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Vidas Passadas - Final

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NDICEDEDICATRIA INTRODUO CAPTULO I - Terapia de Vidas Passadas CAPTULO II - Reencarnao, a Base da TVP CAPTULO III - soluo problemas existenciais CAPTULO IV - Lembranas CAPTULO V - Anlise de um caso CAPTULO VI - Brian Weiss CAPTULO VII - Mais Dvidas CAPTULO VIII - Distanciado da Cincia CAPTULO IX - Almas Gmeas CAPTULO X - Radiografando a TVP CAPTULO XI - Avaliaes Complementares CAPTULO XII - Legitimidade do Regressionismo CAPTULO XIII - O Caso Bridey Murphy CAPTULO XIV Concluso PRINCIPAIS OBRAS CONSULTADAS 8 10 17 29 51 59 65 73 99 114 133 157 193 208 226 243 258

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DEDICATRIA

Este trabalho dedicado a: Mrcia Maria Ribeiro de Souza; Wagner Montalvo; Suzanne Soares Montalvo; Vivianne Soares Montalvo; Lcia Maria Paiva,que contriburam para que a presente obra se tornasse realidade, pelo que muito agradeo.

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INTRODUO

A idia de que j vivemos outras vidas e de que essas vidas possam ser trazidas lembrana cativante.

Sem dvida, o mistrio exerce sobre a maioria das pessoas enorme fascnio. Muitos cultivam com especial carinho os relatos de acontecimentos tidos por fantsticos. Parece que uma parte de nossa mente sente-se gratificada diante de enigmas. Mas, ao mesmo tempo em que desperta o fascnio, o oculto clama por ser desvendado. As coisas misteriosas nos atraem, porm no apreciamos que elas sejam perenemente insolveis. A curiosidade adequadamente direcionada propicia respostas consistentes. A cincia filha do anseio humano por destrinar o desconhecido. As questes sem resposta incomodam. O pensamento cientfico para ser fomentado exige um exaustivo trabalho. O que no quer dizer que a cincia invariavelmente apresente concluses corretas. Muitas vezes, o nvel de conhecimento sobre determinada matria leva os pesquisadores a inferncias inadequadas. A cincia jamais poder ser considerada pronta e acabada. Sempre existir a perspectiva de que novos conhecimentos surjam e tragam explicaes mais amplas que as vigentes.

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O que interessa destacar o fato do trabalho cientfico ser penoso. No intento de responder s questes que se lhe apresentam o cientista precisa ir alm da anlise superficial. As concluses baseadas na observao imediata raramente so as mais adequadas. Muitas verdades cientficas aceitas posteriormente se revelaram infundadas. no passado

Durante sculos pensou-se que o universo fosse formado por uma sucesso de esferas, cada qual contendo uma parcela do cosmo. E a terra estaria na mais central dessas formaes, visto que seria o centro de todo o universo. O surgimento dos telescpios mostrou que tal concepo era insustentvel. A idia de que o planeta se movesse em torno de seu prprio eixo seria considerada uma heresia em tempos no muito remotos. Quando Galileu ousou defender essa tese foi severamente rebatido pelos cientistas de ento. No passado no existiam mecanismos de medio adequados, as experincias se baseavam na observao direta e partir da se elaboravam os conceitos. Essa forma de anlise, definida pelos limites dos sentidos, frgil e quase sempre redunda em proposies enganosas. O mundo muito mais complexo que possa parecer ao nossos olhos; diversos fenmenos ocorrem em nveis que nossa capacidade de percepo no alcana. Algumas cincias primitivas, tal qual a astrologia, na atualidade perderam o status de cientficas, visto que foram elaboradas numa poca em que o poder de observao e de anlise era limitado. Sobrevivem nos dias modernos porque prometem respostas para alguns de nossos anseios. Mas, sabido que no tm qualquer fundamentao real. O desejo das pessoas por esclarecer suas dvidas, conjugado ao esforo exigido para encontrar as explicaes,

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leva muitos a buscarem respostas prontas. Raciocinar trabalhoso, se temos quem pense por ns por que se sacrificar? No campo do sobrenatural ou se preferirem no campo do supranatural , brotam especialistas em cincias inslitas. Estes arrogam para si capacidade de explicar os segredos daquilo que estaria alm da matria. A maior parte dessas explicaes no passa de lucubraes fantasiosas, entretanto os discursos dos mestres conquistam admiradores e, ainda que no tenham respaldo na boa cincia, so aceitos como verdades completas. Normalmente, quanto mais imaginosos forem esses mestres, tanto mais sero admirados. O que despertaria maior curiosidade: o nascer de um novo dia ou a apario de um fantasma? O alvorecer do dia um acontecimento aparentemente banal; as portentosas foras envolvidas no processo so menosprezadas. Uma simples chuva conseqncia de numerosos fenmenos que a maioria de ns sequer imagina. Nossa fantasia fica mais excitada com histrias de extraterrestres ou de assombraes. So muitos os temas de pouca profundidade que gozam de alto prestgio por serem estimulantes de devaneios. Nessa constelao de assuntos que atraem a curiosidade popular, vemos de tudo: desde a clssica Atlntida, que j deu material para muitas narrativas, a maior parte provinda de revelao mstica; seguida por outras tantas civilizaes misteriosas, cujos segredos somente os iniciados conhecem; at chegarmos aos contatos medinicos com espritos e outras entidades. Em meio ao caminho vislumbramos variados temas, tais quais: o Tringulo das Bermudas; duendes, elfos, gnomos; o domnio da natureza pela magia; o Egito esotrico; os arquivos acsicos, e muito mais.

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Foi nesse mundo de magia e de mistrio, que encontramos uma das recentes incorporaes: a lembrana de vidas passadas. Insistentemente divulgada como matria de cunho cientfico, a regresso a vidas passadas, ou mais precisamente a terapia de vidas passadas - TVP, quando examinada com um pouco de ateno, mostra o inegvel parentesco com o esoterismo e o distanciamento da cincia. Sobre o esoterismo necessrio um comentrio complementar, pois a palavra possui diversas acepes. Esotrico significa aquilo que est oculto, velado. No contexto ocultista, se refere a conhecimentos acessveis apenas aos iniciados; Sob outro aspecto, esotrico seria aquilo no percebido em primeira verificao. Livros, filmes e discursos mais elaborados, podem ser chamados de esotricos, no sentido de que possvel realizar vrias leituras, cada uma revelando novos matizes, mostrando ser a mensagem muito mais rica que parea primeira vista; H, ainda, uma terceira significao: a de conceito nebuloso, baseado em dados fantasiosos. Neste livro, geralmente o termo utilizado com essa significao. A base da terapia de vidas passadas a tese das mltiplas existncias, ou, como preferem os praticantes da regresso, a hiptese cientfica da reencarnao. Portanto, quando se fala em lembrana de vidas passadas, a reencarnao se torna implcita.

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Na parte inicial do livro, sero apresentadas apreciaes sobre embaraos da teoria reencarnacionista. Comentaremos tambm as semelhanas e as contradies entre o espiritismo e o regressionismo. As referncias ao espiritismo so cabveis, visto que a maior parcela de usurios da regresso a vidas passadas constituda de kardecistas e, tambm porque os conceitos tericos regressionistas so tomados do espiritismo. Nos captulos 6, 7, 8 e 9 avaliamos as idias regressionistas de Brian Weiss, o psiquiatra americano que tornou-se praticante da TVP e escreveu vrias obras sobre regresses, dentre se destacam: Muitas Vidas, Muitos Mestres e S o Amor Real. Nos captulos finais analisaremos as teses gerais do regressionismo, ilustradas com afirmaes de terapeutas que praticam a regresso, acompanhadas de nossos comentrios. Ao final, o leitor obter um claro entendimento do que seja a terapia de vidas passadas. E poder, ento, avaliar se adequada a eufrica opinio dos que a classificam como a grande descoberta teraputica do sculo XX. O leitor deparar com certa freqncia a expresso espiritismo kardecista. O termo no , de forma alguma, utilizado pejorativamente. O caso que existem pelo menos duas correntes espritas de maior expresso no mundo. Alm do kardecismo, h o chamado espiritismo anglo-saxo, praticado principalmente na Inglaterra, na frica do Sul e na Holanda. ( bom lembrar que os espritas saxes preferem o termo espiritualismo em lugar de espiritismo.) A principal diferena entre eles que um defende o dogma da reencarnao e outro condena. A fim de definir a que vertente esprita nos referimos, optamos por nominar o espiritismo latino como kardecismo. O que, alis, no criao nossa, pois o termo aplicado correntemente.

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Vrias vezes a expresso inconsciente ser encontrada neste livro. Esta uma palavra aceita universalmente quase sem questionamentos. preciso, porm, esclarecer que a idia de estar a mente dividida em duas grandes sees (consciente e inconsciente) j no combina com as atuais pesquisas neurolgicas. Parece que a conceituao mais adequada para a mente seria a de um grande mecanismo, composto por submecanismos agindo harmoniosamente entre si. Imagine uma complexa mquina, constituda de diversos circuitos interdependentes. Conforme a circunstncia alguns desses circuitos estaro mais ativos que outros. Certas partes da mente operam sempre em segundo plano, ou seja, seu trabalho no percebido conscientemente (da a idia de que trabalhem desconectadas da conscincia). Por no fazer parte dos objetivos do presente trabalho, no ampliaremos o tema. Destacamos algumas convenes e procedimentos observados neste livro: 1. nas transcries de textos de outros autores, procuramos respeitar a grafia original, mantendo, inclusive, os equvocos gramaticais. Os destaques feitos nesses textos (sublinhado, negrito) so de nossa autoria; 2. termos entre colchetes [ ] so inseres que objetivam esclarecer o sentido do texto em destaque; 3. este smbolo abre comentrios especficos e complementares, concernentes ao assunto em referncia. Crticas e sugestes sero bem recebidas.([email protected]). ([email protected])

M.Montalvo.

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CAPTULO 1

Terapia de Vidas Passadas

Observao: Terapia de regresso de vidas - TVP, um mtodo teraputico cuja principal caracterstica buscar a origem de traumas psquicos em hipotticas vivncias pregressas.

Em seu consultrio um psiclogo praticante da Terapia de Vidas Passadas, realiza uma sesso de regresso. Ele utiliza a hipnose a fim de possibilitar ao paciente focar a

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mente de forma adequada e direcion-la para o objetivo proposto:- Deixe sua mente retroceder no tempo. No tente controlar o processo, sua alma seguir o caminho naturalmente. No questione nada do que visualizar, apenas visualize... Imagine que est entrando num tnel, um tnel do tempo que o levar bem longe...longe...Agora voc uma criana pequenina e continua a recuar no tempo, cada vez mais distante. Veja-se no tero de sua me. Ela o alimenta, sinta as sensaes de amor que lhe so passadas; voc gosta de estar com ela... Agora a viagem continua: saia desta vida e deixe seu esprito vagar...vagar por outras existncias, voc est em busca da origem de sua dor...relaxe...visualize o que est sua volta...relaxe cada vez mais...Diga-me o que est vendo... - Vejo uma pessoa caminhando por uma rua que no conheo... - Como essa pessoa est vestida? - No entendo muito bem...uma roupa diferente...O cinto grande, fivelas grandes...as botas so pesadas...tudo estranho... - Essa pessoa voc? - Acho...Sim...sinto o peso das botas nos meus ps... - Sabe o nome do local onde voc se encontra? - No sei...Espanha?...

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- Tem algum com voc? - No...mas preciso andar rpido...esto atrs de mim... - Quem est atrs de voc? - Eles...inimigos do rei...uma conspirao para matar o rei...Ouvi tudo...querem me matar! - O que voc faz para se livrar deles? - Fugir...so muitos...estou cercado! No vou me livrar... - E o que acontece? - Cercado...eles armados...facas...tenho pistola na cintura...vou atirar...NO! - O que est acontecendo? - Apunhalado pelas costas! A dor terrvel...di muito...No consigo ficar de p...Esto se aproximando...Chegou o meu fim! O terapeuta percebe que o paciente demonstra grande aflio. A fim de tranqiliz-lo decide suspender o processo: - Agora quero que se acalme, voc no est mais l, est aqui no consultrio, est seguro...Vou contar at cinco e voc despertar revigorado, sentindo-se muito bem e lembrar da experincia de forma positiva...Um...dois...despertando... uma

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Depois de plenamente consciente, o paciente e o terapeuta avaliam a experincia. Uma das queixas do consultante era uma terrvel dor nas costas, que se manifestava quando sob tenso, quanto maior a ansiedade tanto maior a dor. Diversos mdicos o examinaram; vrias sesses de fisioterapia realizadas, no entanto o distrbio permanecia. O psicoterapeuta apresenta suas concluses: - A dor que sente, e que se intensifica nos perodos de estresse, resultado da experincia na outra vida. Ao ser atacado covardemente e percebendo que no tinha sada, voc internalizou uma grande dose de angstia. Essa angstia o tem acompanhado por diversas vidas e se apresenta sob a forma de dor no mesmo local onde foi ferido. Agora que sabe como tudo comeou, ser mais fcil se livrar do problema...

A regresso a vidas passadas tem despertado o interesse de muita gente. Um nmero crescente de pessoas procura os regressionistas, ora por curiosidade, ora cativados por promessas de cura. Os que so motivados pela curiosidade interessam-se em conhecer as identidades que teriam assumido no passado. A atriz Shirley Maclaine um exemplo: to entusiasmada ficou ao descobrir algumas de suas personalidades pretritas, que escreveu alguns livros sobre o tema. Outro grupo de usurios constitudo de pessoas desiludidas com as psicoterapias tradicionais, estes esperam encontrar na terapia de vidas passadas uma soluo mais efetiva

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para os transtornos psquicos pelos quais passam, ou at mesmo solucionar problemas fsicos. O regressionismo de incio era praticado quase como uma curiosidade, ou como meio de comprovar a tese reencarnacionista. Posteriormente, passou a ser utilizado terapeuticamente, no tratamento de distrbios psquicos, o que deu origem ao procedimento conhecido como terapia de vidas passadas, abreviado TVP (h quem prefira e utilize a sigla TRVP Terapia de Regresso a Vidas Passadas). Presentemente, a maioria das prticas regressionistas tem por objetivo o tratamento de distrbios psicolgicos, mas ainda se encontra o uso noteraputico do processo. Os terapeutas regressionistas declaram que a terapia de vidas passadas constitui a medicina do Novo Milnio. Isso mostra o grande otimismo com que encaram o processo.

Desde o final do Sculo XIX so relatadas espordicas experincias de regresso a vidas passadas. Porm, o uso teraputico se iniciou de forma ampla a partir da dcada de 1960. Atribui-se ao engenheiro francs Albert De Rochas Eugne-Auguste-Albert de Rochas D'Aiglun (1837-1914) o pioneirismo na prtica da regresso. De Rochas era praticante do hipnotismo. Depois de realizar diversas experincias de regresso de idade (no confundir regresso de idade com regresso a vidas passadas) , passou a especular no campo das vidas pretritas. Entretanto, parece que o engenheiro no fez escola, pois21

pouco se falou do assunto at a dcada de 1950. Diferentemente das prticas regressionistas da atualidade, nas quais as lembranas so numerosas e abrangem longos perodos, Albert Rochas era moderado no trato do assunto. Diz-se que o francs postulou que a regresso seria possvel a at no mximo cinco vidas passadas. Antes de a TVP comear a se popularizar, o caso mais espetaculoso encontramos na aventura de Bridey Murphy. A experincia foi relatada por Morey Bernstein, um homem de negcios da cidade de Pueblo, nos Estados Unidos. O caso de Bridey Murphy, como a histria ficou conhecida, causou celeuma em quase todo o mundo. Milhes de exemplares do livro escrito por Berstein foram vendidos. Berstein afirmava que Bridey Murphy fora a vida pregressa de uma mulher chamada Ruth Simmons. Depois descobriu-se que Ruth Simmons era o pseudnimo de Virgnia Tighe, uma dona-de-casa norteamericana. No captulo 10 falaremos detalhadamente do assunto. Alguns terapeutas regressionistas afirmam que depararam com vidas passadas casualmente: ao induzirem pacientes a reviverem experincias no tero materno (processo ainda bastante praticado), foram surpreendidos com o relato de ocorrncias que teriam sucedido em pocas anteriores ao perodo de vida uterina, ou seja, em outras vidas.

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A regresso da memria vida intra-uterina prtica adotada por vrios terapeutas, entretanto no aceita pelas escolas tradicionais da psicologia. Estas no concordam com a idia de que o feto tenha memria. Veja no captulo 11 comentrios mais amplos.

Brian Weiss, o psiquiatra norte-americano cujo trabalho analisaremos adiante, conta que seu encontro com as vidas passadas foi incomum: durante uma sesso de hipnose, quando ordenou a uma paciente que voltasse ao perodo em que seus sintomas comearam, ela imediatamente entrou numa vida anterior. A concluso de que as lembranas eram efetivas recordaes de existncias pregressas, foi acatada sem maiores avaliaes por vrios profissionais. No demorou muito, iniciou-se a utilizao das lembranas como um subsdio psicoterapia. E assim tudo comeou. A idia de que seja possvel relembrar outras vidas pressupe a veracidade da reencarnao. Despertou-se a ateno de adeptos do espiritismo kardecista. Sabe-se que o kardecismo advoga a reencarnao. No foram poucos os espritas que se empolgaram com o regressionismo, pois parecia ter surgido uma prova da tese das mltiplas existncias. Por outro lado, vrios tericos espritas encaram a TVP com pouca simpatia, pois vem nela um srio conflito com a doutrina kardecista. Noutro captulo apresentaremos comentrios mais amplos.

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Os praticantes da TVP so geralmente psiclogos, uns poucos so especializados em outras reas da medicina. No Brasil, existe pelos menos duas organizaes que congregam os regressionistas:

a SBTVP Sociedade Brasileira de Terapia de Vidas Passadas e, a ANTVP Associao Nacional dos Terapeutas de Vidas Passadas (esta formada por ex-membros da SBTVP).

A ANTVP publica um jornal mensal com artigos sobre a regresso de vidas. A terapia de vidas passadas cativou profundamente a vrios psiclogos e muitos deixaram de lado os tratamentos ortodoxos e passaram a utilizar exclusivamente a TVP no trato de seus pacientes. A SBTVP nos d uma definio tcnica do que seria a regresso a vidas passadas:A Terapia de Vida Passada, de acordo com a SBTVP, uma abordagem psicoterpica que tem como princpio terico bsico a hiptese cientfica 1 da reencarnao e utiliza a regresso de memria como a tcnica base de tratamento. O tema da reencarnao sempre abordado como objeto de estudo de vrios cientistas renomados nesse meio, no tendo absolutamente quaisquer ligaes com aspectos msticos ou religiosos. A Terapia de Vida Passada admite tambm (como outras formas de psicoterapias) a existncia de um Inconsciente, com um conceito

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que transcende aos estudados at agora e que, quando bem acessado pela tcnica de regresso de memria, permite levar o paciente a entrar em contato com lembranas quer relacionadas a fatos da vida atual, quer relacionadas a existncias pregressas do mesmo e que tenham estreita ligao com seus problemas psquicos e/ou somticos do momento presente. Esse acesso possvel pela criao de um estado alterado de conscincia, mas sem a necessidade do uso da hipnose."

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O texto fala em hiptese cientfica da reencarnao. Aqui h exagero: a reencarnao uma possvel explicaes para as lembranas de outras vidas. Porm, dificuldades filosficas e cientficas surgem quando se analisa a idia. Alguns espritas acreditam que a confirmao cientfica da reencarnao se dar nos prximos anos; outros so mais otimistas: declaram que a cincia j ratifica a multiplicidade de vidas. Por enquanto, o que h de concreto a esperana dos adeptos de que a reencarnao um dia seja reconhecida como um fato cientfico. 2

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interessante destacar que a TVP concebe a existncia de um inconsciente com caractersticas diferentes do das teorias em voga. O regressionismo necessita de uma idealizao particularizada da parte oculta da mente, que v alm das teses atuais, e at mais extensa que noes mticas, como a do inconsciente coletivo, de Jung. Isto porque, as

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conceituaes clssicas no do suporte a idia de que se possa recordar vidas passadas.

Os psiclogos regressionistas exibem tanto entusiasmo com a TVP que, muitos deles, asseveram que os problemas existenciais so plenamente elucidados quando se descobrem os traumas ocorridos em outras vidas. medida que adentramos para um novo milnio, para uma nova Era, imensas mudanas esto ocorrendo no nosso planeta. E uma delas, diz respeito a essa grande oportunidade que estamos tendo de nos libertarmos de nossas limitaes. Limitaes, que se iniciaram, muitas vezes, em vidas passadas e que se perpetuam e vem prejudicando sua vida atual. Hoje, vrias pessoas falam em mudana. ... Conhecendo suas vidas passadas, voc pode liberar potenciais at ento bloqueados. Neste sentido, a Terapia Regressiva a Vivncias Passadas ou Terapia de Vidas Passadas (T.V.P) uma tcnica psicoterpica que utiliza como recurso teraputico a regresso de memria. E a regresso de memria tem por objetivo buscar a causa verdadeira do seu problema que lhe deixou marcar profundas e traumticas. ..." (Osvaldo Shimoda, terapeuta de vidas passadas)

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Terapia das VIDAS PASSADAS ... Uma viagem no tempo para desatar os ns do inconsciente e ficar livre para a evoluo. Assim, a terapeuta Clia Resende resume o objetivo da terapia de vidas passadas, cada vez mais procurada, no s por espiritualistas, mas tambm por judeus e catlicos, segundo ela. ... Mas ser que todos os problemas que vivemos no dia-a-dia tm causa em vidas passadas? Tanto Clia como Neusinha acreditam que, se no todos, a maioria dos problemas. "Temos trs nveis de memria. Durante a terapia fazemos uma anlise desses nveis e observamos que os problemas citados pela pessoa aparecem vrias vezes. Analisando a vida atual do paciente, desde sua infncia, constatamos que o grupo social e a forma como ele foi criado s intensificaram os problemas, mas no so a causa dele. A causa est em outras vidas", argumenta Clia."

(Divulgao na Internet dos trabalhos das terapeutas regressionistas Clia Resende e Neuzinha Aguillar)

Adiante apresentaremos comentrios detalhados sobre as idias de Clia Resende. De momento, ressaltamos a declarao de que a maioria das dificuldades de nossa existncia tenham origem em vidas passadas.

A TVP introduz uma idia radical nos postulados da psicologia: para os regressionistas a maior parte dos27

distrbios do esprito, ou seja, quase todos, so provenientes de tropeos ocorridos em vidas passadas. Na viso dos regressionistas as teorizaes clssicas sobre a personalidade estariam fundamentalmente equivocadas ou incompletas, visto que no levariam em conta a "verdadeira" origem dos problemas psquicos. Disso surge uma questo crucial para a avaliao que estamos a elaborar, que pode ser traduzida do seguinte modo: Afirma-se que a TVP seja um mtodo teraputico muito mais eficiente que quaisquer outras formas de psicoterapia. Ser que essa declarao se confirmar depois que a terapia de vidas for analisada detalhadamente? Os terapeutas regressionistas acreditam no potencial desse mtodo. H quem diga que a TVP superior medicina moderna! Ao final do livro traremos a questo de volta, ocasio em que acreditamos poder respond-la com segurana.

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CAPTULO 2

Reencarnao, a base da TVP

O embasamento terico para o regressionismo est na tese das mltiplas existncias, mais conhecida como reencarnao, que uma das premissas do espiritismo1. Grande nmero dos praticantes da terapia de vidas passadas formado por espritas kardecistas e por simpatizantes. Isso no demrito para ningum: cada um escolhe a religio que lhe satisfaz. A questo que o regressionismo assevera lidar com conceitos cientficos e isso no se demonstra, as concepes da TVP esto mais prximas da religiosidade que da cincia. h uma forma de espiritismo, praticada principalmente na Inglaterra, que renega a1

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reencarnao. no mnimo curioso a existncia de uma concepo espiritista que no adote o reencarnacionismo, considerando ser a reencarnao um dos pilares do espiritismo, mas o que sucede: os espritos que visitam os mdiuns ingleses quando se pronunciam sobre a reencarnao declaram-na uma fraude.

A TVP supe que se h lembranas de outras vidas significa que as pessoas viveram anteriormente; se as pessoas viveram outras vidas, ento, a reencarnao veraz...Dessa forma, a lgica do processo estaria consolidada. Queiram ou no os regressionistas, os alicerces da TVP so religiosos, visto que o fundamento cientfico para a reencarnao no foi encontrado. comum encontrar-se textos regressionistas falando sobre a concepo cientfica da reencarnao, ou coisa semelhante. Contudo, tal expresso de todo inadequada, pois no se sustenta com fatos.

O regressionismo trabalha com a hiptese da reencarnao sem apresentar explicao de como se processariam os renascimentos. Em outras palavras: admite a reencarnao mas no esclarece o funcionamento do mecanismo. (Mais um distanciamento da cincia). no espiritismo, portanto, que iremos buscar e discutir os conceitos sobre o reencarnacionismo. Desse modo, quando se fala de regresso a vidas passadas so inevitveis as referncias ao espiritismo,

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notadamente ao kardecismo, pois esta modalidade de espiritismo que defende a multiplicidade de vidas. Muitos textos espritas proclamam a incontestabilidade da reencarnao, no entanto a teoria ainda espera por uma prova cientfica. Os reencarnacionistas advogam que os variados renascimentos seriam o mtodo estabelecido por Deus para que a alma chegue perfeio. Quando, porm, se analisa o assunto com ateno surgem muitas dvidas. Faremos aqui alguns comentrios sobre as dificuldades dessa idia; noutro trabalho de nossa autoria, intitulado Reencarnao o sonho de viver muitas vidas, feita uma anlise minuciosa do assunto.

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PROVAS CIENTFICAS DA REENCARNAO

Escritos apologticos afirmam que a reencarnao est comprovada cientificamente. As provas, entretanto, se resumem a alegaes empolgadas, sem fundamentao. A argumentao que encontramos no de natureza cientfica. So vistas declaraes como: a nica forma de explicar tal acontecimento pela reencarnao; s pela reencarnao as injustias desse mundo so esclarecidas, etc. Tratam-se de consideraes apaixonadas, que atendem a expectativa dos aficionados, mas no tm cunho cientfico. Examinemos um texto dessa natureza:As principais evidncias cientficas da reencarnao so: Gnios Precoces, so crianas prodgios, que desde a mais tenra idade mostram possuir conhecimentos de tal ordem respeito de temas os mais diversos que seria impossvel explic-los sem a certeza de que viveram antes. Amadeus Mozart tocava piano aos 3 anos e violino aos 4 anos sem nunca ter visto um [?!]. Pierino Gamba foi maestro aos 11 anos. Pascal, matemtico francs discutia matemtica e geometria aos 12 anos. Miguel Angelo, com a idade de 8 anos, foi dispensado pelo seu professor de escultura porque este j nada mais tinha a ensin-lo. Kardec, examinando a questo pergunta aos benfeitores como entender este fenmeno [Livro dos Espritos questo 219] e eles dizem: 'Lembrana do

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passado,

recordao

anterior

da

alma."

(Reencarnao, Evidncias e Fundamentos Centro Esprita Celeiro de Luz).

Considera-se que seja impossvel explicar o porqu da existncia de gnios precoces, seno pela certeza de que viveram antes. Supor que os gnios viveram outras vidas, unicamente por manifestarem talentos desde a infncia, argumento de fraca sustentabilidade. Estamos diante de um equvoco de raciocnio: estabelece-se que o nico meio de explicar uma questo seria pela forma que o explicador apresenta. Quaisquer outras possibilidades so desprezadas. Seguindo por esse caminho, seria igualmente aceitvel afirmar que os gnios precoces so o resultado do cruzamento de humanos com extraterrenos. Haver, ainda, quem diga que os gnios sejam filhos de anjos. Todas essas explicaes sero plausveis e cientficas, desde que se admita que a idia bsica seja verdadeira, independentemente de estar ou no comprovada. A partir da se pode chegar a concluses lgicas. Por exemplo: tendo como certo que anjos eventualmente copulem com seres humanos, pode-se inferir que os filhos dessas unies sejam gnios precoces. No poucos achariam tal idia mais satisfatria que a da reencarnao...

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fcil encontrar formas de esclarecer a existncia de gnios precoces...O que no se pode dizer que tais postulaes sejam de cunho cientfico. Vejamos um esquema desses raciocnios:

Idia 1: Os gnios precoces so almas, experientes, que j viveram muitas vidas. Idia 2: Os gnios precoces so filhos de anjos. Idia 3: Os gnios precoces so filhos de ets.

Conseqncia: Por isso manifestam talentos especiais desde a infncia. Conseqncia: Por isso manifestam talentos especiais desde a infncia. Conseqncia: Por isso manifestam talentos especiais desde a infncia.

Concluso: esta uma prova cientfica da reencarnao. Concluso: esta uma prova cientfica da existncia de anjos. Concluso: esta uma prova cientfica da existncia de extraterrestres.

Basta considerar-se que determinada idia seja firme e a partir da constri-se um esboo coerente. Em religio a prtica comum. As religies trabalham com dogmas, que so pontos estabelecidos como fundamentais. O espiritismo tem os seus dogmas e at a tudo bem. O problema ocorre quando se afirma que as premissas deduzidas dos dogmas constituem provas cientficas. As peculiaridades da natureza humana, com uma quase infinita gama de variaes, um dado muito mais efetivo para esclarecer a ecloso de pessoas dotadas de elevada capacidade intelectual. Combinaes genticas privilegiadas, constituies cerebrais afortunadas e todo34

um emaranhado de interaes, ocasionalmente concentram-se nalgumas pessoas de forma vantajosa, dando-lhes capacidade intelectual ou artstica acima dos padres usuais. Nascem pessoas dotadas de fora fsica incomum; outras so possuidores de agilidade acima da mdia; h os que tm capacidade sensitiva admirvel...por que no nasceriam indivduos com inteligncias privilegiadas? Teramos de supor que as pessoas com fora fsica incomum teriam se exercitado bastante nas vidas passadas; os dotados de agilidade, teriam vindo de uma sucesso de vidas circenses, etc. bvio que teses assim formuladas no se mantm. Seria preciso desenvolver uma teoria, bem sedimentada, onde se demonstrasse que as qualidades extraordinrias que algumas pessoas apresentam, tanto fsicas quanto mentais, pudessem ser ligadas a experincias adquiridas em vidas pretritas. E, at onde sabemos, nenhuma explicao razovel foi apresentada. No boa atitude isolar apenas um aspecto, por mais colorido que seja, e utiliz-lo como prova de alguma coisa e deixando de lado outras manifestaes assemelhadas por no "interessarem" teoria. Para que a hiptese da reencarnao fosse aplicada aos gnios precoces, de igual modo deveria ser aplicada aos atletas precoces, aos dotados de elevada acuidade sensitiva, aos possuidores de resistncia fsica acima do comum, etc., etc.

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Reencarnaes numerosas, que dariam a algumas almas dianteira intelectual sobre outras, uma suposio muito incerta para ser acatada como vivel. A questo dos gnios precoces quando vista de forma ampla, se torna um argumento contrrio reencarnao em vez de favorvel. Vejamos: muitos gnios so limitados fora das reas onde se destacam. Pessoas geniais podem ser inbeis em rotinas que os medianos executam com facilidade. Os gnios possuem a energia mental direcionada aos campos do saber onde sobressaem; nas demais atividades esto dentro da mdia, ou mesmo abaixo; no aspecto moral - apesar do tema "moral" ser assunto ser um pouco complexo para ser debatido em poucas linhas -, nem sempre os gnios correspondem ao que deles se espera. Se fossem almas experientes e sbias, como supem os apologistas do reencarnacionismo, veramos os gnios sempre com ilibado padro de conduta. Freqentemente ocorre o contrrio...; nem sempre a criatividade dos gnios usada em benefcio da humanidade. So numerosos os exemplos de pessoas superdotadas que causaram grandes problemas aos que com eles conviveram e sociedade. Almas sbias no agiriam desse modo; os chamados "gnios-idiotas" (idiot sevant) constituem um desafio para os neurologistas e psiclogos, e tambm uma ducha de gua gelada na tese de "almas experientes". Os gnios-idiotas so capazes de feitos espantosos, como tocar um

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instrumento musical com mestria sem nunca terem estudado msica. Existem relatos sobre crianas que ao primeiro contato com um piano interpretaram composies de elevada complexidade. Jovens em tenra idade to logo tiveram acesso a pincel e tinta pintaram como artistas veteranos. Adolescentes que mal sabem ler efetuam clculos matemticos complicados com a velocidade de um computador. O espantoso que boa parte dessas criaturas prodigiosas possuem graves distrbios mentais. Algumas so to retardadas que no podem fazer muita coisa sozinhas. Fora do circuito onde manifestam talentos no tm a menor capacidade intelectual, so completamente incompetentes para levar uma vida normal. Fica difcil justificar a tese das variadas encarnaes quando se leva em conta os gnios idiotas.

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DIFICULDADES...

Foi dito que a tese da reencarnao acarreta dvidas. Vamos destacar duas delas, deixando as demais para um outro trabalho de maior amplitude. 1. o balano populacional; 2. a evoluo das almas.

O Balano PopulacionalA populao do planeta aumenta progressivamente. Este um dado concreto: apesar das guerras, das epidemias, do trnsito, dos fast foods, dos vcios, e tantas coisas que ceifam precocemente a vida de milhes e milhes, o nmero de habitantes do planeta est em contnuo crescimento. O espiritismo teoriza que as almas foram criadas antes dos corpos. Portanto, no so gerados espritos novos; os que existem existem desde a criao. O que as almas38

fazem adentrar num novo corpo logo que lhes chegue a vez de reencarnar. E assim, encarnando vida aps vida, e progredindo, chegam ao ponto ideal, perfeio, quando estaro livres dos retornos peridicos carne. Seria de esperar que o contingente populacional se mantivesse equivalente ao longo das geraes. As variaes no seriam expressivas. Entretanto, o que ocorre o constante aumento do nmero de habitantes na Terra. O kardecismo no se abala ante essa questo, teoriza sobre a existncia de um fluxo migratrio de almas entre os corpos celestes, que seria a explicao para o crescimento populacional. Acontece que as transferncias espaciais do ensejo a conjecturas de difcil comprovao. Por exemplo, alguns autores esotricos referem-se a uma imaginada migrao de almas da estrela Capela para a Terra. Essas almas no estariam moralmente altura do desenvolvimento cientfico e tecnolgico de Capela e foram condenadas a viverem num planeta primitivo (neste caso, a Terra) at que aprendessem bons modos. Tais espritos, dizem, foram responsveis pelas grandes civilizaes do passado, quais a egpcia, a indiana e outras.Embora seja rotina, somente agora, graas ao desenvolvimento tecnolgico humano, os meios de comunicao noticiam com freqncia a exploso, nascimento e morte de estrelas e a existncia de outras galxias do universo. A Terra foi criada numa dessas exploses e logo

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destinada ao recolhimento de exilados de outros planetas, entre eles Capela. Vrias fontes espiritualistas confirmam a existncia de Capela e registram a imigrao depois de ter ocorrido um processo seletivo na populao daquele planeta seguido de exploso. Os seres menos evoludos ou que resistiram em evoluir foram enviados para c. Antes, durante e depois dessa deciso a engenharia csmica teve que elaborar estudos no sentido de melhor acomodar os exilados e devido densidade vibratria do Planeta teve que desenvolver uma criatura que acomodasse os espritos exilados. Essa limpeza j est acontecendo na Terra, gradativamente. Talvez seja isso que muitas seitas profetizam como juzo final. (Jos Joacir dos Santos - jornalista e terapeuta holstico) ___________________ Segundo a crena esprita, milhares de anos atrs, um grupo de seres oriundos de uma estrela longnqua foi degredado para o nosso planeta. Algumas tradies afirmam que essa estrela se chama Capela e, desde a chegada desses seres, ocorreram profundas transformaes, delineando novos rumos para a civilizao que comeava a se formar no globo terrestre. J entramos no terceiro milnio, e comeamos a experimentar as turbulentas manifestaes do expurgo a que ter de se submeter o planeta Terra para atingir sua nova fase evolutiva. Para a doutrina esprita kardecista, esta uma fase de mudanas; ela explica que os espritos aqui instalados passaram por terrveis provaes e adversidades ao longo de inmeras encarnaes, e todos tiveram o apangio do livre-arbtrio. Muitos aprimoraram a inteligncia, em detrimento do amor incondicional; outros se tornaram seres amveis e humildes, mas intelectualmente

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atrofiados. Enfim, todos seguiram por caminhos diferentes, mas tiveram oportunidades para aprender as mesmas lies. (Exilados na Terra Nathalia Leite)

Provavelmente, haver um momento em que se comprove que Capela no abriga seres vivos inteligentes. Isso porque as pesquisas cientficas sobre viventes alm da Terra revelam que a ecloso de vida em qualquer parte do cosmo no um fato to banal quanto julgam alguns: a vida inteligente, caso exista em outras partes do universo, ser um evento raro. E quando ficar evidente, acima de quaisquer dvidas, que Capela no abriga seres dotados de inteligncia, que diro os defensores da suposta migrao de almas? Em passado no muito distante, pessoas falecidas na Terra eram localizadas por mdiuns nos planetas prximos ao nosso. Vnus, Marte ou Saturno se tornava o novo endereo dos que aqui viveram. No livro Reencarnao o Sonho de viver muitas vidas abordaremos melhor a questo. Por ora, fiquemos com algumas apreciaes imprescindveis para a compreenso do assunto.Segundo os Espritos, de todos os mundos que compe o nosso sistema planetrio, a Terra dos de habitantes menos adiantados, fsica e moralmente. Marte lhe estaria ainda abaixo, sendo-lhe Jpiter superior de muito, a todos os respeitos. O Sol no seria mundo habitado por

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seres corpreos, mas simplesmente um lugar de reunio dos Espritos superiores, os quais de l irradiam seus pensamentos para os outros mundos, que eles dirigem por intermdio de Espritos menos elevados, transmitindo-os a estes por meio do fluido universal. Considerado do ponto de vista da sua constituio fsica, o Sol seria um foco na alma primitiva, a inteligncia e a vida se acham no estado de grmen." (Livro dos Espritos questo 188 - Allan Kardec). Allan Kardec afirmou ter recebido tais orientaes dos espritos superiores. Hoje sabe-se que essas idias so infundadas: Marte, Jpiter, o Sol e todos os planetas e satlites do sistema solar no abrigam vida inteligente. Assim, os espritos que orientavam Kardec apresentaram informaes inverdicas (notem que Allan Kardec declarou ter consultado os espritos merecedores de crdito). Se os espritos falharam ao discorrerem sobre a realidade dos planetas do sistema solar, como se pode dar crdito s revelaes sobre as migraes de almas, provindas de Capela e de outras plagas remotas? O espiritismo supe que o cosmo regurgita vida. Os seres viventes estariam espalhados por todos os cantos do universo. Dizem relatos espritas que existem muitos astros habitados por espcimes cientificamente desenvolvidos. No s planetas, quaisquer corpos celestes servem de residncia s

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almas. Allan Kardec declarou que o sol era utilizado como ponto de reunio de espritos. Estas idias no so apoiadas pelas pesquisas astronmicas. Para o espiritismo, a declarao de Jesus: Na casa de meu Pai h muitas moradas uma comprovao de que as criaturas de Deus habitam vrios planetas no cosmo. Entretanto, a assertiva de Cristo de modo algum pode ser entendida como ratificao da existncia de vida em outros mundos, o contexto em que foi proferida no permite tal ilao. imprescindvel analisar sob que enfoque a frase foi dita, a fim de no chegarmos a concluso infundada. Jesus dizia carinhosamente aos discpulos que lhes iria preparar lugar no Cu, pois na "Casa do Pai" havia muitas moradas. Fica difcil, baseado nesse texto, fazer qualquer comentrio sobre a vida em outros planetas. A frase integra o discurso de despedida de Jesus a seus discpulos, quando o mestre percebia iminente o incio de seu flagelo, o qual culminaria com a crucificao. Ele prepara o corao dos colaboradores para os eventos que seguiriam a sua priso e deixa-lhes uma mensagem de consolo e de esperana. Nada h no discurso de Jesus que remeta idia de vida extraterrena. O texto encontra-se no Evangelho de Joo, captulo 14. Faamos a leitura: No se turbe o vosso corao; credes em Deus, crede tambm em mim.

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Na casa de meu Pai h muitas moradas; se no fosse assim, eu vo-lo teria dito; vou preparar-vos lugar. E, se eu for e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos tomarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vs tambm. E para onde eu vou vs conheceis o caminho. Disse-lhe Tom: Senhor, no sabemos para onde vais; e como podemos saber o caminho? Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ningum vem ao Pai, seno por mim. ... [Observa-se que no h no discurso de Jesus qualquer insinuao a outros planetas ou coisas semelhante.]

Quando o assunto vida fora da Terra deparamos muito folclore e pouca coisa objetiva. Desde o primrdio da doutrina kardecista, em meados do sculo XIX, que mdiuns afirmam comunicar habitantes de outros mundos, contudo essas comunicaes no resistem a uma avaliao. Os contatos com habitantes de Marte, Vnus, Saturno foram muito intensos h at alguns anos...Entretanto, diminuram grandemente aps a Astronomia comprovar a impossibilidade de existir vida em qualquer planeta do sistema solar, alm da Terra. Somente alguns visionrios ainda insistem. Diamantino Coelho Fernandes exemplo de mdium dito especializado em informaes sobre os viventes de outros planetas. Ele afirmava receber recados da Virgem Maria e de Jesus Cristo e, certa ocasio, declarou que

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Maria o brindara com notcias minuciosas sobre o planeta Saturno. O que deu origem obra intitulada A Vida em Saturno, em cuja introduo lemos:Desejo dizer algumas palavras aos leitores deste pequeno livro ditado pelo Esprito da Excelsa Me de Jesus, justificando o seu aparecimento aps a publicao do Corolarium, considerado a obra medinica mais importante aparecida na Terra neste sculo findante. Saturno vem sendo observado e estudado h muitos sculos por diversos cientistas da astronomia, porm, devido sua posio longnqua de nosso pequeno mundo terreno, muito pouco ou quase nada se sabia a respeito de sua populao, nvel espiritual, hbitos e costumes, dados realmente impossveis de desvendar simples observao telescpica...Desejando contribuir na medida do possvel para o maior conhecimento da vida e costumes dos habitantes de Saturno, eu pedi ao querido Irmo Thom para consultar a Excelsa Me de Jesus, sobre se lhe seria possvel obter maiores informes acerca da vida em Saturno... Saturno um dos planetas mais evoludos do nosso sistema solar, abrigando uma populao de almas encarnadas calculada em cerca de sessenta bilhes. Dizendo almas encarnadas, eu desejo esclarecer que se trata de corpos fsicos muito semelhantes aos da Terra, apenas um pouco mais leves, porque constitudos de matria mais rarefeita. As almas encarnadas em Saturno possuem hbitos muito semelhantes aos da Terra, sendo, porm, mais refinados...

(A VIDA em SATURNO Diamantino Coelho Fernandes).

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Diamantino Coelho respeitado no meio esprita e seus livros ainda vendem bastante. No texto acima vimos que ele intitula um livro de sua autoria de a obra medinica mais importante do sculo. O mais surpreendente na obra de Diamantino a afirmao de que Saturno possui vida abundante e uma civilizao avanada. A cincia descarta esse sonho: as pesquisas do conta que Saturno um planeta inspito. Diamantino Coelho, alm de descobrir vida em Saturno, vai mais longe, descreve em mincias a rotina dos saturninos. Garante que as informaes lhe foram passadas pela Me de Jesus! O escrito de Diamantino Coelho, e outros do gnero, ilustra a fantasiosa criatividade de adeptos da reencarnao. Diamantino Coelho no explica uma srie de fatos que tornaria impossvel haver vida em Saturno, pelo menos da forma como conhecemos. Ele diz que os saturninos tm uma vivncia muito semelhante nossa, seriam apenas um pouco mais evoludos e melhor organizados. Um detalhe, dentre vrios que Diamantino no aborda, sobre a atmosfera de Saturno, cuja constituio diferente da Terra. Ns respiramos principalmente oxignio e nitrognio. Os saturninos respirariam hidrognio, hlio e metano. Essas peculiaridades fariam com que os supostos habitantes de Saturno possussem uma constituio orgnica completamente distinta da nossa. Outro detalhe: em Saturno venta constantemente. As tempestades de vento que l ocorrem fazem os

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devastadores furaces e tufes terrestres parecerem brisas amenas. Diamantino no explica como os saturninos enfrentam as furiosas ventanias. Caso houvesse vida em Saturno - possibilidade que a cincia descarta - os que l vivessem seriam to diferentes de ns que talvez nem os reconhecssemos como seres vivos. Jamais poderiam ser como afianou o mdium: corpos fsicos muito semelhantes aos da Terra, apenas um pouco mais leves, porque constitudos de matria mais rarefeita. Sobre a vida fora da Terra, a cincia considera plausvel que existam outros viventes no Cosmo. Contudo, nenhuma comprovao foi encontrada. Cientistas dedicados estudam o assunto com invulgar seriedade, mas uma resposta conclusiva at o presente no surgiu. No livro nominado Esoterismo fantsticas descobertas apresentamos comentrios mais amplos. Alguns tericos do espiritismo sustentam que as descries de vida inteligente em Marte, Saturno e outros seriam reais. Sucederia que os moradores desses planetas no estariam interessados em ser vistos por ns, pois haveria problemas de toda a ordem caso pudssemos contat-los. Dessa forma, criam um campo magntico em torno deles que os torna invisveis... Como exerccio de imaginao tudo bem, porm no existe qualquer dado concreto que d apoio a tal idia. Quando o conhecimento sobre o sistema solar era incipiente, multiplicavam-se mensagens medinicas alegadamente vindas dos planetas vizinhos. O desenvolvimento da astronomia desmentiu tais fices.

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Em conseqncia, os seres que se acreditava vivessem nos astros do sistema solar, misteriosamente sumiram. Somente alguns renitentes acreditam haver vida nos planetas prximos Terra e, por conta dessa insustentvel crena, continuam a receber informaes. Outros mdiuns passaram a fazer contatos com moradores de estrelas distantes... Diamantino Coelho um exemplo dentre muitos. O prprio Allan Kardec proferiu declaraes sobre a vida em alguns dos planetas do Sistema Solar, que no guardam nenhuma semelhana com a realidade.

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EVOLUO DAS ALMAS

O conceito de evoluo dos espritos integra a teoria reencarnacionista, mas apresenta algumas dificuldades, que comprometem a tese. dito que a reencarnao promove o aprimoramento das almas. A cada vivncia o esprito melhoraria um pouco. Allan Kardec declarou que o esprito no regride, alguns progridem rapidamente, outros so mais lentos... O espiritismo ensina que, aps a morte, a pessoa reavalia a vida que levou e prepara o caminho para uma nova encarnao em condies melhores. Desse modo, est em constante aprimoramento e evoluindo sempre. Levando em conta o pensamento esprita, esperar-se-ia que as almas se esforassem por acelerar a caminhada rumo mxima evoluo. Ningum pretenderia se atrasar nessa jornada. Assim, no haveria grande distanciamento entre os espritos. As diferenas seriam mnimas e devidas a pequenos tropeos. Jamais poderamos contemplar o que vemos no mundo: juntamente com pessoas exemplos extremados de bondade, coexiste quem pratique o mal em grau quase inacreditvel.

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A teoria da evoluo das almas no muito firme. Ela postula que as almas foram criadas simples e dotadas de livre-arbtrio para procurarem o que lhes conviesse, ou o bem ou o mal. A levar em conta a tese, a maioria dos seres opta pelo mal e atrasa enormemente sua caminhada evolucionista. A confuso tal que convivem no mesmo plano espritos de alto nvel moral juntamente com outros no mais baixo nvel da barbrie. Isso fere a lgica da teoria, pois seria espervel que as almas buscassem ardentemente o bem.

As grandes diferenas morais entre os seres no bem explicada pelas teses espritas. A hiptese de que algumas almas na corrida pela perfeio adquirem grande vantagem sobre outras, contraria a mecnica do processo. Se as almas foram criadas em iguais condies, com igual capacidade de percepo e de entendimento, seria inaceitvel conceber que houvesse marcantes diferenas na evoluo dos espritos. Por mais boa vontade que se tenha para com a idia da reencarnao, vemos que existem diversos pontos que tornam a tese de frgil sustentao.

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CAPTULO 3

Regresso, promessa de soluo dos problemas existenciais

O seguinte artigo, do escritor Jos Reis Chaves, traz informes interessantes sobre a regresso de vidas:"A

Era da TVPA regresso de memria ou Terapia de Vida Passada (TVP) limitava-se antes a ir s at vida intra-uterina. Hoje, ela vai at s outras vidas anteriores do esprito. A TVP acessa o arquivo acashico da Teosofia, do Rosacruz, dos orientais, maons e do Livro da Vida do Apocalipse, o que implica aceitar a

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reencarnao, que a doutrina mais lgica que existe. Porm, a maioria dos dirigentes religiosos cristos prefere defender seus interesses particulares a aceitarem o bvio. Sabe-se, todavia, que muitos pastores, padres e bispos submetem-se sigilosamente TVP. E o certo que a reencarnao est em vrias partes da Bblia, como lemos em J 8,9: Somos de ontem, e nada sabemos. Mas esses dirigentes religiosos vo chegar l! Depois de mais de 300 anos do Heliocentrismo, a Igreja acabou reconhecendo oficialmente que Galileu estava certo, tirando dele, recentemente, a excomunho! A TVP uma realidade cientfica, e no religiosa. E conta hoje com o aval internacional de grandes representantes da cincia, como os americanos: psiquiatras Dr. Morris Netherton, Dr. Brian Weiss, Dra. Helen Wambach e Dr. Roger Woolger, e psiclogos Dr. Bruce Goldberg e Dr. Ken Wilber, um junguiano que revoluciona a Psicologia Moderna, e autor de O Espectro da Conscincia; o psiquiatra ingls Alexandre Cannon, que relutou durante 50 anos em aceitar a reencarnao, e que comanda uma equipe de 70 terapeutas que j fizeram, em conjunto, mais de um milho de regresses; o canadense Dr. Joel Whitton, Catedrtico de Psicologia da Universidade de Toronto, Canad; e o alemo Dr. T. Dethlefsen, Catedrtico de Psicologia da Universidade de Munique, Alemanha. Obras de TVP desses eminentes cientistas e de outros esto editadas em vrias lnguas em todo o mundo. No Brasil temos as psiquiatras Dra. Maria Teodora, da UNICAMP, com vrios cursos de TVP nos Estados Unidos, autora de Os Viajantes, e Presidente da SBTVP (Sociedade Brasileira de TVP), Campinas, SP, e a Dra. Maria

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Aparecida Siqueira Fontana, Presidente da ANTVP (Associao Nacional de TVP), Campinas, SP, e muitos outros grandes mdicos e psiclogos de todos os Estados brasileiros que o espao no nos permite citar aqui. Podem fazer o curso de TVP mdicos e psiclogos. Locais: na SBTVP, em Campinas, no INTVP (Instituto Nacional de TVP), no Rio de Janeiro, e na ANTVP, em Campinas e Belo Horizonte, onde tem incio uma turma, de fevereiro de 2003 a julho de 2004. Informaes com os terapeutas Dr. Lus Carlos Fris: (031) 3213-8499 e Dr. Lus Carlos Braga: (031) 3222 6596. A TVP est curando as pessoas de seus males provenientes no s de um passado propnquo, mas tambm de um passado longnquo. a nova era da medicina. A era da TVP! (Autor do livro A Reencarnao Segundo a Bblia e a Cincia)

Sugerimos que os leitores examinem esse artigo com bastante ateno, pois est coalhado de incoerncias. Veja se consegue identific-las. No captulo 11 o analisaremos detalhadamente, por hora destacamos a manifestao do autor sobre o potencial da TVP: curar os males oriundos do passado recente e traumas originados em vivncias remotas. Atribui-se terapia de vidas passadas valor teraputico dificilmente encontrado em outro segmento da medicina. Mais adiante, quando apresentarmos consideraes sobre Brian Weiss, veremos que o terapeuta norte-americano, semelhana de Reis Chaves,

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afirma que a TVP superior a qualquer outra tcnica mdica. Jos Reis Chaves declara que a TVP uma que a realidade cientfica! supe-se, ento, terapia de vidas esteja firmada em teorias de boa fundamentao. Portanto, se conhecermos o embasamento cientfico da TVP, ficar fcil admitirmos (ou no) sua plausibilidade.

Os terapeutas regressionistas indicam a terapia de vidas passadas para uma vasta gama de males psquicos:A Terapia de Vidas Passadas poder auxiliar, tambm desenvolvendo novos potenciais, despertando talentos e integrando a pessoa com o seu verdadeiro propsito da vida. indicada nos casos de: Sintomas fsicos: doenas crnicas, doenas repetitivas, tenso pr-menstrual, enxaquecas, tenses corporais, dores e problemas sem possibilidade de diagnstico mdico. Distrbio de sono: insnia, excesso de sono. Distrbios de alimentao: bulimia, anorexia. Pesadelos freqentes. Dificuldades ou bloqueios sexualidade, abusos sexuais. com relao Medos: medos conscientes e inconscientes (apreenso sem causa definida), fobias, pnicos, sndrome de pnico. Timidez, inibies, insegurana, culpa, passividade, covardia, autocensura, medo de errar, medo de se expressar em pblico.

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Traumas e bloqueios que limitam ou impedem o desenvolvimento pessoal, profissional ou emocional. Compulses, vcios, autodestrutivo. manias, comportamento

Ansiedade, angstia, depresso, apatia, tristeza crnica. Cimes, possessividade, desconfiana. Problemas de relacionamento familiar, conjugal, social ou profissional. Relacionamentos difceis, dolorosos, entre marido e mulher, pais e filhos, entre irmos, etc. Carncia afetiva, medo da solido, da rejeio e do abandono. Sentimentos bloqueados. Averses diversas, contrariedades, revolta, impulsividade, agressividade, perda de controle. Dificuldades financeiras, dificuldade concretizar e atingir objetivos. Preocupao excessiva com o futuro. (www.eradourada.com.br/) para

A proposta teraputica da TVP ambiciosa. Num primeiro momento possvel admitir que nenhuma tcnica mdica oferecesse cuidar de males to variados se no fosse calcada em resultados consistentes. No preciso ser especialista em psicologia para perceber que quem promete curas para to vasta gama de males, com o uso de uma teraputica superficialmente conhecida e cheia de contradies, est movido55

unicamente pela paixo. No acontece a prtica de uma boa medicina, a empolgao dos adeptos os leva a valorizar excessivamente um mtodo eivado de incertezas. interessante destacar que a psicoterapia baseada na hipnose (sem regresses a vidas passadas) tambm oferece alvio para os problemas relatados. Com a vantagem de ser a hipnoterapia um mtodo melhor sedimentado. Ou seja, a hipnoterapia pode ser aplicada no trato desses males e dispensar o uso das vidas passadas. A terapia de regresso de vidas entra no processo hipntico como um ingrediente colorido, que pode estimular a cura em pessoas dadas a supersties.

indispensvel examinar-se as postulaes da TVP, para que possamos concluir se a prtica tem coerncia, ou se trata de uma proposta embasada em doutrina sem consistncia. Esta a maneira adequada de formar um juzo seguro sobre o assunto.

Ao examinarmos o discurso da terapia de vidas passadas, percebemos de imediato a insero de componentes no cientficos. Relatos regressionistas falam da participao de espritos desencarnados durante as lembranas. como se os espritos pegassem carona nas regresses para enviarem seus recados. Brian Weiss e Clia Resende produziram textos ilustrativos:

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Meus braos estavam arrepiados, Catherine no podia conhecer aqueles dados. No havia nem onde busc-los...Era muita coisa, muitas informaes especficas...E se ela podia revelar essas verdades, o que mais havia? Eu precisava saber mais... Quem, gaguejei, quem est a? Quem lhe diz estas coisas? Os mestres, sussurrou ela, os Espritos Mestres me dizem. Eles me dizem que vivi oitenta e seis vezes em estado fsico. Minha vida jamais voltaria a ser a mesma. Uma mo descera e alterara irreversivelmente seu curso. Todas as minhas leituras, feitas com um cuidadoso esprito escrutinador e neutralidade ctica, se encaixavam. As lembranas e mensagens de Catherine eram verdadeiras. Minhas intuies sobre a exatido de suas experincias estavam corretas. Eu tinha fatos. Tinha a prova. (Muitas Vidas, Muitos

Mestres Brian Weiss)

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Pude perceber isso em minha prtica clnica, quando me deparei com vtimas de obsessores, como ocorreu durante uma sesso de terapia com uma paciente chamada Regina... Nestes casos, primeiro entro em contato com as equipes espirituais, para, em harmonia, cada qual cumprir suas tarefas. Depois, conversando com o ser desencarnado, procuro ajud-lo com informaes esclarecedoras, emitindo impulsos mentais de fora eletromagntica capazes de criar um campo de fora protetora. A equipe espiritual, atuando na dimenso astral, utiliza esse campo para

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completar o trabalho, muitas vezes de imobilizao do obsessor, numa forte rede magntica. (TERAPIA DE VIDAS

PASSADAS Clia Resende)

Boa parte dos textos que exaltam as qualidades da TVP seguem a mesma linha desses. Depreende-se que a terapia de vidas passadas no se restringe s lembranas de outras vidas: tambm funciona como canal de comunicao com o outro mundo. Serve, ainda, para identificar a presena de obsessores...e outras aplicaes do gnero... Nota-se que diversos elementos ocultistas esto inseridos nos preceitos da terapia de vidas, isso a aproxima do esoterismo e a distancia da cincia. Assim, a declarao de que a TVP seja uma realidade cientfica fica abalada.

Nos prximos captulos apresentaremos detalhes da teoria da regresso a vidas passadas.

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CAPTULO 4

Lembranas...

A TVP garante que lembrar vidas passadas prtica saudvel, porque facilita a descoberta de traumas ocultos e acarreta uma experincia engrandecedora. As declaraes dos terapeutas regressionistas so recheadas de otimismo e de garantias de curas quase milagrosas. Uma terapeuta regressionista, cujo trabalho ser analisado neste livro, defende que praticamente todos os males do esprito sejam conseqncia de traumas em vidas passadas. Leiamos alguns comentrios ilustrativos:

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"TERAPIA DE VIDA PASSADA: DOENAS E CURA A Terapia de Vida Passada, o estimula a buscar em si, no seu prprio inconsciente o segredo para viver melhor e mais feliz. Desatando alguns ns, s vezes muito dodos, que ele vem trazendo ao longo do tempo no seu inconsciente. Abrindo esta caixinha de segredos, podemos ter muitas surpresas...so histrias e fatos vividos por ns, portanto merecem muito carinho e muito respeito ao serem olhadas e remexidas. O terapeuta ajudar voc nesta busca, e ter que faz-lo com muito cuidado. Vamos buscar respostas para que voc possa ser mais feliz e conseqentemente aqueles que o rodeiam tambm...Quem ser voc? resultado atual de quantos personagens vividos atravs dos tempos, somatria de quantas emoes. Pensando assim d para comearmos a entender porque as vezes ns nos achamos to complicados.... Assim funciona a TVP. Nada mais sendo que um passeio pelo passado. Vale a pena abrir este ba." (MARIA APARECIDA

FONTANA - formada em TVP pela Associao Brasileira de Terapia de Vida Passada.)

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A tvp atua fora dos limites do espao e do tempo fazendo um trabalho de arqueologia da alma, buscando a origem das dificuldades que afligem a nossa vida. Esse procedimento visa retirada das camadas de defesa cristalizadas sobre a memria, uma aps a outra, ao longo de vrias encarnaes. ...Com a regresso e terapia de vidas passadas, podemos dissolver os ndulos krmicos, liberando o fluxo de energia retido no passado e, assim, aumentar potencial que conduz a uma qualidade de vida melhor."

(CLIA RESENDE Terapia de Vidas Passadas).

__________________________________O que so Intervidas? Intervidas o perodo entre duas encarnaes. Ou seja, o perodo em que estamos no mundo espiritual. possvel, durante a regresso, recuperar memrias relacionadas este perodo. Normalmente, buscamos nesta fase memrias relacionadas ao planejamento da vida atual. (Trecho de um artigo publicado no jornal da Associao Brasileira de Estudos e Pesquisas em Terapia de Vivncias Passadas - ABEPTVP)

Os regressionistas garantem que o perodo que a alma vive fora do corpo, chamado intervida, tambm pode ser lembrado. Caso a regresso funcionasse da forma como asseveram seus partidrios, teria um alcance jamais imaginado por qualquer outra forma de terapia...

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As lembrana de outras vidas so consideradas altamente saudveis pelos praticantes da regresso. Em contradio, o espiritismo kardecista, h mais de 150 anos, ensina que a recordao de vidas danosa aos seres humanos, conforme veremos nos textos seguintes. O regressionismo defende que lembrar existncias pregressas faz bem; o espiritismo afirma que tais lembranas so danosas:Em vo se objeta que o esquecimento constitui obstculo a que se possa aproveitar da experincia de vidas anteriores. Havendo Deus entendido de lanar um vu sobre o passado, que h nisso vantagem. Com efeito, a lembrana traria gravssimos inconvenientes. Poderia, em certos casos, humilhar-nos singularmente, ou, ento, exaltar-nos o orgulho e, assim, entravar o nosso livre-arbtrio. Em todas as circunstncias, acarretaria inevitvel perturbao nas relaes sociais." (O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO captulo V)

__________________________________Mas, ao mesmo tempo que o Esprito recobra a conscincia de si mesmo, perde a lembrana do seu passado...o seu renascimento lhe um novo ponto de partida, um novo degrau a subir. Ainda a a bondade do Criador se manifesta, porquanto, adicionada aos amargores de uma nova existncia, a lembrana, muitas vezes aflitiva e humilhante, do passado, poderia turb-lo e lhe criar embaraos. Ele apenas se lembra do que aprendeu, por lhe ser isso til. Se s vezes lhe

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dado ter uma intuio dos acontecimentos passados, essa intuio como a lembrana de um sonho fugitivo." (A GNESE, Os Milagres e as Predies Segundo o Espiritismo).

__________________________________Se reencarnamos para ressarcir dvidas, no seria interessante guardar a lembrana delas? No haveria maior facilidade em aceitar sofrimentos e dissabores que ensejam o resgate? O objetivo primordial da existncia humana a evoluo. O resgate de dvidas apenas parte do processo. Quanto ao esquecimento, funciona em nosso benefcio. Seria impossvel incorporar, sem perturbador embaralhamento, o rico, o pobre, o negro, o ndio, o branco, o amarelo, o analfabeto, o letrado e tudo mais que j fomos, em mltiplas encarnaes. ilustrativo que muita gente vai parar em hospitais psiquitricos simplesmente por sofrer a presso de plidas lembranas, envolvendo acontecimentos pretritos. Chegar o tempo em que plenamente das vidas anteriores? recordaremos Sim, na medida em que se torne mais sofisticado o crebro, habilitando-nos a recuperar informaes confinadas no inconsciente; em que se depure o sentimento, para que contemplemos o passado sem constrangimento; em que sejamos capazes de evitar desajustes decorrentes de um embaralhamento de lembranas? Levar milnios, talvez, mas chegaremos l. (Reencarnao: Tudo o que voc precisa Saber - Richard Simonetti)

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Os espritas que aderiram ao regressionismo parecem no perceber que essa tese agride uma das premissas do kardecismo: o esquecimento das existncias pregressas. No sabemos como conseguiro harmonizar o conflito. difcil conciliar teses antagnicas: uma idia anula a outra... Alis, alguns espritas mais atentos se pronunciam contrrios ao regressionismo, (noutro captulo apresentaremos textos exemplificativos). Porm, outros kardecistas, como Jos Reis Chaves (do qual apresentamos diversos artigos neste livro), abraam a teoria sem qualquer remorso. Estes, ou no vem, ou no querem ver, a contradio entre o kardecismo e o regressionismo. Em termos lgicos pode-se afirmar que a suposio sobre os malefcios das lembranas tem mais sentido. Basta pensar um pouquinho nas diversas situaes que as recordaes podem desencavar, para concluir que o melhor seria no lembrar. Veja no captulo 9, sob o ttulo Almas Gmeas, uma reflexo sobre o assunto.

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CAPTULO 5

Regresso, anlise de um caso

Analisemos um caso de regresso, relatado por Clia Resende, uma dedicada terapeuta regressionista.Adlia, uma jovem assessora de imprensa, de 27 anos, rememora uma vida sua como um homem participante da Revoluo Francesa. acusado, aprisionado e, aps um interrogatrio traumtico, acaba denunciando seus companheiros. Ao confrontar um deles antes de ser decapitado, acusado de traidor. Isso o deixa transtornado, pois, ao ser preso, fora abandonado por eles, sofrendo torturas insuportveis. Ainda assim, fora considerado traidor. Enquanto a terapia se desenvolvia, reestimulada vivenciava o momento do interrogatrio, deslocando a figura do inquisidor para o meu papel de terapeuta.

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A cada comando que eu dava, ela seguia em silncio e com contraes musculares, tentando desta vez no abrir a boca, como fizera no passado. Durante quase uma hora, qualquer comando era recusado com silncio, at que percebi o que estava acontecendo e decidi comunicar-lhe que ela no precisava responder a mais nada. Poderia permanecer calada por quantas sesses quisesse. Assim consegui vencer o bloqueio causado pela fuso das vivncias do trauma do interrogatrio, que no presente ela tentava compensar com o silncio, mudando a realidade para no se sentir traidor. Com a terapia de regresso, muda-se o enfoque e, deslocando-se o ponto de vista do observador, leva-se o paciente a confrontar e superar seus medos e a sair da paralisao que impede sua evoluo nesta vida... (CLIA RESENDE Terapia de Vidas Passadas Nova Era 2000).

Clia Resende estudiosa de temas ocultistas, conhece assuntos e autores esotricos como poucos. , tambm, uma apaixonada terapeuta regressionista, e utiliza a terapia de vidas passadas, conforme declara, para "desatar os ns do inconsciente". Das idias dessa autora faremos adiante uma anlise acurada. Nessa narrativa deparamos uma tpica sesso de TVP e a metodologia aplicada na soluo do trauma da paciente. Um bom caso para avaliao: Adlia, a jovem assessora de imprensa, apresentava dificuldades de relacionamento: preferia ficar calada a falar.

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Clia Resende investiga o caso e descobre que a moa fora um revolucionrio (um homem) durante a Revoluo Francesa. A verso masculina de Adlia, havia sido preso e torturado, terminando por delatar os companheiros e por isso recebera a pecha de traidor. Clia Resende apresenta esse diagnstico com admirvel tranqilidade: claramente acontece a troca da boa psicologia por suposies nebulosas. A profissional no levou em conta as muitas dificuldades embutidas na hiptese de que algum possa carregar consigo traumas gerados em encarnaes passadas.

A terapeuta conclui que a origem das contradies existenciais da sofrida Adlia no estava em situaes vividas nesta existncia. Fora, sim, a Revoluo Francesa a causadora dos problemas de comunicao da paciente! E quem sofreu o trauma no foi Adlia, foi uma figura masculina na qual Adlia estave encarnada. No entanto, dessa figura masculina no existem informaes que a identifiquem com algum que realmente tenha existido. Esta uma caracterstica de muitas das regresses, talvez da maioria delas: as personalidades recordadas no tm nome, no possuem filiao...no se relata coisa alguma que lhes permita identific-las...so apenas nebulosos desconhecidos...nada mais! Os profissionais que lidam com o regressionismo no levam em conta este importante aspecto: a maior parte das regresses so descries difusas, mais

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assemelhadas a sonhos que a informaes reais. Somente poucas narrativas trazem informes substanciais que permitam uma averiguao da suposta revivncia. Na maioria das lembranas no so apresentados dados importantes para a identificao da personalidade pretrita. Se algum est a recordar uma vida passada, deveria recordar em detalhes quem foi. Sonhar com um roteiro vago, pouco detalhado, pe sob suspeio a realidade das lembranas.

Os mtodos tradicionais de tratamento de fobias e neuroses buscam que o paciente perceba com clareza os eventos que originaram seus desajustes. A viso esclarecida facilita uma postura existencial equilibrada. Muitas pessoas no tm a ventura de crescerem em ambientes psicologicamente saudveis, o que ocasiona desarmonias psquicas variadas. O trabalho do psiclogo ou do psiquiatra auxiliar o doente a superar seus traumas e adquirir uma disposio saudvel diante da vida. A TVP desloca a origem dos desajustes da personalidade. Na tica do regressionismo, esses desajustes so originados em tragdias acontecidas em vivncias passadas. O problema que o embasamento para essa teoria muito frgil. Voltemos ao caso da Assessora de Imprensa:

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A terapeuta identificou na vida passada de Adlia uma personalidade masculina, que vivera durante a Revoluo Francesa e participara de um grupo revolucionrio. Entretanto, a moa (na ocasio encarnada num homem) no tivera sorte como agitador: foi preso e torturado, o que o levou a denunciar seus amigos. Na priso um companheiro o magoou, acusando-o de traidor. A imerecida incriminao feriu profundamente os sentimentos de Adlia-homem e, durante sculos, ficou incrustada em sua mente, vindo a refletir na coantempornea personalidade. Resultado: Adlia tornouse uma pessoa com srias dificuldades de comunicao... Vamos acatar provisoriamente a tese de Clia Resende, para que possamos avaliar a encrenca na qual Adlia se meteu: de fato, doloroso receber uma infamante acusao, principalmente quando se inocente. No caso de Adlia, o trauma a acompanhou sculos afora. Surge uma dvida: por que ela (ou ele), durante a entrevida - (assim chamado o perodo que a alma estaria desencarnada) -, no refletiu sobre a injusta apreciao, ou no conversou com o esprito de seu acusador, ou com qualquer outra alma mais experiente, a fim de esclarecer o mal-entendido? Desse modo, a questo seria equacionada e Adlia se veria livre do trauma. Portanto, mesmo considerando a suposio regressionista, teramos dificuldades em entender o porqu da alma de Adlia permitir que a mgoa florescesse indefinidamente.

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Mais uma questo: da Revoluo Francesa at hoje decorreram mais de duzentos anos. Imaginando-se que a reencarnao fosse real, seria de supor que Adlia houvesse voltado vida algumas vezes. Mesmo assim, ainda no conseguira solucionar a pendncia psquica! A moa carregava o fardo traumtico de uma falsa acusao e passados dois sculos o problema permanecia nela enraizado! Dvidas, dvidas, dvidas... Daquilo que a doutora Clia contou sobre Adlia, percebe-se que a moa possua uma "personalidade tmida". A timidez uma fragilidade emocional que apresenta diversas manifestaes. Para o tmido dificlimo tomar atitudes que os descontrados assumem com naturalidade. Atividades que a maioria realiza sem pestanejar, como pedir informaes a um desconhecido, o tmido, coitado, sofre s por pensar na idia. Adlia tinha receio de comunicar-se com outras pessoas: pouco falava, evitava discusses, temia defender suas opinies. O nascedouro de suas angstias certamente seria encontrado no ambiente em que viveu. Pais, avs, tios, professores, enfim, quaisquer pessoas capazes de influenciar a personalidade em formao, podem ter contribudo para torn-la medrosa. Adlia talvez tenha sido criada de forma repressiva ou, quando criana, absorvido medos neurticos de adultos... Existem mtodos eficazes de enfrentar casos da espcie com as teraputicas tradicionais, que obtm bons

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resultados, sem necessidade de recorrer a sonhos de vidas passadas. Contudo, a Dra. Clia concluiu que havia em Adlia um "n crmico" e se disps a desat-lo. A idia de "n crmico" ou "resduo crmico" constitui um conflito com a idia da reencarnao. A conceituao reencarnacionista estabelece que cada encarnao o resultado da vivncia anterior. Assim como ao subir-se uma escada um degrau serve de apoio para o passo seguinte, acredita-se que cada nova existncia esteja baseada na imediatamente precedente. No Alm a criatura realizaria um balano de seus atos e planejaria a prxima vivncia, na qual buscaria purgar os erros cometidos na vida precedente. A idia de "resduos" ou "ns crmicos" agride, portanto, os postulados do espiritismo kardecista, que de onde o regressionismo retira seus conceitos....No intervalo de suas encarnaes, o Esprito progride igualmente, no sentido de que aplica ao seu adiantamento os conhecimentos e a experincia que alcanou no decorrer da vida corporal; examina o que fez enquanto habitou a Terra, passa em revista o que aprendeu, reconhece suas faltas, traa planos e toma resolues pelas quais conta guiar-se em nova existncia, com a idia de melhor se conduzir. Desse jeito, cada existncia representa um passo para a frente no caminho do progresso, uma espcie de escola de aplicao." (A GNESE OS MILAGRES E AS PREDIES SEGUNDO O ESPIRITISMO Allan Kardec)

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O "n crmico" de Adlia jamais poderia acontecer, visto que ela, no Alm, haveria de realizar um retrospecto de sua vida e resolvido a seqela da falsa acusao. difcil especular sobre o resultado a longo prazo de "curas" com base na TVP. O certo que a fundamentao dessa prtica incongruente. Os terapeutas regressionistas podem estar a produzir um "efeito placebo", que no elimina a causa da doena, apenas afasta temporariamente os sintomas. O placebo um produto neutro, destitudo de princpio medicinal, mas que ocasiona um resultado aparentemente positivo no tratamento de alguma molstia. H casos em que o placebo capaz de debelar doenas, notadamente quando o doente acredita estar a ingerir um remdio verdadeiro e, ainda, quando se trata de mal de menor gravidade. Em outras situaes, pode suprimir sintomas e ocasionar falsa impresso de cura. Ao abandonar o tratamento de uma doena grave, por sentir melhora psicolgica, o doente dificulta a cura efetiva.

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CAPTULO 6

Brian Weiss

Muitos poucos detalhes escapavam minha capacidade obsessiva de anlise. (Brian Weiss)

O nome de Brian Weiss est ligado terapia de vidas passadas. De fato, trata-se de um dos mais festejados regressionistas da atualidade. certo que vrios praticantes da regresso no o incluem dentre os melhores representantes da classe, mesmo assim os livros do Dr. Brian so vendidos aos montes. Sua obra mais

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famosa Muitas Vidas, muitos mestres teve milhes de exemplares distribudos em todo o mundo. Vamos por ora resistir ao impulso de afirmar que o citado livro contm exposies de pasmante ingenuidade, porque dizer tal coisa sem explicar a razo pode soar como leviandade, ou como agresso gratuita. Deixaremos, pois, para o final da explanao o uso dos qualificativos adequados. Brian Weiss apresentou singulares conceituaes sobre a teraputica regressionista. Essas conceituaes ferem postulados das psicoterapias tradicionais, apesar disso, o Dr. Brian as defende com a firmeza de algum que parece saber o que diz. O mdico afirma ter descoberto um novo caminho na medicina, muito mais eficiente que a metodologia clnica que utilizara at ento. Quem Brian Weiss? Vejamos algumas declaraes a seu respeito:O professor Weiss psiquiatra e neurologista de renome, formado pela Columbia University, com uma srie de ttulos universitrios, membro das mais importantes associaes cientficas norteamericanas e, ainda, autor de trabalhos mdicos, alguns dos quais premiados, e da mais alta relevncia. (Lvio Tlio Pincherle prefcio do livro "Muitas Vidas, Muitos Mestres").

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Depois de formar-me com distino pela Universidade de Colmbia e de terminar o meu curso na Faculdade de Medicina da Universidade de Yale, fui tambm residente nos hospitais de ensino da Universidade de Pittsburgh e da Universidade de Miami. Nos onze anos seguinte, dirigi o Departamento de Psiquiatria do Hospital Mount Sinai, de Miami. A essa altura, eu havia escrito muitos estudos cientficos, publicado artigos e estava no auge de minha carreira acadmica. (S O AMOR REAL Brian Weiss) "Eu o considero um autor srio. Ele tem um currculo excelente" (Walter Negro empresrio) "O que mais me impressionou que nunca pensei que esse tipo de assunto pudesse ser falado com tanta cincia. No imaginao. Brian Weiss muito objetivo, fez um livro de boa qualidade literria que no deixa dvidas".(Cssia Kiss - atriz)

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Mdico diplomado pela Universidade de Yale, com especializao em psiquiatria na Universidade de Columbia, Dr. Brian Weiss, 51 anos, foi professor em vrias faculdades americanas de medicina e publicou mais de quarenta ensaios cientficos nas reas de psicofarmacologia, qumica cerebral, distrbios do sono, depresso, estados de ansiedade, distrbios causados pelo abuso de drogas e mal de Alzheimer. Diretor emrito do Departamento de Psiquiatria do Mount Sinai Hospital, em Miami, Sr. Weiss viaja constantemente para dar palestras e promover workshops baseados em seu trabalho. Escreve para vrias publicaes acadmicas, jornais e revistas como The Boston Globe, The Miami Herald, The Chicago Tribune e The Philadelphia Inquirer, entre outros. (Divulgao dos Livros de Brian Weiss, na internet.)

Sem dvida, o mdico dono de uma folha profissional invejvel; e possui muitos admiradores ilustres. Com tal bagagem, o Dr. Brian Weiss vem em pblico defender, apaixonadamente, um tema controverso. Vamos, ento, conhecer e analisar as idias de Brian Weiss com a ateno que o tema requer. Faremos comentrios sobre os dois mais conhecidos livros do psiquiatra: Muitas Vidas, Muitos Mestres e S o Amor Real.

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A ADESO DE REGRESSIONISMO

BRIAN

WEISS

AO

Brian Weiss conta que envolveu-se com as vidas passadas casualmente: antes de sua transformao, era ctico em relao a assuntos como reencarnao, vida aps a morte e comunicao com os mortos. Durante anos tratara de grande nmero de pacientes utilizando os mtodos ortodoxos da terapia psiquitrica, e assim continuaria...se o inesperado no acontecesse. Uma de suas pacientes chamada Catherine no respondia satisfatoriamente ao tratamento. O Dr. Weiss recorreu hipnose, na inteno de acessar traumas que pudessem estar bloqueados nas profundezas da mente da moa. O hipnotismo, porm, ajudou pouco. O mdico sentiu-se desanimado. Numa certa sesso levou a moa mentalmente at a idade de dois anos, mas ela no lhe trouxe as respostas que buscava. A ponto de perder a pacincia, Brian Weiss ordenou-lhe que regredisse at a poca do surgimento dos sintomas.

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Pasmado, ouviu Catherine falar de fatos acontecidos com outra pessoa, que vivera muitos anos antes da atualidade. A jovem discursava como se houvera sido aquela personagem! Deixemos que o prprio Doutor Brian nos conte o caso:Achei que ela j deveria ter progredido mais...Mas Catherine no havia progredido. Lentamente, fui levando Catherine at a idade de dois anos, mas ela no se lembrou de nada importante. Disse-lhe, em tom firme e claro: volte para a poca em que surgiram os seus sintomas. Eu estava totalmente despreparado para o que veio em seguida... Vejo uma escadaria branca, que sobe at uma construo, um grande prdio branco com colunas, aberto na frente...Estou usando uma roupa comprida...uma tnica feita de pano grosseiro... Fiquei confuso...Perguntei-lhe em que ano estava e qual era o seu nome. Aronda...tenho dezoito anos. Vejo um mercado em frente ao edifcio...Vivemos num vale...No h gua. O ano 1863 a.C. A regio rida, quente e arenosa. Existe um poo, nenhum rio. A gua vem das montanhas at o vale. Depois que ela descreveu mais detalhes topogrficos, eu disse-lhe para avanar no tempo vrios anos e me dizer o que via.

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rvores e uma estrada de pedras...Meus cabelos so louros...Estou usando uma roupa marrom longa, de tecido spero e sandlias. Tenho vinte e cinco anos. Tenho uma filha chamada Cleastra...Ela Raquel (Raquel era atualmente sua sobrinha...)... Eu estava assombrado...Ela no hesitava. Nomes, datas, roupas, rvores tudo to claro!...Eu examinara centenas de pacientes..., muitos sob hipnose, e jamais deparara com fantasias como essas...Disse-lhe para ir at a poca de sua morte...buscava acontecimentos traumticos que pudessem fundamentar...seus sintomas atuais...Ela descreveu a destruio da aldeia pelo que parecia ser uma enchente ou maremoto. Ondas enormes esto derrubando as rvores. No h para onde correr. Est frio, a gua fria. Tenho de salvar o meu beb, mas no posso...No posso respirar, no consigo engolir...gua salgada... Vejo nuvens...Meu beb est comigo. E outras pessoas da minha aldeia. Vejo meu irmo. Ela estava descansando; essa vida terminara...Eu estava perplexo! Vidas anteriores? Reencarnao?... ...Como ela reconhecera a sobrinha numa vida anterior, perguntei-lhe se eu estivera presente em algumas de suas outras vidas...

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Voc meu professor...Voc nos ensina com livros. velho e tem os cabelos grisalhos...Veste uma roupa branca (toga) com arremates dourados...Seu nome Digenes. Voc nos ensina smbolos, tringulos. muito sbio, mas eu no compreendo. O ano o de 1568 a.C. (Aproximadamente 1.200 anos antes do famoso filsofo ctico grego Digenes. Este nome no era incomum.) A primeira sesso terminara. surpreendentes viriam. Outras mais

Depois que Catherine saiu e durante vrios dias, como sempre fazia, refleti sobre os detalhes da regresso hipntica. Mesmo numa terapia normal muitos poucos detalhes escapavam minha capacidade obsessiva de anlise...Alm disso, eu era bastante ctico com relao s idias de vida aps a morte, reencarnao, experincias extracorporais e fenmenos afins...Mas eu estava consciente...da existncia de um outro pensamento...Mantenha a mente aberta, ele [o pensamento] me dizia, a verdadeira cincia comea com a observao...Mantenha sua mente aberta. Consiga mais dados." (Brian Weiss - Muitas Vidas, Muitos Mestres).

Esta a sntese da converso de Brian Weiss, contada pelo prprio. Uma leitura rpida talvez no diga muito, mas, se examinarmos detalhadamente o relato perceberemos alguns pontos surpreendentes.

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A reao do Dr. Brian diante do que ouviu de sua paciente foi de confuso e espanto. Essa atitude de causar admirao, visto que advm de um psiquiatra, conhecedor das nuanas da mente. Ao ouvir a inslita narrativa da paciente, o mdico confessou-se assombrado. Ora, um psiquiatra no deveria se assombrar to facilmente: sabe-se que muitas pessoas so capazes de forjar fantasias admirveis. Antes de se deixar dominar pela perplexidade, o mdico deveria ter buscado esclarecimentos plausveis para a novidade que presenciara. Surpreendentemente, o terapeuta preferiu se dobrar ante o mistrio.

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BRIAN WEISS CONFUSO...

Examinemos com mais ateno a experincia do psiquiatra americano:Lentamente, fui levando Catherine at a idade de dois anos, mas ela no se lembrou de nada importante. Disse-lhe, em tom firme e claro: volte para a poca em que surgiram os seus sintomas. Eu estava totalmente despreparado para o que veio em seguida...

Ao insistir que a paciente retornasse mentalmente ao perodo em que seu trauma ocorrera, Brian Weiss pode ter cometido um equvoco: se a moa no lembrava nada importante, talvez os traumas de Catherine tivessem origem indefinida, ou seja, no haveria um nico evento que a tornara fbica. Algumas pessoas desenvolvem distrbios psquicos por receberam durante a formao de suas personalidades presses negativas repetitivas (nem sempre existe um acontecimento especfico causador do problema) , ou, ainda, por internalizarem em suas mentes receios irreais passados por genitores e outros com quem tenha convivido. Contudo, em todo o livro, o mdico no informa que tenha averiguado tal possibilidade.

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A hipnose pode levar o paciente a responder sugesto com fantasias: inconscientemente simula ter vivido uma aventura que no aconteceu. Quando o paciente aceita sem reservas a induo que o terapeuta lhe faz, torna-se cooperativo e pode criar fabulaes com facilidade. Se no houver uma resistncia mental forte (por exemplo: preconceitos enraizados, convices morais), o paciente acatar as palavras do hipnotizador e responder sonhativamente ao que lhe for apresentado. Para entendermos como funciona a regresso a vidas passadas, preciso que tenhamos informaes sobre algumas peculiaridades do hipnotismo. Uma teoria admite que nossa mente apresente duas faces, que podem ser denominadas mente objetiva e mente subjetiva (tambm chamada de inconsciente). A mente objetiva a que usamos no dia a dia, opera com os mecanismos lgicos (lgica dedutiva e lgica indutiva). J a mente subjetiva no utiliza os mesmos mecanismos (opera somente pela induo): imaginativa e sensvel a sugestes. Um exemplo do funcionamento da mente subjetiva temos nos sonhos. A maioria de nossos sonhos tm peculiaridades que no se amoldam realidade: sonhamos que estamos a cair de grande altura e no nos machucamos; conversamos com pessoas falecidas sem questionar a ilogicidade do fato; vivemos aventuras que jamais viveramos na realidade, etc. Convm lembrar que o conceito de inconsciente vago e tem sido objeto de muitas discusses. Alguns admitem como satisfatria a tese de que a mente seja

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dividida em dois segmentos: consciente e inconsciente; outros so reservados quanto essa idia. A questo maior que o termo "inconsciente" se presta a diversas idealizaes mais chegadas ao mundo da fantasia que a uma concepo plausvel. Entretanto, para efeito de explicao do que aqui se prope, utilizaremos a expresso.

O hipnotismo apela mente subjetiva e se esta acatar a sugesto agir como se estivesse vivenciando uma realidade. Se, num dia de muito calor, dissermos a algum que est fazendo frio, ele rir de ns. Porm, hipnotizada, essa mesma pessoa tiritar como se estivesse acossada por forte friagem. Os tmidos temem ser postos em evidncia, mas hipnotizados so capazes de agir descontraidamente. Indivduos sob hipnose podem apresentar resistncia fsica inacreditvel; podem ter a mente aguada e lembrar de coisas h muito esquecidas, e muito mais. Diversas teorias sobre o hipnotismo existem, ainda no se formulou uma definio consensualmente aceita sobre os mecanismos da hipnose. Seja como for, certo que a mente acata sugestes e a elas responde. A dvida maior definir at que ponto a resposta do hipnotizado seria um eco sugesto. Se for estabelecido que a reao do paciente seja sempre resultado da sugesto, ento as aplicaes da hipnose ficam restritas a problemas especficos e no se prestam rememorao de vidas passadas.

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Os psiclogos e psiquiatras que recorrem hipnose geralmente fazem-no com as cautelas adequadas, a fim de evitar que fantasias desviem o rumo do tratamento. Entretanto, parece os terapeutas regressionistas so menos rigorosos. O leigo normalmente tem sobre o hipnotismo uma idia incorreta. Pensa-se que quem for hipnotizado estar completamente dominado e responder, sem mentir, a tudo o que lhe for indagado e far tudo o que lhe for ordenado. Vejamos a opinio de um estudioso da terapia hipntica:As vezes, porm, o mtodo psicanaltico, mesmo com a ajuda do controle hipntico ineficaz ou desnecessrio. Isso pode ser devido: (1) ao fato de o transtorno funcional ou neurose atacada se basear num incidente crucial extremamente difcil de descobrir; ou, (2) ao fato de o incidente crucial que foi o fator original que causou o transtorno ter sido desde ento suplantado por outros fatores (por exemplo, hbitos adquiridos ou reflexos, relaes sociais ou atitudes)...ou, (3) ao fato de no haver qualquer incidente crucial causando o transtorno." (Raphael H. Rhodes - O Hipnotismo Sem Mistrio).

O autor comenta peculiaridades do tratamento psicanaltico auxiliado pela hipnose. Nem sempre existe

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um trauma especfico, ou, caso exista, pode estar perdido nas brumas do passado e ser de difcil recuperao. Todas essas situaes devem ser levadas em conta por quem utiliza a hipnose terapeuticamente. De forma semelhante, tambm so adequadas as palavras do Dr. Paulo Urban:Exatamente! H ainda muita desinformao em relao a hipnose. Grande parte da classe mdica, incluindo psiquiatras e neurologistas, tambm muitos psiclogos e psicanalistas, chegam ao sculo XXI com srias dificuldades para compreender tal fenmeno psquico. Muitos ainda tomam a hipnose por algo mgico, ou a confundem com mero exerccio de relaxamento. Por outro lado, ainda vemos charlates exibindose nas tevs, expondo pessoas incautas a situaes ridculas, facilmente alcanadas por meio da sugesto hipntica. Agindo assim, contribuem para o imerecido preconceito acadmico em relao a esta tcnica. Ainda h aqueles que se valem dessa tcnica para tentar provar a tese da reencarnao ou mesmo as tais abdues por discos voadores e decididamente a hipnose no se presta para provar nada disso -, o que faz, ainda mais, misturar a hipnose com crenas pessoais e f religiosa. (Dr. Paulo Urban, mdico psiquiatra, acupunturista e hipnoterapeuta, em entrevista concedida Editora Saraiva).

O Dr. Paulo Urban toca num quesito importante no que tange regresso: a hip