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ISSN 2176-185X Autor José Maria de Souza Júnior Bacharel em Relações Internacionais pelas Faculdades Integradas Rio Branco e mestrando pelo programa de integração da América Latina (Prolam) da Universidade de São Paulo (USP). Resumo O presente artigo tem como objetivo mostrar o tratamento despendido à Educação Superior na agenda de integração do MERCOSUL. Analisando documentos oficiais (atas, acordos e planos estratégicos) e trabalhos acadêmicos retomar-se-á a criação do Setor Educacional do MERCOSUL (SEM) e suas iniciativas no sentido de criar uma área de internacionalização da educação superior na região. A partir de programas de acreditação de currículo como o MEXA (acreditação experimental) e o ARCU-SUL (acreditação permanente) e o programa MARCA (mobilidade acadêmica para cursos de graduação) é possível observar a internacionalização da educação na região. Conclui- se que este movimento é lento, porém contínuo no processo de integração regional aqui tratado. Palavras-chave Integração Regional, MERCOSUL, Educação Superior, Mobilidade Acadêmica. A educação superior na agenda de integração do MERCOSUL: os programas promovidos pelo SEM José Maria de Souza Júnior ANO 1, VOL 1, JAN/JUL 2011 O Autor agradece à Fapesp e a Fundação dos Rotárianos pelo apoio dado à pesquisa de iniciativa científica “Intercâmbio Universitários no âmbito do mercosul” (2009-2010)

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Edição sobre o crescente mercado editorial online e os avanços digitais. Com analises sobre se o mercado impresso não esta se tornando obsoleto.

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  • ISSN 2176-185X

    AutorJos Maria de Souza JniorBacharel em Relaes Internacionais pelas Faculdades Integradas Rio Branco e mestrando pelo programa de integrao da Amrica Latina (Prolam) da Universidade de So Paulo (USP).

    ResumoO presente artigo tem como objetivo mostrar o tratamento despendido Educao Superior na agenda de integrao do MERCOSUL. Analisando documentos oficiais (atas, acordos e planos estratgicos) e trabalhos acadmicos retomar-se- a criao do Setor Educacional do MERCOSUL (SEM) e suas iniciativas no sentido de criar uma rea de internacionalizao da educao superior na regio. A partir de programas de acreditao de currculo como o MEXA (acreditao experimental) e o ARCU-SUL (acreditao permanente) e o programa MARCA (mobilidade acadmica para cursos de graduao) possvel observar a internacionalizao da educao na regio. Conclui-se que este movimento lento, porm contnuo no processo de

    integrao regional aqui tratado.

    Palavras-chaveIntegrao Regional, MERCOSUL, Educao Superior, Mobilidade Acadmica.

    A educao superior na agenda de integrao do MERCOSUL: os programas promovidos pelo SEM

    Jos Maria de Souza Jnior

    ANO 1, VOL 1, JAN/JUL 2011

    O Autor agradece Fapesp e a Fundao dos Rotrianos pelo apoio dado pesquisa de iniciativa cientfica Intercmbio Universitrios no mbito do mercosul (2009-2010)

  • 2Perrota (2008) alega que o MERCOSUL um processo de integrao onde a economia e o comrcio so os objetivos predominantes. Contudo, a autora aponta que o avano nestas reas ficou prejudicado no final da dcada de 90 devido a crises e disputas entre os membros do bloco. Para Perrota (2008), apesar das dificuldades sofridas na principal rea de atuao da integrao regional de Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, houve reas que, mesmo no sendo o principal foco, pde-se observar certo avano esta rea seria a educao. Em outras palavras, apesar das dificuldades sofridas no processo de integrao do MERCOSUL na parte da economia, do ponto de vista da educao o processo de integrao tem tido alguns avanos desde a criao do bloco.

    Assim, pretende-se com o presente artigo demonstrar e analisar a evoluo institucional no MERCOSUL no que se refere educao superior. As iniciativas promovidas pelo Setor Educativo do MERCOSUL (SEM) e seus respectivos acordos sero importantes para evidenciar tal evoluo. Nominalmente, os principais acordos so: o MEXA (Mecanismo Experimental de Acreditao para Cursos de Graduao1), o Sistema ARCU-SUL (Sistema de Acreditao com carter permanente) e, principalmente, o MARCA (Programa de Mobilidade Acadmica para Cursos Credenciados) que o programa que promove a mobilidade propriamente dita de alunos de graduao. Alm destes acordos, os Planos Trienais e Planos Estratgicos do SEM so relevantes por tratar do tema da educao superior na integrao regional do bloco.

    Utilizando trabalhos acadmicos e documentos oficiais do MERCOSUL procurar-se- verificar a evoluo da integrao no mbito da educao superior, especialmente os cursos de graduao. Analisando as metas e objetivos dos dois Planos Estratgicos (2001-2005 e 2006-2010) tentar-se- tambm evidenciar se tais planos cumpriram com as metas propostas com relao educao superior de uma forma geral e, especificamente, ao que se refere ao intercmbio e mobilidade estudantil na graduao.

    Ser retomado o processo de incluso da educao superior na agenda da integrao. Para isso, mostrar-se- a criao do SEM e seus Planos Trienais. Estes planos foram os primeiros documentos a criarem normas comuns aos sistemas educativos dos Estados membros e associados do bloco.

    Os Planos Estratgicos (de 2001 a 2005 e de 2006 a 2010) so importantes por terem metas a cumprir com relao educao superior regional. Estes planos tem

    maior densidade que os Planos Trienais e tratam de questes mais prticas como a acreditao de cursos e a mobilidade.

    Por fim, sero apresentados o Programa MEXA (programa provisrio de acreditao), o Sistema ARCUSUL (sistema permanente de acreditao) e o Programa MARCA (programa de mobilidade de graduao). Estes so os avanos mais concretos em termos de internacionalizao da educao no MERCOSUL. Estas iniciativas sero tratadas a fim de testar a hiptese central do presente artigo: mesmo sendo um tema marginal no processo de integrao, a educao, em termos institucionais, teve uma evoluo contnua no Mercosul. Em outras palavras, apesar de lenta, esta evoluo no sofreu rupturas ou retrocessos que podem ter ocorrido em outras reas da integrao.

    O SEM A educao no processo de integrao regional

    O Tratado de Assuno, que foi assinado no dia 26 de maro de 1991, iniciou o Mercado Comum do Sul (MERCOSUL). O contedo deste documento estritamente econmico-comercial, ou seja, trata do incio da formao do mercado comum em suas questes tcnicas de reduo tarifria, seus mecanismos, estrutura, etc.

    No entanto, alm dos aspectos econmicos e financeiros, os membros do bloco buscaram ampliar o debate para outras reas. Neste sentido, o Protocolo de Intenes foi assinado pelos Ministros da Educao da Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, em Braslia, no dia 13 de dezembro de 1991. O referido Protocolo deu origem ao Setor Educativo do MERCOSUL (SEM). O SEM, por sua vez, tem o propsito de demonstrar o comprometimento dos Ministrios da Educao na agenda educacional no mbito regional (MERCOSUL, 1991). Assim, o documento ressalta a importncia da educao na integrao e revela a necessidade dos sistemas educacionais, em todos os nveis, manterem contato entre si e criarem canais de dilogo, garantindo tanto a qualidade da educao oferecida quanto a convergncia dos sistemas de educao dos Estados. No obstante, o documento ressalta tambm que a diversidade nacional deve ser preservada.

    Do ponto de vista da teoria funcionalista de integrao regional, a inteno de aglutinar os sistemas de educao superior dos membros do MERCOSUL pode ser entendida como uma iniciativa para se criar um tipo de padronizao nesta

    1 Na bibliografia analisada, o referido acordo foi denominado de formas diferentes, estando entre elas: Mecanismo Experimental de Credenciamento de Cursos para o Reconhecimento de Ttulos de Graduao Universitria nos Pases do MERCOSUL (SOARES, 2009), Mecanismo Experimental de Credenciamento do Setor Educacional do MERCOSUL (MINISTRIO DA EDUCAO, 2005).

  • 3Organograma do SEM em relao ao MERCOSUL:

    Para compreender a evoluo do SEM necessria a anlise dos documentos oficiais do organismo (decises, planos, tratados, acordos e atas disponveis no stio do Setor Educacional do MERCOSUL), pois existe uma escassa literatura que analisa este processo. O texto de Soares (2009) apresenta um balano sucinto e descritivo que busca complementar e analisar. De acordo com a autora, o Primeiro Plano Trienal que vigorou de 1992 a 1994 tinha como objetivo: 1 formao de conscincia social favorvel ao processo de integrao; 2 capacitao de recursos humanos para contribuir para o desenvolvimento e; 3 compatibilizao e harmonizao dos sistemas educacionais (SOARES, 2009, p. 7). Este Plano foi prorrogado (MERCOSUL, 1997a) at o ano de 1998, quando foi lanado o Segundo Plano Trienal. No perodo de vigncia do Primeiro Plano Trienal foram firmados acordos que diziam respeito ps-graduao e em 1999 foram emitidas a Deciso 04/99 Acordo de Admisso de Ttulos e Graus Universitrios para o Exerccio de Atividades Acadmicas nos Pases Membros do MERCOSUL e a Deciso 05/99 Acordo de Admisso de Ttulos e Graus Universitrios para o Exerccio de Atividades Acadmicas nos Estados Partes do MERCOSUL, na Repblica da Bolvia e na Repblica do Chile (MERCOSUL, 1999). Assim, estes acordos foram os primeiros movimentos no sentido de harmonizar os sistemas de ensino superior nos Estados membros e Estados Associados (Chile e Bolvia) do MERCOSUL.

    O Segundo Plano Trienal que vigorou de 1998 a 2000 (SOARES, 2009) previa a melhora da educao de um modo geral e, novamente, a maior integrao entre os Estados respeitando princpios democrticos, a diversidade (soberania e a autodeterminao) e a equidade (maior acesso educao). A formao de recursos humanos para a implantao dos mecanismos para atingir os objetivos propostos tambm era ressaltada no documento. Tal formao previa estudos para identificar as carncias da regio em termos de mo-de-obra; a aplicao de tecnologias avanadas no

    rea. Segundo Mitrany (1975 apud BRAILLARD, 1990, p. 570) a cooperao pode ser atingida mais facilmente em atividades tcnicas. Um dos conceitos centrais do Funcionalismo desenvolvido pelo autor a cooperao funcional que representa a padronizao em atividades tcnicas. Neste sentido, a educao superior vista como tal atividade, onde se busca a referida padronizao. A criao do SEM e as iniciativas posteriores representam a tendncia de criar prticas comuns na educao no mbito do MERCOSUL. Como j dito, a educao no a rea prioritria da integrao regional do bloco, no entanto, pode-se aplicar o conceito de Mitrany ao processo de incluso da educao superior no mbito da integrao regional.

    De acordo com o Protocolo de Intenes, os Ministros da Educao se comprometeram a manter reunies no mnimo semestrais, mas ressaltaram que reunies poderiam ser convocadas, quando necessrio. O Protocolo prev ainda que necessria, de forma geral, uma melhora na capacitao de mo-de-obra e de docentes nas instituies de ensino da Amrica Latina. No caso dos pases do MERCOSUL, o debate sobre a qualificao de profissionais apresenta tanto objetivos econmicos, quanto sociais. Em sociedades marcadas pela desigualdade econmica e social, a educao tem dupla funo: de um lado visa a melhora da formao educacional geral da sociedade; por outro lado, tem forte impacto no desenvolvimento econmico.

    A partir das anlises das atas das primeiras Reunies de Ministros da Educao (RME) (MERCOSUL, 1996; MERCOSUL, 1992) fica clara a percepo da importncia da educao para o desenvolvimento de um pas e para o sucesso de um processo de integrao regional. As reunies dos Ministros da Educao so consideradas como o topo da hierarquia do setor educacional do MERCOSUL, sendo subordinado ao Conselho do Mercado Comum fazendo parte da Reunio de Ministros / Altas Autoridades.

    A RME prope estratgias gerais de trabalho, tendo, por sua vez, como subordinado o Comit Coordenador Regional (CCR) que prope polticas de integrao e cooperao na rea educacional. Abaixo do Comit Coordenador Regional esto as Comisses Tcnicas que atuam nas reas da educao bsica, tcnica e superior auxiliando na implantao de estratgias e na definio dos mecanismos para realizao dos objetivos definidos nos planos de ao. Ainda existem grupos ad hoc que desempenham funes especficas e temporrias para execuo de projetos (SOARES, 2009). O SEM est organizado da seguinte forma:

    Elaborao prpria. Fonte: Soares, 2009; Ministrio das Relaes Exteriores, 2010.

  • 4ensino para capacitao de discentes e docentes; mais rapidez e melhor formao dos professores e dos gestores educacionais; melhora na qualidade da educao atravs da participao dos atores educacionais aproveitando os espaos da integrao para criar mecanismos adequados no nvel de coordenao e execuo; e a promoo de cultura e mecanismos de avaliao, que incluam o intercmbio de experincias e o estmulo ao estabelecimento de indicadores comuns, possibilitando conhecer a evoluo da educao no MERCOSUL (MERCOSUL, 1997b).

    Alm do Segundo Plano Trienal, o documento denominado MERCOSUL 2000 tambm orientava os trabalhos do SEM, tendo sido lanado em 1997, pregava novamente a maior aproximao entre os sistemas de ensino dos Estados e recomendava (assim como outros documentos) a formao de um sistema de informao sobre a educao na regio sendo que este servio seria para consulta do pblico.

    preciso ressaltar que os acordos mencionados

    visavam ao reconhecimento de ttulos para as atividades acadmicas e no para exerccio da profisso. Alm disso, as decises prevem que a implantao dos acordos seria feita a partir de recomendaes emitidas pela Reunio de Ministros da Educao. Assim, os documentos indicam a inteno de criar laos entre os diferentes sistemas de ensino superior, mas a implementao seria negociada posteriormente.

    Perrota (2008) alega que um dos maiores progressos da insero da educao no processo de integrao regional do MERCOSUL foi o Mecanismo Experimental de Acreditao (credenciamento) para Cursos de Graduao, mais conhecido como MEXA que se iniciou em 1998. Soares (2009, p. 7) ressalta que:

    O credenciamento o processo mediante o qual se outorga validade pblica, de acordo com as normas legais nacionais, aos ttulos universitrios, garantindo que os cursos correspondentes cumpram com requisitos de qualidade previamente estabelecidos no mbito regional. Este processo estar baseado em mecanismos de avaliao que permitam garantir a devida formao dos titulados.

    Os cursos inclusos no MEXA eram das reas de agronomia, medicina e engenharia2. O credenciamento se dava de forma que as universidades e os programas eram avaliados por Agncias Nacionais Credenciadoras. A avaliao abrangia o corpo docente, a biblioteca, a infra-estrutura de servios e os laboratrios. Em outras palavras, este processo buscava garantir que todos os cursos aprovados no programa estariam em um patamar semelhante no que dizia respeito qualidade (SOARES, 2009).

    A prxima seo se dedica aos Planos de Ao lanados pelo SEM a partir de 2001, que se subdividem em dois perodos de 2001 a 2005 e de 2006 a 2010. Estes planos eram mais densos e previam metas a serem cumpridas pela organizao.

    Os Planos Ao: objetivos a serem alcanados pelo SEM

    O Plano de Ao do SEM orientava as aes do rgo no perodo de 2001 a 2005. O documento continha: desafios, princpios orientadores, objetivos estratgicos e estratgias de ao, alm de ter planos de ao para a educao bsica, educao tecnolgica e educao superior. Neste trabalho, sero analisados os temas que dizem respeito educao superior.

    O Plano Ao enfatiza a importncia da educao na integrao regional do bloco como um todo, mostra a inteno de ajudar na promoo de educao igualitria e manifesta vontade de formar conscincia favorvel a integrao.

    A mobilidade aparece como um importante fator

    em um dos Princpios Orientadores: A mobilidade e intercmbio de atores educativos para o desenvolvimento e fortalecimento de redes e experincias (MERCOSUL, Plano Estratgico 2001- 2005, p. 4); e em uma das Estratgias de Ao: A circulao de atores educativos com o objetivo de favorecer o intercmbio de experincias educativas e culturais (MERCOSUL, Plano Estratgico 2001- 2005, p. 5).

    Em seu plano de ao3, o documento ressalta a importncia do Comit Coordenador Regional (CCR) que a chave de articulao do SEM e tem como funes: 1) coordenar a agenda estratgica do SEM; 2) promover as relaes entre o SEM e as outras instncias internacionais de educao e do MERCOSUL; e 3) criar um sistema de financiamento do SEM para garantir recursos para a implantao das suas linhas de aes.

    Com relao Educao Superior, o plano inclui a formao de um espao acadmico regional e a melhora constante de sua qualidade, assim como a formao de recursos humanos para tratar da Educao Superior em mbito regional.

    As iniciativas gerais do plano seriam para trs reas: 1- acreditao (que facilitaria a mobilidade, pois gera maior compatibilidade entre as grades curriculares); 2- mobilidade (que depende de um espao comum regional e pretende incluir a mobilidade estudantil, acreditao, intercmbios de docentes e pesquisadores) e; 3- cooperao interinstitucional (reconhecendo que

    2 Engenharias: civil, mecnica, qumica, eltrica, eletrnica e industrial.3 Aqui se trata de um dos tpicos do documento e no do nome do documento em si.

  • 5 Estas metas reafirmam os compromissos assumidos anteriormente e prevem mais avanos e convergncia entre os sistemas educacionais dos Estados membros e associados do MERCOSUL.

    J o Plano de Ao (2006-2010) consideravel-mente mais longo tendo propostas mais ambiciosas para as trs reas da educao: bsica, tecnolgica e superior. O documento, a partir do balano histrico das atividades do SEM, redefine os objetivos estrat-gicos no mbito da integrao:

    1 Contribuir para a integrao regional acordando e executando polticas educativas que promovam uma cidadania regional, uma cultura de paz e respeito a democracia, aos direitos humanos e ao meio ambiente. 2 Promover educaco de qualidade para todos como fator de incluso social, de desenvolvimento humano e produtivo. 3 Promover a cooperao solidria e o intercmbio, para a melhora dos sistemas educativos. 4 Impulsionar e fortalecer programas de mobilidade de estudantes, estagirios, docentes, investigadores, gestores e profissionais. 5 Concertar polticas que articulem a educao com o processo de integrao do MERCOSUL. (MERCOSUL, Plan Estratgico 2006 2010, traduo nossa).

    O plano reafirma os propsitos iniciais do SEM, ou seja, a educao um elemento importante para o avano da integrao geral e promoo do desenvolvimento regional. Contudo, algumas das metas so de difcil aferio com relao ao seu sucesso. Em outras palavras, como medir se aps a vigncia do plano esto sendo executadas aes no sentido de: Contribuir para a integrao regional acordando e executando polticas educativas que promovam uma cidadania regional, uma cultura de paz e respeito democracia, aos direitos humanos e ao meio ambiente? Quais polticas educativas promovem a cidadania regional e o respeito ao meio ambiente, por exemplo?

    Com relao meta nmero 2, observa-se que a educao um fator de incluso social, desenvolvimento humano e produtivo. No entanto, o que significa educao para todos? No h uma especificao do pblico que ser atingido, ou seja, a meta se refere a todos os habitantes do pas / bloco, ou de uma certa faixa etria, ou h uma porcentagem que eles determinam para que seja inclusa no(s) sistema(s) de educao superior.

    Entretanto, algumas metas apresentam indicadores claros. Esse o caso da meta nmero 3, pois envolve a anlise dos dados referentes ao volume de intercmbio. O mesmo se apresenta com relao meta nmero

    Tabela 1: MERCOSUL, Plano Estratgico 2001-2005, traduo nossa.

    os atores centrais do processo de integrao na rea de educao so as prprias instituies educacionais, objetiva-se aproveitar as experincias que estas j tem ou esto tendo e estimul-las assim como promover novas aes na graduao e ps-graduao).

    As metas do plano em cada rea eram:

  • 64, que se refere ao aumento da quantidade de mobilidade feita intrabloco. Por sua vez, a meta nmero 5 pouco especfica, mas possvel, ao longo do tempo, avaliar se polticas pblicas que articulem a educao com o processo de integrao foram ou no concertadas.

    Nesses casos, as metas podem ser vistas como princpios gerais. No se cogita aqui retirar a importncia de objetivos gerais, mas indicar a complexidade de constatar se eles foram ou no alcanados nas aes implementadas. Assim, a anlise das iniciativas do Programa MARCA (Programa de Mobilidade Acadmica para Cursos Credenciados) se torna importante para aferir a evoluo geral do SEM e alguns dos pontos dos Planos tanto de 2001- 2005 quanto de 2006-2010. Neste sentido, busca-se avaliar os progressos do Programa de forma geral e no comparando exatamente com as metas do Plano de Ao 2006-2010.

    Os Programas MEXA, ARCU-SUL e MARCA4

    O Plano de 2006 a 2010 ressalta os avanos do MEXA e do MARCA (Programa de Mobilidade Acadmica para Cursos Credenciados). O documento enfatiza que os progressos feitos com estes programas devem ser utilizados como experincia da concepo e aplicao de programas futuros que ajudem a integrao regional no mbito da educao superior.

    A primeira iniciativa de mobilidade do MARCA ocorreu no segundo semestre de 2006. Os cursos que foram previamente aprovados no MEXA poderiam fazer parte do programa que visa ao intercmbio de estudantes de graduao por perodos letivos regulares de um semestre acadmico. Os cursos participantes eram das reas de agronomia, engenharia e medicina. No entanto, as instituies de ensino no necessariamente participam nas trs reas, ou seja, algumas instituies s participam com o curso de Medicina (como, por exemplo, o Instituto CEMIC da Argentina) ou de engenharia qumica (como a Universidade Estadual de Campinas Unicamp).

    O MEXA era, no entanto, o mecanismo experimental e acabou sendo sucedido pelo Sistema ARCU-SUL. O Sistema ARCU-SUL foi aprovado em novembro de 2006 como um sistema de acreditao permanente (MERCOSUL, 2006) e durante a XXXIV RME (junho de 2008), os Ministros acordaram elevar ao Conselho Mercado Comum projeto de deciso para a criao efetiva do Sistema, que tornou-se a Deciso CMC 17/08, aprovada em julho de 2008. Segundo Soares (2009, p. 17), o credenciamento dos cursos passou a ter

    vigncia de 6 anos e os cursos autorgados previamente pelo MEXA tiveram sua validade reafirmada.

    O Plano de Implementao do Sitema ARCU-SUL prev a expanso at 2010 para as reas de Arquitetura, Enfermagem, Odontologia e Veterinria. J em 2008 foram emitidas novas convocatrias para acreditao em Agronomia e Arquitetura. No ano de 2010 o curso de arquitetura foi includo no programa de mobilidade. Como pode ser visto no stio do Ministrio da Educao, o referido sistema lana editais convocando os cursos a se inscreverem para a obteno da acreditao (MINISTRIO DA EDUCAO, 2010). Assim, os cursos passam por avaliaes para aferir sua qualidade, uma questo importante quando se trata de acreditao.

    De acordo com os formulrios de inscrio disponveis no stio do Programa MARCA (PROGRAMA MARCA, 2009), os alunos dos cursos previamente aprovados no MEXA / ARCU-SUL que aspiram ao intercmbio do programa MARCA devem ter completado 40% de seu respectivo curso. O aluno deve requerer sua vaga na universidade pretendida e cabe a esta a aceitao do intercambista. No requerimento devem constar as matrias que o pretendente ir cursar na universidade de destino e as matrias a serem reconhecidas na universidade de origem.

    A universidade de origem do aluno se prontifica a reconhecer os crditos cursados no intercmbio, desde que o aluno seja aprovado nas respectivas disciplinas. Os custos relativos viagem do aluno so de responsabilidade do governo de seu pas de origem e a modalidade do traslado cabe escolha de cada Estado. Os alunos devem, obrigatoriamente, possuir seguro mdico internacional para viajarem. Segundo a instruo para os alunos, a estadia e alimentao durante o perodo do intercmbio ficam a cargo do governo receptor. No entanto, h um formulrio que deve ser assinado pela instituio receptora comprometendo-a a fornecer moradia e alimentao para os intercambistas que vierem a receber.

    A iniciativa de acreditao de disciplinas de cursos promovida pelo MEXA /ARCU-SUL mostram a inteno de se criar padronizao do ponto de vista da teoria Funcionalista de integrao regional. O incio do movimento em direo a tal padronizao um importante indcio da evoluo da questo educacional no processo de integrao do MERCOSUL. A mobilidade praticada pelo Programa MARCA ajuda a corroborar a evoluo do Setor Educacional do MERCOSUL. A expanso dos programas pode ter uma tendncia a ser mais lenta que o previsto pelos documentos, uma vez que os cursos previstos para

    4 As informaes sobre os mecanismos do processo foram retiradas da anlise dos formulrios de inscrio, disponveis no site do MARCA: www.programamarca.siu.edu.ar. Acesso em 09/2009.

  • 7fazer parte do programa em 2010 ainda no foram devidamente inclusos. Entretanto, no pode se negar que j foi praticada a mobilidade e que existe transferncia e validao de crditos em programas de educao superior realizados no bloco regional.

    Portanto, os programas MEXA, MARCA e Sistema ARCU-SUL representam a internacionalizao da educao superior no MERCOSUL. A educao superior foi includa desde o incio dos debates do bloco e pode-se evidenciar que a partir da houve incremento das prticas com relao este assunto no decorrer do tempo, pois hoje tem-se transferncia de crditos e mobilidade de estudantes de graduao entre universidades de Argentina, Bolvia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai.

    Consideraes Finais

    No presente artigo procurou-se retomar a criao do MERCOSUL e a insero da educao neste processo. O MERCOSUL um arranjo de integrao regional voltado para questes econmicas que promoveriam o desenvolvimento dos pases que fazem parte do bloco. Com a criao do Setor Educacional do MERCOSUL (SEM) fica clara a inteno de inserir a educao no contexto da integrao. Os primeiros documentos oficiais do SEM (Protocolo de Intenes, atas das Reunies de Ministros da Educao e decises) mostram a percepo de que a educao fundamental para ajudar no desenvolvimento do projeto de integrao e no desenvolvimento social e econmico da regio em questo. Neste sentido, percebe-se a dupla utilidade da educao: em um primeiro momento serve para o desenvolvimento social e econmico de uma forma geral, ou seja, os Estados devem promover a educao para se desenvolver mesmo que seja individualmente; em segundo lugar a educao tambm vista como benfica para o processo de integrao, uma vez que a qualidade dos sistemas educacionais e o contato entre tais sistemas do bloco podem garantir a qualidade educacional e criar um sentimento comum entre as sociedades do MERCOSUL.

    A evoluo econmica do MERCOSUL no linear, tendo sofrido com algumas crises ao final da dcada de 90. Apesar disso, Perrota (2008) defende que em outros aspectos o MERCOSUL evoluiu um destes aspectos, para a autora, a educao. Neste artigo foram analisados documentos oficiais e trabalhos acadmicos sobre o Setor Educacional do MERCOSUL e pode-se constatar que houve

    certa continuidade nas reunies dos Ministros da Educao e nas iniciativas de comunicao entre os sistemas educacionais e at mesmo convergncia dos respectivos sistemas em alguns casos o MEXA (Mecanismo Experimental de Credenciamento) e o ARCU-SUL, neste sentido representam a tentativa de criar um sistema de acreditao de disciplinas em diferentes instituies dos Estados que compem o bloco.

    Os dois Planos de Ao do SEM confeccionados para a presente dcada (2001-2005 e 2006-2010) so importantes para observar as intenes da instituio e o aprofundamento da abrangncia de seus servios. Os documentos possuem algumas metas claras cujo sucesso de fcil mensurao. Um exemplo que se uma das metas diz promover o intercmbio, basta aferir se tal intercmbio foi realizado. No obstante, outras metas so compreendidas mais no sentido de princpios gerais, como, por exemplo promover a educao para todos, que, por sua vez um princpio vlido, mas de verificao mais complexa ao trmino do plano de ao, pois de que todos se est falando?

    Apesar da impreciso do documento em alguns pontos, possvel observar progresso no SEM, pois a instituio promove o intercmbio entre cursos de graduao desde 2006 nas reas de agronomia, desde 2008 em engenharia e medicina. Em 2010 ser a primeira vez que alunos do curso de arquitetura participaro do intercmbio. Estes cursos foram previamente aprovados no Sistema ARCU-SUL e podem ter seus alunos estudando disciplinas em outras instituies participantes do programa atravs do Programa MARCA (Mobilidade Acadmica para Cursos Credenciados). Os cursos de odontologia e veterinria esto no processo de adeso.

    Desta forma, pode-se afirmar que a internacio-nalizao da educao superior tem sido fomentada pelo MERCOSUL. A educao no o principal ob-jetivo do bloco e a evoluo deste tema se d de for-ma lenta, porm contnua, no processo de integrao. Programas como o MEXA, o Sistema ARCU-SUL e o MARCA so importantes no sentido de ampliar o incentivo internacionalizao e a mobilidade aca-dmica no MERCOSUL.

    De qualquer forma, estudos mais especficos mostrando o fluxo de alunos participantes do intercmbio e o nmero de instituies que tem seus cursos validados so necessrios para avaliar a relevncia do Programa em um contexto geral de educao superior nos pases do MERCOSUL.

  • 8Referncias Bibliogrficas

    BRAILLARD, Philippe, 1990: Teoria das Relaes Internacionais. Lisboa: Fundao Calouste Gulbenkian, 1990.

    MERCOSUL, Deciso 25/97 Prorroga a vigncia do Plano Trienal para o setor Educacional do MERCOSUL, Montevidu, 15/12/1997

    MERCOSUL. Plano Trienal, 1997, disponvel em: www.sic.inep. gov.br, acesso em 04/2010.

    MERCOSUL, Deciso 04/99 Acordo de Admisso de Ttulos e Graus Universitrios para o Exerccio de Atividades Acadmicas nos Pases Membros do MERCOSUL. Assuno, 14/06/1999.

    MERCOSUL, Deciso 05/99 Acordo de Admisso de Ttulos e Graus Universitrios para o Exerccio de Atividades Acadmicas nos Estados Partes do MERCOSUL, na Repblica da Bolvia e na Repblica do Chile. Assuno, 14/06/1999.

    MERCOSUL, Plano de Estratgico 2001-2005, 2000. Disponvel em: http://www.sic.inep.gov.br, acesso em 04/2010.

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