Visao Conservacao Serra Do Mar

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Abordagem ecorregional e a viso da conservao da biodiversidade

Planejamento Sistemtico da Conservao

Viso de biodiversidade: um processo participativo

Caracterizao da ecorregio

Seleo de reas

Discusso

Referncias

Agradecimentos

Glossrio

Lista de siglas

Lista de figuras

Lista de tabelas

Anexos

Apresentao

E

LA VELESTIORUM QUE DOLORITAE VOLUPTATIA VOLECTEM NONET, TE ET UNDITATUM DELIBUS, UT ETUR? QUIA QUE NIS EVELIS APELICI LLECTUR? NE LABORRUM LIS

EATUR, SIT IDIT ET MAXIME INUM HICIPIS A VENIS VOLUPTAQUISI VENIENIS EAQUI ALITAM ATEMPERORUM ACCUPTATURI COREHENDI NIMUS EREMODIA VERUM INCTEMPE DENISSI MAGNIS ULLAM, ADIT UT QUISTOTATUR, SANIMOL UPTUR, QUO ETUREM SAM VERO TE SIN ET MOLUPTAT LIS MILLUPTIAM VOLOREHENDI VOLUPTI NON EXPLA VENDESCIPSUM HIL IMINCTO OFFICIL IDITEM FUGIT ULLUM ETUR SE DOLLABO. DUS, TEM INT PRA VELECTUR, NEM QUAM QUAS CUPTAQUIS DEREREP ERISQUAM QUOS A VOLESTRUM REPED QUI TET LANDAEPEDIT EA SINT ET MAIOS CON NIS ET MOLUPTAM RECTURIATUR RE NIS AS EAT.

Ma inimpos sequias rem nobis sed quam aute laborpores debit, nisciam asi oc te neseque num latiur? Quis cus nonsequam incimen dandusam qui in re nonecto elestium qui cuptati sequideria sinvel ipicitia dit modias sin cus sintius reium ilitas ut et harchilitat ut exceaqu aectiore et pratinvel impor am eicid ut re denis se magniandem lantur aut dolupti stiatemquos pore, cus verum consequo quis non etus everchitatur repro ento quis doluptius apisinv elicim unt. Um doluptias esequaes escitat urestiae perum sit dolorep eriscipist quam latum, id mi, odit voluptur susa verum repta quis consent ipita cus re vit ut restempor as quia quibusciatur aut aut et idem doluption nonsequatus, sam et autem a dolorem fuga. Nam, net, quam re qui cus. Nam consersped quas et endusamust, cum vollanturit, quam aligent odio omnistius dolupie nimpore custem as doluptatur rero excest quiam qui alit modit ent vendam num quodit vella sunt faci tem facepuda debitatem quunt quatis plaut ent accum nos dolorrum ea as expe nus eum dolluptatia quiae velisin ullupta volupta volecatent eossitaquos dia nos aceatus et velenita dipiendis cum quiberu ptatium audam inition eosam que volupta temolor re porunt. Nem volorior re molorum que volut imos eum earum resequi ommoluptaspe iliquae prate mo totat. Cabor a sedis invellabore, ea sam, omni antiatur saesti bernam, et earuptatem denis nonem quis esti doluptia nimus endelit asperuntur? Mus alibus diti cone nonseque ditio. Et re voluptatem que venisit, eaqui ut laboreicaest aut plam animporianis et escia et endercium volorest quis eatioria in rae nem que porendam, ut ium hillut ex et occatent faciunt list, sit as aligni ducienihicat fuga. Fugit, netur sequid que non por sima sitio. Et dolut rectem et, odio eosam vendi ditat eiuscil ium re laut ociis illignam ut lacesserum accus alici dolorumqui odis voloren deleserae vendigenda venisque ent volorro et ullupta excerro quis alibus et odis dolut quae nis aut aliaestis postores dolorum etur.

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1. Abordagem ecorregional e a viso da conservao da biodiversidade

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VISO DA CONSERVAO DE BIODIVERSIDADE DA ECORREGIO SERRA DO MAR FOI DESENVOLVIDA NO MBITO DO PROGRAMA PARA CONSERVAO DA BIODIVERSIDADE NOS STIOS DO PATRIMNIO

MUNDIAL NATURAL DO BRASIL, QUE TEM COMO OBJETIVO CONSOLIDAR E PROMOVER A GESTO INTEGRADA NOS STIOS NACIONAIS. ESSA UMA INICIATIVA DO MINISTRIO DO MEIO AMBIENTE (MMA), DO INSTITUTO

BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVVEIS (IBAMA) E DA ORGANIZAO DAS NAES UNIDAS PARA A EDUCAO, A CINCIA E A CULTURA (UNESCO) EM PARCERIA COM A CONSERVAO INTERNACIONAL (CI), THE NATURE CONSERVANCY (TNC) E O WWF-BRASIL, COM APOIO FINANCEIRO DA FUNDAO DAS NAES UNIDAS (ONU). Seu objetivo servir como base de planejamento para as aes de conservao do WWF-Brasil nesse territrio. Igualmente importante, foi o processo de construo da mesma a partir do conhecimento e interao de diversos especialistas e instituies. O registro dos metadados, o detalhamento do mtodo utilizado, a especicao das anlises elaboradas se constituem em uma sequncia evolutiva que deriva em um conjunto de diretrizes. Sedimenta assim o documento como um produto vericvel, portanto, transparente no auxlio a tomada de decises que sero conduzidas pelo WWF-Brasil ou por outros atores que se apropriem desse exerccio de planejamento da conservao da biodiversidade.

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A viso de biodiversidade ecorregional, conforme concebida pelo WWF-Brasil, uma ferramenta para o planejamento que visa orientar as aes de conservao da biodiversidade em uma ecorregio. Seu objetivo identicar reas de prioridade para manter uma amostra representativa da biodiversidade em toda uma ecorregio. A viso de biodiversidade serve como um ponto de referncia para assegurar que as caractersticas ecolgicas importantes se tornem os objetivos da conservao durante todo o processo de conservao de ecorregies. Ela estabelece metas de conservao da biodiversidade baseadas em princpios amplamente aceitos na biologia da conservao, e identica reas crticas a serem conservadas, administradas ou recuperadas para que tais metas sejam alcanadas. Essas reas so identicadas por meio de procedimentos cientcos que se fundamentam nos melhores dados de biodiversidade disponveis, assim como em informaes socioeconmicas. A viso deve cumprir os seguintes princpios bsicos da biologia da conservao: representao de todas as comunidades naturais distintas dentro das paisagens de conservao e na rede de reas protegidas; manuteno dos processos ecolgicos e evolucionrios que criam e sustentam a biodiversidade; manuteno de populaes viveis de todas as espcies nativas; e conservao de blocos do habitat natural grandes o bastante para serem resilientes aos distrbios estocsticos e determinsticos em grande escala e s mudanas ambientais no longo prazo. A viso permite traar estratgias de curto, mdio e longo prazo para a conservao ecorregional, espacializar aes e priorizar stios conforme a complexidade e urgncia dos problemas detectados. Tambm permite reviso continuada, capaz de avaliar as estratgias adotadas em funo do grau de sucesso das metas estipuladas, disponibilidade de novos dados ou surgimento de novas ameaas e oportunidades para conservao. Assim, possvel, atravs de aes dinmicas e exveis, distinguir ameaas e oportunidades, elaborar estratgias diferenciadas de manejo que conciliem as necessidades humanas e da biodiversidade em diversas pores da ecorregio, identicar parceiros e atores, intervir e apoiar iniciativas de maior escala de acordo com uma perspectiva regional de ao. Neste documento apresentada a viso de biodiversidade para a Ecorregio Serra do Mar (Figura 1). A partir da delimitao da ecorregio como uma unidade biogeogrca foi realizado um processo de seleo de reas prioritrias para conservao, contando com a utilizao de uma abordagem do Planejamento Sistemtico da Conservao (MARGULES; SARKAR, 2007; MOILANEN et al., 2009), integrando quantitativamente o conhecimento de especialistas a sistemas de suporte tomada de deciso. Ao longo do texto, so descritos em detalhe os passos da identicao das reas prioritrias, a saber: determinao da insubstituibilidade das reas (uma medida de sua importncia biolgica) a partir de objetos de conservao selecionados; construo de uma anlise de custos (ameaas e oportunidades) para a conservao da biodiversidade, para subsidiar a identicao de um conjunto de reas com o menor custo de conservao possvel; a seleo das reas prioritrias para conservao da biodiversidade propriamente dita; e nalmente, a psseleo, que d subsdios para um esquema de priorizao das reas e recomendao deUNIR PAR A CONSERVAR A VIDA

aes para a conservao da biodiversidade.

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Figura 1 Localizao da ecorregio da Serra do Mar na Mata Atlntica, Brasil.

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2. Planejamento Sistemtico da Conservao

O

HISTRICO DE CRIAO DE UNIDADES DE CONSERVAO (UCS) TEM SE CARACTERIZADO PELA ADOO DE CRITRIOS SUBJETIVOS DE SELEO, TAIS COMO

PAISAGENS DE GRANDE BELEZA CNICA, PROTEO DE RECURSOS HDRICOS, PRESSO DE GRUPOS DE INTERESSE OU PROTEO DE ESPCIES BANDEIRA, RARAS OU AMEAADAS. SOMA-SE A ISSO, A OPO RECORRENTE POR TERRAS COM BAIXO POTENCIAL ECONMICO AGROSSILVIPASTORIL, PARA EVITAR CONFLITOS COM OS MEIOS DE PRODUO. O SISTEMA DE UCS CRIADO A PARTIR DESSES CRITRIOS COSTUMA SER DE BAIXA EFICINCIA, INCAPAZ DE REPRESENTAR OS PADRES E PROCESSOS DE BIODIVERSIDADE EM NVEIS REGIONAIS. PORM, COM A AMEAA CRESCENTE IMPOSTA AOS AMBIENTES NATURAIS E AUMENTO DO CONHECIMENTO SOBRE A IMPORTNCIA DA MANUTENO DA BIODIVERSIDADE E DOS PROCESSOS ECOLGICOS REGIONAIS, SURGIU A NECESSIDADE DE ESTABELECER SISTEMAS DE REAS PROTEGIDAS MAIS AMPLOS E EFICIENTES DO QUE AQUELES IMPLEMENTADOS DE

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MANEIRA OPORTUNISTA.

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nesse contexto que a seleo e o desenho de redes de UCs, bem como a implementao das aes de conservao, tm se beneciado muito da adoo de mtodos quantitativos para integrar dados de diferentes naturezas e o conhecimento de especialistas atravs do apoio de sistemas de suporte deciso. O planejamento da conservao da biodiversidade tem evoludo no sentido de incorporar perspectivas polticas, econmicas, biolgicas e territoriais em modelos cada vez mais sensveis em propor solues que conciliem diferentes e muitas vezes conitantes objetivos no uso de um mesmo territrio. Ao invs de planos de conservao, diagnsticos ou vises de biodiversidade ecorregionais separados para ambientes terrestres, lmnicos, ou marinhos, a conservao da biodiversidade tem que integrar diferentes componentes, tais como os ecossistemas de uma regio, as espcies e suas populaes, as comunidades e os processos ecolgicos associados, bem como seus servios ambientais, com as necessidades humanas sempre presentes. Lidar com objetos de conservao mltiplos para gerar informaes e apoiar o processo de tomada de deciso uma tarefa complexa e requer o uso de diferentes tipos de modelagem para indicar a melhor soluo espacial em termos de alocao de recursos. Em ltima instncia, esses modelos de deciso multi-critrios devem integrar tanto biogeograa, ecologia de ecossistemas e de paisagens, como as dimenses antrpicas associadas biodiversidade, em seus aspectos negativos e positivos (crescimento urbano, converso de hbitat, mudanas climticas, tendncias macroeconmicas, pagamento por servios ambientais, usos das terras de baixo impacto e multifuncionais, etc). Enquanto a compreenso sobre os requerimentos para a conservao da biodiversidade aumenta indicando claramente a necessidade de esforos crescentes, os recursos nanceiros so limitados e exigem o estabelecimento de prioridades (MARGULES; PRESSEY, 2000; SARKAR; et al., 2002; WILLIAMS; et al., 2002). A identicao de reas prioritrias para a conservao visa o reconhecimento daqueles locais ou regies que possuem atributos naturais bastante expressivos e, por vezes, nicos, considerados crticos para a manuteno da biodiversidade regional. No Brasil, o MMA por meio do Projeto de Conservao e Utilizao Sustentvel da Diversidade Biolgica Brasileira (PROBIO), disposto no decreto n 5.092, de maio de 2004 (BRASIL, 2004), deniu conjuntos de reas prioritrias para a conservao nos biomas brasileiros, atualizados em 2006 (MINISTRIO DO MEIO AMBIENTE, 2006). Alguns estados, como Minas Gerais (DRUMMOND, 2005) e Pernambuco (PERNAMBUCO, 2002), j detalharam suas prprias reas prioritrias, WWF-Brasil / Adriano Gambarini

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num renamento daquelas reas denidas nacionalmente. Todos os exemplos citados usaram basicamente o mesmo mtodo desenvolvido por Olivieri (1995), que consiste na determinao de grupos temticos (grupos taxonmicos; socioeconomia, unidades de conservao, meio fsico, etc.) examinados individualmente e combinados a seguir em uma viso geral. Em cada grupo taxonmico h uma seleo dos objetos de conservao (em geral espcies endmicas e ameaadas de extino), compilao de dados sobre a distribuio dessas espcies e realizao de um seminrio de consulta a especialistas. Na publicao dos resultados, cada rea prioritria identicada categorizada em nveis diferenciados de importncia, acompanhada de recomendaes de conservao sugeridas pelos participantes do exerccio.

2.1 PrincpiosO mtodo adotado pela viso da Serra do Mar identica e seleciona um conjunto de reas prioritrias com potencial para a proteo de mltiplos aspectos da biodiversidade espcies, ecossistemas, paisagens e processos ecolgicos, genericamente denominados objetos de conservao, considerando os custos e oportunidades de implantao frente s demais alternativas de uso da terra. O mtodo semelhante ao que foi aplicado ao projeto Identicao de reas prioritrias para a conservao ambiental no Estado de Gois (SCARAMUZZA; et al., 2008) executado pelo estado de Gois. A idia dispor dos recursos nanceiros de forma eciente para estabelecer um sistema de UCs voltado para atingir metas explcitas, com o menor impacto sobre outros tipos de ocupao do territrio, minimizando os conitos com diferentes grupos de interesse e construindo mosaicos de unidades de conservao ao invs de unidades isoladas. A seleo e desenho das reas nesses moldes devem seguir alguns princpios de conservao da biodiversidade: representatividade regional representao abrangente da biodiversidade; funcionalidade promoo da persistncia dos objetos de conservao no longo prazo, mantendo sua viabilidade e integridade ecolgica; ecincia mxima proteo da biodiversidade com o menor nmero de UCs possvel e com a melhor relao custo/proteo; complementaridade incorporao de novas UCs ao sistema j existente que otimizem a proteo dos objetos de conservao; exibilidade formulao de cenrios com alternativas em termos de reas prioritrias para proteo dos objetos de conservao selecionados; insubstituibilidade identicao de reas indispensveis para atingir as metas denidas para os objetos de conservao, considerando suas contribuies potenciais para a representatividade do sistema de UCs e o efeito de sua indisponibilidade sobre as outras opes para proteger os objetos de conservao; vulnerabilidade priorizao das aes de conservao de biodiversidade de acordo com a probabilidade ou iminncia de erradicao dos objetos de conservao; e defensibilidade adoo de mtodos simples, objetivos e explcitos para seleo das reas prioritrias para conservao da biodiversidade, necessrias para complementar as UCs existentes e atingir as metas denidas para os objetos de conservao.UNIR PAR A CONSERVAR A VIDA

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2.2 Processo e etapas de identificao de reas prioritrias na Ecorregio Serra do MarA identicao das reas prioritrias da viso da Ecorregio Serra do Mar foi gerada a partir da integrao de dados temticos e de distribuio de espcies (descritos nos itens base de dados e objetos de conservao, logo abaixo), e dividida nas seguintes etapas: 1. identicao de objetos de conservao; 2. processamento e anlise das informaes disponveis; 3. denio de metas quantitativas para os objetos de conservao selecionados; 4. anlise de lacunas para as UCs existentes; 5. anlise de custos (ameaas e oportunidades) para a conservao da biodiversidade; 6. seleo e delineamento de propostas de UCs no mbito de um sistema de reas protegidas; 7. denio de prioridades. Todo esse processo mediado por uma constante reviso por especialistas, especialmente nas etapas 1, 3, 6 e 7. Os passos desse processo encontram-se esquematizados na Figura 2.

Identicao de objetos de conservao

Anlise das informaes disponveis

Denio de metas de conservao

Reviso por especialistas

Anlise de representatividade das UCs existentes

Anlise de custos deFigura 2 Fluxograma simplicado do processo de identicao de reas prioritrias para conservao da biodiversidade na Ecorregio Serra do Mar.

conservao

Seleo das reas prioritrias

Denio de aes prioritrias

As aes de planejamento da conservao do WWF-Brasil tm incorporado abordagens baseadas em sistemas de suporte deciso integrado ao conhecimento de especialistas. O uso de sistemas de suporte a deciso como base para o planejamento da conservao da biodiversidade tem se difundido a partir do meio da dcada de noventa (PRESSEY, 1998; MARGULES; PRESSEY, 2000; POSSINGHAM; et al., 2000; COWLING et al., 2003; MARGULES; SARKAR, 2007; MOILANEN et al., 2009) e, a partir desses procedimentos espera-se uma melhora na identicao e delineamento de redes de UCs, bem como na implementao de aes de conservao. Ferramentas como os aplicativos SITES, PANDA, C-Plan, MARXAN e MARXAN with zones permitem criar uma estrutura de

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conservao da biodiversidade orientada para avaliao do papel das UCs existentes e na identicao de reas complementares. Os aplicativos utilizados para criao da viso da Ecorregio Serra do Mar foram o Conservation Planning Software (Programa de Planejamento para Conservao) ou C-Plan (NEW SOUTH WALES, 2001) e MARXAN (Marine Reserve Design using Spatially Explicit Annealing) (BALL; POSSINGHAN, 2000). Acoplados a um sistema de informaes geogrcas (ArcView 3.x), os referidos programas mapeiam as opes para atingir metas pr-estabelecidas para objetos de conservao em uma regio, fornecendo aos usurios a possibilidade de simular decises sobre reas e formas de manejo para conservao e avaliar as conseqncias de diferentes opes. Como parte dos requerimentos dos sistemas de suporte deciso C-Plan e MARXAN, necessrio que cada objeto de conservao seja classicado de acordo com seu grau de importncia para a identicao das reas prioritrias. Esses valores de importncia so critrios para tomada de deciso denidos por especialistas e garantem que objetos mais vulnerveis ou que tem papel chave no funcionamento dos ecossistemas tenham peso maior na escolha das reas prioritrias. WWF-Brasil / Adriano Gambarini UNIR PAR A CONSERVAR A VIDA

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3. Viso de biodiversidade: um processo participativo

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CONSTRUO DA VISO DE BIODIVERSIDADE DA ECORREGIO SERRA DO MAR TEVE INCIO EM SETEMBRO DE 2003 E CONCLUSO EM DEZEMBRO DE 2006. DURANTE QUASE TRS ANOS FORAM CONDUZIDOS TRS

SEMINRIOS, VRIAS REUNIES E INMERAS CONSULTAS A ESPECIALISTAS. BUSCOU-SE REFORAR O CARTER PARTICIPATIVO E TRANSPARENTE DO PROCESSO, POR MEIO DA DIVULGAO DAS INFORMAES CONSOLIDADAS APS CADA UM DOS TRS SEMINRIOS EM AMBIENTE ESPECFICO DENTRO DO SITE DO WWF-BRASIL.

Durante os seminrios houve a participao de inmeros tcnicos, representando aproximadamente 20 diferentes instituies, dentre as quais a academia, instituies governamentais e no governamentais, de atuao nacional, estadual e regional/local. A seguir esto relacionados os objetivos de cada um dos trs

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encontros. A dinmica desses encontros previu um dia de apresentao de dados pela equipe coordenadora da viso e um dia de discusso por meio de grupos de trabalho para a tomada de decises e denio de encaminhamentos para a etapa seguinte. O I seminrio ocorreu em novembro de 2003 e teve como objetivos: divulgar e iniciar o processo participativo de gerao de uma viso de conservao da biodiversidade para a Ecorregio da Serra do Mar; identicar parceiros e estabelecer uma rede de cooperao e articulao para conservao da biodiversidade da ecorregio; apresentar a abordagem para conservao ecorregional utilizada pelo WWF-Brasil como referncia para a discusso; identicar as bases de dados biolgicos, socioeconmicos e geogrcos disponveis para a ecorregio; revisar os limites da ecorregio; discutir a elaborao do diagnstico socioeconmico e as anlises de custos (ameaas e oportunidades) para a conservao da biodiversidade; e discutir a integrao dos dados para gerao da viso de biodiversidade para Ecorregio da Serra do Mar. O II seminrio ocorreu em novembro de 2004 e teve como objetivos: divulgar e dar continuidade ao processo participativo de gerao da viso de biodiversidade; identicar parceiros e estabelecer uma rede de cooperao e articulao para conservao da biodiversidade na Ecorregio da Serra do Mar; apresentar o resultado nal da reviso dos limites da ecorregio e os objetos de conservao selecionados; apresentar o item anlise de custos para a conservao da biodiversidade (ou ameaas e oportunidades); apresentar os resultados preliminares do I exerccio de planejamento de conservao da Ecorregio Serra do Mar. O III seminrio ocorreu em dezembro de 2005 e teve como objetivos: apresentar o ltimo exerccio de planejamento de conservao da ecorregio; traar recomendaes e aes estratgicas a partir do planejamento elaborado.

Em maio de 2004, o WWF-Brasil participou de uma reunio para promover a reviso entre pares organizada pela TNC e o WWF-Estados Unidos da Amrica (Programa de Cincia da Conservao). Nesse momento, foram apresentadas cinco vises de biodiversidade de diferentes pases das Amricas e em diferentes estgios de elaborao, entre elas a da Serra do Mar. A 19 Reunio Anual da Sociedade de Biologia da Conservao, em julho de 2005, em Braslia, tambm foi uma oportunidade de troca e divulgao do trabalho em andamento. Nesse encontro foram apresentados os psteres intitulados A biodiversity conservation vision for Serra do Mar Ecoregion in the Atlantic Forest global biodiversity hotspot (SIMES, 2005) e The use of distance map to calculate the cost surface input for reserve selection tools (ROSA, 2005).UNIR PAR A CONSERVAR A VIDA

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EcorregiesO conceito Ecorregio foi cunhado por J. M. Crowley (1967) e introduzido no sistema de gerenciamento ambiental norte-americano por R. G. Bailey (1976, 1983, 1986, 1989). O conceito foi depois renado com o projeto Ecomap (US FOREST SERVICE, 1993), recebendo ainda contribuies de Omernik (1987, 1995). Subseqentemente, o programa de cincia da conservao do WWF-Estados Unidos desenvolveu a classicao ecorregional em meso-escala para a Amrica Latina (DINNERSTEIN; et al., 1995) e iniciou um programa em mesma escala para todo o globo. O WWF-Brasil adota o conceito de ecorregio como uma rea extensa com condies ambientais semelhantes e determinantes para a ocorrncia de um conjunto de comunidades naturais geogracamente distintas, que compartilham a maioria das suas espcies e processos ecolgicos crticos para a manuteno de sua viabilidade no longo prazo (DINNERSTEIN; et al. 1995). Embora exista um padro nas caractersticas biticas e abiticas de uma ecorregio, pressupe-se a ocorrncia de heterogeneidade ambiental na mesma, capaz de denir sub-comunidades biolgicas distintas, associadas a variantes ambientais ou biogeogrcas. Alm disso, o conceito empregado pela rede WWF considera todos os aspectos da atividade humana local (socioeconomia), bem como a capacidade de gesto integrada. As ecorregies esto fundamentadas nos ecossistemas, extrapolando as fronteiras entre os pases. H muitas tentativas de lidar com os ecossistemas de um modo integrado para manejar paisagens multifuncionais. Uma vasta gama de tcnicos, que compreende desde planejadores urbanos e agrnomos at eclogos, usam as ecorregies como unidades de anlise. No entender da rede WWF e outras organizaes no-governamentais, ecorregies so uma ferramenta eciente para orientar projetos de conservao. Em 1997, a rede WWF adotou o conceito de ecorregio no seu planejamento em nvel mundial e comeou a renar seu mapa da biodiversidade do planeta. A rede WWF sensu Olson (2000) divide a superfcie em aproximadamente 500 ecorregies aquticas, sendo 25 delas no Brasil, e 14 domnios terrestres, subdivididas por sua vez em um total de 825 ecorregies terrestres. Foi proposta a utilizao desta diviso como base para iniciativas de democracia biorregional. As ecozonas esto muito bem denidas, mas os limites das ecorregies so mais controversos e esto sujeitos a mudanas respaldadas por maiores conhecimentos adquiridos na escala local. O WWF elegeu 238 ecorregies como as mais representativas e ricas dos diferentes biomas da Terra. Estas 238 regies se agrupam no chamado Projeto Global 200. No territrio brasileiro esto denidas 49 ecorregies. A base cartogrca original sofreu ajustes que incluram reviso de limites dos biomas e incorporao de dados sobre desmatamento, relevo e ocupao agrcola.

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4. Caracterizao da ecorregio

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COMPLEXO FLORESTAL ATLNTICO ABRANGE DIVERSOS BIOMAS FLORESTAIS BASTANTE HETEROGNEOS, QUE INTERAGEM DE MANEIRA COMPLEXA EM GRADIENTES DE ALTITUDE E LATITUDE, AO

LONGO DO LITORAL BRASILEIRO. SEGUNDO A FUNDAO INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATSTICA MISTA, A FLORESTA ESTACIONAL SEMIDECIDUAL E A FLORESTA ESTACIONAL DECIDUAL SO QUATRO GRANDES BIOMAS DIFERENTES, COM PADRES DE DOMINNCIA ALTERNANTES AO LONGO DA EXTENSO DO REFERIDO COMPLEXO. ALM DISSO, AS FLORESTAS PALUDOSAS, JUNDUS, MANGUEZAIS E CAMPOS RUPESTRES REPRESENTAM BIOMAS DE MENOR EXPRESSO, QUE REFLETEM FATORES ABITICOS DE INFLUNCIA, COMO O SOLO, O FOGO, A GUA, ENTRE OUTROS, E QUE INTERAGEM COM ESSES BIOMAS DOMINANTES. POR FIM, H REAS TRANSICIONAIS COM CARACTERSTICAS NICAS, LOCALIZADAS ENTRE OS BIOMAS DOMINANTES, COMO O PLANALTO ATLNTICO, EM SO PAULO, INCLUINDO O PLANALTO PAULISTANO E A REGIO DO VALE DO PARABA, ONDE H TRANSIO DAS FLORESTAS OMBRFILA MISTA, OMBRFILA DENSA E ESTACIONAL SEMIDECIDUAL, OU AS REGIES DO PONTAL DO PARANAPANEMA E AS SERRAS INTERIORES DA BAHIA E MINAS GERAIS. COMO RESULTADO EXISTE UMA ENORME HETEROGENEIDADE BIOLGICA, COM GRANDE NMERO DE SUBUNIDADES DO COMPLEXO DOTADAS DE FAUNA, FLORA, ESTRUTURA E PROCESSOS ECOLGICOS DISTINTOS, CUJA CONSERVAO REPRESENTA UM GRANDE DESAFIO.

(IBGE, 2008) SUA EXTENSO 1.315.460 KM. A FLORESTA OMBRFILA DENSA, A FLORESTA OMBRFILA

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A subdiviso da Mata Atlntica em 15 ecorregies foi uma primeira tentativa de lidar com a heterogeneidade ambiental, a m de evitar que a simplicao excessiva prejudicasse o estabelecimento de estratgias conservacionistas ecientes. Embora represente um renamento capaz de detectar os biomas dominantes em cada setor, a representao adotada ainda uma simplicao, como qualquer representao cartogrca. Alm disso, o conceito ecorregional discutido no item anterior considera macro-unidades de ambienteterrestre ou aqutico com caractersticas ambientais particulares, geogracamente distintas e com comunidades biolgicas que compartilham uma maioria de espcies, dinmicas e processos ecolgicos, em uma escala de homogeneizao, onde nuances ecolgicas e biogeogrcas perdem importncia. Pode-se citar como exemplo a prpria Ecorregio Serra do Mar , a qual contm ecossistemas de orestas ombrlas densas de terras baixas, sub-montanas, montanas e alto montanas, alm de biomas menores de orestas aluviais, paludosas e de vrzea, vegetao de praia, de dunas, jundu e manguezais. Desse modo, a conservao de cada ecorregio no deve se pautar em uma nica estratgia, mas sim contemplar todas as suas feies por meio de estratgias mltiplas. Os limites originais da Ecorregio Serra do Mar adotados no projeto global 200 correspondiam queles da oresta ombrla densa nas regies sul e sudeste do Brasil, denidos pelo sistema de classicao de vegetao adotado pelo IBGE em 1988 (Figura 3 limite original). Tais limites esto associados a fatores abiticos marcantes, capazes de condicionar a fauna e a ora regionais. A combinao de relevo escarpado e clima mido com inuncia ocenica extrapola os limites originais da ecorregio, sendo observada tambm em toda a poro sul do estado do Esprito Santo, e em complexos serranos isolados na Zona da Mata Mineira e Baiana. Como era de se esperar, a biota existente nessas reas muito similar quela presente na ecorregio pr-denida. Assim, questionamentos sobre a delimitao original foram levantados logo no incio do processo de elaborao da viso.UNIR PAR A CONSERVAR A VIDA

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4.1 Reviso dos limitesA indicao para uma reviso e eventual alterao de limites da ecorregio surgiu durante a realizao do I Seminrio sobre a Ecorregio Serra do Mar, realizado em novembro de 2003. Na ocasio foram sugeridos diversos pontos de reviso nos limites da ecorregio, associados a problemas de escala e georreferenciamento. Uma vez formatada uma proposta de alterao, decidiu-se por submet-la a um grupo de especialistas. Foram contactados 29 especialistas em diversas reas do conhecimento, a saber: vertebrados (mamferos primatas, aves e rpteis), insetos (borboletas e liblulas), aracndeos (aranhas), botnica (bromeliaceas, orquidaceas e pteridotas), ecologia da paisagem, ecologia de vegetao, biologia da conservao e geologia. A todos foi enviada a proposta de alterao e solicitado um parecer. O novo limite da ecoregio (Figura 3 limite revisado) incorporou a contribuio de 14 desses especialistas (Anexo I lista dos especialistas). A proposta de alterao considerava a poro sul, onde a delimitao deveria coincidir com as vertentes orientais das escarpas litorneas nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Discutiu-se tambm a manuteno ou excluso da mancha disjunta do interior do estado de So Paulo, uma vez que, a princpio, essa rea estaria melhor inserida na Ecorregio Florestas do Alto Paran. A regio encontra-se em uma faixa transicional entre os biomas da oresta ombrla densa e oresta estacional semidecidual, e, em funo das condies climticas e topogrcas vigentes, sua classicao como rea homognea de oresta ombrla densa, constante na carta de vegetao do IBGE de 1988, parece uma simplicao equivocada. No entanto, a vegetao natural da regio encontra-se reduzida a fragmentos pequenos e muito alterada, sendo difcil traar anidades biogeogrcas. Diante do impasse gerado e da falta de dados apropriados para aprofundar a discusso, optou-se por manter a mancha nos limites da Ecorregio Serra do Mar. No entanto, a viso desconsiderou essa rea na estratgia de conservao, porque sua integrao traria problemas na elaborao do planejamento, sem benefcio palpvel para a manuteno da biodiversidade ecorregional. Critrios biogeogrcos e de escala foram a justicativa para ampliao dos limites da ecorregio a m de abrigar todo o macio orestal da regio dos Parques Estaduais (PE) turstico do alto Ribeira (PETAR), Carlos Botelho e Intervales, vertentes orientais da Serra da Mantiqueira e Itatiaia. Esses mesmos critrios esto por detrs da incluso de encraves de oresta ombrla mista e estacional semidecidual do nordeste paulista e Rio de Janeiro dentro da Ecorregio Serra do Mar, constituindo parte de sua heterogeneidade interna. Do mesmo modo, decidiu-se que, apesar de apresentarem algumas caractersticas biticas e abiticas similares quelas vigentes na Serra do Mar, as serras interioranas

mineiras e baianas deveriam permanecer fora da Ecorregio Serra do Mar porque so reas geogracamente reduzidas e consideradas encraves de oresta ombrla densa em outras formaes de maior amplitude. Assim como a Ecorregio Serra do Mar possui pequenos encraves de outros biomas, as ecorregies vizinhas somariam sua heterogeneidade algumas formaes de oresta ombrla densa, cujas faunas e oras tambm contm muitos elementos no compartilhados com a Ecorregio Serra do Mar.

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Os manguezais das regies de Canania SP, Paranagu PR, So Francisco do Sul SC foram incorporados aos limites por apresentarem elementos importantes para a gesto da conservao da biodiversidade nas paisagens costeiras da Ecorregio Serra do Mar. A questo da zona serrana do Esprito Santo, que corresponde a toda a poro sul do estado, mostrou-se mais complexa, porque se tratava no de um encrave, mas de uma rea considervel, com cerca de 14.000 km de extenso. A rea serrana capixaba foi originalmente inserida na Ecorregio Florestas Costeiras Baianas, dominada por formaes de oresta ombrla densa de tabuleiros costeiros, cujas peculiaridades lhe valeram o nome Hilia Baiana. Convencionou-se que a Hilia Baiana tem seu limite sul estabelecido no vale do Rio Doce porque a distribuio de muitas espcies de sua fauna e ora to caractersticas no ultrapassa este rio, caracterizando uma situao bem diferente das distribuies em gradiente observadas ao longo da costa. Muitas espcies da biota da Hilia Baiana so endmicas, uma poro expressiva compartilhada com a regio amaznica (da seu nome) e menos da metade de sua ora comum s serras do sudeste, inclusive aquelas do Esprito Santo. A Hilia Baiana possui ainda uma parcela considervel de espcies arbreas decduas devido existncia de uma estao seca bem denida. A regio dos tabuleiros possui reduzida sazonalidade trmica e est livre das geadas. O relevo de tabuleiros costeiros muito homogneo, o que torna a maior parte da Ecorregio das Florestas Costeiras Baianas bastante plana (interrompido somente pelos pequenos encraves serranos do sul da Bahia), ao contrrio das serras capixabas. Alm de inuenciarem a biota, tais fatos pressupem formas de ocupao humana, e conseqentes presses socioeconmicas, bastante distintas entre a maior parte da ecorregio e o sul do Esprito Santo. Denitivamente, embora se encontrasse na mesma ecorregio, o sul do Esprito Santo compartilhava poucas caractersticas biticas e abiticas com a Hilia Baiana. Por outro lado, muitas caractersticas das serras do Esprito Santo so muito semelhantes quelas vigentes nos demais complexos serranos do sudeste e sul. importante notar que os limites iniciais da Ecorregio Serra do Mar foram baseados na existncia desse tipo de condies abiticas e tosionmicas. Nessas circunstncias tambm de se esperar a existncia de similaridades nos uxos e processos ecolgicos atuantes tanto na Ecorregio Serra do Mar, quanto nas serras capixabas, pois precisamente a existncia das referidas condies abiticas, notadamente a combinao de clima e relevo, que condicionam a biota. Abaixo do Rio Doce, a distribuio de muitas das espcies da biota atlntica mostra gradientes, inclusive com a substituio de espcies irms ao longo das diferentes serras e a gradativa diminuio da diversidade. Tambm se observa a restrio s plancies litorneas de algumas populaes de espcies de maior distribuio medida que se caminha no sentido sul. Diversos elementos da ora e a prpria tosionomia das orestas ombrlas, como as caractersticas formaes montanas e alto-montanas so compartilhadas entre as serras do Esprito Santo e o restante da Ecorregio Serra do Mar, assim como grupos animais tpicos de ambiente serrano, que incluem vrios gneros de anfbios ligados aos riachos de corredeira, lepidpteros, pequenos mamferos e aves. Devido aos condicionantes ambientais similares, tambm as formas de ocupao e atividades antrpicas desenvolvidas nas serras capixabas so semelhantes quelas realizadas na Serra do Mar.

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A regio serrana do Esprito Santo separada das demais serras do sudeste pela larga plancie uvio-litornea terminal do Rio Paraba, inserida na chamada Ecorregio das Florestas Interioranas Baianas. Essa ecorregio engloba orestas estacionais semideciduais com anidades com o Cerrado e a Caatinga e nitidamente distintas das formaes orestais das serras capixabas. O vale do Paraba est intensamente devastado, a ponto de tornar muito difcil determinar suas anidades biogeogrcas em relao s trs ecorregies que o circundam. Contudo, interessante notar que, em sua poro litornea, o vale do rio Paraba era coberto predominantemente por campos, mesmo antes da chegada dos portugueses. Se os chamados campos dos Goitacazes eram feies naturais, ou resultado de atividade antrpica1 permanece ainda como uma questo em aberto, mas o fato que as formaes orestais serranas do Esprito Santo formam um bloco disjunto das demais orestas de encosta do sudeste. Tal disjuno pode no ter ocorrido em outras pocas, especialmente durante o ltimo perodo glacial, quando a circulao de elementos da ora e fauna teria se dado provavelmente atravs da zona da mata mineira, conforme atestam os encraves de oresta ombrla mista presentes nas serras capixabas. Uma possvel linha de pontos de ligao pode ser vislumbrada atravs de serranias menores e disjuntas, que incluem as serras das Torres, do Seio de Abrao, do Bom Retiro, do Palmital, das Cangalhas e o Capara. Embora possua muitas similaridades de biota com a Ecorregio Serra do Mar, a zona serrana do Esprito Santo tambm possui componentes de fauna e ora nicos e de distribuio restrita. Particularidades dessa natureza tambm ocorrem em outras pores da Ecorregio Serra do Mar ex. serra dos rgos e as plancies costeiras paranaenses e do sul do estado de So Paulo. A diferenciao das serras capixabas em relao s demais formaes serranas do sul e sudeste compatvel com o grau de heterogeneidade incluso no conceito de ecorregio. Porm, a presena de endemismos e outras singularidades pressupem a adoo de medidas diferenciadas em uma estratgia conservacionista.

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1 Certos autores defendem que esses campos eram propositalmente mantidos pelos ndios Tupis, a m de que pudessem detectar mais facilmente a presena de seus inimigos Goitacazes (ver Dean, 1996).

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Diante do exposto, a melhor alternativa na perspectiva da estratgia de conservao ecorregional foi a incluso das serras do sul do Esprito Santo na Ecorregio Serra do Mar, com ampliao dos limites conforme ilustrado na Figura 3. Os novos limites foram denidos considerando a regio serrana capixaba por similaridade tosionmica e de relevo com o restante da Ecorregio Serra do Mar, a partir de informaes existentes nas cartas de geomorfologia, geologia e vegetao do Projeto RADAMBRASIL (MINISTERIO DE MINAS E ENERGIA, 1983), modelo numrico de terreno (FARR et al, 2007) e a cobertura orestal remanescente baseada no levantamento da Fundao SOS Mata Atlntica (2001). Essas mesmas informaes foram utilizadas para rever o limite da ecorregio ajustando inconsistncias cartogrcas geradas por problemas de escala e georreferenciamento, tornando a delimitao muito mais precisa como ca claro na Figura 3 (por exemplo, vide regio do vale do Paraba em So Paulo). Considerando estes limites revisados, a ecorregio compreende 127. 411 km2, 488 municpios distribudos por 7 estados e populao de aproximadamente 49 milhes de pessoas (IBGE, 2007).

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Figura 3 Limite original e revisado da ecorregio Serra do Mar.

4.2 Caracterizao da biota4.2.1 DISTRIBUIOA Ecorregio Serra do Mar possui a maior extenso de orestas atlnticas remanescentes, com destaque para os estados de So Paulo, onde mais de 700.000 ha se encontram em unidades de proteo integral (uma nica rea, o PE da Serra do Mar, possui 315.000 ha), Paran, com inmeras UCs estaduais e particulares e Santa Catarina, onde reas igualmente extensas se encontram preservadas, mas sem qualquer proteo legal adicional ao Cdigo Florestal. Tambm importante salientar o alto grau de conectividade da paisagem, com interligao de diversos fragmentos atravs das reas de relevo escarpado, imprprias para o desenvolvimento de atividades produtivas. A determinao de padres de distribuio da biota de extrema importncia para avaliar a representatividade e a eccia do sistema de unidades de conservao de uma ecorregio, bem como identicar ameaas e oportunidades para a biodiversidade e denir estratgias para a sua conservao. Considerando a amplitude e as caractersticas abiticas da Ecorregio Serra do Mar, os padres de distribuio so marcados pela ocorrncia restrita de diversas espcies da ora e da fauna e a existncia do gradiente altitudinal da oresta ombrla densa. A ocorrncia restrita de algumas espcies relaciona-se s condies ambientais especiais, ou a diculdade de transposio de barreiras fsicas, que se repetem ao longo da regio e diminuem ou impedem o uxo gnico entre populaes. Essas barreiras podem ser intensicadas ou amenizadas medida que as condies abiticas mudam de acordoUNIR PAR A CONSERVAR A VIDA

com variaes macrorregionais manifestadas no tempo geolgico. No caso das reas

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montanhosas, este fator um dos principais geradores de diversidade e endemismos, uma vez que as condies abiticas das cadeias de morros e dos vales adjacentes so sempre muito distintas, se acentuam com os padres climticos (locais ou regionais), e dicultam a colonizao e disperso dos indivduos. Na Ecorregio da Serra do Mar, esse fenmeno exemplicado pelos anfbios associados aos riachos de corredeira, onde espcies de um mesmo grupo ligadas a um macio serrano ou bacia hidrogrca so diferentes. Outros exemplos so as inmeras plantas rupcolas dos campos de altitude e o gnero Brachycephalus spp de sapos de serrapilheira, que costumam ter espcies irms isoladas em morros vizinhos. J as condies ambientais especiais comportam espcies com requerimentos auto-ecolgicos to especcos que limitam a sua distribuio. Os artrpodes caverncolas e as comunidades vegetais associadas aos solos calcrios do vale do Ribeira so exemplos tpicos na ecorregio. Por outro lado, o gradiente altitudinal da oresta ombrla densa resultado de um fenmeno macrorregional, que produz variao gradual na biota de modo semelhante, ao longo de toda a ecorregio. A combinao de relevo e clima resulta na estraticao tosionmica com transies suaves, e ligeiras diferenas associadas a particularidades em uma escala geogrca menor. Assim, praticamente impossvel determinar limites de ocorrncia bem denidos para as espcies distribudas nesse gradiente. Outro fenmeno de variao macrorregional vericado na biota da Ecorregio Serra do Mar o gradiente resultante das mudanas de latitude. Como a ecorregio orientada na direo norte-sul, e est dividida entre as zonas tropical e subtropical (temperada) (NIMER, 1979), forma-se mais um gradiente de distribuio de espcies. O aumento da latitude faz baixar as temperaturas mdias e crescer a incidncia de geadas. Como resultado, h a substituio gradual de espcies e diminuio da diversidade das comunidades medida que se avana em direo ao sul. Ao todo, considerando a presena de endemismos e a diminuio de abundncia ou substituio de espcies da biota (por exemplo com variaes coincidentes em de aves, borboletas, rvores, lagartos e anfbios), quatro grandes macrorregies aparentemente distintas ocorrem na regio em funo do gradiente de latitude (Figura 4), mas as transies so sutis demais para que se possa limit-las com conana. Os limites entre as quatro macrorregies foram validados por especialistas em biodiversidade (Anexo I) e apresentados no II Seminrio. Tambm h uma interao acentuada entre latitude e altitude, o que torna ainda mais complexo o quadro de variaes. Conforme se avana em direo ao sul, as formaes de oresta ombrla densa montana e altomontana passam a ocorrer em altitudes cada vez mais baixas (VELOSO; et al., 1991). A partir do estado do Paran, a oresta ombrla mista (Ecorregio das Florestas de Araucria) substitui as formaes montana e altomontana no alto do planalto cristalino.

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Na Mata Atlntica, um fenmeno de distribuio bastante caracterstico associado interao entre latitude e altitude afeta diversos pares de espcies irms (taxa logeneticamente aparentados), que se segregam espacialmente (ex. Aves Tucano-do-bico-verde Ramphastos dicolorus X Tucano-de-bico-preto R. v. ariel, Corococh Carpornis cucullata X Sabi-Pimenta C. Melanocephala SILVEIRA et al. 2005; mamferos Rato-do-mato Delomys dorsalis X Rato-do-mato D. Sublineatus, e Cuca Marmosops paulensis X Cuca M. incanus MUSTRANGI; PATTON 1997). Em um determinado ponto de equilbrio, espcies de um mesmo par costumam se distribuir espacialmente, uma nas orestas montanas e altomontanas, mais frias, e outra nas orestas submontanas e de terras baixas, mais quentes (mas h excees em localidades onde verica-se casos de simpatria). medida que se avana em sentido sul, as espcies associadas ao clima mais frio tendem a ocorrer em altitudes cada vez menores, at substiturem a irm mesmo na zona costeira; por outro lado, quando no sentido norte, observa-se o inverso, com a espcie associada ao clima mais quente ocorrendo em altitudes cada vez maiores.

Figura 4 Quatro macrorregies da oresta ombrla densa das serras do sul e sudeste da ecorregio da Serra do Mar denidas por um gradiente latitudinal.

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4.2.2. FLORAA maior parte da ora da Ecorregio da Serra do Mar no endmica. Vrias espcies tm distribuio ampla pelas formaes orestais neotropicais e boa parte dos endemismos de ocorrncia restrita, tais como muitas espcies de orqudeas, bromlias, bambus, arceas e pteridtas de restingas, campos rupestres ou orestas de altitude de braos serranos distintos do macio principal. Outras espcies endmicas esto associadas zona subtropical, e se restringem poro sul da ecorregio. Como acontece ao longo de todo o domnio da Mata Atlntica, os ecossistemas abrangidos pela ecorregio estudada so predominantemente orestais. Alm da oresta ombrla densa, ocorrem na ecorregio formaes vegetais transicionais, notadamente as formaes costeiras de mangue e restinga, e os campos de altitude e de planalto (SCARAMUZZA, 2006). Os manguezais so ambientes ecotonais tpicos das regies estuarinas. Esto sujeitos a inundaes peridicas por gua do mar e gua doce, sofrendo utuaes abruptas e pronunciadas de salinidade. Os manguezais do sul e sudeste brasileiro se destacam pela abundncia das populaes de trs espcies de rvores: o mangue-vermelho ou bravo (Rhizophora mangle L.), o mangue-branco (Laguncularia racemosa L.) e o manguepreto ou seriba (Avicennia shaueriana Stapf & Leechm. ex Moldenke). Todas apresentam adaptaes estruturais e siolgicas para assegurar a sobrevivncia nesse ambiente de solo no consolidado, pouco oxigenado e constantemente encharcado. A ora do manguezal pode ainda ser acrescida de poucas espcies que vivem nas reas perifricas, sujeitas a uma menor freqncia de inundaes samambaia do mangue (Acrostichum danaeifolium Langsd. & Fisch.), capim-navalha (Rynchospora sp), gramneas Spartina spp, e o algodo-da-praia (Hibiscus pernambucensisb Arruda) , ou de modo epto liquens, musgos, bromlias (principalmente os gneros Tillandsia spp, Aechmea spp e Vriesia spp) e orqudeas (gneros Maxillaria spp, Epidendrum spp e Brassalova spp).

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Os mangues so ecossistemas altamente produtivos, que fornecem alimento, proteo, condies de reproduo e crescimento para muitas espcies de valor comercial, garantindo a manuteno e renovao de estoques pesqueiros. Exercem ainda outros servios ambientais de grande valia, tais como a proteo das reas de terra rme contra tempestades e aes erosivas das mars; reteno de poluentes; manuteno dos canais de navegao atravs da reteno de sedimentos nos carreados pelas guas. Na ecorregio da Serra do Mar os manguezais no so muito pronunciados, e as maiores extenses so encontradas nos esturios de Paranagu, Canania/ Iguape e Cubato/Bertioga. As formaes de restinga so tosionomias transicionais que ocorrem em gradiente na zona costeira. Muitas plantas da restinga so xertas seletivas, com capacidade de suportar altas temperaturas e salinidade, grande dessecao e pouca disponibilizao de nutrientes. Pode-se considerar como vegetao de restinga o conjunto de comunidades vegetais sionomicamente distintas, sob inuncia marinha e vio-marinha, distribudas em mosaico sucessional entre a praia e reas com solos mais desenvolvidos. So consideradas comunidades edcas porque dependem mais da natureza do solo que do clima. Alm das condies de solo, situaes de drenagem inuenciam a composio do mosaico da restinga.

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Na Ecorregio Serra do Mar podem ser distinguidas as seguintes formaes na restinga: vegetao de praias e dunas localizada prxima ao mar, sobre areia seca, onde se encontram ervas pioneiras reptantes escandentes e alguns arbustos; jundu ou escrube afastando-se do mar, nas partes mais altas das ondulaes dos cordes arenosos encontram-se arbustos com ramos retorcidos, bromlias terrcolas e cactceas. Em reas mais midas, entre cordes arenosos, o solo sempre encharcado e a vegetao herbceo-arbustiva, composta por espcies paludcolas; orestas baixas de restinga localizam-se mais para o interior, aps os cordes arenosos. A vegetao mais alta, com arbustos e arvoretas, presena de bromlias, trepadeiras e orqudeas; brejo de restinga permanentemente inundado, com vegetao herbcea e ocorrncia pontual de rvores adaptadas ao solo saturado (ex: caixetas, guamirins e olandis).

As orestas altas de restinga e orestas paludosas so formaes transicionais que podem ser includas na categoria das orestas ombrlas densas de terras baixas, descritas frente. A oresta ombrla densa caracterizada por rvores de folhas largas, sempre-verdes, com durao relativamente longa e mecanismos adaptados para resistir tanto a perodos de calor extremo, quanto para evitar umedecimento excessivo. comum a presena de um tipo de sulco nas pontas das folhas para facilitar a drenagem da gua. Muitas rvores possuem razes de suporte, adaptadas para a xao sobre troncos e rvores cadas, e pr-adaptadas para maior sustentao em condies topogrcas instveis. A enorme quantidade e variedade de lianas e eptas tambm uma caracterstica dessas orestas. As diversas formaes da oresta ombrla densa do sul e sudeste do Brasil esto distribudas em um gradiente altitudinal intimamente relacionado s feies de relevo (Figura 5). A composio orstica ao longo do gradiente bastante varivel, tanto em termos locais, derivados de caractersticas microclimticas, edcas, quanto na prpria escala ecorregional, decorrente da existncia do gradiente de latitude j mencionado. Adotando-se o modelo empregado pelo projeto RADAMBRASIL (MINISTERIO DE MINAS E ENERGIA, 1983), possvel considerar quatro faixas do gradiente de altitude que se mantm como formaes orsticas e tosionmicas coesas ao longo da ecorregio: so as formaes de terras baixas, submontana, montana e altomontana.UNIR PAR A CONSERVAR A VIDA

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As orestas ombrlas densas de terras baixas ocorrem associadas plancie costeira e base das encostas, em altitudes inferiores a 50 metros. Ocupam os terrenos quaternrios formados por sedimentos arenosos sobre solos podzlicos de drenagem moderada resultantes da eroso das serras costeiras, ou os depsitos de tlus encontrados na base das serras. Trata-se de uma formao vegetal bem desenvolvida, que representa a mxima expresso das orestas pluviais do sudeste e sul, graas s condies de clima, topograa e solos. Os elementos dominantes formando um dossel denso e homogneo em torno de 20 a 30 metros de altura. Nos trechos vizinhos s encostas, onde o solo profundo e rico em matria orgnica proveniente de deslizamentos, a oresta ainda mais desenvolvida, com ocorrncia de rvores enormes, de mais de 40 metros de altura e 3 m de dimetro altura do peito (DAP). As espcies arbreas comuns nessa formao orestal so geralmente seletivas higrlas, sendo caractersticas do dossel o tapiriri (Tapirira guianensis Aubl.), guacde-leite (Pouteriavenosa (Mart.) Baehni), maaranduba (Manilkara subsericea (Mart.) Dubard), bicuba (Virola oleifera (Schott) A.C. Sm.), canela-nhutinga (Cryptocarya aschersoniana Mez), baguau (Talauma ovata A. St.-Hil.), leiteiro (Brosimum lactescens (S. Moore) C.C. Berg), goiabo (Eugenia leitonii Legrand), guamirim-ferro (Myrcia glabra (O. Berg) D. Legrand), juerana-branca (Balizia pedicellaris (DC.) Barneby & J.W. Grimes) e o embiruu (Eriotheca pentaphylla (Vell.) A. Robyns), entre muitas outras.

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Floresta Ombrla Densa Altomontana

Floresta Ombrla Densa Montana 1000 m

Figura 5 Esquema do gradiente de distribuio vertical exibido pelas formaes de oresta ombrla densa das serras do sul e sudeste brasileiro na ecorregio da Serra do Mar

500 m

Floresta Ombrla Densa Submontana

50 m Floresta Ombrla Densa de Terras Baixas

No estrato arbreo intermedirio so comuns o miguel-pintado (Matayba guianensis Aubl.), pindaba (Xylopia brasiliensis Spreng.), guaricica (Vochysia bifalcata Warm.), ings (Inga spp), jacarand-lombriga (Andira anthelminthica Benth.), tapi-guau (Alchornea triplinervis Sw.), guamirim-vermelho (Gomidesia spectabilis (DC.) O. Berg), e embabas (Cecropia pachystachya Trcul) nas clareiras sucessionais. Tambm o palmito-juara (Euterpe edulis Mart.) era originalmente muito abundante, embora tenha sido praticamente erradicado de grande parte da sua rea de distribuio, pela extrao predatria. No sub-bosque e estrato herbceo arbustivo observa-se grande nmero de bromlias terrestres (dos gneros Nidularium spp, Aechmea spp, Vriesia spp e Bromlia spp), erva-danta (Psychotria sp), caets (Calathea spp, Heliconia spp), palmeiras (dos gneros Bactris spp, Astrocaryum spp e Geonoma spp), lrios e arceas. Entre as lianas destacamse as ciclantceas do gnero Asplundia spp, muito caractersticas, enquanto entre as eptas sobressaem arceas do gneros Philodendron spp, Scindapsus spp, Monstera spp e Anthurium spp, bromeliceas como Tillandsia spp, Aechmea spp e Vriesia spp, cactceas do gnero Rhipsalis spp, e inmeras orqudeas, alm de muitas espcies de fetos, musgos e liquens. Na plancie costeira, grandes reas esto sujeitas a inundaes peridicas, ou possuem uma rede de canais difusos, o que impede o desenvolvimento de espcies arbreas caractersticas de ambientes mais bem drenados. Nesses trechos semialagados se desenvolvem os caxetais, com dominncia da Tabebuia cassinoidesUNIR PAR A CONSERVAR A VIDA

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Gomes ex DC., conhecida como caxeta. Alm dessa espcie, so freqentes o ip-da-vrzea (Tabebuia umbellata (Sond.) Sandwith), os ings (Inga spp), o olandi (Calophyllum brasiliense Cambess.) e a figueira-de-folha-mida (Ficus organensis Cambess.). Por se localizarem em reas planas litorneas, essas formaes orestais foram fragmentadas, convertidas e ocupadas desde o incio da colonizao e ainda hoje, os poucos remanescentes sofrem intensa presso antrpica, pela expanso das cidades costeiras, caa e explorao excessiva de recursos orestais (caxeta, palmito, plantas ornamentais, etc). As orestas ombrlas densas submontanas se estendem pelas encostas das serras entre as altitudes de 50 a 500 metros, podendo ocorrer em vales e grotes protegidos nas cotas superiores. Trata-se da formao orestal caracterstica das representaes da Mata Atlntica. Em seu estgio climxico, composta por rvores de alturas aproximadamente uniformes, raramente ultrapassando 30 metros, mas nos vales menos declivosos, onde existe um espesso manto de detritos vegetais, as maiores rvores podem atingir at 40 metros de altura. Devido declividade do terreno no qual se desenvolve, apresenta estraticao vertical pouco aparente, com intensa sobreposio entre estratos orestais. Ainda devido declividade e instabilidade das encostas, que produzem deslizamentos constantes, mostra-se como um mosaico de diferentes estgios sucessionais (ecounidades orestais), com grande nmero de clareiras em diversos estgios de regenerao. O dossel mais diverso que aquele da formao anterior, composto por espcies variadas, em sua maioria seletivas higrlas. Entre as mais comuns cita-se o pau-sangue (Pterocarpus violaceus Vogel), guatambu (Aspidosperma olivaceum Mll. Arg.), laranjeira-do-mato (Sloanea guianensis (Aubl.) Benth.), gueiras (Ficus spp), tapi-guau (Alchornea Triplinervia (Spreng.) Mll. Arg.), jequitib (Cariniana uaupensis (Spruce ex O. Berg) Miers), canelas (Ocotea spp, Nectandra spp), ararib (Centrolobium robustum (Vell.) Mart. ex Benth.), bicuba (Virola oleifera (Schott) A.C. Sm.), cedros (Cedrella spp), canjerana (Cabralea canjerana (Vell.) Mart.), maaranduba (Manilkara subsericea (Mart.) Dubard), jatob (Hymenaea courbaril L.), caovi (Pseudopiptadenia warmingii (Benth.) G.P. Lewis & M.P. Lima), baguau (Talauma ovata A. St.-Hil.). Nos trechos sucessionais so comuns as embabas (Cecropia spp), guapuruvu (Schizolobium parahyba (Vell.) S.F. Blake), manacs-da-serra (Tibouchina spp) e pau-de-tucano (Vochysia tucanorum Mart.). No estrato intermedirio, alm de exemplares jovens de espcies que ocupam o dossel, so comuns espcies tipicamente tropicais, como seca-ligeiro (Pera glabrata (Schott) Poepp. ex Baill.), ings (Inga spp), bagas-de-morcego (Guarea sp), guamirins (Gomidesia spp, Marlierea spp, Calyptranthes spp e Myrceugenia spp), almcega-vermelha (Pausandra morisiana (Casar.) Radlk.), canela-pimenta (Ocotea teleiandra (Meisn.) Mez), bacupari (Garcinia gardneriana (Planch. & Triana) Zappi). Destacam-se ainda os fetos arborescentes ou samambaiaus (gneros Alsophila spp, Nephelea spp e Cyathea spp), e as palmeiras. O palmito-juara (Euterpe edulis Mart.) deveria ser a palmeira mais freqente no estrato arbreo intermedirio, mas devido explorao predatria, foi quase exterminado de muitas reas. Alm deste, existem diversas outras espcies de palmeiras caractersticas dessa oresta, como o jeriv (Syagrus romanzoanum (Cham.) Glassman) e o indai (Attalea dubia (Mart.) Burret), capazes de atingir os estratos superiores, ou a guaricana (Geonoma elegans Mart.), brejava (Astrocaryum aculeatissimum (Schott) Burret) e tucuns (Bactris spp) restritos ao interior da oresta. No sub-bosque mido e mal ventilado ocorrem arbustos como baga-de-morcego (Guarea macrophylla Vahl), erva-danta (Psychotria sp), vu-de-noiva (Rudgea jasminoides (Cham.) Mll. Arg.), pimenteira

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(Mollinedia triora (Spreng.) Tul.) e Piper spp e ervas como marantceas, caets-banana (Heliconia spp) e erva-cidreira (Hedyosmum brasiliens Miq.). Como na formao anterior, existe enorme abundncia de eptas, em especial bromeliceas e arceas, e grande nmero de lianas lenhosas (bignoniceas, sapindceas e leguminosas). As orestas ombrlas densas montanas podem ser encontradas na faixa de altitudes entre 500 e 1.000 metros. A estrutura orestal do dossel aberto, de 15 a 20 metros, representada por ectipos relativamente nos com casca grossa e rugosa, folhas midas e de consistncia coricea. As rvores em geral no formam um dossel orestal contnuo, devido distribuio escalonada da vegetao sobre as vertentes muitoUNIR PAR A CONSERVAR A VIDA

ngremes. Nas serras costeiras, de natureza grantica ou gnissica, essa tosionomia

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mantida at prximo ao cume dos relevos dissecados, em funo dos solos delgados ou litlicos, altamente lixiviados e de baixa fertilidade em decorrncia da drenagem intensa. Nestas condies, h uma maior disponibilidade de luz no interior da mata, que juntamente com a maior umidade providenciada pelas chuvas orogrcas favorece a elevada riqueza de eptas. Observa-se o aparecimento de espcies seletivas xerlas juntamente com aquelas seletivas higrlas. As rvores mais altas da oresta montana so em geral leguminosas, como o caovi (Newtonia glaziovii (Harms) Burkart ex Barth & Yoneshigue) e o pau-leo (Copaifera trapezifolia Hayne), com alturas de 30 metros ou mais e copas bastante amplas. Outras espcies que ocorrem no estrato superior so o guatambu (Aspidosperma olivaceum Mll. Arg.), ip-amarelo (Tabebuia cf. alba (Cham.) Sandwith), licurana (Hyeronima alchorneoides Allemo), canjerana (Cabralea canjerana (Vell.) Mart.), cedros (Cedrela spp), tapis (Alchornea spp), guapeva (Pouteria torta (Mart.) Radlk.), baguau (Talauma ovata A. St.-Hil.), capixinguis (Croton spp), manacs (gneros Miconia spp, Leandra spp e Tibouchina spp), carvalho (Roupala sp), baga-de-pomba (Byrsonima ligustrifolia A. Juss.), carobas (Jacaranda spp), carne-de-vaca (Clethra scabra Pers.) e o guaraparim (Vantanea compacta (Schnizl.) Cuatrec.). No sul do Brasil, a confera Podocarpus sellowii Klotzsch ex Endl. tpica dessa formao, ocorrendo por vezes com gneros da famlia Lauraceae (Ocotea spp e Nectandra spp), em associaes semelhantes oresta ombrla mista. O interior dessas orestas semelhante quele das orestas submontanas, porm com tpica diminuio natural da densidade do palmito-juara (Euterpe edulis Mart.) acima dos 800 metros de altitude, a partir de onde se torna restrito aos vales de drenagem protegidos. No estrato arbreo intermedirio ocorrem com freqncia o macuqueiro (Bathysa sp), gramimunhas (Weinmannia spp), ings-macaco (Inga minutula (Schery) T.S. Elias), ing-feo (Inga marginata Willd.), baga-de-macaco (Posoqueria latifolia (Rudge) Roem. & Schult.), almesca (Protium kleinii Cuatrec.), guaraper (Lamanonia speciosa (Cambess.) L.B. Sm.) e guamirins (mirtceas). O estrato herbceo-arbustivo caracterizado por melastomatceas, rubiceas, bromeliceas terrestres e pteridtas. Bambus tambm so freqentes acima dos 800 metros e, entre as palmeiras, a guaricana (Geonoma schottiana Mart.) e outras espcies do gnero so bastante comuns, assim como espcies de Lytocaryum spp, agora ameaadas pela extrao indiscriminada. As eptas so muito abundantes e evidente o predomnio de pteridtas e britas, que formam verdadeiros tapetes sobre os troncos e os ramos das rvores, alm de cip-imbs (Philodendron sp), bromeliceas e micro-orqudeas.

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As orestas ombrlas densas altomontanas ocorrem nas altitudes superiores a 1.000 metros. Tambm so chamadas de mata nebular ou oresta nuvgena, pois esto sujeitas alta umidade do ar, proveniente dos ventos midos que sopram do mar, e se resfriam enquanto sobem a serra provocando precipitao na forma de nevoeiro ou chuva. Tal fenmeno caracterstico tambm conhecido como um efeito orogrco, e torna o ambiente constantemente saturado de umidade. Alm disso, h diminuio da temperatura, com mdias dirias e anuais por vezes inferiores a 15 C (dependendo da latitude), e mnimas de at 6 C durante a noite. As orestas altomontanas se apresentam como vegetao arbrea densa, uniestraticada, baixa e com um dossel uniforme, entre 5 e 10 metros, formado por indivduos tortuosos, abundantemente ramicados e nanofoliados. Tanto o porte, quanto a estrutura e composio orstica variam conforme altitude e espessura dos solos, e a maioria das espcies seletiva xerta, adaptada s condies desfavorveis e intensa insolao e ventos fortes. Muitas das espcies a presentes ocorrem tambm nas restingas e costes rochosos expostos maresia, que compartilham condies de estresse semelhantes.

Mirtceas, melastomatceas, clusiceas e aquifoliceas costumam ser as famlias dominantes do componente arbreo e as seguintes rvores costumam ser freqentes: gramimunha-mida (Weinmannia humilis Engl.), cambu (Siphoneugena reitzii D. Legrand), guaper (Clethra scabra Pers.), quaresmeira (Tibouchina sellowiana Cogn.), jabuticaba-docampo (Eugenia pluriora DC.), guamirim (Eugenia sp), cambuis (Myrcia spp e Myrceugenia spp), congonha (Ilex theizans Mart. ex Reissek), cana (Ilex microdonta Reissek), manguedo-mato (Clusia criuva Cambess.), pinho-bravo (Podocarpus sellowii Klotzsch ex Endl.), casca-danta (Drymis brasiliensis Miers), coco (Erythroxylum cuspidifolium Mart.) e orelha-da-ona (Symplocos celastrinea Mart. ex Miq.). Em lugares mais protegidos podem ocorrer indivduos de espcies tpicas de altitudes menores, que costumam apresentar desenvolvimento fraco. Os troncos das rvores e arbustos so revestidos de musgos, hepticas, orqudeas (ex. Sophronitis spp, Oncidium spp e Maxillaria spp) e bromeliceas coriceas. Alm das rvores, destaca-se a abundncia de espcies de bambus que podem formar grandes bolses monoespeccos. No solo so freqentes as grandes bromeliceas terrestres e rupcolas (gneros Vriesia spp, Dyckia spp e Bromelia spp) e muitas pteridtas (exemplos caractersticos so os gneros Gleichenia spp e Polystichum spp). Por m, os campos de altitude so formaes abertas, que ocorrem a partir da cota dos 1.200 metros (SCARAMUZZA, 2006). Embora disseminados pelas serras interioranas mais altas, esses campos so pouco freqentes na Ecorregio da Serra do Mar, onde as maiores manchas se encontram nas serras da divisa dos estados de Rio de Janeiro e Minas Gerais, nos limites da chamada Ecorregio dos Campos Rupestres. Fora dessa rea existem pequenas manchas associadas aos solos rasos e paredes de rocha exposta, nos morros mais altos do complexo da Serra do Mar, como por exemplo, os campos do Curucutu no municpio de So Paulo. A ora dos campos de altitude formada principalmente por compostas, capins, bambuzinhos, bromlias, orqudeas, velosiceas, sempre-vivas, musgos e lquenes. Uma caracterstica importante dessas formaes o alto grau de endemismo de suas espciesUNIR PAR A CONSERVAR A VIDA

vegetais, sendo muitas delas restritas a uma serra, ou mesmo a um nico morro.

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4.2.3 FAUNAA fauna da Ecorregio Serra do Mar muito diversicada e, por estar inserida na poro mais desenvolvida e ocupada do territrio brasileiro, relativamente bem conhecida. Para se ter uma idia de sua diversidade, a ecorregio abriga 9 espcies de primatas, 75 espcies de serpentes, mais de 500 espcies de aves e mais de 1.000 espcies de borboletas. Como acontece com a ora, muitas espcies de animais da Ecorregio Serra do Mar so compartilhadas com ecorregies vizinhas, principalmente a Ecorregio Alto Paran e a Ecorregio das Florestas Costeiras da Bahia, e no existem espcies exclusivas da Ecorregio Serra do Mar como um todo, mas sim espcies cuja principal rea de distribuio se sobrepe quela da ecorregio, e espcies de distribuio restrita, endmicas de uma parte da ecorregio. Os primatas constituem um bom exemplo: 4 das 9 espcies Callithrix aurita, Cebus nigritus, Brachyteles arachnoides e Alouatta fusca clamitans, respectivamente sagui-estrela preto, macacoprego, mono-carvoeiro e bugio tm a maior parte da distribuio concentrada na oresta ombrla densa, mas ocorrem tambm em reas de oresta ombrla mista e oresta estacional semidecidual, que fazem parte de ecorregies vizinhas, enquanto 2 outras espcies Leontopithecus caiara e L. rosalia (mico-leode-cara-preta e mico-leo-dourado) so endmicos de partes distintas da Ecorregio Serra do Mar. Os demais endemismos que se destacam entre as espcies de mamferos so diversos gneros de roedores Delomys spp, Rhagomys spp, Phaenomys spp, Phyllomys spp, Nelomys spp (3 das 6 espcies), Kannabateomys spp , alguns dos quais bastante raros, s foram redescobertos durante a dcada de 90. A Mata Atlntica tem cerca de 200 espcies de aves endmicas, muita das quais de distribuio ampla ao longo da costa brasileira, ocorrendo desde o sul do Estado da Bahia at o norte do Rio Grande do Sul, seguindo pelo interior do Paran at a regio de Missiones na Argentina. Aproximadamente 30 espcies so endmicas, ou preponderantemente distribudas na Ecorregio Serra do Mar, sendo algumas de ocorrncia bastante restrita. Destacam-se duas espcies de psitacdeos sabi-cica (Triclaria malachitae) e papagaio-do-mangue (Amazona brasiliensis), cotingdeos de orestas de altitude (Carpornis cucullata, Tuca condita, T. atra e Caliptura cristata), alguns tangars (Nemosia rourei, Dacnis nigripes, Thraupis cyanoptera e Tangara desmaresti) e uma srie de papa-moscas (ex. Mionectes ruventris, Phylloscartes kronei, P. dicilis, Hemitriccus furcatus, H. kaempferi e H. orbitatus) e formicardeos (ex. Drymophila rubricollis, D. genei, Drymophila ochropyga, Dysithamnus xanthopterus, Formicivora erythronotos, Stymphalornis acutirostris, Myrmotherula unicolor, M. uminensis, M.minor, M. gularis). interessante notar que, ao longo das serras dos estados de So Paulo e Rio de Janeiro (e tambm Esprito Santo), a riqueza de espcies de aves orestais diminui das baixadas para as regies de maior altitude, enquanto a porcentagem de espcies endmicas da Mata Atlntica aumenta no mesmo sentido at se constituir em cerca de metade da avifauna das orestas de altitude, acima de 1200 m (BENCKE et al. 2006).

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Cerca de 20 espcies de serpentes so endmicas da Ecorregio Serra do Mar, com destaque para as jararacas insulares Bothrops sp.nov e B. insularis , espcies de matas de altitude Bothrops fonsecai, Gomesophis brasiliensis, Liophis atraventer, Tropidodryas striaticeps, Pseudoboa serrana e Micrurus decoratus e a jibia Corallus cropani, extremamente rara. Alm das cobras, quelnios endmicos do gnero Hydromedusa H. maximiliani e H. tectifera ocorrem nos riachos de corredeira em reas serranas do sudeste e sul, e o lagarto Placosoma glabelum (Gymnophtalmidae) ocorre associado s bromlias da oresta ombrla densa submontana. Outros lagartos endmicos Liolaemus lutzae e Mabouya caissara ocorrem associados aos ambientes costeiros da ecorregio, enquanto os esturios abrigam as maiores populaes do jacar-de-papo-amarelo (Caiman latirostris), ameaado de extino. As espcies de anfbios so muito diversicadas na ecorregio, e algumas das caractersticas esto associadas aos riachos de corredeira. Pelo menos um gnero de hildeo (Phasmahyla spp) e vrios gneros de leptodactildeos (Cycloramphus spp, Crossodactylus spp, Hylodes spp e Megaelosia spp, entre outros) formam grupos de espcies aloptricas distribudos pelas diferentes cadeias montanhosas do complexo da Serra do Mar e vizinhanas. Alm disso, merecem destaque os sapos da famlia Brachycephalidae, endmica desta formao; as pererecas do gnero Fritziana spp, associadas a bambus ou bromlias; e uma srie de espcies de distribuio restrita, tais como Aparasphenodon bokermanni, Hyla izecksohni, H. clepsydra, Phrynomedusa spp, Scinax jureia (Hylidae), Cycloramphus juimirin, Hylodes sazimai, Megaelosia bocainensis, M. lutzae, M. massarti, Odontophrynus moratoi, Melanophryniscus moreirae e o gnero Paratelmatobius spp (Leptodactylidae). Por m, cabe lembrar que as condies fsicas e histricas da regio favorecem a diversicao do grupo, e novas espcies de anfbios vm sendo descritas frequentemente. A fauna de invertebrados das orestas ombrlas densas muito rica, e a Serra do Mar no foge regra. Milhares de espcies de insetos j foram encontradas na regio e muitas outras ainda esto por ser descritas ou mesmo descobertas. Vrias borboletas endmicas e ameaadas de extino so caractersticas das restingas, orestas montanas e campos de altitude das serras atlnticas: Actinote quadra, A. zikani, Arawacus aethesa, Callicore hydarnis, Caenoptychia boulleti, Cyanophris berta, Dasyophtalma delanira, D. geraensis, Drephalys mourei, D. miersi, Episcada vtrea, Eucorna sanarita, Hyaliris leptalina leptalina, Heraclides himeros himeros, Hypoleria fallens, Mesenops albivitta, Mimoides lysithous harrisianus, Mycastor leucarpis, Nirodia alphegor, Orobrassolis ornamentalis, Panara ovifera, Parides ascanius, P. bunichus chamissonia, Parides ascanius, Polygrapha suprema, Prepona deiphile e Tithorea harmonia caissara. Somada questo dos endemismos, deve-se considerar o problema das espcies de distribuio mais ampla, porm ameaadas de extino. Os grandes fragmentos orestais da Ecorregio Serra do Mar representam os ltimos refgios para espcies outrora distribudas pela maior parte da Mata Atlntica, como a jacutinga (Pipile jacutinga), que foi exterminada pela caa em grande parte de sua rea de distribuio. Outras espcies de animais e plantas que ocorriam ao longo da costa

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brasileira, como os monos-carvoeiros (Brachyteles spp), tiveram suas populaes muito reduzidas e fragmentadas no interior de So Paulo, em Minas Gerais, Esprito Santo e estados do Nordeste, mas ainda se mantm em nmero razovel no complexo da Serra do Mar. No entanto, apesar do tamanho dos remanescentes orestais da Ecorregio Serra do Mar, certas espcies de animais de grande porte e requerimentos ambientais complexos, como a ona-pintada (Panthera onca), a queixada (Tayassu pecari) e a harpia (Harpia harpa) so nela muito raros, tendo sido registrados umas poucas vezes ao longo das ltimas 3 dcadas. Embora esteja presente no Complexo PETAR / PE Carlos Botelho / PE Intervales e na EE da Juria, a ona-pintada no tem registros recentes documentado no PE da Serra do Mar, a maior unidade de conservao da regio, enquanto a harpia no teve presena recente conrmada em nenhuma parte da ecorregio. J a queixada muito rara, mesmo nas maiores unidades de conservao citadas. Os motivos para a raridade ou ausncia dessas espcies em reas to grandes no so claros, j que elas ocorrem em fragmentos bem menores (por exemplo, no PE Morro do Diabo e EE Caitetus, na Ecorregio das Florestas do Alto Paran). Fatores histricos, como a caa persistente, combinados com aspectos naturais (menor produtividade e menor biomassa nos estratos inferiores das orestas pluviais em relao quelas estacionais semideciduais) podem ser hipteses explicativas. Outras espcies de grande porte e requerimentos complexos anta (Tapirus terrestris), cateto (Tayassu tajacu), jaguatirica (Leopardus pardalis), suuarana (Puma concolor), gaviespega-macaco (gneros Spizaetus e Spizastur), gavies-pomba (Leucopternis spp) so freqentes nos grandes fragmentos orestais da Ecorregio Serra do Mar.UNIR PAR A CONSERVAR A VIDA

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4.3 Meio FsicoNo cretceo superior, logo aps a atuao da tectnica de placas e penetrao das guas do Atlntico Sul entre a frica e o Brasil, houve o estabelecimento de duas reas de sedimentao, totalmente opostas, separadas e distintas: a bacia do Grupo Bauru, na poro norte da Bacia do Paran (fcies lagunar e fluviolacustre) e da fossa da chamada Bacia de Santos na plataforma continental, a leste de uma rea de falhamentos escalonados (fcies predominantemente marinha). Linhas de falhas escalonadas, paralelas fossa submarina da plataforma, prenunciam a formao da Serra do Mar. Ao fecho da sedimentao cretcica, rios longos se dirigiam para o Paran em um esquema de superimposio hidrogrfica pscretcica, enquanto rios curtos se dirigiam para a frente martima, passando a realizar dissecaes progressivas, por eroso fluvial remontante. A histria geolgica regional comportou um esquema dinmico de soerguimentos epirognicos, de desigual fora de elevao, aplicado a um conjunto litolgico de rochas metamrficas pouco resistentes (em faixas NE-SW), enquadradas por macios de rochas duras situadas nas mais diversas posies. Foi nessa conjuntura que se processou um dos mais interiorizados recuos das escarpas da Serra do Mar, avaliado em 80 quilmetros da linha de costa atual. Enquanto eram gerados espores subparalelos, em uma larga trelia de vales subseqentes, acrescidos de pequenos e mdios vales, incisos em linhas de fraturas tectnicas ou em linha de falhas. No modelo de horsts tpicos, restaram alguns macios costeiros isolados da serra e seus espores, transformados em ilhas montanhosas nos perodos de mxima ingresso de guas martimas (ABSABER, 2006). Em termos geomorfolgicos, as condies predominantes nessa regio so macios serranos de relevo escarpado, com solos pouco profundos de baixa a mdia fertilidade, entre os quais se destaca a Serra do Mar, que d nome ecorregio. Na faixa costeira, as plancies estreitas so formadas pela deposio de cordes arenosos, permeadas por complexos estuarinos associados foz de rios de maior porte. A variao ambiental contnua pronunciada na ecorregio da mata atlntica e explica em parte a grande diversidade de espcies. O clima regional tem caractersticas tropicais, mesmo em reas situadas em zona extratropical, com temperaturas amenas (mdias acima de 15 C) e alta pluviosidade, sem um perodo seco denido (mais de 1.800 mm/ ano), devido inuencia ocenica (NIMER, 1979). Nota-se ainda a ocorrncia ocasional de geadas nos meses de inverno e incio da primavera. Respondendo s utuaes do clima, as espcies de plantas e animais mudavam tambm de distribuio vertical nas encostas. O clima contemporneo quente e mido instalou-se provavelmente em torno de 6.500 anos atrs, quando a cobertura vegetal presente comeou a tomar a forma existente. Todo esse dinamismo topogrco e climtico nos ajuda em parte a entender as razes do rico endemismo da biota da Mata Atlntica (POR, 1992).

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4.4 Histrico scioeconmico e ambientalUm plano de ao para a conservao da biodiversidade deve levar em conta no somente os aspectos naturais da regio, mas tambm os aspectos socioeconmicos, que tm grande influncia sobre o ecossistema. Sistemas econmicos e naturais esto intrinsecamente relacionados e, embora existam diferentes graus de interdependncia entre ambos, em regra geral, os processos ecolgicos so afetados pelas atividades econmicas e as atividades econmicas so moldadas e condicionadas pelo meio ambiente. Na regio de abrangncia da Ecorregio Serra do Mar, habitam diferentes grupos sociais com variados nveis de desenvolvimento e organizao econmica distinta. Existem pequenas vilas e comunidades tradicionais onde vivem populaes caiaras, comunidades quilombolas e comunidades indgenas , fazendas e reas rurais extensas, e centros urbanos dos mais diferentes portes e composies sociais. Neste contexto, as presses exercidas pelo homem na oresta tm diferentes origens e intensidades, e uma enorme complexidade. Fazer uma anlise de ocupao da Mata Atlntica contar a histria de sua destruio. Ao longo de sculos, depois da chegada dos colonizadores europeus, infelizmente a Mata Atlntica tem sido sempre objeto de descaso, de explorao, e de infravalorao que levaram sua progressiva converso e ao quase que completo desaparecimento. A rea de domnio da Mata Atlntica brasileira apresenta traos de ocupao humana que datam de pelo menos dez mil anos atrs. A ocupao indgena j exercia alguma presso na Mata Atlntica, mas seu destino mudou completamente com a chegada dos portugueses. Durante a colonizao portuguesa, o Brasil era uma colnia tipicamente de explorao, cuja nica nalidade era a de servir aos interesses da metrpole. O primeiro produto extrado no Brasil para atender os interesses de Portugal foi o pau-brasil, e em seguida a cana de acar, ambas atividades econmicas com impactos considerveis sobre a Mata Atlntica. J no sculo XVIII, quando ocorreu a corrida do ouro em Minas Gerais, a oresta sofreu dois tipos de presses mais intensas que os dois sculos anteriores de agricultura de subsistncia e plantaes de cana: a da produo de alimentos para manter a crescente populao e, principalmente, a remoo exploratria da superfcie dos solos da oresta em busca do ouro e do diamante (DEAN, 1996). Com a Independncia do Brasil (1822), a concesso de sesmarias que estimulava o desmatamento foi suspensa e posteriormente abolida (Constituinte de 1823). Mas a fronteira de destruio de Mata Atlntica no sculo XIX foi expandida tanto pela esperana de encontrar ouro e diamante em algum lugar da oresta, como pelas prticas agrcolas destrutivas. No entanto, o sculo XIX foi marcado pela expanso do caf que foi a ameaa mais intensa enfrentada pela Mata Atlntica desde o incio da colonizao, especialmente nas Ecorregies Serra do Mar e Alto Paran. Com o caf veio o crescimento demogrco, aUNIR PAR A CONSERVAR A VIDA

urbanizao, a industrializao e a construo de ferrovias.

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Na primeira metade do sculo XX, a populao humana continuou a crescer de forma acentuada na regio da Mata Atlntica. Entre 1900 e 1950 a populao do Sudeste cresceu de aproximadamente 7 para 22 milhes de pessoas (DEAN, 1996). No incio dos anos 30, Getlio Vargas decretou uma srie de cdigos regulamentando um novo cdigo orestal contendo um embrio do que temos de legislao ambiental hoje, e em 1937, foi declarado na Ecorregio Serra do Mar, o Parque Nacional de Itatiaia, primeira unidade desse tipo do Brasil. O surgimento da industrializao no Brasil iniciou o processo de transformao da economia nacional, acompanhado de uma intensa migrao rural em direo s cidades A sociedade se transformou, concentrando-se cada vez mais nas cidades. No entanto, para a Mata Atlntica, estas transformaes no signicaram alvio das presses socioeconmicas: estima-se que em 1948, a lenha e o carvo representavam 79% de toda a energia consumida no pas, e quase toda esta lenha vinha de orestas nativas (DEAN, 1996).

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Em 1961, o presidente Jnio Quadros declarou toda a Serra do Mar, do Esprito Santo at o Rio Grande do Sul, como orestas protetoras de mananciais e solos. Em 1967 um novo cdigo orestal foi promulgado, raticando a autoridade do Estado sobre as orestas particulares e restabelecendo penalidades criminais por infraes. Estendia tambm a proteo a outros tipos de vegetao, incluindo orestas de galeria e manguezais, e simplicava a classicao das orestas. Ao nal de 1973, o perodo de elevado crescimento econmico conhecido por milagre econmico foi abalado com a crise internacional do petrleo. Uma srie de medidas foi tomada, com elevados custos ao meio ambiente e Mata Atlntica. O programa PROALCOOL rapidamente tornou-se causa de grande desmatamento e a expanso da cana de aucar foi responsvel por quase metade do desorestamento da mata primria ocorrido entre 1962 e 1984 (DEAN, 1996). No entanto, o mais prejudicial de todos estes programas para a regio da Mata Atlntica foi a implantao da matriz hidreltrica. Em 1992, 269 usinas hidreltricas haviam inundado 17.130 km2 na regio sudeste da Mata Atlntica, oitenta e oito usinas j haviam sido desativadas, e outras, em construo, inundariam mais 10 mil km2 (DEAN, 1996). Em 2010, os empreendimentos hidreltricos em operao j somam 537 e 51 esto na fase de construo (ANEEL, 2010).Tambm em meados da dcada de 70 a especulao imobiliria passou a ameaar a faixa litornea. Nesta poca, a populao urbana da Mata Atlntica chegava a 62 milhes de pessoas (DEAN, 1996). A reviso do primeiro Atlas de remanescentes da Mata Atlntica, publicado pela Fundao SOS Mata Atlntica (1990), mostra que em 1985 apenas 9,12% do domnio original da Mata Atlntica estavam cobertos com oresta primria ou secundria. Em 1990 este valor era de 8,8% e em 1995 de 7,3%. Em dezembro de 2006 a contabilidade era de apenas 6,98% de mata remanescente, com 5% concentrados na Ecorregio Serra do Mar (Figura 6).Figura 6 Remanescentes orestais da Ecorregio da Serra do Mar no ano de 2000 (Fonte: SOS Mata Atlntica).

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Avanando em nossa cronologia, em meados dos anos 80, para se contrapor a esse intenso processo de devastao um modesto movimento ambientalista comea tomar vulto no Brasil. A Fundao Brasileira para a Conservao da Natureza, que contava com uma mala direta de 120 ONGs que atuavam na regio da Mata Atlntica, organizou sua segunda conferncia (50 anos depois da primeira) em 1984. Em 1992, 809 organizaes ambientalistas brasileiras se juntaram e apresentaram uma declarao conjunta na conferncia do Rio. Possivelmente houvesse outras 1500 organizaes. Neste mesmo ano, foi criada a rede de ONGs da Mata Atlntica, que conta atualmente com mais de 300 entidades liadas2. Esses nmeros denotam um crescimento expressivo do movimento, contribuindo para assegurar alguns ganhos ambientais. Entre 1981 e 1990 o nmero de parques e reservas dentro do limite da Mata Atlntica dobrou, chegando a 205, e sua rea quase quintuplicou, passando de 9.918 km2 para 48.307 km2. No entanto, 70% desta rea ainda eram propriedades privadas (DEAN, 1996). Por trabalho de um bloco ambientalista formado na Assemblia Constituinte de 1987, a Constituio de 1988 declarou a Mata Atlntica parte do patrimnio nacional. Em 1990, a Mata Atlntica foi decretada pela UNESCO uma Reserva de Biosfera. E nalmente, a Mata Atlntica adentrou o segundo milnio com muito mais espao na mdia, e sua conservao um tema bastante assimilado pela sociedade. Infelizmente, a conscincia existente de que necessria a conservao do meio ambiente em geral, e da Mata Atlntica em particular, nem sempre tem se traduzido em aes e mudanas de comportamento por parte da sociedade. Em 2006, depois de 14 anos no congresso nacional, aprovada a Lei 11.428, a lei da Mata Atlntica (BRASIL, 2006). O seu decreto, 6.660 (BRASIL, 2008), foi assinado em 2008. Neste mesmo ano, o IBGE publica um novo mapa delimitando as formaes orestais e ecossistemas associados ao domnio biogeogrco da Mata Atlntica passveis de aplicao da Lei da Mata Atlantica (IBGE, 2008), com 1.315.460 km (valor anterior de 1.110.182 km2) e a Fundao SOS Mata Atlntica e INPE (2009) divulgam para o perodo de 2005 2008, 7,91% de remanescentes.

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5. Seleo de reas

5.1 Anlise de insubstituibilidade e importncia biolgica5.1.1 BASE DE DADOSA formulao da base de dados para o planejamento da conservao da biodiversidade iniciou-se com a denio dos objetos de conservao e suas respectivas metas quantitativas. Sua distribuio espacial foi determinada e representada segundo um conjunto de amostras padronizadas, denominadas unidades de planejamento (UP). A representao espacial da base de dados e os procedimentos tcnicos para a identicao de reas prioritrias na Serra do Mar foram realizados utilizando-se sistemasUNIR PAR A CONSERVAR A VIDA

de informao geogrca da famlia ESRI (Arc View 3.x e ArcGis 9.0).

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5.1.2 OBJETOS DE CONSERVAOA biota da Ecorregio Serra do Mar extremamente diversa, e informao integral a seu respeito no pode ser incorporada na viso, tanto pela falta de conhecimento atual, quanto pela complexidade natural dos ecossistemas tropicais. Assim, a variabilidade biolgica a ser conservada foi inferida atravs de indicadores, cujas caractersticas ecolgicas e respostas frente antropizao do ambiente permitissem uma avaliao aproximada sobre o estado de preservao de diferentes pores da ecorregio, a representatividade das UCs e a determinao de reas de relevante importncia para a conservao. Os indicadores escolhidos se enquadraram em duas categorias bsicas: 1. Comunidades ecolgicas representadas por combinaes de tosionomias e unidades geomorfolgicas denominadas Unidades Fitogeomorfolgicas (UFGs). As UFGs foram usadas pela capacidade de reetir a presena de associaes orsticas relativamente homogneas, distinguveis na escala considerada (derivadas das unidades tosionmicas), combinadas com feies fsicas de grande efeito sobre a biota (relevo e pedologia). Embora no se possam saber quais espcies esto em uma UFG, cada uma delas que esta abriga considerado uma comunidade biolgica distinguvel, principalmente da ora, mas no apenas restrita a esta, porque a vegetao exerce grande inuncia na distribuio dos animais. A componente geomorfgica possibilitou a incluso tanto de variao associada aos condicionantes fsicos diretos solos, relevo, temperatura e umidade -, como tambm de processos histrico-evolutivos, uma vez que a dinmica climtica sabidamente afetou as unidades geomorfolgicas de maneira desigual, resultando em especiao diferenciada; 2. Espcies, selecionadas por sua suceptibilidade alteraes antrpicas, endemismo ou ameaa, ou ainda pela capacidade de de reetir processos ecolgicos regionais (os quais so complexos e ainda pouco conhecidos na ecorregio). 5.1.2.1 Unidades togeomorfolgicas (UFGs) As UFGs foram objetos de conservao criados para servir de indicadores das comunidades ecolgicas, ecossistemas e unidades ambientais. O critrio bsico para a definio das UFGs como objeto de conservao foi articular os dados ambientais disponveis da melhor forma para traduzir ou descrever a distribuio da biodiversidade e os processos que a mantm, em um prazo compatvel com o cronograma de execuo do projeto, de modo a criar um indicador dos padres de distribuio da biodiversidade, especialmente a flora. BONN; GASTON, 2005 sugerem que a utilizao de substitutos da biodiversidade, como o caso das UFGs, em conjugao com dados de espcies, melhora a definio de sistemas de unidades de conservao em termos de representatividade. As UFGs foram geradas a partir da interseco do mapa de geomorfologia com o mapa de formaes vegetais remanescentes e uso e cobertura da terra das bases de formaes geomorfolgicas e formaes vegetais 1:1.000.000 e 1:2