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Seminário A Tributação das Telecomunicações na Era da Economia Digital
Realização: Secretaria Estadual de Fazenda
Patrocínio: Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID
Palestras Especiais: A Tributação das Telecomunicações – Experiência Internacional
Participantes: Mário Nascimento, sócio de tributação da Deloitte
Javier Berrocal, especialista do Instituto de Estudos Fiscais da Espanha
Primeira apresentação: Mário Nascimento, sócio de tributação da Deloitte
Em termos de cenário internacional e tendências, quando você olha para as
principais tendências da indústria como um todo, é possível identificar cinco
grandes aspectos que serão apresentados para vocês. O primeiro deles é a
computação em nuvem (cloud), que coloca um desafio principal para as
empresas, que é a questão do modelo de negócios. O modelo de negócios em
nuvem é disruptivo por natureza.
Então, o que nós vimos pela manhã com as companhias telefônicas e os desafios
que elas enfrentam com os novos entrantes, os OTTs (Over The Top) e as outras
tecnologias, que são disruptivas, mudam o modelo de negócios. Elas forçam as
empresas a rever a forma de operar, até por uma questão de sobrevivência. E, o
que é pior: isso vai ser a regra daqui para frente. Nosso mundo mudou.
O segundo aspecto é o Big Data. O volume de informações que as empresas e as
pessoas físicas estão lidando, hoje em dia, cresce geometricamente e
exponencialmente. Isso cria para as empresas oportunidades e também de
desafios como, por exemplo, como analisar e como gerenciar essas informações.
O que nós vamos ver no último tópico.
O terceiro aspecto é a questão da mobilidade. Hoje as pessoas trabalham onde
elas quiserem. A tecnologia permite que elas trabalhem em casa, no carro, no
metrô, em cliente, resolvendo negócios. Eu sinto isso pessoalmente: eu viajo
muito e estou sempre atendendo os meus clientes aonde eu estiver trabalhando.
Ontem, estive em Manaus, anteontem, em Uberlândia.
O quarto aspectos são as medias sociais, que estão redefinindo a forma com as
pessoas, as empresas e as organizações interagem.
E, por fim, essas quatro tendências: computação na nuvem, Big Data, mobilidade
e medias sociais criam uma necessidade de ferramentas de analitics para analisar
todo esse conjunto de informações.
Essas cinco tendências mostram para a gente que essas modificações
tecnológicas - que nós estamos classificando como tectônicas, nunca antes vistas
- estão levando a que as empresas redefinam quem são seus clientes, quem são
seus competidores. Os produtos e serviços e os modelos de negócios são
completamente diferentes, assim como os competidores. Às vezes, um competidor
que você nunca imaginaria passa a ser seu conconcorrente. Prestadores de
serviços, novas preocupações para a indústria.
Do ponto do vista da tributação, quais são as consequências? Eu tenho um
quadro, tenho uma modificação, um novo paradigma da computação em nuvem.
Isso quer dizer que, potencialmente, a computação em nuvem e a tecnologia
associada à computação em nuvem fazem com que você tenha serviços de
infraestrutura que são hospedados. E como se tributa? Quem vai tributar? O
servidor está hospedado na Costa Rica processando informações que são
geradas pelas pessoas que estão na República Tcheca e gera saldos contábeis
no Brasil. Quem vai tributar?
Então, associada a essa situação, você tem esse outro quadro, que nós vamos
explorar um pouco depois, que é a questão da economia digital, que possibilita a
erosão da base tributável. Por conta desse deslocamento, eu consigo deslocar a
atividade e, eventualmente, também a tributação, por conta da mobilidade que
essa tecnologia me permite.
Em relação ao Big data, qual a orientação tributária advém dessa tecnologia? As
empresas e o fisco, as autoridades tributárias, têm acesso a um maior volume de
informações. Nós aqui no Brasil sabemos disso e vivemos isso no dia a dia: são
os SPED Contábil, SPED Fiscal, SPED Contribuição, RCE. O fisco tem uma
visibilidade muito maior. Em alguns países isso é um pouco mais acelerado e em
outros não é tão rápido quanto no Brasil.
Em relação à mobilidade, qual a implicação tributária dessa mobilidade, do fato de
as pessoas terem essa facilidade de trabalharem em diferentes jurisdições e a
qualquer momento? Estabelecimento permanente. Aonde essas pessoas
trabalham? Qual o centro de interesses daquela pessoa, ou daquela organização,
ou daquela entidade? Essas são as questões que estão sendo trazidas por conta
da mobilidade. Quem vai tributar ou, em primeiro lugar, aonde eu vou criar um
centro ou estabelecimento para a tributação?
Em relação às mídias sociais, os provedores de mídias sociais estão criando
novos modelos de negócio. Isso foi comentado pelo da Matta: a questão de
tributar a publicidade. Em um negócio como o Facebook, ou mesmo o WhatsApp,
a renda deles não vem da comunicação. Não são dos serviços de
telecomunicações que prestam que deriva a receita. O negócio deles é baseado
na publicidade. A receita deles vem da publicidade. A renda deles vem da coleta
de seus dados e da geração de inteligência por meio do analitic para fornecer isso
para terceiros. É dali que vem a renda e é onde vou tributar. Mas o meu sistema
tributário pode não estar conformado para essa realidade.
Portanto, hoje no cenário de tributação, internacionalmente falando, quais são os
pontos que estão sendo discutidos? Primeiro, as pessoas e os técnicos que são
formados com o conceito tradicional de tributação não estão preparadas, às
vezes, para lidar com essas novas realidades.
Outro ponto claro que está colocado é a questão do estabelecimento permanente.
Esse é um tópico que está sempre em toda discussão da economia digital. A
questão da tributação indireta. Toda vez que se fala em economia digital, o grande
foco é a tributação indireta. Qual é a minha base em que eu vou tributar: ISS,
serviços, um bem? Qual é a base?
Migração de propriedade intelectual. Isso está acontecendo. É muito fácil, nos dias
de hoje, você mover a sua propriedade intelectual de uma jurisdição para outra.
Quando formos falar sobre o BEPS, eu vou resgatar essa questão da mobilidade e
da propriedade intelectual, que estão na raiz da primeira ação, que foi tomada
quando foi criado o BEPS.
Preço de transferência (transfer price). Como eu avalio e precifico as operações
de diversas companhias que fazem parte de um conglomerado internacional?
Uma companhia que opera com um intangível na Irlanda, que uma fábrica na
França e um centro de pesquisas na África do Sul.
Tax technology, tax solution e co-sourcing. Cada vez mais a gente está vendo as
grandes companhias, solicitarem a grandes prestadores de serviços globais para
ficarem encarregados de tomar conta, literalmente tomar conta, da vida tributária
das empresas. Eles terceirizam para grandes provedores como a Accenture, e
mesmo nós da Deloitte, para fazer a rotina tributária das empresas, seja em
nossos computadores ou nos computadores dos clientes com as pessoas deles.
Isso é uma forma radical de mudança total em termos de pessoas e de negócio.
Libera as pessoas para focar nos negócios da empresa.
O tema do momento na Europa que é questão a reforma tributária e o BEPS, que
é a erosão da base tributária e transferência de lucros.
Incentivos fiscais de P&D. Isso é muito importante porque quase todos os países
da Europa possuem sistemas e regimes fiscais de favorecimento de P&D, de
dedução de gastos de P&D. O Brasil entrou um pouco atrasado nessa área e com
algumas implicações que nós vamos comentar também.
E, por fim, a questão da mobilidade traz consigo um aspecto de planejamento
tributário da pessoa física, porque essa pessoa passa a receber rendimentos
globais. Acaba se tornando comum que um expatriado se torne residente fiscal
num país como a Suíça ou Espanha ou Inglaterra, e lá ele recebe o salário dele,
porém ele não trabalha nesses países. Pode passar seis meses no Brasil ou no
Japão e onde é o centro de interesse dessa pessoa? Essas são questões que
estão surgindo.
Vamos falar um pouquinho dos Estados Unidos. Uma coisa que achei
interessante, quando fizemos a pesquisa para essa apresentação, foi observar
que os grandes desafios e as grandes questões com as quais os EUA estão se
defrontando não são muito diferentes de tudo aquilo que a gente conversou hoje
de manhã. Primeiro, o que é produto e o que é serviço? E mais: quem está
vendendo o quê? Quais são os tipos de tributos que incidem sobre as rendas dos
serviços de telecomunicações, internet, TV a cabo ou serviços de vídeo, serviços
hospedados ou baseados em nuvem (cloud), software e equipamento ou qualquer
outro bem intangível?
Um aspecto importante da administração americana também: qual a jurisdição e o
direito e o poder de tributar? E a questão do estabelecimento permanente
também: aonde os serviços estão sendo prestados e para quem?
Se vocês olharem a estrutura tributária americana, ela não mudou muito do que
sempre foi o paradigma americano. Você tem o imposto de renda, você tem uma
tributação sobre o consumo (o sales tax), você tem um adicional sobre os tributos
sobre as vendas e alguns outros tributos específicos para a indústria, que, diga-se
de passagem, para o caso de telecom, nos EUA, não existe tributação específica.
Há, também, a questão de quais são os órgãos e quem, potencialmente, tem o
direito de tributar? No caso americano, há a autoridade tributária, que são a
Receita Federal Americana e a Receita Estadual. Sendo que a Receita Federal
cobra o imposto sobre a renda e a receita estadual cobra os tipos de impostos
sobre importação, principalmente, mas muito poucos e muitos reduzidos e há o
sales tax, que são tributados pelos estados e, dentro dos estados, as
municipalidades também têm o direito de cobrar.
No caso da atividade de telecom, nos EUA, obviamente, as empresas pagam
imposto sobre a renda, mas lá existe também a parcela do imposto de renda
cobrada no estado. E aí começa o problema, porque, quando tem o tráfego de
comunicação, essa comunicação se origina num estado e termina em outro.
Então, qual o estado vai tributar a renda? Como é a repartição entre os estados?
Telecom também é tributado com o máximo sale tax e de novo, há problemas,
quando se tem tráfego internacional, isso pode gerar um problema.
E, no caso americano, a autoridade regulatória também tem o direito de cobrar os
fees, algo parecido com os nossos fundos setoriais. Os valores são cobrados com
base em receitas e volumes de usuários. São pagos para a Federal
Communications Comission (FCC).
Para encerrar o capítulo americano, a questão dos serviços de telecomunicações
e TV a cabo, são, via de regra, indústrias reguladas e tributadas de uma forma
diferenciada da forma como se tributa as outras empresas. Então, tem a questão
de serviços como se fosse um monopólio. Então, como eu direciono a tributação
para evitar a concentração e a formação dos monopólios?
E um aspecto que foi ressaltado, a guia tributária que é utilizada não é uma guia
adequada ao atual estágio da atividade de telecomunicação. Então, os EUA hoje
se defrontam com a criação de um novo marco tributário adequado à realidade
que nós temos. Principalmente, levando em consideração que há um panorama
tributário para a evolução dos produtos e serviços online, baseados em nuvem e
que são viabilizados eletronicamente.
E aqui eu resgato algo que foi dito hoje na palestra do Leonardo, quando ele falou
em Internet Tax Freedon Act 1998, que foi um marco na tributação americana,
porque protegeu os provedores de internet de cobrança específica. E essa
proteção existe até hoje. Estimava-se que, após a entrada em vigor do Ato,
existiam, aproximadamente, 30 mil jurisdições potencialmente elegíveis para
tributar dentro dos EUA, entre estados e municípios. O que é interessante é que
esse Ato protege o provedor de serviço e não a transação. A transação feita
eletronicamente é tributada, o serviço de provimento de acesso é que é protegido.
Em relação à perspectiva europeia, fica difícil fazer uma apresentação cobrindo
cada um dos países. Ficaria uma apresentação muito extensa e teria material para
três dias de palestra. Como a gente tem apenas 45 minutos, a gente procurou
concentrar em algumas das principais tendências que são aplicadas a todos os
países da União Europeia e também incluído o Reino Unido.
O primeiro desafio para as empresas de telecom - e nós vamos falar dos
principais, não vamos falar de todos, mas alguns dos mais importantes que temos
visto por aí – é a questão da dedutibilidade das despesas financeiras, porque
houve um período de crise econômica, que começou em 2008 e até agora não
acabou. A Europa está lá, devagarzinho, parece que vai pegar no tranco, mas não
pega. Os EUA já estão mostrando sinais de recuperação, mas a Europa como um
todo, até agora, não mostrou uma recuperação. Então, as operadoras de
telecomunicações estão altamente endividadas e a questão da dedutibilidade das
despesas financeiras e dos juros é um ponto sensível para elas. Por outro lado, o
que se tem observado é uma tendência das jurisdições europeias em limitar essa
dedutibilidade dos juros a um percentual do EBITDA.
Nós aqui no Brasil, há três anos, tivemos a introdução de regras de sub-
capitalização. Estamos entrando em outro patamar, sub-capitalização é visto como
algo obsoleto e ultrapassado. Nós já estamos discutindo limites de endividamento
sobre EBITDA. É outra filosofia, e essa linha de discussão está muito alinhada
com o que está colocado na ação número 2 e ação 4 do BEPS, que visam a
reduzir a dedutibilidade de juros e de despesas, que derivam e nascem de
instrumentos híbridos.
Como resposta a essa tendência de limitar a tributação, as companhias estão
tentando otimizar a dedutibilidade por meio de operações estruturadas.
Uma outra tendência que nós temos visto é a limitação do uso dos benefícios
fiscais. Da mesma forma, em períodos recessivos, as empresas acumulam
prejuízos. A ideia é aproveitar o máximo possível monetizar esses prejuízos por
meio do seu aproveitamento imediato. Por outro lado, os legisladores têm
procurado restringir, postergar ou reduzir os prazos de compensação de prejuízos
fiscais. Aqui no Brasil não havia prescrição de prejuízos fiscais, mas vários países
têm. Nos EUA, você tinha 20 anos de aproveitamento para frente e três anos para
trás, que nós não temos no Brasil.
Esse é um aspecto interessante que é a questão de monetização dos créditos
advindos de incentivos de P&D. As companhias europeias, em período recessivo,
gerando prejuízos, não conseguem aproveitar de uma forma eficiente créditos
oriundos de pesquisa e desenvolvimento porque, via de regra, os regimes de
créditos de P&D baseados na Convenção de Frascati preveem uma super-
dedução: você gastou 100 em P&D e deduz 150, 160, 200 ou 300. O problema é
que se você já está no prejuízo, com uma super-dedução você aumenta o
prejuízo. Então o crédito fica morto. Esse é o caso do Brasil, que é pior ainda,
pois, se você tiver prejuízo, não pode usar nada.
Uma atitude interessante é o exemplo da Espanha, que decidiu ressarcir o
contribuinte, em dinheiro, pelo crédito de P&D, porque a atividade de P&D é vista
como indutora do desenvolvimento das novas tecnologias. Então, você quer
incentivar, e não quer que as empresas parem de gastar em P&D. Por incrível que
pareça, existem países que devolvem dinheiro. O Canadá também faz isso. Eu sei
que isso é completamente diferente. Quando eu estive no Canadá e estudei, eu
não acreditava, mas eles fazem isso.
Por fim, as autoridades europeias têm se debruçado de uma forma muito crítica
sobre os arranjos de transfer price entre as empresas. Qual o objetivo? Estão
sendo duramente criticadas as alocações de lucro entre as jurisdições. Arranjos do
tipo de centro de serviços compartilhados, centros globais de compras e os
deliveries centers, por meio do qual se prestam serviços para todas as empresas
do grupo, a forma como se atribui lucros para essas entidades tem sido duramente
criticada pelas autoridades europeias. E diga-se que é uma ação que também está
em linha com as ações 8, 9 e 10 do BEPS.
O que é esse BEPS, esse palavrão que de uma hora para a outra surgiu na vida
da gente e justifica a edição de uma medida provisória, a 685, alinhada com o
BEPS e o PL 2690, que também está alinhada ao BEPS. De onde surge essa
figura? Se formos lembrar a origem do BEPS, por que a OCDE criou essas ações,
temos que lembrar que em 2008/2009 nós tivemos noticiados grandes manchetes
comentando sobre estruturas de planejamento tributárias adotadas por Starbucks,
Google e Microsoft, só para citar algumas como a Caterpillar e várias empresas
que tiveram suas estruturas muito questionadas publicamente. Porque se
começou a perceber que essas companhias tinham uma alíquota efetiva de
imposto muito menor do que a alíquota nominal. E se vocês forem lembrar, nós
tivemos anos depois o swissleaks, com a publicação de vários acordos e vários
números emitidos pelo governo de Luxemburgo, justificando planejamentos
tributários, perfeitamente legais. A questão aqui é diferente: ninguém está falando
de legalidade, tudo é que foi feito é legal. A questão é: essas companhias estão
pagando o imposto justo, a parcela do imposto que é considerada socialmente
justa? Esse é o princípio por trás do BEPS.
Junto dessa questão da parcela justa do imposto, há uma perda de confiança das
autoridades em relação aos executivos das grandes empresas multinacionais que,
por sua vez, leva às tentativas de se aumentar o imposto na fonte. Além disso há
o ativismo de grupos sociais tentando denunciar companhias por práticas
consideradas abusivas. De novo, não estamos falando de legalidade e sim de
responsabilidade. As companhias passaram a enfrentar problemas de reputação,
associado a essa imagem de uma companhia que não paga a sua cota
responsável de imposto.
Então, há uma mudança de visão das autoridades. Essa agenda de tributação
responsável foi que resultou nas ações unilaterais de muitos países que por fim
chegaram até a criação do BEPS. O projeto é coordenado pela OCDE inicialmente
com os países da OCDE mas, depois, também, convidando os países do G-20. O
Brasil não é da OCDE, mas é do G-20 e teve um representante que atuou.
Inclusive o relatório final sobre preço de transferência, conta com uma nota
específica falando só sobre o Brasil. Recomendo a leitura.
Então, o BEPS é uma ação internacional coordenada que tem três pilares, três
grandes linhas. A primeira é a atualização dos regimes tributários para lidar com a
moderna economia digital. Então tem definição de presença tributável; conciliar o
benefício econômico com a substância econômica; um trasnfer price justo para
intangíveis; risco e capital.
Segundo, prevenir lucros para que eles não sejam artificialmente transferidos para
jurisdição com baixa tributação. Limitar a dedução de juros; evitar abuso de
tratados; foco em jurisdições que empregam práticas tributárias desleais. Quem
aqui acreditaria, há dez anos, que a Suíça iria entregar documentos sobre sigilos
tributários e ficais? A Suíça virou uma jurisdição extremamente criticada e
alvejada. Então essa mudança de posição é derivada dessa agenda de
responsabilidade social.
Por fim, tem a questão de aumentar a transparência e a padronização da
documentação. E aqui reside uma parte significativa das críticas ao BEPS que é o
custo que ele trará às organizações internacionais em gerar esses relatórios de
informações tributárias e desenvolver documentação para consubstanciar os seus
preços de referência.
Com relação à ação 1, nós já tivemos um detalhamento muito bom feita pelo
Maurício, da Telefonica. Agora eu gostaria de fazer algumas reflexões para
finalizar minha apresentação. Quando se olha o que está acontecendo no mundo
e compara com a nossa realidade, algumas coisas saltam aos olhos. Primeiro, o
Brasil não utiliza os fundos setoriais que são arrecadados para o subsídio de
pesquisa e desenvolvimento voltado para o aprimoramento das telecomunicações.
Isso é claro, nem precisa de dados. Hoje de manhã tivemos a apresentação do
João (presidente da Anatel), mostrando que menos de 10% do que foi arrecadado,
em 15 anos, foi aplicado. O restante foi utilizado para cobertura de déficit
primário. Corrigindo, quem falou foi o Duprat.
O Brasil tem uma tributação concentrada no consumo, com elevadas alíquotas
com uma sistemática de crédito extremamente restritiva. O fato de tributar sobre o
consumo, o Brasil não está fazendo nada de diferente do que é feito nas outras
jurisdições do mundo. A questão é a alíquota e o crédito. A grande a maioria dos
regimes tributários europeus tem o IFA, que define o crédito, ou não se tributa a
interconexão e o roaming entre as empresas. Em algumas jurisdições, o regime
pode ser alto, porém, não nos níveis brasileiros. E ademais, o nosso sistema de
créditos é extremamente restritivo, quando comparado ao de outros países. A
exceção dos EUA, que não tem crédito nem IFA. Estamos falando basicamente de
União Europeia.
E um aspecto muito importante que eu senti falta no que foi falado pela manhã é
que uma indústria que investe como a indústria de telecom - aqui no Brasil foram
R$ 32 bilhões - esse efeito é brutal. O Brasil, infelizmente, a nossa política
tributária, força a tributação sobre o capex, sobre os investimentos, no imobilizado.
E a recuperação desses créditos é lenta. Então isso que faz com que você tenha
de partir para estratégias de negociação caso a caso. Grande parte dos estados
estão abertos a negociar, mas a questão é que o sistema como um todo onera
demais e é um desincentivo ao investimento.
A tributação não acompanha o desenvolvimento tecnológico. A tributação de
software para mim é paradigmática. Se eu baixo o software, via download, de um
servidor, pagando isso com meu cartão de crédito internacional, o que se faz?
Senta e chora. Outro ponto: eu compro um software com um serviço de instalação
que o técnico leva seis meses adequando o software, fazendo o setup das
máquinas. Isso é o que? É venda de bens, é serviço, é intangível, é royalties?
Hoje em dia ninguém mais compra software de prateleira.
Incentivos fiscais voltados para P&D. Como eu falei, o Brasil entrou um pouco
atrasado na questão dos incentivos fiscais de P&D. Quando o país trouxe os
incentivos por meio da Lei do Bem, essa regra já existia no Canadá há mais de 20
anos. A questão, que parece ser a mais preocupante, é que hoje, por conta de
outras necessidades, outras demandas, estão inclusive revendo, há uma Medida
Provisória suspendendo os benefícios de P&D para 2016, ou seja, nós vamos
parar de incentivar as atividades de P&D. Quando o mundo todo está indo numa
outra direção, de incentivar e promover a inovação.
A questão da definição do conceito de estabelecimento permanente. A legislação
brasileira para fins de V&T (??) é fácil saber o que é estabelecimento
permanente, mas para fins de tributação de imposto de renda essa questão é mais
fluida. Recentemente, tivemos uma solução de uma consulta ao Cosit
(Coordenação-Geral de Tributação) que resgatou uma série de conceitos da
nossa legislação comercial para tentar criar um marco do que seria o conceito de
estabelecimento permanente no Brasil. Mas quando há pessoas estrangeiras em
missões de negócios que vêm ao Brasil, é difícil, às vezes, determinar se aquela
pessoa é um representante, um agente, um distribuidor ou se é, de fato, como se
fosse uma filial daquela empresa estrangeira atuando no Brasil. Então, a nossa
legislação precisa estar preparada, ou precisa trazer esse conceito. A definição do
conceito de estabelecimento permanente, na legislação brasileira de imposto de
renda, principalmente, precisa ser formulada.
Aqui na questão da informatização da arrecadação esse é um aspecto do qual
podemos nos orgulhar. O Brasil é pioneiro, desde 1996, todas as declarações de
imposto de renda de empresas são entregues num mesmo modelo de software
que todos os contribuintes usam e que reportam isso numa mesma base. Eu
lembro que em 1998, eu estava num seminário de treinamento da firma nos EUA e
comentei isso com o meu colega da Deloitte americana e ele não acreditou. Eu
abri o computador e mostrei para ele. O Brasil é pioneiro nessa área. O Sped, com
todas as dificuldades e com todas as demandas que foram criadas, é um projeto
fantástico do ponto de vista da administração tributária porque permite visualiza.
Você coloca todos os contribuintes numa mesma base competitiva, porque aquele
contribuinte que está sonegando, com o Sped, não tem mais como sonegar.
E a sonegação é um dos principais pontos que criam os desequilíbrios
competitivos entre os contribuintes. No ambiente de Sped, isso acabou. Ou não,
para quem quiser correr o risco. É o que sempre falo, no Sped, o contribuinte
informa todas as informações para o fisco. E, nesse ponto, o Brasil está na
vanguarda da utilização da informação.
Mais uma vez secretário, muito obrigado pelo convite.
Flávia Oliveira convoca o próximo palestrante.
Professor Javier Berrocal, especialista do Instituto de Estudos Fiscais da Espanha –
Apresentação La Fiscalidad de las Telecomunicaciones em la Era de la Economía Digital:
Boa tarde em primeiro lugar, gostaria de agradecer profundamente a oportunidade
e a sorte de poder estar aqui. Grande parte do que eu trouxe, já foi dito aqui.
Queria resgatar algumas coisas que foram comentadas pela manhã sobra a
Europa e a Espanha, em particular. O projeto BEPS é muito importante. Toda as
ações num primeiro momento foram tomadas em médias (?) e em países que
mudaram melhor (?).
Há umas coisas que tomei nota:
Cerca de 50% da fatura de serviços de telecomunicações são impostos. O
Secretário de Estado dizia há pouco sobre as receitas e os gastos. Pode-se
aumentar impostos ou encontrar outra forma de arrecadação (trecho
incompreensível).
Investimentos em telecomunicações, cada vez que se investe 10% há uma
elevação de 1,3% (do PIB?).
Alguém disse pela manhã que temos de voltar ao passado para entender o futuro.
A vantagem em encontros internacionais é aproveitar o que disseram os demais
para apresentar corrigir suas próprias informações. E vou levar várias coisas que
ouvi aqui para corrigir erros que estejamos cometendo na Espanha.
O governador dizia que é mais fácil arrecadar taxas do que impostos. E,
realmente, na Espanha aprendemos muito com essa fórmula de arrecadação
impositiva.
E, por último, está claro que o BEPS foi convertido em um elemento importante
entre os elementos tributários da economia digital é um dos grandes problemas.
Vamos falar de:
I. AEAT Espanha
II. II. Imposição Local
III. III. Imposição Direta
IV. IV. Imposição Indirecta
I – AEAT Espanha:
Há dois grandes problemas. O primeiro é o que ocorreu na Espanha com a
evolução que tiveram as empresas dedicadas à tecnologia. Na Espanha, temos
um monopólio natural, com uma empresa de origem espanhola, a Telefonica, que
não é mais apenas uma empresa espanhola e sim internacional. A Telefônica foi
importante para a evolução do setor tecnológico e a evolução tributária.
E o segundo ponto sobre que efeitos terão surgido com a aparição da economia
digital, que, no âmbito do ordenamento espanhol, tem uma especial referência, o
que pode explicar alguns dos problemas que existem no Brasil. É a existência das
diretivas comunitárias com uma normativa única. A diretiva não é uma norma
diretamente aplicável, a diretiva é uma fórmula única que obriga os Estados a
efetuarem uma transposição dessa normativa e ter sua própria normativa
baseados nos objetivos da Normativa Comunitária. Ao final vamos mostrar se
conseguimos ou não.
Como já disse, na Espanha, partimos de um monopólio natural de uma empresa
pública, a Telefônica, que por meio do Estado dotou a Espanha de infraestrutura
necessária para as comunicações fundamentalmente do que se chama de rede
fixa. A regulação setorial foi tentando assimilar a realidade dos operadores de
banda móvel. (No processo de privatização de uma empresa pública, foi
necessário impor, ordenar, regular uma transição que, em muitos casos, impôs
uma carga tributária, fiscal, social para essa empresa, mas o que foi
imprescindível para chegarmos ao ponto em que nos encontramos.
Ao redor da história, há múltiplos enfrentamento de tudo que está posto, a
aplicação da normativa no mundo. Vou citar dois exemplos, as empresas Bell nos
EUA ao final de um século XX, para novos competidores se usou essa mesma
operativa de ir permitindo que novos operadores entrassem no mercado usando a
infraestrutura que já havia. Por parte da Comissão de Serviços Públicos de Nova
York se estabeleceu e se ordenou que a empresa teria de ceder determinada
infraestrutura por meio de certos procedimentos. Mas o Supremo decidiu a favor
da empresa e não a obrigou.
Na Espanha, a Comissão do Mercado de Comunicação obrigou a Telefonica a ter
esse tipo de procedimento. O marco normativo atual é baseado na liberalização
dos mercados, que é a consequência de todas as decisões que foram tomadas.
Depois dessa pequena introdução, eis aqui um quadro para nos situarmos. A
Espanha tem 46 milhões de habitantes, o Brasil, 206 milhões. Vou chamar a
atenção, fundamentalmente, de três dados, a densidade da população: 24 no
Brasil, 92, na Espanha. Quando aterrissei no aeroporto do Rio de Janeiro, fiquei
impressionado de que, por não sei quantos quilômetros, eram casas, casas,
casas. PIB : US$ 1 533 590 milhões na Espanha, o 16º maior; US$ 3 263 865
milhões no Brasil, o sétimo colocado.
Esta é a Espanha: um único Estado dividido em 17 Comunidades Autônomas,
cada uma com suas províncias num total de 56 Províncias. Por que estou
apresentando esses dados? Porque este é um dos problemas enfrentados no
âmbito do Brasil, a superposição de distintas competências tributárias. Na
Espanha, temos tributos próprios do Estado que se aplicam por igual em todos os
estados mas, posteriormente, se estende a arrecadação às Comunidades
Autônomas com a mesma porcentagem. Por sua vez, as comunidades autônomas
têm tributos próprios que não dizem respeito aos tributos em nível federal. E
finalmente as províncias têm sua própria tributação.
Esta é a estrutura administrativa do Estado: Ministério da Fazenda, Agência
Tributária, criada em 1992, Departamentos Funcionais, Subdireções Gerais.
II – Tributação Local:
Começando pela Imposição local, as 17 Comunidades Autônomas às quais estão
ligadas as províncias, porque é onde se estabelecem um número grande de
problemas que tiveram as empresas de telecomunicações na Espanha para a
fiscalização do setor.
Partindo do princípio do monopólio natural da Espanha, os operadores de
telecomunicações tinham dois tipos de custos tributários: os custos diretos, que
são as taxas de imposições locais; e os custos de serviços públicos indiretos que
são as contribuições econômicas indiretas que são três serviços: intercepção legal
de comunicações; conservação de dados de tráfego para averiguações; e
encaminhamento de chamadas para os serviços gratuitos de emergências. Eram
três serviços prestados obrigatoriamente e que eram negativos para os preços dos
serviços, para o investimento em novas redes, e para o crescimento econômico.
Os custos diretos eram:
A- . 2003 LEI GERAL DE TELECOMUNICAÇÕES
a) Taxa geral de operações.
b) Taxa de numeração telefónica.
c) Taxa de reserva por domínio Público Radioelétrico..
d) financiamento do serviço universal de telecomunicações.
B. TAXA DE FINANCIAMENTO CORPORATIVO RTVE
C. IMPOSTOS PARA ENTIDADES LOCAIS
a) Imposto de Negócios IAE
b) Taxa para uso privado domínio público local
c) Licenças Municipais
A – a) A Taxa Geral de operações é medida em 2% das receitas brutas para cobrir
as despesas decorrentes do funcionamento da Comissão do Mercado de
Telecomunicações para regulamentação do setor. Exceto em 2008, todos os
exercícios tiveram superávit para a Comissão.
b) A Taxa de numeração telefónica – Oferta pela Comissão do Mercado de
Telecomunicações de bloco de numeração às entidades. Compreende uma Taxa
de € 0,03 cada número atribuído. Os recursos obtidos se destinam ao Tesouro
Público para cobrir as despesas de gestão do Estado AGE (Estado de
Administração. Geral) e controle do regime jurídico do setor.
c) Taxa de reserva por domínio Público Radioelétrico – Taxa anual pela reserva
para uso privativo de frequências (largura de banda x km2) do domínio público
radioelétrico. A quantia é fixada anualmente a partir do valor de mercado derivado
do uso e rentabilidade que se puder obter. Desde 2011, a arrecadação está
relacionada ao financiamento da RTVE (TV pública) com um limite próximo a
arrecadação real.
d) E, por fim, o financiamento da universalização dos serviços de
telecomunicações – É um princípio, que se reconhece como um direito de ter
disponibilidade de linhas telefônicas para chamadas diretas; disponibilidade de
guias gratuitas e telefones públicos; serviços especiais para as pessoas com
deficiência; preços especiais para grupos sociais determinados. O Serviço
Universal é entendido como aquele para todos os usuários finais, independente da
localização geográfica, com a mínima qualidade e preço acessível.
O Serviço Universal se baseia na Lei de Economia Sustentável e tem algumas
características. Requer um mínimo de comunicação de banda larga, acesso geral
para os cidadãos. Mas também aumenta o custo líquido do serviço, não está
incluído no Orçamento do Estado e aumenta a carga fiscal dos operadores.
B - Taxa para financiamento da RTVE - Os operadores de telecomunicações com
mais de uma implantação em diferentes comunidades têm de contribuir com 0,9%
de sua renda bruta. Rescisão pela RTVE na comercialização de espaço
publicitário em sua emissão, deve resultar no aumento de receitas provenientes de
outros operadores para a utilização de serviços de pagamento e publicidade. A
RTVE aumenta sua participação, com crescimento rápido de liderança, o que
significa, na prática, um mercado menos atraente para TV por assinatura.
C. Impostos para entidades locais:
a) Imposto de Negócios IAE – Trata-se de um tributo verdadeiro de caráter direto
cobrado sobre o mero exercício de actividades profissionais ou artísticas. Taxa
fixa local calculada com base de assinantes e antenas instaladas, com sobretaxa
provincial e cota nacional, dependendo do seu âmbito de atuação.
b) Taxa para uso especial do domínio público local – Refere-se ao aproveitamento
que realizam as operadoras de telefonia móvel tanto como titulares de redes como
os direitos de uso de conexão com essas redes. A taxa é calculada sobre o valor
de mercado é derivada da utilização ou exploração do domínio público.
c) Outras taxas de caráter local - Licenças Urbanísticas, Licença de Abertura de
Atividade, Inspeção Técnica de instalações, Imposto sobre Propriedade (IBI),
Imposto sobre construções, instalações e obras (ICICI). Imposto sobre o valor
aumentado de solo urbano (Impact comprador), Imposto sobre os veículos
automótores.
Podemos concluir que há uma excessiva carga tributária para as operadoras de
telecomunicações. Só que, o que ocorreu na Espanha com o objetivo de facilitar a
tributação da mais importante empresa de telecomunicações, se simplificou a tal
ponto que se estabeleceu um imposto e se substitutuiu o resto dos tributos locais
por uma compensação.
Regime Especial de Tributação para a Telefonica –
1. IBI sobre bens de natureza rústica e urbana.
2. A substituição de outros impostos locais para compensação em dinheiro,
calculado sobre as receitas cobradas em cada município (1,9%) e uma taxa
adicional de 0,1% em nível provincial. Simplificação da liquidação e gestão fiscal.
Foi uma medida para pacificar e chegou-se a pensar se poderia ser extendida a
outros operadores.
Hoje pela manhã, ficou subentendido que nas discussões tributárias as empresas
vão para um lado e as autoridades tributárias para outro. Na Espanha, temos o
Fórum das Grandes empresas que tem por um lado as autoridades tributárias e,
por outro, as emrpesas. Apesar de haver um fórum, isso não significa que todos
estejam de acordo em tudo, até porque a administração tributária e as empresas
nunca podem estar de acordo em tudo.
Para complementar o sistema tributário das empresas de telecomunicações, ha
também a Tributação Direta e Indireta.
III – Tributação (imposição) Direta :
Imposto sobre as Sociedades: Aplicação Geral. Tributa rendimentos a nível
mundial. Há duas possibilidades de dedução. Deduz a dupla tributação. E como
são as empresas que mais investem em inovação e tecnologia, permite deduções
para P&D.
IV – Tributação (imposição) Indireta:
Impostos sobre o consumo de bens e serviços. Do ponto de vista teórico, quando
há um consumo de bens e serviços por parte do privado ou por parte das
empresas, há uma taxação mas é preciso encontrar a capacidade de pagamento.
É possível fazer por meio de um sistema de tributação pessoal ou tributação
indireta. Vamos falar da tributação indireta que tem impacto na tributaçã direta por
mecanismos de inclusão de imposto nos bens e serviços desde o vendedor até o
comprador.
Consumo de bens e serviços ------- Capacidade de pagamento/Possibilidade de
tributação
Impostos pessoais -------- Impostos indiretos.
Impostos pessoais:
Consumo total de Contribuinte
• Renda Baixa: Alto % do consumo
• Alta Renda: Consumir um % com possibilidade de poupança.
• Evita regressão teórica com escalas progressivas.
Os impostos indiretos sobre bens de consumo funcionam em nível mundial
Impostos Indiretos:
• Inclusão no imposto no preço dos bens consumidos.
• Vendedor transfere impostos sobre vendas para o comprador.
• Recai indiretamente porque o faz ao pagar o preço bens e serviços.
Impostos indiretos sobre consumo podem ser gerais ou específicos. Os impostos
gerais podem ser monofásicos ou plurifásicos (IVA). O imposto específico é o
ACCÍSAS.
Os mecanismos gerais do IVA todos conhecemos. Pagam empresários ou
profissionais.
Características gerais do IVA:
É uma variedade de imposto plurifásico. Utiliza o sistema de dedução cota a cota.
Se reflete de modo separado na fatura. Se deduz cota suportada na fase anterior.
Recai sobre o consumidor final. Facilita o controle cruzado: A ingressa; B deduz
No âmbito da imposição indireta na Espanha e na Europa, há regras que permitem
localizar a tributação. Quando o destinatário é um empresário ou profissional, a
tributação é no destino. Quando o destinatário é um consumidor final, a tributação
é na origem.
- Possibilidade de tributação pelo consumo de:
a) Entrega de bens – Empresários ou profissionais
b) Prestação de Serviços - Empresários ou Profissionais
c) Importação de bens – Empresários, Profissionais e particulares
d) Aquisição de bens intracomunitárias – Empresários ou profissionais
O cumprimento integral das obrigações fiscais é muito oneroso para as pequenas
empresas, e assim foram definidos sistemas que facilitam a sua implementação.
Com o objetivo de facilitar o cumprimento das obrigações, criou-se na Espanha
regimes especiais como consequência da aprovação das Diretivas Comunitárias.
- Franquia ou limiar mínimo - (Eles são tratados como indivíduos)
- Varejo - Sobretaxa sobre o IVA em troca de não entrar no impacto do IVA que foi
cobrado nas vendas.
- Simplificado - (Brasil)
- Regime de conselho – Postergar o pagamento do imposto até que se cobre de
modo efetivo a fatura, mas também atrasar o suportado.
Impostos sobre consumo específicos (Não existem no Brasil)
Geram grande volume de receitas fiscais, por:
Demanda inelástica.
Consumo generalizado.
Escassa resistência à subida de preços
- São impostos relativos a gastos públicos relacionados a grandes compras (por
exemplo: saúde)
- Tributação sobre bens de luxo. (Obsoleto)
- Move demanda para um tipo de mercadorias (pouco uso)
Temos que simplificar a tributação para aliviar as empresas. Na Europa, se
identificou a necessidade de se harmonizar, que significa construir mecanismos da
tributação indireta baseada em três pilares:
- Tributação no estado membro de consumo - circulação intracomunitária torna
efetivo o princípio da tributação no Estado membro de seu tipo de taxação do
consumo.
- Harmonização de estruturas tributárias a fim de se obter um tratamento
uniforme;
- Aplicar um tipo de tributação que impeça distorções à competência.
Comparando com o Brasil:
- Não há impostos especiais
- Também são registrados que tipo de bens
- Aplica-se taxas mais elevadas no imposto consumo geral
Para chamar a atenção nas diferenças de tributação entre Brasil e Espanha
vemos que o ICMS abrange a parte de comunicação. Temos Impostos do tipo IVA
(valor adicionado) no Brasil:
Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) de transporte
interestadual e intermunicipal e de comunicação. A partir da Lei Geral do ICMS,
cada estado institui o tributo por meio de sua própria lei estadual. Imposto não-
cumulativo que compensa o valor devido ao anteriormente cobrado pelo seu
sistema de declaração para, na prática, ser pago pelo consumidor final. Adota um
regime híbrido de tributação entre origem e destino para evitar arrecadação
apenas em alguns Estados mais desenvolvidos.
Fontes tributáveis:
- Saídas de mercadorias – operações de circulação de mercadorias.
- Prestação de serviços de transporte interestaduais e intermunicipais
- Prestação de serviços de comunicações
- Fornecimento de mercadorias com prestação de serviços
- Entrada de bens e mercadorias em operações de importações por pessoas
físicas ou jurídicas.
Operações internas – se aplica imposto interno.
Operações entre estados se aplica:
Origem se aplica tipo interestadual
Destino aplica tipo interno
Diferença é recalculada no destino.
Arrecadação do ICMS no Brasil: 75% para os estados e 25% para os municípios.
Arrecadação na Espanha:
IVA – 50% Estado, 50% CCAA
IIEE (imposto de operações especiais) – 42% Estado, 58% CCAA
Capacidade de arrecadação do ICMS:
Apresento um gráfico que compara as estruturas fiscais de países selecionados
da América Latina, os países da OCDE e o Brasil, de acordo com o estudo da
OCDE "Estatísticas fiscais América Latina 1990-2010 ". Embora os dados sejam
ano 2010, a estrutura geral não mudou muito no Brasil, desde então,
permanecendo como um sistema fiscal baseado em imposto sobre o consumo.
Comparando alguns pontos, o percentual cobrado no Brasil é de 39,1%, na OCDE
é de 20,5% e os países latino americanos é 34,7%.
Comparação do ICMS com o IVA da União Europeia:
• ICMS tem regras inspiradas no IVA europeu
• Estruturas básicas não apresentam muita diferença
• O ICMS não adotou alguns pilares
IV – Tributação Indireta – Serviços Digitais
O primeiro elemento é a Janela Única para o regime especial IVA sobre os
serviços eletrônicos, de telecomunicações e radiodifusão. Creio que é a que mais
pode chamar a atenção porque é a peculiaridade que tem a normativa europeia e
o funcionamento europeu na hora de tratar os sistemas de localização dos
serviços de telecomunicações. As Regras de Localização são baseada na
aplicação do Projeto BEPS, que já está previsto nas diretivas comunitárias.
A Janela Única é também chamada de MOSS (Mini One Stop Shop) e é um
mecanismo que supõe que, na Espanha e no resto da Europa, em função da
Diretiva Comunitária, desde 1º de janeiro de 2015, todos os serviços TER
(telecomunicações, radiodifusão, eletrônico) e fornecidos via meio eletrônico
prestados a indivíduos residentes na União Europeia, por todo tipo de
contribuintes, tanto os estabelecidos ou não estabelecidos na União Europeia, se
consideram que são localizados no Estado-Membro em que o indivíduo reside.
Assim, se estabelece a tributação no destino.
Essas novas regras de localização poderiam supor para o contribuinte prestador
desta classe de serviços, umas obrigações formais que poderiam considerar-se
como excessivas. Se uma empresa tiver de se estabelece em todos os lugares
onde presta serviços teria de cumprir com obrigações tributárias muito altas.
Para evitar isso, a mesma diretiva prevê um novo regime especial no IVA,
configurado com caráter voluntário e denominado informalmente de “Mini One
Stop Shop” (MOSS) o ”Mini janela única”.
Como funciona esse novo regime especial de IVA?
Como qualquer empresa se localiza em um estado membro da União Europeia,
basicamente, o contribuinte prestador poderá identificar-se em um só Estado
membro (se o contribuinte está estabelecido na União Europeia, necessariamente,
o Estado Membro será o de seu estabelecimento; se não está, a eleger) que fará
da janela a única receptora das autoliquidações IVA referentes aos serviços
mencionados, e que, posteriormente, se encarregará de repartir entre os estados
membros de consumo, a parte correspondente a cada um deles onde estejam os
consumidores finais.
E qual foi o efeito tributário que ocorreu com a aplicação desse regime? Se o país
que tem muitas empresas ou tem muitos consumidores, o efeito financeiro irá no
duplo sentido, não havendo concentração.
O funcionamento do One Stop Shop é baseado em dois regimes: exterior e
interior. Nos dois casos o consumidor reside na Europa. Dentro do citado regime
especial devemos distinguir entre:
- Regime Exterior da União, quando o prestador não está estabelecido na UE,
também as ilhas Canárias, Ceuta e Melilla
Não são identificados os efeitos do IVA em nenhum Estado Membro
- Regime Interior, sempre que o prestado estiver estabelecido num Estado
Membro, mas que não pertence ao Estado do consumidor
No está definido no Estado Membro onde o consumidor reside.
OBJETIVOS DA MINI JANELA ÚNICA - “Mini One-Stop Shop” (MOSS)
Com base nesses dois regimes, é possível simplificar a prestação dos serviços
eletrônicos. Em segundo lugar o objetivo é simplificar o cumprimento das
obrigações de IVA nas apresentações de serviços de telecomunicações,
radiodifusão e eletrônico na Europa, tanto de empresas europeias como de
terceiros países.
Outro objetivo é potencializar e facilitar o cumprimento voluntário das obrigações
fiscais no âmbito eletrônico. E, por fim, incorporar melhorias nos intercâmbios e
correções não existentes no sistema atual. Trata-se de uma coisa de futuro. O
sistema foi implantado em janeiro de 2015 e estamos tentando aprender, inclusive
aqui, com o Brasil.
Imagine em que situação está um país que atrai prestadores de serviços em
relação a outro país que tem fundamentalmente consumidores finais. Um terá de
repassar dinheiro, o outro irá receber.
Aqui lhes deixo uma referência sobre a Normativa Comunitária Básica, e um link
em formato PDF para a leitura do Projeto BEPS:
- Diretiva 2008/8/CE, de 12 de fevereiro Regulamento do Conselho (UE)
967/2012de 9 de octubre, por el que se modifica el 282/2011
- Regulamento de Execução (UE) 1042/2003, do Conselho l de 7 de Outubro
- Regulamento da Comissão (UE) 815/2012 de 13 de setembro
- Guías da MOSS
http://ec.europa.eu/taxation_customs/resources/documents/taxation/vat/how_vat
_works/telecom/one-stop-shop-guidelines_en.pdf
NORMATIVA INTERIOR
- LeI 37/1992, de 28 de dezembro, do IVA modificada por la Ley 28/2014 de 27 de
novembro de 2014. Arts. 163 septiesdecies a 163 quatervicies.
- Real Decreto 1624/1992, de 29 de dezembro, pelo que se aprova o Regulamento
do IVA, .modificado por Real Decreto 1073/2014, de 19 de dezembro. Arts. 61
duodecies al 61 quinquiesdeceis.
- Ordem HAP/1751/2014. De 29 de setembro, pelo que se aprova o formulário 034
-Ordem HAP/460/2015 de 10 de março, pelo que se aprova o modelo 368
Regime Especial de IVA sobre serviços eletrônicos, de telecomunicações e
radiodifusão
Na Espanha, tínhamos um regime para os serviços prestados por via eletrônico e
isso facilitava muito porque este mesmo mecanismo já existia quando a relação
comercial se dava entre empresários profissionais tanto na origem quanto no
destino, e agora está sendo ampliado até os particulares.
Introdução:
Antigamente a LIVA regulava um regime especial parecido: O “Regime Especial
Aplicável aos Serviços Prestados por via Eletrônica. (artigos 163 bis, terceiro e
quatro da LIVA 37/92)]
O MOSS (Mini One Stop Shop) se diferencia basicamente do antigo regime por
ser unicamente aplicável a empresários e profissionais não estabelecidos na
Comunidade. Com a MOSS se “amplia” a todo empresário ou profissional
estabelecidos.
Desde 01-10-2014, está operacional o registro alta em um novo regime da MOSS
por meio do modelo 34. Desde 01-01-2015 está habilitada a apresentação do
modelo 368 de declaração/liquidação da MOSS. Todos os países da União
Europeia utilizam o mesmo modelo, cada um tem a sua nomenclatura, cada um
tem o seu idioma, mas o modelo e os conteúdos são os mesmos.
Foi necessário para a Evolução técnica:
- Desenho do Sistema: Registro por meio do Modelo 034;
- Declaração com o modelo 368;
- Pagamento.
- Intercâmbios entre Estados Membros.
- Assistência e comunicação externa:
- Portal de campanha e divulgação.
Operacionalidade do sistema. Registro, Renúncia, Exclusão
Aplicação da telemática altos obrigatório
Dados: Identificativos (sem IVA) informações de contato (email, telefone), dados
bancários, data de início, Estabelecimento Permanente em outros Estados
Membros, outros Estados Membros sem Estabelecimento Permanente.
Comprovação, decisão, data de vigência e envio de todas as informações no
prazo de 10 dias.
Renúncia, exclusão e efeitos:
- Se você desistir, quarentena de 2 trimestres
- Exclusão se mudar de sede ou endereço para outro Estado Membro
- Em caso de exclusão, a quarentena é de 8 trimestres.
Causas da exclusão:
- Apresentação declaração de cessar atividades. Período de quarentena: pelo
menos dois trimestres;
- Presunção de Cessação de atividades (8 trimestre inativos). Nenhum período de
quarentena.
- Violação requisitos necessários. Nenhum período de quarentena.
- Não atendimento às obrigações. Quarentena de 8 trimestres
Baixa voluntária:
Declaração de cessação: pelo menos 15 dias antes do final trimestre anterior.
- Período de quarentena: pelo menos 2 trimestres
Resumindo: empresário ou profissional que não pertencem à União Europeia,
quando forem prestar um serviço de telecomunicações, radiodifusão ou eletrônico,
o destinatário é o consumidor final. Se estabelecem algumas obrigações formais
que já foram explicadas.
E não poderia esquecer, é um regime que estabelece uma tributação
exclusivamente relativa a esses tipos de operações. O que supõe que o resto dos
contribuintes do IVA tem seu próprio sistema. Mantêm seu regime de tributação.
Pagamento:
O pagamento é importante porque tem um prazo de 20 dias para levar a cabo a
liquidação. O pagamento se distribui posteriormente acompanhado de informação
que permite sua identificação. Durante os dois primeiros anos, 2015 e 2016, uma
vez que se tenha recalculado todos os impostos derivados das operações que
tiverem sido ofertadas no país, existe um acerto que permite com que 30% das
cotas sejam retidas para pagamento de comissão de gestão. Em 2017-2018 o
percentual reduz para 15%. A partir de 2019, o percentual de retenção é excluído.
Resumindo:
- Prazo: Durante os 20 dias seguintes ao final do período de liquidação de
impostos (como o prazo de apresentação)
- O pagamento é sempre referido a uma declaração (se casar com ele)
-O pagamento é distribuído para cada Estado Membro de consumo acompanhado
de informações complementares que permitam identificar
- Período de transição: Em 2015-2016 o estado membro (onde MOSS registrar
com o provedor de serviços TRE) retém 30% dos pagamentos de comissões de
gestão. Em 2017-2018 o percentual reduz para 15%. A partir de 2019, o
percentual de retenção é excluído.
Outra peculiaridade em relação ao pagamento, é que em caso de não pagamento,
é enviado ao contribuinte um lembrete de pagamento do décimo dia do prazo. O
Estado Membro de consumo pode, a partir daí, tomar ações para exigir o
pagamento.
Esses são os resultados do primeiro trimestre para a Espanha:
- Como Estado Membro de Identificação (EMI):
Regime da União Europeia declarado: € 1.647.553,02.
Regime exterior declarado: € 17.772,50.
Total: € 1.647.553,02.
Prêmio a cobrar: € 499.597,66.
- Como Estado Membro de Consumo (EMC):
Regime da União Europeia declarado: € 11.765.285,59.
Regime exterior declarado: € 4.867.004,98.
Total: € 16.632.290,57.
Para a Espanha é ótimo. Isso significa que a Espanha vai cobrar cerca 10 milhões
de euros por trimestre.
Como eu dizia, um dos objetivos da desagregação dos dados é facilitar a
informação que será útil, porque, durante o ano de 2014, no departamento de
inspeção onde trabalho o que tentamos fazer foi uma simulação de quanto
esperamos receber de cada um dos países em função da informação que temos.
Será possível identificar quem está nos fraudando.
Dados desagregados por país, quando a Espanha é Estado-Membro de
identificação (EMI):
Como mostrado, as entidades registadas na Espanha faturam principalmente para
indivíduos localizados na França, Reino Unido e Itália. Em menor grau, são
clientes na Alemanha, Portugal, Suécia, Holanda, Bélgica e na Dinamarca. Em
todos os outros casos, o volume de negócios é muito pequeno. Destacar a
presença da Espanha como Membro declarado já que empresários ou profissional
do regime exterior fora da UE tem de declarar o que faturam à particulares
estabelecidos no território espanhol.
Dados desagregados por país, quando a Espanha é Estado Membro de Consumo
(EMC):
Acima dos outros Estados Membros, estão a Irlanda e o Reino Unido, devido ao
grande número de empresas estabelecidas em Instalações tais territórios de
língua inglesa (EUA, Austrália). Igualmente importantes são os montantes de IVA
recebidos de outros países como a França, a Alemanha ou a Holanda.
Enfatizo a Google Technology Inc (registados na Irlanda) como uma empresa com
os maiores montantes de IVA por TRE serviços faturados em Espanha, com €
2,772,585.69.
Resultados do primeiro trimestre.
Se analisarmos do ponto de vista da Espanha como um Estado-Membro de
identificação, as entidades registadas nesse regime na Espanha faturaram cotas
de IVA aos indivíduos estabelecido noutro Estado-Membro, igual a € 1,665,325.52.
Esta quantidade a ser entregue a cada um dos Estados Membro em que a
operação tenha ocorrido. No entanto, em relação ao conceito de prêmio se reteve
€ 499,597.66. O valor a ser enviado para os citados Estados Membros é de €
1,165,727.56
Se você olhar para a Espanha como um Estado-Membro de consumo, foram
recolhidas contribuições do IVA faturado por empresas estabelecido noutro
Estado-Membro a particulares estabelecidos no território espanhol de aplicação do
imposto. Essas cotas atingem o valor de € 16,632,290.57 euros. Desse montante
deve reduzir-se o prêmio que irá reter o Estado Membro, bem acolhido pelos
operadores, para os quais a figura percebida pelo o regime da União ascende a
EUR € 11.642.603,399.
Conclusão dos resultados do primeiro trimestre:
Apenas para o primeiro trimestre como resultado das modificações acima
mencionadas, a diferença entre o que foi fornecido e recebido é de €
10,476,875.84
Estima-se que as cifras melhorarão nos trimestres seguintes, pois está se
detectando um aumento considerável em todos os Estados Membros no número
de operadores registrados nestes novos regimes.
As novas regras de localização no IVA dos serviços de telecomunicações,
radiodifusão e eletrônico.
Aproveitando meus quatro minutos finais, vou falar sobre uma das consequências
que haverá com a implementação das ações do BEPS, é que se vão planejar
determinada áreas. É fundamental definir os conceitos, quais são as normas,
quando entram em vigor.
Esse é um quadro que mostra a situação da Espanha antes de janeiro de 2015 e
como está depois de janeiro de 2015. Mas o que mais quero chamar atenção é
cada uma das normas e o que se entende por serviços de telecomunicações,
serviços de radiodifusão, e serviços eletrônicos.
- Em cada norma teremos uma definição de conceitos digitais.
- Temos também as regras que servem para identificar o prestador de serviços.
Sinto ter de ir tão rápido e termino com dois exemplos:
Além do prestador de serviços, temos de definir o consumidor final. Todos
sabemos que é o consumidor final quando entra numa cabine de telefone. O artigo
24 diz que os serviços digitais prestados em uma unidade fiscal do provedor,
requerem a presença do consumidor. Mas se formos nos referir a serviços digitais
a bordo de meios de transporte, a coisa começa a complicar, se for um navio ou
trem é mais complicado porque é ambiente internacional. E as últimas: serviços
digitais por meio de linha fixa terrestre. Serviço digital por meio de linha móvel, etc.
Há uma série de normas que clareiam e estabelecem quais são os prestadores de
serviços, qual o consumidor final, o que vai servir para identificar qual o local de
tributação.
E finalmente naqueles casos em que não está claro haverá uma série de
presunções.
Muito obrigada por sua atenção.
Flavia Oliveira abre para perguntas.
Julio Bueno – Vou tentar fazer uma reflexão das duas apresentações. O Mário
mostra os desafios que a gente tem, as distorções do nosso modelo. E o professor
nos dá indicações importantes das diretivas da União Europeia de como é que
deveriam ser nossos modelos. Não nos respondem a todas as nossas dúvidas,
mas nos ajudam em várias questõe
Agora, Flávia, há uma questão central que é o fato de que o imposto de valor
adicionado na União Europeia tem o mesmo procedimento. Talvez a grande
questão para que a gente possa avançar, - e não estou falando das
telecomunicações, mas de uma questão anterior que é como a gente avança na
questão tributária brasileira. Eu acho que está dado aqui também uma sugestão
importante, na União Europeia são vários países que têm o mesmo procedimento
e que, portanto, é mais simples de se conseguir relacionar o contribuinte com o
fisco e as regras estão claras. Essa é uma questão importantíssima: regras únicas
em países diferentes e imposto de valor adicionado.
Essa questão a gente precisa avançar muito no Brasil. O imposto de valor
adicionado no Brasil tem bases diferentes e, portanto, precisa ser fundido. E
segundo, é importante dizer isso, quando a gente fala em simplificação tributária
no Brasil, a gente está falando, fundamentalmente, de imposto de valor
adicionado. E quando se fala em imposto de valor adicionado, há dois movimentos
a fazer: fundir os impostos de valor adicionando e segundo, com todo carinho, tem
de cobrar no destino. O Brasil precisa enfrentar essa questão: é preciso cobrar no
destino.
E diferentemente da maioria dos estados da federação - que têm movimentos que
vão levar o Rio à falência na questão dos royalties - o Rio tem um visão federativa.
O imposto de valor adicionado no destino tem vencedores e derrotados. Mas a
gente não precisa ter vencedores e derrotados. Tem de ter um prazo de transição
encarando isso e com o governo federal ajudando nessa questão. É claro que
num momento recessivo como a gente está hoje é muito mais difícil do que
quando cresce.
Mas a sua apresentação e a do professor nos permite claramente colocar isso: se
verdadeiramente a gente quiser ganhar competitividade no Brasil - e a questão
tributária é um fator de não competitividade - a gente precisa encarar essa
questão. É preciso ter um imposto de valor adicionado na mesma base, repartindo
entre os entes, e esse imposto tem de ser cobrado no destino. Qualquer outra
reflexão é um bandaid, que não nos serve para o país que a gente precisa
construir. Essa é a reflexão que eu gostaria de fazer. Não sei se você concorda
comigo, certamente que não.
Mário Nascimento, sócio de tributação da Deloitte – Só fazendo uma reflexão
em cima da sua reflexão. A sua reflexão nos leva a concluir que nós sabemos
quais são os desafios, e alguns dos caminhos já estão colocados. Nós não
precisamos reinventar a roda ou, como você falou, utilizar um bandaid. Nós
podemos aprender com os erros dos outros, fica sempre mais fácil. Me parece que
em relação a tudo que você falou, nós não estamos falando de BEPS. E sim da
revisão política e da vontade política.
Como você falou, não precisa ser uma guerra de derrotados e vencedores. Há
formas de se fazer isso. É só pegar o exemplo da adoção das diretivas do IFA.
Não foi feito do dia para a noite. Isso foi algo que foi sendo construído, debatido,
discutido e regulado com regras de transição.
Eu quero só fazer um comentário, Júlio. Nós estamos vendo os primeiros passos,
os primeiros indícioss de mudança de relação entre o fisco e o contribuinte. Por
exemplo, o que aconteceu hoje de manhã aqui, com toda a disposição para
negociar. Estamos num momento que exige uma mudança de paradigma. Então,
vamos sentar, o fisco vai negociar com os contribuintes. Eu acho isso louvável.
Assim como é importante destacar o processo de adoção da nova legislação –
saindo um pouco da questão do estado e olhando mais em nível Brasil – o
processo de adoção e regulamentação por novas disposições tributárias por conta
das mudanças contábeis modelo 2.983, pode abrir um processo para construir
com um grupo de trabalho envolvendo o governo federal e órgãos representativos
dos contribuintes, nesse caso do Getap, que a Deloitte assessorou. E foi um
processo de discussão e debate, o que não quer dizer imposição e aceitação
automática mas, pelos menos, mostrar os desafios para a autoridade tributária das
implicações das mudanças e como os contribuintes estão recebendo essas
mudanças.Os tempos estão mudando, a velocidade das mudanças, a economia
digital requer ações rápidas.
Flavia Oliveira dá a palavra ao professor e pede uma avaliação sobre esse tipo de ajustes em momentos de grave crise econômica com queda de arrecadação e necessidade de um ajuste fiscal e busca de receitas e demanda de gastos da sociedade. Como a Europa está saindo de um processo recessivo, que foi muito agudo, a Espanha em particular, que reflexões o senhor poderia nos trazer?
Javier Berrocal, especialista do Instituto de Estudos Fiscais da Espanha – Em primeiro lugar, me considero um desconhecedor da problemática do Brasil. Há
duas semanas, quando houve a possibilidade de vir aqui, tentei estudar o Brasil. O
que é certo é que com todas as empresas que temos na Espanha, temos que
assumir que nem sempre temos de estar de acordo com as empresas. Sou
membro da autoridade tributária, mas também sou cidadão e pago impostos. O
que pode não soar politicamente correto é que há momentos no mundo tributário
em que temos de aplicar ajustes que podem ser entendidos de outra maneira.
É certo que as empresas por um lado são nossas inimigas porque podem evitar o
custo fiscal. Por outro lado, vejo que 43% das cotas tributárias podem propiciar
serviços sociais e dar cobertura a muitos serviços de natureza pública como
infraestrutura, investimentos.
O Estado tem de administrar os fundos públicos e quando os administra bem, a
resposta do contribuinte é muito mais alta. Pela Curva de Laffer estamos bem,
mas o que é certo é que nos Estados Nórdicos existe uma carga tributária muito
mais alta para os contribuintes, porque os serviços públicos são muitos. Quando
se pensa que a Suécia e a Noruega são um paraíso, mas você paga 53% de
impostos e isso também dói. Mas é preciso considerar que têm uma saúde
semigratuita e uma educação pública para os cidadãos.
Não há verdade absoluta, é preciso ponderar medidas, opiniões. A diretiva
comunitária como um dos objetivos do Brasil, é preciso assegurar que isso
funcione. A unificação e a uniformização são essenciais. Nesse caso, a Espanha
está ganhando porque por suas características de população tem mais
consumidores do que empresas que prestam serviços.
Flávia Oliveira - Se ninguém mais tem perguntas, vou encerrar o Seminário. Em nome da Secretaria de Estado de Fazenda e do Banco Interamericano de Desenvolvimento quero agradecer a presença de todos.