Vistorias Pontes Viadutos

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  • 7/30/2019 Vistorias Pontes Viadutos

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    ANAIS DO 48 CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2006 - 48CBC0105 1

    Vistorias, Conservao e Gesto de Pontes e Viadutos de Concreto

    Inspection, Conservation and Management of Concrete Bridges and Viaducts

    Jos Afonso Pereira Vitrio

    Eng Civil, especialista em estruturas do Departamento de Estradas de Rodagem de PernambucoDER-PE

    Av. Cruz Cabug, 1033 Recife-PE. Cep.:50040-000 Tel.: (0xx81) 4009-4271 Tel/Fax.: (0xx81) 3244-1259Resumo

    A ausncia de polticas e estratgias nas esferas federal, estaduais e municipais, voltadas para amanuteno das obras pblicas, faz com que os rgos responsveis por estas obras preocupem-seapenas com a execuo, no havendo qualquer prioridade para as questes relacionadas conservao detais obras. Exemplos evidentes disso so as pontes e viadutos que compem a malha viria brasileira. Issopode ser constatado atravs da simples observao do atual estado de degradao de significativa partedesses importantes acervos tcnicos, econmicos e sociais do pas, conhecidos como Obras de ArteEspeciais.Nesse sentido, este trabalho se prope a contribuir para que haja uma mudana nessa cultura de falta demanuteno, atravs da implantao de eficazes sistemas de gesto dessas obras de infra-estrutura viria.Tais sistemas que, desde o incio da dcada de 80 do sculo passado, vm sendo utilizado nos paseseuropeus, nos Estados Unidos e em diversos outros pases, no tem sido, at agora, com raras excees,adotados no Brasil. Isso vem resultando em graves conseqncias, principalmente no que se refere

    freqncia com que tem ocorrido acidentes estruturais envolvendo as pontes e viadutos. Tambm deve serconsiderado os prejuzos financeiros que a deteriorao de tais obras est trazendo sociedade, a quemcabe, em ltima anlise, arcar com os altos custos dos reparos que, por serem feitos tardiamente, sobemem progresso geomtrica (ver Lei de Sitter).O Sistema de gesto proposto neste trabalho apresentado na forma conceitual e baseia-se em um modeloj consagrado em outros pases, porm com as necessrias adequaes s Obras de Arte Especiais dasrodovias brasileiras. Ele permite decises rpidas e eficazes, baseadas em parmetros obtidos a partir dainterao entre diversas atividades tcnicas, organizacionais e administrativas com o objetivo de instruir epor em prtica uma poltica que contemple a conservao, a recuperao, a ampliao e a substituio deobras nos trechos onde for implantado.No desenvolvimento do trabalho so abordadas as atividades que garantiro a eficcia do sistema como: aimplantao de uma base de dados mais completa possvel e facilmente acessvel; a atualizaopermanente das informaes cadastrais; a utilizao dos dados obtidos para identificar os tipos de

    interveno por obra, com estimativa de custos e a qualificao, atravs de treinamento, do pessoal tcnicoe administrativo para operar o sistema.Tambm abordada a questo das vistorias, classificado-as conforme as normas brasileiras e apresentadoum roteiro, incluindo cheklist, com todos os itens que devem ser considerados em uma inspeo de pontese viadutos.Finalizando, o trabalho apresenta algumas concluses e recomendaes para minimizar os problemaspatolgicos decorrentes da falta de manuteno preventiva das Obras de Arte Especiais no Brasil.

    Palavra Chave: Pontes; Viadutos; Conservao; Vistorias; Gesto

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    Abstract

    The absence of policies and strategies on the federal, state and municipal levels addressing themaintenance of public structures leads the agencies in charge of such structures to limit their concern toexecution alone, with no priority given to issues regarding conservation. Obvious examples of this are thebridges and viaducts that make up the road network of Brazil. This can be noticed through simpleobservation of the present state of degradation of a significant portion of these important technical, economicand social assets of the country, known as Special Works of Art.The present article proposes to contribute toward a change in this lack of maintenance through theimplantation of effective management systems for these aspects of road infrastructure. Such systems havebeen used in Europe, the United States and a number of other countries since the 1980s, but, with rare

    exceptions, have yet to be adopted in Brazil. This has resulted in serious consequences, principally withregard to the frequency that structural accidents involving bridges and viaducts have occurred. The financialdrain that the deterioration of such structures has on society should also be considered, as in the finalanalysis, it is society that must cover the high costs of repair, which rise in geometric progression for beingimplemented long after the appropriate time (see Sitters law).The proposed management system is presented in a conceptual manner and based on a model that hasbeen well-established in other countries, but with the necessary adaptations to the Special Works of Art ofthe Brazilian road system. It permits rapid, effective decision-making based on parameters obtained from theinteraction between diverse technical, organizational and administrative activities with the aim of instructingand putting into practice a policy that addresses conservation, recuperation, enlargement and replacement ofstructures along whatever stretch of road it is implanted.In the development of the paper, activities are addressed that will ensure the effectiveness of the system,such as: the implantation of the most complete and easily accessible database; permanent updating of

    information; the use of data for identifying the types of intervention per structure, with cost estimates and thequalification of technical and administrative personnel to operate the system through the appropriate training.The issue of inspection is also addressed, classifying it according to Brazilian norms and presenting achecklist with all the items that should be considered in the inspection of bridges and viaducts.The paper presents some conclusions and recommendations for minimizing problems stemming from thelack of preventive maintenance of the Special Works of Art in Brazil.

    Key word: Bridges; Viaducts; Conservation; Inspection; Management

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    1 Introduo

    A falta de uma cultura de manuteno, em especial a preventiva, faz com que os rgosresponsveis pelas obras pblicas, nos nveis federal, estadual e municipal, priorizemapenas a execuo, no havendo maiores preocupaes com as questes relacionadas conservao. Isto pode ser constatado atravs da simples observao das obras de infra-estrutura, especialmente as pontes e viadutos, conhecidas como Obras de Arte Especiais;

    A ausncia de polticas e estratgias voltadas para a conservao resulta em gravesconseqncias, principalmente no que se refere aos riscos causados aos usurios pelos

    acidentes estruturais ocorridos com OAEs no Pas.Deve ser considerado, tambm, os prejuzos materiais e financeiros do setor produtivo, dosetor pblico e da prpria sociedade a quem cabe, em ltima anlise, arcar com os altoscustos dos reparos.

    A demora em iniciar a manuteno de uma obra torna os reparos mais trabalhosos eonerosos. A lei de evoluo dos custos, conhecida como Lei de Sitter, mostra que oscustos de correo crescem segundo uma progresso geomtrica de razo cinco.

    Figura 1 - Lei de evoluo de custos, Lei de Sitter (SITTER, 1984 CEB-RILEM).

    A Unio, estados e municpios, com raras excees, no adotam procedimentossistemticos para inspees e manuteno das Obras de Arte Especiais que compem assuas malhas virias.

    Tal situao ainda mais grave no caso das obras mais antigas, que foram projetadaspara suportar carregamentos cujos valores se encontram defasados com relao aquelestransmitidos pelos veculos atuais.

    Alm dos problemas de natureza estrutural, muitas pontes e viadutos esto com ogabarito insuficiente para as condies atuais de trfego, tornando-se pontos crticos deestrangulamento do fluxo de veculos e de ocorrncia de acidentes.

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    2 Conservao de Pontes e Viadutos

    2.1 Conceituao

    Conceitualmente, a conservao de uma estrutura, inclusive das pontes e viadutos, definida pelo conjunto de aes necessrias para que ela se mantenha com ascaractersticas resistentes, funcionais e estticas para as quais foi projetada e construda.

    A primeira fase dessas aes representada pelo conjunto de procedimentos tcnicos,

    realizados de acordo com um planejamento prvio, que fornece todos os dados sobre aobra em um determinado instante. o que se denomina inspeo ou vistoria.

    De modo geral, as vistorias das obras de Arte Especiais devem ser constitudas dasseguintes etapas: exame local da obra, anlise do projeto original (ou das modificaes,se for o caso) e relatrio final.

    No Brasil, as vistorias devem ser feitas conforme a NBR-9452/86 da ABNT, que dispesobre Vistorias de Pontes e Viadutos de Concreto.

    2.2 Tipos de vistorias

    A grande maioria dos programas de conservao de pontes adotados em diversos pasesestabelece nveis de inspeo que se diferenciam pela finalidade, freqncia, meioshumanos e materiais necessrios, etc.

    No Brasil, a NBR-9452/86 considera os seguintes tipos de vistorias:

    a) vistoria cadastral - trata-se de uma vistoria de referncia, quando so anotados osprincipais elementos relacionados segurana e durabilidade da obra.Este tipo devistoria complementado com o levantamento dos principais documentos e informesconstrutivos da obra vistoriada;

    b) vistoria rotineira - uma vistoria destinada a manter atualizado o cadastro da obra,devendo ser realizada a intervalos de tempo regulares no superiores a um ano. Estavistoria tambm pode ser motivada por ocorrncias excepcionais;

    c) vistoria especial - vistoria pormenorizada da obra, visual e/ou instrumental, realizadapor engenheiro especialista, com a finalidade de interpretar e avaliar ocorrnciasdanosas detectadas pela vistoria rotineira.

    2.3 Roteiro para a realizao de uma vistoria

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    A vistoria deve ser realizada de modo a atender as seguintes etapas:

    inspeo da obra; anlise do projeto (original e das modificaes, se for o caso); relatrio final.

    2.3.1 Inspeo da obra

    Trata-se de detalhada inspeo da ponte, com minuciosa observao de todas as suas

    partes. Nessa ocasio devero ser feitas todas as anotaes com base no roteiroadotado, de modo que no escape qualquer detalhe que possa ser til para ainterpretao do comportamento da estrutura, bem como do diagnstico a ser emitido norelatrio final da vistoria. Tambm nessa ocasio devero ser feitas as fotografias queiro compor o relatrio e que tero importante papel na elucidao das anomaliasporventura existentes na obra.

    A seqncia de inspeo dever compreender a anlise da infra-estrutura (fundaes), damesoestrutura (pilares, encontros, aparelhos de apoio), da superestrutura (vigamento,lajes, cortinas, etc.), dos acabamentos (guarda-corpo, pavimentao, sinalizao) e dosacessos.

    2.3.1.1 Inspeo da infra-estrutura

    Devem ser observados os seguintes elementos:

    tipo de fundao adotada, citando, se possvel, material, dimenses, condies deprumo, fissuras, trincas, indcios de puno ou de esmagamento e descalamento desapatas;

    no caso de fundaes em estacas, verificar o estado de conservao dos blocos, vigasde amarrao e das prprias estacas, descrevendo se esto expostas, partidas ou

    com corroso, no caso de perfis metlicos; caractersticas do terreno de fundao, ocorrncia de eroso, empuxos de terra ou de

    gua, condies dos taludes das cabeceiras, tipo e condies da proteo adotada; avaliao do processo construtivo adotado, indicando a qualidade de execuo.

    2.3.1.2 Inspeo da mesoestrutura

    Encontros

    Na inspeo dos encontros devem ser verificados:

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    tipo estrutural e materiais adotados (alvenaria de pedras, concreto ciclpico, concretoarmado, outros);

    geometria (normais ou esconsos); condies atuais (prumo, alinhamento, fissuras, trincas, infiltrao dgua, umidade,

    falhas de concretagem, cobrimento e exposio das armaduras); sistema de drenagem (funcionamento dos drenos e barbacans, gua acumulada no

    encontro); conteno das terras (atuao dos empuxos de terras sobre as diversas paredes,

    fugas de aterro, solapamento / descalamento das fundaes, ao de enchentessobre aterros);

    no caso das pontes com extremidades em balano, observar as condies dascortinas, alas laterais e placas de transio. Verificar a ocorrncia de deslizamento deterras dos aterros de acesso sob as cortinas;

    no caso de encontros de grande altura, implantados em encosta ou meia encosta,verificar a possibilidade de ruptura do macio, bem como de deslizamento outombamento.

    Pilares

    Os pilares devem ser inspecionados tanto isoladamente como em conjunto, de modo a se

    verificar se as rigidezes definidas no projeto esto de acordo com as condies reais naobra.

    Devero ser registrados os seguintes elementos:

    tipo de pilar (pilar isolado, pilar parede, seo transversal, macio ou vazado, de seoconstante ou varivel, comprimento, prumo, inclinao);

    hiptese estrutural adotada (prtico, pilar esbelto, extremidade livre, montante,pndulo);

    estado atual (cobrimento, deteriorao do concreto, fissuras, trincas, armaduras

    expostas, anomalias provocadas por flambagem, esmagamento, contraventamento,condies de ligao com as fundaes); desgaste devido s condies ambientais (eroso hidrulica, meio ambiente

    agressivo, vibraes, impacto de veculos ou embarcaes, proximidade de linhafrrea);

    impedimento livre rotao (para o caso de pilares pndulos).

    Aparelhos de apoio

    Condies a serem observadas:

    tipos do aparelho: fixos (articulaes Freyssinet), mveis (pndulos, rolos metlicos),elastomricos (Neoprene), chumbo, teflon; textura, dimenses, posicionamento em relao aos apoios e infra-dorso da estrutura;

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    compatibilidade com as deformaes externas e internas da estrutura, deformaesresiduais, excentricidades em relao ao posicionamento projetado;

    estado de conservao (corroso, ataque de agentes agressivos, deformao angular,ressecamento dos aparelhos de borracha sinttica, fissuras nas articulaes deconcreto, esmagamentos, deformaes incompatveis);

    influncia da protenso.

    2.3.1.3 Inspeo da superestrutura

    A inspeo da superestrutura dever contemplar todas as suas peas, estabelecendocritrios e tolerncias conforme a maior ou menor importncia estrutural de cada peaexaminada, devendo constar do seguinte:

    sistema estrutural (pontes em laje, em vigas retas, vigas curvas, vigas Gerber, inrciaconstante ou varivel, estrado celular, em grelha, em prtico, em arco);

    material empregado (concreto armado, concreto protendido, estrutura mista, metlica,de madeira);

    nmero de vos, especificando dimenses de cada um, comprimento total da obra,largura da pista de rolamento, dos passeios e demais peas da plataforma;

    definio das dimenses das peas examinadas como comprimento, altura, largura, se

    seo cheia ou vazada, etc; exame detalhado das vigas principais, transversinas, cortinas, lajes centrais, lajes em

    balano, lajes inferiores (tabuleiros celulares) e dentes, visando definir as condiesatuais do concreto, das armaduras e do cobrimento;

    verificao da ocorrncia de fissuras ou trincas, caracterizando-as de acordo com aconfigurao, a abertura, a intensidade e o posicionamento nas peas examinadas;

    verificao, nas estruturas de concreto protendido, da ocorrncia de fissuras ouanomalias decorrentes de protenso inadequada, injeo deficiente, falhas nasancoragens passivas ou ativas, perdas de protenso, deformao lenta, etc;

    anlise de flecha, grau de vibrao e deformaes acentuadas, diagnosticando,

    sempre que possvel, as suas causas (escoramento, dimensionamento, rotao nosapoios, desnveis por recalques, etc.); deficincias de concretagem (juntas, salincias, ninchos,brocas, trincas, etc.); fissuras na juno de duas ou mais peas, especialmente com a laje inferior no caso

    dos tabuleiros celulares (caracterstica de falhas na concretagem); infiltrao dgua no tabuleiro, em especial nas lajes inferiores das estruturas

    celulares; fissuras ou linhas de ruptura nos painis de lajes (caractersticas de majorao das

    cargas mveis); esmagamentos, trincas, desagregao de concreto e exposio de armaduras em

    dentes Gerber; verificao de anomalias decorrentes de recalques de fundao.

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    2.3.1.4 Inspeo dos acabamentos

    Numa ponte so considerados acabamentos as partes que tenham funo de naturezaesttica ou de proteo, tais como: guarda-corpo, guarda-rodas, pavimentao,drenagem, sinalizao, cantoneiras de proteo, pintura, iluminao, etc.

    A inspeo de tais componentes deve constar do seguinte:

    anlise do estado dos guarda-corpos, registrando a necessidade de substituio ou

    reparos; verificao da ocorrncia de danos na pavimentao asfltica ou de concreto sobre aponte;

    anlise da vedao, fixao e desgaste das juntas de dilatao do tabuleiro; anlise do sistema de drenagem (insuficincia e/ou obstruo de drenos, declividade

    insuficiente, empoamento e infiltrao de gua no tabuleiro); verificao de desgaste nos guarda-rodas e nos passeios de pedestres; observao de falhas e/ou ausncia do sistema de sinalizao.

    2.3.1.5 Inspeo dos acessos

    Os aterros das cabeceiras constituem-se em elementos importantes para a funcionalidadee segurana da obra, bem como da integridade dos usurios. Numa inspeorecomenda-se observar os seguintes itens:

    ocorrncia de desnveis entre a ponte e o aterro de acesso (indicativo de ausncia deplaca de transio);

    abatimentos e trincas no pavimento sobre os aterros; situao dos taludes dos aterros (ocorrncia de eroso, tipo de proteo, canaletas de

    drenagem, etc.);

    ocorrncia de eroso no macio, comprometendo a faixa de rolamento; existncia ou no de acostamento; existncia ou no de sinalizao; condies do sistema de sinalizao dos acessos.

    2.3.1.6 Anlise do projeto

    A anlise do projeto, compreendendo a concepo original e eventuais modificaesrealizadas, de fundamental importncia para se obter um diagnstico preciso sobre ocomportamento da obra e subsidiar as decises a serem tomadas com base nas

    concluses do relatrio de vistoria. O projeto geralmente composto por:

    planta de locao;

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    plantas de forma e armao das fundaes; plantas de forma e armao da mesoestrutura; plantas de forma e armao da superestrutura; detalhes especiais, quando necessrio; detalhes de escoramentos especiais, quando for o caso; memria de clculo contendo as hipteses de clculo formuladas e o

    dimensionamento de toda a estrutura; relatrio de sondagens utilizado para a definio das fundaes adotadas; levantamento topogrfico plani-altimtrico do local da obra; estudos hidrolgicos utilizados para definir seo de vazo e o vo da obra.

    Todos os elementos utilizados para a elaborao do projeto representam importante fontede consulta e contribuem para que a vistoria alcance melhor nvel de eficincia.

    Todas as possveis falhas detectadas no projeto devem ser assinaladas, de modo que oespecialista responsvel pela anlise tenha condies de concluir se elas tm ou noinfluncia nos problemas existentes na obra.

    A seguir algumas das incorrees mais verificadas nos projetos de pontes de concretoarmado e protendido:

    seo de vazo insuficiente; adoo de fundaes inadequadas e/ou vulnerveis eroso; conteno inadequada para os aterros de acesso; inexistncia de placas de transio; comprimento total da obra insuficiente; locao da obra inadequada; condies de apoio da superestrutura inadequadas ou insuficientes; distribuio inadequada dos comprimentos dos tramos; disposio inadequada de armaduras (passivas ou ativas), o que dificulta o

    lanamento do concreto e uma eficiente vibrao; traados inadequados de cabos de protenso; peas com sees transversais incompatveis; esconsidade e curvatura da obra no consideradas no projeto estrutural; insuficincia na largura da plataforma (faixas de rolamento e passeios); drenagem inadequada (ausncia ou insuficincia de drenos, falta de declividade no

    pavimento e a no previso de pingadeiras); proteo insuficiente ao trfego e pedestres (guarda-rodas, guarda-corpos, etc.); utilizao de taxa de trabalho insuficiente (ou exagerada) para os materiais

    empregados; falta de uma esttica apropriada, o que provoca impactos negativos paisagem rural

    ou urbana onde a ponte ou viaduto foi edificada.

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    2.3.1.7 Relatrio final

    O relatrio final representa a ltima etapa da vistoria, devendo, portanto, para atender sua finalidade, ser objetivo e apresentado em linguagem tcnica adequada, comdisposio racional de textos e ilustraes. Devem ser evitados pargrafos longos quepossam parecer inconclusivos e de difcil interpretao.

    Devem ser feitas apenas as consideraes que no suscitem qualquer dvida denatureza tcnica e que estejam respaldadas por observaes e conceituaes evidentes,alm de amparadas pela literatura existente sobre o tema. Afinal, este documentopassar a representar o diagnstico sobre o comportamento atual da obra e ser oprincipal indicador para definir os tipos de futuras intervenes que dever receber, sejade recuperao, de reforo, de alargamento, ou at de demolio. O texto tambmservir de referncia para os casos de demanda judicial envolvendo a obra vistoriada.

    A NBR-9452/86 recomenda os seguintes itens para o relatrio final de vistoria:

    a) ndice;b) introduo;c) relatrios preliminares, fichas cadastrais e rotineiras;

    d) registros das observaes de campo;e) relatrio tcnico complementar (anlise, estudos estruturais, hidrolgicos ougeotcnicos, instrumentaes, provas de carga, etc.)

    f) parecer final;g) recomendaes;h) bibliografia.

    2.3.1.8 Qualificao e habilitao profissional necessrias

    A eficcia de uma inspeo depende, em grande parte, da qualificao e experincia

    profissional do engenheiro vistoriador.

    Alguns pases, como o caso dos Estados Unidos e Frana, definem um perfil que deveser atendido pelo profissional responsvel por tais atividades. A AASHT AmericanAssociation of State Highaway and Tranportation Oficials - destaca em seu manual demanuteno de pontes que os servios de inspeo, informao e inventrio devem serfeitos por quem tem formao de engenheiro, registrado na respectiva entidadeprofissional, tenha experincia em servios de inspeo e tenha realizado um cursocompleto de preparao baseado no Manual de Formao de Inspetores de Pontes.Essa pessoa ser responsvel pela exatido das inspees de campo, pela anlise detudo o que for decorrente das mesmas, pelas recomendaes para corrigir os defeitos

    encontrados e poder, tambm, impor limitaes de trfego, seja de carga ou velocidade,

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    quando necessrio. Na Frana e nos Estados Unidos, os cursos para formao deinspetores de pontes tm durao entre 2 e 4 semanas.

    No temos conhecimento de que no Brasil exista algum curso para formao deprofissionais em vistorias de pontes. Tal atividade est prevista de forma genrica noartigo 1 da Resoluo n 218 de 29-06-1973 do CONFEA (atividade 06 Vistoria, percia,avaliao, arbitramento, laudo e parecer tcnico) devendo ser exercida por engenheirocivil (art 7). O Decreto Federal n 23.569 de 11-12-1932 tambm prev em seu artigo 28esta atividade como sendo de competncia do engenheiro civil.

    3 Gesto de Pontes e Viadutos

    3.1 Conceituao

    Existe um costume, bastante habitual, de considerar que a vida das pontes extraordinariamente longa, talvez at infinita. Isso se deve, em parte, impresso que,de modo geral, transmitida por esse tipo de obra, sempre associada robustez esolidez, enfim, uma estrutura quase eterna.

    A realidade mostra, porm, que uma ponte, como qualquer outra edificao, comea a

    deteriorar-se no mesmo instante em que posta em funcionamento, iniciando um ciclo devida cuja durao depender de diversos fatores relacionados com as condies de uso econservao ao longo do tempo, de modo a garantir-lhe segurana, funcionalidade edurabilidade com o menor custo possvel.

    A publicao de trabalhos e a realizao de estudos e eventos tcnicos internacionais nasduas ltimas dcadas apontam para uma necessidade comum: a implantao deadequados sistemas de gesto de pontes, especialmente nos pases que ainda noadotam um procedimento sistemtico para essa questo.

    Um sistema de gesto de pontes representa para as instituies responsveis pelaadministrao das redes virias um precioso instrumento, por permitir decises rpidas eeficazes baseadas em parmetros tcnicos e cientficos voltados otimizao dos custosde manuteno desses importantes patrimnios pblicos.

    A preocupao com este tema, algo relativamente novo em todo o mundo, iniciou-se nosanos setenta na Europa e nos Estados Unidos, merecendo, a partir de ento, crescenteateno da comunidade tcnica internacional atravs de aes concretas visando oestabelecimento de padres aceitveis para o gerenciamento das pontes existentes.

    Os maiores beneficirios desse tipo de procedimento seroos usurios em particular e a

    sociedade em geral, ao considerar-se que tais obras foram, e ainda so em sua grandemaioria, construdas com recursos pblicos, implicando sua falta de conservao (alm detranstornos, prejuzos e riscos para quem nelas necessita transitar), tambm em

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    desperdcio de verbas aplicadas em obras corretivas, obras essas que muitas vezestalvez nem precisassem ser realizadas, caso existisse um programa de manutenopreventiva adequado.

    Uma gesto de pontes eficaz dever apoiar-se em um rigoroso cadastro de todas asobras existentes nos trechos de sua jurisdio e num programa de vistorias sistemticas.Dever incluir diversas atividades tcnicas, organizacionais e administrativas com oobjetivo de instituir e por em prtica uma poltica que contemple a conservao,recuperao, ampliao ou substituio de obras.

    Nesse sentido, a constante interao ente as atividades seguintes garantiro a eficcia dosistema:

    a) desenvolvimento de um arquivo de dados;b) atualizao permanente das informaes cadastrais;c) utilizao dos dados obtidos para identificar os tipos de interveno por obra, quando

    sero feitas e estimativas de custos.

    O estgio de avano tecnolgico atual permite imensas possibilidades de se adotaremsistemas de gesto totalmente informatizados e de fcil manuseio no que se refere introduo de dados e acesso s informaes armazenadas.

    A figura seguinte apresenta o diagrama de um sistema tpico de gesto de pontesrodovirias:

    Figura 2 - Diagrama de um sistema tpico de gesto de pontes. (Fonte: Luiz M Ortega).

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    Considerando que a gesto das pontes e viadutos pertencentes a uma determinadamalha rodoviria deve compreender todas as atividades relacionadas com essas obras,desde a construo at o momento em que no sejam mais utilizadas, o sistema a seradotado deve ter versatilidade suficiente para que possa passar pelas adequaes eatualizaes s necessidades prprias que vo surgindo ao longo do tempo.

    Um sistema de gesto eficiente no pode deixar de contemplar os seguintes pontos:

    base de dados mais completa possvel, facilmente acessvel e permanentementeatualizada;

    qualificao, atravs de treinamento, do pessoal tcnico e administrativo que iroperar o sistema; o planejamento das inspees que iro abastecer o banco de dados com todas as

    informaes cadastrais dever prever equipes de engenharia nas diversasespecializaes como estruturas, transportes, hidrologia, fundaes, sinalizao, etc.,de modo a se definir um perfil para cada obra, classificando-as a partir de parmetrosrelacionados a segurana estrutural, comportamento hidrolgico, adequao da obra,traado da rodovia, enfim todas as condies que permitam uma avaliao da situaoatual das pontes do sistema, subsidiando assim todo um planejamento de curto, mdioe longo prazos para as intervenes a serem realizadas;

    informaes sobre itinerrios alternativos para carregamentos especiais que excedam

    aqueles para os quais as obras foram projetadas; a gesto das pontes dever fazer parte de uma poltica de gesto da malha viria

    como um todo.

    3.2 A gesto de pontes e viadutos no Brasil

    As rodovias federais, estaduais e municipais que compem a malha rodoviria brasileirano contam com sistemas de gesto para as suas pontes e viadutos. Na realidade, nocontam (com raras excees), sequer com procedimentos sistemticos para inspeo emanuteno. Isso tem gerado um quadro preocupante a partir da constatao daocorrncia de processo de deteriorao dessas pontes, que vem evoluindo ao longo dosanos, chegando a verificar-se, em alguns casos, uma situao prxima da runaestrutural.

    Tal situao agravada nas obras mais antigas, muitas delas com mais de quarenta anosde construdas, que foram projetadas para suportar carregamentos mveis cujos valoresesto totalmente superados pelos transmitidos pelos veculos atuais.

    Alm dos problemas de natureza estrutural, muitas pontes apresentam, tambm, gabaritoinadequado s condies atuais de trfego, transformando-se em pontos crticos,

    responsveis por estrangulamento do fluxo e pela ocorrncia de acidentes.

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    Algumas iniciativas vm sendo tomadas nos ltimos anos no sentido de adotarprocedimentos para a conservao das obras de arte especiais nos mbitos federal,estadual e municipal; porm tratam-se de aes isoladas que pouco representam dianteda magnitude e da importncia dessa questo.4 Concluses e Recomendaes

    Significativa parcela das Obras de Arte Especiais das malhas rodovirias federal,estaduais e municipais, apresenta problemas patolgicos decorrentes da falta demanuteno.

    Os problemas patolgicos podem ser classificados em dois tipos: os que afetam ascondies de servio e funcionamento da obra e os que afetam as condies desegurana estrutural.

    Torna-se necessrio a adoo de medidas urgentes voltadas para a manuteno dasOAEs, que contemplem:

    vistorias peridicas; qualificao de equipes tcnicas; cadastro das obras; implantao de sistemas de gesto; planejamento e previso oramentria para os servios de manuteno e

    recuperao.

    Na elaborao de novos projetos devem ser previstas medidas com o objetivo deaumentar a durabilidade das estruturas e de dot-las de disposies construtivas quepermitam e facilitem as aes de recuperao e manuteno.

    5 Ficha de Inspeo Cadastral

    Mesmo que as suas concepes bsicas guardem semelhanas entre si, os sistemas degesto de pontes e viadutos se diferenciam pelos graus de sofisticao dos softwares emque esto baseados e, sobretudo, pela forma como as aes tcnicas e administrativasnecessrias para torn-los eficientes so conduzidas pelos gestores.

    Nesse sentido, os primeiros passos para a implantao do sistema so dados atravs docorreto preenchimento da ficha cadastral que dever conter as informaes relevantes decada obra, e que sero utilizadas para iniciar a alimentao do banco de dados doprocesso de gesto.

    A seguir um modelo de ficha de inspeo cadastral:

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    Figura 3 Ficha de Inspeo Cadastral. (Fonte: VITRIO, J. A. P.).

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    6 Referncias

    ABNT. NBR-9452 Vistorias de Pontes e Viadutos de Concreto 1986.

    ABNT. NBR-5674 Manuteno de edificaes Procedimentos 1999.

    CARDOSO, J. L., REGO, M. J. B. Roteiro para vistorias de Obras de Arte RevistaEstrutura n 103, Rio de Janeiro, 1983.

    DEGUSA Manual de Reparo, Proteo e Reforo de Estruturas de Concreto Red.Rehabilitar, editores, So Paulo, 2003.

    HELENE, Paulo Manual para reparo, reforo e proteo de estruturas de concreto Pini Editora, So Paulo, 1992.

    MARRECOS, Jos A Concepo e a durabilidade das pontes de concretoprotendido Livros Tcnicos e Cientficos Editora, Rio de Janeiro, 2001.

    ORTEGA, L. M. Inspecion e inventrio de puentes Simpsio Nacional sobreconservacion, reabilitacion y gestion de puentes, Madrid, 1991.

    VITRIO, J. A. P., Ramos J. R. Inspeo e Diagnstico Para Recuperao dePontes Rodovirias DER-PE 1992.

    VITRIO, J. A. P. Pontes Rodovirias Fundamentos, Conservao e Gesto CREA-PE 2002.