadiga ... Jejuou muitas vezes . Sim, ella sabe o que é soffrer !

(Novissima verba, p. 147)

Na escola de Santa Teresinha ---- 157

15 - Virgem, ao contemplar-te, en­levo-me embebida,

Vendo em teu coração, 1\'lãe, pe­lagos de amor . . .

(Poesias - Porque te amo)

16 - Outr'ora, na vossa humildade, desejastes, ó Maria, ser a escravazinha da Mãe de Deus ; e eu, pobre criatu­rinha, eu não sou vossa serva, mas vossa filha.! Sois a Mãe de Jesus e sois minha Mãe.

(13' carta a Celina)

17 - Como de teu silencio, ó Mãe, amo a eloquencia!

Parece-me um concerto, um can­tico sem par

Que me diz a grandeza - e, mais - a omnipotencia

Da alma que só do céu sabe o auxilio esperar.

( Poesias - Porque te amo, ó Maria! )

18 - Que graça de escol - ser vir­gem, ser esposa de Jesus ! Certamen­te há nisso algo de mui sublime, pois a mais pura, a mais intelligente de to-

158 ----- A via. da. lnlancla espiritual

das as criaturas preferiu permanecer virgem a tornar-se Mãe de Deus. (Espirito de Santa Teresa do M. Jesus)

19 - Quando não sou comprehen­dida de minhas noviças, lanço meu olhar interior á Virgem Maria, e Je­sus triumpha sempre.

(Historia de uma alma, c. X) 20 - Depois de termos invocado a

Nossa Senhora, si não somos atten­didos, é signal certo que Ella tem al­guma razão muito seria para não nos ouvir : e, portanto, não convém insistir.

(Espirito de Sta. Teresa do M. J.) 21 - Como eu quizera tanto ser pa­

dre para prégar sobre a Virgem Ma­ria ! Parece-me que não me bastaria uma só vez para fazer comprehender o meu pensamento neste assumpto.

(Novissima verba, pg. 154)

22 - Para que um sermão sobre a Santa Virgem produza fructos, é mister que elle mostre a sua \'ida real, tal como o Evangelho a faz entender, e não a sua vida supposta. Percebe-se muito bem que a vida de Maria, em Nazareth, devia ser toda ordinaria.

Na escola de Sanla Tereslnha ---- 159

uEile lhes estava sujeito" (Lucas, 11. 35).

Como isto é simples! (Novissima verba, pg. 155)

23 - Sabe-se que a Santissima Vir· gem é Rainha do céu e da terra, mas ella é mais Mãe do que rainha, e não devemos crer (como eu tenho ouvido muitas vezes) que por causa de suas prerogativas ella eclipsa a gloria de todos os Santos, como o sol, ao levan­tar-se, faz desapparecer as cstrellas. Meu Deus, como isto é exquisito ! Uma Mãe que faz desapparecer a gloria de seus filhos ! ::E:u penso o contrario, e creio que ella a-y.gmentará muito o es­plendor dos eleitos.

(Novissima verba, pg. 157)

24 - E' verdade, ó Maria, que vós sois a Mãe de Jesus, mas vós o tendes dado a mim, e Elle, sobre a cruz, nos deu a vós como nossa Mãe, e assim so­mos mais ricos do que vós.

(13" carta a Celina)

25 - Oh ! como eu amo a Santissima Virgem! (Novissima verba, pg. 158)

lGO ----- A via da lnfancla espiritual

26 - Quando se pediu alguma coisa á Santa Virgem, e que ella não nos ouviu, é mister deixá-la fazer, sem in­sistir e não se inquietar mais.

(Novissima verba, pag. 158)

27 - Pois á angustia interior e á noi­te mais escura

Sujeitar a sua Mãe celeste quiz, Não é porque soffrer na terra

é uma ventura ? Oh ! sim ! . Soffrer é a sorte

mais feliz! (Poesias - Porque te amo, ó Maria ! )

28 - Teu olhar maternal expulsa meus temores :

Ensina-me a soffrer, ensina-me a gozar.

(Poesias) 29 - Mostram-nos quasi sempre a

Santissima Virgem inaccessivel, e seria mister mostrá-la imitavel, praticando as virtudes occultas, dizer que ella vi­via de fé, como nós.

(Novissima verba, pag. 155)

30 - Chegados que fomos a Paris, o papá tratou de nos mostrar todas as maravilhas daquella capital ; eu cá en·

Na. escola de Santn Tereslnha ----- 161

contrei uma só : Nossa. SenhoJ"a das Vi­ctorias. Exprimir o que em mim se pas­sou no seu Santuario é coisa impossível. As graças que me concedeu faziam lem­brar as da Primeira Communhão: trans­bordava-me o coração de paz e felici­dade. Foi ali que a Virgem Maria, minha Mãe, me disse claramente como ella mesma fôra quem me havia sorrido e amado . . .

(Historiá de "uma alma, c. VI) 31 - O' meu Deus! . . . Eu o amo . .

O' minha boa Santíssima Virgem, vinde em meu soccorro !

( Palavras da agonia de Sta. Teresi­nha, pronw1cia<las no dia 30 de Se­tembro de 1897, muitas vezes) .

JUNHO

1 -- O' Jesus, meu amor, minha vo­cação, finalmente o encontrei ! Sim, en­contrei meu lugar no seio da Igreja : e este lugar, ó meu Deus, vós é que m'o destes: no coração da Igreja, minha Mãe. Eu serei amor!

(Historia de uma alma, c. XI)

162 ----- A via. da inCanC'ia espiritual

2 -- A sciencia do amor ! Não quero sinão esta sciencia. . pois não tenho outro desejo mais do que o de amar a Jesus até á loucura!

(Histeria de uma alma, c. VIII)

3 - O amor pode supprir uma longa vida. Jesus não olha o tempo, pois Elle é eterno. Só olha o · amor.

(5" carta á M. Ignez de Jesus)

4 Vosso amor, ó meu Deus, me preveniu desde a infancia, cresceu com­migo, e é um abysmo cuja profundeza não posso sondar.

(Histeria de uma alma, c. XI)

5 -- Amemos muito a Jesus, a ponto de soffrer tudo que EHe quizer, mesmo a aridez e a frieza apparentes. E' um amor sublime o amar a Jesus sem go­zar as doçuras desse amor ; é um mar-tyrio ! . Pois bem, morranws marty-

res. . . ( Carta a Celina, 1889)

6 - Muitos servem a Jesus quando Elle os consola, mas poucos lhe fazem companhia quando dorme sobre as on­das encapelladas, ou quando agoniza no jardim de Gethscmani ! Quem, pois, que-

�a e�<:ola de Santa Tem�inhu ----- lG3

rerá servir a J csus, só por Elle ? -- Ah! serei eu ! .

(Carta a Celina, 7 Julho 1894) 7 - Si por acaso Deus não visse as

minhas acções virtuosas, não me affli­!{iria. Amo-o tanto, que quizcra dar·lhc prazer sem que Elle o soubesse que lh'o dn.va eu. Em o sabendo e reparando nisso, é como que obrigado a recom­pensar·mc, e não qui:&era dar-lhe esse trabalho. (Conselhos e Lembranças)

8 --- "O Senhor não precisa das no!i­sas obras, ma� unicamente do no:-;so amor. Este mosmo Deus que affirma não lhe ser preciso dizer·nos si tem fome (Ps. 49, 13), não se dedigna pedir agua á Samaritana. Tinha sêde! . Mas quando disse: ''Dae-m� de beber", era o amor da sua pobre criatura o que Elle desejava : tinha sêdc de amor !"

(Historia de uma alma) 9 - · Para amar a Jesus e ser victima

de amor, quanto mais fraca e miscra vel é uma alma, tanto mais está apta para as operações deste amor que consome c transforma.

(6" carta á Irmã Maria do Sagrado Coração) .

164 ----- A via da lnfancla esplrilual

10 "Minha alma permanece sem-pre como num subterraneo ; mas sinto­me feliz, sim, bem feliz de não experi­mentar consolação alguma; envergo­nhar-me-ia si o meu amor se asseme­lhasse ao das noivas da terra, que olham as mãos dos noivos para ver si lhes trazem algum presente, ou então fitam o seu rosto á busca de algum sorriso que nos encante. Teresa, a noi­vinha de Jesus, ama-o por ser elle quem é".

(Carta á M. Ignez de Jesus - 1890)

11 - E' preciso tudo guardar para Jesus com cuidado cioso . . . E' tão inef­favel trabalhar "sob o seu olhar só­mente! . . . " Ah ! como o coração se en­che de alegria ! Como se torna leve a alma . . .

(Carta á Madre Ignez de Jesus, 1891)

12 - Jesus ! Nada fóra delle ! O grão de areia é tão pequenino que, si quizesse abrir o coração a outras coisas alheias a Jesus, não haveria ahi lugar para esse Amado.

( Carta á M. Ignez de Jesus, 1892)

Nn escola de Santa. Tea·e�inlm ------ 165

13 - 11Só o amor é capaz de nos tornar agradaveis a Deus. Esse amor é o Wlico thesouro que ambiciono.

(Historia de uma alma, c. XI)

14 - 41Conservei-me sempre peque­nina, não tendo outra occupação sinão a de colher flores, flores de amor, e de offerecê-las ao bom Deus, para o seu prazer". (Novissima verba)

14 - "Não são as riquezas e a glo­ria, nem mesmo a gloria do céu, que reclama o meu coração : o que almejo é o amor !"

(Historia de uma alma, c. XI) 16 - Ah! si as almas fracas e in­

quietas, qual a minha, experimentassem o que eu experimento, nenhuma perde­ria a esperan�a de vencer o cimo da montanha do amor, porquanto Jesus não exige acções sublimes, mas apenas o abandono e o reconhecimento.

(Historia de uma alma, c. XI) 17 - ••A alma mais fervorosa é

aquclla que mais fiel se mostra em fazer todas as suas acções por amor".

18 - "Os grandes santos trabalha­vam para a gloria de Deus, eu, que

:i.66 ------ - A \'ia da infaneia espiritual

apooas sou uma alma toda pequenina, trabalho unicamente para o seu prazer. Quero ser nas mãos do bom Deus uma florzinha, uma rosa, inutil, sim, mas cuja vista e perfume sejam, entretan­to, para Elle uma especic de recr�aqão, um pequeno accrescimo de alegria''.

(Lembranças)

19 - "O mais leve movimento da al­ma animada de puro amor é mais pro­veitoso á Igreja do que todas as de­mais obras reunidas". ( Palavras de S. João da Cruz, repetidas sempre por Santa Teresinha).

20 - "Não quero enthesourar meri­tos para o céu. Desejo, ó meu Deus, trabalhar só por vosso amor", com o unico fim de dar-vos prazer, de conso­lar o "vosso Coração Sagrado e de sal­var almas, que vos amem eternamente". (Acto de offerecimento ao Amor Mise­ricordioso) .

21 - 11Nâo quero que Jesus se af­flija. Quizera enxugar-lhe as lagrimas que os peccadores lhe fazem derramar, convertendo a todos".

(Carta á Madre Ignez de Jesus, 1889)

Na escola de Sanla Tercsinha ---------- 167

22 - Não quizera apanhar um alfi­nete para evitar o purgatorio. Tudo quanto tenho feito foi para "dar pra­zer ao bom Deus c salvar-lhe almas".

( N ovissima verba)

23 - .. Não sou egoista, é a Deus que amo e não a mim mesma".

(Novissima verba)

24 - 41E' Jesus que quer o nosso amor, que o niendiga . . . Põe-se, por aSsim dizer, á nossa merCê, e nada to­mará sem lh'o offertarmos de boa von­tade ; e o mais pequt>no o bulo é pre­cioso aos seus divinos olhos".

(Carta a Celina -- 2 de Agosto, 1893)

25 - "Si te queres tornar santa, di­zia a uma de suas irmãs, ser-te-á isto bem facil; não tenhas sinão um alvo : dar prazer a Jesus".

(Conselhos e Lembranças)

26 - "Sem o amor, todas as obras são um puro nada, ainda as mais bri­lhantes; não, Jesus não pede acções sublimes, mas Wlicamente o abandono e o reconhecimento, isto é, o amor".

(Historia de uma alma, c. VIII)

168 ----- A Yla da lnfancia espiritual

27 - uoh! não percamos nosso tem­po. Salvemos almas. As almas ! . caem no inferno numerosas, como flocos de neve num dia invernoso ! e Jesus chora ; e nós nos deteríamos em nossa dor, sem pensar em consolá-lo! . . . "

(Carta a Celina, 14 de Julho, 1889)

28 - uoh! como Deus é pouco ama­do na terra! Não, Deus não é suffi­cientemente amado !"

(Novíssima verba)

29 - "As almas abrasadas não sof­frem ficar inactivas".

(Historia de uma alma, c. X)

30 - "Hoje, mais que nunca, Jesus tt:m sêde de a.mot· . e, mesmo entre os seus discipulos encontra, ai! bem pou­cos corações que se entreguem sem re­serva á ternura de seu infinito amor".

(Historia de uma alma, c. XII)

Na escola de S!lnta Teresinhn ---- 169

JUI.HO

1 - "Oh! deve se julgar toda mor­tificação louvavel e meritoria, quando se está persuadido que Deus é quem a pede. Si houver engano na acção, Elle se deixa enternecer pela inten­ção". (Conselhos e lembranças)

2 - "Quando oro por alguma in­tenção, não offereço os meus soffri­mentos, digo siníplesmente : 11Meu Deus, dae a esta alma tudo que desejo para mim".

3 - Por isso mesmo que sinto dôres muito fortes, procuro amar o soffri­mento e mostrar-lhe sempre bom rosto.

4 - "Quando me acontece cair nal­guma falta, levanto-me prontamente. Um olhar a Jesus, e o reconhecimento de nossa propria miseria tudo repara".

5 - Quanto mais a alma renunciar a satisfacções naturaes, tanto mais for­te e desinteressada se tornará a sua ter­nura. (Historia de uma alma, c. X)

6 - "Qual seria vosso merecimento, dizia a uma de suas noviças, si houves­seis de combater quando sentis cora-

170 ------ A ''ia da infunda �:<pirilual

gem ? Que importa que a não sintaes, comtanto que proceda.cs corajosamen­te?"

7 - Ora e pelos pobres doentes, pro­ximos á morte, si soubesseis quão pou­co basta para fazer perder a pacien­cia ! . (Novissima Verba)

8 - "Jamais pedi a Deus a graça de morrer jovem : ter-me-ia parecido cobardia".

9 -· "Quizera ser missionario, não só durante alguns annos, mas quizera tê-lo sido desde a criação do mundo, e as­sim continuar até á consummação dos seculos".

10 - Como é facil agradar a Jesus, arrebatar-lhe o coração ! Basta só amá­lo sem olhar para si mesma, sem exa­minar demasiadamente os proprios de­feitos.

11 -- Quantas vezes penso que todas as graças de que tenho sido cumu­lada devo, talvez, ás instancias de al­guma pequenina alma que sómente no céu irei conhecer.

12 -- Desde que a alma deixa de consultar a bussola infallivel da obe-

;{a escola de Sanla 'l'eresinha --- ----- ·· -� 171

diencia, logo se perde em caminhos ari­dos, onde a agua da graça em pouco tempo lhe vem a faltar.

13 - HEmbora sem desprezar os bellos p:::nsamcntos que nos unem a Deus, comprchendo, entretanto, há mui­to, que precisamos estar alerta, afim de nos não apoiarmos demasiadamente nelles. As ma.is sublimes inspirações na­da são sem as o�ras".

14 - liDemos tudo a Jesus com generosidade, sejamos prodigos para com elle".

15 - "Quero adquirir meritos, mas não para meu proveito : para as almas, para as necessidades da Igreja, em uma palavra, para atirar ro!ias ao mundo t.odo, aos justos e peccadores".

16 - "Sinto-me livre, sem temores, e, si aprouver ao bom Deus, de bom grado consinto que minha vida de sof­frimentos de corpo e de espirito se pro­longue por muitos annos. Oh ! não temo a vida longa, não recuso o combate".

17 - "Quanto agradeço ao Senhor por não me ter feito encontrar sinão amarguras nas amizades da terra ! Com

172 ----- A \·Ja da infancla espiritual

um coração como o meu, ter-me-ia dei­xado prender e cortar as asas ; e, de­pois, como poderia voar e repousar?"

18 - "Devemos fazer tudo da nossa parte, dar sem medida, provar o nosso amor por todas as boas obras que esti­verem ao nosso alcance. lias como, na realidade, tudo isso é bem pouca coisa. urge que ponhamos toda a nossa con­fiança naquelle que, só, pode santificar as acções, e que nos confessemos servos inuteis, esperando, porém, ao mesmo tempo, que Deus nos há de dar, pela sua graça, tudo o que desejamos".

19 - Supplico-vos, ó Jesus, tirae-me a liberdade de vos desagradar.

(Acto de offerecimento ao Amor Mi­sericordioso).

20 - Sim, num acto de amor, mesmo não sensivel, tudo é reparado, até so­brepujado. Jesus sorri e nos auxilia sem parecer.

(Carta a Celina, 20 Outubro 1888)

21 - Quando voltamos para Jesus, Elle nos ama ainda mais do que antes da nossa falta.

(Conselhos e lembranças)

Na escola de Santa Tereslnha ---- 173

22 - Nunca desejei morrer num dia de festa, a minha morte será por si mesma wna festa bastante bella!

(Novissima Verba)

23 - A mim, Deus deu a sua miseri­cordia infinita . . Tenho apenas uma aspiração : amá-la até morrer de amor.

(Historia de uma alma, c. VIII)

24 - A morte de amor que aspiro é a morte de Jesus na -cruz.

25 - O amor attrae o amor, o meu arroja-se para vós, querendo encher o abysmo que o attrae.

(Historia de uma alma, c. XI)

26 - Entendi. que o amor encerra to­das as vocações, que o amor é tudo, que abrange todos os tempos e lugares, porque é eterno.

(Historia de uma alma, c. XI)

27 - Não sou como outr'ora, na mi­nha infancia, accessivel a qualquer dôr, estou como resuscitada toda., não estou mais no lugar em que julgam. Cheguei ao ponto de não poder soffrer, porque todo soffrimento me é suave.

(Novissima verba)

'iN --------- A \'ia da infunda espiritual

28 - --· Desde que me colloquei nos braços de Jesus, sou semelhante ao vi­gia que do mais nlto tor.rC'ão do cas­tello forte observa o inimigo. Nada me escapa : ás vezes, fico espantada de ver as coisas tão claramente.

(Historia de uma alma, c. X)

29 - Si todos soubcsesm o que lu­cra quem se nega em todas as coisas! ...

(Conselhos e lembranças)

30 -- Só a caridade pode dilatar o meu coração. Oh ! sim, a recompensa é grande já desde este mundo. Neste caminho só o primeiro passo custa.

(Historia de uma alma, c. IX)

31 - Assemelho-me a uma criancinha bem pequenina; nada soffro, penso sim­plesmente de instante a instante, sem mesmo preoccupar-mc do que se vae seguir. (Novissima verba)

AGOSTO

- Na visita de Nosso Senhor não busco a minha propria s:a.tisfação, sinão unicamente o dar gosto a Jesus.

::-.Ja escola de Santa Tercslnha ---- 175

2 - Lem brae-vos desta palavra tão verdadeira da Imitação : Assim que uma pessoa busca o proprio interesse, logo desmerece no amor.

3 - O' meu Jesus, bem sabeis que não é pela recompensa que vos sirvo, mas unicamente porque vos amo e para salvar as almas.

4 --- Viver de amor � dar sem medida, Sem na terra _o salario reclamar ; Ah ! sem conta vou dando, con­

vencida Que, quem ama, não sabe calcu­

lar.

5 -- Si vós ignorasscis o meu soffri­mento, ó Jesus; continuaria a sentir­me feliz de soffrer, na esperança de poder impedir, com minhas lagrimas, ou reparar, talvez, uma só falta contra a fé.

G -·· Estas palavras de !saias : Elle está sem belleza, sem bri1ho; o seu rosto estava como escondido: nós o vimos e não o reconhecemos" - formaram toda a base da minha devoção á Santa Face, ou, para melhor cUzer, de toda a minha piedade; tambcm cu anhclava ser como

176 ----- A \•ia da infancia espiritual

Jesus, sem brilho, sem belleza, desco­nhecida das criaturas.

7 - Descobri que todas as almas têm mais ou menos os mesmos comba­tes ; de outro lado vi que há entre el­las grandíssima differença, de sorte que não é possível dirigi-las da mesma ma­neira.

8 - Sinto-me feliz em morrer aos 24 annos, porque, a_'ltes desta idade, ge­ralmente, ninguem é ordenado sacerdo­te, de modo que Deus, chamando-me a si, poupa-me o pesar de ter passado pela terra sem o ter sido e sem a espe­rança de o ser algum dia. (Lembranças)

9 - Para que uma reprehensão pro­duza fructo, é necessario que seja penoso fazê-la, e que no coração não se tenha nem sombra de qualquer paixão.

10 - Na hora da minha morte, quan­do vir Deus tão misericordioso e pensar que Elle há de me cumular de suas ter­nuras por toda a eternidade, e que eu, da minha parte, nunca mais lhe poderei provar a minha por meio de sacrifícios, ser-me-á impossível supportar tal idéa, si não tiver feito na terra "tudo" o que tiver podido para 41dar-lhe prazer".

Nn. escola de Santa. Teresinhn. ---- 177

11 - Senti grandes desejos de não amar sinão a Deus e de não achar si­não nelle só a minha alegria.

12 - Cada vez que encontrava uma irmã que me era pouco sympathica, pedia a Deus por ella, offerecendo-lhe todas as suas virtudes e merecimentos. Sentia bem que isso alegrava a meu Jesus. pois não há artista que não goste de receber louvores pelas suas obras, e o Divino Artista

' das almas regozija­

se quando não nos detemos no exterior, mas. penetrando até ao santuario in­timo que elle escolheu para morada, admiramos-lhe a bclleza.

13 - O bom Deus, que tanto nos ama, já soffre bastante, vendo-se obrigado a deixar-nos no exilio, cumprindo o nosso tempo de provação. Não estejamos, pois, a repetir-lhe continuamente que nos sentimos mal ; 01nem siquer deve­mos dar mostras de percebê-lo !"

(Lembranças)

14 - Si soubesseis como Deus será bondoso para commigo no seu julga­mento !

178 ----- A via dn infunda espiritu�l

�Ias ainda mesmo que se mostrass(' um pouquinho severo, eu, que o conh�­ço a fundo, achá-lo-h ainda benigno.

(Novíssima verba)

15 - Para que, meu Jesus, vos ser­virão as minhas flores e os meus can­ticos ? Abi, bem sei, essa cl:uva per­fumada, c;sss.s petala9 lrageis e de nenhum valor, esses ca.nticos de amor de um coração tão pequenino vos en­contrarão assim mesmo.

(Hiscorh de uma alma)

16 - Sim, cantarei, cantarei sempre, mesmo que me seja preciso colher as minhas rosns no meio dos espinhos, e o meu cantar será tanto mais melodioso quanto mais longos e ptmgentes forem os espinhos.

(Historia de wna alma) 17 -- Oh! sim, a nossa vida é um

campo de batalha. Gememos nas mar­g-ens dos rios da Babylonia, como po­deriamos cantar o cantico do Senhor, nwna ter:::·a estrangeira ?

Entretanto, cumpre-nos cantar, para que a nossa vida seja uma eterna me­lodia.

Na escola de Santa Teresinha ---- 179

18 - Jesus ensina-me a tirar proveito de tudo, do bem e do mal, que encontra em mim. Ensina-me a jogar no banco do amor.

19 - Há almas que a misericordia de Deus não se cansa de esperar, ás quaes vae proporcionando gradualmente as suas luzes.

20 -- "O' meu Deus, bem o sei, o amor só se paga com- amor; por isso procurei c achei o meio de alliviar o mc;J coração, pagando-vos amor com an1or".

21 -- Acceito tudo por amor do meu Deus, ainda os pensamentos mais ex­travagantes que me vêm ao espirito.

22 - "O Senhor há de operar, em meu favor, maravilhas que ultrapassa­rão infinitamente os seus immensos de­sejos", disse propheticamente Sta. Tere­sinha.

23 - Asseguro-vos que, si estiver nos designios de Deus enviar-me para o ptu·gatorio, ficaria muito contente. Sei muito bem o que eu hei de fazer: imita­rei os tres jovens hebreus na fornalha

180 ----- A \'ia da lnfuncia espiritual,

ardente, e passarei tambem eu no meio das chammas 41entoando o Cantico do amor".

24 - "O' meu céu é ficar sempre em sua presença,

E' ser sua filhinha e chamá-lo o meu pae :

Em seus braços não temo o tem­poral desfeito.

O total abandono, eis minha lei. Oh ! sim!

Chegar-me á sua Face e dormir no seu peito,

Eis o céu para mim".

(Poesias - O meu céu)

25 -- Antes de attender a todos que me invocarem, procurarei primeiramente fitar os olhos de Deus para ver si não peço alguma coisa contra a sua von­tade.

26 - Quizera ver-vos sempre como um valoroso soldado que jamais se quei­xa dos seus trabalhos, que acha sempre mui graves as feridas de seus compa­nheiros e olha as suas proprias ape­nas como arranhões.

Na escolr:. de Sanlu Tereslnha ---- 181

27 - "O' meu Jesus ! pelejarei por vosso amor até ao occaso da minha vi­da. Pois, si não quizestes repouso nesta vida, quero seguir vosso exemplo. Ardo em desejos de combater por vossa glo­ria; supplico-vos, fortalecei minha cora­gem, armae-me para a luta".

28 - "Vossa filhinha não ouve ab­solutamente as harmonias celestes ; a sua viagem de nupcias é bem arida ! Jul­gaes, por acasó, que se afflige ?

Não, pelo contrario, sente-se feliz dr sr:guil· o s��u Noivo só por rlle l' não por causa dos seus dons. Elle só é tão bello ! Tão encanta dor! Mesmo quando se cala, mesmo quando se occul­ta!"

(Carta á Irmã Maria do Sagrado Co­ração - 4 de Setembro de 1890 ) .

2 9 - E m minhas relações com Je­sus, nada : seccura, somno ! Ah ! si o meu Amado tambem Elle quer dormir, não lh'o impedirei ; sinto-me immensa­mente feliz, vendo que não me trata como a uma estranha, que não faz ce­rimonias commigo, pois asseguro-vos

182 ----- A \'ia da infnnc!a espirllual

que elle nada faz para entreter a con­versação.

(Carta a M. Ignez de Jesus 1889)

30 - 11Quizera partir para Hanoi afim de soffrer muito por Deus; qui­zera partir para lá, afim de me encon­trar inteiramente só, sem ter nenhuma consolação, nenhuma alegria na terra.

(Novissima verba)

SETEMBRO

1 - 11Não me esforço para formar minha corôa, para adquirir meritos e virtudes, faço-o para dar prazer a Je­sus, salvando-lhe almas".

2 - Meu Deus ! Desejaria morrer no campo de batalha em defesa da Igreja.

3 - "Aqui sou estimada e esta affei­ção me é summamente grata e suave ; eis por que folgaria de viver num mos­teiro onde fosse desconhecida, onde ti­vesse de soffrer o ex.ilio do coração".

4 - Todos os instantes da nossa vida sejam só para Jesus, e que as criaturas nos toquem só de passagem.

Na escola de Santo. Tere�inha ---- 18S

5 - Si todos nesta vida Vierem a me deixar, Calada, a ti unida, Sim, tudo hei de passar . . .

6 - Recuperar a saude! . . . Si tal fos­se a vontade de Deus, sentir-me-ia fe­liz de proporcionar-lhe esse prazer.

1 - Faço todos os esforços para ser uma criandnha pequenina; assim não tenho preparativos a fazer. E' Jesus em pessoa que há de pagar as despesas da viagem e o preço da entrada no céu. (Carta a sua kmã Leonia, em 12

de Julho de 1896)

8 - A Natividade de Maria! Que festa tão li.."lda Para me desposar com Jesus ! Era. a Santíssima Virgem pe .. queniDa de um dia, a apresentar a sua flor pequenina ao pequenino Infante Je-sus. (Historia de uma alma)

9 - Para pertencer a Jesus é preci­so ser pequenina como a gotta de or­valho. Oh ! sejamos sempre a sua gottinha de orvalho, nisto consiste a perfeição.

(Carta a Celina, 25 de Abril de 1895)

181 ----- A via da infancia espü·itual

10 - Somos demasiadamente peque­nilta!;, para sempre passarmos por cima das difficuldades. Pois bem ! passemos muito simplesmente por baixo dellas. E' bom para as grandes almas pairar sobre as nuvens quando ruge a tem­pestade ; quanto a nós basta-nos sup­portar com paciencia os aguaceiros.

11 - Fazeis mal em criticar isto ou aquillo, quando desejaes que todos se conformem ao vosso modo de ver. Já que queremos ser criancinhas, as crian­ças que sabem o que é melhor, tudo acham bom. Além disso não há merito em só fazer o que é razoavel.

(Conselhos e lembranças) 12 - Deus alegra-se muito mais do

que elle opera numa alma humilde­mente resignada á sua pobreza, que da criação de milhões de sóes e da extensão dos céus. (Lembranças)

13 - Oh! não! a santidade não se acha nesta ou naquella pratica, con­siste numa disposição de alma que nos torna humildes e pequeninos nas mãos de Deus, conscios de nossa fraqueza c confiantes até á ousadia em sua bon­dade de Pae. (Lembranças ineditas)

Na. escola de Snnla Teresinha ---- 185

14 - Algumas vezes quando leio cer­tos tratados em que a perfeição é in­dicada através de mil empecilhos, o meu pobre e pequenino espírito fatiga-se bem depressa ; fecho o sabia livro que me faz quebrar a cabeça e me secca o co­ração, e tomo a sagrada Escriptura. Então tudo me parece luminoso, uma só palavra abre á minha alma horizon­tes infinitos, a l)�rfC"ição a.figura.-se-me facil, vejo que ·basta reconhecer o pro­prio nada, abandonar-se como criança nos braços do bom DPus.

(Historia de uma alma, c. X)

15 - Não é necessario para ser at­tendido recitar bellas formulas, acha­das em algum livro, adequadas as cir­cunstancias ; si assim fosse, pobre de mim ! Faço como as criancinhas que não sabem ler ; digo com simplicidade a Deus tudo o que lhe quero dizer, e elle sempre me comprehende.

(Historia de uma alma, c. X)

16 - Terei o direito, sem offender ao bom Deus, de fazer muitas tolice­zinhas até á morte, si for humilde, si permanecer pequenina. Vêde as crian-

186 ----- A via. da infnncia espiritual

cinhas, não cessam de qur·_ �·ar, de ras� gar, de cair, embora ar:·:r..aclo muito a seus paes e sendo dclbs amados.

(Novissima verba -- 7 de Agosto)

17 -- Minha paz é flcar pequena Por isso quando caio, então Ergo-me logo bem serena E o meu Jesus vem dar-me a

mão. ( Poesias - Minha paz c alegria)

18 - Disseram-me que no céu esta­rei entre os Seraphins ; si assim for não os imitarei, não me velarei com as mi­nhas asas ! Assim não poderia ver a Deus, teria a apparencia de temê-lo e como seria possível prodigalizar-lhe mi­nhas carícias e receber as suas ?

(Novissima verba, 24 de Setembro)

19 -- Sou apenas uma criancinha im­poteate c fraca, entretanto, é a minha fraqueza mesmo que me dá a audacia de offerecer-mc victima ao vosso amor, ó Jesus. (Histeria de uma alma, c. XI)

20 - Deus não inspira desejos ir­reaiizaveis ; posso, portanto, apesar da minha pequenez, aspirar á santidade.

(Historia de uma aima, c. IX)

Na e�cola <le Sanln Teresinha ----- 187

21 - E' sobretudo o Evangelho que me entretém durante as minhas ora­ções, é nelle que vou buscar tudo o que

neccssario á minha pobre alma.

( Historia de uma alma, c. VIII)

22 - Um olhar a Jesus e o reco­nhecimento de nossa propria miseria tudo repara.

( Carta a Celina, 6 de Julho de 1893)

23 -- Como é facil agradar a Jesus, arrebatar-lhe o coração! Basta só amá­lo, sem olhar para si mesma, sem exa­minar demasiadamente os proprios de­feitos.

(Carta a Celina, 6 de Julho de 1893)

24 - Minha vida espiritual de agora é simples�ente soffrer e nada mais. (Novissima verba, 4 de Agosto de 1897)

25 - Só a verdade me alimenta ; é

por isso que nunca desejei visões ; não podemos ver na terra o céu, nem os anjos tacs como são. Prefiro e�pcrar a visão eterna. (Novissima verba)

188 ----- A \'la d:J. infanclo. e�pirltual

26 - A minha pequenina vereda é de não desejar ver coisa alguma ; sa� beis muito bem que eu cantei :

Que não desejei aqui Na terra, \'e r a Ti, 0' Jesus, lembra� te! . . .

27 - Desde a minha Infancia esta palavra de Job me arrebata: Ainda que Deus me en\iasse a morte, esperaria nelle; confesso, porém, que estive mui­to tempo sem me estabelecer nesse grau de abandono. Agora, sim, o Senhor to­mou-me e collocou-me nelle . . ( Hist. de uma alma, c. XII. N o\·issima

verba.)

28 - Não posso estimar mais uma coisa do que outra ; o que o bom Deus mais preza e escolhe para mim, eis o que mais me agrada. (Novíssima verba)

29 - Si eu morresse sem ter rece­bido a Extrema-Uncção, seria o caso de pensar que o Pa.pae, o bom Deus, veiu buscar-me o mais simplesmente possivel. E' sem duvida uma grande graça ser confortada pelos Sacramen­tos, mas quando Deus dispõe de ou-

Na escola de Santa. Tereslnha ---- 189

tro modo, isso nada influe. . . Tudo é graça .

(Novissima verba - 5 de Junho)

30 - Oh! eu o amo ! . Meu Deus . . . Eu vos amo . . . (Ultimas palavras de Sta. Teresinba, no dia 30 de Setembro

de 1897)

OUTUBRO

1 -· Nunca dei a Deus sinão amor e com amor tambem me há de elle re­compensar. Depois da minha morte fa­rei cair uma chuva de rosas.

(Histeria de uma alma, c. XII)

2 - O bom Deus quer que eu me abandone como a criancinha que não sabe o que irão fazer della.

(Novissima verba, 15 de Julho)

3 - "No céu, chamar-me-eis Tere­sinha". "Eu \'oltarei á. terra para fa­zer amar o Amor".

(Histeria de uma alma. Cons. e lembr.)

4 -- 11Nunca me resolvi a pedir coi­sa alguma a Deus. Si eu tivesse dito

190 ------- A via da lnfancla e!lpiritual

no dia de minha primeira Communhão : Meu Deus ! concedei-rne a graça de mor­rer jovem, hoje teria pesar, porque não estaria certa de fazer unicamente a sua vontade".

(Novissima verba, 27 de Julho)

5 - Sinto-me toda abandonada nas mãos de Deus, para viver ou morrer, para sarar ou partir para a Cochin­china, si Deus assim o quizer.

(Novissima verba, 21 de Maio)

6 - Há muito já não me pertenço, entreguei-me totalmente a Jesus. pó­de de mim fazer o que lhe aprouver.

(Histeria de uma alma, c. IX)

7 - Soffrer em paz não é sempre soffrer entre delicias, pois quem diz paz não diz alegria ou pelo menos ale­gria sentida � . Para soffrer em paz basta soffrer tudo o que Nosso Senhor quizer.

(Carta a Celina, 12 de Março de 1889)

Na escola. de Santa Teresinhn ----· 191

8 -- Viver de amor quando Jesus dormita

E' o repouso entre os escar­céus . . .

Senhor, não temas que eu te accorde afflicta !

Espero em paz o alvorecer dos céus.

(Poesias -· Viver de amor)

9 - Embora outras almas, fazendo menos do que eu por Deus, adquirissem contudo maiores meritos, preferia ter menos merecimentos fazendo mais, si fosse esta a vontade de Deus.

(Lembranças)

10 - "Não ·quizera entrar no céu, um minuto mais cedo por minha pro­pria vontade. A felicidade unica nesta terra é esmerarmo-nos em achar sem­pre deliciosa a parte que Jesus nos dá. (Carta a Leonia, 17 de Julho de 1897)

11 - Peço a Jesus que me attraia ás chammas do seu amor, que me una tão intimamente a si, que seja Elle o unico a viver e agir em mim.

(Historia de uma alma, c. X)

192 ----- A via. da Jnfa·ncitL espiritual

12 - E' verdade, nem sempre sou fiel, mas nem por isso perco a cora­gem. Abandono-· ne nos braços de Je­sus. Como uma gottinha de orvalho pe­netro bem no intimo do calice da di­vina 11Flor dos Campos" e ali acho de novo tudo o que perdi e muito mais ainda. (Carta a Celina, 18 de Julho de 1893)

13 - Longe estou de trilhar a ve­reda do temor, sei descobrir sempre o meio de ser feliz e de aproveitar as mi­nhas miserias.

( Historia de uma alma, c. Vlii)

14 - Quanto mais pobre fores, mais Jesus te amará. (Carta a Celina, 12 de Março de 1899)

15 - Deveis pedir os objectos que vos faltam, com humildade, assim como os pobres estendem a mão para rece­ber a esmola; si são repellidos não se admiram, porque ninguem lhes deve nada. (Historia de uma alma, c. IX)

16 - Quando se tem humildade, ad­mitte-se que todos nos mandem.

(Conselhos e lembranças)

Na escola d e Santa Tereslnha ---- 193

17 -- Apenas corro os olhos sobre o Evangelho, immcdiatamcnte respiro o perfume da vida de Jesus, e sei de que lado hei de correr .

(Historia de uma alma, c. X) 18 - Basta-nos humilhar-nos a sup­

portar com doçW'a as proprias imper­feições ; eis a verdadeira santidade para nós.

19 -- A unica coisa que não é su­jeita á inveja é O ultimo lugar; portan­to só nesse ultimo lugar não há vai­dade e afflicção de espirito".

(Conselhos c lembranças) 20 - Colloqucmo-nos humildemente

na classe dos imperfeitos, considere­mo-nos almas ai.il.da tão pequeninas que Deus deve sustentar a cada passo.

(Conselhos e lembranças) 21 - Na terra inhospita e estran­

geira, Deus a que opprobrios se re­

duz! . . . Quero occultar-mc a vida in­

teira Ser sempre a derradeira Por ti, Jesus.

(Poesias - Tenho sede de amor)

194 ----- A \"in. da infancia espiritual

22 - Si vos acharem imperfeita, é isso mesmo que vos convém c só ten­des a lucrar, pois assim ".'JOdereis pra­ticar a hunúldade, que consiste não só em pensar e apregoar que somos cheios de defeitos, mas em nos julgarmos fe­lizes que os outros o pensem e digam.

(Conselhos e lembranças)

23 - Desde o momento em que Deus nos vê convictos de nosso nada, desde que lhe dizemos: 110s meus pés trephlara.m, o. \'Ossa. 1\ofisericordia. fir­mou-os", Elle nos estende a sua mão, porém basta tentarmos fazer algo de grandioso, embora sob pretexto de ze­lo, deixar-nos-á entregues a nós mes­mos. (Conselhos e lembranças)

24 - Jesus compraz-se em me com­municar a sciencia de gloriar-me em minhas enfermidades. E' uma grande graça, pois nesses sentimentos se acham a paz e o repouso do coração.

(Carta a Maria Guerin, em 1894)

25 - Quando se abraça com humil· dade a humilhação de ter sido im· perfeita, Deus volta immcdiatamente. (Novissima verba, 2 de Setem. de 1897)

Na escola de Santa Teresinha ---- 1!)5

26 - O' meu Deus! sim, sinto-me feliz vendo-me pobre e fragil em vossa presença c o meu coração permanece em paz . . .

(Historia de uma alma, c. XI) 27 - Como me sinto feliz ao ver-me

tão imperfeita, tão necessitada da mi­sericordia de Deus no momento da morte! (Novissima verba, 29 de Julho de 1897)

28 -- Acontec�-nic cair em muitas fragilidades, mas regozijo-me nellas. E' tão saboroso o sentir-se fraca c peque­nina. (Novissima vcba, 5 do Julho de 1897)

29 - Quanto a mim, só tenho lu­zes para ver o

'm3u proprio nada. Es­

sas me são mais proveitosas que as lu­zes sobre os rnysterios da fé.

(Novissima verba, 13 de Agosto) 30 - A maior maravilha que o Todo­

poderoso obrou em mim foi mostrar-me a minha insignificancia, minha incapa­cidade para todo bem.

(Historia de uma alma, c. IX) 31 - Eu digo sempre a Deus: O'

meu Deus, quero escutar-vos, supplico-

196 ----- A via da in[ancia espiritual

vos que vos digneis responder-me quan­do eu vos perguntar: Que é a Yertlade? Fazei que veja as coisas taes quaes :,:�o na realidade, que cu não seja seduzida pela mentira !

(Conselhos e lembranças)

NOVE�lBRO

1 - Oh ! o céu! o céu! Sim, quanto suspiro por elle para ver a Face de Jesus e contemplar eternamente a sua maravilhosa bellezn; mas emquanto es­pero de�ejo soffrer muito e ser despre­zada nesta terra.

(Carta á Madre Ignez de Jesus)

2 - Não, não posso temer o purga­teria, pois sei que o fogo do amor é mais santificador ; sei que Jesus não pode querer soffrimentos inuteis e que não me havia de inspirar os desejos que me abrasam si os não quizesse realizar.

(Historia de uma alma, c. VIII) 3 - Não esqueçamos que Jesus é

um Thesouro escondido : poucas almas sabem descobri-lo - pois geralmente ama-se só o que brilha. Para acharmos

Na escola de Sanla Tereslnha ---- 197

uma coisa occulta é preciso que nos occultemos tambem, que a nossa vida seja um mysterio . . .

( Carta a Celina, 2 de Agosto de 1893) 4 - Não quero mais nada sinão o

esquecimento . . não aspiro nos des­prezos, ás injurias, tudo isso seria de­masiadamente glorioso para o 11grão de areia", pois si alguem desprezasse um grão de areia seria signal de que o via e pensava nenê. (Carta á Madre Ignez de Jesus, 1888)

5 - Quando nos sentimos totalmente miseraveis, não nos queremos mais con­siderar, olhamos somente para o nosso unico Amado.

( Carla a Maria Guerin, 1894) 6 - Não imaginemos encontrar o

amor sem soffrimento ; a nossa natureza está viva e não é em vão que está vi­va; mas que thesouros nos faz adqui­rir. E' ella a nossa riqueza, nosso meio de subsistencia.

(Carta a Celina, 12 Março 1898)

7 - Sim, a felicidade encontro-a na dor sem mistura de consolação.

(Carta á Madre Ignez, 1889)

198 ----- A Yia da infancia espiritual

8 - E' preciso lutar para vencer : E' cedo para as palmas e coroas, Cumpre nos campos da hon.a

merecer. (Poesias - Cant. a Sta. Joanna d'Arc)

!) - Sou uma pobre bolinha crivada de picadas de alí:inetes, e já não aguen­to mais. E' verdade que os furos são bem pequenos, mas soffro mais assim do que com um maior, feito de uma só vez. Oh ! a bolinha treme ! No entanto, sinto-me feliz, feliz de soffre:· tudo que Jesus permitte . .

(Carta á M. lgnez, 1888) 10 - Viver de amor, não é neste dc­

grcclo Fixar-se no Thabor ; é com J e­

sus Subir pelo Calvario sem ter medo E olhar como maior thesouro -

a cruz. Hei de viver, de gozar lá no Em­

pyreo, Então terá fugido a dor, Mas cá na terra quero em meu

martyrio Viver de amor.

(Poesia - Viver de amor)

Na escola de Santa Tereslnha ----- l!l!J

11 - Nenhuma tribulação é dema­siada para conquistar a palma.

(Carta á M. Ignez, 1889)

12 - Um dia sem soffrimcnto é para mim um dia perdido.

(Carta a Colina, 8 de Maio de 1888)

13 - Que fez Jesus para desprender a nossa alma de todas as coisas cria­das ? Ah ! Elle nos feriu profunda­mente, mas foi· um golpe de amor . . . Deus é admiravel ; mas, sobretudo, Elle é amavel.

(Carta a Celina, 14 de Julho de 1889) 14 - E' uma grande provação ver

tudo negro ; mas isso não depende de nós inteiramente; fazei o que puderdes para desapegar o vosso coração das pre­occupações terrenas e sobretudo das criaturas, e ficae certa que Jesus fará o resto.

(Conselhos e lembranças) 15 - Quão poucas são as almas que

nenhuma acção fazem com negligencia e imperfeição ! Como são raras as que fazem tudo do melhor modo possível !

16 - Li outrora que os Israelitas, quando construíram os muros de Jeru-

200 ----- A via. da infancla esph·iLual

salém, trabalbavo.m com uma das mãos, tendo na outra a espada. E' a perfeita imagem do que devemos fazer : Traba­lhar apenas com uma das mãos, e com a outra defender a nossa alma da dissi­pação que a impede de unir-se a Deus.

(Conselhos e lembranças)

17 - Deus faz-se representar por quem lhe apraz, essa escolha não tem importancia. Sim, eu sei, já me persua­di que Deus não precisa de ninguem, muito menos de mim, para fazer bem á terra.

(Historia de uma alma, c. IX)

18 - Muitas vezes as bellas palavras que se escrevem e as bellas palavras que ;,e recebem são apenas troca de moeda falsa . . .

(Novissima verba)

19 - A h! que veneno feito de lou­vores é offertado diariamente áquelles que occupam os primeiros lugares ! Que funesto incenso ! e quanto deve estar

� dida de tudo a alma para não

expeii:dt.e-1-

tar com isso prejuizo!

"'� (Conselhos e lembranças)

Na escola de Santa Teresinha ------ 201

20 - f' h ! é bem grande a minha dor! Sou, porém, a bolinha do :Menino Jesus : si lhe apraz quebrar o seu brinquedo, pode fazê-lo, é livre ; sim, não quero sinão o que elle quer.

(Carta á M. Ignez de Jesus, 1887)

21 - Com as almas que dirigimos, devemos ser verdadeiros e dizer o que pensamos, assim procedi sempre ; si não sou estimada, pouco Jmporta, não é a estima que procuro. Não venham ter commigo, si não querem ouvir a ver­dade por completo.

(Conselhos e lembranças)

22 - Não posso pensar na querida Santa Cecilia, sem sentir�me encantada! Que modelo! No meio de um mundo pa­gão, no meio do perigo, no momento em que tinha de se unir a um mortal que não respira sinão amor profano, pare­ce-me que ella deveria temer e chorar. Mas não, emquanto os instrumentos de alegria celebravam os nupciaes, Ceci­lia cantava em seu coração. Que aban­dono ! ( 17" carta a Cclina)

23 - Deus fez-me a graça de não ter nenhum medo á guerra ; custe o que cus-

202 ----- A via da ln(ancin. espiritual

tar, é preciso que cumpra o meu dever. Mas o que sobretudo me custa é ob­servar as faltas, as mais leves imper­feições c fazer-lhes guerra de morte. Preferia receber mil reprehensões a ter que dar uma só.

(Historia de uma alma, c. X)

24 - Na direcção das almas não deve­mos deixar correr as coisas com o fim de conservar o nosso repouso; comba­tamos sem tregoas, ainda mesmo sem esperança de ganhar a batalha. Que importa o successo ! Si encontrarmos uma alma de natural difficil nã.o diga­mos : "Aqui nada há a fazer ! . Não tem comprehensão! . . . é melhor deixá­la. . . não posso mais . . . ". Oh ! é cobar­d;.a falax deste modo, é preciso cumprir o dever até ao fim.

(Conselhos e lembranças)

25 - E' unicamente pela oração e o sacrificio que podemos_ ser uteis á Igreja.

(Novissima verba) 26 - E' absolutamente indispensavel

na direcção das almas, prescindir do proprio gosto, das idéas pessoaes, e guiá-las não pela vereda que se segue,

No. escola de Santa Teresinha ---- 203

não pelO proprio caminho, mas pela senda especial que lhes traça Jesus.

(Histeria de uma alma, c. X)

27 - "Meu gozo, minha dôr, meus le­ves sacrificios,

Eis minhas flores". (Poesias -- Atirar flores)

28 - Quando fo.rmos mal comprehcn­didos e julgados desfavoravelmente, de que servirá nos defÉmdermos e entrar­mos em explicações ? Deixemos passar tudo, não digamos : é tão doce o dei­xar-se julgar, pouco importa como ! O silencio bcmaventurado, que tanta paz dá á alma.

(Conselhos e lembranças)

29 - F'az-nos tanto bem, e dá-nos tanta força calar nossas penas!

(Novíssima verba)

30 - Jesus deseja que a salvação das almas dependa de nossos sacrificios, de nosso amor.

(Historia de uma alma, c. X)

201 ----- A \'ill da iníancia espirilual

DEZEMBRO

1 - Durante os curtos instantes que nos restam, salvemos almas ! Sinto que Jesus pede que. saciemos a sua sêde, dando-lhe almas, almas sacerdotaes so­bretudo . . .

(Carta a Celina, 14 Julho 1889)

2 - Sim, oremos pelos sacerdotes, seja-lhes consagrada· a nossa vida.

(Carta a Celina, 1890)

3 - Peço a Deus que todas as ora­ções que se fazem para mim não sirvam para alliviar os meus soffrimentos, mas sim para alcançar a salvação dos pec­cadores. (Novissima verba)

4 - Offereçamos nossos soffrimentos a Jesus para salvar as almas. Oh ! vi­vamos por ellas, sejamos apostolos!

(Historia de uma alma, c. IX)

5 - Os sacerdotes ! Essas almas de­veriam ser mais transparentes que o crystal ; mas, ai! sinto que há maus pa­dres, como houve um Judas, sinto que há ministros do Senhor que não são o que deveriam ser. Oremos, pois, e sof-

Na escola de Santa Tereslnhn ---- 205

f ramos por elles . Comprehendeis o brado do meu coração.

(Carta a Celina, 1890)

6 - Entrei no Carrnclo para salvar as almas e orar pelos sacerdotes.

(Historia duma alma, c. VIII)

7 - Quando estiverdes tentada con­tra alguem, ainda mesmo que este sen­timento chegue �até á colera, o meio de recobrar a paz é orar por essa pessoa, pedindo a Deus que a recompense de ser occasião de vosso soffrimento.

(Lembranças)

8 - A Santissima Virgem quiz me adoptar como sua filha no bello dia de minha Primeira Communhão e no da minha recepção na Congregação das Filhas de Maria. E não posso duvidar que a graça insigne da minha vocação religiosa, germinou nesses dias felizes em meu coração.

( Carta á Madre São Placido, antiga directora do Pensionato das Bcnedicti­nas de Lisieux. Sta. Teresa d'Enfant Jesus. Mgr. La veille) .

206 ----- A via da infancia espiritual

9 - Viver para si mesmo, isso torna esteril a alma, devemos voar ás obras de caridade.

(Conselhos e lembranças)

10 - Oh ! quanto desejaria o officio de enfermeira ! Bem sei que exige mui­ta abnegação, mas parece-me que o exercitaria com tanto amor! pensando no que diz Nosso Senhor : Estive enfer­mo e vós me visitastes.

(Conselhos c lembranças)

11 - Não devo ser obsequiosa para que se diga que o sou, ou com a e�pe­rança de que em outra occasião me pres­tem tambem serviços, pois Nosso Se­nhor disse : Si emprestardes áquelles de quem esperaes receber alguma coisa, que premio será o vosso ? Os peccadores tambem emprestam aos peccadores afim de receber outro tanto. Quanto a vós, porém, emprestae sem esperar retribui­ção e grande será a vossa recompensa.

12 - Não devo me afastar das Irmãs que com a maior facilidade costumam pedir favores, pois o Divino Mestre dis­se: Não te desvies daquelle que deseja que lhe emprestes.

Na escola de Santa Tcreslnha ---- 207

13 - Quando quero augmentar em meu coração o amor do proximo, ao passo que o demonio busco pôr-me dian­te dos olhos os defeitos desta ou daquel­la Irmã, procuro irnmediatamente desco­brir-lhe as virtudes, os bons desejos, reflectindo que, si a vi cair em falta uma vez, pode bem ser que tenha alcan­çado muitas victorias, que por humildade occulta. Talvez até o que me parece fal­ta, seja acto qe virtude pela intenção que a moveu.

(Histeria de uma alma, c. IX)

14 - Não me basta dar a quem me pede, devo ultrapassar os seus desejos, mostrar-me muito penhorada, honrada mesmo de prestar-lhe algum serviço, e, si me tomarem algum objecto de meu uso, devo apparentar felicidade por me ver desembaraçada delle.

(Histeria de uma alma, c. IX)

15 - Ao que quer demandar-te em juizo e tomar a tua tunica, larga-lhe tambem a capa. - Largar a capa é re­nunciar aos ultimes direitos e conside­rar-se como servo e escravo dos outros.

(Histeria de uma alma, c. IX)

208 ----- A via. da tnfanclo. espiritual

16 - Sobre tua immortal Igreja vela, Rogo-te, a cada instante, com

fervor. E sou filha, immolc-me por ela.

Vivo de amor!

(Poesias - Viver de amor)

17 - lvleu céu occulto está nessa Hos­tia pequenina,

Onde Jesus, meu Deus, se vela por amor.

Nessa fornalha sempre acho a vida divina

E noite e dia me ouve o meu doce Senhor.

Oh ! que instante feliz quando com tua ternura

Em ti vens transformar-me, ó meu Amado, emfim !

Essa união de amor, essa inef­fa vel doçura

Eis o céu para mim !

(Poesias - "O céu para mim")

18 - A minha loucura é a esperança de voar até vós, ó Jesus, em vossas pro­prias asas, ó minha Aguia adorada !

(Historia de uma alma, c. IX)

Na escola de Santo. Teresinha ---- 200

19 - Nutro sempre a mesma confian­ça verdadeira de me tornar uma grande santa . . .

(Historia de uma alma, c. IV)

20 --Em teu Coração, Jesus, eu me occulto.

Não, não temerei; minh:1 força !Ss tu.

(Poesias - Ao Sagrado CoraçC.o)

21 - O' meú padre, é verdade, sim, que não formei a minha corôa, mas Jesus a formará.

(Palavras ao Superior do Mosteiro, nos ultimos dias de vida).

22 - Jesus nos quer dar gratuita-mente o céu.

( Carta á Irmã Maria do Sagrado Co­ração) .

23 - Foi a Deus que aprouve pôr em mim coisas que fazem bem á minh'alma e que commwüca ao proxi­mo ; o Espirito de Deus sopra onde quer. . . (Novissima verba)

24 - Sou a bolinha do Menino Jesus : si lhe apraz quebrar o seu brinquedor

·210 ----- A via da infancia espiritual

pode fazê-lo, é livre; sim, não quero sinão o que elle quer . .

(Carta á Madre Ignez de Jesus)

25 - O' pequeno Menino Jesus! meu unico Thesouro ! abandono-me aos teus dh-inos caprichos, não quero outra ale­gria sinão a de te fazer sorrir . . .

(De uma oração ao Menino Jesus)

26 - Os mais sublimes discursos dos maiores Santos seriam incapazes de fa­zer jorrar um só acto de amor, sem a graça divina, que mov·e o coração : Je .. sus só é quem sabe vibrar a sua. Iyra.

(Carta a Celina, 13 de Agosto, 1893)

27 - Apanhar um alfinete por amor de Deus pode converter uma alma. Só Jesus é quem pode dar valor ás nossas .acções.

(Carta a Leonia, Janeiro de 1895)

28 - No céu os meus protectores e os meus predilectos são aquelles que o furtaram como os Santos Innocentes -e o bom ladrão. Os grandes Santos con-

Na escola de Sanla Tcrcsinha ---- 211

quistaram-no pelas suas obras ; eu, ah ! eu pretendo imitar os ladrões, quero adquiri-lo por fraude, uma fraude de amor que me abrirá as suas portas a mim e aos peccadores. O Espirito San­to a isto me anima, dizendo, nos Pro­verbios : HQ' Pequenino ! vem, aprende de mim a astucia ! "

(Conselhos e lembrai:!.Ças)

29 - "Quando em m::m coração bem tenro a chamma pura

Do amor surgiu, tu logo a vies­te reclamar,

Só em ti, Jesus, minh'alma achou fmi.ura

Pois até ao infinito eu precisava amar".

( Poesias : ••um lirio entre os espinhos")

30 - O Todo-poderoso deu-nos wn

ponto de apoio, que é cite mrsmo, clle só.

(Historia de uma alma, c. X)

31 - Oh ! longe de me queixar a J e­sus da cruz que nos envia, não posso comprehender o amor infinito que o leva

212 ----- A via da. lnfancia espirilual

a tratar-nos assim . . . O anno que acaba de decorrer foi optimo, sim, foi precioso para o céu ; praza a Jesus que a elle se assemelhe o proximo.

( Carta a Celina, dia 31 de Dezembro de 1889) .

A Yida passa . . . A eternidade se apro .. xima. . . .

(Santa Teresinha)

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I :R D I C E

Novena a Sta. Tereslnha . .

.Meditação I. A missão de Sta. Tere-

sinho. . . . • . • • . • . 11

:Medltaçiio 11. A via. conunum de san-

tidade . . . . . . . . . . . . . . 17

Meditação III. Como entrar na via. da

lnfancla esplrllual . . . 25 Meditação TV. A prat.ica. do amor na

via da infa.ncla. espiri-

tual . . . . . . . . . . . . . . . . 40 Meditação V. O amor do proxlmo na

via da lnfa.ncla espiri-

tual . . . . . . . . . . . . . . . . 53 Meditação VI. A fé e a. confiança na

via da lnfa.ncla espiri -

tual . . . . . . . . . . . . . . . . 68 Meditação VII. A humildade e simpli­

cldnde na via da infan-

cia espiritual . . . . . . . . . 84 Meditação VIII. O abandono na via da

ln!ancla esplrJLual e o

Ascensor divino . . . . . . 97 .Meditação IX. O esplrito de oração na.

via da in!ancla espiri­

tual e o sera.phlm de

Lisieux . . . . . . . . . . . . . 113

214 ---------- lnd1ce

Pensamentos de Sta. Teres.l.n.ha. pa.ra. cada. dia. do a.nu.o

Janeiro

Fevereiro

Março

Abril Maio

Junho Julho

Agosto

Setembro

Oulubro

Novembro

Dezembro

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