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Villa da Feira 28

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Villa da Feira 28

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Publicidade: Telef.: 965 310 162 | 256 379 604

Fax: 256 379 607Tiragem: 500 exemplaresEdição: N.º 28 - Junho de 2011Pré-impressão, Impressão e Acabamento:Empresa Gráfi ca Feirense, S. A.Apartado 4 - 4524-909 Santa Maria da FeiraSede Social: Edifício Clube Feirense - Associação Cultural Vila Boa - 4520-283 Santa Maria da FeiraEmail: [email protected]ósito Legal: 180748/02ISSN: 1645-4480Reg. ICS: 124038Depositária: Livraria Vício das Letras Rua Dr. José Correia e Sá, 59 4520-208 Santa Maria da FeiraApoios: Câmara Municipal Santa Maria da Feira Irmãos Cavaco S.A. E. Leclerc Termas das Caldas de S. Jorge Sociedade de Turismo de Santa Maria da Feira Patrícios, S.A. Centralobão.

Ficha Técnica

Título: Villa da Feira - Terra de Santa Maria

Propriedade: LAF - Liga dos Amigos da Feira ®

Director: Celestino Portela

Director Adjunto: Fernando Sampaio Maia

Colectivo Editorial - Fundadores LAF:

Alberto Rodrigues Camboa; António Luís Carneiro;

Carlos Gomes Maia; Celestino Augusto Portela; Joaquim Carneiro

Processamento de Imagem e Design: Joaquim Carneiro

Coordenação Científi ca: J. M. Costa e Silva

Supervisão Editorial e Gráfi ca: Anthero Monteiro

Colaboração do TOC, Belmiro da Silva Resende

Periodicidade: Quadrimestral

Assinatura anual: 30 euros

Assinatura auxiliar: 50 euros

Este número: 15 euros

Pagamentos por:

Transferência bancária NIB 007900001127152910124

Cheque à ordem de LAF - Liga dos Amigos da Feira

Capa: Padre Domingos Azevedo Moreira, sanguínea de Mestre

Joaquim Carneiro/ 2011

Fotografi as: Óscar Maia, J. M. Costa e Silva, Biblioteca Municipal,

Arquivos particulares, LAF e Fotos Web por António Madureira

Redacção e Administração: Apartado 230 • 4524-909 Feira

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Na última viagem à Galicia, consciente da doença que o minava, admitia, porque conhecia casos semelhantes, que poderia ainda viver 20 anos e fazia projectos, entre eles o de uma exposição dos seus livros especiais. O Livro que nos entregou e que vamos editar na Colecção Santamariana, como preito de Homenagem ao seu incansável tradutor e porque a sua publicação fraccionada na Villa da Feira se prolongaria excessivamente no tempo e o Tempo não nos pertence. Que maravilhoso ouvi-lo. Que nos perdoe o só querermos escutá-lo, o abordarmos assuntos só para termos o prazer de o ouvir dissertar durante horas, apenas interrompidas por curtas paragens. Nosso sócio honorário, que assistiu ao lançamento do 1º número da Revista e… seguiu para a Biblioteca Municipal. Nosso colaborador desde o nº1, de forma ininterrupta, quantas vezes com dois artigos no mesmo número, e cuja colaboração se vai prolongar por vários volumes. Mas um título lhe pertence e com muita honra e saudade reconhecemos: O de Colaborador Campeão da Villa da Feira, Terra de Santa Maria, que evocaremos na sua sepultura todos os 8 de Abril enquanto houver memória e gratidão nos nossos corações.

Liga dos Amigos da Feira

Morreu o Senhor Padre Domingos Azevedo Moreira – Abade de Pigeiros.

Sentimo-nos felizes por o termos acompanhado tão de perto nos últimos dez anos. O Pároco que tinha a seu cargo as Paróquias de Pigeiros e Guizande. A dedicação com que exercia o seu pastoreio de almas não tinha limites. Nas visitas à sua tão querida Galícia, partíamos às 6 horas para assegurar o regresso atempado ao cumprimento das suas responsabilidades, pois antes das 17 horas queria estar em Pigeiros. As suas homilias, a sua simplicidade, o amor que votava às suas causas faziam-nos ver nele um peregrino entre os homens semeando amor. As refeições, que ele próprio preparava, eram de uma extrema frugalidade, de quem apenas se alimentava o estritamente necessário a viver. O sábio e erudito, o incansável investigador impressionava pelo muito que escrevia, pelos aditamentos que colava nos seus escritos, por vezes mais extensos que o texto inicial. Quantas dezenas de milhares de páginas terá manuscrito? As línguas que dominava, latim, grego, galego, espanhol, francês, italiano, alemão… evidenciam a sua sede de conhecimento e ler os textos na língua original.

Vimo-lo encomendar a D. Hernando Xantada um livro do Século XIV, versão

em Latim, pois queria confrontar com a edição em espanhol

que já possuia e verifi car se a tradução estava certa.

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7 Pórtico

Alfredo Oliveira Henriques*

*Presidente da Câmara Municipal.

Dez anos de vida. Vinte e oito números repletos de história e de memórias. Um contributo valioso, contínuo e consolidado da LAF - Liga dos Amigos da Feira e de um vasto conjunto de colaboradores para o enriquecimento do espólio documental do concelho de Santa Maria da Feira. O percurso e a notoriedade que a revista Villa da Feira granjeou ao longo desta primeira década de vida resumem e traduzem a importância desta publicação na preservação da história e das memórias feirenses. Este primeiro número, dos três que assinalam os dez anos da revista Villa da Feira, é particularmente simbólico para o Município, pois dedica parte signifi cativa das suas páginas a um reconhecido estudioso e investigador feirense, que nos deixou no início deste ano. Homem de grande sabedoria, fi gura marcante a nível concelhio e nacional, o padre Domingos de Azevedo Moreira publicou inúmeros trabalhos científi cos, tendo cedido, por documento, parte do seu espólio ao Município de Santa Maria da Feira. A Biblioteca Municipal será a “caixa forte” dos documentos mais antigos e valiosos, na sua maioria manuscritos, que necessitam de condições específi cas de

conservação. Um espólio de inquestionável relevância que, desta forma, fi cará salvaguardado e acessível a todos. Para esta edição da revista Villa da Feira, a Biblioteca Municipal realizou, a partir de fontes de informação primárias que integram o espólio do padre Domingos Moreira e fornecidas por outras entidades, um levantamento exaustivo da sua bibliografi a, que inclui artigos em boletins, jornais, revistas e monografi as. Trabalhos que incidem, sobretudo, na história local, toponímia e religião e que, dada a relevância do autor e do seu trabalho científi co, e consequentemente da doação que fez ao Município, encontram-se também disponíveis, em formato digital, na Internet, na página ofi cial da Biblioteca. A terminar, reitero o importante contributo da LAF e de todos os seus colaboradores para a divulgação e preservação do património histórico e cultural de Santa Maria da Feira ao longo desta primeira década de vida da revista Villa da Feira, na certeza de que se seguirão muitos mais anos de um empenhado trabalho de pesquisa, investigação e salvaguarda de memórias.

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Morreu o Senhor Padre Domingos Azevedo Moreira – Abade de Pigeiros. Liga dos amigos da Feira 5Desenho com Mensagem João Rodrigues 6Pórtico Alfredo Oliveira Henriques 7Mensagem REVISTA “VILA DA FEIRA” Germano Santos 9Poesia Mário Anacleto 10 Ao serviço da Igreja e da Cultura. Percurso de vida do P. Domingos de Azevedo Moreira Cândido Augusto Dias dos Santos 11Poesia Sérgio Pereira 28Bibliografi a de Padre Domingos A. Moreira Adelina Silva, Carolina Vieira, Cecília Melo, Sandra Almeida 29Fotos do Padre Domingos Azevedo Moreira 46Poesia Ilda Maria 50Padre Domingos A. Moreira, uma enciclopédia viva da história regional Samuel Bastos Oliveira 51Poesia H. Veiga de Macedo 54Visión breve do padre Domingos Hernando Martínez Chantada 55Testemunho de um amigo António Machado 57Padre Domingos A. Moreira Manuel Joaquim S. Conceição 61In Memoriam P.e Domingos Azevedo Moreira Frei Acaribe 63Padre Domingos Azevedo Moreira: o eremita da linguística Luis Filipe Santos 65Poesia Francisco Pinho 76Visitações de Pigeiros (Feira) Domingos Azevedo Moreira 77Poesia Sérgio Pereira 84Festa de S. Sebastião em Santa Maria da Feira 20 Janeiro 2011 Dom João Lavrador 85Poesia H. Veiga de Macedo 90Prezadas e prezados Colegas: Manuel de Lima Bastos 91Conferência Sobre o Dr. Veiga de Macedo Joaquim Vieira 93Homenagem ao Dr. Henrique Veiga de Macedo Fundação Comendador Joaquim Sá Couto e Liga do Amigos da Feira 97Poesia Conceição Paulino 98Homenagem ao Dr. Henrique Veiga de Macedo José Coelho dos Santos 99Poesia Maria Gracinda Coelho de Sousa 100Homenagem ao Dr. Henrique Veiga de Macedo António Ramalho Eanes 101Poesia Sérgio Almeida 102Senhor Doutor Henrique Veiga de Macedo Domingos Coelho 103Poesia Anthero Monteiro 104Doutor Henrique Veiga de Macedo de Parabéns ! 27 de Abril 1914-2004 Manuel Magalhães de Lima 105Homenagem a Henrique Veiga de Macedo Alfredo Henriques 107Fotos Jantar Homenagem a Henrique Veiga de Macedo- 15 de Maio de 2004 108Palavras proferidas por Henrique Veiga de Macedo, na Homenagem que, no dia 15 de Maio de 2004, lhe foi prestada em Santa Maria da Feira Henrique Veiga de Macedo 113Os Perestrelos de Fermedo e Milheirós de Poiares Manuel Joaquim S. Conceição 117Poesia Edgar Carneiro 144Dicionário Biográfi co de Personalidades Feirenses Francisco de Azevedo Brandão 145A Corda de Judas Iscariotes: O Quinto Império do Mundo De Carlos Maduro, Lisboa, Fonte da Palavra, 2010. Recensão de José Eduardo Franco 155Biografi a de Carlos Alberto de Seixas Maduro 157Poesia Gilberto Pereira 160Da Rua à Lavandeira Gaspar Moreira Cardoso da Costa 161Poesia Manuela Correia 1662009 - O ano do 2º Centenário da II Invasão Francesa de Má Memória Carlos Gomes Rodrigues 167Os Tercetos de “Tríptico” (Edgar Carneiro, Périplo, Húmus, 2009) Domingos de Oliveira 171O Poeta Cesário Verde Maria do Carmo Vieira 179As Alcomonias - Reminiscências Árabes na Doçaria Portuguesa Maria da Conceição Vilhena 183Levantamento da Realidade do Associativismo Cultural no Concelho de S. M. da Feira Projecto Associar António Ferreira Pinto 189Os Índios Sénecas Augusto Santos 207Poesia Domingos de Oliveira 210Na Oceânia Joaquim Máximo 211Estação do Vale do Vouga - Germano Santos 227Poesia António Madureira 228Medalhas Celestino Portela e Joaquim Carneiro 229Postais do Concelho da Feira Ceomar Tranquilo 245Poesia Anthero Monteiro 250

Os artigos publicados são da responsabilidade científi ca e ética dos seus autores.

SUMÁRIO

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9 Mensagem

*Deputado à Assembleia Municipal em 1977/1979; Vereador da Câmara Municipal em 1980/1982; 1983/1985 e 1990/1993.

REVISTA “VILA DA FEIRA”

Germano Santos*

De regresso ao primeiro número da revista “Villa da Feira” chamou-me a atenção o Pórtico do seu director, Celestino Portela, datado de 13 de Junho de 2002,em especial o último parágrafo: - “Não nos movem outros intuitos que não sejam o progresso da nossa Terra e a Cultura da nossa Gente. “ E termina “ O resultado há-de ser promissor.”

Mesmo os vatícinios mais optimistas difi cilmente acreditavam na possibilidade da revista ter uma vida para além de alguns poucos números editados. A verdade é que, após 9 anos de vida, tivemos cada número, e já são 27, sempre no tempo certo, com a mesma qualidade, com matérias sempre relevantes e cada vez com maior número de páginas. Lembro que o 1º número tinha 71 páginas e que o último nos aparece com 221. Os autores cada vez mais qualifi cados e as fontes a parecerem incrivelmente inesgotáveis.

Na verdade, para gozarmos o prazer de cada número que nos chega, haverá alguém com muita carolice, dedicação e trabalho que o torna possível e que obviamente conta com a nossa admiração Cumulativamente, a LAF, proprietária da revista, desenvolveu, ao longo destes 9 anos, intensa actividade cultural no Concelho. Em Junho de 2012, a revista fará 10 de existência, razão para nos atrevermos a sugerir que a Câmara Municipal acolha a prestação de uma conveniente e merecida homenagem à Villa da Feira Terra de Santa Maria e à Liga dos Amigos da Feira que, na verdade, tornaram o vaticínio original num:

- “Resultado bem promissor “.

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10 DueloMário Anacleto*

Deslizar por entre os dedos um pensamento solto

Um sentimento aberto…cristalizá-lo em mim,

Envolvê-lo com perfume sempre intenso de alecrim

E deixar o corpo em transe de um orgasmo revolto

E chorar, sentir crescer o sal e a água nos meus olhos

Encontrar, morder a tua língua com o cetim dos meus lábios

Alisar a planura do teu ventre, morar nesses castelos sábios

Torreões erguidos, estalando de prazer como restolhos

E deixar que por esses pensamentos em teus dedos

Deslizem fácil e ofegantes todas as montadas e a trote

Que, se não se alongam, voltarão ao mesmo triste mote.

Upa! Vamos ao beijo, ao chuveiro, à cama e ao bote,

Partamos para as ondas e, no mar da vida, em camarote,

Assistamos ao duelo cru entre o amor e os nossos medos!

* Licenciado em Filosofi a pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Mestre em História de Arte pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto sob o tema “Arquitectura e Música emS. Bento da Vitória”. Diploma de Estudos Avançados em Comunicação Organizacional pela Universidade Complutense de Madrid, com o Prof. Dr. António Sanchez Bravo. Doutor em Musicologia e interpretação pela Universidade Nacional de Música de Bucareste. Professor; Cantor; Investigador; Conferencista.Faleceu em 08 de Novembro de 2010.

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11 Ao serviço da Igreja e da Cultura. Percurso de vida do P. Domingos de Azevedo Moreira

Cândido Augusto Dias dos Santos*

IOuvindo os ecos da sua “Atlântida perdida”

Não sei se o Padre Domingos de Azevedo Moreira leu alguma vez os Souvenirs d’Enfance et de Jeunesse de Ernest Renan. Presumo que não. Não era este o tipo de literatura do seu gosto. Seja como for, também ele nos deixou recordações da sua infância e juventude.(1) São parte de umas Notas Biográfi cas, copioso manancial de informações, meticulosas e seguras, a que bem poderia ter chamado Memórias de um pároco de aldeia. Nada têm de semelhante ao Diário de Georges

Bernanos, nem são uma profi ssão de fé, como a do vigário saboiano.(2) Sem pretensões literárias, as Notas Biográfi cas, repletas de fotografi as e croquis, onde, em linguagem espontânea e coloquial, muitas fi guras são evocadas, muitos lugares revisitados, muitas situações revividas, espelham uma alma simples, sem refolhos, quase ingénua. Iniciadas em 1996, registam o percurso de uma vida - do nascimento às vésperas da morte – a vida de alguém que serviu a Igreja e a Cultura. Foi ao entardecer da vida que Renan teve o prazer de, no repouso do Verão, “recolher os ruídos longínquos de uma Atlântida perdida”. Também o Padre Domingos, aos 63 anos, se dispôs a olhar o passado, o seu passado, e ouvir, como Renan, os ecos da sua “Atlântida perdida”… E nos nossos passeios de domingo à tarde, recorrendo ao “grande receptáculo da memória”,(3) começando pelo princípio, contou-me tudo o que ouviu.

1) “Recordações da minha infância no Couto” (p. 27-b); “Recordações da minha juventude em Romariz” (p.27-m). Tudo isto faz parte do Álbum D (Notas Biográfi cas) iniciadas em 1996 até inícios de 1997 (cota: caixa 146-b). Estas Notas Biográfi cas estão escritas num estilo corrente, solto e despreocupado. O seu autor não procurou o recorte literário, mas a meticulosidade e a abundância da informação. A primeira parte deste artigo é o texto destas Notas Biográfi cas, com algumas pequenas alterações. Também alguns títulos são da responsabilidade do autor do artigo

* «Cândido dos Santos é Professor Catedrático jubilado da Faculdade de Letras do Porto, natural de Pedroso, concelho de Vila Nova de Gaia. Estudou na Universidade do Porto, na Universidade Gregoriana (Roma) e, como bolseiro do Instituto Nacional de Investigação Científi ca, na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais (Paris); doutorou-se na Universidade do Porto em 1977 e ascendeu a Catedrático em 1979. Foi também Professor Catedrático convidado na Universidade Católica Portuguesa, de 1985 a 1998. Foi Vice-Reitor da Universidade do Porto. Publicou vários livros, como O Censual da Mitra do Porto, (Porto, 1973), Os Jerónimos em Portugal (Instituto Nacional de Investigação Científi ca, 1980; 2ª edição, Junta Nacional de Investigação Científi ca e Tecnológica, 1996); História e Cultura na Época Moderna (Publicações da Universidade do Porto, 1998; Universidade do Porto. Raízes e Memória da Instituição, (Porto 1996; versão inglesa em 2002); Padre António Pereira de Figueiredo; Erudição e Polémica na segunda metade do séc. XVIII», o Jansenismo em Portugal, etc.

2) A obra de George Bernanos Le Journal d’un Curé de Campagne está traduzida em português.“A profi ssão de Fé do vigário saboiano” vem no livro 4.º do Emílio de Jean Jacques Rousseau.3) Santo Agostinho, Confi ssões, livro X.

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Nascimento a 8 de Abril de 1933

Nasceu a 8 de Abril de 1933 na Reguenga, (Romariz -Santa Maria da Feira), mas os seus pais, como foram morar para Escariz (Arouca), registaram-no lá no Registo Civil e foi lá baptizado. O seu nome era Domingos Moreira de Azevedo, como consta da cédula pessoal e do baptismo, (no registo civil está Domingos de Azevedo Moreira, actualmente usado, mas conhece-se que foi raspado, pelo que anteriormente devia ter o primitivo nome). Ele, na época da escola primária ou pouco depois, emendou a cédula para o nome actual, na qual ainda se conhece o nome primitivo. Nasceu no sábado de 8 de Abril e foi baptizado na época pascal (afi nal, em Escariz no lugar de Val de Lameiro na casa de seus avós, já desaparecida, só viveu o seu primeiro ano de idade, porque os seus pais foram para o Couto (perto de Cabeçais e do lugar de Oliveira) viver como caseiros das terras que eram de Abel Francisco Martins (do lugar de Figueiredo- Escariz) e que antes tinham sido de Manuel Francisco Nogueira, do lugar do Outeiro, também em Escariz. Viveu no Couto até cerca dos seus 18 anos de idade, muito ligado a Cabeçais e ao lugar de Oliveira no aspecto de convívio. A seguir, veio com seus pais viver para as suas propriedades da Reguenga. Seu pai vendera as suas propriedades em Val de Lameiro (um ou dois campos junto das casas de seus avós, o campo do chão da casa) e o mato muito comprido (e campo) do Castêlo e fez outras compras na Reguenga, aumentando assim a parte herdada e comprada da parte de seus avós da Reguenga e comprou ainda a quinta de Ferreira (perto da Portela). A parte que herdou na Reguenga fi cou para a sua irmã e a quinta de Ferreira, que herdou na Portela, fi cou para o seu irmão em 19-2-1981.(4) Em Cabeçais havia o P. Domingos Moreira de Azevedo, da casa da Farmácia, nascido a 10-1 1885 e falecido a 12/13 11-1944, em Campanhã -Porto, onde foi pároco desde 1912, e onde está sepultado. Apesar de ter o mesmo nome e viverem próximos um do outro não havia parentesco entre eles. O seu baptismo foi a 30 de Abril de 1933 (domingo) na igreja de Escariz.(5) Administrou-o o P. Franklim José de Sousa, que foi pároco de Escariz desde 1926 até 1936.

Nasceu em 1887 em Carregosa (Oliveira de Azeméis) e faleceu a 5-12-1949, sendo sepultado na sobredita freguesia. Foi o apaziguador do povo de Escariz, dividido por causa dos acontecimentos da capela de Abelheira. O seu padrinho de baptismo foi Domingos Gomes Moreira (cujo nome herdou), da casa de Alvite, onda nasceu a 20-11-1881 e onde faleceu a 23-4-1943, sendo sepultado na capela de Alvite, no cemitério de Escariz. Só o viu uma vez, quando veio visitar seu pai que estava doente, e deu-lhe 2$50. Não pôde estar na sua comunhão solene, em Fermedo, a 24-9-44, por já ter falecido. Tinha o irmão Abel, na Portela (Romariz), e era casado com a professora Alice Gomes Moreira, que era de Cabeçais. O seu padrinho tivera um papel digno nos acontecimentos da capela da Abelheira a favor do pároco. O seu pai, em solteiro, tinha trabalhado muito na casa de Alvite. A sua madrinha de baptismo foi Maria Miranda Correia de Lima, nascida em Mansores(?) a 31-7-1893, vindo a casar com seu primo de Cabeçais, (nascido a 30-11-1889, e falecido a 2-4-1940. Ela faleceu em Cabeçais a 29-3-1942 e foi sepultada em Fermedo. Ele era fi lho de Domingos Correia dos Santos Lima. Eram pais de Arménio, Helena e Ilídio Correia dos Santos Lima, actualmente a residir na casa de seus (pais) que tinha comprado e melhorado, respeitando a traça antiga, e casado com a Dr.ª Maria Júlia Gomes Moreira dos Santos Lima, formada em Letras pela Sorbonne (Paris). O pai da sua madrinha era José Correia dos Santos Lima, nascido a 21-4-1860 e falecido em Mansores a 20-10-1929.A sua madrinha também não pôde ir à sua comunhão solene, por já ter falecido. Viu-a apenas uma vez, a chegar na calçada, perto do lugar da Roda, e sua mãe mandou-lhe ir pedir-lhe a bênção e beijar-lhe a mão. Ela vestia de preto. Já era viúva.(6)

4) A sua mãe faleceu em Pigeiros em 31-3-1971; seu pai na Reguenga em 22-10-1971.

5) a) “O meu dia de baptismo (30 de Abril) nunca chega a ser no dia de Páscoa, pois a Páscoa nunca ultrapassa 25 de Abril. O meu dia de anos ou nascimento (8 de Abril) nunca foi dia de Páscoa no meu tempo (tinha sido dia de Páscoa o dia 8 de Abril de 1917 e 1928), e depois disso nunca mais o foi e em todo o meu tempo até agora, mas voltará a ser dia de Páscoa o dia 8 de Abril de 2007 e 2012, se eu lá chegar (se for vivo em 2007 eu teria 74 anos)”. b) “Hoje, 8 de Abril de 2007, foi dia de Páscoa. Não o pude reservar todo para mim e para Deus, pois tive de andar no compasso, mas pelas 14.44 horas deste mesmo dia agradeci sozinho ao Senhor”.(Notas Biográfi cas, p.4-b).6) Em nota: “a 30-4-1996 visitei as campas do meu padrinho (em Escariz) e madrinha (em Fermedo) e do P. Franklim José de Sousa (em Carregosa); a 30-4-1997 em Pigeiros nas várias intenções da missa incluí as do meu padrinho e madrinha e P. Franklim José de Sousa”. (p.6 v.)

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Primeira Comunhão (particular) em Fermedo em data não registada.

O lugar do Couto, onde já vivíam mais ou menos desde o seu primeiro ano de idade, pertencia ao Vale (Santa Maria da Feira). Mas, como fi cava muito longe dessa freguesia, um Abade (não sabe o seu nome,) muito antes dessa data, tinha oralmente dito ao pároco de Fermedo para tomar conta do serviço religioso do Couto. Daí a razão de nunca irem à igreja do Vale. Iam sempre à igreja de Fermedo, que era muito mais perto, e assim, foram lá baptizados os seus irmãos: Maria de Lourdes Azevedo Moreira, nascida a 15-9-1934, e lá baptizada a 23-9-1934, e aí sepultada a seguir ao seu falecimento a 6-9-1935; a sua irmã Maria Madalena Azevedo Moreira, nascida a 2-4-1936, também lá foi baptizada a 21-5-1936 (mais tarde casara em Romariz a 23-6-1962, onde está sepultada, a seguir ao seu falecimento em Romariz, na Reguenga, a 24-6-1993) e seu irmão Manuel de Azevedo Moreira (nascido a 11-3-1937), lá baptizado a 25-3-1937 e casou em Romariz a 16-11-1957. Pelos seus 18 anos (até aí viveu no Couto, Cabeçais e Fermedo) é que seus pais deixaram de ser caseiros, vindo para as suas propriedades na Reguenga, aí por volta de 1951. Quando vivia no Couto era pároco do Vale o P. António Inácio da Costa e Silva, natural de Pigeiros. Nesse tempo dedicou-se à arte da fotografi a com uma máquina emprestada pelo que viria a ser o P. Manuel Santos Silva (que conheceu pela primeira vez na altura da sua comunhão solene em Fermedo, em 1944), e até chegou a tirar apontamentos sobre a arte de fotografi a, que coligiu em livrinho (7), no qual tem coisas copiadas de um almanaque de S. António de 1948. A primeira comunhão naquele tempo não era como agora, festiva e em grupo, mas sim particular e individual. Não sabe a data. Para a preparação, a sua mãe arranjara para sua catequista a Sr.ª Guilhermina da Conceição, da casa do Gomes, do lugar de Oliveira (Vale) nascida a 15-2-1885, fi lha de Manuel Gomes da Rocha e de Isabel Maria da Conceição, baptizada no Vale a 17-2-1885, tendo falecido solteira a 28-5-1954. Ela lá ia trabalhando, andando daqui para acolá, e ele lá ia atrás dela; ela ia dizendo, e ele aprendendo. Ainda se

recordava das normas que ela lhe dizia sobre quantas coisas eram precisas para se fazer uma confi ssão bem feita, como também uma comunhão bem feita.

1.ª e 2.ª classe da Escola Primária no Posto Escolar do Carvalhal (Romariz) na casa de David Soares.

Naquele tempo andar na escola não era obrigatório como hoje. Já passava dos 8 anos de idade, quando começou a frequentar o Posto Escolar do Carvalhal. A professora “regente” (mais tarde professora ofi cial), era a S.ra D. Rosalina Rosa de Jesus, nascida em Cabeçais a 18-3-1916, fi lha de André Gomes de Azevedo e de Clementina Rosa de Jesus (e daí o ser conhecida popularmente por “professora do André”), casada com o professor primário, Álvaro Ferreira de Paiva Fernandes, e mãe das professoras primárias Marília e Mafalda. Ela passava muitas vezes pelo Couto, a caminho do posto do Carvalhal. Na escola não castigava muito, mas exigia muito respeito, sendo sempre acessível e bondosa para cada aluno. Deve ter andado no Posto Escolar do Carvalhal em 1942 e 1943 (1.ª e 2.ª classes).

Comunhão solene a 24-9-1944 (domingo) em Fermedo

Depois da primeira comunhão teve como catequista o Sr. Abade de Fermedo, P. Domingos António Cardoso Sobrinho, que era de Fiães (Santa Maria da Feira), embora nascesse acidentalmente em Frende (Baião) a 25-8-1901, tendo falecido em Fiães a 21-12-1979 e aí está sepultado. Era de todos conhecido pela sua bondade, simplicidade e naturalidade. Foi pároco de Fermedo desde 1938 até quase fi ns de 1961. Nesta sua comunhão solene foram colaboradores os seminaristas (e futuros padres) Manuel Santos Silva, nascido em Parada (Louredo) a 27-5-1923 (actualmente pároco do Vale e também de Romariz, tendo sido professor no Seminário diocesano de Gaia) e José Ferreira de Pinho, nascido a 16-7-1923 na Venda da Serra (Escariz), que foi pároco de Mortágua e também de Santiago de Riba Ul. Quanto aos cânticos, iam aos ensaios a Parada, casa dos pais do P. Manuel Santos Silva. Foi pregador o então pároco de Pedorido (e depois de Leça da Palmeira), P. Alcino Augusto Vieira dos Santos, nascido em Argoncilhe a 26-5-1913 e falecido em Mafamude (Gaia) a 27-3-1996, sendo sepultado em Seixezelo (Gaia).7) É o n.º 3096, (caixa 156).

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Eram ao todo 51 rapazes e 31 meninas. Fizeram discursos: ele, Arlinda Vaz Ferreira, Arlinda Pereira da Rocha e Silva e Elsa Soares Resende. Ainda se lembra do discurso que fez no fi m do qual rezou pelos seus padrinhos.(8)

A ida aos ensaios a Parada deveu-se ao facto de ainda não haver harmónio na igreja de Fermedo, o que já não acontecia na casa do Sr. Padre Santos Silva. Então, na sua eira, brincávamos muito, sobretudo a bater com muita força as cascas de eucalipto a ver o que dava estouro mais forte. O Sr. P. Santos Silva celebraria Missa Nova mais tarde, em 31-10-1948, e o Sr. P. José Ferreira de Pinho, em 19-8-1951.Naquele tempo não havia fotografi as da comunhão solene.

3.ª e 4.ª classe da Escola Primária em Romariz

No Posto Escolar do Carvalhal não havia 3.ª e 4.ª classes. Por isso, havia que ir para outras escolas. Como fi cava a poucos minutos da escola de Cabeçais, -morava no Couto - foi pedir ao professor da escola de Cabeçais para ir para lá, pois além da proximidade, até gostava do professor pela maneira de ele ensinar, e que várias vezes, cá de fora, ao passar lá, observou: chamava um aluno, mandava-o ler aí cerca de uma linha, mandava-o depois parar, e explicava-lhe o sentido da parte lida, e, seguidamente, mandava-o continuar, para depois lhe tornar a explicar, e assim por diante. Ao seu pedido, o Sr. Prof. José Carlos de Paiva e Sousa, que era do lugar do Carvalhal, onde nascera em 22-11-1878 e lá falecera a 3-1-1962, pessoa muito católica, (muitas vezes o vi ao domingo na missa do dia em Fermedo com a sua esposa) respondeu-lhe assim: “estou cheio de tantos alunos, não posso mais”. Então, do Couto (junto a Cabeçais) teve de andar uma hora a pé (indo por caminhos de matos até à Portela), para ir para a escola de Romariz, junto à igreja (escola já demolida, situada onde agora é a residência paroquial). Duma vez, nesse caminho de matos na direcção da Reguenga, e antes de chegar ao sítio de Ferreira, perto da Portela, supôs ver em cima de uma parede uma corda e foi buscar essa corda de pouco mais de um metro, e eis que ela salta para o mato. Não era corda, mas sim uma cobra, que naquele tempo estava ao sol. Têve uma imensa sorte ou graça de Deus! A escola de Romariz tinha dois professores, um num ano

dava a terceira classe, e o outro dava a quarta; no ano seguinte, o que deu a terceira classe dava a quarta, seguindo os seus alunos, se eles tivessem passado de classe. No ano que para lá foi, esteve no prof. António Rebelo Augusto da Conceição, nascido em Duas Igrejas, a 21-9-1897, e lá falecido a 12- 7-1987, mas, porque fi cou doente, pouco tempo lá andou nesse ano de 1944. No ano de 1945 foi então para a 3.ª classe, no prof. Antero José da Fonseca, nascido em Romariz a 18 de Fevereiro de 1889, e lá sepultado após a sua morte a 25-7-1969, em Cesar, onde residia com a sua esposa, Lucinda Ferreira Gomes (sepultada em Cesar após o seu falecimento a 17-11-1980 com 89 anos), também professora primária. Vinham ambos todos os dias a pé da escola, em Romariz. Ela leccionava as raparigas já desde o ano de 1913. Chegou a participar no funeral do Sr. Prof. Antero José da Fonseca. O Sr. Prof. Antero era muito prático, acessível na sua linguagem, sobretudo na gramática; ensinava com muita profundidade e exercitação constante a dividir as orações nos textos, fazia os alunos refl ectir bem nos problemas, e tornava os alunos muito ágeis no manejo e equivalências do sistema métrico - decimal. Embora não fosse religiosamente praticante, quando era a hora de ter aula de Moral dizia sempre que podiam ir à aula dada pelo Prof. António Rebelo da Conceição. Foi amigo de seu pai e ajudou-o na compra da quinta de Ferreira, conseguindo-lhe junto dos vendedores um preço mais acessível. A freguesia de Romariz homenageou o Sr. Prof. Antero, dando o seu nome a uma rua no lugar da Portela. Terminava sempre as aulas às 3 horas da tarde. Quando dava aula à 4.ª classe, dava depois, às 5 horas da tarde, na sua casa de Cesar, uma ou duas horas gratuitas de aula, no Verão, para os alunos irem bem preparados para o exame da 4.ª classe, na então Vila da Feira. Acabada a escola às 3 horas da tarde ia comer ao Couto pelas 4 horas. De seguida, ia pelos Lameiros, S. Mamede, Picoto (de Fajões) para a tal aula suplementar, em Cesar, às 5 horas. Depois da aula regressava, aí pelas 7 horas da tarde, vindo por Romariz com os companheiros por ser já tarde, e de Romariz ia pela estrada da Portela, Reguenga e Oliveira, para o Couto. Andava a pé por dia cerca de 4 horas. A Sr.ª Prof. Lucinda Ferreira Gomes despertou muito a sua curiosidade intelectual, dando-lhe até livros do liceu que tinham sido dos seus fi lhos, para ele se desenvolver cada vez mais. Foi uma autêntica madrinha da cultura.8) O discurso original, completo, vai na p. 16. “Discurso que fi z na comunhão

solene no fi m do qual rezei pelos meus padrinhos”.(p.4-b).

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Fez a 4.ª classe em 16 de Julho de 1946, na então Vila da Feira. A sua mãe prometeu-lhe um relógio, se fi casse bem no exame da quarta classe. Ficou bem, mas o relógio só o recebeu aos 25 anos, nas vésperas da Missa Nova, relógio da marca “Classic” que ainda conserva como recordação. Os seus pais trabalharam muito e as despesas consigo nos estudos eram grandes. Como o sítio do Couto era um tanto isolado, embora junto a Cabeçais e Mascotes, (o lugar de Oliveira é um pouco mais distante), a sua convivência com as pessoas era por isso menor, e daí o ser tímido, timidez que foi desaparecendo com o andar dos anos nos estudos e na convivência. Essa a razão de não ser conhecido por arrogante, pois era envergonhado.

Sobre a ida para o Seminário Diocesano do Porto

1.º ano de Seminário (1946-1947) em Fermedo

Dado o convívio que tinha com a fi gura bondosa e simples do Sr. Abade de Fermedo, gostava nos seus brinquedos de fazer capelinhas com festa à volta no chão. Os coretos dos músicos fazia-os com miolo das canas do milho e os pregos eram agulhas do moliço dos montes. Em pequenito a sua mãe levou-o à festa de Santa Cristina, em Mansores, e, na igreja cheia de gente, ela levantou-o e segurou-o no ar para ele ver todo aquele ambiente de festa litúrgica (depois iam a casa duns parentes). Seu pai, que muito apreciava as funções religiosas na igreja de Escariz no seu tempo de solteiro, gostava que ele fosse para padre. A sua mãe já era mais discreta nesse ponto. O Sr. Prof. Antero, e sobretudo a esposa, Sr.ª Prof. Lucinda Genebra Gomes, lembravam-lhes para não o deixarem fi car só pela 4.ª classe mas ir para a frente. Seu pai facilitara, deixando passar o prazo para requerer a sua entrada no Seminário da diocese do Porto, fi cando por isso um ano em casa. Então, o pai do Sr. Abade de Fermedo, o Sr. José Cardoso, que também tinha andado no Seminário, e era muito culto, prontifi cou-se gratuitamente durante este ano em casa a dar-lhe as lições de todas as disciplinas do 1.º ano do seminário (até dera outras a mais, como inglês, etc.) e depois, quando foi para o Seminário de Trancoso (Gaia), requereu exame “ad hoc”, para passar logo para o 2.º ano, e assim não se perder nada com o atraso. E foi o que aconteceu. O Sr. José Cardoso e o Sr. Abade puseram à sua disposição a sua grande e valiosa biblioteca, o que fez despertar mais o seu gosto e curiosidade intelectual.

Recordações da sua infância no Couto (dos 2 aos 18 anos)

No Couto, os seus pais eram caseiros. Pelos seus 8 anos de idade, já sabia regar sozinho uma presa de água no campo. Além do Couto, os seus pais cultivavam as terras que possuíam em Escariz (os campos, além de um mato no Castêlo, perto de Mansores e os campos que possuiam em Val de Lameiro, isto é, o “Chão da Casa” e os campos cimeiros da Cavadinha, junto da residência há anos demolida de seus avós paternos). Lembra-se de ter vindo várias vezes do Castêlo com feixes de palha e outras coisas à cabeça, passando por Abelheira, Calvário, Cabeçais, até ao Couto e, duma vez, até trouxe uma carrada de bois sozinho. Seu pai ia muitas vezes a Escariz visitar seus amigos como o “Regedor de Ver” (Manuel António de Pinho Júnior), “caseiro de Alvite” (José Francisco Martins), Amaro Francisco da Silva Martins, em Nabais, e o Sr. Prior da Venda da Serra, P. Domingos Ferreira da Silva Pinho, falecido a 2-6-1949, levando eu à cabeça um açafate de fruta para oferecer. Também foi algumas vezes com o seu pai à casa de um grande proprietário, em Abitureira, e ao lugar da Vila, em Mansores. A Escariz ainda foi com seu pai a casa do Padre Manuel Moreira de Paiva (este, sendo ainda apenas seminarista, disse-lhe na eira para dar um tiro com a espingarda, o que fez com algum receio, e nunca mais quis pegar em tal objecto). Foi também a casa de um sobrinho deles, no lugar dos Lameiros. No lugar da Solada, havia o Sr. Belmiro, com uma grande casa, aonde ele e seu pai iam várias vezes. Contava o Sr. Belmiro que em pequeno ia com outros aprender a doutrina cristã a casa de um estudante que os malhava a todos de pancada, por não aprenderem como ele queria, e um dia, já fartos de tanta pancada, resolveram unir-se todos e darem uma sova valente no estudante - o que, de facto, aconteceu - até ao ponto de a tia do estudante ter pedido socorro aos vizinhos. À festa da Abelheira em Escariz (o arraial era cá em baixo, e não lá em cima, como actualmente) foi algumas vezes com seus pais: fazia-se uma procissão da igreja da freguesia para a capela, havia no arraial à noite, na véspera, a comezaina dos mordomos, etc. Em Escariz recorda-se também da festa do Carmo. Quanto à freguesia do Vale, a que civilmente pertenciam, raramente foi lá à igreja. Recorda a excelente procissão religiosa que saia do lugar de Oliveira pelo Carvalhal, Cedofeita

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e Póvoa, para a igreja do Vale: fogueiras acesas nas bermas das estradas, toda a gente a viver e a participar, não havendo espectadores na estrada, como agora. Sua mãe e ele foram vários anos a S. Cristina (perto da igreja do Vale) moer o linho no Engenho e ali gostava muito de brincar na areia junto ao rio e achava tão belo e grande aquele areal, agora totalmente em derrocada. Ao lugar de Oliveira (que pertence uma parte ao Vale e outra a Romariz) foi muitas vezes, sobretudo a casa dos seus tios, “padrinhos” como lhes chamavam, “o padrinho Bernardo” e a “madrinha de Oliveira”, irmã de sua mãe, e que residiam na parte pertencente a Romariz. Era uma casa cheia de gente (muitos fi lhos), vida e trabalho, onde se discutia e ralhava, mas sempre muito amigos. A sua tia era muito religiosa. O seu tio, “padrinho Bernardo” nascido a 2-3-1890 e falecido a 4-1-1986 com 96 anos era na altura em que faleceu o homem de mais idade na freguesia de Romariz. Também ao cimo de Oliveira, no caminho que dá para o Couto, foi várias vezes levar recados de seus pais a casa da Sr.ª Rosa do Areal, como era conhecida (mãe da Sr.ª Miquelina, casada com o Sr. Mário Gomes Moreira, da Reguenga, conhecido por “Mário do Fernandes”), e ela dava-lhe sempre pão (naquele tempo era de broa o mais usado) todas as vezes que lá ia. Recorda-se de ir a Oliveira com sua mãe ver o funeral de Maximino da Costa Laranjeira, que ia para o cemitério do Vale, levando a banda de música a tocar peças fúnebres, banda à qual o falecido tinha pertencido.

Um julgamento num palheiro

Recorda ainda a demanda de justiça que houve em Oliveira por causa de umas águas, onde estiveram três Juízes e o tribunal era no andar de cima de um palheiro, na casa do denominado António do Moitas: aquilo era como que uma festa, vinha povo das redondezas ver, como se fosse um domingo, até ele e outros e a senhora professora do posto Escolar do Carvalhal, onde ele andava, também lá passou. Os juízes tratavam do assunto com as testemunhas no palheiro, que eles viam cá de fora, no campo, e chegaram a vir ao campo tirar a prova do trajecto da água de um caneiro, deitando um corante na água, que apareceu no outro lado com o corante, sinal da demonstração À festa de S. Tomé, em Oliveira, passou uma vez, nos seus cinco anos de idade, com seus pais, que iam à Reguenga visitar o seu tio António Moreira de Azevedo, muito doente,

(ainda se lembra de o ver a mexer na cama e a falar). Faleceu pouco depois a 24-5-1938. No regresso ao Couto, não no local da festa de S. Tomé, mas num mato próximo, a sul (para o lado do Couto), estiveram a ouvir um bocadinho a música a tocar, da qual o seu tio era regente/maestro, mas ali substituído, (por estar doente), por Roberto Nunes, maestro da banda musical de Arrifana. No Couto, em pequenito, ele gostava de fazer perto da casa e no mato da Lameirada (que fi cava mais perto dos Mascotes e de Cabeçais) estradinhas da largura de 2 a 3 palmos. Perto da casa, do lado nascente, ele fazia no chão muitas vezes uma igreja e festa à beira, com bandeiras e coretos de banda de música feitos com miolo de canas de milho cujos pregos eram agulhas dos pinheiros, também chamadas moliço. Também gostava de ir à festa da Senhora da Saúde, em Cabeçais, a 15 de Agosto. Era sempre uma alegria (a missa na capela, com sermão de manhã, a procissão à tarde, as músicas no coreto, e o fogo de lágrimas, à noite). Nos Mascotes, à beira de Cabeçais, no lado poente, ele ia às vezes para lá jogar as cartas com outros (ele não sabia nada da maneira de jogar, jogava à sorte), e, duma vez, ao puxar de uma carta, esfarrapou a mão por uma parede abaixo, fi cando ferido, e por isso nunca mais quis jogar as cartas. Ainda hoje ignora as regras desse jogo. Seus pais conviviam com a família dos Mascotes (uma de que uma fi lha foi para freira) e a do Júlio e outras mais. Recorda ainda que, por uma mulher dos Mascotes ter ido na camionete do leite (namorada de um dos da camionete) e esta ter-se esbarrado perto do Carvalhal, houve uma “festa velha” durante 3 noites em três altos de montes vizinhos (um era o monte do Porrinho, a poente) a tocar ao funil, comentando entre si o caso, (“uma rota velha que anda a desencaminhar uma inocente” -uma frase que ouviu e ainda recorda). Doutra vez, uma mulher dos Mascotes, já de certa idade e mãe de uma menina, namorava (era ainda solteira). Ao entardecer na feira de Cabeçais, um criado de lavoura e certos homens resolveram pôr fi m àquele namorito; depois de terem de dia ajuntado pedrinhas em montinhos junto aos locais de saída do recinto da feira de Cabeçais, começaram à noite a atirar pedras para junto dos tais namorados, mas, como todas as saídas estavam cercadas e só podiam sair pelo sítio, não cercado propositadamente, da cancela do denominado “Ti Domingos da Caetana” que estava lá no campo, vestido de calças brancas e pau grande na mão, a guardar a cerejeira

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dos larápios, os namorados fugiram então para lá, e ele, julgando que lhe vinham roubar as cerejas, sacudiu-os dizendo:” vós para a plantar (a cerejeira) não vindes, mas para as comer já estais prontos, seus malandros”. E assim acabou o namorico. De Cabeçais, além da já referida festa da Senhora da Saúde, ocasião de em casa se comer carne com arroz de forno e sopa seca, (num ano não pôde andar na festa tanto tempo como queria, porque tiveram de andar a regar o lameiro do fundo por lhes calhar nesse dia a presa do Couto), recorda ainda o campo de futebol, ao Norte (perto da escola que ele, em pequenito gostava de frequentar, o que não aconteceu). Nesse campo foi ver alguns jogos, de futebol, entre eles, os jogos entre os de Cabeçais e os de Romariz (os de Romariz costumavam ganhar por 2 e 1) e duma vez até esteve lá num jogo uma banda de música que tocava uma peça quando entrava um golo, fosse da equipa que fosse, (parecia uma festa, uma festa desportiva). Recorda-se ainda do Sr. David, da Casa nova, donde era também o P. Justino Francisco da Silva, que viu várias vezes em Cabeçais, com a sua bengalinha fi dalga. A sua mãe dava-se muito bem com a Sr.ª Leonor e o seu pai com o seu marido, Sr. Norberto, ambos da Casa nova, sendo também os seus fi lhos José, Luís e Maria Luísa, nossos conhecidos. O Sr. David, pessoa muito conversadora, e sempre bem disposto, era quem armava as igrejas nos dias de festa e funerais. De Cabeçais recorda ainda o Sr. “António do Ferreiro” (António Gomes da Rocha) que cultivava umas terras junto do Couto, e era um homem conversador e alegre. Foi lá muitas vezes a casa dele cortar o cabelo. Recorda o Sr. Martins da Farmácia (Abel Francisco Martins) e sua gente, família de bem e educada, além de culta e respeitadora. Ele era fi lho do “Caseiro de Alvite”, José Francisco Martins. Lembra-se da família dos do “Jerónimo” (Branquinha”), que tinham terras e um moinho no Couto, bem como da família numerosa e muito religiosa (com uma freira, a Palmira), da chamada “Casa do Longo”. Recorda a “Casa do Caixeiro” (família do Dr. Albano de Castro, cuja casa pertence actualmente ao Sr. Prof. Alfredo Gonçalves de Azevedo, pois lá a sua mãe mandou-o muitas vezes pedir se podiam moer no moinho que eles tinham no Couto. Lembra-se da “Casa da Rosinha” (do Sr. P. Alcino Gonçalves de Azevedo e irmão Prof. Alfredo Gonçalves de Azevedo), onde o seu primo, Joaquim Moreira de Azevedo, chegou a ter uma relojoaria. Recorda a casa da relojoaria de

Manuel Francisco de Paiva (de alcunha o “Venera”) e seu fi lho Floriano, pessoa muito educada, e irmão deste (Acácio), bem como do ensaiador de ranchos, Alberto Gomes dos Santos, conhecido por Sr. “Alberto do Russo”, depois maestro da banda musical do Burgo (Arouca). Lembra-se da mercearia do Sr. Albano, da grande mercearia da Loja Nova, que foi da sua madrinha e depois pertenceu ao chamado “Balbina”, de Escariz, que depois voltou a ser do fi lho (Ilídio) da sua madrinha de baptismo. Recorda o restaurante da Sr.ª Laura e Sr. José do Couto a quem fora chamado para dar os últimos sacramentos - a primeira vez na sua vida que foi chamado a um doente. E não deixa de recordar outras casas de Cabeçais, como a do “Feliciano”, da Libânia”, do “Zé da Peixa”, das do “Oliveira”, do “P. Manel”, etc.

O gosto de tocar a sineta Em Cabeçais ajudou várias vezes à missa do Sr. P. Alcino Gonçalves de Azevedo que foi pároco de Penafi el e da Sé- (Porto), e era irmão do Sr. Prof. Alfredo Gonçalves de Azevedo, que vinha muitas vezes ao Couto conversar com seus pais e era pessoa muito dinâmica e inteligente. Duma vez, o Sr. P. Alcino pediu-lhe para lhe ir ajudar à missa, num dia muito cedo, porque precisava de ir para o Porto. Ele, que gostava de tocar a sineta da capela de Cabeçais, nesse dia, um pouco de noite, antes de amanhecer, consolou-se de tocá-la por bastante tempo, o que fez supor em algumas pessoas ser toque a rebate por causa de algum fogo (ele até ouviu depois uma mulher dizer: “se ele demorasse mais um bocadinho a tocar, eu vinha logo com um cântaro de água à cabeça, fosse lá onde fosse o fogo”). A partir daí abandonou esse gosto. Em Cabeçais lembra-se também da conhecida feira chamada “das debulhas”, a 13 de Julho, que era sobretudo de manhã, com muito gado, trazido da zona de Paiva por Constantino, de Cedofeita (Vale), e com outras coisas mais. Lembra-se ainda de ser feita a estrada de Cabeçais a Belece, a estrada do Romão para o Adro (antes era a calçada de Cabeçais, pelo sítio da Roda, até ao Adro, calçada essa por onde ele acompanhou a procissão das ladainhas do todos os santos até à capela de Cabeçais, e onde ele viu, quase a chegar à Roda a caminho do Adro, a sua madrinha pela primeira e última vez. Naquele tempo Cabeçais era uma Central dos Correios,

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pois se vinham encontrar entre o meio dia e as duas horas da tarde a correia da Vila da Feira, o correio do Vale, o correio de Arouca, que vinha a cavalo, e a correia de Paiva, que vinha a pé, como a referida correia da Vila da Feira, e o do Vale. Em Fermedo lembra-se do primeiro automóvel que chegou ao adro (uma admiração!) Recorda-se da inauguração do cruzeiro dos centenários de 1940, com cânticos e discursos, e da bênção do cruzeiro do Romão, onde havia brasileiros beneméritos que faziam suas ofertas. E daí a razão da pintura da Senhora Aparecida do Brasil na fachada da igreja. Na igreja, muito grande, as procissões, quando estava a chover, faziam-se no seu interior. Na igreja lembra-se das Missões populares, aonde ia tanta gente, levadas a efeito por membros das Ordens religiosas que, com uma corda à cinta o impressionavam, e que pregavam ao povo sobre um palanque instalado entre a capela-mor e o corpo da igreja, na proximidade da porta travessa, perto do altar da Senhora do Rosário.

O compasso em Fermedo

Andou várias vezes no compasso em Fermedo (com a campainha, etc). O compasso ia pelo Romão, Carvalhal, Olival, Paramo, Trás do Rio, Parameira, Corgo, Crescida, Tanhel, Cabeçais com os Mascotes até fi ndar no adro, no domingo de Páscoa, onde todas as casas tinham doces, etc. A princípio os acompanhantes do compasso eram poucos, mas como em cada lugar, mais ou menos, ia entrando um ou outro, quando se chegava a Cabeçais já eram muitos (mas a maioria não ia aos Mascotes, por ser sítio pobre, e até lhe chamavam as “Ilhas Adjacentes”). Na segunda-feira o compasso era nas chamadas “Rochas” (Borralhoso, parte de Mosteiro e de Carvalhal, Redondo, em Cerzido, Eiras, Balaído, Cela) mas já ia pouca gente em virtude de esta zona nascente ser pobre, e só havia doces, etc. numa ou outra casa. Uma vez no compasso sentiu-se doente, no domingo em Trás do Rio. Estava com uma bronquite pulmonar. Teve de interromper o compasso e fi cou internado num quarto da residência paroquial. Ao ouvir dizer que estava com 41 graus de febre, e tendo já lido em tempos que 41 graus de febre eram já perto da morte, ele julgou mesmo que ia morrer. O médico Dr. Portal, de Cesar, muito amigo de seu pai, e onde já tinha ido uma ou outra vez, foi quem o tratou e curou. Daí por diante procurou ter muito cuidado com os pulmões. No Couto só teve uma vez o sarampo, e, de resto, nunca esteve verdadeiramente doente.

Como evitou um namorico

Aí pelos 16 anos da sua idade, a fi lha mais nova do Sr. Martins da Farmácia começou a cortejá-lo e ele, percebendo que isso era a revelar a intenção de namorico, pensou em ir dizê-lo ao Sr. Martins, mas tal não aconteceu, pois dentro de 15 dias o entusiasmo dela esmoreceu. Depois contaram-lhe que em Cabeçais todas as raparigas já tinham o seu namorado, excepto ela, e daí a sua tentativa que acabou por fracassar. Fora às “Rochas” várias vezes ajudar à missa ao Sr. Abade, tanto à capela de “Borralhoso” (aonde demorava quase uma hora a chegar a pé). Uma vez na Cela, até partira na capela velha, hoje substituída, o cadeado ferrugento da sineta, quando tocava para a missa, tal o gosto que tinha de tocar a sineta! Vinha uma cozinheira, de Paiva, chamada para fazer o almoço ao Sr. Abade. Nas “ Rochas”, quase ninguém sabia ler e havia uma mulherzinha que ensinava a doutrina cristã e ia a quase todas as casas escrever as cartas que eles queriam enviar e voltava lá para ler as que eles recebiam. (9)

O Dr. “Piranga”

No regresso da capela de “Borralhoso” ou da Cela, o Sr. Abade, ao chegar a Belece, ia sempre a casa do Sr. Abade de S. Miguel do Mato, P. Manuel José de Oliveira, natural de lá, pessoa muito fi dalga, sempre bem disposta, e contente da sua auto-alcunha “Dr. Piranga” e dizia a qualquer pessoa: “Moço caroço, que andas por aqui a pirangar”? Sempre alegre, costumava dizer “essa malandrage sempre vai”, ao referir-se à reforma litúrgica que retirava os santos sem provas históricas. Era pessoa de muito respeito em qualquer parte e sem qualquer defeito moral.(10) Era a boa disposição em pessoa,

9) Falou-me desta “Mestra” que preparava as crianças para a comunhão e lia as cartas dos vizinhos que não sabiam ler. Foi num domingo em que fomos directos a Cabeçais, metemos por Fermedo, e seguimos na estrada que vai para Castelo de Paiva. Ao chegar às “Rochas”, avistamos uma capela e fomos indagar sobre a existência de algum descendente dessa mulher sobre a qual, entretanto, eu tinha incitado o P. Domingos a dedicar-lhe um artigo. Era preciso homenagear esta espécie de pequenas”heroínas”que semeiam o bem no meio em que vivem. Ele assim fez. Publicou um artigo no Jornal de Romariz, agradecendo-me no fi m a sugestão que lhe tinha dado.10) O P. Manuel José de Oliveira foi pároco de S. Miguel do Mato desde 1916 até 18-11-1967. Ouvia mal e usava um microfone ligado a um ouvido. E diz o P. Domingos que “até gostava de se confessar a ele, pois era a falar ao microfone”. (p.27-h-3)

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pois em sua casa, o Sr. Abade de Fermedo e ele rezavam então o Breviário, reza a que assistia, e comia-se qualquer coisa. Em refeições oferecia o cabrito, a que chamava “salta paredes” e dizia para o “levar à glória”, isto é, “comer tudo”. Quando o Sr. Abade de S. Miguel do Mato ia a Cabeçais para ir a Arouca ou ao Porto fazia o mesmo na casa do Sr. Abade de Fermedo, rezando o breviário, e tomando uma refeição. Tudo isto era programa natural, e não extraordinário. Quando ia ajudar à missa à Cela ou a Borralhoso, não se encontrava nenhuma fonte pelo caminho, e duma vez estava com tanta sede, que, ao chegar a casa do Sr. abade de S. Miguel do Mato, bebeu de uma só vez, sem tomar fôlego, uma caneca cheia de vinho americano. Tanta era a sede! Foi em Fermedo que fez o primeiro baptizado da sua vida: a 28 de Setembro de 1958, baptizando Maria de Fátima Rocha da Silva, de Cabeçais, fi lha de Gaspar e de Marina Branquinha: curiosamente, como lhe foi dito, a mãe da baptizada tinha sido sua colega na comunhão solene, em Fermedo, a 24 de Setembro de 1944. Como o sítio do Couto era um tanto isolado (embora junto a Cabeçais e Mascotes; o lugar de Oliveira é um pouco mais distante), a sua convivência com as pessoas era por isso menor, e daí o ser tímido, timidez essa que foi desaparecendo com o andar dos anos nos estudos e na convivência, e daí o não ser conhecido por arrogante, pois era envergonhado. Recorda ter ido, quando tinha 9 anos, à feira dos 9 a Vale de Cambra no mês de Março. Foi lá a pé, com seu pai, indo por Escariz, Nabais, Venda da Serra, descendo para Vale de Cambra. Lembra-se muito bem das águas a brilhar, a meio da manhã, daquele rio que desce para Vale de Cambra, e a beleza da verdura dos campos naquele belo dia de sol. Feira muito movimentada, onde se viam padres reunidos a conversar, entre eles o pároco de Mansores, natural de Merlães, Vale de Cambra e que esteve em Mansores muitos anos, desde 9-2-1905 até 11-10-1965. O brasileiro Alfredo Santiago, do lugar de Oliveira, e que foi um benemérito de Romariz, quando vinha a Portugal e residia em casa alugada em Cabeçais e depois na sua casa paterna renovada, em Oliveira, tinha uma festa de recepção com foguetes e banda de música, que ele pagava, e ainda oferecia ao povo vinho acompanhado de pão, etc. No Couto quem comprava gado para o seu pai e comprava gado a seu pai era o chamado ”Zeca do Bispo”, de nome José Soares de Oliveira, do lugar de Figueiredo, falecido a 22-11-1990.

Recorda também a sua avó paterna. Ela vinha ao Couto e ensinava-o a brincar com as mãos, dizendo “sarra compadre” e sua mãe não gostava e dizia-lhe que ela devia, em vez disso, ensinar-lhe a rezar. Uma vez, aí pelos seus 8 anos, foi com ela, ao fi m da tarde, à loja das Alagoas (da família Portugal), e eles não lhe venderam a crédito. Pelo caminho de regresso por Gestosa ela veio a cismar nessa recusa da mercearia das Alagoas e endoideceu (dizia que via no ar a santinha da Abelheira, etc). Foi testemunha disso. Ela viveu numa casinha perto da sua antiga casa, em Vale de Lameiro, vindo a falecer em 24-12-1943. Do seu avô paterno (falecido a 23-4-1936) crê recordar-se de o ver uma vez na sua casa de Vale de Lameiro, casa já demolida e muito parecida com a casa do seu tio António Moreira de Azevedo, (da Reguenga). O seu avô materno já tinha falecido (sofria do coração e falecera ao pegar no carro dos bois). A sua avó materna (da Reguenga) viu-a uma vez no Couto a falar com sua mãe, (era uma pessoa alta e vestia de preto), e quando ela faleceu a 28-2-1938, ele foi com sua mãe vê-la já na urna à Reguenga (ela estava na sua casa que foi depois de seu tio, Moisés Moreira de Azevedo, e onde ele nasceu também). Tempos antes, tinha no Couto, no campo do linho, perguntado à sua mãe o que era morrer e ela respondeu-lhe que era “fechar os olhos…”e ele agora verifi cava o facto com sua avó da Reguenga. No Couto lembra-se do ciclone de 15-2-1941 que destelhou casas, etc e deitou árvores abaixo, sobre as estradas, caminhos, etc. Só no Couto destelhou o canastro e seus pais deitaram sacos, etc. para a chuva não molhar muito as espigas. No campo contíguo à eira no Couto, no Verão, em que o milho dos campos estava quase criado e a sua mãe até andava a regar à tardinha, viu-se no lado noroeste (lado de Oliveira e Reguenga) uma aurora boreal (pareciam-lhe manchas de sangue no ar a remexer). Ao ver isto, a sua mãe começou a rezar. Crê que pouco depois começou a Grande Guerra de 1939 a 1945, da qual os homens nas lojas faziam objecto das suas conversas e comentários. E, pouco depois de começada a guerra, começou o racionamento dos géneros alimentícios. As produções dos lavradores vinham ser contabilizadas pelos fi scais da Câmara, e não podiam ser vendidas a mais ninguém, (ele viu a sua mãe, antes de os fi scais chegarem, ir esconder um ou dois sacos de milho no mato, a sul da casa). Os fi scais permitiam fi car uma parte para o caseiro (e talvez senhorio)

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e o resto era vendido por preço acessível às pessoas sem géneros, etc. e já combinadas com as autoridades. Quanto à mercearia, cada casa fi cava só com uma mercearia designada (não podia ir comprar às outras) e a mercearia designada só podia vender uma certa quantidade, e não mais, para todo o mês, havendo senhas para controlar. A mercearia deles fi cou a ser a da Sr.ª Margarida, no lugar de Cedofeita, da freguesia do Vale, onde foi várias vezes. Se alguém passasse com géneros não autorizados eram-lhe apreendidos. Os seus pais chegaram a ir buscar a casa do senhorio, no lugar de Figueiredo, na freguesia de Escariz, alguns sacos de milho, de noite. Por muita sorte não foram apreendidos no lugar do Outeiro, em Escariz. Recorda-se dos linhares no Couto: os homens a arrepinhar na eira, com a sua bandeira na árvore, e as mulheres no campo a arrancar e a trazer onde tinham a sua bandeira, e as tentativas de roubo da bandeira do outro grupo, mediante apupadelas, etc. Misto de trabalho e festa. Quando a sua mãe no Couto comprou um relógio de mesa para estar na sala, sobre uma cómoda, relógio de tipo capela, ele, que não sabia o que era um relógio, fi cou bastantes horas a contemplá-lo e a apreciar aquilo. Conserva como recordação esse relógio que pensa ceder à sua sobrinha Fátima.(11)

Recordações da sua juventude em Romariz (dos 18 aos 25 anos)

Aos seus 18 anos o seu pai que já tinha comprado propriedades na Reguenga e a quinta de Ferreira na Portela e tinha vendido as suas propriedades em Escariz, mudou-se para a Reguenga, vivendo normalmente na casa que antes tinha sido de seu tio, António Moreira de Azevedo, e a sua irmã, depois de casar, passou a viver na casa de baixo que ele comprara, e agora era mesmo dela. No ano lectivo de 1951-1952, nas férias de Natal, veio morar para a Reguenga, terra de sua mãe. O seu irmão foi esperá-lo ao Carvalhal, aonde chegara já de noite, vindo do Seminário na camionete da Auto-Viação Feirense. Andava no Seminário de Vilar, no princípio do curso fi losófi co. Nasceu em Romariz, foi para Escariz um ano, aproximara-se um pouco com a estadia no Couto (Cabeçais, Fermedo, Oliveira), e agora regressava a Romariz, onde já tinha andado

na escola. Na Reguenga também estava recentemente a viver seu tio, José Moreira de Azevedo, que tinha vivido muitos anos no Brasil, donde regressara havia pouco, e dedicava-se agora a conversar e andar à caça, vivendo em casa do seu tio, Moisés Moreira de Azevedo. Na Reguenga convivia muito com a sua tia, Angelina Augusta de Jesus, nascida a 28-2-1889 e falecida a 2-2-1979, conversando muitas horas à sua lareira, bem como com o seu fi lho, Maximino Moreira de Azevedo, e sua fi lha, Celeste Gomes Moreira, a quem ele aperreava dizendo que ela ia apanhar muita pancada. Ao que ela respondia humoristicamente: “são pancadinhas de amor”. Casou efectivamente e vivem bem. Na Reguenga costumava cortar o cabelo na barbearia do Sr. Serafi m Henriques, homem muito dado e conversador, e que mais tarde foi visitá-lo a Pigeiros com o seu tio Bernardo (do Lugar de Oliveira). Foi depois que o Sr. António do Forneiro” (seu anterior barbeiro) saiu de Cabeçais para vir morrer em Romariz, que ele então, ainda estando no Couto, passou a ir cortar o cabelo a casa do Sr. Serafi m Henriques, pessoa alta e forte, e que nos funerais levava a cruz mais alta e pesada. Faleceu a 14-2-1964.

No Seminário de Vilar e da Sé

Foi quando nasceu o interesse pela Linguística.

Ali frequentou, entre 1949 e 1953, os 4.º, 5,º, 6.º e 7.º anos, e as disciplinas de Português. Latim, Filosofi a, Grego, Ciências, História, Religião e Música (12). Embora gostasse de Latim, começou a interessar-se muito pelo Grego, e em 1952 já tinha, em manuscrito, composta uma gramática grega; (13) no 7.º ano começou a ter um leve contacto com a Linguística, através da compra do livro de J. Xavier Fernandes, Topónimos e Gentílicos. Durante o 8.º ano e todos os anos de Teologia (1954/5-1957/8) no Seminário da Sé procurava estar atento nas aulas e o tempo da aula é que ele dedicava normalmente às disciplinas do Seminário. O resto dos tempos fora da aula

11) Encontra-se hoje, como pensava, na posse da sua sobrinha, Maria de Fátima.

12) Do manuscrito constam os nomes de todos os alunos em cada ano, os nomes dos professores, assim como o elenco das disciplinas. Isto no que concerne ao Seminário de Trancoso (Gaia) e Vilar (Porto).13) Uma tarde na residência mostrou-me um caderninho manuscrito e disse-me: “isto é uma gramática visigótica que eu fi z. Tem declinações… e, assim, quando preciso, venho aqui ver” (sic). Espero encontrá-lo.

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(tempos de estudo e tempos livres por vezes) eram dedicados ao estudo de Arqueologia, Linguística, Etnografi a e História, acabando com o tempo por fi car só com Linguística, pois não podia abranger tudo, como fez J. Leite de Vasconcelos, que ele admirava, passando a ter contacto com os estudos de Joseph M. Piel com quem passou a trocar correspondência e amizade. Os estudos que abandonou (Arqueologia, Etnografi a, História) foram muito bem abraçados pelo seu condiscípulo Carlos Alberto Ferreira de Almeida, a quem comunicara esse gosto, e fi caram sempre muito amigos até à sua morte, como professor catedrático da Faculdade de Letras do Porto. O recheio da biblioteca do Seminário do Porto foi por ele bastante aproveitado. O seu primeiro estudo foi sobre o topónimo “Nojões”.

A Missa Nova

Recebeu o sacramento da Ordem no dia 3 de Agosto de 1958 na Sé do Porto. (14) Não desejava que a Missa Nova fosse festiva, mas ir simplesmente no dia da comunhão solene em Romariz rezar uma missa, e seria só isso; porém, os seus pais e o povo da Reguenga queriam festa, e ele teve que desistir, e então foi festiva. Veio participar na missa a banda musical do Burgo (Arouca), que se preparou de uma maneira muito especial, até com grupo coral e harmónio, regida pelo seu maestro Alberto Gomes dos Santos, de Cabeçais, porque nesse dia a banda musical de Fajões (regida pelo seu primo Maximino Moreira de Azevedo) estava ocupada. Mesmo assim, no fi m do dia veio à Reguenga tocar uma peça, no fi m do banquete. O pregador foi o seu antigo professor no Seminário de Trancoso, P. Francisco Barbosa Regadas, depois pároco da Lomba, (Gondomar), pois não pôde vir o pregador da sua comunhão solene. Só bastante tarde (25-9-1997) é que soube, através do Dr. Samuel Bastos de Oliveira (de Fajões), do relato da sua missa nova nos jornais Diário do Norte e Correio da Feira. O correspondente do último, em Romariz, era o Prof, António Cabral, que também tinha estado na missa nova. Quanto ao seu aspecto que classifi ca de “triste” no Correio da Feira não deverá entender-se de forma exagerada, mas no sentido de que não era muito sentimental.(15) Concorda com

o jornal quando refere as difi culdades fi nanceiras que lhe não permitiram ir mais longe. “ São de facto uma verdade”.

Vigário Cooperador em Oliveira do Douro Os estudos de Linguistica etc. criaram-lhe fraca fama no clero, a de um “aéreo” e até “subversivo” - a própria P.I.D. E. se preocupou -, como veio a saber muito mais tarde. Isso chegou ao conhecimento do Bispo, D. António Ferreira Gomes, que achou oportuno encarregá-lo da vida “prática”, falando-lhe para coadjuvar o pároco de Oliveira do Douro, com quem vivia o sobrinho e seu antigo professor no Colégio e Seminário de Trancoso, P. Manuel Leão. Mas em Oliveira do Douro continuava a estudar nas horas livres (16), com agrado do pároco e seu sobrinho. O pároco era o P. José Leite Dias de Pinho, nascido a 2-1-1886 em Milheiros de Poiares, e falecido a 25-12-1960, sendo sepultado na sua freguesia. Foi uma pessoa muito bondosa e paciente, além de doente, bem como pessoa apaziguadora, respeitadora dos valores da tradição, e pessoa sacrifi cada. Foi coadjutor em Oliveira do Douro desde fi m de 1958 até 25 de Dezembro de 1960 e sentia que a irmã do pároco, D. Albertina, o estimava muito.

Pároco de Pigeiros desde 3-6 1961

D. António Ferreira Gomes, Bispo do Porto desde 13-7-1952, vítima da infl uência da sua fama de “aéreo” junto de alguns elementos do clero, tinha-lhe indicado a importância de se descer à vida “práctica”na coadjutoria de Oliveira do Douro (Gaia). Em 24-7-1959 D. António Ferreira Gomes começou a sua vida de exílio no estrangeiro e o seu Bispo Auxiliar, D. Florentino de Andrade e Silva, passou então a ser o Administrador Apostólico da diocese, e nessa qualidade passaria a ter um Bispo Auxiliar na pessoa de D. Alberto Cosme do Amaral. Depois de ter sido pároco interino de Oliveira do Douro, a partir de 25-12-1960 com o falecimento do seu pároco, P. José Leite Dias de Pinho (passou a ser pároco defi nitivo de Oliveira do Douro o P. José Coelho Barbosa), o Sr. Administrador Apostólico, D. Florentino de Andrade e Silva, em mais de uma conversa, disse-lhe que, apesar de ter já pensado numa

14) Fotografi a de todos os ordenados (excepto um) em 3-8-19. (p. 34-b)15) “ Fui sempre ( …) pouco amigo da sentimentalidade (romances”, etc) (Notas Biográfi cas, p.34-c v.) 16) “Fui sempre amigo de estudar e da intelectualidade”…(ibidem.)

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freguesia “sertaneja” (não chegando a dizer o nome dela) para si, a fi m de se poder dedicar aos seus “estudos”, tinha agora especial interesse em que tomasse conta da paroquialidade de Pigeiros, visto estar vaga. Assumiu esse encargo em 3-6-1961, tendo já antes o seu antigo professor do Seminário (e excelente pessoa), o Cónego Manuel José de Sousa, prevenido para aproveitar também esta oportunidade. Mais tarde, o mesmo Administrador Apostólico aventou a hipótese de anexar a paróquia de Pigeiros a uma vizinha, tendo depois desistido perante a minha resposta de haver ainda uma freguesia (a de Gião), no mesmo concelho, ainda com pároco, (embora de idade), freguesia essa com menos população. Em 2-7-1969, D. António Ferreira Gomes, regressado do exílio, tomava conta da Diocese até 2-5-1982, altura em que entrava o novo Bispo - Arcebispo D. Júlio Tavares Rebimbas. Em 13-4-1989 falecia D. António Ferreira Gomes. Após a sua vinda do exílio, D. António Ferreira Gomes, admirador dos seus estudos, chegou a ir visitá-lo a Pigeiros, mas não o encontrou em casa, e, vendo à porta a carta que lhe tinha enviado pelo correio a preveni-lo da sua visita, levou-a. Evitou entrada solene em Pigeiros (veio a uma quarta-feira de manhã, e a pé). Nos princípios de Junho, o então pároco de Milheirós substituiu-o. Depois, até Outubro, ele tele-paroquiava Pigeiros, isto é, residia na Reguenga e vinha a pé todos os dias a Pigeiros e tornava a regressar a pé. Em princípios de Outubro, veio residir em Pigeiros, sendo o primeiro pároco a habitar a residência, já feita em 1952, e na qual o pároco anterior não chegou a morar. Quando fez 25 anos de paroquialidade, evitou as bodas de prata (bem como as de sacerdócio) devido a pretensos homenageantes hipócritas. Aproveitou o dia para visitar com o pároco de Campanó (Pontevedra), o mosteiro de Armenteria, relacionado com a lenda do monge e do passarinho. Antes de ser pároco de Pigeiros, nunca lá tinha ido. Quando foi nomeado pároco, foi ver a freguesia pela primeira vez com o Sr. Albino Garcia, do lugar do Paço, (Oliveira do Douro). Como antes e depois do Concílio Vaticano II lia obras religiosas de Liturgia renovada, passou, junto de elementos do clero, a ser considerado religiosamente “avançado, subversivo”. Por outro lado, como alguns (poucos) membros do clero confundem Linguística e História, começaram a apelidá-lo (por vezes com certa ironia) de “Historiador”, quando ele, na verdade, não se dedicava à História, mas sim a certos sectores da Linguística. Isto prejudicou-o bastante, pois

certas pessoas de boa fé, ao verifi carem que nada de especial em História viam nele, diziam: “afi nal, o Historiador não sabe nada”. Quando faleceu o pároco das Caldas de S. Jorge, P. António Correia Pinto Guimarães, a 6-6-1978, foi encarregado da paroquialidade até meados de Outubro de 1978. Mais recentemente, quando faleceu o Sr. Abade de Guisande, (15-5-1998), a pedido de D. Armindo Lopes Coelho, Bispo da diocese, fi cou desde Agosto Administrador Paroquial. Sucedeu ao P. Acácio Ribeiro de Freitas, Abade de Louredo. Entretanto, passaram os anos e a saúde começou a fraquejar. Uma tarde, no fi m do passeio, já muito alquebrado, enquanto o ajudava a sair do carro, observou-me: “As doenças começaram no mês de Janeiro (dia de Reis) de 2010”…(17)

Da sua “Atlântida perdida” este foi o último eco que ouviu e me contou.

Amparando-o, acompanhei-o ate à porta. Aí nos despedimos. -Quando volta por estes lados? - Brevemente -Então, até lá. Obrigado.

Rumei direito a casa. No percurso, enquanto o carro em marcha se deslocava tranquilo e a tarde caia lentamente, eu meditava na fragilidade e contingência da vida...

II

“Fui sempre amigo de estudar e da intelectualidade”(Notas Biográfi cas, p.34-c v.)

O professor

Além do trabalho paroquial também dedicou algum do seu tempo à actividade docente. A convite do P. Rodrigo Fontes, pároco de Arrifana, passou a dar aulas de Português, Latim e Filosofi a nos anos lectivos de 1965/1966, 1966/1967, e 1967/1968 no colégio Castilho em S. João da Madeira. Não

17) Foi a última anotação que fez no manuscrito. Já com a letra muito trémula (p.34-2). Um ano depois, a 10-1-2011, falecia em casa da sua sobrinha Fátima, na Reguenga.

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deu aulas no ano de 1968/1969, mas, no ano seguinte, desta vez a convite do Sr. Abade de S. João da Madeira, passou a dar aulas no Ciclo Preparatório de S. João da Madeira, que, em todo o seu tempo, funcionou no edifício (hoje demolido) do antigo Hospital velho de S. João da Madeira. Leccionou aí Religião e Moral nos anos lectivos de 1969 até 1974. Em seguida, transitou para o liceu (hoje Escola Secundária n.º 2) a leccionar a mesma disciplina de Religião e Moral até 1986. No referido ex-liceu leccionou a disciplina de Grego durante dois anos.

O investigador. Publicações

Embora não seja a História o principal alvo dos seus estudos (mas sim certos aspectos da Linguística), no entanto não deixou de dar o seu pequeno contributo histórico às terras por onde tem andado, agradecendo assim os benefícios que delas recebeu. Os trabalhos já publicados (e que, na verdade, bem necessitariam de ser actualizados, rectifi cados nalguns pontos, completados e remodelados, devido a conhecimentos posteriores com a natural maturação e evolução mental) distribuem-se por duas séries: A primeira é constituída por trabalhos ocasionais de história local, a propósito de terras conhecidas ou por onde tenha passado ou residido (monografi a e outros trabalhos sobre Pigeiros, estudos sobre as capelas de S. Tomé e Senhora dos Remédios, certas circunstâncias locais, tais como a festa dos pardais, passagem de um aeronauta francês em 1884 por Pigeiros, etc. Alguns desses trabalhos foram efectuados com a colaboração de outras pessoas (monografi a de Fermedo, capela da Abelheira, trabalhos sobre terras da freguesia de Alfena, etc). Porém, a série maior, e à qual se dedica mais, é constituída pelos trabalhos de Linguistica, mais concretamente estudos de Onomástica (sobretudo Toponímia e até Hidronímia, sendo já menos Antroponímia e Teonímia). “Aqui é um mar de atracções e os anos que possa viver não serão sufi cientes para poder concretizar todos os sonhos, mas pelo menos há ideais, centros de interesse e motivações para estudar e investigar, factores que também ajudam a alicerçar a alegria de viver”. (Terras da Feira de 19-Maio -88). A relação destes trabalhos, publicada no tomo II do Repertório do Medievalismo Hispânico, Barcelona, 1978,

pp. 714-715, já está evidentemente incompleta, devido a trabalhos posteriores (18)

Congressos

Quanto a congressos, além do Congresso Mariológico internacional de Saragoça de 1979 (onde esteve pessoal--mente), participou nos Congressos internacionais de Onomástica de 1969 a 1984, ou seja, nos Congressos de Viena, Sofi a, Berna (neste esteve pessoalmente e era o único português presente, além do Prof. Joseph M. Piel (que, sendo alemão residia em Portugal.), Michigan, Leipzig, não chegando a participar no de Canadá em 1987, porque, ao contrário dos anteriores, não aceitavam participação (através do envio de comunicação) sem presença física, e a viagem toda por sua conta, como é usual nesses congressos (excepto o Mariológico), era para ele fi nanceiramente um risco. Em 1986 participou (estando presente) no Congresso internacional de Linguística e Filologia Românica em Trier (Alemanha) e no congresso que se realizou em 1989, em Santiago de Compostela. Além do congresso internacional sobre o rio Douro, efectuado em Vila Nova de Gaia, participou nos três colóquios Galaico-minhotos (Ponte de Lima, Santiago de Compostela, Viana do Castelo) e nos colóquios de Ponte da Barca, Valongo, dois colóquios de Gaia, no dominicano de Santarém, último colóquio portuense de Arquelogia, Arouca, Tarouca, e Santa Maria da Feira. A certa altura teve de reduzir a sua participação em colóquios, pois alguns não chegavam a publicar as Actas, como já havia acontecido com os de Valongo e Ponte da Barca.

Como nasceu o entusiasmo pela Onomástica? Escreveu também alguns trabalhos de temática religiosa (uns mais cuidados, outros de uso ocasional e incompletos), mas para cuja publicação nunca se sentiu motivado. Também noutros tempos estudara Liturgia Científi ca através de muitas obras do Centro Litúrgico de Paris e de outros países, sector

18) A bibliografi a completa do P. Domingos de Azevedo Moreira está pronta. A biblioteca de Santa Maria da Feira, através da sua Directora, Dr.ª Etelvina Araújo, e das técnicas- bibliotecárias, Adelina Silva, Carolina Vieira, Cecília Melo e Sandra Almeida, apresentou um trabalho perfeito e em condições de ser publicado.

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de que gostava, mas vai estando parado por falta de tempo. (e esta era uma das razões por que abandonara o cargo de Professor). Houve ainda uma época em que estudara Ciências Bíblicas, mais concretamente Arqueologia Bíblica, e sobretudo línguas bíblicas, especialmente as semíticas (árabe, hebraico, sumério, assírio). Faltava-lhe apenas a egípcia antiga, mas como residia longe da área semito-bíblica para mais facilmente poder aprofundar, resolveu desistir para passar para temas próximos, isto é, hispânicos e daí o fazer desenvolver o gosto pela Onomástica que já existia antes em germe, mas, por outro lado, obrigava a estudar também os temas da Linguística indo-europeia e da Linguística mediterrânica. Quanto à Onomástica propriamente dita, confessa que foi fruto de uma certa evolução. Tudo começara, quando andava no 7.º ano. Através da leitura de uma obra de J. Xavier Fernandes sobre toponímia, entrou em contacto com as obras do grande Mestre que foi o Dr. J. Leite de Vasconcelos, e as de Joseph M. Piel (com quem depois sempre conviveu), ambos internacionalmente conhecidos. Dada, porém, a variedade de saberes versados pelo notável Mestre J. Jeite de Vasconcelos (Arqueologia, Etnografi a, Linguística, etc.) teve de reduzir o âmbito de tudo aquilo para evitar fi car apenas com generalidades, acabando por se fi xar no ramo da Linguística. E, mesmo dentro deste ramo, por exigências de aprofundamento, sem desprezar os outros domínios do saber, dedicou-se ao estudo da Onomástica, não em todas as vertentes como gostaria, mas mais em Toponímia e alguma coisa em Hidronímia (e até nestas áreas, só em alguns aspectos, o de tipo germânico e mediterrânico). Em 1954 publicou a sua estreia com um trabalho sobre”Nojões” (Castelo de Paiva) de cuja hipótese obtivera confi rmações noutro trabalho publicado em 1957 sobre o mesmo tema, mas foi em 1961 com o estudo de Os nomes Tópicos em Ai no Noroeste Hispânico que iniciou propriamente o seu esforço no desbravar da Onomástica, devendo hoje remodelar muito do já publicado. O convívio e o intercâmbio com outros nomes, além de Leite de Vasconcelos, como Joseph M. Piel, e Dieter Kremer e o suíço dr. Johannes HubsChmid, além do contacto ocasional com os já falecidos e célebres espanhóis Ramon Menendez Pidal e António Tovar, além de muitos outros. Quanto a reunir em livro o que anda disperso, isso já lhe fora lembrado,(19) mas isso implicaria um grande trabalho de remodelação e actualização do já publicado. Tudo o que

tem publicado não constitui trabalho defi nitivo, mas simples achegas para a construção do edifício da Ciência.

“Vivo no estudo em plena liberdade”

Como costuma dizer, sem ter curso universitário, sendo nestes estudos um autodidacta, “vivo no estudo em plena liberdade”, isto é, sem responsabilidades docentes ou discentes, sem esquecer a gratidão pelas ajudas dos Centros Universitários de Lisboa e do Porto, destacando neste capítulo a Universidade de Coimbra, pela sua forma verdadeiramente excepcional, sem esquecer as grandes atenções das bibliotecas do Museu Douro Litoral (Porto) e da Sociedade Martins Sarmento, incluindo as de Santa Maria da Feira e de S. João da Madeira. Os seus estudos são uma espécie de “Tempos livres”.(20)

A “Etimologia de Portugal”e o Prof. Paulo Mereia

No trabalho que publicou em 1962 sobre a “Etimologia de Portugal”, critica a interpretação que o Prof. Mereia deu a certos documentos em artigo sobre “Portugal” no século X”. Crítica que o citado Prof. aceitou. “Começarei por declarar que aceito e agradeço a sua correcção a respeito do topónimo Puricelli, visto que a forma antecessora de Peroselo é Petroselo. Reconheço também de boa mente que a citação que fi z de um documento do Tumbo de Celanova, (…) não tem nada a ver com a terra portuguesa, como inadvertidamente supus numa primeira leitura”. Entende, porém, o citado Prof que estas correcções não abalam a sua tese e que o Rev. Domingos Moreira não tem razão ao dizer que a sua ignorância do topónimo galego o tenha colocado em difi culdades intransponíveis”.(21)

19) Essa sugestão foi-lhe avançada pelo Padre Manuel Leão. Na Fundação que tem o seu nome, ele mesmo me disse que lhe tinha pedido uma colectânia dos seus trabalhos para os publicar.20) Vide Jornal da Feira de 19 de Maio de 1988.21) O artigo do P. Domingos Moreira intitulado “Etimologia de Portugal” foi publicado no Boletim Cultural da Câmara Municipal do Porto, vol. XXIV_XXV (1961-1962). O Prof. Paulo Mereia trata deste assunto em artigo publicado na Revista Portuguesa da História, XI, 1964 e reeditado em Estudos de História de Portugal, Imprensa Nacional- Casa da Moeda, Lisboa, 2006, p.415-422.

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Projecção internacional

Tinha no domínio da Linguística projecção internacional. Em Dezembro de 1973 é solicitado, em documento enviado do Centro de Pesquisas para as Ciências da Linguagem, a preencher um questionário cujo propósito era recolher informações acerca de cientistas de línguas, vivos, em todo o mundo. As informações destinavam-se a ser incluídas numa publicação bienal intitulada World Directory of Linguists (Catálogo Mundial de Linguistas). A lista de referências seria publicada e distribuída pela Casa - Editora Mouton, (Haia). Ora o tal questionário não lhe teria sido enviado, se o seu nome não fosse já conhecido. O P. Domingos respondeu ao referido questionário em 11-12-1973.

A correspondência

Outra prova do reconhecimento da sua competência no campo da Toponímia está na frequência com que acorriam a pedir-lhe ajuda. Apenas alguns nomes, por exemplo, docentes da Faculdade de Letras do Porto, que preparavam os seus doutoramentos: Dr. Fortunato Queiroz, Dr. Luís Amaral, Prof. António Cardoso, Dr. Francisco Topa, etc. Por sugestão do Prof. Jorge de Alarcão, catedrático da Universidade de Coimbra, o Assistente da Universidade dos Açores, Dr. Rui Cunha Martins, pede ao P. Domingos um encontro na Vila da Feira, porque tem algumas difi culdades na identifi cação de topónimos do Paroquiale Suevicum que andava a estudar, de acordo com um plano de estudos apoiado pela Fundação

Prezado(a) Colega: Anexo a esta vai incluso um breve questionário o qual lhe peço o favor de preencher e devolver no envelope anexo. Por favor, use caracteres latinos e escreva legivelmente. O propósito deste questionário é o de colectar informações a serem incluídas numa publicação bienal intitulada World Directory of Linguists (Catálogo Mundial de Linguistas). Esta lista de referência que será publicada e distribuída por Mouton, Haia, tem o propósito de fornecer informações básicas e correntes acerca de cientistas de línguas, vivos, em todo o mundo. A informação que V.S. apresentar acerca de sua pessoa será incluída no Catálogo com mínimas modifi cações editoriais. Seu nome aparecerá somente se o questionário completo chegar às nossas mãos antes do dia 31 de Dezembro de 1973. O Catálogo inicial será alfabetizado pelo último nome. Catálogos futuros poderão aparecer por países, por especialidades ou em alguma outra ordem. Se V.S. tiver alguma pergunta ou desejar receber questionários adicionais para distribuição a outros colegas, por favor, entre em contacto com Mrs. Margot D. Lenhart Project Coordinator. World Directory of Linguists Research Center for the Language Sciences 516 East Sixth Street Indiana University Bloomington, Indiana 47401, USA .

De qualquer maneira lembre-se de que se V.S. deseja incluir-se no Catálogo, devemos receber a forma completa antes do dia 31 Dezembro de 1973.

Respeitosamente, Thomas A. Sebeok

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Calouste Gulbenkian. Escreve o Dr. Rui Cunha Martins: “Dado o profundo conhecimento que o Sr. P.e Domingos possui sobre a toponímia medieval ser-me-ia extremamente útil, caso se disponha a tal, encontrar-me consigo para que, sobre alguns problemas mais concretos, possa averiguar a sua opinião e escutar os seus proveitosos ensinamentos”…

Da sua correspondência constam nomes de professores universitários portugueses e espanhóis. Da Universidade de Coimbra e da do Porto. Nomes conhecidos de autoridades na Linguístia e na História Medieval, como Ramon Menendez Pidal, António Tovar e Emílio Saéz.

Muitos outros nomes, fora da Universidade, (constantes da secção de investigadores) como Mons. Miguel de Oliveira, Cónego Isaías da Rosa Pereira, da Academia da História, D. Gabriel de Sousa, D. António Ferreira Gomes, Coronel Carlos Moreira, Doutor Luciano Cristino, de Leiria, A. Almeida Fernandes, P. António Leite, J.A. Pinto Ferreira, Director do Gabinete de História da Cidade do Porto, Dr.ª Alice Estorninho etc. etc. Da sua correspondência fazem parte também cartas dos Bispos D. Domingos de Pinho Brandão, D. Florentino de Andrade e Silva, D. José Augusto Pedreira, D. Júlio Tavares Rebimbas. D. António Ferreira Gomes está na secção de investigadores.

Uma carta do Prof. José Mattoso

Um Professor da Universidade Católica da Lublin, na Polónia, Jerzy Kloczowski, (22) pediu ao Prof. José Mattoso um relatório sobre o estado actual dos estudos portugueses sobre a história das paróquias. O Prof. Mattoso, para responder ao Professor Kloczowski, em carta de 23-5-1975, escreve ao P. Domingos:

22) O Prof. Kloczowski é um historiador polaco. Tomou parte no levantamento de Varsóvia em 1944 no qual perdeu um braço. É um herói da nação polaca. Cheguei a vê-lo em Paris. Padre Domingos e Joseph M. Piel.

Com o Prof. Doutor José Matoso.

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Mais agradecia me informasse de outros eventuais estudos seus relacionados com a história de paróquias, passados ou em curso, para que o meu relatório fi que o mais completo possível”. O Prof. Mattoso termina a carta fazendo votos para que o P. Domingos leve a bom termo “os seus eruditos estudos”.

“Entre os estudos que me pareceram mais importantes, deparei com o seu sobre a onomástica das freguesias da diocese do Porto. Necessitava, todavia, para completar o relatório, de saber se já publicou mais algum elemento além do que saiu nos volumes 34 p.19-149, 336-417 e 35, p. 141-237, e no caso de já ter preparado o que lhe restava escrever, de fazer um resumo sucinto dessa parte inédita. Atrevo-me mesmo a pedir-lhe se me pode fornecer um exemplar da parte já publicada se acaso ainda dispuser de separatas, pois isso permitir-me-ia utilizar o seu trabalho em condições mais favoráveis.

Com esta carta do Doutor Carlos Alberto, hoje patrono da Escola do Cavaco, e com o seu nome numa rua do Porto e também em Avioso (Maia) termino este artigo. Fomos colegas de carteira desde os 11 anos de idade, e, mais tarde, colegas na Faculdade de Letras. É com saudade que evoco estes dois meus colegas de curso. Um veio a tornar-se catedrático de História da Arte -o Doutor Carlos Alberto; outro, não tendo embora seguido a carreira universitária, nem por isso tem menos merecimento. Porque o P. Domingos de Azevedo Moreira deu à comunidade que lhe fora entregue perto de cinquenta anos da sua vida, e, por último, deu-lhe também aquilo que foi, depois de Deus, a sua grande paixão: os seus livros. Trabalhador incansável, em quem, numa simbiose perfeita, coexistia simplicidade e saber, foi um erudito conhecido além fronteiras e uma fi gura marcante do concelho de Santa Maria da Feira. A sua memória é respeitável.

Uma carta para o “Minguitos”

A respeito do Prof. Emílio Saéz, da Universidade de Barcelona, há uma carta do Doutor Carlos Alberto dirigida ao “Minguitos” (assim o trata familiarmente, dada a amizade entre eles). É uma carta curiosa: “ Ele vem ao Porto em Junho próximo ao Congresso Vímara Peres. Depois iremos visitar-te. É uma pista fantástica para os cartórios galegos. Ele estêve há dias em minha casa, já me ofereceu o Anuário de Estudos Medievales e me pediu colaboração. Fará o mesmo a ti. O Anuário tem verdadeira audiência internacional (…) Manda-lhe as tuas separatas, aquelas que possuíres. Ele queria muito a tua (separata) de “Portugal”. Numa carta que hoje recebi dele pede a tua direcção. Eu falei-lhe de ti com muita admiração. (…) Poderás pedir-lhe fotocópias de todos os documentos galegos. Ele é sem dúvida a maior autoridade medieval da Espanha na documentação da Alta Idade Média. Ele vai mandar-te depois umas fi chas para te colocar no Repertório de Medievalismo Hispânico que anda a fazer. Escreve-me, responde-me a estas questões: conheces algum rio dito “Fletas” e “Rio de Lobos”. Que signifi ca a palavra topónimo “Couço” e “Vilar de Zorba”?

Sou, ao teu dispor e aguardando…

Carlos Alberto

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a medir a lavouracom um olhar assíduodiscretamente judiciosoexílio lamacento dapenitência assimcomo o orvalho abrandaa austeridade da noiteo esmero da escutaprocura a elevaçãoda claridade

PortalSérgio Pereira*

o pico vulcânico ameaçaentrar em erupçãoajuda-me a deslindara proveniência destessulcos ominosostorrentes gizadasde meteoritosmergulhia das hastesdo crepúsculoaguaceiro arenoso equezilento conspiração das ruínasse não fosses tão obstinadoapenas esvazio afragura dos bolsose arejo os pulmõesnão durmo o sufi cientepara iludir a batidado predadorvolta ao princípiocomo se estivesses

*Nasceu em 1958, na freguesia de S. João de Ver. Publicou seis livros de poesia: As Nove Visões do Xamã, Porto, Agosto Editores, 1996, Técnica do Escalpe, Porto, Agosto Editores, 1996, O Sol é Um Moccasin, Porto, Agosto Editores, 1996, Istmos e Hordas, Porto, edições Tomahawk, 1997, O Absoluto Reverso, edições Tomahawk, Porto, 1998, Convergência dos Ventos, Editora Ausência, 2000, (co-autor: António Teixeira e Castro).

Nota da Redacção. Este poema foi publicado no número anterior e atribuído ao poeta Sérgio Almeida. Do facto apresentamos desculpas aos distintos Poetas e aos nossos estimados leitores.

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Publicações Periódicas

ARTIGOS EM BOLETINS

Boletim da Comunidade de São Miguel de Laúndos

– Subsídios para a História de Laúndos. In São Miguel : Boletim da Comunidade de São Miguel - Laúndos. Póvoa do Varzim. Nº 254 (mai. / jun. 2004), p. 5-6. Laúndos, Água Ruja.

Boletim Cultural da Câmara Municipal do Porto

– Os nomes tópicos em «Ai» no noroeste hispânico. In Boletim Cultural da Câmara Municipal do Porto. Porto : Câmara Municipal. Vol. 24, fasc. 1-2 (mar. / jun. 1961), p. 95-179.

– Etimologia de «Portugal». In Boletim Cultural da Câmara Municipal do Porto. Porto : Câmara Municipal. Vol. 24,

fasc.3-4 (set. / dez.1961), p. 338-462.

– Etimologia de «Portugal». In Boletim Cultural da Câmara Municipal do Porto. Porto : Câmara Municipal. Vol. 25, fasc.1-2 (mar. / jun. 1962), p. 47-168. Continuação do nº anterior.

– Enquadramento onomástico de «Meinedo» (Lousada). In Boletim Cultural da Câmara Municipal do Porto. Porto : Câmara Municipal. Vol. 26, fasc.1-2 (mar. / jun. 1963), p. 93-116.

– Estudo Onomástico sobre alguns rios a norte e sul do Douro. In Boletim Cultural da Câmara Municipal do Porto. Porto : Câmara Municipal. Vol. 29, fasc.3-4 (set. / dez. 1966), p. 545-601.

– Estudo Onomástico sobre alguns rios a norte e sul do Douro. In Boletim Cultural da Câmara Municipal do Porto. Porto : Câmara Municipal. Vol. 30, fasc.1-2 (1967), p. 84-162. Continuação do vol. 29 – fasc. 3-4 (set. / dez. 1966).

– Sobre o antropónimo Vímara. In Boletim Cultural da Câmara Municipal do Porto. Porto : Câmara Municipal. Vol. 31, fasc.1-2 (mar. / jun. 1968), p. 75-91. Continuação do nº anterior.

Bibliografi a de Padre Domingos A. Moreira

Pesquisa e descrição bibliográfi ca elaborada por:

Adelina Silva*Carolina Vieira*Cecília Melo*Sandra Almeida*

* Técnicas da Biblioteca Municipal.

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– Miscelânia de Antropo-Toponímia Germânica na Galiza e Norte de Portugal. In Boletim Cultural da Câmara Municipal do Porto. Porto : Câmara Municipal. Vol. 32, fasc.3-4 (set. / dez. 1969), p. 472-568.

– Freguesias da Diocese do Porto. Elementos onomásticos alti-medievais. In Boletim Cultural da Câmara Municipal do Porto. Porto : Câmara Municipal. Vol. 34, fasc.1-2 (mar. / jun. 1971), p. 19-149.

– Freguesias da Diocese do Porto. Elementos onomásticos alti-medievais. In Boletim Cultural da Câmara Municipal do Porto. Porto : Câmara Municipal. Vol. 34, fasc .3-4 (set. / dez 1971), p. 336-417.

– Freguesias da Diocese do Porto. Elementos onomásticos alti-medievais. 2ª parte : inventariação onomástica (introdução) In Boletim Cultural da Câmara Municipal do Porto. Porto : Câmara Municipal. Vol. 35, fasc.1-2 (mar. / jun. 1972), p. 141-237.

Boletim Cultural da Câmara Municipal do Porto, 2ª série

– Freguesias da Diocese do Porto. Elementos onomásticos alti-medievais. 2ª parte : inventariação onomástica (Fascículo B-F). In Boletim Cultural da Câmara Municipal do Porto. Porto : Câmara Municipal. ISSN 0870-0478. 2ª Série, vol.2, (1984), p. 7- 86.

– Freguesias da Diocese do Porto. Elementos onomásticos alti-medievais. 2ª parte : inventariação onomástica (Fascículo G-O). In Boletim Cultural da Câmara Municipal do Porto. Porto : Câmara Municipal. ISSN 0870-0478. 2ª Série, vol. 3-4 (1985-1986), p. 61-157.

- Freguesias da Diocese do Porto. Elementos onomásticos alti-medievais. 2ª parte : inventariação onomástica (Fascículo P). In Boletim Cultural da Câmara Municipal do Porto. Porto : Câmara Municipal. ISSN 0870-0478. 2ª Série, vol. 5-6 (1987-1988), p. 7-53.

– Freguesias da Diocese do Porto. Elementos onomásticos alti-medievais. 2ª parte : inventariação onomástica (Fascículo

R-V). In Boletim Cultural da Câmara Municipal do Porto. Porto : Câmara Municipal. ISSN 0870-0478. 2ª Série, vol. 7-8 (1989-1990), p. 7-117.

– Sobre a problemática linguística do nome Rio Caima. In: Boletim Cultural de Vale de Cambra. Vale de Cambra: Câmara Municipal de Vale de Cambra, 1998. Nº 2 (1998). p. 20-22.

Boletim Municipal [da] Câmara Municipal de Santa Maria da Feira

– Observações toponímicas (1ª). In Boletim Municipal [da] Câmara Municipal de Santa Maria da Feira. Santa Maria da Feira : Câmara Municipal. Nº 1 (jul. 1988), p. 21-24. Topónimos de Casaldoído (Caldas de São Jorge), Gaiate (Milheirós de Poiares), Mouquim (Romariz).

ARTIGOS EM JORNAIS

O Activo

– Castro de Fiães. In O Activo. Fiães : Associação Recreio e Cultura “Os Unidos de Fiães”. Ano 1, nº 1 (maio 1976), p. 1, 9.

– Ainda o documento sobre o Castro de Fiães. In O Activo. Fiães : Associação Recreio e Cultura “Os Unidos de Fiães”. Ano 1, nº 2 (junho 1976), p. 1, 9. Continuação do nº anterior.

– Género onomástico do topónimo “Vitória” (Porto). In O Activo. Fiães : Associação Recreio e Cultura “Os Unidos de Fiães”. Ano 1, nº 2 (junho 1976), p. 3-4.

– Ainda o documento sobre o Castro de Fiães. In O Activo. Fiães : Associação Recreio e Cultura “Os Unidos de Fiães”. Ano 1, nº 3 (julho 1976), p. 1, 9. Continuação do nº anterior.

– Género onomástico do topónimo “Vitória” (Porto). In O Activo. Fiães : Associação Recreio e Cultura “Os Unidos de Fiães”. Ano 1, nº 3 (julho 1976), p. 3-4. Continuação do nº anterior.

– Género onomástico do topónimo “Vitória” (Porto). In O Activo. Fiães : Associação Recreio e Cultura “Os Unidos de

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Fiães”. Ano 1, nº 4 (agosto 1976), p. 3-4. Continuação do nº anterior.

– Documento sobre Gualtar e Fiães em 1175. In O Activo. Fiães : Associação Recreio e Cultura “Os Unidos de Fiães”. Ano 1, nº 5 (setembro 1976), p. 1, 10.

– Género onomástico do topónimo “Vitória” (Porto). In O Activo. Fiães : Associação Recreio e Cultura “Os Unidos de Fiães”. Ano 1, nº 5 (setembro 1976), p. 3-4. Continuação do nº anterior.

– Género onomástico do topónimo “Vitória” (Porto). In O Activo. Fiães : Associação Recreio e Cultura “Os Unidos de Fiães”. Ano 1, nº 6 (outubro 1976), p. 3-4. Continuação do nº anterior.

– Género onomástico do topónimo “Vitória” (Porto). In O Activo. Fiães : Associação Recreio e Cultura “Os Unidos de Fiães”. Ano 1, nº 7 (novembro 1976), p. 3-4. Continuação do nº anterior.

– Género onomástico do topónimo “Vitória” (Porto). In O Activo. Fiães : Associação Recreio e Cultura “Os Unidos de Fiães”. Ano 1, nº 8 (dezembro 1976), p. 3-4. Continuação do nº anterior.

– Carta de Paroquialidade do Padre Martinho Afonso em 1288. In O Activo. Fiães : Associação Recreio e Cultura “Os Unidos de Fiães”. Ano 1, nº 8 (dezembro 1976), p. 10.

– Género onomástico do topónimo “Vitória” (Porto). In O Activo. Fiães : Associação Recreio e Cultura “Os Unidos de Fiães”. Ano 1, nº 9 (janeiro 1977), p. 3-4. Continuação do nº anterior.

– Género onomástico do topónimo “Vitória” (Porto). In O Activo. Fiães : Associação Recreio e Cultura “Os Unidos de Fiães”. Ano 1, nº 10 (fevereiro 1977), p. 3-4. Continuação do nº anterior.

– Outra carta de Paroquialidade (para Fiães) de Diogo Esteves em 1390. In O Activo. Fiães : Associação Recreio e Cultura “Os Unidos de Fiães”. Ano 1, nº 10 (fevereiro 1977), p. 1, 9.

– A comedoria na Igreja de Fiães no século XIII. In O Activo. Fiães : Associação Recreio e Cultura “Os Unidos de Fiães”. Ano 1, nº 11 (março 1977), p. 3-4.

– Género onomástico do topónimo “Vitória” (Porto). In O Activo. Fiães : Associação Recreio e Cultura “Os Unidos de Fiães”. Ano 1, nº 12 (abril 1977), p. 5-6. Continuação do nº 10.

– A comedoria na Igreja de Fiães. In O Activo. Fiães : Associação Recreio e Cultura “Os Unidos de Fiães”. Ano 2, nº 13 (maio 1977), p. 4. Suplemento de Leitura nº 2. Continuação do nº 11

– Género onomástico do topónimo “Vitória” (Porto). In O Activo. Fiães : Associação Recreio e Cultura “Os Unidos de Fiães”. Ano 2, nº 14 (junho 1977), p. 5-6. Suplemento de Leitura nº 3. Continuação do 12.

– A comedoria na Igreja de Fiães. In O Activo. Fiães : Associação Recreio e Cultura “Os Unidos de Fiães”. Ano 2, nº 15 (julho 1977), p. 8. Suplemento de Leitura nº 4. Continuação do nº 13

– Género onomástico do topónimo “Vitória” (Porto). In O Activo. Fiães : Associação Recreio e Cultura “Os Unidos de Fiães”. Ano 2, nº 16 (agosto 1977), p. 9-10. Suplemento de Leitura nº 5. Continuação do nº 14

– Inquirições de D. Dinis sobre Fiães. In O Activo. Fiães : Associação Recreio e Cultura “Os Unidos de Fiães”. Ano 2, nº 16 (agosto 1977), p. 9-10. Suplemento de Leitura nº 5.

– A comedoria na Igreja de Fiães. In O Activo. Fiães : Associação Recreio e Cultura “Os Unidos de Fiães”. Ano 2, nº 17 (setembro 1977), p. Continuação do nº 15.

– Género onomástico do topónimo “Vitória” (Porto). In O Activo. Fiães : Associação Recreio e Cultura “Os Unidos de Fiães”. Ano 2, nº 18 (outubro 1977), p. 3-4. Continuação do nº 16.

– A comedoria na Igreja de Fiães. In O Activo. Fiães : Associação Recreio e Cultura “Os Unidos de Fiães”. Ano 2, nº 19 (novembro 1977), p. 5-6. Continuação do nº 17.

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– Género onomástico do topónimo “Vitória” (Porto). In O Activo. Fiães : Associação Recreio e Cultura “Os Unidos de Fiães”. Ano 2, nº 20 (dezembro 1977), p. 3-4. Continuação do nº 18.

– A comedoria na Igreja de Fiães. In O Activo. Fiães : Associação Recreio e Cultura “Os Unidos de Fiães”. Ano 2, nº 21 (janeiro 1978), p. 4. Continuação do nº 19.

– Género onomástico do topónimo “Vitória” (Porto). In O Activo. Fiães : Associação Recreio e Cultura “Os Unidos de Fiães”. Ano 2, nº 22 (fevereiro 1978), p. 3-4. Continuação do nº 20.

– Género onomástico do topónimo “Vitória” (Porto). In O Activo. Fiães : Associação Recreio e Cultura “Os Unidos de Fiães”. Ano 2, nº 23 (março 1978), p. 3-4. Continuação do nº anterior.

– Género onomástico do topónimo “Vitória” (Porto). In O Activo. Fiães : Associação Recreio e Cultura “Os Unidos de Fiães”. Ano 3, nº 25 (maio 1978), p. 3-4. Continuação do nº 23.

– Género onomástico do topónimo “Vitória” (Porto). In O Activo. Fiães : Associação Recreio e Cultura “Os Unidos de Fiães”. Ano 3, nº 35 (março 1979), p. 9-10. Continuação do nº 25.

Jornal Águia

- Nótulas toponímicas. I -Casaldoído (S. Jorge). In: Águia : tribuna jornalística, crítica e cultural. Santa Maria da Feira, 1985. Ano 1, nº 4 (5 abril 1985), p. 3.

- Nótulas toponímicas. II- Gaiate (Milheiros de Poiares), III - Mouquim (Romariz). In: Águia : tribuna jornalística, crítica e cultural. Santa Maria da Feira, 1985. Ano 1, nº5 (3 maio 1985), p. 3.

Jornal o Gaiense

– Aqui tem a palavra “Gervide”. In: O Gaiense. Vila Nova de Gaia. Ano 1, nº 1 (15 março 1961), p. 3.

– Vamos ao Areinho. In: O Gaiense. Vila Nova de Gaia. Ano 1, nº 8 (1 julho 1961), p. 4.

– Jorgim (Oliveira do Douro) e o culto a S. Jorge. In: O Gaiense. Vila Nova de Gaia. Ano 1, nº 22 (1 fevereiro 1962), p. 4.

– Jorgim (Oliveira do Douro) e o culto a S. Jorge. In: O Gaiense. Vila Nova de Gaia. Ano 1, nº 24 (15 março 1962), p. 4. Continuação do nº 22.

– Santa Olalha de Ulveira (Santa Eulália de Oliveira do Douro). In: O Gaiense. Vila Nova de Gaia. Ano 3, nº 59 (15 agosto 1963), p. 1, 4.

– Santa Olalha de Ulveira (Santa Eulália de Oliveira do Douro). In: O Gaiense. Vila Nova de Gaia. Ano 3, nº 60 (1 Setembro 1963), p. 3. Continuação do nº anterior.

– Santa Olalha de Ulveira (Santa Eulália de Oliveira do Douro). In: O Gaiense. Vila Nova de Gaia. Ano 3, nº 61 (15 setembro1963), p. 3. Continuação do nº anterior.

– Santa Olalha de Ulveira (Santa Eulália de Oliveira do Douro). In: O Gaiense. Vila Nova de Gaia. Ano 3, nº 62 (15 outubro 1963), p. 4.

Jornal da Lousada

- Nótulas sobre Lousada Antiga : contributo histórico do nome “Lodares” (Lousada). In: Jornal da Lousada. Ano 51, nº 3124 (21 de setembro 1957), p. 4.

- Nótulas sobre Lousada Antiga : contributo histórico do nome “Lodares” (Lousada). In: Jornal da Lousada : semanário defensor dos interesses do concelho. (16 de novembro 1957), p. 4.

- Importância histórica do toponímico Silvares (Lousada). In: Jornal da Lousada : semanário defensor dos interesses do concelho. Ano 53, nº 3261 (7 de maio 1960), p.4.

- Alvarenga. In: Jornal da Lousada : semanário defensor dos interesses do concelho. nº 3287 (5 novembro 1960), p. 4.

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Jornal Novidades. Letras e Artes

– Interpretação toponomástica de «Nojões» (Real - Castelo de Paiva). In: Novidades. Letras e Artes. Lisboa. Ano 18, nº 38 (19 dezembro 1954). p. 3-4.

– Carácter antroponímico do nome geográfi co «Nojões» (Real - Castelo de Paiva). In: Novidades. Letras e Artes. Lisboa. Ano 20, nº 14 (21 abril 1957). p. 2.

Jornal de Romariz

– Romariz já é falado em 1115. In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 21, nº 224 (abril 2002), p. 3.

– Ainda a propósito de Romariz no séc. XII . In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 21, nº 225 (maio 2002), p. 3.

– Em que época terá começado Romariz como freguesia? . In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 21, nº 226 (junho 2002), p. 3.

– Importância do padroeiro Stº Isidoro de Sevilha, para a história da freguesia de Romariz (do conc. de Stª Mª da Feira). In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 21, nº 227 (julho 2002), p. 3, 6.

– Importância do padroeiro Stº Isidoro de Sevilha, para a história da freguesia de Romariz (do conc. de Stª Mª da Feira). In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 21, nº 228 (ago. / set. 2002), p. 3-4. Continuação do número anterior.

– O nome de Romariz terá vindo da Galiza?. In Jornal de Romariz. Romariz: Associação Cultural de Romariz. Ano 21, nº 229 (outubro 2002), p. 3.

– Quantas terras há com o nome “Romariz” e suas variantes?. In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 21, nº 230 (novembro 2002), p. 3.

– A época da fundação da freguesia de Romariz e a terra

de Romariz do ano de 1059. In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 21, nº 231 (dezembro 2002), p. 3.

– Será muito antigo o nome de “Romariz”?. In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 22, nº 232 (janeiro 2002), p. 3.

– Remiremont (“Romariz” de França, o antigo “Romariz Monte”). In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 22, nº 233 (fevereiro 2003), p. 3.

– Vida de S. Romarico. In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 22, nº 234 (Março 2003), p. 4-5.

– Notas suplementares ao tema da antiguidade de Romariz. In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 22, nº 235 (abril 2003), p. 3.

– Ladainha de S. Romarico. In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 22, nº 235 (abril 2003), p. 3.

– O que signifi cará a palavra «Romariz»?. In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 22, nº 236 (maio 2003), p. 3.

– Os nomes pessoais «Romaricus» e «Fromaricus» são a mesma palavra?. In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 22, nº 237 (junho 2003), p. 3.

– Era germânico o fundador de Romariz? Suevo ou Visigodo? Viveu cá antes dos mouros ou depois?. In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 22, nº 238 (julho 2003), p. 3.

– Razão da diferença da terminação de “Romariz”, “Romarigo” e “Romarigães”. In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 22, nº 239 (ago. / set. 2003), p. 3.

– Qual o signifi cado do nome pessoal «Romaricus»? (1ª parte). In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 22, nº 240 (outubro 2003), p. 2, 5.

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– Qual o signifi cado do nome pessoal «Romaricus»? (2ª parte). In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 22, nº 241 (novembro 2003), p. 4-5.

– Em Duas Igrejas terá havido mesmo duas igrejas?. In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 22, nº 242 (dezembro 2003), p. 3, 5. Contributos para a história.

– Em Duas Igrejas terá havido mesmo duas igrejas? (2ª parte). In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 23, nº 243 (janeiro 2004), p. 3. Contributos para a história.

– O rio de Duas Igrejas – Rio Uíma. In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 23, nº 244 (fevereiro 2004), p. 3. O valor histórico dos nomes dos rios de Romariz.

– O rio de Duas Igrejas – Rio Uíma. In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 23, nº 245 (março 2004), p. 3. O valor histórico dos nomes dos rios de Romariz.

– A respeito do lugar de Goim. In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 23, nº 246 (abril 2004), p. 3. Questões históricas e linguísticas.

– A respeito do lugar de Goim . In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 23, nº 247 (maio 2004), p. 4, 5. Questões históricas e linguísticas.

– O rio de Mouquim – Rio Ul (1ª parte). In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 23, nº 248 (junho 2004), p.3. O valor histórico dos nomes dos rios de Romariz.

– O rio de Mouquim – Rio Ul (2ª parte). In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 23, nº 249 (julho 2004), p.3. O valor histórico dos nomes dos rios de Romariz.

– Antiguidade do nome do rio de Oliveira – Rio Inha (1ª parte). In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural

de Romariz. Ano 23, nº 250 (ago. / set. 2004), p. 3. O valor histórico dos nomes dos rios de Romariz.

– Antiguidade do nome do rio de Oliveira – Rio Inha (2ª parte). In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 23, nº 251 (outubro 2004), p. 3. O valor histórico dos nomes dos rios de Romariz.

– Antiguidade do nome do rio de Oliveira – Rio Inha (3ª parte). In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 23, nº 252 (novembro 2004), p. 3. O valor histórico dos nomes dos rios de Romariz.

– Fafi ão. In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 23, nº 253 (dezembro 2004), p. 3. Contributos para a nossa história.

– O antigo lugar de Branderigo em Romariz. In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 24, nº 254 (janeiro 2005), p. 3. Contributos para a nossa história.

– Contributos para a nossa história. Mouquim (de Romariz – S. Maria da Feira, Famalicão, etc.). In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 24, nº 255 (fevereiro 2005), p. 3. Contributos para a nossa história.

– Quintã (de Goim) e Vila Nova. In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 24, nº 256 (março 2005), p. 3, 6. Contributos para a nossa história.

– Ainda Santo Isidoro. In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 24, nº 257 (abril 2005), p. 3. Contributos para a nossa história.

– Reguenga. In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 24, nº 258 (maio 2005), p. 3. Contributos para a nossa história.

– Carvalhal e Oliveira. In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 24, nº 259 (junho 2005), p. 3. Contributos para a nossa história.

– O Castro de Romariz como centro de referência topográfi ca

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na Idade Média. In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 24, nº 260 (julho 2005), p. 3. Contributos para a nossa história.

– Freguesia de Romariz. Do castro e romanização até à formação de freguesias. In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 24, nº 261 (setembro 2005), p. 3. Contributos para a nossa história.

– Freguesia de Romariz. Divisão posterior da suposta «Villa» Romana (extensa) em «Villas» menores. In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 24, nº 262 (outubro 2005), p. 3. Contributos para a nossa história.

– Freguesia de Romariz. Sepultura na igreja. In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 24, nº 263 (novembro 2005), p. 3. Contributos para a nossa história.

– Freguesia de Romariz. O sino como meio de “comunicação social” na freguesia. In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 24, nº 264 (dezembro 2005), p. 1, 3.

– Freguesia de Romariz. Confraria do sub-sino. In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 24, nº 264 (dezembro 2005), p. 1, 7.

– Freguesia de Romariz. Funções judiciais da confraria do sub-sino. In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 25, nº 265 (janeiro 2006), p. 3.

– Freguesia de Romariz. Fases do uso prático dos sinos. In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 25, nº 266 (fevereiro 2006), p. 3.

– Freguesia de Romariz. Freguesias e seus fregueses. In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 25, nº 267 (março 2006), p. 3.

– Freguesia de Romariz. Sobre a mentalidade da Igreja como mãe dos fregueses (seus fi lhos). In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 25, nº 268 (abril 2006), p. 3, 6.

– Freguesia de Romariz. A Igreja, outrora Mãe (“Madre”), passou a ditadora?: o caso da missa dominical. In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 25, nº 269 (maio 2006), p. 3, 6.

– Freguesia de Romariz. A Igreja, outrora Mãe (“Madre”), passou a ditadora? : o caso da confi ssão. In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 25, nº 270 (junho 2006), p. 3.

– Freguesia de Romariz. Aspectos suplementares. In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 25, nº 271 (julho 2006), p. 3, 7.

– Paróquia (de Romariz). Questão das palavras Freguesia e Paróquia. In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 25, nº 273 (outubro 2006), p. 3.

– Paróquia (de Romariz). Relação da ideia de Vizinhança com a de Paróquia. In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 25, nº 274 (novembro 2006), p. 2, 3.

– Paróquia (de Romariz). Ainda a respeito de “vizinhos”. In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 25, nº 275 (dezembro 2006), p. 3.

– Paróquia (de Romariz).Formas Parecia e Paróquia e Diocese. In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 26, nº 276 (janeiro 2007), p. 5.

– Paróquia (de Romariz). Mentalidade religiosa que está na base da palavra paróquia. In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 26, nº 277 (fevereiro 2007), p. 3.

– Paróquia (de Romariz).Reacções religiosas do povo ao ir para a igreja da paróquia. In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 26, nº 278 (março 2007), p. 3.

– Caso dum grande culto a Santo Isidoro. In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 26, nº 279 (abril 2007), p. 3.

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– Caso dum grande culto a Santo Isidoro (2ª parte). In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 26, nº 280 (maio 2007), p. 3.

– Caso dum grande culto a Santo Isidoro (3ª parte). In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 26, nº 281 (junho 2007), p. 3.

– Muitas capelas em Romariz?. In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 26, nº 282 (julho 2007), p. 3.

– Muitas capelas em Romariz? (2ª parte). In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 26, nº 283 (setembro 2007), p. 3

– Freguesia sem Santíssimo Sacramento e convivência inter-paroquial. In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 26, nº 284 (outubro 2007), p. 3

– Freguesia sem Santíssimo Sacramento e convivência inter-paroquial (2ª parte). In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 26, nº 285 (novembro 2007), p. 3.

– Freguesia com Santíssimo Sacramento e capelas em lugares distantes. In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 26, nº 286 (dezembro 2007), p. 3.

– Valor da vara de juiz e da procissão para haver melhores caminhos. In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 27, nº 287 (janeiro 2008), p. 3.

– Lugares distantes da igreja a quererem ser freguesia. In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 27, nº 288 (fevereiro 2008), p. 3.

– Razões para haver capelas públicas mesmo em lugares próximos da igreja. In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 27, nº 289 (março 2008), p. 3.

– Popularidade das capelas. In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 27, nº 290 (abril 2008), p. 3.

– Mais razões para haver capelas públicas. In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 27, nº 291 (maio 2008), p. 3.

– Capelas particulares nos lugares e dentro da igreja. In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 27, nº 292 (junho 2008), p. 3.

– Capelas de Romariz: capela de Fafi ão. In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 27, nº 293 (julho 2008), p. 3.

– Projectos em 1860 duma escola primária inter-paroquial com sede em Romariz. In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 27, nº 294 (setembro 2008), p. 3.

– Primeiro livro de actas da Junta de Freguesia de Romariz: Capela de Goim. In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 27, nº 295 (outubro 2008), p. 3.

– Ainda a capela de Goim: o que consta no Arquivo do Bispado sobre a capela de Goim. In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 27, nº 296 (novembro 2008), p. 3.

– Visitas pastorais dos Bispados ou seus delegados a Romariz. In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 27, nº 297 (dezembro 2008), p. 3.

– Visita pastoral a Romariz a 12 de Setembro de 1715 (folhas 2-3). In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 28, nº 298 (janeiro 2009), p. 3.

– Visita pastoral a Romariz a 10-09-1716 (livro de Visitações, folhas 3 verso a 4). In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 28, nº 299 (fevereiro 2009), p. 3.

– Visita pastoral a Romariz a 20-08-1719 (livro de Visitações, folhas 4 verso até 6). In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 28, nº 300 (março 2009), p. 3.

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– Visitas pastorais a Romariz em 1721, 1723 e 1725. In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 28, nº 301 (abril 2009), p. 3.

– Visita pastoral a Romariz a 4 de Outubro de 1726 (livro de visitações, folhas 9 a 11). In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 28, nº 302 (maio 2009), p. 3.

– Ao Sr. P.e Januário, nas suas Bodas de Ouro sacerdotais. In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 28, nº 303 (junho 2009), p. 3.

– Visitas pastorais a Romariz (continuação). In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 28, nº 305 (setembro 2009), p. 3. Visita pastoral de 26-05-1729 (folha 12), Visita pastoral a 24-04-1739, Visita pastoral a 08-04-1733 (folhas 13 retro e verso), Visita pastoral a 22-09-1734 (folhas 13 verso e 14).

– Visitas pastorais a Romariz (continuação). In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 28, nº 306 (outubro 2009), p. 3. Visita pastoral de 14-06-1736 (folhas 14 verso a 15 verso), Visita pastoral a 26-06-1738 (folhas 17 a 18 verso).

– As Senhoras Mestras In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 28, nº 307 (novembro 2009), p. 3.

– Senhoras mestras e padres mestres. In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 28, nº 308 (dezembro 2009), p. 3.

– O padre-mestre Osório. In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 29, nº 309 (janeiro 2010), p. 3.

– Ainda o padre mestre Osório e outros padres mestres. In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 29, nº 310 (fevereiro 2010), p. 3.

– Outrora havia padres a mais?. In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 29, nº 311 (março 2010), p. 3.

– Contributo dos padres-mestres para o desenvolvimento do ensino primário. In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 29, nº 312 (abril 2010), p. 3.

– A banda de música de Romariz (1934/1935 – 1940/1941). In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 29, nº 313 (maio 2010), p. 3. Ciclo cultural das bandas de música

– A banda de música de Romariz. Importância das bandas musicais: o caso do pároco maestro D. Anxo Eiriz (Galiza). In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 29, nº 314 (junho 2010), p. 3. Ciclo cultural das bandas de música.

– Banda musical de Romariz: fi lha da banda do Vale e neta da de Cabeçais. In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 29, nº 315 (julho 2010), p. 3. Ciclo cultural das bandas de música.

– A banda musical de Romariz no contexto histórico da Promoção Cultural. In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 29, nº 316 (setembro 2010), p. 3. Ciclo cultural das bandas de música.

– A banda musical de Romariz no contexto histórico da Promoção Cultural. In Jornal de Romariz. Romariz : Associação Cultural de Romariz. Ano 29, nº 317 (outubro 2010), p. 3. Ciclo cultural das bandas de música.

A voz de Esmoriz

– Valor histórico da designação “Esmoriz” (Ovar). In A Voz de Esmoriz. Esmoriz : Comissão de Melhoramentos de Esmoriz. Ano 2, nº 25 (15 de agosto 1957), p. 44.

ARTIGOS EM REVISTAS

Arquivo de Ponte de Lima

– Estrutura onomástica do topónimo «Ampires» (Facha – Ponte de Lima). In Arquivo de Ponte de Lima. Ponte de Lima : Câmara Municipal. Nº 4 (1983), p. 173-176

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Arquivo do distrito de Aveiro

– Nótulas históricas sobre Pigeiros (Feira). In Arquivo do Distrito de Aveiro. Aveiro : Arquivo do Distrito. Vol. 38, nº 150 (abr. / jun.1972), p. 111-122.

Arquivo Histórico Dominicano Português

– Topónimo e orago S. Domingos em Portugal. In. Arquivo Histórico Dominicano Português. Actas do ENCONTRO SOBRE HISTÓRIA DOMINICANA, 2º, Santarém, 1982. Porto : Dominicanos. Vol. III, tomo 1 (1984), p.327-329.

Aveiro e o seu distrito

– Capela de S. Tomé em Oliveira (Vale-Feira). In Aveiro e o seu distrito. Aveiro : Junta Distrital de Aveiro. Nº 19 (1975), p. 83-103.

– Documentos históricos sobre Pigeiros – Feira: documentos inéditos post-medievais. In Aveiro e o seu distrito. Aveiro : Junta Distrital de Aveiro. Nº 31 (1983), p. 26-44.

– Documentos históricos sobre Pigeiros – Feira : documentos inéditos post-medievais. In Aveiro e o seu distrito. Aveiro : Junta Distrital de Aveiro. Nº 32 (1983), p. 9-30. Continuação do nº anterior.

Cadernos Vianenses

– A palavra “ (A)Nóbrega ” no contexto da sua problemática linguística. In Cadernos Vianenses. Viana do Castelo : Câmara Municipal. ISSN 0871-4282. Tomo 14 (1990), p. 183-202.

Humanística e Teologia

- Contexto linguístico do topónimo «Rondães» (Lamelas – S. Tirso). In Humanística e Teologia. Porto : Instituto de Ciências Humanas e Teológicas do Porto. Tomo 5, fasc. 3 (set. / dez. 1984), p. 375-378.

Lucerna

– Topónimo Minhãos (Santa Eulália – Arouca). In Lucerna.

Homenagem a D. Domingos de Pinho Brandão. Porto : Centro de Estudos Humanísticos. Nº extraordinário (1984), p. 309-316. Colectânea de estudos de homenagem a D. Domingos de Pinho Brandão.

– Tentativa de identifi cação do topónimo “Melres” (Gondomar) In Lucerna: Cadernos de Arqueologia do Centro de Estudos Humanísticos. Actas do COLÓQUIO PORTUENSE DE ARQUEOLOGIA, 6º, Porto, 1987. Porto : Centro de Estudos Humanísticos. Série 2, nº 3 (1993), p. 357 – 366.

Revista Gaya

– Problemática linguística do topónimo Brantães (Sermonde – Gaia). In Gaya: Revista do Gabinete de História e Arqueologia de Vila Nova de Gaia. Vila Nova de Gaia : Gabinete de História de Arqueologia. Vol. 2 (1984), p. 131-136.

– Nossa Senhora do Pilar em Portugal. In Gaya: Revista do Gabinete de História e Arqueologia de Vila Nova de Gaia. Vila Nova de Gaia : Gabinete de História de Arqueologia. Nº 3 (1985), p. 41-86.

– Sobre a relação onomástica do nome pessoal “Durius”com o rio “Durius”/ Douro. In Gaya: Revista do Gabinete de História e Arqueologia de Vila Nova de Gaia. Vila Nova de Gaia : Gabinete de História de Arqueologia. Nº 6 (1988-1994), p. 177-190. Actas do 1º Congresso Internacional Sobre o Rio Douro 25 de Abril a 2 de Maios de 1986

Terras entre Douro e Vouga : arquivo de estudos regionais1

– Problemas da interpretação linguística do nome do Rio Águeda . In Terras entre Douro e Vouga : arquivo de estudos regionais. Oliveira de Azeméis : Museu Regional. Tomo 5 (2002), p. 35-51.

Ulfi lanis Villa: ao serviço da defesa do património e da cultura

1 Terras entre Douro e Vouga : arquivo de estudos regionais é a revista que sucedeu à Ul-Varia

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– Documentos Medievais aparentemente relacionados com Fiães (Feira). In Ulfi lanis Villa: ao serviço da defesa do património e da cultura. Fiães : CDPAC - Comissão de Defesa do Património e Acção Cultural. Nº 2 (1988-1992), p. 13.

– Carta de nomeação de pároco para Fiães em 1390. In Ulfi lanis Villa: ao serviço da defesa do património e da cultura. Fiães : CDPAC - Comissão de Defesa do Património e Acção Cultural. Nº 3 (1993-1997), p. 36-37.

– O Rio Uíma: sobre a antiguidade linguística do Rio Ima. O tipo hidronímico “Um”. In Ulfi lanis Villa: ao serviço da defesa do património e da cultura. Fiães : CDPAC - Comissão de Defesa do Património e Acção Cultural. Nº 5 (2003-2008), p. 26-41.

– Origem do nome de Fiães: perspectiva de uma pesquisa linguística. In Ulfi lanis Villa: ao serviço da defesa do património e da cultura. Fiães : CDPAC - Comissão de Defesa do Património e Acção Cultural. Nº 4 (1998-2002), p. 19-47.

– Rio Às-Avessas. In Ulfi lanis Villa: ao serviço da defesa do património e da cultura. Fiães : CDPAC - Comissão de Defesa do Património e Acção Cultural. Nº 4 (1998/2002), p. 49-54.

– Importância dos intermediários semânticos em etimologia. In Ulfi lanis Villa: ao serviço da defesa do património e da cultura. Fiães : CDPAC - Comissão de Defesa do Património e Acção Cultural. Nº 4 (1998-2002), p. 167-170.

Ul-vária

– Subsídios para o estudo dos antropónimos femininos em -Linda, em Portugal (algumas impressões). In Ul-vária: arquivo de estudos regionais. Oliveira de Azeméis : Museu Regional de Oliveira de Azeméis. Tomo 1, nº 1-2 (1994), p. 209-243

– Rio Ul. In Ul-vária: arquivo de estudos regionais. Oliveira de Azeméis: Museu Regional de Oliveira de Azeméis. Tomo 2, nº 1-2 (1995), p. 77-90.

– O tipo hidronímico “Um-“ . In Ul-vária: arquivo de estudos regionais. Oliveira de Azeméis : Museu Regional de Oliveira de Azeméis. Tomo 3, nº 1-2 (1996), p. 77-94.

Trabalho apresentado, de forma resumida, ao 19º Congresso Internacional de Ciências Onomásticas, Aberdeen (Escócia), 1996.

– Problemas linguísticos do nome do rio Antuã . In Ul-vária: arquivo de estudos regionais. Oliveira de Azeméis : Museu Regional de Oliveira de Azeméis. Tomo 4, nº 1-2 (1998-1999), p. 29-46.

Verba

- Sobre o desenvolvimento românico dos sufi xos latinos em C. In Verba: Anuário galego de fi loloxía. Santiago de Compostela : Universidade de Santiago de Compostela. Nº 15 (1988), p. 397-401. Comunicação apresentada ao Congresso de Linguística Românica, Trier (Alemanha).

Villa da Feira: Terra de Santa Maria

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– Capela da Senhora das Necessidades em Nadais. In Villa da Feira: Terra de Santa Maria. Santa Maria da Feira : LAF – Liga dos Amigos da Feira. ISSN 1645-4480. Ano 1, nº 2 (out. 2002), cap. 1, p. 25-48.

– Capela da Senhora das Necessidades em Nadais. In Villa da Feira: Terra de Santa Maria. Santa Maria da Feira: LAF – Liga dos Amigos da Feira. ISSN 1645-4480. Ano 1, nº 3 (fev. 2003), cap. 2 e 3, p. 25-48.

– Capela da Senhora das Necessidades em Nadais. In Villa da Feira: Terra de Santa Maria. Santa Maria da Feira : LAF – Liga dos Amigos da Feira. ISSN 1645-4480. Ano 2, nº 4 (jun. 2003), cap. 4, p. 21-28.

– Capela da Senhora das Necessidades em Nadais. In Villa da Feira: Terra de Santa Maria. Santa Maria da Feira : LAF – Liga dos Amigos da Feira. ISSN 1645-4480. Ano 2, nº 5 (out. 2003), apêndice 1-3, p. 23-50.

– Nome da freguesia de Escapães I. In Villa da Feira: Terra

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de Santa Maria. Santa Maria da Feira : LAF – Liga dos Amigos da Feira. ISSN 1645-4480. Ano 2, nº 6 (fev. 2004), p. 19-26.

– Nome da freguesia de Escapães II. In Villa da Feira: Terra de Santa Maria. Santa Maria da Feira : LAF – Liga dos Amigos da Feira. ISSN 1645-4480. Ano 3, nº 7 (jun. 2004), p. 35-42.

– A propósito do aditamento ao estudo do “Tipo Hidronímico Um”. In Villa da Feira: Terra de Santa Maria. Santa Maria da Feira : LAF – Liga dos Amigos da Feira. ISSN 1645-4480. Ano 3, nº 8 (out. 2004), p. 43-45.

– Sobre a integração do rio “Odres” na linguística Indo Europeia. In Villa da Feira: Terra de Santa Maria. Santa Maria da Feira : LAF – Liga dos Amigos da Feira. ISSN 1645-4480. Ano 3, nº 9 (fev. 2005), p. 71-75.

– Considerações linguísticas sobre “Teja” (afl uente do Douro) . In Villa da Feira: Terra de Santa Maria. Santa Maria da Feira : LAF – Liga dos Amigos da Feira. ISSN 1645-4480. Ano 4, nº 10 (jun. 2005), p. 107-111.

– Apresentação do livro “A Capela da Senhora das Necessidades”. In Villa da Feira: Terra de Santa Maria. Santa Maria da Feira: LAF – Liga dos Amigos da Feira. ISSN 1645-4480. Ano 4, nº 11 (out. 2005), p. 94-96.

– Antologia prática de um devocionário tradicional popular II. In Villa da Feira: Terra de Santa Maria. Santa Maria da Feira : LAF – Liga dos Amigos da Feira. ISSN 1645-4480. Ano 4, nº 11 (out.2005), p. 103-111.

– Antologia prática de um devocionário tradicional popular II. In Villa da Feira: Terra de Santa Maria. Santa Maria da Feira : LAF – Liga dos Amigos da Feira. ISSN 1645-4480. Ano 4, nº 12 (fev. 2006), p. 93-98.

– Antologia prática de um devocionário tradicional popular II. In Villa da Feira: Terra de Santa Maria. Santa Maria da Feira : LAF – Liga dos Amigos da Feira. ISSN 1645-4480. Ano 5, nº 13 (jun. 2006), p. 105-112.

– Antologia prática de um devocionário tradicional popular. In Villa da Feira: Terra de Santa Maria. Santa Maria da Feira :

LAF – Liga dos Amigos da Feira. ISSN 1645-4480. Ano 5, nº 14 (out. 2006), p. 105-117.

– Sobre algumas perspectivas da problemática da pré-latinidade do nome “Tarouquela” (Gaia). In Villa da Feira: Terra de Santa Maria. Santa Maria da Feira: LAF – Liga dos Amigos da Feira. ISSN 1645-4480. Ano 5, nº 14 (out. 2006), p. 127-135.

– Sobre o hidrónimo “Febros”. In Villa da Feira: Terra de Santa Maria. Santa Maria da Feira : LAF – Liga dos Amigos da Feira. ISSN 1645-4480. Ano 5, nº 15 (fev. 2007), p. 103-110.

– Antologia prática de um devocionário tradicional popular : Orações da noite (individuais). In Villa da Feira: Terra de Santa Maria. Santa Maria da Feira : LAF – Liga dos Amigos da Feira. ISSN 1645-4480. Ano 5, nº 15 (fev. 2007), p. 121-142.

– Antologia prática de um devocionário tradicional popular VI. In Villa da Feira: Terra de Santa Maria. Santa Maria da Feira : LAF – Liga dos Amigos da Feira. ISSN 1645-4480. Ano 6, nº 16 (jun. 2007), p. 75-100.

– Antologia prática de um devocionário tradicional popular VII. In Villa da Feira: Terra de Santa Maria. Santa Maria da Feira : LAF – Liga dos Amigos da Feira. ISSN 1645-4480. Ano 6, nº 17 (out. 2007), p. 107-114.

– Antologia prática de um devocionário tradicional popular IV. In Villa da Feira: Terra de Santa Maria. Santa Maria da Feira : LAF – Liga dos Amigos da Feira. ISSN 1645-4480. Ano 6, nº 18 (fev. 2008), p. 113-123.

– Sobre o antigo topónimo “Merdeses” de Canelas (Gaia). In Villa da Feira: Terra de Santa Maria. Santa Maria da Feira : LAF – Liga dos Amigos da Feira. ISSN 1645-4480. Ano 6, nº 18 (fev. 2008), p. 181-183.

– Antologia prática de um devocionário tradicional popular : devoções semanais . In Villa da Feira: Terra de Santa Maria. Santa Maria da Feira : LAF – Liga dos Amigos da Feira. ISSN 1645-4480. Ano 7, nº 19 (jun. 2008), p. 145-157.

– Antologia prática de um devocionário tradicional popular

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IV. In Villa da Feira: Terra de Santa Maria. Santa Maria da Feira : LAF – Liga dos Amigos da Feira. ISSN 1645-4480. Ano 7, nº 20 (out. 2008), p. 203-214.

– Antologia prática de um devocionário tradicional popular IV. In Villa da Feira: Terra de Santa Maria. Santa Maria da Feira : LAF – Liga dos Amigos da Feira. ISSN 1645-4480. Ano 7, nº 21 (fev. 2009), p. 167-182.

– Antologia prática de um devocionário tradicional popular. In Villa da Feira: Terra de Santa Maria. Santa Maria da Feira : LAF – Liga dos Amigos da Feira. ISSN 1645-4480. Ano 8, nº 22 (jun. 2009), p. 137-152.

– Antecedentes onomásticos do topónimo Luriz. In Villa da Feira: Terra de Santa Maria. Santa Maria da Feira : LAF – Liga dos Amigos da Feira. ISSN 1645-4480. Ano 8, nº 22 (jun. 2009), p. 165-169. Topónimo Luriz (São Martinho do Campo, Valongo) e (Alpendorada e Matos, Marco de Canaveses).

– Visitações de Pigeiros (Feira). In Villa da Feira: Terra de Santa Maria. Santa Maria da Feira : LAF – Liga dos Amigos da Feira. ISSN 1645-4480. Ano 8, nº 23 (out. 2009), p. 109-123.

– Sobre o Hidrónimo “Vouga”. In Villa da Feira: Terra de Santa Maria. Santa Maria da Feira : LAF – Liga dos Amigos da Feira. ISSN 1645-4480. Ano 8, nº 24 (fev. 2010), p. 73-.

– Visitações de Pigeiros (Feira). In Villa da Feira: Terra de Santa Maria. Santa Maria da Feira : LAF – Liga dos Amigos da Feira. ISSN 1645-4480. Ano 8, nº 24 (fev. 2010), p. 77- –

Visitações de Pigeiros (Feira). In Villa da Feira: Terra de Santa Maria. Santa Maria da Feira : LAF – Liga dos Amigos da Feira. ISSN 1645-4480. Ano 9, nº 25 (jun. 2010), p. 163-.

– Visitações de Pigeiros (Feira). In Villa da Feira: Terra de Santa Maria. Santa Maria da Feira : LAF – Liga dos Amigos da Feira. ISSN 1645-4480. Ano 9, nº 26 (out. 2010), p. 127-129. – Problemática linguística dos topónimos Galaico-minhotos Mei e Meis. In Villa da Feira: Terra de Santa Maria. Santa Maria da Feira: LAF – Liga dos Amigos da Feira. ISSN 1645-4480. Ano 9, nº 26 (out. 2010), p. 175-180.

– À Memória do Sr. Padre Manuel Leão. In Villa da Feira: Terra de Santa Maria. Santa Maria da Feira : LAF – Liga dos Amigos da Feira. ISSN 1645-4480. Ano 9, nº 27 (fev. 2011), p. 29.

– Suplemento ao Estudo linguístico dos Topónimos Mei e Meis. In Villa da Feira: Terra de Santa Maria. Santa Maria da Feira : LAF – Liga dos Amigos da Feira. ISSN 1645-4480. Ano 9, nº 27 (fev. 2011), p. 223-.

– Visitações de Pigeiros (Feira). In Villa da Feira: Terra de Santa Maria. Santa Maria da Feira : LAF – Liga dos Amigos da Feira. ISSN 1645-4480. Ano 10, nº 28 (jun. 2011), p. 77.

Monografi as

– Os nomes tópicos em Ai no noroeste hispânico. Porto : Câmara Municipal, 1961. 91 p. Separata do Boletim Cultural da Câmara do Porto, nº 24, fasc. 1-2 (1961).

– Etimologia de Portugal. Porto : Câmara Municipal, 1961. 252 p. Separata do Boletim Cultural da Câmara Municipal do Porto” Vol. 24 fasc.3-4 (1961) e Vol. 25 fasc. 1-2 (1962).

– Enquadramento onomástico de «Meinedo» (Lousada). Porto, Câmara Municipal, 1963. 28 p. Separata do Boletim Cultural da Câmara do Porto, nº 26, fasc. 1-2 (1963).

– Rio Durius/Douro no quadro da sua problemática linguística. Porto : Câmara Municipal, 1966. 64 p. Separata de Documentos e Memórias para a História do Porto, vol. 37 (1966).

– Estudo Onomástico sobre alguns rios a norte e sul do Douro. Porto : Câmara Municipal, 1967. 140 p. Separata do Boletim Cultural da Câmara Municipal do Porto, Vol. 29, fasc. 3-4.

– Santa Maria de Pigeiros da Terra da Feira. Porto : Marânus, 1968. 382, [24], 14 p.

- Sobre o antropónimo vímara. Porto : Empresa Industrial Gráfi ca, 1968. p. 75-91. Separata do Boletim Cultural da Câmara Municipal do Porto, vol.31, fascs. 1-2.

– Miscelânia de Antropo-Toponímia Germânica na Galiza e

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42

Norte de Portugal. Porto : Câmara Municipal, 1969. 101 p.. Separata do Boletim Cultural da Câmara Municipal do Porto, Vol. 32, fasc. 3-4.– Paisagem toponímica da Maia. Maia : Câmara Municipal, 1969. 88 p. (Estudos Sobre a Terra da Maia ; 3)

– Hidrónimos Ictionímicos en la Hispania. [Wien: s. n., 1969]. p. 499-502. Separata do 10th International Congress of Onomastic Sciences, Viena, 1969.

– Nótulas históricas sobre Pigueiros (Feira). Aveiro, Arquivo do Distrito, 1972. 16 p. Separata de Arquivo do Distrito de Aveiro, vol. 38 (1972).

– Freguesias da Diocese do Porto. Elementos onomásticos alti-medievais. 1ª parte : introdução histórica geral. Porto : Câmara Municipal, 1973. 221 p. Separata do Boletim Cultural da Câmara Municipal do Porto. Vol. 34, fasc.1-2 (mar. / jun. 1971) e fasc.3-4 (set. / dez. 1971).

AZEVEDO, Alfredo G., co-aut. - Fermedo : aspectos da sua história. Porto, [s.n.], 1973. 239, [32] p.

CARDOSO, Nuno A. M., co-aut. – Alfena a terra e o seu povo. Cucujães : Escola Tipográfi ca das Missões, 1973. 253 p.

– Freguesias da Diocese do Porto. Elementos Onomásticos Alti-medievais. 2ª parte: inventariação onomástica (fascículo A). Porto: Câmara Municipal, 1974. 101 p. Separata do Boletim Cultural da Câmara Municipal do Porto. Vol. 35, fasc. 1-2 (mar. / jun. 1972).

– Oronymie portugaise (généralités). Sofi a : Academie Bulgare des Sciences. Centre de Linguistique et Litteratur, 1975. p. 73-75. Separata do 11th International Congress of Onomastic Sciences, Sofi a, 1972.

– Capela da Senhora dos Remédios em Romariz (Feira). Cucujães : [s. n.], 1976. 30 p.

AZEVEDO, Alfredo G., co-aut. - Origem da Capela da Abelheira, (Escariz – Arouca) : segundo a documentação escrita. Cucujães : Escola Tipográfi ca das Missões, 1976. 78 p.

– Género onomástico do topónimo “Vitória” : ensaio dum capítulo de antropo-topoíimia cristã pós medieval. Jornal Activo,

1976. 72 p. Separata fotocopiada dos artigos publicados no jornal “ O Activo” ente os anos de 1976 a 1979.

– Capela de S. Tomé em Oliveira (Vale – Feira). Águeda : Gráfi ca Ideal, 1977. 23 p. Separata de “Aveiro e o seu distrito” nº 19 (1975).

– Signifi cado etnográfi co da festa dos pardais em Pigeiros (Feira). S. João da Madeira : Controlo Gráfi co, 1978. 18 f.

– O aeronauta francês capitão Emilien Castanet em Pigeiros (Feira) em 25-3-1884. São João da Madeira : Controlo Gráfi co, 1978. [55] f.

.- L’anthroponymie chrétienne du haut Moyen Âge au nord-ouest de l’Espagne et du Portugal. Leuven (Belgium) : International Centre of Onomastics, 1978. p. 112-115. Separata do Onoma: bibliographical and information bulletin “Kongressberichte, Bern, 1975 : band III”, vol. 22 nº 1-2 (1978).

- Anthropo-toponymie chrétienne portugaise après le Moyen-Âge. p. 159-165. Separata do proc. do 13th International Congress of Onomastic Sciences, Cracóvia, 1978.

– Uma Vida à busca de Deus. São João da Madeira : [s. n.], 1980. 170 f.

– António Moreira de Azevedo : facetas da sua vida. São João da Madeira : [s. n.], 1981. 14 p.

- Documentos históricos sobre Pigueiros - Feira : documentos inéditos post-medievais. Águeda : Gráfi ca Ideal, 1983. 135 p. Separata de Aveiro e o seu Distrito, nº 31 e 32 (1983).

CARDOSO, Nuno, co-aut. ; GONÇALVES, Manuel S., co-aut. – Nossa Senhora do Amparo em Alfena (Valongo). Cucujães: Escola Tipográfi ca das Missões, [1983]. 71 p.

– A propósito do topónimo Minhãos (Santa Eulália – Arouca). Porto : Centro de Estudos Humanísticos, 1984. p. 309-316. Separata da Revista Lucerna, Porto, 1984.

– Problemática linguística do Topónimo “Brantães” (Sermonde-Gaia). Vila Nova de Gaia : Gabinete de História e Arqueologia de Vila Nova de Gaia, 1984. p. 131-136. Comunicação

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43

apresentada às Jornadas de História Local e Regional de Vila Nova de Gaia, 1983. Separata da revista “Gaya”, vol. 2 (1984).

– Freguesias da Diocese do Porto. Elementos Onomásticos Alti-medievais. 2ª parte: inventariação onomástica (fascículo B-F). Porto: Câmara Municipal, 1984. 86 p. Separata do Boletim Cultural da Câmara Municipal do Porto. 2ª Série, vol. 2 (1984).

– Nossa Senhora do Pilar em Portugal. Vila Nova de Gaia : Gabinete de História e Arqueologia, 1985. p. 41-86. Separata da revista “Gaya”, vol. 3, 1985.

– Freguesias da Diocese do Porto. Elementos Onomásticos Alti-medievais. 2ª parte: inventariação onomástica (fascículo G-O). Porto: Câmara Municipal, 1985-1986. 157 p. Separata do Boletim Cultural da Câmara Municipal do Porto. 2ª Série, vols. 3/4 (1985-1986).

– Nossa Senhora do Pilar em Portugal. Romae : Pontifícia Academia Mariana Internationalis, 1986. p. 307-348. Separata de “Acta Congressus Mariologici-Mariani Internationalis, Caesaraugustae, 1979 - De Cultu Mariano Saeculo. XVI”, vol.7, 1986.

- Questões linguísticas a propósito do topónimo “Tropeço”. Arouca : Câmara Municipal de Arouca, 1987. 8 p. Separata de “Actas das 1ª Jornadas de História e Arqueologia do Concelho de Arouca, 1986” organizadas pela Câmara Municipal e pelo Centro de Arqueologia de Arouca.

- Freguesias da diocese do Porto. Elementos onomásticos alti-medievais. O concelho de Gaia. Vila Nova de Gaia : Câmara Municipal, Gabinete de História e Arqueologia, 1987. 143 p. (Documentos Sobre Vila Nova de Gaia ; 5)

– Freguesias da Diocese do Porto. Elementos Onomásticos Alti-medievais. 2ª parte: inventariação onomástica (fascículo P). Porto: Câmara Municipal, 1987-1988. 53 p. Separata do Boletim Cultural da Câmara Municipal do Porto. 2ª Série, vols. 5/6 (1987-1988).

- Sobre o desenvolvimento românico dos sufi xos latinos em C.[ 1988?]. p. 397-401. Trabalho, não publicado, apresentado ao Congresso de Linguística Românica realizado em Trier

(Alemanha). Separata de “Verba - Anuário Galego de Filoloxía”, vol. 15, 1988.

– Freguesias da Diocese do Porto. Elementos Onomásticos Alti-medievais 2ª parte: inventariação onomástica (fascículo R-V). Porto: Câmara Municipal, 1989-1989. 117 p. Separata do Boletim Cultural da Câmara Municipal do Porto. 2ª Série, vols. 7/8 (1989-1990).

- Sobre a arcaicidade do hidrónimo «Este» ( Braga). Braga: Universidade Católica Portuguesa ; Cabido Metropolitano e Primacial de Braga, 1990. p. 611-635. Separata de “Actas do 9º Centenário da Dedicação da Sé de Braga : Congresso Internacional”, vol. 1, 1990.

- Livros de Visitações I e II de Pigeiros (Feira) : 1769-1873. Pigeiros : [s.n.], 1990. 274 p.

- A palavra «(A)Nóbrega» no contexto da sua problemática linguística. Viana do Castelo, Câmara Municipal de Viana do Castelo, 1991. p. 183-202. Separata de “Cadernos Vianenses”, Tomo 14, 1990.

- Tendência da interpretação aglutinante ou sufi xal em etimologia românica. A Coruña: Fundación Pedro Barrié de la Maza, Conde de Fenosa, 1992. p. 201-205. Separata das ”Actas do 19º Congreso Internacional de Lingüística e Filoloxía Românicas, Universidade de Santiago de Compostela, 1989”, vol. 2, publidadas por Ramón Lorenzo.

– A propósito da toponímia germânica (esboço provisório de duas considerações). Santiago de Compostela: Instituto de Estudios Galegos “Padre Sarmiento”; Museu do Pobo Galego; Universidade de Santiago de Compostela, 1992. p. 399-404. Separata das “Actas de Encontro Científi co en Homenaxe a Fermín Bouza Brey (1901-1973) “Galicia, da romanidade á xermanizació n : problemas históricos e culturais”.

CARDOSO, Nuno A. M., co-aut. ; AIDO, Domingos Jorge do, co-aut. – Centro Pastoral Nossa Senhora da Paz - em Alfena. Alfena: Edição da Paróquia, 1993 (Cucujães : Tipografi a das Missões). 165 p.

– Subsidio par ao estudo dos antropónimos femininos em -Linda, em Portugal (algumas impressões). Oliveira de Azeméis : Museu Regional, 1994. p. 209-243. Separata da

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revista “Ul-Vária”, tomo 1, nº 1-2 (1994).

– Sobre a relação onomástica do nome pessoal “Durius” com o rio “Durios”/ Douro. Vila Nova de Gaia : Gabinete de História e Arqueologia, 1994. p. 177-190. Separata da “Revista Gaya”, nº 6 (1988-1994).

– Rio Ul. Oliveira de Azeméis : Museu Regional, 1995. p. 77-90. Separata da revista “Ul-Vária”, tomo 2, nº 1-2 (1995).

– O tipo hidronímico «Um-».Oliveira de Azeméis : Museu Regional, 1996. p. 77-94. Separata da revista “Ul-Vária”, tomo 3, nº 1-2 (1996).

– Antiguidade linguística do nome do rio” Leça” (algumas perspectivas). Alfena : Paróquia de Alfena, 1996. Separata fotocopiada do livro “Casa Museu Idalina e Aurora Matos”.

– Problemas linguísticos do nome do Rio Antuã. Oliveira de Azeméis, 1998-1999. p. 29-46. Separata da revista “Ul-Vária”, tomo 4, nº 1-2 (1998-1999).

– Piedade popular e catolicismo ( algumas perspectivas de confronto). Lisboa : Terramar ; Centro de História da Cultura, 1999. p. 365-370. Separata das Actas do Colóquio Internacional “Piedade Popular: sociabilidades, representações, espiritualidades.

– Perspectivas para a interpretação linguística do hidrónimo “inha”. Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 1999. p. 107-119. Separata de “Carlos Alberto Ferreira de Almeida : In Memorian ”, vol. 2 (1999).

– Problemas da interpretação linguística do nome do rio Águeda. Oliveira de Azeméis, 2002. p. 35-51. Separata da revista Terras de Entre Douro e Vouga, tomo 5 (2002).

– A respecto del hidrónimo ourensano Arnoia. A Coruña: Fundación Pedro Barrié de la Maza, 2002. p. 325-329 .Separata das Actas do 20º Congresso Internacional de Ciências Onomásticas, Santiago de Compostela, 1999.

– Capela da Senhora das Necessidades : Nadais (Escapães). Santa Maria da Feira : LAF - Liga dos Amigos da Feira, 2003. 107 p. (Santamariana).Separata da revista Villa da Feira nº 2 a 5.

AZEVEDO, Alfredo G., co-aut. - Origem da Capela da Abelheira (Escariz – Arouca). Arouca: Associação de Defesa do Património Arouquense, 2003. Vol.2, 64 p. 972-9474-42-7.

Contribuição em Monografi as

TRADUÇÕES, TEXTOS E OUTRAS COMUNICAÇÕES PUBLICADAS E APRESENTADAS EM COLÓQUIOS, CONGRESSOS, ENCONTROS, JORNADAS, ETC.

– Rio Durius /Douro no quadro da sua problemática linguística. O rio e o mar na vida da cidade. Porto : Câmara Municipal, 1966. p. 51-110. (Documentos e Memórias para a História do Porto; 37). Exposição documental realizada na tradicional Casa do Infante e promovida pela Câmara Municipal do Porto, por intermédio do Gabinete de História da cidade, para assinalar a inauguração da Ponte da Arrábida.

– O elemento onomástico Rinus na Antropo-toponímia Galego-Portuguesa. In COLÓQUIO GALAICO-MINHOTO, 1º, Ponte de Lima, 1981 - Actas. Ponte de Lima : Associação Cultural Galaico-Minhota, [1981?]. Vol. 2, p. 9-16.

– Notas de toponímia galaico-minhota. In COLÓQUIO GALAICO-MINHOTO, 2º, Santiago de Compostela, 1984 – Actas. Ponte de Lima : Instituto Cultural Galaico-Minhoto, 1985. Vol. 2, p. 387-398.

– Senhora do Pilar em Portugal. In. De cultu Mariano saeculo XVI . Acta CONGRESSUS MARIOLOGICI-MARIANI INTERNATIONALIS, Caesaraugustae (i.é Saragoça), 1979. Romae : Pontifi cia Academia Mariana Internationalis, 1986.Vol. 7, p. 307-348. “De cultu Mariano apud varias nationes saec. XVI”.

– Questões linguísticas a propósito do topónimo “Tropeço”. In JORNADAS DE HISTÓRIA E ARQUEOLOGIA DO CONCELHO DE AROUCA, 1ª, Arouca, 1986 - Actas. Arouca : Câmara Municipal ; Centro de Arqueologia, 1987. p. 101-105. ISBN 972-95492-2-2.

– Contexto linguístico indo-europeu do prenome do épico português. In OS PORTUGUESES E O MUNDO : CONFERÊNCIA INTERNACIONAL, Porto, 1985. Porto : Fundação Engenheiro António de Almeida, 1988-1989. Vol. 3, p. 57-73. Língua Portuguesa.

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– Sobre o tipo onomástico do topónimo “Gondinhã” (Paços de Gaiolo). In JORNADAS DE ESTUDO DE MARCO DE CANAVESES, 1ª e 2ª, Marco de Canaveses, 1988-1989 – Antropologia Cultural, Linguística e Literatura. Vol. 1. Marco de Canaveses : Câmara Municipal, 1992. p. 199-201.

– Problemas linguísticos sobre o topónimo “Cense”. In JORNADAS CULTURAIS DE VILA DAS AVES, 4ª e 5ª, Vila das Aves, [1990-1991?]. Vila das Aves : Padre Fernando de Azevedo Abreu, D.L.1992. p. 67-90.

– A propósito da toponímia germânica (esboço provisório de duas considerações). ENCONTRO CIENTÍFICO EN HOMENAXE A FERMÍN BOUZA BREY (1901-1973), Santiago de Compostela, 1992 - Galicia, da romanidade á xermanizació n : problemas históricos e culturais: Actas. Santiago de Compostela : Instituto de Estudios Galegos “P. Sarmiento”; Museo do Pobo Galego; Universidade de Santiago de Compostela, 1993. p 399-404. ISBN 84-88508-01-8.

– Introdução à estratigrafi a linguística dos hidrónimos do tipo Lim-, Lem- e Leim-. In COLÓQUIO GALAICO-MINHOTO, 3º, Viana do Castelo, 1985 - Actas. Viana do Castelo : Câmara Municipal de Viana do Castelo, 1994. Vol. 2, p. 479-492.

– Ainda o topónimo Cense da Vila das Aves». In JORNADAS CULTURAIS DE VILA DAS AVES, 8ª, Vila das Aves, 1994. Vila das Aves: Fábrica da Igreja de São Miguel das Aves, 1995. P. 175-177.

– Antiguidade linguística do nome do rio” Leça”(algumas perspectivas). Alfena olha o teu museu :”Casa Museu Idalina e Aurora Matos”. Alfena : Paróquia de Alfena, 1996, p.106-121.

– Ainda o topónimo “Cense” (Vila das Aves). In JORNADAS CULTURAIS DE VILA DAS AVES, 9ª, Vila das Aves, 1995. Vila das Aves: Fábrica da Igreja de São Miguel das Aves, 1996 p. 271-272. Nota adicional não publicada nas oitavas Jornadas.

– Antecedentes onomásticos do topónimo Luriz – S. Martinho do Campo – Valongo e Alpendorada e Matos (Marco de Canaveses). Marco histórico e cultural: actas de eventos

Marcoenses (1988-1998). Marco de Canaveses : Câmara Municipal de Marco de Canaveses, 1998. p. 69-74. ISBN 972-95492-4-9.

– Piedade popular e catolicismo (algumas perspectivas de confronto). In COLÓQUIO INTERNACIONAL PIEDADE POPULAR “SOCIABILIDADES, REPRESENTAÇÕES, ESPIRITUALIDADES”, Lisboa, 1998 - Actas. Lisboa : Terramar, 1999. ISBN 972-710-253-0. p. 365-370.

– Imitação de Maria; tradução de Domingos A. Moreira. Cucujães : Editorial Missões, 2000. 243 p.

– Onomástica religiosa. Dicionário de História Religiosa de Portugal ; Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa ; direcção de Carlos Moreira Azevedo. Lisboa : Círculo de Leitores, 2001. Vol. 3 (J-P), p. 322-323.

– Oragos paroquiais portugueses. Dicionário de História Religiosa de Portugal; Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa ; direcção de Carlos Moreira Azevedo. Lisboa : Círculo de Leitores, 2001. Vol. 3 (J-P), p. 325-328.

– Alguns aspectos metodológicos no estudo da hidronímia portuguesa. In: CONGRESSO SOBRE A DIOCESE DO PORTO “TEMPOS E LUGARES DE MEMÓRIA”, 1º, Porto e Arouca, 1998 - Actas. Porto: Centro de Estudos D. Domingos de Pinho Brandão, [etc.], 2002. Vol. 2, p. 11-18. 972-8157-11-8. Homenagem a D. Domingos de Pinho Brandão.

– A respecto del hidrónimo ourensano Arnoia. In CONGRESSO INTERNACIONAL DE CIÊNCIAS ONOMÁSTICAS, 20º, Santiago de Compostela, 1999 – Actas. A Coruña: Fundación Pedro Barrié de la Maza, 2002. p. 325-328. (Biblioteca Filolóxica Galega. Instituto da Língua Galega). 84-9752-014-9. Separata fotocopiada.

– Isidoro de Sevilha, santo - Infelicidade e esperança ; tradução de Domingos A. Moreira. Cucujães : Editorial Missões, 2003. 171 p.

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Padre Domingos Azevedo Moreira

08-04-1933 - Romariz - 10-01-2011

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Alfredo Henriques, Padre Domingos e Cândido Dias dos Santos.

Com o condíscipulo Cândido Augusto Dias dos Santos. Janeiro de 2011 em casa do sobrinho Senhor José Magalhães.

Presidente da Junta de Pigeiros, Presidente da Câmara, Abade de Pigeiros e Prof. Doutor Cândido dos Santos.

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Padre Domingos e a sobrinha Fátima Magalhães.

Padre Domingos e Valdemar Vidal, o condutor, seguro e dedicado, por terras da Galiza e Portugal.

Padre Domingos e o Director da Villa da Feira.

Túmulo do Padre Domingos Azevedo Moreira no Cemitério Paroquial de Pigeiros.

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50 “LIRICAMENTE SONHO”Ilda Maria*

Eu gosto de sonhar, liricamente,

No bucolismo livre de quem sonha

Como um rastro d’estrela incandescente,

Como um poema breve que componha,

Como uma chama leve que se acabe

Ao sopro duma brisa não distante,

Num grandioso sonho que não cabe

Neste bocado d’alma palpitante!

Liricamente sonho ao som dos ninhos,

Ouvindo o chilrear dos passarinhos,

Das andorinhas soltas pelo espaço,

Liricamente sonho com um mundo

Tão cheio dos meus nadas, tão fecundo,

Tão breve que o alcanço a cada passo!*Poeta Faleceu em 20/07/1981

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51 Padre Domingos A. Moreira, uma enciclopédia viva da história regional

Samuel Bastos Oliveira*

Com a morte do Padre Domingos Azevedo Moreira, no dia 10 de Janeiro deste ano, silenciou-se inexoravelmente uma enciclopédia viva da fi lologia e da história das Terras do Concelho de Santa Maria da Feira e da Diocese do Porto e eu perdi para sempre um grande amigo da juventude e o companheiro mais sábio e experto nas investigações históricas, que, algumas vezes, com ele partilhei. Éramos muito jovens, quando nos conhecemos, nos bancos dos Seminários do Porto, na década de 40. Depois esta relação de colegas da mesma escola evoluiu para uma verdadeira amizade pelo gosto comum pelas línguas clássicas e pela história e também, porque a freguesia, em que eu residia, em férias, era vizinha da sua terra, Romariz, freguesia inseparável do bondoso e simpático Padre M. Fernandes dos Santos, que, várias vezes, nos mostrou, embevecido, peças que salvara do crasto da sua paróquia e nos ofereceu a monografi a da sua autoria “A minha Terra – Breves Apontamentos sobre Romariz”, cuja leitura provocou em ambos o febricitar duma incipiente paixão pela história das nossas terras. Ainda conservo, um tanto gasta de lida e relida, essa obra, editada em 1940, que foi o nosso primeiro

contágio com essa febre “sui generis” chamada investigação histórica. Desde então, enlaçávamos os estudos secundários com frequentes consultas de publicações sobre as nossas freguesias, nas bibliotecas do Seminário e na da Vila da Feira, nesses tempos, um tanto desorganizada, ali perto da Câmara Municipal. O Domingos que, no dizer dum jornal da Região «na escola primária se revelara um estudante distinto e aplicado com qualidades de inteligência excepcionais e com provas de uma perfeição e esmero que causavam admiração e despeito aos seus camaradas», no Seminário continuou a afi rmar-se um aluno muito inteligente, de comportamento exemplar e com elevadas classifi cações académicas. No início da década de 50, o destino separou-nos: eu segui a carreira civil, ingressando na Universidade e o Domingos continuou, fi el à sua vocação, na caminhada para o sacerdócio. Reencontrámo-nos, em 24 de Agosto de 1958, na sua Missa Nova, para a qual fui convidado como antigo condiscípulo e amigo e simultaneamente como presidente da Assembleia Geral da Banda Musical de Fajões, que, à tarde, o foi saudar com seus acordes, acompanhada pelo regente, o seu familiar, Maximino Moreira de Azevedo. Com sua fi xação na freguesia de Pigeiros, como pároco, em 1961, o Padre Domingos Moreira passou a dedicar-se

*Historiador. Investigador.

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com mais assiduidade e paixão à investigação histórica e a nossa relação tornou-se mais estreita e frequente. Várias vezes, partilhámos transporte e refeições nas idas de consulta a arquivos e bibliotecas do País. Várias vezes, fui carinhosamente recebido na sua residência, onde trocámos impressões e tive oportunidade de ver o seu enorme acervo de obras, actas de comunicações e de congressos e manuscritos raros dispersos pelas divisões do 1.º andar, rico espólio cultural que me confi denciou ter intenção de doar à Freguesia e ao Concelho da Feira. Com o tempo, o Padre Domingos alargou o âmbito das suas investigações a arquivos, conventos e universidades de Espanha, Itália, concretamente do Vaticano, e de outros países da Europa e América, dos quais obtém cópia de raridades históricas que serviram de fundamento a muitas das suas investigações e profundos trabalhos e obras de valor irrefutável. Com essas fontes de arquivos nacionais e internacionais e conhecedor das línguas clássicas, românicas e germânicas, e dos antigos idiomas do assírio, fenício, hebraico, aramaico, árabe e do egípcio antigo, a que recorre nos seus estudos, o Padre Domingos tornou-se uma autoridade em estudos linguísticos e fi lológicos. Frequentemente é consultado por fi guras de renome mundial nas linguísticas e nas ciências históricas, com quem frequentemente se corresponde. É convidado para congressos nacionais e internacionais e as comunicações, que neles faz, são consideradas de grande mérito e até inovadoras pelos mais consagrados especialistas mundiais. A fama do seu valor como historiador, investigador e mestre de gramática comparativa de várias línguas transpôs as fronteiras de Pigeiros, pelo que passou a ser procurado, na sua paróquia, por estudantes e investigadores para sugestão de temas e/ou fontes para monografi as e teses de doutoramento. Com uma simplicidade encantadora partilha conhecimentos, por amor ao próximo. A todos recebe atenciosamente e sugere pistas, dá sugestões, indica fontes e autores de especialidade a consultar. Igualmente, com toda a disponibilidade e prazer de ser útil, coopera e coordena monografi as de várias freguesias, a solicitação dos autores que reconhecem a probidade e vastidão da cultura histórica do Padre Domingos. E apesar do absorvente trabalho de consultor de tanta gente, das lides da investigação e de pastor de Pigeiros, ainda

arranjou tempo para enriquecer o património nacional com a publicação de várias obras, a saber: Santa Maria de Pigeiros – da Terra da Feira, editada em 1968; Nótulas Históricas sobre Pigeiros (Feira), Separata do Arq. Dist. de Aveiro, em 1972; Freguesias da Diocese do Porto (Elementos Onomásticos Alti–Medievais), obra valiosíssima começada a publicar, em 1973, que anota as fontes históricas de todas as freguesias da Diocese do Porto, desde as suas origens até ao séc. XVI e aponta as monografi as modernas, se existentes; Fermedo – Aspectos da sua História, em colaboração com Alfredo G. Azevedo, em 1973; Origem da Capela da Abelheira, Escariz e Arouca, Segundo a Documentação escrita, em 1976; António Moreira de Azevedo – Facetas da Sua Vida, em 1981; Origem da Capela da Abelheira, Escariz, Arouca, em 2003. Além destas obras, publicou diversos artigos de fi lologia sobre os rios Antuã, Ul, Inha, Uima, Vouga e outros trabalhos de natureza diversa em jornais, na revista do Museu Regional de Oliveira de Azeméis e nesta revista “Villa da Feira” de que foi colaborador, desde a sua fundação. Mas os trabalhos de maior folgo científi co e que lhe granjearam merecida celebridade foram as suas comunicações de vária natureza a congressos nacionais e estrangeiros onde inter pares se afi rmou um conceituado especialista na fi lologia e nas ciências históricas, prestigiando a sua Igreja, a sua terra de Pigeiros e a cultura portuguesa. Foi pena, muito pena que a morte tão cedo tenha interrompido as investigações e fecundo labor do Padre Domingos Moreira, de quem havia muito ainda a esperar. É também para lamentar que, perante a sua obra e o mérito, que especialistas lhe reconhecem, é muito para lamentar – repito – que, numa sociedade em que não abundam os valores culturais autênticos, nenhum Instituto Superior, nem a Universidade Portuguesa, incluída a Universidade Católica, lhe tenha confi ado uma cátedra para leccionar na área da sua investigação e muito saber! Sempre me roeu muito, cá no fundo do coração, esta indiferença ou antipatia das escolas superiores com o Padre Domingos, postura tomada ou consentida pelos directores. E assim entre vales e montes, numa freguesia bucólica,

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entre gente humilde, não se incentivou e deixou perder-se a sumidade das linguísticas e da história regional que era o saudoso Padre Domingos Moreira. E interrogo-me se não terá sido por ser a modéstia e simplicidade em pessoa e não ser doutorado, nem pertencer às «capelinhas» de escritores e literatos. Com a morte do Padre Domingos Moreira, a Diocese do Porto perdeu o sacerdote mais insigne e reconhecido em Portugal e além fronteiras pelo seu saber e paixão pelas ciências históricas. Por sua vez, a freguesia de Pigeiros, que teve o invejável privilégio de viver e conviver diariamente com este seu pároco humilde, mas gigante da cultura histórica, sofreu uma perda irreparável, ao apagar-se a iluminária e o expoente máximo da Freguesia que elevou de terra modesta à mais conhecida e visitada das Terras do Concelho de Santa Maria da Feira por

estudantes e investigadores nacionais e estrangeiros. O brio e a gratidão das autoridades e do povo de Pigeiros jamais poderão esquecer o Padre Domingos Moreira que, durante 50 anos, foi seu orientador espiritual e devotado pároco e, em ocasião oportuna, saberão homenagear publicamente e imortalizar essa fi gura grande da Igreja Portucalense e da Cultura Portuguesa. Nós que, desde a juventude, convivemos com o Padre Domingos guardamos dele uma indelével e grata memória, feita de profunda saudade do velho amigo e confrade das Letras e de respeitosa vénia ao incansável e probo investigador da linguística e da história local e regional.

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54 Minhas LembrançasH. Veiga de Macedo*

Minhas lembranças são balões descoloridosQue vão chegando pouco a pouco, calmos, lentos.Caem em meu regaço impelidos por ventos:- Por ventos mortos, das raízes renascidos.

Minhas lembranças são navios soerguidosDo fundo mar em que jaziam, sonolentos,E que de novo põem velhos sentimentosA navegar por sobre as águas, desprendidos.

Minhas lembranças são gaivotas libertadas, Vindas de muito longe em bando, às revoadas, Agora que se me avizinha a despedida.

- São asas, são, as brancas asas da saudade, A segredarem-me em acenos de verdadeTer bem valido a pena ter vivido a vida.

Foz do Douro, 22-07-1988 * Poeta. Foi Ministro de Portugal.Faleceu em 25-01-2005

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55 Visión breve do padre Domingos

Hernando Martínez Chantada*

Corpo enxoito, pel engurrada, testa coroada de nívea cabeleira, fonda e doce mirada fi ltrada por lentes interpostas. Un corpo con poucas carnes apreixando un espírito rexo e vigoroso… Estou a falar do párroco de Pigeiros, o padre Domingos A. Moreira: clérigo singular, ávido investigador, eminente fi lólogo e mestre erudito. O meu trato co padre Domingos ven xa de anos. Tivo a orixe na súa antiga amizade co señor cura de Campañó-Pontevedra, D. Antonio Rodríguez Fraiz (que en paz descanse), ilustre investigador da nosa historia. E serviu de ponte a miña persoal relación co padre Fernando C. Gonçalves, de Milheirós de Poiares. O padre Domingos deume a saber as súas investigacións e temos intercambiado impresións persoais e datos históricos.Práceme moito a nosa mutua colaboración e agradezo ao sumo as súas importantes axudas en temas fi lolóxicos. (Ven ser unha casualidade que os ríos das nosas respectivas freguesías teñan o mesmo nome: Umia). A personalidade do padre Domingos tenme causado unha singular impresión, tanto polo seu modo de ser propio como pola súa capacidade científi ca e douta erudición. Trátase dunha persoa senlleira, entendendo que é moi pouco común e digna

de chamar a atención sobre si. Ademais de vivir a súa persoal vocación relixiosa (da que non quero entender aquí), sente unha moi forte inclinación natural pola investigación científi ca, particularmente no eido da fi loloxía histórica. A súa erudición convérteo nun auténtico dicionario vivente. Ven sendo coma un frasco que concentra aromáticas esencias científi cas que se liberan ao destapalo. Hai que saber escoitalo… Para unha semellanza do padre Domingos venme sempre á mente a fi gura do santo Ero de Armenteira, aquel frade que estivo trasposto tres centos anos, do que da fe o rei Afonso X nas Cantigas de Santa María. O santo Ero estivo nese tempo nunha dimensión intemporal en procura de que Santa María lle dese a comprender o sentido da vida perdurábel no paraíso, aquilo de “in vitam aeternam per omnia saecula saeculorum”. Así tamén o padre Domingos vive trasposto por mor da sabedoría. Os seus saberes transcenden á súa aparencia física e a súa conversa irradia unha aura permanente da súa riqueza intelectual. O santo Ero, despois de volver en si, non foi recoñecido polos freires que habitaban daquela o seu convento e tivo que seguir a vivir en situación anacrónica, fóra do seu propio tempo. Isto pásanos tamén a moitos de nós debido aos acelerados avances tecnolóxicos da actualidade. Sentímonos como persoas doutra época, para as que as novas tecnoloxías, aínda que convenientes, nos causan incomodidade. Coido que o padre Domingos vive tamén en certa anacronía, tal vez

*Mestre em linguística. Ribadumia-Pontevedra.

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moi pouco recoñecido polos seus coetáneos e empregando no seu traballo intelectual usos e instrumentos que son máis ben propios de épocas xa pasadas. Conservo con moito cariño os seus apuntes e notas manuscritas de gran interese etnográfi co… Nas biografías dos seres humanos sempre se mesturan as luces e as sombras. Na descrición da fi gura e carácter do padre Domingos (no que respecta á súa dimensión intelectual) poderiamos sinalar algunhas carencias debidas ás circunstancias persoais en que se desenvolveu o seu frutífero labor. Pola miña condición de docente atrévome a sinalar que boto en falta o “traballo de equipo”, que potenciaría os resultados das súas investigacións, e boto tamén de menos unha mellor didáctica expositiva e maior claridade e simplifi cación dos seus escritos, que facilitarían a súa comprensión. Os traballos do padre Domingos precisan dun axente vulgarizador que os faga facilmente accesibles ao común da xente… Estas consideracións sobre a persoa do padre Domingos A. Moreira non teñen outra pretensión que render homenaxe de honra a un amigo. Prézome da súa amizade e congratúlome de coñecelo, tratalo e poder aproveitar os seus coñecementos. Sabedor das doenzas físicas que padece, desexo (como lle teño dito) que non ande pola vida con tanta presa, que acougue un pouco e viva con maior intensidade o presente, que goce tamén da vida terreal.

En vésperas do pasado Nadal recibín con agrado no meu domicilio unha brevísima visita do padre Domingos, acompañado de dous amigos. Tróuxome un suplemento da súa investigación sobre os topónimos Mei e Meis, no que ambos estamos a traballar. Recordoume o compromiso de lle facilitar un libro sobre as festas de Galicia (aínda sen publicar) no que está moi interesado e pediume de ver a posibilidade de lle conseguir fotocopia da Vita Christi de Ludolfo de Saxonia, na súa edición en latín. O seu acompañante D. Celestino Portela comprometeume a lle mandar un bosquexo biográfi co do noso común amigo. A esa encomenda responde este escrito.

Na noite do pasado 11 de xaneiro o padre Fernando C. Gonçalves deume notifi cación do pasamento nese esmo día do padre Domingos (que Deus teña acollido e descanse en paz). Por mor dunha doenza persoal que me tivo hospitalizado, aínda non enviara o encargo ao señor D. Celestino Portela. A pesar das circunstancias da defunción do admirado amigo, acordei non cambiar o que sobre el xa tiña escrito. E mira por onde o meu bosquexo biográfi co parcial se pode converter en necroloxía, entendendo por tal a nota biográfi ca dunha persoa notábel morta hai pouco tempo.

Ribadumia, xaneiro de 2011

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57 Testemunho de um amigo

António Machado*

1.Desde os fi nais do Ano 2009 tive o privilégio de acompanhar muito de perto o Reverendo Amigo Padre Domingos de Azevedo Moreira, digníssimo Abade de Santa Maria de Pigeiros que o seria quase por 50 anos. Tarde o conheci, melhor tive o privilégio de o conhecer pertinho, dando por desperdiçado os cerca de 27 anos que o conhecia desde a minha chegada à hoje Vila termal de Caldas de São Jorge a 8 de Janeiro de 1984. Entretanto durante os mais de 27 anos que me encontro em Caldas de São Jorge fui tomando conhecimento e consciência da sua excelente pessoa e inconfundível personalidade, elevada cultura e invejável sabedoria. “Ele que era rico (em sabedoria, cultura, ciência) fez-se pobre para conquistar para Cristo! Da sua rica pobreza enriqueceu a muitos da miséria!” Tão tarde o conheci e se mais cedo o soubesse muito mais o teria estimado. E estimei.

2. À medida que me foi dada a oportunidade de conhecer a sua identidade e personalidade, da sua obra e exemplaridade existencial subiu vertiginosamente a graduação e a estima na minha mente e minha alma a mais elevada consideração.

Soube que o Reverendo Padre Domingos esteve em Caldas de São Jorge de 1978-1978, durante seis meses, não reconhecidos, não estimados, não prezados, subestimados e redutoramente avaliado e do que tenho muita pena! Entretanto o mesmo exercia o seu ministério docente no Externato Castilho seguidamente no Liceu, São João da Madeira, onde o Grego, Latim, Educação Moral e Religiosa Católica eram a vertente e o vector educacional, somando os seus proventos fi nanceiros merecidos aos redutos contributos da sua actividade pastoral, tanto em Pigeiros, como mais tarde Admnistrador de Guisande e ainda concomitantemente na continuidade da paroquialidade de Pigeiros que por um triz o era a quase por 50 anos. Paira na mente, no espírito, memória das suas gentes e na minha aquela fi sionomia franzina, simples, simpática, sorridente, sábia e mesmo não tendo “transporte próprio” (viatura), recorria à boleia depois de ter posto de parte a sua “chibinha” (para outros reca) que o fez cair na estrada da Galga, Pigeiros, deixando medalhas e condecorações na testa e resto do corpo para não falar da roupa estragada e que depois foi encostada defi nitivamente para o inferno da sucata. Foi bem feito. Não é assim que se trata o Senhor Doutor, um Sacerdote, um Sábio, um Pastor!

3. Então é vê-lo à boleia feito pendura de camionistas, em cima de motoreta, de viaturas de particulares de condutores

*Abade da Vila Termal de Caldas de São Jorge e de Cristo Rei da Vergada.

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simpáticos e simpatizantes, passageiro de lugar cativo da Feirense e da Rodoviária Nacional. As Bibliotecas, Arquivos, Universidades, tanto Distritais como Nacionais têm agora os olhos arregalados e embasbacados por não o verem percorrer as suas estantes, escrivaninhas e arquivos! O mesmo reclamam as montras e as Livrarias, Editoras do Porto, de Braga, de Santiago de Compostela, os alfarrabistas e tantas outras.

4. E então é vê-lo desde Oliveira do Douro em 1961 até ao presente a investigar, a escrever, publicar obras e trabalhos da sua vasta e extensa bibliografi a publicada e esparsa. De tudo o que foi publicado estava na sua mente a próxima publicação da “Imitação dos Anjos” de Santo Isidoro de Sevilha e a Vita Christi de Ludolfo da Saxónia. Só o não fez porque não houve tempo do tempo que era preciso. Precisava dos livros do mesmo título e autor em Latim que o não conseguiu e não lhe foi incivilmente dispensado mas conseguido no dia do seu falecimento e no dia seguinte via internet pdf de Toronto do Canadá! A Imitação de Maria a levou consigo, mas não teve tempo de levar a Imitação dos Anjos e da Vida de Cristo em Português. Mas tanto uma como outra fi cam para a próxima e para os mais corajosos, cumpridores e admiradores.

4. Todavia, a partir dos fi nais de 2009, não sei se por casualidade, empatia e simpatia me aproximei desta personalidade simples, ímpar, singular, histórica. Famosas foram as idas à Universidade de Compostela, a Ribadumia, Vigo, Tuy, fora as restantes saídas solicitadas e provocadas como a Paredes de Coura, Caminha, Ponte de Lima, Punhe (Barroselas – Mesa dos Quatro Abades), Vila do Conde, Póvoa do Varzim, Braga, Guimarães, Coimbra, Lisboa, Vale de Cambra, Arouca, Famalicão, Lorvão, Penacova e tantas outras localidades. Não fi cou esquecido o Marco dos Quatro Concelhos e quatro presidentes a seguir a Rebordelo, juntando Santa Maria da Feira, Gondomar, Castelo de Paiva e Arouca.

5. De realçar a sua esplendorosa e agradável presença como companhia de viagem sempre falante, diálogo sobre qualquer assunto desde o mais sério, pungente, ao mais anedótico e hilariante! Impecável. Nas suas viagens nunca pedia para parar e comer. E se o fazia era rápido e frugal. Então para caminhar e andar a pé era

preciso o acompanhante estugar o passo. Aceitava tudo o que lhe davam e ofereciam e apresentava sempre a sua frase e dito tão simpático e agradecido:”a miséria agradecida reconhece tão prestimosa dádiva e oferta! Deus lhe pague!”

6. De referir a sua pressa em estar a tempo e horas nas paróquias em detrimento de viajar cedo, de madrugada, para “castigo“ do condutor de deitada tardia e de ter de madrugar cedo. Mas vá lá, valeu a pena. Tanta coisa havia a dizer a este respeito, mas fi ca para ulteriores escritos e menções.

7. Interessantes os encontros matutinos no Café Forno Quente fronteiro à Igreja Matriz de Pigeiros onde todas as manhãs se encontrava aproveitando estrategicamente o espaço logístico, quentinho e panorâmico que a residência Paroquial lhe roubava, e os seus livros o espaço lhe retiravam. Mas não tinha mal; eram os seus amigos a que o gatinho amarelo vigiava. Aí no café tudo resolvia: as homilias, as pregações, saídas e visitas de estudo, etc. Das várias vezes que lá o encontrei houve duas inglórias. A primeira em que caiu nos degraus das escadas da Residência onde partiu a testa, amachucou o nariz e se estilhaçaram os óculos. Mas tudo se resolveu rapidamente com o concerto tanto da cabeça como dos óculos. A segunda em que o procurei e não encontrei, pois tinha sido hospitalizada de passagem em São Sebastião, seguindo de imediato para um outro Hospital de São Teotónio em Viseu onde esteve uma data de dias. Entretanto regressou a São Sebastião, que em visita inolvidável de amigos me confi denciou que esteve cinco dias do lado de lá, coma induzido. Pedi-lhe para escrever o que lá viu. Riu-se, nunca disse nada, nem escreveu. Parece que isso é usual em todos os que passam por essa situação…

8. Após o regresso hospitalar, foi simpática e carinhosamente, defi nitivamente acolhido pela sua sobrinha Maria de Fátima de Pinho Moreira Magalhães e Marido José Magalhães e os três jovens segundos sobrinhos. Um exemplo acolhedor de solicitude, cuidado, zelo para com um sacerdote sábio, simpático, de exígua e reduzida exigência que lhe era historicamente conhecida e peculiar. Em ampla sala polivalente de largas vistas panorâmicas

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para os campos e matos fronteiros a perderem-se nos horizontes de fl oresta de pinheiros, eucaliptos característicos, sentia-se livre como o pardal ou como o peixe na água na contemplação franciscana da natureza e do meio ambiente e como ermitão feliz, alegre no seu ermitério. Lá recebia as visitas, as mais diversas: de gente simples, ilustres da cultura, da arte de bem investigar e escrever, superiores e colegas eclesiásticos.

9. Solícito pastor preocupava-o a comunidade de Pigeiros. Guisande já era de mais, muita tarefa para a sua já frágil pessoa, entretanto ao cuidado do jovem, dinâmico, simpático Vigário, digo Arcipreste, o Reverendo Padre José Carlos Ribeiro Teixeira. Os fi éis não fi caram sem a Quarta-Feira de Cinzas, Domingo de Ramos, Semana Santa, Páscoa, etc. pelo mesmo dinamizadas. A Pigeiros e a Guisande nada faltou.

10. Entretanto os dias passaram-se uns atrás dos outros sempre na expectativa do nosso grande amigo melhorar e recuperar. À Missa diária não falta enquanto pôde e teve forças, as possíveis. Nas últimas possíveis celebrações dos dias 8 e 9 de Janeiro já se propunha audazmente celebrá-las em cadeira de rodas conduzindo-o ao altar com trajecto e logística incondicionado para receber e aceitar um celebrante nestas condições. Restando apenas de seguida o projecto no pensamento, sem ter passado ao papel e concretização. Foi a nega da técnica, da estratégia, da logística em conjunto com a debilidade que o impediram. Mas não tem mal, diria o mesmo se tivesse tempo do tempo para o dizer de mansinho.

11. Fica para a história todo este tempo, meses, dias e horas desde a Páscoa até ao dia 10 de Janeiro pelas 9.30 horas. Onde não faltaram “as corridas e investidas”a Guimarães (e o impecável e simpático Dr. Padre Hilário de São Lourenço de Selho), a Caminha, Paredes de Coura, Ponte do Lima (e as famosas Bandas de Música Minhotas!!), Braga (dos Arcebispos, dos Santos e do engano!), de Vila do Conde, de Póvoa do Varzim, Beiriz, Coimbra, Lorvão, Penacova, Famalicão, Requião, etc. Como consequência de tantas voltas o Scenic (coitado!) ainda apanhou umas focinhadas de incautos na retaguarda, de seguida recuperadas. 12. Mas desde que foi notado o seu estado grave de saúde

não houve que pôr mais entraves a recusas e a omissões; e foi então seguir o ritmo dos seus pedidos e intenções: por duas vezes visitas e audiências com o grande Historiador José Matoso, Carvoeiro, Sever do Vouga. Idas ao Porto às livrarias, montras e quiosques. Particularmente importante a do dia 4 de Janeiro onde nenhuma das livrarias da baixa do Portuense, suas preferidas, foram esquecidas e com novos carregamentos de livros. E as difi culdades denotadas das suas deslocações. Mas tudo correu bem! À chegada à Igreja Matriz de Pigeiros, ao fi m da tarde do mesmo dia lá estavam os seus dois preferenciais amigos, sábios e estimados: Dr. Cândido Santos e Dr. Celestino Sá e Portela. Assunto: É necessária e urgente a sua bibliografi a. Entretanto na Igreja se iniciava a Eucaristia desse dia de terça-feira presidida pelo seu pastor. Foi a última pois as pernas já não o ajudavam. “A cabeça pede para andar para a frente mas pernas fi cam para trás.”

13 . Mas faltava a próxima e que seria a última viagem e saída. Era precisamente a Coimbra (faculdade de Letras), Lorvão, Penacova, Famalicão e Requião. O dia tinha de dar para tudo. Partida projectada para cedo mas foi mais tarde pelas 9.30 horas. “ Mas vai haver tempo para tudo”? Perguntou. Vai haver e ainda sobrar. Sobrou pouco. Chegados a Coimbra procurou-se saber da abertura dos serviços da Universidade, o que foi afi rmativo. E toca a andar, mas é o andas. Nem um passo. Não tem mal. Da mala saiu uma prévia e inesperada cadeira de rodas qual brinquedo prestou excelente e adequado meio de transporte e deslocação pelos corredores, átrios e biblioteca da Universidade. É mesmo jeitoso! Disse.

14. Terminada a visita a Coimbra, segue-se rumo ao Convento de Lorvão, Penacova onde se adquiriram livros de importância primacial como o Opúsculo da Irmandade e Confraria da Senhora da Boa Morte, que lhe serviu de referência na elaboração do seu generoso e bem-intencionado testamento. E agora para onde é que se vai? Pode-se ir a Requião, Famalicão? Sim, pode-se ir? Sim. Vamos lá. E lá fomos. O pior foi encontrar a Rua do Convento e

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o penedo que assinalava a entrada da mesma. Mas lá se conseguiu! Chegou-se à Casa das Irmãs da Editora Boa Nova. Era já fora de horas. Noite escura. Não havia nada para ninguém. Eis senão quando saíram ao portão quatro jovens noviças puxando um carrinho de duas rodas de pneu que transportava lixo ou lá que fosse. Foram o nosso anjo da guarda. Trouxeram até nós as Irmãs. E tudo se resolveu.

Trouxeram mais livros: uns comprados, outros oferecidos. Pretendia-se saber se poderiam publicar A Imitação dos Anjos de Santo Isidoro de Sevilha. E talvez fosse abertura de futuras publicações de outros, quiçá até a Vita Christi de Ludolfo da Saxónia em Português…

15 . Logo de seguida o regresso à Reguenga em Romariz pelas 20.00 horas. Era dia 5 de Janeiro, tradicional Véspera de Reis. Veio o dia 6, 7, 8 e 9 Janeiro e a saúde do corpo franzino e débil não se compadece. Domingo, 9 de Janeiro, um Domingo como qualquer outro, só que não pôde celebrar a Santa Missa de que tanto gostava e que adorava celebrar. Durante todo o Domingo recebeu visitas, inclusive elaborou o seu exemplar Testamento. Veio a noite e a madrugada de segunda-feira de desconforto físico e, pelas 9.30 horas, as forças fraquejaram, cabendo a missão ao transcritor deste testemunho e narrativa. Depois de avisado, apresentar-se para administrar a Santa Unção, bênção apostólica acender a luzinha do círio da despedida, fecho do olhar, cerrar da boquinha da partida deste mundo para o Auspicioso e Bem-aventurado Além. Paz a quem tanto por ela trabalhou durante a sua Vida! “Combati o bom combate, acabei a minha carreira, guardei a fé (2Tm 4:7).” “Sendo rico (no amor, na graça, exemplo e sabedoria), fi z-me pobre, para os pobres enriquecer com a minha pobreza (riqueza da alma e do espírito).” Eu próprio sou o presente de quem me acolher. “Não vim ensinar os homens a ter, mas a ser, porque quanto mais despojada é a vida humana, maior é aos olhos do Criador.”

Com o Abade da Vila Termal.

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* Natural de Milheirós de Poiares. Professor. Historiador.

Padre Domingos A. Moreira

Manuel Joaquim S. Conceição*

Após doença prolongada, faleceu o Padre Domingos A. Moreira, uma grande fi gura da Igreja e da História. Conheci-o como colega no exercício de funções docentes no Liceu Nacional de São João da Madeira/ Escola Secundária João da Silva Correia e como exímio investigador, com quem conversei inúmeras vezes. Por isso, não posso deixar de testemunhar algumas das suas invulgares qualidades e evocar agradáveis acontecimentos. Como colega, para além dum porte irrepreensível, era duma humildade espantosa, muito afável no trato, acolhedor e sempre pronto a dar resposta às diversas solicitações. Geria habilmente as suas intervenções e silêncios. Poucos colegas se apercebiam do seu real valor. De facto, para uma grande parte, ele era simplesmente o professor de Religião e Moral. Mas, uma vez, o Padre Domingos surpreendeu e surpreendeu duplamente, primeiro porque aceitou o convite para o almoço anual dos professores da escola, contrariamente ao habitual, segundo porque, no fi nal do almoço, ofereceu a cada um dos colegas presentes um dos seus livros intitulado Freguesias da Diocese do Porto ELEMENTOS ONOMÁSTICOS ALTI-MEDIEVAIS, I PARTE, uma das suas notáveis obras. Conversávamos com alguma frequência sobre os colóquios

em que participava quer no país, quer no estrangeiro, sobre as viagens que fazia, sobretudo a Espanha, onde se deslocava com muita frequência, para estar a par das últimas novidades escritas das matérias de seu interesse ou para encontros com outros estudiosos e conhecidos. Como eu morava muito próximo de Pigeiros, várias vezes me fez companhia, no regresso a casa, quando havia coincidência nos nossos horários. Às vezes, oferecia-me livros da sua autoria ou coautoria, como FERMEDO Aspectos da sua história e NOSSA SENHORA DO AMPARO EM ALFEMA (VALONGO).Também me foi presenteando com fotocópias de pesquisas que ia dando à luz, tais como: CONTEXTO LINGUÍSTICO INDOEUROPEU DO PRENOME DO ÉPICO PORTUGUÊS; INTRODUÇÃO À ESTRATIGRAFIA LINGUÍSTICA DOS HIDRÓNIMOS DO TIPO LIM-, LEM- E LEIM-; O TIPO HIDRONÍMICO «UM-»; A PROPÓSITO DO ADITAMENTO AO ESTUDO DO «TIPO HIDRONÍMICO UM-»; OBSERVAÇÕES TOPONÍMICAS; RIO UL; ANTIGUIDADE LINGUÍSTICA do Nome do Rio “Leça”; ORIGEM DO NOME DE FIÃES/ PERSPECTIVA DE UMA PESQUISA LINGUÍSTICA, etc... Após a sua aposentação como professor, continuei a encontrar-me com o Padre Domingos e a contar com a sua disponibilidade, sobretudo, em visitas de estudo, que realizava com os meus alunos, a lugares com vestígios da civilização romana, no âmbito da disciplina de Latim, que o ouviam com muito interesse e entusiasmo.

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A paróquia à qual consagrou a sua vida estimava-o muito. Não havia incompatibilidades com os paroquianos, pelo contrário, era claro que o Padre Domingos era muito respeitado, amado e querido dos seus fregueses. Não tinha telefone, não usava telemóvel nem possuía automóvel. Decididamente o consumismo não encontrou no Padre Domingos um aliado, muito pelo contrário, vivia na humilde casa paroquial rodeado de estantes e caixas de cartão repletas de livros, recortes de jornais, revistas e fotocópias. Várias vezes estive em sua casa, várias vezes me mostrou a sua rica e rara biblioteca e uma espécie de fi cheiro temático onde registava os livros, os capítulos, as páginas específi cas de cada assunto bem como o número da caixa respectiva. Tudo muito bem organizado. Numa caixa conservava bem acondicionados os livros da escola primária. Noutra, guardava objectos pessoais, lembranças, documentos, algumas poucas fotografi as, que coleccionara ao longo da sua vida. Noutras guardava verdadeiras obras de arte, réplicas de livros antigos manuscritos, sobretudo, espanhóis, com lindas iluminuras, decorados a ouro e prata, tal como os originais que se guardam nas bibliotecas. A história da sua vida estava toda ali espelhada naquelas caixas de cartão. Vivia para os livros e para os paroquianos. Como não tinha automóvel, usava transportes públicos e de amigos que se ofereciam, que reconheciam o seu valor,

nas idas aos congressos e colóquios em que participava quer em Portugal quer noutros países da Europa, sobretudo, em Espanha. Muitas vezes veio a minha casa para consultar a Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, o que era para mim uma grande satisfação, pois aproveitávamos também para pormos as conversas em dia. Ele tinha outras enciclopédias que punha à minha disposição para consulta quando eu precisasse. Várias vezes o transportei a Coimbra e a outros lugares mais próximos. Era uma companhia agradável, pelas suas conversas, pelos conhecimentos de história universal, europeia, nacional e local, às vezes, salpicada de delicada ironia. Não resisto a recontar uma das suas histórias, verídica. Envolve três personalidades notáveis da

época, incluindo ele próprio. De facto, uma ilustre fi gura académica de Coimbra, a propósito dum estudo que o Padre Domingos lhe apresentara para apreciação, escreveu-lhe dizendo secamente que esse estudo pecava por falta de bibliografi a. O mesmo estudo fora também apresentado e apreciado pelo insigne Joseph Piel, que, pelo contrário, o elogiou muito, mais, considerou-o tão convincente que ele próprio, Joseph Piel, aceitou a interpretação do Padre Domingos em detrimento da sua, mudando de opinião sobre a questão em causa! Li com muito interesse os livros ou artigos do Padre Domingos, para além dos já referidos e dos publicados por esta revista, a saber: SANTA MARIA DE PIGEIROS DA TERRA DA FEIRA e PAISAGEM TOPONÍMICA DA MAIA. O Padre Domingos, pelo exemplo e pela obra, “libertou-se da lei da morte”, de acordo com o conceito de imortalidade expresso por Marco Túlio Cícero no seu discurso intitulado Pro Archia. Termino transcrevendo uma expressão gravada numa pedra tumular do tempo dos romanos por ele descoberta no muro que circunda o adro da igreja de Pigeiros e nesta conservada: S[IT] T[IBI] T[ERRA] L[EVIS].

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In Memoriam P.e Domingos Azevedo Moreira

Frei Acaribe*

Mais do que uma adjectivação que possamos fazer sobre o P.e Domingos A. Moreira, eu penso que a realidade dos factos nos fala mais alto e profundamente para nos elucidar sobre quem foi este Homem da Igreja e da Cultura.

A – O Homem da Igreja: - Certo dia, o (ao tempo) Administrador Apostólico da Diocese do Porto, D. Florentino de Andrade e Silva, ilustre feirense de saudosa memória, chamou-me à sua presença e disse-me: “Sei que Sr. acompanha muito com o Padre de Pigeiros. O Sr. não será capaz de descobrir, usando da maior discrição, o motivo pelo qual ele não responde a um convite que lhe dirigi? Estou informado de que ele é um perito em Liturgia e História da Liturgia. Convidei-o para fazer uma palestra sobre esses assuntos no Salão Nobre da Biblioteca do Seminário Maior do Porto e até ao presente (já lá vão algumas semanas) não me respondeu. Veja se consegue descobrir o motivo do seu silêncio.” Passados alguns dias, em viagem para a Universidade de

Coimbra, o P.e Domingos começa a falar sobre as razões da existência das lamparinas do SS.mo Sacramento, das velas nas Igrejas e das opas nas procissões de Festas e Funerais etc.Aproveitei logo a oportunidade: - “Ó Domingos, tu não recebeste um convite do D. Florentino para dares uma conferência, no Seminário do Porto, sobre Liturgia?” Resposta pronta: - “Recebi.” - E por que não respondeste?.. - Não respondi porque, para dizer o que eu sei e penso, ele não iria gostar; para dizer o que ele queria e que os assistentes ouvissem, eu iria trair os meus conhecimentos e o meu pensamento. Por isso entendi que o melhor era ignorar o convite. Mas isto fi ca entre nós. Ouviste? Estava tudo dito. O P.e Domingos foi fi el a si próprio e às suas convicções e conhecimentos, sem ferir o seu Bispo nem trair a sua fi delidade à hierarquia.

B – O Homem da Cultura: - Quando publicou o seu trabalho Etimologia de “PORTUGAL e que teve a amabilidade de oferecer-me, ofereceu igualmente um exemplar ao célebre Prof. de Filologia Clássica, Doutor Joseph M. Piel, alemão. Passados alguns dias aparece em minha casa todo radiante com uma carta desse Professor: -“Olha. Lê o que diz o Dr. Piel.

*Professor. Historiador.

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Depois dos habituais agradecimentos pela oferta e considerações sobre o conteúdo da obra, acrescentava: “… Perante o que acabo de ler, só me resta exclamar como Camões: [Cesse tudo o que a antiga musa canta / que outro valor mais alto se levanta]. O elogio não podia ser maior. Esse grande fi lólogo, na sua modéstia (são assim os grandes Homens) reconhecia que tinha sido ultrapassado pelo Domingos A. Moreira.

E na realidade, quem conhece e possui quase todas as publicações do P.e Domingos e com ele percorreu quilómetros e quilómetros em deslocações à Torre do Tombo, a Bibliotecas públicas e particulares; de Universidades e de Institutos; de Arquivos distritais e paroquiais etc, na pesquisa de documentos inéditos ou ignorados, é que pode afi rmar com verdade que o P.e Domingos foi o Homem de Deus dedicado ao Povo que lhe foi confi ado pelo seu Bispo, e o Homem da Cultura, sobretudo em Liturgia, (estudo sobre o modo de viver as celebrações religiosas); Filologia Clássica, (estudo sobre a etimologia das palavras); Toponímia, (estudo sobre a origem do nome de terras, (lugares, aldeias, cidades etc); Hidronímia (estudo sobre a origem dos nomes de rios e riachos) e sobre Monografi as.

Ainda o Concílio Vaticano II não tinha começado e já o Padre Domingos “profetizava” muitas das mudanças que vieram a operar-se. Ultimamente uma das suas preocupações era a Comunhão na mão. Por a + b + c ele defendia a tese de que a Comunhão deve ser na boca (língua) e não na mão. Penso, pelo menos que eu tenha conhecimento, que não chegou a escrever nada sobre este assunto. No entanto, acreditava que os responsáveis da Igreja não demorarão a abolir esta prática recente, sobretudo por causa do respeito que é devido a tão Augusto Sacramento e evitar a simulação de comungar, não comungando por motivos inconfessáveis, que ele revelou ao autor deste “IN MEMORIAM” e que de muitos sacerdotes e até de alguns leigos são conhecidos.

Não era homem de grandes reverências ou adulações. Mas a sua honestidade, honradez, dedicação e amizade aliadas à sua grande humildade faziam dele o homem estimado, venerado e desejado por quantos a ele acorriam para resolver

difi culdades a que só ele era capaz de dar solução. Do Clero da Diocese do Porto e até de outras dioceses será difícil encontrar algum sacerdote com tanta simplicidade, humildade e, porque não, santidade. Dos muitíssimos livros que eu conhecia da sua biblioteca não faltavam os de espiritualidade que ele lia, meditava e comentava com alguns dos colegas no Sacerdócio. E por isso, e por tudo mais, é que o Padre Domingos foi Luz colocada sobre o candelabro que alumiava e continuará a alumiar através da sua obra e foi Sal que salgou e continuará a salgar; que nunca foi lançado fora e, muito menos pisado pelos homens. A sua obra aqui fi ca na Biblioteca da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira e em Pigeiros para continuar a alumiar e a salgar os que a ela queiram recorrer. Em síntese: podemos afi rmar, sem receio de ser desmentidos, que o Domingos A. Moreira, ou Abade de Pigeiros, como também era conhecido, foi o homem que se esqueceu de si para viver apenas para os outros. Que Deus lhe conceda, com a alegria e a paz eternas, a paga que muitos não tiveram a honradez de lhe dar.

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65Ele foi o intermediário e elo de ligação entre o entrevistador e o sábio. Depois da conversa preparatória e da perplexidade inicial entrámos em casa… O sábio da Linguística convidou-nos para uma manjar de sabedoria antes do almoço. À minha volta vi dezenas de caixas de papelão e estantes carregadas com o peso de livros. Naquele local, estavam os fundamentos da sua vasta obra literária, com predomínio para a toponímia, distinguindo-se a recolha das fontes para a origem dos nomes das freguesias da Diocese do Porto. Dedicou-se também aos nomes dos rios e colaborou em monografi as de várias terras. Ao longo da entrevista fi quei a saber que anos e anos de investigação do padre Domingos Azevedo tiveram como base as fotocópias de documentos do início da nacionalidade que as caixas continham. O mistério das caixas foi desvendado…Apesar da sua fonética acelerada, a conversa demorou cerca de duas horas… As «vocações» do padre Domingos Azevedo na primeira pessoa.

Luis Filipe Santos (LFS) – Como nasceu a vocação para a área da Filologia?

Pe. Domingos Azevedo Moreira (DAM) – Comecei com várias coisas (Filologia ou Linguística, Arqueologia, História e Etnografi a) em simultâneo. Depois tive de deixar algumas…

Padre Domingos Azevedo Moreira: o eremita da linguística

Luis Filipe Santos*

«Ponho-me na semente como abelha que procura o pólen. Ponho-me na esfera celeste de uma criança que se senta no chão» Daniel Faria, «Dos Líquidos»

Aquela manhã solarenga dos fi nais de Julho de 2009 convidava para tudo, menos para uma entrevista sobre a seiva conceptual. Recordo a insegurança – a preparação da aula foi escassa – para as explicações do «avô» Domingos ao «neto» Luís. Depois de dois toques na campainha da casa contígua à Igreja de Pigeiros (Santa Maria da Feira, diocese do Porto), apareceu uma pessoa diferente daquela que tinha visualizado no imaginário. Estávamos em pleno Ano Sacerdotal e o Padre Domingos Azevedo Moreira fazia parte do rol dos sacerdotes a entrevistar para a Agência ECCLESIA. Coloquei a batuta da orquestra em D. Carlos Azevedo, familiar do «apaixonado» pela Filologia…

* Jornalista.

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Em relação à Filologia, tudo começou no curso fi losófi co, mas depois desenvolvi o gosto no Seminário da Sé e consegui «meter a cisma» a outro colega (Carlos Alberto Ferreira de Almeida) do meu curso. Faleceu num acidente… Chegou a ser professor na Universidade do Porto e também pároco.

LFS – Os professores despertavam para essa vertente do conhecimento?

DAM – Infl uência negativa não tiveram, mas não estavam

muito despertos para essa área. Recordo que tive um professor de Latim (padre Elísio dos Santos) e perguntei-lhe se conhecia alguma gramática histórica do Latim. Na resposta tive como «receita» a tradução dos conteúdos das aulas. No entanto, por «linhas e travessas» comecei a comprar livros nesta área. Como os professores citavam com frequência o doutor Leite de Vasconcelos, resolvi ler alguns textos dele. Passei a ler também a Revista de Filologia da Faculdade de Letras de Coimbra e artigos do linguista Joseph Piel…

Com Dom Carlos Moreira Azevedo.

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tudo? Tive como resposta: «Estou há anos na Faculdade, mas nunca apareceu ninguém que lesse a documentação toda. Apenas umas senhoras leram as inquirições de D. Dinis».

LFS – Numa das suas primeiras investigações – publicada no Boletim Cultural da Câmara do Porto – divergia das soluções de Joseph Piel. No entanto tornaram-se amigos?

DAM – Foi um episódio engraçado. Depois de fazer o trabalho mostrei-o ao Paiva Boléo, de Coimbra. Posteriormente, ganhei coragem e enviei-o ao professor Piel. Passado algum tempo, ele respondeu-me – tenho aí as cartas dele – dizendo: «Concordo com muitas rectifi cações que faz aos meus trabalhos, mas com uma ou outra não estou de acordo». Fui até Lisboa. Aí, – depois de um telefonema para a embaixada – disseram-me que ele tinha saído para S. Martinho do Porto. Apanhei um autocarro para essa localidade. Após a chegada,

LFS – Este linguista alemão foi o seu mestre e mentor nesta área.

DAM – Em relação às obras, o professor Piel teve bastante infl uência, mas foi, sobretudo, Leite de Vasconcelos. Aprendemos com uns e com outros porque apareciam metodologias novas na área da Linguística. Quanto ao professor Piel – na altura estava na Universidade de Lisboa, mas esteve em Coimbra muitos anos –, mais tarde, facilitou-me a biblioteca que tinha. Emprestou-me muitos livros. Um dia disse-me: «Foi por ser a si que lhe emprestei o Dicionário de Grego – de nomes próprios gregos – porque nem aos meus colegas da Universidade empresto». Como este campo de estudo tem tantos ramos, enveredei para um certo sector: Linguística Onomástica (que é sobretudo Toponímia e Antroponímia), embora tenha uma ideia também das outras áreas. Nesta área temos de dominar Geografi a Linguística e Documentação Histórica… Como tinha de basear-me em dados reais – e muita documentação portuguesa está inédita – tive de ler (na Faculdade de Letras de Coimbra) muitas fotocópias de documentos do século XI e XII.

LFS – Frequentava também o Arquivo Nacional da Torre do Tombo?

DAM – Aí, fui menos vezes. A Faculdade de Letras de Coimbra tinha muita documentação. Lia e, às vezes, deixavam-me trazer as fotocópias para casa. Estava lá o doutor Avelino da Costa. Em dois anos, li o «arsenal» todo de fotocópias do Instituto de Paleografi a desta Faculdade.

LFS – Ao concederem-lhe essa benesse (empréstimo das fotocópias) era sinal de credibilidade nesta área?

DAM – Eles não deviam emprestar, visto que as fotocópias eram para assuntos internos da Faculdade, mas como era conhecido do doutor Avelino da Costa e do Salvador Dias Arnaut… Eles confi avam. A Faculdade tem documentação importantíssima. Até ao século XIII (incluindo informações sobre os mosteiros da Galiza) têm tudo em fotocópias. Um dia, perguntei ao senhor Mateus (contínuo da Faculdade) se alguém já tinha lido aquilo

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de padre – disseram: “deve ser aquele que procura o doutor Piel”.

LFS – Outra coincidência…

DAM – É verdade. Encontrei-me com ele e falámos sobre alguns assuntos. Passado algum tempo, ele foi para uma universidade alemã – estive em casa dele na Alemanha – e, posteriormente, passámos a trocar correspondência.

LFS – Quer dizer que o padre Domingos é um autodidacta. Nunca teve acções de formação nesta área científi ca?

perguntei numa pensão se tinha alojamento para outro dia e contei que andava à procura do doutor Piel. Na recepção, transmitiram-me: «ele vem sempre para nossa casa». Não o conhecia pessoalmente…

LFS – Grande coincidência «bater na porta certa» daquela estância balnear.

DAM – Verdade. A senhora telefonou para umas pessoas conhecidas e disseram-lhe: “Ele anda por aí”. Estava em casa do doutor Mário Brandão. Fui dar uma volta e apareceram o Conde de Rio Maior e o Marquês de Azinhaga – da família de Teresa de Saldanha – e quando me viram – andava com roupa

Consultando os manuscritos...

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ligação ao aspecto cronológico. Recordo-me de um caso que andou nos jornais com o «célebre» padre Mário. Ele dizia que Nossa Senhora da Piedade era uma «coisa» do paganismo greco-romano. Pensei que isso era tudo aéreo… Os cultos de Nossa Senhora da Piedade e de Nossa Senhora da Anunciação são posteriores ao século XV porque, antes, era tudo Santa Maria. Cronologicamente, isto não liga com a época greco-romana. É fogo-de-artifício para quem não conhece a realidade.

LFS – Os seus trabalhos de pesquisa têm sido aproveitados por outros investigadores?

DAM – Sou autodidacta. Li e aprendi com muitos autores franceses e alemães. Através da prática, aprendemos com a observação e com determinados critérios.

LFS – Mas há métodos específi cos.

DAM – Temos de obedecer a certas normas. O método comparativo exige, em primeiro lugar, o método histórico e geográfi co. Tem de ter exemplos paralelos… outros casos, onde aconteceu o mesmo fenómeno. No entanto, tem de ser localizado na mesma zona geográfi ca. Não podemos comparar um dado de Portugal com o Japão, a não ser que se prove que existiram contactos culturais. Importa considerar ainda a

Junto dos seus livros...

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mas não diz as páginas onde eles estão. Tinha algumas falhas e pensei fazer algo de similar para a diocese do Porto. É um catálogo de nomes, mas não trata de assuntos históricos.

LFS – Contabilizando essa investigação, dava quantos milhares de horas?

DAM – Não sei porque isso é muito complicado (risos) … É tudo feitos aos bocados… Começamos a ler um cartulário… enfi m são coisas bastante difíceis. Existem casos raros e difíceis.

DAM – As pessoas consultam… Sou citado em obras de Espanha. LFS – E a nível nacional?

DAM – Aparecem pessoas que são enviadas por professores da Faculdade de Letras do Porto. Algumas freguesias da diocese do Porto mudaram de nome. Por exemplo: Santa Maria de Manhouce, actualmente é Santa Maria de Arrifana. Ninguém diz que é de Manhouce…Precisei de aprofundar esta área. Uma vez, ao consultar uma obra do doutor Avelino sobre as freguesias do Alto Minho notei que cita os documentos,

Sempre manuscritos...

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Junto da macieira entre a Igreja residência.

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Com casos raros é mais difícil… Às vezes, o doutor Piel dava-me os parabéns pelas minhas descobertas.

LFS – Com essas descobertas exclama, frequentemente, «Eureka»?

DAM – Sinto uma certa satisfação (risos). Conto-lhe outro caso. Uma vez, fui a Alfena… Ou melhor, fui lá muitas vezes porque o pároco pediu-me para fazer a monografi a da localidade. Disse-lhe: «o meu trabalho é de gabinete e deve ser uma pessoa daí a fazer esse trabalho. Se me aparecesse uma designação local, não sabia a posição do sítio. Às vezes,

LFS – Existem muitos casos desses?

DAM – Existe uma freguesia em Viana do Castelo – Deocriste. Esse caso foi extremamente complicado. Não encontramos a expressão «Deus-Cristo» nos textos. Não vemos esse duplo. Isto é estranho. Ao consultar uma documentação galega do Convento do Sobrado – a norte de Santiago – as testemunhas num diploma do século X citavam «deocristo». Era um nome raro para uma pessoa. No século VII, na cidade de Salamanca havia um bispo chamado «Teocristo». Na forma latina é «Deos» e na forma grega é «Teo».

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mão – por onde me oriento. A informática chegou muito tarde. Só a fazer estes catálogos, «gastei» dois anos.

LFS – Nunca lhe aconteceu estar nas suas investigações e esquecer-se de uma tarefa pastoral?

DAM – Normalmente, não esqueço as tarefas agendadas. Tenho celebração de manhã ou à tarde.

LFS – Prolonga a sua noite até altas horas da madrugada?

DAM – De noite nunca trabalho para não prejudicar a vista com a iluminação artifi cial.

LFS – Então levanta-se cedo?

DAM – Pelas cinco e meia. O mais tardar seis. Com a idade durmo menos tempo. A idade, à medida que avança, faz-nos dormir menos. Aos Domingos ou aos Sábados aparece por aqui o doutor Cândido Santos – leccionou na Faculdade do Porto – e passeamos um pouco.

LFS – Que tipo de conversas têm dois investigadores?

DAM – Falamos mais de assuntos de carácter eclesiástico. Ele vive noutro nível. Como estou aqui, não sei o que se passa com os bispos das várias dioceses. Recentemente, aproveitámos e fomos ver o túmulo do doutor Xavier Coutinho, no cemitério de Pinheiro da Bemposta.

LFS – Para além deste hobby – apesar de ocupar muito do seu tempo – tem outras actividades paralelas?

DAM – Nos últimos tempos, tenho estado a fazer um catálogo – para me orientar – sobre as tendências que existem na religião. Tendências existentes no século XIX com o liberalismo e que agora estão, novamente, a afl orar. Refl exões de aspectos gerais para enquadrar ideias. Como estamos numa época de crise – até de nível religioso – gosto de confrontar ideias. Do actual Papa, tenho bastantes livros… Ainda não os tenho todos. Recentemente, de Espanha, enviaram-me um

o mesmo local tem duas denominações diferentes. As pessoas da localidade é que sabem…». Para os aspectos gerais, estou habituado, mas coisas mais localizadas torna-se complicado.

LFS – Esse tal pároco pensava que era um trabalho fácil… DAM – Como a freguesia estava ligada a um mosteiro de Coimbra, tivemos de ir à Universidade daquela cidade. Perdemos duas horas a ver catálogos… Só a ver as referências… Quando aparece o «tombo» de Alfena, exclamei: «Está o dia ganho». É um trabalho árduo e muitas vezes trabalha-se sem resultados concretos.

LFS – Neste caminho da investigação é fundamental o domínio de vários idiomas…

DAM – Tenho de usar a linguística europeia, mediterrânica e semítica…

LFS – Esses idiomas, aprendeu-os no seminário ou após a ordenação?

DAM – Fui aprendendo. Gramáticas de gótico, tenho cerca de dez. Para entender as características dos vários idiomas, fi z esquemas… Não tenho a gramática gótica memorizada, mas tenho uma – feita à mão – com as várias terminações e os casos. É muito complicado. Cheguei a deslocar-me à Alemanha para ter a Bíblia visigótica. Aprofundei também as línguas nórdicas e eslavas. Cheguei a estudar basco.

LFS – Desculpe ser pertinente… Mas com essa dedicação/investigação toda na área da linguística, ainda tem tempo para ser padre?

DAM – Actualmente, não tenho responsabilidades docentes, nem discentes. Faço isto somente nos tempos extras. Nas horas vagas… (e mostra as estantes cheias)

LFS – Verifi co que trabalha muito com a esferográfi ca… Grande parte do seu trabalho e «fi chas» foram escritas à mão. Nunca pensou colocar todo este labor em suporte informático?

DAM – Dava muito trabalho. Fiz uns catálogos – escritos à

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mãos? DAM – Não. Há muita gente nova. Esta localidade é um arredor de S. João da Madeira. Vêm para cá na busca de empregos. Do pessoal antigo, tenho uma ideia. Nos primeiros tempos – quando cheguei – dava catequese e conhecia essa gente toda. Agora, muitos desses a quem dei catequese são avós…

LFS – Para um puritano da Língua Portuguesa, as novas palavras utilizadas pelos jovens – como o bué e o fi xe – incomodam-no?

DAM – O maior problema é para os professores… Os alunos vêm com esses hábitos da televisão e é difícil corrigir. Fui criado num tempo em que se apreciava a pureza da linguagem e a leitura dos clássicos. Todavia, em linguística, não podemos ter fanatismos.

LFS – Uma das suas investigações foi sobre os afl uentes do Rio Douro…. Um estudo exaustivo.

DAM – Foi um trabalho moroso, mas precisava de ser rectifi cado. Fiz aquilo há cerca de trinta anos e remodelei alguns casos. Um trabalho que «mete» muita linguística arcaica. Quando observamos um rio devemos fazer a geografi a dele e como apareceram os nomes. Estudei o assunto e fi z a geografi a do Rio Douro. O foco dele reside nos Alpes e ramifi ca para o Norte. Existe um pequeno Rio Douro para Celorico de Basto, na Hungria e no norte italiano.

LFS – Qual a razão para se chamar Douro?

DAM – Nas linguagens da zona dele – tem de ser na zona dele – o povo conserva «coisas» antigas, sobretudo nas zonas montanhosas. Nos Alpes, o povo ainda utiliza a expressão «adourizar». Signifi ca que está a chover. Nos «falares» populares da Galiza e nas Astúrias aparecem termos como «adoiros». Um trabalho que obriga a ter muita documentação.

LFS – Em tom provocatório, digo-lhe que se perdeu um professor universitário…

DAM – Essa coisa de dar aulas «apanha» o tempo todo. Com as teorias modernas, o professor tem de acompanhar os

catálogo com os livros que o cardeal Ratzinger publicou noutros tempos. Gosto de comparar… Só assim, conseguimos ambientar-nos e estar dentro das temáticas.

LFS – Um olhar atento…

DAM – Obriga-nos a comparar com dados históricos de outras épocas.

LFS – E relacionar também com a piedade popular.

DAM – Fiz uns artigos sobre orações populares que foram publicados na revista da Villa da Feira. Refl exões saídas depois da leitura de livros etnográfi cos. Algumas não são muito ortodoxas.

LFS – Recentemente, celebrou as bodas de ouro sacerdotais… Qual foi o Papa que o marcou com mais intensidade?

DAM – Gosto de Bento XVI… Era professor universitário. Por isso é um intelectual. Agora, como Papa tem de equilibrar as coisas. O «mal» dele foi ter ido para bispo porque – quando era professor universitário – tinha intenções de fazer uma «suma teológica» tal como fez o S. Tomás de Aquino. O cardeal Ratzinger tem coisas maravilhosas… Alguns livros dele ainda não os li. Também aprecio muito Pio XII. Era um «fora de série» nas coisas que dizia. Em relação à questão do nazismo, é muito fácil criticar depois de tudo ter acontecido. As políticas e romances criaram uma corrente desfavorável sobre Pio XII.

LFS – Foi ordenado antes do II Concílio do Vaticano. Adaptou-se com facilidades a esta Primavera eclesial?

DAM – Quando estava a decorrer, tínhamos uma ideia do que se passava lá. Acompanhava pelos livros. No entanto, posso dizer que não senti grandes difi culdades.

LFS – Está nesta paróquia há quantos anos?

DAM – Há 48 anos.

LFS – Conhece as pessoas como a palma das suas

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LFS – Os jovens do seu tempo eram diferentes…

DAM – Vivemos a época da pós-modernidade. Uma época dos excessos… Recentemente, li uma ideia fenomenal de D. António Ferreira Gomes – no livro «Escritos Pastorais de Portalegre» – sobre estas questões. Não consigo citá-la, mas está guardada…

LFS – Um bispo que viu para além da sua época.

DAM – Ele via as coisas ao longe. Tenho aqui – em fotocópias – as homilias que ele fez na Sé. Alertava para coisas que estão a acontecer…

alunos. Antigamente, dava-se a lição como lente e eles que estudassem. Agora, não é assim.

LFS – Como é que um investigador das raízes conceptuais consegue dialogar com o povo?

DAM – Sabemos a mentalidade das pessoas e utilizamos o nível delas.

LFS – Utilizou esse patamar quando fez um fi lme?

DAM – (Gargalhada)… Fiz uma monografi a da terra. Quando apareceram as máquinas de fi lmar, tive a ideia de fazer – em audiovisual – uma monografi a histórica, etnográfi ca e geográfi ca sobre as partes mais signifi cativas. Fez-se um trabalho pormenorizado com cerca de 5 horas. Chegou a ser visualizado no Brasil…

LFS – Ainda tem tempo para ler os jornais diários?

DAM – Leio. Através dos jornais aprendo as tendências modernas.

LFS – Nos tempos de Seminário, enquanto os seus colegas jogavam à bola… O Pe. Domingos estava na biblioteca?

DAM – No Seminário da Sé tínhamos horários. Mas, num trimestre passavam – pela minha mão – cerca de 250 livros. Nas aulas estava atento… O tempo do quarto era para as outras coisas. Tinha mais de duas mil páginas de apontamentos sobre aquilo que lia.

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76 DespedidaFrancisco Pinho*

Triste sorte do meninoQue da mãe se despedidacom os olhos de chorar...Olhando a mãe já sem vidaArranjada a preceitoAguardando no seu leitoQue viessem pra levar.

Triste sorte do meninoInocente, pequeninoSem saber o seu destinoSem a mãe para o cuidar!

Triste mãe que vai partirSem ver o fi lho crescerParte de olhos fechadosPara o menino não verA dor que lhe vai na almaAo ver o fi lho sofrer.

Deus te proteja meu fi lhoQue eu não te posso valerDá-me um beijo à despedidaPra recordar noutra vidaQuando saudades tiver!

* Director Comercial.

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*Abade de Pigeiros. Faleceu a 10 de Janeiro de 2011.

Domingos Azevedo Moreira *

VISITAÇÕES

DE

PIGEIROS (FEIRA)

Vol. I (1769 – 1849)

Vol. II (1850 – 1873)

PIGEIROS 1990

30

| 33 «Vizitação da Parochial Igreia de S. Maria de Pigueiros em 1794.Constantino Alz. Bello, Ab. e da Parochial Igr. ª de S. Thiago de Syluade desta Com. ca e nella Vezitador no Espiritual (e) Temporal com Jurisdição Ordinr. ª p. lo Ex. mo e R. mo S. r D. Lourenço Corr. ª de Sá, do Con. co de S. M. F., Prelado Patri(ar)cal da S. Bazílica de Lx. ª, Vigr. º Capital (sic) e G. or do Bisp. º do Porto.

1.º

Faço saber como vezitando esta Parochial Igr. ª de S. ta M. ª de Pijeiros na prez.ça do Rd. º Par. º e seus freg. es notei estar tudo o que dis resp. to ao Supremo Culto de D. s e Seus S. tos com descencia (sic), no q. effi casm. te recomendo o pessível (sic) aumento e empiritual (sic) e temporal felicid. e de todos.

2.º

(Re)Commendáveis se fazem m. tos Rd. os Par. os desta Com. ca q. exemplarm. te Cúmprão com as imperteríveis obrigaçoens de seu tam decorozo como laborozo Menistr. º apascentando seu mayor e menor rebanho, que divina e Cannonicam.te lhe(s) foi Cometido, o qual com vivífi co alim. to das Evangélicas verd.

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es e este com o da mui Santa doutrina Christá (Coyda) (50) pot todos os D.os e Solenid. es.

3.º

Com q. copioza e eterna remuneração | 33v Remuneração! De outra sorte com Castigos, alguns infi eis mercenários negando por todos os preditos (51) tempos aq. le nr. º Pasto da vida e entendim. to aos famintos cordeiros q. nas just. as Divina e homana por elles lhes brádão! elles séjão dennunciados (sic) nas Vezitaçoens ao Juizo Eccl. º p. ª se proceder contra tais neglegentes nos primeiros deveres da Salvação com as penas do C. de Trid. E Sinyd(al) (sic) e contra os celebrantes de missas pr. as Cantadas ou rezadas, séjão ou não Capelaens Estipendiários, haja ou não semão, a penal Suspensão de suas ordens por três dias se omittirem explicar hua p. te da m. ma doutrina com actos theológicos e de Contrição, Lido q. seja o Evg. º, assim nas Parochias como nas Capellas em todos os D. os e dias s. tos de Completa guarda.

4.º

Justam. te o Grande P. S. Leão reputa a pernicioza ignorancia origem de todos os Erros q. tanto damnízão a Igr. ª e estado, reprovando a S. ta Escriptr. ª todo o indigno sacerdote q. abandona a sciencia e o ser instruído, donde só in(e)speradam. te pode acordar o Venerável P. Bento 13 no Conc. Romano de 1725 as interes(s)antes Confr. as morais e de Ceremonias, as quais determínão as(s)istir todos os Presbíteros aprovados e ainda Celebrantes e clérigos das Ordens sacras, Prezidente o Rd. º Par. º e Só justam. te impedido, seu Coadjutor ou semilhante. | 34 Tudo debaicho da pena (de) Suspenção das Suas Ordens “ipso Facto” por quatro dias e da privação de todo o venes(s)e, q. do p. ª mayor Comodid. e a(s) reduza a duas em Cada Mez. E passando algum a rebelde, se lhe séjão impostas as justas multas da S. Congregaç(ão) de Tre(n)t(o) de 1731.

5.º

Os livros mais (re)comendáveis, a Divina Biblia, o Illuminado Conc. de Tre(n)t(o) e seu preciozo cathac(ismo) (52), a N. Simnod(al) e os Au(c)tores (53) da mais verdadr. ª e não laxa nem probab(e)lista Moral determínã(o) o m. mo

6.º

Todos os Presbíteros ordenados depois do falecim. to do Ex. mo Prelado de boa Memoria q. se não aprovásem dentro no Tempo Concedido p. ª Selebrarem, fi quem “ipso fact(o)” suspensos e da m. ma sorte os que, fi ndas as l. ças de Confessar, as não reformarem dentro de dois mezes. Confi rma-se a Ex. cam “Latae Sententiae” contra os confessores de mulheres fora dos Confes(s)ionarios e sem Ralos e cada Synodal contra as que, (por estarem) proximas às confessadas (que) se conféssão, estão ouvindo os pecados alheios(54). Os prudentes confessores evitem o Escândolo de ouvirem de Confi ssão sempre as m. mas Confessadas, excluídas não poucas vezes as de maior necessid. e.

7.º

O Premr. º (sic) Sacram. to da Fé | 34 v E Catholica Religião urge a todo o verdadr. º Pastor O não omittir toda a possivel Reverencia e ensinar frequentem.te como deve ser Conferido em perigo de morte por q. al q. er pessoa, abz. te o proprio Menistro. Estimulem os Pais de Familias p. ª q. ba(p)tizem Seus f. os no Espasso de tres dias para não os exporem ao perigo de Condemnarem-se. E porq. esta he a prez. te desciplina dos Concilios, Sancçoens apostolicas e da Apostolica Vezita de Portugal em 1416 e no mais sóbrio e decente tempo matutino confr. es as Actas de S. Carlos e outros autirizados (sic) Sínodos. Tam magnífi ca Solemnidad. e

(50) No nosso texto e no livro de Visitações de Caldas de S. Jorge, f. 75, falta a palavra “Coyda”, que já aparece no livro de Visitações de Romariz, f. 91.(51) No nosso texto está “perditos”, enquanto no de Caldas de S. Jorge, f. 75 verso, já fi gura “preditos”.

(52) No livro de Caldas de S. Jorge, f. 76 verso, está “Catecismo”, que também se escreve “cathecismo”.(53) No texto de Caldas de S. Jorge, f. 76 verso, está “Autores”, enquanto no nosso texto está “Acl”, decerto por “A(u)ct(ores)”, onde houve o esquecimento de pôr no l o traço horizontal para dar t, o que também notaremos na nota 59 a respeito de tulal por tutal (=total). Ver nota 76 e 209.(54) No texto de Romariz, f. 91 verso, lê-se: “contra as que próximas a elles se confessam q. ouvindo os pecados alheios”.

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Completa pede o festivo repique de Sino, annuncios, o publico júbilo da Igr. ª no aumento do seu Felis Christianismo Confr. e o Ritho da Veneravel Primitiva.

8.º

Muito se faz a todos recomendavel todo o devido resp. to ao S. mo Sacram. to e ao m. mo tempo a sua adoração em todas as 5. as fr. as do anno em memoria da Sua inefável instituição, à qual o Reynante Pont. liberaliza apreciaveis indulgencias às pias instancias da N. F. Suberana; o R. do Pr. º com tam gloriozo exemplo exorte os Fieis de mais devoção a assistirem a tam lou(va)vel exercicio perante | 35 Perante o seu Altar ao menos com duas Luzes da Confraria podendo-se Cantar ou rezar a Estação, Salve, Litânia, os versículos e oração propria. O Universal costume da Igr. ª de fazer tocar o syno da Igr. ª às Av. M. as e almas e nas 6. as fr. as só o podem omittir os carecedores de Sentim. to de pied.e : Obstem por todos os modos os zelozos pastores à vulgar exposição de tam Sagrado Mistr. º em festas de Santos, pois que, prez. te o Supremo dos Snr.es, Ceçar (55) deve o Culto dos Servos e isto m. to mais ocurrendo os destestaveis (sic) ar(rai)ais de vinhos, Cauzais de tantas sacrílegas irreverencias aos Santurarios (sic) e deploráveis ruínas dos infelizes povos : Esterminem-se (sic) de todo festas vespertinas de tam infames as(s)ucias(s)oens. Impõem-se (sic) a Exec. am Mayor da Synodal a todos os Seculares e Ecleziásticos q. beberem e Comerem e bailarem ou as(s)istirem a estas pagáns idolatrias nos templos ou nos adros, a q. se deve toda a Religioza veneração, abominada toda a impiedade. A A (sic) chave do sacrario esteja sempre em costódia (56) segura e a Lâmpada nunca extincta sem grave Culpa por tempo notavel. | 35 v Os Reverendos Ecleziasticos se comportem como menistros de D. s nos Off. os divinos como são ainda os fúnebres, não séjão a pedra de offensa e escândolo ao fi el Cristianismo : jamais naq. les uzem de vestidos pretos e talares (57) debaicho das Cençuras das precedentes Vezitaçoens, que Compreêndão igualm. te os demetilados becas (58) p. ª vergonhosam. te ostentarem mangas de chita e

outras imodestas drogas, só próprias de hum efeminado luxo. Lembrem-se de que o (h)onorário ou esmola da missa deve ser ocazional, não clauzal, nem pactuada, qd. º excede a taixa (sic) da Synodal ou universal costume. E os ociozos avarentos q. lúcrão a q. tia de missas e off. os a que outros assistem Fiquem “ipso Facto” suspensos por oito dias e obrigados huns e outros à theológica restituição como uzurpadores do alheio.

9.º

Ainda importunam. te se inste p. la inauferível obrigação pela as(s)istencia da Missa Parochial ao menos p. ª com os verdadr. os Pais de Familias, q. os RR. P. Par. os por hum preceito devino (sic) devem offr. er por seus freg. es ainda nos dias S. tos dispensados. E como não deverão daqui estes contribuir-lhes com os seus legítimos e prescritos venezes, q. do | 36 Q. do o Eterno Evangelho manda pagar a todo o digno operario o seu merecido estipêndio, pois quem vive do Altar delle deve viver, confr. e o Apóstolo e a nossa F. Suberana a quem p. los mesmos direitos incontestaveis são devidos os seus tributos : Pagar a Cézar o que he de Cézar e a D. s o que he (de) D. s.

10.º

A Synodal justam. te determinas as horas em que ha de ser celebrado o Parochial Sacrif. º de que devem ser prez. tes os Fieis, não fora da Igr. ª como se fôrão infi eis; com a sua total (59) separação entre as pessoas de diverso sexo : Precêdão sempre a preceit(u)ada oração mental, actos theológicos e publicas oraçoens por todo o sacerdocio e imperio, p. lo m. to que todo o Clero he obrigado ao Real Trono e nenhum sacerdote omitta a Colle(c)ta “Et Famulos Tuos” nem a Comemoração do gloriozo nome da M(agestade) Reynante na sagrada Liturgia.

11.º

O Grande sacram. to do Matrimonio Santam. te deve ser menistrado e Conferidas as suas bençoens no tempo matotino no sacrifi cio da Missa e não de tarde como o irreverente abuzo o pratica e o proíbem as rubricas legais do Missal e ritual Romanos, a Sagrada Congregação de 1630, o Terceiro (55) Por “Cessar”.

(56) Por “custódia” (guarda).(57) Decerto queria dizer o contrário.(58) No texto de Caldas de S. Jorge f. 76 verso está “os demutilados bequas”. Sobre o mesmo vocábulo ver um texto publicado nos Anais da Academia Portuguesa de História, 2. ª série, vol. 32, tomo I, p. 337.

(59) No texto “tutal” por Tutal (total), tendo havido o esquecimento de escrever-se o traço horizontal do t que, assim incompleto, parece um L. Ver nota 53.

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Concílio de Millão do Gloriosiss. º S. Carlos, o de Lima por S. Thoríbio, confi rmado pela Sé Apostolica.

| 36 v 12 º (sic)

Ninguem ignora a extrema necessid. e de todo o pio sufragio de que carecem os dezamparados defuntos do Progatorio (sic) em seus arcevíssimos (60) tromentos (sic); Donde se fazem m. to repreensíveis alguns negligentes pastores nas suas prociçoens, que apenas só fazem algua no Mês ou anno, qd. º as devem fazer todos os D. os que não forem clácicos (61), não antes mas dipois da Missa Parochial como declara a Sagrada Congregação de 1741, ou milhor (sic), havendo comodidade nas segundas fr. as não clás(s)icas. Tambem são prohibidos synais fúnebres antes da predita Missa em reverencia dos Solemnes dias do Snr.

13 º

Demais passa à suprestição (sic) a dezordem de synos e alguas parochias nas exéquias dos fi nados deixando violar alguns indulgentes Par. os a bem estabelecida Ordem e número de synaes p. las Const. deste Bisp. º q. a todos obrigam em hum e outro foro, de Cuja Culpavel transgreção (sic) deverão ser punidos nas Vezitaçoens.

14 º

Dezabuzados séjão efi casm. te por todo o instruído Pastor aq. les Suberbos ignorantes que erradam. te pênsão serem os Cemiterios ou Adros só destinados p. ª sepulturas de pobres como se a sepultura, digo, | 37 Como se a Terrível Morte desti(n)guisse o grande do piqueno qd. º sem nenhuma diferença tudo redus ao m. mo pó e Cinza. Persuádão-se todos os mortais q. os veneráveis Adros fôrão venzidos (sic) p. ª jazigos dos Cadáveres dos Fieis sem distinção algua as(s)im como os Templos só p. ª o divino e Santural Culto, razão por que a inspirada Igr. ª tanto ainda hoje anhela o uzo e restituição daq.les santos monomentos (sic) Como na perfeição premetiva (62) e como actualm.te o pratícão as naçoens mais Catolicas e Civilizadas o pratícão (sic).

15 º

Confi rmo os Capítulos das duas Vezitaçoens proximas e estes publique o Rd.º Par. º comforme (sic) determina a Const. e ao Rd. º Clero os que lhe dizem respt. º em algua Comferencia (sic) as(s)im como os Capítulos da m. ma “de vita et honestate Clericorum” e os da doutrina christão (sic) em algua Estação a seus freg. es juntam. te com os dos impedim. tos do Matrimónio e Dízimos divinam. te a D. s devidos.

16 º

Os perigozos serãos e imodestas as(s)embleias, jogos e frequentes tabernas, abismos de pecados e Escândolos, serão repreendidos e extermi- | 37v E exterminados p. lo Rvd. º Par. º e demnunciados (sic) pelas elustres (sic) as just. as de S. Mag. e.

17 º

O R. Párocho effi casmente exhorte a seus freguezes que concôrrão com as suas esmollas para a decencia devida à caza de Deos, para o que elegerá dois homens de zelo e verd. e para as receberem e empregarem no concerto do pavim. to desta Igreja, que será toda solhada e sem que pello meio della fi que pedra algua.

18 º

As mulheres estéjão no seu proprio lugar e não no dos homens como o persuade a santid. e do Templo. A Igreja seja tambem retelhada e o Baptisterio reduzido a mais piqueno (sic) se fi chará (sic) com chaves.

19 º

O Vião (63) e Bandeira de S. Seb. am se ponha na sancristia das Confrarias.

20 º

Altares: Os Altares colleteraes (sic) não sírvão mais de Armarios (mas) sim séjão pregados para mais se não abrirem,

(60) Por “acerbíssimos”.(61) Por “clássicos”.(62) Por “primitiva”. (63) Por “Guião”.

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aliás fi quem suspensos se não forem reformados no tempo de oito dias.

21 º

O Confessionário que carés(s)e (sic) de hum ralo de folha tambem fi que suspenso atté que seja consertado.

22 º

O Sino exposto a quebrar-se carés(s)e se lhe faça hum novo Campanario em hum dos lados da Igreia com escada da parte de nascente p. ª tocar-se commodam. te.

23 º

Os Mordomos das Confrarias jamais emprestem ornatos alguns para freg. as de fora pois não são senhores delles (mas) sim administradores | 38 E, obrando de outra sorte, o R. Párocho proceda contra elles. Em Vizitaçám de 22 de Setembro de 1794 E eu o P. e Manoel Coelho de S. ª secretr. º da Vizita o sobscrevi. Constantino Joze Álvares Belo. Na forma que determina a Constituição publiquei os capp. os da Vezita “Retro” em voz alta e inteligível de cuja observancia passei esta “in veritate” hoje, S. ta M. ª de Pigeiros, 2 de 7bro de 1794 (sic). O Abb. e João Leyte de Bastos».

31

«Dom Lourenço Corr. ª de Sa, por m. cê de D. s e da S. ta Sé App. ca Bispo do Porto, do Con. co de Sua Magd. e Fidelissima etc. ª A todos os Nossos súbditos assim Ecles. os como Seculares Fazemos saber q. o Nosso S. mo P. Reynante entre outras Graças q. Nos concedeo foi tambem a de nomearmos hum Altar Priviligiado em cada Igr. a Parochial ou Collegiada do Nosso Bispd. º p. ª sufragio das almas do Porgatorio com Indulgencia plenaria q. durará por tempo de Cete annos, revogados quais | 38 v quais q.r previlegios q. haja em attenção a ser a m. ma Igr. ª Parochial. Nomeamos o Altar Mor de cada hua das ditas Igr. as Parochiais e da m. ma sorte Nos concedeo o d. º S. mo P. e podermos aplicar por Nós ou por qualq. r Presbítero,

bem morigerado, Secular ou Regular, de qualq. r Ordem ou Instituto eleito ao Nosso arbítrio, hua Indulgencia plenaria e remissão de todos os pecados aos moribundos q. verdadr. ªm.te contritos, ar(r)ependidos e Confessados Receberem o Santissimo Sacram. to ou, não o podendo fazer, tendo a dita Contrição, invocarem o Sanctissimo Nome de Jesus; se não podérem (sic) com a boca, ao menos com o Coração, aceitando a morte da mão do S. r com paciencia e alegre ânimo como pena do pecado e Ley Irrevogável, cujo poder commetemos aos Reverendos Párochos e seus Coadjutores desta Cid. e e Bispd. º p. ª q. póssão fazer a d. ª aplicação de Indulgencia e bênção goardando (sic) a forma prescripta neste cazo pelo Papa Benedito 14 q. vem no Ritual Romano e emq.to (sic) às Relegiozas nomeamos a seus Confessores Ordinarios p. ª lhes fazer a m. ma aplicação da d. ª Bênção e Indulgencia e, p. ª q. se fássão notórias estas graças, os R. dos Párochos as publicarão nas suas Parochias em hum dia de Preceyto, fazendo copiar esta no L. º dos Capítolos. Esta Ordem correrá a forma da vizita e cada hum dos Rd. os Par. os a fará Remeter ao q. se seguir em tr. º breve asignando nas costas de como assim a Cumprio e o ultimo a fará Remeter à Câmera. Porto, 12 de Agosto de 1796 e eu An. to J. e de Oliur. ª a sobscrevi. Loureiro».

32

«O D. r M. el Lopes Lour. º, Abbade Rezervatario da Igr. ª de S. João do Grilo e Provisor deste Bispd. º etc. Faço saber q. o Ex. mo e R. mo S. r D. Lourenço Correa de Sa, tendo sido escolhido pelo Ceo | 39 p. ª digno Prelado desta sua Dioceze e achando-sse já pela Sagrada Unção com a plenitude do poder da Ordem Episcopal, cheyo daquela Rara (h)Umildade q. só he propria das Almas verdadr.a m.te Christaens, envia às suas ovelhas a sua Carta Pastoral em q. as saúda e lhes pede fervorozas oraçoens acompanhadas de edefi cantes virtudes p. ª o q. O Todo Poderozo de(r)Rame sobre ele as Inchentes (sic) da sua graça p. ª com ela fazer seu governo felis, salvando-se todos os seus Diocezanos, q. a providencia lhe confi ou. E p. ª q. chegue à not. ª de todos, cada hum dos Rd. os Par. os desta Com. ca a lerá a seus freguezes no pr. º Dom. º q. se seguir depois de Recebida a m. ma Pastoral. Esta Ordem correrá a forma da Vezita e será lançada no 1.º dos Cap. tos, Remetendo-a cada hum dos Rd. os Par. os ao q. se seguir no tp. º de duas oras, asignando nas

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costas de como asim a Cumprírão e o último a fará Remeter fechada à Câmera. Porto, 21 de julho de 1796 e eu An. to J. e d’Oliur. ª a sobscrevi. Loureiro».

33

«Copia dos Parágrafos Regios Remettidos ao Exsselentissimo S. r D. Lourenço Corr. ª de Sá, Bispo deste Bispd. º do Porto, dirigida aos R. R. Par.os desta Com. ca da Fr. ª, aprezentada nesta Residencia de S. ta Maria de Pigeiros em 26 de Dezembro de 1796: Se a sua Igr. ª he Abbadia, Priorado, Reitoria ou Vigairaria, Collada ou amovível ou Curato ad nutum e se tem Annexas e quantas. O Rendim. to ánuo certo e incerto, uerdadeiro, ordinario, não só o q. recebe cada hum dos R. R. Párochos q. colhem os Dízimos mas tambem se declare o que produs a frg. ª declarando (quem os Recebe) | 39 v E tambem os emcargos (sic), obrigaçoens, (pençoens) (64) Reaes V. Gr. se paga penção ao seminario, à Mitra, ao Cabido, a algua Collegiada ou pessoa particular, quem ella he e quanto he a penção. Tambem de declare o q. se dispende cada anno na Fábrica da Igreja, Paramentos, azeite da alâmpada, Côngruas dos Vigarios, Curas, Coadjutores, Encomendados, despezas das Vezitas, concertos annuais, despezas da Rezidencia e mais encargos anexos. Se na sua Igr. ª ou Freg. ª ha algum Benefi cio simplex, q. tos são, q. to Rendem, q. m os possue e quais são os seus emcargos (sic) e o m. mo a resp. to das Capellanias Colladas ou amovíveis. Cada hum dos R. R. Par. os fará esta deligencia com toda a exactidão e verd. e passando a sua attest. am e estarão prezentes à m. ma delig. ca dous R. R. Par. os mais Vez. os q. passarão huma attestação asignada e jurada por elles de como asim o observárão. Emq. to aos Patrimonios dos Ecclez. os de cada huma das freg. as, ou elles estéjão prezentes ou abzentes, o Rd. º Par. º proprio escolha dous Homens de sãa cons(c)iencia e deferindo-lhes o juramento dos S. tos Evang. os com elles avalue cada hum dos mencionados Patrimonios e passe a

attest. am em papel separado em q. declare q. to he o seu Rendim. to Líquido. E porq. na Ordem q. Recebemos de Sua Mag. e se comprehende tambem o Clero chamado izento, Ordemnamos q. os R. R. Par. os de Malta e do Izento de Grijó cúmprão o q. nesta temos determinado ou no tr. º fi xo de outo (sic) dias dando a Rezão (sic) por q. o não execútão. E, p. ª q. chegue à not. ª de todos, mandamos passar o prez. te q. será Remetido às Com. cas pela ordem da Vezita e cada hum dos Rd. os Par. os copeará (sic) som. te o Parágrafo dos Guizam. tos no tr. º de tres horas, (sob) penna de Suspenção “ipso | 40 ipso facto” a Rimeta ao seg. te, declarando o tempo em q. a Recebeo e remeteo e o último a emviará (sic) em carta fechada ao Men. º da Repartição da sua Com. ca. Para os Rd. os Par. os de Malta e do Izento de Grijó será esta Inviada (sic) pelo Par. º mais vez. º e depois continuará o m. mo Giro da Vezita. Dada no Porto sob Nosso Signal e Sello de Nossas Armas aos 23 de 9br. º de 1796. D. Lourenço, Bispo do Porto. Deputado p. ª a Com. ca da Fr.ª o Rd. º D. r Vigr. º Geral do Bispd. º etc.».

34

«Deão, Dignid. es, Cabido da S. ta Igr. ª Cathedral do Porto “sede vacante Episcopali” a todos os R. R. Par. os deste Bispd. º saúde e Pás em Jesus Christo q. he o Piedozo e Supremo Socorro contra as tribulaçoens e todos os males. Os perniciozos sistemas de dissolução e de liberd. e q. pouco a pouco vão infi cionando (sic) o Rebanho de Jesus Christo com tanto perigo de q. e o m.mo venenozo contagio chegue a comunicar-sse a algua das almas das quais tanto Nós como Vm. cê na prez. ça de hum Juis Magestozo e Divino deuemos dar Conta, nos Constituem na obrig. am de determinarmos a VM. cê q. satisfazendo aos Pastorais offi cios q. lhe são imcumbidos (sic) pelos sagrados Cânnones e Constituiçoens do Sýnodo deste Bisp. do estabeleça ainda milhor (sic) q. athé o prez. te na Igr. ª da Sua Parochia hua Prática doutrinal em a qual nas tardes dos Domingos e dias s. tos q. não são dispensados se insinem (sic) a seus freguezes com o mayor cuidado os Maravilhozos Misterios da verdadr. ª Fé e todos os artrigos e actos percizos p. ª a plena observancia da Nossa Ley, empregando-se os meyos mais proprios p. ª imprimir com toda a doçura | 40 v a doçura nos coraçoens de seus Parochianos os ternos sentim. tos de Religião e amor aos

(64) Dado o mau estado do nosso texto, as palavras entre parêntese foram tiradas do livro de Visitações de Caldas de S. Jorge, f. 82 verso.

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puros costumes q. a corru(p)cão do prez. te tp. º vai debilitando cada vês mais, não deixando tambem de Recomendar com toda a effi cacia a obediencia absoluta q. devemos prestar à Nossa Muito Poderoza e Amável Soberana não só porq. no primr. º século christão nos deixou este exemplo e Preceito o Altíssimo Legislador e o mais s. to e maior de todos os homens mas porq. deste modo confundiremos cada vês mais os miseráveis povos q., sugeridos pelo espírito da mald. e e do engano, trocárão as vantagens de hum soave Domínio pelo insoportável jugo do despotismo e da barbaridade, fi cando VM. tambem advirtido (sic) do q. nas Dom. as da Quaresma ha-de Explicar com toda a preciza clareza e demora todas as Divinas máximas q. a S. ta Igr. ª propõem (sic) a seus fi lhos naqueles dias por se achar na Moral Evangélica o campo mais fértil p. ª dar ao seu Rebanho o pasto Espiritual na forma a q. VM. está tão obrigado. E além destes Exercícios tão importantes deverá VM. ao menos duas vezes em cada mez acompanhado do Juis e Irmaons da Confraria do Sanctissimo Sacram. to na sua Parochia pedir pelas cazas dos mencionados seus freguezes as esmollas possíveis em cuja Carid. e será associado pelo Magistrado do seu destrito a q. m Sua Magd. e como Augusta e Conpassiva (sic) Mãy dos seus vaçalos (sic) ainda os mais indigentes e obscuros Manda passar as Ordens p. ª neste cazo proceder de acordo com VM. e estes subsídios serão distribuídos a arbítrio de VM. e dos q. concorrem nesta gn de obra pelos prezos, pelos infermos e outros necessitados da sua freg. ª, preferindo-se aqueles que tiverem feito mais serviços a D. s e ao Estado e esta nossa carta fi cará Registada nos L. os das vezitas de sua Igr. ª p. ª q. em semilhantes actos se conheça da sua observancia e será mandada por VM. ao Párocho mais vez.º p. ª q. circule p. la sua com. ca na forma do estilo, o q. tudo esperamos q. VM. cumpra por se não fazer Responsável da sua falta a D. s S. r Nosso e à jurisdição com q. esta Ordem com penna de obediencia lhe he intimada; escrita no Porto em Cabido a 2 de 8br. º de 1798. An. to J. e d’Oliur. ª a sobscrevi, João Luís Pedro de Andr. e Brederode. Rodrigo Mendes de Vas. cos. Joaq. m J. e de Castro “scripsi(t)”. O Abb. e João Leyte de Bastos».

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| 41 « Ordem de correr a Resp. to das Id. es e População desta Com. ca da Fr. ª. Dom An. to de S. Jose de Castro, por mercê de D. s e da S. ta Sé App. ca Bispo do Porto, do Con. co de Sua,

digo, do Príncipe Reg. e Nosso S. r etc. Fazemos saber q. S. A. R. Por avizo de 3 de Novembro de 1801 Nos imcumbio (sic) com grd.e Recomendação a dar-lhe com toda a legalid. e Mapas exactos da População de cada hua das freg. as de Nosso Bispd. º, remetendo-nos p. ª isso os exemplares por onde se dêvão Regular. E conhecendo Nós o q. to nisto se intereça (sic) não só o cumprim. to q. se deue às Reais Ordens mas igualm.te o Bem e Felicidade do Estado e da Religião, pois q. o conhecim. to da População he o mais seguro meyo de se darem as justas privid. as (65) p.ª adiantar a m. ma e em Cujo augmento e saudáveis providencias p. ª este fi m está posta toda a felicid. e do Bem p. co e particular : Querendo concorrer (com) q. to Está da Nossa p. te p. ª o cumprim. to das mencionadas Reais Ordens e p. ª o bem do Estado como he do Nosso Dever, mandamos q. os Rd. os Párochos p. la sua p. te pônhão todo o Cuidado e delig. ca e lhes emcarregamos (sic) toda a exactidão p. ª q. os Mapas vênhão com clareza e uerd.e q. se Recomenda, fazendo p. ª este efeito todas as nr. as delig. cas já pellos Livros dos acentos (sic) , já pellos Róis dos confessados e já fi nalm. te inquirindo dos seus freguezes a verd.e das suas Id. es e mais couzas precizas p. ª este fi m. Cada hum dos Rd. os Par. os desta Com.ca deixará em seu poder hum exemplar dos q. vão. Com esta Ordem de correr e seguindo-ce literalm.te ao m. mo, pas sará a formalizar em hua folha de papel selado O Mapa q. se Req. r em tudo p. lo

método, Ordem e palavras do exemplar athé o lugar em q. está “Reconhecimento” porq. este deve ser feito na Câmara p.lo Escrivão della ; e p.ª q. chegue à not. ª de todos os Rd. os Par. os e assim cúmprão, fazendo com Limpeza os ditos Mapas q. hão de ser Remetidos a S. A. R., fazemos passar a prez. te Ordem q. vay hasignada p. lo Nosso R. D. r Provizor e Correrá a ordem da Vezita e cada hum dos Rd. os Par. os a fará copiar no L. º das Vizitaçoens e no tr. º de 3 (h)oras e Re meterá ao seg. te com o Masso (sic) dos Exemplares p. ª q. cada hum dos Rd. os Par.os fi que com o seu e asignará Cada hum nas costas desta de como assim o cumprio e o úl timo a fará Remeter | 41 v remeter ao Escr. am da Camera Eccles. ª a quem tambem serão Remetidos os Mapas asima (sic) Referidos. Porto, 25 de Janr.º de 1802 e eu An. to Joze de olivr. ª (sic) o sobs crevi. Manoel Lopes Lour. º. Ordem de Correr p. ª a Com. ca da Fr. ª».

(65) Por “provid(encias)”.

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84 EncarnaçãoSérgio Pereira*

cordas sedentas serpenteiam

nos intervalos dos recifes

perseverança amuralhada na neblina

afago-te o cio dos cabelos

alpendres de coral, hungry for you

sangue clandestino fugindo

do alude improvisado na

resiliência da luz circunvizinha

vale almejado pela insónia do vento

pássaro núbil na encarnação

revelada do presente

*Nasceu em 1958, na freguesia de S. João de Ver. Publicou seis livros de poesia: As Nove Visões do Xamã, Porto, Agosto Editores, 1996, Técnica do Escalpe, Porto, Agosto Editores, 1996, O Sol é Um Moccasin, Porto, Agosto Editores, 1996, Istmos e Hordas, Porto, edições Tomahawk, 1997, O Absoluto Reverso, edições Tomahawk, Porto, 1998, Convergência dos Ventos, Editora Ausência, 2000, (co-autor: António Teixeira e Castro).

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85 Festa de S. Sebastião em Santa Maria da Feira 20 Janeiro 2011

João Lavrador*

Homilia

Ano após ano, vimos junto do mártir S. Sebastião cumprir não só um dever de tradição, mas também trazer as nossas preocupações e angústias na certeza de que Deus, que infundiu a Sua Santidade pelo Martírio deste Santo, nos atenderá. S. Sebastião padeceu o martírio no século III da era cristã e, como é próprio de todos os que passam por esta prova única e singular da fé cristã, de imediato foi reconhecido como santo e a ele se recorria para implorar a sua intercessão em situações de difi culdade. Na tradição do povo desta região de Santa Maria da Feira reconhece-se a intervenção de S. Sebastião na protecção das suas gentes quando acometida pela peste. Num acto de agradecimento, todos os anos se celebra a sua festa. A Palavra que acabámos de escutar ilumina esta dupla faceta de S. Sebastião, isto é de confessor da fé em Jesus Cristo confrontando os poderes do império e de protector contra os males que afectam o povo. Nela nos é apresentada uma

multidão que anda à procura de Jesus Cristo porque reconhece que só n’Ele é possível reencontrar a dignidade perdida e Ele mesmo opera os sinais capazes de ajudar a reconhecer que Deus quer a cura de cada ser humano na totalidade da sua pessoa. Por isso, a intervenção nos achaques físicos querem levar à cura interior do pecado. Também a carta aos hebreus nos encaminha ao encontro de Jesus Cristo como o único sacerdote capaz de nos libertar das nossas enfermidades e de nos oferecer a salvação que todos necessitamos. O mesmo se diga na passagem de Isaías que Jesus Cristo atribuiu a si mesmo e através dEle nos compromete na libertação das criaturas prisioneiras do mal e do pecado. Assim, celebrar a festa de S. Sebastião é, prioritariamente, centrar a nossa vida em Jesus Cristo. Só o Senhor é verdadeiramente salvador, só Ele é Aquele que nos pode garantir o remédio para os nossos males, só Ele pode oferecer a Sua santidade àqueles que ama e através dos quais quer tocar a vida do seu povo. Na vida do mártir somos conduzidos até à paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo. Deste modo, somos convidados a participar no mistério pascal de Cristo e, assim, a viver a nova humanidade que da ressurreição de Jesus Cristo se manifesta para o mundo. Situados na Europa que perdeu a sua referência às suas raízes cristãs e se afastou de Deus, urge colocar Deus nas

*Bispo Auxiliar do Porto

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prioridades do desenvolvimento cultural dos nossos tempos. Assim o referia Bento XVI, há bem pouco tempo, em Santiago de Compostela, questionando-se sobre os medos e receios deste continente. Dizia ele: «Quais são as suas grandes necessidades, receios e esperanças? Qual é a contribuição específi ca e fundamental da Igreja para a Europa, que percorreu no último meio século um caminho rumo a novas confi gurações e projectos?»1 E, responde deste modo: «A sua

contribuição centra-se numa realidade tão delicada e decisiva como esta: que Deus existe e que é Ele quem nos deu a vida. Só Ele é absoluto, amor fi el e indeclinável, meta infi nita que resplandece por detrás dos bens, verdades e belezas admiráveis deste mundo; admiráveis mas insufi cientes para o coração do homem. Compreendeu bem isto Santa Teresa de Jesus, quando escreveu: “Só Deus basta”»2.

1 Bento XVI Homilia da Santa Missa em Santiago de Compostela (Novembro 2010)

2 Ib.

Missa Solene.

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É esta profunda verdade que não se aceitando pela inteligência e pelo coração provoca o testemunho dos mártires. Aconteceu nos primeiros séculos da Igreja, sucedeu-se ao longo da história do cristianismo e continua hoje. É, sem dúvida, o Reino de Deus que cresce no meio de ambiguidades e tensões, é a humanidade nova que brota do mistério pascal de Jesus Cristo, hoje traduzido na vida dos seus discípulos. Eis o mais inaudito convite que presentemente nos é lançado pelo testemunho de S. Sebastião. Voltemo-nos para a segunda faceta do mártir e que tem a ver com a gratidão pela sua protecção contra a peste. Que rosto tem a peste dos nossos dias? De que males

sentimos necessidade da sua protecção? São doenças, sem dúvida, mas são também as situações de inimizade, de abandono, de solidão de enfermos e idosos, dos atropelos contra a dignidade humana, sobretudo os ataques à vida dos desprotegidos, o fl agelo do desemprego, a ganância de alguns à custa dos outros, a injustiça, as novas idolatrias, a exploração do homem pelo homem, a manipulação da juventude, a ruptura familiar, entre tantas outras. Em Fátima, em Maio passado, o Santo Padre interpelava-nos, dizendo que «o cenário actual da história é de crise sócio-económica, cultural e espiritual, pondo em evidência a oportunidade de um discernimento orientado pela proposta

Homilia.

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criativa da mensagem social da Igreja»3. Sublinhava, então, que «o estudo da sua doutrina social, que assume como principal força e princípio a caridade, permitirá marcar um processo de desenvolvimento humano integral que adquira profundidade de coração e alcance maior humanização da sociedade»4. Não se trata, segundo o pensamento de Bento XVI, «de puro conhecimento intelectual, mas de uma sabedoria que dê sabor e tempero, ofereça criatividade às vias cognoscitivas e operativas para enfrentar tão ampla e complexa crise»5. A partir daqui, exorta a que as instituições da Igreja, unidas a todas as organizações não eclesiais, melhorem as suas capacidades de conhecimento e orientações para uma nova e grandiosa dinâmica que conduza para «aquela civilização do amor, cuja semente Deus colocou em todo o povo e cultura»6. Eis a necessidade do urgente empenhamento dos cristãos na defesa dos direitos humanos, preocupados com a totalidade da pessoa humana nas suas diversas dimensões.Com o olhar posto em S. Sebastião permitam-me que profi ra as mesmas palavras com que Bento XVI quis exaltar a nobreza do trabalho de todos aqueles que cuidam da vida do seu próximo. Disse o seguinte: «Exprimo profundo apreço a todas aquelas iniciativas sociais e pastorais que procuram lutar contra os mecanismos sócio-económicos e culturais que levam ao aborto, e que têm em vista a defesa da vida e a reconciliação, e cura das pessoas feridas pelo drama do aborto. As iniciativas que visam tutelar os valores essenciais e primários da vida, desde a sua concepção, e da família, fundada sobre o matrimónio indissolúvel de um homem com uma mulher, ajudam a responder a alguns dos mais insidiosos e perigosos desafi os que hoje se colocam ao bem comum. Tais iniciativas constituem, juntamente com muitas outras formas de compromisso, elementos essenciais para a construção da civilização do amor»7. Relembremos como compromisso sério a favor do exercício do amor fraterno o seguinte apelo do Papa: «Continue bem vivo no país o vosso testemunho de profetas de justiça e da paz, defensores dos direitos inalienáveis da pessoa, juntando a vossa voz à dos mais débeis a quem tendes sabiamente

motivado para ter voz própria, sem temer nunca levantar a voz em favor dos oprimidos, humilhados e molestados»8. Na senda do Concilio Vaticano II, a Igreja reconhece que não pode dar soluções práticas a todos os problemas concretos, mas exorta os cristãos a que despojados de qualquer tipo de poder, determinados ao serviço do bem comum, estejam prontos a ajudar e a oferecer os meios de salvação a todos. Para aqueles que operam no vasto mundo da caridade, e é a universalidade dos cristãos, lembremos as palavras de S. João: «Cristo ensina-nos que “Deus é amor” (1 Jo 4, 8) e simultaneamente ensina-nos que a lei fundamental da perfei--ção humana e, consequentemente, também da transformação do mundo é o novo mandamento do amor. Portanto aqueles que crêem na caridade divina têm a certeza d’Ele que a estrada da caridade está aberta a todos os homens» (GS, 38). Tal como afi rma Bento XVI na sua Encíclica «Deus é Amor», na sua dimensão social e política, esta diaconia da caridade é própria dos leigos, chamados a promover organicamente o bem comum, a justiça e a confi gurar rectamente a vida social (cf. nº 29). Afi nal, vimos junto de S. Sebastião cumprir um dever da tradição dos nossos antepassados, estamos a agradecer, tomamos esta celebração para confrontar a nossa vida e as nossas aspirações de hoje e as necessidades dos nossos contemporâneos, mas sobretudo sentimo-nos comprometidos com os nossos irmãos. São muitos os desafi os e carências a interpelar a nossa generosidade, a partilha e o nosso compromisso nos diversos âmbitos da vida social, cultural e do exercício do bem público.Como adverte Bento XVI na sua Encíclica «A Esperança que Salva», quem aprende de Deus Amor será inevitavelmente pessoa para os outros. Realmente, «o amor de Deus revela-se na responsabilidade pelo outro» (nº 28). Unidos a Cristo na sua consagração ao Pai, somos tomados pela Sua compaixão pelas multidões que pedem justiça e solidariedade e, como o bom samaritano da parábola, esforçamo-nos por dar respostas concretas e generosas9.

3 Bento XVI, discurso ao agentes da acção social da Igreja, Fátima (Maio 2010)4 Ib.5 Ib.6 Cfr. Ib.7 Ib.

8 Bento XVI, Discurso aos Bispos, Fátima (Maio 2010)9 Bento XVI, discurso ao agentes da acção social da Igreja, obr. cit.

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O Papa em Santiago de Compostela, em Novembro passado, proclamou a glória do homem, e admoestou contra as ameaças à sua dignidade pela expulsão dos seus valores e riquezas originários, pela marginalização ou morte infl igidas aos mais débeis e pobres. Fez então ressoar a sua voz dizendo que «não se pode prestar culto a Deus sem velar pelo homem, seu fi lho; e não se serve o homem sem perguntar quem é o seu Pai, sem responder à pergunta sobre Ele. A Europa da ciência e das tecnologias, a Europa da civilização e da cultura, deve ser ao mesmo tempo a Europa aberta à transcendência e à fraternidade com outros continentes, ao Deus vivo e

10 Bento XVI Homilia da Santa Missa em Santiago de Compostela, obr. cit.11 Cfr. Ib.

verdadeiro a partir do homem vivo e verdadeiro»10. É com isto, afi rma ainda, que a Igreja deseja contribuir para a Europa: velar por Deus e pelo homem, a partir da compreensão que Jesus Cristo oferece de ambos11. Fixemos o nosso olhar no mártir S. Sebastião e deixemo-nos cativar por ele. Que ele nos abençoe, particularmente aqueles que sentem maiores necessidades e que nos encaminhe pela evangelização do mundo de hoje.

Amen

Procissão. Fogaceiras - 2011.

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90 Se Alguém Sentir um Verso Meu...H. Veiga de Macedo*

Se uma criança um verso meu disser um diaE o puser a bater em seu peito inocente, Dar-Te-ei graças, Senhor, p’la beleza existente, E bendirei em Ti o dom da Poesia.

Se alguém alguma vez encontrar alegria,Ou lenitivo para a dor de alma que sentePor ter sentido um verso meu, eu, de contente,Em Ti exaltarei, Senhor, a Poesia.

Se a gente boa e simples ler um verso meuE nem sequer souber que quem o fez fui eu,Direi que és Tu o Autor de toda a Poesia.

E se um poema meu - um só - Te comover, Comigo o levarei, Senhor, quando morrer, para que só me julgue a Tua Poesia.

São Paulo - Vila Rosália 10 de Maio de 1983 * Poeta. Foi Ministro de Portugal.

Faleceu em 25-01-2005

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91tempo em que este concelho fazia parte da comarca da Vila da Feira. Da geração que se lhe seguiu invoco os nomes dos Drs. Diogo Vaz de Oliveira, Alexandre de Andrade e Resende Santos. Dos mais novos recordo os colegas Drs. Manuel Sousa e Silva, Augusto Cardoso, Franco Rodrigues e a nossa bem desafortunada colega Dra. Alexandra Fernandes.

Caras e caros colegas: sabemos bem que este nosso ofício vive hoje tempos dos quais dizer que são difíceis é dizer muito pouco. Para os mais novos, em memória dos colegas que já não pertencem a este mundo, permitam que lhes deixe um conselho: é bom que um advogado seja inteligente; é excelente que saiba direito. Mas, quando nos encontramos a trabalhar nos nossos escritórios, devemos dar a quem nos procura, para além da inteligência e da sabedoria que sempre esperam encontrar no seu advogado, uma outra coisa que não tem preço: a compaixão perante os seus problemas porque esses seres humanos que nos honram com a sua escolha raro é que estejam a viver horas felizes.

Permitam que leia breve excerto do velho e sábio Eclesiastes: “Uma geração passa, uma geração vem; a terra permanece eterna e inalterável. O que já foi ontem, voltará a ser amanhã; o que se fez no passado, na mesma se fará no futuro; nada é novo debaixo do sol que nos alumia. E, tendo conversado com a minha alma, adverti que neste particular também só havia vaidade”.

Prezadas e prezados Colegas:**

Manuel de Lima Bastos*

A Delegação da Ordem dos Advogados nesta nossa comarca de Santa Maria da Feira escolheu-me para, no Dia do Advogado, que tem como patrono Santo Ivo, fazer uma evocação dos colegas da Feira que já não se encontram entre nós. A única razão que descortino para o convite é a da pertencer ao grupo da meia dúzia de advogados mais velhos que, estando ainda em presença física ao vosso lado, pela razão natural da idade ouvimos, cada vez mais perto, o dobre de sinos por detrás do horizonte do mundo.

Recuarei agora no tempo para lembrar aqueles colegas que conheci e com os quais tive ainda o privilégio de trabalhar. Todos eles mereceriam duas ou três palavras que os individualizassem em afectuosa lembrança, mas tal não será infelizmente possível por razões de brevidade. Por isso chamarei pelos seus nomes começando pelos mais velhos e pela ordem que o acaso ditou.

Desses nossos colegas mais velhos lembro os Drs. Roberto Vaz de Oliveira, Alcides Strecht Monteiro, Fernando Ferreira Soares, Joaquim Inácio da Costa e Silva, Belchior Cardoso da Costa e Amadeu Morais que teve escritório em Espinho no

*Advogado. Devoto Aquiliniano.** Intervenção na Cerimónia realizada na Igreja da Misericórdia em Memória dos Advogados falecidos. 19 de Maio de 2011 - Dia de Santo Ivo.

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o tribunal desta comarca. Passeando sob as árvores frondosas e gozando a sua frescura, logo nos damos conta de que é o deambulatório perfeito para encontrar as sombras dos juristas que em tempos passados aqui viveram e trabalharam. E com essas sombras, mais cedo ou mais tarde, havemos todos de nos reunir.

Termino. Nesta velha terra da Vila da Feira, mais velha que o velho Portugal, se lugar existe onde talvez seja possível pressentir algum rumor da passagem por este mundo dos colegas que, em recolhimento, hoje evocamos, esse lugar é a avenida que conduz ao castelo e logo abre numa alameda para o Convento dos Lóios onde, por mais de um século, funcionou

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93 CONFERÊNCIA SOBRE O DR. VEIGA DE MACEDO

Joaquim Vieira*

Exmos. Senhores, Dr. Veiga de Macedo, Governador Civil e Presidente da Câmara, minhas Senhoras e meus Senhores:

À semelhança do que acontece quando olhamos um fi lho, que é vê-lo com todas as idades que teve, também agora, com o Senhor Dr. Veiga de Macedo, a sua vida se nos apresenta com nitidez nas suas várias e distintas fases e nos inúmeros cenários e episódios que a foram entretecendo. Toda a sua vida é como se fora um universo, em cujo fi rmamento sobressaem estrelas de primeira grandeza, constituindo diversas e formosas constelações. A Divina Providência foi pródiga em cumulá-lo de dons inestimáveis, que ele soube sublimar em talentos de elevado crédito e merecimento, visto que os colocou totalmente ao serviço da comunidade nacional. São estes dons e estes talentos essas estrelas rutilantes, que constituem diversas e formosas constelações e que sobressaem no universo da sua existência. É tão somente uma ou outra dessas constelações que, agora, me apraz destacar, em preito de singela, mas

comovida homenagem a tão insigne cidadão e não menos insigne munícipe deste concelho e fi lho de Santa Maria de Lamas. A primeira grande constelação, que alimenta e reforça todas as outras, é o conjunto das mais nobres qualidades que caracterizam a sua multifacetada personalidade e são a expressão da sua eminente e excepcional formação humana, cívica, social, moral, espiritual e cristã. São as qualidades muito apreciadas, porque em elevado grau, da simpatia, delicadeza, gentileza, sensibilidade, disponibilidade, magnanimidade, solidariedade, tolerância, humildade e espírito de sacrifício. Mas a sua formação social é tão viva, intensa e exigente que se expande e projecta numa outra admirável constelação das mais positivas realizações, que pressupõem um conjunto não menos admirável de talentos. Sonhador (e o sonho comanda a vida), voluntarioso, o Senhor Dr. Veiga de Macedo tem uma concepção e interpretação do bem comum geral ou colectivo tão nobre e genuína que à sua concretização dedicou todo o seu esforço e empenhamento. Os mais altos cargos da governação pública que foi chamado a desempenhar, em atenção às suas notáveis capacidades, abriram-lhe o caminho à prossecução dos mais caros ideais que o seu espírito sempre alimentou. Foi a valorização e a promoção humana e sociocultural dos estratos da população mais carenciados em termos culturais,

* Fundador do Colégio Liceal de Santa Maria de Lamas. Professor.

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mediante a implantação e a execução de campanhas que fi caram célebres. Foi a criação de estabelecimentos educativos em número nunca alcançado, nem até sonhado, o reforço e o prolongamento da escolaridade obrigatória, a ampliação do apoio social escolar e a instauração de uma nova modalidade de apoio, como a das residências universitárias. Foi a sua atenção desvelada e sistemática à protecção e ao acompanhamento do desabrochar da primeira e da segunda infância, em infantários, centros de educação infantil, colónias de férias disseminados por todo o país. Foi todo um trabalho persistente e incansável em prol da defesa intransigente dos interesses e dos direitos dos trabalhadores, ao trabalho, à habitação, à família, à cultura e ao lazer, visando a elevação do seu estatuto social. Em todas estas áreas foi pioneira, precursora a acção multiforme do Senhor Dr. Veiga de Macedo, servindo a todos de exemplo modelar, a começar pela aturada planifi cação e pelo adequado enquadramento jurídico, como, aliás, o exigia a sua formação especializada. Mas a sua formação moral e cívica, não menos exigente, não menos perfeita que a sua formação social, também irradia e se manifesta num conjunto dos mais belos e raros atributos que distinguem e nobilitam sobremaneira a sua pessoa. É o espírito de tolerância ao mais alto nível, como só alguém com verdadeiras e sólidas convicções pode possuir. Quem as não tem não precisa de ser tolerante porque em nada acredita. A tolerância só merece este nome quando radica em convicções, e estas só valem quando acompanhadas pelo espírito de tolerância. É por isso que o Sr. Dr. Veiga de Macedo foi sempre extremamente tolerante. É a sua honestidade a toda a prova, inspirada nos mais lídimos valores humanos e nos valores eternos do Cristianismo, da qual destaco a vertente mental ou intelectual, a honestidade mental, portanto, porque, detentor de sólidas convicções ideológicas, sociais e políticas, cuja excelência para a consecução do bem comum geral perfeitamente conhecia, não obstante discutia-as com os mais abalizados, confrontava-as com outras correntes, não as impunha a ninguém, respeitador escrupuloso dos direitos de todos como era. É a sua elevada, nobre, genuína concepção de política, cuja razão de ser é a promoção do bem comum geral ou colectivo, (e só esse é que pode justifi car os impostos), não

enfeudada, portanto, a interesses particulares de grupos ou de classes. Foi à luz deste alto ideal que o Sr. Dr. Veiga de Macedo desenvolveu uma actividade verdadeiramente hercúlea em todos os cargos públicos que exerceu, e ainda como deputado e membro de tantas e variadas comissões de trabalho. É ainda o seu coração magnânimo, compreensivo, compassivo, generoso, sempre atento às necessidades, difi culdades e aspirações do seu semelhante. Atendemos, agora, na sua formação intelectual e espiritual, que irradiam claridades intensas, geradoras de outras constelações. O maior drama do nosso tempo é a desorientação moral e subversão de valores, a confusão espiritual e a ausência ou perda de identidade. A este propósito – a ausência ou perda de identidade - diz o fi lósofo alemão Martinho Holbe “que Deus não nos pedirá contas por não termos sido Francisco de Assis, muito menos Jesus Cristo, mas por não termos sido nós mesmos, com todas as nossas potencialidades e todos os nossos talentos”.Ora, o Sr. Dr. Veiga de Macedo foi sempre o mesmo, sempre igual a si próprio, porque, homem de princípios, de valores e de convicções, interiorizou os seus ideais a que sempre foi fi el. É, por isso, uma personalidade ímpar, com uma identidade própria, única, riquíssima – humanística e espiritualmente falando –, exteriorizada em toda a sua vida prática e em toda a sua acção governativa inconfundível. Inconfundível!... Tudo, porém, se confundiu e inverteu, quando, ao perto e ao longe, se abriram as portas da insânia, da intolerância e da malquerença, tendo o Sr. Dr. Veiga de Macedo encarado e enfrentado a adversidade com verdadeiro espírito cristão. “Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso; não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados; a medida que usardes com os outros será usada também convosco.” (do Evangelho de S. Lucas)

O que S. João de Brito, mártir, disse de si mesmo: “Quando a culpa é virtude, o padecer é glória”, pode dizer-se, também, com muita propriedade, do Sr. Dr. Veiga de Macedo. Apenas uma ilustração do seu pensar e do seu sentir exemplarmente cristãos, e da sua vivência dessa adversidade, que se encontra no seu belíssimo, admirável poema “Oração do Poeta”, cuja parte fi nal passo a recitar:

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(...)“Senhor, que a minha poesia seja amor e não rancor.Que ela seja luz e não escuridão.E perdão e bonançae não guerra, retaliação ou vingança.Que ela seja escalada e comunhãoe não luta ou separação de irmão.Que ela, Senhor, minore o sofrimento e a saudadee leve um gesto de fraterna solidariedadea cada luto ou lamento.Um lenitivo a cada ferida, um beijo ou um sorriso a cada despedida.Que ela seja arrimo dos injustiçados, dos oprimidos e perseguidos,dos emigrantes e exilados.Que ela, Senhor, exalte os pobrezinhos, coitados, que andam rotos e esfaimados pelos caminhos, ao sol e ao relento, ao frio, à chuva, ao vento.Que ela dulcifi que e anime os coraçõese encha as clareiras e as veredas de festões.Que ela seja tão pura e singela e transparenteque toda a gente possa senti-la e entendê-lae fazer dela sua emoção e sua oração.Que ela seja, Senhor, arauto da liberdadee anúncio da Tua verdade e Tua amizade.

S. Paulo, 8 de Novembro de 1982

Na grande pátria irmã que é o Brasil, novas perspectivas e novos cenários se abriram às suas consagradas capacidades intelectuais. Foi, sobretudo, o magistério universitário, para o qual estava fadado mercê da sua profunda e sólida formação jurídica. Foi, ainda, toda uma actividade em prol da nossa língua e da cultura nas suas áreas variadas, para o que criou, com outros intelectuais portugueses e brasileiros, a Academia Lusíada das Ciências, Letras e Artes, tendo-se também distinguido como conferencista de vastos recursos. Uma das suas conferências – “Platão à Luz da Sua Ideia sobre o Estado e o Direito” - está em vias de ser editada.

A sua obra de grande prosador, conhecedor exímio dos segredos da linguagem, com numerosas publicações sobre as mais variadas problemáticas, prolongou-se, assim, e enriqueceu-se em terras brasílicas. Mas é como poeta que ele alcandorou a nossa língua às culminâncias da arte e da beleza, com uma obra poética extensa, original, estilisticamente inconfundível, em razão do recurso a novas potencialidades e virtualidades gramaticais e semânticas, e que tanto faz lembrar Fernando Pessoa como António Nobre, João de Deus como António Correia de Oliveira, Camões como Guerra Junqueiro. Toda a sua obra poética, bela, sugestiva, expressiva, mística, emotiva, sonhadora, sempre nova e sempre actual, exprime e testemunha a juventude perpétua do seu autor, que radica no espírito sempre ansioso e insatisfeito, sempre aspirando à perenidade e ao infi nito. A dimensão de eternidade que, na óptica ou perspectiva cristã, tem a vida humana, vem justamente ao encontro desta exigência do espírito ou da alma. É essa dimensão que faz com que todas as nossas acções, boas e más, moralmente falando, se repercutam na eternidade. Ora é esta juventude de espírito, este estado de alma, esta realidade, de que o poeta Dr. Veiga de Macedo tem profunda intuição, como é próprio de quem possui verdadeira alma de poeta, que ele exprime poeticamente, recorrendo às imagens ou metáforas da madrugada e do amanhecer, como no belo soneto, admiravelmente expressivo e signifi cativo, que teve a enorme gentileza de me dedicar e que passo a referir:

“Com estima verdadeira a “fulano de tal” (que sou eu),que à minha porta bateu, precisamente quando este singelo verso brando aconteceu.

Doce ilusão?Nesta tarde ardente não longe do fi m.Para aqui estive a regar, a regar as sequiosas fl ores deste meu jardim,que já me estremecem de eu tanto as amar.Ao vê-las, agora, a sorrir para mim,no ritmo das cores que são seu falar -o verde, o amarelo, o azul, o carmesim -,sinto o entardecer a querer madrugar.Ou será ilusão por mim procurada

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na ideia também de me ver madrugadaneste entardecer em que mais me entardeço?Formulo a pergunta, mas deixo-a no ar,que as asas das brisas a hão-de levare me dirão que, em verdade, amanheço.

Santa Maria de Lamas, 3 de Agosto de 1990

Figura muito ilustre da nossa literatura, da nossa história, da nossa cultura e civilização, para o Sr. Dr. Veiga de Macedo vai o preito do maior apreço, da maior consideração, admiração e amizade.

Nesta homenagem singela, mas comovida, está envolvida e dela é alvo e destinatária - como não podia deixar de ser, porque são dois num só, e não separe o homem o que Deus uniu - a excelentíssima esposa, D. Ália, Senhora de raras qualidades e excelsas virtudes.

Que Deus lhes dê ainda muitos anos de vida, com saúde, para regozijo dos seus inúmeros admiradores.

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Homenagem ao Dr. Henrique Veiga de Macedo

A Fundação Comendador Joaquim Sá Couto e a Liga do Amigos da Feira saúdam vossas excelências e manifestam ao Senhor Dr. Henrique Veiga de Macedo a muita admiração, consideração e estima por tudo quanto representa e quanto realizou pela gente portuguesa e em especial pela Terra de Santa Maria. Tendo nós o privilégio de o ver chegar à linda idade de nove décadas, apossa-se de nós o prazer de com ele viver a alegria de haver sonho, amor, poesia e vida e desejamos também que este momento seja de exaltação, por isso partilhado com os que puderam deslocar-se e, juntas, as nossas vozes e aplausos sejam testemunho no amanhã do sentimento de gratidão dos homens de hoje. A Terra de Santa Maria orgulha-se de Vossa Excelência; bem haja Senhor Dr. Henrique Veiga de Macedo, bem hajam vossas excelências.

Laf

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98 a janela é um rasgãoConceição Paulino*

a janela é um rasgãono tecido de pedra por ela a luz entra sai a curiosidadeo olhar se expandee respira a casa no passar dos temposno abandono das gentesrasga-se o tecidoque a sustenta já não casajá não janelajá não bocapor onde olhar e arcirculam simultaneidadede rasgõesretalhos da casae das memórias. a céu aberto expostaferida.

*Natural de Beja. Escritora. Publicou As Tarefas Transparentes (1993)

-O Luar da Espera (1994) - Falar Mulher (1997) - Salvador o Homem e

Textos Inconsequentes (2007) - O meu País é um sonho sonhado (2009).

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99

Homenagem ao Dr. Henrique Veiga de Macedo

José Coelho dos Santos*

“Somos ambos das abençoadas Terras de Santa Maria, poucos meses separam o seu e o meu nascimento, toda a sua vida acompanhei com o maior carinho e admiração, a de político e a de pai; não admira que, volvidos tantos anos e já a percorrer a década que o levará ao centenário, uma falange enorme de admiradores de todas as idades esteja consigo e o eleja como exemplo de homem e de patriota. A nossa fé e a protecção do Senhor Nosso Deus e da Virgem Maria muito ajudaram a vencer momentos de injustiça e amarguras. O Dr. Veiga de Macedo foi um predestinado e soube servir-se da vida que Deus lhe deu para espalhar carinho, competência, benevolência e amizade por onde passou. Meu bom amigo, que Deus o continue a acompanhar e proteger, bem como à Sra. D. Ália, a excelsa Senhora cuja beleza e bondade são referências para todos quantos a conhecem desde quase menina. Recebam o meu muito afectuoso e amigo abraço de parabéns.

* Natural da Vergada, Mozelos. Empresário. Inventor. Galardoado em Salões Internacionais de Inventos, nas Exposições de Milão - 1983 (Medalha de Ouro e do Centenário de Leonardo da Vinci), Viena - 1984 (Medalha de Ouro), Eureka - Bruxelas - 1984 ( Medalha de Ouro) e Nuremberga - 1988 (Medalha de Ouro).

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100 OásisMaria Gracinda Coelho de Sousa*

À janela do tempo,estendo suavemente o fi o do olhare a luz poente, envolvente, deixa-se por mim embalar.Brinco com as palavras, segredo melodias,procuro nos sons dispersos a magia.Namoro em silêncio o pensamento, como tesouro a preservar e ai! um pássaro andante fi ca preso em meu olhar,voa nas asas do ventoe comigo em sintonia, convida-me a voar.Vejo passado, presente, contas a desfi ar.Avisto trajectos, vou sempre planando,em subtis voos, diferentes, desiguais,uns seguros, outros incertos,sempre leves, lisos e discretos.Escrevo histórias, canto com versos, já corri planaltos, subi montanhas,galguei planícies, construí pontes.Escutei a sinfonia solta e livre do vento,guardei crivo de sons em meu pensamento.

Fui atrás do sol e com fi lamentos de luz,e malabarismos de cor,construí oásis no desertoe por encantamentodescobri o Amor.

Jan/10

*Poeta. Escritora. Autora de vários livros, em especial para a infância.

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Homenagem ao Dr. Henrique Veiga de Macedo

António Ramalho Eanes*

“Muito gostaríamos, minha mulher e eu, em estarmos presentes no almoço convívio com o Senhor. Dr. Henrique Veiga de Macedo no dia 15 de Maio; não nos é, no entanto possível, materializar essa presença. O compromisso assumido anteriormente de nos juntarmos em Mirandela ao ex-batalhão 1889 impede-nos de estarmos presentes; pretendemos, no entanto, associar-nos a esta justa homenagem e marcar presença de amizade e muito apreço pelo nosso bom Amigo Dr. Veiga de Macedo, a quem muito admiramos pelo testemunho de vida, de dignidade, coragem e verticalidade e pela obra notável na área social e da educação que marcou profunda e exemplarmente o nosso País.

* Presidente da Républica de 14-07-1976 a 09-03-1986.

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102 WaltSérgio Almeida*

O teu infi nito limita-me.Habito uma existência serena: não vêm até mim imagens de “folhas mortas que rodopiam num turbilhão em espiral e que caem no solo imóveis e satisfeitas”. Ou fragmentos “de abelhas selvagens e peludas que murmuram e suspiram em todos os sentidos”. As “garças reais de crista amarela” e as “barbatanas de tubarão que cortam a água como uma lasca negra” sempre me negaram guarida.Tudo se processa em mimsem a magnifi cência dos deuses e outros seres superiores. As vozes que julgavapalpitarem-me no íntimodevem-se afi nal à má vizinhança.

* SÉRGIO ALMEIDA nasceu em Luanda no ano de 1975. Reside em Espinho. É autor dos livros “Análise Epistemológica da Treta” (contos), “Armai-vos uns aos outros”, “Como fi car louco e gostar disso” (prosa poética), “Ob-dejectos” (prosa poética).Participou nas antologias de contos “São João do Porto” e “Fora deJogo”. Coordenou o volume “Poesia de Luiza Neto Jorge Traduzida”. É membro fundador do colectivo de intervenções poéticas Sindicato do Credo. É jornalista do JN.

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Senhor Doutor Henrique Veiga de Macedo

Domingos Coelho*

Mesa da presidência, meus amigos, Jean Guiton, que é considerado um dos mestres do pensamento do séc. XX, afi rmou: “Acho uma felicidade, nos meus noventa e cinco anos, uma idade muita avançada que a maior parte das pessoas não consegue alcançar, poder conhecer uma espécie de nova juventude.” La Colbert (?) dizia: “Não envelheci, conheci várias juventudes. Penso que cheguei à altura da última fase da juventude e tenho a curiosa impressão de ter todas as idades ao mesmo tempo. A minha velhice está marcada pela juventude do meu estado de espírito; envelhecer é ver Deus de mais perto.” Aqui fi ca, em corpo inteiro, um luminoso retrato do Sr. Dr. Henrique Veiga de Macedo. Acrescento só mais uma pincelada simples: nas obras que foi publicando ao longa da sua operosa vida, em prosa e em verso, transparece a sua personalidade ricamente ecléctica, a sua verdadeira independência mental e liberdade de espírito, a profundidade da sua cultura e clareza de pensamento, a ousadia irreverente de algumas tomadas de posição pouco ortodoxas. Tudo isto – e é muito – dá às suas mensagens um fascínio muito especial, porque transmitem a sua multímoda experiência humana, social e política. Em síntese, foi um autêntico mestre no pensar vigoroso e no agir determinado, ao contribuir com a sua intensa luz interior para uma sociedade mais justa e harmoniosa e, ainda, para esclarecer e aprofundar o discernimento lúcido de tantos problemas sociais e educacionais. As árvores, quando são fortes e frondosas, não partem, não morrem, só abanam. E o nosso homenageado aqui está de pé, para júbilo de todos nós. Bebamos com ele o vinho da nossa fraterna solidariedade.

*Presidente da Câmara Municipal de Vila da Feira de 14 de Maio de 1959 a 13 de Maio de 1971.

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depois fi nalmente cerrar os braçosuns sobre os outros com o vagar das corolas fechando-seaconchegar os peitos apertá-los tanto até esmagaros maquinismos pulsantes que os habitamesperar ainda que se escoem todos os sons interiorese deixar-se morrer como um eco extraviadoou um cavalo exausto perdido na noiteenquanto as íntimas salas se inundam de silêncio

quando enfi m ressuscitarmos desta ansiada mortedemorar mais uma eternidadepara recuperar os próprios braços

(por isso são tão raros os abraços verdadeiros)

antes que nos abrace e abrase um daqueles nósde víboras jorrando em lume das nuvensantes que se fechem sobre nós os tentáculos de um tsunámiantes que se abatam sobre o coração os acúleos dos escorpiõesantes que nos torture e triture o doce amplexo do nadaabracemo-nos nós (vê as horas - deram-nos escasso o tempoe um abraço a sério pode durar uma eternidade)

abrir muito os braços deixá-los crescer e crescertê-los aptos disponíveis para abarcaruma fl oresta impossível de sequóiasou desenhar a órbita de um cometa errantefechar os olhos invertê-los voltá-los para dentrolevá-los aos recessos mais íntimos da almaesperar assim outra eternidade sem sabero que de lá vem se a assombração do mundose uma hecatombe se a criação de uma nova galáxiaesperar como quem sabe que vem chegandonum carro de aromas a primaveraesperar que se desdobrem um a um lentamentetodos os pampilhos das pradarias

Receita para abraçoAnthero Monteiro*(inédito)

*Escritor e poeta natural de S. Paio de Oleiros. É autor de vários livros de

poesia e de ensaio.

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105 DOUTOR HENRIQUE VEIGA DE MACEDO

De Parabéns !

27 de Abril 1914-2004

Manuel Magalhães de Lima*

Na Conservatória do Registo Civil de Santa Maria da Feira, com referência ao ano de 1914 existe um registo com o número 684 do teor seguinte: “As sete horas do dia 27 de Abril de 1914, nasceu numa casa do lugar da Lagoínha, da freguesia de Lamas deste concelho, um individuo do sexo masculino, a quem foi posto o nome completo de Henrique Veiga de Macedo, fi lho legítimo de Henrique Francisco de Macedo, de trinta e sete anos de idade, no estado de casado, de profi ssão industrial, natural desta freguesia de Lamas, e de Palmira Alves Ferreira da Veiga, de trinta e um anos de idade, no estado de casada, de profi ssão doméstica, natural da dita freguesia de Lamas, ambos domiciliados no dito lugar da Lagoinha, neto paterno de Manuel Francisco de Macedo e Rosa Pedrosa de Jesus e materno de António José Ferreira da Veiga e de Rita Alves dos Santos.”

À margem, constam dois averbamentos: O primeiro, de 10 de Maio de 1934, em que seu Pai lhe outorga emancipação; o segundo, de 25 de Novembro de 1938, registando o seu casamento com a Senhora D. Ália Serra da Silva Campos Neves. Parabéns, Senhor Doutor Henrique! De parabéns está Santa Maria de Lamas, o concelho de Santa Maria da Feira, Portugal. Parabéns. Gloriosos noventa anos! Socorro-me da Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura, Volume 12 de 10 de Outubro de 1971 onde, da Autoria do Dr. José Paulo Batalha Ribeiro e, sobre o aniversariante, leio o seguinte: “Licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra (1939), foi Subsecretário de Estado da Educação Nacional (1949-1955), Ministro das Corporações e Previdência Social (1955-1961) e Presidente da Comissão Executiva da União Nacional (1961-1965). Desde 1961 é Deputado à Assembleia Nacional e Presidente do Instituto de Obras Sociais. Da sua vasta actividade de Homem político destacam-se a elaboração do Plano de Educação Popular, da Lei 2092 (empréstimos para fomento de habitação), o início da reforma do sistema de previdência, a concessão de bolsas de estudo e a criação de colónias de férias, além de numerosas iniciativas nos campos da educação, do trabalho, da previdência e da habitação. No seu mandato ministerial instituíram-se as primeiras corporações”.

*Técnico Ofi cial de Contas. 1º Comandante dos Bombeiros Voluntários de Lourosa.

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Apesar de um tal “curriculum”, que, pecando por defeito, diz o essencial, chegada a gloriosa Revolução dos Cravos, foi o Doutor Henrique forçado a emigrar para o Brasil irmão que o recebeu de braços abertos. E aí se dedicou, após as naturais difi culdades do início, ao ensino em Faculdades Brasileiras que colheram os frutos do seu saber feito de estudo, esforço e honradez. Roído de saudades da Família e do Torrão Natal, mergulhou profundamente todo o seu sentimento na poesia, e, na saudade, criou belíssimos textos que veio a publicar e que foram recebidos com todo o agrado:”Ponto de Encontro”, em 1987; “Eu sou de Santa Maria”, em 1992; “Voz da Terra”, em 1999. Havendo tomado conhecimento deste facto, Monsenhor Moreira das Neves, o mavioso autor de “Sonho Azul”, dedicou ao nosso aniversariante um belíssimo soneto no qual referia que... “bendito seja o mês de Abril”, por ter feito revelar-se um tão talentoso Poeta! Concordo com o P. Moreira das Neves. O Doutor Henrique Veiga de Macedo, tem produzida imensa Obra poética que aguarda publicação. E toda a sua poesia é serena, calma, esperançosa, delicada, suave, deliciosamente saudosa...

Quero dar-lhe os parabéns, meu Excelentíssimo Amigo, por mim e seguramente, pela grande maioria dos seus Conterrâneos, pelos NOVENTA anos de jovialidade, de amizade, de doçura que o seu convívio proporciona.

Desejo dar-lhe uma prenda. E vou dar-lha: Permita-me que vá consigo num voo de saudade até S. Paulo, ao preciso momento da apresentação do seu “PONTO DE ENCONTRO”. E que aí lhe ofereça um cálice de Vinho do Porto. Vamos bebê-lo à sua saúde, Senhor Doutor Henrique Veiga de Macedo. Como? …Deixando aqui, de sua autoria, o:

VINHO DO SACRIFÍCIO

O cálice do vinho em minhas mãos seguro,Mas não seguro a comoção que me domina.Esta cor de rubi tudo em volta ilumina,E esta essência inefável é brinde ao Futuro.

É o passado que eu, porém, no vinho apuroQuando levo ao alto a taça cristalina,E bebo o néctar que ela tem - graça divinaE fruto dum esforço humano, ingente, duro.

E é nesse instante de profunda comunhãoCom Deus, e com o Sol e a seiva do meu Douro,Que eu de pena e de dor me afl ijo todo... estouro.

Ai! Este vinho traz-me à mente e ao coraçãoO sacrifício, lá longe, das pobres gentesQue o tingem com seu sangue em escarpas ardentes.

Tinha que ser o Senhor Doutor Henrique a fechar com chave de ouro as descoloridas palavras que nesta data feliz lhe dedico. Resta-me deixar-lhe um muito obrigado pela sua generosa dádiva à Pátria e aos mais desfavorecidos. Parabéns!

Feiteira, Abril de 2004

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107 Homenagem a Henrique Veiga de Macedo

Alfredo Henriques*

Digníssimos familiares do Dr. Veiga de Macedo, Srs. Convidados, organizadores deste convívio e desta homenagem, em nome dos feirenses, em nome do município de Santa Maria da Feira, eu não podia deixar de estar aqui presente, e é com a maior satisfação que estou aqui, neste almoço, ao lado do Dr. Veiga de Macedo. Falar do homem não será apropriado da minha parte, dadas até as intervenções que foram tidas até ao momento. Todos nós conhecemos a personalidade do Dr. Veiga de Macedo, a inteligência, o empreendorismo do Dr. Veiga de Macedo, a honestidade, a dedicação aos outros. E, hoje, falou-se, aqui, muito de perdão, de doação aos outros, e o Dr. Veiga de Macedo personaliza e personifi ca todas essas virtudes. Por isso eu não queria estar a entrar aqui na... e a falar sobre esta personalidade que todos conhecemos, mas vou falar e vou dizer umas palavras só sobre um aspecto da vida do Dr. Veiga de Macedo, e é esse, efectivamente, que me traz aqui hoje, especialmente, que é a ligação que o Dr. Veiga de Macedo teve sempre às terras de Santa Maria, a Santa Maria da Feira e a Santa Maria de Lamas. Aliás, nos seus escritos (e quem tem a ocasião, e eu tenho a curiosidade de, sempre que tenho conhecimento, ler os escritos do Dr. Veiga de Macedo), é notória a sua ligação, as raízes, a ligação às raízes, a ligação à sua terra - Santa Maria de Lamas - , em particular, e a Santa Maria da Feira. E é por essa ligação às raízes que o Dr. Veiga de Macedo sempre teve e mantém que, em nome dos feirenses, em nome do município de Santa Maria da Feira, eu aqui estou a agradecer-lhe toda a sua dedicação, tudo aquilo que fez por Portugal, aquilo que fez por Santa Maria da Feira e que fez por todos.

Muito obrigado.

* Presidente da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira

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Jantar de Homenagem - 15 de Maio de 2004

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Bolo de Aniversário H. V. M.

Henrique Veiga de Macedo e Dona Maria da Graça, Dona Dorinda e Alfredo Henriques,

Ludgero Marques, Magalhães de Lima,

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Dona Ália, Roberto Carlos,

Celestino Portela e Carlos Maia,

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Senhor Doutor Joaquim Vieira e um aspecto da mesa de Honra.

Um cumprimento especial de José Manuel Cardoso da Costa e Dona Manuela Formigal.

Dona Maria José e Mário Cancela.

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A partilha do bolo de aniversário. O homenageado com um grupo de amigos.

Um autógrafo para o admirador Roberto Carlos.

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113 Palavras proferidas por Henrique Veiga de Macedo, na Homenagem que, no dia 15 de Maio de 2004, lhe foi prestada em Santa Maria da Feira

Henrique Veiga de Macedo*

Palavra Preliminar

Antes de me debruçar sobre a nossa Terra e as suas Gentes, apetece-me registar duas asserções que, pela sua densidade e beleza, muito me impressionaram, e impressionam. Uma é de Anatole France, e outra de Karl Jaspers. A do célebre escritor francês, autor de “La Révolte des Anges» e Prémio Nobel da Literatura de 1922, é esta: “Un homme n’est rien, quand il n’est pas le produit de sa terre “. A outra, que a seguir se reproduz, inscreveu-a, em seu livro «Razão e Contra-Razão do Nosso Tempo”, o grande pensador germânico, – o da fi losofi a existencial ou fi losofi a da existência,- autor de vasta e profunda obra, que continua a ser estudada, interpretada e difundida, mormente nos meios votados à refl exão fi losófi ca: “Eis um outro amor: Aquele que nos prende aos lugares em que nascemos, à Pátria, ao nosso passado histórico, às raízes que sabemos serem as nossas.

Sinto-me transportado e envolvido até na realidade quotidiana; sinto-me dirigido por este primeiro princípio que tanto menos renego quanto mais sou eu próprio”.

Senhoras e Senhores: 1. – Neste dia, para mim singularmente jubiloso, em que os meus patrícios quiseram assinalar o aniversário dos noventa anos que ora completo, com a pedra branca da sua proverbial magnanimidade, recordarei uma palavra para mim muito especial: – a palavra através da qual, em Janeiro 1966, no Salão Nobre do nosso Município, a que então presidia, com superior discernimento, o Dr. Domingos Coelho, tentei traçar o perfi l psicológico e moral, ou a maneira de ser e estar na vida das Gentes de Santa Maria. Fi-lo então, e faço-o hoje, naquele mesmo espírito de Teixeira de Pascoaes, o marânico Poeta do Saudosismo ou “...essa Ave Metafísica,” no dizer de Sant’Ana Dionísio, em livro notável de 1952. 2. – Eis, Amigos, essa palavra, porventura de alguns conhecida, pois a incluí no meu livro de 1992 “ Eu Sou de Santa Maria – A Força da Raiz”: “Será por acaso que o Concelho da Feira se recorta geografi camente em forma de coração? É possível. Mas já não é fruto do acaso ser o coração a imprimir forma e sentido culminante à vida dos Feirenses, quer no amor a Deus, sempre no centro dos seus anseios e labores, quer no ardor com que se votam à causa da Pátria, que eles, como poucos outros,

* Ministro de Portugal. Poeta e Escritor. Faleceu em 25 de Janeiro de 2005.

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ajudaram a fundar, quer nas relações humanas em que a sua bondade se desdobra, em actos de afabilidade e doçura, de compreensão e de benemerência. E onde há quem se apegue tanto ao trabalho e de mostrar tão serena e consciente alegria de viver?

Onde, como na nossa Terra, as formas de convívio e as fontes de cultura estão a desenvolver-se tão harmoniosamente e o interesse pela instrução se exprime em progressão tão animadora? Onde o avanço da técnica e a melhoria das condições de vida se têm registado com tanta normalidade e tão salutar acatamento dos valores morais e da tradição? Haverá ainda quem, como as gentes das Terras marianas, tenha noção mais perfeita da liberdade das pessoas e da autonomia das instituições e se sinta inclinado a favorecer e a aceitar o triunfo dos melhores, independentemente da sua origem e bens de fortuna? Este é um aspecto muito peculiar da personalidade do Feirense, sempre disposto a manifestar-se contra os sistemas de privilégio no campo social ou económico, e a empenhar-se na instauração de condições legais e de facto susceptíveis de proporcionar a todos iguais possibilidades de trabalho e de acesso. Dir-se-ia que o progresso crescente deste Concelho fl ui desta concepção, ao mesmo tempo liberal e aristocrática, que o homem da Feira tem da vida e da sociedade, à qual alia um subtil senso jurídico e moral que o leva a respeitar a lei e a autoridade, desde que esta se não abastarde, hipotecando-se a interesses inconfessáveis. Pacífi co por índole e por educação, não se recusa a lutar quando está em causa a sua honra ou se trata de salvaguardar valores essenciais da vida humana ou do património moral e material da Grei. Acessível, franco, simpático, tem o gosto inato da convivência e o nobre sentido da solidariedade. Dotado de raro espírito social, é avesso a tudo o que implique separação ou segregação das classes, sendo de notar que, mesmo quando enriquece ou melhora de posição, não altera a simplicidade dos hábitos, sem embargo de possuir uma noção hierárquica da vida, ao aceitar o primado do espírito, ao respeitar os chefes legítimos, ao admirar e exaltar os homens que, por seus méritos, conseguem distinguir-se. Revê-se orgulhosamente no seu Castelo de maravilha, “poema de revolução e de resgate”, no dizer certeiro de

Arlindo de Sousa, e venera, nas suas pedras morenas e altaneiras, carregadas de história e de lenda, o esforço hercúleo, intimorato e pertinaz dos seus Maiores na formação de Portugal e, depois, na sua consolidação e expansão. Não se queda, todavia, estático e abúlico, na contemplação das glórias do passado, antes se afadiga em ser digno delas, abrindo, com a força do braço ou a luz da inteligência, as clareiras do futuro. Cioso dos seus pergaminhos colectivos, familiares ou pessoais, não os exibe, não os mede pelo mero decurso dos anos: – se os respeita no símbolo dos seus brasões ou escudos de armas, nas obras valorosas que levantou, ou nas mãos calejadas pelo trabalho, acrescenta-os, renova-os, legitima-os, dia-a-dia, com a sua acção e sacrifício. E quando os não possui, cria-os, seja vergado sobre a terra que rasga amorosamente para que se desentranhe em fl ores e em pão; seja ocupado na fábrica e na ofi cina a transformar e a afeiçoar a matéria para que esta melhor possa servir o homem; seja no remanso dos gabinetes, na repartição, no escritório, na escola, a estabelecer ou a aperfeiçoar as normas de conduta, a conhecer e a aproveitar as forças da natureza, a surpreender e a interpretar as manifestações da vida, a formar e a educar as novas gerações...” 3. – Dita esta palavra, que eu de forma alguma poderia omitir, tenho de revelar-vos que, há muito já, confi ei ao Dr. Celestino Portela, com outros documentos pessoais e bastantes poemas, um acervo de notas biográfi cas a meu respeito, às quais esse querido amigo agora tornou públicas, com a cumplicidade cordial da L.A.F., da magnífi ca Revista Villa da Feira e desse outro excelente amigo e excelente Mestre-artista de primeira água, que é Joaquim Carneiro. A todos envolvo no apertado abraço da minha indelével gratidão. Aliás, nem sei bem que mais dizer a Celestino Portela, tantas são as deferências com que me vem honrando. Já perante ele me declarei insolvente, embora saiba que o Dr. Celestino é contumaz reincidente nas atenções que me vem prodigalizando. Por tudo, bem haja, Amigo! E como poderia eu esquecer mais dois distintos Feirenses também ligados à iniciativa deste agradável Convívio à volta do aniversariante, deste vosso relapso aniversariante que, ao menos julga ter sabido envelhecer com esperançosa alegria? Refi ro-me a Fernando Sampaio Maia e a Carlos Maia, a quem fi co devendo mais esta manifestação de simpatia, a juntar a tantas outras mais que deveras me sensibilizaram.

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Para um e para outro vai, pois, com o meu agradecimento, o abraço deste amigo certo e dedicado. 4. – Igualmente me desvanece a presença do nosso Presidente da Câmara, a quem reitero o meu grande e amistoso apreço e agradeço as amabilíssimas palavras que acaba de me dirigir e que tanto me penhoraram. Nele, que a todos nós institucionalmente preside, eu saúdo os Feirenses que aqui vieram felicitar-me, agora que chego ao nonagésimo ano de existência. Todos sabem quanto me orgulho de ser vosso conterrâneo. E não faltam fundas razões para dar graças a Deus por me haver feito nascer nesta pequenina, pequenina e amorosa Pátria do meu enlevo. E há-de ser nesse ilustre Amigo, o Doutor José Manuel Cardoso de Costa, alta fi gura santamariana, e nacional, que de Coimbra agora se deslocou à sua terra de nascimento e do coração, que eu comprimento quantos, vindos também de longe, aqui estão a viver esta hora de verdadeira confraternização. A todos, a começar pelo nosso Professor José Manuel, eu exprimo o melhor agradecimento pela sua tão signifi cativa presença. 5. – Chegado a este ponto, devo recordar dois homens extraordinários que também cooperaram na recolha e selecção de elementos, e na sua sucessiva actualização, para as notas biográfi cas agora impressas. Um, o Dr. João Ferreira de Almeida, foi Director Geral do Ensino Superior e das Belas Artes e Presidente da Junta Nacional da Educação. O outro, o Doutor Francisco da Gama Caeiro que, quando ocupei postos governativos, me assessorou, como Secretário, e depois como Chefe de Gabinete. Posteriormente, Gama Caeiro haveria de ser Professor Catedrático da Universidade de Lisboa e, durante os anos em que esteve no Brasil, da Universidade de São Paulo – USP. Assim se compreenderá que estes homens de efectivo valimento intelectual e moral, eu os tivesse de tornar presentes neste acto público, tantos foram os serviços que, durante anos, me prestaram, e à causa pública, com inexcedível zelo e raríssima dedicação. 6. – Estou vendo aqui a Doutora Maria Adelaide Pires que, após ter sido professora do Ensino Primário, ascendeu, por mérito próprio, num exemplo edifi cante de força de vontade e de sacrifício, a professora universitária. É hoje professora na Faculdade de Psicologia e das Ciências da Educação da

Universidade de Lisboa, depois de o ter sido da Universidade do Minho, e da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.Pois esta Senhora, amiga desde os tempos da Campanha Nacional contra o Analfabetismo, deu-me preciosa ajuda na preparação e revisão e na actualização dos apontamentos biográfi cos agora publicados. Não terá tido grande difi culdade em fazê-lo, uma vez que é autora de um minucioso e criterioso estudo que, a convite da Faculdade de Psicologia e das Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, publicou sob o título “O Plano de Educação Popular ou a Legislação de 27 de Outubro de 1952”, cujos elementos em boa parte foram aproveitados para esse meu Curriculum Vitae. Daí, Doutora Maria Adelaide, que eu lhe reitere o meu reconhecimento e lhe diga que muito me apraz vê-la aqui, como amiga que é, e como que a representar esses milhares de professores do Ensino Primário, aos quais, em muito, se deve o êxito do Movimento de Educação Popular que, nos idos tempos, me foi dado lançar e dirigir. 7. – E que dizer das palavras do Dr. Joaquim Vieira a quem me ligam fortes laços de amizade? Direi que me emocionaram. Se as agradeço pela força cordial da sua sinceridade, não menos as agradeço pela generosidade sem limites com que me atribuiu méritos que estou longe de merecer. Aqui está como o nobre sentimento da amizade pode retirar, ao que se afi rma, a fria objectividade dos juízos. Nesse pecadilho venial, e bem simpático, eu, precavido homem do Direito que sou, não quereria cair ao falar da obra que o Professor Vieira, vem realizando à frente da Fundação Henrique Amorim, esse homem bondosíssimo e grande benemérito que eu sempre evoco com viva saudade. É nessa posição de particular responsabilidade que o nosso Professor se distinguiu, e distingue, sobretudo na superior orientação do Colégio Liceal de Santa Maria de Lamas, já com cerca de 4000 alunos, benefi ciados por um ensino de nível e por uma educação integral de raiz cristã. É aí que a sua longa experiência, sólida formação, e marcada vocação de pedagogo esclarecido, se tem afi rmado, e vem afi rmando, de modo notável.

Amigos: Como vedes, aqui ao meu lado está a Mulher da minha vida. Está, como sempre esteve desde que, há 66 anos, num dia treze, em Fátima, para sempre unimos os nossos destinos,

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jurando, perante Deus, fi delidade absoluta. Será agora para ti, Ália, que devo reverter, e reverto, a Homenagem com que estimados conterrâneos e instituições de prestígio houveram por bem honrar-me neste esplendoroso dia de Primavera. Aceita-a com o amor que, nestes dilatados e fecundos anos, nunca esmoreceu, nunca esmoreceu... e nunca traído foi. É que, sempre foste inexcedível. Foste-o em tudo: – na vivência permanente dos mais puros sentimentos; na partilha inteira das alegrias, e das angústias, e algumas bem cruéis tivemos de enfrentar; no ânimo que, em horas de abatimento, me incutiste; na lucidez dos conselhos que me deste; e na primorosa educação dos fi lhos à luz dos princípios da tua consciente e fervorosa Crença católica.

E foste-o ainda, e de que maneira! naquele profundíssimo e comovente Afecto que, em dia abençoado, lá em Coimbra, nasceu... para não mais morrer.

E, neste pendor de alma, aceita também, Mulher, o meu beijo enternecido, e, com ele, esta camélia branca, há pouco colhida na Quinta ajoelhada aos pés do nosso Castelo, que, como sabes, muito me fala, fala e diz, em poesia, e não só, não só em poesia..., mas, como por certo todos sabereis, em realidades concretas, vivas e vivifi cantes de ordem social e cultural.

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117 OS PERESTRELOS DE FERMEDO E MILHEIRÓS DE POIARES

Manuel Joaquim S. Conceição*

Houve e ainda há na freguesia de Milheirós de Poiares pessoas de apelido Perestrelo, documentado desde há vários séculos. Algumas enciclopédias, ao abordarem esta localidade, noticiam este assunto e com reduzido freio da imaginação referem que nela viveram num passado distante ilustres nobres descendentes do cavaleiro Filipe Perestrelo, oriundo de Itália, de quem descende o famoso navegador português Bartolomeu Perestrelo. É o caso da enciclopédia Portugal Antigo e Moderno, de Pinho Leal1, onde se diz textualmente: “Foi esta freguesia [Milheirós de Poiares] solar dos Perestrêllos, que ainda hoje aqui teem descendentes lavradores. Era Perestrêllo um apellido, nobre em Portugal, que veio da Lombardia (Itália). Procede de Philippe Perestrêllo, cavalleiro lombardo, da cidade de Placência, que veio a Portugal, no reinado de D. João I, em 1431, com D. Leonor, mulher do príncipe D. Duarte, que subiu ao throno em 1433, por morte de D. João I, seu pae. Em 1433 lhe mandou D.

Duarte passar carta de nobreza e lhe deu brazão de armas, que mandou registar no respectivo livro em 1437.” Ou a Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira2 que reproduz as mesmas ideias: “Noutros tempos foi Milheirós de Poiares solar de famílias nobres. Apagados vestígios se encontram, hoje, destas linhagens. Os Perestrelos tiveram aqui sua residência no segundo quarteirão do século XV. Eram fi dalgos portugueses provenientes da Lombardia, na Itália, começando a gozar dos privilégios da nobreza e a ostentar brasão de armas. Esta família notabilizou-se principalmente num dos seus membros, Bartolomeu Perestrelo”. Ou ainda O Districto de Aveiro de Marques Gomes3: “Foi aqui [Milheirós de Poiares] o solar da nobre família dos Prestellos. Procede de Fillippe Prestello, de Placencia, que em 1428 acompanhou a rainha D. Leonor. Em 1437 D. Duarte lhe mandou passar carta de nobreza para si e seus successores. (…) Era d`esta família o celebre navegador Bartholomeu Prestello, que descobriu a ilha de Porto Sancto em 1418, quando tentava dobrar o cabo Bojador”. A fi m de averiguar o grau de veracidade destas afi rmações, fez-se um estudo genealógico, recuando-se até ao limite

* Natural de Milheirós de Poiares. Professor. Historiador.

1 Portugal Antigo e Moderno, Pinho Leal, vol. V, p. 228-229, 1875.

2 Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, vol. 17, p. 235, edição de 1978.3 O Districto de Aveiro, Marques Gomes, p. 210, Imprensa da Universidade, Coimbra, 1877.

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permitido pelos documentos, mostrando claramente a partir de quando é que Perestrelos passaram a viver em Milheirós de Poiares e qual a sua proveniência. É, no século XVII, na freguesia e concelho de Fermedo, que se encontrou a génese deste apelido, o casal João de Paiva da Silveira, notário deste concelho, e sua mulher Maria dos Santos Ferreira e Lima, com quem se dá início à genealogia em questão.

§ 1

I-João de Paiva da Silveira e Maria dos Santos Ferreira e Lima, com quem se dá início à genealogia dos Perestrelos de Fermedo e Milheirós de Poiares, dão notícia da sua existência a 28 de Agosto de 1669, por ocasião do baptismo de sua fi lha Briolanja4. Mas, já antes desta data, a 11 de Fevereiro de 1668, aquele é referenciado como testemunha de casamento de Bartolomeu de Paiva, provavelmente seu parente (irmão?), com Joana de Brito, do lugar do Adro, também da freguesia de Fermedo. Diz o mencionado assento de casamento5 que ele é escrivão, “João de Paiva escrivão” e reside nesta freguesia de Fermedo, “todos desta frg.ª”. Desempenha o cargo de escrivão do concelho de Fermedo. De facto é ele o notário do 2.º livro6 do Cartório de Fermedo com datas extremas de 7 de Maio de 1669 e 6 de Janeiro de 1670. Em mais nenhum livro ele é dado como notário. O 1.º livro7 conservado deste cartório data de 1654 e o escrivão é André Fernandes Mascarenhas. O 3.º livro8 tem como datas extremas 7 de Novembro de 1682 e 2 de Maio de 1683, sendo escrivão Baptista de Almeida e Oliveira. O 4.º livro9 tem início a 13 de Março de 1686, já depois da sua morte, sendo escrivão Bartolomeu de Paiva, presumível irmão de João de Paiva da Silveira. Tem pelo menos dois irmãos comprovados, Manuel de Paiva e Maria de Paiva, padrinhos do seu segundo fi lho chamado António, baptizado10 a 6 de Agosto de 1671, “foraõ padrinhos mel de Paiua e maria de Paiua

irmaõs do ditto Joaõ de Paiua”.

4 ADA (Arquivo do Distrito de Aveiro), Registos Paroquiais, freguesia de Fermedo, 1.º liv., misto, fl . 92.5 Idem, ib., 1.º liv., misto, fl . 115v.6 Idem, Notários de Fermedo, Liv. 39-2.7 Idem, ib., liv. 38-1.8 Idem, ib., liv. 40-3.9 Idem, ib., liv.41-4.10 Idem, Registos Paroquiais, freguesia de Fermedo, 1.º liv., misto, fl . 55.

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Bartolomeu de Paiva é tema do §2, dado o seu grande relacionamento com João de Paiva e provável parentesco (irmão). João de Paiva é natural de Romariz, como consta da Carta de Familiar do Santo Ofício11 referente a João da Silveira Zuzarte datada de 20 de Outubro de 1717. De facto, este João Zuzarte estava ajustado para casar, em 1720, com Mariana, neta daquele João de Paiva “D. Mariana Teresa da Silva, natural de Roda, freg. de S.ta Maria de Fermedo, Arouca, e moradora em Lisboa, fi lha de Manuel Gomes de Pinho, natural da freg. de Campanhã, termo do Porto, e de Briolanja Maria de Lima, natural de Fermedo, e aí moradores, neta paterna de Dr. António Gomes de Pinho, natural da freg. de S. Martinho de Cucujães, Oliveira de Azeméis, e de Joana Ferreira, natural de Fermedo, e materna de João de Paiva de Oliveira, natural da freg. de S.to Isidoro de Romariz, Feira, e de Maria dos Santos, natural de Lisboa, freg. de S. Nicolau, moradores em Fermedo.” O escrivão casou com Maria dos Santos, também conhecida por Maria Ferreira dos Santos e, mais raramente, sobretudo em documentos notariais, Maria dos Santos Ferreira e Lima. Ela é natural de Lisboa, como se viu no documento anteriormente citado. Desafortunadamente, não se encontrou registo deste casamento, nem na freguesia de S. Nicolau de Lisboa, local donde ela é natural, nem em Romariz, local donde ele é natural, nem em Fermedo, local onde residiram. Da freguesia de S. Nicolau de Lisboa, apenas há registos paroquiais a partir de 1755, provavelmente por causa do terramoto, o que impossibilitou uma averiguação mais profícua, tanto mais que, mero palpite, o apelido Perestrelo terá entrado em Fermedo através desta senhora “dona” Maria dos Santos Ferreira e Lima, irmã do cónego da Sé de Lisboa António Nunes Pinheiro. Verifi ca-se que se relacionavam muito bem com o Senhor de Fermedo, com os párocos de Fermedo, P.e António Gomes e P.e Luís Coelho Falcão, com o pároco de São Miguel do Mato, P.e Melchior Pereira de Vasconcelos, com o P.e Manuel de Sousa, de Fermedo, com os irmãos ou cunhados Maria de Paiva, Manuel de Paiva, Bartolomeu de Paiva e Cónego António Nunes Pinheiro, etc. Durante alguns anos, viveram no paço do senhor deste concelho de Fermedo, desde pelo menos 1669 até 1673, como consta do registo de baptismo dos três primeiros fi lhos. O quarto fi lho já nasceu no lugar da Roda, também de

Fermedo, lugar onde este casal já residia, no ano de 1674, “Joaõ fi lho de Joaõ de Paiva e de sua m.er do lugar da Roda”. No entanto, quando a sua fi lha Briolanja, com cerca de 14 anos, surge como madrinha de baptismo de Joana12, fi lha de Vicente Alves e de sua mulher Maria Manuel, do lugar da Aldeia da mesma freguesia de Fermedo, baptizada a 5 de Junho de 1683, pelo menos, ela, a Briolanja, viveria ainda no paço pois, no registo do mencionado baptismo, declara-se que foram padrinhos “o Rd.º Abb.e de Sam Miguel do matto Melchior pr.ª de Vasconselhos e Birolanja f.ª de Joaõ de pajva da Silvejra m.or no passo”. Em 1684, ela ainda continuava a viver no paço, aquando do baptismo de Luís13, fi lho de Manuel de Pinho e de sua mulher Francisca Pais, em que Briolanja intervém como madrinha, “e madrinha birolania solt.ª f.ª de m.ª dos santos do passo”. João de Paiva da Silveira foi crismado em S. João da Madeira a 25 de Outubro de 167614. Foi padrinho de baptismo de: Ana [de Brito], fi lha de Bartolomeu de Paiva e de Joana de Brito, baptizada15 a 13 de Novembro de 1672, “foj padrinho João de Paiva mors no passo”; Manuel, fi lho de João Vieira e de sua mulher da Vila de Cabeçais, baptizado16 a 29 de Novembro de 1676, na igreja de Fermedo; Manuel, fi lho de Domingos Felix, da Vila de Cabeçais, baptizado17 na igreja de Fermedo a 2 de Dezembro de 1676, sendo madrinha Maria, fi lha de Gaspar Ferreira, freguesia de Carregosa. Maria dos Santos Ferreira e Lima foi madrinha de: Manuel, fi lho de Bartolomeu de Paiva e de sua mulher, do lugar do Adro, baptizado18 pelo P.e João de Paiva a 21 de Outubro de 1670, sendo padrinho o pároco de Fermedo, P.e António Gomes; Maria, fi lha de Manuel Jorge e de sua mulher, do lugar da Roda, baptizada19 a 1 de Novembro de 1676; Antónia, fi lha de Manuel Francisco e de sua mulher do lugar do Carvalhal, baptizada20 aos 24 dias do mês de Dezembro de 1677, sendo padrinho o Reverendo António Nunes Pinheiro, cónego da Sé

11 Arquivo do Distrito de Aveiro, vol. XXXIV, O Distrito de Aveiro nas Habilitações do Santo Ofício, n.º 215, p. 159, 1968.12 ADA, Registos Paroquiais, freguesia de Fermedo, 1.º liv., misto, fl . 86v. 13 Idem, ib., 1.º liv., misto, fl . 89.14 Idem, ib., 1.º liv., misto, fl . 161.15 Idem, ib., 1.º liv., misto, fl . 58v.16 Idem, ib., 1.º liv., misto, fl . 70.17 Idem, ib., 1.º liv., misto, fl . 70.18 Idem, ib., 1.º liv., misto, fl . 52v.19 Idem, ib., 1.º liv., misto, fl . 70.20 Idem, ib., 1.º liv., misto, fl . 72.

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de Lisboa, “foraõ padrinhos o Rdo Anto Nunes Pinheiro Conego na Santa see de Lisboa e madrinha maria dos santos mer de Joaõ de Paiua desta frg.ª”; Isabel, fi lha de Manuel de Pinho e de sua mulher do lugar do Adro, baptizada21 aos 11 dias de Novembro de 1686, sendo padrinho o Reverendo Abade de São Miguel do Mato, Melchior Pereira de Vasconcelos; Melchior, fi lho de António João, da Roda, baptizado22 a 17 de Novembro de 1687, sendo padrinho o Reverendo Melchior Pereira de Vasconcelos; sua bisneta Mariana, fi lha de Sebastião Baptista de Lima Perestrelo e de Francisca de Oliveira, baptizada23 a 24 de Janeiro de 1718. Provavelmente, apesar da diferença de apelidos, normal nesta época, ela deverá ser irmã do cónego da Sé de Lisboa António Nunes Pinheiro, anteriormente citado, que esteve presente no baptismo de Antónia, fi lha de Manuel Francisco, e que, como será dito adiante, deixou testamento24 considerando herdeira sua sobrinha Catarina de Paiva, fi lha do dito João de Paiva da Silveira e desta dita Maria dos Santos Ferreira e Lima, “…aparesseo prezen / te Cn.ª de payva molher de Joaõ pais de azevedo pessoa bem conhe / ssida de mim t.am e das test.as e por ella a propria nomeada no testa / m.to que fes seu tio Ant.º Nunes Pinheiro Coniguo da Cidade de / Lisboa…”. Nos documentos consultados, respeitantes ao casal João de Paiva e Maria dos Santos, não encontrei registado o apelido Perestrelo. Inclusive vasculhei os livros do Cartório Notarial de Fermedo, onde há registos diversos alusivos a esta família, mas sem grande interesse para o fi m em vista. É exemplo disso a compra de direitos do campo e mato chamado o Chão da Estrada, sito em Cabeçais, efectuada por duas vezes: a primeira25, aos 16 dias do mês de Dezembro de 1682, a Manuel Carvalho o Velho e a sua mulher Isabel Martins, moradores na vila de Cabeçais do concelho de Fermedo; a segunda26, aos 21 dias de Janeiro de 1683, a Manuel Carvalho o Novo e a sua mulher Maria Aranha, moradores também na vila de Cabeçais. A 26 de Julho de 1687, Maria dos Santos, já viúva, com o nome de Maria dos Santos Ferreira, compra27 um campo chamado o Valado, sito em Gestosa, freguesia de Escariz, a Jerónimo Francisco.

No entanto, presume-se que um destes cônjuges deverá ser descendente de família de apelido Perestrelo, pois um dos seus fi lhos chama-se António de Lima Perestrelo. Efectivamente, ainda antes de casar, este fi lho é identifi cado como António de Lima Perestrelo, no baptismo28 de sua sobrinha Margarida, nascida a 23 de Agosto de 1692 e baptizada a 26 do mesmo mês, em que ele intervém como padrinho. Parece ser a primeira vez que os registos paroquiais de Fermedo referem este apelido, “forão padrinhos ant.º de Lima pestrello seu tio”. Já, antes desta data, desempenhara a função de padrinho, mas no seu nome não consta este apelido, nomeadamente a 6 de Dezembro de 1682 no baptismo de Ambrósio29 e no de Manuel30 a 22 de Fevereiro de 1689, em que a identifi cação é respectivamente “António fi lho de João de paiua” e “Ant.o de paiua solt.º da Roda”. Embora os Perestrelos de Milheirós não descendam deste António, mas sim da sua irmã Catarina, ele é tema de desenvolvimento no §3 precisamente por representar a primeira referência deste apelido objectivamente comprovada em Fermedo. João de Paiva da Silveira e Maria dos Santos tiveram os seguintes fi lhos. 1(II)-Briolanja Maria de Lima, baptizada31 na igreja de Fermedo, a 28 de Agosto de 1669 pelo P.e António Gomes de Pinho, com licença do Reverendo Abade, sendo padrinhos o dito Reverendo Abade António Gomes e Maria de Paiva, provavelmente tia da baptizada, do lugar da Reguenga, “Birulania f.ª de Joaõ de Paiua, e de sua m.er M.ª dos Sanctos assistentes no Passo”. Como se disse, Briolanja viveu pelo menos até aos 14 anos no paço do Senhor de Fermedo. Mas em 1686, já com a idade de 16 anos, vivia no lugar da Roda, conforme registo de baptismo32 de Briolanja, fi lha de Manuel Francisco, do lugar Carvalhal, “madrinha burolania f.ª de M.ª dos Santos do lugar da Roda”. Esta Briolanja foi madrinha de: António, provável sobrinho, fi lho de Bartolomeu de Paiva e de Joana de Brito, baptizado33 na igreja de Fermedo, a 8 de Janeiro de 1681 pelo P.e João

21 Idem, ib., 1.º liv., misto, fl . 93.22 Idem, ib., 1.º liv., misto, fl . 95.23 Idem, ib., 2.º liv., misto, fl . 63.24 Idem, Notários de Fermedo, liv. 49-13, fl . 98v.25 Idem, ib., liv. 40-3, fl . 30v.26 Idem, ib., liv. 40-3, fl . 64.27 Idem, ib., liv. 42-5, fl . 5v.

28 ADA, Registos Paroquiais, freguesia de Fermedo, 1.º liv., misto, fol. 145.29 Idem, ib., 1.º liv., misto, fl . 84.30 Idem, ib., 1.º liv., misto, fl . 10.31 Idem, ib., 1.º liv., misto, fl . 49.32 Idem, ib., 1.º liv., misto, fl . 91v.33 Idem, ib., 1.º liv., misto, fl . 78v.

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de Paiva do lugar do Carvalhal, freguesia de Romariz, sendo padrinho o Abade de São Miguel do Mato Melchior Pereira; João, fi lho de Manuel Jorge e de sua mulher, do lugar da Roda, baptizado34 na igreja de Fermedo a 13 de Fevereiro de 1681, pelo Abade António Gomes, sendo padrinho o P.e Manuel de Sousa, desta freguesia; Joana, fi lha de Vicente Alves e de sua mulher Maria Manuel, do lugar da Aldeia, baptizada35 a 3 de Junho de 1683; Luís, fi lho de Manuel de Pinho e de sua mulher Francisca Pais, baptizado36 a 11 de Setembro de 1684, pelo P.e Manuel de Sousa, em Fermedo, sendo padrinho o Reverendo Abade Luís Coelho Falcão; Briolanja, fi lha de Manuel Francisco, do Carvalhal, baptizada37 a 10 de Fevereiro de 1686, na igreja de Fermedo, pelo pároco P.e Luís Coelho Falcão, sendo padrinho Gonçalo solteiro, fi lho de António Ferreira, do lugar da Roteia; Briolanja, fi lha de António de Sousa, do lugar da Aldeia, e de sua mulher, baptizada37 a 26 de Março de 1686, na igreja de Fermedo pelo P.e Manuel de Sousa, com licença do pároco, sendo padrinhos “Ant.º solt.º e madrinha sua irmaã birolania f.os de M.ª dos Santos da Roda”; José, fi lho de Manuel Francisco e de sua mulher, do lugar da Roda, baptizado38 a 15 de Agosto de 1690 pelo pároco Luís Coelho Falcão, sendo

padrinho José solteiro, fi lho de Manuel Brandão, do lugar de Peramô; Teresa, fi lha de António Francisco e de sua mulher Catarina André, do lugar Cabeçais, baptizada39 a 8 de Março de 1694, na igreja de Fermedo, pelo P.e Manuel de Sousa com licença do pároco, sendo padrinho o P.e Jorge. Casou40 a 17 de Agosto de 1697 com Manuel Gomes de Pinho, fi lho de Dr. António Gomes de Pinho, natural da freguesia de S. Martinho de Cucujães, Oliveira de Azeméis, e de Joana Ferreira, natural de Fermedo, na presença das testemunhas P.e Frutuoso Vieira, P.e Domingos Jorge e Bartolomeu de Paiva. O registo do casamento não menciona o nome do pai do noivo, “…resebi a Mel Gomes de pinho f.º de janna [sic] solt.ª de Cabesais com Virolania M.ª de Lima f.ª de M.ª fr.ª dos Santos V.ª do lugar darroda…”. Mas, em

34 Idem, ib., 1.º liv., misto, fl . 79.35 Ver nota 12.36 Ver nota 13.37 Ver nota 32 e ADA, Registos Paroquiais, freguesia de Fermedo, 1.º liv., misto, fl . 92, respectivamente de Briolanja, fi lha de Manuel Francisco, e Briolanja, fi lha de António de Sousa.38 ADA, Registos Paroquiais, freguesia de Fermedo, 1.º liv., misto, fl . 136.

39 Idem, ib., 1.º liv., misto, fl . 149.40 Idem, ib., 1.º liv., misto, fl . 129v.

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Habilitações do Santo Ofício citado41, está expressa a fi liação completa. Residiram no lugar de Roda, freguesia de Fermedo, provavelmente em casa de sua mãe. Deste casamento, que durou cerca de três anos, houve uma única fi lha chamada:-Mariana Teresa da Silva, nascida a 6 de Agosto de 1699, no lugar da Roda, baptizada42 a 12 do mesmo mês e ano, na igreja de Fermedo, pelo pároco P.e Luis Coelho Falcão, sendo padrinho seu tio António de Lima Perestrelo, da Vila de Cabeçais e madrinha Antónia Ferreira, do lugar da Reguenga, freguesia de Romariz. Esta Mariana estava ajustada para casar com João da Silveira Zuzarte43, em 1720, como consta da carta de familiar do Santo Ofício já indicada. Ela, a Mariana, foi madrinha de Assunção, fi lha de Baptista de Araújo e Sousa e de Teresa Maria, do lugar da Roda, baptizada na igreja de Fermedo44 a 22 de Agosto de 1719, “foram padrinhos Sebastiaõ Batista de Lima e Mariana solteira fi lha de Manoel Gomes de pinho”. Briolanja faleceu45 no mês seguinte ao nascimento da referida fi lha, a 3 de Setembro de 1699, sendo sepultada na capela do Senhor, “sepultou-se na Capella Do Snor”, onde já tinha sido sepultado seu pai. 2(II)-António de Lima Perestrelo, que nasceu a 30 de Julho de 1671 e foi baptizado46 na igreja de Fermedo a 6 de Agosto de 1671, pelo P.e António Gomes, Abade desta igreja, “Antonio fi lho de Joaõ de Paiua e de sua m.er, moradores no passo…foraõ padrinhos Mel de Paiua e Maria de Paiua irmaõs do dito Joaõ de Paiua”. Segue no §3. *3(II)-Catarina dos Santos Ferreira e Lima, com quem se continua, nascida no paço de Fermedo e baptizada47 na igreja de Fermedo, pelo pároco, P.e António Gomes, a 28 de

Dezembro de 1672, sendo padrinhos Melchior Pereira de Vasconcelos, Abade de São Miguel do Mato e Ant.ª Pais, do lugar do Adro. 4(II)-P.e João de Paiva da Silveira, nascido no lugar da Roda, e baptizado48 na igreja de Fermedo a 17 de Setembro de 1674, pelo Abade desta igreja, P.e António Gomes, sendo padrinhos Fernão Pereira da Silva, Senhor de Fermedo, e Maria de Paiva, sua provável tia, do lugar da Reguenga. Em 23 de Abril 1712, este sacerdote era cónego e vivia em Lisboa de acordo com uma procuração49 que lhe fez Antónia de Paiva, viúva, de Souto, concelho da Feira, “(…) ao Reuerendo Conigo Joam de Paiua da Silueira morador na cidade de Lx.ª (…)” E, em 1715, continuava a residir em Lisboa, no Beco do Bugio, como documenta uma outra procuração50, passada por Inácio Ribeiro e sua mulher Maria de Paiva, de S. Miguel do Mato, para que ele os representasse na herança que tinham direito a receber por falecimento de José de Paiva Cerveira, em Angola, “ignassio/ Ribr.º com sua molher maria de paiua morado/res no lluguar de gualla freguezia de sam my/guel do mato deste conselho de fermedo (…) foi dito (…) que elles (…) emlegiam per seu (…) procurador ao muito Reuerendo padre/ joaõ de paiua da Silueira Conigo na See de lis/boa e morador na dita sidade de lisboa no/ Beco do Bugiio”. O escrivão João de Paiva da Silveira faleceu51 a 6 de Junho de 1684, sendo sepultado na capela do Senhor, “na Capella do S.nor”. A 28 de Janeiro de 1720, Maria dos Santos Ferreira e Lima, poucos meses antes de falecer, doa52 à sua neta Mariana Teresa, já citada, fi lha de Briolanja, os seus bens e objectos pessoais, a saber: todo o ouro, cordão, arrecadas, botões e anéis; toda a roupa; meadas de linho fi adas e por fi ar; estopa; e tudo o mais que ela tem e possui. Esta doação é o reconhecimento de Maria dos Santos à sua neta, por ter sido ela quem a socorreu, auxiliando-a nas suas enfermidades. Maria dos Santos faleceu53 a 2 de Julho de 1720, com noventa anos “pouco mais ou menos”, tendo sido sepultada dentro da igreja de Fermedo.

41 Ver nota 11.42 ADA, Registos Paroquiais, freguesia de Fermedo, 1.º liv., misto, fl . 158v. 43 Segundo Registo Geral de Mercês de D. João V, liv. 7, fl . 232, ANTT, João da Silveira Zuzarte foi nomeado Juiz de Fora das Vilas de Aldeia Galega e Alcochete, em 1715, Juiz de Fora de Leiria, em 1720, e Corregedor do Crime do Bairro de Alfama, em 1737. 44 ADA, Registos Paroquiais, freguesia de Fermedo, 2.º liv., misto, fol. 72.45 Idem, ib., 1.º liv., misto, fl . 211v. A capela do Senhor referir-se-á à capela onde normalmente se localizava o Santíssimo Sacramento, que, tendo em conta o que diz o livro “Fermedo Aspectos da sua história”, de Alfredo G. Azevedo e Domingos A. Moreira, Porto, 1973, p. 128, e Informações Paroquiais de 1758 de Fermedo, situar-se-ia na nave do lado Norte da igreja desta freguesia.46 ADA, Registos Paroquiais, freguesia de Fermedo, 1.º liv., misto, fl . 55.47 Idem, ib., 1.º liv., misto, fl . 59.

48 Idem, ib., 1.º liv., misto, fl . 59.49 Idem, Notários de Fermedo, liv. 54-19, fl . 137v.50 Idem, Notários de Fermedo, liv. 58-21, fl . ilegível, com data de 10/Janeiro/1715.51 Idem, Registos Paroquiais, freguesia de Fermedo, 1.º liv., misto, fl . 200v. Quanto à localização da capela do Senhor, ver nota 45. 52 ADA, Notários de Fermedo, Liv. 61-25, fl . 89.53 Idem, Registos Paroquiais, freguesia de Fermedo, 2.º liv., misto, fl . 183v.

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No registo do óbito consta que fez testamento e que “deixou por seus herdeiros a seu genro Manoel Gomes do dito lugar da Roda e a seu neto Batista solteiro do lugar do Adro desta freguezia e a Sebastiaõ Batista de Lima da villa de Cabeçaes desta freguesia”. Na verdade, já tinham morrido todos os seus fi lhos, inclusive dum deles, do P.e João de Paiva da Silveira, cónego da Sé de Lisboa, aí falecido, ela fora herdeira, como consta do documento notarial intitulado54 “Paga e quitaçom geral q. deo M.ª dos Santos fr.ª e Lima D. v.ª deste lugar da Roda ao R.do P.e Andre de Paiua da frg.ª de romaris do Com.lo de v.ª da fr.ª”, assinado alguns meses antes, a 25 de Janeiro de 1720, onde diz claramente o seguinte: “[…] por ella [Maria dos Santos] foi dito em minha prezença e das t.as q ella por este p.º instrom.to na milhor forma e uia de direito q ser possa deste dia p.ª todo o sempre se daua por bem paga e satisfeita da man do dito R.do p.e Andre de paiua do lugar e frg.ª de romaris do Con.lo de fr.ª e se daua por bem paga e satisfeita da mã do sobredito de toda a herança que elle cobrou pro huma procuraçom bastante q ella lhe fi zera nestas mesmas notas de mim ta.m p.ª q elle pera ella cobrace toda a herança q lhe pertensia e lhe fi cara por falesim.to de seu fi lho o Conigo joam de paiua da Silueira morador q foi na cid.e de Lisboa […]” Os herdeiros referidos no testamento de Maria dos Santos, acima indicados, são o seu genro Manuel Gomes de Pinho, marido que fora de Briolanja Maria de Lima, do mesmo lugar da Roda, e os seus netos Baptista de Lima Pinheiro, fi lho de Catarina, do lugar do Adro, e Sebastião Baptista de Lima Perestrelo, fi lho de António, da vila de Cabeçais. II-Catarina dos Santos Ferreira e Lima, fi lha de João de Paiva da Silveira e de Maria dos Santos Ferreira e Lima, nasceu no paço de Fermedo e foi baptizada55 a 28 de Dezembro de 1672, na igreja de Fermedo, sendo padrinhos o Rev.º Melchior Pereira de Vasconcelos, abade de S. Miguel do Mato, e Antónia Pais, do lugar do Adro. Foi madrinha de: Feliciano, fi lho de Manuel Jorge e de sua mulher Maria Pereira, do lugar da Roda, baptizado56 na igreja de Fermedo pelo Abade desta freguesia, Luís Coelho Falcão, a 27 de Novembro de 1684, sendo padrinho “Ant.º sol.º f.º de m.ª dos Santos v.ª”; Catarina, fi lha de António de Sousa, do

lugar da Aldeia, baptizada57 a 16 de Agosto de 1688, na igreja de Fermedo, pelo Abade Luís Coelho Falcão, sendo padrinho o P.e Manuel de Sousa, do lugar do Abrunhal; Catarina, fi lha de Manuel de Pinho e de sua mulher Francisca de Almeida, baptizada58 a 15 de Janeiro de 1693 na igreja de Fermedo, pelo Abade Luís Coelho Falcão, sendo padrinho Gonçalo Francisco, do lugar de Vila Chã, freguesia de Escariz; sobrinha Antónia, fi lha do irmão António de Lima Perestrelo, baptizada59 a 26 de Outubro de 1710, sendo padrinho o P.e André de Paiva; e Catarina, fi lha de Francisco da Rocha e de Rosa de Sousa, da Vila de Cabeçais, baptizada60 a 21 de Dezembro de 1713, sendo padrinho António Tavares, de Canedo. Casou61, em primeiras núpcias, na igreja de Fermedo, com João Pais de Azevedo, do lugar do Adro da dita freguesia de Fermedo, a 10 de Julho de 1689, sendo testemunhas Domingos Ribeiro, do dito lugar do Adro, Domingos solteiro, também do lugar do Adro, e Simão, criado do abade desta freguesia. João Pais de Azevedo provavelmente é fi lho de António Pais e Margarida Manuel, do lugar do Adro, tendo em consideração o registo do crisma da dita Margarida Manuel e fi lhos62, o casamento de Domingos Pais63, provável irmão de João Pais, e outras referências. A 16 de Outubro de 1689, Catarina dos Santos Ferreira, recentemente casada, mas considerada de menor idade, por não ter ainda 25 anos de idade, para “se sustentar e alimentar” recebe os bens da legítima da herança64 que lhe coube por morte de seu pai, João de Paiva da Silveira, falecido em 1684. É Manuel de Paiva Cerveira, morador no lugar de Midões, do concelho de Paiva quem, apresentando-se perante o notário Bartolomeu de Paiva como seu tutor, faz entrega desses bens a ela e ao seu marido João Pais de Azevedo, perante os fi adores Pedro Ferreira e sua mulher Isabel Jorge, do lugar de Tanhel, do concelho de Fermedo. Em 1703, a 3 de Abril, com o nome de Catarina de Paiva, constitui o marido João Pais de Azevedo seu procurador65 a fi m de ofi cializar a herança do já referido tio António Nunes

54 Idem, Notários de Fermedo, Liv. 61-25, fl . 87.55 Ver nota 47.56 ADA, Registos Paroquiais, freguesia de Fermedo, 1.º liv., misto, fl . 89v.

57 Idem, ib., 1.º liv., misto, fl . 103.58 Idem, ib., 1.º liv., misto, fl . 145v. 59 Idem, ib., 2.º liv., misto, fl . 25.60 Idem, ib., 2.º liv., misto, fl . 39v. 61 Idem, ib., 1.º liv., misto, fl . 125v.62 Idem, ib., 1.º liv., misto, fl . 167.63 Idem, ib., 1.º liv., misto, fl . 128v.64 Idem, Notários de Fermedo, liv. 43-6, fl . 79.65 Idem, ib., liv. 49-13, fl . 74v.

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Pinheiro, cónego em Lisboa,” aparesseo prezen/te Cn.ª de payva molher de Joaõ pais de azevedo pessoa bem conhe/ssida de mim t.am […]e por ella a propria nomeada no testa/m.to que fes seu tio Ant.º Nunes Pinheiro Coniguo da Cidade de/ Lisboa de que de tudo dou fee e ser a dita Cn.ª de payva a sobre/dita e por ella foi dito […] que ella/ […] elegia/ e solennem.te instituia por […] pd.or ao dito seu marido Joaõ pais de azevedo com ella morador pr.ª/ que elle em seu nome della dita constituinte sua molher possa/” executar o testamento. Nesta herança entra uma verba no valor de 62.000 réis, dívida do Bispo de Lamego66, sem mencionar o nome, “cobrar todas as suas dívidas que se lhe estam devendo e principalm.te sua divida de sessenta e dous mil reis que o illustrissimo Senhor Bispo da Çidade de Lamego fi cou devendo ao dito seu tio Ant.º nunes pinheiro”. A 29 de Agosto de 1705, João Pais de Azevedo e sua mulher Catarina compraram67 a Domingas Pinta, viúva de Tomé de Sá, do lugar de Paramô, e a João Moutinho e sua mulher Maria Ferreira, da Vila de Cabeçais, todos do concelho de Fermedo, os direitos que detinham no mato chamado Agrelo, cujo directo senhorio era o Comendador de Riomeão. A 18 de Janeiro de 1706, João Pais de Azevedo emprestou68 a quantia de 20 mil réis, ao juro de 6%, a João de Sousa e sua mulher Marina Pais, provavelmente seus cunhados, residentes em Abrunhal, do concelho de Fermedo. João Pais de Azevedo foi crismado69 a 25 de Outubro de 1676 em S. João da Madeira. Foi padrinho de baptismo de Manuel, fi lho de João Ferreira e de Maria V.ra, baptizado70 a 10 de Abril de 1701, sendo madrinha Domingas, fi lha de João Ribeiro, do lugar de Orvida. Foi testemunha de baptismo71 de António, fi lho de Marina Pais e de seu marido João de Sousa, do lugar do Abrunhal, nascido a 13 de Setembro de 1706 e baptizado a 19 do mesmo mês e ano, pelo Abade, sendo padrinhos António, solteiro, fi lho de Francisco Antunes e Maria Gomes, mulher de Francisco Leitão, ambos do lugar do Abrunhal. Do primeiro matrimónio houve os seguintes fi lhos.

1(III)-António, nascido72 a 15 de Maio de 1690 e baptizado a 22 do mesmo mês e ano, pelo pároco Luís Coelho Falcão, sendo padrinhos António de Magalhães, do lugar da Igreja, freguesia de Guisande, e madrinha Birolanja, da Roda, sua tia. Faleceu73, solteiro, a 20 de Julho de 1710.2(III)-Margarida, nascida a 23 de Agosto de 1692 e baptizada74 a 26 do mesmo mês, em Fermedo, sendo padrinhos António de Lima Perestrelo, seu tio, e madrinha Margarida Pais, de Goim, freguesia de Romariz, e testemunhas P.e Manuel de Sousa e Diogo Gomes, de Cabeçais. 3(III)-Manuel, nascido a 10 de Junho de 1694 e baptizado75 na igreja de Fermedo, sendo padrinho o Reverendo Abade de São Miguel do Mato Melchior Pereira de Vasconcelos e madrinha Dona Leonor, do Paço, e testemunhas Bartolomeu de Paiva e o Lic.º Baptista de Araújo. *4(III)-Baptista de Lima Pinheiro, nascido a 2 de Setembro de 1699, com quem se continua. 5(III)-Briolanja Maria de Lima, nascida a 4 de Agosto de 1701 e baptizada na igreja de Fermedo76, sendo padrinho Manuel de Paiva, morador no lugar de Midões, freguesia de Raiva do concelho de Castelo de Paiva, e Domingas Pinta, do lugar de Peramô da freguesia de Fermedo. Esta Briolanja foi madrinha de baptismo de: Joana, fi lha de Manuel Ferreira e de Isabel da Rocha, do lugar do Adro, baptizada77 a 22 de Agosto de 1722, “foram padrinhos (…) e Briolanja solteira irmam de Baptista pinheiro de Lima”, sendo padrinho João de Sousa, do lugar de Romão; António, fi lho de Manuel Francisco e de Ana de Pinho, do lugar de Romão, freguesia de Fermedo, baptizado78 a 28 de Abril de 1726, sendo padrinho Manuel de Oliveira, fi lho de Margarida Pais, do lugar de Goim, freguesia de Romariz; sua sobrinha Mariana, fi lha de Gonçalo Francisco e de Angélica Maria de Lima, do lugar de Paramô, freguesia de Fermedo, baptizada79 a 25 de

66 Em 1703, era bispo de Lamego António de Vasconcelos e Sousa, que, mais tarde, foi bispo de Coimbra.67 ADA, Notários de Fermedo, Liv. 51-15, fl . 78. 68 Idem, ib., liv. 51-15, fl . 136.69 Idem, Registos Paroquiais, freguesia de Fermedo, liv. 1, fl . 167.70 Idem, ib.,1.º liv., misto, fl . 162v,.71 Idem, ib., 2.º liv., misto, fl . 5.

72 Idem, ib., 1.º liv., misto, fl . 135v.73 Idem, ib., 2.º liv., misto, fl . 163.74 Ver nota 28.75 ADA, Registos Paroquiais, freguesia de Fermedo, 1.º liv., misto, fl . 149v. O Licenciado Baptista de Araújo e Sousa, casado com D. Leonor Coelho de Ataíde, “era procurador do Senhor de Fermedo, António Luís Pinto Coelho Pereira da Silva”, de acordo com o já citado livro “Fermedo Aspectos da sua história”.76 ADA, Registos Paroquiais, freguesia de Fermedo, 1.º liv., misto, fl . 162v.77 Idem, ib., 2.º liv., misto, fl . 89. 78 Idem, ib., 2.º liv., misto, fl . 101v.79 Idem, ib., 2.º liv., misto, fl . 232v.

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Março de 1733, “foram padrinhos António solteiro irmaõ de Baptista Pinheiro de Lima do lugar do Adro desta freguezia e Briolanja Maria de Lima molher de Manoel de Souza do lugar de Belece da freguezia de Sam Miguel doo Mato foram testemunhas Manoel Paes solteiro do Adro desta freguezia e Manoel de Souza do lugar de Belece”. Casou com Manuel de Sousa. Residiram em Belece, freguesia de S. Miguel do Mato.Tiveram o fi lho: -Manuel, nascido a 24 de Julho de 1730 e baptizado80 a 30 do mesmo mês e ano, na igreja de Fermedo, sendo padrinhos o tio Baptista Pinheiro de Lima, do lugar do Adro, e Maria Josefa, mulher de Francisco Pinto, do lugar de Tanhel, freguesia de Fermedo, e testemunhas Manuel Pais, do lugar do Adro, e Gabriel de Paiva, do lugar da Roda. 6(III)-Angélica Maria de Lima, nascida a 11 de Maio de 1704 e baptizada81 a 15 do mesmo mês de Maio pelo abade Luís Coelho Falcão, na igreja de Fermedo, na presença dos padrinhos P.e Serafi m Coelho Falcão e D. Leonor M.ª Coelha da Silva e Ataíde, e das testemunhas Francisco Leitão e António Francisco. Casou com Gonçalo Francisco e residiram em Paramô, freguesia de Fermedo.Tiveram os fi lhos: -Baptista, nascido a 20 de Julho de 1728, no lugar de Paramô, e baptizado82 na igreja de Fermedo a 1 de Agosto do mesmo ano, sendo padrinho seu tio Baptista Pinheiro de Lima, do lugar do Adro, e madrinha Rosa solteira, fi lha de Silvestre de Oliveira, do lugar da Arroteia; -Briolanja, nascida a 11 de Novembro de 1730 e baptizada83 a 16 do mesmo mês e ano, na igreja de Fermedo, sendo padrinhos seu tio Manuel Pais solteiro, do lugar do Adro, e Josefa solteira, fi lha de Manuel da Rocha, do lugar de Paramô; -Mariana, nascida a 20 de Março de 1733 e baptizada84 na igreja de Fermedo, a 25 dias do dito mês e ano, sendo padrinhos seus tios António solteiro, irmão de Baptista Pinheiro de Lima, do lugar do Adro, e Briolanja Maria de Lima, mulher

de Manuel de Sousa, do lugar de Belece, freguesia de São Miguel do Mato. 7(III)-Manuel Pais de Lima, nascido a 13 de Setembro de 1706 e baptizado85 a 21 do mesmo mês pelo abade Luís Coelho Falcão, na igreja de Fermedo, sendo padrinhos Baptista, fi lho do licenciado Baptista de Araújo e Sousa e Maria Gonçalves, mulher de Vicente de Paiva, do lugar do Carvalhal da freguesia de Arouca, e testemunhas António Francisco e Bartolomeu de Paiva, do lugar do Adro. Casou a 29 de Dezembro de 1733 com Ana de Oliveira, fi lha de André de Oliveira e mulher Maria Moutinha, já defunta, naturais e moradores na Vila de Cabeçais, passando a residir aí. Tiveram os fi lhos: -Manuel, nascido a 20 de Novembro de 1736 e baptizado86 a 25 do mesmo mês e ano, sendo padrinhos Manuel de Azevedo Aranha e sua tia Teresa Angélica, mulher de Baptista de Lima Pinheiro, do lugar do Adro, e testemunhas o P.e Francisco de Oliveira e António de Oliveira, ambos do lugar de Arroteia; -Alexandre, nascido a 8 de Janeiro de 1744 e baptizado87 a 19 do mesmo mês e ano, sendo padrinho Alexandre de Araújo e Sousa, morador em “Villa noua do porto”, e testemunhas António de Oliveira, do lugar de Arroteia e António de Lima Pinheiro, da Vila de Cabeçais; -Gabriel, nascido a 27 de Agosto de 1749 e baptizado88 na igreja de Fermedo, pelo P.e Gabriel Caetano de Almeida, morador em Santa Marinha de Vila Nova de Gaia com licença do Abade D. Bernardo da Fonseca Lobo, sendo padrinhos o P.e Gabriel Dias de S. Francisco, cura na freguesia de Massarelos da cidade do Porto, e Joana Maria viúva, também de Santa Marinha de Vila Nova de Gaia; -Maria, nascida89 a 28 de Fevereiro de 1755. Manuel Pais de Lima foi padrinho de: sua sobrinha Briolanja, fi lha de Gonçalo Francisco e Angélica Maria, baptizada90 a 16 de Novembro de 1730; Rosa Maria, fi lha de José Ferreira Pinto e de Maria Gomes, do lugar do Abrunhal,

80 Idem, ib., 2.º liv., misto, fl . 225.81 Idem, ib., 2.º liv., misto, fl . 169v.82 Idem, ib., 2.º liv., misto, fl . 245v.83 Idem, ib., 2.º liv., misto, fl . 226v.84 Idem, ib., 2.º liv., misto, fl . 232v.

85 Idem, ib., 2.º liv., misto, fl . 5. O registo do casamento encontra-se no 3.º liv., misto, da freguesia de Fermedo, fl .107v.86 ADA, Registos Paroquiais, freguesia de Fermedo, 3.º liv., misto, fl . 15.87 Idem, ib., 3.º liv., misto, fl . 44v.88 Idem, ib., 3.º liv., misto, fl . 78.89 Idem, ib., 4.º liv., misto, fl . 7.90 Ver nota 83.

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freguesia de Fermedo, baptizada91 a 27 de Dezembro de 1750; sua sobrinha Ana Maria, fi lha de António de Lima Pinheiro e de Teresa de Oliveira, de Cabeçais, baptizada92 a 3 de Janeiro de 1751. Ana de Oliveira foi madrinha de seu sobrinho Manuel, fi lho de António de Lima Pinheiro e de Teresa de Oliveira, de Cabeçais, baptizado93 a 4 de Junho de 1741, sendo padrinho Manuel de Azevedo Aranha “do passo desta freguezia e lugar do Adro” e testemunhas Sebastião de Lima Perestrelo e João Dias, ambos da Vila de Cabeçais. 8(III)-João, nascido a 26 de Janeiro de 1709, no lugar do Adro, e baptizado94 a 4 de Fevereiro do mesmo ano pelo Abade Luís Coelho Falcão, na igreja de Fermedo, na presença dos padrinhos Bartolomeu de Paiva, do lugar da Reguenga, freguesia de Romariz, e D. Leonor de Ataíde, e das testemunhas António Francisco e António de Paiva e Brito, da freguesia de Fermedo. Teve vida breve. 9(III)-António Pinheiro de Lima, também conhecido por António de Lima Pinheiro, nascido a 26 de Fevereiro de 1711 e baptizado95 a 3 de Março do mesmo ano na igreja de Fermedo pelo Padre André de Paiva, da freguesia de Romariz, sendo padrinhos o dito Padre André de Paiva e Maria de Azevedo, mulher de Silvestre de Oliveira, do lugar da Arroteia, freguesia de Fermedo, e testemunhas António de Paiva e seu pai Bartolomeu de Paiva, do lugar do Adro. Foi padrinho de baptismo de sua sobrinha Mariana, fi lha de Gonçalo Francisco e de Angélica Maria de Lima, do lugar de Paramô, freguesia de Fermedo, baptizada96 a 25 de Março de 1733 e falecida a 5 de Janeiro de 1756. Foi testemunha de baptismo de: seu sobrinho Alexandre, fi lho de Manuel Pais e Ana de Oliveira, nascido97 a 8 de Janeiro de 1744; Florência, fi lha de Jacinta solteira fi lha de Manuel Heitor e de Catarina da Silva, do lugar de Milheirós, freguesia de Milheirós de Poiares, e de Manuel de Almeida solteiro do lugar de Dentazes, da mesma freguesia, baptizada98 em Fermedo, a 6 de Julho de 1749; seu sobrinho Gabriel99, fi lho de Manuel Pais de Lima.

Casou com Teresa Francisca de Oliveira e passou a residir na vila de Cabeçais. Tiveram os fi lhos: -Manuel, nascido a 26 de Maio de 1741 e baptizado100 na igreja de Fermedo, a 4 de Junho do mesmo ano; -Alexandre, nascido a 23 de Janeiro de 1744 e baptizado101 a 19 do dito mês e ano, sendo padrinho Alexandre de Araújo e Sousa, morador em Vila Nova do Porto e testemunhas António de Oliveira, do lugar da Arroteia e seu tio António de Lima Pinheiro, da Vila de Cabeçais; -José, nascido a 17 de Agosto de 1747 e baptizado102 a 27 do dito mês e ano, sendo padrinhos Manuel José Francisco e Tomé Gomes, ambos da Vila de Cabeçais, e testemunhas Manuel Ferreira das Cruzes, de S. Miguel do Mato e Gabriel solteiro, fi lho de José Moutinho, de Cabeçais; -Ana Maria, nascida a 28 de Dezembro de 1750 e baptizada103 a 3 de Janeiro de 1751, sendo padrinho seu tio Manuel Pais de Lima e madrinha Ana solteira, fi lha de José de Oliveira, ambos de Cabeçais, e testemunhas José Pais e Domingos de Sousa, também de Cabeçais. 10(III)-João, nascido a 21 de Maio de 1713 e baptizado104 na igreja paroquial de Fermedo a 29 do mesmo mês, pelo Abade Luís Coelho Falcão, sendo padrinhos o Padre João André da Silva, coadjutor da mesma igreja, e Dona Leonor de Ataíde, mulher do Licenciado Baptista de Araújo e Sousa, da casa do Paço, e testemunhas António Francisco e António de Brito solteiro, ambos do lugar do Adro.

João Pais de Azevedo faleceu105 a 8 de Maio de 1714 e foi sepultado na igreja de Fermedo. Depois de enviuvar, passados cerca de quatro meses, Catarina dos Santos Ferreira e Lima casou106, em segundas núpcias, na igreja de Fermedo, a 14 de Setembro de 1714, com Felício Vieira de Brito, fi lho de Domingos Vieira de Castro e de sua mulher Mariana Monteira de Brito, residentes em Santa Maria de Fregim, do arcebispado de Braga. Catarina dos Santos Ferreira faleceu107 em 1719 e foi

91 ADA, Registos Paroquiais, freguesia de Fermedo, 3.º liv., misto, fl . 85v. 92 Idem, ib., 3.º liv., misto, fl . 85v.93 Idem, ib., 3.º liv., misto, fl . 32. 94 Idem, ib., 2.º liv., misto, fl . 18.95 Idem, ib., 2.º liv., misto, fl . 27.96 Ver nota 84.97 Ver nota 86.98 ADA, Registos Paroquiais, freguesia de Fermedo, 3.º liv., misto, fl . 76v. 99 Ver nota 87.

100 Ver nota 93.101 Ver nota 97.102 ADA, Registos Paroquiais, freguesia de Fermedo, 3.º liv., misto, fl . 65v.103 Idem, ib., 3.º liv., misto, fl . 85v.104 Idem, ib., 2.º liv., misto, fl . 37.105 Idem, ib., 2.º liv., misto, fl . 170v.106 Idem, ib., 2.º liv., misto, fl . 117v.

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sepultada dentro da igreja paroquial, defronte do altar de Nossa Senhora do Rosário. Fez testamento, onde consta, entre as várias dádivas, “cinco tostões” a São Geraldo, da freguesia de Milheirós.

III-Baptista de Lima Pinheiro [Perestrelo], fi lho de João Pais de Azevedo e de Catarina dos Santos Ferreira e Lima, nasceu a 2 de Novembro de 1699, no lugar do Adro, freguesia de Fermedo, e foi baptizado108 a 4 do mesmo mês na igreja de Fermedo pelo Abade Luís Coelho Falcão, sendo padrinho o Licenciado Baptista de Araújo e Sousa e madrinha Joana solteira, do Paço. Casou109 na igreja de Milheirós de Poiares, a 20 de Novembro de 1732, com Teresa Angélica de São Bento, fi lha legítima de Dionísio Borges e da sua mulher Ana da Costa de Resende, do lugar da Igreja, desta freguesia, diante das testemunhas P.e Manuel de Pinho, P.e João de Azevedo Aranha e Manuel Leite de Resende, todas desta freguesia de Milheirós. Presidiu ao acto o pároco da freguesia António da Piedade e Silva. É o primeiro Perestrelo a casar na igreja de Milheirós de Poiares, apesar de no seu nome não constar este apelido enquanto vivo, no entanto, nos registos de baptismo110 do seu neto Manuel Borges de Lima Perestrelo, aí se encontra o apelido, “Manuel […] neto Paterno de Batista de Lima Pinheiro Prestrelo da freguesia de Fermedo e de Thereza Angelica das Relvas de Milheirós”. O apelido “Lima” provém obviamente da avó materna Maria dos Santos Ferreira e Lima e mãe Catarina dos Santos Ferreira e Lima. “Pinheiro” relaciona-se também com a sua família, com o cónego António Nunes Pinheiro, seu provável tio-avô. Baptista de Lima Pinheiro aparece às vezes identifi cado como Baptista Pinheiro de Lima. De facto, num assento de baptismo111 de José, fi lho de António de Paiva Brito e de Isabel de Sousa, realizado a 14 de Agosto de 1733, ele intervém

como testemunha com o nome Baptista Pinheiro de Lima, mas assina esse mesmo registo como Baptista de Lima Pinheiro. A sua mulher Teresa Angélica de São Bento, também conhecida por Teresa Angélica Clara de São Bento e Teresa Caetana de São Bento é fi lha de Dionísio Borges e de Ana da Costa de Resende, moradores em Relvas, freguesia de Milheirós de Poiares. Nasceu a 21 de Agosto de 1702 e foi baptizada112 a 24 do mesmo mês e ano, sendo padrinho António da Costa de Resende, do lugar de Milheirós, e madrinha Maria Antónia, mulher de João Borges, morador no lugar de Fafi ão, freguesia de Romariz, e testemunhas Manuel da Costa de Resende, do lugar do Pereiro, e Manuel de Resende da Silva, do lugar dos Casais. Baptista e Teresa viveram em Fermedo, no lugar do Adro. Ela foi madrinha de: José, fi lho de António de Paiva Brito e Isabel de Sousa, do lugar do Adro, baptizado113 a 14 de Maio de 1733, sendo padrinho José de Paiva, da freguesia de Fajões, e testemunhas Baptista Pinheiro de Lima e Manuel Gomes, do lugar da Roda; seu sobrinho Manuel, fi lho de Manuel Pais e de Ana de Oliveira, da Vila de Cabeçais, baptizado114 a 25 de Novembro de 1736; seu sobrinho Alexandre, fi lho de António Pinheiro de Lima e Teresa de Oliveira, baptizado115 na igreja de Fermedo a 3 de Fevereiro de 1744; de Teresa, fi lha de Baptista Pais e de Joana de Jesus, do lugar do Adro, baptizada116 a 21 de Março de 1749, sendo padrinho José solteiro, do lugar do Carvalhal de Oliveira, freguesia de Romariz. Baptista de Lima foi padrinho de baptismo de: João, fi lho de Manuel de Pinho e de Maria Jorge, do lugar de Vale do Conde, freguesia de Fermedo, baptizado117 a 16 de Outubro de 1720; João, fi lho de Manuel Francisco e de Maria dos Santos, do lugar de Paramô, freguesia de Fermedo, baptizado118 a 6 de Março de 1723; Silvestre, fi lho de Gonçalo Pereira e de Ana de Sousa, do lugar do Monte, freguesia de Fermedo, baptizado119 a 31 de Dezembro de 1727; Leonor Francisca,

107 Idem, ib., 2.º liv., misto, fl . 181v. O altar de Nossa Senhora do Rosário correspondia ao colateral da esquerda, de acordo com o já citado livro “Fermedo Aspectos da sua história”, p. 128.108 ADA, Registos Paroquiais, freguesia de Fermedo, 1.º liv., misto, fl . 159.109 Idem, Registos Paroquiais, freguesia de Milheirós de Poiares, 4.º liv., misto, fl . 76v. Teresa Angélica é irmã dos padres António Borges da Silva e Manuel Borges da Silva.111 ADA, Registos Paroquiais, freguesia de Fermedo, 2.º liv., misto, fl . 233v.

112 Idem, Registos Paroquiais, freguesia de Milheirós de Poiares, 2.º liv., misto, fl . 60.113 Ver nota 111.114 Ver nota 86.115 Ver nota 101.116 ADA, Registos Paroquiais, freguesia de Fermedo, 3.º liv., misto, fl . 74.117 Idem, ib., 2.º liv., misto, fl . 86.118 Idem, ib., 2.º liv., misto, fl . 87v.

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fi lha de Baptista de Araújo e Sousa e de Teresa Maria, da Vila de Cabeçais, baptizada120 em Fermedo, a 18 de Janeiro de 1728, sendo madrinha Dona Leonor de Ataíde, mulher do licenciado Baptista de Araújo e Sousa, moradores no Paço, e testemunhas Damião Francisco e Francisco Vieira, do lugar do Monte; sobrinho Baptista121, fi lho de Gonçalo Francisco e de Angélica Maria de Lima; Baptista, fi lho de António de Paiva Brito e de Isabel de Sousa, nascido a 13 de Dezembro de 1729 e baptizado122 a 21 do mesmo mês e ano, sendo madrinha e Dona Caetana Tavares, mulher de Alexandre Valente da Fonseca; Manuel, fi lho de Manuel de Sousa e de Briolanja de Lima [Pinheiro], do lugar da Roda, baptizado123 a 30 de Julho de 1730; Manuel, fi lho de Manuel de Pinho e Maria Jorge, do lugar de Vale do Conde, baptizado124 a 11 de Setembro de 1730, sendo madrinha Teresa, solteira, fi lha de Gerónima de Sousa, viúva, da Vila de Cabeçais, e testemunhas Manuel Francisco e Salvador Fernandes, ambos do lugar de Vale do Conde; José, fi lho de João Francisco e de Maria do Couto, do lugar do Adro, baptizado125 a 9 de Outubro de 1730, sendo madrinha Raimunda da Silva, mulher de Silvestre Francisco do lugar do Adro; Mariana, fi lha de João Martins e de Maria Carvalha, do lugar de Trás-o-Rio, freguesia de Fermedo, baptizada126 a 22 de Outubro de 1730, sendo madrinha Maria, fi lha de Domingos Carvalho, do lugar da Boavista; Caetana, fi lha de Manuel de Azevedo Aranha e de Bárbara Caetana, do lugar de Rosomil, Fermedo, baptizada127 a 5 de Fevereiro de 1733, sendo madrinha Dona Francisca Xavier de Araújo e Sousa, mulher de Lázaro Moreira Landeiro Pereira Camisão, moradores no lugar do Adro; Baptista, fi lho de André e de Maria André, baptizado128 na igreja de Fermedo a 12 de Agosto de 1740, sendo madrinha Ana de Oliveira, mulher de Manuel Pais, da Vila de Cabeçais. Foi procurador da madrinha de baptismo D. Antónia Josefa Caetana da Silveira, mulher de João Pinto Coelho de Simais, no baptismo de António Luís, fi lho de Manuel Azevedo

Aranha e de Bárbara Josefa, do lugar de Rosomil, freguesia de Fermedo, baptizado129 a 22 de de Abril de 1736. Tiveram os seguintes fi lhos.1(IV)-Manuel, nascido a 4 de Agosto de 1734 e baptizado130 na igreja de Fermedo, pelo coadjutor P.e António da Silva, sendo padrinhos P.e Manuel Borges e irmã Joana solteira, tios maternos, moradores em Milheirós de Poiares, e testemunhas Silvestre Francisco do Espírito Santo e João de Azevedo solteiro, ambos do lugar do Adro. Faleceu131 muito novo, em Milheirós de Poiares, no lugar de Relvas, em casa de sua avó materna, a 5 de Setembro de 1741, sendo sepultado dentro da igreja desta freguesia. 2(IV)-António, nascido a 13 de Outubro de 1735 e baptizado132 na igreja de Fermedo a 20 dias do mesmo mês e ano, pelo “reverendo abade” André Ferreira Nunes, sendo padrinho o P.e António Borges da Silva e madrinha sua irmã Maria Joana, tios maternos, e testemunhas Manuel de Azevedo Aranha, do lugar de Resomil, e António de Paiva, do lugar do Adro. Faleceu com 11 anos a 4 de Março de 1746, tendo sido enterrado133 na igreja de Fermedo. 3(IV)-Florência Rosa Margarida de Lima, nascida a 22 de Fevereiro de 1741 e baptizada134 na igreja paroquial de Fermedo a 3 de Março do mesmo ano pelo “reverendo Senhor” André Ferreira Nunes, abade da dita igreja, sendo padrinhos o Reverendo José Carlos de Azevedo, abade de São Roque, e madrinha Manuel Azevedo Aranha, do lugar do Adro. Casou135 na igreja paroquial de Milheirós de Poiares, a 29 de Janeiro de 1759, com o Licenciado José Jacinto da Costa Reis, natural de Aveiro, fi lho do Capitão Manuel dos Reis, natural da freguesia de Nossa Senhora da Apresentação, de Aveiro, e de sua mulher Marcela Luísa, natural da freguesia de S. Miguel de Aveiro, moradores na dita freguesia de S. Miguel de Aveiro, neto pela parte paterna de Amaro dos Reis e de sua mulher Maria Tomé, naturais e moradores na freguesia

119 Idem, ib., 2.º liv., misto, fl . 212v.120 Idem, ib., 2.º liv., misto, fl . 212v.121 Ver nota 82.122 ADA, Registos Paroquiais, freguesia de Fermedo, 2.º liv., misto, fl . 222v. 123 Ver nota 80.124 ADA, Registos Paroquiais, freguesia de Fermedo, 2.º liv., misto, fl . 225v. 125 Idem, ib., 2.º liv., misto, fl . 225v. 126 Idem, ib., 2.º liv., misto, fl . 226.127 Idem, ib., 2º liv., misto, fl . 232.128 Idem, ib., 3 .º liv., misto, fl . 29.

129 Idem, ib., 3.º liv., misto, fl .12v.130 Idem, ib., 3.º liv., misto, fl . 5.131 Idem, Registos Paroquiais, freguesia de Milheirós de Poiares, 4.º liv., misto, fl . 134.132 Idem, registos Paroquiais, freguesia de Fermedo. 3.º liv., misto, fl . 10.133 Idem, ib., 3.º liv., misto, fl . 199v.134 Idem, ib., 3.º liv., misto, fl .30v. 135 Idem, Registos Paroquiais, freguesia de Milheirós de Poiares, 5.º liv., misto, fl . 132.

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de Nossa Senhora da Apresentação de Aveiro, e pela materna de Manuel Fernandes da Conceição e de sua mulher Antónia Dias Henriques, naturais e moradores na dita freguesia de S. Miguel de Aveiro, na presença do pároco Teodósio Correia Mendes, perante as testemunhas Reverendo P.e João Carlos de Azevedo Aranha, do lugar de Resomil, freguesia de Fermedo, e Francisco José de Paiva, do lugar da Igreja, freguesia de Romariz. Florência Rosa Margarida de Lima foi madrinha de Florência, fi lha de Jacinta, solteira, fi lha de Manuel Heitor e de Catarina da Silva, do lugar de Milheirós, freguesia de Milheirós de Poiares, e de Manuel de Almeida, solteiro, do lugar de Dentazes, da mesma freguesia, baptizada136 a 6 de Julho de 1749, na igreja de Fermedo. *4(IV)-Manuel Borges de Lima Perestrelo, que segue. Baptista de Lima Pinheiro faleceu137 a 24 de Outubro

de 1744, em Fermedo, tendo sido enterrado na igreja desta freguesia.

IV- Manuel Borges de Lima Perestrelo, fi lho de Baptista de Lima Pinheiro, natural do lugar do Adro da freguesia de Fermedo, e de Teresa Angélica Clara de São Bento, natural do lugar de Relvas da freguesia de Milheirós de Poiares, neto paterno de João Pais de Azevedo e da sua mulher Catarina dos Santos, do lugar do Adro da freguesia de Fermedo, e pela parte materna de Dionísio Borges e de sua mulher Ana da Costa de Resende, ambos do lugar de Relvas da dita freguesia, nasceu no lugar do Adro, freguesia de Fermedo, a 30 de Março de 1744, e foi baptizado138, na igreja paroquial de Fermedo, a 8 dias do mês de Abril do mesmo ano pelo reverendo abade André Ferreira Nunes, sendo padrinhos o P.e Domingos Moreira, do lugar do Outeiro, freguesia de Santo André de Escariz e madrinha Dona Francisca Xavier de Araújo e Sousa, mulher do capitão Lazaro Moreira Landeiro Pereira Camisão, do lugar do Castelo, freguesia de Fermedo, e testemunhas o P.e Francisco de Oliveira, do lugar de Arroteia, e o P.e João da Costa, da Vila de Cabeçais. Casou139 a 7 de Junho de 1767, na igreja de Milheirós de Poiares, com Ana Joaquina Angélica de São Bento, fi lha legítima de Manuel Francisco Coelho, natural do lugar de Gaiate, freguesia de Milheirós de Poiares, e de sua mulher Antónia Gomes da Conceição, natural do lugar de Toseiro, da freguesia de S. Vicente de Louredo, neta paterna de Manuel Francisco, natural do lugar de Pedarca, da freguesia de Pigeiros, e de sua mulher Maria Gomes, natural do lugar de Gaiate da dita freguesia de Milheirós de Poiares, e, pela materna, de Manuel Gomes de Pinho e de sua mulher Francisca Moura, esta natural de Escariz e aquele do lugar de Toseiro da dita freguesia de S. Vicente de Louredo. Presidiu à cerimónia o pároco P.e Teodósio Correia Mendes e foram testemunhas Manuel Alves de Azevedo e Manuel Jorge, ambos do lugar da Igreja, freguesia de Milheirós de Poiares. Residiram no lugar de Gaiate da referida freguesia de Milheirós de Poiares. Geraram os seguintes fi lhos.

Casa das Relvas de Milheirós de Poiares.

136 Idem, registos Paroquiais, freguesia de Fermedo. 3.º liv., misto, fl . 76v.137 Idem, ib., 3.º liv., misto, fl . 196v. 138 Idem, ib., 3.º liv., misto, fl . 46v. 139 Idem, registos Paroquiais, freguesia de Milheirós de Poiares, 5.º liv., misto, fl . 149.

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1(V)-Manuel, nascido aos 20 dias do mês de Julho de 1768 e baptizado140 nesse mesmo dia em casa por haver perigo de morrer, pelo P.e Manuel Borges da Silva, seu tio-avô. Este mesmo P.e com licença do pároco P.e Teodosio Correia Mendes lhe pôs os santos óleos a 27 do mesmo mês, na igreja de Milheirós de Poiares, sendo padrinho o Licenciado Manuel Vaz, de Azagães, freguesia de Carregosa, Bispado de Coimbra, e madrinha o P.e António Borges da Silva, do dito lugar de Relvas, também seu tio-avô, e testemunhas o Licenciado José de Resende, do dito lugar de Gaiate, e Manuel Francisco António, do lugar de Milheirós. Faleceu141 passados cerca de dois anos e meio, a 20 de Dezembro de 1770, sendo sepultado dentro da igreja. 2(V)-José Borges de Lima Perestrelo, nascido aos 18 dias do mês de Novembro de 1769 e baptizado142 na igreja de Milheirós de Poiares a 26 do mesmo mês, pelo Pároco P.e Teodósio Correia Mendes, sendo padrinhos o Reverendo P.e Manuel Borges da Silva, seu tio-avô, do lugar de Relvas, e madrinha José Bernardo, fi lho de Manuel Gomes, do lugar de Vila Seca, freguesia de São Vicente de Louredo, e testemunhas o P.e António Borges da Silva, também seu tio-avô, do lugar de Relvas, e Manuel Jorge, do lugar da Igreja. Faleceu143, a 23 de Maio de 1827, com 57 anos e meio de idade. Endoidecera aos 21 anos e assim permanecera até à morte. 3(V)-Teotónio Borges de Lima, nascido a 9 de Março de 1772 e baptizado144 a 17 do mesmo mês na igreja de Milheirós de Poiares, pelo cura P.e Teodózio Correia Mendes, sendo padrinho o Reverendo Bacharel Teotónio de Almeida Pinto e madrinha o já conhecido seu tio-avô, P.e António Borges da Silva, e testemunhas António, solteiro, assistente em casa de Manuel Borges de Lima Perestrelo e Simão Pereira, sobrinho do Cura, natural de Merlães, freguesia de Cepelos, bispado de

Coimbra. Casou145 a 2 dias do mês de Setembro de 1796, na igreja paroquial de Milheirós de Poiares com Maria Inácia dos Santos, fi lha de Francisco José António e de Maria Alves dos Santos, do Lugar de Gaiate, neta paterna de José Francisco e Bebiana Francisca, do dito lugar de Gaiate e materna de António Rodrigues e Andreia dos Santos, também de Gaiate, perante o Cura José da Rocha de Oliveira Monteiro e testemunhas Reverendo Doutor João Carlos de Azevedo Aranha e Doutor João Leite Soares de Resende e Reis. Tiveram os seguintes fi lhos nascidos em Milheirós de Poiares: -Maria, nascida a 24 de Janeiro de 1797 e baptizada146 a 26 dias do mesmo mês e ano pelo P.e João Martins Pereira, com licença do Cura José da Rocha Oliveira Monteiro, sendo padrinho o tio João, fi lho de Ana Joaquina, viúva, e madrinha a tia Joana, fi lha de Francisco José António, ambos do lugar de Gaiate, e testemunhas o Reverendo Manuel Gomes Leite e o P.e Teodósio Correia Mendes; -José, nascido a 20 dias do mês de Março de 1799 e baptizado147 a 23 do mesmo mês e ano, pelo Cura José da Rocha de Oliveira Monteiro, sendo padrinho José Coelho, e madrinha a tia Rosa, fi lha de Francisco José António, do lugar de Gaiate, e testemunhas o Reverendo João de Sá Monteiro, da cidade do Porto, e António Luís Veloso, da freguesia de Milheirós de Poiares; -Ana, nascida a 7 de Outubro de 1801 e baptizada148 a 11 dias do mesmo mês e ano, pelo Cura Manuel Valente de Resende, sendo padrinho António solteiro, fi lho de José Caetano, de Gaiate, e madrinha a tia Maria, solteira, fi lha de Ana Joaquina viúva, de Gaiate, e testemunhas José Caetano e Francisco José António, ambos também do lugar de Gaiate; -Mariana, nascida a 23 de Abril de 1803 e baptizada149 a 25 do mesmo mês e ano pelo P.e Manuel Gomes Leite com licença do Cura António Francisco Alves, sendo padrinho Manuel, tio, fi lho de Ana Joaquina, viúva, e madrinha Mariana, tia, fi lha de Francisco José António, e testemunhas o mesmo Francisco José António e seu fi lho Manuel, todos do lugar de

140 Idem, ib., 5.º liv., misto, fl . 91.141 Idem, ib., 5.º liv., misto, fl . 224v.142 Idem, ib., 5.º liv., misto, fl . 99v .143 Apontamentos de Manuel Borges de Lima Perestrelo e outros, à guarda de descendentes (livrinho, de dimensões de 21,5 cm X 15,5 cm, manuscrito, de 40 folhas numeradas, encadernado, com capas em pele, desde o ano de 1817 ao de 1913, onde constam registos diversos: nascimentos, óbitos, casamentos de pessoas da casa e de familiares, clima, processos de tribunal, datas importantes de carácter familiar, créditos e débitos, património, etc., da autoria de Manuel Borges de Lima Perestrelo, do ano de 1817 a 1853, e seus sucessores, desde 1853 a 1913) fl . 14v.144 ADA, registos Paroquiais, freguesia de Milheirós de Poiares, 5.º liv., misto, fl . 111v.

145 Idem, ib., 6.º liv., misto, fl . 133.146 Idem, ib., 6.º liv., misto, fl . 81.147 Idem, ib., 6.º liv., misto, fl . 93.148 Idem, ib., 7.º liv., misto, fl . 1.149 Idem, ib., 7.º liv., misto, fl . 12.

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Gaiate, freguesia de Milheirós de Poiares. Entretanto Teotónio Borges de Lima Perestrelo, mulher e fi lhos foram viver para Fermedo, lugar do Adro. Esta ida restaurou o uso do apelido Perestrelo nesta freguesia, pois, segundo parece, deixara de usar-se há bastante tempo. Os Perestrelos actuais provêm deste Teotónio, cuja descendência continua no §4. 4(V)-João Baptista Borges de Lima Perestrelo nasceu a 29 de Fevereiro de 1776 e foi baptizado150 na igreja de Milheirós de Poiares a 10 de Março do mesmo ano pelo Cura P.e António José Pereira Magalhães, sendo padrinhos o Doutor José Jacinto da Costa Reis e o Reverendo Doutor João Carlos de Azevedo Aranha e testemunhas Joaquim Francisco de Pinho e Joaquim Francisco Ferreira. Casou151 a 25 de Janeiro de 1820, na igreja de Milheirós de Poiares, com Mariana Josefa de Oliveira, fi lha de Caetano José de Oliveira e de Maria Francisca, do lugar de Gaiate, neta paterna de José Ferreira e Sebastiana de Oliveira, também do dito lugar de Gaiate, e materna de Francisco António e Helena Maria de Jesus, do lugar do Pinheiro, freguesia de Cesar, na presença das testemunhas Luís Fernandes da Mota, do lugar de Milheirós, e João solteiro, fi lho de Ana Maria viúva, do lugar da Igreja, perante o Cura João Martins Pereira. Residiram no lugar da Gândara e tiveram os fi lhos: -Manuel, nascido a 8 de Agosto de 1820 e baptizado152

a 12 do mesmo mês e ano, sendo padrinhos Manuel Borges de Lima Perestrelo, tio, do lugar de Gaiate e Caetano José de Oliveira, avô, do lugar da Gândara; -Mariana, nascida a 22 de Junho de 1822 e baptizada153 a 24 do mesmo mês e ano, sendo padrinhos Caetano, solteiro, do lugar de Gaiate, tio, e Mariana Francisca, solteira, do lugar da Gândara; -Caetano, nascido154 a 11 de Fevereiro de 1824 e baptizado a 13 do dito mês e ano, sendo padrinhos Caetano José de Oliveira, avô, e Joana Maria, ambos do lugar da Gândra, e testemunhas Manuel Borges de Lima Perestrelo, tio, do lugar de Gaiate, e António, fi lho de Francisco Ferreira, do lugar da Igreja; -Benedito, nascido155 a 19 de Fevereiro de 1826;

-Maria, nascida156 a 10 de Maio de 1828.

João Baptista Borges de Lima Perestrelo faleceu157 a 11 de Abril de 1831, com 55 anos. 5(V)-Manuel, nascido a 17 de Setembro de 1778 e baptizado158 na igreja de Milheirós de Poiares a 23 do mesmo mês, pelo Pároco Manuel Rodrigues de Barros “de licença do Reverendo Abbade de Fermedo”, sendo padrinhos o P.e António Borges da Silva e José, irmão, e testemunhas Joaquim Francisco, de Gaiate, e José, fi lho de Manuel Pereira. Este Manuel também viveu pouco tempo, morreu159, passados 15 dias, a 2 de Outubro de 1778. 6(V)-André Corsino, nascido a 4 de Fevereiro de 1780 e baptizado160 a 13 do mesmo mês na igreja de Milheirós de Poiares, pelo Cura P.e Manuel Rodrigues de Barros, sendo padrinhos o Bacharel Reverendo João Leite Soares de Resende e Reis, de Milheirós de Poiares, e madrinha Teresa Maria, viúva, do lugar do Pereiro da mesma freguesia, e testemunhas Manuel e Caetano fi lhos de Dionísio da Costa, de Gaiate. *7(V)-Manuel Borges de Lima Perestrelo, nascido161 a 20 de Março, que segue. 8(V)-Maria Joaquina Borges de Lima, nascida aos 18 dias de Setembro de 1783 e baptizada162 a 22 do mesmo mês, na igreja de Milheirós de Poiares, pelo Cura P.e Manuel Rodrigues de Barros, sendo padrinho José, seu irmão, do lugar de Gaiate, e madrinha Maria, fi lha de Teresa Maria, viúva, do lugar do Pereiro, e testemunhas Caetano Borges e Manuel Leite de Resende, do lugar de Gaiate. Casou163 na igreja de Milheirós de Poiares, a 3 de Fevereiro de 1820, com Manuel Gomes de Carvalho, fi lho de Manuel Gomes e Maria Francisca Alves, do lugar de Gaiate, neto paterno de Manuel Gomes e Maria Dias, do lugar das Fontainhas, freguesia de S. João da Madeira, e materno de João Alves e Mariana Francisca, do dito lugar de Gaiate,

150 Idem, ib., 5.º liv., misto, fl . 176.151 Idem, ib., 7.º liv., misto, fl . 159.152 Idem, ib., 7.º liv., misto, fl . 117.153 Idem, ib., 7.º liv., misto, fl . 231v. 154 Idem, ib., 7.º liv., misto, fl . 238.

155 APMP (Arquivo Paroquial de Milheirós de Poiares), Extractos de Baptismos e Casamentos, fl . 64.156 Idem, ib., fl . 67v. 157 Apontamentos de Manuel Borges de Lima Perestrelo e outros, fl . 18. 158 ADA, Registos Paroquiais, freguesia de Milheirós de Poiares, 5.º liv., misto, fl . 188v. 159 Idem, ib., 5.º liv., misto, fl . 242.160 Idem, ib., 5.º liv., misto, fl . 269v.161 Idem, ib., 6.º liv., misto, fl . 1v.162 Idem, ib., 6.º liv., misto, fl . 10.163 Idem, ib., 7.º liv., misto, fl . 159v.

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perante o cura João Martins Pereira e testemunhas José Leite Leão, do lugar de Milheirós, e Joaquim solteiro, fi lho de Ana Maria viúva, do lugar da Igreja. Residiram no lugar de Gaiate e tiveram os fi lhos:-Manuel, nascido a 17 de Janeiro de 1821 e baptizado164 a 22 do dito mês e ano, sendo padrinhos Caetano, tio, solteiro, fi lho de Ana Joaquina, e Joana Gomes, tia, ambos do lugar de Gaiate; -Maria Joaquina Gomes, nascida a 2 de Dezembro de 1822 e baptizada165 a 3 do dito mês e ano, sendo padrinhos Manuel, fi lho de António Gomes de Carvalho, do lugar de Gaiate, e Josefa, fi lha de Teotónio Borges de Lima, de Fermedo, tendo falecido166 a 19 de Junho de 1915;-António, nascido167 a 9 de Outubro de 1824. 9(V)-Caetano Borges de Lima Perestrelo, nascido a 8 dias do mês de Novembro do ano de 1785 e baptizado168 a 12 do mesmo mês, pelo Cura P.e José da Rocha de Oliveira Monteiro, sendo padrinhos Caetano Borges de Resende e Mariana de Bastos, ambos do lugar de Gaiate, e testemunhas Francisco José de Bastos e Manuel Leite Leão, também do lugar de Gaiate. Casou com Mariana Francisca. Faleceu169 a 1 de Janeiro de 1837, com 51 anos de idade. Mariana Francisca viveu no lugar do Pereiro juntamente com seus 3 fi lhos, vindo a falecer a 15 de Janeiro de 1887, com 80 anos de idade.

Manuel Borges de Lima Perestrelo foi herdeiro170 e testamenteiro de seu tio P.e António Borges da Silva. Faleceu171 a 16 de Setembro de 1785, tendo feito testamento verbal, segundo o qual instituiu sua mulher Ana Joaquina como herdeira, a qual veio a falecer a 23 de Janeiro de 1827.

V-Manuel Borges de Lima Perestrelo, fi lho de Manuel Borges de Lima Perestrelo e de Ana Joaquina Angélica, do lugar de Gaiate, da freguesia de São Miguel de Milheirós de Poiares, neto paterno de Baptista de Lima Pinheiro Perestrelo, da freguesia de Fermedo, e de Teresa Angélica de São Bento, do lugar das Relvas, e materno de Manuel Francisco Coelho e Antónia Gomes da Conceição, de Gaiate, nasceu a 20 de Março de 1781 e foi baptizado172 a 29 do mesmo mês na igreja de Milheirós de Poiares pelo Cura P.e Manuel Rodrigues de Barros, sendo padrinhos Manuel de Pinho, solteiro, do lugar do Casal da freguesia de Milheirós de Poiares, e testemunhas o Bacharel João Leite Soares de Resende e Manuel Leite Leão, de Gaiate. Como se disse, dos documentos consultados em que intervém Baptista de Lima Pinheiro, o registo de baptismo deste Manuel Borges de Lima Perestrelo é o único que contém o apelido Perestrelo expresso no seu próprio nome, ou seja, “Manuel […] neto Paterno de Batista de Lima Pinheiro Prestrelo da freguesia de Fermedo e de Thereza Angelica das Relvas de Milheirós”. Assentou praça173 a 5 de Janeiro de 1809 e serviu Sua Majestade, como sargento miliciano, no ano de 1812, na Praça de Almeida, e, na Guarnição da cidade do Porto, desde Dezembro de 1812 até 1814. Prometeu mandar dizer duas missas pelas almas do Purgatório se a Junta Militar de Saúde o libertasse174 do “Real Serviço”, o que aconteceu somente a 6 de Março de 1824. No registo de baptismo175 do sobrinho e afi lhado Manuel, fi lho de seu cunhado José Alves dos Santos e de Rosa Maria, do lugar de Milheirós, realizado a 19 de Novembro de 1817, é identifi cado como sargento, “foraõ padrinhos o Sargento Manoel Borges de Lima thio do baptizado…”; de igual modo, no baptismo de seu sobrinho João, fi lho do mesmo seu cunhado, realizado a 5 de Março de 1820, “foraõ testemunhas o Sargento Manoel Borges de Lima Prestello do lugar de Gaiate…”. Casou176 a 27 de Junho de 1816 na igreja de Milheirós de Poiares com Mariana Inácia dos Santos, fi lha de Francisco José António e de Maria Alves dos Santos, neta paterna de

164 Idem, ib., 7.º liv., misto, fl . 119v.165 Idem, ib., 7.º liv., misto, fl . 234.166 AJFMP, Enterramentos, p. 26.167 APMP, Extractos de Baptismos e Casamentos, fl . 61v. 168 ADA, Registos Paroquiais, freguesia de Milheirós de Poiares, 6.º liv., misto, fl . 19.169 Idem, ib., 31.º liv., óbitos, fl . 18v e Apontamentos de Manuel Borges de Lima Perestrelo e outros, fl . 22v. 170 ADA, Registos Paroquiais, freguesia de Milheirós de Poiares, 5.º liv., misto, fl . 342v. 171 Idem, ib., 6.º liv., misto, fl . 168 e Apontamentos de Manuel Borges de Lima Perestrelo e outros, fl . 13v.

172 Ver nota 110.173 Apontamentos de Manuel Borges de Lima Perestrelo e outros, fl . 11.174 Idem, fl . 2v.175 ADA, Registos Paroquiais, freguesia de Milheirós de Poiares, 7.º liv., misto, fl . 100v.

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José Francisco António e de sua mulher Bibiana Francisca, do lugar de Gaiate, e materna de António Rodrigues e de Andreia Alves dos Santos, ambos do lugar de Gaiate, perante o Cura P.e João Martins Pereira e das testemunhas José Coelho de Resende, do lugar de Gaiate, e Alferes Manuel Alves Moreira, do lugar do Seixal. Mariana Inácia dos Santos é irmã da mulher de Teotónio Borges de Lima Perestrelo, isto é, dois irmãos casaram com duas irmãs respectivamente Teotónio com Maria Inácia e Manuel com Mariana Inácia. Manuel Borges de Lima Perestrelo residiu no lugar de Gaiate, na casa de seus sogros. Esta casa anteriormente pertencera ao P.e João de Pinho e, após seu falecimento177, ocorrido a 26 de Março de 1771, a sua herdeira e testamenteira Ana de Pinho, sua irmã. Esta falecera178 a 23 de Dezembro de 1786 e doara179 a dita casa e outros bens a Francisco José António e Maria Alves dos Santos. De facto, no registo de óbito diz: “(…) falesceo (…) Anna de Pinho solteira do lugar de Gaate (…) fez testamento em que deixou por herdeiro o seu parente Francisco Joze Antonio do mesmo lugar”. A casa fazia parte do prazo de ¾ do casal de Gaiate, sendo directo senhorio o convento de Pedroso, cuja descrição180 era em 1794 a seguinte: “hum apouzento de casas sobradadas telhadas, com sua cozinha, curraes, aido, quinteiro, anteporta, eira e palheiro, com sua Cortinha da Porta e terra de mato, orta, pomar com suas árvores de vinho e sem elle que, medido tudo junto, tem pela parte do Nascente quarenta e oito varas e confronta com o caminho do lugar [actualmente, parte da Rua da Gândara] e com terras deste prazo que pessuem elles cabeças, e tem pelo Sul oitenta e noue uaras e confronta com a estrada pública [actualmente corresponde a parte da Travessa dos Perestrelos] e com terras deste prazo que pessuem elles cabeças, e tem pelo Norte setenta e sinco uaras e confronta com terras que pessue Manoel de Pinho, e tem pelo Poente vinte e oito varas e confronta com terras

deste mesmo prazo que pessue Jozé Alves, e torna ao Norte que tem por esta parte dezassete varas e confronta com o sobredito Jozé Alves, e vai ao Poente e tem por esta parte dezanove varas e confronta com o apouzento do dito Jozé Alves, pessuem esta propriedade e suas pertenças o cabeça Francisco José António e sua molher Maria Alves dos Santos”. José Alves referido na transcrição anterior é cunhado de Manuel Borges de Lima Perestrelo e irmão da sua mulher Mariana Inácia dos Santos; e Francisco José António, cabeça dos ditos ¾ de casal de Gaiate, é respectivamente seu sogro e pai. A poente da descrição anterior vivia seu cunhado José Alves, como se referiu acima, cuja casa também aparece descrita logo de seguida na apegação do mesmo prazo: “Mais se mediram outro apouzento de cazas térreas e telhadas com sua cozinha térrea e telhada, com seus curraes, quinteiro e ramadas, anteporta, com seu pomar de fruta e campo de lavradio com suas árvores de vinho e sem elle, eira e palheiro, que, medido tudo junto, tem pelo Sul trinta e três varas e confronta com a estrada do lugar [actual Travessa dos Perestrelos], e tem pelo Poente em bolta oitenta e huma varas e confronta com terras foreiras a Pedrozo, que pessue Jozé Aires de Souto e com a capela do lugar [actual capela de Nossa Senhora das Dores], e tem pelo Norte trinta e sete varas e confronta com terras foreiras a Pedrozo que pessue Manoel de Pinho, e tem pelo Nascente quarenta e três varas fazendo bolta, e torna ao Sul que tem por esta parte dezanove varas e confronta por esta parte com as cazas delle cazeiro Jozé Alves e sua molher, que são os que pessuem esta propriedade”. Este espaço descrito veio a integrar o património dos Perestrelos descendentes de Manuel Borges de Lima Perestrelo e sua mulher Mariana juntamente com o prédio anteriormente referido, mantendo-se na sua posse até aos dias de hoje, excepto a parte que a estrada municipal ocupou aquando da sua abertura no fi m do século XIX. Numa casa do século XX, construída neste espaço por um dos descendentes chamado Edgar, de que se falará adiante, foi reaproveitado um lintel do “aposento de casas” situado a nascente, que ainda lá permanece, com letreiro que diz: “1747 O P.e IOAM DE PINHO”, alusão ao antigo proprietário. Manuel Borges de Lima Perestrelo exerceu funções de escrivão181 da Confraria do Santíssimo Sacramento, nos anos de 1821 e 1831, e de Tesoureiro182 desta mesma confraria desde o 3.º domingo de Agosto de 1833 ao 3.º domingo de

176 Idem, ib., 7.º liv., misto, fl . 154v.177 Idem, ib., 5.º liv., misto, fl . 226.178 Idem, ib., 6.º liv., misto, fl . 170v. 179 Ver nota anterior e Apontamentos de Manuel Borges de Lima Perestrelo e fi lho, fl . 20.180 ADP (Arquivo Distrital do Porto), Monásticos, Mosteiro de São Pedro de Pedroso, liv. 2376, fl . 100v-113.

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Agosto de 1834, e da Confraria do Mártir S. Sebastião, no ano de 1829. Foi Juiz da Igreja183, de 9 de Maio de 1838 a 6 de Maio de 1839. Os seus fi lhos Manuel e Narciso frequentaram as lições do Mestre Bernardo Pais de S. Jorge a partir do mês de Setembro de 1832. A partir de Janeiro de 1837 começaram a frequentar as lições do P.e Manuel, em casa de Crispim da Mámoa, onde aquele estava hospedado. A partir do mês de Outubro deste mesmo ano, principiaram a ir à lição a casa de Luís Fernandes da Mota, do lugar da Preza de Milheirós184. A sua casa pagava foros185 a Pedroso (antigo convento), ao Mosteiro de Grijó, ao Castelo da Vila da Feira, a D. Manuel de Ataíde e ao Morgado de Oliveira de Azeméis.Este casal foi progenitor de: 1(VI)-Maria, nascida a 29 de Julho de 1817 e baptizada186 na igreja de Milheirós de Poiares a 1 de Agosto do mesmo ano, pelo Cura P.e João Martins Pereira, sendo padrinhos João Borges de Lima, tio da baptizada, e Teresa solteira, também tia da baptizada, ambos de Gaiate, e testemunhas o Reverendo Joaquim Manuel da Costa [Reis], do lugar de Relvas, e Apolinário José dos Santos, do lugar de Gaiate. 2(VI)-Manuel, nascido a 3 de Abril de 1819 e baptizado187 na igreja de Milheirós de Poiares a 6 do mesmo mês, pelo Cura P.e João Martins Pereira, sendo padrinhos Francisco José António, tio do baptizado, do lugar do Casal, e Maria solteira, fi lha de Ana Joaquina, do mesmo lugar, tia do baptizado, e testemunhas Caetano Borges, tio do baptizado, e Apolinário José dos Santos, ambos do lugar de Gaiate. 3(VI)-Ana, nascida a 13 de Outubro de 1820 e baptizada188 na igreja de Milheirós de Poiares a 15 do mesmo mês, pelo Cura P.e João Martins Pereira, sendo padrinhos Caetano Borges de Lima Perestrelo, solteiro, de Gaiate, tio paterno da baptizada, e Bernardina, solteira, fi lha de Maria Alves dos Santos, do lugar de Gaiate, tia da baptizada, e testemunhas José Bernardo de Sousa Aranha, do lugar da Gândara, e João Borges de Lima Perestrelo, do lugar de Gaiate, tio da

baptizada. Faleceu189, solteira, a 18 de Outubro de 1873, com 52 anos, sendo sepultada no cemitério da freguesia. 4(VI)-Balbina, nascida a 27 de Abril de 1823 e baptizada190 a 29 do mesmo mês na igreja de Milheirós de Poiares, pelo Cura P.e João Martins Pereira, sendo padrinhos Teotónio Borges de Lima Perestrelo, de Fermedo, e Inácia Maria dos Santos, da freguesia de Romariz, tios da baptizada, e testemunhas José Bernardo de Sousa Aranha e João Borges de Lima Perestrelo, do lugar da Gândara, também tios da baptizada. Faleceu191, “de lombrigas”, pouco tempo depois, a 22 de Junho de 1823, sendo sepultada dentro da igreja de Milheirós de Poiares. *5(VI)-Narciso Borges de Lima Perestrelo, nascido192 a 19 de Janeiro de 1825, que segue.

Manuel Borges de Lima Perestrelo faleceu193 a 3 de Dezembro de 1853.

VI-Narciso Borges de Lima Perestrelo, fi lho de Manuel Borges de Lima Perestrelo e de Mariana Inácia dos Santos, do lugar de Gaiate, neto paterno de Manuel Borges de Lima Perestrelo e de Ana Joaquina e materno de Francisco António e de Maria Alves dos Santos, do lugar de Gaiate, nasceu aos 19 dias do mês de Janeiro de 1825 e foi baptizado a 20 do mesmo mês e ano na igreja paroquial de Milheirós de Poiares, pelo Cura João Martins Pereira, sendo padrinhos Caetano, solteiro, e Teresa, solteira, tios do baptizado, do mesmo lugar, e testemunhas José Bernardo de Sousa Aranha, do lugar da Gândara, e Apolinário José dos Santos, de Gaiate. Com a idade de 39 anos, lavrador, casou194, a 16 de Maio de 1864, com Albina Emília da Conceição, de 24 anos, fi lha de Manuel Joaquim Lopes Pereira de Melo e Ana Emília Margarida de Castro, neta paterna de José Francisco Lopes e Antónia Maria Pereira de Melo, do lugar de Milheirós, e materno de António Francisco Pereira de Amorim e Maria Rosa

181 Apontamentos de Manuel Borges de Lima Perestrelo e outros, fl . 5 e 20v.182 Idem, fl . 20v e 16v.183 Idem, fl . 28.184 Idem, fl . 25.185 Idem, fl . 26.186 ADA, Registos Paroquiais, freguesia de Milheirós de Poiares, 7.º liv., misto, fl . 98v.187 Idem, ib., 7.º liv., misto, fl . 107.188 Idem, ib., 7.º liv., misto, fl . 117v.

189 Idem, ib., 31.º liv., óbitos, fl . 5v.190 Idem, ib., 7.º liv., misto, fl . 235v.191 Idem, ib., 7.º liv., misto, fl . 216v. 192 ADA, Registos Paroquiais, freguesia de Milheirós de Poiares, 8.º liv., misto.193 Apontamentos de Manuel Borges de Lima Perestrelo e outros, fl . 20.194 ADA, Registos Paroquiais, freguesia de Milheirós de Poiares, 18.º liv., casamentos, fl . 5.

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de Jesus, do lugar do Casal, freguesia de Mansores. Presidiu à cerimónia o Reitor António Alves Moreira. Foram testemunhas Manuel Alves Moreira, casado, lavrador, do lugar do Seixal, e Manuel Borges de Lima, solteiro, do lugar de Gaiate. Tiveram os seguintes fi lhos: *1(VII)-Manuel Borges de Lima Perestrelo, nascido195 a 14 de Março de 1865, que segue. 2(VII)-Maria (nome de Baptismo), nascida a 18 de Setembro 1866 e baptizada196 a 3 de Outubro do mesmo ano na igreja de Milheirós de Poiares, sendo padrinhos Manuel Luís da Costa e Joaquim Lopes Pereira. Com 39 anos de idade, casou197 na igreja de Milheirós de Poiares, a 9 de Setembro de 1906, usando o nome Maria Rosa Borges de Lima Perestrelo, com Manuel José Fernandes de Almeida, de 49 anos, natural de Macieira de Sarnes, fi lho natural de Bernardina Joaquina. Também era conhecida por Maria Rosa da Conceição.Faleceu198 a 26 do mês de Abril de 1935, no lugar de Gaiate, com a idade de 68 anos, registada com o nome Maria Rosa Borges de Lima Perestrelo. O registo de óbito, porém, por engano (?), em vez de viúva, refere que ela era “solteira”! Foi sepultada no cemitério paroquial da freguesia. 3(VII)-Rosa (nome de baptismo), nascida a 4 de Junho de 1868 e baptizada199 a 14 do mesmo mês na igreja de Milheirós de Poiares, sendo padrinhos Manuel Borges de Lima Perestrelo e Rosa Emília. Faleceu200 a 23 de Dezembro de 1922, no lugar de Gaiate, cujo óbito foi registado com o nome de Rosa Emília da Conceição, com 54 anos de idade, e foi sepultada no cemitério paroquial de Milheirós de Poiares. (VII)-Ana Emília da Conceição, nascida a 4 de Dezembro de 1870 e baptizada201 a 12 do mesmo mês na igreja de Milheirós de Poiares, sendo padrinhos Manuel Borges de Lima Perestrelo e Ana dos Santos. Faleceu202, solteira, em Gaiate, a 2 de Dezembro de 1936 e foi sepultada no cemitério de Milheirós de Poiares, na sepultura n.º 43, cujo registo nomeia-a de Ana Borges de

Lima Perestrelo. 5(VII)-José, nascido a 12 de Abril de 1873 e baptizado203 a 20 do mesmo mês na igreja de Milheirós de Poiares, pelo Presbítero Manuel de Oliveira e Costa, com licença do Reitor António Alves Moreira, sendo padrinho Manuel Borges solteiro, lavrador, do lugar do Casal da freguesia de Milheirós de Poiares e madrinha Rosa Emília, solteira, tia materna do baptizado.Faleceu204 a 26 Novembro de 1873. 6(VII)-José Borges de Lima Perestrelo, nascido a 23 de Dezembro de 1874 e baptizado205 a 27 do mesmo mês na igreja de Milheirós de Poiares pelo Reitor António Alves Moreira, sendo padrinho Manuel Borges de Lima Perestrelo, solteiro, lavrador, e madrinha Maria, solteira, ambos tios paternos do baptizado.Faleceu206 em Milheirós de Poiares, no dia 30 de Maio de 1947. 7(VII)-Angelina Emília da Conceição, nascida a 23 de Outubro de 1877 e baptizada207 a 29 do mesmo mês na igreja de Milheirós de Poiares, sendo padrinhos Manuel, irmão da baptizada, e Maria de Jesus. Foi mãe de duas fi lhas naturais. -Rosa, que nasceu a 18 de Setembro de 1903 e foi baptizada208 no mesmo dia na igreja de Milheirós de Poiares, sendo padrinhos Francisco Alves de Araújo e Rosa Emília da Conceição, tia da baptizada. Esta Rosa casou com Justino Francisco Marques. Dedicaram-se ao comércio, explorando uma mercearia localizada no lugar de Gaiate, conhecida na época por “Rozinha”, cujo edifício ainda está de pé. Não houve descendência. -Irene209, que, por sua vez, casou com Manuel Henriques Marques. Tiveram descendência. 8(VII)-Balbina Borges de Lima Perestrelo, nascida a 20 de Julho de 1880 e baptizada210 a 23 do mesmo mês na igreja de Milheirós de Poiares, sendo padrinhos Manuel e Maria Rosa, irmãos da baptizada. Casou211 na igreja paroquial de Milheirós de Poiares, a 9

195 APMP, Extractos de Baptismos (1911-1860), fl . 61v e 62.196 Idem, ib., fl . 61v e 62.197 Idem, Extractos de Baptismos e Casamentos, fl . 42.198 AJFMP (Arquivo da Junta de Freguesia de Milheirós de Poiares), Enterramentos, p. 101.199 APMP, Extractos de Baptismos (1911-1860), fl . 58v e 59.200 AJFMP, Enterramentos, p. 57. 201 APMP, Extractos de Baptismos (1911-1860), fl . 57v e 58.

202 AJFMP, Enterramentos, p. 105. 203 ADA, Registos Paroquiais, freguesia de Milheirós de Poiares, 32.º liv., baptismos, fl . 2.204 Idem, ib., 31.º liv., óbitos, fl . 6v.205 Idem, ib., 32.º liv., baptismos, fl . 10. 206 Idem, ib., 32.º liv., baptismos, fl . 10, averbamento na margem esquerda.207 APMP, Extractos de Baptismos (1911-1860), fl . 50v e 51.208 Idem, ib., fl . 15v e16.209 Informação oral.210 APMP, Extractos de Baptismos (1911-1860), fl . 47v e 48.

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de Setembro de 1906, com Abílio José Gomes dos Santos, de 20 anos de idade, natural de Macieira de Sarnes, fi lho de Vitorino José dos Santos e Rosa Maria de Jesus.

Albina Emília da Conceição faleceu212 a 7 de Outubro de 1919, com 79 anos de idade. VII-Manuel Borges de Lima Perestrelo, fi lho de Narciso Borges de Lima Perestrelo e de Albina Emília da Conceição, nasceu a 14 de Março de 1865 e foi baptizado213 a 19 do

mesmo mês na igreja de Milheirós de Poiares, sendo padrinhos Manuel Borges de Lima e Maria Lima, tios do baptizado. Casou214 a 6 de Fevereiro de 1898 com Miquelina Rosa de Pinho, solteira, de 36 anos de idade, natural e baptizada na freguesia de Romariz, fi lha de Manuel José de Pinho e Joana Rosa dos Anjos. Tiveram os seguintes fi lhos. 1(VIII)-Edgar Borges de Lima Perestrelo, nascido a 11 de Março de 1899 e baptizado215 a 25 do mesmo mês na igreja de Milheirós de Poiares, sendo padrinhos José António de Pinho e D. Ana de Pinho. Casou em primeiras núpcias com Aurora Ferreira dos Santos, fi lha de João Pinto dos Santos e de Emília Ferreira de Azevedo. Tiveram as fi lhas: -Maria dos Santos Perestrelo, que casou e tem descendência; -Aurora dos Santos Perestrelo, que também casou mas não tem descendência.

Aurora Ferreira dos Santos faleceu216 a 12 de Janeiro de 1935, no lugar de Gaiate, e foi sepultada em jazigo de família, no cemitério paroquial de Milheirós de Poiares. Entretanto, Edgar casou217 em segundas núpcias com Maria dos Santos Leite, fi lha de António Dias Leite Júnior e Joana Augusta dos Santos, do lugar da Gândara, freguesia de Milheirós de Poiares. Deste casamento não houve fi lhos. 2(VIII)-Manuel Borges de Lima Perestrelo, nascido a 3 de Junho de 1902 e baptizado218 a 6 do mesmo mês na igreja de Milheirós de Poiares, sendo padrinhos Manuel José de Pinho e Maria Rosa dos Anjos, provavelmente avós maternos. Casou219 com Consuela de Pinho Campos a 30 de Novembro de 1933. Tiveram um fi lho chamado:- Sérgio, que casou e tem descendência. Manuel Borges de Lima Perestrelo, casado com Miquelina Rosa de Pinho, faleceu220 a 5 de Junho de 1911 e foi sepultado no cemitério paroquial.

211 APMP, Extractos de Baptismos e Casamentos, fl . 42v.212 AJFMP, Enterramentos, p. 48.

Da esquerda para a direita, Consuelo de Pinho Campos, Manuel Borges de Lima Perestrelo e seu fi lho Sérgio Campos de Lima Perestrelo.

213 Ver nota 195.214 APMP, Extractos de Baptismos e Casamentos, fl . 46v.215 Idem, Extractos de Baptismos (1911-1860), fl . 21v e 22.216 AJFMP, Enterramentos, p. 100.217 Informação oral. 218 APMP, Extractos de Baptismos (1911-1860), fl . 16v e 17. 219 Idem, ib., fl . 16v e 17, averbamento escrito à margem.

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§2

Bartolomeu de Paiva casou221 com Joana de Brito, do lugar

do Adro, a 11 de Fevereiro de 1668, na igreja de Fermedo. Presidiu à cerimónia o Padre António de Brito com licença do pároco António Gomes, sendo testemunhas o Padre João Martins, de Mouquim, João de Paiva escrivão e Domingos Gomes da Silva. Foi crismado222 no Porto, “Bartholomeu de pajua chrismado no porto, padrinho M.el Mendes Viejra Ab.e de Sam Niculau”. Foi testemunha de casamento223 de Domingos Pais, do lugar do Adro, fi lho de António Pais e Margarida Manuel, que casou com Antónia da Rocha, viúva de Manuel André, fi lha de “P.º Glh” e “M.ª Glh”. Foram testemunhas “Brm.eu de Payua e seu f.º jozeph soltr.º e D.os Ribr.º todos do lugar do Adro”. Foi testemunha de baptismo224 juntamente com António de Paiva, seu fi lho, de António, fi lho de João Pais de Azevedo e de sua mulher Catarina dos Santos, baptizado a 3 de Março de 1711. Bartolomeu de Paiva e Joana de Brito viveram no lugar do Adro da freguesia de Fermedo e tiveram os seguintes fi lhos.1(II)-Maria, baptizada225 a 18 de Novembro de 1668, na igreja de Fermedo, pelo Abade António Gomes, sendo padrinhos o Senhor Fernão Pereira da Silva e Helena, fi lha de Diogo de Brito. 2(II)–Manuel, baptizado226 a 21 de Outubro de 1670, na igreja de Fermedo, pelo P.e João de Paiva, sendo padrinhos o Abade da freguesia António Gomes e Maria dos Santos, mulher de João de Paiva. 3(II)-Ana de Brito, baptizada227 a 13 de Novembro de 1672, sendo padrinho João de Paiva. Foi madrinha de baptismo de Manuel, fi lho de Belchior Pais e de Maria Francisca, da Vila de Cabeçais, baptizado228 a 7 de Junho de 1702, sendo padrinho Gonçalo solteiro, de Alvite, freguesia de Escariz. Faleceu229 solteira a 9 de Agosto de 1733. 4(II)–Teodózio, baptizado230 na igreja de Fermedo pelo Abade António Gomes, a 10 de Setembro de 1675, sendo

Do lado esquerdo Manuel Borges de Lima Perestrelo, do lado direito Edgar Borges de Lima Perestrelo e no meio sua mãe Miquelina Rosa de Pinho.

220 AJFMP, Enterramentos, p. 14.

221 ADA, Registos Paroquiais, freguesia de Fermedo, 1.º liv., misto, fl . 115v.222 Idem, ib., 1.º liv. misto, fl . 167.223 Idem, ib., 1.º liv. misto, fl . 128v.224 Ver nota 95.225 ADA, Registos Paroquiais, freguesia de Fermedo, 1.º liv., misto, fl . 47. 226 Idem, ib., 1.º liv., misto, fl . 52v.227 Idem, ib., 1.º liv., misto, fl . 58v. 228 Idem, ib., 1.º liv., misto, fl . 164.

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padrinhos Domingos Monteiro, de Guizande e Antónia, da freguesia de Romariz. 5(II)-José, baptizado231 na igreja de Fermedo a 7 de Janeiro de 1678 pelo P.e Coadjutor Domingos Gomes, sendo padrinhos Domingos António, da freguesia de Macieira de Sarnes, e Maria de Paiva, mulher de Bartolomeu da Silva, do lugar da Reguenga da freguesia de Romariz. 6(II)-António de Paiva Brito, nascido a 1 de Janeiro de 1668 e baptizado232 na igreja de Fermedo a 8 do mesmo mês, pelo Padre João de Paiva, do Carvalhal, na presença do pároco António Gomes, sendo padrinho o Abade de S. Miguel, Melchior Pereira, e madrinha Briolanja, fi lha de João de Paiva. Casou com Isabel de Sousa. Tiveram o fi lho chamado: -Baptista, nascido a 13 de Dezembro de 1729 e baptizado233 a 21 do dito mês e ano, sendo padrinho Baptista Pinheiro de Lima, do lugar do Adro, e madrinha Dona Caetana Tavares, mulher de Alexandre Valente da Fonseca, de Fermedo. António de Paiva Brito foi padrinho de baptismo de António, fi lho de Belchior Pais, da Vila de Cabeçais, e de Maria Francisca, baptizado234 a 5 de Abril de 1709, sendo madrinha Maria Francisca, mulher de Manuel Francisco, de Alvite. 7(II)-Ambrósio, nascido a 6 de Dezembro de 1682 e baptizado235 na igreja de Fermedo a 9 do mesmo mês pelo P.e João de Paiva, na presença do pároco António Gomes, sendo padrinhos António e Catarina, ambos fi lhos de João de Paiva.8(II)-Fabiana, baptizada236 a 18 de Janeiro de 1685 na igreja de Fermedo pelo Abade Luís Coelho Falcão, sendo “padrinhos o R.do Abbe de Saõ mamede de Guizande Joaõ de Souza e Sua Cunhada fabiana de Souza”. 9(II)-Baptista, baptizado237 a 17 de Novembro de 1687 na igreja paroquial de Fermedo, pelo Abade Luís Coelho Falcão, sendo padrinhos o Licenciado Baptista de Araújo e sua mulher

D. Leonor.

Bartolomeu de Paiva faleceu238, viúvo, a 26 de Abril de 1712, tendo feito dois testamentos, nas notas de Fermedo, um239 a 1 de Outubro 1699 e outro240 a 29 de Fevereiro de 1712. Foi sepultado dentro da igreja.

§3

II-António de Lima Perestrelo, fi lho de João de Paiva da Silveira e de sua mulher D. Maria dos Santos Ferreira e Lima, nasceu no Paço a 30 de Julho de 1671 e foi baptizado241 a 6 de Agosto do mesmo ano, pelo P.e António Gomes Abade da igreja de Fermedo, sendo padrinhos Manuel de Paiva e Maria de Paiva, tios do baptizado. António de Lima Perestrelo foi padrinho de: Marcos, fi lho de António Gomes e de sua mulher, baptizado242 a 10 de Outubro de 1682, em Fermedo, pelo P.e Manuel de Sousa com licença do Reverendo Abade, sendo madrinha Maria Francisca, mulher de Vicente Alves, moradores no Outeiro; Feliciano, fi lho de Manuel Jorge e de sua mulher Maria Pereira, do lugar da Roda, baptizado243 em Fermedo a 27 de Novembro de 1684, sendo madrinha Catarina, irmã do padrinho; Briolanja, fi lha de António de Sousa, do lugar da Aldeia, baptizada244 a 26 de Março de 1686, sendo madrinha Briolanja, irmã do padrinho; Manuel, fi lho de António Francisco e de sua mulher, do lugar de Cabeçais, baptizado245 a 22 de Fevereiro de 1689, sendo madrinha a mulher de Domingos António, de Alvite; sobrinha Margarida, fi lha de João Pais de Azevedo e de sua mulher Catarina de Paiva, do lugar da Roda, baptizada a 26 de Agosto de 1692; Maria Rosa, fi lha de Belchior de Azevedo Aranha e da sua mulher Maria Leite, nascida246 a 10 de Fevereiro de 1707, sendo madrinha D. Leonor Francisca. Foi testemunha de baptismo de Meliça, fi lha de António de Pinho, do lugar de Tanhel e de Maria Teresa Gomes, baptizada a 12 de Fevereiro de 1707, sendo padrinhos o Licenciado

229 Idem, ib., 2.º liv., misto, fl . 210v.230 Idem, ib., 1.º liv., misto, fl . 67. 231 Idem, ib., 1.º liv., misto, fl . 72v. 232 Idem, ib., 1.º liv., misto, fl . 78v.233 Idem, ib., 2.º liv., misto, fl . 222v.234 Idem, ib., 1.º liv., misto, fl . 172.235 Idem, ib., 1.º liv., misto, fl . 84. 236 Idem, ib., 1.º liv., misto, fl . 90.

237 Idem, ib., 1.º liv., misto, fl . 101v.238 Idem, ib., 2.º liv., misto, fl . 166v.239 Idem, Notários, Fermedo, liv. 46-09, fl . 129 a 130. 240 Idem, ib., liv. 54-19, fl . 89v a 91v.241 Ver nota 46.242 ADA, Registos Paroquiais, freguesia de Fermedo, 1.º liv., misto, fl . 83v.243 Idem, ib., 1.º liv., misto, fl . 89v.244 Idem, ib., 1.º liv., misto, fl . 92. 245 Ver nota 74.246 ADA, Registos Paroquiais, freguesia de Fermedo, 2.º liv., misto, fl . 9.

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Baptista de Araújo e Sousa e Domingas solteira, da freguesia de Travanca, da Feira. Foi notário247 de Fermedo, sucedendo a seu pai João de Paiva da Silveira. Casou com Úrsula da Fonseca Ribeiro, vivendo na Vila de Cabeçais. Houve deste casamento os seguintes fi lhos. 1(III)-Sebastião Baptista de Lima Perestrelo, que nasceu a 12 de Setembro de 1697 e foi baptizado248 na igreja de Fermedo pelo P.e Sebastião Dinis, prior do Codal, com licença do Abade Luís Coelho Falcão, a 19 do mesmo mês, sendo padrinhos Baptista de Araújo e D. Leonor, do Paço. Foi sucessor de seu pai no cargo de escrivão de Fermedo. De facto, este Sebastião requerera ao rei D. João V o dito cargo, o qual, visto seu pai e avô já o terem desempenhado, concordou, desde que satisfi zesse as cláusulas exaradas, em 7 de Novembro de 1713: “Dom João por Graça de Deus Rey de Portugal […] faço saber que hauendo respeito a me reprezentar Baptista de Lima Perestrello, que a seu Pay António de Lima Perestrello fi zera eu mercê da propriedade dos offi cios de escriuão do publico judicial notas, e órfãos do Conselho de Fermedo por haver sido de seu Avô João de Paiua da Silueira; e porque o dito seu Pay fallecera sem se emcartar nos ditos offi cios e elle supplicante era o mais velho que delle fi cara […] Hey por bem fazer lhe mercê da propriedade dos ditos offi cios sendo apto e pagando os direitos do emcarte de seu Pay […]”249. E, a 8 de Janeiro de 1723, o mesmo rei D. João V concede-lhe a competente carta de escrivão do concelho de Fermedo: “D. João por Graça de Deus Rey de Portugal […] Portanto mando ao Corregedor da Comarca de Coimbra ou a quem o dito cargo seruir, que meta de posse destes offi cios Sebastião Baptista de Lima Perestrello, e lhos deixe seruir, e delles usar,

e haver todos os proes, e percalços que direitamente lhes pertencerem sem lhe ser posto duuida nem embargo algum porque assim o hei por bem porquanto foi examinado na Mesa do despacho dos meus Dezembargadores do Paço e havido por apto para seruir os ditos offi cios”250. Foi padrinho de: Assunção, fi lha de Baptista de Araújo e Sousa e de Teresa Maria, do lugar da Roda, baptizada251 a 22 de Agosto de 1719; Ana, fi lha de Manuel Gomes e de Maria Gomes, da Vila de Cabeçais, baptizada252 a 14 de Outubro de 1730. Foi testemunha de baptismo253 de Ana, fi lha de Francisco Moreira e de Antónia Soares, do lugar de Trás-o-Rio, a 14 de Maio de 1733; e de Manuel, fi lho de António de Lima Pinheiro e de Teresa de Oliveira, de Cabeçais, baptizado254 a 4 de Junho de 1741 na igreja de Fermedo.Casou com Francisca de Oliveira, residindo na Vila de

247 Ver nota 249.248 ADA, Registos Paroquiais, freguesia de Fermedo, 1.º liv., misto, fl . 156.249 Livro citado Fermedo Aspectos da sua história, p. 94. 250 Idem, p. 96.

251 Ver nota 44. 252 ADA, Registos Paroquiais, freguesia de Fermedo, 2.º liv., misto, fl . 226. 253 Idem, ib., 2.º liv., misto, fl . 233v.

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Cabeçais. Tiveram pelo menos uma fi lha: -Mariana, nascida a 18 de Janeiro de 1718 e baptizada255 a 24 do mesmo mês e ano, sendo madrinha sua bisavó M.ª dos Santos Ferreira e Lima. A Mariana faleceu256 a 29 de Setembro de 1750. Provavelmente por não haver mais fi lhos, Sebastião Baptista de Lima Pinheiro falecido257 a 18 de Dezembro de 1752, deixou por herdeiro Manuel Pais de Lima. 2(III)-Maria Caetana, que nasceu a 13 de Novembro de 1698 e foi baptizada258 pelo P.e Frei Francisco de Santa Ana, com licença do Abade Luís Coelho Falcão, na igreja de Fermedo, a 18 do mesmo mês, sendo padrinho Sebastião Dinis da Fonseca, prior do Codal e madrinha sua avó Maria dos Santos, viúva, do lugar da Roda. 3(III)-Manuel, que nasceu a 18 de Novembro de 1700 e foi baptizado259 a 24 do mesmo mês pelo Abade Luís Coelho Falcão, sendo padrinhos Manuel da Costa, da freguesia de Romariz, e madrinha Joana solteira, fi lha do Licenciado Baptista de Araújo, morador no Paço. 4(III)-Antónia, que nasceu a 19 de Outubro de 1710 e foi baptizada260 a 26 do mesmo mês, na igreja de Fermedo, pelo Padre Coadjutor Manuel Alves da Silva, sendo padrinhos o Reverendo Padre André de Paiva, de Romariz, e Catarina dos Santos, mulher de João Pais de Azevedo e tia da baptizada, do lugar do Adro, e testemunhas Bartolomeu de Paiva, do lugar do Adro, e André de Oliveira, de Cabeçais. Faleceu261, solteira, a 20 de Agosto de 1730, de repente, com cerca de vinte anos. Foi sepultada dentro da igreja de Fermedo. Seu irmão Baptista e seu cunhado Francisco Pinto, do lugar de Tanhel, correram com os bens de sua alma. António de Lima Perestrelo faleceu262 a 7 de Abril de 1713 e foi sepultado dentro da igreja de Fermedo. Não fez testamento por o valor das dívidas ser superior ao dos bens. Por caridade e não por ser obrigada, sua irmã Catarina dos Santos fez-lhe um ofício de corpo presente de oito padres.

§4

3(V)-Teotónio Borges de Lima Perestrelo, nascido em Milheirós de Poiares a 9 de Março de 1772, casou a 2 de Setembro de 1796, também nesta freguesia, com Maria Inácia dos Santos, como se disse. Viveram algum tempo em Milheirós de Poiares, no lugar de Gaiate, onde nasceram os fi lhos seguintes, já indicados e descritos no §1: 1(I)-Maria, nascida a 24 de Janeiro de 1797 e baptizada a 26 dias do mesmo mês e ano; 2(I)-José Borges de Lima Perestrelo, nascido a 20 dias do mês de Março de 1799 e baptizado a 23 do mesmo mês e ano; 3(I)-Ana, nascida a 7 de Outubro de 1801 e baptizada a 11 dias do mesmo mês e ano; 4(I)-Mariana, nascida a 23 de Abril de 1803 e baptizada a 25 do mesmo mês e ano. Entretanto Teotónio, mulher e fi lhos foram viver para Fermedo, lugar do Adro, onde nasceram mais os seguintes fi lhos: 5(I)-Josefa Joaquina Borges263, que casou com Domingos Ferreira de Paiva, mas sem descendência; *6(I)-Margarida Joaquina, com quem se continua, nascida a 8 de Novembro e baptizada264 na igreja de Fermedo a 14 do mesmo mês do ano de 1813, sendo padrinhos José Alves dos Santos, do lugar de Milheirós, freguesia de Milheirós de Poiares, e Maria, irmã da baptizada; 7(I)-Teresa, nascida a 10 de Fevereiro de 1816 e baptizada265 a 15 do mesmo mês e ano na igreja de Fermedo, sendo padrinhos seu irmão José e Teresa solteira, fi lha de Manuel José e Josefa da Silva, da freguesia de São Roque.

II-Margarida Joaquina, lavradeira, fi lha de Teotónio Borges de Lima Perestrelo e Maria Inácia dos Santos, moradora no lugar do Adro, freguesia de Fermedo, teve o seguinte fi lho natural: *1(III)-António Borges de Lima Perestrelo, nascido a 9 de 254 Idem, ib., 3.º liv., misto, fl . 31v.

255 Ver nota 23.256 ADA, Registos Paroquiais, freguesia de Fermedo, 3.º liv., misto, fl . 216. 257 Idem, ib., 3.º liv., misto, fl . 220.258 Idem, ib., 1.º liv., misto, fl . 157v.259 Idem, ib., 1.º liv., misto, fl . 160v. 260 Idem, ib., 2.º liv., misto, fl . 25. 261 Idem, ib., 2.º liv., misto, fl . 204v. 262 Idem, ib., 2.º liv., misto, fl . 159v.

263 Idem, Inventário Orfanológico, Arouca, ano de 1881, maç. 22, proc. 26, fl . 32.264 Idem, Registos Paroquiais, freguesia de Fermedo, 8.º liv., Baptismos, fl . 3.265 Idem, Registos Paroquiais, 8.º liv., Baptismos, fl . 22v.

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Novembro de 1845 e baptizado266 a 10 do mesmo mês e ano, com quem se continua.III-António Borges de Lima Perestrelo, fi lho natural de Margarida solteira, do lugar do Adro, neto materno de António Borges de Lima Perestrelo e Maria Inácia, do dito lugar, nascido a 9 de Novembro de 1845, foi baptizado a 10 do mesmo mês e ano, na igreja de Fermedo, sendo padrinhos António Gomes, do Olival, e Bernardina solteira, tia do baptizado. Foi lavrador. Casou267 a 25 de Junho de 1872 com Margarida Rosa,

empregada na lavoura, de 26 anos, fi lha de Manuel Bastos e Maria Rosa, do lugar do Outeiro, freguesia de Fermedo, neta paterna de José de Bastos e Maria Francisca, do mesmo lugar, e materna de João Gomes de Pinho e Maria Gomes, do lugar do Coto, sendo testemunhas Manuel Francisco Soares, casado, lavrador, e Pedro de Oliveira Reis, solteiro, empregado na lavoura, ambos do lugar do Adro. Tiveram os fi lhos seguintes. 1(IV)-Manuel Borges de Lima Perestrelo, nascido a 15 de Março de 1873 e baptizado268 a 31 do mesmo mês e

Em terceiro lugar, em pé, da esquerda para a direita, Manuel Borges de Lima Perestrelo e em segundo, sentado, da direita para a esquerda, seu irmão Edgar Borges de Lima Perestrelo.

266 Idem, Registos Paroquiais, 9.º liv., misto, fl . 15. 267 Idem, Registos Paroquiais, 24.º liv., Casamentos, fl . 166.

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ano, sendo padrinhos Manuel de Bastos, lavrador, e Josefa Joaquina, também do lugar do Adro, viúva de Domingos Ferreira de Paiva, lavrador. Casou269 com Maria Rosa da Conceição e tiveram os seguintes fi lhos270: -Manuel Borges de Lima Perestrelo, que casou; -Moisés Borges de Lima Perestrelo, solteiro; -Arnaldo Borges de Lima Perestrelo, que casou, nascido271 a 1 de Abril de 1909 e falecido272 a 6 de Dezembro de 2000; -Mário Borges de Lima Perestrelo, que casou; -Guilhermina Rosa da Conceição, que nasceu273 a 16 de Agosto de 1917 e faleceu274 a 5 de Outubro de 1999, solteira; -Rosa da Conceição, que casou; -Gerónima Rosa da Conceição, que casou; -Maria Rosa da Conceição, que casou; -Felismina Rosa da Conceição, que casou; -Amélia Rosa da Conceição, que casou.

Maria Rosa da Conceição faleceu275 a 31 de Dezembro de 1954 e seu marido Manuel Borges de Lima Perestrelo276, viúvo, a 31 de Março de 1959. 2(IV)-António Borges de Lima Perestrelo, nascido no lugar do Adro, foi baptizado277 a 18 de Outubro de 1874, sendo padrinhos António Gomes, casado, lavrador, do lugar do Olival, e Joana da Conceição, mulher de José de Bastos, lavrador, do lugar do Outeiro. Casou278 na igreja de Fermedo, a 22 de Fevereiro de 1908, com Joaquina Rosa, de 19 anos, natural desta freguesia, fi lha de Manuel de Oliveira e de Maria Rosa. Tiveram os fi lhos: -Manuel Borges de Lima Perestrelo, nascido a 2 de Fervereiro de 1909 e falecido a 24 de Janeiro de 1991,

solteiro; -Alberto Borges de Lima Perestrelo, casado; -José Borges de Lima Perestrelo, nascido279 a 12 de Março de 1913 e falecido280 a 29 de Julho de 2003; -Glória Rosa de Lima, nascida281 a 6 de Julho de 1919 e falecida282 a 24 de Janeiro de 2004, solteira; -Laurinda Rosa de Lima, nascida283 a 19 de Fevereiro de 1926 e falecida284 a 9 de Março de 1981, solteira.

Joaquina Rosa faleceu285 em Fermedo, a 23 de Janeiro de 1957. Seu marido, António Borges de Lima Perestrelo, viúvo, faleceu286 também em Fermedo, a 21 de Março de 1963.

Perante as consultas efectuadas e o estudo realizado, no intuito de mostrar claramente a partir de quando é que Perestrelos vivem em Milheirós e donde são provenientes, conclui-se o seguinte: 1. O casal com descendentes Perestrelos em Fermedo, Milheirós de Poiares e eventualmente noutras localidades da região é João de Paiva da Silveira, escrivão, e Dona Maria dos Santos Ferreira e Lima, que residiram em Fermedo, antigo concelho, e actualmente pertencente ao concelho de Arouca. Ele é natural da freguesia de Romariz, do concelho da Feira, e ela, da freguesia de São Nicolau, da cidade de Lisboa. 2. Este casal e descendentes revelam grande familiaridade e relacionamento com pessoas nobres como o Senhor de Fermedo e ilustres como o capitão-mor Lázaro Moreira Landeiro Camizão, da Quinta do Castelo, Fermedo. Inclusivamente viveram durante os primeiros anos, após o casamento, no paço deste concelho, como se viu aquando do nascimento dos primeiros fi lhos. No entanto, não se vislumbraram relações de parentesco entre eles, excepto a coincidência de alguns apelidos como “Azevedo”, “Sousa”, “Fonseca”, “Brito”, “Pais” etc., que podem hipoteticamente indiciá-las. 3. De João de Paiva da Silveira sabe-se que é natural da freguesia de Romariz, irmão de Manuel de Paiva, de Maria de Paiva e muito provavelmente de Bartolomeu de Paiva, não 268 Idem, Registos Paroquiais, 9.º liv., misto, fl . 217.

269 Idem, Registos Paroquiais, 9.º liv., misto, fl . 217, à margem.270 A partir daqui, a fonte de informações é essencialmente oral, excepto das que forem expressamente assinaladas.271 Inscrição tumular do cemitério de Fermedo.272 Idem.273 Idem.274 Idem.275 Ver nota 269.276 Idem.277 Idem, Registos Paroquiais, freguesia de Fermedo, 9.º liv., misto, fl . 235. 278 Idem, ib., 9.º liv., misto, fl . 235, à margem.

279 Inscrição tumular do cemitério de Fermedo.280 Idem.281 Idem.282 Idem.283 Idem.284 Idem.285 Ver nota 278.286 Idem.

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tendo sido possível descobrir o registo de nascimento, apesar de pesquisa persistente, embora não houvesse expectativas de encontrar aí a ascendência perseguida. Foi escrivão, função que foi continuada pelo fi lho António de Lima Perestrelo e pelo neto Sebastião Baptista de Lima Perestrelo. Também seu presumível irmão Bartolomeu a desempenhou. 4. De Dona Maria dos Santos Ferreira e Lima sabe-se que é natural da freguesia de São Nicolau da cidade de Lisboa, onde viveu seu irmão, o cónego António Nunes Pinheiro, e para onde foi viver o seu fi lho P.e João de Paiva da Silveira, também cónego da Sé, mas as esperanças nela depositadas depressa se desvaneceram por causa da inexistência de registos paroquiais motivada pela destruição decorrente do trágico terramoto de 1755. 5. António de Lima Perestrelo, fi lho da dita Dona Maria dos Santos, e seu fi lho Sebastião provavelmente, ao requererem ao rei a concessão dos ofícios de escrivão, seleccionaram meticulosamente os apelidos que lhes pareceram mais efi cazes para o efeito, Lima e Perestrelo, diferentemente do que aconteceu com os nomes de seus irmãos, que não contêm Perestrelo, Briolanja Maria de Lima, Catarina dos Santos Ferreira e Lima e P.e João de Paiva da Silveira. 6. É precisamente este António a primeira pessoa a usar o apelido Perestrelo, documentado por escrito em Fermedo, no ano de 1692, como se constatou, “ant.º de Lima pestrello”. 7. O primeiro Perestrelo a casar na igreja de Milheirós de Poiares com noiva natural desta freguesia foi Baptista de Lima Pinheiro, natural de Fermedo e aí residente no lugar do Adro, cujo nome só depois da sua morte é que contém excepcionalmente o apelido Perestrelo. 8. O primeiro Perestrelo a viver em Milheirós de Poiares foi Manuel Borges de Lima Perestrelo, natural de Fermedo, fi lho do anteriormente nomeado Baptista de Lima Pinheiro [Perestrelo], que casou, também na igreja de Milheirós de Poiares, com Ana Joaquina Angélica de São Bento, natural desta freguesia, fi xando residência no lugar de Gaiate. 9. O primeiro Perestrelo natural de Milheirós de Poiares foi Manuel, fi lho do também chamado Manuel Borges de Lima Perestrelo e de Ana Joaquina Angélica, que faleceu prematuramente. 10. Os primeiros Perestrelos que viveram nesta freguesia habitaram casas localizadas no lugar das Relvas e, sobretudo, em Gaiate. De qualquer delas não fi cou vestígio que indiciasse nobreza. A das Relvas perdura. As de Gaiate, na sua maioria,

parecem estar destruídas excepto talvez algumas construções em estado avançado de ruína, localizadas próximo da actual Travessa dos Perestrelos, que me foi permitido ver e que outrora fi zeram parte dos ¾ de Casal de Gaiate, cujo directo senhorio era o Mosteiro de Pedroso. 11. Por isso, nem a documentação reunida, nem a tradição oral, nem a memória de pedra sustentam a tese da existência de solares de famílias nobres de apelido Perestrelo em Milheirós de Poiares. 12. Milheirós de Poiares acolheu o apelido Perestrelo no decorrer do século XVIII, enquanto em Fermedo, parece, ele ia entrando no esquecimento. Entretanto, Teotónio Borges de Lima Perestrelo, natural e residente em Milheirós de Poiares, casado e com fi lhos, no primeiro quartel do século XIX, dirigiu-se com a família para Fermedo, lugar do Adro, aí fi xando residência e fazendo surgir de novo este apelido, uma espécie de regresso às origens, sendo dele que descendem os actuais Perestrelos desta freguesia. 12. Finalmente, em rigor, não se pode concluir que os Perestrelos de Milheirós e de Fermedo descendam de Philippe Perestrêllo, por não se ter descoberto documentos sufi cientemente abonadores desde 1668 para trás. É provável que descendam, mas o único fundamento/vestígio continua a ser o próprio apelido.

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144 PEDAGOGIAEdgar Carneiro*

Deram-lhe livros: rasgou,

Porque não sabia ler;

Deram-lhe penas: quebrou,

Por não saber escrever;

Como terras não teria,

Bois e cangas recusou;

Outras artes não sabia

Ou, se sabia, esqueceu.

Deram-lhe um cinto de balas

E uma espingarda: matou!

Foi tudo quando aprendeu.

Amar, ninguém lhe ensinou.

In Antologia Poética, Espinho, Elefante Editores, 1998(Introdução de Anthero Monteiro)

* Nasceu em Chaves em 1913.Licenciado em Ciências Histórico-Filosófi cas pela Universidade de Coimbra.Foi professor dos ensinos técnico-profi ssional e secundário. De 1967 a 1974, dirigiu a Escola D. Pedro V, a primeira a funcionar em Fiães, neste concelho.Residia há 36 anos em Espinho, tendo sido distinguido pela Câmara local com a Medalha de Mérito.Tem 13 livros de poesia publicados, o último dos quais saiu a lume em 2009 e tem por título Périplo.Faleceu em 15-01-2011.

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MELO, José de Sequeira Monterroso e (? - ?). Foi Sargento-mor da Vila da Feira nos fi nais do século XVIII. Era casado com D. Francisca Rita de Morais e Melo. Seu fi lho Joaquim de Sequeira Monterroso e Melo foi vigário de Ovar, tendo sucedido no cargo a seu tio, João de Sequeira Monterroso e Melo. Este sacerdote «foi a antítese do seu tio e em Julho de 1829 foi acusado de não cumprir a legislação eclesiástica sobre casamentos, de insultar os seus fregueses da cadeira paroquial e de negligência em atender moribundos». Tendo emigrado em Abril de 1834, por motivos políticos, regressou em 1841, tendo assumido de novo o cargo de vigário até à sua morte ocorrida em 24.7.1853.

Bibliografi a Alberto Sousa Lamy, Monografi a de Ovar, Da idade Média À República, 1026-1910., 1.º volume. Ovar, 1977

MENDES, Guterre (? - ?). Era fi lho de Mendo Dias e de Gontinha Guterres. Casou com Onega Gonçalves de quem teve três fi lhos: Ernesenda,

Emisu e Gontinha. Possuiu propriedades em Fornos, Serzedo, Aveleda, Vila Nova da Telha, Enxemil, Mançores e o Mosteiro de Rio Tinto.

Bibliografi a José Mattoso, A Nobreza Medieval Portuguesa – A Família e o Poder. Editorial estampa, 4.ª edição, 1994

MENDES, José (? - ?). Nasceu em Rio Meão, no lugar da Barroca ou de Alpoços. Era clérigo e em 1702 vivia em Vila Nova de Gaia, «em cuja casa morava Maria, solteira da Barroca»

Bibliografi a David Simões Rodrigues, Rio Meão – A Terra e o Povo na História. Edição da Junta de Freguesia de Rio Meão, 2001

MENDES, Manuel de Bessa (? - ?). Foi pároco da freguesia de Pigeiros, apresentado, em 1686, pelos Rochas, continuadores dos antigos Pereiras, da Quinta do Paço de Pigeiros.

Bibliografi a P.e José Inácio da Costa e Silva, Santa Maria de Pigeiros, jornal Tradição, número especial das Comemorações dos Centenários, Setembro, 1940

* Licenciado em História pela Universidade do Porto e Bacharel em Filologia Românica pela Universidade de Coimbra. Historiador local, é autor de Anais da História de Espinho, O Associativismo em Espinho, Joaquim Pinto Coelho, um Político de Espinho, O Campo de Aviação de Espinho, O Culto de Nª Sª da Ajuda em Espinho e Manuel Laranjeira, por ele mesmo.

Dicionário Biográfi co de Personalidades Feirenses

Francisco de Azevedo Brandão *

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MENDES, Maria (? - ?). Vivia em 1156, pois em Abril desse ano, ela, seus fi lhos e Paio Moniz vendiam aos monges do mosteiro de S. Salvador de Grijó a sua terra in villa Palatiolo, discurrente rivulo Maiore (Paços de Brandão).

Bibliografi a Robert Durand, Le Cartulaire Baio Ferrado du Monastère de Grijó (XI-XIII Siècles). Fundação Calouste Gulbenkian, Centro Cultural Português, Paris, 1971

MENDES, João (? - ?). Era tabelião régio do Julgado da Feira em 1317.

Bibliografi a ANTT – 2.268 liv. – 1º42 mç. – 34 cx. – 165 p.

MENDES, Mendo (? - ?). Com sua mulher, Eieuva Pais, legam, em Abril de 1135, ao Mosteiro de S. Salvador de Grijó, dois casais e diversos bens fundiários situados em Seitela (Mozelos), Casal, Oleiros e Sernande, com a cláusula de os monges assegurarem a subsistência do fi lho dos doadores.

Bibliografi a Robert Durand, Le Cartulaire Baio Ferrado (XI-XIII Siècles). Fundação Calouste Gulbenkian, Centro Cultural Português, Paris, 1971

MENDES, Pedro (? - ?) e sua mulher Ermesenda Fernandes venderam aos monges do Mosteiro de S. Salvador de Grijó, em Maio de 1157, por um cavalo no valor de 40 modios, a sua terra de Seitela.

Bibliografi a Robert Durand, Le Cartulaire Baio Ferrado du Monastère de Grijó (XI-XIII Siècles). Fundação Calouste Gulbenkian, Centro Cultural Português, Paris, 1971

MENDES, Ramiro (? - ?). Era fi lho do conde Mendo Gonçalves e de Toda ou Tutadomna. Era casado com Toda Veilez. Esta deu, em 1055, ao abade Todemondo as propriedades que possuía em Canedo,

Framil e Paço (Rio Tinto). Já tinha vendido, antes de 1050, uma propriedade na vila da Paramos por 600 soldos. Do seu casamento houve três fi lhos: Ordonho Ramires, Ermenegildo Ramires e Loba Ramires.

Bibliografi a José Mattoso, A Nobreza Medieval Portuguesa – A Família e o Poder. Editorial Estampa, 4.ª edição, 1994

MENDES, Teodoro Correia (? - ?). Era pároco da freguesia de Milheiros de Poiares eem1758, pois foi ele que respondeu ao inquérito para o Dicionário Geográfi co. Em 1867 foi assinada, em sua casa, uma escritura de compra, por parte de João Wye, cidadão britânico, morador em V. N. de Gaia, de «uma propriedade urbana no morro onde terminava o casario da Corujeira»

Bibliografi a Manuel Joaquim Santos Conceição, Milheiros de Poiares (Século XVI a XVII). Revista Villa da Feira - Terra de Santa Maria. N.º 13, 2006, Manuel Leão, Um Enfi teuta Britânico em Milheiros. Revista Villa da Feira – Terra de Santa Maria, Ano IV, nº 10, 2005. Jornal Tradição, número especial das Comemorações dos Centenários, Setembro, 1940

MENDONÇA, João Diogo Carrilho de (? - ?). Conhecido como Dr. João Diogo Carrilho de Mendonça, foi pároco colado da Freguesia de Guisande em 1 de Setembro de 1595. Este pároco foi colado pelo bispo D. Jerónimo de Meneses que aprovou os Estatutos capitulares de 1596. Neles se exige a pureza de sangue para o benefício da Sé, isto é, que não fossem apresentados indivíduos com raça de mouro, herege ou cristão-novo. Este pároco resignou a favor do seguinte, padre António de Castro.

Bibliografi a António Ferreira Pinto, Defendei Vossas Terras – Monografi a de Guisande. Edição da Junta de Freguesia de Guisande, 1999

MENERES, Fortunato da Fonseca (? - ?)- Foi o primeiro presidente da Comissão de Vigilância

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pela Guarda e Conservação do Castelo da Feira. Era casado com D. Maria das Dores Menéres. Em 1940 ele e a esposa comemoraram as suas Bodas de Ouro de casamento num «jantar de família no Hotel Batalha, do Porto».

Bibliografi a António Lamoso Regal de Castro, Factos e Personalidades da Feira e do Concelho 1917 a 1950. Edição do autor, 1991

MENESES, Fernando de Magalhães e (? - ?). Vivia em 1726, segundo Carta de Familiar do santo Ofício que lhe foi concedida nessa data e que a seguir se transcreve: «Fidalgo da Casa de S. Mag.de e Cavaleiro Professo da Ordem de Cristo; natural e morador na Quinta do Covo, termo da Feira; fi lho de António de Magalhães de Meneses, natural da mesma Quinta, e de D. Ângela Balsa, natural da vila de Viana, freg. matriz; neto paterno de Gaspar de Sampaio Ribeiro, natural de Várzea, freg. de Santão, Felgueiras, e de D. Antónia de Meneses, natural da Quinta da Torre, freg de S. Salvador de Vila Nova, e de D. Antónia do Rego, também de Viana; irmão de Gaspar de Magalhães de Meneses, Familiar do St.º Ofício; ajustado para casar, em 1721, com D. Luísa Joana de Sousa Meneses, fi lha de Bernardo de Carvalho Lemos, e de D. Maria Madalena de Sousa e Meneses, Senhores e moradores na vila da Trofa, Águeda, neta paterna de Jerónimo de D. Jerónimo de Lemos, da mesma Casa e vila, e materna de Manuel de Sousa Meneses, da Casa de Pentieiros, freg. de Estorãos, , irmã de Garcia de Sousa Meneses, deputado do St.º Ofício e de D. Margarida de Sousa de Vasconcelos, da Casa de Figueiredo das Donas, na freg. do mesmo nome. Carta de Familiar de 19 de Setembro de 1726. A.N.T.T. – Fernando – m. 4, n.º72»

Bibliografi a Jorge Hugo Pires de Lima, O Distrito de Aveiro nas Habilitações do Santo Ofício. Revista Arquivo do Distrito de Aveiro, 117 (Janeiro, Fevereiro e Março), 1964

MENESES, Gabriel Teixeira de Saavedra e (? - ?). Vivia em 1748, segundo Carta de Familiar do Santo Ofício que lhe foi concedida nessa data e que a seguir se transcreve:

«natural de Argadeira, freguesia de São Pedro de Tarouca. Era fi lho de Gabriel Teixeira de Saavedra, Familiar do Santo Ofício, natural de São Martinho das Chãs, e de D. Maria Inácia Teixeira de Meneses, natural do Penso, freguesia de São Sebastião do Penso. Neto paterno de António Cabral Saavedra, natural de São Pedro de Tarouca e materno de Cristóvão Teixeira de Almeida, natural de São Sebastião do Penso, dito, e de D. Francisca da Silva e Meneses, natural da vila de São Cosmado, freguesia de São Cosme e Damião. Estava ajustado em 1757, para casar com D. Mariana Engrácia de Macedo Souto-Maior e Castro, natural da freguesia de Carvalhais, bispado de Miranda de Trás-os-Montes, fi lha de D. Alexandre de Macedo Souto-Maior e Castro, natural de Vila real, e de D. Caetana de Castro e Sousa, natural da vila de Murça, neta paterna de D. Duarte de Macedo e Souto-Maior, natural de Vila Real, e de D. Mariana Pessoa de Vasconcelos, natural da freguesia de São Martinho da Várzea, e materno de Valério de Castro Delgado e de D. Mariana de Sousa, naturais de vila de Murça. Esteve ajustado de novo, em 1761, para casar com D. Teresa Francisca Xavier de Azevedo e Vasconcelos, natural da Quinta de Figueiredo, freguesia de Santa Maria da Sardoura, Castelo de Paiva; fi lha de Fernando de Araújo e Vasconcelos, natural da Boa Vista da freguesia de São Mamede de Vila Maior, Feira, e de Mariana Luísa de Azevedo, natural de São Nicolau da Feira, moradores na dita Quinta de Figueiredo; neta paterna de Cristóvão de Araújo Correia, natural de Midões, freguesia de São João da Raiva, Castelo de Paiva, e de Maria Ferreira, natural da referida Boa Vista e aí moradores. Era neta materna de Manuel de Azevedo da Costa, natural de Alpossos, desta freguesia de Santiago de Rio Meão, e de Madalena Soares, da dita de São Nicolau. Carta de Familiar de 1 de Dezembro de 1748. -. A.N.T.T. – Gabriel – m.3, n.º 28»

Bibliografi a David Simão Rodrigues, Rio Meão, a Terra e o Povo na História. Edição da Junta de Freguesia de Rio Meão, 2001

MIGUEIS, Pêro (? - ?). Foi abade de de S. Salvador de Carregosa (hoje freguesia de Oliveira de Azeméis). Num documento da Chancelaria de D. Dinis, há uma escritura de doação de Agosto de 1356 (1318), em que Pêro Migueis diz que doa ao mosteiro de Santa Clara de Vila do Conde metade da sua Quintã de Fornos, por sua

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alma, e a outra metade a Afonso Sanches ao dito mosteiro. Afonso Sanches era fi lho de D. Dinis e de D. Aldonça Rodrigues Telha. Era senhor de Albuquerque, em Castela, e de Codiceira. Casou com D. Teresa Martins, fi lha do conde de Barcelos. Fundaram o convento de Santa Clara em Vila do Conde para as religiosas franciscanas. Quando morreram foram sepultados no mosteiro. A Quintã de Fornos pertenceu àquele mosteiro até à extinção das ordens religiosas em 1834.

Bibliografi a Padre José Alves de Pinho, Outrora…Fornos. Edição da LAF – Liga dos Amigos da Feira, 2005

MILHEIRO, Alexandre F. (1879-1942). Era natural de Oliveira do Douro, fi lho de Manuel Francisco Milheiro e de D. Maria Rosa Leite. Foi capelão de Esmoriz. e pároco em Travanca e Souto (Feira).Foi colaborador do jornal progressista O Progresso da Feira, de Domingos Augusto de Sousa, farmacêutico na Vila da Feira, assinando a secção «Notas a Esmo» e foi director do jornal Vila da Feira, fundado por um grupo de padres, entre os quais se contavam o padre Augusto de Oliveira Pinto, abade de S. Vicente de Pereira e Alexandre Milheiro, ao tempo abade de Travanca., tendo como editor e administrador o padre Crispim Gomes Leite que foi pároco de Mosteirô e de Gondomar onde exerceu o cargo de presidente da Câmara. Faleceu no Porto em 22 de Abril de 1942 com cerca de 63 anos de idade.

Bibliografi a Padre Albano Alferes, Párocos de Souto, «Correio da Feira, 17.8.1979. Roberto Vaz de Oliveira. Imprensa Periódica da Vila e Concelho da Feira. Revista Aveiro e o seu Distrito, n.º 8, 1969

MINEIRO, Gabriel Dias da Costa (? - ?). Vivia em 1756, segundo Carta de Familiar do Santo Ofício que lhe foi concedida nessa data e que a seguir se transcreve: «homem de negócio no Rio de Janeiro, junto à Sé; natural da freg. de St.ºIsidoro de Romariz, Feira; fi lho de Manuel Ferreira e de Maria da Costa, naturais e moradores em Romariz; neto paterno de Pedro Alves, natural de Romariz, e de Antónia Ferreira, natural de S. Martinho, freg. de Santiago de Lobão,

Feira, moradores em Romariz, e materno de Pascoal da Costa e de Catarina de Oliveira, também naturais e moradores em Romariz. Carta de Familiar de 22 de Outubro de 1756. A.N.T.T. – Gabriel – m.3, n.º31»

Bibliografi a Jorge Hugo Pires de Lima, O Distrito de Aveiro nas Habilitações do Santo Ofício. Revista Arquivo do Distrito de Aveiro, n.º123 (Julho, Agosto e Setembro), 1965

MIRANDA, António Augusto (1887 – 1964). Era natural da freguesia da Glória. Aveiro, onde nasceu em 1887. Foi Juiz Desembargador no Tribunal da Relação de Lisboa e era pai do Dr. Fernando Celso de Almeida Miranda, fundador e director do Externato de Santa Maria, na Feira. O Desembargador Dr. António Augusto fez a sua carreira profi ssional no antigo Ultramar e «a ele se deve a existência do Externato de Santa Maria». Faleceu na Vila da Feira em casa do seu fi lho, Dr. Fernando, em 26 de Janeiro de 1964. Deixou ainda os seguintes fi lhos: D. Maria Cândida de Santiago Miranda e José de Almeida Miranda.

Bibliografi a Correio da Feira, 1.2.1964

MIRANDA, Manuel Caldeira de (? - ?). Foi pároco da Freguesia de Guisande em 1630, pela renúncia do pároco anterior, padre António de Castro.

Bibliografi a António Ferreira Pinto, Defendei Vossas Terras – Monografi a de Guisande. Edição da Junta de Freguesia de Guisande, 1999

MONGES do Mosteiro de S. João de Ver. Os presbíteros Cagido e Recacis, seus irmãos e sobrinhos, os presbíteros Tesulfo, Adefonso, Troila, Tesulfo, Servando, Gonçalvo, fi lhos de Recarei e outros doaram, em 19 de Abril de 776, ao mosteiro de S. João de Ver, que tinham fundado, todas as propriedades que possuíam, (O padre Miguel de Oliveira crê que este documento é de 973, pois há um de 997 referente ao mesmo mosteiro e o formulário é idêntico ao dos documentos deste tempo no Livro dos Testamentos

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de Lorvão). O testamento que está escrito em latim enumera as propriedades nos seguintes termos: «… resolvemos fazer doação à nossa Santa Igreja…todas as nossas herdades presentes, e quantas pudermos adquirir até à nossa morte. São estas a Vila de Acistério, onde fundamos o cenóbio de S. João da Vila de Valério (S. João de Ver), Ávila de Fontanelas, metade da Vila de Canelas, duas partes das Vilas de Pinopero e Gondesindo, a quinta parte da Vila de Cortegaza, e terça da Vila de Sinobilani. Árias Mauriniz, neto de Cagido, presbítero, fi lho de Maurini, que foi conquistador da terra desamparada pelos Mouros, veio ter connosco e testou também a Vila que jaz na margem de Rio Meão, e entesta com a Vila Euro basvoso, sobe na direcção do porto de … e daí plo arroio até à fonte, seguindo depois pelo vau até ao monte, donde volta e conclui no Rio. E nós Esdulfo, Andeiro e Guntado, tendo estado doentes, em perigo de vida, nos aprouve, em remédio das nossas almas, dar e conceder à Igreja de S. João Baptista metade de quantas herdades possuímos, às quais juntamos hoje a herdade chamada Medianas, situada entre a Vila de Patre e a de Canelas, e de Avelaneda, e mais a terça da herdade de Pater Donelizi para remédio da minha alma, e metade de S Tiago de Euro basvoso, que foi de Aspaio Baleromoto. Damos à Igreja daqueles Santos, tanto em nossa vida, como para depois da morte, todas estas herdades, que são situadas junto do monte de Souto-Redondo, território Portucalense e doamo-las pelas suas demarcações velhas e novas com todas as pertenças e prestações, para sustentação e vestuário dos Monges, para livros de serviço da Igreja e para esmolas aos pobres, tanto em nossa vida, como depois da nossa morte… Acrescentamos ainda S. Mamede que está fundada entre a Vila Palatiolo (Paços de Brandão) e Vilela, menos a terça…»

Bibliografi a Padre Miguel de Oliveira, As Paróquias Rurais Portuguesas – Sua Origem e Formação. Padre Joaquim Correia da Rocha, Recordar 900 Anos de Paços de Brandão, Edição da Junta de Freguesia de Paços de Brandão, 1995; Sanchez Albornoz, Despoblación y Repoblación del Valle del Duero

MONIZ, Ermígio (? - ?). Célebre conde ou senhor da terra da Feira, é o personagem

talvez mais infl uente na revolução de 1128, ao lado de D. Afonso Henriques contra os partidários de sua mãe. «As principais personagens que em Maio desse ano estavam ligadas com Afonso Henriques eram o arcebispo D. Paio, seu irmão Sueiro Mendes, denominado o grosso, Ermígio Moniz, Sancho Nunes, marido que era ou depois foi de D. Sancha, irmã do infante, e Garcia Soares». «A tradição da idade média, conservada pelas crónicas mais antigas, é que o infante antes da batalha do campo de S. Mamede já andava levantado contra D. Teresa e que tinha «furtado» dois castelos, os de Neiva e da Feira. Sendo Ermígio Moniz senhor das Terras de Santa Maria e portanto do castelo da Feira, é muito natural que deve ter sido dado antes de Maio de 1128, o primitivo grito do movimento de que resultou a independência de Portugal» e daí o Dr. Vaz Ferreira ter defendido sempre que daqui da Feira nasceu Portugal. Ermígio Moniz era fi lho de Mónio Hermiges, sétimo «Comes», «dux», ou simples «tenens» da terra da Maia.

Bibliografi a Correio da Feira, 15.12.1989 Henrique Vaz Ferreira, Onde Nasceu Portugal. Revista «Arquivo do Distrito de Aveiro», nº. 17, 1939; Jornal Tradição, número especial, «O Concelho da Feira nas Comemorações dos centenários», Setembro, 1940

MONIZ, Trastemiro (? - ?). Era fi lho de Monio Viegas e de Unisco Trastemires; neto de Egas Moniz e de Toda Ermiges. Casou com Boa Gonçalves. Em 1113, já viúva, doa bens de sua propriedade a Pendorada em Paço, Lobão, Milheirós, Vilar, Amarante, Fermentelos, Tarouquela e Complentes. Ela era fi lha de Gonçalo Fernandes e de Argilo Cides. Do seu casamento com Trastemiro teve os seguintes fi lhos: Ermesenda, Elvira, Gonçalo, Monio e Emisu.

Bibliografi a José Mattoso, A Nobreza Medieval Portuguesa – A Família e o Poder. Editorial Estampa, 4.ª edição, 1994

MONTEIRO, Alcides Strecht (1910-1977). Nasceu na freguesia de Fiães (Feira), em 2 de Abril de 1910. Era fi lho de António da Costa Monteiro e de D. Maria de Lourdes Mendes Strecht Caldeira. Licenciou-se em Direito na Universidade de Coimbra, em 9 de Agosto de 1932, tendo

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aberto, nesse mesmo ano, banca de advogado na Vila da Feira no antigo escritório do Dr. Vitorino de Sá. Em Coimbra tinha sido tesoureiro da Associação Académica e presidente do Centro Republicano Académico. Na Vila da Feira, foi eleito presidente da Delegação da Ordem dos Advogados e membro do Conselho Distrital da mesma Ordem, do Porto e Delegado à Associação Geral. Foi presidente de Direcção da Humanitária Associação dos Bombeiros Voluntários da Feira, da Academia de Música de Santa Maria (Feira), cargo que não chegou a ocupar por ter sido boicotado pelo regime «fascista local» e presidente da Comissão de Vigilância, Guarda e Conservação do Castelo da Feira. Republicano e democrata convicto, foi candidato da então oposição a deputado da Assembleia Nacional pelo Círculo de Aveiro nas eleições de 1953,1969 e 1973. Interveio desde 1945 em todos os movimentos de índole democrática e oposicionista, tendo tido acção de relevância nas campanhas eleitorais para presidente da República em que a oposição democrática esteve presente, desde Norton de Matos, Quintão Meireles e Humberto Delgado. Depôs do 25 de Abril de 1974, foi eleito deputado à Assembleia Constituinte de 1975, pelo Partido Socialista. Era casado com D. Celeste da Silva Strecht Monteiro, da qual teve três fi lhos. Dr. Manuel Afonso, D. Isabel Maria e António Eduardo. O Dr. Alcides Monteiro faleceu em 14 de Junho de 1977, quando se deslocava no comboio «Foguete» a caminho de Lisboa para participar nos trabalhos da Assembleia da República de que era «ilustre e assíduo membro».

Bibliografi a Correio da Feira, 3.5.1975 e 24.6.1977

MONTEIRO, Inácio José (? - ?). Natural da freguesia do Souto, o comendador Inácio José Monteiro foi um dos fundadores da Sociedade de Recreio Soutense, em 1875

Bibliografi a Jornal Tradição, 7.11.1939

MONTEIRO, Manuel Augusto (? – 1938). Era natural dos arredores de Coimbra. Foi membro da Congregação dos Lazaristas, onde esteve cerca de dez anos. Teve carta de coadjutor e residiu na Casa de Redondo. «Era muito estimado em Fiães». Faleceu nos hospitais de Coimbra em 11 de Março de 1938.

Bibliografi a Padre Manuel Francisco de Sá, Santa Maria de Fiães da Terra da Feira, Porto, 1940

MONTEIRO, Maurício de Araújo (? - ?). Vivia em 1751, segundo Carta de Familiar do Santo Ofício que lhe foi concedida nessa data e que a seguir se transcreve: «homem de negócio: natural de São Silvestre de Requião, Vila Nova de Famalicão, e morador no Porto, abaixo dos Arcos de São Domingos. Filho de João de Araújo, natural da Quinta Requião, e de Catarina Francisca, natural de Santa Marinha, freguesia de Santa Maria de Landim, Vila Nova de Famalicão. Neto paterno de António de Araújo, natural da dita Quinta, e de Margarida Monteira, natural da Ribeira de Requião, moradores na Quinta; neto materno de Francisco Castelões e de Catarina Gomes, naturais e moradores em Landim, já referida. É irmão de Domingos de Araújo Monteiro, familiar do Santo Ofício. É casado com Maria Caetana Rosa, natural da freguesia de São Cipriano de Paços de Brandão, fi lha de João Francisco Lamas, natural da freguesia de Santa Maria de Lamas, e de Maria de Almeida Pinto, natural da dita de Paços de Brandão, aí residentes e lavradores. Neta paterna de João Francisco Lamas, também natural de Moure e de Catarina Gonçalves, natural de Aldriz, Argoncilhe, e lavradores em Moure, e materna de António de Sá, natural de Santiago de Rio Meão e de Agostinha de Almeida, natural de Vila Nova de Gaia e lavradores em Paços de Brandão. Carta de Familiar de 24 de Outubro de 1751. A.N.T.T. Maurício m.1, n.º7»

Bibliografi a David Simão Rodrigues, Rio Meão – A Terra e o Povo na História. Edição da Junta de Freguesia de Rio Meão, 2001.

MONTERROSO, António de Sequeira Vasconcelos (? - ?). Foi sargento-mor da Vila da Feira na segunda metade do século XVIII. O seu fi lho João de Sequeira e Monterroso e Melo foi vigário de Ovar e teria sido «o bom reitor de Júlio Dinis». A ele se deveu a iniciativa da edifi cação do hospital de Ovar. Resignou em 1804 em seu sobrinho, tendo falecido em 4.1.1818.

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Bibliografi a Alberto Sousa Lamy, Monografi a de Ovar, Da Idade Média à República, 1026 – 1910, 1.º volume. Ovar, 1977

MOREIRA, António Leite Ribeiro (1800-1866). Nasceu no lugar de Souto, Duas Igrejas, Romariz, em 1800. Era fi lho de Manuel Moreira dos Santos e de Maria Inácia. Foi pároco de Santiago de Riba Ul. Faleceu em 3 de Setembro de 1866.

Bibliografi a Padre Manuel Francisco de Sá, Breve Monografi a de Duas Igrejas do termo da Feira. Casa Nun’Álvares, Porto, 1936

MOREIRA, Gaspar Alves (? – 1938). Nasceu na Casa da Eira, freguesia de Milheiros de Poiares Licenciou-se em Direito pala Universidade de Coimbra, em 1905, tendo montado banca de advogado na Vila da Feira. Na notícia da sua morte, «Correio da Feira», disse que «tinha desaparecido do convívio feirense um vulto político da última geração», realçando a sua acção na defesa acérrima da integridade do concelho aquando da autonomia concelhia de Espinho em 1899. Foi militante do Partido Progressista local chefi ado pelo abade de Arrifana, padre Manuel de Oliveira Costa, tendo chegado à chefi a do mesmo à morte do referido abade até à proclamação da República. Com o movimento do 28 de Maio, ingressou na política nacionalista do Estado Novo, tendo sido um defensor da doutrina de Salazar. Foi presidente da Comissão Administrativa da Câmara Municipal da Feira em 1930 em 1937 que abandonou por motivo de doença. Foi casado com D. Lúcia Moreira, da qual teve 6 fi lhos: Júlia, António que foi médico-cirurgião, Joaquim, chefe da Secretaria Judicial de Estarreja, Domingos que foi funcionário da C. G. D., Júlio, que foi amanuense da C. M. F. e João Gaspar Moreira. Faleceu em 18 de Setembro de 1938.

Bibliografi a António Lamoso Regal de Castro, Factos e Personalidades da Feira e do Concelho – 1917 a 1950. Edição do autor, Santa Maria da Feira, 1991. Correio da Feira, 24.9.1938 e 28.9.1963

MOREIRA, Guilherme Alves (1861-1922). Nasceu na Casa da Eira, freguesia de Milheirós de

Poiares a 21 de Março de 1861. De família de forte tradição eclesiástica, seu tio e padrinho Pe. António Alves Moreira era reitor da freguesia de Milheirós de Poiares, Guilherme Moreira matriculou-se no Curso Teológico do Seminário de Teologia do Porto a 3 de Outubro de 1878 concluindo-o a 1 de Julho de 1881. Tendo feito no Liceu Nacional algumas cadeiras como aluno externo, matriculou-se em Direito na Universidade de Coimbra em 6 de Outubro de 1882, concluindo em 2 de Junho de 1886 o bacharelato e dois anos mais tarde a licenciatura (16.4.1888). A 9 de Fevereiro de 1890 fez o seu doutoramento e foi nomeado professor de Direito Civil e Direito Constitucional em 12 de Março de 1891. Seis anos depois, (11.2.1897) já é catedrático na mesma Faculdade (11.2.1897), ocupando o cargo de reitor de 18 de Agosto de 1913 a 29 de Junho de 1915, ano em que foi nomeado Ministro da Justiça. A 14 de Janeiro de 1918 voltou à sua Universidade como professor de Direito Civil tendo ascendido a Director da Faculdade de Direito de 1918 a 1921. Guilherme Moreira foi fi gura de alta envergadura científi ca e civilista abalizado, tendo deixado algumas obras da sua especialidade: «Actos de Comércio – Estudo Exegético e Crítico da Disposição do Novo Código Comercial», «Instituições de Direito Civil Português», As Águas no Direito Civil Português – Propriedades das Aguas». Foi colaborador da «Revista de Legislação e Jurisprudência» e do «Boletim da Faculdade de Direito». Foi casado com D. Júlia Suizelo, da qual teve 8 fi lhos. Faleceu a 19 de Agosto de 1922.

Bibliografi a Democrata Feirense, 27.8.1922;Padre Manuel Leão, Doutor Guilherme Moreira.

MOREIRA. João Pinto (? - ?). Parece ter nascido no lugar do Gamoal, Rio Meão. È mencionado em 18 de Abril de 1753, quando é padrinho de João, fi lho de Joana., solteira da Barroca, Rio Meão. Foi dos padres menos chamados a intervir em actos paroquiais. Terá falecido antes de 1772.

Bibliografi a David Simões Rodrigues, Rio Meão – A Terra e o Povo na História. Edição da Junta de Freguesia de Rio Meão, 2001

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MOREIRA, João Pinto (? - ?). Parece ser sobrinho do padre João Pinto Moreira, falecido antes de 1772. Também foi padre e interveio no prazo renovado em 23 de Março de 1826, cujo processo se iniciou com autorizações e procurações em 16 de Agosto de 1916, se repetiu em 15 de Abril de 1825, para o emprazamento do Ermo de Figueiras, Alpoços, Rio Meão, se renovar em 23 de Março de 1826.

Bibliografi a David Simões Rodrigues, Rio Meão – A Terra e o Povo na História. Edição da Junta de Freguesia de Rio Meão, 2001

MOREIRA, Júlio César Alves (1899 - ?) Nasceu na Vila da Feira em 19 de Janeiro de 1899. Era fi lho do Dr. Gaspar Alves Moreira e de D. Lúcia Alves Moreira. Era casado com D. Maria da felicidade de Sousa Alves Moreira. Foi funcionário e Chefe da Secretaria da Câmara Municipal da Feira e tesoureiro da Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis. Foi fundador com Alfredo de Oliveira do jornal «Tradição», da Vila da Feira, que se intitulava de semanário nacionalista e monárquico e que teve início em 2 de Julho de 1932 e o seu fi m em 1947. Foi o seu primeiro director e editor e Alfredo de Oliveira administrador e proprietário.

Bibliografi a Roberto Vaz de Oliveira, Imprensa Periódica da Vila e Concelho da Feira. Revista Aveiro e o seu Distrito, n.º9, 1970

MOREIRA, Manuel Alves (1717-1803). Nasceu em Duas Igrejas, Romariz, em 17 de Outubro de 1717. Era fi lho de Manuel Moreira e de Maria Alves. Era da casa do Alves, depois conhecida por casa do Sá. Faleceu em 1803.

Bibliografi a Padre Manuel Francisco de Sá, Breve Monografi a de Duas Igrejas do termo da Feira. Casa Nun’Álvares, Porto, 1936.

MOREIRA, Manuel José Pais (? -?). Foi farmacêutico em Canedo da Casa da Botica. Era casado com D. Emília da Silva Tavares e deste casamento houve 4 fi lhos: Padre José Augusto Pais Moreira, Padre Agostinho José Pais Moreira, Vitorino Pais Moreira, farmacêutico e Maria Pais Moreira, licenciada em medicina.

Bibliografi a Cónego A. Ferreira Pinto, S. Pedro de Canedo. Arquivo do Distrito de Aveiro, n.º15, 1938

MOREIRA, Maria Leite da Silva Tavares Pais (? - ?). Natural da freguesia de Canedo, licenciou-se em medicina na Escola Médico-cirúrgica do Porto em 1891, depois de ter concluído as cadeiras na Academia Politécnica do Porto, onde se tinha matriculado no ano lectivo de 1884-85, sendo a única mulher entre 206 alunos matriculados nesse ano. Era fi lha do boticário José Manuel Pais Moreira e de D. Emília da Silva Tavares, proprietários da Casa da Botica. Tendo sido uma das primeiras alunas a matricular-se naquela escola, defendeu tese em 1892 com o tema «A Higiene da Gravidez e do Parto». Foi médica da rainha D. Amélia que em reconhecimento dos seus valiosos serviços médicos lhe ofereceu um relógio de peito em ouro que ainda se conserva na família. Exerceu a sua actividade profi ssional na cidade do Porto, tendo depois regressado à sua terra de Canedo, onde, entre outras iniciativas, instituiu um «Salão Cultural», onde se convivia, jogando partidas de sueca e discutindo o momento político da região e do país.

Bibliografi a Cândido dos Santos, A Mulher e a Universidade do Porto. Universitas Portucalensis. Execução gráfi ca de Edições Afrontamento, Lda., 1991. Padre Albano Alferes. Mulheres e Factos, «Correio da Feira», 8.5.1992.

MOREIRA, Rogério Pinto (1914-2001). Nasceu em S. Paio de Oleiros em 1914. Fez a instrução primária em Mozelos, os estudos secundários no Colégio dos Padres Missionários do Espírito Santo e o Curso do Magistério Primário. Professor e industrial de papel, foi também um apreciado poeta. Publicou dois livros de poesia: «Sol de Inverno» (1986) e «Suava Entardecer» (1990). Faleceu em 25 de Março de 2001.

Bibliografi a Revista Villa da Feira – Terra de Santa Maria, n.º 12, Fevereiro de 2006

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MOTA. António Ferreira Pinto da (1863-1922). Nasceu em Fiães em 12 de Janeiro de 1863. Era fi lho de José Ferreira da Mota, chefe do Partido Progressista local. Formou-se em Medicina na Escola Médico-Cirúrgica do Porto em 1890 com a apresentação de uma Tese sobre «As Caldas de S. Jorge», no dia 5 de Novembro daquele ano. Para além do valor científi co a dissertação constituiu um «valioso trabalho de divulgação das termas de S. Jorge, pois até incluía uma pormenorizada planta das suas instalações». Em 14 de Agosto foi nomeado para o partido médico-cirúrgico de S. Jorge, ao mesmo tempo abria consultório na sua terra assim como uma farmácia no lugar do Souto que teve pouca duração. Como político foi um republicano convicto ao lado do Dr. Elísio de Castro, tendo militado no Partido Republicano e depois no Partido Evolucionista. Em 9 de Outubro de 1899 foi nomeado Administrador interino do Concelho da Feira pelo Governador Civil de Aveiro, Albano de Melo Ribeiro Pinto e em 1910, aquando da implantação da República, como pertencia à tertúlia política que se reunia na casa da Cavacada do Dr. Elísio de Castro, foi proposto para vereador da Comissão Administrativa da Feira, presidida por aquele político. Tendo ocupado um lugar de destaque no partido democrático local foi um «sincero propagandista do Correio da Feira, órgão do Partido Republicano Evolucionista». Em 12 de Julho tomou posse de presidente da Comissão Administrativa da Câmara Municipal da Feira, cargo qu ocupou até 5 de Novembro de 1912. Apesar da sua curta passagem pela Câmara, fez vários melhoramentos em Fiães, nomeadamente a Avenida que rasgou da praceta em frente dos portões da Quinta da Cavacada até ao largo da Igreja que hoje tem o seu nome. Faleceu a 22 de Outubro de 1922.

Bibliografi a Abílio Ferreira da Silva, Doutor António Mota – O Médico e o Político. Revista Ulfi lanis Villa, n.º 3 – 1993-1997. Edição da Comissão de Defesa do Património e Acção Cultural (CDPAC), Fiães; Padre Manuel Francisco de Sá, Santa Maria de Fiães da Terra da Feira. Casa Nun’Álvares, Porto, 1940

MOTA, Domingos (1744-1783). Nasceu na freguesia de Canedo em 21 de Maio de 1744.

MOTA, José Ferreira da (? - ?). Natural de Fiães, foi chefe do Partido Progressista da Feira e foi pai do Dr. António Pinto Ferreira da Mota, médico e presidente da Câmara da Feira em 1912.

Bibliografi a Padre Manuel Francisco de Sá, Santa Maria de Fiães da Feira. Casa Nun’Álvares, Porto, 1940

MOTA, Rufi no Ferreira da (1866-1931). Nasceu em Fiães em 1866. Era fi lho de José Ferreira da Mota, chefe progressista local. Frequentou o Seminário Diocesano e formou-se em Direito na Universidade de Coimbra. Exerceu as funções de Administrador do concelho de Guimarães e foi, durante 20 anos, Conservador do Registo Civil da Feira. Faleceu em 5 Julho de 1931, com 65 anos de idade.

Bibliografi a Padre Manuel Francisco de Sá, Santa Maria de Fiães da Terra da Feira. Casa Nun’Álvares, Porto, 1940

MOURA, Francisco Xavier Correia de Sá Nogueira Noronha e (1819-1909). Nasceu em Souto Redondo (Feira) em 1819. Militou no Partido Progressista e exerceu vários cargos políticos, tanto na Câmara Municipal como nas funções de Administrador do Concelho que desempenhou por duas vezes. Faleceu na sua casa de Souto Redondo em Janeiro de 1909.

Bibliografi a Correio da Feira, 19.1.1974

MOURA, João Pinto Monteiro Ferreira e (? - ?). Em 1752 era capelão na freguesia de Esmoriz. O padre Aires de Amorim em Achegas para a história local, dá-lo como natural de Rio Meão.

Bibliografi a David Simões Rodrigues, Rio Meão – A Terra e o Povo na História. Edição da Junta de Freguesia de Rio Meão, 2001

MOURA, José de Freitas Sá e (1893-1974) Nasceu na freguesia de Sandim em 28 de Março de 1893. Era fi lho de José de Sá e Moura, falecido em 20 de

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Janeiro de 1901.Foi director do jornal Leverense, da freguesia de Lever, então pertencente ao concelho da Feira, que iniciou a sua publicação a 15 de Outubro de 1914. Foi administrador do concelho da Feira de Março a Junho de 1921, vogal da Comissão Executiva da Câmara Municipal em 1918, vice-secretário da mesma em 1919-1922 e vice-presidente do Senado da Câmara em 1923-25 e 1926.Era casado com D. Maria Rosa da Silva Sá e Moura, da qual teve três fi lhos: Maria Eulália Sá e Moura; Plautila Amélia Sá e Moura; e Elísio José Sá e Moura. Faleceu na sua casa da Carreira Cova, freguesia de Lever, em 21 de Dezembro de 1974 com 82 anos de idade.

Bibliografi a Correio da Feira, 28.12.1974Roberto Vaz de Oliveira, Imprensa Periódica da Vila re Concelho da Feira. Revista Aveiro e o seu Distrito, n.º8, 1969

MOURA, Lic.º Manuel de (? - ?). Vivia em 1721, segundo Carta de Familiar do Santo Ofício que lhe foi concedida nessa data e que a seguir se transcreve: natural de Coimbra e aí morador na rua das Covas, freguesia da Sé; fi lho de Domingos de Moura, natural da Vila da Feira, freguesia de S. Nicolau, e de Maria do Espírito santo, natural de Coimbra, freguesia de Santa Cruz, e aí moradores na rua dos Sapateiros, freguesia de Santiago; neto paterno de Domingos de Moura e de Antónia Rodrigues, naturais e moradores na Vila da Feira, e materno de Manuel Francisco e de Maria Gomes, naturais e moradores em Coimbra, freguesia de santa Cruz; casado com Josefa Teresa, natural de Coimbra, fi lha de António Jorge e de Antónia da Fonseca, moradores em Coimbra na rua das Covas, neta paterna de António Jorge, natural de Orvieira, Ribeira de Frades, e de Isabel Francisca, natural da freguesia do Salvador de Coimbra, e aí moradores na de S. Bartolomeu, e materna de Domingos Simões, natural de Bruscos, Seia, e de Inês João, natural de Telhadela, Sernache; enviuvando, ajustado para casar, em 1728, com Maria Baptista Botelha, natural de Lisboa, freguesia das Mercês e aí moradores ao Arco dos Pregos, freguesia de S. Julião, viúva de Olaio Nogueira, fi lha de António Álvares, natural da freguesia de santa Maria de Loures, sobrinho de Pascoal Francisco, mestre pedreiro, que era pai de Tomás Botelho, Familiares do santo Ofício, moradores na rua do Capelão, e de Joana baptista, natural da freguesia de S. Nicolau de Lisboa, neta paterna de Domingos Álvares e de

Domingas Fidalga, naturais da freguesia de Alvogas, Loures, e materna de António Francisco Ozala, mestre cabeleireiro, e de Maria da Luz, naturais de Lisboa, freguesia de S. Nicolau e aí moradores na rua dos Douradores. Carta de Familiar de 17 de Janeiro de 1721Manuel – m. 85, n.º 1622

Bibliografi a Jorge Hugo Pires de Lima, O Distrito de Aveiro nas Habilitações do Santo Ofício. Arquivo o Distrito de Aveiro, n.º158, 1974

MOURA, Virgílio (? - ?). Foi aspirante de fi nanças na Vila da Feira e 1.º ofi cial da Direcção de Finanças de Évora. Foi director, editor e proprietário do jornal Já Sabia, número único publicado na Vila da Feira em 20 de Fevereiro de 1917.

Bibliografi a Roberto Vaz de Oliveira, Imprensa Periódica da Vila e Concelho da Feira. Revista Aveiro e o seu Distrito, n.º 10, 1970

MOURIZ, Estêvão Dias de (? - ?). Era neto de uma irmã de Rui Dias de Urro, com solar no vale do rio Sousa, perto de Urro. Veio para o sul e estabeleceu-se na Terra de Santa Maria, nas margens dos rios Ul e Antuã. Ali casou por duas vezes. A primeira com Maria Martins de Avelal e a segunda com Estevainha da Maciera, das quais teve vários fi lhos que em 1288 possuíam casais, quintas e honras em Loureiro e Macieira de Sarnes.

Bibliografi a José Mattoso, O Castelo e a Feira (A Terra de Santa Maria nos séc. XI e XII). Editorial Estampa, 1989

MOUTINHO, João Álvares (? - ?). Foi pároco da freguesia de S. Jorge, de 1591 a 1606. Era doutorado.

Bibliografi a P.e José Inácio da Costa e Silva, A Freguesia de S. Jorge, jornal Tradição, número especial das Comemorações dos Centenários, Setembro, 1940

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155 A Corda de Judas Iscariotes: O Quinto Império do Mundo

De Carlos Maduro, Lisboa, Fonte da Palavra, 2010.

RECENSÃO DE José Eduardo Franco*

A Corda de Judas Iscariotes: O Quinto Império do Mundo da autoria de Carlos Maduro (Lisboa, Fonte da Palavra, 2010) é o romance de estreia do investigador Carlos Maduro nas lides da criação literária, pois no mundo da história e da crítica literária já tem provas dadas. Com efeito, o autor tem-se revelado como estudioso de Vieira, tendo concluído uma tese de doutoramento inovadora sobre a epistolografi a do grande pregador jesuíta do tempo do barroco e, presentemente, está a coordenar uma nova edição global das cartas vieirianas com documentos novos e acertos em relação à clássica edição de João Lúcio de Azevedo. É, portanto, um bom conhecedor dos arquivos e do discurso epistolográfi co de Seiscentos, benefi ciando este romance em muito deste seu conhecimento.

Estamos diante de um romance verdadeiramente notável que esperamos possa iniciar uma nova tradição, ou pelo menos, um novo subgénero no âmbito da criação literária e que venha para fi car. Trata-se do que podemos chamar um romance cultural e pedagógico muito útil para reviver e revisitar factos, acontecimentos, mentalidades do nosso passado estabelecendo a sua ligação subterrânea com o presente, surpreendendo continuidades que ainda subsistem contemporaneamente. Vários temas, várias problemáticas, vários cenários e tempos históricos são aqui cruzados, interceptados, interligados e colocados em diálogo funcional para abrir uma extraordinária janela de conhecimento e de compreensão vivencial dos contextos e dos tempos históricos em contraponto. Diásporas dos judeus sefarditas na sequência da intolerância ibérica na modernidade e das perseguições da inquisição, a onda de euforia messiânica, fi nimundista e profética que nos século XVI e XVII atravessou transversalmente tanto o cristianismo, como o judaísmo e até o islamismo. O tempo do Padre António Vieira, os judeus da diáspora portuguesa jogados pela inquisição para a Holanda e outras paragens menos intolerantes, o diálogo com as comunidades judaicas sensíveis a expectativas messiânicas periodicamente excitadas por esperanças eufóricas em torno de datas e fi guras que se sucedem no jogo dramático das interpretações. Assim

* Professor no Centro de Literaturas de Expressão Portuguesa da Universidade de Lisboa e Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

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como no século XVI e XVII, na sucessão de datas fi nimundistas e de messias malogrados, marcados com desilusões, por vezes, trágicas pessoas e comunidades inteiras, também no nosso tempo o romance encena a subsistência de pequenos redutos de judeus sefarditas que mantêm a esperança expressa em práticas rituais e iniciáticas de carácter messiânico, esperando o dia da glória de Israel. É nesta paleta sobre- -posta de épocas e fi guras históricas que se tece o enredo e uma belíssima e apaixonante história de amor entre dois estudantes de Relações Internacionais em Genebra: uma judia, fi lha de uma poderosa família hebraica holandesa descendentes dos judeus portugueses, e um estudante português de Trás-os-Montes, que veio a descobrir-se de sangue cristão-novo judeu. Apesar de acabar em tragédia devido a mais um não vingar da esperança projectada em Ester Cardoso, noiva de José Mendes, que se tornou alvo de mais uma expectativa gorada de vir a ser mãe do messias que está para vir, o enredo permite ao romancista, na sucessão alternada de capítulos que põem em confronto tempos e contextos históricos diferentes, de explicar com uma extraordinária aparelhagem de informação os trajectos dramáticos do cripto-judaísmo e da diáspora judia em consequência da intolerância portuguesa e espanhola aplicada inquisitoriamente. Sendo o autor do livro professor e investigador, oferece

ao longo do enredo uma espécie de visita guiada ao mundo secreto, íntimo, familiar das práticas judaicas e ao património simbólico do judaísmo resistente a todas as perseguições

históricas, onde a parte da corda de Judas deixada em Portugal ganha especial relevo. É um romance que se lê com atenção e tensão crescente, oferecendo ao leitor um desfecho surpreendente. Benefi cia-se desta leitura não só pelo prazer de contactar com uma apaixonante história de amor interceptado com muitas outras pequenas histórias de judeus e cristãos que se cruzam nos caminhos da vida e das esperanças que os fazem mais parecidos do que émulos. De algum modo, esta obra permite revisitar Vieira e compreender o seu sonho/projecto de entendimento/acolhimento dos judeus no seio das sociedades católicas, consubstanciados na sua utopia do Quinto Império. A possibilidade de quebrar as fronteiras das raças, tradições e religiões que dividem a humanidade e têm impedido um convívio pacífi co entre modelos de vida, de crença e de

pensamento diferentes é uma utopia que moveu grandes homens do passado e do presente, projectando um mundo novo. Esta obra faz de algum modo uma homenagem aos que acreditaram e labutaram contra a intolerância altamente devastadora e predadora dos ideais de fraternidade entre os homens.

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157 Biografi a de Carlos Alberto de Seixas Maduro

Carlos Alberto de Seixas Maduro nasceu em Vila Real, em 1962, onde frequentou todo o ensino obrigatório. Ingressou, em 1986, no Seminário Maior do Porto. Em 1983, decidiu abandonar o Seminário, mas continuou matriculado no Instituto de Ciência Humanas e Teológicas do Porto, onde concluiu, em 1986, o curso de Teologia. Estes anos foram decisivos na sua formação humanista, tendo tido como professores e educadores algumas das fi guras mais prestigiadas da Igreja Católica, D. Januário Torgal, D. António Marto, D. António Taipa, D. Manuel Pelino e D. Carlos Azevedo. Ainda em 1986, ingressou na Faculdade de Filosofi a de Braga para frequentar o Curso de Humanidades (Português, Latim e Grego). Terminou a Licenciatura em 1991, ao mesmo tempo que leccionava Português e Religião e Moral no Colégio Liceal de Santa Maria de Lamas. Na Faculdade de Filosofi a, foi discípulo de alguns dos professores que marcaram esta escola bracarense, nomeadamente os Doutores António Freire, Manuel Simões e Lúcio Craveiro da Silva. Depois de realizada a profi ssionalização em serviço pela Universidade Aberta, regressou à Universidade Católica no centro regional de Braga, em 1995, para frequentar a parte curricular do mestrado em Literatura Portuguesa (Época

Barroca), e destinado a celebrar o III centenário da morte do Pe. António Vieira. Em 1999 defendeu a dissertação de mestrado intitulada “Um sermonário mariano de Vieira, Maria Rosa Mística”. Do contacto que teve neste curso com alguns dos maiores especialistas sobre António Vieira e sobre a Literatura em geral, Doutores João Marques, Vítor Aguiar e Silva, Margarida Vieira Mendes, Lúcio Craveiro da Silva e, muito particularmente, Aníbal Pinto de Castro, resultou um manifesto interesse pela investigação, sobretudo pela investigação da obra vieiriana. Por sugestão e orientação directa de Aníbal Pinto de Castro, iniciou um estudo aprofundado de toda a epistolografi a do Pe António Vieira, tendo como momento culminante a defesa da dissertação de doutoramento, em 2011, intitulada “As cartas de Vieira, um paradigma da Retórica epistolar do Barroco”. Um trabalho de investigação que não se encontra completo, na medida em que está vinculado, como investigador colaborador, ao Centro de Estudos Filosófi cos da Faculdade de Filosofi a de Braga e investigador assistente integrado do Centro de Literaturas de Expressão Portuguesa das Universidades de Lisboa (CLEPUL). Deste trabalho, têm resultado algumas participações em revistas e congressos. Com a publicação, em 2000, pela faculdade de Filosofi a de Braga, do livro Um Sermonário Mariano de Vieira, Maria Rosa Mística (tese de mestrado), nasceu o interesse e curiosidade pela publicação, facto que o levou a experimentar o texto

* Professor da Escola E.B. 2/3 Professor Doutor Carlos Alberto Ferreira de Almeida

Carlos Alberto de Seixas Maduro

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fi ccional com o livro de contos Pontes e Portais (2006) e a novela Quando a Fonte Secou (2008). Fez a primeira incursão na escrita romanesca com a participação no Prémio Leya 2008 sob o pseudónimo de Sebastião José. O romance foi um dos dois fi nalistas portugueses, tendo sido publicado com o título de A Corda de Judas Iscariotes (O Quinto Império do Mundo) (2010), pela editora Fonte da Palavra. Apraz registar que o lançamento deste romance contou com a apresentação do escritor Miguel Real, em Lisboa; do Prof. José Eduardo Franco e do Dr. Celestino Portela em Santa Maria da Feira, na livraria Vício das Letras.

Seminário Diocesano de Vila Real Seminário Maior do Porto (varanda de S. João de Brito)

Júri de Doutoramento (a contar da esquerda, Professores Doutores João Amadeu Oliveira Carvalho da Silva, Faculdade de Filosofi a da UCP; Arnaldo Monteiro Espírito Santo, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa; João Francisco Marques, Faculdade de Letras da Universidade do Porto; Manuel António Garcia Braga da Cruz, Reitor da Universidade Católica e Presidente do Júri; Mário Rosa da Silva Garcia, Luís Alexandre da Silva Pereira, José Cândido Oliveira Martins, Faculdade de Filosofi a da UCP.

Momento fi nal da defesa da tese.

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Esta não é, contudo, a sua actividade principal. São os 25 anos como professor que merecem o maior destaque no seu currículo. Depois de ingressar no ensino público em 1998, leccionou nas escolas E.B. 2/3 de Milheirós de Poiares

Momento da arguição. Na foto, José Cândido de Oliveira Martins (co-orientador) e Carlos Maduro. Aníbal Pinto de Castro, Prof. Jubilado da Universidade de Coimbra, orientador da tese, falecera em 7 de Outubro de 2010.

Lançamento do romance a Corda de Judas Iscariotes na Livraria Vício das Letras, a contar da esquerda: Prof. José Eduardo Franco, Carlos Maduro, Dr. Celestino Portela.

Montra da Livraria Leya na Buchholz, Rua Duque de Palmela, Lisboa.

Lançamento do romance a Corda de Judas Iscariotes na Livraria Leya na Buchholz, a contar da esquerda, Miguel Real, Carlos Maduro, José Marques (editor da Fonte da Palavra)

e da Corga de Lobão. Actualmente é professor de Língua Portuguesa no Agrupamento de Escolas Prof. Doutor Carlos Alberto Ferreira de Almeida.

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160 era uma vez…Gilberto Pereira*

era uma vez uma fada

sentada, adormecida

quieta na minha cabeça

era uma vez um ogre

escondido, perdido

por entre sombras de mim

será que algum dia

os dois se irão encontrar?

* Gilberto José de Sousa Pereira, natural do Porto (1979), reside desde sempre em Argoncilhe. Frequenta vários encontros poéticos pelo país, sobretudo as tertúlias da Onda Poética, de Espinho, onde mantém uma participação activa desde 1998, lendo preferencialmente Al Berto, Herberto Helder, Mário Contumélias, Eugénio de Andrade e António Gedeão. A sua poesia, com tendência para o soturno e o intimista, sofreu, sobretudo de início, algumas infl uências dos dois primeiros autores mencionados.Editou o seu primeiro livro de poesia, intitulado Reticências, em Dezembro de 2008.

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161 Da Rua à Lavandeira

Gaspar Moreira Cardoso da Costa*

Das Primeiras Circunstâncias de Vida

Nasci em 1941. Ainda andei na escola dos Condes de Ferreira (actual Universidade Sénior) com o antigo e bom professor Marques. Extremamente bondoso, precocemente envelhecido, cedo partiu. Estávamos em 1947. Ora, nessa Escola já lá não andava o Celestino, embora haja sido aí que fez o ensino primário. O seu tempo é mais cedo e havia largado asas, creio que primeiro para o Colégio de S. Luís, em Espinho, depois em Oliveira de Azeméis e, após isso, faz o ensino complementar no Colégio de João de Deus, na Rua de St.ª Catarina, no Porto. (Por sinal, foi nesse Colégio que cursaram meus primos do Murado-Moselos, fi lhos de meus tios Dr. Fernando Costa e D.ª Laura Ferreira de Amorim Milheiro). Filho de iindustrial e grande lavrador, o seu lema era a dedicação aos livros. Mesmo vivendo nessa Quinta da Lavandeira, de casa de Lavoura, com um grande movimento de carros de bois de lavoura, de tojo e de lenha, propícios a abastecer as numerosas cortes de gado vacum, e outro, que lá havia, e a desenvolver a máquina de descasque do arroz, o Senhor Celestino, por certo, reservava a seu fi lho outras artes.

Mas, convém lembrar, esse portal dos fundos, já não era, para o povo, da Lavandeira, mas antes “o portão do Portela”, pois que assim o apelidava. Denotava ser de casa rica e de trabalho. Já a caminho do Lugar de Pombos, e perto do tanque municipal, de aproveitamento das águas do Rio Cáster (não havia ainda electrodomésticos – tínhamos o aparelho de rádio e, um ou outro, já tinha frigorífi co). Nomes típicos de mulheres da Feira, muito populares, aí raiavam logo de manhã para lavar: as da Inês Xaguça, a Maria Matara, a Maria Caetana, as do Africano, as Ti’Ana e Maria do Aó, as Reizinhas, as criadas daqueles senhores da terra e as dos cafés e das padarias. Era aí, no portão do Portela, que começava um outro mundo, o da economia rural da Vila da Feira. Dessa casa arribada à encosta, que dá para as Eiras de Cima, mas que desce, quando vai para Pombos, até ao rio. Cheia de janelas grandes, de guilhotina, com portão de quinta cercada a muro. Porta fronha, lavrado a ferro e de bons gonzos, mas porta sempre dianteira e pronta a receber. Tanto mais que nessa parte da frente, a ladear uma pequena costeira para se entrar em casa, acastelado, aparece um belo jardim, cheio de buxo, a cheirar tão bem, mas com árvores de fruto de sabor tropical. As quintas, na Vila, tinham todas belos pomares. Houve esse cuidado, de quem nelas habitava e trabalhava, e podiam não ser terra de muito pão, mas fruta havia, que dava para vender.

* Consultor Judídico da DG Tribunal de Contas. Aposentado.

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Ora, aquelas duas sequer três árvores de frutos no jardim, é que eram coisa rara, só tinha o Portela! Nem sequer o meu Tio Júlio Moreira, (com pêssegos de maracotão) e seu vizinho na Quinta da Chamuscada (antiga dos Huet de Bacelar). Quem apanhasse peças de fruta dessa consolava-se! Não eram “iguais” às ameixas Rainha Cláudia, do Senhor Terra, aos nabos do Senhor Maia do Café Solar, às batatas do Dr. Belchior, ou aos malápios do Conde, nas Guimbras, que se larapiavam. Não. Estavam bem defendidas, na Quinta da Lavandeira, e só a mero convite dos donos da Casa se podiam provar e degustar tão boas que eram! Suculentas, grandes e sumarentas tângeras! De comer e chorar por mais! A sobrepor-se ao jardim desenvolvia-se a casa à volta da sua cortinha, e caindo para a estrada de Pombos, de uma altura considerável. Os pavimentos térreos tinham um alçado de janela, ainda a dar para o jardim da frente. Esse sobrado, de tipo minarete, antevinha uma casa de gente endinheirada, talvez de antigos “brasileiros”, e, por assim dizer, toscava-se de fora, da rua. Portanto, no aconchego de nossas casas reconhecia-se essa outra, da Lavandeira que se estendia até ao lugar de Picalhos, atravessada pelo Rio Cáster. O Senhor Celestino Portela tinha uma fábrica de descasque de arroz e estava casado com uma Senhora muito distinta e dotada de um coração magnânimo. Natural de Viseu. Nasceram do casal oito fi lhos e o Dr. Celestino era o único varão. Ficou a reter uma memória mui triste e trágica, quando o Hillman verdinho da casa, no dia do casamento da fi lha mais velha, D. Celeste, com o médico Dr. Cícero Leite, num acidente com um carro eléctrico, na rua Saraiva de Carvalho, no Porto. Pois, aí era chegado o fi m daquele Senhor Celestino Augusto Portela, de corpo grande e tão valente. Creio que todas as suas qualidades perduraram sempre no seu rebanho e naquela grande senhora que, assim viúva, tão provada fi cou, a administrar todos os bens, tanto na Feira como em Viseu, e o pesado cargo, mas tão honroso, da educação dos numerosos fi lhos. Pois todos tiveram educação esmerada e todos estudaram, seguindo para a vida. Sobretudo os mais novos, que pude acompanhar, relativamente. De realçar, minha colega de Liceu e Faculdade de Direito em Coimbra, Maria de Lourdes, casada com colega e amigo nosso e suas irmãs Luísa e Teresa, mui amigas de minha

mãe D.ª Júlia Adelaide e suas confrades na Conferência de S. Vicente de Paula. O falecimento deste Senhor Celestino Augusto Portela foi uma grande consternação para toda a Vila, pois assim infaustamente perdeu uma pessoa que tanto estimava, não só pelo seu delicado trato, mas também pela sua bondade.

A Promessa

Na Casa, havia, agora um único cavalheiro, distinto e promissor estudante que como feirense de gema, saía e ia aos cafés e ao Club à noite, a Espinho, e que com os 15 ou 16 anos teve muitos companheiros, que conheci bem, mas bastante mais adiantados que eu. Muitos já os conheci formados e arrumados das Universidades! Lembro-me destes: dos Doutores Serafi ns, de Espargo; e dos Toscanos, da Feira, incluindo o António Alberto e o Vítor Toscano; dos Morujão Nuno e Clélia; do Tony Trincão – e o Diogo Vaz; do Eng.º Eduardo Santos; do Manuel Plácido e do Arménio; dos Guimarães, e do Jacques, do Sousa Lamas, do Guimarães da Palmirinha de S. João de Ver; e dos, um pouco mais novos: O Zé Manuel, o Victor e Sérgio Carneiro, o Artur Brandão, os Pinto de Lima, O Nélson e o João Manuel.etc.

O assunto era consabido. Não faltava o Sá Ferreira, eminentíssimo jogador de bilhar e cuja escola havia sido a sua farta e folgada experiência, aprendida nas viagens consecutivas, por todo o País, para vender solas e cabedais, que dele fi zeram um cidadão mui perspicaz, mas às vezes crítico. Apesar de tudo uma delícia de um jogo quando se picava, no Club ou no Café Coimbra, com o Alcides Coelho, de Sanfi ns. Pois, ao Pinho de Travanca e ao Manuel Giro, respeitava de todo. Talvez, por terem fábrica. E ao Victor Alves, Chefe de Finanças, também solteiro, levava-o para Espinho. É claro que não se metia já com os doutores, mas sabia-lhe optimamente a sua companhia. Tinha nível de vida para isso, e lembrava sempre com muita saudade meu tio João Moreira, que era tão bom ou melhor jogador de bilhar que esse companheiro amigo. E estamos a contar este retrato, mais até do Club que do Café, porque aí perorava já o futuro Dr. Celestino Portela, que muitas vezes nesses pequenos e acérrimos conciliábulos se revia um futuro causídico.

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Os tempos eram esses, daí que não era preciso dizer. O Celestino não era fi lho de doutores, mas superava, com brilhantismo os da sua época. Órfão de Pai, de bolsa extremamente regrada (não podia ser doutra forma), preso aos livros, embora de compleição forte, não queria abusar dos seus olhos frágeis, e sendo mais contido na dispersão (era p.ex. um distinto coleccionador de selos, depois, com a Vida, foi de primeiras edições de Livros), a sua juventude tão equilibrada fez dele muito boa gente e muito promissora.

Mas, de enfezado nunca teve. Fazia a farra da sã boémia Coimbrã, sempre reaprendida. Tanto mais que no último ano, em Coimbra, foi “repúblico” na R. dos Incas. Também disputou alguns jogos académicos feirenses, no velho Campo do Club de Caçadores da Feira.

E sobremaneira, nado e criado na Vila, despontava-lhe o bairrismo da Terra e era uma esperança p’rós feirenses.

Mais fruto de uma retrospectiva do que vivido aquando do seu tempo, era uma época de “banhos de multidão” para os políticos do Estado Novo e nem sequer ainda era o tempo do Delgado. A Resistência Democrática não era parceira da Situação Política, era de reviralho. Talvez suavemente tolerada às elites e, na Feira, foi de nobreza e arte sempre respeitada, e muito valorada por pessoas insignes, à parte que fi que aquela infausta e provocatória morte do Dr. Prata, que a todos arrepia e que nos faz chorar!

De pé: Carlos Teixeira - Ferreirinha - Brandão - José Machado - Lícinio - Luís Alberto Bastos - Jaime Bastos - Quim Abelhão - Serafi m Guimarães - Amadeu Santos e Jacques.

1º Plano: Manuel Plácido - Diogo Vaz - J. M. Cardoso da Costa - António Lamoso - Tony Trincão - Nuno Morujão - Serafi m Santos - Manuel Guimarães - Sérgio Carneiro e Gaspar Cardoso da Costa.

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Também era tempo de jornais e fracamente de revistas. Era, por assim dizer, um “up to date” para o “dia seguinte”. E havia que os ler e comentar, pois não eram todos da Política então reinante. Também não era de “greves” de estudantes e mobilizações militares. Quem fosse bom estudante tinha o futuro assegurado. É esse o compromisso social de Celestino Portela. Estudante distinto, promissor e erudito, cultivava os clássicos, propendia sempre com o peito ufano para a poesia, donde destacava Fernando Pessoa, o patriota com o qual sempre se identifi ca. Sabia de cor textos do bardo (e não só) e tinha a dita de recitar poesia em pequenas conversas ou usá-la em ditirambos à conversa. Mais que isto, de progresso era ser de esquerda moderada e ver cinema.

Deve-se notar que esta valência, que ainda hoje o integra, não fazia do Celestino um espelho dessa Resistência. Confl uía com ela. Isso pertencia mais a Francisco Neves, ao Doutor Alcides Strecht, ao Zé Santos, ao Doutor Ferreira Soares, ao Solicitador Luis Campos, mas dava-lhe modernidade. Tanto assim que nas eleições directas participadas, as de Outubro de 1969, o Dr. C. Portela é o delegado às mesas de voto, na sua Terra, pela Lista da Oposição, em que era candidato o Dr. Alcides Strecht Monteiro.

NO CAMPO DA LUTA

Formado em Direito pela Universidade de Coimbra. Um prestígio alcançado em 1958 (o Curso de Mota Pinto)– comemorando o Jubileu dos 50 Anos do Seu Curso aí está a cumprir a sua estimada vocação de tão grande estima, a de ser Advogado na sua terra de Vila da Feira. Era o “enfant gaté” (mais terrible do que gaté) daquela plêiade de Advogados que a Feira tinha desde os Anos 30. E vinha com Ideias novas, talvez um tanto mais multidisciplinares (como agora se diz) para além da segurança que tinha, servido por uma memória tenaz e tão pronta, rara, que faz dele um belo cultor do Direito.

Então novel e muito promissor, por uma questão de entrecho familiar e de identidade de critério, após ter estado

interino como Delegado do Procurador da República, em Alcácer do Sal, ciente dos votos, toma como patrono de estágio o Doutor Belchior da Costa, pai dos seus amigos e sobretudo daquele José Manuel, mais novo, porém, do que ele próprio. Não posso reproduzir o tempo comum a ambos em Coimbra, pois já não apanhei o Celestino, mas sei de um outro muito partilhado nos Colégios do Porto (João de Deus e Almeida Garrett), quanto de um outro na Feira e Espinho, a crescer num pequeno e jovial cenáculo literário. Foram o que se pode dizer inseparáveis, mas, apesar de tudo mui diversos, como a Vida o diz.

Era “à bolina” desse saudoso companheirismo, que eu aproveitava para franquear a Casa e saciar-me com aqueles belos e únicos citrinos.

Chegado à Feira, escolhe escritório de frente para o Tribunal, e com grande determinação – pouquíssimas são as vezes que vai ao escritório do Dr. Belchior. Mas também não vai a qualquer outro. Fez-se colega e camarada de trabalho. Era da Arte. Tiveram de com ele contar, um pouco apressado demais a suscitar outra maré, que vinha a chegar. Um estilo novo de um advogado-operário a partenariar questões de direito com interesses legítimos outros, fazendo dos seus clientes (e tinha o escritório cheio) um parceiro de, quiçá, outras coisas que lhe interessavam e nada tinham a ver com a advocacia. Ainda hoje, um pouco refl exo disso, a focagem que fez ao crescimento imobiliário na Vila, a difusão de um preito de homenagem inconfundível ao Jornal “Correio da Feira”, e ao Poeta a quem se dedicou. Mercê da sua erudição e do revivalismo para que sempre apontou, as tantas homenagens que promoveu a fi guras ímpares do Concelho (de realçar ao Dr. Henrique Veiga de Macedo e a D. Sebastião Soares de Resende, pois tantas são), a consolidação do interesse e da tertúlia feirenses, enquanto santamariano (muitas vezes recapitulado com o Padre Albano de Paiva Alferes e outros) que de forma perene vai pertencer à bela Revista “Villa da Feira”.

As suas ideias políticas – que para Si não foi mais do que um desabrochar de ideias – têm a ver com uma esquerda clássica, de sabor francês a conquistar espaços e tempos de

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certa liberdade. Também já lhe estava na tradição, quando acaba com o “25 de Abril” o Estado Constituído em 1933.Por isso, com os novos tempos o Dr. Celestino é um “pivot” importante, na Vila da Feira e seu Concelho, nas mudanças autárquicas e também partidárias que se seguiram.

Também, aliadas às suas prerrogativas, o Dr. Celestino havia-se tornado num bom advogado e de nome. Fruto tão-só do esforço do seu trabalho, pois os advogados da Comarca sabiam que os magistrados vinham à Feira para trepar. Tinham mérito e escolhiam comarcas difíceis e prestigiadas para alcançar objectivos. Terra de bons advogados. Ganhava-se com Justiça e perdia-se com Honra. A Feira desenvolve-se mais, o movimento é célere, que noutros tempos. Passa a haver uma difusão centrífuga dos escritórios para junto das Repartições, que agora se localizavam para mais acima do edifício camarário. Também Celestino Portela situa-se, agora, perto do Tribunal Novo e na Rua da Fundação do Dr. Strecht Monteiro e deixa o seu antigo escritório no antigo prédio do Senhor Américo Vicente. Sem erro, podemos dizer que com o Doutor Celestino Portela se encarnou um atalaia da mudança, de uma terra muito de economia rural para uma terra urbana, de cidade.Mas, também igualmente se pode afi rmar que conviveu com uma geração passada já e com quem trabalhou ainda, lado-a-lado.

A geração do SNI, mas também da Presença, do Orpheu e da Seara Nova. Geração que respeitou e deu a ler ainda, em muitos lugares de honra. Provas, aí as temos na sua “Comissão do Castelo” e na Sua “Villa da Feira”. É engraçado pensar que com a Revista faz a aliança à comunidade da Civitas Sanctae Mariae com a Grande Diáspora Feirense, num ponto de equilíbrio, mais sustentado que o do velho Correio da Feira. Aliança que vai perdurar e permanecer, porquanto a sustenta internamente, a gratidão que tem ao vetusto Club Feirense.

Esse cordão continua, porque se trata de outro fi lho seu – a LAF, a Liga dos Amigos da Feira. Sou da mesma vaza do Dr. Celestino: a de debater ideias. Aqui fi cam algumas, nas não esgotam o tema. O que posso, realmente, afi ançar é que Celestino de Oliveira Martins Portela fez da sua querida Terra uma Terra-Mãe. Uma Terra – Guardiã de um Poeta de Rosa-Cruz e de Mar, que não encontra saudades, nem fugas, por ser de Santa Maria. Português de Lei, porquanto bem cuidou da sua Grei.Tem tanto de Pedras Velhas quanto de Pedras Vivas no Tempo que lhe serve de Brasão. Ilustre Feirense, como para mim eram excelentes as tângeras doces do seu Jardim!

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166 PROCURAManuela Correia*

Procuro no teu corpo

o silêncio suado

a rima dos teus olhos

o beijo ainda intacto

O som anasalado

o peito como aurora

a fundura dos dedos

o verso que se evola

Procuro no teu corpo

a densidade cúbica

a presença da pele

a memória da música

O tacto iluminado

a fronteira de abrigo

o feltro das palavras

o parto dos sentidos

* Nasceu na aldeia de Cabrum, concelho de Vale de Cambra,em 1961. Em Vale de Cambra, durante a frequência do liceu, aprendeu o gosto pela poesia. Iniciou a sua actividade profi ssional aos 18 anos e aí viveu durante anos. Actualmente exerce a sua actividade profi ssional no Porto e reside em Santa Maria da Feira, Vila Boa. Tem colaborado em muitas sessões e tertúlias de poesia.Livros publicados: - “As nuvens não são mais de algodão”, de 2000. - “Poemas Tri Angulares”, de 2002. - “Interlúdio d’ Eros”, de 2003. - “Escritos de Areia” de 2005.

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167e Gaia, mas o propósito deles foi gorado pela tragédia que atingiu milhares de pessoas que, do Porto, deles fugiam, que, no desespero de atravessar a Ponte, foram cair na armadilha que tinha sido preparada na Ponte para precipitar no Rio os franceses. Teriam perecido na tragédia 4/5.000 pessoas. Depois de estabelecida a passagem do Douro, o exército francês foi estabelecer o seu quartel-general em Grijó, e no Picoto, de onde dominavam a zona, assestaram a artilharia. As suas colunas foram prosseguindo no seu avanço pela estrada real, - depois da República, estrada nacional -, e partindo dela em várias direcções pelas históricas Terras de Santa Maria até às margens do Rio Vouga. Até que o exército Luso-Britânico as obrigou a retroceder. As tropas Luso-Britânicas que se tinham reunido nas imediações de Coimbra sob o comando de Beresford, general inglês e marechal do exército português, e de Wellesley, duque de Wellington, general e depois marechal inglês, acossam o inimigo em várias frentes e as várias refregas, entre elas a de Souto Redondo de S. João de Vêr, vêm a culminar no feroz ataque fi nal a Grijó, em 11 de Maio de 1809, onde se tinha reunido o grosso das tropas francesas calculadas em 5.200 homens. Inserindo nesse ataque fi nal, salientou-se a divisão do inglês Trant, onde estava integrado o Corpo Académico, constituído por estudantes voluntários da Universidade de Coimbra, que lançou entre as 9 e as 10 horas, desse dia, um encarniçado ataque às tropas francesas na estrada real,

2009 - O ano do 2º Centenário da II Invasão Francesa de Má Memória

Carlos Gomes Rodrigues*

As Alminhas do Pinheiro Manso das Sete Cruzes de Mozelos, memoram a morte de sete Portugueses vítimas da barbárie francesa. Logicamente as ocorrências não se verifi caram em 11 de Maio de 1809, dia em que se deram os ataques fi nais a Grijó, mas antes quando os franceses eram senhores das posições.

Segundo várias fontes, o exército francês, com perto de 40.000 homens, sob o comando de Nicolas Soult, Marechal de França e Duque da Dalmácia, invade Portugal, entrando por Trás-os-Montes, após várias escaramuças com tropas e ordenanças portugueses, em 6 de Março de 1809. Vencendo a débil resistência que se lhes depara, os franceses ocupam Chaves, Braga e entram no Porto em 28 de Março provocando cenas de grande violência e dramaticidade. Teriam morrido na defesa do Porto 10.000 Portugueses e 500 Franceses. A 29 de Março os franceses pretenderam atravessar o Douro pela Ponte das Barcas, a única que existia entre o Porto

* Contabilista e Chefe de Escritório. Interessado em Ciências Sociais e em História local.

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no escuro a temperatura constante. A partir daí passou-se a utilizar essa técnica, e por ser enterrado, fi cou a designar-se “Vinho dos Mortos”. Os residentes nas “Históricas Terras de Santa Maria” responderam às pilhagens e saques com actos de coragem e patriotismo, como o testemunham:

As Alminhas do Pinheiro Manso das sete Cruzes de Mozelos.

Na propriedade denominada “gasparinha”, de Goda, que se alongava até à estrada real, entalada entre os lugares de Ermilhe e Picoto. Bandoleava na zona entre a Feiteira e Mozelos um individuo de má fama e piores acções chamado Catafula, de Olivães-Nogueira da Regedoura. Revoltado porque cerceado nas suas actividades de malfeitor, mas indignado pelas pilhagens e saques dos invasores, regenera-se, e num impulso patriótico ataca e mata três soldados franceses dos que procediam à pilhagem de abastecimento. Foi aprisionado juntamente com quatro cúmplices pelos franceses, que os condenaram à morte. O Catafula, num rebate de consciência, quis confessar-se e foi chamado o Padre João de Sá da Rocha, capelão do convento de Monchique do Porto, que, na altura, se encontrava na sua casa de Anta. Os franceses teriam sabido que era irmão de Manuel de Sá da Rocha, envolvido em guerrilhas e procuraram descobrir cúmplices. Confessado o Catafula, os franceses quiseram obrigar o Padre a revelar-lhes a confi ssão, mas o Venerável Padre Rocha cumpriu nobremente o seu dever, nada revelando da confi ssão do Catafula, nem revelando cúmplices de seu irmão. Por isso foi arcabuzado e pendurado no Pinheiro Manso juntamente com seu irmão que tinham morto nas Barrancas de Pedroso, perto do actual lugar dos Carvalhos, e depois arrastado até ali. Catafula e os quatro cúmplices terão sido enforcados no Pinheiro Manso. Os franceses para amedrontar as populações deixaram os corpos pendurados nas árvores. Depois os sete corpos foram sepultados no Cemitério de Mozelos e foram pregadas no tronco do Pinheiro Manso sete cruzes em memória das sete vítimas da barbaridade francesa.

em Mozelos, cerca do Picoto, perto do Pinheiro Manso onde pendiam ou tinham pendido os corpos dos Sete Portugueses vítimas dos franceses, terminando pelas 3 horas da tarde, no cabeço de um monte, que fi ca à direita do lugar das Vendas de Grijó. O Porto foi retomado em 12 de Maio de 1809. Os franceses tinham fi nalmente sido forçados a retirar para norte do Douro, terminando assim a ocupação das históricas Terras de Santa Maria. Os franceses, evitando as tropas do norte do Brigadeiro Português Silveira e de Beresford, foram reunir-se em Espanha com o 6º. Corpo de Ney, Marechal de França. Acabara desta maneira a Segunda Invasão Francesa, que permaneceu em solo português cerca de 90 dias.

Como todas as guerras, as Invasões Francesas, provocaram mortes, horrores, destruições, violências, atrocidades e injustiças. Com o decreto de 23/08/1793 da Assembleia Nacional Francesa, criando o serviço militar obrigatório, “a Conscrição”, os exércitos franceses passaram a ter centenas de milhares de cidadãos em armas, mas também difi culdades acrescidas de abastecimento. Os exércitos subsistiam de tudo aquilo que encontravam, pilhavam e saqueavam por onde passavam, nas Aldeias, nas Vilas e nas Cidades. Os residentes reagiam com emboscadas, pequenos recontros e combates, atingindo sobretudo a retaguarda do inimigo. Com a segunda Invasão Francesa as populações também reagiram às pilhagens e saques, incluindo tudo o que servia para alimentação de homens e cavalos, como podiam. Escondiam e enterravam o dinheiro, as jóias e outros valores, e se possível com guerrilhas. Na passagem do exército francês entre Chaves e Braga, a caminho do Porto, aconteceu um episódio, de que tomei conhecimento na legenda da garrafa do “Vinho dos Mortos”, que nos elucida como reagiram as populações desde a entrada em Portugal em 6 de Março de 1809 até à chegada ao Porto em 28 de Março. Os habitantes da zona de Boticas, com receio de serem pilhados e saqueados, enterraram os seus bens mais preciosos, entre eles, o vinho. Mais tarde, quando desenterraram o vinho, verifi caram que não se tinha estragado, pelo contrário, tinha adquirido propriedades novas. Um óptimo paladar, com gás natural que lhe adveio de ter sofrido uma fermentação

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Foram homens que honraram Argoncilhe, a Terra que os viu nascer, mas também o Concelho de Santa Maria da Feira. Também teve vários netos e netas professores de música e profi ssionais Violinistas e Violoncelistas, quase todos da Orquestra da Fundação Gulbenkian. Ainda vivos. Quando, por volta de 1939/1940, vi pela primeira vez o histórico Pinheiro Manso, este já teria mais de 180 anos. O seu tronco tinha grande diâmetro, era alto e aprumado, ramos grossos e copa a condizer com a sua idade. Resistiu ao ciclone, que a 15 de Fevereiro de 1941 assolou Portugal, arrancando e partindo árvores de grande porte, e não só, principalmente pinheiros, e destruiu telhados de edifícios, fábricas e de casas de habitação, derrubando muros e paredes, mas perdeu muitos dos seus ramos, fi cando ainda mais reduzida a copa. A 27 de Novembro de l954, dia chuvoso e de grande ventania, e triste, deu-se a queda do que restava daquele que durante 145 anos povoara a imaginação de várias gerações. Sucumbira ao peso de perto de 200 anos.

O Obelisco de Arrifana, evocando o Morticínio da Bussiqueira em 17 de Abril de 1809.

Bernardo António Barbosa da Cunha, chefe de uma guerrilha de homens de Arrifana, numa emboscada na Ponte de Cavaleiros em Santiago de Riba Ul, a um destacamento de tropas francesas, matou o tenente-coronel francês Lameth, ajudante de campo e sobrinho do Marechal Soult, e os outros companheiros eliminaram mais dois soldados e feriram e dispersaram os restantes, aprisionando ainda o tenente Choiseul, ajudante de campo do general Franceschi, que acabou por fugir. Soult, informado da origem dos guerrilheiros, em represália, ordenou ao general Thomiers, que cercassem Arrifana, o que se verifi cou na madrugada de 17 de Abril de 1809. Os habitantes em pânico refugiaram-se na Igreja Matriz, mas os franceses assaltaram a igreja e retiraram todos os mancebos e homens válidos no total de 355. De cada cinco um era apartado o que perfez 71 homens, - os quintados -, que foram levados para o próximo Campo da Bussiqueira, onde foram mortos a tiro e à baioneta e alguns esquartejados selvaticamente. Os corpos e membros dos esquartejados foram suspensos

Passados anos, uma sobrinha do virtuoso Padre Rocha, de nome Francisca Alves de Sá, de Idanha-Anta, mandou construir próximo do Pinheiro, umas “Alminhas”. Terá sido em 1885 como está gravado ma travessa-padieira de pedra por cima do portão das Alminhas, mas o meu amigo e vizinho Dr. António Alves da Silva refere 1865. Há dúvidas, porque em 1885 já se tinham passado 76 anos e a sobrinha já teria mais de 90 anos. Pensa-se que a data de 1885 foi gravada quando foi, posteriormente, murado todo o perímetro da “gasparinha”. Na placa interior das Alminhas pode ler-se: Aqui foram mortos pelos franceses, a 11 de Maio de 1809, o venerando Padre João de Sá da Rocha, seu irmão Manuel, nascidos no lugar de Esmojães, freguesia de Anta, e outros. Também nas Barrancas onde fora morto Manuel de Sá da Rocha, foram construídas umas Alminhas. Logicamente, as ocorrências não se verifi caram em 11 de Maio de 1809, dia em que se deram os ataques fi nais em Grijó, mas antes, quando os franceses eram senhores das posições. Observei várias vezes o histórico Pinheiro Manso das Sete Cruzes, de companhia com os meus amigos Dimas Diniz de Oliveira Alves e de seu irmão, Joaquim Fernando de Oliveira Alves, quando das nossas idas à fábrica de cortiças do Picoto do seu Avô-Materno, Sr. António Alves Ferreira e à fábrica de seu pai, Sr. Dimas de Oliveira. Mas antes, na minha meninice, tinha-o conhecido nas minhas muitas visitas à Casa de meu Tio-Avô-Materno, António de Oliveira Gomes, de Argoncilhe, cuja casa ainda existe, embora alterada, no princípio da actual Rua de Argoncilhe que segue para os Camalhões. Pai de quatro professores de música e profi ssionais instrumentistas de renome: um deles, António de Oliveira Gomes, além de oboísta de reconhecido mérito, foi maestro famoso das melhores Bandas de Música do norte, como a G.N.R. do Porto, e por última, a da Trofa. Outro, Ilídio de Oliveira Gomes, grande violinista, concertista, 1º. Violino-Solista da Orquestra da Fundação Gulbenkian. Os outros dois, clarinetes, o Joaquim e o Manuel, que também foi maestro de algumas Bandas do Norte. Todos já falecidos. Fez-se esta referência, porque naquele tempo, nos primeiros-três-quartos do século XX, eram raros os músicos profi ssionais-professores.

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franceses. Em resposta Guarin e os seus soldados assaltaram a trincheira e os defensores puseram-se em fuga, sendo perseguidos através da Vila. Os habitantes, com medo de represálias, abandonaram as suas casas e estabelecimentos e fugiram, uns pela ria, outros pelos pinhais, e ainda outros foram esconder-se na Arruela, escapando assim aos franceses. Estes, aproveitando o abandono, pilharam abastecimento e saquearam o que puderam.

O Milagre de Nossa Senhora de Boa Nova, em Souto da Feira.

Estando as tropas francesas em Arrifana, quiseram ir para S. Vicente, mas tentaram intimidá-los com a ameaça de que ali não entrariam porque havia lá uma santa que fazia milagres e que o Povo lhe tinha pedido para livrar a freguesia de Souto dos invasores. Alguns soldados destemidos, num desafi o aos Céus, resolveram fazer uma incursão a S. Vicente. Mas quando chegaram à encruzilhada de Marco de Arrais, em vez de seguirem o caminho de S. Vicente, rumaram a Pintim, no Mouquinho, na freguesia de Válega, nunca encontrando S. Vicente. Perante o engano dos franceses, o Povo acreditou que Nossa Senhora da Boa Nova tinha feito este acto milagroso.O exército francês nos 43 dias que permaneceu nas históricas TERRAS DE SANTA MARIA, entre o Douro até às margens do Vouga, desde Gaia, pelo nascente até Águeda e pelo poente até Aveiro, além das Barrancas de Pedroso, de Mozelos, de S. Paio de Oleiros, de Arrifana, de Ovar e Souto da Feira, também deixou rastos das suas tropelias, em Arcozelo, nas Airas de S. João de Vêr, na Vila da Feira, em Cucujães, em Oliveira de Azeméis, Pinheiro da Bemposta, Albergaria, Válega, Estarreja, Angeja e noutras Terras.

Fontes:

Vários textos publicados em diversos números da Revista “Vila da Feira – Terra de Santa Maria”

“Dicionário Enciclopédico da História de Portugal – Publicações Alfa – edição de 1990”,

“Enciclopédia Fundamental Verbo – edição 1982”, memória, conclusões, deduções e redacção própria.

nas árvores para servirem de exemplo. Alguns corpos foram arrastados até à Ponte de Cavaleiros, em Santiago de Riba Ul, e ali erguidos em postes para exemplo também. Depois de pilharem e saquearem, lançaram fogo à maior parte das habitações de Arrifana.

A Capela das Almas ou Alminhas da D. Camila, em S. Paio de Oleiros.

Está encastrada no muro da Quinta do Candal, em S. Paio de Oleiros, situada no lado esquerdo da estrada do Picoto-Mozelos a Esmoriz. Foi mandada construir, cerca de 1870, por D. Camila Augusta de Sá Couto Moreira, mãe da Condessa de S. João de Vêr, pelas almas das vítimas, cujas ossadas foram encontradas no pinhal da Quinta, junto à Capela. Por algumas armas e uniformes ai encontrados, concluiu-se serem de corpos enterrados quando da segunda invasão francesa. Pensa-se que terão sido consequência de incursões dos franceses a partir da estrada real em Mozelos, fosse para pilhagem de abastecimentos e saque de valores, ou para reconhecimento do terreno. Como pode ter sido no desalojamento de posições francesas quando dos ataques fi nais das forças portuguesas e inglesas que os empurraram para norte do Douro. Não há dúvidas de que houve confrontos ou execuções no local ou nas proximidades. Daí não se saber se as ossadas encontradas eram de portugueses e aliados ou de franceses, ou dos dois lados.

A Barricada da Ponte João de Pinho, em Ovar.

A 30 de Março de 1809, o general Thomiers tinha fi xado as suas tropas na Vila da Feira, enviando diariamente para Ovar uma patrulha de reconhecimento sob o comando do Capitão Guarin. Alguns cidadãos Ovarenses a que se juntaram outros de Aveiro, decidiram levantar uma barricada na Ponte de João de Pinho em Ovar. Munidos de uma peça de artilharia e algumas espingardas, esperaram junto da barricada até terem ao alcance os soldados de Guarin. Então dispararam a peça e as poucas espingardas, mas sem êxito, porque não conseguiram atingir nenhum dos

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171 OS TERCETOS DE “TRÍPTICO” (Edgar Carneiro, Périplo, Húmus, 2009)

Domingos de Oliveira*

1. O TRÍPTICO

“Tríptico” é o título dado ao conjunto dos tercetos que se apresentam ao leitor por uma certa sequência. Às questões da formação da sequência e do título, como terão surgido, não há reposta peremptória. Pode até suceder ao autor não ter pensado nisso. Talvez o título tenha saltado da forma dos tercetos, e a sequência, talvez, não vá além da intuição, de um gosto muito próprio, um certo encadeamento bem sucedido, nas imagens, no ritmo, na linha melódica.

Tríptico é uma obra em três painéis (de escultura, pintura ou talha), sendo que os dois painéis laterais podem fechar-se sobre o do centro, não necessariamente, de qualquer modo mais estreitos. Não parece, em princípio, que possa haver qualquer semelhança entre a sequência dos tercetos e um tríptico, salvo se os três versinhos lembrem os três painéis.

É possível porém notar-se na sequência três secções contrastantes, sendo a central bem mais longa, 34 tercetos, precedida por uma introdução de 2 tercetos e terminando por 2 outros, tal a coda de uma sonata.

Nos dois primeiros tercetos o cantor fala do próprio canto comparando-o ao das aves, natural e desinteressado (47-2), tendo dito (47-1) não seguir modelos gastos, ou modas, entenda-se por aqui os traços literários que marcando a passagem das gerações vão passando com elas. Os seus versos, diz o poeta (47-1), escreve-os para ninguém, tal os pássaros decerto não cantam para nós, possa embora ao cantor parecer que sim (47-2). Não será outro o sentido dessa escrita na areia, nem o do vento que a leva.

Já o fi nal contrasta com tudo isso. Parece termos chegado de viagem longa (lembre-se o título do livro), a promontório extremo, um fi nisterra, viagem a dessa voz que nos tercetos desce chegada ao cais onde um veleiro, seu, ancorado espera. Espera o vento (65-1). Momento de acalmia, mais parece um vazio, onde nada se evoca, apenas se constata a pura ausência de tudo (já não há fl ores (65-2)), a perda de um trinado (nem asas, nem canto), em exíguas palavras beirando a prosa, mudez a de um enigma (amar, só depois (65-2)).

Entre as abas do tríptico o painel central, os tercetos fl uindo qual o rio que foi. Directa ou indirectamente os tercetos são evocações, memórias de uma vida remanescente, que se esvanece, salmodia. Voltam os lírios (48-2), a beleza de um dia (49-1), o crescer das asas (49-2), a fl or na chuva (50-1), labaredas da alegria (50-2), o fogo da esperança (51-

* Domingos de Oliveira nasceu em Silvalde, Espinho, em 1936. Formou-se na Escola do Magistério do Porto, onde veio a ser professor de Movimento e Drama. Leccionou no ensino primário, colaborando na formação contínua de professores, na área das expressões. Animou e orientou a criação de vários espectáculos teatrais de amadores. Fez parte da Unidade Infância no Centro Cultural de Évora. Escreveu poesia e algum teatro. A Unicipe editou o conto infantil Pimpão e os Leões e, recentemente, Devastações e Outros Fastos – Poemas Escolhidos.

Foto de Carla Parrilha

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1), desejos do regresso (51-2), o conchego da árvore (52-1), a maçã partilhada (52-2), a dádiva sem mais (53-1), o rosto da beleza (54-2), a noite acolhedora (55-1), o desejo de volta (55-2), o volúvel insecto (56-1), o braseiro do amor (56-2), o néctar dos lábios (57-1), a Primavera num ramo (57-2), a mansidão dos rios (58-1), a ilusão promissora (58-2), a asa na chama (59-1), os grãos e as raízes (59-2), a dor dos ocasos (60-1), o instante pleno (60-2), o tempo esvaído (61-1), o alento fi nal (61-2), a ponte dos suspiros (63-1), a encruzilhada de Hamlet (63-2), os sinos no vento (64-1), falsidades da Lua (64-2) – tudo isso compõe o painel central, imagens que aparecem e logo se cruzam, outra vez a sonata, onde o fi o melódico tem seus acordes, talvez um fi lme – fogos-fátuos.

Imagens no nosso ouvido (a sonata), o tríptico. Sinestesias. Acordes, os sentidos, na revoada dos versos, a sua melopeia, mas também a razão, razão de uma sageza, o violino solo. E no fi nal a coda.

Dobram-se a aba esquerda, a direita. Juntam-se. Fecha-se o “Tríptico”. Como um livro.

2. OS TERCETOS DE TRÍPTICO NAS FORMAS POÉTICAS DA BREVIDADE

Tanto quanto uma quadra tradicional, cada um dos tercetos de “Tríptico” é uma forma canónica de composição poética. O mesmo pode suceder com um dístico ou até com um único verso. De comum (quadra, terceto, dístico ou monóstico) enlaçam em geral sensividade e pensamento poético, tendendo frequentemente para uma poesia marcadamente gnómica, muito do gosto ocidental.

Lírios roxos são dor; nas mãos dela, porém, mudam de cor.

(48-2). Embora penetrado de sentimento, o primeiro verso é já uma constatação que se desenvolve nos dois versos seguintes, em que um juízo (poético) se torna dominante. Mesmo num terceto tão descritivo como

A noite recolhe as pérolas soltas da concha do dia.

(55-1), o que acaba por se nos impor é a refl exão subjacente às imagens da noite, das pérolas, da concha que encerra o dia. Na quadra tradicional a construção que domina é geralmente a mesma.

Canário, lindo canário, canário, meu lindo bem; quem me dera ter as penas que o lindo canário tem.

Evoca-se-nos o canário, salientam-se-lhe as penas, para pensar a relação na oposição penas / sofrimentos. Não deixa de ser assim em várias das poéticas orientais, sempre muito vivenciadas, como nos rubai persas, mas onde a dominância pende para o sensível, por vezes exclusiva, como no caso dos haikai japoneses.

O velho tanque. A rã salta-mergulha. Rumor de água.

(Em minha tradução, confrontando as de Haroldo de Campos e de Jorge de Sena). O que se diz no haikai é a vivência em nós, sentidos concentrados numa ocorrência, o salto da rã, a água borbulhante. O haikai presentifi ca a coisa, sem distância. Nos tercetos, na quadra tradicional, as coisas se observam distanciando-nos, autores e leitores, por um desdobramento que é vivido / pensado. Talvez por isso – por esse corte, tépido, que a razão introduz no sentir que é o facto – um eco proverbial ressoa nos tercetos, reiteradamente, sendo as imagens, no mais íntimo delas, pretexto, sim, para o julgamento.

Cantam comigo as aves sem que eu lhes dê sequer um grão de aveia.

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Diferentes nos parecem essas outras denominações que nos soam familiares, no segundo terceto (47), “as aves”, que parece cantam para nos alegrar, por nada, a que não damos sequer esse “grão de aveia” que o terceto diz (repare-se em como esse desprendimento, o do canto das aves nos recorda esse outro, o dos versos na areia). Podíamos perfeitamente dar às aves um grão de aveia, e às vezes o fazemos – não será por aqui que bate asa o terceto, sim por onde esvoaçam essas denotações num segundo sentido, coisas simbolizando outras. Quando ao ler o terceto encontro “as aves”, não é ainda a poesia que encontro, nem no tal “grão de aveia”, só no fi m do terceto, no seu todo, esses nomes se transfi guram, se transcendem numa leitura nossa que por eles nos surge. De signos linguísticos passam a signos poéticos (<as aves>, <um grão de aveia>).

* Vejamos algumas dessas denominações.

<o mar>, <o prazer…> (48-1) <O mar é grande sem vê-lo; / o prazer é maior / depois de tê-lo. > O terceto releva a vivência das coisas decorrido o tempo, revelando valores vinculados à perda – à vivência que retoma, mas também à experiência do tempo decorrido. É aqui que a memória acode à consciência na experiência ganha por esse tempo irreversível, qual “a tristeza” (mais adiante (50-2) queima, se queima, em < a labareda viva / da alegria>. Esse <prazer> que é maior só “depois”, é o signo poético que pela imagem do mar constrói o símbolo que emerge no fi o dos tercetos desfi ando o “Tríptico”. Nesse tom tão discreto que salmodia nos tercetos, por mais contido, despojado.

<lírios roxos>, <[a] dor>, <as mãos dela> (48-2) <Lírios roxos são dor; / nas mãos dela, porém / mudam de cor.> numa primeira proposição, o terceto recorre à ideia generalizada (convencional) do roxo como símbolo da paixão, aqui referência aos padecimentos de Cristo. Para afi rmar o dom, mágico, dessas mãos pelas quais o roxo se transmuta por um milagre de rosas.

<o melro>, <a beleza do dia> (49-1) <O melro assobia / a pedir-me que eu cante / a beleza do dia.> um dia promissor, exaltante, é o que o poeta parece ouvir no prazeroso canto do melro. Porém esse pedido do

(47-2). Formulação poética, redutível a outra, conceptual: As aves cantam por nada. Por aqui se verá a diferença, acentuada, entre o cálido poema e a fria sentença. Recordo aqui Machado, seus poemas denominados “provérbios” (que diferencia dos “cantares”)

Escribiré en tu abanico: te quiero para olvidar-te, para querer-te te olvido.

(Poesias Completas, Espasa-Calpe, 358 ). Se vislumbra por este exemplo que a tradição poética que de longe virá ao nosso poeta, passa em Machado, pouco terá a haver com os haikai, possa embora tocar-se de leituras deles, nesse gosto sensível, sensitivo, nas imagens com o que evocam, ou convocam, não presentifi cadas. Uma vida carnal, atenta, tocada por fi no e subtil erotismo, discretamente velado, emerge do vivido, memória cheia de alegrias terrenas, pensadas nessa dor tempo fúlgido, ouro por folha velha.

3. AS DENOMINAÇÕES NOS TERCETOS

De que nos falam os tercetos, ou seja, que nomeiam?

* O primeiro terceto (47) nomeia os “exaustos modelos” que o poeta diz não seguir, para de seguida nos dizer que, os versos, os escreve na areia, deixando ao vento que os diga. O que se nomeia são pois os <exaustos modelos>, <os versos na areia>, <o vento> – os angulares assinalam os signos poéticos, pois logo se verá que esses versos na areia, tal o vento, não poderão entender-se literalmente. O seu sentido é um outro, a expensas do primeiro. O poeta quererá dizer que escreve os versos sem atender a modas, neste caso as do versejar. Não será propriamente a literatura que tanto o move à escrita, o que deixa entender por que diz que os escreve na areia, aos versos, e por que tudo (os versos, o que soam) irá no vento.

* Nem todas as denominações nos poemas são construções poéticas, isoladas da frase (entenda-se frase poética) – que em certos casos é todo o terceto, tal em 50-2. (Queimo a tristeza / na labareda viva / da alegria.)

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<a noite>, <as pérolas soltas / da concha do dia>, <a concha do dia> (55-1) <A noite recolhe / as pérolas soltas / da concha do dia.> Imagens que se engastam umas nas outras, a concha do dia nas próprias pérolas, a noite que as recolhe. A concha, que desde logo sugere acolhimento, intimidade, aconchego, mas também solidão, estimáveis as pérolas que uma noite recolhe. Numa ausência da luz resquícios dela.

<os lábios>, <o néctar que nos embriaga> (57-1) <Dos bagos sai o vinho / e dos lábios o néctar / que nos embriaga.> A analogia é clara na embriaguez perturbante. As imagens das uvas e as dos lábios, o sorvedouro da boca. O eufemismo do néctar.

<o monte>, <a mansidão dos rios>, <o grito dos profetas> (58-1) <É do monte que vem /a mansidão dos rios / e o grito dos profetas.> A mansidão dos rios que manam dessa origem, o monte, terra-mãe. Sempre a montante os rios, mesmo na foz. Pressurosos na mansidão, de promessa em promessa.

<o branco>, <o vermelho efémero / da sorte>, <a sorte> (60-2) <Branco é / o vermelho efémero / da sorte.> O branco, essa pura existência que o terceto diz ser o vermelho, efémero vermelho, da fortuna, efémero no acaso, feliz acaso.

<o fogo>, <a vela>, <a cera>, <o pavio> (61-1) < O fogo acende a vela / mesmo se já é pouca / a cera no pavio.> Decerto é bem visível a analogia com uma vida, essa vela que arde. A luz que dá, e que se extingue. Nesse fi nal, diz o terceto seguinte (61-2) se avoluma essa luz, não talvez pelo arder de uma imagem mais grata, porventura de muitas.

<o mel>, <o travo da amargura> (62-1) <Outro é o mel / que pode minorar / o travo da amargura.> O travo da adversidade, amargo, não o adoça o mel, diz o terceto. Outro mel haverá que então acorre. O mel, signo poético, é transparente aqui à poiésis que o forma, dos conceitos contrários doce / amargo à dulcifi cação da amargura.

<a sombra>, <a luz> (62-2)

melro não deixa de sugerir alguma difi culdade, como se o tempo, prazeroso no melro, não o seja assim tanto por quem o ouve.

<as asas>, <o voo>, <o céu> (49-2) <Deixa crescer as asas / sem pensar no voo: / o céu pode esperar.> O céu, do qual se diz poder esperar, será decerto mítico, não transcendente. Mas o que mais intriga nessa sabedoria, a da espera, será o gosto de ver crescer as asas que hão-de tornar-se voo – o voo para um céu que bem pode esperar. Onde a sabedoria é um desejo sem pressa, ferida, por esse tempo que tudo leva.

<a tristeza>, <a fl or>, <[a chuva]> (50-1) <Se a tristeza te consome / põe os teus olhos na fl or / que aumenta as cores quando chove.> A fl or vicejando à chuva ressalta no terceto a tristeza desnaturando o ser, desterrando.

<a tristeza>, <a queima da tristeza>, <a labareda viva / da alegria>, <a alegria> (50-2)<Queimo a tristeza / na labareda viva / da alegria.> A labareda viva da alegria é a tristeza ardendo na memória em socorro. Em socorro do ser desterrado – o desterro, morada na memória.

<o vermelho da fé>, <a luz verde / da esperança> (51-1) <Do vermelho da fé / a luz verde / da esperança.> A esperança, auspiciosa crença no esperar. Essa luz, onde verde será mais a frescura de um sentimento que ideia gasta num dizer gasto. Bem diferente da fé ao dizer-se vermelha, pelo sangue, pelo fogo.

<a maçã> (52-2) <Libertos nos sentimos / quando comemos juntos / a maçã.> A maçã bíblica do pecado que foi amor e prazer resgatando vida. A maçã, no terceto recuperada, redimida.

<aquela árvore> (53-1) <Bendita aquela árvore / que fl oresce e dá frutos / sem saber quem os come.> Não só a árvore pelo que produz, de belo e de bom, mas também pela dádiva generosa sem restrições. A dádiva sem preço, pura dádiva.

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quebra porém num verso, enigmático, despojado, dando para mais tarde o amor (amar, só depois). Remate abrupto, discordante, impensável.

* Esse verso fi nal, que soa como um corte da tesoura das Parcas, deixa um desfi le de imagens retomando os tercetos. Imagens que são do amor, do júbilo do amor onde a amada se esconde por luz e sombra, a sombra, fi lha da luz (como se lê no terceto 62-2), nos lírios roxos vindos dela (48-2), na labareda viva da alegria (50-2), no vermelho da fé (51-1), na maçã em comum (52-2), nas castanhas saltando (56-2), no néctar dos lábios (57-1), na Primavera deixada no ramo de violetas (57-2), nesse vermelho efémero da sorte (60-2), nesse outro mel dulcifi cando ausências (62-1), mas ainda por sombras, as mais espessas (voltando ao terceto 62-2) que o desfi ar dos versos não querem perturbar. Esse tom de lamento, veemente e contido, é como um fi o de água de verso em verso, essa terra feliz, queimando na memória o pavio dela, resto de brasa do que resta. E se há meditações, nos tercetos, que mais parece iludirem ausências que são de fogo por solidões, são ainda momentos de sensiva tangência a formosuras do mundo, onde a imagem da amada, qual a Lua, acompanha, do alto, noite dentro o viandante.

4. A POÉTICA NOS TERCETOS

Numa frase poética discernimos, subjacente, um enunciado linguístico. O terceto

No fi nal dá mais luz a vela acesa.

(61-2), um dos mais simples do conjunto que é o “Tríptico”, tem subjacente o enunciado

A vela acesa dá mais luz no fi nal.

Assim mesmo literalmente (X dá Y em Z), para acentuar a estrutura lógica do enunciado. O que fez o poeta foi seccionar este mesmo enunciado em três blocos signifi cativos, fazendo de

<A sombra / por mais escura / é sempre fi lha da luz.> A sombra sinal de luz. Como qualquer memória guarda ainda o que foi, aparição, vestígios. Não o que está ausente, perdido, e se sabe; nesta outra emoção, num prazer outro, vida escrevendo agora.

<este rio extenso>, <a ponte dos suspiros / para além da margem> (63-1) <Sobre este rio extenso / a ponte dos suspiros / para além da margem.> Nossa vida, mesmo se breve, é sempre rio extenso, longura de passagens rememoradas. A ponte, passagem por onde vamos de um lado a outro é ponte de suspiros, respiração, opressão, gemente. Todo o terceto é um trânsito lamentoso, de uma margem a outra desconhecida (conhecida). O rio, em baixo.

<ser>, <não ser> (63-2) < Ser ou não ser / é a questão, / quer se creia ou não. > Digladiam-se ser e não ser, posta a questão do ser vinda de Hamlet. O ser é tudo, parece a sugestão.

<a Lua>, <o céu>, <as estrelas> (64-2) < Não creias na Lua; /o céu acende estrelas / para ti. > Curiosamente Lua com maiúscula, quando céu a não tem. A Lua, que o povo diz que mente. As estrelas, que para nós se acendem, é o céu que as acende. Mas este céu não soa de modo algum sideral, menos ainda transcendente, antes parece projectar-se por saudades térreas.

<o cais>, <meu surto veleiro>, <o vento> (65-1) < À beira do cais / meu surto veleiro / à espera de vento. > O cais, lugar de embarque. Parece retomar-se aqui o terceto da ponte, a ponte dos suspiros (63-1). No cais está o veleiro (meu surto veleiro) – não pois embarcação comum, quais barcas vicentinas, a do Estige; surto veleiro (ancorado, imóvel). Imóvel também o tempo, a falta de vento, o vento sem o qual o veleiro espera.

<fl ores>, <asas>, <canto>, <amar> (65-2) < Já não há fl ores / nem asas, nem canto: / amar só depois. > Flores que pode ler-se como sinédoque em relação à natureza, ao mundo, à beleza do mundo, ao gosto da vida. A elas se juntam as asas, o voo deleitoso de devaneios, e o canto – esse mesmo do melro no terceto 49-1. Tudo se

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* Um poema se escreve com palavras, terá dito Mallarmé a Monet que utilizava a cor na pintura. As palavras, mas também a sintaxe alterando a semântica convencional (denotativa). As palavras são de facto a matéria de que é feito o poema, não as palavras dessoradas na ideia, num conceito abstracto. O verso

Ouvir cantar as aves

(54-1), por mais simples que pareça, não é tão só uma articulação lógica de vocábulos. Sai do cadinho da poiésis como unidade orgânica onde actuam os sons (sílabas rítmicas) integrando as palavras num melodema com seu período rítmico próprio, a última das sílabas dominante e a quarta subdominante.

Ouvir cantar as ~aves

4 - 2

(Acento rítmico subdominante na quarta sílaba rítmica, e dominante na segunda do segundo grupo rítmico, onde o tom é suspensivo (~)). Não só isso, o verso também insiste em cada sílaba acentuada, numa sonoridade aberta, e leve, diria volátil ( –ar –à ) que intensifi ca na leitura a percepção das aves, o canto delas em nosso ouvido. Ao mesmo tempo se vê, ouve, delimitando-se a imagem viva – o que se passa (passou), de novo em nós.

* Cada terceto é um artefacto verbal que na sua aparente simplicidade dissimula um labor complexo, delicado. O que se exprime nesse artefacto são vivências, experiências anímicas que então emergem por uma outra experiência, anímica sempre, agora fi ctiva no sentido literário, o da arte, pela incursão aí de inquietações de um saber inquirindo, se experienciando vivências outras. Voltando ainda ao terceto 61-2 ( No fi nal / dá mais luz / a vela acesa. ), uma peculiar sageza da luz (antiga luz, velada) fala-nos dessa agonia de uma chama esvaindo-se, matéria residual soprando em queda, a chama se avivando. E também certamente a inteligência disso. O terceto, brevíssimo, literalmente nos diz que

cada qual um verso e, numa intenção muito especial, poética, lhes inverter a ordem na sequência dos versos.

Antes do mais esse “fi nal” da luz, onde a luz é mais intensa na consumação da vela, essa mais luz como no sentimento de um fi m último, e fi nalmente “a vela acesa”, qual um ser na agonia, ainda vida. A intensifi cação de cada dos três sintagmas pelo recurso à versifi cação e à função hiperbática quanto aos valores sensíveis aos lugares na sintaxe, projectam na leitura sentidos outros, poéticos, a partir dos primários (literais). Faz lembrar um tecido, o labor no urdume, a trama.

* Convém lembrar que a lançadeira opera, com seu canto, no sentido poético. Ou seja, a melodia (na entoação da frase), consoante se altere, altera o sentido da frase. Supondo, por exemplo, que o poeta tivesse escrito

A vela acesa. No fi nal dá dá mais luz.

sendo a mesma a frase subjacente às duas variantes, com os mesmos sintagmas, com os mesmos três versos, o que se alterou foi a linha melódica deslocando para lugares especialmente expressivos, pela descida do tom (tonemas e melodemas descendentes), ou ainda pela suspensão (intensifi cação) expressiva do tom (tonemas e melodemas suspensivos). No terceto

Libertos nos sentimos quando comemos juntos a maçã.

(52-2), o sentimento de libertação que pode dar-nos o amor na vitória sobre o pecado bíblico (o da perda do Paraíso) ocupa o melodema ascendente no primeiro verso, fi cando ao melodema descendente a alusão ao acto transgressor, com “a maçã” na cadência conclusiva, descendente. Relevando numa expressividade melódica alguma das possibilidades na prosódia de uma frase, de um sintagma, poetizam-se, quer dizer, dotam-se de representatividade anímica. Disso dá prova clara a brevidade dos tercetos em densa harmonização de recursos na poiésis.

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versos, duas proposições (dois núcleos verbais – sentimos, comemos)

Libertos nos sentimos quando comemos juntos a maçã.

(52-2), e mesmo três (no seguinte terceto (47-1) e num outro (60-1)), não sigo, escrevo, deixo)

Não sigo exaustos modelos, escrevo versos na areia e deixo ao vento dizê-los.

(47-1). Será interessante notar aqui o modo como se compõe em três versos dois movimentos melódicos, o primeiro, suspensivo, no primeiro verso, e o segundo ascendente-descendente nos versos restantes – o que concede uma atenção destacada à recusa explícita no desprendimento com a escrita, tudo embora numa só unidade que nos é tripartida. Sinto assim cada uma das asserções, noto a primeira destacada das duas outras, o terceto porém se me impõe pelo conjunto (a relação das três). Deve ainda observar-se como cada formulação poética resulta do trabalho da poiésis (a composição) sobre uma frase linguística. O terceiro verso do terceto

e deixo ao vento dizê-los

tem como formulação linguística subjacente a oração

Eu deixo o vento dizer os versos.

O confronto entre as duas formulações encaminha o leitor para os procedimentos na composição. Formulações poéticas de menor amplitude podem revelar expressividades por idênticos procedimentos.

* Os procedimentos na composição do enunciado poético consistem fundamentalmente em conferir às palavras expressividade anímica, simulacros de vida. As palavras materializam-se, ganham representatividade. É assim que a Primavera aparece ao leitor no ramo de

A vela dá mais luz no fi nal.

mas então se apresenta desse outro modo surpreendente, pela inversão dos sintagmas, pela formação dos versos, como se viu acima mais detalhadamente.

* O que é espantoso nos tercetos é que sua melódica, que se diria insignifi cante, se não mesmo inexistente, é um factor determinante no expressivo jogo dos lugares na sintaxe, alterando-se a icástica e o ritmo. A icástica, porquanto o modo de relevâncias que organiza as imagens têm repercussões na leitura. Consideremos, a propósito, o último terceto (65).

Já não há fl ores nem asas, nem canto: amar só depois.

Mantendo embora o enunciado tal a sua sintaxe, suprimida a versifi cação, quase cai numa prosa, não fora ainda o sentido fi gurado nas fl ores, nas asas e no canto, e a tão marcada inversão fi nal.

Já não fl ores nem asas, nem canto: amar só depois.

A supressão dos versos dá à frase dois movimentos, o segundo consequência do primeiro mediante os dois pontos. Já os versos acentuam a inexistência das fl ores, a das aves, e a do canto. Para nos fazer sentir no terceiro verso, descendente concluso, que amar é recordação projectada num tempo virtual.

* Nos tercetos, o cânone ternário oferece três lugares melódicos que de modo algum limitam as variantes possíveis, mesmo se preenchidos os três versos por uma única frase de um só núcleo verbal.

A noite recolhe as pérolas soltas da concha do dia.

(55-1). A maioria dos tercetos enlaça porém, nos três

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…………………..

a labareda <viva 4- 2 d^ale>gria 3

Dezembro, 2010.

violetas (57-2) tendo reaparecido ao autor, como aparece o insecto, esse, volúvel, de fl or em fl or (56-1). Sem essas destacadas imagens tocando-nos os sentidos, suscitando-nos experiências nossas num similar plano existencial, os tercetos não eram a poesia ela mesma, nada passava além do entendimento abstracto. Por seu engenho poético os tercetos são chama mesmo (labareda viva (50-2), podem mesmo queimar. No aperto da brevidade estreitam-se os tercetos numa grande tensão de umas poucas palavras, num enlace sensível da razão que o faz. São pequenas diferenças por recursos vários, um sobressalto rítmico, um hipérbato, um requebro melódico, sonoridades, fi gurações… Não só a labareda é viva (50-2), prolongando-se por dois versos num melodema ascendente, alongado, como logo descende por outro melodema, breve, nessa eclosão de luz apagando-se.

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A «escola nova», ofi cializada com a reforma de 2003, e assente em inúmeras novidades pedagógicas, determinou, em nome da sua «modernização», que a ela competiria adaptar-se aos alunos e não a situação inversa. Negando a sua responsabilidade na divulgação de uma herança cultural comum, bem como a sua função milenar de transmissora do saber, a «escola nova» criou e impôs necessariamente o «professor novo», ou seja, aquele que não precisa de ensinar e que reeducado, segundo as novas orientações teóricas, se tornou numa espécie de animador cultural, a quem não se exige competência na sua área de ensino. Que esse facto determine forçosamente a perda de autoridade do professor não é relevante para os mentores e apoiantes desta «ideologia pedagógica», que se continua a propagar na mais completa indiferença pelos seus nefastos resultados, em qualquer nível de ensino. Daí o esvaziamento leviano dos conteúdos programáticos, ceifando tudo o que se considerou «supérfl uo» para os alunos e «pouco de acordo com os seus interesses». Nessa lógica absurda, defendeu-se ainda que para os alunos, saber «ler e escrever é ganhar poder sobre a sua própria vida, sobre o professor, sobre os seus pais e sobre

todos aqueles que pretendem deter a verdade». Visão confrangedora e demagógica que parece estimular a degradação do relacionamento dos jovens com os adultos, atribuindo paradoxalmente aos primeiros uma experiência e uma sabedoria que ainda não tiveram tempo, como é natural, de adquirir e acusando os segundos de serem uma espécie de agentes repressivos. E, no entanto, de forma arrogante e unilateral, defi niu-se e impôs-se aquilo que teoricamente «interessaria aos alunos», «centro do sistema de ensino», tendo-se considerado desnecessário, por exemplo, o estudo da poesia de Cesário Verde, no 12º ano de Português, que antecedia, no antigo programa, o estudo de Fernando Pessoa ortónimo e heterónimo. Decisão absurda e visível na vontade de anular o peso da literatura nos programas de Português, ignorando, neste caso, a representatividade de Cesário Verde no nosso património literário, ele que foi o anunciador da modernidade e apelidado de «mestre» pelos heterónimos pessoanos, Alberto Caeiro (guardador de rebanhos) e Álvaro de Campos (engenheiro naval), e também pelo semi-heterónimo Bernardo Soares (ajudante de guarda-livros, na cidade de Lisboa). Felizmente, o escândalo suscitado por esta decisão (2002) foi tão grande que trouxe de novo o «poeta da cidade de Lisboa» para o convívio dos alunos, desta vez incluído no fi nal do 11º ano quando o mais lógico seria reiniciar o 12º ano com a leitura e a análise da sua poesia, seguindo-se naturalmente a geração modernista, centrada em Fernando Pessoa.

Foto de Clara Azevedo

* Licenciada em Filologia Românica, mestre em Literatura de Viagens e Professora do Ensino Secundário. Tem vários livros publicados sobre ensino e viagens; em 2010 publicou o Ensino do Português, editado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, Lisboa.

O Poeta Cesário Verde

Maria do Carmo Vieira*

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Lamentou Cesário Verde não ter sido reconhecido como poeta, no seu tempo, permanecendo simples «empregado de comércio», situação que evidenciou de forma pungente quando, numa homenagem a Luís de Camões, publicou no Jornal de Viagens, a 10 de Junho de 1880, um dos seus mais belos poemas − «O Sentimento dum Ocidental» − que, no entanto, não mereceu incompreensivelmente qualquer atenção. Em carta a um amigo, exprime a sua mágoa pelo sucedido: Uma poesia minha, recente, publicada numa folha bem impressa, limpa, comemorativa de Camões, não obteve um olhar, um sorriso, um desdém, uma observação! Ninguém escreveu, ninguém falou, nem num noticiário, nem numa conversa comigo; ninguém disse bem, ninguém disse mal! […] literariamente parece que Cesário Verde não existe.

É em «Avé-Marias», primeiro dos quatro momentos nocturnos em que o longo e belo poema se divide, seguindo-se «Noite Fechada», «Ao Gás» e «Horas Mortas», que o poeta, ao errar «pelos cais a que se atracam botes», os quais lhe suscitam nostalgicamente o passado histórico das viagens marítimas e a epopeia portuguesa, refere Luís de Camões: «E evoco, então, as crónicas navais: / Mouros, baixéis, heróis, tudo ressuscitado! / Luta Camões no Sul, salvando um livro a nado! / Singram soberbas naus que eu não verei jamais!» Caracterizando-se os poemas de Cesário Verde por uma estrutura deambulatória, os leitores acompanham o poeta-narrador pelas ruas da cidade de Lisboa, seguindo o seu olhar atento e minucioso que analisa refl exivamente e recria com imaginação o que observa. Anotações feitas a

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diferentes horas do dia e que revelam a imensa variedade das ruas de Lisboa, suscitando e estimulando sentimentos, sensações e inúmeras imagens simbólicas. Na posse de tantos dados podem os leitores usufruir do ambiente da cidade, interpretando-a também como espaço de exploração

dos mais desfavorecidos, onde a solidariedade não existe, em que a crueldade e o desprezo se manifestam em comentários chocantes e a indiferença ou a arrogância face à pobreza é ostensiva. E surgem «A pobre engomadeira», que talvez se vá «deitar sem ceia», ou o «servente de pedreiro» que cai dos andaimes de um prédio e de cuja situação brutal poucos se apiedam, ou «o seu velho professor nas aulas de latim!» que «nas esquinas, calvo, eterno, sem repouso, / Pede […] sempre esmola (…)», ou «uma rapariga», «rota, pequenina, azafamada» carregada com a «sua giga», ou os «homens de carga», como «bestas curvadas», ou «as varinas», «descalças! nas descargas de carvão,/desde manhã à noite, a bordo das fragatas» ou ainda «os cavadores» que «descansam as enxadas,/e cospem nas calosas mãos gretadas». Nesse povo, «no pano cru rasgado das camisas», vislumbra o poeta «uma bandeira […] que transluz!», mensagem que anuncia a urgência da revolução republicana, justifi cada pela violência com que «a guarda» «espanca o povo». «No palácio real» tem lugar um «festim devasso» onde soam «gargalhadas» e «taças empinadas» em redor do «herói da monarquia», «pálido e embriagado», enquanto «desmaiavam na rua, à fome, os Jobs, os pobres». Juntamente com o poeta deixamo-nos envolver no bulício quotidiano da cidade, observando «os calceteiros», «de cócoras», que «calçam de lado a lado a longa rua», «as varinas», «sacudindo as ancas opulentas», «os calafates», «aos magotes», «os mestres carpinteiros», «saltando de viga em viga», «os lojistas» enfadados «às portas», «as costureiras» e «as fl oristas» que «descem dos magasins», «as burguesinhas do catolicismo», numa infi nidade de personagens que representam, no seu palco habitual, a vida lisboeta. E passamos ainda por «barracões de gente pobrezita» e por «uns quintalórios velhos com parreiras», contrastando com uma «casa apalaçada» e «jardins», «num bairro moderno», com «larga rua macadamizada» e onde a «vida é fácil». Com a poesia de Cesário se alertam os nossos sentidos em euforia sinestésica através de aromas vindos dos «fumos de cozinha», do «cheiro da hortelã» e do pão quente, ou do pregão do leiteiro e «das vozes das crianças», ou ainda das cores vivas e das formas deslumbrantes dos frutos e dos legumes, «retalho de horta aglomerada» na giga de uma rapariga, que sob o olhar impressionista do poeta se metamorfoseiam. Cesário ensinou-nos a olhar com alma, um olhar sem pressa que agarra e observa com atenção e imaginação,

A mim o que me rodeia é o que me preocupa.

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para as casas,/E o modo como reparava nas ruas,/E a maneira como dava pelas coisas,/É o de quem olha para árvores,/E de quem desce os olhos pela estrada por onde vai andando/E anda a reparar nas fl ores que há pelos campos…»

descrevendo o ambiente da cidade, em estreito envolvimento com os outros sentidos. Por isso Alberto Caeiro, de quem o poeta foi «mestre», escreveu: Leio até me arderem os olhos/O livro de Cesário Verde// […] Ele era um camponês/Que andava preso em liberdade pela cidade,/Mas o modo como olhava

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183Espécimes que continham em si pequenos segredos transportados de geração em geração, de convento em convento, através dos séculos; e que hoje constituem em apreciável património de cozinha portuguesa. Arte requintada, de reis, nobreza e prelados; arte dos ovos, açúcar e especiarias, com os seus sabores especiais e o seu custo elevado. Todavia, a doçaria é uma arte típica e variável de região para região, cujas diferenças são impostas pela história e pela geografi a. É a invasão estrangeira, e é o convívio social, levando ao cruzamento de culturas; mas é também a diversidade de produtos naturais, permitindo diferentes experiências e combinações, que conduzem à descoberta de novas receitas.

3 – No mundo da cultura, a cozinha encontra hoje um lugar de relevo, não só pelas suas conotações sociais, mas também por nelas se manterem traços peculiares identifi cadores de grupos; além disso, com a cozinha se ligam as novas técnicas, as ciências, a superstição, a medicina e, sobretudo, a pesquisa relativa às tradições. Foi precisamente neste domínio que as alcomonias despertaram a nossa curiosidade. Em primeiro lugar porque o nome nos remete imediatamente para a história: as palavras começadas por al-, de origem árabe, falam-nos da presença destes povos em terras da Península Ibérica, infl uências da sua cultura, reminiscências até aos nossos dias…

AS ALCOMONIAS

REMINISCÊNCIAS ÁRABES NA DOÇARIA PORTUGUESA

Maria da Conceição Vilhena*

1 – Falar de alcomonias é penetrar no mundo das nossas origens, recordando culturas que se cruzaram com a nossa; falar de alcomonias é informar o resto do país de uma tradição dele quase desconhecida, que se manteve escondida num lugarzinho do litoral alentejano. Reminiscências de uma prática doceira que aí conseguiu não só conservar a sua especifi cidade, como manter ainda hoje uma surpreendente vitalidade. Um toque especial de sabor mourisco, sem requintes de exibicionismos, só marcas de antiguidade. Sabores da tradição, de origem caseira, de confecção limitada, no tempo e no espaço: sazonal e regional. Um elemento histórico e cultural que encerra segredos da sabedoria feminina árabe e alentejana, a não deixar morrer.

2 – Fala-se frequentemente das tradições da doçaria portuguesa, mergulhando as suas raízes na gastronomia conventual. São os papos de anjo, o toucinho e queijinhos do céu, suspiros, barrigas e maminhas de freira, pitos de Santa Luzia, pastéis de Santa Clara, talhadas de Santa Teresa…

* Licenciada em Filologia Românica, pela Faculdade de Letras de Lisboa, 1965. Doutoramento de Estado ès-Lettres, pela Sorbonne, Paris, 1975; Professora Catedrática. Leccionou na Universidade de Aix-en-Provence, França; na Universidade dos Açores; na Universidade Aberta de Lisboa e na Universidade da Ásia Oriental, em Macau. Tem publicado perto de cento e cinquenta trabalhos (livros e artigos) sobre literatura, linguística, etnografi a e história. Actualmente é aposentada e Presidente Honorária e Vitalícia da Associação de Solidariedade dos Professores.

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rosa, azul claro), artisticamente recortados, com abertos, a imitar rendas de variados feitios. Guarnecidos por vistosas franjas de papel frisado, neles se dispunham cuidadosamente esses losangos doces, ao lado de rebuçados da mesma massa, envolvidos em igual papel de seda. Ao lado de cada mulher, uma cestinha vermelha, com duas asas, onde se encontrava o grosso da mercadoria, para o preenchimento das vagas nos tabuleiros: “Vá lá, freguês, venha às alcomonias, olhe que são boas a baratas”. Era uma indústria caseira que fazia a delícia dos forasteiros; que continua a ser hoje confeccionada e vendida na feira de Santo André, a 30 de Novembro, segundo a tradição, tendo como única modernização o facto de a sua venda ser feita,

E demais conhecemos as alcomonias desde a nossa infância, como algo de raro e único, vendidas apenas uma vez por ano e apenas num lugar, onde só a feira anual atraía as gentes dos arredores: no Baixo Alentejo, próximo de Santiago do Cacém, mais precisamente na aldeia de Santo André. Trata-se de um doce de recomendável memória, alheio a salvas de prata e luxos exuberantes. Era preparado pelas mulheres da aldeia, na altura da feira; e ainda estou a vê-las sentadas alinhadas, de um e de outro lado da rua que descia a partir da igreja. Gente simples, do campo, analfabeta frequentemente, mas que se impunha pela sua correcção e asseio. Lenço fl orido na cabeça, avental claro com folhos e rendas; e, sobre os joelhos, tabuleiros, açafates, forrados de panos branquinhos ou naperons de papel de seda (branco,

Alcomonias.

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o cominho, o qual em árabe se dizia Kammûn, termo derivado de grego. A sílaba al- é, obviamente, o artigo árabe, que os povos da Península consideravam como fazendo parte do substantivo, e que se encontra nas várias centenas de palavras de origem árabe, tal como almofada, alface, alvará, alcatifa, alcatrão, almude, Alcácer… Temos, pois, a seguinte evolução: Al + Kammunîya> alcominia, alcamonia, alcomenia… No primeiro documento do séc. XV, a forma assinalada é alcominia; mas, no século seguinte, já se encontram outras formas. O cominho, de que deriva a palavra alcomonia, é uma planta de cor parda, umbelífera, cujos grãos, aromáticos e de sabor acre, são utilizados na medicina e na cozinha. Pelas suas infl orescências, em forma de umbela, e pelo seu odor, o caminho assemelha-se às plantas do aniz e do funcho. È originária e cultivada no Mediterrâneo Oriental.

7 – Passemos agora em revista os mais antigos livros de cozinha portugueses, a fi m de verifi carmos em que medida está representada a doçaria árabe. No Livro de Cozinha de D. Maria, de meados do séc. XVI, encontramos as almojávenas e as alféloas. Os cominhos entram apenas na receita da “desfeita da galinha”, juntamente com pimenta, cravo e açafrão; e, por cima, canela. Mestre Domingos Rodrigues, autor da Arte de Cozinha (1683), declara que a maior parte das suas receitas são tradicionais, de infl uência árabe, e constituem um incentivo à gula. Emprega abundância de amêndoas, canela, cravo, mel… Porém, com designações árabes, encontramos apenas as almônjavas, de requeijão, com ovos e açúcar, feitas num tacho, como sucedia com as alcomonias. Posterior de um século à Arte Nova para Confeiteiros…(1788). Tem um número grande de receitas, de entre as quais destacamos, como de origem árabe, as almonjávonas de ovos-moles e os canudos de alfi tetes (aletria). De notar que há muitos outros doces em cuja preparação entram condimentos orientais: cravo, canela, gergelim, erva-doce, gengibre, benjoim, almíscar, âmbar, esturaque, algalia, etc.Nestes livros fi guram termos como albardado, alcachofra, almôndegas, alumedas, que nos remetem para a cozinha árabe. Todavia, por mais estranho que pareça, em nenhum

actualmente, também noutras datas e já em pastelarias da redondeza.

4 – Santo André é uma pequena aldeia do Concelho de Santiago do Cacém, distrito de Setúbal e diocese de Beja. Fica situada a uns escassos quilómetros do Atlântico, bem próxima da lagoa do mesmo nome, e domina a extensa praia que vai de Tróia a Sines. Existe hoje, na sua vizinhança, a Vila Nova de Santo André, que, como o próprio nome indica, é uma vila fundada recentemente e com rapidez, haverá duas a três dezenas de anos, para aí se alojarem as pessoas necessárias à construção do complexo industrial de Sines. Esta moderna povoação não tem qualquer semelhança com a pequena e antiga aldeia de Santo André, de casinhas baixas, de telhado vermelho e paredes brancas, com barras azuis. À porta, um canteiro com fl ores, frequentemente perfumadas pela presença de plantas odoríferas: alecrim, hortelã, orégãos, cidreira, poejos, funcho, mentrastos, estevas… Ao redor, o montado e o pinhal, com os seus enormes pinheiros mansos, carregados de pinhas, de onde todos os anos, pela acção do calor da fogueira, se tiram os pinhões.

5 – Pesquisando em dicionários, encontrámos esta palavra registada com algumas variantes: além da forma alcomonia, fi guram alquemonia, alcamonia, alcamuniá, alcomenia, alcominia e acamonia, todas elas com igual conteúdo semântico. O Vocabulário de Bluteau, de 1721 (suplemento), regista a forma alcomonia e a sua variante acamonia, como vocábulos utilizados no Minho, com signifi cado de doçaria preparada com mel. Somos assim levados a crer que as alcomonias terão sido, em tempos recuados, um doce que não se confi nava apenas às regiões do Alentejo. António de Morais Silva (1756-1824) na edição do seu dicionário de 1818, diz ser a alcomonia uma “massa feita de melaço com farinha e gengibre ou outra especiaria”; e informa que, no Brasil, essa massa é feita com mandioca.

6 – Segundo Corominas, o vocábulo alcomonia já se encontra registado em documentos do séc. XV, para designar um bolo ou doce romboidal, composto por linhaça, cominho ou gergelim e mel, de origem judaico-espanhol-marroquina. Vem do árabe Kammunîya, com o signifi cado de perecido com

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Para quem não estiver familiarizado com o vocabulário, informamos que o rolão é uma farinha de trigo escura, feita do episperma e perisperma da semente do trigo. Obtém-se, passando a farinha de trigo com farelo por uma peneira de malhas largas. O rolão é também utilizado no fabrico do “pão de rala”. Como acabamos de ver, as alcomonias são um doce modesto, de fácil confecção e sabor discreto, acessível às bolsas menos providas e alheio a pretensiosos requintes gastronómicos; portanto indigno de fi gurar em mesas dos reis ou da nobreza. Tão modesto que podia ser adquirido por módica quantia, na feira anual de Santo André, em 30 de Novembro. Com a sua forma geométrica, tipicamente árabe, diferente, inconfundível, as alcomonias constituíam uma das grandes atracções dessa feira, por a sua venda se restringir apenas a esse lugar e só nessa data. Ouvimos dizer muitas vezes, às pessoas das redondezas, sobretudo de Santiago do Cacém, que iam à feira de Santo André expressamente para comprar alcomonias. É um doce sólido, nutritivo, saboroso, de longa duração, em razão dos ingredientes que entram na sua composição. De doçura suave, as alcomonias não molestarão gravemente, por certo, nem os diabéticos nem os obesos. Sem qualquer tipo de gordura, poderão ser saboreados tranquilamente por todos aqueles que têm um colesterol elevado. Nem ovos, nem álcool, pelo que não perturbarão os fígados mais delicados. Não sendo sujeitos a frituras, as alcomonias poderão certamente acomodar-se à maior parte das dietas. Numa tentativa de descrição das alcomonias, poderemos dizer ainda que nelas tudo é delicadeza, harmonia e equilíbrio: de proporções, sabor, forma. O seu sabor moderado e cheiro suave fazem-nos recordar Cesário Verde, a cantar o “Cheiro honesto” do pão; permitimo-nos então louvar igualmente o “cheiro tímido e discreto” das alcomonias. Planas, como a planície alentejana que as protegeu do esquecimento. Morenas, como as mulheres meridionais que as confeccionam.

9 – Vimos, pois, que a alcomonia é uma arte de confecção árabe; e não só foi adoptada pela cozinha portuguesa, como acompanhou aqueles que levaram a nossa cultura para terras longínquas. No Brasil, as alcomonias eram confeccionadas com farinha de mandioca, segundo informações dos séc. XVII e XIX. Além das alcomonias, faziam igualmente parte da confeitaria

deles fi gura a receita das alcomonias. Se ainda hoje são confeccionadas e apreciadas, porque não seriam referenciadas? Refl ectindo um pouco sobre a sua composição, as razões desta ausência parecem-nos evidentes. É que as colectâneas de receitas destinavam-se à cozinha dos grandes senhores, onde a doçaria constituía uma arte requintada e dispendiosa. Era a arte de combinar sabores, associada a uma estética de apresentação. Ora a alcomonia é um doce modesto e tímido perante o sofi sticado da pastelaria ofi cial, ostensiva nos seus cremes, cores e formas caprichosas.

8 – Do que se precisa para fazer as alcomonias?Nos modernos livros de cozinha, só Manuel Fialho, em Cozinha Regional do Alentejo (sla, 1989 ?) nos dá a composição deste doce. Até Maria de Lurdes Modesto, na Grande Enciclopédia da Cozinha ignora as alcomonias, apesar de se referir aos cominhos. Mais surpreendente é ainda a ausência das alcomonias no catálogo da Exposição de Doçaria Alentejana, realizada em Évora, em 1938. Nem tão pouco Castro e Brito, na sua obra A Doçaria de Beja na Tradição Provincial (Apontamentos de Etnografi a, Lisboa 1946) se refere a esta arte culinária alentejana. E, numa data próxima da nossa, 1991, Mathilde Guimarães, em Comeres Alentejanos, ignora igualmente a existência das alcomonias. Segundo Miguel Fialho, é esta a receita das alcomonias:

- Composição: 1 litro de mel, 1 litro de pinhão torrado, 2 litros de rolão torrado, 1 dl. de água, canela

- Preparação: “Leva-se o mel ao lume, com uma colher de chá de canela mexendo sempre. Quando levantar fervura, deita-se a água e em seguida os pinhões, deixando novamente levantar fervura. Junta-se o rolão e mexe-se o preparo até ferver. Retira-se do lume e tende-se numa tábua ou mesa, com farinha, cortando-se em feitio de losangos. Não se deve deixar arrefecer para os pinhões não caírem”.

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O facto de se lhes exigir um imposto sobre a cera e o mel, revela-nos o quanto se dedicavam à apicultura; e, como a vida lhes era difícil, eram preparadas pelas doceiras de Santo André. Aliás em Portugal havia antigamente abundância de abelhas, pois no séc. XIII exportava-se mel e cera para a Flandres. Diga-se de passagem que o mel fora, nos primeiros séculos da nossa nacionalidade, o único adoçante ao alcance das pessoas pobres ou remediadas. Como podemos ver pelos Inventários e Contas da Casa de D. Dinis (1278-1282), o açúcar, que se importava então de Alexandria, custava mais de 50 vezes o preço do mel. Era, pois, um produto só acessível aos reis e à nobreza; e assim continuou até ao séc. XVI, altura em que se começará a cultivar, na Malveira, a cana sacarina.A propósito do mel, parece-nos oportuna a evocação de um pequeno livro árabe, do séc. XV, intitulado Livro de uma Guerra entre o Rei Carneiro e o Rei Mel. Trata-se de uma paródia sociológica, que tem como tema a culinária. O Rei Carneiro é um rei poderoso; e representa a carne, alimento exclusivo de ricos. Em contrapartida, o Rei Mel foi posto no poder pelos pobres; e os seus súbditos são os legumes, as frutas, os doces, o peixe, o leite… O Primeiro, pretendendo a vassalagem do segundo, consegue corromper os seus servos e vence-o. Finalidade da estória: ridicularizar os camponeses e exaltar os poderosos, com a intenção de exortar à imitação da dispendiosa e requintada cozinha citadina. Segundo o autor, o consumo ostensivo em quantidade e qualidade era uma das marcas de superioridade e distinção entre o nobre e o vilão.De acordo com tal critério, as alcomonias pertenciam, sem dúvida, ao humilde Reino do Mel. Aliás a carne e o açúcar sempre caracterizavam a “mesa do príncipe” e seus próximos. Ao lermos este pequeno livro árabe, não podemos deixar de recordar aquelas paródias que, entre nós, europeus, criticavam o preceito quaresmal da abstinência, em razão da superioridade alimentar da carne. Na literatura francesa, conserva-se um poema do séc. XIII, La bataille de Carême et de Charnage; e, na literatura espanhola, fi cou célebre o Livro de Buen Amor, do Arcipreste de Hita (1283-1350), onde se encontram os versos da luta entre a “galinha e a sardinha”. É evidente que a primeira saiu facilmente vencedora. No Wusla, o mais antigo e notável livro de cozinha árabe, faz-se largo uso de amêndoas piladas, nozes, avelãs, uvas

brasileira outro doces de origem árabe, tal como o alfenim e o alfeolo, este com as variantes de alfelô e afl ô. Em Angra do Heroísmo (ilha Terceira, Açores), o alfenim constitui actualmente uma das especialidades locais. Desenraizado da sua origem, o alfenim esqueceu a tendência antizoomórfi ca da arte árabe, e a massa de açúcar branca toma aí a forma de lindas esculturazinhas de animais, fl ores ou frutos. Em Beja, ainda há pouco tempo se confeccionava o doce de alcorça, uma massa de amêndoa e açúcar, envolvida em açúcar, amido e alcatira. A profusão de palavras de origem árabe testemunham do apreço em que era tida a doçaria mourisca, como se integrou na nossa cozinha e como permaneceu até aos nossos dias.Sofi a de Sousa, em Real Confeiteiro Português e Brasileiro, dá a receita de alcaçuz em rolos, cozidos e estendidos em tábuas, como as alcomonias. Em tempos passados, vendia-se pelas ruas a alféloa, pasta de melaço (mais tarde de açúcar) que era a tentação dos meninos. Segundo as Ordenações Manuelinas, só as mulheres podiam dedicar-se a essa venda; os homens eram proibidos de o fazer, incorrendo na pena de serem açoitados, se transgredissem a lei. Mais tarde, pelas Ordenações Filipinas, foi estabelecido que a alféloa passaria a ser vendida só nas boticas. A alféloa já é referida por Fernão Lopes, em Crónica de D. João I, fi gura no Livro de Cozinha de D. Maria, mas desaparece nos seguintes, ao contrário do alfenim, seu congénere, que chegou até aos nossos dias.

10 – A infi ltração de mouros na sociedade peninsular verifi cou-se desde o início da reconquista cristã. Muitos serviam como escravos, mas havia-os também forros ou livres. Com D. Afonso Henriques, passaram a usufruir de uma relativa liberdade, podendo viver de acordo com os seus costumes. Depois de terminada a reconquista portuguesa, em 1249, continuaram a existir várias comunidades de mouros, sobretudo no Algarve e no Alentejo. Tinham uma vida difícil (daí a expressão “trabalhar como um mouro”), mas, como o seu nível cultural era superior ao dos portugueses, foi grande o infl uxo da cultura muçulmana na nossa sociedade; e muitas marcas dessa infi ltração sobreviveram até aos nossos dias, embora, a partir do séc. XVII, não mais se falar deles como gente à parte.

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XVII se vai desenvolver, até ao Séc. XVI os bolos pobres mais generalizados eram feitos à base de mel, farinha e especiarias, e chamavam-se fartéis. Eram portanto no género das alcomonias, sem ovos e sem gorduras. Além disso, por falta de fogão ou forno e de formas, os fartéis eram cozidos no tacho, sobre o fogo, como as alcomonias. Arnaldo Bordado, autor do Manual do Confeiteiro e Pasteleiro (princípio do séc. XX), estava convencido de ter incluído tudo na sua obra, “desde o mais simples biscoito até ao mais complicado produto de pastelaria e confeitaria”, tantas foram as pesquisas feitas; porém, não estava aí tudo – porque Arnaldo Bordalo havia omitido, pelo menos, as alcomonias.

12 – Este doce único pela sua composição e sabor peculiares, de elaboração caseira e custo acessível a todas as bolsas, é, pois, uma marca da cozinha mourisca, que sobrevive desde há alguns séculos na pequena aldeia de Santo André, cujos habitantes hoje se orgulham do tesouro cultural aí conservado; e que não corre o risco de desaparecer facilmente, por usar na sua composição produtos abundantes na própria região: farinha de trigo, mel e pinhões. Em dicionários castelhanos actuais, a palavra alcomonia perdeu o seu sentido inicial, ligado à doçaria, e é defi nida como nome genérico de sementes utilizadas em condimentos, no sul de Espanha, tais como o cominho, o anis, o funcho, a mostarda ou a erva doce. Sebastian Covarrubias considera o termo alcomenías como um nome típico da região de Toledo, onde os cominhos são largamente utilizados em cozidos e guisados ao gosto mourisco; por esse motivo, ainda hoje se chama alcomenías ou comenías à feira de Toledo, onde se vendem sementes, não só os cominhos, mas todo o género de sementes utilizadas na confecção de variados pratos. Revelaram-se infrutíferas as pesquisas que efectuamos no sul de Espanha, no Alentejo e no Algarve. Não encontramos ninguém que conheça as alcomonias. Ficamos assim com a convicção de que Santo André constitui uma minúscula bolsa reminiscente da cultura gastronómica dos mouros.

secas e muitos condimentos. Os doces levam sêmola, farinha torrada, mel ou açúcar. Este, apesar de cultivado nos países árabes, era bastante mais caro que o mel e só usado na cidade. O camponês ainda hoje não o consome, continuando a adoçar com mel, como aproveitamento de recursos locais.Cá mais longe, em Santo André, continua-se também a recusar a complexidade principesca, dando preferência à simplicidade dos campos e aos produtos da região.

11 – Voltemos ainda à receita das alcomonias, fornecida por Manuel Fialho, para fazer notar a ausência do ingrediente que lhe deu o nome – os cominhos, certamente por esta especiaria ter deixado de poder ser adquirida naquela zona. Houve um desgaste semântico e o vocábulo independentizou-se do componente especial, a partir do qual se havia formado. Trata-se afi nal de um fenómeno linguístico muito frequente, de que podemos dar-nos conta, se atentarmos em expressões como “embarcar no avião”, “ir a cavalo num burro” ou “marmelada de pêssego”. As alcomonias que hoje comemos não têm já qualquer relação com os cominhos que lhes deram o nome, simplesmente porque estes não entram mais na sua confecção; e certamente por, depois dos mouros terem partido, ser difícil a aquisição deste produto. Bem antes do “trato da índia”, já em Portugal se fazia largo uso das especiarias (cominhos, pimenta, açafrão…) cujo abastecimento era assegurado por mouros. Nas contas de D. Dinis, há referências à portagem que pagavam, em Beja, a pimenta e os cominhos. Foi sem dúvida por esta difi culdade em os adquirir que as alcomonias deixaram de os ter incorporados na sua composição. Referimo-nos atrás à infl uência da geografi a nas variedades culinárias, pelas espécies vegetais diferentes que põe à disposição do consumidor. É óbvio que, se os cominhos pagavam portagem para entrar em Beja, é porque a região os não possuía. Nos livros de cozinha mais antigos, não encontrámos qualquer receita que levasse pinhões; em contrapartida abundam as nozes e, sobretudo, as amêndoas. Ora Santo André encontra-se numa região de grandes pinhais, o que terá levado a doceira à utilização de pinhões, produto que tinha ali à mão, que colhia gratuitamente, sem necessidade de quaisquer gastos. Como a indústria nacional do açúcar só a partir do séc.

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189 Levantamento da Realidade do Associativismo Cultural no Concelho de S. M. da Feira

PROJECTO ASSOCIAR

António Ferreira Pinto*

NOTA PRÉVIA

Este trabalho enquadra-se no âmbito do Projecto Associar – Incentivo à Inovação e ao Desenvolvimento Associativo – promovido pela Federação das Colectividades de Cultura e Recreio do Concelho de Santa Maria da Feira em parceria com a Câmara Municipal e consiste na caracterização da realidade actual do associativismo cultural feirense. O método utilizado foi a recolha de informação junto dos dirigentes associativos por entrevista presencial e consulta documental. Para o enquadramento geral do associativismo local separámos os diversos tipos de associações pela sua natureza e pela sua especifi cidade.

Assim, dividimos o movimento associativo em três grupos naturais e enquadrámos as associações culturais no conjunto das associações de raiz popular: associações que resultam da vontade de organização de populares para satisfação das suas necessidades. Nos casos das organizações polivalentes - com actividades de cultura, desporto, recreio, benefi cência ou outras - tivemos em consideração a sua actividade principal.

*Técnico de segurança e da qualidade na construção, autor, actor e encenador de teatro, músico e dirigente associativo.

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Feira Norte – onde se integraram nove freguesias:

Feira Nordeste – onde se integraram nove freguesias:

O Concelho da Feira foi dividido em 4 agrupamentos de freguesias:

Feira Centro – onde se integraram cinco freguesias:

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191 No âmbito da Cultura e Recreio foram referenciadas inicialmente 100 associações, número esse que foi posteriormente corrigido para 133 de acordo com o relatório das associações reconhecidas pelo Município de Santa Maria da Feira para efeitos de apoio a actividades culturais. No entanto, ao longo do levantamento, deparámo-nos com associações que não se enquadravam no âmbito do associativismo cultural ou não tinham actividade. Resultaram apenas 89 associações com actividade confi rmada. Foram consideradas apenas as colectividades em que a cultura fosse actividade principal, que estivessem em funcionamento e que preenchessem os requisitos pré-defi nidos:

• Legitimidade administrativa; • Movimento associativo; • Actividade social.

Foram igualmente enumerados alguns dos valores essenciais a ter em conta para distinguir as associações de raiz popular:

• Independência e autonomia na acção; • Gestão democrática; • Adesão voluntária e livre; • Utilidade pública; • Voluntariado.

Feira Sul – onde se integraram oito freguesias:

Não foram consideradas algumas associações por falta de enquadramento em alguns dos valores fundamentais, como o da autonomia, e por não prosseguirem “os seus fi ns sem interferência das autoridades…” (Constituição da República Portuguesa), no caso concreto de agrupamentos de escuteiros, gabinetes de juventude e associações de desenvolvimento local.

Este levantamento incidiu ainda sobre cinco áreas específi cas:

Contexto Histórico: Fundação; Actividade anual: existência de actividade - oferta de modalidades - quantidade de horas de actividade; Quantidade e qualidade dos participantes: directores - pessoal contratado – utentes – associados - estimativa de espectadores; Recursos: quantidade e valor de bens móveis e imóveis; Orçamento: Valor anual da despesa da actividade e a percentagem de receitas próprias.

Para referenciar o enquadramento histórico do associativismo feirense tivemos em consideração os seguintes períodos: Monarquia; Período republicano; Do 25 de Abril até fi nal dos anos 80; Posteriores aos anos 90 até ao presente. Os valores foram comparados por agrupamento de freguesias para uma melhor análise das assimetrias regionais.

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O Concelho de Santa Maria da Feira, segundo os números do INE, registou um crescimento da população de 9,2% em 2009, registando um aumento de 1.043 habitantes entre Janeiro e Dezembro, o que elevou o total da população para os 148.449 habitantes no fi nal do ano. Apesar destes dados serem provisórios devido à incerteza dos saldos migratórios, tal como refere o próprio Instituto

O levantamento teve como referência o ano 2009.

I – CARATERIZAÇÃO GERAL

Geografi a do Concelho de Santa Maria da Feira

Nacional de Estatística, estes são os números ofi ciais do total da população das 31 freguesias que constituem o Concelho de Santa Maria da Feira. O concelho tem uma área de 211 Km2 e a densidade demográfi ca é de 703 habitantes por Km2, o dobro do distrito de Aveiro e o quíntuplo da média nacional.

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ASSOCIAÇÕES BENEFICENTES: 12 Associações de produtores e Cooperativas 48 IPSS; 8 Associações de desenvolvimento; 4 Associações de socorro SOMA – 72 TOTAL – 401 Organizações Associativas

No conjunto das três áreas de desenvolvimento associativo verifi ca-se um maior equilíbrio nas organizações populares. Nas organizações proteccionistas há uma proliferação muito grande de associações de pais. Nas organizações benefi centes há uma maior expressão de associações humanitárias: IPSS e associações socorristas.

Associativismo

Associações por área e actividade:

ASSOCIAÇÕES POPULARES: 89 Associações culturais; 53 Associações desportivas – diversas modalidades; 31 Clubes de Futebol; 51 Associações recreativas. SOMA – 224

ASSOCIAÇÕES PROTECCIONISTAS: 2 Sindicatos; 3 Associações patronais; 100 Associações de pais. SOMA – 105

NOTA: Porque não foram objecto deste estudo, estes números têm apenas um carácter de contextualização e foram recolhidos com base em informações não confi rmadas, pelo que podem estar incorrectos ou desactualizados.

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NOTA: Existem outras associações que podem realizar actividades culturais, mas porque a principal actividade é desportiva, não tiveram enquadramento neste estudo, com foi anteriormente referido.

Tal como tem sido referido, há uma ampla e diversifi cada oferta cultural com diversas associações em cada freguesia e em quase todo o concelho. O Sul regista apenas uma freguesia – Sanfi ns – em que não foi registada qualquer associação especifi camente cultural. O Nordeste apresenta o pior resultado com quatro freguesias a apresentarem défi ce de oferta cultural devido à inexistência de associativismo cultural nessa área: Vila Maior; Gião; Louredo e Pigeiros.

Implantação e oferta cultural das associações

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onde se exercem e reclamam direitos: à cultura, ao desporto, ao lazer, ao protesto, à indignação…” (Dr. José Malheiro).

em “Terra de Santa Maria” - Banda de Música de Santiago de Riba-Ul em Oliveira de Azeméis - fundada em 1772. Em 1803 foi fundada a Banda dos Bombeiros Voluntários de Arrifana, a Sociedade da Banda Musical do Souto surge mais tarde, em 1849, o Grupo Musical Estrela de Argoncilhe em 1877 e a Tuna Musical Mozelense em 1890. Com fundação no período que compreendeu a primeira República até ao 25 de Abril existem em actividade 17 associações. Após a euforia associativa na 1ª Republica em que as organizações populares tiveram um maior incremento, contribuindo decisivamente para o processo de alfabetização e instrução escolar através das “Sociedades Populares de Educação e Recreio”, o movimento associativo foi limitado pelo regime salazarista do “Estado Novo” às vertentes proteccionistas e benefi centes e tudo tinha de ser homologado pelo governo desde a constituição das associações à designação dos seus órgãos sociais. Apesar destes constrangimentos, o associativismo resistiu e continuou implantado em muitas freguesias do concelho onde muitos homens e mulheres se “refugiaram” para cultivar a liberdade, a democracia e a cidadania.

II – ENQUADRAMENTO HISTÓRICO

Breve refl exão histórica

O associativismo surge na “Terra de Santa Maria” tal como na Europa na sequência da revolução industrial com momento mais expressivo na Revolução Francesa (1789-1793) sob o lema da “Liberdade, Igualdade, Fraternidade”. Este novo pensamento revolucionário chegou até nós em consequência da ausência de autoridade devido à retirada da corte para o Brasil causada pelas invasões francesas (1807-1811) e da pobreza generalizada que deu sentido às reclamações de justiça e aos apelos de unidade e solidariedade dos oprimidos para a construção de alternativas. Com a revolução liberal de 1820 esta consciência de necessidade de organização foi amplamente difundida e deu origem ao aparecimento de associações de socorro mútuo na doença, sociedades cooperativas de consumo e produção, caixas de crédito, associações de instrução popular e sociedades fi larmónicas... Pelo que é conhecido actualmente a mais antiga associa--ção cultural de Portugal ainda em actividade está sedeada

A maioria das associações actuais surgiram depois do 25 de Abril com o forte apoio dos institutos públicos e das autarquias locais. Passaram a ser “espaços de realização,

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O Norte liderou o surgimento de colectividades nos diversos períodos, com excepção das últimas duas décadas em que recuou para último lugar devido à cessação de actividade de 8 associações com constituição recente nesta região.

Como se pode verifi car, as associações com origem no período monárquico só sobreviveram na periferia do concelho: nos extremos norte e sul. Na proximidade do centro as associações revelaram-se mais permeáveis às infl uências do poder e são, por isso, mais contemporâneas.

O associativismo hoje caracteriza-se por ser um importante sector económico e social que movimenta cerca de 400 milhões de euros e é responsável por 30 mil postos de trabalho em todo o país.

A data da fundação

Período de origem das associações:

NOTA: Só foram consideradas neste levantamento as associações em actividade.

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As associações que cessaram actividade foram aquelas que se constituíram recentemente. Muitas dessas associações defi nharam por falta de viabilidade de projecto, por falta de apoios ou por crises de liderança.

• SEM ENQUADRAMENTO: • 5 Associações foram referenciadas como desportivas; • 5 Associações foram referenciadas como recreativas; • 1 Foi objecto de incorporação noutra instituição; • 8 Foram referenciadas como associações de desenvolvimento local; • 4 Foram referenciadas como IPSS; • 3 Foram referenciadas como socorro e benefi cência; • 3 Foram referenciadas sem enquadramento por falta de autonomia.• SEM ACTIVIDADE: • 12 Sem participação associativa, sem legitimidade administrativa e sem actividade social.

III – ACTIVIDADES

Associações com e sem actividade regular

Distribuindo as associações por regiões e comparando as que têm actividade com as que deixaram de a ter, nos últimos dez anos a actividade associativa reduziu de 130 para 89 associações com actividade comprovada.

A redução destas 41 associações na lista que esteve na base deste estudo deve-se às seguintes razões:

NOTA: Foi constatado que a consolidação e a maturidade das associações é um importante factor de sobrevivência.

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O Norte lidera a oferta de oportunidades de participação associativa com um número de 210 modalidades em funcionamento.

Horas de funcionamento

O Sul do concelho, como se pode ver, fi cou em último lugar no número de colectividades em funcionamento, mas é no Nordeste da Feira que se verifi ca o maior défi ce de oferta de modalidades.

Oferta de actividades

O Norte lidera o panorama associativo cultural com 33 associações.

O Centro e o Norte do concelho concentram o maior número de horas de actividade:

O Centro 42% O Norte 39% O Sul 13% O Nordeste 6%

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199 Movimento associativo

Entre dirigentes, pessoal técnico, utentes e participantes activos nas actividades registou-se um movimento de 25.071 pessoas, cerca de 17% da população do concelho. Em algumas freguesias do norte e centro do concelho o movimento associativo pode movimentar mais de 25% da população.

A participação do associativismo cultural em todo o concelho tem actualmente a seguinte expressão:

IV – PARTICIPAÇÃO

Participação associativa

O índice de participação associativa é mais forte no Norte: entre directores, funcionários e utentes foram contabilizadas 10.884 pessoas envolvidas.

Movimento associativo por agrupamento de freguesias:

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Em quantidade de espaços, mobiliário, instrumentos, viaturas e equipamentos diversos foram contabilizadas 30.929 unidades. O valor patrimonial do associativismo cultural foi contabilizado em 13.826.350 Euros, com a seguinte expressão:

V – RECURSOS

Quantidade de recursos e valor patrimonial

Entre bens móveis e imóveis o associativismo cultural é titular de um riquíssimo património material para não falar do património imaterial que é, como todos sabemos, de valor incalculável.

O património das associações culturais ultrapassa a signifi cativa quantia de treze milhões e oitocentos mil euros, cerca de metade desse património está concentrado no Norte com diversos imóveis em cada freguesia.

Revela-se a escassez de recursos no centro da Feira onde é notória a falta de instalações e equipamentos em relação à quantidade de associações e oferta de modalidades.

Análise comparativa entre associações, actividades e recursos:

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• Baixo – Por existirem apenas bens de desgaste rápido; • Médio – Para as situações onde existem equipamento e meios técnicos; • Alto – Para as associações com bens, equipamentos e instalações próprias.

Análise geral da qualidade dos equipamentos

Recursos

Para analisar o potencial associativo ao nível dos recursos das associações classifi camos as suas situações a três níveis:

A maioria das associações classifi cou-se na posição média e alta, com valores muito equilibrados. As associações classifi cadas no nível baixo são associações recentemente constituídas e com pequena dimensão. Estas associações devem merecer uma atenção especial por parte das organizações federativas e das autarquias que lhes permitam potenciar o seu desenvolvimento, se representarem projectos inovadores, ou foram ajudadas a evoluir na capacidade de estabelecer parcerias, ou mesmo, em alguns casos especiais, estudar soluções de agrupamento ou incorporação noutras organizações.

Instalações próprias

As condições de funcionamento foram também analisadas:

• Sem instalações • Instalações cedidas • Instalações próprias

Também ao nível das condições de funcionamento a posição maioritária situa-se ao nível médio e alto, com 23

associações em situação de risco.

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Nos gráfi cos que a seguir se apresentam podemos comparar a repartição do “bolo” fi nanceiro e a percentagem de receitas próprias e provenientes de subsídios.

Total de despesa anual:

VI – IMPACTO ECONÓMICO

Orçamento anual

As despesas de funcionamento e os custos das actividades têm impacto directo na economia local.

O valor total das despesas das associações culturais foi calculado em 4.016.550 Euros, com as duas maiores “fatias” para Norte e Centro com 40 e 41 por cento do valor total.

Proveniência da receita anual:

O valor médio dos subsídios recebidos pelas associações rondou os 16%. Calcula-se, como foi demonstrado, que o impacto económico das associações culturais na economia local é superior a quatro milhões de euros anuais, cuja proveniência depende em cerca de aproximadamente 3.350.000 Euros

do resultado de angariações próprias das associações: peditórios, receita de actividades e de bilheteira e venda de bens e serviços, etc., que 500.000 Euros resultaram do PAAC Cultura da Câmara Municipal e cerca de 150.000 Euros dos apoios provenientes do estado e dos institutos públicos.

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• Em risco – Organização fortemente personalizada; • Equilibrada – Organização técnico-funcional dependente de pessoal contratado; • Estruturada – Com gestão rotativa e participada.

VII – ANÁLISE DO POTENCIAL ASSOCIATIVO

Organização

A qualidade da organização associativa foi analisada a três níveis onde se ponderou a situação de risco:

Dois terços das associações têm uma posição equilibrada e bem estruturada em termos de organização.

Base social

A solidez da base social foi analisada pela qualidade dos destinatários das acções organizadas pelas associações:

• Frágil – Dependente de públicos específi cos (exemplo: folclore); • Consistente – População sénior e diversifi cada; • Sólida – Activistas, utentes, alunos e público juvenil;

Em situação de fragilidade encontram-se praticamente as mesmas associações que apresentam uma ponderação baixa nas análises da organização e dos recursos.

Estas associações de risco caracterizam-se também pela dependência de públicos específi cos com pouca expressão e pouca diversidade de propostas.

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• Nula – Com situações de confl ito e isolamento; • Limitada – Com interacção vertical (patrocinadores e destinatários); • Potenciada – Com facilidade de cooperação e acções conjuntas.

Cooperação e interacção

A capacidade de realização de parcerias e de interacção tem o seguinte refl exo:

Amplitude de missão

A clarifi cação, actualização dos objectivos imediatos e a capacidade de diversifi cação de propostas foi também analisada como potencial de futuro:

•Bairrista – Acções relacionadas com interesses específi cos; •Especializada – Com uma só actividade (teatro, folclore, etc.); •Diversifi cada – Com actividades diversas e polivalência de destinatários.

Apenas 28% das associações apresentam projectos diversifi cados e multidireccionados para diferentes faixas etárias: crianças, jovens e população activa.

Potencial de crescimento

Em resumo, a panorâmica geral do associativismo tem o seguinte desempenho:

• Fraco - Em risco • Médio - Sob ponderação • Bom - Sem constrangimentos

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Resultados Totais do Levantamento da Realidade Associativa

CARACTERIZAÇÃO DO ASSOCIATIVISMO CULTURAL

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NOTA FINAL

Observamos que… Um terço das associações vive sob a ameaça do risco de sobrevivência.

Identifi camos: Confi ança! Os sinais de risco aqui assinalados não podem ser encarados como “morte anunciada”, mas pelo contrário devem servir de aviso à navegação para eventuais mudanças de rumo.

Responsabilidade social! Tal como tem sido referido por inúmeros especialistas:“A localidade não é apenas o nosso refúgio, o nosso espaço de protecção e motivação. A nossa localidade é hoje um local de heterogeneidade, de diferença, de confl itualidade e desvios que podem levar à marginalidade e criminalidade.” As colectividades locais têm cada vez mais um papel fundamental para atenuar a tendência crescente de desagregação social.

Visão de futuro!

O associativismo deixou de ser apenas um espaço de preservação e de identifi cação para ser cada vez mais um instrumento de organização e participação cívica, com um papel insubstituível na coesão social das comunidades onde essas colectividades estão inseridas.

É urgente agir!

Com este estudo pretendemos provocar um amplo debate que desperte as consciências e mobilize a responsabilidade social de cada um.

VIII - CONCLUSÕES

Necessidades evidenciadas a nível regional

Existem assimetrias e desequilíbrios estruturais e regionais que importa corrigir.

A formação de novos dirigentes e a sensibilização para o desenvolvimento de parcerias que rentabilizem melhor os recursos existentes apresentam-se como importantes caminhos a seguir.

A falta de instalações próprias no centro do concelho revela a necessidade de pensar com o máximo de urgência num Centro de Recursos Associativos que consiga concentrar espaços administrativos e equipamentos comuns às actividades das associações, que nestas cinco freguesias são altamente defi citárias em infra-estruturas.

Um papel importante neste desenvolvimento futuro poderá ser assumido pela Federação das Colectividades de Cultura e Recreio do Concelho de Santa Maria da Feira como elemento dinamizador desta nova visão do futuro.

A esta organização federativa cabe ainda a responsabilida--de de mobilização do associativismo para a renovação da VISÃO e MISSÃO das colectividades locais, contribuir para a tão necessária diversifi cação de actividades e a transformação do conservadorismo existente em propostas inovadores.

Estes novos desafi os devem merecer uma refl exão profunda de todos.

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207os montavam, e a ter armas de fogo ligeiras já era tarde, de tal maneira foram escorraçados e reduzidos que acabaram nas tais “reservas”, que hoje em dia mais se parecem com o Zoo de Brooklyn, que tem os animais em habitat natural onde artifi cialmente se provocam chuvas tropicais e até trovoadas, enfi m uma espécie de atracção turística.

Os americanos de hoje já não são os índios.

Os americanos de hoje são os ingleses, os holandeses, os suecos, os irlandeses, os portugueses e os espanhóis e são as várias organizações como, por exemplo, a muito aristocrática “The Colonial Dames”.

Entre todas as diferentes tribos havia as que eram dóceis e as mais aguerridas, ou seja, as que se conformavam menos com o facto de os rostos pálidos lhes estarem nitidamente a usurpar os melhores terrenos que eles, em tempos remotos, donos e senhores de um enorme continente, tinham seleccionado a seu bel-prazer.

As tribos mais dóceis, indefesas e ingénuas ensinaram aos primeiros colonos, buscadores de melhor situação de vida ou simplesmente fugidos a perseguições religiosas e políticas, a maneira de subsistir; como pescar, caçar, enfi m, como sobreviver numa terra tão inclemente, toda ela tão adversa. Estou-me a referir aos peregrinos do “May Flower” (Flor de

Os Índios Sénecas

Augusto Santos*

Se déssemos ainda crédito a todos os fi lmes americanos que vimos na nossa infância e que foram o nosso melhor entretenimento, refi ro-me aos fi lmes de índios e “cowboys”, continuaríamos a considerar os índios, sempre como nos foram apresentados, isto é, os maus da fi ta. Nunca nos disseram que os índios estavam lá na vidinha deles mais ou menos sossegados e que de repente começaram a aparecer uns indivíduos esbranquiçados, vestidos com umas roupas muito complicadas e esquisitas, portadores de umas armas tão terríveis que eles nem tinham que estar perto das pessoas para as matar, podiam fazê-lo quase tranquilamente de longe, rindo-se ruidosamente uns com os outros enquanto os índios caíam mortos no chão.

Começaram, então, a empurrá-los, cada vez mais para longe, para terrenos mais distantes e mais tarde para regiões longínquas que eram muito inóspitas para eles, onde não podiam nem caçar nem pescar. Aí começaram a ver a sua existência ameaçada. O problema era a tremenda desigualdade das armas: setas envenenadas contra armas de fogo cada vez mais sofi sticadas. Quando os índios começaram, também, a ter cavalos, e é bom ver a destreza com que eles

*Guia – Intérprete.

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fi lhos, achou que podia desobedecer a Roma, o que obrigou a vinda de Júlio César à Península Ibérica para repor a ordem na cidade e que deu origem à famosa batalha de “Munda”, perto de Córdova, que culminou com a derrota de Pompeu e dos fi lhos, voltando a cidade à obediência a Roma.

A descrição desta batalha de Munda é muito interessante porque havia uma colina e os dois exércitos tentavam pôr-se mais de feição, ou seja, fi car numa posição mais alta que o outro, deve ter sido assim como um “ballet”, neste caso muito bélico.

Para dar exemplos da importância cultural desses dias, citava o facto de, em Córdova, terem nascido o grande fi lósofo judeu Maimonades, que foi médico e tradutor dos clássicos gregos, tem hoje uma estátua no bairro judeu de Córdova e um hospital em Nova Yorque com o seu nome e é uma das referências e orgulho do povo judeu, também o fi lósofo árabe Averroes, tradutor e comentador de Aristóteles, e ainda os dois grandes fi lósofos romanos Séneca, pai e fi lho, sendo um deles tutor do imperador romano Nero.

O período mais glorioso de Córdova terá sido o árabe, dos ABD ER RAHMAN I, II e III, que foi quando mais fl oresceram as artes e as letras, foi quando se constitruiu a fabulosa mesquita que foi poupada, porque em boa hora no interior desta o Imperador Carlos V mandou construir uma Catedral e quando entramos na mesquita quase não nos apercebemos da Catedral, porque está perdida entre uma fl oresta de mil colunas, com capitéis muito belos e que tiveram de ser rebaixadas umas e levantadas outras, uma vez que estas colunas vieram de vários templos do Império muçulmano do ocidente, incluindo algumas da região de Setúbal. Tem um belíssimo e único “Mihrab” (altar mor?) – de estilo nitidamente persa, com mosaicos pequenos dourados dum grande efeito plástico, um belo pátio de abluções que se chama “El pátio de los Naranjos”, pátio das laranjeiras. Em cada uma das fontes onde os Muçulmanos faziam as suas abluções antes de entrarem e rezar está agora plantada uma laranjeira. Tem também um belo minaret ou seja a torre onde o muezin vai chamar os fi éis para a oração e que é um canto muito belo de se ouvir. Este minarete foi depois todo envolto por uma torre sineira para servir a Catedral.

Maio) assim se chamava o primeiro barco que largou de Plymouth, na Inglaterra, no dia 6 de Setembro de 1620 e que chegou à região que se chama hoje Massachusetts, em pleno Inverno e só quem nunca lá passou Invernos é que não sabe o quão violentos eles são.

É curioso - e acho que isto tem um grande signifi cado -, que estes primeiros “peregrinos” (The Pilgrim Fathers) tenham mesmo ali, dentro ainda do barco, redigido o famoso documento “The Convenant”, que é a primeira Constituição Americana, de que eles se orgulham muito e não é caso para menos.

Um dia, a caminho de Córdova, a bela e antiga cidade andaluza, ia conversando com as pessoas acerca da cidade, gostava sempre de fazer uma introdução, à minha maneira, com palavras minhas, e não tipo “cassete”. Ia eu dizendo que Córdova, depois de ter sido uma importante cidade romana, nos séculos, IX, X, XI e XII, era a grande metrópole, capital do mundo árabe no ocidente (a capital do mundo árabe no oriente nessa altura era a cidade de Constantinopla, hoje Istambul). Gostava eu de dizer, sabendo que iria surpreender os meus clientes americanos, que Córdova nesses séculos já referidos do domínio árabe era a cidade mais esplendorosa da Europa: tinha já as ruas iluminadas, tinha, também, mais de trezentas bibliotecas públicas, atendendo que cada mesquita tinha, e creio que é costume terem ainda hoje, uma biblioteca ao serviço do público e que o Emir de Córdova Abd Er Rahman I tinha mandado construir, para a sua favorita, a mulher que mais amava de entre todas as do harém, não um palácio, não um templo, mas uma cidade inteira, muito perto de Córdova a que chamou Medina Azahar (Medinat-Al-Azahar), ou seja, a cidade das fl ores e que infelizmente foi toda arrasada e que agora os arqueólogos espanhóis tentam, a duras penas, reconstruir alguma coisa, mas pelo que já vi sem grande resultado.

Durante estas conversas que eu tinha com os passageiros dentro do autocarro, sempre gostava de salientar a importância cultural que esta cidade teve na Europa desses dias.

Apesar de que, num dos tempos áureos de Córdova, o do império romano, a cidade ter sido muito importante e quando foi governada por Pompeu, que, juntamente com os seus

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que estou para ali a dizer coisas maravilhosas e cultas que só eu é que sei, sempre tive horror a dar essa ideia, preparei-me muito para isso nunca acontecer, então respondi-lhe assim: - Pois é, os Sénecas são todos daqui, só que nós mandamos os índios para a América e fi cámos com os fi lósofos. As pessoas, gostavam muito, riam-se a grandes gargalhadas e entretanto chegávamos ao hotel todos bem-dispostos e contentes, não tendo dado pela estrada que naquela altura era muito má e agora é muito boa e já não custa nada a percorrer.

Entretanto já estamos quase a chegar a Córdova, chamada “Córdoba la Mora”, cidade linda que cheira a jasmim, fl or de azahar e a “damas de noche” e é nesta altura que eu estou a falar dos fi lósofos Sénecas, quando sou interrompido por uma senhora americana que me diz assim: - Mas, Augusto, eu só conhecia os índios Sénecas e não sabia que a origem deles era daqui! Eu, aproveitando a oportunidade para aligeirar a conversa e não parecer intelectual e não maçar muito as pessoas, de vez em quando metia assim um aparte para não dar a ideia de

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210 MAR DENTRODomingos de Oliveira*

A rosa-pedra abriupor um janeiro esquivo,a pedra. E fl oriuno sonho adormecido.

A vela que então velaextinguiu-se na chamaque súbito se infl amatal explode a estrela.

No absorto portosurto veleiro esperaalguma primaverasem precisão de um horto.

Enfi m chegou o ventoprecipitado e frio,quem sabe, adormecidodemasiado tempo.

E só no aparatoda rosa-pedra abrindoparece o verso infi ndono que é disperso, opaco.

16.01.2011

* Domingos de Oliveira nasceu em Silvalde, Espinho, em 1936. Formou-se na Escola do Magistério do Porto, onde veio a ser professor de Movimento e Drama. Leccionou no ensino primário, colaborando na formação contínua de professores, na área das expressões. Animou e orientou a criação de vários espectáculos teatrais de amadores. Fez parte da Unidade Infância no Centro Cultural de Évora. Escreveu poesia e algum teatro. A Unicipe editou o conto infantil Pimpão e os Leões e, recentemente, Devastações e Outros Fastos – Poemas Escolhidos.

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211a Laurásia, um continente único: o super continente Pangeia. Muito tempo depois, há apenas 80 mil anos, ocorria a última Idade do Gelo. Nessa época, muita da água que agora constitui os oceanos encontrava-se concentrada, sob a forma de gelo, em duas enormes calotes polares. O nível da água dos oceanos era então muitas dezenas de metros mais baixo que o actual, o que muito contribuiu para a expansão do Homem. Havia então, entre a Austrália e a Ásia, grande quantidade de ilhas que permitiram ao Homem um caminho relativamente fácil para atingir a Austrália. Esta esteve, inclusivamente, ligada à Papuásia por um istmo. Foi assim que ali chegaram os primeiros homens. Talvez por isso se lhes tivesse sido dado o nome de aborígenes, palavra que resulta da combinação de duas palavras latinas: ab, que signifi ca das, e orígines, que signifi ca origens. Com o fi m da última Idade do Gelo, deu-se a fusão de enorme quantidade de gelo das calotes polares, as águas dos oceanos subiram várias dezenas de metros, e os aborígenes fi caram praticamente isolados do resto do mundo. A mística dos aborígenes encontra-se intimamente imbuída do conceito “dream time”, ou seja, o tempo do sonho. O conceito dream time é um conceito aborígene de uma época do passado, muito remota, quando as actividades da criação tiveram lugar. Este conceito coloca a cultura, as tradições e a história aborígene sob um teto mitológico. A versão dream time da Génese conta como heróis ancestrais

Na Oceânia

I - Austrália

Relato da viagem promovida pela Associação Sindical dos Juízes Portugueses, à Austrália e à Nova Zelândia

Joaquim Máximo*

Decorreu da melhor maneira possível a viagem, em 2001, à Austrália e Nova Zelândia, países que, como é do conhecimento geral, fazem parte da Oceânia. Os viajantes, meus companheiros de viagem, eram de uma simpatia extrema. O tempo estava de feição, frequentemente com sol. Encontraram-se animais curiosíssimos, que só aí se encontram. E os locais visitados, ou apresentavam grande interesse geológico, ou incluíam paisagens de rara beleza. O nome da Austrália provém da denominação latina Terra Australis Incognita, isto é, “A Terra Desconhecida do Sul”. Antes de descrever essa viagem, parece-nos ter interesse fazer aqui algumas considerações sobre a história da Austrália, o continente mais seco e mais plano da Terra, e também a maior ilha do nosso planeta. Há cerca de 80 milhões de anos, muitos milhões de anos antes do aparecimento do Homem, a Austrália separou-se da Gondwana, super continente que, há cerca de 270 milhões de anos, constituía, conjuntamente com

* Joaquim Máximo de Melo e Albuquerque de Moura Relvas, nasceu em Coimbra e reside em Vila Nova de Gaia. Tem o curso de Engenharia Electrónica da Universidade do Porto. Exerceu a actividade profi ssional na Administração Geral dos CTT e obteve a especialidade de Instalações Exteriores de Transmissão; União Eléctrica Portuguesa, integrada depois na EDP; Professor da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, como Professor Associado; Colégio de Gaia onde leccionou disciplinas relacionadas com a Electrónica Digital. Faz parte da Direcção da revista Politécnica. É membro da Ordem dos Engenheiros da “American Association for the Advancement of Science”, da “New Iork Academy of Sciences” e da “Planetary Society”.

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Ano Novo de 1901, as colónias da Austrália, com a bênção da Rainha Vitória, passaram a constituir uma nova nação, a Commonwealth da Austrália. Esta federação mantinha a Rainha como Chefe de Estado. Em 1908 Camberra é escolhida como local para a nova capital federal, mas só em 1927 é que a sede do governo é transferida de Melbourne para Camberra. Em 1960 a Austrália garante o direito de cidadania aos aborígenes. Mas só dois anos mais tarde é que eles obtêm o direito de voto. Hoje a Austrália, com um rendimento per capita cinco vezes superior ao de Portugal, com a sua riqueza mineral, animal e agrícola, com a sua enorme variedade de fauna e de fl ora, com o seu sol e com a simpatia dos seus habitantes, é um dos principais sucessos no domínio do turismo internacional. Terminadas estas breves considerações acerca da história da Austrália, podemos agora começar a contar a nossa viagem. Vindos da Europa, os viajantes chegaram à cidade de Melbourne, na Austrália, depois de uma paragem de um dia e meio na cidade de Bangkok, na Tailândia. A cidade de Melbourne, apesar de bonita e agradável, não parece apresentar nada de original. Mas já foi original e agradável um almoço que o grupo de viajantes teve num pequeno restaurante, instalado num carro eléctrico, que circulava pelas ruas da cidade ao mesmo tempo que se ia almoçando. Teve interesse o passeio que, no dia seguinte ao da visita à cidade de Melbourne, se fez pela Grande Estrada do Oceano (“Great Ocean Road’’). Essa estrada dá acesso a um local, de algum interesse turístico, chamado Loch Ard Gorge. Trata-se de uma garganta estreita, ladeada por grandes rochedos, por onde as ondas do mar entram e depois se espraiam numa faixa de areia. Foi perto daí, nos rochedos da ilha Mutton Bird, perto de Port Campbell, que, em 1878, um navio de vela com marcha rápida, o Loch Ard, naufragou. O clipper, com casco de ferro, vindo de Inglaterra, estava em vias de terminar a sua viagem de três meses quando ocorreu a tragédia, no dia 1 de Junho de 1878. Dias de nevoeiro e de mar encapelado tornaram impossível calcular a localização exacta do navio quando este atravessava a difícil passagem entre a costa e a ilha King. Quando a terra foi avistada já foi demasiado tarde e o navio colidiu contra os recifes. Com os mastros, cordame e rochas a abater-se sobre os decks, os passageiros e tripulantes foram lançados pela borda fora, ou então aprisionados dentro do casco. O Loch Ard virou-se e afundou-se em 15 minutos.

criaram as estrelas, a Terra e todas as criaturas. O dream time explica porque é que os animais, os insectos e as plantas são como são, e como os humanos podem viver em harmonia com a Natureza. E admite que, quando os aborígenes morrem, são reciclados no contínuo do dream time. Durante milhares de anos os aborígenes tiveram a Austrália apenas para si próprios. Cerca de 700 nações tribais, falando mais de 250 línguas ou dialectos diferentes ocuparam completamente o continente. O primeiro europeu a desembarcar na Austrália foi o capitão holandês Williem Jansz, em 1606. Mas não gostou. Disse: - Não há nada de bom para fazer aqui! Em 1642 a Companhia Holandesa das Índias Orientais despachou, em expedição para a Austrália, Abel Tasman para procurar eventuais tesouros que aí existissem. Na sua primeira expedição, Tasman descobriu a ilha que agora tem o nome de Tasmânia. Dois anos mais tarde, noutra expedição, percorreu grande parte da costa norte da Austrália, mas não encontrou ouro, nem prata, nem especiarias. Anos mais tarde, quase por acidente, o capitão James Cook, grande navegador britânico, desembarcou na costa leste da Austrália, em 1770, no decorrer de uma viagem de regresso a Inglaterra, vindo de Tahiti. Cook declarou todo o território como pertencente ao Rei Jorge III, dando-lhe o nome de Nova Gales do Sul. Quando regressou a Londres, referiu-se à Austrália como uma terra fértil, vastíssima, com muito sol, e habitada por aborígenes que descreveu como sendo “de longe muito mais felizes que os europeus”. Em 1779, Joseph Banks, presidente da Royal Society, lançou a ideia da colonização da Austrália, mas o que fez foi mandar para lá condenados como prisioneiros. Segundo ele, este plano resolveria o problema dos cárceres ingleses, então superlotados. Em Maio de 1787 o governo de Sua Majestade começou com o transporte de criminosos para a Austrália, transporte que durou mais de 80 anos, durante os quais foram embarcados mais de 160.000 condenados. Em 1788 é estabelecida a primeira colónia penal em Sydney Cove. Entretanto foi dado ao capitão Arthur Phillip o comando da primeira frota de 11 navios, transportando 1500 colonos. Esta frota chegou a Sydney em 26 de Janeiro de 1788, data que é recordada todos os anos como o Feriado Nacional Australiano. A bandeira britânica foi então hasteada nessa nova colónia britânica. Os anos decorreram, com alguns acontecimentos históricos importantes que a nossa falta de espaço e de tempo não nos permite aqui mencionar, até que, no Dia de

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A outra, com o formato de um pão grande, é constituída por madeira mole, normalmente balsa, com vários buracos cónicos. A haste é introduzida, verticalmente, no buraco mais apropriado da peça em forma de pão, depois desta ser apoiada no solo. Então, utilizando as palmas das mãos, um dos aborígenes produz rotações rápidas e alternadas na haste. Quando, passado algum tempo, o calor da fricção faz aparecer fumo, é encostada, ao local da fricção, alguma palha fi na e seca que não tarda a começar a arder. Com esse fogo foi aceso um pequeno archote que deitava muito fumo e que serviu como elemento ilustrativo da dança que se seguiu: uma dança em louvor do fogo. Depois de terminado todo o espectáculo, todo o nosso grupo de viajantes recolheu ao autocarro para regresso ao hotel, em Cairns. No dia seguinte ao da viagem sobre a fl oresta virgem, teve lugar uma visita, que durou todo esse dia, à Grande Barreira de Recife de Coral (“Great Barrier Reef”). A Grande Barreira, com mais de 2000 quilómetros de comprimento, estende-se, no Oceano Pacífi co, ao largo da costa nordeste australiana. A Grande Barreira, o maior conjunto de organismos vivos do mundo, resulta do trabalho de milhões de diminutos pólipos, que crescem apoiados nos esqueletos dos seus antepassados e que constituem os corais. Crescem pouco abaixo das ondas do oceano, com formas surrealistas espantosas, tais como a de leques de abanar, a de cérebros enrugados, e até a de chifres de veados. As suas cores, desde o vermelho vivo até ao verde ervilha, são ainda mais variadas. Os corais suportam algas microscópicas que, por sua vez, alimentam peixes lindíssimos: peixes com riscas, como as das zebras, peixes com faixas alternadas de laranja e branco, peixes de cor amarela brilhante mas com o “focinho” preto, peixes de “rabinho” azul, e muitíssimos outros. Há também tartarugas, raias e tudo o mais. A visita, à Grande Barreira, do nosso grupo de viajantes, começou com o embarque num catamaran pertencente à companhia Ocean Spirii Cruises. Logo após a partida, pelo Oceano Pacífi co fora, tivemos de ouvir todas as recomendações habituais nestes casos, que foram dadas pela nossa guia. Depois de feita uma demonstração da forma como usar os coletes de salvamento. - E, se houver algum problema e o Capitão disser Água! (só o Capitão é que tem o direito de dizer Água), todos segurem assim, em cima, os vossos coletes e atirem-se ao mar! - E continuou:

Apenas duas pessoas sobreviveram: Tom Pierce, de 18 anos, membro da tripulação, e Eva Carmichael, de 18 anos, que vinha para a Austrália com a sua família. Tom agarrou-se a um salva-vidas e foi lançado, pelas ondas, para a estreita garganta que tem o nome de Loch Ard. Eva, que não sabia nadar, salvou-se graças a um cesto para galinhas que utilizou como bóia para não se afundar. Tom viu-a nas ondas e trouxe-a para lugar seguro. Ambos tomaram, como abrigo, a caverna que se encontra no extremo da garganta. Relativamente perto da Loch Ard Gorge existe outro local situado à beira-mar onde se podem ver os chamados “12 apóstolos”. Trata-se de doze caprichosos rochedos, emergindo do mar a pouca distância da praia. Depois de verem, fotografarem e fi lmarem os 12 apóstolos, os viajantes regressaram ao autocarro para ir ao almoço e regressar depois a Melbourne. No dia seguinte de manhã, o grupo partiu, de avião, de Melbourne para Cairns, cidade situada no nordeste da Austrália, distante cerca de 2400 quilómetros de Melbourne. Cairns é uma cidade bonita, relativamente pequena, mas com ruas muito largas. Apresenta muito interesse turístico, porque é do seu porto que partem as viagens em catamaran para mergulho submarino, ou para visitar a Grande Barreira de Recife de Coral (“Great Barrier Reef). A tarde do dia da chegada foi aproveitada pela maior parte dos viajantes para visitar a cidade. No dia seguinte ao da chegada a Cairns, o grupo partiu de autocarro em direcção a Kuranda, para uma viagem no Skyrail Rainforest Cableway, que é património mundial e que é o teleférico mais comprido do mundo. O teleférico percorre vários quilómetros por cima de uma fl oresta tropical húmida (“rain forest”). Durante a viagem, os viajantes, distribuídos por várias cabinas, têm a oportunidade de apreciar uma paisagem que é única e de uma beleza inesquecível. Durante o percurso há uma paragem, em que os viajantes podem descer das cabinas para melhor apreciação do arvoredo no interior da fl oresta. Do Skyrail Rainforest Cableway os viajantes dirigiram-se para o teatro Tjapukai, situado perto da chegada da viagem por cima da fl oresta, para ver danças aborígenes. No intervalo entre duas danças, mas fazendo parte integrante do espectáculo, foi feita, pelos aborígenes, uma demonstração da maneira como o homem primitivo produzia o fogo. Utilizam-se duas peças diferentes. Uma é constituída por uma haste de madeira, rija e seca, afi ada em cone numa das extremidades.

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de Julho. Houve que voltar para o catamaran para a viagem de regresso ao porto de Cairns. Deste porto, o grupo foi, de autocarro, para o Kani’s Restaurant para jantar e daí para o hotel para dormir. Estava terminada a visita a Cairns incluindo os seus arredores mais interessantes. No começo da manhã do dia 30 de Julho, o nosso grupo de viajantes partiu de avião para Alice Springs, para visitar a Austrália Central. Alice Springs é uma pequena cidade, com mais de 24.000 habitantes, situada praticamente no centro da Austrália. É uma cidade em que a gama da temperatura ambiente é muito ampla: há temperaturas de cerca de 00 C nas noites de Junho, Julho e Agosto, mas no verão atingem-se frequentemente os 42º C. A cidade nasceu à volta de uma pequena lagoa (water-hole), descoberta, em 1871, pela brigada de trabalhadores que instalava a primeira linha telegráfi ca, de Adelaide para Darwin. O nome de Alice Springs resulta do nome, Alice Todd, da esposa do Director dos Correios do Sul da Austrália, a quem se deve essa linha. Não estou habilitado a fazer qualquer comentário pessoal relativamente a esta cidade porque não entrei nela. Só a vi do alto do avião. Isto porque o nosso grupo de viajantes teve de ser, não sei porque motivo, repartido por dois aviões, e aquele em que eu ia chegou tão atrasado ao aeroporto que, logo que aí chegou, tivemos de entrar no autocarro e seguir para King’s Canyon. A viagem de autocarro naquele dia 30 de Julho durou toda a tarde. O grupo de viajantes fi cou, nessa noite, hospedado no King’s Canyon Resort, onde jantou. A visita ao King’s Canyon fez-se no dia seguinte. O King’s Canyon é um desfi ladeiro existente num monte rochoso que se eleva abruptamente no centro do deserto australiano. Para a visita a esse desfi ladeiro foram-nos dadas três opções: ou se via de cima, de helicóptero, ou se dava a volta à base do monte onde se situa, ou, ainda, se visitava subindo o monte. Infelizmente, devido à minha idade, as duas últimas opções eram demasiado violentas para mim. Optei pela solução do helicóptero, que não achei nada de especial. Do King’s Canyon o autocarro do nosso grupo de viajantes rodou pela estrada que vai até ao hotel Sails in the Desert, onde fi caríamos alojados para a visita à Ayers Rock. O hotel, isolado no meio do deserto australiano, tem umas instalações maravilhosas. Os seus quartos, separados do edifício principal, são muito confortáveis e o seu jardim é muito bonito, com muitas árvores, um extenso relvado e uma belíssima piscina. A visita ao Ayers Rock estava prevista para o dia seguinte.

- E, se estiverem enjoados, devem usar um saco como este! E, depois vejam de que lado vem o vento e joguem ao mar! - E depois prosseguiu com os avisos, frisando bem que não se podia tocar em nada na Grande Barreira, que era Parque Nacional. Durante a viagem, que decorreu com mar calmo, muito sol e o céu muito azul, os viajantes dispersaram-se pelo catamaran: uns mantiveram-se no salão em amena conversa, outros encostaram-se à amurada para ver o mar e ainda outros estenderam-se no deck, junto do mastro da vela grande, para apanhar um banho de sol. Almoçou-se quando se chegava perto da Grande Barreira. Depois do almoço surgiram-nos três opções: ou se fi cava no catamaran, ou se vestia um fato de mergulho e se embarcava numa lancha para mergulhar num local indicado pela Ocean Spirit Cruises, ou se embarcaria, para um pequeno cruzeiro pela Grande Barreira, a bordo de um semi submarino, que acostou ao catamaran para os viajantes interessados. Optei por esta última solução e não me arrependi. Através das vidraças transparentes do casco submerso podia apreciar-se o maravilhoso e inesquecível espectáculo já atrás referido. Algum tempo antes da partida para o regresso a Cairns, ainda havia a possibilidade, que aproveitei, de ir até uma pequena ilha de areia, situada perto do local de ancoragem do catamaran. Aí tirei a roupa, fi cando só em calções de banho, e preparava-me para nadar até aos corais quando vi, na água, um pequeno tubarão com cerca de um metro e meio de comprido. Então disse a um dos tripulantes do catamaran que se encontrava perto de mim: - Se tivesse sabido que havia aqui tubarões, não tinha vindo aqui à ilha para nadar - Mas ele logo esclareceu: - Estes tubarões aqui não atacam gente porque andam bem alimentados - E foi então que me atirei à água nadando em direcção aos corais. Às tantas notei que qualquer coisa roçava, de vez em quando, pelo meu corpo. Ao tentar ver de que se tratava vi que era o tubarão, que nadou ao meu lado até aos corais! Enchi-me de felicidade. Estava realizado, aos meus 75 anos de idade, um dos sonhos da minha vida, que já vinha desde que, há cerca de 60 anos, li o livro Entre Corais e Tubarões, escrito por Hans Hass, que foi quem inventou as barbatanas para os pés, hoje tão utilizadas por toda a parte. Aproximava-se o fi m da tarde daquele belo dia de 29

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pode obter a direcção do Pólo Sul. Começa-se por obter a haste virtual da cruz, unindo mentalmente as estrelas a e y. Prolonga-se depois essa haste até esse prolongamento encontrar a linha do horizonte. Esse ponto de encontro indica a direcção do Pólo Sul. São as estrelas desta constelação que fi guram na bandeira da Austrália e na bandeira da Nova Zelândia. As quatro principais estrelas desta constelação já se encontravam mencionadas no célebre catálogo de Ptolomeu, mas incluídas no Centauro. Pouco depois desta lição nocturna, à luz das estrelas e ao calor da fogueira, todo o grupo de viajantes tomou o autocarro para o regresso ao hotel. No dia seguinte, de madrugada, o nosso grupo de viajantes tomou o autocarro para visitar a Ayers Rock. A Ayers Rock, ou Uluru, como lhe chamam os indígenas, é o monólito maior do mundo, elevando-se 318 metros acima do deserto e com um perímetro na base superior a 8 quilómetros. É considerada como uma das maravilhas naturais do mundo. Está localizada no Parque Nacional Kata Tjuta, que é gerido pelos indígenas locais. O Governo Australiano devolveu, há alguns anos, a propriedade aos aborígenes, que a consideram sagrada e ligada ao Dream Time. A rocha resultou da compressão de camadas de sedimentos que se depositaram no fundo do mar há 500 milhões de anos. Cerca de 100 a 200 milhões de anos depois, e sob a acção de forças tectónicas, a rocha rodou, dobrou-se e elevou-se até à sua posição presente. É uma rocha arenítica, rica em feldspatos, com a espessura de 2,5 quilómetros. Algumas zonas da sua superfície mostram ter sofrido forte erosão. Ainda não tinha nascido o sol quando o nosso grupo de viajantes chegou junto daquela enorme rocha. Depois do nascimento do sol deu-se nela rápida mudança na sua cor, quando o sol nascente lhe bateu em cheio: um castanho-escuro e ligeiramente avermelhado deu lugar a um vermelho alaranjado vivo, muito intenso, muito diferente daquele violeta escuro da véspera. Até parecia que a rocha ia pegar fogo. Todos nós então fi cámos por ali, durante algum tempo, para apreciar aquele inesquecível espectáculo. Às tantas o grupo teve mesmo de tomar lugar, novamente, no autocarro para visitar alguns lugares, sagrados do local. Não nos debruçaremos com descrições desses lugares porque isso nos ocuparia um espaço de que aqui não dispomos, e porque isso se pode encontrar em muita literatura disponível. Basta dizer-se que nesse dia ainda fomos ver outras rochas, as

Aproximava-se o fi m da tarde quando nos foi dada uma notícia que encheu o grupo de satisfação. Não se jantaria no restaurante do nosso hotel, como estava previsto, mas sim em pleno deserto, para ver aí o pôr-do-sol e para, depois do jantar, apreciarmos a beleza de um céu estrelado não poluído. O local do deserto onde o grupo iria jantar tinha o nome Sounds of Silence (“Sons do Silêncio”). A sua tranquilidade era tanta que sentíamos que passava para dentro de todos nós. Situava-se numa zona por onde passa o trópico de Capricórnio. Talvez por isso, e porque o Sol já se encontrava relativamente perto do horizonte, toda a paisagem estava impregnada de um lindo tom de laranja. Esse tom já não aparecia na Ayers Rock, que se via ao longe com a interessante tonalidade violeta escuro, que lhe é própria nessa hora do dia. As mesas estavam já postas para o jantar ao ar livre, quando o Augusto, o nosso guia português, fez um brinde, segurando numa das mãos, como todos os do grupo, uma taça de champanhe, aperitivo do jantar. Depois um dos três representantes (com ar de ascendência africana), da entidade organizadora do jantar, tomou a palavra: - Muito boa tarde, senhoras e senhores! Aqui estamos nós, a beber o nosso champanhe. Seguidamente tomaremos mais bebidas, veremos o pôr-do-sol e iremos jantar. Mas, antes disso, deixem que me apresente e vos apresente os meus dois colaboradores: O meu nome é Andy e estes dois são o Tyrone e a Katty. E, ao dizer isto, apontou para dois jovens, com ar de ascendência anglo-saxónica. O pôr-do-sol foi bonito, como é usual durante a estação seca nas regiões tropicais. Mas, antes, tiraram-se muitas fotografi as, sem a rocha e com a rocha nelas enquadrada. Seguiu-se um jantar admirável, em que à luz das estrelas se juntaram as luzes de algumas lanternas. Foi acesa uma grande fogueira, porque, no deserto, depois do pôr-do-sol o tempo arrefece muito. E soube muito bem a todos o calor dela. Depois do jantar, antes do nosso regresso ao hotel, foi-nos dada, naquela noite, à luz das estrelas e ao calor da fogueira, uma pequena, mas admirável, lição prática de Astronomia. Dela teve especial interesse a parte relativa à constelação Cruzeiro do Sul. Esta constelação é constituída por cinco estrelas: as estrelas α (alfa), β (beta), γ (gama), δ (delta) e ε (épsilon). As estrela α β γ e δ formam uma cruz. Depois de nos ter sido mostrado como localizar e identifi car esta constelação, foi-nos ensinado como, a partir dela, se

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meio-dia, ou de um dia. A Sydney Tower, situada no centro da cidade, é uma enorme torre circular, do género daquela que se encontra na cidade de Toronto, com 305 metros de altura, donde se podem desfrutar belíssimas vistas de toda a cidade. O MonoRail é um meio de transporte urbano, que circula por cima das ruas da cidade, sobre um monocarril, suportado por colunas com um espaçamento e dimensões apropriadas para não estorvar o trânsito. O edifício do Parlamento, tal como o que se verifi ca com muitos edifícios de prestígio em todo o mundo, tem uma arquitectura neoclássica. O Oceanário de Sydney é um enorme aquário, onde se pode admirar grande variedade de peixes, incluindo tubarões e jamantas, que são enormes peixes da família das raias. O visitante não deve perder nada disto. Também não deve perder uma visita às praias de Sydney. E também não deve perder um jantar, compreendendo sopa, dois pratos (um dos quais uma lagosta completa), pão, fruta, e vinho, no restaurante Waterfront, instalado num dos edifícios que serviram os cais do porto de Sydney. E deve ir ver um espectáculo à Opera House. Durante a nossa estadia em Sydney, dois dias depois da nossa chegada a essa cidade, teve lugar uma visita, de um dia, de autocarro, às Montanhas azuis (“Blue Mountains”). No caminho da ida houve uma paragem para visitar o Australia Wildlife Park, que é um pequeno, mas interessante, jardim zoológico, onde se podem ver os animais mais típicos australianos: cangurus, koalas, lagartos, cobras, “raposas voadoras” que parecem morcegos gigantes com a cabeça do tamanho da dos cães pequenos, etc. Só não vi o que gostaria de ter visto: o “Chlamydosaurus kingii”, espectacular lagarto do deserto australiano, que parece do tempo dos dinossauros e que, quando zangado, bufa e abre agressivamente, em leque, um grande colar de pele que tem à volta do pescoço. O exemplar desse lagarto que aí existia tinha morrido e estavam à espera de outro para o substituir. Com a chegada às montanhas azuis, em Katoomba, deparou-se-nos o espectáculo inesquecível que as montanhas ofereciam (mas que, nos tempos mais próximos não oferecerão mais, porque, como veio noticiado nos jornais, tudo aquilo ardeu, num grande incêndio, nos fi ns do ano 2001): Sob a acção do calor, vaporizam-se, das folhas dos eucaliptos, minúsculas gotículas de óleo de eucalipto que, pela refracção da luz que através delas passa, davam um lindíssimo tom azul às montanhas, que se podiam admirar de um miradouro situado naquela região. Desse miradouro podem também

chamadas Olgas, mais altas mas menos curiosas que o Uluru. Foi no fi m desse dia 1 de Agosto que o grupo de viajantes tomou o avião para a cidade de Sydney, que fi ca situada a cerca de 2250 quilómetros a sudeste de Uluru. Foi logo na manhã do dia seguinte, 2 de Agosto, que teve lugar a visita guiada à cidade, que se fez de autocarro. Essa visita mostrou-nos que houve, da parte dos seus governantes, grande cuidado em preservar edifícios da época da Rainha Vitória e até outros anteriores a essa época. Muitos desses edifícios foram, não só preservados, mas também restaurados. Os edifícios modernos, arranha-céus na sua maior parte, foram construídos de tal forma que a combinação vitoriana-modema das arquitecturas se traduz num conjunto feliz, com características que não são frequentes de encontrar noutras cidades. O “Queen Victoria Building”, “The Rocks”, a “Sydney Harbor Bridge”, a “Sydney Opera House”, os “Royal Botanic Gardens”, o “Sydney Harbor”, a “Sydney Tower”, o “MonoRail”, o edifício do Parlamento e o Oceanário situam-se entre os locais que foram apreciados nessa visita, e noutras que os viajantes do nosso grupo fi zeram pela cidade. O Queen Victoria Building é um edifício vitoriano, com uma fachada bonita, situado na George Street, a rua mais importante e mais antiga do país, edifício onde se situa o centro comercial mais importante da cidade e sempre animadíssimo. The Rocks, bairro onde Sydney nasceu, foi o local onde, em 1788, os condenados desembarcaram para construir a colónia de Nova Gales do Sul. A Sydney Harbor Bridge, com os seus pilares de pedra, com seu arco de aço de 503 metros de vão e tão larga que comporta oito pistas para automóveis, duas linhas de caminho de ferro e passeios para ciclistas e peões, é a ponte que liga a cidade ao norte; foi construída durante a grande depressão e é repintada permanentemente em períodos consecutivos de 10 anos. A Sydney Opera House, projectada pelo arquitecto dinamarquês Jom Utzon, a mais importante e mais conhecida entre as cinco casas de ópera que a cidade tem, apresenta uma arquitectura única e curiosíssima, que faz lembrar um conjunto de enormes gomos de laranja, de casca branca, encastelados uns nos outros. Os Royal Botanic Gardens constituem um belíssimo jardim da cidade donde se pode desfrutar uma admirável vista da extensa baía de Sydney, tendo, como fundo longínquo, a célebre Casa da Ópera e a célebre Ponte de Sydney. O Sydney Harbor é o porto da cidade, onde os turistas visitantes interessados podem fazer um belíssimo cruzeiro com a duração, à sua escolha, de

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que partiu, de avião, para a Nova Zelândia. A Nova Zelândia, situada a meio caminho entre o equador e o Pólo Sul, é essencialmente constituída por duas ilhas: a Ilha Norte, com os seus extensos pastos verdes onde pastam milhões de cabeças de gado lanígero, e a Ilha Sul, onde uma cordilheira de altas montanhas, os Alpes Neozelandeses, percorre a ilha de norte a sul. O conjunto destas duas ilhas teve inicialmente a denominação “Staten Landt”, dada pelo primeiro europeu que, em 1642, aí chegou: o holandês Abel Tasman. Mais tarde esta denominação mudou para New Zealand (Nova Zelândia), que resulta da denominação de uma província holandesa chamada “Nieuw Zeeland” que signifi ca “Nova Terra do Mar”.

observar-se três caprichosos rochedos, chamados as Três Irmãs (“Three Sisters ‘’). Foi nessa região de Katoomba que tivemos oportunidade de descer, no caminho-de-ferro mais inclinado do mundo, para o seio de uma fl oresta que constitui uma das vizinhanças dessa região. A sensação da descida é quase como aquela que se sente quando se desce uma montanha russa. Mas, para a subida, o nosso grupo de viajantes preferiu vir num teleférico, com janelas muito amplas, donde se podia apreciar o admirável espectáculo oferecido pelas montanhas azuis, com as “três irmãs” a servir de elemento decorativo adicional. A estadia em Sydney terminou no dia 4 de Agosto, dia em que também terminou a estadia do grupo na Austrália

Bandeira da Austrália: Bandeira Inglesa e Constelação do Cruzeiro do Sul.

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Boomerang

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Tocador de didjeridu.

Arte aborígene

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Fazendo fogo.

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225Ornitorrinco.

Sydney.

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Sydney.

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Óleo sobre tela de Germano Santos

ESTAÇÃO DO VALE DO VOUGA

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Dá-me mais do que um beijo letárgicoou palavras gastasnuma noite perdida

Dá-me maispara que o dia ressusciteno silêncio que inunda o meu vazio

Dá-me maismais do que eu precisoporque amanhã não poderás dar

Dá-me maisdo que um eco extraviadoou um aroma de primavera

Dá-me maisalgo indecifrávelmas legivel no meu recolhimento

Dá-me mais do que uma presençadá-me a vontade de fi car

Dá-me maisAntónio Madureira*

*Nasceu em 1963, na freguesia de Massarelos, Porto.Actualmente reside e exerce a sua actividade profi ssional em Santa Maria da Feira.

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A Medalhística no Concelho de Santa Maria da Feira - XI

Celestino Portela* | Joaquim Carneiro*

De seu nome completo Joaquim Domingos Carneiro Pereira, nasceu no Alto da Maia, Águas Santas - Maia, a 12 de Julho de 1944. Com 11 anos ingressou no ofício das Artes Gráfi cas, na cidade do Porto, como aprendiz de impressor de Litografi a - impressão directa sobre pedra -, passando pela Offset - impressão indirecta sobre chapa de zinco - e mais tarde para a Fotolitografi a - processo de transporte para a pedra litográfi ca ou chapa de zinco, de fotografi as, desenhos ou textos -, neste sector exerceu fotografi a, retoque, desenho e maquetização. Tirou o curso e exerceu Serigrafi a - impressão através de seda. Em Março de 1962, fi xou-se defi nitivamente em Vila da Feira, onde veio chefi ar o sector de Fotolito/Offset, na Empresa Gráfi ca Feirense, Lda. Em 1980, estabelece-se e cria um atelier de pré-impressão, denominado “Grafi Pub - Estudos Gráfi cos | Fotolito”, mais tarde equipa-se com o sector de impressão. Entretanto forma sociedade, com a designação social de “Grafi pube | Artes Gráfi cas, Lda.”, por motivos de incompatibilidade, retira-se da fi rma e forma nova sociedade denominada “PubliGrifo | Artes Gráfi cas, L.da, por desistência de um dos sócios, esta é extinta e forma com a mulher e o fi lho, a PublÍbis-Artes Gráfi cas, Lda.

Executou inúmeros cartazes, logotipos institucionais, de associações e privados. Na Filatelia produziu linhas gráfi cas para Eventos Filatélicos nos Concelhos da Feira, Maia, Matosinhos, Guimarães e Vila Nova de Gaia, está representado no bloco fi latélico do Uruguay, comemorativo do Año Internacional del Oceano, 1998. Desenhou vários carimbos fi latélicos para exposições nacionais e internacionais. Na Cartofi lia criou cartões telefónicos para o Certame Filatélico Internacional - Ambiente´98 e para a Exposição Nacional de Cartões Telefónicos´98, está representado num cartão telefónico da colecção Trenes - Serie especial ferias: 1 de 4, Telefónica - Espanha. . Nas artes plásticas, como autodidacta, tem trabalhos em tinta da china, gouache, sanguínea, aguarela e óleo - colecção particular. Criou inúmeras capas para livros e revistas. Os brasões das Freguesias de Espargo e de Santa Maria da Feira, são de sua autoria. Na Colecção “cadernos do mosteiro”, nº 6, 1ª edição, Câmara Municipal da Maia, Junho/2001, em co-autoria com Paulo Sá Machado, é convidado a escrever o livro A Literatura Portuguesa no Coleccionismo I, com o tema “Fernando Pessoa”, um estudo bio-iconográfi co. Tem em preparação o livro Ao Redor da Filatelia no Concelho de Santa Maria da Feira. No nosso concelho é vasta a sua obra como designer na área da medalhística que registamos. Vejamos as medalhas que executou como autor e co-autor na “Graf&Pub (Atelier)” e “Publigrifo”.

*Directores Executivo LAF

António Joaquim - óleo s/ tela, 2000.

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20 - 5as Mini Olimpíadas Concelhias

Edição do Centro de Cultura e Recreio do Orfeão da Feira.

No anverso: dentro duma coroa de louros estilizada, a legenda:

“5as | MINI | OLIMPÍADAS | CONCELHIAS”

Em baixo, centrada, uma placa em relevo com os cinco anéis, o símbolo das Olimpíadas e o Castelo da Feira em escultura.

Em círculo, à esquerda e à direita os versos de Camões:

“SERÁ TAL, QUE SERÁ NO MUNDO OUVIDOO VENCEDOR POR GLÓRIA DO VENCIDO”.

No reverso: apresenta o emblema da Associação em escultura suave e as legendas:

“CCROF | vila da feira | 1980”

J. Carneiro (des) | Baltazar Bastos (esc) Módulo: 80 mm Ø Numeradas: 1/350 a 350/350 (bronze) Emissão: 1980

21 - Primeiro Monumento Nacionalde Homenagem a Fernando Pessoa

Edição da LAF - Liga dos Amigos da Feira.

No anverso: reproduz em escultura, o primeiro monumento nacional de homenagem a Fernando Pessoa em Vila da Feira, com as legendas:

“PRIMEIRO MONUMENTO NACIONAL DE HOMENAGEM 30-XI”

“A FERNANDO PESSOA EM VILA DA FEIRA 1983”

No reverso: apresenta o brasão do Concelho, encimado pela legenda:

“LAF | LIGA | DOS AMIGOS | DA FEIRA” E em círculo:

“INAUGURADO PELO PRESIDENTEDA REPÚBLICA ANTÓNIO RAMALHO EANES”

J. Carneiro (des) | Baltazar Bastos (esc) Módulo: 80 mm Ø Numeradas: 1/275 a 275/275 (bronze) Não numeradas: 10 (prata) | Emissão: 1983

Anverso

Reverso

Anverso

Reverso

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22 - Comissão de Vigilância do Castelo da Feira

Edição da Comissão de Vigilância do Castelo da Feira.

No anverso: reproduz à esquerda, a legenda:

“75 anos | 29/outubro/1909 | 29/outubro/1984”

À direita, uma seteira cavada num rectângulo, ladeada por metade de uma coroa de louros estilizada e por baixo em letra de pergaminho a legenda:

“Comissão de Vigilância do Castelo da Feira”

No reverso: apresenta, em bela escultura, o imponente e vetusto Castelo da Feira, legendado em baixo relevo:

“CASTELO DA FEIRA”

J. Carneiro (des) | Baltazar Bastos (esc) Módulo: 80 mm Ø Numeradas: 1/500 a 500/500 (bronze) Emissão: 1984

23 - Reunião da Secção Portuguesa da Comissão Interpaíses de Rotary Internacional. Portugal - França

Edição do Rotary Clube da Feira.

No anverso: apresenta em cima, o emblema do Rotary Internacional, com a legenda:

“REUNIÃO DA SECÇÃO PORTUGUESA DA COMISSÃO INTERPAÍSES DE ROTARY INTERNACIONAL. PORTUGAL-FRANÇA.

SANTA MARIA DA FEIRA

1987-01-24”

No reverso: apresenta a mesma escultura do Castelo da Feira, medalha nº 22

J. Carneiro Des. | Baltazar Esc. Módulo: 80 mm Ø Numeradas: 1/100 a 100/100 (bronze) Emissão: 1987.

Anverso

Reverso

Anverso

Reverso

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24 - Marcolino Castro

Edição da Comissão Organizadora da Homenagem.

No anverso: reproduz o retrato do homenageado, Marcolino Castro, industrial e benemérito feirense, encimado com a legenda em círculo:

“Marcolino Castro” À esquerda e à direita:

“CIDADÃO | FEIRENSE”

No reverso: em cima, a silhueta em desenho, um pormenor do Castelo da Feira, gravado em baixo relevo e sob este, uma placa em plano superior, ladeada com duas palmas estilizadas e diferentes entre si, apresenta em leve relevo a legenda:

“HONRA | AO | MÉRITO | DEDICAÇÃO | ABNEGAÇÃO

HOMENAGEM DA CIDADE | SANTA MARIA DA FEIRA1987.05.23”

J. Carneiro (des) | Baltazar Bastos (esc) Módulo: 80 mm Ø Numeradas: 1/250 a 250/250 (bronze) Emissão: 1987

25 - Homenagem dos Dragões do Concelho de Santa Maria da Feira ao Futebol Clube do Porto

Edição da Comissão Executiva da Homenagem.

No anverso: apresenta em cima, o emblema do Futebol Clube do Porto, com a inscrição:

“87-07-17HOMENAGEM DOS DRAGÕES

DO CONCELHODE SANTA MARIA DA FEIRA

AOFUTEBOL CLUBE DO PORTO

CAMPEÃO EUROPEU1987”

No reverso: apresenta a mesma escultura do Castelo da Feira, medalha nº 22

J. Carneiro (des) | Baltazar Bastos (esc) Módulo: 80 mm Ø Numeradas: 1/150 a 150/150 (bronze) Emissão: 1987

Anverso

Reverso

Anverso

Reverso

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27 - Semana Cultural 1987

Edição da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira.

No anverso: em dois planos, o brasão do Concelho e um pormenor do Castelo da Feira, da medalha nº 22

“SANTA MARIA DA FEIRA | uM PASSADO UM FUTURO”

O poema:

“...Tens tanta beleza tanta | Que até foste baptizada Com o nome da Virgem Santa.”

A. Meireles No reverso: também em dois planos

“SEMANA | CULTURAL | 1987 | 9 a 16 AGOSTO”

“CÂMARA MUNICIPAL | DE SANTA MARIA | DA FEIRA”“SECRETARIA DE ESTADO | DAS COMUNICAÇÕES | PORTUGUESAS”

Em escultura o Monumento ao Espírito Feirense.

J. Carneiro (des) | Baltazar Bastos (esc) Módulo: 80 mm Ø Numeradas: 1/250 a 250/250 (bronze) Emissão: 1987.

Anverso

Reverso

Anverso

Reverso

26 - Clube de Caça e Pesca da Feira

Edição do Clube de Caça e Pesca da Feira.

No anverso: em cima:

1982-1987 | 5º ANIVERSÁRIO | 2 AGOSTO

Desenho de montanhas com nuvens e cinco silhuetas de aves voando em formação, uma palma e em baixo, apresenta refl ectidas as nuvens na água, cinco peixes.

Em baixo o poema: “... Mas ao que nada’spera | tudo o que vem é grato.”

Fernando Pessoa

No anverso: reproduz o emblema do clube, composto pelo brasão do Concelho, duas medalhas, simbolizando a caça e a pesca, e um listel com o nome da associação:

“CLUBE DE CAÇA E PESCA DA FEIRA”

J. Carneiro (des) | Baltazar Bastos (esc) Módulo: 80 mm Ø Numeradas: 1/250 a 250/250 (bronze) Emissão: 1987

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28 - 1º Encontro de Autarcas do Concelho

Edição da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira.

No anverso: reproduz em cima, o brasão do Concelho com as legendas:

“11-12-87”

“1º encontro | de Autarcas | do Concelho”

No reverso: reproduz em dois planos horizontais;

Em cima, o Castelo da Feira reduzido da medalha nº 22, circundado por um rectângulo com a base em semi-círculo.

Em baixo, a urna do voto em plano superior, em fundo os três impressos dos votos autárquicos com os respectivos símbolos, conjunto circundado por um rectângulo em semi-círculo invertido.

J. Carneiro (des) | Baltazar Bastos (esc) Módulo: 80 mm Ø Numeradas: 1/150 a 150/150 (bronze) Emissão: 1987

29 - I Jornadas de Estudo sobre Terras de Santa Maria

Edição da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira.

No anverso: dividido por dois semi-círculos, apresenta-nos à esquerda o Castelo da Feira, um pormenor da medalha nº 22, à direita em baixo plano e em círculo:

“7.8.9 DE | ABRIL DE 1988” Em plano superior:

“I | JORNADAS | DE ESTUDO | SOBRE | TERRAS | DE SANTA | MARIA”

No reverso: sobre um círculo elevado, o mapa das Terras de Santa Maria, destacando-se o Concelho de Santa Maria da Feira, Nossa Senhora com resplendor e em círculo as legendas:

“CÂMARA | MUNICIPAL DE SANTA MARIA DA FEIRA”

“UNIVERSIDADE DO PORTO”

J. Carneiro (des) | Baltazar Bastos (esc) Módulo: 80 mm Ø Numeradas: 1/250 a 250/250 (bronze) Emissão: 1988

Anverso

Reverso

Anverso

Reverso

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30 - Centenário do nascimento de Fernando Pessoa

Edição da LAF - Liga dos Amigos da Feira e Câmara Municipal de Santa Maria da Feira.

No anverso: o primeiro monumento nacional a Fernando Pessoa, em Santa Maria da Feira, com as legendas:

“...tem só duas datas | a da minha nascença e a da minha morte. | Entre uma e outra coisa todos os dias são meus.”

A. Caeiro

“13 | JUNHO | 1888-1988 | CENTENÁRIO | DO NASCIMENTO”

“Monumento a F. PESSOA | em SANTA MARIA DA FEIRA”“LAF - Liga dos Amigos da Feira | Câmara Municipal de Santa Maria da Feira”

No reverso: em forma de novelo enrolado de dentro para fora, os nomes de: Fernando Pessoa, seus heterónimos e semi-heterónimos então conhecidos.

J. Carneiro (des) | Baltazar Bastos (esc) Módulo: 90 mm Ø | Numeradas: 1/300 a 300/300 (bronze) Numeradas: 1/25 a 25/25 (prata) | Emissão: 1988

31 - Freguesia de S. João de Ver - Elevação a Vila

Edição da Junta de Freguesia de S. João de Ver.

No anverso: na horizontal e em plano superior:

“freguesia | de S. JOÃO de VER | ELEVAÇÃO A VILA” “30 | JUNHO | 1989”

Ao centro, um orifício para representar uma mó.

Em baixo, o Monumento ao Espírito Feirense, um conjunto escultórico todo ele em granito com os seus trinta e um blocos, que representam as trinta e uma freguesias do Concelho, uma mesa ao centro e em redor desta, trinta e um assentos destinados aos presidentes das respectivas Freguesias.

No reverso: as legendas:

“CMLXXIII - MCMLXXIII”“MIL | ANOS DE VIDA | DE UM POVO”

J. Carneiro (des) | Baltazar Bastos (esc) Módulo: 80 mm Ø Numeradas: 1/30 a 30/30 (prata) | Emissão: 1989

Anverso

Reverso

Anverso

Reverso

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236

32 - Freguesia de S. João de Ver - Elevação a Vila

Edição da Junta de Freguesia de S. João de Ver.

Esta medalha foi editada após a 31ª, não tem o orifício ao centro, sofrendo outras alterações.

No anverso: em plano superior, conserva a mesma legenda:

“freguesia | de S. JOÃO de VER | ELEVAÇÃO A VILA”“30 | JUNHO | 1989”

Em baixo, o brasão da Freguesia.

No reverso: em círculo: “CMLXXIII - MCMLXXIII”

Em desenho a traço fi no, a Fonte de Nasoni da Casa da Torre em S. João de Ver, com a legenda.

“MIL | ANOS DE VIDA | DE UM POVO”

J. Carneiro (des) | Baltazar Bastos (esc)Módulo: 80 mm ØNão numeradas (bronze)Emissão: ?

33 - Freguesia de S. João de Ver - Elevação a Vila

Edição da Junta de Freguesia de S. João de Ver.

Tem as mesmas características da medalha nº 32, diferindo só no reverso.

No anverso: o mesmo motivo da medalha nº 32.

No reverso: em cima e em círculo, a legenda:

“CMLXXIII - MCMLXXIII”

Ao centro, em desenho a traço grosso, o Monumento ao Espírito Feirense, com a legenda.

“MIL | ANOS DE VIDA | DE UM POVO”

J. Carneiro (des) | Baltazar Bastos (esc) Módulo: 80 mm Ø Não numeradas (bronze)

Emissão: 1989

Anverso

Reverso

Anverso

Reverso

Page 235: Villa da Feira 28

237

34 - Clube Desportivo Feirense

Edição do Cube Desportivo Feirense.

Medalha executada para comemorar os setenta e dois anos de vida e assinalar as três presenças do clube na 1ª Divisão Nacional.

No anverso: O futuro Complexo Desportivo, o emblema do clube e uma palma em círculo, com as legendas:

“CLUBE DESPORTIVO FEIRENSE”“72 ANOS”

“18.MARÇO.1918”

No reverso: à esquerda, o emblema do clube e em fundo as três síglas do clube (CDF) com a legenda:

“PRESENÇAS | 1ª DIVISÃO | 1962/63.1978/79.1989/90”

A. Pedro (des) | J. Carneiro - Graf&Pub (Atlier) Medalprata (grav) Módulo: 80 mm Ø Numeradas: 1/1000 a 1000/1000 (bronze) Módulo: 40 mm Ø | Não numeradas (prata) | Emissão: 1990

35 - 25 Anos em Terras da Feira - Missionários Passionistas

Edição da Congregação dos Padres Passionistas.

No anverso: à direita, o emblema da Congregação dos Missionários Passionistas com as legendas:

“25 ANOS | em TERRAS da FEIRA”

“MISSIONÁRIOS PASSIONISTAS | 9 DE MAIO | 1965´90”

No reverso: apresenta-nos em cima, o mesmo emblema reduzido e sob este:

“Nós Pregamos | Cristo Crucifi cado”

Em fundo, o Castelo da Feira e dentro da Praça de Armas o edifício da Congregação e a Igreja em desenho de traço fi no.

A. Pedro (des) | J. Carneiro | Medalprata (grav) Módulo: 80 mm Ø Numeradas: 1/150 a 150/150 (bronze) Numeradas: 1/25 a 25/25 (prata) Emissão: 1990

Anverso

Reverso

Anverso

Reverso

Page 236: Villa da Feira 28

238

36 - Encontro Anual - Família Santiago

Editada pela Família Santiago.

No anverso: o desenho em planta de uma árvore e no tronco é gravado em baixo relevo e em forma circular:

“JOAQUIM - JOAQUINA”

Em circunferência:

ENCONTRO ANUAL* FAMÍLIA SANTIAGO

“22 de JULHO de 1990”

No reverso: com três motivos, é dividido em duas partes:

A fachada da Capela do Viso em Guisande, o Castelo da Feira, o portão da Casa de Família Santiago e do lado esquerdo deste em letra de pergaminho, a legenda:

“As nossas | Raízes”

A. Pedro (des) | J. Carneiro - Graf&Pub | Baltazar Bastos (esc) Módulo: 80 mm Ø Numeradas: 1/100 a 100/100 (bronze) Numeradas: 1/2 a 2/2 (prata) Emissão: 1990

37 - 250 Anos da Igreja de S. Jorge

Edição da Junta de Freguesia de Caldas de S. Jorge.

No anverso: a igreja matriz de S. Jorge, o edifício das Termas S. Jorge, e sob este, o símbolo gráfi co das Termas.

Em baixo a legenda:“250 ANOS”

“IGREJA de S. JORGE | 1735-1985 | 21de Julho”

No reverso: em circunferência fechada, a legenda:

“FREGUESIA DE CALDAS DE S. JORGESANTA MARIA DA FEIRA | 21 de Julho de 1990”

Em fundo, o desenho em traço suave do Castelo da Feira, em grande plano, S. Jorge montado num cavalo, com uma lança, luta com um dragão.

A. Pedro (des) | J. Carneiro - Graf&Pub (Atlier) Medalprata (grav) Módulo: 80 mm Ø Numeradas: 1/1000 a 1000/1000 (bronze) Emissão: 1990

Anverso

Reverso

Anverso

Reverso

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239

38 - Escola de Música de Espargo

Edição da Junta de Freguesia de Espargo.

No anverso: reproduz em dois planos, as legendas:

1º | ANIVERSÁRIO | 03 OUTUBRO | 1992’93

Em círculo, à esquerda:

COMEMORAÇÃO

O brasão da Junta de Freguesia de Espargo e as legendas:

“BRASÃO | DA FREGUESIA | DE ESPARGO | APROVADO EM ASSEMBLEIA | DE FREGUESIA

EM | 2 DE MAIO´93”

No reverso: uma lira sobre teclados de piano, um anjo suspenso tocando corneta sobre um pautado de música, com a legenda:

“ESCOLA | DE MÚSICA | DE ESPARGOFUNDADA EM 03 DE OUTUBRO DE 1992”

J. Carneiro (des) | Baltazar Bastos (esc) Módulo: 80 mm Ø Numeradas: 1/200 a 200/200 (bronze) | Emissão: 1992

39 - 6ª Volta ao Concelho da Feira

Edição da Equipa Ruquita / Philips / Feirense.

No anverso: reproduz em dois planos: o Castelo da Feira em traço fi no, um ciclista estilizado, montado na bicicleta, com as legendas:

RUQUITA | PHILIPS | FEIRENSE

“1990 | 6ª | volta ao concelho | da FEIRA”

No reverso: também em dois planos: o mapa do Concelho com a localização de todas as trinta e uma freguesias, à direita, o brasão do Concelho de Santa Maria da Feira e por baixo, a legenda:

“preito | de gratidão | às | terras da feira”

J. Carneiro (des) | Baltazar Bastos (esc) Módulo: 80 mm Ø Numeradas: 1/1000 a 1000/1000 (bronze) Emissão: 1990

Anverso

Reverso

Anverso

Reverso

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240

40 - Espargo - Semana Cultural

Edição da Junta de Freguesia de Espargo.

No anverso: reproduz o cartaz da “Semana Culturai”, a Igreja Paroquial, um cruzeiro e em baixo relevo um músico a tocar bombo e em cima com a legenda:

“ESPARGO | SANTA MARIA DA FEIRA3ª SEMANA CULTURAL | 17 A 25 JULHO | 1993”

No reverso: o brasão da Freguesia de Espargo com a legenda em círculo:

“BRASÃO DA FREGUESIA DE ESPARGOAPROVADO EM ASSEMBLEIA DE FREGUESIA

EM 2 DE MAIO´93”

A. Pedro (des) | J. Carneiro - Publigrifo (Atelier) Medalprata (grav) Módulo: 80 mm Ø Numeradas: 1/200 a 200/200 (bronze) Emissão: 1993

41 - IV Convenção - Distrito 115 - Centro-Norte

Edição do Lions Clube de Santa Maria da Feira.

No anverso: apresenta-nos o Castelo de Santa Maria da Feira a Praça de Armas e dentro deste, o emblema dos Lions Clube, com as legendas:

“VI CONVENÇÃO | DISTRITO 115 | CENTRO • NORTE”“24 • 25 • 26 | MARÇO´95”

SANTA MARIA DA FEIRA | EUROPARQUE”

No reverso: em vários planos e em círculo:

“Um encontro divertido!”“LIONS CLUBE DE SANTA MARIA DA FEIRA”

Ao centro, dividido em oito triângulos, o emblema internacional dos Lions Clube.

Vitor Carneiro (des) | J. Carneiro | Baltazar Bastos (esc) Módulo: 80 mm Ø Numeradas: 1/250 a 250/250 (bronze) Numeradas: 1/10 a 10/10 (estanho) Numeradas: 1/10 a 10/10 (prata) Emissão: 1995

Anverso

Reverso

Anverso

Reverso

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241

42 - Espargo - Semana Cultural

Edição da Junta de Freguesia de Espargo.

Estas medalhas foram reduzidas a partir dos mesmos desenhos da medalha nº 40, foram só alteradas as datas consoante o ano da edição, destinadas a premiar os concorrentes das várias actividades durante os períodos das “Semanas Culturais”.

A. Pedro (des) | J. Carneiro - Publigrifo (Atlier) Medalprata (grav) Módulo: 40 mm Ø Não numeradas (bronze)

Emissão: 1994

42a - Espargo - Semana Cultural Idem, idem. Emissão: 1995

42b - Espargo - Semana Cultural Idem, idem. Emissão: 1996

42c - Espargo - Semana Cultural Idem, idem. Emissão: 1997

Anverso - 42

Reverso comum

Anverso - 42a

Anverso - 42b Anverso - 42c

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43 - Casa da Gaia

Edição da Casa da Gaia - Centro de Cultura Desporto e Recreio de Argoncilhe - Santa Maria da Feira.

No anverso: uma palma estilizada com as legendas em círculo:

“CASA DA GAIA | CENTRO DE CULTURA DESPORTOE RECREIO DE ARGONCILHE • SANTA MARIA DA FEIRA”

“25 | anos | 1971 | 96 | 25 ABRIL

No reverso: em dois planos, as legendas em círculo fechado:

“CORAL ADULTO • CORAL PEQUENOS CANTORESINICIAÇÃO MUSICAL • BALLET • TEATRO • FOLCLORE GINÁSTICA •

DESPORTO • BIBLIOTECA”“CASA DA GAIA”

Ao centro, dentro dum escudo, o emblema da Associação.

J. Carneiro (des) | Medalprata (cun) Módulo: 80 mm Ø Numeradas: 1/500 a 500/500 (bronze) Numeradas: 1/50 a 50/50 (prata) Emissão: 1996

44 - 1º Safari Fotográfi co de Espargo No anverso: em cima e centrado com as legendas:

“1º SAFARIFOTOGRÁFICO DE ESPARGO”

Em baixo:“Espargo“1997”

Em círculo a legenda:

“Santa maria da feira”

No reverso: reproduz o mesmo motivo da medalha nº 20.

A. Pedro (des) | J. Carneiro - Publigrifo (Atlier) Medalprata (grav) Módulo: 80 mm Ø Não numeradas (bronze) Emissão: 1997

Anverso

Reverso

Anverso

Reverso

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243

45 - X Campeonato Europeu de Hoquei em Campo

Edição da Federação Portuguesa de Hoquei.

No anverso: apresenta-nos em silhueta o Castelo de Santa Maria da Feira e sobre este as legendas:

“X Campeonato Europeu de | HOQUEI EM CAMPO”“SUB 21 | Divisão C | MASCULINOS”

“10TH EUROPEAN JUNIOR NATIONS CUP”

No reverso: em fundo, dois hoquistas e sobre estes, os emblemas da organização do campeonato, com as legendas:

“EUROPEAN HOCKEY FEDERATION”

“17 A 22 JULHO´2000SANTA MARIA DE LAMAS

PORTUGAL”

“FEDERAÇÃO PORTUGUESA DE HOQUEI”

J. Carneiro (des) | Medalprata (grav) Módulo: 65 mm Ø Não numeradas (bronze) | Emissão: 2000

46 - Ernesto-Augusto E. Pollmann e Maria Joaquina Pinto Pais

Edição particular.

Medalha auto-sustentável.

No anverso: reproduz em alto relevo uma placa rectangular ovalada no topo e cortada na base, com o sinal do amor em língua japonesa gravado em baixo relevo, e sob este, a legenda:

“25 Setembro 2000”

No plano superior, em cima e em círculo, a legenda:

“Ernesto-Augusto E. Pollmann & Maria Joaquina Pinto Pais”

No reverso: apresenta-nos uma placa rectangular, ovalada no topo e cortada na base, cavada em toda a altura da medalha e em relevo ascendente, tem esculpida a fl or íris portuguesa.

J. Carneiro (des) | Baltazar Bastos (esc) Módulo: 80x75 mm Ø Numeradas: 1/120-120/120 (bronze) Numer.: Estojo: 1 (bronze) | 1 (estanho) | 1 (cobre) 1 (prata) Emissão: 2000

Anverso

Reverso

Anverso

Reverso

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244

47 - Externato de Santa Maria

Edição do Externato de Santa Maria.

No anverso: num rectângulo em baixo relevo, com os laterais em semi-círculo e dentro deste em desenho suave o número de anos a comemorar:

“50”

Em sobreposição, as legendas:

“COMEMORAÇÃO | do CINQUENTENÁRIO”

“1950 - 2000”

Em baixo, em plano superior e em círculo, a legenda:

“Santa Maria da Feira”

No reverso: apresenta-nos em círculo, à direita, a legenda:

“Externato de Santa Maria”

Em perspectiva e em alto relevo, o edifício escolar.

J. Carneiro (des) | Medalprata (grav) Módulo: 65 mm Ø Numeradas: 1/150 a 150/150 (bronze) Numeradas: 1/2 a 2/2 (cobre) Numeradas: 1/2 a 2/2 (estanho) | Emissão: 2000

48 - Associação de Pais

Edição da Associação de Pais do Centro Infantil de Santa Maria da Feira.

No anverso: apresenta-nos em plano inferior e à esquerda, o Castelo da Feira em desenho pontilhado, em cima a legenda:

“Edic. Associação de Pais”

Em plano superior as legendas e o poema:

“25 | 1975.2000 | ANIVERSÁRIO”

“...Grande é a poesia a bondade e as danças... Mas o melhor do mundo são as crianças...”

“F. Pessoa”

No reverso: em desenho, a fachada do edifício do Centro Infantil sob um frondoso arvoredo e em círculo a legenda:

“CENTRO INFANTIL | de SANTA MARIA | da FEIRA”

J. Carneiro (des) | Medalprata (grav) Módulo: 80 mm Ø Numeradas: 1/250 a 250/250 (bronze) Numeradas: 1/5 a 5/5 (estanho) | Numeradas: 1/5 a 5/5 (cobre) Numeradas: 1/5 a 5/5 (prata) | Emissão: 2000

Anverso

Reverso

Anverso

Reverso

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245 Postais do Concelho da Feira

Ceomar Tranquilo*

A – Postais Ilustrados

*Caminheiro por feiras, lojas e mercados.

97 – Nº. 10 – Feira – Arrifana

Capella de Santo Estevam (seculo XIV)

Postal integrado na Edição da Pharmacia Araújo– Villa da Feira

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98 – Tumulo de Ana de Jesus Maria José Magalhães

Santinha d’ Arrifana

Arrifana de Santa Maria - Feira

98.A – Reverso do mesmo postal.

Correspondência – EndereçoEdição da Fotografi a Freitas - Porto

Made in France.

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99 - Santa d’Arrifana - Vila da Feira

99.A – Reverso do mesmo postal

Postal enviado para a Exma. Senhora D. Laurentina Almeida Quinta de S. Marcos – Vª. Nª. de Gaia

Obliteração de Porto Central de 19-12-34 sobre selo de 25 c. da série Exposição Colonial Porto 1934.

Made in France.

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100 – Santinha D’Arrifana

Quadro de Aurelia de Souza na Matriz de Arrifana – Feira

100.A – Reverso do mesmo postal

Obliteração de Braga – Prado 1-Jul-15

E de Villa da Feira 2-Jul-05.

Enviado para o Exmo. Sr. Saul Rebelo Valente

Arrifana – Feira – Sul

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249101 – S. Estevaõ – Protomartir

Que se venera na sua capela – Lugar de St. Estevão – Arrifana

101.A – Reverso do mesmo postal

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250 O FOGO DO SORRISOAnthero Monteiro*

continua a sorrir

pode ser que desponte

também uma fogueira

nos meus lábios

mas fá-lo discretamente

não quero que te prendam

por incendiária

Dezembro 2010*Escritor e poeta natural de S: Paio de Oleiros. É autor de vários livros de

poesia e de ensaio.

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